AJUDA ESPECIALIZADA PIMPUMPLAY Questão Tenho um filho de 14 anos que não pára quieto na sala de aula. Está a prejudicá-lo muito; já o levei ao pedopsiquiatra. Não é bem aceite pelos colegas. Está num curso de CEF de jardineiro, numa escola com muitos miúdos problemáticos. Tem tido vários problemas de comportamento e os colegas gozam-no. Em casa também não pára quieto. Será que deveria estar no Ensino Especialisado? Gostava de saber mais sobre doenças mentais.
Nossa resposta Cara mãe, Em primeiro lugar deixe-me felicitá-la por ter tomado a iniciativa de contactar um especialista (neste caso, o pedopsiquiatra); de facto a nossa experiência mostra-nos que muitos pais têm grandes dificuldades em aceitar que comportamentos estranhos dos seus filhos possam corresponder a verdadeiros problemas e com isso adiam o colocar da questão ao seu médico de família ou a um especialista que pode, de uma forma objectiva e cientificamente sustentada, contribuir para a compreensão e resolução de problemas como os que nos descreveu. Esse é um erro e um estigma que todos temos que combater, para que possamos olhar e trabalhar na resolução destes problemas, logo que são detectados (quanto mais cedo se intervém, maior é a probabilidade de sucesso dessa intervenção). Em segundo lugar, parece-me importante destacar o papel que a escola aparentemente já tem na procura de soluções para o seu filho: o facto de ter ingressado num curso CEF é já uma tentativa de encontrar alternativas de formação e posterior integração sócio-profissional, essenciais para a sua vida adulta. Mas colocou-nos duas questões. Vamos tentar respondê-las por pontos. Na primeira questão pediu-nos informações sobre doenças mentais. Antes de mais, temos que deixar bem claro que é impossível falarmos especificamente do caso do seu filho, pois não temos informações suficientes para avaliar objectivamente a situação. No entanto, com as informações que nos facultou tentaremos fazer uma revisão do que sabemos sobre doenças mentais, na perspectiva de a ajudar a reflectir sobre o problema do seu filho. Importa também esclarecer que uma doença mental habitualmente não é a consequência directa de apenas um factor ou um acontecimento na vida de uma pessoa. Pode ser espoletada por um destes, mas é grande parte das vezes condicionada por um conjunto de variáveis que têm a ver: com a condição orgânica da pessoa (associada ao seu desenvolvimento biológico, neste caso particular, sobretudo com o seu desenvolvimento
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mental - desde a neurobiologia das emoções, à estruturação da inteligência); com a sua história de vida e personalidade (que define factores de risco ou de resiliência – capacidade para enfrentar os problemas por si próprio); e ainda com o que acontece à sua volta, as suas relações e a forma como o contexto age sobre o seu problema. Poderá haver por isso muitos factores a contribuir para o problema, o que torna o estudo destas doenças complexo, mas, por outro lado, abre possibilidades de reabilitação por vezes muito interessantes. Do que sabemos, o seu filho é um jovem que revela comportamentos de grande agitação, com implicações no seu desempenho escolar e na forma de estar quer com os colegas, quer mesmo com a família. Obviamente esta agitação tem uma explicação e reflecte um estado mental, que parece fugir ao controlo do seu filho, de forma continuada em diversos ambientes. De um modo geral o nosso cérebro funciona como um gigante e complexo controlador de informação: a informação que regula os mecanismos básicos do nosso organismo, a informação que recebemos do exterior através dos nossos sentidos (que tem que ser filtrada e se organiza em padrões específicos que variam de indivíduo para indivíduo, moldados pela sua história pessoal) e a informação que transmitimos aos outros e ao mundo através das nossas acções. Imagine um computador: o teclado é onde se introduz a informação, a caixa do computador é onde essa informação se processa e a impressora é por onde a informação sai quando queremos apresentar algum trabalho… ora, se uma das partes do computador não estiver a funcionar em acordo com as restantes é muito provável que o resultado final (a impressão) não seja perfeito. O mesmo acontece com o ser humano: por razões diversas, por vezes perde-se o controlo sobre estes fluxos de informação (ou partes), com repercussões na consciência que temos sobre as coisas que acontecem à nossa volta, e/ ou na capacidade de aprender e/ ou de desempenhar determinadas funções na vida quotidiana e/ ou no comportamento – que é o que parece estar a acontecer com o seu filho. Ou seja, cria-se um desajuste entre a pessoa e o meio que a rodeia. Quando esse desajuste acontece de uma forma prolongada no tempo, podemos então falar em doença, o que equivale a dizer que pessoa já tem muitas dificuldades em conseguir, por ela própria, voltar a tomar controlo de todo este fluxo de informação. Obviamente há doenças graves e doenças menos graves. No entanto parece-nos que o factor mais importante não é a doença em si, mas o que é que a pessoa, a sua família e a comunidade podem fazer para ultrapassar ou pelo menos minorar/ controlar os sintomas que a manifestam. No caso do seu filho, há dois aspectos que não ficaram claros na sua descrição e que são essenciais para a nossa reflexão: Quando é que este comportamento começou (foi sempre assim ou começou a revelar estes problemas numa data específica)? Aconteceu alguma coisa na vida do seu filho que pense poder ter desencadeado este problema? Não obstante esta informação, há ainda outras questões que devem ser colocadas:
Tem ou teve complicações clínicas significativas? – Episódios ou estados que possam ter tido implicações neurológicas, como traumatismos craneanos, epilepsia, etc.). Há historial de doença mental ou situações semelhantes à do seu filho na família? O seu filho tem consciência do problema? – Percebe o que se passa com ele e tem uma perspectiva crítica sobre o assunto.
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Tem comportamentos violentos/ agressivos? – Comportamentos impulsivos de agressividade, que revelem pouca capacidade de perceber os danos que pode provocar nos outros (físicos e psicológicos). Há situações específicas que o façam ficar mais agitado? Por exemplo, estar dentro de um espaço fechado, ser contrariado, ser gozado, etc. Adopta comportamentos estranhos/ bizarros? – Por exemplo falar sozinho ou fazer movimentos repetitivos com uma ou várias partes do corpo. Revela capacidade de resolução de problemas e é capaz de insistir na procura de alternativas para resolver um problema? – Competências de aprendizagem e para lidar racionalmente com os seus próprios problemas. Consegue concentrar-se para realizar algum tipo de tarefas? Consome drogas ou álcool em excesso? – Comportamentos de risco que possam provocar ou aumentar alterações de comportamento. Viveu alguma situação traumática? Tem amigos? – Grupo social que funcione como rede de suporte. A escola tem conhecimento concreto sobre o problema? Foram feitas avaliações psicológicas que determinem as suas competências cognitivas e sociais? Há algum relatório médico que descreva clinicamente o problema? – Informação objectiva que tente explicar o que se passa. É acompanhado por algum técnico de saúde? Está a fazer alguma terapia? Toma medicação?
Importa assim perceber o que poderá estar na origem dos comportamentos que o seu filho apresenta, e que factores em torno deste os podem aumentar (tornar ainda mais complicados) ou atenuar (facilitar-lhe a vida e possibilitar-lhe alguma mudança de comportamento). Por outras palavras, parece-nos sobretudo importante perceber como é que o problema se manifesta – embora não tenhamos dúvidas que é essencial defini-lo clinicamente (ou seja, definir um diagnóstico médico). E as questões que colocámos servem para a ajudar a reflectir, juntamente com a equipa de técnicos que estão a acompanhar o seu filho, sobre o tipo de problema é que ele está a atravessar, e sobretudo como se deve planear a intervenção futura. Neste campo há aspectos-chave que devem então ser pensados, começando desde logo na forma como o seu filho vê o problema. Por vezes verificamos uma tendência nos pais, e nos adultos em geral, em evitar falar abertamente com os filhos quando surgem comportamentos fora do habitual e ainda mais em falar com eles sobre possíveis complicações de saúde mental que possam ter. Parece-nos um erro. Especialmente com indivíduos que tenham capacidade de perceber minimamente o que se passa na sua vida. Imagine que um dia saía à pressa para o trabalho com os chinelos de andar por casa. Toda a gente que encontrava na rua se ria de si, mas você não conseguia perceber o que se passava. No entanto de certeza que iria perceber que algo estava mal; talvez até identificasse o problema, mas já não tivesse maneira de o resolver, preferindo assim tentar disfarçar, fingir que não era nada consigo. Ora esta atitude não lhe iria resolver o problema: esconder os pés não lhe traria os seus sapatos de sair à rua. Ora, pegando neste exemplo parece-nos que o mesmo acontece com muitos outros problemas da nossa vida. No caso do seu filho, parece-nos importante que com a ajuda de um técnico de
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referência que o acompanhe, possam discutir abertamente o seu problema, para que ele sinta que alguém o compreende e, sobretudo, que alguém o quer ajudar. Depois, se o problema já tem um nome – um diagnóstico médico (presumimos que o pedopsiquiatra que consultou o seu filho vos tenha falado nisso), parece-nos importante que o grupo de colegas/ amigos da escola também o conheça. Aliás, directa ou indirectamente o grupo já sabe que existe um problema, mas na sua ignorância provavelmente opta por gozar, discriminar e/ ou provavelmente provocar o seu filho. É uma reacção natural que resulta da ignorância. Mais uma vez parece-nos importante que, com o consentimento do seu filho (depois de uma conversa esclarecedora), e com o recurso aos técnicos que o estão a acompanhar, possa haver uma reunião de turma para debater o problema. Falando-se abertamente do problema haverão certamente colegas que vão continuar a gozar e a provocar, mas haverão certamente outros que vão tentar compreender melhor o seu filho e mesmo tentar ajudá-lo, contribuindo para a sua integração e aceitação num grupo. Cria-se assim uma rede de suporte e desenvolve-se o sentimento de pertença ao grupo, essencial para o seu bem-estar e tranquilidade – todos queremos “pertencer” a alguém ou a qualquer coisa! Paralelamente é fundamental que todas as pessoas que lidam directamente com o seu filho percebam o que se passa com ele. Não se trata de o fazer passar pelo “coitadinho” que tem “problemas”. Trata-se apenas de esclarecer as pessoas, preveni-las para a razão de ser de certos comportamentos. Imagine que encontrava um amigo seu na rua a chorar. Certamente que a sua atitude para com o seu amigo iria ser tanto melhor quanto maior fosse o seu conhecimento sobre a razão do choro (por exemplo, poderia reconfortá-lo se ele tivesse perdido alguém que amava, ou levá-lo ao hospital se ele tivesse um problema de saúde do seu conhecimento). No caso do seu filho, o objectivo é o mesmo: preparar quem está à sua volta para perceber o seu comportamento e, sobretudo, para reagir de forma preventiva. Ou seja, numa situação em que ele esteja muito agitado dentro da sala de aula, se o professor ou um colega perceberem o que se está a passar, podem ajudá-lo a recompor-se, recuperar a calma, ou encontrar uma alternativa para evitar um comportamento ainda mais desadequado. Por isso pensamos que é fundamental reunir o grupo de técnicos da escola, com a família e, preferencialmente um técnico de saúde que esteja a par do problema, para que possam esclarecer-se todas as dúvidas. De seguida é necessário preparar um plano; que é o mesmo que dizer: “Sabemos qual é o problema, mas não vamos ficar de braços cruzados à espera que se resolva sozinho ou que alguém o resolva por nós. Vamos tomar a iniciativa de mudança!”. O que é que se pode fazer? Em primeiro lugar, qual é a vocação do seu filho? Ou o que é que o faz sentir bem? É possível transportar esse gosto para o seu currículo na escola? Ou há alguma associação ou instituição na comunidade onde ela possa encontrar esse tipo de actividade? A formação é sem dúvida essencial. Os cursos CEF têm uma dinâmica de ensino protegido e individualizado e, para além disso, dão a possibilidade de fazer estágios em empresas ou na comunidade, o que é um factor muito importante quer para a integração dos jovens no mercado de trabalho (no caminho da sua autonomia), quer para a sua realização pessoal (com o reconhecimento da sua utilidade para a sociedade). Mas é também importante que possa encontrar actividades alternativas, que preencham os seus tempos livres e que possam ser uma forma tranquila de aliviar o seu filho da possível tensão do dia de trabalho na escola.
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O médico receitou algum tipo de medicação? Se sim, é importante mostrar ao seu filho o porquê da medicação, os benefícios e também as possíveis contra-indicações (para que saiba exactamente com o que contar). Por norma a toma de comprimidos não é bem aceite pelos jovens (nem por vezes pelos pais). No entanto devem ser esclarecidas todas as dúvidas sobre a medicação com o médico que a prescreveu ou com o médico de família, que são as pessoas que melhor podem explicar o porquê da necessidade de se tomar determinada medicação. Na escola há também adaptações que se podem fazer. Como é o que o seu filho aprende melhor? A ouvir as matérias? Com apontamentos escritos? Ele presta atenção às aulas? Há possibilidade de o colocar junto aos professores nas aulas? Há possibilidade de se definir um professor-tutor (um professor que o ajude a estruturar o estudo, que verifica em que estado está a sua aprendizagem e o ajuda a pensar e a resolver os problemas que surjam na escola). Os professores podem fazer um esforço para adaptar os materiais mais importantes de cada matéria. É também importante definir metas realistas para o sucesso escolar do seu filho; ou seja, se tiver dificuldades a matemática, o objectivo não pode ser “resolver equações do 3º grau”, mas poderá passar por resolver problemas matemáticos que tenham a ver com o seu dia-a-dia. É importante que isto seja discutido com ele e que se defina um sistema de recompensa (que não tem que ser uma prenda material; pode ser simplesmente conceder acesso a qualquer coisa que ele goste, como por exemplo ficar na rua até mais tarde, ou poder ir uma tarde ao cinema, etc.) – ou seja, define-se uma meta, que vai exigir esforço e esse esforço será recompensado caso a meta seja atingida. Questionou-nos sobre a possibilidade de o seu filho ingressar no Ensino Especial (presumimos que quando escreveu “Ensino Especializado” quisesse ter escrito “Ensino Especial”). Essa é uma decisão que deve resultar de uma avaliação dos técnicos da escola. Mais uma vez afirmamos que os cursos CEF nos parecem ter uma estrutura interessante de ensino, com dinâmicas mais individualizadas, aulas mais apoiadas e ainda outros técnicos que acompanham os alunos e os ajudam a estruturar o seu estudo e a sua vida (habitualmente existe um psicólogo na equipa). Queremos com isto dizer que a dinâmica de ensino-aprendizagem é já bastante privilegiada em relação aos cursos regulares. Por isso sugiro-lhe que pergunte aos técnicos da escola como é que o seu filho está a evoluir no curso. Ouça-os e coloque-lhes questões para esclarecer as suas dúvidas. No fundo tudo isto são ideias que visam sobretudo perceber o comportamento do seu filho, torná-lo mais consciente aos seus olhos e fazê-lo acreditar, bem como todas as pessoas que estão à sua volta, que há mais nele do que a agitação ou as dificuldades de aprendizagem ou os comportamentos desadequados na escola; essa é apenas uma parte – que poderá ser o resultado de uma doença – que não representa o todo que ele é. Mudar comportamentos é uma tarefa árdua, prolongada e que exige uma grande dedicação, coragem e empenho, sobretudo da pessoa que necessita mudar. Para mudar tem que haver uma consciência do problema e sobretudo tem que haver um plano bem traçado, que englobe as pessoas mais presentes na vida do seu filho. Mantenha a esperança, e sobretudo o “norte”. Da nossa experiência, os pais podem servir também como pontes de ligação e reflexão entre as várias pessoas que estão à volta do caso. Não tenha receio de colocar questões - à escola, ao médico de família, ao médico
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pedopsiquiatra – mesmo que lhe pareçam ingénuas; e exija tranquilamente que se ouça o seu conhecimento de mãe.
Conheça alguns produtos que podem estar associados às questões debatidas: Semáforo de Actividades Esta é uma ferramenta essencial para ajudar a criança/ jovem a organizar o tempo de realização das suas tarefas, facilitando a sua concentração no tempo de actividade. O semáforo é totalmente programável para regular os tempos de tarefa desejados. Assim, combine com a criança/ jovem o tempo razoável para terminar a tarefa e esclareça objectivos e regras claras para cumprimento dos tempos. A codificação das cores (verde – sem problemas; vermelho – fim do tempo) vai então ajudar a criança/ jovem a regular os seus ritmos de acordo com as necessidades das diferentes tarefas propostas.
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