REDinfo - 7ª Edição - Mulheres na Ciência da Computação

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Edição 2021

na ciência da computação


Domínio público / Academia de Ciências da Hungria

Apresentação Bem vindos! O papel feminino na Ciência da Computação é pioneiro no desenvolvimento científico e tecnológico iniciado no século XVIII com mulheres engajadas na matemática e desde então posicionando-as em carreiras brilhantes. Na história, ser mulher representa resistência e sagacidade ao suportar e não renunciar aos seus objetivos, ainda que seja tão restringida ao acesso à educação e aos direitos civis. As dificuldades enfrentadas na caminhada das cientistas, professoras e artistas da Ciência da Computação são inspiração para muitas garotas desde a tenra idade decidirem optar pelo amor a ciência, mesmo em meio a inúmeros empecilhos na trajetória essas mulheres são exemplos de quebra de estigmas e preconceito contra o seu gênero. No entanto, a pouquidade da igualdade de gênero presente não é somente restrita a Ciência da Computação, mas como também em diversos setores sociais, educacionais e corporativos ainda quando a igualdade pareça distante e de caminhada exaustiva a luta por reconhecimento pessoal e profissional segue viva e comprometida a impulsionar a presença feminina no campo das ciências. A 7ª edição da REDinfo tem o objetivo de destacar o papel das mulheres na Ciência da Computação, relatando suas histórias, ganhos científicos e homenageando-as pelo trabalho notável e persistência.

Abraços e boa leitura!

Expediente Universidade do Estado do Rio Grande do Norte Faculdade de Ciências Exatas e Naturais Departamento de Informática Programa de Educação Tutorial Ciência da Computação Tutor: Rommel Wladimir de Lima Petianos: Adriel Carneiro Leão do Nascimento Isaú Lucas Abreus Fernandes de Queiroz Liza Alexandra Vieira Magalhães de Azevedo Marcio Vinicios da Rocha Pereira Miriã Arjona Gomes 7ª edição | 2021

Rózsa Péter (1905 - 1977)


Sumário Computadores e Sociedade O espaço feminino na Ciência da Computação

Linha do Tempo Mulheres na Computação

História da Computação Mary Keneth Keller

Curiosidades Mulheres na Ciência da Computação

Pesquisa Iniciativas que promovem a reinserção de mulheres na área de TI no Brasil

Opinião A presença feminina na Computação

Arte & Computação Vera Molnár

Referências Bibliográficas

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fauxels / Pexels

Computadores e Sociedade

O espaço feminino na Ciência da Computação Liza Alexandra Integrante do PETCC lizamagalhaes@alu.uern.br

foi Alan Turing e qual seu papel na Quem área da computação? E Steve Jobs, Bill

Ada Lovelace ou Grace Hopper, mas além delas existiram outros nomes femininos cujas contribuições foram igualmente importantes em décadas de desenvolvimento. Alguns desses nomes são: Kathleen Booth, Hedy Lamar, a irmã Mary Kenneth Keller, Margaret Hamilton, Carol Shaw, Frances Allen e mais recente, Katie Bouman.

Gates ou Mark Zuckerberg? Provavelmente qualquer pessoa, mesmo que leiga, saberia falar algo sobre essas pessoas, afinal, esses são todos grandes nomes na área.

Domínio público / Draper Laboratory

O próprio Alan Turing é considerado o pai da ciência da computação pela criação em 1936 da máquina de Turing, que formalizou os conceitos de algoritmo e computação. Já Steve Jobs e Bill Gates são sempre lembrados por terem popularizado os computadores de uso pessoal. Além desses que já foram citados, nomes como John Von Neumann, Richard Stallman, Linus Torvalds também são familiares principalmente no meio universitário, já que são usados algoritmos batizados com os nomes desses homens. É inegável a importância da contribuição de todos esses homens na história da computação, mas também é inegável que conhecemos mais nomes masculinos do que femininos, embora muitas mulheres tenham fornecido contribuições significativas para o avanço da área ao longo do tempo.

Margaret Hamilton ao lado do so ware de navegação que ela e sua equipe do MIT produziram para o Projeto Apollo.

Talvez você já tenha ouvido falar algo sobre

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Ada Lovelace é conhecida como “a primeira programadora” por ter escrito em 1843 o primeiro algoritmo publicado da história. Já Grace Hopper, criou em 1959 a COBOL (linguagem orientada a processamento de banco de dados), que é utilizada até hoje principalmente em sistemas de bancos.

número de mulheres que, nos dias de hoje, consideram a Computação – ou a área de tecnologia em geral – como interesse na hora de escolher uma graduação ou profissão. E isso se reflete no mercado de trabalho na área de TI, pois apesar de existirem inúmeras iniciativas visando o aumento do número de profissionais desse gênero, ainda existe um abismo muito grande entre o número de homens e mulheres trabalhando na área.

Em 1940 tivemos a Kathleen Booth, que criou o Assembly, em 1969 tivemos a Margareth Hamilton, que foi diretora da Divisão de So ware no Laboratório de Instrumentação do MIT, que desenvolveu o programa de voo usado no projeto Apollo 11. Conheça um pouco mais sobre as contribuições dessas e de outras mulheres na Linha do Tempo (pág. 08) desta edição da REDinfo.

Embora pareça, nem sempre as coisas foram assim. Até a década de 1980 as mulheres eram maioria nos cursos de ciência da computação, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. Em 1974, dos 20 alunos que se formaram na primeira turma de bacharelado em ciência da computação do Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP, 14 eram mulheres, representando assim 70% da turma. Já em 2016, na mesma instituição, dos 41 estudantes que concluíram o curso, apenas seis eram mulheres, o equivalente a apenas 14,63% da turma. Ou seja, num intervalo de 42 anos, houve uma redução drástica na quantidade de alunas.

O ponto em que quero chegar aqui é: Você já tinha ouvido falar algo antes sobre essas outras mulheres? Sabia que a história da computação era cheia de protagonistas femininas?

Marcos Santos / USP Imagens

Discutir esse assunto é importante porque a pouca representatividade de figuras femininas pode estar relacionada com o baixo

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D. G. Sommavilla / Pexels

Com o passar dos anos, o conceito de que “computador é coisa de menino” foi sendo cada vez mais incorporado na sociedade e a noção de programação com uma “atividade masculina” tornou-se a narrativa padrão. E esse pode ter sido o motivo de nomes de personagens femininas com contribuições tão importantes para a área fossem esquecidas.

Essa redução chamou a atenção instituições de ensino superior em diversos países, que passaram a tentar compreender e reverter esse desequilíbrio. Segundo a cientista da computação Claudia Bauzer Medeiros, do Instituto de Computação da Universidade Estadual de Campinas (IC-Unicamp), uma possível explicação para esse fenômeno teria sido a polarização dos computadores pessoais em meados dos anos 1980. Antes disso (período entre 1939-1945), os computadores ainda eram enormes máquinas de calcular e por isso muito utilizados em atividades envolvendo processamento de dados e tabulação eletrônica. Tais atividades estavam diretamente ligadas à função de secretariado, onde o predomínio feminino era evidente.

Em contrapartida, as meninas, que logo viraram mulheres, começaram a migrar para outras áreas, principalmente áreas de humanas, o que também contribuiu para essa redução drástica nos cursos de computação e exatas em geral. Com o intuito de mudar esse cenário, muitas empresas passaram e investir em capacitações voltada para a reinserção de mulheres na área de TI (conforme pode ser conferido na matéria da página 14 desta edição), porém, para as mulheres voltarem e permanecerem, é preciso que elas se sintam parte do ambiente. Em outras palavras, é preciso que elas se sintam acolhidas, seguras, representadas e respeitadas.

Segundo relatório produzido em 1985 pelo Centro Nacional de Estatísticas de Educação nos Estados Unidos, percebeu-se que os meninos americanos eram mais propensos a usar os computadores pessoais em casa do que as meninas. O motivo? Possivelmente devido ao marketing dos fabricantes ter se direcionado para o público masculino (os meninos), que teriam a possibilidade de fazer coisas impressionantes, como: calcular, jogar ou enviar mensagens através do correio eletrônico. Já as meninas, que na época se envolviam mais com atividades domésticas em casa, o uso daquelas máquinas não era tão interessante.

Vale salientar que a diversidade dentro de uma empresa gera inúmeros benefícios, pois se ela souber aproveitar as diferentes formas de pensar, experiências e vivências de seus funcionários, consequentemente ela conseguirá alcançar um público maior. Segundo relatório apresentado pela McKinsey,

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empresas com maior índice de diversidade apresentam também maior performance no mercado. O mesmo relatório afirma que a diversidade impacta em um maior alcance de talentos a serem contratados, mais engajamento por parte dos colaboradores e maior retenção de funcionários com relação a empresas que não se preocupam com diversidade e inclusão.

C. Morillo / Pexels

Vale lembrar, que a presença feminina na ciência da computação não é só mais um tópico na luta pela igualdade e pela conquista de espaço, pois reforçando o que foi dito no parágrafo anterior, a presença feminina vai estimular um mercado diferente e uma ciência inovadora. E não nos esqueçamos da carência de profissionais de TI em geral. A retomada das mulheres nas áreas de computação supriria parte da necessidade da área, que cresce de forma acelerada e carece de profissionais, independente de gênero. A história da computação mostra sem sombra de dúvidas que os termos “tecnologia” e “mulheres” andam juntos, demonstrando que a presença de mulheres cientistas na sociedade agregam para o desenvolvimento de novas tecnologias e quebra de paradigmas. Para que isso ocorra, é necessário incentivar cada vez mais a existência delas tanto no meio acadêmico como no mercado de trabalho. Mulheres cientistas existiram e resistiram aos desafios na sociedade, assim como mulheres na computação existiram e devem resistir contra os preconceitos e desafios encontrados.

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Linha do tempo

Marcio Vinicios Integrante do PETCC

Mulheres na Computação

marciorocha@alu.uern.br

Domínio público / M. Carpenter

1849 1893

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Reprodução Centre for Computing History BVM Sisters / Clarke University Association for Computing Machinery

1959 1968 1969 1973

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Tiernantech / CC BY-SA 2.0

1942

Domínio público Domínio público / MGM Studios

1972

Domínio público / USN

1969

Encyclopédie audiovisuelle de l'art contemporain

1965

Domínio público / NASA

1948

College of Commercial Arbitrators

1939

Responsável pela fundação da ASK Computer Systems, uma das primeiras startups do Vale do Silício.

Sandra Kurtzig (1947)

Susan Nycum Co-autora de Computer Abuse, um dos mais importantes estudos sobre definição e documentação de crimes relacionados a computadores.

Foi a primeira mulher a ser presidente da ACM e responsável por inúmeras conquistas e descobertas no mundo da computação. O seu principal feito foi criar o FORMAC, uma extensão da linguagem FORTRAN.

Jean E. Sammet (1928 - 2017)

Margaret Hamilton (1936) Matemática, cientista da computação, engenheira de so ware americana e mãe. Precursora da disciplina Engenharia de So ware, notável trabalho na construção do So ware da missão Apollo 11.

Reconhecida como a primeira mulher americana a obter um Ph.D. em Ciência da Computação. Em 1965, a irmã Mary Kenneth Keller foi uma das pioneiras em pesquisa sobre Inteligência Artificial antes mesmo do termo ser consolidado.

Mary Kenneth Keller (1913 - 1985)

Vera Molnár (1924) Artista franco-húngara, pioneira na Arte Computacional, fundadora do Grupo de Pesquisa para Arte Visual (GRAV). BASIC e Fortran eram suas linguagens de trabalho e pesquisa.

Responsável por criar a linguagem Assembly para o computador ARC2.

Kathleen Booth (1992)

Grace Hopper (1906 - 1992) Cientista da computação, contra-almirante da marinha americana, pioneira na programação e criadora da linguagem COBOL.

Grande contribuinte da informática, seu principal feito foi a publicação de dois artigos pioneiros sobre a álgebra booleana.

Johanna Piesch (1898 - 1992)

Hedy Lamarr (1914 - 2000) Conhecida por suas atuações em Hollywood, Hedy Lamarr foi uma mulher de muitas faces, em parceria com George Antheil, recebeu a patente pelo FHSS (Frequency-hopping spread spectrum) tecnologia que futuramente serviu de alicerce para a conexão Wireless.

Astrônoma e membro do grupo feminino Havard Computers. Seu principal feito foi na matemática analítica com livros e teses sobre o comportamento de astros.

Anna Winlock (1857 - 1904)

Henrietta Swan Leavitt (1868 - 1921) Trabalhou na realização de cálculos em Harvard. Ela foi essencial na descoberta das estrelas cefeidas, uma evidência da expansão do universo.

1875

Maria Mitchell (1818 - 1889) Contratada pelo USNO para trabalhar na realização de cálculos em tabelas de movimento para o planeta Vênus.

Matemática, escritora e mãe inglesa, primeira pessoa a escrever um algoritmo. Reconhecida como a primeira pessoa a criar instruções computacionais.

Domínio público / Harvard C.O.

1757

Ada Lovelace (1815 - 1852)

1842

Domínio público / H. Dasell

Domínio público

Nicole-Reine Lepaute (1723 - 1788) Astrônoma e Matemática francesa, amante dos livros e tutora na educação de Joseph Lepaute Dagelet. Contribuição com cálculos utilizados na determinação de eventos astronômicos.


Domínio público / Academia de Ciências da Hungria

Professora de computação e engenharia elétrica do Instituto de Tecnologia da Califórnia, liderou o desenvolvimento do algoritmo que reproduziu a primeira imagem de um buraco negro.

Acervo pessoal / Carol Shaw

1978 1987

World Economic Forum Domínio público / NCWIT Rama / CC BY-SA 2.0 FR Acervo pessoal / Juliana Freire Asa Mathat / Fortune Live Media

2003 2006 2009 2011 2017

Katie Bouman (1989)

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MIT

Ben Shneiderman Academia Brasileira de Ciências Highlighter11 / CC BY-SA 3.0 Acervo pessoal / Linkedin

Indicada 8 anos consecutivos pela revista Fortune como uma das 50 mulheres mais poderosas dos negócios, se tornou a primeira mulher a atuar como presidente e CEO da IBM.

2019

Henk Thomas / CC BY-SA 4.0

2012

Duncan Hull / CC BY-SA 4.0

2011

Professora e cientista da computação brasileira, professora titular na NYU - Universidade de Nova York, primeira mulher a ser eleita chair do ACM SIGMOD.

Frances Allen (1932 - 2020)

Ginni Rometty (1957)

Michelle Simmons (1967) Pioneira em eletrônica atômica, foi responsável pela fundação da primeira empresa de computadores quânticos na Austrália.

Grande cientista da computação americana, pioneira na área de compiladores, primeira mulher a ser IBM Fellow e a ganhar o A.M. Turing Award.

Lucy Sanders (1954)

Juliana Freire

Bettina Speckmann (1972) Primeira vencedora do Prêmio Holandês para Pesquisa em TIC, e também foi membro da Global Young Academy.

Cofundadora do National Center for Women & Information Technology, ONG dedicada ao incentivo na participação de mulheres na área da computação.

2006

prêmio IEEE Internet Award por suas "contribuições para o desenvolvimento da arquitetura da Internet".

2004

Lixia Zhang (1951) Entre suas conquistas, foi consagrada pelo

1999

Janet Emerson Bashen (1957) Empresária e consultora de negócios, se tornou a primeira mulher afro-americana a deter uma patente de uma invenção de so ware.

Foi a primeira engenheira contratada no Google, estando presente na criação de ferramentas como o Google Imagens, Google Maps, Google Books e o Gmail. Ela foi ex-CEO do Yahoo!.

foi game designer e programadora da Atari Corp. e da Activision. Seu principal feito foi o desenvolvimento do jogo River Raid.

Marissa Mayer (1975)

Claudia Bauzer Medeiros (1954) Professora titular de Ciência da Computação na UNICAMP, primeira presidente da SBC (Sociedade Brasileira de Computação), segunda doutora em Ciência da Computação no Brasil e Comendadora da Ordem Nacional do Mérito Científico.

Carol Shawn entrou para a história ao se tornar a primeira mulher programadora de jogos, ela

Carol Shaw (1955)

Joëlle Coutaz (1946) Pioneira francesa no desenvolvimento do modelo de Apresentação-Abstração-Controle para a interação humano–computador.

1979

Christiane Floyd (1943) Se tornou a primeira mulher a trabalhar como professora de ciência da computação na Alemanha. Foi pioneira no design de so ware participativo.

1976

Acervo pessoal / Christiane Floyd

Rózsa Péter (1905 - 1977) Publicou Funções Recursivas em Teoria da Computação, tema no qual vinha trabalhando desde a década de 1950.


BVM Sisters / Clarke University

História da Computação

Mary Keneth Keller Marcela Alves Aluna do curso Ciência da Computação - UERN marcelaoliveira@alu.uern.br

M

ulher, cientista da computação e religiosa, Mary Kenneth Keller realizou muitas contribuições sociais e tecnológicas para o universo da computação. Sua trajetória acadêmica iniciou-se em 1932 após sua entrada para a ordem das Irmãs de Caridade da Abençoada Virgem Maria.

livros sobre sua área de atuação que ainda nos dias de hoje são referências na área. Keller também atuou como militante na inclusão de mulheres no mundo da informática e estava ligada às discussões no campo da educação; envolvida com didática e ensino, Mary via nos computadores potencial para se tornarem uma ferramenta educacional em benefício do desenvolvimento humano por meio do ensino de qualidade e aumento ao acesso à informação, essa perspectiva à levou a ajudar na fundação de uma associação infantil de educação, a qual já utilizava a informática, tornando-se uma visionária acerca do uso de tecnologia no ensino:

No ano de 1943 Mary conquistou o bacharelado em Ciências com ênfase em Matemática; 1953 realizou o seu mestrado em Matemática e Física pela Universidade DePaul e em 1965 ela atingiu o nível de doutorado pela Universidade de WisconsinMadison onde se tornou a primeira mulher a ganhar esse título na área de computação, tendo como tese a “Inferência Indutiva dos modelos gerados pelo computador”.

Pela primeira vez podemos simular mecanicamente o processo cognitivo. Podemos completar estudos em inteligência artificial. Além disso, este mecanismo [o computador] pode ser usado para auxiliar as pessoas no aprendizado. Visto que com o tempo teremos alunos mais maduros e em qualidade superior, este tipo de ensinamento será provavelmente sempre mais importante.

Na perspectiva acadêmica, Mary, em paralelo com o seu doutorado, integrava a equipe que desenvolveu a linguagem BASIC, no Dartmouth College. Linguagem a qual traduzia os códigos dos computadores de maneira mais direta e tinha como propósito ampliar a programação de computadores em campos não matemáticos e científicos, que possibilitou a qualquer pessoa a oportunidade de aprender sobre códigos, tornando-se mais acessível à população. Além disso, escreveu

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existiram muitas mulheres as quais tiveram enormes contribuições para esse meio, entretanto estas não ganharam muito espaço e nem o destaque que mereciam. Infelizmente, essa realidade ainda perdura nos dias atuais, embora o público feminino por meio de muitas lutas, tenha ganhado espaço e voz no âmbito acadêmico, ainda que existam muitas barreiras e preconceitos a serem superados. Portanto fica o legado e a luta de muitas mulheres como a Irmã Kaller, que lutaram pela ciência, educação e igualdade de gênero.

Embora não fosse um tema em pauta na época, Kaller trazia uma visão futurista, a qual presenciamos atualmente: o uso de computadores no processo educativo e a inteligência artificial. Desta forma, ela deixou um legado a respeito do futuro da computação que foram, e ainda são, de extrema importância para que chegássemos ao presente e, mesmo já tendo partido, seu estudo ainda se projeta no atual cenário da computação.

BVM Sisters / Clarke University

Sua trajetória foi marcada pela luta da inserção das mulheres no ecossistema da computação, Marry foi a primeira mulher a conseguir o título de doutorado em Ciência da Computação; em outros termos em sua época a representatividade feminina não era uma realidade nesse universo composto majoritariamente por homens, o Dartmouth College, era uma instituição exclusiva para o público masculino, mas eles flexibilizaram essa regra exclusivamente para que a irmã Mary pudesse trabalhar no local. Por esse ângulo, ao refletir na história do desenvolvimento da ciência, percebe-se que

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Curiosidades

Isaú Queiroz Integrante do PETCC isaulucas@alu.uern.br

Mulheres na Ciência da Computação

Umas das energias mais utilizadas na contemporaneidade, a energia solar, foi criada graças a biofísica Mária Telkes que em 1947, junto com a arquiteta Eleanor Raymond, desenvolveu a primeira casa com sistema de aquecimento solar. Outros feitos impressionantes de Mária é a invenção do refrigerador e gerador termoelétricos. "A luz solar será usada como fonte de energia mais cedo ou mais tarde… Por que esperar?" - Mária Telkes

Das Telas para a Guerra A famosa atriz de Hollywood Hedy Lamarr, conhecida pela sua atuação no filme “Ecstasy” (1933), foi a responsável pela criação de uma tecnologia amplamente utilizada durante a segunda guerra, o FHSS ( Frequency Hopping Spread Spectrum). Utilizado para controlar torpedos à distância, a interface atuava alterando rapidamente os canais de radiofrequência para que eles não fossem interceptados pelo inimigo. Esta tecnologia foi utilizada, após a guerra, para desenvolver conexões sem fio como o bluetooth e o Wi-fi.

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Domínio público / MGM Studios

Domínio público / World-Telegram

The Sun Queen

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Acompanhe nossas atividades em outras mídias:

Instagram do PETCC A página no Instagram do PETCC traz

postagens sobre

alguns programas como "PETDev" , "Você Sabia?", Stories sobre assuntos relacionados ao curso de Ciência da Computação e atividades do PET.

Acesse aqui

Site do PETCC É a porta de entrada para a comunidade ficar por dentro sobre o programa. No site do PETCC estão disponiveis informações como o histórico, os objetivos, as atividades realizadas pelos petianos, notícias, além das formas de contato. Acesse aqui

DIcast Podcast que aborda temas relacionados à area de tecnologia, disponível nas plataformas Spotify e Deezer. O DIcast traz os assuntos em uma linguagem simples e clara para que possa ser apreciado por todos os interessados nos assuntos discutidos. Acesse aqui

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C. Morillo / Pexels

Pesquisa I n i c i a t i v a s q u e p ro m o v e m a re i n s e r ç ã o d e m u l h e re s n a á re a d e T I n o B r a s i l Liza Alexandra

Miriã Arjona

Integrante do PETCC

Integrante do PETCC

lizamagalhaes@alu.uern.br

arjonagomes@alu.uern.br

ão é de hoje que a área de TI vem ganhando destaque nas empresas devido a sua importância e versatilidade, até porque uma empresa bem estruturada geralmente possui um setor de TI organizado e produtivo. Ademais, essa é uma área que progressivamente avança e que mais tem contratado nos últimos anos, porém algo que vem chamando atenção é a predominância masculina da área.

área. Segundo dados do LinkedIn, apenas 20% dos contratados do setor são mulheres, já o percentual de profissionais mulheres em formação, que são aquelas que fazem algum curso de computação, não chega sequer a 14% (INEP/MEC), e dessa porcentagem, 47% acabam desistindo ao longo do curso.

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Wo Makers Code Instituída em 2015 pela Engenheira de So ware Cynthia Zanone, a comunidade promove meetups, eventos, grupos de estudo, mentoria técnica, e capacitações nas áreas de: ciência de dados, front-end, primeiros passos em programação e aceleração de carreira. Além disso, o WoMakersCode organiza e realiza feiras de empregabilidade, que visam inserir as mulheres da comunidade no mercado de trabalho;

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Mesmo sendo responsáveis por grandes feitos científicos ao longo da história da computação, as mulheres ainda são minoria na

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Luiza Code Criado e promovido pela Magalu, o programa é exclusivo para mulheres e sua finalidade é formar desenvolvedoras full-stack. As participantes terão aulas de: Lógica de programação, GIT, HTML, CSS, JavaScript, orientação a objetos, Banco de dados, introdução a Devops, cultura ágil e aula bônus de inglês para programação. Além disso, existe a possibilidade de contração ao término do curso e 50% das vagas são exclusivas para mulheres negras.

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A fim de mudar esse cenário, algumas empresas, tanto nacionais quanto internacionais, estão investindo em projetos voltados para incentivar o público feminino a se inserir (ou reinserir) na área de TI. Alguns desses projetos são:


Diferente dos anteriores, o PyLadies é uma comunidade mundial que foi trazida ao Brasil com o intuito de instigar a entrada de mais mulheres na área de tecnologia. Este funciona apenas promovendo encontros entre mulheres que já programam ou que querem aprender a programarem Python. O propósito é que juntas, elas continuem se motivando, compartilhando conhecimento e fazendo o que gostam, que é programar;

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Uma Startup social paulistana que oferece cursos online e gratuitos, de JavaScript e que visa a formação completa em front-end e back-end. Segundo seu site: “é uma iniciativa de impacto social que foca em ensinar programação para mulheres cis e trans que não tem recursos e/ou oportunidades para aprender a programar”;

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Women in Digital (WiD)

Reprograma

É um programa voltado para mulheres universitárias e com foco na área de digital commerce, contemplando: capacitação técnica, sessões de mentoria, oportunidades de networking e certificação específica em analista de e-commerce júnior, com ênfase em plataforma VTEX;

ADA – Todas na Avanade Promovido pela multinacional Avanade, o programa é focado na contratação de mulheres que tenham algum conhecimento na área de tecnologia, independentemente do seu grau de experiência;

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PyLadies

A iniciativa possui cursos de introdução à linguagem JavaScript, lógica de programação, além de outras aulas que ensinam a utilizar diversas ferramentas necessárias para a criação de websites. De acordo com a página da internet do projeto, sua missão é “empoderar mulheres através da tecnologia”;

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Fundado em 2015, o projeto oferece cursos gratuitos de introdução à programação, oficinas, treinamentos e debates. O projeto foi criado para “desconstruir estereótipos de gênero e raça que influenciam nossa relação com as áreas de ciências, tecnologia e computação”. Um diferencial desse projeto é a priorização de mulheres negras ou indígenas;

PrograMaria

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Minas Programam


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Iniciativa do DI na UERN Projeto de Ex tensão

"Oi Meninas!" Existem ainda outros projetos e treinamentos voltados especificamente para o público feminino, e um deles é pertinho de nós, aqui no Campus Central da UERN. Idealizado e coordenado pela professora e mestre Alexsandra Ferreira Gomes, o “Oi Meninas!” é um projeto recém criado na universidade e sua meta é promover palestras, mesas redondas, debates, cursos e outras iniciativas cujo escopo é incentivar o aumento de profissionais femininas na área de tecnologia e exatas. Saiba mais sobre o projeto acessando o edital disponível no site do Departamento de Informática:

Acesse aqui

Sobre a idealização do projeto "Desde que ingressei na área de exatas senti na pele a diferenciação na forma que o trabalho masculino e o feminino são recebidos. Certamente este é um dos motivos que desencorajam mulheres a ingressar e continuar nessa área. Não imaginava que depois de 20 anos o cenário ainda não estaria igualitário, mas infelizmente é o que ouvimos nos depoimentos e vemos nos números. O "Oi, meninas!" vem para impulsionar aquelas que tem afinidade com a área e quebrar tabus ainda existentes sobre a atuação feminina na área de TI, o projeto inicia suas atividades neste mês com muitas expectativas." Prof. MSc. Alexsandra F. Gomes

De fato ainda há um longo caminho a ser percorrido e muitos paradigmas a serem quebrados, mas aos poucos, as mulheres estão retomando o seu espaço na área de Computação e ocupando mais espaço na área de TI.

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Opinião

A presença feminina na Computação Prof ª. Dra. Cicília Raquel Maia Leite Professora do Departamento de Informática na UERN ciciliamaia@uern.br

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luta pela igualdade de gênero e empoderamento de mulheres e meninas é tão imprescindível que é um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 - um plano de ações da ONU para erradicação da pobreza e a promoção do desenvolvimento econômico, social e ambiental em escala global até o ano 2030.

minha vida. Para minha área de formação – computação - predominantemente masculina o desafio é ainda maior... Fico feliz em saber que com meu exemplo, com minha história podemos impactar a vida de tantas outras meninas através da educação, através de uma universidade que transforma sonhos em realidade. Essa é a nossa missão, trazer mais e mais meninas através do nosso exemplo para área de computação.

Na condição de educadora e pesquisadora, assumimos todos os dias a missão de fortalecer o desenvolvimento científico na universidade e nas escolas, inspirando meninas para transformarem seus sonhos em realidade. Eu, particularmente, tive a oportunidade e estímulo de lutar pelos meus sonhos. Abro um parêntese para dizer o quanto minha mãe foi importante nesse processo - ensinou o verdadeiro sentido de empoderamento feminino – isso a mais de 40 anos, quando assumiu a criação de uma filha sozinha e fez toda a diferença na minha educação reforçando sempre que meu lugar de fala era onde eu quisesse. Evidenciando sempre a igualdade de gênero e ocupação de espaços. Aliado a tudo isso sempre reforçava que a Educação tinha o poder de transformar/emancipar/ libertar.

Falando como reitora eleita, a nossa vitória contribui para construção e afirmação da imagem social positiva das mulheres no protagonismo e na possibilidade de assumir cargos de comando. Na UERN tivemos duas reitoras até hoje, a última foi no século passado, há mais de duas décadas. Assim, o meu nome contribuirá com a luta constante e mais recente por presença e protagonismo em todos os setores e dentre eles a gestão. Compromisso nosso com a equidade de gênero no comando na nossa gestão onde ampliaremos e abriremos espaços para as mulheres em todos os espaços; também na abertura de editais específicos para estimular as meninas na ciência; além de estimular projetos de pesquisa e extensão que tratem da temática, visando ampliar a inserção das mulheres na ciência.

Tenho muito orgulho da minha história e da

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Arte & Computação

Vera Molnár / Widewalls

Vera Molnár

MOLNÁR, Vera. A la recherche de Paul Klee "A la machine imaginaire". 1972. Pintura, acrílico sobre tela, 100x100 cm

Vera Molnár, mãe da Arte Computacional é aos 95 anos uma visionária artista e mestra no emprego da Arte e Computação na confecção de obras com forte conceito matemático. Antes que a representação vetorial ganhasse vida virtual e o computador uso cultural, a artista criava algoritmos capazes de reproduzir elementos gráficos a partir de conjuntos ordenados de instruções. Na década de 60, o uso do computador tornou-se indispensável em seu ateliê.

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Referências Bibliográficas ANGELOS, Daniella. O papel das mulheres na história da computação. Disponível em: <https://blog.novatics.com.br/o-papel-das-mulheres-na-hist%C3%B3ria-dacomputa%C3%A7%C3%A3o-490b06d9ac70>. Acesso em: 01 de julho de 2021. ANDRADE, Rodrigo de Oliveira. A retomada do espaço da mulher na computação. Disponível em: <https://revistapesquisa.fapesp.br/wp-content/uploads/2019/05/094097_Carreiras_279.pdf>. Acesso em: 01 de julho de 2021. MOLNÁR, Vera. A la recherche de Paul Klee "A la machine imaginaire". 1972. Pintura, acrílico sobre tela, 100x100 cm. Disponível em: <https://cdn.globalauctionplatform.com/7d96d383-20c5-4cd2a187-a55300efbcdc/e1037e1f-b208-4f41-b1ed-a55400c2c928/original.jpg>. Acesso em: 12 de julho de 2021. SANTOS, Vitória Fagundes dos Santos. A luta feminina na computação. Disponível em: <https://falauniversidades.com.br/a-luta-feminina-na-computacao/>. Acesso em: 30 de junho de 2021. A importância da representatividade feminina na tecnologia. Disponível em: <https:// www.economiasc.com/2021/06/24/a-importancia-da-representatividade-feminina-na-tecnologia/>. Acesso em: 01 de julho de 2021. Stefanini promove Hackathon em Brasília (DF) para maior inserção de mulheres na TI. Disponível em: <https://stefanini.com/pt-br/trends/noticias/stefanini-promove-hackathon-paramulheres>. Acesso: em 28 de junho de 2021. Why diversity matters. Disponível em: <https://www.mckinsey.com/business-functions/ organization/our-insights/why-diversity-matters#>. Acesso em: 01 de julho de 2021.

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