NÚMERO 28 VOLUME 7
EQUINÓCIO DE PRIMAVERA, 2020
REVISTA DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PLANETÁRIOS
A MAIOR SESSÃO DE PLANETÁRIO DO MUNDO Mais de 40 mil pessoas na estreia, mais de 200 mil visualizações
OFICINA DE ROTEIRO C o m o c r i a r u m a n ova s e s s ã o
NOVAS COLUNAS Quatro
planetaristas
ISSN 2358-2251 Associação Brasileira de Planetários DISTRIBUIÇÃO GRATUITA VENDA PROIBIDA
Há mais de 20 anos, a Associação Brasileira de Planetários (ABP) vem incentivando e auxiliando a instalação de novos planetários, bem como ajudando a compartilhar experiências entre os apaixonados por esses espaços únicos de Educação. Especialmente agora, em um momento singular de nossa história, queremos juntos criar novos modelos de divulgação científica. Nossos domos podem estar fechados, mas nossas mentes estão abertas. Separados, mas juntos, os mais de cem planetários brasileiros, fixos e móveis, vão criar soluções e continuar encantando o nosso público com as belezas de um céu estrelado. Foto: J.R.V.Costa
editorial A primavera chegou. E ainda que em nosso país tropical não possamos de fato abraçar seu significado psicológico tão arraigado nos povos das altas latitudes, “renascimento”, é disso que vou falar neste breve editorial. O termo “primavera” vem do latim e quer literalmente dizer “o início da boa estação”, primo veris. (A “boa estação”, no caso, é o verão, veris.) Povos da zona temperada sofriam com invernos rigorosos e renasciam, metaforicamente falando, quando chegava a primavera. É desse renascimento figurado que estou falando. Ainda não temos uma cura para a COVID-19; ainda não temos uma vacina. Ainda estamos num longo e atípico inverno social, todos se adaptando ao “novo normal” que tanto se fala, mas que ninguém sabe bem o que é. Nós todos, como sociedade, ainda não renascemos. Ainda aguardamos nossa primavera libertadora...
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PLANETÁRIOS PRESIDENTE JOSÉ ROBERTO DE VASCONCELOS COSTA VICE-PRSIDENTE ALEXANDRE CHERMAN SECRETÁRIO MANOEL ALVES RODRIGUES JUNIOR TESOUREIRA TÂNIA MARIS PIRES SILVA
Mas a ABP renasceu. Quando, no início do ano, tomamos a sensata decisão de cancelar nosso Encontro Anual (planejado para novembro de 2020, no Rio de Janeiro), sofremos todos por antecipação. O Encontro da ABP não é só um evento técnico, científico e educacional. O Encontro da ABP é uma reunião entre amigos. Sua ausência nos faria falta. Migramos logo para um modelo virtual, que batizamos de E-ncontro. E temos nos “e-ncontrado” desde maio, em reuniões virtuais via Zoom, com debates, palestras, rodas de conversa e muito mais. Nos vimos cerca de duas vezes por semana, ao longo de QUATRO meses, totalizando 48 horas de conteúdo oferecido pela ABP aos seus associados. Apesar de distantes, ficamos mais próximos. A ABP renasceu. Esse renascimento nos fez mais fortes, mais presentes, mais unidos. Novos canais surgiram; outros antigos se fortaleceram. Criamos um grupo no Telegram, o “Astronomia para Educadores”, que já tem mais de dois mil participantes. Nosso canal no YouTube disparou. E, claro, produzimos e apresentamos a maior sessão de planetário de todos os tempos. Nesta edição você vai saber mais sobre algumas dessas conquistas... Outro grande desafio em tempos de pandemia foi produzir a revista. Normalmente (e isso eu nunca fiz questão de esconder dos leitores) a parte mais difícil da cadeia produtiva da Planetaria é conseguir material. São poucas submissões de artigos, essa é a norma. E se isso já acontece em tempos normais, imaginem depois de seis meses em que TODOS os planetários brasileiros ficaram fechados.
SECRETARIA DA ABP Planetário da Univ. Federal de Goiás Av. Contorno No 900, Parque Mutirama Goiânia/GO - 74055-140 Fones (62) 3225-8085 e 3225-8028 www.planetarios.org.br
REVISTA PLANETARIA EDITOR-CHEFE ALEXANDRE CHERMAN EDITORES ASSOCIADOS JOSÉ ROBERTO DE VASCONCELOS COSTA MANOEL ALVES ROGRIGUES JUNIOR REDAÇÃO E DESIGN GRÁFICO JOSÉ ROBERTO DE VASCONCELOS COSTA JORNALISTA RESPONSÁVEL MARCUS NEVES FERNANDES COLABORADORES DESTA EDIÇÃO DINAH MOREIRA ALLEN BASÍLIO FERNANDEZ KIZZY ALVES RESENDE JULIANA ROMANZINI CECÍLIA PETINGA IRALA SHEYLA DAYANE DOS SANTOS CAROLINA DE ASSIS
A Planetaria renasceu, junto com a ABP. Nesta edição, inauguramos não uma, nem duas, mas quatro novas colunas. Colunas, diferentemente de artigos, existem por demanda interna. Seus autores não as submetem; são convidados. π SETEMBRO 2020
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Isso cria um elo forte, uma cadeia de responsabilidade e, por que não deixar isso registrado?, uma zona de segurança para o editor. E na condição de editor, só tenho a agradecer às planetaristas Carolina de Assis (Museu Ciência e Vida, RJ), Cecília Irala (Planetário da UNIPAMPA, RS), Juliana Romanzini (CEDAI-Jabuti, PR) e Sheyla Santos (Planetário de Londrina, PR) por terem topado esse desafio. Sejam todas vocês muito bem-vindas! E sejam todos vocês, leitores, bem-vindos também. Algo me diz que, em tempos de quarentena, muita gente está lendo a Planetaria pela primeira vez. Que bom que vocês vieram. ALEXANDRE CHERMAN Editor-chefe
conteúdo 6 A MAIOR SESSÃO DE PLANETÁRIO DO MUNDO - O MAKING OF 12 OFICINA DE ROTEIRO: DIÁRIO DE BORDO página 6
16 #VIDADEPLANETARISTA 18 SER PLANETARISTA É... 20 HISTÓRIAS DAS ESTRELAS 22 A PARTE E O TODO
página 20
24 1° E-NCONTRO: UMA MEMÓRIA VISUAL
PLANETARIA No 28 - Vol. 7 - Jun/2020
PLANETARIA (ISSN 2358-2251) é uma publicação trimestral da ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PLANETÁRIOS (ABP), associação civil sem fins lucrativos, de interesse coletivo com sede e foro na cidade de Porto Alegre (RS), na Av. Ipiranga, 2000, CEP 90.160-091, CNPJ 02.498.713/0001-52, e secretaria no Planetário da Universidade Federal de Goiás, na Av. Contorno, 900, Parque Mutirama, Goiânia (GO), CEP 74055-140. CAPA: Fotomontagem de J.R.V.Costa (themedia mockup, 2013). Esta edição usa o template “Universal” de bestindesigntemplates.com/magazine/universal-indesign-magazine-template/ disponível sob Licença Royalty-free da Creative Commons CC BY. OS ARTIGOS ASSINADOS SÃO DE INTEIRA RESPONSABILIDADE DE SEUS AUTORES E NÃO REPRESENTAM NECESSARIAMENTE A OPINIÃO DOS EDITORES OU DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PLANETÁRIOS. A REVISTA PLANETARIA TEM DISTRIBUIÇÃO GRATUITA E SEUS ARTIGOS PODEM SER COPIADOS DESDE QUE MENCIONADA A FONTE, AUTOR(ES) E NÃO SE FAÇA USO COMERCIAL.
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mensagem do presidente A Astronomia une as pessoas. O simples conhecimento de que estamos num planeta – uma pequena rocha a girar num espaço imenso, todos iluminados pela luz de uma mesma estrela – é capaz de nos fazer refletir. Perceber a insignificância do nosso ego, pensar que as fronteiras nacionais não tem sentido quando vistas do alto. Compreender que somos hoje uma só espécie humana (nossos antepassados já eliminaram as outras, provavelmente por competição), independente dos diferentes idiomas, culturas... Conscientemente lutamos contra uma parte de nossos genes, contra algumas tendências violentas, contra a estupidez que nos divide e exclui. Nossa maior “arma” nessa batalha é justamente o pensamento. Poderoso, transformador – sendo o conhecimento do nosso lugar no Universo uma ferramenta auxiliar importante.
►José Roberto de Vasconcelos Costa
nasceu em Natal, RN, cidade conhecida pela instalação da primeira base de foguetes da América do Sul. Seu avô foi um civil condecorado na Segunda Guerra Mundial, quando a base aérea de Natal foi a maior do mundo fora dos EUA e, quando criança, José Roberto fez muitas visitas ao lugar, brincando no ferro velho das antigas aeronaves. Sua paixão por “tudo o que está no céu” vem dessa época: dos aviões aos foguetes, das naves espaciais aos corpos celestes. Graduado em TI pela USP de São Carlos, tem Mestrado em Ensino de Ciências Naturais e Matemática pela UFRN e é defensor apaixonado da transdisciplinaridade, sempre buscando ligar os conhecimentos astronômicos com o dia a dia das pessoas, num exercício de autoconhecimento e reconexão com a natureza. Foi eleito Presidente da ABP para o triênio 2019 - 2021.
Interessar-se por Astronomia é se importar com o outro. É saber que precisamos repartir saberes, que o céu nunca se mostra por inteiro para um de nós, visto aqui, da superfície da Terra. Mas revela peças importantes que, uma vez compartilhadas, formam esse todo que procuramos. Temos dito com frequência que a ABP proporciona um encontro caloroso e amigável entre planetaristas de todas as partes do país. Que nosso grupo é como uma grande família, unida e sempre crescendo. Sejamos justos, é a Astronomia quem faz isso. Talvez aconteça com mais força sob os domos dos planetários porque eles simulam o céu estrelado. Ficar sob o céu várias horas por dia, contemplando as constelações mesmo quando o Sol brilha lá fora, proporciona mais tempo para assimilar esse sentimento de união. Este ano, um minúsculo habitante desse planetinha azulado, bem mais ancestral do que todo o tempo da soberba humana neste mundo, nos forçou a medidas de sobreviência coletiva que implicaram em menos contato social. Uma adversidade gigantesca para animais sociáveis como nós! Mas, vejam, nossa necessidade de conviver com o outro é maior que nosso egoísmo. Não suportamos isolamento. Usamos a tecnologia disponível (e toda sorte de outras justificativas) para voltar a nos ver de perto. Para nós, planetaristas, a Astronomia está por trás de tudo isso. Nosso trabalho tem sido mostrá-la a todo mundo, para que também se apropriem da lição que o Cosmos ensina. Por uma convivência saudável. Pela vida.
JOSÉ ROBERTO DE VASCONCELOS COSTA Presidente
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ARTIGO
A MAIOR SESSÃO DE PLANETÁRIO DO
MUNDO
F O G N I AK M O
Imagine uma cúpula de planetário capaz de abrigar mais de 40 mil pessoas — e ninguém precisa sentar um do lado do outro
Dinah Moreira Allen*
P
lanetários são lugares mágicos, que
Porém, em tempos de distanciamento social devido
resgatam nas pessoas o hábito dos
à pandemia do novo coronavírus, os planetários de
nossos antepassados de olhar para o
norte a Sul do Brasil, bem como ao redor do mundo,
céu, admirar as estrelas e marcar a
tiveram de suspender suas atividades.
passagem do tempo pelo movimento
dos astros.
Atualmente, apenas dois planetários no Brasil, Rio de Janeiro e Brasília, conseguiram seguir o
Eles projetam em uma cúpula um céu limpo, sem
protocolo de reabertura segura, mas a maioria
poluição, sem nada para atrapalhar ou para nos
permanece impedida de receber o público. Isso
distrair, e têm recursos para simular o céu dentro
porque os planetários são locais circulares, fechados,
de um intervalo de milhares de anos, em qualquer
sem janelas, às vezes acarpetados, com assentos
localização da Terra, ou mesmo de outro planeta
próximos uns dos outros, condições totalmente
do Sistema Solar.
inapropriadas em tempos de pandemia.
Planetários digitais não têm limites. Além do céu
Para suprir essa falta, vários planetários e centros
estrelado, eles ainda podem projetar qualquer outra
de ciências ou culturais mudaram suas atividades
coisa que possamos imaginar. Quantos adultos, ao
para o mundo virtual. Surgiram séries de vídeos
visitar o planetário nos relatam que foram lá quando
sobre temas específicos, rodas de conversa, lives
crianças, depois levaram seus filhos e agora seus
(programas ao vivo), visitas a museus... Seguindo
netos! A visita de uma criança ao planetário marca
essa prática, surgiu a ideia de se elaborar uma
sua vida para sempre.
sessão virtual para a ABP.
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Originalmente, a ideia de
Em primeiro lugar, é preciso tomar
uma sessão virtual nacional veio
uma série de decisões sobre a
das sessões organizadas pelos
logística da sessão e definir papéis
planetários do Rio Grande do
para cada participante.
Sul. Após realizarem um evento, sugeriram extrapolar para um contexto nacional, que envolvesse toda comunidade da ABP.
Qual ou quais plataformas usar para a transmissão ao vivo? A
*Planetarista. Planetários de São Paulo.
ABAIXO Print de tela da sessão virtual.
ideia era atingir o maior número de pessoas possível, portanto
A sugestão foi lançada na Oficina
não seria interessante fazer um
de Roteiro e abraçada por um
evento com número limitado de
grupo formado por representantes
participantes. Mas para transmitir
de planetários de Norte a Sul do
a a p re s e n t a ç ã o p a r a m u i t a s
país, que se prontificaram a levar
pessoas, era preciso que no
o projeto adiante: a comissão “Os
grupo houvesse quem estivesse
Céus do Brasil”.
familiarizado com esses meios de
TESTEMUNHOS Veja depoimentos de educadores sobre a sessão virtual na p.27.
comunicação entre plataformas. PREPARATIVOS Quais softwares usar? Era Organizar e elaborar uma
preciso escolher um simulador de
sessão como essa não é tarefa
céu que não apenas reproduzisse
fácil, pois há muito que programar.
o céu citado no texto, mas que stellarium.org
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também tivesse uma imagem visual agradável em apresentador deveria ou não controlar o vídeo tela plana.
ou slides da apresentação. Era necessário pensar em backups para cada função, porque tudo pode
Existem simuladores de temas astronômicos acontecer em uma sessão online. Não era garantido interessantes que poderiam ser incorporados à que a internet de algum dos responsáveis ficasse apresentação para explicar o tema escolhido. Mas estável o tempo todo, e se algo desse errado, como manipular tudo isso ao vivo poderia tornar a sessão por exemplo o apresentador ficar fora do ar, alguém pouco dinâmica. O que fazer? Gravar um vídeo com a precisaria assumir sua posição. sequência de informações? Fazer uma apresentação de slides com vídeos inseridos? Essas possibilidades ROTEIRO precisaram ser analisadas e a decisão dependia do conteúdo escolhido para a sessão.
Decidida a logística, passamos à definição de detalhes da sessão em si. Antes de iniciar a elaboração
Como o programa iria ao ar ao vivo, seria do roteiro da sessão, precisávamos escolher o público interessante ter um espaço de interação com o alvo, pois o conteúdo, a linguagem, as imagens e público, e o mais natural seria o uso do chat. Porém, a sequência da apresentação sempre devem ser assistindo a outros programas ao vivo, foi possível adequados à faixa etária escolhida. perceber que nem todos que entram no chat têm o objetivo de participar, aprender, tirar suas dúvidas.
Assim, decidimos elaborar a sessão para a faixa
Seria absolutamente necessária a existência de um etária relativa ao Ensino Fundamental II. Escolhemos moderador para colher as perguntas que deveriam tratar do equinócio de primavera que aconteceria ser respondidas de alguma forma, e que fiscalizasse no dia 22 de setembro às 10h31min. A apresentação as más intenções. Como se fosse aquele inspetor seria no próprio dia de equinócio, começando um de escola que fica “de olho” na criançada para pouco antes, às 10h. O tema estações do ano está inserido no conteúdo do currículo do ciclo em questão evitar tumultos. e, portanto, as escolas teriam a oportunidade de Como apresentar a sessão? Além de escolher o incluir a sessão em seus programas diários de apresentador, ainda era preciso decidir se o próprio aulas virtuais. Imagem: NASA Johnson Space Center
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O passo seguinte foi decidir os
diretorias regionais de ensino e
responsáveis pelo roteiro e preparar
alguns representantes da imprensa
o material da apresentação. Foi
das diversas cidades de residência
proposta a produção de um vídeo
dos membros da comissão.
contendo imagens de simuladores
De imediato, após um dia de
de céu e de outras situações
divulgação da sessão, o número
astronômicas, bem como qualquer
de inscritos no canal do YouTube
figura que se fizesse necessária.
da ABP subiu de pouco mais de 100
Dado tempo hábil, uma proposta
para alguns milhares. Esse número
de roteiro e uma amostra do vídeo
cresceu significativamente nos
foram apresentadas aos membros
dias que se seguiram, de modo
da comissão, de modo que foi possível direcionar a elaboração da sessão como um todo. Quando o roteiro foi finalizado, seguimos para a criação do vídeo. Seguindo o roteiro, o início da sessão mostrou o que seria observado no céu da noite do dia 22 de setembro de 2020, dia do
que no dia 22 de setembro, havia mais de 30 mil inscritos!
IMPACTO Esse foi um projeto piloto.
Contamos mais de 40 mil
Ficou decidido que essa seria uma
pessoas
acompanhando
a
sessão única, e posteriormente
apresentação, e no final do dia,
seria estudada a viabilidade de que
o vídeo da sessão havia recebido
outras sessões fossem oferecidas
mais de 220 mil visualizações. Foi
em outras oportunidades. Não era
um sucesso que ninguém havia
possível saber se o evento seria
imaginado. Recebemos tantas
equinócio de primavera aqui no bem recebido pelas pessoas, se hemisfério Sul, se as condições a divulgação poderia ser feita em atmosféricas permitissem. Em tempo para atingir um grande
boas perguntas do público que
seguida, uma explicação sobre público, e principalmente, se as rotação e revolução, terminando atividades escolares permitiriam com as estações do ano, enfatizando a participação das crianças, já
a sessão. Para isso, preparamos
a data da apresentação. Como
não
poderiam
que muitas têm aulas virtuais ser
deixadas de lado, falamos sobre
não foi possível responder todas ao vivo, e tivemos de fazê-lo após vídeos curtos. Os
apresentadores
foram
procurados nas redes sociais, e
nesse horário.
receberam relatos incríveis de a
pessoas que assistiram à sessão.
constelações e um pouco de recepção foi incrível! Nenhum de mitologia, temas muito apreciados nós esperava tamanho alcance da pelo público. Com roteiro afinado divulgação e tamanha audiência.
Algumas escolas inseriram essa
e vídeo pronto, realizamos três Inicialmente, divulgamos para
que o assunto da aula seria o
ensaios para acertar todos os diretores de ensino, diretores
equinócio de primavera, no lugar
de escolas, representantes das
dos professores locais elaborarem
pontos necessários antes da live.
Para
nossa
satisfação,
apresentação em seus programas, como era nosso desejo inicial, Já
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ARTIGO
uma vídeoaula, indicaram aos uma ótima ideia. A quarentena entre os próprios membros da alunos a apresentação da ABP.
m o s t r o u q u e p o d e m o s f a z e r ABP, pelas conversas nas salas muitas coisas que não havíamos de conferência e pelos trabalhos
Muitos pais e professores estão imaginado anteriormente no nosso em grupo, como a produção desta pedindo mais apresentações como velho normal. sessão virtual. essa, e chegamos à conclusão de que esse pedido é uma
Por mais antagônico que possa
consequência da grande carência parecer, o distanciamento social
Ainda não sabemos quando
por conteúdos de Astronomia em pode, sim, nos aproximar mais essa situação terá um fim e qual vídeo. Atender a esse pedido do do público, desde que estejamos será o novo normal. Mas seja ele público se faz necessário. O sucesso dessa primeira
dispostos a inovar e aprender qual for, esperamos que as coisas novos recursos. boas da pandemia fiquem para
Os encontros virtuais frequentes sempre, e sessões virtuais com grande, que manter essa prática durante a quarentena também certeza fazem parte dessas coisas sessão virtual da ABP foi tão
mesmo depois da pandemia é trouxeram uma aproximação maior boas que devem ficar.
▣
stellarium.org
1 0 P L A N E TA R I A
Faça as coisas da forma mais simples possível, mas não as mais simples Albert Einstein
Planetários são máquinas sofisticadas, de grande precisão e alta tecnologia, mas não são feitas para trabalhar sozinhas. O elemento humano, bem preparado e comprometido com a missão de inspirar para o conhecimento, é definitivamente essencial. A ABP reconhece essa importância e reúne a expertise de profissionais com longa experiência em planetários para repartir saberes, debater estratégias e dar suporte a iniciantes. Venha descobrir mais sobre este fascinante Universo. Filie-se à Associação Brasileira de Planetários.
www.planetarios.org.br
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ARTIGO
OFICINA DE ROTEIRO
DIÁRIO DE BORDO
Capítulo Um
Há dois meses, um grupo bastante animado de planetaristas iniciou uma jornada com um objetivo desafiador: criar uma sessão de planetário para o público infantil e distribuí-la a todos os planetários brasileiros
Basilio Fernandez*, Juliana Romanzini** e Kizzy Resende***
S
omos um grupo heterogêneo de
Ele vem nos guiando em um caminho
planetaristas de vários estados bastante diferente do qual imaginávamos brasileiros e com diferentes trilhar, e que faz muito mais sentido do realidades. O que temos em que nossas ideias iniciais. comum é o fato de todos traba-
lharmos ou já termos trabalhado em alguns
E você deve estar se perguntando o que temos feito até agora, ou a quantas anda
desses espaços.
nossa sessão (expectativa). Nós vamos te Missão Número 1: ambientação Nossa
equipe
iniciou
contar como tudo tem acontecido até o com
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integrantes, mas ao longo da caminhada
momento (realidade). Como diz o título desse nosso primeiro
alguns colegas infelizmente não puderam capítulo, o início de tudo foi a ambientação, continuar a missão. Hoje somos 18 mentes para nos conhecermos como equipe e como desenvolvendo um projeto em conjunto sob escritores. Aí estava a primeira tarefa: cada a orientação do nosso facilitador (como ele um descrever a si próprio e a outros dois se auto-intitula), Alexandre Cherman. 1 2 P L A N E TA R I A
colegas, utilizando somente um parágrafo
* Diretor de Difusão Científica do Planetário Parque do Saber, BA. ** Planetarista do CEDAI - Jabuti, Londrina, PR. *** Planetarista. Doutoranda em Geografia na USP.
Dentre as tantas apropriações
e assistimos às criações do
foi um trabalho fácil, mas deu que tivemos com esses exercícios, várias pistas a respeito do estilo algo de especial ficará guardado
Cherman em tempo real. Essa
para sempre em nossa memória:
e bastante motivadora para nós.
para cada texto. E não pense que
de escrita de cada um.
última modalidade foi inovadora
a frase inicial desses textos, que A partir daí, deu-se início a era sempre a mesma! Quando
Durante as “lives do Cherman”,
uma enxurrada de atividades, abríamos o arquivo compartilhado,
ele redigia diversos textos, com
num ritmo frenético de prazos lá estava ela: “seu brilho intenso a p e r t a d o s e o b j e t i v o s q u e e constante se destacava contra
as temáticas escolhidas por
o b r i g a v a m n o s s a s m e n t e s a a escuridão do céu noturno”... produzir diversos textos, com a Na primeira vez achamos muito mesma temática, sob diferentes bonita, nas últimas versões ela já nos acompanhava até na hora do pontos de vista. sono! Mas faz parte do processo! Os
primeiros
exercícios
consistiam na criação de textos em conjunto, onde cada integrante se encarregava de um parágrafo. O texto deveria fluir na tentativa de explicar determinados fenômenos
“Frankeinsteins”, e isso foi válido, pois estávamos (e ainda estamos)
Era uma conversa escrita, não havia necessidade de falas, a concentração era toda nas palavras digitadas por ele. Era um silêncio enriquecedor! Três versões de textos, sob a mesma
E
assim
seguimos
com
diversos exercícios, cada um com
temática, foram construídas em cada edição.
seus respectivos objetivos. Já elaboramos pequenas propostas
Nossa oficina tem sido bastante
de programas de planetário,
agitada, mas nós também tivemos
traduzimos notícias científicas
m o m e n t o s p a r a re l a x a r ( s e m
escolhidos por nós mesmos ao p a r a a l i n g u a g e m i n f a n t i l , longo da produção escrita. analisamos a escrita dos colegas, No início, elaboramos alguns
nós, sob diferentes enfoques.
parar de produzir,
afinal, para
uma tarefa de escrita, precisamos
fomos avaliados entre nós e por
escrever
sempre).
nosso facilitador.
descansos são as “brincadeiras”, momentos
Escrevemos individualmente,
aprendendo a trabalhar em grupo. p r o d u z i m o s
conjuntamente
onde
Nossos podemos
escrever sem nos preocuparmos tanto com conceitos científicos e SETEMBRO 2020
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onde podemos fantasiar o quanto durante este difícil período de quisermos. No fim das contas, distanciamento social. o descanso é um exercício de imaginação, e o Cherman, que
Um vínculo afetivo foi criado,
também participa conosco, ainda sempre buscando desenvolver adiciona alguns obstáculos no nosso trabalho em equipe de uma percurso da escrita coletiva, o maneira respeitosa e reconhecendo que deixava a brincadeira ainda o melhor em cada um para que possamos entregar um roteiro de
mais divertida.
qualidade para todos. E disso surgiram histórias tão interessantes que poderiam até se
Surgiram histórias tão interessantes que poderiam até se tornar um livro de ficção científica – quem sabe em uma nova oficina!
Seguimos vivendo e convivendo
tornar um livro de ficção científica c o m n o s s o s c r e s c i m e n t o s (quem sabe em uma nova oficina)! individuais, afinal, nossos maiores obstáculos estão em nós mesmos. Enfim, o que podemos concluir Temos aprendido a encarar nossas a t é a g o r a é q u e , c o m t o d a s dificuldades, buscando superáessas dinâmicas, notamos que las. Sentimos isso na entrega passamos a ter mais consistência dos exercícios, sempre muito bem na escrita (individual e coletiva), avaliados pelo nosso facilitador. se compararmos às nossas Chegamos ao fim do “Capítulo
produções iniciais.
Um” de nosso diário de bordo, mas Já aguardamos as críticas com essa história não para por aqui. mais curiosidade do que receio, Ela ainda está em construção. pois buscamos melhorar juntos. Sabemos que, assim
como os
E se você, leitor, quer saber
textos, nunca estaremos prontos. como ela irá terminar, continue N e s t a c a m i n h a d a a p e n a s n o s acompanhando nosso diário de entregamos ao caminhar.
bordo nas próximas edições da Planetaria. E esperamos que
Graças ao advento da internet e você possa ver o resultado desse as tecnologias que temos acesso, nosso roteiro em uma cúpula podemos estar próximos mesmo perto de você!
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▣
À DIREITA Alguns participantes da Oficina de Roteiro, na plataforma online Zoom.
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COLUNA
# V idadeplanetarista COM Cecília Petinga Irala
O trabalho de um planetarista
Era 2015 e eu estava no planetário
p o d e a t é t e r d i f e re n ç a s d e
a pouco menos de um ano; surgiu
acordo com a atuação de cada uma agenda para atender a cidade
E o Pedro, motorista, que nunca
p l a n e t á r i o , m a s t e m m u i t a s de Itaqui que fica a 500 km de tinha entrado no planetário, entrou distância de Bagé em um domingo semelhanças também. pela primeira vez. quente no mês de março. Qual de nós nunca abriu aquele Finalizamos o trabalho por Pensamos, por que não? Lá fomos, sorriso ao receber um elogio no volta das 22 horas, ganhamos da final de uma sessão? Ou teve que eu e o Guilherme, o motorista e o comissão organizadora uma caixinha pedir mais de uma vez para aquele equipamento do planetário móvel, de doce cada um e, como não tinha visitante não mexer no celular apertados e empolgados dentro de nada aberto essa hora para jantar, um carro popular para passar o dia durante a sessão? pegamos a estrada rumo a Bagé. Já fazendo sessões na cidade. era 2 horas da manhã, quando a Ainda, aqueles que trabalham com o planetário móvel: carregar o planetário. Ser planetarista vai
Começamos a fazer as sessões freada brusca do carro me acordou. no período da tarde, nunca passei
além de operar o equipamento, cada tanto calor na minha vida, o
O que houve perguntei, o
um de nós já passou por aquela povo estava muito feliz com a Guilherme que estava acordado situação em que pensou: “isso é o nossa presença. Vieram muitas respondeu: bateu em alguma coisa. que a Globo não mostra da minha
famílias,
muitas
crianças
#vidadeplanetarista!”
autoridades da cidade.
e O Pedro desceu, olhou e disse: acho que está tudo em ordem, podemos Foto da autora
1 6 P L A N E TA R I A
podemos seguir. Mas não estava. Andamos uns 50 metros
Ficamos felizes e começamos a conversar, foi aí
e o painel começou a mostrar um superaquecimento.
que o Pedro olhou para o céu e disse: olha, acho que
A batida que ocorreu em algo na estrada acabou furando o tanque de arrefecimento do carro e não
aquele ali é o Cruzeiro do Sul que vocês mostraram na sessão hoje. O Guilherme respondeu: é sim!
podíamos seguir viagem pois tinha o risco de fundir o
E foi então que o Pedro indagou: na sessão
motor. Paramos no meio da estrada, eu e o Guilherme
também dizia, se seguir pela cruz maior do cruzeiro
sem sinal de celular e o Pedro tentando contato com o responsável pelos transportes que não atendia. Estávamos todos cansados e sem saber o que fazer, resolvemos sair do carro para esticar as pernas e contemplamos o céu estrelado da beira da estrada.
em direção ao outro lado do céu, encontramos a constelação do Leão. “Acho que lá é o Leão!!! acho que lá é o Leão!!” apontou o Pedro e nós ficamos muito contentes! Por volta das 5 horas da manhã chegou o
Foi então que o Pedro depois de uma hora conseguiu
“resgate”, cheguei em Bagé às 6 horas e, quase sem
contato com o pessoal dos transportes e que iam
dormir, às 9h já estava na Universidade, montando
mandar os carros para nos buscar.
o Planetário porque tinha sessão agendada.
▣
O planetário inflável em viagem pelo interior do Rio Grande do Sul. Foto de Guilherme F. Marraghello.
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COLUNA
S E R planetarista É . . . COM Juliana Romanzini Foto da autora
Entendemos que ser planetarista é uma profissão, mesmo que não haja reconhecimento como tal. E é uma profissão bastante complexa. Exige muitas habilidades. Há quem pense que para ser planetarista basta saber manipular vários equipamentos e responder questões sobre Astronomia. Se você conhece alguém que tenha essa ideia em mente, sabe que ele Fui convidada a escrever uma nova coluna na revista Planetaria.
Depois de muito refletir, pesquisar passou bem longe do que é a nossa realidade. e me perguntar “por que aceitei
A princípio fiquei lisonjeada, essa barra?”, percebi que algo me mas confesso que tal convite intrigou. Por que não escrever sobre resultou em uma mistura de nós, planetaristas? Então abri um alegria e um certo receio. Sobre arquivo no notebook e digitei essa o que escrever? Cherman me frase: ser planetarista é... disse “surpreenda-me”... E aí bateu aquela tensão. Por mais que nós todos tenhamos um
E o que escrever daqui pra frente?
Essa complexidade carrega consigo a marca do amor no que se faz. Nós planetaristas entendemos nossa função mais como satisfação do que como profissão. Claro, temos a consciência de que ser planetarista é uma forma
um tema que agrade aos leitores de
Travei! Travei porque parei de pagar nossas contas, mas o pra pensar, e percebi o quanto é contentamento que nos acompanha
maneira geral é uma tarefa muito
difícil descrever a essência de um em nossa jornada vai muito além
complexa, um desafio!
planetarista, tamanha a sua riqueza! dessas questões práticas.
mesmo gosto em comum, encontrar
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Nós, planetaristas, somos tipo “Bombril”: mil e
tem vivenciado uma constante aprendizagem por
uma utilidades! Somos um pouco astrônomos, um
meio de experiências, das quais você, leitor, muito
pouco professores, redatores, produtores, técnicos,
provavelmente faz parte. E essas vivências têm
animadores, às vezes super-heróis, magos (e bruxas) e até psicólogos! Ah, e somos, especialmente, amigos. Amigos entre nós, amigos das nossas equipes de trabalho e também
mostrado a ela que ser planetarista é como ser um camaleão: são muitas as facetas assumidas para fazer esse belo trabalho. Ah, esqueci de mencionar que essa planetarista sou eu!
de quem nos visita no nosso espaço. Receber o público nos Planetários é como receber uma visita em casa!
E nesses 14 anos de trabalho me pergunto o que posso fazer para melhorar cada vez mais minhas
Se você buscar a etimologia da palavra “planetarista” vai descobrir que ela deriva de “planetário” (projetor, ambiente). Mas, ao começar a pensar nessas diversas facetas que assumimos, eu ousaria interpretar esse “planetário” no sentido de mundo, de todo! (o famoso “abraçar o mundo”).
ações. Assim, enlaço essa minha breve história com a ideia dessa coluna. A intenção aqui é divagar, levantar situações de nossas vivências, experiências, atitudes em nosso trabalho. Não é uma pesquisa, muito menos uma
Ainda há muito o que dizer, mas eu espero que,
descrição do que um planetarista faz, mas uma
chegando até aqui, você também tenha parado para
busca de se compreender o que um planetarista é!
pensar no “ser planetarista”. E espero também que tenha percebido, como eu, que dá um bocado de
É refletir sobre nossa prática, sobre o nosso dia-
trabalho encontrar uma única definição, se tentarmos
a-dia nos Planetários, sobre algo que assumimos
buscá-la bem lá no fundo de nossas emoções.
como profissão, mas que no fundo acolhemos como
Partindo para o final do primeiro texto dessa nova coluna, peço a sua permissão para contar uma história, bem curta, prometo. A história de uma planetarista. Curta, porque ainda está sendo escrita. Mas tem muito a ver com o que estamos conversando aqui.
uma grande paixão! Então, convido a você, meu querido amigo planetarista, a embarcar comigo nessa experiência um tanto diferente e instigante. Mas até que nos encontremos novamente no próximo solstício, eu te deixo uma pergunta:
Em 2006 ela encontrou uma oportunidade de adentrar nesse fantástico mundo dos Planetários e desde então
E pra você, o que é ser planetarista?
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COLUNA
histórias das estrelas COM sheyla santos
O Aglomerado Paraná
Platão dizia que “o começo é a metade do
de uma chave. O aglomerado das Plêiades (M45),
todo”, e o meu começo com a Astronomia se deve
fica na constelação de Touro. M45 significa que
à observação do aglomerado das Plêiades. Quando
as Plêiades são o 45° objeto listado no catálogo
recebi o convite para escrever nesta revista fiquei
Messier. Este catálogo lista 110 objetos do céu
extremamente feliz, e mais feliz ao perceber que a
profundo, e foi criado entre os anos de 1758 e
primeira edição iria coincidir com o aparecimento das
1782 por Charles Messier.
Plêiades no céu noturno. Nenhum outro aglomerado, constelação ou planeta me deixaria tão emocionada.
Muitas lendas e mitos estão relacionados a este aglomerado. Para os Gregos, as Plêiades são
Em 2020, a primavera do hemisfério Sul começa
sete irmãs (Alcyone, Mérope, Electra, Celaeno,
em 22 de setembro, e com a nova estação o céu nos
Taygeta, Maia e Asterope), filhas de Atlas e
apresenta coisas incríveis, novas constelações estão
Pleione. Certo dia, Órion cruzou com as irmãs e
visíveis. A constelação de Pégaso, que de acordo
passou a persegui-las. Os deuses, ao perceberem
com a mitologia grega é um cavalo alado, mas que
que isso acontecia, as transformou em estrelas,
no céu encontramos ao observar quatro estrelas
colocando-as na constelação de Touro, para que
formando um quadrado. Peixes é bem pouco visível
Órion não incomodasse mais.
em centros urbanos. As constelações de Touro e Órion também começam a aparecer, a partir das 23h.
As Plêiades eram muito associadas às águas,
Mas estas constelações serão melhor explicadas em
até mesmo conhecidas como “jovens d’água”. Os
outras edições.
marinheiros se guiavam por elas e confiavam que
Foto: Acervo O Globo
indicariam o caminho certo. O aparecimento delas As grandes estrelas dessa edição são as Plêiades,
para os agricultores indicava o período de semear
mais conhecidas como sete-estrelo. Alguns dizem ver
suas colheitas. Assim como para os egípcios, que
oito estrelas, mas em centros urbanos já está difícil
ao avistarem-nas no céu noturno, sabiam que era
conseguir observar seis. Muitos veem o desenho
o período de cheias.
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Foto: Valdinei S. Camargo.
As sete irmãs foram contadas, através dos mitos,
que elas me passavam um sentimento de paz, e
lendas, poesia, arte, música, por gregos, aborígenes,
eu, com uma imaginação de criança ao observar
chineses, nativos norte-americanos, egípcios, persas, indianos e polinésios. Estão presentes na Bíblia e no nosso imaginário.
as Plêiades, imaginava e via o formato do Estado do Paraná. Então carinhosamente eu as chamava de Paraná.
Nos anos 2000 uma criança ficava muito feliz com a chegada da primavera. Ela pegava uma toalha,
E essa é minha memória mais antiga com a
uma almofada e deitava no quintal para observar
Astronomia. Se tiver de falar o que me fez amar
as estrelas, e a coisa que essa criança mais gostava
essa ciência, com certeza direi que foi observando
de observar era as sete irmãs.
em todas as primaveras da minha infância aquele
A criança era eu e, na época, não sabia o nome
grupo de estrelas. Espero que todos que tenham
daquelas estrelas, não sabia o que era um aglomerado
lido esse texto, as observem e contemplem sua
ou até mesmo o que era uma estrela, mas eu sabia
beleza e suas histórias.
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COLUNA
A Parte e o T odo
COM CAROLINA DE ASSIS
Em mundo cheio de informações,
Sobrevivendo neste mundo,
há de se concordar que os e s t a m o s
nós,
planetaristas.
detalhes deveriam ser o que
Duplamente abençoados pelo
realmente importa.
não-comum.
Porém, como um visitante
Afinal, se há uma área capaz de
em uma galeria cheia de obras
sussurrar probabilidades em ouvidos
renascentistas, grandes e vistosas,
cheios de realidade, é a Astronomia.
somos treinados a mal notar aquele
E, de todas as profissões mágicas
borrão de tinta pequeno que
possíveis de existir, nós estamos
diferencia uma única obra do total.
no topo. Mesmo no rol seleto dos
Infelizmente, poucas são as oportunidades de valorizar as coisas pequenas em um mundo adulto. Em geral, a dureza (e sua cegueira característica) parece ser pré-requisito ao crescimento.
detentores de magia, normalmente se percorre um caminho longo, cheio de processos frágeis e arriscados para que ela seja revelada. Às vezes, sabemos, para encantar uma única pessoa é preciso anos!
Mas há pequenos nichos no Mas não para nós. Um pedacinho mundo adulto que são capazes de de hora é mais do que suficiente. mover montanhas sem sobressair
Dominamos verdadeiras máquinas
mais do que a manchinha na
de sonhos.
obra renascentista.
Expostos a um mundo que
Algumas áreas do conhecimento
internaliza toda sorte de métricas,
suas
bem
é necessário fazermos um esforço
exercidas, fazem com que se possa
constante à sobrevivência da magia
ver os detalhes na cacofonia do
nesta profissão. Depois de muito
mundo, ressignificando o comum.
tempo expostos aos padrões do todo,
São porções de mágica em um
é esperado que a dureza desvie um
mundo ordinário.
pouco o olhar aos detalhes.
e
profissões,
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se
E, de certo, de todos os profissionais que
Esta é, então, a função desta coluna: lembrar de
se relacionam com a Astronomia (em flerte ou
todos os detalhes pelos quais a Astronomia deveria
relacionamento escancarado), nós somos aqueles que
ser reconhecida, tanto ou mais do que as explosões
não podemos nos dar ao luxo de perder os detalhes!
de supernovas e os planetas. Todos os aspectos
Não há mágica sem eles!
dessa nossa ciência, que de tão fantástica, parece até mágica.
Sem suas miudezas, a Astronomia se reduz a números — quantas luas tem um planeta; quantas constelações tem no céu; quanto tempo entre dois
As pequenenices que a fazem mais especial que qualquer outra descrição da realidade.
fenômenos; quanto vive uma estrela - ou a processos -
Porque se existe algum quadro nessa galeria
como é quebrado o equilíbrio entre a força da pressão
imensa capaz de ter uma manchinha, esse quadro é
de radiação e a força da gravidade, etc.
astronômico. E se existe alguém capaz de transformar aquela manchinha escura, que a primeira vista não
E mesmo que estes a componham, o reducionismo e
parece nada demais, em uma careta, ou uma nuvem,
a quantização ignoram os pedaços de cola responsável
ou um dinossauro comendo banana em uma varanda,
por torná-la do jeito que a vemos e, portanto, capaz
somos nós. E é esse pequeno detalhe que faz toda
de conversar com o todo com tanta maestria.
a diferença.
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Foto: NASA/JPL-Caltech/Space Science Institute. Montagem: Astronomia no Zênite, zenite.nu
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1 ° E-NCONTRO: UMA MEMÓRIA VISUAL
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DEPOIMENTOS: 1 ° E-NCONTRO Foi uma experiência muito gratificante. Gostaria que fosse das duas formas: presencial e online. Valéria Contin Educadora
Parabenizo a Diretoria da ABP e todos os nossos colegas envolvidos com o 1° E-NCONTRO. Fiquei muito feliz em poder contribuir nesse evento com a visão de planetarista e pesquisador em um campo de investigações acadêmicas que tem ganhado mais relevância e interesse em toda a América Latina. Nosso continente apresenta uma enorme diversidade de percepções que envolvem conceitos amplos sobre o “céu” e as relações sociais. Existem muitas possibilidades ligadas ao emprego do conteúdo de Astronomia nas Culturas em sessões de planetário, exposições e outras formas de comunicação para o grande público. Junto a essa oportunidade cresce a responsabilidade de produzirmos materiais que fujam dos estereótipos e exotismos normalmente encontrados em descrições superficiais e pouco comprometidas com a complexidade do tema. Já temos uma massa de pesquisas que chama a atenção para os cuidados com o etnocentrismo e os anacronismos típicos de visões parciais da realidade de outros grupos humanos. O emprego de conceitos e trabalhos da Astronomia nas Culturas dentro dos ambientes de Planetários pode se transformar no grande diferencial de projetos na ABP, quando pensamos num mundo globalizado. Uma vez mais, parabenizo os organizadores e demais participantes e espero continuar contribuindo com esses programas de ação. Walmir Thomazi Cardoso Professor, PUC, SP
Foi legal quanto a reencontrar virtualmente as pessoas, que são a ‘alma’ da ABP, @s planetaristas. Quanto ao compromisso semanal em assistir a uma ou a duas lives, isso eu evitei, pois principalmente no horário noturno toma muito tempo de convívio com a família e pegava o horário do jantar. Assisti a poucas lives e procurei conciliar os temas/palestrantes/meu tempo livre para escolher as datas. Eu gostaria de ter visto e ouvido maior diversidade de planetaristas fazerem perguntas, pois parece que são sempre as mesmas pessoas, que ‘puxavam as conversas’. Paulo H. A. Sobreira Professor, Planetário da UFG
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DEPOIMENTOS: SESSÃO VIRTUAL Sou professora de 10 jovens e adultos com deficiência. Assistimos a transmissão ao vivo, não participamos do chat, mas depois da transmissão eu tirei dúvida dos alunos. Para esse público foi, e é muito importante participar ao vivo. Todos estão confinados, e a ainda mais isolados que o restante da população, mas temos oferecido para eles todas às possibilidades de interação e participação da vida em sociedade. Silvia Carvalho Associação Novo Rumo, Atibaia, SP
Assisti ao evento Planetário, bem como encaminhei o link para que meus alunos pudessem assistir também. Gostaria de parabenizar e agradecer pela iniciativa e disponibilidade de todos os profissionais envolvidos e dizer que, especialmente neste período de ensino remoto, os esclarecimentos foram fundamentais e se fizeram uma atrativa ferramenta de ensino/aprendizagem, auxiliando na ampliação e continuidade dos assuntos que havíamos iniciado em sala de aula, antes do distanciamento provocado pela pandemia Covid-19. Gratidão. Adriana Tomazelli Professora do Fundamental I, Bento Gonçalves, RS
O dia 22 de setembro foi muito especial, nós da turma do 4° ano A nos preparamos e esperamos por ele durante algumas semanas. Assistimos pelo YouTube e também estávamos em vídeo chamada para ir comentando tudo de extraordinário que descobrimos com esse super evento da ABP, que compartilhou conhecimento científico de qualidade e de forma simples para que todos pudessem compreender sobre o equinócio. Mais de 40 mil pessoas puderam acompanhar tudo isso! Educação que apoio, acredito e compartilho. Eu, professora apaixonada pela Astronomia, desde criança fascinada pelo céu, posso hoje mostrar aos meus alunos o quanto o universo é deslumbrante através de iniciativas como essa da APB. Mariana Tuchtenhagen Professora do Fundamental I, Lajeado, RS
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O Planetário da Fundação Centro de Estudos do Universo (CEU), em Brotas, SP, é membro regular da ABP
Planetaria (ISSN 2358-2251) é uma publicação online da Associação Brasileira de Planetários (ABP) iniciada no Solstício de Verão de 2013. É gratuita e publicada trimestralmente, no início de cada nova estação. CONSULTE AS NORMAS PARA PUBLICAÇÃO DE ARTIGOS: planetarios.org.br/revista-planetaria/normas-para-publicacao/ ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PLANETÁRIOS
SUBMETA ARTIGOS PARA A PRÓXIMA EDIÇÃO ATÉ: Secretaria: Planetário da Universidade Federal de Goiás
30 de Novembro
aCESSE AS EDIÇÕES ANTERIORES: planetarios.org.br/revista-planetaria/edicoes-anteriores/
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