Inventário e Memória
Cinemas de Rua em Florianópolis
ORIENTAÇÃO Rodrigo Almeida Bastos TEXTOS, FICHAS E IMAGENS Adriana de Lima Sampaio Sofia Arrias Bittencourt EDIÇÃO, REVISÃO, DIAGRAMAÇÃO E ARTE FINAL Adriana de Lima Sampaio
1ª edição Editora: UFSC/Reitoria Florianópolis
2013 - Grupo PET Arquitetura e Urbanismo Universidade Federal de Santa Catarina Roselane Neckel Reitora Jamil Assreuy Filho Pró-Reitor de Pesquisa e Extensão Edison da Rosa Diretor do Centro Tecnológico Fernando Simon Westphal Chefe de Departamento de Arquitetura e Urbanismo Milton Luz da Conceição Coordenação do Curso de Arquitetura e Urbanismo
Catalogação na fonte pela Biblioteca Universitária da Universidade Federal de Santa Catarina
Grupo PET - Arquitetura e Urbanismo Vera Helena Moro Bins Ely, Dr. Eng. Tutora Rodrigo Almeida Bastos, Dr. Orientador
S192i
Sampaio, Adriana de Lima Inventário e memória : cinemas de rua em Florianópolis / Adriana de Lima Sampaio, Rodrigo Almeida Bastos, Sofia Arrias Bittencourt. – 1. ed. - Florianópolis : UFSC/Reitoria, 2013. 83 p. : il., tabs, maps., plantas.
Adriana de Lima Sampaio Sofia Arrias Bittencourt Bolsistas
CDU: 72
Capítulo 1 - Introdução 05 Justificativa e Relevância 09 Objetivos da pesquisa 10 Capítulo 2 - Método 11 Capítulo 3 - Cinemas de rua em Florianópolis 17 Florianópolis 1900 - 1920 20 Cine Teatro Variedades > Cine Paramont > Cine Odeon 25 Florianópolis 1920 - 1940 28 Cine Internacional > Cine Imperial > Cine Carlitos > Cine Coral 29 Cine Rex > Cine Ritz 31 Teatro Cine Popular > Cine Odeon > Cine Roxy 35 Florianópolis 1940 - 1960 38 Cine São José 41 Capítulo 4 - Entrevistas Primeira Etapa Segunda Etapa Terceira Etapa
43 45 47 48
Capítulo 5 - Considerações Finais 51 Capítulo 6 - Referências 55
Inclui bibliografia. 1. Cinemas - Arquitetura. I. Bastos, Rodrigo Almeida. II. Bittencourt, Sofia Arrias. II. Título.
Índice
Referência: SAMPAIO, Adriana de Lima ; BITTENCOURT, Sofia Arrias; BASTOS, Rodrigo Almeida. Inventário e Memória: Cinemas de rua em Florianópolis. Florianópolis: PET/ARQ/UFSC, 2013. 83 p.
Capítulo 7 - Anexos 61 Plantas Cine Internacional 62 Plantas Cine São José 68 Capítulo 8 - Apêndices 77 Resumo 22° Seminário de Iniciação Científica da UFSC 78 Resumo IV Conferência Internacional Small Cinemas – Crossing borders 82
capítulo introdução
1
A
Cap 1.
6
INTRODUÇÃO
cidade é o fruto da civilização humana constante em toda história, um artefato. Segundo Maddalena d’Alfonso, “Tratase de uma cidade em que o individuo moderno é o sujeito dotado de poiesis, e revela, no ato criativo, a aparente normalidade das coisas. A cidade torna-se, então, um lugar da memória onde não só se fundem temas, argumentos e idéias, mas também onde os pensamentos, sintetizados em imagens, se transmudam em sentimentos complexos.” A cidade e a arquitetura são, portanto, os canais de desenvolvimento do indivíduo na coletividade, nesses ocorrem os encontros que possibilitam a vivência e a convivência. Os cinemas de rua constituíam uma referência nessa vivência, como o espaço de lazer primordial na primeira metade do século XX. Marcaram o início de um modernismo urbano, uma época de encontro nos centros das cidades. O surgimento do cinema constituiu numa alteração do próprio paradigma de arte. Nesse período, as obras de arte eram únicas, sua obra original era autêntica e irreproduzível, porém “[...] o filme é a criação da coletividade” (Benjamin, 1955), é feito essencialmente para ser reproduzido para uma grande parcela da população, e não existe sem essa. A interpretação gravada é transportável para qualquer local onde possa ser vista, tornando o filme um grande polinizador da cultura e dos hábitos de um tempo, trazendo grandes mudanças para a sociedade, catalisando processos culturais bastante expressivos de modernidade. As salas de cinema possibilitavam a união de diversas pessoas em uma experiência comum, “[...] uma sala vazia pode ser agradável numa galeria de quadros, mas é [...] inconcebível no cinema.” (Benjamin, 1955). Através do cinema, a divulgação de imagens ao
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INTRODUÇÃO redor do mundo estimulava um desejo irrepreensível de se estar na moda, influenciando o modo de viver, se vestir e se comportar na sociedade moderna. Também esse processo influenciava o estilo e a aparência da própria arquitetura dos cinemas situados nesses centros; e sobretudo o sentido que eles adquiriam (e imprimiam) na vivência das pessoas. Esse grande símbolo de modernização, despertou uma vontade de investigar mais profundamente o seu papel para a cidade. Como as suas edificações e, principalmente, sua atividade influenciavam a circulação pelo centro urbano. Assim, é importante que o estudo da arquitetura desses cinemas não seja meramente compilativo ou descritivo de sua materialidade. É importante buscar compreender o sentido na experiência individual e coletiva de seus habitantes, bem como as relações estabelecidas com as várias faces de seu contexto cultural. A arquitetura sempre foi a obra de arte mais propensa à recepção coletiva, uma vez que a necessidade do abrigo é permanente. Segundo Benjamin (1955), a recepção da arquitetura ocorre por dois canais: pelo uso e pela percepção, ou seja, pelos meios táteis e óticos. A contemplação do objeto arquitetônico acontece principalmente quando visita-se um lugar novo, e permite uma apreensão mais rasa da edificação. No entanto, a recepção ótica utiliza-se também do hábito, a observação casual do uso, que gera a impressão da edificação enquanto obra e enquanto uso. É, portanto, nessa percepção que criam-se laços com os usuários. São esses laços e as alterações ocorridas neles, que busca-se estudar. Como a mudança dos cinemas do centro da cidade alterou a relação dos individuos com esse lugar. Como isso influenciou no
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desenvolvimento e na dinâmica da cidade. Qual a importância dos cinemas na vivência e na lembrança da população. A necessidade de compreender o significado desses lugares para a sociedade fez com que a pesquisa baseasse na dualidade do signo (edificação) e do significado (símbolo). Segundo Gadamer (1997), símbolo é aquilo que vale não somente pelo seu conteúdo, mas pela sua exibicionalidade, ou seja, é um documento, no qual se reconhecem os membros de uma comunidade. Outro aspecto que se desejava investigar era as razões para decadência dos cinemas de rua e a alteração na relação das pessoas com esses espaços. Com o aumento da insegurança e dificuldades de deslocamento devido o grande crescimento das cidades, há um esvaziamento dos centros e criação de outros pólos atratores de público. É provável que esses fatores tenham contribuído para que os cinemas de rua fossem perdendo o seu caráter agregador e entrando em decadência. Busca-se, portanto, verificar se as causas resumem-se a essas, ou se existem outros motivos. 1.1 Justificativa e Relevância Os cinemas de rua desempenharam, durante um longo período de tempo, a função de espaço de lazer principal das cidades, criando a cultura do encontro no centro da cidade. Porém, com o esvaziamento dos centros e criação de outros pólos atratores de público, os cinemas de rua foram perdendo o seu caráter agregador e entrando em decadência.
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INTRODUÇÃO 1.2 Objetivos da Pesquisa 1.2.1 Objetivos Gerais A pesquisa tem como objetivo analisar a arquitetura dos cinemas e o sentido destes para a população, relacionando o signo (edificação) e o significado (importância na memória). 1.2.2 Objetivos específicos • Levantar informações técnicas e históricas (datas de construção e projeto, arquitetos responsáveis, proprietários, plantas baixas, estilo cinematográfico predominante, modificações nos projetos e nos usos) sobre o centro da cidade e os cinemas: o Cine Art 7 o Cine Carlitos o Cine Coral o Cine Imperial o Cine Internacional o Cine Odeon o Cine Paramount o Cine Rex o Cine Ritz o Cine Roxy o Cine São José o Cine Teatro Variedades o Teatro Cine Popular • Realizar entrevistas para identificar os pontos importantes na memória da população sobre o centro da cidade; • Analisar as entrevistas e identificar a influência dos cinemas na percepção dos entrevistados; • Comparar os resultados objetivos (mapas e levantamento histórico) com os subjetivos (entrevistas e mapas da memória).
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capítulo método
2
P
Cap 2.
MÉTODO
ara compreender o papel das edificações dos cinemas, os métodos foram realizados em duas etapas: levantamento das edificações e compilação de percepções dos usuários. Compreender o aspecto físico dessas edificações contribui para o entendimento da sua importância no tempo e no espaço. Assim como a atividade desenvolvida nesses edifícios, a sua materialidade também constituía um símbolo de modernidade na cidade, arquitetônica e iconicamente. Para compreender as edificações, inicialmente devemos visualizar o que conhecemos sobre elas. Com as diversas mudanças de nomes e proprietários dos cinemas em Florianópolis, organizar o material tornou-se ainda mais importante. Por isso, inicialmente foi feita uma organização espacial, compilando-os por edificação com as principais características e estilo arquitetônico. Para isso, foi necessário fazer um levantamento das plantas baixas e antigos proprietários desses cinemas, além CINE REX > CINE RITZ de pesquisas bibliográficas, a fim de identificar esses estilos arquitetônicos. Esse levantamento foi organizado em fichas, sistematizando o material coletado e facilitando a sua visualização. Fichas: Possuem cinco itens descritos. Primeiramente, foto atual do cinema e logo abaixo localiza-se a edificação em relação ao centro da cidade. Em seguida, um histórico com as datas relevantes e à direita fotos da edificação em ordem cronológica. Na caixa inferior foi feita uma descrição do edifício quanto a elementos compositivos e estilos, seguida por um quadro síntese Figura 1: Exemplo de ficha dos elementos comuns aos cinemas. 1
LOCALIZAÇÃO
3 FOTOS
2 HISTÓRICO
1935 - Cine Rex Proprietários: Tom Wildi e Ernesto Rickenbach
1943 -Cine Ritz José Daux, proprietário do prédio do Cine Rex, não renova o contrato e abre seu próprio cinema.
Cine Rex, 1939
É reformado e abre-se um túnel até a rua Padre Miguelinho
Cine Ritz, 1991
Atualidade - Propriedade da Cúria Diocesana
DESCR IÇ Ã O
A edificação possui uma decoração simples e austera, com elementos decorativos da transição entre o Ecletismo e o Movimento Art Déco. Possui afastamento laterais e divisão clara entre interior e exterior.
12
1996
CARACTERÍSTICAS Foyer
Bilheteria destacada
Vestí bulo
Displays
Platéia inclinada Bombonnière
Balcão
700 Lugares
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MÉTODO Em uma segunda etapa, foram aplicados três procedimentos metodológicos para compreender a percepção dos indivíduos sobre as edificações e a relação dessas com a cidade. Primeiramente, o entrevistado escreveu sobre sua vivência no centro histórico entre os anos 60 e 80. Esse exercício foi feito sem que o entrevistado conhecesse o objeto da pesquisa, levando-o a especular sobre a sua vivência sem saber do enfoque investigativo na arquitetura dos cinemas. Através desses textos, foi possível reconhecer os lugares e edifícios que mais tiveram impacto na vivência do entrevistado e avaliar a importância dos cinemas na memória silenciada pelo tempo. O segundo procedimento consistiu em um mapeamento visual, no qual o entrevistado foi levado a demonstrar sua percepção em relação a um determinado lugar. Nesse procedimento, o entrevistado foi apresentado a um mapa da área central de Florianópolis e nele teve que indicar as edificações que mais frequentou e quais os trajetos que costumava fazer na “contemplação distraída” (Benjamin, 1955) de seu cotidiano. A partir desses mapas, foi possível analisar se os cinemas estavam entre as edificações com maior importância para essas pessoas e se essas edificações influenciaram as escolhas de percurso usuais. A terceira etapa de entrevistas deu-se de forma escrita, com perguntas mais específicas sobre os cinemas e a relação do entrevistado com esses lugares. Nesse procedimento, foi possível verificar quais cinemas eram mais utilizados e com que frequência; a importância deles como atividade de lazer e socialização, porque esses locais deixaram de ser utilizados pela população e como se deu o processo de substituição dos cinemas por outros equipamentos
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urbanos de lazer. Essas modificações da dinâmica da população, do estilo de vida e na vivacidade que existia no centro das cidades, são de grande importância para entender mudanças comportamentais, estruturais da composição dos centros e na desvalorização da cultura nesses lugares. E ao utilizar a memória de usuários do espaço como fonte de informação, é possível compreender de maneira mais completa as edificações e o seu significado.
15
cap铆tulo
cinemas de rua em florian贸polis
3
P
Cap 3.
18
CINEMAS DE RUA EM FLORIANÓPOLIS
or ser uma cidade litorânea e colônia pesqueira de povoamento, Florianópolis teve sua ocupação de forma linear e dispersa. Segundo Eliane Veras da Veiga (2008), a ocupação do centro se deu inicialmente pela localização e características físicas do local. É, não sem razão, o ponto central da Ilha, com proximidade do continente, e numa região de baía, com águas calmas. Com o passar dos anos sofreu diversas mudanças de uso. O deslocamento da população pela ilha foi construindo o traçado urbano da cidade e tornando o centro histórico uma área predominante de comércio e serviços. O desenho do centro da cidade foi delineado a partir da praça central. Assim, definiram-se dois traçados urbanos: as laterais da praça que obedeciam à malha quadrangular com vias organizadas paralelamente à mesma em direção ao mar e aquelas localizadas no sopé dos morros – que contiveram, juntamente às medidas sanitaristas, o crescimento desordenado de cortiços no local – implantadas organicamente, sem planejamento prévio. A partir da edificação de um circuito militar, composto pelo Campo de Manejo (atual Instituto Estadual de Educação), pelo Forte Santa Bárbara (atual sede da Fundação Franklin Cascaes) e o Quartel de Artigos Bélicos, a área forneceu moradia aos militares. Com a chegada dos açorianos, a atividade portuária foi intensificada e estimulou o comércio nas proximidades. Os cinemas estudados encontravam-se na área leste e ao fundo da Catedral. As ruas à leste da Praça XV são as mais antigas e as que mais rapidamente se adensaram no centro da cidade. Essa zona, até o início do século XX, era ocupada principalmente por “moradinhas” e cortiços.
CINEMAS DE RUA EM FLORIANÓPOLIS A pesquisa mostra os cinemas em ordem de construção. Dividiu-se o histórico em períodos de 20 anos.
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1892
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Florianópolis 1900 - 1920
As obras de calçamento das vias centrais da cidade se intensificaram na segunda metade do século XIX. Em 1880 foram iniciadas as obras de calçamento em torno do antigo Teatro Santa Isabel (atual Teatro Álvaro de Carvalho) e prolongamento da rua Padre Miguelinho – “Cinelândia” de Florianópolis, que na época ainda se chamava rua do Espírito Santo, até a rua Artista Bittencourt. O empedramento das vias facilitava o escoamento das águas, que antes se acumulavam e danificavam a estrutura do Teatro. Ao final do século XIX, o desenvolvimento da cidade de Desterro encontrava-se estagnado devido a conjunturas políticas e econômicas. Porém, no início do século XX, o acréscimo do movimento marítimo devido aos períodos de prosperidade da economia mundial beneficiou Desterro. Devido a sua posição geográfica, tornou-se um ponto de parada estratégico para o comércio de mercadorias. Houve uma alteração no quadro social da cidade, quando, no início do século XX, essa se tornou menos rural e surgiram pequenos bairros formando uma caracterização mais urbana e práticas mais citadinas. Como conseqüência dessa maior concentração no centro da cidade, intensificou-se a vida urbana e houve um aumento no Figura 2: Antiga Rua Augusta (atual Rua valor das terras dentro e na borda da aglomeração, o que acabou João Pinto) - tradicional rua comercial, desencadeando uma separação entre os bairros e o campo.
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1 2 3 4 5
Teatro Cine Variedades Cine Internacional Cine Rex Teatro Cine Popular Cine São José Praca XV de Novembro Catedral Metropolitana Rua Padre Miguelinho
Figura 3: Mapa do centro de Florianópolis
21
CINEMAS DE RUA EM FLORIANÓPOLIS
Figura 4: Leste da Praça XV, 1930
22
Os cinemas estudados localizavam-se principalmente no bairro da Figueira, onde hoje é a região mais central, próximo à praça XV. Os bairros Praia de Fora e Mato Grosso eram bairros com moradores de maior poder aquisitivo, com melhores residências e ficavam ao norte da praça. Os bairros Pedreira (onde se encontrava o Cine Internacional) e o bairro Tronqueira, considerados os bairros “sujos” e “tenebrosos”, surgiram no século XIX. Entre 1908 e 1916 houve diversas alterações no traçado viário do polígono central, aproximando-o da situação atual. A Rua Presidente Coutinho era uma rua central no bairro Mato Grosso e ligava-se, através da Rua Nereu Ramos, à Rua Marechal Guilherme, que era praticamente o centro da “Cinelândia” da cidade. O surgimento de novos eixos viários reforçava as ligações do antigo centro histórico com as regiões mais distantes e os bairros mais ricos e residenciais, como Praia de Fora e Mato Grosso. São nesses primeiros anos do século XX que a Ilha de Santa Catarina recebe a chegada da luz elétrica, com a substituição da iluminação pública, montagem de linhas de bonde movidas à tração animal, e a instalação do serviço público de abastecimento de água e esgoto sanitário. Além disso, houve a construção de habitações populares e sedes de várias instituições de cultura, saúde e educação. Juntamente com esses avanços é que iniciam-se as primeiras projeções em Santa Catarina. Ao contrário de outras cidades, em Florianópolis essas só aconteceram em um formato próximo ao cinema, não utilizando nenhum dos precursores, como fonógrafos, panoramas, lanternas-mágicas. A primeira projeção em Florianópolis ocorreu no dia 21 de julho de 1900, no Teatro Álvaro de Carvalho, que como dizia no anúncio do jornal “A República”: “uma grande exposição de
quadros ilusionistas, de propriedade de H. Kaurt, o qual tem o prazer de convidar V. S. para assistir a experiência a qual será somente para julgar-se o grande mérito que tem os quadros ilusionistas” (Depizzolatti et al, 1987). Seguiu-se um período de apresentações diversas, unindo o cinema a outras atrações, como fazia a Companhia de Variedades, ou apresentações improvisadas feitas por caixeiros-viajantes.
Figura 5: Panorâmica da Praça XV - vista a partir da Catedral, primeiro quartel do século XX
23
CINE TEATRO VARIEDADES > CINE PARAMOUNT > CINE ODEON 1
LOCALIZAÇÃO
3 FOTOS
2 HISTÓRICO 1875 - Teatro Santa Isabel
1908 - Cine Teatro Variedades Primeira sala fixa da cidade. Cinema, teatro, números de magia, cantores e operetas.
Década de 1920
Cine Paramount Paulo Schlemper proprietário do antigo Cine Palace Década de 1940
Cine Odeon Funcionava no salão anexo à Catedral, e foi transferido para o TAC Atualidade - Teatro Álvaro de Carvalho Atualmente, o Teatro é Patrimônio Cultural tombado pelo estado, está aberto à visitação e para apresentações diversas
DESCRIÇÃO O Teatro Álvaro de Carvalho foi inaugurado no ano de 1875, ainda com o nome de Teatro Santa Isabel. Suas características atuais se devem às alterações da reforma de 1955, onde foram adicionados o frontão e a sacada à fachada.
1995
CARACTERÍSTICAS Foyer
Bilheteria destacada
Vestí bulo
Displays
Platéia inclinada
Balcão
Bombonnière Ficha 1: Álvaro de Carvalho
1980
460 Lugares
CINEMAS DE RUA EM FLORIANÓPOLIS Teatro Álvaro de Carvalho (TAC)
Figura 6: Interior do Teatro, década de 20
Figura 7: Interior do Teatro, 1940
26
Rua Marechal Guilherme, 26
O Teatro Álvaro de Carvalho foi inaugurado em 5 de junho de 1871, porém sua construção ainda não estava concluída. Seu primeiro nome era Teatro Santa Isabel, em homenagem à Princesa Isabel, e nasceu a partir do movimento que pessoas ligadas à cultura, que defendiam a necessidade de um teatro amplo e moderno na Capital da Província. Devido a grandes reclamações do público por causa da infraestrutura do teatro, calor excessivo e da fumaça do cigarro, o teatro tornou-se um espaço abandonado e passou a ser utilizado como prisão. Em 2 de julho de 1894, teve seu nome modificado em homenagem ao primeiro dramaturgo catarinense, Álvaro de Carvalho. “O edifício achava-se muito arruinado e foi todo reconstruído, sendo substituídas as linhas e as frechais da cobertura, completamente retelhado e balaustrado em seu contorno. Adotouse a iluminação a gás acetileno, instaladas latrinas, mictórios e uma escada que servisse de subida às galerias, isolando-as assim das salas e camarotes, além de inúmeros outros pequenos trabalhos.” (VEIGA, 2008). Em 1908, após esse período de abandono, a edificação abrigou a primeira sala fixa de cinema de Florianópolis instalada por Júlio Moura, o Cine Teatro Variedades, onde além de cinema, apresentava-se teatro, operetas, cantores e números de magia. Havia ingressos com vários preços, o que permitia que todas as classes sociais freqüentassem as exibições, porém havia uma divisão de classes dentro do teatro.
Em meados da década de 30, o engenheiro Paulo Schlemper, proprietário do antigo Cine Palace, inaugurou no TAC o Cine Paramount. O espaço tem grande sucesso com o público, porém uma película incendeia durante uma sessão, causando um grande susto na platéia. Após esse incidente Schlemper fecha seus dois cinemas. Em 1955 o teatro sofreu uma radical transformação, a fim de evitar o fechamento definitido do prédio e sua demolição. Sua reforma acompanhou a evolução da arquitetura e decoração e perdeu grande parte de seu caráter. O último cinema que a edificação abrigou foi o Cine Odeon, que foi inaugurado na Rua Padre Miguelinho e depois transferiu-se para o TAC. Seu acesso principal era na lateral do Teatro, onde hoje é a Praça Pereira Oliveira. Hoje o Teatro já tem mais de 100 anos e ocupa lugar de destaque como patrimônio cultural tombado pelo estado e está aberto para visitação e apresentações diversas.
Figura 8: Praça Pereira Oliveira, 1879
Figura 9: Praça Pereira Oliveira, década de 1920
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CINE INTERNACIONAL > CINE IMPERIAL > CINE CARLITOS > CINE CORAL
CINEMAS DE RUA EM FLORIANÓPOLIS
1
LOCALIZAÇÃO
1924 - Cine Internacional Primeira sala fixa da cidade. Cinema, teatro, números de magia, cantores e operetas
Florianópolis 1920 - 1940 As décadas de 1900 a 1930 ficaram marcadas como um período de modernização e progresso, com implantação de diversos serviços que refletiam o conforto urbano do século XX, como água encanada, telefone, luz elétrica, esgoto sanitário, linhas de bonde e novas opções de moradia e lazer. Também foi um período de construção de praças e ruas e calçadas arborizadas. O encerramento do período de progresso deu-se com a construção da Ponte Hercílio Luz (1924-1926), a primeira ligação ilha-continente. Até então, os 40 mil habitantes da cidade utilizavam balsas para fazer a travessia. Muitas das obras desse período, especialmente a construção da ponte pênsil, foram realizadas com o intuito de consolidar Florianópolis como a capital do Estado. Uma vez que o seu status de centro político e administrativo do Estado era frequentemente questionado por outras cidades, devido a sua distância e dificuldade de acesso. Com a decadência do transporte marítimo e aumento do transporte rodoviário, a cidade sofreu uma fase de depressão econômica, em que a modernização não ficou tão evidente e acarretou em uma desaceleração nas mudanças da paisagem urbana, que ficou praticamente estagnada até a segunda metade do século XX. Este período é considerado por Veiga (2008) como responsável pela conservação de grande parte dos edifícios históricos do centro. Nessa época, com a popularização do cinema, são construídos as primeiras edificações específicas para cinema em Florianópolis. Essa expansão do cinema leva, nos anos seguintes, à uma cultura cinematográfica da capital.
28
3 FOTOS
2 HISTÓRICO
1939 -Cine Imperial
Décado de 40 - Cine Carlitos Cine Coral, década de 80
Cine Coral
Atualidade - Lojas Milium
Fachada atual, Rua João Pinto
DESCRIÇÃO O prédio, construído na década de 20, possuía uma ornamentação destacada, principalmente na fachada principal voltada para a Rua João Pinto. Atualmente, essa fachada encontra-se descaracterizada, e a impressão é que a fachada principal é a virada para o Terminal Cidade de Florianópolis. Ficha 2: Cine Internacional
CARACTERÍSTICAS Foyer
Bilheteria destacada
Vestí bulo
Displays
Platéia inclinada
Balcão
Bombonnière
340 Lugares
CINE REX > CINE RITZ
CINEMAS DE RUA EM FLORIANÓPOLIS
1
LOCALIZAÇÃO
1935 - Cine Rex Proprietários: Tom Wildi e Ernesto Rickenbach
Cine Internacional
Figura 10: Rua João Pinto, 1903
Figura 11: Rua João Pinto, 1940
30
Rua João Pinto, 156
O Cine Internacional foi construído na década de 20 com capacidade para 340 espectadores. Encontrava-se no antigo bairro da Pedreira, onde residiam marinheiros e era a paisagem de quem desembarcava na cidade. A edificação atravessava a quadra e sua fachada de fundos dava diretamente no mar, que com o aterro dos anos 70 da Baía Sul foi construído o que hoje é o Terminal Cidade de Florianópolis. A fachada principal era voltada para a Rua João Pinto tradicional rua comercial - e possuía ornamentação expressiva em estilo eclético, era simétrica com frontão e balcão. Já a fachada posterior voltada para a Rua Antônio da Luz tinha decoração menos opulenta. Isso se deve à tradição de “dar as costas ao mar”1, onde eram despejados os resíduos das residências. A fachada da Rua João Pinto está totalmente descaracterizada e irreconhecível, inclusive dando a impressão de que a fachada dos fundos é a principal. O Cine já se chamou Imperial, na década de 40, recebeu o nome de Cine Carlitos e por fim se chamou Coral. Possuía diversos equipamentos como vestíbulo, bonbonnière, foyer e platéia levemente inclinada. Além disso, apresentava bilheteria destacada e displays. Hoje, com suas fachadas transfiguradas, abriga a loja de utilidades Milium.
Figura 12: Rua João Pinto, 1950 1 Pode-se utilizar o termo “dar as frentes para a rua”. Nesse contexto histórico, a rua era o principal local de convívio, comércio e vida urbana, por isso essa preocupação em embelezar essa fachada.
3 FOTOS
2 HISTÓRICO
1943 -Cine Ritz José Daux, proprietário do prédio do Cine Rex, não renova o contrato e abre seu próprio cinema.
Cine Rex, 1939
É reformado e abre-se um túnel até a rua Padre Miguelinho
Cine Ritz, 1991
Atualidade - Propriedade da Cúria Diocesana 1996
DESCR IÇ Ã O A edificação possui uma decoração simples e austera, com elementos decorativos da transição entre o Ecletismo e o Movimento Art Déco. Possui afastamento laterais e divisão clara entre interior e exterior.
Ficha 3: Cine Rex
CARACTERÍSTICAS Foyer
Bilheteria destacada
Vestí bulo
Displays
Platéia inclinada
Balcão
Bombonnière
700 Lugares
CINEMAS DE RUA EM FLORIANÓPOLIS Cine Rex
Figura 13: Interior do cinema
Figura 14: Interior do cinema
32
Rua Arcipreste Paiva, 422
Localiza-se na Rua Arcipreste Paiva e foi inaugurado em 1935 por Tom Wildi e Ernesto Rickenbach e era o que havia de mais moderno em termo de cinema em Florianópolis. Os equipamentos para sua construção chegaram de navio. As sessões eram bastante concorridas, formando fila que davam voltas no quarteirão. Em 1943, o proprietário do prédio, José Daux, não renovou o contrato com do Cine Rex, e cria nesse mesmo espaço seu próprio cinema, chamando-o de Cine Ritz, como ficou bastante conhecido. Após essa mudança o Cine foi reformado e abriu-se um túnel até a rua Padre Miguelinho, o que impedia que os usuários que já tinham assistido ao filme voltassem para onde estavam as pessoas esperando para a próxima sessão. Essa novidade permitia que as sessões começassem logo que a sessão anterior terminou, além de impedir que os usuários assistissem outra sessão sem pagar. Os cartazes dos filmes eram fixados em sua fachada ou em passeio público, e o edifício tinha balcão. Possui afastamento laterais e divisão clara entre interior e exterior. Havia a presença de uma marquise que marcava a entrada principal da edificação. Posteriormente, essa marquise foi ampliada, cobrindo toda a frente do cinema. A edificação possui uma decoração simples e austera, com elementos decorativos da transição entre o Ecletismo e o Movimento Art Déco. Possuía vestíbulo no térreo e duas escadas simétricas que davam acesso ao foyer, onde provavelmente encontrava-se a
bombonnière. A fachada da Rua Padre Miguelinho é quase tão trabalhada como sua fachada principal, com bastante ornamentação. O cinema tinha lugar para 700 espectadores e era a melhor e maior sala da cidade. Ali, passaram grandes sucessos de bilheteria e nas terças havia a sessão das moças. Atualmente, a edificação encontra-se bem preservada e pertence à Cúria Diocesana da Capital.
Figura 15: Rua Arcipreste Paiva, 1984
Figura 16: Cine Ritz, década de 40
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TEATRO CINE POPULAR > CINE ODEON >CINE ROXY 1
LOCALIZAÇÃO
3 FOTOS
2 HISTÓRICO Década de 30 - Teatro Cine Popular
Cine Odeon
Vista a partir da Rua Anita Garibaldi, 1980
1944- Cine Roxy Proprietário Jorge Daux. “Rei das matinês”
1995 Atualidade - propriedade da cúria diocesana.
Antiga entrada do cinema, 2011
DESCRIÇÃO O cinema localizava-se no segundo andar da edificação e era acessado por uma escadaria com um pequeno hall O espaço era pequeno, com interior sóbrio e platéia plana.
CARACTERÍSTICAS Foyer
Bilheteria destacada
Vestí bulo
Displays
Platéia inclinada
Balcão
Bombonnière Ficha 4: Teatro Cine Popular
560 Lugares
CINEMAS DE RUA EM FLORIANÓPOLIS Teatro Cine Popular
Rua Padre Miguelinho, 73
O antigo Palácio do Arcebispo, localizado em área nobre do centro de Florianópolis, foi construído em meados da década de 30, e deu lugar ao Cine Popular - onde ocorriam “imponentes festas” e apresentações teatrais. Detalhes do interior, tirado do livro “Florianópolis Memória Urbana”, página 222: “Os cenários são impressionantes pelo senso artístico dos cenógrafos Sr. Luis Trindade e Heitor Faria que neles trabalharam com muita dedicação./ O pano de boca com lindos reclames foi trabalhado pelo pintos Sr. Eduardo Dias, que lhe deu funda originalidade, com aspectos da Ponte Hercílio Luz e trechos da ilha e continente./ A sala de espetáculos é deveras excelente, salientado-se pelo conforto (...)./ Na platéia 410 poltronas, colocadas em diretrizes curvas paralelas, eqüidistantes 0.60, o que permite franca passagem (...)./ No plano superior, correm de ambos os lados, espaço para 150 cadeiras, sendo 2 camarotes ladeando a cabine cinematográfica, destinados ao Arcebispo e autoridades. A construção foi feita pelo Revmo. Arcebispo Dom Joaquim de Oliveira para a sede do Centro Popular.”
Figura 17: Interior do edifício
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O edifício destaca-se na paisagem urbana, por sua arquitetura imponente e seu posicionamento - na perspectiva da Rua Anita Garibaldi. Foi um dos primeiros cinemas da cidade a exibir filmes sonoros e o sistema utilizado para adicionar som aos filmes era precário e os
erros de sincronia entre as imagens e o som eram freqüentes. O cinema também se chamou Cine Odeon, que depois foi transferido para o Teatro Álvaro de Carvalho. Em 1944 foi arrendado por Jorge Daux e passou a chamar-se Cine Roxy. Era conhecido como “Rei das Matinês” e tinha sessões vespertinas com pipoqueiros e bombonnière. O cinema localizava-se no segundo pavimento do prédio do período eclético, o seu acesso era feito pela escadaria a partir do hall com abertura para a Rua Padre Miguelinho. O cinema sempre dividiu espaço com lojas comerciais no térreo. Possuía platéia plana e fachada com decoração bastante ornamentada. Porém possuía interior sóbrio. Em seu período de decadência, exibia filmes pornográficos. Atualmente é de propriedade da Cúria Diocesana.
Figura 18: Edificação do antigo Cine Roxy (direita), Casa da Memória (esquerda) e Catedral (ao fundo), 1996
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CINEMAS DE RUA EM FLORIANÓPOLIS Florianópolis 1940 - 1960 Em 1947, com forte influência do movimento de 22, inicia-se o Grupo Sul, que defendeu um modernismo sem rejeição do passado, mas determinado a mudar os parâmetros tradicionalistas das artes. Ainda no final década de 40, o grupo fundou o primeiro cine-clube da cidade e dedicou-se ao estudo e à arte do cinema. Exibiam os maiores filmes do cinema mundial. Eram filmes que revolucionavam a sétima arte, e introduziam novas formas de pensar na pacata Ilha. Na década de 50, Florianópolis ainda conservava os ares de cidade calma e sossegada. O cronista da Rádio Diário da Manhã, Osmar Silva, comentou: “Alcanço a Rua Felipe Schmidt, a rua dos cafés e
Figura 19: Jornal da Semana, 1980
confeitarias, o fogo-fátuo das nossas pretensões a cidade grande! É a rua dos footings, das conversas fiadas! (...). O ônibus arranca, enquanto uma tristeza mansa me segreda que Florianópolis está distante, muito distante do progresso que se alardeia por aí! É quando muito, uma caricatura... uma pálida caricatura de cidade grande!” (SILVA apud CASTRO, 2002, pp.37 e 38).
A partir da década de 50, com os investimentos federais da era Juscelino Kubitschek, os esforços para criar uma capital desenvolvida e turística se intensificaram. Em 1956, o ainda influente Grupo Sul realizou a gravação do primeiro longa-metragem catarinense “O Preço da Ilusão”. A ideia de fazer o filme surgiu de discussões do cinema brasileiro e sua função social. Figura 20: Praça XV, década de 1950
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Trechos de entrevista com Eglê Malheiros, escritora de “O preço da Ilusão”, publicada no Jornal da Semana, edição número 67, 10 a 17 de maio de 1980 “Jornal da Semana – Qual era a proposta do filme? Eglê – Propôs-se, através das duas histórias que o filme aborda, a fazer um corte na sociedade de Florianópolis. Coloca-se o problema da infância carente, que não tem atrás de si pais capazes de sustentá-las e garantir-lhe o futuro e, de outro lado, o problema da moça pequenoburguesa que, de repente, vê-se tentada a galgar a escala social, numa época em que se mitificavam os concursos de miss. Participar dos concursos era um sonho das meninas da época, ávidas por aparecer Figura 21: Eglê Malheiros, 1980 nas capas das grandes revistas, como ‘miss-qualquer-coisa’. Todos viam a beleza do concurso, aquele aparato todo, mas ninguém percebia o que se passava nos bastidores. Era isso que “O Preço da Ilusão” pretendia mostrar, também. E, antes de tudo, pretendia ser uma crônica da vida de uma cidade. [...] Nesta história, procurava-se mostrar a vida de um menino de família pobre, mas trabalhador, em que os pais depositavam toda a responsabilidade do sustento familiar. Paralelamente, o menino sonha em formar um conjunto de boi-demamão. [...] Procuramos mostrar, no desenvolver do filme, o dia-a-dia dos personagens: a mãe da menina que pretendia ser miss, a família do Maninho, os aventureiros que queriam aproveitar-se das candidatas, e assim por diante. [...] se pode dizer, inclusive, que praticamente toda a população de Florianópolis participou direta ou indiretamente do filme.” Fonte da entrevista: http://identidadecatarinense.blogspot.com.br Acessado em 10/03/2013 Figura 22: Jornal da Semana, edição número 67, de 10 a 17 de maio de 1980
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CINE SÃO JOSÉ 1
LOCALIZAÇÃO
3 FOTOS
2 HISTÓRICO 1951 - Início da construção Proprietário: Jorge Daux Projeto de Moellman & Raú, com colaboração de Franklin Cascaes 1954 - Inauguração Segundo Classificação de Paul Maenz, pode ser considerado “Exótico”
Fachada Principal Após o fechamento como cinema, alternou períodos de uso como igrejas evangélicas e períodos de abandono
Atualmente - Igreja Livre em Jesus
Fachada Posterior
DESCRIÇÃO A edificação consiste em um palácio art déco, com interiores desenvolvidos por Franklyn Cascaes. Na sua concepção foi considerado o conforto dos espectadores, com iluminação dos subsolos e ventilação da platéia. A saída era realizada pela Rua Visconde de Ouro Preto, na fachada posterior da edificação. Ficha 5: Cine São José
CARACTERÍSTICAS Foyer
Bilheteria destacada
Vestí bulo
Displays
Platéia inclinada
Balcão
Bombonnière
1000 Lugares
CINEMAS DE RUA EM FLORIANÓPOLIS Cine São José
Figura 23: Interior do cinema
Figura 24: Cine São José
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Rua Padre Miguelinho, 96
O cine São José foi inaugurado no ano de 1954, após 3 anos de construção. O projeto foi encomendado por Jorge Daux aos projetistas Moellman & Raú, com colaboração de Franklin Cascaes nos interiores. Tinha capacidade para 1000 espectadores, era moderno e requintado, digno de uma capital, e foi considerado por muito tempo o cinema mais elegante da cidade. Era um legítimo cine palácio. Seu projeto buscava distanciar-se das feições de um teatro. A grande torre da fachada marca a bilheteria, diferente das edificações anteriores, que costumavam marcar o acesso principal. Havia displays iluminados que mostravam os filmes em cartaz. A fachada envidraçada remetia à tela do cinema, e escondia o foyer, onde os usuários viam e eram vistos da rua. O projeto tem aspecto cenográfico, com bastante utilização de gesso e efeitos de iluminação. O arquiteto Raú também preocupou-se com o conforto ambiental da platéia, com um sistema de ventilação bastante sofisticado; e do subsolo, com iluminação. Hoje em dia a edificação abriga uma igreja neo-pentecostal e o seu interior está bastante descaracterizado.
capítulo entrevistas
4
A
amostra de entrevistados continha voluntários que frequentavam o centro entre os anos 60 e 80. A entrevista era escrita e dividia-se em três etapas.
Cap 4.
ENTREVISTAS
Primeira Etapa O enunciado da primeira etapa era o seguinte: “Descreva sua relação com o centro de Florianópolis, nos anos 60 a 80. Use desenhos, textos ou qualquer meio de expressão, para mostrar os lugares utilizados e como eles se relacionavam.”. Nessa etapa, todos os entrevistaram expressaram-se de forma escrita. Foi uma etapa em que pudemos perceber que os participantes realmente tiveram um momento de boas recordações e colocaram isso no papel. Os lugares mais lembrados eram a residência particular ou de familiares, trabalho e lazer.
“Morei no centro durante 10 anos e fazia tudo no centro: estudava, me divertia (cinema, compras, etc). Era no centro que vivia meu mundo. Amigos também moravam no centro. O centro era para mim um espaço, mais ou menos como meu quintal, um grande quintal até o dia que fiz minha primeira viagem longe da cidade e descobri que o local onde vivia, o centro da cidade, era apenar uma parte de um mundo a ser descoberto.”.
Entre as rua mais citadas destacam-se Rua Conselheiro Mafra, Saldanha Marinho e Felipe Schmidt. Foram indicadas como ruas de passagem, moradia e trabalho. A Rua Felipe Schmidt destaca-se Figura 25: Exemplo de 1° etapa das também como espaço público. entrevistas
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ENTREVISTAS “Caminhava-se somente do lado do Palácio do Governo (atualmente Palácio Cruz e Souza), jamais por dentro da praça. Eram interditadas as entradas das praças, para “moças direitas”. Subindo a Rua Felipe Schmidt para o ponto de ônibus, no final de tarde, passava-se pelos “garotos” encostados nas paredes das lojas. A Conselheiro Mafra evitava-se, as prostitutas já começavam suas tarefas.” Em diversas entrevistas, principalmente respondidas por pessoas do sexo feminino, cita-se a Rua Conselheiro Mafra como uma rua que não era recomendável para “moças de família”. A presença dos moços encostados nas paredes das lojas, na Rua Felipe Schmidt, também apareceu repetidas vezes. A rua foi até mesmo citada como local de “paquera”. A Praça XV apareceu em várias respostas, principalmente relacionada à atividades culturais e atividades religiosas que aconteciam na cidade, como a Procissão do Senhor dos Passos e Procissão de Corpus Christi. Os cinemas citado, espontaneamente, foram o Cine São José, o Cine Coral e o Cine Cecontur (que não faz parte da nossa compilação, pois encontrava-se dentro de um Hotel e não tinha a relação direta com a rua). O TAC também foi citado, mas não como cinema, e sim como atividade cultural (teatro e apresentações).
Figura 26 Exemplo de 2° etapa das entrevistas
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“Lembro-me [...] do TAC, e como entrar naquele recinto me era prazeroso (a cortina vermelha, o lustre e os vitrais me chamavam a atenção. Depois, o escurecer para o início do espetáculo).” “Lembro, estudei ballet durante um curto período no Teatro Álvaro de Carvalho.“
Mesmo não sendo parte da rotina, ou somente fazendo parte da vida das pessoas por um curto período de tempo, o Teatro Álvaro de Carvalho tem uma grande importância na memória da população, talvez por sua história e arquitetura consideravelmente preservadas. “Uma de minhas lembranças mais nítidas foi a “operação” que realizei para entrar no Cine São José, já que os homens somente podiam entrar com paletó. Convenci o porteiro a me emprestar um paletó e assim entrei e assisti Elizabeth Taylor em Cleópatra.” Esses depoimentos mostram que os cinemas eram locais requintados, bem freqüentados, as pessoas usavam sua “roupa de domingo” para frequentá-los. Segunda Etapa A segunda etapa da entrevista tinha um mapa do centro da cidade, e a seguinte instrução: “Utilizando o mapa abaixo, marque os lugares que você mais frequentava nos anos 60 a 80, no centro de Florianópolis. Demonstre a relação entre eles e as atividades realizadas.”. Nessa etapa, os locais mais marcados no mapa foram os mesmo citados na primeira etapa: Residências de familiares, ruas de trabalho e comércio e o Largo da Catedral/Praça XV. Porém, os cinemas foram lembrados com maior freqüência. Os mais citados foram o Cine São José, Cine Ritz, Cine Coral, Cine Cecontur e o TAC. Figura 27: Elizabeth Taylor como Cleópatra, 1963 - Parte da lembrança do entrevistado
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ENTREVISTAS Terceira Etapa
Na terceira e última etapa da entrevista, havia cinco perguntas mais específicas sobre os cinemas. A primeira pergunta “Você frequentava os cinemas de centro de Florianópolis? Se sim, liste quais. Com que freqüência?” obteve somente respostas afirmativas. Todos os entrevistados freqüentavam os cinemas de rua da cidade. Os mais visitados, em ordem decrescente, eram: Cine São José, Cine Coral/ Carlitos, Cine Ritz, Cine Cecontur e, finalmente, Cine Roxy. Ou seja: todos os cinemas levantados foram frequentados pelos participantes, exceto o TAC, que já não era cinema nesse período. Os cinemas eram bastante visitados nos sábados, “Uma vez por semana no mínimo”, “Eu via praticamente todos os filmes exibidos nesses cinemas, especialmente entre os anos 70 e 80.“, e pode-se dizer que eram uma das mais importantes atividades de lazer na cidade. “Nos anos 60 frequentava as matinês do Cine São José aos domingos, sessão das duas da tarde. Dentro do contexto em que vivia, realizar esse programa dominical era realmente marcante para um criança que completou dez anos de idade em 1961.” A segunda pergunta da terceira etapa questionava “Qual era o papel dos cinemas na sua atividade de lazer?”. A maioria dos entrevistados considerava o cinema como principal atividade de lazer, entretenimento e reunião com amigos. A terceira e a quarta questões perguntavam a opinião do entrevistado sobre os motivos do desaparecimento dos cinemas. As respostas também se repetiam. O surgimento dos cinemas de shopping, com seus estacionamentos, e a decadência dos próprio cinemas Figura 28: Exemplo de 3° etapa das foram as respostas mais escolhidas. Outros motivos citados pelos entrevistas
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participantes foram: aprimoramentos das televisões, surgimento de locadoras de filmes, salas alternativas na UFSC e no CIC e, finalmente, a insegurança e o abandono do centro da cidade e falta de conservação do patrimônio histórico. “A decadência foi gradativa. Resistiram antes de desaparecer. O Cecontur foi a última tentativa. Choque: O Cine São José transformar-se em Sala para culto do Sagrado Mercantilizado.” “Quando assisti ao último filme no centro, “A escolha de Sofia”, pensei que o Cecontur – o mais moderno da época, ia resistir. Mas não.”
Segundo depoimentos, os cinemas tentaram se manter em funcionamento e até mesmo a população acreditava que eles não seriam extintos, mas não conseguiram e foram desaparecendo das ruas gradativamente e tranferindo-se para os Shopping Centers. A quinta e última pergunta da entrevista questionava “Qual era a influência dos cinemas no seu cotidiano?”. Houve respostas diversas, mas a maioria mostrou grande importância dos cinemas em suas vidas. Muitos citaram o cinema como uma fantasia transformada em realidade visual, referência de estética, fotografia e liberdade. “Na Universidade, em pleno regime ditatorial, o cinema era uma possibilidade de respirar um pouco de liberdade.” Os entrevistados consideram a sétima arte uma atividade “completa, genial, lúdica, fantástica...”. Figura 29: Imagem do cartaz do filma “A escolha de Sofia”
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ENTREVISTAS “Diversão significava especialmente ir ao cinema. Com assiduidade. Depois de instalação do Cine Coral na Rua João Pinto e do Cine Cecontur, na Arcipreste Paiva, “nós” nos sentíamos vivendo como “gente de cidade grande”. Filmes mais selecionados e com telas maiores e som melhor, com salas melhor equipadas eram para quem ama a sétima arte, um deleite, mais que uma diversão, uma saborosa curtição cultural.” Frequentar esses cinemas transmitia uma sensação de que estavam inseridos na modernidade do mundo, como se, mesmo morando longe, podiam ter acesso às tendências, novidades e costumes daquela época – tudo isso através da tela do cinema. Os cinemas deixaram grandes lembranças na memória dos moradores da cidade. “Não sou uma pessoa enredada na nostalgia, mas não posso deixar de dizer, ou melhor, escrever que foram áureos os tempos que pulsava vida, sabor, arte e encanto nas tardes e noites do centro de nossa cidade!”
capítulo considerações finais
50
5
O
Cap 5.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
s cinemas de rua foram um importante acontecimento social no século XX, permitiam relações e possibilitavam a vivência e a convivência entre as pessoas. Os cinemas foram a democratização da arte, a possibilidade de conhecer o novo e o moderno; foram uma experiência de “viver” uma realidade através da tela. Por isso, eles modificaram a percepção das pessoas sobre a cidade. Essas pessoas podiam se imaginar em situações diversas. O que parecia impossível ou improvável tornava-se real. A arquitetura dos cinemas era bem decorada e normalmente opulenta. As cidades devem muito ao cinema. Graças a esse costume, os centros urbanos tinham mais vida dinâmica. Os cinemas proporcionavam essa paisagem bem povoada e freqüentada. Se os encontros sociais e o convívio urbano foram intensos durante o auge dos cinemas, pode-se considerar que foram desaparecendo com a decadência dos mesmos. Atualmente, as pessoas têm a tendência de se fechar em suas casas, no conforto do lar, em frente à televisão. Essa decadência dos cinemas também dificulta a possibilidade de um reavivamento do centro histórico, que torna-se cada vez mais comercial e de serviços. Um espaço de consumo e não de convívios e interação. Quando investigamos os cinemas de rua, percebemos que esses objetos foram muito importantes e continuam trazendo lembranças e sentimentos de nostalgia. Eles ainda têm grande importância na memória das pessoas, principalmente pessoas que os freqüentavam. Porém há uma grande chance que essa memória urbana e os cinemas andem em direção ao esquecimento. As fichas que catalogam os cinemas foram importantes para organizar os cinemas em ordem cronológica e para fazer esse inventário
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CONSIDERAÇÕES FINAIS dos cinemas. Foi feito um resgate histórico e documentação de importantes informações que poderiam se perder. Esse levantamento resultou em um material com importante conteúdo histórico que foi sistematizado, e poderá facilitar o trabalho de futuros pesquisadores. Sobre as entrevistas, acredita-se que se obteve um resultado satisfatório. As entrevistas foram qualitativas e a partir delas foi possível comprovar que, para os entrevistados, os cinemas tiveram uma importância como local de convivência, vivência e interação social. Além disso, esses cinemas continuam na memória dessas pessoas, com lembranças e histórias que às vezes mudaram vidas. Caso ocorram pesquisas subseqüentes nesse tema, sugere-se fazer uma melhor análise das edificações a partir de suas plantas baixas e entendimento do funcionamento das edificações. Outro aspecto que pode ser investigado é o período histórico de cada cinema, e a partir disso definir a razão do estilo arquitetônico dos mesmos. Como o método das entrevistas funcionou em um grupo focal de entrevistados, poderiam ser aplicadas em um grupo maior, composto por pessoas de diferentes classes sociais, para certificar-se da importância do cinema para esse público. O entendimento dos cinemas e de sua história é importante para a compreensão da cidade e das relações sociais no século XX. Essa pesquisa foi importante nesse sentido, pois foi uma tentativa de impedir que esse objeto urbano não caísse no esquecimento e que sua memória continuasse viva e documentada.
Figura 30: Centro de Florianópolis, 1930
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capítulo referências
6
BENJAMIN, Walter Benjamin. A obra de arte na era da sua reprodutividade técnica.1955. FABRIS, Annateresa. Ecletismo na arquitetura brasileira. São Paulo: Liv. Nobel: Ed. da USP, 1987. 296p. ISBN 8521304730 (broch.) MUNARIM, Ulisses. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA Programa de Pós-Graduação em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade . Arquitetura dos cinemas : um estudo da modernidade em Santa Catarina. Florianopolis, SC, 2009. 383 f. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro Tecnológico. Programa de Pós-graduação em Urbanismo História e Arquitetura SEGAWA,Hugo. Arquiteturas no Brasil: 1900-1990. 2ªed. São Paulo: EDUSP, 2002. 224p. ISBN 8531404452(broch.) VEIGA, Eliane Veras da. Florianopolis: memoria urbana. 2. ed. rev. ampl. Florianópolis: Fundação Franklin Cascaes, 2008. 415p. ISBN 9788561551070
Cap 6.
REFERÊNCIAS
Sites: http://floripendio.blogspot.com.br/2010/06/cinemas-de-rua-de-florianopolis.html http://identidadecatarinense.blogspot.com.br/
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REFERÊNCIAS Lista de Fichas Ficha 1: Teatro Álvaro de Carvalho Fonte: Imagens atuais - acervo próprio; Imagens Históricas - acervo da Casa da Memória; mapa - google maps alterado Ficha 2: Cine Internacional Fonte: Imagens atuais - acervo próprio; Imagens Históricas - acervo da Casa da Memória ; mapa - google maps alterado Ficha 3: Cine Rex Fonte: Imagens atuais - acervo próprio; Imagens Históricas - acervo da Casa da Memória ; mapa - google maps alterado Ficha 4: Teatro Cine Popular Fonte: Imagens atuais - acervo próprio; Imagens Históricas - acervo da Casa da Memória ; mapa - google maps alterado Ficha 5: Cine São José Fonte: Imagens atuais - acervo próprio; Imagens Históricas - acervo da Casa da Memória ; mapa - google maps alterado
Figura 22: <http://identidadecatarinense.blogspot.com.br/> (acessado em 04/03/2013) Figura 23: MUNARIM Figura 24: MUNARIM Figura 25: Imagem de entrevista, elaborada pelos autores e entrevistados Figura 26: Imagem de entrevista, elaborada pelos autores e entrevistados Figura 27: <http://loveisspeed.blogspot.com.br/2012/01/elizabeth-taylor-cleopatra-in-rome.html> (acessado em 07/03/2013) Figura 28: Imagem de entrevista, elaborada pelos autores e entrevistados Figura 29: < http://www.listal.com/viewimage/145609h > (acessado em 10/03/2013) Figura 30: Acervo da Casa da Memória
Lista de Anexos
Plantas do Cine Internacional: Acervo SUSP, aput MUNARIM Plantas do Cine São José: Acervo SUSP, aput MUNARIM
Lista de Figuras Figura 1: Ficha 3 Figura 2: Acervo da Casa da Memória Figura 3: Elaborado pela equipe sobre mapa base do IPUF/PMF. Figura 4:Acervo da Casa da Memória Figura 5: Acervo da Casa da Memória Figura 6: Acervo da Casa da Memória Figura 7: Acervo da Casa da Memória Figura 8: Acervo da Casa da Memória Figura 9: Acervo da Casa da Memória Figura 10: Acervo da Casa da Memória Figura 11: Acervo da Casa da Memória Figura 12: Acervo da Casa da Memória Figura 13: MUNARIM Figura 14: MUNARIM Figura 15: Acervo da Casa da Memória Figura 16: <http://floripendio.blogspot.com.br/2010/06/cinemas-de-rua-de-florianopolis.html Acessado em 05/03/2013> (acessado em 28/02/2012) Figura 17: MUNARIM Figura 18: Acervo da Casa da Memória Figura 19: <http://identidadecatarinense.blogspot.com.br/> (acessado em 04/03/2013) Figura 20: Acervo da Casa da Memória Figura 21: <http://identidadecatarinense.blogspot.com.br/> (acessado em 04/03/2013)
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capĂtulo anexos
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ANEXOS plantas cine internacional Cap 7.
ANEXOS plantas cine são josé Cap 7.
capĂtulo apĂŞndices
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D
urante o período de realização desta pesquisa, foram produzidos materiais para dois eventos científicos: 1. Resumo enviado e aprovado para a 22º Seminário de Iniciação Científica da UFSC e apresentado em formato de painel exposto nos dias 17, 18 e 19 de outubro de 2012 - Adaptado para apresentação neste caderno: Número do Painel: 442 Titulo: Cinemas em Florianópolis: Signo e Significado
Cap 8.
APÊNDICES
Resumo: Durante boa parte do século XX, os cinemas proporcionaram lugares dentre os mais importantes no centro das cidades. São representativos desse tempo e trouxeram grandes mudanças nos hábitos sociais, catalisando processos culturais bastante expressivos de modernidade. Para compreender o papel das edificações dos cinemas, os métodos da pesquisa foram realizados em duas etapas. A primeira foi o levantamento das edificações e compreensão de seus aspectos físicos. Através de uma organização espacial por edificação, foi feito um levantamento estruturado em fichas, que possuem itens descritivos: localização da edificação, histórico com datas relevantes e fotos em datas diversas, breve descrição do edifício quanto a elementos compositivos, principais características e estilo arquitetônico, e um quadro síntese dos elementos comuns aos cinemas. Para que o estudo da arquitetura desses cinemas não seja meramente compilativo e descritivo, buscou-se compreender o sentido na experiência individual e coletiva de seus habitantes. Para isso, a segunda etapa foi realizada através de diferentes métodos de
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Cinemas em Florianópolis:
APÊNDICES
signo e significado
Esta pesquisa é desenvolvida pelo Grupo PET Arquitetura e Urbanismo UFSC e estuda o signo cinema e seu significado na memória dos moradores da cidade de Florianópolis. como esses cinemas interferem na dinâmica e interação social no centro histórico desta cidade.
Método Os cinemas estudados encontram-se no centro histórico de Florianópolis. Para compreender o papel das edificações desses, os métodos da pesquisa foram realizados em duas etapas: levantamento das edificações e compilação de percepções dos usuários.
1. Levantamento das edificações: Compreender o aspecto físico dessas edificações contribui para o entendimento da sua importância no tempo e no espaço. Inicialmente foi feita uma organização espacial, compilando os cinemas por e d i fi ca çã o , co m s u a s p r in c ip a i s características e estilo arquitetônico, organizado em fichas.
Cinemas estudados e suas localizações
Fonte: Google maps
Fonte: Imagens históricas: casa da memoria Imagens atuais: acervo dos autores
Fonte: Imagens históricas: casa da memoria Imagens atuais: acervo dos autores
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Palavras-chave: Memória Urbana; Cinemas; Florianópolis; Centro Histórico.
RUA ARCI PR
entrevista que possibilitassem a narração dos espaços da cidade por várias pessoas. Buscou-se identificar qual foi a importância desses cinemas para esses usuários, como os cinemas influenciaram suas rotinas e suas histórias de vida e especialmente como esses cinemas condicionaram a dinâmica vivencial do centro histórico de Florianópolis. A partir das entrevistas verificou-se a importância dos cinemas na memória urbana e as modificações causadas por esse objeto de cultura e lazer na dinâmica da população, no estilo de vida e na vivacidade que existia no centro da cidade. Desse modo foi possível compreender as mudanças comportamentais, estruturais da composição do centro e a desvalorização da cultura nesses lugares.
Durante boa parte do século XX, os cinemas proporcionaram lugares dentre os mais importantes no centro das cidades. São representativos desse tempo e trouxeram grandes mudanças nos hábitos sociais, catalisando processos culturais bastante expressivos de modernidade.
ARAÚ JO FI
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Fonte: Imagens históricas: casa da memoria Imagens atuais: acervo dos autores
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Fonte: Imagens históricas: casa da memoria Imagens atuais: acervo dos autores
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5 Fonte: mapa cadastral de florianopolis, IPUF (2010), modificado pelos autores.
Fonte: Imagens históricas: casa da memoria Imagens atuais: acervo dos autores
2. Percepções dos Usuários: Para essa compreensão, foram aplicados três etapas de entrevistas. A primeira foi um mapa mental em que o entrevistado desenhou (mapas, croquis) ou escreveu sobre sua vivência no centro histórico entre os anos 60 e 80. O exercício desse mapa foi feito sem que o entrevistado conhecesse o objeto da pesquisa. O segundo procedimento o entrevistado foi apresentado a um mapa da área central de Florianópolis e nele teve que indicar as edificações que mais frequentou. A terceira etapa de entrevistas deu-se de forma escrita, com perguntas mais específicas sobre os cinemas e a relação do entrevistado com esses lugares.
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Fonte: http://www.flogao.com.br/fotoscuriosas/136674483
Imagens das Etapas das Entrevistas
Fonte: núcleo audiovisual - casa da memória
Universidade Federal de Santa Catarina - Grupo PET Arquitetura Orientador: Rodrigo Almeida Bastos Bolsista: Adriana de Lima Sampaio Colaboradora: Sofia Arrias Bittencourt
Painel apresentado
Considerações Finais
Para que o estudo da arquitetura desses cinemas não fosse meramente compilativo e descritivo, buscou-se compreender o sentido na experiência individual e coletiva de seus habitantes. A partir das entrevistas verificou-se a importância dos cinemas na memória urbana e as modificações causadas por esse objeto de cultura e lazer na dinâmica da população, no estilo de vida e na vivacidade que existia no centro da cidade. As entrevistas possibilitaram a compreensão de mudanças comportamentais, estruturais da composição do centro e a desvalorização da cultura nesses lugares. Foi possível reconhecer os lugares e edifícios que mais tiveram impacto na vivência do entrevistado e avaliar a importância dos cinemas na memória silenciada pelo tempo. Além disso, verificou-se que os cinemas estavam entre as edificações com maior importância para essas pessoas. Conclui-se que os cinemas tiveram grande importância como atividade de lazer e influenciaram a dinâmica do centro de Florianópolis Ao utilizar a memória de usuários do espaço como fonte de informação, foi possível compreender de maneira mais completa as edificações e o seu significado.
Fonte: núcleo audiovisual - casa da memória
Fonte: http://www.carosouvintes.org.br
Fonte: núcleo audiovisual - casa da memória
APÊNDICES 2. Resumo enviado e aprovado para a IV Conferência Internacional Small Cinemas – Crossing borders, a ser apresentado entre os dias 04,05 e 06 de setembro de 2013 - Adaptado para apresentação neste caderno:
Titulo: Inventário e Memória: Cinemas de Rua em Florianópolis Resumo: Durante boa parte do século XX, os cinemas representaram lugares dentre os mais importantes no centro das cidades. São representativos desse tempo e trouxeram grandes mudanças nos hábitos sociais, catalisando processos culturais bastante expressivos de modernidade. A presente pesquisa teve como objetivo o levantamento das edificações dos cinemas de rua de Florianópolis e a compreensão da importância dessas na memória da população. Os métodos foram realizados em duas etapas. A primeira consistiu um levantamento das edificações e compreensão de seus aspectos físicos. Através de uma organização espacial por edificação, foi feito um levantamento estruturado em fichas, que possuem itens descritivos e tem importância como inventário e registro da história desses cinemas. Para que o estudo da arquitetura desses cinemas não fosse meramente compilativo e descritivo, buscou-se compreender o sentido na experiência individual e coletiva de seus usuários. Para
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isso, a segunda etapa foi realizada através de entrevistas. A partir das entrevistas, foi possível reconhecer os lugares e edifícios que mais tiveram impacto na vivência dos entrevistados e avaliar a importância dos cinemas na memória silenciada pelo tempo. Além disso, podese levantar possíveis motivos pelos quais os cinemas entraram em decadência e porque esses locais deixaram de ser utilizados pela população e foram substituídos por outros equipamentos urbanos de lazer. Buscou-se identificar qual foi a importância desses cinemas para esses usuários e como os cinemas influenciaram suas rotinas e suas histórias de vida. Essas modificações da dinâmica e da vivacidade no centro da cidade são de grande importância para entender a desvalorização da cultura nesses lugares. Aliados a outros aspectos históricos e comportamentais, a utilização da memória dos usuários e o estudo dos cinemas nos centros pode contribuir para um melhor entendimento dos processos culturais e modificações sociais por que passaram as cidades na modernidade. Palavras-chave: Cinemas de rua; Memória Coletiva; Memória Urbana; Florianópolis.
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