E s pec i a l
prêmio
fcw F u n dação C o n ra d o We s s e l
Os vencedores do Prêmio Conrado Wessel de Arte, Ciência e Cultura 2014
DIRETORIA EXECUTIVA diretor- presidente
Dr. Américo Fialdini Júnior diretor vice - presidente
Dr. Sérgio Roberto de Figueiredo Santos e Marchese superintendente
José M. Caricati coordenador científico
Dr. Erney Plessmann de Camargo coordenador cultural
Dr. Carlos Vogt supervisor administrativo
José Álvaro Fioravanti assistente de diretoria
Sérgio Kosuge
CONSELHO CURADOR presidente
Dr. Jorge Márcio Arantes Cardoso membros
Dr. Antonio Augusto Orcesi da Costa Dr. Erli dos Reis Rodrigues Dr. Nelson Miyoshi Tanaka
equipe administrativa
Brenda Krishina Carla Guimarães Érika de Souza Takaki Márcia Lopes Maria Francinete de Sousa Samuel Veríssimo Tania de Oliveira Vanderlei Souza de Lima coordenação desta edição
José M. Caricati
FUNDAÇÃO CONRADO WESSEL Rua Groenlândia, 1.120 Jardim América - CEP 01434-100 São Paulo - SP – Brasil tel./fax +55 11 3237-2590 / 3150-4550 www.fcw.org.br
Índice 4
Fundação Conrado Wessel colabora com outras instituições que apoiam a pesquisa científica
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Categoria Arte foi a que mais sofreu modificações até o formato atual
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A física, a educação e o meio ambiente do Brasil se beneficiaram do conhecimento e das habilidades de José Goldemberg
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Protásio Lemos da Luz, cardiologista do InCor, foi um dos pioneiros da transferência de conhecimento da área básica para a prática clínica
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Sempre inquieta, a atriz Fernanda Montenegro segue atuando na TV, em filmes e no teatro
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Veja os ensaios fotográficos dos ganhadores da categoria Arte
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Conheça os parceiros da Fundação Conrado Wessel
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Saiba quem escolheu os ganhadores da edição 2014 do prêmio FCW
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Cronograma da premiação 2015
Muito além dos 100
Prêmios FCW
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ac e rvo F C W
Fundação Conrado Wessel colabora com outras instituições que apoiam a pesquisa científica
Conrado Wessel gostava de cães e teve vários durante sua longa vida. Esta foto é da década de 1940
E
m 1988, Ubaldo Augusto Conrado Wessel gravou em testamento seu desejo de legar recursos para o incentivo à arte, à ciência e à cultura. Para tanto, o empresário e fotógrafo amador cogitava que poderiam ser construídos alguns prédios residenciais em terrenos deixados por ele à rua Veiga Filho e à avenida Higienópolis, ambas no bairro de Higienópolis, em São Paulo. O objetivo era direcionar a renda a ser obtida dos futuros edifícios para a concessão de prêmios nessas três áreas. O plano de Wessel (1891-1993) surtiu o efeito desejado, embora ele talvez não pudesse imaginar o quão seria bem-sucedido. Naquela região da zona oeste de São Paulo foi erguido o shopping Pátio Higienópolis, hoje um empreendimento de ponta no mer-
i m ag e n s ac e rvo F C W
pesquisa fapesp
Testamento de Conrado Wessel, de 1988: instruções para destinar prêmios em favor da cultura, ciência e artes
especial prêmio conrado wessel
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cado paulistano. Foi por meio dele e de outros imóveis que a administração da Fundação Conrado Wessel (FCW), instituída em 1994, transformou e triplicou o patrimônio recebido e passou a oferecer a cada ano prêmios em dinheiro nas categorias Ciência, Medicina, Cultura e Arte no Brasil a partir de 2002. Em 2015 é celebrado o 13º evento de outorga do Prêmio FCW.
E
ste ano, os seis prêmios da fundação farão a lista atingir 100 agraciados. No total, são 43 na categoria Arte, 30 em Ciência, 12 em Medicina e 15 em Cultura. O número é um indicador de que a FCW é a entidade particular que mais laureia personalidades desses setores no Brasil. Mas não é só. Há os convênios efetuados em 2006 com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Com o CNPq, a FCW patrocina o prêmio Almirante Álvaro Alberto (AAA); com a Capes, são dadas três bolsas anuais de pós-doutorado aos ganhadores das Grandes Teses Capes. Por meio dessas iniciativas, a fundação pode arrolar, entre seus agraciados, outros nove pes-
quisadores de ponta, ganhadores do prêmio AAA em Física, Química, Medicina, Sociologia, Economia, Engenharia e Letras, e mais 27 doutores premiados com a bolsa da Capes. Para entender as parcerias entre as duas instituições federais de apoio à pesquisa e ao ensino e a FCW, é preciso lembrar como elas surgiram. O CNPq foi criado em 1951 por um grupo de cientistas liderados pelo almirante Álvaro Alberto (1889-1976), ele mesmo professor do Departamento de Físico-Química da Escola Naval do Rio de Janeiro, pesquisador na área de explosivos e de energia nuclear e primeiro presidente da instituição. O prêmio que leva seu nome foi criado apenas 30 anos depois, em 1981. A escolha anual do ganhador é feita por uma comissão designada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) da qual a FCW, a Marinha e o próprio CNPq fazem parte. Em 2000, a premiação foi temporariamente suspensa. Voltou a ser atribuída em 2006, quando a FCW e o CNPq celebraram convênio para reeditá-la. A nova série chega em 2015 à sua nona edição tendo laureado Fernando Galembeck (2006), Sérgio Henrique Ferreira (2007), José Murilo de Carvalho (2008), Luiz Davidovich (2009), Iván Izquierdo (2010), Maria da Conceição
Tavares (2011), Edgar Dutra Zanotto (2012), Walter Colli (2013) e Magda Becker Soares (em 2014, premiada este ano). Após o convênio com o CNPq, em 2003 foi celebrado outro, com a Capes, para apoiar o Prêmio FCW. Em 2006, por idealização de Jorge Guimarães, então presidente da instituição federal, foram criados o Prêmio Capes de Tese e o Grandes Teses Capes. A FCW passou a patrocinar este último, um extraordinário trabalho de incentivo à pesquisa no Brasil. A Capes analisa anualmente um total aproximado de 9 mil teses de doutorado do ano anterior, escolhe as melhores de cada subárea do conhecimento e concede a seus autores recém-doutorados um pós-doutorado no país. Ao mesmo tempo, reúne esse conjunto em três grandes áreas do conhecimento e escolhe as três melhores, que são as Grandes Teses. A FCW é parceira nessa premiação: a Capes concede uma bolsa de pós-doutorado no exterior e a fundação dá uma bolsa auxiliar de US$ 15 mil para cada premiado. Até agora, a soma contabilizada atinge US$ 405 mil, distribuídos a 27 ganhadores. Em 2015, a FCW destinará mais de R$ 1,5 milhão apenas em prêmios para pesquisadores (ver tabela ao lado).
O
utro patrocínio ligado à pesquisa vai para as revistas científicas Anais da Academia Brasileira de Ciências, da Academia Brasileira de Ciências, JATM/ Journal of Aerospace Technology and Management, do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (vinculado ao Comando da Aeronáutica), Pesquisa Naval (Marinha) e esta edição com os ganhadores do Prêmio FCW, que circula com Pesquisa FAPESP. Em seu testamento, Conrado Wessel não se preocupou apenas com arte, ciência e cultura. Pensou também em filantropia e definiu doações anuais a serem repassadas pela FCW a algumas entidades escolhidas por ele: Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São Paulo, Fundação Antonio Prudente, Serviço de Promoção Social do Exército da Salvação, Aldeias Infantis SOS do Brasil e Escola Benjamin Constant. Além dessas, outras 27 organizações que atendem crianças carentes recebem dinheiro. Há o apoio relacionado à educação: como o Núcleo Fundações, por meio do Projeto de Inserção Digital, que já formou mais de
Valores em dinheiro Quanto a FCW destina todos os anos a cada prêmio 1.600.000
1,436 milhão
1.400.000 1.200.000
1,100 milhão
1.000.000 800.000 600.000 400.000 136 mil
200.000
200 mil
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Grandes Teses Capes
Prêmio Alm. Álvaro Alberto
Prêmio FCW
TOTAL
Distribuição geral Número e porcentagem de ganhadores de 2002 a 2014
43 n Prêmio FCW de Ciência 30 n Prêmio FCW de Medicina 12 n Prêmio FCW de Cultura 15 n Prêmio Almirante Álvaro Alberto 9 n Grandes Teses Capes 27 Total 136 n Prêmio FCW de Arte
20 % 7% 11 % 9%
31 %
22 %
F on t e : F C W
2.400 estudantes, e a Fundação Escola Aberta do Terceiro Setor, entidade com milhares de alunos formados via educação a distância com cursos para monitores administrativos para o terceiro setor. Também merece referência a parceria entre a FCW e o Ministério Público, que desde 2005 garante a distribuição de grandes cestas natalinas a famílias com poucos recursos. As ações assistenciais e patrocínio às revistas científicas e à educação ocorrem durante todo o ano. Já o Prêmio FCW é entregue em uma concorrida cerimônia, tradicionalmente realizada na Sala São Paulo, na capital paulista, em junho. Esta edição traz os perfis dos vencedores de 2014, premiados este ano: José Goldemberg, ganhador na categoria Ciência (página 14), Protásio Lemos da Luz, em Medicina (página 20), e Fernanda Montenegro, em Cultura (página 26), além dos três ensaios fotográficos premiados em Arte (página 32). E uma galeria de todos os laureados de anos anteriores (página 10). n
pesquisa fapesp especial prêmio conrado wessel
Ciência
medicina
cultura
José Goldemberg
protásio lemos da luz
fernanda montenegro
Mudar para melhorar Categoria Arte foi a que mais sofreu modificações até o formato atual
D
e tempos em tempos, a Fundação Conrado Wessel modifica as normas do Prêmio FCW de Arte, Ciência e Cultura para aprimorar sua qualidade. Foi assim com a categoria Ciência, que era dividida em quatro subcategorias – Ciência Geral e três Ciências Aplicadas – no início da série de grandes nomes, em 2003, e hoje se limita a uma. Em Cultura, apenas a literatura foi contemplada nas quatro primeiras edições e só depois a música, a dança e as artes cênicas entraram na mira dos jurados. A mudança mais radical ocorreu na categoria Arte, que leva em conta os trabalhos fotográficos. Conrado Wessel era fotógrafo profissional, publicitário, cinegrafista e foi o industrial pioneiro da fotografia na América Latina. Nascido em Buenos Aires, mas radicado em São Paulo desde o primeiro ano de vida, o empresário desenvolveu e patenteou uma nova fórmula para papel fotográfico no começo do século passado. Na década de 1920 fundou uma empresa para fabricar o papel, que em 1930 começou a produzir para a Kodak o papel Wessel, 100% de
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pesquisa fapesp especial prêmio conrado wessel
10
sua produção. O papel Kodak-Wessel passou, desde então, a ser utilizado em todo o mundo e a partir de 1954 perdeu o nome Wessel para se tornar apenas Kodak. Quando criou o Prêmio FCW de Arte, Ciência e Cultura no início deste século, a fundação decidiu homenagear seu instituidor ao determinar que a categoria Arte premiasse fotógrafos. Nos primeiros anos do prêmio apenas as fotos feitas para campanhas publicitárias eram contempladas. Na sua primeira edição, o período de produção dos trabalhos abrangia de janeiro de 2000 a dezembro de 2002. Do segundo em diante a produção dos trabalhos se restringiu ao ano da edição do prêmio. O Prêmio FCW de Arte de 2003, por exemplo, analisou apenas as fotos daquele ano. A partir de 2006, a direção da fundação considerou que também os ensaios fotográficos, jornalísticos ou não, poderiam se inscrever para concorrer. A categoria foi dividida em duas: Fotografia Publicitária e Ensaios Fotográficos Temáticos. Nova modificação ocorreu em 2008. Premiou-se Fotografia Publicitária (um ganhador), Ensaio Fotográfico Publicado (primeiro e segundo lugar) e Ensaio Fotográfico Inédito (um ganhador). A gradativa alteração no enfoque do prêmio terminou por favorecer os ensaios. A partir da edição de 2010, a FCW passou a premiar apenas os três primeiros lugares de Ensaio Fotográfico, sem a divisão de Inédito e Publicado. O crescente interesse e número de inscrições desse tipo de trabalho justificam a decisão. Nos dois primeiros anos do prêmio menos de 100 fotógrafos se inscreveram. Em 2014, houve 801 ensaios enviados por igual número de fotógrafos profissionais de todo o país. Quem julga os trabalhos são outros fotógrafos e publicitários experientes com atuação no mercado e na academia. A comissão julgadora tem seus integrantes vinculados à Associação dos Profissionais de Propaganda, revista About, Biblioteca Nacional, Fundação Armando Álvares Penteado, Fotosite, Museu da Imagem e do Som e Universidade de São Paulo (ver o júri de Arte na página 49). Os três ganhadores em Arte dividem o prêmio de R$ 200 mil. O valor do prêmio para Ciência, Medicina e Cultura é de R$ 300 mil para cada um, além de uma escultura do artista plástico Vlavianos e um certificado, também recebido pelos fotógrafos. No caso dessas três categorias, é importante observar que os laureados são reconhecidos por sua contribuição científica, médica ou artística, mas também pelos benefícios à sociedade (ver perfis a partir da página 14). Eles são escolhidos por especialistas indicados pelas 10 instituições parceiras da FCW, entre elas a FAPESP e a Academia Brasileira de Ciências (ver relação completa na página 48). Nas páginas seguintes, há a galeria de todas as personalidades e instituições contempladas até 2014. Tradicionalmente, no fim do ano, a fundação lança um livro com todas as fotos dos três ensaios premiados e dos 12 finalistas. n
Ciência
Luiz Hildebrando * Parasitologista
medicina
José Rodrigues Coura Parasitologista
Cultura
Niède Guidon Arqueóloga
* Laureados falecidos
2013
f o t os 2 013 1 e 2 L é o R amos 3 A ndr é pe ssoa f o t os 2 01 2 e 2 01 1 L é o R amos f o t os 2 010 1 l i an e n e v e s 2 e duardo c e sar 3 l é o ramos f o t os 2 0 0 9 1 L é o R amos 2 jade r rocha 3 e duardo c e sar 4 s i lv i a machado
Ciência Geral
Jerson Lima da Silva Bioquímico Ciência
Ciência
ciência Geral
Sérgio Rezende
Jorge Kalil
Jairton Dupont
Físico
Imunologista
Químico
Ciência Aplicada
João Gomes de Oliveira Engenheiro mecânico
11 medicina
medicina
medicina
Marcos Moraes
Miguel Srougi
Angelita Habr-Gama
Oncologista
Urologista
Coloproctologista
Medicina
Ricardo Pasquini Hematologista
Cultura
Cultura
cultura
João Carlos Martins
Paulo Vanzolini * Compositor e
Nelson Pereira dos Santos
Cultura
Maestro
Zoólogo
Cineasta
Antonio Nóbrega Músico e dançarino
2012
2011
2010
2009
Ciência Geral
Leopoldo de Meis*
Iván Izquierdo
Bioquímico
Neurocientista Ciência Geral
Medicina
Ciência Geral
Sérgio Mascarenhas
Ricardo Brentani *
Wanderley de Souza
Oncologista
pesquisa fapesp
Físico
Ciência Aplicada
Ciência Aplicada
Ernesto Paterniani *
Hisako Higashi
Geneticista de plantas
Bioquímica
Parasitologista
especial prêmio conrado wessel
12 Ciência Aplicada ao Meio Ambiente
Ciência Aplicada ao Campo
Ciência Aplicada ao Meio Ambiente
Carlos Nobre
Magno Ramalho
Aziz Ab’Sáber *
Climatologista
Geneticista de plantas
Geógrafo
Ciência Aplicada à Água
Cultura
Ciência Aplicada à Água
Escritora
Medicina
Medicina
Fulvio Pileggi
Ivo Pitanguy
Cardiologista
Cirurgião plástico
Cultura
Cultura
Ariano Suassuna*
Affonso Ávila *
Aldo Rebouças *
Dramaturgo
Poeta e ensaísta
Geólogo
Biólogo
2008
2007
2006
2005
Ruth Rocha
José Galizia Tundisi
f o t os 2 0 0 8 2 pau lo soar e s/ e sal q f o t os 2 0 0 7 1 l i an e n e v e s 2 e duardo c e sar 3 fá bio mo t ta /A E 4 gl áu c i a rodr ig u e s f o t os 2 0 0 6 1 , 3 , 6 M ig u e l B oyayan 2 , 4 e duardo c e sar 5 Â N g e lo abr e u/ u f la f o t os 2 0 0 5 1 L é o R amos 2 Franc i sco Emolo/ Jornal da U S P 3 , 6 M ig u e l B oyayan 4 , 5 Eduardo C e sar
Ciência Geral
f o t os 2 0 04 1 M ig u e l B oyayan 3 Eduardo C e sar 4 A rqu i vo pe ssoal 6 L é o R amos f o t os 2 0 0 3 1 M ig u e l B oyayan 2 A S C OM / I N PA 3 L é o R amos 4 e duardo tavar e s 5 M arcos Es t e v e s/ Embrapa 6 Di v u lgaç ão
Medicina
Ciência geral
Medicina
Ciência Geral
Medicina
Adib Jatene *
Isaias Raw
Cesar Victora
Cardiologista
Bioquímico
Epidemiologista
Carlos Henrique de Brito Cruz
Maria Inês Schmidt
Físico
Epidemiologista
13 Ciência Aplicada ao Campo
Ciência Aplicada ao Meio Ambiente
Ciência Aplicada ao Campo
Ciência Aplicada ao Meio Ambiente
Ciência Aplicada ao Campo
Luiz C. Fazuoli
Museu Paraense Emílio Goeldi
Instituto Agronômico de Campinas
Philip Fearnside
Jairo Vieira
Biólogo
Agrônomo
Ciência Aplicada à Água
Cultura
Ciência Aplicada ao Mar
Cultura
Alberto Franco *
Poeta
Dieter Muehe
Escritora
Agrônomo
Cultura
Fábio Lucas Crítico e ensaísta
Ferreira Gullar
Oceanógrafo
Geógrafo
2004
2003
Lya Luft
especial prêmio conrado wessel
pesquisa fapesp
ci ênci a
Energia farta
l é o R a mo s
A física, a educação e o meio ambiente do Brasil se beneficiaram do conhecimento e das habilidades de José Goldemberg
O
físico José Goldemberg, de 87 anos, divide a sua trajetória científica em duas fases. A primeira começou em 1948 quando, ainda estudante de graduação na Universidade de São Paulo (USP), se tornou bolsista do professor Marcello Damy de Souza Santos, a quem ajudou na instalação do Betatron, primeiro acelerador de partículas do Brasil. Essa etapa durou até o fim dos anos 1970, época em que Goldemberg presidiu a Sociedade Brasileira de Física (SBF) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Ao longo desse período, Goldemberg produziu contribuições originais em temas da física nuclear, como os efeitos do bombardeio de radiação eletromagnética sobre o núcleo atômico, e se tornou uma das vozes da sociedade civil que criticavam a política nuclear do governo militar.
15
F o t o s Arqu i vo Pe s s oa l
pesquisa fapesp
Goldemberg com o chanceler alemão Helmut Kohl, durante o governo Collor (alto à esq.), com o ex-secretário de Estado dos EUA, Henry Kissinger (ao lado), e ao assumir a reitoria da USP, em 1986
especial prêmio conrado wessel
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Um ponto de inflexão na carreira foi um artigo publicado na revista Science que quantificou as vantagens ambientais do etanol de cana brasileiro. Nesse trabalho, de 1978, Goldemberg descreveu cálculos mostrando que, para cada litro de etanol produzido, gastava-se apenas um décimo de litro de combustível fóssil. O desempenho era superior ao do etanol norte-americano, obtido a partir do milho, não tão eficiente quanto a cana. “Veja só que ironia: o artigo da Science me dá reconhecimento até hoje. Mas o que fiz ali foi uma conta de aritmética, algo muito mais simples do que as equações de mecânica quântica com que trabalhava na minha vida de físico nuclear”, afirma. Depois do artigo da Science, sua produção científica foi tomando um novo rumo e Goldemberg tornou-se uma referência internacional em energias renováveis.
O reconhecimento se acentuou nos últimos anos. Em dezembro de 2007, a revista Time incluiu seu nome numa lista de 13 “heróis mundiais do meio ambiente”, classificando de profético o artigo da Science. No ano seguinte, a Asahi Glass Foundation, do Japão, concedeu ao professor o Prêmio Planeta Azul, com direito a 50 milhões de ienes (o equivalente a R$ 800 mil), por “ter dado grandes contribuições na formulação e implementação de diversas políticas associadas a melhoras no uso e na conservação de energia”, com destaque para o conceito proposto por ele segundo o qual, para se desenvolver, os países pobres não precisam repetir paradigmas tecnológicos trilhados no passado pelos ricos, mas podem pular etapas. Em janeiro de 2013, o pesquisador estava nos Emirados Árabes recebendo o Prêmio Zayed de Energia do Futuro na ca-
Na Conferência Rio -92, com o então vice-presidente Itamar Franco
tegoria Life Achievement, concedido a personalidades que se destacam no campo de energia renovável. “Foi curioso receber um prêmio num país cuja riqueza se baseia no petróleo. No meu discurso, eu disse que o sheik Zayed, que instituiu o prêmio, era um homem sábio e estava mesmo olhando para o futuro”, diz Goldemberg, que desde 2006 é copresidente do Global Energy Assessment, projeto sediado em Viena que envolve cerca de uma centena de pesquisadores de vários países, analisa a situação da produção e uso da energia e faz projeções para o futuro.
S
eu trabalho pioneiro sobre a sustentabilidade do etanol teve impacto também no Brasil porque deu credibilidade científica ao Programa Nacional do Álcool, criado pelo governo militar nos anos 1970. A inspiração do Proálcool não era ambiental. O objetivo era diminuir o impacto na balança de pagamentos das importações de petróleo e dar uma opção para as usinas de açúcar, commodity obtida da cana cujos preços estavam em queda. “O etanol é energia solar liquefeita. O sol bate, a cana cresce e do seu caldo se produz etanol, combustível que é renovável e pouco contribui para o efeito estufa”, explica. As opiniões de Goldemberg reverberavam naquela época. No início dos anos 1970, opôs-se abertamente à estratégia
do governo militar de importar tecnologia nuclear sem transferência de conhecimento. Defendia que os físicos brasileiros tinham um papel a desempenhar na política nuclear do país. Em 1972, escreveu artigos na imprensa bastante críticos à compra de reatores nucleares dos Estados Unidos. Apesar da censura na época, nunca teve problema em publicá-los. “Minha militância não era política, mas em defesa dos cientistas”, diz. “Também considerava que havia um grande potencial hidrelétrico a ser desenvolvido e que o investimento em usinas nucleares podia comprometer essa estratégia”, diz. José Goldemberg nasceu na cidade gaúcha de Santo Ângelo em 1928. Era o caçula de quatro filhos de um casal de judeus russos que migrou para o Brasil no início do século passado para trabalhar na agricultura. Perdeu a mãe aos 5 anos e foi criado pelo pai e as três irmãs mais velhas. Em 1935, a família transferiu-se para Porto Alegre, onde Goldemberg fez sua formação no ensino fundamental e médio no Colégio Estadual Júlio de Castilhos. Ali, a vocação para as ciências exatas ficou clara. Com o insucesso do pai como comerciante e as dificuldades que a família enfrentava, o jovem estudante era pressionado a canalizar seus talentos para a engenharia, profissão associada à prosperidade. Mas ele trilhou outro caminho. Em 1946, foi para São Paulo fazer vestibular para
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pesquisa fapesp
E
especial prêmio conrado wessel
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Em 1990, com o presidente Collor, enterrando simbolicamente o túnel para testes nucleares na Serra do Cachimbo (MT); e, em 1994, homenageado pela Universidade de Tel Aviv
o curso de química da USP, depois de ouvir que lá havia professores muito bons e por acreditar que na química poderia estudar o assunto que mais lhe interessava, a estrutura da matéria. Entrou na USP, mas não gostou do curso, pois os professores de origem alemã adotavam uma abordagem defasada. Prestou novo vestibular no ano seguinte. No curso de física, teve aulas, em 1947, com o ítalo-ucraniano Gleb Wataghin, formador de uma geração de físicos brasileiros. Para se sustentar, foi procurar emprego. Primeiro, trabalhou como datilógrafo de um cartório. “Foi uma das experiências interessantes que tive na vida, porque me tornei um excelente datilógrafo”, contou Goldemberg em depoimento concedido em 1976 ao sociólogo Simon Schwartzman. Em 1950, foi contratado pela USP para trabalhar com o Betatron e casou-se. Dois anos depois, aceitou um convite para passar uma temporada na Universidade de Saskatchewan, no Canadá, que tinha um acelerador idêntico ao Betatron. Lá, realizou experiências que permitiram uma análise sistemática de reações fotonucleares. “Constatamos que ocorre uma ressonância gigante quando a radiação eletromagnética bate no núcleo atômico e
m 1964, tornou-se professor visitante da Universidade de Paris, mas um drama pessoal abreviou a temporada. Ele perdeu a mulher, vítima de câncer, e decidiu retornar ao Brasil com os três filhos. Na época, ganhou de presente da Universidade Stanford, como doação, o acelerador com o qual havia trabalhado nos Estados Unidos. O instrumento, no valor de cerca de US$ 1 milhão na época, ajudou a modernizar as instalações de física nuclear da USP. Em 1968, fez concurso na Escola Politécnica, da qual se tornou catedrático de Física Experimental. Com a reforma universitária, em 1970, foi para o Instituto de Física, que reuniu todos os docentes da área antes espalhados pela universidade. Logo se tornaria diretor do instituto, cargo no qual permaneceu até 1978. “O professor Goldemberg teve um papel importante para o crescimento do Instituto de Física”, diz o físico e professor da USP Ernst Hamburger, que também destaca o trabalho de Goldemberg na criação da Sociedade Brasileira de Física, cuja presidência assumiu em 1975. “Em 1969, houve as cassações, que atingiram entre outros o físico José Leite Lopes, então presidente da SBF.” Goldemberg respondeu pelo cargo interinamente e organizou novas eleições, mas, naquele momento, não quis se candidatar. “Ele se retraiu um pouco. Não sabíamos onde as cassações iam parar”, lembra Hamburger. Seguiu-se seu engajamento como presidente da SBPC, entre 1979 e 1981, momento em que se ensaiava a transição para a democracia. Goldemberg era vice-presidente da entidade, mas foi alçado ao comando com a renúncia de José Reis. Encerrado o ciclo autoritário, Goldemberg assumiu diversos cargos públicos. Foi presidente da Companhia Energética de São Paulo (1983-1985) e reitor da Universidade de São Paulo (19861990). Nessa época, acentuou seu interesse
F o t o s Arqu i vo Pe s s oa l
faz oscilar os prótons contra os nêutrons”, lembra. Foi então para a Universidade de Illinois, onde trabalhou com Donald Kerst, inventor do Betatron. Voltou ao Brasil, em 1954, e obteve o grau de doutor pela USP e, em seguida, a livre-docência. Em 1962, regressou aos Estados Unidos para trabalhar na Universidade Stanford com um acelerador linear, desenvolvendo uma técnica pioneira de medir momentos magnéticos dos núcleos.
por questões ambientais, escrevendo sobre temas como as mudanças climáticas, a biodiversidade e o buraco na camada de ozônio. “Ele levou esses temas extremamente a sério. Na USP, inspirou a criação de um programa de ciência ambiental, o Procam”, observa o astrogeofísico Luiz Gylvan Meira Filho, ex-presidente da Agência Espacial Brasileira e pesquisador visitante do Instituto de Estudos Avançados da USP. Gylvan, que fez carreira no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), era um interlocutor frequente de Goldemberg sobre temas ligados à energia e ao meio ambiente. “Um dia, ele apareceu lá no Inpe e disse, em tom de brincadeira: ‘Meus amigos, não sou mais o colega com quem vocês conversavam. Agora eu sou o chefe. Vocês vão ter que fazer o que eu venho dizendo’.” Goldemberg se tornara secretário de Ciência e Tecnologia, com status de ministro, no governo Collor, e fez de Gylvan seu assessor. Mais tarde, Goldemberg assumiu temporariamente a Secretaria do Meio Ambiente, também com status de ministro, na época da Conferência Rio-92, e depois se tornou ministro da Educação.
“Mesmo no MEC, continuou colaborando informalmente com a Secretaria da Ciência e Tecnologia. Como o novo secretário, Hélio Jaguaribe, não tinha o mesmo interesse por temas ligados à energia, de vez em quando eu ia até o MEC consultá-lo”, lembra Gylvan.
D
a experiência como homem público, costuma ser lembrado pelo protagonismo na Rio-92, o que acha um exagero. “Eu apenas era o ministro e não atrapalhei. O mérito é do canadense Maurice Strong, secretário-geral da conferência. Foi um acerto do governo Collor, que trouxe a conferência para o Rio.” De sua trajetória em cargos de governo, tem carinho especial pelo período como reitor. “A reitoria foi um período importante, porque conquistamos autonomia financeira para as universidades estaduais paulistas. Também dão mérito disso a mim, mas o Paulo Renato Souza, que era reitor da Unicamp, foi uma figura fundamental nesse processo”, diz Goldemberg. “Depois, como ministro da Educação, tentei garantir autonomia financeira às universidades federais, mas os reitores não quiseram. A autonomia implicava mais responsabilidade e eles não estavam interessados.” Entre 2002 e 2006, assumiu a Secretaria Estadual do Meio Ambiente, escolhido pelo governador Geraldo Alckmin, quando implantou no estado a colheita mecanizada da cana, missão de que se orgulha. “Foi um tremendo avanço do ponto de vista ambiental e tecnológico. Acabou com os boias-frias. O sindicato da categoria não gostou, por medo do desemprego. Isso não aconteceu, porque o etanol se expandia e podia se trabalhar em outras atividades no setor. Hoje, 80% da colheita em São Paulo é mecanizada”, afirma. Depois da aposentadoria como professor da USP, Goldemberg vinculou-se ao Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, onde dá expediente até hoje. “Ele segue muito ativo e suas opiniões continuam tendo peso. Tanto a pesquisa como o ensino da física aproveitaram muito da personalidade, do conhecimento e da habilidade do professor Goldemberg”, diz Ernst Hamburger. Casado pela segunda vez, teve uma filha e netos de várias idades. A neta mais nova tem 3 anos. “Tive netos dos meus filhos há 20 ou 30 anos e achei que a fase tinha passado. É uma alegria voltar a ter uma neta agora”, diz. n
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pesquisa fapesp
M EDICI NA
Da bancada ao paciente
l é o R amo s
Protásio Lemos da Luz, cardiologista do InCor, foi um dos pioneiros da transferência de conhecimento da área básica para a prática clínica
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ascido em 1940, em um sítio no interior do município gaúcho de Vacaria, Protásio Lemos da Luz veio ao mundo pelas mãos de uma parteira. Foi o segundo dos seis filhos de Suely Lemos da Luz e Salvador Nery da Luz. A mãe criou-o praticamente sozinha. O pai morreu quando o menino tinha 4 anos. A infância foi em meio à natureza, no convívio diário com gente do campo, animais e plantações, ao sabor do passar das estações, inclusive geadas e nevascas, como é comum naquelas latitudes do Rio Grande do Sul. “Fiz de tudo no sítio”, relembra o cardiologista Protásio, ex-professor titular de cardiologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) e hoje pesquisador sênior do Instituto do Coração (InCor). Com recortes de jornal, a mãe, que reforçava o
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Formatura em medicina na UFPR: orador da turma de 1965
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orçamento familiar costurando para fora, ensinou-o a ler – o sítio ficava longe das escolas da área urbana. Dona Suely precisava mandar os filhos para a casa de um parente na cidade quando chegasse a hora de eles receberem uma educação formal. Foi o que se passou com Protásio, que frequentou dois ginásios, um no município de Lagoa Vermelha e outro em Vacaria. O endereço de outro parente, o avô Teóphilo, em Curitiba, foi sua próxima residência. Ele se mudou para a capital do Paraná, na segunda metade de década de 1950, para cursar o científico (hoje ensino médio), direcionado para quem queria seguir carreira nas áreas de exatas ou biológicas. Protásio havia pensado em algumas profissões que poderia exercer, como padre, médico, fazendeiro, professor, militar, engenheiro ou advogado. “Por diferentes motivos, fui descar-
tando uma a uma, até sobrar a de médico”, diz. Chegou a cogitar a vida de homem do campo. Gostava da natureza, de andar a cavalo e tinha boas lembranças da infância em Vacaria. Mas também se recordava de que a lida no sítio era realmente pesada, de sol a sol, e desgastante do ponto de vista físico.
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urante o científico, tomou gosto por três disciplinas: química, biologia e português. Fascinava-o pensar como o organismo humano funcionava. Fez um teste vocacional e o resultado também apontou a área biológica como a mais indicada para sua atuação profissional. Antes de decidir o curso no qual tentaria uma vaga no vestibular, Protásio teve a chance de observar de perto a atuação de médicos. Durante o período em que trabalhou em uma farmácia como
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atendente de balcão, além de lavar vidros, viu como as famílias depositavam toda sua esperança de curar um doente nas mãos dos médicos. A medicina lhe parecia a ocupação ideal: reunia o gosto por estudar as doenças e o organismo humano com a real possibilidade de ajudar as pessoas. Em paralelo, naqueles anos de juventude, Protásio cultivava outra paixão, que, com o tempo, acabaria sendo abandonada: a política. Era de esquerda, tinha uma queda por história e política e acompanhava a trajetória de líderes de distintos matizes ideológicos, como John F. Kennedy, Winston Churchill, Fidel Castro, Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e Carlos Lacerda. Bom de oratória, com 18 para 19 anos, Protásio tornou-se presidente da União Paranaense dos Estudantes Secundaristas. Como dirigente estudantil, frequentou muitos gabinetes oficiais e teve contato com o então governador do Paraná, Moisés Lupion. “Fiz uma gestão muito boa, mas encurtei meu mandato para fazer o vestibular”, conta Protásio. “Vi também que havia muita vaidade e fingimento nessa atividade.” Em 1960, entrou na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Já no primeiro ano do curso ofereceu-se para trabalhar com o professor Giocondo Villanova Artigas, na parte de cirurgia.
A oferta, considerada muito precoce, foi inicialmente recusada, mas logo depois aceita. Apesar do desencanto com o ambiente que circundava o movimento estudantil, Protásio ainda nutria certo gosto pela atividade política. Artigas deu-lhe um ultimato – “ou faz política ou faz medicina” – e o que ainda restava do dirigente estudantil em Protásio cedeu lugar ao futuro médico. Seu interesse inicial foi pela cirurgia, mas logo mudou seu foco para a clínica médica, sob supervisão do professor Lysandro dos Santos Lima, grande influência em sua trajetória profissional. “Ele me mostrou os caminhos a seguir e revelou a essência do cuidado médico”, afirma. Formou-se em 1965 e terminou a residência em clínica médica dois anos mais tarde.
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os anos de faculdade, Protásio resolvera investir em um curso de inglês. Não era uma preocupação muito comum para médicos em formação naquele tempo, mas o jovem universitário achava que dominar esse idioma lhe seria útil na profissão. Em pouco tempo, a aposta se mostraria certeira. Terminada a residência na UFPR, resolveu buscar uma especialização. Depois de eliminar a maior parte das especialidades, ficou entre nefrologia e cardiologia. Como julgava que os avanços científicos pareciam
Como presidente da União Paranaense dos Estudantes Secundaristas, Protásio visitou em 1959 o então governador do estado, Moisés Lupion, durante congresso estudantil
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ocorrer em um ritmo mais acelerado na segunda área, decidiu dedicar-se ao estudo dos problemas do coração. Para perseguir esse objetivo, tinha de se mudar para São Paulo, onde a cardiologia era mais avançada graças ao grupo de professores e pesquisadores que se aglutinava na FM-USP. Em 1968, conseguiu vaga no disputado curso de especialização em cardiologia de Luiz Venere Décourt, professor titular de Clínica Médica da faculdade, que seria um dos idealizadores do InCor.
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ouco depois de ter concluído o curso em 1969, surgiu uma oportunidade que iria moldar o perfil da carreira de Protásio. O InCor, ainda em fase de planejamento, queria enviar aos Estados Unidos um cardiologista para aprender a fazer pesquisa experimental, com modelos animais, além de estudos clínicos, especialmente com pacientes sob cuidados intensivos. A ideia era, em poucos anos, ter um profissional com esse perfil nos quadros do InCor, um médico pesquisador que pudesse implantar um setor de pesquisa experimental quando fosse criado um instituto dedicado às doenças do coração. “Era o único da minha turma que falava bem inglês e tinha todas as credenciais para me candidatar ao estágio nos Estados Unidos”, conta. Com bolsa da FAPESP, passou dois anos (1971-1973) no
Hollywood Presbiterian Medical Center, ligado à Universidade do Sul da Califórnia (USC), em Los Angeles. Ficou no setor de medicina intensiva, na unidade de choque chefiada pelo professor Max Harry Weil, uma autoridade no trato de pacientes em estado crítico. Voltou por um breve período a São Paulo para defender a tese de doutorado na FM-USP e retornou novamente para uma temporada de mais três anos nos Estados Unidos, dessa vez como pesquisador do setor de cardiologia do Cedars-Sinai Medical Center, da Universidade da Califórnia em Los Angeles (Ucla). Nesse hospital, trabalhou com dois médicos-pesquisadores que se tornaram referência para a cardiologia internacional, William Ganz e Harold Jeremy Charles Swan. A dupla entrou para a história da cardiologia por ter inventado, na primeira metade dos anos 1970, o chamado cateter de Swan-Ganz, um dispositivo flexível instalado, através da artéria pulmonar, em pacientes que sofreram infarto do miocárdio para monitorar as funções cardíacas e avaliar os efeitos da administração de drogas. “Naquela época não se sabia por quanto tempo depois do infarto ainda era possível tratar o paciente”, lembra Protásio. Havia quem acreditasse que 20 minutos depois de o músculo cardíaco ter sofrido uma parada não era mais possível reverter o quadro. Durante os três anos no
Cedars-Sinai, o pesquisador brasileiro se orgulha de ter participado, decisivamente, de estudos que ajudaram a estabelecer as bases do tratamento moderno do infarto do miocárdio, inclusive dos trabalhos que mostraram a viabilidade de se intervir sobre o músculo cardíaco em um prazo máximo de até três horas após a sua parada.
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m julho de 1976, estava de volta ao Brasil. Tornou-se professor livre-docente da Faculdade de Medicina e começou a instalação de um laboratório de pesquisa experimental com modelos animais no InCor, cujo prédio havia sido terminado no ano anterior. Em São Paulo, direcionou seus estudos para o infarto do miocárdio e a compreensão da aterosclerose, a formação de placas de gordura nos vasos sanguíneos, um processo que pode levar ao infarto. Em seus trabalhos científicos com animais e pacientes, privilegiou a busca por métodos não invasivos de detecção da aterosclerose. Mais recentemente, passou também a se dedicar a estudos sobre o consumo moderado de vinho tinto como forma de minimizar a formação de placas de gordura nas artérias, tanto em animais como no homem. Essas últimas pesquisas tiveram considerável repercussão no meio científico e entre os leigos. Concomitantemente aos trabalhos científicos, nunca deixou de exercer a medicina e cuidar de seus pacientes. “Protásio fez o que chamamos hoje de pesquisa translacional, abrangendo desde a parte de ciência básica até a prática clínica”, diz o cardiologista Eduardo Moacyr Krieger, vice-presidente da FAPESP e ex-diretor da Unidade de Hipertensão do InCor. “Ele sempre teve essa dupla atuação, de pesquisador e clínico, e procurou manter uma relação humana com os pacientes”, afirma a cirurgiã Angelita Habr-Gama, amiga e professora aposentada da FM-USP. Desde 2010, Protásio está formalmente aposentado da FM-USP, onde atingiu o topo da carreira universitária como professor titular. Mas continua na ativa, como médico e pesquisador. De forma voluntária comparece diariamente ao InCor para tocar seus estudos. As tardes são dedicadas ao seu consultório particular, onde realizou mais de 25 mil atendimentos ao longo de quase quatro décadas. Do currículo de Protásio, que foi presidente da Sociedade de Cardiologia do
Estado de São Paulo e da Sociedade Brasileira de Investigação Clínica, constam mais de 420 trabalhos científicos, dos quais 150 artigos em revistas internacionais e mais de 50 capítulos escritos para livros técnicos, fora os trabalhos em congressos e apresentações de palestras. Em 2004, recebeu o Prêmio Jabuti pelo livro Endotélio e doenças cardiovasculares, escrito com Francisco R. M. Laurindo e Antonio C. P. Chagas. Recentemente passou a escrever livros menos técnicos, orientados a um público mais amplo, como Nem só de ciência se faz a cura, de 2004, e As novas faces da medicina, de 2014. Para Protásio, a maior contribuição de sua carreira à cardiologia não foram os trabalhos científicos, embora esses tenham sido também importantes. “Acho que a formação de pessoal, de outros médicos, é o meu maior legado”, afirma. “Sua determinação científica e honestidade ímpar sempre foram uma referência”, diz o cardiologista Antonio C. P. Chagas, que foi orientado por Protásio no doutorado, faz parte de seu grupo de pesquisa e hoje é professor livre-docente da FM-USP e titular da Faculdade de Medicina do ABC. n
Na página ao lado, com o cardiologista William Ganz em Chicago, em 2003, uma das influências na sua formação profissional. Abaixo, Protásio (esq.) em torneio de laço beneficente realizado no município gaúcho de Esmeralda, no início dos anos 1980: gosto pela vida do campo
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cu ltu r a
Domínio da arte de viver
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Sempre inquieta, a atriz Fernanda Montenegro segue atuando na TV, em filmes e no teatro
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ernanda Montenegro estrelou todos os naipes que se espera de uma infatigável atriz de sucesso: foi artista, aviadora, cafetina, mãe, madame, miserável, milionária, prostituta, samaritana. Foi heroína, vilã e até Virgem Maria. Já há bastante tempo é considerada pela crítica especializada uma das grandes atrizes brasileiras de todos os tempos. Esteve em mais de 50 peças, 30 novelas e minisséries e 15 filmes. Laureada com mais de 35 prêmios nos seus 70 anos de carreira, a atriz nunca parou. E nem pretende. “Ficar parada não é da minha natureza”, declarou a artista nas diversas entrevistas na época da estreia do monólogo Viver sem tempos mortos (2010), inspirado na vida da escritora francesa Simone de Beauvoir. Senhora de olhos expressivos, lábios finos e marcas de expressão que ganhou ao longo
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Inquietação identitária talvez amenizada com o passar do tempo, pois a artista certa vez dissera num já distante 1995: “Eu não sei quem eu sou. A gente acha que a gente é alguém. A gente acha que a gente pode ser alguém. Às vezes, a gente é até alguém, mas definir? Não há definição de nada. Muito menos de mim mesma, pois inclusive nem sei realmente em que zona eu me apresento ou me escondo. Vou vivendo. Só isso”.
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de seus 85 anos, Fernanda já recebeu diversas designações – de old lady from Ipanema a “dama da dramaturgia”, definição da qual não gosta. “É ridículo. É como se me tirassem de uma pessoa e me transformassem em uma personagem”, afirmou em outra entrevista. Entre atos e cenas, a busca por uma identidade sempre inquietou a atriz, que tantas vezes se transformou e assumiu outras personalidades, como nos versos adorados, atribuídos a Clarice Lispector: “Esta mulher que é minha mãe / Esta mulher que é minha avó / Esta mulher que é minha filha / Esta é a mulher que sou / Sou todas elas, ainda mais algumas / E nenhuma delas, nenhuma, / Nenhuma delas é a mulher que sou”.
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Acima, Paulo Autran e Fernanda na novela Guerra dos sexos, de 1983. Ao lado, com Fernando Torres, seu companheiro por 60 anos, na peça Dias felizes, dirigida por Jacqueline Laurence, em 1995
arioca do bairro de Campinho, descendente de imigrantes italianos, Fernanda Montenegro – batizada como Arlette Pinheiro Esteves da Silva – tinha 15 anos e fazia o curso técnico de secretariado. Também já trabalhava na Rádio MEC como locutora e adaptando peças literárias para roteiros de radionovelas, de acordo com O exercício da paixão (1990), biografia da atriz escrita pela jornalista Lúcia Rito. Ao lado da rádio estava a Faculdade Nacional de Direito, depois vinculada à atual Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ponto de encontro de uma trupe de teatro amador, onde Fernanda daria os primeiros passos rumo aos palcos. Estreou em 1950 com Alegres canções nas montanhas, de Julien Luchaire, com tradução de Miroel Silveira, ao lado do ator Fernando Torres (1927-2008), com quem se casaria não muito tempo depois, aos 23 anos. Da união, nasceram o cineasta Cláudio Torres, em 1962, e a atriz Fernanda Torres, em 1965.
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Desde a década de 1950, a atriz cultivou grandes amizades no palco e nos bastidores. No cinema, debutou em 1964 com A falecida, filme inspirado na tragédia escrita pelo amigo Nelson Rodrigues e dirigido por Leon Hirszman. Do mesmo diretor, filmaria o clássico Eles não usam black-tie (1981), com Gianfrancesco Guarnieri, autor da peça (1958) que inspirou a fita. No eixo Rio-São Paulo, atuou na TV Tupi, na Companhia Maria Della Costa e no Teatro Brasileiro de Comédia. Em 1959, Fernanda e Fernando fundaram a própria companhia: o Teatro dos Sete, com Sérgio Britto, Ítalo Rossi, Gianni Ratto, Luciana Petruccelli e Alfredo Souto de Almeida. “Juntamente com Fernando Torres, meu companheiro por 60 anos, produzimos uma dramaturgia respeitável e responsável: Cervantes, Molière, Racine, Goldini, Henri Becque, O’Neill, Pirandello, Harold Pinter, Peter Weiss, Simone de Beauvoir, Fassbinder, Beckett, entre tantos. Além de tantos brasileiros: de Martins Penna a Nelson Rodrigues”, lembrou Fernanda em depoimento para este perfil. “Para mim, o importante dessa trajetória é que sempre levamos nossas produções às periferias, aos teatros populares. Sempre houve grande interesse dessas plateias pelo que lhes trazíamos ou lhes trazemos. Essas plateias nunca nos abandonaram. De Racine
a Beckett. Quando há debates após a apresentação, esses espectadores nunca deixam de se posicionar”, contou a atriz.
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a década de 1960, Fernanda estreou nas novelas. A “estrela Montenegro”, como a homenageou o amigo Milton Nascimento na música Mulher da vida, tornou-se, principalmente a partir da década de 1980, o nome preferido de diretores e roteiristas como Cassiano Gabus Mendes, Gilberto Braga, Guel Arraes, Manoel Carlos e Sílvio de Abreu, marcando presença em numerosas produções da TV Globo – muitas vezes interpretando papéis escritos especialmente para ela. Um dos grandes sucessos televisivos ocorreu com a novela Guerra dos sexos (1983), de Sílvio de Abreu, em que atuou com Paulo Autran, outro grande ator e amigo. Entre tantas atuações no país, um filme foi o responsável por catapultar seu nome no exterior: Central do Brasil, de Walter Salles, em 1998. Fernanda Montenegro deu vida à personagem Dora, que trabalhava na estação Central do Brasil, no Rio, escrevendo cartas a pedido de analfabetos. Cruzou-lhe o caminho um menino, Josué, vivido por Vinícius de Oliveira, que ficou órfão nos primeiros minutos do drama. Dora decide levar o garo-
Fernanda e Vinícius de Oliveira no filme Central do Brasil, de 1998: atuação rendeu a indicação de melhor atriz ao Oscar de 1999
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Fernanda no monólogo Viver sem tempos mortos, dirigida por Felipe Hirsch. Em 2012, a atriz se apresentou em 21 CEUs na periferia de São Paulo, com sessões gratuitas. Na página ao lado, o trabalho atual, com Nathália Timberg na novela Babilônia, da TV Globo
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to ao encontro do pai, cruzando o país para enveredar pelo sertão nordestino. Dora rendeu a Fernanda uma indicação inédita ao Oscar em 1999 – a única brasileira indicada ao prêmio até hoje. Quem ganhou, no entanto, foi a atriz norte-americana Gwyneth Paltrow por Shakespeare apaixonado. À época, Fernanda se definiu no talk-show de David Letterman como “azarão” na disputa e como old lady from Ipanema, referência à música de Tom Jobim e Vinicius de Moraes. O diretor Walter Salles atribui à atriz os méritos do trabalho: “O filme inteiro foi construído em torno de Fernanda. Ela levou cada um de nós a fazer o melhor. Central do Brasil não existiria sem ela”, afirmou o cineasta para esta edição.
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filme foi um marco não só na carreira da atriz, mas na história do cinema nacional. Salles a define como a atriz “mais extraordinária” com quem trabalhou. “Ela é uma das raras pessoas que fazem o Brasil melhor. Pela excelência e o rigor de seu trabalho, pela extrema inteligência e sensibilidade, pela capacidade de pensar o país
onde vivemos com uma grande coragem e pertinência. A Fernanda artista e a Fernanda cidadã são inseparáveis. Uma se prolonga na outra, para nossa sorte”, diz o diretor. Fernanda artista e Fernanda cidadã se encontram em inúmeros momentos. No prefácio de O exercício da paixão, Caetano Veloso arriscou impressões sobre as diversas faces da atriz: “Há artistas que nos abalam com a potência do seu gênio; muitos, na tentativa desesperada de salvar o mundo, dele se afastam, às vezes virando as coisas à própria arte, à vida mesmo. Fernanda, artista de gênio, em nenhum dos três itens foge ao centro: no meio do mundo, no meio da arte, no meio da vida”. Tal imersão persistiu nos últimos tempos. Em 2012, Fernanda levou aos palcos paulistanos o monólogo Viver sem tempos mortos, dirigido por Felipe Hirsch. Inspirada na escritora francesa Simone de Beauvoir (1908-1986), a peça teve sessões gratuitas em 21 Centros Educacionais Unificados (CEUs), como parte do projeto CEU é Show, que levou mais de 800 espetáculos de música e teatro aclamados pela crítica para a periferia de São Paulo. “Foram dias intensos, mas felizes”, declarou a atriz, admirada ao
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encontrar “teatros exemplares e extraordinariamente cuidados”. “Cresci com meus pais fazendo turnês nas periferias de São Paulo e do Rio, participando de leituras dramáticas, encontros e debates. Cresci aprendendo que isso é importantíssimo para não se criar uma cidade partida”, lembra a filha Fernanda Torres. “Ter a presença de uma artista da dimensão da mamãe dentro de um centro cultural na periferia é importante para os dois lados, o artista e o público. Minha mãe ficou fascinada com o público do CEU, que estava muito preparado para melhor usufruir da experiência”, comentou a atriz, entre gravações da série Tapas e beijos, da TV Globo. “Houve quem dissesse: ‘Ah, Simone de Beauvoir, um projeto elitista’. E aconteceu o contrário, as mulheres assistiam e diziam: isso é a minha vida. Não existe a cultura da elite e a cultura do povo. O grande lance da cultura é fazer essa ponte, de A a Z.” A mãe complementa as palavras da filha: “O artista deve ir com o seu melhor e acreditar naquele ser humano que está diante de si na plateia. Essa diversificação de repertório, essa democratização é a função do teatro. A minha geração fez e faz essa trajetória. Vivi e vivo o impacto desse encontro emocional, dialético, redentor, que só o teatro dá. E essas plateias populares estão sedentas dessa fé. O melhor e eterno teatro hoje vive nas catacumbas, nos pequenos espaços, nas periferias, nas favelas, nas comunidades. Falo sem demagogia”, afirmou Fernanda em depoimento a esta edição, entre gravações da novela Babilônia, de Gilberto Braga.
Nessa trama de 2015, a atriz interpreta Teresa, que vive um relacionamento amoroso de décadas com Estela (Nathália Timberg). No primeiro capítulo, as atrizes deram um beijo apaixonado que despertou conservadorismos adormecidos. “Não posso acreditar que ainda se espantem com a homossexualidade. Não acredito que, depois de tantas novelas com essa temática, ainda tenha esse escândalo”, lamentou Fernanda, à época, em entrevista à imprensa.
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ernanda Montenegro recebeu reconhecimento de diversas instituições, artísticas e políticas, com prêmios em festivais nacionais e internacionais – Imprensa, Molière, Shell, Urso de Prata no Festival de Berlim, Festival de Havana, entre muitos outros, além do FCW de Cultura 2014. Em 2013, tornou-se a primeira atriz latino-americana a vencer o Emmy Internacional, por sua atuação no especial Doce de mãe, da TV Globo. O reconhecimento à contribuição da atriz não ficou restrito às confrarias artísticas. Convidada para ser ministra da Cultura nos governos de José Sarney e Itamar Franco, Fernanda gentilmente recusou. Em 1999, foi condecorada com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito por Fernando Henrique Cardoso. “Se estivéssemos na Inglaterra, você seria dame, seria lady. Não vale a pena. É melhor ser o que você é [...], com essa espontaneidade, com essa força extraordinária, com talento incrível e com simplicidade”, disse o presidente, ao entregar a comenda civil à atriz. Senhora de seu tempo, Fernanda parece dominar a arte de viver sem tempos mortos. E recita Simone de Beauvoir para expressar essa arte: “A impressão é de não ter envelhecido, embora eu esteja instalada na velhice. O tempo é irrealizável. Provisoriamente, o tempo parou para mim. Provisoriamente. Mas eu não ignoro as ameaças que o futuro encerra, como também não ignoro que é o meu passado que define a minha abertura para o futuro. O meu passado é a referência que me projeta e que eu devo ultrapassar. Portanto, ao meu passado devo o meu saber e a minha ignorância, as minhas necessidades, as minhas relações, a minha cultura e o meu corpo. Que espaço o meu passado deixa para a minha liberdade hoje? Não sou escrava dele. (...) Não desejei nem desejo nada mais do que viver sem tempos mortos”. n
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Tropa de elite, de Gabriel Monteiro As pessoas retratadas no ensaio são moradores da antiga comunidade de Pinheirinho, em São José dos Campos, que entraram em confronto com a polícia em 2012. Gabriel Monteiro reuniu alguns deles em estúdio e refez as fotos dos “combatentes” com roupas normais e com suas 32 armaduras improvisadas
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Luta pela moradia
2014 FINALISTAS E ENSAIOS
Paula Huven Almeida Devastação
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s embates entre a Polícia Militar e o grupo de moradores da comunidade Pinheirinho, em São José dos Campos (SP), sugeriram ao fotógrafo Gabriel Monteiro o ensaio que ganhou o primeiro lugar do Prêmio FCW de Arte 2014. Ele retratou homens e mulheres que transformaram objetos comuns em equipamento de defesa para resistir à ordem de despejo de uma área invadida em 2012. O enfrentamento dos sem-teto tornou-se emblemático da luta por moradia no país. Monteiro, que faz parte do coletivo de fotógrafos Trëma, baseado em São Paulo, reuniu alguns daqueles antigos moradores em estúdio dois anos depois e os retratou em suas armaduras improvisadas. Os “comba-
Felipe Barata Russo Centro Thiago Santos Facina Escadas
tentes” se referiam a eles mesmos como “tropa de elite”, que inspirou o nome do ensaio agora premiado. O segundo lugar foi para André Hauck, de Belo Horizonte, com Sombras, e o terceiro para João Teixeira Castilho, também de Minas Gerais, com Zoo. Os três dividirão R$ 200 mil (R$ 114,3 mil para o primeiro lugar e R$ 42,3 mil para os demais), além de receber uma escultura do artista plástico Vlavianos. As fotos de Monteiro, Hauck e Castilho e dos 12 finalistas foram expostas na Sala São Paulo, na capital paulista, no dia 15 de junho, mesma data da entrega do Prêmio FCW 2014. Nas páginas seguintes é possível conhecer os três ensaios ganhadores.
Nair Benedicto O desafio da alteridade Luciana Berlese Relicário Iatã Cannabrava Miamização de Fortaleza Marlos de Almeida Bakker 05007-002 05005-060 Pedro David 360 metros quadrados Barbara Wagner Crentes e pregadores Bruno Veiga Ribeiro Polípticos Brunno Covello O Haiti é aqui Fernando Cohen Pinheiros
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2º lugar
Sombras , de André Hauck A série de fotos foi feita na região de Lagoinha, em Belo Horizonte, local de consumo de crack. Os dependentes se abrigam embaixo de viadutos e acendem fogueiras muito próximas dos pilares de concreto. Os registros fotográficos mostram essa situação social extrema de modo indireto, por meio dos vestígios do fogo
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3º lugar
Zoo, de João Castilho Neste ensaio, animais silvestres são mostrados em ambientes domésticos. A maioria dos lugares fotografados é de Minas Gerais. “A maior dificuldade foi encontrar um animal que fosse possível deslocar para uma locação e pudesse ser fotografado com segurança”, diz Castilho
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ensaio fotográfico
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1º lugar
1º lugar
O livro do Sol,
Ousadia ímpar,
de Gilvan Barreto
de Denise Wichmann
2011 ensaio fotográfico
fotografia publicitária
1º lugar
Albinos, de Gustavo Lacerda
1º lugar
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Cantora de ópera,
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2º lugar
2º lugar
Belo Monte - Os impactos
Negros paroxismos,
de uma megaobra,
de Lucio Adeodato
de José Luiz
ensaio fotográfico publicado
de Lalo de Almeida
ensaio fotográfico publicado
3º lugar 3º lugar
Panoramas,
Parque aquático,
de Cassio Vasconcellos
Pederneiras
de Roberta Sant’Anna 1º lugar
A curva e o caminho,
2012
de André François
ensaio fotográfico
1º lugar
O sol no céu de nossa casa, de Marcio Rodrigues e
1º lugar
Marco Mendes
Sufocamento, de Pedro David
ensaio fotográfico 1º lugar
2º lugar
Imagens humanas,
2º lugar
de João Roberto Ripper
Vie las, de Francilins Castilho
TV P&B,
Leal
de Tadeu Vilani 2º lugar
Drom,
ensaio fotográfico inédito
o caminho cigano, de Gui Mohallem
1º lugar
ensaio fotográfico inédito
Sem título,
2º lugar
de Ricardo Barcellos
Planos de fuga,
3º lugar
de Mauro Restiffe
Índios contemporâneos,
Cidadão X,
de Kenji Arimura
de Julio Bittencourt
2010
2008
3º lugar
Belvedere, de Bob Wolfenson
1º lugar
fotografia publicitária
2005
2003
fotografia publicitária
fotografia publicitária
1º lugar
1º lugar
Existem chances
Campanha do
de cura...,
produto giz,
de Maurício Nahas
de Bob Wolfenson
2º lugar
Gol. Sempre fiel a você..., de Andreas Heiniger
1º lugar
Tim: viver sem
3º lugar
fronteiras,
Lonas Alpargatas:
de Gustavo Lacerda
o superpoder do caminhoneiro,
2º lugar
de Gustavo Lacerda
Abraço, de Ricardo de Vicq
2º lugar
Píer,
2007
de Leonardo Martins
fotografia publicitária
3º lugar
Vilela, para G’Staff
Menino com bola, de Márcia Ramalho
fotografia publicitária
1º lugar
Caminhos do coração, de Alexandre Salgado
1º lugar
Irado,
2º lugar
120 razões para ser cliente completo,
Ensaio fotográfico
de Ricardo Cunha
2002 fotografia publicitária
de Gustavo Lacerda
ensaio fotográfico
1º lugar
1º lugar
O chão
Colorama,
de Graciliano,
de Klaus Mitteldorf
de Tiago Santana 2º lugar
Numa janela do edifício Prestes Maia, 911 ,
2º lugar
de Julio Bittencourt
Borboleta, de Paulo Vainer
1º lugar
2º lugar
Redemunho,
3º lugar
AXE,
de João Castilho
Gordinha,
de Maurício Nahas
de Felipe Hellmeister 2º lugar
O homem e a terra, de Lalo de Almeida
2006
2004
3º lugar
ISA - Projeto Água Viva, de Allard
Instituições Parceiras da FCW Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP Ligada à Secretaria do Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo, é uma das principais agências de fomento à pesquisa científica e tecnológica. Desde 1962 concede auxílio à pesquisa e bolsas em todas as áreas do conhecimento, financiando atividades de apoio à investigação, ao intercâmbio e à divulgação da ciência e tecnologia em São Paulo.
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Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Capes Vinculada ao Ministério da Educação, promove o desenvolvimento da pós-graduação nacional e a formação de pessoal de alto nível, no Brasil e no exterior. Subsidia a formação de recursos humanos altamente qualificados para a docência de grau superior, a pesquisa e o atendimento da demanda dos setores públicos e privados.
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Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq Fundação vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação para apoio à pesquisa brasileira, que contribui diretamente para a formação de pesquisadores (mestres, doutores e especialistas em várias áreas do conhecimento). É uma das mais sólidas estruturas públicas de apoio à ciência, tecnologia e inovação dos países em desenvolvimento. Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC Fundada há mais de 60 anos, é uma entidade civil, sem fins lucrativos, voltada principalmente para a defesa do avanço científico e tecnológico e do desenvolvimento educacional e cultural do Brasil. Academia Brasileira de Ciências – ABC Sociedade civil sem fins lucrativos, tem por objetivo contribuir para o desenvolvimento da ciência e tecnologia, da educação e do bem-estar social do país. Reúne seus membros em 10 áreas das ciências: Matemática, Física, Química, da Terra, Biológica, Biomédica, da Saúde, Agrária, da Engenharia e Humanas. Academia Brasileira de Letras – ABL Fundada em 20 de julho de 1897 por Machado de Assis, com sede no Rio de Janeiro, tem por fim a cultura da língua nacional. É composta por 40 membros efetivos e perpétuos e 20 membros correspondentes estrangeiros. Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial Criado na década de 1950, é uma organização do Comando da Aeronáutica que tem como missão o ensino, a pesquisa e o desenvolvimento de atividades aeronáuticas, espaciais e de defesa, nos setores da ciência e da tecnologia. Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa Organização sem fins lucrativos que tem por objetivo maior articular os interesses das agências estaduais de fomento à pesquisa em todo o país. Criado oficialmente em 2007, o conselho já agrega fundações de 22 estados, mais o Distrito Federal. Marinha do Brasil Integrante do Ministério da Defesa. Contribui para a defesa do país e atua na garantia dos poderes constitucionais e em apoio à política externa do país. Academia Nacional de Medicina – ANM Fundada em 1829, contribui para o estudo, a discussão e o desenvolvimento das práticas da medicina, cirurgia, saúde pública e ciências afins, além de servir como órgão de consulta do governo brasileiro sobre questões de saúde e educação médica.
Júri dos prêmios FCW de 2014 ciência parceira que indicou Jacob Palis Jr. / Presidente abc Carlos A. Vogt fcw Erney Plessmann de Camargo Fcw Ivan Marques de Toledo Camargo FCW Jerson Lima da Silva SBPC Jorge Almeida Guimarães Capes José Roberto Drugowich de Felício Fcw Marcello André Barcinski Capes Marco Antonio Sala Minucci FCW Mario Neto Borges Confap Maurício Pozzobon Martins DCTA Paulo Sérgio Lacerda Beirão CNPq Sergio Roberto Fernandes dos Santos Marinha do Brasil Wanderley de Souza FCW cultura Carlos A. Vogt / Presidente Fcw Ana Mae Tavares Bastos Barbosa SBPC Domício Proença Filho Abl Glaucius Oliva CNPq Jorge Almeida Guimarães Capes José de Souza Martins FAPESP José Murilo de Carvalho ABC Maria Zaira Turchi Confap medicina Renata Caruso Fialdini / Presidente Fcw Angelita Habr-Gama FCW Eliete Bouskela Confap Erney Plessmann de Camargo Fcw Guilherme Suarez Kurtz Capes José Osmar Medina Pestana SBPC Marcelo Marcos Morales CNPq Marco Antonio Zago FCW Mário José Abdalla Saad FAPESP Pietro Novellino ANM Arte / ensaio fotográfico Rubens Fernandes Junior / Presidente Facom-Faap Cláudia Guilmar Linhares Sanz UnB Christian Cruz O Estado de S.Paulo Daigo Oliveira Suzuki Folha de S.Paulo Eugênio Sávio Lessa Baptista PUC-MG Gilvan Barreto Vencedor do prêmio FCW de Arte 2013 Joaquim Marçal Ferreira de Andrade PUC-Rio José Afonso da Silva Junior UFPE Juan Esteves Revista Fotografe Melhor Ricardo de Leone Chaves Zero Hora Ronaldo Entler Facom-Faap
Cronograma da premiação 2015 Prazo para recebimento das indicações (Ciência e Cultura)
Preparação dos dossiês dos indicados
16 a 24 de novembro de 2015
Julgamento e escolha dos premiados
26 e 27 de novembro de 2015
(Ciência e Cultura)
(Ciência e Cultura)
Prazo para recebimento das inscrições pesquisa fapesp
(Arte)
especial prêmio conrado wessel
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13 de novembro de 2015
Escolha dos premiados (Arte)
Cerimônia de premiação
14 de dezembro de 2015 a 11 de março de 2016
24 a 28 de março de 2016
13 de junho de 2016
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