Ano 2, Nº 7 Produzida por Pastores da Igreja Evangélica Luterana do Brasil
o ã ç i Ed
l a i c e p Es
—Advento - Vinda, p. 59 —Colete à prova de tudo, p. 73 —Epitáfio, p. 72 —Estiagem pré-natalina, p. 60
—O Livro de Deus, p. 5 —Fé em Cristo: Plenitude do conhecimento dos mistérios de Deus, p. 52 —Liturgia para Período de Advento, p. 78
—Natal: a vinda de alguém que veio para ficar, p. 46 —Você está adequadamente vestido?, p. 74 —Simbologia: A Rosa de Lutero, p. 77
—Deslisamentos de sentidos em Jó, p. 64 —Natal mais calmo, p. 81 —O Natal e o presente do Perdão, p. 82
EXPEDIENTE
Publicação bimestral de pastores da Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB) não oficial. Tem como propósito divulgar textos teológicos/ pastorais, inéditos ou não, produzidos por pastores e teólogos da IELB, recuperar textos teológicos escritos no passado e que não estão disponíveis na Internet, divulgar de forma mais abrangente a teologia evangélica luterana confessional e a reflexão teológica na IELB, e ser uma ferramenta prática para as atividades ministeriais em suas diferentes áreas. Os conteúdos são de responsabilidade dos seus autores.
Colaboradores desta edição:
Comissão de Culto, Egon Martim Seibert, Eli Müller, Fernando Emílio Graffunder, Ismar L. Pinz, Jarbas Hoffimann, Leandro Daniel Hübner, Luisivan Vellar Strelow, Marcos Schmidt, Mário Rafael Yudi Fukue, Márlon Hüther Antunes, Martinho Rennecke, Renato L. Regauer
Imagens:
As imagens usadas nesta publicação são de livre acesso na Internet, ou foram cedidas pelo proprietário. Caso contrário aparecerá, ao lado da imagem, a referência ao seu autor.
Coordenadores:
Rev. Dieter Joel Jagnow (editor) Rev. David Karnopp Rev. Jarbas Hoffimann (diagramador) Rev. Mário Rafael Yudi Fukue Rev. Tiago José Albrecht Rev. Waldyr Hoffmann
Diagramador:
Rev. Jarbas Hoffimann diagramador.rt@gmail.com
Blogue e Leitura On-line http://www.revistateologia.blogspot.com
@revistateologia
Colaborações:
Os textos a serem publicados na revista devem ser enviados ao editor
Contato/Editor:
revistateologia@gmail.com
Apresentação da Revista Eletrônica Teologia & Prática A revista Teologia&Prática é uma iniciativa de pastores da Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB). Ela não tem caráter oficial. Seu objetivo básico é coletar e compartilhar bimestralmente, de forma organizada, via Internet, textos teológicos/pastorais, inéditos ou não, produzidos por pastores da IELB e que regularmente circulam em listas da Igreja. Além disso, procura recuperar textos teológicos escritos no passado e que não estão disponíveis na Internet. Um objetivo subjacente é a intenção de divulgar de forma mais abrangente a teologia evangélica luterana confessional e a reflexão teológica na IELB. Além de possibilitar a reflexão teológica, a revista quer ser uma ferramenta prática para as atividades ministeriais em suas diferentes áreas.
Critérios 1. A produção da revista é coordenada por voluntários. Um (ou mais) editor é responsável para que exista um mínimo de organização na diferentes fases do processo. 2. A revista é fechada em PDF e carregada em um depósito da Internet, de onde poderá ser baixada livremente. 3. A revista tem circulação bimestral. Não há um número fixo de páginas. 4. Um blogue serve de apoio para as edições, a fim de possibilitar a sua divulgação pelos mecanismos de busca da Internet. 5. A revista é aberta a todos os pastores da IELB interessados em compartilhar seus textos (meditações, estudos homiléticos, sermões, resenhas, ensaios, etc.), inéditos ou não. Cada autor é responsável pelo seu texto (doutrinária, gramática e ortograficamente). Os textos devem ser enviados ao editor. Nota: O editor pode recusar — ou solicitar que seja revisado — algum texto, caso julgue que ele afronte a doutrina da IELB. Para tanto, se necessário, conta com voluntários para a avaliação. Não serão utilizados textos de conteúdo político-partidário, que promovam o ódio ou a discriminação ou que firam os princípios e valores da Igreja. 6. A publicação dos textos enviados não é imediata. Existe uma tentativa de se ter variação de conteúdos em uma edição e em edições subsequentes. O editor informa ao autor a situação de cada texto recebido. 7. Há uma pauta mínima, no sentido de se buscar conteúdos que de alguma forma abordem questões pontuais (exemplo: Reforma, eleições, Natal). A pauta completa é determinada de acordo com as colaborações recebidas, conforme a ordem de chegada. 8. O organograma de produção é este: a) Lançamento: até o dia 25 do segundo mês da edição b) Preparação / Diagramação: do dia 1 ao dia 20 do segundo mês da edição c) Recebimento dos textos: até o dia 20 do primeiro mês da edição e-mail: revistateologia@gmail.com blogue: http://revistateologia.blogspot.com tuíter: http://twitter.com/revistateologia
Artigos
Advento - Vinda, p. 59 A proibição do crucifixo, p. 76 Colete à prova de tudo, p. 73 Direto ao Ponto , p. 83 Epitáfio, p. 72 Estiagem pré-natalina, p. 60 Lei da Palmada, p. 50 Liberdade!Liberdade, p. 63 Natal mais calmo, p. 81 O Livro de Eli, 44 O Natal e o presente do Perdão, p. 82 O perfume da Morte, p. 70 Os Kadafis tupiniquins, p. 71 Prazo determinado para a bênção, p. 51 Um ano já foi, faltam todos os outros, p. 4 Vale a pena esperar, p. 45 Vamos discutir o assunto, p. 62
Especial
O Livro de Deus, p. 5
Fé
Fé em Cristo: Plenitude do conhecimento dos mistérios de Deus, p. 52
Liturgia
Liturgia para Período de Advento, p. 78
Natal
Natal: a vinda de alguém que veio para ficar, p. 46
Sermão
Você está adequadamente vestido?, p. 74
Simbologia A Rosa de Lutero, p. 77
Texto Bíblico
Deslisamentos de sentidos em Jó, p. 64
Um ano já foi, faltam todos os outros Decorrido um ano desde a ideia inicial, hoje comemoramos e lançamos o primeiro exemplar do segundo ano da Revista de Teologia e Prática, publicada em cooperativa por pastores da Igreja Evangélica Luterna do Brasil. Esta é, sem dúvida, uma das iniciativas mais bonitas nos anos recentes da teologia luterana do Brasil. E, até o momento, muito bem sucedida. Ressaldo que “até o momento”, porque sempre temos esperança de continuar, mas nosso grande problema costuma ser a falta de materiais. Graças ao Senhor da Seara e ao empenho de muitos pastores, temos material para mais algumas revistas. Porém o tempo de nossos pastores parece cada vez mais escasso. São muitos os compromissos. São muitas as tarefas e tempo para estudar e escrever, cada vez menor. Mas muitos ainda conseguem escrever alguma coisa. E, diga-se de passagem, muito bem escritas. Por isso aproveitamos para agradecer a todos os pastores que dedicaram tempo para escrever ou rever seus antigos escritos. Continuamos contando com vocês. E, quando digo “continuamos”, não é que a RT conta com vocês, mas toda a igreja cristã e todos as outras pessoas continuam esperando avidamente pelo excelente material que sempre foi dispomibilizado. Obrigado também a você leitor, posi a divulgação é imporante. Falar um para o outro sempre foi uma forma de testemunho e, agora, falar da RT 4 | RT | Outubro e Novembro, 2011
é direcionar para material teológico de boa qualidade nesta época que os bons escritos rareiam. Note que nesta nova etapa da RT, vamos fazer algumas modificações. Ela ficará menos voltada aos gráficos e valorizará mais os textos. Assim, facilitaremos os downloads e as publicações em redes sociais. Afinal, as ilustarções são importantes, mas o texto é essencial. Então, você autor, continue escrevendo e compartilhando. E você leitor, con-
tinue lendo e divulgando, assim, por muitos e muitos anos teremos a RT que é nossa. Escrita por pastores da IELB, mas aberta a todos que quiserem ler e compartilhar. E, Feliz Natal... Rev. Jarbas Hoffimann — Diagramador e co-editor da RT, pastor da IELB em Nova Venécia-ES.
O Livro de Deus
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Rev. Egon Martim Seibert
Bíblia
1. A Comunicação através dos Tempos 1.1. A Tradição Oral
V
amos hoje, ao falar da Bíblia, começar a ler o texto de Gênesis 1.1-5. Ali está escrito: “No começo Deus criou os céus e a terra. A terra era um vazio, sem nenhum ser vivente, e estava coberta por um mar profundo. A escuridão cobria o mar, e o Espírito de Deus se movia por cima da água. Então Deus disse: — Que haja luz! E a luz começou a existir. Deus viu que a luz era boa e a separou da escuridão. Deus pôs na luz o nome de “dia” e na escuridão pôs o nome de “noite”. A noite passou, e veio a manhã. Esse foi o primeiro dia.” Este é, segundo a Escritura Sagrada, o relato de como as coisas vieram, no começo a existir. Aqui vemos que Deus fala no vazio. Quem estava lá para registrar o que aconteceu? Algum homem, com um osso em uma das mãos e um pequeno tablete de argila na outra, ou um lápis e papel, uma máquina de escrever elétrica com folha, computador com cd, notebook com data-traveler, celular? Não, não havia ninguém, a não ser o próprio Deus. No começo não havia palavra escrita. Os fatos eram transmitidos de boca em boca, através da voz, da palavra falada. Como se atribui a Moisés, segundo alguns estudiosos, a autoria dos textos escritos em Gênesis, e como desde a criação do mundo (+ou- 4004 a.C.) até o seu nascimento (+ou- 1525 a.C.) nada do que aconteceu fora registrado por escrito, deduz-se que a transmissão destes fatos aconteceu através da palavra falada. Segundo as datações bíblicas de Gênesis 5, Adão, que faleceu com 830 anos, pode ter falado até mesmo com o pai de Noé que tinha 56 anos de idade quando Adão morreu. Acredito eu que Adão deve ter contado aos seus filhos e estes aos seus por sua vez, como Deus tudo havia criado. Mais tarde, Noé narrou o que acontecera 6 | RT | Outubro e Novembro, 2011
Rev. Egon Martim Seibert
no dilúvio e o que recebera da tradição oral de seus antepassados. Abraão, por usa vez, deve ter contado aos seus filhos o que sabia e como foi chamado por Deus para deixar sua terra e familiares e dirigir-se à Terra Prometida. Isaque, Jacó, José, devem ter feito o mesmo até que finalmente Moisés deixa registrado o primeiro texto bíblico em mais ou menos 1450 a.C. Já pensaram se não tivesse vindo a existir a palavra escrita? O que talvez, hoje, não teríamos nós como Palavra de Deus?
1.2. Da Escritura Cuneiforme à Hieroflífica e o Surgimento do Alfabeto Quando falamos da Bíblia, especialmente sobre sua origem, precisamos nos transportar no tempo e no espaço para o lugar de onde surge o patriarca Abraão, considerado pela própria Bíblia, como o Pai dos Crentes (Gl 3.6-7). Este lugar é a Mesopotâmia, uma região da Ásia Menor, localizada entre os rios Tigres e Eufrates, os quais lançam, por sua vez, as suas águas no Golfo Pérsico. Aliás, Mesopotâmia na verdade tem sua origem nos termos gregos “entre” (mesos) e “rios” (potâmia, plural de potamos, rio), e boa parte desta região encontra-se no atual território do Iraque. Contudo, na época de Abraão, os seus limites se estendiam para além destas terras, sendo bem mais abrangente. Entre os povos que ali habitavam, destacavam-se de modo especial os sumérios e os babilônios. Os sumérios se estabeleceram no norte do Golfo Pérsico, por volta de 3000 a.C., e fundaram Ur de onde saiu Abraão. Segundo alguns autores, foram eles que inventaram a
Bíblia
escrita em forma de cunha, donde deriva o nome cuneiforme, e que é o resultado da evolução dos pictogramas (símbolos ou sinais, que no começo eram bem simples e que se tornaram, com o correr do tempo cada vez mais estilizados). Sabe-se que no início, a escrita era feita através de desenhos: uma imagem estilizada de um objeto significava o próprio objeto. Um pictograma (do latim pictu — pintado + grego γράμμα — caracter, letra) é um símbolo que representa um objeto ou conceito por meio de desenhos figurativos. Pictografia é a forma de escrita pela qual idéias são transmitidas através de desenhos). O resultado era uma escrita complexa (havia pelo menos 2.000 sinais) e seu uso era bastante complicado. Com o passar do tempo os sinais tornaram-se gradativamente mais abstratos, tornando o processo de escrever mais objetivo. Finalmente, o sistema pictográfico evoluiu para uma forma escrita totalmente abstrata, composta de uma série de marcas na forma de cunhas e com um número muito menor de caracteres. Esta forma de escrita ficou conhecida como cuneiforme (do grego, em forma de cunha) e era escrita em tabletes de argila molhada, usando-se para isso materiais como objetos de metal, osso e marfim com a ponta na forma de cunha. Quando os tabletes endureciam, secados ao sol ou levados ao fogo, forneciam um meio quase indestrutível de armazenamento de informações. Na cidade de Nínive, antiga capital da Assíria, também mencionada na Bíblia, um dos reis Babilônios, Assurbanipal, criou uma biblioteca com 22 milhões de tabletes de argila. Embora não exista unanimidade com respeito a uma data como sendo aquela em que a escrita realmente começou, há autores que afirmam que a mesma tenha iniciado por volta de 3200 a.C. (p 14 A Bíblia e a sua história). Há uma referência em Ezequiel 4.1 que faz pensar que neste tempo (por volta de 597 a.C.) ainda se usavam tabuinhas de argila, o que pode indicar que até mesmo textos originais tenham sido escritos nelas. Mais tarde surge então a escrita hieroglífica, produzida pelos egípcios. Os hieróglifos (termo que junta
duas palavras gregas: ἱερός (hierós) “sagrado”, e γλύφειν (glýphein) “escrita”, que no começo somente sacerdotes, membros da realeza, pessoas que ocupavam altos cargos, e escribas sabiam ler e escrever, foram usados por cerca de 3500 anos (até 394 d.C.). A escrita hieroglífica constitui provavelmente o mais antigo sistema organizado de escrita no mundo, e era utilizada principalmente para inscrições formais nas paredes de templos e túmulos. Como este sistema era difícil de ser escrito com rapidez, os escribas egípcios desenvolveram um outro estilo, mais ágil, utilizando-se um tipo de caneta sobre o papiro. Esta escrita era uma versão mais simplificada dos hieróglifos e era conhecida como “hierática”, uma variante mais cursiva que se podia pintar em papiros ou placas de barro. Onde era necessário uma escrita mais rápida, por exemplo, nas esferas da administração, registros de contas, a escrita hierática era usada, ou a que derivou mais tarde, a demótica, mais popular, por causa da influência grega no Oriente Próximo. Quer a escrita hierática quer a demótica utilizavam o papiro como material de suporte para a escrita. Os primeiros alfabetos surgiram aproximadamente em 1700 a.C., nas regiões da Palestina e Síria. Eram alfabetos consonantais, nos quais se basearam os alfabetos fenício, hebreu e árabe. Entre 1000 e 700 a.C., o alfabeto fenício foi adaptado pelos gregos (provavelmente em 900 a.C.), que adicionaram ou alteraram símbolos para representarem as vogais (no século IV a.C.). Pela primeira vez um discurso podia ser transcrito de forma praticamente não-ambígua. Além disso os gregos deram às consonantes e às vogais os nomes próprios de cada letra, sem estar embutido nisso a reprodução de algum som o que fez com que pudessem ser decorados por todos. Por sua vez o alfabeto latino, que foi adotado em toda a Europa, teve como origem o alfabeto grego. As 21 consoantes do alfabeto latino usadas por grande parte das línguas foram criadas pelos antigos fenícios, e as vogais foram criadas posteriormente pelos gregos para facilitar seu uso na escrita e composição de palavras novas. Outubro e Novembro, 2011 | RT | 7
Bíblia
1.3. Os Alfabetos Hebraico e Grego 1.3.1. Alfabeto Hebraico O alfabeto hebraico, também conhecido como Alef-Beit, é o utilizado para a escrita em hebraico, que é uma língua semítica pertencente à família das línguas Afro-Asiáticas, mais falada em Israel. Assim que os he-
a d z y m [ q t
1 - Letra ÁLEF - Não possui som próprio. Pode, porém, assumir o som de vogais, dependendo da palavra. Quando usada para representar números, representa o algarismo 1. 4 - Letra DÁLET - Equivale à letra “D”. Quando usada para representar números, representa o algarismo 4.
7 - Letra ZÁIN - Equivale à letra “Z”. Quando usada para representar números, representa o algarismo 7.
10 - Letra YOD - Equivale à letra “Y”. Apresenta som de “I”, embora seja uma consoante. O “Y” não faz parte do alfabeto da língua portuguesa, mas tanto em hebraico como em inglês, o “Y” é considerado consoante. Quando usada para representar números, representa o valor 10. 13 - Letra MEM - Equivale à letra “M”. Quando usada para representar números, representa o valor 40. 16 - Letra AYIN - Esta letra também não possui som próprio e não possui correspondente em português. Pode, contudo, assumir o som de diferentes vogais, dependendo da palavra. Quando usada para representar números, representa o valor 70. 19 - Letra QÔF - Equivale à letra “Q”. Pronuncia-se Côf. Quando usada para representar números, representa o valor 100. 22 - Letra TAV - Equivale à letra “T”. Quando usada para representar números, representa o valor 400.
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b
breus se estabeleceram na Terra Prometida, eles desenvolveram a sua escrita adaptando o alfabeto fenício a sua língua (p 16 Miller e Hubert). O alfabeto hebraico é formado por 22 letras, todas consoantes. Assim como na escrita árabe, nesse alfabeto, os textos são escritos no sentido anti-horário ou seja, da direita para a esquerda.1 1 O alfabeto hebraico só utiliza consoantes, sendo que as vogais podem ser representadas por sinais diacríticos, chamados niqqud ou sinais massoréticos.
2 - Letra BET ou VET - Equivale às letras “B” ou “V”, dependendo da palavra. Quando usada para representar números, representa o algarismo 2.
h
5 - Letra RÊ - Equivale à letra “H”. Sua pronúncia é como na palavra “house” em inglês (ráuse). Não possui som quando no final da palavra. Quando usada para representar números, representa o algarismo 5.
x
8 - Letra RÊT - Representa-se o RÊT de forma transliterada por “KH”. Seu som é como o som do “R” na palavra “RUA”. É muito parecido com o RÊ, mas sua pronúncia é fortemente gutural. Quando usada para representar números, representa o algarismo 8.
k n p r
11 - Letra KAF - Equivale à letra “K”. Não deve ser transliterada como “C”, porque em muitas palavras em português o “C” tem som de “S” (casa soa como kasa, mas ceia soa como seia). Quando usada para representar números, representa o valor 20. 14 - Letra NUN - Equivale à letra “N”. Quando usada para representar números, representa o valor 50. 17 - Letra PÊ - Equivale à letra “P”, mas também pode ter som de “F”. Quando usada para representar números, representa o valor 80.
20 - Letra RÊSH - Equivale à letra “R” intermediária em português, como na palavra “CARO”. Quando usada para representar números, representa o valor 200.
g w j l s c X
3 - Letra GUÍMEL - Equivale à letra “G”. Seu som é sempre como em “gato”, mas nunca como em “giz”. Quando usada para representar números, representa o algarismo 3. 6 - Letra VAV - Equivale à letra “V”, mas pode ter som de vogal “U” ou de vogal “O”, dependendo da palavra. Quando usada para representar números, representa o algarismo 6. 9 - Letra TÊT - Equivale à letra “T”. Quando usada para representar números, representa o algarismo 9.
12 - Letra LÂMED - Equivale à letra “L”. Quando usada para representar números, representa o valor 30.
15 - Letra SÁMEK - Equivale à letra “S”. Quando usada para representar números, representa o valor 60. 18 - Letra TZADE - Esta letra também não possui correspondente em português. Equivale a um “T” seguido de “Z” ou “S”. Pode ser transliterado como “TZ” ou “TS”. Quando usada para representar números, representa o valor 90. 21 - Letra SHIN - Equivale às letras “SH”, com o mesmo som de um “CH” em português. Quando usada para representar números, representa o valor 300.
Aqui estão apresentadas as 22 letras que compõem o “alefbet” hebraico em sua forma mais moderna. Foi utilizado o fonte bwhebb.ttf que você pode baixar para o seu computador. As letras originais arcaicas são diferentes dessas apresentadas e você poderá visualizá-las, caso queira, baixando para o seu computador o fonte hebanci.ttf.
Bíblia
Os sinais massoréticos, em sua maioria, são colocados abaixo das letras, mas alguns também são colocados acima ou na linha média da letra. Vamos então conhecê-los na tabela abaixo:
Longas
Breves
Semivogais
Vogal “A” Qamets Gadol
Vogal “E”
Qamets Qaton
Patar
Tserê
Segol
Hireq Gadol
Hireq Qaton
Shevau Qamets
Shevau Patar
Shevau
Shevau Segol
Vogal “I”
Vogal “O” Vav Roulem
Roulem
Vogal “U” Vav Shúreq
Qibuts
Em hebraico existem vogais LONGAS (Gadol), BREVES (Qaton) e SEMIVOGAIS (Shevau). Incluimos aqui algumas palavras para ler (não esquecendo que no hebráico as palavras são escritas da direita para a esquerda):
Hebraico
Português
Pronúncia
xq;l,
doutrina ensinamento
Lecar ou Leqar ou Leqakh
Hebraico
Português
Pronúncia
lv;n"
tirar soltar
Nashal ou Nachal
Esta palavra é composta pelas letras Lamed (L) com o massorético Esta palavra é composta pelas letras Nun (N) com o massorético Segol (E breve), seguida pela letra QÔF (Q) com o massorético Pátar Qametz Gadol (A longo), seguida pela letra Shin (SH) com o masso(A breve), e terminada pela consoante Rêt (KH) que tem som de um rético Pátar (A breve), e terminada pela letra Lamed (L). R final.
#R;P'
abrir brecha abrir caminho
Paratz
hr'At
lei ditame
Toráh
Esta palavra é composta pelas letras Pê (P) com o massorético QaEsta palavra é composta pelas letras Tav (T), seguida de um Vav metz Gadol (A longo), seguida pela letra Rêsh (R) com o massorético Roulem (O), seguida pela letra Rêsh (R) com o massorético Qametz Pátar (A breve), e terminada pela consoante Tzade (TZ). Note que o Gadol (A longo), e terminada pela letra Rê (H). Tzade está em sua forma SOFIT (final), pois está no final da palavra.
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Bíblia
Hebraico
Português
Pronúncia
Hebraico
Português
Pronúncia
vyai
homem varão
Iysh
rAa
luz
Ôr
~Ay
dia
ba'
paz
Esta palavra é composta pelas letras Álef (sem som) com o massorético Hireq Gadol (I longo), seguida pela letra Yod (Y) que tem som de I e compõe o Hireq Gadol juntamente com o ponto sob a letra Álef, e terminada pela consoante Shin (SH).
Yôm
Esta palavra é composta pelas letras Yod (Y - som de I), seguida de um Vav Roulem (O), e terminada pela consoante Mem (M) em sua forma SOFIT (final) por estar no final da palavra.
Esta palavra é composta pelas letras Álef (sem som), seguida de um Vav Roulem (O), e terminada pela letra Rêsh (R).
Abh
Esta palavra é composta pelas letras Álef (sem som) com o massorético Qametz Gadol (A longo), seguida de um Bêt aspirado (BH=V).
1.3.2. O Alfabeto Grego Este alfabeto, utilizado para escrever a língua grega, teve o seu desenvolvimento por volta do século IX a.C., mas ainda hoje se usa, não só na língua grega como também na Matemática, Física, Astronomia, etc. Maiúscula A B G D E Z H Q I K L M
Minúscula a b g d e z h q i k l m
Pronúncia alfa beta gama delta épsilon dzeta eta teta iota capa lâmbda mi
2. O Cânone da Bíblia 2.1. O que Significa a Palavra Bíblia A palavra grega Bíblia, em plural, deriva do grego bíblos ou bíblion (βίβλιον) que significa “rolo” ou “livro”. Bíblion, no caso nominativo plural, assume a forma bíblia, significando “livros”. No latim medieval, biblìa é usado como uma palavra singular — uma colecção de livros ou “a Bíblia”. Foi São Jerónimo, tradutor da Vulgata Latina (esta é toda a Bíblia traduzida para o Latim e que se tornou a Bíblia Oficial do Catolicismo por mais de 1500 anos), que chamou pela primeira vez ao conjunto dos livros do Antigo Testamento e Novo 10 | RT | Outubro e Novembro, 2011
Maiúscula N X O P R S T U F C Y W
Minúscula n x o p r s t u f c y w
Pronúncia ni ksi omicron pi rho sigma tau upsilon phi khi psi ômega
Testamento de “Biblioteca Divina”.2
2.2. Significado da Palavra Cânone O cânone bíblico designa o inventário ou lista de escritos ou livros considerados pelas religiões cristãs como tendo evidências de Inspiração Divina. Cânone, em hebraico é qenéh e no grego kanon, têm o significado de “régua” ou “cana” [vara ou barra de medir], e que determina um padrão que deve ser seguido.
2 Curiosidade Bíblica: A Bíblia — o livro mais lido, traduzido e distribuído do mundo — hoje encontra-se, completa ou em porções, em mais de 2.400 línguas diferentes.
Bíblia
2.3. A Formação do Cânone do Antigo Testamento A formação do cânone bíblico do AT se deu gradualmente num período aproximado de 1000 anos. Alguns pesquisadores afirmam que tudo começou com o profeta Moisés(+ou- 1491 a.C.) e terminou com o sacerdote, profeta e copista Esdras (+ou- 400 a.C.), contemporâneo do profeta Neemias, e que liderou um grupo de exilados judeus em seu retorno a Jerusalém (+ou- 484 a.C.). No entanto, não há nisso nenhuma certeza. De acordo com a Bíblia, Deus mandou que Moisés escrevesse o registo da Batalha de Refidim (Êxodo 17.14). Aliás, de Moisés só é dito que escreveu essa e outras passagens como Êxodo 24.4,7; 34.27; Nm 33.2, as leis do Deuteronômio (Dt 31.9) e o Cântico que leva seu nome (Dt 31.19 cf Bentzen, vol II, p19). De fato, não há provas cabais de que Moisés tenha escrito tudo o que está registrado no Pentateuco. Aliás, há pesquisadores que afirmam que o Pentateuco não foi escrito por Moisés (p 28, Miller e Hubert). Uma das razões para que se pense assim é o fato de que o livro de Deuteronômiio conter um relato da morte de Moisés que não poderia ter sido escrito pelo próprio. Há outros, porém, que dizem que Moisés os escreveu e que copistas introduziram no texto este relato. Há ainda uma outra teoria que diz que havia quatro fontes básicas que Welhausen chama de de J, E,P e D (p 28 . Miller e Hubert) de onde foram extraídos ou compilados os escritos que hoje fazem parte do Pentateuco. A letra J representa Javé (YAHWEH), o nome geralmente usado para Deus nesta fonte. A letra E representa ELOHIM, a palara hebraica que significa Deus. P representa sacerdotal (vem do alemão PRIESTER) pois estes manuscritos dão destaque aos sacerdotes e à adoração. A letra D representa o livro de DEUTERONÔMIO, que seria a quarta fonte (p 28-29). Estas fontes teriam sido escitas em tempos, lugres e por pessoas diferentes. Algumas delas podem retroceder aos tempos de Moisés ou a épocas anteriores. Estes textos, segundo Miller e Hubert (p 29) foram reunidos e formaram o Pentateuco que hoje temos, não podendo, no entanto se precisar quem foi o seu editor. Para Bentzen (Introdução ao Antigo Testamento, vol I, p 37), foi o Sínodo de Jâmnia, realizado no
final do primeiro século sob a liderança do rabino Yochanan ben Zakai, o evento importante que fixou definitivamente o cânone do AT. Na verdade, segundo a opinião de alguns estudiosos do assunto, as discussões deste sínodo não giraram tanto ao redor da aceitação de certos escritos no cânone, mas antes no direito de ali permanecerem (p. 40, Bentzen). O que ali na verdade se fez foi uma revisão pois o cânone na realidade já existia. Nesse concilio os participantes decidiram considerar como textos canônicos do judaísmo apenas os que existiam em língua hebraica e que remontassem ao tempo do profeta Esdras. Além disso, O Concílio de Jâmnia rejeitou todos os livros e demais escritos que hoje são conhecidos como os apócrifos, ou seja, que não tinham evidências de inspiração por Deus e fonte de fé. A lista dos livros apócrifos ou deuterocanônicos é a seguinte: Tobias, Judite, I Macabeus, II Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico (Ben Sira ou Sirácida) e Baruque. Além disso, ela possui alguns trechos a mais em alguns livros protocanônicos (ou livros do “primeiro Cânon”) de Ester e Daniel. A bem da verdade, é preciso que se diga que a tese de que o trabalho desse Concílio foi apenas ratificar aquilo que já era aceito por todos os judeus através dos séculos, carece de fundamento científico e é rejeitada por boa parte dos especialistas da matéria. A verdade é que ninguém consegue precisar ao certo como ou quando os livros do AT foram selecionados. O que se sabe é que o cânone hebreu é composto por 24 livros e conhecido também pelo acrônimo Tanakh ou Tanach (a palavra é formada pelas sílabas iniciais das três porções que a constituem), a saber: A Lei (Torá, o Pentateuco: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio), Profetas (Neviim — Históricos: Josué, Juízes, Samuel, Reis; Posteriores: Isaías, Jeremias e Ezequiel e o Livro dos Doze Profetas que é contado como um livro só — Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias ) e Escritos (Kethuvim — 11 livros: Salmos, Provérbios, Jó, O Cântico de Salomão, Rute, Lamentações, Eclesiastes, Ester, Daniel, Esdras-Neemias e Crônicas). O quadro na próxima página mostra o conteúdo do Cânon do Antigo Testamento, lembrando que os 24 livros do Tanahk Hebraico correspondem aos 39 do AT Cristão adotado pelos evangélicos e que não incluem os Apócrifos. Outubro e Novembro, 2011 | RT | 11
Bíblia
Ordem dos Livros da Bíblia Hebraica
12 | RT | Outubro e Novembro, 2011
1. Gênesis - 1 2. Êxodo - 2 3. Levítico - 3 4. Números - 4 5. Deuteronômio - 5 6. Josué - 6 7. Juízes - 7 31. Rute - 8 8 e 9. Samuel - 9 e 10 10 e 11. Reis - 11 e 12 38 e 39. Crônicas - 13 e 14 36 e 37. Esdras e Neemias - 15 e 16 34. Ester - 17 29. Jó - 18 27. Salmos - 19 28. Provérbios - 20 32. Eclesiastes - 21 30. Cantares - 22 12. Isaías - 23 13. Jeremias - 24 33. Lamentações - 25 14. Ezequiel - 26 35. Daniel - 27
Os Doze Profetas Menores
Os 5 Rolos
Os Doze
Neviim (Profetas)
Torá
1. Gênesis 2. Êxodo 3. Levítico 4. Número 5. Deuteronômio 6. Josué 7. Juízes 8 e 9. Samuel (1 só livro) 10 e 11. Reis (1 só livro) 12. Isaías 13. Jeremias 14. Ezequiel 15. Oséias 16. Joel 17. Amós 18. Obadias 19. Jonas 20. Miquéias 21. Naum 22. Habacuque 23. Sofonias 24. Ageu 25. Zacarias 26. Malaquias 27. Salmos Livros da Verdade 28. Provérbios (Proféticos) 29. Jó 30. Cantares 31. Rute 32. Eclesiastes 33. Lamentações 34. Ester Profético 35. Daniel 36 e 37. Estras e Neemias (1 só livro) Escritos 38 e 39. Crônicas
Tanakh Hebraico (Bíblia Hebraica)
15. (Oséias) - 28 16. (Joel) - 29 17. (Amós) - 30 18. (Obadias) - 31 19. (Jonas) - 32 20. (Miquéias) - 33 21. (Naum) - 34 22. (Habacuque) - 35 23. (Sofonias) - 36 24. (Ageu) - 37 25. (Zacarias) - 38 26. (Malaquias) - 39
Antigo testamento Cristão Gênesis Êxodo Levítico Números Deuteronômio Josué Juízes Rute 1 Samuel 2 Samuel 1 Reis 2 Reis 1 Crônicas 2 Crônicas Esdras Neemias Ester Jó Salmos Provérbios Eclesiastes Cantares Isaías Jeremias Lamentações Ezequiel Daniel
Oséias Joel Amós badias Jonas Miquéias Naum Habacuque Sofonias Ageu Zacarias Malaquias
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O historiador judeu Flávio Josefo descreve em sua obra Contra Ápion, que o Canon possuía 22 livros. Algumas escolas sugerem que ele considerou Rute como parte de Juízes, e Lamentações como parte de Jeremias. Jerônimo, o tradutor da Bíblia para o latim, conhecida como Vulgata, também fez essa mesma afirmação no Prologus Galeatus. Não existem textos originais dos livros que fazem parte do AT. Atualmente, a grande fonte hebraica para o Antigo Testamento que a Sociedade Bíblica do Brasil utiliza é o chamado Texto Massorético. Trata-se do texto hebraico fixado ao longo dos séculos por escolas de copistas, chamados Massoretas, que tinham como particularidade um escrúpulo rigoroso na fidelidade da cópia ao original. O trabalho dos massoretas, de cópia e também de vocalização do texto hebraico (que não tem vogais, e que, por esse motivo, ao tornar-se língua morta, necessitou de as indicar por meio de sinais), prolongou-se até ao Século VIII d.C. Pela grande seriedade deste trabalho, e por ter sido feito ao longo de séculos, o Texto Massorético (sigla TM) é considerado a fonte mais autorizada para o texto hebraico bíblico original. Desde 100 AD, os rabinos judeus conhecidos por Massoretas passaram a trabalhar na unificação dos livros bíblicos do Antigo Testamento, examinando e comparando todos os manuscritos bíblicos conhecidos. O resultado deste trabalho ficou conhecido como o Texto Massorético. A metodologia dos copistas judeus era de tal ordem rigorosa que, ao final de cada cópia pronta, feita à mão, todas as letras eram contadas, uma a uma. Além do que era estabelecida uma letra central de referência em todo o texto traduzido, de modo que as letras do início da cópia até a letra central teriam de estar perfeitamente iguais ao documento original. Caso contrário, toda a cópia era destruída e uma nova era refeita. Da mesma forma eram contadas as letras desde o final da cópia até a letra central. Foram os judeus Massoretas que compartimentaram o Antigo Testamento, porém a divisão em capítulos e versículos só se deu no século XIII (entre 1234 e 1242), e foi realizada pelo teólogo Stephen Langhton, então Bispo de Canterbury, na Inglaterra, e professor da Universidade de Paris, na França. O trabalho dos judeus Massoretas produziu cópias dos textos bíblicos minuciosamente trabalhados a fim de preservar as cópias originais de erros de ortografia e pronúncia. Outra grande preocupação era a correta ordenação dos pontos, vírgulas e espaços em todo o texto
bíblico. Todo esse trabalho era feito com grande temor de Deus, além do que os Massoretas possuíam uma preocupação gigantesca em preservar os textos bíblicos de qualquer mudança, o que para eles seria blasfêmia, um pecado muito temido entre os judeus. A meticulosidade dos métodos ultra-perfeccionistas que desenvolveram para copiar o Antigo Testamento era, em grande medida, influenciada pelo temor de cometerem blasfêmia, sabendo que nenhuma adição aos textos originais era permitida. A cópia completa mais antiga do Antigo Testamento é conhecida como o Texto Massorético, ou Codex de Leningrado, e data de 1008 d.C. e permanece intacta! Os textos encontrados em Qunram, junto ao Mar Morto, em 1947, que não apresentam todos os livros do AT, depois de estudos, foram datados como tendo sido escritos por volta de 100 a. C. Quando comparados, os textos de Qunram e o massorético, houve uma perplexidade geral por parte dos estudiosos: ambos eram idênticos, apesar de terem sido escritos (leia-se, copiados) numa diferença de cerca de 1000 a 1100 anos. O que isso nos lembra: a seriedade com que agiam os que copiavam os textos ao longo dos séculos e a provisõ devina para que isso assim acontecesse. Sabe-se que o texto original do AT foi redigido em duas líng uas: a maior parte em hebraico e cerca de 9 capítulos em aramaico (Ed 4.8‑6.18; 7.12‑26; Dn 2.4b‑7; Jr 10.11). Duas versões antigas muito importantes merecem destaque. Trata-se da Septuaginta e da Vulgata. a. Septuaginta. É a mais antiga versão do AT para outra líng ua. A Septuaginta é tradução do AT para a língua grega. O símbolo para Septuaginta é “LXX” já que, segundo tradição antiga (que hoje não tem mais credibilidade), achou-se que esta versão foi elaborada por 72 tradutores de Israel. Hoje sabe-se que esta tradução foi feita na cidade de Alexandria, no Egito, por judeus alexandrinos. (Daí que também é conhecida como “Versão Alexandrina”.) Os muitos judeus que moravam no Egito haviam perdido o domínio das línguas hebraica e aramaica. Falavam grego. A necessidade do AT em grego aumentou cada vez mais. Esta tradução foi feita no séc. III a.C. (por volta de 250 a.C.). A tradução não é uniforme. Há variações na qualidade do texto. A Septuaginta contém sete livros que não fazem parte da coleção hebraica, pois não estavam inOutubro e Novembro, 2011 | RT | 13
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cluídos quando o cânon (ou lista oficial) do Antigo Testamento foi estabelecido por exegetas israelitas no final do Século I d.C. A igreja primitiva geralmente incluía tais livros em sua Bíblia. Eles são chamados apócrifos ou deuterocanônicos e encontram-se presentes nas Bíblias de algumas igrejas b. Vulgata. É versão para a língua latina e inclui toda a Bíblia. O título “Vulgata” significa “versão de uso comum”. Foi elaborada por São Jerônimo no séc. IV A.D. (383‑405). Por mais de mil anos (ocasião em que a língua latina dominava) a Vulgata foi a Bíblia utilizada no mundo ocidental. A Vulgata foi adotada como versão oficial da Igreja Católica Romana. Como a LXX, a Vulgata tem grande importância histórica e crítica. (Material do Rev/Prof. Deomar Roos, não publicado). Quando Jerônimo traduziu a Bíblia para o latim (a famosa Vulgata), no início do Século V, incluiu os deuterocanônicos, e a Igreja Católica admitiu-os como inspirados da mesma forma que os outros livros. No século XVI, com o surgimento da Reforma Protestante, é novamente colocada em dúvida a canonicidade dos deuterocanônicos pelo fato de não fazerem parte da Bíblia hebraica primitiva. No Concílio de Trento, em 8 de abril de 1546, no Decretum de libris sacris et de traditionibus recipiendis (DH 1501), a Igreja Católica novamente os confirmou como partes integrantes da Bíblia Católica, mas desde então foram considerados apócrifos no Protestantismo e no século XVII deixaram de fazer parte das Bíblias protestantes. Para a tradução do Antigo Testamento, a SBB utiliza a Bíblia Stuttgartensia, publicada pela Sociedade Bíblica Alemã. Já para o Novo Testamento, é utilizado The Greek New Testament, editado pelas Sociedades Bíblicas Unidas. Essas são as melhores edições dos textos hebraicos e gregos que existem hoje, disponíveis para tradutores.
2.4. Sobre os Apócrifos: Entre os livros denominados de Apócrifos (do grego apokrypha, escondido, oculto nome usado pelos escritores eclesiásticos para determinar, 1) Assuntos secretos, ou misteriosos; 2) de origem ignorada, falsa ou espúria; 3) documentos não canônicos) Tobias narra a 14 | RT | Outubro e Novembro, 2011
vida de um Tobias natural de Neftali, homem piedoso, que tinha um filho de igual nome, O pai havia perdido a vista. O filho, tendo de ir a Rages na Média, para cobrar uma dívida, foi levado por um anjo a Ecbatana, onde fez um casamento romântico com uma viúva que, tendo-se casado sete vezes, ainda se conservava virgem. Os sete maridos haviam sido mortos por Asmodeu, o mau espírito nos dias de seu casamento. Tobias, porém, foi animado pelo anjo a tornar-se o oitavo marido da virgem-viúva, escapando à morte, com a queima de fígado de peixe, cuja fumaça afugentou o mau espírito. Voltando, curou a cegueira de seu pai esfregando-lhe os escurecidos olhos com o fel do peixe que já se tinha mostrado tão prodigioso. O livro de Tobias é manifestamente um conto moral e não uma história real. A data mais provável de sua publicação é 350 ou 250 a 200 a.C. Por sua vez Judite narra como uma viúva judia, na tenda de Holofernes, comandante-chefe do exército assírio, tomou da espada e cortou-lhe a cabeça enquanto ele dormia. Segundo críticos do mesmo, a narrativa está cheia de incorreções e de absurdos geográficos. O Primeiro Livro dos Macabeus por sua vez é considerado um tratado histórico de grande valor, em que se relatam 05 acontecimentos políticos e os atos de heroísmo da família levítica dos Macabeus (lutavam como martelos) durante a guerra da lndependência judaica, dois séculos a.C. O autor é desconhecido, mas evidentemente é judeu da Palestina. Há duas opiniões quanto à data em que foi escrito; uma dá 120 a 106 a.C., outra, entre 105 e 64 A.C. O Segundo Livro dos Macabeus trata principalmente da história Judaica desde o reinado de Seleuco IV, até à morte de Nicanor, 175 e 161 a.C. O livro foi escrito depois do ano 125 a.C. e antes da tomada de Jerusalém, no ano 70 A.D. Sabedoria de Salomão é um tratado de Ética recomendando a sabedoria e a retidão, e condenando a inquidade e a idolatria. As passagens salientam o pecado e a loucura da adoração das imagens. O autor deste livro escreve em nome de Salomão; diz que foi escolhido por Deus para rei do seu povo, e foi por ele dirigido a construir um templo e um altar, sendo o templo feito conforme o modelo do tabernáculo. Era homem genial e piedoso, caracterizando-se pela sua crença na imortalidade. Viveu entre 150 e 50 ou 120 e 80, a.C. Nunca foi formalmente citado, nem mesmo a ele se referem os escritores do Novo Testamento.
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Eclesiástico, também denominado Sabedoria de Jesus, filho de Siraque, estudioso judeu que vivia no Egito, é obra comparativamente grande, contendo 51 capítulos. No capítulo primeiro, 1-21, louva-se grandemente o sumo sacerdote Simão, filho de Onias, provavelmente o mesmo Simão que viveu entre 370-300, a.C. O livro deve ter sido escrito entre 290 ou 280 a.C., em língua hebraica. O grande assunto da obra é a sabedoria. É valioso tratado de Ética. Há lugares que fazem lembrar os livros de Provérbios, Eclesiastes e porções do livro de Jó, das escrituras canônicas, e do livro apócrifo, Sabedoria de Salomão. Quanto a Baruque, o livro se divide em seis capítulos. Os primeiros cinco capítulos são de sua autoria, enquanto que o sexto é intitulado “Epístola de Jeremias.” Depois da introdução, o livro tem três divisões distintas, a saber: 1) Confissão dos pecados de Israel e orações, pedindo perdão a Deus; 2) Exortação a Israel para voltar à fonte da Sabedoria; 3) Animação e promessa de livramento. A parte denominada de epístola de Jeremias exorta os judeus no exílio a evitarem a idolatria da Babilônia. Foi escrita 100 anos a.C. Acréscimo à Ester, acrescenta 10 versículos ao capítulo e mais outros seis capítulos (11-16). A opinião geral é que o livro foi obra de um judeu egípcio que a escreveu no tempo de Ptolomeu Filometer, 181-145 a.C. Como adição ao livro de Daniel existe o cântico dos três mancebos (jovens), a história de Suzana, em que o autor mostra como o profeta, habilmente descobriu uma falsa acusação contra Suzana, mulher piedosa e casta, e a narrativa onde o profeta revela que os sacerdotes de Bel (um deus pagão) e suas famílias comiam as viandas oferecidas ao ídolo e como ele mata um dragão. Ignora-se a data em que foi escrita e o nome do autor.
2.5. Alguns Testemunhos do NT a Respeito do AT Identificação dos textos citados com a voz de Deus: Em Atos 4.24-25, o apóstolo atribui a Deus as palavras proferidas por Davi no Salmo 2. Em Atos 13.35, as palavras de Davi, do Salmo 16.10, são apresentadas como palavras de Deus: Romanos 15.10, as de Moisés são atribuídas a Deus. Romanos 15.11, Paulo apresenta as palavras do Samista como palavras de Deus Em Hebreus 1.7-8 encontra-se o mesmo ensino a respeito de dois salmos.
Em Hebreus 3.7, as palavras do Salmista são citadas como sendo palavras vindas do Espírito Santo. Para finalizar, lembremos que Jesus, o nosso Salvador, tinha as escrituras Sagradas do AT em alto conceito, ao ponto de afirmar aos judeus com os quais discutia que a “Escritura não pode falhar” ( Jo 10.35) e, ao resistir ao nosso maior inimigo, ele afirmou: “Está escrito” (Mt 4.4).
2.6. A Formação do Cânone do Novo Testamento 2.6.1. Introduzindo o assunto Assim como não há nenhum documento original do AT, também não existe equivalente do NT. O que se tem na verdade são somente cópias. Os manuscritos mais antigos que existem não são anteriores ao século IV (p 7 Oscar Cullmann, A formação do Novo Testamento). Segundo Miller e Huber (p 66 a 71), as primeiras proclamações a respeito de Jesus foram orais. A Igreja se reunia e nela os apóstolos e depois os presbíteros anunciavam o que tinham visto e ouvido. Aliás, Jesus nada deixou registrado por escrito e seus seguidores, nas duas primeiras décadas após sua ascensão, também nada escreveram. Para alguns pesquisadores, a ênfase primitiva dos apóstolos era pregar o evangelho, e não registrá-lo (Atos 2.14 e ss.; 6.4). Utilizaram duas fontes para provar aos judeus que Jesus era o Messias: 1. Seu testemunho de experiências pessoais, inclusive o que eles tinham visto Jesus fazer. 2. As escrituras do Velho Testamento, em primeiro lugar Isaías 40 e versos que seguem, que prediziam o sofrimento e a morte do Servo escolhido de Deus. Alguns afirmam que a Igreja Primitiva mostrou relutância em escrever seus ensinos, por várias razões: 1. Os cristãos primitivos esperavam um retorno de Cristo; portanto, despendiam seu tempo na proclamação do evangelho. 2. Preferiam falar pessoalmente, a escrever(2ª João 12). 3. Os discípulos de Jesus foram escolhidos entre um grupo não literário da sociedade. 4. Os rabinos preservaram seus ensinos oralmente e Jesus nada escreveu. 5. Os apóstolos que tinham sido testemunhas oculares de Jesus estavam disponíveis enquanto o evangelho não se espalhasse além da Judéia. Além disso, os materiais de escrita nessa época eram Outubro e Novembro, 2011 | RT | 15
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dispendiosos, e o método de copiar a mão era um tanto vagaroso. A preponderância da transmissão oral, contudo, não impediu as produções literárias. No entanto, dois eventos enfatizaram a necessidade de narrativas escritas sobre a vida e os ensinos de Jesus: 1. A morte dos apóstolos ameaçava destruir a fonte dos ensinos autênticos. 2. A difusão do evangelho aos gentios, que não tinham um conhecimento profundo do Velho Testamento, exigiu um ensino permanente e autorizado. Um exemplo primitivo da mensagem que os apóstolos pregavam se encontra no sermão de Pedro no dia de Pentecostes. Se o analisarmos, podemos ver os seguintes tópicos: 1. Jesus é o cumprimento da profecia do Velho Testamento. 2. Com sua vinda as profecias messiânicas cumpriram-se e começou a Nova Era. 3. Ele é o descendente prometido de Davi aprovado por Deus, por suas maravilhas e poderosos trabalhos, crucificado, ressuscitado e exaltado à mão direita Deus. 4. Ele voltará para julgar a humanidade e realizar seu Reino. 5. A salvação é pela fé em seu nome.
2.6.2. Os Primeiros Registros do NT Os primeiros registros que fazem parte do NT de que se tem notícia são as cartas de Paulo, enviadas por ele às Igrejas que ele ajudara a fundar, provavelmente por volta de 50 d. C. A primeira delas, segundo estudiosos, foi a que ele enviou aos Cristãos de Tessalônica que tinham suas dúvidas com respeito ao retorno de Cristo (1Ts 4.16). Era sua intenção que as cartas que ele escrevia circulassem entre as demais igrejas, não se restringindo de fato àquela à qual ele a havia enviado (cf. Cl 4.16). Entre os gregos, as cartas seguiam praticamente um mesmo modelo. Paulo, seguiu em parte o mesmo, sem sentir-se na obrigação de seguí-lo estritamente. O estilo grego de escrever cartas começava identificando o autor e destinatário, trazendo uma saudação (Paulo introduz uma bênção: ex Rm 1.7). Nas cartas em estilo grego, os escritores costumavam dar graças a pessoas e aos deuses. Paulo geralmente dava graças a Deus e elogios aos destinatários — Ex 1Co 1.4, ou trazia uma breve oração Ef 1.17. No corpo do texto quase sempre 16 | RT | Outubro e Novembro, 2011
as cartas gregas apresentavam uma declaração concisa sobre seu propósito. Paulo faz uso disso em sua carta aos Coríntios (Ex: 1Co 1.10). Ainda, nas cartas gregas era comum terminar com um desejo de boa saúde para o destinatário e um “adeus”. Paulo, por seu lado, apresentava uma bênção ou uma oração. Aliás, pastores de diversas credos cristãos ainda hoje, imitando a Paulo, encerram seus cultos com bênçãos tipo “Que a graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a presença do Espírito Santo estejam com todos vocês!” (2Co 13.13). Paulo, em suas cartas faz alusão ao que Jesus era, fizera e até escreve que havia testemunhas vivas de sua ressurreição (Rm 9.5; Rm 3.24; 1Co 15.1-8). No entanto, estas testemunhas começaram a morrer (até mesmo Pedro e Paulo) e a Igreja Cristã viu-se na obrigação de começar a se preocupar com estes testemunhos que podiam ser perdidos caso não se começassem a colocar no papel os mesmos. Assim, entre 65 e 73 d.C. o primeiro evangelho que ainda existe foi escrito, a saber, o de Marcos, sendo que os demais livros e cartas que compõem o NT já estavam escritos no ano 100 d.C. Contudo, nesta época ainda não existia nenhuma lista autorizada de livros do NT. Aliás, em nenhum escrito do NT consta uma lista autorizada dos livros que devem ser considerados sagrados. Somente em 2Pe 3,15-16, o Apóstolo Pedro confessa que os escritos do Apóstolo Paulo são Escrituras Sagradas, mas não os relaciona e nem relacionada quais seriam os outros livros da Escritura.
2.6.3. A Formação do Cânone do NT A Referência mais antiga que se tem sobre o Cânon do NT se encontra em um manuscrito descoberto pelo sacerdote italiano Ludovico Antonio Muratori no séc. XVIII, datado do séc. II. Por causa do nome de seu descobridor, este documento ficou conhecido como Cânon de Muratori. Neste escrito estão relacionados os 4 Evangelhos, as cartas paulinas, Judas e 1,2 João e o Apocalipse. Não são relacionadas as epístolas de Pedro, a de Tiago e aquela dirigida aos Hebreus. Muitas controvérias existiram para se reconhecer o caráter canônico de livros como Hebreus, Tiago, Judas, Apolocalipse, 2ª e 3ª João e 2ª Pedro. Por esta razão alguns estudiosos os chamam de Deuterocanônicos do NT. Da mesma forma, outros livros já estiveram no cânon NT, porém depois foram rejeitados. É o caso da Primeira Carta de Clemente aos Coríntios (séc. I) e o
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Pastor de Hermas (séc. II). A lista completa dos livros do NT conforme existe hoje aparece pela primeira vez na Epístola 39 de Santo Atanásio de Alexandria para a Páscoa de 367 d.C. Esta mesma lista foi confirmada por documentos posteriores como o Decreto Gelasiano, e os Cânones de Hipona e Cartago III, IV. Assim como fez com os Deuterocanônicos, durante a Reforma Protestante Lutero também questionou a canonicidade de alguns livros do NT, são eles: Hebreus, Tiago, Judas e o Apocalipse. Entretanto, suas idéias acabaram sendo rejeitadas para este livros, o que não aconteceu sobre os Deuterocanônicos. O professor Gerson Linden afirma que “listas formais de livros foram compilados pela Igreja, em parte para responder a questionamentos”. Ele lembra que em 144 d.C.,o líder gnóstico Marcião que havia proposto a existência de dois deuses, um do AT (um deus inferior que criou universo e o homem maus) e o outro do NT, o pai de Jesus Cristo (aliás, para ele Jesus não morreu nem ressuscitou, pois nem foi humano; só parecia tal), afirmou que só seriam escritos canônicos os de Lucas e de Paulo (este último com algumas restrições), pois os mesmos não apresentavam elementos judaicos. Contra esta proposta a Igreja se manifestou deixando claro que já tinha uma posição a respeito dos livros que ela considerava canônicos. O fato de Marcião rejeitar certos livros mostrava que esses tinham sido considerados como revestidos de autoridade no seu tempo e os seus oponentes acorreram em defesa dos livros que ele rejeitava. Entre os que o combateram destacam-se dois dos considerados Pais da Igreja: 1) Irineu, nascido em Esmirna, na Ásia Menor (atual Turquia) no ano de 130 d.C., que foi influenciado plor Policarpo, discípulo do apóstolo João, e 2) Tertuliano, nasc ido em Cartago (atual Argélia, norte da África) por volta de 155 d.C. Tertuliano foi quem trouxe à Igreja o termo Trindade e combateu o gnosticismo de Marcião mostrando que em Jesus estavam unidas as duas naturezas: a divina e a humana. A organização arbitrária de um cânon por Marcião mostrou que: os livros aceitos deviam ser considerados como autênticos; e que aqueles que rejeitara eram aceitos como canônicos pelos cristãos em geral. Por volta de 150 A.D. a igreja não tinha o seu cânon formalmente expresso; contudo, referências prévias mostraram que a maioria dos livros do Novo Testamento estava praticamente em uso da Síria, na Ásia Menor e em Roma;
já na metade do século II, a força do cristianismo se havia transferido para Roma, a cidade imperial. Os ensinos heréticos de Marcião, sua adoção de um cânon e a popularidade dos seus ensinos poderiam ter forçado a igreja a reconhecer formalmente um Cânon. O cânon Muratoriano, já anteriormente mencionado, embora seja um documento fragmentário revela que já havia uma lista do Novo Testamento, provavelmente em oposição ao cânon herético de Marcião. O Cânon muratoriano omite Tiago, 1 e 2 Pedro e Hebreus, o próprio manuscrito não é mais antigo do que o século VII, mas o seu conteúdo pertence provavelmente ao último terço do século II, cerca de 170 d.C. O fragmento muratoriano representa uma coleção oficial de livros que difere do Novo Testamento atual apenas pela exclusão de quatro e a inclusão de um. O Cânon do Novo Testamento que obteve finalmente a aprovação em toda a igreja foi estabelecido por Atanásio, bispo de Alexandria, em 367 d.C. que em sua carta pascal desse ano fez uma declaração importante para a história do Novo Testamento. Esta lista foi mais tarde aprovada pelos concílios da igreja reunidos em Hippo Regius em 393 e Cártago em 397, e permanece sendo o cânon do Novo Testamento até os nossos dias. Na verdade o que os concílios da igreja fizeram não foi impor algo novo sobre as comunidades cristãs, mas codificar o que já era a prática geral daquelas comunidades. Do mesmo modo como na formação do cânone do AT, na do NT houve também livros que disputaram a condição de canônicos, mas que não foram incluídos. A maioria esmagadora desses livros compunha-se de obras espúrias escritas por hereges gnósticos do século II. Tais livros nunca receberam uma consideração séria. De fato, apenas dois ou três livros que não foram incluídos no cânon foram levados em consideração. Foram estes: 1 Clemente, O Pastor de Hermas e O Didaquê. Estes livros, porém, não foram incluídos no cânon das Escrituras porque não foram escritos por apóstolos e os próprios autores reconheceram que a autoridade deles estava subordinada aos apóstolos. Em resumo, o processo foi o seguinte: os livros que chamamos de Novo Testamento foram escritos; eles foram amplamente lidos; foram aceitos pelas igrejas como úteis para a vida e a doutrina; foram introduzidos na adoração pública da igreja; ganharam aceitação através de toda a igreja e não apenas das congregações locais; e foram oficialmente aprovados mediante deciOutubro e Novembro, 2011 | RT | 17
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são formal da igreja. Porém, a igreja estabeleceu alguns critérios para selecionar os escritos, dentre os quais destacaremos:
A Apostolicidade O material em consideração pela comunidade eclesiástica deveria ter sido redigido por um dos doze que conviveram com Jesus. “O livro deveria ter sido escrito por um apóstolo ou baseado em seu testemunho ocular. Os apóstolos eram tanto testemunhas oculares pessoais do ministério de Cristo como os primeiros líderes da Sua igreja”. Assim sendo o testemunho deles tornou-se a primeira autoridade nesta nova comunidade de fé. Já que estes ficaram com a responsabilidade de instruir os novos discípulos seu testemunho deveria ser aceito pela igreja como possuindo a autoridade de Jesus. Logo os seus escritos deveriam ser aceitos. Se o escrito procedesse de alguém que não estivesse no grupo dos doze mas que tivesse alguma relação com estes seria aceito. “Quanto aos evangelhos, estes deveriam manter o padrão apostólico de doutrinas particularmente com referência à encarnação e ser na realidade um evangelho e não porções de evangelhos, como tantos que circulavam naquele tempo”.
A Catolicidade Este fator envolve a circulação, o uso e a aceitação do livro. Já que não era fácil comprovar a autenticidade apostólica, esta característica auxiliou e muito a confecção do Cânon. “Os autores tinham no geral seguidores em sua igreja e comunidade, mas só os livros usados pela igreja inteira vieram a ser incluídos no Cânon. Como os pastores e membros das várias congregações se comunicavam entre si, os livros mais usados se tornaram obviamente conhecidos”. Como nem sempre era fácil demonstrar a autenticidade apostólica do documento, nem mesmo sua derivação, o critério do uso e circulação veio colaborar na aferição canônica. Existe a probabilidade de que certos escritos foram aceitos e circularam tendo a autoridade antes mesmo de possuir qualquer tipo de relação com o grupo apostólico.
A Ortodoxia Esta também era um importante fator na questão da seleção. nos relatos, livros escritos que para serem canonizados deveriam possuir no seu bojo um conteúdo doutrinário cristalino. Nenhum dos escritos que con18 | RT | Outubro e Novembro, 2011
corriam a uma aceitação canônica poderia contrariar àquela ortodoxia característica das primeiras décadas. Isto possibilitou a igreja a expor e repudiar as grandes heresias dos primeiros séculos e preservar a pureza do Evangelho. E quando havia erros ou obscuridades nos escritos estes eram tirados da lista canônica.
Inspiração A última prova para canonizar era a inspiração. Os livros escolhidos davam evidências de serem divinamente inspirados e autorizados. O Espírito Santo guiou a igreja para que ela discernisse entre a literatura religiosa genuína e a falsa. Houve a necessidade de um certo período de tempo para se concretizar.
2.6.4. Uma Cronologia que Levou à Formação do Cânone do NT A cronologia a seguir, apresenta uma sequência dos eventos bíblicos e extrabíblicos que refletiram sobre a formação do cânon da Bíblia, tanto do Antigo quanto do Novo Testamento. Afirma-se por aí que dois pesquisadores da Bíblia não conseguem concordar sobre uma cronologia apostólica… Com efeito, a cronologia que aqui é apresentada é aceitável para alguns, mas não pode ser considerada “universal”. Serve apenas para fornecer pontos de referência para os eventos que se sucederam e suas consequências sobre a formação do cânone das Escrituras. A tabela que segue ao lado, eu adaptei de material produzido por MARTIM H. FRANZMANN, na obra THE WORD OF THE LORD GROWS, A First Historical Introduction to the New Testament, e que foi traduzida pelo Dr. Leonardo Neitzel3. 3 Registrada no polígrafo do SEMINÁRIO CONCÓRDIA, do curso de EDUCAÇÃO TEOLÓGICA POR EXTENSÃO (ETE) — DIACONIA EM EDUCAÇÃO CRISTÃ, da disciplina de INTRODUÇÃO AO NOVO TESTAMENTO, pp. 19-20.
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27 ��������������������Pregação de João Batista 30 ��������������������Pentecoste; nascimento da Igreja Neotestamentária 32 ��������������������Morte de Estêvão e a conversão de Paulo 43 ��������������������Fundação da Igreja Gentílica de Antioquia; Paulo chamou Barnabé para Antioquia (localizada na Turquia de hoje) 44 ��������������������Morte de Tiago, filho de Zebedeu 45 ��������������������Epístola de Tiago 46-48 ��������������Primeira Viagem Missionária de Paulo 49 ��������������������Epístola aos Gálatas (Galácia, hoje Turquia) 49 ��������������������Concílio Apostólico de Jerusalém 49-5l ���������������Segunda Viagem Missionária de Paulo 50 (início) �����Primeira Epístola aos Tessalonicenses (Tessalônica, hoje Grécia) 50 (verão) ������Segunda Epístola aos Tessalonicenses 52-56 ��������������Terceira Viagem Missionária de Paulo 54/55 �������������Primeira Epístola aos Coríntios (Corinto, Grécia) 55 ��������������������Segunda Epístola aos Coríntios 56 (início) �����Epístola aos Romanos (Roma, Itália) 56-58 ��������������Prisão de Paulo em Cesaréia 58-59 ��������������Viagem de Paulo a Roma 59-6l ���������������Prisão de Paulo em Roma 59-6l ���������������Epístolas aos Colossenses (Turquia), Efésios (Turquia), Filipenses (Grécia) 50-60 ��������������Evangelho de Mateus 60 ��������������������Evangelho de Marcos 60-65 ��������������Primeira e Segunda Epístola de Pedro 62-63 ��������������Primeira Epístola a Timóteo 63-64 ��������������Paulo é levado para Roma 63 ��������������������Epístola a Tito 64 ��������������������Incêndio de Roma; perseguição de Nero 65 ��������������������Morte de Pedro em Roma como mártir 63-65 ��������������Filemom 64-70 ��������������Atos dos Apóstolos 65-67 ��������������Segunda Epístola a Timóteo 65-69 ��������������Evangelho de Lucas 60-70 ��������������Epístola de Judas 65-70 ��������������Epístola aos Hebreus 70 ��������������������Tiago é martirizado 70 ��������������������Queda de Jerusalém 90-l00 ������������Evangelho de João 95 ��������������������As 3 Epístolas de João 95 ��������������������Livro de Apocalipse
3 — Divisão da Bíblia 3.1. Gêneros Literários A Bíblia contém diferentes gêneros literários. A distinção básica está entre a poesia e a prosa. Mas mesmo assim reconhecem-se diferentes gêneros literários. Os principais são os que seg uem: 1. Narrativa. Apresenta história, biografia, episódios individuais ou coletivos. Acha-se especialmente nos livros históricos do AT, nos evangelhos e em Atos dos Apóstolos. 2. Lei. É o gênero composto de material legislativo, judicial, de regulamentações. Contém lei moral, civil (doméstica), cerimonial. É encontrado especialmente em Êx, Lv, Nm, Dt. 3. Poesia. Na Bíblia esta tem estrutura própria. Caracteri za-se pela expressão de sentimentos, pela utilidade didática, pela liberdade poética, pelo paralelismo (repetição e contraste) de pensamentos. Às vezes tem fundo histórico. Era utilizada no culto e na proclamação dos profetas. 4. Literatura Sapiencial. O sábio tinha lugar de destaque na sociedade de Israel. Os anciãos eram a liderança do povo e reuniam-se à porta da cidade. Os sábios enunciavam provérbios, dizeres, comentários sobre a vida e o seu dia-a-dia, princípios universais. Tinham algo a dizer sobre o relacionamento homem-Deus e homem-homem. Este tipo de literatura tem a sua expressão clássica nos livros de Provérbios e Eclesiastes. 5. Profecia. O profeta é alguém que, em nome de Deus, proclama o conselho de Deus. Esta proclamação pode incluir predição. Nas profecias é preciso levar em conta o fundo histórico, o gênero literário utilizado, o objetivo original do profeta, o cumprimento no NT, etc. Há diferentes tipos de profecias. Os exemplos clássicos deste gênero literário são os profetas do AT e o livro de Ap. 6. Parábola. A parábola é uma realidade divina enunciada em figuras humanas. Com frequência Cristo respondia questões com o uso de parábolas. Também era usada como ilustração de um tema. É preciso atentar para o ponto de comparação da parábola e ter cuidado com a alegorização. Encontramos parábolas nos evangelhos, nos livros históricos e proféticos do AT. Outubro e Novembro, 2011 | RT | 19
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7. Epístola. As epístolas eram a correspondência pastoral dos apóstolos. Ao interpretá-las, é preciso atentar para o seu propósito, autor, argumento ou tema, destinatário. Os exemplos deste gênero são as cartas do NT.4
3.2. Classificação dos Livros do AT “O texto original do AT (a Bíblia Hebraica) dispõe os documentos de forma diferente que as atuais versões. A classificação hoje usada foi adotada pela LXX e tem como critério o conteúdo dos livros. É essa a disposição que temos em nossa Bíblia, na tradução de João Ferreira de Almeida, edição revista e atualizada no Brasil. Os livros bíblicos são assim classificados: 1. Livros Históricos. O Pentateuco (que é composto pelos 5 livros de Moisés, Gn a Dt) e os livros “históricos propriamente ditos” ( Js a Et). Ao todo, são 17 documentos. 2. Livros Poéticos. São 5 livros: de Jó a Ct. 3. Livros Proféticos. Este conjunto é composto pelos Profetas Maiores (Is, Jr e Ez), os livros de Dn e Lm, e os Profetas Menores (Os a Ml, tecnicamente chamados de “os Doze”). A soma dá 17 documentos nos livros proféticos. Isto perfaz um total de 39 livros no AT. O critério para a classificação dos livros proféticos em Profetas “Maiores” e “Menores” não é a qualidade da teologia do livro, mas a extensão, o tamanho do texto.” (Deomar Roos, p. 13)
3.3. Os Livros do Antigo Testamento 3.3.1. O Pentateuco — Os Livros da Lei Enquanto os cristãos Católicos, os Ortodoxos Orientais e os Anglicanos registram em suas Bíblias 46 livros pelo fato de incluírem os assim chamados Apócrifos, o mundo evangélico, seguindo a tradição judaica tem tão somente 39. Os cinco primeiros são conhecidos como os livros da Lei, o Pentateuco. São eles Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Quanto à autoria, embora não haja unanimidade, em nosso meio a opinião da maioria é a de que ela pertence a Moisés. 4 Extraído de SEMINÁRIO CONCÓRDIA, EDUCAÇÃO TEOLÓGICA POR EXTENSÃO (ETE); DIACONIA EM EDUCAÇÃO CRISTÃ; DISCIPLINA: INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO, autor Deomar Roos; p 12 e 13 20 | RT | Outubro e Novembro, 2011
Segundo Deomar Roos, existem evidências para isso que ele enumera como segue: 1. Evidências do próprio Pentateuco. Êx 17.14; Nm 33.1‑2; Dt 31.9,24. 2. Evidências de outros livros do AT. Js 1.7-8; Jz 3.4; 1 Rs 2.3; Ed 6.18; Ne 13.1. 3. Testemunho de Cristo nos evangelhos. Cristo menciona passagens do Pentateuco como sendo de Moisés: Mt 19.8; Mc 10.4-5; Lc 24.27,44. 4. Evidência de outros livros do NT. At 3.22-23; Rm 10.5,19; 1Co 9.9. Além do mais, Moisés tinha plenas qualificações para liderar o povo de Israel no caminho para a terra prometida e redigir o Pentateuco. Junto à sua fidelidade a Deus, estava a “escola” que recebera do próprio Deus no deserto bem como a educação que tivera no Egito quando lá morava. Não temos motivo real para negar a autoria mosaica do Pentateuco.” (Deomar Roos, p 18). GÊNESIS, cuja palavra significa “começo, início, gênese” (extraído de Gn 1.1; na Septuaginta, em grego, Gênesis é a primeira palavra — no princípio, começo), narra em seus primeiros 11 capítulos, como foram criados o universo, a raça humana. Além disso apresenta também a queda do ser humano em pecado, a promessa de um Messias, o dilúvio e a separação dos povos por causa da confusão das línguas em Babel. Depois, nos últimos 39, trata da origem dos hebreus, o povo escolhido do AT, relatando de forma especial a história dos patriarcas até a morte de José no Egito. Também podemos destacar o fato de que Gênesis registra que Deus fez alianças com Adão (2.15‑17) e com Noé (9.8‑17. Chama Abraão e entra em aliança com ele e promete que dele faria uma grande nação e que nele seriam benditas todas as famílias da terrará (Gn 12.1-3), o que, segundo muitos intérpretes é uma alusão ao Messias que haveria de vir. Jacó, que luta com Deus, tem seu nome mudado para Israel (32.28 — ele luta com Deus). ÊXODO, que significa saída, narra a saída do Egito e a grande liderança exercida por Moisés. Também apresenta a entrega da Lei, dos 10 Mandamentos no monte Sinai (capítulo 20) pelo próprio Deus, e de outras leis (cerimoniais e civis). Chama-nos a atenção o fato de que Deus ordena a construção do tabernáculo, sua casa aqui na terra (25.8) e o estabelecimento do sacerdócio (28) que tem seguimento em nossos dias na pessoa dos que são chamados para este ofício em sua
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Igreja. LEVÍTICO, nome que tem sua origem no tratar do que era próprio da atuação dos levitas como auxiliares dos sacerdotes no tabernáculo, apresenta leis que tratavam da consagração do sacerdócio e tudo o que tinha a ver com o culto que o povo de Israel prestava a Deus; onde e quando as suas ofertas e sacrifícios deveriam ser oferecidos; animais que podiam ser sacrificados; leis para os que conduziam o culto; leis de pureza e de impureza; leis para os dias de festa e para a vida santificada do povo em geral. NÚMEROS, que destaca o resultado dos dois censos (cap 1, 2 e 26) de Israel (saída do Egito e entrada na Terra Prometida) e o censo dos três grupos de famílias levitas (cap 3 e 4). Segundo Deomar Roos (p. 22) há três seções no livro: 1. Preparo para a partida do Sinai (1.1‑10.10). 2. Jornada do Sinai até as planícies de Moabe (10.11‑21.35). 3. Episódios nas planícies de Moabe (22‑36). DEUTERONÔMIO, título dado a este livro pela Septuaginta e que significa uma segunda lei. Na verdade não se trata de uma segunda ou de uma nova lei, mas sim é uma interpretação incorreta de Dt 17.18 onde o autor refere-se ao traslado ou cópia. Neste livro, onde se encontram os três últimos discursos de Moisés, é reapresentada toda a lei de Deus. De acordo com a Bíblia de Estudo NTLH (p. 164), a passagem-chave do livro se encontra em 6.5: “Amem o Senhor, nosso Deus, com todo o coração, com toda a alma e com todas as forças”. Deomar Roos comenta: Dt 34 fala da morte de Moisés. No mundo acadêmico discute-se a autoria deste capítulo. Quem escreveu? Moisés mesmo? Ou outro autor? Alguns da tradição judaica acham que Josué é o autor. Isto é difícil de responder. A questão fica em aberto.
3.3.2. Os Livros Históricos São 12 os livros que fazem parte do grupo dos históricos: Josué, Juízes, Rute, 1 Samuel, 2 Samuel, 1 Reis, 2 Reis, 1 Crônicas, 2 Crônicas; Esdras, Neemias, Ester. JOSUÉ. Embora o livro conte a história de Josué, o sucessor de Moisés, como líder dos Israelitas e a conquista da terra de Canaã e a sua divisão entre as 12 tribos sob a sua liderança, não se pode precisar que ele é o autor de todo o seu conteúdo. Deomar Roos indica, porém, alguns dados que podem levar à conclusão de que parte do livro foi por ele escrito, a saber: “ 1. A tra-
dição judaica é do parecer que o título “Josué” refere-se ao autor do livro. 2. O texto parece indicar que grande parte do livro foi escrita por uma testemunha ocular. E Josué é o melhor candidato neste caso. 3. Ao menos partes (se não tudo, ou quase tudo) do livro foram escritas por Josué. Js 24.26” (Roos, p. 24). A mensagem principal deste livro é a fidelidade de Deus no cumprimento de suas promessas e a necessidade de Israel permanecer fiel a Ele para não ser castigado e expulso da terra que Ele lhes dera (24.14-28). JUÍZES é um livro que não tem um autor nem data definidos (provavelmente 1000 a.C. porque não havia ainda a Monarquia instalada). Contudo retrata a época em que juízes dirigiram a Israel em momentos de dificuldades (eram na verdade líderes, enviados por Deus), entre 1210 e 1030 a.C. (p.225 Bíblia de Estudo). Exemplos: Gideão ( Jz 6-8) e Sansão ( Jz 13-16). Interessante de se notar é que se repetem fatos: apostasia, castigo, pedido de livramento, ação de Deus estabelecendo um juiz e libertando o povo da opressão. RUTE conta a história de uma jovem moabita que, ao tornar-se viúva, segue com a sogra Noemi para Belém onde se casa com Boaz e vem a tornar-se a bisavó do rei Davi e, consequentemente uma das antepassadas do Messias, Jesus. Não se pode precisar a autoria nem o tempo em que foi escrito. Por fazer referência a Davi (RT 4.16-22), pensam alguns que o mesmo possa ter sido escrito durante o seu reinado. 1 e 2 SAMUEL, segundo vários estudiosos do assunto foram redigidos como um só livro. Foi com o surgimento da Septuaginta que aconteceu a divisão que mais tarde também passou para a Bíblia Hebraica (p 253 Bìblia de Estudo). Não se sabe quem escreveu os dois livros. A tradição dá aos livros o nome de Samuel porque ele é o primeiro personagem e porque parte dele foi de fato por ele escrito (1Sm 10.25). Provavelmente tenham sido completados depois de 931 a. C. porque somente nesta época, depois da morte de Salomão é que Israel esteve dividido em dois reinos (1Sm 11.8). O Prof. Deomar Roos escreveu: “O esboço dos livros está baseado no personagem principal que entra em cena em cada período da história coberta pelos livros: 1. Samuel: 1Sm 1‑7. 2. Samuel e Saul: 1Sm 8‑15. 3. Saul e Davi: 1Sm 16‑31. 4. Triunfo de Davi sobre a casa de Saul: 2Sm 1‑8. 5. “História da Corte” (de Davi): 2Sm 9‑20. Outubro e Novembro, 2011 | RT | 21
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6. Apêndice: 2Sm 21‑24. Percebe-se que o relato dos episódios gira ao redor dos três “eixos” principais do livro que são os três principais personagens: Samuel, rei Saul e rei Davi” (p. 29). 1 e 2 REIS, da mesma maneira como 1 e 2 Samuel, foram escritos em um só livro e depois divididos pela Septuaginta em dois. Embora a tradição judaica aponte para Jeremias como o seu autor, não há prova disso. Alguns autores apontam para 562 a.C. como a data em que os livros possam ter sido redigidos porque 2 Rs Reino do Norte ou Israel Capital: Samaria Em 722 a.C. deixa de existir como nação Último Rei: Oséias As narrativas de 1 e 2 Reis encerram com o rei Zedequias, o último de Judá, colocado lá por Nabucodonozor para substituir a Joaquim que fora levado prisioneiro para a Babilônia (2Rs 24). Matanias, tio de Joaquim, cujo nome foi mudado para Zedequias (2Rs 24.17) reinou de 598 até 587 a. C. e depois de lhe terem furado os olhos (2Rs 25) também foi levado à Babilônia. Em julho de 586 a. C. o templo foi destruído e em 562, o Rei Joaquim foi libertado pelo substituto de Nabucodonozor, Evil-Merodaque (2Rs 25.27). Dois grandes profetas que são mencionados nestes livros foram Elias (início da história de Elias — 1Rs 17 — sua subida ao céu 2Rs 2) e Eliseu (chamado em 1Rs 19.19 e morte em 2Rs 13.14-21). 1 e 2 CRÔNICAS, igualmente formavam um só livro que foi dividido pela Septuaginta. O livro cobre toda a história bíblica desde Adão até o edito do monarca medo-persa Ciro, em 538 a.C., que permitiu o retorno do povo de Judá do cativeiro babilônico. De acordo com a Bíblia de Estudo NTLH os dois livros de Crônicas ensinam que o SENHOR é Deus, que é ele quem manda em tudo e em todos, e que tudo o que acontece é da vontade de Deus. (p. 371). A tradição hebraica atribui a Esdras a autoria dos livros e deve ter sido escrito na segunda metade do século V a. C., por volta de 430 a. C. ESDRAS e NEEMIAS estiveram reunidos em um só livro, chamado de Esdras. Quando Jerônimo traduziu a Bíblia para o latim (Vulgata), ele dividiu o mesmo chamando o resultado da divisão de 1 e 2 Esdras. A Bíblia Hebraica e a Septuaginta adotaram a mesma divisão. Hoje os livros são conhecidos por Esdras e Nee22 | RT | Outubro e Novembro, 2011
25.27 afirma que a libertação do rei Joaquim aconteceu no ano em que Evil-Merodaque tornou-se rei da Bailônia. Começa a narrativa quando Davi está velho e continua falando de Salomão que constrói o grande templo em Jerusalém. Após a morte de Salomão, o povo das tribos do norte pediram que seu filho Roboão aliviasse as tribos do Norte da pesada carga de impostos que Salomão lhe dera. Como o pedido não foi aceito, aconteceu a separação. Reino do Sul ou Samaria Capital: Jerusalém Entre 587-539 a.C. vem o Cativeiro Babilônico Último Rei: Zedequias mias (Bíblia de Estudo p. 429). Embora o segundo livro comece como autobiografia, não se pode determinar quem é o autor de um e outro livros. A tradição mais antiga atribui a autoria de ambos os livros a Esdras, porém complementado por Neemias (especialmente no livro que leva seu nome). Quanto ao tempo em que foram escritos, tudo indica que foi por volta de 350 a. C. O Esdras mencionado neste livro foi Sacerdote, e Neemias, que fora copeiro do rei de Artaxerxes, rei da Pérsia, liderou um grupo de judeus que voltou do cativeiro para Jerusalém, onde foi governador da terra de Judá e realizou a reconstrução das muralhas. Segundo Deomar Roos, o esboço destes livros segue os acontecimentos históricos do momento: 1. Primeiro retorno dos exilados: Ed 1‑2; 558 a. C. 2. Restauração do culto: Ed 3‑6. 3. Segundo retorno e reformas religiosas de Esdras: Ed 7‑10; + ou - 458 a. C. 4. Restauração dos muros (relato autobiográfico de Ne): Ne 1‑7. 5. Reformas de Esdras e Neemias (atividades de ambos): Ne 8‑13 (p. 34). Ester, que significa estrela na língua persa (Hadassa em hebraico), livro cuja autoria nem data são conhecidas, relata a história desta mulher que se casou com Xerxes, rei da Pérsia (486-465 a. C.), depois dele se ter divorciado da rainha Vasti. O livro relata como o primeiro ministro do reino, o vizir Hamã, planeja matar Mordecai, primo de Ester, e massacrar os judeus. A narrativa mostra como Deus livra seu povo deste intento e como é introduzida a Festa de Purim, festa que não foi
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prevista na Lei de Moisés, que é hoje ainda celebrada pelos judeus para comemorar este livramento (Et 4.14. lembra a razão pela qual Ester veioa ser rainha, segundo o plano de Deus). Uma curiosidade: no livro não é mencionado o nome de Deus.
3.3.3. Literatura Sapiencial e Poética Os próximos cinco livros, são denominados de Livros de Sabedoria ( Jó, Provérbios e Eclesiastes) e Poéticos ( Jó, Salmos e Cantares ou Cântico dos Cânticos). Os Livros de Sabedoria têm como objetivo ensinar as pessoas que pertencem ao povo de Deus a viverem corretamente, apresentando-lhes sugestões para como agir diante das mais diferentes situações da vida. Os Livros Poéticos (aos quais se acrescenta o de Lamentações de Jeremias que é composto por cinco poemas) fazem uso do paralelismo, cuja característica, de acordo com Deomar Roos “não consiste na rima de sons ou fonemas ao final das linhas (como, por exemplo, na poesia tradicional da literatura brasileira), mas trata-se da rima de pensamentos. Existe uma relação e combinação de idéias e de conteúdos dentro do poema. No Sl 19.1, por exemplo, notamos que a segunda linha repete o mesmo conteúdo da primeira, mas com palavras diferentes. Isto é o “paralelismo dos membros” utilizado na poesia do AT. Exemplos semelhantes se encontram no Sl 83.14-15 e em Pv 15.1” (p. 37). Jó, livro sapiencial e poético, cuja data de surgimento não se consegue precisar (alguns dizem que foi por volta de 1900 e 1800 a.C.; outros entre 500 e 400 a.C., p. 463 Bíblia de Estudo), recebe o nome da figura principal do livro sem que se possa dizer que ele foi realmente seu autor. Esse livro narra os diálogos que Jó tem com seus amigos e com Deus depois de perder tudo por sugestão de Satanás ( Jó 1.6-12). Aliás, ele sofreu tudo aquilo pelo que passou, não como castigo pelos seus pecados, mas sim por causa do desafio de Satanás ( Jó 1.6-2.10). SALMOS, chamado de tehillim ou tillim em hebraico, significa cantos de louvor (Bentzen, vol 2, p 187). Na verdade os salmos são uma coleção de hinos de louvor produzidos por vários autores, sendo que os mesmos foram escritos entre os anos 1000 e 300 a. C. (Bíblia de Estudo, p. 502). Segundo Roos (p. 40), a estatística nos revela que dos 150 salmos registrados, 73 são de Davi, 12 de Asafe, 10 dos filhos (ou também descendentes) de Coré (este número chega a 12 salmos se incluirmos os Sl 43 e 88), 2 de Salomão (os Salmos 72
e 127), 1 de Hemã, o ezraíta (o Salmo 88), 1 de Etã, o ezraíta (o Salmo 89) e 1 salmo de Moisés (o Salmo 90). Os Salmos, assim como a Lei (Pentateuco), estão divididos em 5 livros, cada um terminando com uma doxologia. O último salmo (o 150) forma uma doxologia ao livro V e a todo o livro dos Salmos. De forma semelhante, o Sl 1 serve de introdução a todo o salté rio. A divisão dos 5 livros é a seguinte: Livro I: Sl 1‑41; Livro II: Sl 42‑72; Livro III: Sl 73‑89; Livro IV: Sl 90‑106; Livro V: Sl 107‑150 (Roos, p.40). Em vários dos Salmos, existe uma indicação à música (ex,: 4; 5; 22; 60). Em 71 momentos aparece neles a palavra selá (ex.: Sl 46.7) que pode significar pausa musical ou repetição (Bíblia de estudo, p. 503). Há salmos que são hinos (Sl 46), outros que são lamentos (Sl 44) e há os que apresentam ações de graças (Sl 30). Há também os messiânicos (Sl 110) e os imprecatórios onde se pede a destruição ou o castigo dos inimigos (Sl 109). PROVÉRBIOS, é um livro composto por coleções de pensamentos de vários autores. Ao rei e sábio Salomão deve-se a autoria dos Capítulos 1 ao 22.16, e 25 ao 29. A um grupo denominado de sábios, deve-se a autoria de 22.17 ao 24.34. Ainda outros dois autores são mencionados: Agur — Pv 30 e a mãe do rei Lemuel — Pv 31.1-8. Dos últimos provérbios não se conhece a autoria. Com respeito a data, a Bíblia de Estudos afirma que ele deve ter sido editado em fins do século seis a.C. ECLESIASTES, o pregador, pode ter sido Salomão, o sábio filho de Davi que foi rei em Jerusalém (1.1, 12, 16 entre outros textos). Neste livro estã registrados pensamentos sobre a vida humana, com suas injustiças e decepções, Ao final do mesmo, o autor conclui dizendo que é preciso temer a Deus e obedecer aos seus ensinamentos porque foi para isso que nós, seres humanos, fomos criados (12.13) e que a Ele, a Deus, um dia teremos que prestar contas de nossas ações (12.14). CANTARES ou CÂNTICO DOS CÂNTICOS é um livro que contém uma coleção de canções de amor que cônjuges nutrem um pelo outro. Há intérpretes bíblicos que interpretam ser este livro uma figura que representa o relacionamento de Cristo, o noivo, com a sua Igreja (Bíblia de estudo p. 638). De acordo com a tradição o autor do mesmo é o rei e sábio Salomão (Ct 1.1), sendo que o livro deve então ter sido escrito por volta do século X a.C. Outubro e Novembro, 2011 | RT | 23
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3.3.4. Os Livros Proféticos Os livros proféticos do AT, do ponto de vista cronológico, podem ser divididos em três grupos, a saber: 1. Profetas pré-exílicos (760 a 586 a.C.): Obadias, Joel, Jonas, Amós, Oséias, Isaías, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias e Jeremias. 2. Profetas exílicos (586 a 538 a.C.): Ezequiel, Daniel e Jeremias (em parte). 3. Profetas pós-exílicos (548 a 440 a.C.): Ageu, Zacarias e Malaquias. Os livros proféticos são historicamente divididos em Profetas Maiores (Isaías, Jeremias e Ezequiel) enquanto que os demais são denominados de Profetas Menores. Estes termos nada têm a ver com a teologia neles encontrados, mas sim, à extensão dos textos neles contidos. Os profetas eram pessoas que recebiam mensagens da parte de Deus (1Sm 3.19-21; Jr 1.9,12) a respeito de coisas do passado, presente ou futuro. A eles cabia a tarefa de anunciá-las ( Jr 27.4; Am 3.7) ao povo. Cumpre lembrar que também havia falsos profetas, que mentiam afirmando que suas mensagens provinham de Deus (Dt 18.20-22).
3.3.4.1. Os Profetas Maiores ISAÍAS, escrito pelo profeta que tem o mesmo nome, significa Jahvé é salvação ou O SENHOR salva. Embora alguns estudiosos queiram afirmar que os capítulos 40 a 66 não tenham sido escritos por ele, de acordo com o testemunho de João (12.38-41), onde o mesmo menciona Isaías 53.1. Isaías começou o seu ofício profético por volta de 740 a.C. quando o rei Uzias faleceu (Is 6.1). Foi durante o tempo em que exerceu este ofício que o reino do norte deixou de existir, ao ser invadido pelos Assírios. De acordo com a Bíblia de estudo (p. 650), Deus é aquele que precisa castigar os de seu povo que se rebelam contra a sua vontade (1.1.5), mas que também é o que quer e pode salvá-lo (41.14,16). Além disso, o livro de Isaías faz referência ao Servo do Senhor que é interpretado no NT como sendo o próprio Salvador Jesus (42.1-9 — ver Mt 12.18-21; Is 52.13-53.12 — ver Jo 12.38; Rm 10.16; Rm 4.25; 1Pe 2.24; Mc 15.28; Lc 22.37; 61.1-9 — ver Lc 4.18-19). JEREMIAS, o profeta, autor, que dá o nome ao livro, a partir de 626 a. C. profetizou ao longo de 40 anos (1.1-3). Em sua mensagem ele proclamou que 24 | RT | Outubro e Novembro, 2011
Deus desejava que seu povo guardasse a aliança, pois, se fosse desobediente, seria castigado ( Jr 37.10). Como o povo foi desobediente, o castigo veio em 586 a. C. quando Nabucodonozor destruiu o templo e a cidade de Jerusalém. Interessante era que o povo tinha uma falsa crença de que, por estar situado o templo em Jerusalém, nada lhe aconteceria ( Jr 7.1-15). Jeremias mostra que não bastava existir o templo; era necessário seguir o que aquele que nele habitava, ensinava. LAMENTAÇÕES DE JEREMIAS é um livro que apresenta um conjunto de cinco poemas que foram motivados pela destruição de Jerusalém e de seu templo. Na época, além de se chorarem os mortos com poemas, também se fazia isso pelas cidades destruídas. O livro não deixa explícito quem é o seu autor. Pode-se concluir que o autor tenha sido testemunha ocular dos fatos ali acontecidos. A tradição judaica dá a Jeremias a autoria para o mesmo. Deve ter sido escrito entre 586 a.C., ano da conquista por Nabucodonozor, e 538 a.C. quando Ciro, imperador da Pérsia deu a permissão para que judeus retornassem à Jerusalém (Ed 1). EZEQUIEL (Deus é forte, Deus fortifica), sacerdote e um dos prisioneiros levados ao exílio da Babilônia por Nabucodonozor em 598 a.C. é o autor do livro que leva seu nome. No mesmo ele deixa claro que o próprio Deus o chamou (Ez 2.3) para levar a sua mensagem ao povo. O livro inicia com o seu chamado (593 a.C.), apresenta mensagens para os que ainda moram em Jerusalém como para os deportados (Ez 4 a 24), para outras nações (sete ao todo, do c 25 ao 32.32), sobre a eestauração de Israel (33 a 39), encerrando com uma visão do futuro templo e do próprio povo de Israel (40 a 48). De acordo com Deomar Roos (p 51 e 52), há dois propósito no livro: 1. Ezequiel deixa bem claro que Deus foi justo em permitir o cativeiro. O povo foi exilado por causa do seu pecado. Esta é a mais pura verdade e os exilados precisam saber e reconhecer isto. 2. Por outro lado, Deus restaurará o seu povo. Esta pregação é válida para o momento presente e para a eternidade. Os exilados voltarão para sua terra. Os fiéis entrarão na vida eterna. DANIEL (Deus é juiz), livro escrito segundo alguns autores por volta de 536 a.C., tem como autor o profeta de mesmo nome (Dn 7.2,28). O livro narra fatos da vida de Daniel (1 a 6; em Dn 3 — a fornalha ace-
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sa com Sadraque, Mesaque e Abede-Nego) e apresenta visões do mesmo (7 a 12) sobre impérios que aparecem e desaparecem. Merecem destaque a sua oração (Dn 9.1-20) e a referência à ressurreição dentre os mortos (12.2, 13) para vida ou castigo eternos.
3.3.4.2. Os Profetas Menores OSÉIAS (salvação, auxílio), provavelmente escrito em 722 a.C., narra sobre o casamento do profeta, ordenado por Deus (Os 1.2-3), com uma prostituta sagrada do templo do Deus da fertilidade, Baal. Esta prostituta deve representar a Israel, o povo infiel para com seu Deus. O profeta representa a Deus que, em amor, vai em busca de Israel, a esposa infiel. Nele, o profeta também proclama que o castigo divino virá (9.15-16), mas que o amor de Deus não termina (Os 11.1-11), ao ponto de que um dia, por causa do mesmo, Ele será de novo seu Deus e Israel seu povo (Os 14.4-8). Sua mensagem serve ainda hoje? Sem dúvida: Deus nos ama ( João 3.16) e espera que todos retornem, sempre de novo, como filhos arrependidos (ver parábola do Filho Pródigo) aos seus braços de amor. JOEL, livro escrito provavelmente entre 450 e 350 a.C., pelo profeta que é identificado como sendo filho de Petuel ( Jl 1.1). Joel (significa “Javeh é Deus) inicia seu livro falando da praga de gafanhotos e da seca que assolaram a Israel (1.2-2.17), eventos que apontam para o dia do Senhor em que Ele julgará as nações. Contudo, o profeta, apesar de indicar para este dia que será terrível, aponta para o Deus de amor queouve o pedido de perdão do arrependido, o perdoa e abençoa (2.1727). Sua profecia que diz respeito ao derramamento do Espírito Santo (2.28-29) tem seu cumprimento, segundo o apóstolo Pedro, no Pentecostes (At 2.1-42). De acordo com Roos, o profeta enfatiza as coisas dos tempos do fim (p. 57). AMÓS, cuja autoria é dada ao profeta que fora pastor de ovelhas (1.1) e que cuidava de figueiras (7.14) em Tecoa, cidade localizada ao sul de Jerusalém e de Belém, mas cujo ministério profético aconteceu no Reino do Norte (entre 760 a 750 a.C), contra cujos pecados ele anuncia o castigo divino (2.6-3.2; 6) caso não se arrependesse. Entre os pecados apontados por Amós, é interessante apontar para o grave problema social que se pode deduzir do fato de que os ricos iam ao templo (provavelmente o de Betel 5.5-6; 7.13) e ofertavam ao Senhor,
mas no dia-a-dia eram corruptos, subornavam e exploravam os pobres, situações que negam na verdade a fé de quem diz tê-la em Deus. Sim, a este povo que presunçosamente julgava estar sendo abençoado e que fazia a vontade de Deus, Amós chama ao arrependimento (5.6) e para uma vida ética (5.21-27), antes que fosse tarde. OBADIAS, cujo significado é “servo de Iahweh”, apresenta o anúncio do castigo aos edomitas, descendentes de Esaú, irmão de Jacó. Eles, os edomitas, alegraram-se com a derrota dos israelitas, os expoliaram e ainda mataram alguns deles (12-14). Quando isso ocorreu? Com base em Ez 25.12‑14; Lm 4.21‑22; Sl 137.7, alguns estudiosos afirmam que tenha sido quando os babilônios, em 586 a.C. conquistaram Jerusalém (Bíblia de estudo p. 881). JONAS, que significa pomba, conta-nos a história do profeta que foi enviado por Deus à cidade de Nínive, capital do Império da Assíria, onde viviam mais de 120mil crianças (4.11) que não sabiam distinguir entre a mão direita e a esquerda (entre o que era certo ou errado). Em que época isso aconteceu? O testemunho de 2 Rs 14.23‑25 vincula o ministério do profeta a Jeroboão II, rei de Israel (Norte) no período aproxi mado de 786‑746 a.C. Assim sendo, muitos localizam o trabalho de Jonas no tempo compreendido entre 775 e 750 a.C. Ele, porém, desobediente foge da tarefa mas volta ao objetivo traçado por Deus depois do episódio em que foi engolido pelo grande peixe (Mt 12.40: Jesus afirma que também ficará no ventre da terra). Apesar da raiva contrastante de Jonas, Deus, em sua misericórdia, perdoa os arrependidos, o que demonstra que Ele ama não somente aos judeus, mas a todos os povos da terra. MIQUÉIAS, que significa “quem é como Iahweh?”, atuou no Reino do Sul ( Judá) durante a seg unda metade do século VIII a.C., nos dias dos reis Jotão, Acaz e Ezequias (cerca de 742‑687 a.C.), tendo vivido nas últimas décadas do Reino do Norte e tendo sido contemporâneo do profeta Oséias (Os 1.1), no Norte, e de Isaías (Is 1.1), em Judá. O profeta “ocupou-se dos problemas morais e sociais do povo, não se envolvendo nos problemas políti cos então muito atuais. Nenhum segmento da sociedade havia ficado imune à corrupção da época: príncipes, profetas, líderes políticos, sacerdotes, o povo em geral. Todos estavam comprometidos com o caos social e com a queda moral (2.2,8,9,11; 3.1‑5,9,11). Miquéias Outubro e Novembro, 2011 | RT | 25
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sabia que a raiz desta situação era de cunho teológico. E anunciou o castigo de Deus com vigor e coragem. Predisse a queda de Samaria (1.6), bem como a destruição de Jerusalém (3.12) e do templo. Anunciou que o verdadeiro culto a Deus consiste em praticar a justiça, amar a misericórdia, e andar humildemente com Deus (6.8)” (Roos, p.63). Além disso também anunciou que o Deus que os iria castigar, também os salvaria e abençoaria porque ele ama e perdoa o seu povo (2.12-13; 4.1-5.15; 7.8-13, e 18 a 20). NAUM, este livro profético que não pode ter sido escrito antes de 612 a.C., data em que ocorreu a destruição de Nínive por ele profetizada (1.9), nem antes de ter sido destruída a cidade de Nô-Amom, cuja destruição ele comenta (3.8) e que ocorreu em 663 a.C. Cerca de 100 a 150 anos antes, Jonas pregou ao povo de Nínive, que se arrependeu. Depois tudo mudou e agora Naum anuncia, definitivamente, o juízo divino contra a cidade. HABACUQUE, cujo nome significa “abraço (ardente), um que abraça,” ou “quem ama afetuosamente”, provavelmente foi escrito entre 605 e 597 a.C. Neste livro o profeta coloca seus leitores diante da questão: “Por que Deus permite que os maus tenham êxito e maltratem ao seu povo?” (1.2-4; 1.12-17). Aliás, esta é a pergunta que também nós, cristãos, só respondemos como o fez o profeta, apontando para Deus (3.16-19) que, em última instância, é quem cuida dos seus. Aliás, é isso que Paulo, o autor da carta aos Romanos, 8.28, reafirma quando diz que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus. SOFONIAS, o profeta que escreveu o livro que lhe dá o nome, exerceu o seu ofício profético no tempo em que Josias era rei de Judá (1.1), o que ocorreu de 640 a 609 a.C. Da mesma forma como outros profetas, Sofonias prega a vinda do terrível Dia do Senhor, em que ele castigaria os pecadores, até mesmo o seu povo (1.7-18). Também ele, o profeta, consola seu povo afirmando que Deus salvará o seu povo concedendo aos moradores de Jerusalém que vivam em paz (3.1-13). AGEU, este livro profético nos mostra, já no início, que Deus enviou uma mensagem ao governador de Judá, Zorobabel, no segundo ano de Dario como rei da Pérsia, o que significa, no ano de 520 a.C., exortando o povo para que definitivamente reconstruísse o templo, a Sua casa (1.9). Foi Dario, anos antes (em 536 a.C.), que havia permitido ao povo que retornasse e reconstruísse o templo. Quatro anos depois, em 516 a.C. o 26 | RT | Outubro e Novembro, 2011
templo estava reconstruído. ZACARIAS, o profeta autor deste livro, começou, da mesma maneira como Ageu, seu ofício profético no segundo ano de Dario da Pérsia, isto é, em 520 a.C. Do mesmo modo com o profeta Ageu, ele tem como propósito motivar o povo para que reconstrua o templo de Jerusalém. Interpretado à luz do NT, Zacarias profetiza a respeito do Messias (9.9-10), profecia esta que se cumpre em Jesus conforme Mt 21.4-5 e Jo 12.14-15. MALAQUIAS, o profeta que é chamado de mensageiro (1.1) e que entregou sua mensagem depois do templo ter sido reconstruído (mais ou menos em 515 a.C.). Segundo Roos (p. 72), “os sacrifícios estavam sendo oferecidos (1.6‑10; 3.8,10). Um espírito de indiferença dominava não apenas o povo, mas também os sacerdotes (1.6). A piedade pessoal estava em decadência (1.6‑8). Havia muitos casamentos mistos (2.10‑12). O dízimo estava sendo negligenciado (3.8‑10). Nestes dias Judá tinha governador (1.8). Os pecados combatidos por Malaquias são os mesmos condenados por Neemias. Assim sendo, o tempo da atividade de Malaquias pode ser o mesmo em que Neemias estava em ação. O que significa que o profeta pode ter trabalhado entre 450 e 400 a.C. Alguns teólogos mencionam 435 a.C. como um bom ponto de referência.” A este povo, desobediente, as mensagens são dirigidas para que se arrependa. E o profeta que encerra o AT apresenta, ao final, uma profecia a respeito daquele que iria preparar o caminho do Messias (3.1). Malaquias o identifica como sendo Elias (4.5); o NT, nas passagens de Mt 11.10, Mc 1.2 e Lc 1.76 e 7.27 com João Batista que veio no espírito e no poder de Elias.
3.4. Os Livros do Novo Testamento 3.4.1. Os Escritos Narrativos Assim como os do AT, do mesmo modo os do NT não são apresentados cronologicamente quanto ao tempo em que foram escritos. Se isso fosse feito, certamente as cartas de Paulo estariam no início. Contudo, achou-se por bem, quando da formação do cânone do mesmo começar com os escritos narrativos, os quatro Evangelhos e o livro dos Atos dos Apóstolos. O NT, conforme visto anteriormente, é composto por 27 livros. Se o AT ou aliança foi feita entre Deus e os descendentes de Abraão e garantida pelo sangue dos animais (Gn 15.17-20; Êx 24.8), a nova aliança ou
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testamento, prometida (o) por meio de Jeremias ( Jr 31.31-34) torna-se real em Cristo (Lc 22.20). Todo o NT foi escrito na língua grega comum ou coloquial, denominado de coinê (comum) e que era falado em todo o Império Romano. No grupo dos escritos narrativos encontram-se os quatro evangelhos e o livro dos Atos dos Apóstolos. A palavra evangelho vem do grego Euaggélion que significa boa nova. Os Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas apresentam grandes semelhanças entre si e são chamados de Sinóticos (do grego συν, “syn” («junto») e οψις, “opsis” («ver»), pois apresentam a mesma visão geral da vida, morte e ressurreição e ensino de Cristo. De acordo com a Wikipédia, 13/14 (treze quatorze avos) de Marcos, 4/7 de Mateus e 2/5 de Lucas descrevem os mesmos eventos em linguagem similar. O EVANGELHO SEGUNDO MATEUS, é quem abre o NT. Embora não exista nenhuma identificação quanto ao autor, segundo a tradição cristã e depoimentos de Pais da Igreja, a autoria do mesmo pertence a Mateus, o cobrador de impostos, o publicano (Mt 10.3). Deve ter sido escrito entre 50 e 60 d.C. porque apresenta a destruição de Jerusalém que aconteceu em 70 d.C. como algo que iria acontecer no futuro. Segundo a Wikipédia, Mateus escreveu seu evangelho primariamente para judeus. O seu propósito é afirmar e defender, perante os mesmos, que Jesus é o Messias prometido do Antigo Testamento: “para se cumprir o que fora dito pelo profeta...” (Mt 1.22 ... Mt 27.9). Neste trabalho de defesa, Mateus estabelece uma série de relações entre Jesus e o Antigo Testamento, principalmente ao apresentar Jesus como Messias. Também é certo afirmar que Jesus não introduziu nova lei, pois ele veio cumprí-las e não revogá-las. (Mt. 5 a 7). O EVANGELHO SEGUNDO MARCOS, considerado por muitos como o primeiro evangelho que foi redigido (entre 48 e 55 d.C.), tem, segundo a tradição, como o seu autor a pessoa de João Marcos que fora companheiro de Paulo em sua primeira viagem missionária (At 12.25) e é chamado por ele como um dos seus colaboradores (Fm 24), e que é mencionado por Pedro de “meu filho” (1Pd 5.13). Aliás, alguns pesquisadores afirmam que o Evangelho de Marcos teria sido o resumo dos ensinamentos de Pedro e que Mateus e Lucas utilizaram este evangelho como fonte para o que escreveram, pois dos 661 versículos de Marcos, Lucas e Mateus aproveitam 610. Enquanto que Mateus copiou 600, Lucas usou 366.
Para muitos Marcos escreveu seu livro para os Romanos, pois não apresenta genealogias que só interessavam aos judeus, usa latinismos (ex. pretório em 15.16) e explica palavras e costumes judaicos (ex.: 1.21 e 5.41) que não-judeus não conheciam. Uma de suas características é a narrativa de reações que revelam o sentimento pessoal e as emoções de ouvintes (ex.: 1.27 e 4.41) e do próprio Salvador Jesus (ex.: 3.5; 5.41; 10.21). O EVANGELHO SEGUNDO LUCAS, se olharmos o que está registrado em Lc 1.1-4, deve ser o resultado do trabalho de pesquisa do autor junto a três fontes: a) o evangelho de Marcos, b) informações que deve ter recolhido junto às testemunhas oculares e c) da tradição oral vinda das pregações dos apóstolos (p. 34 Oscar Cullmann). A respeito de Lucas sabe-se que ele era médico, talvez natural de Antioquia da Síria (Cl 4.10-14). Também historiador, fez pesquisa, como ele próprio informa (Lc 1.1-4). Juntou-se a Paulo em Trôade, na segunda viagem missionária (At 16.11). Acompanhou-o até Filipos e, aparentemente, lá permaneceu nos próximos 7 anos. Juntou-se novamente a Paulo em 56 A.D., quando ele passou por Filipos em sua última viagem a Jerusalém, e continuou com ele daí em diante. Foi médico particular de Paulo, dando-lhe assistência na prisão (2Tm 4.11; Fm 24), onde também esteve Marcos, de quem provavelmente leu as suas anotações aí. Lucas é considerado também o autor de Atos dos Apóstolos. No início de cada livro, ele se dirige à mesma pessoa, Teófilo (Lc 1.1-4; At 1.1). No prefácio de Atos, o autor expressamente se refere a um volume anterior acerca da obra de Cristo. Há também semelhança de vocabulário entre os dois livros. Quanto à data, provavelmente antes de 70 A.D. (entre 65 e 69 A.D.). Possivelmente depois de Mt e Mc. Quanto ao lugar, este não pode ser determinado. Quanto ao propósito, Neitzel afirma (p.11): “Apresentar Jesus como Salvador de toda a humanidade, deixando claro que o evangelho se destina a todos (universalidade). Exemplo disto é a genealogia (3.23ss.), que vai até Adão (pai da humanidade) e não somente até Abraão (cf. Mt 1). Isto também transparece no cântico de Simeão, na história do bom samaritano, na do malfeitor, etc. O EVANGELHO SEGUNDO JOÃO, tem sua autoria tradicionalmente atribuída a João, o discípulo amado de Jesus, irmão de Tiago, e deve ter sido escriOutubro e Novembro, 2011 | RT | 27
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to entre os anos de 95 e 100 na cidade de Éfeso, hoje Turquia. Segundo a Wikipédia, mais da metade deste evangelho é dedicado a eventos da vida de Jesus Cristo e suas palavras durante seus últimos dias e que o propósito de João ao escrevê-lo foi inspirar nos leitores a fé em Jesus Cristo como o Filho de Deus e o versículo que resume este propósito é Jo 20.31. De acordo com Neitzel (p. 14), João combate os que negam a divindade de Jesus (bem como sua encarnação). Ele, já no início, o apresenta como o Deus que se torna homem ( Jo 1.1-18) e prova que o Jesus histórico crucificado é o Deus prometido através dos profetas. Ele faz isto pelos relatos e descrições da pessoa e obra de Cristo e por várias figuras aplicadas a Cristo (Pão, Luz, Pastor, Verdade, Vida, Videira). Enfatiza que Jesus é o logos (Verbo), o Filho. Além disso, Neitzel ressalta que João é o evangelho do amor: Deus amou o mundo (3.16); o Pai ama o Filho (3.35; 15.9); Cristo ama os seus e chega a morrer por eles (13.1), e os cristãos devem ficar unidos com ele amando-se uns aos outros (13.34). ATOS DOS APÓSTOLOS, na verdade não apresenta o que todos os apóstolos fizeram, mas relata, de modo especial, o que Pedro e Paulo realizaram. Ele deve ter sido escrito entre 61 e 63 d.C. porque termina com Paulo em seu segundo ano na prisão de Roma (ela iniciou por volta de 60 d.C.) e não dá nenhuma informação de seu martírio que aconteceu entre 66 e 68 d.C. Além disso há eruditos que acreditam que Lucas teria incluído acontecimentos importantes se tivesse escrito depois de 64 d.C., como as perseguições empreendidas por Nero (64-68 d.C.) ou a destruição de Jerusalém (70 d.C.). (Wikipédia) Segundo Neitzel (p. 17) o livro tem três objetivos, a saber: a) Mostrar como a igreja saiu ao mundo, sob o poder e direção do Espírito Santo, para quebrar toda a barreira que separa o homem de Deus e os homens entre si; mostrar como Jesus agiu nos homens para quebrar estas barreiras que separam as pessoas, especialmente as do preconceito racial e religioso (cristãos judeus e cristãos gentios); b) Mostrar o impacto que o Cristo ressuscitado e exaltado causou sobre o mundo. Cristo confronta os homens na palavra inspirada dos mensageiros que ele escolheu. Aborda homens de todas as raças e condições: judeus, samaritanos, gregos, 28 | RT | Outubro e Novembro, 2011
romanos, gente de todas as classes e posições; c) Apresentar a marcha do Evangelho pela ação da igreja, marcha árdua, porém vitoriosa, pois está acompanhada da ação poderosa do Espírito Santo. Onde a palavra de Deus é pregada, não importa por quem, até por homens em prisão, ali Deus está reunindo o seu povo, a igreja.”
3.4.2. As Cartas ou Epístolas Ao todo existem registradas no NT 21 cartas. Delas, 13 foram escritas por Paulo, da carta aos Hebreus não se conhece o autor, e existem ainda sete cartas designadas como gerais: Tiago; 1ª e 2ª de Pedro; 1ª, 2ª e 3ª de João e Judas. ROMANOS, escrita por Paulo aos “santos”, aos cristãos de Roma (1.7), em 56 ou 57 d.C., na cidade de Corinto, Grécia, ao final de sua terceira viagem missionária, pouco antes da visita do apóstolo à Jerusalém (At 20.1-6). De acordo com Neitzel (p. 23), são os seguintes os propósitos de Paulo ao escrever esta carta: a) Expor as doutrinas fundamentais da salvação para fortificá-los contra os erros dos judaizantes (cap.1-8); b) Explicar a descrença de Israel e indicar sua extensão e duração (cap.9-11); c) Incentivar os leitores a buscarem o aperfeiçoamento da vida cristã (cap.12); d) Adverti-los à sujeição aos poderes superiores e à prática do amor mútuo, além de sobriedade na vida à vista da proximidade do dia do juízo (cap.13); e) Uni-los em torno da tolerância para com os fracos (cap.14.1-15.13); f ) Revelar-lhes seus planos e propósitos (15.14-33); g) Encomendar Febe à igreja de Roma (16.1-2); h) Enviar saudações a antigos companheiros e amigos (16.3-27). 1ª aos CORÍNTIOS, escrita em 54 ou 55 d.C. por Paulo aos cristãos da cidade de Corinto, na Grécia (1.2), de Éfeso, em sua terceira viagem missionária (1 Co 16.8). Corinto era ponto de partida na rota comercial entre Roma e o Oriente, e a fundação da igreja neste local está registrada em At 18.1-18. Destacam-se, como conteúdo, as instruções de Paulo sobre o corpo de Cristo que é a Igreja, onde não deveria haver divisões (1.10-17), imoralidade (5.113) nem processos contra irmãos na fé (6.1-11). Nesta
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carta ele dá, entre outras, instruções para a celebração da Santa Ceia (11.17-34), ressalta o bom uso dos dons espirituais (12-14), fala do amor que, ao contrário dos dons, dura para sempre (13), lembra a ressurreição de Jesus (15), pede que participem da oferta em favor dos pobres de Jerusalém (16), apresenta seus planos (16.5-12) e encerra recomendando, entre outras coisas, que permaneçam firmes na fé (16.13). 2ª aos CORÍNTIOS, carta escrita por Paulo em 55 d.C. na Macedônia (2.13; 7.5-7; 9.2-4 = provavelmente em Filipos, hoje Grécia), alguns meses depois do envio da primeira epístola. Nela, o apóstolo, além de Instruir quanto ao tratamento para com aquele que peca contra o cristão (2.5-11), também incentiva e pede que sejam feitas doações para os pobres da Igreja em Jerusalém (9.1-9) e defende a sua autoridade apostólica (10-13). GÁLATAS, é uma carta escrita por Paulo em 49 d.C., entre o Concílio de Jerusalém e a segunda viagem missionária, aos cristãos da Galácia, uma região que estava localizada na antiga Ásia Menor, abrangendo a parte central da Turquia moderna, onde estavam situadas as principais cidades da Pisídia, Icônio da Frigia, Listra e Derbe da Licaônia. Através da mesma o apóstolo defendeu a sua autoridade apostólica (1 e 2), combateu os “judaizantes” (1.6-10), judeus que ensinavam que os cristãos que procediam de fora do Judaísmo tinham que ser circuncidados e guardar todas as leis de Moisés para serem salvos, demonstrou nos capítulos 3 a 4 que Deus aceita o pecador por causa da fé que este tem em Jesus e que a lei não justifica, mas condena. Ele finaliza lembrando, entre outras coisas, que cristãos são pessoas livres (5.1-15) que fazem o bem a todos, mas principalmente aos da família da fé (6.10). EFÉSIOS, escrita por Paulo, de Roma, na prisão, por volta de 60 d. C. (3.1; 4.1; 6.20), aos cristãos de Éfeso, cidade que era a capital da província romana da Ásia, hoje Turquia e na qual estava uma das sete maravilhas do mundo antigo, o templo dedicado à deusa Diana (At 19.23) que era a personificação da fertilidade e dos poderes frutíferos e nutritivos da natureza (Rottmann, p. 81 e 82). Nesta carta Paulo apresenta a Igreja como o corpo de Cristo (1.23), edifício (2.20-21) e esposa de Cristo (5.23-32). Ele também revela aqui o grande segredo, a saber, que à Igreja pertencem judeus e não-judeus (3.3-6), sendo que a mesma se coloca sob a liderança e
a autoridade de Jesus, o seu cabeça (5.23), vivendo uma vida de luz (5.6-20). FILIPENSES, escrita por Paulo por volta de 61 d. C. numa prisão domiciliar em Roma (At 28.16), aos cristãos de Filipos, cidade que ficava na rota de comércio entre o ocidente e oriente, hoje localizada na Grécia. Nesta carta, além de mostrar seu amor e gratidão pelos cristãos de Filipos que sempre o ajudaram (1.3-11 e 4.10-20), ele também deixa claro que o seu viver era Cristo (1.21) que, embora tendo a mesma natureza de Deus, se esvaziou e que em humildade, veio ao mundo como servo (2.1-10). COLOSSENSES, escrita por Paulo, desde a prisão de Roma (4.3, 10, 18), aos cristãos de Colossos (1.2) que hoje faz parte da Turquia, provavelmente em 60 d.C. Entre outras coisas o apóstolo Paulo chama a atenção destes cristãos para que não se deixassem enganar por falsos profetas que queriam escravizá-los com determinadas leis (2.16-18, 20-23), que em Cristo encontrava-se a natureza completa de Deus (1.19 e 2.9) e que os cristãos, que foram no batismo sepultados e ressuscitados com Cristo (2.13) vivem nova vida (3.1-5ss). 1ª TESSALONICENSES, escrita ao que tudo indica em 50 d.C. pelo apóstolo Paulo aos cristãos de Tessalônica, capital da província da Macedônia, hoje pertencente à Grécia. Ele a escreveu depois de ter recebido notícias desta Igreja através de Timóteo (3.2-6). Nela Paulo cita as seguintes grandes virtudes cristãs, a saber, fé, esperança e amor (1.3; 5.8), lembra a vinda de Cristo cuja data ninguém conhece (5.2) e afirma que os que estiverem mortos quando isso ocorrer, viverão (5.10). Ao final destaca ainda que a vida do cristão caracteriza-se pelo serviço amoroso e paciente de uns para com os outros (5.14,15). 2ª TESSALONICENSES, escrita por Paulo aos de Tessalônica, alguns meses depois da primeira. Nesta igreja haviam sido espalhados ensinos errados com respeito ao segundo advento de Cristo (2.1-12), e Paulo afirma que o mesmo só ocorrerá depois da manifestação do homem da inquidade. Nesta carta Paulo pede as orações dos Tessalonicenses (3.1-2), demonstrou sua confiança no seu progresso espiritual (3.3-5) e apresentou algumas ordens para como tratar os desordeiros da Igreja (3.6-12) lembrando, também que aquele que não quer trabalhar também não deveria comer (3.10). Outubro e Novembro, 2011 | RT | 29
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3.4.3. As Epístolas Pastorais São três as cartas pastorais: 1ª e 2ª cartas escritas a Timóteo e a carta a Tito. Elas são chamadas de cartas pastorais porque foram dirigidas a pastores das igrejas, dando conselhos de como deveriam agir nas mesmas. No entanto, segundo alguns, elas também são para a Igreja em geral porque todos são sacerdotes de Cristo. 1ª. TIMÓTEO, escrita por Paulo ao seu aluno Timóteo (1.1), provavelmente entre 62 e 63 d.C. Nesta carta Paulo entrega a Timóteo a tarefa de censurar os falsos mestres (1.3-20) e mostra também como deve ser ordeiro o culto cristão. Ainda apresenta as qualificações de bispos e diáconos (3.1-13) e como deve ser sua conduta na privacidade (4.6-16) e em público (5.16.2), encerrando com um apelço à fidelidade (6.20-21). 2ª TIMÓTEO, também dirigida por Paulo a Timóteo (1.1-2), entre 65 e 67 d.C. na prisão, em Roma. Desta carta destaco o apelo que Paulo faz a Timóteo para que continue testemunhando (1.3-18) como soldado fiel de Cristo (2.1-13), pregando a palavra (4.15) mesmo quando parecer que é inoportuno. Também lembro as instruções que Paulo lhe repassa quanto a sua conduta (2.14-26), seguindo o seu exemplo e permanecendo firme naquilo que aprendeu (3.10-17). TITO, um cristão de origem não-judaica (Gl 2.3), recebeu nesta carta de Paulo (1.1 e 4) orientações que dizem respeito ao que se deveria esperar de alguém que fosse um presbítero (1.5-16). Também ele mostra como deveriam viver, segundo a doutrina verdadeira, os cristãos (2.1-15) e afirma que aqueles que causam divisões na igreja deveriam ser dela excluídos ((3.10-11). Também aqui ele demonstra que a salvação é dádiva graciosa de Deus (3.4-8a). Quando foi escrita? A Bíblia de Estudo afirma que foi antes da sua segunda carta a Timóteo (p.1236). FILEMOM foi o destinatário desta carta de Paulo (v. 1), provavelmente escrita entre 63 e 65 d.C. Filemom fazia parta da Igreja de Colossos que, aliás, se reunia em sua casa (v. 2), e da qual Arquipo era o pastor (Cl 4.17). Nesta carta Paulo pede a Filemom que receba em sua casa a Onésimo, escravo daquele, como a um irmão em Cristo (v. 15-17).
3.4.4. As Epístolas Universais ou Católicas Enquanto que as epístolas de Paulo destinaram-se a uma pessoa ou a determinada Igreja, as denominadas 30 | RT | Outubro e Novembro, 2011
de universais têm como destino o todo da Igreja. São 8 as epístolas universais ou católicas: Hebreus, Tiago, 1ª e 2ª de Pedro, 1ª, 2ª e 3ª de João e Judas. HEBREUS, embora nem todos os estudiosos a incluam como carta universal (Cullmann diz que Hebreus é uma exposição doutrinal, uma prédica cujo tema central é o sacerdócio de Cristo — p. 85), foi escrita entre 65 e 70 d.C. Esta é uma carta cujo autor e destinatários não podem ser identificados. O título pelo qual ela é hoje conhecida aparece somente a partir da segunda metade do século II. Este nome deve-se à análise do conteúdo da mesma, feito pela Igreja Antiga (p. 85 e 86, Oscar Cullmann) e que seus destinatários eram pessoas cujos corações estavam cheios dos pensamentos, esperanças e consolações da Antiga Aliança (Neitzel p. 46). Segundo a Bíblia de Estudo (p. 1241), esta carta foi escrita a cristãos que estavam correndo o risco de abandonar a fé em Jesus (6.4), o que, se de fato viesse a acontecer, faria deles inimigos de Deus (6.4-8). Segundo Neitzel (p. 47), a carta aos Hebreus tem como objetivo triplo: a) Estabelecer a supremacia de Cristo e do cristianismo (1.1-10.18); b) Advertir contra a apostasia e exortar para o rompimento com o judaísmo (6.4-8; 10.26-31; 12.14-13.17); c) Encorajar a reterem a fé e renovarem suas forças (6.1,9-12; 10.1939; 12.12-17). TIAGO, que dá nome à carta que não foi dirigida especificamente a uma pessoa ou igreja, tem, segundo alguns, como seu autor o irmão de Jesus (Mt 13.55; Mc 6.3), que foi líder na igreja de Jerusalém (At 12.17; 15.13-21). Nesta carta, o autor dá ênfase ao fato de a fé se manifestar por meio de ações, de que a mesma não existe sem ações cristãs (1.22-24, 27; 2.14-26). Também lembra, entre outras, a necessidade de termos domínio sobre o que falamos (3.1-12), de que ser amigo do mundo é ser inimigo de Deus (4.4) e dos perigos das riquezas mal adquiridas e empregadas(5.1-6). 1ª PEDRO, foi escrita a cristãos dispersos que se encontravam em províncias que hoje estariam situadas na Turquia, entre 60 e 65 d.C. (Pedro morreu em Roma por volta de 65 d.C. durante perseguição que Nero moveu contra os cristãos). Estes cristãos eram a raça escolhida (2.9) e, embora perseguidos, seriam abençoados (2.19-20). 2ª PEDRO, escrita provavelmente um pouco antes da morte do apóstolo (antes de sua morte em 65 d.C.) e dirigida à cristandade em geral. De acordo com Neitzel
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(p. 54), a carta tinha três propósitos: a) Avisar e exortar (3.17) contra falsos mestres (cap.2); b) Responder quanto à questão da demora da parusia ou última vinda de Jesus (3.1-16), confirmando-a; c) Exortar a viver segundo os preceitos morais (1.411; 3.11,14,17), crescendo na graça e no conhecimento do Senhor Jesus (3.18). 1ª JOÃO, é uma carta cujo autor, data (especula-se em 95 d.C.) nem destinatários são conhecidos. A Bíblia de estudo afirma que “por causa dos assuntos tratados e por causa da maneira como o autor escreve, esta e as outras duas foram atribuídas a João, o autor do Evangelho. Nesta carta o apóstolo chama a atenção de seus leitores para os falsos profetas que negavam a humanidade de Jesus, o Filho de Deus (2.22; 4.2,3,15; 5.5) e, consequentemente, que nele há vida eterna (5.10-13). Para ele, Jesus era homem e Deus (5.20). Chama a atenção também nesta carta o fato de que Jesus é apresentado como o nosso advogado que intercede por nós junto ao Pai (1.5-2.2) e o estímulo para que amemo-nos uns aos outros (2.9-11; 3.11-18). 2ª JOÃO, apresenta as mesmas dificuldades quanto a autoria, destinatários e data das outras duas. O presbítero pode ser João, já mais velho. A Senhora, citada, pode ser uma senhora distinta da sociedade bem como uma Igreja. Nesta carta a atenção dos leitores é mais uma vez chamada para a prática do amor fraternal (v. 5 e 6), para a figura dos falsos profetas que negavam a humanidade de Jesus (v. 7 e 8). Interessante que o apóstolo recomenda que aos mesmos se negue a hospitalidade (v. 10 e 11). 3ª JOÃO, ao contrário das primeiras, tem um destinatário: Gaio, cristão que se destacava em auxiliar e receber os evangelistas que por lá passavam (v. 5-8), cuja atitude é de alguém que é de Deus (v. 11). Nela também há o registro de uma queixa contra Diótrefes (v. 9 e 10) que ao contrário de Gaio, não os recebia. Ao final há ainda um elogio para um outro cristão, Demétrio (v. 12). JUDAS, o autor, identifica-se como o irmão de Tiago que, por sua vez, é identificado pelos estudiosos do assunto como o irmão de Jesus (Mt 13.55; Mc 6.13), líder da congregação de Jerusalém (At 12.17; 21.18; Gl 1.19). A data mais aceita é de 70 d.C. Os destinatários são todos os cristãos.
Nesta carta, como em outras, há o cuidado de se chamar a atenção para com os falsos profetas (v. 3-16) e o encorajamento para que eles continuem firmes nesta fé, sendo instrumentos da salvação de outros e vivendo no amor (v. 21 e 22).
3.4.5. O Livro Profético do NT APOCALIPSE, que significa revelação, foi escrito por João (1.1, 4, 9 e 22.8), na ilha grega de Patmos, que fica no mar Egeu, a uns 100 km a sudoeste de Éfeso (Turquia), por volta de 95 ou 96 d.C. Este livro foi dirigido às sete igrejas da província romana da Ásia (1.4, 10,11; 2 e 3) e que estavam localizadas nas cidades de Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia e que hoje estariam na Turquia. As cartas contém palavras de louvor, de censura e de ânimo e incluem também promessas para aqueles que continuariam fiéis a Deus (Bíblia de Estudo, p. 1287) sendo que o livro está repleto de símbolos, figuras e imagens às vezes fantásticos e à primeira vista absurdos (Rottmann, p. 20) sendo que o propósito dele foi “mostrar aos seus servos o que precisa acontecer logo” (1.1) a fim de que se tornem felizes os que lerem suas palavras (1.3).
4. A Inspiração da Bíblia Quando estudante de Teologia, por volta de 1970, numa das aulas de exegese do NT, perguntei ao meu então professor Dr. Donaldo Schüller, como iríamos provar a alguém que de fato a Bíblia era a Palavra de Deus. E ele então nos disse: vocês não o farão. Vocês o dirão e deixem o problema para o Espírito Santo. Ele é quem deverá convencer os leitores a crer. E isso é o que tenho feito, ao longo dos meus anos de Ministério como pastor de paróquia e mais, ultimamente, como professor da Universidade. Nós cremos que a Bíblia seja a Palavra de Deus e temos alguns motivos para crê-lo. Vamos por isso, expô-los agora.
4.1. Cremos que a Bíblia seja a palavra de Deus porque: A) Ela diz, de si Mesma, que é a Palavra de Deus Já vimos que a Bíblia é uma coleção de livros, diviOutubro e Novembro, 2011 | RT | 31
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dida em Antigo e Novo Testamentos. O AT foi escrito em hebraico e aramaico por Moisés e os demais profetas enquanto que o NT na língua grega pelos evangelistas e apóstolos. Os profetas do AT, falaram (Moisés — Dt 18.18; Jeremias: ; Isaías 51.16; 59.21; Oséias 1.1; Amós 1.3; Miquéias 1.1; Malaquias 1.1) e escreveram (Gn 22.1518; Êx 20.1-17; Is 43.1-28; Jr 30.2) o que Deus lhes ordenava. A respeito do AT, Paulo escreveu que “toda a Escritura é inspirada por Deus” (2Tm 3.16). O autor da carta aos Hebreus afirma: “Havendo Deus, outrora, falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias nos falou pelo Filho” (Hb 1.1-2). Jesus, Deus com o Pai e o Espírito Santo, quando aqui esteve pregando, considerava o AT como palavra inspirada por Deus. Em João 10.35, numa controvérsia com os judeus, a sua defesa toma a forma de apelo às Escrituras quando diz: “E a Escritura não pode ser anulada”. Quando fariseus lhe perguntaram sobre o divórcio, ele deixou claro, com sua resposta que Deus é o autor das palavras de Gn 2.24. Quando ele repreendeu os saduceus por terem rejeitado as Escrituras (Mt 22.29), ele disse: “Errais, não conhecendo as Escrituras....” Quando tentado e em outras ocasiões, ele apontou para as Escrituras do AT afirmando: “Está escrito” (Mt 4.4, 7; Lc 4.4, 8; 24.26). Ao falar do que ele sofrera com sua morte e de como ressuscitara, ele mostra, antes de sua ascensão, que tudo quanto estava escrito nas Escrituras a seu respeito “tinha de ser cumprido” (Lc 24.44). Com respeito aos escritores do NT que transmitiram os feitos e ensinos de Jesus e que orientaram líderes e congregações a viverem conforme seu ensino, Paulo afirmou: “tendo vós recebido a palavra que de nós ouvistes, que é de Deus, acolhestes não como palavra de homens, e, sim, como em verdade é, a palavra de Deus” (1Ts 2.13). O mesmo apóstolo afirmou em outra ocasião que se alguém trouxesse um evangelho diferente daquele que ele havia pregado, fosse considerado maldito (Gl 1.69), que o que ele pregara era, na verdade, a Palavra de Deus (1Ts 2.13) e que as coisas que ele escrevia eram mandamento do Senhor (1Co 14.37; 2Ts 3.6,12). O apóstolo Pedro, ao falar do que fora pregado às 32 | RT | Outubro e Novembro, 2011
Igrejas, afirmou que os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo (2Pe 1.21) e que os apóstolos, pelo Espírito Santo enviado do céu, pregaram o evangelho (1Pe 1.2). Além disso, Pedro coloca o que Paulo escreveu no mesmo plano elevado das demais Escrituras (2Pe 3.1516). Lucas declarou que no dia de Pentecostes, os discípulos de Jesus falaram conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem (At 2.4) e João, no livro do Apocalipse falou da maldição que virá sobre quem se atrevesse a tirar ou acrescentar alguma coisa ao que ele escrevera (Ap 22.19). Jesus prometeu aos seus discípulos que o Espírito Santo os faria lembrar tudo quanto ele lhes ensinara ( Jo 14.26), que ele os guiaria a toda a verdade ( Jo 16.13), que aquilo que os mesmos diriam em determinadas ocasiões, seria pelo poder e inspiração do Espírito Santo (Mt 10.19-20; Mc 13.11; Lc 12.11-12; Lc 21.1215). O apóstolo Paulo, aliás, afirma ter isso acontecido (1Co 2.13). Este mesmo Espírito Santo fez com que também os escritores escrevessem, sob a sua supervisão o que no NT está registrado (Lc 1.1-4; Rm 1.1-32; Ef 1.1-23).
B) Suas Profecias se Cumprem. Exemplos b.1. Queda em pecado e morte. Deus proibiu a Adão e Eva que comessem do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal (Gn 2.17). Desobedientes, eles comeram (Gn 3.1-8). E como consequência da queda temos a morte (Gn 3.19; Rm 6.23). E nós distinguimos três tipos de morte: a) a espiritual que é a separação de Deus já por nascimento — Ef 2.1; 1Tm 5.6; b) a morte temporal que é a separação da alma do corpo. O corpo volta à terra: Hb 9.27; Ec 3.20. A alma vai à presença de Deus (Ec 12.7) e aí já terá seu destino: Crentes na presença de Deus: Bandido arrependido da cruz — Lc 23.43; Estêvão — At 7.59; descrentes longe dele, em tormento — Rico e Lázaro — Lc 16.23; Judas no seu próprio lugar — At 1.25; c) a morte eterna que é a eterna separação do corpo com a alma da presença de Deus por parte dos descrentes (Mt 25.30-41; Hb 2.15). Aos cristãos o concolo: a vida eterna, na presença de Deus ( Jo 3.16; Mt 25.34, 46) porque Cristo nos libertou do pavor da morte (Hb 2.15) com sua morte e ressurreição (Gl 4.4-5; 1Pe 2.24,
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1Jo 1.7; Jo 11.25-26,14.19). b.2. Dilúvio (Gn 6.11-9.19). b.2. Israel seria castigado se não obedecesse (Dt 30.15-20). O povo não obedeceu e o castigo veio em 587 a.C. (2 Rs 25.1-21) com o cerco, destruição de Jerusalém e do seu templo e o desterro e cativeiro; b.3. Jesus predisse a destruição de Jerusalém (Mt 24.1-2) que aconteceu em 70 d.C. com as tropas romanas de Tito. b.4. Jesus profetizou sobre perseguições ( Jo 15.20). b.5. Jesus falou sobre o fim dos tempos (Mc 24.314; Mc 13.31-33).
C) A Escritura dá uma Explicação à perguntas como: Donde vim, para onde onde vou, por que vivo? Ef 2.8-10 D) Seu Estudo, com a Bênção do Espírito Santo, me convence da Verdade, de que Jesus é o Caminho que conduz à vida Eterna (Jo 14.6). A fé é obra do Espírito Santo (Rm 10.17; 1Co 12.3; Rm 8.16; Rm 10.13-15) que me torna filho de Deus. Sendo filho de Deus sou discípulo de Jesus que disse: “Se vós permanecerdes na minha palavra, conhecereis a
verdade, e a verdade vos libertará” ( João 8.31-32).
5. Conteúdo da Bíblia 5.1. Conteúdo Resumido do AT 1. Criação 2. Queda 3. Promessa 4. Formação do Povo de Israel em quem seriam benditas as famílias da terra 5. História do Povo 6. Profecias sobre Jesus Gn 3.15; Gn 12.2; Is 7.14; Mq 5.2; Is 53.4-11; Sl 16.10.
5.2. Conteúdo Resumido do NT 1. 4 Evangelhos que narram sobre o nascimento, ensinos, milagres, sofrimento, morte, ressurreição e ascensão de Jesus. 2. Atos dos Apóstolos: iniciando pela ascensão, narra o Pentecostes, formação da Igreja Cristã, seu desenvolvimento, suas atividades, perseguições que sofreu. 3. Cartas: Paulo (13), Pedro, Judas, Tiago; Hebreus (não se sabe o autor), João. 4. Profecia: Livro de Apocalipse — Revelação.
5.3. As Duas Grandes Doutrinas da Bíblia: A Lei e o Evangelho Lei
Evangelho
1. Ensina o que nós devemos fazer ou deixar de fazer. 2. Manifesta o nosso pecado e a ira de Deus. 3. Exige, ameaça e condena. 4. Provoca a ira e afasta. 5. Deve ser pregada aos inpenitentes. 6. A lei serve como freio, espelho e norma
1. O que Deus fez e ainda faz pela nossa salvação. 2. Nosso Salvador e a graça de Deus. 3. Promete, dá e sela o perdão, vida e salvação. 4. Chama e atrai para Cristo, opera a fé. 5. Anuncia-se aos atemorizados. 6. O Evangelho é a boa nova da graça de Deus em Cristo Jesus ( Jo 3.16) e motiva o cristão à prática das boas ações, agradáveis a Deus ( Jo 13.34-35).
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6. A Bíblia, Livro-texto da Igreja (Fonte e Norma de Doutrina) Enquanto a Igreja Católica Apostólica Romana coloca ao lado das Escrituras Sagradas a Tradição como fonte doutrinária, as Igrejas Evangélicas têm a Bíblia Sagrada como fonte e norma de doutrina. Tendo como artigo de fé que a Bíblia é a Palavra de Deus, é nela que se busca o conhecimento de Deus e de sua vontade para com a gente. Jesus já disse: “Se vós permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos; e conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” ( Jo 8.31-32). O apóstolo Pedro por sua vez afirmou: “Se alguém fala, fale de acordo com os oráculos de Deus (1Pe 4.11) Onde encontramos a palavra de Jesus? Onde encontramos os oráculos de Deus? Na Bíblia Sagrada. Sendo assim, as Igrejas Evangélicas, entre as quais também a Luterana, têm como base de seus ensinamentos as Escrituras Sagradas da Bíblia. Ruy B. Marinho, apresenta no site http://www. cacp.org.br/sola%20scriptura.htm um artigo entitulado “Sola Scriptura x Tradição oral ICAR” (Igreja Católica Apostólica Romana). Deste artigo destaco o que segue:
A Importância da Tradição no Catolicismo No conceito católico, “Tradição” é um termo empregado para designar supostos ensinamentos que Cristo e os apóstolos transmitiram de viva voz de geração à geração à igreja. Ela é formada pelos escritos dos “santos padres” e as declarações oficiais dos Concílios através dos tempos. O concilio da contra-reforma (Concilio de Trento) dizia: “A revelação sobrenatural está nos livros escritos e nas tradições não escritas...” “A Sagrada Tradição”, afirma o Concílio Ecumênico Vaticano II através de sua Constituição Dogmática Dei Verbum “a Sagrada Tradição...transmite integralmente aos sucessores dos apóstolos a Palavra de Deus confiada por Cristo Senhor e pelo Espírito Santo aos apóstolos...” A tradição é a fonte primordial de todas as doutrinas extrabíblicas encontradas no bojo dogmático do catolicismo. Por isso que somente após o concílio tridentino, foi que apareceram as primeiras coleções de obras patrísticas — o primeiro órgão da Tradição 34 | RT | Outubro e Novembro, 2011
— fazendo frente à reforma protestante levada a cabo por Martinho Lutero. Era necessário dar um status de autoridade à tradição a fim de dar suporte às heresias romanistas. O teólogo católico Van Iersel, em seu artigo: “O uso da Bíblia na Igreja Católica”, inserido no vol. V, de Temas Conciliares na página 17, confessa: “... em oposição à reforma deu-se um lugar à Tradição ao lado da Escritura, o que tornava muito relativo o valor da Bíblia”.(ênfase acrescentada) Foi assim que a tradição ganhou força junto às Escrituras, sendo até mesmo superior a esta pois, “Pela mesma Tradição...as próprias escrituras são nela cada vez melhor compreendidas...” sublinha o Concílio Vaticano II. Enquanto a tradição sempre é empregada para determinar o que diz a Bíblia, em contrapartida nunca é permitido à Bíblia julgar a tradição.
A Fragilidade das Tradições A grande maioria das religiões pagãs como o hinduismo, religiões tribais indígenas e orientais têm nas suas tradições religiosas, transmitidas de boca a boca, uma fonte de autoridade igual a dos livros sagrados de outras religiões. Entretanto, esta tendência em ver a tradição como autoridade suprema não é exclusividade das religiões pagãs politeístas. Por exemplo, a lei Islâmica (Sharia) é baseada principalmente em duas fontes: O Alcorão e o Hadith, que são os volumes que contem a “Tradição Viva” ou Sunnah. Ela compreendia tudo que Maomé fez e disse à parte do Alcorão. Outrossim, o Judaísmo tradicional segue o mesmo padrão, Bíblia-tradição. Os livros do Antigo Testamento são visto como a Bíblia dos judeus, mas a ortodoxia judaica está realmente definida por uma coleção de tradições rabínicas antigas, conhecida como o Talmude. Em efeito, as tradições do Talmude levam uma autoridade igual ou maior que a da Bíblia. O Talmude, segundo a terminologia adotada na edição de Basiléia (1578-1581), compreende a Mischná (conjunto de toda a lei oral admitida) e o Guemará (“aprendizado” ou “ensino” em aramaico, conjunto de comentários feitos por doutores da lei sobre a Mischná e outras coletâneas de leis orais). Os judeus da época de Jesus também colocaram a tradição em pé de igualdade com a Bíblia. Na verdade eles fizeram as suas tradições superiores à própria Bíblia, porque esta, fora interpretada através das tradições. Sempre que a tradição é elevada a um nível tão
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alto de autoridade, fica inevitavelmente prejudicada a autoridade da Bíblia. Jesus fez esta mesma observação quando ele confrontou os líderes judeus. Ele mostrou de fato com isso que em muitos casos as tradições dos judeus haviam anulado a palavra de Deus — a Bíblia. Ele os reprovou então da maneira mais severa possível: “Ele, porém, respondendo, disse-lhes: E vós, por que transgredis o mandamento de Deus por causa da vossa tradição?” Mt. 15.3 “Vós deixais o mandamento de Deus, e vos apegais à tradição dos homens.” Mc 7.8 “Disse-lhes ainda: Bem sabeis rejeitar o mandamento de Deus, para guardardes a vossa tradição.” Mc 7.9 “invalidando assim a palavra de Deus pela vossa tradição que vós transmitistes; também muitas outras coisas semelhantes fazeis.” Mc. 7.13 A Igreja católica tem seu próprio corpo de tradição que funciona em particular precisamente como o Talmude judeu: é o padrão pelo qual a Bíblia é interpretada. Com efeito, a tradição acaba por suplantar a voz da Bíblia. Ora, onde o ensino sobre a intercessão dos santos e anjos, a doutrina de Maria como a Conceição Imaculada, a suposição de que Maria é co-redentora com Cristo? Nenhuma dessas doutrinas pode ser substanciada através da Bíblia. Elas são o produto da tradição católica romana.
O que é Sola Scriptura? O princípio da Reforma de sola Scriptura é pouco ou mal compreendido pelos católicos. Ela tem a ver com a suficiência da Bíblia como nossa autoridade suprema em todos os assuntos espirituais. Sola Scriptura demonstra simplesmente que toda a verdade que é necessária para nossa salvação e vida espiritual é ensinada explicitamente ou implicitamente na Bíblia. Não é uma reivindicação de que todo tipo de verdade tem de ser forçosamente encontrada na Bíblia. Os apologistas católicos reivindicam a necessidade da tradição, alegando que a Bíblia não registra tudo em matéria de fé. Isto simplesmente não é verdade. Mas por outro lado, a sugestão da tradição como forma de solucionar esta lacuna não resolve o problema, pois semelhantemente ela não é exaustiva. Por exemplo, a Bíblia não dá detalhes exaustivos sobre a história da redenção, ou sobre certas verdades científicas, dinossauros etc. Em João 21.25 diz que nem tudo aquilo que Jesus fez está registrado no livro, e realmente todos os livros do mundo não seriam suficientes o bastante para
aquele propósito. Mas a Bíblia não tem de ser exaustiva para funcionar como a regra exclusiva de fé do cristão. Nós precisamos de conhecimento necessário e não de conhecimento exaustivo. Tudo aquilo que Deus requer de nós é dado na Bíblia e Ele nos proíbe exceder aquilo que está escrito (Dt 4.2; 12.32 — 1 Coríntios 4.6). Outrossim, Sola Scriptura não é uma negação da autoridade da igreja para ensinar a revelação de Deus. A Igreja é “o pilar e fundação da verdade” (1 Timóteo 3.15) porque apóia e ensina a Palavra de Deus que é a verdade João 17.17. Porém, a igreja não pode ensinar doutrinas de origem humana ou pode contradizer o que a Bíblia diz. A autoridade da igreja é subordinada à autoridade da Bíblia. E por último, sola Scriptura não é uma negação que historicamente a Palavra de Deus veio em forma oral. Antes de escrever a sua mensagem, Deus falou pelos apóstolos e profetas, e pessoalmente a Jesus Cristo (Hebreus 1.1). Durante o mesmo tempo o Espírito Santo moveu os homens santos para escrever a palavra Dele para ser o registro inspirado permanente de sua mensagem na era pós-apostólica. Os apóstolos e profetas são a fundação da igreja (Efésios 2.20) mas eles estão ausentes, nós ainda podemos construir nossa vida baseada no ensino deles que é registrado na infalível palavra de Deus.
A Suficiência das Escrituras O Senhor nunca quis se fiar na tradição oral, tanto é que mandou seus servos escrever a sua santa palavra. 1. Ele mesmo deu exemplo escrevendo as tábuas da lei Êxodo 24.12. 2. A Moisés ordenou que escrevesse suas leis Êxodo 31.24-26; 34.27. 3. Josué também escreveu, Josué 24.26. 4. Os profetas como Isaias 8.1; 30.8, Jeremias 30.2; 36.1-4, Daniel 7.1, Habacuque 2.2 e outros também registraram em forma escrita as palavras de Deus logo que as receberam! Não encontramos no Antigo Testamento qualquer base remota que endosse a possibilidade de uma fonte doutrinária chamada “Tradição Oral”! Jesus e os apóstolos sempre se valeram da palavra escrita de Deus, ela sempre foi o veículo transmissor da revelação Divina! O texto de 2ª Timóteo 3.15-17 é enfático em demonstrar que a Bíblia e ela somente é suficiente para nos guiar, vejamos: “e que desde a infância sabes as sagradas letras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela que há em Outubro e Novembro, 2011 | RT | 35
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Cristo Jesus. Toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente preparado para toda boa obra.” Sendo assim, Lucas poderia de fato elogiar os crentes de Beréia como sendo “mais nobres” que os outros pois não confiaram na transmissão oral do evangelho dada por Paulo, mas submeteram-na ao crivo das escrituras (Atos 17.11). A palavra escrita segundo Paulo é segurança, “Não me é penoso a mim escrever-vos as mesmas coisas, e a vós vos dá segurança.” (Filipenses 3.1)
7. A Respeito do Propósito da Bíblia Se quisermos saber o que a Bíblia diz de si mesmo a respeito do seu propósito, basta que examinemos dois textos da mesma: 2Tm 3.14-16 e Rm 15.4. Na 2ª carta de Paulo a Timóteo 3.14-16, lemos: “Se alguém fala, fale de acordo com os oráculos de Deus; se alguém serve, faça-o na força que Deus supre, para que, em todas as coisas, seja Deus glorificado, por meio de Jesus Cristo, a quem pertence a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém! Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça”. Na carta de Paulo aos Romanos 15.4 lê-se: “Pois tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança”. A partir delas podemos concluir que a Bíblia serve para: a) salvar o homem do pecado e da condenação por intermédio da fé em Jesus Cristo; b) ensinar; c) repreender; d) corrigir; e) educar na justiça; f ) nos firmarmos naquilo que esperamos. Concluindo podemos dizer, que isso seja feito e que isso redunde para a glória de nosso Deus como diz o apóstolo Pedro em sua primeira carta, capítulo 4, versículo 11: “Se alguém fala, fale de acordo com os oráculos de Deus; se alguém serve, faça-o na força que Deus supre, para que, em todas as coisas, seja Deus glorificado, por meio de Jesus Cristo, a quem pertence a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém!” 36 | RT | Outubro e Novembro, 2011
8. O Pastor e a Vida Devocional Segundo Martinho Lutero Introdução Durante boa parte de meu Ministério Pastoral, de segunda a sexta, iniciava diariamente minhas atividades entrando às 8hs no meu gabinete de trabalho para fazer o meu devocional que se desenrolava, na maioria das vezes, do modo como segue: a) Orava para que Deus Espírito Santo me inspirasse no trabalho e fortalecesse minha fé pelo estudo de Sua Palavra (breve oração). b) Lia a Bíblia por cerca de uma meia hora. Esta leitura era sistemática, livro após livro. Consultava comentários, lia outras traduções além da portuguesa. Também aqui incluía as leituras da trienal para o domingo quando deveria pregar sobre um dos seus textos. Na segunda, lia o Salmo e o texto do Antigo Testamento. Na terça, a epístola. Na quarta, o Evangelho. O tempo gasto na leitura da Bíblia era o momento que eu considerava que Deus falava comigo. c) Após a leitura, seguia o momento de oração que perdurava por uma meia hora mais ou menos, também. Lia, a partir da convenção da IELB em Veranópolis no ano de 1990, primeiramente as orações do dia propostas no livro de orações de George Kraus, “Palavra e Oração”. Nestas orações, há um espaço sob o título “Súplicas Especiais e Ação de Graças” onde rabisquei o nome de pessoas e de grupos que me eram caros, e pelos quais orava então. Depois disso, seguia minhas anotações que procediam das visitas pastorais (necessidades especiais de irmãos) para, finalmente, orar pelos congregados seguindo a lista dos filiados que apareciam no rol de membros. Ao terminar de pronunciar meu último amém, quase sempre havia se passado uma hora até uma hora e meia de tempo. À noite, na cama ou no gabinete, ainda uma breve oração de confissão de pecados, súplica de perdão, ação de graças pelas bênçãos recebidas, alguns pedidos especiais pelos familiares e por mim mesmo, e então me entregava aos prazeres... do sono. Mas interessante, sem querer, eu, sem o saber, fazia muito daquilo que Lutero, em alguns de seus escritos, recomendou a respeito do
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orar e ler a Bíblia.
I — A vida devocional de um cristão (pastor) segundo o que Lutero ensina sobre o orar. Se cada um de nós pudesse descrever, aqui e agora, a sua vida devocional, certamente haveríamos de receber contribuições valiosas. Contudo, queremos agora, de um modo especial ver, ou então rever, o que Lutero nos tem a dizer a respeito da mesma. Com respeito ao motivo que cristãos têm para orar, Lutero em primeiro lugar deixa claro que Deus o requer dos que são seus filhos. Aliás, para Lutero, somente um cristão podia orar pelo simples fato de que aquele que não o é não sabe pelo que ou como orar (Plass, p. 1077). Orar para Lutero não era algo facultativo ao cristão (Plass, p. 1075 e 1076). Para ele, cristãos obedecem ao seu Senhor e o fazem (Lutero, 1995, p. 274, v. 7 e Livro de Concórdia, p. 459). Ele até chega a afirmar em 1539, em sua exposição de 1 Pedro 4.8, que alguém que não ora não deveria sequer imaginar que fosse cristão (Plass, p.1079). Um segundo motivo que Lutero apresenta para que cristãos orem encontra-se no fato de que Deus promete ouvir as preces de seus filhos (Livro de Concórdia, p. 459; Lutero, 1995, p. 274, v. 7). No entanto, ele deixa claro que embora haja a promessa de que Deus atenda todas as orações, ele as atende a seu modo (Lutero, 1995, p. 275, v. 7). Por isso ele lembra que neste orar o cristão pede que a vontade do Pai seja feita e não a sua, pois ele sabe o que verdadeiramente é bom para seus filhos (Plass, p.1096 e 1098). Além disso, este orar sempre deveria ser feito em nome de Jesus por causa de quem somos aceitos e ouvidos (Plass, p.1077). Ele afirma: “Em seu nome eu dobro meus joelhos, embora eu não seja digno de ser ouvido por Deus” (Plass, p. 1078). Uma terceira razão que Lutero aponta para que um cristão ore, encontra-se nas necessidades que, tanto ele, como seu próximo, têm. Na instrução aos visitadores ele demonstra que pastores “devem instruir as pessoas a pedirem a Deus coisas terrenas ou eternas. Devem encorajar a todos a levarem suas preocupações a Deus. Um padece pobreza, outro doença, o terceiro sofre por causa de pecados, o quarto, por causa de descrença e outros males. Por isso muitos recorrem a Santo Antônio, outros a São Sebastião, etc. Qualquer, porém,
que seja o problema, deve-se procurar ajuda em Deus” (Lutero, 1995, p. 275, v. 7). No Catecismo Maior ele ainda diz: “Por isso devemos acostumar-nos desde a mocidade a orar diariamente, cada qual por toda a sua própria necessidade, onde quer que sinta algo que lhe diga respeito, e também pela necessidade de outras pessoas entre as quais vive. Por exemplo, por pregadores, autoridades, vizinhos, empregados” (Livro de Concórdia, p. 460). Com respeito ao como orar, Lutero lembra que a oração exige fé verdadeira, baseada na palavra e promessa de que Deus, por Cristo, através de quem aliás a oração torna-se aceitável diante dele, dará aos que oram toda a graça e bem (Livro de Concórdia, p. 474; Lutero, 1995, p.275, v. 7). Para ele a oração tinha que ser sincera e não ser um ato de hipocrisia através do qual, aquele que ora, busca prestígio ou fazer grau diante de outras pessoas (Lutero, 1995, p.118, v.5). O Reformador também declara que o orar correto é feito com atenção, do princípio até o fim. Por isso ele lembra o próprio ofício daquele a quem escrevia, quando afirmou: “Assim, um barbeiro aplicado e competente tem que voltar seu pensamento, sua atenção e seus olhos, com muita precisão, para a navalha e os cabelos, e não se descuidar, não sabendo que esteja afiando ou cortando. Mas, se ele, ao mesmo tempo, quisesse fazer muita conversa ou ficar pensando ou olhando outras coisas, certamente iria cortar fora a boca ou o nariz, e até o pescoço. Desta forma, cada coisa que é para ser bem feita, quer ter a pessoa inteira, com todos os seus sentidos e membros, como se diz: “pluribus intentus minor est ad singula sensus” — Quem pensa em muita coisa, não pensa em nada, também não faz nada direito. Tanto mais a oração precisa ter o coração uno, por inteiro e exclusivo, se é que deva ser uma boa oração” (Lutero, 1984, p.323). Para Lutero, o ato de orar podia ser realizado a sós e, por exemplo, com outros na Igreja, (Carr, p.624). De acordo com o seu pensamento, este seu orar não era tão somente feito em silêncio ou falando em voz alta. Até mesmo ele fazia uso da música para orar e afirmou que ora o dobro quem ora cantando (“Doppelt betet, wer singet”, Carr, p.625). O Reformador ensinou que cristãos, além de orarem por si mesmos, também oram pela Igreja e Estado, pela conversão dos pecadores, pelos inimigos (Plass, p.1099), pelos que tinham problemas no casamento, pelos soldados em guerra, muito embora fosse reticenOutubro e Novembro, 2011 | RT | 37
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te com respeito ao orar para que alguém vencesse uma guerra que tivesse um motivo injusto (Carr, p.626, nota 48). Ao Mestre Barbeiro Pedro Beskendorf de Wittenberg, com quem Lutero já fazia então a barba no mínimo por 18 anos, o Reformador deu, em 1535, instrução de como se deve orar. Segundo este escrito, o Reformador reconhece que, por vezes, perdera a vontade de orar em razão do diabo e da própria carne. O que fazia então? Dependendo da hora, ia ao quarto ou igreja, ficava a sós ou colocava-se em meio às pessoas, para então tomar em suas mãos o pequeno saltério e falar em voz alta os 10 Mandamentos, o Credo e, dependendo da disponibilidade do tempo, citar passagens bíblicas de Jesus e do apóstolo Paulo (Lutero, 1984, p.318). Depois disso ele orava de uma só sentada todo o Pai Nosso (Lutero, 1984, p.319) que, segundo o seu critério, era a melhor de todas as orações (Lutero, 1984, p.323), ou então, depois de cada petição orava algo que tinha a ver com a mesma, como por exemplo na sexta petição conforme segue: “6. A sexta petição: “E não nos deixes cair em tentação”, e diga: Ah, querido Senhor, Deus e Pai, conserva-nos resolutos e bem dispostos, ardorosos e aplicados em tua palavra e serviço. Que não nos sintamos seguros , preguiçosos e relaxados, como se agora tivéssemos tudo, e o diabo ferino nos assalte e tome de surpresa, e nos tire de novo a tua palavra preciosa ou provoque discórdia e sectarismo entre nós, ou ainda nos atraia ao pecado e à vergonha, seja espiritual ou corporal; mas dá-nos, por teu Espírito, sabedoria e força, para que lhe resistamos com bravura e obtenhamos a vitória, amém.” (Lutero, 1984, p.321) Lutero, apesar deste seu exemplo, deixa claro ao Mestre Barbeiro que não queria que o mesmo se prendesse às preces que ele lhe trazia como exemplo e as repetisse todo o dia como uma recitação qualquer. Pelo contrário, o que ele desejava era que o seu amigo se sentisse estimulado quanto ao que poderia, com suas próprias palavras, dizer quando orasse cada petição da oração do Senhor (Lutero, 1984, p.322). Ele também ressalta que, se houvesse tempo, então ainda procederia da mesma forma com os 10 Mandamentos. Ele os tomava nesta ordem: a) como ensinamento, refletindo sobre o que Deus esperava nele, dele; b) em seguida, fazia dele uma ação de graça. c) Então fazia uma confissão de pecados para, finalmente, d) colocar diante do Senhor numa prece seus pedidos. E 38 | RT | Outubro e Novembro, 2011
para que o Mestre Barbeiro o pudesse compreender, ele exemplifica todos mandamentos. Como exemplo disto, transcrevo o que ele recomendou a respeito do primeiro mandamento (Lutero, 1984, p.324). “1. “Eu sou o Senhor, teu Deus” etc. “Não terás outros deuses diante de mim” etc. Aqui penso, em primeiro lugar que Deus exige de mim e me ensina a confiar nele de coração em todas as coisas, e que ele, muito seriamente, deseja ser meu Deus. E como tal devo considerá-lo, sob pena de perder a eterna bem-aventurança. E meu coração em nada mais deve basear-se ou confiar, seja em algum bem, honra, sabedoria, poder, santidade ou qualquer criatura. Em segundo lugar, sou grato à sua insondável misericórdia, por se voltar tão paternalmente para mim, homem perdido, oferecendo-se a si mesmo sem ser solicitado nem procurado e sem qualquer merecimento meu, para ser meu Deus, aceitar-me, e por querer ele ser meu consolo, proteção, auxílio e força em todas as aflições. Isso que nós pobres e cegos seres humanos temos procurado diversos deuses e ainda os procuraríamos, caso ele mesmo não se fizesse ouvir de forma tão manifesta e se nos não oferecesse em nossa linguagem humana, querendo ser nosso Deus. Quem, por tudo isso, lhe pode agradecer o bastante para sempre e eternamente? Em terceiro lugar, confesso e professo meu grande pecado e ingratidão, de ter desprezado, de maneira tão vergonhosa, doutrina tão bela e dádiva tão valiosa por toda minha vida, e de ter provocado sua ira de forma tão horrível com inúmeras idolatrias; isso me dói e peço misericórdia. Em quarto lugar, peço e falo: Deus meu e Senhor, ajuda-me por tua graça que eu, a cada dia, consiga aprender e compreender melhor este teu mandamento e possa em confiança sincera, agir de acordo. Protege meu coração, para que não me torne tão esquecido e ingrato, não procure outros deuses nem consolo em quaisquer criaturas, mas permaneça de todo o coração unicamente contigo, meu único Senhor. Amém, querido Senhor Deus e Pai, amém.” (Lutero, 1984, p.324) Embora Lutero tenha encerrado este escrito chamando a atenção do Mestre Barbeiro para que o seu espírito não se cansasse por querer fazer tudo isso de uma só vez, que uma boa oração não precisava ser longa nem repetida várias vezes (Lutero, 1984, p.332), é verdade que ele gastava cerca de 3 horas diariamente para meditar e orar (Carr, p.624). Para Lutero, orar era a arte suprema (“Kunst über alle Künste”, Plass, p.1088). Ele não considerava que fosse algo fácil de se fazer (Plass,
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p.1088). Aliás, ele julgava esta tarefa muito mais difícil do que pregar (Plass, p. 1088). Por fim ainda cumpre lembrar que Lutero ensinou que cristãos também agradecem por todas as coisas, até mesmo pelas simples. Em meados de 1530, ele escreveu “O Sublime Louvor” tendo como base o Salmo 118, do qual muitos de nós recitam com fé e gratidão após as refeições o versículo 29, aquele que diz “Rendei graças ao Senhor, porque ele é bondoso, e sua bondade dura para sempre”. Dentre as afirmações que Lutero faz neste documento, destacamos que ele chama a atenção ao fato de que muitos pensavam que já haviam entendido este versículo até a última gota, aos quais ele chama de patifes e de quem ele afirma que jamais se lembraram de agradecer a Deus pelo leite que mamaram no seio de suas mães, muito menos por tudo quanto Deus lhes concedeu ao longo de suas vidas. Sim, Lutero ressalta que cristãos agradecem também pelas coisas simples da vida, afirmando: “Por isso esse versículo deveria estar, com justiça, no coração e na boca de qualquer pessoa todos os dias, toda vez que come, bebe, olha, ouve, cheira, anda, fica parado ou toda vez que faz uso dos membros de seu corpo, dos bens ou de alguma criatura, a fim de que se lembrasse de que, se Deus não lhe desse essas coisas para uso e não as preservasse contra o diabo, teria que carecer delas” (Lutero, 1995, p. 25-26, v. 5). E alguém que reconhece isso com um coração alegre, certamente dirá, segundo ele, algo parecido com isso: “Vamos lá! Tu és um Deus amigo e bondoso que me demonstras eternamente, isso é, sempre e sempre, sem cessar, a mim homem indigno e ingrato, bondade e benefícios tão grandes: a ti se deve louvor e engrandecimento” (Lutero, 1995, p.26, v. 5).
II — A vida devocional de um cristão (pastor) segundo o que Lutero ensina sobre o estudar e meditar. No prefácio do Catecismo Menor, dedicado a “todos os pastores e pregadores fiéis e piedosos” (Livro de Concórdia, p. 363), Lutero faz ver que é preciso que se ensinem as partes principais do mesmo “inculcando-o nas pessoas” (Livro de Concórdia, p. 364). Depois disso, tendo decorado o texto (Livro de Concórdia, p. 364), os pastores deveriam ensinar o sentido das palavras, para que todos soubessem o seu significado (Livro
de Concórdia, p. 365). E, neste ensinar, ele frisa que os pastores deveriam martelar “especialmente no mandamento e parte” em que houvesse maior negligência entre o povo ao qual eles serviam (Livro de Concórdia, p. 365). E ele, ao concluir que este ofício envolvia “muita fadiga e trabalho, perigo e tentação, e, além disso, pouca retribuição e gratidão no mundo”, deixa-lhes o consolo de que “o próprio Cristo quer ser a recompensa dos que trabalharem com fidelidade” (Livro de Concórdia, p. 366). No prefácio do Catecismo Maior, ao criticar pregadores e pastores que negligenciavam o inculcar do Catecismo como pauta do seu ofício por motivo de preguiça ou por serem “comilões despudorados e servidores do próprio ventre” (Livro de Concórdia, p. 387), ele afirma que os mesmos demonstrariam honra e gratidão ao evangelho que os libertava de cargas e apertos, “lendo, pela manhã, ao meio-dia e à noite, uma ou duas páginas do Catecismo, do Livrinho de orações, do Novo Testamento ou de outra parte da Bíblia, e rezassem o Pai-Nosso por si mesmos e seus paroquianos” (Livro de Concórdia, p. 387). No mesmo prefácio, ao afirmar que havia muitos que atiravam o Catecismo em algum canto por se julgarem doutos e considerarem-no um livro simples e desimportante (Livro de Concórdia, p. 387), ele disse: “Não obstante, faço como uma criança a que se ensina o Catecismo: de manhã, e quando quer que tenha tempo, leio e profiro, palavra por palavra, o Pai Nosso, os Dez Mandamentos, o Credo, alguns salmos, etc. Tenho de continuar diariamente a ler e estudar, e ainda assim não me saio como quisera, e devo permanecer criança e aluno do Catecismo” (Livro de Concórdia, p. 388). E ele ainda diz que “existe multiforme proveito e fruto em ler e exercitá-lo todos os dias em pensamento e recitação. É que o Espírito Santo está presente com este ler, recitar e meditar, e concede luz e devoção sempre nova e mais abundante, de tal forma, que a coisa de dia em dia melhora em sabor e é recebida com apreço cada vez maior” (Livro de Concórdia, p. 388). E ele aconselhou: “Perseverem em ler, ensinar, aprender, meditar e refletir, e não desistam até fazerem a experiência e adquirirem a certeza de que mataram o diabo de tanto lecionar e se tornaram mais sábios que o próprio Deus e todos os seus santos” (Livro de Concórdia, p. 390-391). Para Lutero, não somente era importante a leitura do Catecismo. Ele cria que ocupar-se com a Palavra de Outubro e Novembro, 2011 | RT | 39
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Deus, dela falar e sobre ela meditar, era “auxílio poderoso contra diabo, mundo, carne e maus pensamentos” (Livro de Concórdia, p. 388). Para ele, cristãos deveriam, além de no dia do descanso, ocupar-se diariamente com a palavra de Deus e trazê-la no coração e nos lábios (Livro de Concórdia, p. 408). Ele afirmou que todo o “nosso viver e agir, para chamar-se agradável a Deus, ou santo, deve nortear-se pela palavra de Deus” (Livro de Concórdia, p. 409). Quando, porém, isso não acontece, “quando o coração anda ocioso e a palavra não soa, o diabo pactua e realiza o estrago” (Livro de Concórdia, p. 410). Por isso, ao terminar a explicação do 3º. Mandamento no Catecismo Maior, ele afirma: “quando se medita, ouve e trata a palavra seriamente, ela tem o poder de nunca ficar sem fruto. Sempre desperta novo entendimento, prazer e devoção, e cria coração e pensamentos puros. Pois não há palavras inoperantes ou mortas, senão eficazes e vivas” (Livro de Concórdia, p. 410 e 411).
Conclusão Ao encerrarmos este breve estudo sobre a vida devocional de um cristão/pastor, segundo os ensinos de Lutero, trazemos a recomendação que Lutero deixa a estudantes de Teologia e um exemplo de oração para que pastores realizem: “Por isso eu vos admoesto, especialmente aqueles que desejam ser mestres da consciência dos outros, e eu admoesto cada um de vós individualmente para que se treine através do estudo, leitura, meditação e oração de tal modo que esteja apto na tentação a ensinar e confortar as vossas próprias consciências assim como as dos outros, bem como guiá-las da lei à graça, da justificação ativa para a passiva, em resumo, de Moisés para Cristo (Plass, p. 949). Oração de um pastor: “Senhor Deus, tu me indicaste para ser um bispo, um pastor na tua igreja. Tu sabes que eu sou incapaz de assumir tão grande e tão difícil encargo e, se não fosse a tua ajuda, eu certamente teria fracassado há muito tempo. Por isso clamo a ti; quero dedicar meus lábios e meu coração a teu serviço. Desejo ensinar a este povo, e eu mesmo quero aprender mais e mais. Incute em mim o desejo de meditar com diligência na tua Palavra. Usa-me como teu instrumento; só peço que não me desampares, pois, se eu me sentisse entregue a minha própria sorte, certamente poria tudo a perder. Amém. (Kraus, p. 15 e 16). 40 | RT | Outubro e Novembro, 2011
9. Anexo Sobre a Bíblia e João Ferreira de Almeida5 9.1. A BÍBLIA (Traduções em Português) Os mais antigos registros de tradução de trechos da Bíblia para o português datam do final do século XV. Porém, centenas de anos se passaram até que a primeira versão completa estivesse disponível em três volumes, em 1753. Trata-se da tradução de João Ferreira de Almeida. A primeira impressão da Bíblia completa em português, em um único volume, aconteceu em Londres, em 1819, também na versão de Almeida. Veja a seguir a cronologia das principais traduções da Bíblia completa publicadas na língua portuguesa. Veja Traduções da Bíblia em português na tabela ao lado.
9.2. João Ferreira de Almeida — A obra de uma vida Conhecido pela autoria de uma das mais lidas traduções da Bíblia em português, ele teve uma vida movimentada e morreu sem terminar a tarefa que abraçou ainda muito jovem. Entre a grande maioria dos evangélicos do Brasil, o nome de João Ferreira de Almeida está intimamente ligado às Escrituras Sagradas. Afinal, é ele o autor (ainda que não o único) da tradução da Bíblia mais usada e apreciada pelos protestantes brasileiros. Disponível aqui em duas versões publicadas pela Sociedade Bíblica do Brasil — a Edição Revista e Corrigida e a Edição Revista e Atualizada — a tradução de Almeida é a preferida de mais de 60% dos leitores evangélicos das Escrituras no País, segundo pesquisa promovida por A Bíblia no Brasil. Se a obra é largamente conhecida, o mesmo não se pode dizer a respeito do autor. Pouco, ou quase nada, se tem falado a respeito deste português da cidade de Torres de Tavares, que morreu há 300 anos na Batávia (atual ilha de Java, Indonésia). O que se conhece hoje da vida de Almeida está registrado na “Dedicatória” de um de seus livros e nas atas dos presbitérios de Igrejas Reformadas do Sudeste da Ásia, para as quais trabalhou como pastor, missionário e tradutor, durante a segunda metade do século XVII. De acordo com esses registros, em 1642, aos 14 5 A Bíblia no Brasil, n. 160, 1992, p. 14 — Fonte: BOL- Bíblia on-line /SBB
Bíblia
1753 Publicação da tradução de João Ferreira de Almeida, em três volumes. 1790 Versão de Figueiredo - elaborada a partir da Vulgata pelo Padre católico Antônio Pereira de Figueiredo, publicada em sete volumes, depois de 18 anos de trabalho. 1819 Primeira impressão da Bíblia completa em português, em um único volume. Tradução de João Ferreira de Almeida. 1898 Revisão da versão de João Ferreira de Almeida, que recebeu o nome de Revista e Corrigida. A tradução de Almeida foi trazida para o Brasil pela Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira, em data anterior à fundação da SBB. Naquela época, a tradução de Almeida foi entregue a uma comissão de tradutores brasileiros, que foram incumbidos de tirar os lusitanismos do texto, dando a ele uma feição mais brasileira. 1917 Versão Brasileira. Elaborada a partir dos originais, foi produzida durante 15 anos por uma comissão de especialistas e sob a consultoria de alguns ilustres brasileiros. Entre eles: Rui Barbosa, José Veríssimo e Heráclito Graça. 1932 Versão de Matos Soares, elaborada em Portugal. 1956 Versão Revista e Atualizada, elaborada pela Sociedade Bíblica do Brasil. Quando em 1948, a SBB foi fundada, uma nova revisão de Almeida, independente da Revista e Corrigida, foi encomendada a outra equipe de tradutores brasileiros. O resultado desse novo trabalho, publicado em 1956, é o que hoje conhecemos como a versão Revista e Atualizada. 1959 Versão dos Monges Beneditinos. Elaborada a partir dos originais para o francês, na Bélgica, e traduzida do francês para o português. 1968 Versão dos Padres Capuchinhos. Elaborada no Brasil, a partir dos originais, para o português. 1988 Bíblia na Linguagem de Hoje. Elaborada no Brasil, pela Comissão de Tradução da SBB, a partir dos originais. 1993 2ª Edição da versão Revista e Atualizada, de Almeida, elaborada pela SBB. 1995 2ª Edição da versão Revista e Corrigida, de Almeida, elaborada pela SBB. 2000 Nova Tradução na Linguagem de Hoje. Elaborada pela Comissão de Tradução da SBB
anos, João Ferreira de Almeida teria deixado Portugal para viver em Málaca (Malásia). Ele havia ingressado no protestantismo, vindo do catolicismo, e transferia-se com o objetivo de trabalhar na Igreja Reformada Holandesa local. Dois anos depois, começou a traduzir para o português, por iniciativa própria, parte dos Evangelhos e das Cartas do Novo Testamento em espanhol. Além da Versão Espanhola, Almeida usou como fontes nessa tradução as Versões Latina (de Beza), Francesa e Italiana — todas elas traduzidas do grego e do hebraico. Terminada em 1645, essa tradução de Almeida não foi publicada. Mas o tradutor fez cópias à mão do trabalho, as quais foram mandadas para as congregações de Málaca, Batávia e Ceilão (hoje Sri Lanka). Mais tarde, Almeida tornou-se membro do Presbitério de Málaca, depois de escolhido como capelão e diácono daquela congregação. No tempo de Almeida, um tradutor para a língua portuguesa era muito útil para as igrejas daquela região. Além de o português ser o idioma comumente usado nas congregações, era o mais falado em muitas partes da Índia e do Sudeste da Ásia. Acredita-se, no entanto, que o português empregado por Almeida tanto em pregações como na tradução da Bíblia fosse bastante erudito e, portanto, difícil de entender para a maioria da população. Essa impressão é reforçada por uma declaração dada por ele na Batávia, quando se propôs a traduzir alguns sermões, segundo palavras, “para a língua portuguesa adulterada, conhecida desta congregação.” O tradutor permaneceu em Málaca até 1651, quando se transferiu para o Presbitério da Batávia, na cidade de Djacarta. Lá, foi aceito mais uma vez como capelão, começou a estudar teologia e, durante os três anos seguintes, trabalhou na revisão da tradução das partes do Novo Testamento feita anteriormente. Depois de passar por um exame preparatório e de ter sido aceito como candidato ao pastorado, Almeida acumulou novas tarefas: dava aulas de português a pastores, traduzia livros e ensinava catecismo a professores de escolas primárias. Em 1656, ordenado pastor, foi indicado para o Presbitério do Ceilão, para onde seguiu com um colega, chamado Baldaeus. Ao que tudo indica, esse foi o período mais agitado da vida do tradutor. Durante o pastorado em Outubro e Novembro, 2011 | RT | 41
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Galle (Sul do Ceilão), Almeida assumiu uma posição tão forte contra o que ele chamava de “superstições papistas,” que o governo local resolveu apresentar uma queixa a seu respeito ao governo de Batávia (provavelmente por volta de 1657). Entre 1658 e 1661, época em que foi pastor em Colombo, ele voltou a enfrentar problemas com o governo, o qual tentou, sem sucesso, impedi-lo de pregar em português. O motivo dessa medida não é conhecido, mas supõe-se que estivesse novamente relacionado com as idéias fortemente anti-católicas do tradutor. A passagem de Almeida por Tuticorin (Sul da Índia), onde foi pastor por cerca de um ano, também parece não ter sido das mais tranquilas. Tribos da região negaram-se a ser batizadas ou ter seus casamentos abençoados por ele. De acordo com seu amigo Baldaeus, o fato aconteceu porque a Inquisição havia ordenado que um retrato de Almeida fosse queimado numa praça pública em Goa. Foi também durante a estada no Ceilão que, provavelmente, o tradutor conheceu sua mulher e casou -se. Vinda do catolicismo romano para o protestantismo, como ele, chamava-se Lucretia Valcoa de Lemmes (ou Lucrecia de Lamos). Um acontecimento curioso marcou o começo de vida do casal: numa viagem através do Ceilão, Almeida e Dona Lucretia foram atacados por um elefante e escaparam por pouco da morte. Mais tarde, a família completou-se, com o nascimento de um menino e de uma menina. A partir de 1663 (dos 35 anos de idade em diante, portanto), Almeida trabalhou na congregação de fala portuguesa da Batávia, onde ficou até o final da vida. Nesta nova fase, teve uma intensa atividade como pastor. Os registros a esse respeito mostram muito de suas idéias e personalidade. Entre outras coisas, Almeida conseguiu convencer o presbitério de que a congregação que dirigia deveria ter a sua própria cerimônia da Ceia do Senhor. Em outras ocasiões, propôs que os pobres que recebessem ajuda em dinheiro da igreja tivessem a obrigação de frequentá-la e de ir às aulas de catecismo. Também se ofereceu para visitar os escravos da Companhia das Índias nos bairros em que moravam, para lhes dar aulas de religião — sugestão que não foi aceita pelo presbitério — e, com muita frequência, alertava a congregação a respeito das “influências papistas.” Ao mesmo tempo, retomou o trabalho de tradução da Bíblia, iniciado na juventude. Foi somente então 42 | RT | Outubro e Novembro, 2011
que passou a dominar a língua holandesa e a estudar grego e hebraico. Em 1676, Almeida comunicou ao presbitério que o Novo Testamento estava pronto. Aí começou a batalha do tradutor para ver o texto publicado — ele sabia que o presbitério não recomendaria a impressão do trabalho sem que fosse aprovado por revisores indicados pelo próprio presbitério. E também que, sem essa recomendação, não conseguiria outras permissões indispensáveis para que o fato se concretizasse: a do Governo da Batávia e a da Companhia das Índias Orientais, na Holanda. Escolhidos os revisores, o trabalho começou e foi sendo desenvolvido vagarosamente. Quatro anos depois, irritado com a demora, Almeida resolveu não esperar mais — mandou o manuscrito para a Holanda por conta própria, para ser impresso lá. Mas o presbitério conseguiu parar o processo, e a impressão foi interrompida. Passados alguns meses, depois de algumas discussões e brigas, quando o tradutor parecia estar quase desistindo de apressar a publicação de seu texto, cartas vindas da Holanda trouxeram a notícia de que o manuscrito havia sido revisado e estava sendo impresso naquele país. Em 1681, a primeira edição do Novo Testamento de Almeida finalmente saiu da gráfica. Um ano depois, ela chegou à Batávia, mas apresentava erros de tradução e revisão. O fato foi comunicado às autoridades da Holanda e todos os exemplares que ainda não haviam saído de lá foram destruídos, por ordem da Companhia das Índias Orientais. As autoridades Holandesas determinaram que se fizesse o mesmo com os volumes que já estavam na Batávia. Pediram também que se começasse, o mais rápido possível, uma nova e cuidadosa revisão do texto. Apesar das ordens recebidas da Holanda, nem todos os exemplares recebidos na Batávia foram destruídos. Alguns deles foram corrigidos à mão e enviados às congregações da região (um desses volumes pode ser visto hoje no Museu Britânico, em Londres). O trabalho de revisão e correção do Novo Testamento foi iniciado e demorou dez longos anos para ser terminado. Somente após a morte de Almeida, em 1693, é que essa segunda versão foi impressa, na própria Batávia, e distribuída. Enquanto progredia a revisão do Novo Testamento, Almeida começou a trabalhar com o Antigo Testamento. Em 1683, ele completou a tradução do Pentateuco (os cinco primeiros livros do Antigo Testamento). Iniciou-se, então, a revisão desse texto, e a situação que
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havia acontecido na época da revisão do Novo Testamento, com muita demora e discussão, acabou se repetindo. Já com a saúde prejudicada — pelo menos desde 1670, segundo os registros—, Almeida teve sua carga de trabalho na congregação diminuída e pôde dedicar mais tempo à tradução. Mesmo assim, não conseguiu acabar a obra à qual havia dedicado a vida inteira. Em
1691, no mês de outubro, Almeida morreu. Nessa ocasião, ele havia chegado até Ez 48.21. A tradução do Antigo Testamento foi completada em 1694 por Jacobus op den Akker, pastor holandês. Depois de passar por muitas mudanças, ela foi impressa na Batávia, em dois volumes: o primeiro em 1748 e o segundo, em 1753.
Conclusão Embora seja por muitos contestada como sendo a Palavra de Deus, o Espírito Santo nos tem convencido de que ela, a Bíblia, realmente o é. Sendo a Palavra de Deus, é ela quem nos fortalece a fé em Jesus, o Salvador, é ela quem nos guia pelos caminhos que lhe agradam. Por isso, que todos nós, cristãos, família de Deus, busquemos sempre nela a orientação para nossas vidas e pregações para que o mesmo Espírito Santo, através de nosso falar e agir possa levar outras pessoas a crer e a ter a vida eterna. E eu concluo dizendo: Amém, que assim seja. Amém. Rev. Egon Martin Seibert é pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil em Canoas-RS
Bibliografia A BÍBLIA Sagrada. Tradução de João Ferreira de Almeida, Revista e Atualizada no Brasil. 2 Ed. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1999 BENTZEN, Aage. INTRODUÇÃO AO ANTIGO TESTAMENTO, vol I e II. Tradução de Helmuth Alfredo Simon. São Paulo: ASTE; 1968. Bíblia de Estudo NTLH. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2005. BOETTNER, Loraine e WARFIELD, Bengamin B. A Inspiração das Escrituras. Leira, Portugal: Edições Vida Nova. BRAKEMEIER, Gottfried. Por que ser cristão? São Leopoldo, RS: Editora Sinodal, 2004. CARR, Sister Deanna Marie. A consideration of the Meaning of Prayer in the Life of Martin Luther. Concordia Theological Monthly, Saint Louis: Concórdia Publishing House, p. 621-629, out. 1971. CULLMANN, Oscar. A Formação do Novo Testamento. Traduzido por Bertoldo Weber. São Leopoldo, RS: Editora Sinodal, 1970. GRAVES, Sue. O que é a Bíblia? Uma Introdução ao Livro da Fé Cristã. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2006. HEIMANN, Leopoldo (organizador). LUTERO, O PASTOR. Canoas, RS: Editora da ULBRA, 2006. KOEHLER, Alfred W. Sumário da Doutrina Cristã. Traduzido por Arnaldo Schüler. Porto Alegre: Concórdia Editora; 1969. KRAUS, George. Palavra e oração. Porto Alegre: Concórdia Editora, 1990. LINDEN, Gerson Luís. CADERNOS UNIVERSITÁRIOS: História e Literatura do Novo Testamento. Canoas, RS: Ed/ULBRA; 2005. LIVRO DE CONCÓRDIA. 5 ed. Traduzido por Arnaldo Schüler. Porto Alegre: Concórdia/São Leopoldo: Sinodal; 1997. LUTERO, Martinho. Obras Selecionadas, vv. 5 e 7. Porto Alegre: Concórdia/São Leopoldo: Sinodal; 1995. ................. Pelo Evangelho de Cristo. Traduzido por Walter O. Schlupp. Porto Alegre: Concórdia/São Leopoldo: Sinodal; 1984. MILLER, Stephen M. e HUBER, Robert V. A Bíblia e sua história. Traduzido por Magda D. Z. Huf e Fernando H. Huf. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil; 2006. NEITZEL, Leonardo. Introdução ao Novo Testamento. Material não publicado do Curso de Diaconia em Educação Cristã. São Leopoldo, RS: Seminário Concórdia. PLASS, Ewald M. What Luther Says. A Practical In-Home Anthology for the Active Christian. Saint Louis: Concordia Publishing House, 1959. ROOS, Deomar. Introdução ao Antigo Testamento. Material não publicado do Curso de Diaconia em Educação Cristã. São Leopoldo, RS: Seminário Concórdia. ROTTMANN, Johannes H. VEM, SENHOR JESUS, Comentário Bíblico – Apocalipse de S. João. Porto Alegre, RS: Concórdia Editora; 1993. SCHULTZ, Samuel J. A História de Israel no Antigo Testamento. Traduzido por João Marques Bentes. São Paulo, SP: Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, 2002.Daniel Hübner — Rio Branco-AC, pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil. Outubro e Novembro, 2011 | RT | 43
Artigo
O Livro de Eli A
ssisti na última semana (artigo de 28/04/2010) em Recife, o filme O Livro de Eli. Este narra a vida de um mundo pós-apocalíptico, devastado, onde pessoas lutam e matam para obter o básico (comida e água). Eli (Denzel Washington) é um homem solitário que protege um livro sagrado, o último que restou e que contem segredos supostamente capazes de salvar a humanidade. Mas como todo herói tem seu algoz, nessa história um tirano prefeito de uma pequena cidade faz de tudo, mesmo que para isso tenha de matar Eli, para obter o tal livro e fortalecer seu domínio sobre aqueles que ainda restam. Eli, uma palavra hebraica e significa “Meu Deus”, e neste trocadilho, O Livro de Eli, é o Livro de Meu Deus, a Bíblia Sagrada. De fato ela pode
Rev. Márlon Hüther Antunes
ser tanto sinônimo de salvação, como de poder e exploração, como narra o filme. Para alguns ela não passa de uma lenda, da história de um povo, de um código moral, mas para outros “é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê” (Romanos 1.16). Em entrevista, o ator Denzel Washington conversou com jornalistas: “Sabe, sei que isso vai soar estranho, mas a Bíblia é como uma arma. Se ficar aí, em cima de uma mesa, nunca vai machucar ninguém. É uma questão de como você vai usá-la. E isso não se aplica apenas à Bíblia, mas também às palavras. (...) Carnegie (o prefeito do filme) obviamente só está procurando uma maneira de manipular a verdade. E nós conhecemos bem essa história (... ) é a terceira vez que faço a leitura da Bíblia (...) tenho também um livro de estudos que antes de cada capítulo ajuda a entender o contexto, a época na qual a história se passou”. Certamente antes de tecermos opiniões acerca da Palavra de Deus, nada melhor do que conhecer o livro, contexto, história e tudo que envolve uma boa compreensão. Seremos mais cautelosos e não seremos, conforme a própria Bíblia 4.14 em Efésios: “levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro”. O Apóstolo Paulo disse que a Palavra de Eli bem usada é útil, torna a pessoa sábia, leva-a a salvação por meio de Jesus, condena o erro, corrige as faltas e ensina a maneira certa de viver (2ª Timóteo 3.15,16). Valeu a reflexão, o lazer e a mensagem do filme. Uma lástima que não precisei andar muito, para me deparar mais uma vez, com aqueles que matam Eli e fortalecem seu domínio sobre fracos, oprimidos e desinformados. Contudo, o principal objetivo das Sagradas letras, claramente expostas, permanece: “Estas coisas vos escrevi, a fim de saberdes que tendes a vida eterna (aos que creem em Jesus Cristo) – 1ª João 5.13. Se existe um segredo, este está revelado!
Rev. Márlon Hüther Antunes — Maceió-AL, pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil
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Vale a pena esperar! Rev. Leandro D. Hübner
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reio que o estimado leitor soube desta notícia: Um homem ficou preso inocentemente durante 19 anos e morreu pouco tempo depois de saber que ia receber a segunda parte de uma indenização de R$ 2 milhões. O caso ocorreu em Recife (PE). A história foi classificada pelo Tribunal de Justiça como o erro judiciário mais grave da história do país. O seu Mariano morreu no ultimo dia 22, aos 63 anos, depois de esperar 19 anos para ser libertado, e mais 13 anos para receber sua indenização. Quando sua espera chegou ao fim, teve um infarto. Podemos dizer que, neste caso, não valeu a pena esperar. Quando o erro foi corrigido, seu Mariano já tinha tido tuberculose e desenvolvido um câncer na cadeia, além de ter ficado cego. Nós geralmente não gostamos de esperar. Ficar numa fila nos deixa impacientes. Mas, como brasileiros, já nos acostumamos, ainda mais quando é por algo que vale a pena esperar. Agora estamos esperando pelo Natal e o ano novo. Há muita correria, preparativos e muitas expectativas no ar. Como Igreja cristã, também esperamos, e esta espera tem um nome: Advento. Advento quer dizer vinda e é um tempo celebrado entre quatro domingos – o primeiro no último dia 27, e o último em 18 de dezembro. E o que esperamos? Esperamos a vinda de Cristo. Somos lembrados de sua primeira vinda, quando se cumpriu a promessa de Deus ao seu povo e também a José, quando um anjo lhe disse: “José, descendente de
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Davi, não tenha medo de receber Maria como sua esposa, pois ela está grávida pelo Espírito Santo. Ela terá um menino, e você porá nele o nome de Jesus, pois ele salvará o seu povo dos pecados deles.” (Mateus 1.20-21). Cristo assumiu a forma humana para revelar ao mundo o amor salvador do Pai, conquistando na cruz Jesus o perdão dos pecados para todos os seres humanos, contrariando aqueles que esperavam que ele fosse um messias político e econômico. O Advento também celebra o Cristo que ainda vem a nós. Cremos que na Palavra de Deus (a Bíblia) e nos Sacramentos (Batismo e Santa Ceia), Jesus continua vindo a nós, dando-nos seu Espírito e com ele a fé salvadora e a vida nova e eterna. Outra ênfase do Advento é a segunda vinda de Cristo, quando, como diz o Credo, ele virá para julgar vivos e mortos e dirá aos salvos: “Venham e recebam o Reino que o meu Pai preparou para vocês desde a criação do mundo” (Mateus 25.34). Enquanto ele não vem, esperamos, crendo no seu sacrifício por nós e na sua presença em nossos corações e vidas. Vale a pena esperar? Ao contrário do seu Mariano, que não pode usufruir de seu direito depois de tanta espera, nós temos a certeza de que, pela fé em Cristo, vamos usufruir das alegrias da vida eterna, onde “não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor” (Apocalipse 21.4). Com certeza, amigo leitor, vale a pena esperar!
Rev. Leandro Daniel Hübner — Rio Branco-AC, pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil. Outubro e Novembro, 2011 | RT | 45
Missão Cristã
Rev. Martinho Rennecke
Natal: a vinda de algu Deus se apresenta em corpo e sangue, a plenitude divina, o grande escândalo da humanidade No Natal a humanidade cristã comemora o nascimento de Jesus Cristo, Filho de Deus, pessoa da Santíssima Trindade. Como os primeiros cristãos do século IV descreveram na sua conclusão, no primeiro Concílio de Nicéia, 325, e depois no primeiro Concilio de Constantinopla, em 381: “Creio em um só Senhor Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus, gerado do Pai antes de todos os mundos, Deus de Deus, Luz da luz, verdadeiro Deus do verdadeiro Deus, gerado, não criado, de uma só substância do Pai, por quem todas as coisas foram feitas; o qual por nós, homens, e pela nossa salvação, desceu do céu e se encarnou pelo Espírito Santo, na Virgem Maria, e foi feito homem.” A encarnação de Deus em Jesus Cristo é um empecilho para toda tentativa humana de chegar a ele por meio do misticismo, do ascetismo ou da especulação racionalista. Deus se revela por meio da Palavra, mas ela sempre toma uma forma concreta através de alguém, seja escrita, falada ou encenada. Deus não pode ser amado à parte do homem e nem Cristo ser separado dos seus santos. O apóstolo Paulo ressalta este fator na relação de Deus com os homens, quando diz: “Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: quão formosos são os pés dos que anunciam cousas boas!”.1 Um hino cantado pelo povo luterano na Argentina, após um treinamento realizado para visitação a pessoas em crise, ilustra esta revelação do apóstolo assim: O Senhor chamou a seus discípulos e os enviou de dois em dois. Estribilho: Quão formoso é ver descer dos montes os pés dos mensageiros da paz. 1 Bíblia SAGRADA, Romanos 10.14 e 15. 46 | RT | Outubro e Novembro, 2011
Os mandou para as cidades e lugares por onde Ele iria. (Estribilho) A colheita é abundante, lhes disse o Senhor ao partirem. (Estribilho) Ao entrarem numa casa, saúdem anunciando a paz. (Estribilho) Aqueles que vos recebem, terão recebido a mim. (Estribilho). Quem recebe minha Palavra, recebe a quem me enviou. (Estribilho).2 Natal significa um sinal da parte de Deus que é no ambiente do contexto das relações humanas, na comunidade, que Deus se revela de forma especial em Jesus Cristo. Na Santa Ceia, estando presente com o seu corpo nos elementos naturais oferecidos pelo homem, no pão e no vinho. É neste anseio humano de ser aceito um pelo outro, de busca de auxílio e conforto, que Deus encontra o seu prazer de revelar o seu amor e a sua presença. Lutero em Um Sermão sobre a Contemplação do Santo Sofrimento de Cristo, diz o que significa reconhecer a Deus de forma apropriada, apreendendo-o não pelo seu poder ou por sua sabedoria (que são assustadores), mas pela bondade e pelo amor.3 O próprio Jesus Cristo na noite em que foi traído, reunido com os seus discípulos revelou-lhes a essência desta Santa Ceia comunitária, ou seja, a aceitação do 2 .El Señor eligió a sus discípulos, los envió de dos en dos. Est. Es hermoso ver bajar de la montaña los pies del mensajero de la paz. (bis) Los mandó a las ciudades y lugares donde iba a ir el. Est. La cosecha es abundante, les dijo el Señor al partir. Est. Al entrar en una casa, saluden anunciando la paz. Est. Los que a ustedes los reciban, me habrán recibido a mí. Est. Quien recibe mi palabra, recibe a quien me envió. Est 3 Martinho LUTERO, Um Sermão sobre a Contemplação do Santo Sofrimento de Cristo, p.255.
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uém que veio para ficar ser humano por parte Dele e o servir-lhe através da Sua presença quando disse: “(...): Isto é o meu corpo oferecido por vós; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este é o cálice da nova aliança no meu sangue derramado em favor de vós”.4 Lutero em seu sermão, Um sermão sobre o venerabilíssimo sacramento do santo e verdadeiro corpo de Cristo e sobre as irmandades, no ponto quatro, ilustra este amor de Deus presente na Santa Ceia: O que este sacramento significa ou opera é comunhão de todos os santos. (...) A razão disso é que Cristo forma um corpo espiritual com todos os santos, assim como o povo de uma cidade constitui uma comunidade e um corpo, sendo cada cidadão membro do outro e da cidade inteira. Da mesma maneira, todos os santos são membros de Cristo e da Igreja, que é uma cidade espiritual e eterna de Deus. Ser aceito nessa cidade significa ser recebido na comunhão dos santos, ser incorporado ao corpo espiritual de Cristo, ser feito membro seu.5 Dietrich Bonhoeffer, pastor luterano martirizado na Alemanha, durante a II Guerra Mundial, em sua outra obra, Discipulado, também entende ser o corpo de Jesus Cristo a própria nova humanidade por ele encarnada e inaugurada no Natal, revelada pelo Pentecostes: “Desde o Pentecoste, Jesus Cristo vive na terra na forma de seu corpo, na forma da Igreja. (...) essa é a humanidade por ele assumida” e “Acostumam-nos a ver na Igreja uma instituição. No entanto, deve-se ver na Igreja uma pessoa física”.6 Lutero usando o exemplo de um banquete realça ainda mais os efeitos deste amor de Deus encarnado, no ponto 18: Trata então de exercitar e fortalecer a fé, de modo que, quando estiveres entristecido ou quando teus pecados te oprimirem, vás ao sacramento ou ouças a missa, de modo que desejes de coração este sacramento e aquilo que ele representa, e não duvides
que aquilo que o sacramento significa te sucederá. Isto é: deves ter certeza de que Cristo e todos os santos vêm ter contigo, com todas as suas virtudes, seus sofrimentos e graças, para contigo viver, fazer, deixar de fazer, sofrer e morrer, e de que querem ser completamente teus, ter todas as coisas em comum contigo. Se bem exercitares e fortaleceres esta fé, sentirás quão alegre e opulento banquete de casamento e regalo teu Deus preparou para ti sobre o altar.7 O Natal significa que Deus veio morar entre nós. Ele, na pessoa de Jesus Cristo continua encarnado entre nós, com seu corpo natural na Santa Ceia, e com seu corpo espiritual na sua Igreja. Isto significa comunhão, amor, compaixão, companhia. Isto é Natal, ou deveria ser. Infelizmente o homem natural não consegue alcançar esta compreensão espiritual. Por sito enfeita a comemoração do Natal com presentes, luzes multicoloridas, muita comida e bebida. Substitui o Deus entre nós, Emanuel, pelo gordo Papai-Noel vermelho e barbudo, o bom velhinho. Transforma seu deus em um simples ser humano mortal. Não reconhece a plenitude de Deus, encarnada em Jesus Cristo, presente na Santa Ceia e na comunhão dos irmãos. 7 Martinho LUTERO, op. cit., p.435 e 436.
4 Bíblia SAGRADA, Lucas 22.19 e 20. 5 �������������������������������������������������������� Martinho LUTERO, Um sermão sobre o venerabilíssimo sac� ramento do santo e verdadeiro corpo de Cristo e sobre as irmandades, p.429. 6 Dietrich BONHOEFFER, Discípulado, p. 147. Outubro e Novembro, 2011 | RT | 47
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Natal e Santa Ceia: como desejo de comunhão fraterna Uma vez conscientes de que Deus demonstra de forma palpável que aceita as pessoas e quer comungar com cada um através de sua encarnação também no ato sacramental da Santa Ceia, não resta outro caminho a cada um do que buscar aceitação entre os irmãos e aceitá-los também assim como são. A celebração do Natal e da Santa Ceia está inseparavelmente relacionada com o ambiente social de comunhão, de relações pessoais. O próprio povo traz os elementos manufaturados da natureza que, juntos com a Palavra de Deus, servem como meios de graça, o pão e o vinho. Estes acontecimentos especiais nascem no contexto dos meios normais, cotidianos, como o nascimento na manjedoura de Belém e assim como foi a celebração de Cristo com os seus discípulos. Por outro lado, esta comunicação especial dos meios de graça quer se estender à criação como um todo, a partir do ambiente da comunhão. Como diz William E. Hulme, teólogo luterano e psiquiatra, em sua obra Dinâmica da Santificação, “A igreja como a comunhão dos santos é o cenário vivencial, o contexto, que cinge e veste a Palavra e os sacramentos. (...) esta comunhão transcende a si mesma”.8 Neste cenário de comunhão e de relações existenciais cria-se um ambiente onde uma alma aflita e faminta, a desejar sinceramente o amor, a ajuda e o apoio de toda a comunidade, de Cristo e de toda cristandade, não duvide que haverá de recebê-los na fé; que possa entrar em comunhão com todos na mesma relação, no mesmo amor. Diz Lutero, no seu sermão: “que o sacra‑ mento seja para ti um opus operantis, isto é, uma obra proveitosa, e que ele agrade a Deus não por causa de sua essência, mas por causa de tua fé e do bom uso que dele fazes”.9 O relacionamento harmonioso é o caminho pelo qual o Espírito de Deus comunica a sua Palavra. Conhecer as pessoas ajuda cada um a conhecer a Deus. O sacerdócio do crente é comunicado aos outros pela empatia do crente com as necessidades dos outros. Hulme traz luz à questão quando diz: Ele é o ‘Nosso Pai’. A natureza não palpável da co‑ munhão com Deus é aprofundada em significân‑ cia como também salvaguardada da subjetividade 8 William E. HULME, Dinâmica da Santificação, p. 78. 9 Martinho LUTERO, op. cit., p.438. 48 | RT | Outubro e Novembro, 2011
humana pela natureza palpável da comunhão humana. A oração de Paulo em Efésios pelo ‘com‑ preender (...) e conhecer o amor de Cristo’ (...) não se expressa no isolamento, mas ‘com todos os san‑ tos’. Sem a comunhão dos santos, a comunhão com Deus poderia tornar-se um monólogo da pessoa consigo mesma — um individualismo doentio (...) desejo infantil de ser o ‘filho único’.10 O apóstolo Paulo aplica este mesmo sentido ao sacramento: “Cuidem os membros uns dos outros. Se um membro sofre, todos sofrem com ele; se um deles passa bem, os outros se regozijam com ele”.11 Para entender este sacramento da Santa Ceia, é preciso guardar bem esta comparação, pois o que ele significa ou opera é comunhão de todos os santos. Assim também Lutero, referindo-se às pessoas em crise, as conclama em seu sermão: “(...) e quiser livrar-se, dirija‑ -se alegremente ao Sacramento do Altar e deponha seu pesar na comunidade, busque ajuda junto a todo o corpo espiritual, assim como um cidadão, ao sofrer um prejuí‑ zo ou uma desgraça no campo, (...) queixa-se junto aos membros do conselho municipal”.12 Sem o desejo de buscar a comunhão com o próximo, seja ele qual for, perde-se o ambiente do amor, fecha-se o contexto das relações integradoras, mata-se a fé na promessa de perdão e perde-se o sentido do Natal. Assim, a comunicação do amor de Deus não se estende à criação, a comunhão dos santos não é praticada nem se fortalece. Compreender e aceitar a encarnação de Deus em Jesus Cristo no Natal, sua continua presença na Santa Ceia de forma especial, e sua presença no corpo espiritual, sua comunidades dos cristãos, é festejar o Natal de forma consistente, edificante, consoladora, comunitária e santificadora. É o Deus presente sempre e em todo lugar onde estas celebrações são feitas em fé, sem escândalo. Feliz Natal!! Rev. Ms. Martinho Rennecke — Caxias do Sul-RS — é pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil e coordenador do Projeto Macedônia - CxP 195, 95.001-970 (projetomacedonia@terra.com.br).
10 William E. HULME, op. cit., p. 134. 11 Bíblia SAGRADA, I Coríntios 12.25s. 12 Martinho LUTERO, op. cit., p.431.
Bibliografia ALTMANN, Walter. Lutero e Libertação. São Leopoldo : Sinodal, São Paulo : Ática, 1994. 352 p. BÍBLIA SAGRADA : Antigo e Novo Testamento.Trad. Em português por João Ferreira de Almeida. Ed. rev. e atualizada no Brasil. São Paulo : Sociedade Bíblica do Brasil, BONHOEFFER, Dietrich. Discipulado. 3. ed. São Leopoldo : Sinodal, 1980. 196 p. _______Vida em Comunhão. 2. ed. São Leopoldo : Sinodal, 1986. 85 p. HULME, William E. Dinâmica da Santificação. São Leopoldo : Sinodal; Porto Alegre : Casa Publicadora Concórdia S.A., 1976. 163 p. LUTERO, Martinho. Um Sermão sobre a Contemplação do Santo Sofrimento de Cristo. In: MARTINHO LUTERO: OBRAS SELECIONADAS. São Leopoldo : Sinodal, Porto Alegre : Concórdia, 1987, v.1, p. 249-256. _______Um sermão sobre o venerabilíssimo sacramento do santo e verdadeiro corpo de Cristo e sobre as irmandades. In: MARTINHO LUTERO: OBRAS SELECIONADAS. São Leopoldo : Sinodal, Porto Alegre : Concórdia, 1987, v. 1, p.425-446. ¿SOMOS iglesia de mantenimiento o iglesia evangelizadora? El Nuevo Luterano, Paraná, ano 58, n.8, p.17-18, ago. 2002. Outubro e Novembro, 2011 | RT | 49
Lei da Palmada Artigo
U
m projeto de Lei ganhou o apelido de “Lei da Palmada”, que proíbe toda e qualquer agressão contra crianças — mesmo que seja uma palmada dada pelo pai ou pela mãe. Compreendo e elogio o objetivo maior da Lei, que é frear a ação irracional de uma série de adultos desequilibrados que perdem a cabeça e ganham força no braço, de forma que a palmadinha vira surra! Porém entendo que a generalização que a Lei faz é condenável. Colocar toda e qualquer palmada como crime confunde as coisas. Dizer que um pai e uma mãe que dão uma palmadinha para chamar atenção da criança são criminosos é exagero. Supor que muitos não sabem diferenciar palmada de espancamento é desacreditar de tudo. No meu entender, o que realmente merecia um corretivo, quem realmente deveria receber uma forte palmada não são as crianças, mas uma senhora já crescida chamada “Impunidade”! Lamento o quanto nós nos detemos em criar novas leis, ao invés de punir as transgressões. Já há leis que punem espancamentos e agressões a menores. Por isso o problema não é a falta de leis, mas a falta de punição. A impunidade reina! O irônico é que a Lei da Palmada de uma ou de outra forma acaba levando um pouco mais de impunidade para dentro de casa. Por outro lado a Bíblia diz: “É bom corrigir e disciplinar a criança. Quando todas as suas vontades são feitas, ela acaba fazendo a sua mãe passar vergonha” (Pv 29.15). E ainda: “Quem não castiga o filho não o ama. Quem ama o filho castiga-o enquanto é tempo.” (Pv 13.24) Sei que para punir, não é preciso agredir. Aprovo a força do diálogo e conheço a fraqueza da violência. Por isso não condeno o objetivo da Lei, porém destaco que a solução está na educação das pessoas, a fim de que saibam se controlar, medir, julgar, dialogar. A solução não está no texto da Lei. Pena que em nosso país se gasta tanto com legisladores e tão pouco com os educadores. O Mestre Jesus estaria sempre pronto a desestimular toda e qualquer forma de violência, especialmente contra crianças. Para combater toda maldade apregoou uma única Lei, a Lei do Amor. Educar e cuidar com amor. Honrar e respeitar com Amor. Por Amor ele sofreu sobre si, palmadas, bofetadas, chicotadas e inclusive a crucificação. Uma palmada com Amor é mais nobre que a omissão daquele que nem se importa com a verdadeira educação. Mas, o diálogo firme e amoroso é ainda mais valioso. Rev. Ismar L. Pinz — Pelotas-RS — pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil
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Rev. Ismar L. Pinz
Rev. Márlon Hüther Antunes
Artigo
Prazo determinado para a bênção N
esta semana1 enquanto o Fantástico abordou o tema do casamento, na perspectiva do divórcio partindo de um projeto polêmico mexicano, onde a taxa de separações é de 50%. A Revista Época sob o título “o seu, o meu e o nosso”, tratou da importância de casais planejarem juntos a curto, médio e longo prazo, uma ótima maneira de reduzirem as tensões e tornarem o futuro mais seguro, também pelas finanças. O projeto de alguns deputados mexicanos, propõe que o casamento tenha prazo determinado, mínimo de dois anos. Depois disso, o casal renova se quiser, caso contrário a separação é automática. Seria esta uma espécie de estágio probatório? Ora, esta função cabe ao namoro e noivado, que é o tempo de maturidade da relação. Atualmente há uma inversão de valores: os relacionamentos começam como casamento e terminam como namoro, e em tantos casos como amigos. Nesta insegurança, os planos do casal, ficam apenas no meu e o seu. Numa pesquisa da Universidade de Utah concluiu-se que, depois de três anos de união, a possibilidade de divórcio é 70% maior entre os casais sem nenhum investimento. Sem nenhum plano e sonho em longo prazo, sem “o nosso” casais perdem o foco. Seria este o motivo de tantas separações, cada vez mais presentes em nossos círculos sociais e familiares? Falta de planejamento, inversão de valo1 Período em que este artigo foi originalmente publicado em Jornal.
res, etapas ignoradas, busca no matrimônio apenas para satisfação própria, ou mesmo pressão? Antes de tudo sem a base sólida que é o amor (não o próprio, ele tende a ser egoísta), mas o recíproco, qualquer relação será um fardo. Casamento sempre é um projeto! Antes de ser exclusivo entre duas pessoas, é plano do Autor da vida, dele nasce uma família, unida ou fragmentada; ele é o berço no qual a sociedade nasce e é nutrida; Pelo casamento Deus preserva as pessoas, permite a continuidade da raça, combate a solidão e incentiva o companheirismo e a vivência de seu amor revelado. A benção de Deus não tem prazo de validade! Ela inicia aqui e se estende até a eternidade. A exceção para tantas separações está na “dureza do coração”, conforme Jesus em Mateus 19.8. Pela dureza de nosso coração, responsável por todo tipo de infidelidade (Provérbio 2.17), os votos do casamento são quebrados e perdem a validade num dia — dois anos é demais — e aqui está o segredo diário: reconquistá-lo, e para isso é necessário muito amor, conversa, humildade e perdão. Eu, meu cônjuge e Deus no mesmo projeto, podemos reviver a instituição que para muitos já morreu; Afinal “uma corda de três cordões é difícil de arrebentar” (Eclesiastes 4.12b). Como no Casamento de Caná (João 2), que Jesus tenha lugar no seu casamento, não apenas na festa, mas na benção e presença diária, na certeza de que Ele pode fazer milagres e eternizar seu amor.
Rev. Márlon Hüther Antunes — Maceió-AL, pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil
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Fé Cristã
Rev. Luisivan Vellar Strelow
Fé em Cristo: pleni conhecimento dos
“Cristo, em quem estão escondidos todos os tesou
A
fé em Cristo é fruto da pregação do evangelho: “a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo” (Rm 10.17). O crescimento espiritual vem pelo estudo da palavra de Deus, pelo ensino do simples evangelho de Cristo nas reuniões públicas da igreja, não pela especulação a respeito de supostos mistérios ou doutrinas ocultas. Na igreja de Colossos, a palavra de Cristo estava ricamente presente, desde o seu início, na pregação e no ensino de Epafras, fiel ministro de Cristo. Ali, a “pa‑ lavra da verdade do evangelho” (Cl 1.5) habitava ricamente desde o início, e todos haviam sido instruídos e confirmados na fé, não faltando oportunidade para que pudessem crescer no conhecimento do evangelho e na fé em Cristo. Epafras é descrito por Paulo como um ministro que não media esforços no aperfeiçoamento dos cristãos de sua igreja. Epafras ensinava com simplicidade, explicava as doutrinas fundamentais da fé cristã, mas ensinava com dedicação, como todos os pastores fiéis que “se afa‑ digam na palavra e no ensino” (1Tm 5.17). Epafras não era do tipo que “tem mania por questões e contendas de palavras” (1Tm 6.4), mas ocupava-se tão somente em fazer a palavra de Cristo, o evangelho, habitar ricamente na sua igreja (3.16). Paulo o elogia, por haver instruído bem a sua igreja: “segundo fostes instruídos por Epafras” (Cl 1.7), “tal como fostes instruídos” (Cl 2.7). O Apóstolo recomenda que, na ausência de Epafras, a igreja não deixe de estudar e de crescer no conhecimento da palavra de Cristo: “Ora, como recebestes Cristo Jesus, o Senhor, assim andai nele, nele radicados, e edificados, e confirmados na fé, tal como fostes instruídos, crescendo em ações de graças” (Cl 2.6-7). Paulo orienta a igreja em Colossos a não abandonar o ensino público da palavra iniciado por Epafras: “Ha‑ bite, ricamente, em vós a palavra de Cristo, instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria” (Cl 3.16). A Arquipo, substituto temporário ou sucessor 52 | RT | Outubro e Novembro, 2011
de Epafras, Paulo recomenda que seja igualmente fiel e dedicado ao ministério da pregação e do ensino da palavra de Deus: “atenta para o ministério que recebestes no Senhor, para o cumprires” (Cl 4.17). Arquipo deveria continuar a obra iniciada por Epafras e não permitir que, na igreja fosse ensinada outra doutrina senão o “evangelho de Cristo” (1Tm 1.3; Gl 1.7). A igreja de Colossos estava sendo tentada a deixar o simples evangelho do amor Deus revelado em seu Filho Jesus Cristo, considerado uma doutrina comum por alguns, os quais se consideravam mestres a si mesmos e queriam ensinar doutrinas superiores ao evangelho pregado por Epafras. Diziam que queriam conduzir os cristãos, em Colossos, a conhecimentos secretos e espiritualmente mais elevados. Paulo refuta tais argumentos, afirmando que em Cristo “estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência” (Cl 2.2-3). A confirmação na fé (Cl 2.7), a plenitude do conhecimento (Cl 1.9) e a perfeição da convicção (Cl 4.12) não vêm de especulações sobre mistérios ocultos (“raciocínios fala‑ zes” — Cl 2.4; “filosofia e vãs sutilezas” — Cl 2.8; ou “visões” — Cl 2.18), mas do estudo do evangelho de Cristo publicamente ensinado na igreja. Não são os anjos nem outros seres celestiais (os quais, segundo a cosmologia religiosa da época, teriam em suas mãos o governo dos astros) os que revelam os mistérios de Deus à igreja, mas a igreja que revela os mistérios de Deus ao mundo terreno e ao mundo celestial (Ef 3.10). A igreja, pela pregação pública do evangelho de Cristo, e pelo testemunho de uma vida em comunhão e amor, é que revela os mistérios de Deus, a saber, que Deus, em Cristo, reconcilia consigo os homens (2Co 5.19). Em Cristo, estranhos se encontram e inimigos se reconciliam, tornando-se irmãos e membros da família de Deus (Ef 2.14,19). A igreja, diz Paulo, é a portadora do evangelho de Cristo, que revela ao mundo o mistério do amor do Pai Celestial pela humanidade perdida e condenada: “o mistério que
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itude do s mistérios de Deus
uros da sabedoria e da ciência” (Colossenses 2.2-3) estivera oculto dos séculos e das gerações; agora, todavia, se manifestou aos seus santos; os quais Deus quis dar a conhecer qual seja a riqueza da glória deste mistério entre os gentios, isto é, Cristo em vós, a esperança da glória; o qual nós anunciamos, advertindo a todo homem e ensi‑ nando a todo homem em toda a sabedoria, a fim de que apresentemos todo homem perfeito em Cristo” (Cl 1.2728; Ef 3.9-10). O evangelho não é segredo reservado para alguns poucos, mas é a boa notícia da salvação para todos. A igreja ensina a todos (a “todo homem”) toda a palavra de Cristo (“toda a sabedoria”) para aperfeiçoamento de todos (de “todo homem”). Paulo declara que trabalha, esforça-se e afadiga-se para que o evangelho seja, “o mais possível” conhecido por todos (Cl 1.29) “o evange‑ lho que ouvistes e que foi pregado a toda criatura debaixo do céu” (Cl 1.23). O evangelho que Epafras ensinou em Colossos foi o mesmo que Jesus enviou os apóstolos a pregar: “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura” (Mc 16.15). Cristo é a plenitude da revelação de Deus ao mundo. A palavra de Cristo é rica, plena e abundante. Em Cristo e em sua palavra, ensinada e pregada publicamente na igreja por ministros fiéis, somos aperfeiçoados (Cl 1.28; 2.10; 4.12), porque a fé vem pelo ouvir da palavra de Cristo. Pois a “palavra de Cristo” é, ao mesmo tempo, palavra revelada por Cristo e palavra que revela a Cristo (Rm 10.10). Os que ouvem e recebem a palavra de Cristo pregada pela igreja e na igreja, e que a recebem como palavra de Deus e não como palavra de homens (1Ts 2.13), estes não têm necessidade de ir em busca de doutrinas ocultas. Os que abandonam a simplicidade do evangelho ou das boas novas de Deus (1Ts 2.2), enredam-se com doutrinas humanas, levados pelo engano de Satanás que, desde o princípio, busca afastar os homens das A igreja de Colossos estava sendo tentada a deixar o simples evangelho do amor Deus revelado em seu Filho Jesus Cristo, considerado uma
doutrina comum por alguns, os quais se consideravam mestres a si mesmos e queriam ensinar doutrinas superiores ao evangelho pregado por Epafras. Diziam que queriam conduzir os cristãos, em Colossos, a conhecimentos secretos e espiritualmente mais elevados. Paulo refuta tais argumentos, afirmando que em Cristo “estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência” (Cl 2.2-3). A confirmação na fé (Cl 2.7), a plenitude do conhecimento (Cl 1.9) e a perfeição da convicção (Cl 4.12) não vêm de especulações sobre mistérios ocultos (“raciocínios falazes” — Cl 2.4; “filosofia e vãs sutilezas”
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Fé Cristã
— Cl 2.8; ou “visões” — Cl 2.18), mas do estudo do evangelho de Cristo publicamente ensinado na igreja. Não são os anjos nem outros seres celestiais (os quais, segundo a cosmologia religiosa da época, teriam em suas mãos o governo dos astros) os que revelam os mistérios de Deus à igreja, mas a igreja que revela os mistérios de Deus ao mundo terreno e ao mundo celestial (Ef 3.10). A igreja, pela pregação pública do evangelho de Cristo, e pelo testemunho de uma vida em comunhão e amor, é que revela os mistérios de Deus, a saber, que Deus, em Cristo, reconcilia consigo os homens (2Co 5.19). Em Cristo, estranhos se encon-
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tram e inimigos se reconciliam, tornando-se irmãos e membros da família de Deus (Ef 2.14,19). A igreja, diz Paulo, é a portadora do evangelho de Cristo, que revela ao mundo o mistério do amor do Pai Celestial pela humanidade perdida e condenada: “o mistério que estivera oculto dos séculos e das gerações; agora, todavia, se manifestou aos seus santos; os quais Deus quis dar a co‑ nhecer qual seja a riqueza da glória deste mistério entre os gentios, isto é, Cristo em vós, a esperança da glória; o qual nós anunciamos, advertindo a todo homem e ensi‑ nando a todo homem em toda a sabedoria, a fim de que apresentemos todo homem perfeito em Cristo” (Cl 1.2728; Ef 3.9-10). O evangelho não é segredo reservado para alguns poucos, mas é a boa notícia da salvação para todos. A igreja ensina a todos (a “todo homem”) toda a palavra de Cristo (“toda a sabedoria”) para aperfeiçoamento de todos (de “todo homem”). Paulo declara que trabalha, esforça-se e afadiga-se para que o evangelho seja, “o mais possível” conhecido por todos (Cl 1.29) “o evangelho que ouvistes e que foi prega‑ do a toda criatura debaixo do céu” (Cl 1.23). O evangelho que Epafras ensinou em Colossos foi o mesmo que Jesus enviou os apóstolos a pregar: “Ide por todo o mundo e pregai o evan‑ gelho a toda criatura” (Mc 16.15). Cristo é a plenitude da revelação de Deus ao mundo. A palavra de Cristo é rica, plena e abundante. Em Cristo e em sua palavra, ensinada e pregada publicamente na igreja por ministros fiéis, somos aperfeiçoados (Cl 1.28; 2.10; 4.12), porque a fé vem pelo ouvir da palavra de Cristo. Pois a “palavra de Cristo” é, ao mesmo tempo, palavra revelada por Cristo e palavra que revela a Cristo (Rm 10.10). Os que ouvem e recebem a palavra de Cristo pregada pela igreja e na igreja, e que a recebem como palavra de Deus e não como palavra de homens (1Ts 2.13), estes não têm necessidade de ir em busca de doutrinas ocultas. Os que abandonam a simplicidade do evangelho ou das boas novas de Deus (1Ts 2.2), enredam-se com doutrinas
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humanas, levados pelo engano de Satanás que, desde o princípio, busca afastar os homens das palavras claras de Deus. Doutrinas confusas e que confundem, mas que atraem por se apresentarem como conhecimento superior, supostamente revelado a poucos. Nada é mais contrário ao evangelho do que a especulação de mistérios e de doutrinas ocultas. Pois o evangelho é a revelação do maior de todos os mistérios, “oculto dos séculos” (isto é, dos anjos e poderes celestiais) e “das gerações” (isto é, dos gentios e das religiões pagãs). O evangelho é o mistério revelado, a saber, que Deus nos oferece, em Cristo, a reconciliação (“havendo feito a paz pelo sangue da sua cruz” — Cl 1.20). Esse mistério foi revelado publicamente na cruz, contra a vontade dos governos celestiais (diríamos hoje, contra a passagem inexorável do tempo), os quais zelavam pela observância do calendário religioso ou das luas novas que regulavam o cumprimento das cerimônias da lei mosaica. Tais guardiões da lei eram também guardiões da ira, e aguardavam a chegada do dia da ira de Deus sobre os pagãos. Mas, antes ou em lugar da ira, veio a graça: “publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz” (Cl 2.15). Os “rudimentos do mundo” (astros celestiais) regulavam a passagem do tempo e eram aliados da lei, porque o cumprimento da lei requeria a observância de um calendário com anos, meses, semanas, dias e horas do dia definidos para o cumprimento adequado da lei. Por causa desta conexão íntima entre lei, calendário da lei e movimento dos astros que Paulo pode afirmar: “A ira de Deus se revela do céu contra toda a impiedade e perversão dos homens” (Rm 1.18), porque as consciências humanas, sob a lei, estão cativas ao calendário que é definido pelo movimento inexorável dos astros, pela passagem inexorável do tempo até que a palavra da ira se cumpra: “certamente morrerás” (Gn 2.17). O mistério de Deus não é a sua ira, mas o seu amor. O plano de Deus não era destruir a humanidade, mas redimi-la. Jesus Cristo revelou ao mundo, com seu evangelho e com sua vida, mas especialmente com sua morte na cruz, que o mistério de Deus é o seu infinito amor. Deus é amor, e em Cristo revelou-se Deus em sua plenitude: “Nisto conhecemos o amor, que Cristo deu a sua vida por nós” (1Jo 3.16). Paulo escreve que conhecemos o amor porque, quando justificados pela fé em Cristo, “o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo” (Rm 5.5). Em Cristo, encontramos a plenitude do divino e a plenitude do humano, o en-
contro reconciliador de Deus e da humanidade: “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo” (2Co 5.19). Em Cristo, habita “toda a plenitude da Divinda‑ de” (Cl 1.19; 2.9; Ef 1.23). A plenitude de Deus é o amor, não a ira. O mistério de Deus irrompe no tempo, vindo da eternidade. A revelação de Deus abre a cortina dos céus, descortina o palco da lei e da ira, e revela o mistério oculto do amor de Deus pelos pecadores. A pregação pública do evangelho é clara e simples: Deus nos ama e nos oferece, em Jesus Cristo, não apenas prova de seu amor, mas também perdão e reconciliação. A cruz de Cristo é o triunfo do amor de Deus, a derrota de “todo principado, e potestade, e poder, e domí‑ nio, e de todo nome que se possa referir não só no presente século, mas também no vindouro” (Ef 1.21). A vitória do amor de Deus liberta os que ouvem e creem no evangelho do cativeiro em que viviam, submetidos aos poderes que governam o mundo e a vida humana. O evangelho de Cristo é espiritualmente libertador, porque quebra as cadeias da inimizade e da morte: “Em todas as coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou. Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra cria‑ tura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8.37-39). O evangelho não revela o destino de uma pessoa — como supostamente os astros revelariam. O evangelho é o anúncio libertador de que o amor de Deus, plenamente revelado na cruz de Cristo, governa todas as coisas. Paulo escreve: “Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sen‑ do nós ainda pecadores. Logo, muito mais, agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira. Porque, se nós, quando inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte do seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida; e não ape‑ nas isto, mas também nos gloriamos em Deus por nosso Senhor Jesus Cristo, por intermédio de quem recebemos, agora, a reconciliação” (Rm 5.9). O evangelho liberta a pessoa humana porque reconcilia com Deus. Libertados da ira de Deus, pela reconciliação com Deus, estão libertados também de tudo o que só tinha poder sobre a humanidade por conta da ira divina, como, por exemplo, o poder que principados e potestades teriam, como guardiões cósmicos da execução da lei divina, pela qual os pecadores estavam condenados à eterna separação Outubro e Novembro, 2011 | RT | 55
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de Deus. O evangelho, portanto, não revela o destino da pessoa, mas revela que o amor de Deus é maior do que as fatalidades do destino, maior do que a vida ou a morte, maior do que as privações da vida presente, maior do que as os tormentos do inferno, maior do que os sistemas religiosos construídos pelos homens, maior do que qualquer doutrina secreta supostamente revelada por anjos. A crucificação pública de Jesus é revelação única do mistério de Deus. Nenhuma visão ou revelação de anjo, nenhuma doutrina secreta ou esotérica, transmitida em sociedades fechadas, como alegavam os falsos mestres, pode superar ou contradizer o evangelho publicamente revelado na cruz. Todas as doutrinas ocultas, por mais que remotas no tempo que fossem, estão superadas pelo evangelho e pela cruz de Cristo, que revelou o maior de todos os mistérios, o mistério do amor de Deus e de seu propósito reconciliador para com a humanidade. A pregação do evangelho é o anúncio público da cruz de Cristo como triunfo do amor de Deus — que perdoa, reconcilia e ajunta, sobre o pecado — que gera inimizade, afasta e separa. O evangelho é o anúncio da cruz: “Eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não o fiz com ostentação de lingua‑ gem ou de sabedoria. Porque decidir nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado” (1Co 2.1-2). O anúncio do evangelho se faz com simplicidade, porque a verdade de Deus não é palavra de engano, mas palavra de libertação: “A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder” (1Co 2.4). A pregação do evangelho não é ensinada em oculto ou em segredo — a não ser em tempos de perseguição!, mas é a proclamação pública do mistério que de outra forma seria impenetrável, o mistério de que Deus o propósito último da Lei não era trazer separação mas reconciliação, de modo que, diz Paulo: “se o nosso evangelho ainda está encoberto, é para os que se perdem que está encoberto, nos quais o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evan‑ gelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus” (2 Co 4.4). O evangelho é pregação pública, encoberta apenas para aqueles que, rejeitando o evangelho, permanecem presos na incredulidade. A pregação do evangelho é pública e não oculta, porque é “palavra da reconciliação” (2Co 5.19). A palavra da cruz reconcilia com Deus todos os que a ouvem e a recebem com fé, porque é palavra amorosa: “Deus 56 | RT | Outubro e Novembro, 2011
estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não im‑ putando aos homens as suas transgressões” (2Co 5.19). Em Cristo, há reconciliação. Reconciliação com Deus e reconciliação entre os homens. A cruz remove o que antes separava a humanidade de Deus, e também o que separava os homens dos outros (o que separava as pessoas uma das outras). Gênesis, do capítulo 3 até o 11, apresenta a humanidade em sua separação de Deus e dividida pela inimizade. De um lado, Abraão (Israel), de outro, as nações (gentios). Os filhos de Abraão foram submetidos ao calendário da lei de Moisés, marcado pelo movimento dos astros e pelas estações do ano, em que era preciso guardar “dias, e meses, e tempos, e anos” (Gl 4.10), “ou dia de festa, ou lua nova, ou sábado” (Cl 2.16). As nações foram entregues ao “culto da milícia celestial” (At 7.42) ou ao culto dos fenômenos da natureza — “os rudimentos do mundo” (Gl 4.3), e serviram “a deuses que, por natureza, não o são” (Gl 4.8), “adorando e servindo à criatura em lugar do Criador” (Rm 1.25). Em comum, ainda permaneciam, todos, sob o governo dos “rudimentos do mundo” ou “dos séculos” ou dos anjos guardiões do movimento dos astros e das estações do ano (tronos, principados, potestades). O confronto entre os dois sistemas religiosos, entre a idolatria pagã e o monoteísmo hebreu, deu-se em toda a história do Antigo Testamento. Depois do exílio babilônico, os judeus enfrentaram o domínio grego ou a helenização, que buscava identificar o Deus de Abraão com divindades da mitologia pagã. Intensificou-se, nesse período, a inimizade (ódio) entre judeus e gregos, a tal ponto de que, no vocabulário de Paulo, “o judeu” e “o grego”
Fé Cristã
aparecem como tipos historicamente antagônicos e irreconciliáveis, mas que, em Cristo, tornam-se “irmãos”, pelo poder do evangelho. A cruz de Cristo destrona principados e potestades (Cl 2.15), porque estes estavam à serviço da inimizade (Ef 2.14), separando, pela idolatria e pela observância da lei, a que estavam presos os homens, “o judeu” e o “o grego”. A cruz de Cristo remove o pecado e reconcilia com Deus: “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus, por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo...” (Rm 5.1). O plural, “temos” é inclusivo, e o “nós” é formado por dois: “o judeu” e “o grego” (Rm 1.16; Cf. Ef 2.14,15), aos quais Paulo recomenda, no final da carta, “acolhei‑ -vos uns aos outros, como Cristo também nos acolheu para a glória de Deus” (Rm 15.7). O evangelho é o poder de Deus para a salvação comum de todo aquele que crê, o poder de Deus que reconcilia “o judeu” e “o grego” (Rm 1.16), em uma mesma família (Ef 2.11-19). O evangelho não é doutrina que separa, mas “palavra da reconci‑ liação” (2Co 5.19). A reconciliação, na igreja de Cristo, dos filhos de Abraão e das nações, do judeu e do grego, como fruto da reconciliação com Deus, é “o mistério de Cristo” (Ef 3.4). A reconciliação dos homens, em Cristo, é elemento fundamental da pregação do evangelho. O evangelho de Cristo não promove a inimizade, mas a reconciliação. O imperativo ético decorrente da palavra da reconciliação com Deus é o mandamento ou lei de Cristo: “amai-vos uns aos outros assim como eu vos amei” (...). Os que, contudo, promovem doutrinas secretas, buscam restabelecer a divisão e semeiam a inimizade. Doutrinas secretas ou revelações ocultas não trazem
nada de novo, apenas a velha divisão, o antigo orgulho, restabelecendo a separação não só entre os cristãos, mas entre a pessoa humana e Deus. No mesmo instante ou momento em que se estabelece “outro evangelho”, especialmente um evangelho secreto, acessível somente a poucos, abandona-se a “graça de Cristo” e se volta à submissão servil aos “rudimentos do mundo” (Gl 1.6-7; 4.3). Pensando em subir a um patamar mais elevado de conhecimento ou de espiritualidade, distanciando-se dos cristãos simples, os quais se apegam à simplicidade do evangelho, tais pessoas desligam-se de Cristo e caem da graça (Gl 5.4). Abandonam o “mistério de Cristo”, revelado no evangelho, e que é “palavra da reconcilia‑ ção”, para enredarem-se em “filosofia e vãs sutilezas” (Cl 2.8). Em busca de “plenitude”, abandonam aquele em quem “habita, corporalmente, toda a plenitude da Di‑ vindade” e que é “o cabeça [= senhor] de todo principado e potestade” (Cl 2.9-10). Na fé em Cristo está o conhecimento pleno e a compreensão plena do “mistério de Deus, Cristo, em quem todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento estão ocultos” (Cl 2.2-3). Na fé em Cristo, alcançamos a plenitude do Espírito (...). A “bênção” prometida a Abraão e, por meio dele, a todas as famílias da terra, não é alcançada por obras da lei nem por especulação religiosa, mas é derramada sobre os que creem no evangelho de Cristo. Recebemos “a bênção de Abraão” ou “o Espírito prometido” (Gl 3.14) não quando nos submetemos aos “rudimentos do mun‑ do” (Gl 4.3; Cl 2.8), mas quando ouvimos “a pregação da fé” (Gl 3.2). A obediência ao evangelho é “por fé” (Rm 1.5; 10.16): “a fé vem pela pregação, e a pregação pela palavra de Cristo” (Rm 10.17). O poder de Deus, revelado no evangelho, é a fé comum do judeu e do grego, que une ambos em um só corpo e família (Rm 5.1; Gl 4.6; Ef 2.11-19). A invocação da fé “Senhor Jesus” vem do Espírito Santo (1Co 12.3), porque para confessar verdadeiramente a “Jesus como Senhor” com a boca é preciso, antes, “crer”, no coração, “que Deus o ressusci‑ tou dos mortos” (Rm 10.9). Os que confessam a Cristo como Senhor estão unidos na mesma fé e experimentam “a unidade do Espírito no vínculo da paz” (Ef 4.3). E, na fé simples, no evangelho publicamente pregado e ensinado na igreja, são “tomados de toda a plenitude de Deus” (Ef 3.19). Tal plenitude não vem de especulações secretas nem de doutrinas ocultas, mas da habitação de Cristo, ou da palavra de Cristo, nos corações (Ef 3.17; Cl 3.16). O Espírito Santo não está longe, que precise ser buscado em segredo, mas está perto, na palavra Outubro e Novembro, 2011 | RT | 57
Fé Cristã
de Cristo pregada na igreja cristã: “a palavra da fé que pregamos” (Rm 10.8). A plenitude ou derramamento do Espírito Santo não é dada aos que, desviando-se do evangelho simples, buscam doutrinas estranhas, mas àqueles que ouvem a pregação pública do evangelho, como no Pentecoste: “Ao cumprir-se o dia de Pentecos‑ tes, estavam todos reunidos no mesmo lugar... Todos fi‑ caram cheios do Espírito Santo” (At 2.1,4). A plenitude do Espírito não é dada aos que se afastam da palavra de Deus, mas aos que nela permanecem, e com ela, lutam contra todo engano ou mentira: “Tomai também o ca‑ pacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus” (Ef 6.17). Os pregadores ou mestres de doutrinas secretas que afastavam os cristãos do evangelho para doutrinas humanas são, portanto, “inimigos da cruz de Cristo” (Fp 3.18). Pela cruz, pelo evangelho e pelo batismo, Deus nos “libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor, no qual temos a re‑ denção, a remissão dos pecados” (Cl 1.13-14), para que sejamos “santos na luz” (Cl 1.12). Se alguém despreza o evangelho de Cristo em busca do conhecimento de mistérios ocultos, volta a submeter-se ao “império das trevas”, coloca-se novamente sob o domínio dos “prin‑ cipados e potestades”, publicamente denunciadas e vencidas pela cruz de Cristo (Cl 2.15). Quem o faz abandona a fé em Cristo, deixando de ser membro do corpo de Cristo, a igreja (Cl 2.19). Afasta-se da esperança do evangelho, da herança reservada aos crentes em Cristo e desvincula-se do amor de Deus. Quem abandona a palavra de Cristo para seguir “vãs sutilezas” (Cl 2.8), volta ao caminho dos gentios. Ao invés de andar em Cristo, por ele iluminado, passa a andar em trevas. Cristãos são pessoas radicadas (= enraizadas) em Cristo, edificadas em Cristo e confirmadas na fé, em Cristo (Cl 2.7). Este são vínculos muito fortes, que não podem coexistir com a submissão servil aos “rudimentos do mundo” (Gl 4.3). A redenção ou remissão dos pecados reconcilia com Deus, o qual recebe os pecadores como o pai misericordioso, na parábola de Jesus, recebeu seu filho arrependido: “Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão” (Gl 5.1; Cf. Lc 15.11-32). A verdadeira plenitude ou riqueza espiritual não está em sondar mistérios e doutrinas ocultas (Cl 2.8,18) que afastam e separam de Cristo todos os que por elas se deixam enganar e enredar (Cl 2.8,19; 1.23,29). O caminho da plenitude está em firmar-se cada vez mais 58 | RT | Outubro e Novembro, 2011
na fé em Cristo (Cl 2.5), pela instrução na palavra de Cristo (Cl 1.7; 2.7; 3.16) até o ponto de “transbordar de pleno conhecimento da vontade de Deus, em toda a sabedoria e entedimento espiritual a fim de viver de modo digno do Senhor, para o seu inteiro agrado, frutificando em toda boa obra e crescendo no pleno conhecimento de Deus” (Cl 1.910). O evangelho é uma palavra simples, anunciada de forma simples, por pessoas simples. Contudo, somente no evangelho encontramos a Cristo, “em quem todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento estão ocultos” (Cl 2.3), em quem “habita, corporalmente, a plenitude da Divindade” (Cl 2.9), e que é “a imagem do Deus invisível” (Cl 1.15). Em Cristo, estamos envoltos nós mesmos, os que cremos: “a vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus. Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então, vós também sereis manifestados com ele, em glória” (Cl 3.4). A pregação do evangelho, que é o anúncio da salvação pela fé em Cristo, é a revelação do maior de todos os mistérios, a saber, o mistério do amor e da graça de Deus que enviou seu Filho ao mundo para salvar os pecadores. Não existe outro caminho, seja de revelações de anjos ou de observância de dias ou de alimentos, que possa nos tornar perfeitos diante de Deus, pois nossa perfeição está unicamente em Cristo. A perfeição em Cristo não precisa ser buscada em doutrinas secretas nem em práticas rigorosas, pois ela é dada gratuitamente na pregação do evangelho, na palavra pregada e ensinada pelos pastores nas igrejas: “desde o dia em que ouvistes e entendestes a graça de Deus na verdade; segundo fostes instruídos por Epafras... que é dentre vós, servo de Cristo Jesus” (Cl 1.7; 4.12). O evangelho não precisa ser revelado de novo — nem por anjos nem por pregadores iluminados, que se baseiam em novas visões e revelações de anjos. O evangelho de Cristo é palavra da reconciliação, repetida pela boca de pastores e mestres fiéis, em suas congregações, os quais, a exemplo de Paulo e de Epafras, se afadigam no ensino da palavra da verdade (Cl 1.29; Cf. 1Tm 5.17). Não existe mistério maior do que o revelado em Cristo. Não há conhecimento que nos aproxime mais de Deus do que a palavra da reconciliação, que é o evangelho de Cristo. Na simplicidade da fé em Cristo temos conhecimento pleno dos mistérios de Deus: não estamos órfãos neste mundo tenebroso, mas temos um Pai que nos ama e em quem podemos colocar toda nossa confiança como filhos amados e herdeiros da luz. Rev. Luisivan Vellar Strelow — pastor da Igreja Evangélica Luteana do Brasil
Rev. Fernando E. Graffunder
Artigo
Advento — Vinda N
esta semana enquanto o Fantástico abordou o tema do casamento, na perspectiva do divórcio partindo de um projeto polêmico mexicano, onde a taxa de separações é de 50%. A Revista Época sob o título o seu, o meu e o nosso, tratou da importância de casais planejarem juntos a curto, médio e longo prazo, uma ótima maneira de reduzirem as tensões e tornarem o futuro mais seguro, também pelas finanças. Boas notícias são raridade. A cada novo dia vivemos na expectativa de que agora vai mudar. A chegada de um novo ano enche as pessoas de esperanças. Mas, pela incerteza do futuro também é incerto aquilo que se espera. Para a igreja cristã está iniciando o novo ano com o primeiro Domingo no Advento. O que os cristãos esperam é a boa notícia de sempre: a vinda de Cristo. Num primeiro momento é lembrada a vinda de Cristo em sua natureza humana como o menino de Belém (Natal). Quando Deus enviou um anjo para falar com José, este lhe disse: “José, descendente de Davi, não tenha medo de receber Maria como sua esposa, pois ela está grávida pelo Espírito Santo. Ela terá um menino, e você porá nele o nome de Jesus, pois ele salvará o seu povo dos pecados deles.” (Mateus 1.20-21). Esta deveria ser a grande expectativa do povo de Deus no Antigo Testamento: o perdão dos pecados pela morte de Jesus na cruz. No entanto, não era. Tanto é que ficaram frustrados quando
viram que o Messias prometido não tinha um grande exército e nem era um grande rei. O primeiro advento de Cristo foi ignorado ou não aceito pela maioria do seu próprio povo. Assim, continuavam a esperar por notícias melhores e com o futuro incerto. Hoje, a igreja cristã continua anunciando a vinda de Cristo com ênfase pela segunda vez. Pela Palavra (Bíblia) e Sacramentos (Batismo e Santa Ceia) ele vem diariamente a nós. A grande expectativa está pela sua vinda no fim dos tempos. Ele virá para julgar o mundo. “Quando o Filho do Homem (Jesus) vier como Rei, com todos os anjos, ele se sentará no seu trono real. Todos os povos da terra se reunirão diante dele, e ele separará as pessoas umas das outras, assim como o pastor separa as ovelhas das cabras.” (Mateus 25.31-32). Nós, os cristãos, aguardamos a segunda vinda de Cristo com alegria. Enquanto ele não chega, também vivemos na esperança de dias melhores. Mas, se estes não vierem, não ficaremos frustrados. A boa notícia está no anúncio do perdão dos pecados. E, o que mais aguardamos está por vir. Em breve ouviremos do Senhor Jesus: “Venham e recebam o Reino que o meu Pai preparou para vocês desde a criação do mundo.” (Mateus 25.34). Pela certeza do futuro é real e certo aquilo que esperamos. Feliz e abençoado Advento e Natal a todos. Rev. Fernando Emílio Graffunder é pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil em Pelotas-RS
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Estiagem pré-natalina Artigo
P
or conta do fenômeno La Ninã, a previsão para os próximos dias é de pouca chuva no Rio Grande do Sul, reduzindo ainda mais o nível dos rios e aumentando a estiagem. Vai ser um pré Natal quente e árido. Mas o clima de deserto pode nos ajudar na proposta deste período litúrgico da igreja. Até porque o Salmo 126 para este 2º Domingo no Advento diz: “Ó Senhor, faze com que prosperemos de novo, assim como a chuva enche de novo o leito seco dos rios”. E o texto do Evangelho narra: “Alguém está gritando no deserto: Preparem o caminho para o Senhor passar” (Marcos 1.3). Não foi por nada que João Batista anunciou o arrependimento no deserto, lugar onde o milagre da vida é percebido nítida e contundentemente. Neste lugar ermo, os leitos secos dos rios transbordam anualmente com as chuvas sazonais, e acontece uma transformação radical da paisagem, do seco para o verde, da morte para a vida. Teimosamente, a gente só dá valor à água quando fica com a torneira seca. Enquanto a tem, desperdiça, joga fora, usa e nem percebe a preciosidade de possuí-la em abundância. Mas quan-
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Rev. Marcos Schmidt
do falta, reclama, chora, grita. É assim com tudo, também com o amor de Deus. Por isto a lição do deserto, da secura, da adversidade. É para não esquecer, banalizar, usar em vão. Aliás, penso que o uso indevido da água reflete muito bem o nosso caráter inadequado com a misericórdia divina. Assim como menosprezamos os avisos dos ambientalistas quanto às reservas naturais da água que se esgotam pelo nosso jeito estúpido, igualmente com respeito ao recado do último profeta bíblico: Arrependam-se dos seus pecados e Deus perdoará vocês (1.4). Creio que este é o recado da seca! Podemos aproveitar a escassez de chuva e meditar com mais seriedade neste período pré-natalino. Pois aquele que nasceu nas terras áridas de Belém, convidou: “Se alguém tem sede, venha a mim e beba” (João 7.37). Ele também disse lá da montanha: Bem aventurados os que têm sede de fazer a vontade de Deus porque ele os deixará completamente satisfeitos. Rev. Marcos Schmidt é pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil em Novo Hamburgo-RS
Vamos discutir o assunto
Rev. Marcos Schmidt
Artigo
“A
ção de graças” no idioma original do Novo Testamento é eucaristia, de duas palavras gregas: “eu” — bom, correto, apropriado, e “charis” — graça, alegria. A Santa Ceia é chamada de Eucaristia, pois Jesus, ao pegar o pão e o cálice, deu graças a Deus (Marcos 14.22). Importante dizer que este termo na Bíblia sempre se aplica a Deus, nunca a pessoas. Por um fato importante: ação de graças é adoração. Neste sentido, o apóstolo Paulo enfatiza nas suas epístolas: “deem graças em nome do nosso Senhor Jesus Cristo”. Diz isto, porque segundo a fé cristã ninguém pode agradecer a Deus sem a intervenção de Jesus, ninguém pode adorar o Criador sem a intermediação daquele que disse: — Eu sou o caminho, ninguém vem ao Pai senão por mim. Por outro, levantar as mãos aos céus e dizer “muito obrigado” é uma atitude que necessariamente respinga no próximo. Cristo mesmo ressaltou: o que vocês fazem aos outros é a mim que fazem (Mateus 25.40). Por isto a reclamação divina: — Não adianta nada me trazerem ofertas; eu odeio as suas festas religiosas, pois os pecados de vocês estragam tudo (Isaías 1.13). O grande pecado deles era a falta de amor ao semelhante. “Aprendam a fazer o que é bom”, orienta o Senhor. “Tratem os outros com justiça, socorram os que são explorados, defendam os direitos dos órfãos e protejam as viúvas” (1.17). Os tempos não mudaram. E se hoje as igrejas estão lotadas, é para pedir prosperidade, buscar bênçãos, solucionar problemas. Poucas vezes para agradecer. Quando surgem tragédias, dificuldades, então Deus é invocado: “Como permites isto?”. Não é de estranhar a falta de amor ao próximo, violência, corrupção, injustiças, desentendimentos e tudo o que acontece nesta sociedade. A ação de graças ficou apenas no calendário e não no coração. Por isto a atualidade das palavras: “Quando vocês levantarem as mãos para orar, eu não olharei para vocês (...) Lavem-se e purifiquem-se” (Isaías 1.15,16). Oportuno, portanto, que o Dia de Ação de Graças é pertinho do Advento — tempo que Deus convida: “Venham cá, vamos discutir este assunto” (Isaías 1.18). Rev. Marcos Schmidt é pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil em Novo Hamburgo-RS
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Rev. Leandro Daniel Hübner
Artigo
Liberdade! Liberdade L iberdade! Liberdade! Abre as asas sobre nós! Das lutas na tempestade dá que ouçamos tua voz! Este é o refrão do Hino da Proclamação da República, data comemorada no dia 15 de Novembro em nosso querido Brasil. Ele venceu um concurso, em 1890, para ser o novo hino nacional, mas acabou ficando como hino da república. Uma definição diz que “a República (do latim res publica, “coisa pública”) é uma forma de governo na qual o chefe do Estado é eleito pelos cidadãos ou seus representantes, tendo a sua chefia uma duração limitada. A eleição do chefe de Estado, por regra chamado presidente da república, é normalmente realizada através do voto livre e secreto. Dependendo do sistema de governo, o presidente da república pode ou não acumular o poder executivo.” Tem sua origem na Roma antiga, onde primeiro surgiram instituições como o senado. No Brasil, após a independência de Portugal, proclamada em 1822, chegou em 1889, (até então o Brasil era o único Império existente na América inteira). Com a República implantou-se o federalismo, o sistema presidencialista, a independência dos poderes, bem como a separação entre Estado e Igreja, entre outras mudanças importantes no país. Hoje os versos deste hino (de melodia muito bonita, a meu ver) ainda tem muito a nos dizer. Frases como “somos todos iguais”, “mensageiros de paz, paz queremos” retratam bem anseios que os brasileiros cada vez mais manifestam nas ruas, na imprensa e na sociedade em geral: que de fato sejamos todos iguais e não alguns “mais iguais que os outros”, que de fato haja paz — paz nas ruas, nos bairros pobres e ricos, paz nas estradas, nas escolas e estádios, enfim, paz de fato e não apenas em propagandas de TV e em cartazes das passeatas. Este também é o desejo de Deus: Procurai a paz da cidade... Eu é que sei que pensamentos
tenho a vosso respeito, diz o SENHOR; pensamentos de paz e não de mal (Jeremias 29.7,11). Mas a paz de Deus vai além da paz humana, que, sabemos, é tão frágil. É uma paz duradoura, que muda o ser humano por dentro, porque é paz com Deus, que leva a ter paz verdadeira com o próximo, como diz o apóstolo: Agora que fomos aceitos por Deus pela nossa fé nele, temos paz com ele por meio do nosso Senhor Jesus Cristo (Romanos 5.1). Liberdade, liberdade! É o que todos nós brasileiros desejamos. A liberdade e paz que Deus oferece e dá através de Cristo nos torna livres do pecado e morte eterna, nos faz ser cidadãos dos céus e melhores cidadãos brasileiros. Por isso, podemos concluir com outra frase do Hino da República: “Seja o nosso País triunfante, livre terra de livres irmãos!” Deus quer abrir as asas da Liberdade sobre todos os brasileiros. Quer nos tornar livres em Cristo, para uma vida melhor aqui, em nosso amado Brasil, e na pátria celeste, triunfante, onde Ele reinará sobre nós com amor, onde não haverá mais choro, tristeza, decepão ou dor, mas verdadeira paz e liberdade!
Rev. Leandro Daniel Hübner — Rio Branco-AC, pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil. Outubro e Novembro, 2011 | RT | 63
Rev. Mário Rafael Yudi Fukue
Deslisalmentos d Antigo Testamento
Análise discursiva do Livro de Jó: contato entre teologia e linguística (análise do discurso) Introdução Preparo esta breve reflexão como pastor linguista, não como linguista pastor. Explico-me: neste artigo tomamos como pressupostos bases confessionais luteranas, que por sua natureza não são consideradas estritamente científicas: a inspiração da Bíblia e a justificação pela fé, por exemplo. Assim sendo, este artigo é também um testemunho de fé. No presente artigo, analisaremos o processo de exclusão de sentidos e autenticação de saberes no Discurso Bíblico (DB), representado no livro bíblico de Jó. Como escreve a analista Eni Orlandi, o Discurso Religioso tende à monossemia1, pois é a voz de Deus que fala2. O livro de Jó mostra esse processo de exclusão ao contrapor o discurso de Jó, representante da Teologia da Graça, e o discurso de seus três amigos, representantes da Teologia Retributiva. No Discurso Religioso (DR), visto que o sentido tende à monossemia, as formações discursivas (FD) e formações ideológicas (FI) também tenderam à homogeneidade. Discursos antagônicos são insustentáveis em uma FD religiosa. O processo de exclusão ocorre sempre de forma traumática e só é consolidada por intervenção divina. É o Discurso Divino que filtra sentidos, autentica discursos e estabiliza formações discursivas (FDs). Este artigo foi organizado em duas partes. Primeiro, será feita uma breve descrição isagógica do livro de Jó. Depois, moveremos os pressupostos teóricos da Análise do Discurso para analisar os discurso dos amigos 1 Orlandi classifica os discursos em lúdico, polêmico ou autoritário. Baseia-se em dois critérios para tal classificação: a interação e a polissemia. Enquanto o discurso autoritário tende à monossemia, o lúdico incentiva a polissemia. O discurso polêmico é o meio-termo. (Maiores detalhes em Orlandi, 1996) 2 64 | RT | Outubro e Novembro, 2011
de Jó (representantes da FD Retributiva) e o próprio discurso de Jó.
1. O livro de Jó 1.1. Contexto do livro Os quarenta e dois capítulos de Jó descortinam dois embates: Deus versus Diabo, Jó versus seus amigos. Esses dois embates, na verdade, configuram uma só batalha dentro da Formação Discursiva de Bênçãos: a “Teologia Retributiva” versus “Teologia da Graça”3. Por Teologia Retributiva referimo-nos ao padrão geral da justa retribuição vigente: “Deus castiga os maus e recompensa os justos”. Nesse sentido, todo e qualquer infortúnio era interpretado como castigo de Deus por pecados cometidos. E, consequentemente, a prosperidade material era vista como sinal da aprovação de Deus. Essa é a ideologia que domina o discurso dos três amigos de Jó. Em face ao seu sofrimento, Jó questiona a Teologia Retributiva. Seu discurso é “rebelde” e “heterodoxo” e abre caminho para a Teologia da Graça, que ensina que Deus concede gratuitamente suas bênçãos. Dessa forma, infortúnios não são sinais da ira de Deus. Na história registrada pelo autor do livro, o diabo desafia a Deus acerca da fidelidade de Jó. Para ele, eram as inúmeras bênçãos materiais que mantinham Jó temente a Deus. Deus, em sua onisciência, aceita o desafio e permite que o diabo “toque” os bens, família e saúde de seu servo. 3 Evidentemente o conceito de ‘teologia’ como sistema confessional doutrinário organizado não existia na época de Jó ou da composição do texto. Por isso, ao usarmos o termo ‘teologia’ neste artigo somos culpados de estabelecer um recorte artificial no sistema de doutrinas oficiais e populares vigentes na época da composição do livro.
de sentidos em Jó Antigo Testamento
Em poucos dias Jó, além de perder seus bens e filhos, é acometido por uma doença de pele incrivelmente dolorosa e degenerativa. Em seu infortúnio, três amigos o visitam e, seguindo a ‘Teologia da Retribuição’ vigente na época, procuram persuadir Jó a confessar a Deus algum pecado oculto. Para eles, a doença de Jó é castigo divino por alguma falta cometida. Jó não aceita a explicação e sua indignação faz seu discurso ‘descolar’ da FD Retributiva. Ele nota que muitos justos sofrem e, em contrapartida, muitos injustos gozam de boa vida. Para Jó, Deus abençoa a quem lhe aprouver, independente de méritos pessoais. Assim, as bênçãos não seriam ‘retribuições’ de Deus às obras dos seres humanos, mas produtos diretos de sua graça4. O discurso de Jó faz falar a voz da Teologia da Graça dentro da FD das Bênçãos. O embate entre a FD Retributiva e o discurso transgressor de Jó só é finalizada com a intervenção divina direta. No fim, Deus descredencia a FD Retributiva e o discurso dos amigos e autentica o discurso de Jó. Nessa lógica, o sofrimento de Jó não seria castigo divino por seus pecados, mas teria origem diversa. Entretanto, ao contrário de seus amigos, Jó não possui muitos dados empíricos para fundamentar seu discurso. Ele dispõe somente de sua experiência pessoal. Nesse ponto, o autor do livro registra a entrada do próprio Deus no diálogo. Ele condena os amigos de Jó e faz, dessa forma, cair por terra a Teologia Retributiva. Dessa forma, o discurso de Jó, representante da Teologia da Graça, recebe fundamentação do próprio Deus. O livro de Jó traz importantes lições. A FD Retributiva moldou parte do pensamento ocidental contemporâneo ao pavimentar o caminho para a teologia da glória e a teologia da prosperidade, raízes ideológicas do neopentecostalismo. Muito dos erros do passado
4 Teologicamente, o termo ‘graça’ representa um ‘favor imerecido’, fruto da pura bondade de Deus. Dizer que somos salvos ‘pela graça’ (sola gratia) significa que Deus salva o pecador com base em sua exclusivamente em sua bondade e concede salvação gratuitamente.
(como a justificação da escravidão de negros) e parte do pensamento neoliberal capitalista também encontram raízes nesta FD. A idéia de que alguém ‘é pobre porque não se esforça’ enquadra-se nessa FD, por exemplo. Por isso, questionar a divinização da FD Retributiva é questionar as bases biblio-religiosas da exploração de classes.
1.2. Autoria e data As marcas de antiguidade são claras na prosa do prólogo (1.1-2.13): Não havia sacerdócio nem santuários e a fortuna era medida pelas posses, não por dinheiro. Provavel-
mente, a história se passou na era patriarcal do povo de Israel (cerca de 2000-1500 A.C), quando ainda não havia uma instituição religiosa nacional constituída. O sacerdote era o próprio chefe de família, que oficiava os cultos e sacrifícios. Alguns teólogos exegetas fixam a composição final do livro entre 700 e 600 A.C. Não entraremos nessa discussão, porque o que nos importa é o embate ideológico retratado pelo diálogo de Jó e seus amigos. Da mesma forma, não é possível distinguir elementos no texto que indiquem o nome do autor. Tudo o Outubro e Novembro, 2011 | RT | 65
Antigo Testamento
que se pode saber deve ser colhido do livro. O autor mostra empatia por Jó e deve ter se questionado muito acerca da origem do sofrimento humano. Ele não aceita a explicação da Teologia Retributiva e busca novas respostas na Teologia da Graça. E, nos bons moldes hebraicos, ele queria compartilhar suas descobertas para fortalecer os oprimidos contra sofrimentos futuros. (LASOR, 1999. p 516)
2. Análise do Discurso: recorte teórico para análise Visto que este trabalho será lido, em sua maioria, por pastores e teólogos, vamos tentar explicar o campo da Análise do Discurso nesta seção. Se você preferir, poderá ignorar toda a seção dois e ir direto para as análises na seção três. Nosso recorte teórico para este artigo é pela Análise de Discurso desenvolvida no Brasil (AD doravante), a partir do filósofo Michel Pêcheux. A AD provoca uma ruptura na Lingüística estritamente estruturalista, aquela que aprendemos no Seminário por exemplo. A grosso modo, podemos dizer que ela complementa o modelo de comunicação de Jakobson (Emissor>Mensagem>Receptor) com o reconhecimento dos ruídos como parte fundamental de qualquer “mensagem”. A AD considera o materialismo histórico e a psicanálise, como parte da Lingüística. Em outras palavras, a AD mantém relações críticas com o que é considerado o ´fora´ da língua pela Lingüística estruturalista (Leandro-Ferreira, 1999). Sendo assim, o materialismo histórico (como estudo das formações sociais e ideológicas) e a psicanálise (com sua teoria da subjetividade e inconsciente) intervirão na língua. O sujeito do discurso é descentrado e afetado ideologicamente. Vamos explicar isso melhor: Na AD o sentido deixa de ser apenas uma questão de relação interna entre os signos5 ou entre signo e objeto e passa a ser formado também pelo equívoco, silêncio e ideologia. A língua nunca é neutra, há sempre carga ideológica em suas trincheiras. Na verdade, a língua é palco de lutas pela posse da palavra e do direito de falar. Por exemplo, sobre um mesmo acontecimento, o telejornal anuncia “Sem-Terras invadem fazenda” e o revista Carta Capital escreve “Sem-Terras ocupam área 5 Significação como relação interna da língua, conforme Saussure. 66 | RT | Outubro e Novembro, 2011
improdutiva”. É o mesmo acontecimento, mas a forma de falar/discursar é diferente. Partidos de direita vão usar o verbo “invasão” e os de esquerda escreverão “ocupação”. Isso não é por acaso. Nosso discurso é marcado pela ideologia e pelo equívoco. Aliás, é no equívoco que emerge o sujeito.
3. Uma Contradição no Discurso Religioso: Teologia Retributiva versos Teologia da Graça em Jó 3.1. Formação Discursiva Das Bênçãos: Teologia Retributiva versus Teologia da Graça Selecionamos oito sequências discursivas (SR) como corpus representativo do livro de Jó para análise. Essas sequências são suficientes para representar o embate ideológico/teológico, que se dá no livro de Jó, entre a Teologia Retributiva e a Teologia da Graça na Formação Discursiva das Bênçãos. Mas, antes de prosseguirmos, precisamos definir o que é uma Formação Discursiva. Em Arqueologia do Saber, Foucault formula o conceito de formações discursivas. Ele nota que o discurso
Antigo Testamento
é controlado sistematicamente por procedimentos de exclusão e sistemas de dispersão. Ou, mesmo aquilo que é dito, da forma como é dito, é produto de jogos de diferenças, desvios e passa pela grade dos sistemas de exclusão (Foucault, 1995, p.10-21). São estes sistemas de dispersão e procedimentos de exclusão que se relacionam com as formações discursivas e vêm a formar as regras de formação de discurso. As regras de formação permitem, então, a determinação dos elementos que compõem o discurso e, conseqüentemente determinam uma formação discursiva. Assim sendo, um dado discurso pertencerá a uma FD quando este passar pelo crivo das regras de formação desta FD. Diante disso, notamos que o sujeito da AD é afetado e condicionado pelas regras de exclusão da FD na qual produz o seu discurso. Foucault escreve: “escolhas estratégicas não surgem de uma visão de mundo... sua possibilidade é determinada por pontos de divergência no jogo de conceitos... a par‑ tir da posição que ocupa o sujeito que fala. Desta maneira, existe um sistema vertical de dependên‑ cias: todas as posições sujeito... não são igualmente possíveis, mas somente as que são autorizadas pelos níveis anteriores” (Foucault, 1971, p. 90) Pêcheux e Fuchs entrelaçam a noção de Formação Discursiva de Foucault com a noção de ideologia. “se deve conceber o discursivo como um dos aspec‑ tos materiais do que chamamos materialidade ideológica. (...) formações ideológicas comportam necessariamente, como um de seus componentes, uma ou várias formações discursivas interligadas que determinam o que pode e deve ser dito, a par‑ tir de uma posição dada numa conjuntura, isto é, numa relação de lugares no interior de um apare‑ lho ideológico.” (PÊCHEUX & FUCHS, 1990, P.166-7) As regras de formação de uma FD são acompanhadas das condições de produção na determinação dos elementos do discurso. As condições de produção (CP) remetem a lugares sociais e relações de forças entre esses lugares. E essas relações acabam por se ‘manifestar no discurso através das formações imaginárias que indicam o lugar que o destinador e o destinatário atribuem a si e ao outro (Grigoletto, 2003, p.44). As CD do discurso mostram o
contexto social e ideológico em que um discurso é produzido. Neste caso, o discurso é produzido como ‘efeito dessa rede de relações imaginárias’6, constituindo-se tal discurso na representação desse imaginário social e ideológico. Podemos considerar como CP de um discurso tanto seu contexto imediato (alvo da pragmática) como o contexto amplo, relacionados à história e ideologia. Vemos, assim, que as CP e o conceito de FD regulam e constituem o próprio sentido do discurso. Ambos funcionam como a grelha de exclusão de Foucault, controlando o que pode e o que não pode ser dito. Diante da noção de FD controlada pelos procedimentos de exclusão, Formação Ideológica e CP, nota-se que o sujeito não é efetivamente dono de seu dizer, de seu discurso. Ser dono de seu dizer é uma ilusão necessária para o indivíduo. Mas, “os indivíduos são interpelados em sujeitos de seu discurso, pelas formações discursivas que representam ‘na linguagem’ as formações ideológicas que lhes são correspondentes.” (PÊCHEUX, 1988, p. 161) O indivíduo é constituído como sujeito do discurso pela identificação com a formação discursiva que o domina. E, essa identificação “obriga” o sujeito a produzir um discurso concordante com a formação discursiva. Em outras palavras, o discurso passa pelos procedimentos de exclusão para regular e constituir o sentido. Na época de Jó, o procedimento de exclusão da FD das Bênçãos sob dominância da Teologia Retributiva era o princípio absoluto: “Deus abençoa os justos e castiga os maus”. Dessa forma, qualquer sofrimento humano era tido por resultado de erros, faltas e pecados cometidos pela pessoa acometida por infortúnios. E, consequentemente, a prosperidade material era sinal da aprovação de Deus. Era essa ´ideologia´ que compunha a Formação Discursiva das Bênçãos na época de Jó. O discurso dos três amigos de Jó está totalmente afetado por essa ideologia. Ele se enquadra no que Pêcheux chama de 1º modalidade da tomada de posição, que ‘consiste numa superposição entre o sujeito da enuncia‑ ção e o sujeito universal’ de determinada FD. (Pêcheux, Semântica e Discurso. p 215). Em outras palavras, o discurso dos três amigos reflete totalmente a ideologia dominante da FD das Bênçãos. É um discurso assujeitado à Teologia Retributiva. SD 1: [Elifaz diz]: “Lembra-te; acaso já pareceu al6 Grigoletto (p45) cita INDURSKY, Freda. A fala dos quartéis e as outras vozes. Campinas: Editora da UNICAMP, 1997. P.28 Outubro e Novembro, 2011 | RT | 67
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gum inocente?” (4.7) [Bildade diz]: “Se teus filhos pecaram contra ele, também ele os lançou no poder de sua transgressão.” (8.4) “Todos os dias o perverso é atormentado...por pão anda vagueando dizendo: Onde está?... Assombram-no a angústia e a tribulação...” (15.20-22) [Bildade diz]: “O perverso será arrancado da sua tenda, onde está confiado...não terá filho nem posteridade entre o seu povo,...Tais são, na verdade, as moradas do perverso, e este é o paradeiro do que não conhece a Deus.” (18.14;19;21)
Conforme a SD2, os três amigos supõem que o infortúnio de Jó é resultado de pecado grave: SD2: [Elifaz diz]: “Não é grande a tua malícia, e sem termo, as tuas iniquidades?” (22.5) Jó sabe que seu sofrimento não é castigo por seus pecados. Ele sabe-se inocente: SD3: “Por que não perdoas a minha transgressão e não tiras a minha iniquidade?” (7.21) “Bem sabes tu que não sou culpado; todavia, não há ninguém que me livre de tua mão.” (10.7) Jó está ciente de que o discurso dos três amigos reflete a sabedoria popular da época: SD4: Jó 12.2: “Na verdade, vós sois o povo, e convosco morrerá a sabedoria.” Mas, sua situação empírica o leva a questionar a Teologia Retributiva: SD5: “No pensamento de quem está seguro, há desprezo para o infortúnio, um empurrão para aquele cujos pés vacilam. As tendas dos tiranos gozam paz, e os que provocam a Deus estão seguros; têm o punho por seu deus.” (12.5-6) “Como é, pois, que vivem os perversos, envelhecem e ainda se tornam mais poderosos?... As suas casas tem paz, sem temor, e a vara de Deus não os fustiga... E são esses que disseram a Deus: Retira-te de nós!” (21.7ss) O discurso de Jó é transgressor e se contrapõe à forma sujeito. Ele não se assujeita à Teologia Retributiva que dominava a FD das Bênçãos. Não se acomoda aos princípios de exclusão. O discurso de Jó se contra-iden68 | RT | Outubro e Novembro, 2011
tifica com os saberes da FD de Bênçãos. O resultado dessa contra-identificação faz com que o sujeito do discurso, não mais identificando plenamente com os saberes da FD que o afeta, se relacione de forma tensa com a Forma-Sujeito (sujeito universal), representada no discurso assujeitado dos três amigos. O discurso de Jó insere-se na segunda modalidade de tomada de posição prevista por Pêcheux (PÊCHEUX, 1971, p.215). O discurso de Jó, transgressor, trava um combate ideológico com o discurso dos três amigos. A batalha é desigual. Os três amigos podem apelar para argumentos populares e lugares-comuns da época para sustentar e provar seu discurso. A Teologia Retributiva era a ideologia padrão da época para explicar infortúnios e prosperidade. Sem poder apelar para argumentos lógicos ou dados empíricos, resta a Jó apelar para Deus: SD6: “Já agora sabei que a minha testemunha está no céu.” (18.19) “Porque eu sei que o meu Redentor vive e por fim se levantará sobre a terra... em minha carne verei a Deus.” (19.25-26)
3.2. O Discurso Divino como Autenticador de saberes do Discurso Religioso O embate ideológico entre o Jó e os três amigos mostra que o Discurso Religioso tende à monossemia. A polissemia é indesejada e combatida. Da mesma forma, a FD enquadrada no Discurso Religioso também tenderá à homogeneidade e procurará resolver qualquer tipo de contradição. No Discurso Religioso, é o Discurso Divino que filtra sentidos e autentica saberes. Por isso, em divergências doutrinárias, por exemplo, é a Bíblia que servirá de ‘grelha de exclusão’, retendo sentidos não-autorizados e liberando sentidos. A Bíblia, de acordo com a Teologia Sistemática Protestante, é a Palavra de Deus, o Discurso Divino por excelência. No embate entre os discursos antagônicos de Jó e seus três amigos, será o Discurso Divino que servirá de juiz para condenar um dizer e autenticar outro. Em resposta à apelação de Jó, Deus convence Jó de sua ignorância e reprova sua ousadia ao mostrar sua suprema sabedoria e onipotência na criação do universo, sintetizados na primeira e última questões dirigida a Jó: SD6: “Onde estavas tu quando Eu lançava os fundamentos da terra? (...) Acaso, quem usa de censuras contenderá com o Todo-Poderoso?” (Jó
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38.4; 40.2) Confrontado pelo Discurso de Deus e sua impecável sabedoria, Jó assume seu erro e confessa: SD7: “Na verdade, falei do que não entendia; coisas maravilhosas demais para mim... Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te vêem. Por isso, eu me abomino e me arrependo no pó e na cinza.” (Jó 42.3b; 5-6) Deus repreende a Jó pela ousadia, mas não pela coragem e o senso de justiça. Após a confissão de Jó, Deus condena o discurso dos três amigos, Elifaz, Bildade e Zolfar: SD8: “A minha ira se acendeu contra ti e contra teus dois amigos; porque não dissestes de mim o que era reto, como o meu servo Jó.” (41.7) Ao condenar o discurso dos três amigos de Jó, Deus também censura toda lógica simplista da Teologia Retributiva. Infortúnio nem sempre é sinal de castigo e prosperidade, sinal de aprovação divina. Deus autentica a Teologia da Graça com dois atos de misericórdia imerecida: 1- Ele perdoa os três amigos, atendendo à oração de Jó. O perdão aos amigos é um dom, fruto da graça de Deus, isto é, um favor imerecido. Deus os perdoou movido exclusivamente por sua graça e amor, sem mérito algum dos requerentes. 2- Deus abençoa fartamente a Jó com o ‘dobro de tudo o que antes possuíra’ e mais ‘sete filhos e três filhas’ (Jó 42.10; 13). De novo, as bênçãos de Deus a Jó são frutos da graça de Deus. Não é recompensa por suportar o sofrimento, nem pagamento por sua fidelidade. Antes, as dádivas vêm a Jó gratuitamente.
Conclusão A dominação dos povos ameríndios pelos colonizadores e a escravização do cidadão africano foram, em parte, fundamentadas pelo Discurso Religioso vigente na época das Descobertas. As metrópoles enxergavam-se como “força evangelizadora” dos povos “selvagens”. Com isso, culturas autóctones foram dilaceradas e o modo de vida europeu foi imposto aos “selvagens”. A Grande Comissão de Mateus 28, “Ide e pregai o evangelho a toda criatura”, era interpretada como o motor religioso para Portugal e Espanha imporem seu ‘modus vivendi’ aos povos colonizados. Chegou-se até a defender a escravidão de negros sob o argumento evangelizatório: “Se não fosse a escravidão, os negros jamais ouviriam o evangelho.”7 7 ver WACHHOLZ,W. Religiosidade, piedade e teologia da época colonial. São Leopoldo: EST, 2009.
Todo tipo de opressão fundamentada em algum Discurso Religioso encontrará sua raiz na Teologia Retributiva defendida pelos três amigos de Jó. Deus escolheria os mais “justos” para converter (ou assujeitar) os “ímpios”. Nesse sentido, surge a ideia atual de que “uma pessoa é pobre porque quer”. Outro exemplo é o cristianismo fundamentalista que defende a posse da Terra Santa por Israel com base na crença de que os israelenses se converterão ao cristianismo antes do juízo final. Defendem a existência do Estado de Israel com o discurso do ‘jure divino’. O palestino é visto como intruso e ‘terrorista’. Não estamos condenando o Estado de Israel, mas o uso do Discurso Religioso para julgar questões que devem ser vistas pelo lado político-ideológico apenas. A autenticação da Teologia da Graça na FD das Bênçãos, como mostrada no livro de Jó, livra o Cristianismo da mentalidade fria da “causa-efeito”. Infortúnio e Prosperidade não são podem ser tomados como sinais de castigo ou aprovação de Deus. Ao contrário, com base na Teologia da Graça, o cristão agirá no mundo com uma ‘fé ativa no amor´. Proclamará o evangelho da salvação para libertação de todos e atuará na construção de uma sociedade mais justa e livre da opressão. Seu grito ético sempre mostrará as injustiças e testemunhará em favor “dos órfãos e das viúvas” (Rm). É agindo em sua vocação (família, sociedade e igreja) que o cristão testemunhará sua fé. Seu discurso estará de acordo com a Teologia da Graça. Rev. Mário Rafael Yudi Fukue — São Paulo-SP, é pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil.
Referências Bibliográficas BÍBLIA DE ESTUDO ALMEIDA. São Paulo: SBB, 1999. FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. São Paulo: Edições Loyola, 1996. _________________. Arqueologia do Saber. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1995. LASOR, W. S. HUBBARD, D. A. BUSH, F. D. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo:Vida Nova, 1999. p. 513-541 ORLANDI, E. A linguagem e seu funcionamento: as formas do Discurso. 4.ed. Campinas: Pontes, 1996. _____________. Exterioridade e Ideologia. In: Caderno de Estudos Lingüísticos. v.30. Campinas: Editora da Unicamp, 1996. p. 27-33 _____________. Palavra, Fé e Poder. Campinas: Pontes, 1987. PÊCHEUX, M. Semântica e Discurso PÊCHEUX, M. Por uma análise automática do discurso WACHHOLZ, W. Religiosidade, piedade e teologia da época colonial. São Leopoldo: EST, 2009. Outubro e Novembro, 2011 | RT | 69
Rev. Márlon Hüther Anthunes
Artigo
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O perfume da morte
perfume que se mistura na última despedida a um ente-querido, entre abraços e amparo mútuo, uma forma de misturar diversos aromas, não resume o título desta reflexão, como também não resume aquele descrito pelos cientistas canadenses e publicado no Jornal Evolutionary Biology, sob a tese de que a morte tem um cheiro peculiar. Ambos não sintetizam o perfume que de fato ajuda a superar a morte. O que é característica diante da morte, especialmente em nossa cultura ocidental, é a presença de flores enviadas no intuito de se solidarizar com a dor e também levadas aos cemitérios neste dia, uma forma de preservar boas memórias. Flores, além do perfume agradável que exalam mesmo mortas; com seu colorido lembram vida; elas estão presentes nas melhores celebrações, pois transformam duplamente um ambiente. E se flores tem todo este poder, a coroa de flores parece ir além. Os jogos olímpicos realizados na Grécia em 2004 simbolizaram bem o significado da coroa, concedida àqueles que concluíram com êxito cada etapa e foram vencedores. Uma tradição milenar desde os tempos do Apóstolo Paulo: “Todo atleta que está treinando agüenta exercícios duros porque quer receber uma coroa de folhas de louro, uma coroa que, aliás, não dura muito. Mas nós queremos receber uma coroa que dura para sempre” (1º Coríntios 9.25). Se por um lado as flores podem por um curto 70 | RT | Outubro e Novembro, 2011
período exalar e perfumar ambientes, outras mesmo sendo coloridas por muito mais tempo, não exalar perfume algum por serem artificiais. Flor que combina com a morte, só faz sentido quando deixa seu perfume: “Nós somos para com Deus o bom perfume de Cristo” (2º Coríntios 2.15a). O perfume da morte só tem sentido no amor e oferta de Cristo, como sacrifício agradável a Deus (Efésios 5.2), pois só ele pode vencer a decomposição, mau cheiro e o desespero diante deste momento. Quando o Apóstolo Paulo, divinamente inspirado, dedica todo o capítulo 15 da primeira carta aos Coríntios ao fato da ressurreição de Cristo, e consequentemente da nossa, ele lembra que a flor de Cristo nunca deixa de perfumar, nem mesmo murcha. A coroa que dura para sempre é a certeza da ressurreição, todo esforço para preservar na fé vale a pena e é nesse perfume – a fé em Cristo - exalado e deixado pelo ente querido, que encontramos consolo e temos a seguinte certeza: “A morte está destruída! A vitória é completa! Onde está, ó morte, a sua vitória? Onde está, ó morte, o seu poder de ferir?” (1º Coríntios 15.54b,55). Este é o perfume que não só ajuda a superar a morte, mas a vence e traz consolo! Tenha em seu jardim o bom perfume de Cristo e permita-o exalar, todas as outras flores e aromas são de plástico diante desta realidade!
Rev. Márlon Hüther Antunes — Maceió-AL, pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Os Kadafis tupiniquins Rev. Marcos Schmidt
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o artigo “A hora dos Kadafis” que saiu em fevereiro (em Jornal em Novo Hamburgo-RS), disse que todos os ditadores caem e o fim deles segue na medida como lidaram com o povo. Lembrei dos nossos corruptos, que segundo a Veja recente, a cada ano roubam dos cofres públicos brasileiros 85 bilhões de reais, dinheiro suficiente para resolver os principais problemas do país, como erradicar de vez a miséria, ou pagar 34 milhões de diárias de UTI nos melhores hospitais. Os Kadafis brasileiros não têm sentimento. Obrigam uma grávida de gêmeos a viajar 530 quilômetros e dar à luz em Novo Hamburgo por não encontrar uma vaga de UTI pelo SUS. Quantos morrem no Brasil por causa da corrupção? Devem ser muito mais gente que na Líbia. Mas a hora dos Kadafis sempre chega. E por mais que mereçam a ira dos rebeldes, devemos ter piedade deles em sua hora derradeira. Uma história parecida é a do rei Acabe. Ele “acabou” morto numa batalha, com o sangue escorrendo para o fundo da carruagem e os cachorros lambendo. Diz o texto bíblico que “todas as outras coisas que o rei Acabe
Artigo
fez e também uma descrição do seu palácio enfeitado de marfim e todas as cidades que ele construiu, tudo isso está escrito na História dos Reis de Israel” (1º Reis 22.39). Está registrado como sinal de exemplo a fim de que todos saibam que é isto que acontece com qualquer governante cruel e corrupto. Aliás, a Bíblia não esconde estas histórias escandalosas, exatamente por aquilo que adverte o apóstolo: “Tudo isso aconteceu a fim de nos servir de exemplo, para nós não queremos coisas más como eles quiseram” (1º Coríntios 10.6). Interessante que nos livros bíblicos dos Reis, cada governo é julgado de acordo com a sua fidelidade, e o progresso da nação depende da conduta dele. Já o contrário disto faz o povo sofrer a desgraça. Não é por menos o conselho: “Orem pelos reis e por todos os outros que têm autoridade, para que possamos viver uma vida calma e pacífica com dedicação a Deus e respeito aos outros. Isso é bom, e Deus, o nosso Salvador, gosta disso” (1º Timóteo 2.2-3). Rev. Marcos Schmidt é pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil em Novo Hamburgo-RS
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Epitáfio Artigo
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pitáfio são frases ou palavras escritas sobre túmulos, geralmente em versos, os quais demonstram uma ideia. São também usados em anúncios e convites para celebrações fúnebres. São escritos ou escolhidos pela própria pessoa antes de sua partida ou por amigos e familiares. Ali é enaltecido algo ou alguém ou simplesmente se deixa uma última mensagem de vida. Em 2001, Sérgio Brito, integrante do grupo Titãs, escreveu uma música que leva como título esta expressão, uma trecho da música é o seguinte: “Devia ter amado mais, ter chorado mais, ter visto o sol nascer... Devia ter arriscado mais. E até errado mais, ter feito o que eu queria fazer. Queria ter aceitado as pessoas como elas são. Cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração... Devia ter arriscado menos, trabalhado menos, ter visto o sol se por...”. A expressão que mais se repete é “devia ter...” mas, agora é tarde, isto está registrado em seu epitáfio, não conseguirá mais realiza-lo. Queria lhe dar um desafio: escrever o epitáfio do ano de 2011. Como ele seria? Será que seriam escritos muitos “devia ter...”? É estranho como deixamos de fazer coisas importantes em nossa vida, deixamos de ver o sol nascer, se pôr, chorar, fazer o que gostamos, amar.... Esquecemos tantas vezes de Deus: “Mas no ano que vem, prometo que vou lembrar mais de Deus e de sua igreja” — promessas soltas no ar. A mudança de data é apenas uma forma de seguirmos o tempo, precisamos de uma mudança de coração, de atitude, de vontade. Eclesiastes 11.9 e 12.1. Estaremos com as mesmas promessas, sem cumprimento, no final do ano que vem! E continuare72 | RT | Outubro e Novembro, 2011
Rev. Eli Müller mos com nossos epitáfios de fim de ano dizendo “Devia ter...” Na história do Natal de Cristo, há um personagem que muitas vezes é esquecido, Simeão, um senhor de idade ao qual Deus revelará que não iria morrer sem ver o Salvador. Quando José e Maria foram apresentar Jesus no templo, eis que o homem o tomou nos braços e disse: “Senhor, despedes em paz o teu servo, segundo a tua promessa porque os meus olhos já viram a tua salvação que preparaste a todos os povos...(Lucas 2.29)” Eis um belo epitáfio. Simeão não ficou no “devia ter” pelo contrário, partiu para o “está feito”, o epitáfio era dele, a obra era de Deus, seus olhos viram a salvação. Ele presenciou o menino que daria a luz ao mundo. O mesmo menino que nós conhecemos, aquele que nasceu em Belém e que muitos lembrarão novamente somente daqui a um ano. “Devia ter...”, não ao escrevermos o epitáfio de 2011 que seja “Está feito!”, Mas se não for, não se preocupe, diferentemente da música citada onde o refrão é: “O acaso vai me proteger...”, tenha a certeza que Deus vai lhe proteger e lhe dar mais uma chance, entre tantas outras. Ele lhe deu mais um ano, para poder escrever melhor o seu epitáfio, por isso não desperdice 2012, “faça o que seu coração mandar, mas lembre-se do seu criador.” (Eclesiastes 11.9 e 12.1). Aproveite a oportunidade para reescrever, para completar para dizer “Meus olhos viram a sua salvação a qual preparaste a face de todos os homens... com tua graça... eu Creio.” Isto sim é um presente, ou melhor, o melhor presente que é dado por Deus “o seu filho em nosso presente”. O que é passado pode ter ficado no “devia ter”, o que é futuro “nas promessas”, o que é presente é o presente do Natal. Está feito! Como Simeão, que este seja o nosso epitáfio deste ano e de todos os anos, prontos preparados e felizes, porque: “os meus olhos já viram a tua salvação a qual preparaste diante de todos os povos”.
Rev. Eli Müller — Maquiné-RS, pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil.
Colete à prova de tudo Rev. Marcos Schmidt
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colete do cinegrafista, morto durante uma operação policial contra traficantes no Rio de Janeiro, não era à prova de balas de fuzil. E agora o tiro que atravessou o colete vem acertando em cheio algumas contradições quanto à segurança dos agentes de notícia nestas coberturas de alto risco. Segundo informações, o colete balístico do repórter era do tipo impróprio para a proteção contra fuzis usados em confrontos com os bandidos, além de estar com sinais de desgaste pelo tempo de uso. Por isto a acusação do advogado da família da vítima, que o “cinegrafista foi mandado para a morte”. O tiro acerta em cheio também no assunto da epístola bíblica para este próximo Domingo, conforme a liturgia cristã. Ao recomendar a prontidão na batalha espiritual, Paulo diz que “devemos usar a fé e o amor como couraça e a nossa esperança de salvação como capacete” (1º Tessalonicenses 5.8). Surge então a pergunta: o colete espiritual que uso é à prova de balas? Ou nem tenho este tipo de proteção? Em outra carta o apóstolo já lembrava: “Vistam-
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-se com a couraça da justiça (...) recebam a salvação como capacete” (Efésios 6.14-17). Ele sublinha que este colete é um presente dado por Deus, é de graça (2.8). Aos gálatas, Paulo explica a funcionalidade deste colete: “Pois, por meio da fé em Cristo Jesus, todos vocês (...) se revestiram com as quali- dades do próprio Cristo (Gálatas 3.2627). Ou seja, Cristo é a proteção. Por isto a conclusão: “Estamos em perigo de morte o dia inteiro (...) mas em todo o Universo não há nada que possa nos separar do amor de Deus, que é nosso por meio de Cristo Jesus” (Romanos 8.36,39). “Estar com aquele colete ou de camiseta era a mesma coisa”, reclamou o advogado da família, que acusa o descaso pela vida da vítima. Bem diferente daquilo que diz Davi na esfera espiritual: “Deus faz tudo perfeito e cumpre o que promete. Ele é como um escudo para os que procuram a sua proteção” (Salmo 18.30). Rev. Marcos Schmidt é pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil em Novo Hamburgo-RS Outubro e Novembro, 2011 | RT | 73
Sermão
Rev. Renato L. Regauer
Você está adequadamente vestido? “... todos quantos fostes batizados em Cristo, de Cristo vos revestistes” (Gl 3.27). Um homem vestiu-se a rigor para ir a uma festa. Perto do local em que se realizava a festa, ele tropeçou e caiu. Um médico veio correndo para socorrê-lo. Depois de tentar, sem sucesso, reanimar o homem caído, o médico disse: “É tarde demais; ele morreu!” E, voltando-se aos que viram tudo acontecer, perguntou: “Qual era a religião dele?” Alguém, respondeu que se tratava de um homem ateu. Disse então o médico: “Isso é lamentável. Ele está tão bem vestido, mas não poderá entrar no céu!” Mesmo andando corporalmente nus, Adão e Eva estavam bem vestidos. Estavam revestidos da imagem divina – a perfeita santidade e justiça: “Ora, um e outro, o homem e sua mulher, estavam nus e não se envergonhavam” (Gn 2.25). Desde a queda em pecado, porém, o homem vive uma grande nudez interior. E ele tenta, de todas as formas, encobrir ou negar sua nudez, ou seja: ele acha que pode esconder seu pecado e pecaminosidade, com uma folha de figueira (Gn 3.7), com uma moita (Gn 3.10), com uma veste de seda ou linho finíssimo (Lc 16.19), com uma lista de obras de caridade, com uma vida monástica, com uma piedade notória (sem Cristo), com sofismas arrasadores, com laudos científicos tidos como veredito final, etc. Tudo inútil. Deus continua flagrando-o nu: “Chamou o Senhor Deus ao homem e lhe perguntou: Onde estás? Ele respondeu: Ouvi a tua voz no jardim, e, porque estava nu, tive medo, e me escondi. Perguntou-lhe Deus: Quem te fez saber que estavas nu? Comeste da árvore de que te ordenei que não comesses?” (Gn 3.9-11); “Vocês dizem: ‘Somos ricos, estamos bem de vida e temos tudo o que precisamos.’ Mas não sabem que são miseráveis, infelizes, pobres, nus e cegos. Portanto, aconselho que comprem de mim ouro puro para que sejam, de fato, ricos. E comprem roupas brancas para se vestirem e cobrirem a sua nudez 74 | RT | Outubro e Novembro, 2011
vergonhosa. Comprem também colírio para os olhos a fim de que possam ver.” (Ap 3.17-18 BLH) Jesus ilustra as graves conseqüências de uma nudez não reconhecida ou mal coberta, com a parábola das bodas do filho do rei (Mt 22). Era costume da época o anfitrião oferecer vestes festivas apropriadas aos seus convidados. Rejeitando-as, o convidado dava a entender que considerava as suas próprias vestes melhores. Portanto, não vesti-las era uma grave desfeita para com o anfitrião. Por isso, Jesus conclui sua parábola dizendo: “Entrando, porém, o rei para ver os que estavam à mesa, notou ali um homem que não trazia veste nupcial e perguntou-lhe: Amigo, como entraste aqui sem veste nupcial? E ele emudeceu. Então ordenou o rei aos serventes: Amarrai-o de pés e mãos e lançai-o para fora, nas trevas; ali haverá choro e ranger de dentes” (Mt 22.11-13). Jesus quis ensinar que, a exemplo do rei da parábola, Deus também preparou uma veste para nós e nos aceitará em seu Reino Eterno apenas se comparecermos vestidos com a veste que ele mesmo nos oferece. Através do profeta Ezequiel Deus revela como ele empenhou-se para cobrir a nudez de Jerusalém (sua igreja do Antigo Testamento): “Quando você nasceu, nin-
Sermão
guém gostava de você e até a jogaram no mato. – Então passei por perto e vi você rolando no seu próprio sangue. Embora você estivesse coberta de sangue, eu não deixei que morresse. Eu a fiz crescer... forte e alta e ficou moça... mas você estava nua. – Quando passei de novo... cobri o seu corpo nu com a minha capa e prometi amar você. Sim! Fiz um contrato de casamento com você, e você se tornou minha. Sou eu, o Senhor Eterno, quem está falando. – Eu a lavei com água e limpei o sangue que a cobria. Passei azeite na sua pele. Eu a vesti com roupas bordadas e lhe dei sapatos do melhor couro, um turbante de linho e uma capa de seda” (Ez 16.5-10 BLH). Esta foi uma forma poética de o profeta descrever a grande misericórdia de Deus, que o levou a providenciar salvação para o seu povo eleito. Na verdade, Deus quer fazer a mesma coisa com todas as pessoas. E, para que nós todos pudéssemos ser assim vestidos, Deus precisou desnudar-se em seu Filho Jesus Cristo. Veja o que diz o profeta Isaías (52.10): “O Senhor desnudou o seu santo braço à vista de todas as nações; e todos os confins da terra verão a salvação do nosso Deus.” Jesus, ao vir ao mundo, despiu-se de sua glória para vestir a nossa vergonha, e assim, mal vestido, expondo em seu corpo a nossa vergonha, foi castigado à morte de cruz, para que nele encontrássemos a veste da justiça. Soubessem os soldados romanos que ímpar veste festiva poderiam obter de Jesus, certamente não teriam disputado sua túnica feita por mãos humanas, e de fios perecíveis (Jo 19.24). Amigo, reconheça a sua nudez, dizendo com o rei Davi: “Eu nasci na iniqüidade, e em pecado me concebeu minha mãe” (Sl 51.5), e agasalhe-se no manto que Jesus lhe oferece, dizendo: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei” (Mt 11.28); “... aconselho que comprem de mim... roupas brancas para se vestirem e cobrirem a sua nudez vergonhosa” (Ap 3.17-18 BLH). Como adquirimos e vestimos esta veste que nos permite entrar no céu? O apóstolo Paulo escreve:
“Todos vós sois filhos de Deus, mediante a fé, em Cristo Jesus, porque todos quantos fostes batizados em Cristo, de Cristo vos revestistes” (Gl 3.26-27). Pelo Batismo recebemos o perdão de todos os nossos pecados e nos tornamos filhos de Deus, pela fé. Isso é ser revestido de Cristo. Até algumas décadas atrás era costume, por ocasião do Batismo, trazer as criancinhas (tanto meninas como meninos) com um vestido branco e longo, que cobria toda a criança. Era uma maneira de expressar esta verdade, de que pelo Batismo somos revestidos da santidade e justiça de Cristo. Você foi batizado? Alegre-se, pois você foi revestido de Cristo. Jesus garante: “Quem crer e for batizado será salvo” (Mc 16.16). Peça a Deus que conserve você fiel ao voto feito no dia do Batismo. “Eis que venho como vem o ladrão. Bem-aventurado aquele que vigia e guarda as suas vestes, para que não ande nu, e não se veja a sua vergonha.” (Ap 16.15). Quando alguém verdadeiramente crê que sua justiça está em Cristo, Deus também lhe aceita as boas obras, que são frutos desta fé. E estas obras, porque realizadas na fé em Cristo, por força do Espírito Santo, confundem-se com as próprias obras de Cristo. Por isso, lemos no Apocalipse: “Chegou a hora da festa de casamento do Cordeiro (Jesus), e a noiva (a igreja) já se preparou. Ela recebeu linho finíssimo, linho brilhante e puro para se vestir. O linho são os atos puros do povo de Deus” (Ap 19.7-8). Amigo, não ande nu, nem mal vestido. A sua veste está pronta! Deu muito trabalho, mas ficou lindíssima e perfeita. É um presente de seu Salvador! Por mais luxuosa e confortável que lhe pareça a sua própria veste (justiça própria), dispa-se dela e aceite a oferta de Jesus. Você vai ficar perfeito aos olhos do anfitrião celestial, que lhe assegura: “dará à tua cabeça um diadema de graça e uma coroa de glória te entregará” (Pv 4.9); “O vencedor (aquele que por fé em Cristo tem parte na sua vitória sobre o pecado, a morte e o inferno) será assim vestido de vestiduras brancas, e de modo nenhum apagarei o seu nome do Livro da Vida; pelo contrário, confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos seus anjos.” (Ap 3.5). OK! Você ficou impecável! Boas Vindas, e bom apetite no Banquete Eterno!
Rev. Renato L. Regauer — Sapiranga-RS, pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil. Outubro e Novembro, 2011 | RT | 75
Rev. Marcos Schmidt
A proibição do crucifixo Artigo
A
Liga de Lésbicas no Rio Grande do Sul e outros grupos estão enviando aos Deputados Estaduais e Vereadores de Porto Alegre um pedido para que sejam retirados os crucifixos das repartições públicas – escolas, delegacias, tribunais e outros locais. O argumento deles vem da Constituição que garante liberdade religiosa e a separação entre estado e religião. Com isto, pretendem afastar a influência religiosa de decisões polêmicas, como o casamento homossexual, aborto e outros assuntos. O crucifixo (Jesus pregado na cruz) é o principal símbolo para católicos e algumas igrejas protestantes. Lutero era favorável à iconografia, isto é, a mensagem comunicada pelos ícones, ao contrário de seu conterrâneo Carlstad que liderou um movimento iconoclasta – literalmente “quebrar imagens”. Para Lutero, a igreja não deveria perder a referência dos símbolos litúrgicos nem o exemplo dos cristãos do passado, e por isso não restringiu o uso das imagens, mas sim, rejeitou a função mediadora conferida a elas – só Cristo é o Mediador entre Deus e os seres humanos (1 Timóteo 2.5). Agora o Cristo crucificado gera ofensa e escândalo (1 Coríntios 1.23) no aspecto político e social. Lembram que o estado é laico, mas esquecem que as pessoas são religiosas e, na prática, religião e política se misturam. Por isto, ao proibirem símbolos cristãos em repartições públicas, terão de abolir o Dia de Finados, o Domingo, o Natal, a Páscoa, o nosso Calendário Gregoriano com a idade de Jesus, derrubar o Cristo Redentor no Rio de Janeiro, e um mundo de coisas construídas sob influência da cultura cristã. E mesmo quando os 76 | RT | Outubro e Novembro, 2011
símbolos da igreja já perderam o sentido e a compreensão popular, creio que restringir a exibição de um símbolo cristão, isto sim, é inconstitucional. Um juiz federal bem disse ao refletir o aspecto moral: “O crucifixo nas cortes é uma salutar advertência sobre a responsabilidade dos tribunais, sobre os erros judiciários e sobre os riscos de os magistrados atenderem aos poderosos mais do que à Justiça”.
Rev. Marcos Schmidt é pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil em Novo Hamburgo-RS
Simbologia
Rev. Jarbas Hoffimann
Pesquisa e Adaptação
A Rosa de Lutero O
início da Reforma da Igreja aconteceu em 31 de outubro de 1517, véspera do Dia de Todos os Santos, quando Martinho Luero pregou (literalmente) suas 95 teses na porta da Igreja em Wittenberg, Alemanha. Em comemoração àquele evento a Igreja Luterana, assim como todos o Protestantismo, celebra a Festa da Reforma. O Brasão de Lutero (ou Rosa de Lutero) é um símbolo adequado para a Reforma. Ele mostra a cruz num coração, sobrepostos à rosa Messiânica e rodeados por um círculo que denota a eternidade. O significado da cruz é evidente: Lutero disse: “...em meu coração [é] a imagem de um Homem pendendo sobre a cruz.” Para Lutero — e todos os demais cristãos como ele — a rosa Messiânica tem este significado: “O coração cristão repousa na rosa, mesmo repousando ao pé da cruz.” O círculo se refere à permanente Pa-
lavra de Deus, como dito em Latin: Verbum Dei manet in aeternum. As palavras são de São Pedro, citando Isaías: “mas a Palavra do Senhor permanece para sempre.”. Originalmente Lutero não tinha a reforma em mente. Ele tentou, em 1517, oferecer 95 proposições para debate a respeito dos abusos da igreja, particularmente a venda de indulgências. Ele queria investigar todo o sistema de penitência, pois acreditava que o pecador penitente é declarado justo por causa da fé em Cristo. Outro símbolo adequado para o Dia da Reforma é a lâmpada, a qual aponta para a sabedoria da Palavra de Deus. Deus usou Lutero como um acendedor desta lâmpada. Sua tradução da Bíblia, completada em 1534, capacitou o povo a ler a Palavra de Deus em sua própria língua. Os escritos e pregações de Lutero fizeram o Evangelho brilha claramente outra vez em todo o mundo.
Outubro e Novembro, 2011 | RT | 77
Litúrgica: Período
de
Comissão de Culto da IELB
Advento
Liturgia para Período de Advento Veja uma sugestão de liturgia para o período de Advento. Esta liturgia aparece com os opcionais para cada um dos 4 domingos. Ou seja, pode ser usada a mesma liturgia, alterando-se apenas os próprios de cada dia, conforme nas observações em rubricas. Aqui aparece sem a formatação adequada para uso prático no culto. Caso queira formatar à vontade, este texto pode ser usado. Caso queira o material finalizado, verifique no blog da Comissão de Culto da IELB (www.liturgialuterana.blogspot. com). Lá você vai encontrar o material para imprimir, bem como para ser projetado.
P Pastor
de pé
C Congregação
sentados
T Todos
ajoelhados
|: Repetir o canto entre :|
cantar
Oração Mental e Individual (1D)
Para cada domingo se poderá usar uma oração mental diferente, conforme a vela que será acesa e convorme as sugestões abaixo. 1D significa 1º Domingo de Advento e assim sussessivamente.
C.: Graças te dou, bondoso Deus, porque a LUZ DO MUNDO veio à minha vida. Me chamaste à fé e continuas a iluminá-la. Não permita que me atire novamente nas trevas e que continue entre o povo que viu resplandecer a luz de Cristo. Em nome de Jesus, a Luz do Mundo, Amém.
Oração Mental e Individual (2D)
C.: Graças te dou, bondoso Deus, porque enviaste Jesus Cristo, nosso GRANDE LIBERTADOR, que trouxe liberdade do diabo, do mundo e de nossa própria carne. Pois sabemos que “Se o Filho nos libertar, seremos verdadeiramente livres”. Abençoa com tua presença este culto, pois venho, a teu convite. Por Jesus, meu Salvador. Amém. C.: Graças te dou, bondoso Deus, por toda a paz que me trazes. Se não fosse o PRÍNCIPE DA 78 | RT | Outubro e Novembro, 2011
Oração Mental e Individual (4D)
C.: Graças te dou, bondoso Deus, porque mesmo não sendo merecedor, tu me chamaste para a festa do REI DOS REIS. Abençoe este Natal, e faze que Jesus seja o maior presente para mim e para todos. Para que naquele último e glorioso Dia, todos nós nos encontremos diante do Salvador, na feliz eternidade. Em nome de Jesus. Amém.
1. Saudação
Legenda:
Oração Mental e Individual (3D)
PAZ, Jesus Cristo, eu correria sem jamais encontrar a verdadeira paz. Pelo teu Espírito Santo, aumenta em mim a paz que vem do céu. E que eu seja mais um a proclamar o PRÍNCIPE DA PAZ, não só neste Advento e Natal, mas em toda a minha vida. Por Jesus Cristo. Amém.
P.: Deus cumpre o que promete. Por isso, aguardamos a promessa da segunda vinda de Cristo. Ele vem para “julgar a terra e os povos do mundo” (Sl 98.9). Neste primeiro domingo no Advento, início do Ano da Igreja, queremos examinar a nossa atuação como povo de Deus. Enquanto Jesus não vem, precisamos fazer bom uso do tempo e dons que Deus nos dá. Tempo e dons são sinais do amor de Deus pelos pecadores. O povo de Deus usa seus dons e tempo para servir. Com este servir quer ganhar pessoas para Cristo. Que este culto fortaleça em nós o propósito de servir cada vez mais e melhor. Amém.
A 1ª Vela (1D)
A exemplo da oração, para cada domingo se acende uma vela, sendo que a anterior deverá também estar acesa e, se pode dar a seguinte explicação enquanto se acende a vela do dia.
P.: A primeira vela, acesa no primeiro domingo de Advento, anuncia que Jesus é a LUZ DO MUNDO. O mundo jaz nas trevas do pecado. Cristo, porém, veio nos libertar do pecado e trazer luz aos nossos corações. Diz o evangelista Mateus, referindo-se a Jesus: “O povo que andava em trevas viu uma grande luz, e aos que viviam na região da sombra da morte resplandeceu-lhes a luz”.
A 2ª Vela (2D)
P.: A segunda vela, acesa no segundo domingo de Advento, lembra a GRANDE LIBERTAÇÃO que Jesus trouxe. Jesus veio para libertar. Esta libertação é a libertação de nossos verdadeiros inimigos. O inimigo número um é o pecado. O inimigo
Litúrgica: Período
A 3ª Vela (3D)
P.: A terceira vela, acesa no terceiro domingo de Advento, lembra que Jesus veio como PRÍNCIPE DA PAZ. Sim, Jesus é o Príncipe da Paz . Ele nos reconciliou com Deus. Nele temos perdão dos pecados, e pelo perdão, paz com Deus. Jesus disse: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize”.
A 4ª Vela (4D)
de
Advento
dos? C.: Mereci a ira de Deus e ser abandonado por ele, mereço a morte neste mundo e a condenação eterna. P.: Você tem esperança de ser salvo? C.: Sim, tenho esperança de ser salvo. P.: Em quem você confia? C.: Confio em meu Senhor Jesus Cristo.
4. Salmo do Dia: Cantado pelo pastor.
P.: A quarta vela, acesa no quarto domingo de Natal, anuncia a grande alegria natalina, de que Jesus é REI DOS REIS. Na primeira vinda, Jesus veio humilde. Ele se humilhou profundamente. Nasceu pobre numa estrebaria em Belém, foi desprezado e morto pelos homens. Em breve Jesus voltará. Não mais em humilhação, mas em grande glória e majestade, com todos os seus santos anjos para julgar vivos e mortos.
Os salmos são: 80.1-7 (1D); 85 (2D); 126 (3D); 89.1-5,19-29 (4D)
2. Invocação e Confissão de Fé
Cantado entre pastor e congregação. Pode-se usar outros hinos para os dumingos seguintes. No site de liturgia constam também as sugestões de hinos para cada domingo já com a letra e acompanhamento em mp3. Sugere-se: 11 Hinário Luterano (2D); 532 Hinário Luterano (3D); 70 Hinário Luterano (4D)
P.: Em nome do Deus Eterno, que nos dá o tempo para usarmos em seu serviço até a segunda vinda de Cristo. C.: Nós cremos todos num só Deus: nosso Pai e Criador, que governa terra e céus. Anjos cantam-lhe louvor. Tudo faz com seu poder, sempre quer nos socorrer. P.: Em nome de Jesus Cristo, que virá para buscar o seu povo. C.: E cremos no Senhor Jesus, que da Virgem-mãe nasceu; com sua morte lá na cruz a Satã por nós venceu. Vitorioso ressurgiu e com glória ao céu subiu. P.: Em nome do Espírito Santo, que nos dá os dons para servirmos como povo de Deus. C.: E cremos no Consolador, que do Filho e Pai provém, sendo terno Amparador dos que em aflições se veem. És triúno, ó bom Senhor; cantem todos teu louvor!
3. Confissão e Absolvição P.: Você crê que é pecador? C.: Creio, sou pecador. P.: Como você sabe disso? C.: Eu sei disso por não ter cumprido os Dez Mandamentos. P.: Você lamenta os seus pecados? C.: Sim, lamento ter pecado contra Deus. P.: O que você merece de Deus pelos seus peca-
5. Gloria Patri Depois do Salmo (falado):
C.: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. Como era no princípio, agora é e para sempre será, de eternidade a eternidade. Amém.
6. Hino: 1 Hinário Luterano (1D)
P.: Sentinela, vai-se a noite, que sinais me tens a dar? Que me dizes das promessas do divino amor sem par? C.: Caminheiro! Não percebes sobre o monte a cintilar nova estrela portadora de mensagem singular? P.: Sentinela, tais fulgores podem bênçãos predizer? Sim, o brilho desta estrela novos tempos vem trazer; C.: novos dias, novas eras, udo novo nos vai ser, para todos neste mundo, quando o brilho seu vencer. P.: Sentinela, eis nasce o dia; foge a noite, tudo é luz; vai-se a treva, cessa o medo, já nos falam de Jesus! C.: Amoroso, desde o berço ao triunfo lá na cruz, com sua graça nos liberta: para a glória nos conduz.
7. Leituras Bíblicas Antigo Testamento:
Isaías 64.1-9 (1D); Isaías 40.1-11 (2D); Isaías 61.1-4, 8-11 (3D); 2º Samuel 7.1-11,16 (4D)
Epístola:
1º Coríntios 1.3-9 (1D); 2º Pedro 3.8-14 (2D);
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Litúrgica: Período
de
Advento
1º Tessalonicenses 5.16-24 (3D); Romanos 16.25-27 (4D)
Evangelho do Dia
Aqueles que puderem ficam de pé Marcos 11.1-10 (1D); Marcos 1.1-8 (2D); João 1.6-8,19-28 (3D); Lucas 1.26-38 (4D)
8. Hino: 5 Hinário Luterano (1D) 416 Hinário Luterano (2D) 7 Hinário Luterano (3D) 72 Hinário Luterano (4D)
9. Mensagem 10. Ofertório C.: Cria em mim, ó Deus, um puro coração e renova em mim espírito reto. Não me lances fora da tua presença, e não retires de mim o teu Espírito Santo. Torna a dar-me alegria da tua salvação e sustém-me com um voluntário espírito. Amém.
11. Ofertas Hino: 391 Convém crescer (1D); Hino: 331 Ainda há lugar (2D) Hino: 564 Três reis magos (3D) Hino: 572 Já vem perto o Natal (4D)
12. Oração Geral 13. Pai-Nosso C.: Pai nosso, que estás nos céus. Santificado seja o teu nome. Venha o teu reino. Seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dá hoje. E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós também perdoamos aos nossos devedores. E não nos deixes cair em tentação. Mas livra-nos do mal. Pois teu é o reino, e o poder, e a glória, para sempre. Amém.
14. Alocução P.: Ao nos aproximarmos da Mesa do Senhor é importante examinarmos a nossa vida, como indivíduos e como congregação. Percebemos que há muita coisa errada em nossa conduta. Com muita frequência deixamos “escapar” o tempo, e, fazemos pouco uso dos dons que Deus nos deu. Se reconhecemos estas nossas deficiências no servir, e desejamos, com sinceridade de coração consertar o nosso mau procedimento, recebemos na Santa Ceia o perdão de Deus. Que esta Ceia nos anime a esperar com paciência a segunda vinda de Jesus. Esperar, não de bra80 | RT | Outubro e Novembro, 2011
ços cruzados, mas fazendo uso responsável do tempo e dons que Deus nos dá. Que o Espírito Santo, nosso companheiro de jornada, abençoe ricamente a nossa participação.
15. Consagração dos Elementos da Santa Ceia P.: Nosso Senhor Jesus Cristo, na noite em que foi traído, pegou o pão, e, tendo dado graças, o partiu e o deu aos seus discípulos, dizendo: “Tomem, comam, isto é o meu corpo, que é dado por vocês; façam isto em memória de mim.”. E, semelhantemente, também, depois da ceia, pegou o cálice e, tendo dado graças, o entregou, dizendo: “Tomem, bebam todos deste; este cálice é o Novo Testamento no meu sangue, que é derramado por vocês para perdão dos pecados; façam isto, quantas vezes o beberem, em memória de mim.”.
16. A paz P.: Neste momento nos tornamos, instrumentos da Paz do Senhor. Cada um pode saudar o irmão ao seu lado, desejando: “A Paz do Senhor”.
17. Cordeiro Divino C.: Cordeiro Divino, morto pelo pecador, sê Compassivo. Cordeiro Divino, morto pelo pecador, sê Compassivo. Cordeiro Divino, morto pelo pecador a paz concede! Amém.
18. Distribuição da Ceia 19. Oração de Pós Comunhão P.: Senhor misericordioso. Já comemos do teu corpo e bebemos do teu sangue para nosso consolo e fortalecimento. Ensina-nos a esperar com alegria o Dia do Senhor, para que, quando vier, estejamos preparados. Mantém-nos na fé e na comunhão contigo e com os irmãos enquanto estivermos neste mundo. Por Jesus Cristo nosso aguardado Salvador. Amém.
20. Bênção P.: O Senhor te abençoe e te guarde. O Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti. O Senhor, sobre ti levante o seu rosto e te dê a paz. C.: Amém. Amém. Amém
21. Avisos
Natal mais calmo A Rev. Marcos Schmidt
inda faltam 40 dias para o Natal1, mas ele já é anunciado com vibração nas vitrines e propagandas comerciais. Nas igrejas a preparação começa mesmo no dia 27 de novembro, o primeiro Domingo de Advento. Esse período litúrgico surgiu no quarto século, logo após a fixação oficial da data do nascimento de Jesus. Com o mesmo objetivo da Quaresma antes da Páscoa, é destinado à reflexão espiritual para que o Natal seja celebrado de forma condizente aos propósitos cristãos. O Advento, que significa “vinda”, lembra três chegadas de Cristo: em carne, no juízo final e através do Evangelho continuamente pregado. Não é preciso dizer que a festa do Natal, em parte, já perdeu o seu caráter cristão. E nem falo do meio secular que proíbe crucifixos. Quem nega a morte de Cristo também nega o seu nascimento. O problema é com os cristãos. Já disse Paulo: “Não vivam como vivem as pessoas desse mundo, mas deixem que Deus os transforme por meio de uma completa mudança da mente de vocês” (Romanos
Artigo
12.2). Neste sentido, além das atitudes e costumes, algumas figuras natalinas no âmbito religioso comprometem e desvirtuam. Afinal, símbolos precisam apontar para o sentido legítimo do Natal, a exemplo do pinheirinho com seu verde constante que lembra a eternidade de Cristo e, com sua ponta para cima, de onde surge a salvação. Qualquer imagem que não advenha ao Salvador é outro natal, outro advento. Que o diga João Batista. Até porque a “tradição” deve “traduzir” aquilo que “traz”, senão o resultado é “traição”. Quatro palavras com a mesma raiz do verbo latino e que expõem um problema com o nosso Natal cada vez mais apressado e infiel. Não por conta da oferta do céu que vem uma vez só e de graça, mas pelas ofertas terrenas em 10 vezes e com juros. Receio que se o Senhor chegasse hoje, correria com os vendilhões do templo. Mas ainda é Advento, tempo oportuno para refletir e mudar. E assim o Natal pode chegar com mais calma... Rev. Marcos Schmidt é pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil em Novo Hamburgo-RS
1 Na data da publicação deste artigo em Jornal.
Outubro e Novembro, 2011 | RT | 81
Artigo
Rev. Fernando E. Graffunder
O Natal e o presente do Perdão P
ara surpreender alguém é necessário fazer algo inesperado. As surpresas agradáveis deixam marcas profundas e inesquecíveis. Receber um presente sem ter merecido é algo que não se espera; quase impossível. Só não é impossível porque nós somos contemplados com um presente destes. Trata-se do perdão dos pecados. Deus, em Cristo Jesus, nos surpreende com o presente que não fizemos por merecer. O amor de Deus pela humanidade é tão grande que chega a ser incompreensível. Mas ele é comprovado e doado no Salvador Jesus que veio ao mundo para nos salvar. Celebrar o Natal como resposta ao presente que recebemos de Deus é demonstração de fé e confiança. Neste sentido a comemoração do nascimento de Jesus (Natal) é apenas mais um dia vivido na misericórdia de Deus. Os não cristãos jamais irão celebrar o Natal em espírito e verdade a menos que sejam convertidos pelo Espírito Santo. Dos cristãos não se espera outra coisa. Aliás, dos cristãos se espera que anunciem a Palavra de Deus que é usada para transformar mentes e corações. Nas Escrituras Sagradas está revelado o plano do Criador para a salvação eterna de todas as pessoas. O presente de Deus está pronto para ser entregue. Quem irá entregá-lo e para quem? O trabalho da Igreja de Cristo no mundo é como ser um “Papai Noel” a entregar presentes. Não presentes que se estragam, mas que duram para sempre. Cada um nós que tem a verdadeira fé é convidado a entregar ou distribuir o presente de Deus. Quem pensa que não precisa deste presente é quem deve ser o alvo da nossa missão. Presentear alguém com uma viagem, um eletrodoméstico ou um brinquedo é bom. Mas, quando este presente tem como propósito restabelecer uma amizade, por exemplo, não é recomendável. A reconstrução de bons relacionamentos inicia com o perdão. É isto que Deus faz conosco. É 82 | RT | Outubro e Novembro, 2011
isto que Deus quer que nós façamos aos outros. “O amor é isto: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou e mandou o seu Filho para que, por meio dele, os nossos pecados fossem perdoados. Amigos, se foi assim que Deus nos amou, então nós devemos nos amar (perdoar) uns aos outros.” (1 João 4. 10-11). A prática do perdão mútuo muda a nossa vida para melhor. Portanto, é um ótimo presente. Rev. Fernando Emílio Graffunder é pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil em Pelotas-RS
Direto ao Ponto
Os publicanos de Osasco A
ssistindo ao Fantástico, lembrei dos publicanos ou cobradores de impostos citados na Bíblia. Jesus se relacionava com eles e isto deixou os fariseus de cabelo em pé, tanto que perguntaram aos discípulos: — Por que é que o mestre de vocês come com os cobradores de impostos e com outras pessoas de má fama? Os publicanos eram detestados pelos judeus, pois além de agentes do tirano império de Roma, a maioria era corrupta ao exigir propinas e cobrar além do que deveriam. Alguns se tornaram cristãos, entre eles o evangelista Mateus. O baixinho Zaqueu, depois da conversa com Jesus, arrependeu-se e deu aos pobres tudo o que havia roubado. Conforme o Fantástico (dia 4/12/11), a Polícia Federal de São Paulo encontrou R$ 12,9 milhões em poder de cinco fiscais da Receita. Na casa de um deles, US$ 2,5 milhões estavam escondidos no forro do teto. Somente uma quadrilha de Osasco teria desviado R$ 2 bilhões dos impostos nos últimos 10 anos. No final da matéria, um corregedor da Receita declarou que a maioria dos servidores é honesta e os corruptos serão punidos. Tomara! Um assunto oportuno, já que 9 de dezembro é o Dia Internacional de Combate à Corrupção. No Brasil, R$ 85 bilhões são desviados dos cofres públicos pelos maus políticos, servidores, empresários — em âmbito municipal, estadual e federal. É muito dinheiro que poderia acabar com tantos problemas que azucrinam a nossa vida. “Que a justiça seja feita pela Justiça”, disse um agente da Polícia Federal sobre os publicanos de
Osasco. Ou seja, que sejam punidos. E para que não sejam condenados pela justiça divina, eles ainda podem ouvir João Batista, aproveitando o recado do Advento. Diz o Evangelho que “alguns cobradores de impostos também chegaram para serem batizados e perguntaram a João: —Mestre, o que devemos fazer? Não cobrem mais do que a lei manda! — respondeu João” (Lucas 3.12-13). Os tribunais de contas e a polícia teriam menos trabalho se a mensagem do Natal surtisse efeito no coração desses publicanos. Rev. Marcos Schmidt — Novo Hamburgo, é pastor da Igreja Evangélica Luterana do Brasil
Rev. Martinho Lutero Hoffmann
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