DESPERTAR

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I N T R O D U Ç Ã O

urante a evolução do mundo ao passar dos anos, a sociedade foi criando modos de viver que fogem do natural do ser humano, do animal e da natureza. Devido a globalização, a instituição do capitalismo, a industrialização e a manipulação de tudo o que for possível modificar, inclusive os próprios corpos desses seres humanos. Tudo isso está por trás da gana por dinheiro e da busca de uma evolução que, se pensarmos um pouco, nem poderia ser assim chamada. Com isso, quem detém o poder passa a necessitar cada vez mais dele, e para isso acontecer é preciso dominar a sociedade e colocá-la num sistema. Isso é aplicado em várias situações, mas vamos discutir sobre uma delas: o seu corpo. Se analisarmos os séculos passados, veremos que em cada época e lugar o padrão de beleza era diferente. E assim foi se modificando e sendo formalizado ao passar dos anos, sendo mascarado pelo discurso de saúde e qualidade de vida, surgindo uma ditadura do corpo perfeito, cujas vítimas principais são as mulheres, isso tudo sendo fruto de uma sociedade machista, e causando um aumento de cirurgias plásticas e casos de doenças como anorexia, bulimia e depressão. Além da perda das características individuais de cada um em prol do consumo manipulado pelo capitalismo. A existência de um padrão de beleza não é novidade e sofreu modificações ao longo dos anos. Na pré-história, o conceito de beleza feminino estava ligado com a reprodução, mulheres com seios fartos e ancas largas eram preferidas, por passarem a ideia de estarem preparadas para gerar filhos. Já na Grécia antiga surge um ideal estético e a teoria da beleza. Platão desvincula a beleza do objeto físico e conclui que um objeto é belo quando, devido a sua forma, deleita os sentidos, principalmente a visão e a audição. No caso do corpo humano esse conceito iria além do físico, incluindo as qualidades da alma e do caráter. Contudo, Aristóteles institui a ideia de proporcionalidade à beleza, dessa forma, obras de arte representavam a beleza através de proporções matemáticas.

Na Idade Média, devido à grande religiosidade da época, a mulher passou a ser vista como fonte de pecado, negando o corpo. O ideal de beleza da época era constituido por pele branca, olhos negros, seios pequenos, face corada, o corpo em boa forma e uma barriga saliente, inclusive algumas mulheres colocavam enchimento na barriga. Suas características deveriam ser opostas à realidade da época, em que se vivia a fome e as doenças. O Renascimento continuou com o pensamento de que a beleza estava relacionada à saúde, e como só as pessoas ricas tinham uma boa alimentação, o ideal de beleza era relacionado ao que o rico possúia, sendo assim mulheres gordas eram admiradas. A partir do século XVII, o ideal de beleza passou a exigir formas delicadas, e a cintura era o maior objeto de desejo, sendo submetida ao uso de espartilhos, inclusive em crianças, com a desculpa de desenvolver uma postura mais esguia. Nos casos mais extremos, a cintura chegava a menos de 40 centímetros. O uso exagerado de espartilhos causou inúmeros problemas, como insuficiência respiratória, desmaios, dificuldade de locomoção, casos de aborto e até perfurações de órgãos internos. No século XX houve a liberação desses costumes, possibilitando que as mulheres mostrassem mais seus corpos, o que causou preocupação com a boa forma e aumentou o nível de auto-exigência e insegurança. E na década de 1920, a emancipação feminina fez o espartilho ser substituído pelo sutiã. Com a chegada da Segunda Guerra Mundial no início dos anos 1940, a exigência de corpos mais masculinos com ombros largos entrou em questão. No final da guerra e com o surgimento do ícone de beleza Marilyn Monroe, a cintura voltou a afinar. Já nos anos 1960, com o movimento hippie, a moda era o corpo sem curvas e com seios pequenos, exemplo de beleza da modelo Twiggy. Nos anos 1980 o corpo passou a exigir mais músculos, tendo como ideal a cantora Madonna, o que representava a competição da mulher com o homem.

Em contraposição, na década de 1990, com o surgimento de modelos como Cindy Crawford, Linda Evangelista e Luiza Brunet, as curvas femininas voltaram a serem valorizadas, jutamente com a aparência saudável. Enquanto que, neste mesmo período, a modelo Kate Moss surgia como ícone, instaurando a ditadura da magreza, que se mantém firme até hoje, junto com o destaque para a beleza sensual, exigindo seios grandes, quadril largo, pernas grossas e um corpo inteiro malhado. A aparência tornou-se sinônimo de essência, e nem as crianças foram poupadas. O Concurso de Miss Mundo infantil é realizado todos os anos, fazendo com que crianças sejam induzidas a um processo de adultização precoce, em que meninas de apenas oito anos já fazem luzes e usam implantes no cabelo, maquiagem, cílios e dentes postiços e assim passam cada vez menos a se parecerem com crianças de fato, encurtando o período de maturação e formação infantil. O ideal de beleza muda com rapidez com o objetivo de atender as necessidades do mercado. Simples assim: quando as mulheres sentem-se infelizes, procurando atingir um padrão de beleza, elas passam a consumir mais produtos e serviços, movimentando a grande indústria da beleza, que se alia a mídia, o mais poderoso meio de lavagem cerebral. O filósofo Immanuel Kant teorizou que só existe um julgamento do belo quando se acredita em sua existência. Então passa a existir a perseguição não de um belo, mas de um ideal de belo. “É diferente um belo ideal de um ideal de belo. O belo ideal é uma coisa universal, eterna e imutável. Ideal de belo é relativo, cultural, cada povo tem o seu.” explica o professor Dilmar Miranda, doutor em sociologia e professor da Universidade Federal do Ceará. A globalização despreza as etnias e diferenças, e dita uma homogeneização da beleza, que junto com ela acarreta a perda da essência de cada pessoa.


A

S O B R E

“ D E S P E R T A R ”

concepção cênica DESPERTAR busca valorizar a essência de cada mulher, independente se ela se enquadra nos padrões de beleza ditados pela mídia. Com a apresentação de cinco mulheres bastante distintas que, como a maioria das mulheres do mundo, vivem seus papéis de filha, mãe, trabalhadora, amiga e amante e ao mesmo tempo sofrem com a imposição de um padrão de beleza, fazendo com que exista sempre uma auto-exigência muito crítica sobre seus corpos, e que, na maioria das vezes, causa desconforto, tristeza, depressão e demais consequências que alteram o modo de viver dessas mulheres e desviam a atenção para o que realmente tem importância: o amor. O despertar feminino é relacionado com valorizar-se como mulher, mas não só fisicamente e sexualmente. Este despertar é voltar a atenção para viver em paz consigo e com o próximo, valorizando as relações e o amor, que não se trata somente da sexualidade, mas sim relacionar-se com amor com o próximo e consigo mesmo. DESPERTAR aborda também as raízes do feminino como a mãe terra, provedora, curandeira, bruxa, índia, cozinheira dos frutos da terra, lutadora e poderosa. Com toda a preocupação de obter um corpo ideal, o cabelo perfeito e passar a ser aceita pela sociedade, a mulher começa a se esconder em superficialidades, abafando sua beleza natural, a força feminina na forma mais pura e positiva. Isso não quer dizer que a mulher deva abrir mão de sua vaidade, pelo contrário, deve se sentir bem consigo mesma e perceber como é poderosa. Toda mulher possui dentro de si a essência de mãe, de curandeira, de bruxa, de índia, de cozinheira, de lutadora e o poder transformador e provedor. Essas são características femininas de raízes primitivas que, justamente por representarem o feminino e estarem “dentro” de cada mulher, não devem ser esquecidas e trocadas por um ideal de beleza alheio, que não passa de um ponto de vista diferente, além de ser a manipulação da mídia e do capitalismo. Afim de chamar a atenção para a essência do feminino, a concepção cênica DESPERTAR mostra a relação do corpo da mulher com a terra, utilizando vasos de argila que simbolizam as raízes, a mãe terra e também o fogo das belas curvas do corpo feminino. A utilização de máscaras simboliza o sufocamento e a repreensão da mídia sobre as mulheres. E o despir-se traz a tão almejada libertação, que é o que toda mulher busca e deseja poder realizar sem pudor e sem julgamentos no final das contas. Um detalhe importante sobre DESPERTAR é também chamar a atenção para as diferentes etnias presentes no mundo, que são tão belas e culturalmente ricas, porém na maioria das vezes são deixadas de lado, vistas com olhar repressor ou tratadas com incompreensão e preconceito. As diferentes culturas, modos de se vestir, tradições tribais e principalmente os diferentes tipos de beleza física e estética deveriam ser tratados com mais respeito e admiração. Isso tudo porque fazemos parte do mesmo planeta, criando uma diversidade muito bonita e interessante de conhecer e até mesmo fazer parte, pois essa diversidade nada mais é do que a realidade do mundo em que vivemos, uma unidade que poderia estar em harmonia, basta termos a união e o amor pelo próximo instaurado dentro de nós mesmos. DESPERTAR apresenta a Abuela Margarita (Avó Margarita) e fotos de mulheres de diferentes etnias representando a harmonia entre os povos, mostrando que todas as mulheres, independente se forem negras, orientais, caucasianas ou de qualquer outra etnia, são igualmente belas, poderosas e, acima de tudo, são mulheres.


Sou manhã sou noite Sou terra sou céu Sou lua Sou xamã Curandeira S o u c h u va O presente s o u t rov ã o O ag o r a Sou raio fogo Sou mãe luz Sou filha Sombra Sou força Lu ta Sonho Sou clara Criação Sou linha Elegância Sou pluma Leve Sou asas L i b e r da d e Sou brisa Pele S o u v e n ta n i a C u rva s Sou explosão Ventre


Q U E M É A B U E L A M A R G A R I T A

M

argarita Nunez Garcia, conhecida como avó Margarita. Traz uma mensagem de amor e espiritualidade do feminino ligada à terra mãe e os corações dos homens e mulheres.

Conhecida e respeitada nos círculos indígenas, esta mulher originária do centrooeste do México (Jalisco), tornou-se porta-voz do feminino, dos temas do amor, da terra e da transformação da vida. Avó Margarita foi convocada para que sua palavra seja ouvida. Ela proclama os valores das mulheres como a geração e transformação da sociedade, e leva a sua palavra como guardiã da tradição e origem, novas visões do mundo e da vida. Hoje em dia Margarita viaja por vários países levando sua palavra, realizando encontros com mulheres e propondo vivências de amor e com a natureza.

SOU O PODER D E N T RO D E M I M . SOU O AMOR DO S O L E DA T E R R A . SOU GRANDE ESPÍRITO E SOU ETERNA. M I N H A V I DA E S T Á CHEIA DE AMOR E ALEGRIA.

A B U E L A

M A RG A R I TA



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