Universidade Federal de Pelotas Reitor Pedro Rodrigues Curi Hallal Vice - Reitor Luís Isaías Centeno do Amaral Diretor da FAUrb Prof.º Mauricio Couto Polidori Conselho Editorial da FAUrb Andressa Fonseca da Cunha Julia Costa Thifanny Orthiz Arte das Capas Alexandre Berneira Andressa Fonseca da Cunha Brandon Guinalli Brandon Guinalli Brandon Guinalli Sara Suellen Sara Suellen Thifanny Orthiz
Catalogação na fonte MALOCA: Revista de Estudantes de Arquitetura e Urbanismo / Universidade Federal de Pelotas - UFPel - ano 1, n. 1 (Junho de 2020), - Pelotas: FAUrb, 2020-.v ISSN: 1.Arquitetura. 2.Urbanismo. 3. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFPel
MALOCA
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO PET ARQUITETURA E URBANISMO
EDITORIAL 12 PUBLICAÇÃO 16 A DISTÂNCIA FISICA NÃO PRECISA SER SOCIAL 17 UM DIÁRIO: O ISOLAMENTO, O PRIVILÉGIO E O DIREITO 19 O ISOLAMENTO SOCIAL SEMPRE EXISTIU 21 SOLIDÃO OU SOLITUDE 22 PET EDUCAÇÃO 2020: APRENDENDO A ESTAR ON-LINE 23 ILUSTRAÇÃO BOSTON 27 7 DE ABRIL 28 DOS JOGOS DIDÁTICOS AO JOGO DE EMPATIA SOCIAL: 29 O DESAFIO DA PESQUISA ACADÊMICA EM TEMPOS DE PANDEMIA. 29 ATIVIDADES DO PROJETO DE OFICINAS EM TEMPOS DE PANDEMIA: 33 A PARTIR DA COOPERAÇÃO E DO PROPÓSITO DE MOTIVAR A 33 AUTONOMIA NA APRENDIZAGEM 33 AMOR 37 EDITAL VIRADA SPUTNIK 38
SUMÁRIO
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12 SOBRE A CAPA A capa da Maloca (sim, propositalmente chamamos de “a capa”, no singular) foi o resultado de um processo que se iniciou de forma coletiva, através de uma oficina aberta a todas as pessoas interessadas; passou por momentos nos quais foi possível o desenvolvimento de expressividades individuais; retomando seu caráter coletivo em sua forma final. Uma capa de várias capas. Uma capa-processo. Uma revista que começa com um trabalho que sintetiza seus pressupostos e fundamentos. Seu conteúdo está na sua forma. Um editorial visual abrindo a primeira edição da publicação. Se os meios permitem, por quê não? Participaram deste processo: Alexandre Berneira Andressa Fonseca da Cunha Brandon Guinalli Sara Suellen Thifanny Orthiz Pelotas, Junho de 2020 Terceiro mês da pandemia de Covid19
EDITORIAL SOBRE O GRUPO PET O Programa de Educação Tutorial (PET) é constituído por um grupo de estudantes de graduação sob a orientação de um professor tutor, orientados pelo princípio da tríade ensino, pesquisa e extensão. Regulamentado pela Lei N° 11.180, de 23 de setembro de 2005, e pelas Portarias MEC N° 3.385, de 29 de setembro de 2005, e n° 1.632, de 25 de setembro de 2006, o PET destinase a apoiar grupos de alunos que demonstrem potencial, interesse e habilidades destacadas em cursos de graduação das Instituições de Ensino Superior - IES. O apoio pode ser concedido ao estudante bolsista até a conclusão da graduação. O programa é composto por grupos tutoriais de aprendizagem e busca propiciar aos alunos, sob orientação de um professor tutor, condições para a realização de atividades extracurriculares, que complementem a sua formação acadêmica. O grupo PET Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), foi criado em 1991, e desde 2019 está sob tutoria do Prof. André Carrasco, sendo formado por 10 bolsistas, alunos da graduação de Arquitetura e Urbanismo. O programa propicia aos alunos participantes a realização de atividades extracurriculares que enriquecem a sua formação, auxiliando ao atendimento das necessidades do próprio curso de graduação, da Instituição de Ensino e da sociedade que os cerca.
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SOBRE A REVISTA
Maloca “mã-r-oca”, marã, casa forte para a luta. (fonte: Silveira Bueno, Vocabulário Tupi-Guarani Português). Esta revista tem como objetivo a divulgação da produção discente em suas diversas manifestações: textos, fotografias, desenhos, projetos, TFGs, entrevistas, etc. e a publicação pretende alcançar além dos próprios estudantes da FAUrb e da UFPel, o público em geral que se interesse pelos temas e trabalhos apresentados. A revista Maloca surgiu de uma necessidade identificada onde atualmente estudantes de graduação em geral encontram dificuldades para divulgar/publicar seus trabalhos em periódicos acadêmicos, principalmente pelo perfil e objetivos destas publicações. Desta forma a Maloca nasce para ser o lar da produção estudantil, para ser o nosso espaço, a nossa casa forte onde podemos divulgar nossos trabalhos, produções, inquietações e pensamentos.
SOBRE A EDIÇÃO 01 A VIDA COTIDIANA EM TEMPOS DE DISTANCIAMENTO SOCIAL A primeira edição da Maloca coincide justamente com a explosão de uma pandemia, em um momento no qual o isolamento social se apresenta como a principal, e talvez única, estratégia de enfrentamento da Covid-19. Desse modo a Revista traz como tema “ A Vida Cotidiana em Tempos de Distanciamento Social”, visando compartilhar os meios pelos quais estamos lidando com essa situação inesperada. Esta publicação tem como objetivo criar um espaço no qual possamos compartilhar nossas impressões, relatos, depoimentos – gráficos, textuais e projetuais - que se relacionem com o processo que vivemos atualmente. Serão publicados também textos de ficção (contos, poesias), não ficção (relatos, depoimentos, crônicas), textos teórico-acadêmicos, ilustrações, quadrinhos, projetos. Entendemos que nesse momento, mesmo que não possamos estar juntos, não precisamos e não devemos ficar sozinhos.
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17 | A DISTÂNCIA FISICA NÃO PRECISA SER SOCIAL
A DISTÂNCIA FISICA NÃO PRECISA SER SOCIAL Giulianna Bertinetti e Luísa Mantelli (Illustras)
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A DISTÂNCIA FÍSICA NÃO PRECISA SER SOCIAL Giulianna Bertinetti e Luísa Mantelli (Illustras) Sozinha, acompanhada, conectada, sozinha de novo. Coloca uma música porque o silêncio incomoda. A voz conhecida de um podcast faz companhia enquanto outra atividade é realizada. O tempo “livre”... Que livre o que?! Seja produtiva! O seu problema não é falta de tempo, é você! Credo! Não quero e, muito menos, consigo. O mundo todo conectado, sob a luz de um problema em comum. E eu aqui, sozinha. Em casa e comigo, seguindo na casa de mim mesma. Mas liga para uma amiga. Ter companhia é bom. Assiste algo com ela. Desenhem um lugar de saudade. Pede aquela receita que você nunca soube fazer. Cantem uma música boa. Relembrem memórias. Para rir, parar chorar, para conversar. Mas não precisa nem conversar se não quiser, o silêncio também é bom. É bom ficar junto. Enquanto o toque não é permitido dá pra manter a companhia de outra forma. Mas dá mesmo? Eu sei lá, vamos tentar.
19 | ARTIGOS | UM DIÁRIO: O ISOLAMENTO, O PRIVILÉGIO E O DIREITO
UM DIÁRIO: O ISOLAMENTO, O PRIVILÉGIO E O DIREITO Heloise Nunes Semper
No dia 10 de março de 2020 eu comemorava mais um ano de vida ao lado daqueles que amo. É o dia do ano que, em especial, eu sinto um amor quase palpável daqueles que me cercam. Aniversários são datas importantes pra mim. Toques, abraços e beijos, mais ainda. No dia 16 de março eu já não tinha mais acesso a nada disso. As aulas foram interrompidas, as reuniões canceladas, as ruas ficaram desertas e a visita de fim de semana na casa da vó se tornou algo muito arriscado de se fazer. Enquanto uma pandemia começava a dar o ar da graça no meu país, sentimentos de ansiedade, medo e incerteza tomaram conta de mim durante as duas primeiras semanas de isolamento. As reuniões agora seriam diárias e o pior: seriam comigo mesma. A pauta? Não fazia ideia. Quase comecei tendo que me apresentar a mim. Tem coisa mais assustadora do que sermos obrigados a olhar pra nós depois de anos de pura distração? Foi uma pergunta retórica porque não é disso que eu escrevo para tratar, ainda que seja uma questão importante. Passada a avalanche de sentimentos, a culpa começa a ocupar a consciência, sorrateira que só. Porque sempre que estamos mal e decidimos compartilhar o sentimento com alguém, vem a máxima: “pensa que sempre tem alguém pior que a gente”. Penso. Isso era pra me ajudar? Estamos doentes.
Admito que observar e refletir sobre as desigualdades nas quais a nossa sociedade se apoia, expostas de maneira cristalina com a chegada da pandemia, me fizeram ao menos parar para agradecer. Tenho comida, tenho casa, tenho um quarto só meu, tenho livros empoeirados que ainda não consegui ler, tenho acesso à internet, tenho um chuveiro. Agradeço. Mas tampouco me sinto melhor. Inicialmente pensei em abordar aqui a ideia de o “ter” nos proporcionar ou, no mínimo, facilitar o “ser”. Tendo todos esses “privilégios”, posso então dedicar tempo e energia ao “ser”: ser uma pessoa melhor, ser mais dedicada, ser mais caridosa, (...), mas seria um belo de um equívoco. Porque pensando bem nós já somos. Cada ser humano é especial a sua maneira e desenvolve o seu papel para melhoria do coletivo e composição da unidade. Somos únicos e somos um. Logo, o “ter” nada mais é do que a ponte que facilita o acesso àquilo que já está em nós. E isso não é privilégio, é direito. Enquanto parte da população de um país, que está com a sanidade mental coletiva comprometida há muito tempo, trava uma guerra ilógica e completamente distorcida entre vida e economia, os noticiários internacionais parecem não ser suficientes para alertar o tamanho do problema. Ou eles simplesmente não se importam com a vida do outro mesmo. O que é fácil de
UM DIÁRIO: O ISOLAMENTO, O PRIVILÉGIO E O DIREITO | ARTIGOS | 20 entender visto os representantes que elegem. Não tem jeito. Para as “Marias” de Milton Nascimento não resta opção. Nenhuma delas quer assistir os filhos morrerem de fome. Outro dia, lendo aquelas notícias que nos fazem não querer levantar da cama, me deparei com a história de uma mãe que acordava os filhos mais perto da hora do almoço para que eles não sentissem falta do café da manhã. Levantei e tomei café da manhã. De novo, culpa. Afinal, não posso me permitir reclamar de não poder namorar, ir na academia ou ver minhas amigas enquanto estiver com a barriga cheia. Olhar televisão definitivamente não ajuda a manter a saúde mental, mas é necessário pra gente não sair por aí achando que o monstro foi embora. Segundo os noticiários recentes, as favelas, sempre invisibilizadas, sofrem com a subnotificação de casos e pessoas já estão morrendo dentro de suas casas. Foi assustador acompanhar o colapso de saúde Equatoriano e mais ainda é assistir o Brasil trilhando o mesmo caminho. Sendo estudante de arquitetura e urbanismo, uma ciência social, começo a buscar entender o futuro das cidades e as consequências que essa pandemia pode trazer para um campo profissional tão diversificado. Acredito que nós, estudantes e profissionais que planejam as cidades do futuro estamos assistindo ao vivo e a cores tudo que conhecíamos como regra mudar. Uma delas é o fim da diferenciação entre o medo que reside no Jardins e o medo que reside em Paraisópolis. O monstro é o mesmo. Mas não nos enganemos com essa falsa democratização do
azar: na frase “pensa que sempre tem alguém pior que a gente”, esse alguém já tem o seu endereço bem definido. Ou, algumas vezes não tem sequer o endereço. Hoje, 27 de abril, 42º dia da quarentena, o isolamento já é rotina e eu busco ao máximo continuar me distraindo do meu lado destrutivo. A ansiedade vem a vai, a saudade vem e fica. Tem estado aqui por muito tempo. Justamente a pior delas, que não conseguimos matar e somos obrigados a viver. Viver a saudade. Porque não temos o controle que achamos que temos sobre o tempo, a distância, o mundo, a vida. Uma grande amiga me disse um dia que viver fatos históricos é muito cansativo e, de fato, é. Cada um é um universo e tudo bem sentirmos aquela sensação de não saber o que fazer com os braços na hora de tirar a foto. Tempos difíceis estão por vir, mas não acredito que conseguirão nos tornar menos humanos. Porque nós já o somos. E, no fim das contas, o “ser” sempre vem antes do “ter”.
21 | ARTIGOS | O ISOLAMENTO SOCIAL SEMPRE EXISTIU
O ISOLAMENTO SOCIAL SEMPRE EXISTIU Alexandre Berneira
SOLIDÃO OU SOLITUDE | ARTIGOS | 22
SOLIDÃO OU SOLITUDE Alexandre Berneira
23 | ARTIGOS | PET EDUCAÇÃO 2020: APRENDENDO A ESTAR ON-LINE PET EDUCAÇÃO 2020: APRENDENDO A ESTAR ON-LINE
Alessandra Steilmann Cristina Maria Rosa O grupo PET Educação se caracteriza por ser um grupo disciplinar. É constituído por estudantes da Licenciatura em Pedagogia da FaE/UFPel. Somos reconhecidos, na Universidade e fora dela, por trabalhar com Leitura Literária. Desenvolvemos estudos e intervenções em escolas públicas e privadas, ofertamos palestras, cursos de formação de curto, médio e longo prazo para professores e também para as bibliotecárias e atuamos como personagens literários, eventualmente, em Feiras do Livro e eventos como a FENADOCE. Em 2020, diante da grave situação em que nos encontramos como sociedade, foi necessário reinventar nossas ações, estudos e pesquisas, buscando, ao máximo, a interação com a comunidade que sempre nos foi tão próxima. Apresentaremos, nos tópicos a seguir, alguns projetos desenvolvidos pelos doze bolsistas e a tutora desde o dia 16 de março, quando a UFPel suspendeu as atividades usuais e entrou em outro modo de gestão dos tempos e espaços. Umas de nossas ações presenciais mais intensas, desde sempre, tem sido a leitura de textos literários para diferenciados públicos. Seja em algum evento da escola, ou em projeto semanal durante o ano. Podemos então dizer que nosso grupo sempre teve o “pé na escola”. Em outros dois espaços – a Sala de Leitura Erico
Verissimo e a Sala de leitura Literária no Museu do Doce – também desenvolvemos essa habilidade que constitui o cerne do trabalho do Pedagogo: ler e ensinar a amar a literatura. Para dar continuidade a esse trabalho, iniciamos a gravação de áudios com leituras de primeiras páginas de livros literários. O intuito foi incentivar, indicar e compartilhar com nossos contatos do WhatsApp, nossos apreços: contos, poemas, romançes, biografias. Logo que a prática se intensificou, decidimos reunir esses áudios em uma plataforma on-line, para que se tornassem salvos e disponíveis para um grupo maior de pessoas. Surgiu, então, o “Primeiras Páginas”, nosso primeiro experimento de projeto on-line na “quarentena”. No início, consistiu na escolha, gravação de áudios de textos literários, edição desses para qualificar o som e escolha de um fundo sonoro e uma imagem a ser postado na plataforma Soundcloud gratuita e que pode ser acessada por smartphones, tablets ou computadores. Após recebermos inúmeros retornos positivos sobre as primeiras escutas, decidimos organizar o programa considerando dois grupos prioritários: crianças e adultos. Assim, mantivemos a mesma organização do “Primeiras Páginas” – com áudios de textos para adultos publicados todas as terçasfeiras – e criamos o “Minutos Literários”, dedicado
PET EDUCAÇÃO 2020: APRENDENDO A ESTAR ON-LINE | ARTIGOS | 24 especialmente para os pequenos ouvintes. O processo de escolha dos textos, gravação e edição é similar nos dois programas. O que os diferencia é o público e, no caso do “Minutos Literários”, os textos lidos são integrais e publicados a cada sexta-feira. Passados 60 dias desse experimento, percebemos que ao compartilhar nossas escolhas de livros, gêneros e autores, mantivemo-nos contribuindo para que crianças e adultos tenham acesso à literatura de nossos acervos. Inédito, o projeto vem se mostrando como um processo de formação para o grupo. Em especial, podemos citar o trabalho de um dos bolsistas. Responsável pela edição dos áudios, a demanda foi corrigir palavras ou frases inaudíveis, minimizar ou subsumir ruídos ao fundo e escolher trilhas sonoras para acompanhar as leituras, além de escolher imagens para encabeçar a publicação na plataforma, todas atitudes vinculadas às áreas da Música, do Cinema e das Tecnologias da Informação. Percebemos, também, que em nossas leituras públicas anteriores, em escolas e eventos, dificilmente éramos gravados. Em outras palavras, não havíamos experimentado ouvir nossa voz no meio eletrônico, considerar modulações, pontuação, silêncios e formatos próprios e adequados a cada um dos textos. Ao perceber acertos e falhas, tons e velocidade da leitura, clareza e volume, entre outras nuances, buscamos encontrar a “essência da nossa própria voz”, esse, talvez, o maior ganho do experimento. Outro tipo de ação desenvolvida pelo PET Educação a convite da Tutora, professora Drª Cristina Rosa, tem sido de extrema valia para os estudantes da Pedagogia que integram o grupo
e, neste momento, em especial. Constitui-se na formação docente para públicos diferenciados – como idosos, pais, mães e demais familiares de crianças em idade escolar, bilbiotecárias do município, professoras nas escolas – mas, fundamentalmente, nesse momento, o aprendizado da proposição e uso de meios de intervir na realidade de quem está em casa, isolado ou em grupo, de forma on-line. A seguir, explanamos alguns dos projetos que estão em desenvolvimento atualmente: A literatura adequada para as crianças recebeu um cuidado especial quando formamos um grupo de compartilhamento de dicas literárias. Criado para subsidiar mães, avós e professores, nele, há pessoas que se interessam pela literatura e que, em tempos de distanciamento social, carecem de dicas do que ler, como ler, como acessar, como escolher e como criar e/ou sustentar hábitos de leitura diários. Dele participam a tutora, que organizou o grupo, e alguns dos bolsistas do PET Educação. Com o título “Literatura para crianças”, reúne 60 participantes que, ao menos uma vez por semana, recebem áudios, sugestões de leitura e de livros adequados a crianças entre zero e 11 anos. A partir do desejo de manter o vínculo com os estudantes incritos na disciplina optativa “Literatura Infantil I”, ofertada à Licenciatura em Pedagogia na FaE/Ufpel no primeiro semestre de 2020, inventamos o “Estudos Literários”, um grupo que definiu como tema a literatura adequada à infância. Com o calendário suspenso, todos foram consultados e só um estudante declinou do convite, não por falta de acesso às
25 | ARTIGOS | PET EDUCAÇÃO 2020: APRENDENDO A ESTAR ON-LINE redes sociais. Assim, um roteiro foi pensado, as inscrições foram franqueadas on-line e, no dia 04 de maio, teve início o experimento. Com temas e conteúdos importantes no campo da literatura para a infância, atividades serão enviadas semanalmente com data limite para retorno. Além disto, estudam-se modos de realizar aulas pela rede. Vale ressaltar que esta é uma proposição nova, tanto para a tutora, como para a monitora e os demais vinte e três integrantes. A metodologia encontrada foi a postagem de áudios explicativos, apresentações em power point, tutoriais para as vídeo-chamadas e reuniões on-line. Quando da postagem de tarefas, está ocorrendo a sugestão de leituras de artigos em plataformas como blogs e sites, de fácil acesso para quem só tem o celular como ferramenta de conexão. Literatura para Idosos foi outra das atividades reorganizadas por nós. Surgiu do contato com o grupo de idosos que frequentaram, em algum semestre, a disciplina Literatura, na Universidade Aberta à Pessoa Idosa da UFPel. Ao manter, desde o início da pandemia, o contato e algum exercício intelectual vinculado à temática, áudios de primeiras páginas, sugestões de leitura, matérias sobre literatura e outras, concernentes ao tema, têm sido ofertadas ao menos duas vezes por semana. Eventualmente, alguma tarefa tem sido sugerida aos idodos que, muito entusiasmadamente, compartilham suas emoções e produções. Foi desse experimento que surgiu o grupo “Diário do cuidado: diálogos aos 60+”, organizado para intervir na prevenção de casos de depressão por solidão ou falta de atenção. Instigado a
propor algo no campo do cuidado mental, o PET Educação reconheceu que não tem formação específica no campo. Sensível à demanda de um dos idosos que frequenta o grupo, reunimos, por mensagem no WhatsApp, uma rodada de inscrições a quem se sentia apto a dar apoio e a quem desejava participar. Atualmente atendendo seis idosos, oito integrantes do grupo se revezam em conversar, escrever memórias, indicar leituras, serviços públicos e possibilidades para os que solicitaram apoio e estão confinados, sozinhos ou em pequenos grupos familiares. O foco é conversar sobre o isolamento, as perspectivas, as relações que eles conseguem ter. Depois, estabelecer rotina de contato e, nela, se prontificar a escrever a biografia do interlocutor. Ao enviar, sempre, o retorno do escrito ao idoso, comprometê-lo com sua própria história, memória e permanência no grupo. O grupo também investe no envio, todos os dias, de um lembrete, uma frase de incentivo, uma imagem de paisagens vistas da janela de cada um ou de um animal de estimação e mesmo uma foto antiga em que estão com o idoso. Cabe, também, fazer planos para o futuro. As atividades tiveram início em 04 de maio e, hoje, contam com o apoio da Prof. Dra. Zayanna Lindôso da TO – Terapia Ocupacional da UFPel que, com expertise no tema, orienta o grupo e encaminha para atendimento casos considerados mais delicados ou que demandem atendimento especial. Diferente de atividades novas, as pesquisas on-line já integravam as práticas do PET Educação. De caráter interativo, uma vez que são realizadas por meio de nossas redes
PET EDUCAÇÃO 2020: APRENDENDO A ESTAR ON-LINE | ARTIGOS | 26 sociais, sempre resultaram em dados oriundos de declarações muito interessantes, tornando-se uma boa ferramenta para o exercício de pesquisa e, também, um modo de marcar datas que consideramos importantes a serem comemoradas como o dia do livro, da literatura e da leitura, por exemplo. O processo de desenvolvimento da pesquisa consiste em definir um tema, um questionamento a ser enviado aos nossos contatos. Logo depois, coletar e catagorizar informações presentes nas respostas a fim de relacioná-las. Por fim, dar visibilidade aos resultados, publicandoos no Blog do PET Educação e, se possível, no site da UFPel. Até o momento, temos uma pesquisa finalizada – que considerou a comemoração internacional ao Dia do Livro – e duas em processo de desenvolvimento. Na primeira, cujos resultados foram publicados no Blog do PET no dia 07 de maio (http://peteducacao.blogspot. com/2020/05/livros-na-quarentena-resultadosde.html), o foco foi conhecer o que estava sendo lido durante a quarentena pelos nossos contatos. As duas pesquisas que estão em fase de proposição e serão em breve desencadeadas versam sobre: a) 20 de maio: Dia do Pedagogo; b) 21 de maio: Dia da língua nacional e dia mundial da diversidade cultural para o diálogo e desenvolvimento. Com metodologia similar a outras já desenvolvidas, duas equipes foram criadas e coordenarão o recebimento de respostas, compilação e análise de dados, bem como a escrita final para as publicações. No momento em que escrevemos essas palavras, em parágrafos, com o intuito de revelar como estamos propondo e realizando
experimentos educativos de forma on-line, nos inteiramos, pelos noticiários, que o Brasil começa a ser considerado o epicentro da maior pandemia do século. É inegável que estamos passando por momentos delicados, instáveis, repletos de insegurança. Atípicos, esses tempos promovem sentimentos de solidão, ansiedade, angústia. Estamos repletos de saudades: de estar nas escolas com as crianças, nos corredores e nas salas de aula na Faculdade, na sala do nosso grupo PET e nos momentos de alegria e compartilhamento que nosso “cafés no mercado” sempre produzem. E a saudade dói. Mas, ao escrever esse artigo, sentimos brotar em nós a esperança e algum otimismo, pois, mesmo frente a uma situação tão complexa e cruel, continuamos aprendendo. Aprendendo sobre literatura, aprendendo como aprender de outras formas, aprendendo a nos comunicarmos com grupos diversificados, a sermos mais solidários, mais empáticos e, assim, aprendermos a ser integralmente melhores. Concluimos que há uma grande possibilidade de sairmos dessa quarentena com mais conhecimento: acerca de leitura e seus efeitos, dos modos de ler e compartilhar o que gostamos ao ler, e, consequentemente, com mais segurança em nossas ações de Leitura Literária.
27 | ARTIGOS | ILUSTRAÇÃO BOSTON
ILUSTRAÇÃO BOSTON Natalia Bertoldi
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7 DE ABRIL Natalia Bertoldi
29 | ARTIGOS | DOS JOGOS DIDÁTICOS AO JOGO DE EMPATIA SOCIAL DOS JOGOS DIDÁTICOS AO JOGO DE EMPATIA SOCIAL: O DESAFIO DA PESQUISA ACADÊMICA EM TEMPOS DE PANDEMIA. Ramile da Silva Leandro Samanta Quevedo da Silva Orientação Prof. Dra. Adriane Borda e Prof. Dra. Janice Pires O presente artigo tem como intuito fazer breve reflexão dos rumos acadêmicos tomados pela equipe do “Projeto Modela Pelotas”, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAURB) da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), mediante a situação atual em que se vive, marcada pelas incertezas geradas pela pandemia do vírus COVID-19 no Brasil e no mundo. Para tanto, o relato se centra na reflexão sobre o “diário de bordo” das autoras. Este conta com o registro de reuniões on-line, para o desenvolvimento de atividades relativas ao planejamento do Projeto Modela Pelotas, propostas anteriormente a esta crise, tais como de revisão bibliográfica e reflexões a cerca de pesquisas relacionadas ao desenvolvimento de jogos didáticos voltados a estratégias lúdicas e
táteis para a valorização e difusão do patrimônio histórico de Pelotas, a partir de técnicas de fabricação digital. Ademais, invadindo todo este planejamento, este diário registra o deslocamento das atividades para a produção de equipamentos de proteção facial (Face Shields). A Figura 1 ilustra tal tipo de deslocamento. Ainda, a reflexão se apoia em teorias de Ulrich Beck presentes no artigo “Ulrich Beck: a imanência do social e a sociedade do risco” (MENDES, 2015) e em escritos de Eduardo Galeano (1999; 2013) - na expectativa de que tais escritos possam ser transpostos para compreender o momento que se está vivendo, bem como as atitudes por nós tomadas. Isso porque, segundo a “teoria da sociedade do risco”, discutida no artigo supracitado (MENDES,
Figura 1- À esquerda e ao centro- Objetos táteis/jogos de montar, que reproduzem detalhes do estuque do teto do prédio - Casa do Conselheiro, Casa 8. À direita- protetor facial produzido para profissionais da saúde. Fonte: Arquivo Gegradi
DOS JOGOS DIDÁTICOS AO JOGO DE EMPATIA SOCIAL | ARTIGOS | 30 2015), diante de situações desconhecidas, como a vivida atualmente, a análise das problemáticas e desafios impostos por novas dinâmicas - como a do distanciamento social - gera novas percepções e ações que fogem da zona de conhecimento de quem se propõe a pensar/problematizar os riscos a que está submetido. Ainda, em Mendes (2015 apud Beck, 1992), tem-se que a percepção dessa “zona de risco” “(...)determina o pensamento e a ação. No risco, o passado perde o seu poder de determinar o presente”. Dessa forma, não se pretende aqui fazer um relato das ações de pesquisa desenvolvidas atualmente pelo grupo e muito menos exaltar as ações de produção de protetores faciais (Face Shields) desenvolvidas no presente momento. O que se busca é problematizar situações vividas pelos estudantes que, ao perceberem os riscos impostos pela COVID-19, direcionam seus objetos de pesquisa e estudos para a construção de pequenas ações que visam benefícios sociais futuros. QUANDO O RISCO TRANSCENDE O MEDO E TORNA-SE AÇÃO: A PESQUISA QUE NÃO CALA. “É tempo do medo. (...)Medo da multidão, medo da solidão, medo do que foi e do que pode ser, medo de morrer, medo de viver”. (GALENO, 1999, p.83). Escrito em 1999 a citação a cima de Eduardo Galeano nunca foi tão atual, assim como muitos de seus textos que conversam perfeitamente com a “teoria do risco” de Ulrich Beck, citada por Mendes (2015). Nesse contexto, quando as
aulas foram suspensas, para dar continuidade à atividade de pesquisa, passou-se a realizar reuniões semanais on-line, prosseguindo com exercícios de revisão bibliográfica. Importante ressaltar, que no período precedente à pandemia, as bolsistas já haviam adquirido capacitação para o corte a laser e impressão 3D - tais cursos foram oferecidos pelo Projeto OFICINAS de Ensino/Aprendizagem de Representação Gráfica e Digital, além da participação em uma viagem de estudos, visitando laboratórios da UFRGS, com intúito de estabeler redes entre laboratórios de fabricação digital para acelerar o processo de aquisição de conhecimentos em uma área cujo ritmo de inovação é intenso. Nessas primeiras semanas de trabalho, já em isolamento social, devido à pandemia da COVID-19, soube-se pelo grupo que alguns laboratórios de fabricação digital, públicos e privados, estavam iniciando a produção de protetores faciais. Naquele momento, passou-se a demarcar uma “zona de risco”, nos termos de Beck, como descrito por Mendes (2015 apud Beck, 1992), e “de medo”, como pontuado por Galeano (1999), pois sabia-se do potencial acadêmico que se possuía para agir na mesma direção. Desde então, partiu-se para estabelecer uma rede de contatos com os laboratórios já envolvidos na produção dos protetores faciais (Face Shields), no ambiente acadêmico local e regional. O objetivo de tal ação inicial foi o de em compreender e analisar a viabilidade de responder a alguma demanda, pensando nos profissionais da rede pública de saúde da cidade de Pelotas. Esta busca por informações contou com a disponibilização
31 | ARTIGOS | DOS JOGOS DIDÁTICOS AO JOGO DE EMPATIA SOCIAL de diversos arquivos por laboratórios e grupos de pesquisa, por universidades como a UFRGS, IFSUL, UFSC, UNPB e o escritório 360º Arquitetura, para a fabricação digital por corte a laser e impressão 3D. A disponibilização destes arquivos foi de grande importância para a equipe, já que a mesma não possuía conhecimento adequado para projetar um modelo de máscara de proteção. Os primeiros protetores faciais foram inicialmente testados e adaptados pelas acadêmicas voluntárias e após, foram encaminhados ao Hospital Escola da UFPEL para aprovação e avaliação dos quesitos: conforto, segurança e funcionalidade deste equipamento de proteção. Em um primeiro momento, não houve a aprovação imediata no que tange o conforto, o que fez o grupo se preocupar em buscar outros materiais além do acrílico para a solução do problema. Nesse interim, a reflexão feita foi de que se estava a caminhar por temáticas que fugiam da área de conhecimento dos alunos envolvidos. Por isso, acredita-se que tal situação, assim como outras vividas pelos voluntários, que são estudantes de arquitetura, e que não possuem o conhecimento do design de produtos, foi de extrema valia no que tange às suas formações como pesquisadores universitários, prontos para assumirem suas fraquezas e buscarem, a partir dessas, ampliar redes de conhecimentos e soluções. Vale ressaltar que, além da produção presencial na maquetaria da FAURB, no corte a laser, uma equipe de apoio trabalhou em casa, motivando os voluntários na ação. Ademais, alguns integrantes abraçaram a produção dos protetores faciais
na impressão 3D, levando as impressoras para trabalhar de casa. Todos os cuidados de higiene foram tomados para evitar o contágio no grupo, usando inclusive as máscaras de proteção feitas pelos próprios integrantes. CONCLUSÃO Contudo, e tendo em vista que as autoras continuam a trabalhar como pesquisadoras do Projeto Modela Pelotas, mudando apenas os objetos produzidos, de jogos didáticos para protetores faciais, além de outras demandas solicitadas pelo Hospital Escola (como respiradores, caixas para operações e protetores para recém nascidos), se avalia que estas atividades estão sendo de grande importância para o crescimento acadêmico de todos os envolvidos. Isso porque os mesmos estão a atuar em uma frente de grande relevância social. Outrossim, o trabalho atualmente desenvolvido utiliza conhecimentos técnicos adquiridos no grupo de pesquisa (gráfica digital, impressão 3D e corte a laser). Logo, representa importante oportunidade de agregar conhecimento, capacitando voluntários, principalmente ao manuseio do corte a laser – tecnologia de grande importância para a realização deste processo. Dessa forma, considera-se que, ao partir da produção de jogos didáticos e táteis sobre o patrimônio para o “meter-se em jogo”, na produção de protetores faciais, não se altera o âmago do objetivo do Projeto Modela Pelotas: trata-se de produzir jogos de empatia social, ambos facilitando a inclusão e interação. Ainda, acredita-se ser essa uma grande
DOS JOGOS DIDÁTICOS AO JOGO DE EMPATIA SOCIAL | ARTIGOS | 32 oportunidade para os estudantes, com o apoio da universidade pública, de darem sustenho à sociedade que os circunda, fazendo com que o conhecimento adquirido por intermédio do ensino e da pesquisa, oferecido pela UFPEL, ultrapasse o ambiente acadêmico. Destarte, tanto os estudantes têm a possibilidade de sentirem-se atuantes socialmente, como a própria pesquisa e extensão - basais na formação dos universitários - ter seu papel destacado em um país, no qual a educação não recebe seu devido valor, porque se “despreza o que ignora, porque ignora o que teme. Por trás da máscara do desprezo, aparece o pânico: estas vozes antigas, teimosamente vivas, o que dizem? O que dizem quando falam? O que dizem quando calam?” (GALEANO, 2013, p.132). Enfim, ao assumir os riscos (MENDES, 2015 apud Beck,1992) e refletir sobre os mesmos, transformando inseguranças em ações e colocando-se em jogo a serviço de demandas sociais, os estudantes envolvidos aprendem muito mais do que manusear novas tecnologias: aprendem o valor de serem pesquisadores, de se (re)pensarem e questionarem como tais, assim como a importância de darem voz a pesquisa em um país que por diversas vezes tentou/tenta calála. AGRADECIMENTOS Agradecemos à todos que de alguma forma colaboraram para a produção dos protetores faciais, bem como: Laboratório de Inovação e Fabricação Digital da Escola de Engenharia da UFRGS; Escritório 360 Arquitetura (Mariana
Silva); Centro Tecnológico de Acessibilidade do IFSUL de Bento Gonçalves; Pronto 3D da UFSC (Prof.ª Regiane Pupo); Laboratório de Modelos e Protótipos da UFPB (Natália Queiroz); Laboratório de Experimentação em Prototipagem do IFSUL de Pelotas (Mariana Piccoli); Prof.ª Cilene Estol, CEART/UFPel; Pró-Reitor de Planejamento e Desenvolvimento Otávio Peres; Professores e técnicos da FAURB. E, em especial, à equipe de produção: Rafael Estabão; Cristiane Nunes; Bryan Ortiz; Clara Medina; Claudia Freitas; Cleiton Souza; Carolina Leitão; Éric Franco; Eduarda Galho; Gabriel Silva; Gustavo Benedetti; Karla Nunes; Karine Braga; Maria Neta. Obrigada! REFERÊNCIAS MENDES, J. M. Ulrich Beck: a imanência do social e a sociedade do risco. Anál. Social, Lisboa, n. 214, p. 211-215, mar. 2015. Disponível em: <http:// www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0003-25732015000100012&lng=p t&nrm=iso>. Acesso em: 16 de Abril de 2020. GALEANO, Eduardo. De Pernas pro Ar: a escola do mundo ao avesso. Porto Alegre: L&PM, 1999. GALEANO, Eduardo. O livro dos Abraços. Porto Alegre: L&PM, 2013.
33 | ARTIGOS | ATIVIDADES DO PROJETO DE OFICINAS EM TEMPOS DE PANDEMIA ATIVIDADES DO PROJETO DE OFICINAS EM TEMPOS DE PANDEMIA: A PARTIR DA COOPERAÇÃO E DO PROPÓSITO DE MOTIVAR A AUTONOMIA NA APRENDIZAGEM Samanta Quevedo da Silva Letícia Pegoraro Garcez Cíntia Gruppelli Da Silva Orientação Prof. Dra. Adriane Borda e Prof. Dra. Janice Pires INTRODUÇÃO Este artigo tem como objetivo desenvolver uma reflexão sobre as atividades realizadas pelo Grupo de Estudos para ensino e aprendizagem de Gráfica e Digital (GEGRADI), da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Pelotas – UFPel, no âmbito do Projeto OFICINAS de Ensino/Aprendizagem de Representação Gráfica e Digital, em períodos de cancelamento das aulas presenciais, com a intenção de conter a pandemia causada pela COVID-19. As atividades referem-se à intensificação do processo de reestruturação e atualização da página do Projeto para promover o oferecimento de OFICINAS, na modalidade a distância, de maneira imediata e aberta à comunidade, como contribuição ao enfrentamento do momento. Vigente desde 2005, este Projeto investe na indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, tendo como produto a configuração de cursos abertos à comunidade e ações de extensão, propriamente ditas, junto às instituições educativas e culturais públicas, atividades estas
relativas à área de representação gráfica e digital. Entretanto, a dinâmica de desenvolvimento deste Projeto há muito tempo enfrenta a problemática da sustentabilidade para a sua difusão e interação com o público alvo, por meio de uma página na INTERNET, especialmente por incluir diferentes modalidades de ensino, presencial, semi-presencial e a distância. Borda et al (2011), referindo-se diretamente a este problema, já apontava a necessidade de haver um repositório institucional, para o acervo de objetos educacionais produzidos no âmbito da UFPel, para ser acessado de maneira aberta. Porém, deve-se considerar que a infraestrutura disponibilizada pela universidade (Wordpress) é adequada para a difusão das informações, mas não para o acervo de arquivos de texto, imagens, vídeos, etc. Por outra parte, o Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) da UFPel, também não é apropriado para este acervo, e seu acesso não é aberto à comunidade. No entanto, na suspensão das atividades acadêmicas presenciais houve uma reação imediata, de ex-bolsista e bolsista voluntária, para
ATIVIDADES DO PROJETO DE OFICINAS EM TEMPOS DE PANDEMIA | ARTIGOS | 34 investir no que se considera uma ação paliativa, de disponibilizar uma infraestrutura para o Projeto a partir dos recursos já institucionalizados: por meio do site na plataforma Wordpress. Até então, os materiais digitais encontravam-se junto ao AVA ou ainda dispersos em acervos privados de eventuais ministrantes de oficinas. Simultaneamente, para o historiador e professor israelense Yuval Noah Harari (2020, s/p), o verdadeiro antídoto para epidemias é a cooperação. Deste modo, sob a perspectiva deste Projeto, busca-se cooperar, para transformar o isolamento social em uma oportunidade de aperfeiçoamento, de melhoria pessoal e profissional, de maneira a oferecer oportunidades de aprendizado e motivar a autoaprendizagem. Sobre o mesmo ponto de vista, Paulo Freire considera a necessidade de concebermos “(...) a prática educativa como um exercício constante em favor da produção e do desenvolvimento da autonomia de educadores e educandos” (FREIRE, 2002, pág. 53). Neste contexto, Freire destaca que podemos ser autônomos na aquisição de conhecimentos, seja de forma digital ou impressa, já que a maneira educativa aplicada depende da escolha de cada indivíduo. No entanto, em tempos de pandemia, o modo virtual se apresenta como alternativa. Moore e Kearsly (2007) consideram que a EAD é “o aprendizado planejado que ocorre em um lugar diferente do local do ensino, exigindo técnicas especiais de criação do curso e de ensino, comunicação por meio de várias tecnologias e disposições organizacionais e administrativas especiais” (MOORE e KEARSLEY, 2007, pág. 2).
A REESTRUTURAÇÃO DO SITE Para realizar esta reestruturação, a equipe de desenvolvimento conta com a cooperação virtual de uma acadêmica da Engenharia da Computação e bolsista voluntária – que realiza a programação do conteúdo; uma Publicitária e técnica-administrativa – que auxilia no layout da página; uma técnica-administrativa e Analista de Sistemas – que ajuda na administração das informações; uma ex-bolsista do projeto Oficinas e acadêmica em Arquitetura e Urbanismo – que contribui com a organização dos arquivos; e com as coordenadoras do projeto – as quais disponibilizam e permitem o acesso aos conteúdos. A concretização desta proposta segue a partir do pensar coletivo do grupo em disponibilizar todos os materiais didáticos aplicados nas oficinas ofertadas presencialmente, já dispostos no AVA. O site do projeto Oficinas já está reestruturado, desenvolvido a partir do Wordpress institucional da universidade e está vinculado ao site do GEGRADI. Nesta nova implementação busca-se uma mudança gráfica e funcional, com menus categorizados por assunto (Figura 1), a partir dos quais é possível visualizar todos os detalhes das oficinas. Na página de cada oficina, o participante poderá verificar os objetivos, histórico da oficina e a carga horária (Figura 1), além de visualizar uma galeria de fotos e artigos publicados relacionados ao referente assunto, endereçados ao GUAIACA – repositório no qual armazena a produção de ensino e pesquisa da UFPel. Os materiais didáticos e a tarefa de conclusão a distância
35 | ARTIGOS | ATIVIDADES DO PROJETO DE OFICINAS EM TEMPOS DE PANDEMIA estão disponíveis para download e a conclusão e aprovação das atividades garante um certificado de participação. Em casos específicos, onde não há a anexação de atividades, o certificado de conclusão não ficará disponível, porém o estudante terá acesso ao conteúdo. A proposta do site do Projeto não se limita apenas a ofertar oficinas em EAD, mas também reúne formulários de inscrições abertas para oficinas em formato presencial, quando estas surgirem, bem como uma página de contato, onde o indivíduo pode tirar dúvidas ou registrar interesse por alguma oficina. Além disso,
foram disponibilizadas páginas com instruções para aqueles que desejarem colaborar como ministrantes, e outra apresentando informações gerais sobre o Projeto. O investimento cooperativo busca assim promover a autonomia do estudante no processo de aprendizagem, com um sistema aberto para sociedade se aperfeiçoar ou descobrir novas oportunidades nos conhecimentos voltados para as técnicas aplicadas em geometria gráfica e digital. CONCLUSÃO
Figura 1: À esquerda, parte da lista de menus categorizados por assunto; À direita é possível ver os detalhes, carga horária e objetivos de uma das oficinas já disponíveis no site. Fonte: Site Oficinas/GEGRADI
ATIVIDADES DO PROJETO DE OFICINAS EM TEMPOS DE PANDEMIA | ARTIGOS | 36 Entende-se que o Projeto OFICINAS, nesta situação de isolamento social, tem a intenção de transformar o sentimento de impotência frente a uma situação de pandemia, a partir da cooperação de um grupo disposto a disponibilizar materiais didáticos, com o objetivo de tornar possível a autonomia na aprendizagem. Assim, como Paulo Freire (2002) destaca que a “prática educativa” pode ser aplicada para o “(...) desenvolvimento da autonomia de educadores e educandos” (FREIRE, 2002, pág. 53) diante do momento que se vive. Hoje, em meio aos diversos dispositivos tecnológicos existentes na atualidade, é possível abrir janelas virtuais para o conhecimento de maneira a possibilitar que um acadêmico ingressante no curso de Arquitetura e Urbanismo, e a comunidade em geral, a partir do acesso a materiais didáticos, tenha a oportunidade de uma formação nos conhecimentos básicos que são necessários no decorrer do curso. Além disso, esse formato de oficinas na modalidade de educação a distância possibilita ao acadêmico organizar seus horários de estudo, o qual muitas vezes, no ensino presencial, não consegue devido a sua carga horária ser preenchida pelas disciplinas do curso. REFERÊNCIAS BEHRENS, Marilda Aparecida. Novas tecnologias e mediação pedagógica. 5. ed. Campinas, SP: Papirus, 2002. (Coleção Papirus Educação). BORDA, A. B. A.S; PIRES, J. F.; VASCONSELOS, T. B.; NUNES, Cristiane. REUP! Para Integrar Representação Gráfica e Projeto nos Contextos
de Arquitetura e Design. In: 5 CONAHPA Congresso Nacional de Ambientes Hipermídia para Aprendizagem, 2011, Pelotas. 5 CONAHPA. Florianópolis: UFSC, 2011. v. 1. p. 1-14. FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. 25ªed. São Paulo: PAZ E TERRA, 2002. GEGRADI. Projeto OFICINAS de Ensino/ Aprendizagem de Gráfica e Digital: Repertório de Oficinas. Disponível em: <https://wp.ufpel.edu. br/oficinas/>. Acesso: 21 de abr. de 2020. HARARI, Y. N. Na Batalha contra o coronavírus, faltam líderes à humanidade. São Paulo: Companhia das Letras, 2020. E-book. (Artigo publicado originalmente no site da Revista Time, em 15 de março de 2020). MOORE, M.; KEARSLEY, G. Educação a Distância: uma visão integrada. São Paulo: Thomson Learning, 2007. (Edição especial da Associação Brasileira de Educação a Distância ABED).
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