AJUDA ESPECIALIZADA PIMPUMPLAY QUESTÃO COLOCADA (http://www.pimpumplay.pt/Paginas/AjudaEspecializada.aspx) Ando no Pedopsiquiatra com o meu Filho de 6 anos. Não compreendo porque é que lá dizem que o menino apresenta características do Síndrome de Asperger, mas que é impossível dar um diagnóstico correcto para todas as pessoas que tenham Asperger. O meu filho tem 6 anos. Desde pequenino que ele tem demonstrado algumas diferenças em relação aos outros meninos de idade igual, ao início pensámos que seriam mimos ou simplesmente ele era assim, mas que passava. Organiza brinquedos; se alguém lhe tira um boneco da ordem ele enerva-se. Tem momentos que parece que está ausente, mas apercebe-se de tudo o que o rodeia. Houve uma altura que chegou a ter 5 tiques diferentes. Não tolera bem mudanças na nossa casa e dá por mudanças na casa dos outros. Decora todas as coisas pelas quais tem interesse, planetas, corpo humano, mas não consegue decorar o nome dos colegas. Tem que se ter cuidado com aquilo que lhe dizemos pois é muito sensível. Como não brinca como os outros meninos não se entende com eles. Diz que os meninos na escola são inimigos. Tem muitos medos e fixação pela morte. Aos 2 anos e meio teve um irmão; só o aceitou quando este já tinha 1 ano, não lhe querendo tocar sequer. Mas só há coisa de 2 anos é que tive a iniciativa de procurar ajuda.
Cara mãe, Cabe-nos em primeiro lugar, e mais uma vez, deixar bem claro que a nossa função e o nosso objectivo não é o de discutir diagnósticos, mas sim o de reflectir sobre possíveis alternativas para promover o desenvolvimento humano, interpretando as pistas deixadas pelas descrições que recebemos, associadas, neste caso, à definição dum quadro clínico (Síndrome de Asperger). Há também outros assuntos que nos expõe e que não podem ser abordados numa rubrica deste género, sem conhecer a criança, como seja a questão dos medos. No entanto, vamos tentar abordar o caso respondendo à sua questão central, mas tentando também contribuir para a reflexão dos leitores sobre formas de intervenção para a resolução de alguns dos problemas descritos. Da nossa experiência, em termos generalistas, um diagnóstico resulta dum estudo objectivo de diversas variáveis do foro comportamental, físico, cognitivo e social, que se traduz no agrupamento de sintomas (manifestações da doença) e condições (estados de organização interna do indivíduo), numa designação patológica (o nome que se dá à doença); ou seja, se o indivíduo reunir um conjunto de factores descritos para uma patologia, presume-se que padeça dessa patologia. No entanto, quando falamos de patologias do foro “mental”, comportamental, a missão de categorizar e definir com certezas absolutas a “doença” é bastante complicada; isto acontece por várias razões, mas a mais significativa reside, pensamos, no facto de estarmos a lidar com perturbações do desenvolvimento sobre as Aldeamento Santa Clara | Rua da Carvalha, 570 2400-441 Leiria www.pimpumplay.pt email: geral@pimpumplay.com pimpumplay é uma marca registada da Encontros, Lda. NIPC: 509 034 721
quais ainda não se descobriu um significado ou tradução biológica clara; ou seja, se no caso de uma constipação sabemos que o organismo está a ser atacado por um vírus, ou numa doença cardíaca conseguimos observar anomalias nos tecidos ou no funcionamento do coração, no caso de Perturbações como o Síndroma de Asperger não há ainda um desencadeante claro, nem existe uma estrutura ou descrição objectiva da sua organização “física” (como é que ela afecta, por exemplo, o cérebro do doente), que ajude os técnicos a perceber e a combater o problema. Mas há muitas pistas. Sabemos que no caso do Síndrome de Asperger se evidenciam sobretudo (entre outras) as dificuldades no plano social, da regulação dos mecanismos da atenção e, muitas vezes dos mecanismos de auto-regulação emocional/ comportamental – que aliás acabam por ser descritas no seu texto, em relação ao seu filho. Estes mecanismos são pontos-chave no desenvolvimento humano, desempenhando funções vitais na organização psíquica do indivíduo, como Ser que analisa, integra e pensa sobre as suas experiências; se relaciona com o Mundo e com os Outros; e cria. Prestar atenção ao que ocorre à nossa volta e ser capaz de focar em estímulos diversos; relacionar-se e conseguir pensar fora da esfera da sua própria identidade (conseguir descentrar o pensamento de si próprio, da sua existência); e conseguir dominar as respostas impulsivas (regulação emocional); são então funções fulcrais que definem em grande parte a capacidade que temos de perceber e de nos adaptarmos ao Mundo que nos rodeia. Sabemos então que um dos problemas com este tipo de diagnóstico é que se verifica que muitas das perturbações/ doenças mentais acabam por partilhar ou misturar estas características (com outras mais específicas), gerando muitas vezes quadros clínicos difíceis de avaliar. E isto é tão mais real, quanto mais jovens forem os doentes. Numa criança com 4/ 6 anos – idade em que corpo e mente se desenvolvem de forma impressionante – nem sempre é fácil discriminar entre o que é imaturidade e perturbação do desenvolvimento, ou mesmo perceber que factores são mais relevantes no desenvolvimento da criança numa determinada fase da sua vida: por um lado há tanta coisa a acontecer no organismo humano, tantos sistemas que estão a “aprender” a sincronizar-se e, por outro, há inúmeras experiências novas a acontecer na sua vida, todas a contribuir dalguma forma para o desenvolvimento da criança… umas de forma positiva, outras de forma negativa. Acresce que o Síndrome de Asperger se encontra numa “linha” de perturbações do desenvolvimento, designada das Perturbações do Espectro do Autismo, que essencialmente descreve a progressiva severidade da Síndrome, baseada na intensidade dos sintomas (dos que já descrevemos e de outros associados, à medida que a perturbação se torna mais severa); neste “Espectro”, o Síndrome de Asperger encontra-se na extremidade mais “funcional”, o que na prática quer dizer que pessoas com esta Perturbação revelam competências para desenvolver aprendizagens, ou ainda, revelam capacidade adaptativa que lhes pode permitir desenvolver-se e ter uma vida relativamente “normal”, em sociedade. Isto leva-nos ao propósito máximo do diagnóstico, que é o de compreender a pessoa - o seu filho - para a partir daí tentar estruturar formas de o ajudar a crescer, a desenvolver-se de forma equilibrada, respeitando quem ele é, sem descurar a necessidade de o fazer sentir e de lhe ilustrar formas de resolver os problemas de se crescer, numa “sociedade” difícil de entender – de uma forma mais objectiva e sistematizada do que seria de esperar para uma criança sem os problemas do seu filho. A sua descrição foi clara: o problema existe, tem manifestações reais, com implicações negativas no dia-a-dia do seu filho (no desempenho escolar, na relação com os pares, e até na relação com a família). Sendo pouco provável que Aldeamento Santa Clara | Rua da Carvalha, 570 2400-441 Leiria www.pimpumplay.pt email: geral@pimpumplay.com pimpumplay é uma marca registada da Encontros, Lda. NIPC: 509 034 721
deixem de existir (mesmo que o diagnóstico possa mudar ao longo do tempo diz-nos a experiência que este tipo de quadro clínico evolui positivamente, mas não “desaparece”), parece-nos que o mais adequado é aprender/ ensinar a lidar com os problemas/ dificuldades, a contorná-los de forma a dar à criança as ferramentas que ela necessita para se conseguir adaptar às necessidades de Existir em sociedade. A verdade é que muitas vezes parece que as pessoas com este tipo de problemas conseguem estar bem consigo próprias, ser “felizes”: têm os seus interesses, que vão alimentando; aparentam ter prazer com alguns tipos de interacções com pessoas e por vezes com objectos específicos; habitualmente têm boas capacidades cognitivas... Mas parece-nos que este é apenas um bem-estar aparente, que esconde uma fragilidade interna expressa de cada vez que o interesse individual colide com uma incapacidade e com as necessidades de viver em sociedade. Na prática não importa, por exemplo, “programar” a criança para partilhar uma brincadeira, mas sim de lhe mostrar os benefícios de partilhar (p. ex. ter acesso a outros brinquedos); não importa chamar a atenção para o comportamento desadequado quando há uma birra “incontrolável”, mas sentir, perceber e discutir as consequências das birras em todos os envolvidos e, sobretudo, descobrir com a criança formas construtivas de superar o estado de descontrolo emocional. É por tudo isto que estas pessoas precisam de ajuda especializada, especialmente quando são crianças e estão a definir o seu caminho de vida. O objectivo não é apagar ou mesmo mudar quem o seu filho é, mas mostrar-lhe como lidar com as suas próprias dificuldades, tornando-o uma pessoa mais capaz de definir e enfrentar os desafios previsíveis duma criança com a sua idade… e dum futuro adulto independente e feliz! Se já procurou ajuda há cerca de dois anos, é provável que o seu filho seja acompanhado por técnicos com formação especializada. À partida, a psicomotricidade e/ ou a psicologia, são áreas de intervenção que fazem sentido pois procuram desenvolver a consciência do indivíduo, despertando-o para a necessidade e para as possibilidades de resolução de problemas. De qualquer forma julgamos ser importante que um projecto terapêutico assente nas três áreas que começámos por descrever: competências sociais, regulação dos mecanismos da atenção e dos mecanismos de auto-regulação emocional/ comportamental. Como é óbvio cada projecto deve ser delineado em acordo com as características específicas de cada criança. No entanto podemos lançar algumas dicas para reflexão sobre aspectos que genericamente consideramos importantes abordar na interacção com crianças com Síndrome de Asperger. Já abordámos a questão das competências sociais, mas importa ressalvar o papel fundamental da família e da escola neste processo. Mais uma vez, crianças com este tipo de perturbação têm dificuldades em compreender a dinâmica social, em perceber o porquê dos eventos que ocorrem à sua volta por vezes irem contra os seus desejos e vontades. Há por isso que explicar e discutir com a criança os porquês, mostrar-lhes com clareza as consequências de cada acto, em si e nos outros – a sua dificuldade não é tanto perceber “sentimentos” no geral, mas sim percebê-los nos outros; é sobretudo necessário ajudá-la a antecipar acontecimentos possivelmente desorganizadores (mudanças nas suas rotinas, alterações a eventos previamente combinados, etc.) e dar-lhe ferramentas para lidar com eles no futuro. A escola tem outro papel que nos parece fundamental que é, para além de continuar este “trabalho” que descrevemos anteriormente, desenvolver no grupo/ turma uma dinâmica facilitadora (e não facilitista) da participação da criança em actividades de grande e pequeno grupo. Somos da opinião que o problema deve ser abordado abertamente dentro da turma, para que todos possam compreender comportamentos, respeitá-los, mas Aldeamento Santa Clara | Rua da Carvalha, 570 2400-441 Leiria www.pimpumplay.pt email: geral@pimpumplay.com pimpumplay é uma marca registada da Encontros, Lda. NIPC: 509 034 721
que ao mesmo tempo se estimulem cumplicidades nos elementos do grupo no sentido de ajudar a criança a perceber como se deve/ pode orientar na dinâmica social (a supervisão e, sobretudo, a mediação do adulto são aspectos essenciais). No que diz respeito aos episódios de descontrolo emocional – quer isso signifique uma birra porque a criança foi contrariada, quer isso signifique uma resposta desregulada a um estímulo específico – importa perceber que mais do que uma idiossincrasia ou uma vontade muito marcada de aceder a algo, estes momentos revelam, sobretudo, uma dificuldade estruturante da criança em se reorganizar emocional/ cognitivamente. Neste sentido há dois momentos a considerar, implicando cada um uma abordagem distinta. No momento em que a crise está instalada, o adulto deve ajudar a criança a centrar-se nas alterações que o descontrolo implica no seu corpo, para a partir daqui “estudar” com ela formas de conter o descontrolo (há algumas descrições que apontam para a necessidade de sentir pressão sobre o seu próprio corpo, como forma de atingir um estado de auto-regulação, mas de qualquer forma parece-nos sempre importante testar alternativas e perguntar posteriormente à criança como se sentiu); nos momentos posteriores à crise, importa sobretudo analisar com a criança as consequências, mais uma vez, primeiro nela própria e posteriormente nas pessoas importantes que a rodeiam e depois ajudá-la a antecipar possíveis situações desencadeantes de crise no futuro (no sentido de que a criança possa progressivamente aprender a prevenir autonomamente estes episódios). E finalmente há a questão dos interesses “obsessivos” sobre temas ou dinâmicas específicas, que estão muitas vezes associados às descrições de défice de concentração e atenção em actividades fora do seu interesse. No nosso entendimento estes interesses devem ser interpretados como algo de positivo na criança: representam algo que os serena, que os ajuda a organizar-se e que mantém, até um certo ponto, um nível de curiosidade e de investimento pessoal importante – tão mais importante quanto for possível generalizá-lo para outras áreas. Recordamos, neste sentido, uma criança que acompanhámos há alguns anos e que começou a despertar o interesse para a disciplina de história quando a professora se lembrou de incluir os bonecos que o aluno obsessivamente adorava, como personagens dum episódio da história romana. Queremos com isto ilustrar que estes interesses (mesmo que por vezes obsessivos) devem ter lugar no dia-a-dia da criança, servindo também para a cativar para outros interesses e actividades importantes para o seu desenvolvimento. E isto é igualmente válido numa dinâmica mais directiva, como por exemplo na negociação de participação noutras actividades: “Tu queres brincar com os carrinhos, mas para isso primeiro tens que terminar os TPC, porque são importantes para aprenderes as coisas que a professora ensinou na escola.”. Cara mãe, esperamos tê-la esclarecido, mas sobretudo contribuído para a sua reflexão sobre possibilidades para ajudar o seu filho a crescer de forma equilibrada. Tenha sempre em mente, que para além do diagnóstico há uma criança com virtudes e dificuldades, como qualquer um de nós. A nossa experiência diz-nos que o bom senso de ser mãe/ pai supera quaisquer descrições técnicas. Questione o médico do seu filho e os técnicos que o acompanham e procure ter sempre uma perspectiva crítica, de análise e reflexão sobre os comportamentos que verifica. Escute o seu filho e procure, em conjunto com ele, formas de resolver cada problema ou dificuldade.
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Produtos pimpumplay que podem ajudar a abordar alguns dos problemas descritos: Reflectir Sobre o Comportamento… na escola Conjunto de cartões que ajudam as crianças a compreender a diferença entre o bem e o mal.
Resolução de Conflitos | em casa Conjunto de sete histórias que evocam a resolução de conflitos em casa, apresentando alternativas e suas consequências - cartões ilustrados e CD com as histórias. Resolução de Conflitos | na escola Conjunto de sete histórias que evocam a resolução de conflitos na escola, apresentando alternativas e suas consequência - cartões ilustrados e CD com as histórias.
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