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Os pioneiros da habitação social no Brasil

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CrĂŠditos?

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Os pioneiros da habitação social no Brasil volume 2 Nabil Bonduki Ana Paula Koury

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Sumário (provisório)

IAPI

22

Conjunto Residencial Operário de Realengo Vila Guiomar Conjunto Residencial de Honório Gurgel Conjunto Residencial do Passo

d’Areia Conjunto Residencial de Novo Hamburgo Conjunto Residencial da Várzea do Carmo Conjunto Residencial da Mooca Conjunto Residencial de Salvador Conjunto Residencial de São Brás Bairro Industriário Conjunto Residencial de Areal Conjunto Residencial da Penha Conjunto Residencial de Bangu Conjunto Residencial de Moça Bonita Conjunto Residencial de Del Castilho Conjunto Residencial Presidente José Raimundo Conjunto dos Sete Prédios Conjunto Residencial de Vila Teresa Conjunto Residencial de Cabuçu Vila Jorge Rudge Vila Aquidabã Conjunto Residencial do Quitungo Conjunto Residencial de Santos Conjunto Residencial Japurá Edifício Anchieta Edifício Inconfidência Edifício Getúlio Vargas Edifício Florença Vila Teixeira Vila Maria Genoveva Conjunto Residencial de Taubaté Conjunto Residencial Monte Castelo Conjunto Residencial Euvaldo Lodi Vila dos Industriários Jardim Piratininga Conjunto Residencial de Areias Conjunto Residencial do Saco dos Limões Conjunto Residencial de Vitória Conjunto Residencial de Goiânia Conjunto Residencial de Cascadura Conjunto Residencial de Coqueirinho Conjunto Residencial de Itatiba Cidade Industrial Conjunto Residencial de Diamantina Conjunto Residencial de Itabirito Conjunto Residencial Juscelino Kubitschek Vila Macaraípe Conjunto Residencial da Pedreira Guacuri Conjunto Residencial de Guaratinguetá Conjunto Residencial de Vila Mariana

4


5

IAPC

112

Cidade Jardim dos Comerciários (Olaria) Cidade Jardim dos Comerciários Conjunto Residencial de Perdizes Conjunto Residencial Coelho

Neto Conjunto Residencial Quintino Bocaiuva Conjunto Residencial Cachambi Conjunto Residencial Irajá Conjunto Residencial Del Castilho Conjunto Residencial Filipinho Vila Comerciária Ramos Conjunto Residencial Anhanguera Vila Teresópolis Conjunto Residencial Auxiliadora Conjunto Residencial da Água Branca Vila Nova Tingui Conjunto Residencial Santa Maria Conjunto Residencial do Brás Conjunto Residencial da Rocha Conjunto Residencial do Realengo Conjunto Residencial Lins de Vasconcelos Conjunto Residencial Grajaú Conjunto Residencial Santa Teresa Conjunto Residencial João Gualberto Conjunto Residencial do IAPC Conjunto Residencial Nova Tirol Conjunto Residencial Governador Antônio Balbino Conjunto Residencial Juscelino Kubitschek Conjunto Residencial Monte Serrat Conjunto Residencial Mondubim Conjunto Residencial Jardim de Alá Edifício-Sede do IAPC Edifício Pioneiro e Edifício Concórdia Edifício em Santa Cecília Edifício Visconde de Ouro Preto Edifício Getúlio Vargas Conjunto Residencial Cidade Jardim Comunidade Brasílio Machado Neto Conjunto Residencial da Água Grande Conjunto Residencial Nossa Senhora das Graças Cidade Comerciária Presidente Vargas Vila dos Comerciários Jardim Alto Rio Preto Conjunto Residencial São Sebastião Vila Harmonia Vila IAPC Parque Vista Alegre Vila Guarujá Jardim Paulista Conjunto Residencial do IAPC Vila Santos Dumont Conjunto Residencial Vila Isa Vila Ieda Conjunto Residencial Novo Barbalho Conjunto Residencial de Itaqui Sítio da Capela Conjunto Residencial dos Comerciários Conjunto Residencial do IAPC


Sumário (provisório)

IAPB Conjunto Residencial Ibirapuera I

182

Conjunto Residencial Ibirapuera II

IPASE

6

238

Conjunto Residencial Marechal Hermes Edifício Xavier Edifício Ministro

Conjunto Residencial Manduri Conjunto Residencial IAPB Vila dos Bancários

Tavares Lira Edifício Barão de Ipanema Vila Comari Conjunto Residencial

Jardim Maracajá Vila dos Bancários Jardim Duas Praias Vila dos Bancários

José Bonifácio de Andrada e Silva Vila Operária Alegria Conjunto Residencial

Conjunto Residencial Santa Cruz Vila Ineco Conjunto Residencial Barão do

do Farol Vila Ipiranga

Amazonas Conjunto Residencial Nove de Julho Conjunto Residencial São

Monteiro

Sebastião Edifício dos Bancários de Niterói Edifício Presidente João Pessoa

Residencial Ministro Segadas Viana Conjunto Presidente Vargas Conjunto

Edifício dos Bancários de Ribeirão Preto Edifício dos Bancários de Ponte

Residencial João Goulart Edifício do IPASE Edifício Paulo Gentili Carvalho

Nova Edifício Enos Sadock Sá Edifício Vasco Alves Edifício dos Bancários de

Conjunto Residencial Juscelino Kubitschek

Campinas Edifício dos Bancários de Barretos Edifício São Pedro Edifício 28

IPASE Conjunto Residencial Mesquita Conjuntos Residenciais e Vilas do IPASE

de Agosto Edifício dos Bancários de Araçatuba Casa da Bancária Edifício

em Macapá Conjunto Residencial Plácido de Castro

dos Bancários de Vitória Edifício dos Bancários de Pelotas Edifício Brasília Edifício dos Bancários de Araguari Edifício dos Bancários de Barbacena Edifício dos Bancários de Itajubá

Conjunto Residencial dos Bancários

Conjunto Residencial Agamenon Magalhães

Conjunto Residencial do

IAPB Conjunto Residencial Barão do Amazonas Conjunto Residencial dos Bancários

Conjunto Residencial Mutti Carvalho

Almirante Waldemar Mota

Conjunto Residencial

Conjunto Residencial 28 de Agosto Conjunto

Residencial Passo da Cavalhada Conjunto Residencial Cavalcânti Conjunto Residencial Santo Antônio Vila dos Bancários Vila Bancária Raul Ramos Conjunto dos Bancários Residencial Santo Amaro

Conjunto Residencial Marcílio Dias

Conjunto

Edifício Botafogo Conjunto Residencial Honório

Conjunto Residencial Morvan Dias de Figueiredo

Conjunto

Almir Andrada Conjunto do


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IAPTEC IAPM IAPE

266

CAP CAPFESP IAPFESP

294

Conjunto Residencial Getúlio Vargas Conjunto Residencial Waldemar Falcão

Conjunto Residencial Barra Funda Vila dos Ferroviários da Central Vila dos

Vila Guarabu Núcleo Residencial Parada de Lucas Núcleo Residencial da

Ferroviários de Nova Iguaçu Chácara do Castelo e Vila Deodoro Vila Resende

Mooca Conjuntos Residenciais Darcy Vargas e Duque de Caxias Conjunto

Alvim Vila Oscar Azevedo Brandão Vila dos Ferroviários em Cabedelo Conjunto

Conjunto

Residencial Senador Camará Conjunto Residencial no Tatuapé Parque São

Residencial Helvécio Xavier Lopes Edifício Alpino Conjunto Residencial Vila

Jorge Edifício Ícaro Conjunto Residencial Brás de Pina Núcleo Residencial

Sabará Vila Abelardo Conduru Vila dos Estivadores Vila de Santos Vila Barão

dos Aeronautas Cidade Dutra Conjunto Residencial Magalhães Bastos Vila

de Mauá Vila Agamenon Magalhães Conjunto Residencial do IAPETC Sítio

dos Eletricitários Vila dos Portuários de Santos Jardim Aeroporto Vila dos

Boqueirão Vila Residencial de Siderópolis Conjunto Residencial Ministro

Portuários de Recife Vila Francisco Barbosa Resende Vila Martins Castilhos

Pereira Lira Vila Novais Filho Conjunto Residencial do Méier Conjunto

Conjunto Residencial em Coelho da Rocha Vila Waldemar Rodrigues Conjunto

Residencial de Irajá Vila Portuária Presidente Dutra Vila Getúlio Vargas

de Apartamentos em Álvaro Miranda Vila Sorocabana

Residencial Castro Alves

Conjunto Residencial Enguaguaçu

Edifício do IAPE Conjunto Residencial Pan-Americana


Sumário (provisório)

FCP

316

Conjunto Residencial Carmela Dutra Núcleo Residencial da Bacia do Macuco

348

Vila São Miguel Vila da Torre Vila Popular dos Usineiros Vila Popular da

Núcleo

Macaxeira Vila 13 de Maio Vila das Lavadeiras Vila das Cozinheiras Vila das

Residencial Santo André Vila Operária do Matadouro Núcleo Residencial

Costureiras Sítio Oliveira Vila Popular de Areias Vila da Gameleira Vila da

de Goiânia Núcleo Residencial de Engenho do Meio Bairro Popular Vila

Imbiribeira Vila do IPSEP em Areias Vila da Caixa de Acidentes dos Servidores

Vila São Bernardo Núcleo Residencial de São Carlos

do Estado da Secretaria de Viação e Obras Públicas Vila dos Contínuos Vila

Núcleo Residencial de João Pessoa Núcleo Residencial de Quaraí Núcleo

do Hipódromo Conjunto Residencial Teófilo Freitas Comunidade do Cajueiro

Residencial Rio Bonito Núcleo Residencial de Itajaí Conjunto Residencial

Seco Parque Proletário da Gávea

Presidente Getúlio Vargas Núcleo Vila Nova Conjunto Residencial Getúlio

Darcy Vargas Conjunto Residencial Pedregulho Conjunto Residencial de

Vargas Vila Cândida Vargas Vila Santo Antônio Vila Salgado Filho Núcleo

Paquetá Conjunto Residencial Marquês de São Vicente Conjunto Residencial

de Casas Populares Conjunto Residencial Tiradentes Conjunto Residencial

de Vila Isabel Conjunto Residencial da Catacumba Urbanização da Favela

Benfica Conjunto Residencial Juscelino Kubitschek Conjunto Residencial

Barreira do Vasco Cruzada São Sebastião Núcleo Residencial do Caxingui

de Ouro Preto Casas Populares

Núcleo Residencial do Catumbi

Núcleos Residenciais de Santos

Presidente Dutra

Popularzinho Popular Velho

ORGÃOS REGIONAIS

8

Parque Proletário no 3 Vila Operária

Núcleo Residencial Francisco Morato

Conjunto Residencial Agamenon Magalhães Conjunto Residencial Juscelino Kubitschek Casas no Jaipiim


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CIDADES NOVAS

404

Cidade Operária da Companhia Siderúrgica Nacional Áreas Residenciais de Volta Redonda Áreas Residenciais de Volta Redonda Cidade dos Motores — Fábrica Nacional dos Motores Áreas Residenciais da Cidade dos Motores — Primeira Versão

Áreas Residenciais da Cidade dos Motores — Segunda

Versão Áreas Residenciais da Cidade dos Motores — Terceira Versão Áreas Residenciais da FNM — Conjunto Salgado Filho Vila Operária da Usiminas Nova Capital (Brasília) Áreas Residenciais de Brasília Área de Vizinhança SQS 107, 108, 307 e 308 Superquadra Sul 114 Superquadra Sul 109 Área de Vizinhança SQS 105, 106, 305 e 306 Superquadras Sul 104 e 304 Superquadras Sul 206 e 208 Superquadra Norte 312 Conjunto JK Blocos JK Superquadras Norte 403 a 406 Superquadras Sul 405 e 406 Casas da Caixa Econômica Federal do Rio de Janeiro Casas Populares da FCP Habitações para Funcionários do Banco do Brasil Casas Populares do Ipase


APRESENTAÇÃO 10


11 O Volume 2 do livro Os primeiros da habitação social no Brasil é integralmente dedicado à apresentação do inventário dos conjuntos residenciais produzidos pelo poder público entre 1930 e 1964. Nele está reunida, pela primeira vez, a grande maioria dos projetos concebidos em todo o país pelos órgãos públicos que atuaram nesse período promovendo habitação para os trabalhadores assalariados urbanos.

tutos de Aposentadoria e Pensões: dos Industriários (IAPI), com 51 empreendimentos; dos Comerciários (IAPC), com 57 empreendimentos e dos Bancários (IAPB), com 48 empreendimentos. O capítulo 4 reúne a produção do Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores do Estado (IPASE), com 26 empreendimentos, e o capítulo 7 reúne a produção da Fundação da Casa Popular (FCP), com 29 empreendimentos.

A concretização do inventário envolveu trabalhos de diferentes naturezas, incluindo identificação, localização, levantamentos bibliográfico, documental e de campo, documentação e ensaio fotográfico, sistematização das informações, redesenho de projetos e redação de fichas e textos descritivos de 322 empreendimentos, projetados em todo o país. Sua realização foi uma tarefa de grande dimensão, um verdadeiro desafio investigativo e de síntese, realizado por inúmeros pesquisadores, ao longo de duas décadas, em 77 cidades situadas em 24 unidades da federação.

Os demais capítulos correspondem a um agrupamento de órgãos cuja produção foi menos expressiva do ponto de vista quantitativo e que apresentam algum tipo de identidade. O capítulo 5 reúne a produção do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Empregados em Transportes e Cargas (IAPETC), do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Marítimos (IAPM) e do Instituto de Aposentadoria e Pensões da Estiva (IAPE), num total de 27 empreendimentos. O capítulo 6 reúne a produção da Caixa de Aposentadoria e Pensões dos Ferroviários e Empregados em Serviços Públicos (CAPFESP), do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Ferroviários e Empregados em Serviços Públicos (IAPFESP) e das Caixas de Aposentadoria e Pensões de diferentes empresas públicas, somando 25 empreendimentos.

Os empreendimentos inventariados foram reunidos em nove capítulos, agrupados por órgãos ou conjunto de órgãos promotores. Em vez de agrupá-los por estados, regiões ou períodos, optou-se por essa forma de organização para facilitar o entendimento da concepção de projeto habitacional desenvolvida pelas principais instituições promotoras, que apresentam trajetórias específicas que merecem ser observadas de modo sequencial. Como foi mostrado no Volume 1, os principais órgãos criaram setores ou departamentos de arquitetura e engenharia que formularam concepções próprias de como enfrentar a questão da habitação, considerando aspectos como, entre outros, as estratégias de aquisição de terrenos e de localização dos empreendimentos, a criação de famílias tipológicas de blocos e unidades unifamiliares, o desenvolvimento de processos construtivos próprios. A observação detalhada dos empreendimentos revela o grau de maturidade alcançado no país em relação ao tema da habitação, além dos principais dilemas e perspectivas encontrados pelos profissionais encarregados de elaborar e implementar os projetos. O inventário está organizado em nove capítulos, dos quais cinco são dedicados integralmente a um único órgão. Os capítulos 1, 2 e 3 reúnem, respectivamente, a produção dos seguintes Insti-

O capítulo 8 reúne empreendimentos realizados por órgãos regionais pertencentes a estados e municípios que, no período, atuaram na área da habitação, com destaque para os estados de Pernambuco e Rio de Janeiro. Em Pernambuco, atuaram os seguintes órgãos: Fundação A Casa Operária, Liga Social Contra o Mocambo, Serviço Social Contra o Mocambo, Instituto de Previdência dos Servidores do Estado do Pernambuco (IPSEP) e Caixa de Acidentes dos Servidores do Estado. Já no Rio de Janeiro, atuaram o Departamento de Habitação Popular da Prefeitura do Distrito Federal (DHP); Serviço de Vilas e Parques Proletários, da Prefeitura do Distrito Federal, Associação Lar Proletário, Fundação Leão XIII, Serviço Social dos Morros e Favelas do Rio de Janeiro da Prefeitura do Distrito Federal, e Cruzada São Sebastião. Em outros estados, atuaram o Instituto de Previdência do Estado de São Paulo (IPESP), o Serviço Estadual de Construção de Casas Populares (do Governo do Estado do Amazonas) e o Governo do Estado do Sergipe, num total de 34 empreendimentos. O capítulo 9 reúne as áreas residenciais planejadas das cidades novas promovidos pelo governo federal ou por empresas esta-


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tais: Volta Redonda, Cidade dos Motores, Ipatinga e Brasília. Na Nova Capital, são apresentadas as realizações pioneiras, implantadas até 1964. Todos os capítulos contêm uma breve introdução, que apresenta de modo sintético as características do órgão promotor e de sua produção habitacional, seguida da documentação de cada um dos empreendimentos, que foram ordenados cronologicamente, sem muita rigidez, de modo a aproximar as tipologias semelhantes e a enfatizar as diretrizes de projeto habitacional implementadas por cada instituição. O inventário visa, sobretudo, apresentar a produção habitacional promovida pelos órgãos públicos no período estudado, descrevendo e documentando as obras realizadas, em sua grande maioria desconhecidas. O objetivo é, sobretudo, mostrar os projetos, levando em conta que a análise detalhada dos principais órgãos e de sua produção foi realizada no primeiro volume, onde pode ser encontrada uma reflexão crítica sobre o contexto institucional e político em que os empreendimentos foram produzidos. Ressalta-se que o registro e a documentação dessas obras estavam dispersos, diluídos ou eram totalmente inexistentes. Apesar dessa dificuldade, os textos descritivos foram redigidos de maneira a oferecer ao leitor um quadro básico do contexto em que os projetos foram realizados. Todos os empreendimentos incluídos no inventário contem, no mínimo, uma ficha descritiva, com informações básicas, como órgão promotor, data, local, número de unidades, tipologia habitacional utilizada e equipamentos previstos. Além dessa ficha, buscou-se garantir ainda um texto explicativo do empreendimento, documentação gráfica redesenhada do seu projeto, fotos da época e recentes. Em decorrência da dificuldade de obtenção de dados e registros iconográficos e, também, da falta de espaço na publicação (que ficou sessenta por cento maior do que o previsto originalmente), os empreendimentos foram hierarquizados de acordo com sua importância do ponto de vista arquitetônico, urbanístico, construtivo e histórico, assim como em função da disponibilidade das informações, de modo a dar destaque para os mais importantes e melhor documentados. Essa hierarquia e a preocupação em garantir maior cobertura regional, orientaram a prioridade dos levantamentos de campo, de modo que o espaço dedicado para cada obra varia significa-

tivamente ao longo do inventário. Ao final da ficha ou do texto explicativo de cada empreendimento, são apresentadas as fontes das informações e dos desenhos, assim os autores das fotografias incluídas no registro.

Etapas da pesquisa O inventário apresentado é resultado de vinte e cinco anos de estudo, pesquisas e levantamentos de campo, desde as primeiras observações e registros, que tiveram início em meados da década de 1980, quando essa produção era inteiramente desconhecida, até sua finalização, ocorrida em fevereiro de 2012. De uma maneira geral, a pesquisa – que incluiu a identificação dos empreendimentos, levantamento bibliográfico e documental em arquivo, observação in loco, levantamento arquitetônico, registro fotográfico, entrevistas, redesenho das peças gráficas originais e sistematização dos dados e informações obtidas – foi desenvolvida em três etapas. A primeira, realizada entre 1987 e 1995, corresponde ao período de elaboração da tese de doutorado “Origens da habitação social no Brasil: o caso de São Paulo” (Bonduki, 1995), momento em que foi identificado o precioso ciclo de projetos de habitação social implementado pelos institutos de aposentadoria e pensões entre 1930 e 1964. Nessa fase, foram realizados uma ampla pesquisa bibliográfica e levantamentos de campo exploratórios nas principais capitais brasileiras (São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Salvador e Belo Horizonte), identificando alguns dos conjuntos residenciais mais relevantes do ponto de vista da sua arquitetura. Esse primeiro levantamento teve por base a inédita listagem de empreendimentos elaborada pela professora Marta Farah, em sua dissertação de mestrado “Estado, previdência social e habitação” (Farah, 1983). Entre 1989 e 1991, foram realizados os primeiros levantamentos arquitetônicos em alguns dos mais importantes conjuntos residenciais localizados em São Paulo, realizado com o apoio de estudantes de graduação do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Escola de Engenharia de São Carlos. O material processado e analisado nessa primeira etapa da pesquisa, sistematizado de forma acabada no livro Origens da


13 Habitação Social no Brasil (Bonduki, 1998), revelou os primórdios da intervenção do Estado na questão da habitação e estabeleceu a relação entre a arquitetura moderna e os projetos habitacionais. As duas etapas subsequentes da pesquisa são tributárias desse estudo, que abriu um amplo campo de investigação e agregou um conjunto de estudantes de graduação e de pós-graduação, que passaram a integrar, com suas pesquisas de iniciação científica, mestrado e doutorado, um grupo que teve papel fundamental na concretização deste inventário. A segunda etapa do levantamento foi desenvolvida entre 1997 e 2001 com o apoio da FAPESP, como uma das partes do projeto temático Habitação Econômica e Arquitetura Moderna no Brasil (Sampaio e Bonduki, 1996 e 2001), desenvolvido, sob a coordenação dos professores Maria Ruth Sampaio e Nabil Bonduki, por uma equipe de pesquisadores da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e da Escola de Engenharia de São Carlos, ambas da Universidade de São Paulo. Nessa etapa, foi realizado um extenso levantamento dos conjuntos habitacionais realizados pelos institutos de aposentadoria e pensões e demais órgãos promotores que atuaram no período, concentrado nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, no âmbito de uma investigação mais ampla que visava estabelecer uma interlocução com as outras abordagens tratadas no projeto temático, desenvolvidas pelos demais pesquisadores, como a produção privada da habitação econômica, as áreas residenciais das cidades novas, o desenvolvimento tecnológico e as inovações, em termos de legislação, relacionadas com a questão habitacional. O relatório final dessa etapa da pesquisa (Bonduki, 2002) constitui o embrião do inventário apresentado neste volume. O levantamento sistemático da produção, ainda que incompleto, e sua sistematização preliminar permitiram aprofundar o conhecimento sobre as diretrizes formuladas pelos órgãos promotores, identificar a atuação dos principais profissionais que realizaram os projetos e analisar de maneira mais global o caráter inovador dos empreendimentos. Esse relatório foi a referência básica que permitiu a obtenção de apoios para preparar sua publicação (que tomou o nome de Pioneiros da Habitação Social no

Brasil), a partir do patrocínio obtido através de concurso promovido pela Petrobrás, dirigido para a preservação e documentação do patrimônio cultural brasileiro (Bonduki, 2003). Como consequência, a terceira etapa da pesquisa, que ocorreu entre 2005 e 2012, foi centrada na concepção e elaboração do livro. Verificou-se que o material até então obtido era insuficiente para a realização de um inventário completo a nível nacional, requerendo uma ampliação da pesquisa para todas as unidades da federação, maior esforço de organização, sistematização e tratamento analítico. Com esse objetivo, foi elaborado um novo projeto de pesquisa, que recebeu apoio da FAPESP (Bonduki, 2005) e que teve como objetivo principal completar o levantamento, dando-lhe uma abrangência efetivamente nacional. Assim, todos os órgãos promotores e praticamente todas as unidades da federação onde foram realizados empreendimentos foram cobertos, garantindo, ainda, uma organização adequada para as informações e iconografia levantadas. A investigação foi centrada no entendimento dos projetos e das intervenções promovidas pelos órgãos promotores, sem se aprofundar no estudo das modificações realizadas nos empreendimentos, por iniciativa dos moradores, nesses mais de meio século transcorridos entre a sua ocupação e a atualidade. A descrição apresentada no inventário apenas aponta as alterações ocorridas nos conjunto, sem se aprofundar no detalhamento dessa questão, que pode e deve ser objeto de novos estudos e as pesquisas. A sistematização do material levantado possibilita uma completa análise da produção habitacional do período, não inteiramente apresentada nesse livro, superando visões parciais que predominavam até então, permitindo comparações e diferenciações regionais e garantindo a compreensão, de modo integral, da política empreendida por cada órgão promotor. Resultado, como se vê, de um longo esforço investigativo, o inventário, embora bastante completo, está longe de esgotar o assunto, pois apresenta lacunas tanto nas fontes documentais como no levantamento de campo. Espera-se que a organização e publicação desse material estimulem novas investigações e análises, necessárias para um melhor conhecimento e compreensão do tema.


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Metodologia do levantamento das informações A identificação, levantamento, sistematização e apresentação da produção habitacional realizada pelo poder público entre 1930 e 1964 não foi tarefa simples. A partir da consolidação de uma listagem preliminar de empreendimentos, foi definido um procedimento que previa pesquisa bibliográfica, sobretudo em periódicos e revistas, e levantamento documental nos arquivos originais dos órgãos promotores, objetivando reunir os elementos necessários para a avaliação dos conjuntos identificados, tais como a iconografia da época e os documentos técnicos dos projetos. Os levantamentos deveriam ser complementados com visitas técnicas de campo e registros fotográficos recentes. No entanto, foram grandes as dificuldades encontradas para a obtenção do material original. Não existem arquivos organizados que reúnam os documentos relativos aos empreendimentos projetados e construídos no período. A maioria dos 28 órgãos promotores estudados foi extinta entre 1964 e 1966 e seus arquivos foram transferidos para outras instituições que, em geral, não os conservaram adequadamente. Apenas uma pequena parte da documentação dos 322 empreendimentos inventariados foi publicada nas revistas de arquitetura e engenharia e, de uma maneira geral, salvo exceções como o Conjunto Residencial Pedregulho, não mereceram destaque em livros, inventários e guias de arquitetura, órgãos de imprensa e outros meios de divulgação. Os antigos arquivos dos institutos de aposentadoria e pensões (IAPI, IAPC, IAPB, IPASE, IAPETC, IAPM, IAPFESP e Caixas) foram reunidos de maneira indistinta no Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), a maior parte em arquivos mortos, permanecendo em condições muito precárias de conservação e anexo. Como as carteiras prediais e a atividade de promover, produzir e financiar habitação foram banidas da nova instituição previdenciária, esse material perdeu a importância no novo órgão, sobretudo após a venda das unidades habitacionais para os seus moradores. Muitos documentos originais desapareceram ou se dispersaram, como ocorreu também com a sua vasta documentação fotográfica.

De qualquer forma, embora incompletos e repletos de lacunas, além de difícil acesso, os arquivos do INSS no Rio de Janeiro (Central e Irajá), em Brasília e em algumas outras cidades foram importantes fontes para a obtenção dos desenhos originais de alguns empreendimentos. As antigas revistas do IAPI (Revista dos Industriários e Inapiários), do IAPB (Revista dos Bancários) e do IAPC (Revista do IAPC) também contribuíram para um melhor conhecimento dos empreendimentos desses órgãos, mas raramente incluíam a documentação técnica dos projetos. O “livro azul” do IAPI (PEDRO, Alim. O Seguro Social, a Indústria Brasileira, o Instituto dos Industriários. Rio de Janeiro: IAPI, 1950) foi uma fonte indispensável para o conhecimento dos empreendimento desse órgão, trazendo informações básicas, incluindo uma descrição básica dos principais conjuntos residenciais concebidos pelo órgão até o início dos anos de 1950, mas as demais instituições não tiveram publicações semelhantes. Com exceção da documentação referente às áreas residenciais de Brasília, que está bem organizada no Arquivo Público do Distrito Federal, a situação é muito crítica. Os arquivos da Fundação da Casa Popular (FCP), órgão incorporado, em 1964, ao Serviço Federal de Habitação e Urbanismo (Serfhau), que, por sua vez, foi extinto na década de 1970, simplesmente desapareceram. Segundo informações não oficiais, o material referente ao primeiro órgão federal específico de habitação, que estaria precariamente guardado numa pequena casa no subúrbio do Rio de Janeiro, teria sido incinerado como “material velho imprestável” por funcionários que “não sabiam para o que aquilo poderia servir”. De uma maneira geral, os arquivos dos órgãos regionais inexistem, com exceção do Instituto de Previdência do Estado de São Paulo (IPESP). A pequena produção do Departamento de Habitação Popular da Prefeitura do Distrito Federal (Rio de Janeiro), cujo arquivo está disperso e muito mal conservado, é a única que mereceu publicação adequada inicialmente na Revista Municipal de Engenharia da Prefeitura do Distrito Federal e, em seguida, em periódicos e livros, o que permite acesso aos projetos originais. Diante da ausência de arquivos centralizados, a obtenção da iconografia de época requereu uma pesquisa ampla em arquivos não especializados, dispersos nas diferentes cidades onde os empreendimentos foram implantados. Isso exigiu um enorme


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esforço, nem sempre bem-sucedido, visto que foram raras as obras que mereceram documentação adequada na sua época. Garimpando em diferentes fontes, até mesmo nas fotografias pessoais de antigos moradores, foi possível reunir iconografia da época de um número significativo dos empreendimentos inventariados. Em face da insuficiência das fontes documentais e de publicações, os levantamentos em campo ganharam grande importância e muitos conjuntos somente puderam ser conhecidos por meio de visitas in loco, registradas em relatórios de campo. A pesquisa incluiu, essencialmente, levantamentos arquitetônicos (métrico), registros fotográficos e depoimentos de moradores. Complementadas pela observação de fotos aéreas, essas informações tornaram-se um importante instrumento de estudo e registro dos empreendimentos. Além da elaboração ou conferência de plantas e desenhos, as visitas permitiram observar e descrever as características principais dos conjuntos, constatando as alterações realizadas e o seu estado atual, assim como sua inserção nos bairros em que se localizam. Entrevistas com moradores antigos tornaram-se a única maneira de conhecer detalhes da história da maior parte dos empreendimentos. Nos casos em que o material obtido na primeira visita de campo era insuficiente para a compreensão, descrição e apresentação do empreendimento, foi realizado novo esforço de pesquisa, buscando obter informações adicionais. Assim, alguns conjuntos foram visitados diversas vezes, seja pela necessidade de complementação de informações, seja pelo interesse em melhor entender sua concepção e detalhes construtivos. Frequentemente, as fotografias realizadas no âmbito do levantamento de campo não tiveram a qualidade requerida para a publicação, o que também tornou necessária uma nova visita do pesquisador ou de fotógrafo. Esse processo exigiu grande persistência da equipe, em especial do seu coordenador, prolongando ainda mais a duração da pesquisa. Mesmo com todo esse esforço, o inventário ainda apresenta lacunas que requerem investigações mais aprofundadas e que poderão se beneficiar do presente trabalho, visto que a identificação, localização e sistematização das informações básicas

de cada empreendimento já constituem um excelente ponto de partida para novos pesquisadores. Não foram poucas as situações em que foi muito difícil identificar e localizar conjuntos residenciais que se diluíram nos bairros onde foram implantados, que tiveram suas unidades profundamente alteradas ou que se situam em regiões de difícil acesso, sem falar dos riscos de visitar e registrar locais onde a presença do poder público, que os criou, foi substituída pelo crime organizado. Embora alguns empreendimentos e o entorno da maioria tenham-se transformado em regiões perigosas, sobretudo em metrópoles como o Rio de Janeiro, grande parte dos conjuntos são lugares tranquilos, com uma vida comunitária consolidada e ainda habitados por alguns dos primeiros moradores ou por seus descendentes, que colaboraram com a pesquisa na construção de uma memória oral do local. Os relatos de moradores, apesar de sua subjetividade, tornaram-se essenciais para a construção da história desses lugares, tendo em vista que poucas das 77 cidades visitadas realizaram algum procedimento de registro do processo de formação de seus bairros populares. Raros empreendimentos foram tombados por órgãos de preservação, caso de Pedregulho (DHP – Rio de Janeiro), Passo d’Areia (IAPI – Porto Alegre) e Cidade Industriária (IAPI – Belo Horizonte), embora não estejam efetivamente preservados e reabilitados. Esses conjuntos tornaram-se referências urbanas importantes e são os que mais se destacam na memória dos moradores das cidades onde se inserem. Por isso, ao contrário da grande maioria, são de fácil localização. Mais do que nos edifícios destinados a outras finalidades, conjuntos habitacionais são objeto de muitas interferências, o que provocou uma descaracterização significativa na maior parte dos empreendimentos. Essas alterações se acentuaram a partir de 1964, quando as unidades habitacionais foram vendidas para os moradores e os conjuntos multifamiliares passaram a ser geridos por condomínios privados, sem nenhum controle público. Por essa razão, não foi simples identificar em campo a concepção original, assim como as alterações realizadas durante mais de meio século, principalmente em conjuntos residenciais que guardam poucos elementos da proposta inicial, como Olaria (IAPC/Rio de Janeiro), implantado no início da década de 1940.


17 Além das alterações nas edificações e nos espaços públicos, outro fator que dificultou o entendimento das propostas foi o fato de muitos empreendimentos terem sido apenas parcialmente implantados ou em desacordo com o projeto original. Por isso, nos casos em que existia uma documentação gráfica do projeto, um dos objetivos da visita in loco foi verificar a correspondência entre o proposto e o realizado, seja nos aspectos quantitativos e factuais, como o número das unidades ou a implantação dos equipamentos, seja nos qualitativos, como o conceito do projeto.

Sistematização das informações e elaboração dos perfis dos empreendimentos De acordo com as diretrizes estabelecidas para a estruturação do inventário, cada empreendimento pesquisado deveria ser descrito num perfil que sistematizasse suas informações básicas, características do projeto, inserção no contexto urbano e na produção do órgão promotor e iconografia. Como a importância e a disponibilidade da documentação de cada empreendimento eram muito diferenciadas, estabeleceuse uma hierarquia de apresentação, destinando seis páginas para os conjuntos mais importantes e/ou melhor documentados, reduzidas, gradativamente, conforme sua relevância, para quatro, duas, uma, meia e até um terço de página. Nesse espaço, as informações foram organizadas nos seguintes tópicos: nome do empreendimento, ficha de identificação, texto descritivo, documentação do projeto redesenhada, fotografias de época e recentes, fontes e créditos das imagens. A seguir, serão apresentados os procedimentos adotados para a elaboração de cada um desses tópicos.

Nome do empreendimento O título de cada ficha é nome do empreendimento, seguido da cidade e da sigla da unidade da federação em que ele se localiza. Como regra geral, foi utilizada, para denominar o conjunto, sua nomenclatura oficial, ou seja, como ele foi chamado nas publicações oficiais dos órgãos promotores. Nos casos em que o nome pelo qual o empreendimento se tornou conhecido

se difundiu amplamente, inclusive em revistas e publicações, este foi adotado, como, por exemplo, no caso do Conjunto Residencial Pedregulho, cuja denominação oficial, Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Morais, é quase desconhecida. Não havendo a identificação oficial, foi adotado o nome pelo qual o empreendimento é reconhecido e identificado pelos seus moradores. Muitos conjuntos residenciais possuem mais de um nome; nesse caso, escolheu-se o mais representativo, mencionando-se o segundo no texto descritivo. Em relação à localização, optou por atualizar a unidade da federação. Assim, por exemplo, empreendimento situado no município de Corumbá, que ficava, na época de sua implantação, no Estado do Mato Grosso (MT), é mencionado como estando no Estado de Mato Grosso do Sul (MS), sua localização atual. Já o antigo Distrito Federal é identificado como Rio de Janeiro (RJ), enquanto que Brasília aparece como Distrito Federal (DF). Eventualmente, nos textos descritivos foram feitas menções às alterações da divisão administrativa do país, usando-se, por exemplo, expressões como “Rio de Janeiro, antigo Distrito Federal” ou “antigo Estado da Guanabara”.

Ficha de identificação Independentemente do tamanho que o empreendimento ocupa no inventário, a informação básica de todos os conjuntos está sistematizada em uma ficha padronizada, com os seguintes campos obrigatórios: “órgão promotor”; “localização”; “data”; “autor do projeto”; “unidades construídas”; “tipos”; “equipamentos”. Quando a informação referente a um desses campos não foi obtida, adotou-se a indicação “sem informação”. Os campos “área da gleba ou do terreno” e “empresa construtora” só aparecem na ficha quando se obteve a informação. Alguns esclarecimentos são necessários sobre o preenchimento dessa ficha. No campo “localização”, identifica-se uma das vias que corta ou contorna o empreendimento, em geral a rua ou avenida mais conhecida, seguida, na maioria dos casos, do bairro. Quando não houve mudança no traçado das vias, optouse por atualizar a denominação do logradouro, de modo a facilitar sua localização. Já nas situações em que ocorreu alteração no traçado das vias, optou-se por manter os nomes originais, mencionado, quando possível, os nomes atuais na implantação.


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19 No campo “autor do projeto”, encontrou-se grande dificuldade para identificar o profissional responsável, pois muitos projetos foram desenvolvidos de maneira coletiva nos setores ou divisões de engenharia dos órgãos promotores. Nos poucos casos em que os projetos foram encomendados a profissionais externos ao órgão promotor, a autoria está claramente definida e foi identificada. A maioria dos projetos, entretanto, não tem autoria personalizada, tendo sido concebidos sob a responsabilidade da equipe de engenharia dos órgãos promotores, que foram creditada como autora. Nas situações em que o projeto foi elaborado no setor de engenharia do órgão promotor, mas o profissional responsável foi identificado em publicações ou documentos oficiais, este foi identificado na ficha como o autor do projeto, destacando-se que ele pertencia à equipe do setor de engenharia do órgão, casos de Ferreira (IAPI), Hellmeister (IAPC), Reidy e Bolonha (DHP). Alguns desses profissionais, como Ferreira, funcionário do IAPI durante quase trinta anos, criaram famílias tipológicas que foram sendo utilizadas e/ou adaptadas pelo setor de engenharia do órgão em inúmeros empreendimentos, em diferentes regiões do país. No campo “número de unidades”, foi apresentado o número de unidades efetivamente construídas; quando o plano original previa um número diferente do efetivamente construído, essa situação foi indicada entre parêntesis. No campo “tipo”, foi estabelecida uma classificação baseada na agregação das unidades na implantação do conjunto, de modo a enfatizar a organização urbana. Quando o tipo adotado foi o bloco, definido como edificação plurifamiliar com circulação vertical compartilhada, ou o edifício, definido como edificação plurifamiliar com circulação vertical compartilhada, com elevador, mais alto do que comprido, foi indicado o número de pavimentos, contados a partir do térreo (primeiro pavimento), e a existência de usos não residenciais no interior da edificação, como comércio e/ou serviços no térreo, sobreloja ou cobertura. No caso de unidades unifamiliares, os tipos foram classificados segundo os seguintes critérios de agregação: casas isoladas (unidades térreas com recuos laterais); casas geminadas (unidades térreas agrupadas duas a duas); casas em fileira

(unidades térreas agrupadas em sequência); sobrados isolados (unidade de dois pavimentos com recuos laterais); sobrados geminados (unidades de dois pavimentos agrupadas duas a duas); sobrados em fileiras (unidades de dois pavimentos agrupadas em sequência); unidades sobrepostas (unidades agregadas verticalmente com acessos independentes). Na ficha, os tipos foram identificados por extenso e, em seguida, foi adotado um código para identificação sucinta das demais informações: B (bloco); E (edifício); CI (casas isoladas); CG (casas geminadas); CF (casas em fileiras); SI (sobrado isolado); SG (sobrado geminado); SF (sobrado em fileira); US (unidade sobreposta). Quando o empreendimento tem mais de uma variação de planta dentro do mesmo tipo, são utilizados números sequenciais, como B1, B2, B3 ou CG1, CG2, CG3, etc. Cada variação dos tipos utilizados nos empreendimentos foi qualificada, apresentando-se a área e os compartimentos das unidades habitacionais, conforme os códigos indicados no item “Definições e códigos adotados na apresentação dos tipos e projetos”. Esta descrição foi detalhada na ficha, com exceção dos empreendimentos onde o número de variações excedia sua dimensão, caso em que foi apresentada na implantação do conjunto. No campo “equipamentos”, foram identificadas todas as edificações, áreas livres e espaços de uso não residencial previstos no empreendimento, como escolas, creches, ambulatórios, áreas comerciais, áreas verdes, praças, clubes, centro de recreação, etc. Em muitos casos estão presentes e foram incluídas na ficha as delegacias ou postos dos institutos de aposentadoria e pensões que eram muito utilizados pelos moradores. Nesse campo foi indicado, ainda, se os equipamentos foram efetivamente construídos ou apenas projetados. Outro cuidado foi diferenciar os conjuntos sem equipamentos daqueles sem informação sobre sua existência.

Texto descritivo Para todos os empreendimentos, com exceção dos que ocupam apenas um terço de página, foi elaborado um texto descritivo cuja dimensão varia de acordo com o espaço programado. Esses textos apresentam o histórico e contexto do conjunto, concepção e descrição sintética do projeto, além de uma breve análise. A intenção foi garantir, no reduzido espaço previsto, uma


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compreensão clara das características da intervenção, relacionando-a com os demais empreendimentos do órgão promotor e articulando uma leitura das peças gráficas e da iconografia apresentadas no perfil do conjunto.

Identificação das fontes, créditos dos pesquisadores e das fotografias Ao final do texto descritivo são apresentadas as fontes utilizadas para a obtenção das informações necessárias para a elaboração do perfil do empreendimento. Além de textos, artigos, livros e documentos utilizados, estão identificados também os Relatórios de Levantamento de Campo (LC), realizados pelos pesquisadores que visitaram os empreendimentos, instrumentos que forneceram a base empírica para a elaboração da respectiva ficha, texto descritivo e desenhos. Ao final deste volume, estão listados todos os 72 Relatórios de Levantamentos de Campo realizados, permitindo identificar a data e os pesquisadores que visitaram cada empreendimento. Cada relatório corresponde a uma ou a várias visitas de campo realizadas num mesmo período, pelo mesmo grupo de pesquisadores, numa mesma cidade. Em seguida, é identificada a autoria das fotografias utilizadas. Estão incluídas tanto as fotografias da época, com crédito dos arquivos que cederam os originais e os periódicos de época, como os pesquisadores e fotógrafos que realizaram o levantamento iconográfico especificamente para a pesquisa. Em alguns casos, em levantamentos realizados em equipe, não foi possível identificar pessoalmente o autor, atribuindo-se o crédito da autoria das fotos ao conjunto de pesquisadores presente em campo. Também foram identificadas as fontes que serviram de base para os redesenhos dos projetos. Estas fontes podem ter sido a documentação gráfica original dos projetos, coletada nos arquivos pesquisados, os periódicos que publicaram projetos ou os levantamentos de campo realizados pela equipe.

Processamento da documentação gráfica dos projetos Todos os projetos foram inteiramente redesenhados, seguindo fielmente a proposta original, tendo por base as informações gráficas obtidas nos levantamentos documental, bibliográfico, arquitetônico e fotográfico, incluindo ainda, fotos aéreas. Nos casos, não muito freqüentes, em que o croquis ou desenho original do autor apresentassem um interesse gráfico superior ao da representação técnica, foi apresentada também uma reprodução do original. Sempre que possível, foi incluída uma implantação do empreendimento com o traçado viário e localização dos tipos adotados e dos equipamentos previstos ou construídos, de preferência nas escalas 1:2000 ou 1:5000, embora, excepcionalmente, tenha sido necessário adotar outras escalas. Foram incluídas, ainda, nas escalas 1:500 ou 1:250, plantas das unidades, dos pavimentos-tipo dos blocos ou edifícios, elevações e detalhes construtivos significativos. No caso de existirem equipamentos sociais, buscou-se mostrar também alguma peça gráfica dos seus projetos. Devido à escassez de espaço na publicação, nem todos os elementos gráficos processados pela pesquisa puderam ser incluídos na publicação. Os desenhos foram padronizados de acordo com os critérios de representação estabelecidos no projeto gráfico do inventário. As legendas foram uniformizadas e atualizadas, mantendose alguns estrangeirismos, como, por exemplo, a forma playground, utilizada pelos profissionais. A uniformização dos desenhos e das escalas facilitou a análise comparativa entre os vários projetos, melhorando a compreensão do empreendimento, pois exigiu a análise da implantação e da inserção no entorno, identificando elementos como a área do terreno, número e disposição das unidades, arruamentos, equipamentos coletivos e áreas verdes. Além da análise dos tipos empregados, observou-se a organização do programa, as soluções construtivas e organização da unidade.


Definições e códigos adotados na apresentação dos tipos e projetos Tipos habitacionais Casa [C] unidade unifamiliar térrea Sobrado [S] unidade unifamiliar com dois pavimentos

21 Compartimentos da unidade habitacional Sala [S] Cozinha [C] Quarto [Q]

Unidade sobreposta [US] unidade articulada verticalmente com circulação independente

Banheiro [B]

Bloco [B] conjunto plurifamiliar com circulação vertical compartilhada, mais comprido do que alto e na maioria dos casos sem elevador

Tanque externo [T]

Edifício [E] conjunto plurifamiliar com circulação vertical compartilhada, mais alto do que comprido e na maioria dos casos com elevador

Terraço [V] (em apartamento, indicado V na descrição da legenda)

Articulação horizontal dos tipos casa, sobrado e unidade sobreposta Isolado(a) [I] Geminado(a) [G] Fileira [F]

Articulação horizontal do modelo gerador em blocos e edifícios No caso de blocos ou edifícios, a articulação de um mesmo módulo gerador em diferentes números (2, 3, 4, etc.) é descrita por letras (a, b, c). Por exemplo, B1a, B1b, B1c, etc).

Articulação vertical dos pavimentos Número de pavimentos (contado a partir do térreo) Número de andares (contado a partir do primeiro)

Área de serviço (não foi usado terraço) [AS] Varanda [V] (em casa) Quarto de empregada [QE] Banheiro de empregada [BE] Garagem [G] Quarto de costura [QC] Quarto-sala [QS] (no caso de quitinete) Gabinete [GA] (escritório) Copa [CO] Hall [H] (distribuição de fluxo externa à unidade) Vestíbulo [VE] (distribuição de fluxo interna à unidade) Despensa ou depósito [D] Quintal [QI] Passagem [P] Refeitório [R] (comum a várias unidades) Saleta [SA] (anexo à sala)

Térreo ou primeiro pavimento Cobertura Pavimento-tipo (repetição do primeiro pavimento nas demais posições verticais)

Ocupação dos pavimentos Térreo livre (com pilotis) ou ocupado (com área comercial ou residências) Cobertura ocupação parcial da última laje do edifício com salão de festas, jardim, casa de zelador, etc.

Observação: tanto a varanda como o terraço podem ser entalados – incluídos no volume da unidade ou protuberantes – anexos ao volume.


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