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A lusofonia nossa de cada dia Primeiro grande evento de comemoração aos 500 anos de descobrimento do Brasil, "Navegar é Preciso" reúne artistas de língua portuguesa dos três continentes Marcos Bragato Especial para o anexo

São Paulo deu a largada para as comemorações dos 500 anos de descobrimento do Brasil com o megaevento multidisciplinar "Navegar é Preciso Portugal, Brasil, África", que até 18 de outubro reúne cerca de 500 artistas e intelectuais brasileiros, portugueses e africanos. Nesse período, o sotaque português vai dar o tom de diversas manifestações como teatro, dança, artes plásticas, música popular e erudita, além de uma exposição virtual instalada numa área de mil metros quadrados do Centro Cultural de São Paulo. Segundo a diretora do CCSP, Miriam Bolsoni, ao adotar a língua portuguesa como fio condutor, foi possível detectar as similaridades e peculiaridades de cada uma dessas culturas dentro do universo lusófono. "A opção por uma linha de investigação calcada na estética desses países permitiu aos curadores uma criteriosa seleção de seus mais representativos e atuais artistas e espetáculos", argumenta. Na Caravela Virtual, por exemplo, o visitante será convidado a realizar uma viagem pelo tempo nas navegações portuguesas. Seis módulos realizam esse transporte: multivisão, área de identificação e espera, portal do tempo, caravela, área de microcomputadores e a projeção do filme "A Viagem", que relata a chegada dos portugueses ao Japão, sob a ótica japonesa. Com o uso de diversos equipamentos tecnológicos, a ambientação, mesmo inspirada no século 16, é ficcional, dando à exposição um caráter atemporal. Mas "Navegações Portuguesas", inspirada no pavilhão português da Expo 98, que transcorre em Lisboa, conduz também o visitante ao mundo mítico que povoava a imaginação dos marujos por intermédio do embarque virtual em uma caravela portuguesa. Todo o sistema que move a exposição se compõe apenas de um único computador, que controla o som, a luz, o vídeo e demais recursos cenográficos. O grande destaque são os 13 projetores de vídeo que compõem o cenário virtual em 360 graus, oferecendo ao visitante uma visão geral e ampla da caravela.

Dança Trabalhando com três simultâneos e diferentes momentos, a programação de dança reúne mais 100 bailarinos e coreógrafos portugueses e brasileiros. Em um deles, a atração é a presença do Ballet Gulbenkian, a maior e mais famosa companhia portuguesa, que se apresenta no Teatro Municipal de São Paulo. Dirigida pela professora brasileira Iracity Cardoso, os 35 intérpretes dançam quatro obras pontuadas por questões introspectivas, desejos e musicalidade.


"Espaço Plano em Movimento", do português Rui Horta, e "O Efeito Borboleta", do israelense Itzik Galili, trabalham relações existenciais. A primeira é um trabalho sobre o espaço e os limites emocionais. A segunda, esboça a relação entre um homem, uma mulher e seu amante. Por outro lado, "The Vile Parody of Address", do coreógrafo americano William Forsythe, e "Seis Danças", do checo Jiri Kylián, tomam como ponto de partida as partituras de Bach e Mozart, respectivamente. Num outro momento, a programação se fixa na mostra de dançarinos e coreógrafos reunidos em quatro duplas que se apresentarão no Centro Cultural São Paulo: Vera Mantero e Francisco Camacho são considerados os pais da Nova Dança Portuguesa, movimento recente iniciado no final dos anos 80. Paulo Henrique e Aldara Bizarro, por sua vez, são seus filhos artísticos. Os brasileiros serão representados por Sandro Borelli (premiado por três vezes pela Associação Paulista de Críticos de Artes) e Mário Nascimento, que personificam a rebeldia masculina da dança dos anos 90, ao passo que a paulista Marta Soares e a baiana Ana Vitória revelam a nova engenharia coreográfica surgida entre as mulheres criadoras da cena nacional. Num terceiro momento, cinco companhias apresentam no CCSP os termômetros conceituais nas danças portuguesa e brasileira. Enquanto a Companhia Olga Roriz é a mais antiga delas, a de Paulo Ribeiro é a mais jovem num país em que o governo tem reservado maciço apoio à dança (Portugal, claro). Do Brasil, atuam a companhia mineira UR=HOR, de Adriana Banana, a da paulista Marta Soares e o Ballet de São José do Rio Preto.

Teatro A programação teatral também é intensa, com grupos portugueses se alternando em duas ou três montagens que refletem as tendências dos anos 90. Para o curador da mostra teatral do evento, o crítico Sebastião Milaré, a participação do teatro obedece à clave da lusofonia, ou seja, "das raízes de nossas culturas, às quais destinos históricos, idiossincrasias étnicas e variações geográficas outorgaram diferentes horizontes estéticos, mas que permanecem solidamente unidas pelo idioma". A presença portuguesa chega com os grupos Escola da Noite (Coimbra), Teatro da Garagem (Lisboa), Teatro Meridional (Lisboa) e Teatro Regional da Serra de Montemuro (Campo Benfeito) para apresentar pelo menos dez diferentes espetáculos. A participaçào brasileira se fixa na Agitad Gang (Paraíba), Cia Megamini (São Paulo) e Teatro Medieval (Rio). De Luanda (Angola) vem o Elinga-Teatro para uma representação simbólica dos países africanos. Os teatro brasileiro e português serão discutidos em mesas-redondas e seminários a partir da Cena Lusófona, entidade instituída em Portugal e logo apoiada pelos governos do Brasil e dos demais países africanos de língua portuguesa. No encerramento da Cena Lusófona, o diretor Antunes Filho mostra a performance "Prêt-à-Porter", com atores do CPT/Sesc, como resultado de seu método de pesquisa. o que: "Navegar é Preciso Portugal, Brasil, África". quanto: os espetáculos com ingressos a R$ 3,00; exposições com entrada franca. onde: Centro Cultural de São Paulo e Teatro Municipal. Mais informações pelo telefone (011) 277-3611 e 258-4780. quando: até 18 de outubro.

In: http://www1.an.com.br/1998/set/07/0ane.htm


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