& Construções CONCRETO REFORÇADO COM FIBRAS
PESQUISAS, PROJETOS, TECNOLOGIA, CONTROLE DA QUALIDADE E USOS DO CRF NO BRASIL E NO MUNDO
Instituto Brasileiro do Concreto
Ano XLV
87 JUL-SET
2017 ISSN 1809-7197 www.ibracon.org.br
PERSONALIDADE ENTREVISTADA
MANTENEDOR
ENCONTROS E NOTÍCIAS
ANTONIO DOMINGUES DE FIGUEIREDO: PESQUISAS POR BOAS SOLUÇÕES DE ENGENHARIA
SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO
CURSOS DE ATUALIZAÇÃO PROFISSIONAL
Esta edição é um oferecimento das
seguintes Entidades e Empresas
IBRACON
Adote concretamente a revista
CONCRETO & Construções
u sumário
seções & Construções CONCRETO REFORÇADO COM FIBRAS
PESQUISAS, PROJETOS, TECNOLOGIA, CONTROLE DA QUALIDADE E USOS DO CRF NO BRASIL E NO MUNDO
Instituto Brasileiro do Concreto
Ano XLV
87 JUL-SET
2017
6 Editorial
7 Coluna Institucional
9 Converse com o IBRACON
& Construções CONCRETO REFORÇADO COM FIBRAS
PESQUISAS, PROJETOS,PRESIDENTE DO COMITÊ REVISTA OFICIAL DO IBRACON TECNOLOGIA, CONTROLE DA Revista de caráter científico, tec- EDITORIAL 87 QUALIDADE E USOS DO CRF nológico e informativo para o se- à Guilherme Parsekian 2017 NO BRASIL E NO MUNDO tor produtivo da construção civil, (alvenaria estrutural) Instituto Brasileiro do Concreto
Ano XLV
JUL-SET
ISSN 1809-7197 www.ibracon.org.br
ISSN 1809-7197 www.ibracon.org.br
10 Encontros e Notícias 14 Personalidade Entrevistada: Antonio Domingues de Figueiredo 43 Seção Especial: Ensino e Aprendizado na Engenharia Civil
CRÉDITOS CAPA
Painel arquitetônico de fachada com CUAD da Casa Japão, em São Paulo
78 Entidades da Cadeia PERSONALIDADE ENTREVISTADA
MANTENEDOR
ENCONTROS E NOTÍCIAS
ANTONIO DOMINGUES DE FIGUEIREDO: PESQUISAS POR BOAS SOLUÇÕES DE ENGENHARIA
SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO
CURSOS DE ATUALIZAÇÃO PROFISSIONAL
106 Mantenedor 113
Acontece nas Regionais
ENTENDENDO O CONCRETO
26 33 39
Aspectos gerais sobre o uso do concreto reforçado com fibras no Brasil Controle tecnológico do comportamento mecânico do CRF Compósitos cimentícios de ultra-alto desempenho reforçados com fibras
OBRAS EMBLEMÁTICAS
50
Inovação em estruturas com concreto de ultra-alto desempenho na América do Norte
ESTRUTURAS EM DETALHES
57 63 72
A utilização do CUAD em obras do Brasil Práticas para a qualificação de macrofibra no concreto
Contribuição das fibras de aço para o dimensionamento à flexão de viga armada Os desafios da avaliação da trabalhabilidade do CRF END para determinar a quantidade e orientação média de fibras CRFA por meio de indução eletromagnética Resistência ao cisalhamento de vigas de concreto armado sem armadura transversal reforçadas com fibras de aço
NORMALIZAÇÃO TÉCNICA
108
ISSN 1809-7197 Tiragem desta edição: 5.000 exemplares Publicação trimestral distribuida gratuitamente aos associados JORNALISTA RESPONSÁVEL à Fábio Luís Pedroso MTB 41.728/SP fabio@ibracon.org.br
COMITÊ EDITORIAL – MEMBROS à Arnaldo Forti Battagin (cimento e sustentabilidade) à Bernardo Tutikian (tecnologia) à Eduardo Millen (pré-moldado) à Enio Pazini de Figueiredo (durabilidade) à Ercio Thomaz (sistemas construtivos) à Evandro Duarte (protendido) à Frederico Falconi (projetista de fundações) à Guilherme Parsekian (alvenaria estrutural) à Helena Carasek (argamassas) à Hugo Rodrigues (cimento e comunicação) à Inês L. da Silva Battagin (normalização) à Íria Lícia Oliva Doniak (pré-fabricados) à José Martins Laginha Neto (projeto estrutural) à José Tadeu Balbo (pavimentação) à Mário Rocha (sistemas construtivos) à Nelson Covas (informática no projeto estrutural) à Paulo E. Fonseca de Campos (arquitetura) à Paulo Helene (concreto, reabilitação) à Selmo Chapira Kuperman (barragens)
PERSONALIDADE ENTREVISTADA
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ENCONTROS E NOTÍCIAS
ANTONIO DOMINGUES DE FIGUEIREDO: PESQUISAS POR BOAS SOLUÇÕES DE ENGENHARIA
SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO
CURSOS DE ATUALIZAÇÃO PROFISSIONAL
PUBLICIDADE E PROMOÇÃO à Arlene Regnier de Lima Ferreira arlene@ibracon.org.br PROJETO GRÁFICO E DTP à Gill Pereira gill@ellementto-arte.com ASSINATURA E ATENDIMENTO office@ibracon.org.br GRÁFICA Coan Indústria Gráfica Preço: R$ 12,00 As ideias emitidas pelos entrevistados ou em artigos assinados são de responsabilidade de seus autores e não expressam, necessariamente, a opinião do Instituto. © Copyright 2017 IBRACON Todos os direitos de reprodução reservados. Esta revista e suas partes não podem ser reproduzidas nem copiadas, em nenhuma forma de impressão mecânica, eletrônica, ou qualquer outra, sem o consentimento por escrito dos autores e editores.
COORDENADOR DA SEÇÃO ESPECIAL à César Daher (ensino) IBRACON Rua Julieta Espírito Santo Pinheiro, 68 – CEP 05542-120 Jardim Olímpia – São Paulo – SP Tel. (11) 3735-0202
Projeto de bases de equipamentos industriais em CRF
PESQUISA E DESENVOLVIMENTO
80 86 91 98
para o ensino e para a pesquisa em concreto.
Requisitos pré-normativos, normativos e códigosmodelo para o CRFA em situação de incêndio
Instituto Brasileiro do Concreto
INSTITUTO BRASILEIRO DO CONCRETO Fundado em 1972 Declarado de Utilidade Pública Estadual | Lei 2538 de 11/11/1980 Declarado de Utilidade Pública Federal Decreto 86871 de 25/01/1982 DIRETOR PRESIDENTE Julio Timerman DIRETOR 1º VICE-PRESIDENTE Túlio Nogueira Bittencourt DIRETOR 2º VICE-PRESIDENTE Luiz Prado Vieira Junior
DIRETOR DE EVENTOS Bernardo Tutikian DIRETORA TÉCNICA Inês Laranjeira da Silva Battagin DIRETOR DE RELAÇÕES INSTITUCIONAIS Paulo Helene DIRETOR DE PUBLICAÇÕES E DIVULGAÇÃO TÉCNICA Eduardo Barros Millen
DIRETOR 1º SECRETÁRIO Antonio D. de Figueiredo
DIRETOR DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO Leandro Mouta Trautwein
DIRETOR 2º SECRETÁRIO Carlos José Massucato
DIRETOR DE CURSOS Enio José Pazini Figueiredo
DIRETOR 1º TESOUREIRO Claudio Sbrighi Neto DIRETOR 2º TESOUREIRO Nelson Covas DIRETORA DE MARKETING Iria Licia Oliva Doniak
DIRETOR DE CERTIFICAÇÃO DE MÃO DE OBRA Gilberto Antônio Giuzio DIRETORA DE ATIVIDADES ESTUDANTIS Jéssika Pacheco
CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017 | 5
u editorial
Venha conhecer os avanços no estado de arte do concreto Caro leitor,
C
omo já é tradicional nesta edição da Revis-
de nossa comunidade na
ta, venho através deste editorial convidá-los
área, disseminando novos
a participar do 59°
Congresso Brasileiro
conhecimentos e deman-
do Concreto, reconhecido como evento de
das de estudo, que não
maior relevância técnica-científica para a ca-
se limitam ao estudo das
deia produtiva do concreto. No próximo dia 31 de outubro,
propriedades mecânicas
diversos pesquisadores, profissionais e estudantes irão se re-
deste tipo de material. O simpósio sobre este tema, que será
unir na Fundaparque, em Bento Gonçalves/RS, para debater
realizado juntamente com o 59° CBC, abordará assuntos re-
sobre a tecnologia do concreto e de suas estruturas, bem
lacionados com modelagem constitutiva, propriedades físicas,
como normalização técnica, promovendo a divulgação das
efeitos dependentes do tempo, condições de incêndio, ma-
soluções inovadoras em termos de produtos e processos,
teriais compósitos avançados, projeto estrutural, durabilidade,
obtidas através do desenvolvimento das pesquisas científi-
aplicações e normalização.
cas e tecnológicas.
Os avanços obtidos em tecnologia do concreto, como o con-
Fizemos um grande esforço para tornar o evento ainda mais
creto reforçado com fibras, não ofuscam as qualidades já co-
acessível aos estudantes de engenharia e arquitetura, mobi-
nhecidas do concreto, como o seu desempenho satisfatório
lizados e motivados a participar dos tradicionais concursos
em situação de incêndio. O incêndio do Grenffel Tower, em
estudantis, por meio dos quais se aprofundam no universo
Londres, há poucos meses, apesar de trágico, mostrou de
do concreto.
forma clara a grande capacidade das estruturas de concreto
Contaremos com excelentes palestras, com pesquisadores
de manterem a sua capacidade resistente em elevadas tem-
de renome no cenário mundial, como os doutores Fernando
peraturas, diferentemente das estruturas de aço, conforme
Branco (Portugal), Marco di Prisco (Itália) e Barzin Mobasher
brilhante artigo do Dr. Carlos Britez nesta edição. O professor
(Estados Unidos), através das quais os congressistas pode-
explica, com grande didática, as razões para o incêndio, para
rão conhecer as maiores inovações e tecnologias para o apri-
que aprendamos e eventos como este não voltem a ocorrer.
moramento das construções em concreto. Alguns dos temas
E em uma futura edição da revista, o tema segurança contra
serão também discutidos nos eventos paralelos, que vêm se
incêndio em estruturas de concreto será destaque e aborda-
estabelecendo devido ao sucesso de outras edições, como
do por diversos especialistas da área, que tratarão os princi-
o II Seminário de Ensino de Engenharia, III Simpósio de Dura-
pais aspectos relacionais à pesquisa e normalização.
bilidade das Estruturas de Concreto, IV Seminário sobre Pes-
Esses e muitos outros assuntos serão temas do 59° CBC.
quisas e Obras em Concreto Autoadensável e o II Simpósio
Em nome da comissão organizadora, afirmo que o esforço
de Concreto Reforçado com Fibras, que é o tema principal
tem sido grande para manter a impecável qualidade das úl-
desta edição da revista Concreto e Construções.
timas edições e, para isso, conto com sua presença. Tenho
Apesar do uso de fibras no concreto apresentar diversas van-
certeza de que o evento será um sucesso. Nos vemos em
tagens e ter crescido consideravelmente nos últimos anos, por
Bento Gonçalves!
sua complexidade ainda se demandam estudos que permitam a caracterização adequada das propriedades do material e uma
BERNARDO TUTIKIAN
previsão confiável de seu comportamento. Nesta edição são
Diretor de Eventos do IBRACON
abordados recentes avanços realizados pelos pesquisadores 6 | CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017
Instituto Brasileiro do Concreto CONCRETO & Construções | 6
u coluna institucional
Panorama das atividades, discussões e cronograma para o lançamento de práticas recomendadas sobre concreto reforçado com fibras pelo CT 303
O
Estrutural) e produziu um primeiro
1. INTRODUÇÃO CT 303 é o Co-
texto intitulado “Estruturas de Con-
mitê Técnico de
creto Reforçado com Fibras – Reco-
uso de materiais
mendações para projeto”, publicado
não convencionais
em outubro de 2014.
para estruturas de
Após alinhamento entre IBRACON e
concreto, fibras e concreto reforça-
ABECE, foi instalado em 25 de junho
do com fibras, envolvendo o Instituto
de 2015, na sede da ABECE, em São
Brasileiro do Concreto (IBRACON) e
Paulo, o CT 303 constituído de quatro
a Associação Brasileira de Engenha-
Grupos de Trabalhos: GT1 - Estrutu-
ria e Consultoria Estrutural (ABECE).
ras de concreto reforçado com fibras,
Ele tem como missão promover a
GT2 - Reforço de estruturas existentes
integração dos diversos setores da
de concreto com materiais não con-
utilização de materiais não conven-
vencionais, GT3 - Estruturas de con-
cionais para reforço de estruturas de concreto (reforço
creto com armadura de materiais não convencionais e GT 4 -
estrutural, armaduras não metálicas e concreto reforça-
Caracterização de materiais não convencionais e fibras para
do com fibras), visando a integração do setor de projetos
reforço estrutural.
e materiais.
O assunto CRF envolve o GT1 no que diz respeito aos cri-
O CT303 surgiu a partir de uma integração IBRACON/ABE-
térios de projeto e o GT4 no que diz respeito às fibras e as
CE, tendo como referência as discussões que foram re-
avaliações de desempenho do CRF. Os GTs 2 e 3 estiveram
alizadas na ABECE com a criação em setembro de 2011
inicialmente sobre responsabilidade do Eng. Fernando Rel-
do Comitê Técnico “Concreto reforçado com fibras”, cujos
vas, que veio a falecer em 2015 e, por esse motivo, passou
objetivos eram o aprofundamento de estudos da aplicação
por um período de reorganização de suas atividades, sendo
estrutural do CRF, o estabelecimento de diretrizes para
que esses GTs retomaram suas atividades em 2017.
projeto de estruturas e controle tecnológico do CRF para aplicações estruturais e contribuir para a normalização so-
2. OBJETIVOS
bre o assunto. O comitê utilizou como referência o Código
Os objetivos do CT303 foram estabelecidos visando ampliar
Modelo 2010 da fib (Federação Internacional do Concreto
as discussões envolvendo outros setores envolvidos com
CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017 | 7
CRF para além do setor de projeto. Nesse sentido, foram estabelecidos os seguintes objetivos:
u Desenvolver trabalhos técnicos visando auxiliar na Normalização Brasileira sobre os três temas (reforço estrutural, armaduras não metálicas e concreto reforçado com fibras);
u Fortalecer a representação brasileira em trabalhos internacionais de normalização, especialmente no âmbito do ISO/TC71/SC6;
u Elaboração de Práticas Recomendadas para serem pu-
CRETO REFORÇADO COM FIBRAS: Método de ensaio;
u DETERMINAÇÃO DO TEOR DE FIBRAS (estado fresco) DO CONCRETO REFORÇADO COM FIBRAS: Método de ensaio;
u MACROFIBRAS
POLIMÉRICAS
PARA
CONCRETO
DESTINADO A APLICAÇÕES ESTRUTURAIS: Definições e especificações;
u MACROFIBRAS DE VIDRO ÁLCALI RESISTENTES (AR) PARA CONCRETO DESTINADO A APLICAÇÕES ESTRUTURAIS: Definições e especificações.
blicadas pelo IBRACON e pela ABECE, visando promover uma constante atualização técnica dos profissionais da área de estruturas de concreto.
3. ATIVIDADES Os GT1 e GT4 têm reuniões mensais que ocorrem em São Paulo, na sede da ABECE, com possibilidade de participação virtual. Desde a sua implantação foram realizadas as seguintes atividades:
u Workshop Internacional IBRACON/ABECE “Concreto Reforçado com Fibras”, realizado em abril de 2016, onde foram discutidas questões sobre o assunto, com presença de pesquisadores da Europa e América do Sul;
u Publicação da Prática Recomendada IBRACON/ABECE “PROJETO DE ESTRUTURAS DE CONCRETO REFORÇADO COM FIBRAS”, em 2016, no 58º Congresso Brasileiro do Concreto, em Belo Horizonte. Estão em fase de finalização as seguintes Práticas Reco-
4. NORMALIZAÇÃO Com o avanço tecnológico da utilização do CRF como material estrutural, é de fundamental importância o aprofundamento de estudos no que concerne à terminologia, requisitos, métodos de ensaio e procedimentos para projeto e execução. Nesse sentido, os trabalhos desenvolvidos no CT 303 são um primeiro passo para a normalização do CRF para aplicações estruturais. Dessa forma, O CT 303 deve encerrar neste ano a publicação das práticas recomendadas, iniciando em 2018 ações no sentido de contribuir com a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) por meio do CB18 (Comitê Brasileiro de Cimento, Concreto e Agregados) e do CB2 (Comitê Brasileiro de Construção Civil) na organização dos trabalhos de normalização do CRF. Cabe ressaltar que membros do CT 303 já participam na Comissão de Estudos do CB28, que está tratando da al-
mendadas IBRACON/ABECE com previsão de publicação
teração da norma ABNT NBR 15530 Fibras de aço para
em 2017:
concreto – Definições e especificações.
u CONTROLE DA QUALIDADE DO CONCRETO REFOR-
Dentro dessa perspectiva, espera-se que se tenha até o
ÇADO COM FIBRAS;
u RESISTÊNCIA À TRAÇÃO POR FLEXÃO (limite de proporcionalidade e residual) DO CONCRETO REFORÇA-
final de 2018 um arcabouço de normas sobre o CRF que possam colaborar na aplicação do CRF, com confiabilidade e segurança nas estruturas de concreto.
DO COM FIBRAS: Método de ensaio;
u RESISTÊNCIA À TRAÇÃO POR DUPLO PUNCIONAMENTO (fissuração, tenacidade e residual) DO CON-
8 | CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017
PROF. DR. MARCO ANTONIO CARNIO Coordenador
do
CT 303
u converse com o ibracon ENVIE SUA PERGUNTA PARA O E-MAIL: fabio@ibracon.org.br PERGUNTAS TÉCNICAS A norma ABNT NBR 15812:2010, na seção 6.3.6 Cisalhamento de Alvenaria, traz especificação para Interfaces de Paredes de Amarração direta para considerar a resistência característica ao cisalhamento de fvk = 0,35MPa. Quando o calculo é feito pela flexo-compressão, é realizada uma verificação do cisalhamento. Essa verificação contempla a verificação da amarração do painel com a flange, ou apenas do cisalhamento do painel?
Caso
seja ape-
nas do painel, como é feita a verificação da interseção das paredes, onde o
fvk = 0,35MPa. Quais são os parâmetros para a verificação. E se for necessária a armação da seção, o cálculo para a armação segue os mesmos princípios presentes no seu livro?
A
armação seria vertical?
ARTHUR MOREIRA BOMTEMPO Engenheiro Civil
Essa prescrição é para verificação da interface entre alma e flange de paredes amarradas. Como comenta, ela leva em conta o cisalhamento de um bloco sobre o outro. Em construções comuns, usualmente a solicitação é menor que o esforço, sem necessidade de outros detalhes. No caso de armadura, essas teriam que cortar o plano de cisalhamento, ou seja, seriam horizontais.
u Figura 1 Ruptura de parede por escorregamento da junta Fonte: Ernesto Silva Fortes. CARACTERIZAÇÃO DA ALVENARIA ESTRUTURAL DE ALTA RESISTÊNCIA. 2017. Tese (Doutorado em PPG Estruturas e Construção Civil) - Universidade Federal de São Carlos, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. Processo: 12/22454-0. Orientador: Guilherme Aris Parsekian.
Existem algumas verificações para resistência ao cisalhamento da alvenaria, dependendo do tipo de cisalhamento: 1) por escorregamento da junta (usualmente devido à força lateral, muitas vezes por conta da força lateral de vento), onde vale a resistência de aderência considerando o atrito (fvk = fvo + 0,5 x pré-compressão, Figura1); quando a solicitação é maior que a resistência, a solução é grautear a alvenaria ou armar (Figura 1); 2) por tração diagonal, usualmente em vigas totalmente grauteadas, fvk = 0,35 + 17,5 r ≤ 0,7 MPa, onde r = As é a taxa geométrica bd de armadura; Quando a solicitação é maior que a resistência, a solução é armar a viga com estribos, lembrando que é recomendável sempre prever estribos em vigas de alvenaria estrutural com mais de uma fiada (Figura 2). 3) para paredes amarradas, cisalhamento na interface, em plano vertical, que pode ocorrer por: u pelo carregamento vertical apenas, com compressão axial, no espalhamento das tensões verticais de uma parede a outra; u pelo carregamento vertical somada ao efeito da ação de vento, com transferência do esforço vertical da
u Figura 2 Ruptura de viga de alvenaria de blocos de concreto por cisalhamento Fonte: Rafael Dantas Pasquantonio. Estudo Teórico e Experimental de Vigas de Alvenaria Estrutural Sujeitas ao Cisalhamento. 2015. Dissertação (Mestrado em PPG Estruturas e Construção Civil) - Universidade Federal de São Carlos, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Orientador: Guilherme Aris Parsekian.
alma para a aba da parede (Figura 3). Geralmente este último caso não é crítico. Não me lembro de um projeto em que o esforço não foi verificado. Os poucos casos que vi foram em ensaios, onde a amarração foi feita de forma insuficiente, a cada quatro fiadas. Ainda assim, existe proposta de aumentar o valor dessa resistência na próxima revisão de norma. Eventualmente se houver um caso onde a solicitação é maior que a resistência, entendo que é possível mudar a concepção do edifício para alterar a distribuição dos esforços. A opção de armar essa interface não é usual. GUILHERME PARSEKIAN, PRESIDENTE DO COMITÊ EDITORIAL
u Figura 3 Ruptura na interface entre alma e aba da parede por amarração insuficiente Fonte: Guilherme Aris Parsekian. Tecnologia de Produção de Alvenaria Estrutural Protendida. 2002. Tese (Doutorado em Engenharia Civil) - Universidade de São Paulo, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. Processo: 98/15428-4. Orientador: Luiz Sérgio Franco.
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u encontros e notícias | CURSOS
Curso básico sobre especificações de projeto em concreto reforçado com fibras
B
aseado nas recomendações de projeto do fib Model Code 2010, o curso básico IBRACON-Rilem sobre especificações de projeto em concreto reforçado com fibras discutirá as propriedades físicas, os efeitos dependentes do tempo, o comportamento do CRF sob ação do fogo e seus modelos constitutivos, além dos aspectos de projeto, durabilidade e as aplicações do CRF. O curso será ministrado por três instruto-
res: Marco di Prisco, professor titular da Politécnica de Milano (Itália), responsável pela elaboração do capítulo sobre CRF do fib Model Code 2010; Barzin Mobasher, professor titular da Universidade do Estado do Arizona (Estados Unidos) e autor do livro “Mechanics of Fiber and Textile Reinforced Cement Composites”; e Thomaz Eduardo Teixeira Buttignol, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, com 12 anos de experiência
nas áreas de concreto projetado, e recuperação e reforço de estruturas e contenções de taludes. As inscrições estão com preços promocionais até 30 de outubro. O curso será realizado em Bento Gonçalves, dentro da programação do 59º Congresso Brasileiro do Concreto, nos dias 31 de outubro e 1º de novembro, valendo 12 pontos no Master PEC, programa de educação continuada do IBRACON.
Artefatos de concreto vibroprensado
C
om o objetivo de transmitir conhecimentos que permitam a melhoria de qualidade e a redução de custos na produção de artefatos de concreto vibroprensado, o curso será realizado na Fundaparte, em Bento Gonçalvez, no Rio Grande do
Sul, no dia 3 de novembro, das 9h às 13h. Seu instrutor será o engenheiro civil Idário Fernandes, proprietário da Doutorbloco Consultoria em Concreto e autor dos livros “Blocos e paver, produção e controle de qualidade” e “Telhas
10 | CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017
de concreto – produção e controle”. Com quatro créditos no Master PEC, programa de educação continuada do IBRACON, o curso está com inscrições promocionais até 30 de outubro. Acesse: www.ibracon.org.br.
Dimensionamento de vigas isostáticas protendidas
A
ser realizado no 59º Congresso Brasileiro do Concreto, em Bento Gonçalves, no dia 2 de novembro, o curso objetiva qualificar os alunos a dimensionar uma viga isostática protendida, escolhendo o nível de protensão adequado para satisfazer os estados limites de serviço e último.
O instrutor será o engenheiro Fábio Albino de Souza, diretor do Escritório Brasileiro de Protensão, ex-professor da Unasp e Metrocamp, autor de documentos da ADAPT na área de protensão, tendo lançado neste ano o Tendon, primeiro aplicativo Android para estruturas protendidas.
O curso dará ênfase aos aspectos conceituais e aos exercícios numéricos, com a verificação dos modelos no ADAPT Floor Pro e no Tendon. Ele contará pontos no Master PEC, programa de educação continuada do IBRACON. Inscreva-se com preços promocionais até 30 de outubro em www.ibracon.org.br.
Diagnóstico e reabilitação de estruturas de concreto
F
oi realizado em 31 de agosto, no auditório da Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco, na Universidade de Pernambuco, o curso “Diagnóstico e reabilitação de estruturas de concreto”.
Seu objetivo foi apresentar e discutir as técnicas e critérios de avaliação do estado de conservação das estruturas de concreto e as técnicas e materiais empregados para sua reabilitação. Com carga horária de 4 horas, que
contou créditos no Programa Master PEC do IBRACON, o curso foi ministrado pelos professores Eliana Monteiro (POLI-UPE e UNICAP), Ênio Pazini (EEC/UFG) e Paulo Helene (Poli-USP e PhD Engenharia).
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u encontros e notícias | EVENTOS
Cinpar 2017
O
XIII Congresso Internacional sobre Patologia e Reabilitação de Estruturas (Cinpar 2017) vai acontecer de 7 a 9 de setembro, no Centro de Convenções do Cariri, em Juazeiro do Norte, Ceará. Promovido pela Universidade Regional do Cariri, Universidade Federal do Cariri, Universidade do Vale do Acaraú, Faculdade Paraíso do Ceará, Instituto Tecnoló-
gico do Cariri e Instituto dos Materiais de Construção, o Cinpar 2017 contará com palestras, minicursos e apresentação de artigos científicos sobre patologia e recuperação de estruturas. Na ocasião do lançamento no auditório do Centro de Ciências e Tecnologia da Universidade Regional do Cariri, o diretor de cursos do IBRACON e presidente da
Alconpat Brasil, Prof. Enio Pazini Figueiredo, proferiu, para 250 participantes, palestra sobre mudanças de paradigma em diagnóstico e reabilitação de estruturas de concreto. à Mais informações: www.youtube.com/results?search_ query=cinpar+2017
Dam World 2018 recebe resumos até novembro
A
3ª Conferência Internacional sobre Barragens (Dam World 2018), que será realizada em Foz do Iguaçu, de 18 a 22 de setembro, está recebendo resumos de apresentações técnico-científicas até 2 de novembro. Organizada pelo IBRACON e pelo Laboratório Nacio-
nal de Engenharia Civil (LNEC), o evento vai discutir os aspectos políticos, econômicos, ambientais e técnicos relacionados com a construção e manutenção de barragens. à Mais informações:
www.damworld2018.org
Revista CONCRETO & Construções A revista CONCRETO & Construções é o veículo impresso oficial do IBRACON. De caráter científico, tecnológico e informativo, a publicação traz artigos, entrevistas, reportagens e notícias de interesse para o setor construtivo e para a rede de ensino e pesquisa em arquitetura, engenharia civil e tecnologia. Distribuída em todo território nacional aos profissionais em cargos de decisão, a revista é a plataforma ideal para a divulgação dos produtos e serviços que sua empresa tem a oferecer ao mercado construtivo.
PARA ANUNCIAR Tel. 11- 3735-0202 arlene@ibracon.org.br
Formatos e investimentos
Formato
2ª Capa + Página 3 Página Dupla 4ª Capa
Periodicidade Número de páginas Formato Papel Capa plastificada Acabamento Tiragem Distribuição
Trimestral 100 21 x 28 cm Couché 115 g Couché 180 g Lombada quadrada colada 5.000 exemplares Circulação controlada
fissionais e o ramo Consulte o perfil dos pro sas do mailing: pre em das o açã atu de “Publicações”) (link .br org www.ibracon. 12 | CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017
2ª, 3ª Capa ou Página 3 1 Página 2/3 de Página Vertical 1/2 Página Horizontal 1/2 Página Vertical 1/3 Página Horizontal 1/3 Página Vertical 1/4 Página Vertical Encarte
Dimensões
42,0 x 28,0 cm 42,0 x 28,0 cm 21,0 x 28,0 cm
R$ 10.285,00 9.100,00 6.960,00
21,0 x 28,0 cm
6.800,00
21,0 x 28,0 cm
6.250,00
14,0 x 28,0 cm
4.880,00
21,0 x 14,0 cm
3.550,00
10,5 x 28,0 cm
3.550,00
21,0 x 9,0 cm
2.940,00
7,0 x 28,0 cm
2 940,00
10,5 x 14,0 cm
2.550,00
Sob consulta
Sob consulta
XIV Congresso Latinoamericano de Patologia da Construção
P
ara discutir as melhores estratégias e tecnologias para atuar no setor de construção e reabilitação de estruturas, com apresentação de estudos de casos e palestras, será realizado o XIV Congresso Latinoamericano de Patologia da Construção (Conpat 2017), de 18 a 22 de setembro, no Centro de Convenções Mariscal Lopez, em Assunção, no Paraguai.
Antes e durante o evento será oferecido o curso introdutório aos problemas patológicos das construções, com carga horária de 40 horas, que objetiva oferecer as bases para entender os diferentes problemas patológicos que podem apresentar as estruturas de concreto armado e os perfis metálicos. Com aulas on-line que começam no dia 21 de agosto, o curso será
completado com duas aulas presenciais no Conpat 2017. Os diretores de curso e de relações institucionais do IBRACON, Prof. Enio Pazini e Prof. Paulo Helene, respectivamente, participam como instrutores do curso, promovido pelo IBRACON. à Mais informações: conpat2017.com/
Seminário sobre Inspeções de Pontes
N
o último dia 24 de agosto, o IBRACON realizou o Seminário sobre Inspeções de Pontes na ConcreteShow 2017, evento da cadeia produtiva do concreto, que aconteceu de 23 a 25 de agosto, no Centro de Exposições São Paulo Expo. O Seminário apresentou os principais conceitos, diretrizes, procedimentos, métodos e ensaios envolvidos na ins-
peção de pontes para o diagnóstico de seu estado de conservação e para o prognóstico de medidas necessárias para sua manutenção. Com participação de cerca de 70 profissionais, o Seminário teve palestras do presidente do IBRACON, Eng. Julio Timerman, de seu vice-presidente, Prof. Tulio Bittencourt, e de seu diretor de cursos, Prof. Ênio Pazini.
Na parte da tarde, o Eng. Julio Timerman deu outra palestra sobre a ABNT NBR 9452/2016 como instrumento de gestão da manutenção, no ciclo 60 ideias que mudarão a construção civil nos próximos anos. Os diretores do IBRACON participaram também do Concrespaço, destinado às associações técnicas da cadeia produtiva do concreto.
COMENTÁRIOS E EXEMPLOS DE APLICAÇÃO DA ABNT NBR 6118:2014 A publicação traz comentários e exemplos de aplicação da nova norma brasileira para projetos de estruturas de concreto - ABNT NBR 6118:2014, objetivando esclarecer os conceitos e exigências normativas e, assim, facilitar seu uso pelos escritórios de projeto. Fruto do trabalho do Comitê Técnico CT 301, comitê formado por especialistas do Instituto Brasileiro do Concreto (IBRACON) e da Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural (ABECE), para normalizar o Concreto Estrutural, a obra é voltada para engenheiros civis, arquitetos e tecnologistas.
DADOS TÉCNICOS ISBN 9788598576244 Formato: 18,6 cm x 23,3 cm Páginas: 484 Acabamento: Capa dura Ano da publicação: 2015
AQUISIÇÃO: www.ibracon.org.br (Loja Virtual)
Patrocínio
CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017 | 13
u personalidade entrevistada
Antonio Domingues JÉSSICA BRAGATTI
de Figueiredo
Prof. Antonio de Figueiredo no laboratório da Poli-USP, junto ao pórtico de ensaio de tubos
A
ntonio Domingues de Figueiredo apaixonou-se por engenharia civil no curso de edificações do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo e na visita técnica realizada à obra de construção da ferrovia Tronco Principal Sul em Lajes, Santa Catarina, durante o serviço militar, quando fez o curso de Engenharia no Centro de Preparação de Oficiais da Reserva (CPOR) de São Paulo. Durante o curso de Engenharia Civil na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), não
conseguiu decidir-se entre as áreas de estrutura e de tecnologia, tendo feito estágios no escritório de projetos De Luca Engenharia de Estruturas e no Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) do Estado de São Paulo. Entusiasmado pela área de pesquisa, logo ao se formar em 1987 escolheu o concreto projetado como tema de investigação, estudando especificamente os parâmetros de controle e dosagem do concreto projetado com fibras de aço no doutorado. Hoje, como professor da Poli-USP, desenvolve estudos na área de concretos especiais para obras de infraestrutura, principalmente o concreto projetado e concreto com fibras para túneis, tubos de concreto, barragens e pavimentação. Com forte atuação na área de normalização, é autor de diversos textos-base para as comissões de estudo sobre concreto projetado, fibras de aço e tubos de concreto. 14 | CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017
Em 1983 entrei no curso de
vida útil e a capacidade de trabalho
Engenharia Civil da Escola
desses materiais. Há inclusive um
Politécnica da Universidade de
registro bíblico de que o faraó
São Paulo. Durante o curso fiz
proibiu que os egípcios ajudassem
primeiro de uma família de imigrantes
estágios no escritório de engenharia
os judeus na coleta de palha para
portugueses a desbravar a carreira
estrutural De Luca e no Instituto
produzir o adobe reforçado num
de engenheiro civil. Na oitava série o
de Pesquisas Tecnológicas de
determinado período de
professor Pier Giuseppe Tuzi sugeriu-
São Paulo (IPT) – neste último
seu cativeiro.
me cursar edificações no Liceu de
sob a supervisão do Prof. Paulo
Do ponto de vista industrial, o
Artes e Ofícios de São Paulo. Fiz o
Helene - até me formar em
cimento amianto foi a primeira
colégio técnico no período de 1978
1987. Ao trabalhar no IPT e ver a
aplicação e ganhou grande impulso
a 1981, com bastante entusiasmo
possibilidade de publicar artigos, eu
no começo do século XX, pois a fibra
pela área de engenharia civil,
acabei por me entusiasmar com a
de amianto era barata e aumentava
principalmente pelos rudimentos
área de pesquisa. Foi quando pensei
grandemente a capacidade de
do dimensionamento estrutural.
que poderia trabalhar com pesquisa
trabalho dos materiais cimentícios,
Ao servir o Exército em 1981 optei
e inovação. Por estar dividido entre
principalmente sua resistência à
pelo curso da Arma de Engenharia
estruturas e tecnologia, acabei
tração. Com a descoberta de que
do Centro de Preparação dos
optando, no final, por pesquisar
o amianto era prejudicial à saúde,
Oficiais de Reserva (CPOR). Nesta
sobre materiais estruturais, que,
começou-se a buscar soluções
época cheguei a fazer uma visita às
apesar de se concentrar em
alternativas em termos de uso de
obras do sistema ferroviário Tronco
tecnologia, mantinha uma interface
fibras para aumento da capacidade
Principal Sul quando passava por
com a área de estruturas. Um ano
mecânica, ou seja, da resistência
Lajes, Santa Catarina. Atualmente,
após o início da pós-graduação,
das peças. Já nos anos 1960
esta ferrovia liga a Estação
tive a oportunidade de me tornar
apareceram as fibras de aço, as
Pinhalzinho em São Paulo à Região
professor e por aí a carreira seguiu.
fibras de vidro, para serem usadas
IBRACON – Por Engenharia Civil
que a escolha pela
e sua opção por
seguir a carreira acadêmica ?
Antonio D.
de
Figueiredo – Eu fui o
Metropolitana de Porto Alegre. Voltei
no GRC (glass reinforced concrete)
apaixonado dessa visita técnica,
IBRACON – O
com o desejo de trabalhar com
reforçado com fibras
infraestrutura e de cursar engenharia
suas origens ?
civil. Por coincidência, no CPOR um
de se usar fibras no concreto ?
oficial pediu-me para dar uma aula
tipos de fibras podem ser usadas ?
sobre cimento Portland. De início,
Antonio D.
eu odiei a ideia. Mas, preparei-me
de reforçar materiais com fibras é
O concreto é um material
com os conceitos obtidos no curso
milenar. Desde a Antiguidade os
maravilhoso, por possuir muitas
de edificações do Liceu. Para minha
povos costumavam usar crinas
virtudes, como a excelente
surpresa, todos gostaram, inclusive
de cavalo, palhas e outras fibras
resistência à água com custo
o oficial, o que me fez vislumbrar a
vegetais para reforço do adobe e
relativo muito baixo. Mas o concreto
possibilidade remota de no futuro eu
de outros materiais construtivos,
tem algumas desvantagens sérias:
dar aulas.
porque essas fibras aumentavam a
ele trabalha a crédito, porque só é
“
de
e algumas fibras poliméricas.
que é o concreto
Quais
(CRF)? Quais
as finalidades
Que
Inicialmente esses usos visavam aumentar a resistência mecânica, mas, logo se percebeu que a grande vantagem da fibra era tornar o
Figueiredo – A ideia
concreto menos frágil.
LOGO SE PERCEBEU QUE A GRANDE VANTAGEM DA FIBRA ERA TORNAR O CONCRETO MENOS FRÁGIL
“
CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017 | 15
“
A FIBRA ATUA MELHOR EM ESTRUTURAS NAS QUAIS OS PRINCIPAIS ESFORÇOS DE TRAÇÃO NÃO SÃO BEM LOCALIZADOS E FIXOS
possível saber se ele está atendendo
betoneira com
às especificações de projeto um
o concreto.
“
mês depois de sua aplicação, o que torna indispensável seu controle
IBRACON – As
de qualidade; sua baixa resistência
características
à tração, característica de toda a
estruturais
família dos materiais cerâmicos,
do
vem com a desvantagem adicional
concreto armado
de romper fragilmente, sem aviso
seriam as mesmas ?
prévio, devido ao seu baixo nível de
A ntonio D.
deformação elástica e praticamente
de
nula deformação plástica, o que
– Não, não é
pode representar grave risco à
exatamente a
segurança dos usuários. Por isso,
mesma coisa!
o concreto simples serviria para ser
O princípio
usado estruturalmente para trabalhar
de ambos é o mesmo, ou seja,
do ambiente. Como um tubo
basicamente à compressão, como
possibilitar ao material compósito
de concreto, feito para suportar
fizeram os romanos ao usá-lo em
ser tracionado com alguma
cargas radiais em qualquer direção,
arcos. Para compensar isso, foi
segurança para o usuário, mas
podendo haver uma concentração
inventado o concreto armado,
as concepções de cálculo e a
de carga num ponto ou outro
compósito no qual a fragilidade do
tecnologia envolvida para produzi-
do tubo. Para essas aplicações,
concreto e sua baixa resistência
los são distintas. A fibra atua
um reforço difuso da peça é
à tração são compensados pelo
melhor em estruturas nas quais
interessante, de modo que pode
vergalhão. O concreto armado
os principais esforços de tração
ser apropriado o uso de fibras. As
é a junção de dois materiais
não são bem
distintos com papéis combinados e
localizados e
sinérgicos, com resultado superior
fixos. Como num
aos resultados que poderiam
pavimento de
ser obtidos com cada material
concreto, onde
isoladamente. A fibra atuaria mais ou
os momentos
menos como um vergalhão disperso
podem ser
em toda a matriz de concreto. O
positivos ou
vergalhão é colocado numa posição
negativos ao
determinada em projeto para
longo de seu
reforçar aquela parte frágil da peça.
uso, dependendo
A fibra é, por sua vez, distribuída no
da posição do
elemento estrutural, dispensando
carregamento
a instalação de vergalhão, por
e da variação
ser simplesmente misturada na
da temperatura
CRF
e do
F igueiredo
16 | CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017
Fibras de aço
Macrofibras poliméricas
Foto e diagrama de orientação de moldagem da placa (Fonte: Ricardo Alferes Filho)
fibras metálicas, poliméricas ou
de Engenheiros do Exército dos
relação aos do concreto armado.
de vidro podem ser usadas para
Estados Unidos desenvolveu
Este é o ponto. Por um lado, o
esses tipos de reforço, sendo
sistemas construtivos com fibras
concreto reforçado com fibras
distribuídas randomicamente na
para proteção de seus consulados
dispensa o tempo e o custo da
peça ou estrutura – pelo menos
e embaixadas em países com
instalação de armaduras, com
se espera que sejam distribuídas
alto risco de ataques terroristas.
a possibilidade de se acelerar
homogeneamente no concreto, o
Em contrapartida, numa viga de
a produção. Por outro lado, a
que nem sempre acontece. A ideia
um pórtico ou de uma estrutura
demanda técnica da aplicação do
envolvida aqui é que se tenha um
reticulada, como o esforço principal
CRF é maior do que a do concreto
compósito no qual em qualquer
de tração vai estar em sua parte
armado. O estudo de dosagem
lugar onde possa aparecer uma
inferior, com um momento bem
é mais sofisticado. No concreto
fissura, existirá uma fibra para
definido, reforça-se, no concreto
armado, se faz a dosagem do
segurar sua abertura. Como toda a
armado, exatamente essa parte
concreto para determinado fck,
matriz é reforçada, ela é apropriada
onde estará o principal esforço.
assumindo-se que o aço cumpra
para resistir a esforços dinâmicos,
É muito difícil que a fibra seja
sua função. No concreto reforçado
pois aumenta o consumo de
competitiva para esta condição.
com fibras, a dosagem considera
energia na ruptura do elemento
o conjunto concreto e reforço,
estrutural. Nos países sujeitos a
IBRACON – Quais
sismos, as fibras são colocadas
devem ser tomados na dosagem e no
em alguns elementos de concreto
preparo do
CRF?
para melhorar sua capacidade de
Antonio D.
de
absorção de esforços. O Corpo
cuidados são bem maiores em
“
os cuidados que
sendo necessário considerar o comportamento da interação matriz-fibra. Isto exige ensaios
Figueiredo – Os
mais elaborados e complexos desde a partida. No sistema
NO CONCRETO REFORÇADO COM FIBRAS, A DOSAGEM CONSIDERA O CONJUNTO CONCRETO E REFORÇO, SENDO NECESSÁRIO CONSIDERAR O COMPORTAMENTO DA INTERAÇÃO MATRIZ-FIBRA
“
CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017 | 17
“
[O fib MODEL CODE] BASEIA-SE NA PREMISSA DE QUE A FIBRA NÃO ALTERA O COMPORTAMENTO BÁSICO DA MATRIZ DE CONCRETO, MAS DEVE PROPORCIONAR RESISTÊNCIAS RESIDUAIS MÍNIMAS PARA NÍVEIS DISTINTOS DE ABERTURA DE FISSURA
“
construtivo do concreto armado,
criando um efeito parede, para, com
proporcionar resistências residuais
basta posicionar a armadura e
isso, maximizar o comportamento
mínimas para níveis distintos de
verificar se ela está na posição
estrutural do tubo, ampliando sua
abertura de fissura. Associam-se as
determinada em projeto, liberando,
capacidade de reforço.
baixas aberturas de fissura (0,5 mm)
em seguida, a concretagem. No
com o estado limite de serviço (ELS)
concreto reforçado com fibras,
IBRACON – Em
será preciso controles para evitar
estrutural , quais são as diretrizes
de abertura (2,5 mm) com o estado
segregações e concentrações de
gerais e os requisitos mínimos de
limite último (ELU). Esses valores de
fibras, que poderão prejudicar
desempenho mecânico do
a condição de reforço. Numa
substituição parcial ou total das
por um ensaio de referência baseado
pesquisa conseguimos demonstrar
armaduras convencionais ?
na flexão de prismas com entalhe,
que na execução de uma placa de
Antonio D.
CRF, direcionando o lançamento
de uma estrutura de concreto com
pelo método EN14651 de 2007. O
do concreto pelo centro ou pela
a utilização de fibras tem como
grande salto do Código Modelo fib
borda, muda-se a capacidade de
principal diretriz, nos dias atuais,
foi possibilitar a conversão desses
reforço do conjunto. Sendo assim,
o Código Modelo fib (Federação
resultados em equações constitutivas
o controle de execução de uma
Internacional do Betão) publicado
para o dimensionamento das
estrutura com fibras deve ser mais
em 2010. Foi uma grande evolução
estruturas. Com isso, se consegue
rigoroso para evitar orientações
porque permitiu classificar distintos
estabelecer os requisitos mínimos
que prejudiquem a capacidade de
comportamentos do concreto com
de comportamento do material para
reforço, o que pode ser gerado pelo
fibras para finalidades estruturais.
cada finalidade. Dessa maneira, se
fluxo do concreto.
Esse código foi utilizado como
há interesse em substituir a armadura
referência principal para a elaboração
convencional em uma estrutura
da Prática Recomendada de projeto
isostática, por exemplo, exige-se que o
a distribuição da fibra na matriz de
de estruturas com CRF elaborada
CRF apresente um comportamento de
concreto seja randômica ?
no Comitê Técnico CT303 do
strain-hardening, ou endurecimento.
IBRACON/ABECE. De maneira bem
Ou seja, ele deve apresentar uma
sempre! Normalmente, na maior
simplificada, pode-se afirmar que
resistência residual no estado limite
parte das aplicações a distribuição
ele se baseia na premissa de que a
de serviço e no estado limite último
randômica funciona bem, mas,
fibra não altera o comportamento
superior àquele apresentado pela
para algumas aplicações, busca-se
básico da matriz de concreto, ou
matriz. Em outras palavras, uma vez
uma certa orientação das fibras,
seja, as resistências à compressão
fissurado, o CRF deve apresentar
como para aproveitar o efeito de
e à tração do concreto reforçado
uma capacidade resistente superior
borda. Na execução de tubos pré-
com fibras permanecem as mesmas
à resistência à tração do concreto.
moldados com concreto reforçado
do concreto armado convencional
Por outro lado, quando se deseja
com fibras, usa-se uma fibra longa
em termos de projeto. No entanto,
substituir parcialmente o reforço
para uma parede pouco espessa,
espera-se uma alteração muito
convencional ou mesmo quando há
para potencializar o alinhamento
significativa no comportamento
um elevado grau de redundância
das fibras com a parede do tubo,
pós-fissuração. Ou seja, a fibra deve
estrutural com elevado nível de
IBRACON – B usca -se
A ntonio D.
de
sempre que
Figueiredo – Nem
18 | CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017
de
termos de projeto
CRF
para
Figueiredo – O projeto
das estruturas e os elevados níveis
resistência residual são determinados
que segue a normalização europeia
capacidade de redistribuição de
Neste caso, o CRF apresenta um
apontaram que a condição mais
esforços, o projetista pode optar por
nível de resistência residual inferior
favorável de emprego do CRF
um CRF com comportamento de
à da matriz e, mesmo assim, pode
é justamente as estruturas com
strain-softening, ou amolecimento.
ser utilizado de maneira eficaz do
elevada capacidade de redistribuição
ponto de vista estrutural. No entanto,
de esforços, como os pavimentos e
deve-se sempre ressaltar que há a
túneis. No entanto, há um alerta no
exigência de uma resistência residual
próprio Código Modelo fib de que o
mínima que, segundo a prática
mesmo não se aplica a pavimentos
recomendada do CT303, deve
e túneis que merecem tratamento
ser de 40% e 20% da resistência
específico. De certa maneira, o
característica à tração da matriz para
CT303 procurou contribuir nessa
0,5 mm e 2,5 mm de abertura de
direção, fornecendo diretrizes
fissura, respectivamente. A prática
básicas para outras aplicações que
recomendada do CT303 propôs
não só as estruturas reticuladas.
também que, quando da adoção
Capa da publicação fib Model Code 2010
Capa da Prática Recomendada IBRACON lançada no ano passado
“
de análise plástica ou análise não
IBRACON – Como
linear da estrutura que apresente
controlados nos métodos de ensaios
grande capacidade de redistribuição
mais usados no controle tecnológico
de esforços, considerando a
do
interface com o meio elástico (como
desempenho da estrutura em
os pavimentos, por exemplo), as
Antonio D.
resistências residuais médias do
parâmetros principais de controle
CRF a 0,5 mm e 2,5 mm devem
do CRF estão relacionados com a
ser de, no mínimo, 40% e 30% da
resistência residual pós-fissuração.
resistência média à tração da matriz
Tradicionalmente e ainda hoje,
do CRF, respectivamente. Vale
controla-se a tenacidade, que é
ressaltar que houve a preocupação
o nível de energia absorvido pelo
de trabalhar com critérios distintos
material em ensaios padrão de
em termos de valores característicos
prismas ou placas. No Brasil, o
e médios em função do grau de
ensaio mais utilizado ainda é a
responsabilidade estrutural. Isto
recomendação da Japan Society
porque o próprio fib Model Code
of Civil Engineers JSCE-SF4,
alerta que as concepções estruturais
baseada na tenacidade. Este é
mudam em função do grau de
um ensaio de concepção antiga
responsabilidade estrutural. Nesse
e que já foi abandonado no
sentido, os pesquisadores líderes
Japão, mas seguimos utilizando
do desenvolvimento do Código
aqui no Brasil. Ele não diferencia
Modelo fib (Marco di Prisco, Lucie
em nada a resistência residual
Vandewalle e Giovanni Plizzari) já
no estado limite de serviço e no
CRF
os parâmetros
relacionam - se com
de
CRF?
Figueiredo – Os
NO BRASIL, O ENSAIO MAIS UTILIZADO É O DA JSCE-SF4, BASEADO NA TENACIDADE, QUE NÃO DIFERENCIA A RESISTÊNCIA RESIDUAL NO ELS E NO ELU E, PORTANTO, NÃO PERMITE CORRELAÇÃO COM O DESEMPENHO DE UMA ESTRUTURA DE CRF
“
CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017 | 19
“
[NO BRASIL] CHEGA-SE A EXECUTAR OBRAS COM CENTENAS OU MILHARES DE METROS CÚBICOS DE CRF SEM QUALQUER ENSAIO REALIZADO PARA O CONTROLE. ISTO NÃO PODE SER CLASSIFICADO COMO OBRA DE ENGENHARIA
“
estado limite último e, portanto,
reforçado com fibras é o ensaio
e muitas delas omitem esse
não permite correlação fácil com o
de punção de placas. É também
controle. Na verdade, o mesmo
desempenho de uma estrutura de
um ensaio tradicional, não tão
poderia ser substituído, caso
CRF. O professor Ravindra Gettu,
antigo como o JSCE-SF4, mas,
estudos preliminares mostrassem
do Instituto Indiano de Tecnologia
mesmo assim, do século passado.
correlações com os ensaios de
de Madras na Índia, país que
Eu mesmo utilizei bastante este
flexão de prismas, ou mesmo com
sofre dos mesmos problemas de
ensaio na minha tese de doutorado,
os novos ensaios, como o de duplo
países em desenvolvimento como
mas isso foi no ano de 1997. Ele é
puncionamento, também conhecido
o nosso, propôs uma metodologia
baseado nas recomendações da
como ensaio Barcelona. Mas é,
correlacionando este ensaio com
EFNARC (Experts for Specialized
infelizmente, muito frequente iniciar
o grau de rotação e plastificação
Construction and Concrete Systems)
obras de infraestrutura sem estudos
imposto ao pavimento na premissa
que estabelecem três níveis de
prévios, o que é uma lástima total
de projeto. Isto porque é difícil
absorção de energia em ensaios de
do ponto de vista tecnológico.
implementar outros ensaios nos
punção de placas e quatro níveis de
Esses ensaios de placas e prismas,
laboratórios de controle, com é
resistência residual. Naturalmente,
baseados em absorção de energia,
o caso do EN14651, base do
quanto maior o nível de absorção
são de mais difícil correlação com
Código Modelo fib, pois exigem
de energia e de resistência
o comportamento estrutural, dado
equipamentos mais sofisticados
residual, maior será a condição
que não diferenciam resistências
e caros, e pessoal altamente
de ductilização da estrutura e sua
residuais para baixos e elevados
especializado para operar,
segurança. Mas é difícil dizer qual é
níveis de fissuração, como as atuais
aumentando custos. Infelizmente,
o nível de energia associado a um
concepções de projeto preveem,
no Brasil, muitos veem os
certo nível de solicitação. Portanto,
tal como estabelecido no Código
procedimentos de controle como
há a tendência de especificar níveis
Modelo fib. Portanto, deve-se fazer
custo simplesmente e isto gera uma
elevados de absorção de energia
um esforço de mudar a cultura de
série de problemas. Não é raro que
(1000 Joules
profissionais me procurem para
no ensaio de
“desvendar” algum problema de
punção de placa
elevada fissuração em um pavimento,
quadrada, por
cuja informação de controle é nula.
exemplo). Assim,
Ou seja, chega-se a executar obras
o projetista
com centenas ou milhares de metros
se sente mais
cúbicos de CRF sem qualquer ensaio
seguro. O
realizado para o controle. Isto não
problema é que o
pode ser classificado como obra de
ensaio de punção
engenharia. A atuação da engenharia
de placas não
pressupõe controle tecnológico do
é muito prático
que se está produzindo.
para o controle
Outro ensaio muito utilizado no caso
corriqueiro
específico do concreto projetado
das obras
20 | CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017
Ensaio JSCE-SF4
residuais que
Barcelona, para que ele seja um
podem ser
elemento mais simples, barato e
associadas ao
confiável de controle. No entanto,
ELS e ELU; além
se não forem realizados estudos
disso, pode ser
prévios de dosagem, muitos dos
executado em
problemas persistirão.
testemunhos
Ensaio de punção de placas (EFNARC, 1996)
extraídos da
IBRACON – O CRF
estrutura para
diferentemente no
avaliar sua
tecnologicamente avançados ?
condição de
Quais
reforço de
na aplicação ?
maneira precisa.
Antonio D. de Figueiredo – No exterior
Atualmente,
já se constroem edifícios em concreto
todos os
só com fibras, com a execução de
é aplicado
Brasil
e nos países
são as principais diferenças
controle atualmente implantada no
ensaios do concreto projetado são
lajes sem vergalhões. O engenheiro
país. O CT303 está trabalhando num
realizados em placas, o que é um
Xavier Destrée é um pesquisador
texto base para o método de ensaio
problema porque a incorporação
focado na construção de edifícios
Barcelona, no qual colocamos
de fibras e, consequentemente,
com concreto reforçado com fibras,
muita confiança a partir dos nossos
a capacidade de reforço da
cuja maior vantagem construtiva é
resultados de pesquisa. Ele tem
estrutura depende do teor de
a eliminação do volume intenso de
condições de avaliar as resistências
fibra efetivamente incorporado na
mão de obra. Imagine não precisar
mesma. O problema é que o teor
perder tempo com a instalação de
de fibras incorporado na estrutura
armaduras, mas receber um concreto
depende de uma série de fatores,
que já vem com uma ‘armadura
entre os quais se inclui a direção
embutida’. Isto agiliza o processo
de projeção, mas as placas são
produtivo. Obviamente, na Europa o
produzidas, invariavelmente,
custo da mão de obra é relativamente
com uma condição favorável de
alto para gerar esse tipo de pesquisa.
incorporação de fibras. Portanto,
Já, no Brasil, eliminar mão de obra
pode haver um distanciamento entre
para colocar fibra no concreto não é
o que se mede na placa e o que
interessante porque aqui o custo da
efetivamente ocorre na estrutura.
fibra é relativamente alto. No Brasil o
Assim, deve-se realizar ainda um
uso da fibra é economicamente viável
grande esforço para diminuir essas
quando seu consumo no concreto
limitações tecnológicas. Por isso,
é baixo, como nas estruturas
que nós, na Escola Politécnica,
hiperestáticas com alto grau de
estamos investindo muito em
redundância (caso dos pavimentos de
pesquisas abordando o ensaio
concreto) e como reforço secundário
Ensaio de duplo puncionamento realizado em testemunho extraído
“
O ENSAIO BARCELONA TEM CONDIÇÕES DE AVALIAR AS RESISTÊNCIAS RESIDUAIS QUE PODEM SER ASSOCIADAS AO ELS E ELU E PODE SER EXECUTADO EM TESTEMUNHOS EXTRAÍDOS PARA AVALIAR A CONDIÇÃO DE REFORÇO DA ESTRUTURA
“
CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017 | 21
“
COM A APLICAÇÃO DO CONCRETO REFORÇADO COM FIBRAS ESSA ENERGIA EXPLOSIVA DA ROCHA FOI IMEDIATAMENTE CONTIDA, EVITANDO-SE A OCORRÊNCIA DE ACIDENTES NAS FRENTES DE ESCAVAÇÃO
“
(reforço com fibras em estruturas de
de disponibilizar funcionários para
localidade em que foi instalada
concreto armado). Este é um detalhe
a instalação de telas metálicas nas
essa hidrelétrica havia um maciço
importante: a fibra não é usada
frentes de escavação, evitando-
rochoso cuja fissuração acarretava
apenas como substituto do vergalhão,
se adicionalmente as condições
lascamentos, representando sério
mas também como um reforço
propícias aos maiores riscos de
risco de acidentes aos operários.
complementar ao vergalhão na
acidentes. Como era um estudo
Com a aplicação do concreto
estrutura de concreto. Uma de nossas
protótipo da aplicação do CRF,
reforçado com fibras essa energia
linhas de pesquisa na universidade
o reforço convencional com telas
explosiva da rocha foi imediatamente
é o reforço híbrido (vergalhão mais
metálicas foi mantido, conforme
contida, evitando-se a ocorrência de
fibras) de tubos e de aduelas de
especificava o projeto do túnel
acidentes nas frentes de escavação.
túneis. Em muitos casos esse sistema
Ayrton Senna. Assim, em algumas
A partir dessa primeira aplicação,
híbrido será o que apresentará os
seções, além da tela metálica, foi
em 1999, a técnica se disseminou
melhores resultados, seja do ponto
usado o concreto reforçado com
para o revestimento de muitos
de vista econômico, seja do ponto de
fibras. Com isso, essas seções
outros túneis, principalmente os
vista de durabilidade.
do túnel devem ser uma das mais
túneis de barragens e os túneis
reforçadas do mundo! Já, na
rodoviários. Para os túneis de
hidrelétrica de Itá, o revestimento
metrô, depois de algum tempo
de seus túneis de adução e desvio
começaram a ser usadas aduelas
e dos taludes foi feito apenas com
com concreto reforçado com fibras,
o concreto reforçado com fibras,
como foi o caso da Linha 4 do
sem uso de telas metálicas. Na
Metrô de São Paulo, obra exemplar
IBRACON – Quais
os casos de
aplicação exclusiva de fibras para reforço no
Brasil?
Antonio D.
de
Figueiredo – No
caso dos pavimentos, há muitas obras executadas apenas com fibras desde a década de 90. No caso dos túneis, o processo foi um pouco mais lento. Começou com um estudo que fizemos quando da construção do túnel Ayrton Senna. Constatamos que o tempo de ciclo de avanço do túnel seria reduzido em dois quintos com o uso exclusivo do concreto reforçado com fibras, sem a aplicação da tela metálica, o que despertou o interesse da CBPO (Companhia Brasileira de Projetos e Obras) na época. Com este sistema, bastava escavar o túnel e jatear o concreto reforçado com fibra por meio de um braço robótico, sem a necessidade
Foto da frente de escavação do túnel Ayrton Senna
22 | CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017
em termos de sistemas de controle
concretos reforçados com fibras?
tecnológico, com estudos prévios
Mesmo
no caso das fibras de vidro
de homologação, montagem de
(álcali
resistentes) não há perigo de
laboratórios nos canteiros e com
ataques às fibras ao longo do tempo?
muitos ensaios realizados.
E
oxida, ele rompe o cobrimento e AR
para as fibras de aço, não há risco
em conta as
A ntonio D.
de
função estrutural. Estudos de Carlos Gil Berrocal sobre a possibilidade de intensificação da corrosão do vergalhão por conta do uso da fibra
de microcorrosões localizadas?
IBRACON – L evando
perde parcela significativa de sua
Figueiredo – Os
de aço, assumindo-se a hipótese de
problemas de durabilidade são
diminuição da resistividade elétrica
distintos de um tipo de fibra para
volumétrica do concreto reforçado
outro. Pode-se usar fibras de aço ou
com fibras, não corroboraram essa
de vidro para uma mesma condição
hipótese. Ou seja, mesmo nessa
de reforço, desde que os estudos
condição crítica, o CRF é mais
de dosagem e controle dessas fibras
durável. Não existem evidências
mas é necessária uma certa
sejam específicos.
para se esperar que uma estrutura
‘tropicalização’ dos ensaios. Na
Em termos de durabilidade, as
com concreto reforçado com fibras
última edição da Revista, o Roberto
pesquisas internacionais realizadas
de aço dure menos. No entanto,
Bauer chamou muito bem a atenção
mostram que o concreto com fibras
nenhum estudo conseguiu ainda
para um problema com o sistema
de aço dura mais do que o concreto
quantificar essa maior durabilidade,
de controle tecnológico do concreto
com vergalhão. Isto acontece por
ou seja, não temos ainda um
no Brasil, ao afirmar que nem todos
vários motivos. Por serem menores
modelo de previsão adequado da
os laboratórios são credenciados no
do que o vergalhão, a diferença de
vida útil do CRF.
Inmetro. Se isto é preocupante para
potencial nas fibras é menor, de
Como a fibra se distribui por todo o
o concreto convencional destinado
modo que o processo eletroquímico
material, ela controla o padrão de
às estruturas de concreto armado,
de despassivação é menos intenso
fissuração, dificultando a entrada
cujo parâmetro de controle é a
no concreto reforçado com fibras
de agentes agressivos. Os estudos
resistência à compressão, imagine
relativamente ao concreto armado.
que fizemos com tubos e aduelas
para o concreto reforçado com
Por sua vez, o teor de cloretos
com concreto reforçado com fibras
fibras, cujo controle tecnológico é
necessário para despassivar o
mostram que seu limite elástico é
bem mais sofisticado. Por isso, no
concreto reforçado com fibras para
superior. Assim, a faixa de trabalho
Brasil precisamos buscar ensaios de
que ocorra sua corrosão deve ser
da estrutura com CRF antes da
controle mais simples, que possam
muito maior do que o do concreto
fissuração é mais larga do que
ser disseminados para todas as
armado. Ainda que a fibra sofra
a faixa de trabalho da estrutura
regiões, para que os engenheiros
corrosão, ela não se expandirá
com vergalhão. Sendo assim, a
possam tomar decisões a partir dos
suficientemente para romper o
capacidade de resistir à entrada
resultados desses ensaios.
cobrimento – uma fibra que se oxida
de agentes agressivos é maior no
na superfície do CRF não afetará
concreto reforçado com fibras. Isto,
diferenças de aplicação do concreto reforçado com fibras no
E uropa,
Brasil
e na
a preconização normativa da
fib para seu controle tecnológico pode ser aplicada no
Antonio D.
de
B rasil?
Figueiredo – Pode,
a função estrutural trazida pelas
de certa forma, vale também para as
o concreto armado corrente, quais
fibras não oxidadas mais internas.
outras fibras – poliméricas e de vidro.
as expectativas de durabilidade dos
Por outro lado, quando o vergalhão
Obviamente que a fibra de vidro tem
IBRACON – Comparativamente
“
com
EM TERMOS DE DURABILIDADE, AS PESQUISAS INTERNACIONAIS REALIZADAS MOSTRAM QUE O CONCRETO COM FIBRAS DE AÇO DURA MAIS DO QUE O CONCRETO COM VERGALHÃO
“
CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017 | 23
“
MUITA ENERGIA FOI POSTA NA EQUIVALÊNCIA MECÂNICA ENTRE O CONCRETO REFORÇADO COM FIBRAS E O CONCRETO ARMADO NOS ÚLTIMOS TEMPOS. A MAIOR DEMANDA ATUAL DA PESQUISA É A DURABILIDADE DO CONCRETO COM FIBRAS
“
um potencial de deterioração dentro
de reforço. Claro que não são
Brasileira de Normas Técnicas)
do concreto, minimizado com o uso
modelos fáceis de serem usados,
para se dedicar aos temas tratados
de fibras AR (álcalis resistentes).
mas o seu emprego no futuro deve
nessas práticas. Sou favorável
Eu confesso que desconheço um
ser cada vez maior, principalmente
a começar as discussões pelos
modelo de previsão da vida útil
para obras especiais e obras de
projetos de normas de especificação
dessas fibras de vidro no concreto.
infraestrutura, para as quais o
das fibras. Como já temos a norma
Muita energia foi posta na
concreto reforçado com fibras
brasileira para especificação de
equivalência mecânica entre o
está vocacionado.
fibras de aço e a norma brasileira
concreto reforçado com fibras e
dos tubos de concreto reforçado
o concreto armado nos últimos
IBRACON – Quais
tempos. A maior demanda atual
impostos para a disseminação e bom
da pesquisa é a durabilidade do
uso do
concreto com fibras. Os modelos
Antonio D.
de previsão de vida útil das fibras
avanço é o trabalho do Comitê
de especificação de fibra de vidro
no concreto precisarão de mais
Técnico IBRACON/ABECE 303,
e de macrofibras de polipropileno,
investimentos de pesquisa para
que pretende publicar uma série de
para não corrermos o risco de se
ganharem maior confiança dos
práticas recomendadas para projeto
usar fibras PET como macrofibra
projetistas e construtores.
e controle do concreto reforçado
polimérica, que, além de seu baixo
com fibras, alinhadas com o fib
desempenho inicial, o perde muito
Model Code. Esses documentos
rapidamente, por sua condição de
devem facilitar o acesso do mercado
baixa durabilidade. Temos que nos
e do meio técnico brasileiro como
precaver de aventureiros lançando
para gerar atualmente modelos
um todo aos parâmetros de
fibras no mercado, sem efeito
consensuais de dimensionamento ?
projeto, de preparo e de controle
prático nenhum.
IBRACON – Os
estudos de
modelagem do comportamento do
CRF
evoluíram o suficiente
A ntonio D.
de
Figueiredo – Sim. Os
CRF
são os desafios
Figueiredo – Um
do concreto
modelos de dimensionamento e
reforçado
os modelos numéricos de previsão
com fibras.
de comportamento do concreto
Logo após o
reforçado com fibras evoluíram
lançamento
drasticamente. Hoje é possível
dessas práticas
dimensionar uma estrutura com
recomendadas
concreto reforçado com fibras
no Congresso
com bom nível de segurança. Mais
Brasileiro do
do que isto, já temos modelos
Concreto deste
numéricos, desenvolvidos inclusive
ano, deve ser
na Escola Politécnica da USP, que
criada uma
preveem comportamento com
comissão de
alto nível de precisão, capazes de
estudos na ABNT
possibilitar a otimização de sistemas
(Associação
24 | CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017
atualmente em revisão, devemos dar continuidade a esse trabalho, com
no país ?
de
com fibras, publicadas em 2007 e
Fibras de vidro
a elaboração de projetos de norma
o compósito, para se formular a
valem o investimento financeiro da
entende que a indústria de estruturas
dosagem e o controle do material.
pesquisa para seu planejamento e
e painéis de concreto pré - moldado
Como pesquisador eu me interesso
otimização. São volumes grandes
pelo desafio de desenvolvimento
de concreto. Se tenho, por exemplo,
tecnológico. A fibra me traz desafios
uma otimização de uma aduela de
pré-moldados devem ser um dos
constantes, desde o controle
um túnel de 10 km, tenho um ganho
principais campos de aplicação do
até a verificação do elemento
de escala. Por isso, a demanda de
concreto reforçado com fibras. A
estrutural. Estou orientando um
pesquisa nesta área é grande.
fibra já é uma realidade para as obras
trabalho de mestrado que busca
Não consigo imaginar no futuro uma
enterradas pré-moldadas. Existem
resolver o problema de se extrair
obra de barragem no Brasil sem uso
trabalhos acadêmicos mostrando sua
um testemunho cilíndrico de CRF
de fibras.
viabilidade, tanto do ponto de vista
para produzir um corpo de prova a
mecânico quanto de durabilidade,
ser submetido ao ensaio Barcelona,
IBRACON – O
pois a fibra amplia a capacidade de
estudando a viabilidade desse
técnicas têm feito para incentivar a
resistência às fissuras das peças.
ensaio para validar o controle
pesquisa e aplicação do
As fibras podem ajudar também
rigoroso das estruturas. Este tipo
A ntonio D.
na absorção de energia no caso
de pesquisa é fundamental para ser
entidades têm colaborado com
das estacas cravadas. Estamos
aplicado em obras de infraestrutura,
o assunto ao mostrar interesse e
desenvolvendo modelos de previsão.
em relação às quais o Brasil é
incentivar as discussões, como o
E estamos estudando o uso de
muito carente. Então, ao lado do
IBRACON e a ABECE, que sediam o
fibras em vigas fletidas, onde parte
desafio, há a responsabilidade social
Comitê Técnico 303 sobre concreto
das armaduras convencional pode
da boa aplicação nas obras de
reforçado com fibras. Sem falar
ser substituída por fibras. Nossa
infraestrutura, principalmente obras
em todos os recursos da FAPESP,
preocupação não é a eliminação do
de saneamento básico e
parceira importante no apoio
vergalhão, mas ter um sistema de
de transporte.
de pesquisas sem um interesse
IBRACON – De
que maneira você
pode se beneficiar do
Antonio D.
de
CRF?
Figueiredo – Os
de
que as entidades
CRF?
Figueiredo – Várias
imediato de aplicação comercial.
reforço otimizado, ou seja, querer o melhor dos dois mundos: o melhor
IBRACON – Qual
do vergalhão, que é o estado limite
aplicação do concreto reforçado
último, e o melhor da fibra, que é o
com fibras ?
controle de fissuração e o estado
as pesquisas científicas em curso e
gostei muito de ouvir música e
limite de serviço.
o desenvolvimento tecnológico do
praticar esportes. Infelizmente sou
concreto reforçado com fibras ?
um péssimo músico. Gosto de
IBRACON – Quais
suas motivações
A ntonio D.
Para
de
é o futuro da
IBRACON – Quais Antonio D.
aonde apontam
Figueiredo –
de
são seus hobbies ?
Figueiredo – Sempre
correr e principalmente de pedalar.
Basicamente para as obras de
Já participei de provas de mountain
infraestrutura numa perspectiva
bike. Já corri a São Silvestre. Faço
principal motivação é encontrar
dos pesquisadores brasileiros.
a volta da USP. Gosto também de
boas soluções de engenharia. O
Estamos investindo muito em
ler o que me cai na mão, desde
estudo da fibra muda os padrões
modelagem do comportamento do
neurociência, passando por ética,
de raciocínio, pois requer pensar
concreto para essas obras, porque
até história.
ao estudar o
A ntonio D.
CRF?
de
“
Figueiredo – Minha
JÁ TEMOS MODELOS NUMÉRICOS QUE PREVEEM COMPORTAMENTO COM ALTO NÍVEL DE PRECISÃO, CAPAZES DE POSSIBILITAR A OTIMIZAÇÃO DE SISTEMA DE REFORÇO, CUJO EMPREGO NO FUTURO DEVE SER CADA VEZ MAIOR
“
CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017 | 25
u entendendo encontros e notícias o concreto | CURSOS
Aspectos gerais sobre o uso do concreto reforçado com fibras no Brasil: produção, projeto, tecnologia, normalização MARCO ANTONIO CARNIO – Professor Doutor Faculdade de Engenharia Civil – PUC Campinas EVOLUÇÃO Engenharia de Estruturas
Na prática, a adição de fibras a ma-
1. INTRODUÇÃO
Q
são e de deformação do que quando
uando se iniciaram os es-
teriais frágeis remonta à época dos ro-
tudos visando o desenvol-
manos e dos egípcios, que utilizavam fi-
O reforço com fibras descontínuas
vimento da aplicação do
bras naturais para reforço de pastas de
e aleatoriamente distribuídas na matriz
concreto reforçado com fibras descon-
argila. Contudo, só a partir da metade
tem como expectativa o controle da
tínuas (CRF), tinha-se a expectativa de
do século passado é que o CRF come-
abertura e da propagação de fissuras
que elas poderiam aumentar a resis-
çou a ser utilizado em aplicações com
no concreto, alterando o seu compor-
tência mecânica do material. No entan-
importância na indústria da construção.
tamento mecânico após a ruptura da
to, para se incrementar resistência de
A capacidade de absorção de energia,
matriz, melhorando consideravelmente
maneira significativa, constatou-se a
a ductilidade, o controle de fissuração e
a capacidade de absorção de energia
necessidade de incorporar altos teores
a resistência às ações dinâmicas, de fa-
do concreto e diminuindo o nível de fra-
de fibras (> 1% em volume) nas matri-
diga e de impacto são as propriedades
gilidade do material.
zes de concreto, ocasionando perda de
mais beneficiadas pelos mecanismos
fluidez, característica essa muito impor-
de reforço das fibras.
não reforçada.
No passado, a expectativa que se tinha com a utilização das fibras como
As matrizes de concreto sem o re-
reforço do material de construção é
forço das fibras apresentam compor-
que elas trabalhassem para manter a
Posteriormente, observou-se que
tamento frágil, com baixa capacidade
integridade das matrizes de concre-
era possível, com menores teores de
resistente das seções e baixas defor-
to. Havia ainda muita expectativa de
fibras, melhorar outras propriedades,
mações na ruptura quando submeti-
que o reforço com fibras contribuísse
que poderiam ser úteis para sua apli-
das a esforços de tração, praticamen-
também para a melhoria da resistência
cação como material de construção,
te não apresentando deformações
dessas matrizes, o que pode ser pos-
mesmo não incrementando resistência
plásticas. A maioria dos concretos
sível para situações específicas. Po-
mecânica de maneira significativa em
empregados atualmente que incor-
rém, o grande avanço que se observou
relação à matriz de concreto sem refor-
poram fibras utiliza baixos teores,
nos concretos reforçados com fibras
ço com fibras. Observou-se que, mes-
o que resulta num aumento pouco
foi a capacidade do material absorver
mo com teores menores do que 1% em
significativo de suas resistências à
energia até sua fratura, aumentando
volume, há um aumento significativo da
compressão e à tração. Dessa forma,
suas possibilidades de aproveitamen-
tenacidade, outra propriedade mecâni-
a primeira fissura ocorre na matriz re-
to como material estrutural. Em geral,
ca muito importante.
forçada com valores próximos de ten-
os materiais de construção objeto de
tante para a moldagem da maioria dos elementos de construção.
26 | CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017
estudo para serem reforçados são: o
mo de carbono. As fibras de asbesto,
comum reforçados com fibras vegetais
gesso, o concreto, a argamassa de ci-
também conhecidas como fibras de
não teve sucesso devido à rápida de-
mento Portland e os solos coesivos e
amianto, são de uso mais tradicional
gradação dos compostos, ocasionada
granulares. Vários tipos de fibras têm
que os outros tipos de fibras, devido
pela elevada alcalinidade da água pre-
sido utilizadas, cada uma com suas ca-
à sua ocorrência natural. Entretanto,
sente nos poros da matriz do cimento
racterísticas, diferindo umas das outras
as estatísticas têm mostrado o rápido
(Carnio, 2009).
pelo seu material, geometria, processo
decréscimo do consumo de placas de
de fabricação, composição química e
cimento amianto devido, principalmen-
física, características mecânicas e re-
te, aos danos à saúde provocados por
sistência a meios agressivos. As fibras
esse tipo de fibra.
2. CONCRETO REFORÇADO COM FIBRAS NO BRASIL O uso de fibras em matriz cimentí-
podem ser divididas segundo seu ma-
As fibras poliméricas podem ser
cia no Brasil já é conhecido há muito
terial de origem: metais, cerâmicos e
divididas em sintéticas e naturais. As
tempo no setor de construção por meio
poliméricos sintéticos ou naturais.
poliméricas sintéticas, ou simples-
das telhas de fibrocimento. Inicialmen-
As fibras metálicas mais utilizadas
mente sintéticas, mais utilizadas são
te as fibras utilizadas eram de amian-
são as de aço carbono. As fibras de
as fibras de polipropileno, polietileno
to, que caiu em desuso em virtude de
aço utilizadas em elementos de cons-
e poliamida. As fibras de polipropileno
problemas relacionados à saúde de tra-
trução contemplam uma grande varie-
são constituídas de um material poli-
balhadores pelo seu manuseio. No en-
dade de geometrias, bem como exis-
mérico denominado termoplástico. Os
tanto, o compósito é uma argamassa
tem vários processos de manufatura.
polímeros termoplásticos consistem
reforçada com fibras e não exatamente
Quanto à geometria, um parâmetro im-
em uma série de longas cadeias sepa-
um concreto.
portante é o fator forma (relação entre
radas de moléculas polimerizadas, po-
No campo de pisos industriais, mer-
o comprimento da fibra e seu diâmetro
dem deslizar umas sobre as outras e
cado esse de grande aplicação do CRF,
ou diâmetro equivalente para seções
apresentam alta resistência aos álcalis.
a obra do Centro de Distribuição das
transversais não circulares), que em ge-
As fibras de polietileno, de peso mole-
Casas Bahia em Jundiaí foi um marco
ral fica na faixa de 30 a 100.
cular normal, têm um módulo de elasti-
importante em 1995 pelo seu tama-
As fibras cerâmicas, também co-
cidade baixo, são fracamente aderidas
nho. Foram feitos 135.000 m² de piso
nhecidas como fibras minerais, mais
à matriz de concreto e são altamente
de CRFA. Além dessa referência, foram
utilizadas são de vidro, carbono e as-
resistentes aos álcalis. As fibras de
executados na época pisos de CRF no
besto. As fibras de vidro são geralmente
poliamida mais comuns estão dividi-
Aeroporto de Viracopos, Aeroporto do
manufaturadas na forma de “cachos”,
das em dois tipos segundo a origem
Galeão, Renault, Volkswagem e Peuge-
ou seja, fios compostos de centenas de
do polímero, que pode ser a poliamida
ot. Desde essa época até os dias atu-
filamentos individuais. O diâmetro dos
6 ou a poliamida 6.6, sendo também
ais, a aplicação em pisos industriais é o
filamentos individuais depende das pro-
conhecidas como náilon.
grande mercado do CRF.
priedades do vidro, do tamanho do furo
As fibras poliméricas naturais, tam-
O CRF avançou de forma significa-
por onde são extrusados e da velocida-
bém conhecidas como fibras vegetais,
tiva como solução estrutural em pisos
de de extrusão. As fibras produzidas a
são usadas pelo homem há milênios.
industriais pelo fato de se ter reforço
partir do vidro tipo E (Electrical) são ata-
Pode-se citar o emprego de fibras ve-
estrutural em toda seção transversal do
cadas pelos álcalis presentes nos ma-
getais como reforço de gesso que vem
piso, contrapondo à solução com telas
teriais baseados em cimento portland.
desde o Renascimento e a utilização
soldada que tem reforço somente na
Fibras de vidro tipo AR (Álcali Resistent)
de mantas de raízes para reforço de
posição da tela na seção transversal,
apresentam resistência ao meio alcalino
maciços de terra (zigurates). As fibras
posição essa que apresenta dificulda-
e têm sido utilizadas com sucesso nas
vegetais são utilizadas na formação
de de se manter durante o processo de
matrizes de concreto à base de cimen-
de diversos compostos, mas também
execução do piso. Também teve como
to Portland. As fibras de carbono são
podem ser degradadas pela ação de
ponto favorável entre os executores de
baseadas na resistência das ligações
fungos e microorganismos. A produ-
piso a agilidade de execução, a facili-
carbono-carbono e na leveza do áto-
ção de materiais de cimento Portland
dade de lançamento, adensamento e
CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017 | 27
possibilidade de redução de espessura
armadura de aço convencional passou
do revestimento e, consequentemente,
a ser bastante empregada nos últimos
economia por metro quadrado aplicado.
anos, com vantagens no processo de
Ainda na área de túneis há um gran-
u Figura 1 Piso industrial executado em CRF
produção e também nos custos.
de campo de aplicação envolvendo os
Na área de pré-moldados com fina-
elementos segmentados pré-moldados
lidades arquitetônicas, o uso do CRF
para utilização como revestimento, quan-
tem evoluído, sendo essas aplicações
do no sistema de escavação é utilizada
em muitos casos combinadas com
uma máquina de perfuração de túnel
armaduras de aço convencional. Os
(TBM), também conhecida como “tatu-
painéis arquitetônicos são aplicados às
zão”. O equipamento de escavação con-
fachadas das edificações residenciais,
templa a escavação do túnel associado à
comerciais e institucionais.
colocação dos elementos segmentados
Por outro lado, no campo das pes-
nivelamento dos pisos, permitindo mais
como revestimento. Em geral esses ele-
quisas, inicialmente vários trabalhos
liberdade de acesso de caminhões be-
mentos apresentam taxas altas de arma-
foram realizados no país, muitos deles
toneiras no transporte do concreto e
dura de aço, bem como têm o formato
patrocinados pela FAPESP, envolvendo
minimizando a necessidade de bombe-
curvo em função da seção circular dos
instituições como Universidade de São
amento em muitos casos.
túneis, o que leva a uma armação com-
Paulo (USP) e Universidade de Campi-
Há também uma forte atuação das
plexa para ser montada. A solução com
nas (UNICAMP), procurando conhecer
fibras nos concretos projetados em tú-
fibras associadas a pequenas taxas de
melhor o material, investindo-se em
neis e proteção de encostas, como uma alternativa às soluções em concreto armado. No campo dos túneis construídos com base na metodologia do NATM (New Austrian Tunnelling Method), a utilização do concreto projetado é fundamental para o processo. Nesse sentido, o Concreto Projetado Reforçado com Fibras (CPRF) nos revestimentos apresenta vantagens em relação à solução em concreto armado em função de promover uma maior agilidade no processo executivo, bem como apresenta a
u Figura 2 Concreto projetado reforçado com fibras (CPRF)
u Figura 3 Elementos segmentados pré-moldados para revestimento de túneis
u Figura 4 Elementos pré-moldados para fachadas de edifícios
28 | CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017
estudos
tecnológicos,
avaliando-se
como material de construção moderno.
tipos e teores de dosagens, a influên-
Para inserção em obras, a eficiência
cia da quantidade de fibras por quilo,
do Concreto Reforçado com Fibras de
influência das fibras no comportamento
Aço (CRFA) teve como referência inú-
mecânico do material, bem como em
meras obras existentes no mundo, bem
possibilidades de utilização do material
como a vasta bibliografia que tratava de
estrutural. Também foram realizados
suas características e comportamento
estudos comparando as fibras segun-
estrutural para diversas aplicações em
do os vários métodos de ensaios e cri-
construções. No Brasil, houve nessa
térios de quantificação da tenacidade à
época grande inserção em obras de in-
flexão, visando chegar à melhor repre-
fraestrutura e nas Usinas Hidrelétricas
sentação do comportamento mecânico
de Machadinho, Rosal e Itapebi.
do material.
u Figura 5 Fibras de aço utilizadas em CRFA
Pode-se dizer que a maioria das fi-
Atualmente existem várias institui-
bras de aço propicia algum tipo de re-
to para confecção de um compósito
ções que apresentam grupos e linhas
forço ao concreto. As fibras de aço para
com fibras, deve-se ter atenção com
de pesquisa estudando o CRF para
uso em concreto têm comprimentos que
a fluidez da mistura, uma vez que a
além da USP e da UNICAMP. Dentre
variam entre 30 e 60 mm e diferentes for-
introdução das fibras causa uma con-
elas, podem-se citar trabalhos sendo
mas de seção transversal, dependendo
siderável perda de fluidez. Isso ocorre
desenvolvidos na Universidade Federal
do processo de fabricação. Geralmente,
porque as fibras possuem grande área
de Uberlândia, na Universidade Federal
essas fibras possuem conformações ao
superficial, têm maior contato entre si
de Alagoas, na Universidade Federal do
longo de todo o seu comprimento (fibras
e com os outros elementos constituin-
Rio de Janeiro, na Universidade de Bra-
onduladas) ou somente nas extremida-
tes do concreto, aumentando muito o
sília, na PUC Campinas, na PUC Rio,
des. Tais conformações têm a finalidade
atrito entre os materiais, diminuindo a
no Instituto Federal de São Paulo – Ca-
de melhorar o comportamento da fibra
fluidez da mistura. Misturas com maior
raguatatuba. Vale ainda ressaltar que
com relação à aderência, por meio da
porcentagem de argamassa e o uso
existem outras instituições de ensino e
ancoragem mecânica.
de aditivos superfluidificantes auxiliam
pesquisa que também trabalham com o CRF de forma mais pontual.
Dentre os vários tipos de fibras, são
neste aspecto.
mais comuns as de seção transversal
Na maioria dos concretos empre-
A maioria dos trabalhos de pesquisa
circular, que são produzidas a partir do
gados correntemente em pavimentos
sempre esteve voltada para a tecnolo-
corte de fios trefilados, e as de seção
que incorporam fibras de aço, a utiliza-
gia do material e para a avaliação do
retangular, que são produzidas a partir
ção de baixos teores de fibras de aço
seu comportamento à tração. Recen-
do corte de chapas de aço. No entanto,
(≤ 0,5% e ≥ 0,25% em volume) não au-
temente começaram a se intensificar
as fibras de aço que apresentam atual-
menta significativamente a resistência
pesquisas no campo das aplicações
mente melhor eficiência para reforço do
à tração. Dessa forma, a matriz fissura
estruturais, envolvendo ensaios de
concreto são aquelas de seções trans-
praticamente com o mesmo nível de
elementos estruturais e estudos sobre
versais circulares com diâmetros entre
tensão e de deformação do que quan-
modelos de dimensionamento.
0,5 e 1 mm, produzidas por meio de
do não reforçada com fibras de aço.
fios trefilados e com ganchos nas extre-
3. APLICAÇÕES DO CONCRETO REFORÇADO COM FIBRAS DE AÇO (CRFA)
midades. A resistência à tração dessas apresentando módulo de elasticidade
4. APLICAÇÕES DO CONCRETO REFORÇADO COM FIBRAS SINTÉTICAS (CRFS)
No Brasil, o CRF teve grande avan-
de 210 GPa.
Conforme o ACI 544.1R–82 (1982),
fibras varia entre 500 MPa e 1150 MPa,
ço nos anos 90 com a iniciativa de
A matriz do compósito pode ser
as fibras típicas de plástico, como po-
fabricação no Brasil de fibras de aço,
constituída de concreto de resistên-
liamida (náilon), polipropileno, polietile-
sendo então essas as primeiras fibras
cia normal ou de alta resistência. Na
no, poliéster (PET), têm diâmetro va-
utilizadas em
dosagem de uma matriz de concre-
riando entre 0,02 mm a 0,38 mm. As
concretos reforçados
CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017 | 29
fibras poliméricas mais empregadas
tam como características mecânicas
adição de zircônia ao vidro. Quanto
são as sintéticas, em especial as de
resistência à tração na faixa de 100
maior o teor de zircônia, melhor a re-
polipropileno. Na prática os teores
a 650 MPa e módulo de elasticidade
sistência ao ataque de álcalis. Dessa
de fibras utilizadas são de no máxi-
numa faixa de 5 a 7 GPa. Seu com-
forma, as fibras de vidro que apre-
mo 1% em volume, e mesmo com
primento varia de 30 mm a 60 mm,
sentam teor de zircônia de no mínimo
teores bem inferiores, como 0,5%,
seu diâmetro é superior a 0,30 mm e
19% podem ser consideradas como
têm-se obtido concretos com boa te-
sua densidade é 900 kg/m . Os teo-
álcali resistentes (AR) e somente es-
nacidade e considerável melhoria na
res normalmente utilizados para apli-
sas devem ser utilizadas em matrizes
resistência ao impacto. A adição de
cações estruturais giram em torno de
cimentícias.
fibras de polipropileno interfere pouco
0,5% em volume, representando do-
na resistência do concreto à tração. A
sagem de 4,5 kg/m3.
3
Da mesma forma que as fibras sintéticas, atualmente as fibras de vidro
resistência do polipropileno à tração é
O CRFS como material estrutural
AR são divididas em microfibras e ma-
maior que a da matriz, mas seu mó-
surgiu no Brasil em 2004, para algu-
crofibras. As microfibras de vidro AR
dulo de elasticidade é menor, portan-
mas aplicações semelhantes às do
(apresentam comprimentos em geral
to alonga-se mais que a matriz.
CRFA. As fibras sintéticas denomi-
inferiores a 30 mm e diâmetro inferior
Atualmente as fibras sintéticas po-
nadas macrofibras são aquelas que
a 0,30 mm) são aquelas utilizadas ex-
dem ser divididas em microfibras e
conseguem melhorar as característi-
clusivamente para contribuir no con-
macrofibras. As microfibras sintéticas
cas do material concreto no estado
trole de retração no estado fresco e
(apresentam comprimentos em geral
endurecido, atuando após fissuração
endurecido, não apresentando capa-
inferiores a 30 mm e diâmetro inferior
da matriz no controle da abertura e na
cidade de incorporar tenacidade ao
a 0,30 mm) são aquelas utilizadas ex-
propagação das fissuras.
concreto. As macrofibras de vidro AR
clusivamente para contribuir no con-
Atualmente no Brasil o CRFS é
são aquelas que têm capacidade de
trole de retração do concreto, quando
muito utilizado como material de
incorporar tenacidade ao concreto e
esse ainda está no seu estado fresco
construção, uma vez que polímeros,
podem ser utilizadas como as fibras
(não endurecido), não apresentando
como o polipropileno, apresentam
de aço e macrofibras sintéticas, atu-
capacidade de incorporar tenacidade
maior durabilidade em meio alcalino,
ando após o endurecimento do con-
ao concreto. As macrofibras sintéti-
não estando sujeito à oxidação como
creto e incorporando tenacidade ao
cas são aquelas que têm capacidade
ocorre com o aço. Essa situação
material. As fibras apresentam como
de incorporar tenacidade ao concreto
é vantajosa, uma vez que, como a
características mecânicas resistência
e podem ser utilizadas como as fibras
maioria das construções estão sujei-
à tração de 1700 MPa e módulo de
de aço, atuando após o endurecimen-
tas à degradação pela exposição ao
elasticidade de 72 GPa. Seu compri-
to do concreto e incorporando tenaci-
ambiente, ter um material com maior
mento varia de 35 mm a 40 mm, seu
dade ao material. As fibras apresen-
durabilidade é bastante vantajoso
diâmetro é em torno de a 0,02 mm
para a vida útil da estrutura.
e sua densidade é 2680 kg/m3. Os
5. APLICAÇÕES DO CONCRETO REFORÇADO COM FIBRAS DE VIDRO (CRFV) As fibras de vidro podem apresentar problemas de durabilidade, uma vez que a alcalinidade do cimento reage com a sílica da fibra de vidro. Na década de 1970 surgem como al-
u Figura 6 Macrofibras sintéticas (polipropileno)
ternativa a utilização de fibras de vidro resistentes a álcalis. A resistência ao meio alcalino é conseguida pela
30 | CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017
u Figura 7 Macrofibras de vidro AR
teores normalmente utilizados para
isso, é extremamente importante co-
Entre 1994 e 1998, um projeto pa-
aplicações estruturais estão entre 0,2%
nhecer o comportamento mecânico
trocinado pela Comunidade Européia
e 0,5% em volume, representando do-
do material. Dessa forma, inicialmen-
- Programa Brite-Euram III (Industrial
sagem entre 4,5 kg/m3 e 13 kg/m³.
te vem a necessidade de conhecer o
& Materials Technologies), envolvendo
material quando submetido à com-
indústrias, universidades e organiza-
pressão e à tração.
ções de pesquisa, patrocinou vários
Atualmente, é possível a utilização de macrofibras de vidro AR com capacidade de reforço estrutural de
Com esse entendimento, foi sen-
trabalhos em várias instituições de
concretos, atuado de forma similar às
do construído desde 1980, por meio
pesquisa e em empresas fabricantes
macrofibras sintéticas e às fibras aço.
de pesquisas e normalização, proce-
de fibras de aço na Europa, culminan-
Sua aplicação envolve também pisos
dimentos de ensaio para avaliação
do numa série de publicações sobre
industriais, elementos pré-moldados,
do comportamento à tração do CRF.
ensaios e métodos de projeto para
radiers, etc.
Nesse sentido, a ASTM C1018 e a
o concreto reforçado com fibras de
JSCE SF4 foram as precursoras. Es-
aço. Essa ação representou um gran-
6. NORMALIZAÇÃO DO CONCRETO REFORÇADO COM FIBRAS
sas normas permitiram o estabeleci-
de avanço na tecnologia do CRF, pois
mento dos primeiros parâmetros para
possibilitou uma série de estudos que
projeto de estruturas, fundamentados
culminaram, no início dos anos 2000,
As referências normativas disponí-
em Índices de Tenacidade (ASTM
em ações no sentido de se estabele-
veis atualmente no Brasil que envol-
C1018) e Tenacidade e Fator de Te-
cer normas para projeto de estruturas
vem o CRF são: a ABNT NBR 15305 –
nacidade (JSCE SF4).
de CRF, bem como numa convergên-
Produtos pré-fabricados de materiais
A partir desses parâmetros, vários
cia no método de avaliação do com-
cimentícios reforçados com fibras de
procedimentos de projeto foram ela-
portamento do CRF, consolidando o
vidro – Procedimentos para o controle
borados para dimensionamento de
conceito de resistência residual pós-
de fabricação de 2005; a ABNT NBR
elementos de CRF, procedimentos
-fissuração da matriz de concreto,
8890 - Tubo de Concreto Armado de
esses não considerados como nor-
em detrimento dos conceitos de te-
Seção Circular para Esgoto Sanitário,
mas para aplicação estrutural do CRF,
nacidade e energia como parâmetros
que contempla a utilização do con-
mas com grande inserção para apli-
de projeto.
creto armado e do concreto reforçado
cações do CRF, como, por exemplo,
A partir do trabalho desenvolvido
com fibras de aço de 2007 e a ABNT
em placas apoiadas em meio elástico,
por meio do Programa Brite-Euram
NBR 15530 - Fibras de Aço para
que é o caso dos pisos industriais.
III, em um movimento dos segmen-
Concreto – 2007. As duas primei-
Como o campo de aplicação tam-
tos industriais fabricantes de fibras de
ras (ABNT NBR 15305 e ABNT NBR
bém avançou no revestimento de túneis,
aço, o Model Code 2010 produzido
8890) referem-se a produtos e o CRF
particularmente como concreto proje-
pela FIB contemplou a utilização do
é contemplado dentro do escopo de-
tado no sistema NATM, procedimentos
CRF como material estrutural. A fib
las. A ABNT 15530 diz respeito a um
de dimensionamento de revestimentos
(International Federation for Structu-
material componente do CRF.
de Concreto Projetado Reforçado com
ral Concrete), formada por 44 grupos
É importante ressaltar que, do
Fibras (CPRF) foram fundamentados
nacionais de membros e aproximada-
ponto de vista de normalização, de-
na avaliação de uma quantidade de
mente 1.000 membros individuais ou
ve-se considerar quatro enfoques
energia (Tenacidade) para ser atendida
corporativos, é uma associação sem
importantes para o CRF: o primeiro
pelo CPRF, visando garantir a interação
fins lucrativos, comprometida com
se refere às fibras, o segundo, a ava-
solo-estrutura. Como exemplo, têm-
o desempenho técnico, econômico,
liação do comportamento do CRF, o
-se os critérios estabelecidos em 1996
estético e ambiental de estruturas de
terceiro diz respeito ao projeto de es-
pela EFNARC (European Specification
concreto em todo o mundo.
truturas de CRF e o quarto trata sobre
for Sprayed Concrete), que apresenta
Com essa referência, a partir de
o controle de qualidade do CRF.
três classes de Tenacidade para reves-
2011, organizou-se na ABECE (As-
timento de CPRF, vinculando-as às si-
sociação Brasileira de Engenharia e
tuações de projeto dos túneis.
Consultoria Estrutural) um comitê de
A expectativa sempre foi utilizar o CRF como material estrutural e, para
CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017 | 31
estudos sobre os capítulos envol-
des possibilidades de avanço na apli-
para isso, é necessário todo o aparato
vendo as propriedades do CRF e o
cação do CRF no Brasil, uma vez que
normativo, bem como investimento na
projeto de estruturas de CRF. Poste-
as ações no sentido de normalização
formação de profissionais para atuação
riormente, em 2015, o trabalho des-
estão ganhando corpo de forma signi-
nas áreas de fabricação de fibras, tec-
se comitê foi ampliado, envolvendo
ficativa, haja vista as ações do Comitê
nologia e produção de CRFs, projeto e
o IBRACON (Instituto Brasileiro do
IBRACON/ABECE 303.
controle da qualidade. Determinados ti-
Concreto) e criando-se o CT 303 que
Esse avanço caminha no sentido
pos de estruturas são totalmente favo-
publicou, em 2016, a Prática Reco-
de se ter mais qualidade e segurança
ráveis à aplicação do CRF, mas, muitas
mendada IBRACON/ABECE “Projeto
nas estruturas projetadas, alicerçadas
vezes, ainda persiste-se em projetá-las
de estruturas de concreto reforçado
em normalização das fibras, da carac-
em concreto armado. Ressalta-se ain-
com fibras”.
terização do material e de critérios de
da que é importante o conhecimento
projeto e controle da qualidade do CRF.
sobre o material para que não sejam
Existem muitas possibilidades de
cometidos abusos que podem com-
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS Atualmente, o momento é de gran-
aplicação nas construções do CRF e,
prometer o potencial do CRF.
u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] AMERICAN CONCRETE INSTITUTE. ACI manual of concrete: State-of-the-art report on fiber reinforced concrete. (ACI 544.1R-82). ACI Committee 544, Detroit, USA: 1982. [2] CARNIO, M.A. Propagação de trinca por fadiga do concreto reforçado com baixos teores de fibras. Campinas: Faculdade de Engenharia Mecânica, Universidade de Campinas, 2009, 217p. Tese (Doutorado).
Prática Recomendada IBRACON/ABECE Projeto de Estruturas de Concreto Reforçado com Fibra
Elaborada pelo CT 303 – Comitê Té cnico IBRACON/ABECE sobre Uso de Materiais Nã o Convencionais para Estruturas de Concreto, Fibras e Concreto Reforçado com Fibras, a Prática Recomendada é um trabalho pioneiro no Brasil, que traz as diretrizes para o desenvolvimento do projeto de estruturas de concreto reforçado com fibras.
Baseada no fib Mode Code 2010, a Prática Recomendada estabelece os requisitos mın ́ imos de desempenho mecâ nico do CRF para substituiçã o parcial ou total das armaduras convencionais nos elementos estruturais e indica os ensaios para a avaliaçã o do comportamento mecâ nico do CRF. Aquisição
DADOS TÉCNICOS
www.ibracon.org.br (loja virtual)
ISBN / ISSN: 978-85-98576-26-8 Edição: 1ª edição Formato: Eletrônico
Patrocínio Belgo Bekaert Arames
Páginas: 39 Acabamento: Digital Ano da publicação: 2016
32 | CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017 Pode confiar
Coordenador: Eng. Marco Antonio Carnio
u entendendo o concreto
Controle tecnológico do comportamento mecânico do concreto reforçado com fibras RENATA MONTE – Pesquisadora Doutora
ALINE DA SILVA RAMOS BARBOZA – Professora Titular
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo
Universidade Federal de Alagoas
poucos laboratórios dotados de in-
Na busca por ensaios de configu-
o Brasil o uso de fibras
fraestrutura adequada para a execu-
ração mais simples e, ainda assim,
para o reforço mecânico
ção de ensaios de caracterização do
confiáveis para o controle tecnológico
do concreto ainda se con-
CRF no Brasil (FIGUEIREDO, 2014).
do CRF, foi desenvolvido o ensaio de
centra em aplicações de baixo consu-
Em várias situações, o único controle
duplo puncionamento. A possibilida-
mo e estruturas contínuas, como pa-
de comportamento mecânico efeti-
de de se utilizar ensaios alternativos é
vimentos e concreto projetado. Essas
vamente realizado é a determinação
prevista no fib Model Code 2010 (FIB,
aplicações, por requererem menor
da resistência à compressão, o que
2013), mas a correlação com o ensaio
demanda estrutural para o reforço, re-
não é capaz de avaliar a contribuição
de referência (EN14651, 2007) deve
sultam maior segurança aos projetis-
das fibras.
ser comprovada. Nesse trabalho, são
1. INTRODUÇÃO
N
tas para a especificação do concreto
O ensaio de flexão para a determi-
apresentados os dois ensaios e teci-
reforçado com fibras (CRF). A Asso-
nação da tenacidade através do tra-
das as considerações pertinentes a
ciação Brasileira de Normas Técnicas
dicional método da norma japonesa
cada um deles.
(ABNT) possui duas normas, a de es-
(JSCE SF4, 1984) é o mais comum
pecificação das fibras de aço e a da
de ser executado em laboratórios de
aplicação dessas fibras em tubos de
controle tecnológico brasileiros. Po-
2. ENSAIO DE FLEXÃO EM TRÊS PONTOS COM ENTALHE
concreto para águas pluviais e sane-
rém, esse método é crítico em termos
O ensaio de flexão em três pon-
amento. Essa limitação no arcabouço
de reprodutibilidade e pode resultar
tos com entalhe é o método de en-
de normas técnicas e práticas reco-
em intensa instabilidade no compor-
saio para o controle do CRF para
mendadas que subsidiem com se-
tamento pós-fissuração da matriz de
aplicações estruturais segundo as
gurança a especificação do material
concreto, como já foi apontado por
recomendações do fib Model Code
limita também o uso do CRF em apli-
diversos estudos nacionais e inter-
2010 (FIB, 2013). Nesse ensaio, os
cações de maior demanda estrutural.
nacionais. Em nível internacional a
prismas recebem um carregamento
Um dos principais gargalos está no
tendência é a adoção do ensaio de
concentrado em um cutelo superior
controle tecnológico, que é algo bá-
flexão de prismas com entalhe, con-
posicionado no meio do vão e com
sico e fundamental para a qualidade e
forme preconiza a norma europeia
um entalhe inferior, sendo possível
segurança nas obras de engenharia.
EN14651:2007, sendo este o ensaio
obter uma curva de carga por aber-
O controle do comportamento
de referência para o novo código mo-
tura de fissura (CMOD – Crack mouth
mecânico do CRF não é trivial, ge-
delo europeu para estruturas em con-
opening displacement). Este ensaio é
ralmente envolvendo ensaios mais
creto com fibras, o fib Model Code
o estabelecido pela norma europeia
complexos e que exigem equipa-
2010 (FIB, 2013), e também das prá-
EN14651:2007.
mentos de maior custo de aquisição
ticas recomendadas do CT303 do
e manutenção. Por essa razão, são
IBRACON e ABECE.
A norma EN14651:2007 define os corpos de prova prismáticos com
CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017 | 33
dimensões nominais (largura e altura) de 150 mm e comprimento variando entre 550 mm e 700 mm. A norma prevê que podem ser medidas a abertura da fissura (CMOD) ou o deslocamento vertical do prisma (δ). Quando é medido o CMOD, o transdutor (clip gage) deve ser posicionado no meio
a
da largura do corpo de prova, de tal
b
forma que a distância entre a borda inferior e a linha de medição seja menor ou igual a 5 mm (conforme indicado na Figura 1). No caso de ser
u Figura 1 Configurações de ensaio: a) com clip-gage (medida de CMOD); b) com LVDT (medida do d)
medido o deslocamento vertical, um transdutor de deslocamento (LVDT)
residuais fR1, fR2, fR3, fR4, correspon-
tomam por base o comportamento
deve ser montado em uma estrutu-
dentes a valores de CMOD iguais a
elástico de modo a estimar a tensão
ra rígida (denominado Yoke) fixada
0,5 mm, 1,5 mm, 2,5 mm e 3,5 mm,
na fibra mais tensionada da seção
ao corpo de prova a meia altura da
respectivamente. A Figura 2 ilustra
transversal. Trata-se de uma hipóte-
amostra sobre os cutelos.
uma curva produzida com resultados
se simplificadora histórica adotada
Para que os resultados sejam
de um ensaio EN 14651, onde podem
por praticamente todas as normas
expressos em carga versus CMOD,
ser identificados os parâmetros de
que definem o controle do CRF na
quando é realizada apenas a medi-
carga Fj que são utilizados nos cál-
flexão de prismas. Portanto, o fib Mo-
da do deslocamento vertical (δ), esta
culos das resistências LOP (limite de
del Code 2010 (FIB, 2013) estabelece
pode ser convertida para CMOD por
proporcionalidade) e residuais.
parâmetros de correção para o uso
As resistências residuais à flexão
meio da Equação 1.
para diferentes valores de CMOD δ = 0,85 CMOD + 0,04
[1]
A velocidade de ensaio é controla-
dessas resistências residuais no cálculo estrutural.
deve ser calculada com a Equação 2 e o limite de proporcionalidade (LOP) com a Equação 3. Esses cálculos
fRj =
3Fj l
[2]
2bhsp2
da pelo aumento do CMOD em 0,05 mm/min até que o CMOD atinja valor igual a 0,1 mm. A partir desse ponto, a velocidade aumenta para 0,2 mm/ Carga (kN)
min até o término do ensaio, para um valor de CMOD superior a 3,5 mm. Caso o controle seja realizado por deslocamento vertical, as taxas podem ser convertidas por meio da Equação 1. A Figura 1 ilustra as configurações de ensaio na máquina com medida de abertura de fissura (a) ou deslocamento vertical (b).
20 18 16 14 12 10 8 6 4 2 0
0
0,5
1
1,5
2 2,5 CMOD (mm)
3
3,5
Utilizando a curva de carga por abertura de fissura podem ser calculados os parâmetros: limite de proporcionalidade (
f ctf, L )
e as resistências
u Figura 2 Exemplo de curva de carga versus CMOD identificando os principais parâmetros de carga
34 | CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017
4
Onde:
configurações distintas e a carga FL
sibilidade de se utilizar ensaios alter-
é a resistência residual à flexão
deve ser determinada traçando uma
nativos para o controle tecnológico,
correspondente à abertura de fissura,
linha na distância 0,05 mm e paralela
mas cuja correlação com o ensaio
com CMOD=CMODj e j=1, 2, 3 e 4
ao eixo x do gráfico de carga versus
de referência (EN14651) seja com-
(MPa);
CMOD, assumindo que o valor de FL
provada. Como opção de ensaios al-
é a maior carga obtida nesse intervalo
ternativos normalizados se tem, por
(Figura 3).
exemplo, os ensaios de flexão qua-
fR, j
Fj
é a carga correspondente a aber-
tura de fissura específica CMODj, com CMOD1=0,5 mm, CMOD2=1,5
O principal elemento que dificul-
tro pontos (JSCE-SF4, 1084; ASTM
mm, CMOD3=2,5 mm e CMOD4=3,5
ta a utilização desse ensaio para o
C1609, 2012) e punção de placas
mm, com j = 1, 2, 3 e 4;
controle do CRF é a necessidade de
circulares
l é o vão de ensaio (mm);
equipamento com um sistema fe-
Porém, as dificuldades enfrentadas
B é a largura do corpo de prova (mm);
chado de controle de deformação,
pela ausência de infraestrutura labo-
h sp
ou seja, a deformação imposta no
ratorial para a execução desses faz
ensaio deve ser controlada pelo des-
com que o ensaio de duplo puncio-
locamento medido no corpo de pro-
namento ou ensaio Barcelona (UNE
va. Esse tipo de equipamento não é
83515, 2010) possa ser considerado
comum nos laboratórios de controle
uma alternativa viável para o controle
tecnológico, sendo mais comum em
tecnológico do CRF e será discutido
universidades e centros de pesquisa.
em detalhe a seguir.
é a distância entre o topo do cor-
po de prova até o topo do entalhe.
fctf, L =
3FL l 2bhsp2
[3]
Onde:
f ctf, L
é o limite de proporcionalidade
LOP (MPa);
Trata-se de um equipamento de alto
FL
custo e operação mais complexa.
é a carga correspondente ao LOP
(N). As
Ciente dessa dificuldade, o fib Model curvas
podem
apresentar
Code 2010 (FIB, 2013) propôs a pos-
(ASTM
C1550,
2012).
3. ENSAIO DE DUPLO PUNCIONAMENTO OU BARCELONA Com o intuito de desenvolver um ensaio alternativo aos tradicionais ensaios de flexão, que seja de configuração mais simples e, ainda assim, confiável para o controle do comportamento mecânico do CRF, foi desenvolvido o ensaio Barcelona. Esse ensaio foi normalizado na Espanha por meio da AENOR UNE 83515 (2010) e consiste no duplo puncionamento aplicado a discos de carga posicionados na região central de corpos de prova moldados ou testemunhos extraídos. A relação entre o diâmetro (d) e a altura (H) da amostra deve ser igual a um e os discos de carga de aço têm diâmetro (a) igual a 1/4 do diâmetro
Fonte: EN 14651, 2007
do corpo de prova e altura igual a 1/5 de sua altura, conforme ilustra o
u Figura 3 Posições da carga correspondente ao LOP (FL) em diagramas carga-CMOD
esquema da Figura 4. O carregamento do corpo de prova deve ser contínuo e aplicado a uma CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017 | 35
velocidade de controle de descida do equipamento igual a 0,5 mm/min. Na sua versão original, a norma espanhola indica para o ensaio Barcelona a medida simultânea da carga aplicada e do aumento do perímetro circunferencial ou TCOD (Total circumferential opening displacement). Porém, a medida do TCOD requer o acoplamento de um extensômetro de circunferência, o qual representava mais um equipamento a ser adquirido para o ensaio. Dando continuidade ao contexto de difundir o ensaio como um método mais acessível para o controle tecnológico corriqueiro do CRF, pesquisadores buscaram simplificar o
Fonte: Adaptado de Saludes (2006)
procedimento eliminando o citado extensômetro. As propostas de Carmona, Aguado e Molins (2012) e Pujadas
u Figura 4 Esquema de configuração do ensaio de duplo puncionamento
et al. (2013) indicam que seja medida a carga aplicada e o respectivo desloca-
de aquisição não inferior a 1 Hz). Essa
distintos, que acontecem após a aco-
mento vertical da máquina de ensaio.
configuração de equipamento é mais
modação dos discos de carga (Figura
Com isso, a infraestrutura laboratorial
acessível em termos de custo e dispo-
5a). A Figura 5 ilustra um exemplo de
se restringe a uma máquina de ensaio
nibilidade nos laboratórios de controle
resultado de ensaio com testemunho
que seja capaz de controlar a velocida-
tecnológico.
extraído de 100 mm de diâmetro e
de de deslocamento vertical e a aquisi-
Na curva carga versus desloca-
reforçado com 30 kg/m³ de fibra de
ção simultânea da carga aplicada e do
mento vertical resultante do ensaio
aço (fibra de 30 mm de comprimento
deslocamento vertical (com frequência
podem ser identificados três estágios
e fator de forma 45).
50
50
a
45
40
30
1º estágio
25
35
2º estágio
Carga (kN)
Carga (kN)
35
20 15 5 1
2 3 4 Deslocamento vertical (mm)
25 20 10 5
Acomodação dos discos de carga
0
30
15
3º estágio
10 0
b
45
40
5
6
0
0
1
2
3 TCOD (mm)
4
5
6
Fonte: Adaptado de Monte; Toaldo; Figueiredo (2014)
u Figura 5 a) identificação dos três estágios na curva carga versus deslocamento vertical; b) curva convertida para carga versus TCOD
36 | CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017
O
primeiro
estágio
representa
a fase elástica linear e termina na da matriz (Pcr). Em seguida, percebe-se uma fase de transição na qual pode ocorrer uma queda abrupta de carga caso a capacidade resistente residual seja pequena. Por fim, o último estágio identifica a capacidade resistente residual do CRF e ocorre até o limite de deslocamento pré-estabe-
Carga - P (kN)
carga correspondente a resistência
130 120 110 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0
Pmáx
P0,5 P1,5
0
1
lecido (usualmente 6 a 7 mm). A proposta de Pujadas et al. (2013) associa o deslocamento vertical obtido (δp) à abertura de fissura da amostra (TCOD)
P2,5
P3,5
2
3 4 5 Deslocamento vertical - dp (mm)
P4,5
6
7
u Figura 6 Exemplos de parâmetros de carga que podem ser avaliados através do ensaio de duplo puncionamento com deslocamento vertical
por meio das Equações 4, 5 e 6, uma para cada estágio do ensaio.
δ p £ δ p,cr
TCOD = 0
[4]
realização de conversão para TCOD.
4. COMENTÁRIOS FINAIS
Como exemplo, podem ser adotados os
A qualificação do CRF para apli-
deslocamentos indicados na Figura 6.
cações estruturais passa, obriga-
Apesar da facilidade de execu-
toriamente, pelo ensaio EN14651
ção, o ensaio de duplo punciona-
(2007), definido tanto pelo fib Model
mento ainda precisa de desenvolvi-
Code 2010 como pelo CT303 IBRA-
mento para ser aplicado no controle
CON/ABECE. No entanto, como foi
do CRF. Entre as dificuldades está
exposto aqui, trata-se de um ensaio
a ausência de uma correlação geral
complexo e de difícil realização em
com o ensaio de flexão para qualquer
laboratório de controle corriqueiro,
tipo de fibra utilizada. Por isso, é in-
apesar de totalmente adequado à
dicado que se realize um programa
parametrização do compósito. Des-
experimental piloto para o estabe-
sa forma, é fundamental contar com
lecimento de correlações empíricas
a execução de testes prévios de qua-
n é o número de fissuras radiais for-
para a matriz, fibra e dosagem em-
lificação do CRF, correlacionando o
madas no ensaio;
pregadas em cada obra.
ensaio mais complexo da EN14651
TCOD = n ´
a ´ δ p,R,0
πæ P ö ´ sen ç1 - ÷ 2´l n è Pcr ø [5]
δ p,cr < δ p < δp,R ,0
πé a TCOD = n ´ ´ sen êδ p - δ p,cr + 2´l n êë æ P δ p,R ,0 ´ ç1 - R,0 Pcr è
öù ÷ú ø úû
[6]
δ p ³ δ p,R ,0
Onde:
A influência da região de instabili-
com o de execução mais simples de
l é o comprimento da cunha formada;
dade na confiabilidade dos resultados
duplo puncionamento. A partir des-
P é a carga no ponto a ser calculado;
precisa ser verificada. Essa instabili-
se resultado, o controle pode ser
Pcr é o ponto de carga máxima e dp,cr
dade pode ser percebida pelo afasta-
realizado mais facilmente em vários
é o respectivo deslocamento vertical;
mento dos pontos na curva carga ver-
laboratórios e, com isso, permitir a
PR,0 é o ponto de início da resistência
sus deslocamento vertical (ou TCOD)
difusão da tecnologia do CRF como
residual e dp,R,0 é o respectivo deslo-
após a carga de pico (ver Figura 5).
material para finalidades estruturais
camento vertical.
Além disso, aspectos relativos a cri-
mais exigentes.
a é o diâmetro do disco de carga;
A avaliação do comportamento re-
térios para formação de lote, quanti-
Diante desse contexto, os esforços
sidual do CRF pode também ser reali-
dade de amostras, repetibilidade e re-
de pesquisa estão sendo concentra-
zada comparando as cargas residuais
produtibilidade do método de ensaio
dos em ensaios de configuração mais
para determinados níveis de desloca-
merecem atenção com vistas à futura
simples, como o ensaio de duplo pun-
mento vertical, sem a necessidade da
normalização do método no Brasil.
cionamento ou Barcelona, de modo a
CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017 | 37
tornar possível e confiável o controle
bilidade para a aplicação do CRF com
através do projeto de pesquisa “Concre-
nas condições de obra. As próximas
finalidade estrutural.
to fibroso de alta performance em es-
etapas da pesquisa preveem a realiza-
truturas de usinas hidrelétricas: modela-
ção de estudos interlaboratoriais e a
5. AGRADECIMENTOS
gem, experimentação e recomendações
definição de planos de controle confiá-
Agradecemos a Furnas Centrais
para projeto” para o desenvolvimento de
veis, o que permitirá obter maior credi-
Elétricas pelo apoio financeiro aportado
pesquisas em concreto com fibras.
u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] ASOCIACIÓN ESPAÑOLA DE NORMALIZACIÓN Y CERTIFICACIÓN. UNE 83515: Hormigones con fibras - determinación de la resistencia a fisuración, tenacidad y resistencia residual a tracción - método Barcelona. España, 2010. 10p. [2] CARMONA S, AGUADO A, MOLINS C. Generalization of the Barcelona test for the toughness control of FRC. Materials and Structures, v. 45, n. 7, p. 1053–69, 2012. [3] EUROPEAN COMMITTEE FOR STANDARDIZATION. EN 14651. Test Method FOR Metallic Fiber Concrete – Measuring the Flexural Tensile Strength (Limit of Proportionality, Residual). Brussels, 2007. 20p. [4] FÉDÉRATION INTERNATIONALE DU BÉTON – FIB. Fib Model Code for Concrete Structures 2010. Switzerland, 2013. 402p. [5] FIGUEIREDO, A. D. Os desafios para o uso do concreto reforçado com fibras como material estrutural. In: CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO, 56., 2014, Natal. Anais... As construções em concreto como fator de integração entre as nações. São Paulo: Instituto Brasileiro do Concreto - IBRACON, 2014. [6] MONTE, R.; TOALDO, G. S.; FIGUEIREDO, A. D. Avaliação da tenacidade de concretos reforçados com fibras através de ensaios com sistema aberto. Matéria (UFRJ), v. 19, p. 132-149, 2014. [7] PUJADAS, P.; BLANCO, A.; CAVALARO, S. H. P.; de la FUENTE, A.; AGUADO, A. New analytical model to generalize the Barcelona test using axial displacement. Journal of Civil Engineering and Management, v. 19, n. 2, p. 259-71, 2013. [8] THE JAPAN SOCIETY OF CIVIL ENGINEERS. JSCE-SF4: Method of tests for flexural strength and flexural toughness of steel fiber reinforced concrete. Part III-2 Method of tests for steel fiber reinforced concrete. n. 3, p. 58-61. Concrete library of JSCE, 1984.
DURABILIDADE DO CONCRETO à Editores
Jean-Pierre Ollivier e Angélique Vichot
à Editora francesa
Presses de l'École Nationale des Ponts et Chaussées – França
à Coordenadores da edição em português
Oswaldo Cascudo e Helena Carasek (UFG)
à Editora brasileira
IBRACON
Esforço conjunto de 30 autores franceses, coordenados pelos professores Jean-Pierre Ollivier e Angélique Vichot, o livro "Durabilidade do Concreto: bases científicas para a formulação de concretos duráveis de acordo com o ambiente" condensa um vasto conteúdo que reúne, de forma atualizada, o conhecimento e a experiência de parte importante de membros da comunidade científica europeia que trabalha com o tema da durabilidade do concreto. A edição brasileira da obra foi enriquecida com o trabalho de tradução para a língua portuguesa e sua adaptação à realidade técnica e profissional nacional. à Informações: www.ibracon.org.br
Patrocínio
38 | CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017
DADOS TÉCNICOS ISBN / ISSN: 978-85-98576-22-0 Edição: 1ª edição Formato: 18,6 x 23,3cm Páginas: 615 Acabamento: Capa dura Ano da publicação: 2014
u entendendo o concreto
Compósitos cimentícios de ultra-alto desempenho reforçados com fibras JOSÉ AMÉRICO ALVES SALVADOR FILHO – Professor doutor Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de São Paulo – IFSP campus Caraguatatuba
século 19, fibras de amianto foram uti-
almente, as fibras são incorporadas a
esde os tempos remotos,
lizadas em larga escala para o reforço
diversos tipos de materiais, como ci-
as fibras têm sido utilizadas
de pastas cimentícias para a produção
mentícios, cerâmicos, plásticos, etc.
para o reforço de materiais
de diversos componentes da constru-
formando compósitos com proprie-
como as palhas usadas no
ção civil, até que foram substituídas por
dades otimizadas. Essas proprieda-
reforço de blocos de adobe, bastante
outros tipos de fibras devido aos danos
des incluem: a resistência à tração,
comuns no Brasil colonial. No fim do
à saúde provocados pelo amianto. Atu-
resistência à compressão, módulo de
1. INTRODUÇÃO
D
frágeis,
elasticidade, resistência à fissuração, controle de fissuração, durabilidade, resistência ao impacto, à abrasão, à fadiga, à retração e expansão térmica e a resistência ao incêndio. O concreto simples, sem nenhum
Organização
tipo de armadura, apresenta ruptura frágil quando submetido à tração axial, caracterizada pela curva tensão-defor-
a
b
mação com interrupção abrupta após o surgimento da primeira fissura. O uso de fibras faz com que a curva tensão-deformação sob tração axial apresente a perda da capacidade resistiva do material acompanhada de uma grande deformação após a abertura da primeira fissura, comportamento conhecido como strain-softening.
100
Por outro lado, uma nova geração
95 75
de materiais cimentícios reforçados
c
com fibras apresentam um comportamento distinto em testes de tração
25 5
u Figura 1 Curvas tensão x deformação do (a) concreto convencional, (b) concreto reforçado com fibras e (c) UHPFRCC (adaptado de Wille et al. 2014)
direta, com o aumento da capacidade resistiva acompanhado de grandes deformações após o início da fissuração. Esse comportamento é denominado
0
CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017 | 39
em inglês como pseudo strain-hardening, que, em uma tradução literal, po-
u Tabela 1 – Propriedades mecânicas de vários tipos de UHPFRCC
deria ser definido como “pseudoencruCompósito cimentício
Resistência à compressão MPa
Resistência à tração MPa
Energia específica kJ/m³
rência do comportamento de pseudo
Ceracem
191
9,7
25
strain-hardening de compósitos cimen-
Ductal
200
15,1
39,5
tícios, onde a tensão de ocorrência da
CARDIFRC
185
13,5
N/A
primeira fissura (σcty), ou seja limite de
CEMTEC
220
20
35
elasticidade, deve ser menor que a ten-
RPC
230
7,8
N/A
MSCC
193
15
N/A
VHSC
200
10
17
ECC
45
5
148
HSHDC
160
11,8
305
UHP-SHCC
48,1
4,8
63
UHPFRCC
200
14,9
63
amento”. A equação 1 é utilizada para determinar experimentalmente a ocor-
são máxima à tração axial (fctm).
fctm > s cty
[1]
Este comportamento deve-se ao fato do material não formar apenas uma fissura principal, mas sim várias microfissuras (fig. 4). À medida que cada mi-
Adaptado de Kwon et al. 2014.
crofissura se abre, o material sofre uma grande deformação, que é interrompida
ses materiais é Ultra-High Performance
Também podem ser utilizadas ou-
pelas fibras até que outra microfissura
Fiber Reinforced Cementitious Com-
tras adições minerais no UHPFRCC,
se abra em outra posição, sem que o
posites (UHPFRCC), e suas principais
sendo a mais comum o pó de quartzo,
material perca sua capacidade resisti-
propriedades estão listadas na tabela 1.
em teores de 10% em relação à massa cimento. Outras adições podem ser
va, até atingir a tensão máxima (fig. 1).
utilizadas para se obter propriedades
to de compósitos cimentícios de alta
2. PRODUÇÃO E DESENVOLVIMENTO
ductilidade na Universidade de Michi-
Os UHPFRCC (Ultra-High Perfor-
zada no Laboratorio Prove e Ricerca
gan, com o comportamento descrito
mance Fiber-Reinforced Cementitious
su Strutture e Materiali (PRiSMa) da
acima, e descreveu uma metodologia
Composites) são considerados compó-
Università degli Studi Roma Tre, foram
de desenvolvimento baseado em prin-
sitos cimentícios por serem constituídos
realizadas dosagens de UHPFRCC
cípios de micromecânica. Esse mate-
de uma matriz cimentícia de alta resis-
com materiais obtidos na região de
rial foi denominado com Engineered
tência reforçada com fibras. Esta matriz
Roma, Itália (Salvador Filho et al,
Cementitious Composites (ECC), mas
normalmente é composta de cimento
2016). Nessa pesquisa foi utilizado o
não foi o único. Na literatura podem
Portland, sílica ativa e agregados miúdos,
pó de calcário em substituição volu-
ser encontrados diversos materiais
normalmente com dimensão máxima de
métrica do cimento para a obtenção
com essas características, tais como:
até 1,2mm para garantir maior homoge-
de um material de consistência tixo-
Reactive Powder Concrete (RPC), Multi-
neidade da matriz. Este material em geral
trópica, para ser aplicado na recupera-
(MSCC),
possui consistência autoadensável, com
ção de estruturas de concreto armado
Very High Strength Concrete (VHSC),
relação água/aglomerantes em torno de
sem a necessidade de construção de
High Strength High Ductility Concrete
0,2 ou menor, e sua consistência é ga-
fôrmas. O uso do pó de calcário não
(HSHDC), Ultra-High Performance Strain
rantida pelo uso de aditivos superplastifi-
comprometeu as propriedades mecâ-
Hardening Cementitious Composites
cantes. Como o UHPFRCC é um material
nicas do material. Também podem ser
(UHP-SHCC). Alguns são conheci-
de elevado consumo de cimento, com
utilizados resíduos de natureza mineral
dos comercialmente como Ceracem,
valores que vão desde 800kg/m³ a 1000
em substituição ao cimento, de modo
Ductal, CARDIFRC, e CEMTEC. Entre-
kg/m³, é recomendável o uso de aditivos
que o impacto ambiental de sua pro-
tanto, o termo que engloba todos es-
redutores de retração.
dução seja reduzido.
Li (1997) reportou o desenvolvimen-
Scale
Cement
Composite
40 | CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017
específicas. Em uma pesquisa reali-
Por outro lado, as fibras de aço e de polipropileno proporcionaram o incremento de capacidade resistiva após o surgimento das primeiras fissuras (strain-hardening), apresentando inclusive o padrão de fissuração com o sur-
a
gimento de várias microfissuras (Figs.
c
b
3 e 4). Entretanto, enquanto o uso de fibras de aço inoxidável aumentará a
u Figura 2 Fibras de (a) basalto, (b) polietileno de alta densidade e (c) aço inoxidável (Salvador Filho et al. 2016)
resistência à tração dos compósitos, as matrizes reforçadas com fibras de polipropileno tiveram resistência à compressão inferior à da matriz cimentícia
As propriedades do UHPFRCC são
que a fibra é constituída e pelo seu for-
sem adição de fibras. (Salvador Filho et
afetadas diretamente pela quantidade
mato. Experimentos em que foram adi-
al 2016).
de fibras utilizadas em sua composi-
cionadas fibras de diferentes materiais,
Atualmente estão sendo desen-
ção, tanto no estado fresco como no
basalto, polipropileno e aço inoxidável
volvidos no Laboratório Integrado
endurecido. Quanto maior o volume de
(Fig. 2), em teores de 1% e 2% em re-
de Engenharia Civil (LIEC) do Insti-
fibras, que normalmente corresponde a
lação ao volume da matriz cimentícia,
tuto Federal de São Paulo (IFSP), no
2% do volume total, maior a resistên-
resultaram em comportamentos mecâ-
campus Caraguatatuba, estudos de
cia à tração e tenacidade, (sem limite?
nicos distintos. Os compósitos reforça-
dosagem do UHPFRCC produzidos a
Seria bom dar um limite) mas, por ou-
dos com fibras de basalto apresenta-
partir de materiais locais e reforçados
tro lado, sua trabalhabilidade é afetada.
ram incremento na resistência à tração
com fibras de vidro álcali-resistentes.
Entretanto, essas propriedades são
axial, mas não tiveram aumentada sua
Algumas características das fibras de
também afetadas pelo material com
tenacidade, mantendo a ruptura frágil.
vidro, como a resistência à corrosão, facilidade de fabricação e custo relativamente baixo, podem ser vantajosas na produção do UHPFRCC. O LIEC-IFSP em parceria com o Laboratório de Materiais e Componentes da Construção Civil da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), está desenvolvendo estudos de durabilidade do UHPFRCC produzidos a partir do uso de resíduos minerais em substituição ao cimento Portland.
a
3. DETERMINAÇÃO DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS A tenacidade do UHPFRCC e sua
b
capacidade de continuar aumentando sua resistência à tração mesmo após a
u Figura 3 Ensaio de tração axial de acordo com as recomendações da JSCE: (a) dimensões em milímetros do corpo de prova e (b) aparato para realização do teste (Salvador Filho et al, 2016)
fissuração são os principais parâmetros de avaliação do UHPFRCC. Os concretos convencionais reforçados com fibras têm suas propriedades avaliadas CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017 | 41
através de testes de tração à flexão
dente à área do trecho de perda de
com determinação de deslocamentos
capacidade de carga, strain-softening,
e da abertura da fissura no meio do
após ets não é avaliada. Resultados da
vão (CMOD). Entretanto, devido ao uso
capacidade de absorção de energia
de fibras de pequenas dimensões, a
de diversos tipos de UHPFRCC estão
Japanese Society of Civil Engineers
apresentados na tabela 1.
(JSCE) publicou em 2008 as recomendações para projeto e construções
4. CONCLUSÕES
com uso do HPFRCC. Segundo esta
A possibilidade de produção de
publicação, as principais propriedades
materiais cimentícios de alta ductilidade
do material são determinadas através
traz uma enorme gama de possibilida-
do ensaio de resistência à tração axial
des para utilização na engenharia civil.
com corpos de prova moldados nas
As diferentes matérias-primas e fibras
dimensões descritas na figura 3. Equi-
em diferentes materiais, formatos e
pamentos para determinação dos des-
quantidades que podem ser utilizadas
locamentos são colocados nas faces
na produção do HPFRCC abrem um
dos corpos de prova. O carregamento
grande campo de pesquisa, com de-
é realizado com taxa de deslocamen-
safios no campo experimental. Ainda
to constante em 0,5mm/min, e a cur-
é necessária a determinação de parâ-
va tensão x deformação é construída a
metros para proposição de métodos de
partir dos dados obtidos. A tenacidade
dosagem eficientes. As características
é avaliada pela área abaixo da curva
do UHPFRCC o tornam um material
tensão-deformação desde o início da
naturalmente adaptado para uso na re-
ção de agentes contaminantes, nucle-
curva até a deformação corresponden-
cuperação ou retrofit de estruturas de
ares, e também para proteção contra
te à tensão máxima do material sob tra-
concreto armado existentes, possibili-
impactos e explosões. Estruturas afe-
ção axial. Kwon et al. (2014) definiu a
tando intervenções mínimas na estrutu-
tadas por ações dinâmicas podem ser
tenacidade em termos de capacidade
ra e na arquitetura da construção. Mas
reforçadas com UHPFRCC.
de absorção de energia (g) calculada
suas características revelam potencial
Entretanto, cada nova proposta de
de acordo com a equação 2 , onde (εts)
para as mais diversas aplicações, tais
utilização do UHPFRCC deve ser ava-
é a deformação correspondente à ten-
como: construções de estruturas es-
liada a partir de análises experimentais
são máxima.
beltas, elementos protendidos de me-
e numéricas, obtendo-se dados con-
nores dimensões, elementos arquitetô-
sistentes para proposição de métodos
nicos para fachadas, cascas, etc. De
de cálculo estrutural e elaboração de
elevada durabilidade, pode ser utilizado
normas técnicas para tornar amplo o
na construção de estruturas de conten-
uso deste novo material.
g = ò e ts s (e) d e 0
[2]
A absorção de energia correspon-
u Figura 4 Formação de microfissuras no UHPFRCC submetido à tração axial
u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] Li, V. C. Engineered Cementitious Composites(ECC)- Tailored composites through micromechanical modeling. in Fiber Reinforced Concrete: Present and the Future, N. Banthia, A. Bentur, and A. Mufti, Eds., Canadian Society of Civil Engineers, 1998. [2] Kwon, S.; Nishiwaki, T.; Kikuta, T.; Mihash, H. Development of Ultra-High-Performance Hybrid FiberReinforced Cement-Based Composites. ACI MATERIALS JOURNAL /May-June 2014 pp. 309-318. [3] Salvador Filho, J. A. A., Nuti, C., Santini, S., Lavorato, D., Azeredo, Jeferson da R. Mechanical properties of HPFRCC reinforced with different types and volumes of fibres. Anais do 58º Congresso Brasileiro do Concreto, CBC2016 – 58CBC2016 [4] Wille, K.; El-TAWIL, S.; Naaman, A.E.; Properties of strain hardening ultra-high performance fibre reinforced concrete (UHP-FRC) under direct tensile loading. Cement & Concrete Composites 48, 2014. [5] JSCE Concrete Committee. Recommendations for design and construction of high performance fiber reinforced cement composites with multiple fine cracks (HPFRCC). 2008.
42 | CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017
u seção encontros especial: e notícias ensino| CURSOS e aprendizado na engenharia civil
Currículo de engenharia civil e mercado JOSÉ MARQUES FILHO – Professor Universidade Federal do Paraná
subsistência da sociedade. Essa ne-
Uma discussão do mercado e do
sociedade atual, com grande
cessidade indica o que a sociedade
perfil do engenheiro necessário para
concentração urbana forma-
requer dos engenheiros que são forma-
nossa sociedade é sadia e deve ser am-
da muitas vezes por metró-
dos, incluindo planejamento adequa-
pla, pois dela obtém-se a grade curricu-
poles com vários milhões de habitantes,
do, soluções inovadoras e módicas.
lar que satisfaria esses condicionantes.
depende totalmente da infraestrutura
Essa abordagem requer conhecimento
civil instalada. É impossível manter o te-
técnico sedimentado, capacidade de
2. ANÁLISE SITUACIONAL
cido social sem o fornecimento de água,
inovação e criatividade, e todos esses
A sociedade humana atual está,
moradia, energia, retirada de dejetos, lo-
ingredientes deveriam fazer parte do
em grande, parte distribuída no globo
gística de transporte, abastecimento de
curso de engenharia civil.
em concentrações urbanas, com vá-
1. INTRODUÇÃO
A
alimentos e insumos. Esse desafio no
O engenheiro civil é basicamente um
rios milhões de pessoas coexistindo
Brasil é aumentado pela grande quan-
empreendedor que resolve problemas da
em espaços físicos reduzidos. O aden-
tidade de pessoas que devem ter sua
sociedade, tendo seu foco nos desejos
samento cria a necessidade de distri-
qualidade de vida melhorada e incorpo-
dela, e empreender requer a capacidade
buição de água, energia, alimentos,
rada ao processo produtivo digno.
de movimentar grande parte do mecanis-
moradia, mobilidade, saúde e empre-
Hoje são claros os gargalos de in-
mo social, gerando condições para o in-
go em regiões cujas áreas e recursos
fraestrutura que o país apresenta, li-
vestimento de capital, análise e mitigação
existentes não seriam suficientes para
mitando seu crescimento, a geração
de riscos, minimização do impacto socio-
a garantia de sobrevivência digna. A Fi-
de riqueza e a capacidade produtiva,
ambiental e a geração de estruturas se-
gura 1 apresenta a distribuição da po-
impedindo a melhoria da condição de
guras, duráveis e com custo adequado.
pulação humana e a Figura 2 mostra a urbanização existente evidenciando a grande concentração em áreas relativamente pequenas. Verifica-se que há uma quantidade expressiva de conglomerados urbanos com população superior a 1 milhão de habitantes no mundo e esse comportamento se repete no Brasil, onde nos últimos 50 anos houve uma migração importante da população rural para as cidades, pressionando os recursos naturais existentes. As necessidades de fornecimento de água, energia,
u Figura 1 Densidade demográfica em 2014
moradia, vias de transporte e logística de suprimento são cada vez mais importantes, e o destino e tratamento de CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017 | 43
ganização das Nações Unidas apresenta um aumento de 1 bilhão de habitantes entre 2011 e em torno de 2025, criando uma pressão considerável sobre a infraestrutura existente, aumentando a necessidade de ação dos engenheiros civis. Os estudos populacionais de vários organismos, incluindo a ONU, são resumidos em 3 cenários distintos, considerando os limites físicos, educação, conflitos, pragas e doenças. No cenário médio, considerado mais provável, a população ultrapassaria 9 bilhões de habitantes num intervalo de tempo relativamente curto, conforme apresentado na Figura 4. O acréscimo de 2 bilhões de seres huFonte: www.economist.com/node/21642053
manos deverá ocorrer em países pobres e em desenvolvimento, que já contam
u Figura 2 Urbanização prevista para 2020
com infraestrutura precária ou inexistente, levando à necessidade de investimento em novos empreendimentos a curto e
dejetos têm urgência de estudos com
quer na execução de novos projetos
médio prazos. Aliado a esse fato, a distri-
sofisticação crescente. Essa distribui-
quanto na operação e manutenção dos
buição das condições de conforto e ren-
ção populacional e a manutenção do
empreendimentos existentes.
da ainda é muito desigual e grande parte
tecido social são totalmente depen-
As mudanças em tela são relativa-
da humanidade não possui condições
dentes da infraestrutura existente, e,
mente recentes e o aumento populacio-
de vida digna e com condições sanitá-
portanto, das atividades de engenharia,
nal teve seu gradiente de crescimento
rias minimamente adequadas. No Brasil,
acentuado nos últimos 300 anos, confor-
esse fato é ainda muito importante, com
me apresentado na Tabela 1 e na Figura
desigualdade social em termos de aces-
3. Pode-se observar que o intervalo de
so à infraestrutura civil muito relevantes.
tempo considerado pelos estudos da Or-
Portanto, somada à necessidade de
u Tabela 1 – Evolução da população mundial Ano
Milhões
História
-8000
5
AC
1
250
1650
500
1804
1000
1927
2000
1960
3000
1974
4000
1987
5000
1999
6000
2011
7000
2025
8000
2043
9000
DC
u Figura 3 Evolução da população mundial
44 | CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017
sequências dessas alterações na dinâmica atmosférica. De forma, semelhante ao gráfico do crescimento populacional apresentado na Figura 3, pode-se, através de estudos climáticos em rochas e em geleiras, obter a evolução da presença de gases do efeito estufa (GEE) na atmosfera, cujos resultados mais aceitos pela comunidade técnica internacional estão apresentados nas Figuras 5 e 6. Observa-se um aumento significativo dos gases do efeito estufa, bem como se verifica um aumento da ocorrência de eventos climáticos extremos, como cheias e secas intensas, aumento da intensidade de chuvas e ventos, e, também, um aumento do derretimento do gelo das camadas polares e de várias regiões do planeta. O International Panel on Climate Change (IPCC), da ONU, em seu relatório de 2014, indi-
u Figura 4 Cenários de crescimento populacional (ONU)
ca que já se prova estatisticamente que as mudanças climáticas têm origem
fornecimento de benefícios gerados pelas
50% da produção de alimento mundial
antropogênica, prevendo mudanças no
obras civis ao crescimento populacional,
depende de irrigação e as disponibili-
regime de chuvas, indicando a necessi-
existe uma necessidade de atendimento
dades de água para consumo humano,
dade de manejo dos recursos hídricos
a uma parcela significativa da sociedade.
dessedentação de animais e geração
e proteção da infraestrutura existente.
Juntamente com as necessidades
energia são essenciais à vida, tem-se a
Em resumo, o crescimento popu-
anteriormente descritas, a preocupação
necessidade de estudos sobre as con-
lacional e o aquecimento global (ver
com as mudanças climáticas indica que as pressões sobre a disponibilidade de recursos hídricos serão crescentes e de previsão complexa. Como mais de
Fonte: IPCC – Climate Change 2007
u Figura 5 Concentração de CO 2 na atmosfera
u Figura 6 Evolução do teor de metano na atmosfera
CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017 | 45
Figura 7) indicam a necessidade de estudos para avaliação de seus efeitos e de novas obras hidráulicas, impulsionando pesquisas e análises de armazenamento, transporte e distribuição de água e de energia sem emissões, bem como devem ser previstas proteções contra cheias de magnitude importante. Essas necessidades impulsionam as atividades da Engenharia Civil e devem orientar o curso para uma visão de sustentabilidade em todas as suas disciplinas. A necessidade de estudos preventivos com visão de sustentabilidade nas soluções adotadas, aliada a uma visão de crescimento da demanda de em-
u Figura 7 Aquecimento global nos últimos 12.000 anos
preendimentos civis relevantes, orienta a expectativa da sociedade em relação
safio da adaptação de novos proces-
de dados comuns desde as investi-
ao curso de Engenharia Civil. Em con-
sos de ensino que sejam eficazes com
gações preliminares até a operação,
trapartida, as últimas décadas sofreram
as novas gerações e que evitem que a
passando pelo projeto e construção;
um impacto importante do desenvolvi-
mera aplicação de processos automá-
u Gerenciamento de projetos focados
mento tecnológico e da informática sem
ticos seja o foco do aprendizado, ao in-
nos processos de otimização e mini-
precedentes na história da humanidade.
vés do conceito físico envolvido.
mização de impactos;
Depois do salto na oferta e tipologia de
Com as discussões previamente
u Novos sistemas construtivos, com
equipamentos colocados à disposição
apresentadas, conclui-se que o proces-
menor penosidade para os envolvi-
logo após a Segunda Guerra Mundial, o
so de Engenharia Civil, e, obviamente in-
impacto da aplicação da tecnologia nos
cluindo Arquitetura, deve prover soluções
u Minimização de impactos socioambientais;
últimos 30 anos mudou drasticamente
com consideração dos princípios básicos
u Análises hidrometeorológicas com a
os processos de geração de infraestru-
da sustentabilidade, com alguns pontos
perspectiva de mudanças ambientais
tura. O conhecimento da microestrutura
diferenciados, abaixo considerados.
dos materiais, a nanotecnologia, a tecno-
u Soluções minimizando a utilização de
logia de aditivos e adições do concreto,
materiais não renováveis e a emissão
u Urbanismo integrado que minimize
a instrumentação do comportamento
de gases do efeito estufa durante o
o impacto ambiental, procurando
estrutural, os processos de modelagem
ciclo de vida dos empreendimentos;
de forma holística diminuir a pegada
dos e o entorno;
para garantia da segurança hídrica; u Tratamento de dejetos e resíduos;
numérica, os processos integrados de
u Aumento da durabilidade, diminuindo a
projeto são ferramentas importantes e
pressão sobre a reconstrução e reutili-
serão largamente empregados, devendo
zando as estruturas existentes, e, ob-
u Visão integrada e holística do desen-
ser agregados ao conhecimento disponi-
viamente, com projetos que permitam
volvimento da infraestrutura e suas
bilizado ao engenheiro contemporâneo.
multiusos conforme a necessidade que
consequências socioeconômicas;
Sob o ponto de vista atitudinal,
se apresenta ao longo do tempo;
os alunos de engenharia estão imer-
u Desenvolvimento de novos materiais;
sos numa sociedade com automação
u Reciclagem efetiva de materiais e di-
ecológica, considerando a questão socioeconômica;
u Reforço dos conceitos físicos e
imediata, relacionamento interpessoal
u Otimização dos projetos, com sis-
constante e diverso, mudando a con-
temas unificados de informação e
matemáticos; u Planejamento integral da infraestrutura considerando os limites ambientais, a pegada ecológica de cada tipo de solução, a melhoria das condições de vida
cepção de aprendizagem. Surge o de-
verificação de conflitos, com base
e parâmetros econômico-financeiros.
crescente, acesso à informação quase
minuição do desperdício;
46 | CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017
3. SITUAÇÃO E PERSPECTIVAS DE MERCADO DA ENGENHARIA CIVIL NO BRASIL
manutenção da infraestrutura são mais
cursos de engenharia vem aumentando
importantes que a necessidade de novos
e o mesmo censo anteriormente men-
empreendimentos, haveria a natural ne-
cionado mostra que o número de vagas
Uma das maneiras mais eficazes de
cessidade de menos engenheiros civis por
de engenharia subiu entre 2000 e 2012,
se analisar as perspectivas da Enge-
habitante, caso que não ocorre no Brasil.
crescendo 384%, valor maior que os
nharia para validar seu currículo é com-
Portanto, a necessidade de formação dos
172% de aumento do total de vagas no
parar a situação do país perante outras
engenheiros em nosso país seria natural-
ensino superior no mesmo período. No
nações. A Figura 8 apresenta a propor-
mente diferente dos países desenvolvidos,
mesmo intervalo, o número de inscritos
ção de Profissionais de Engenharia e
não se aplicando as regras e escolhas
passou de 6,2% do total de postulantes
Técnicos em relação à população.
contidas em suas grades curriculares.
à universidade para 13,2%, enquanto
A situação apresentada indica que o
O Censo da Educação Superior, pro-
respectivamente a quantidade de vagas
posicionamento do país é muito inferior à
duzido pelo Instituto Nacional de Estu-
porcentuais para as engenharias passou
curva ajustada, mostrando uma deficiên-
dos e Pesquisas Educacionais (INEP) do
de 5,8% para 10,4%. Esses últimos da-
cia relativa a outras nações. Com a possí-
Ministério da Educação, mostra que dis-
dos indicam um aumento da atrativida-
vel correlação entre riqueza e quantidade
crepância apresentada vem lentamente
de da carreira entre 2000 e 2012.
de engenheiros, verifica-se que, para o
se corrigindo, pois, em 2000, havia 7,29
Em termos absolutos, o Brasil em
atingimento de um equilíbrio sustentável
engenheiros por 10.000 habitantes e,
2012 possuía 344.425 vagas de en-
da população, há a necessidade de au-
em 2012, essa razão passou para 13,48
genharia, com 224.087 ingressantes
mento do número desses profissionais.
(OIC, 2013). Com a recessão atual, seria
e 54.173 concluintes, sendo que esse
Essa constatação é agravada, pois a
interessante avaliar o efeito na relação
último valor indica a formação de 2,79
comparação é efetuada com países com
considerando os profissionais realmente
engenheiros para cada 10.000 habitan-
infraestrutura mais adequada que a bra-
ocupados com a engenharia.
tes. Comparado com os países desen-
sileira. Em países onde os processos de
Observa-se que a procura pelos
volvidos, como ao Coréia do Sul (19,16),
Fonte: OCED, apud OIC Engenharia Data, 2013
u Figura 8 Relação entre profissionais de engenharia e técnicos em relação à população em 2012
CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017 | 47
Espanha (10,04), Itália (8,36), Estados
ve uma significativa redução da atividade
com educação e administração públi-
Unidos (5,22), a quantidade de enge-
econômica, impactando diretamente na
ca. A produtividade de docentes tam-
nheiros formados no país é modesta.
construção civil. No seminário “Forma-
bém deve ser observada, sendo que o
Apesar da criação intensa de vagas
ção e Emprego de Engenheiros no Brasil:
World Bank indicou que, em 2013, para
desde o início dos anos 2000, já se evi-
Tendências Atuais”, em 2014, discutiu-
cada 100 professores dos cursos de
dencia a existência de evasão significati-
-se a necessidade de engenheiros no
engenharia, no Brasil publicou-se em
va nos cursos de engenharia. O Censo
país para vários cenários de crescimento
média 6 artigos, no Japão 28 e nos Es-
do Ensino Superior do INEP apresen-
econômico, e existiria uma probabilidade
tados Unidos 64. Para uma maior pre-
ta que, em 2012, a taxa de evasão era
significativa de excesso de engenheiros
cisão da questão da formação de en-
em torno de 25%, bastante alta quando
no mercado. Essa conclusão merece ser
genheiros, poderia ser realizada análise
comparada com os 2,5% dos cursos de
analisada com reservas. A porcentagem
complementar avaliando a interação da
medicina, cujo público é mais elitizado
de engenheiros na população, compara-
academia com a indústria e a comuni-
pela taxa elevada de candidatos por vaga
da com o perfil de outros países, mostra
dade técnica, verificando se a acade-
e a perspectiva de ganhos garantidos ao
que a aplicação de inovação, utilização
mia insere novos profissionais com as
longo da vida do profissional. A evasão
de tecnologia e desenvolvimento de pro-
características necessárias às diversas
é também muito grande em compara-
dutos é fundamental para a geração de
modalidades do setor produtivo.
ção com outros países. Dados do World
riqueza e mudança do perfil socioeconô-
Bank mostram que, em 2013, no Brasil
mico brasileiro.
4. CONSIDERAÇÕES E CONCLUSÕES
estavam matriculados 516.287 estudan-
Assim sendo, como já discutido
tes, enquanto no Japão haviam 483.120,
no evento logo acima mencionado,
Nos últimos quarenta anos, o
e nos Estados Unidos 749.295. No mes-
além da quantidade, a qualidade dos
currículo mínimo do curso de Enge-
mo ano concluíram no Brasil 41.112
engenheiros formados deve ser ob-
nharia Civil vem sofrendo mudanças
profissionais contra 90.048 no Japão e
servada. Sempre tomando o cuidado
significativas no foco, carga horá-
99.455 nos EUA, confirmando a evasão
com generalizações e sabendo-se da
ria e na base formativa, o que, em
e dificuldade de término do curso.
existência de exceções de excelência
parte, é natural pela evolução tec-
Esse valor de evasão pode ser, de
no país, tomando como base o ENADE
nológica e social. Porém, algumas
forma preliminar, gerado pelo desem-
(Exame Nacional de Desempenho de
considerações merecem ser apresenta-
penho inadequado em matemática do
Estudantes), verifica-se que as notas
das para uma análise da adequabilida-
ensino médico, demostrado pelo Pro-
dos alunos das universidades públicas
de dos currículos atuais. Nas décadas
grama Internacional de Avaliação de
concentram-se entre 4 e 5, enquanto
de 1960 e 1970, os cursos possuíam
Alunos de 2012 (PISA), da Organização
os das instituições privadas atingem
cargas horárias mais elevadas que as
para Cooperação e Desenvolvimento
em sua maioria notas 2 e 3. Em nome
atualmente adotadas.
Econômico (OCDE). Nesse estudo, o
da justiça de julgamento, deve ser res-
O Curso que eu fiz possuía em tor-
Brasil ocupa a 33a posição entre 38 pa-
saltado que existem excelentes institui-
no de 5.700 horas aulas totais, que é
íses com avaliação inferior à metade da
ções de ensino superior particulares no
em torno do dobro do currículo míni-
média, sendo que a maioria dos países
país. Nos últimos anos, o aumento da
mo atual, mas somente aulas a mais
têm maior relação entre a quantidade
oferta de novos cursos chegou à situa-
não formam um parâmetro compa-
de engenheiros e sua população.
ção onde mais de dois terços dos cur-
rativo. Deve-se avaliar se o que foi
Em termos de mercado de trabalho,
sos existentes estão em instituições pri-
retirado no tempo foi importante. O
no intervalo de tempo entre 2000 e 2012,
vadas. As provas em geral são simples
curso tinha caráter formativo com al-
o Brasil passou por período de retoma-
e básicas, com problemas às vezes
gumas características interessantes,
da econômica, sendo que a quantidade
dissociados da realidade do exercício
como a existência de dois anos bási-
de engenheiros, a grosso modo, do-
profissional. Em 2012, dos engenheiros
cos com disciplinas gerais, incluindo
brou no período, atingindo em torno de
atuando no país, apenas 6% dos enge-
matemática e física muito sedimenta-
40.000 profissionais. Após esse período,
nheiros possuíam mestrado ou douto-
das, e os cursos básicos de Desenho
a situação do país se deteriorou e hou-
rado, e desses, grande parte trabalhava
e Geometria, Mecânica dos Fluidos,
48 | CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017
Resistência dos Materiais, Iniciação aos
trabalho, o total de horas e de disciplinas
trabalho familiar,
Materiais de Construção, Mecânica dos
foram diminuindo ao longo do tempo e
informação e novas tecnologias. Os
Solos e Química. Formava-se um arca-
o curso se concentrando em edifica-
processos mentais e o comportamen-
bouço científico importante, estruturan-
ções e pequenas obras. Hoje se obser-
to social são diferentes, com algumas
do a formação tecnológica, deixando o
va que várias disciplinas como Concreto
novas potencialidades interessantes.
aluno preparado para o entendimento
Protendido, Pontes e Obras Hidráulicas
Qualquer discussão de currículo deve
das disciplinas profissionalizantes e
passaram a ser optativas e as disciplinas
ter simultaneamente consideradas as
suas complexidades, fornecendo tem-
formativas foram reduzidas. Os cursos
abordagens didático-pedagógicas que
po para o entendimento do mecanismo
profissionalizantes reduziram a carga te-
favoreçam a atenção e a empolgação
mental e do processo de engenharia
órica, concentrando-se em procedimen-
com o curso que se transformarão em
envolvido. Os cursos eram abrangen-
tos de cálculo e processos.
aprendizado. Também deve consi-
disponibilidade de
tes, mostrando a base de conheci-
Essa redução teve como consequ-
derar o treinamento para as tomadas
mento para a execução de edificações,
ência a diminuição da bagagem teórica,
de decisão contínuas da profissão e a
pontes, obras protendidas, portos e
com o consequente aumento da inse-
conscientização de sua importância e
demais obras de arte, que eram com-
gurança e diminuição da capacidade
responsabilidade numa atividade que
plementados pela execução de proje-
de inovação e criatividade. Apesar da
atua com o patrimônio e a segurança
tos com simulação de situações reais
melhoria significativa da pesquisa nas
das pessoas. Tarefas complexas numa
durante o curso. Além dessa formação
universidades, principalmente nas pú-
sociedade hoje com recursos financei-
com visão abrangente, o processo de
blicas, o foco na graduação às vezes
ros e humanos limitados
formação era completado nos estágios
diminui pela necessidade de produção
A discussão da grade curricular hoje
e durante a vida profissional, num pro-
docente. Esse fato e o aumento do nú-
é necessária para que o esforço gasto
cesso de treinamento contínuo que le-
mero de turmas, alunos e orientandos
na formação de uma categoria indis-
vava inicialmente a uma especialização
podem ser fatores que fragilizam ainda
pensável à sociedade atinja plenamente
dentro das diversas áreas do conheci-
mais a situação gerada pelas mudanças
seu potencial e capacidade de geração
mento da Engenharia Civil.
curriculares das últimas décadas. Sem
de benefícios. Também parece funda-
Entre essa época e os dias atuais, ti-
dúvida, a função primordial dos cursos é
mental a adaptação e o ajuste contínuo
vemos duas grandes crises econômicas
a formação de profissionais engenheiros
às mudanças tecnológicas e sociais
e hoje o país vivencia outra. Houve uma
civis que satisfaçam às necessidades
que se desenvolvem exponencialmente
diminuição brusca de investimentos e,
da sociedade, e uma discussão maior
e são indissociáveis da capacidade de
com isso, uma diminuição da necessida-
do assunto é urgente e necessária num
aprendizado. A criação de condições
de de serviços de engenharia e despres-
país carente de infraestrutura civil.
que favoreçam a inovação aplicada e a
tígio da profissão, com fuga de talentos.
O perfil dos alunos nas últimas dé-
criatividade deve ser decorrente da for-
Simultaneamente, com as restrições or-
cadas também mudou, seguindo as
mação integral dos novos profissionais,
çamentárias, pressão pelo aumento de
alterações socioculturais geradas pela
que são os fatores que geram valor no
universitários e limitação do campo de
concentração urbana, necessidade de
mundo atual.
u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] ACEGEOGRAPHY – Population Density, em http://www.acegeography.com/population-issues.html, acessado em 02/02/2017. [2] CAPELATO, R.; MORELLI, C. – Mapa do Ensino Superior no Brasil 2015 – Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior – São Paulo: 2015. [3] CFM - CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA - No Brasil, Número de Escolas Privadas de Medicina Cresce Duas Vezes mais Rápido que o de Cursos Públicos – acessado em 23 de julho de 2017, Brasília: 2015. [4] INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE CHANGE – IPCC - Climate Change Fourth Assesment Report, Genebra: 2007. [5] INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE CHANGE – IPCC - Climate Change Fifth Assesment Report, Genebra: 2014. [6] OLIVEIRA, V. F.; ALMEIDA, N. N.; CARVALHO, D. M.; PEREIRA, F. A. A. - Um Estudo sobre a Expansão da Formação em Engenharia no Brasil - Revista de Ensino de Engenharia da ABENGE, Brasília – DF: ABENGE, 2013, edição especial. [7] SALERNO, M. S.; LINS, L. M.; GOMES, L. A. V.; BOTTAN, T. - Tendências e Perspectivas da Engenharia no Brasil - OIC – Observatório da Inovação e Competitividade IAE/USP, São Paulo: 2014.
CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017 | 49
u obras encontros emblemáticas e notícias | CURSOS
Inovação em estruturas com concreto de ultra-alto desempenho na América do Norte V.H. PERRY
G. A. PARSEKIAN
N. G. SHRIVE
V.iConsult Inc.
Universidade Federal de São Carlos
Universidade de Calgary – Canadá
no Canadá e nos Estados Unidos,
1. INTRODUÇÃO
O
comitê ACI 239 pro-
incluindo a descrição de alguns ca-
põe a definição para o
sos notáveis.
concreto de ultra-alto 2. BREVE HISTÓRIA
desempenho (CUAD) : “... é um material de cimento, um tipo de concreto que possui resistência a compressão mínima de 150 MPa, com requisítos mínimos de durabilidade, elasticidade, ductilidade e
Desde 1997, quando a primeira
u Figura 1 Primeira ponte em CUAD, construída em Sherbooke-Canadá (Perry, 2014)
ponte em CUAD foi construída em Sherbooke, noCanadá (Figura 1), várias utilizações desse material foram observadas em construções em todo o Canadá e nos Estados Uni-
tenacidade; fibras são geralmente incluídas para alcançar os requisi-
longitudinais ou cabos de protensão
dos. Os primeiros casos foram ele-
tos especificados”. Normalmente,
para resistir ao esforço de flexão.
mentos pré-moldados leves, como
esse material contém areia muito
No entanto, pontes já foram cons-
as coberturas para estação de trem
fina (< 400 mícrons), pó de quart-
truídas nas quais o CUAD resiste in-
em Calgary – Canadá (2004), ou
zo moido, cimento Portland, sílica
tegralmente ao cisalhamento, sem a
prefabricados de pontes para pe-
ativa e 2% de fibras (geralmente as
necessidade de estribos. No Cana-
destres, como a a de Calgary – Ca-
fibras de aço de 12 mm e diâmetro
dá, apesar de algumas vigas terem
nadá (2007). Esses dois casos fo-
de 0,2 mm). Devido à durabilidade e
sido projetadas exclusivamente com
ram ensaiados na Universidade de
propriedades de ductilidade desses
CUAD para construção de pontes
Calgary e são brevemente apresen-
materiais, a utilização do CUAD está
para pedestres, em todas as pontes
tados adiante.
aumentando em construções de in-
rodoviárias o CUAD foi utilizado ape-
A primeira ponte rodoviária, a
fraestrutura que exigem alta durabi-
nas nas ligações entre elementos
ponte do Condado de Wapello Mars
lidade com pouca manutenção.
pré-moldados. Nos EUA há pontes
Hill, foi concluída nos Estados Uni-
rodoviárias
utilizando
dos em 2006. O sistema estrutural
recente da utilização do CUAD está
CUAD para tabuleiros em laje ner-
da ponte usa várias vigas longitu-
disponível em Perry (2014) e é bre-
vurada em painéis pré-moldados,
dinais,
vemente resumida a seguir. Vários
vigas pré-moldadas e ligações.
como elementos únicos. A cons-
Uma visão geral sobre a história
construídas
totalmente
pré-fabricadas
casos de construção de pontes são
Neste artigo apresenta-se uma
trução dessa ponte e casos subse-
relatados. Todos contêm armaduras
breve história sobre o uso do CUAD
quentes foram facilitados e acelerados
50 | CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017
pela pesquisa iniciada em 2001 pelo
usando ligações moldadas no local
US Federal HighWay Administration
com uso do CUAD, com um número
(FHWA).
crescente a cada ano, no Canadá e
Com o aumento da resistência à
nos EUA.
3. CASO 1: COBERTURAS DA ESTAÇÃO DE TREM A cobertura da estação em forma
de concha foi concebida como uma
compressão e à tração do concreto,
Mais recentemente lajes nervu-
série de cascas pré-moldadas de 20
aumenta também a resistência de
radas pré-moldadas com CUAD fo-
mm de espessura, cada uma apoia-
aderênia entre o concreto e a arma-
ram introduzidas na construção de
da em uma única coluna, também
dura. Isto reduz o comprimento de
tabuleiros de ponte. O primeiro caso
pré-moldada. O desafio do projeto
ancoragem da armadura. Assim, o
de tabuleiro totalmente executado
da casca foi balancear a espessu-
comprimento de traspasse é também
em CUAD, com painéis de laje ner-
ra mínima requerida para facilitar a
reduzido,
facilitando ligações entre
vurada pré-moldados, que também
injeção do material num molde de
dois elementos de concreto pré-
usam ligações moldadas no local
seção fina, tendo em vista que uma
-moldado. Outra aplicação recente
em CUAD, é a ponte do Condado
espessura menor implicariamenor
é o uso do CUAD para concretagem
de Wapello em Iowa – EUA (2011).
peso e menos consumo de material.
no local de ligações entre elementos
Uma lista de aplicações do CUAD
O protótipo em escala de um
pré-moldados de ponte. Este uso
na América do Norte é apresentada
painel único (Figura 2) foi testado
foi investigado pelo Ministério dos
nas Tabelas 1a e 1b, adaptadas da
na Universidade de Calgary para as
Transportes de Ontário (MTO), com
publicação FHWA-HRT-13-060. Ca-
cargas ponderadas determinadas. A
o primeiro caso construído em Rainy
sos na Europa e Austrália também
cobertura resistiu a carga de neve
Lake – Canadá (2006). Desde então,
são
máxima e de transporte das pe-
mais de 70 pontes foram concluídas
mas não estão listados aqui.
apresentados
na referência,
ças sem dano. Ensaios dinâmicos
u Tabela 1a – Lista de aplicações do CUAD na América do Norte (publicação nº FHWA-HRT-13-060) Estados Unidos da América Mars Hill Bridge, Wapello County, IA
2006
Três vigas T de 45” de altura
Route 624 over Cat Point Creek, Richmond County, VA
2008
Cinco vigas T de 45” de altura
Jakway Park Bridge, Buchanan County, IA
2008
Três vigas PI de 33” de altura
State Route 31 over Canandaigua Outlet, Lyons, NY
2009
Ligações entre tabuleiros em painéis T
State Route 23 over Otego Creek, Oneonta, NY
2009
Ligações entre tabuleiros pré-moldados
Little Cedar Creek, Wapello County, IA
2011
Catorze lajes nervuradas pré-moldadas de 8” de altura
Fingerboard Road Bridge over Staten Island Expressway, NY
2012
Ligações entre tabuleiros em painéis T
State Route 248 over Bennett Creek, NY
2011
Ligações entre tabuleiros em painéis T
U.S. Route 30 over Burnt River and UPRR bridge, Oregon
2011
Ligações de conectores de cisalhamento e ligação entre painéis longitudinais
U.S. Route 6 over Keg Creek, Pottawatomie County, IA
2011
Ligações longitudinais e transversais entre vigas
Ramapo River Bridge, Sloatsburg, NY
2011
Ligações entre tabuleiros pré-moldados em laje nervurada
State Route 31 over Putnam Brook near Weedsport, NY
2012
Ligações entre tabuleiros pré-moldados em laje nervurada
State Route 42 Bridges (2) near Lexington, NY
2012
Ligações entre tabuleiros pré-moldados em laje nervurada e conectores de cisalhamento
I-690 Bridges (2) over Peat Street near Syracuse, NY
2012
Ligações entre tabuleiros pré-moldados em laje nervurada
I-690 Bridges (2) over Crouse Avenue near Syracuse, NY
2012
Ligações entre tabuleiros pré-moldados em laje nervurada
I-481 Bridge over Kirkville Road near Syracuse, NY
2012
Ligações entre tabuleiros pré-moldados em laje nervurada
Windham Bridge over BNSF Railroad on U.S. Route 87
2012
Ligações entre tabuleiros pré-moldados em laje nervurada e conectores de cisalhamento para vigas
CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017 | 51
u Tabela 1b – Lista de aplicações do CUAD na América do Norte (publicação nº FHWA-HRT-13-060) Canadá Sherbrooke Pedestrian Overpass, Quebec
1997
Treliça espacial protendida e pré-moldada
Highway 11 over CN Railway at Rainy Lake, Ontario
2006
Ligações entre tabuleiros pré-moldados em laje nervurada e conectores de cisalhamento
Glenmore/Legsby Pedestrian Bridge, Calgary
2007
Viga pré-moldada protendida em seção T
Highway 11/17, Sunshine Creek, Ontario
2007
Ligações laterais entre vigas e da ligação de calçada e peitoril pré-modado
Highway 17, Hawk Lake, Ontario
2008
Ligações laterais entre vigas e da ligação de calçada e peitoril pré-modado
Sanderling Drive Pedestrian Overpass, Calgary
2008
Viga pré-moldada em seção T
Highway 105 over Buller Creek, Ontario
2009
Ligações laterais entre vigas e da ligação de calçada e peitoril pré-modado
Highway 71 over Log River, Ontario
2009
Conectores de cisalhamento e as ligações de painéis
Route 17 over Eagle River, Ontario
2010
Ligações laterais entre vigas e da ligação de calçada e peitoril pré-modado
La Vallee River Bridge, Ontario
2010
Ligações laterais entre vigas e da ligação de calçada e peitoril pré-modado
Highway 105 over Wabigoon River, Ontario
2010
Ligações laterais entre vigas e da ligação de calçada e peitoril pré-modado
Highway 105 over the Chukuni River, Ontario
2010
Conectores de cisalhamento e as ligações de painéis
Highway 17, Ontario
2010
Conectores de cisalhamento e as ligações de painéis
Mathers Creek Bridge on Highway 71, Ontario
2010
Ligações laterais entre vigas
Noden Causeway on Highway 11, Ontario
2013
Ligações laterais entre vigas
Highway 17 over Current River, Ontario
2011
Ligação de calçada e peitoril pré-modado
Mackenzie River Bridges (2) on Highway 11/17, Ontario
2011
Conectores de cisalhamento e as ligações de painéis
Wabigoon River Bridge on Highway 605, Ontario
2011
Conectores de cisalhamento e as ligações de painéis
Whiteman Creek Bridge on Highway 24, Ontario
2011
Conectores de cisalhamento e ligações longitudinais e transversais entre painéis pré-moldados. Ligações entre estacas H e apoios laterais pré-moldados
Shashawanda Creek Bridge, Ontario
2011
Conectores de cisalhamento e ligações laterais entre vigas e da ligação de calçada e peitoril pré-modado
Hodder Ave Overpass over Highway 11/17, Ontario
2012
Ligações laterais entre vigas e da ligação de calçada e peitoril pré-modado
Hawkeye Creek Bridge on Highway 589, Ontario
2012
Ligações laterais entre vigas e da ligação de calçada e peitoril pré-modado
Hawkeye Creek Tributary Bridge on Highway 589, Ontario
2012
Ligações laterais entre vigas e da ligação de calçada e peitoril pré-modado
Black River Bridge on Highway 17, Ontario
2012
Ligações laterais entre vigas e da ligação de calçada e peitoril pré-modado
Beaver Creek Bridge on Highway 594, Ontario
2012
Ligações laterais entre vigas e da ligação de calçada e peitoril pré-modado
Middle Lake Bridge on Highway 17A, Ontario
2012
Ligação de calçada e peitoril pré-modado e lajes
Jackpine River Bridge on Highway 17, Ontario
2013
Ligações laterais entre vigas e da ligação de calçada e peitoril pré-modado
Bug River Bridge on Highway 105, Ontario
2013
Ligações laterais entre vigas e da ligação de calçada e peitoril pré-modado
Beaver Creek Bridge on Highway 17, Ontario
2013
Ligações laterais entre vigas e da ligação de calçada e peitoril pré-modado
Sturgeon River Bridge on Highway 11, Ontario
2013
Ligações laterais entre vigas e da ligação de calçada e peitoril pré-modado
Blackwater River Bridge on Highway 11, Ontario
2013
Ligações laterais entre vigas e da ligação de calçada e peitoril pré-modado
Nugget Creek Bridge on Highway 17, Ontario
2013
Ligações laterais entre vigas e da ligação de calçada e peitoril pré-modado
Little Wabigoon Bridge on Highway 17, Ontario
2013
Ligações laterais entre vigas e da ligação de calçada e peitoril pré-modado
Melgund Creek Bridge on Highway 17, Ontario
2013
Ligações laterais entre vigas e da ligação de calçada e peitoril pré-modado
McCauley Creek Bridge on Highway 11, Ontario
2013
Ligações laterais entre vigas e da ligação de calçada e peitoril pré-modado
Little Pic River Bridge on Highway 17, Ontario
2013
Conectores de cisalhamento e as ligações de painéis
Jackfish River Bridge on Highway 17, Ontario
2013
Conectores de cisalhamento e as ligações de painéis
Westminster Drive, Ontario
2014
Ligações longitudinais para conectar os módulos de superestrutura
52 | CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017
u Tabela 2 – Propriedades dos materiais Resultado Fibra de aço
Propriedade
u Figura 2 Protótipo da cobertura em escala real (Adeeb et al., 2005)
Concreto de ultra-alto desempenho – após tratamento térmico
Resultado
Porcentagem por volume, %
2,0
Diâmetro, mm
0,2
Comprimento nominal, mm
13
Resistência à tração, MPa
2.500
Módulo de elasticidade, MPa
205.000 #1: 222 ± 6
Resistência à compressão MPa
#2: 233 ± 5 #3: 234 ± 6
foram realizados para determinar a
Resistência à tração na primeira fissure – MPa
8
frequência de vibração natural, que
Densidade kN/m
25
resultou em valores menores previs-
Resistência à tração N/mm
3 2
30 to 50
tos por um estudo anterior em elementos finitos. Uma visão geral da
vel foram utilizadas como armadura
ponte na situação de serviço, com
cobertura da estação finalizada é
passiva redundante, reforçando o
carga variando entre 5 e 20% da
mostrada na Figura 3.
CUAD. Três seções de ponte foram
carga de fissuração. Na sequência,
construídas e testadas estatica e di-
outra série de um milhão de ciclos
4. CASO 2: PONTE PARA PEDESTRES
namicamente (fadiga) na Universida-
de carga foi realizada, com valores
de de Calgary (Figura 4). Uma das
variando entre 20 a 78% da carga
Uma viga pré-moldada de 33,6m
três seções foi construída sem qual-
de fissuração. Após esse dois mi-
em seção T para uma ponte para
quer reforço além das fibras. Todos
lhões de ciclos, nenhum crescimen-
pedestres foi construída em Calgary
os exemplares tiveram bom desem-
to na abertura de fissura foi medi-
em 2007. A ponte estende-se atra-
penho nos ensaios, apresentando
do. Um terceiro milhão de ciclo de
vés de 8 pistas de tráfego. A viga
o resultado intrigante da rigidez no
carga entre 30 e 128% da carga
tem 1,1 m de altura no meio do vão
exemplar sem qualquer barra de ar-
com tabuleiro de 3,6 m de largura e
madura ser maior do que a dos ou-
pesa cerca de 100 toneladas. Barras
tros exemplares ensaiados. Os des-
de fibra de vidro e de aço inoxidá-
locamentos medidos na seção sem barra de armadura foram cerca de 25% dos medidos nas seções com armaduras. A hipótese é que a presença de armadura pode ter alterado a orientação das fibras, reduzindo a rigidez na direção ensaiada. A Tabela 2 indica algumas características do CAUD utilizado nessa ponte. A seção sem armadura foi ensaiada a 3 milhões de ciclos de carregamento
e
descarregamen-
to. Inicialmente a peça foi carrega-
u Figura 3 Cobertura da estação após conclusão (Adeeb et al., 2005)
da até fissurar e submetida a um milhão de ciclos de carga na faixa de carregamento esperado para a
u Figura 4 Seção da ponte sendo ensaiada (Parsekian et al., 2008)
CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017 | 53
rodovia. Os detalhes do projeto são descritos em Endicott (2007). O sistema estrutural é composto de várias vigas longitudinais pré-fabricadas de 33,5 m de comprimento, executadas em CUAD, posicionadas lado a lado, com capa de concreto moldada no local for-
u Figura 5 Ponte para pedestre concluída (Parsekian et al., 2008)
mando o tabuleiro. As vigas foram protendidas com cabos de relaxação baixa. As únicas armaduras
u Figura 7 Casca pré-fabricada em CUAD como molde incorporado dos pilares (Murray et al., 2016)
passivas presentes são barras U de fissuração, levou a um pequeno
distribuídas ao longo do topo da
incorporadas, posteriormente pre-
incremento na abertura de fissura,
viga para a ligação com o tabuleiro
enchidas com concreto de alto de-
com uma redução de rigidez de 35%
moldado no local. Nenhum estribo
sempenho. A casca externa apro-
em relação à rigidez não fissurada.
de cisalhamento ou outro reforço
veita a baixa porosidade do CUAD,
Esses valores indicam bom compor-
passivo foi necessário. A Figura 6
a textura regular de superfície e sua
tamento do material contra fadiga,
mostra uma viga pré-fabricada an-
impermeabilidade para criar uma
especialmente com cargas menores
tes de seu posicionamento ao lado
camada protetora e estética para
que a de fissuração.
de outras vigas. Devido ao uso do
o concreto interno, melhoraran-
A viga pré-fabricada real foi também
concreto de ultra-alta resistência, a
do a estética e a durabilidade das
testada para cargas de serviço concên-
altura da seção I da viga foi redu-
colunas. Para manter a aparência
tricas e excêntricas antes de ser insta-
zida para aproximadamente 1,4m,
do tabuleiro como uma laje plana,
lada sobre a avenida. A Figura 5 mostra
com espessuras da alma e flanges
a viga conectando as três colunas
uma foto da ponte concluída.
variando entre 7 a 14 cm. Vigas em
centrais, que também sustentam
escala real foram também ensaiadas
as vigas longitunais da ponte, tinha
5. CASO 3: PONTE MARS HILL – PRIMEIRO CASO RODOVIÁRIO NOS EUA
na Iowa State University antes da
a altura limitado em projeto. Esse
construção.
elemento foi resolvido usando a alta
Essa ponte rural, concluída em 2005, é a primeira aplicação em
resistência à compressão do CUAD
6. CASO 4: PASSAGEM SUBTERRÂNEA AVE HODDER – ELEMENTOS PRÉ-MOLDADOS E LIGAÇÕES MOLDADAS NO LOCAL
em uma seção protendida T invertida (Figura 8). As ligações entre
Essa ponte longa de 67m foi também projetada com vigas pré-moldadas em concreto de ultra-alto desempenho, em dois vãos de 33,5m, com um apoio central, e foi concluída em 2013. O sistema aproveita de algumas propriedades
u Figura 6 Viga de CUAD pré-fabricado durante operação de posicionamento (Endicott, 2007)
do CUAD no projeto de vários elementos pré-moldados. Para construir as colunas centrais, cascas de CUAD pré-fabricado (Figura 7) foram concebidas como fôrmas
54 | CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017
u Figura 8 Viga T invertida protendida e pré-moldada em CUAD (Perry, 2013)
u Figura 9 Ligação de continuidade sobre apoio central (Murray et al., 2016)
u Figura 10 Parte central da ponte finalizada (Murray et al., 2016)
mente permitindo maiores vãos de
testes de 2012 (Perry, 2014). Não
pontes. O tabuleiro pré-moldado
foi observado nenhum sinal de fis-
em CUAD é projetado como a su-
suras, vazamentos, eflorescência,
os elementos pré-moldados tiram
perfície de rolamento real, criando
lixiviação ou manchas por corrosão.
proveito do fato de que o CUAD
uma plataforma de ponte muito du-
permite reduzido comprimento de
rável e de longa vida útil, com bai-
8. CONCLUSÃO
traspasse de armaduras
e, con-
xa manutenção. Uma das primeiras
O concreto de ultra-alto de-
reduzido com-
aplicações deste CUAD é a ponte
sempenho é um material com mais
primento da ligação, sendo feitas
do Condado de Wapello, em Iowa,
de 150 MPa de resistência à com-
com a concretagem no local utilizan-
EUA. O sistema estrutural con-
pressão e boa resistência à tração,
do CUAD. Essas ligações incluíam
siste de várias vigas longitudinais
permitindo seu uso em elementos
a continuidade ao longo do apoio
posicionadas lado a lado, com os
delgados e leves, a maioria deles
central (Figura 9), chaves de cisa-
tabuleiros de laje nervurada posi-
pré-moldados
lhamento conectando as vigas late-
cionados acima desses elementos
Sua alta resistência leva a um me-
ralmente e vários outros elementos,
pré-moldados. As ligações entre o
nor comprimento de traspasse de
como a calçada e parapeito. Figura
tabuleiro e as vigas de apoio são
armadura, possiblitando o uso do
10 é uma fotografia mostrando o ele-
feitas por meio de nichos de cisa-
material para concretagem no local
mento central da ponte finalizado.
lhamento, posicionados no tabulei-
de ligações, com a vantagem de
sequentemente,
e/ou
protendidos.
ro pré-moldado, que são concreta-
7. CASO 5: PONTE WAPELLO EM IOWA – TABULEIRO PRÉ-MOLDADO EM LAJE NERVURADA
dos no local com o CUAD após a
Recentemente, foi introduzido
moldado no local, semelhante ao
no sistema construtivo de pontes o
apresentado na Figura 9. Ensaio
uso de CUAD em lajes nervuradas
experimental foi realizado na Iowa
pré-moldadas, formando o tabu-
State University antes da conclusão
leiro. De acordo com o relatório de
da construção em 2011. A ponte
FHWA-HRT-13-032, esse tipo de
posteriormente foi inspeccionada
elemento pode reduzir o peso do
várias vezes. A Figura 11 mostra
tabuleiro entre 30 a 40%, reduzin-
fotografias da ponte real e do en-
do cargas de fundação e potencial-
saio de penetração de água em
montagem. As ligações de painel para painel sobre o apoio central também são executadas em CUAD
u Figura 11 Tabuleiro em laje nervurada pré-moldada em CUAD do Condado de Wapello, com teste de penetração de água (Perry, 2014)
CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017 | 55
reduzir o comprimento da ligação.
tenção. Neste trabalho foram mos-
incorporado para pilar de ponte,
Sua baixa porosidade e permeabi-
trados alguns casos recentes de
que serve como camada protetora
lidade aumenta a sua durabilidade,
aplicações inovadoras do material,
e estética, tabuleiros pré-moldados
tornando seu uso apropriado em
incluindo: elementos prefabricados
de pontes em laje nervurada e vários
estruturas que exigem longa durabi-
leves, vários casos de vigas de pon-
tipos de ligações com concretagem
lidade e vida útil, com baixa manu-
te, casca pré-moldada como molde
no local.
u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] ACI 239 Committee in Ultra-High Performance Concrete, “Minutes of Committee Meeting, October 2012”, ACI Conference, Toronto, Ontario, Canada. [2] Adeeb, S.M., Scholefield, B.W.J., Brown, T.G., Shrive, N.G., Kroman, J., Perry, V.H., and Tadros, G. 2005. Modelling, Testing, and Construction of the First Ductal® Canopy in the World. Canadian Journal of Civil Engineering, Canada, V.32, n 6, December, 2005, p 1152-1165. [3] Endicott, W.A. A whole new cast. ASPIRE, Summer 2007, p 26-34. [4] Murray, P.; Rajlic, B.; Burak, R. Hodder Avenue Underpass – Innovative use of Ultra-High Performance Concrete for Rapid Bridge Construction. Hatch presentation. 2016. [5] Parsekian, G. A.; Shrive, N.G. ; Brown, T.G. ; Seibert, P. J. ; Perry, V. ; Boucher, A. Innovative ultra-high performance concrete structures. In: International FIB Symposium, 2008, Amsterdam. Proceedings do the International FIB Symposium 2008. Londres: Taylor & Francis Group, 2008. v. 1. p. 325-330. [6] Perry, V. Hodder Avenue Underpass. Canadian Civil Engineer. 2013. [7] Perry, V.H. 2014. AN EIGHT YEAR REVIEW OF FIELD-CAST UHPC CONNECTIONS FOR PRECAST CONCRETE BRIDGE ELEMENTS & ABC. 9th International Conference on Short and Medium Span Bridges. Calgary, Alberta, Canada, July 15-18, 2014 [8] Publication No. FHWA-HIF-13-032, Washington, DC, USA, June 2013. “Design Guide for Precast UHPC Waffle Deck Panel System, including Connections”. [9] Publication No. FHWA-HRT-13-060, Washington, DC, USA, June 2013. “Ultra-High Performance Concrete: A State-of-the-Art Report for the Bridge Community”.
56 | CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017
u estruturas encontros eem notícias detalhes | CURSOS
A utilização de UHPC em obras no Brasil RODRIGO MENEGAZ MULLER – M.Sc.– Head of Ductal® Latina América
PAULO KOELLE – Diretor
LafargeHolcim
CLAUDIO NASCIMENTO ALMEIDA – Gestor de Desenvolvimento Stone Pré-fabricados
te superiores aos convencionais,
genharia Civil (AFGC/SETRA), em
Concretos
apresentam outras características
2002, foi a primeira a definir este
de Ultra-Alto Desempenho
importantíssimas para os projetos
tipo de material como um material
(UHPC/CUAD) ou Concre-
atuais, como: elevada durabilidade,
cimentício com resistências à com-
ductilidade e sustentabilidade.
pressão acima de 150 MPa (chegan-
1. INTRODUÇÃO
A
utilização
de
tos de Ultra-Alto Desempenho Reforçado com Fibras (UHPFRC) começam a
Sua utilização remonta ao desenvol-
do a resistências acima de 250MPa).
se destacar mundialmente, através de
vimento tecnológico pelo qual passa-
A adição de fibras metálicas garante
suas utilizações em diversas obras de
ram os materiais de construção no final
seu comportamento dúctil quando
construção civil, ganhando destaque as
do século 20. E algumas empresas de-
tracionado e pode dispensar a ne-
utilizações na Europa (principalmente
senvolveram comercialmente esse ma-
cessidade de armadura passiva. O
França, Alemanha e Suíça), no Japão e
terial para o mercado consumidor. Um
UHPC pode também conter fibras
nos Estados Unidos.
exemplo é o Ductal®, desenvolvido e
poliméricas. Atualmente,
encontra-se
no
O UHPC (ou UHPFRC) é um
patenteado pela cimenteira LafargeHol-
material inovador e que oferece
cim e comercializado globalmente com
mercado fórmulas disponíveis co-
novas oportunidades de utilização
esta marca, inclusive no Brasil.
mercialmente com resistências à compressão superiores a 200 MPa
do concreto dentro das obras de além de possuírem resistências à
Resistência à compressão (MPa)
compressão e à flexão extremamen-
2. CARACTERÍSTICAS MECÂNICAS E DURABILIDADE
e resistência à tração acima de
A Associação Francesa de En-
me mostrado na Figura 1.
35MPa (www.ductal.com), confor-
Resistência à tração (MPa)
construção civil. Esses concretos,
Deslocamento em micrômetros
u Figura 1 Resistência à compressão e à tração do UHPC Ductal® (www.ductal.com)
CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017 | 57
Podem-se encontrar comercialmente diferentes formulações de UHPC, nas quais, além da variação
u Tabela 1 – Classes de resistência à compressão e à flexão, e densidade (www.ductal.com)
do comportamento mecânico, tam-
Resistência à compressão – MPa
bém se pode variar o tipo de fibra utilizada. O uso de diferentes tipos de fibras depende da utilização final
Fibras poliméricas
Fibras metálicas
Fibras de polipropileno
120 – 140
150 – 200
120 – 180
Resistência à flexão – MPa
do produto, seja arquitetônico (onde as peças de UHPC ficam expostas
Fibras poliméricas
Fibras metálicas
Fibras de polipropileno
às intempéries e esteticamente não
10 – 20
15 – 30
10 – 20
Densidade – kg/m³
devem apresentar manchas superficiais devido à corrosão), seja es-
Fibras poliméricas
Fibras metálicas
Fibras de polipropileno
trutural. Os tipos de fibras mais co-
2350
2500
2350 – 2500
mumente utilizadas são: microfibras metálicas e microfibras poliméricas
um terceiro de estrutura metálica
sempenho é extremamente superior
(ou orgânicas). Outro tipo de fibra
e o quarto de UHPC.
Observa-se
quando expostos a diferentes tipos
utilizada são as de polipropileno,
visualmente a diferença de esbeltez
de agressões, sejam elas: ação de
que visam a redução de fissuras de
entre as estruturas e de peso por
gelo e degelo, carbonatação, ata-
retração e a proteção ao fogo. Na
metro linear.
ques químicos, abrasão, ação de
Tabela 1, apresentam-se as classes
A diferença existente entre a viga
de resistência à compressão e à fle-
de concreto armado e da viga de
A ação de íons cloretos pode cau-
xão versus o tipo de fibra utilizada.
íons cloretos entre outros.
UHPC chega a mais de 70% de seu
sar diversas consequências às estru-
Devido às elevadas resistências
peso por metro linear. Quando com-
turas de concreto. Nesse sentido, a
dos UHPC, eles possuem um ex-
parado a uma estrutura de metálica,
baixa relação água/cimento utilizada
celente potencial para a mudança
o UHPC possui 20% a mais de peso
nos UHPC, aliado a estudo granulo-
de paradigmas de uso do concre-
por metro linear.
métrico adequado e de empacota-
to, como na confecção de elemen-
Quanto se trata da durabilida-
mento dos grãos, conferem a esses
tos extremamente esbeltos quando
de oferecida pelos UHPC, seu de-
uma baixíssima permeabilidade e a
comparados à utilização de concretos convencionais. Entretanto, novas diretrizes de projeto fazem-se necessárias, não apenas levando em conta seu potencial de redução de espessura e peso das estruturas, mas também sua elevada durabilidade. Alguns autores colocam os UHPC entre o concreto convencional e o aço, onde se deve repensar as formas e metodologias de cálculo. Uma forma de expressar as diferenças de esbeltez e peso que podem ser obtidas apresenta-se na Figura 2, para um mesmo carregamento, quatro perfis estruturais, sendo um de concreto convencio-
u Figura 2 Comparação de elementos estruturais – peso (kg)/metro linear
nal, outro de concreto protendido, 58 | CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017
congelamento e descongelamento, e choque de ondas do mar. Após 15 anos de exposição e mais de 1.500 ciclos de congelamento e descongelamento, 10.500 ciclos de saturação e secagem, não houve evidência de deterioração ou degradação de propriedades mecânicas. A profundidade de penetração de cloretos foi muito menor que a observada para concretos convencionais ou de alto desempenho típicos no mesmo ambiente. Também não foram observadas corrosões nas barras de aço em barras de UHPC com 10 mm de
u Figura 3 Comparação entre a porosidade e diâmetro dos poros em concretos UHPC (Ductal), HPR (concreto de alta performance) e OC (concretos convencionais (www.ductal.com)
cobrimento. A Figura 5 mostra prismas de UHPC submetidos ao teste e o local do experimento.
formação de poros não conectados,
mente superior quando comparado
com 80% destes abaixo de 2 µm de
com dois concretos, um de 60 MPa
diâmetro, frente aos concretos con-
e outro de 25 MPa (Figura 4).
3. APLICAÇÕES ARQUITETÔNICAS Devido aos resultados apresentados
anteriormente,
os
UHPCs
vencionais, onde os poros são tidos
Conforme o relatório da FHWA-
estão sendo amplamente utilizados
como conectados e com 80% destes
-HRT-13-060, três series de UHPC
para criações arquitetônicas e de
sendo superiores a 200 µm de diâme-
foram colocadas em um local de ex-
design diferenciado, pois propiciam
tro, conforme mostrado na Figura 3.
posição marinha na Ilha Treat/EUA.
uma grande liberdade de criação
O desempenho do UHPC à pe-
As condições de exposição incluíam:
para os arquitetos e designers.
netração de íons cloretos é nitida-
variação da maré (6 m), ciclos de
O material permite reproduzir texturas com precisão, devido a granulometria utilizada, e podendo ser pigmentado, dando liberdade para as diversas criações, mantendo seu aspecto mineral e suas performances. Alguns exemplos de aplicações são: u Painéis de fachada; u Brises; u Marquises u Fachadas perfuradas; u Coberturas leves; u Cobogós.
Na Figura 6, apresentam-se al-
u Figura 4 Comparação entre o UHPC Ductal® e dois tipos de concreto convencionais B60 (60 MPa) e B25 (25 MPa) (www.ductal.com)
gumas obras de renome mundial realizadas com a utilização do UHPC (www.ductal.com). Além de novas formas, curvas e CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017 | 59
esbeltez proporcionada às criações arquitetônicas, outro nicho bastante difundido de utilização são os mobiliários, tanto urbanos quanto residenciais. Pois, a utilização do UHPC proporciona a criação de elementos extremamente delgados e a possibilidade da realização de estruturas antes não concebíveis com os concretos
convencionais.
Podem-se
observar alguns elementos realizados com o UHPC na Figura 7.
u Figura 5 Local dos testes na Ilha Treat e os prismas de UHPC (www.ductal.com)
4. APLICAÇÕES ESTRUTURAIS Dadas às suas características e
trução de pontes. Até o momento
utilizado principalmente a marca co-
seu desempenho, o UHPC pode ser
já foram recuperadas mais de 200
mercial Ductal® pela Stone Pré-Fa-
utilizado em uma diversa gama de
pontes utilizando a tecnologia do
bricados Arquitetônicos, atualmente
aplicações estruturais, como:
UHPC. A Figura 8 apresenta a re-
a única empresa licenciada na Amé-
u Pontes e viadutos;
cuperação de duas pontes nos EUA
rica Latina pela LafargeHolcim, de-
u Barragens;
utilizando o UHPC.
tentora mundial da patente Ductal®.
u Torres eólicas; u Túneis;
5. OBRAS REALIZADAS NO BRASIL
u Pré moldados.
Atualmente, no Brasil, iniciou-se a
u Reforço de estruturas;
Em termos de construção, os ele-
utilização de concretos UHPC, sendo
5.1 Ministério das Relações Exteriores No ano de 2016 foi realizada a
mentos pré-moldados permitem que a montagem na obra seja mais simples em relação à construção tradicional, além de exigir menores equipamentos para a sua execução, devido às suas estruturas leves, com redução de volume de concreto empregado. Um dos exemplos de grande utilização em obras de infraestrutura do MuCEM – Museu das Civilizações Mediterrâneas (Marselha/França) – Arq. Rudy Ricciotti
UHPC vem dos EUA. A utilização para a execução de pontes remonta ao final dos anos 90. Com o objetivo de recuperar as suas pontes - segundo relatos da FHWA (Federal Highway Administration) mais de 30% das pontes norte-americanas apresentam problemas estruturais e necessitam
Hotel Residencial Nakara – França
de manutenção - e visando aumentar sua vida útil para mais de 100 anos, os EUA lançaram um grande programa de reabilitação e recons-
Estádio Jean Bouin França – Arq. Rudy Ricciotti
u Figura 6 Exemplos de aplicações arquitetônicas (www.ductal.com)
60 | CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017
redução de aproximadamente 1/3 do peso, caso o painel fosse realizado em concretos convencionais, ou seja, proporcionou uma redução de aproximadamente 7 toneladas. Devido a essa redução, não foi necessário reforço estrutural da fachada. Bancos em New York, EUA
Além da redução de peso na es-
Parada de ônibus nos EUA
trutura, sua montagem foi facilitada com uso de equipamentos mais leves e convencionais para a execução da obra, ponto importante devido à localização da obra. A Figura 9 mostra algumas fotos da fachada do escritório do Ministério das Relações Exteriores.
Escada Zaha Hadid
5.2 Casa Japão
u Figura 7 Utilização de UHPC em mobiliários (www.ductal.com)
No ano de 2017, como parte de uma iniciativa do governo japonês, foi inaugurada a Casa Japão em um
primeira obra no Brasil com a utilização
de um elemento arquitetônico va-
dos principais endereços do Brasil,
do UHPC com a tecnologia Ductal®.
zado, com aproximadamente 40%
a Avenida Paulista, em São Paulo.
O projeto idealizado pelo Escritório de
de vazios, e composto por 8 placas
O projeto é assinado pelo arquite-
Arquitetura FGMF, dos arquitetos Lou-
medindo cada uma 2,5 metros de
to japonês Kengo Kuma, responsá-
renço Gimenez, Fernando Forte e Ro-
comprimento por 4,5 metros de al-
vel também pelo projeto do estádio
drigo Marcondez Ferraz. Os arquitetos
tura, com espessura média de 3 cm.
olímpico do Japão, e pelo escritó-
necessitavam compor a fachada do
O resultado foi um painel arquite-
rio de Arquitetura FGMF. O painel
prédio, que não poderia receber carre-
tônico de fachada de 10 metros de
arquitetônico da fachada foi conce-
gamentos excessivos, pois se tratava
comprimento por 9 metros de altura,
bido em elemento vazado, com 50%
de uma revitalização do edifício.
ou seja, 90 m².
de vazios, possibilitando destaque
O UHPC proporcionou a criação
A
solução
proporcionou
uma
a casa no intenso ambiente urbano que está inserida. O painel de 116 m² foi composto por 220 placas sobrepostas, cada placa medindo 0,70 metros por 0,80 metros, com espessura média de 2 cm. A utilização do UHPC foi a escolhida por proporcionar a execução do design desenvolvido pelos arquitetos, antes apenas proporcionado
Ponte Gen. Pulaski Skyway – Nova Jersey
Ponte do Rio Nipigon – Ontário
u Figura 8 Exemplos de algumas obras de pontes realizadas com UHPC (www.ductal.com)
com uso de placas de aço cortadas a lazer. Além disso, o UHPC utilizado para a execução foi desenvolvido na cor branca, sem a utilização de pigmentos ou pinturas externas. CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017 | 61
Os arquitetos solicitaram que o painel, além de possuir uma durabilidade às intempéries, também proporcionasse a sensação de um elemento rígido, porém delicado. O UHPC escolhido para esta execução foi o Ductal® Branco com fibras polimérica, com 120 MPa de resistência à compressão. As fibras poliméricas foram utilizadas com o intuito de evitar a formação de corrosão nas fibras que ficam em contato com a superfície e, por consequência, pudessem manchar os painéis.
6. COMENTÁRIOS FINAIS A
utilização
de
concretos
de
ultra-alto desempenho já é uma realidade na indústria da construção civil brasileira e deve-se passar a analisar sua utilização com outros olhos. Com
u Figura 9 Ministério das Relações Exteriores (São Paulo)
a inovação constante por que passa o mercado, onde a redução de cus-
mais na elaboração de normas técni-
materiais quanto do dimensionamen-
tos globais de um empreendimento é
cas nacionais para acelerar o desen-
to de estruturas, centros de análise e
cada vez mais importante, o UHPC co-
volvimento e a utilização do UHPC,
comprovação da eficácia de sua utili-
meça a ganhar um mercado anterior-
criando no meio acadêmico, técnico
zação, como já é realizado em diver-
mente intransponível devido ao custo
e profissional, tanto da tecnologia dos
sos países mundialmente.
inicial do produto, pois a comercialização e a fabricação em escala nacional começam a ser uma realidade. Ligado a esses, outros itens relevantes que irão facilitar a introdução do UHPC em nosso mercado são os de sustentabilidade e durabilidade das estruturas, vistos anteriormente não como valores, mas sim medidos como custos, que passam a compor uma análise fundamental dentro da engenharia das construções. Ainda devemos nos aprofundar
u Figura 10 Casa Japão (São Paulo)
u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] AFGC/SETRA – Association Française de Génie Civil (Associação Francesa de Engenharia Civil) e Service d´etudes techniques. [2] FHWA-HRT-13-060 - Ultra-High Performance Concrete: A State-of-the-Art Report for the Bridge Community – EUA, 2013. [3] ____www.ductal.com.
62 | CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017
u estruturas em detalhes
Práticas para qualificação de macrofibra no concreto ROBERTO DAKUZAKU
DENER ALTHEMAN
ADRIANA FALCOCHIO RIVERA
Leonardi Construção Industrializada
S. Takashima Consultoria e Assessoria
concreto pré-moldado para o revesti-
tituirá, no término da concretagem, em
emprego de concreto refor-
mento de túnel escavado por máquina
uma peça única com mais de 500m de
çado com fibras (CRF) vem
tuneladora (TBM) nas obras de metrô
comprimento médio.
tendo avanços significativos
da Linha 5 Lilás do Metrô de São Paulo
No revestimento de túneis do Porto
na engenharia nacional. Com isso, torna-
e da Linha 4 Sul do Metrô do Rio de Ja-
Maravilha, o concreto reforçado com
-se necessário avançar nas práticas de
neiro e, mais recentemente, está sendo
macrofibra polimérica substituiu as ar-
seu desenvolvimento e controle para di-
aplicado na concretagem do túnel de
maduras no concreto moldado do re-
versas aplicações. Além da trivial aplica-
blindagem do acelerador de partícula
vestimento secundário e as fibras metá-
ção em pisos, há maior demanda para
do Projeto Sirius do Centro Nacional de
licas no concreto projetado aplicado no
aplicações no sistema de paredes de
Pesquisa em Energia e Materiais do Mi-
revestimento primário (Figuras 1 e 2).
concreto, revestimentos de túneis (como
nistério de Ciência, Tecnologia, Inova-
Na fabricação dos segmentos de
revestimento primário projetado e revesti-
ções e Comunicações (CNPEM-MCT),
concreto pré-moldados armados para
mento secundário moldado) e elementos
em Campinas, interior de São Paulo.
revestimento dos túneis do metrô, a
1. INTRODUÇÃO
O
estruturais de maior volumetria, como pi-
Esta obra, executada pela Racional
finalidade de reforçar o concreto foi
sos especiais e paredes e lajes espessas.
Engenharia, conta com túnel de blin-
de minimizar a quebra de cantos das
O CRF com função estrutural foi
dagem sobre piso monolítico de 0,90
peças, durante o manuseio na fabrica-
executado em trechos dos túneis ro-
m de espessura de concreto armado
ção, e a fissuração em trechos curvos,
doviários das obras de revitalização da
reforçado com fibras, sendo suas pa-
durante a colocação dos segmentos
Área de Especial Interesse Urbanístico
redes e coberturas espessas também
pela tuneladora.
(AEIU) da Região Portuária da Cidade
em CRF, com espessura variável entre
No túnel de blindagem do acelerador
do Rio de Janeiro (Porto Maravilha),
0,80 m e 1,50 m. O túnel será constru-
de partícula do Projeto Sirius, o uso da
usado na fabricação de segmentos de
ído sem juntas de dilatação e se cons-
u Figuras 1 e 2 Concretagem de revestimento secundário de túnel com traço de concreto bombeável reforçado com macrofibra polimérica em obra do Porto Maravilha.
u Figura 3 Piso especial do Projeto Sirius – CNPEM (Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais) / Racional
CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017 | 63
macrofibra polimérica foi para minimizar
análise dos boletins técnicos de cada
prego em substituição ao emprego das
a fissuração por retração do concreto
produto e fabricante. São avaliadas
fibras metálicas e das armaduras, nos
aplicado nas concretagens do piso es-
comparativamente as características e
casos em que a fibra tem função es-
pecial (Figura 3), das paredes e cober-
propriedades da macrofibra. Fator de
trutural. O emprego de uma fibra não
tura do túnel. Estudos térmicos dos tra-
forma, números de fibras por unidade
durável diminuirá a vida útil da estru-
ços de CRF refrigerado com gelo foram
de massa (n/kg) e dosagem típica para
tura. Outras finalidades, como minimi-
previamente realizados e indicaram que
atendimento a taxa de tenacidade ne-
zar a fissuração causada pela retração
a fissuração de retração térmica teria mí-
cessária são pontos impactantes para
do concreto endurecido e aumentar a
nimas chances de ocorrer.
avaliar em teoria a trabalhabilidade e a
resistência ao impacto causador de
adequabilidade do compósito (CRF). A
quebra de bordas em elementos pré-
2. PROCEDIMENTO EXECUTIVO
Tabela 1 demonstra a variabilidade de
-moldados, são também avaliadas
O procedimento desenvolvido para
algumas fibras disponíveis no mercado.
nesta etapa de qualificação.
estudar, adequar às necessidades (de
O procedimento para avaliar a du-
2.2 Ensaios de durabilidade para qualificação da macrofibra
projeto e execução) e aprovar os traços de CRF são descritos a seguir.
rabilidade em meio alcalino e as características das macrofibras poliméricas, confrontando resultados de ensaios
2.1 Qualificação das macrofibras
Conhecer a qualidade da macrofi-
com as informações dos boletins técni-
bra sintética é fundamental para apro-
cos do fabricante e especificações dis-
A qualificação das macrofibras co-
var e qualificar o produto, bem como
poníveis, tem sido executado conforme
meça pela seleção de fornecedores e
para verificar a viabilidade de seu em-
as metodologias:
u Tabela 1 – Quadro comparativo entre tipos de fibras trivialmente disponível no mercado nacional Características
MF 1
MF 2
MF 3
MF 4
MF 5
Composição
Copolimero de polipropileno
Polipropileno Polietileno
Polipropileno
Polipropileno
Vidro álcali resistente
Densidade (g/cm³)
0,90 a 0,92
0,92
0,90 a 0,92
–
2,68
Número de fibras por kg (un)
37.000
–
> 31.000
330.000
–
Comprimento da fibra (mm)
54
51
45
54
36
Fator de Forma
–
74
–
–
67
Fio
Rigído, monofilamento
Flexível, fibrilado
Misto rigído e flexível
Flexível, fibrilado
Rigído
Resistência à Tração (MPa)
640
600 a 650
> 600
600 a 650
1700
Módulo de Elasticidade (GPa)
10
9,5
>7
7
67
Ponto de amolecimento (°C)
159 a 179
130
165
–
860
Ponto de ignição
> 450°C
330°C
> 550°C
–
–
Absorção de água
–
Desprezível
Nula
–
Nenhuma demanda adicional de água
Resistência aos álcalis e ácidos
Resistente
Excelente
Alta
100% resistente
Muito alta
Cor
Branca
Branca
Cinza e branca
Cinza
Branca
Dosagem típica (kg/m³)
4 a6
1,8 a 1
2a6
–
5 a 15
64 | CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017
u Figura 4 Amostra nº 1 de macrofibra polimérica u ANAPRE CF 001/2011 – Revisão 1 –
03/09/2012 – Macrofibras Sintéticas para Pisos Industriais – Especificações; u C-001-QS / 02 – Identificação Quími-
ca por Infravermelho – Procedimento interno do laboratório de ensaio;
u Figura 5 Amostra nº 1 - Resultado do ensaio de absorção por infravermelho (especificação ANAPRE CF 001/2011) da amostra considerada não conforme em função de composição diferente da especificada
u ASTM E 2550:2011 – Standard
Test Method for Thermal Stability by Thermogravimetry;
u ASTM D 3418:2012e1 – Standard
peratures and Enthalpies of Fusion
Test Method for Transition Tem-
and Crystallization of Polymers by
u Tabela 2 – Amostra nº 1 - Resultado de ensaios de qualificação das caracteristicas físicas e mecânicas, com valores não conformes aos especificados
Características
Resultado obtido
Especificação Boletim técnico
ANAPRE CF 001/2011
Comprimento unitário (mm)
48,36 com variação de 1,52%
50
Superior a 40, com tolerância de ± 5%, não sendo tolerado desvio superior a 5% do comprimento declarado
Diametro equivalente (mm)
0,61mm com variação de 26,29%
0,75
Superior a 0,3, com tolerância de ± 50%, não sendo tolerado desvio superior a 50% do declarado
Durabilidade – resistência química a álcalis, perda de massa (%)
64
–
Máximo 2,0
Forma da fibra – Avaliação visual
Material homogêneo
–
Não há restrições, porém devem ter aspecto homogêneo
Propriedades térmicas – Temperatura de transição vítrea (°C)
Não determinado
–
–
Propriedades térmicas – Temperatura de decomposição (°C)
Não determinado
–
–
Propriedades térmicas – Ponto de amolecimento (°C)
104,3
165
–
Propriedades térmicas – Ponto de ignição (°C)
437,39
> 550
–
CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017 | 65
u Tabela 3 – Amostra nº 2 - Resultado de ensaios de qualificação das caracteristicas físicas e mecânicas, com valores conformes aos especificados
Características
Resultado obtido
Especificação Boletim técnico
ANAPRE CF 001/2011
Comprimento unitário (mm)
52,58 com variação de 14,89%
54
Superior a 40, com tolerância de ± 5%, não sendo tolerado desvio superior a 5% do comprimento declarado
Diametro equivalente (mm)
0,80mm com variação de 9,26%
–
Superior a 0,3, com tolerância de ± 50%, não sendo tolerado desvio superior a 50% do declarado
Durabilidade – resistência química a álcalis, perda de massa (%)
0,16
–
Máximo 2,0
Forma da fibra – Avaliação visual
Material homogêneo
–
Não há restrições, porém devem ter aspecto homogêneo
Propriedades térmicas – Temperatura de transição vítrea (°C)
Não determinado
–
–
Propriedades térmicas – Temperatura de decomposição (°C)
Não determinado
–
–
Propriedades térmicas – Ponto de amolecimento (°C)
119,6
159 a 179
–
Propriedades térmicas – Ponto de ignição (°C)
450,1
450
–
Differential Scanning Calorimetry.
para estudar traços de CRF segue me-
gião da obra. Esses são submetidos a
Exemplos de resultados encontrados
todologias de rotina para a definição e
ensaios de caracterização para avaliar
nos ensaios realizados são apresentados
escolha dos materiais disponíveis na re-
suas propriedades físicas e químicas,
nas figuras 4 a 7 e nas Tabelas 2 e 3.
2.3 Estudos de traços de CRF no processo de qualificação da macrofibra O procedimento em laboratório
u Figura 6 Amostra nº 2 de macrofibra polimérica
u Figura 7 Amostra nº 2 - resultado do ensaio de absorção por infravermelho (especificação ANAPRE CF 001/2011) da amostra conforme a especificação
66 | CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017
como sendo a última etapa do preparo do concreto (as premissas para validação em laboratório são descritas na ABNT NBR 12821:2009), para evitar a formação dos ninhos de fibras, conhecidos como “ouriços” (Figuras 8 e 9). Em laboratório, na qualificação da macrofibra, a formação dos ouriços no processo de mistura é um dos requisitos para desqualificar a fibra. A não observação desse requisito fará com que haja problemas durante a mistura e o bombeamento, ou patologia no concreto adensado. Outro requisito importante para aprovação da fibra é o do concreto fresco atender à trabalhabilidade na faixa especificada, sem segregar ou exsudar (Figura 10). Ajustes do teor de argamassa e adequação da faixa
u Figuras 8 e 9 Ninhos de macrofibras conhecidos como “ouriços”
de agregados graúdos são necessários para adequar o CRF (Figura 11).
incluindo ensaios de reatividade poten-
longa manutenção de trabalhabilidade,
cial entre álcali e agregados, desenha-
desde o início da mistura na central até
dos para verificar o atendimento aos
o termino do lançamento, e às resis-
requisitos de durabilidade e às especifi-
tências especificadas para cada etapa
cações de projeto, bem como, à boa e
construtiva. A adição das macrofibras em laboratório e na central sempre foi realizada
u Figura 10 Segregação no concreto CRF
u Figura 11 Abatimento do traço de concreto convencional reforçado com 6 kg/m³ de macrofibra polimérica, com fio monofilamento rígido, lançado no revestimento secundário de túnel no Porto Maravilha
u Figura 12 Abatimento do traço de concreto convencional reforçado com 4 kg/m³ de macrofibra polimérica, com fio monofilamento fibrelado flexível, aplicado no piso especial da obra Projeto Sirius – CNPEM/RACIONAL
CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017 | 67
Fibra D
O objetivo da inspeção visual é avaliar se há cobrimento adequado pela fração fina (argamassa) das fibras, ou ainda o ajuste na composição dos aditivos para regular o efeito de dispersão, sob
Fibra C
Fibra B
Fibra A
adequada coesão da pasta, na mistura. Outro ponto relevante é como o aspecto reológico é impactado pela adição de macrofibras. É de amplo conhecimento técnico que a estruturação
u Figura 13 Exemplo de diversos tipos de macrofibras utilizadas no desenvolvimento do CRF
em compósito alterando sua matriz faz com que a trabalhabilidade seja prejudicada. E, assim, no uso do trivial ensaio de abatimento (cone de Abrams), realizado pela ABNT NBR NM 67:1998, a trabalhabilidade é medida sob a tensão de escoamento do material sob peso próprio. As fibras promovem travamento dos agregados, reduzindo assim a medida do abatimento do cone (recalque). Tem-se então como fatores
Sem fibra 240 mm
influentes a quantidade de fibras por metro cúbico, a rugosidade da fibra,
Fibra A 70 mm
Fibra B 230 mm
seu índice de forma, etc., sendo estritamente necessária a validação em dosagem experimental. Durante os estudos de dosagem de concreto projetado reforçado com
Fibra C 175 mm
6 kg/m³ de macrofibra polimérica, para
Fibra D 195 mm
revestimento primário de túneis na obra de duplicação da rodovia Tamoios (SP 099), no interior de São Paulo, foi avaliada a influência na trabalhabilidade do
u Figura 14 Influência do tipo de macrofibra com mesmas dosagens na trabalhabilidade do CRF
concreto fresco de cinco diferentes fibras de fornecedores distintos. As Figuras 13 e 14 demonstram os tipos de fibras e os resultados de abatimento com a adição dessas fibras em concreto sem fibras com 240 mm de abatimento. A influência da macrofibra estrutural de vidro tem demonstrado menor impacto na trabalhabilidade do concreto (Figuras 15 e 16), sendo possível do-
Slump flow 600 mm e 7 kg/m³
Slump 220 mm e 10 kg/m³
sar traços de concreto autoadensável, com espalhamento classe SF II (ABNT NBR 15823-Partes 1 e 2:2010), e
u Figuras 15 e 16 Impacto do teor de fibras de vidro estrutural em concreto de alta trabalhabilidade
68 | CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017
timento do cone de Abrams. Há ainda a opção da mesa de Graff (flow table concrete), que prevê o espalhamento do cone modificado sob a ação de 15 golpes de 5 cm de queda. O uso deste método tem sido difundido nos países que empregam as normas EN, pois pode prover maior adequabilidade com a inserção de dada energia.
u Figura 17 Curvas de manutenção da trabalhabilidade do concreto fresco reforçado com 6 kg/m³ de macrofibra polimérica obtidas nos ensaios de qualificação de aditivos
2.5 Ensaios de desempenho mecânico Nos projetos onde o concreto re-
traços fluidos, com abatimento S220,
dem ocorrer grande variações de de-
forçado com macrofibra tem função
adicionando maiores consumos de fi-
sempenho (Figura 17). Atribui-se ao
estrutural, as moldagens, em labora-
bras por m³.
desempenho e compatibilidade do
tório e na obra, de corpos de prova
aditivo no concreto a obtenção de
cilíndricos e prismáticos têm sido em
boa trabalhabilidade, sem segregar,
mesa vibratória (Figura 18), confor-
sem exsudar, para ser bem lançado
me procedimento japonês JSCE-SF
e adensado.
2 – Method of making specimens for
2.4 Desenvolvimento de aditivos A preferência pelo tipo de aditivo
strength and toughness tests of steel
empregado nesses concretos tem
Embora as normas internacionais
sido pelo uso exclusivo do super-
e alguns especialistas recomendem
plastificante à base de éter policar-
para ensaiar a trabalhabilidade do
Na falta de mesa vibratória, a mol-
boxilato, com características para
concreto fresco reforçado com fibra o
dagem manual de prismas de CRF,
obter elevada redução de água, longa
ensaio de Vebe, a opção nacional tem
com o uso da haste de adensamento,
manutenção da trabalhabilidade com
sido a de manter a metodologia da
com os golpes definidos pela ABNT
valores superiores a >2h de manuten-
norma brasileira ABNT NBR NM 67.
NBR 5738:2015, pode-se usar a pró-
ção do abatimento, e alta resistência
Na boa prática, os resultados obtidos
pria haste como apoio da forma para
em idades precoces quando submeti-
têm sido satisfatórios para avaliar a
poder finalizar o adensamento ade-
dos a processos de cura acelerada e
trabalhabilidade para qualificar as ma-
quado do concreto com vibração ma-
cura ao ar nas idades de 1 a 3 dias.
crofibras. O ensaio de Vebe em obra
nual (Figura 19).
fiber reinforced concrete.
para receber o CRF fresco é incomum
O concreto projetado para valida-
das etapas mais exigentes dos es-
e exige um equipamento bem mais
ção do desempenho com uso ou não
tudos de dosagem de CRF, pois po-
sofisticado do que o aparelho de aba-
de aditivo acelerador e do efeito da
Escolher um bom aditivo é uma
u Figura 18 Processo de moldagem de corpos de prova em mesa vibratória
CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017 | 69
u Figura 20 Moldagem de placas de concreto projetado no processo de qualificação da macrofibra polimérica e validação de traço na obra gas após o pico de ruptura na fase plástica do compósito de CRF. A má qualidade da moldagem (incluindo
u Figura 19 Moldagem de corpos de prova com haste sendo empregada para finalização da primeira camada em corpo de prova prismático
aqui desde a amostragem) irá impactar nos resultados, sendo muito bem indicado para essa moldagem o emprego de mesas vibratórias.
2.6 Validação do teor de macrofibras incorporado no concreto CRF
projeção, deve ser avaliado em tes-
u Figura 21 Ensaio de tenacidade conforme procedimento de ensaio japonês JSCE-SF4, em testemunho extraído de placa de concreto projetado reforçado com macrofibra polimérica
de uso em obras metroviárias e viárias, bem como, probabilidade de
temunhos extraídos de placas moldadas in loco conforme ABNT NBR
A determinação dos teores de ma-
estar havendo comercialização em
13070:2012 – Moldagem de placas
crofibra (polimérica ou metálica) em
nosso mercado de fibras não durá-
para ensaio de argamassa e concre-
amostra de concreto fresco adapta-
veis em meio alcalino.
to projetados (Figura 20). Importante
do da metodologia de ensaio 2.1 –
Neste contexto, é compreensível
destacar que os quesitos da norma
Washout Analysis Test Method do
a busca por procedimentos de en-
devem ser criteriosamente seguidos,
procedimento japonês JSCE SF7 –
saios mais adequados para controlar
pois falhas ou equívocos na projeção
Methods of tests for fiber contente
a qualidade do concreto reforçado
irão impactar diretamente os resulta-
steel fiber reinforced concrete, é uma
com macrofibras poliméricas, desde
dos dos ensaios.
determinação importante, de forma a
a qualificação do material até quan-
Pode-se afirmar que o principal
conferir o teor real de fibra aplicado
do se deseja avaliar o desempenho
comportamento mecânico a ser de-
na massa do concreto. A Figura 22
quanto às propriedades mecânicas.
finido num CRF, para avaliar as dife-
expõe as etapas seguidas.
Para obtenção de parâmetros confiáveis de tenacidade através da
rentes tipologias de macrofibras, é a tenacidade do CRF. Os métodos
3. CONCLUSÃO
determinação da resistência residual,
validados pela literatura internacional
Os procedimentos aqui descri-
é recomendado o uso de máquina de
são executados a partir da flexão de
tos para qualificar as macrofibras
ensaio com sistema fechado de con-
prismas, monitorando a deformação
para CRF têm sido praticados pela
trole da velocidade de deslocamen-
sob carga controlada (Figura 21).
equipe da S Takashima desde 2013,
to, dessa forma, os resultados serão
Os métodos preveem obter as car-
quando houve crescente interesse
mais acertados, elevando a acurácia,
70 | CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017
e serão mais confiáveis do que os que
dos laboratórios capacitados para
têm sido apresentados pela maioria
executar esses ensaios.
Em junho de 2015, o IBRACON e a ABECE criaram o Comitê Técnico CT 303 – Uso de Materiais não convencionais para Estruturas de Concreto, Fibras e Concreto Reforçado com Fibras, sendo um de seus objetivos desenvolver e elaborar Práticas Recomendadas para Controle da Qualidade do Concreto Reforçado com Fibras. Dentro desse Comitê, o grupo de trabalho responsável por essa tarefa é o GT 4: Caracterização de materiais não convencionais e fibras para reforço estrutural, que vem reunindo as boas práticas, com base no conhecimento já acumulado nacional e internacional-
u Figura 22 Coleta de amostra de concreto CRF na ponta do mangote de bombeamento, lavagem e separação da macrofibra para determinar o teor de fibra no concreto fresco
mente, de forma a repassá-las para o meio técnico e propor a adequação de procedimentos normativos nacionais.
SISTEMAS DE FÔRMAS PARA EDIFÍCIOS: RECOMENDAÇÕES PARA A MELHORIA DA QUALIDADE E DA PRODUTIVIDADE COM REDUÇÃO DE CUSTOS Autor: Antonio Carlos Zorzi O livro propõe diretrizes para a racionalização de sistemas de fôrmas empregados na execução de estruturas de concreto armado e que utilizam o molde em madeira As propostas foram embasadas na vasta experiência do autor, diretor de engenharia da Cyrela, sendo retiradas de sua dissertação de mestrado sobre o tema.
DADOS TÉCNICOS ISBN 9788598576237 Formato: 18,6 cm x 23,3 cm Páginas: 195 Acabamento: Capa dura Ano da publicação: 2015
Patrocínio
Aquisição: www.ibracon.org.br (Loja Virtual)
CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017 | 71
u estruturas em detalhes
Projeto de bases de equipamentos industriais em concreto reforçado com fibras VIVIANE VISNARDI VAZ – Professora M.Sc MARCO ANTONIO CARNIO – Professor Doutor Faculdade de Engenharia Civil – PUC Campinas EVOLUÇÃO Engenharia de Estruturas
creto das bases dos equipamentos,
do Limite Último tem como referência a
s equipamentos industriais
combatendo os esforços de tração que
Prática Recomendada IBRACON/ABE-
normalmente são instala-
ocorrem, bem como reforçar todo o vo-
CE: Projeto de estruturas de concreto
dos em bases específicas,
lume da base, aumentando dessa forma
reforçado com fibras.
construídas independentemente dos
a vida útil desse elemento estrutural por
pisos de concreto. Em geral essas ba-
meio do controle de abertura e propa-
ses são construídas isoladas do piso
gação de fissuras. Em muitos casos, de
2. ASPECTOS GERAIS DAS BASES DE EQUIPAMENTOS
visando seu isolamento para que não
acordo com as necessidades do equi-
De modo geral, segundo Machado
haja transmissão de vibrações entre os
pamento, esses grandes volumes apre-
(2010) pode-se dividir os tipos de equi-
equipamentos. Na maioria dos casos
sentam recortes que geram cantos com
pamentos industriais segundo seu fun-
a fundação é direta, no entanto podem
pontos de concentração de tensões
cionamento em:
existir situações em que seja necessário
de tração. Nessa situação, quando se
a) Equipamentos de movimento perió-
algum tipo de fundação profunda. No
utiliza o concreto reforçado com fibras
dico (rotação uniforme): geradores,
dimensionamento devem ser levadas
deve-se prever o posicionamento de ar-
motores elétricos e bombas, cuja
em consideração ações estáticas e di-
maduras localizadas, visando combater
frequência é alta (≥ 1000 rpm);
nâmicas. As ações dinâmicas acarretam
esses picos de tensão de tração. Deve-
b) Equipamentos de movimento perió-
em geral a necessidade de grandes ma-
-se ressaltar também que o processo de
dico (rotação uniforme simultânea a
ciços de concreto, visando minimizar o
execução das bases de equipamentos
um movimento retilíneo alternativo):
efeito da vibração da base. Dessa for-
com concreto reforçado com fibras é
motores a pistão e compressores a
ma, depara-se em muitos casos com
mais rápida, uma vez que há minimi-
pistão cuja frequência pode ser bai-
grandes volumes de concreto nessas
zação dos trabalhos de corte, dobra e
xa (até 300 rpm) ou média (entre 300
bases que necessitam ser armados à
montagem das armaduras de aço. Este
rpm e 1000 rpm);
tração. Habitualmente, para o reforço
artigo tem por finalidade apresentar con-
c) Equipamentos de movimento não
desses elementos, utilizam-se armadu-
ceitos gerais sobre o projeto de bases
periódico (vai e vem seguido de cho-
ras posicionadas nos de esforços de
de equipamentos em blocos de CRF.
que): martelos de prensa e forja.
tração, bem como em toda periferia do
Esses podem ser considerados como
Existem também outros tipos de
volume do bloco. Como o concreto re-
placas apoiadas em meio elástico, com
equipamentos que têm especificidades
forçado com fibras apresenta resistência
momento fletor como esforço predomi-
que podem não se enquadrar nos tipos
residual após a fissuração da matriz de
nante, e são usuais em indústrias para
apresentados anteriormente e que de-
concreto, a utilização de fibras no con-
equipamentos de menor complexidade.
vem ser analisados de forma específi-
creto pode atuar nos maciços de con-
O roteiro de dimensionamento no Esta-
ca. Como exemplo tem-se os tornos
1. INTRODUÇÃO
O
72 | CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017
com comando CNC, que apresentam grande sensibilidade e que precisam de cuidados especiais em sua análise. De acordo com a N-1848 (2011), o projeto das bases dos equipamentos, onde são consideradas suas fundações, que, em geral podem ser divididas em: a) Fundações superficiais; b) Fundações profundas; c) Fundações
para
equipamentos
elevados. Para elaboração dos projetos das fundações para os equipamentos são necessários as seguintes informações: 1) Parâmetros do solo: posição e natureza das camadas/perfil do solo; cota máxima do lençol freático; resistência à penetração, definida pelo
u Figura 1 Simulação de interação base-meio elástico por meio de molas
ensaio SPT; massa específica do solo (ρ); módulo de cisalhamento do
sa do conjunto fundação + máquina.
solicitantes nos elementos estruturais. Dessa forma, modelos realísticos de-
solo (G); coeficiente de Poisson (υ); e
3. ANÁLISE ESTRUTURAL
vem ser tomados para essa análise,
2) Documentos de fabricação do equi-
O objetivo da análise estrutural é
sendo necessário em muitos casos
pamento contendo: suas dimensões
determinar os efeitos das ações na es-
assumir mais de um modelo estrutural
principais; posição do centro de gra-
trutura, visando encontrar os esforços
para realizar a análise dos esforços.
módulo de elasticidade do solo (E);
vidade do conjunto ou das partes componentes; fixação do equipamento à base/fundação (chumbadores, insertos); peso do conjunto ou dos elementos componentes do conjunto; frequências operacionais dos elementos componentes do conjunto; cargas dinâmicas (forças centrífugas, forças de inércia das massas móveis e momentos); frequências críticas de operação da máquina; amplitudes máximas permissíveis de vibração e momento de curto-circuito (para motores elétricos ou geradores); 3) Parâmetros geométricos da fundação: centroide da área da base, centro de gravidade do conjunto fundação + máquina, momento de inércia da área da base, momento de mas-
u Figura 2 Ações estáticas no elemento estrutural
CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017 | 73
Admite-se comportamento elástico-linear do CRF, utilizando o valor para o módulo de elasticidade e para o coeficiente de Poisson de acordo do concreto simples, sem adição de fibras. Assim, obtêm-se os esforços solicitantes no elemento estrutural para, então, fazer o dimensionamento do CRF. Nessa hipótese, a consideração das ações na estrutura deve ser feita por meio de representações de ações consideradas estáticas sobre o elemento estrutural, conforme mostra a Figura 2, bem como de ações consideradas dinâmicas sobre o elemento estrutural mostradas na Figura 3.
u Figura 3 Ações dinâmicas no elemento estrutural
Os esforços solicitantes predominantes são os momentos fletores, sendo necessário, então, conhecer a envoltória desses esforços, conforme se
No caso de equipamentos com fun-
modelo de elementos finitos (barras)
dações superficiais, o modelo de placas
pode ser feita, considerando a real
apoiadas sobre meio elástico pode ser
geometria da base e levando em con-
considerado um modelo realístico que
sideração sua interação com o meio
4. DIMENSIONAMENTO NO ESTADO LIMITE ÚLTIMO
permite uma análise estrutural adequada.
elástico através de apoios com molas,
Tendo como referência a Prática
Nesse caso uma análise linear em
conforme mostra a Figura 1.
observa na Figura 4.
Recomendada IBRACON/ABECE “Projeto de estruturas de concreto reforçado com fibras”, no caso de placas com cargas perpendiculares ao seu plano (lajes), sem armadura longitudinal e com predominância de solicitação de flexão, a verificação da capacidade resistente pode ser feita com base no momento resistente mRd avaliado, considerando comportamento rígido-plástico do material CRF. No Modelo Rígido-Plástico é utilizado como valor de referência único o valor de fFtud, que representa a resistência residual última de cálculo à tração do CRF, sendo dado pela seguinte expressão:
[1]
u Figura 4 Envoltória de momentos fletores na base
74 | CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017
O valor de fR3 é obtido a partir ensaio de flexão (EN 14651, 2007), sendo
definido pela resistência residual à tração do CRF correspondente a abertura da boca de fissura igual a 2,5 mm (CMOD3), conforme mostram as Figuras 5 e 6. A partir da força F3, correspondente à aberta CMOD3, calcula-se a resistência 3.F3. l , onde l, b e à tração residual f R 3 = 2.b.h 2 h são as dimensões do corpo de prova. A partir do ensaio de flexão obtêm-se a relação Carga vs Deformação expressa pela abertura da boca da fissura CMOD
u Figura 5 Ensaio de flexão em 3 pontos
(Crack Mouth Opening Displacement), conforme pode-se observar na Figura 6. Assim, segundo a Prática Recomendada IBRACON/ABECE “Projeto
residual última à tração do CRF (
de estruturas de concreto reforçado
f Ftud ).
à tração (
f R1k ) do CRF.
Segundo a Prática Recomendada
com fibras”, considerando a análise li-
da IBRACON/ABECE “Projeto de estru-
near, o momento solicitante de cálculo
[4]
deve ser inferior a mRd obtido por meio
turas de concreto reforçado com fibras”:
da seguinte expressão:
e
[6]
[2] b.2) Cálculo do valor da resistência O dimensionamento no ELU consiste em garantir que, no mínimo, o momento resistente de cálculo seja
residual característica à tração do CRF (
f R 3k ).
Para um concreto C30, o valor de
f Lk
pode ser adotado igual a 3,00
MPa, então:
igual ao momento solicitante de cálmo de fFtud.
Com o valor de fFtud, é possível estabelecer o valor de fR3 para então ser possível a especificação do CRF.
[7]
[5]
culo, obtendo-se então o valor míni-
Verificando a relação b.3) Cálculo dos valores da resistência característica à tração (
f Lk ) e
da resistência residual característica
5. EXEMPLO DE DIMENSIONAMENTO
=0,57 ≥0,50 OK!
f R 3k : f R1k [8]
a) Momento solicitante máximo Considerando uma base para torno com comando CNC, a partir do cálculo da envoltória dos esforços solicitantes obtém-se o momento fletor máximo (mSk).
[3]
b) Dimensionamento no ELU b.1) Cálculo do valor da resistência
u Figura 6 Curva carga – CMOD
CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017 | 75
u Figura 7 Desenho de forma e cortes da base
c. Especificação do CRF c.1) Resistências características.
resistências do CRF sejam em valores
mendada IBRACON/ABECE o CRF
médios. Os valores médios podem ser
deve
considerados da seguinte forma:
sua Classe e Relação de Resistên-
[10] [9]
Assim tem-se:
ser
especificado
segundo
cia Residual, seguindo o seguinte formato: CRF / Classe / Relação de Resistência Residual
[11]
c.2) Resistências médias.
u CRF – Concreto Reforçado com
Fibras; É usual que as informações sobre
De acordo com a Prática Reco-
u Figura 8 Desenho dos reforços em pontos de concentração de tensões
76 | CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017
u Classe
–
Resistência
Residual
Característica – fR1k, representando o
u Relação de resistência residual – Le-
tra a (0.5 < fR3k/fR1k ≤ 0.7).
intervalo de resistência; u Relação de Resistência Residual - Le-
tras a, b, c, ou d, representando a razão
d) Desenhos da base
entre a Resistência Residual Característica Última e a Resistência Residual Característica de Serviço – fR3k / fR1k.
devem contemplar o desenho de forma
Assim, para o exemplo tem-se:
(com locação de nichos para chumba-
CRF Classe 1,5a
dores e detalhes), conforme Figura 7, e
u CRF – Concreto Reforçado com
o desenho da armadura se resume ao
Fibras
u Figura 9 Base executada
Os desenhos do projeto da base
detalhamento dos reforços que eventu-
u Classe – Resistência residual caracte-
almente sejam necessários, conforme
rística fR1k, representando o intervalo de
Figura 8. Na Figura 9 é possível obser-
resistência entre 1,5 MPa e 2,0 MPa.
var a base executada.
u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] MACHADO, F. G. Estudo do comportamento de fundações submetidas a vibrações de máquinas. Dissertação de M. Sc. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2010. [2] Prática Recomendada IBRACON/ABECE: Projeto de estruturas de concreto reforçado com fibras. Ed. IBRACON/ABECE, 2016. [3] Projeto de Fundações de Máquinas. CONTEC. N-1848, Petrobrás, 2011.
C o n c re t o : M i c ro e s t r u t u r a , P ro p r i e d a d e s e M a t e r i a i s à Autores
P. Kumar Mehta e Paulo J. M. Monteiro (Universidade da Califórnia em Berkeley)
à Coordenadora da edição em português
Nicole Pagan Hasparyk (Eletrobras Furnas)
à Editora
IBRACON • 4ª edição (inglês) •2ª edição (português)
Guia atualizado e didático sobre as propriedades, comportamento e tecnologia do concreto, a quarta edição do livro "Concreto: Microestrutura, Propriedades e Materiais" foi amplamente revisada para trazer os últimos avanços sobre a tecnologia do concreto e para proporcionar em profundidade detalhes científicos sobre DADOS TÉCNICOS este material estrutural mais amplamente ISBN / ISSN: 978-85-98576-21-3 utilizado. Cada capítulo é iniciado com uma Edição: 2ª edição apresentação geral de seu tema e é Formato: 18,6 x 23,3cm finalizado com um teste de conhecimento e Páginas: 782 um guia para leituras suplementares. Acabamento: Capa dura à Informações: www.ibracon.org.br
Ano da publicação: 2014
Patrocínio
CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017 | 77
u entidades da cadeia
Especificações e recomendações técnicas do concreto reforçado com fibras para pisos
C
riado em 2011 por repre-
Do trabalho do Comitê saíram
bras de aço, suas características,
sentantes de fornecedo-
quatro
técnicas:
classificação, tolerância dimensio-
res de fibras e de escritó-
especificações de fibras de aço para
nal e propriedades segundo a ABNT
rios de projeto de pisos de concreto,
concreto em pisos industriais; espe-
NBR 15530:2007. Além disso, são
o Comitê Técnico de Concreto Re-
cificações de macrofibras sintéticas
especificados no documento os pa-
forçado com Fibras da Associação
para pisos industriais; recomenda-
râmetros de tenacidade, durabilida-
Nacional de Pisos e Revestimentos
ções para aplicação de macrofibras
de, amostragem, embalagem e ar-
de Alto Desempenho (Anapre) teve
sintéticas ou de fibras de aço para
mazenamento.
o objetivo de discutir questões téc-
pisos industriais; e glossário dos ter-
nicas e lançar recomendações so-
mos associados ao tema.
bre o concreto reforçado com fibras para pisos industrais.
recomendações
Já, as especificações para as macrofibras sintéticas indicam as
As especificações das fibras de
características obrigatórias de se-
aço trazem a conceituação das fi-
rem fornecidas pelos fabricantes,
78 | CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017
com suas respectivas tolerâncias (diâmetro, comprimento, módulo de elasticidade, tipos de polímeros, tratamento superficial, forma e propriedades térmicas) e as características mínimas de seu desempenho no concreto (tenacidade e durabilidade), além de dividir responsabilidades entre projetistas e fornecedores no uso das macrofibras no concreto. Merece destaque o anexo dessas especificações, que traz os procedimentos para o ensaio de durabilidade dessas macrofibras sintéticas em meio alcalino. Por sua vez, as recomendações para aplicação das fibras de aço ou
adequados para sua incorporação
estruturais, não abrangendo apenas
macrofibras sintéticas são um con-
no concreto”, contextualiza o diretor
as estruturas continuamente apoia-
junto de recomendações para rece-
administrativo da Anapre, Eng. Júlio
das, como os pisos industriais, mas
bimento, armazenagem e adição à
Portella Montardo, que foi um dos
também as estruturas aporticadas,
betoneira das fibras ou macrofibras,
coordenadores do Comitê Técnico,
recobrindo por completo as aplica-
por um lado, e para o recebimento,
desfeito em 2014.
ções do concreto reforçado com fi-
descarga do caminhão, adensa-
Na sua avaliação, por se basea-
mento, compactação, acabamento
rem principalmente nas normas em
No ano passado, o CT 303 lan-
superficial do concreto reforçado
vigor ABNT NBR 15530 (2007), ASTM
çou a Prática Recomendada “Projeto
com fibras, por outro, inclusive as
C 1609 (2006) e JSCE-SF04 (1984),
de estruturas de concreto reforçado
recomendações para a moldagem
os documentos continuam válidos
com fibras”, com diretrizes para o
de corpos de prova.
para o mercado de pisos industriais.
desenvolvimento de projetos de es-
bras”, explica Montardo.
Com a consolidação do entendi-
truturas de concreto reforçado com
MERCADO ONTEM E HOJE
mento sobre os limites para o uso
fibras, apoiadas ou não em meio
Os documentos, publicados em
de cada fibra e com a movimenta-
elástico. Para este ano, o Comi-
2012 no site www.anapre.org.br, são
ção no setor para a publicação de
tê prevê publicar mais seis práticas
dirigidos aos fornecedores de fibras
normas técnicas nacionais específi-
recomendadas sobre o assunto (ver
estruturais, concreteiras, construto-
cas para essas fibras e para a re-
“Coluna Institucional” nesta edição).
ras, executores de pisos, projetistas
visão da ABNT NBR 15530:2007, a
“A Prática Recomendada IBRA-
e clientes finais de obras de pisos.
iniciativa pioneira do Comitê Técnico
CON/Abece ampliou o escopo de
“As especificações e recomenda-
de Fibras da Anapre foi retomada e
utilização do CRF para fins estrutu-
ções do Comitê de Fibras da Anapre
expandida pelo Comitê Técnico 303
rais, ao possibilitar soluções combi-
surgiram num momento em que o
do IBRACON e da Abece sobre o
nadas – estruturas com armaduras
mercado estava imerso numa profu-
uso de materiais não convencionais
convencionais associadas com fi-
são de novos materiais, carecendo
para estruturas de concreto, fibras
bras – que aproveitam a sinergia de
de informações técnicas imparciais
e concreto reforçado com fibras.
ambos elementos de reforço, acom-
e orientadoras. Por isso, a iniciativa
“O CT 303 passou a conduzir os
panhando uma tendência de âmbito
foi importante para orientar o mer-
trabalhos para recomendações téc-
globalizado, sendo uma atualização
cado de pisos quanto à correta es-
nicas num arcabouço mais amplo
necessária para a Engenharia Civil
pecificação de produtos e os meios
de critérios de dimensionamentos
Brasileira”, finaliza Montardo.
CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017 | 79
u pesquisa e desenvolvimento
Contribuição das fibras de aço para o dimensionamento à flexão de viga armada LÍGIA VITÓRIA REAL – Doutoranda ANDRÉ BALTAZAR NOGUEIRA – Mestrando LUANA SIMÃO – Mestranda ANTONIO DOMINGUES DE FIGUEIREDO – Professor Doutor
ALINE DA SILVA RAMOS BARBOZA – Professora Doutora Centro de Tecnologia da Universidade Federal de Alagoas
Departamento de Construção Civil da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo
do material, ou seja, aumento da ca-
CRF para uso estrutural de maior res-
concreto reforçado com
pacidade de absorção de energia até
ponsabilidade. Com o intuito de am-
fibras (CRF) vem sendo
a ruptura, e o controle da fissuração
pliar a aplicação do material, o Instituto
utilizado com o intuito de
com o aumento da capacidade de de-
Brasileiro do Concreto (IBRACON) e a
reduzir a fragilidade e evitar a ruptura
formação antes da plastificação (tanto
Associação Brasileira de Engenharia e
brusca de elementos estruturais. As
o mecanismo de abertura quanto a
Consultoria Estrutural (ABECE), através
fibras agem como pontes de transfe-
espessura das fissuras são limitados).
do Comitê 303, vem desenvolvendo
rência de tensão através das fissuras,
Consequentemente, há redução da en-
práticas recomendadas e projetos de
possibilitando que o concreto apresen-
trada de agentes agressivos e conse-
normas técnicas que prescrevem tanto
te maiores deformações na carga de
quente aumento da durabilidade.
um modelo de dimensionamento para
1. INTRODUCÃO
O
pico, bem como tenha maior capacida-
Apesar do material já ter sido mui-
estruturas em CRF quanto métodos de
de de carga pós-fissuração. Ou seja, há
to aplicado no Brasil em pavimentos
controle tecnológico do material. Esses
aumento da ductilidade e da resistência
e em concreto projetado, ainda exis-
estão fortemente alinhados com as dire-
residual à tração do material (FIGUEI-
te a carência de um código ou norma
trizes para projeto de concreto reforça-
REDO, 2011).
nacional que norteie os engenheiros e
do com fibras de aço definidas pelo fib
Com a adição de fibras no concre-
demais profissionais envolvidos quan-
Model Code 2010 (2013). O documento
to também há aumento da tenacidade
to ao dimensionamento e aplicação do
possui capítulo dedicado ao controle tecnológico que leva em consideração a resistência residual pós-fissuração do concreto (fR3) como parâmetro básico de dimensionamento. O valor de fR3 é determinado através da ruptura de prismas à tração na flexão, método normatizado pela EN 14651 (2007). Para avaliar o equacionamento proposto pelo fib Model Code 2010 (2013) e a contribuição das fibras de aço para
u Figura 1 Dimensões da viga adotada
80 | CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017
os esforços de flexão, desenvolveu-se um roteiro simplificado de dimensionamento de uma viga de concreto armado
submetida à flexão, o qual se encontra apresentado neste trabalho.
2. PARÂMETROS E CONSIDERAÇÕES DE PROJETO Para a análise foi considerada uma viga de concreto armado simplesmente
Para o dimensionamento do ele-
rização do CRF, de modo a atender
mento viga foram realizados estudos
às recomendações de boas práti-
prévios de dosagem para caracte-
cas. No caso específico do programa
u Quadro 1 – Cargas consideradas para dimensionamento (indicar os valores adotados para os carregamentos em kn/m considerados sobre a viga)
apoiada, submetida à flexão, com ca-
Cargas permanentes
racterísticas geométricas indicadas na
Item
Dimensões
Observação
Alvenaria de fechamento em blocos de concreto
Altura: 280 cm Espessura: 23 cm
Considerada sobre a viga
Quadro 1, foram definidas seguindo as
Laje maciça quadrada
Altura: 16 cm Vão efetivo: 600 cm
Simplesmente apoiada em quatro vigas de borda
recomendações da ABNT NBR 6120 -
Contrapiso em argamassa
Espessura: 3 cm
–
Revestimento cerâmico
Espessura: 1 cm
–
Revestimento simples em argamassa de cal
Espessura: 2 cm
No teto (fundo da laje)
Figura 1. As cargas consideradas para efeito de dimensionamento, apresentadas no
Cargas em edificações (1980). O dimensionamento da armadura longitudinal à flexão foi realizado em três considerações distintas:
Carga acidental: 5,0 kN/m² (locais com alta concentração de pessoas)
u Área de aço (As) para concreto arma-
do sem fibras pela ABNT NBR 6118 (2014);
u Tabela 1 – Traços de concreto utilizados para definição da resistência residual
u Área de aço (As) para concreto ar-
mado sem fibras pelo fib Model Code
Traços (por m³)
Materiais
2010 (2013) e;
T20
T30
T45
u Área de aço (As) para concreto ar-
Cimento
CP V ARI RS
400 kg
400 kg
400 kg
mado reforçado com fibras de aço
Areia 1
Quartzo (Concresand)
406 kg
404 kg
401 kg
para três teores distintos (20, 30 e
Areia 2
271 kg
269 kg
267 kg
45 kg/m³) pelo fib Model Code 2010
Brita 0
330 kg
330 kg
330 kg
(2013).
Brita 1
770 kg
770 kg
770 kg
Artificial (Embú Perus)
O aço utilizado para o dimensiona-
Água
Rede Sabesp
172 L
172 L
172 L
mento foi o CA-50 e a resistência carac-
Aditivo
Viscocrete 20 HE (Sika)
2,11 L
2,12 L
2,30 L
Fibra
Aço 60/80 (Dramix RC 80/60 BN)
20,0 kg
30,0 kg
45,0 kg
Sílica
Ativa (Silmix)
22,0 kg
22,0 kg
22,0 kg
terística à compressão (fck) do concreto foi igual a 45 MPa. Para determinar as resistências residuais à tração (fR3), necessárias para o dimensionamento do CRF, foram realizados ensaios de tração na flexão (EN 14651, 2007) para os traços apresentados na Tabela 1, com fibras de aço normalmente utilizadas em concretos produzidos no Brasil, em teores iguais a 20, 30 e 45 kg/m³. As fibras são do tipo A1 (ABNT NBR 15530, 2007), baixo teor de carbono, fator de forma e comprimento 80/60, com resistência nominal à tração igual a 1.225 MPa e módulo de elasticidade igual a 210.000 MPa.
Fonte: Adaptado de SALVADOR et al. (2015)
u Figura 2 Esquema do ensaio de flexão de prisma conforme EN 14651 (2007)
CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017 | 81
do CRF correspondente CMODj (MPa);
Fj :
é a carga correspondente ao
CMODj (N);
l : é o vão de ensaio do corpo de prova (mm); b: é a largura do corpo de prova (mm);
hsp : é a distância entre a ponta do entalhe e a face superior do corpo de prova (mm). Para a determinação das resisFonte: EN 14651 (2007)
tências
pós-fissuração,
assume-se
um comportamento elástico linear de
u Figura 3 Diagrama de carga versus CMOD
modo a simplificar as determinações e, a partir dos resultados obtidos para deformação (expressos em CMOD) e
experimental deste estudo, o deslo-
Mouth Opening Displacement), confor-
das resistências calculadas conforme
camento vertical foi controlado atra-
me exposto na Figura 3.
a Equação (1), é possível determinar
vés de LVDT (Linear Variable Differen-
A partir desse diagrama apresenta-
tial Transformer), conforme pode ser
do na Figura 2 (Carga versus CMOD),
serviço (
observado no esquema apresentado
obtém-se a resistência residual à tração
tima (
na Figura 2.
através da Equação (1):
O resultado típico obtido no ensaio de tração na flexão do CRF é expres-
f R, j =
so por uma curva carga versus deforfissura e expressa pelo CMOD (Crack
f
f R, j :
f R1k ) e resistência residual úlf R 3k ). Conforme pode ser observado na Figura 4, o f R1k corresponde
à resistência respectiva ao CMOD = 0,5
3.Fj . l
[1]
2.b.hsp2
Onde:
mação, representada pela abertura da
a resistência residual característica de
é a resistência residual à tração
mm e o
f R 3k
ao CMOD = 2,5 mm.
3. EQUAÇÕES DE DIMENSIONAMENTO DA VIGA O dimensionamento da seção de
σN
concreto armado, seja pela ABNT NBR 6118 (2014), seja pelo fib Model Code
LOP
2010 (2013), considera o modelo apresentado na Figura 5, que propõe uma distribuição retangular de tensão de
f f
compressão (dimensões do diagrama de compressão de 0,8.x por σcd) e resis-
R1
tência à tração nula para o concreto. O equilíbrio de forças impõe que resultan-
R3
tes de tração (Rst) e compressão (Rcc) sejam iguais. O equilíbrio de deformações impõe que o alongamento na armadura tracionada (εsd) e o encurtamento do
CMOD1 = 0,5
CMOD3 = 2,5
CMOD (mm)
Fonte: Adaptado de EN 14651 (2007)
u Figura 4 Diagrama de tensão versus CMOD
82 | CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017
concreto comprimido (εcd) sejam delimitados pela posição da linha neutra (LN). O modelo da Figura 5 considera que as resultantes de compressão devem estar em equilíbrio com as resultantes de tração, ou seja:
Rcc = Rst
[2]
Ou, escrevendo em função da tensão:
scd . Ac = sst .As
[3]
Onde: σcd: tensão de compressão no concreto (MPa);
Ac: área de concreto (mm²);
σst: tensão de tração no aço (MPa);
u Figura 5 Modelo simplificado de análise da seção
As: área de aço (mm²).
Dessa forma, é possível realizar o
equilíbrio entre momentos solicitantes (Msolic) e momentos resistentes (Mresist), que deve ser igual ao momento solicitante de cálculo (MSd).
Msolic = Mresist = MSd
da linha neutra e área de armadura é baM Rd = 0,68 b w x fcd (d - 0,4 X)
[5]
[4]
Por meio da Figura 5, deduz-se que o braço de alavanca (Zcc) é igual a (d-0,4.X), tornando possível achar as
3.1 Dimensionamento do concreto armado – ABNT NBR 6118 (2014)
do centro do diagrama de compressão, com distância entre a fibra mais comprimida e a força de compressão igual
3.2 Dimensionamento do concreto armado – fib Model Code 2010 (2013)
equações que determinam a altura da linha neutra (X) e a área de armadura (As).
Por último, o fib Model Code 2010 (2013) adota, ainda, a resultante Rcc fora
seada na Equação (5).
a 0,45∙x. Assim, o momento último é determinado através da Equação (6). M Rd = 0,8bw x fcd (d - 0,45 x )
[6]
No fib Model Code 2010 (2013) os coeficientes ponderação das ações e da resistência concreto são diferentes da norma brasileira. Para ações perma-
3.3 Dimensionamento do concreto armado reforçado com fibras –fib Model Code 2010 (2013)
nentes, o coeficiente é igual a 1,35 e para cargas acidentais, 1,5. Para de-
De acordo com o dimensionamen-
A ABNT NBR 6118 (2014), para com-
terminar a resistência cálculo, o coefi-
to proposto pelo fib Model Code 2010
binações de ações normais, estabelece
ciente de minoração é igual a 1,5 para
(2013), a contribuição da fibra para
coeficiente de ponderação das ações
o concreto e 1,15 para o aço.
uma viga de concreto armado se dá
normais no ELU igual a 1,4. O coeficien-
Outro ponto divergente é o fato do fib
no momento de cálculo somando-se o
te de ponderação da resistência no ELU
Model Code 2010 (2013) não adotar o
momento resistente devido ao uso do
é definido igual a 1,4 para o concreto e
coeficiente de 0,85 para minorar o valor
CRF (Mu) com o momento resistente
1,15 para o aço (combinação normal).
de σcd. Segundo o código, para dimensio-
devido à armadura (Mresist), alterando
Outro aspecto relevante prescrito pela
namentos convencionais, assume-se que
a Equação (3) para a Equação (7), ex-
norma brasileira é a adoção do coeficien-
o aumento na resistência à compressão
posta a seguir.
te de redução de resistência ao longo do
após 28 dias pela hidratação contínua do
tempo igual a 0,85 sobre o valor de σcd
cimento compensa os efeitos provoca-
Msolic = Mresist + Mu = MRd
[7]
dos por cargas de longa duração. Além
O momento resistente devido ao
minoração é devido à carga ser de lon-
disso, prevê-se no fib Model Code 2010
uso do CRF (Mu) depende da resistência
ga duração, ocasionando o efeito Rusch,
(2013) o efeito de sismos, que, de certa
residual à tração direta do CRF e é de-
combinados com o efeito de escala e o
forma, anula o efeito geométrico e diminui
terminado através da Equação (8):
ganho de resistência após os 28 dias de
a importância relativa das cargas estáticas
idade (Fusco, 2012). A determinação do
para a segurança global das estruturas, o
momento resistente de cálculo, posição
que não ocorre no Brasil.
para concretos com fck ≤ 50 MPa. Essa
Mu =
f Ftu bhsp2 2
[8]
CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017 | 83
Mu =
f R3 bhsp2 6
=
f Ftu bhsp2 2
[10]
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES 4.1 Resistência residual à tração no Estado Limite Último
u Figura 6 Resultados de resistência residual à tração no ELU (f R3)
A dosagem que apresentou o maior valor de fR3, como pode ser observado
Onde:
proporciona uma maior facilidade de
b: base da viga (mm);
ensaio. Entretanto, na prática, as fibras
hsp: a altura da viga (mm);
são solicitadas por tração direta. Por
fFtu: resistência residual à tração direta
isso, o fib Model Code 2010 (2013) pro-
do CRF (MPa).
põe uma compatibilização da resistência
É válido destacar que há basicamente
à tração residual no estado limite último
três tipos de ensaios para determinação
(fFtu) a partir da resistência residual (fR3),
da resistência à tração do concreto: tração
que é determinada a partir do ensaio de
direta, tração indireta e tração na flexão.
tração na flexão prescrito pela norma EN
Nos ensaios de tração direta, toda a seção
14651 (2007), a partir da Equação (9).
do corpo de prova é submetida apenas a esforços de tração uniaxial, de forma que
f Ftu
os valores obtidos de tensão-deformação
f = R3 3
[9]
niente de uma simplificação algébri-
ensaio de tração na flexão.
1,94 vezes superior ao fR3 obtido para o teor de 20 kg/m³. Em comparação a do CRF com 30 kg/m³ de fibras, houve um acréscimo de 17%. Os experimentos para os traços T20, T30 e T45, respectivamente, apresentaram coeficientes de variação iguais a 14%, 17%, 13%. É possível identificar a partir dos resultados apresentados que à medida que se aumentou o teor fibras, a resistência residual fR3 também aumentou, conforme esperado. Observa-se na Figura 6 que esse
Essa compatibilização é prove-
não são superestimados, como ocorre no
na Figura 6, foi a de 45 kg/m³, sendo
O ensaio de tração direta permi-
ca, igualando equações de cálculo de
te a identificação da relação tensão-
momento considerando uma distribui-
-deformação, ao mesmo tempo que
ção uniforme de tensões, que ocorre
exige uma geometria especifica para
no ensaio de tração direta, e uma dis-
a amostra de ensaio como prevenção
tribuição linear de tensões, que ocorre
para um modo de ruptura indesejado.
no ensaio de flexão. Essa compatibili-
Já o ensaio de flexão em três ou qua-
zação é apresentada na Equação (10)
tro pontos, utilizando amostras de vigas,
(fib MODEL CODE, 2013).
ganho não foi linear, mas sim logarítmico, com um coeficiente de determinação igual a 96%, em concordância com o apresentado por Salvador & Figueiredo (2013).
4.2 Armadura A partir das Equações (5) e (6) foram determinadas as alturas das linhas neutras e verificada a armadura de flexão necessária para cada caso dimensionado da viga. Com os resultados de
u Tabela 2 – Dimensionamento da viga
fR3 obtidos no ensaio de resistência à tração na flexão foi possível determinar
Referência
Teor de fibras
MSd (kN.cm)
MRu (kN.cm)
x (cm)
As (cm²)
ABNT NBR 6118 (2014)
0
19.940
–
12,3
12,4
partir daí, calculou-se a contribuição do
0
19.734
–
10,9
12,1
CRF no momento resistente através da
20 kg/m³
19.734
2.079
10,9
10,8
Equação (8). O resumo dos resultados
30 kg/m³
19.734
3.416
10,9
10,0
obtidos está apresentando na Tabela 2.
45 kg/m³
19.734
4.043
10,9
9,6
fib Model Code 2010 (2013)
84 | CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017
os valores de fFtu (resistência à tração direta) com base na Equação (9). A
É possível notar que tanto pela ABNT NBR 6118 (2014) quanto pelo
fib Model Code 2010 (2013), os resultados do momento resistente (MRd)e da área final de armadura foram bem próximos entre si, para o caso do dimensionamento sem considerar as fibras. Ao se comparar a viga dimensionada a partir da ABNT NBR 6118 (2014) com as reforçadas com fibras, tem-se reduções na área de aço iguais a 11, 17 e 21%, para os traços T20, T30 e T45, respectivamente. Observa-se na Figura 7
u Figura 7 Resultados da área de aço calculada em função do teor de fibra
que houve uma tendência linear na redução da armadura ao se aumentar o teor
bras e o aumento do fR3 foi dada por
sentada pelo fib Model Code 2010
de fibras do compósito, com coeficiente
uma equação logarítmica, indicando
(2013), compatibilizando um ensaio
de determinação, a partir de regressão
que, para haver ganhos de resistên-
para avaliar a resistência à tração na
linear, igual a 0,95. Essa regressão linear
cia estatisticamente significativos, é
flexão com a tração direta pode estar
é um ponto positivo, pois poderia facilitar
necessário incorporar um alto teor de
reduzindo a eficiência do uso de fibras
uma interpolação de dados para outras
fibras ao CRF (tais avaliações prévias
em um sistema híbrido com o concre-
dosagens de fibras, tornando admissível
ao dimensionamento de estruturas de
prever e estimar a área de aço necessária
CRF são fundamentais);
to armado para reforço estrutural; u É necessário avaliar os benefícios em
para resistir à flexão ao se utilizar outros
u Observaram-se baixas reduções na
se aplicar o CRF no Estado Limite de
teores de fibras, dentro da faixa dos teores
área de armadura convencional ao se
Serviço, verificando deformações e
inicialmente ensaiados em laboratório.
incorporar fibras ao dimensionamen-
aberturas de fissuras;
to; assim, a viabilidade econômica do
u Ressalta-se que esse estudo foi re-
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
uso do CRF para estruturas fletidas
alizado para uma viga simplesmente
Este artigo teve como objetivo ava-
não ocorre pela mera consideração
apoiada, sendo verificado apenas o es-
de sua contribuição na flexão;
forço de flexão; ainda são necessárias
liar o equacionamento proposto pelo fib Model Code 2010 (2013) e a contribui-
u Ainda são necessários estudos no
avaliações que levem em consideração
ção das fibras no dimensionamento a
processo de dimensionamento e mo-
a peça em uma estrutura global, consi-
flexão de uma viga de concreto armado
delagem do CRF, de modo a incorpo-
derando outros esforços, como torção
submetida. Após a avaliação, tem-se
rar modelos que melhor representem
e cisalhamento, redistribuição de esfor-
como considerações finais:
a resistência à tração nas equações e
ços e transferências de cargas, bem
u A correlação entre a dosagem de fi-
dimensionamento – a estratégia apre-
como solicitações dinâmicas.
u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 6118: Projetos de estruturas de concreto – Procedimentos. Rio de Janeiro, 2014. [2] _____________. NBR 6120: Cargas para o cálculo de estruturas de edificações. Rio de Janeiro, 1980. [3] EN – EUROPEAN STANDARD. EN 14651 - 07 - Test method for metallic fibre concrete – Measuring the flexural tensile strength (limit of proportionality (LOP), residual). Edition: 2007-12-01. [4] FÉDÉRATION INTERNATIONALE DU BÉTON – FIB. Fib Model Code for Concrete Structures 2010. Swtizerland, 2013. 402p. [5] FIGUEIREDO, A. D. Concreto reforçado com fibras. 248p. Tese (Livre-Docência) - Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011. [6] FUSCO, P. B. Tecnologia do Concreto Estrutural. 2ª. Edição. Editora PINI. 2012. 200p. [7] GUIMARÃES, M C. N. FIGUEIREDO, A. D. Análise da repetibilidade e reprodutividade do ensaio de tenacidade à flexão dos concretos. In: 44° Congresso Brasileiro de Concreto, Belo Horizonte, 2002. [8] SALVADOR, R. P.; FIGUEIREDO, A. D. Análise comparativa de comportamento mecânico de concreto reforçado com macrofibra polimérica e com fibra de aço. In: Revista Matéria, artigo 11498, pp.1273-1285, 2013. [9] WUA, M. JOHANNESSON, B.; GEIKER, M. A review: Self-healing in cementitious materials and engineered cementitious composite as a self-healing material. In: Construction and Building Materials, v. 28, pp. 571–583, 2012.
CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017 | 85
u pesquisa e desenvolvimento
Os desafios da avaliação da trabalhabilidade do concreto com fibras ANTONIO DOMINGUES DE FIGUEIREDO
MARCOS ROBERTO CECCATO
RICARDO DOS SANTOS ALFERES FILHO
Trima Engenharia e Consultoria
Departamento de Engenharia de Construção Civil da Escola Politécnica da USP
para o canteiro (montagem e esto-
teral de perda de resistência da ma-
cagem de armaduras). Com isso, o
triz proporcionada por dificuldades
bem conhecido o fato das
concreto reforçado com fibras (CRF)
de compactação.
fibras serem adicionadas
passa a ser muito atrativo para várias
As dificuldades proporcionadas
ao concreto com a finalida-
aplicações. No entanto, já é sabido
pelas fibras em termos de trabalha-
de de reforçar a matriz e lhe propi-
há bom tempo que, apesar de incre-
bilidade podem prejudicar inclusive
ciar um comportamento mais dúctil
mentos no comportamento mecâni-
as condições de mistura. A homoge-
(Figueiredo, 2011). O fato da fibra
co, as fibras causam uma redução
neização da fibra é essencial para o
ser adicionada diretamente na mistu-
da mobilidade do material, poden-
bom comportamento do material. No
ra do concreto gera uma facilitação
do prejudicar sua trabalhabilidade
entanto, a homogeneidade pode ser
do processo construtivo por reduzir
e, consequentemente, dificultar sua
prejudicada pelas condições de mis-
ou mesmo eliminar os serviços as-
condição de aplicação (Johnston,
tura, que devem receber um grau de
sociados ao uso da armadura con-
1984). Dessa maneira, o ganho ob-
atenção maior do que o despendido
vencional (montagem e instalação), o
tido em termos de resistência pós-
para o concreto simples. Um dos
que reduz o tempo de execução das
-fissuração e de logística para a obra
problemas típicos que ocorre nesta
obras e também a área demandada
poderá trazer consigo um efeito cola-
fase é a formação de bolas de fibras,
1. INTRODUÇÃO
É
popularmente conhecidos como “ouriços” (Figura 1a). Esses embolamen-
a
b
tos podem prejudicar muito a condição de moldagem de elementos, como é o caso do tubo de concreto com reforço híbrido ilustrado na Figura 1b. No caso da bola de fibras não ser removida, a mesma irá comprometer completamente a funcionalidade do componente porque prejudicará gravemente sua condição de estanqueidade. Por essa razão,
u Figura 1 Embolamento de fibras (a) e como ele pode se posicionar na produção de um tubo com reforço híbrido (b)
86 | CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017
a mistura deve ser feita de maneira cuidadosa, adicionando-se a fibra de maneira contínua. Para evitar esse problema, há fabricantes que
fornecem fibras de aço coladas em pentes ou tabletes (Figura 2). Este
a
b
sistema de pentes evita o embolamento que ocorre já dentro da própria embalagem da fibra solta. As fibras formam emaranhados que, quando adicionada ao concreto, acabam por se consolidar com a pasta que fica aderida em sua volta. Portanto, é recomendado que a fibra solta não seja lançada de uma única vez na
u Figura 2 Fibras de aço longas (a) e curtas (b) fornecidas em pente
mistura, mas distribuída progressivamente, o que diminui o risco dos em-
mobilidade relativa. No entanto, é
Filho et al. (2016) foi variado o teor de
bolamentos. Nesse mesmo sentido,
usual recomendar que as fibras te-
fibras para o reforço de um concreto
alguns fabricantes de macrofibras
nham um comprimento que seja,
autoadensável. O material foi avaliado
poliméricas as fornecem em roletes
pelo menos, o dobro da dimensão
através de ensaios realizados com um
(Figura 3a) ou trançadas como apare-
máxima do agregado graúdo (Maidl,
reômetro rotacional, o que permitiu ge-
ce na Figura 3b. No entanto, mesmo
1991). Com isso se potencializaria o
rar os perfis de cisalhamento constan-
bem homogeneizada, a fibra reduz a
poder de costura das fissuras que
tes da Figura 4. A partir dessas curvas
mobilidade da mistura e pode dificul-
poderão vir a ocorrer no concreto
foi possível obter uma avaliação do
tar as condições de aplicação. Por-
(Figueiredo, 2011). No entanto, isto
torque de escoamento e da taxa de
tanto, é importante conhecer como
significará que os agregados terão
aumento de torque com o aumento da
a fibra afeta o comportamento do
que se mover relativamente “forçan-
tensão de cisalhamento, que corres-
concreto no estado fresco e como se
do a passagem” pelas fibras presen-
ponderiam, respectivamente, à tensão
pode realizar um controle adequado
tes na argamassa. Logo, as fibras
de escoamento e à viscosidade plásti-
do material. Assim, este artigo tem
poderão prejudicar a mobilidade
ca do material, considerando-o como
por objetivo apresentar uma análise
da mistura, dificultando a mobilida-
um fluído de Bingham (Romano et al.,
do trabalhabilidade do CRF focando
de relativa dos agregados graúdos.
2011). A partir dos resultados, foi pos-
no comportamento e nos procedi-
Nesse sentido, quanto maior o teor
sível correlacionar o torque de escoa-
mentos para controle da produção
de fibras, tanto maior será a dificul-
mento e a viscosidade relativa com o
do material.
dade de mobilidade relativa entre
teor de fibras o que está apresentado
os agregados.
na Figura 5. Isto implica uma perda de
2. O EFEITO DA FIBRA NO COMPORTAMENTO DO CONCRETO NO ESTADO FRESCO O primeiro fato a considerar é
No estudo desenvolvido por Alferes
mobilidade inicial do material, o que
a
b
que as fibras não ocupam todo o volume do concreto. Na verdade, elas são inseridas no volume de argamassa que envolve os agregados graúdos. Ou seja, as fibras acabam por reforçar a “argamassa” do concreto. A mobilidade do concreto depende de um volume de argamassa tal que garanta um certo afastamento dos agregados graúdos e sua
u Figura 3 Macrofibras poliméricas fornecidas em roletes (a) e trançadas (b)
CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017 | 87
25
fibras também poderá ser minimizado no caso de se diminuir a dimen-
20 15
são máxima do agregado graúdo.
10 5 0
Viscosidade plástica (N.m.rpm)
Torque (N.m)
30
0,035
com o aumento do teor ou volume de
Ref 20kg/m³ 80kg/m³ 120kg/m³
35
Naturalmente, é de se esperar que 0
200
400 600 Rotação (RPM)
800
1000
u Figura 4 Perfis de cisalhamento dos concretos em função da velocidade de rotação (Alferes Filho et al., 2016)
2,50
R² = 0,9798
0,02
2,00
0,015
1,50 R² = 0,9423
0,01
0
20
tenham maior mobilidade entre as fibras do que agregados maiores. Isto
3,00
Torque de escoamento
0,025
0,005
agregados de menores dimensões
3,50
Viscosidade plástica
0,03
1,00
40 60 80 Teor de fibras (kg/m³)
100
120
Torque de escoamento (N.m)
A perda de mobilidade do CRF
40
0,50
u Figura 5 Viscosidade plástica e torque de escoamento dos concretos em função do teor de fibras (Alferes Filho et al., 2016)
também foi comprovado no estudo de Figueiredo e Ceccato (2015) que comparou o efeito do teor de fibras no abatimento e tempo Ve-Be de dois concretos de mesmo abatimento ini-
corresponde à diminuição de seu aba-
cial, mas com agregados de distintas
CRFs. Assim, optar por concretos
timento, bem como uma maior dificul-
dimensões máximas. Nota-se clara-
mais argamassados e com agregados
dade de bombeamento, dado que o
mente que menores dimensões má-
de menores diâmetros irá minimizar a
material exigirá maiores esforços para
ximas dos agregados graúdos apre-
perda de trabalhabilidade gerada pela
se obter mobilidade para maiores ta-
sentam menor impacto na perda de
incorporação de fibras. No entanto,
xas de cisalhamento, sempre que se
abatimento ou no tempo Ve-Be dos
deve-se ter em mente que sempre
aumentar o teor de fibras. Uma consequência natural desse raciocínio é esperar que, quanto
da mistura. No estudo de Figueiredo
40 α 50
8
α 55
6 4
a
2
e Ceccato (2015) foi feita a avalia-
Abatimento (cm)
mais fácil será garantir a mobilidade
45
10 Abatimento (cm)
maior for o teor de argamassa, tão
50
12
0
ção do efeito do teor de argamassa
α 50
α 55
35 30 25 20 15 10
b
5 0
0,2
0,4
0,6 0,8 Volume de fibras(%)
1
1,2
0
0
0,2
0,4
na trabalhabilidade do CRF, medida através do ensaio de abatimento e tempo Ve-Be, o que pode ser vislumbrado na Figura 6. No estudo, apenas fibras de aço foram utilizadas.
0,6 0,8 Volume de fibras (%)
1
1,2
1,4
u Figura 6 Efeito do teor de fibras de aço indicado pelo volume relativo no abatimento (a) e tempo Ve-Be (b) de concretos com teor de argamassa seca de 50% (a50) e 55% (a55) (Figueiredo e Ceccato, 2015)
Percebe-se, pelo gráfico, que, para um maior teor de argamassa (α =
intensa com o aumento do teor de fi-
4 2
to inicial igual ao do concreto com
0
teor menor de argamassa menor (α argamassa demonstrou maior facilidade de compactação no ensaio Ve-Be, demandando menores tempos de remoldagem.
a9.5mm
6
bras, considerando-se um abatimen-
= 50%). Além disso, o maior teor de
a19mm
8
Time VeBe (seconds)
o aumento do teor de fibras é menos
a
10 Abatimento (cm)
55%), a redução do abatimento com
12
0
0,2
0,4
0,6 0,8 Volume de fibras (%)
1
1,2
1,4
50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0
b a19mm
0
0,2
a9.5mm
0,4
0,6 0,8 Fiber volume (%)
1
1,2
u Figura 7 Efeito do teor de fibras de aço indicado pelo volume relativo no abatimento (a) e tempo Ve-Be (b) de concretos com agregados graúdos de dimensão máxima de 9,5 mm (a9.5mm) e 19 mm (a19mm) (Figueiredo e Ceccato, 2015)
88 | CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017
1,4
cidade de diferenciação de compor-
lidade da mistura com o aumento do
tamentos. No estudo de Figueiredo
teor de fibras. Por outro lado, como
e Ceccato (2015), foi feita uma cor-
os resultados demonstram, baixos te-
relação entre os resultados obtidos
ores de fibras de aço pouco prejudi-
por ensaios Ve-Be e de abatimento,
cam nas medidas de trabalhabilidade.
o que pode ser observado na Figura
Nesses casos, um pequeno aumento
8. Confirmou-se que o ensaio Ve-Be
do teor de aditivo dispersante (poli-
apresenta melhor sensibilidade para
funcional ou plastificante) pode ser o
os concretos com abatimento infe-
suficiente para mitigar o problema.
rior a 20 mm e, em especial, para os concretos que apresentaram abati-
3. OS MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DA TRABALHABILIDADE DO CRF
mento zero. Abatimento nulo signifi-
Idealmente,
seria
ca apenas que o método de ensaio
Tempo VeBe (segundos)
haverá um certo prejuízo para a mobi-
20 18 16 14 12 10 8 6 4 2 0
0
5
10 Abatimento (mm)
15
20
u Figura 8 Correlação entre os resultados obtidos com os ensaios de abatimento e tempo Ve-Be de concretos reforçados com fibras (Figueiredo e Ceccato, 2015)
interessante
atingiu o seu limite e, portanto, deve-
utilizar ensaios reológicos para uma
-se utilizar outro que não dependa
avaliação mais ampla do comporta-
apenas da ação da gravidade para
vidos por Sahmaran et al. (2005), Fer-
mento do CRF no estado fresco (Al-
mobilizar o concreto, tal como o Ve-
rara et al (2007) e Ding et al.(2008).
feres Filho et al., 2016). No entanto,
-Be. Por outro lado, abatimentos su-
Isto ocorre porque há um grande
são muito raros os laboratórios que
periores a 60 mm não apresentaram
número de vantagens aplicativas do
contam com um reômetro para reali-
qualquer diferenciação em termos de
concreto autoadensável reforçado
zar uma avaliação desse tipo. Assim,
resultado Ve-Be, mostrando que este
com fibras que, portanto, passa a
os métodos de avaliação devem ser
ensaio não é adequado para CRFs
ser muito atrativo. No entanto, ele
aqueles adequados à consistência do
com consistência plástica.
exige um elevado grau de controle de
CRF. Ou seja, CRFs de consistência
No caso de concretos com con-
execução para se evitar orientações
plástica são, normalmente, avaliados
sistência fluída, como é o caso dos
preferenciais desfavoráveis origina-
a partir do ensaio de abatimento de
concretos autoadensáveis, deve-se
das pelo próprio fluxo. No trabalho
tronco de cone. Esse ensaio apre-
empregar métodos de ensaio espe-
de Alferes Filho (2016), foi demons-
senta boa sensibilidade quando o ní-
cíficos para essa avaliação, tal como
trado que pode haver prejuízo signi-
vel de abatimento está entre 40 mm
os preconizados na série de normas
ficativo de comportamento mecânico
e 140 mm. Há alguns ensaios desen-
ABNT NBR15823:2010, quais se-
de elementos planos em função de
volvidos especificamente para avaliar
jam, o método do espalhamento e
o CRF, como é o caso do cone in-
do tempo de escoamento, o anel J, a
vertido (ASTM C995), mas a sua apli-
caixa L e o funil V. Vale ressaltar que
cabilidade apresenta uma série de
a avaliação da habilidade passante
dificuldades e pode ser substituído
é de grande importância quando da
sem problemas pelo ensaio de abati-
utilização de reforço híbrido de fibras
mento convencional como apontou o
e vergalhões. Assim, se pode verificar
estudo realizado por Ceccato (1998).
condições de risco de bloqueio, como
Para concretos de consistência
o caso ilustrado na Figura 9. Por outro
seca, o risco de prejudicar a avalia-
lado, caso o concreto seja utilizado
ção da trabalhabilidade é grande. Tal
apenas com o reforço de fibras, este
é o caso dos concretos utilizados
tipo de avaliação é desnecessário.
para a produção de algumas peças pré-moldadas,
como
tubos
Há vários trabalhos abordando a
para
análise de trabalhabilidade do con-
obras de saneamento. Neste caso,
creto autoadensável reforçado com
o ensaio Ve-Be apresenta boa capa-
fibras, como é o caso dos desenvol-
u Figura 9 Bloqueio do fluxo de concreto com alto teor de fibras de aço durante a realização do ensaio de caixa L (Alferes Filho, 2016)
CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017 | 89
2011). Ela também pode ocorrer no
bilidade: as vantagens aplicativas do
elemento moldado pelo simples fato
CRF vêm acompanhadas de uma ne-
de haver grande diferença de densi-
cessidade maior de controle. Isto é
dade entre a fibra e a matriz e, caso
particularmente importante pelo fato
não haja uma rigidez ao movimento
de haver sempre o risco de tentar
da matriz em repouso, haverá a ten-
melhorar as condições de fluidez do
dência de concentração de fibras de
compósito, aumentando-se a quanti-
aço no elemento moldado. Por outro
dade de água, como ocorre na cor-
lado, as macrofibras de polipropi-
reção do abatimento por adição de
leno têm densidade inferior à 1 kg/
um maior volume de água. Isto pode
dm 3, o que gera um grande risco de
gerar prejuízos para o concreto em
flutuação das mesmas. Em ambos
termos de comportamento mecânico
os casos a dosagem do CRF deve
e durabilidade. O CRF, por sua pecu-
levar em conta este risco e se deve
liar propensão à perda de mobilidade
utilizar algum recurso para correção
apresenta um risco ainda maior nes-
do problema, como é o caso dos
se aspecto. Portanto, é fundamen-
variações no posicionamento do lan-
aditivos ampliadores de viscosidade,
tal a realização de estudos prévios
çamento. Além disso, há sempre o
por exemplo.
de dosagem, onde as condições de
Concentração de fibras por separação da matriz
u Figura 10 Exemplo de segregação de fibras observável durante o ensaio de espalhamento (Alferes Filho et al., 2016)
risco de segregação. A segregação
trabalhabilidade e seu controle se-
pode ser avaliada visualmente duran-
4. COMENTÁRIOS FINAIS
jam bem parametrizadas (Figueiredo
te o ensaio de espalhamento, como
Deve-se ter em mente que o con-
et al., 2000). A mera adoção de um
o exemplo ilustrativo da Figura 10, ou
trole do CRF é mais complexo do que
teor de fibras adicionado a uma ma-
melhor ainda, pelo ensaio específico
o realizado para o concreto armado.
triz pré-existente não é um procedi-
da norma ABNT NBR 15823-6:2010.
Do ponto de vista mecânico, o CRF
mento adequado. No caso específico
A segregação ocorre por algumas ra-
deve ser controlado avaliando-se
do concreto autoadensável é muito
zões. A primeira é pela possibilidade
a interação entre fibra e matriz, de
interessante utilizar a combinação
da pasta e/ou argamassa escoarem
maneira distinta do concreto arma-
de ensaios, como preconizado na
mais facilmente pelas fibras e agre-
do, onde avalia-se separadamente
normalização brasileira e internacio-
gado graúdo, causando uma forte
o concreto em si e o aço. O mesmo
nal, de modo a se evitar avaliações
separação de fases (Romano et al.,
ocorre para o controle da trabalha-
muito restritas.
u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] ALFERES FILHO, R. S.; MOTEZUKI, F. K.; ROMANO, R. C. O.; PILEGGI, R. G.; FIGUEIREDO, A. D. Evaluating the applicability of rheometry in steel fiber reinforced self compacting concretes. Revista IBRACON de Estruturas e Materiais, v. 9, p. 969-988, 2016. [2] CECCATO, M.R. Estudo da trabalhabilidade do concreto reforçado com fibras de aço. São Paulo, 1998, 98p. Dissertação de mestrado. Escola Politécnica, Universidade de São Paulo. [3] DING, Y.; LIU, S.; ZHANG, Y.; THOMA, A. The investigation on the workability of fibre cocktail reinforced self-compacting high performance concrete. Construction and Building Materials 22 (2008) 1462–1470. [4] FERRARA, L.; PARK, Y-D.; SHAH, S. P. A method for mix-design of fiber-reinforced self-compacting concrete. Cement and Concrete Research 37 (2007) 957–971 [5] FIGUEIREDO, A. D. Concreto reforçado com fibras, Tese de Livre-Docência, Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011. [6] FIGUEIREDO, A. D.; CECCATO, M. R. Workability Analysis of Steel Fiber Reinforced Concrete Using Slump and Ve-Be Test. Materials Research, p. 1, 2015. [7] FIGUEIREDO, A. D.; NUNES, N. L.; TANESI, J. Mix design analysis on steel fiber reinforced concrete. In: Fifth International RILEM Symposium on Fibre-Reinforced Concretes (FRC), 2000, Lyon. Fibre-Reinforced Concretes (FRC) - BEFIB’2000, 2000. p. 103-118. [8] JOHNSTON, C.D. Measures of the workability of steel fiber reinforced concrete and their precision. Cement, Concrete, and Aggregates. CCAGDP, v.6 n.2, Winter 1984. p.74-83. [9] MAIDL, B. Stahlfaserbeton. Berlin: Ernst & Sohn Verlag für Architektur und technische Wissenschaften, 1991. [10] ROMANO, R. C. O.; CARDOSO, F. A.; PILEGGI, R. G. Propriedades do Concreto no Estado Fresco. In: Geraldo Cechella Isaia. (Org.). Concreto: Ciência e tecnologia. 1ed. São Paulo: IBRACON, 2011, v. 1, p. 453-500. [11] SAHMARAN, M.; YURTSEVEN, A.; YAMAN, I. O. Workability of hybrid fiber reinforced self-compacting concrete. Building and Environment 40 (2005) 1672–1677
90 | CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017
u pesquisa e desenvolvimento
Ensaio não destrutivo para determinar a quantidade e a orientação média das fibras em CRFA por meio da indução eletromagnética ARTHUR HENRIQUE VIEIRA DE MELO Graduando em Engenharia Civil
RENATA MONTE Pesquisadora Doutora
ALINE DA SILVA RAMOS BARBOZA Professora Doutora
Centro de Tecnologia, Universidade Federal de Alagoas
Escola Politécnica, Universidade de São Paulo
Centro de Tecnologia, Universidade Federal de Alagoas
é não destrutivo, no entanto, ao con-
tamente proporcional a permeabilidade
desempenho mecânico dos
trário dos outros, todos os métodos
magnética do meio (μ) e ao coeficiente
elementos produzidos em
dentro dessa categoria necessitam de
de geometria (k), conforme a Equação 1.
1. INTRODUÇÃO
O
concreto reforçado com fi-
uma calibração prévia. Esses últimos
bras (CRF) depende da quantidade e da
são fundamentados nos conceitos de
dispersão das fibras. Desta forma, para
impedância, resistência elétrica, micro-
Mantendo-se as geometrias das
o desenvolvimento tecnológico do CRF,
-ondas e indutância (TORRENTS et al,
bobinas e dos corpos de prova cons-
são necessários métodos de controle
2012; CAVALARO et al, 2014;).
tantes é possível afirmar que a varia-
L = m ×k
[1]
de qualidade que mensurem a atuação
Para o concreto reforçado com
ção na indutância, medida quando as
das fibras como reforço da matriz (FI-
fibras de aço (CRFA) torna-se vanta-
peças de CRFA são introduzidas no
GUEIREDO, 2011).
josa a utilização dos métodos indire-
campo magnético, deve-se apenas à
Nas últimas décadas foram desen-
tos já que, dentre os constituintes do
presença das fibras de aço. Torrents et
volvidos vários métodos objetivando
concreto, apenas as fibras possuem
al (2012) submeteram corpos de prova
determinar a quantidade e a orientação
propriedade ferromagnética. Torrents
cúbicos de CRFA de 150 mm de ares-
das fibras, eles são classificados em:
et al (2012) propuseram o método
ta, com percentuais de adição de fibras
manuais, diretos e indiretos. O primei-
indutivo fundamentados nas Leis de
diferentes (15, 30, 45 e 60 kg/m³), ao
ro é totalmente destrutivo e consiste na
Faraday para estimar a quantidade e
ensaio indutivo. Após o ensaio, foram
reconstituição de traço de concreto en-
a distribuição das fibras num corpo de
triturados e a massa de fibras aferidas
durecido por meio da contagem e pe-
prova de CRFA por meio da variação
e constatou-se a relação linear entre a
sagem das fibras triturando ou lavando
da indutância medida. Esse método
soma da variação da indutância medida
os corpos de prova. O segundo é dito
utiliza basicamente duas bobinas ge-
nos três eixos principais e a massa de
não destrutivo quando se utiliza a análi-
radoras de campo magnético como
fibra de aço na amostra.
se de imagens, porém são necessários
elemento sensor e um medidor de
equipamentos de alto custo e não usu-
indutância.
Cavalaro et al (2015) aperfeiçoaram o método levando em consideração
ais em laboratórios de concreto, como
Segundo os fundamentos do ele-
outros formatos da bobina e do cor-
os de raios X e tomografia. O último tipo
tromagnetismo, a indutância (L) é dire-
po de prova, tornando-o aplicável a
CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017 | 91
as fibras paralelas e perpendiculares ao
u Tabela 1 – Caracterização dos agregados
campo magnético e, quando comparado com a amostra sem adição de fibras, a
Materiais
Massa (kg/m³)
Cimento
415,00
RBMG
207,50
Areia
734,31
Brita
790,98
Água inicial
166,00
Água complementar
36,66
éo
Água de absorção
11,03
ângulo formado entre a orientação mé-
Superplastificante
6,92
é o fator de
Fibras de aço FF 44
47,36
aspecto da fibra de aço utilizada. Sen-
Fibras de aço FF 80
26,05
indutância medida teve um incremento
Miúdo
Graúdo
Massa específica [g/cm³]
2,48
2,68
Cavalaro et al (2014) definiram e
Absorção (%)
0,80
0,64
equacionaram dois parâmetros para
Graduação granulométrica
média
0
Módulo de finura
2,91
–
de 87% e 13%, respectivamente.
análise da orientação das fibras pelo método indutivo: número de orientação ( η i ) e contribuição relativa ( C i ) das fibras em relação ao eixo i. Onde:
corpos de prova cilíndricos. A equação definida é mostrada abaixo, onde: é a quantidade de fibra,
u Tabela 3 – Dosagem do concreto
Cf
Li é a varia-
dia das fibras e o eixo i e do
ϑ
e
µ
γ
αi
fatores de correção quando
ção da indutância em relação ao eixo i,
as fibras estiverem orientadas de forma
Bv ,i é um coeficiente que está relacio-
com característica fluída. Utilizou-se
aleatória no corpo de prova.
cimento CPII Z-32, agregado miúdo
nado com a geometria, tante e
β
é uma cons-
Le é a indutância equivalente
em relação ao eixo i.
Cf = b ×å
J×
Li = b × Le B v ,i
e graúdo naturais e resíduo do be-
cos a i = h i = Li (1 + 2g )- Le Bv ,i g Le Bv ,i (1 - g )
-m
[3]
(RBMG) passante na peneira de 300
µm
[2]
Caso as fibras estejam paralelas às
neficiamento do mármore e granito como adição mineral. Esses ma-
teriais são caracterizados na Tabela 1
Ci =
linhas do campo magnético, a sua per-
hi
åi = x , y , z h i
[4]
e nas Figuras 1(a) e 1(b). Empregou-se aditivo superplastificante à base de éter policarboxílico e fibras de aço com
meabilidade magnética é máxima. Com
Este artigo analisa os resultados
ancoragem em gancho nos fatores de
isso a variação da indutância aferida será
do programa experimental realizado
forma (FF) 44 e 80. A caracterização
máxima também. Caso as fibras estejam
no intuito de validar aplicabilidade do
das fibras é apresentada na Tabela 2.
perpendiculares ao campo, a sua perme-
método indutivo e do equacionamento
As relações definidas por Silva et al
abilidade e a variação da indutância serão
proposto por Cavalaro et al (2015) na
(2012) foram mantidas e a dosagem é
mínimas. Torrents et al (2012) utilizaram
determinação da quantidade e da orien-
mostrada na Tabela 3.
placas de poliestireno expandido na pro-
tação média das fibras. Foram avalia-
O procedimento de mistura seguiu
dução de dois corpos de prova, um com
dos corpos de prova cúbicos de CRFA,
o proposto por Silva et al (2012), com
as fibras coladas paralelas ao eixo x e ou-
moldados sem indução da orientação
as fibras adicionadas no último estágio e
tro sem fibras. O corpo foi ensaiado com
das fibras, como forma de simular uma
dispersas na mistura. Fibras com fatores
situação real de concretagem.
de forma diferentes não foram misturadas, com isso foram moldados 6 corpos
u Tabela 2 – Caracterização da fibra de aço
2. METODOLOGIA
de prova cúbicos com 15cm de aresta, sendo 3 com cada fibra estudada.
2.1 Moldagem dos corpos de prova
Comprimento (mm)
33
60
Diâmetro (mm)
0,75
0,75
Fator de forma
44
80
Resistência à tração (MPa)
A dosagem utilizada foi estudada
>1100
>1100
O ensaio indutivo utiliza como ele-
por Silva et al (2012) e adaptada pe-
mento sensor uma bobina circular com
Módulo elástico (MPa)
21000
21000
los autores para produzir concreto
duplo enrolamento do tipo Helmholtz.
reforçado com fibras de aço (CRFA)
Este arranjo produz campo magnético
92 | CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017
2.2 Ensaio indutivo
a
b
uniforme de baixa intensidade num volume relativamente grande. Seguindo as recomendações de Cavalaro et al (2014) cada enrolamento foi montado com 1.200 voltas de fio de cobre de 0,3 mm e possui diâmetro de 250 mm. Levando
u Figura 1 Curva granulométrica dos agregados (a) e do RBMG (b)
em conta a espessura das bordas os enrolamentos foram colocados a uma distância de 130 mm entre si e também foram ligados paralelamente. Para aferir a variação da indutância optou-se por utilizar o medidor LCR portátil da Agilent modelo U1732C. A aparelhagem de ensaio é mostrada na Figura 2(a). A preparação do ensaio ocorre marcando-se os três eixos coordenados no corpo de prova como mostra a
a
b
Figura 2(b). Por conveniência definiu-se o eixo Z como eixo vertical e o pla-
u Figura 2 Ensaio indutivo (a) e marcação dos elementos de calibração e corpos de prova (b)
no XY como plano de lançamento do concreto. Posteriormente os terminais de entrada e saída são conectados a entrada positiva e negativa do medidor LCR, respectivamente. O procedimento de ensaio consiste na colocação dos corpos de prova de acordo com os três eixos principais, X, Y e Z, e a medição da indutância para cada. Utilizando um corpo de prova sem fibras como parâmetro é possível determinar a variação da indutância em relação ao eixo X, Y e Z, respectiva-
a
b
mente,
∆L x , ∆L y e ∆L z .
2.3 Calibração dos parâmetros Por ser um método indireto, faz-se necessário a calibração dos parâmetros antes dos ensaios com corpos de prova de concreto. Nesse intuito foram produzidos elementos de calibração que atuam como corpos de
c
prova padrão utilizando placas de poliestireno expandido em duas es-
u Figura 3 Produção das placas (a) e dos cubos (b) e os cubos prontos (c)
pessuras (5 e 10 mm) e amostra das fibras de aço utilizadas no programa CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017 | 93
u Tabela 4 – Características dos elementos de calibração Fibras de aço com fator de forma 44 Espessura (mm)
10
10
10
05
05
05
Orientação (graus)
30
45
60
30
45
60
Referência
PD-44-1
PD-44-2
PD-44-3
PD-44-4
PD-44-5
PD-44-6
05
05
Fibras de aço com fator de forma 80 Espessura (mm)
10
10
10
05
Orientação (graus)
30
45
60
30
45
60
Referência
PD-80-1
PD-80-2
PD-80-3
PD-80-4
PD-80-5
PD-80-6
experimental (FF44 e FF80). A confec-
No total foram produzidos 13
necessita-se determinar a reta de
ção foi iniciada cortando as placas de
cubos e suas características estão
calibração da fibra utilizada. Nesse
poliestireno expandido em quadrados
na Tabela 4. A quantidade de fibras
sentido, utilizou-se os elementos de
de aresta 15cm e as fibras, de cada FF
de cada cubo foi estimada toman-
calibração, visto que a quantidade de
separadamente, foram coladas sobre
do como referência a densidade do
fibras é conhecida. Com a Equação 2,
as placas numa orientação predefinida
concreto igual a 2400 kg/m³ e o per-
a indutância equivalente foi calculada
(30, 45 ou 60º) em relação ao eixo X.
centual de adição de fibras de 47,36
adotando
Posteriormente, as placas com fibras
e 26,05 kg/m³ para os FF 44 e 80,
et al, 2015). Na Tabela 5 é mostrada
de mesmo FF e orientadas na mesma
respectivamente. Esta quantidade foi
a variação da indutância por eixo, a
direção foram coladas umas sobre as
dividida nas 14 placas, portanto ado-
indutância equivalente e a massa de
outras formando um cubo com ares-
tou-se 70 e 30 fibras por placa, para
fibra do corpo. Nas Figuras 4(a) e 4(b)
ta de 15 cm. O procedimento de pro-
os FF 44 e 80, respectivamente.
são mostradas as retas de calibração
dução dos elementos de calibração é mostrado na Figura 3.
Para estimar a quantidade de fibras num corpo de prova de CRFA
Bv , z = 2.342 (CAVALARO
para as fibras com fator de forma 44 e 80, respectivamente.
u Tabela 5 – Variação da indutância nos elementos de calibração Eixo
Variação da indutância (mH) PD-44-1
PD-44-2
PD-44-3
PD-44-4
PD-44-5
PD-44-6
Z
0,4
0,4
0,4
0,8
0,8
0,8
Y
3,0
5,3
6,2
5,5
9,6
14,0
X
7,6
5,1
4,5
13,8
10,3
5,7
Le
4,65E-03
4,61E-03
4,72E-03
8,56E-03
8,82E-03
8,73E-03
Fibras (kg)
0,105
0,105
0,105
0,210
0,210
0,210
Eixo
Variação da indutância (mH) PD-80-1
PD-80-2
PD-80-3
PD-80-4
PD-80-5
PD-80-6
Z
0,3
0,3
0,3
0,7
0,7
0,7
Y
2,8
5,0
7,3
5,3
9,2
13,5
X
7,4
5,0
2,7
13,6
9,4
5,3
Le
4,46E-03
4,36E-03
4,40E-03
8,35E-03
8,24E-03
8,33E-03
Fibras (kg)
0,093
0,093
0,093
0,186
0,186
0,186
94 | CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017
a
b
u Figura 5 Relação entre os ângulos previstos e os calculados nos elementos de calibração
u Figura 4 Reta de calibração para fibras de FF 44 (a) e FF 80 (b) É observado que a relação entre as grandezas é linear ( R
2
≈ 1 ) como de-
monstrado por Torrents et al (2012).
todos os corpos. Essa uniformidade é alcançada devido a fluidez do consaio indutivo com o ângulo teórico de
creto utilizado.
orientação das fibras.
Portanto, as Equações 5 e 6 expres-
3.2 Determinação da orientação média das fibras
sam a equação da reta de calibração para as fibras com fator de forma 44
Os elementos de calibração foram fabricados manualmente, portanto a pequena variação nos ângulos cal-
e 80, respectivamente.
C f = 23,78189 × Le
[5]
C f = 22,13558 × L e
[6]
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
De maneira a comprovar a Equa-
culados era esperada. Porém, os re-
ção 3 proposta por Cavalaro et al
sultados comprovam a aplicabilidade
(2015), utilizou-se os elementos de
das equações para estimar a orienta-
calibração, pois suas fibras foram
ção média das fibras.
orientadas (30, 45 ou 60º em rela-
Os ensaios foram realizados com
ção ao eixo X e perpendiculares ao
os corpos de prova de CRFA e os
eixo Z). Para os parâmetros
γ
3.1 Determinação da quantidade de fibras No intuito de estimar a quantidade
ϑ, µ
e
parâmetros de orientação para cada
foram adotados, respectivamen-
corpo foi determinado utilizando as
te, os valores de 1,03, 0,10 e 0,05,
Equações 3 e 4. Os resultados são
conforme
apresentados na Tabela 7.
indicado
por
Cavalaro
Segundo a literatura, nos concre-
et al (2015).
de fibras de aço, os corpos de pro-
A contribuição das fibras em rela-
tos com característica fluída, as fibras
va de concreto foram submetidos ao
ção aos eixos principais é calculada
de aço tendem a alinhar-se com o flu-
ensaio indutivo padronizado. Com a
pela Equação 4 e mensura a contri-
xo de lançamento. Ao analisar os da-
indutância equivalente calculada utili-
buição das fibras orientadas em pa-
dos obtidos para os cubos de CRFA, é
zando a Equação 2, a massa de fibras
ralelo ao eixo analisado para variação
observada a tendência das fibras se
foi calculada aplicando as Equações
total da indutância aferida, uma vez
orientarem
5 e 6. Sabendo que os teores de adi-
que as fibras quando em paralelo
eixo Z. Isto evidencia que a fluidez do
ção das fibras foram 47,36 e 26,05
com o campo magnético têm contri-
concreto proporcionou o alinhamen-
kg/m³ para os FF 44 e 80, respetiva-
buição máxima na variação da indu-
to das fibras ao fluxo de lançamento.
mente, nota-se que a distribuição das
tância. A Figura 5 apresenta o gráfico
Em relação aos eixos X e Y, é notório
fibras ocorreu de forma uniforme em
que relaciona o ângulo medido no en-
que os valores calculados do número
perpendicularmente
ao
u Tabela 6 – Cálculo do teor de fibras CP-44-1
CP-44-2
CP-44-3
CP-80-1
CP-80-2
CP-80-3
Indutância equivalente (mH)
6,8E-03
6,4E-03
7,6E-03
3,5E-03
4,2E-03
4,5E-03
Massa das fibras (kg)
0,162
0,153
0,181
0,077
0,092
0,099
Teor de fibras (kg/m³)
48,13
45,42
53,54
22,96
27,43
29,39
CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017 | 95
u Tabela 7 – Determinação dos parâmetros de orientação dos corpos de prova de concreto CP-44-1 Eixo
ΔL (mH)
CP-44-2
2,9
η
0,31
α (°) 72,0
0,21
Y
6,0
0,54
57,6
X
7,1
0,60
53,2
Z
Le
ΔL (mH) 3,3
η
0,36
α (°) 68,8
0,25
0,37
6,2
0,57
55,3
0,42
5,6
0,53
57,8
C
6,83E-03
ΔL (mH) 2,1
0,41
α (°) 65,9
0,28
Y
3,2
0,55
56,6
X
2,9
0,52
59,0
Le
3,6
0,33
α (°) 71,0
0,23
0,39
7,7
0,57
55,3
0,41
0,36
6,5
0,51
59,4
0,36
ΔL (mH)
CP-80-3
2,3
η
0,38
α (°) 67,5
0,26
0,37
4,0
0,57
55,4
0,35
3,5
0,52
58,7
C
3,50E-03
C
7,60E-03
CP-80-2
η
Z
ΔL (mH)
η
C
6,45E-03
CP-80-1 Eixo
CP-44-3
ΔL (mH) 1,7
η
0,28
α (°) 73,8
0,19
0,39
4,8
0,61
52,3
0,43
0,35
4,0
0,54
57,2
0,38
C
4,18E-03
C
4,48E-03
de orientação e do ângulo médio para
o calculado corrobora com a litera-
cada eixo aproximam-se. Isso mostra
tura, evidenciando a importância da
a tendência de as fibras alinharem-
fluidez do concreto para uma disper-
qualificado para o controle de qua-
-se a 45º no plano XY. Na Figura 6 é
são eficiente das fibras nas peças
lidade do concreto reforçado com
mostrado o percentual da contribui-
de CRFA.
fibras de aço. É um método de fácil
ção das fibras nos três eixos.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS O
método
indutivo
mostra-se
execução, de baixo custo e capaz de
Com o percentual de contribui-
grande influência na orientação das
estimar a quantidade e a dispersão
ção das fibras aos eixos coordena-
fibras, o chamado efeito de borda.
das fibras de forma não destrutiva.
dos, constata-se nos seis corpos a
Por se utilizar um molde de peque-
Dessa maneira, o mesmo pode ser
tendência, no plano XY, de as fibras
nas dimensões, quando comparado
aplicado em conjuntos com outras
orientarem-se a 45º em relação ao
ao comprimento das fibras, esse
determinações, como a verificação
eixo X. Segundo a literatura, as fibras
efeito foi atenuado. Isso é consta-
da resistência à compressão do con-
tendem a alinhar-se paralelamente ao
tado no elevado valor do percentual
creto, ampliando a abrangência do
maior comprimento (quando trata-
de contribuição das fibras ao eixo Z,
sistema de controle com pequena
-se de uma seção quadrada o maior
no entanto em peças robustas esse
majoração dos custos.
comprimento é a diagonal). Portanto,
efeito é minimizado.
O processo de determinação da
50,0
50,0
40,0
40,0 % de controbuição
% de controbuição
As paredes do molde exercem
30,0 20,0 10,0 0,0
30,0 20,0 10,0 0,0
Z
Y
X
Z
Y
X
CP-44-1
21,36
37,13
41,51
CP-80-1
27,71
37,35
34,94
CP-44-2
24,68
38,94
36,38
CP-80-2
26,02
38,65
35,33
CP-44-3
23,22
40,56
36,21
CP-80-3
19,44
42,70
37,86
u Figura 6 Gráfico do percentual de contribuição por eixo
96 | CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017
reta de calibração para ambas as
O equacionamento proposto por
fibras, principalmente em peças de
fibras se mostrou simples e com-
Cavalaro et al (2015) para determi-
pequenas dimensões como a utiliza-
provou-se a relação linear entre a
nação do ângulo médio foi validado
da. Além disso, é observado que, no
indutância equivalente e a massa de
e a estimativa da orientação das fi-
plano XY, as fibras tendem a alinhar-
fibras, de modo que o coeficiente de
bras em corpos de prova de concre-
-se com a diagonal do molde, ou seja,
determinação R² foi próximo a 1,0.
to mostrou-se oportuna. Verificou-se
a 45º em relação aos eixos X e Y.
Portanto, essa reta pode ser utilizada
a tendência das fibras se orientarem
como parâmetro de referência para
perpendicular ao eixo Z devido à flui-
5. AGRADECIMENTOS
o controle de qualidade do CRFA
dez do concreto utilizado. No entanto,
Os autores agradecem ao CNPq
quando produzida para o tipo de fi-
nota-se que efeito de borda tem gran-
pelo apoio financeiro disponibilizado
bra utilizada.
de influência na orientação final das
ao projeto.
u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] CAVALARO, S.; LÓPEZ, R.; TORRENTS, J.; AGUADO, A. Improved assessment of fibre content and orientation with inductive method in SFRC. Materials and Structures, 2014. [2] CAVALARO, S.; LÓPEZ, R.; TORRENTS, J.; AGUADO, A.; GARCÍA, P. Assessment of fibre content and 3D profile in cylindrical SFRC specimens. Materials and Structures, 2015. [3] FIGUEIREDO, A. D. Concreto com Fibras. Concreto: Ciência e Tecnologia. G. C. Isaia. 1. Ed. São Paulo. 2v, Cap. 37. IBRACON, 2011. [4] SILVA, E. B.; OLIVEIRA, D. T. DA S.; NUNES, M. C.; BARBOZA, A. S. R. Análise da influência das fibras no comportamento no estado fresco de argamassas fluidas. 5º Simpósio Internacional sobre Concretos Especiais. Fortaleza, 2012. [5] TORRENTS, J.; BLANCO, A.; PAJUDAS, P.; AGUADO, A.; JUAN-GARCIA, P.; SÁNCHEZ-MORAGUES, M. Inductive method for assessing the amount and orientation of steel fibers in concrete. Materials and Structures, 2012.
Curso
Instrutores
Data
Carga horária
Local
Realizador
IBRACON Regional
Diagnóstico e Reabilitação de Estruturas de Concreto
Eliana Monteiro, Enio Pazini Figueiredo e Paulo Helene
31 de agosto
4 horas
Auditório da Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco/ UPE
Execução de Estruturas de Concreto – Engenhosidades e Soluções
Paulo Helene, Carlos Britez e Jéssika Pacheco
3 de outubro
15 horas
Av. Paulista, 509, 13° andar
PhD, IDD, IBRACON
Curso RILEM/IBRACON sobre Especificações de Projeto em Concreto Reforçado com Fibras
Marco di Prisco, Thomaz Buttignol, Barzin Mobasher
31 de outubro e 1º de novembro
12 horas
Fundaparque, Bento Gonçalves, RS
IBRACON
Curso sobre Pré-fabricados
Iria Doniak
1º de novembro
4 horas
Fundaparque, Bento Gonçalves, RS
IBRACON
Dimensionamento de Vigas Isostáticas protendidas
Fábio Albino
2 de novembro
8 horas
Fundaparque, Bento Gonçalves, RS
IBRACON
Artefatos de Concreto Vibroprensado
Idário Fernandes
3 de novembro
4 horas
Fundaparque, Bento Gonçalves, RS
IBRACON
CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017 | 97
u pesquisa e desenvolvimento
Resistência ao cisalhamento de vigas de concreto armado sem armadura transversal reforçadas com fibras de aço PAULA C.P. VITOR – Mestre em Estruturas e Construção Civil ANTÔNIO CARLOS D. SANTOS – Professor Doutor Departamento de Engenharia Civil, Universidade Federal de Uberlândia
Tal prática permite dispensar a arma-
ção, reduzem o espaçamento e largura
uso de fibras de aço au-
dura de cisalhamento mínima quando
da fissura diagonal crítica, o que au-
menta substancialmente a
a condição da equação 1 é atendida.
menta o mecanismo de engrenamento
1. INTRODUÇÃO
O
capacidade de resistência
Esta Prática Recomendada incorpora
dos agregados (DINH, PARRA-MON-
ao esforço cortante de vigas, sendo
também uma equação que estima a re-
TESINOS e WIGHT, 2010).
tais fibras utilizadas como complemen-
sistência ao esforço cortante de vigas
Pesquisas relatam aumento da re-
to ou como substituição da armadu-
de CRFA, levando em consideração
sistência ao esforço cortante de até
ra de cisalhamento convencional (ACI
fatores como o efeito do tamanho do
258% quando são adicionadas fibras ao
544.4R, 2009).
elemento, a taxa de armadura longitu-
concreto de vigas de resistência normal
DINH, PARRA-MONTESINOS e WI-
dinal, a resistência residual à tração do
(SLATER, MONI e ALAM, 2012). No en-
GHT (2010) concluíram que o uso de
concreto e a resistência à compressão
tanto, o ganho de resistência ao esforço
fibras com gancho nas extremidades
do concreto.
cortante pode variar dependendo das ca-
com teor de fibras (Vf) maior ou igual a 0,75% (60 kg/m de concreto) aumenta 3
f Ftuk ³ 0,08 f ck Mpa
racterísticas do ensaio, das propriedades
[1]
do teor de fibras adicionado ao concreto
a resistência ao cisalhamento de vigas sem armadura transversal, podendo essas fibras ser utilizadas como armadura mínima de cisalhamento. A norma brasileira ABNT NBR 6118: Projetos de Estruturas de concreto não estabelece os requisitos básicos exigíveis para o projeto de estruturas de
das vigas, das propriedades das fibras,
Onde:
f Ftuk : resistência residual à tração característica última do CRFA, conside-
(Vf) e da propriedades da matriz.
1.1 Importância do tema
rando uma abertura máxima de fissura de 1,5 mm;
f ck :
resistência à compressão carac-
terística do concreto.
A execução das armaduras convencionais pode demandar uma grande parcela de tempo do processo constru-
concreto com a utilização de fibras. No
O efeito das fibras no comporta-
tivo, o que contribui para o aumento do
entanto, a Prática Recomendada “Pro-
mento do concreto se deve as pontes
custo. O concreto reforçado com fibras
jeto de Estruturas de Concreto Refor-
de transferência de tensões criadas pe-
de aço (CRFA) tem sido considerado
çado com fibras”, elaborada pelo comi-
las fibras que minimizam a concentra-
uma opção viável para o aumento da
tê IBRACON/ABECE (2016), aborda o
ção de tensões nas extremidades das
resistência ao cisalhamento, reduzindo
dimensionamento de elementos linea-
fissuras (FIGUEIREDO, 2011). Estas
a possibilidade de ruptura súbita em vi-
res de CRFA sujeitos a força cortante.
pontes transferem as tensões de tra-
gas sem armadura transversal.
98 | CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017
Apesar das fibras de aço serem reconhecidas como material estrutural pela Prática Recomendada elaborada pelo comitê IBRACON/ABECE (2016) e por códigos internacionais, ainda há uma carência de diretrizes com orientações para cálculo da resistência ao cisalhamento de elementos de CRFA submetidos à flexão. Pesquisas são necessárias para investigar o comportamento de vigas de CRFA submetidas à flexão para as várias combinações de relação a/d (vão de cisalhamento, a; e altura útil da viga, d), Vf , classe de resistência do concreto e ρ (taxa de armadura longitudinal de tra-
u Figura 1 Detalhamento das armaduras
ção) para prever com precisão a resistência ao cisalhamento e assim criar e
saiadas à flexão em quatro pontos até
creto de fc próxima de 40 MPa. As vi-
validar procedimentos normativos. Para
a ruptura para avaliar a influência do Vf,
gas de ambas as séries apresentavam
tanto, os objetivos deste estudo foram
ρ e fc no modo de ruptura e resistência
as mesmas dimensões: 2400 mm de
avaliar a influência da adição da fibra de
da viga ao cisalhamento. O vão de cisa-
comprimento, 150 mm de largura e 300
aço na resistência ao cisalhamento e o
lhamento a foi de 700 mm.
mm de altura. Tanto para a série S20 quanto para
modo de ruptura em vigas de concreto armado com a variação da ρ, Vf e fc.
2.1 Detalhes das vigas
a S40 foram utilizados três Vf, 0,0%, 0,64% e 0,77% (50 kg/m3 e 60 kg/m3)
As vigas foram divididas em duas
e duas ρ, 1,32% (4 Ø 12,5, denomina-
Um total de nove vigas de concreto
séries. A série S20 foi composta de
da A) e 1,55% (3 Ø 16,0, denomina-
armado biapoiadas (vão teórico 2000
4 vigas moldadas com concreto de fc
da B). A Tabela 1 lista as propriedades
mm), sem armadura transversal na re-
próxima de 20 MPa e a série S40, com-
das vigas ensaiadas. A denominação
gião dos esforços cortantes, foram en-
posta de 5 vigas moldadas com con-
adotada para as vigas foi baseada na série
2. PROGRAMA EXPERIMENTAL
u Tabela 1 – Propriedades das vigas
1
Vigas
d (mm)
a/d
ρ (%)
fy1 (MPa)
Vf (%)
fct2 (MPa)
fc (MPa)
Pu3 (kN)
Vu4 (kN)
νu5 (MPa)
S20A-0
247,5
2,83
1,32
603,6
0,00
2,43
23,93
111
55,50
1,495
0,306
cortante
S20A-0.64
247,5
2,83
1,32
603,6
0,64
3,16
22,32
145
72,50
1,953
0,413
cortante
νu /
fc
Modo de ruptura
S20A-0.77
247,5
2,83
1,32
603,6
0,77
3,33
24,16
213
106,50
2,869
0,584
cortante
S20B-0.77
262
2,67
1,55
584,3
0,77
3,08
23,76
185
92,50
2,354
0,483
cortante
S40A-0
247,5
2,83
1,32
603,6
0,00
3,41
35,67
120
60,00
1,616
0,271
cortante
S40B-0
262
2,67
1,55
584,3
0,00
3,27
36,29
137
68,50
1,743
0,289
cortante
S40A-0.64
247,5
2,83
1,32
603,6
0,64
5,42
35,70
209
104,50
2,815
0,471
flexão
S40B-0.64
262
2,67
1,55
584,3
0,64
4,40
39,38
246
123,00
3,130
0,499
flexo-cortante
S40B-0.77
262
2,67
1,55
584,3
0,77
5,46
37,05
230
115,00
2,926
0,481
flexo-cortante
fy (resistência ao escoamento do aço); fct (resistência à tração por compressão diametral); Pu (força última); Vu (cortante última); νu (tensão de cisalhamento última). 2
3
4
5
CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017 | 99
armaduras e no concreto foram mensuradas com a utilização de extensômetros elétricos. Na Figura 2 são apresentados os detalhes das posições dos extensômetros nas armaduras e no concreto, com as suas respectivas posições e nomenclaturas. Nesta figura também são vistos o posicionamento de três LVDT (Linear Variable Differential Transformer), um no meio do vão para medida da deflexão, e os outros dois, para monitorar qualquer deslocamento no apoio.
2.2 Materiais e moldagem do concreto
u Figura 2 Posicionamento dos extensômetros
Na Tabela 2 são vistos o consumo S20 ou S40, taxa de armadura longitudinal
duras e do gancho de ancoragem cor-
dos materiais para 1 m3 de concreto e
A (1,32 %) ou B (1,55 %) e Vf adicionado à
respondente a 160 mm, para as barras
os resultados de abatimento de tronco
matriz de concreto (0 %, 0,64 % ou 0,77
de 12,5 mm, e 200 mm, para as barras
de cone.
%). Na Figura 1 são vistos a geometria e
de 16,0 mm. Uma vez que o momento
A relação água/cimento (a/c) foi
detalhamento das armaduras.
negativo nas vigas era nulo, foram utili-
0,70, para a série S20, e 0,43, para a
O cobrimento das armaduras foi de
zadas 2 barras de aço CA 60 de 5 mm
série S40. Foram utilizados o cimento
25 mm, exceto na região normal aos gan-
como armadura longitudinal superior,
CP III 40 RS, agregado miúdo de areia
chos onde o cobrimento foi de 70 mm.
para efeitos construtivos.
lavada de rio e os agregados graúdos
As ancoragens das armaduras lon-
de pedra britada de rocha basáltica.
2.1.1 Instrumentação das vigas
gitudinais de tração nas extremidades
As fibras de aço foram do tipo com
das vigas foram realizadas por meio do
gancho na extremidade (Figura 3), com As deformações específicas nas
cálculo do comprimento reto das arma-
comprimento de 60 mm, diâmetro de
u Tabela 2 – Consumo dos materiais Série S20
Componentes
S20A-0
Série S40
S20A-0.64 S20A-0.77 S20B-0.77
S40A-0
S40B-0
S40A-0.64 S40B-0.64 S40B-0.77
Abatimento (mm)
110
75
100
110
140
130
55
55
120
Cimento (kg/m )
300,30
300,30
300,30
447,00
447,00
447,00
22,32
145
72,50
276,28
276,28
276,28
250,32
250,32
250,32
24,16
213
106,50
516,52
516,52
516,52
464,88
464,88
464,88
23,76
185
92,50
Brita Dmax 12,5 mm (kg/m )
252,25
252,25
252,25
268,20
268,20
268,20
35,67
120
60,00
Brita Dmax 19,0 mm (kg/m )
757,76
757,76
757,76
804,60
804,60
804,60
36,29
137
68,50
3
Areia MF 1,59 (kg/m3) 1
Areia MF 3,15 (kg/m ) 3
2
3
3
Água (l/m )
198,20
198,20
198,20
179,80
179,80
179,80
35,70
209
104,50
Aditivo (l/m3)
0,29
0,57
1,29
1,28
2,13
2,34
39,38
246
123,00
Teor de fibra (kg/m3)
NA3
50
60
NA
50
60
37,05
230
115,00
Teor de fibras em volume (%)
NA
0,64
0,77
NA
0,64
0,76
39,38
246
123,00
3
MF: Módulo de finura; Dmax: Diâmetro máximo; NA: não se aplica.
1
2
3
100 | CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017
0,90 mm, fator de forma de 65, resis-
creto e o deslocamento no meio do vão
utilizando a prensa eletromecânica ser-
tência à tração de 1160 MPa e módulo
e nos apoios foram armazenados por
vo-controlada (Figura 5). A prensa pos-
de elasticidade de 210 GPa.
equipamento aquisitor de dados, para
sui capacidade de carga de 600 kN.
Para cada viga foram moldados 6 cor-
uma frequência de 5 hertz.
pos de prova cilíndricos (100 mm x 200
Os ensaios de resistência à com-
mm), 3 para a verificação da resistência à
pressão e resistência à tração por
3. RESULTADOS EXPERIMENTAIS E DISCUSSÕES
compressão e 3 para resistência à tração
compressão diametral foram realizados
O efeito da adição de fibras na fc e
por compressão diametral. Os corpos de prova ficaram 24 horas em câmara úmida, posteriormente foram desformados e mantidos em cura submersa até a data de realização dos ensaios das vigas.
2.3 Configuração dos ensaios Os ensaios foram realizados com
u Figura 3 Fibras de aço
mais de 120 dias de cura do concreto das vigas. Para aplicação das cargas Atuador hidráulico
foi utilizado o pórtico metálico montado sobre a laje de reação do laboCélula de carga
ratório de Estruturas da Universidade Federal de Uberlândia. Durante o ensaio, as vigas ficaram
Viga metálica
apoiadas em dois roletes. Cada um dos roletes foi apoiado em um bloco de concreto. O carregamento da viga foi aplicado por atuador hidráulico alimentado por uma bomba manual e transferido a dois pontos simétricos da viga afastados de 700 mm de cada um dos apoios, por meio de uma viga constituí-
u Figura 4 Configuração do ensaio
da por perfil metálico “I” (Figura 4). Para a medição do carregamento, foi utilizada uma célula de carga de 500 kN. A viga de perfil “I” ficou interposta entre a célula de carga e a viga de concreto. Essa viga metálica transferiu a carga do atuador hidráulico para duas placas de aço de 5 cm de largura, que foram apoiadas e niveladas com argamassa sobre a viga de concreto. A força foi aplicada com incrementos de 15 kN e mantida em tempo médio aproximado de 30 segundos. Os dados da célula de carga, as deformações das armaduras e do con-
u Figura 5 Ensaio dos corpos de prova cilíndricos
CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017 | 101
As vigas sem adição de fibras (S40A0, S40B-0 e S20A-0) apresentaram uma perda repentina da capacidade de suportar a carga imediatamente após a força última (Pu) ser alcançada devido ao rápido aumento da fissura diagonal. Analisando as vigas da S40, observa-se que a forma da curva variou dependendo da ρ, que ditou se a ruptura por cisalhamento ocorreu antes ou depois do escoamento da armadura longitudinal de tração. Na situação onde o escoamento da armadura longitudinal precedeu a rup-
u Figura 6 Efeito da adição de fibras de aço na resistência à compressão e à tração do concreto
tura, a curva exibiu um patamar de escoamento bem definido (viga S40A-0.64). DINH, PARRA- MONTESINOS e WIGHT (2010), encontraram resultado semelhan-
bras influenciou significativamente a
te em vigas sem estribos, com Vf de 1
compressão diametral fct podem ser vis-
resistência à tração por compressão
% e ρ de 2,0 % e 2,7 %. As vigas com
tos na Figura 6.
diametral. Na S20A e S40B, o aumento
menores ρ (2%) apresentaram um platô
O acréscimo de fibras de aço ao
do Vf de 0 para 0,77% foi acompanhado
bem definido, indicando escoamento da
concreto exerceu influência pouco sig-
de um aumento da fct de 37% e 67%,
nificativa ou mesmo uma redução na fc
respectivamente. Na S40A, a fct aumen-
conforme já observado por MEHTA e
tou 59% com a adição de 0,64%. O
ça última (Pu) como o deslocamento
MONTEIRO (2014). Esses autores rela-
aumento da fct é creditado a maior mo-
último aumentaram, tanto para a série
tam que acréscimo de fibras de aço no
bilização de energia para ocasionar a
S20 como para a série S40. A exce-
concreto em teores inferiores a 2% por
formação e propagação de fissuras.
ção ocorreu entre as vigas S40B-0.64 e
na resistência à tração do concreto por
volume exerce influência desprezível na resistência à compressão. Ao contrário da fc, a adição de fi-
armadura longitudinal anterior à ruptura. Com o aumento do Vf, tanto a for-
As curvas força × deslocamento no
S40B-0.77, nas quais o aumento do Vf
meio do vão, quando mantidos constan-
foi acompanhado por uma redução tan-
tes ρ e fc, são mostradas na Figura 7.
to de Pu como do deslocamento. Isso
u Figura 7 Curvas força × deslocamento no meio do vão
102 | CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017
pode ser atribuído à dificuldade de moldagem atribuída a este teor de fibras. O deslocamento último foi definido como o deslocamento no qual a força resistida pela viga caiu significativamente.
3.1 Modo de ruptura e padrão de fissuração
a
Viga S20A-0
O modo de ruptura de todas as vigas está listado na Tabela 1. A presença de fibras de aço na matriz de concreto alterou o padrão de fissuração tanto na série S20 como na S40. Nas vigas S20A-0 e S40A-0 (sem fibras de aço), fissuras de flexão se formaram
b
Viga S20A-0.64
c
Viga S20A-0.77
primeiramente na região de momento constante (entre os pontos de aplicação da força). A ruptura ocorreu de forma súbita, imediatamente após o aparecimento de uma única fissura diagonal. Na S20 (Figura 8), mantendo as demais variáveis constantes, com o aumento do teor de fibras houve alteração no padrão de fissuração, com a formação de pelo menos duas fissuras diagonais, um
u Figura 8 Padrão de fissuração na S20 com o aumento do teor de fibras
maior número de fissuras de flexão, com consequente menor espaçamento entre elas. A ruptura ocorreu pelo alargamento da fissura diagonal, com um padrão de ruptura menos frágil quando comparado com a viga sem fibra S20A-0. Na S40 (Figura 9 e Figura 10), mantendo as demais variáveis constantes, com o aumento do teor de fibras, houve altera-
a
ção no padrão de fissuração e o modo de
Viga S40A-0
ruptura foi alterado para uma combinação cortante-flexão. Fissuras diagonais e de flexão interagiram para causar a ruptura. Assim, como na S20, com o aumento do teor de fibras houve alteração no padrão de fissuração, com a formação de pelo menos duas fissuras diagonais, um maior número de fissuras de flexão com menor espaçamento entre elas. Além do maior número de fissuras,
b
Viga S40A-0.64
u Figura 9 Padrão de fissuração na S40A com o aumento do teor de fibras
CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017 | 103
as vigas de CRFA, ao contrário das ou-
dia ao cisalhamento na ruptura, definida
o reforço de fibras. É importante observar
tras vigas, apresentaram o alargamento
como a cortante última (Vu) dividida pelo
que a viga S40A-0.64 rompeu à flexão
de, pelo menos, uma fissura inclinada
produto da altura útil pela largura da viga.
e, para as vigas que falharam na flexão a
proeminente, que forneceu algum aviso
O efeito do teor de fibras na νu para
força de ruptura não é igual a resistência
a S20A e S40B está ilustrado na Figura
ao cisalhamento. Desta forma, a força de
11. Observa-se que, para a S20A, um
ruptura somente forneceu um limite infe-
apesar do carregamento aplicado ter
teor de fibras acima de 0,64% (50 kg/m
rior na resistência ao cisalhamento.
sido simétrico, a abertura da fissura
de concreto) implicou um aumento mais
Analisando a resistência ao cisalha-
e ruína não o foi. Tal comportamento
significativo na νu, de mais de 90% quan-
mento normalizada pela resistência à com-
pode ser explicado pela própria hetero-
do comparado com a viga sem fibra. Ao
geneidade do material.
contrário, na S40B, a eficiência do refor-
valores de ν u /
ço de fibra em aumentar a resistência ao
0.64) apresentaram um nível de tensão
cisalhamento, tendeu a diminuir quando
de cisalhamento normalizada mais de 1,5
utilizado Vf superior a 0,64%.
vezes superior às vigas sem fibras e com
sobre o iminente colapso. Observa-se que em todas as vigas,
3.2 Resistência ao cisalhamento última
3
Na S40A, a adição de 0,64% de fiA resistência ao cisalhamento última
bras causou um aumento de 74,20%
(νu) obtida para as vigas está descrita na
na νu; na S40B, esse aumento foi de
Tabela 1 em termos de resistência mé-
79,56% quando comparada à viga sem
pressão (ν u /
f c ), as vigas com maiores f c (S20A-0.77 e S40B-
mesma taxa de armadura longitudinal.
4. CONCLUSÕES Neste trabalho foi investigado o comportamento de vigas de CRFA submetidas à flexão em quatro pontos. Um total de nove vigas foram ensaiadas para investigar a influência do Vf , ρ e fc no modo de ruptura e resistência da viga ao cisalhamento. Também foi avaliada a influência da adição de fibras na fc e fct de
a
Viga S40B-0
corpos de prova cilíndricos de concreto. As principais conclusões que podem ser retiradas deste estudo experimental são: u A adição de fibras de aço ao concreto
teve efeito significativo na fct, ocorrendo um aumento da fct com o aumento
b
c
Viga S40B-0.64
Viga S40B-0.77
u Figura 10 Padrão de fissuração na S40B com o aumento do teor de fibras
104 | CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017
u Figura 11 Efeito do V f na V u
do Vf. Ao contrário, o efeito das fibras
deslocamento. Isso foi creditado à
nor espaçamento entre elas. Esse pa-
sobre a fc foi pouco significativo.
dificuldade de moldagem atribuída a
drão de fissuração foi mais favorável
este teor de fibras.
para a segurança, uma vez que pro-
u Com o aumento do Vf, a Pu e o des-
locamento último aumentaram tanto
u A presença de fibras de aço na matriz
para a série S20 como para a série
de concreto alterou o padrão de fis-
u A adição de fibras de aço com gancho
S40. A exceção ocorreu entre as vi-
suração tanto na série S20 como na
na extremidade na matriz de concreto
gas S40B-0.64 e S40B-0.77, nas
S40, com a formação de, pelo menos,
aumentou a resistência ao cisalha-
quais, com o aumento do Vf, ocorreu
duas fissuras diagonais, um maior nú-
uma redução tanto de Pu como do
mero de fissuras de flexão, com me-
mento de vigas submetidas à flexão do ponto de vista de ν u / f c .
porcionou uma ruptura mais avisada.
u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118. Projeto de estruturas de concreto: Procedimento. Rio de Janeiro, 2014.239 p. [2] AMERICAN CONCRETE INSTITUTE. ACI 544.4R: Design Considerations for Steel Fiber Reinforced Concrete. ACI committee, 1988. Reapproved 2009. 22 p. [3] DINH, H.H.; PARRA-MONTESINOS, G.J.; WIGHT, J. Shear behavior of steel fiber-reinforced concrete beams without stirrup reinforcement. ACI Structural Journal, Farmington Hills, v. 107, n. 5, sep-oct. 2010. [4] FIGUEIREDO, A. D. Concreto reforçado com fibras de aço. 2011. 247 p. Tese (Livre Docência) – Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, Departamento de Engenharia de Construção Civil, São Paulo, 2011. [5] INSTITUTO BRASILEIRO DE CONCRETO/ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CONSULTORIA E ENGENHARIA ESTRUTURAL. Prática recomendada IBRACON/ABECE: Projeto de estruturas de concreto reforçado com fibras. Ed. IBRACON/ABECE, 2016, 39 P. [6] MEHTA, P.K.; MONTEIRO, P.J.M. Concreto: microestrutura, propriedades e materiais. 2. ed. São Paulo: IBRACON, 2014. 751 p. [7] SLATER, E.; MONI, M.; ALAM, M.S. Predicting the shear strength of steel fiber reinforced concrete beams. Construction and Building Materials, Oxford, n. 26, p. 423-436, jun. 2012.
CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017 | 105
u mantenedor encontros e notícias | CURSOS
Segurança contra incêndio: quanto custa uma vida? DR. CARLOS BRITEZ – Pós-doutorando da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo PhD Engenharia
E
m
14
junho mo
de últiocor-
reu novamente uma tragédia porções,
sem
pro-
exaustiva-
mente divulgada pela mídia,
praticamente
com transmissão ao vivo, relacionada com uma edificação incendiada em Londres, a Grenffel
Tower.
Até
para os mais leigos, o que pôde se assistir nas cenas divulgadas foi um incêndio muito intenso e com uma velocidade de propagação das chamas muito rápida, que consumiu praticamente toda a fachada do prédio em
Incêndio no Grenffel Tower (Construction News)
pouquíssimo tempo. O resgate mobilizou uma equipe de
da propagação das chamas. Logo
fachada foi revestida com o mate-
mais de 250 bombeiros e 45 viaturas
depois, foi noticiado que o produto
rial conhecido como Reynobond PE.
para controlar o fogo.
empregado se tratava verdadeira-
Trata-se de um painel constituído por
As estatísticas relatam mais de
mente de uma versão mais barata e
duas chapas de alumínio com um nú-
80 vítimas fatais e a estrutura só não
mais inflamável de um material com-
cleo de polietileno termoplástico para
colapsou porque é de concreto, ma-
posto de alumínio (popular ACM).
melhorar seu desempenho térmico e
terial altamente resistente ao fogo.
O Edifício Grenffel Tower é um
acústico, contendo em seu interior
Informações preliminares de es-
prédio de 67 m de altura, 24 pavi-
um composto chamado cianeto de
pecialistas já indicavam que o uso
mentos e 120 apartamentos, que
hidrogênio, que é altamente tóxico
de um revestimento na fachada com
data de 1974. Segundo levantamen-
e inflamável.
elevado potencial inflamável poderia
tos, o edifício passou por um retrofit
A Omnis Exteriors foi a fabrican-
ser uma das probabilidades da rápi-
em 2012 (que findou em 2016) e sua
te do material composto de alumínio
106 | CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017
(ACM) usado no revestimento do
nos 600 prédios da Inglaterra possu-
mentos superiores. A utilização de
Grenfell Tower. A empresa afirmou
am o mesmo tipo de revestimento do
sistemas de firestop para minimizar
na imprensa que foi pedido o reves-
Grenffel Tower. Na Alemanha e nos
a propagação de chamas aumenta-
timento Reynobond PE, que é mais
Estados Unidos, o uso do material já
ria o tempo para evacuação. Ainda,
barato do que a alternativa Reyno-
estava proibido desde 2015.
caso os painéis instalados sejam de
bond FR, que é resistente ao fogo.
Apesar de no Brasil haver um his-
alta propagação de chamas, a remo-
Outra empresa, a Harley Facades,
tórico muito triste relacionado com
ção dos mesmos seria a melhor al-
confirmou ainda que instalou os
vítimas fatais em incêndio, infeliz-
ternativa, a exemplo do que foi feito
painéis mais baratos, adquiridos da
mente os chamados painéis de com-
nos Emirados Árabes, onde que está
Omnis Exteriors, no edifício. A Om-
posto de alumínio são amplamente
proibida sua utilização para novas
nis, por sua vez, confirmou que ven-
utilizados em edificações. Segundo
edificações, e que determinou sua
deu revestimento ACM para a Harley
o especialista em proteção passiva
remoção nas edificações altas, des-
Facades, a empresa responsável
contra o fogo Jeffery Lin, da CKC
taca Lin.
por instalar o material composto de
do Brasil, existem muitos fabricantes
Nesse contexto o Prof. Dr. Valdir
alumínio. A construtora Rydon foi a
e modelos disponíveis no mercado,
Pignatta Silva, expoente na Seguran-
empreiteira principal do projeto de
alguns deles atendem às exigências
ça contra Incêndio no Brasil, publi-
reabilitação. Esta empresa subcon-
locais de segurança contra incêndio,
cou um livro excelente, já divulgado
tratou os trabalhos a outras entida-
porém outros são altamente com-
anteriormente na Revista do IBRA-
des, incluindo a Harley Facades. Há
bustíveis e propagadores de cha-
CON: “Segurança Contra Incêndio
algumas informações desencontra-
mas, os quais não são seguros para
em Edifícios. Considerações Para o
das na mídia, mas acredita-se que
uso em edificações, principalmente
Projeto de Arquitetura”, cujo obje-
a remodelação da edificação custou
nas mais altas.
tivo é o de fornecer conceitos liga-
algo em torno de 10 milhões de eu-
Lin complementa ainda que é
dos exatamente à segurança contra
ros. Resultado de tudo isso: o produ-
fundamental que, durante o proje-
incêndio, com ênfase na proteção
to foi retirado de comercialização do
to das edificações ou de retrofit, os
passiva e compartimentação, frisan-
mercado de todo o mundo.
materiais escolhidos como revesti-
do os aspectos a serem previstos
O mais chocante em tudo isso é
mento interno e externo possuam
no projeto.
o número assustador de vítimas fa-
baixa propagação de chamas, e nos
Finalmente, uma das informações
tais do Grenfell Tower. Os números
ambientes internos a baixa emissão
que chama a atenção na mídia é que
mais atualizados reportam mais de
de fumaça. Essas propriedades de-
a tragédia do Grenfell Tower só não
80 mortos e 70 feridos, mas há ainda
vem ser devidamente comprovadas
teve maiores proporções porque a
muitos desaparecidos. O maior pro-
através de ensaios e certificações de
estrutura da edificação foi constru-
blema é que, segundo informações
laboratórios de fogo competentes e
ída 100% em concreto, suportando
iniciais, havia residentes sem docu-
acreditados. A exemplo dos painéis
altas temperaturas e preservando
mentação, imigrantes e refugiados,
de alumínio composto, existem retar-
as armaduras, sem causar o seu
o que dificulta até saber as pesso-
dantes de alta performance que são
desabamento.
as que de fato estavam no local no
utilizados durante o processo produ-
Quer saber mais sobre assunto?
momento do incêndio. Grupos de
tivo, melhorando seu desempenho
Então fique atento, pois o IBRACON
moradores estimam pelo menos 120
em situação de incêndio.
está mobilizando uma grande equipe
vítimas fatais.
Entenda-se que um dos elemen-
de especialistas para numa edição
O mais impressionante é que es-
tos aceleradores da propagação de
futura tratar do assunto de Incên-
pecialistas já alertavam sobre irregu-
chamas nas fachadas, assim como
dio em Estruturas de Concreto com
laridades e problemas de segurança
no Grenffel Tower, é o túnel de ven-
profundidade: principais centros de
na edificação, inclusive o governo do
to criado entre a alvenaria do edifício
pesquisas, normalização, instruções
Reino Unido é acusado de ignorar es-
e os painéis, sugando consequen-
técnicas do Corpos de Bombeiros,
ses alertas. Estima-se que pelo me-
temente as chamas para os pavi-
legislação e muito mais!
CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017 | 107
u normalização encontros e notícias técnica| CURSOS
Concreto reforçado com fibra de aço (SFRC) em situação de incêndio – requisitos normativos, pré-normativos e códigos-modelo1 FRANK DEHN ANNEMARIE HERRMANN Leipzig University – Leipzig, Germany
ambos, material e estrutura (SFRC) em
1. INTRODUÇÃO
os últimos anos, devido à
situação de incêndio. Este artigo ilustra
Nos últimos anos o uso de concre-
evolução da tecnologia dos
também a necessidade de considerar o
to reforçado com fibras de aço (SFRC)
materiais, pela compreen-
comportamento do SFRC sob o ponto
tem crescido progressivamente. As
são de suas interações fundamentais,
de vista técnico e jurídico. Como ainda
questões de maior importância, que
bem como da modelagem e do projeto
está pendente uma abordagem ade-
devem ser particularmente conside-
com base experimental e numérica, o
quada de projeto em situação de incên-
radas para a maioria das aplicações
uso do concreto reforçado com fibras
dio, as verificações experimentais são
estruturais com o SFRC, são o conhe-
(SFRC ) tem aumentado progressiva-
recomendadas, tanto em relação ao
cimento de seu comportamento sob
mente. Uma questão fundamental que
material em si, quanto do ponto de vis-
exposição ao fogo e sob condições
deve ser particularmente considerada
ta estrutural, a fim de fornecer soluções
tempo-temperatura não normalizadas e
na maior parte das aplicações do SFRC
técnicas e economicamente razoáveis
normalizadas (por exemplo, de acordo
é a evidência de segurança estrutural
que não restrinjam avanços devido a
com a ISO 834-1:1999) e como proje-
em situação de incêndio. Este artigo
modelos conservadores.
tar os respectivos elementos estrutu-
RESUMO
N 2
apresenta uma visão geral dos requisi-
rais ou toda a estrutura em situação
tos normativos e pré-normativos nacio-
PALAVRAS-CHAVE
de incêndio. Atualmente não se dispõe
nais e internacionais disponíveis, bem
Projeto em situação de incêndio, fi-
de uma abordagem de projeto abran-
como de códigos-modelo, para mode-
bras de aço, segurança estrutural, nor-
gente – como as existentes para estru-
lagem e projeto do comportamento de
mas/códigos.
turas tradicionais de concreto armado
3
1
Este artigo foi publicado originalmente em inglês, com o título “Steel fibre-reinforced concrete (SFRC) in fire – normative and pre-normative requirements and code-type regulations”, como parte do fib Bulletin 79 Fibre-reinforced concrete: From design to structural applications, FRC 2014:ACI-fib International Workshop. Foi traduzido para o idioma português pela Engª Inês Laranjeira da Silva Battagin, Superintendente do Comitê Brasileiro de Cimento, Concreto e Agregados da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT/CB-18). A publicação deste artigo nesta edição da Revista Concreto & Construções do IBRACON foi autorizada pelos autores.
2
Nota da tradutora: SFRC é a sigla para Steel Fibre Reinforced Concrete.
3
Nota da tradutora: quando trata de aspectos nacionais, o autor se refere a seu país de origem, a Alemanha.
108 | CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017
ou protendido. Dessa forma, premissas
pode ser admitida como hipótese de
de concreto armado e concreto protendi-
de projeto conservadoras têm sido uti-
aceitação, em termos de uma contribui-
do. Não há recomendações normalizadas
lizadas para algumas aplicações, o que
ção para a capacidade de carga das fi-
para o projeto de construções feitas em
conduz a soluções que são técnica e
bras de aço aplicadas.
SFRC. Com relação ao lascamento explosivo do concreto5, a norma traz informa-
economicamente ineficientes e não sa-
2. ESTADO DA ARTE DA NORMALIZAÇÃO
ções sobre métodos que promovem uma
mações normativas e pré-normativas
Este capítulo apresenta uma revi-
para concretos de alta resistência (por
compiladas a respeito do SFRC em si-
são, em termos de resistência ao fogo
exemplo, o chamado método “D”: uso de
tuação de incêndio. Com base nessas
do SFRC, do estado da arte de uma
fibras poliméricas na proporção de 2,0 kg/
informações, estão salientadas neste
seleção de normas e publicações na-
m³ para concreto de classe de resistência
artigo conclusões relativas às premissas
cionais e internacionais. Para isto, do-
C80/95 < C ≤ 90/105, de acordo com a
comumente aceitas e são destacados
cumentos CEN (Comitê Europeu de
EN 206-1: 2001).
também esforços adicionais necessários
Normalização), DAfStb (Comitê Alemão
para o estabelecimento de requisitos ra-
de Concreto Armado), AFGC (Asso-
zoáveis e geralmente válidos para o pro-
ciação Francesa de Engenharia Civil),
jeto do SFRC em situação de incêndio no
CNR/UNI (Conselho Nacional de Pes-
futuro. Devido à falta de base normativa
quisa da Itália), BS (Normas Britânicas),
Adicionalmente à versão Alemã da
para o projeto em situação de incêndio
ÖBV (Sociedade Austríaca para a Tec-
EN 1992-1-2 (DIN EN 1992-1-2:2010),
do SFRC, tem sido usual a realização de
nologia da Construção), ACI (Instituto
o Comitê Alemão de Concreto Arma-
ensaios em amostras representativas ou
Americano do Concreto), ASTM (Socie-
do (DAfStb) publicou uma prática re-
em escala real, submetidas a cargas tér-
dade Americana para Ensaios e Mate-
comendada sobre concreto reforçado
mica e mecânica superpostas, tendo em
riais), JCI (Instituto Japonês do Concre-
com fibra denominada “Steel fibre-rein-
vista certificar a segurança estrutural em
to), KCI (Instituto Coreano do Concreto)
forced concrete” (DAfStb:2012). Para o
casos individuais. Em contraste com o
e CIA (Instituto Australiano do Concre-
projeto em situação de incêndio, essa
nível estrutural, os resultados dos ensaios
to) foram considerados nesta análise.
Prática faz referência a Normas Alemãs
tisfazem o potencial inovador do SFRC. A seguir são apresentadas infor-
redução desse processo, em particular
2.1.2 Comitê Alemão de Concreto Armado (DAfStb)
(DIN 4102-4, DIN 4102-22 e DIN 1045-
do material podem ser usados para ob-
2.1 Europa
ter respostas temperatura-dependentes
1) para definir as classes de resistência ao fogo, destacando que os elemen-
(pro priedades durante a exposição ao
2.1.1 Comitê Europeu de Normalização (CEN)
fogo versus propriedades residuais). Por sua vez, o lascamento (spalling) do con4
creto devido à exposição ao fogo tem
tos de construção feitos de SFRC podem ser classificados como elementos de concreto simples. No entanto, são
sido apontado como um ponto crucial
O projeto de estruturas de concreto
necessários ensaios para verificar a
mútuo – material e estrutura – e precisa
em situação de incêndio está estabelecido
segurança do SFRC sob a ação do fogo
ser reduzido ou prevenido por proteção
na EN 1992-1-2 “Projeto de estruturas de
exclusivamente em nível estrutural.
ativa ou passiva adequada, como, por
concreto – Parte 1-2 – Regras gerais: Pro-
exemplo, placas de proteção ou fibras
jeto em situação de incêndio” (EN 1992-
poliméricas. Somente pelo controle do
1-2:2004). Os requisitos para o projeto
spalling do concreto exposto ao fogo,
em situação de incêndio são limitados às
uma perda da eficácia das fibras de aço
aplicações convencionais em estruturas
2.1.3 Associação Francesa de Engenharia Civil (AFGC) A Norma Francesa da AFGC leva
4
Nota da tradutora: Spalling é o termo em inglês que neste contexto significa lascamento (às vezes explosivo) com destacamento de pedaços de concreto, quando exposto ao fogo. No caso de estruturas armadas, normalmente corresponde a perda de parte do cobrimento da armadura, no local da exposição ao fogo.
5
Nota da tradutora: Do original: “concrete explosive spalling”.
CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017 | 109
em consideração especialmente o
concreto exposto a temperaturas su-
(spalling) e aumenta a resistência ao
Concreto de Ultra Alto Desempenho re-
periores a 600°C. Adicionalmente, o
fogo dos elementos de concreto. O
forçado com fibra de aço (UHPFRC) . O
documento apresenta um coeficiente
projeto em situação de incêndio para
comportamento em situação de incên-
de dano, que é calculado como a rela-
SFRC não está incluído na diretriz
dio do Concreto de Ultra Alto Desem-
ção entre a resistência residual de cor-
ÖBV (ÖBV: 2013).
7
penho Reforçado com Fibra (UHPFRC)
pos de prova de concreto submetidos
para diferentes ensaios térmicos e os
a altas temperaturas, de acordo com a
resultados obtidos com o UHPC foram
norma, e a resistência obtida em cor-
mesclados e concluiu-se que a difusivi-
pos de prova ensaiados à temperatura
dade térmica do UHPC e do UHPFRC
ambiente (CNR: 2006).
6
2.2.1 American Concrete Institute (ACI) O Comitê ACI 544 encontra-se de-
são similares aos valores da EN 19921-2 com base no UHPC sem fibras de
2.2 América do Norte
2.1.5 Normas Britânicas (BS)
senvolvendo trabalhos sobre FRC e os principais resultados já obtidos estão
aço. Em relação à resistência ao fogo do UHPFRC, observou-se que o aumento
No Reino Unido (UK), o projeto de
da temperatura causa uma perda de re-
estruturas de concreto em situação
ACI 544.3R-08 “Guide for speci-
sistência semelhante ao declínio obser-
de incêndio é estabelecido pela BS
fying, proportioning, and production of
vado na resistência dos concretos sim-
EN 1992-1-2:2004. A versão Britânica
fiber-reinforced concrete” (Guia para
ples. Posteriormente, conclui-se que
do EC2 não traz informações com-
especificação,
ensaios normalizados de exposição ao
plementares com relação ao projeto
produção de concreto reforçado com
fogo devem ser realizados para cada
em situação de incêndio do SFRC. Da
fibras), que não contém informações
traço de UHPFRC. Além disso, o do-
mesma forma, a BS EN 14845-2 (“Test
relativas ao projeto de SFRC em situa-
cumento destaca a eficácia das fibras
methods for fibres in concrete”) trata
ção de incêndio.
poliméricas no UHPFRC para reduzir o
dos efeitos das fibras no concreto,
ACI 544.5R-10 “Report on the
lascamento (spalling) do concreto ex-
mas não informa sobre o projeto em
physical properties and durability of
posto ao fogo (AFGC: 2013).
situação de incêndio do SFRC.
fiber-reinforced concrete” (Relatório
8
publicados em dois relatórios.
proporcionamento
e
sobre as propriedades físicas e a du-
2.1.4 Conselho Nacional de Pesquisa da Itália (CNR)
2.1.6 Sociedade Austríaca para a Tecnologia da Construção (ÖBV)
rabilidade do concreto reforçado com fibras), que inclui informações sobre a durabilidade do FRC exposto a al-
O guia para projeto e construção
Na diretriz austríaca denominada
tas temperaturas ou ao fogo. No que
de estruturas de concreto reforçado
“Increased constructional fire protec-
se refere ao SFRC, conclui que o uso
com fibras, CNR-DT 204/2006 (Guide
tion with concrete for underground
de fibras de aço melhora a resistência
for the design and construction of fibre
traffic constructions” (Aumento da
residual de elementos estruturais de
reinforced concrete structures) trata
proteção contra incêndio com con-
concreto, esclarecendo que as fibras
de FRC contendo diferentes tipos de
creto em construções subterrâneas
promovem uma extensão temporal
fibras. Com relação ao SFRC, informa
destinadas ao trânsito), fruto de di-
da resistência ao fogo e, portanto, o
que uma baixa porcentagem de fibras
versos programas de pesquisa e ex-
SFRC apresenta falha mais tardiamen-
de aço não influencia a difusividade
periências práticas, conclui-se que a
te que o concreto simples. Além disso,
térmica. No entanto, as fibras de aço
adição de fibras poliméricas na mas-
o relatório menciona que as lajes de
melhoram a resistência residual para
sa do concreto reduz o lascamento
SFRC expostas ao fogo são de três até
6
Nota da tradutora: UHPC é a sigla para Ultra High-Performance Concrete.
7
Nota da tradutora: UHPFRC é a sigla para Ultra High-Performance Fibre Reinforced Concrete.
8
Nota da tradutora: EC2 e Eurocode 2 correspondem à EN 1992 – Projeto de estruturas de concreto.
110 | CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017
nove vezes mais resistentes do que la-
2.4 Austrália/Oceania (CIA)
jes sem fibras de aço (ACI 544.5R-10). O relatório da CIA, CPN 35 “Fi-
2.2.2 Sociedade Americana para Ensaios e Materiais (ASTM)
bres in Concrete” (Fibras no concreto)
3.1.2 Projeto de Estruturas de Concreto em Situação de Incêndio – Materiais, Estrutura e Modelagem (fib Boletim 38)
traz recomendações sobre o uso de fibras em geral. O documento descre-
O Boletim 38 da fib “Fire Design of
Em complemento às normas na-
ve o efeito das fibras de aço e poli-
Concrete Structures - Materials, Struc-
cionais, a American Society for Tes-
méricas no concreto, mas não trata
ture and Modeling (fib Bulletin 38)” tra-
ting and Materials (ASTM) publicou
dos efeitos relacionados à resistência
ta da influência do fogo em estruturas
recomendações, como a ASTM E119,
ao fogo.
de concreto e informa que o uso de
que estabelece como realizar ensaios para avaliar o comportamento
fibras poliméricas leva à redução da pressão nos poros do concreto e com
riais em situação de incêndio, porém
3. ESTADO DA ARTE NOS DOCUMENTOS PRÉ-NORMATIVOS
não há nada especificado para SFRC
Este capítulo trata do estado da
siva em situação de incêndio contra
arte de documentos pré-normativos
spalling). No entanto, esse boletim não
internacionais usando o exemplo da
inclui informações sobre o projeto em
fib (Federação Internacional do Con-
situação de incêndio do SFRC.
de construções de edifícios e mate-
(ASTM E119-12a).
2.3 Ásia
isso à redução do risco de lascamento (spalling) (ver item 6.4, proteção pas-
creto Estrutural).
2.3.1 Instituto Japonês do Concreto (JCI)
3.1 A Federação Internacional do Concreto Estrutural (fib)
A revisão dos relatórios técnicos do JCI conduziu à conclusão de que
3.1.1 Código Modelo 2010
3.1.3 Projeto de Estruturas de Concreto em Situação de Incêndio – Comportamento Estrutural e Avaliação (fib Boletim 46)
não há informações específicas sobre o SFRC e sua resistência ao fogo.
O Código Modelo 20109 caracte-
O Boletim 46 da fib “Fire Design
Atualmente, os regulamentos de in-
riza diferentes formas de fibras e seu
of Concrete Structures – Structural
cêndio para a FRC no Japão seguem
uso em concreto. Esse documento
Behavior and Assessment (fib Bulletin
as especificações para concreto da
contém informações sobre princípios
46)” mostra que as fibras propiciam
Sociedade Japonesa de Engenhei-
de projeto em situação de incên-
melhorias nas propriedades mecâni-
ros Civis (JSCE), que estabelece um
dio (item 7.5.1.2) para estruturas de
cas do concreto após sua exposição
aumento na espessura do cobrimen-
concreto convencionais. No item 7.7
a altas temperaturas. No capítulo 6
to da armadura de 20 mm, além do
aborda a verificação da segurança e
(Experiência e avaliação de materiais
cobrimento normal sem exposição
a manutenção do concreto reforçado
e estruturas após incêndio), esse do-
ao fogo.
com fibras e no item 5.6 trata do pro-
cumento informa que mesmo peque-
jeto do FRC em condições ambientais
nos conteúdos de fibras poliméricas
normais. O Código Modelo 2010 da
melhoram
fib propõe princípios de projeto em
materiais (ver item 6.1.3.1 Físico-quí-
2.3.2 Instituto Coreano do Concreto (KCI)
o
comportamento
dos
situação de incêndio para estruturas
mica). Nos itens seguintes (6.1.3.2
O KCI não dispõe de publicações es-
convencionais e princípios de projeto
Questões experimentais e 6.1.3.5 Re-
pecíficas sobre o SFRC e sua resistência
construtivo do SFRC, mas não apre-
sistência à tração) é relatado que as
ao fogo ou a elevadas temperaturas.
senta uma combinação entre ambos.
fibras (especialmente fibras de aço)
9
Nota da tradutora: fib Model Code 2010.
CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017 | 111
aumentam
a
resistência
residual.
apenas de estruturas convencio-
de aço sejam afetadas pelas altas
Outro exemplo experimental mostra
nais (concreto armado ou proten-
temperaturas;
que o módulo de elasticidade é mais
dido). Nenhum modelo de projeto
u ACI e CNR/UNI comprovaram que
afetado pela temperatura no caso
para SFRC em situação de incên-
as fibras de aço melhoram a resis-
de SFRC do que para o HPC (item
dio está disponível até o momento.
tência residual para concretos de re-
6.1.3.4, Módulo de elasticidade e co-
A evidência de resistência ao fogo
sistência normal e concretos de alta
eficiente de Poisson). No item 6.1.3.6
para estruturas de SFRC em com-
resistência expostos ao fogo;
(Parâmetros da fratura), informa que
binação com armadura convencio-
u A combinação de fibras de aço e po-
uma quantidade considerável de mi-
nal pode ser obtida pela aplicação,
liméricas em concretos promove os
crofibras de aço em HPC aumenta
por exemplo, da EN 1992-1-2.
efeitos benéficos dos dois tipos de
a energia de fratura em comparação
Para secções transversais total-
fibras para melhorar a resistência ao
com HPC simples.
mente comprimidas, o efeito das
fogo do concreto;
fibras de aço é negligenciável; para
u Atualmente, a evidência de com-
4. CONCLUSÕES/PERSPECTIVAS
este caso o projeto em situação de
provação da resistência ao fogo em
A partir da revisão do conteúdo da
incêndio pode ser realizado pelos
estruturas e elementos estruturais
normalização, da pré-normalização e
modelos citados, por exemplo,
sujeitos a cisalhamento, flexão e
das recomendações internacionais so-
EN 1992-1-2;
protensão só é obtida por meio de
bre a resistência do SFRC a altas tem-
u CEN e ÖBV recomendam a adição
ensaios de resistência ao fogo, sob
peraturas ou ao fogo, é possível regis-
de fibras poliméricas para aumentar
carregamento, em escala real ou em
trar as conclusões a seguir:
a resistência à degradação devida
escala representativa da estrutura ou
u Normas e pré-normas atuais, como
ao lascamento do concreto (spalling)
do elemento estrutural.
EN 1992-1-2 e fib Model Code
no caso de incêndio – especialmente
Alerta-se para a necessidade dos
2010, estabelecem como deve ser
para concreto de alta resistência. O
organismos de normalização incluírem
realizado o projeto estrutural do
spalling devido à exposição ao fogo
o projeto em situação de incêndio do
SFRC em temperatura ambiente;
deve ser prevenido em todos os ca-
SFRC em normas técnicas, para simpli-
em situação de incêndio, tratam
sos, de forma a evitar que as fibras
ficar sua aplicação estrutural.
u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] [2] [3] [4]
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112 | CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017
u acontece nas regionais
Encontro na Regional do Pará 1º Encontro Regional de profissio-
O
da UFRJ), as normas de incêndio e
Eduardo de Macedo, da Supermassa),
nais para a discussão sobre lajes
desempenho aplicadas às lajes ner-
a monitoração e avaliação de estruturas
nervuradas segundo as normas ocor-
vurdas (Eng. Marcos Terra, da Atex do
de pontes estaiadas (Prof. Pedro Afon-
reu de 30 de agosto a 1 de setembro
Brasil), o processo construtivo de lajes
so de Oliveira Almeida, da USP, e Eng.
no Centro de Eventos Benedito Nunes,
nervuradas (Eng. Fabíola Parente, da
José Fernando Sousa Rodrigues, da
na Universidade Federal do Pará.
Atex do Brasil), a execução da proten-
Lise), entre outros temas.
Com nove palestras técnicas e seis mi-
são com monocordoalhas engraxadas
O presidente do IBRACON, Eng. Julio Ti-
nicursos, o evento discutiu os aspectos
(Eng. Francisco Marcondes Cunha), a
merman, participou do Encontro e apre-
de análise probabilística de segurança
mecanização na aplicação de contra-
sentou a palestra “O projeto das estrutu-
(Prof. Sérgio Hampshire de Carvalho,
pisos plásticos e autonivelantes (Eng.
ras de concreto do Museu do Amanhã”.
Colapso progressivo é discutido na Regional do Rio de Janeiro Regional IBRACON no Rio de Ja-
A
agosto a palestra “Colapso progressivo
Eng. Justino Artur Ferraz Vieira, que
neiro, em conjunto com a Divisão
em estruturas – a propagação do dano
discorreu sobre o fenômeno colapso
Técnica de Estruturas do Clube de En-
estrutural”, no Clube de Engenharia.
progressivo, as técnicas para sua análi-
genharia e a Regional da Associação
O palestrante foi o professor do curso
se, as prescrições normativas para sua
Brasileira de Engenharia e Consultoria
de arquitetura da PUC-RJ e sócio da
minimização, além de discutir exem-
Estrutural (Abece), realizou em 30 de
Justino Vieira-Monica Aguiar Projetos,
plos de obras colapsadas.
Seminário na Regional do Paraná
P
ara discutir a problemática da
sequências das falhas de projetos
edifícios: interações com alvenarias
patologia das fachadas e dos
e executivas no desempenho dos
e revestimentos”).
revestimentos argamassados, a Re-
revestimentos”) e do Eng. Ércio Tho-
Participaram do evento 370 pesso-
gional do IBRACON no Paraná, a As-
maz, do Instituto de Pesquisas Tec-
as, entre estudantes, profissionais
sociação Brasileira de Patologia das
nológicas (“Estruturas correntes de
e professores.
Construções (Alconpat Brasil), o Instituto Brasileiro do Concreto (IBRACON), o Instituto de Engenharia do Paraná (IEP) e o Instituto IDD realizaram o Seminário de Patologia das Construções do Paraná (SEMPAT/ PR), no dia 1 de agosto, no centro de eventos do IEP, em Curitiba. O seminário contou com as palestras do Eng. Paulo Grandiski, do Instituto Brasileiro de Perícias Técnicas (“A problemática das demandas judiciais geradas por falhas em revestimentos”), do Eng. José Eduardo Granato, da Viapol (“As conCONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017 | 113
I Seminário de Engenharia Estrutural da Bahia Com a proposta de discutir os desa-
Com palestras sobre o Museu do
truturais nas obras de Niemeyer (Eng.
fios e as perspectivas da engenharia
Amanhã (Eng. Julio Timerman, presi-
Bruno Contarini, da BC Engenharia) e
estrutural para o novo milênio, a Re-
dente do IBRACON), potencialidade
revisão da NBR 6120 (Eng. João Ven-
gional IBRACON organizou o I Se-
da fibra de carbono no reforço es-
dramini, da Abece), o evento contou
minário de Engenharia Estrutural da
trutural (Eng. Adriano Silva Fortes, da
ainda com quatro minicursos.
Bahia, nos dias 29 e 30 de agosto,
Fortes Consultoria e Projetos), reparo
Ao final do Seminário, os presentes
no auditório Leopoldo Amaral, na
da Ponte Pênsil de São Vicente (Eng.
prestaram uma homenagem do enge-
Politécnica da Universidade Federal
Rafael Timerman, da Engeti Consul-
nheiro projetista baiano, Prof. Antonio
da Bahia.
toria e Engenharia), dos desafios es-
Carlos Reis Laranjeiras.
Visita técnica de estudantes a uma distribuidora de vergalhão
A
Diretoria de Atividades Estudantis do Instituto Brasileiro do Concreto pro-
moveu no último dia 26 de junho uma visita técnica de estudantes de engenharia civil à distribuidora Manetoni, do grupo Arcelor Mittal. A visita atendeu a uma solicitação de um grupo de estudantes da FEI e Mackenzie para conhecer os processos industriais de corte e dobra de vergalhão e de montagem de armadura pronta. A Manetoni fornece aço para a construção civil, com seu maior volume di-
aumento de produtividade, com redu-
promovida pelo IBRACON no sentido
recionado para obras de fundação. Um
ção de mão de obra e maior organiza-
de complementar a formação profis-
diferencial da empresa é seu processo
ção no canteiro de obras”, ressaltou a
sional de estudantes de engenharia
informatizado e automatizado de mon-
diretora de atividades estudantis, Eng.
civil, arquitetura e tecnologia.
tagem da armação, com maior preci-
Jéssika Pacheco.
Quem tiver interesse em participar da
são e maior variedade de formatos dos
A visita técnica foi guiada pelos fun-
próxima visita, deve entrar em contato
produtos fornecidos.
cionários Danilo Renato Guiso, Marco
com a diretora de atividades estudan-
“Nesta visita, os alunos entraram em
Aurélio de Sousa Costa, Guilherme
tis, Eng. Jéssika Pacheco, por meio da
contato com o que há de mais moder-
Menegalle Raizer, Ricardo Carvalho e
página dos concursos estudantis do
no na fabricação de armação, já que
Jaqueline Aparecida da Silva.
IBRACON no Facebook: https://www.
sua montagem em fábrica acarreta o
Esta foi a segunda visita técnica no ano
facebook.com/concursosibracon/.
Curso e Workshop na Regional de Mato Grosso do Sul
D
e 6 a 13 de maio foi realizado o
CREA-MS, que contou com a partici-
nifestações patológicas em estruturas de
curso “Inspeção em Estruturas
pação de 11 profissionais e 20 estu-
concreto armado”, com a diretora regio-
de Concreto Armado”, ministrado pela
dantes de engenharia civil.
nal do IBRACON e da Alconpat Brasil,
diretora regional do IBRACON, Prof.
Já, no dia 20 de julho ocorreu, também
Prof. Sandra Regina Bertocini, com par-
Sandra Regina Bertocini, na sede do
na sede do CREA-MS, o workshop “Ma-
ticipação de 200 profissionais.
114 | CONCRETO & Construções | Ed. 87 | Jul – Set • 2017
Instituto Brasileiro do Concreto Organização técnico-científica nacional de defesa e valorização da engenharia civil
Fundado em 1972, seu objetivo é promover e divulgar conhecimento sobre a tecnologia do concreto e de seus sistemas construtivos para a cadeia produtiva do concreto, por meio de publicações técnicas, eventos técnico-científicos, cursos de atualização profissional, certificação de pessoal, reuniões técnicas e premiações.
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59ª EDIÇÃO C ONGRESSO B RASILEIR O DO
C ONCRETO
B E N TO G O NÇA LVE S • R S 31 de outubro a 3 de novembro
2017
Ponto de encontro dos profissionais e das empresas brasileiras da cadeia produtiva do concreto
C O T A S D E PA T R O C Í N I O E E X P O S I Ç Ã O
TEMAS „ Gestão e Normalização
„ Materiais e Produtos Específicos
„ Materiais e Propriedades „ Sistemas Construtivos Específicos
„ Excelentes oportunidades para divulgação,
promoção e relacionamento „ Espaços comerciais na XIII FEIBRACON - Feira
Brasileira das Construções em Concreto
„ Projeto de Estruturas
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„ Métodos Construtivos
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