Juventude HighTech: Um diagnóstico da atuação de JMC durante isolamento social

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‘JUVENTUDE E A ATUAÇÃO NA CULTURA E ARTES NA CIDADE DE SÃO PAULO: Um diagnóstico da atuação de Jovens Monitores Culturais da região Centro-Oeste durante a pandemia ARIELLY 'TOMBÔ" SOUZA

Introdução 2

Reflexão e análise 2

Perfil socioeconômico 4

Quais foram as adaptações realizadas para atuação remota 6

Sobre acesso a equipamentos/ferramentas e à internet 7

Como esse jovem vê a atuação dos órgãos responsáveis 9

Olhar sobre o futuro e as contribuições do PJMC para a realização deste? 10 Conclusão 11

Bibliografia 12

Agradecimentos:

Atodas as malokeiras e todos os malokeiros!

Essa pesquisa nasceu graças às colaborações de minhas parceiras e parceiros de atuação da região centro-oeste e ao Projeto Jovem Monitor Cultural. Nunca foi fácil falar de periferia, emprego e arte, tenho certeza que nunca vai ser Espero um dia poder escrever melhor e ver mais coisas bonitas pelo mundo Venho aprendendo muito e concluo que sem a arte e a cultura pouco nos restaria.

1.Introdução

Esse Plano de Intervenção Artística Cultural - PIAC pretende refletir sobre as formas de acesso e modo de viver das pessoas atuantes nos equipamentos culturais da região Centro-Oeste via o Programa Jovem Monitor Cultural (PJMC) da Prefeitura da Cidade de São Paulo durante o período de distanciamento social causado pela Covid-19 entre os anos de 2020-2021.

Quando houve a entrega do projeto no mês de maio, o intuito era analisar restritamente o acesso e qualidade da internet que essas/esses jovens. Contudo no desenvolvimento da pesquisa se notou a necessidade de ir além não limitando objetivo desta pesquisa-projeto. Desta forma, não se tornou sustentável a nomenclatura escolhida inicialmente, ‘Juventude high-tech’. Neste momento acredito que o título ‘Juventude e a atuação na cultura e artes na cidade de São Paulo: Um diagnóstico da atuação de Jovens Monitores Culturais da região Centro-Oeste durante a pandemia’seja mais adequado.

Após acrescer estas observações, sigo apresentando meu PIAC uma pesquisa, desejo para todas as pessoas uma boa leitura e espero que meus apontamentos possam auxiliar nas projeções dessa Política Pública de suma importância para tantas e tantos jovens das periferias da cidade de São Paulo terem oportunidades de experimentar e explorar nas áreas de artes e cultura.

2. Reflexão e análise

Iniciando a reflexão, falar sobre a atuação de Jovem Monitor Cultural (JMC) é uma tarefa complexa já que a diversidade e pluralidade são as principais características do programa. Sendo assim, é interessante tomar emprestado o conceito de juventudes elaborado por Pais (2003), onde o cotidiano surge como principal fator para a produção cultural, ou a formação de culturas juvenis. É de suma importância destacar o papel do cotidiano para a formação cultural. A cultura é feita no dia a dia, nas experiências pessoais e profissionais, sobretudo nas trocas. O processo de “fazer juntos", que me foi apresentado conceitualmente por Alexandre Piero (2019) e na prática enquanto JMC, me revela uma intersecção

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sobre o papel deste programa em sua diversidade de mãos que lhe formam e na espontaneidade criada dos encontros culturais e artísticos.

Pensando neste processo do movimento, a intensidade disforme das transformações sociais e os reflexos no mundo do trabalho durante o ano de 2020 o PJMC não ficou isento de tal processo. As transformações das dinâmicas das formações teóricas e práticas presenciais para transposição nos meios virtuais de maneira bruta e rápida devido ao estágio de alerta e tensão causado por um descontrole sanitário. As formas de se viabilizar a ação cultural e artística tornou-se um desafio, os processos de informatização e digitalização de equipamentos públicos e privados foram intensificados. A aceleração do uso das Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC) tornaram-se o canal para se dar continuidade às atividades, ações, formações e eventos culturais e artísticos. Entretanto, podemos observar que antes mesmo do caos causado pela Covid-19 os investimentos nas TIC para os espaços culturais caminhavam a passos muito lentos, em 2020 haviam poucos investimentos em estruturas e pessoal sobre isso indico a leitura da ‘Pesquisa Sobre o Uso das Tecnologias de Informação e Comunicação nos Equipamentos Culturais Brasileiro’ promovida por Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) o qual realiza uma investigação interessante sobre a temática.

O espaço social que foi invertido e as práticas submetidas às condições do ‘novo normal’. Desta forma as necessidades se modificam e as fragilidades se elevam, dadas as condições de trabalho e as sujeições da saúde mental, se desconectar tornou-se algo improvável (FIOCRUZ 2020). A manutenção das atividades culturais foi de extrema necessidade para a seguridade de alguns aspectos de nossa saúde mental acima citadas. Instigada por este cenário, decidir por iniciar um processo de escuta com meus pares, outras e outros JMC de modo de compreender as singularidades e semelhanças que formam esse corpo de jovens atuantes nos equipamentos culturais da cidade de São Paulo, focalizei nos jovens da região Centro-Oeste.

Dado o contexto, o processo de escuta e análise sobre as formas de adaptação para a atuação de algumas dezenas de jovens se viabilizou por pesquisa, realizada nas plataformas da Google e WhatsApp. As informações a seguir se vinculam a esse processo, busquei abordar aspectos como moradia, acesso à internet, as formas de atuação prática e teórica no PJMC, além das

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perspectivas de futuro profissional dessas e desses jovens. Observando e destacando suas necessidades, sensações e sentimentos durante o isolamento social.

Esta apresentação seguirá a ordem: a. Apresentação do perfil socioeconômico e de moradia desses jovens. b. Quais foram as adaptações realizadas para atuação remota; c. Sobre os acessos de equipamentos/ferramentas e à internet; d. Como esse jovem vê a atuação dos órgãos responsáveis; e por fim e. Olhar sobre o futuro e as contribuições do PJMC para a realização deste.

a. Perfil socioeconômico

Segundo o próprio site do Programa Jovem Monitor Cultural essa Política Pública tem como foco ‘na formação e experimentação profissional em gestão cultural para as juventudes, o programa é realizado pela Secretaria Municipal de Cultura (SMC) da Prefeitura de São Paulo’. Mas afinal quem é esse jovem? A onde e como ele vive? Neste momento, analisei os jovens da minha região de atuação Centro-Oeste.

Os dados perfilam sobre quem é essa pessoa atuante na região Centro-Oeste no PJMC, em sua composta por continuístas (60%) que atuam a mais de 12 meses no Programa.

Destaque para uma maioria que se identifica com o sexo feminino (68%) e que se autodeclaram como negros ou pardos, 32% e 40% respectivamente (Errata da autora, durante a pesquisa adotei a nomenclatura negros e pardo, o certo seria pretos e pardos para não prejudicar os dados até então coletados, decidi pela manutenção das nomenclaturas, ainda que eu entendas os equivocos). É interessante constatar que as pessoas que mais são marginalizadas no mercado de trabalho têm o perfil mais presente no quando analisada a atuação no PJMC.

Os dados etários me chamaram a atenção, por mais que esta seja uma política para as juventudes, e a está compreendemos como pessoas nas idades de 18 à 29 anos, as idades de 23, 24 e 26 anos foram as que replicaram em qualidades, todas apresentando um volume de 20%. Mesmo que isso não revele nenhuma especificidade é interessante observar esses marcadores.

As práticas de inclusão da pessoa com deficiência é algo está acontecendo, ainda que oriunda de ações pontuais e tímidas. Essas práticas são importantes e potentes, pois a construção de um ambiente plural passa por esse viés e é sempre valido lembra que quanto maior a presença de pessoas diversas entre si mais enriquecedor torna-se os processos formativos.

A distribuição geográfica dos atuantes em equipamentos da região Centro-Oeste é notável. Atribuo tal fator a formação geográfica e espacial da região oeste em conjunto de sua proximidade ao centro da cidade, onde está localizado em suma o setores de supervisão dos programas, projetos e dos próprios equipamentos.

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b. Quais foram as adaptações realizadas para atuação remota

As adaptações para a nova forma de atuação, trabalho e estudo se realizaram no imediatismo, já que quase sem tempo para pensar sobre o ideal o real teve que ser feito para ontem. Como isso se deu nos espaços culturais, até o dia 13 de março de 2020 houve atuação ‘normal’, mesmo que já estivéssemos sob os efeitos e tomando as medidas necessárias para enfrentar o maior caos sanitário dos últimos 100 anos. O momento de se pensar-agir-adequar foi muito curto, e para muitos e muitas ainda está em vias de se realizar Acredito que esses três dados que vão ser apresentados são providências para se iniciar o debate sobre o estar do PJMC e as relações com as adequações.

Gostaria nesse momento de dar destaque à 52% das pessoas entrevistadas colocaram que tiveram que improvisar espaços, 72% relatam que não estão conseguindo acompanhar as atividades como desejavam, além de 52% relataram que tiveram dificuldades e mais 40% que colocam que ‘não conseguem, mas estão tentando’. Esses dados servem como marcador da realidade distante da estrutura como sendo presente para a atuação dessas/desses jovens.

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c. Sobre acesso a equipamentos/ferramentas e à internet

As formas acessos ou precariedade em acessar, foi e é algo prejudicial à ação/atuação no PJMC. O poder do acesso, o usufruir de equipamentos e ferramentas essenciais para o desenvolvimento de uma atuação qualitativa desses jovens. Agora acredito que seja o melhor cenário para se pensar em melhoria da atuação. Algumas das dificuldades já foram localizadas, antes mesmo da demanda represada durante a pandemia. Este é o momento de rever e pesar o desenvolvimento e práticas qualitativas, a fim de superar as dificuldades, já que se tornou perceptível que por mais que houvesse uma entrega e o desejo para se realizar as atividades, participar das ações e participar de forma ideal, ou ao menos regular das formações, alguns quesitos esbarram em questões de acesso à equipamentos e materiais. feito.

A internet tem um papel de protagonista na vida contemporânea, e foi acentuada dadas as novas condições de sociabilidade e trabalho. O não acesso à banda larga de qualidade, já que em diversos locais periféricos ter mais de 2 mega de internet é uma raridade, faz com que a feitura e o desenvolvimento no campo da atuação prática seja uma realidade desigual. Mais de 60% das pessoas entrevistadas relataram que a qualidade da internet interfere diretamente em seu

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desenvolvimento. Como podemos ver no gráfico abaixo:

O fator acesso foi a principal história que vivi durante o teletrabalho. As diversas vezes as quais minha conexão se permitiu ficar off-line em eventos, encontros e ações do equipamento onde atuava, a instabilidade para a participação das formações e reuniões síncronas. Ou até mesmo as dificuldades para participação e dedicação à formação teórica, por ficar alguns dias sem internet em minha casa. Mesmo com a redistribuição do auxílio transporte que se transformou temporariamente em um auxílio internet, reivindicação por parte do JMC, já que as leituras burocráticas travavam e não conseguiam compreender as necessidades imediatas na atuação remota desses jovens. Esse é, particularmente, um fator essencial para estarmos reavaliando a destinação de verba para o acesso tecnológico dentro do programa.

d. Como esse jovem vê a atuação dos órgãos responsáveis

A questão não é culpabilizar tão pouco acusar qualquer que seja a instância. Entretanto, os fatos são o meio para pesar as ações no tocante a responsabilidade de idealização, organização e execução deste programa. Nesse momento delicado, não necessita de tanto esforço para identificar a insegurança como um ponto comum de todas as pessoas, as sensações intensificadas por um único fato não

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saber/ entender o que está acontecendo. É sempre bom lembrar que as redes de apoio são o mínimo nesses momentos que estamos vivendo. Refletindo sobre os acontecimentos cheguei ao ponto da formulação das questões a seguir, as quais interagem e fazem refletir sobre o real acolhimento sentido nós jovens para com o programa.

Estes dados são um caminho para se entender como JMC observa, reflete e sente a acolhida. Podemos ver a resposta “Sim, mas acredito que mais poderia ser feito” é a que mais aparece como sendo a próxima diante da realidade. A 2º mais votada foi 'Não senti amparo em nenhum momento’.

Esses fatores foram de grande importância para que possamos analisar e pensar sobre o PJMC como um olhar mais humano e menos burocratizado. A comunicação falha entre JMC e aqueles as seções que supervisionam, executam e são a gestão do projeto, no caso SMC, Cieds e gestoras/gestores dos espaços culturais pode ser um empecilho para que o PJMC realize e atue de modo mais amplo e mais gentil. Os dados abaixo demonstram o

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processo de finalização do projeto, será que essas pessoas vão ser absorvidas pelo mercado de trabalho no setor cultural, das artes ou do entretenimento? Ou mais as contribuições formativas teórica e prática foram algo decisivas nas opções profissionais?

Os dados nos revelam uma divisão a respeito do futuro profissional na área de cultura, artes ou Políticas Públicas. O futuro profissional como quase tudo na sociedade brasileira é incerto. O setor em que realizamos está experimentação e formação, a

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cultura e as artes, foi/é um dos setores que sofreram com os cortes mais intensos durante o período de distanciamento social, que na verdade foram progressivamente violentados desde 2018. O não investimento, apesar da essencialidade já que o setor de serviços e cultura é um dos mais empregadas no Brasil, gera muita . de ter sido provado a necessidade das artes como meio de se manter a saúde mental, a live “Sem Arte Me Falta Ar” realizada na 8º Semana de de Saúde Mental e Inclusão da UFMG retrata isso.

Acredito que o ponto do estar no PJMC seja um vínculo com data pré determinada, qualquer pessoa que passe por este enquanto jovem tem no máximo 24 meses de permanência e não tem qualquer outro horizonte na área que não seja contentando com a sorte ou com um jogo de cintura realizado durante o período de estadia no projeto. Por um lado isso é bom, pois desenvolve a autonomia do indivíduo, vida adulta é isso sem muitas coisas à mão. Por outro, existe a grande possibilidade de se perder todo um investimento e desenvolvimento feito durante a formação, e indo um pouco além de se aproximar profissionais qualificados de espaços os quais necessitam desses profissionais.

Talvez seja a hora da SMC pensar em formas de inserção das pessoas formadas e com conhecimento do sistema, formas de trabalho e o mínimo de experiência para deixar o campo da atuação e formalizar os vínculos empregatícios.

3. Conclusão

O sentimento de insatisfação e desamparo é evidente. A pesquisa aponta que 90% das pessoas entrevistadas concordam que existe a necessidade de investimento no PJMC. Esses investimentos serão revertidos em melhorias de diversos aspectos do projeto, afetando diretamente na qualidade da atuação prática e teórica. Pensar no futuro da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo é também pensar em pessoas construindo junto e principalmente com conhecimentos sobre os processos.

Encaminhando para a conclusão, devo considerar que o campo cultural e artístico à ação/atuação das juventudes é providencial para trazer frescor e efervescência necessária para a movimentação cultural. Pensando na vontade e

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disposição para fazer, ensinar e aprender Acredito que investimos são necessários para que haja melhorias e qualidade nos serviços, e esse processo deve ser somado a um acompanhamento das tecnologias e processos sociológicos e digitais. Acredito nas potências das juventudes como saída para infinidades de crises e tensões às quais estamos submetidos todos os dias. O ver uma luz diante do absurdo e organização do caos é apenas uma perspectiva, e a capital da cultura pode muito mais.

Bibliografia

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KAFROUNI, R. A dimensão subjetiva da vivência de jovens em um programa social – contribuições à análise das políticas públicas para a juventude. 2009, 141f. Tese (Doutor em Psicologia). Programa de Pós--Graduação em Psicologia Social, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo: 2009.

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PIERO, A., O processo de “fazer junto”: Programa Jovem Monitor Cultural. In.: Anais III ENEPCP, Natal, p.1451-1465 (acesso em julho)

PAIS, J. M. Correntes teóricas da sociologia da juventude. In: PAIS, J. M. Culturas juvenis. 2. ed. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2003, p. 47--82.

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