F C Os vencedores do Prêmio de Arte, Medicina e Cultura 2015
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Prêmio Fundação Conrado Wessel
coordenação desta edição José M. Caricati
FUNDAÇÃO CONRADO WESSEL Rua Pará, 50 - 15º andar Higienópolis - CEP 01243-020 São Paulo - SP – Brasil Tel.: +55 11 3151-2141 www.fcw.org.br
Índice 4
Doação anual da FCW permite aos bombeiros de São Paulo se aprimorarem no exterior
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A partir da edição 2015-2016, duas categorias entre Ciência, Medicina e Cultura serão escolhidas a cada ano
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Rubens Belfort Júnior une pesquisa e ensino em oftalmologia a mutirões de cirurgia de catarata pelo país
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Cercada de admiradores e leitores, Lygia Fagundes Telles reafirma sua necessidade essencial de escrever
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Conheça os ensaios fotográficos dos premiados na categoria Arte
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Dinheiro ganho por Conrado Wessel com criação de fórmula para papel fotográfico é usado em filantropia e premiações
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Veja quais são as instituições parceiras da FCW
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Jurados de várias áreas escolheram os ganhadores das três categorias
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Cronograma da premiação 2016 f oto s da s c a pa s L é o r a m o s
Para salvar
mais vidas Doação anual da Fundação Conrado Wessel permite aos bombeiros de São Paulo se aprimorarem no exterior
pesquisa fapesp
N
o parque de simuladores de incêndio da Escola Superior de Bombeiros (ESB), em Franco da Rocha, Região Metropolitana de São Paulo, homens vestidos com roupas e máscaras de proteção observam o fogo tomar conta de alguns contêineres para só então entrar e começar a combatê-lo. Em outra parte da escola, uma equipe trabalha rapidamente retalhando um carro blindado e, mais adiante, duas dezenas de jovens mergulham e nadam no lago local a uma temperatura externa de menos de 10 graus Celsius. Essas cenas fazem parte da rotina da ESB, onde os ingressantes no Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Esta-
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especial prêmio fcw
Treinamento na ESB, em Franco da Rocha, acima e à direita, nos contêineres do parque de simuladores de incêndio
f oto s E S B / C o r p o d e b o m B e i r o s d o E sta d o d e S ão Pau lo
5 do de São Paulo recebem aulas teóricas e práticas de como agir em ocorrências que vão de acidentes de grandes proporções a tentativas de suicídio e resgate de animais domésticos. A Fundação Conrado Wessel (FCW) tem participação importante nesses treinamentos. Desde 2000, 755 bombeiros do estado de São Paulo foram enviados a 10 diferentes países para conhecer novas tecnologias, trocar experiências, participar de cursos, congressos, feiras técnicas, competições e visitas a outras corporações (ver quadros na página 7). Anualmente, a FCW paga a viagem e a estadia de profissionais para o destino definido por eles. Há cerca de 8 mil funcionários no Corpo de Bombeiros, divididos por todo o estado em 20 agrupamentos em terra, um marítimo e unidades administrativas. Os comandantes dos agrupamentos se reúnem uma vez por ano para indicar de duas a três pessoas de cada unidade, que ganharão a viagem de aprimoramento no exterior, de acordo com critérios técnicos. Este ano, em estadias que duraram de três a 10 dias entre abril e julho, dois bombeiros visitaram uma cidade na Alemanha (Mannheim) e 49 estiveram em cinco outras nos Estados Unidos (South Saint Paul, Indianápolis, Las Vegas, Los Angeles e College Station). Na primeira estadia, o objetivo foi estagiar no setor de atendimento operacional de produtos perigosos da empresa química alemã Basf. As demais viagens foram para municípios norte-americanos onde ocorriam cursos de atualização em equipamentos de combate a incêndio, participaram de feira técnica, assistiram a palestras sobre estudo de caso de ocorrências reais e realizaram atividades de capacitação tecnoprofissional. Na volta ao Brasil, como ocorreu nos anos anteriores, esses bombeiros se tornaram multiplicadores de conhecimento ao repassar para os colegas o que foi aprendido no exterior. A atual qualidade do atendimento é reconhecida pela população: segundo o Índice de Confiança Social, pesquisa realizada pelo Ibope des-
de 2009, o Corpo de Bombeiros aparece no topo do ranking como a mais confiável instituição brasileira por sete anos (2009-2015). “O intercâmbio é essencial para conhecermos o que há de mais moderno na nossa área”, afirma o major Carlos Roberto Rodrigues, chefe da Divisão de Ensino da ESB. Em 2007, junto com outros 43 bombeiros, o major Rodrigues foi um dos escolhidos para ir a Adelaide, na Austrália. O militar teve de estudar inglês intensivamente para conseguir se comunicar. “A maioria de nós só fala português e nunca tinha viajado para o exterior”, contou. “Foi bom porque tivemos contato com outra cultura, visitamos quartéis, aprendemos muito.”
pesquisa fapesp
E
m Adelaide, eles participaram dos Jogos Mundiais dos Bombeiros daquele ano e assistiram a palestras e seminários para profissionais de todas as partes do mundo. Os jogos são bianuais e qualquer cidade que tenha boa estrutura pode se candidatar. “Foi em Adelaide que vi um sistema de suporte logístico que talvez possamos replicar aqui”, diz o major Rodrigues. Trata-se de um contêiner que é levado ao local do acidente com tudo o que é necessário para os
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especial prêmio fcw
primeiros socorros em grande quantidade: pranchas para vítimas, equipamento para cortar veículos, material abundante de primeiros socorros. Segundo o capitão Diógenes Martins Munhoz, chefe do Laboratório de Resgate da ESB, a formação do bombeiro diz respeito, ainda, à parte cultural. “Conhecer as diversas culturas bombeirísticas pelo mundo faz diferença. É importante comparar nosso modo de trabalhar com o de outros profissionais, trazer know-how, conhecer experiências realizadas em culturas diferentes”, afirma. “O Corpo de Bombeiros só pode dar uma medalha e agradecer o bom trabalho feito por um profissional da corporação. Já a FCW nos dá uma premiação mais expressiva porque nos permite adquirir mais conhecimento.”
f oto s E S B / C o r p o d e b o m B e i r o s d o E sta d o d e S ão Pau lo
Carros doados são usados para treino de salvamento de vítimas de acidentes no trânsito (à esq. e abaixo)
7 Destino das viagens Bombeiros participaram de congressos e feiras técnicas no exterior
2000 Mantes De La Jolie (França)
22
2001 Indianápolis (EUA)
52 44 61 46
2006
Hong Kong (China)
2009
Toronto (Canadá)
2010
Belfast (Irlanda do Norte)
2011 Indianápolis (EUA)
26
2012
29 10
2013 Indianápolis (EUA) 2013
30 15 11
Sidney (Austrália)
Belfast (Irlanda do Norte)
2014 Indianápolis (EUA) 2015
Hannover (Alemanha)
2015 Indianápolis (EUA)
34 Fonte FCW
Competições internacionais Profissionais estiveram em algumas edições dos Jogos Mundiais dos Bombeiros 32
2003
Barcelona (Espanha)
33
2004
Sheffield (Inglaterra)
2005
Toronto (Canadá)
50 47
2007 Adelaide (Austrália)
48
2008 Liverpool (Inglaterra) 29 20
Fonte FCW
2011
Nova York (EUA)
2015
Fairfax (EUA)
A ESB é a maior escola da América Latina. Está instalada em Franco da Rocha desde 1999 em um terreno de 109 hectares com área construída de 57 mil metros quadrados. Além do parque de simuladores, há ampla estrutura como torres para salvamento em altura, sistema de galerias subterrâneas para treino em espaço confinado, pista para resgate em estruturas colapsadas, piscinas, alojamento que pode abrigar 800 alunos e 32 salas de aula. “Recebemos bombeiros de todo o país e da América Latina”, conta o major Rodrigues. Os cursos ministrados são numerosos e variados, como, por exemplo, de salvamento terrestre, em altura, aquático e veicular, além de mergulho autônomo e primeiros socorros. A escola já chegou a receber de uma só vez 1.400 alunos.
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s aulas são dadas pela equipe da ESB. Carlos Rodrigues fez cinco anos de Academia Militar e o Curso de Formação de Oficiais, além do curso de bombeiros. É formado em direito e engenharia civil. “A área de estruturas colapsadas me interessa”, diz ele. Diógenes Munhoz se graduou nas duas mesmas áreas e hoje faz mestrado profissional em psicologia no Curso de Oficiais da Polícia Militar para aperfeiçoar a abordagem quando há ameaça de suicídio. As aulas na ESB começam com a parte teórica, mas a prática predomina. Todos os alunos devem ter bom preparo físico e estar fortemente motivados. O intercâmbio com outras corporações e escolas do exterior proporciona, além da troca de experiência, a possibilidade de trazer novas tecnologias para o país. Os bombeiros brasileiros conheceram os simuladores de incêndio durante visita à Alemanha. Trata-se de contêineres nos quais se reproduzem situações com fogo de modo mais realista possível, com chamas altas, calor extremo, fumaça espessa e visibilidade restrita. Hoje estão incorporados aos treinamentos realizados na ESB. A manta de hidrogel, utilizada nos primeiros socorros de queimados, foi trazida de uma feira técnica que ocorreu em
pesquisa fapesp
Los Angeles. Nos dois casos, as viagens ocorreram com apoio da FCW. As inovações brasileiras também interessam aos bombeiros de outros países. O trânsito em São Paulo é intenso, com grande número de acidentes. Em 2015 houve 464.607 ocorrências atendidas pelo Corpo de Bombeiros em todo o estado e pelo menos 25% delas foram relativas a acidentes de trânsito, de acordo com o comando da corporação. Cotidianamente, portanto, os bombeiros são mobilizados para fazer o que é chamado de desencarceramento, ou seja, tirar vítimas das ferragens de veículos. “A parte de salvamento veicular é a nossa maior expertise e já chamou a atenção de especialistas em salvamentos do exterior”, conta o major Rodrigues, ele próprio especializado nessa área. Hoje, os carros blindados se transformaram na mais recente dor de cabeça dos bombeiros. Entrar, serrar ou partir um blindado rapidamente em um salvamento exige técnicas diferentes das utilizadas em veículos comuns. Para treinar com carros reais, é preciso atrair parceiros. As grandes fabricantes de automóveis cedem veículos para treinamento de todos os tipos sem exigir a divulgação das marcas. Depois de utilizados na ESB, os carros são devolvidos completamente destruídos para as montadoras, que vendem a carcaça para reciclagem. “Não ficamos com nada. É graças a essa colaboração que conseguimos fazer um
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especial prêmio fcw
bom treinamento de resgate com todos os tipos de veículo”, afirma Rodrigues. Enchentes são também um problema, especialmente quando é preciso resgatar automóveis submersos. “Jogamos um carro em uma piscina e tentamos descobrir jeitos de abrir e resgatar as vítimas rapidamente”, conta o capitão Diógenes. Os bombeiros da ESB fizeram uma adaptação da roupa normalmente usada para entrar em locais com fogo, de modo que possam respirar com os mesmos aparelhos debaixo d’água a pequenas profundidades e por pouco tempo. “Os alemães nos viram fazer essas simulações durante um evento chamado Rescue Day, em 2011, aqui no Brasil, e gostaram das inovações”, diz Rodrigues. “Disseram que passariam a usar nossa experiência com blindados e a técnica de mergulho rápido.” Um ano antes, os brasileiros é que visitaram a Alemanha e assistiram ao Rescue Day deles. A cada evento desse na ESB são destruídos 70 carros para demonstração de resgate. OUTROS APOIOS
O Corpo de Bombeiros é uma das cinco entidades que constam do testamento de Ubaldo Conrado Augusto Wessel como merecedoras de doações filantrópicas anuais a serem repassadas pela FCW – as outras quatro são a Fundação Antonio Prudente, o Serviço de Promoção Social do Exército da Salvação, as Aldeias Infantis
léo ramos
Aula na Fundação Anita Pastore, em São Paulo. Projeto de inserção digital oferece cursos de informática gratuitos
9 Prêmios outorgados Fundação distribuiu 145 prêmios até 2016 46
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30
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Fonte FCW
FCW de Artes
FCW de Ciência
FCW de Medicina
SOS Brasil e a Escola Benjamin Constant. O apoio da fundação alcança também outras entidades. É o caso do Núcleo Fundações, coordenado pela Fundação Anita Pastore D’Angelo, que desenvolve um projeto de inserção digital apoiado pela FCW desde 2003 e oferece cursos de informática a pessoas de baixa renda em São Paulo.
A
FCW divide o apoio à Fundação Anita Pastore D’Angelo com a Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap), a Federação Espírita do Estado de São Paulo (Feesp) e a Ezute, organização que atua na concepção, planejamento e desenvolvimento de projetos e melhoria de gestão. De natureza cooperativa, o trabalho de inserção digital na Anita Pastore foi um dos primeiros realizados em São Paulo. Seu conjunto de cursos se divide em Básico, Excel Avançado, Aplicativos e Web Designer. A ex-aluna Márcia de Souza foi uma das beneficiadas pelo projeto. “Antes eu prestava serviços de auxiliar de limpeza e decidi fazer todos os cursos de informática da Fundação Anita Pastore”, conta ela, hoje formada em ciências contábeis e trabalhando como contadora. “Tenho consciência que foram os cursos que nortearam a minha escolha profissional e possibilitaram a ascensão profissional.” Desde 2003 o Núcleo Fundações recebeu 4.826 inscrições e formou 2.907 alunos, dos quais 2.568 no Curso Básico, 14 em Web Designer e 325 em Excel Avançado.
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FCW de Cultura
Almirante Álvaro Alberto
Grandes Teses Capes
A filantropia é apenas parte do leque de premiações que tornou a FCW referência nacional. Em 2016, começou mais uma série de premiações e apoio às atividades acadêmicas, científicas e culturais. Entre as outorgas deste ano, relativas ao Prêmio FCW de 2015, há três ensaios fotográficos, o prêmio de Cultura e o de Medicina. Desde 2002, o total de premiados atingiu 46 na categoria Arte, 30 em Ciência, 13 em Medicina e 16 em Cultura. O número deve ser acrescido de mais 10 Prêmios Almirante Álvaro Alberto e outros 30 prêmios Grandes Teses Capes, todos com patrocínio da fundação instituída por Conrado Wessel. O ano de 2016 se encerrará contabilizando um total de 145 premiações. Aos prêmios se agrega o patrocínio constante das revistas científicas produzidas por entidades parceiras da FCW: os Anais da Academia Brasileira de Ciências, da Academia Brasileira de Ciências; a JATM/Journal of Aerospace Technology and Management, do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA, vinculado ao Comando da Aeronáutica); a Pesquisa Naval, da Marinha do Brasil; e este suplemento anual Prêmio FCW, que circula com a revista Pesquisa FAPESP. Esta edição traz os perfis de Rubens Belfort Júnior, ganhador na categoria Medicina (página 18), de Lygia Fagundes Telles, em Cultura (página 24), e os três ensaios fotográficos premiados em Arte (página 30). Também há a galeria com todos os ganhadores (página 10) e a trajetória de Conrado Wessel (página 46). n
Rodízio de
prêmios A partir desta edição, duas categorias entre Ciência, Medicina e Cultura serão escolhidas a cada ano
pesquisa fapesp
O 10
Prêmio FCW de Arte, Ciência e Cultura traz uma modificação importante adotada na atual edição. Serão laureadas duas personalidades a cada ano, em vez de três, nas categorias de Ciência, Medicina e Cultura. A Fundação Conrado Wessel (FCW) é também a patrocinadora do Prêmio Almirante Álvaro Alberto (AAA), concedido pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) em parceria com a Marinha. Essa premiação ocorre desde
especial prêmio fcw
1981, embora tenha sido temporariamente suspensa em 2000. Em 2006 voltou a ser atribuída quando o CNPq e a FCW firmaram um convênio para reeditá-la. A láurea é atribuída a um pesquisador que se tenha destacado pela obra científica ou tecnológica em uma das três áreas de conhecimento: ciências exatas, da terra e engenharias; ciências humanas e sociais, letras e artes; e ciências da vida. O prêmio do CNPq é concedido em sistema de rodízio. A cada ano, ganha um
medicina | Rubens Belfort JĂşnior
cultura | Lygia Fagundes Telles
cientista de uma das três áreas. Já o da FCW, até 2014 premiava personalidades nas categorias Ciência, Medicina e Cultura, além de Arte, destinada à fotografia. Ciência contempla todos os demais campos científicos, com exceção de Medicina, e Cultura abarca literatura, música, cinema, teatro, dança e também ciências sociais e humanas. Para evitar a dupla premiação pelas mesmas instituições, a FCW decidiu diminuir os ganhadores anuais de três para dois. No ano em que o CNPq premiar um pesquisador de exatas, a fundação exclui essa categoria e escolhe, juntamente com seus parceiros (ver na página 48), uma personalidade de biológicas e outra ligada à cultura, como ocorreu este ano. O físico Paulo Artaxo, da Universidade de São Paulo (USP), ganhou o Prêmio AAA e o oftalmologista Rubens Belfort Júnior (Medicina) e a escritora Lygia Fagundes Telles (Cultura) ficaram com o Prêmio FCW. Nos anos seguintes as duas instituições farão um rodízio de categorias.
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M
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udanças nas normas ocorrem quando a fundação percebe que há necessidade de aprimorar o Prêmio FCW. Entre 2003 e 2006, por exemplo, a categoria Ciência tinha quatro subcategorias – Ciência Geral e três Ciências Aplicadas. Hoje há apenas Ciência, agora em sistema de rodízio. Nas quatro primeiras edições, só Literatura foi contemplada em Cultura. Agora, o leque abrange todas as formas de arte e também as ciências sociais e humanas. Na categoria Arte, somente fotógrafos de campanhas publicitárias podiam inscrever seus trabalhos. A instituição desse prêmio foi uma forma que a FCW encontrou para homenagear seu instituidor, Conrado Wessel, ele mesmo fotógrafo profissional, publicitário, cinegrafista e industrial pioneiro da fotografia na América Latina (ver página 46). Atualmente, premiam-se três ensaios fotográficos de qualquer natureza, jornalísticos ou não. Cada um dos ganhadores em Ciência, Medicina e Cultura recebe R$ 300 mil, um troféu do artista plástico Vlavianos e um certificado. Os fotógrafos premiados
especial prêmio fcw
Os organizadores mudam as normas quando percebem a necessidade de aprimorar a premiação
na categoria Arte dividem R$ 200 mil – R$ 114,3 mil para o primeiro lugar e R$ 42,3 mil para o segundo e terceiro colocados. No final do ano, a fundação lança um livro que traz os ensaios premiados e também os de todos os 12 finalistas. Algumas expressivas personalidades da ciência brasileira foram beneficiadas com o prêmio da fundação, desde 2003. Até a mais recente edição, de 2015, os graduados em medicina foram os maiores ganhadores. Não só os 13 escolhidos até aqui em sua própria categoria – Medicina –, mas também sete pesquisadores que cursaram medicina e desenvolvem trabalhos em outras áreas da ciência. Foi assim com os bioquímicos Isaias Raw, do Instituto Butantan, em 2004, Leopoldo de Meis, em 2008, e Jerson Lima da Silva, em 2009, ambos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o neurocientista Iván Izquierdo, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, em 2007, o imunologista Jorge Kalil, do Butantan, em 2010, e os parasitologistas Wanderley de Souza, da UFRJ, em 2005, e Luiz Hildebrando, da USP e da Fundação Oswaldo Cruz, em 2013. Depois dos médicos, os maiores ganhadores são os físicos. Quatro receberam a láurea: Carlos Henrique de Brito Cruz, da Universidade Estadual de Campinas, em 2003, Sérgio Mascarenhas, da Universidade Federal de São Carlos, em 2006, Sérgio Rezende, da Universidade Federal de Pernambuco, em 2012, e José Goldemberg, da USP, em 2014.
f oto s 2 014 1 e 2 L é o R a m o s 3 G u ga M e lga r / Tr í g o n o s P r o d u ç õ e s C u lt u r a i s f oto s 2 013 1 e 2 L é o R a m o s 3 A n d r é p e s s oa
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2014
2013
Ciência
Ciência
José Goldemberg
Luiz Hildebrando *
Físico
Parasitologista
medicina
medicina
Protásio Lemos da Luz
José Rodrigues Coura
Cardiologista
Parasitologista
Cultura
Cultura
Fernanda Montenegro
Niède Guidon
Atriz
Arqueóloga * Laureados falecidos
2011
2010
Ciência
Ciência
ciência Geral
Sérgio Rezende
Jorge Kalil
Jairton Dupont
Físico
Imunologista
Químico
medicina
medicina
medicina
Marcos Moraes
Miguel Srougi
Oncologista
Urologista
Angelita Habr-Gama
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Coloproctologista
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Cultura
Cultura
cultura
João Carlos Martins
Paulo Vanzolini * Compositor e
Nelson Pereira dos Santos
Maestro
Zoólogo
Cineasta
especial prêmio fcw
f oto s 2 012 e 2 011 L é o R a m o s f oto s 2 010 1 l i a n e n e v e s 2 e d ua r d o c e s a r 3 l é o r a m o s
2012
f oto s 2 0 0 9 1 L é o R a m o s 2 ja d e r r o c h a 3 e d ua r d o c e s a r 4 s i lv i a m ac h a d o f oto s 2 0 0 8 2 pau lo s oa r e s / e s a lq f oto s 2 0 07 1 l i a n e n e v e s 2 e d ua r d o c e s a r 3 fá b i o m ot ta / AE 4 g l áu c i a r o d r i g u e s
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2009
2008
2007
Ciência Geral
Ciência Geral
Ciência Geral
Jerson Lima da Silva
Leopoldo de Meis*
Iván Izquierdo
Bioquímico
Bioquímico
Neurocientista
Ciência Aplicada
Ciência Aplicada
Ciência Aplicada
João Fernando Gomes de Oliveira
Ernesto Paterniani *
Hisako Higashi
Geneticista de
Bioquímica
Engenheiro mecânico
plantas
Medicina
Medicina
Medicina
Ricardo Pasquini
Fulvio Pileggi
Ivo Pitanguy *
Hematologista
Cardiologista
Cirurgião plástico
Cultura
Cultura
Cultura
Antonio Nóbrega
Ariano Suassuna*
Affonso Ávila *
Músico e dançarino
Dramaturgo
Poeta e ensaísta
Ciência Geral
Medicina
Ciência Geral
Medicina
Sérgio Mascarenhas
Ricardo Brentani *
Wanderley de Souza
Adib Jatene *
Oncologista
Físico
Cardiologista
Parasitologista
Ciência Aplicada ao Meio Ambiente
Ciência Aplicada ao Campo
Ciência Aplicada ao Meio Ambiente
Ciência Aplicada ao Campo
Carlos Nobre
Magno Ramalho
Aziz Ab’Sáber *
Luiz C. Fazuoli
Climatologista
Geneticista de
Geógrafo
Agrônomo
Ciência Aplicada à Água
Cultura
José Galizia Tundisi
Crítico e ensaísta
pesquisa fapesp
plantas
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Ciência Aplicada à Água
Cultura
Aldo Rebouças *
Escritora
Geólogo
especial prêmio fcw
Ruth Rocha
Biólogo
Fábio Lucas
f oto s 2 0 0 6 1, 3 , 6 M i g u e l B oyaya n 2 , 4 e d ua r d o c e s a r 5 Â N g e lo a b r e u / u f l a f oto s 2 0 0 5 1 L é o R a m o s 2 Fr a n c i s c o E m o lo /J o r n a l da U S P 3 , 6 M i g u e l B oyaya n 4 , 5 E d ua r d o C e s a r
2005
2006
17
f oto s 2 0 0 4 1 M i g u e l B oyaya n 3 E d ua r d o C e s a r 4 Arq u i vo p e s s oa l 6 L é o R a m o s f oto s 2 0 0 3 1 M i g u e l B oyaya n 2 ASCOM / IN PA 3 L é o R a m o s 4 e d ua r d o tava r e s 5 M a r c o s E s t e v e s / E m b r a pa 6 D i v u lgaç ão
2004
2003
Ciência geral
Medicina
Ciência Geral
Medicina
Isaias Raw
Cesar Victora
Bioquímico
Epidemiologista
Carlos Henrique de Brito Cruz
Maria Inês Schmidt
Físico
Epidemiologista
Ciência Aplicada ao Meio Ambiente
Ciência Aplicada ao Campo
Ciência Aplicada ao Meio Ambiente
Ciência Aplicada ao Campo
Museu Paraense Emílio Goeldi
Instituto Agronômico de Campinas
Philip Fearnside
Jairo Vieira
Biólogo
Agrônomo
Ciência Aplicada à Água
Cultura
Ciência Aplicada ao Mar
Cultura
Alberto Franco *
Poeta
Dieter Muehe
Escritora
Oceanógrafo
Ferreira Gullar
Geógrafo
Lya Luft
M ed i ci na
Na clínica,
no laboratório, na rua Rubens Belfort Júnior une pesquisa e ensino em oftalmologia a mutirões de cirurgia de catarata pelo país
pesquisa fapesp
O 18
oftalmologista paulistano Rubens Belfort Júnior é facilmente encontrado nas salas de aula e nos laboratórios da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM-Unifesp), atendendo pacientes da rede pública no Hospital São Paulo ou na clínica privada da família. Quando passa algum tempo sem ser visto nesses lugares, pode-se apostar que ele está muito distante – provavelmente em congressos internacionais ou comandando mutirões de cirurgia de catarata em localidades do
especial prêmio fcw
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léo Ramos
Belfort Júnior: além do avô e do pai, o filho também é oftalmologista
f oto s Ar q u i vo P e s s oa l
país onde os médicos são raros, como o interior da Amazônia. Aos 70 anos, Belfort é presidente do Instituto Paulista de Ensino e Pesquisa em Oftalmologia, faz pesquisa, ensina e participa das atividades de extensão sem pensar em parar. O pesquisador vem de uma família de médicos oftalmologistas. Waldemar Belfort Mattos, o avô, era ativo membro do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e foi o fundador da Clínica Belfort, em 1933. Rubens Belfort Mattos, o pai, foi professor da EPM e tinha amplo círculo de amigos célebres, como o antropólogo Darcy Ribeiro (1922-1997), o médico Noel Nutels (1913-1973) e os irmãos indigenistas Orlando (1914-2002) e Claudio Villas-Bôas (1916-1998), fruto de suas pesquisas para livre-docência quando estudou a visão dos índios brasileiros, em 1955.
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O
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interesse pela pesquisa científica vem desde o bisavô, o engenheiro civil José Nunes Belfort Mattos, conhecido por ter dirigido o Observatório Astronômico e Meteorológico, instalado em 1912 na sua residência na avenida Paulista, ao lado de onde fica hoje o Museu de Arte de São Paulo (Masp). “Talvez por causa das lentes do meu bisavô, meu avô tenha se interessado por oftalmologia”, presume o pesquisador, que já tem um sucessor, o filho Rubens Belfort Mattos Neto, chefe do Setor de Oncologia Ocular da Escola Paulista de Medicina. Os dois trabalham parte do tempo juntos na Clínica Belfort e na universidade. Ele tem outro filho, economista, e duas filhas, administradoras de empresa. Belfort Júnior completou a graduação em medicina na EPM em 1970, onde participou de atividades políticas contra a ditadura militar e também de trabalhos sociais como os no Parque do Xingu. Nesse período, integrou uma expedição de 30 dias ao interior de Mato Grosso com os irmãos Villas-Bôas. “Quando eles fizeram contato com os chamados índios gigantes, que de gigantes não tinham nada, eu era o médico da expedição”, conta, com satisfação. Daquela época ele guarda belas
especial prêmio fcw
fotos que fez durante a estadia na selva, depois publicadas no Brasil e na França. Ainda hoje tem por hábito levar a câmera nas viagens. O médico decidiu pela especialização em oftalmologia e em 10 anos, entre 1976 e 1985, fez um mestrado (na Unifesp) e dois doutorados, o primeiro em oftalmologia na Universidade Federal de Minas Gerais e o segundo em imunologia na EPM. Em meados dos anos 1980, as pesquisas sobre toxoplasmose ocular com o oftalmologista gaúcho Cláudio Silveira, na cidade de Erechim (RS), e Miguel Burnier, na EPM, mudaram o conhecimento sobre a doença. “Antes desses estudos, pensava-se que a toxoplasmose ocular era sempre congênita, ou seja, a criança já nascia com ela”, explica Ana Luisa Hofling de Lima, professora titular da Unifesp e responsável pelo Laboratório de Microbiologia do Departamento de Oftalmologia.
Acima, com um dos então chamados índios gigantes, em Mato Grosso (1971). Na outra página, acima, foto feita pelo pesquisador na mesma expedição
21 “Eles investigaram e descobriram os fatores de risco, inclusive os relacionados à ingestão de linguiça caseira, contaminada pelo protozoário Toxoplasma gondii.” Perceberam também que a doença ocular adquirida poderia não apenas ser tratada, mas prevenida. “Quando começaram a falar disso nos congressos, ninguém acreditava, mas depois vieram a confirmação e o reconhecimento da comunidade nacional e internacional”, conta a pesquisadora. Hoje, as infecções oculares continuam como objeto de estudo de Belfort – no momento, ele trabalha para saber como o vírus zika pode afetar o sistema ocular.
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O oftalmologista no Xingu, em 2003, aplicando teste em um indígena
utros pesquisadores conhecem bem o trabalho de Belfort Júnior tanto na universidade quanto nos mutirões realizados na Amazônia. Walton Nosé, professor livre-docente da EPM-Unifesp, é um deles. “Além do conhecimento científico, ele tem liderança e sabe agir em prol da medicina de modo político e social”, atesta o médico. “Em suas ações, sempre se mostra agregador.” Por causa da atuação de Belfort Júnior na academia e em projetos sociais, a oftalmologista Andrea Zin, do Rio de Janeiro, o considera “uma unanimidade”. “Quando participo de congressos fora do país e percebem que sou oftalmologista brasileira, outros pesquisadores e médicos me perguntam se conheço o Rubens”, informa ela, uma das fundadoras do Instituto Catarata Infantil, do Rio, e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Os mutirões para cirurgias de catarata começaram em meados dos anos 1980. O pioneiro foi o oftalmologista Newton Kara José, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Belfort Júnior logo aderiu à ideia e passou a montar suas próprias expedições. Os dois sempre foram amigos e conseguiram atender em seus mutirões dezenas de milhares de pessoas com catarata e diabetes ocular, pelo país inteiro, da periferia de São Paulo às cidades ribeirinhas amazônicas. “Trabalhando com equipes de diferentes profissionais de saúde fica mais fácil
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atender muitos pacientes em um único dia”, afirma Belfort. Nos mutirões, a equipe de médicos da Unifesp procura sempre levar os melhores equipamentos, seguindo a determinação imposta por Belfort: “Não dá para usar apenas aquilo que é mais barato em quem tem menos recursos”. Acompanhar o pós-operatório é sempre complicado em localidades distantes, o que faz os médicos terem de trabalhar com tecnologias de rápida e alta efetividade. Os exames prévios e, se necessário, a cirurgia são feitos no mesmo dia, sempre associados a protocolos de pesquisa. O médico, parceiro e pesquisador Jacob Cohen, da Universidade Federal do Amazonas, elogia o espírito empreendedor do colega. “No interior do estado do Amazonas até hoje não existem médicos oftalmologistas capacitados para
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a realização de cirurgias de catarata. Nesses últimos anos, graças à parceria com a Unifesp e o Instituto da Visão, foram realizadas mais de 2 mil cirurgias, com tecnologia de ponta e cirurgiões capacitados”, conta.
A
idade não diminuiu o ânimo de Belfort pelas expedições. “As pessoas ainda se surpreendem ao ver um professor de 70 anos passar 20 horas em um barco no interior da Amazônia, dormindo em rede para chegar até a população de interesse para pesquisa ou assistência médica”, conta o filho Belfort Neto, atual presidente da Sociedade Pan-americana de Oncologia Ocular. Na capital paulista também ocorrem mutirões – e o processo não é tão diferente daqueles rea-
Turma da Escola Paulista de Medicina, em 1973. Belfort é o primeiro à direita na segunda fila. Na outra página, ao lado do pai durante um congresso em Houston, nos Estados Unidos, em 1972
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anos é a falta de óculos”, afirma. Se a catarata diminuir drasticamente no país e houver óculos disponíveis para todos, mais de 90% dos problemas oculares estarão resolvidos, avalia Belfort Júnior.
P Para o oftalmologista, óculos para perto deveriam ser vendidos em farmácias e lojas como ocorre em outros países
lizados em outras partes do país. Segundo Belfort Júnior, em um dia no Hospital São Paulo, um grupo de 100 profissionais chegou a atender 8 mil pessoas. Para o médico, o equilíbrio entre a vida de pesquisa e o ensino na universidade e a atuação no consultório privado é igualmente importante. “O consultório privado é necessário para o médico não só do ponto de vista econômico – serve também como um contraponto clínico e cirúrgico porque os pacientes têm perfis muito diferentes”, explica. Os problemas mais comuns encontrados pelo oftalmologista no interior do Brasil são catarata e diabetes ocular, doenças que causam cegueira. Ambos afetam principalmente os idosos. Além desses, há outra questão importante: a falta de óculos para a população carente. “No Brasil, a maior causa de má visão acima dos 40
ara o especialista, óculos para perto deveriam ser vendidos em farmácias e lojas, como ocorre nos Estados Unidos e em muitos outros países. “Não é preciso ir ao ortopedista para comprar sapatos”, compara ele. Sua maior satisfação durante os mutirões nem são as cirurgias de catarata feitas em um único dia, mas as centenas de óculos dados para a população carente, muitas vezes professoras e equipes locais de saúde. Em boa parte dos casos, a receita é simples. “Basta dar dois ou três óculos ao paciente e perguntar: com qual consegue enxergar as horas no relógio?” Testes simples como esse poderiam ser feitos sem necessidade de consulta com oftalmologista, defende o médico, ciente de que sua opinião não é unanimidade. Em 2000, Belfort Júnior desenvolveu um programa-piloto com o Ministério da Saúde com o objetivo de distribuir óculos durante consulta do Sistema Único de Saúde (SUS). “Mas a ideia de criar óculos genéricos para distribuí-los em grande quantidade não deu certo”, conta. O ministério chegou a atender 10 mil pacientes nas cidades de São Paulo, Manaus e Recife, e, no momento de o projeto ganhar escala e atingir 100 mil pessoas, houve troca de governo e a proposta não foi adiante. No momento, Belfort Júnior pensa nos desafios que ainda terá pela frente. Um deles é trabalhar cada vez mais com os jovens. “O indivíduo velho precisa continuar a publicar e saber aprender com o novo”, afirma. Ele explica sua tese: no começo da carreira, os jovens aprendem com os mais velhos e, algum tempo depois, ambos passam a trabalhar juntos. Por fim, o mais experiente é que, dentro de uma equipe, deve colaborar para apenas ajudar a compor resultados para o trabalho principal de quem é mais novo. “O processo é longo, pode ser difícil, mas natural.” n
Cu lt u r a
No tempo da
Delicadeza Cercada de admiradores e leitores, Lygia Fagundes Telles reafirma sua necessidade essencial de escrever
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enerosidade, delicadeza e elegância são traços marcantes da personalidade da escritora Lygia Fagundes Telles. Ganhadora de todos os prêmios literários importantes do Brasil, homenageada nacional e internacionalmente e, este ano, indicada para o Prêmio Nobel de Literatura pela União Brasileira de Escritores, a ocupante da cadeira 16 da Academia Brasileira de Letras (ABL) é dona de indiscutível prestígio intelectual. Cultiva leitores, fascina admiradores e atrai estudiosos para sua obra. Sua característica mais notável, porém, é a necessidade vital de escrever. “Quando fico desesperada, ao invés de recorrer às pílulas ou aos terapeutas, ou
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Lygia: União Brasileira de Escritores a indicou ao Prêmio Nobel de Literatura de 2016
Lygia com o irmão e os pais: família circulou pelo interior paulista dependendo das nomeações do pai, que era promotor
então ao uísque, me entrego ao meu trabalho que é escrever. O que eu sei fazer e amo fazer”, escreveu ela em resposta às perguntas para compor este perfil. Por recomendação médica, Lygia tem evitado entrevistas feitas pessoalmente. A escritora enxerga cada leitor como um parceiro, um cúmplice. “Através do trabalho, espero escapar, ou melhor, me livrar do desespero. Sem atormentar o meu próximo, ofereço a esse próximo um conto, uma crônica, um romance.” Fazendo referência ao livro A negação da morte (Record, 2007), de Ernest Becker, ela pergunta: o que vem a ser a negação dessa morte? “A arte”, responde. “A fé nessa arte. O pianista vai tocar piano, o dançarino vai dançar. E o escritor vai escrever.”
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por essa razão que, mesmo fragilizada pela idade e por uma fratura no fêmur que a obriga a andar de bengala, Lygia segue escrevendo e vivenciando a literatura, definida por ela como uma forma de amor. Raramente falta aos encontros semanais da Academia Paulista de Letras (APL), no Largo do Arouche, em São Paulo, e cumpre uma agenda de compromissos com a Companhia das Letras, sua editora desde 2009, responsável
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A escritora segue escrevendo e vivenciando a literatura, definida por ela como uma forma de amor
pelas reedições de seus trabalhos. “Enquanto tiver inspiração, quero continuar apenas escrevendo, obedecendo à minha vocação, em latim, vocare: o chamado”, diz Lygia. Nascida em 1923, paulistana do bairro de Santa Cecília, a escritora desconhece a vida sem histórias. Quando pequena, morou em várias cidades do interior paulista, seguindo as nomeações do pai, que era promotor e delegado. Nesses municípios, recebia o cuidado de babás dotadas de um farto repertório de lendas. Foram aquelas mulheres que deram à menina imaginativa um sem-fim de histórias povoadas por mulas sem cabeça que ela recontava e reinventava para outras crianças. Lygia gosta de dizer que começou a escrever antes mesmo de saber escrever.
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Acima, com Goffredo, filho do primeiro marido, Goffredo da Silva Telles Jr. À direita, com a bisneta Marina
Sua predileção, na infância e na primeira juventude, era pelas histórias de terror. São elas que deram o tom a seu livro de estreia, Porão e sobrado (1938), com edição bancada pelo pai. Seis anos depois, lançaria Praia viva. Ambos os trabalhos se encontram hoje inacessíveis. Lygia, sob o argumento de que deseja que conheçam o melhor dela mesma, não quis jamais que fossem reeditados. O início da sua real formação literária coincide com a entrada na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), em 1941. “A faculdade foi, para ela, um rito de passagem”, afirma Celso Lafer, professor emérito de direito, ex-presidente da FAPESP e colega da APL e ABL, que a conheceu ainda na faculdade do Largo São Francisco. “Ela é uma grande expressão desse cenário criativo que o ambiente universitário da época tanto estimulou. As memórias daquele período sempre serviram para ela como matéria da ficção.” Foi durante o curso de direito que Lygia – cuja beleza parava os corredo-
res, segundo relatos de admiradores – conheceu o primeiro marido, o professor Goffredo da Silva Telles Jr. (19152009), pai de seu filho, Goffredo Telles Neto (1954-2006). Seu segundo marido foi o intelectual e crítico de cinema Paulo Emilio Salles Gomes (1916-1977). Até hoje, quando fala de Paulo Emilio, Lygia demonstra saudade e paixão. Com ele, adaptou Dom Casmurro, de Machado de Assis, para o cinema; por ele, bateu em muitas portas atrás de recursos para a Cinemateca Brasileira – instituição que o crítico fundou e ela chegou a presidir. A intensa presença do cinema em sua vida prosseguiria, após a morte de Paulo Emilio, por meio do filho. Goffredo, pai das duas netas de Lygia, Lúcia e Margarida, herdou do padrasto a paixão pelas imagens em movimento. Cineasta e videoartista, ele morreu em 2006, aos 52 anos.
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entre as várias coisas que admiro na Lygia está a forma pela qual ela conseguiu, não superar, porque isso não se supera, mas lidar com a perda do filho, que era tão seu companheiro”, testemunha a escritora Anna Maria Martins, amiga de muitos caminhos cruzados. Em 1973, elas lançaram juntas os livros A trilogia do emparedado, de Anna, e As meninas, de Lygia. Em 1982, Lygia passaria a ocupar, na APL, a cadeira 28, que coubera ao marido de Anna, Luís Martins (1907-1981). Hoje, são também colegas de academia. “Ela é solidária com as pessoas em geral e com os companheiros de trabalho. Sempre deu atenção a
f oto s A r q u i vo Pe s s oa l e f otó g r a f o n ão i d e n t i f i c a d o / ace r vo lyg i a fag u n d e s t e l l e s / i n s t i t u to m o r e i r a s a l l e s
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todo mundo.” Procurado para falar sobre as características da amiga, o poeta Paulo Bonfim resumiu: “Generosidade e genialidade rimam nesse depoimento”. Uma das grandes amigas de Lygia foi Clarice Lispector (1920-1977). Ficou famoso o conselho dado por Clarice para que Lygia, de incontornável simpatia, não risse nas fotos a fim de que a levassem a sério. Outra autora com quem teve intimidade foi Hilda Hilst (1930-2004). Nos Cadernos de literatura brasileira, editado pelo Instituto Moreira Salles, a colega de ofício escreveu: “Sempre assusto ela, digo que estou morrendo pra ela aparecer [...]. Ela quase não vem aqui. Às vezes até brigo com ela, de ciúmes da Nélida Piñon”. Nélida, nas palavras de Hilda, por ser mais “arrumada”, combinava melhor com a amiga que, sóbria e discreta, “tem pavor de coisas escandalosas”. O ciúme escancarado de Hilda dá a medida da benquerença despertada por Lygia.
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Mesmo habitando um mundo interior denso e complexo, Lygia tem um exterior divertido e prosador. Cabe a José Saramago (1922-2010), num texto escrito para os Cadernos, uma das descrições mais precisas do modo de conversar da escritora. O português relatou um encontro entre vários autores, em Hamburgo, Alemanha, no qual todos escutavam com “terna atenção e respeito” o falar de Lygia: “Aquele seu discorrer que às vezes nos dá a impressão de se perder no caminho, mas que a palavra final irá tornar redondo, completo, imenso de sentido”.
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primeiro grande livro de Lygia é Ciranda de pedra (1954), romance que aborda temas como lesbianismo e suicídio e que foi considerado pelo professor aposentado da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP e crítico literário Antonio Can-
Com Paulo Emilio (à esq.), Hilda Hilst (à dir.) e José Saramago (na outra página): vida social e literária intensa
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A unir toda a escrita de Lygia, seja a narrativa longa ou curta, estão alguns temas: a fuga, a solidão, a loucura e a rejeição. Em suas histórias, a dor está sempre à espreita. E a grande matéria-prima a nutri-las é a memória – ao ponto de a protagonista de As horas nuas (1989) ser uma atriz decadente que tenta escrever um livro de memórias. Em Invenção e memória (2000), livro no qual fragmentos de história pessoal se mesclam à ficção, a epígrafe é uma frase de Paulo Emilio: “Invento, mas invento com a secreta esperança de estar inventando certo”.
Ficou famoso o conselho de Clarice Lispector para que a amiga não risse nas fotos a fim de que a levassem a sério
dido o marco intelectual da escritora. Outro ponto alto de sua carreira surgiria duas décadas depois: As meninas. O livro, considerado um dos melhores títulos da ficção brasileira do século XX, funde a história do país aos monólogos interiores de três moças – uma delas militante política. Apesar do reconhecimento pela excelência dos romances, alguns críticos consideram o conto como o gênero de excelência dentro de sua obra. Para Saramago, o conto “Pomba enamorada ou uma história de amor” é uma obra-prima. No “realismo cru, cruel, cruento” dos contos de Lygia, como escreve o crítico Alfredo Bosi no posfácio da reedição de A estrutura da bolha de sabão (1978), “não há saídas nem para o círculo do sujeito fechado em si mesmo nem para o inferno das relações entre os indivíduos”. Tudo, em sua prosa, está submetido à lei da gravidade: “Tudo tem peso, já caiu, ou está prestes a cair”.
A
pesar da escrita que nem sempre se entrega com facilidade ao leitor – o conto “Senhor diretor”, por exemplo, se encerra com dois pontos –, Lygia conhece relativa popularidade e teve obras adaptadas para a TV. Ciranda de pedra virou novela em 1981, trazendo Lucélia Santos no papel principal; em 1993, a série Retrato de mulher, protagonizada por Regina Duarte, levou ao ar uma adaptação da própria Lygia para o conto “O moço do saxofone”. Ela, no entanto, nunca quis escrever para a televisão e não esconde seu espanto com o fato de terem colocado, em Ciranda de Pedra, 10 casamentos. “O livro não traz um sequer”, declarou várias vezes, todas elas rindo. Bem-humorada, Lygia sabe que a vida não se vive em linha reta. Talvez por isso não siga linhas retas nem no discurso nem no caminhar – permitindo-se sempre os desvios, as voltas. Isso tudo faz com que a fama de distraída se justifique. De distraída e de atrasada. Paulo Emilio a chamava de Cuco, em referência ao relógio da avó inglesa que, assim como Lygia, estaria sempre atrasado. Outra fama colada à sua personalidade é a do apego aos gatos. “Gosto muito dos gatos, mas não os tenho mais faz anos”, diz, quando perguntada sobre os prazeres que a rodeiam atualmente. “Meus prazeres são meu trabalho, meus amigos, minha família: minhas netas e bisnetas que estão sempre comigo. Uma vida tranquila, com a sensação de que cumpri minha missão.” n
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Experimentações
visuais 1º lugar
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Fluxos / Contrafluxos Luiz Baltar
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aisagens com formato panorâmico mostrando as manifestações políticas no Rio de Janeiro nos últimos anos e a procissão do Círio de Nazaré, em Belém (PA), compuseram o ensaio Fluxos / Contrafluxos, do fotógrafo carioca Luiz Baltar, ganhador do primeiro lugar na categoria Arte do Prêmio FCW. “Incorporei nesse ensaio experimentações visuais que venho desenvolvendo há algum tempo, juntando duas, três ou mais imagens em múltiplos ângulos”, conta. A maioria das fotos utilizadas foi feita no centro do Rio, na zona norte, nas favelas da Maré, Manguinhos, Metrô Mangueira e também em Belém, no Pará. O segundo lugar foi ganho por Tiago Coelho, de Porto Alegre, com Balneário Alegria, que retratou a cidade de Guaíba (RS)
e sua grande fábrica de celulose. A terceira colocação coube a Inês Bonduki, de São Paulo, com Linha Vermelha, que articula dois ensaios, um realizado no interior de vagões de metrô da capital paulista e outro em que registrou sessões de uma forma de dança criada na década de 1970 chamada Contato Improvisação. Os três ensaios estão nesta e nas páginas seguintes. A atual edição do Prêmio FCW recebeu, pela primeira vez, trabalhos de fotógrafos de todos os estados brasileiros. A região Sudeste foi a que teve o maior número de inscritos, 655, seguida pela Sul, 132, Nordeste, 112, Centro-Oeste, 54, e Norte, 29. Acre, Rondônia e Roraima tiveram ao menos um ensaio concorrendo. A quantidade de trabalhos recebidos pela FCW foi recorde da premiação: 982.
2015 Finalistas e ensaios Adriana Galuppo Negrão Coletivos Bruno Bernardi Costa Paisagem movediça Carlos Alberto Heuser Zona de transição Cassio Vasconcellos Viagem pitoresca pelo Brasil Daniel Caron de Castro Deus Anticorpos Francisco Santos #365 Gilvan Caldas de Sá Barreto Filho Sobremarinhos Gustavo Bettini Moura e Lia Lubambo Entremeios Ivan Luís Ferrante Padovani Superfície Janaína Miranda Lima Silva Insularidades Luiz Arthur Leitão Vieira Atlas fotográfico da cidade de São Paulo e seus arredores Roberio Eduardo de Mendonça Braga Tranças (barrocas) afrodescendentes
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“Todas as imagens deste ensaio foram construídas usando múltiplas fotos, na forma de documentário imaginário, em formato panorâmico, que retratam os eventos políticos que incendiaram o Rio nos últimos anos”, explica Luiz Baltar. Na edição, as imagens capturadas foram divididas, achatadas, alongadas e repetidas.
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2º lugar
Balneário Alegria Tiago Coelho
Tiago Coelho registrou imagens da fábrica de celulose que fica em Guaíba (RS), cujas chaminés podem ser vistas de quase todos os pontos da cidade. “Muitos moradores defendem que a fábrica contribui na economia local, outros lutam por melhores condições na qualidade de vida da região”, diz o fotógrafo, que fez as imagens a partir do bairro Balneário Alegria.
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3º lugar
Linha Vermelha Inês Bonduki
Inês Bonduki frequentou por dois anos a Linha Vermelha do metrô de São Paulo nos horários de pico. “Queria fotografar a intensidade corporal e emocional dessa experiência cotidiana de milhões de paulistanos”, conta. Também fotografou sessões da dança Contato Improvisação e uniu os dois trabalhos no presente ensaio.
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2011
2014 ensaio fotográfico 1º lugar
Tropa de elite, de Gabriel Monteiro 2º lugar
Sombras, de André Hauck 3º lugar
Zoo,
ensaio fotográfico 1º lugar
Albinos, de Gustavo Lacerda 2º lugar
Negros paroxismos, de Lucio Adeodato 3º lugar
Panoramas, de Cassio Vasconcellos
de João Castilho
2010 ensaio fotográfico 1º lugar
2013
TV P&B, de Tadeu Vilani 2º lugar
Drom, o caminho cigano, de Gui Mohallem 3º lugar
Índios contemporâneos, de Kenji Arimura
2009 ensaio fotográfico 1º lugar
O livro do Sol, de Gilvan Barreto 2º lugar
Belo Monte – Os impactos de uma megaobra, de Lalo de Almeida 3º lugar
Parque aquático, de Roberta Sant’Anna fotografia publicitária
2012
1º lugar
ensaio fotográfico
Ousadia ímpar, de Denise Wichmann
1º lugar
Sufocamento, de Pedro David
ensaio fotográfico publicado 1º lugar
O sol no céu de nossa casa, de Marcio Rodrigues e Marco Mendes 2º lugar
Imagens humanas, pesquisa fapesp
de João Roberto Ripper
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2º lugar
especial prêmio fcw
Planos de fuga, de Mauro Restiffe
ensaio fotográfico inédito
3º lugar
1º lugar
Belvedere, de Bob Wolfenson
Sem título, de Ricardo Barcellos
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2008
2005
fotografia publicitária
fotografia publicitária
1º lugar
1º lugar
Cantora de ópera,
Existem chances de cura...,
de José Luiz Pederneiras
de Maurício Nahas 2º lugar
Gol. Sempre fiel a você..., de Andreas Heiniger ensaio fotográfico publicado
3º lugar
1º lugar
Lonas Alpargatas: O superpoder do caminhoneiro,
A curva e o caminho,
de Gustavo Lacerda
de André François 2º lugar
Vi elas, de Francilins Castilho Leal
2004 fotografia publicitária
ensaio fotográfico inédito
1º lugar
1º lugar
Irado, de Ricardo Cunha
Cidadão X, de Julio Bittencourt
2º lugar
Borboleta, de Paulo Vainer 3º lugar
2007
Gordinha, de Felipe Hellmeister
fotografia publicitária 1º lugar
Caminhos do coração,
2003
de Alexandre Salgado
fotografia publicitária
2º lugar
1º lugar
120 razões para ser cliente
Campanha do produto giz,
completo, de Gustavo Lacerda
de Bob Wolfenson 2º lugar
ensaio fotográfico
Píer, de Leonardo Martins
1º lugar
Vilela, para G’Staff
Redemunho, de João Castilho
3º lugar
2º lugar
Menino com bola,
O homem e a terra,
de Márcia Ramalho
de Lalo de Almeida
2002
2006 fotografia publicitária 1º lugar
Tim: viver sem fronteiras, de Gustavo Lacerda 2º lugar
Abraço,
fotografia publicitária
de Ricardo de Vicq
1º lugar
Ensaio fotográfico
Colorama,
1º lugar
de Klaus
O chão de Graciliano,
Mitteldorf
de Tiago Santana
2º lugar
2º lugar
AXE, de Maurício Nahas
Numa janela do edifício
3º lugar
Prestes Maia, 911, de Julio Bittencourt
ISA – Projeto Água Viva, de Allard
Trajetória de um
inventor
Dinheiro ganho por Conrado Wessel com criação de fórmula para papel fotográfico é usado em filantropia e premiações
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O
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instituidor da Fundação Conrado Wessel (FCW), Ubaldo Conrado Augusto Wessel (1891-1993), nasceu em Buenos Aires, filho de pais alemães imigrados para a Argentina. Seu pai, Guilherme, decidiu tentar a sorte no Brasil um ano depois do nascimento de Conrado e instalou-se com a mulher e os dois filhos inicialmente em Sorocaba, no interior paulista, e depois em São Paulo. A família abriu a Casa Importadora de Artigos para Photografia no centro da capital, em 1902. Guilherme trabalhava na loja com o filho mais velho, Georg Walter. Quando Georg morreu, em 1908, o pai pediu ao caçula para auxiliá-lo.
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Conrado, embora ainda muito jovem, tinha outros planos. Queria “trabalhar no ramo fotográfico por conta própria”, segundo deixou escrito em cartas e depoimentos. O pai fechou a loja e tornou-se fotógrafo oficial da Secretaria da Agricultura, em 1909. Mas propôs ao filho que fizesse cursos sobre fotografia na Europa e trouxesse de lá uma clicheria (maquinário para impressão de imagens e textos). Conrado concordou e em 1911, aos 20 anos, estava em Viena, na Áustria, estudando fotoquímica no K.K. Graphischen Lehr und Versuchsanstalt e, depois, estagiando na Casa Beissner & Gottlieb, especializada na área gráfica e fotográfica.
Conrado Wessel com aparelho fotográfico: estudos no Brasil e no exterior
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O jovem fotógrafo e gráfico voltou a São Paulo em 1913 com o maquinário para montar a clicheria com o pai. Conrado, no entanto, percebeu que precisava de mais conhecimento e inscreveu-se como aluno ouvinte na Escola Politécnica, que viria a ser uma das unidades fundadoras da futura Universidade de São Paulo, em 1934. Entre 1915 e 1919 frequentou as aulas e foi auxiliar de laboratório do professor Roberto Hottinger no curso de engenharia química. O objetivo de Conrado era criar um papel fotográfico com qualidade superior aos importados. Depois de numerosas tentativas, desenvolveu em 1918 uma fórmula para banhar o papel, patenteada
em 1921. O sucesso alcançado levou, 28 anos depois, a um acordo firmado entre as empresas Wessel e Kodak: a totalidade da produção seria adquirida pela Kodak e cinco anos depois, em 1954, a patente passaria aos norte-americanos. Como não se casou nem teve filhos, Conrado Wessel deixou em testamento todo seu patrimônio para uma fundação a ser criada, que deveria multiplicar os recursos e distribuí-los em ações filantrópicas e premiações em favor da arte, da ciência e da cultura. Em 1994, ano seguinte à sua morte, fez-se sua vontade e a FCW foi criada. Os prêmios começaram a ser distribuídos em 2003. n
Instituições Parceiras da FCW Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP Ligada à Secretaria do Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo, é uma das principais agências de fomento à pesquisa científica e tecnológica. Desde 1962 concede auxílios à pesquisa e bolsas em todas as áreas do conhecimento, financiando atividades de apoio à investigação, ao intercâmbio e à divulgação da ciência e tecnologia em São Paulo. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Capes Vinculada ao Ministério da Educação, promove o desenvolvimento da pós-graduação nacional e a formação de pessoal de alto nível, no Brasil e no exterior. Subsidia a formação de recursos humanos altamente qualificados para a docência de grau superior, a pesquisa e o atendimento da demanda dos setores públicos e privados. Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq Fundação vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações para apoio à pesquisa brasileira, que contribui diretamente para a formação de pesquisadores (mestres, doutores e especialistas em várias áreas do conhecimento). É uma das mais sólidas estruturas públicas de apoio à ciência, tecnologia e inovação dos países em desenvolvimento. Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC Fundada há mais de 60 anos, é uma entidade civil, sem fins lucrativos, voltada principalmente para a defesa do avanço científico e tecnológico e do desenvolvimento educacional e cultural do Brasil. Academia Brasileira de Ciências – ABC Sociedade civil sem fins lucrativos, tem por objetivo contribuir para o desenvolvimento da ciência e tecnologia, da educação e do bem-estar social do país. Reúne seus membros em 10 áreas das ciências: Matemática, Física, Química, da Terra, Biológica, Biomédica, da Saúde, Agrária, da Engenharia e Humanas. Academia Brasileira de Letras – ABL Fundada em 20 de julho de 1897 por Machado de Assis, com sede no Rio de Janeiro, tem por fim a cultura da língua nacional. É composta por 40 membros efetivos e perpétuos e 20 membros correspondentes estrangeiros. Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial Criado na década de 1950, é uma organização do Comando da Aeronáutica que tem como missão o ensino, a pesquisa e o desenvolvimento de atividades aeronáuticas, espaciais e de defesa, nos setores da ciência e da tecnologia. Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa Organização sem fins lucrativos que tem por objetivo maior articular os interesses das agências estaduais de fomento à pesquisa em todo o país. Criado oficialmente em 2007, o conselho já agrega fundações de 22 estados, mais o Distrito Federal.
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Marinha do Brasil Integrante do Ministério da Defesa. Contribui para a defesa do país e atua na garantia dos poderes constitucionais e em apoio à política externa do país.
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Academia Nacional de Medicina – ANM Fundada em 1829, contribui para o estudo, a discussão e o desenvolvimento das práticas da medicina, cirurgia, saúde pública e de ciências afins, além de servir como órgão de consulta do governo brasileiro sobre questões de saúde e educação médica.
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Júri dos prêmios FCW de 2015
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parceira que indicou
Carlos A. Vogt / Presidente Ana Mae Tavares Bastos Barbosa Francisco Sampaio Glenda Mezarobba Jacob Palis Jr. José de Souza Martins José Murilo de Carvalho Maria Zaira Turchi Martha Tupinambá de Ulhoa Cel. Av. Maurício Pozzobon Martins Alte. Esq. Sergio Roberto Fernandes dos Santos
Fcw SBPC ANM CNPq ABC FAPESP ABL Confap Capes DCTA Marinha do Brasil
medicina Renata Caruso Fialdini / Presidente Erney Plessmann de Camargo Helena Nader Hernan Chaimovich Maj. Brig. José Elias Matieli Marcello André Barcinski Marco Antonio Zago Paulo Hilário Nascimento Saldiva Raul Cutait V. Alte. Sérgio Pereira Walter Colli Wanderley de Sousa
Fcw Fcw SBPC CNPq DCTA ABC e ABL FCW Capes ANM Marinha do Brasil FAPESP FCW
Arte / ensaio fotográfico Rubens Fernandes Junior / Presidente Alexandre Santos Christian Cruz Daigo Oliva Suzuki Eugênio Sávio Lessa Baptista Helouise Costa Joaquim Marçal Ferreira de Andrade Juan Esteves Ronaldo Entler Tiago Santana
Facom-Faap UFRS O Estado de S. Paulo Folha de S.Paulo PUC-MG MAC-USP PUC-Rio e Biblioteca Nacional Revista Fotografe Melhor Facom-Faap Ganhador do Prêmio FCW de 2006
Cronograma da premiação 2016
Prazo para recebimento das indicações (Ciência e Cultura)
Preparação dos dossiês dos indicados (Ciência e Cultura)
13 a 23 de novembro de 2016
Julgamento e escolha dos premiados (Ciência e Cultura)
25 de novembro de 2016
Prazo para recebimento das inscrições (Arte)
14 de dezembro de 2016 a 12 de maio de 2017
Escolha dos premiados (Arte)
22 a 26 de maio de 2017
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Cerimônia de premiação
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Segunda quinzena de setembro de 2017
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