Revista Música em Si - Edição N. 7

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Povos do Mar Herança Nativa

A Semana de Educação Musical da Universidade Federal do Ceará numa proposta de integração dos estudantes do curso de Música

Um bloco e uma escola de música percussiva no carnaval de Fortaleza

Entrevistas: Izaíra Silvino, André Gress e Carlos Henrique (Carlinhos)


Universidade Federal do Ceará (UFC) Instituto de Cultura e Arte (ICA) Coordenação do Curso de Música Programa de Educação Tutorial em Música (PET Música) Tutoria e Orientação Profa. Dra. Catherine Furtado e Prof. Dr. Gerardo Viana Jr. Organização Jean Brito Projeto Gráfico-Editorial e Diagramação Erdenio Oliveira Brito Edição de Textos e Revisão Jean Brito Capa e Edição de Imagens Erdenio Oliveira Brito Artigo A Polissemia do Conceito de Aptidão Musical Seleção: Gutemberg Freitas Texto: Eduardo Texeira da Silva

Por Aí Godspell Texto: César Rodrigues Imagens: Iara Pereira

Por Aqui IX SEMU – Semana de Educação Musical da UFC Texto: Jean Brito Imagens: Acervo do Centro Acadêmico Izaíra Silvino

Terra, Céu e Mar – Encontro Sesc Povos do Mar e Encontro Sesc Herança Nativa Texto: Jean Brito Imagens: Matheus Macêdo

2º Encontro de Aprendizagem Musical Compartilhada Texto: Rafael Cruz e Luzia Capistrano Imagens: Luzia Capistrano

Vitrine Científica Música na Escola: Silêncios, Escutas e Desafios para o Professor Recém-ingresso no Sistema Público de Ensino Seleção: Yuri Castelo Texto: Marina Freire Crisóstomo de Morais

Projeto Educação Musical – PET Música & PET Pedagogia Texto: Marcus Vinicius e Rafael Cruz Imagens: Lia Santos e Acervo PET Pedagogia Baqueta Clube de Ritmistas Texto: Natanael Silva e César Rodrigues Imagens: Hiane Braun e Leo Ponte Nota D'água Texto: Yuri Castelo Imagens: Viktor Braga

Entrevista Izaíra Silvino Texto: César Rodrigues e Marília Abreu Imagens: Marília Abreu Gosto da Professora Consiglia Latorre Texto: Luzia Capistrano e Natanael Silva Humor Desenho: Alana Shelda


A Polissemia do Conceito Aptidão Musical

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IX SEMU

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Aprendizagem Musical Compartilhada

15 Projeto Educação Musical

Baqueta Clube de Ritmistas

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D'água

22 Godspell

Terra, Céu e Mar

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Música na Escola

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Izaíra Silvino

Consiglia Latorre

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Retratos

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Fotografia: Matheus MacĂŞdo


Editorial

Já completamos 4 anos de vida e a Revista Música Em Si continua contando estórias de pessoas que amam Arte, amam Cultura e amam Mú

Entre tantos protagonistas que passam por essa trama, alguns deixam alguns sinai sorrisos, abraços, beijos.

A trajetória de um desses futuros educadores musicais é, então, permeada por des dificuldades, que são superados com muita dedicação e com o outro.

Nada do que já foi conquistado veio de um só homem, ou de uma só mulher: estam nesse barco, velejando por essa confusão de ondas.

E dentro desse barco, encontramos uma tamborinista brincalhona, um violonista roqueiro, uma violinista desenhista, um contratenor p percussionista carimbozeira, um palhaço trompista e uma cantora palhaça. Povos do Mar e povos D’Água, povos do Luxo e do Glamour. Esse misterioso lugar, de aprendizados e de crescimento, transforma e se retransforma nos indivíduos que nele coabitam. Tudo é possível – desde o que você quiser ser, até o que você quiser fazer. Nesse Oceano de Sons, buscamos respeitar uma das mais importantes regras de convivência: a gentileza!


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Fotografia: Matheus MacĂŞdo

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Artigo

A POLISSEMIA DO CONCEITO DE APTIDÃO MUSICAL Seleção por Gutemberg Freitas

A abordagem sobre o assunto da aptidão musical mostra o quão polissêmico pode ser o seu entendimento no próprio campo especializado da música, especialmente na Educação Musical, percebendo-se em suas abordagens a utilização de diversos termos na discussão e designação do que se compreende por aptidão musical. Nesse sentido, aborda-se tal assunto utilizando termos tais como: dom, talento, musicalidade, habilidade etc, os apresentando sem demarcações claras do entendimento sutil que cada uma dessas palavras possui. Considero que a problemática que perpassa o conceito de aptidão musical diz respeito à existência de uma espécie de paradoxo em sua concepção, manifestada pela definição de que a aptidão poderia ser manifestada tanto por disposição inata quanto adquirida para desempenhar atividades musicais, ou seja: algumas pessoas nascem predispostas a fazer música enquanto outros precisam adquirir tal aptidão (ou ainda não possuem capacidade para aprender música). A problematização do conceito de aptidão está diretamente ligada à discussão sobre o acesso à formação musical, vinculada ao discurso da importância da democratização do ensino de música, e questiona o próprio sentido da existência do campo da Educação Musical. Ora, desmistificar o senso comum que costuma reproduzir o entendimento de que apenas algumas pessoas possuem aptidão para música (a compreendendo enquanto dom ou talento natural) é uma maneira de justificar a importância da existência dos educadores musicais para semear a compreensão de que todo(a)s podem aprender música a partir de suas próprias possibilidades. Não necessito ser um(a) Mozart, mas apenas fazer a música que me identifica enquanto sujeito sócio-histórico-cultural. Essa desmistificação pode ser possibilitada pela abordagem teórica da perspectiva histórico-cultural, problematizando as visões inatistas relacionadas ao saber-fazer musical, considerando que os sujeitos se desenvolvem e se formam enquanto musicistas (mas também ouvintes, dançarino(a)s etc) a partir da interação entre fatores de sua herança genética (biológicos) com fatores ambientais (meio, cultura, sociedade). Eduardo Teixeira da Silva (22 de abril de 2018)

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SÓ APRENDO QUANDO MUDO, QUANDO ENCARNO O SABER, OU SEJA, QUANDO O SABER É CARNE DA MINHA CARNE, QUANDO O SABER É PARTE DO MEU EU. Por Izaíra Silvino

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IX SEMU

Semana de Educação Musical Por Jean Brito

A SEMU – Semana de Educação Musical é um evento realizado na Universidade Federal do Ceará (UFC) desde 2003, cujo objetivo é promover a valorização do conhecimento e a troca de experiências entre educadores musicais, estudantes de música, coralistas, instrumentistas e demais interessados, através de palestras, mesas-redondas, minicursos, oficinas e apresentações musicais, atividades oferecidas à comunidade docente e à comunidade em geral. Inicialmente a SEMU esteve atrelada às atividades do Coral da UFC, mais especificamente à ADUFC – Associação dos Amigos do Coral da UFC. Posteriormente, o evento passou a ser realizado pelo curso de licenciatura em Música da UFC, criado em 2005, em Fortaleza. Na edição de 2018, a Semana de Educação Musical da UFC foi organizada pelo Centro Acadêmico Izaíra Silvino (CAIS), gestão Musicais, e aconteceu no período de 26 de fevereiro a 2 de março, no Instituto de Cultura e Arte (ICA), durante a semana de recepção dos calouros do ICA.

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No findar do semestre 2017.2, os estudantes membros da diretoria do Centro Acadêmico Izaíra Silvino (CAIS), gestão Musicais, decidiram arriscar e organizar um grande evento do curso de Música da UFC: a Semana de Educação Musical – SEMU. Com alunos que haviam acabado de ingressar no curso, essa empreitada representou um grande desafio, já que toda a logística envolvendo o feito seria realizado por esse pequeno grupo. Convocar o nosso colegiado, convidar professores de outras instituições, procurar um leque variado de oficinas e palestras, organizar a programação, elaborar ofícios para uso dos laboratórios do curso, produzir certificados, tudo isso fez parte do trabalho de um mês de organização dos membros do CAIS para a preparação da SEMU de 2018. Quando o semestre começou, conhecemos os novos ingressantes do curso de Música da UFC, e estes já foram noticiados da programação da SEMU, com atividades nos turnos manhã e tarde, de segunda à sexta-feira daquela primeira semana – a semana de recepção dos calouros. Para que esse sistema fosse possível, os professores do colegiado do curso de Música se uniram ao movimento e liberaram os alunos das aulas pelo turno da manhã, e marcaram presença, ministrando oficinas e palestras. As inscrições aconteceram por ordem de chegada e foram emitidos certificados de horas complementares para todos os participantes. Durante a semana, pude me aproximar dos novatos do curso e, enquanto eles iam conhecendo uma gama de possibilidades para o estudante de Música, eu consegui compreender qual foi o caminho deles até ali. Alan dos Santos Gomes teve contato com música na igreja ao longo do seu ensino médio, e depois de uma dúvida entre Música e Matemática, decidiu pelo que mais gostava. Quando perguntei sobre o que é educação musical para ele, Alan respondeu: “com a SEMU, eu venho percebendo que Educação Musical não é apenas ensinar a Música com partituras e desenvolver habilidades mecânicas, mas trazer um pensamento crítico do que é Música e sua relação com as pessoas”.

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Outra aluna que estava muito maravilhada com a semana de recepção é Júlia Jenifer, que depois de contar da sua formação cantando na igreja e tendo aulas no conservatório desde pequena, contou: “entrei no curso de Música porque quando você tem algo que você gosta e ama você quer sempre melhorar naquilo. Então, ter uma formação em algo que eu gosto, que faz parte de mim, poder trabalhar com isso e incentivar outras pessoas a fazer algo que eu tanto amo seria incrível”.

Nota Palco Aberto De segunda-feira à sexta-feira, às 12h30 - Corais da UFC - Grupo de Música Percussiva Acadêmicos da Casa Caiada, - Turmas de Canto na Música Popular do curso de Música

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Nota Janice, que estudou Agronomia por dois semestres, encontrou seu caminho na Música, ao estudar sozinha instrumentos como o violão e o ukulele. Animada com a SEMU, ela disse: “tô gostando muito. Eu morava no interior, e as pessoas do interior tem menos contato com música ainda. Então, a maioria das coisas que eu vi essa semana eu nunca tinha visto, como a oficina de samba”.

Oficinas: - Canto Lírico, com a professora Maria Juliana; - Oficina de Violoncelo: Técnicas Estendidas Aplicadas à Iniciação, com a professora Dora Uthermol; - Sonoridades, com a professora Consiglia Latorre, - Elaboração de Projetos Culturais, com o professor Alex Santiago - Canto para o Teatro Musical, com o professor Gerardo Viana Jr - Prática de Conjunto: Escola de Samba, com a professora Áquila Rebeca (aluna do curso de licenciatura em Música da UFC) - Interpretação em Música Popular Brasileira, com o professor Giltácio Santos - Jogos Musicais, com o professor Jean Brito (aluno do curso de licenciatura em Música da UFC) - Ritmos Africanos, com os professores Jean Brito e Laylson Maia (alunos do curso de licenciatura em Música da UFC) - Diálogos Entre Música e Linguagem: Revendo Conceitos, com o professor Michel Costa

Um destaque a ser feito é sobre o momento Palco Aberto, que aconteceu todos os dias durante a SEMU, e Letícia Gomes pontuou isso na entrevista: “tô gostando principalmente do Palco Aberto, tanto pela questão da gente poder mostrar o nosso talento, como ver o talento, conhecer outras pessoas que fazem o curso. Porque quando eu vim fazer a minha inscrição no curso, eu tinha visto ninguém que fazia Música. Assim a gente tem uma noção do quê que o curso faz com você. Pessoas que estão concluindo agora e que tocam perfeitamente, aí você já fica imaginando: ‘será que eu vou chegar nesse nível?’”. Sobre essa integração dos alunos novatos com os alunos veteranos e o colegiado do curso, Samir Hosnn destacou: “tô achando maravilhoso. Eu tenho uma namorada que faz o curso de Letras. E ela foi inserida logo nas matérias, tipo: ”tome conteúdo”. E vocês estão primeiro abraçando, para depois começar a mostrar o que é curso de verdade. E isso é muito importante, porque, talvez, se a gente já chegasse na pancada seca do que é a aula a gente já ficasse com o pé atrás. E isso aqui já vai apaziguando as percepções de todos os alunos”. No encerramento da SEMU, contamos com o show das bandas Gravatas Borboletas e Glamour, Luxo e Selvageria, formadas por alunos do curso de licenciatura em Música da UFC, que embalaram a noite de sexta-feira de muitos alunos dos cursos do ICA.

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Nota Palestras: - Saúde Mental no Ambiente Acadêmico, com o psicólogo Iury Cavalcanti - A Formação Integral do Estudante de Música como Músico e Professor do Ensino Coletivo de Cordas, com a professora Liu Man Ying - Saberes Percussivos nas Escolas Públicas, com a professora Catherine Furtado - Ensinar e Aprender Música na Escola: Reflexões de um Educador em Formação, com o professor Gerardo Viana Jr Orquestra Jacques Klein.

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2º Encontro de Aprendizagem Musical Compartilhada Por Rafael Cruz & Luzia Capistrano O grupo de Aprendizagem Musical Compartilhada é um grupo de estudos, pesquisa e extensão da Universidade Federal do Ceará (UFC), coordenado pelo professor Gerardo Silveira Viana Júnior, que tem como objetivo principal desenvolver o ensino que integre a relação professor/aluno tornando-os coautores no processo de aprendizagem. Para isso, o grupo uni os princípios de Ensino Coletivo, Aprendizagem Cooperativa e de autores como Vygotsky e Piaget. Os estudos ocorrem quinzenalmente as terças-feiras, de 13:30 as 14:30, tendo a participação de alunos e ex-alunos do curso de música da UFC e de outros educadores musicais. Os participantes apresentam temas para debates que são relacionados aos desafios e caminhos da aprendizagem musical, como o papel do professor em sala de aula, o ambiente escolar, propostas pedagógicas. Com o intuito de abrir os diálogos sobre a educação musical foram realizados dois encontros de aprendizagem compartilhada. O primeiro ocorreu em 22 de Agosto de 2017, com palestras, apresentações de trabalho escritos, oficinas de jogos musicais e apresentação musical do quarteto 4 em foco. O segundo encontro ocorreu nos dias 02 e 03 de Agosto de 2018, e teve como tema “Educação Musical Compartilhada e Acessibilidade: Desfazendo Relações de Dominação na Aula de Música”. Esse evento foi muito importante para os debates que levam a compreensão da abordagem das relações do poder na escola, do papel do professor, das reproduções, da dimensão ético-politica. Os dois dias do encontro contaram com palestras, mesas redondas, trabalhos científicos, oficinas de jogos musicais e apresentações musicais do grupo 30 cordas, grupo Forria e do Coral do ICA.

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Projeto Educação Musical PET Música & PET Pedagogia

Por Marcus Vinicius & Rafael Cruz

O Projeto Educação Musical é um grupo de ensino e pesquisa da UFC que tem como foco compreender e incentivar o uso da música enquanto ferramenta dentro das práticas pedagógicas. O grupo reúne-se quinzenalmente na Faculdade de Educação - FACED através de oficinas que são ministradas pelos próprios estudantes. O projeto nasceu no início do ano de 2017, a partir da iniciativa da aluna e bolsista do Programa de Educação Tutorial – PET Pedagogia Lia dos Santos, na época em seu sexto período de curso. Durante as aulas da disciplina de Ludicidade e Educação Musical I, do curso de Música, Lia conheceu os bolsistas do PET Música Jean Brito e Marcos Vinicius, que já realizavam um trabalho com jogos musicais, e a parceria entre os dois PETs que tornou o Projeto Educação Musical o que ele é hoje começou a tomar forma. Para lançar luz sobre este importante projeto, O PET Música conversou com os bolsistas do PET Lia e Jean.

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Segundo Lia, a ideia do projeto teve início em seu terceiro semestre de curso, em um trabalho da disciplina Pesquisa Educacional I do curso de Pedagogia. Ao pesquisar temas relacionados ao objetivo da pesquisa, deparou-se com materiais que falavam sobre música na escola, que terminou por tornar-se o tema de seu trabalho. Em seu sexto semestre, em 2017.1, ao ingressar como bolsista do PET, sua tutora pediu que os bolsistas pensassem em projetos que eles gostariam de desenvolver, o que lhe levou a pensar na pesquisa realizada em seu terceiro semestre. A partir daí, Lia dedicou-se a pesquisar ainda mais sobre o tema da educação musical, inclusive matriculando-se na disciplina Ludicidade e Educação Musical I do curso de Música. Após esse encontro de ideias e ajustes junto aos tutores dos PETs envolvidos, nasceu o Projeto Educação Musical. O projeto que já acontece há um ano, recebe não somente alunos do curso de Pedagogia; ao contrário, estudantes de outros cursos de licenciatura e bacharelado da UFC e de outras instituições, como IFCE e UECE, já participaram dos encontros do grupo. Todos eles com o intuito de trazer a música para mais perto de si e aplicá-la em suas áreas de atuação e mesmo em suas vidas pessoais. Segundo Lia, a maioria dos que frequentam o grupo é de estudantes que nunca antes trabalharam com música ou não tiveram contato com seus conteúdos e parâmetros teóricos. Sendo assim, o projeto vem como facilitador desse contato mais aprofundado com o mundo da música, desconstruindo o pensamento de que a música é apenas para aqueles que trabalham exclusivamente com ela: cantores, compositores, instrumentistas, professores de música etc. “Desde o momento em que a gente acorda até o momento em que a gente vai dormir, a música está presente na nossa vida. Então, não necessariamente eu tenho que ter formação musical para fazer música. Eu posso fazer música com o meu corpo, com a minha voz ou tocando numa cadeira”, para usar as palavras da própria Lia. “E, no projeto, a gente tem vivenciado isso: em cada encontro, a gente tem tido essas experiências práticas de vivências musicais, para que a gente possa ter consciência da importância da música na formação do estudante, na formação humana”, continuou. Para Lia, essa parceria entres os PETs é crucial para a existência do projeto. “Acho que a palavra que define essa parceria é ‘encontro’. De dois cursos, de educadores, de pessoas que pensam, refletem e sentem a necessidade de estar contribuindo para que a educação de fato aconteça de forma emancipatória e arrebatadora”, disse. Por não ter formação em música, ela conta que foi muito difícil pensar todos os detalhes do projeto e esse é um dos motivos para que a presença dos bolsistas do PET Música tenha feito toda a diferença. “[os bolsistas do PET Música] trouxeram toda uma perspectiva, toda uma abordagem diferente, que a gente não conhecia. Trouxeram grandes contribuições, grandes experiências com a formação que eles têm no curso de Música, no PET Música”, Lia ressalta na entrevista, dizendo ainda que considera fundamental que o estudante saia do seu lugar para aprender com estudantes de outros cursos.

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Este outro olhar trazido para o projeto pelos bolsistas do PET Música Jean e Vinícius é desenvolvido a partir de um outro trabalho dentro da educação musical: o grupo de Jogos Musicais. Sobre este grupo, Jean diz que, no início, funcionaria como um catálogo de jogos. Em sua primeira fase, o grupo reunia-se semanalmente para aplicar entre si os jogos pesquisados. Em seguida, com o auxílio do também aluno do curso de Música Paulo Mateus, que possui deficiência visual, o grupo passou a abordar jogos adaptados para a educação inclusiva, especialmente para pessoas cegas. Na terceira e atual fase do grupo de Jogos Musicais, o grupo tem se empenhado nessa parceria com o projeto Educação Musical, além de oficinas em eventos como o ENEFIL – Encontro Nacional dos Estudantes de Filosofia e o Encontro Nacional de Educação Inclusiva. O grupo também está em parceria com a célula de musicalização infantil dos alunos de cordas friccionadas da professora Liu Ying, que acontece no ICA – Instituto de Cultura e Arte, semanalmente, dentro da disciplina de Ludicidade e Educação Musical. Jean diz ainda que o Projeto Educação Musical é para ele uma iniciativa muito importante para seu próprio crescimento pessoal. Por estar a frente da maioria dos jogos nos encontros, o projeto o ajudou a desenvolver bastante sua prática como docente. Ele ressalta o caráter extremamente didático da aplicação destes jogos em meio a universitários, uma vez que estes, ao participarem, não são apenas musicalizados, mas levados a refletir e analisar aqueles jogos e sua posterior aplicação em sala de aula. “Este jogo funcionará com a faixa etária à qual ele é destinado?” e “a abordagem realizada é adequada a esta faixa etária?” são questionamentos levantados principalmente pelos alunos de licenciatura que participam do grupo.

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Os temas abordados dentro do projeto variam. No primeiro semestre, quando os encontros eram semanais com uma hora de duração, a temática era diferente a cada encontro, nos quais trabalhava-se teoria, prática e apreciação musical. No âmbito teórico, temas relacionados à musica dentro da educação foram abordados. Práticas com percussão corporal e voz e mesmo construção de instrumentos com material reciclável também foram temas de alguns encontros. Dentro da apreciação musical, gêneros da música brasileira foram levados aos estudantes para serem estudados a fundo: sua história, os principais artistas, instrumentação das obras. No segundo semestre, os temas foram organizados por mês. Então, durante quatro meses estudou-se a aplicação da música nos seguintes ambientes: educação infantil, ensino fundamental, ensino médio e EJA – Ensino de Jovens e Adultos. O plano do projeto para o ano de 2018 é refletir sobre a importância da cultura popular cearense através da música. Nesse primeiro semestre, a proposta é que, a cada mês, o grupo estude um gênero musical do Ceará. Tendo como tema inicial o Maracatu Cearense, seguido pelo Chorinho, Coco, Reisado e finalizando com brincadeiras de roda e cantigas tradicionais.

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Ao ser perguntada sobre o retorno que os demais participantes têm dado sobre o grupo, Lia comenta que eles só tecem elogios. Segundo ela, eles estão maravilhados com todas as possibilidades de fazer música apresentadas, desde a percussão corporal e a voz até o uso de itens do dia-a-dia, como canetas, copos, cadeiras e mesas. “Eu pensava que só podia fazer música com instrumento”, comentou ela ter ouvido de um dos membros do grupo. E salientou: “não, você pode fazer música com o que você tiver. A gente, como educadores, muitas vezes não vai encontrar cenários na sala de aula em que se tem instrumentos. Então, você pode fazer música sem instrumento. Você pode fazer música com o que você tem na sala de aula”. Lia ainda ressalta encontros que foram marcantes para ela enquanto mediadora deste projeto. Um deles ocorreu por meio da visita do aluno de Música Paulo Mateus a um dos encontros. Neste dia, ele narrou sua experiência enquanto portador de deficiência visual no curso de Música e seu relato foi muito bem recebido pelos participantes. Uma outra experiência que ela destaca foi a de os bolsistas do PET Música compartilhem com o projeto um momento vivido no Instituto dos Cegos. Os participantes foram vendados e levados a identificar alguns sons, na intenção de que tivessem as mesmas percepções de um cego. Ela fala de outros momentos assim. E de gratidão por essa parceria, da relevância que ela tem para a educação musical e para a vida dos que participam dos encontros do projeto.

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Eis a nova orquestra: o universo sônico! E os novos músicos: qualquer um e qualquer coisa que soe. Por R. Murray Schafer

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Baqueta Clube Por Natanael Silva & Cesar Rodrigues A seguir acompanhe a entrevista com o diretor-geral e mestre de bateria do Baqueta Clube de Ritmistas, Carlos Henrique (Carlinhos). Revista Música em Si – Como surgiu a ideia da criação do Baqueta Esporte Clube? Carlinhos – Bom, já existiam outros blocos antigos em Fortaleza. Naquela época, existiam os blocos “Que Merda é Essa?” e “O Cheiro é o Mesmo”. Eram poucos aqueles dentro do meu ciclo social que frequentavam esses blocos. Eu e mais três amigos costumávamos frequentar esses blocos. E existia, naquela época, o que você pode chamar de “gueto”, que eram as pessoas que mais frequentavam esses blocos da comunidade, de uma classe social menos favorecida, que era a comunidade das favelas. E a gente, que era de uma classe um pouco mais favorecida, ficava meio que se sentindo um peixe fora d’água (risadas). E a gente nunca era bem-visto, sabe? E mesmo tendo um pouco mais de conhecimento com relação ao pessoal que organizava os blocos, a gente não eram bem-aceito lá dentro. Até que o Célio, ali do Amici’s, aquela casa de samba lá do Dragão do Mar, abriu a oportunidade de fazer um samba lá. Só que esse público (do Amici’s) não era esse público de comunidade, era o pessoal de classe média, os formadores de opinião, pessoal daquela área do jornalismo. Aí veio a ideia de fazer um samba naquela época da Copa do Mundo, né? (2006) Foi ali que eu vi a oportunidade de colocar a galera pra tentar, pra aprender, participar. Então tudo começou de uma maneira bem informal, o projeto foi se desenhando, engatinhando mesmo e só depois foi ganhando corpo. Foi ali que começou, na escolinha do Amici’s.

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e de Ritmistas Revista Música em Si – É possível precisar em que ano de fato o Baqueta começou a funcionar oficialmente como Baqueta? Carlinhos – Ano 2007. O Baqueta começou lá dentro do Amici’s junto com o pessoal da Cachorra e começou a crescer o movimento. Revista Música em Si – E quanto o combate ao machismo? Carlinhos – Não tinha mulher nenhuma naquela época na bateria. Mas a bateria naquela época era de umas quinze há vinte pessoas, e o resto era só olhando. Ai que eu chamei “olha, vamos batucar, tocar”. Nisso teve uma resistência dos homens. Primeiro, por causa do preconceito que havia de uma mulher tocando dentro da bateria, segundo porque havia uma mulher bonita tocando na bateria, e terceiro porque havia uma mulher bonita que não tinha vivência nenhuma com percussão e que estava tocando. Revista Música em Si – E a chegada das mulheres conseguiu quebrar com esse machismo? Carlinhos – Com certeza, mas sabe, eu acho que o preconceito maior era de ter gente que não era da comunidade, da periferia, que estava na bateria. Eu acho que existia uma crença de que para participar da bateria aquela cultura ali não poderia ser apropriada por outras pessoas que não fossem da comunidade. Então não tinha gente da Aldeota ou do Papicu participando desse movimento de bateria, por exemplo. Mas esse mesmo fenômeno acontece nas baterias do Rio. Mais aí

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a gente começou a levar o pessoal lá pra dentro pra tocar, sem saber de nada. E depois veio a ideia de levar o pessoal pro estúdio. Revista Música em Si – Como o Baqueta lida com a questão da acessibilidade? Carlinhos – Logo a gente vai dar um desconto na matrícula dos alunos portadores de alguma deficiência, colocar nas nossas redes sociais. Porque você dá um desconto na inscrição da pessoa, a inscrição é trinta reais, mas você faz a pessoa pagar dez, isso já atrai. E eu pensei no desconto porque essa galera que tem um familiar com necessidades especiais costuma ter mais gastos. Eu conheço uma pessoa que lida diariamente com o autismo por exemplo, para encontrar uma escola que aceite trabalhar com essa demanda é difícil, e as escolas que aceitam já cobram mais caro na mensalidade. E a ideia do desconto é mostrar para essa mãe e esse pai, essa família, que nós estamos dando as boas-vindas a essas pessoas. Agora eu não sei se nós estamos preparados para isso. Nós ainda não temos preparo para saber trabalhar com essas pessoas, mas já é algo que está sendo pensado. A gente precisa ser capacitado para saber lidar com esse público. Já existe essa preocupação. Revista Música em Si – Como você vê o futuro? Como você projeta o Baqueta no futuro? Carlinhos – Eu acho que a cidade tá precisando de muita escola ainda, tanto que estamos com um projeto esse ano e talvez abra uma outra unidade do Baqueta aqui. Estamos com a ideia da enquete, de perguntar pra galera onde seria o próximo lugar pra essa nova unidade (risadas). Tem pouca coisa aqui. As escolas precisam crescer, a gente precisa alcançar mais pessoas e ir pro lance de bateria universitária. Precisa começar isso de colocar bateria nas universidades, nas escolas, entrar em contato com um público mais jovem. Eu acho que a escola de ritmistas de Fortaleza está em uma fase de acesso à educação musical percussiva. E também tem os projetos sociais, onde a gente tá entrando nas escolas públicas. Um dos grandes caminhos agora pra gente enriquecer a percussão em Fortaleza é entrar na escola pública, porque além do público grande, você tá tirando aquelas crianças de caminhos ruins.

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A prĂłpria luta e o conflito podem ser desfrutados, apesar de serem dolorosos, quando vivenciados como um meio para desenvolver uma experiĂŞncia; fazem parte dela por levarem-na adiante, e nĂŁo apenas por estarem presentes. Por John Dewey

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Nota

D’água Por Yuri Castelo

D’Água é o mais novo trabalho do Coral da UFC que estreou no dia 2 de novembro deste ano [2018], no Teatro do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, às 20 horas. O espetáculo conta com 45 artistas (Dentre estes a Orquestra Sonial, que forma uma parceria com o Coral da UFC para este trabalho) e 3 maestros, correndo pelos rios musicais de compositores brasileiros como Fausto Nilo, Belchior, Caio Castelo, Flávio Paiva e Tarcísio Sardinha. Nas palavras do diretor e regente Erwin Schrader, “O espetáculo trata da água que entra e a água que sai na vida e nos corpos das pessoas. A água que sai de nós. Sai pelo suor, pela lágrima, enquanto a água que nós deixamos entrar em nossa vida tem que ser antes purificada”. O aspecto fluvial vai além das músicas, alcançando o cenário - e até a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), uma das patrocinadoras do projeto), que foi coberto por um espelho d´água, por onde correram 5 mil litros desta. Além da estreia, D’Água saiu em temporada pelos próximos sábados e domingos, e terá sua última apresentação no dia 16 de Dezembro, às 19 horas.

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Nota

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Por Aí

Godspell

Por César Rodrigues

Entrevista com André Gress, diretor da escola The Biz. Música em Si – André, por que Godspell? Houve algum motivo em particular para escolher esse musical para apresentar? André Gress – Eu escolhi Godspell mais pela música. Eu já conhecia a obra, que é um clássico. A harmonia entre as vozes, quando elas combinavam, dava uma sensação de arrepio, um calafrio de tão lindo. Algo que tocava a alma. É um espetáculo muito forte musicalmente, tanto que a gente focou nas cenas que partiam das músicas e do que elas falavam. Música em Si – Godspell é um musical escrito baseado nas Parábolas do Evangelho de São Mateus e trás as figuras de Judas, Jesus e João Batista. Tu tiveste algum receio em apresentar a peça visto que ela aconteceu num período político muito marcado pela intolerância? André Gress – Receio que não. A gente na verdade procurava ter cuidado na hora de montar. A nossa montagem de Godspell difere muito de outras montagens. Ela acontece praticamente no momento pós-apocalíptico e há uma certa liberdade onde a gente não deixa claro o local onde se passa o espetáculo e nem o tempo

Nota 28

Atualmente, a Escola The Biz funciona no Shopping Salinas, Loja 105. Av. Washington Soares, 909, Edson Queiroz. Contato: (85)3051-0130 Site: www.thebiz.com.br.


Por Aí

onde ele está acontecendo. Na nossa montagem, as pessoas estavam vivendo em condições subumanas em uma subestação elétrica desativada de nome Kirius. Kirius significa “com Deus”. Isso tudo foi fruto da nossa adaptação. Não existia antes. Como a instalação estava sem luz, ela estava sem Deus. E aí, Jesus aparece nessa comunidade para dar bons ensinamentos. O que eu acho legal do espetáculo é que ele não impõe. Não há imposição de apenas uma verdade. E na nossa adaptação, Deus, no caso Jesus, não impõe; ele mostra o caminho. Jesus chega para esse grupo de pessoas para mostrar um pouco do amor e da Luz. Devolve a luz para essa subestação. E em nossa adaptação também criamos a figura de uma criança que era o espírito santo para mostrar que Deus está em todos os lugares. Música em Si – Qual mensagem ou mensagens você acha que o espetáculo deixou para o público? André Gress – Acho que é o seguinte: se você cuida do outro, se você respeita o outro, se você não tem ganâncias e não faz nada para prejudicar o outro, então você está fazendo o bem independente do que você seja. Música em Si – Houve alguma parte ou partes de montagem do espetáculo que tu achas que foi mais difícil de elaborar? André Gress – Houve várias cenas. A montagem do espetáculo foi criada em um laboratório feito com os próprios atores. Então não houve nada pré-montado ou moldado. Quem entrasse no teatro veria uma ambiente cheio de fumaça e eu ainda coloquei duas figuras mascaradas que usavam máscaras de gás como que representando pessoas que não se misturavam com as pessoas que moravam naquela sub-estação elétrica. Eu não sei se as pessoas conseguiram fazer uma ligação entre as figuras mascaradas e a história que estava sendo contada, mas estava tudo contextualizado dentro da história. A parte mais difícil do grupo fazer foi a crucificação, porque a gente fez de forma diferente, onde privou as pessoas de ajudar Jesus Cristo, tanto que na nossa montagem elas estão presas atrás de uma grade. Música em Si – O que o público pode esperar da escola em questão a futuros trabalhos? André Gress – A The Biz está passando por um ciclo de mudança radical no processo de ensino. A escola irá funcionar como praticamente um curso profissionalizante a partir do ano que vem (2019), e nós compramos a franquia de Rent, outro musical da Broadway, que será apresentado numa arena de 360°. Também estamos montando um espetáculo sobre Chico Buarque que no caso é a escola e não a companhia que está fazendo e vamos montar também Madagascar, autorizado pela DreamWorks Internacional,e será feito só com crianças e pré-adolescentes. E em janeiro (2019) nós estaremos promovendo workshops, onde traremos personalidades conhecidas do teatro musical brasileiro que falarão sobre interpretação, canto e análise teatral.

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Por Aí

TERRA, CÉ

Encontro Sesc Povos do Mar e

Com o objetivo de conhecermos um pouco mais da música do nosso estado, o Grupo de Música Percussiva Acadêmicos da Casa Caiada, coordenado pela professora doutora Catherine Furtado, viajou por 20 minutos até o Hotel Ecológico Sesc Iparana, em Caucaia, e vivenciou um pouco do primeiro dia do VIII Encontro Sesc Povos do Mar. Antes do show de abertura começar, conhecemos alguns vendedores de artesanato que se encontravam num grande barracão, próximo ao palco principal, e, mais tarde, fomos embalados pelo som do show de Ednardo e Banda, enquanto saboreamos pedaços do enorme peixe camurupim assado na brasa, partilha dos povos de Guajiru, Trairi.

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Por Aí

ÉU E MAR

Encontro Sesc Herança Nativa Por: Jean Brito

O Encontro Sesc Povos do Mar, que acontece em Caucaia desde 2010, tem o intuito de promover a visibilidade e a valorização das comunidades litorâneas. Em seus 5 dias de evento, o projeto pioneiro, desenvolvido pelo Sesc Ceará, reúne pescadores, rendeiras, marisqueiras, raizeiros, mestres da cultura popular, povos indígenas e quilombolas, numa grande confluência de saberes, práticas lúdicas, artesanias e manifestações artísticas envolvendo representantes de cerca de 170 comunidades do litoral cearense. Dentre os agrupamentos artísticos que cruzam os encontros estão maracatus, bois, reisados, pastoris e cocos, além de outros autos populares e tradicionais cearenses. Outro desdobramento do Encontro Sesc Povos do Mar é o Encontro Sesc Herança Nativa, que acontece desde 2015 e traz povos indígenas, ciganos, comunidades sertanejas e serranas de 21 municípios cearenses, numa vasta programação de três dias de atividades.

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Nota O Sesc reúne os 14 povos indígenas cearenses, do litoral ao sertão, no Encontro Herança Nativa. São eles Tremembé, Tapeba, Pitaguary, Jenipapo-Kanindé, Kanindé, Tabajara, Potyguara, Kalabaça, Kariri, Tupinambá, Tubiba-Tapuia, Gavião, Tapuya-Kariri e Anacé, além dos povos quilombolas e ciganos, culturas das serras, chapadas e sertões.

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O símbolo do coco - o chapéu branco -, é reforçado com tinta, porque antigamente era usado para acumular água. A roupa de tecido da vela da jangada é tingida com a casca do cajueiro. O lenço amarrado no pescoço é usado para proteger as orelhas do vento forte. - Paulo Junior, filho do mestre do Coco do Iguape, mestre Raimundo Cabral


O VIRTUOSISMO É A HABILIDADE CULTIVADA POR ELA MESMA, NÃO A SERVIÇO DA ARTE. Por Abraham Kaplan

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Vitrine Cientifica

MÚSICA NA ESCOLA:

SILÊNCIOS, ESCUTAS E DESAFIOS PARA O PROFESSOR RECÉM-INGRESSO NO SISTEMA PÚBLICO DE ENSINO Seleção: Yuri Castelo

Autora da tese: Marina Freire Crisóstomo de Morais Resumo:Esta pesquisa, de caráter qualitativo, constituiu-se em uma pesquisa-ação sobre um professor de música recém-ingresso no sistema público de ensino e sua turma de 9º ano do Ensino Fundamental II, tendo como objetivo geral investigar como se estabeleciam as relações de diálogo entre ele e seus alunos. A rotina desgastante do professor, atuante em 26 turmas de 4 escolas diferentes, somada às resistências dos estudantes e à ausência de tempo para reflexão sobre a sua prática, fizeram com que ele, atuante em turmas de Artes, desistisse de dar ênfase à música em suas aulas. De forma a intervir positivamente nesta realidade, foram realizadas algumas atividades musicais, baseadas nos jogos dialogais e de improvisação propostos por H. J. Koellreutter, que proporcionaram ao sujeito um caminho de reinserção da música nas suas aulas, além de um contato mais próximo com os estudantes. Junto com as ideias de Koellreutter, o pensamento de Paulo Freire e Ira Shor serviram de referência para a busca de uma prática pedagógica dialógica, e, aliados às propostas do educador musical R. M. Schafer, indicaram caminhos para a valorização da escuta e do silêncio não passivo em sala de aula. As principais técnicas de coleta de dados utilizadas foram a observação participante, a entrevista semiestruturada e o grupo focal, sendo feito os registros em diário de campo e gravações em áudio. A pesquisa teve um impacto positivo na prática do professor, especialmente por ter proporcionado um tempo em sua rotina para a reflexão sobre sua própria prática. Observou-se uma lacuna em sua formação, especialmente no Estágio, que não o preparou devidamente para a realidade do ensino básico público, bem como a ausência de políticas de inserção na escola. Além disso, pode-se destacar que: a carga horária mínima da disciplina de Artes, a cultura escolar trazida pelos alunos e a desvalorização da Música como área do conhecimento são os principais fatores que dificultaram, a priori, a realização de uma prática pedagógica dialógica no caso estudado.

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Entrevista

Izaíra S

Por Cesar Rodrigu

Cidadã de Baturité, mudou-se para Iguatu aos 05 anos em razão da transferência do pai que a aprender chorinho com a grande musicista, professora Amélia Cavalcante, prom

E foi assim que nossa entrevistada desenvolveu sua habilidade instrumental, em apenas 03 mes

Já em Fortaleza, aos 10 anos, na Casa de Juvenal Galeno, tendo sido levada para tocar bando processo musical da Universidade Federal do Ceará, e foi por ele foi direcionada e orientada a desenvolvido lá todo o seu

Mais tarde fez vestibular e cursou Direito, tendo posteriormente cursado música, quando da criaç Federal, curso que posteriormente seria vin

No Cariri, desenvolveu trabalho de coral, sempre com o despertar voltado para a Cultura Popula Atividades Artísticas e Culturais José Maria Bezerra de Paiva, da Unive

Trouxe assim para o Coral a ideia da música popular não somente cantada pela voz, mas sim pe público um olhar atento e interessado em assistir aos espetáculos, sempre

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Entrevista

Silvino

ues & Marilia Abreu

assumiu o cargo de Delegado Regional do Iguatu. Apaixonado por música incentivou a filha a metendo-lhe um relógio de ouro, tão logo a pequena obtivesse êxito no intento.

ses, tendo conquistado seu primeiro cachê, o relógio de ouro, e desde então, nunca mais parou!!

olim em uma solenidade da Casa, foi vista pelo professor Orlando Leite, então criador de todo o estudar no Conservatório Alberto Nepomuceno à época vinculado à Universidade, tendo assim u estudo formal de música.

ção do curso superior, pelo Conservatório Alberto Nepomuceno em parceria com a Universidade nculado a Universidade Estadual do Ceará.

ar, sendo nesta época, convidada, pelo Reitor Paulo de Elpídio de Menezes Neto e o Diretor de ersidade Federal do Ceará, para ser a regente do Coral da Instituição.

elo corpo inteiro, criando espetáculos dentro da dinâmica do coro em movimento, despertando no e cheios interpretações, musica e arte da maneira mais completa e plena.

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Gosto da professora

CONSIGLIA LATORRE Por Luzia Capistrano & Natanael Silva

Na década de 60 foi influenciada pela sua mãe a estudar algum instrumento musical, sua escolha foi o piano. Em paralelo ao seus estudos de piano, foi matriculada em uma “Escola Modelo” (denominada por ela porque era uma escola com uma pedagogia atualizada), nesta escola foi estimulada a compor desde cedo. Muito cedo entrou no conservatório para ter aulas de teoria musical. Com 14 anos entrou para o Ensino Médio na Mackenzie, estando no mesmo ambiente de uma universidade, frequentava muito o dce da Arquitetura onde as pessoas tocavam MPB no violão. Desde cedo foi estimulado, pelo seus familiares, a escutar diversos tipos de música mas, sempre gostava de escutar MPB. Seu interesse pelo violão veio do MPB e de seus colegas da Arquiteturas que tocavam. Depois disso, foi estudar piano popular. Em 1977, por interesse em dar aulas para crianças, foi indicada a fazer um curso com Koellreutter sobre pedagogia atualizada, trabalhando a musicalização e música contemporânea. Ainda continuava a estudar música popular e erudita. Não queria estudar no curso superior de música na Universidade de São Paulo (USP) por ter apenas música erudita. E decidiu fazer artes visuais. Na década de 80 entrou em um grupo com Arrigo Barnabé e Itamar Assumpção que fizeram 3 meses de apresentação com experiências musicais diversas. Foi backing vocal do toquinho em 84 e ficou trabalhando com ele durante 7 anos, foi apresentada ao Chico Buarque e foi vocalista dos dois ao mesmo tempo, Teve aula de canto aos 19 ao 20 anos. Desde cedo escutava bastante e teve essa preferência por cancionistas como: Noel, Ary Barroso e Dorival Caymmi, embora gostasse de escutar outros estilos musicais mas, não se sentia tão vivo ou presente, quanto a música brasileira, no seu dia a dia. Quando está em um momento contemplativo gosta de tocar e escutar Bach e música clássica, gostava de estudar e apresentar músicas contemporâneas como as obras de John Cage.

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Humor

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Retratos

D'รกgua. Foto: Viktor Braga

D'รกgua. Foto: Viktor Braga

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7

Ediรง


7

ª

ção

Retratos

Encontro do Projeto Educação Musical. Foto: Lia Santos

Encontro do Projeto Educação Musical. Foto: Acervo PET Pedagogia

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Retratos

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Ediç

Oficina de Ritmos Africanos na IX SEMU (2018). Foto: Acervo Centro Acadêmico Izaíra Silvino

Oficina de Jogos Musicais na IX SEMU(2018). Foto: Acervo Centro Acadêmico Izaíra Silvino

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7

ª

Retratos

ção

Apresentação da banda Glamour, Luxo e Selvageria na IX SEMU(2018). Foto: Acervo Centro Acadêmico Izaíra Silvino

Oficina Sonoridades Múltiplas na IX SEMU(2018). Foto: Acervo Centro Acadêmico Izaíra Silvino

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