A ação missionária dos Jesuítas no Brasil e no Paraguai

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A ação missionária dos Jesuítas no Brasil e na Colômbia - um estudo sintético e comparativo -

Felipe Rodrigues Pereira Brasília, 2010


INTRODUÇÃO Em 1548, época da criação do Governo Geral do Estado do Brasil, D. João III, chefe da Coroa Portuguesa e grande auxiliador da Companhia de Jesus, decide, diante de toda a relação amistosa da Coroa Portuguesa com a Companhia fundada por Santo Inácio de Loyola, instalar os missionários na colônia portuguesa. É importante ressaltar que os jesuítas haviam sido convidados pelos portugueses para “a evangelização dos gentios e a propagação do cristianismo, nas áreas coloniais” (FRANZEN, 1999) e que sua partida ao Brasil só ocorreu depois que o missionário Francisco Xavier partiu à Índia. A chegada no Brasil dos padres jesuítas Leonardo Nunes, João de Azpilcueta Navarro e Antonio Pires, dos irmãos Vicente Rodrigues e Diogo Jacome, chefiados pelo padre Manuel da Nóbrega, se deu em 29 de março de 1549, na Bahia, após uma viagem tranquila. Em São Vicente, província do Sul do país, Manuel da Nóbrega recebeu uma carta de Sto. Inácio de Loyola, informando-lhe a criação da Província do Brasil e a nomeação de Nóbrega como Provincial, mas cuja província ainda continuava sobre a assistência portuguesa. Por outro lado, a relação da Coroa Espanhola com os jesuítas nem sempre foi tão amistosa, pois haviam vários embates entre Felipe II e o Papa Pio V, adversidades contornadas por Francisco Borja em 1568. O Vaticano criou uma comissão episcopal para tratar de questões relativas à atividade missionária no Ocidente; no entanto, Felipe II, Rei da Espanha, via tal atitude com desconfiança, e criou outra comissão, a Junta Magna, constituída de Teólogos e juristas para tratar da reorganização eclesiástica das possessões espanholas na América. Segundo Franzen, “os primeiros jesuítas que vieram à América Espanhola dirigiram-se à Flórida, no ano de 1566 (...). Em Marco de 1566, Felipe II solicitava 24 jesuítas para serem enviados para a América, em regiões que seriam indicadas pelo Conselho das Índias.” No entanto, o responsável pela Companhia na Hispanoamérica, Francisco de Borja, para solucionar alguns problemas que considerou graves, como a falta de comunicação entre a coroa e as colônias, escolha dos provinciais e superiores das missões, Borja redigiu um direcionamento (Instrução) para os missionários, que estava direcionado nos termos da maneira de agir, dos cuidados com a segurança, da busca da conquista dos principais entre os gentios, da busca do heroísmo e das relações com autoridades. Borja se preocupava, principalmente, com a conquista das almas, e, para que isso


acontecesse de modo “que fossem bem provados e catequizados, para que não voltassem facilmente o culto a suas idolatrias”, a escolha dos missionários e provinciais deveria ser lenta e segura, “sem se preocupar com o espírito fogoso dos conquistadores e colonizadores que desejavam avançar rapidamente”, além evitar a dispersão com a finalidade de que a conquista não fosse perdida. A Igreja Católica, diz que “cada um por sua própria parte deve contribuir para o incremento e para a difusão do reino de Deus na terra. O nosso predecessor Pio XII lembrou a todos este dever universal: ‘A catolicidade é uma nota essencial da verdadeira Igreja: a tal ponto que um cristão não é verdadeiramente afeiçoado e devotado à Igreja se não é igualmente afeiçoado e devotado à universalidade dela, desejando que ela lance raízes e floresça em todos os lugares da terra’. Todos devem entrar numa porfia de santa emulação e dar assíduos testemunhos de zelo para o bem espiritual do próximo, para a defesa da própria fé, para fazê-la conhecer a quem a ignora completamente ou a quem mal a conhece e por isto a julga mal. Desde a infância e desde a adolescência, mesmo nas mais jovens comunidades cristãs é necessário que o clero, as famílias e as várias organizações locais de apostolado inculquem este santo dever. Depois, há algumas ocasiões particularmente felizes, em que tal educação no apostolado pode achar o lugar mais adequado e a expressão mais convincente. Tal é, por exemplo, a preparação dos rapazes e dos neo-batizados para o sacramento da Confirmação, com o qual ‘é infundida nos crentes uma nova força para defenderem a santa mãe Igreja e a fé que dela receberam’” (JOÃO XXIII, 1959). Ainda, para o Vaticano, “nas novas cristandades, não se trata somente de proporcionar, com as conversões e os batismos, um grande número de cidadãos ao reino de Deus, mas também de os tornar aptos, por uma adequada educação e formação cristã, a assumirem, cada um segundo a sua condição e as suas possibilidades, as suas responsabilidades na vida e no futuro da Igreja. O número dos cristãos pouco significaria se faltasse a qualidade, se faltasse a solidez dos próprios fiéis na profissão cristã, e se faltasse o aprofundamento da sua vida espiritual; e se, depois de haverem nascido para a fé e para a graça, eles não fossem ajudados a progredir na juventude e na madureza do espírito que dá impulso e prontidão para o bem. Com efeito, a profissão de fé cristã não pode ser reduzida a um dado anagráfico, mas deve investir e modificar o homem no profundo (cf. Ef 4,24), dar significado e valor a todas as suas manifestações”. (idem)


OS JESUÍTAS NO BRASIL Os primeiros jesuítas chegaram ao território brasileiro em março de 1549, juntamente com o primeiro governador-geral, Tomé de Souza, comandados pelo Pe. Manuel da Nóbrega, e edificaram a primeira escola elementar brasileira, em Salvador, tendo como mestre o Irmão Vicente Rodrigues, que tinha apenas 21 anos. Irmão Vicente tornou-se o primeiro professor nos moldes europeus e durante mais de 50 anos dedicou-se ao ensino e a propagação da fé religiosa. No Brasil, os jesuítas se dedicaram à pregação da fé católica e ao trabalho educativo, percebendo que não seria possível converter os índios à fé católica sem que soubessem ler e escrever. De Salvador, onde chegaram, os jesuítas (primeiros missionários chegados ao Brasil), foram ao sul, e, em 1570, a ordem jesuítica era composta por cinco escolas de instrução elementar: Porto Seguro, Ilhéus, São Vicente, Espírito Santo e São Paulo de Piratininga, e três colégios: Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia. Além das terras em que os jesuítas mantinham escolas, noutras fazia-se a apropriação do trabalho agrícola do indígena, a fim de se garantir fonte de renda e desviar os povos originários dos interesses diretos da metrópole. Assim, as Missões acabaram por transformar os índios nômades em sedentários, o que contribuiu decisivamente para facilitar a captura deles pelos colonos, que conseguem, às vezes, capturar tribos inteiras nestas Missões. No entanto, padre Antônio Vieira, sempre defendeu, com seus triunfos oratórios e políticos, a liberdade dos indígenas, de forma que a resistência contra as invasões dos holandeses se organiza numa aldeia jesuítica. Paulo de Assunção aponta que os jesuítas tinham uma acuidade muito grande com relação aos engenhos, de modo que os religiosos foram, na maioria das vezes, zelosos para com a contabilidade. Com relação à administração e contabilidade, os padres-procuradores dos colégios, que visavam evitar desvios e exercer um controle sobre a produção, exerciam a administração das propriedades com os mesmos princípios normativos que davam organização à Companhia de Jesus, a qual mantinha, segundo Assunção, grandes ligações com a Coroa Portuguesa, remetendo à metrópole relatórios de produção de açúcar e praticando troca de produtos e favores. Ainda, o autor coloca que as fazendas permitiram que os religiosos gozassem de privilégios reais, sociais e políticos que a missão envolvia.


A administração eclesiástica acompanhou no Brasil Colonial, ao passo que a própria evolução administrativa da Colônia: a criação de capitanias, comarcas e freguesias eram acompanhadas pela criação de prelazias, dioceses e paróquias. Os jesuítas atuaram nas frentes do trabalho missionário com os índios e a educação com a fundação dos colégios. A Companhia de Jesus foi instrumento fundamental para a evangelização das colônias americanas, e o ensino desenvolveu-se influenciado pela cultura religiosa do colonizador, pois não conseguiram dissociar a evangelização do processo colonizador luso-brasileiro. Sua presença foi tão significativa que seus colégios constituíram-se como marcos da ação colonizadora portuguesa na América. Além disso, contribuíram para amenizar as tensões entre indígenas e colonos.


Os jesuítas na Colômbia Em março de 1590, três jesuítas de Lima, Padres Francisco de Victoria, Antonio Linero e seu irmão coadjutor Juan Martínez, foram convidados pelo recémnomeado presidente do Novo Reino, Don Antonio González, para formar parte da comitiva que o acompanharia até sua capital, com a finalidade de ver a possibilidade de estabelecer a Companhia de Santafé, em Bogotá. Em outubro do mesmo ano, já em Bogotá, uniu-se aos missionários o padre Antonio Martínez, enviado pelo Provincial do Peru como superior do grupo. Os Colégios Jesuítas na Colômbia colocam objetivos gerais para a evangelização: favorecer a integração de seus Colégios e instituições, para contribuir com a tarefa de transformar as estruturas econômicas, sociais, políticas e culturais, mediante o “serviço à fé e a promoção da justiça”; impulsionar a formação das pessoas que constituem a Comunidade Educativa em cada instituição, para que possam contribuir com a melhora da qualidade de vida das sociedades, mediante a transformação da realidade nacional; propiciar a reflexão sobre a Pedagogia Inaciana com seu fazer educativo e sua implementação nas entidades associadas procurando que se homogeneíze o projeto educacional; trocar experiências, conhecimentos, inovações e recursos para lograr uma melhor qualidade de suas instituições, de forma coerente com o Projeto da Pedagogia Inaciana; assegurar uma participação coordenada entre os diferentes organismos, associações, fundações e instituições relacionados com a tarefa educativa da Colômbia e da América Latina, no âmbito internacional, que possam contribuir ao logro destes objetivos; participar ativamente e vincular-se a outras organizações de educação católica e privadas cujos objetivos sejam os fins em si próprios. Muito além disso, os jesuítas participavam de várias esferas da sociedade, como política, educação, economia e religião. Além disso, embora não intencionalmente, os jesuítas na Colômbia foram precursores do Partido Comunista, por terem vários seguidores imersos em vários setores sociais, como exército, governo, comércio etc. Devido a esse fato, que possibilitou aos povos indígenas pegar em armas, críticos contemporâneos dos Jesuítas acusam-nos de paternalismo no tratamento com os indígenas.


A primeira diocese católica foi estabelecida na Colômbia em 1534, enquanto os primeiros missionários protestantes chegaram ao país em 1825. Hoje, os protestantes compreendem 18% da população do país e os católicos 80%. Em 1953, um "tratado de missões" deu direitos exclusivos de evangelização no país às ordens missionárias católicas. Mais tarde, esse tratado foi revogado e a constituição de 1991 eliminou a posição privilegiada da Igreja Católica na sociedade, concedendo maior liberdade às minorias religiosas.


Conclusão Em ambos os países, a relação entre Estado e Igreja era muito próxima, na medida em que ambas empreendiam medidas que colaboravam com seus interesses mútuos. Enquanto os jesuítas tinham apoio na catequização dos nativos, o Estado contava com auxílio clerical na exploração do território e na administração. Os jesuítas passaram a não só tratar da conversão dos nativos, bem como a administrar as principais instituições de ensino da época e auxiliar os mais importantes órgãos de administração e controle da metrópole. No entanto, houveram conflitos entre os colonos e os jesuítas. Nas primeiras décadas da colonização, a enorme dificuldade para se obter mão de obra escrava africana motivou vários colonos a buscarem a força de trabalho compulsória dos índios. Logo de início, os jesuítas se opuseram a tal prática, já que a transformação dos índios em escravos dificultava imensamente o trabalho de evangelização. Isso fez com que fossem conhecidos posteriormente pelo caráter “revolucionário”, já que, devido à fundação católica, a exploração de mão-de-obra indígena, até então ainda não estabelecida seria como curvar-se aos interesses lateralmente estabelecidos dos “colonizadores”. Embora também colonizadores, os jesuítas estabeleceram grande influência na educação brasileira, mas anos depois contrastada com o modelo pombalino. Assim, vê-se um cenário de contrastes, no qual imperam grandes contradições e interesses, aliados ou não à metrópole. A modernidade da Companhia de Jesus não estava somente na luta pela fé, mas no compartilhar de uma vivência social na qual se incluía a habilidade para uma eficiente atuação econômica que suportasse a atividade missionária e seu crescimento. As práticas administrativas empregadas pelos religiosos mostram um racional planejamento do sistema produtivo. Os religiosos deviam administrar as propriedades a fim de assegurar novas compras de terras, modificar a estratégia de produção, garantir a posse do patrimônio em consonância com as leis e defender os bens conquistados das demandas.


Referências Bibliográficas João XXIII . Princeps Pastorum – as missões católicas. Carta encíclica, 1959. ASSUNÇÃO, Paulo de. Negócios Jesuíticos – o cotidiano da administração dos bens divinos. São Paulo: Editora USP, 2004. FRANZEN, Beatriz Vasconcelos. Jesuítas portugueses e espanhóis e sua ação missionária no sul do Brasil e Paraguai (1580-1640). Editora Unisinos.

< http://www.jesuitas.com.br/Historia/mundo.htm> <http://www.vestibularseriado.com.br/historia/apostilas/item/210-aadministracao-colonial> <http://goliath.ecnext.com/coms2/gi_0199-460520/The-Jesuits-in-LatinAmerica.html> <http://www.hipernova.cl/LibrosResumidos/Historia/LibertadoresSudamerica/ JesuitasSudamerica.html> <http://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=2465251> <http://www.presidencia.gov.co/prensa_new/discursos/discursos2005/junio/je suitas.htm> <http://www.jesuitas.org.co/hacemos/LosColegiosDeLaCompania.html>


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