Os pioneiros da habitação social no Brasil - Volume 1

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Os pioneiros da habitação social no Brasil


CrĂŠditos?


Os pioneiros da habitação social no Brasil volume 1 Nabil Bonduki


Sumário Cem anos de construção da política pública de habitação no Brasil: o desafio frustrado de uma arquitetura para a maioria

24

28

70

A produção rentista da habitação (1889-1930)

Origens da habitação social (1930-1964)

A política habitacional e urbana do regime militar (1964-1986)


86

114

134

Décadas perdidas ou tempos de utopia e esperança? (1986-2002)

A Política Nacional de Habitação do século XXI: em direção ao direito à moradia digna? (2003-2010)

Desengavetando documentos para pensar o futuro


Sumário Avanços e limitações dos primeiros órgãos públicos a enfrentar a questão da habitação nos anos 1940 e 1950

142

172

210

234

Os institutos de Aposentadoria e Pensões: previdência e habitação social

Na vanguarda do projeto habitacional no Brasil: a concepção de habitação do IAPI (1936-1966)

A concepção de habitação do IAPC: uma produção dispersa (1934-1966)

A concepção de habitação do IAPB: das casas unifamiliares aos edifícios modernos inseridos nos centros urbanos (1934-1966)


254

280

294

308

A concepção de habitação da Fundação da Casa Popular: a difusão da casa própria isolada e unifamiliar

Os órgãos regionais: as origens da descentralização da ação habitacional

A Liga Social Contra os Mocambos: produção de moradias ou exclusão territorial

Departamento de Habitação Popular da Prefeitura do Distrito Federal: a habitação como um serviço público


Apresentação


Este livro trata do processo de construção da política pública de habitação no Brasil, com ênfase nos aspectos relacionados com a arquitetura e urbanismo e foco no período entre 1930 e 1964, quando ocorrem, de acordo com as premissas que orientam este trabalho (Bonduki, 1998), as origens da ação do Estado na questão da moradia econômica.

mitações e entraves encontrados, com ênfase nos aspectos arquitetônicos e urbanísticos. Este esforço não pretende, nem de longe, esgotar uma tarefa de maior folego, que consiste na elaboração de uma história das políticas públicas de habitação no país. O livro apenas pavimenta um pouco mais este caminho. A intenção foi traçar um quadro referencial que possa mostrar a contribuição que cada um dos períodos retratados trouxe para alcançar a situação promissora e desafiante que se atingiu em 2011 e, em particular, situar num contexto histórico amplo o que representou o período para a construção da política pública em questão.

Baseada numa longa e abrangente pesquisa, que envolveu grande número de pesquisadores de iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado, sob minha orientação e coordenação, ela procurou construir uma base empírica até então inexistente, capaz de dar suporte a uma análise aprofundada sobre uma etapa fundamental da formulação É nesse sentido que emerge o principal objetivo da pesquisa da política habitacional no país. que deu origem a este livro: levantar, sistematizar e analisar A publicação não se limita, entretanto, ao período que foi a produção realizada pelos órgãos públicos e profissionais o foco principal da pesquisa. Preliminarmente, objetiva-se que participaram da elaboração do primeiro ciclo de empresituar este período num contexto histórico mais amplo: os endimentos habitacionais produzidos por iniciativa do poder cem anos de ação estatal na problemática habitacional que público no Brasil. se completou em 2012, mostrando como se foram construin- A partir da análise de toda a produção habitacional realizada do os elementos essenciais de uma política habitacional no entre 1930 e 1964, obtida a partir de um levantamento de país. Desse modo, é possível enquadrar adequadamente a larga escala em todo o território nacional e de um enorme contribuição específica desse período, relacionada com uma esforço de processamento do material levantado – que gerou especial preocupação com a qualidade de projeto arquitetô- o inventário apresentado no volume 2 do livro –, a hipótese nico e inserção urbanística. que se procura desenvolver é que a principal contribuição O trabalho defende a tese de que, na segunda década do século XXI, alcançaram-se as condições para que o direito a habitação digna possa ser garantido para todos os cidadãos brasileiros. No entanto, a questão fundiária, a qualidade do projeto e a inserção urbana dos conjuntos habitacionais estão distantes das preocupações dos atuais governos no enfrentamento do problema, o que dá sentido e atualidade para este livro. Ao resgatar uma faceta pouco conhecida da história da arquitetura e do urbanismo do país, procura-se aqui contribuir, modestamente, para uma correção de rumos da atual política habitacional brasileira.

do período para a construção de uma política pública de habitação no Brasil foi no campo de arquitetura e urbanismo, envolvendo uma ampla gama de propostas que eram inovadoras naquele momento e continuam atuais para um enfrentamento consistente do problema da moradia econômica e social no país.

Questões de grande atualidade, como processos de produção industrializada, heterogeneidade de tipologias habitacionais, diversidade arquitetônica, adequada inserção urbana e valorização dos espaços públicos, foram desenvolvidas nos empreendimentos realizados no período. com melhor ou Para desenvolver essa hipótese, foi necessário construir pior resultado, mas definindo uma agenda que hoje não só uma periodização da trajetória da ação do Estado na questão não vem sendo implementada, como tem sido negligenciada da habitação, procurando identificar como ela foi tratada em pelos governos que, em diferentes níveis, têm enfrentado a cada momento e sintetizar os avanços conquistados e as li- questão habitacional.


O aprofundamento da pesquisa iniciada em Origens da habitação social no Brasil A investigação que deu base empírica a este livro é a continuidade e o aprofundamento de estudo anterior que resultou na minha tese de doutorado e no livro Origens da habitação social no Brasil (Bonduki, 1994; 1998), que resgatou a produção habitacional do período de 1930 a 1964, inserida no contexto de modernização, intensificação da acumulação do capital, transformação das condições de reprodução da força de trabalho e intensa urbanização. Esses processos foram decorrentes da implementação do projeto nacional-desenvolvimentista, a partir da Revolução de 1930, pelos governos Vargas, e que atinge seu clímax com Juscelino Kubitschek e a implantação de Brasília. O trabalho mostrou que a forte intervenção do Estado, a partir de 1930, que gerou o deslocamento de uma economia de base agrário-exportadora para uma de base urbano-industrial (Oliveira, 1971), exigiu medidas para reduzir o custo do trabalho urbano, gerando, entre outras consequências, a transformação do problema da habitação numa questão social. Iniciativas governamentais tomadas nesse sentido definiram o perfil do enfrentamento do problema habitacional na segunda metade do século XX. Entre elas, podem ser destacadas a regulamentação das relações entre proprietários e inquilinos, com a regulação dos aluguéis, o estabelecimento de condições para a ampliação em larga escala do padrão periférico de crescimento urbano, baseado no trinômio acesso informal a terra, autoconstrução e casa própria, e o início do financiamento e da produção de habitação social por entidades públicas. Entre os inúmeros aspectos tratados em Origens, o que ganhou mais repercussão, sobretudo na área acadêmica de Fundamentos da Arquitetura e do Urbanismo, foi a revelação do ciclo de projetos habitacionais desenvolvidos pelos Institutos de Aposentadoria e Pensões e outros órgãos atuantes no período. Até então praticamente desconhecidos (com exceção da contribuição de A. E. Reidy), pela historiografia da arquitetura brasileira, marcada por uma trama interpretativa desvendada por Martins (1986), os projetos surpreenderam por sua qualidade urbanística e arquitetônica e por introduzirem questões fundamentais para o enfrentamento massivo do problema da habitação, como a produção seriada e estadardização,

que foram incorporadas nas propostas desenvolvidas no país como uma repercussão do ideário moderno, em particular das teses formuladas no âmbito dos Ciams. O interesse sobre essa faceta da análise foi bastante expressivo entre os arquitetos e urbanistas, potencializado pelo fato que de a qualidade da produção habitacional deixou de ser um aspecto relevante no período seguinte, o da massiva produção financiada pelo Banco Nacional da Habitação (BNH), criado em 1964, e, a bem dizer, segue assim até hoje. Apesar da repercussão que esse aspecto ganhou, é necessário ter-se em conta que a pesquisa que fundamentou Origens da habitação social no Brasil não tinha como foco exclusivo nem principal uma análise aprofundada desses conjuntos residenciais. O objetivo era identificar como o Estado interveio na questão habitacional no contexto da construção de um projeto de desenvolvimento para o país na perspectiva de revelar o contexto em que o problema habitacional transformou-se em uma questão social no Brasil. De caráter eminentemente interdisciplinar, a tese envolvia, além de uma reflexão inovadora no âmbito da História da Arquitetura e do Urbanismo, análises de Economia Política, Sociologia e História Social sobre diferentes aspectos dos processos tratados, que iam muito além da produção estatal de habitação social. A importância que ganhou o subtema dos conjuntos residenciais e de sua relação como a arquitetura moderna acabou por obscurecer a análise de outras questões de grande importância que ainda não tinham sido investigadas, como as razões que levaram à promulgação em 1942 e manutenção por décadas da Lei de Inquilinato, objeto que, originalmente, era o objetivo principal da pesquisa. Por esta razão, o levantamento e análise da produção habitacional realizada no período não foram exaustivos em naquele livro. O estudo foi desenvolvido a partir de um número relativamente pequeno de empreendimentos, embora fossem alguns dos mais significativos do ponto de vista dos projetos arquitetônicos. Ainda não era possível identificar com clareza as diferentes políticas de projeto desenvolvidas por cada um dos órgãos promotores, nem as especificidades das suas organizações; as influências internacionais não estavam suficientemente mapeadas. Até mesmo detalhes importantes dos projetos revelados eram desconhecidos. A investigação realizada até aquele momento era suficiente para desenvolver as hipóteses principais


daquela tese, em especial, o papel da habitação no âmbito da política de redução do custo de reprodução da força de trabalho e de proteção aos trabalhadores com carteira assinada e a importância desse ciclo de conjuntos residenciais para a arquitetura moderna brasileira. No entanto, era necessário um aprofundamento substancial da investigação para que se pudesse chegar a conclusões mais definitivas sobre o que foi a ação estatal na questão da habitação no período que antecedeu a criação do BNH e sobre quais seria sua contribuição para o aperfeiçoamento da política habitacional brasileira.

Arquitetura moderna e habitação econômica no Brasil Para aprofundar o estudo desse objeto foi proposta uma nova investigação, que deu as bases empíricas para este livro. O objetivo principal da pesquisa foi realizar um levantamento completo dos empreendimentos habitacionais realizados por órgãos estatais no período de 1930 e 1964, analisar detalhadamente os mais significativos e enquadrar esse ciclo no âmbito da trajetória mais geral do enfrentamento do problema habitacional no Brasil no século XX. A primeira etapa dessa investigação foi desenvolvida entre 1997 e 2001, no antigo Departamento de Arquitetura da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC-USP), onde fui professor por vinte anos, como uma das pesquisas específicas integrantes do projeto temático “Arquitetura Moderna e Habitação Econômica no Brasil (1930-1964)”, que reuniu cinco pesquisadores principais da EESC-USP e da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, sob minha coordenação e da professora Maria Ruth Sampaio. Esse projeto, apoiado pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), objetivava estudar diferentes recortes da questão da habitação econômica no período: produção pública, produção privada, áreas residenciais das cidades novas, legislação e instituições relacionadas com a questão urbana e habitacional e relação entre desenvolvimento tecnológico e produção habitacional. Nessa etapa, com a participação de bolsistas de iniciação científica, iniciou-se o levantamento documental, bibliográfico, arquitetônico e fotográfico da produção realizada, assim como a identificação dos órgãos promotores e dos principais profissionais envolvidos. Constataram-se as imensas dificuldades para cumprir os objetivos da investigação, dados o

desmantelamento e a dispersão dos arquivos que poderiam guardar a documentação dos projetos, a forte descaracterização dos empreendimentos implantados, a ausência de registros sistematizados, a falta de processos de aprovação da maioria dos projetos nas prefeituras e a dificuldade de acesso a muitos conjuntos, por estarem em áreas sob domínio do crime organizado. Tais problemas dificultaram e atrasaram substancialmente o andamento do trabalho. Outra questão foi a gradativa perda de vários profissionais que atuaram nesses projetos, embora tenha sido possível entrevistar muitos deles no âmbito da pesquisa. Entre 1994 e 2006, faleceram Carlos Frederico Ferreira (1906-1995), Eduardo Kneese de Melo (1906-1994), Carmen Portinho (1902-2002), Flávio Marinho Rego (1925-2001), Francisco Bolonha (1923-2006), Edmundo Gardolinski (1914-1974), Marcos Kruter (1917-1995) e White Lírio da Silva (1914-2005), todos profissionais com presença destacada na produção habitacional do período. Outros, doentes, não puderam ser recebidos pelos pesquisadores, com o engenheiro Pedro Queima Coelho. Ao final desta etapa, em 2001, já tinha sido alcançado um resultado expressivo, embora insuficiente, com a organização do acervo físico e digital de um grande número de empreendimentos (embora ainda restrito sobretudo aos estados de São Paulo e Rio de Janeiro), identificação da produção de cada órgão promotor, recuperação da trajetória dos principais profissionais e análises específicas, realizadas tanto nos relatórios da pesquisa como em trabalhos de iniciação científica, dissertações de mestrado e artigos acadêmicos. O livro Origens da habitação social no Brasil, publicado mais de três anos após a conclusão da tese de doutorado, já incorporou alguns resultados preliminares.

Os pioneiros da habitação social no Brasil A segunda etapa da pesquisa, com o título de Pioneiros da habitação social no Brasil, foi desenvolvida entre 2005 e 2010 na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo com o apoio da Fapesp e, através por meio da Lei de Incentivo Cultural. Nessa etapa, tendo já como horizonte a edição do livro, foi realizada complementação do levantamento de campo, o aprofundamento da análise e, sobretudo, a sistematização e preparação do material empírico tendo em vista sua publicação em um padrão de qualidade


compatível com a intenção de garantir um tratamento digno para o tema da habitação social. Nesta etapa, foi possível garantir uma abrangência efetivamente nacional ao inventário dos conjuntos residenciais, apresentado no volume 2, garantindo a investigação em todas as regiões do país. No total, foram documentados 325 empreendimentos em 81 municípios situados em 24 unidades da federação, reunindo XX% das unidades habitacionais identificadas na produção pública. Com esse resultado, pode-se afirmar que o inventário, embora não inclua todos os empreendimentos realizados no período, é amplamente representativo do que foi realizado em todo o país. Entre as várias atividades da etapa, foi realizado um amplo levantamento em fontes documentais, com grande dificuldade tendo em vista a extinção dos órgãos promotores e o sucateamento dos seus arquivos. Na falta de documentação de muitos empreendimentos, o levantamento arquitetônico e urbanístico teve que ser feito in loco, enfrentando assim a descaracterização dos projetos originais e as dificuldades de localização e acesso a muitos dos conjuntos residenciais a serem estudados. Para garantir a melhor legibilidade possível dos projetos, todas as implantações urbanísticas, plantas das unidades e outros elementos projetuais foram redesenhados, procurando uniformizar as escalas para permitir análises comparativas entre as soluções e propostas. Quando apresentavam interesse no ponto de vista documental, foram incorporados ainda desenhos e croquis originais dos autores. O mesmo cuidado foi procurado, ainda, na documentação fotográfica, com a pesquisa à exaustão, em publicações antigas, arquivos públicos e privados e álbuns de famílias, de fotografias de época capazes de revelar os conjuntos residenciais e sua vida cotidiana. A tarefa, entretanto, não foi fácil. Por um lado, os arquivos de fotografias dos órgãos promotores desapareceram quase integralmente e, por outro, parte significativa dos empreendimentos não foram contemplados, à época, com uma adequada documentação fotográfica. Em compensação, todos os empreendimentos inventariados foram fotografados em registros contemporâneos. A apresentação dos onze empreendimentos selecionados para a análise em profundidade, apresentada no volume 3, recebeu tratamento diferenciado, com a criação de modelos eletrônicos dos projetos

originais que permitem conhecer as propostas dos autores que nem sempre foram integralmente realizadas ou que não são mais perceptíveis em face da descaracterização dos conjuntos. Ainda assim, considerou-se importante documentá-los em sua situação atual, em um ensaio especial, realizado pelo fotógrafo Bob Wolfenson.

A organização do livro O livro está organizado em três volumes, que correspondem a níveis diferentes de apresentação do material processado pela pesquisa e de análise dos seus resultados. O volume 1 é dedicado às análises mais gerais; o volume 2, ao inventário da produção habitacional do período de 1930 a 1964; o volume 3, à análise dos onze empreendimentos mais significativos. O volume 1 está dividido em três partes. A primeira é dedicada à análise sintética do processo de construção da política pública de habitação no Brasil, estabelecendo uma periodização e uma reflexão sobre os principais marcos e referências, com os objetivos apresentados no início desta introdução. Sem a preocupação de ser exaustiva, essa análise objetiva situar o período estudado em profundidade em um quadro mais geral, identificando a contribuição específica da produção habitacional realizada. A segunda parte é dedicada à análise dos seis órgãos promotores que consideramos os mais importantes do período: os institutos de Aposentadoria e Pensões dos Industriários (IAPI), dos Comerciários (IAPC) e dos Bancários (IAPB), a Fundação da Casa Popular (FCP), o Departamento de Habitação Popular da Prefeitura do Distrito Federal (DHP) e a Liga Social Contra os Mocambos (LSCM). Essa parte está focada na identificação das diretrizes de projeto desses órgãos, na perspectiva de revelar as inovações por eles introduzidas e suas limitações no quadro institucional e político do período. A terceira parte é destinada a uma reflexão geral das principais características dos projetos desenvolvidos no período, destacando os aspectos mais relevantes, como a diversidade de produção, a valorização do espaço público, a preocupação com uma adequada inserção urbana e a riqueza dos espaços de sociabilidade criados. O volume 2 é inteiramente voltado para a apresentação do inventário da produção habitacional do período. Está organizado em nove capítulos, cada um destina-



do a um órgão ou grupo de órgãos promotores, com exceção do último, que apresenta as áreas residenciais de quatro cidades novas planejadas pelo poder público. Essa organização permite uma leitura mais organizada das características dos empreendimentos desenvolvidos por cada órgão, evidenciando suas diferenças e permitindo uma observação mais clara da trajetória institucional e das diretrizes de projeto habitacional desenvolvidas por essas entidades. O volume 3 é composto por textos de apresentação e análise de onze conjuntos residenciais selecionados para uma reflexão mais aprofundada. Trata-se de um esforço coletivo realizado pela equipe de pesquisadores envolvidos com o trabalho que, sob minha orientação e coordenação, desenvolveram análises que procuram identificar o processo de elaboração desses projetos, os avanços que trouxeram e a sua atualidade. De autoria coletiva, os textos finais foram editados na perspectiva de garantir uma estrutura uniformizada e gerar uma compreensão mais precisa da contribuição das iniciativas estudadas para a construção da política de habitação social no Brasil.

Agradecimentos Este livro é uma versão revisada e ampliada da minha tese de livre-docência “Pioneiros da Habitação Social no Brasil”, defendida na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP) em agosto de 2011. A concepção e a coordenação deste projeto editorial são de minha autoria, em parceria com a arquiteta Ana Paula Koury, coordenadora assistente. Sem os apoios financeiros e patrocínios que recebeu, este trabalho não teria sido possível. Os auxílios da Fapesp e, em menor escala, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) foram indispensáveis para a realização da pesquisa e a participação de vários bolsistas de iniciação científica no projeto. Em 2004, a proposta de publicação em livro foi selecionada para receber patrocínio, no âmbito da Lei Federal de Incentivo Fiscal, em edital público na área de Patrimônio e Documentação, promovido pela Petrobras S/A, processo que deu o pontapé necessário para tirar o levantamento de relatórios científicos e começar a tornar sua divulgação uma realidade. A Fundação para o Incremento da Pesquisa e do Desenvolvimento Industrial (Fipai), vinculada à Escola de Engenharia de São Carlos – instituição proponente do projeto ao Ministério da

Cultura –, deu a necessária cobertura administrativa para a correta utilização dos recursos e os demais procedimentos legais indispensáveis para iniciativas com essas características. Posteriormente, outras empresas participaram do patrocínio: Itaú BBA, Imprensa Oficial, Votorantim, Cebrace e, especialmente, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), empresa que possibilitou uma captação integral do orçamento inicialmente previsto. Muitos amigos e colegas que acreditaram desde o início na importância desse trabalho tiveram papel destacado para o resultado alcançado, dentre os quais gostaria de citar: Suzana Pasternak, Marcos Barreto, Candido Bracher, Mário Willian Sper, Cecília Scarlat, Ana Helena xxxx, Abilio Guerra e Silvana Romano. Luis Carlos do Nascimento, gerente do projeto na Petrobras, e a equipe da Secretaria de Fomento e Incentivo à Cultura do Ministério da Cultura, em especial Alexandra Costa, tiveram a compreensão da dimensão e complexidade da publicação, atendendo os vários pedidos de aditamento do prazo de execução. A Fapes, parceira de várias etapas dessa pesquisa, apoiou também sua publicação. A publicação é resultado de um processo de pesquisa realizado nos últimos quinze anos por uma grande equipe que vem se dedicando de diversas formas ao trabalho. Ana Paula Koury, Nilce Cristina Aravecchia Botas, Sálua Kairuz Manoel, Flavia Brito do Nascimento, Elaine Pereira da Silva, Juliana Costa Mota e Maria Lucia de Freitas, todas arquitetas e mestras com passagem pela graduação, mestrado e/ou doutorado no agora Instituto de Arquitetura e Urbanismo de São Carlos – onde a pesquisa foi concebida e inicialmente desenvolvida –, estiveram por mais de uma década envolvidas nesta investigação e participaram do levantamento de campo e da análise de alguns dos conjuntos residenciais estudados, apresentando em coautoria comigo ou de maneira independente, sob minha orientação, textos sintetizados no volume 3 do livro. Nilce, Sálua e Flavia, que finalizaram seus doutorados em 2011, participam dos levantamentos e estudos relacionados com o tema desde a iniciação científica, tendo realizado, em suas dissertações ou teses, investigações específicas, respectivamente, sobre o Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários, a Fundação da Casa Popular e o Departamento de Habitação Popular da Prefeitura do Distrito Federal, trabalhos que foram referências fundamentais para o presente estudo.


Muitos outros alunos de graduação e de pós-graduação em arquitetura da EESC-USP e da FAU-USP, além de colaboradores de outras instituições, estiveram envolvidos nos levantamentos de campo e sistematização do material de pesquisa: na primeira etapa, entre 1987 e 1995, os estudantes e bolsistas de iniciação científica Maurício Ribeiro da Silva, Maria Cláudia de Oliveira, Mayra Carvalho; na segunda etapa, entre 1997 e 2001, as estudantes e bolsistas de iniciação científica Elaine Pereira da Silva, Nilce Cristina Aravecchia Botas, Sálua Kairuz Manoel, Juliana Costa Mota, Paola Werneck Padovani, Silvia Siscar, Manoela C. Souza, Rafael M. Esposel, Ana Paula Cássago e Paola Moreno Bernardi e as mestrandas Alexandra de Souza Frasson e Flávia Brito do Nascimento; na terceira etapa, entre 2005 e 2010, além das pesquisadoras principais já citadas, os estudantes e bolsistas de iniciação científica Amália dos Santos, Rodrigo Minoru, Tatiana Zamoner, Inês Pereira Coelho Bonduki e Juliana Tiemi. Participou ainda dos levantamentos de campo, de maneira mais esporádica, um grande número de estudantes de graduação e de pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo, de diversas instituições: Alexsandro de Almeida Pereira, Ana Maria Boschi da Silva, Ana Marta Branquinho e Silva, Ana Paula Cássago, Camila Opipari Capitanini, Carlos Frederico Lago Burnett, Carolina M. Chaves, Eduardo Henrique de Souza, Felipe de Araujo Contier, Fernanda Accioly, Fernando Domingues Caetano, Francisco Sales Trajano Filho, Fúlvio Teixeira, George Alexandre Ferreira Dantas, Glaucio Henrique Chaves, Kelly Yamashita, Liah Beatriz Aidukaits, Luciana Dornellas, Maira de Carvalho, Manoela C. Souza, Maria Beatriz Camargo Capello, Maria Cláudia de Oliveira, Maristela Siolari, Marluce Wall de Carvalho Venâncio, Mauricio Ribeiro da Silva, Paola Moreno Bernardi, Pablo Iglesias, Patricia Lustosa, Paulo Eduardo Vasconcelos, Paulo Silva, Rafael M. Esposel, Raquel Schenkman, Renata Bogas Gradin, Renata Campello Cabral, Renato Pequeno, Ricardo Trevisan, Tatiana Salema Marques e Vivian Cotta. Ao final do volume 2, está identificada a autoria dos relatórios dos levantamentos de campo realizados pelos pesquisadores e colaboradores, o que permite dimensionar a contribuição de cada um para o resultado final da investigação. A construção dos modelos eletrônicos no software Revit foi supervisionada por Ana Paula Koury, coordenada por Luiz Augusto Contier e Miriam Castanho e executada pelos estagiários Fábio Burgos Garcia,

Felipe de Araujo Contier, Murillo Moralles e Raquel Schenkman. Os desenhos finais de apresentação foram elaborados por Douglas Uemura Olim Marote, Natália Held e Ybi Arquitetura e Urbanismo, a partir dos desenhos em CAD coordenados por Ana Paula Koury e desenvolvidos por Acácia Furuya, André Ramos, Bruna Zendron, Bruno Salvador, Celina Sayuri Fujii, Claudiano Ribeiro de Souza, Danyelle Frascareli, Débora Cazarini Neme, Donizetti Aparecido Beccaro, Henrique Amorim Diamantino, Luis Filipe Magalhães Rodrigues, Rafael Andrade e Thammy Cervi. Colaboraram na edição do livro, com papel destacado nas várias tarefas necessárias para organização e sistematização do acervo, montagem do inventário e seleção de imagens que integram essa publicação, os hoje arquitetos Amália dos Santos, Rodrigo Minoru, Inês Bonduki e Juliana Tiemi, que começaram a participar do projeto como estudantes da FAU-USP e se integraram no projeto como pesquisadores assistentes, com grande dedicação. A seleção e edição final das fotos que integram os volumes 1 e 3 foram realizadas por Inês Bonduki, com o apoio de Juliana Tiemi. O projeto gráfico e a diagramação foram realizados por Chico Homem de Melo e Lana Troia (Homem de Melo e Troia), que tiveram a paciência e compreensão necessários para enfrentar o trabalho de dimensão excepcional, em particular, na edição do volume 2, que exigiu nada menos que seis provas. O mesmo esforço foi exigido de Neusa Caccese de Mattos e Claudionor A. de Mattos (Escritta), que realizaram o penoso trabalho de revisão final do texto. O tratamento das imagens foi realizado por Antônio Carlos Kehl e Silvana Panzoldo, e pelos técnicos da Imprensa Oficial do Estado e da Editora Unesp. O ensaio fotográfico de abertura dos capítulos do volume 3 é do fotógrafo Bob Wolfenson, cuja disposição para realizar o trabalho agradeço. As fotografias aéreas recentes são de Inês Pereira Coelho Bonduki. Grande parte das fotografias de documentação, realizadas durante os levantamentos de campo, são de minha autoria ou dos demais pesquisadores. Em São Paulo e Rio de Janeiro, onde foi necessário complementar o levantamento fotográfico, participaram os fotógrafos Stepan Norair Chahinian e Inês Pereira Coelho Bonduki. Os créditos das fotografias incluídas no inventário estão identificados ao final de cada ficha e de todos os volumes sistematizados ao final.



Agradeço, ainda, aos secretários do agora Instituto de Arquitetura e Urbanismo de São Carlos, no qual a pesquisa foi desenvolvida até 2005, em particular Antonio João e Marta Tessarin, Fátima Lourenço Leal, Lucinda Torres e Marcelo Celestini, e às equipes da secretaria do Departamento de Projeto e do Laboratório de Habitação e Assentamentos Humanos da FAU-USP. Juliana Niero, secretária da Associação Casa da Cidade, onde o grupo de pesquisa se instalou a partir de 2005, foi um apoio indispensável.

Uma homenagem aos que se dedicam à habitação social

A interlocução intelectual que o convívio universitário em São Carlos e em São Paulo permitiu foi essencial para a realização deste trabalho. Em primeiro lugar, no âmbito do Grupo de Pesquisa, onde pude, cotidianamente, compartilhar especialmente com Ana Paula e também com Nilce, Flávia e Sálua, que me estimularam a enfrentar o desafio de levar adiante um projeto dessa dimensão.

Esse processo está apenas começando. Se for levado adiante o objetivo de garantir a todo cidadão o acesso a uma moradia digna, como está proposto na nova Política Nacional de Habitação, a necessidade de profissionais será proporcional a um déficit acumulado de 7,9 milhões de moradias, uma demanda futura de 27,0 milhões de unidades até 2023 e mais de 3,3 milhões de pessoas vivendo em favelas e outras formas de assentamentos de urbanização precária, conforme diagnosticou o Plano Nacional de Habitação.

Os colegas do Projeto Temático “Habitação Econômica e Arquitetura Moderna no Brasil”, professores Maria Ruth Sampaio, Carlos Roberto Monteiro de Andrade, Sarah Feldman, José Lira, Maria Lúcia Gitai e Paulo César Xavier, e os companheiros do Laboratório de Habitação e Assentamentos Humanos, Ermínia Maricato, Maria Lúcia Refinetti e João Whitaker Sette Fereira, foram muito importantes para garantir um diálogo mais amplo do que o objeto específico da pesquisa, que lhe deu maior amplitude crítica. O debate intelectual com os amigos Carlos Martins, Rossella Rossetto, Raquel Rolnik, Luis Fernando Almeida e Pedro Paulo Martoni Branco foi sempre muito estimulante nas diferentes facetas da reflexão sobre a história da arquitetura moderna brasileira e sobre as políticas públicas de habitação e urbanismo. Finalmente, cabe um agradecimento especial à Universidade de São Paulo, em particular ao Instituto de Arquitetura e Urbanismo de São Carlos e à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, e, ainda, à Universidade São Judas Tadeu, instituições que abrigaram esta pesquisa e seus pesquisadores principais. Como se vê, este trabalho é resultado de uma grande equipe e de muitas colaborações, sem a qual ele não teria sido possível. No entanto, é minha toda a responsabilidade sobre falhas e lacunas, inevitáveis em um trabalho desta dimensão.

O país vem realizando, nos últimos anos, um enorme esforço para criar um corpo de profissionais qualificados para implementar uma nova política habitacional e urbana. Em todo o Brasil, começam a surgir técnicos, de várias formações, que optam por se dedicar à dura tarefa de atuar em habitação social, campo profissional que era e ainda é muito desvalorizado.

Não se constrói uma política pública sem o reconhecimento de seus principais formuladores e executores. O esquecimento dos que atuaram com empenho e seriedade nos órgãos públicos e se dedicam a esse tema tem sido uma regra no país, prática que só desestimula um maior envolvimento com as causas públicas. Resgatar e valorizar seu trabalho constitui uma etapa importante da construção da política pública de habitação. Ao divulgar e analisar as propostas, ideias, projetos e sonhos dos primeiros profissionais que se dedicaram ao tema da habitação social, procura-se mostrar que seu esforço não foi em vão. Ao trazer à tona suas utopias, mas também as dificuldades, constrangimentos, obstáculos e limitações que enfrentaram para colocar em prática as concepções que defenderam, procura-se mostrar que os problemas enfrentados hoje têm raízes profundas, que precisam ser conhecidas e combatidas. O esforço que realizamos para mostrar o trabalho por eles realizados objetiva tratar com dignidade uma área de atuação profissional que tem sido desprezada no âmbito da arquitetura, não merecendo o mesmo cuidado dedicado a temas de menor importância, mas de mais glamour. Essa é a melhor maneira de homenagear os primeiros profissionais que lutaram para que a moradia fosse tratada como uma questão pública. A eles, e a todos os que se dedicam com convicção à habitação social no Brasil, é dedicado este livro.


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