Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
Índice Nota Introdutória.......................................................................................... 7 Programa.................................................................................................... 13 Lista de Participantes Estrangeiros . ........................................................ 17 Plataforma das ONG e seus parceiros Internacionais - Entrevista com o Secretário Executivo................................................. 21
Parte I - Feira de Produtos de Economia Solidária............................................ 31 FICHA TÉCNICA
Sessão de abertura Palavras de boas vindas do Presidente da Plataforma das ONG, Dr. Avelino Bonifácio Lopes................................................ 33
Título Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
Discurso do Sr. Secretário de Estado, da Economia, Crescimento e Competitividade, Dr. Humberto Brito................ 37
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Relatório da Feira................................................................................. 43
Coordenação Editorial Gabinete de Apoio às ONG Secretariado Executivo da Plataforma das ONG - Achada São Filipe C.P.: 76-C - Fazenda - Praia - Santiago u Tel.: 261 78 43/45 u Fax: 264 84 19 Email: platongs_05@yahoo.com.br u Site: www.platongs.org.cv Delagação em Mindelo - S. Vicente Centro Social de Madeiralzinho u Tel.: 231 32 45 Layout, Paginação e Capa SERVICENTER, Projecto em Harmonia Digital Tiragem 1.000 exemplares Impressão Tipografia Santos Patrocínio União Europeia
Parte II - Conferência Internacional..................................................................... 49 Sessão de abertura
u
Fax: 232 65 22
Discurso do Presidente da Plataforma das ONG....................... 51 Discurso do Senhor Primeiro Ministro, Dr. José Maria Neves...... 63 Sessão Plenária Tema I: Os actores não governamentais e sua contribuição no desenvolvimento de Cabo Verde................................................ 73 Tema II: A Graduação de Cabo Verde: Oportunidades e desafios para os actores não governamentais.................................. 91 Tema III: Desenvolvimento e desigualdades: O Papel das ONG ....................................................................... 101
Tema IV: O Plano Estratégico da Plataforma: Mecanismos e estratégias de mobilização de recursos......... 117 Debate nos painéis Tema I............................................................................................. 139 Tema II............................................................................................ 146 Tema III........................................................................................... 149 Tema IV.......................................................................................... 152 Recomendações finais...................................................................... 159 Sessão de encerramento Discurso do Presidente da Plataforma...................................... 179 Discurso do Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros, Dr. Jorge Borges............................................................................ 183 Parte III - Feira de Projectos.................................................................................. 189 Parte IV - Visitas a projectos associativos no interior de Santiago ................. 197
Parte I
Nota Introdutória
Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
Vinte anos após a realização da I Mesa Redonda de Parceiros das ONG, a Plataforma das ONG realizou, de 22 a 25 de Setembro de 2008, a II Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG cabo-verdianas, que teve como objectivo lançar as bases para relações de parceria assentes numa programação sólida e consistente, capaz de conduzir a resultados perenes e duradoiros. Tratou-se de uma jornada de intercâmbio com os mais importantes parceiros dos actores não governamentais nacionais, que consistiu de quatro momentos: Feira de Produtos de Economia Solidária, Conferência Internacional, Feira de Projectos dos Actores não Governamentais e Visita a OCB (Organizações Comunitárias de base) e projectos no interior de Santiago. Com a presença de 30 convidados estrangeiros em representação de ONG e agências de cooperação do norte, organismos internacionais, associações da diáspora cabo-verdiana, plataformas e federações de ONG de alguns países de língua portuguesa e da nossa subregião, a Mesa Redonda contou com a participação de mais de uma centena e meia de ONG e OCB de todas as ilhas. O grande ganho dessa Mesa Redonda foi a possibilidade de reforçar os laços de cooperação com os tradicionais parceiros da Plataforma das ONG, bem como estabelecer novas relações de parceria com algumas Plataformas, Redes e ONG, que não só transmitiram muito das suas experiências na mobilização de parcerias e financiamento, mas também ajudaram a mobilizar parceiros sedeados nos seus países. Com as ONG, fundações e outras agências de cooperação do norte, a Mesa Redonda foi uma oportunidade única para demonstrar
Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
a necessidade de Cabo Verde continuar a contar com a colabora-
instituições e da promoção da liberdade e da democracia, da edu-
ção dos parceiros internacionais, nomeadamente através de actores
cação para a cidadania e da cultura da paz nos nossos países.
não governamentais, a alargar o leque e a dispersão geográfica das nossas parcerias e, sobretudo, a provar a nossa capacidade de de-
A nível da sub-região africana, foram intensificados os contactos
senvolver e executar projectos a favor das comunidades e famílias
com alguns parceiros regionais, nomeadamente com a CONGAD
pobres, de praticar e de fomentar a boa governação e de contribuir
(Plataforma senegalesa) e com a REPAOC (Rede das Plataformas da
para uma sociedade onde cada cidadão pode exercer os seus direi-
África Ocidental), através das quais procuramos fazer entrar em Cabo
tos de cidadania, num ambiente de progresso, paz, justiça e oportu-
Verde algumas importantes agências de cooperação bilateral e multi-
nidades para todos.
lateral sedeadas no Senegal e que cobrem também Cabo Verde, mas que, praticamente, não têm tido acções concretas.
Esperamos de todos os nossos parceiros, mas também acreditamos que temos alguma coisa a dar. Cabo Verde tem uma rica expe-
Com a Mesa Redonda nasceu uma nova era para os actores não
riência de organização e de dinâmica associativa que pode ser útil a
governamentais de desenvolvimento em Cabo Verde. Não tanto por-
vários países, incluindo a alguns parceiros nossos do norte. Queremos
que houve mais disponibilidade dos parceiros estrangeiros em colabo-
alargar os nossos horizontes, buscando e diversificando parcerias, mas
rar com as ONG nacionais, mas porque mostrou o caminho para uma
também partilhar o pouco que temos, particularmente no âmbito da
melhor organização e capacidade institucional de modo a rentabi-
CPLP e da nossa sub-região.
lizar toda a espécie de recursos internos e explorar mais e melhor as oportunidades externas.
A Mesa Redonda foi, igualmente, momento para uma aproximação às ONG de alguns dos PALOP e também da África ocidental. Sendo a Plataforma das ONG um dos principais promotores da constituição da Rede das Plataformas Nacionais da CPLP, ela proporcionou a concertação e coordenação em certas questões de política interna-
Avelino Bonifácio Fernades Lopes
cional, nomeadamente em relação ao desenvolvimento e desigual-
Presidente do Conselho de Direcção
dades sociais, segurança alimentar e nutricional, direitos humanos, mudanças climáticas, etc. Paralelamente, possibilitou alguma reflexão sobre a relação Europa-África, no âmbito de projectos a dinamizar conjuntamente nas áreas do desenvolvimento institucional e da governança das nossas
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Parte I Programa
Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
Programa Cidade da Praia, Sala de Conferência da Biblioteca Nacional 22 de Setembro 19H00 - Inauguração da Feira de Produtos de Economia Solidária • Introdução da Feira – Srª. Irani Maia • Discurso de boas vindas – Sr. Presidente da Plataforma • Discurso de inauguração – Sr. Secretário de Estado da Economia, Crescimento e Competitividade 19h30 - Cocktail oferecido pela Direcção da Plataforma 23 de Setembro - Sessão Plenária 09H00 - Recepção dos Convidados 09H30 - Cerimónia de Abertura - Discurso do Sr. Presidente da Plataforma - Discurso do Representante da Comissão Europeia em Cabo Verde - Discurso solene de abertura pelo Sr. Primeiro Ministro 10H15 - Pausa para recomposição da mesa 10H20 - Breve apresentação dos participantes à Mesa Redonda – Srª. Lourença Tavares 10H30 - Apresentação do programa – Srª. Idalina Gonçalves 10H45 - Tema I: Os actores não governamentais e sua contribuição no desenvolvimento de Cabo Verde – Sr. Mário Moniz e Srª Hermínia Bastos 11H10 - Dúvidas e esclarecimentos 11H30 - Pausa café 11H45 - Tema II: A Graduação de Cabo Verde: Oportunidades e desafios para os actores não governamentais – Sr. Victor Borges e Sra. Representante do SNU 12H10 - Dúvidas e esclarecimentos 12H30 - Tema III: Desenvolvimento e desigualdades: O Papel das ONG – Srª. Maria Miguel Estrela e Sr. Rogério Roque Amaro 12H55 - Dúvidas e esclarecimentos 13H15 - Almoço 14H30 - Tema IV: O Plano Estratégico da Plataforma: Mecanismos e estratégias de mobilização de recursos – Sr. Avelino Bonifácio Lopes e Srª. Fátima Proença 14H55 - Dúvidas e esclarecimentos
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15H15 - Inscrição dos participantes nos Painéis 15H30 - Inauguração da Feira de Projectos dos actores não governamentais cabo-verdianos, seguida de visitas à feira e de bolsa de contactos, a ser presidida por um representante do Governo – Sr. Elísio Rodrigues e Srª. Ministra do Trabalho, Formação Profissional e Solidariedade Social 20H30 - Jantar, seguido de Noite Cultural, com pratos e músicas tradicionais 24 de Setembro - Sessão em Painéis 09H00 - Trabalhos dos Painéis I, II, III e IV 11H00 - Pausa café 11H00 - Continuação dos trabalhos dos Painéis 13H00 - Almoço Sessão Plenária 14H30 - Apresentação das Conclusões e Recomendações do Painel I, seguida de debate 15H00 - Apresentação das Conclusões e Recomendações do Painel II, seguida de debate 15H30 - Apresentação das Conclusões e Recomendações do Painel III, seguida de debate 16H00 - Apresentação das Conclusões e Recomendações do Painel IV, seguida de debate 16H30 - Pausa Café 17H00 - Aprovação das Conclusões e Recomendações da Mesa Redonda 18H00 - Cerimónia de Encerramento da Mesa Redonda • Apresentação das Conclusões e Recomendações da Mesa Redonda • Discurso do Presidente da Plataforma • Discurso do Sr. Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros 25 de Setembro 09H00 - Visitas a projectos associativos no interior de Santiago (Delegação estrangeira)
Parte I
Lista de Participantes Estrangeiros
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Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
Lista de Participantes Estrangeiros País
Organização
Participante
Solidarité Socialiste – Formation, Bélgica
Coopération & Développement -
Jacques Bastin
SOLSOC Trans Trabajadores Sociales de Canárias Colégio Oficial Trabajadores sociales las Espanha
Guiné-Bissau Holanda
Itália
Palmas
Ignacio Tamayo Torres
IEPALA
Noelia
PLACON-GB
Luís Martins
Fundação Avanço
Ivone Mendes
AssociaçãoTabanka Onlus
Maria Cecília Monteiro
Embaixada de Cabo Verde em Roma
Maria Silva Ramos
Associação FRIULI para Cabo Verde Associação Cultural União Caboverdiana de Nápoles
Dário Andrian Maria Ilena Rocha
CIDAC
Cristina Cruz
CRESAÇOR – CRL
Célia Pereira
ADPM
Marta Guerreiro
AIDGLOBAL (Acção e Integração para o Desenvolvimento Global) Associação para a Cooperação, Intercâmbio e Cultura - CIC Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento - IPAD ISCTE IMVF (Instituto Marquês de Valle Flor) ACEP (Associação para a Cooperação entre os Povos) Luxemburgo
Eva Torres Zapra
ASAD
em Itália
Portugal
Ibrahin Cabrera Suárez
CVED
Susana Damasceno Rosa Leite Madalena Sampaio Rogério Roque Amaro Hermínia Bastos Ahmed Zaky Fátima Proença Rose Mary Perdrau
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RADDHO Conseil des ONG d´Appui au Développement CONGAD
Senegal
S. Tomé e Príncipe
Iba Sarr Boubacar Seck
Enda –Tiers Monde/Ecopop
Cheikh Tidiane Sarr
World Vision International
Cheikh Tidiane Sow
SP-REPAOC
TeteBenissan Aho Guy
WANASO/ROBS
Theophile Hounhouedo
AfriCASO
Kibibi Thomas
FONG – São Tomé e Príncipe
Maria Odete Aguiar
FONG – São Tomé e Príncipe
Maria do Céu Viegas
Associação Djunta Mó - Príncipe
Domingos Pereira
Comissão Europeia
Jaime Royo Olid
Plataforma das ONG e seus Parceiros Internacionais Entrevista com o Secretário Executivo, Dr. Mário Moniz
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Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
Novas estratégias de acção A Plataforma das ONG de Cabo Verde foi criada em 1996, um tempo marcado por uma crescente afirmação da sociedade civil, cujo papel tem sido incontornável no processo de desenvolvimento em todas as ilhas e em todos os concelhos do país. Para isso, a Plataforma, as ONG e as associações de desenvolvimento contaram com o apoio e a parceria de instituições internacionais, organizações e ONG da Europa, da América e da África. Com a ascensão de Cabo Verde a país de rendimento médio e a diminuição da ajuda pública ao desenvolvimento, os actores não governamentais têm como grande desafio a consolidação do relacionamento com os seus tradicionais parceiros e a mobilização de novas fontes de financiamento para as acções de desenvolvimento. O Secretário Executivo da Plataforma das ONG, Dr. Mário Moniz, fala dos novos tempos que se anunciam para a família ONG cabo-verdiana. - A Plataforma das ONG de Cabo Verde completa, a 16 de Junho de 2010, 14 anos de existência. O que mudou na acção não governamental? Muita coisa mudou. Hoje, os resultados que preconizamos na Plataforma das ONG são muito mais ambiciosos. Apesar das dificuldades que, ainda enfrenta, está mais dinâmica e tem maior capacidade de organização e de actuação, estando, também, muito mais exigente em termos de expectativa daquilo que poderá e deverá ser a sua capacidade de resposta. Essa evolução enquadra-se na própria evolução do país que passou a estar no grupo dos países de rendimento médio, tendo as novas
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Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
tecnologias de informação e comunicação também contribuído para
Em matéria de mobilização de recursos, realizámos, em Setembro
um maior dinamismo na acção não governamental em Cabo Verde.
de 2008, a Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG cabo-verdianas. Na sequência dessa Mesa Redonda, há toda
Continuamos com a mesma visão, o mesmo mandato e a mesma
uma estratégia a ser implementada para facilitar o processo de mo-
missão, mas temos vindo, claramente, a mudar de estratégias, de prio-
bilização de novas parcerias e mais recursos a favor da acção não
ridades e de desafios em função dos novos contextos.
governamental em Cabo Verde.
Essas mudanças são visíveis no domínio da formação/capacita-
No domínio da governança, há todo um trabalho realizado e que
ção, uma vertente forte da Plataforma, na informação e comunica-
culminou com a aprovação do Código de Ética das ONG, em Dezem-
ção, na mobilização de parcerias e recursos e na própria governança
bro de 2009, bem como a instalação, em curso, da Comissão de Ética
com vista à procura de uma cada vez melhor relação com os seus
e a divulgação do Código em todo o país.
membros e parceiros. - Todo esse sucesso foi graças, em parte, ao engajamento dos seus Em termos de formação, passamos a dar uma atenção não só aos temas técnicos – gestão, contabilidade, elaboração de projectos -, mas
parceiros internacionais. Nesses anos de vida, quem foram os seus principais parceiros?
também a temas que contribuem para o reforço das competências dos actores e dos dirigentes em termos do saber-ser e do saber-estar.
Todos os nossos parceiros foram e são importantes. Não medimos a sua importância apenas pela quantidade de recursos que nos disponi-
O objectivo é uma melhor compreensão do contexto global
bilizam, mas também pela sua natureza, pelo seu engajamento e pela
para uma melhor actuação no contexto local, uma melhor com-
sua visão estratégica em relação ao reforço dos actores e da acção
preensão das estratégias de combate à pobreza e do fenómeno
não governamental em prol do desenvolvimento de Cabo Verde.
da exclusão social na sua relação com a pobreza e com o próprio desenvolvimento do país.
Ainda assim, destacaria a União Europeia, sobretudo o primeiro projecto financiado através do consórcio ACEP, Instituto Marquês de
No que respeita à informação/comunicação, a Plataforma deu um salto grande. Agora, temos um portal e um site, uma revista trimestral e
Valle Flor e IEPALA, que permitiu a construção da sede e o funcionamento regular da Plataforma, nos últimos anos.
um folheto informativo mensal, assim como um programa radiofónico e
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um programa televisivo. Pensamos reforçar as competências nessa área
Foi o projecto que lançou a Plataforma e que mais contribuiu para
para dar voz às ONG e associações locais para o reforço da comunica-
a sua dinâmica. Neste momento, estamos no final do quarto projec-
ção interna e externa com a sociedade e os diferentes parceiros.
to financiado por esse parceiro: um no âmbito da antiga linha orça-
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Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
mental B – 7600, dois no quadro das doações globais e um último no
riedade Social, e, ultimamente, o Fundo Global que financia a luta
quadro do IX FED (Fundo Europeu de Desenvolvimento) e que constitui
contra a Sida, sendo a Plataforma um dos recipientes principais na
a primeira experiência de mobilização de recursos no quadro deste
implementação desse projecto que deverá durar cinco anos.
Fundo. De destacar que o instituto Marquês de Valle Flor (IMVF) foi o nosso parceiro em três desses quatro projectos.
- Como tem sido a relação com a Plataforma das ONG Portuguesa?
Todos os outros projectos foram e são muito importantes, tiveram reper-
Tem sido um bom relacionamento e ele desenvolve-se no quadro
cussão muito positiva. Destacamos, nomeadamente, a Solidarité Socialiste,
da Rede das Plataformas das ONG da CPLP. Houve um primeiro en-
ONG belga com a qual temos desenvolvido uma cooperação desde o iní-
contro que deu corpo a essa Rede em Lisboa e, no segundo, no Brasil,
cio da nossa existência até hoje, através dos fundos da Cooperação Belga,
a Plataforma cabo-verdiana, na pessoa do seu presidente, assumiu a
o Ministério da Solidariedade de Portugal e a Cooperação Espanhola, atra-
presidência da Rede no horizonte de dois anos, estando previsto um
vés do IEPALA, que também tem vindo a apoiar outras ONG.
encontro em Cabo Verde.
Realçamos, igualmente, a Cooperação Portuguesa, que tem co-
Tem havido troca de informações regulares no quadro da Rede e
financiado três dos quatros projectos financiados pela União Europeia,
há a ideia do desenvolvimento de um projecto comum entre as Pla-
a Cooperação Francesa, que tem financiado os guias das ONG e a
taforma de Cabo Verde e Portugal, que poderá ser apresentado à
formação profissional, a Cooperação Holandesa, que financiou, em
CPLP e ser por ela submetido ao IPAD para financiamento. O projecto
tempos, a realização da Assembleia-Geral da Plataforma, a Coopera-
destina-se ao reforço e consolidação da Rede e prevê apoios especí-
ção Japonesa, a Cooperação Luxemburguesa, a OXFAM América,o
ficos às plataformas com maior necessidade de reforço institucional,
Interpares do Canadá, entre outros
nomeadamente da Guiné-Bissau e de São Tomé e Príncipe.
Nos nossos primeiros anos de vida, estes dois últimos parceiros finan-
- Tem havido algum investimento em relação à África?
ciaram a realização de um encontro internacional em Cabo Verde que serviu de rampa de lançamento da Plataforma. Era uma iniciativa
Estivemos envolvidos na preparação da I Cimeira Europa-África,
que começou em Bissau, devendo o terceiro encontro ser no Mali,
tendo um dos encontros preparatórios sido realizado em Cabo Verde,
mas tal nunca veio a acontecer.
designadamente o Encontro dos Actores da Sociedade Civil da África Central e Ocidental.
O Fundo dos Embaixadores da África Ocidental contra o VIH/SIDA
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é outro parceiro da Plataforma, através da Embaixada dos Estados
Iniciámos a preparação de uma Mesa Redonda dos Potenciais
Unidos em Cabo Verde, a África Infomarket, o Governo de Cabo Ver-
Parceiros das organizações da sociedade civil cabo-verdiana que es-
de, através do Ministério do Trabalho, Formação Profissional e Solida-
tão instalados na sub-região, sobretudo em Dakar e Abidjan e que
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Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
têm vocação para cobrir Cabo Verde, mas que, por razões de língua e de separação geográfica, têm tido dificuldades em avançar
Não é por acaso que tomaram parte na Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros dos actores não governamentais em Cabo Verde, realizada em Setembro de 2008, e vieram da Holanda, Itália e
Temos tido boa parceria com o CONCAD. Participámos no Simpósio
São Tomé, o que serviu para um primeiro contacto.
que aprovou o Código de Ética das ONG senegalesas e em vários outros eventos organizados por essa organização a nível da sub-região.
Durante a Mesa Redonda foram desenvolvidos contactos entre
Tivemos, inicialmente, uma participação muito boa nas negociações
associações residentes e da diáspora. Nalguns casos, os contactos fo-
dos Acordos da Parceria Económica com a União Europeia no quadro
ram aprofundados e resultaram na concepção de projectos em con-
da CEDEAO e participámos em simpósios e encontros organizados a
junto e submetidos a financiamento.
nível da sub-região, promovidos seja por actores da sociedade civil, seja a nível da Comunidade.
A aposta da Plataforma, nos próximos anos, é reforçar esses contactos e desenvolver uma cooperação que dê frutos entre as nossas associações.
Infelizmente, não tem sido nada estruturado, não tem havido continuidade, nomeadamente a Rede das Plataformas da África Ociden-
- Quais os projectos mais importantes implementados pela Plataforma?
tal, que nunca avançou. Contudo, ganhámos boas experiências no quadro dessas participações, mas, para o futuro, a aposta deve ser
Citaria, sem sombra para dúvida, o projecto financiado pela União
séria em termos de cooperação com as instituições da sociedade civil
Europeia, concebido e apresentado através de um consórcio de ONG
a nível do continente africano, em geral, e da CDEAO, em particular
portuguesas e espanhola, nomeadamente o ACEP, o IMVF e o IEPALA. Esse foi o maior projecto, em termos monetários e de impacto, mas
- Foram desenvolvidas relações de cooperação/parceria com ONG em países de acolhimento da comunidade cabo-verdiana?
destacaria, igualmente, o projecto FADOC, financiado pela ONG belga Solidarité Socialiste.
Existe a mesma preocupação em termos de “descoberta” dessas
Na era actual, há o projecto financiado pelo Fundo Global para a
organizações da diáspora e do estabelecimento de uma relação de
luta contra a Sida, que é, de facto, um dos mais ambiciosos progra-
cooperação com aquelas que têm desempenhado um papel impor-
mas em que estamos envolvidos.
tante na integração da nossa comunidade nos países de acolhimento e na sua ligação com o país natal.
- À entrada de uma nova década, o que poderá mudar nos modelos de cooperação para o desenvolvimento?
Significa que nós, organizações da sociedade civil, aqui e na diáspora, trabalhamos para o mesmo fim: o desenvolvimento do país e acreditamos que, estando em sintonia, poderemos fazer mais e melhor.
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O país entrou numa nova fase, o que significa que a ajuda pública ao desenvolvimento, na sua forma clássica, vai diminuir considera-
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velmente, o que abre novas oportunidades e “obriga” a procura de novas fontes de financiamento, o que implica a adopção de novas estratégias e o domínio de novos instrumentos, numa palavra, há que investir na capacitação. Neste novo contexto, a sociedade civil tem que ter a capacidade de conhecer os mecanismos e as estratégias mais adequados. Um outro grande desafio é o aprofundamento do diálogo com o Governo, para que o orçamento do Estado passe a consagrar uma fatia destinada ao reforço da dinâmica da acção não governamental. - Como pretende assegurar a continuidade dos tradicionais parceiros? Devemos continuar a apostar em fazer mais e cada vez melhor. Esse é o caminho para mantermos os parceiros que consideramos tradicionais e continuar a mobilizar novos parceiros. O Código de Ética é um exemplo dessa vontade e mostra que já estamos a empreender um novo caminho. Estamos a investir num programa de educação com vista, sobretudo, à divulgação das boas práticas da acção não governamental. O Programa de Educação contribuirá para uma maior visibilidade do que vamos fazendo, ao mesmo tempo que a governança vai estar no centro das nossas acções para provar que somos uma alternativa em termos de gestão da ajuda ao desenvolvimento, sobretudo agora que o país está a aprofundar a parceria especial com a União Europeia, o que, certamente, abrirá portas para novas oportunidades com novas exigências.
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Parte I Feira de Produtos de Economia Solidária
Sessテ」o de abertura Palavras de Boas Vindas do Presidente da Plataforma das ONG Dr. AVELINO BONIFテ,IO LOPES
Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
Eu queria, em nome dos órgãos sociais da Plataforma das ONG de Cabo Verde, cumprimentar e dar as boas vindas a todos os nossos convidados e amigos e dizer que é motivo de muita satisfação receber-vos aqui nesta primeira das quatro actividades que consubstanciam a Mesa Redonda dos Parceiros e Potencias Parceiros das Organizações Não Governamentais de Cabo Verde. Temos aqui connosco Sua. Excia. O Sr. Secretário de Estado da Economia, Crescimento e Competitividade, na cerimónia de abertura desta Feira de Produtos de Economia Solidária, representantes do Corpo Diplomático, a quem aproveito para cumprimentar e agradecer a sua presença, e convidados de alguns países em representação de algumas ONG e outras instituições parceiras da Plataforma e das organizações não governamentais de Cabo Verde. São pessoas que vieram de Portugal, da Espanha, tanto das ilhas como do continente, da Bélgica, da Itália, da Holanda, da Guiné-Bissau, do Senegal, do Benin e de São Tomé e Príncipe e que representam ONG e algumas outras instituições não ONG mas que se relacionam com as organizações não governamentais cabo-verdianas e temos pessoas que representam as organizações da nossa diáspora em alguns desses países. E, pois, com satisfação que vos dou as boas vindas a Cabo Verde e agradeço a vossa disponibilidade em aceitar vir às nossas ilhas participar nesta Mesa Redonda, dizendo-vos que temos aqui algumas amostras de produtos que são confeccionados por artistas e artesãos de diferentes ramos de actividade, pessoas que produzem bens com o apoio das ONG e das associações comunitárias de base, representando todas as ilhas do país.
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Sessรฃo de abertura Discurso do Sr. Secretรกrio de Estado da Economia, Crescimento e Competitividade
Dr. Humberto Brito
Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
Exmos. Senhores, Para nós, constitui um motivo de extrema satisfação poder presidir a cerimónia da inauguração da Feira de Produtos de Economia Solidária, no âmbito da realização da Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais e Parceiros da Plataforma das ONG. As ONG têm realizado um trabalho extraordinário na nossa sociedade, abrindo oportunidades de reinserção social e profissional a muitas pessoas, lutando contra a pobreza e a exclusão social, promovendo a coesão social e a empregabilidade, e têm sabido dar resposta às necessidades dos indivíduos e das comunidades, designadamente através da sua forma característica e própria de actuar. O desafio da consciencialização dos indivíduos e das comunidades do seu poder de resolverem os seus próprios problemas está sendo ganho a cada dia que passa, pois, neste momento, nas localidades mais recônditas, encontramos pessoas associadas para, de uma forma solidária, darem respostas às suas próprias necessidades, aproveitando os recursos locais e nacionais, os talentos e habilidades, desenvolvendo novas competências para os seus aproveitamentos, visando a melhoria das suas qualidades de vida. Devemos aqui realçar o papel da Planaforma das ONG no desenvolvimento de competências das organizações e dos seus associados, na busca de soluções mais adequadas para cada um dos seus membros. Verifica-se já alguma densificação de actividade económica e produtiva em várias comunidades. Muitos são os produtos que a economia solidária já coloca no nosso mercado e no da diáspora, assim como no mercado turístico, com impactos directos nos rendimentos
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dos indivíduos e das famílias e, consequentemente, no seu poder de
o turismo abre, com o seu efeito arrastador sobre os diversos sectores
compra e na melhoria da sua qualidade de vida.
da economia. Estamos a falar da agricultura, da pecuária, do artesanato e da pesca, entre outros, que podem ser desenvolvidos, dando
Na nossa opinião, alguns desafios são colocados às ONG, no que aos seus produtos diz respeito. São, maioritariamente, produtos genu-
resposta à procura, quer da parte dos turistas, quer da parte dos empreendimentos turísticos.
ínos, representam o saber fazer acumulado ao longo dos tempos e que incorporam inovações que a nossa realidade propicia.
Para uma maior dinamização de projectos, empresas e organizações que se dedicam a esse tipo de actividades, foi já publicada a
Devemos destacar os desafios da qualidade, da regularidade, de alguma padronização e sistematização dos processos produtivos, as-
legislação sobre micro-finanças, no sentido de regular o exercício da actividade de micro-crédito.
sim como da quantidade e de desenvolvimento de marcas capazes de se imporem no mercado.
A nível de financiamento, apesar da existência de algumas entidades financiadoras deste tipo de actividades, o Governo esta a pre-
Vemos o reforço da qualidade como fundamental para o suces-
parar novas formas de financiamento, visando abarcar as MPME, que
so dos produtos da economia solidária, pelo que incentivamos a um
oportunamente trazemos ao vosso conhecimento e colocamos à vos-
investimento cada vez maior na qualidade dos produtos “made in
sa disposição.
Cabo Verde”. Desejando sucessos, tenho a honra e o prazer de declarar aberta Temos um mercado potencial, a nível interno, para produtos de
a Feira de Produtos de Economia Solidária.
economia solidária cada vez mais exigente, mas que também precisa ser melhor informado. A criação de canais de comunicação com a
Muito Obrigado!
sociedade, inovadores e eficazes, pode trazer um impulso na sua notoriedade. O mesmo podemos dizer do potencial constituído por turistas que demandam Cabo Verde como seus destinos de férias e de negócios. È neste sentido que o Governo de Cabo Verde, através do Ministério da Economia, Crescimento e Competitividade, está a preparar um programa que visa um maior aproveitamento das oportunidades que
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Produtos Expostos Relat贸rio da feira
Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associaçþes Cabo-verdianas
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Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
FEIRA DE PRODUTOS E REALIZAÇÕES De ECONOMIA SOLIDÁRIA EM CABO VERDE A Feira de Produtos e Realizações de Economia Solidária teve como principal objectivo divulgar os projectos de economia solidária, mostrando as realizações e produtos de artesãos (ãs) e outros microoperadores económicos inseridos no espaço das ONG e associações de todo o país. A Feira consistiu na exposição de painéis fotográficos sobre as diversas facetas da economia solidária e trabalhos que vêm sendo realizados, nomeadamente nas microempresas de inserção social: ADEVIC na produção de velas; CENORF com as próteses; nos grupos de inserção social, Comunidade Terapêutica da Granja de São Filipe na desidratação de frutas; e Associação de São Francisco que produz gaviões e estruturas de ferro para a construção civil. Foi, igualmente, oportunidade para a Comunidade dos Rabelados mostrar as suas intervenções nas áreas da pintura, actividades geradoras de rendimento, desenvolvimento local e serviços de proximidade, como é o caso dos cuidados de saúde, do turismo rural e das actividades culturais desenvolvidas na comunidade de Porto Madeira. Ao todo, 69 artesãos exporam e venderam os seus produtos na Feira e vieram das seguintes associações/organizações: 1)
ACD – Figueira Muito
2)
ACD – Pico Leão
3)
Associação ADIJA – Grupo de Mulheres de João Afonso
4)
Associação AFADIF – Grupo de Mulheres de Figueiral
5)
Associação Esperança
6)
ADEVIC
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7)
Associação Cívica de Chão Bom
8)
Associação João Garrido
9)
Associação ETNASA
10) Cadeia Central da Praia 11) Associação Ambiente Saudável 12) CENORF 13) Cooperativa Comunitária de Produção das Mulheres de Chã de Tanque 14) Cooperativa Paladar 15) Djar Fogo 16) Escola de Cerâmica do Rabiil 17) Grupo Raiz di Tarrafi 18) Livraria da Biblioteca Nacional 19) Parque Natural de Monte Gordo 20) Parque Natural da Serra Malagueta 21) Projecto Porto-Madeira 2008 22) Rabelados da Ilha de Santiago 23) Sons d’África – CDs e DVDs
Produtos expostos ILHA
TIPOS
Boa Vista
Cerâmica
Brava
Rendas e bordados tradicionais, grogue, pinturas
Fogo
Vinhos, café, t-shirts, doçaria, escultura em madeira, quadros com ossos e materiais naturais
Maio
Cerâmica, tapetes, pinturas, trabalhos em sisal, trabalhos com conchas
São Nicolau
Rendas e bordados, sacolas de panos e enfeites diversos
São Vicente
Batique, cerâmica, pinturas, modelação com pedras, serigrafia
Santo Antão Sal
Tambores, doçaria, grogue, ponches, cerâmicas, bordados, colares e pulseiras em cerâmica Transformação de produtos agrícolas, rendas e bordados Trabalhos em coco, discografia, literatura, arte da reciclagem do plástico,
Santiago
madeira, escultura em madeira, cerâmica, panariam, tinturaria, grogue, doçaria, escultura em pedra
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Parte II Conferência Internacional
Sessรฃo de abertura Discurso do presidente da Plataforma das ONG
Dr. Avelino Bonifรกcio Lopes
Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
Senhor Primeiro Ministro, Excelência, Senhoras e Senhores membros do Corpo Diplomático e dos organismos internacionais, Senhoras e senhores convidados estrangeiros, Senhores Presidentes da Mesa da Assembleia Geral e do Conselho Fiscal da Plataforma, Prezados colegas membros do Conselho de Direcção, Estimados dirigentes das ONG e OCB, Caras convidadas e caros convidados, Representantes da comunicação social, Prezados amigos, Em nome dos órgãos directivos da Plataforma das Organizações não Governamentais de Cabo Verde dou as boas-vindas a todos os participantes da Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG cabo-verdianas e agradeço por esta vossa honrosa presença. Permitam-me dirigir um agradecimento especial à Sua Excia. O Senhor Primeiro Ministro, cuja presença nesta cerimónia muito prestigia esta Mesa Redonda dos Parceiros e, mais uma vez, atesta o apreço com que vem seguindo, pessoalmente, as actividades das ONG no nosso país e da sua Plataforma, em particular. Creia, Senhor Primeiro Ministro, que estamos particularmente honrados por ter aceite presidir, pessoalmente, esta cerimónia de abertura, que interpretamos, também, como expressão da vontade firme do seu Governo em continuar a criar um ambiente cada vez mais propício ao exercício da actividade das ONG e para o reforço e estreitamento das relações de colaboração e de complementaridade entre todos os actores sociais no processo de desenvolvimento de Cabo Verde.
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Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
Um agradecimento particular aos nossos convidados estrangeiros,
A todos os nossos parceiros, amigos e convidados, vindos de todas
vindos de Portugal, Espanha (permitam-me referir os nossos amigos
as ilhas e concelhos do país, representando diferentes instituições do
macaronésios dos Açores e das Canárias), da Bélgica, da Holanda, da
Estado, autarquias locais, Parlamento, sector privado, sindicatos, bem
Itália, do Senegal, da Guiné Bissau, de São Tomé e Príncipe e do Benin,
assim de outros sectores sociais, o nosso agradecimento.
incluindo representantes da nossa diáspora em alguns desses países, mas também de organismos internacionais, muitos dos quais nossos
Ciente das nossas limitações para organizar e realizar, ainda, even-
parceiros já antigos, e outros com os quais apenas estamos a iniciar um
tos desta dimensão, aproveitamos para solicitar, antecipadamente,
percurso, mas estamos convencidos que seremos parceiros de jornada
a vossa compreensão e colaboração pelas eventuais insuficiências
por longos e bons caminhos. Todos estes nossos amigos deixaram impor-
que, certamente, já registaram e as que poderão ocorrer.
tantes compromissos para partilhar connosco este momento, que será de balanço, mas também de perspectivação e de projecção de novos
Senhor Primeiro Ministro,
caminhos que, certamente, percorreremos juntos.
Senhoras e senhores convidados, Caros amigos,
Um agradecimento, igualmente, muito especial à Comissão Europeia, aqui representada pelo seu Encarregado de Programas no nos-
Apesar de uma história rica de solidariedade e de associativismo
so país por, mais uma vez, ter confiado em nós e financiado o projecto
que a natureza, sempre madrasta, desde cedo, obrigou os cabo-ver-
de reforço da Plataforma e das ONG e da dinamização da acção
dianos a edificar como estratégia para a sua própria sobrevivência,
não governamental em Cabo Verde, criando-nos condições indispen-
reflectida, nomeadamente, através do “djunta-mó”, as primeiras or-
sáveis à realização desta Mesa Redonda. Na verdade, não esperáva-
ganizações não governamentais foram formalizadas em Cabo Verde,
mos outra coisa da Comissão Europeia, pois, apenas veio reforçar a
apenas, na segunda metade da década de oitenta, do século passa-
sua condição de principal parceiro financeiro das organizações não
do. O “boom” deu-se já durante a década de noventa. Entretanto, é
governamentais cabo-verdianas.
nesta década que as ONG se transformaram em actores incontornáveis do processo de desenvolvimento deste país.
Não posso, ainda, deixar de agradecer ao Instituto Português de Apoio à Cooperação, neste acto aqui representado pela sua Directo-
Com efeito, a sociedade civil cabo-verdiana é, hoje, bastante di-
ra Drª Helena Sampaio, não só pelo importante apoio concedido para
nâmica, mobilizando a participação de uma significativa franja da
a realização desta Mesa Redonda, mas também pela atenção com
população no esforço da promoção e para a construção de uma
que tem acolhido e apoiado os projectos das ONG cabo-verdianas,
vida melhor e mais justa para todos.
quer directamente submetidos, quer em consórcio com outros parceiros portugueses.
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O país conta com cerca de duas centenas de ONG e estima-se existi-
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Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
rem mais de 600 outras categorias de OSC (Organizações da Sociedade
A Plataforma das ONG posiciona-se como instituição favorecedo-
Civil), sob forma de associações comunitárias, organizações socio-profis-
ra do diálogo, da concertação e da participação de diferentes or-
sionais, ligas, fundações, redes, cooperativas, mutualidades, etc.
ganizações da sociedade civil, com estrito respeito pelos seus ideais e princípios, assentes na capacidade de organização e de acção.
Na liderança dessas organizações da sociedade civil, encontramse as ONG de desen¬volvimento e as associações comunitárias que,
A afirmação crescente das ONG cabo-verdianas e as dificuldades
em todos os concelhos e ilhas, vêm ajudando a arquitectar o desen-
acrescidas que enfrentam para angariar parcerias e recursos para fi-
volvimento, a contribuir para a redução da po¬breza e da exclusão,
nanciar os seus projectos de inclusão e promoção do desenvolvimen-
para a inserção social e económica, das pessoas e famílias mais po-
to das populações mais pobres, levaram a direcção da Plataforma a
bres, contribuindo para a edificação de “uma sociedade onde cada
adoptar estratégias pró-activas e mais eficazes de mobilização e de
cidadão pode exercer os seus direitos de cidadania, num ambiente
diversificação de parcerias a favor das ONG.
de progresso, paz, justiça e oportunidades para todos”. A Presente Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros dos As ONG cabo-verdianas intervêm em todos os domínios de activi-
Actores não Governamentais Cabo-verdianos constitui uma dessas
dade, o que lhes tem permitido estar presentes nos sectores da edu-
estratégias adoptadas pela Plataforma das ONG e dá sequência às
cação, da formação, da saúde, do ambiente, do desenvolvimento
principais orientações adoptadas pelo Plano Estratégico da Platafor-
comunitário, do género, da deficiência, da infância, da juventude, da
ma para o período 2007 - 2012.
terceira idade, da cidadania e dos Direitos Humanos, da habitação, do saneamento, da água, da agricultura, da pecuária, das pescas,
A Mesa Redonda é um fórum de reflexão e de debate entre ONG,
do artesanato, das actividades geradoras de rendimento, do micro-
instituições públicas e privadas e agências de cooperação, nacionais
crédito, da tóxico-dependência, etc.
e estrangeiros, sobre temáticas da actualidade não governamental cabo-verdiana. Pretendemos com ela alcançar, essencialmente, três
A Plataforma das ONG de Cabo Verde foi criada em 1996 como
objectivos específicos:
parte de um processo dinâmico de organização, participação e afir-
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mação progressivas da sociedade civil cabo-verdiana, constituindo-
1. Divulgar junto dos parceiros e potenciais parceiros a realidade
se num espaço de comunicação e concertação e de partilha per-
não governamental em Cabo Verde (forças, fraquezas, opor-
manentes das OSC de desenvolvimento, com vista à auto-promoção
tunidades e ameaças) com vista a sensibilizá-los sobre o papel
e reforço mútuo e para a construção de um país mais desenvolvido e
incontornável dos actores não estatais no processo de desen-
com menos pobreza e desigualdades sociais.
volvimento de Cabo Verde;
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Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
2. Contribuir para aumentar o leque dos parceiros da acção não
(ii) A Graduação de Cabo Verde: Oportunidades e desafios
governamental e, consequentemente, das possibilidades e
para os actores não governamentais, (iii) Desenvolvimento
oportunidades de mobilização de recursos por parte dos acto-
Económico e desigualdades: O Papel das ONG; e (iv) O Plano
res não governamentais cabo-verdianos;
Estratégico da Plataforma: Mecanismos e estratégias de mobilização de recursos. Como apresentadores e moderadores
3. Constituir uma oportunidade para a troca de experiências e de
foram convidados especialistas nacionais e estrangeiros, numa
conhecimentos entre as associações cabo-verdianas e os parcei-
complementaridade entre teoria e prática e domínios de expe-
ros e potenciais parceiros do norte, mas também alguns do sul es-
riências internacionais e locais. Os objectivos desta actividade
pecialmente convidados e para o estabelecimento de contactos
são a partilha de conhecimentos e experiências, o enriqueci-
directos que podem resultar em acordos de parceria.
mento das nossas práticas através da articulação investigação - acção, e a recolha de subsídios para os novos e complexos
Para atingir esses objectivos programamos e estão sendo realiza-
desafios dos próximos anos;
dos, no quadro da Mesa Redonda, as seguintes actividades: 3. Uma Feira de Projectos Associativos, cujo objectivo é brindar 1. Uma Feira de Produtos de Economia Solidária, que preten-
os nossos parceiros e convidados com uma pequena montra
de mostrar aos nossos parceiros e convidados, uma pequena
sobre a visão das ONG cabo-verdianas de projectos de desen-
amostra da visão que defendemos e procuramos promover e
volvimento, bem assim da capacidade que têm de conceber
incentivar, da melhor forma, a inserção social e económica das
e desenvolver projectos nas respectivas áreas e domínios de
populações pobres, através de actividades geradoras de ren-
intervenção. Muito mais do que as restantes, esta actividade
dimento e emprego, apoiadas pela formação, pela promoção
visa lançar as bases para o estabelecimento, reforço e diversi-
da auto-estima e da auto-responsabilização e pelo acesso ao
ficação de parcerias entre ONG cabo-verdianas e parceiros e
crédito e à assistência na condução dos seus negócios. A Feira
potenciais parceiros, agências de cooperação internacional e
de Produtos visa, igualmente, facultar aos próprios micro-em-
organismos públicos e privados, nacionais e estrangeiros;
presários um melhor conhecimento mútuo e a partilha de experiências e de sinergias;
4. Uma visita dos parceiros e convidados estrangeiros a algumas ONG e a alguns dos seus projectos no interior de Santiago. Os
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2. Uma Conferência Internacional de dois dias, em que se debru-
objectivos desta actividade estão interligados coom os da ac-
çará sobre quatro grandes temas de actualidade cabo-verdia-
tividade precedente, ou seja, complementar o conhecimento
na, designadamente, (i) O Papel dos actores não governamen-
dos parceiros e convidados estrangeiros sobre a capacidade
tais e a sua contribuição no desenvolvimento de Cabo Verde,
de conceber e desenvolver projectos de desenvolvimento com
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Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
a capacidade de executar os mesmos projectos. Ainda que se-
com recursos vindos do exterior. Temos que ser capazes de encontrar
cundário, constitui, igualmente, um objectivo desta actividade
formas inovadoras de mobilizar recursos internos e fazer face à ten-
oferecer aos nossos visitantes um breve olhar sobre o interior da
dência de redução de recursos de fontes externas. Paulatinamente,
nossa maior ilha.
os recursos internos terão de constituir a maior fatia no financiamento, tanto do funcionamento, como dos projectos implementados pelas
Senhor Primeiro Ministro,
ONG cabo-verdianas.
Senhoras e senhores convidados, Caros conferencistas,
A sociedade cabo-verdiana precisa clarificar a sua posição em relação ao financiamento das ONG e das OCB. Se efectivamente
A Mesa Redonda não constitui um objectivo em si. Com o seu início
elas desempenham um papel de elevado interesse público, como
hoje, marcamos o fim de uma fase, que foi de preparação e daqui
tem sido reconhecido, a atribuição de recursos públicos para as suas
a três dias, começaremos a fase de implementação dos resultados
actividades e projectos não pode continuar a depender da vontade
que formos capazes de sintetizar ao longo dos quatro dias dos nos-
deste ou daquele governo e muito menos deste ou daquele dirigen-
sos trabalhos. Temos que assumir que depositamos expectativas mui-
te. O Governo, os partidos políticos, o Parlamento, as autarquias e a
to elevadas nesta Mesa Redonda. Com efeito, investimos demasiado
sociedade civil organizada precisam discutir e encontrar um ponto de
nela para nos contentarmos com qualquer resultado. Queremos que
equilíbrio que garanta a afectação de recursos do Estado em condi-
ela seja uma referência, um novo marco na vida das ONG cabo-ver-
ções previsíveis e que assegurem o funcionamento de forma indepen-
dianas. Pretendemos que ela seja o início de uma nova era, que será
dente das ONG cabo-verdianas.
marcada pela organização e pela modernização, pelo rigor e pelo profissionalismo, pela transparência e pela boa governança na gestão das ONG cabo-verdianas.
Ao sector empresarial nacional terá de ser imputado, também, maiores responsabilidades sociais. Responsabilidades que vão desde a comparticipação na qualificação da mão-de-obra de que preci-
Acredito que, com profissionalismo e criatividade, seremos capa-
sam, à adopção das normas do emprego decente, particularmente
zes de encontrar alternativas para fazer face à tendência crescente
no que concerne à cobertura da protecção social, à preservação e
de alargamento do leque de fundos e programas de cooperação de
protecção do meio ambiente, mas também à comparticipação no
que Cabo Verde e as ONG cabo-verdianas são inelegíveis.
financiamento de infra-estruturas de interesse público que contribuem para o equilíbrio e desenvolvimento sociais.
Não obstante, teremos também de mudar, internamente, alguns
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paradigmas. Não podemos insistir com a ilusão de que continuare-
No final desta Conferência Internacional, esperamos colher subsí-
mos por muito mais tempo a financiar as nossas ONG, essencialmente,
dios que nos ajudem a traçar rumos em direcção a esse novo horizon-
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te que ainda apenas vislumbramos. Por isso, esperamos de todos, a maior determinação e espírito de missão possível. Cobramos, particularmente, dos nossos amigos a quem atribuímos missões específicas de apresentar, debater e relatar, agradecendo o espírito de entrega, profundidade e franqueza nas abordagens e no cumprimento das suas missões, incluindo nos prazos e na entrega dos textos de suporte. Antes de terminar, aproveito para formular os melhores votos de uma óptima e profícua estadia a todos e lembrar aos nossos convidados estrangeiros que, a par dos trabalhos da Mesa Redonda e dos contactos paralelos, não podem deixar de aproveitar e desfrutar da morabeza crioula. Muito obrigado!
Sessão de abertura Discurso do Primeiro Ministro
Dr. JOSÉ MARIA PEREIRA NEVES
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Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
Agradeço o convite que me foi feito pela Plataforma das ONG de Cabo Verde para participar nesta Mesa Redonda que reúne as ONG e as associações de desenvolvimento com os seus parceiros. Não é palavra de circunstância dizer-vos que, para mim, é um grande prazer estar aqui convosco. Devo, antes de mais, destacar a oportunidade deste fórum que pretende encontrar vias e meios para fortalecer, ainda mais, a acção dos actores não governamentais no desenvolvimento do país, particularmente a nível local e comunitário, com enfoque na luta contra a pobreza. Temos dito que a luta contra a pobreza é uma tarefa de toda a sociedade. É claro que o Governo tem um grande papel. Mas a pobreza só pode ser vencida com o envolvimento das pessoas e das comunidades. E ninguém melhor do que as ONG e associações de desenvolvimento comunitário para mobilizar o potencial de iniciativa local, fazendo com que todos sejam protagonistas do seu próprio desenvolvimento. Quero aproveitar a circunstância deste encontro para vos testemunhar o meu apreço pessoal e o apreço do Governo pelo importante contributo que os parceiros não governamentais vêm dando ao desenvolvimento de Cabo Verde. Esta contribuição tem sido, quanto a mim, notável em vários domínios: no desenvolvimento comunitário, na geração de empregos e na luta contra a pobreza, no reforço da coesão social e na consolidação da democracia. Permitam-me insistir neste aspecto porque tenho o sentimento de que esse vosso vasto trabalho ainda não é devidamente reconhecido: fica-se pelas frases feitas, pelos preconceitos e diz-se que o cabo-
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Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
verdiano não tem espírito associativo, não tem capacidade de em-
imediatismo estão a recuar. As comunidades estão, paulatinamente,
preendimento. Mas a realidade é completamente diferente. Nas mi-
a pensar e a assumir o seu destino. Na realidade, é bom constatar
nhas frequentes visitas aos diferentes pontos do território nacional, sigo
que, em muitas organizações, encontramos uma perspectiva clara de
com particular atenção a actividade das ONG e das associações de
futuro. Trata-se, inquestionavelmente, de uma dinâmica a encorajar
desenvolvimento comunitário. Vejo esforço e dedicação, vejo deter-
sobretudo nesta nova etapa que atravessa o país em que temos que
minação e empreendedorismo social. Vejo que há associações em
estar preparados para agir com oportunidade.
todo o lado, mesmos nas localidades mais recuadas, preocupadas em estimular a participação das populações no processo de desenvolvimento local.
Vejamos, por exemplo, a questão da reconversão das FAIMO. Desde a década de oitenta que se discutia o assunto, sem verdadeiramente encontrar soluções. A resposta veio precisamente das associa-
De facto, convido os cabo-verdianos a acompanharem melhor
ções, com propostas estruturantes e assumidas pelas comunidades,
esta dinâmica das organizações de desenvolvimento. Hoje, existem
com projectos de maior utilidade social. Hoje, se as frentes são coisa
centenas de associações espalhadas pelo país, agrupando milhares
marginal, estou em crer que tal não seria possível sem as ONG e as
de famílias, desenvolvendo um trabalho muito concreto em prol das
associações.
comunidades. Mais, as associações de desenvolvimento comunitário têm sido um Tenho visitado inúmeras actividades e projectos de luta contra a
factor importante de participação das populações. Nesse sentido,
pobreza realizados pelas ONG e pelas associações. E tenho que re-
podemos então considerar que estão a dar um importante contributo
conhecer que elas têm sido grandes parceiros do Governo, nesta que
para a verdadeira descentralização, cuja finalidade última é o envol-
consideramos o desafio maior que a nação cabo-verdiana tem que
vimento das populações nos assuntos que lhes dizem respeito.
vencer. Tenho para mim que o combate à pobreza só pode ser ganho com a mobilização da sociedade e, sobretudo, com a mobilização
Não hesito, pois, em dizer que as ONG’e e as associações de desen-
das comunidades, transformando-as em principais actores do seu pró-
volvimento comunitário se impõem hoje como parceiros incontornáveis
prio destino.
de todos aqueles, incluindo o Governo, que pretendem fomentar o empreendedorismo social e criar dinâmicas de geração de empregos, de
Pelo que tenho constatado no terreno, há um aspecto que para
combate à pobreza e à exclusão social, enfim, de desenvolvimento.
mim, é determinante no trabalho desenvolvido pelas ONG e associa-
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ções comunitárias. Refiro-me ao empoderamento das populações.
Posso garantir aqui que o Governo estará ao lado das organizações
Estamos paulatinamente a assistir a uma mudança de mentalidades.
não governamentais e das associações de desenvolvimento comunitário,
A mentalidade assistencialista, o esperar que o Estado faça tudo e o
criando condições jurídico-institucionais e mesmo materiais para a expan-
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Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
são e a consolidação desse movimento. Foi assim que, em 2003, aprová-
dades. Capacitar as comunidades mais carenciadas para não ficarem
mos a lei das associações, que veio criar um quadro mais propício para a
à margem é pois tarefa essencial que nos deve preocupar a todos e
criação e o desenvolvimento de associações em Cabo Verde. Hoje, mui-
onde os actores não governamentais têm um papel de relevo.
tos projectos do Estado contam com o envolvimento das associações. No quadro do Programa de Luta contra a Pobreza Rural – PLPR – um volume
Por isso, a grande preocupação do Governo é num desenvolvi-
considerável de recursos é transferido às associações. Vários contratos-pro-
mento equitativo que permita, tanto quanto possível, que todos bene-
grama têm sido assinados com as associações para a realização de activi-
ficiem do crescimento e que camadas da população, precisamente
dades de interesse público. De referir, ainda, que muitas associações estão
as mais pobres, não fiquem à margem do desenvolvimento. Por isso, é
a participar em concursos públicos do Estado. E a nossa opinião é que as
que o Governo não encara a luta contra a pobreza como um objec-
associações já adquiriram uma notável capacidade de execução, o que
tivo isolado, mas sim integrado na estratégia de desenvolvimento do
lhes permite competir em termos de qualidade e de produtividade.
país. Assim é que a luta contra a pobreza é uma dimensão importante das Grandes Opções de Desenvolvimento do país. O Documento de
Cabo Verde está engajado numa estratégia de transformação para modernizar o país, criar emprego e reduzir a pobreza. Nos últimos
Estratégia de Crescimento e Redução da Pobreza visa precisamente estimular um crescimento que favorece a redução da pobreza.
anos, o país entrou numa dinâmica económica muito favorável. O ritmo de crescimento da economia tem sido robusto e sustentado. O
Nesta matéria, a nossa grande preocupação tem a ver com o
clima económico é saudável na medida em que se tem conseguido
mundo rural. Seguimos empenhados na criação de condições de
o equilíbrio dos fundamentais da economia. Por isso, o sector privado
competitividade e de modernização do mundo rural.
está a confiar e o ritmo de investimentos é grande. Primeiro, através de um esforço dirigido para a capacitação das Porém, estamos conscientes do perigo real da dinâmica económica se traduzir num aumento de disparidades. Isto porque todas as regiões
populações rurais, alargando as possibilidades de acesso aos serviços sociais, à educação e à formação.
do país não dispõem das mesmas vantagens comparativas e também porque todos os extractos da população não estão igualmente capa-
Sois todos testemunhos do extraordinário esforço que o Governo
citados para tirar proveito das oportunidades que a dinâmica económi-
tem feito para construir liceus, escolas, centros de emprego e de for-
ca cria. Vivemos num mundo global onde a competitividade é renhida.
mação profissional, hospitais, centros de saúde, adentro da estratégia
A graduação de Cabo Verde a país de rendimento médio, a adesão
de desenvolvimento do capital humano e de transformação do país.
à OMC e a parceria especial com a União Europeia criam contextos
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para novos desafios e certamente que abrem novas oportunidades. E é
Quando falamos da capacitação das populações rurais, quere-
preciso que tenhamos capacidade para tirar proveito dessas oportuni-
mos incluir o desenvolvimento das organizações e das instituições lo-
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Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
cais como factores chaves do empoderamento das comunidades e
cessos na luta contra a pobreza. De tal forma que o Governo decidiu
da luta contra a pobreza. E é também aqui que existe um campo de
estender o programa a todo o país, estando previsto, para o efeito,
trabalho muito grande para os parceiros não governamentais, porque
20 milhões de dólares. Uma novidade é que, desta feita, vamos incluir
se não nos preocuparmos com as organizações e instituições não con-
uma vertente de micro-crédito.
seguiremos o impacto desejado dos investimentos nem a sustentabilidade do desenvolvimento.
O micro-crédito é, como se sabe, um instrumento dos mais importantes na luta contra a pobreza, ao fornecer aos mais carenciados
O segundo vector estratégico tem a ver com a infra-estruturação
os activos necessários para a concretização do seu projecto pró-
do mundo rural. Estamos a falar de estradas, de electrificação rural,
prio de saída da pobreza. Por isso, o Governo quer que esse sector
água e saneamento, telecomunicações, mas também de acesso às
se fortaleça para melhor servir os seus propósitos. Aprovamos, no ano
tecnologias de informação e de comunicação.
passado, a Lei sobre o regime jurídico das instituições de micro-finanças, que promove a sustentabilidade financeira e operacional dessas
Em terceiro lugar, queremos falar dos esforços de modernização
instituições. Temos em vias de aprovação um Plano Estratégico e um
da agricultura, visando o aumento da produção e da produtividade.
Plano de acção para as micro-finanças, bem como um conjunto de
Trata-se de um sector importante para a luta contra a pobreza e que é
regulamentos para o sector. No quadro do MCA, está a ser prestada
capaz de criar muitas oportunidades, sobretudo se tivermos em conta
uma assistência técnica às instituições de micro-crédito com vista a
a expansão do mercado que provocará o desenvolvimento do turis-
reforçar a sua capacidade de intervenção. Também, e sabendo das
mo. O turismo tem sido o principal motor de crescimento e é importan-
dificuldades de acesso ao crédito, o Governo irá criar um Fundo de
te que o mundo rural possa explorar todas as ligações com esse sec-
Financiamento do Micro-crédito.
tor. Estamos a pensar, por exemplo, no turismo rural e ecológico que apresenta um potencial enorme. É bom registar que actividades na
Enfim, o Governo está a agir nos mais diferentes domínios para
área do turismo rural já constam das agendas de várias associações,
apoiar as camadas menos possidentes da sociedade, sempre no qua-
particularmente no Fogo e em Santo Antão.
dro da luta contra a pobreza e do desenvolvimento humano. A criação do sistema não contributivo da previdência social, o aumento da
Também, e este é um quarto elemento, o Governo tem procurado
pensão social mínima, as refeições quentes nas escolas, as bolsas de
implementar, aliás com larga participação dos parceiros não gover-
estudo, a redução da carga fiscal e a habitação social são medidas
namentais, programas dirigidos de luta contra a pobreza orientados
de política de combate à pobreza e de dignificação das pessoas.
para as comunidades pobres. A ideia mestra é capacitar os mais po-
70
bres para que possam participar no desenvolvimento do país. Temos
As ONG e as associações de desenvolvimento comunitário face a
como exemplo o PLPR, programa inovador que vem registando su-
todos os desafios que se colocam a Cabo Verde, país de rendimento
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médio, têm de elaborar uma nova agenda abrangendo áreas como o ambiente, as tecnologias informacionais, a educação, a saúde, a previdência social, a habitação, a incubação de empresas, a formação profissional o crédito, de modo a aproveitar todas as oportunidades que se abrem ao país, no quadro da sua inserção competitiva na economia global. Com a mudança de paradigmas na cooperação internacional, designadamente da introdução da ajuda orçamental como principal modalidade de financiamento, temos de encontrar um quadro legal que permita a transferência de recursos do Estado às ONG e às associações de desenvolvimento comunitário, no âmbito, aliás, da nossa estratégia de descentralização, com a atribuição aos cidadãos e à sociedade civil de responsabilidades e de recursos, para melhor poderem participar no processo de transformação do país e no combate à pobreza e às desigualdades. Resta-me desejar que os vossos trabalhos tenham o êxito desejado, para que os actores não governamentais possam continuar a mobilizar parcerias para prosseguir a grande tarefa que vem realizando em favor do desenvolvimento do país. Podem contar com a parceria empenhada do Governo. Muito obrigado!
Sessão Plenária Tema I: Os actores não governamentais e sua contribuição no desenvolvimento de Cabo Verde
Dr. Mário Moniz e Dra. Hermínia Bastos
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Os actores não governamentais e sua contribuição no desenvolvimento de Cabo Verde I - Nota introdutória De acordo com a definição cabo-verdiana entende-se como Organizações Não Governamentais, adiante designadas ONG, aquelas entidades de direito privado, não políticas, legalmente constituídas e sem fins lucrativos, de âmbito nacional, regional ou local, e que tenham entre seus fins, segundo os seus estatutos, a realização de actividades relacionadas com princípios e objectivos de desenvolvimento e melhoria das condições de vida das comunidades. Na perspectiva de um desenvolvimento durável, as ONG constituem hoje uma categoria de actores sociais importantes na luta contra a pobreza e na descentralização em Cabo Verde. Nenhuma entidade pode agir isoladamente e contribuir para o desenvolvimento local da sua comunidade. Só há desenvolvimento local se todos os actores se aperceberem da sua co-responsabilidade no desenvolvimento da comunidade. Todos têm que estar conscientes do seu papel e de como se envolverem neste processo, sejam sociedade civil, Estado (central e local) ou agentes económicos. Compete aos Estados estabelecer sistemas de governação que descentralizem a decisão e a aproximem, o mais possível, dos diversos actores do desenvolvimento. O Governo de Cabo Verde assumiu as grandes recomendações da Cimeira de Copenhaga contidas na Declaração e no Plano de Acção de que é signatário. Este compromisso vem expresso desde o Plano Nacional de Desenvolvimento 1997-2000 (PND) que estabelece como um
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dos objectivos prioritários a redução sustentada e sustentável da pobre-
O associativismo cabo-verdiano encontra as suas raízes nas formas
za e instituiu, em 1997, o Programa Nacional de Luta contra a Pobreza
tradicionais de solidariedade social, desde as associações funerárias
(PNLP). Como metas prioritárias do PNLP destacam-se: a redução da po-
denominadas (mitim e botu) e de cooperação simples (djunta mon),
breza de forma duradoura e continuada (através da implementação de
a poupança (totocaixa), as quais ganharam maior expressão com a
um conjunto de acções integradas tendentes à redução das assimetrias
independência nacional.
e ao reforço da coesão social) num quadro de actuação descentralizado, e; promover a participação e coordenação dos esforços.
a) As cooperativas
A opção pela descentralização na luta contra a pobreza assume
O movimento cooperativo tem antecedentes na época colonial e
uma abordagem estratégica focalizada e baseada nas demandas
podemos distinguir quatro períodos na história do movimento associa-
das comunidades, implicando, desde logo, o reforço da descentra-
tivo em Cabo Verde:
lização enquanto factor estimulador da participação a nível local.
a) a época colonial;
Neste particular, os Planos Municipais de Luta contra a Pobreza cons-
b) de 1975 a 1978;
tituem instrumentos privilegiados de descentralização das actividades
c) de 1979 a 1990;
de luta contra a pobreza.
d) de 1991 aos nossos dias.
A coordenação das intervenções de luta contra a pobreza aos
Na época colonial, existiam cinco cooperativas oficialmente re-
níveis nacional, regional e local e, ainda, com os parceiros de desen-
conhecidas. As cooperativas eram agrícolas e de consumo e foram
volvimento, sejam eles públicos, privados, organizações não gover-
criadas com o incentivo das autoridades da administração colonial.
namentais e da sociedade civil, evita duplicação de esforços e cria
Visavam de certa forma enquadrar, servir e controlar a elite adminis-
sinergias apropriadas.
trativa e económica do país, composta por funcionários públicos e proprietários fundiários.
Pergunta-se, no entanto: qual o papel das ONG no desenvolvimento e que quadro de intervenção para essas organizações da sociedade civil?
Com a independência, o movimento cooperativo sofre grande impulso, tendo sido criadas mais de uma centena de cooperativas de consumo e de produção por quase todas as ilhas, as quais foram
II - A dinâmica associativa em Cabo Verde
apoiadas pelo Instituto Nacional das Cooperativas (INC), organismo público responsável pela realização da política do Governo em maté-
A sociedade civil tem tido, antes e depois da independência, um papel determinante no processo de desenvolvimento de Cabo Verde.
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ria de cooperativismo, e pelo Fundo de Apoio às Cooperativas (FAC), organismo oficialmente responsável pela coordenação das ajudas
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nacionais e internacionais ao sector cooperativo, sendo de referir que
gime pluralista e multipartidário, o movimento associativo sofre novos
estas duas instituições foram extintas em 1998.
impulsos. Verifica-se uma expansão e diversificação da sua actuação e implementam actividades em áreas tais como o desenvolvimento
Existe, em Cabo Verde, legislação específica para as cooperativas
comunitário, poupança e crédito, actividades geradoras de rendi-
que normaliza a sua constituição, publicada em 1979 e revista em 1990
mento, com incidência positiva na luta contra a pobreza, promoção
e 1994 e inserida no código comercial. As cooperativas são agora tu-
da mulher, planeamento familiar, apoio aos deficientes, meio ambien-
teladas pelo Ministério da Agricultura, da Alimentação e do Ambien-
te, informação, educação e defesa dos direitos humanos. É também
te, através do Serviço de Promoção Cooperativa. Estas alterações da
de assinalar o aparecimento de várias organizações de classes profis-
tutela tiveram um impacto negativo na dinâmica do movimento das
sionais (juristas, engenheiros, médicos, etc.).
cooperativas. O movimento cooperativo tem três grandes constrangimentos, problemas de acesso à educação, formação e informação
c) As Organizações Comunitárias de Base
cooperativa, dificuldade de acesso ao crédito, ausência de uma política cooperativa nacional forte e o enfraquecimento das estruturas de
As Organizações Comunitárias de Base são associações que pro-
apoio ao movimento cooperativo. Continuam a subsistir algumas coo-
movem o desenvolvimento local de uma localidade específica. No
perativas que continuam a resistir bem, funcionando com uma organi-
meio rural, têm vindo a conhecer grande dinamismo, organizando as
zação e dinâmica mais do tipo empresarial e contribuindo para a valo-
populações para a participação na procura de soluções para a saída
rização da produção rural, sobretudo no domínio da agro-pecuária.
da pobreza. São parceiros fundamentais para o trabalho das ONG, municípios e governo na luta contra a pobreza.
Em 1999, foi criado o Fórum Cooperativo, no seguimento de uma reunião na Praia, onde participaram 52 delegados de diferentes cooperativas.
Podemos considerar que a sobrevivência dessas associações, até este momento, está ligada à realização dos trabalhos nas FAIMO, através dos contratos programas cujo objectivo principal é a partici-
b) As Organizações Não Governamentais (ONG)
pação e co-responsabilização dos beneficiários directos desses trabalhos. Toda essa mudança metodológica se inscreve num conjunto de
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Ainda no período de partido único surgiram outras formas de orga-
esforços para a reconversão das frentes tradicionais. Embora a activi-
nização da sociedade civil aliadas a uma outra filosofia de participa-
dade principal seja a execução dos trabalhos acordados no âmbito
ção. Aqui destacam-se as ONG que começaram a aparecer a partir
dos contratos-programa, muitas associações começaram já a realizar
de 1987, com a publicação da lei sobre as associações (lei nº 78/III) e
acções que contribuam para a melhoria das condições de vida na
têm desempenhado um importante papel no desenvolvimento comu-
comunidade, tais como o micro-crédito, as actividades geradoras de
nitário a nível nacional. A partir de 1991, altura da instauração do re-
rendimento, a construção de infra-estruturas sociais, entre outras.
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Os principais parceiros dessas associações têm sido a União Europeia, a Cooperação Austríaca, a Cooperação Francesa, o Fundo da
em parceria, nos meios rurais, e sistema de contribuições ocasionais para situações esporádicas.
Embaixada dos Estados Unidos, as Câmaras Municipais, a Direcção da Agricultura, Silvicultura e Pecuária e a Cooperativa Internacional para
e) A Plataforma das ONG
o Desenvolvimento da Agricultura (ACDI). Esta última ocupa o lugar de destaque pela abrangência das suas acções e pelo valor global
A sociedade civil cabo-verdiana apresenta, desde há uma déca-
de financiamentos que concede anualmente, bem como assistência
da, um grande dinamismo, motivado pela necessidade de, com a
técnica e jurídica que garante.
participação de todos, promover e construir uma vida melhor para todos. Na linha da frente desta caminhada encontram-se as ONG e
Apesar da vontade e dos interesses inequívocos dos parceiros aci-
associações comunitárias que, em todos os concelhos e ilhas, têm
ma mencionados, regista-se, por um lado, a ausência de uma inter-
implementado acções para a promoção de melhores condições de
venção concertada, o que dificulta o aproveitamento de sinergias e,
vida para as famílias, ao mesmo tempo que contribuem, de forma
por outro lado, uma fraca capacidade organizacional e de negocia-
significativa, para a redução da pobreza e exclusão social.
ção fruto de um baixo nível académico dos membros e de uma ausência quase total de conhecimentos e experiências em matéria de gestão administrativa e financeira.
Este compromisso justifica o aparecimento, nos últimos anos, de um grande número de ONG de desenvolvimento e associações comunitárias, cuja acção estende-se aos mais variados domínios e secto-
É necessário incrementar as iniciativas no sentido de contribuir para
res de actividade. Basta dizer que de 11 ONG recenseadas, em 1990,
a consolidação dessas associações no quadro de um programa con-
hoje, existe, em Cabo Verde, aproximadamente, uma centena delas,
certado que conte com a colaboração de todos os parceiros.
enquanto mais de 800 associações locais, também, vêm implementando acções de desenvolvimento e de promoção das populações
d) Associações de poupança e crédito e grupos de interesse
pobres e muito pobres.
São associações cujo grande objectivo é a promoção do bem-es-
A Plataforma das ONG de Cabo Verde constitui o resultado de um
tar social das populações, principalmente no meio rural. Desenvolvem
processo dinâmico de organização e participação da sociedade ci-
actividades muitas vezes relacionadas com o micro-crédito ou fundos
vil, que tem como referências principais a independência do país, em
rotativos, promovendo o auto-emprego.
1975, a publicação da lei sobre as associações, em 1987 (Lei nº 78/ III/87) e a abertura política, em 1991.
Algumas destas associações estão ligadas às tradicionais “djunta mon” e “abota”, que constituem uma forma de trabalho conjunto ou
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Foi neste contexto de tomada de consciência e de afirmação pro-
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gressivas que, nos dias 15 e 16 de Junho de 1996, teve lugar a Assem-
de intervenção das ONG, cujas iniciativas, na maior parte das vezes,
bleia-Geral constituinte da Plataforma das ONG de Cabo Verde.
ultrapassam o universo do seu concelho ou ilha.
E porque a união faz a força, a Plataforma construiu-se, assim,
Como se pode constatar, as ONG estão presentes em todas as
como o espaço de comunicação e de concertação permanen-
ilhas, com destaque para Santiago e São Vicente. A maior parte inter-
tes das OSC cabo-verdianas, numa perspectiva de auto-promoção
vém ao nível de uma ilha e/ou concelho. No entanto, algumas como
e reforço mútuo, baseada numa consciência cada vez maior das
é o caso da OMCV, da Cáritas, da Cruz Vermelha e da Liga Nazarena,
ONG em contribuir para a construção de um país mais justo e com
da MORABI e da VERDEFAM têm sede na Praia e representação em
menos pobreza.
todas as ilhas e/ou concelhos. Outras ONG têm procurado alargar a sua área geográfica de intervenção como é o caso do Atelier Mar, os
Esta é a razão por que a Plataforma das ONG apostou, desde sem-
Amigos da Natureza, a SOLMI e o CITI-HABITAT.
pre, na criação de condições que favoreçam o diálogo, a concertação e a participação de diferentes organizações da sociedade civil, em estrito respeito pelos seus ideais e princípios, o que passa, obrigato-
III - O papel das ONG no processo de desenvolvimento em Cabo Verde
riamente, pela sua capacidade de organização e de acção. Bossuyt afirma: “Em África tomamos a consciência de que o Governo A maior parte das associações está registada sob a forma jurídica
não pode ser o único interlocutor das Agências de Doadores. As ONG
de ONG. Umas poucas estão reconhecidas como agrupamentos pro-
são reconhecidas como entidades capazes de realizar projectos impor-
fissionais, fundações e ligas, existindo, igualmente, grupos, cooperati-
tantes para a vida das comunidades. Existe um espaço importante para
vas e organização de solidariedade internacional.
a sociedade civil se desenvolver e afirmar. Há que criar as condições necessárias para que tal se concretize cada vez mais. Devem ser vistos
As ONG estão mais concentradas nos centros urbanos e, devido
como agentes de desenvolvimento que ocupam um espaço próprio,
à configuração geográfica do país, há ilhas onde existe uma grande
que a descentralização permite e estimula. Conhecem melhor as neces-
proliferação de ONG e outras onde é quase inexistente, sendo grande
sidades das populações, podendo por isso ser mais eficazes”.
a heterogeneidade entre as ONG e OCB. Em Cabo Verde, actuam várias ONG, nacionais e estrangeiras, Mais de metade das ONG (70%) tem sede na ilha de Santiago e 14% encontra-se em São Vicente. Outras estão sedeadas em Santo
intervindo em distintas áreas de desenvolvimento social, económico e comunitário.
Antão (2%), Fogo (6%), São Nicolau (2%), Maio (2%), Boa Vista (2%) e Sal (2%), havendo uma relação directa entre essa distribuição e o grau
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As mesmas têm um leque bastante variado de acções, destacan-
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do-se intervenções importantes nos domínios da formação, informa-
• Incentivar e desenvolver a prática de pesquisa/acção sobre as
ção e comunicação; juventude e educação; acções de solidarieda-
novas formas de abordagem, visando a promoção da partici-
de; apoio a micro-empresas; abastecimento da água; actividades
pação a todos os níveis;
culturais e desportivas; desenvolvimento comunitário; protecção do
• Dinamizar as iniciativas de auto-promoção.
ambiente e saúde, para além de outros sectores como o apoio ao artesanato e artes, habitação social, promoção feminina, pecuária, Direitos Humanos e divulgação da fé religiosa.
Para atingir os seus objectivos, estabelecem parcerias através de protocolos de cooperação, com entidades nacionais e estrangeiras, privadas e públicas, integrando, igualmente, redes e federações internacionais ligadas
Essas organizações não governamentais dão um contributo im-
a problemáticas específicas e do desenvolvimento em geral.
portante na promoção e participação no processo de desenvolvimento económico, social e cultural do país, contribuindo para a melhoria das condições de vida das populações, como se pode
IV - As forças e fraquezas que caracterizam as Organizações Não Governamentais em Cabo verde
constatar através dos objectivos que, normalmente, propõem atingir e que passamos a indicar: • Participação activa no processo de desenvolvimento, seja a nível local, regional ou nacional;
a) Fraquezas As ONG deparam-se com inúmeras dificuldades na sua acção, das quais podemos destacar:
• Contribuir para a melhoria do nível educacional das populações e sua participação efectiva no processo de auto-promoção; • Defesa do interesse das camadas menos desfavorecidas, mi-
• Dispersão geográfica e localismo – necessidade de terem sempre
nimizando as suas dificuldades através da promoção de uma
uma visão mais global por forma a saberem onde agir, pois nem
maior justiça social; • Facilitar a comunicação e concertação entre as comunidades locais e os diferentes parceiros (externos à comunidade); • Participar na definição de políticas e orientações estratégicas sobre temas ou assuntos de interesse nacional; • Contribuir para a dinamização da cooperação descentralizada; • Participar activamente na construção de uma verdadeira relação de parceria, visando o aproveitamento de sinergias e a rentabilização dos recursos;
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• Limitação em recursos financeiros, humanos e materiais;
sempre os problemas têm a sua solução a nível micro, • Défice de comunicação interna (entre as ONG) e com o exterior (entre as ONG e os seus parceiros). Limitação em termos de diálogo e concertação no seio dos actores não governamentais; • Falta de coordenação efectiva entre as associações e os governos (locais e central); • Fraca capacidade de mobilização de recursos alternativos aos apoios do Governo;
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• Dependência de subsídios. Por vezes o trabalho realizado nas
em virtude da sua tradição secular, é merecedor de um investimento
comunidades é subsidiado por financiadores externos que
na mudança das atitudes e dos comportamentos de todos quantos,
quando se retiram põem em causa a sustentabilidade do pro-
voluntariamente, integram essas organizações como forma de dar o
cesso de desenvolvimento local. Esta dependência é agravada
seu contributo para a construção de um país mais desenvolvido e mais
pela ausência cada vez mais acentuada das ONG do Norte, o
justo e para que consigam consolidar os seus processos de desenvol-
que limita as possibilidades de mobilização de financiamentos.
vimento comunitários e identificar correctamente as necessidades e
Isto revela alguma vulnerabilidade e dificuldades estruturais,
onde intervir mais correctamente.
com reflexos na própria evolução e desenvolvimento dessas organizações, limitando a sua auto-sustentabilidade.
b) Forças
• Politização de determinadas associações; • Fraca capacidade institucional das ONG e associações, em geral;
Não obstante os problemas que são evidentes, existem potenciali-
• Voluntarismo excessivo. Temos que ser profissionais no trabalho
dades que apontam para a família ONG forte, dinâmica e com gran-
que desempenhamos e contar com técnicos que nos apoiem,
de capacidade de intervenção, sendo de salientar a metodologia de
para que todo um processo de reflexão e envolvimento comu-
intervenção junto das comunidades locais e a sua consciência quanto
nitário não seja prejudicado e travado,
à necessidade de unir esforços e de cultivar a prática de reflexão e
• Fraca capacidade de gestão e necessidade de maior trans-
acção conjunta na perspectiva de que a união faz a força. A criação
parência e boas práticas no funcionamento dos órgãos so-
da Plataforma das ONG e de organizações chapéus das OCB, como
ciais. (Verifica-se, de forma não generalizada, práticas nega-
OASIS no interior de Santiago, OAF na ilha do Fogo, OADISA em Santo
tivas por parte dos dirigentes máximos dessas organizações,
Antão – Ribeira Grande, entre outras, são exemplos dessa consciência.
que, muitas vezes, usam e abusam do poder que lhes foi conferido pelos membros, assim como se verifica falta de respeito pelas regras de conduta no trabalho em grupo e com o gru-
Assim, são também de realçar os seguintes métodos de trabalho, característicos do desenvolvimento comunitário:
po, devido a posturas e comportamentos poucos democráticos e participativos); • Excesso de protagonismo. Temos que estar abertos à participação de todos, nem só os líderes comunitários têm direito à palavra e têm as soluções mais correctas;
- a participação – que deve ser promovida e incentivada, principalmente em sociedades onde existe repressão ou intolerância para uma sociedade de participação. - a parceria – as acções que envolvem os diversos parceiros da sociedade têm maior repercussão e eficácia,
Urge, deste modo, investir na educação/formação dos dirigentes e membros das ONG, de forma a capacitá-los para o trabalho comum
- uma visão integrada – nenhum problema é trabalhado isoladamente e as soluções devem ser multidisciplinares,
e comunitário, na certeza de que o associativismo em Cabo Verde,
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- territorialização – trabalho na comunidade e com a comunidade,
Acreditamos que existe hoje um melhor relacionamento entre o Governo central, os governos locais e as associações da sociedade
- diversidade – inovação constante, cada caso é um caso e
civil e uma maior consciencialização da necessidade de trabalhar em
cada comunidade tem as suas especificidades, recursos e
parceria, depois de uma fase inicial de desconfiança recíproca. Há,
capacidades.
no entanto, ainda um longo caminho a percorrer, no sentido de maximizar todas as potencialidades inerentes à participação da socieda-
Essas potencialidades resumem-se na nova dinâmica da socieda-
de civil no desenvolvimento local e, consequentemente, nacional.
de civil que se traduz no número de ONG e outras associações existentes e nas suas contribuições valiosas no processo de luta contra a
O desenvolvimento local não constitui um domínio exclusivo das
pobreza e pelo desenvolvimento, não obstante as dificuldades já re-
autarquias e da administração central. As opções estratégicas, a
feridas. Mesmo que ainda tenhamos muitas ONG e outras associações
concepção e a implementação de políticas municipais têm de ser
que precisam reforçar a sua capacidade institucional e, consequen-
partilhadas e contratualizadas, aos mais diversos níveis, com os ci-
temente, melhorar o seu nível de intervenção, não é de menosprezar
dadãos, as suas associações e organizações. Deverão ser criados
a acção global das organizações da sociedade civil. Elas estão pre-
espaços e condições que promovam o encontro, o debate e a par-
sentes em todas as ilhas, em todos os domínios de actividades (saúde,
ticipação nos projectos da vida colectiva e nas decisões de gestão
educação, agricultura, pecuária, pesca, artesanato, actividades ge-
das comunidades.
radoras de rendimento associadas ao micro-crédito, etc), em todos os grandes temas de actualidade como a descentralização, o combate à desertificação, a luta contra a pobreza, entre outros.
De acordo com a sua própria essência, a prática da cidadania contribui para o “bem público”. As estruturas em que os cidadãos têm uma presença activa, quer individual, quer colectivamente, têm im-
V - Em conclusão
plicações mais vastas para a organização da comunidade como um todo, levando à criação de políticas públicas eficientes e apropria-
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A mobilização social, acompanhada de actividades de animação
das. Quando a população sente que a sua participação é promovida
para apoiar a organização das comunidades e promover a formação
e que as suas opiniões e conhecimento são tão importantes como os
e capacitação das populações, é um instrumento privilegiado para
aspectos técnicos, políticos e financeiros, adquirem um maior sentido
melhorar a dotação das comunidades em capital humano e social,
de responsabilidade para com o que é decidido e executado. De-
habilitando-as para assumirem o seu próprio desenvolvimento, logo, a
senvolvem capacidades para escolher o que é mais adequado à sua
sua saída da condição de pobreza. Trata-se, também, de combater,
situação e necessidades, comprometem-se com as decisões escolhi-
através de metodologias participativas, a mentalidade assistencialista
das e são um factor relevante para a sua correcta execução. As téc-
ligada à ideia de um Estado-Providência do qual tudo se espera.
nicas participativas não são apenas um meio para tornar um projecto
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ou processo mais eficiente. Possibilitam um processo de construção e afirmação da cidadania, pois transformam a população em agentes activos do desenvolvimento. É evidente que da independência nacional a esta parte, as organizações da sociedade civil cabo-verdiana têm conhecido uma evolução satisfatória tanto do ponto de vista da quantidade como da qualidade das suas intervenções. Contudo, existem uma série de constrangimentos acima referidos que exigem uma atenção particular nos próximos tempos. No entanto, as perspectivas são boas se tivermos em conta as preocupações actuais, traduzidas em acções já em curso ou em vias de realização que demonstram a resposta activa e responsável dos actores da sociedade civil, das quais destacamos: 1 - Elaboração, regulamentação e implementação de um Código de Ética; 2 - Realização de um debate à escala nacional sobre a ética e deontologia no seio das Organizações Não Governamentais; 3 - Aposta na diversificação da formação dos quadros das ONG e na profissionalização das actividades das ONG; 4 - Reforço e mobilização de novas parcerias e articulação dos recursos quer a nível interno, quer externo; 5 - Educação para a cidadania; 6 - Aprovação da Lei que regula a actividade das ONG; 7 - Aprovação da Lei da Cooperação Descentralizada. As parcerias e o real envolvimento de todos os actores da cooperação e financiadores do desenvolvimento são imprescindíveis para a materialização destas acções de forma integrada e sustentável.
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Sessão Plenária Tema II: A Graduação de Cabo Verde: Oportunidades e desafios para os actores não governamentais
Dr. Victor Borges e Dra. Adelaide Ribeiro
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A Graduação de Cabo Verde: Oportunidades e desafios para os actores não governamentais Dr. Victor Borges A graduação envolve muitos parceiros. Sublinharia como parceiros incontornáveis, o Governo e a classe política de Cabo Verde, o Sistema das Nações Unidas, os parceiros de desenvolvimento, bem como a sociedade civil (ONG, associações, sindicatos, sector privado, investidores, etc.) e os cabo-verdianos considerados individualmente. Sobre a graduação, relembro que há três critérios: o índice de desenvolvimento humano, o rendimento per capita e o índice de vulnerabilidade económica. A regra é: quando um país atinge dois desses critérios, é graduado e Cabo Verde atingiu os dois primeiros e está longe de atingir o índice aceitável de diminuição da vulnerabilidade económica, que é constituída por vários elementos, nomeadamente a inexistência de recursos naturais, a seca e uma produção alimentar estruturalmente deficiente. Um bom ano agrícola em Cabo Verde cobre 13 ou 14% das necessidades em cereais do país, as estruturas produtivas são incipientes, para não falar dos custos da insularidade e da pequenez no sistema de produção. Um outro elemento importante da vulnerabilidade económica de Cabo Verde tem a ver com a taxa de cobertura das importações pelas exportações, que são, em média, 7% do que importamos. E essa vulnerabilidade tem, ainda, uma outra dimensão: o impacto dos choques externos, estamos a ver a subida dos alimentos e dos combustíveis, as variações no fornecimento de bens, etc.
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Há, por outro lado, uma grande dependência em relação às trans-
préstimos. Cabo Verde financia estradas, escolas, hospitais, etc. com
ferências externas, sejam elas dos emigrantes, a Ajuda Pública ao
empréstimos multilaterais. As taxas de juro são baixíssimas e os períodos
Desenvolvimento e ao próprio investimento directo externo, portanto,
de reembolso longos. A perda da concessionalidade significa taxas
este é um país extremamente vulnerável e onde mais de 90% do orça-
de juros muito mais elevados e períodos mais curtos de reembolso, o
mento de investimentos é financiado por recursos externos.
que significa maior pressão sobre o orçamento do Estado.
Um último ponto de vulnerabilidade é a nível da segurança, que
Os desafios de Cabo Verde no contexto da graduação têm a
implica, muitas vezes, desafios para o financiamento do desenvolvi-
ver com o crescimento económico acelerado do desenvolvimen-
mento porque podem ser recursos que deveriam ser destinados aos
to de Cabo Verde. Temos o desafio incontornável de acelerar o
sectores essenciais do desenvolvimento: água, saneamento, saúde,
processo de desenvolvimento para diminuir a tal vulnerabilidade
educação, etc., portanto, a segurança não é só um problema securi-
económica. Penso que Cabo Verde tem uma visão clara de desen-
tário, é um problema de desenvolvimento.
volvimento, ao mesmo tempo que deve ter uma acção coerente em relação a esta visão.
Por outro lado, o rendimento per capita de Cabo Verde está muito acima do mínimo para um PMA (País Menos Avançado). Em termos de
Tem o desafio de mobilizar recursos para o financiamento do de-
desenvolvimento humano, também ultrapassámos, de longe, o crité-
senvolvimento. Os recursos internos de Cabo Verde não lhe permitem
rio estabelecido.
fazer os investimentos que todos nós reclamamos. Há, ainda, um desafio enorme que tem a ver com a coesão social. O desenvolvimento
Finalmente, há a vulnerabilidade económica: Cabo Verde está nitidamente abaixo e com uma evolução que, salvo em 1994/97, onde
de Cabo Verde não foi igual em todas as ilhas, não foi igual em todos os municípios.
houve uma evolução económica favorável, a vulnerabilidade económica de Cabo Verde está demonstrada.
É só comparar os indicadores: o rácio médico por habitante, o número de professores qualificados por concelho, o número de habita-
Quanto aos possíveis efeitos da graduação de Cabo Verde é a
ções com água ou com ligação ao esgoto para sabermos que há
diminuição da ajuda pública ao desenvolvimento, porque é consenso
grandes disparidades e um desafio enorme de Cabo Verde é, pelo
da comunidade internacional que a maior parte dos recursos da aju-
menos, diminuir as disparidades sociais, geográficas e de género, o
da pública deve ser encaminhada aos países menos avançados. Por
que significa mais responsabilidades para o país no seu todo.
conseguinte, não sendo Cabo Verde dos PMA, haverá essa tendência para a diminuição dessa ajuda e a perda de algumas facilidades decorrentes do financiamento externo do desenvolvimento.
Aqui vou falar das iniciativas não governamentais nos domínios sociais, económicos e culturais e a complementaridade que deve existir entre as diversas intervenções e abordagens, sejam elas do Governo,
Dou o exemplo da concessionalidade das taxas de juro, os em-
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do poder local ou das organizações da sociedade civil para que, de
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facto, a gente reforce ou acelere o processo de desenvolvimento e
Não seria discurso coerente privar Cabo Verde de determinadas
chegue ao ponto do não retorno e a graduação não significa que o
facilidades só porque entrou numa dinâmica de desenvolvimento.
país chegou ao ponto do não retorno e vimos todas as dependências
O discurso é de desenvolvimento e não de socorrer as situações de
e vulnerabilidades que existem.
emergência.
Quanto aos recursos humanos, devemos ter uma visão um pou-
Finalmente, dois comentários sobre as contradições desta aborda-
co mais avançada: não se trata só de formar, de dar competências
gem de Cabo Verde em relação à graduação. De um lado, sublinho
técnicas, mas de criar atitudes, práticas e comportamentos voltados
a importância, ainda e infelizmente, que Cabo Verde tem de poder
para a produção, para a actividade económica, em contraponto ao
beneficiar de contribuições externas e, ao mesmo tempo, dizer aos
paradigma fundamental que existe, neste momento: sou formado, o
cabo-verdianos: nós somos os donos do nosso destino e temos que
Estado deve-me um emprego. A produtividade, o interesse, a perti-
poder resolver os nossos problemas.
nência e a eficácia são detalhes que não me interessam. Aparentemente tínhamos aqui uma grande contradição, porque A nova gestão dos recursos humanos em Cabo Verde implica, por
ou queremos ou não queremos assumir as nossas responsabilidades.
conseguinte, qualificação e atitudes e comportamentos, o que cha-
Penso que poderemos gerir esta aparente contradição com alguma
maria uma cultura de desenvolvimento. Nesta dimensão cultural, há
inteligência. O sucesso da graduação, isto é, a continuação e a ace-
um elemento fundamental, que é a autonomização crescente do in-
leração do processo de desenvolvimento de Cabo Verde é uma res-
divíduo e da sociedade em relação ao Estado.
ponsabilidade nacional.
Alias, o Estado não poderá responder com essa estrutura mental
Precisamos de recursos, é certo, mas o desenvolvimento não é só
de dependência em relação ao Estado. Dito isto, também defendo a
uma questão de recursos. Não é por acaso que temos países sem re-
melhoria do Estado e das suas prestações, particularmente no que é
cursos naturais ricos e países com muitos recursos naturais em situação
seu mandato fundamental: educação, saúde, acesso à água, segu-
de pobreza caracterizada.
rança e regulação da actividade económica. A responsabilidade é acrescida para o Governo, para todos os parEm relação à comunidade internacional, naturalmente, pedimos
tidos políticos, para os eleitos e para a sociedade civil se daqui a cinco
coerência em relação aos objectivos e compromissos internacional-
anos quisermos dizer que valeu a pena a graduação e que conseguimos
mente assumidos. As ONG cabo-verdianas também poderão defen-
manter Cabo Verde num processo acelerado de desenvolvimento.
der, à semelhança do Governo. É que as dinâmicas positivas devem ser apoiadas se o discurso da comunidade internacional em relação ao desenvolvimento for um discurso coerente e se for um discurso de gente com convicção.
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Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
Papel das Nações Unidas no processo de graduação Dra. Adelaide Ribeiro
ção do One Programme, um programa conjunto entre o Sistema das Nações Unidas e Governo de Cabo Verde.
As Nações Unidas sempre foram parceiras no processo de gradu-
Trata-se de um programa único, um orçamento único com a parti-
ação de Cabo Verde e continuarão a sê-lo, porque começamos a
cipação de todo o Sistema das Nações Unidas: as agências residentes
entrar numa fase de pós-graduação e o Sistema das Nações Unidas
em Cabo Verde e mais 12 não residentes, totalizando 20 agências que
(SNU) também é chamado a ter um papel relevante como aconte-
participam no One Programme, que definiu os eixos prioritários e tem
ceu em toda a fase de graduação.
um orçamento de cerca de 70 milhões de dólares.
Relembro a Resolução nº 59/209, que recomendou a preparação
Este Programa também pode ser uma oportunidade para as ONG
da estratégia de transição no sentido de criar as condições para que
porque tem já tem definido os eixos prioritários e a questão da gradu-
a graduação não fosse um obstáculo ao processo ao desenvolvimen-
ação entra num desses eixos, o que confirma que o SNU continuará a
to. Neste contexto, foi criado o Grupo de Apoio chamado GAT, que foi
apoiar todo o processo pós-graduação.
um mecanismo consultivo liderado pelo Governo de Cabo Verde e do qual participaram todos os parceiros bi e multi-lateriais.
Um outro aspecto importante é que há uma sinergia entre o One Programme, as prioridades do Governo e os objectivos das ONG, porquanto
O SNU teve um papel relevante nesse processo consultivo, tendo, também, concedido outros apoios a Cabo Verde no processo de gra-
a questão da luta contra a pobreza aparece como um chapéu, um dos objectivos da acção não governamental em Cabo Verde.
duação. Durante essa fase, foram elaborados diferentes estudos por Cabo Verde com o apoio das Nações Unidas, nomeadamente sobre a graduação, a insularidade e a transição.
Aqui, chamo a atenção das ONG para o papel que poderão ter na execução desse Programa, tendo a Plataforma das ONG sido identificada como uma parceira na implementação do One Programme. Acho,
Por outro lado, o SNU fez um plaidoyer junto dos parceiros sobre o
neste particular, que as ONG cabo-verdianas deverão ser mais agressivas
processo da graduação em si e apoiou Cabo Verde nas várias sessões
no bom sentido e tentar ver em que medida poderão tirar proveito deste
ao nível da própria sede da ONU, nas reuniões do Conselho Económi-
One Programme que interpela todos os cabo-verdianos.
co e Social e do Comité dos Parceiros de Desenvolvimento. Para terminar, diria que o não retrocesso no processo de gradua-
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Por feliz coincidência, o processo de graduação coincidiu com o
ção vai depender de todos e as ONG têm um papel importante para
processo de reforma do próprio SNU e Cabo Verde foi um dos países
evitar esse retrocesso. O SNU estará aberto para trabalhar com o Go-
prioritários nesse processo, sendo importante relembrar o documento
verno, como tem feito, mas também para reforçar o papel de todos
assinado entre o Governo de Cabo Verde e o SNU para a implementa-
os actores de desenvolvimento do país.
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Sessão Plenária Tema III: Desenvolvimento e desigualdades: O Papel das ONG
Prof. Doutor Rogério Roque Amaro e Dra. Maria Miguel Estrela
Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
Desenvolvimento e desigualdades no Mundo Professor Doutor Rogério Roque Amaro 1. Constatações - Constatação: o agravamento das desigualdades sociais no Mundo (entre países e dentro de cada país) nos últimos 35 anos (ver PNUD, Banco Mundial, etc.) - A explicação tradicional: o aumento das desigualdades é inevitável nas primeiras fases de desenvolvimento (para o seu “arranque”; os que investem têm de ter mais poupanças e estímulos), mas depois há uma convergência histórica entre países e dentro de cada país (Simon Kuznets). - Dúvidas sobre a explicação: mas, nos últimos anos, não se pode adoptar essa explicação, dado que já não estamos nas primeiras fases de desenvolvimento em termos mundiais e dos países ditos desenvolvidos, onde estas desigualdades também têm aumentado. A explicação, a ser válida, seria para os chamados países emergentes: China, Índia, Brasil, etc. - A concentração de problemas nos últimos 35 anos: o que torna a situação mais grave é o facto de as desigualdades sociais estarem a ser acompanhadas por outros novos problemas (alguns novos, outros velhos, outros descobertos agora mas que já vêm de trás): • Novas formas de pobreza; • Exclusão social;
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Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
• Quebra da relação crescimento económico – emprego; • Instabilidade de emprego;
• A crise actual dos modelos de regulação do passado (mercado ou Estado)
• Destruição da natureza – insustentabilidade por razões ambientais; • Intolerância cultural;
- Cabo Verde: (a questão da graduação):
• Desigualdade política; • Novas formas de ignorância e exclusão ligadas ao conhecimento
• Desenvolvimento Humano, mas com tendências economicistas,
o que torna tudo muito mais perigoso e preocupante.
logo com estes custos visíveis (Cf. Maria Estrela); • Hesitação no modelo de regulação: Estado Socialista (PAICV
As desigualdades sociais são uma peça no “puzzle”:
– partido único), liberalização (MPD) e agora como PAICV de novo – hesitação (modelo misto? mas o que é?!).
- O caso de Cabo Verde: mais desenvolvimento (inclusive Desenvolvimento Humano), mais desigualdades, novos focos de pobreza e exclusão social, novas expressões de insegurança, novas bases de
2. À procura de um novo modelo de regulação no Mundo e em Cabo Verde
conflito social (Cf. Maria Estrela) – o novo riquismo, o aumento do individualismo e da ostentação;
- Em síntese:
- Explicações – a questão da globalização (fragilizando e expondo os
- O modelo de desenvolvimento que tem persistido na sua domi-
mais vulneráveis e criando mais oportunidades para os mais ricos), a crise
nância economicista, acentuada, nos últimos anos, pela globalização
dos mecanismos de regulação do pós-guerra (da intervenção do Estado
e pelo fundamentalismo neo-liberal da economia de mercado e ain-
como Estado Socialista ou Estado-Providência) e na base territorial nacio-
da pela competição agressiva e sem regras, teve como consequên-
nal e a defesa do primado do mercado e da livre iniciativa;
cia a existência de vários problemas/ameaças e bloqueios no Mundo actual, aos níveis:
- A crise financeira actual e as falências de grandes empresas são uma expressão desse modelo (de economia de mercado global) e mostram os seus riscos e custos económicos e sociais e obrigam os Es-
• Económico – competição desenfreada e com destruição de actores económicos;
tados a uma intervenção sem precedentes na economia, um Estado
• Social – fragmentação social;
que se queria liberal e pouco intervencionista.
• Ambiental – intolerância e arrogância cultural; • Politico – desregulação da sociedade (mercado ou
- Mostra também:
Estado).
• Os custos e os perigos de um desenvolvimento economicista;
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Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
- Os consequentes desafios daqui decorrentes:
- A questão da multiterritorialidade (parcerias entre actores dos vários níveis e Sul-Norte);
• Uma competitividade integrada com regulação económica;
- A questão da participação – papel das ONG;
• Solidariedade e coesão social; • Sustentabilidade ambiental;
- A questão da integração – idem;
• Diversidade cultural e diálogo intercultural; • Novo modelo de regulação política (que saia da dicotomia tradicional e que seja misto).
- O que está a acontecer: • Os caminhos do Estado (descentralização, parcerias internacionais);
- Um novo modelo de regulação:
• Os caminhos da RSE; • Os caminhos das ONG – o papel fundamental destas or-
• Multiterritorial;
ganizações em todos os continentes (face às desigual-
• Partilhado;
dades, tapar os buracos do Estado e do mercado);
• Participado; • Integrado.
Os novos conceitos associados - Desenvolvimento Local e Economia Solidária
- Analisando a questão da co-responsabilização (Sociedade-Providência; welfare mix) regulação partilhada:
- O caso de Cabo Verde: • A quantidade;
• Estado:
• A organização (Plataforma);
o Nacional;
• As novas áreas e campos de acção;
o Local;
• Os princípios e os métodos de intervenção
o Supranacional (EU; CEDEAO; UEMOA);
o Concertação mundial (organismos internacionais);
• Sociedade civil: todas as formas de participação da so-
(CF. Maria Estrela). 3. Os desafios para as ONG e os seus parceiros
ciedade civil, formal ou informal, das ONG e outras associações (ADC, ADL, OCB, etc.)
i. A assunção de conceitos e princípios de referência:
• Empresas – RSE. - Direito Humano (Direitos Humanos e ODM);
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- Direito Comunitário ou Local (ligação à comunidade);
Desenvolvimento e desigualdades: O Papel das ONG
- Economia Solidária (novo conceito de Economia):
Maria Miguel Estrela
• Economia Solidária – os oito projectos e as três Economias:
o Mercado;
o Redistribuição de Recursos (contratualização com o
social textos como o seguinte: Cabo Verde deixa, a partir de hoje,
Estado);
de fazer parte do grupo dos Países Menos Avançados (PMA), a que
o Valorização da Economia da Dádiva.
pertence desde 1977, para passar a ser um País de Desenvolvimento
A 2 de Janeiro de 2008 lia-se e ouvia-se em toda a comunicação
Médio. Esta “promoção” decidida pelas Nações Unidas em Dezembro ii. Novas relações com o Estado:
de 2004, deve-se ao facto de Cabo Verde preencher dois dos três cri-
- Contratualização; diferentes níveis de Estado;
térios exigidos para um País de Desenvolvimento Médio ao ter subido
- O discurso animador do Primeiro-Ministro.
o seu Índice de Desenvolvimento Humano e o rendimento per capita. No entanto, e conforme a resolução da Assembleia Geral 59/209, a
iii. A convocação do mundo empresarial (em Cabo Verde)
passagem de Cabo Verde ao grupo de Países de Desenvolvimento Médio só se tornará efectiva após um período de três anos, durante o qual deverá preparar, em estreita colaboração com os seus parceiros internacionais, uma estratégia de transição para permitir uma saída por etapas e criar condições para que a “promoção” não constitua um obstáculo ao desenvolvimento do arquipélago. (in Expresso) Portanto, são verificáveis e inegáveis os progressos obtidos desde 1975 e que fazem de Cabo Verde um exemplo entre os jovens países africanos. Mas também é facto que, cerca de 36% da população residente é pobre. Os pobres distribuem-se em muito pobres, ou seja, aqueles cujo consumo anual situa-se abaixo de 28.448$00, e os pobres, ou seja, aqueles cujo consumo anual situa-se entre 28.448 escudos e 42.673 escudos, sendo este valor o que se considera o limiar da pobreza. Com isto temos cerca de 20% da população muito pobre e 16% pobre, totalizando os 36% referidos. Temos, ainda, os dados estatísticos que apontam para uma elevada taxa de desemprego, estimadas em 21%.
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Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
No presente cenário, não é, portanto, surpresa para ninguém o aumento da desigualdade social, como resultante, em grande
Já sabemos que do MERCADO não virá nenhuma solução e que do ESTADO as respostas não serão suficientes.
parte, das modificações da estrutura económica verificadas nas últimas décadas, onde se nota a emergência de uma classe média e
Na década de 80, em muitos países, tornou-se evidente o fracasso do
consequente acentuar do abismo entre os que têm muito e os que
modelo desenvolvimentista que não conseguiu cumprir as suas promes-
nada, ou quase nada, têm.
sas de melhores condições de vida e um grande número de pensadores já não acreditava que o abandono do paradigma desenvolvimentista a
No relatório de 2004 sobre os Objectivos do Milénio para o desenvol-
favor de um novo paradigma democrático e inclusivo podia ser dirigido
vimento de Cabo Verde mostra-se que o Índice de Gini aumentou de
por intelectuais, mas sim por práticas colectivas que envolviam todos os
0,43 em 1989 para 0,59 em 2002 (indica o grau de desigualdade na
elementos da sociedade e que incluíam a cultura popular.
distribuição dos rendimentos - ou do consumo - no seio de uma população. Vai de 0 a 1 e tende para 1 quando as distribuições são muito
Se tomarmos como exemplo a América Latina encontramos entre tais
desiguais). Este dado conjugado com o facto de que 20% da popu-
pensadores Fals-Borda, que, baseado na sua experiência na Colômbia e
lação mais favorecida absorve cerca de 65% do consumo nacional
em relatos de países como Brasil, Peru, Venezuela e México, argumenta
contra apenas 3% absorvido pelos 20% mais pobres mostra, de uma
que os movimentos sociais “estabeleceram canais em dois sentidos, da
forma clara, o agravamento das desigualdades em Cabo Verde.
base para cima e de cima para baixo até a base, em novas e mais simétricas formas de intercâmbio” em níveis regionais e nacionais (Fals-Borda,
É momento de nos lembramos que o PIB real por habitante pas-
1990, p. 118). O autor afirma, que esses movimentos sociais têm manti-
sou de 902 US dólares em 1990 para 1.800 dólares em 2005 e que o
do sua identidade, integridade e capacidade de liderança, enquanto
IPH (Índice de Pobreza Humana), que traduz as privações em matéria
tomam posições firmes na cena política e ocupam um vácuo deixado
de longevidade, alfabetização e condições de vida sobre o plano
pelas agências de desenvolvimento e pelas instituições existentes.
económico em geral, baixou de 28,8% em 1990 para 18,7% em 2004 (PNUD, Relatório Desenvolvimento, 2005).
A maioria dos movimentos sociais de base, assim como várias organizações não governamentais que agora ocupam lugar de destaque na
São dados como estes que fazem de nós um sucesso no contexto africano, mas o reverso da moeda é que convivemos hoje em Cabo
América Latina têm raízes exactamente nas desigualdades sociais atribuídas à adopção do paradigma desenvolvimentista nos anos 60 e 70.
Verde com novas formas de pobreza e de exclusão social e com um
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aumento assustador da criminalidade e tudo isto nos coloca face a
A grande maioria das ONG, como as entendemos hoje, foram, um
um enorme desafio: como mudar os nossos parâmetros económicos,
pouco por todo o mundo, uma resposta da sociedade civil ao vazio
políticos e sociais de forma a produzir maior justiça social?
criado pelo desenvolvimentismo.
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Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
O fenómeno das “ONG”, das “entidades sem fins lucrativos” ou do “terceiro sector” é, hoje, discutido e pensado em todo o mundo. Em
posta a problemas de grupos sociais que vêem o mundo a avançar enquanto eles perdem o carro da História.
Cabo Verde, não é diferente mesmo considerando as suas especificidades e este movimento cresce anualmente, embora tenhamos a
Até agora o papel das ONG pode ser sintetizado no seguinte:
noção que, entre nós, não há ainda um consenso sobre os tipos de organização que compõem exactamente o universo das ONG.
Criação de métodos de acção e interacção com o objectivo de partilhar com as populações a luta permanente pela cidadania acti-
Mas, para nos situarmos, numa perspectiva inclusiva e abrangen-
va e pela busca de melhores condições de vida.
te, propomos, a partir da compilação de várias definições, o seguinte conceito: ONG são organizações autónomas, sem participação go-
E isto consegue-se basicamente porque se acredita que aos pro-
vernamental, geralmente sem fins lucrativos, dedicadas à melhoria da
cessos de desorganização social podem opor-se processos de emer-
qualidade de vida das populações desfavorecidas. Dentro desse lar-
gência de aspirações, de revindicações e de transformações, organi-
go universo, naturalmente que temos de distinguir organizações com
zados em projectos que produzem mudanças para melhor.
diferentes objectivos, funções, actividades e escalas de actuação. Acreditam ainda que o progresso é possível em qualquer grupo É momento de relembrarmos o tema, agora sob a forma de
humano, se se tiver o cuidado de não adoptar passivamente técnicas
questão: “DESENVOLVIMENTO E DESIGUALDADES, QUAL O PAPEL
e modelos impostos ou copiados, nem se fecharem em práticas tradi-
DAS ONG?
cionais, mas sim criando um ambiente propício à emergência de uma cultura inovadora específica à sociedade cabo-verdiana.
Sendo que a sociedade cabo-verdiana convive com desigualdades gritantes, onde já se viu que nem o primeiro nem o segundo sector
É bom lembrar também que as ONG não pretendem alcançar ver-
têm soluções à altura das exigidas pelos problemas existentes, é obvio
dades absolutas, nem conclusões definitivas, mas caminhar por eta-
que tem de emergir da sociedade formas de resposta. Obviamente
pas e, em cada momento, avaliar, analisar e ter novas propostas para
também, sem deixar de cobrar aos outros sectores as suas responsa-
a acção e para novos projectos. Apenas querem contribuir para uma
bilidades. O papel que tem sido assumido pela sociedade civil em
dinâmica transformadora sem substituir ninguém, ocupando o espaço
Cabo Verde é o de se colocar ao lado das populações e enfrentar os
conquistado.
problemas de maneira transversal. Podemos falar agora de algumas das experiências mais significatiO que as ONG têm tentado fazer é procurar combinar soluções
vas em Cabo Verde relacionadas com dois grandes blocos:
educativas, produtivas, organizativas, culturais e políticas para dar res-
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Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
• O envolvimento comunitário • A economia solidária
Tornam-se evidentes os resultados obtidos em matéria de comunicação para o desenvolvimento, de mobilização, de sensibilização para temas de interesse relacionados com a saúde, educação, di-
No que toca ao envolvimento comunitário, o surgimento das or-
reitos humanos, isto só para falar de alguns. Outro trabalho de mérito
ganizações comunitárias de base (OCB), que agregam os indivíduos
é no âmbito da facilitação de contactos com outras organizações
a nível das localidades, e em que, geralmente, os seus membros são
nacionais e internacionais de forma a mobilizá-las para a causa dos
os próprios beneficiários das suas acções, é revelador da dinâmica
mais necessitados.
crescente no que toca à tomada de consciência dos problemas existentes. Em simultâneo, o proliferar dessas organizações revela também
No aspecto político, isto tudo contribui para a valorização da de-
um ambiente socio-político promotor da participação democrática
mocratização no sentido de baixo para cima e pode também levar à
e a necessidade de se estabelecer uma sociedade civil mais forte e
democratização do capital e é aqui que entra a economia solidária.
mais actuante.
Se a economia é feita pelas relações de produção, distribuição e consumo de bens e serviços, sem colaboração solidária não existe rede
Essas organizações, geralmente, contam com as ONG consolidadas para intermediar os contactos com outras entidades, sejam gover-
social que possa promover o bem-estar do conjunto das pessoas/comunidade/sociedade.
namentais sejam de cooperação internacional. Isto porque embora elas possuam um bom conhecimento das necessidades quotidianas
E a economia solidária tem na velha tradição de djuntamon uma
das suas comunidades não possuem os meios, nem a experiência ou
base cultural e surge por diversas razões, entre elas algumas já apon-
a força política para aceder directamente a outras instâncias.
tadas, como: o agravamento das desigualdades sociais devido à globalização economicista e à força do liberalismo económico, as novas
Podemos usar como metáfora a construção de estradas tradicio-
formas de exclusão social e de pobreza, o aumento do desempre-
nais em Cabo Verde, com o seu belo pavimento de paralelepípedos
go, vários processos de destruição da natureza, ou seja, crescentes
de basalto: imaginemos as OCB com um caminho por percorrer entre
problemas económicos, sociais, ambientais, culturais e políticos que
as necessidades e os meios para lhes dar resposta; vamos então en-
desestruturam as sociedades sem que haja compromissos e soluções
contrar as ONG calcetando esse caminho. O papel, neste caso, é o
supranacionais (desactivação do Estado-Providência).
de contribuir para a construção de um caminho onde se reforça o
114
pluralismo organizacional fortalecendo as populações e contribuindo
As ONG conquistam aqui um espaço procurando a coesão social
para o seu empoderamento, ao mesmo tempo que também actuam
com a criação de oportunidades para os mais desfavorecidos e com
como organizações independentes, com objectivos, valores e méto-
a promoção da igualdade de oportunidades e de formas de gestão
dos de trabalho próprios.
democráticas. Sendo esta nova forma de economia assumida de for-
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Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
ma sistémica – biocêntrica – ela é, para as ONG, uma importante fer-
procurando não se desviar de algumas das suas mais interessantes
ramenta de luta contra a exclusão social e a pobreza.
características como: procurar sempre um modelo decisório inclusivo e de baixo para cima, que contrapõe os modelos padronizados em
Os projectos que apoiam grupos produtivos e que são promovi-
outras instituições; valorizar os conhecimentos, as tecnologias locais,
dos pelas organizações não governamentais abarcam várias áreas,
bem como as identidades culturais; colocar o ser humano como actor
desde as que envolvem transformação e tecnologias à prestação de
principal e em interacção com a vida, no geral, e, assim, reinterpre-
serviços, e encontram na agro-pecuária e transformação de alimen-
tando as necessidades da população com base na realidade local e
tos um maior leque de ofertas (desde os doces, biscoitos, licores, fru-
permitindo novas leituras e novos projectos.
ta seca e outros). Estes incorporam os valores da Economia Solidária, ou seja, são virados para o mercado mas com preocupações éticas,
Temos de seguir acreditando no desenvolvimento, mas questio-
de qualidade, de estratégias de marketing e com modelos de gestão
nando sempre o seu discurso e almejando justiça e avanços sociais
rigorosos (combina economia de mercado com economia de bens
através da cooperação e da inter–ajuda (entre e intra grupos) para
públicos); têm uma dimensão social ampla, incluem preocupações
podermos criar as bases de novos paradigmas para a reestrutura-
ambientais e culturais, ao mesmo tempo que apoiam ou enquadram
ção da sociedade.
actividades económicas que viabilizam pequenos negócios cujos proprietários são pobres. E, ainda, continuando na linha defendida pelo Prof. Roque Amaro, assumem a sua territorialidade, ou seja, a sua relação com as localidades e o desenvolvimento local. Revisitando a metáfora que sugerimos em relação ao envolvimento comunitário, vamos agora na economia solidária encontrar a nossa estrada invadindo as duas margens que a ladeiam: preenche funções que eram do Estado e faz com ele parceria; vende e distribui produtos em concorrência com outras empresas lucrativas e apela para a responsabilidade social destas. Para concluir, podemos dizer que o importante movimento associativo e o impacto social dos seus projectos em Cabo Verde são enormes, mesmo enfrentando no dia-a-dia o desafio da sustentabilidade. Pensamos que o papel das ONG deve ser reforçado por dentro, mas
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Sessão Plenária Tema IV: O Plano Estratégico da Plataforma: Mecanismos e estratégias de mobilização de recursos
Dr. Avelino Bonifácio Lopes e Dra. Fátima Proença
Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
O Plano Estratégico da Plataforma: Mecanismos e estratégias de mobilização de recursos O Plano Estratégico da Plataforma para o período 2007–2012, elaborado num processo de grande participação, procurou partir da formulação de um diagnóstico multifacetado do contexto interno e externo. Entre os objectivos desse diagnóstico incluía-se o de procurar prever o sentido das mudanças que vêm ocorrendo, para poder identificar novas potencialidades e também os novos riscos. O Plano Estratégico (PE) adoptado é, assim, o quadro de referência que vem sendo a base da intervenção da Plataforma, num contexto em mudança. E, como tal, temos consciência que o PE precisa de ir sendo enriquecido, num processo dinâmico, de actualização permanente da análise do contexto interno e, sobretudo, no contexto internacional. As mudanças procedem-se hoje a um ritmo cada vez mais rápido, levando a que algumas das oportunidades mas também das ameaças que então mal começávamos a descortinar, estejam já a manifestar hoje – por exemplo, as mudanças relacionadas com a classificação de Cabo Verde como país de rendimento médio ou a nova agenda das relações internacionais, cada vez mais marcada pelos temas da segurança e das migrações. I. PE 2007–2012: PRINCIPAIS ESTRATÉGIAS O PE adoptou algumas estratégias (i) internas, no sentido de fortalecer as forças e capacidades e colmatar as lacunas e fraquezas da Plataforma, para aproveitar as oportunidades e (ii) externas, com vista a minimizar os riscos e ameaças.
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Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
São essas estratégias, sintetizadas no quadro a seguir, que orientam a evolução organizacional e as actividades da Plataforma nos
de conseguir alguma poupança para investir nas actividades e projectos próprios.
próximos anos, servindo de base à elaboração dos seus programas e planos de trabalho. II.PARCERIAS VERSUS FONTES DE FINANCIAMENTO DAS ONG CABOVERDIANAS
A nível externo: 1. Algumas ONG ditas do Norte que, por sua vez, concorrem aos Fundos e Programas de organizações de cooperação multilateral, designadamente da Comissão Europeia, e a progra-
O leque de parcerias das ONG cabo-verdianas, incluindo das OCB (também por vezes chamadas de ONG locais) é pouco diversificado, destacando-se:
mas de cooperação bilateral, complementando, entretanto, com algum recurso próprio; 2. Alguma cooperação bilateral, designadamente Portugal, Espanha, Luxemburgo, França e Estados Unidos que, no âmbito
A nível interno:
dos respectivos programas indicativos de cooperação, destinam algum recurso para financiar, directamente, projectos
1. O Governo, que para além de manifestar vontade política em
de organizações da sociedade civil.
criar um ambiente propício às actividades das ONG, tem contribuído com alguns recursos, essencialmente através de contratos-programa celebrados com OCB para execução de obras de algum interesse comunitário mas sobretudo para criar emprego e rendimento e compensar as dificuldades das famílias
Este gráfico retrata as principais fontes de financiamento das ONG e OCB, conforme um inquérito realizado junto de um grupo representativo. Principais fontes de financiamento das ONG e OCB
mais pobres nos meses de seca e durante os anos de menor produção agrícola; 2. Os municípios, que, muito pontualmente, contratam algumas OCB para realizarem pequenos trabalhos de âmbito comunitário, também numa perspectiva idêntica aos contratos-programa do Governo. De se referir que, em ambos esses casos, as OCB funcionam como agências de emprego precário, praticamente sem poder de influenciar as decisões e opções e com muito poucas possibilidades
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Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
Em síntese, considerando que as fontes de financiamento da própria Plataforma são, essencialmente, externas, torna-se evidente que o finan-
Principais estratégias
Elementos de estratégias
segurado, maioritariamente, com recursos vindos do exterior. Plano Estratégico 2007 – 2012: Síntese das Principais estratégias
Capacitar os profissionais no domínio da elaboração, gestão, seguimento e avaliação dos projectos.
Melhorar o nível de informação dos membros sobre oportunidades de financiamentos. Promover intercâmbios de informações e de experiências entre associações de diferentes ilhas. Facilitar o acesso entre potenciais parceiros e associaçõesmembros. Desenvolver relações com instituições de investigação e tecnológicas. Procurar vias de inclusão das associações da diáspora e incentivar a sua maior participação na construção das suas comunidades de origem. Promover informação, educação e sensibilização sobre o exercício da cidadania e contribuir para o reforço das lideranças.
Integrar elementos da reflexão estratégica na elaboração de programas a médio prazo e na planificação operacional, assegurando maior coerência e interligação entre a reflexão estratégica e as acções implementadas. Integrar, explicitamente, o conceito de durabilidade nos critérios de selecção e de avaliação das intervenções e nas acções a apoiar. Consolidar as parcerias históricas e engajar novas. Criar laços com parceiros dispostos a engajarem-se em programas plurianuais. Adoptar estratégias para criação de fundos próprios, nomeadamente através de contratos-programa, angariação de fundos, valorização do património imóvel, prestação de serviços, parcerias com outros actores, etc.
intervenções
seguimento e
avaliação dos
impactos das às necessidades
Criar alianças estratégicas pontuais com outras organizações sobre questões prioritárias/essenciais.
estratégias de
Apostar na formação de formadores e descentralizar certas acções de formação.
comunicação adequada
Delegar algumas funções e/ou contratar algumas ONG membros para executarem certas actividades.
2. Externas
Instalação de antenas em alguns concelhos.
capitalização das experiências
2.2. Melhoria
Descentralizar e redistribuir tarefas.
da qualidade do
Participar em redes nacionais e internacionais.
Consolidar a transparência e a qualidade da gestão financeira.
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Descentralizar, progressivamente, as actividades de formação.
Redefinir o organograma da instituição
2.3. Adopção de
intervenção
Promover a superação profissional dos executivos nos domínios chaves.
Apoiar o desenvolvimento de redes sectoriais, por parte dos membros.
e das intervenções
progressiva, da estrutura
1.2. Descentralização,
Promover a polivalência dos executivos e flexibilizar os TDR, facilitando aos profissionais assumpção de tarefas principais, mas igualmente outras secundárias.
1.3. Reforço da sustentabilidade
1. Internas
1.1. Reforço da capacidade de
estratégias
Elementos de estratégias
2.4. Sistematização, divulgação e
Principais
Reforçar capacidades dos membros para melhor identificação das suas necessidades e prioridades e formulação de projectos. associações e promoção da cidadania
2.1. Reforço das capacidades das ONG e
ciamento das actividades das ONG cabo-verdianas é actualmente as-
Promover uma melhor valorização das competências das organizações-membros. Elaborar e implementar um sistema de seguimento, com análise dos resultados esperados e dos impactos, com base em indicadores objectivos e verificáveis. Implementar comunicações inovadoras e interactivas com os membros e parceiros. Melhorar o nível de divulgação dos suportes de comunicação existentes. Promover comunicação descentralizada e troca de informações entre os membros de diferentes ilhas e concelhos. Aproveitar datas comemorativas especiais para a socialização e capitalização das acções da PONG e das experiências das associações-membros. Desenvolver instrumentos e mecanismos de recolha, documentação e divulgação dos conhecimentos e experiências acumuladas. Promover oportunidades e métodos inovadores de divulgação e sensibilização da sociedade sobre o trabalho das associações, aproveitando datas comemorativas especiais. Promover troca de experiências entre as associações e as ONG membros e com outras organizações de apoio à sociedade civil estrangeiras. Estabelecer vias de diálogo entre as organizações da sociedade civil e os profissionais de comunicação social.
125
Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
III. MECANISMOS E ESTRATÉGIAS DE MOBILIZAÇÃO DE PARCERIAS E RECURSOS
recursos externos, nomeadamente públicos, quando injectados de forma correcta e no momento certo. A Europa do pós IIª guerra mundial é apenas um exemplo.
1.Enquadramento Cabo Verde tem sido apresentado como um caso de sucesso. O tempo em que as ONG do Norte financiavam as ONG do Sul
Efectivamente, os ganhos são extraordinários e isso deve ser motivo
passou. A mobilização de parcerias e de financiamento para im-
de reconhecimento e de regozijo dos cabo-verdianos, mas tam-
plementação de projectos, e para o seu próprio funcionamento,
bém dos parceiros que estiveram sempre do nosso lado. Entretanto,
representa hoje, muito mais do que antes, um sério desafio para as
Cabo Verde continua sendo um país extremamente dependente
ONG do Sul, no geral, e para um país na situação de Cabo Verde,
de recursos externos, incluindo recursos em condições especial-
em particular.
mente favoráveis, para o seu desenvolvimento. Efectivamente, Cabo Verde ainda está longe de atingir o ponto do “não-retorno”.
Não se trata de uma retórica e muito menos de uma alerta alarmis-
Isso deve ser, também, motivo de conscientização dos cabo-ver-
ta. Existe, sim, uma tendência real de um certo desinteresse dos par-
dianos, mas igualmente de compreensão dos parceiros que estão
ceiros de desenvolvimento por Cabo Verde, expresso, especialmente,
connosco nesta batalha contra as vulnerabilidades e para vencer
através da exclusão ou de alteração das condições de elegibilidade
a dependência dos recursos externos.
do nosso país a certos programas de algumas organizações internacionais, bem assim de alguma cooperação bilateral. Essa situação já
2. Mobilização de parcerias e recursos internos
é perceptível, principalmente pelos actores não governamentais que desenvolvem projectos com impactos mais directos e imediatos sobre
À semelhança das exigências de contrapartida feitas ao Go-
as populações e famílias mais pobres, já neste início do chamado pe-
verno, os parceiros das ONG exigem um co-financiamento na or-
ríodo de “transição suave”.
dem dos 25%. Ademais, hoje em dia quase nenhum parceiro aceita financiar o funcionamento das ONG. Porém, os parcos recursos
126
A história ainda não registou nenhum país que se tenha desenvol-
próprios por estas gerados estão muito aquém de suportar o seu
vido com base em APD (Ajuda Pública ao Desenvolvimento) e Cabo
funcionamento e pior para co-financiar os projectos. Por isso, tor-
Verde não seria, certamente, o primeiro caso. O nosso desenvolvimen-
na-se indispensável às ONG cabo-verdianas, mas também toda a
to continuará a depender, essencialmente, dos nossos próprios esfor-
sociedade cabo-verdiana, adoptarem estratégias para aproveitar
ços e da nossa própria capacidade. Entretanto, a história mostra-nos
sinergias, diversificar parcerias e aumentar a mobilização de recur-
casos de autênticos sucessos de desenvolvimento impulsionado por
sos internos.
127
Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
2.1. Financiamento do Estado, através de dotações orçamentais 2.1.1. Justificação Existe um amplo consenso na nossa sociedade sobre o importante e incontornável papel que as ONG cabo-verdianas têm desempenhado no processo de desenvolvimento do país. Vários dirigentes e representantes de diferentes sectores da nossa sociedade, em diferentes momentos, têm caracterizado as actividades das ONG em Cabo Verde como sendo de grande interesse público. Não obstante, os dirigentes associativos reconhecem que muito mais e melhor podia e deve ser feito em prol da inserção sócio-económica e para a auto-promoção das pessoas pobres. A escassez de recursos, com ênfase nos recursos financeiros, é apontada como uma das principais limitações a um melhor desempenho das ONG e aproveitamento das oportunidades que surgem. 2.1.2. Proposta O Estado deve afectar uma percentagem do seu Orçamento anual para financiar as ONG que desenvolvem acções de interesse público e que pautam pelos princípios da boa governança. O princípio da dotação orçamental deve estar acima das vontades políticas e conjunturais, ou seja, aprovado pelo Parlamento. Os critérios de elegibilidade e de afectação devem ser amplamente discutidos e consensualizados na sociedade e regulamentados. 2.2. Contratos-programa pontuais para execução de projectos de entidades públicas 2.2.1. Justificação Continuará a haver necessidade de executar projectos públicos, da iniciativa do Governo ou das Câmaras Municipais, justificados pela necessidade de geração de emprego e rendimento às populações locais,
128
por razões conjunturais ou sazonais, ou que aconselham maior envolvimento das organizações locais, que, pela sua dimensão e complexidade, podem ser executados de forma mais eficaz pelas ONG/OCB. 2.2.2. Proposta Procurar um consenso na sociedade sobre a natureza, dimensão, âmbito geográfico e complexidade de projectos públicos que devem ser executados, prioritariamente, através de ONG/OCB que pugnam pelos princípios de boa governança e regulamentar as condições de elegibilidade e de contratação para execução desses mesmos projectos. 2.3. Exploração dos incentivos previstos na Lei do Mecenato 2.3.1. Justificação A Lei de Mecenato aprovada prevê alguns incentivos, nomeadamente a dedução para cálculo do imposto sobre rendimentos, a favor das empresas que financiam projectos de interesse social. Apesar da elegibilidade das ONG e OCB, a sua deficiente regulamentação, o défice de divulgação e o excesso da burocracia da administração fiscal quase proibiram, até à presente, a sua utilização. Propor ao Governo a regulamentação necessária da Lei do Mecenato para facilitar e incentivar o financiamento às ONG e OCB, promover a sua mais ampla divulgação no seio das empresas e das próprias ONG e OCB, envolvendo e sensibilizando os profissionais da administração fiscal central e concelhios para essas causas. 2.4. Prestação de serviços remunerados 2.4.1. Justificação No exercício das suas actividades, as ONG cabo-verdianas já ad-
129
Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
quiriram e acumularam um conjunto de conhecimentos e de capaci-
por embaixadas e representações de organismos internacionais e co-
dades de grande utilidade para outras entidades e que devem procu-
operação bilateral sedeados em Cabo Verde, para financiar as suas
rar capitalizar e rentabilizar.
actividades e desenvolver os seus projectos.
2.4.2. Proposta
Devem promover a responsabilização social e incentivar as empresas a financiarem projectos que ajudam a melhorar a inserção eco-
A par das suas actividades principais, consoante o objecto social
nómica e social das populações vizinhas, incluindo dos seus trabalha-
de cada ONG e a favor do seu público-alvo específico, as ONG de-
dores e familiares, bem assim projectos que corrijam o seu impacto
vem posicionar-se, cada vez mais, também como prestadoras de ser-
menos positivo sobre o meio ambiente.
viços especializados, rentabilizando os seus recursos e arrecadando receitas que ajudam a financiar o seu funcionamento e o financiamento dos seus projectos.
Devem ser certificadas, anualmente, as empresas que tiverem melhores práticas de responsabilidade social a nível regional e nacional e essa certificação deve conceder às empresas galardoadas um notó-
2.5. Angariação de financiamentos e patrocínios junto de empre-
rio reconhecimento público.
sas e organismos sedeados em Cabo Verde 2.6. Mobilização de trabalhos voluntários 2.5.1. Justificação 2.6.1. Justificação O tecido empresarial cabo-verdiano está a registar alterações rápidas e substanciais. Contamos já hoje com um punhado de empresas
Infelizmente, a disponibilidade para o trabalho voluntário tende a
com alguma dimensão e sentido de responsabilidade social. Num mun-
diminuir em Cabo Verde. Não obstante, existe, ainda, espaço para a
do cada vez mais globalizado, tanto as filiais de multinacionais como
mobilização de trabalhos voluntários em todos os níveis. Para além de
empresas nacionais estão a sentir-se pressionados a adoptar os princípios
pagar quotas e disponibilizar-se para os compromissos virados para a
de responsabilidade social. As nossas vulnerabilidades, nomeadamente
vida interna das respectivas associações, os membros devem disponi-
ambientais, exigem que as empresas sejam obrigadas a adoptar, no nos-
bilizar-se mais para prestar serviços voluntários da sua especialidade,
so país, as melhores práticas de responsabilidade social.
que entram como contrapartida da ONG e OCB a que pertence.
2.5.2. Proposta
Existem várias categorias sociais com elevado potencial de disponibilidade para trabalho voluntário e que precisam ser melhor
130
As ONG e OCB devem ser mais agressivas na procura de finan-
estudadas e exploradas pelas ONG e OCB, principalmente a favor
ciamento e patrocínios junto de empresas e outros organismos repre-
de projectos sociais nas respectivas comunidades de residência e/
sentados em Cabo Verde, nomeadamente de certos fundos geridos
ou de origem.
131
Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
2.6.2. Proposta
pelo menos teoricamente, um quadro de maior possibilidade de as ONG do Sul poderem definir as suas agendas e as suas prioridades e
Adoptar estratégias direccionadas para categorias sócioprofissionais visando angariar uma bolsa de voluntários dispostos a prestar al-
poderem tomar a iniciativa, com vista à melhoria da qualidade das parcerias com as organizações do Norte.
gum trabalho da sua especialidade em benefício de projectos sociais promovidos por ONG e OCB. Sempre que possível, estabelecer acor-
3.1.2. Riscos
dos abrangentes que estabelecem objectivos e indicadores específicos, com associações ou representantes sócioprofissionais, designa-
No entanto, não podemos deixar de ter em conta que os recursos dis-
damente com militares, polícias, profissionais de comunicação social,
poníveis para a Cooperação Internacional não vêm aumentando. Este
associações desportivas, reclusos, estudantes, etc.
facto significa que se pode vir a desenhar, a curtíssimo prazo, um clima de competição por recursos entre ONG do Norte e ONG do Sul, como,
3. Mobilização de parcerias e recursos externos
aliás, já existe, hoje, entre as do Norte. Esta não é uma “guerra” em que as ONG cabo-verdianas e as suas parceiras estrangeiras possam correr o
3.1. O acesso directo aos recursos da Cooperação Internacional
risco de se deixarem envolver e precisam, por isso, de o encarar, solidariamente e sem medo de o debater. Mais grave ainda esse risco se tornará
A relação com as ONG do Norte é provavelmente um domínio que, a
se ele for transferido para o plano interno ao próprio movimento associa-
curto prazo, pode vir a ser muito marcado por mudanças que vêm ocor-
tivo cabo-verdiano, entre o que se poderia chamar as ONG de âmbito
rendo na Cooperação Internacional. De entre as mudanças que têm a
nacional e as de âmbito local, mais distantes dos centros de decisão e
ver com o acesso a recursos queremos salientar como uma das mais im-
dos “códigos de linguagem” da Cooperação Internacional.
portantes a alteração que se vem desenhando de abrir o acesso directo das ONG do Sul aos fundos da Cooperação Internacional. Esta alteração,
3.1.3. Algumas armadilhas
que se vem acentuando já após a elaboração do PE, comporta em si mesma potencialidades, riscos e também algumas armadilhas.
Este acesso directo das ONG do Sul e, por isso, das ONG e OCB cabo-verdianas, a recursos internacionais contém, também, algumas
3.1.1. Potencialidades
armadilhas e incoerências. Com efeito, se formos verificar as condições de acesso, em particular no que toca aos procedimentos exigi-
132
No que se refere às potencialidades elas são inegáveis, pois que
dos pelos maiores financiadores, constatamos que esses procedimen-
introduzem no debate sobre o acesso aos recursos para o desenvolvi-
tos não foram alterados no sentido de uma maior simplificação nem
mento, o tema da equidade entre organizações do Norte e do Sul e
mostram sinais de qualquer tentativa de aproximação aos sistemas
questionam as relações de poder entre elas. Este acesso directo cria,
locais. Esses anúncios de abertura às ONG do Sul podem, por isso, não
133
Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
passar de alterações no discurso político por parte das instituições in-
mega-projectos repetitivos de muitas grandes organizações do Norte,
ternacionais, obrigadas a fazer um discurso de maior coerência quan-
que produziram poucas mudanças duradouras.
do falam, por exemplo, em Nova Parceria Estratégica Europa-África. Mas a manutenção de todo esse quadro de exigências, sobretudo ao
Outro tipo de respostas precisa assentar muito especificamente
nível dos procedimentos, pode também ter uma outra consequência:
nas condições internas do movimento associativo cabo-verdiano. A
aquilo a que poderíamos chamar um incentivo à “migração de nacio-
grande diversidade – entre ONG e entre estas e as OCB – tem sido
nalidade”, em que algumas ONG do Norte se podem simplesmente
um dos grandes factores dos sucessos obtidos no combate à pobreza
transferir para um país do Sul, mudar a sua nacionalidade e continuar
e no desenvolvimento do país. As novas condições internacionais no
a dominar o acesso aos recursos da cooperação.
acesso a recursos podem ser também impulsionadoras de novas alianças internas, novas definições de complementaridades e de um novo
3.1.4. E algumas hipóteses de respostas
patamar no debate entre ONG e OCB, com um aprofundamento da consciência colectiva das consequências do global sobre o local.
Já referimos antes que estes riscos e armadilhas precisam ser colocados em debate, sem medos – esse é provavelmente um princípio de resposta, ou seja, organizações cabo-verdianas e organizações
3.2. A Cooperação multi-actores e multi-recursos: ONG do Norte e do Sul, diásporas, municípios, escolas, associações várias
parceiras do Sul e do Norte podem, desde já, iniciar um debate sobre os novos desafios às parcerias e, provavelmente, um desses desafios
Uma estratégia de mobilização de recursos implica olhar em duas
será a construção de capacidades conjuntas e de alianças para in-
direcções: em primeiro lugar, na dos actores mobilizáveis e, em segun-
tervirem na definição das relações internacionais e das políticas de
do lugar, no dos diferentes recursos que esses actores podem trazer
cooperação e da distribuição dos recursos.
para a cooperação e para o desenvolvimento.
Um outro domínio em que estes riscos se podem converter em
Uma estratégia que passasse simplesmente por mobilizar, por exemplo,
oportunidades é o que diz respeito, como já referimos, à qualidade
mais ONG de um determinado país do Norte, não sendo previsível um au-
das parcerias e à qualidade de cooperação e do desenvolvimento. A
mento dos recursos a que essas ONG do Norte tenham acesso, não é uma
tomada de consciência de que uma “cultura de execução” de pro-
estratégia de mobilização que possa ter resultados positivos para as ONG
jectos definidos por outros condena as organizações cabo-verdianas,
cabo-verdianas. Ficaríamos perante a situação de ver um mesmo bolo
em particular as de natureza local, pode ser motivadora de iniciativa,
dividido por mais intervenientes e por mais custos de funcionamento.
capacidade de inovação e de risco, ou seja, criadora de uma “cul-
134
tura empreendedora”, que permita criar, em pequenas escalas, mais
A estratégia que poderá garantir algum sucesso será aquela que
valias, valores acrescentados e diferenciação em relação a muitos
olhe para as sociedades dos países chamados desenvolvidos na sua
135
Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
pluralidade – de que fazem parte, por exemplo, ONG, municípios, es-
podem ser o de uma maior visibilidade, a conquista de novos merca-
colas, associações diversas, comunidades de imigrantes – e procure
dos, a melhoria da sua imagem junto da sociedade, em particular em
que os actuais parceiros aí nessas sociedades se articulem e tragam
sectores chamados “sensíveis”, ou quando estão associadas a práticas
ao desenvolvimento de Cabo Verde contribuições diversificadas.
socialmente condenáveis, como o fomento da corrupção. O mece-
Muitas dessas contribuições não serão provavelmente contribuições
nato tem-se também desenvolvido, por vezes, associado a respostas
financeiras, mas serão, nalguns casos, tão importantes como aquelas:
a situações de crise humanitária que sensibilizem a opinião pública,
inovações, saberes, técnicas, experiências, relações com o mundo.
que têm, por natureza, um carácter pontual, sendo, por isso, recursos
E aqui as ONG parceiras do Norte serão chamadas a ter uma contri-
que não garantem a estabilidade e continuidade mínima essencial ao
buição de pôr à disposição dos outros, nomeadamente à disposição
desenvolvimento. Existem experiências positivas do que se vem cha-
das organizações da diáspora ou outras, as competências específicas
mando internacionalmente “Responsabilidade Social das Empresas” e,
que foram construindo no domínio da cooperação internacional.
aliás, foram recentemente estudadas algumas experiências nesta área por parte de algumas empresas portuguesas no seu relacionamento
3.3. O mecenato e a responsabilidade social das empresas estrangeiras
com sectores da sociedade cabo-verdiana. No entanto, as situações que desvirtuam o papel de responsabilidade social empresarial, convertendo as intervenções assim designadas em meras operações de
Já foi referido num ponto anterior que o mecenato pode ser uma
marketing ou de publicidade, são cada vez mais frequentes.
nova fonte de recursos para o associativismo cabo-verdiano e essa constatação pode ser válida não só no que se refere às empresas cabo-verdianas mas também às empresas estrangeiras que se relacio-
3.3.2. Um diálogo exigente sobre qualidade do mecenato e da responsabilidade social das empresas
nam com Cabo Verde. No entanto, talvez seja importante procurar ver o que se tem passado noutros países, em particular no que se poderia
O mecenato e os recursos que podem ser obtidos no quadro das
chamar de outros países de desenvolvimento intermédio – e Portugal,
práticas de responsabilidade social das empresas podem vir a constituir
em muitos aspectos, não está muito longe dessa classificação.
recursos importantes, mas num quadro de exigência mútua de integridade e qualidade: integridade nas relações e nos propósitos, qualida-
3.3.1.Experiências de outros contextos
de nas práticas. Neste domínio, o quadro legal será importante, mas também o debate público sobre boas práticas pode contribuir para a
136
Da experiência que vem sendo vivida por algumas ONG portu-
construção de uma cultura de exigência e respeito mútuo. E a identifi-
guesas e que uma ou outra procurou estudar e sistematizar, podem-se
cação dos critérios que poderão vir a ser definidores de boas práticas é
identificar alguns traços dominantes: por exemplo, comprova-se que
uma resposta que pode começar já a ser dada. Por exemplo, o critério
o mecenato é muito selectivo e é, na maior parte dos casos, definido
da duração do compromisso de mecenato, de forma a que ele não
estritamente em função dos interesses das empresas. Esses interesses
seja uma situação episódica, pode ser um desses critérios.
137
Debate nos painĂŠis
Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
Tema I: Os actores não governamentais e a sua contribuição no desenvolvimento de Cabo Verde 1. O Papel das ONG para o desenvolvimento de Cabo Verde: • Mobilização de recursos para a inclusão e a integração social e económica das camadas mais desfavorecidas; • Educação para o exercício da cidadania; • Contribuir para a erradicação da pobreza; • Promoção cultural e desportiva; • Garantir a sustentabilidade e a perenidade das acções de luta contra a pobreza; • Influenciar as politicas governamentais de forma a salvaguardar os interesses das camadas menos favorecidas; 2. O Papel das ONG na diáspora: • Promoção de Cabo Verde junta da comunidade cabo-verdiana emigrada e da sociedade de acolhimento (cultura) • Mobilização de recursos e novos parceiros para a promoção do desenvolvimento de Cabo Verde; • Integração dos cabo-verdianos nos países de acolhimento (acesso à formação profissional, ao emprego, etc.) 3. As fraquezas e as forças que caracterizam as ONG em Cabo Verde: a) Fraquezas As ONG deparam-se com inúmeras dificuldades na sua acção, das quais podemos destacar:
141
Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
• Limitação em recursos financeiros, humanos e materiais;
que, muitas vezes, usam e abusam do poder que lhes foi con-
• Dispersão geográfica e localismo – necessidade de terem sem-
ferido pelos membros, assim como se verifica falta de respeito
pre uma visão mais global de forma a saberem onde agir, pois
pelas regras de conduta no trabalho em grupo e com o grupo,
nem sempre os problemas têm a sua solução a nível micro;
devido a posturas e comportamentos poucos democráticos e
• Défice de comunicação interna (entre as ONG) e com o exterior (entre as ONG e os seus parceiros); Limitação em termos de diálogo e concertação no seio dos actores não governamentais; • Falta de coordenação efectiva entre as associações e os go-
participativos); • Excesso de protagonismo: temos que estar abertos à participação de todos, nem só os líderes comunitários têm direito à palavra e têm as soluções mais correctas.
vernos (locais e central); • Fraca capacidade de mobilização de recursos alternativos aos apoios do Governo;
Urge, deste modo, investir na educação/formação dos dirigentes e membros das ONG, de forma a capacitá-los para o trabalho comum
• Dependência de subsídios: por vezes, o trabalho realizado nas
e comunitário, na certeza de que o associativismo em Cabo Verde,
comunidades é subsidiada por financiadores externos que
em virtude da sua tradição secular, é merecedor de um investimento
quando se retiram põem em causa a sustentabilidade do pro-
na mudança das atitudes e dos comportamentos de todos quantos,
cesso de desenvolvimento local. Esta dependência é agravada
voluntariamente, integram essas organizações como forma de dar o
pela ausência, cada vez mais acentuada, das ONG do Norte, o
seu contributo para a construção de um país mais desenvolvido e mais
que limita as possibilidades de mobilização de financiamentos.
justo e para que consigam consolidar os seus processos de desenvol-
Isto revela alguma vulnerabilidade e dificuldades estruturais,
vimento comunitários e identificar correctamente as necessidades e
com reflexos na própria evolução e desenvolvimento dessas or-
onde intervir mais correctamente.
ganizações, limitando a sua auto-sustentabilidade. • Politização de determinadas associações;
b) Forças
• Fraca capacidade institucional das ONG e associações, em geral;
142
• Voluntarismo excessivo: temos que ser profissionais no trabalho
Não obstante os problemas que são evidentes, existem potenciali-
que desempenhamos e contar com técnicos que nos apoiem,
dades que apontam para uma família de ONG forte, dinâmica e com
para que todo um processo de reflexão e envolvimento comu-
grande capacidade de intervenção, sendo de salientar a metodo-
nitário não seja prejudicado e travado;
logia de intervenção junto das comunidades locais e a sua consci-
• Fraca capacidade de gestão e necessidade de maior trans-
ência quanto à necessidade de unir esforços e de cultivar a prática
parência e boas práticas no funcionamento dos órgãos so-
de reflexão e acção conjunta na perspectiva de que a união faz a
ciais. (Verifica-se, de forma não generalizada, práticas nega-
força. A criação da Plataforma das ONG e de organizações chapéus
tivas por parte dos dirigentes máximos dessas organizações,
das OCB, como OASIS no interior de Santiago, OAF na ilha do Fogo,
143
Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
OADISA em Santo Antão – Ribeira Grande, entre outras, são exemplos
sentes em todas as ilhas, em todos os domínios de actividades (saúde,
dessa consciência.
educação, agricultura, pecuária, pesca, artesanato, actividades geradoras de rendimento associadas ao micro-crédito, etc.) e em todos
Assim, são também de realçar os seguintes métodos de trabalho, característicos do desenvolvimento comunitário: - a participação – que deve ser promovida e incentivada, princi-
os grandes temas da actualidade como a descentralização, o combate à desertificação, a luta contra a pobreza, entre outros. 4. Conclusões:
palmente em sociedades onde existe repressão ou intolerância para uma sociedade de participação;
- Reforço institucional das ONG;
- a parceria – as acções que envolvem os diversos parceiros da sociedade têm maior repercussão e eficácia; - uma visão integrada – nenhum problema é trabalhado isolada-
- Elaboração de uma guia das ONG no exterior para facilitar a interacção com as ONG cabo-verdianas.
mente e as soluções devem ser multidisciplinares; - territorialização – trabalho na comunidade e com a comunidade;
A mobilização social, acompanhada de actividades de animação
- diversidade – inovação constante, cada caso é um caso e cada co-
para apoiar a organização das comunidades, promover a formação
munidade tem as suas especificidades, recursos e capacidades;
e capacitação das populações, é um instrumento privilegiado para
- Existência em Cabo Verde de uma família de ONG forte dinâmi-
melhorar a dotação das comunidades em capital humano e social,
ca, participativa e organizada; - Existência nas diferentes ilhas de associações que intervêm em vários domínios.
habilitando-as para assumirem o seu próprio desenvolvimento, logo, a sua saída da condição de pobreza. Trata-se, também, de combater através de metodologias participativas, a mentalidade assistencialista ligada à ideia de um Estado-Providência do qual tudo se espera.
Essas potencialidades resumem-se na nova dinâmica da sociedade civil que se traduz no número de ONG e outras associações existentes e
Acreditamos que existe, hoje, um melhor relacionamento entre o
nas suas contribuições valiosas no processo de luta contra a pobreza e
governo central, os governos locais e as associações da sociedade
pelo desenvolvimento, não obstante as dificuldades já referidas.
civil e uma maior consciencialização da necessidade de trabalhar em parceria, depois de uma fase inicial de desconfiança recíproca. Há,
Mesmo que ainda tenhamos muitas ONG e outras associações
no entanto, um longo caminho a percorrer, no sentido de maximizar
que precisam reforçar a sua capacidade institucional e, consequen-
todas as potencialidades inerentes à participação da sociedade civil
temente, melhorar o seu nível de intervenção, não é de menosprezar
no desenvolvimento local e, consequentemente, nacional.
a acção global das Organizações da Sociedade Civil. Elas estão pre-
144
145
Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
O desenvolvimento local não constitui um domínio exclusivo das
atenção particular nos próximos tempos. No entanto, as perspec-
autarquias e da administração central. As opções estratégicas e a
tivas são boas, se tivermos em conta as preocupações actuais,
concepção e implementação de políticas municipais, têm de ser
traduzidas em acções já em curso ou em vias de realização que
partilhadas e consensualizadas, aos mais diversos níveis, com os ci-
demonstram a resposta activa e responsável dos actores da socie-
dadãos, as suas associações e organizações. Deverão ser criados
dade civil, das quais destacamos:
espaços e condições que promovam o encontro, o debate e a participação nos projectos da vida colectiva e nas decisões de gestão das comunidades. De acordo com a sua própria essência, a prática da cidadania contribui para o “bem público”. As estruturas em que os cidadãos têm
1- Elaboração, regulamentação e implementação de um Código de Ética; 2- Realização de um debate à escala nacional sobre a ética e deontologia no seio das Organizações Não Governamentais;
uma presença activa, quer individual, quer colectivamente, têm implicações mais vastas para a organização da comunidade como um todo, levando à criação de políticas públicas eficientes e apropria-
3- Aposta na diversificação da formação dos quadros das ONG e na profissionalização das actividades das ONG;
das. Quando a população sente que a sua participação é promovida e que as suas opiniões e conhecimentos são tão importantes como os aspectos técnicos, políticos e financeiros, adquirem um maior sentido
4- Reforço e mobilização de novas parcerias e articulação dos recursos, quer a nível interno, quer externo;
de responsabilidade para com o que é decidido e executado. Desenvolvem capacidades para escolher o que é mais adequado à sua
5- Educação para a cidadania;
situação e necessidades, comprometem-se com as decisões escolhidas e são um factor relevante para a sua correcta execução. As téc-
6- Aprovação da Lei que regula a actividade das ONG;
nicas participativas não são apenas um meio para tornar um projecto ou processo mais eficiente. Possibilitam um processo de construção e
7- Aprovação da Lei da Cooperação Descentralizada;
afirmação da cidadania, pois transformam a população em agentes activos do desenvolvimento.
8-Criação de uma base de dados das ONG e das acções e actividades que desenvolvem.
É evidente que as organizações da sociedade civil cabo-ver-
146
diana têm conhecido uma evolução satisfatória tanto do ponto
As parcerias e o real envolvimento de todos os actores da coope-
de vista da quantidade como da qualidade das suas intervenções.
ração e financiadores do desenvolvimento são imprescindíveis para a
Contudo, existem uma série de constrangimentos que exigem uma
materialização destas acções de forma integrada e sustentável.
147
Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
Tema II: A Graduação de Cabo Verde: Oportunidades e desafios para os actores não governamentais
ONG, sobretudo às internacionais, é o de sensibilizarem e fazerem uma advocacia da aplicação integral a Cabo Verde das garantias de uma transição suave e com a duração necessária,
Conclusões/Constatações
pela comunidade internacional, nomeadamente as recomendadas no quadro do Grupo de Apoio à Transição (GAT);
• Tal como concebido, o mecanismo da graduação permitiu a sa-
• Face à diminuição absoluta e selectiva da APD, é desafio das
ída de Cabo Verde da categoria dos PMA (Países Menos Avan-
ONG procurar mobilizar mais recursos, em compensação, e pro-
çados) mesmo tendo o país ficado muito aquém do nível reque-
curar orientá-los para os sectores mais afectados por aquela
rido no que respeita ao índice de vulnerabilidade económica;
diminuição, em prol da coesão social nacional;
• Os dois indicadores na base dos quais se operou a graduação
• Tendo em conta a sua particular interacção com todo o teci-
de Cabo Verde, e que são o rendimento per capita e o índi-
do social e em todas as zonas geográficas, as OCB estão par-
ce de desenvolvimento humano, derivam, essencialmente, da
ticularmente bem posicionadas e vocacionadas para serem
boa utilização por Cabo Verde dos recursos externos e do APD
os agentes fundamentais da promoção de uma nova cultura
(Ajuda Pública ao Desenvolvimento) em particular.
do desenvolvimento da sociedade no seu todo, em articula-
• A diminuição do APD em termos absolutos que acarreta a
ção e sinergia com outros actores nacionais como o Governo.
saída dos PMA ameaça, assim, a sustentabilidade daqueles
Isso passa, antes de mais, pela catalização de tal processo no
dois indicadores;
seio das próprias OSC (Organizações da Sociedade Civil) e pela
• O crescimento dos investimentos directos estrangeiros que a graduação encoraja deixará lacunas em matéria social dado
construção, no seio delas, de uma capacidade de comunicação diversificada e adequada aos destinatários;
que esses investimentos são dirigidos aos sectores economica-
• Outro importante desafio, ligado ao precedente, tem a ver com
mente rentáveis como o turismo, serviços, etc., não obstante os
a necessidade da evolução das OSC no sentido da sua autono-
empregos que geram;
mização e da busca de sustentabilidade. Nesse sentido, as OSC
• Será necessário promover e dinamizar uma nova cultura de de-
deverão desenvolver gradualmente o seu nível de profissionalismo,
senvolvimento em toda a sociedade cabo-verdiana, desde o
capacidade de gestão e capacidade técnica, bem como apro-
Governo às OCB;
priarem-se das estratégias sectoriais nacionais como forma de serem capazes de tomar iniciativas mais válidas nesses campos;
Desafios/oportunidades
• Na busca de sustentabilidade, um parceiro de importância deverá ser o Estado, para cuja execução do Orçamento as OSC
• Face às condições de elevada vulnerabilidade económica em que Cabo Verde foi graduado, um desafio que se coloca às
148
deverão poder aceder, conforme, aliás, nesta Mesa Redonda foi indicado pelo Senhor Primeiro Ministro;
149
Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
Tema III: Desenvolvimento e Desigualdades – O Papel das ONG
• Nesse sentido, será essencial que sejam previamente definidas as regras do relacionamento entre o Governo e as ONG e OSC nessa matéria, para assegurar transparência, imparcialidade e igualdade de oportunidades a estas, ao mesmo tempo que evitam a criação de uma situação de dependência; • Com vista a esse processo de capacitação acrescida das
1 – Foi consensualizado pelos participantes que, nos últimos anos, as desigualdades entre países e dentro dos países têm aumentado consideravelmente.
ONG e de uma busca sistemática de novas oportunidades de sustentação e de utilidade social, as OSC/ONG desejam
As desigualdades têm sido potenciadas por diferentes factores
que a sua Plataforma desenvolva as suas actividades de for-
numa escala global (crise económica, aumento do preço do cru-
mação e informação, de “antena” das ONG/OSC junto dos
de, entre outros) e numa escala nacional (surgimento de uma clas-
parceiros (Governo e outros) e também de interface interna
se média alta).
com o Governo; • Também as ONG/OSC deverão poder, junto dos investidores ex-
Estes factores são gerados pelo modelo de mercado global, pelo
ternos, promover a assunção por eles de responsabilidades so-
desrespeito pela natureza e pela demissão de responsabilidades do
ciais que advêm do seu papel crescente nos destinos do país;
Estado.
• Finalmente e cientes de que as recomendações aqui lançadas não constituem propostas ou soluções acabadas, recomen-
Na resposta a estas desigualdades as ONG têm desenvolvido e
dam à Plataforma que recenseie as questões cujo estudo mere-
devem continuar a desenvolver acções concertadas e participadas
ce aprofundamento e promova a sua adequada análise, com
pelos vários actores da vida em sociedade: Estados (global, suprana-
vista a que os resultados desses estudos sejam, num horizonte
cional, nacional, local) e empresas.
tão próximo quanto possível, socializados e debatidos. As ONG devem assumir um trabalho integrado que adopte a trilogia: económico, social e ambiental, aliando conceitos como: economia solidária, economia da dádiva, desenvolvimento humano, desenvolvimento local, desenvolvimento sustentável, entre outros. 2 – Entre os participantes foi gerado um momento de partilha de experiências, dinamizadas nas suas áreas de intervenção, com a finalidade de contribuir para a minimização de desigualdades. Os projectos/iniciativas apresentados foram bastante diversificados e imple-
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151
Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
mentados em diferentes áreas (educação e formação, animação co-
- Dinamização de mesas sociais entre as ONG para a partilha de
munitária, voluntariado, apoio à família, acções de sustentabilidade
boas e más práticas reflexão sobre os projectos a implementar
económica das ONG).
e a sua forma de financiamento; - Definição das necessidades locais em Cabo Verde através da
3 – Na abordagem deste ponto foram definidas algumas recomendações:
aplicação dos indicadores de desenvolvimento humano; - Reforço das competências das ONG sobre a temática do desenvolvimento;
- Definição de uma cartografia das desigualdades e da pobreza em Cabo Verde, com o intuito de se definir as zonas geográficas e áreas prioritárias de intervenção; - As ONG devem ajudar as autarquias locais a responder às con-
- Maior capacitação de dirigentes, técnicos, animadores, voluntários, entre outros; - A Plataforma, com as ONG, deve definir planos de emergência em resposta aos possíveis factores de risco;
sequências da descentralização dos serviços do Estado e da
- Definição de estratégias para a sustentabilidade das ONG;
diminuição de financiamento;
- Maior advocacia junto dos decisores e outras entidades públi-
- As ONG devem ajudar a população a ressaltar as suas verdadeiras necessidades. O diagnóstico deve ser concebido da base local e participado por toda comunidade; - Combate às políticas sociais e acções no terreno baseadas no conceito de assistencialismo e fomento do empoderamento, empreendedorismo e inovação nas comunidades; - Atracção novos parceiros e novas formas de financiamento; - Definição do código de conduta das ONG para evitar a instrumentalização e aproveitamento político; - Adopção de um modelo de planeamento, desde a fase de diagnóstico até à fase de avaliação, na definição de uma es-
cas e privadas com e sem fins lucrativos; - Alteração o quadro legal para permitir às ONG actuar numa lógica de mercado; - Regulamentação da lei de mecenato social; - Maior profissionalização das estruturas de funcionamento das ONG; - As ONG devem ter em linha de conta, nas suas acções, todos os planos e instrumentos já concebidos a nível local e nacional; - A Plataforma, com todas as suas associadas, deve criar uma sinergia de esforços para a implementação do Dia Nacional do Associativismo;
tratégia que contribua para o desenvolvimento. Este modelo
- As ONG devem adoptar a “vida” como o centro de toda a sua
deverá ser executado ao nível da Plataforma, ONG e comuni-
intervenção (biocentrismo) em detrimento da centralidade ex-
dade;
clusiva no “Homem” (antropocentrismo);
- A Plataforma deve criar uma sinergia de esforços para que o Estado defina, em cada orçamento anual, uma percentagem
- Partilha de recursos entre as organizações, rentabilizando os recursos e minimizando custos.
a atribuir às ONG;
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Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
Tema IV: O Plano Estratégico da Plataforma: Mecanismos e estratégias de mobilização de recursos
a) A nível interno/ Institucional: 1. Reforço da capacidade de intervenção da Plataforma; 2. Descentralização progressiva da estrutura e das interven-
Introdução
ções da Plataforma; 3. Reforço da sustentabilidade da Plataforma;
Passados que foram dez anos da sua criação e momentos de procura e identidade própria e afirmação progressiva, a Plataforma elaborou o seu Plano Estratégico de forma participativa e que constitui
b) A nível externo/do programa: 1. Reforço das capacidades das ONG e associações de
um elemento valioso de planificação estratégica, tendo como pano
base (formação, informação, apoio financeiro, etc.);
de fundo a sistematização e a valorização dos diferentes elementos
2. Melhoria de seguimento e avaliação dos impactos da
estratégicos da sua intervenção futura.
Plataforma; 3. Implementação de uma estratégia de comunicação
Foi utilizada a metodologia SWOT, que visava identificar as forças, as fraquezas, os riscos e as ameaças que afectam a actuação da Plataforma e, tanto quanto possível, aproveitar as oportunidades existentes para minimizar os riscos e ameaças e transformar as fraquezas
adequada às necessidades da Plataforma e dos seus membros; 4. Sistematização, divulgação e capitalização das experiências da Plataforma e dos seus membros.
em forças em prol da Plataforma das ONG cabo-verdianas. Para cada estratégia, foram identificados: os principais alvos (fraNa base dessa análise, foram identificados os alvos e selecciona-
quezas e riscos), as oportunidades a serem aproveitadas (forças in-
dos os principais eixos estratégicos a serem implementados nos pró-
ternas e as oportunidades externas) e, finalmente, os elementos do
ximos 5 anos graças à uma visão, uma missão, objectivos, valores e
conteúdo da estratégia.
princípios claros. Para a implementação dessas estratégias, torna-se necessária a Visão
implementação de mecanismos e estratégias de mobilização de parcerias e recursos sendo propostos os seguintes mecanismos:
Uma sociedade onde cada cidadão pode exercer os seus direitos de cidadania, num ambiente de progresso, paz, justiça e opor-
A nível interno:
tunidades para todos. 1. Financiamento do Estado através de dotação orçamental; As estratégias foram elaboradas na sequência da análise do contexto interno e externo, tendo sido retidas as seguintes:
154
2. Assinatura de contratos-programa pontuais, para execução de projectos de entidades públicas (Estado, municípios);
155
Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
3. Prestação de serviços remunerados;
é a sustentabilidade, bem como da necessidade de transcrever
4. Angariação de financiamento e patrocínios junto de empresas
essas necessidades num memorando para permitir melhores con-
e organismos sedeados em Cabo Verde; 5. Mobilização de trabalhos voluntários; A nível externo:
dições de negociação com os parceiros institucionais (Estado, CM, parceiros internacionais). Chamou atenção para aspectos organizativos e de rigor e transparência da gestão nas ONG de forma a serem mais credíveis junto
1. Acesso directo aos recursos da Cooperação Internacional;
dos parceiros e potenciais parceiros. Uma estratégia importante que
2. Cooperação multi-actores e multi-recuros: ONG do Norte e do
ele considerou foi a planificação e concertação a nível local através
Sul, diásporas, municípios, escolas, associações; 3. Mecenato e responsabilidade social das empresas estrangeiras.
de Mesas Redondas Locais (concelho) com prioridades bem definidas e especialização das organizações.
O grupo, trabalhou numa base participativa e de democracia
De uma forma geral, houve muita participação no grupo, cada or-
interna, tendo os trabalhos sido conduzidos por um moderador, co-
ganização trazendo testemunhos das suas experiências em termos de
adjuvado por um relator.
estratégias de mobilização de recursos. À laia de conclusão, o grupo assumiu, de uma forma geral, os mecanismos internos e externos de
O moderador começou por contextualizar o momento da encruzilhada que se vive em Cabo Verde, cabendo ao país fazer
mobilização de recursos, tendo aprofundado alguns e trazendo novos mecanismos que foram aprovados e que passamos a descrever:
a escolha do melhor caminho, pois, até 2012, teremos que estar preparados para enfrentar novos desafios que o novo estatuto do
1.Financiamento do Estado através de dotação orçamental
país nos impõe. O grupo aprovou essa proposta tendo assumido como valor indiFalou das dificuldades existentes para se atingir, de forma equitati-
cativo 2% do Orçamento do Estado a ser dotado para financiamento
va em todos os pontos do país, os Objectivos do Milénio, daí o papel
das OSC, em bases claros e regulamentadas de modo a permitir a
que as OSC têm para ajudar a atenuar essas desigualdades de opor-
maior transparência das sua dotação e gestão.
tunidades e de acesso. Chamou-se a atenção para o facto de alguns protocolos e tra-
156
Apelou para a necessidade de melhor concertação, a nível lo-
tados internacionais representarem, muitas vezes, perdas de recursos
cal, de criação de Rede de Parcerias e reforço das capacidades
para os Estados (aduaneiro) e necessidade dos Estados assumirem
das organizações com vista à consecução do objectivo maior que
eles mesmos a decisão dos sectores onde aplicar os recursos.
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Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
Isso implica a adopção dos chamados recursos inovadores de financiamento como: o Outras alternativas pertinentes poderão ser a taxação dos bilhetes de avião e do turismo, em geral, com vista à obtenção de
ções de desenvolvimento local e comunitário nesses orçamentos; o Reforço da capacidade de mobilização e gestão de recursos através da formação em elaboração dos projectos viáveis integrado as necessidade reais das populações.
recursos para que o financiamento de parte das taxas cobradas ao nível das transferências dos emigrantes (Western Union até 17%) reverta para o financiamento de projectos; o Mecanismos de financiamento autónomo (Actividades Geradoras de Rendimento, AGR); o Financiamento para adaptação às mudanças climáticas; o Necessidade de desenvolver mutualidades de crédito para financiar e equilibrar o sistema de financiamento de projectos; o Parcerias internas entre ONG com maior capacidade e as OCB; o Parcerias entre as organizações do Norte, da Sub-região e nacionais; o Criação Bolsa de Parceiros para facilitar o conhecimento das ONG e melhor divulgação dos mecanismos e procedimento de financiamento; o Divulgação, sensibilização e formação das empresas sobre a lei do mecenato e as suas vantagens; o Aumento da percentagem da matéria colectável a que se aplica a lei do mecenato; o Necessidade de feiras de projectos; o Necessidade de uma abordagem de programa ao invés da abordagem projecto, evitando a dispersão e apelando à complementaridade; o Elaboração de estratégias numa lógica sectorial e geográfica que dá maior coerência aos projectos de desenvolvimento; o Participação na elaboração de orçamentos participativos nos municípios onde esta pratica já vigora e contemplar as preocupa-
158
159
Conclusões e Recomendações Finais
Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES FINAIS I. A Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas teve lugar, na Cidade da Praia, de 22 a 25 de Setembro de 2008. Estiveram presentes nesse evento aproximadamente 30 convidados estrangeiros vindos de Portugal e Espanha continental e ilhas, Bélgica, Holanda, Itália, Senegal, Benin, Guiné Bissau e São Tomé e Príncipe, incluindo representantes da diáspora cabo-verdiana em alguns desses países, bem assim mais de uma centena de representantes das ONG e organizações comunitárias de base (OCB) de todo o país. II. A presente Mesa Redonda teve os seguintes objectivos específicos: • Divulgar junto dos parceiros e potenciais parceiros a realidade não governamental em Cabo Verde (forças, fraquezas, oportunidades e ameaças) com vista a sensibilizá-los sobre o papel incontornável dos actores não estatais no processo de desenvolvimento; • Contribuir para aumentar o leque dos parceiros e potenciais parceiros da acção não governamental e, consequentemente, das possibilidades e oportunidades de mobilização de recursos por parte dos actores não governamentais cabo-verdianos; • Ser uma oportunidade para a troca de experiências e conhecimentos entre as associações cabo-verdianas e os potenciais parceiros do Norte e para o estabelecimento de contactos directos que podem resultar em acordos de parceria.
163
Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
No âmbito da Mesa Redonda, foram programadas quatro actividades:
dado pelos parceiros, particularmente a Comissão Europeia e o IPAD, à realização deste evento.
• Uma Feira de Produtos e Realizações de Economia Solidária, realizada no dia 22, que consistiu numa amostra da produção
Na convicção de que a presente Mesa Redonda não constitui um
dos artistas e artesãos cabo-verdianos nos diversos concelhos
objectivo em si, anunciou que ela marca o início de uma nova era
do país, para além de ter sido uma oportunidade de conhe-
na vida das ONG cabo-verdianas a ser marcada pela organização e
cimento mútuo e de partilha de experiências e de sinergias
pela modernização, pelo rigor, pela transparência e pela boa gover-
entre os expositores;
nança na gestão das ONG cabo-verdianas, mas também pelo profis-
• Uma Conferência Internacional de dois dias 23 e 24 que teve
sionalismo e criatividade, de modo a encontrar alternativas para fazer
por objectivo a partilha de conhecimentos e experiências para
face à tendência crescente de alargamento do leque de fundos e
o enriquecimento das práticas associativas através da articula-
programas de cooperação de que Cabo Verde e as ONG cabo-ver-
ção investigação-acção e a recolha de subsídios para os novos
dianas são inelegíveis.
e complexos desafios dos próximos anos. • Uma Feira de Projectos Associativos, inaugurada no dia 23, que
Essa mudança de paradigmas exige, no seu entender, que as ONG
teve por propósito dar a conhecer aos parceiros internacionais
sejam capazes de encontrar formas inovadoras de mobilizar recursos
os projectos de desenvolvimento das ONG e associações nas
internos e fazer face à tendência de redução de recursos de fontes
diversas ilhas do arquipélago; e
externas, devendo os recursos internos constituir a maior fatia no finan-
• Uma visita dos parceiros e convidados estrangeiros a algumas ONG e respectivos projectos no interior de Santiago,
ciamento, tanto do funcionamento, como dos projectos implementados pelas ONG cabo-verdianas.
no dia 25, para conhecerem melhor as realizações dessas organizações.
Paralelamente, defendeu que a sociedade cabo-verdiana precisa clarificar a sua posição em relação ao financiamento das ONG e das OCB, argumentando que se, efectivamente, elas desempenham um
III. Cerimónia de abertura
papel de elevado interesse público, como tem sido reconhecido, o Governo, os partidos políticos, o Parlamento, as autarquias e a socie-
164
3.1. A abertura oficial da Conferência Internacional foi presidida
dade civil organizada precisam discutir e encontrar um ponto de equi-
por S. Excia. O Primeiro Ministro de Cabo Verde, Dr. José Maria Neves.
líbrio que garanta a afectação de recursos do Estado em condições
Em nome dos órgãos directivos da Plataforma das ONG, o Presidente
previsíveis e que assegurem o funcionamento de forma independen-
do Conselho Directivo, Dr. Avelino Bonifácio Lopes, deu as boas-vin-
te das ONG, assim como o sector empresarial nacional deve assumir
das a todos os participantes da Mesa Redonda e agradeceu o apoio
maiores responsabilidades sociais.
165
Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
3.2. O representante do chefe da Delegação da Comissão Euro-
Com o sentimento de que esse vasto trabalho ainda não é devi-
peia em Cabo Verde, Arq. Jaime Royo Olid, qualificou de essencial a
damente reconhecido, destacou o seu contributo para o empode-
cooperação com a sociedade civil para o progresso de uma socieda-
ramento das populações, que estão, paulatinamente, a pensar e a
de democrática como a cabo-verdiana.
assumir o seu destino, havendo muitas organizações com uma perspectiva clara de futuro.
Explicou que as modalidades de financiamento às ONG, particularmente o montante atribuído à Plataforma para a organização,
Sendo as associações de desenvolvimento comunitário um factor
entre outras, da presente Mesa Redonda, representam um momento
importante de participação das populações, enalteceu o seu contri-
de transição, visto Cabo Verde ter sido qualificado como país de ren-
buto para a verdadeira descentralização no país, razão que o levam
dimento médio, o que não significa que os desafios básicos como as
a dizer que as ONG e as Associações de Desenvolvimento Comunitá-
desigualdades tenham sido resolvidos.
rio se impõem, hoje, como parceiros incontornáveis de todos aqueles, incluindo o Governo, que pretendem fomentar o empreendedorismo
Nas modalidades de financiamento, a Comissão vai disponibilizar ao Estado de Cabo Verde, a partir desse momento, no âmbito do X
social e criar dinâmicas de geração de empregos e de combate à pobreza e à exclusão social, enfim, de desenvolvimento.
FED – 2008/2014, 17M€ de apoio orçamental e mais 17M€ que estão condicionados aos resultados da luta contra a pobreza e na qual a sociedade civil pode ter um papel importante.
Neste particular, garantiu que o Governo estará ao lado das ONG e das OCB, criando condições jurídico-institucionais e mesmo materiais para a expansão e a consolidação desse movimento, como são os ca-
Neste particular, aconselhou a uma clara separação dos actores
sos da aprovação, em 2003, da lei das associações, os projectos do Esta-
não governamentais em relação aos interesses partidários e outros
do que contam com o envolvimento das associações e o Programa de
poderes. Para garantir a não condicionalidade do financiamento dos
Luta contra a Pobreza Rural, PLPR, que transfere um volume considerável
actores não governamentais, a Comissão Europeia tem reservado dois
de recursos às associações, através de contratos–programa e num am-
milhões de euros que serão postos à disposição de organizações cha-
biente competitivo em termos de qualidade e de produtividade.
péu, do tipo da Plataforma ou outras que garantam a independência devida para beneficiar do dito financiamento.
Consciente dos novos desafios trazidos com a graduação de Cabo Verde a país de rendimento médio, a adesão à OMC e a parceria es-
166
3.3. Ao declarar aberta a Conferência Internacional, o Primeiro Mi-
pecial com a União Europeia, defende como grande preocupação
nistro testemunhou o seu apreço pessoal e do Governo pelo impor-
do Governo o mundo rural com a capacitação das populações, a
tante contributo que os parceiros não governamentais vêm dando ao
infra-estruturação e a modernização da agricultura e programas de
desenvolvimento de Cabo Verde, nos mais variados domínios.
luta contra a pobreza orientados para as comunidades pobres.
167
Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
No âmbito do PLPR, anunciou que o Governo decidiu estender o
• Educação para o exercício da cidadania;
programa a todo o país, estando previsto, para o efeito, 20 milhões de
• Contribuição para a erradicação da pobreza;
dólares para fortalecer, nomeadamente, a actividade de micro-crédi-
• Promoção cultural e desportiva;
to, cujas instituições têm sido beneficiadas com assistência técnica, no
• Garantia da sustentabilidade e perenidade das acções de luta
quadro do MCA, devendo ser criado um Fundo de Financiamento do Micro-crédito, para além de outras formas de afectação de recursos públicos para as actividades das ONG e OCB. IV. A Conferência Internacional debruçou-se sobre quatro grandes
contra a pobreza; • Influenciação das políticas governamentais de forma a salvaguardar os interesses das camadas menos favorecidas; 2. O Papel das ONG na diáspora:
temas de actualidade cabo-verdiana, designadamente: • Promoção de Cabo Verde junto da comunidade cabo-verdia• O Papel dos actores não governamentais e a sua contribuição no desenvolvimento de Cabo Verde; • A Graduação de Cabo Verde: Oportunidades e desafios para os actores não governamentais; • Desenvolvimento Económico e desigualdades: O Papel das ONG;
na emigrada e da sociedade de acolhimento; • Mobilização de recursos e novos parceiros para a promoção do desenvolvimento de Cabo Verde; • Integração dos cabo-verdianos nos países de acolhimento (acesso à formação profissional, ao emprego, etc.);
• O Plano Estratégico da Plataforma: Mecanismos e estratégias de mobilização de recursos.
3. As fraquezas e as forças que caracterizam as ONG em Cabo Verde:
IV. Quatro painéis debateram, com alguma profundidade, os temas apresentados em plenária, tendo no final dos trabalhos aprovado
a) Fraquezas:
as seguintes recomendações/conclusões: As ONG deparam-se com inúmeras dificuldades na sua acção, Tema I: O Papel dos actores não governamentais e a sua contribui-
das quais podemos destacar:
ção no desenvolvimento de Cabo Verde • Limitação em recursos financeiros, humanos e materiais; 1. O Papel das ONG para o desenvolvimento de Cabo Verde:
• Dispersão geográfica e localismo e necessidade de terem sempre uma visão mais global de forma a saberem onde
• Mobilização de recursos para a inclusão e a integração social e económica das camadas mais desfavorecidas;
168
agir, pois nem sempre os problemas têm a sua solução a nível micro;
169
Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
• Défice de comunicação interna (entre as ONG) e com o exterior (entre as ONG e os seus parceiros);
quanto à necessidade de unir esforços e de cultivar a prática de reflexão e acção conjunta na perspectiva de que a união faz a força.
• Limitação em termos de diálogo e concertação no seio dos actores não governamentais;
Conclusões:
• Falta de coordenação efectiva entre as associações e os governos (locais e central); • Fraca capacidade de mobilização de recursos alternativos aos apoios do Governo; • Dependência de subsídios agravada pela ausência cada vez mais acentuada das ONG do Norte, o que limita as possibilidades de mobilização de financiamentos; • Politização de determinadas associações; • Fraca capacidade institucional das ONG e associações, em geral; • Voluntarismo excessivo;
• Necessidade do reforço institucional das ONG; • Elaboração de uma guia das ONG no exterior para facilitar a interacção com as ONG cabo-verdianas. • Mobilização social, acompanhada de actividades de animação para apoiar a organização das comunidades; • Formação e capacitação das populações; • Melhoria do relacionamento entre o Governo central, os governos locais e as associações da sociedade civil e uma maior consciencialização da necessidade de trabalhar em parceria; • As opções estratégicas, a concepção e implementação de
• Fraca capacidade de gestão e necessidade de maior transpa-
políticas municipais têm de ser partilhadas e contratualizadas,
rência e boas práticas no funcionamento dos órgãos sociais;
aos mais diversos níveis, com os cidadãos, as suas associações
• Abertura das ONG e OCB à participação de todos, visto que não só os líderes comunitários têm direito à palavra e têm as soluções mais correctas; • Aposta na educação/formação dos dirigentes e membros das ONG, de forma a capacitá-los para o trabalho comum e comunitário;
e organizações; • Criação de espaços de encontro, diálogo e participação nos projectos de vida colectiva e nas decisões de gestão nas comunidades; • Elaboração, regulamentação e implementação de um Código de Ética; • Realização de um debate, à escala nacional, sobre a ética e deontologia no seio das Organizações Não Governamentais;
b) Forças:
• Aposta na diversificação da formação dos quadros das ONG e
Não obstante os problemas que são evidentes, existem potenciali-
• Reforço e mobilização de novas parcerias e articulação dos re-
na profissionalização das actividades das ONG; dades que apontam para uma família de ONG forte, dinâmica e com
170
cursos, quer a nível interno, quer externo;
grande capacidade de intervenção, sendo de salientar a metodolo-
• Educação para a cidadania;
gia de intervenção junto das comunidades locais e a sua consciência
• Aprovação da Lei que regula a actividade das ONG;
171
Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
• Aprovação da Lei da Cooperação Descentralizada;
Desafios/oportunidades:
• Criação de uma base de dados das ONG e das acções e actividades que desenvolvem.
• Face às condições de elevada vulnerabilidade económica em que Cabo Verde foi graduado, um desafio que se coloca às
Tema II: A Graduação de Cabo Verde: Oportunidades e desafios para os actores não governamentais
ONG, sobretudo às internacionais, é o de sensibilizarem e fazerem uma advocacia da aplicação integral a Cabo Verde das garantias de uma transição suave e com a duração necessária,
Conclusões/Constatações:
pela comunidade internacional, nomeadamente as recomendadas no quadro do Grupo de Apoio à Transição (GAT);
• Tal como concebido, o mecanismo da graduação permitiu a
• Face à diminuição absoluta e selectiva do APD, é desafio das
saída de Cabo Verde da categoria dos PMA mesmo tendo o
ONG procurarem mobilizar mais recursos, em compensação, e
país ficado muito aquém do nível requerido no que respeita ao
procurar orientá-los para os sectores mais afectados por aquela
índice de vulnerabilidade económica;
diminuição, em prol da coesão social nacional;
• Os dois indicadores na base dos quais se operou a graduação
• Tendo em conta a sua particular interacção com todo o tecido
de Cabo Verde, e que são o rendimento per capita e o Índi-
social e em todas as zonas geográficas, as OCB estão particular-
ce de Desenvolvimento Humano, derivam, essencialmente, da
mente bem posicionadas e vocacionadas para serem os agentes
boa utilização por Cabo Verde dos recursos externos e do APD
fundamentais da promoção de uma nova cultura do desenvolvi-
em particular.
mento da sociedade no seu todo, em articulação e sinergia com
• A diminuição do APD em termos absolutos que acarreta a
outros actores nacionais como o Governo. Isso passa antes de
saída dos PMA ameaça, assim, a sustentabilidade daqueles
mais pela catalização de tal processo no seio das próprias OSC, e
dois indicadores;
pela construção, no seio delas, de uma capacidade de comuni-
• O crescimento dos investimentos directos estrangeiros que a
172
cação diversificada e adequada aos destinatários;
graduação encoraja deixará lacunas em matéria social dado
• Outro importante desafio, ligado ao precedente, tem a ver com
que esses investimentos são dirigidos aos sectores economica-
a necessidade da evolução das OSC no sentido da sua autono-
mente rentáveis como o turismo, serviços, etc., não obstante os
mização e da busca de sustentabilidade. Nesse sentido, as OSC
empregos que geram;
deverão desenvolver gradualmente o seu nível de profissionalis-
• Será necessário promover e dinamizar uma nova cultura de de-
mo, capacidade de gestão, e capacidade técnica, bem como
senvolvimento em toda a sociedade cabo-verdiana, desde o
a apropriação das estratégias sectoriais nacionais como forma de
Governo às OCB;
serem capazes de tomar iniciativas mais válidas nesses campos;
173
Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
• Na busca de sustentabilidade, um parceiro de importância deverá ser o Estado, para cuja execução do Orçamento Geral as OSC deverão poder aceder, conforme alias nesta Mesa Redonda foi indicado pelo Senhor Primeiro Ministro; • Nesse sentido, será essencial que sejam previamente definidas
do crude, entre outros) e numa escala nacional (surgimento de uma classe média alta); • Estes factores são gerados pelo modelo de mercado global, pelo desrespeito pela natureza e pela demissão de responsabilidades do Estado;
regras do relacionamento entre o Governo e as ONG e OSC
• Na resposta a estas desigualdades, as ONG têm desenvolvido
nessa matéria, para assegurar transparência, imparcialidade e
e devem continuar a desenvolver acções concertadas e par-
igualdade de oportunidades a estes, ao mesmo tempo que evi-
ticipadas pelos vários actores da vida em sociedade: Estados
tam a criação de uma situação de dependência;
(global, supranacional, nacional, local) e empresas;
• Com vista a esse processo de capacitação acrescida das ONG e
• As ONG devem assumir um trabalho integrado que adopte a tri-
de uma busca sistemática de novas oportunidades de sustenta-
logia: económico, social e ambiental, aliando conceitos como:
ção e de utilidade social, as OSC/ONG desejam que a sua Plata-
economia solidária, economia da dádiva, desenvolvimento hu-
forma desenvolva as suas actividades de formação e informação,
mano, desenvolvimento local e desenvolvimento sustentável,
de “antena” das ONG/OSC junto dos parceiros (Governo e outros)
entre outros.
e também de interface interna com o Governo; • Também as ONG/OSC deverão poder, junto dos investidores ex-
Recomendações:
ternos, promover a assunção de responsabilidades sociais que advêm do seu papel crescente nos destinos do país; • Finalmente recomendam à Plataforma que recenseie as questões cujo estudo merece aprofundamento e promova a sua adequada análise, com vista a que os resultados dos mesmos sejam, num horizonte tão próximo quanto possível, socializados e debatidos.
• Definição de uma cartografia das desigualdades e da pobreza em Cabo Verde, com o intuito de se definir as zonas geográficas e as áreas prioritárias de intervenção; • As ONG devem ajudar as autarquias locais a responderem às consequências da descentralização dos serviços do Estado e da diminuição de financiamento;
Tema III: Desenvolvimento Económico e desigualdades: O Papel das ONG
• As ONG devem ajudar a população a ressaltar as suas verdadeiras necessidades. O diagnóstico deve ser concebido com base local e participado por toda a comunidade;
• Nos últimos anos, as desigualdades entre países e dentro dos países têm aumentado consideravelmente; • As desigualdades têm sido potenciadas por diferentes factores numa escala global (crise económica e aumento do preço
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• Combate às políticas sociais e acções no terreno baseadas no conceito de assistencialismo e fomento do empoderamento, empreendedorismo e inovação nas comunidades; • Atracção de novos parceiros e novas formas de financiamento;
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Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
• Definição do código de conduta das ONG, para evitar a instrumentalização e aproveitamento político; • Adopção de um modelo de planeamento, desde a fase de diagnóstico até à fase de avaliação, na definição de uma estratégia que contribua para o desenvolvimento; • Dinamização de mesas sociais entre as ONG para a partilha de boas e más práticas e reflexão dos projectos a implementar e a
À Plataforma das ONG: • Criação de uma sinergia de esforços para que o Estado defina, em cada orçamento anual, uma percentagem a atribuir às ONG; • Definição de planos de emergência em resposta aos possíveis factores de risco; • Criação de uma sinergia de esforços para a implementação do Dia Nacional do Associativismo.
sua forma de financiamento; • Definição das necessidades locais em Cabo Verde através da aplicação dos indicadores de desenvolvimento humano;
Tema IV: O Plano Estratégico da Plataforma: Mecanismos e estratégias de mobilização de recursos
• Reforço das competências das ONG sobre a temática do desenvolvimento;
Conclusões:
• Maior capacitação de dirigentes, técnicos, animadores, voluntários, entre outros; • Definição de estratégias para a sustentabilidade das ONG;
tivo 2% do seu Orçamento a ser dotado às OSC em bases claras
• Maior advocacia junto dos decisores e outras entidades públi-
e regulamentadas de modo a permitir a maior transparência na
cas e privadas, com e sem fins lucrativos; • Revisão do quadro legal para permitir às ONG actuar numa lógica de mercado; • Regulamentação da lei de mecenato social; • Maior profissionalização das estruturas de funcionamento das ONG; • As ONG devem ter em linha de conta, nas suas acções, todos os planos e instrumentos já concebidos a nível local e nacional; • As ONG devem adoptar a “vida” como o centro de toda a sua intervenção (biocentrismo) em detrimento da centralidade exclusiva no “Homem” (antropocentrismo); • Partilha de recursos entre as organizações, rentabilizando os recursos e minimizando custos;
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• O financiamento do Estado às ONG deve ter como valor indica-
sua dotação e gestão; • Adopção de outras formas alternativas de financiamento como sejam a taxação dos bilhetes de avião, do turismo e outras para o financiamento de projectos das OSC; • Mecanismos de financiamento autónomo (AGR); • Financiamento para adaptação às mudanças climáticas; • Necessidade de desenvolver mutualidades de crédito para financiar e equilibrar o sistema de financiamento de projectos; • Construção de parcerias internas entre ONG com maior capacidade e as OCB; • Construção de parcerias entre as organizações do Norte, da Sub-região e nacionais; • Criação de Bolsa de Parceiros para facilitar o conhecimento das ONG e melhor divulgação dos mecanismos e procedimento de financiamento;
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Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
• Divulgação, sensibilização e formação de empresas sobre a lei do mecenato e as suas vantagens; • Aumento da percentagem da matéria colectável a que se apli-
Reiterou, por outro lado, a necessidade de atribuição de financiamento, pelo Estado, às actividades das ONG e associações numa base transparente e de rigor.
ca a lei do mecenato; • Necessidade de feiras de projectos;
Internamente, acha que a Plataforma tem que apostar na profis-
• Necessidade de uma abordagem programa ao invés da
sionalização, no profissionalismo, na organização, na planificação, na
abordagem projecto, evitando a dispersão e apelando à
modernização e na transparência da gestão dos recursos que conse-
complementaridade;
guir mobilizar. Neste particular, sublinhou a necessidade de melhorar a
• Elaboração de estratégias numa lógica sectorial e geográfica
capacidade de mobilização de recursos também no plano interno.
que dê maior coerência aos projectos de desenvolvimento; • Participação na elaboração de orçamentos participativos
Uma certeza tem, contudo, o presidente da Plataforma: a organi-
nos municípios onde esta prática já vigora de modo a con-
zação que lidera vai estar na dianteira dessa caminhada para que as
templarem as preocupações de desenvolvimento local e
ONG e associações possam continuar a dar o seu grande contributo
comunitário;
ao desenvolvimento destas ilhas, mas com mais qualidade, maior efi-
• Reforço da capacidade de mobilização e gestão de recursos
cácia e o apoio de todos os parceiros e amigos.
através da formação em elaboração de projectos viáveis que integrem as necessidade reais das populações.
Para o Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros, “as ONG têm um papel que, embora corroborativo, deve se destacar pela
IV. Cerimónia de encerramento
distinção e independência”, razão porque defendeu que “engajar a sociedade civil e as ONG no processo de desenvolvimento socioeco-
A sessão de encerramento da Mesa Redonda foi presidida por
nómico não deve afectar a sua independência” e a colaboração
Sua. Excia. O Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros, Dr.
entre o Governo e o sector privado, embora crucial, não deve fazer
Jorge Borges.
das ONG um outro braço ou ramo do Governo ou uma extensão do sector privado.
O Presidente do Conselho de Direcção da Plataforma das ONG, Dr. Avelino Bonifácio Lopes, enalteceu o papel da Plataforma das
Na convicção de que o desenvolvimento de Cabo Verde depen-
ONG de Cabo Verde, a única existente no país, pelo seu trabalho em
de não só do Governo como também do contributo das ONG e outros
congregar e reforçar a família ONG nacional, mas ciente de que deve
parceiros de desenvolvimento, destacou o seu papel na luta contra a
preservar a sua independência e autonomia, razão porque se mostrou
pobreza e em prol da melhoria da qualidade de vida da população
orgulhoso por nunca a Plataforma ter “recebido” qualquer financia-
cabo-verdiana, engajando, mobilizando e organizando as pessoas
mento do Governo de Cabo Verde.
para que se transformem em agentes activos da mudança nas suas próprias vidas, comunidades e nação.
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179
A graduação de Cabo Verde a país de rendimento médio, a adesão à Organização Mundial do Comércio e a parceria especial com a União Europeia, no seu entender, são desafios e oportunidades que o país tem que dar respostas, incluindo o sector social que, como disse, deve apostar em iniciativas inovadoras, na continuação do diálogo com o Governo e na consolidação das relações da Plataforma com ONG de países amigos e associações de cabo-verdianos na diáspora para facilitar o reforço da parceria dos actores não governamentais com as ONG nos países de acolhimento dos nossos emigrantes.
Sessão de encerramento Discurso do Presidente da Plataforma DAS ONG
Dr. Avelino Bonifácio Lopes
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Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
Senhor Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros, Excelência, Senhoras e Senhores membros do Corpo Diplomático e dos organismos internacionais, Senhoras e senhores convidados estrangeiros, Estimados dirigentes das ONG e OCB, Caras convidadas e caros convidados, Prezados amigos, Chegamos ao fim de um jornada de trabalho que teve como objectivo juntar na cidade capital de Cabo Verde as ONG e associações nacionais e os parceiros e potenciais parceiros da acção não governamental no nosso país, para, em primeiro lugar, sensibilizá-los sobre o papel incontornável dessas organizações no processo de desenvolvimento do nosso país, de modo a continuar a contar com o seu apoio e recursos para a implementação das suas acções em todos os concelhos, em todas as ilhas. Como vimos nestes dias, esta foi, igualmente, uma oportunidade para a troca de experiências e conhecimentos entre nós e os nossos convidados estrangeiros, não só para o estabelecimento de novos contactos directos que possam resultar em acordos de parceria como também para consolidar os laços que nos unem desde há já mais de uma década. Estamos conscientes de que a passagem de Cabo Verde a país de rendimento médio e a diminuição absoluta e selectiva da ajuda pública ao desenvolvimento colocam novos desafios às ONG caboverdianas no sentido de continuarem a mobilizar mais recursos em prol da luta contra a pobreza e a coesão social nacional. Ciente do seu papel, a Plataforma das ONG de Cabo Verde, que congrega a maioria das organizações não governamentais de todo o país, reitera, aqui e agora, o seu compromisso em continuar a trabalhar para o reforço e a consolidação da família ONG nacional, que
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deve preservar a independência e autonomia das suas intervenções. A Plataforma orgulha-se, pois, de nunca ter “recebido” qualquer financiamento do Governo de Cabo Verde, mas a participação dos actores não governamentais “exige” que o Estado pense na atribuição de financiamento às actividades das ONG e associações numa base transparente e de rigor. Internamente, a Plataforma vai apostar na profissionalização, no profissionalismo, na organização, na planificação, na modernização e na transparência da gestão dos recursos que conseguir mobilizar, havendo, por outro lado, a necessidade de melhorar a capacidade de mobilização de recursos também no plano interno. Como não podia deixar de ser, a Plataforma vai estar na dianteira dessa caminhada para que as ONG e associações cabo-verdianas possam continuar a dar o seu grande contributo ao desenvolvimento destas ilhas, mas com mais qualidade, maior eficácia e com o apoio de todos os parceiros e amigos. Em nome dos órgãos directivos da Plataforma das Organizações não Governamentais de Cabo Verde, agradeço, cabo-verdianamente, todos os participantes da Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG cabo-verdianas. Agradeço, de forma especial, o Governo, por ter prestigiado com a presença do Sr. Primeiro Ministro e de outros membros do Executivo as diversas actividades desta Mesa Redonda. Antes de terminar, formulo os votos de continuação de uma boa estadia no nosso país, já que, amanhã, os nossos convidados vão conhecer projectos de ONG e associações no interior da Ilha de Santiago. A todos, um bom regresso à casa, aqui nas ilhas, em África ou na Europa. Muito obrigado!
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Sessão de encerramento Discurso do Sr. Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros
Dr. Jorge Borges
Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
É para mim uma grande honra o convite que me foi dirigido para encerrar esta Mesa Redonda da Plataforma das ONG e aproveito para agradecer aos organizadores e à comunidade das organizações não governamentais por essa diferência. Permitam-me felicitar a todos que tiveram a iniciativa de organizar este workshop e, em particular, ao presidente e ao secretariado executivo da Plataforma das ONG, cujos concursos, estamos convencidos, terão contribuído, de forma decisiva, para o bom desenrolar do mesmo. Gostaria, também, de estender os nossos agradecimentos e apreço àqueles que vieram de outros países emprestar o seu contributo às reflexões desenvolvidas. Apreciamos a vossa presença aqui e espero que não só estiveram ocupados com a reflexão, mas tiveram tempo, ou terão tempo, para visitar o nosso pequeno país e melhor aquilatar da morabeza que caracteriza o povo cabo-verdiano. Devemos regozijar-nos pelas importantes conclusões e recomendações saídas deste evento, as quais, não tenho dúvidas, irão orientar as actividades da Plataforma das ONG para que os objectivos preconizados no Plano de Acção 2008-2010 sejam alcançados mais facilmente. Estou convencido de que as vossas reflexões estes dias terão sido sobremaneira proveitosas e que as conclusões a que terão chegado irão favorecer não só uma participação cada vez mais eficiente das ONG nos processos de desenvolvimento socioeconómico em África e em Cabo Verde, em particular, mas também uma mobilização efectiva da sociedade civil na luta contra a pobreza e em prol da melhoria da qualidade de vida da população, em geral. Com efeito, mais do que nunca, o papel da sociedade civil está-se tornando necessário e indispensável ao desenvolvimento das nações.
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Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
Este é um diálogo ao qual atribuímos uma suma importância, na
Engajar a sociedade civil e as ONG no processo de desenvolvimen-
medida em que estamos convencidos que o desenvolvimento de
to socioeconómico não deve, porém, afectar a sua independência. A
Cabo Verde depende não só do Governo mas também do contributo
colaboração com o Governo e o sector privado, embora crucial, não
que as ONG e outros parceiros de desenvolvimento têm para oferecer
deve fazer das ONG um outro braço ou ramo do Governo ou uma ex-
na luta contra a pobreza, no combate à exclusão social e na criação
tensão do sector privado, ou seja, as ONG têm um papel que, embora
de dinâmicas que fomentem o empreendedorismo e, consequente-
corroborativo, deve destacar-se pela distinção e independência.
mente, a criação de empregos. Estou convencido que o diálogo aqui mantido trouxe mais luz sobre Não pode ser de outra forma, na medida em que o desenvolvi-
como isto pode ser realizado. Que tenha produzido algumas ideias
mento é um processo por demais complexo que requer um envolvi-
para o futuro e que não seja apenas um novo começo. Precisamos de
mento consciente das populações e que, por isso, não pode ser apa-
um esforço combinado para continuar este tipo de diálogo e identifi-
nágio apenas do Governo. As pessoas devem ser envolvidas. E quem
car e implementar acções inovadoras.
melhor para mobilizar e engajar as pessoas se não as organizações da sociedade civil que vocês aqui representam?
Permitam-me concluir as minhas anotações reiterando que valorizamos a contribuição do sector social (sociedade civil) para o desen-
Vocês podem mobilizar as pessoas, vocês podem educar as pesso-
volvimento de Cabo Verde. Nós não só queremos que isto continue,
as e vocês podem desafiá-las para se tornarem agentes da mudança
mas que se expanda. O compromisso da sociedade civil e das ONG
nas suas próprias vidas, nas suas comunidades e na nação. Sim, as
na agenda de transformação é algo que o Governo, o sector privado
ONG têm que se tornar parceiras do processo de desenvolvimento
e a população de Cabo Verde devem acolher e promover.
socioeconómico e de transformação. Assim sendo, o diálogo deve continuar. O que eu vou fazer não é Para Cabo Verde, seja na agenda económica para a transfor-
então encerrar, mas convidar a Plataforma das ONG a consolidar as
mação, na graduação da lista de PMA, na parceria especial com a
suas relações com outras ONG de países amigos aproveitar as asso-
União Europeia na entrada na OMC, a sociedade civil tem um papel
ciações cabo-verdianas na diáspora para facilitar as relações entre
importante a desempenhar.
a Plataforma e as ONG dos países de acolhimento dessa diáspora na perspectiva de um próximo diálogo.
A realidade é que Cabo Verde está a testemunhar um dinamismo novo na sua economia e atravessa um período de mudanças caracterizado por oportunidades que se devem aproveitar e riscos que re-
Continuação de uma boa estadia e votos de um bom regresso àqueles que vieram de fora.
querem soluções inovadoras que passam pela busca de mecanismos e estratégias de mobilização de recursos como as proporcionadas
Obrigado a todos.
pela sociedade civil.
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Parte III Feira de Projectos
Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
Projectos apresentados na “Mesa Redonda” A primeira Feira de Projectos, promovida no âmbito da Mesa Redonda, foi realizada no dia 23 de Setembro de 2008. Para a selecção dos melhores projectos a serem apresentados aos parceiros e potenciais parceiros das ONG cabo-verdianas, a Plataforma das ONG recebeu, durante cerca de três meses, 300 fichas de projectos que foram avaliadas por uma comissão de selecção de projectos. As mesmas constituem propostas de intervenção das ONG e associações comunitárias de todas as ilhas do país e as áreas contempladas foram as actividades geradoras de rendimento, a infra-estruturação local e comunitária, a melhoria das condições de vida das populações pobres e vulneráveis e acções de capacitação e formação. Um total de 109 fichas de projectos foram escolhidas e apresentadas durante a Feira de Projectos, dentre as quais se destacam: Agricultura • Modernização da agricultura na Comunidade dos Mosteiros – PNA-C • Promoção de agricultura em estufas - Citi Habitat • Produção de hortícolas através de técnicas hidropónicas – AGRO-REBELO • Espiral Verde – Instalação de sistema de rega gota-a-gota - Associação Comunitária Belo Horizonte de Manuel Lopes • Mobilização de água subterrânea para o reforço da irrigação em Moia-Moia - Associação Unidos para o Desenvolvimento Integrado de Moia-Moia
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Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
• Sistema de irrigação gota-a-gota – Agro Fazenda
Pesca
• Mobilização de águas superficiais e valorização agrícola - Associação de Desenvolvimento Integrado de Penedo de Janela • Modernização da Agricultura na Ribeira Seca, deixando rega por alagamento para introduzir a rega gota-gota - AGROPE-RI-SECA
• Central de armazenagem, distribuição e comercialização do pescado - COOP. A.M.P. • Projecto integrado para o desenvolvimento das pescas - APIBV
• Construção de dois reservatórios de 50 Toneladas cada e aquisição de sistemas de modernização da agricultura - AGROPE-RI-SECA
Reforço Institucional
• Criação de suinicultura - AGROPE-RI-SECA • Modernização da agricultura e segurança alimentar na comunidade da Brava - ADAD
• Reforço institucional da Plataforma e dos actores não governamentais em geral – Plataforma das ONG • Reforço institucional do GAO, da Delegação no Mindelo e das
Formação
20 antenas da Plataforma e dos actores não governamentais locais – Plataforma das ONG
• Formação técnico–profissional - Citi Habitat
• Reforço das rádios comunitárias – Plataforma das ONG
• Formação profissional como via de integração socioeconómi-
• Mesa Redonda “Pensar OMCV” – OMCV
ca – Plataforma das ONG • Formação e capacitação de empregadas domésticas – RAAMAO
• Apoio institucional – ACARINHAR • Construção do Centro “Espaço Esperança” para surdos - AADICD • Reforço e capacitação institucional da RA-AMAO – RA-AMAO
• Centro de valorização e defesa da mão-de-obra feminina - AJFPA
• Reforço institucional (Gabinete de apoio ao micro-crédito) - ACM
• Formação e instalação de um sistema de cultivos hidropónicos
• Apoio ao processo de descentralização da ACD – ACD
para PVVIH”- Associação Solidária HIV/Sida Renascer • Formação de culinária - ACM • Formação em técnicas de construção civil – Associação Chã de Pedras
• Reforço da Unidade deformação profissional e Emprego – Produção de velas do Cenorf – ACD • Reforço da capacidade institucional e de mobilização de recursos - ENALFSALVA
• Formação em carpintaria e marcenaria – ACDR • Formação específica em Informática para os deficientes visuais
Educação
- ADEVIC
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• Organização de um Centro Informático – LUZABRIL
• Educação para a cidadania – Plataforma das ONG
• Mão-de-obra qualificada – ASA Feminina
• Promoção de Redes Sectoriais -Plataforma das ONG
• Formação de operários dejardinagem e viveiros - ENALFSALVA
• Campanha de sensibilização da população – ACARINHAR
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Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
• Melhoria das condições de funcionamento da Escola Quintino Ribeiro - A.E.C.V. • Casa de Solidariedade - ACM
• IEC para a mudança de comportamentos face ao VIH/SIDA junto de mulheres pobres e chefes-de-família e jovens não escolarizados na ilha de Fogo – OMCV • Para uma vida digna e saudável das pessoas pobres infectadas
Água
e afectadas pelo VIH/SIDA – Apoio Psicossocial (Fogo) – OMCV • “Sida: Uma questão de educação” – A.E.C.V.
• Melhoria da gestão e governação da água – SOLMI
• Oficina de capacitação profissional, prevenção VIH/SIDA e apoio
• Abastecimento de água na Ribeira dos Bodes e Ribeira Fria – PNA-C
aos seropositivos - Renascença Africana, Associação das Mulheres
• Construção de um reservatório de água de 200m3 e um espe-
da África Ocidental, Célula de Cabo Verde (RA-AMAO)
lho de captação de água das chuvas de 400m2 – ACD-Baleia • Melhoria do abastecimento de água potável nas comunidades
Infância
de Calheta na Ilha do Maio – PNA-C • Construção de um reservatório de 50m3 - AGROPE-RI-SECA • Construção de um reservatório de água comunitário - AOVL • Projecto de melhoramento de abastecimento de água a comunidade de Charco - ABN Ambiente • Educação ambiental no seio das comunidades de base – Plataforma das ONG • Requalificação ambiental – Associação 14 Mais
• Criação do Centro de Protecção/Socialização de Criança Abandonada – ACRIDES • LUDOTECA “Brincar Crescendo” - ACARINHAR • Construção e equipamento de jardim infantil - ANGSMG Saúde • Núcleo de atenção psicossocial da Praia – A PONTE • Doente mental, família e comunidade: Atitudes e comportamentos – A PONTE • Centro de Documentação Especializada em Saúde Mental
Luta contra a Sida
– A PONTE • Saúde Pública através do reforço da saúde animal – Bons Amigos
• Reforço da acção não governamental em prol da luta contra o HIV/Sida - Plataforma das ONG
Actividades Geradoras de Rendimento
• Integração socioeconómica das pessoas infectadas e afectadas pelo VIH/SIDA e mulheres pobres chefes-de-família em 5 concelhos da ilha de Santiago – OMCV
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• Promoção de actividades geradoras de rendimento – Padarias artesanais - Renascença Africana, Associação das Mulheres da
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África Ocidental, Célula de Cabo Verde (RA-AMAO) • Fábrica de panificação – ACDPB • Criação de 600 bicos de frangos de carne - Associação Comunitária para o Desenvolvimento de Campo Baixo • Promoção do ecoturismo em São Nicolau – ADAD • Dinamização da economia solidária em Cabo Verde - CEESA Habitação • Remodelação habitação social, apoio a auto-construção - ACM • Reparação de casas das pessoas carenciadas da comunidade de Praia Baixo - ACDPB • Construção de 10 habitações sociais - Associação de Desenvolvimento Integrado de Chã de Pedras • Construção de casas de canho individuais – ACDR • Habitações sociais - Associação de Desenvolvimento Integrado de Penedo de Janela • Reparação de casas das pessoas carenciadas da comunidade de Praia Baixo - ACDPB • Construção de casas de banho familiares – Associação 14 mais • Construção de habitações sociais - Associação 14 mais • Construção de casa de banho e ligações de água domiciliária - AEFCB Electrificação • Electrificação das localidades de Fundura e Boca Larga com recurso às tecnologias renováveis - ADAD
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Parte IV
Visitas a projectos associativos no interior de Santiago
Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
Visitas a projectos associativos no interior de Santiago Enquadrado nas actividades da Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG cabo-verdianas, realizou-se, no dia 25 de Setembro de 2008, uma visita dos participantes/convidados estrangeiros ao interior de Santiago, que teve por objectivo dar a conhecer projectos e realizações de algumas ONG e associações comunitárias nos diversos concelhos da ilha. No município de São Domingos, o grupo visitou a Associação para o Desenvolvimento Integrado de Rui Vaz, ADIRV, onde a Presidente Armanda Gomes fez uma breve apresentação da organização criada para ajudar a encontrar respostas para as inúmeras dificuldades e necessidades que enfrentavam as famílias pobres da comunidade. Para isso, desenvolve actividades em vários domínios, com destaque para o micro-crédito para a promoção de actividades geradoras de rendimento nas áreas do comércio informal e da pecuária. O plafond de micro-crédito por pessoa ou por grupo vai de 20 a 500 mil escudos. A taxa de juro praticada é de 3%. A ADIRV intervém, igualmente, na área da agricultura para a valorização da produção local e abastecimento do mercado da Praia, no apoio a estudantes com bolsas de estudos com o objectivo de aumentar o número de jovens com escolarização secundária e formação e no domínio da água e da pecuária com a introdução de raças melhoradas. A Associação possui um viveiro de plantas que abastece os agricultores locais. São projectos futuros a criação de uma unidade de transformação de leite de cabra em queijo, que vai ser instalada com apoio da
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Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
União Europeia, e a formação de jovens na área de informática, bem
Encontrando-se na confluência dos concelhos de Santa Catarina,
como o projecto de transformação de produtos agrícolas no sentido
São Miguel e Tarrafal, esta área protegida é onde se encontra o maior
de aproveitar os excedentes de produção e abastecer o mercado lo-
número das plantas endémicas da ilha de Santiago. Tem sido bene-
cal e o da Praia, para além da instalação de dispositivos de captação
ficiada com intervenções no sector do eco-turismo, educação am-
de água do nevoeiro para aumentar a disponibilidade em água.
biental, centro de pesquisa e investigação.
Na localidade dos Picos, os participantes da Mesa Redonda visitaram
O Projecto destaca-se, igualmente, pela sua interacção com a co-
a FAMI-Picos, Associação de Apoio às Iniciativas de Auto-promoção da
munidade de Serra Malagueta, cujos moradores são apoiados com
Família, que é uma das maiores federações de associações que operam
ferramentas de trabalho para realizarem actividades geradoras de
no domínio das mutualidades de poupança e crédito no país.
rendimento e obterem o seu próprio sustento, enquanto a água captada do nevoeiro é usada pelas escolas e pelas comunidades inseri-
Segundo o contabilista Osvaldo Freire, a FAMI-Picos opera em
das no Parque.
toda a ilha de Santiago e já movimentou, desde a sua criação até 2008, cerca de 188 milhões de escudos cabo-verdianos. Os créditos
Na vila do Tarrafal, uma paragem no Campo de Concentração
que concede abarcam as seguintes áreas de agricultura, ambiente,
de Chão Bom permitiu conhecer a história desse património nacio-
comércio, criação de gado, desenvolvimento rural, educação, mi-
nal por onde passaram combatentes da liberdade de Cabo Verde,
cro-empresa, etc. Graças ao financiamento da ADF (Fundo para o
Angola e Portugal.
Desenvolvimento em África) de 11 milhões de escudos, a ADIRV investiu cinco milhões no reforço institucional e seis milhões no reforço de fundo de crédito.
A Associação das Batucadeiras “Raiz de Tarrafi” brindou os visitantes com a culinária local e da ilha, ao som do batuque das suas mulheres e com direito a dois CD do grupo.
O segundo financiamento de mais de seis milhões de escudos foi utilizado para a construção da sede da FAMI-Picos e a aquisição de uma viatura e uma moto.
Já no concelho de Santa Cruz, o Centro de Iniciativa Juvenil “Katchás”, CIJ, acolheu os amigos das ONG cabo-verdianas com informações sobre este projecto implementado pela SOLMI, em parceria
O Parque Natural da Serra de Malagueta também recebeu a de-
com a ONG Francesa Dia e a Câmara Municipal local.
legação dos parceiros da Plataforma das ONG de Cabo Verde. Na
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visita guiada pelo coordenador do Parque, eng.º José Luís Martins, foi
O Centro desenvolve várias actividades, nomeadamente forma-
informada sobre o Projecto “Áreas Protegidas de Serra Malagueta”,
ção e capacitação de jovens, apoio a crianças deficientes, edu-
executado no âmbito do estabelecimento de uma rede de áreas pro-
cação e sensibilização comunitária, IEC (informação, educação e
tegidas em Cabo Verde e que tem como finalidade principal a con-
comunicação) para mudança de atitudes e de comportamentos
servação de biodiversidade.
em relação do HIV/SIDA e outras infecções sexualmente transmissí-
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Mesa Redonda dos Parceiros e Potenciais Parceiros das ONG e Associações Cabo-verdianas
veis, ao consumo do álcool e drogas, e capacitação de voluntários para a melhoria da sua intervenção no processo de desenvolvimento comunitário. Proprietária da rádio comunitária Voz di Santa Cruz, esta emite programas informativos, educativos e de entretenimento. Dá voz à comunidade, às associações e a personalidades e instituições locais para falarem de assuntos ligados ao concelho e ao país, bem como assuntos internacionais de interesse nacional e local. De regresso à cidade da Praia, foi “obrigatória” uma paragem na Barragem de Poilão, a primeira infra-estrutura hidráulica desse porte construída em Cabo Verde localizada na Bacia Hidrográfica de Ribeira Seca, e que beneficia os concelhos de São Lourenço dos Órgãos e de Santa Cruz. Legenda da Foto caso for necessária
Legenda da Foto caso for necessária
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