Almanaque Educação

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da educação pedagogias & educadores Isabella carrera alves



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da educação pedagogias & educadores Isabella carrera alves



“Criatividade é tão importante no ensino quanto alfabetização e deveríamos tratar ambas sob o mesmo status.” Ken Robinson

“Educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo.” Nelson Mandela



Gostaria de agradecer àqueles que tornaram este trabalho possível. Obrigada Fabio, Gisele, Wayne e Luis Mauro pelo apoio e ensinamentos diários.



Índice Introdução 11 O que você encontrará neste livro 13 Anísio Teixeira 16 Anton Makarenko 24 Célestin Freinet 30 Construtivismo 38 Edgar Morin 42 Édouard Claparède 48 Emilia Ferreiro 54 Friedrich Fröbel 62 Ivan Illich 70 Jean Piaget 76 Johann Pestalozzi 86 John Dewey 94 Lev Vygotsky 100 Maria Montessori 108 Paulo Freire 118 Pierre Bourdieu 124 Theodor W. Adorno 130 Waldorf 136 Bibliografia 149



Introdução

A

s primeiras ideias do que viria a ser este almanaque surgiram no final de 2011 em uma noite qualquer, enquanto eu assistia pela internet a uma palestra ministrada por Ken Robinson, autor e conselheiro sobre Educação nas Artes para governos e instituições internacionais. Durante sua bem-humorada apresentação de 20 minutos, intitulada “Escolas matam a criatividade?”, ele pincela argumentos sobre os quais eu nunca havia refletido até então. Será que o atual formato do sistema educacional está cortando pela raiz um senso de inovação inato a toda criança? Ou, ainda, estariam os jovens mais talentosos nas áreas artísticas e menos habilidosos em disciplinas como Matemática e Ciência se sentindo inferiores porque eles são bons em algo que a escola não considera tão relevante? Para Robinson, toda criança é criativa por natureza. Mas ela perde essa habilidade até chegar à fase adulta porque, ao longo dos anos, seus professores e familiares insistem que coisas divertidas das quais ela gosta não lhe renderão um emprego no futuro e que seria mais útil, por exemplo, aprender o nome de um osso do que dançar ou desenhar, sendo que ambos conhecimentos são igualmente relevantes. Assim, sua criatividade vai enfraquecendo e a diversidade de inteligências disponíveis na Humanidade é reduzida, dentro da escola, a uma hierarquia de talentos. O resultado a longo prazo é um profissional infeliz, com pavor tremendo do fracasso, mas que, ironicamente, será cobrado pelo chefe por ideias ousadas e “fora da caixa”. Tais questionamentos abriram minha percepção para uma leitura inédita sobre a experiência educacional que eu própria vivi. Estudei toda minha adolescência em um colégio privado de classe média-alta em São Paulo. Um colégio que sempre me agradou, onde aprendi muito e com certeza, me ajudou pessoal e profissionalmente. Apesar de tudo isso, hoje identifico falhas nele. Falhas que, a meu ver, são comuns no ensino tradicional brasileiro em geral. A grade curricular da minha escola era determinada pelos diretores, sem influência dos alunos. A correspondência entre as disciplinas era inflexível. Raramente encontrávamos um professor disposto, por exemplo, a relacionar um conceito da Física com o período histórico em que foi inventado ou o impacto de certa obra de arte no cenário político daquele tempo. Essa divisão vem bem a calhar quando o desafio é o vestibular, com seu jeito mecanizado, quantitativo e “decoreba”.

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Mas na vida real, em que o mundo é uma grande mistura de assuntos, dúvidas e acontecimentos, a falta de prática em comparar, cruzar e analisar informações aparentemente distintas é uma deficiência. Foi então que me ocorreu: será que existem outras Pedagogias sendo usadas por professores além daquela com a qual tive contato? Uma forma diferente, alternativa, mais livre de aprender e ensinar? Menos focada em apostilas e mais no que está além dos muros do pátio? Lembrei-me de uma amiga que estudara em um colégio construtivista. O pouco que eu sabia sobre esse estilo educacional, muito me agradara. A maioria das aulas eram feitas ao ar livre. Os alunos também aprendiam as mesmas matérias que eu aprendi, mas passavam mais tempo fazendo experimentos e atividades manuais, como montar sistemas de reciclagem e filtrar a água da chuva. Uau, isso parecia incrível! Por que todos nós não estudamos desse jeito? Não parece ser um uso mais natural e saudável da energia infantil do que ficar sentado em escrivaninhas enquanto alguém fala retoricamente, por horas a fio? Dessa vontade de impulsionar as crianças a alcançarem seu potencial e encontrarem sua verdadeira vocação, seja ela qual for, tomou forma o projeto do Almanaque da Educação – um “resumão” das Pedagogias usadas atualmente no Ensino Fundamental de escolas públicas e privadas por todo o Brasil. Seu objetivo é servir de instrumento para adultos que procuram uma escola para seus filhos. Uma que se enquadre tanto aos valores da família, quanto à personalidade do jovem.


O que você encontrará neste livro

O

Almanaque da Educação divide-se em 18 capítulos, sendo 16 deles sobre educadores e dois sobre correntes pedagógicas, cuja criação é difícil atribuir a uma só pessoa. Como é extremamente raro encontrar uma escola purista – o mais comum é que cada instituição desenvolva uma “receita” própria de ensinar, escolhendo quais aspectos da Pedagogia deseja seguir ou até misturando características de mais de uma corrente –, cada verbete cobre as principais propostas desse estilo pedagógico. Eles fornecem uma visão básica do que se trata cada método educacional, mas a maneira como ele é colocado em prática varia de escola para escola. Tenho a esperança que você, leitor, use o conteúdo teórico descrito neste livro como fundamento para avaliar, pelo seu ponto de vista, o que acha de um certo colégio ou profissional. Quanto à linguagem do guia, ela é direta ao ponto. Toda vez que você ver um asterisco ( * ) ao lado de um nome, significa que existe um outro capítulo no almanaque sobre este tema. E quando se deparar com um tema confuso, sinalizado entre aspas, não se preocupe: ele será explicado em profundidade mais à frente no mesmo capítulo. Espero que este almanaque ajude você a traçar os primeiros passos neste universo fascinante que é a educação e, em especial, a convivência e instrução das jovens mentes. A infância é uma das fases mais doces e determinantes da vida. O adulto que tem a chance de testemunhá-la diariamente por meio dos filhos tem muita sorte. Aproveite a sua. Uma boa leitura,

Isabella Carrera Alves Outubro de 2014, São Paulo, Brasil.

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Anísio Teixeira 17


Ficha técnica Anísio Spíndola Teixeira Advogado e educador brasileiro Nascido em 12/7/1900 em Caetité, Bahia, e morto em 11/3/1971 no Rio de Janeiro Conceitos gerais: educação integral, universidade infantil, centro educacional, escola-parque e escola-classe Leia mais: Anísio Teixeira: Provocações em Educação; Pequena Introdução à Filosofia da Educação: a Escola Progressiva ou a Transformação da Escola

História pessoal Filho de professor, considerou seguir carreira eclesiástica, mas, por pressão da família, formou-se advogado. Em 1926, tornou-se Secretário Estadual de Educação e Saúde da Bahia – foi assim que, sem experiência ou respaldo teórico, entrou no ramo da educação. Entre 1928 e 1929, treinou professores no Instituto de Educação do então Distrito Federal, no Rio de Janeiro. Durante sua gestão criou 75 novas escolas, reforçando a rede municipal de ensino. Fundou em Salvador em 1947 a primeira daquilo que viria a chamar “escola-parque”, o Centro Educacional Carneiro Ribeiro. No ano de 1952, Teixeira tornou-se diretor do INEP (Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos). Foi afastado do cargo pela ditadura militar. Foi para os Estados Unidos e só voltou para o Brasil em 1966, para trabalhar no Conselho Nacional de Educação. Faleceu em 1971 ao cair em um poço de elevador. Era candidato a uma vaga na Academia Brasileira de Letras.

Princípios pedagógicos Teixeira defendia uma educação democrática, que tratasse todas as pessoas de formal igual, independentemente de seu contexto social, religioso ou profissional. Criticava o descompasso entre a escola e a realidade brasileira, e sugeria que a vida social e a sala de aula conversassem e influenciassem uma à outra – algo que, em sua época, não era comum.

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Propostas História do Brasil Anísio responsabilizava os três séculos de colonialização portuguesa pelo atraso educacional e social no Brasil. Segundo ele, o sentimento de subordinação a outra nação inibiu um pensamento contestador entre os brasileiros. Mesmo depois de tornar-se independente, o Brasil continuou pensando como uma colônia. Historicamente, ele dividiu a trajetória da educação brasileira em dois períodos: aquele em que só integrantes da elite tinham acesso à escola e curso superior, e, depois, outro que buscava “democratizar” o estudo rapidamente, procurando alfabetizar, a qualquer custo, o maior número de pessoas. O resultado desse último, dizia ele, foi a diminuição da qualidade e tempo letivo nas escolas públicas e a substituição da aprendizagem de fato por provas e apostilas simplificadas. A população só conseguiria se emancipar dessa mentalidade por meio de uma educação que a levasse à reflexão dos seus problemas e quebrasse o conformismo. Nessa etapa, o principal mediador seria a escola pública. Mas, para alcançar esse objetivo, todo o sistema de ensino deveria ser atualizado e baseado na tecnologia, ciência, democracia e desafios do mundo moderno. A aula Ao trazer para o Brasil a tendência educacional Escola Nova*, guiandose principalmente pelas palavras de John Dewey* e Edóuard Claparéde*, Teixeira propôs que a escola precisa adaptar-se às necessidades do aluno, não o contrário, como acontece no ensino tradicional. Amigos, família, passatempos, lar, natureza, tecnologia e meios de comunicação são ambientes que devem ser incorporados à aula. A criança precisa tocar, experimentar e sentir para aprender. Por conta disso, a escola também tem de se reinventar de acordo com o que acontece no mundo. Centro educacional Teixeira defendia que as escolas perderam em qualidade de ensino ao diminuir a duração do período escolar diário para atender mais estudantes. Seu primeiro modelo de Centro Educacional, feito na Bahia, era em período integral. Ao longo de cinco anos, os quatro mil alunos tinham seu dia dividido em duas seções: quatro horas na “escola-parque”, na qual estudantes entre sete e catorze anos aprendiam disciplinas intelectuais – como

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Aritmética, Ciências e escrita -, e as outras quatro na “escola-classe”, espaço separado do resto onde iam praticar esportes, socializar com colegas, fazer trabalhos artísticos, atividades de recreação, leitura e pesquisa. A escola-parque contava com professores comuns, enquanto as disciplinas da escola-classe eram lecionadas por tutores especializados em cada atividade. Material didático Para Teixeira, livros escolares simplificam e resumem demais os conteúdos. Essa abordagem empobrece o ensino e afasta a classe da vida real. Ele propunha que as apostilas passassem a ser utilizadas com um fim prático, e não apenas lidas. O material didático precisa respeitar as particularidades do seu público ao oferecer ordenadamente os pontos elementares de um determinado tema.

Dizeres do educador “A escola é uma réplica da sociedade a que ela serve. A escola tradicional era a réplica da sociedade velha que estamos vendo desaparecer. Todos os pressupostos em que ela se baseava foram alterados pela nova ordem de coisas e pelo novo espírito de nossa civilização”. “Vida, experiência e aprendizagem não se podem separar. Simultaneamente vivemos, experimentamos e aprendemos”. “A nova escola precisa dar à criança não somente um mundo de informações singularmente maior do que o da velha escola como ainda lhe cabe o dever de aparelhar a criança para ter uma atitude crítica de inteligência”. “A escola brasileira é que lhe irá ensinar a compreender o Brasil, mostrar-lhe a sua evolução, apresentar-lhe a sua estrutura social em transformação, indicando-lhe os defeitos arcaicos e as qualidades novas em surgimento”.

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Resumo A estrutura da escola precisa ser um reflexo das necessidades do aluno e do estado da sociedade em cada momento. A Pedagogia deve ser centrada na criança e em ajudá-la a, desde pequena, a exercitar a vida em comunidade. Educação é peça-chave na democracia: ensina senso crítico, moral, patriotismo, direitos, deveres e solidariedade. Só assim o ser humano ajudará sua sociedade a encontrar um equilíbrio. O ensino é responsável por aflorar a sensibilidade, emoção e intelectual do aluno.

Centro Educacional Anísio Teixeira, no Rio de Janeiro

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Anísio Teixeira (centro) conversando com alunos da escola-parque em 1956

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Palavras-chave Ensino livresco Estilo de aprendizagem focado no uso de apostilas. Um bom professor Esse perfil deve ser física e mentalmente saudável, nutrir uma relação positiva com os alunos e buscar constantemente novas técnicas para lecionar e formas de aprimorar suas próprias habilidades. Universidade infantil Modelo de colégio que visa proporcionar à criança uma noção da vida em comunidade e todas as suas diferentes áreas. Estudo O modo de aprender uma lição. Aprendizado Aceitar e fixar na memória ou no hábito uma certa habilidade.

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Anton Makarenko 24


Ficha técnica Anton Semionovich Makarenko Pedagogo e escritor ucraniano Nascido em 1/3/1888 em Kharkov, Ucrânia, e morto em 1/4/1939 em Moscou Conceitos gerais: coletividade, pedagogia dos comandantes e ética meio termo Leia mais: Anton Makarenko: Vida e Obra – A Pedagogia na Revolução; Poema Pedagógico: 3 vols.

História pessoal Por ter uma saúde frágil, Makarenko desde cedo foi afastado das brincadeiras tradicionais infantis, tendo contato com histórias e canções da cultura popular russa. Aprendeu a ler e escrever aos cinco anos com ajuda da mãe. Em 1900, com 12 anos, sua família mudou-se para a cidade industrial Krementchung, onde ele retomou os estudos em uma escola para filhos de funcionários públicos, operários e artesãos. Lá, focou na leitura de debates políticos e obras críticas à burguesia. Em 1905, concluiu em apenas um ano o curso de magistério e começou a lecionar na Escola Primária das Oficinas Ferroviárias em Kriukov. É neste ano que Makarenko, junto a outros colegas de profissão, entraram em contato com a literatura da revolução contra o tzar. Em 1906, passou a dar aula de Língua Russa e Desenho, mas, nos anos seguintes, começou a questionar a eficiência do modelo escolar e, por isso, desenvolveu uma nova forma de educação baseada em sua experiência pessoal nas salas de aula. Em 1911, tornou-se diretor da Escola Primária das Oficinas Ferroviárias em Dolinskaia e ampliou o espaço da cultura na escola. Estabeleceu o ensino da língua ucraniana, montou espetáculos teatrais e diminuiu os cursos profissionalizantes. Com o início da Primeira Guerra Mundial, Makarenko foi estudar Pedagogia, História e Filosofia no Instituto Pedagógico de Poltava. Em 1916, foi convocado pelo serviço militar, mas logo dispensado devido ao grau alto de miopia. Em 1920, começou a trabalhar na Colônia Gorki, centro de reabilitação de ex-delinquentes adolescentes. A experiência foi decisiva no campo pedagógico para Makarenko. Teve a oportunidade de construir um método educacional por meio do qual as crianças marginalizadas conseguiam retomar as rédeas da própria vida.

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Essa proposta, porém, foi questionada pelo governo e ele afastado da colônia, partindo para a Comuna Dzerjinski. Ao conviver com crianças que também trabalhavam, inspirou-se a escrever o Livro dos Pais, ao lado da esposa Galina, no qual discute o papel da família na coletividade social. Também critica o jeito mecanizado como os alunos são tratados pelos colégios, tidos como a “matéria-prima” para o produto final, que é a sociedade coletivista. Em 1925, iniciou a escrita de Poemas Pedagógicos, a sua obra mais famosa. A partir de 1935, viveu em Moscou com a família, dedicando-se à publicação de livros e divulgação das suas ideias pedagógicas. Morreu de ataque cardíaco durante uma viagem, em 1939.

Princípios pedagógicos Makarenko testemunhou o crescimento frenético da indústria, as mudanças entre campo e cidade e as jornadas de trabalho abusivas a que eram submetidos os operários. Para ele, as escolas deveriam promover um convívio coletivo harmonioso, baseado em diretrizes pedagógicas flexíveis, adequadas à personalidade dos alunos e ao clima da turma. Achava a punição corporal ineficaz e que homens e mulheres deveriam ter a mesma participação política e mesmo papel no crescimento dos seus filhos. Na sua opinião, os parentes precisam ser sinceros e carinhosos uns com os outros e pais e filhos estão no mesmo patamar de respeito e direitos dentro do núcleo familiar.

Propostas Escola como coletividade O objetivo da escola deve variar de acordo com o momento histórico. Ela precisa centralizar menos o estudo na sala de aula e mais nos diferentes aspectos da coletividade. Um colégio não pode ser distante da vida social e adulta. Ao contrário, precisa mostrar a realidade, por meio de atividades físicas, culturais e recreativas, como aula de música, teatro, marcenaria, costura, dança, xadrez, fotografia, etc. Os educadores, por sua vez, ajudam no desenvolvimento psicológico e intelectual da criança em um espírito de camaradagem.

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A criança e o novo homem educacional Makarenko não concordava que exista um modelo fixo de criança ao qual todas as demais devem se adequar: para ele, cada jovem carrega marcas históricas, sociais, culturais e psicológicas distintas. O desafio da educação é ensinar para tantas personalidades sem massificar o processo pedagógico. No seu modelo escolar, os alunos são separados por salas, mantendo contato com os mais velhos, que podem passar ensinamentos valiosos. Todos os momentos devem ser organizados, até os de lazer. Em cada turma, é eleito um integrante para fiscalizar a limpeza dos colegas nas áreas de refeições, cumprir as ordens do dia, reunir ajuda para os atrasados em certas matérias, não deixá-los desanimar com os estudos, fornecer material nas aulas, incentivar a leitura e prática de esportes, entre outras atividades. O escolhido deve ser alguém educado, generoso, responsável e bom aluno. Ele permanece no cargo entre três e seis meses. Alegria Ela é um dos ideais da coletividade infantil e grande estímulo da vida humana. É sentida ao comer, se vestir, ler algo interessante ou criar uma relação com alguém. Makarenko afirmava que os pais não devem sacrificar a própria felicidade pelo bem dos seus filhos. Se alguém tem de abrir mão de algo são estes, pois os mais velhos possuem menos tempo de vida por vir. Assim, aprenderão a preocupar-se com a família e colocá-la em primeiro lugar.

Dizeres do educador “Devemos educar um tal indivíduo de que a nossa sociedade precise”. “O nosso material básico, a criança, é imensamente variado”. “Educar um ser humano significa formar nele capacidades para que possa escolher vias com perspectiva”. “A felicidade de um homem franco e honrado, não somente proporciona um grande benefício a ele mesmo, mas também, antes de tudo, aos seus filhos. Permita-me por isso dizer-lhes: se quiserem que seus filhos sejam bons, sejam vocês felizes”.

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Resumo É preciso adaptar o método de ensino coletivo para cada uma das crianças, pois são todas diferentes entre si. A escola deve assegurar direitos iguais entre elas e ensiná-las a enxergar suas capacidades e necessidades. O conjunto de vitórias e fracassos moldam a formação do estudante. Mesmo personalidades marcadas pela marginalidade podem ser transformadas por meio da coletividade escolar.

Alunos participam de oficinas, atividade comum na escola de Makarenko

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Palavras-chave Pedagogia dos comandantes Estilo de educação política que busca transformar a massa trabalhadora em comandante da sociedade. Tom maior Tom de voz com que professores e pais devem falar às crianças: calmo, firme, animado, sem ser enérgico demais. Eles precisam ser sempre simpáticos e amáveis e nunca podem zombar ou demonstrar frivolidade. É inadmissível que um adulto deixe transparecer irritação ou mau humor pela forma de falar. Autogestão Premissa de que, se cada criança for educada para participar da coletividade, a sociedade não precisará ser supervisionada por terceiros – ela funcionará sozinha, com seus integrantes regulando entre si. Ética meio termo Educação sem exageros ou carências: os pais não devem nem ser medrosos demais para repreender o filho quando age errado, nem abrir mão da felicidade por ele. Para alcançar um meio termo entre carinho e exigência, severidade e liberdade, os adultos precisam separar seu amor do bom senso. Permitir riscos, por exemplo, a uma criança de oito anos é saudável para estimular independência e responsabilidade.

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Ficha técnica Célestin Freinet Professor francês Nascido em 15/10/1896 em Gars, Provença-Alpes-Costa Azul, e morto em 8/10/1966 em Vence, na mesma região Conceitos gerais: aula-passeio, livro da vida, pedagogia do bom senso Leia mais: Freinet: Pensamento e Ação no Magistério; As Técnicas Freinet na Escola Moderna

História pessoal Freinet passou a infância como pastor de rebanhos na Provença. Interrompeu seus estudos de Pedagogia em 1914 para servir ao exército francês durante a Primeira Guerra Mundial. Ao voltar, em 1920, depois de dois anos tratando-se de uma lesão grave no pulmão, começou a trabalhar em uma escola primária na aldeia Bar-sur-Loup, sem qualquer experiência prática com Pedagogia. Aprendeu sozinho: anotava o que os alunos falavam, seus comportamentos, avanços, erros, personalidades. Nessa época, Freinet começou a questionar regras rígidas das escolas comuns, como sentar as crianças em filas e definir horários fixos para cada disciplina. Aboliu então sua cadeira de professor e passou a sentar-se em meio aos alunos, uma atitude inédita. Naquela escola, inventou métodos de ensino. Criou a revista La Gerbe em 1926, agregando trabalho de alunos de diversas escolas, e a Cooperativa de Ensino Leigo (CEL), para administrar a confecção e distribuição de todos esses materiais pedagógicos. Em 1928, seguiu lecionando na cidade Saint-Paul de Vence, onde incentivou a classe operária a ser mais presente na educação de seus filhos. Foi preso em 1939 durante a Segunda Guerra sob acusação de ser um líder perigoso e, no campo de concentração, promoveu palestras, grupos de estudo e oficinas. Após a Guerra, retomou seu trabalho em Vence e lutou pela definição de um número máximo de alunos por sala nas escolas – para ele, o ideal eram 25.

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Crenças pedagógicas Freinet, quem tratava seus alunos com absoluto respeito, dizia que crianças não se interessam por informações passadas em uma sala fechada, enquanto o professor fala e elas ficam estáticas. Para ele, o segredo da educação é usar a natureza e o mundo lá fora como ferramenta para explicar diversos assuntos de um jeito divertido, livre e instigante. Achava imprescindível deixar a criança desenvolver os seus gostos para, no futuro, ela encontrar uma ocupação que a faça feliz.

Propostas Aula-passeio Freinet sugeria passeios diários pelas ruas da cidade para o educador expor seus alunos a pessoas, objetos, culturas e lugares desconhecidos por eles. Atentas a tudo, as crianças veriam, por exemplo, um carteiro trabalhando e descobririam o que é feito por tal profissão. Essa é uma forma da vida entrar na sala de aula, aproximar professor e aluno e estimular a curiosidade sobre Geografia, História, Matemática e Ciências. Ao voltar para a escola, o professor deve escrever na lousa um resumo do que foi visto naquele dia. Os alunos acrescentam observações e discutem com os colegas aquilo escrito. Eles também devem copiar o resumo no seu caderno da forma como preferirem - com ilustrações, palavras diferentes, etc. Livro da vida O educador deve criar um caderno, “Livro da Vida”, no qual ele e seus alunos podem registrar acontecimentos do dia a dia que considerarem relevantes. Eles conversam sobre quais conteúdos serão incluídos e cada um participa como quiser: desenhando, colorindo, decorando com colagens. O material fica disponível para leitura de pais, conhecidos, amigos e visitantes da escola. Liberdade de expressão Escritas espontâneas e descompromissadas são um relatório do estado psicológico da criança para os adultos. Por isso os jornais escolares têm tantas funções pedagógicas: no processo de sua realização, as crianças aprendem o domínio da língua, a interpretar dados, ter senso crítico,

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defender suas ideias, construir argumentações longas e complexas, coordenar reuniões e seguir planos e cronogramas. Ou seja, acabam virando cidadãos mais conscientes e produtivos. Método natural da escrita e da leitura Contrário às cartilhas escolares, que faziam a criança decorar palavras em vez de entender suas construções, Freinet inventou um método de alfabetização. Ele escrevia frases com termos que as crianças conheciam do dia a dia e dava para elas lerem intuitivamente. Com o tempo, passavam a descobrir sozinhas o som de cada letra e a lógica semântica. Segundo o francês, era preciso confiar na capacidade dos alunos e deixá-los conduzir seu próprio aprendizado. Fichário escolar Uma espécie de livro montado pelo próprio professor. Ele compõe fichas sobre assuntos específicos e as reúne em brochuras. A qualidade é avaliada pelos alunos e, se for o caso, o material é corrigido. Tempo livre Freinet defendia 30 horas semanais de estudo na escola. Na sua época, a carga horária para os operários era de 40 horas por semana, mas os filhos muitas vezes passavam até mais tempo do que isso nas aulas, sendo obrigados a fazer uma longa lista de lições e sem tempo para brincar. Em comparação, hoje no Brasil os currículos das escolas variam entre 25 e 40 horas semanais. O tempo vago, quando a criança não estiver estudando, deve ser usado para aprender algo por vontade própria, que ela mesma escolha por estar motivada. Assim, esses momentos não são inúteis, mas de entrega a uma atividade prazerosa. Textos livres e jornal escolar Freinet teve a ideia de juntar todas as anotações feitas pelas crianças sobre as aulas-passeio e publicá-las para que os pais e os próprios alunos pudessem reviver aqueles momentos lendo o trabalho. Ele conseguiu então a impressora e demais materiais necessários e ensinou os estudantes a lidarem com a tipografia. Cada um tinha a liberdade de escrever sobre, quanto e como quisesse. Toda a classe trabalhava junta na correção dos textos selecionados e na sua impressão. Ao final do mês, a

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turma tinha o Jornal de Textos Livres. A proposta fez tanto sucesso que outras escolas começaram a adotá-la e seus alunos passaram a se comunicar entre si por meio desses jornais e de cartas, chamadas de “correspondência interescolar”.

Dizeres do educador “A verdadeira disciplina não se institui fora da escola (...). Ela é uma consequência natural de uma boa organização do trabalho cooperativo e do clima moral da aula. A experiência mostrou-nos que, quando a aula está bem estruturada, quando as crianças realizam todas, individualmente ou em grupo, um trabalho interessante que se inscreve no quadro da vida escolar, alcançamos a harmonia quase ideal”. “Lutar pelo advento de uma sociedade na qual a criança possa desenvolver-se integralmente, o mais humana e harmoniosamente possível, criar o clima favorável ao seu desabrochar, que desejamos e preparamos, é um dos primeiros deveres pedagógicos”.

Resumo Pedagogia não é algo estático. Se surgirem novas técnicas e tecnologias que possam facilitar o trabalho do educador, elas devem ser usadas. Inteligência, habilidade artística e interesse científico são cultivados por meio de pesquisas, atividades experimentais, entrevistas, passeios e criações livres durante a infância. A escrita coletiva e impressão de jornais colaborativos entre alunos servem de libertação para o pensamento infantil. Respeitar a criança significa ter a certeza de que ela defenderá o direito de todos e o senso de coletividade quando crescer. Na escola Freinet, o professor é um guia, um amigo que encoraja os alunos a tomarem suas próprias decisões e se responsabilizarem pelas atitudes escolhidas.

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Alunos de escolas FreinĂŠt lidam com a prensa escolar e o Livro da Vida

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Palavras-chave Audiovisual Freinet incentivava que crianças usassem recursos audiovisuais para aprender, como fotografia, montagens, gravações e filmes. Tipos de aula-passeio As excursões escolares podem ser divididas entre três tipos: “passeio-informação” (para aprender uma profissão), “passeio-repouso” (uma hora de lazer) ou “passeio-estadia” (de duração mais longa e contato com a natureza). Essas atividades têm que ser bem planejadas para proporcionar às crianças uma aprendizagem natural. Elas não devem ser obrigatórias e os alunos podem sugerir roteiros. Autoavaliação Na pedagogia Freinet, em vez de provas e notas, o aluno preenche relatórios dizendo o que acha dos trabalhos que fez e comparando sua qualidade à dos anteriores. Os professores devem ajudá-lo nesse processo de recordação e ele mesmo preenche fichas parecidas sobre seu próprio desempenho. Caixas de trabalho Conjunto de materiais para construção, montagem e pesquisa. Ele é usado em trabalhos manuais, artísticos, experiências de Ciências e cálculos matemáticos. Cantos Cada sala de aula é dividida em cantos de trabalho destinados a atividades específicas para um número limitado de estudantes e com o material disponível para uso. Sem a interferência adulta, as crianças socializam e colaboram umas com as outras. Invariantes pedagógicas Manual criado por Freinet para orientar professores sobre seus princípios a respeito da natureza da criança, reações infantis e técnicas educativas.

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Tateamento experimental Reflexรฃo que a crianรงa faz sozinha, sem a ajuda dos pais ou mestres, enquanto vai descobrindo aspectos novos do mundo. Se um adulto interfere nessa jornada, existe o risco dele deixar a crianรงa desinteressada pelo que estรก estudando.

Estudantes durante uma aula-passeio

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Constru

tivismo 38


Ficha técnica Construtivismo, desdobramento dos conceitos pedagógicos chamados Epistemologia Genética e Escola Nova ou Ecola Ativa Período: século XX até hoje Elaborado inicialmente na Suíça e aprimorado na Argentina Leia mais: Construtivismo: de Piaget a Emilia Ferreiro; Construtivismo: Grandes e Pequenas Dúvidas

Princípio pedagógicos O Construtivismo surgiu, em meados do século XX, como alternativa às correntes pedagógicas tradicionais de sua época. Uma das bases do Construtivismo são as pesquisas desenvolvidas por Jean Piaget*, quem nutria uma grande curiosidade sobre a inteligência e focou seus estudos nas diversas etapas da construção do conhecimento. Ele sugeria que o intelecto era aprimorado de acordo com o que o resto do corpo sentia e com as experiências vividas pela pessoa. A análise de Piaget sobre a aprendizagem não tratava, porém, do processo de aquisição da escrita, que seria percebido e adicionado ao Construtivismo posteriormente por Emilia Ferreiro*. Ela também traria a visão de quanto o contexto social, econômico e familiar impacta o aprendizado. Essa corrente pedagógica fora influenciada também pelas ideias de outros pensadores, como Lev Vygotsky*. Ela foi elaborada e alterada em conjunto ao longo dos anos e influenciou o trabalho de diversos outros educadores - John Dewey* e Maria Montessori* são alguns deles.

Propostas O aluno influencia ativamente na sua própria interação com o mundo. A apreensão de conhecimento deriva do esforço intelectual de aprender algum aspecto desse meio. Por isso, nem tudo o que é ensinado é aprendido - porque, para reter esse ensinamento, é imprescindível que se demonstre interesse pelo conteúdo.

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A aprendizagem da escrita é um processo contínuo - ou seja, escrever é algo que se desenvolve naturalmente e que começa antes mesmo de a criança entrar na escola. Quanto mais cedo ela refletir sobre a escrita e observar o registro gráfico e outras pessoas fazendo uso dele, mais rápido ela saberá ler e escrever. A alfabetização também precisa desencadear reflexões abstratas. Não adianta treinar a criança a traçar letras perfeitas se ela não tiver a liberdade para pensar sobre como a escrita funciona. Crianças vindas de setores mais humildes da sociedade costumam ter mais dificuldade de perceber o valor da escrita e seu uso em atividades diárias. Essa falta de situações produtivas para aprender a ler e escrever culmina na diferença de níveis de alfabetização entre alunos da mesma idade.

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Palavras-chave Funcionalismo Corrente teórica que, quando aplicada ao ramo da pedagogia, explica o ser humano como um organismo que “funciona”, ou seja, passa por uma série de processos psicológicos e físicos ao longo de sua existência, os quais devem ser apoiados e aflorados pela educação. Verbalismo Realidade escolar em que conteúdos são passados de forma ineficaz, por meio de discursos vazios, tediosos e desconexos da vida cotidiana do aluno.

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Edgar Morin 42


Ficha técnica David-Salomon Nahum e, posteriormente, Edgar Morin Epistemólogo, filósofo e sociólogo francês Nascido em 8/7/1921 em Paris Conceitos gerais: ética da solidariedade, pensamento sistêmico e pensamento complexo Leia mais: Edgar Morin: Ética, Cultura e Educação; Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro

História pessoal Filho único, Nahum perdeu a mãe aos dez anos, acontecimento que, parcialmente, foi responsável por fazê-lo refletir sobre vida e morte, conceitos fundamentais no seu pensamento antropológico. Foi criado pelo pai e a tia, os quais lhe deram uma educação sem padrões morais e religiosos rígidos. Estudou Direito e aventurou-se de forma autodidata nos campos da História, Geografia, Sociologia e Filosofia. Durante a vida adulta, o francês passou a apreciar cinema e literatura e a repensar preceitos éticos e de cidadania. Com 20 anos, filiou-se ao Partido Comunista Francês e atuou como combatente da Resistência Francesa pelos anos seguintes. Obrigado a viver como clandestino na cidade francesa de Toulouse durante a Segunda Guerra Mundial, adotou o pseudônimo Edgar Morin. Em 1951, entrou no Centro Nacional de Pesquisa Científica e, 19 anos mais tarde, co-fundou o Centro Internacional de Estudos Bio-antropológicos e de Antropologia Fundamental (CIEBAF). Suas ideias educacionais tornaram-se mais robustas no final dos anos 90, período em que lançou cinco livros sobre o assunto. Hoje, Morin dedica-se a ministrar palestras e congressos, realizar entrevistas e conduzir pesquisas nos campos em que é especialista.

Princípios pedagógicos Uma das maiores contribuições de Morin para o entendimento da sociedade atual foi a forma como ele interpretou o impacto da globalização, avanço da tecnologia e queda do comunismo. A complexidade do mundo deve ser explorada, não ignorada, e quem deve fazer isso é, em especial, a

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escola. Ele acredita que ciência, democracia, civismo e ética precisavam estar interligados em equilíbrio para manter uma comunidade harmoniosa. O sentimento comunitário entre pessoas de uma mesma cultura, linguagem e tradições é algo natural e precioso. Por ditar que a educação deve ser capaz de oferecer uma formação ética ao aluno e ensiná-lo senso de responsabilidade, suas ideias exigem disposição por parte do professor para que repense sua prática constantemente.

Propostas Pensamento complexo A reforma do pensamento deve começar no ensino elementar, quando a criança ainda se relaciona intuitivamente com os outros e raciocina misturando tudo o que aprende. Os adultos foram ensinados desde pequenos a enxergar o mundo por matérias “compartimentadas”: no horário da aula de Geografia, só se estuda Geografia, e não Matemática ou Artes. Eles perderam a capacidade de abstrair porque, ao aprenderem disciplinas separadamente, não perceberam que, na verdade, todas se relacionam. Raciocínio Decorar conteúdos em vez de compreender seu uso pode parecer um jeito mais fácil de estudar, mas, nas palavras de Morin, é falho porque “a memória está sujeita a erros e ilusões”. O lado emocional e a lógica devem andar de mãos dadas durante a busca pelo conhecimento, cuja finalidade é ajudar a pessoa a lidar com suas dúvidas. Paixão, curiosidade e rigor científico são fatores cruciais para a inteligência. Programa de ensino interrogativo Tal modelo pedagógico é ideal para a escola primária da sociedade moderna, período no qual o estudante entra em contato com a natureza biológica, psicológica e social do ser humano. Esse sistema interroga o ser humano, vasculha sua essência psicológica, social e biológica para dimensioná-la e usá-la como instrumento ao aprendizado. Nessa fase, deve aprender a aprender, isto é, analisar, comparar e sintetizar as informações que recebe.

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A principal tarefa do educador é incentivar a autoanálise e problematizar para os alunos o que está prestes a explicar, desafiando preconceitos e dogmas que eles conheçam. Noções de Ecologia, Cosmologia e Ciências em geral são cruciais para despertar o fascínio infantil pela história e desenvolvimento do planeta Terra e da Humanidade. O sistema deve prosseguir na escola secundária, com um diálogo mais aprofundado e reforçado pelo uso de Literatura e Filosofia em sala de aula.

Dizeres do Educador “A compartimentalização das disciplinas impossibilita a percepção do que é tecido conjuntamente, isto é, segundo o sentido original do termo, o complexo”. “Temos um pensamento que separa muito bem, mas que reúne muito mal”.

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Resumo A sociedade precisa de uma reforma no pensamento. As disciplinas devem conversar entre si. Só assim as crianças aprenderão que tudo no mundo é interligado e nenhum conhecimento é independente de outros. O aluno deve aprender desde pequeno a autoavaliar-se e olhar criticamente o que aprende. Uma sociedade só existe se os seres humanos interagirem entre si. Dessas interações nascem a educação, linguagem e cultura, responsáveis por torná-los mais sensíveis e moldar quem são. Toda cultura deve ser valorizada e nenhuma pode ser considerada superior a outra diferente.

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abc

Palavras-chave: Complexidade União entre os diversos saberes que aparentam desunidos. A mente humana é, ao mesmo tempo, lúdica e racional, emotiva e pragmática. Pensamento sistêmico Forma de enxergar o mundo: a partir de um todo, vai analisando suas partes. Hologramático Não só toda parte está dentro de um todo, mas também o todo está em toda parte. Na prática: o indivíduo faz parte da sociedade e esta está enraizada dentro do indivíduo. Sete saberes necessários à educação do futuro Lista montada por Morin a pedidos da ONU, elencando os próximos passos a colocar em prática na busca por uma melhor educação. Estes são: estudar o conhecimento, rever conteúdos ensinados em escolas, analisar a condição humana, abordar as relações sociais pelo ponto de vista global, usar a ciência como base para combater as incertezas, banir mentalidades preconceituosas como racismo e homofobia e, por fim, instituir uma ética global, guiada pela noção de que todos os humanos são parte de um mesmo coletivo.

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Édouard Claparède 48


Ficha técnica Édouard-Jean Alfred Claparède Médico, psicólogo, educador e cientista suíço Nascido em 24/03/1873 em Genebra e morto em 29/09/1940 em Genebra Conceitos gerais: escola sob medida, educação funcional e funcionalismo biológico Leia mais: Educação Funcional; Coleção Educadores MEC: Édouard Claparède

História pessoal Vindo de uma família calvinista com outros quatro irmãos, Claparède cresceu sem pressões, aproveitando a infância junto à natureza. Desde pequeno, admirava o tio biólogo, grande fã de Charles Darwin - cujas teorias iriam repercutir profundamente em suas futuras palavras. Após perder o pai com 15 anos, cogitou dedicar sua vida à religião. Em 1892, começou a frequentar a disciplina de Psicologia Experimental na Faculdade das Ciências de Genebra e, no ano seguinte, cursou Medicina na cidade alemã de Leipzig - o estudo foi concluído na Universidade de Genebra. Por volta de 1890, Claparède colaborou com uma escola dedicada ao atendimento de crianças deficientes e defendeu sua recém-elaborada teoria da “escola sob medida”. Seu primeiro livro, Psychologie de L’enfant et Pédagogie Expérimentale, foi publicado em 1905. Nele, o autor estabeleceu pela primeira vez um resumo dos seus principais argumentos pedagógicos: uma crítica contra a escola tradicional e a defesa da ciência e da objetividade na prática educacional. A partir daí, Claparède produziu artigos para revistas da época e diversas outras obras, somando mais de 600 até o final de sua vida.

Princípios pedagógicos Ao longo de sua carreira, Claparède desenvolveu teorias no campo da Psicologia Experimental, que provocariam polêmica entre pensadores das Ciências Humanas e, ao mesmo tempo, influenciariam intelectuais como Sigmund Freud e Jean Piaget*.

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Suas obras são permeadas por rigor intelectual e exigências morais. Para ele, a Pedagogia não deveria tratar a criança como rei e o professor deveria aprender sobre cada criança em particular. Apesar da importância das propostas de Édouard Claparède e seu olhar inédito sobre o ramo daPedagogia e Psicologia Infantil, esse educador nunca recebeu grande seriedade por parte de seus colegas, principalmente por não ter conseguido aplicar seus argumentos teóricos e abstratos na dinâmica prática das salas de aula.

Propostas Escola sob medida A escola deve ser mais parecida com um laboratório do que com um auditório. Suas aulas devem engajar e despertar curiosidade e pensamento crítico, em vez de só apresentar informações. A educação não pode, portanto, matar os estudantes de tédio tratando temas inúteis de maneiras desinteressantes. O autor criticava a forma como o sistema tradicional de ensino da época beneficiava somente os alunos medianos e prejudicava o desenvolvimento das mentes mais brilhantes. Na sua opinião, para todos os alunos alcançarem seu potencial, a escola deveria reunir os estudantes com mais facilidade em uma classe e dar a eles conteúdo mais avançado, enquanto aqueles que encaravam dificuldades de aprendizado estudariam juntos em outra sala. É na escola que os alunos aprenderão as habilidades requisitadas no futuro profissional. Por isso, ela deveria ensinar a sociedade a valorizar igualmente as aptidões intelectuais e manuais para diminuir a distância entre os estratos sociais. A cidadania e o comportamento que a sociedade espera de um indivíduo também deveriam ser transmitidos para o aprendiz. Interesses e necessidades O interesse é o motor da educação. E o instinto natural do ser humano, quando se depara com uma nova informação ou desafio, é dizer se essa pessoa tem ou não interesse por aquele assunto – a resposta é sentida inconscientemente. Isso significa que o aluno consegue perceber desde cedo quais são suas necessidades: construir, agir e se desenvolver.

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A criança é responsável por seu aprendizado. E o processo educativo deve estar ao seu dispor, não o contrário. Ensinos sobre o meio e a natureza, por exemplo, devem ser valorizados no meio escolar desde a tenra idade. Mas Claparède não explicou como essa e a maioria das demais propostas poderiam ser colocadas em prática. Crescimento Quando a criança é apresentada a uma situação que nunca experimentou antes e não sabe como resolvê-la, porque a comparou com tudo o que conhece e não achou nenhuma solução compatível, ela decide chutar, o que acaba levando a novas lições. Acreditar que tudo o que já funcionou um dia não falhará quando chegarem condições parecidas pode, porém, desenrolar efeitos negativos - como, por exemplo, alguém que foi mordido uma vez por um cão achar que todo animal irá feri-lo. Aptidões Existem vários tipos de mente: observadora, intelectual, passiva, sonhadora, artista, manual, etc. Elas se cruzam criando inúmeras combinações de personalidade. A escola tradicional só reconhece, entretanto, os alunos literários e científicos, deixando de lado todo esse outro espectro de percepções de mundo. Jogos Durante a infância, as atividades lúdicas devem ser mais valorizadas do que a memorização. E a principal vontade de uma criança é sempre brincar e participar de jogos, pois é assim que ela descobre novos interesses. Na vida adulta, esse aprendizado será substituído pelo trabalho. Os conteúdos dos jogos também podem ser compensadores. Se uma criança possui, por exemplo, um senso de inferioridade, nesse passatempo ela ganha a chance de desempenhar um papel dominador, que ela nunca teria na vida real. Assim, ela satisfaz positivamente um desequilíbrio emocional.

Dizeres do educador “Notemos que toda a atividade mental nada mais é do que um desses mecanismos de proteção e, poder-se-ia dizer, o mecanismo protetor por excelên-

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cia, por isso que a atividade mental é, antes de mais nada, uma atividade de previsão e a proteção envolve previsão. Essa antecipação das reações ao perigo é de tal importância na vida animal que a formularemos, adiante, como lei fundamental da conduta”. “Quando uma necessidade é satisfeita, desaparece, deixa de ser causa de atividade. Mas, então – e isso é verdadeiro, sobretudo, no domínio psicológico – essa necessidade é logo substituída por outra”. “Ora, como quereis que a criança aprenda a amar o trabalho, quando se lhe faz executar, antes de mais nada, tarefas para as quais não tem aptidão e, por conseguinte, nas quais está, de antemão, certa do fracasso?”. “O interesse, eis a grande alavanca que dispensará as outras. Chegou a hora de substituir a pedagogia de uma dimensão – que coloca todos os alunos em fila indiana e numa só linha – por uma pedagogia de duas dimensões que, a par das diferenças inegáveis de capacidade de trabalho, leve em conta principalmente os diversos tipos de aptidões, tipos esses que devem ser colocados no mesmo plano e não uns atrás dos outros”. “Criemos o mais depressa possível este meio favorável, que permita a cada um dar o seu máximo e expandir sua personalidade. E não esqueçamos que, trabalhando para o indivíduo, desenvolvendo sua capacidade, sua originalidade, valorizando suas forças e suas riquezas latentes, trabalhamos também, e sobretudo, pela sociedade.”

Resumo Nosso próprio corpo consegue nos indicar se estamos interessados por algo. O interesse é o motor da educação e deve ser continuamente estimulado para que se aprendam novas lições. A criança precisa buscar sozinha o aprendizado. O professor é apenas um guia nessa procura. É por meio de jogos e brincadeiras que a criança entra em contato desde cedo com seus interesses pessoais e consegue desenvolvê-los.

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Aulas em que os alunos sejam segregados de acordo com seu desempenho escolar ajudariam a dar o reforço que aqueles com mais dificuldade precisam, sem prejudicar a evolução dos mais brilhantes. No colégio, o aluno deveria aprender as habilidades sociais que serão exigidas na vida adulta. abc

Palavras-chave Educação atraente Claparède não gostava quando atribuíam tal termo à sua corrente pedagógica. Achava que nem tudo o que é atraente, baseado em desejo, leva a um interesse intelectual e ao aprendizado. Psicologia funcional Estuda o papel que certos processos psicológicos têm sobre o bem estar e vida do indivíduo. Por exemplo, o que acontece em seu organismo quando ele tem raiva, pensa em um determinado assunto, identifica-se com um jogo, etc. Lei da necessidade Toda necessidade biológica provoca reações que buscam satisfazê-la. Lei da extensão da vida mental O desenvolvimento do psicológico é proporcional à diferença entre as necessidades e o meio para satisfazê-las. Se a diferença é nula, como ao respirar ou tossir, não existe atividade mental. Se a diferença é grande – como a fome, que exige a obtenção de comida para ser satisfeita -, há atividade mental extensa. Lei da reprodução do semelhante Quando uma pessoa sente uma necessidade, seu impulso é reagir contra ela repetindo aquilo que usou anteriormente numa situação parecida e funcionou.

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Ficha técnica Emilia Beatriz María Ferreiro Schavi Psicóloga e pedagoga argentina Nascida em Buenos Aires em 1937 Conceitos gerais: psicogênese da língua escrita, Construtivismo*, Escola Nova e Escola Ativa Leia mais: Alfabetização em Processo; De Emílio a Emília: Pensamento e Ação no Magistério; Construtivismo: de Piaget a Emilia Ferreiro.

História pessoal Emilia Ferreiro doutorou-se em Psicologia na Universidade de Genebra e lá recebeu orientação e colaboração do psicólogo Jean Piaget*. Ela deu continuidade ao conceito de Epistemologia Genética por ele desenvolvido, aplicando-o e estudando-o em casos reais, além de adicionar novos aspectos não pensados por Piaget, principalmente o da escrita. Antes disso, Ferreiro conduziu seus primeiros estudos ainda na Argentina, sua terra-natal. Lá, ela atuou principalmente com a psicóloga Ana Teberosky, com que pesquisou sobre os conhecimentos das crianças sobre escrita e leitura. Ela trabalhou ao longo dos anos com diversos outros especialistas, muitos deles latino-americanos. Suas experiências documentadas provaram como crianças de idiomas diferentes demonstram comportamentos similares durante a aquisição da escrita e da leitura. As conclusões são utilizadas até hoje no Brasil como referência sobre o processo de alfabetização infantil. Atualmente, Ferreiro é professora do Centro de Investigação de Estudos Avançados do Instituto Politécnico Nacional do México.

Princípios pedagógicos: Para Ferreiro, a alfabetização é o tipo mais básico de aprendizagem. Ela é uma prática assimiladora, interativa e construtiva, não registradora. A argentina afirma também ser necessário parar de enxergar a leitura e escrita como uma técnica mecânica – não basta saber de cor o alfabeto e conseguir desenhar letras se por trás não houver uma tentativa de estabelecer um vínculo comunicativo.

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As obras de Emilia Ferreiro foram então pioneiras ao reconhecer os processos presentes na aquisição da escrita e descobrir que existe um significado e intenção por trás dos rabiscos feitos pelas crianças menores.

Propostas Níveis de alfabetização Usando algumas das ideias de Piaget*, Emilia percebeu que, na sua época, o educador via a criança como alguém que só aprendia por meio da intervenção de um terceiro. Assim, os adultos incentivavam os alunos a escreverem corretamente ou simplesmente a não fazê-lo, o que poderia acabar desmotivando a curiosidade infantil pelas palavras. Seguindo esse pensamento, Ferreiro acredita existirem cinco estágios da escrita infantil: Nível 1: A criança mal difere a grafia de cada palavra e seus rabiscos são todos parecidos. Ler é muito difícil e, se repetir duas vezes a leitura da mesma palavra, a dirá com significados distintos. Nível 2: Surge a necessidade de distinguir a grafia das palavras, seus significados e as intenções de quem as escreveu naquele determinado momento. A criança usa as poucas letras que já conhece para constituir o maior número possível de combinações. Nota-se aí a lembrança da escrita das palavras-chave do seu universo cultural, como o seu nome. Ela o decora de forma fixa, o que pode, por um lado, confundi-la ao anotar termos desconhecidos e, por outro, servir de modelo para o aprendizado destes. Nível 3: O aluno começa a relacionar a sonoridade do que está sendo escrito e a maneira como escreve, além de atribuir um som a cada letra ou sílaba esboçada. Cada letra, porém, não representa para a criança o som que ouvimos ao pronunciá-la verbalmente. Para ela, a letra V, por exemplo, representa a sílaba “ma” de marinheiro.

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Outro aspecto curioso desse nível é que os aprendizes consideram palavras longas, com mais de uma ou duas sílabas, ruins e desconfortáveis de ler por serem muito “juntas” ou repetitivas. Nível 4: A criança tenta soletrar palavras foneticamente e, por isso, passa a acrescentar algumas letras que faltavam no que costumava escrever até então. Ela compreende que um termo não é uma caixa fixa e imutável, o que demonstra uma evolução na sua lógica linguística. Nível 5: A legibilidade dos rascunhos melhora, mas a ortografia ainda tem que ser aprimorada. Essas falhas não refletem burrice ou erros, mas os detalhes do caminho que a criança percorreu até melhorar sua linguagem. A descoberta da linguagem Quando começa a aprender sobre as letras, a criança já tem um extenso repertório linguístico, ignorado pela maioria dos professores por soar errado ou não estar escrito certo. A primeira dificuldade do processo de alfabetização é desvendar o que alguns riscos no papel querem dizer no mundo real e como os sentidos são organizados graficamente. Para entender qual som cada letra emite, é preciso construir relações simbólicas entre escrita e conversa. Influência do meio sobre a educação Ferreiro mostrou que o ambiente social ao qual a criança é exposta influencia seu desenvolvimento educacional. Por observar desde cedo pessoas mantendo contato com idiomas de diversas formas - folheando o jornal, digitando um e-mail, assistindo televisão, etc -, a criança já começa a questionar o que eles significam no dia a dia. As pesquisas da argentina demonstraram, por exemplo, que crianças da classe média tinham uma melhor capacidade de diferenciar o uso de números e letras e de nomear cada uma delas, além de separar vogais e consoantes e até atribuir sonoridades às sílabas iniciais de cada nome - como C sendo “ca” de Camila. Tudo isso é resultado de uma boa base cultural transmitida pela família.

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Essa discrepância do grau de exposição à linguagem repercutirá, portanto, no futuro desempenho escolar do aluno. Legibilidade das palavras No princípio da alfabetização, a criança acredita que as únicas palavras possíveis de ler são as com até três letras diferentes entre si. As frases manuscritas, por emendarem visualmente uma sílaba na outra, complicam o raciocínio da criança que tenta distinguir as sílabas que compõem esse conjunto. Ou seja: quando ainda estão aprendendo a escrever de um jeito “adulto”, os alunos gostam de variedade. Para ampliar o seu repertório, é preciso ler mais e mais. Distinção entre letra e número Segundo Ferreiro, existem três momentos de diferenciação entre números e letras: Primeiro momento: Há uma confusão entre os dois porque a criança os enxerga como símbolos que não significam nada e, portanto, poderiam ser usados juntos. Segundo momento: Começa a distinguir a função de cada um: letras são para ler e números para contar. Descobre também o nome de todas as vogais e consoantes. Terceiro momento: O aluno volta a ficar confuso ao perceber que os adultos conseguem ler palavras e números, enquanto também contam dígitos e histórias. Mas já conhece todas as letras do alfabeto e percebe semelhanças entre elas - como o W sendo o M ao contrário. Isso demonstra uma exploração intensa por parte da criança.

Dizeres do educador “Quando uma criança escreve tal como acredita que poderia ou deveria escrever certo conjunto de palavras, está nos oferecendo um valiosíssimo documento que necessita ser interpretado para poder ser avaliado”.

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“Pretendemos demonstrar que a aprendizagem da leitura, entendida como questionamento a respeito da natureza, função e valor desse objeto cultural que é a escrita, inicia-se muito antes do que a escola imagina, transcorrendo por insuspeitados caminhos. Que, além dos métodos, dos manuais, dos recursos didáticos, existe um sujeito que busca a aquisição do conhecimento, que se propões problemas e trata de solucioná-los, segundo sua própria metodologia”. “O conhecimento procede, pois, das ações, e toda ação que se repete ou se generaliza por aplicação a novos objetos gera, por isso mesmo, um ‘esquema’, ou seja, uma espécie de conceito práxico”. “Só o funcionamento da inteligência é hereditário, e só gera estruturas mediante uma organização de ações sucessivas, exercidas sobre os objetos”. “O conhecimento do mundo exterior começa por uma utilização imediata das coisas, enquanto o conhecimento do eu é detido”.

Tentativas de escrita no nível 1 de alfabetização

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Resumo Antes de ler e escrever, a criança já tem um conhecimento da língua e de suas particularidades. Isso porque ela testemunhou ao longo do tempo um mundo repleto de letras e palavras e a maneira como as pessoas interagiam com elas. Existe uma linguagem por trás das letras segundo a qual a criança guia sua lógica. Por isso, chamar de confusão o período em que ela não domina totalmente a estrutura e organização adulta de frases é negar o sistema lógico que ela demonstra enquanto está aprendendo. O aprendizado da leitura e escrita não será o mesmo para crianças de estratos sociais distintos porque a classe média e as classe mais humildades oferecem oportunidades diferentes de receber as palavras antes da escolarização. Entender como a criança aprende é crucial para que o educador consiga unir a curiosidade espontânea dela com um sistema de ensino escolar. Esvaziar as palavras de sua função social, por mais que pareça facilitar a alfabetização infantil, só transformará os aprendizes em leitores pela metade. O conhecimento é atualizado ao reciclar informações velhas e adicionar novos dados. Para acomodar essa sabedoria recém-chegada, o intelecto adapta a sua estrutura. abc

Palavras-chave Reestruturação Durante a alfabetização, a criança não vai apenas recebendo e acumulando novas conhecimentos. Ela cresce intelectualmente conforme “encaixa”as informações que acabou de recolher entre as que já possuía. Escrita pré-silábica Estágio da alfabetização em que a criança escreve com traços pouco definidos, que escapam o limite da página se aproximam das letras de forma. Ela só consegue ler palavras com um mínimo de três letras.

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Escrita silábica Estágio da alfabetização em que o aluno começa a entender a relação entre som e leitura. Tenta atribuir um fonema a cada palavra, ditado normalmente pela primeira letra, e passa a perceber a divisão de sílabas. Escrita silábica-alfabética Estágio da alfabetização em que a criança intercala escrita de acordo com o som e a grafia das sílabas. A primeira letra de cada palavra não é aleatória: ela corresponde ao valor sonoro da primeira sílaba. Escrita alfabética Estágio em que a alfabetização será completa. A pessoa compreende a combinação de letras para formar sílabas e palavras e a relação fonética com essas grafias.

Escrita infantil na fase silábica-alfabética

Rascunhos da fase pré-silábica da afabetização

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Friedrich

Frรถbel 62


Ficha técnica Friedrich Wilhelm August Fröbel Pedagogo, agrimensor e cristalográfico alemão Nascido em 21/4/1783 em Oberweissbach e morto em 21/6/1852 em Schweina Conceitos gerais: filosofia da esfera e jardim de infância Leia mais: Friedrich Fröbel: o Pedagogo dos Jardins de Infância; A Educação do Homem; Coleção Educadores MEC: Friedrich Fröbel

História pessoal Filho de um pastor, Fröbel nutriu durante a infância e adolescência um amor pela natureza e a fé cristã. Por pressão do pai, se tornou agrimensor e só após sua morte foi para Frankfurt, em 1805, trabalhar de maneira auto-didata na escola modelo de Pestalozzi*, que influenciou toda sua Pedagogia. Encontrando sua vocação, viveu de 1808 a 1810 em Yverdon, na Suíça, familiarizando-se com o método do educador e tentando implantá-lo em uma outra escola da região. Em 1811, estudou Ciências Naturais e forjou o que chamou de “filosofia da esfera” - a sugestão de que o ambiente escolar deveria lembrar o da casa. Seis anos depois, criou em Keilhau o Instituto Geral Alemão de Educação. Atuou lá até 1831, período no qual redigiu a maioria das suas obras e onde aplicou mais plenamente suas teorias pedagógicas. Desde então, tentou trabalhar em diversas outras instituições e orfanatos, não alcançando grande sucesso ao aplicar suas propostas. Nos anos 1830, Fröbel abandonou sua proposta da esfera e partiu para a inauguração do Jardim de Infância Geral Alemão na cidade de Bad Blankenburg em 1840. A prática foi proibida pelo governo da Prússia 11 anos depois.

Princípios pedagógicos As teorias de Fröbel são fundamentadas no Cristianismo e em referências de Filosofia, Antropologia, Fisiologia, Ética, Pedagogia e Cristalografia estudadas por ele. Ele dá grande valor à divindade e a uma sinergia entre educação e Ciências, as quais, na sua opinião, não existe uma sem a outra.

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Propostas Filosofia da esfera Linguagem e sensibilidade física são os motores da vivência da criança, que vai explorando tudo o que a rodeia, principalmente a natureza. A função do ensino seria encorajar uma união entre o interno e o externo desse ser humano: absorver a realidade do mundo e entender sua lógica, enquanto as habilidades pessoais vão sendo desenvolvidas. Assim, aos poucos a pessoa vai harmonizando a prática às duas dimensões da sua vida. A filosofia da esfera proposta por Fröbel sugere então que as atividades pedagógicas se apropriem da realidade externa e a trabalhem para facilitar que o aluno interiorize essas informações. Ou seja, que seja feita, por meio do ensino, uma união entre a esfera pessoal da criança - o que ela sente e sabe - e a esfera exterior do mundo - o que se pretende que ela aprenda. A esfera escolar e a esfera domiciliar também devem lembrar uma à outra, ambas com um clima íntimo, familiar e acolhedor. Tais questões são tidas pelo alemão como fundamentais para o ensino escolar e os jogos educativos. A teoria do jogo Para Fröbel, brincadeiras infantis não são uma prática fria, e sim a base experimental que ajudará a criança a ser no futuro alguém ativo, capaz e saudável. Tal método dependente de jogos e brinquedos continua sendo usado até hoje na educação pré-escolar em diferentes países. Os pais A participação do pai e da mãe nos jogos das crianças é levada a sério pelo educador. Ilustrações e encenações com os dedos são algumas das vivências cotidianas que os pais devem observar e nelas intervir. O amor é demonstrado ao jovem quando o adulto participa da brincadeira, ajudando com sugestões e explicações. Segundo Fröbel, os pais também devem estimular o contato com a natureza e reproduzir no lar atividades da sala de aula, entre eles ensinar sobre orações e o funcionamento do corpo, exercitar a linguagem, fazer trabalhos domésticos e manuais (como lidar com madeira, cartolina e plástico), etc.

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Jardim de infância O sonho de Fröbel era transformar a família no foco da educação e, para isso, planejava aplicar sua teoria da esfera desde a infância, junto com os materiais de jogos que criou. Ele abandonou um pouco essa ideia de recrutar os parentes para a educação ao criar o conceito de jardim de infância. Nele, profissionais cuidariam dos bebês de três a seis anos, fazendo-os brincar com brinquedos geométricos, jogos de movimento - corrida, dança, mímica, etc - e cultivar em jardins - para compreender a natureza. Essas técnicas seriam a base do acolhimento e do desenvolvimento intelectual fornecidos pelo jardim de infância. A proposta se destacava entre as creches da época por não se preocupar em fabricar cidadãos úteis, e sim aguçar a percepção e a intuição infantil e formar bons seres humanos. Hoje, Friedrich Fröbel ainda é lembrado pelo jardim de infância que, após sofrer diversas alterações ao longo das décadas, continua sendo usado em escolas ao redor do mundo - porém, sem as exigências pedagógicas concebidas por seu idealizador.

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Dizeres do educador “A finalidade da educação é encorajar e guiar o homem – ser consciente, pensante e perceptivo – para que se torne, por sua própria escolha, uma representação pura e perfeita dessa lei interior divina; a educação deve mostrar-lhe os caminhos e os meios de atingir esse objetivo”. “Deixemos que nossos filhos se manifestem espontaneamente para que eles sejam os que deem algum conteúdo, algum valor à nossa linguagem, alguma vida aos objetos que nos rodeiam. Vivamos em intimidade com eles; deixemo-los viver conosco; eles nos darão o que a todos tanta falta faz.” “Tanto os pais como as crianças consideram o trabalho propriamente dito como algo prejudicial para sua personalidade e inútil para o futuro. Os estabelecimentos de ensino e a educação deveriam esforçar-se em avaliar os males que se originam desse falso conceito. A educação atual, na casa e na escola, acostuma a criança à inanição física e à preguiça (...) Seria muito conveniente que as lições atuais dedicassem algumas horas ao verdadeiro trabalho.” “O brincar, o jogo – o mais puro e espiritual produto dessa fase de crescimento humano – constitui o mais alto grau de desenvolvimento do menino durante esse período, porque é a manifestação espontânea do interno (...). É, ao mesmo tempo, modelo e reprodução da vida total, da íntima e misteriosa vida da natureza no homem e em todas as coisas. Por isso, engendra alegria, liberdade, satisfação e paz, harmonia com o mundo. Do jogo, emanam as fontes de tudo que é bom”.

Resumo A Pedagogia escolar deveria reproduzir o modelo da relação entre a criança, a mãe e a família, enquanto enfatiza as experiências vividas na prática. As atividades realizadas em sala de aula também deveriam ser simuladas no lar pelos pais, cuja colaboração e vigilância são imprescindíveis. Ligar a educação diária ao conhecimento científico leva ao desenvolvimento humano. Ambos são indissociáveis.

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A escola deveria prover uma educação global, que incluísse formação física, moral, religiosa, manual, cognitiva e intelectual aos pupilos. Os alunos também deveriam estar sempre integrados em grupos e os ensinamentos, trocados entre professores e aprendizes horizontalmente, sem imposições. No jardim de infância valoriza-se o jogo em conjunto entre crianças e adultos e a função pedagógica dos materiais educativos.

Dons, brinquedos didáticos inventados por Froebel

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Palavras-chave Dons Chamados também de caixa de construção, são brinquedos que ajudam a criança a se concentrar nas características de um objeto. Lei interior Manifestação livre e exterior da essência e espírito humanos. A educação deve ser adaptada a esses traços do indivíduo para funcionar. Formas geométricas Cristais, cubos, esferas, octaedros. São matérias mutáveis, que vieram da natureza e emitem energia de volta a ela. Matemática Representação científica da lógica e da regularidade, produto da necessidade. Está nos pensamentos dentro do homem e nas formas espalhadas pela natureza. Ela une esses dois mundos. Cuidado corporal O corpo precisa passar por atividades intensas para ser ágil e desencadear o auto-entendimento. Poesias e canções São uma forma saudável para os jovens expressarem seus sentimentos, o que leva ao fortalecimento do espírito. Cores Na infância, materiais coloridos são especialmente atrativos, pois denotam vitalidade. Histórias e contos Ouvi-los estimula a imaginação infantil, pois a criança pensa nos fatos relatados como se fossem reais, acha uma moral realista e a compara com sua vida.

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Ficha técnica Ivan Illich Sacerdote, filósofo, historiador e pedagogo suíço Nascido em 4/9/1926 em Viena e morto em 2/12/2002 em Bremen Conceitos gerais: desescolarização do ensino e da sociedade Leia mais: Coleção Educadores MEC: Ivan Illich; Sociedade Sem Escolas

História pessoal Ivan Illich seguiu suas preferências religiosas desde muito jovem. Entre 1936 e 1941, estudou Histologia e Cristalografia na Universidade de Florença e, depois, Teologia e Filosofia na Universidade Gregoriana de Roma. Foi ordenado sacerdote e fez doutorado em História em Salzburgo. Após pregar por um período em Nova Iorque, o Vaticano o direcionou para a carreira diplomática e ele foi nomeado vice-reitor da Universidade Católica de Ponse, em Porto Rico. No ano de 1961, Illich fundou o Centro Intercultural de Documentação (Cidoc) na cidade mexicana de Cuernavaca. Nesse centro, ele pôs em prática suas propostas de “desescolarização” e ministrou debates sobre alternativas de métodos educacionais. O suíço abandonou o sacerdócio em 1969 e, a partir daí, refinou seu pensamento educacional e lançou suas principais obras, expandindo seus conceitos para outras áreas além da educação.

Princípios pedagógicos Ivan Illich é considerado o pai da educação sem escola. Defendeu uma utopia inaplicável à realidade prática, o que dificultou o apoio e respeito de outros pesquisadores. Seu protesto se resumiu ao nível teórico e pareceu surgir de convicções e intuições pessoais. Sua proposta de um ensino centrado no aluno e distante do formato de aula tradicional, que influenciou educadores renomados como Paulo Freire*, era tão única que não se enquadrava em nenhuma outra corrente pedagógica contra a escola. Foi com essas opiniões que Illich se tornou uma figura emblemática para o seu tempo.

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Propostas Ideias principais Em uma de suas obras mais famosas, Sociedade Sem Escolas, ele faz quatro sugestões sobre educação: 1) Tornar a educação universal por meio da escola é inviável e as alternativas institucionais a esse modelo tradicional e ultrapassado tão pouco alcançarão esse objetivo. 2) A escola como se conhece nunca será uma ferramenta eficaz de ensino - nem se novas posturas dos professores e novos métodos pedagógicos forem implantados. 3) É necessária a elaboração de uma rede educativa que se oponha totalmente à escola comum; uma que aumente as chances dos alunos de aprender, compartilhar e nutrir interesses. 4) Não basta “desescolarizar” as práticas educativas – é preciso “desescolarizar” a sociedade como um todo. Mitos da escola Para Illich, o prestígio e excelência que a escola detém ao educar grandes massas com qualidade se baseavam em alguns mitos disseminados por essa instituição: 1) A escolarização diz produzir um conhecimento de valor, o que gera uma demanda entre as pessoas. Ou seja: a escola incentiva uma vontade generalizada de aderir ao seu ensino e afirma que o resultado de frequentá-la é o ganho de muitas informações - e quanto mais aprendizados acumulados e comprovados com diplomas e certificados, melhor. 2) Esses valores citados anteriormente são, segundo o ensino, quantificáveis. Isso significa que o nível de escolaridade de uma pessoa determina objetivamente sua importância e sabedoria. 3) A escola vende programas, assim como outros setores da civilização moderna vendem outros tipos de mercadoria. O mestre seria o distribui-

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dor, que entrega o produto final, o aprendizado, ao consumidor, ou seja, o aluno. Depois, as reações expressas sobre o que foi aprendido ou comprado são estudadas pela instituição a fim de serem aprimoradas para agradar mais o freguês no futuro. 4) Existe uma urgência entre as pessoas de colecionar mais e mais qualificações porque elas supostamente trarão chances de conquistar os empregos cobiçados no mercado de trabalho. A corrida pela produção demonstra o pensamento popular de que o conhecimento cresce sempre linearmente, sem nada que possa impedi-lo. Recursos da educação Segundo Illich, um verdadeiro sistema educacional deve propor três objetivos: fornecer lições a quem quiser aprender, permitir que aqueles que sabem possam ensinar a quem não sabe e aceitar críticas em relação às aulas. Para colocar essas ideias em prática, a escola precisa facilitar o acesso formal aos estudos (por meio de bibliotecas, laboratórios, museus, etc) e a comunicação entre alunos para compartilharem entre si suas competências (por exemplo, criando algum tipo de rede no qual cada professor ou aprendiz interessado pudesse indicar o que domina e no que tem interesse de se aprofundar).

Dizeres do educador “A escolaridade, a produção do saber, a comercialização do saber, todas as coisas que constituem a escola, enganam a sociedade, fazendo-a acreditar que o saber é higiênico, branco, respeitável, desodorizado, produzido pelo cérebro humano e estocado. Não vejo nenhuma diferença no desenvolvimento dessas atitudes, em relação ao saber, entre os países ricos e os pobres”. “Quero falar da limitação da velocidade dos veículos que criam mais distâncias do que suprimem, da limitação do ato médico aos métodos que (...) não sejam mais nocivos do que úteis à saúde, da limitação dos instrumentos de comunicação a dimensões que não produzam, por definição, mais ruídos do que mensagens úteis para o ato vital que chamo de conhecimento. Enfim, não vejo por que a escola universal, instituição cuja necessidade apareceu há cerca de 80 anos, deveria continuar a existir e a nos preocupar”.

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“Não se trata mais de transformar a pedagogia tradicional em uma prática escolar direcionada sobre uma melhor organização da vida da classe, mas antes de atacar o conjunto da instituição escolar, para evidenciar os processos de formação que escapam a seu controle”. “Nesses ensaios quero demonstrar que a institucionalização de valores leva inevitavelmente à poluição física, à polarização social e à impotência psíquica: três dimensões de um processo de degradação global e miséria modernizada”. “Pobres e ricos dependem igualmente de escolas e hospitais que dirigem suas vidas, formam sua visão de mundo e definem para eles o que é legítimo e o que não é (...). A confiança no tratamento institucional torna suspeita toda e qualquer realização independente (...). Em toda parte, não apenas a educação, mas a sociedade como um todo precisa ser ‘desescolarizada’”.

Resumo A escola tradicional empacota ensinos como mercadorias, que são vendidas para quem valoriza o ganho de cultura. A aprendizagem é a atividade humana que menos precisa de intervenção: ela brota principalmente da relação do aluno com uma lição que, para ele, é significativa e faz sentido. O desenvolvimento pessoal não pode ser medido pelo nível de escolaridade ou número de reconhecimentos acadêmicos. Para um sistema educacional funcionar, ele deve propor uma interação entre pessoas dispostas a ensinar o que sabem e a aprender algo desconhecido.

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Palavras-chave Professor-moralista Simula o papel de Deus ou Estado. Ensina baseando-se em noções morais de correto e falso. Professor-terapeuta Empenha-se em entender as opiniões dos alunos para ajudá-los com o que precisarem. Alienação escolar Ao educar com conteúdos descolados da realidade, a escola tradicional não está preparando os estudantes nem para a vida, nem para o mercado de trabalho.

Professores da cidade de Cuernecava, no México, junto a Ivan Illich, ao centro

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Ficha técnica Jean William Fritz Piaget Psicólogo, filósofo, biólogo e educador suíço Nascido em 09/08/1896 em Neuchâtel e morto em 16/09/1980 em Genebra Conceitos gerais: epistemologia genética e desenvolvimento cognitivo Leia mais: Epistemologia Genética; Psicologia e Pedagogia; Piaget: Pensamento e Ação no Magistério.

História pessoal Piaget cresceu em meio a intelectuais e se dedicou desde muito jovem aos estudos. Com 11 anos escreveu seu primeiro trabalho científico e, aos 22, se tornou doutor em Biologia. Gostava também de Religião, Filosofia, Matemática e Química. Sua meta inicial era construir um método objetivo para investigar o conhecimento, mas achava a Psicologia da época muita arcaica. Criou então o conceito de “Psicologia Genética”, que analisava as funções mentais e deu base experimental às suas hipóteses. Passou a pesquisar o crescimento infantil e a evolução da aprendizagem. Por fim, dessa mistura de aptidões, surgiu a “Epistemologia Genética”.

Conceitos pedagógicos Segundo Piaget, todos devem ter o direito de receber uma formação escolar que estimule o desenvolvimento de seus conhecimentos, valores morais e habilidades únicas; que aproveite completamente o potencial de cada um. Seu trabalho ajudou a encontrar uma Psicologia específica para abordar a mente infantil.

Propostas Etapas do crescimento O bebê está engatinhando no chão do seu quarto, ao lado da mãe. Sua mão sobre a textura áspera do tapete, sua respiração, seus olhares inquie-

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tos mirando por todo lado, os barulhos de um móbile. Conforme reage e se movimenta, ele vai explorando e descobrindo os mínimos detalhes do mundo em que está inserido. E a educação depende de fatores herdados e de aprendizagens adquiridas através dessas interações com o meio. É, portanto, na infância que as crianças começam a compreender a realidade física e social à sua volta e vão se adaptando a ela. E como crescem e adquirem novos conhecimentos? Desde cedo, o intelecto absorve cada uma das vivências – de olhar para os pais até comer algo ou tocar um brinquedo. Durante esses contatos, o cérebro relaciona as informações com as deduções feitas intuitivamente sobre o que acabou de ser enxergado e sentido - por exemplo, que o plástico tem um toque liso ou que a papinha é salgada, mesmo que não saiba definir e expressar essas percepções. Conforme são acumulados mais e mais novidades no arquivo mental de o quê já se sabe, melhor pensa, comunica com as pessoas e lida com objetos. Mas essa evolução se dá por fases. Piaget, em suas pesquisas, definiu quatro delas: Primeiros meses: ao nascer, o bebê se acha o centro do universo – como o corpo é o único fator constante em todas as suas experiências, ele não se vê como alguém independente. Seu organismo está pronto para se ajustar ao meio e reflexos, como sucção, audição e visão, o protegem dos perigos trazidos pelo desconhecido. Um e dois anos: ele passa a separar o seu eu dos outros, se torna consciente dos seus movimentos e compreende que suas ações causam efeitos sobre os objetos. Passa a demonstrar os primeiros progressos na fala e imita o que vê as pessoas fazendo. Nove e dez anos: a criança enfrenta um vai-e-vem confuso: ela está indo bem em certas atividades, mas dá de cara com uma lacuna de sabedoria - isso ocorre quando é proposta uma tarefa que ela ainda não tem condições de superar. 11 anos: o último dos períodos se estende até a adolescência. Seu raciocínio finalmente atinge um novo patamar: fica possível fazer suposições e implicar mensagens.

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Estruturas mentais Piaget afirmava que o corpo e a mente dos humanos são dependentes entre si. Isso significa que a mente da criança funciona de uma forma parecida com a dos adultos e, assim como a deles, é motivada por interesses e necessidades. Só que a dos mais velhos já mudou com o tempo. É por isso que estudantes de idades diferentes devem assistir aulas separadas. Imitar comportamentos, obedecer ordens e recorrer à memória são naturais na infância. Por exemplo, quando perguntam algo que ela não sabe ou ensinam um tema difícil, a criança tenta se lembrar de aprendizados anteriores para descobrir o que dizer – mas a lembrança costuma falhar. É essa estrutura mental que impõe como devemos agir em cada estágio do crescimento. Inteligência e conhecimento A inteligência da criança começa na prática e é guiada pelos cinco sentidos. Ela vai explorando novos comportamentos, pessoas, ambientes e combina inconscientemente as deduções que fez dessas situações com as experiências vividas. O resultado são novos conhecimentos, que acessamos na forma de pensamentos. A linguagem chega depois da inteligência e é crucial na hora de apoiar essa transformação lenta e complexa da vivência para a habilidade. Experiência e percepção As experiências são físicas (como segurar objetos e perceber que os mais pesados às vezes são os menores) ou lógicas (descobrir, por exemplo, que uma fileira possui a mesma quantidade de pedrinhas não importa a direção em que as conte). Quanto mais se treina a abstração, mais relações são estabelecidas mentalmente entre materiais e a maneira como mexemos nele. No caso do bebê, a percepção evolui veloz e intensamente. O que começa como difícil, em pouco tempo se torna um degrau para outro aprendizado maior. Ele reage a uma situação e reaplica o que experimentou nela quando se depara novamente com uma atividade parecida. Assim, os conhecimentos vão sendo aprimorados, desencadeando progressos, diminuindo a visão da criança como foco de tudo e aumentando o seu contato com a vida. A amamentação é um bom exemplo disso. Nos primeiros dias o recémnascido precisa de ajuda com as mecânicas de achar o leite no peito e extraí-lo. Ele aprende isso através de todos os seus sentidos – sente o cheiro

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do leite, a textura da pele, etc. Suas habilidades de sucção vão melhorando, ele percebe que sua técnica está funcionando e expande então esse conhecimento para outros objetos, chupando também o seu dedo e a chupeta. A generalização continua sendo espalhada para diversos outros elementos. Linguagem e raciocínio A linguagem é fundamental para o desenvolvimento do raciocínio. Ela é importante para ganhar novos conhecimentos, interpretar fatos e formar uma personalidade durante a infância. Lógica surge como noção básica e prática sobre a vivência diária, antes mesmo de conseguirmos nos comunicar. Demora muito para que a criança traduza em fala oral tudo o que conhece. Quando aprende um idioma, por exemplo, tudo o que ela ouve passa a ser interpretado de um jeito particular e, aos poucos, a criança vai arriscando suas primeiras palavras. Requer um tremendo esforço vencer as barreiras iniciais da verbalização e seguir melhorando sua aptidão intelectual e social. É comum que os jovens usem palavras cujos significados eles ainda desconhecem, enquanto alguns elementos da língua foram apreendidos e outros não. Por exemplo, termos opostos, como maior e menor, só são entendidos por volta da pré-escola. Números, ordens, classificações? Estas começam a ser abordadas primeiro empiricamente. Lógica, pensamento e moral Ninguém nasce sabendo lógica, moral e bondade - estes são valores construídos pela sociedade e devem ser explicados e contextualizados por meio da educação. Conceitos como coletivismo e generosidade são aprendidos quando o estudante entende as normas de convício social e começa a ter respeito. Jogo Os jogos são ótimos meios de aprendizagem porque despertam o interesse pela leitura, cálculo e ortografia - atividades tidas como maçantes por grande parte das crianças. Eles contribuem para entender e absorver a realidade e, brincando, as crianças agregam essas novidades à sua inteligência. Faz-de-conta, desenho e modelagem também incentivam o desenvolvimento do pensamento e a interação com o mundo.

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Aprendizagem e emoções Nenhum aprendizado vem desligado de sentimentos. Eles motivam e podem acelerar ou atrasar o desenvolvimento infantil. No dia-a-dia, isso significa que a inteligência e raciocínio dependem de emoções positivas para serem completas. O professor não consegue implantar conhecimento nem curiosidade dentro do aluno. Mas ele precisa ter em mente até qual ponto o raciocínio de cada um deles já chegou: os alunos não aprendem todos da mesma maneira e é necessário propor atividades nem muito conhecidas, nem muito novas. Assim, eles não se sentirão desmotivados por trabalhar em algo repetitivo ou encarar um problema inatingível. Se a lacuna da escolarização não for preenchida, corre-se o risco de a criança ter baixa auto-estima, insegurança ou sensação de burrice. Transmitir um volume gigante de conteúdos em pouco tempo e pedir para que as crianças façam cópias da lousa pode até levá-las a decorar certas informações, mas não as ajudará a ser criativas e construir uma personalidade própria. Ouvir discursos tediosos por longos períodos impede que elas entendam a importância do que está sendo dito e não absorvem nada.

Dizeres do educador “Educar é adaptar a criança no meio social adulto, isto é, transformar a constituição psicobiológica do indivíduo em função do conjunto de realidades coletivas às quais a consciência comum atribui algum valor”. “O estudo destas transformações do conhecimento, o ajustamento progressivo do saber, é o que eu chamo de epistemologia genética e que é a única perspectiva possível para um biólogo”. “A escola tradicional impõe ao aluno a sua tarefa: ela o ‘faz trabalhar’”. “Quando a escola ativa exige que o esforço do aluno venha dele mesmo sem ser imposto, e que sua inteligência trabalhe sem receber os conhecimentos já todos preparados de fora, ele pede simplesmente que sejam respeitadas as leis de toda inteligência”.

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Jean Piaget ao lado da esposa Valentine e dos filhos Lucienne, Jacqueline e Laurent

O educador durante uma aula junto à psicóloga Constance Kammi

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Resumo A infância é a fase da evolução em que o ser humano se adapta em todos os sentidos à realidade da vida. A educação ajuda o jovem a compor seus padrões intelectual e moral. Para aprender, o aluno precisa participar voluntariamente do ensino e compreender a fundo os conceitos transmitidos – não só copiá-los para o caderno. Um estímulo só causa algum progresso na inteligência se interpretado e relacionado aos demais conhecimentos já inerentes à criança. A inteligência é atualizada com novos dados ao longo das experiências tidas. Jogos e brincadeiras estimulam a vontade de aprender. Os sentimentos motivam as ações.

Piaget e Valentine em conferência do Escritório Internacional de Educação em 1932

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Palavras-chave Primazia da ação A percepção da realidade é construída a partir da interação entre a pessoa e os objetos com a qual tem contato. Toda vez que essa relação muda, é reorganizado também seu repertório intelectual. Reversibilidade Ações reversíveis são aquelas opostas e que acontecem simultaneamente – por exemplo, quando uma criança aprende, ao mesmo tempo, a somar e subtrair, já que são práticas de funcionamento parecido. Maturação biológica Processo de amadurecimento de certos aspectos físicos do organismo. O intelecto depende dos limites impostos pela maturação biológica para se organizar. Se o corpo não estiver pronto para receber um certo nível de aprendizado, o psicológico não conseguirá absorvê-lo. Transmissões sociais Relação entre seres humanos. Para que aconteça com sucesso, todos os participantes da transmissão precisam estar cientes do que está sendo trocado naquela interação. Equilibração Toda vez que uma criança aprende algo novo, ela deve equilibrar, ou seja, adaptar essa nova informação entre aquelas que já possui. Dessa forma, ela vai pouco a pouco melhorando sua inteligência.

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Ficha técnica Johann Heinrich Pestalozzi Linguista, filósofo e educador suíço Nascido em 12/1/1746 em Zurique e morto em 17/2/1827 em Brugg Conceitos gerais: amor pedagógico e teoria das três fases Leia mais: Pestalozzi: Educação e Ética; Como Gertrudes Ensina seus Filhos

História pessoal Vindo de uma família de médicos, Pestalozzi se formou em Linguística e Filosofia no Collegium Carolinum, uma universidade suíça. Em 1767, se afastou da vida acadêmica para se dedicar à Agricultura e, quatro anos depois, criou um instituto na Fazenda Neuhof para educar crianças pobres. Lá, ele formou a base de sua proposta educacional. Artigos foram publicados a respeito do trabalho feito lá, mas o lugar faliu em 1780, sem ter recebido grande apoio dos camponeses locais. Pestalozzi manteve, entre 1798 e 1799, o Instituto de Stans e, cinco anos mais tarde, deu início a uma escola na cidade suíça de Iverdon, sua mais bem sucedida tentativa educacional e na qual estudariam mais de 150 alunos. O fim do projeto chegou por meio de desavenças entre o idealizador e outros professores. Mesmo sendo anexado a uma outra unidade em Clindy, o instituto perdeu credibilidade, resultando no abandono de Pestalozzi, quem seguiu escrevendo outras obras.

Princípios pedagógicos As ideias de Pestalozzi tiveram forte influência de pensadores como Immanuel Kant e Jean-Jacques Rousseau. Suas impressões foram complementadas ao longo dos anos por novas perspectivas que ele juntou conforme atuava nas escolas. O suíço dizia que só seria possível construir uma sociedade justa com cidadãos justos e, por isso, dedicou-se a ensinar sobre a moral para seus alunos para que alcançassem seu potencial. Também considerava essencial um equilíbrio entre o intelecto, a emoção e o corpo físico.

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A visão de mundo de Pestalozzi busca inspiração nos campos da Filosofia, Pedagogia, Religião e Política, mas seus pensamentos sobre a educação se destacaram por serem os únicos colocados em prática.

Propostas Natureza do ser Existe uma essência comum a todas as pessoas e, se cada uma delas olhar para o seu interior e encontrar a sua verdade, suas habilidades adormecidas poderão aflorar e elas se sentirão felizes e em harmonia. Ou seja, para a educação acontecer, é preciso conectar o homem consigo mesmo e com sua realidade. Reestruturação social Melhorar a sociedade significa reformar a moral dos cidadãos. O meio social pode perturbar ou ajudar a ética e é aí que a educação entra como fator determinante para a autonomia do indivíduo. Ela, junto com as leis e regras, guia os seres humanos para sua plenitude e independência, já que ajuda a cumprir coletivamente suas obrigações e vontades e os mantêm longe do seu instinto natural de degeneração ética. Teoria das três fases Pestalozzi divide o crescimento em três fases: Estado natural: é o grau máximo de inocência, irracionalidade e impulso de sobrevivência. Nele, a pessoa é escrava do seu instinto e dos sentidos. Com o tempo, ela vai entrando em atrito com o mundo e reações egoístas emergem. Estado social: depois desse egoísmo, surge o estado de limitação do natural. Começa a ser buscada uma ordem que limite as manifestações livres do ser, mas em compensação permita aproveitar mais tranquilamente a vida. Estado moral: dividido entre seu lado animal e noção de coletivo, ele encontra um meio-termo - a moral. Esta seria a solução perfeita para o conflito de identidade, pois nela o humano usa seus instintos e impressões da sociedade para se auto-construir como alguém autônomo. Ele só

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prosseguirá voluntariamente ao terceiro estado após virar consciente dos seus dois primeiros. Amor e família A escola deve simular o ambiente de um lar: a relação entre aluno e professor precisa ser igual à de um filho com a mãe, baseada no amor incondicional, confiança e incentivo. Ao se identificar com o mestre e perceber entusiasmo, compreensão e um clima positivo vindo dele, a criança consegue se sentir equilibrada e segura para espontaneamente querer aprender. Esse vínculo pode, segundo Pestalozzi, ser reproduzido e é essa relação que fará desabrochar o potencial da criança conforme ela vai sendo educada. Para funcionar, o “amor pedagógico” tem de ser acompanhado da racionalidade e lucidez dos professores para que os aprendizes recebam os estímulos necessários em cada estágio do crescimento. Isso também significa prepará-los além das futuras profissões e vida social. O diálogo A linguagem traduz para a realidade o que se sabe e serve para comparar e classificar objetos e sensações. Isso quer dizer que a comunicação, oral e escrita, carrega as observações já feitas do mundo e, por isso, não deve ser ensinada muito cedo, para que as letras não pareçam sem significado. Ao mesmo tempo que palavras, números e formas são explicações lógicas do conhecido, o silêncio é importante, pois nele paramos para assimilar aquilo que vivemos. Já o diálogo aberto entre aprendiz e mestre é crucial na hora de passar adiante conceitos como bondade e justiça.

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Dizeres do educador “As forças humanas que levam à felicidade não são dádivas da arte ou do acaso. Em suas disposições básicas, elas são intrínsecas à natureza de todos os homens. O seu desenvolvimento é uma necessidade coletiva da humanidade.” “Descrença é a fonte de destruição de todos os laços da sociedade”. “Liberdade natural e direito social estão eternamente em luta em nossa espécie”. “Comete-se frequentemente o grande engano de se dizer que um homem esteja completamente endurecido e irrecuperável - quando ele tem uma parte intocada, pela qual poderias conduzi-lo como uma criança”. “Tudo o que eu pediria a uma mãe seria que ela fizesse operar seu amor com a maior força possível, e todavia o regulasse com a reflexão”. “Devemos nos convencer de que o objetivo final da educação não é o de aperfeiçoar as noções escolares, mas sim o de preparar para vida; não de dar o hábito da obediência cega e da diligência comandada, mas de preparar o agir autônomo”.

Na instituição pestalozziana, as crianças e educadores almoçavam juntos no mesmo refeitório

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Resumo Tornar o humano um ser moral deve ser o objetivo de toda prática pedagógica. A moralidade levará à felicidade e paz interior e, para conquistá-la, é preciso que ele encontre sua natureza universal. Para serem compreendidos, os ensinos devem ser passados com amor do professor para o aprendiz. Uma sociedade mal-organizada propicia o aparecimento de comportamentos negativos e cruéis entre humanos. Daí a importância das regras e da busca pela ordem. Por meio do cuidado na educação, a criança enxerga o aprendizado não como uma responsabilidade chata, mas um desejo ativo de se aperfeiçoar, ser independente e útil para os demais. Estado, Igreja e outras instituições e valores tradicionais são perversas e egoístas, levando à alienação e submissão.

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Aula promovida pela ONG suíça Pestalozzi Children’s Foundation na Tanzânia

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Glossário Trilogia cabeça, mão e coração Propõe um desenvolvimento integral entre todas as funções humanas - física, profissional, intelectual e emocional. Essas partes teriam em comum o uso do amor como fio condutor das ações. Educação natural Estilo de ensino que busca conectar o homem com o seu interior e com a realidade ao seu redor. Amor vidente Pestalozzi propõe às famílias e professores não um amor cego e acrítico pelo filho ou aluno, mas o amor de alguém que zela enquanto enxerga as dificuldades e transgressões. No amor vidente, o adulto é carinhoso, porém sabe ser duro nas horas que precisar. Percepção interior Forma como o ser humano enxerga a si mesmo. O potencial e conhecimento irradiam de dentro dele desde a infância. Para aprimorar-se, é preciso aflorar o que há de melhor dentro de si e usar isso como instrumento para alcançar seus objetivos. Percepção exterior Forma como o ser humano enxerga e processa suas experiências. É um processo lento e equilibrado, pois interpretar e assimilar tudo o que se vê, ouve, sente, degusta e explora requer tempo.

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Ficha técnica John Dewey Fisiologista americano Nascido em 20/10/1859 em Burlington, em Vermont, e morto em 1/6/1952 em Nova Iorque Conceitos gerais: “pragmatismo” e “psicologia social” Leia mais: John Dewey: Uma Filosofia para Educadores em Sala de Aula; Vida e Educação

História pessoal Dewey foi criado em uma família protestante rígida, na qual os filhos recebiam tarefas domésticas desde pequenos para aprenderem responsabilidade. Durante o curso de Fisiologia na Universidade de Vermont, ele passou a se interessar pelo organismo humano e pela Filosofia. Concluiu seu bacharelado em Artes no ano de 1879 e logo foi lecionar em escolas pequenas. Cinco anos depois, tornou-se professor na Universidade de Michigan, onde se maravilhou ao entrar em contato com um estilo de ensino livre e democrático. Em 1894, criou na Universidade de Chicago uma espécie de escola laboratorial, onde Dewey pôde testar e definir melhor seu método pedagógico. Defensor de suas visões políticas, ele viajou por países como China, Turquia e México apoiando movimentos democráticos. Nos seus últimos anos, se dedicou à Epistemologia e à publicação de livros e artigos sobre Educação, Religião, Filosofia, Arte e Política.

Princípios pedagógicos O americano sugeria que a mente é um instrumento, responsável por mediar a comunicação entre o resto do organismo e o ambiente social. Sua Pedagogia era baseada no que ele sabia sobre Fisiologia e abordava o aluno de um ponto de vista psicológico. O “pragmatismo”, movimento que ajudou a fundar, dita que só o conhecimento sobre a Ciências e ações humanas pode levar as pessoas a moldarem seu próprio destino. Dewey apostava na democracia como o único modelo político que incentivava o empenho coletivo. Ele também queria aproximar a visão de mundo da

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criança à lógica adulta, pois ética, razão e raciocínio são qualidades que o ser humano já possui na infância e carrega até a velhice.

Propostas A mente Dewey defendia que a mente é responsável por fazer o homem interagir com o seu mundo e que a consciência humana só é exercitada quando está em contato com outras pessoas. Teoria do Método de Conhecer Experimentar é uma atividade crucial para o ser humano – só assim ele descobre se o que pensa tem fundamento ou é apenas uma hipótese. Refletir leva-o a solucionar problemas e, por consequência, ganhar novos parâmetros éticos e intelectuais. Por isso, Dewey dizia que o ser humano adquire conhecimento somente quando uma descoberta altera sua estrutura mental, tornando-o mais capaz de compreender a realidade. A História deve ser estudada atentamente, questionando quais lições podem ser tiradas dela para aplicar no percalços enfrentados pela sociedade nos tempos de hoje. Coletividade Para Dewey, o modelo político ideal é o mais cooperativo e democrático possível. Ele deve acompanhar as mudanças sociais, reconstruções de valores e alterar tudo o que for necessário para alcançar maior igualdade. As vontades pessoais dos cidadãos devem ser deixadas de lado em prol de interesses em comum, buscando uma vida compartilhada. É na coletividade que o ser humano se torna satisfeito e inteligente. Sem educação, é impossível que a vida humana supere os obstáculos impostos pelo ambiente. A importância da educação Educar significa preparar o aluno para reconhecer quando é positivo seguir o status quo e quando precisa alterá-lo para melhorar sua existência segundo as próprias noções do que acha certo ou errado. Toda atividade pedagógica deve ter como objetivo incentivar o trabalho coletivo.

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A rotina comunitária é em si educativa. Participantes de uma aula se comunicam, compartilham experiências e pensam em ideias e soluções juntos para suas tarefas. Se isoladas, as crianças vão focar mais em livros e conceitos do que na prática de trabalhar em equipe para aprender e criar algo útil e inovador. Cabe ao educador fazer uma seleção dos conteúdos mais importantes para cada idade e passá-los a seus alunos de um jeito simplificado. Ele também deve se posicionar como um membro da turma, uma vez que a aula preza pela igualdade e colaboração. A escola deve misturar crianças de diversas religiões, raças e origens sociais para, ao contrastá-las , levar os alunos a pensar criticamente sobre seu próprio estilo de vida. Espontaneidade Dewey critica escolas que temem a espontaneidade das crianças por acharem que, não podendo controlá-la, permitirão a indisciplina da turma. Na verdade, esses impulsos não passam de energia criativa e potencial para aprender. O professor tem de dosar o quanto de liberdade é saudável para o desenvolvimento da criança e quanto interferirá na concentração dela. Ele também acha que a escola não deve focar demais em informações que serão úteis para a criança quando ela se tornar adulta – se não se entusiasmar nem um pouco com o assunto hoje, ela não absorverá nem lembrará daquilo no futuro. Funciona, por exemplo, invocar uma experiência vivida no passado pela criança e usá-la como base para ensinar uma matéria nova por meio de outros dados. Recursos como laboratórios, oficinas, jogos e dramatizações ajudam o estudante a ganhar intimidade com as disciplinas de um jeito divertido.

Dizeres do educador “As sensações não são partes de nenhum conhecimento (...); são, antes, provocações, incitamentos, desafios a um ato de pesquisa que irá terminar no conhecimento”. “A educação, em seu sentido mais lato, é o instrumento dessa continuidade social da vida”.

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Escola americana Francis W. Parker, uma das primeiras a usar o método deweyano

Aula de Geografia no método Dewey

New School for Social Research, grupo criado em 1919 para discutir métodos alternativos de educação

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“Se o ambiente, na escola ou fora dela, fornecer as condições que ponham adequadamente em ação as aptidões do imaturo, é certo beneficiar-se com isso o futuro, que é produto do presente”.

Resumo O que define o ser humano é a interação entre seu organismo e o ambiente social onde ele vive. Conhecimento estabelece uma conexão entre o ser humano e sua realidade. Só a democracia pode dar ao homem as condições que ele precisa para desenvolver seu potencial. A educação das crianças definirá o futuro da sociedade. As escolas devem se aliar a movimentos sociais na busca por melhorias para a comunidade e incentivo ao trabalho coletivo. Um desenvolvimento feliz e sadio durante a infância é o único requisito para uma vida adulta completa. abc

Palavras-chave Experiência É a troca de informações que ocorre durante a interação entre o organismo e ambiente. Um dos pilares da filosofia deweyana. Humanismo naturalista Conhecido também por outros nomes como pragmatismo, naturalismo empírico, instrumentalismo ou humanismo científico. Ideologia adotada por Dewey, a qual considera a filosofia a base da civilização. Psicologia social Dita que a mente e a consciência são mecanismos biológicos só ativados em contato com o meio social. As pessoas usam-nos de ferramenta para posicionarem-se diante da comunidade.

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Lev Vygotsky 100


Ficha técnica Lev Semenovich Vygotsky Psicólogo russo Nascido em 17/11/1896 em Orsha, na Bielorrússia, e morto em 11/6/1934 em Moscou Conceitos gerais: mediação simbólica e zona de desenvolvimento proximal Leia mais: Vygotsky: Aprendizado e Desenvolvimento – Um Processo Sócio-Histórico; Vygotsky: Uma Perspectiva Histórico-Cultural da Educação

História pessoal Vygostky morou a maior parte sua vida em Gomel, na atual Bielorrússia, com seus pais e oito irmãos. A família era judia, financeiramente bem estabelecida e muito intelectualizada – condição que estimulou a paixão de Lev pela cultura, reflexão, estudo científico e aprendizado de novas línguas. Só entrou em uma escola formal aos 15 anos, depois de estudar com tutores particulares. Em 1913, começou a estudar Direito na Universidade de Moscou e, no ano seguinte, passou a frequentar também aulas de História e Filosofia na Universidade Popular de Shanyavskii. Nesta última, não se titulou, mas aprofundou seus conhecimentos sobre Psicologia, Filosofia e Literatura. Formou-se advogado em 1917, mesmo ano da Revolução Russa. Tempos depois, foi estudar Medicina, dividindo suas aulas entre Moscou e Kharkov. Entre 1917 e 1923, viveu em Gomel lecionando Literatura e Psicologia, abriu uma pequena editora e foi diagnosticado com tuberculose. Em 1924, participou de uma conferência no II Congresso de Psiconeurologia de Leningrado, conquista importante para sua carreira. Voltou a Moscou para trabalhar no Instituo de Psicologia de Moscou. Tomou as primeiras medidas para a criação do Laboratório de Psicologia para Crianças Deficientes, concretizado em 1929. Depois de atuar como professor e pesquisador nas áreas de Psicologia, Pedagogia, Filosofia, Neuropsicologia e Literatura, escrevendo mais de 200 trabalhos, faleceu de tuberculose aos 37 anos, em meio à ditadura stalinista.

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Princípios pedagógicos Vygotsky tinha interesse em estudar os problemas neurológicos para entender como funciona o psicológico do homem. Ele buscava desenvolver uma tendência científica que combinasse o estudo da mente e do corpo; do lado biológico e do social. Assim, seu pensamento contava com três pilares: 1) Funções psicológicas são produzidas pela atividade cerebral. 2) O funcionamento psicológico é baseado na interação entre o indivíduo e o mundo. 3) A relação entre uma pessoa e sua realidade é mediada por símbolos.

Propostas Cultura A cultura é uma parte essencial na natureza humana e cada um absorve e interpreta de um jeito particular. É com base nela que o psicológico humano e a percepção de mundo são configurados. Como essa produção é criada a partir da vida social, política e espiritual do artista, a cultura muda de acordo com o período histórico e civilizatório em que nasceu. Por isso, a arte é uma ferramenta importante na compreensão da dinâmica de uma sociedade. Mediação simbólica Para Vygotsky, existem dois elementos mediadores: Instrumento: Ferramenta que o trabalhador cria para facilitar sua interação com o objeto de trabalho e a natureza. Um machado corta melhor que uma mão e, por isso, alcança mais rápido e elegantemente o objetivo de dividir uma chapa de madeira. O design do seu cabo, peso e tamanho foram determinados pelo coletivo como os mais propícios para completar o trabalho. Signos ou instrumentos psicológicos: Uma marca concreta que ajuda o homem em uma tarefa que exige aten-

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ção ou memória. Quando alguém usa feijões para contar cabeças de um gado, ela está usando um material concreto para representar um certo número e lembrá-lo melhor. Fazer listas de compra e guiar-se por mapas, por exemplo, tornam a mente mais poderosa. Signos também podem ser compartilhados por um grupo de pessoas e, neste caso, a linguagem é essencial. A palavra “caneta” no Brasil é entendida pela maioria de seus habitantes – se pronunciada em um país onde não é falado o português, dificilmente a comunicação será estabelecida com sucesso. O processo de mediação é aprimorado ao longo da vida: a pessoa vai deixando de precisar de marcas externas e melhora suas representações internas - por exemplo, ao ouvir a palavra “mãe”, um adulto consegue materializar mentalmente o rosto de sua mãe, podendo assim lembrar dela em sua ausência. Essa capacidade liberta o ser humano de uma dependência da realidade concreta, do aqui e agora. Pensamento e linguagem A linguagem tem duas funções: classificar significados e ser um sistema elaborado o suficiente para que os seres humanos consigam se comunicar em toda sua complexidade. Para Vygotsky, compreender a relação entre pensamento e linguagem era essencial para entender como funciona a mente. Têm origens diferentes e desenvolvem-se em seu próprio tempo. Eles começam a andar juntos por volta dos dois anos, quando a linguagem fica simbólica e o pensamento começa a ser expresso por palavras. Antes, a criança só demonstra raciocínio limitado e formas rudimentares de comunicação, como choro e balbucio. A aproximação é estimulada pelo contato com pessoas mais maduras. Com o passar do crescimento infantil, a criança começa praticar discursos interiores (quando ela conversa consigo mesmo dentro da própria cabeça) e egocêntricos (quando fala sozinha em voz alta explicando etapas, planos e linhas de pensamento que ela está fazendo). Aprendizado Processo por meio do qual alguém adquire informações, valores e habilidades, enquanto mantém contato com a realidade e com as pessoas. Ele é diferente de processos orgânicos e maturações biológicas, como digestão e puberdade. É o aprendizado que possibilita o despertar dos processos internos.

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Segundo Vygotsky, o desenvolvimento da criança pode ser dividido entre dois níveis: Nível de desempenho real: as etapas de aprimoramento já alcançadas. Por exemplo, uma criança de cinco anos consegue falar e andar, mas não dirigir. Nível de desempenho potencial: a capacidade de assimilar novas tarefas com a ajuda dos outros. Aos três anos, um bebê pode andar se apoiando na mão dos pais, ainda não sozinho. A criança aprende o que é capaz de fazer imitando os outros e se comparando aos seus colegas. A combinação desses dois níveis resulta no que o psicólogo chamava de “zona de desenvolvimento proximal”: a constante transformação da criança, quem amanhã fará sozinha aquilo que hoje só é capaz de fazer com a ajuda de alguém. Para definir a dificuldade de sua aula, o professor precisa se direcionar a partir do que seus alunos já sabem, mirando no potencial que eles têm para aprender algo de acordo com a biologia da sua faixa etária. Brincadeiras Brinquedos e jogos de faz-de-conta abrem para a criança um mundo imaginário e lúdico, no qual o importante é o que está sendo feito, e não se isto é real ou não. Ao brincar de “andar a cavalo” usando um cabo de vassoura, ela ignora que aquilo é um objeto e se concentra na representação dele como um animal. Fingindo ter habilidades além das que têm, as crianças acabam aprendendo novidades.

Dizeres do educador “A invenção e o uso de signos como meios auxiliares para solucionar um dado problema psicológico (lembrar, comparar coisas, relatar, escolher, etc.) é análoga à invenção e uso de instrumentos, só que agora no campo psicológico. O signo age como um instrumento da atividade psicológica de maneira análoga ao papel de um instrumento no trabalho”. “A relação entre o pensamento e a palavra não é uma coisa, mas um processo, um movimento contínuo de vai e vém do pensamento para a palavra, e

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vice-versa. (…) O pensamento não é simplesmente expresso em palavras; é por meio delas que ele passa a existir. Cada pensamento tende a relacionar alguma coisa com outra,(...) se move, amadurece e se desenvolve, desempenha uma função, soluciona um problema. (…) A unidade da fala é uma unidade complexa, e não homogênea”. “Desenhar e brincar deveriam ser estágios preparatórios ao desenvolvimento da linguagem escrita das crianças”.

Resumo O cérebro é um sistema aberto e versátil, cuja estrutura é mudada ao longo da história segundo as interações individuais e o desenvolvimento da espécie. A intervenção do professor no processo de desenvolvimento da criança é fundamental para que ela supere seu potencial. O ser humano interage com o mundo por meio de mediações, ou seja, ferramentas fornecidas pelo cérebro para facilitar a relação entre os dois. Signos são uma espécie de filtro por meio do qual uma pessoa verá sua realidade. Seu contexto social, cultural e linguístico lhe dará instrumentos psicológicos para mediar suas experiências e comunicar-se com quem compartilha da mesma representação simbólica que ele. Brincadeiras ensinam a criança a separar significado de objeto e as levam a comportar-se de maneira mais avançada do que costumam agir em atividades da vida real. abc

Palavras-chave Pedologia Ciência que explora os aspectos biológicos, psicológicos e antropológicos da criança. Vygotsky considerava este estudo a base para a compreensão do desenvolvimento humano.

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Síntese A terminologia é usada por Vygotsky com o significado de um fenômeno inédito que nasce a partir da combinação de dois elementos diferentes. Mediação A relação do homem com o mundo costuma ser mediada, ou seja, facilitada pelo uso de signos. Por exemplo, se alguém coloca a mão no fogo e se queima, esta é uma relação direta. Mas se, ao sentir um leve calor, ela retira-a porque lembra de já ter se queimado um dia assim, esta pessoa está usando uma lembrança como mediação. Funções psicológicas superiores Mecanismos cerebrais sofisticados, que envolvem a elaboração de pensamentos independente do presente, tempo e espaço: fazer planos para o futuro, imaginar situações, comparar coisas são alguns exemplos. Significado Cruzamento entre pensamento e linguagem. O significado pode mudar ao longo da infância. Quando bem pequena, a criança pode entender “lua” como qualquer coisa que emita luz – abajur, poste de rua, semáforo. Conforme vai alinhando seu conhecimento cada vez mais próximo ao da cultura coletiva, ela aprende que “lua” é só o planeta no céu.

Brinquedos usados em aulas de Vygotsky

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Ficha técnica Maria Montessori Médica, cientista, filósofa e psicóloga italiana Nascida em 31/8/1870 em Chiaravalle, em Milão, e morta em 6/5/1952 em Noordwijk, Holanda Conceitos gerais: pedagogia científica, auto-educação, materiais sensoriais Leia mais: Educação Montessori: de um Homem Novo para um Mundo Novo; A Criança; O Método Montessori

História pessoal Montessori se formou em Ciências Contábeis e, posteriormente, em Medicina, contrariando as vontades de seu pai e sendo a primeira mulher na Itália a ter um diploma nesse curso. Direcionou sua carreira para a Psiquiatria e, em 1896, tornou-se assistente na Clínica Psiquiátrica da Universidade de Roma, onde atuou por dez anos no tratamento de crianças deficientes. Trabalhou com o mesmo assunto a partir de 1899 no cargo de diretora da Escola Estadual de Ortofrenia, escola médica em que educadores recebiam treinamento para lidar de forma adequada com deficientes. O seu gosto por tal tipo de trabalho levantou seu interesse pela Pedagogia e, assim, passou a estudar Filosofia e Psicologia Experimental. Lançou em 1904 sua obra Antropologia Pedagógica. Em 1907, Montessori foi convidada a supervisionar em uma casa na periferia de Roma um grupo de cerca de 50 crianças, entre dois e sete anos de idade, cujos pais trabalhavam o dia inteiro. Apelidada de Casa dei Bambini – “casa da infância”, em italiano -, o lugar foi palco da experimentação pedagógica de Montessori, que aplicou suas técnicas desenvolvidas com deficientes no tratamento de crianças mentalmente estáveis. Entre as práticas diárias, estavam jardinagem, limpeza do lar e brincadeiras com o material montessoriano. A Pedagogia fez sucesso, chamou atenção de pais e especialistas e outras unidades da Casa abriram. O reconhecimento da italiana começou a ganhar o mundo. Seu método foi adotado por escolas em países como Japão, Austrália, Argentina, Síria, Rússia, Suíça e Reino Unido. Entre 1915 e 1925, Montessori passou por diversas cidades da Europa explicando suas teorias. Em 1924, ela criou o Curso de Preparação para Professores, no qual os princípios montes-

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sorianos eram divulgados e, em 1929, ela passou a dirigir a Associação Montessori Internacional, sediada em Amsterdã. Em 1915, Montessori recebeu grande apoio de Benito Mussolini para ajudar com o programa nacional de educação. Criou-se a Sociedade Montessori, organização pedagógica do qual Mussolini foi presidente. Em 1929, várias escolas públicas estavam usando o método dela. Quando o fascismo italiano entrou em crise ideológica interna, porém, sua postura passou a ser criticada, ela foi expulsa de seu país natal em 1934 e suas influências no sistema educacional foram eliminadas aos poucos. Durante o exílio, ela viajou estudando e ensinando suas técnicas - Espanha, Inglaterra, Holanda e principalmente Índia, nação pela qual se interessou quando lecionou um aluno vindo de lá. Em 1947, terminada a guerra, ela voltou para a Itália e restaurou suas instituições educacionais próprias.

Princípios pedagógicos Famosa por seu incentivo à formação de uma consciência política e social no país, a italiana foi influenciada pelos trabalhos de Johann Pestalozzi*, Friedrich Fröbel* e Jean-Jacques Rousseau. Ela sonhava com uma sociedade que acolhesse as pessoas desde jovens e aperfeiçoasse suas habilidades. Para ela, a natureza, como algo selvagem e desconhecido, era assustadora demais para uma criança pequena. Por isso, suas aulas deveriam ser feitas em um ambiente seguro, preparado para o ensino e motivador de empenho, e não enquanto estavam totalmente soltas em um campo ou floresta, como outros educadores sugeriam.

Propostas Sistema Educacional Montessori A escola deve ser um laboratório de experiências: as aulas apresentam lições sobre aspectos psíquicos, físicos, mentais e espirituais do ser humano. Os conteúdos ensinados e avanços feitos são medidos e organizados por meio de técnicas científicas. Por isso, Montessori chamou tal método de “pedagogia científica” – ou seja, aquele que assegura condições para que as crianças expressem seu ser livremente. Durante sua experiência prática, a italiana percebia momentos de profun-

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da concentração entre as crianças, a vontade de fazer uma mesma atividade várias vezes e uma sensibilidade à organização espacial da sala de aula. Percebendo isso, Montessori ditava que a busca por sabedoria deve ser uma auto-educação: feita livremente, sem pressões dos adultos, mas com acompanhamento de um professor, que o ajudará a construir sua personalidade e só interferirá quando o aluno estiver se distanciando das respostas corretas. Ao poder escolher livremente o que desejam fazer, as crianças mostraram mais interesse em aulas práticas e nos “materiais sensoriais”. Ambiente de aprendizado Todas as pessoas nascem com um impulso natural de curiosidade. A criança precisa de adultos preparados e de condições favoráveis para aprender. O primeiro ambiente educador é o lar. O segundo, a sala de aula. Esta deve ser iluminada o suficiente para gerar concentração, com cortinas para evitar luz em excesso, que distrai. Janelas grandes e em altura acessível para as crianças deixam o espaço arejado e agradável. Os móveis são bonitos e convidativos, leves para uma criança carregar, com tamanho sensato ao público infantil. Materiais ficam dispostos pela sala para estimular a criatividade. Na opinião de Montessori, a ordem externa repercute na ordem interna do aluno, gerando calma, silêncio e atenção. O ser humano Cada pessoa é formada por uma união entre corpo (nosso organismo), mente (nosso psicológico e intelecto) e espírito (nossa essência e natureza). Ela tem consciência, preferências e necessidades próprias. O seu potencial só será usado por inteiro quando colaborar com outros seres humanos. Por isso, faz sentido que, em sala de aula, as crianças tentem ajudar umas às outras, em vez de se importarem só com notas. Períodos sensíveis O crescimento é formado por etapas, chamadas de “períodos sensíveis”. Cada uma é mais propícia para o desenvolvimento de um certo tipo de habilidade. Se uma etapa não for bem concluída, a próxima também será prejudicada. Cabe aos pais e à escola atender o que for preciso para que a criança complete todos os períodos e se torne um adulto feliz e saudável. Período da mente absorvente: dura do nascimento aos seis anos. Nela são aprendidos comportamentos culturais, motores, mentais e afetivos, como observar, sorrir, equilibrar e verbalizar.

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Período da imaginação reprodutiva: dos seis aos doze anos. Fase estável, em que a criança cresce calma e lentamente. Ela passa a copiar e dar sentido aos hábitos que vinha assistindo até então. Quer aprender o máximo possível sobre tudo o que experimenta. Materiais sensoriais Destinados para o período entre dois e seis anos, quando a criança começa a observar características como o peso, cor, textura e formato dos objetos. Os materiais sensoriais servem de instrumento para a abstração, entendimento e comparação entre detalhes do mundo real com os quais ela entra em contato. Eles são coloridos, atrativos, brilhosos. Todos os objetos têm uma função de ensino e constam na sala de aula em só um exemplar, para que os alunos aprendam a dividi-lo, conservá-lo e valorizá-los Eles também têm um lugar específico, incentivando o senso de organização. Devem ser apresentados à criança em uma sequência lógica e progressiva. Por exemplo, para ensinar o tato, vem primeiro a tábua lisa, depois lixas cada vez mais ásperas. O professor explica o que e como é o objeto e depois checa se os alunos ligaram os adjetivos ao nome da peça. Assim, eles aprendem a comparar e quantificar o que conhecem. Alfabetização Montessori criou uma técnica fonética de alfabetização. Nela, a criança aprende primeiro a escrever e depois a ler; primeiro vem o som fonético das letras e depois sua ordem alfabética. Para ensinar a forma, sequência e pronúncia de cada letra, os educadores utilizam diversos tipos de materiais sensoriais. Campainhas e caixas de sons ensinam as sonoridades do alfabeto. Outra técnica é o manuseio de letras recortadas em placas - vermelhas para as vogais e azuis para as consoantes – que podem variar entre material acrílico, plástico, couro ou lixa. O professor ensina o traçado da letra passando o dedo indicador em volta da placa, no sentido em que ela é escrita, e pronunciando-a. Assim, a criança aprende, simultaneamente, a grafia, fonética e tato das palavras. A princípio, não são usados livros de leitura, mas pastas com imagens colocadas em uma sequência proposital: Primeira página: mostra apenas uma imagem sozinha.

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Segunda página: há a mesma imagem, acompanhada pelo seu nome. Terceira página: são apresentadas três imagens, cujos significados ficam alinhados abaixo de cada uma delas. Quarta página: igual à terceira, mas os nomes não estão abaixo de suas respectivas figuras. Quinta página: aparece uma cena e três descrições do que acontece nela. Sexta página: uma cena e uma frase respectiva a ela. Sétima página: uma cena e três frases descritivas sobre a cena, mas que também se entrelaçam entre si, quase como uma narrativa. Oitava página: uma cena e, ao lado, uma breve história explicando essa cena. Memorizando essas histórias curtas e simples, a criança terá mais facilidade para estender sua expressão verbal e escrita. Atividades de leitura também são feitas em todas as disciplinas escolares: nas Ciências, por exemplo, o aluno coloca uma etiqueta com o nome de cada parte da árvore sobre uma ilustração da planta. Matemática Os números também são ensinados com a ajuda do material sensorial, principalmente o chamado “material dourado”. Ele é composto por cubos, que representam uma unidade, barras com dez cubos, placas com cem cubos e um quadrado maciço feito por mil cubos. Esse recurso é usado para ensinar a contar e medir quantidades. Fé O ser humano é um agente de Deus e esse dom deve ser encorajado desde pequeno por meio da educação. Educar significa abrir caminhos para a descoberta espiritual e realização da missão divina e cooperar com o próximo para cultivar sensibilidade, gentileza e empatia. É comum a presença de um altar em sala de aula, onde os alunos podem rezar.

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Dizeres do educador “[Infância é o período ótimo] para infundir novas ideias, modificar ou melhorar hábitos e costumes do país, acentuar mais rigorosamente as características de um povo”. “Toda ajuda inútil atrasa o crescimento da criança”. “Educar é liberar o potencial da criança para que ela se autodesenvolva”. “Se ajudássemos adequadamente a criança, não precisaríamos ajudar o adulto”.

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Resumo Educação é a ajuda que uma criança deve receber desde pequena, em um ambiente preparado, com professores adequados e por meio de atividades livres, para atingir o máximo do seu talento e conseguir uma vida adulta harmoniosa. A pedagogia científica usa métodos científicos de registro para organizar e orientar a formação do estudante. O Sistema Montessoriano de Ensino é centrado na criança e em suas sensações durante o aprendizado. É por meio do trabalho que a criança constrói sua personalidade, ganha senso de responsabilidade, disciplina e alegria. O ambiente de aula transmite acolhimento e aceitação. Ele dá base para a relação professor-aluno aflorar e as crianças mostrarem ao mestre do que são capazes.

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Palavras-chave Educação Cósmica Método que ajuda a criança a achar paz, respeitar a natureza, entender que tudo no cosmos está interligado e desenvolver seu lado humano para ser prestativo ao próximo. Com essa técnica e por meio de seus próprios sentidos, o aluno alcançaria uma visão mais aberta sobre a realidade, cultura e dependência do homem à terra. Mente absorvente Estado inconsciente criativo, que absorve os aprendizados. A organização e clima de um espaço impactam fortemente o seu potencial de desenvolvimento. Normalização da criança Integração do ser humano à ordem divina da natureza. Visa unificar a essência do indivíduo com o propósito que Deus deu à sua existência. Para isso acontecer, ele deve ter uma mente, corpo e espírito saudáveis, equilibrados e concentrados. Uma das formas de alcançar esse fim é por meio do trabalho.

Dois estudantes aprendem matemática com a ajuda do material dourado

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Paulo

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Ficha técnica Paulo Reglus Neves Freire Pedagogo brasileiro Nascido em 19/09/1921 em Recife e morto em 02/05/1997 em São Paulo Conceitos gerais: teoria do conhecimento, pedagogia crítica e pedagogia do oprimido Leia mais: Educação como Prática da Liberdade; Convite à Leitura de Paulo Freire; Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa

História pessoal Paulo Freire aprendeu a ler com seus pais, no quintal de casa. As brincadeiras infantis e a natureza foram instrumentos da sua alfabetização. Aos 13 anos passou por miséria, o que atrapalhou seus estudos. Nesse período, enfrentou complexos com o ambiente cultural da sala de aula, pois considerava-se o aluno mais burro e pobre entre os colegas. Em 1964, durante a ditadura militar, Freire foi preso devido às opiniões expressas em seus trabalhos e exilado na Bolívia e posteriormente no Chile. Nesse intervalo de tempo, suas ideias começaram a conquistar notoriedade na América Latina, África e Europa, levando-o a receber diversas honras acadêmicas e colaborar com países como Estados Unidos, Austrália, Índia, Itália e Angola. Retornou ao Brasil em 1980, aos 57 anos. Sua volta significou um novo despertar do debate sobre os problemas educacionais. Desde então, lecionou em diversas universidades, ministrou diversos cursos e recebeu o Prêmio UNESCO 1986 da Educação para Paz.

Princípios pedagógicos Para Paulo Freire, o Brasil precisava de uma reforma total na educação. Freire propunha então um método pedagógico crítico, que acabaria com o que o pernambucano chamava de “ensino bancário”. Ele acreditava que a elite do Brasil, então sob forças autoritárias, estava encarando as classes mais baixas como inferiores e ignorando as opiniões e vontades destes. É

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por isso que o pedagogo queria mostrar ao povo brasileiro como refletir sobre suas responsabilidades e condição social e política para, assim, lutarem pelos seus direitos.

Propostas História, cultura e sociedade Para o ser humano, conhecer o mundo é uma forma de expandir sua própria realidade. Ao longo da vida, é influenciado pelo meio em que vive e se baseia no que observou para criar cultura - ou seja, o resultado concreto de seus trabalhos, o acúmulo de suas experiências. Essa dinâmica entre mundo, indivíduo e sociedade impede que fiquemos intelectualmente empacados: para avançar, precisamos confrontar o que se sabe até agora e adaptar os novos conhecimentos. Se essa liberdade de contato com o contexto da sua existência é barrada, por exemplo ao não participar de atividades que provocam um senso crítico, a pessoa se acomoda, desaprende a discutir e acaba abandonando sua capacidade de criar e inovar. Ela para de questionar as informações, recebendo tudo passivamente de outras pessoas, o que não é saudável para uma sociedade democrática. Curiosidade A curiosidade é a inquietação de perguntar. É parte vital da nossa existência; mãe da criatividade e do conhecimento. Por isso, o professor deve ter humildade e tolerância suficientes para estar sempre aberto à curiosidade do aluno, assim como às suas inibições. Só ensinar “decorebas” significa podar a liberdade e o espírito aventureiro da pessoa. O educador tem de estar ciente também que a curiosidade deve ser constantemente exercitada. Ela deve ser usada para, ao invés de engolir um conteúdo transmitido, digeri-lo após criticamente observado e compreendido. Ética Todos possuímos noções éticas comuns. E a educação deve ser um exemplo de decência e pureza, uma crítica aos desvios de conduta. Deve jamais concordar com a discriminação de raça, gênero, classe ou qualquer outra especificidade, pois, assim, nega a democracia.

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Mas a educação não consegue ser neutra. O que precisa ser buscado não é neutralidade, mas seriedade e integridade por parte do educador. Tão importante quanto a disciplina é a ética por trás de quem a conduz; sua preparação desprovida de arrogância e sua coerência entre o que esse profissional diz e faz. O bom senso também precisa ser o norte de quem educa. Avaliar sua própria postura a todo momento é imprescindível. Alfabetização Aprender a ler e escrever abre a visão do analfabeto para um novo mundo. Ele se torna ativo na sua existência, produzindo cultura. A partir daí, suas atitudes internas mudam pouco a pouco. A alfabetização é, portanto, um ato de criação, que ajuda a desenvolver qualidades como impaciência, vivacidade e insatisfação. Diálogo Dialogar significa manter uma relação de simpatia com alguém enquanto se conversa; é estar no mesmo patamar que essa pessoa enquanto os dois analisam criticamente uma informação juntos. Se, ao conversar, uma das partes impõe sua fala sobre a outra de um jeito arrogante e egoísta, esse vínculo não é construído e aí não se comunica – só se faz comunicados. Em uma aula ideal, o discurso do mestre deveria ser intercalado com a participação oral dos alunos. O silêncio – ou seja, a espera pelo fim de uma fala de alguém – é crucial, pois é nesse intervalo que o que estou escutando, pensando e interpretando vira linguagem na minha cabeça antes de ser verbalizado. Condições para aprender A educação é um ato amoroso e de coragem. Ela não pode ter medo da discussão e da análise do mundo. Por outro lado, a raiva, quando canalizada como protesto contra injustiças, pode servir de ferramenta para resolver problemas da sociedade. Na escola, as conversas pelos corredores com os professores e as brincadeiras no recreio estão recheados de significados. Um gesto mais seco ou uma feição carinhosa do professor podem impactar o aluno profundamente. As condições físicas e higiênicas das salas em que se estuda também afetam a prática pedagógica.

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Dizeres do educador “A alfabetização é mais do que o simples domínio psicológico e mecânico de técnicas de escrever e de ler. É o domínio dessas técnicas, em termos conscientes. É entender o que se lê e escrever o que se entende. É comunicar-se graficamente. É uma incorporação”. “Ensinar não é transferir conhecimentos, conteúdos nem formar é ação pela qual um sujeito criador dá forma, estilo ou alma a um corpo indeciso e acomodado. (...) Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender.” “O intelectual memorizador, que lê horas a fio, domesticando-se ao texto temeroso de arriscar-se, fala de suas leituras quase como se estivesse recitando-as de memória - não percebe, quando realmente existe, nenhuma relação entre o que leu e o que vem ocorrendo no seu país, na sua cidade, no seu bairro. Repete o lido com precisão, mas raramente ensaia algo pessoal”. “O trabalho do professor é o trabalho do professor com os alunos e não do professor consigo mesmo”.

Resumo É impossível uma educação neutra. Por isso, é preciso que aluno e professor tenham uma atitude crítica sobre a prática pedagógica. Senão, o cidadão não consegue se integrar na sociedade e o profissional não melhora seu trabalho. O homem é um ser aberto e toda criação humana é cultura. Os conteúdos da educação devem ser integrados e relacionados com o tempo e espaço em que se vive. É fundamental que a escola estimule continuamente a curiosidade do aluno, ao invés de domesticá-la.

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Palavras-chave Ensino bancário Quando o educador aniquila o espírito criativo do aluno ao se portar como o dono de todo o conhecimento, ao invés de convidá-lo para um trabalho em parceria. Ser inacabado Ideia de que as pessoas sempre podem se desenvolver mais, superar o que foram condicionadas a fazer e alcançar novos desafios. Mudar hábitos é difícil, mas possível. O ser humano vive uma busca contínua e incansável por mais aprendizados.

Paulo Freire é recebido com comoção pública ao retornar do exílio para o Brasil, em 1980

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Ficha técnica Pierre Felix Bourdieu Sociólogo, antropólogo e filósofo francês Nascido em 1/8/1930 em Denguin, em Aquitânia, e morreu em 23/1/2002 em Paris Conceitos gerias: teoria dos campos sociais, violência simbólica e escola libertadora Leia mais: Escritos da Educação; Pierre Bourdieu: Educação Além da Reprodução

História pessoal Bourdieu estudou durante a infância em um internato na pequena cidade de Pau. Em 1951, começou a estudar Letras em Paris e, três anos depois, formou-se em Filosofia. Foi convocado, no ano de 1955, para servir por 12 meses o exército francês durante a Guerra de Independência da Argélia, então colônia francesa. Completado o serviço, permaneceu lá, onde estudou Etnografia e escreveu seu primeiro livro. Voltando para Paris, em 1960, passou a atuar na Universidade de Paris e, quatro anos depois, na Universidade de Lille. Em 1981, tornou-se diretor do departamento de Sociologia do Collége de France. Suas pesquisas influenciaram os debates pedagógicos entre a década de 70 e 80. Até o final de sua vida, tornouse secretário-geral do Centro Europeu de Sociologia, fundou publicações científicas, lançou livros, ganhou prêmios e apoiou causas políticas em que acreditava. Bourdieu morreu de câncer aos 71 anos.

Princípios pedagógicos Bourdieu tratava a educação por três frentes: família, escola e sociedade. Segundo ele, todas essas faces de uma mesma Pedagogia se relacionavam entre si, mas também precisavam ser estudadas e trabalhadas separadamente. O francês focou seus estudos na relação entre classes sociais distintas, principalmente em como cada uma usava a linguagem para abordar pessoas de origens diferentes das suas.

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Propostas Família A família é o primeiro núcleo formador da criança. Dela, virão valores, costumes e capitais que serão enraizados na existência e percepção de mundo dela, o que denomina “habitus”. Esse conjunto de fatores será notado durante o ensino escolar e interferirá no relacionamento entre o aluno e seus colegas. Toda família vive seu habitus, ou seja, estilo de vida social, econômica e cultural que ela conhece e cujos valores domina bem. Marcado por essas características, cada integrante será apresentado com a opção de uma trajetória definida de acordo com esse habitus. Esse caminho parecerá muito natural, pois é similar à existência que ele já conhece. Caberá à pessoa decidir se quer seguir por esse caminho confortável ou rebelar-se contra ele, tendo de enfrentar resistências maiores. É difícil o segundo caso acontecer sem que o indivíduo tenha tido um choque de realidade com conhecidos vindos de um contexto diferente ao dele. Professores O educador deve compreender o seu papel e o da escola perante a sociedade. Ele precisa estar em contínua reflexão sobre seu habitus, capital, trajetória, formação e cultura para, fundamentado em tudo isso, respeitar as diferenças entre seus alunos e ajudá-los a pensar claramente sobre onde vieram, o que sabem e para onde desejam ir. Modelo escolar Para Bourdieu, o sistema tradicional de ensino reforça as desigualdades sociais, pois toda sua organização e estrutura são baseadas na classe financeira dos alunos. Os pais enxergam o colégio como o jeito de transformar seu dinheiro em cultura e conhecimento para seus filhos, o que denomina “capital cultural”. As crianças se sentem inferiores quando percebem um colega com uma oratória ou postura melhores, já que isso significa que sua família possui hábitos mais polidos do que as dos demais. Se a escola tratasse todos os alunos igualmente, não importando o contexto de onde vieram, a engrenagem de expelir candidatos mais pobres deixaria de funcionar. O problema da cristalização das estruturas sociais na escola é que os estudantes mais pobres – e não necessariamente aqueles com um desempenho inferior – acabam ficando frustrados, inseguros e desmotivados a

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continuar com o ensino. Isso porque sentem que sempre ficarão pra trás, já que possuem menos cultura o resto da turma. A solução, segundo o sociólogo, seria “partir do zero”, padronizando o conhecimento cultural de toda a classe durante as aulas.

Dizeres do educador “‘É provavelmente por um efeito de inércia cultural que continuamos tomando o sistema escolar como um fator de mobilidade social, segundo a ideologia da ‘escola libertadora’, quando ao contrário, tudo tende a mostrar que ele é um dos fatores mais eficazes de conservação social, pois fornece a aparência de legitimidade às desigualdades sociais”. “Os alunos ou estudantes provenientes das famílias mais desprovidas culturalmente têm todas as chances de obter, ao fim de uma longa escolaridade, muitas vezes pagas com pesados sacrifícios, um diploma desvalorizado; e, se fracassam, o que segue sendo seu destino mais provável, são votados a uma exclusão, sem dúvida, mais estigmatizante e mais total do que era no passado”.

Resumo Cada pessoa compartilha um espaço social com diversos outros agentes. Durante esta interação, colocam na prática o que trazem do seu habitus e sua coleção de capitais. O sistema escolar tradicional legitima diferenças sociais, culturais e econômica. Esse mecanismo elimina gradualmente as crianças desfavorecidas da sala de aula. A escola é voltada para a transmissão de uma cultura “aristocrática”, com cultura de bom gosto e linguagem polida. Cada família passa para o filho uma herança cultural e valores que definem seu estilo de vida e ficam impregnados, inconscientemente, na sua percepção de mundo. Eles afetarão a experiência na escola com as disciplinas, amigos e taxas de desempenho.

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O educador deve problematizar a existência dos estudantes para que repensem o senso comum e suas vivências. abc

Palavras-chave Campo O campo ou espaço social é o lugar onde acontecem relações entre agentes. Cada um tem regras, dinâmicas específicas e dois polos – um dominante e outro dominado. Estes vão conflitar entre si e são organizados hierarquicamente no campo de acordo com seu capital. Por exemplo, um campo, como a viagem de avião, conta com regras: é proibido fumar ou sentar sem o cinto afivelado durante o voo. Os passageiros conhecem tais condições e as seguem para não destoar do espaço. Agente Cada elemento do campo é um agente. Agentes de um mesmo espaço social compartilham interesses e capital em comum. No caso de um show, o público é formado por agentes com um mesmo capital – dinheiro suficiente para comprar o ingresso – e mesmo interesse – todos gostam daquele determinado estilo musical. Capital Existem diversos tipos de capital: econômico, social, simbólico e cultural. Novamente no caso do avião, os agentes (passageiros) são organizados pelo campo (assentos) segundo seu capital econômico. Quem comprou a primeira classe é dominante e senta-se à frente do avião, recebendo várias regalias, e os dominados (passageiros da classe econômica) recebem o tratamento padrão. Habitus Um comportamento que pode ser tanto coletivo quanto individual, responsável por manter uma ordem social conforme mais e mais pessoas aderem a ela. Rezar, por exemplo, é uma atividade que pode ser feita tanto a sóis quanto em grupo, mas só existe porque uma legião de pessoas vem transmitindo sua prática aos seus familiares e conhecidos ao longo dos anos. Para quebrar um habitus, é preciso entender sua história, origem e estrutura.

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Ideologia do dom Forma de pensar comum nas escolas tradicionais, ela “encurrala” os estudantes a seguirem o caminho ditado por suas famílias, estilo de vida e contexto sociocultural. Um aluno pobre, por exemplo, pode ser desiludido por seus professores a seguir uma carreira cujo curso de formação é caro ou complexo, dizendo que ele é inferior demais para alcançar esse objetivo.

Edifício da Escola Normal Superior de Paris, onde Pierre Bourdieu estudou Letras

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Theodor

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Ficha técnica Theodor Ludwig Wiesengrund Adorno Sociólogo, filósofo e musicologista alemão Nascido em 11/9/1903 em Frankfurt e morto em 6/8/1969 em Visp, na Suíça Conceitos gerais: indústria cultural, cultura de massa, emancipação educacional e Escola de Frankfurt Leia mais: Educação e Emancipação; Palavras e Sinais: Modelos Críticos 2

História pessoal Nascido Theodor Ludwig Wiesengrund, passou a usar sobrenome da mãe quando começou a publicar seus primeiros textos e, posteriormente, oficializou o acréscimo ao se mudar como imigrante para os Estados Unidos. Seu pai era empresário de exportação e a mãe, ex-cantora lírica – por isso, música foi muito presente em sua infância e adolescência. Adorno formou-se com excelência e iniciou estudos de Filosofia, Psicologia e Sociologia na universidade Johann Wolfgang Goethe, em Frankfurt, doutourando-se em 1924, aos 21 anos. Entre 1921 e 1932, escreveu cerca de 100 artigos sobre crítica e estética musical. Poucos anos antes do início da Segunda Guerra Mundial, Adorno estava desiludido com a situação política e social da Alemanha e o nacionalismo entre a população. Isto levou à criação, junto com amigos pensadores como Walter Benjamin e Ernst Bloch, da “Escola de Frankfurt”, corrente de crítica teórica sobre a sociedade inspirada pelo trabalho de Freud, Karl Marx e Hegel. Em 1934, proibido pelos nazistas de lecionar por ser judeu, fugiu para Londres e, quatro anos depois, para os Estados Unidos. Só regressou à Alemanha em 1949. Lá, até o final de sua vida, que chegaria 20anos depois do seu retorno, foi professor na Universidade de Frankfurt e influente na discussão intelectual sobre o futuro do país pós-Holocausto.

Princípios pedagógicos: Adorno não é considerado pela maioria dos estudiosos como um especialista em Pedagogia, algo que ele próprio assumia. Tinha como objetivo entender o pensamento da burguesia da época e, por isso, tocou na questão

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educacional. Apesar do distanciamento com a prática escolar, suas teorias tiveram grande impacto no pensamento pedagógico. Ele culpava a indústria cultural, comercial e propagandista por “amolecer” o raciocínio crítico das pessoas, as quais passavam a acreditar em todas as mensagens que, sem notar, eram transmitidas a elas. O filósofo afirmava que a crise na educação tradicional, a qual nunca funcionou, vinha do distanciamento entre a escola e seu propósito original de oferecer conhecimento e reflexão aos seus alunos. Em tempos capitalistas, dizia ele, a informação virou arma de manipulação, massificando a consciência da população. As lições escolares tornaram-se superficiais, com assuntos condensados e obras literárias resumidas para o entendimento mais fácil da criança. Para Adorno, a escola ideal é baseada no respeito entre as diferenças e combate à alienação.

Propostas O professor Deve querer ajudar seu aluno, com respeito, boa vontade e alta formação cultural, ser articulado verbalmente e permanecer aberto ao contato com outras pessoas e aprimoramento do espírito. E o mais importante: um mestre deve sempre ter amor e compaixão por quem ele ensina. Quem não conta com tais qualidades, precisa desistir de lecionar – ao fazê-lo, estaria espalhando mediocridade e palavras pomposas e vazias pelas escolas. Um bom educador se anima na medida certa: seu entusiasmo não pode ficar só durante a juventude. Ele deve crescer e aprofundar-se com o tempo, sendo direcionado a uma missão concreta. Demonstrar sensibilidade e compaixão também é crucial. Ao invés de passar a imagem de alguém frio e com uma ética imaculada, o professor estabelecerá uma relação muito mais sincera e honesta com os estudantes se disser “sim, eu sou injusto, eu sou uma pessoa como vocês, a quem algo agrada e algo desagrada”. Tal conduta, porém, requer humildade e autocrítica. Modelo escolar O formato tradicional de uma escola é enrijecido, fechado ao que está fora da sala de aula. A única interação com o mundo, sem ser por livros e lousa, é as viagem de meio, que, muitas vezes, chega mais perto de um passeio do que um aprendizado. Adorno criticava o pensamento “quadrado” de instituições que recusam propostas novas e mais livres de ensino.

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Barbárie As ideias de Adorno sobre a sociedade sofreram o impacto do Holocausto. Ele culpava a incompetência da escola e cultura em cumprir sua função por essas atrocidades. Elas são uma regressão ao aspecto mais primitivo e alienado do ser humano. A prioridade da educação é, então, não deixar que algo do tipo aconteça novamente e desensinar a barbárie às pessoas. Impedir a barbárie é crucial para a sobrevivência da Humanidade. Emancipação Para a educação e democracia funcionarem, é preciso que quem participa dela seja emancipado – ou seja, tome decisões conscientes e racionais sobre sua vida. Por isso, a escola precisa preparar o estudante para o futuro e instigar seu pensamento. As pessoas, segundo Adorno, estão “preguiçosas” - elas não gostam mais de viver experiências diferentes e acolher novidades, pois as acham confusas. Televisão O filósofo alemão ficou conhecido por criticar o conteúdo mostrado nas televisões – e não o uso do aparelho, como alguns erroneamente dizem. Achava que a tevê tinha grande potencial de formação cultural e pedagógica, mas novelas e propagandas políticas destorciam essa qualidade. Isso porque, como na televisão tudo é produzido, encenado e embelezado, o telespectador recebe uma versão da realidade tão bem configurada que ele absorve sua mensagem sem nem perceber.

Dizeres do educador “A liberdade não é um ideal, que se ergue de um modo imutável e incomunicável sobre as cabeças das pessoas (...), mas a sua possibilidade varia conforme o momento histórico”. “O magistério também é uma profissão burguesa; apenas o idealismo hipócrita poderia negá-lo. O professor não é aquela pessoa íntegra que forma a expectativa das crianças, por mais vaga que seja, mas alguém que no plano de todo um conjunto de outras oportunidades e tipos profissionais concentrou-se inevitavelmente como profissional na sua própria profissão”.

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“Enquanto a sociedade gerar a barbárie a partir de si mesma, a escola tem apenas condições mínimas de resistir a isto. Mas se a barbárie, a terrível sombra sobre a nossa existência, é justamente o contrário da formação cultural, então a desbarbarização das pessoas individualmente é muito importante. A desbarbarização da humanidade é o pressuposto imediato da sobrevivência. Este deve ser o objetivo da escola, por mais restritos que sejam seu alcance e suas possibilidades. E para isto ela precisa libertar-se dos tabus, sob cuja pressão se reproduz a barbárie”. “Os professores têm tanta dificuldade em acertar justamente porque sua profissão lhes nega a separação entre seu trabalho objetivo — e seu trabalho em seres humanos vivos é tão objetivo quanto o do médico, nisto inteiramente análogo — e o plano afetivo pessoal, separação possível na maioria das outras profissões. Pois seu trabalho realiza-se sob a forma de uma relação imediata, um dar e receber”.

Resumo O ensino é uma ferramenta de resistência à indústria cultural e manipulação. Ele ajuda a desenvolver senso crítico e pensar como um indivíduo, em vez de um participante de uma grande massa uniforme. Quem assiste televisão não costuma ter uma visão crítica sobre o que está vendo e acaba aderindo a ideologias e informações equivocadas involuntariamente.

O papel do educador é ensinar o aluno sensibilidade, respeito e lógica para enfrentar os desafios do futuro A principal função da escola é impedir que a barbárie aconteça. Democracia só existe quando a população é emancipada.

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Palavras-chave Escola de Frankfurt Corrente teórica fundada na década de 20 por Adorno e outros intelectuais. Fundamentada na ideologia marxista e no trabalho de Freud, Hegel, Nietzsche e Kant. O grupo defendia a democracia contra forças totalitárias. Afirmavam que o homem tem direito sobre seu destino e deve usar a razão para alcançar o que quiser. A tolerância é o único meio para estabelecer relações justas e solidárias entre as pessoas. Escola de Frankfurt cunhou os conceitos de indústria cultural e cultura de massa. Heteronomia A submissão de uma pessoa à vontade de outros, de forma que perca sua individualidade e senso de solidariedade, crítica e respeito. Para Adorno, a causa da selvageria humana é a alienação e “sumiço” da identidade própria em meio ao coletivo. Pessoa de espírito Perfil que um professor deve ter. Uma pessoa de espírito recebe treinamento filosófico e coloca seus ensinamentos em prática durante o contato com a criança. Ela entende primeiro a si mesma para depois conseguir simpatizar com os demais. Tabus do magistério A profissão de educador sofre, segundo Adorno, uma série de preconceitos psicológicos e sociais. Entre eles, estão a imagem do mestre como um homem injusto e pouco sério, que maltrata o inocente por puro prazer, inflige castigos corporais e sente-se intelectual, espiritual e moralmente superior aos seus alunos. O perigo estaria em crianças e pais partindo de tais concepções estereotipadas ao lidar com um professor que ainda não conhecem.

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Ficha técnica Waldorf, desdobramento do conceito filosófico “antroposofia” Período: século XIX até hoje Elaborada inicialmente pelo filósofo austríaco Rudolf Steiner na Alemanha Leia mais: A Pedagogia Waldorf

Princípios pedagógicos A “antroposofia” tem como pilares filosóficos o despertar à exploração dos sentidos de clarividência e o amor como base do desenvolvimento social. Segundo ela, só uma educação fundamentada no conhecimento da natureza humana poderia formar a criança. A Pedagogia Waldorf visa desenvolver em harmonia todos os aspectos do ser humano: inteligência, vontades, conhecimentos, ideologias, etc. Por meio da Pedagogia, a criança consegue estabelecer um relacionamento saudável com o mundo, não importa de qual classe econômica ou cultural ela for. O centro do ensino é a relação professor-aluno. A escola tem uma conexão estreita com o lar e as crianças devem aprender da convivência com os outros, e não dos livros. Por isso, montam seus próprios cadernos, desenhados de acordo com suas personalidades e memória do que viram em aula.

Propostas Corpos Além do corpo físico, todo humano tem outros dois corpos. O primeiro deles, formado por energias que dão vida ao ser vivo, é chamado de corpo “etérico” ou “plasmador”. Ele é imperceptível aos cinco sentidos – só consegue ser notado por quem chegou a um nível avançado de clarividência. O segundo é o corpo “astral” ou “aura” e envolve os sentimentos. É mais sutil que o etérico e requer órgãos superiores ainda mais refinados para ser identificado. Quanto mais puros e altruístas os sentimentos de alguém, mais brilhante é sua aura. A combinação desses três corpos constitui a consciência e permite que o indivíduo domine suas vontades, seja crítico sobre a realidade e pondere opções, decisões e consequências.

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Cada pessoa tem também um ego, que fornece uma personalidade única e se baseia nos corpos – sente, deseja, pensa, recorda por meio deles. Reencarnação O ser humano se desenvolve por meio de conhecimentos que adquire e aprimora ao longo da vida, jamais chegando a uma completude. Por isso, ele precisa se manter aberto a qualquer tipo de informação que possa ajudá-lo a sobreviver e crescer espiritualmente. O contato entre os corpos e o ego cria a alma. Esta gera uma ligação entre o ego e o mundo exterior e se manifesta de três formas: Alma sensível ou da sensação: proporciona os detalhes sensoriais de vivências, como a sensação ao ouvir uma música ou ver uma cor. Alma do intelecto ou do sentimento: ajuda a formular e organizar ideias e, assim, compreender o mundo, pensar de forma abstrata. Alma consciente ou alma da consciência: faz a pessoa reconhecer sua individualidade e o contraste entre seu ego e a realidade. Como todos estão em um constante processo de evolução, cada pessoa passa por uma série de vidas terrestres. Elas servem para que o indivíduo enfrente desafios, condições e problemas que, se bem resolvidos, permitirão a ele tornar-se alguém melhor, limpando seu karma ou destino. Pensar, sentir, querer As ações de uma pessoa são divididas entre pensar, sentir e querer. Sentimentos interferem no raciocínio e na vontade. O intelecto é consciente, o querer inconsciente e o sentimento, um intermediário entre os dois estados. Setênios A vida de uma pessoa é feita de vários ciclos de sete anos, período durante o qual ela se desenvolve de uma forma mais alarmante. A educação acontece nos primeiros três setênios e, em cada um deles, existem necessidades específicas. Durante o primeiro ciclo, a criança aprende por imitação, torna-se independente do ponto de vista do corpo físico, reforça seu raciocínio e entra na maturidade escolar. No segundo, é a vez do corpo astral: aprende muito, melhora a memória e começa a explorar seus sentimentos e contextualizar sua existência dentro de uma sociedade. Aos 21 anos, o jovem perde ilusões, busca a honestidade e vira crítico sobre tudo. Isso pode levar a uma crise de identidade e desentendimentos

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com seus pais, amigos, professores e estilo de vida. Porém, se sua vida tiver sido harmoniosa até então, ele irá superar essa fase. Nessa época, o ego é libertado, ajudando a chegar a uma maturidade moral e intelectual, usar o livre arbítrio e escolher suas convicções pessoais. O desenvolvimento de homens e mulheres são semelhantes, mas o sexo feminino mantém mais contato com o corpo sentimental e sua autoconfiança ao longo da adolescência, enquanto o masculino foca em seu ego, ainda imaturo, e mostra tendências à insegurança e isolamento. Educador Tem um papel tão importante quanto o aluno no processo de aprendizagem. A principal meta do professor é ajudar seu aluno a concretizar sua personalidade, integrando-o à vida social e fazendo da atual encarnação a melhor de todas. Por isso, não pode podar os dons que este tem ou criticar a ausência de certas habilidades. Pelo contrário: deve encorajar seus pontos fortes e auxiliá-lo a aprimorar seus pontos fracos por meio do zelo. Ele precisa ser aberto, respeitoso, esforçado e humilde. Deve respeitar as diversas religiões, evitar a pregação do ateísmo e zelar pela criança, ensinando-a responsabilidade coletiva e senso crítico. Tem que conhecer os detalhes de cada setênio, ser crítico sobre sua didática, saber de Psicologia infantil e qual formato de atividade é mais apropriado para cada criança. Punições devem ser usadas com cautela e de forma justa, ágil e consciente - se a criança se sente abusada, ela perde o amor pelo trabalho. O bom educador também sabe dosar o tom autoritário e inspirar admiração nos estudantes ao ponto deles reconhecerem sozinhos as habilidades que o mestre tem a oferecer. Precisa achar um equilíbrio entre o quanto de liberdade e exigência os integrantes da classe merecem. Cada série de ensino requer um profissional com um conjunto de qualidades que atenda às necessidades do setênio pelo qual os alunos estão passando. É comum na escola Waldorf ter o “professor de classe”: um educador que acompanha a mesma sala do primeiro até o oitavo ano, lecionando disciplinas tradicionais, como História e Aritmética. Ele vai cultivar um relacionamento pessoal com seus alunos e os pais deles e, assim, terá uma visão completa daquele ser. A partir da nona série, cada matéria passa a ser ministrada por um especialista do assunto. A sala ganha também um tutor, quem faz a ponte entre as impressões dos estudantes e a prática dos educadores. Ele ajuda a resolver desavenças e comunica informações importantes às famílias.

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Temperamentos Existem quatro tipos de temperamentos que uma pessoa pode ter: Sanguíneo: elétrica, não para no lugar, nem se concentra por muito tempo em uma mesma tarefa e está sempre feliz. Costuma ser inteligente, mas preguiçosa e com pouca ambição. Dorme e acorda com facilidade. Gosta de comida picante e pesada. Melancólico: é o oposto do sanguíneo. Está sempre triste, teme o contato com o mundo. Gosta de se isolar em uma fantasia que cria dentro de si. É lento, desajeitado e sensível, física e psicologicamente. Tem dificuldade em fazer amizades e uma propensão a doenças. Come pouco, dorme mau, gosta de doces e música, odeia frio, violência e exercício físico. A cura para os problemas desse temperamento é o carinho e calor humano. Colérico: é atlética, pequena, forte. Qualquer acidente, leva-a a estourar de um jeito descabido. Passando a agressividade, ela lamenta o comportamento, mas, em pouco tempo, ele se repetirá. Por outro lado, um colérico é responsável, persistente, corajoso e aplicado. Tem uma vontade imensa de aprender. É um líder, ético. Não adianta argumentar com um colérico durante uma de suas crises - razão só entrará na sua cabeça quando estiver calmo. Para canalizar sua raiva recorrente, a melhor forma é demonstrar que ele é amado e fazê-lo gastar seu excesso de energia. Fleumático: sonolento, passivo, devagar, introvertido, desinteressado sobre o mundo e, com frequência, acima do peso. Parece viver em um sonho, distante e inabalável. É, porém, fiel, bondoso, sereno, metódico, perseverante e bom com artes. Seu tratamento é ter a atenção e consciência acordadas: deve comer mais frutas e legumes, dormir menos, movimentar-se. Normalmente, cada ser humano tem traços de dois ou mais desses temperamentos. Agrupar alunos com temperamentos em comum em uma mesma mesa pode ser uma boa técnica pedagógica, já que eles se sentirão mais à vontade com gente parecida e ajudarão um ao outro.

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Modelo escolar A escola Waldorf é a que mais se distancia do formato tradicional de aula. Todas as matérias são obrigatórias e nenhuma visa a formação profissional para o mercado. É importante focar em ensinos atuais, que combinem com a época vivida. Um ensino programado e simplificado demais, que dita conhecimentos enciclopédicos de um jeito pouco atraente e sem relação com a vida cotidiana, bitola. O aluno precisa sair da aula com o desejo de contribuir positivamente com o mundo, em vez de entediado e com algumas informações decoradas. A Pedagogia valoriza atividades artísticas e rudimentares, como artesanato, tecelagem, panificação, jardinagem, música, exercícios físicos e pintura, pois considera que enriquecem a formação do aluno e treinam sua sensibilidade, perseverança e capricho. Elas exigem prática contínua e, por isso, são estudadas durante o ano inteiro. Quanto às demais disciplinas, estas são ministradas em temporadas: durante algumas semanas, são dadas por duas horas a cada dia e, quando o período acaba, outra matéria entra em seu lugar. Isso funciona porque a criança fica imersa em um assunto, interessando-se e aprendendo melhor o conteúdo. Para ativar a curiosidade da criança, o professor deve começar um conteúdo pela parte prática. Por exemplo, fazer um experimento em uma aula de Química e só depois justificá-lo com a parte teórica. Ao invés de livros didáticos, os alunos copiam da lousa aquilo que o professor escreveu até virarem independentes o bastante para registrar suas próprias impressões do que foi passado. A classe A sala de aula é uma amostra do mundo: todos os conflitos e amizades da vida real estão lá dentro também. Em uma mesma classe, deve haver crianças de todos os sexos, temperamentos, etnias e aptidões. É por isso que a sala tem que ser relativamente grande, se não essa diversidade social não existe. Os estudantes criam laços fortes entre si e com seus professores conforme fazem excursões, trabalham em conjunto e conversam. Avaliações Na escola Waldorf, os alunos não fazem provas nem recebem notas pelo seu desempenho. Avanço e excelência são baseados em aspectos da personalidade deles: aplicação, fantasia, lógica, ortografia, etc.

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Ao final do ano, cada criança recebe um boletim com uma descrição da sua trajetória, escrita pelo professor. A escola e os pais fazem juntos um julgamento integral do avanço do aluno: desde seu comportamento até relações e conhecimento. Se for notado um fraco desenvolvimento, todos tentarão ajudá-lo, ao invés de repeti-lo de ano – ação considerada danosa pela Pedagogia Waldorf. Contos de fada São um instrumento decisivo na educação durante o primeiro setênio. Um conto de fada expressa verdades da vida adulta de um jeito lúdico e simplificado, construindo criatividade, curiosidade e moral. Eles também ajudam a criança a entender seus medos e vontades. Histórias fantásticas devem ser contadas em voz alta em um ambiente descontraído - nunca lido com desânimo ou ouvido em um disco. Educação sexual Durante a puberdade, o ego desperta um novo traço da personalidade - a atração sexual. A educação sobre amor e sexo deveria começar com os pais, que devem conhecer bem seu filho e, assim, encontrar um jeito apropriado de falar sobre o assunto. Qualquer pergunta feita, deve receber uma resposta apropriada para a idade e nível de compreensão da criança. Isso porque cada criança alcança a maturidade para falar sobre sexo em uma época diferente, não importa se estudam na mesma série. Então, ao invés de fixar na explicação de fatos científicos sobre o sexo, tanto o professor quanto os pais dos alunos devem sentir quão desconfortável eles estão com a conversa e dosar a intensidade do que dizem.

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Rudolf Steiner, filósofo austríaco responsável pela elaboração da pedagogia Waldof

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Palavras-chave Waldorf A Pedagogia foi batizada em homenagem à fábrica de cigarros Waldorf-Astoria, do estado alemão Wuerttemberg. Em 1919, seu dono, Emil Molt, solicitou a Steiner que criasse uma escola para os filhos de seus funcionários. Ele aceitou com a condição de poder implementar seu próprio método de ensino. Antroposofia Ciência espiritual criada por Steiner, sobre a qual ele desenvolveu seu processo educacional. O conceito nada tem a ver com religião: ele dita que todo ser humano é dividido entre os corpos físico, vital, etérico, anímico e o Eu. Lei da metamorfose O ser humano está em constante transformação. Suas emoções, aptidões e moral mudam de acordo com as vivências que vai juntando.

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