E ela acordou grávida.

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A noite que mudou tudo… A garçonete Darcy Penn é do tipo inteligente e sensível. Flertar com um homem lindo no bar não faz o seu estilo. Muito menos passar a noite no quarto de hotel com um estranho. Mas depois de ter quebrado suas preciosas regras, ela sai de fininho enquanto Jeff está no banho. Se Darcy tivesse esperado para se despedir, teria sabido sobre o pequeno incidente com o preservativo… E isso pouparia Jeff de ser surpreendido, meses depois, com uma visita de Darcy ao seu escritório apresentando sinais de enjoo matinal… e exigindo saber qual será a atitude dele! ZZZZ Querida leitora, Não é segredo que adoro um “felizes para sempre”. Gosto que meus “amores verdadeiros” e “eternos” sejam grandes, lindos e embrulhados com um enorme laço, de preferência com um diamante reluzente ou um bebê a caminho. Normalmente, faço meus heróis e heroínas batalharem para chegarem a estes finais de contos de fada. Mas, por algum motivo, quando comecei a trabalhar o conceito dos livros sobre os melhores amigos Connan Reed, de E ela acordou casada… (Rainhas do Romance ed. 95), e Jeff Norton, de E ela acordou grávida…, não consegui resistir e trouxe os elementos do “final feliz” para o começo. É claro que uma aliança ou um bebê não são garantias de amor eterno, porém, com heróis tão carismáticos, determinados e engenhosos como estes dois, você pode apostar que eles farão o que for possível para chegar ao tão sonhado “felizes para sempre”. Espero que goste de ler a história de Jeff e Darcy assim como adorei escrevêla. Tudo de bom! Mira E ELA ACORDOU GRÁVIDA ... Tradução Vasconcello Vera s 2015


Capítulo 1 NO CONFINAMENTO do escritório, um espaço estilizado que refletia seus gostos pessoais e conquistas profissionais e que de repente se tornou sufocante, Jeff Norton observava o seu brilhante e ilimitado futuro desmoronar, enquanto a mulher diante dele dobrava o corpo, com um dos braços em torno do cesto de lixo e o outro esticado. Um dos dedos erguidos indicava que demoraria um minuto, antes que pudesse voltar a falar. – Sem problemas, Darcy – disse ele, com uma voz que mal reconhecia. – Fique à vontade. Demore o tempo que precisar. O som do esvaziamento do conteúdo estomacal na cesta de lixo cessou e a garçonete do bar de Las Vegas, que ele achara demasiado tentadora para resistir três meses atrás, encarou-o, revirando os olhos úmidos, com expressão acusatória. O que foi quase o suficiente para fazê-lo soltar uma risada, embora… sim, aquele olhar resumisse tudo. Aquilo era o apocalipse. Provavelmente. Jeff observou, horrorizado, o que só podia ser descrito como uma épica falha do látex. Não era exatamente um grande mistério o motivo que a fizera procurá-lo agora, meses após aquelas fatídicas horas que passaram juntos. Porém, o fato de o milagre causador daquela hecatombe hormonal ser seu ou se a fortuna que possuía o tornara a solução de um problema que podia pertencer a dezenas de outros candidatos, ainda teria de ser esclarecido.


Embora aquele simples pensamento fizesse algo no íntimo de Jeff se rebelar contra tal dúvida. Três meses. Se ela o tivesse procurado após um mês… Diabos! Se ela ainda estivesse lá, naquela primeira noite, quando ele retornara do toalete… Jeff engoliu em seco. Em seguida, inspirou profundamente apenas para perceber que erro colossal cometera quando o odor que envolvia seu escritório – seu santuário, símbolo de poder, o lugar prazeroso onde se isolava – fez-lhe o estômago se contrair por efeito de algum reflexo complacente. Darcy o observou por sobre o saco plástico, parecendo perceber os movimentos do estômago de Jeff, e apertou ainda mais o cesto, em um gesto que deixava claro que não o entregaria a ele. Ótimo. Jeff trincou os dentes molares. Aquela era a mãe de seu filho. Talvez. Fechando a distância que o separava da própria mesa, discou o ramal do assistente. – Charlie, preciso de um frasco de antisséptico bucal, uma pasta e uma escova de dente, além de uma dúzia de sacos plásticos para cesto de lixo. E se conseguir trazer tudo isso aqui dentro de cinco minutos eu lhe darei um cheque de mil dólares ainda hoje. Darcy fechou os olhos por um instante e, quando voltou a encará- lo, ela o fez com relutante gratidão. – Obrigada.


– Acho que é o mínimo que posso fazer… – Considerando o que talvez, provavelmente, fizera antes. Jeff observou os ombros delicados se erguerem e baixarem, à medida que ela lutava para se recompor. – Sinto muito… – Jeff gesticulou para impedi-la de continuar, mas Darcy estreitou o olhar e ele permitiu que continuasse. – Por atirar essa novidade em você. Deve… ser um choque. Muito mais agora do que teria sido dois meses atrás. – Podemos conversar sobre isso, quando conseguir se recompor. Há um toalete privativo por ali. Charlie é extremamente eficiente… Como que para corroborar suas palavras, soou uma batida à porta do escritório, antes de o mais rápido homem do Oeste entrar. De alguma forma, o assistente conseguira montar em questão de segundos uma bandeja com todos os itens solicitados, à qual adicionou um pacote fechado de biscoitos cream-crackers. Levando em consideração que Charlie costumava coordenar reuniões de negócios internacionais, falava sete idiomas e possuía um MBA em uma das mais conceituadas instituições de ensino dos Estados Unidos, solicitar que ele fornecesse itens de higiene pessoal não era a melhor forma de aproveitar seu potencial. Porém, para Jeff, aquela era uma situação de vida ou morte. – Charlie Litsky, esta é Darcy… – começou ele, para logo se lembrar, desgostoso, que nem ao menos sabia o sobrenome daquela mulher. Certo. Seguiria em frente assim mesmo. – Darcy, Charlie – prosseguiu, liderando o caminho até ao toalete privativo, no extremo oposto do escritório. – Importase de me devolver isso? – perguntou, aliviando uma pálida Darcy do peso do cesto de lixo, quando estacaram diante da porta do toalete. – Antes de você partir, eu lhe darei os contatos de Charlie. Se precisar de alguma coisa ou de se comunicar comigo, ele a ajudará. Mas logo em seguida Charlie lhe entregou um cartão de visitas, onde havia acrescentado seu número de telefone celular. Aquele homem valia seu peso


em ouro, e isso se provou mais uma vez quando os dois pediram licença para deixá-la em privacidade no toalete e o assistente fixou o olhar no cesto de lixo que Jeff estava segurando a um braço de distância. – Posso levar isso comigo? Jeff deixou escapar uma risada destituída de humor. Mais do que qualquer outra coisa, desejava dizer “sim”, mas, a despeito do protocolo que existisse para vômitos no escritório, não podia encarregar ninguém daquela função. Esticando a mão para pegar os sacos de lixo, fez que não com a cabeça. – Essa sujeira é minha. Acho que é melhor eu mesmo limpá-la. DARCY PENN encarou o espelho à sua frente com olhar furioso, escovando os dentes e a língua com um vigor alimentado pela humilhação e o ultraje. O que não lhe traria nenhum benefício, a não ser machucar as gengivas. Aquele atrevido! Havia se referido a ela como “minha sujeira”. E lhe oferecido o número do telefone do assistente, caso precisasse entrar em contato com ele. Que idiota! E pensar que temera reencontrá-lo. Que se preocupara em não se tornar suscetível ao mesmo feitiço que lhe embotara o raciocínio naquela noite, em Las Vegas, quando achara Jeff tão envolvente, a ponto de quebrar todas as suas regras para desfrutar de algumas horas com ele. Que não conseguira dissipar a ansiedade diante da possibilidade de o homem, cujo charme e beijos exigentes que se infiltravam em seus sonhos com frequência assustadora, ser tão irresistível quanto se recordava. Receara que, mais uma vez, ele fosse capaz de desviá-la na direção das fantasias destrutivas, e a missão na vida de Darcy era evitá-las. Não. Qualquer que fosse a magia irresistível que ele lhe lançara em Las Vegas, o estoque havia acabado.


Não restara sequer um resquício. Está bem, talvez uma pitada. Durante um momento, quando Jeff abrira a porta do escritório, ela conseguira captar algum ardor em seus olhos, mas isso foi antes de passar por ele como um raio na direção do cesto de lixo mais próximo. Antes de o fogo ceder lugar ao horror. E todas as barreiras que ela suspeitara haver desde o início se erguerem, inexoráveis. E agora não restava nem mesmo um pouquinho daquilo. O que era uma vantagem. Porque seu cálice estava mais do que transbordando com o fel que o destino lhe reservara, sem ter de se preocupar com a estranha química que gravitara na atmosfera entre ambos. E que a distraíra por um instante, assolando-a com uma sensação vertiginosa de prazer que ela era muito realista para achar que perduraria, quando o que precisava era se focar nos detalhes que impactariam não só o resto de sua vida, mas do seu filho também. O filho dos dois. Aos poucos, a escovação se tornou mais suave e Darcy cuspiu a pasta. Deus! O que ele faria? A referência à limpeza da sujeira não sugeria exatamente uma alegria instantânea ou conexão paternal. E Darcy não sabia como se sentia… quanto a isso. Por um lado, seu filho teria sorte em possuir o tipo de segurança emocional proporcionada por dois pais que o desejavam. Mas, por outro, será que ela e o bebê necessitariam ficar presos a uma criança grande que, ao que tudo indicava, não conhecia o significado da palavra “não”? Aquele homem havia transformado algum tipo de asa de avião reaproveitada em mesa de trabalho e montado uma mesa de reuniões a partir de uma jukebox desmontada, à qual acrescentara um tampo de vidro, pelo amor de Deus! Transformara seu local de trabalho em uma área de recreação repleta de brinquedos dos sonhos de consumo que talvez tivesse quando garoto.


E sim, aquela mentalidade infantil encarcerada em um excepcional corpo masculino adulto lhe exercera certa atração quando o conhecera em Vegas. Jeff sabia como rir, como tomar a vida nas mãos e viver o momento, sem racionalizar cada passo que dava ou analisar cada decisão que tomava. E, durante algumas horas incríveis, ele lhe mostrara como fazer o mesmo. Mas e agora, com aquela mesma mentalidade pertencendo ao pai de seu filho e com o corpo servindo de exemplo das consequências daquela filosofia despreocupada? Darcy deixou escapar um profundo suspiro. Em seguida, enxaguou a boca com o antisséptico bucal e o cuspiu. Não lhe parecia tão atraente. Com a mão pousada sobre o abdome ainda reto, ela se viu vítima de um cabo de guerra emocional. Encontrava-se dividida entre o fascínio com a vida preciosa que se desenvolvia dentro dela e o ressentimento consigo mesma. Desapontamento. Frustração. Não era mulher de se iludir. Passara anos dando as costas às tentações, porque não tinha mais ninguém com quem contar, além de si mesma. Nenhum ninho onde se abrigar. Nenhum desejo de se permitir cair na mesma armadilha que a mãe. Sempre fora incansavelmente cuidadosa. Então, por que, daquela vez, naquela única noite, para aquele homem… dissera “sim”?


Capítulo 2 Três meses antes… E ELE pensara que ficaria entediado! No suntuoso bar de Las Vegas, Jeff Norton cruzou os braços sobre o tampo da mesa, inclinandose para a frente. Era um lugar privilegiado para assistir à disputa dos rapazes da mesa em frente pela atenção da loira de pernas longas que acabara de lhes servir uísque. Não conseguia acreditar que um dos meninos lhe dissera uma gracinha, depois de testemunhar a frieza com que ela tratara o último idiota que se engraçara com ela. E os amigos o estavam estimulando. Esqueciam-se de que, em uma escala de sensualidade, aquela mulher estava tão fora do alcance deles que pareciam não pertencerem ao mesmo planeta, o que dizer na mesma sintonia. Não teriam visto os olhos dela? A expressão vazia, desencorajadora e extremamente profissional não deixava nenhum espaço à dúvida. Não estou interessada. Ponto. Provavelmente não. Aqueles meninos pareciam ter acabado de alcançar a maioridade, o que, somado à pilha de cervejas sobre a mesa e o comportamento pueril, sugeria que não conseguiriam nem ao menos se aproximar daquele corpo reconhecidamente escultural. Vivendo e aprendendo, meninos. Trinta segundos depois, o garoto recebia palmadas de consolo nas costas dos amigos e Jeff voltou a se concentrar na espera por Connor. Seu melhor amigo, que acabara de desfazer um noivado, era a razão daquele encontro “masculino” na Cidade do Pecado. Onde diabos estaria ele, afinal? Ao verificar suas mensagens de texto, Jeff praguejou ao constatar que a espera se prolongaria por mais uma hora.


Droga! Não estava nem um pouco interessado em observar meninos, com idades variando entre 19 e 21 anos, disputando para ver aquele que seria dispensado primeiro, enquanto Connor falava ao telefone com Hong Kong. Sinalizando para outra garçonete, ele lhe entregou seu copo ainda cheio e atirou algumas notas sobre a mesa. Estava a meio caminho da porta de saída, quando uma risada feminina encorpada e suave reverberou do corredor ao lado do bar. O som sensual lhe afetou os sentidos e o fez virar a cabeça naquela direção. Jeff estacou no mesmo instante, com os olhos presos no rabo de cavalo loiro e sedoso que cascateava sobre um dos ombros. Nas pernas. Nas curvas que lembravam uma ampulheta. E, por fim, nos olhos cinza mais suaves, calorosos e brilhantes que jamais vira, enrugados nas laterais, enquanto a garçonete que lhe servira o drinque erguia o rosto na direção do teto e ria do que quer que a outra garçonete, mais baixa e ruiva, dizia enquanto ajustava o sapato. A frieza, o distanciamento e o desinteresse haviam se dissipado daquelas feições atraentes. E no lugar deles ficara aquela mulher. Não era possível. E não era de admirar que ela mantivesse aquela risada escondida. Mesmo séria, mal conseguia cruzar o bar sem que um cretino se engraçasse com ela. Se a vissem daquele jeito… Bem, diabos, o pensamento deles seguiria a mesma trilha do seu: Como fazer para conseguir que ela ria desse jeito para mim? Certamente nunca a deixariam em paz. A ruiva prosseguiu pelo corredor e a loira de pernas longas, dona da risada fatal, ajeitou o avental, girou e estacou por um instante diante da visão de Jeff parado ali. O calor e a luz que emanavam daqueles olhos cinza se apagaram, enquanto ela doutrinava as feições a adotarem a máscara de total desinteresse. Seria


mais fácil se ela demonstrasse raiva, pois, ao menos assim, o homem que desejava assediá- la saberia que lhe despertara alguma emoção. Danação, ela era boa naquilo! Sim, ele não iria a lugar algum. – Pode me trazer outro uísque quando tiver um minuto – disse ele, antes de exibir um sorriso e voltar à própria mesa. Não que tivesse vindo para Vegas com intenção de conquistar alguém. Não era nada disso. Mas, agora, a parte de Jeff que não conseguia resistir a um desafio, a mesma que se regozijava em conseguir o que ninguém mais poderia, fosse o tempo recorde, o mais elevado grau, o maior troféu ou a empresa de maior sucesso, havia despertado. Essa parte gostaria de conquistar aquele prêmio secreto tão bem escondido, que ele não teria acreditado existir se não tivesse testemunhado aquele som sedutor. E, afinal de contas, tinha uma hora inteira para gastar. QUALQUER QUE fosse a intenção do homem que ocupava a mesa 12, Darcy não tinha tempo para isso. E pensar que o julgara inofensivo. Não no aspecto geral. O homem definitivamente possuía um tipo de magnetismo masculino arrasador, com aquela aparência rude e terno impecável. Todos os pares de olhos femininos e alguns masculinos haviam se fixado no cliente da mesa 12, quando ele adentrara o bar. Mas a experiência que adquirira naquele local durante os últimos dois anos lhe dizia que ele não fora até lá à caça de conquistas. Portanto, Darcy não lhe dispensara um segundo pensamento. Não até girar e encontrá-lo a observando com um meio-sorriso sugestivo, como se a tivesse pegado com a boca na botija. Porque a surpreendera rindo.


Algo que ela não deixava acontecer com muita frequência em seu local de trabalho por dar à clientela masculina a ideia errada do tipo de divertimento que ela estava interessada em ter. Mas, afinal, naquela dentre todas as noites, o que de fato importava? Recostando a lateral do quadril contra o balcão do bar, Darcy aguardou pela outra dose de uísque do sr. “Não Tão Inofensivo Afinal”. Aquela era sua última noite no emprego. Darcy verificou a hora no relógio de pulso. As últimas duas horas. E, então, suas funções ali chegariam ao fim. Sheryl Crow ecoou em sua mente, cantando sobre partir de Las Vegas, e Darcy segurou a vontade de dançar que sentiu. Duas horas para arrumar mesas, servir drinques e receber gorjetas. E, então, seguiria para a próxima aventura na vida. Mas, no mesmo instante em que aquela palavra lhe veio à mente, ela lhe pareceu inadequada, dado o modo conservador com que levava a própria vida. “Aventura” implicava em riscos e no desconhecido. Desafios. Excitamento. Não exatamente o que costumava vivenciar. Não podia se dar a tal luxo. Não após o preço alto que pagara para garantir sua independência. Conhecera a experiência sufocante de ficar à mercê do homem errado e não hesitara em sacrificar os estudos para facilitar a própria fuga. Em largar o colegial para arranjar o emprego que lhe garantiria a liberdade. Darcy jurara nunca mais se permitir ficar em uma posição de dependência outra vez, o que significava tomar conta de si mesma. E ela seguira à risca. Sempre no controle. Vivendo de acordo com suas posses. E se o custo inerente a uma vida que lhe parecia segura incluísse apenas aventuras sem


graça? Pagaria esse preço de bom grado. Estacando diante da mesa 12, Darcy dirigiu um olhar inanimado ao ocupante. – Seu uísque, senhor. Mais alguma coisa? O olhar especulativo daquele homem a fez imaginar qual seria seu jogo. E, então, ele o fixou em sua boca, lhe causando um incomum adejar de asas de borboleta no estômago. Algo que Darcy recebeu com uma expressão severa porque… Oh, não! Não se sentiria tentada por aquele homem. De forma alguma. – RELAXE, DARCY. Eu entendi. Não está interessada. Não poderia ser mais clara nem se estivesse usando uma camiseta com isso escrito. – O olhar de Jeff se desviou para as três mulheres em questão e um dos cantos da boca tentadora da garçonete se ergueu, produzindo uma conflagração dentro dele. Mas logo ela tratou de disfarçar. – Não estou lhe passando uma cantada – garantiu. – Estou apenas tentando matar o tempo e você é meu hobby temporário. Uma das sobrancelhas elegantes se ergueu. – E o que isso significa? – Gosto do sorriso que vi. E quero um só para mim. O quadril curvilíneo se deslocou para lado. – Quer um sorriso. Vou poupá-lo do trabalho. – Darcy exibiu um sorriso que em nada diferia da expressão profissional que dedicava a cada Tom, Dick ou Harry que se sentasse naquele bar. Jeff fez que não com a cabeça, exibindo uma versão mais sincera de sorriso. – Bela tentativa. Mas não vai me fazer desistir com essa imitação barata. Vi o original e agora quero um igual àquele. Um sorriso genuíno e largo, conquistado com muito sacrifício.


Com uma risada de bônus. E nada de versões inferiores. Darcy abriu a boca para dizer alguma coisa. Provavelmente outra dispensa seca, mas apenas retorceu os lábios enquanto o estudava. – Então, está disposto a se esforçar para isso? – perguntou. Danação! Estaria ela começando a ceder? – Não gosto de coisas fáceis. Aqueles olhos cinza espetaculares estavam presos aos dele agora. Presos de uma maneira tão prazerosa quanto seu sorriso elusivo fora. – Ouça… – Jeff – completou ele, sem tentar lhe segurar a mão, porque tocála o atiraria contra a impenetrável barreira da rejeição em um piscar de olhos. – Ouça, Jeff, você é um cara interessante. O que o distingue da maioria dos homens. Mas estou trabalhando, portanto não posso ficar perdendo tempo como seu hobby ou qualquer outra coisa. – Sem problemas. Sei que tem de trabalhar. Em média, quanto tempo dedica a cada cliente, além daquele que leva para anotar o pedido? Estou me referindo a gentilezas do tipo: Olá, como foi seu dia? Bom e o seu? Bom, também. O que vai querer? Et cetera, et cetera… – Quinze segundos. Bela tentativa. – Estou me referindo àqueles mais tagarelas. – Quarenta e cinco. – E se eles estiverem fazendo os pedidos, terá de lhes dar tempo? Como se pressentisse a armadilha, Darcy hesitou. – Sim. – Ótimo. Quero fazer um pedido de drinques de chocolate branco para aquelas damas de honra sentadas àquela mesa. Mas diga-lhes que é uma cortesia do gerente ou algo do gênero, não minha. – Quando Darcy se limitou


a encará-lo, ele lhe sustentou o olhar. – Acho que meus 45 segundos chegaram ao fim, a não ser que queira se sentar. É bem-vinda a me acompanhar em um drinque. Faça um intervalo. – Está fazendo isso por se sentir entediado? – perguntou ela. Os olhos cinza metálicos se estreitaram de uma forma que indicava que ele desfrutava de sua total atenção. De fato dissera que não gostava de coisas fáceis? Porque aquilo estava se encaminhando exatamente naquela direção… e não havia uma só molécula em seu corpo ou pensamento que não estivesse adorando. Jeff deu de ombros, erguendo o copo de uísque para tomar um gole. – Gosto de me manter ocupado.


Capítulo 3 – ENCARE ISSO como um serviço público. Darcy pousou o uísque sobre um guardanapo limpo e, lutando com todas as forças contra o sorriso que ameaçava lhe curvar os lábios, escorregou-o na direção de Jeff – o cliente que estava tornando sua última noite naquele bar memorável. – Permitir que me leve embora daqui? Muito bem, estou ouvindo. – Vai mesmo me obrigar a dizer isso? – Jeff perguntou, com um olhar que implorava para que ela o forçasse a dizer. Darcy podia lhe dar as costas e se afastar. Nunca saía com clientes ou permitia sequer aquele tipo de interação. Mas havia algo naquele homem. Alguma coisa que a impedia de dispensá-lo da mesma forma que fazia com qualquer outro que cruzasse seu caminho. Até mesmo naquele instante, podia sentir os lábios quase se contraindo em um sorriso traidor. E Jeff estava percebendo. Observava-a, com uma das sobrancelhas erguidas. E, em seguida, os olhos perscrutadores se encontravam cravados nos dela. – Quase a convenci. Sim, fora por pouco. – Está bem, desisto. Em que sentido fato de sair com você deste bar pode ser considerado um serviço público? A satisfação iluminou o sorriso de Jeff. – Para o meu ego. – Quando Darcy cruzou os braços, ele prosseguiu: – Você o viu. É absurdo. Sinceramente, o tamanho é quase uma anomalia. – Aquilo não estava indo muito bem. Darcy franziu a testa, desejando mais, porém incapaz de perguntar por medo


de explodir em uma gargalhada. – Se você abater esse monstro… não serei capaz de arrastá-lo daqui para fora. – É tão grande assim? – Como se precisasse perguntar. – Aquele homem significava encrenca. E era exatamente o tipo de diversão que merecia em sua última noite em Las Vegas. Desde que não passasse de um flerte suave. – Estou lhe dizendo, ele irá se debater pelo chão e se tornará um fardo quando eu tentar recolhê-lo. – Uau! Quase como uma outra pessoa. Jeff anuiu. – Eu o chamo de Connor. – Um ego chamado Connor. – Agora ela ouvira tudo… e, de alguma forma, queria mais. Jeff deixou escapar uma breve risada e esfregou a mão na boca como se quisesse apagar o sorriso dos lábios, antes de continuar. – E aí é que reside o problema. Esse ego vai precisar receber muita massagem para se recuperar de sua rejeição. – Os olhos cinza começaram a se estreitar, mas ele a impediu de falar. – Será necessário paquerar todas as mulheres que cruzarem meu caminho. O que me forçará a ligar o charme. Com força total… – Como uma mangueira de incêndio? – perguntou ela, sabendo que não deveria ter dito aquilo, mas… bem… incapaz de se conter. Os lábios de Jeff se encontravam entreabertos, prontos para prosseguir com aquele discurso ridículo, quando ele congelou. Ele encarou-a com um olhar estreitado que irradiava divertimento e advertência. – Exatamente como uma mangueira de incêndio. Mas, apesar da forma como ele a envolvia naquela conversa, havia algo nele


que o fazia parecer seguro. O que quer que fosse, isso a estava tentando a brincar com fogo. – Então, depois de encharcar essas mulheres com a enorme mangueira de incêndio, o que acontece? – Uma devastação total. Mulheres chorando por todos os cantos. Corações partidos espalhados pelas ruas. Todas se apaixonarão por mim, mas tudo em que estou interessado é um encontro. Nada sério. Apenas divertimento. Ahh! A história se voltara outra vez para ela e, de repente, o contato visual parecia demais para que Darcy pudesse suportar. – E isso acontece todas as vezes que uma mulher o rejeita? Jeff deu de ombros, esticando a mão para o uísque. – Não posso saber. Ainda não aconteceu. Sinceramente, que tipo de mulher decente se arriscaria a ter essa carnificina emocional na consciência? Darcy o mediu de cima a baixo, detendo- se nos detalhes que havia deixado escapar antes. A massa espessa de cabelos escuros com topetes rebeldes estava em total desacordo com o corte reto e clássico do terno que ele usava. Mas, se os cabelos e o terno formavam uma contradição, aquilo não era nada comparado ao rosto daquele homem. A mandíbula firme e quadrada e a covinha solitária no rosto. A aparência rude de um nariz que parecia ter sido quebrado algumas vezes e a pele de um tom suave de avelã. Apenas aquela aparência seria suficiente para deixar as mulheres curiosas. Mas, quando se acrescentava a isso o charme e a confiança que dele emanavam, não era de admirar que as mulheres se mostrassem dispostas a entrar no jogo de Jeff por quanto tempo ele permitisse. Sim, aquele homem era definitivamente mais perigoso do que ela pensara. Estava na hora de esclarecer as coisas. – Ouça, Jeff. Estou lisonjeada, mas não saio com clientes. Nunca.


– Foi o que percebi desde que cheguei aqui. Gosto disso. Humm! Aquilo era o tipo de coisa com que Darcy estava familiarizada. – Porque isso me torna um desafio? – Sim – respondeu ele, com um sorriso impenitente e uma insinuação de malícia no olhar. Está bem. Não estava tão familiarizada com aquele tipo de coisa, afinal. – Uau! É honesto também. – É a melhor política. Elimina o risco para todos os tipos de problema. Garante que todos estejam na mesma sintonia. Mas voltemos à presente questão… sou uma companhia divertida. Iria passar bons momentos. Deve haver algum lugar nesta cidade que sempre quis conhecer, mas nunca teve oportunidade. Diga-me qual é e a levarei lá esta noite. Darcy estava prestes a dispensá-lo, mas, enquanto se encontrava parada lá, observando aquele sorriso tentador, quase brincalhão, tudo em que conseguiu pensar foi nas coisas que dissera a si mesma que faria e nunca conseguira. E há quanto tempo não se divertia para valer. Seu tempo em Las Vegas acabara. Estava partindo no dia seguinte. Jeff estava lhe oferecendo a chance de… Deus! Estava seriamente considerando aquela possibilidade? Nunca dissera “sim”. Nunca cedera e fizera coisas divertidas apenas por prazer. Talvez naquela noite, após viver de modo tão regrado por tanto tempo, fosse capaz de quebrar todas as regras, sem se preocupar com o dia seguinte. – Vou pensar no assunto. MINUTOS MAIS tarde, Jeff trocava um abraço cordial com Connor Reed. O


telefonema fora um sucesso, como tudo que o amigo se empenhava em fazer. A única exceção fora o término de seu noivado, duas semanas antes, em relação ao qual Connor não havia esboçado nenhuma reação. Aquela era a razão da tão necessária intervenção de sua parte. Jeff passara pelo mesmo problema. Sabia qual a sensação de descobrir, de uma hora para outra, que o romance perfeito em que estava prestes a apostar o próprio futuro… não era tão perfeito, afinal. “Não, eu não o amo. Não tem nada a ver com ele. Ou com você. E sim com o fato de eu me sentir presa e estar desesperada para escapar. Sinto muito.” Sim, era uma sensação horrível. Portanto, os dois haviam percorrido o circuito dos jogos na noite anterior, ido a alguns clubes e confraternizado das formas características dos homens, garantindo, assim, que o fim de semana masculino para o qual atraíra Connor não se tornasse um total fracasso. Mas a parte da diversão havia chegado ao fim e, como os dois eram amigos de longa dada, Jeff não fez rodeios. Empurrando o uísque que pedira na direção de Connor, ele gesticulou com o queixo na direção da bebida. – Acho melhor começar com esse. Connor o brindou com o meio- sorriso que nunca se expandia. – Estamos um pouco velhos para jogos que envolvem bebidas, certo? – Está na hora de evocar seu lado feminino, camarada. Eu o trouxe aqui para conversarmos sobre sentimentos. Profundos sentimentos. E como sabe que sou seu melhor amigo e estou sempre certo, você vai ficar sentado aqui e enfrentar isso como o homem corajoso que sei que pode ser. O meio-sorriso se evaporou do rosto de Connor.


– Jeff, eu já lhe disse… – Nem se dê ao trabalho de continuar. Não mudarei de ideia. Mas, pelo fato de respeitar os limites do bloqueio de sua intimidade emocional, depois de dizer o que penso, jogaremos conversa fora para voltarmos à zona de conforto e então o deixarei sozinho. Provavelmente, levando comigo aquela loura fenomenal que, por acaso, é a garçonete que está nos servindo. Combinado? Connor ergueu o copo que lhe fora oferecido e tomou um gole confortador. Em seguida, inclinando a cabeça para o lado, se recostou para trás na cadeira e fechou os olhos. – Muito bem. Vamos conversar. Mas seja breve. Jeff surpreendeu Darcy o observando do bar. Leves rugas lhe vincavam a pele perfeita da testa. Após brindá-la com uma piscadela, ele cruzou os braços e voltou a se concentrar em Connor. – Seu desejo é uma ordem. Portanto, deixe-me impor o tom dessa conversa… Eu o amo, cara… Após uma dúzia de velhos provérbios, lugares-comuns, metáforas adequadas e uma seleção de pensamentos contidos em biscoitos da sorte, a tarefa de Jeff chegou ao fim. Havia coisas que precisava fazer o amigo escutar e outras que ele necessitava escutar. Acabou por concluir que Connor não estava tão mal, afinal. Ao menos não da forma que imaginara. Porém, no que dizia respeito às questões de intimidade, a expressão “bloqueado emocionalmente” seria um eufemismo para descrever o amigo. Mas aquele era um aspecto a ser explorado em outra viagem. Connor o havia dispensado minutos atrás e, no momento, ele se encontrava recostado ao


balcão do bar, observando Darcy morder o lábio inferior. Não, ela não era a mulher fria e inalcançável que parecia ser. – E quanto ao seu amigo? Ele parecia muito aborrecido durante a conversa que tiveram. Constrangido, sim. Aborrecido, provavelmente não. – Ao que parece, o coração partido estava mais para um ego ferido. – Vocês, homens, e seus egos. Ele também batizou o dele? Jeff gesticulou para que ela se aproximasse. – Os homens não costumam contar o nome de seus egos para outros homens. Dessa vez, quando ele percebeu um dos cantos daqueles lábios tentadores prestes a se curvar, agiu por impulso e roçou o polegar naquele ponto vulnerável que ameaçava agraciá-lo com aquilo que ele estava se esforçando para conseguir. Ao simples toque, os lábios de Darcy se entreabriram em um suave ofego e os olhares dos dois se encontraram. – Não vou para o seu quarto – afirmou ela em tom calmo, porém firme. Jeff acariciou aquele canto da boca macia e, em seguida, recuou a mão, enfiando-a com força no bolso da calça. – E então, quando podemos sair daqui? Darcy lhe procurou o rosto como se buscasse uma razão para dizer “não” e, por um terrível instante, quando ela baixou a cabeça e desviou o olhar, Jeff pensou que a havia perdido. Mas, logo em seguida, ela começou a retirar o avental. E, quando voltou a encará-lo, o fez com confiança, clareza e determinação. Excitação. – Tão logo eu me livre deste uniforme.


– PODE-SE DIZER que a fiz flutuar? – gritou Jeff. As linhas que lhe enrugavam os olhos se aprofundavam pela expressão alegre e o riso, que prometia uma hecatombe de prazer, se alargando. – Estou literalmente voando! – ofegou ela, em meio à risada encorpada que se permitiu. A brisa da noite fustigava os cabelos de Darcy, à medida que ela escorregava na direção da Freemont Street, apertando com força o cinto de segurança e imaginando se aquele tsunami de alegria tinha mais a ver com a tirolesa ou com o homem a alguns centímetros de distância. Ainda trajado com o terno e balançado no estilo 007, com o cinto de segurança, o vento e tudo mais, Jeff inclinou a cabeça na direção dela. – Sua vez de escolher a próxima aventura, bela. Estou querendo conhecer mais atrações locais. Algo interessante. Os dois estavam se divertindo há horas. Haviam começado com um jantar frugal em um dos pontos mais badalados e bem frequentados da cidade. Um telefonema de Jeff, vinte minutos antes de chegarem, lhes garantira uma mesa, com tratamento VIP e uma vista de tirar o fôlego. Fora Darcy a escolher o restaurante. O sorriso presunçoso de Jeff e a afirmativa de que poderia levá-la a qualquer lugar que ela desejasse se tornaram um desafio irresistível e tornaram atraente aquela sugestão. E, ao que parecia, aquele homem tinha outras virtudes, além da lábia. A despeito do ambiente luxuoso, o jantar transcorrera informal e tranquilo. A conversa, variada e agradável. Jeff era um desses homens que parecia saber um pouco de tudo, não importava se o tema fosse cinema, a lista de destinos de viagem de Darcy ou economia local. Jeff escutava tanto quanto falava. E, quando terminaram de tomar o café, Darcy parou de se perguntar se ter aceitado sair com ele havia sido um erro. Em vez disso, se encontrava ansiosa por descobrir aonde iriam a seguir.


De lá, se encaminharam para uma montanha-russa. Em seguida, pararam para que Jeff comprasse um petisco em sua barraca de tacos favorita e partiram de carro para o Neon Museum, onde antigos letreiros de cassinos eram exibidos. Depois, pararam para observar as fontes coreografadas e, em seguida, foram conhecer a galeria de belas artes do cassino e hotel. Ao longo do caminho, Jeff parecia fazer amizades instantâneas. Informava-se do resultado dos grandes jogos com os camareiros, trocava palavras gentis com as senhoras, enquanto segurava as portas para que elas passassem. Possuía uma afabilidade que costumava acionar alarmes vermelhos no cérebro de Darcy, mas por algum motivo, com Jeff, nenhuma de suas autodefesas ou reações de fábrica pareciam estar funcionando. Na verdade, ela se descobriu envolvida por ele de uma forma que raramente se permitia. E a risada que ele se esforçara tanto para conseguir… bem, no instante em que deixaram o cassino, Darcy abandonara a resistência e, desde então, lhe fazia a vontade. Ria das histórias ultrajantes que ele contava, de si mesma, de uma última noite na Cidade do Pecado que ela jamais esperara ter. E que duvidava que algum dia esquecesse. Porque não estava apenas experimentando um lado de Vegas que antes lhe era inalcançável. Graças à curiosidade de Jeff sobre seus gostos, estava tendo a última oportunidade de desfrutar de suas diversões favoritas, apresentando-as a ele e explicando por que estavam no topo de sua lista. Era um jogo do tipo “conhecendo você”. Um que Darcy jamais teria jogado, se não estivesse de partida. Mas havia uma sensação de segurança em saber que se tratava de uma noite só. Nenhum risco de criar expectativas. Darcy conhecia as regras. Aquilo se resumia a algumas horas de divertimento. Era seguro. Ao menos era esse seu pensamento até a tirolesa chegar ao fim e seus pés tocarem o chão. Jeff se aproximou, lhe segurou a mão e a puxou gentilmente contra o corpo em um contato que poderia ser interpretado como nada além


de casual. Porém, o calor que emanava daquele homem forte, as batidas firmes do coração sob sua mão e o hálito quente que fustigou os cabelos atrás da orelha de Darcy, quando ele perguntou, naquele tom baixo e rouco, se ela estava se divertindo, fizeram o casual lhe parecer íntimo como nunca. Inclinando a cabeça para encará-lo, Darcy anuiu, engolindo em seco a reação silenciosa à qual não estava acostumada. Um tipo estranho de tensão em seu baixo-ventre a fez ter a sensação de estar voando e despencando ao mesmo tempo. Os olhos de Jeff procuraram os dela, antes de vagarem mais para baixo, lentamente. A mente de Darcy voltou ao momento em que ele lhe tocara a boca, ainda no bar, e às próprias palavras… … Não vou para o seu quarto… E ela se questionou se ainda pensava da mesma forma. – Vamos procurar um lugar para tomar um drinque e descobrir a próxima atração que está planejando – disse ele, dando um passo atrás e soltando-a. O movimento foi tão inesperado que Darcy quase cambaleou quando se viu privada daquele contato. Por um instante, tivera certeza de que ele a beijaria. Até mesmo agora, enquanto Jeff olhava ao redor, à procura da próxima parada, não conseguia acreditar que não sentira a pressão daqueles lábios sensuais contra os dela. Pior, não acreditava que desejara senti-los. Que tipo de loucura a teria acometido? A mão forte se espalmou na base da espinha de Darcy. – Qual é o melhor bar em um raio de três quarteirões? O contato leve lhe provocou uma agradável sensação, mesmo que, por um momento de insanidade, tivesse desejado ainda mais que aquilo. Aquele era um encontro de qualidade e Darcy não tinha nenhuma intenção de estragá-lo. Mas quanto a um bar… – Que tal tomarmos um sorvete? Há uma sorveteria logo ali à frente. – E, diante do olhar especulativo de Jeff, ela respondeu à pergunta não verbalizada: – É um terreno seguro. – Não confia em mim? – Não havia nenhum tom judicioso na voz de Jeff. – Ou, já que você trabalha servindo drinques, devo pensar que não confia em


si mesma quando bebe? Darcy soltou uma risada, liderando o caminho pela calçada. – A única pessoa em quem confio é em mim, portanto não leve para o lado pessoal. Gosto de me manter sóbria, porque não quero descobrir da pior forma possível em quem posso ou não confiar. – O sorriso fácil que Jeff exibira durante toda a noite se evaporou e algo obscuro e protetor se refletiu em seus olhos. – Não me olhe desse jeito – disse ela, com um movimento negativo de cabeça. – Não há nenhuma história macabra por trás desse comentário. Ao menos, não minha. Mas aqui em Las Vegas, como provavelmente em qualquer outra cidade, é comum ouvir casos. E eu presto atenção. Sou muito… prática. Sempre fui. A expressão de Jeff se tornou mais suave. – Então, tem aversão a correr riscos. – Alguns diriam que isso é um defeito meu. – Mas você não pensa assim? – Não. Se achasse que estava fazendo algo errado, vivendo de uma forma que não me satisfizesse ou me deixasse com sensação de que estava perdendo alguma coisa… mudaria meu modo de vida. Como disse, sou ótima em cuidar de mim mesma. Sou minha prioridade número um. Portanto, não sou do tipo que fica sentada, esperando que alguém identifique meus problemas ou os resolva para mim. – Então, é uma mulher de ação, com aversão a riscos e que dirige o próprio destino. Os cantos dos lábios de Darcy se ergueram diante da maneira sucinta com que Jeff a categorizara. Darcy fora chamada de várias coisas, por vários homens que não


conseguiram o que queriam com ela. Fria, difícil, frígida. Nomes que sugeriam que aquela indiferença se originava de alguma deficiência de sua parte, em vez da simples falta de interesse em dar abertura a paqueras em seu ambiente de trabalho. Darcy o olhou de soslaio. Jeff era exatamente isso. Um homem que a paquerara enquanto ela estava trabalhando. Mas, ainda assim, algo nele lhe parecia totalmente diferente. O suficiente para fazer uma pequena parte dela imaginar se não o teria acompanhado mesmo que não estivesse partindo, embora insistisse em repetir para si mesma que só aceitara sair com Jeff por ser aquela sua última noite em Las Vegas. Não. Darcy colocou tal pensamento para escanteio, fazendo uma careta de aversão em seu íntimo diante do pensamento de ter feito algo que ia de encontro aos seus princípios, após ter acabado de se gabar do próprio instinto de autopreservação. – Forte e independente. Uma mulher que se conhece bem. Gosto disso. – É mesmo? – perguntou ela, girando andando de costas, para ficar de frente para Jeff. – E de mim? – Sem dúvida, gosto de você. – Ele passou as duas mãos longas pelos cabelos, antes de escanear o céu por alguns segundos e voltar a olhá-la nos olhos. – Gosto do modo como me surpreende. De não ter sido capaz de defini-la dentro dos primeiros trinta segundos ou… Diabos! Até mesmo agora, horas depois, ainda não ter conseguido. – Os passos de Darcy diminuíram e ele fechou a distância que os separava. Em seguida, pousou uma das mãos suavemente na curva do quadril dela. – E gosto de ser capaz de fazê-la rir, porque o som da sua risada… – Jeff fez um movimento negativo com a cabeça, ainda a encarando. – Quando riu para mim… – Os dedos longos se contraíram com força no quadril de Darcy em um breve aperto possessivo. – … tudo em que pensei foi em como conseguir isso de novo. – JEFF.


Se ele pensara ter sido nocauteado pelo sorriso daquela mulher, aquilo não era nada comparado ao som ofegante da voz de Darcy ao pronunciar seu nome daquela forma. Era como se, talvez, ela estivesse desejando aquilo que ele estivera se matando para não pressioná-la a lhe dar. Claro que, quando conseguira fazer com que Darcy saísse do bar com ele, imaginara que a conclusão natural daquela noite seria o sexo. Ambos eram adultos e havia química entre eles. E ele desejava que assim fosse. Diabos, sim, como queria! Mas algo o detivera sempre que a oportunidade de mudar o tom do divertimento daquela noite aparecera. As emoções conflitantes naqueles olhos cinza eram diferentes de tudo que Jeff já vira, o que acabou por lhe despertar um tipo de necessidade instintiva de protegê-la. Aquela mulher, que ele julgara ter gelo nas veias, capaz de colocar um homem em seu devido lugar com apenas um olhar, era vulnerável. Por alguma razão, Darcy confiara nele para lhe revelar o tipo de diversão que ela raramente se permitia e lhe proporcionar a noite que merecia, sem as preocupações que a fizeram morder aquele lábio inferior apetitoso. Podiam ter a diversão descomplicada e prazerosa que cada um se lembraria pelos anos que se seguiriam. Um sorriso curvou os lábios de Jeff diante do pensamento de Darcy caindo vítima de seu ego com a potência de uma mangueira de incêndio. Quem diabos poderia saber se ela se lembraria dele até mesmo na semana seguinte, quanto mais no próximo ano? Mas esperava que se lembrasse. Porque ele certamente não a esqueceria. O QUE ela estava fazendo encarando aquele homem como se fosse incapaz de desviar o olhar? Nunca fizera uma escolha insensata. Em nenhum momento. Não costumava ceder ao prazer momentâneo.


Gostava de estar no controle. No trabalho, na vida pessoal, no coração e na mente. Mas, de alguma forma, Jeff, com toda aquela conversa sobre ego, seguro de si, confiante em suas ações… A maneira como ele perseguia o que desejava como se nunca lhe ocorresse a possibilidade de não conseguir… Aquele conjunto a estava induzindo a um comportamento que nunca se permitia ter. E estava fazendo-a almejar algo que sabia que não deveria desejar: a experiência de se entregar a um sentimento; àquela química, que lhe fazia a pele formigar, o baixo-ventre pulsar, que lhe sussurrava tentações desde o primeiro instante em que seus olhos encontraram os de Jeff. Aquele homem simplesmente percebera algo que ela jamais mostrava a ninguém. E que o agradara. Darcy experimentou um frio na barriga diante da ideia de se afastar tanto de sua zona de conforto. Já fizera muitas concessões até aquele momento. Começando por conversar com um cliente sentado à mesa do bar em que ela trabalhava e terminando com os dois parados ali, olhando-se nos olhos. Jeff era como uma miragem deliciosa. O tipo de fantasia capaz de fazer uma mulher se perder na vã esperança de encontrar abrigo no frescor de um oásis que nunca alcançaria. Jeff estava ali para desfrutar de uma única noite. Algumas horas de divertimento. Darcy não podia se dar ao luxo de esquecer isso, porque o orgulho não lhe permitiria ser uma dessas mulheres que depositavam todas as suas fichas em um bilionário da classe alta, esperando que “o divertimento” que ele escolhera em Las Vegas – a cidade turística, cujo slogan garantia que o que acontecia em Las Vegas, permanecia em Las Vegas fosse, na realidade, a mulher pela qual esperara durante toda a sua vida. Não. A única maneira de ceder em qualquer aspecto seria fazendo as coisas em seus termos. Com os olhos abertos e sem expectativas.


Não havia amanhã com aquele homem. – Há muitos questionamentos em seus olhos esta noite – disse Jeff, roçando a junta de um único dedo na lateral do rosto delicado. – Mas não há necessidade. Diga-me que quer pôr um fim nesta noite e eu a levarei para casa e lhe agradecerei por um divertimento do qual me recordarei por muito tempo. Ou podemos continuar a fazer o que estamos fazendo, sem passar disso. Ficar acordados até o dia amanhecer. Ver o sol nascer – acrescentou, com os olhos cravados nos dela. – O que deseja fazer a seguir? Darcy sentiu o coração disparar. Ele a estava deixando à vontade. Dando-lhe a oportunidade de se despedirem da forma mais fácil. Ela poderia lhe dizer “adeus”, pegar um táxi e voltar ao apartamento, onde suas coisas já estavam empacotadas. Dormir com a certeza de que cortara o mal pela raiz. Antes de ceder aos riscos que a empurravam além dos limites da segurança. Ou poderia dar uma resposta sincera. Que algo na ideia de ficar com ele a fazia ansiar por coisas que nunca quisera. Fazia seu corpo estremecer e esquentar. E, acima de tudo, agarrar aquele momento e simplesmente se render. Entregar-se. Darcy esticou a mão para o colarinho aberto da camisa que ele usava e introduziu dois dedos no vão entre os botões e a camiseta de malha simples que estava por baixo. Em seguida, deu um passo à frente para pressionar os lábios aos dele. Foi um beijo delicado. Apenas um roçar prazeroso, que diferia de um beijo de amigos apenas pela promessa silenciosa e pulsante de algo que ela não encontrara palavras para dizer. Palavras essas que não se faziam necessárias, a julgar pela satisfação estampada nos olhos que a encaravam quando ela recuou um passo. Pelo sorriso predador quando Jeff fez que não com a


cabeça, antes de lhe segurar a mão e a puxar de volta contra o corpo. – Estive dizendo “não” a mim mesmo durante toda a noite – murmurou ele contra a orelha macia, roçando a lateral do rosto nos cabelos loiros. – Se está dizendo “sim”, essa insinuação de beijo não será suficiente para me satisfazer até retornamos para meu quarto de hotel. As palavras de Darcy soaram como um sussurro trêmulo. – Então, é melhor se servir do que precisa agora. Quando ele a beijou outra vez, não havia nada de hesitante na forma com que o fez. Nada de amigável. O contato era firme e autoritário. Um ousado movimentar de lábios contra os dela que a violava a cada pressão até que Darcy estivesse totalmente vulnerável. A língua exigente lhe invadiu a boca, encontrando a dela em um roçar úmido e aveludado que fez os dedos de Darcy se contraírem sobre o tecido da camisa e um gemido impotente lhe trair o desejo. Seus joelhos deviam ter cedido, porque Jeff a segurava com força contra o corpo, apoiando-a nos braços fortes, enquanto a beijava como se ela nunca tivesse sido beijada antes. Sem reservas. Sem fôlego. Invadindo-lhe o interior da boca com os movimentos firmes da língua e… Oh, aquilo era tão bom! E os repetindo até que todas as células vivas de Darcy se liquefizessem. Ávida. Viva. Outra investida da língua experiente, e Darcy sentiu o ventre se contrair com um desejo sensual que ameaçava escravizá-la. Só então ela se deu conta de que estivera ansiado por aquilo.


Os braços musculosos a envolveram em um abraço apertado. Uma das mãos deslizou pelo comprimento de suas costas até lhe encontrar a nádega e pressioná-la contra os quadris, curvando-lhe as costas para que ela o sentisse e… Oh, sim, sim… De repente, Jeff interrompeu o beijo e a afastou, embora continuasse a segurá-la. Não! – Isso foi suficiente? – Darcy perguntou, ofegante. Os lábios estavam sensíveis de uma forma que a fazia ansiar por mais. – Não chegou nem perto – respondeu ele, antes de levar uma das mãos aos lábios, com expressão de pura perplexidade. – Mas, a julgar por esse beijo, nenhum de nós quer arriscar ver o que vai acontecer se eu colocar minhas mãos em você em público outra vez. Darcy não tinha a mesma certeza. Para conseguir mais do que acabara de experimentar, seria capaz de arriscar qualquer coisa.


Capítulo 4 DE ALGUMA forma, os dois conseguiram chegar à suíte de Jeff. Mas foi por pouco. E quando a porta se fechou foi com Darcy pressionada contra a madeira maciça e as mãos de Jeff espalmadas acima de sua cabeça. Faminto, ele lhe devorou a boca tentadora, da qual tivera apenas uma amostra na rua. Darcy era tão quente, macia e úmida que até agora ele não sabia como resistira à ânsia de sentá-la sobre seu colo no banco do táxi ou possuí-la contra uma daquelas paredes espelhadas do elevador. Quando percebera a indecisão abandonar aqueles olhos cinza e tivera a primeira prova do fogo que ela mantivera tão secreto quanto tudo mais a seu respeito… Deus o ajudasse! Tudo em que conseguiu pensar foi em ter mais. Jeff roçou o quadril ao dela, quase perdendo o controle ao ouvir aqueles sons baixos e excitados que Darcy deixava escapar. O murmurar e o gemer. O modo como ela prendeu a respiração quando ele enroscou as pernas longas e bem torneadas em torno do próprio quadril e investiu contra a intimidade úmida e pulsante. Os gemidos que Darcy não conteve, depois que cruzou os tornozelos atrás das costas rígidas o incitando a continuar. Jeff arremeteu o quadril repetidamente, levando ambos à loucura com o contato que não seria suficiente até que se livrassem das roupas e ele estivesse enterrado fundo dentro daquela maciez convidativa. – Por favor – choramingou ela, contra a mandíbula quadrada. O corpo estava tenso enquanto ele a empurrava na direção do cume que Darcy visitaria uma meia dúzia de vezes nas próximas horas se ele conseguisse o que queria. – Assim, bela? – Jeff perguntou, roçando o quadril com mais força para fazêla sentir a potência de sua ereção contra o centro da feminilidade.


Com outro grito desesperado, Darcy enterrou os dedos na massa de cabelos espessos e escuros, o que Jeff interpretou como um “sim”. – Jeff! – ofegou ela, um segundo antes de arquear o corpo e entreabrir os lábios em um grito silencioso que se prolongou sem encontrar voz. E do qual ele tirou vantagem, invadindo-lhe a boca com a língua, enquanto a guiava pelas últimas ondas de prazer. E, então, Darcy estava correspondendo ao beijo, o corpo relaxado compondo um contraste com a tensão que enrijecia o dele. Os olhos cinza, semicerrados e suaves como nunca antes. Tão deslumbrante! E extremamente doce. E, durante aquela noite, sua. Mas, ao mesmo tempo em que o pensamento lhe ocorreu, ele chegou à conclusão de que apenas uma noite com aquela mulher não seria suficiente. Droga! Mesmo antes de Darcy tê-lo beijado, ele sabia que iria querer mais. – Darcy – começou ele. Os lábios se moviam contra a coluna elegante do pescoço delicado. Os dedos que ela mantinha enterrados em seus cabelos se contraíram ainda mais, puxando-lhe a cabeça e lhe direcionando os lábios de volta aos dela. – Eu sei. É perfeito. Tudo que eu achava que não queria. E ela o beijou mais uma vez, distraindo- o com a invasão da língua macia e os movimentos sinuosos dos quadris, enquanto descruzava os tornozelos e se colocava de pé. A mão delicada lhe acariciava a parte da frente da camisa, sobre o peito largo e o abdome definido, descendo um pouco mais para tocar o volume rígido da ereção ainda contida sob o confinamento da calça do terno. Jeff arremeteu o quadril contra a palma da mão que o acariciava através do tecido. Darcy fechou os dedos em torno do cinto que ele usava e o puxou na direção do quarto.


Perfeito. Aquele era o único pensamento que habitava a mente de Jeff, reverberando a cada passo, enquanto ele se deixava guiar na direção da promessa do paraíso. Ambos se despiram mutuamente, deleitados com cada segmento de pele que desnudavam, tombando sobre a cama em um emaranhado frenético e desesperado de membros. Darcy pegou o preservativo que ele atirara sobre o travesseiro e rasgou a embalagem. – Não posso mais esperar – sussurrou ela, as mãos trêmulas enquanto desenrolava o artefato sobre a mais do que preparada ereção. – Chega de espera – concordou ele, posicionando-se entre as pernas sedosas de modo que ficasse alinhado com a abertura úmida de Darcy. O olhar dos dois se encontrou e Jeff começou a penetrá-la com um único movimento. O fato de ter de recuar quase o matou, mas ele era um homem avantajado e Darcy… Deus o ajudasse! Era muito apertada. Portanto, se moveu devagar, cuidadoso, se enterrando aos poucos, até sentir gotículas de suor lhe brotarem na testa e a mandíbula se contrair. Por fim, ele a teve da forma que desejava. Por completo. Os movimentos se intensificaram, enquanto ele escorregava para dentro e para fora do calor úmido e apertado de Darcy, deixando que os gemidos suaves e ofegos que ela emitia o guiassem pelo erótico caminho em direção ao prazer que queria vê-la alcançar. Estava satisfazendo as súplicas do corpo excitado de Darcy e se regozijando com a entrega impotente que se refletia nos olhos cinza enquanto a mantinha à beira do precipício do prazer. – Diga-me o que deseja. – Por favor – ofegou ela, enterrando os tornozelos na parte posterior das coxas musculosas, como se o incitasse ao contato que ele não lhe proveria antes que Darcy atendesse ao seu pedido. – Diga. Fale o que quer e lhe darei qualquer coisa.


Olhando-o nos olhos, Darcy desistiu de lutar por controle, ergueu ainda mais os joelhos, permitindo que escorregassem pelas laterais das costelas de Jeff, e sussurrou: – Um orgasmo. E, então, Jeff arremeteu os quadris com força contra os dela, levando-a a um clímax alucinante, mas tomando cuidado para não perder o controle. Ainda não fizera a metade do que desejava fazer com aquela mulher. OFEGANTE. SEM forças. Atordoada e saciada, Darcy permaneceu em meio aos lençóis úmidos, pestanejando para o teto, enquanto o corpo e a mente se esforçavam para reorganizar todas as suas células para voltarem ao normal. Aquela não era a forma como deveria estar se sentindo. Como se algo monumental tivesse acabado de acontecer e uma repentina e inesperada mudança em sua vida tivesse acontecido. Como se, pela primeira vez, tivesse experimentando o sabor do incrível e, daquele ponto em diante, nada pudesse se assemelhar ao que acabara de vivenciar. Porque aquele era um caso de uma noite só. Um encontro que se estendera pela noite com um homem que definitivamente não era seu príncipe encantado. Algo que só aconteceria uma vez. Eram os últimos momentos de prazer, porque Jeff podia ser estonteante, divertido e arrasador na cama… mas não estava lhe oferecendo mais do que alguns momentos de diversão. Os dois passaram horas rindo, conversando e percorrendo o caminho até aquele desfecho avassalador. Apesar de toda a química existente entre ambos, do brilho nos olhos de Jeff que demonstrava tanto prazer quanto ela estava sentindo, mais uma


oportunidade se passara sem que ele sugerisse a possibilidade de irem além disso. Sem que propusesse outro encontro ou insinuasse que estava considerando algo além de uma única noite para matarem o tempo juntos. Aquele homem era calmo. Habilidoso. E só porque possuía a habilidade de fazê- la agir de maneira incomum não significava que aquela noite fosse algo fora do normal para ele. Até onde sabia, Jeff frequentava um bar novo a cada semana e tornava suas noites de sexta-feira especiais conquistando a mulher mais difícil do lugar. – Darcy, Darcy, Darcy. – O próprio nome, murmurado contra seu pescoço com beijos molhados, lhe varreu todos os pensamentos da mente. Não importava o que Jeff fazia nas noites de sexta-feira. Aquela que estava dividindo com ela fora perfeita. Jeff ergueu a cabeça, apoiando o peso do corpo nos antebraços para não esmagá-la. Um peso do qual ela não estava disposta a abrir mão e de que sentiu a falta imediata quando o ar frio preencheu o espaço crescente entre os dois. Quando se retirava da cama, ele esbarrou em um dos seios fartos e estacou para lhe beijar o contorno sedoso, antes de fechar os lábios sobre um dos mamilos e sugá-lo, exibindo um sorriso malicioso quando concluiu a tarefa erótica. – Dê-me um minuto, querida. Não saia daí. Darcy o observou entrar no toalete e fechar a porta. Em seguida, ouviu o som da torneira sendo aberta e esperou até que alguns segundos se passassem. Sozinha na cama, olhou ao redor da suíte, observando as acomodações suntuosas pela primeira vez. Parecia extravagante. Frívolo. Não que tivesse dezesseis quartos, mas uma suíte, apenas para um homem passar duas noites? Os momentos se prolongaram. A água ainda estava


escorrendo. Começando a experimentar um certo constrangimento, ela esticou a mão para o lençol na lateral da cama, mas, em vez disso, acabou pegando a blusa que havia descartado. Não saia daí… Darcy alternou o olhar entre a luz prateada que se insinuava por baixo da porta do toalete e a blusa que estava segurando. Não saia daí… Cinco minutos atrás, sequer teria considerado tal possibilidade. Teria se atirado de volta à cama, deliciando-se com a fadiga prazerosa do próprio corpo resultante das atenções de Jeff. Claro que não teria considerado ficar ali para sempre, mas também não teria pensado em partir enquanto ele estivesse no toalete. Mas as palavras de Jeff, ao se erguer da cama, fizeram com que mil e um pensamentos lhe invadissem a mente. Haviam feito sexo. E agora acabara. Embora Jeff não parecesse desejar se ver livre dela naquele exato momento, deixara claro com aquelas palavras que esperava que ela partisse em breve. O que fazia todo o sentido, sendo aquele encontro o que era. Um divertimento sem nenhum significado. Porém, enquanto permanecia sentada no meio daquela cama imensa, com o calor da intimidade que acabaram de compartilhar se dissipando na atmosfera que a rodeava e com o que acontecera entre os dois ainda fresco e terno em sua mente, tão prazeroso que ela queria proteger a lembrança daqueles momentos… o desejo de proteger a lembrança do que compartilharam a invadiu. Aquela noite fora um presente que dera a si mesma. Não queria arriscar a perfeição que vivenciara até então, sentindo-se rebaixada com a dispensa de Jeff. Tudo indicava que ele conseguia dizer “adeus” com a mesma facilidade com


que fazia tudo mais. E então, em vez de esperar, Darcy se descobriu vestindo a blusa. Enrolando-se no lençol, separou suas peças entre a poça de roupas atiradas ao chão, lançando olhares furtivos à porta do toalete, enquanto a água continuava a escorrer. Não seria ela a se agarrar ao último minuto que desfrutariam juntos. Aquela que esperaria ser dispensada. Desde o início, soubera o que esperar de Jeff. Algumas horas de divertimento. Ele deixara isso muito claro no bar. Mais uma consulta ao relógio. Aquele fora o motivo que o levara a escolhêla. Porque reconhecera nela a capacidade de não criar fantasias. JEFF APERTOU com força a bancada de mármore, observando o próprio reflexo no espelho, enquanto tentava se recompor e encontrar as palavras certas. Droga! Sempre sabia o que dizer. Mas estivera fora de seu habitat natural desde o primeiro minuto em que pousara os olhos em Darcy. Via-se sem palavras diante de uma mulher que não conseguia decifrar. E da qual não conseguira se saciar. Fora tal pensamento que o retirara da cama e o guiara ao toalete. Pretendia se lavar e retornar com algo para… oferecer. Algo além do superficial “obrigado pelas horas maravilhosas e seja feliz” que normalmente surgiam como padrão após o tipo de noite que acabara de ter. Gostava de Darcy. Do modo como ela o fazia rir, a perspectiva singular que possuía sobre… danação!… tudo. Claro que ela vivia em Las Vegas e aquele


lugar não era exatamente uma parada de viagem comum para ele, mas, se Darcy se mostrasse receptiva, aquela era uma possibilidade. Ou, melhor ainda, ele poderia ir até lá buscá-la e levá-la para Los Angeles de vez em quando. Para passar a noite ou talvez um fim de semana. Aquela fora sua intenção até descobrir que o preservativo que usara havia rasgado. E agora? Tentava descobrir como dar a notícia a Darcy, imaginando os vários cenários e o que veria estampado naquele belo rosto. Acusação, medo, pavor. A ideia de lhe inspirar qualquer daquelas sensações teve o impacto de um soco em seu abdome. Não era aquele tipo de homem. Para ninguém. Não após Margo, sua namorada durante a maior parte do ensino médio e da faculdade. A mulher com quem julgara, assim como todos que os conheciam, que iria se casar. Ao menos até o dia em que ela aparecera com os olhos vermelhos e o rosto corado, confessando que havia dormido com outro homem. Alegara que se sentira claustrofóbica, presa entre todas as expectativas em relação àquele relacionamento extremamente sério, impecável e bem planejado. Queria se ver livre e, embora um telefonema tivesse sido menos traumático para todos os envolvidos, encontrara sua válvula de escape na cama de outro rapaz da fraternidade, usuário de cocaína. Como resultado daquela lição, Jeff se especializou em relacionamentos superficiais. Era um cara confiável. Divertido. O amante que sempre permanecia amigo, porque o romance nunca se aprofundava a ponto de tornar difícil um rompimento. Mantinha-se sempre informado sobre as mulheres com quem tinha casos, tornando a comunicação uma prioridade, atitude que lhe rendera a reputação de sr. Sensível, o que não o incomodava desde que significasse não ser surpreendido como fora com Margo.


Diabos, sim, conversava sobre sentimentos. E o benefício que obtinha daqueles diálogos abertos era o de que nada se tornava muito sério. Ninguém alimentava esperanças vãs. Não era o tipo de homem que costumava inspirar o pânico, mas era exatamente aquilo que estava a ponto de acontecer. Porque, se havia uma forma de fazer uma mulher se sentir presa em uma armadilha, era aquela. Recompondo-se, Jeff lembrou a si mesmo que, embora aquela fosse a primeira vez que algo daquele tipo acontecia com ele, não era a primeira vez na história da humanidade que um preservativo se rompera. Ele e Darcy eram dois adultos que tinham pleno conhecimento de que medidas profiláticas não tinham cem por cento de eficácia. Acidentes aconteciam. E aquele era um risco inerente ao sexo. Teriam uma conversa, na qual ele lhe garantiria que era um homem saudável e compulsivo no uso de preservativos. Ela lhe diria que, apesar de não ter o costume de ir para a cama com homens que acabara de conhecer, utilizava algum método contraceptivo e também era saudável. Os dois trocariam números de telefone e manteriam contato. Mas, quaisquer que fossem as fantasias que Jeff estivera acalentando sobre manter um relacionamento casual com Darcy, ele as viu se dissolver sob o balde de água gelada que a realidade lhe atirara na forma de um preservativo rasgado. E agora tudo em que conseguia pensar era que teria muita sorte se pudesse encontrar uma forma tranquila de sair daquela situação. Envolvendo os quadris com uma toalha, Jeff saiu do banheiro e paralisou com uma das mãos na nuca, a boca entreaberta e todos os pensamentos sobre o que estava prestes a dizer evaporados… assim como a mulher dentro da qual se encontrava enterrado, dez minutos antes.


Capítulo 5 Dia atual… MOMENTOS APÓS a porta do toalete se escancarar, a mãe de seu suposto filho emergiu. A frieza metálica dos olhos cinza encontrou os dele. Olhos que, segundo se recordava, emanaram calor durante as horas que haviam passados juntos. Os mesmos que ele vira suavizar quando Darcy se encontrava sob seu corpo e o fizeram imaginar se uma única noite com aquela mulher seria suficiente. Que o assombraram durante semanas após seu retorno a Los Angeles, até que se visse forçado a expulsá-los da mente. Traçar um novo plano e seguir em frente. Exatamente o que fizera. Olivia. Segurando o dorso do nariz entre os dedos, Jeff fez um movimento negativo com a cabeça. Uma coisa de cada vez. Darcy inspirou profundamente e limpou a garganta. – Então, acho melhor começarmos esclarecendo alguns pontos antes de qualquer outra coisa. Jeff anuiu, verificando o bloco no qual começara a fazer uma lista. – De acordo. Validar a paternidade. Confirmar/melhorar o plano de saúde.


Estabelecer pensão alimentícia. Contratar uma enfermeira. Comprar uma casa com pátio e segurança. Começar a fazer uma triagem de babás. Colégios particulares (*programas para talentosos e superdotados?) As cinco melhores universidades do país. Atividades lúdico-educativas de qualidade. Relatórios de segurança *carros para família. – Não quero me casar com você – disse ela sem rodeios, fazendo uma careta no mesmo instante em que as palavras lhe escaparam dos lábios. Jeff pestanejou, confuso. Espere. Darcy não queria se casar com ele? Com um suspiro comedido, Jeff tentou convencer mentalmente o próprio ego a se afastar da margem do precipício. Porque, sinceramente, depois de ter pulado de sua cama sem nem ao menos um “obrigada pelas horas agradáveis, camarada”, era daquela forma que Darcy queria iniciar conversa? – Não me recordo de tê-la pedido em casamento – retrucou ele, no mesmo tom. – Mas é bom saber que estamos na mesma sintonia. Ou não exatamente tão afinados, considerando aquela testa franzida sobre um olhar muito familiar que produzia um efeito em nada desagradável, mas não exatamente bem-vindo, em Jeff. Os dois se encararam por um instante, antes de Darcy desviar o olhar. – Não estou interessada em começar de onde paramos. – Algo que a mulher com quem estou saindo apreciará, tenho certeza. Sim, era melhor usar de sinceridade desde o início, embora não tivesse muita


certeza se Olivia apreciaria qualquer aspecto daquela situação. Principalmente se um dia tivesse um vislumbre de Darcy. Mesmo após perder vinte minutos devolvendo todo o conteúdo do almoço, ainda tinha uma aparência arrasadora. Até onde podia ver, a gravidez ainda não lhe causara nenhuma modificação no corpo. Antes que pudesse perceber para onde aquele pensamento o estava levando, os olhos de Jeff rumavam lentamente pela linha do pescoço delicado, descendo pelas curvas sinuosas de um corpo que… – Fico feliz por sua namorada, mas também não estou aqui para abrir mão do meu bebê, portanto… – Os dedos de Darcy entraram em sua linha de visão, que se encontrava concentrada no umbigo no qual ele introduzira a língua, estalaram duas vezes e apontaram para cima como que o advertindo a desviá- los daquele ponto e voltar a se concentrar em seu rosto. – Portanto, o que quer que esteja pensando com esse olhar, pode parar. – Abrir mão do seu bebê? – repetiu ele. – O que quis dizer com isso? Darcy deu de ombros. – Bem, você estava olhando – rebateu Darcy, empinando o queixo em uma expressão acusatória. Em seguida, pareceu perder um pouco daquela bravata. – Com uma espécie de cobiça e especulação. Como posso saber o que estava se passando em sua cabeça? Jeff abriu a boca para dizer alguma coisa, mas voltou a fechá-la, porque… Estaria ouvindo direito? E então foi como se a tensão acumulada desde que ela entrara naquele escritório como uma flecha… simplesmente explodisse. E, de repente, tudo que ele conseguiu foi gargalhar, o que, provavelmente, não ajudava em nada a aliviar toda aquela atmosfera cobiçosa e especulativa que ele estivera tentando reprimir, mas de que adiantava? Ao que parecia, não seria possível descer mais aos olhos de Darcy. Portanto, em vez disso, ele se limitou a esfregar as palmas das mãos nas bochechas do rosto e encarou a mulher que havia virado sua vida de cabeça para baixo em apenas uma noite. E, quando ele pensara que a havia colocado de volta aos trilhos, reaparecera para atirá-lo em um torvelinho enlouquecedor.


Do qual tinha de escapar rapidamente. – Relaxe. Acabei me distraindo com seu corpo. Não me parece que tenha sofrido alguma mudança. – E, mesmo correndo o risco de parecer um cretino, acrescentou com sinceridade. – Você está ótima. – Oh! – Depois de alguns instantes, ela revirou os olhos como se fizesse uma constatação dolorosa. – Obrigada. Você também está ótimo. Embora isso não tenha nenhuma importância. Jeff não conseguiu conter um sorriso, mas, no fim das contas, ela não pareceu se ofender e até o retribuiu. Aquilo o pegou desprevenido, mas Jeff conseguiu se recompor a tempo e sugeriu que se sentassem para conversar. Darcy se afastou da porta do toalete e cruzou o escritório até o sofá, onde Jeff pousou um cesto de lixo vazio, fora do caminho, mas ao alcance da mão. Ela baixou a cabeça e piscou para dissipar a repentina umidade dos olhos. – Você trouxe outro cesto para mim? – perguntou, olhando para Jeff como se ele tivesse acabado de lhe entregar as chaves de um carro luxuoso. – Não queria que fosse obrigada a colocar o rosto dentro do outro. A mão de Darcy pousou sobre o abdome ainda reto e um meio- sorriso choroso lhe curvou os lábios, algo que Jeff não entendeu muito bem, mas pressentiu que fosse importante para ela. – Você é um homem atencioso. Então era isso. Confiança. Darcy deveria estar se sentindo apavorada para recorrer a ele, um completo estranho. Esticando o braço, Jeff lhe segurou a mão e a apertou por um instante, antes de olhá-la nos olhos.


– Fique tranquila, vai dar tudo certo. – Ele se recostou para trás com o bloco na mão. – Bem, por onde devemos começar… já que está grávida, claro. – Darcy fez uma careta como se ouvir aquelas palavras ainda lhe causasse um choque. – Quando descobriu? – Não sabia até uma semana atrás. O que é um pouco tarde, mas… – Ela deu de ombros, em um gesto de frustração. – Meu ciclo é irregular, portanto não fico preocupada com os atrasos, mesmo porque normalmente não tenho motivos para isso. Mas nos últimos meses… Estive muito atarefada. Pensei que os enjoos fossem sinais de estresse. Então, piorei e pensei estar gripada, mas não melhorei. Jeff prestava atenção nas palavras, mas parte dele havia estacado no fato de que aquela notícia era tão nova para Darcy quanto para ele. – Já consultou algum médico? – Apenas para pedir o exame de sangue. – Darcy abriu a bolsa, retirou o resultado impresso em uma folha e lhe entregou. – Mas minha primeira consulta será na semana que vem. Jeff escaneou o papel com os olhos, antes de pousá-lo na pequena mesa ao lado da poltrona em que estava sentado. – Então, se não quer se casar ou retomar as coisas de onde paramos… Acho que faz sentido perguntar o que deseja? – Quero que você concorde em fazer um teste de paternidade. DARCY PODIA ver as engrenagens girando na cabeça de Jeff, se afastando da perspectiva da paternidade com a ideia de que talvez aquele filho pudesse não ser dele. – Jeff – disse ela, no tom de voz mais gentil que conseguiu conjurar. – Tem de entender. Estou pedindo esse teste para o seu benefício, porque não espero que confie na palavra de uma mulher com quem passou apenas algumas


horas, três meses atrás. Este bebê é seu. Quando tiver a confirmação do laboratório, a decisão que terá de tomar será se quer ou não ser pai dessa criança. É isso que preciso saber. Jeff a observava com atenção. O olhar era tão intenso que ela teve de lutar contra o reflexo de se contorcer sob aquele escrutínio. O homem que podia ser irreverente de uma forma que ela nunca testemunhara antes possuía um lado sério que contrabalançava aquela característica. E, no momento, aquele equilíbrio era reconfortante. – Não há outras opções? Está me dizendo que não dormiu com mais nenhum homem desde que ficamos juntos? Darcy inspirou profundamente, mas não se sentiu insultada com o comentário. – Sei que não lhe dei muitas razões para acreditar nisso, mas não tenho o hábito de me deitar com desconhecidos. Ou nenhum outro, para dizer a verdade. Não houve mais ninguém. Jeff deixou escapar um suspiro longo e lento. Os olhos ainda estavam cravados nela, mas o foco parecia direcionado para o seu íntimo. Por fim, ele anuiu. – Muito bem. Então, o teste será basicamente uma formalidade. Pedirei a um advogado que tome as providências. Mas, nesse meio-tempo, partirei da premissa de que serei pai. Talvez precise me acostumar à ideia, mas, quanto ao fato de eu estar preparado para assumir essa responsabilidade, não há o que se discutir. – Ele se ergueu e se encaminhou de volta à própria mesa. – Então, como faremos isso? – Podemos começar com o teste de paternidade e seguir daí? – Darcy propôs. – Isso ainda é muito novo para mim também. Quis entrar em contato com você imediatamente, mas não havia parado para pensar em como eu me sinto sobre isso tudo. Acho que queria conhecer a sua posição, antes de começar a tomar decisões sobre um futuro que você talvez queira opinar. Jeff suspirou, contemplativo.


– Muito bem. Respeito isso e lhe agradeço. Então, vamos dar um passo de cada vez. Começando com o teste. Você poderia começar a pensar na possibilidade de se mudar e… podemos voltar a conversar daqui a algumas semanas? Darcy anuiu, aliviada com a fácil aceitação de Jeff e até mesmo com a distância que ele colocou entre eles com aquele último comentário. Certamente seria como uma reunião de negócios. Porque era assim que lidariam com aquela situação. Exatamente do modo que ela desejava.


Capítulo 6 COM A tarde livre, não havia nada que Jeff desejasse mais do que telefonar para Connor. Contar ao melhor amigo que ele não fora o único a trazer uma lembrancinha de Las Vegas. Conversar sobre as mudanças que estariam por vir e ganhar o apoio do único homem no planeta que o conhecia tão bem quanto ele. Mas Connor acabara de se reconciliar com a esposa. A mulher com quem se casara algumas horas após conhecê-la, na mesma noite em que ele conhecera Darcy. E, mesmo que não se importasse em incomodá-los, tinha quase certeza de que os dois pombinhos estavam incomunicáveis. Melhor assim. Havia outra pessoa que merecia saber em primeira mão o que estava acontecendo. Olivia. A mulher com quem começara um relacionamento há cinco semanas. O algo que Jeff encontrara para preencher aquele espaço vazio de sua vida, do qual só se dera conta após voltar de Vegas. Correndo pelo saguão de mármore e vidro, Jeff pegou o elevador que levava ao escritório de Olivia, no último andar. Como diabos explicaria aquela situação? E qual seria a reação dela? As coisas estavam caminhando bem entre eles. Formaram uma bela dupla desde o início. Confortável, compatível. Olivia era uma mulher aberta e agradável. Formada em Harvard. Sagaz nos negócios. Antenada.


Duas horas atrás, teria esperado seis meses para fazer a proposta. E apenas porque aquele parecia o tempo adequado para esperar. Em Olivia encontrara alguém que reunia todas as características da mulher que desejava para ser sua parceira na vida desde que conseguia se lembrar. Desde a primeira vez que observara os pais sentados do outro lado da mesa e pensara consigo mesmo: um dia, quero ter isso. O jornal do comércio durante o café da manhã. Os jantares no clube. Os interesses compartilhados de um estilo de vida similar. A anfitriã deslumbrante patrocinando as instituições de caridade e fundações que ajudavam. Podia parecer superficial enquanto relacionava aqueles desejos na mente, mas não era. Jeff desejava o tipo de boa parceria que significava uma vida inteira de felicidade tranquila e compartilhada. O que os pais possuíam, até o dia, há cinco anos, que um ataque cardíaco ceifou a vida do pai. O homem mais extraordinário que jamais conhecera. O exemplo que ele sempre esperara seguir. Diabos! Queria que o pai estivesse ali para conversar com ele sobre aquele assunto. Enquanto seguia para o escritório de Olivia, não pôde deixar de questionar o que a namorada pensaria quando visse a mulher com quem ele estivera antes dela. Aquela que lhe servira de alerta para deixar de se envolver com mulheres que não eram certas para ele e pensar em levar a sério uma que fosse. Formar uma família. Olivia iria ver seu extremo oposto em Darcy. E aquilo a faria questionar seu relacionamento com ele. Darcy lhe proporcionara uma alegria que ele não estava esperando e a única razão pela qual não conseguiu esquecê- la fora o modo como ela partira. A química entre os dois fora forte o suficiente para que, mesmo passados


aqueles meses, ainda fosse capaz de senti-la, mas e daí? Era apenas sexo. Não exatamente uma base para alicerçar um relacionamento sólido. Mas também não era algo que Jeff pudesse, em sã consciência, ignorar no que dizia respeito a um relacionamento com outra mulher. – Olá, Mel. Ela está aí? – perguntou ele, quando chegou ao escritório. – Ao telefone. Devo interrompê-la? – Não. Vou esperar. Aquela era uma notícia que só poderia ser dada pessoalmente. Algum tempo depois, Jeff estava pesquisando sobre estágios de gravidez em seu telefone e os relacionando com sua agenda e os compromissos de viagem, quando a porta se abriu e Olivia saiu para recebê-lo com um sorriso. – Jeffrey, que surpresa maravilhosa! – Tem alguns minutos para mim? – perguntou ele, erguendo-se do sofá acolchoado para segui-la para dentro do escritório. Em seguida, fechou a porta. – Podemos desfrutar de privacidade aqui? A testa de Olivia se franziu de leve diante da pergunta, enquanto alternava o olhar entre a porta fechada e a mesa de trabalho impecavelmente organizada com seus últimos projetos. – Pensei que tivesse vindo me buscar para almoçar. – Ela enrugou o nariz quando os olhos encontraram os dele mais uma vez. – Mas sua presença aqui é por… outro motivo? Uma risada rouca escapou da garganta de Jeff quando percebeu a direção dos pensamentos da namorada. Olivia pensou que ele estivesse ali para algum tipo de proeza sexual sobre a mesa. Sim, agora entendia a expressão confusa estampada em seu rosto. As coisas não eram exatamente assim entre eles. Com um movimento negativo da cabeça, Jeff cruzou o escritório na direção de uma das poltronas espalhadas pelo escritório e estendeu uma das mãos para que Olivia se juntasse a ele.


– Não, sinto muito. Algo… inesperado aconteceu. Precisamos conversar. As linhas que vincavam a testa de Olivia se aprofundaram enquanto ela se acomodava em uma poltrona oposta à dele. – Está me deixando preocupada. O que aconteceu? Observando o rosto confuso e os olhos curiosos de Olivia, ele desejou que houvesse uma forma de adoçar o amargor da notícia que estava prestes a lhe dar. Mas, na verdade, isso não serviria de nada. – Dois meses antes de nos conhecermos, passei a noite com uma mulher que apareceu no meu escritório hoje. Ela está grávida. Olivia permaneceu sentada, rígida e imóvel, enquanto arregalava os olhos. – Vocês tiveram um relacionamento? Jeff abriu a boca para negar, mas se limitou a dizer: – Foi apenas uma noite. – Quem é ela? Alguém que conheço? do tipo discreta? O que ela quer de você? – Duvido muito que a conheça, a não ser que tenha passado mais tempo em Las Vegas do que deixa transparecer. – Ela é uma stripper. Oh, Deus, Jeffrey, por favor, diga-me que não se trata de uma prostituta. – Não! – Jeff passou uma das mãos nos cabelos. – Não, ela era garçonete em um bar onde fiquei esperando por Connor na noite em que ele conheceu Megan. Estava matando o tempo e uma coisa levou à outra. Nem mesmo ele estava gostando de como soava aquela explicação, mas a versão mais detalhada e profunda era algo que Olivia não precisava ouvir. – Acabou de saber? Então, ainda não houve tempo para um teste de paternidade conclusivo. Esse bebê pode não ser seu. Quero dizer, foi apenas uma noite com uma garçonete de Las Vegas, três meses atrás. Ainda não pode ter certeza de nada.


Uma parte de Jeff queria concordar. Dizer a ela que provavelmente estava certa e dar a si mesmo algumas semanas para lidar com aquela situação. Porém, Olivia merecia a verdade. – Faremos o teste de DNA, mas eu sei que esse bebê é meu. Olivia não perguntou detalhes, mas ele percebeu, pelo olhar que recebeu, que ela havia entendido. A esperança dando lugar ao desapontamento. Engolindo em seco, ela recuou as mãos que ele segurava e as escorregou em torno da própria cintura. – Vai se casar com ela? A rejeição enfática de Darcy mesmo antes de receber a proposta lhe veio à mente, fazendo surgir um sorriso oblíquo em seus lábios. – Não. – Muito bem – disse ela, anuindo com gesto lento de cabeça, antes de lhe encontrar o olhar com uma frieza que Jeff nunca antes percebera. – Então, dêlhe um cheque com alguma polpuda quantia. Jeff encarou a mulher sentada à sua frente com olhar severo. A mesma que ele pensara ser ideal para compartilhar sua vida. – Para quê? Para ela ir embora? – perguntou, incapaz de dar voz à outra alternativa, que esperava desesperadamente que Olivia não estivesse sugerindo. Algo se agitou dentro dele, como um instinto protetor lhe revolvendo as entranhas. – Trata-se de um filho meu. – Que criaremos como se fosse nosso. – Olivia se apressou em acrescentar, segurando-lhe as mãos nas dela. – Podemos nos casar. Fazer uma adoção. Encontraremos uma explicação que seja boa para os dois.


Adoção. Claro, essa seria a primeira opção que passaria pela mente de Olivia. Adoção e casamento. Um pacote perfeito, exceto pelo fato de ela ter excluído Darcy por completo daquela equação, a não ser para receber um cheque polpudo. – Jeffrey, temos algo precioso. Algo que há muito tempo espero encontrar. Podemos fazer isso dar certo. Jeff apertou a mão de Olivia por um instante e se ergueu da poltrona. Precisava ser compreensivo com Olivia. Ela chegara à conclusão errada provavelmente porque os detalhes que ele omitira apontaram naquela direção. Tudo que estava fazendo era tentar encontrar uma solução para um problema que ele lhe atirara no colo de uma hora para outra. Apenas não encontrara a mais adequada. Caminhando na direção do conjunto de janelas, Jeff esfregou as mãos na mandíbula. Darcy tinha razão. Todos precisavam de um tempo para se ajustar àquela situação. – Darcy não quer abrir mão do bebê. Está apenas me oferecendo a oportunidade de fazer parte da vida da criança. Você não a conhece. Olivia se recostou para trás, observando-o da maneira como ele fazia com os homens sentados do outro lado de uma mesa de conferências. Lendo a linguagem corporal e tudo que suas bocas não diziam. – E você conhece? – Apenas o suficiente para afirmar que ela não veio aqui para oferecer o filho que está esperando. – Muito bem. Então, partiremos daí. – Ela cruzou o escritório na direção dele e pousou as mãos com suavidade em um dos braços de Jeff.


– Não sei o que esse próximo ano me reservará. Acho que seria melhor para todos se nós… – Não. Não abrirei mão de nós porque as coisas não são como eu pensei que fossem. – Olivia o olhou nos olhos. – Somos perfeitos um para o outro. Tudo que lhe peço é que nos dê uma chance, antes de tomar qualquer decisão. Por favor. Jeff lhe envolveu um dos ombros com o braço, sentindo-a tensa, com uma inflexibilidade que jamais havia notado. O que fazia sentido, considerando o problema que ele havia acabado de colocar entre os dois e com o qual nenhum dos dois sabia como lidar. Agora, o mínimo que podia fazer era atender ao pedido de Olivia e dar uma chance aos dois.


Capítulo 7 – VOCÊ ENGRAVIDOU a garçonete? – Connor balançou a cabeça em negativa, atirando-se para trás no banco do bar como se a notícia o tivesse atingido fisicamente. – Tem certeza? Quero dizer, nenhuma dúvida…? Jeff anuiu. – Há um teste DNA em andamento, mas mesmo que não tivesse feito… tenho certeza. – Um bebê. Como diabos isso foi acontecer? – E, diante das sobrancelhas erguidas de Jeff, o amigo ergueu uma das mãos. – Não me diga. Sei como. Seu pai foi muito eficaz lhe passando todos aqueles “sermões” na época do colegial. Não consigo acreditar que esteja… nessa situação… agora. – E, dirigindo-lhe um olhar preocupado, acrescentou: – Alguém mencionou que você está saindo com Olivia Deveraux e que o relacionamento parece ser sério. – Antes de Darcy aparecer em meu escritório, teria apostado dinheiro em um futuro com Olivia. Mas agora… – Agora, mesmo duas semanas depois, não tinha a menor ideia de qual seria o futuro dos dois. A namorada não mudara em nada. – Ela quer fazer nossa relação dar certo. Propôs se casar comigo e adotar a criança. – Generosa. – Se Darcy estivesse considerando a possibilidade de abrir mão do bebê, mas nem por um segundo ela aventou tal possibilidade. Jeff se recordou do momento em que ela o surpreendera observando sua cintura fina e o acusara de estar pensando em ficar com seu bebê. Cedendo mais uma vez ao sorriso reincidente que se estampava em seu rosto todas as vezes que se lembrava da expressão ultrajada e acusatória de Darcy, ele


ergueu uma das mãos. – Ela será uma mãe maravilhosa. Dá para perceber. – Olivia? Jeff percebeu o olhar do amigo e a pergunta sutil, não verbalizada por trás daquela. – Darcy. Mas, sim, tenho certeza de que Olivia também seria. Connor fez movimentos circulares no copo. – Mas você não vê essa possibilidade. Pior ainda. Nem ao menos havia aventado aquela possibilidade. Olivia lhe propusera dar uma chance aos dois, mas, até então, não conseguira tempo para ficar com ela. – Estive tão focado em Darcy que não me sobrou muito tempo para mais ninguém ou nada mais. Ela está vivendo em São Francisco e estou tentando convencê-la a se mudar para cá. Mas ela é… teimosa. Acho que pretende se mudar, mas não antes de o bebê nascer. Ela tem um emprego e… – Jeff fez que não com a cabeça. – E parece que a questão do emprego é muito importante para ela. Mas não vou desistir. Quero-a aqui. O mais rápido possível. – Será que estou mal informado sobre o trabalho de garçonete? Que diabos de emprego ela possui que você não possa competir com ele? Jeff se recostou para trás na cadeira e deixou escapar um suspiro frustrado. – Um que ela arranjou com o próprio esforço. A compreensão se estampou nos olhos de Connor. – Ela sabe quem você é, certo? – Darcy não se importa com quem eu sou. – Jeff passou uma das mãos pelos cabelos. – Ela se nega a aceitar qualquer quantia em dinheiro até que o bebê nasça. E, droga! Aquela mulher é muito independente… e teimosa. – Connor franziu a testa e deslocou a mandíbula para o lado. Jeff o encarou com expressão furiosa. – Não é o que está pensando. Mesmo se não existisse Olivia. Ambos concordamos, em termos


inequívocos, que nenhum de nós está interessado em retomar as coisas de onde paramos. Darcy é para mim a pessoa mais importante na vida da pessoa mais importante da minha. Nosso relacionamento se limitará a essa criança e terá de ser amigável para o resto da vida. O que significa que há muita coisa em risco para perdemos tempo com um caso que poderá terminar mal. E Jeff sabia, por experiência própria, as consequências de um relacionamento fracassado. Connor tomou um gole do próprio drinque. – Certo. Não vale a pena correr o risco apenas para ter um caso. Jeff o encarou. – Estou falando sério. O amigo anuiu. – Está bem. Oh, aquilo era demais. – Vá se danar! Connor sorriu e gesticulou para que o balconista trouxesse a conta. – Desculpe meu amigo, mas Megan não está disposta a me dividir com você. AS PORTAS do elevador se abriram no 11º andar e Jeff seguiu Olivia pelo corredor na direção do apartamento dela. Ela lhe dirigiu um sorriso luminoso por sobre o ombro, enquanto fechava a distância até a porta com passadas eficientes. – Obrigada pelo jantar. Sei como tem estado ocupado. Aquela era Olivia. Nunca pressionando.


Sensível à situação em que ele se encontrava, mas disposta a fazê-lo ciente de que ficava satisfeita em vê-lo quando surgia uma oportunidade. Não fora a intenção de Jeff colocar aquele relacionamento para escanteio, mas vinha negligenciando a namorada há semanas. Trabalhava até mais tarde e, durante as raras vezes em que saíra com ela, se mostrara distraído. Presente de corpo, mas não de alma. Porque estar com Olivia não era suficiente para impedir que a mente se voltasse a todos os lugares que ele não queria ir. A Darcy. Ao espaço que estava tentando lhe conceder e como se esforçava para não odiar o espaço que ela já havia conseguido. Imaginar o que ela faria se a pressionasse muito. Aquilo não era justo. Mas Olivia havia se mostrado tão compreensiva. Deixando claro que entendia toda aquela situação. Não poderia dispensá-la. Não seria capaz disso. E, ainda assim, enquanto caminhava atrás dela, a mente continuava vagando para outra mulher. Como ela estaria se sentindo? Alguém a estaria fazendo rir? A gravidez estaria começando a aparecer? – Quer entrar? – perguntou Olivia quando alcançou a porta, freando o trem dos pensamentos que ameaçava descarrilar e o trazendo de volta à mulher que deveria estar prendendo sua atenção durante as poucas horas que passavam juntos. Olivia esperava com expectativa no olhar. Como se soubesse que, mentalmente, ele já a havia deixado ali e se encontrava a meio caminho do escritório, onde teria a chance de mergulhar no trabalho. – Olivia – começou ele, erguendo-lhe queixo com apenas um dedo. – Tenho uma videoconferência agendada com Hong Kong dentro de três horas. Recostando um dos ombros na soleira da porta, ela o avaliou com o olhar. – Então, restam-lhe duas horas e meia para ficar comigo. – Olivia fechou os dedos em torno da gravata para puxá-lo para perto. – Sei que esteve


esperando, não pressionando o aspecto físico de nosso relacionamento em respeito a mim, mas agora é uma boa hora. Você precisa de uma distração. Deixe-me ajudá-lo a esquecer as preocupações por um tempo. Respeito. Talvez tivesse sido isso que em parte o estivera impedindo. Mas, para de fato respeitá-la, tinha de aceitar o fato de que não se relacionar fisicamente com ela fora muito fácil. Olivia merecia coisa melhor do que ser usada como uma distração. Ou como uma distração que ele sabia que não funcionaria. Tentara convencer a si mesmo de que aquela era a mulher adequada para ele. O par perfeito que imaginara quando os dois começaram a se relacionar. Porque ela se mostrara muito diferente daquela que fugira… Mas, quando Darcy retornara ao cenário, não pudera evitar fazer comparações entre as duas. – Você concordou em nos dar uma chance. Não pode entrar e deixar que eu lhe mostre como podem ser as coisas entre nós, se você permitir? Jeff odiou ver a súplica naquele olhar, saber que estava a ponto de se tornar mágoa. Mas não havia outro jeito, porque suas mãos já haviam se movido para lhe segurar os ombros e afastá-la. – Sinto muito, Olivia. OH, NÃO. Outra vez, não. Darcy se sentou à mesa dobrável na sala dos fundos, de repente muito quente, da empresa de coordenação de eventos. Havia sido contratada para fazer inventários de suprimentos de bufê, envelopar convites, montar lembranças de festa, encher sachês com alpiste e tudo mais que a requisitada empresa necessitasse durante os períodos de muito movimento. O salário não era astronômico, mas ela tivera sorte de o gerente do restaurante onde ela trabalhara anteriormente ter convencido a dona da empresa a lhe dar a vaga temporária. Ao menos estava recebendo um salário, embora reduzido.


Dentro de algumas semanas a náusea abrandaria porque não poderia se tornar pior do que estava. E quando o estômago voltasse ao normal… Em resposta àquele pensamento, sentiu uma nova ânsia de náusea lhe subir à garganta. – Você está bem? – perguntou a chefe, da soleira da porta que se encontrava aberta. Darcy ser ergueu, gesticulando com uma das mãos para que a mulher mais velha ficasse sabendo que ela estava bem. Porém, as paredes da sala que pareciam se fechar e adotar tonalidades desbotadas diziam o contrário. Ela tentou se segurar na borda da mesa, mas rapidamente tudo escureceu até que só restasse um pensamento em sua mente: a súplica silenciosa para que seu bebê estivesse bem. DARCY DESPERTOU devagar, os sentidos voltando um de cada vez, enquanto registrava o colchão duro da cama de hospital sob seu corpo, a luz frouxa acima e o murmurar grave de uma voz que ela não estava esperando escutar. Que não poderia estar soando de nenhum lugar próximo a ela. Jeff. – … Desidratação, fadiga, pressão baixa, perda de peso… Não, disseram que ela e o bebê ficarão bem, mas não há a menor possibilidade de eu sair daqui sem… Darcy se mexeu na cama, lembrando tarde demais que havia uma agulha espetada em sua veia e deixando escapar um gemido quando fez pressão no braço. O que quer que Jeff estivesse prestes a dizer, ela não conseguiu escutar e agora a conversa fora interrompida. De repente, ele se encontrava em seu quarto, preenchendo o pequeno espaço com sua presença imponente. Guardando o telefone celular no bolso do terno, ele deu alguns passos na direção da cama como se tivesse a intenção de se sentar na cadeira ao lado. Mas, em vez disso, esticou o braço para a campainha para chamar a enfermeira, antes de recuar um passo e encará-la com olhar sério.


– Está precisando de alguma coisa? Como está se sentindo? – Cansada ainda, mas… Não precisava vir até aqui. Avisei a Charlie que eles só queriam que eu recebesse alguns fluidos e antieméticos… – Você me disse que estava bem. – O comentário não soou exatamente como uma acusação de que ela estivesse tentando se livrar dele, mas a intensidade na voz de Jeff era quase palpável. – Falei com seu médico e a hiperêmese gravídica pode ser perigosa. Você não está bem. Uma onda de sentimento de culpa ameaçou afogá-la. Darcy pensara que se tratava apenas de enjoos matinais que se prolongavam por todo o dia, o que haviam lhe dito que era normal. Embora planejasse relatar ao seu médico sobre a intensidade dos sintomas na próxima consulta, não tinha a menor ideia de que seu organismo se rebelara, ameaçando o que ela vinha lutando para proteger. – Não sabia que havia se agravado tanto. Não tenho uma balança, portanto não sei quanto peso perdi. Minhas roupas estão um pouco largas, mas ouvi dizer que muitas mulheres emagrecem no início da gestação. – Darcy sentiu os olhos arderem e pestanejou várias vezes para impedir que as emoções explodissem. Cabia a ela levar suas responsabilidades a sério e tomar as decisões certas. Deveria ser capaz de contar consigo mesma. A vida de seu bebê dependia disso. Engolindo em seco, voltou a encarar Jeff. O homem de sorriso fácil e natureza tranquila não se encontrava naquele quarto. Aquele Jeff era sério. Eficiente. E estava ali porque a mulher responsável por proteger seu filho sequer percebera que estava correndo o risco de não conseguir fazê-lo. Aquele Jeff tinha todas as razões do mundo para estar ali. No lugar dele, teria feito a mesma coisa. – Sinto muito.


Jeff anuiu, mas a expressão de seus olhos era séria. – Eis o que vamos fazer: sei que é uma mulher forte e independente, mas não me agrada a ideia de deixá- la sozinha, nesse estado. Pelo que entendi, foi sorte sua chefe estar presente quando desmaiou. Você trabalha sozinha por horas a fio. Usa o transporte público, sozinha, para voltar ao apartamento que não divide com ninguém. Não há ninguém aqui para tomar conta de você. Então, o que lhe pergunto é: faz algum sentindo continuar neste lugar? Darcy baixou o olhar às próprias mãos, observando o tubo de plástico que se desprendia de seu braço, sentindo-se sozinha como nunca antes. – Tenho um emprego aqui. Jeff deu um passo na direção da cama e, após uma breve pausa, se deixou afundar na cadeira ao lado. A mão longa pousou sobre o abdome de Darcy e se deteve lá por um instante. – É nosso bebê quem está aqui. E está lhe dando um bocado de trabalho. Venha comigo e cuidarei de você. Vamos passar por isso juntos. Não tem de fazer tudo sozinha. Darcy não conseguia desviar o olhar da mão forte em contato com sua barriga. Não se via capaz de pensar em nada que não fosse o calor que irradiava daquele toque e a sensação agradável que produzia, quando nada fora agradável desde a última vez que Jeff pusera as mãos nela. Exatamente no que não deveria pensar. Não daquela forma. Com ele a tocando de uma forma que nada tinha a ver com ela, e sim com a criança que haviam gerado. Com a preocupação que ele sentia. Jeff limpou a garganta. – Poderíamos nos casar. A tensão fez o corpo de Darcy enrijecer.


– Mal nos conhecemos. – Não quis dizer para sempre. Apenas até o bebê nascer, para que ele possa ser legítimo. O ar pareceu abandonar os pulmões de Darcy, enquanto ela negava com a cabeça, tentando ignorar a pontada de desapontamento para a qual não encontrava nenhuma justificativa. – Legitimidade não é razão que justifique um casamento. – Eu sei. Esqueça. – Ele deixou escapar um murmúrio impaciente, recuou a mão e passou-a pelos cabelos revoltos, prosseguindo como se não tivesse lhe atirado aquela bomba. – Faz questão de trabalhar? Jeff não conseguia entender, mas precisava aceitar aquilo. – Sim. – Muito bem. – Ele se ergueu e baixou o olhar para o ponto onde pousara mão e fez um gesto positivo com a cabeça. Em seguida, encaminhando-se na direção da porta, olhou para trás com a testa franzida. – Tenho um cargo que seria perfeito para você.


Capítulo 8 – SEU MENTIROSO barato e descarado – acusou Darcy, o rosto corado como quando ele a conheceu em Las Vegas. Segurando o dedo com que ela lhe cutucava o peito com força suave, Jeff a acomodou no assento de couro da limusine e afirmou: – Nunca minto. Omitia, esquivava-se e manipulava? Sim. Sem dúvida. Mas bastou um olhar a Darcy, deitada naquela cama de hospital, para decidir que seria capaz de abrir mão de algumas questões morais para tirá-la de São Francisco e levá-la para Los Angeles, onde poderia garantir que ela tivesse tudo de que necessitasse. – Falso pretexto – sibilou ela, a cabeça virando a cada olhar nervoso que lançava à janela do carro, enquanto fluíam pelas ruas imaculadamente bemtratadas de Beverly Hills. – Eu lhe disse que era um emprego de meio expediente como assistente pessoal… – Oh, você me disse – disparou ela. – Horário flexível, excelentes benefícios, incluindo hospedagem e alimentação para secretariar uma viúva idosa em suas obrigações sociais e caritativas… Darcy se calou quando entraram em uma área particular, onde seguranças gesticularam para que passassem. – Ei, nunca mencionei a palavra idosa, e sim mais velha. O que é verdade. – Aquilo era tudo de que precisava. A fúria de sua não namorada grávida combinada com a cólera de sua… – Sua mãe! O segredo era se manter calmo. E não puxá-la para o colo e gritar todas as coisas que não o agradavam naquela situação. O fato de não ter direito à opinião. De ela ser teimosa como uma mula. Dizer em altos brados que ela nunca mais precisaria de um


maldito emprego e lhe perguntar por que diabos não aceitava um dos malditos cheques que ele tentava lhe dar. Mas, em vez disso, Jeff deixou escapar um suspiro controlado e lhe sustentou o olhar furioso, dando de ombros, com as palmas das mãos viradas para cima. – Ela precisava de uma assistente. Certo, a mãe não estava precisando de uma assistente, até ele lhe telefonar e convencê-la de que estava. No instante seguinte, ela necessitava desesperadamente de uma. Ficara até mesmo animada com a ideia, para dizer verdade. – Oh, precisa? Sua mãe está tão ocupada, solitária e desesperada por ajuda que precisa de uma desconhecida transitando por sua casa? Alguém que largou os estudos no ensino médio e que cresceu em um trailer, caindo aos pedaços, na parte perigosa da cidade? Uma garçonete de Las Vegas que saiu com um quase estranho, ficou grávida e… Surpresa! Apareceu três meses depois?! Acha mesmo que essa é a mulher de que sua mãe precisa para ajudála em suas tarefas beneficentes? Jeff a encarou, imaginando quem estava naquele carro com ele. Porque não era a mulher que conhecera em Las Vegas, aquela que aparecera em seu escritório e com quem estivera conversando durante várias noites nas últimas semanas. A Darcy que conhecia tinha noção de seu valor e nunca, nem em um milhão de anos, permitiria que alguém a depreciasse da forma como ela mesma acabara de fazer. Compreendia que aquela gravidez não fazia parte dos planos de Darcy e até aceitava o fato de que a perda de controle, para uma mulher que parecia ser feita de aço, devia ser uma pílula amarga de engolir. Tinha certeza de que aquilo lhe havia abalado a confiança, mas as palavras que ela acabara de proferir o deixaram furioso. – Não sei por quem devo me sentir ofendido primeiro, se por minha mãe, por mim, por meu filho ou por você. Ouça, não pertenço a uma família de esnobes.


Sim, temos dinheiro e sempre tivemos, mas isso não significa que não sabemos valorizar o trabalho duro ou respeitar as pessoas que têm de superar desafios diferentes dos nossos. E vou lhe dizer mais uma coisa: minha mãe me respeita. O fato de levá-la para a cama na mesma noite em que a conheci, lhe dirá algo sobre você, também. Darcy soltou uma risada amarga. – Minhas medidas? – Que diabos há de errado com você? Se tivesse sido apenas por seu corpo… – então, ele se viu exatamente onde não deveria. A meros centímetros do rosto de Darcy. Os olhos procurando os dela por algum sinal de entendimento que não acreditava encontrar. – Droga! Sabe muito bem que não foi isso. Eu a quis! lhe escaparam dos No instante em lábios, Jeff que as palavras praguejou em silêncio por tê-las pronunciado. Prosseguir do jeito que pretendiam fazer seria mais fácil sem o reconhecimento de uma atração, não apenas física, que ele não fora capaz de esquecer desde a primeira noite que passaram juntos. Mas, ao ouvir Darcy se nivelar tão baixo, não conseguira se conter. Porém agora, ao ver a surpresa ou talvez um lampejo de dor ou remorso estampado naqueles olhos cinza, Jeff se deu conta de que ela não sabia. Ou ao menos não tinha certeza. Como Darcy fora capaz de não perceber? Por que não acreditara nele? E que diabo de diferença aquilo fazia no presente? Nenhuma. Exceto talvez para confirmar como ele havia interpretado mal a conexão inicial dos dois. Ele e Darcy não estavam na mesma sintonia, embora às vezes achasse o contrário. Tinha de se lembrar disso. Jeff limpou a garganta e se recostou para trás. O que importava agora era convencê-la a sair daquele carro quando


chegassem, entrar na casa de sua mãe e, se quisesse continuar obstinada com a questão de ter um emprego, ao menos aceitar a posição fictícia de assistente dela. O que significava fazê-la se acalmar nos próximos trinta segundos, antes de alcançarem a saída para a casa. – Há algumas coisas que precisamos esclarecer. Vou lhe dizer o que sei. Você conseguiu seu diploma em um curso supletivo, tem idoneidade financeira, não possui antecedentes criminais, paga seu aluguel em dia e, até três meses atrás, quando teve alguns problemas de saúde, possuía um histórico trabalhista exemplar. Não costuma se envolver com clientes, exceto daquela vez, e parece não ter muitos namorados. Nada disso importará para minha mãe. A única coisa que lhe interessa é que você dará à luz o neto dela. Isso e o fato de outra pessoa ficar encarregada de confirmar os arranjos de flores para o almoço que oferecerá na próxima semana. – Quando Darcy se limitou a encará-lo, ele lhe sustentou o olhar. – É a mãe do meu filho. Portanto, sim, fiz uma pesquisa na internet sobre você. – E conseguiu descobrir tudo isso? – perguntou ela em voz baixa, com as sobrancelhas erguidas e os cantos dos lábios quase curvados. – Não. Agora pare de se depreciar. Não gosto disso. O carro estacou diante de um lance de degraus de pedra que levava à porta da frente. Darcy arriscou um olhar hesitante na direção da casa. – Não é assim que me vejo – disse, em tom de voz calmo. – Mas não sei como alguém que ainda não me conhece poderia enxergar algo além daquilo que lhe falei. E não quero… Se vou viver sob o mesmo teto… Jeff esticou o braço ao longo do banco e lhe segurou a mão.


– Não será assim. E a razão pela qual não seria havia acabado de abrir a porta. O CORAÇÃO de Darcy começou a bater acelerado, enquanto a sra. Norton surgiu em um traje de ioga colado ao corpo e um rabo de cavalo desgrenhado, descendo, apressada, a escada, com um sorriso luminoso e um aceno de mão. – Mais velha? – perguntou ela incrédula, imaginando se o pai de Jeff não teria sido preso por se casar com uma criança. Aquela mulher não parecia ter sequer 50 anos. – Ela é mais velha do que nós – respondeu Jeff, enquanto a ajudava a sair do carro. – Jeffrey! Querido, que bom ver você! – disse a sra. Norton, abrindo os braços para puxar o filho de mais de 1,80m em seu diminuto abraço. Em seguida, com a mesma rapidez que o envolvera nos braços, o afastou, redirecionando o foco para Darcy. Os olhos que tinham o mesmo afetuoso tom de avelã que os de Jeff encontraram os dela enquanto a senhora lhe estendia a mão. – Darcy, graças a Deus que concordou em me ajudar! Isso não poderia ser mais perfeito. Eu estava totalmente desesperada e agora teremos a oportunidade de nos conhecer. Oh, adoraria abraçá-la, mas tenho certeza de que Jeff se postaria entre nós para protegê-la da minha força. Meu filho é superprotetor em relação a você, se é que ainda não percebeu. Darcy lançou um olhar surpreso a Jeff, que se encontrava parado e com os polegares enganchados nos bolsos da calça comprida, muito à vontade com aquela situação bizarra. – Sra. Norton, muito obrigada por colocar sua casa à minha disposição. – Darcy teve vontade de ressaltar que não permaneceria lá por muito tempo, mas havia algo no sorriso sincero e caloroso daquela mulher que a fez pensar que iria insultá-la.


– Oh, por favor, chame-me apenas de Gail. Acredite em mim, daqui a cinco anos, quando os amiguinhos desse bebê lhe chamarem de sra. Norton, entenderá o que quero dizer. Darcy empalideceu diante da referência ao casamento, mas foi Jeff a se apressar a esclarecer. – Sra. Norton, não. Sra. Penn. As bochechas do rosto de Gail se tornaram rubras e os olhos se estreitaram, mas logo em seguida uma sonora risada lhe escapou dos lábios. – Oh, Deus! – Com um suspiro profundo, ela gesticulou com a mão para minimizar o que dissera. – Eu sei. É apenas a excitação de ter um netinho… E quanto a sra. Penn? Dentro de cinco anos, não haverá a menor chance de conservar esse sobrenome. – Mãe! – Dessa vez Jeff soou mais sério. – Não… – Não se preocupe, querido, até conhecê-la melhor não tentarei impor nenhum pretendente a Darcy. Por que perder tempo com pares errados? Muito bem, acompanhemme, crianças. Vou acomodar Darcy e, depois que ela descansar um pouco, eu lhe mostrarei toda a propriedade. – Sinceramente, sra. Nor… – O olhar que a mãe de Jeff lançou por sobre o ombro, com as sobrancelhas arqueadas, fez Darcy se apressar em emendar. – Gail. Não precisa se incomodar comigo. – Obrigada, querida, mas não é incômodo algum. Para ser sincera, não podia estar mais feliz por tê-la aqui. Quero apenas acomodá-la o mais rápido possível. – Está bem, obrigada.


Gail anuiu e, com passos decididos, transpôs a escada em curva que levava à porta da frente ainda aberta. – Vou colocá-la no antigo quarto de Connor. Darcy quase se engasgou, os olhos se arregalando enquanto os desviava na direção de Jeff. – Uau! Connor tem seu próprio quarto. Jeff caminhava ao lado dela, a alça de uma das bolsas lhe cruzando o peito, e a outra, pendurada em uma das mãos. – Ele passava muito tempo aqui nas férias escolares – respondeu ele, distraído, de repente parecendo um pouco tenso. Estaria arrependido de tê- la trazido para a casa da mãe? Ou havia simplesmente esquecido a cantada que utilizara para conquistá- la? A piada sobre o seu ego se chamar Connor. Mas, na verdade, era melhor que não restasse recordações das piadas particulares entre os dois. A ligação que sentia com aquele homem era perigosa o suficiente sem acrescentar intimidade.


Capítulo 9 NO QUARTO de Connor, no andar superior, um espaço que lhe era tão familiar quanto o dele, Jeff olhou ao redor, imaginando como Darcy o transformaria. As paredes ainda eram cor de sálvia. As sancas, brancas como no restante da casa. Mas tudo que lembrava o menino do colegial e o rapaz da faculdade havia desparecido de um dia para o outro. As estantes estavam vazias, com exceção de alguns itens que, sem dúvida, haviam sido deixados lá apenas para que Darcy não encontrasse um ambiente estéril e impessoal. Um gesto que ele apreciou, após constatar os poucos pertences que Darcy possuía. Jeff pousou as bolsas na cama onde ela dormiria. Nunca prestara muita atenção antes, mas, agora, não lhe passou despercebido o fato de o tamanho ser king-size. Grande demais para uma mulher solteira dormir sozinha. O que, apesar do desejo de sua mãe em casá-la com alguém, Darcy ainda era. Sra. Norton. Isso não iria acontecer. Distração ou ato falho… Aquilo deixara a mãe completamente desconcertada. Darcy Norton. Não sabia o nome do meio de Darcy. Jeff pestanejou para dispersar o devaneio. Que diabos estava pensando? Não precisava saber o nome do meio de Darcy. Não queria saber. Porque, mesmo que restasse algum resquício de atração entre os dois, aquela não era a matéria-prima da qual eram feitas as sras. Norton.


Sim, ela era linda, divertida e estava esperando um filho dele, mas Darcy era como um gigantesco sinal de “não ultrapasse”. Não no sentido sexual… mas, droga, tinha de parar de pensar nisso. Darcy se mostrava tão inalcançável. Diferente do que ele acreditara que fosse, naquela primeira noite. – Este quarto é maior do que o meu apartamento. Jeff girou na direção onde ela se encontrava, parada à porta, com os braços cruzados sobre o abdome, em um sinal claro de que o estômago a estava incomodando, mas ainda não havia atingindo um ponto crítico. – E já vem com mobília, também. Ficará neste quarto. Aquela porta é a do toalete e ainda terá uma sala de estar do outro lado, com mesa e computador. – Certo, então é bem maior que o meu apartamento. – Acha que se sentirá bem aqui? – Aquela era uma pergunta estranha, depois de quase a obrigar a fazer aquela concessão, jurando que ela ficaria mais confortável. Porém, agora que Darcy se encontrava exatamente onde ele queria, a ideia de deixá-la ali o incomodava de uma forma que ele não conseguia entender. Darcy olhou ao redor, cruzou o aposento até a janela e teve a visão da piscina e da quadra de tênis. – Sua mãe é cheia de energia. – Sim, é verdade. Isso a deixa constrangida? – Não. É ótimo. Ela é tão… animada calorosa. É um alívio, mas ao mesmo tempo surpreendente. – Não exatamente o que estava esperando encontrar. – Jeff percebera, naqueles últimos instantes no carro.


Darcy girou na direção dele, com um sorriso hesitante a lhe curvar os lábios. Era fácil notar o quanto ela estava estressada. E cansada. E então, antes de parar para refletir se aquela seria a atitude certa a tomar, Jeff fechou a distância que os separava e a tomou nos braços. Não importava que fossem estranhos, que tivessem compartilhado uma intimidade no passado ou que o futuro fosse incerto. Darcy se sentia sozinha e ele estava ali. Não havia mais ninguém disponível para lhe dar um tão necessário abraço. Por um instante, Darcy permaneceu rígida envolta no círculo de seus braços, fazendo-o imaginar se ela não tentaria se desvencilhar. Mas, em seguida, o corpo quente e macio relaxou. Com a cabeça apoiada no peito largo e os braços presos entre os corpos dos dois, ela se deixou envolver. – Vai dar tudo certo. Dê tempo ao tempo e tudo se encaixará no lugar. Darcy concordou gesticulando com a cabeça e inspirando profundamente por vezes seguidas, enquanto relaxava mais a cada vez que a mão longa escorregava para cima e para baixo em suas costas. – Eu sei – sussurrou ela. – Apenas não estou acostumada a não ter o controle das coisas. Jeff deixou escapar uma risada suave. – Se isso a faz sentir melhor, essa ideia também não me agrada. – Cuido da minha vida desde os 16 anos. Não gosto de… ajuda. Não me agrada… precisar de outras pessoas. Isso faz com que me sinta… presa. A voz calma falhou naquela última palavra, fazendo algo revolver no peito de Jeff. Recuando a cabeça apenas o suficiente para lhe ver o rosto e erguê- lo de modo que os olhos cinza encontrassem os dele, Jeff prometeu: – Nunca se


sinta dessa forma em relação a esta casa. Em relação a estar aqui. Ou em relação a qualquer outra coisa. O olhar de um estava preso no do outro. O dela era tão vulnerável enquanto o encarava que o fez ansiar por fazer algo para modificá- lo. Devolver-lhe todas as coisas que vira estampadas nele antes. Firmeza, alegria, decisão, confiança… calor. Diabos! Era melhor riscar o último. Não queria pensar na aparência dela quando aqueles olhos transmitiam calor. Desejo. Não quando Darcy se encontrava envolta no círculo de seus braços e ele lhe dizia palavras de consolo. Quando ela necessitava de conforto, e não de lembranças residuais de uma atração que seria difícil de ignorar se despertasse para a vida entre os dois. Mas ela estava tão macia, quente, tentadora e… todas as coisas que ele não queria notar! Não deveria se lembrar da última vez que a tivera contra o corpo, sob o toque dos dedos. Afastando-a, Jeff caminhou na direção da porta, sem lhe sustentar o olhar, e falou por sobre o ombro: – Por que não descansa um pouco e depois se junta a nós lá embaixo para o tour que minha mãe mencionou? DARCY NÃO havia pensado que ele se mudaria para aquela casa, também. Sabia que Jeff a deixaria ali e retornaria para a vida que levava na cidade. Os dois não eram um casal. Ou parceiros. Não enfrentariam tudo aquilo juntos. Eram apenas duas pessoas que teriam de compartilhar a criação de um filho. Não restavam dúvidas quanto a isso, e Darcy tinha total intenção de respeitar aqueles limites mutuamente acordados. Mas, em um dia repleto de incertezas e mudanças, Jeff a fizera se sentir


segura. Um pouco menos solitária. E por alguns minutos havia se agarrado àquela sensação. Mas agora Jeff estava se inclinando para dar um beijo de despedida na mãe. Certificara-se de que ela ficaria com uma lista com duas dúzias de números de telefone para utilizar caso surgisse alguma emergência. Após um momento de hesitação, durante o qual parecia não saber se a abraçava ou lhe dava tapinhas leves nas costas, ele se inclinou e também lhe depositou um beijo no rosto, antes de partir. Darcy permaneceu parada, observando a porta por onde ele passara, agora fechada, ao lado de uma mulher que não conhecia, em uma casa que não lhe pertencia. Gail pousou uma das mãos em seu ombro, oferecendo-lhe um olhar compassivo. – Ficará bem com Jeffrey longe daqui? – Sim. Sinceramente. – Era tão difícil saber o que dizer naquelas circunstâncias. Mas, ao encontrar o olhar de Gail, teve a impressão de que a mãe de Jeff gostava de sinceridade. – Mal nos conhecemos. Gail desviou o olhar para a porta. – Dê tempo ao tempo. Acabarão se conhecendo e descobrindo como se encaixam na vida um do outro. – A forma como Gail disse aquelas palavras a fez imaginar se a mulher mais velha estava alimentando esperanças sobre um desfecho mais tradicional para seu relacionamento com Jeff. – Até lá, pode tomar minha totalmente imparcial opinião como verdade absoluta. Jeffrey é um homem maravilhoso que será um excelente pai, como o que ele teve. E, caso ainda não tenha percebido, meu filho fará o que for necessário para que o filho tenha um lar estável e feliz. Você terá tudo de que necessitar. Jeff se certificará disso. E eu também. Portanto… – Gail se inclinou com uma piscadela conspiratória tão semelhante à do filho que quase fez Darcy engasgar.


– Ajudaria um pouco se eu começasse a lhe contar as histórias sobre todas as travessuras de Jeffrey quando garoto? – EM QUE universo estamos vivendo que você, um homem que me faz parecer um indigente, colocaria sua não namorada grávida no quarto de hóspedes da casa de seus pais? Poderia construir um prédio inteiro para ela morar ao lado de seu escritório, amanhã. E pagar com dinheiro vivo. Que diabos de decisão foi essa, cara? Jeff apertou o volante até que as juntas dos dedos se tornassem esbranquiçadas. – Dê um tempo, Connor. Ela ficou com seu antigo quarto, portanto não estamos falando de um porão empoeirado com um sofá cheio de mofo. Darcy dispõe de toda a ala oeste da casa só para ela. Não precisa nem mesmo usar a mesma porta que a minha mãe. – Fico feliz em ouvir que não a esteja obrigando a pular a janela do porão toda vez que queira sair, mas, falando sério, com a sua mãe? – Connor soltava risadas abafadas durante o trajeto, a voz se tornando mais baixa enquanto atualizava a esposa com os detalhes. – Megan quer saber se sua mãe está lhe fazendo seus pãezinhos de pizza. – Rá. Megan é muito divertida. – Eu sei. Ela é ótima. – E em seguida, em um tom mais baixo, como se estivesse cobrindo o telefone com uma das mãos, Connor acrescentou: – Venha até aqui, querida… Ótimo, vejo- dentro de algumas horas, meu amor. Quando Connor interrompeu a ligação, Jeff deixou escapar um suspiro. – Foi a primeira coisa em que pensei. Ela não iria abrir mão da questão do trabalho, portanto lhe arranjei um. – Trabalhar para sua mãe? E Darcy ficou satisfeita com isso? – Não muito. Mas, por ora, concordou, o que já é um começo.


– Então, o que vai acontecer quando ela descobrir que, na verdade, Gail não precisa de ajuda de ninguém em nada? Que, se ela quisesse, poderia acumular suas funções e as minhas, além do trabalho nas fundações de caridade, sem derramar sequer uma gotícula de suor? Jeff fixou o olhar além do para-brisa, na direção de uma das lanternas traseiras dos outros carros. – Tenho esperança de que minha mãe consiga manter sua alta eficiência em segredo ao menos pelos próximos meses. Tempo suficiente para dar a Darcy a chance de descansar e para que eu possa bolar um próximo plano.


Capítulo 10 DARCY DESPERTOU com o som incomum, porém totalmente identificável, de cortadores de grama além da janela do quarto. O sol se infiltrava pelas venezianas que ela se esquecera de fechar na noite anterior, preenchendo o aposento com um brilho dourado e quente. Seria um prazer ficar estirada sob os raios quentes, não fosse seu compromisso inadiável com o enjoo matinal. Depois de esvaziar o estômago, tomou um banho e vestiu uma calça de ginástica colada e uma camiseta com mangas compridas, antes de descer. Quando acordara no dia anterior, Gail havia saído e voltara apenas no fim da tarde por alguns minutos, antes de desaparecer pela maior parte da noite. Aquilo possibilitou a Darcy se familiarizar com a casa. Conhecera as duas empregadas, Nancy e Viv, que se mostraram incrivelmente afetuosas e simpáticas até o instante em que ela perguntou se gostariam que lhes ajudasse em alguma coisa. Nesse momento, as duas se mostraram severas, insistindo que ela se sentasse no sofá, antes de lhe trazerem um copo de suco. Ao que parecia, Jeff havia conversado com elas. A folga fora agradável, mas a deixara ociosa por muito tempo. Darcy não via a hora de se sentar com Gail para discutir sobre as funções de seu cargo temporário e quando ela começaria a produzir alguma coisa. Qualquer coisa. Ao entrar na cozinha, encontrou a mãe de Jeff parada à mesa em estilo “casa de fazenda”, com uma xícara de porcelana em uma das mãos e um tablet na outra. Havia uma pilha de folhetos espalhados diante dela. Ao perceber a presença de Darcy, ela ergueu o olhar e exibiu o mesmo sorriso genuíno do filho. – Que ótimo que você acordou! Dormiu bem? – Sim, obrigada. E você? Gail


anuiu com um gesto rápido de cabeça e, em seguida, gesticulou com a mão no ar como que para dispensar os cumprimentos matinais. – Gostaria que nos tornássemos amigas. Amigas de verdade. – Isso seria ótimo – respondeu ela. – Concordo. Portanto, para o bem de nossa amizade, sugiro que façamos um pacto de sinceridade. Confiança. Clareza. De modo que sempre saberemos em que pé estamos. A tensão começou a percorrer a espinha de Darcy, porque a sinceridade sempre fora o plano desde o início. Mas talvez Gail não estivesse tão satisfeita com sua presença naquela casa, como demonstrara na frente de Jeff. – Tudo bem. – Ótimo. Portanto, vou começar. Responda com sinceridade. Quer mergulhar em seu emprego fictício esta manhã ou… – Gail juntou as mãos em frente ao rosto como se estivesse fazendo uma súplica. – … prefere comprar roupas de bebê? DUAS HORAS depois, Darcy falava ao telefone com o bufê, confirmando a modificação do menu de terça-feira, quando Gail entrou na pequena sala de estar que ela transformara em escritório. Pousando três pastas na beirada da pequena mesa, a mãe de Jeff deixou-se afundar na cadeira oposta. – Para um trabalho fictício, conseguimos arranjar tarefas suficientes para mantê-la ocupada. Darcy soltou uma breve risada. Haviam tido uma suave discussão mais cedo, sobre a motivação por trás daquele emprego forjado. Gail lhe pedira para deixar de lado a frustração em


relação a Jeff e considerar a oportunidade que se apresentava. Se ela estivesse falando sério sobre continuar a trabalhar, o que era verdade, aquela era a chance de expandir suas habilidades e abrir caminhos em um mercado de trabalho que, de outra forma, não estariam disponível. Aquela era uma oferta que só um louco poderia desprezar. E, em menos de uma hora, Darcy começara a trabalhar, após alguns discretos protestos por parte de Gail, que preferia ter ido comprar roupas de bebê. Darcy esticou a mão para a pasta no topo da pilha, apenas para ter os dedos desviados com uma leve pancada. – Meio expediente, trabalho fictício. Concordou em pegar leve por algumas semanas, portanto isso terá de esperar. Por ora… Jeff tem um amigo que é médico. Ele estará aqui dentro de uma hora para examiná-la, o que a deixa livre para dar um telefonema se estiver planejando algum. JEFF OBSERVOU o telefone que segurava em uma das mãos, sem saber o que o deixava mais chocado. Se o fato de sua mãe, sua suposta fã número 1 e maior aliada, tê-lo apunhalado pelas costas em favor de sua não namorada grávida, ou se o fato de Darcy ter lhe agradecido pelo que fizera. Definitivamente, o último. E ela parecia sincera. Até mesmo animada. O suficiente para não se incomodar com o sermão que Darcy lhe passara por ele ter marcado uma consulta médica sem pedir sua opinião. Na verdade, tivera a intenção de avisá-la por telefone, mas acabou falando com a mãe e deixando o recado, o que provavelmente havia soado como uma imposição em vez da conotação opcional que ele imaginara que estaria implícita. Darcy concordara em permanecer na casa de sua mãe. E pegar leve na carga de trabalho.


Pela primeira vez desde que descobria sobre a gravidez de Darcy, ele quase respirou aliviado.


Capítulo 11 – SE NÃO me der esse envelope… – Darcy disse em tom de advertência, inclinando-se sobre a pequena mesa na direção da futura avó/mulher de aço de mão leve, que por acaso era a mãe de Jeff. – Eu… eu… eu não vou fazer compras para o bebê com você neste fim de semana. Gail baixou o olhar ao envelope de papel pardo que havia surrupiado das mãos de Darcy e voltou a encará-la. – Você disse “mais quinze minutos”. Isso foi há mais de uma hora. Era verdade. Mas, após duas semanas pegando leve no trabalho, a energia de Darcy voltara ao normal. Também havia ganhado alguns quilos. E encontrara prazer no trabalho que nunca fizera antes. Portanto, em um dia como aquele, em que os hormônios se rebelavam e o humor ficava escasso, o trabalho era a melhor distração. E Darcy não queria desistir. Além disso, havia uma festa beneficente chegando, com o objetivo de levantar fundos para vários programas de verão para jovens em situação de risco. Não era hora de dar por finalizado o dia de trabalho, o que significava que teria de discutir com Gail. – Aquela pequena butique pela qual passamos no domingo… com o Sapo Príncipe na vitrine… Sei que sabe à qual estou me referindo. E sei que quer ir lá. Os olhos de Gail faiscaram. Roupas de bebê eram a Kriptonita daquela supermulher e, embora Darcy não se sentisse bem explorando aquela fraqueza, sabia que, no fim das contas, a mãe de Jeff a respeitaria por isso. O envelope voltou à mesa.


– Muito bem. Você venceu. Mas tenho a esperança de convencê-la a me acompanhar no jantar com as meninas, esta noite. Gail propusera incluí-la em seus planos várias vezes ao longo das últimas semanas, mas Darcy ainda não lhe satisfizera a vontade. E, quando arranjou uma desculpa naquela noite, Gail não a pressionou. Em vez disso, deixou-a com seu costumeiro e amigável “Talvez da próxima vez”. Quando Darcy encontrou um bom lugar para descansar e apagou o abajur, a casa se encontrava vazia e o céu que se estendia além da janela começava a escurecer. Beliscando um jantar que não lhe apetecia, terminou de ler o livro sobre gravidez e maternidade. Após assistir a cinco minutos de conversa fiada na TV, desligou o aparelho com um bufo impaciente e seguiu pelos corredores da casa. Quando alcançou o segundo andar e virou na direção dos quartos, estacou em frente à primeira porta. O quarto de Jeff. Geralmente passava direto pelo aposento, mas, naquela noite, estava ociosa. Como sempre, a porta estava aberta. E, como de costume, Darcy experimentou uma pontada de curiosidade em conhecer o interior daquele quarto, que poderia revelar sobre o homem que o chamava de seu. Olhando ao redor do aposento, ela se fixou nas estantes embutidas, atrás da mesa. Na fileira de troféus e medalhas: basebol, tênis, natação, futebol, trilha. A prova das conquistas de Jeff. Um sorriso se estampou em seu rosto, diante do pensamento de como teria sido ele quando criança. Gail lhe contara que o filho fora uma criança levada, mas não de uma maneira destrutiva ou ofensiva. A mãe o definira como um burlador de regras. Um sedutor nato. Ao que parecia, Jeff levara aqueles traços para a vida adulta. Se havia um homem capaz de fazer um problema parecer uma diversão, esse homem era Jeff.


Afastando-se da soleira da porta, Darcy retornou ao próprio quarto. Mas o ping- pong de pensamentos persistia. Teria um menino ou uma menina? Qual seria a preferência de Jeff? Como seria o parto? Estaria Jeff ao seu lado? Ficaria tranquilo? Seguraria sua mão e lhe diria para não ficar assustada? As perguntas pipocavam umas após outras e todas giravam em torno de Jeff. Com que frequência o veria? O que faria Jeff, caso discordassem em alguma coisa? Que tipo de pai ele seria? Os troféus e medalhas voltaram à mente de Darcy. Nada menos do que o primeiro lugar enfeitava a estante de Jeff. Seria tão bem-sucedido na paternidade como parecia ser em todos os aspectos de sua vida? Conseguiria desempenhar aquele papel sozinho ou contrataria alguém para ajudá-lo? Ou se casaria para conseguir ajuda? Não seria com a mulher com quem ele estava namorando antes de Darcy aparecer em seu escritório. Gail mencionara que os dois haviam terminado o relacionamento. Mas um homem como Jeff… Darcy fechou os olhos tentando parar aquele trem desgovernado de pensamentos, mas a mente já se encontrava focada no som encorpado e rouco da risada daquele homem, no contorno firme da mandíbula quadrada e da sensação dos cabelos rebeldes entre seus dedos. O peso do corpo forte sobre o dela. O calor dos beijos de Jeff. Darcy descerrou as pálpebras porque as manter fechadas… bem, era óbvio que não a estava ajudando em nada. E, por mais tentador que fosse recordar a noite que passaram juntos em nítidos detalhes, era também um erro. Quando pensasse sobre Jeff deveria ser no contexto do papel que ele desempenhava como pai do seu filho. Nada mais. O que era bom. Darcy era realista o suficiente para perceber a enormidade do abismo entre o mundo dos dois. Não tinha problemas quanto a isso. Como também aceitaria a próxima mulher que Jeff levasse a sério.


Quase. Embora, mesmo enquanto pensava sobre o assunto, uma pequena parte dela rejeitasse a ideia de vê-lo com outra mulher. Não que o quisesse para si. Não. Apenas porque… bem… Um rugido irritado lhe escapou da garganta. Não importava o motivo e ela não precisava se justificar. O que havia de errado com ela naquele dia? Decidida a ocupar a mente com pensamentos mais alegres, tentou imaginar a infância de Jeff e se perguntou se ele se descreveria da mesma forma como a mãe o fizera. Como Jeff imaginaria a vida daquela criança? Desejaria fazer com o filho as mesmas coisas que os pais fizeram com ele? Ou acharia melhor criá-lo de maneira diferente? Darcy fixou o olhar no telefone e, experimentando um impulso ainda maior do que aquele que a fizera entrar no quarto de Jeff, imaginou se não poderiam conversar um pouco. Certamente ele a faria rir do jeito que mais ninguém no mundo parecia ser capaz de fazer. JEFF ENCONTROU os olhos perspicazes de Charlie do outro lado da mesa, onde os dois se acomodaram para uma videoconferência em seu escritório. Estava na hora de fazer um intervalo. – Por que não descansamos meia hora para que todos possam comer alguma coisa? – Jeff sugeriu, empurrando a cadeira para trás, enquanto se erguia. – Retomaremos desse ponto quando voltarmos. Charlie foi pegar algumas pastas na própria mesa e o deixou no silêncio do escritório, sozinho. Com o ombro recostado em sua janela favorita, Jeff verificava suas mensagens, relendo as últimas novidades que a mãe lhe enviara, quando uma imagem em preto e branco do ultrassom de um bebê de quinze semanas espocou na tela, sinalizando uma chamada da mulher em quem todas aquelas horas extras de trabalho deviam impedi-lo de pensar…


embora não conseguissem. – Olá. Espero não estar interrompendo. – Claro que não. O que houve? – Ele fechou os olhos. – Tudo bem com o bebê? Seu bebê. E de Darcy. Aquele pequeno arruaceiro estava causando uma devastação no organismo da própria mãe e o deixando apavorado apenas com a fragilidade de sua existência. – Oh, sim. Desculpe, deveria ter lhe enviado uma mensagem escrita antes de telefonar para que não ficasse preocupado – disse ela. As palavras soavam quase divertidas. Brincalhonas. Aquilo o agradou e Jeff se descobriu relaxando. – O que conta de novo? – Estava apenas imaginando se está com tempo para conversar um pouco. Jeff olhou ao redor da mesa de reuniões. – Tenho de voltar a uma videoconferência dentro de alguns minutos. – Oh, claro. Não precisa ser agora. Quero dizer, qualquer hora dessas. Eu poderia passar no seu escritório. Ou encontrá-lo depois do trabalho. Você é tão ocupado. Provavelmente no fim do dia seria melhor. Mas talvez não, porque é tarde e você ainda está trabalhando… não quero atrapalhar… Quer saber? Não é nada de importante… Estava apenas imaginando se você teria tempo de conversar um pouco.


– Darcy. – Ele a interrompeu. A aflição que ela demonstrava diante da possibilidade de estar sendo inconveniente fez um sorriso se estampar no rosto de Jeff. – Claro que arranjarei tempo. Sobre o que quer conversar? Um suspiro soou do outro lado da linha e a sensualidade daquele som se infiltrou nos sentidos de Jeff, acordando suavemente algumas partes que ele vinha tentando ignorar. – Estava apenas pensando se este bebezinho terá experiências muito diferentes das que eu tive na vida. E, não sei… – prosseguiu ela, com suavidade na voz. – Estava esperando que você me contasse um pouco mais de como foi sua vida. E como deseja que seja para ele. Certo. Mais troca de informações, porque aquela era a única razão pela qual Darcy lhe telefonara. E o único motivo pelo qual deveria desejar que ela lhe telefonasse. Os dois haviam concordado com isso. – O que acha de eu lhe telefonar amanhã para combinar uma hora para conversarmos? Além disso, se tiver algo em particular que queira me perguntar ou em que esteja pensando, pode me enviar um e-mail e eu o responderei amanhã pela manhã. Está bem? – Humm… Claro. Está ótimo – respondeu ela, mas algo havia mudado em seu tom de voz. Não restava nenhum traço de emoção. – Boa noite. – Para você também. – Jeff fixou o olhar no telefone, de repente em alerta. Porque já ouvira aquela total falta de inflexão na voz de Darcy, antes. Em Las Vegas. Quando a fachada impassível que ela exibia escondia algo que não desejava deixar transparecer. Charlie voltou ao escritório e, após acionar algumas teclas, apresentou um cronograma alterado na tela grande. Em seguida, relanceou o olhar a Jeff. – Deseja verificar isso, antes de retomarmos? BOLO. AMARELO. De caixa. A revelação de dar água na boca a atingiu como um raio, pouco depois de


conversar com Jeff. Darcy ficara com uma sensação de peso no peito após o telefonema, porque, inexplicavelmente, colocara na cabeça que conversar com Jeff talvez abrandasse o estranho temor que tomara conta dela. Mas não surtira nenhum efeito. Ao contrário, desligara o telefone se sentindo mais à deriva do que estava antes. Mas o que estava esperando? Embora soubesse que Jeff tinha sua saúde e bem-estar como prioridades, não podia ignorar o fato de ele ser um homem ocupado. Com uma vida. Compromissos com sua empresa, amigos e com o que quer que preenchesse seu tempo, quando não estava verificando se os níveis de pressão da mãe de seu filho estavam adequados. Portanto, Darcy desligara e se sentara na lateral da cama, desejando ser capaz de reunir um pouco de entusiasmo para fazer qualquer coisa. Detestando a forma como perdera completamente o apetite ou como nada parecia agradála. Instantes de total autopiedade. E então, de repente, a inspiração. Um bolo. Seguido de algo ainda mais chocante. Fome… Desejo. E quando se deu conta estava vasculhando a despensa, quase caindo em prantos de felicidade quando descobriu uma única caixa de mistura para bolo no fundo da prateleira, com um frasco de cobertura de chocolate ao lado. Aproximadamente quarenta minutos depois, Darcy observava as duas massas altas, retiradas do forno, calculando mentalmente o tempo que levaria para esfriarem o suficiente para colocar a cobertura. Muito tempo.


– Deus! – disse ela em um quase gemido, reconhecendo o desespero quase ofegante na própria voz. – Quero muito você. O som de alguém limpando a garganta atrás dela a fez se sobressaltar, uma das mãos rumando para o abdome em um gesto instintivo e a outra se espalmando no peito. – Jeff! – ofegou ela ao vê-lo parado na soleira da porta, com a gravata afrouxada, o blazer pendurado em um dos braços, a camisa lhe delineando os contornos perfeitos do ombro, parecendo alto e imponente, com um sorriso divertido estampado nos lábios. – Pensei que tivesse uma videoconferência. O que está fazendo aqui? Esfregando uma das mãos na nuca, ele gesticulou com a cabeça na direção do balcão. – Procurando um pedaço de bolo?


Capítulo 12 CERCADO PELOS familiares armários de madeira escura, piso de pedra aquecida e as amplas bancadas de granito da cozinha, onde passara uma boa parte de sua infância se pendurando, Jeff observou com imensa satisfação Darcy parada ao balcão, aplicando uma camada de cobertura nas massas de bolo agora frias. A cabeça estava inclinada para trás, enquanto uma risada encorpada e alta lhe escapava dos lábios. – Traidora? – provocou ela, recuperando o fôlego. – Ela é sua mãe. E foi você quem me convenceu a morar aqui e trabalhar com ela. Deveria saber que acabaríamos encontrando um meio-termo. – Ela se deixou subornar por uma incursão à loja de roupas infantis? Ora, vamos! Podia ser um tolo, mas vê-la pessoalmente aliviou a ansiedade em relação a Darcy estar se excedendo. E, apesar das queixas que estava fazendo, sabia que a mãe não se ausentaria durante quase toda a noite se tivesse sequer um resquício de dúvida sobre o estado de Darcy. Cortando uma fatia generosa do bolo amarelo encimado por uma grossa camada de cobertura, ela a pousou sobre o prato que aguardava. Deus! Salivando, Jeff se aproximou do balcão, controlando-se a tempo de não se inclinar e depositar um beijo no pescoço de Darcy. O que seria uma loucura, porque aquele tipo de intimidade familiar não era uma realidade entre ambos. Porém, vendo-a lá, rindo, conversando com ele, parecendo tão à vontade, descalça, era como se aquela cena tivesse desligado um botão dentro dele, o que o levou a esquecer o que estavam fazendo e como era a relação entre os dois. Que certamente não era aquela que, por instantes, imaginara. Jeff arriscou mais um olhar ao pescoço delicado. Exposto, longo e… droga!


Com uma mancha de massa de bolo na lateral que combinava com outras que decoravam a camiseta fina de algodão com capuz. Darcy tinha uma aparência doce. Saborosa. Porque ela era exatamente isso. Jeff se recordava de ter escorregado a língua desde a clavícula até o ponto sensível atrás da orelha de Darcy. A sensação da maciez daqueles cabelos loiros em seus dedos, enquanto os afastava do caminho. – Você está bem? – perguntou ela, com olhar cauteloso. Com exceção da forma como todo seu o corpo se excitara em questão de segundos, sim, perfeito. – Com fome. De bolo. Satisfeita, Darcy exibiu um sorriso, enquanto lhe servia uma fatia. – Então, aqui está. Um pedaço menor. Significativamente. – Só isso? – perguntou ele, com as sobrancelhas arqueadas. Darcy o brindou com um sorriso atrevido dando tapinhas leves em seu abdome reto. – Estou comendo por dois. E como essa é a única coisa que despertou meu apetite desde que consigo me lembrar… – Ela baixou o olhar à própria fatia, com franca cobiça e forçando um sotaque rosnado, e disse: – Entre em minha barriga.


Jeff pestanejou, confuso, mal acreditando que a ouvira imitar um filme de Austin Powers. Enquanto ele soltava uma risada, Darcy pegou o prato e se encaminhou à mesa. A futura mamãe devorava o bolo sem nem ao menos lhe dirigir o olhar. Os lábios tentadores se fecharam em torno do garfo e ela deixou escapar um daqueles gemidos descarados que faziam o corpo de Jeff reagir de uma forma que não lhe deixou outra opção senão virar de costas para ela e se encaminhar ao refrigerador. – Acha que sua barriga gostaria de um copo de leite? Darcy ainda estava lambendo a cobertura grudada no garfo, quando ele girou na direção dela. Em vez de enfiar todo o conteúdo na boca, ela continuou a saborear o bolo e a cobertura, girando o garfo ao contrário para lamber os resquícios, enquanto anuía, distraída. Jeff engoliu em seco, sacudindo-se mentalmente, antes de servir os copos de leite. Estavam bebendo leite. E leite não combinava com ereções. Mas, mesmo sem a bebida láctea, não deveria estar pensando em Darcy daquela forma. Porque nunca mais estaria com ela naqueles termos. Apesar de a mente parecer insistir em frequentes paradas no tempo em que estivera, tinha de controlar o corpo para não acompanhá-la. A pressão por trás da braguilha lhe dizia que estava mentido para si mesmo, mas ignorou o que a parte baixa de seu corpo gritava. Havia muito em jogo, com uma criança entre eles, para arriscar que as emoções se descontrolassem. O que significava que tinha de manter aquele relacionamento platônico. Não podia permitir que tudo acabasse da forma como fora com Margo. Após anos de amizade entre ambos, acabaram mal conseguindo suportar a presença um do outro, o que dizer manter uma conversa civilizada.


Portanto, resistir a alguns impulsos rebeldes não deveria ser tão difícil, considerando que não estavam lutando contra o amor. Darcy era uma mulher extremamente sexy. Só isso. Sim, a conexão inicial que tiveram ultrapassara os limites do plano físico. Mas e quanto à parte física? Jeff ainda podia sentir no fundo da mente as cinzas incandescentes da fogueira em que os dois se queimaram. Mas um dia seria capaz de superar aquilo. Tentando se recompor, ele escorregou para a cadeira oposta à dela. – Então, está se dando bem com minha mãe? – Diante da visão de Darcy ainda lambendo o garfo, ele se remexeu, incomodado, no assento. – Não precisa se apressar em responder. Posso esperar você acabar de molestar esse garfo com a língua. Portanto, fique à vontade. Os olhos cinza se arregalaram e um rubor intenso corou as bochechas do rosto de Darcy, o que lhe emprestou uma aparência espetacular. Desprendendo o garfo dos lábios de uma forma que não favorecia em nada a situação de Jeff, ela pousou o talher ao lado do prato e cruzou os braços na frente do corpo. – Sua mãe é incrível. Acho que é uma das pessoas mais generosas que conheci. Jeff sorriu. – Ela tentou comprar a casa do outro lado da rua para você? Que por acaso está à venda, se lhe agradar. É menor do que esta, mas apenas para vocês dois… – Não! – respondeu ela, com olhar de reprovação. – Ela é muito atenciosa. observadora. Quando disse “generosa”, estava me referindo ao tempo, atenção e sentimentos que ela dedica a mim.


– Sim, é verdade. Espero que ela não a esteja sufocando. Sei o quanto preza sua independência. Darcy negou com a cabeça, erguendo mais uma vez o garfo para raspar a cobertura que restara no prato e levá-la aos lábios. – Conseguimos criar uma convivência muito agradável. Caminhamos todas as manhãs. Às vezes, quando estou mais enjoada, damos apenas uma volta pelo pátio. Conversamos sobre nossos interesses e objetivos. E, se me sentir constrangida com as ânsias de vômito, ela sempre tem alguma história fantástica para me contar e me distrair. As sobrancelhas de Jeff se ergueram. O ego o incitava a querer ouvir mais. – É mesmo? – Sim, como quando você ingeriu todo o estoque de enfeites comestíveis das sobremesas do bufê e vomitou na piscina. Jeff se atirou para trás. – Não. Aquelas não eram exatamente histórias de heroísmo e adoração maternal com que ele estivera contando. Darcy apontou os dentes do garfo outra vez limpos na direção dele. – Sim. Ela acha que de vez em quando é bom compartilhar a humilhação também. – Estou quase com medo de perguntar, mas com que frequência ainda tem enjoos? Um brilho malicioso fez faiscar os olhos de Darcy. – Muitas vezes.


Jeff esticou o braço e lhe segurou a mão. – Então, posso lhe dizer com toda a sinceridade que espero que isso passe logo. Darcy o mediu de cima a baixo e fechou os olhos, quando não conseguiu conter uma risada. – Aposto que sim. DARCY ESTAVA feliz por ele ter aparecido. Tanto que não teve outra escolha senão admitir que o bebê de Jeff estava causando uma hecatombe hormonal em seu organismo. Por duas vezes, sentiu uma inexplicável vontade de chorar. A primeira, quando descobriu, na metade da terceira fatia do bolo, que estava empanzinada demais para continuar a comer. A segunda, quando, a pedido seu, Jeff pegou seu troféu favorito, disse que não tinha a menor ideia de por que o conseguira e, em seguida, dando de ombros, devolveu-o à estante. Sim, com certeza aquilo era obra dos hormônios. O que era gratificante, pois lhe proporcionava um bode expiatório a quem culpar por suas outras inexplicáveis reações, como as que sentia quando se aproximava de Jeff. Bastava inspirar a fragrância masculina cítrica que tudo dentro dela começava a zunir. Ele tinha um cheiro mais agradável do que a mistura para bolo, mas felizmente Darcy conseguiu se conter mais com o homem do que o fizera com a guloseima. Portanto, estavam conversando tranquilamente no terraço dos fundos, ao lado da piscina, por mais de uma hora. Jeff respondia todas as perguntas que podia. De vez em quando, se arriscava a fazer uma, embora, na verdade, Darcy não tivesse muitas histórias para contar de sua infância. Se lhe perguntasse se algum dia ela tomara parte em alguma atividade tradicionalmente americana, a resposta seria sempre “não”. A explicação era sempre a mesma. Sua família não tinha dinheiro para custear esportes de


competição, acampamento ou atividades extraescolares. Claro que havia outros motivos, mas ele não precisava saber daqueles detalhes. O que importava era que Jeff sempre teria mais histórias interessantes para contar do que ela. Haviam chegado ao assunto referente à escola instantes atrás, e agora Jeff estava recostado na cadeira do terraço que mais parecia pertencer a um salão de exposição de móveis do que a uma piscina. As pernas longas estavam esticadas na frente dele, cruzadas nos tornozelos, e as mãos estavam unidas atrás da cabeça, enquanto ele observava o céu da noite. – Não sei. O colégio interno era algo que meus pais concordavam. Foi uma experiência válida. Mas agora, com você na metade da gravidez, não sei se desejaria isso para o meu filho. Para mim, a personalidade, as inclinações e o temperamento dessa criança influenciarão bastante a minha opinião. – O olhar de Jeff se fixou no dela. – Mas, sejam quais forem as decisões que tomarmos, faremos isso juntos. Aquela fora a tônica extraoficial da discussão daquela noite. Que estavam nisso juntos. Não como se tivessem um relacionamento, mas no sentido de manter uma boa comunicação entre ambos. Darcy anuiu, deixando clara a gratidão e aprovação no olhar. – Acredito em você. Uma leve brisa fustigou as folhas das árvores em torno do pátio e, no processo, soprou algumas mechas de cabelos soltas contra o rosto de Darcy. Afastando-as para trás da orelha, ela ergueu o olhar para encontrar Jeff a observando com expressão ilegível. Sentindo-se de repente constrangida, ela perguntou: – O que foi? Jeff fez um gesto negligente com a mão.


– Nada. Está tarde, só isso. – Dando impulso com as mãos nos braços da cadeira, ele se ergueu. – Você precisa descansar e eu tenho uma longa viagem de volta. Jeff estendeu a mão para ajudá-la a se levantar. Os dois caminharam de volta na direção da casa e, quando alcançaram a porta, ele estacou. – Vou me despedir aqui. Durma bem acorde bem tarde, amanhã. – Quando Darcy revirou os olhos, ele a agraciou com um daqueles sorrisos arrasadores que deveriam pagar impostos pelo modo como hipnotizavam. – Ora, vamos, apenas para que eu não fique preocupado com você. Decididamente aquele homem sabia conseguir o que queria. – Está bem, farei o possível. Satisfeito, ele se inclinou para a frente, provavelmente para lhe depositar um beijo na bochecha do rosto. Porém, quando se aproximou, a fragrância masculina pungente que estivera provocando os sentidos e o autocontrole de Darcy durante toda a noite a pegou de surpresa. Ela fechou os olhos e inclinou a cabeça na direção dele, inspirando profundamente pelo nariz. Uau! Que diabos ela estava fazendo? Os olhos cinza se arregalaram para encontrar Jeff há poucos centímetros de distância com a testa franzida em uma expressão confusa. No mesmo instante, ela deu um passo atrás para colocar alguma distância entre os dois, mas o salto da sandália ficou preso na margem do caminho. Em frações de segundos, as mãos fortes a amparavam e a ajudavam a se equilibrar. Em seguida, puxaram- na para perto até que ela ficasse cara a cara com ele. Os corpos estavam a milímetros de distância. Àquela proximidade, era impossível ignorar a fragrância inebriante daquele homem. Ela sentiu o coração acelerar e a respiração se tornar irregular.


– Darcy? – Com um movimento negativo de cabeça, ela lutou para encontrar as palavras quando a verdade era que havia perdido o controle. E, sim, ele acabara de surpreendê-la se inclinando para inspirar sua fragrância. Aquilo era muito medíocre. – Querida? – Jeff aumentou a pressão com que a segurava. A preocupação emprestou um tom ansioso à voz grave. – Você está bem? Darcy pestanejou várias vezes. Bem? E então foi atingida pela compreensão… não tinha outra saída. Mas a consciência protestou diante da ideia de culpar seu bebê por aquele momento de fraqueza. Não, pensando bem, era perfeitamente capaz de viver com esse peso na consciência. Pressionando uma das têmporas com a mão, Darcy deu de ombros. – Acho que estou apenas mais cansada do que imaginei. Um pouco zonza, é só. Os músculos do pescoço de Jeff subiram e desceram enquanto ele engolia em seco. E, em seguida, sem que Darcy se desse conta do que estava acontecendo, ele a estava carregando nos braços. – Jeff! – gritou ela, agarrando-se ao tecido da camisa, enquanto ele abria a porta do terraço com o ombro. – Vou colocá-la na cama e pedir a Grant que venha vê-la. – Jeff, não… – Darcy começou, mas ele estacou para encará-la. – Está piorando? – Mas, antes de lhe dar tempo de responder, a atenção de Jeff parecia ter se desviado para os próprios pensamentos. Girando, ele fez menção de se encaminhar à porta pela qual haviam acabado de passar. – Vamos direto para o hospital.


Oh, Deus! – Jeff, não. Pode parar por um instante? Jeff. Jeff. – Darcy se contorceu nos braços fortes, tentando baixar uma das pernas, mas ele não lhe dava chance. Não até que ela o segurasse pelo colarinho e o sacudisse. – Coloque-me no chão agora, droga! E então ele a pousou de pé no chão, mas continuou a segurá-la perto demais para o gosto de Darcy, principalmente pelo fato de estar claro que teria de confessar seus crimes, se não quisesse fazer uma incursão pela emergência de algum hospital. – Se alguma coisa estiver errada… – Ouça. – Darcy empertigou os ombros, lutando por um pouco da expressão impassível e pétrea que sempre conseguia com tanta facilidade. – Eu menti.


Capítulo 13 – VOCÊ O quê? – O queixo de Jeff se projetou para dentro e a testa franziu. – Está me dizendo… durante toda a noite? Isso se prolongou por toda a noite, com o… Droga! Isso não é brincadeira. Que diabos terei de fazer para que não se exceda? Amarrá-la à cama? Os lábios de Darcy se entreabriram, mas, antes que as palavras que se preparara para dizer pudessem transpô- los, a mente entrou em curto-circuito e os olhos cinza se fixaram aos dele. Jeff passou uma das mãos pelos cabelos escuros e deu um passo atrás. – À cadeira. – Em seguida, deu outro passo atrás e praguejou em tom baixo. – Não a amarrarei, mas… Aquilo não estava melhorando em nada. – Jeff. Menti sobre me sentir cansada zonza. Eu… eu… – Ela inspirou profundamente e despejou a verdade de uma só vez: – Você estava muito próximo… e essa hipersensibilidade olfativa, própria da gravidez, me dominou por um minuto, antes de eu perceber o que estava fazendo. Foi então que tentei recuar e tropecei. Quando perguntou se eu estava bem, pensei que evitaria qualquer impressão errada de que eu estava querendo sentir seu cheiro se mentisse e culpasse o bebê. Sei que parece péssimo quando dito dessa forma, mas, agora que estou pensando no assunto, é a pura verdade. Seu bebê está me deixando louca. Pronto. Darcy inspirou todo o ar que podia para os pulmões e, em seguida, cobriu as bochechas do rosto com as mãos, para ocultar o inevitável rubor. A mandíbula de Jeff se deslocou para a lateral. Os olhos se focaram em algum ponto próximo aos próprios sapatos. – Então… você estava… me cheirando.


Darcy cruzou os braços e ergueu o olhar ao teto. – Você tem uma fragrância… muito boa. Da mesma forma que o bolo. Jeff ergueu a cabeça com um movimento abrupto. – Igual ao bolo? Quero dizer, o que fez com aquele bolo. Havia um milhão de maneiras erradas para Jeff interpretar o que ela acabara de dizer e, a julgar pelas expressões que se metamorfoseavam no belo rosto másculo, ele encontrara cada uma delas. – Não quis dizer que você cheira a bolo. Não estava dizendo… Você me fez ficar… Um brilho escuro se estampou nos olhos cor de avelã, enquanto ele lhe observava a boca. – Com fome? Darcy anuiu, pensando que, do jeito como aquela noite estava transcorrendo, ambos acabariam precisando de colares cervicais. – Certo. Não. Quero dizer, não, você não me fez sentir fome. Apenas não quero que pense que… – Não estou pensando. Também não estou pensando em amarrá-la à cama. – Em seguida, ele passou uma das mãos pelos cabelos, e os olhos que encontraram os delas refletiam um tipo de combinação distorcida de divertimento, penitência e fogo. Darcy ofegou. – Está bem – disse ele, com uma risada distintamente isenta de culpa. – Estou pensando isso sim. Agora. Mas normalmente não penso. – Jeff fechou os olhos e ergueu uma das mãos. – Ao menos não na parte de amarrar. Às vezes penso no restante. Quero dizer, no que fizemos. E foi bom. Mas isso não significa que eu esteja interessado em repetir. É apenas um pensamento masculino.


Muito bem. Aceitaria a palavra de Jeff. – Então, vamos esquecer isso – propôs ela, sem lhe sustentar o olhar ao estender a mão. – Combinado – retrucou Jeff com um firme aperto de mão, antes de girar e sair sem olhar para trás. – Agora, tranque a porta e vá para a cama. ENTÃO, A questão do esquecimento não funcionou. O que significava que Jeff deveria ter ficado afastado dela. Mas aquilo não iria acontecer. Acenando para os seguranças, ele manobrou pelo caminho sinuoso e estacionou ao lado da casa. A princípio, pensara que desejava que os dois se mantivessem afastados. Achara que seria suficiente manter Darcy a um braço de distância e ao mesmo tempo garantir que alguém cuidasse dela. Mais do que suficiente. Mas após aquela noite… diabos! Voltara à casa da mãe três vezes nas duas semanas que se seguiram. Na primeira porque queria se certificar de que as coisas ainda estavam bem entre ambos. Na segunda porque tudo estava bem. Conversar com Darcy era tão fácil. E na terceira… sim, foi quando sua bússola moral começou a girar como se ele tivesse aterrissado no Triângulo das Bermudas. A terceira vez, aquela noite, estava voltando lá para ter Darcy só para ele. De uma forma estritamente platônica ou, ao menos, que não envolvesse contato físico. Podia não ser capaz de controlar os próprios pensamentos de pegarem o trem expresso para a Cidade do Pecado, quando Darcy fazia certas coisas. Como rir, comer bolo ou sucumbir a um daqueles misteriosos rubores que ele achava melhor não questionar. Mas no que se referia ao plano físico… bem…


manteria as mãos longe dela. Com uma criança na equação, não podia correr o risco de estragar aquele relacionamento em nome de um caso amoroso malsucedido. Não quando precisavam manter uma relação saudável por… toda a vida. Não estava em questão a santidade do casamento. Tinham de compartilhar a criação de um filho de maneira pacífica. Aquela era uma situação de longo prazo. E, sinceramente, deixando de lado a parte de ter engravidado uma mulher que nem ao menos era sua namorada, tivera muita sorte em ter Darcy como mãe de seu filho. Ela o fazia rir. Percebia o que ele estava querendo dizer. Conseguia se sintonizar com ele de uma forma que o fazia crer que seriam realmente capazes de fazer essa coisa de criar um filho funcionar. Gostava dela. Muito. E era por isso que dirigira até a casa da mãe outra vez, após passar o dia inteiro e parte da última noite dizendo a si mesmo que não o faria. Tentando se convencer a não pensar na forma como, por vezes, os cabelos de Darcy cascateavam sobre um dos ombros, deixando-lhe o comprimento do pescoço macio e delicado à mostra do lado oposto. Ou na curva suave dos lábios sedosos, quando ela acabava de rir. Sim, havia imaginado que um pouco de distância o ajudaria. Tentara passar uma semana inteira sem voltar a vê-la. Mas, transcorridos apenas quatro dias, entrara no carro e se dirigira para lá. Ainda sentado no carro, verificou as mensagens que recebera durante o trajeto entre o escritório e a casa da mãe, querendo se livrar delas, antes de estar com Darcy. Não com ela no sentido de com ela. Embora, com certeza, agora que havia pensado no assunto… Jeff deixou escapar um suspiro exasperado. Tudo ficaria bem. Desde que Darcy fizesse sua parte para manter aquela


relação salutar… bem, ficaria satisfeito em fazer a dele. MEIA DÚZIA de cabides tilintara quando atingiram a cama. Os modelos de alta-costura que sustentavam se espalharam pelo edredom em uma mistura de linhos, algodão fino e deslumbrantes sedas cruas. – Gail, por favor, não posso pegar sua roupa emprestada. A mãe de Jeff a encarou com um sorriso frio. – Se permitisse que eu a levasse para fazer compras, não estaria precisando agora. Mas, daqui a menos de uma hora, virão buscá-la, e está precisando de um vestido para ir jantar fora. Jantar com Grant Mitchel. O médico com quem Jeff estudara e depois contratara para examiná-la algumas vezes por semana. Quando Gail a colocara a par de seus planos mais cedo, naquela mesma tarde, Darcy tentara se esquivar com as desculpas costumeiras. Mas, naquela noite, a mãe de Jeff não desistira tão facilmente. Ela a olhara diretamente nos olhos, com uma espécie de sorriso amigável, e disse: – Você irá. Darcy considerara seriamente a possibilidade de fingir que estava com enjoo para se livrar daquela situação, porque, por mais agradável que Grant fosse, sabia a intenção por trás daquele jantar. Gail estava fazendo o que prometera desde o início: encontrar um bom marido para ela. Mas, depois do fiasco que se tornara sua última farsa, resolveu não cometer o mesmo erro. – Como sua barriga quase não aparece, os modelos largos que separei lhe servirão. E, se quer minha opinião, o vermelho- alaranjado ficaria fabuloso em você. Darcy abriu a boca para dar voz a outro protesto, mas a mãe de Jeff a deteve com um olhar que não dava espaço à argumentação, enquanto encostava um dos cabides ao seu peito. Cinco minutos depois, uma saia esvoaçante da cor do pôr do sol escorregava


por seu abdome e quadris como uma carícia de seda. O modelo era deslumbrante, leve e a favorecia exatamente como Gail previra. E, mais do que qualquer coisa, Darcy teve vontade de retirá-lo pela cabeça e devolvê-lo com alguma desculpa que a livraria de um jantar que, só de imaginar, a deixava nervosa. Além da porta do toalete, Darcy ouviu as entonações da voz de Gail, embora não distinguisse o que estava sendo dito. Uma segunda voz, grave e masculina, destacou-se, fazendo-a paralisar e o coração perder uma batida. Jeff. Darcy escancarou a porta. – Por que diabos não posso ir com vocês? – perguntou Jeff, enquanto a mãe resfolegava. – Não seja obtuso, querido. Se Grant quisesse sair para se divertir com você, teria proposto algum programa de alpinismo. – Ela inclinou a cabeça para lado. – Ele é o alpinista, certo? Aquele que mantinha todos vocês… – Sim, ele é o alpinista. Mas não pode estar sugerindo que isso é um encontro. Ele é o médico de Darcy e ela está gráv… – As palavras de Jeff feneceram quando, apontando na direção do toalete, ele se deparou com ela. No mesmo instante, ele se calou e aprumou a coluna, os olhos escurecendo ao se fixarem nela. – Olá – disse Darcy tímida, sem saber que fazer com a discussão que acabara de interromper. Ainda mais quando era objeto daquela troca acalorada de palavras, mas não exatamente participante. Jeff limpou a garganta e forçou uma expressão leve. – Está linda – elogiou ele, oferecendo um sorriso educado que não se refletia no olhar. As mãos se enfiaram nos bolsos da calça comprida e ela podia jurar


que o viu cerrá-las em punhos. – Ansiosa pelo jantar desta noite? Havia várias formas de responder àquela pergunta, a maioria começando com a palavra “não”. Mas, por respeito a Gail e Grant, Darcy se viu com dificuldade de dar voz a qualquer uma delas. A mãe de Jeff começou a recolher o restante dos vestidos que trouxera para ela experimentar. – Claro que ela está. Grant é um homem adorável e sei como todos nós apreciamos a forma como ele dispende tantas horas de seu tempo para verificar pessoalmente como Darcy está passando. Droga! O sentimento de culpa. Mesmo sabendo do que se tratava aquele jantar, Darcy viu a resistência ruir. Tinha de ir. Controlando as feições da forma como ela fizera no bar, anuiu com um gesto de cabeça. Jeff a observou por um instante, o olhar se tornando inquisitivo, antes de erguer as sobrancelhas e se dirigir à mãe. – Oh, mas não há a menor possibilidade de você obrigá-la a sair com Grant. Darcy abriu a boca para defender Gail, mas, em um piscar de olhos, mãe e filho estavam se enfrentando como dois touros na arena. – Obrigá-la? Ora, por favor… – Isso se trata daquele assunto de sra. Alguma Coisa que… – Ela é uma mulher linda, vivaz e disponível… – … não pode esperar até o bebê nascer… – … qualquer homem seria sortudo em ter… – Sei disso! – E você deixou claro que não estava… – Ela não está interessada… ao menos não esta noite. Portanto, ela não irá. Ponto. Na verdade, Darcy estava muito desanimada para se importar com o fato de


aqueles dois estarem discutindo sobre sua vida, como se ela não estivesse presente. E, por esse motivo, a atitude que Jeff tomou a seguir não a desagradou nem um pouco. Retirando o telefone celular do bolso, ele ligou para Grant. – Desculpe, amigo, mas Darcy está exausta… não, acho que não é necessário examiná-la. Ela precisa apenas descansar um pouco. Certo. Aham. Não, você e minha mãe devem ir e se divertir. Eu insisto. Ficarei aqui para garantir que Darcy tenha tudo de que necessite. – Jeff piscou para ela e fez mímica das palavras “bolo” e “pizza”, e algo dentro dela se revolveu quase dolorosamente. Gail deixou escapar um rugido furioso e saiu pisando duro do quarto, deixando-os na companhia um do outro. – Acho que o amo. – Darcy suspirou, usando as palavras de forma brincalhona para minimizar o impacto delas e dissipar qualquer má interpretação do que devia ser um olhar de adoração estampado em seu rosto. Admiração pelo herói que acabara de salvar sua noite. Jeff lhe ofereceu seu sorriso torto, guardando o telefone. – Primeiro um filho, agora me ama. – Gesticulando na direção da porta, ele encostou a mão de leve na base da espinha de Darcy, como o cavalheiro que era. – Então, se estou interpretando isso da maneira certa, essa é minha deixa para pedi-la em casamento? – Não sei. De que tipo de pizza estamos falando? E também quero ouvir mais sobre esse bolo. Jeff se inclinou para perto, de modo que a voz grave soasse apenas como um sussurro rouco logo acima do ouvido de Darcy. Tão sedutora que ela mal prestou atenção nas palavras. – Tenho um daqueles bolos de caixa no carro.


Capítulo 14 A MÃE não estava falando com Jeff quando Grant chegou. E, como ela estava tentando empurrar sua não namorada grávida para um de seus mais antigos amigos, aquilo não o afetou. Não que quisesse Darcy. Passara os últimos dois meses se certificando de que qualquer um que cruzasse o caminho dos dois ficasse ciente disso. Mas não queria vê-la com um homem que colecionara mulheres durante todo o período da faculdade, tanto do corpo discente quanto docente. Jeff até mesmo apresentara algumas amigas para Grant ao longo dos anos. Mas Darcy? A mãe de seu filho? Não. O amigo se mostrara tranquilo, anuindo com um gesto de cabeça para Jeff, mostrando que entendera, antes de se apressar em levar Gail para jantar e deixá-los com a casa inteira só para eles. Jeff trouxera uma pizza e fez até mesmo o bolo, enquanto conversavam sobre comida, cinema e o trabalho que Darcy vinha fazendo para sua mãe. Fizeram piadas sobre Las Vegas e ele lhe contou a história de Connor e a esposa com quem se casara em apenas uma noite, revelando algumas das mais excitantes passagens sobre a jornada romântica do amigo. Darcy riu até chorar ouvindo a passagem em que ele teve de mover céus e terras para evitar que um Connor altamente bêbado viajasse de avião naquele estado e tomasse outras medidas extremas em sua luta para reaver Megan. E, como sempre, o som daquela risada o afetou como nenhuma outra coisa. Reverberava, preenchendo um espaço no centro de seu peito que nem notava existir quando não estava ao lado dela e que o fazia imaginar o que não faria para continuar ouvindo aquela risada. Darcy se aninhou em um dos cantos do sofá, com os pés dobrados contra o


couro macio enquanto a risada abrandava. – Sinceramente, depois de todo esse esforço, espero que batizem o primeiro filho homem que tiverem com seu nome. – Primeiro filho homem, certo? – Ele se inclinou para trás, sentindo a tensão lhe abandonar os ombros. – Você também está fazendo isso? Referindo-se a bebês, quando antes nunca os mencionava? Meu vice-presidente sugeriu que fizéssemos disso um jogo de rodada de bebidas. Todos teriam de tomar um café expresso toda vez que eu mencionasse a palavra “bebê”. E lá estava aquela discreta contração em um dos cantos dos lábios de Darcy. O precursor dos sorrisos que não mais tentava esconder. – Acho que sim. – Os olhos cinza encontraram os dele. – Mas fico feliz em saber que não sou a única com mania de bebês. – Eu lhe disse. Estamos nisso juntos. – Que bom saber que está disposto a me acompanhar durante o trabalho de parto e o nascimento. Jeff passou uma das mãos pelos cabelos, observando-a em meio ao silêncio confortável que os envolvia. Trabalho de parto e nascimento. Era difícil pensar tão para a frente, quando a gravidez de Darcy ainda não estava evidente. O modelo que ela vestira mais cedo… Diabos! Estava tão sexy. Evidenciando- lhe as curvas dos seios, delineando-lhe os contornos dos quadris e coxas. E então, pela primeira vez, foi possível ver a insinuação do abdome discretamente abaulado. Jeff fora invadido pelo desejo de espalmar a mão naquele ponto, roçar o rosto contra a seda do vestido e sussurrar palavras carinhosas para a criança que iriam ter.


O impulso possessivo fora potente e profundo, fazendo-o quase enlouquecer diante da perspectiva de Darcy se apresentar daquele jeito para outro homem. E então o mais inesperado acontecera. Ela o brindara com um de seus sorrisos plácidos, do tipo impassível, incapaz de revelar o pensamento por trás daquele gesto… E ele soubera exatamente o que se passava em sua mente. Darcy não queria ir. Preferia ficar em sua companhia, exatamente como ele desejava. Porque os dois estavam se tornando amigos e o magnetismo sedutor daquele interesse mútuo, mais profundo que tudo que Jeff vivenciara antes, era algo quase impossível de resistir. Darcy fechou os olhos. As feições se suavizaram em uma expressão terna e bela da qual ele se viu incapaz de desviar o olhar. Tampouco conseguiu impedir as palavras que lhe escaparam dos lábios sem pensar. – Por que você foi embora? Os olhos cinza piscaram várias vezes, tão desprotegidos que não tinha como não perceber que ela não havia entendido. Isso o deixou com a chance de voltar atrás. Fingir que estava perguntando outra coisa, e não sobre a dúvida que o estava assombrando há cinco meses. Mas queria saber. De alguma forma, precisava saber, ainda que a resposta não fosse mudar nada. – Em Las Vegas. Por que saiu daquela forma? Assim como Jeff esperava, o sorriso suave que bailava nos lábios de Darcy evaporou como fumaça ao vento, juntamente com a tranquilidade e a paz que reinava entre eles. Darcy cruzou os braços sobre a insinuação de barriga em uma atitude defensiva. Protetora. – Tive de ir. Para começar, não deveria nem mesmo estar lá. Droga! Não conseguia entender.


– Por que não? Nós nos conhecemos, nos divertimos, tivemos uma química ótima. O que há de tão horrível em não resistir a essa combinação por uma noite? Não necessariamente implicaria em tornamos aquilo um hábito. O olhar que Darcy lhe dirigiu refletia nuances de sofrimento que lhe escapavam à compreensão. – Sei que, para você, uma noite não tem nenhuma importância. Conhece alguém, diverte-se um pouco, decide que quer esticar a noite em seu quarto… e vai adiante. Não se importa em ceder a esse tipo de contato, porque não sai machucado. Não se prende a sentimentos que não quer ter. Não começa a fazer fantasias sobre uma realidade que possui data de validade de algumas horas. Mas eu não sou assim. Passei os últimos dez anos preocupando-me apenas comigo mesma. Portanto, sou cautelosa. Com meu emprego. Com meu tempo. Com minha vida. Mas, de repente, você apareceu, oferecendo-me uma noite para fazer coisas que eu nunca havia feito. Tentando-me a quebrar as regras e aproveitar Las Vegas como se fosse a última noite que teria para fazê-lo. – E como, de fato, aquela era sua última noite, você aceitou. – Depois de tantos anos dizendo “não” e fazendo a coisa certa, não consegui resistir. Pensei que tivesse tudo planejado. Havia pedido demissão. Não permaneceria lá para suportar nenhuma atenção indesejada. Você me inspirava confiança. Além disso, parecia inteligente o suficiente para não me atirar em uma vala, após ser filmado por 600 câmeras de segurança saindo comigo do cassino. – Jeff amava e ao mesmo tempo odiava a forma como o cérebro de Darcy trabalhava. – Então, pensei: por que não? Pareceu-me seguro. Risco zero. Apenas uma noite de divertimento. Os lábios macios e apetitosos exibiram um sorriso torto e os olhos cinza partiram para algum lugar distante, que o fez imaginar se não seria maravilhoso estar naquele lugar com ela. – Foi divertido. Foi maravilhoso – afirmou, satisfeito por Darcy estar


dividindo aquilo tudo com ele, mas ainda longe de compreender o motivo que a levara a partir sem nem ao menos dizer “adeus”. – Quando fui para a cama com você, pensei que estivesse preparada. Éramos dois adultos. Você me fez sentir coisas desconhecidas. E eu quis mais. – Darcy respirou hesitante. – Queria um pouco mais do seu olhar em mim, que parecia ser incapaz de se desviar do meu. – Ela arriscou outro olhar a Jeff e deu de ombros. – Sei que não era o que parecia. O que estávamos vivendo era a satisfação de um desejo físico. Tratava- se de sexo. E para mim estava tudo bem. É que… não sei, fazia tanto tempo que não me envolvia intimamente com alguém. Não estava preparada para o que você me fez sentir. Eu sabia que o tipo de coisa que estava passando por minha mente não tinha nada a ver com o que estava acontecendo. Não deveria perguntar, pensou ele. Mas, droga, queria saber. – Que tipo de coisa? Darcy virou o rosto na direção da janela, escondendo o olhar dele, embora não conseguisse disfarçar o rubor que lhe corava o rosto. – Que estar em seus braços me fazia querer nunca mais partir. Era algo com que poderia me acostumar muito rápido. Que corria o risco de querer mais. – Então, por que diabos foi embora? Dessa vez, a risada que escapou da garganta de Darcy saiu impregnada de amargura. Uma entonação que o advertia a não se aproximar. – Porque aquilo era algo que nenhum de nós estava procurando. Não me escolheu esperando encontrar uma nova namorada ou alguém para se casar, mas sim para desfrutar do tipo de diversão que acontece em Las Vegas e fica em Las Vegas. Algumas horas de diversão, lembra-se? Nenhum coração partido no final. Mas o tempo que passamos juntos significou algo para mim. Não queria arriscar macular a lembrança daqueles momentos com alguma


constrangedora dispensa, quando entregasse minha calcinha e me agradecesse pelas horas de prazer. – Não podia saber se acabaria assim. – Tem razão. Mas essa é a questão. Não suportei a ideia de ficar e descobrir como seria. Não queria ser a garçonete deitada em sua cama, esperando não ser chutada para fora, na manhã do dia seguinte. E, então, fugira. Optara pela ação mais drástica e inflexível sem nem ao menos permitir que ele lhe desse outra alternativa. Não fora igual ao que acontecera com Margo. Não se assemelhava em nada à traição que o pegara de surpresa. E, ainda assim, a sensação de ter sido enganado permanecia no fundo da mente de Jeff, estimulando-o a imaginar desfechos diferentes para aquela situação. – Poderia ter se vestido e esperado que eu retornasse. Teria sido você a dizer “adeus”. – Exceto pelo fato de que, ainda assim, estaria lá, alimentando esperanças. – A vulnerabilidade estampada naqueles olhos cinza teve o efeito de um soco desferido no peito, que momentaneamente roubou o ar dos pulmões de Jeff. Que tipo de vida Darcy tivera para encarar a esperança como algo tão ruim? Jeff lhe ergueu o queixo com um dedo. – Eu queria voltar a vê-la. Queria… – Ele se calou com um movimento negativo da cabeça. – Antes de perceber que o preservativo que usamos rasgou, ia lhe dizer que queria voltar a vê-la. Mas, no momento em que percebera o que havia acontecido, tudo mudou. Se Darcy estivesse lá quando ele saiu do banheiro, sim, seria capaz de explicar sobre o preservativo. Teriam trocado telefones. Ele teria prometido entrar em contato após algumas semanas. Mas não teria pedido para que ela ficasse.


Não tentaria convencê-la a lhe dedicar o dia, a noite seguinte ou qualquer outra coisa. Porque estaria muito preocupado com o restante de sua vida. Porém, agora, o cenário mais sombrio, que o assombrara durante meses, se tornara realidade e não lhe parecia nem um pouco tenebroso. Apenas não era… o que ele esperara. Sim, a gravidez de Darcy havia virado sua vida de cabeça para baixo. Interrompido os planos de ambos. Mas, se tivesse escolha, não queria voltar atrás. Seria pai. Mesmo faltando meses para ver o filho, a conexão já havia sido estabelecida. – Sei que eu não deveria ter saído daquela forma. E peço-lhe desculpas por isso. Mas eu estava fora do meu normal. E a verdade é que, mesmo que tivesse pedido para que voltássemos a nos encontrar, não poderia aceitar. Estava me mudando. Naquele dia. – Tenho um helicóptero, carros, dinheiro. Poderia encontrá-la. Em qualquer lugar. O que ele estava fazendo? Tentando convencê-la da possibilidade de um cenário que ele sabia que seria irreal? A não ser que desejasse fazê-la começar a crer no potencial do que poderia ter acontecido, porque queria que ela acreditasse no que ainda poderia acontecer. Darcy inclinou a cabeça para trás e ele permitiu que os olhos vagassem pela extensão do pescoço esguio, pela cascata de cabelos loiros que lhe escorria pelas costas e o meio-sorriso que bailava nos lábios sedosos. Droga! O que ele estava fazendo ali? Teria começado a acreditar? DARCY FECHOU os olhos. – Humm… Você teria viajado para São Francisco para passar uma noite em Wharf com sua garçonete de Las Vegas.


– Provavelmente teria evitado Wharf, não ser que fosse para lá que a mulher que conheci em Las Vegas quisesse ir. – Não havia como não perceber a ênfase nas palavras que ele queria deixar claras ou a expressão severa estampada naquele belo rosto másculo. Mas logo o divertimento estava de volta, quando Jeff se inclinou para perto de maneira conspiratória. – Eu teria agendado uma viagem de negócios para onde você estivesse, fingindo que não estava ansioso por voltar a vê-la. Como se nosso reencontro fosse obra do acaso. E se? Aquele era um jogo perigoso. Um que Darcy tornara um hábito evitar. Mas, como sempre, tudo que Jeff tinha a fazer era exibir aquela covinha no rosto e lá estava ela, entrando no jogo. Entrando em uma estrada desconhecida. Se tivesse acontecido assim… o que não acontecera… poderia ter sido de outra forma. E por que não? Aquela estrada não levaria a lugar algum. – Estamos brincando de faz de conta? – provocou ela. Mas Jeff a estava olhando nos olhos. O leve franzir da testa a fazia hesitar, atraindo-lhe a atenção para o modo como aquela coisa invisível que ela podia sentir, mas não conseguia ver, se agitava na atmosfera entre eles. Para o calor lento que se difundia pela superfície de sua pele. Para uma fração de tempo se misturando a outra até que Jeff respondesse. – Sim. Com os olhos cor de avelã fixos nos dela e aquela afirmação fictícia ainda gravitando no ar entre ambos, ceder àquele flerte já extinto não lhe parecia nada inofensivo. Ao contrário, estava mais para perigoso, com potencial para destruir algo importante para Darcy.


E ela não permitiria que aquilo acontecesse. Portanto, limpando a garganta, Darcy retorceu as feições de modo teatral e emprestou um tom sarcástico à voz. – Humm… parece ótimo. Mas, se quer mesmo saber, tenho aversão a fantasias do tipo Uma Linda Mulher. Não que me veja como uma prostituta – apressou-se em acrescentar. Jeff soltou uma risada. – Puxa! Que tipo de infância teve? Nunca ouviu falar da Cinderela? Uma jovem que trabalhava duro, servindo as irmãs abastadas, porém cruéis, e fugindo para ter encontros furtivos com um belo príncipe que não queria abrir mão dela e moveu céus e terras para encontrá-la? As sobrancelhas bem delineadas de Darcy arquearam. – Quer saber da verdade? – Sempre. Bem, fora Jeff quem pedira. – Nunca assisti à Cinderela. Claro que conheço a história. Trata-se daquela do sapato, que o príncipe enviou um lacaio para fazer o trabalho sujo, porque não queria executá-lo e que sequer se recordava do rosto da mulher com quem havia decido passar o resto da vida. Estou mais familiarizada com Julia Roberts alavancada de sua vida miserável diretamente à riqueza pelo romântico e milionário Richard Gere. Era o favorito de minha mãe. Tínhamos a fita do filme, mas acabou se desgastando pelo uso. Por um instante, Darcy conseguiu sentir o calor opressivo e o ar viciado no interior do trailer envolvendo-a. – Detestava ver a expressão extasiada da minha mãe, com os olhos fixos na tela, refletindo a mesma irritante combinação de esperança e desesperança. A


questão é a seguinte: nunca simpatizei com a ideia de algum Príncipe Encantado surgindo para me resgatar da vida que levo. Minha fantasia, desde quando consigo me lembrar, sempre foi cuidar de mim mesma. Depender unicamente de mim. – Darcy deixou escapar um suspiro, exibindo um daqueles sorrisos oblíquos que suscitava maravilhas até então desconhecidas em Jeff. – Basta de fantasias, certo? – O que há de errado em permitir que alguém, que tenha meios e que deseje, cuide de você? Sei que dá muita importância à sua independência… mas geramos esse bebê juntos. Você o está formando em seu corpo, dando-lhe seu próprio sangue. No momento, tudo que posso lhe ofertar é apoio de todas as formas possíveis. Emocional. Financeiro. Darcy olhou para o homem que não fora outra coisa senão generoso desde o princípio e imaginou se algum dia confiaria nele o suficiente para explicar. Se seria capaz de se tornar vulnerável o suficiente para confidenciar por que ela ficara assim. Se, por estar acostumado a uma vida de amor e privilégios, Jeff seria ao menos capaz de imaginar o que era se sentir faminta, presa, assustada, sem esperanças. Se ele conseguiria entender o que era uma pessoa constatar que a única existência que conhecia era tão precária. Observar o homem entre ela e um destino demasiado medonho contar nota por nota com as mãos encardidas, imaginando se, quando ele terminasse aquele jogo doentio, entregaria ao menos uma para a mãe comprar comida ou se as faria esperar mais um dia. Ou vários. Ainda podia ouvir a voz nervosa da mãe. – Earl, não me faça suplicar. E a resposta sarcástica: – Por que não? Por que diabos deveria lhe dar alguma coisa? Ou àquela mal-educada da sua filha? E então aqueles olhos amarelados procuravam Darcy pelo espaço exíguo do trailer, fazendo a mãe repentinamente aquiescer. A visão dela ajoelhada, rindo como se aquilo tudo não passasse de um jogo, mas com a humilhação e o desespero evidentes na respiração ofegante.


– Ei! – disse Jeff, franzindo a testa. – que há de errado? – Nada. – Darcy se apressou em responder. – Sei que tive muita sorte nessa situação. Sou muito grata por seu apoio. Jeff a observou por mais um instante, mas era impossível perceber o que ela estava pensando. – Não quero sua gratidão, e sim que se sinta segura.


Capítulo 15 CERCADO PELAS paredes de seu moderno apartamento em Los Angeles, Jeff pressionou os dedos sobre o dorso do nariz, tentando não esmagar o fone que se encontrava encostado em sua orelha. Mas Jim Huang não estava fazendo nada, além de lhe dar a notícia de que as duas semanas que Jeff acabara de passar em Melbourne tentando estabelecer um negócio com a Lexington Construction foram bem-sucedidas. Os contratos estavam prontos e tudo correra como o planejado. Mas, após dias de jornadas de trabalho de 14 a 15 horas, um voo internacional de dezessete horas, clientes, uma breve parada em casa apenas para tomar banho e trocar de roupa e depois mais uma reunião de quatro horas no escritório de Los Angeles, Jeff se encontrava irritado. E a confirmação verbal do que ele já havia acertado por e-mail ultrapassou os limites de sua tolerância. – Jim, essa é uma notícia fantástica. Telefone-me se surgir algo urgente. Do contrário, falarei com vocês na segunda-feira. Podem sair para comemorar esta noite por minha conta. Interrompendo a ligação, olhou ao redor para a decoração prática e o amplo espaço do apartamento e deixou que o silêncio o envolvesse. Um jantar de micro-ondas pela metade e uma garrafa de cerveja, da qual tomara apenas um gole, se encontravam a sua frente. Eram apenas 19h, mas, devido à agitação dos últimos dias, estava mais do que na hora de ir dormir. Porém, a mente continuava voltando a Darcy. Conversara com ela várias vezes durante o tempo em que estivera fora e os dois trocaram mensagens de texto diárias. Mas, por ter criado o hábito de visitá-la na casa da mãe algumas vezes por semana, passar todo aquele tempo sem vê-la o estava deixando incomodado.


Havia telefonado mais cedo para saber como Darcy estava passando e lhe dissera que iria visitá-la no dia seguinte, depois de dormir um pouco e se tornar uma companhia mais agradável. Mas agora… Droga! Tinha de ir para a cama. Na verdade, esqueceria a cama. Decidiu se acomodar no sofá, esticando-se completamente pela primeira vez em muito tempo e sentindo os estalos e as dores de um corpo exausto. Mas não conseguiu dormir. Porque não conseguia parar de pensar nela. Atirou o braço para fora do sofá, na direção da mesa de centro, tateando até encontrar o telefone. Telefonaria apenas para saber como ela estava e então seria capaz de dormir. Após discar os números, aguardou que atendessem. – Preciso de um carro. CASA estava quase imersa na escuridão quando Jeff chegou. O andar térreo, deserto. Nenhum som de atividade nos andares superiores. Talvez devesse ter telefonado antes, mas temera que Darcy lhe dissesse para ficar em casa e dormir. Não queria ter de explicar que não seria capaz de pegar no sono se não a visse. Mas, pelo que tudo indicava, não conseguiria. Sentindo as pernas pesadas como chumbo, ele subiu o primeiro lance de escada, o cérebro focado na cama que encontraria alguns metros adiante. Mas, de repente, escutou algo. Um barulho vindo do final do corredor, onde ficavam os aposentos de Darcy. Então, ela estava acordada. Deixando a fadiga de lado, Jeff caminhou naquela direção. O coração começou a despertar diante da visão da luz prateada que incidia pela fresta da porta. Erguendo a mão para bater na madeira maciça, ele se deteve ao distinguir o som de soluços abafados do lado de dentro.


Seguido de um tipo de gemido baixo. Que diabos estaria acontecendo? Jeff deu duas batidas rápidas à porta. – Darcy? Um baque surdo. Em seguida, um guincho. – Jeff? – Sim, você está bem? A resposta soou indistinta e ele aguardou a porta se abrir. Em seguida, houve mais algum farfalhar de tecido. Dessa vez, mais afastado da porta e, por fim, Darcy respondeu do lado de dentro: – Estou muito cansada esta noite. Conversaremos pela manhã, está bem? Jeff observou a porta, com a mão já fechada em torno da maçaneta. Porque, não, nada estava bem. Podia perceber, pelo tom de voz de Darcy, que algo estava errado. – Vou entrar – disse Jeff, dando-lhe alguns segundos para se compor, caso necessitasse, antes de girar a maçaneta e entrar no quarto. – Oh, diabos! – exclamou ele, cruzando o aposento na direção do espectro de mulher, encurvada na beirada da cama, com o que parecia ser uma centena de lenços de papel espalhados pelo criado-mudo e o chão ao redor. – O que houve? – São os hormônios – fungou ela, tentando se recompor, enquanto gesticulava com uma das mãos para dispensá-lo. – Amanhã estarei bem. Vá dormir. Por favor. Certo. Não havia a menor possibilidade disso. Em vez de obedecer, Jeff a ergueu da cama, puxou-a contra o peito e a envolveu nos braços. – Fale comigo, querida. Diga-me o que está havendo.


Por um instante, Jeff pensou que não obteria resposta. Mas, ainda assim, esperou, escorregando uma das mãos pela cascata de cabelos loiros macios que cobriam as costas de Darcy, cedendo ao impulso de acariciar as pontas. E então foi como se a luta e a resistência simplesmente fossem drenadas, enquanto ela deixava escapar um soluço. – Estou tão cansada – admitiu ela, em um tom de voz embargado e derrotado. – Estou cansada de sentir enjoos. De se… sentir como se, a cada minuto, meu corpo se tornasse me… menos meu. De me sentir de- desgostosa, debilitada e confusa. Fico repetindo para mim mesma para aguentar firme, que tudo vai melhorar e vou me sentir bem, mas isso não acontece. Sinto-me cada vez pior. Ainda tenho enjoos. Em vez de apenas a minha barriga crescer, meu corpo todo está alargando e… não tenho nenhuma roupa que me sirva. A última frase foi dita com um soluço tão trágico que Jeff sentiu como se estivessem lhe enfiando uma faca nas entranhas. – Espere. O que disse? Não tem nada para vestir para ir aonde? – A qualquer lugar. Nada me serve. Tudo está… – Darcy deixou a frase morrer com outro soluço alto. Muito bem, ele estava cansado. Na realidade, exausto. Mas algo não fazia sentido. – Querida, por que não comprou roupas novas? Darcy possuía um cartão de crédito e uma conta que Gail finalmente a havia convencido a deixar que ele abrisse. Havia muito dinheiro depositado lá. – ESTAS ESTAVAM servindo dois dias atrás! E hoje não estava me sentindo bem, mas não queria pedir à sua mãe, porque imaginei que amanhã eu iria… Mas, agora, tudo que visto parece incômodo, áspero, apertado e… – A expressão de Darcy refletia a mais pura frustração. – … não aguento a


sensação do tecido tocando minha barriga. Nem. Por. Mais. Um. Segundo. À medida que pronunciava as últimas palavras, ela começou a despir a roupa com que estava vestida. Jeff olhou para trás, na direção da porta e de volta para a mulher que arrancava as peças do corpo e as atirava ao chão como se indignada e ultrajada com o contato do tecido com a pele. Hormônios. Fora o que Darcy dissera. Jeff já ouvira histórias sobre os transtornos que eles podiam causar nas mulheres grávidas. O quanto poderiam prejudicar os homens que tentavam acalmá-las, quando arrebatadas pelos transtornos violentos que causavam. Danação! A esposa de um de seus amigos chegara a ponto de consultar um advogado para pedir o divórcio apenas por ele ter sugerido uma alimentação mais saudável do que a comida de lanchonete quando ela estava no oitavo mês de gestação. O amigo soltara uma risada quando a esposa contara aquela história, mas algo assustador em seu olhar deixava claro que o medo ainda não o havia abandonado. O que significava que a atitude que tomaria nos momentos críticos que se seguiriam podiam significar a diferença entre simplesmente reconhecer e respeitar a influência desses hormônios ou se descobrir vítima do mesmo olhar assombrado do amigo. Darcy já havia aberto o zíper da saia que estava usando e a escorregado até metade dos quadris, as palavras jorrando de seus lábios de uma forma incomum. Era melhor ir com cuidado e não dizer nada que a irritasse ainda mais. Jeff recuou até a porta, segurou a maçaneta, fechou-a e a trancou a seguir, sem nunca desviar o olhar de Darcy.


Sim. O mais cavalheiresco a fazer seria virar o rosto. Mas o instinto lhe dizia que os hormônios eram como o mar. Algo para o que não se devia dar as costas. Darcy segurava a saia em uma das mãos agora, apenas para atirá-la com toda a força no chão. Jeff não deveria estar registrando nada além da compaixão. Porém, o fato de sua presença ali não ser incentivo suficiente para fazê-la agir com moderação o fez desejar estufar o peito como se aquilo fosse motivo de orgulho. Era como se, após terem estabelecido uma relação educada, tranquila e atenciosa para o bem da criança que crescia no ventre de Darcy, houvesse confiança entre os dois também. O suficiente para que ela não se importasse em permitir que ele visse o que realmente estava sentindo. Um acesso de fúria. Os próximos a sofrerem as consequências daquele transtorno hormonal foram os botões da blusa que de fato se encontravam um pouco esgarçados. – Não aguento mais isso! – gritou ela, irritação atingindo proporções descomunais. E, sim, ele estava pronto para Darcy. Jeff levou a mão à gravata, afrouxando-a com alguns puxões. Em seguida, abriu os botões dos punhos da camisa.


Capítulo 16 DARCY FECHOU as mãos sobre o tecido da própria blusa, de cada lado da carreira de botões de pérola que achara tão graciosos quando os vira na loja, pronta para rasgar a maldita peça em tiras, no afã de se livrar daquela aspereza contra a pele dos seios e da barriga. Porém, duas mãos longas se fecharam, gentis, em torno de seus punhos. O calor que delas emanava, irradiando por seus braços enquanto um suave “shhh”, penetrou a bruma da ira que lhe embotava a mente. Os olhos cinza se focaram e… Jeff estava parado diante dela, com o nó da gravata desfeito e a camisa aberta até a cintura. – Jeff. – Darcy engoliu o nó da humilhação alojado em sua garganta e ergueu o olhar para encará-lo. – Não é isso que eu… não sei o que eu estava pensando. Os olhos cor de avelã encontraram os dela, enquanto Jeff escorregava pelos ombros largos a camisa do terno que usava, deixando-a cair para trás. Em seguida, puxou a bainha da camiseta de algodão que usava por baixo e a retirou pela cabeça até que Darcy se visse diante da extensão larga daquele torso de músculos definidos. E… uau! – Estava pensando que está cansada de sentir desconforto – começou ele. – Que o enjoo matinal é algo que não consegue controlar, mas, a aspereza dessas roupas, você pode. Após meses se sentindo dessa forma, ninguém pode culpá-la por perder a paciência. Tem vivido em constante tensão, causada por circunstâncias que estão além de seu controle. Atingiu seu limite e precisa desabafar. Darcy sentiu a garganta apertar, quando uma emoção diferente da frustração, da amargura e da humilhação começou a aflorar em seu íntimo. Pestanejando para dispersar uma nova onda de lágrimas, ela anuiu, incapaz de dar voz à


gratidão que sentia por Jeff simplesmente entendê-la. Os segundos se passavam e o olhar de Jeff continuou fixo no dela, permitindo-lhe ver a compaixão que lá se refletia; a compreensão em relação às ações que fariam a maioria dos homens recuar, impaciente, incomodada com a descarga de emoções descontroladas. Mas não Jeff. Aquele homem estava lhe dando todo o tempo necessário. Deixando claro que se encontrava atento a tudo que ela estava passando e que aquilo não o afastaria. Puxando as mãos cerradas que ela mantinha sobre o próprio peito, Jeff lhe acariciou a pele sensível dos punhos. – Abra-as querida. Respire fundo e tente relaxar por um minuto. O toque era leve, apenas um suave roçar, mas ainda assim aquela experiência quase etérea atraiu toda a atenção de Darcy. Era uma sensação maravilhosa. Os círculos lentos dos polegares de Jeff contra a pele dela eram como bálsamo para sua alma. Darcy abriu os dedos, deixando as palmas livres para receberem aquela carícia. Para desfrutarem do toque lento e suave que drenava a tensão das partes mais inalcançáveis do corpo de Darcy. Os pés, panturrilhas, a parte posterior dos joelhos, o baixo-ventre e todo o comprimento da espinha. E então Jeff estava lhe espalmando as mãos contra o próprio peito, pressionando-as naquele ponto por um breve instante, antes de abandoná-las e prosseguir a carícia relaxante pelos ombros delicados e… Os lábios de Darcy se entreabriram para deixar escapar um ofego ao sentir as juntas dos dedos longos lhe percorrendo o vão entre os seios à medida que livravam cada botão perolado da respectiva casa. O ar frio lhe beijava a pele quente. Não deveria estar permitindo aquilo, mas simplesmente não encontrava palavras para impedi-lo. Não queria detê-lo.


Os olhos avelã subiram lentamente pelo corpo macio e, quando encontraram os dela, se detiveram a observá-la, enquanto ele lhe retirava blusa e a descartava. Era tão íntimo ficar parada ali, vestindo nada além de calcinha e sutiã. As únicas mudanças em seu corpo desde a última vez que Jeff o vira foram aquelas que ele mesmo havia causado. Os seios estavam mais volumosos e o abdome, abaulado de uma forma que ainda não se encontrava arredondado o suficiente para exibir a beleza da gravidez. No entanto, Jeff era tudo que sempre fora. O corpo exibia uma perfeição esculpida que os traços rudes do rosto não ostentavam. Alto, largo, definido e firme. Ela foi invadida pelo desejo de se aproximar e procurar abrigo em Jeff. Contra a solidão, o ar frio da noite e a exposição das mudanças do seu corpo. Contra o fato de estar só por tanto tempo. Porque aquele homem a fazia se sentir bem. Como mais ninguém conseguira. O olhar de Darcy vagou para onde as próprias mãos descansavam, no meio do abdome musculoso. Lentamente, deixou que elas escorregassem para cima. – Deixe-me colocar isso em você – disse Jeff com a voz tensa, pegando a camiseta branca que havia descartado e a vestindo pela cabeça de Darcy. A malha era suave e ainda guardava o calor do corpo masculino. Quando o tecido lhe envolveu as coxas como um vestido, ele deu um passo atrás, se retirando da bolha de intimidade em que a envolvia. Em que ela estava pensando? Enquanto só faltara devorar aquele corpo perfeito com os olhos, Jeff tinha apenas a intenção de lhe oferecer uma camiseta. Ele nem ao menos arriscara um olhar abaixo de seu queixo.


Porque não tinha a mesma intenção que ela. Jeff a estava tranquilizando. Afastando-a da margem do precipício do estresse e resolvendo o problema mais imediato. Livrá-la do atrito áspero da blusa que ela estava usando. E o resolveu, porque nada, em todos os anos de sua existência, produzira uma sensação tão agradável contra sua pele do que a camiseta que estava vestindo no momento. Mas, Deus, fora patética. – Obrigada por isso – resmungou ela, mal conseguindo lhe sustentar o olhar. – Não precisa agradecer – respondeu Jeff, erguendo do chão a camisa do terno e se encaminhando à porta. – Vejo-a pela manhã. JEFF DEIXOU o quarto sentindo todos os músculos do corpo se voltarem contra ele, se rebelando e gritando, tentando arrastá-lo de volta ao quarto que acabara de deixar. À mulher sensual e quente, trajando sua camiseta, que ele fantasiava ter de volta em sua cama. Não era para ser assim com Darcy. Ela não queria que aquilo acontecesse. Droga, ele também não queria. Está bem. Ele queria. Mas sabia que havia uma boa razão para não querer. Ainda assim, ele a desembrulhara como o presente pelo qual ansiara o ano inteiro. Sim, suas intenções podiam ter sido as mais puras quando começara a lhe despir a blusa. Ao menos tão puras como podiam ser quando se relacionava a Darcy. Detestara ver o sofrimento dela. Após meses de náuseas persistentes, a mudança em sua vida, a perda da autonomia e todas as consequências que ela arcara… A culpa o estava devorando vivo. Porque tudo aquilo pelo que Darcy estava passando podia ser creditado em sua conta.


Vislumbrara uma oportunidade de se redimir ao menos em parte e se atirara sobre aquela missão como um cavaleiro branco tresloucado com ilusões de estar sendo bem-intencionado ao tirar a própria camiseta e vesti-la. O único ponto a seu favor fora o fato de não tê-la devorado com o olhar quando Darcy retirara a blusa que se encontrava justa nos lugares certos. O tecido se colava aos seios agora ainda mais fartos e aos contornos de um abdome que apenas começava a ostentar um abaulado tentador ao toque. Não que tivesse tido mais do que uma breve amostra. Estava tentando ajudá-la, e não capitular as sensações. Sim, continue repetindo isso para si mesmo, seu estúpido. Na verdade, suas intenções iniciais foram as melhores. Mas, quando pousara aquelas mãos delicadas em seu peito, as boas intenções haviam pegado o primeiro trem expresso para o inferno. A sensação dos dedos de Darcy lhe tocando a pele exposta fizera despertar todas as células vivas de seu corpo e apenas por alguma intervenção divina fora capaz de impedir que o repentino e intenso desejo que o invadira não brilhasse como um farol. Mas conseguira se fechar para os apelos visuais. Implacavelmente. Com muito desgosto. Porque aquela era a mãe de seu filho. E, além do fato de não poder correr o risco de estragar a boa relação que tinha com Darcy, ela merecia uma atitude melhor de sua parte. ALGUM TEMPO depois, Darcy ainda observava a porta por onde ele passara com uma sensação de peso no peito e as próprias ações espocando como slides de um comportamento vergonhoso. Despira-se diante de Jeff. E, em seguida, quando ele fizera a única coisa em que pudera pensar para ajudá-la, vestindo-a com a própria camiseta, simplesmente o devorara com o olhar. Como se Jeff fosse um doce que há muito ela esperava experimentar.


Queria convencer a si mesma de que aquela situação não poderia ficar pior, mas sabia que não era verdade. Porque não havia a menor possibilidade de ignorarem o que acabara de acontecer, culpar os hormônios e varrer o episódio para baixo do tapete. De jeito algum. Tinha de se desculpar. Queria deixá-lo ciente de que aquela breve perda de sanidade não era algo comum ou duradouro. Com as mãos espalmadas sobre o peito, ela forçou os pés a levá-la até a porta do quarto de Jeff, onde o encontrou estirado no chão de bruços. Os braços sustentavam o peso do corpo que subia e descia em uma flexão após outra. Os olhos estavam fechados. Os músculos dos braços e das costas se moviam, contraindo e relaxando, enquanto a pele escurecia a cada exercício. – Não faça isso – sibilou ele, soltando um xingamento enquanto mudava a posição das mãos de espalmadas para punhos cerrados. – Não se atreva a voltar lá. Voltar? Estaria Jeff se referindo ao quarto dela ou a outra coisa? – Jeff. – A voz de Darcy era pouco mais que um sussurro rouco e nervoso, mas foi suficiente para que ele ouvisse. Porque, de repente, ele estacou. Todos os movimentos congelaram, como se alguém tivesse acionado o botão “pausa” no controle remoto que lhe dava vida, fazendo-o paralisar no meio de uma flexão. No segundo seguinte, ele estirou os braços e girou a cabeça na direção dela. O olhar subiu desde os pés de Darcy, passando pelo comprimento das pernas desnudas e camiseta que ele lhe emprestara, até se fixar no espaço entre os ombros. – Volte para o seu quarto.


Jeff não queria nem ao menos encará-la. Aquilo era péssimo. – Queria me desculpar pelo que aconteceu. Eu… – Desculpas aceitas. – Jeff se ergueu lentamente, ainda incapaz de lhe sustentar o olhar. – Estou acordado há 48 horas e, no que diz respeito ao bom senso e autocontrole, meu estoque está quase no fim. Minhas últimas reservas de força de vontade se esvaíram ao me permitirem sair do seu quarto, minutos atrás. Quarenta e oito horas? Sabia que Jeff viajara, ficara eufórica com a perspectiva de tornar a vê-lo, mas ele chegara em um momento em que se encontrava muito transtornada para registrar qualquer coisa, além do intenso desconforto e frustração. E então veio o incrível e reconfortante alívio que ele lhe proporcionou. Mas agora, olhando de perto, notou que as evidências da fadiga produziam linhas profundas nos cantos daqueles olhos cor de avelã e as sombras escuras os rodeavam. A postura exausta era inconfundível. Jeff lidara com ela da melhor forma que pôde e utilizara suas últimas reservas de força para se arrastar para fora daquele círculo infernal… apenas para ser seguido por ela quando estava de volta em seu quarto. Ótimo! Mas… algo não estava se encaixando naquele cenário. Se Jeff estava exausto… – Por que está fazendo flexões? – Droga! Acho que ainda não entendeu o quanto estou perto de perder o controle. – Deixando escapar uma risada áspera, ele escorregou as mãos longas pelos cabelos com um gesto bruto. – Faça um favor a nós dois e saia daqui, antes que eu faça algo de que ambos nos arrependeremos. – Eu não me arrependerei. Seja o que for que tenha a dizer, diga. Posso suportar. – Seria melhor esclarecerem o que estava havendo para seguirem em frente. – Por favor, olhe para mim. Um segundo se passou, seguido de outro. Os ombros e o peito de Jeff se erguiam e baixavam com a respiração pesada. Por fim, ele lhe dirigiu o olhar… e tudo parou. Os olhos que a encaravam não eram os do homem gentil que Jeff se mostrara nos últimos dois meses.


Não tinham nada de inofensivos. Ou benignos. Encontravam-se escuros, intensos, famintos. Olhos de um homem que deixara de se reprimir. E então Jeff estava fechando a distância que os separava, todos os sinais de fadiga dissipados quando lhe envolveu a nuca com uma das mãos e o quadril com a outra. – Droga, Darcy. Eu a avisei.


Capítulo 17 JEFF MENTIRA. Nada poderia tê-la prevenido ou preparado para aquele beijo. Porque aquele não se igualava a nenhum outro. Era algo que Darcy nunca experimentara. Nem mesmo com ele. Era uma exigência esmagadora e aflita. Quase como uma possessão irritada. Um selo brutal carimbado nos lábios de Darcy, tão ardente e inesperado que lhe exterminou todos os pensamentos, sensatez e qualquer reação, além da mais básica e primitiva. A de ter mais. Mais daquele homem. Daquele beijo. Do fogo que se espalhava em suas veias. Da corrente de alta voltagem que lhe percorria a pele, à procura de um escape. Darcy desejava aquilo com um desespero que até então lhe era totalmente desconhecido. E então, quando entreabriu os lábios em uma entrega sem reservas e a língua exigente lhe invadiu o interior aveludado, foi como se aquele circuito se fechasse e a energia sensual, quente e compartilhada, os arrebatasse. Os dedos de Darcy se encontravam enterrados com força na massa de cabelos escuros espessos, puxando-o para um contato mais íntimo. O corpo arqueou, o que lhe deixava os seios, o abdome e as coxas pressionados à parede sólida daquele corpo musculoso. Oh, Deus! Aquilo era maravilhoso. Todo aquele calor contra seu corpo sensível e há muito negligenciado. O contato e a promessa. O desejo.


Darcy estava se afogando naquelas sensações. Perdida no desejo que atingia níveis alarmantes a cada investida da língua de Jeff. A súplica para que ele a tomasse por inteiro estampada em cada ofego de prazer. Para que lhe desse mais. Para que perpetuasse aquele contato. E assim foi, até que a vertigem causada pela necessidade de ar os separasse, mas apenas para retomarem aquela exploração voraz. As mãos longas e impacientes imprimiam um caminho eletrizante pelas costas e nádegas de Darcy, para logo o refazerem na direção dos ombros e da nuca. Jeff lhe devorou o pescoço. Cada sucção dos lábios, estímulo da língua e leve pressão dos dentes agia como gatilhos para suscitar uma nova onda de desejo em Darcy. – Terá de ser você – rosnou ele, entre as investidas precisas da língua no ponto sensível atrás da orelha delicada. A palma de uma das mãos fortes encontrou o seio farto. – Se precisarmos parar… – Ele a recuou apenas para lhe queimar todo o comprimento do corpo com o fogo que se refletia nos olhos cor de avelã, antes de encará-la. – Não consigo me forçar a colocar um ponto final nisso. Darcy fez que não com a cabeça, detestando os escassos centímetros que os separavam e o ar frio que se infiltrara entre ambos, ameaçando trazer de volta o bom senso. – Não pare. Não quero que pare. Só desta vez. Esta noite. Não quero que pare. – Só desta vez. – Um dos polegares de Jeff lhe traçou o contorno do tecido de algodão macio que lhe moldava os seios e repetiu o movimento quando o mamilo enrijeceu dentro dos confinamentos do sutiã. – E depois esqueceremos o que aconteceu. Anuindo com um gesto frenético de cabeça, ela perguntou: – Pode fazer isso? Concordamos, então? – Neste momento, eu concordaria com qualquer coisa. – Os olhos cor de avelã se fixaram nos mamilos intumescidos, escurecendo


quando ele os estimulou através das camadas de tecido. Darcy prendeu a respiração e gaguejou diante do prazer intenso e o calor líquido que lhe inundava o baixo-ventre. – Mas sim, posso fazer isso. Outro movimento erótico do polegar que a estimulava e Darcy gemeu, arqueando o corpo na direção daquele toque. – Por favor… Os olhos de Jeff se fecharam em uma expressão que beirava a dor. – Não sei… quantas noites… repassei essas duas palavras em minha mente. Dessa vez, foi ela a paralisar. A pontada de dor aguda no coração dissipava a névoa de sensualidade que a envolvia. Jeff admitira ter pensado no que os dois fizeram no passado, mas sempre no contexto de um comentário emocionalmente estéril e casual, ressaltando a falta de significado por trás das palavras. Mas dessa vez, naquela noite, não havia nada de estéril no tom de Jeff. Porém, haviam acabado de concordar… Mas, antes que Darcy pudesse elaborar aqueles pensamentos, as mãos ávidas de Jeff estavam segurando a bainha da camiseta emprestada e a livrando da peça com a mesma facilidade que a arrancaram pela própria cabeça, em seu quarto, minutos atrás. E então os olhos famintos a exploravam, reverentes, refletindo uma admiração que a fez se sentir bela em vez de tímida em relação às mudanças no seu corpo. – Você é estonteante. – A voz grave soou tão gutural que Darcy foi capaz de senti-la reverberar nos próprios ossos. Erguendo-a nos braços, Jeff a carregou para a cama, deitou-a e se juntou a ela. As bocas fundiram-se em um beijo erótico e promissor que fez as mãos de Darcy rumarem, famintas, pelos planos rígidos do peito largo e mais abaixo pelo abdome até encontrarem o cinto. Diante do gemido frustrado que ela deixou escapar, Jeff lhe afastou a mão e


se ergueu, a pele corada com a combinação da força, da luta pelo autocontrole e da excitação. A musculatura definida se contraindo a cada movimento. Jeff escorregou a palma da mão pelos lábios e ela pensou ter ouvido o som abafado da palavra “fantasia”. Mas ele já havia desviado a atenção para o próprio cinto. Nunca Darcy vira algo tão sexy como aquele homem desatando a fivela e abrindo a braguilha com apenas dois precisos movimentos. Permitiu que os olhos seguissem a linha perfeita de pelos que se estreitavam na cintura e seguiam… Oh, sim, por favor. A potente ereção se destacava daquele corpo escultural em um ângulo que desafiava a gravidade. E, embora Darcy o tivesse visto assim antes e soubesse exatamente como ele se encaixava dentro dela, a visão a deixou chocada. Excitante. Incrível e inegavelmente excitante. Fazendo todas as partes de seu corpo ansiarem e intumescerem. Desejarem. Com desespero. E então Darcy fez a única coisa em que conseguiu pensar, esperando que produzisse a mesma intensa resposta que suscitara da primeira vez. – Jeff, por favor – suplicou, ofegante trêmula. E funcionou, porque, antes que Darcy pudesse respirar, ele havia retirado a calça e a cueca, retornado à cama, e o corpo estava quase cobrindo o dela por completo. Em seguida, os lábios sensuais se apossaram dos dela. Suportando o peso do corpo em um dos braços, Jeff a acariciou com a outra mão, deslizando-a para cima e para baixo pelo comprimento da coxa macia, antes de fechá-la em torno da parte posterior do joelho para enroscar a perna de Darcy em sua cintura e permitir que a ereção entrasse em contato com o


ponto no qual ela o queria. Porém, Darcy ainda estava de sutiã e calcinha. Havia muitas camadas de tecido entre eles. Ela estava prestes a protestar, quando Jeff roçou a masculinidade contra o tecido úmido que lhe cobria o sexo, fazendo-a prender a respiração. Não pensava em nada exceto no desejo exacerbado de que ele repetisse o movimento. Darcy arqueou os quadris para a frente, em um convite explícito. As mãos exploraram os ombros largos, descendo pela espinha de Jeff até onde podiam alcançar. Os tornozelos pressionando a parte posterior das coxas musculosas sob a curva inferior das nádegas firmes, enquanto a rigidez da masculinidade excitada roçava contra o tecido fino e úmido da calcinha. – Sim! Puxando as meias-taças do sutiã para baixo, ele as prendeu sob os seios fartos. Os olhos avelã se cravaram na imagem erótica que ela compunha. – Darcy… Mas o que quer que ele tencionasse dizer ficou perdido quando Jeff inclinou a cabeça para baixo e deslizou a língua sobre o mamilo excitado. O contato quase etéreo não foi suficiente. Não quando ele soprou o hálito quente sobre aquele ponto, antes de roçar os lábios de um lado para o outro sobre o mamilo. Mais. – Por favor – choramingou ela outra vez. – Em sua boca. Por favor. Jeff soltou um gemido ao mesmo tempo em que fechava os lábios contra um dos mamilos, sugando-o de modo provocante e escorregando uma das mãos sob o tecido da calcinha para tocá-la de modo íntimo. O toque de Jeff. Darcy tentou não recordá-lo após aquela primeira noite, mas havia algo tão incrível no modo como ele a estimulava! Era como se Jeff soubesse


exatamente o que fazer, o que mais lhe daria prazer, como ela gostava de ser acariciada, quando provocar e quando lhe dar o que ansiava. Portanto, nos momentos de fraqueza em que permitia que os pensamentos vagassem, eles sempre convergiam para o toque de Jeff. Com os dedos pressionados à intimidade úmida e quente dela, tocando o ponto mais sensível com movimentos precisos, ele permitiu que um deles a penetrasse, preenchendo-a e a esticando de uma forma extasiante. Suplicando por mais, Darcy escancarou as pernas, arqueando os quadris na direção da fonte de seu prazer. – Sim – ofegou ela, com a cabeça atirada para trás, enterrada no travesseiro, enquanto as ondas de prazer se formavam no coração de sua feminilidade a cada investida suave do dedo que a penetrava. Os espasmos de prazer começaram a se propagar rapidamente, ganhando força a cada elogio, encorajamento e promessa de lhe proporcionar muito mais. Jeff lhe sugou um mamilo, com movimentos que simulavam os mesmos que fazia com os três dedos com que agora a preenchiam. – Oh, Deus! Por favor – ofegou ela. – Por favor! Preciso… eu… As súplicas foram interrompidas, quando o polegar longo lhe pressionou o ponto mais sensível da feminilidade. – Deixe acontecer, Darcy. O mundo pareceu se despedaçar diante dela. As sensações se multiplicavam e a tensão explodia por todos os poros de Darcy, enquanto uma onda de prazer após outra a cobria de uma forma que apenas aquele homem sabia fazer acontecer. DEUS! Darcy estava atingindo o clímax com sua mão. O prazer que ele a fazia sentir era mais excitante do que se entregar ao próprio orgasmo. Alguns minutos atrás, Jeff teria vendido a própria alma para dormir por


algumas horas. Mas agora? Abriria mão do sono para o resto da vida se isso significasse desfrutar da sensação do som de Darcy gemendo seu nome. Porém, “para o resto da vida” não era uma opção. Tinha apenas aquela noite e desejava esticá-la o máximo possível. Primeiro, dar o que Darcy desejava, depois o que ela precisava. E, então, o que ele precisava lhe proporcionar. Uma noite. Diabos! A intensidade cruel daquele pensamento quase o catapultou para fora daquele momento perfeito. Mas, tendo apenas algumas horas disponíveis, Jeff decidiu que não iria desperdiçá-las refletindo sobre o que não poderia ter. Quando os últimos espasmos a abandonaram e o corpo de Darcy relaxou contra o lençol, ele lhe retirou a calcinha. Em seguida, beijou-a de modo íntimo, provocando outro gemido de prazer e atraindo toda a atenção de Darcy. Erguendo o corpo sobre os cotovelos, ela deixou o olhar vagar pelo comprimento do próprio corpo até encontrar Jeff. Danação! Ele nunca vira algo assim antes. Os cabelos loiros sedosos pendiam em uma cascata sensual lhe emoldurando o rosto e desaguando sobre os ombros. Os olhos de ressaca, sonolentos e saciados, mas de alguma maneira desejando mais. Os lábios entreabertos e intumescidos pelos beijos de uma forma que o fez lutar contra uma dúzia de impulsos imorais ao mesmo tempo. O abdome levemente abaulado. E os seios… Deus o ajudasse! Deveria tê-la livrado do sutiã, mas uma parte primitiva de Jeff se encontrava extasiada com a visão dos seios fartos transbordando pelas margens do bojo que ele afastara apenas parcialmente. Darcy parecia ter notado o que atraía a atenção daqueles olhos cor de avelã, porque baixou o olhar ao próprio corpo e arqueou uma das sobrancelhas, com expressão questionadora.


– Estou parecendo… – Uma deusa – completou ele, esticando a mão para segurar a dela e a ajudando a se ajoelhar sobre o colchão. Em seguida, Jeff abriu o fecho do sutiã que servira mais aos seus propósitos do que aos dela nos últimos minutos, escorregando as alças pelos ombros e braços delicados, antes de descartá-lo. Sem perder tempo, retirou um preservativo da carteira e o atirou sobre criadomudo. Posicionando-se atrás de Darcy, puxou-a contra o corpo de modo que ficassem ajoelhados juntos. – Não há nada nem ninguém neste mundo que seja mais sexy do que você. O ruído baixo que escapou entre os lábios entreabertos de Darcy sugeria incredulidade, mas era verdade. Achara-a estonteante desde o primeiro instante em que a vira em Las Vegas, mas agora não conseguia pousar o olhar em Darcy sem ser atingido pela perfeição sensual e absoluta daquela mulher. E naquela noite ela era sua. O desejo lhe fazia a ereção pulsar de uma maneira dolorosa, pressionada entre os corpos de ambos. Tinha de se enterrar dentro dela. Ter o que vinha se negando peremptoriamente nos últimos meses. Esticando a mão para trás, ele pegou a embalagem do preservativo e a rasgou. Naquele momento, Darcy girou, olhando por sobre o ombro, primeiro para o artefato de látex, depois para ele. – Precisamos disso? – perguntou ela, em tom de voz suave. Só então Jeff se deu conta do que estava fazendo. Ela estava grávida. Não poderia engravidá-la mais do que já o fizera. Mas não era isso que Darcy estava perguntando. Pressionando a testa contra o ombro delicado, Jeff lhe disse a verdade: – Não


dormi com mais ninguém desde aquela noite em Las Vegas. As costas de Darcy enrijeceram. – E Olivia? A dúvida de Darcy fazia sentido. Todos sabiam que seu relacionamento com Olivia era sério desde o início. Mas, naquele momento, Jeff percebeu que a necessidade que sentira de se ligar a alguém havia sido mais o resultado da frustração em relação à mulher finalmente em seus braços do que fruto de sentimentos por aquela que escolhera para substituí-la. – Nós… nunca fizemos sexo. Não sei por que, mas eu simplesmente… – Jeff encontrara e elaborara uma desculpa atrás da outra para não se relacionar intimamente com Olivia e de alguma forma conseguira convencer os dois de que aquilo nada tinha a ver com ele. Mas tinha tudo a ver com ele. Ou melhor, com Darcy, que no momento deixava escapar um profundo suspiro, embora ele não conseguisse captar o sentimento que o inspirara. – O preservativo é um hábito arraigado. Estava agindo de maneira automática, mas, se for tranquilizá-la, não me oponho a usar. Darcy olhou mais uma vez por sobre o ombro, encarando-o quase tímida. – Quero senti-lo. Dentro de mim. Só você. O coração de Jeff começou a bater como um tambor que soasse em um ritmo selvagem, enquanto uma parte possessiva do seu ser despertava para a vida. Só ele. De repente, ele se viu incapaz de esperar sequer um segundo. Ajustando os joelhos, posicionou a ereção entre as pernas de Darcy e gemeu diante da umidade escorregadia que encontrou. A sensação de pele contra pele aumentaria ainda mais o prazer de ambos. Escorregando todo o comprimento da masculinidade sobre a umidade quente de Darcy, ele sussurrou: – Incline-se para a frente, querida.


Farei bem devagar. Deus o ajudasse diante da visão com que foi agraciado quando ela obedeceu. Jeff se posicionou diante da abertura sedosa e úmida e escorregou centímetro por centímetro para dentro daquele casulo quente e apertado. Paraíso. Bênção. Nirvana. As nádegas macias se encontravam pressionadas contra seus quadris. As paredes internas se fechavam em torno da ereção enquanto Jeff permanecia conectado a ela como nunca estivera com outra pessoa. Uma parte dele queria manter aquela conexão por toda a eternidade, mas o instinto e o desejo carnal o estimularam a se mover. Recuar por aquela passagem apertada e, em seguida, observar toda a extensão do próprio sexo se enterrar fundo outra vez, enquanto os gritos entrecortados e excitados que ela emitia acariciavam todos os lugares dentro dele que o corpo de Darcy não conseguia tocar. Mas Jeff desejava mais. Queria lhe dar mais. Enterrado fundo dentro dela, ele a incitou a erguer os quadris alguns centímetros para facilitar as arremetidas firmes e constantes. Com uma das mãos lhe acariciou os seios e com a outra rumou pelas elevações e depressões daquele corpo sedoso, até alcançar o lugar em que Darcy se encontrava úmida e pronta ele. Estimulando-lhe o ponto mais sensível da feminilidade, sentiu os músculos das paredes internas que o envolviam se contraírem como um punho cerrado a cada movimento que fazia com os dedos, deixando-a ensandecida, ousada e, embora por um breve tempo, sua. – Jeff, oh, sim, assim mesmo – ofegou ela, arremessando os quadris contra os dele, mesmo enquanto afastava os joelhos em uma súplica por mais estímulo dos dedos experientes naquele lugar secreto.


Jeff parecia incansável, instigando-a até que finalmente Darcy lhe deu o que ele tanto necessitava. Outro grito gutural, enquanto se entregava a um orgasmo alucinante sob suas investidas e movimentos dos dedos. Enquanto ela se entregava ao prazer delirante, a mão que Jeff espalmara sobre os seios fartos rumou para baixo até pousar sobre o abdome que abrigava o que pertencia aos dois. E, por um instante, ele cedeu à fantasia de que tudo que necessitava estava ao alcance de suas mãos.


Capítulo 18 AQUILO ERA… Darcy nunca… Os dois não… Como ele conseguira…? Uau! Pestanejando várias vezes, ela sacudiu a cabeça e contemplou a possibilidade de dar um forte beliscão no braço para se certificar de que não estava sonhando. Esqueceria o beliscão. Se estivesse, seria um sonho do qual nunca desejaria acordar, com Jeff depositando beijos suaves em seus quadris. Claro que aquele pensamento foi suficiente para que Darcy se repreendesse mentalmente e se lembrasse de que se tratava apenas de uma noite. Para que os dois expurgarem a atração física residual e não a deixassem se interpor no caminho de um relacionamento que deveria ser amigável. Porém, enquanto permanecia deitada na cama, chafurdando nas atenções de um homem que tinha o dom de mimá- la, teve de admitir, ao menos para si mesma, que a atração que sentia por ele não mudaria em nada. Portanto, talvez aquela noite estivesse mais relacionada à chance de desfrutar de algo que sabia que desejava, mas não tinha a ilusão de manter. O que Jeff acabara de lhe proporcionar fora uma experiência incrível, capaz de mantê-la envolta em fantasias pelos meses e talvez até anos que se seguiriam. Um dia, surgiria outra pessoa. Um outro homem em sua vida. Talvez. Se Gail tivesse a chance de agir. Mas teria de passar algum tempo antes que isso fosse possível. O suficiente para que as lembranças de como fora com Jeff suavizassem e se apagassem. Porque o que haviam acabado de fazer, naquela noite… Darcy sentia como se ele tivesse arruinado a chance de qualquer outro homem. E, a julgar pelo brilho naqueles olhos cor de avelã, aquele fora apenas o começo. Engatinhando até se posicionar sobre ela, Jeff se aninhou entre as coxas aveludadas, tomando cuidado para não descansar o peso sobre o abdome abaulado de Darcy, mas ainda assim os mantendo conectados em muitos


pontos. – Case-se comigo. Confusa, ela pestanejou várias vezes. O coração estava prestes a congelar naquele momento até perceber o brilho divertido nos olhos de Jeff, o que a fez relaxar contra o colchão. – Está bem, mas só por esta noite. E apenas se fizer aquilo outra vez. Puxando-a para perto, Jeff lhe capturou os lábios com um beijo longo, lento e doce, como se desejasse perpetuar aquela noite. – Deus, a sensação de tê-lo é tão boa – sussurrou ela, impressionada com a veracidade daquela afirmação. – Faz tanto tempo que só me sinto mal, que nem ao menos lembrava com era. – Passaram-se apenas cinco meses e já esqueceu? Meu ego está exigindo que eu deixe uma impressão mais duradoura desta vez. – Aí vem seu ego de novo. A confusão em que ele nos meteu não foi suficiente? – Ela lhe acariciou o peito com uma das mãos ao mesmo tempo em que escorregava o joelho pela lateral da coxa musculosa. Aquilo era tão íntimo! O contato visual. O toque. A pressão da masculinidade rígida contra seu sexo. Não teriam aquele tipo de intimidade outra vez e Darcy confiava nele, portanto esclareceu o significado do que havia dito. – Além do mais, não estou me referindo ao sexo. O que estou sentindo no momento é mais do que isso. – E então, se dando conta de como Jeff poderia interpretar aquelas palavras, emendou: – Não se preocupe, não estou me referindo a amor ou nada do tipo. Apenas… pela primeira vez na vida, não estou preocupada, enjoada, incomodada ou sentindo nada desagradável. Quando estou com você, assim, sinto como se tudo fosse dar certo. Tenho a


sensação de… segurança. Não houve questionamentos. Não havia nenhum risco. Sustentando o peso do corpo nos braços fortes, Jeff lhe procurou o olhar, com a testa levemente franzida. – Então, deveria permanecer em meus braços. Darcy paralisou, não desejando tentar ler nas entrelinhas do que ele dissera. Jeff estava se referindo àquela noite. Ao momento presente. A alguns minutos a mais. Os olhos avelã escureceram, enquanto ele lhe acariciava a orelha, antes de permitir que os dedos escorregassem pelo pescoço delicado e rumassem na direção dos seios fartos, onde estimulou um dos mamilos com um único dedo. – Talvez eu não devesse deixá-la ir… As palavras foram interrompidas pelo som abafado da porta batendo no andar térreo. E, de repente, o coração de Darcy disparou por uma razão diferente daquela que o fizera acelerar segundos atrás. – Sua mãe! – exclamou, chocada, tentando escapar da pressão do corpo de Jeff, que atirou a cabeça para trás e a encarava com o que pareciam ser partes iguais de divertimento e irritação. E, tinha de admitir, de desejo sexual, também. Darcy lhe empurrou os ombros, fazendo-o se erguer da cama e resmungar algo sobre as alegrias de voltar à adolescência, o que a fez imaginar quantas vezes Jeff fora surpreendido naquela situação na casa dos pais. Voltando a se concentrar no momento, ela percebeu que a única coisa que importava era que essa não fosse uma daquelas vezes.


Jeff havia vestido a calça comprida. Em seguida, lhe atirou o sutiã, a camiseta que havia lhe emprestado e, se abaixando, recolheu a calcinha que atirara ao chão. – Relaxe. Vou me encontrar com minha mãe lá embaixo. Dizer-lhe que não se preocupe com você esta noite. Darcy quase se engasgou. – O quê? Não! Você está parecendo… – Felizmente, a camiseta que Jeff vestiu pela cabeça cobriu as marcas que ela lhe deixara. – … bem… como se estivesse fazendo exatamente o que estivemos fazendo. Achei que isso não seria possível, mas até mesmo seus cabelos o fazem parecer culpado. Jeff estacou e, esticando o braço para a camisa social, observou seu reflexo no espelho. – Puxa, tem razão! Vestindo a camiseta emprestada o mais rápido que pôde, Darcy olhou ao redor. Embora não tivessem feito sexo sob as cobertas, o edredom estava todo amarfanhado e os travesseiros, espalhados pelo quarto. Um encontrava-se até mesmo na soleira da porta do toalete da suíte. – Ela não tem mais o costume de verificar como você está antes de ir para a cama, certo? – Jeff a olhou como se pensasse que ela enlouquecera por achar que não e que aquele cuidado da parte da mãe fosse algo adorável. O que não era exatamente a resposta que Darcy esperava no momento. – Isso é péssimo – afirmou, enquanto o medo a invadia. – Não acho. – Sua mãe abriu as portas da casa dela para mim. E, no instante em que virou as costas, estou fazendo de seu lar um… No segundo seguinte, o rosto de Jeff se encontrava a milímetros do seu, interrompendo-a com um beijo profundo, antes de recuar e encará-la. – Minha mãe deixou claro que esta casa também seria sua desde que se


mudou para cá. – Essa não é a questão e você sabe disso. Abotoe a camisa – disse ela, em tom desesperado. – Vestiu a camiseta pelo avesso – retrucou Jeff, exibindo um sorriso quando ela ofegou. – Como pode agir com tanta naturalidade? Trata-se de sua mãe. Da casa dela… – Tecnicamente, a casa é minha. Mas entendi o que quis dizer. Darcy pestanejou, confusa e, em seguida, arrancou a camiseta pela cabeça outra vez e voltou a vesti-la. Jeff ergueu uma das mãos como se pedisse silêncio. – Consegue ouvi-la? Eu não estou conseguindo. E, por razões nas quais não quero me aprofundar, costumo apurar os ouvidos para escutar os passos da minha mãe na escada. Darcy ergueu uma das sobrancelhas com uma expressão divertida. – Posso imaginar. E então a mente traiçoeira a levou a fazer exatamente aquilo, o que devia ter ficado evidente, porque Jeff a envolveu nos braços e estalou a língua várias vezes próximo ao seu ouvido. – Hummm… devassa. Já lhe disse o quanto gosto disso, certo? Com o rosto rubro, Darcy se inclinou para trás, tentando manter a expressão séria. – Não estou ouvindo passos, portanto vou aproveitar e sair. Boa noite. Com um gesto negativo de cabeça, Jeff lhe segurou a mão, entrelaçando os dedos aos dela.


– Ela deve ter subido pela escada da ala sul. Fique aqui. Darcy baixou o olhar às mãos unidas, sentindo o impulso quase irresistível do “sim” emergir de seu âmago. Quando ergueu o olhar para encará-lo, percebeu mais uma vez os sinais da fadiga que haviam se dissipado durante o tempo em que estiveram juntos, mas que agora se encontravam impressos em cada linha e sombra daquele rosto de traços marcantes. Aquilo a fez desejar abraçá-lo e dispersar aquela exaustão com beijos… Não! – É melhor terminarmos isto dessa forma. Porque, de repente, Darcy não se sentia mais tão segura. OBSERVANDO-A TRANSPOR a porta, Jeff foi atingido pelo pensamento de que, ao menos daquela vez, ele a vira partir. Não se assemelhava em nada à surpresa desagradável que tivera em Las Vegas. Porém, vê-la sair daquele quarto não era em nada mais agradável do que a primeira vez. O que era uma loucura, considerando o pânico e a aflição que enfrentara naquela noite, em Las Vegas. Dessa vez, concordara com tais limitações desde o primeiro instante. Então, qual era o problema? Talvez fosse a fadiga que, tinha de admitir, havia atingido níveis alarmantes. Não estava conseguindo raciocinar direito. Tão logo conseguisse desfrutar de algumas horas de sono, teria seu bom senso de volta e as expectativas em relação a Darcy sob controle.


Capítulo 19 EMPOLEIRADA NA beirada da cadeira, à mesa da cozinha, com o calor que desprendia da caneca lhe aquecendo a palma da mão, Darcy tentou respirar fundo e se acalmar. Era bem provável que não visse Jeff naquele dia. Um ruído baixo de motor de carro a despertara de um sono agitado por volta das 3h da manhã e, quando passara pelo quarto dele, no caminho para o andar térreo, meia hora atrás, a cama se encontrava mais ou menos feita e o quarto, vazio. Era melhor assim. “Fique aqui…” Com os ecos da noite anterior ainda reverberando na mente, um pouco de distância entre ambos não seria má ideia. Na verdade, a ideia de Jeff na cidade, pressupondo que levaria alguns dias ou até uma semana para que ele voltasse, tinha um efeito mais eficaz para acalmá-la do que o chá de camomila que ela estava ingerindo nos últimos dez minutos. “… deveria permanecer em meus braços…” Talvez Jeff tivesse de voltar para a Austrália e se passariam semanas sem que tivesse a oportunidade de encontrá-la de novo. Ainda melhor. “… talvez não devesse deixá-la ir…” Aquilo lhe daria tempo para parar de imaginar o que ele estava prestes a dizer quando Gail chegou em casa, interrompendo-o. Se ele diria “por esta noite” ou “por mais alguns minutos”. “… eu a avisei…” Um tremor a perpassou diante da lembrança do ardor que aquelas palavras causaram e de tudo que acontecera em seguida. Sim, seria ótimo se Jeff ficasse muito ocupado e ela não pudesse vê-lo por um longo… – Está interessada em sair com alguns dos homens que minha mãe tem selecionado para você? Darcy se sobressaltou com a voz grave que, em sua mente, se encontrava em Los Angeles. O movimento brusco fez o chá entornar pela borda da caneca.


– Jeff! Quase me matou de susto. Eu… pensei que tivesse partido de madrugada. Seu quarto estava vazio… Espere, o quê? Jeff se encontrava parado na soleira da porta da cozinha, com a testa franzida, trajado com uma camiseta sem mangas e um short azulmarinho de corredor. A pele estava suada e corada pelo esforço; os cabelos, em um desgrenhado sexy, com as pontas úmidas. – Porque ela não vai esquecer esse assunto. – Jeff a encarava com os olhos escurecidos. – Danação! Você a conhece. Minha mãe é obstinada. E esses caras não são como os idiotas abusados que passou os últimos anos dispensando. Caso se decida por um deles… Darcy se ergueu da cadeira e se encaminhou à bancada para pegar um pano de prato e limpar o líquido que derramara. Como ele poderia sequer fazer uma pergunta como aquela, após o que acontecera na noite anterior? Era doloroso… embora não devesse ser. Não devia permitir que Jeff tivesse tanto poder sobre ela. Blindando-se com uma carapaça de aço, Darcy optou por não se mostrar ofendida. – Não. – E, incapaz de suportar a visão da carranca que ele exibia, acrescentou em tom leve: – Tremo só de pensar como o seu ego encararia isso. Os lábios de Jeff se curvaram em um sorriso, enquanto ele entrava na cozinha e se dirigia diretamente à cafeteira. – Humm… Gosto de saber que é suscetível ao meu ego. Baseado nisso, por que não arruma suas coisas e volta comigo? – O quê? – Darcy perguntou. Definitivamente não podia ter ouvido direito. Não, a julgar pela postura tranquila de Jeff se servindo de uma xícara de café, enquanto mandava tudo que haviam combinado na noite anterior para o inferno. – Acontece que sou do tipo ciumento.


No que se refere a você, pelo menos. – Ciumento. De onde viera aquilo? Após seu quase encontro com Grant? – Se minha mãe continuar a desfilar os solteiros mais promissores na sua frente… – Ele fez um movimento negativo com a cabeça, mais uma vez esfregando a palma da mão larga sobre a insinuação da barba que lhe cobria a mandíbula quadrada. – Sim, não me agrada a ideia de que algum deles atraia sua atenção. Porque certamente atrairá a deles. De todos. Portanto, sendo o bastardo exclusivista que sou, terei de dirigir até aqui sete vezes por semana com o único objetivo de sabotar os esforços daquela casamenteira. – Jeff – começou ela, precisando injetar um pouco de bom senso onde, de repente, parecia não haver nenhum. – Sou uma mulher que abandonou os estudos. Eles não vão… – Dar importância a isso. Minha mãe não permitiria que nenhum arrogante com fetiche por credenciais se aproximasse de você. Ela só lhe apresentará homens que apreciariam sua capacidade de conversar sobre qualquer assunto, aqueles que a respeitariam pelo fato de ser uma mulher antenada, que tem lido regularmente meus antigos livros escolares e dois jornais por dia desde que chegou aqui. Os que forem agraciados com um de seus sorrisos… – Deixando a frase morrer, Jeff desviou o olhar e sibilou um xingamento. – Portanto, sim, mesmo tendo eliminado todos esses futuros concorrentes, o ego que você continua alimentando ainda terá algo a provar. O que significa que… vou recorrer a todos os truques baixos e sujos em que puder pensar para convencê-la a se deitar comigo outra vez. E, Darcy? Os olhos avelã, agora ainda mais escurecidos, faziam-na sentir coisas nas quais não queria pensar. Não desejava entender. Não queria impedir. – O quê? Jeff se aproximou por trás dela, juntando a massa de cabelos loiros sedosos com uma das mãos e a soltando sobre o ombro de Darcy. Em seguida, roçou os lábios e a lateral da mandíbula pelo comprimento da pele exposta do pescoço delgado de uma forma que a fez prender a respiração diante da tensão sexual que se concentrou em seu baixo-ventre.


– Sei muitos truques. E vários que funcionam com você. – Então, o que quer dizer com isso? – perguntou ela, lutando contra o ronronar e os gemidos que ameaçavam lhe escapar dos lábios. – Que, se me mudar para sua casa, não terá estímulo para me seduzir? As mãos longas escorregaram pelos braços de Darcy para, em seguida, fazerem o caminho de volta, enquanto uma risada rouca e baixa escapava da garganta de Jeff. – Não. Eu a seduzirei de qualquer forma. Mas, para variar, assim que a tiver em minha cama, gostaria de acordar e encontrá-la na manhã seguinte. Darcy sentiu um peso se alojar em seu peito. – Já conversamos sobre isso. Concordamos, ontem, à noite. – Não pode me cobrar nada que eu disse na noite passada. Fazia dias que eu não dormia. Mas esta manhã estou vendo as coisas com mais clareza. Sei que está preocupada sobre complicarmos um relacionamento que teremos de sustentar em benefício do nosso filho. Mas não precisamos complicá-lo. O que há entre nós… – É sexo – afirmou ela, embora tudo em seu íntimo estivesse turbulento e caótico. – Sim, sexo da melhor qualidade. Mas há amizade e respeito, também. A verdade é que o que estou sugerindo faz sentido. Está esperando um filho meu. Não quero que fique sozinha. Embora não haja inconveniente nenhum em você ficar aqui com minha mãe… uma grande parte de mim fica se perguntando por que deveria, quando poderíamos aproveitar ao máximo esse tempo, antes de nosso bebê chegar. Poderíamos cuidar um do outro. Foram as últimas palavras que prenderam a atenção de Darcy; o equilíbrio


sugerido na expressão “cuidar um do outro” que a fez refletir. – E se acontecer de um de nós perceber que quer mais do que o outro pode oferecer? E se um de nós, de repente, quiser menos? O que acontecerá se perdermos o controle dessa relação? – Isso não acontecerá. Podemos fazer as coisas de maneira simples. Você se muda para minha casa, eu a satisfaço a ponto de você poder dar vazão àqueles seus gritinhos de prazer regularmente, meu ego é alimentado com frequência e nós nos livramos dos questionamentos sobre o futuro, colocando um ponto final nas brincadeiras e divertimentos quando Júnior chegar ao mundo. Se formos sinceros quanto aos limites até onde esse relacionamento pode chegar, ninguém sairá ferido. Sabemos no que estamos nos envolvendo. Jeff fazia tudo parecer tão fácil, mas não seria. Não para Darcy. Mas, ainda assim, o que ele lhe estava oferecendo era extremamente atraente. Era a desculpa perfeita para desfrutar mais daquele homem que desejava tanto. A justificativa prática de que necessitava para ceder ao desejo, sem se detestar por estar sendo fraca, por flertar com a dor e a vulnerabilidade que um relacionamento com prazo de validade envolveria. Se concordasse com o que Jeff estava sugerindo, mesmo que suas emoções a dominassem, não alimentaria nenhuma ilusão sobre um final feliz. Teria de colocar na cabeça que havia um limite para aquele relacionamento e, tendo tomado parte no estabelecimento daqueles limites, não se sentiria como se tivesse traído a si mesma ao concordar com a proposta de Jeff. Saberia que tomara uma decisão consciente em agarrar aquela felicidade provisória pelo tempo que estivesse disponível. Darcy girou para encará-lo, procurando-lhe o olhar. – Está se referindo a uma espécie de acordo estendido de amizade colorida? Jeff fez uma careta como se não gostasse daquela expressão, mas logo pareceu reconsiderar. – Acho que seria exatamente isso. Ela não seria namorada de Jeff. Não estavam falando de um relacionamento.


Seria um caso amoroso com uma doce- amarga e predeterminada data de validade. Algo com que podia conviver. – O que diríamos à sua mãe? – perguntou ela. – O que você diria aos outros? Porque as pessoas iriam comentar. Como não especular? Darcy recordou algumas histórias sobre Connor e Megan e soube que os comentários com que aqueles dois tiveram de lidar não seriam nada comparados às fofocas e especulações que a envolveriam. Não que já não houvesse muitas, mas caso se mudasse para a casa de Jeff… e depois saísse de lá. – Nada. Não é da conta de ninguém. – Os braços fortes a envolveram em um abraço possessivo. – Não vai se arrepender por isso. Com aquela proximidade, era impossível raciocinar sobre qualquer coisa que não fosse a sensação inebriante de Jeff a tocando. A questão era quão próxima ela queria ficar. Pressionando as palmas das mãos contra o peito musculoso, ela o empurrou, tentando não transformar aquela ação em uma apalpação desavergonhada. – Espere, ainda não me decidi. Um dos cantos daqueles lábios sensuais se ergueu em um sorriso torto. – Sim, decidiu. E quando Jeff inclinou a cabeça para lhe capturar os lábios, não havia como negar que ele estava certo. POR LONGOS momentos, Jeff a beijou lenta, profunda e completamente. A invasão da língua quente serviu para selar o acordo, bem como para lembrá-la que podiam desfrutar do tempo que quisessem. E então, do corredor do lado de fora, soou o ruído de chaves tilintando e


Darcy se afastou, apenas para sentir a mão forte a segurando, antes que pudesse colocar mais do que meros centímetros entre ambos. – Ainda não terminei com você – murmurou ele ao ouvido de Darcy, quando o cantarolar de Gail, mais afetado do que o usual, soou do corredor. – Estou atrasada… Pilates… muitas coisas para fazer… volto mais tarde. Jeff arqueou as sobrancelhas e os dois se voltaram na direção da porta dos fundos a tempo de ver Gail passar em disparada, acenando com uma das mãos, sem nem ao menos olhar para trás. Darcy ergueu o olhar para encará-lo. – Ela sabe. Jeff anuiu. – Provavelmente. O lado bom é que ela não será pega de surpresa quando eu lhe disser que você vai se mudar para minha casa.


Capítulo 20 O UNIVERSO estava conspirando contra ele. Não havia outra explicação para o fato de ter levado Darcy três vezes para sua cama e acordado sozinho em todas. Esfregando os olhos sonolentos, Jeff rolou para se deitar de costas e se estirou sobre os lençóis. Acordaria mais cedo no dia seguinte, porque estava determinado a ter Darcy em sua cama, de todas as formas possíveis. Pensara que não havia nada melhor do que fazer amor com ela naquele espaço que pertencia somente a ele. Mas o que acontecera depois o fizera experimentar uma satisfação e uma sensação de perfeição que ultrapassara qualquer expectativa. Saciados, haviam se deitado, com Darcy aninhada contra seu corpo, pela primeira vez não o abandonando após o sexo, a respiração se tornando mais suave até que adormecesse em seus braços, com a mão dele pousada no abdome levemente abaulado. E aquilo o fizera desejar mais. A começar pela versão de uma Darcy preguiçosa entre os lençóis na manhã seguinte. O calor daquele corpo estonteante sob seu toque lento. O som dos murmúrios baixos e excitados dos quais não conseguia se saciar. Levantando-se da cama, Jeff gemeu diante do pensamento do quanto ela estaria deslumbrante pela manhã, sem nada além da luz do sol a lhe cobrir o corpo tentador. Os cabelos sedosos brilhavam como fios de ouro sobre seu travesseiro. Talvez a convencesse a voltar para a cama, pensou ele, prestes a abrir a porta do toalete, quando Darcy o impediu, surgindo do outro lado, com os cabelos atados em um coque, a pele ao redor dos olhos roxa e a compleição que fazia


o cinza-azulado dos lençóis sobre a cama parecerem rosados. – Você está bem? – perguntou ele, envolvendo-lhe os ombros com um dos braços, pronto para erguê-la e levá-la diretamente para um pronto- socorro. Darcy tinha uma aparência fantasmagórica e, de repente, uma parte dele desejou que Grant fosse o homem com quem ela passara a noite e que agora poderia ajudá-la. Mas mal aquele pensamento se formou, a parte possessiva de Jeff rosnou. Nada de Grant. – Ficarei bem – respondeu Darcy em um quase murmúrio, baixando o olhar ao relógio de pulso e acrescentando: – Dentro de cinco minutos. Ultimamente, nunca passa das 8h. Diabos! Aqueles eram os efeitos dos enjoos matinais que ela ainda apresentava algumas vezes por semana. O que significava que o universo não estava conspirando contra ele, afinal. Tratava-se apenas de um bebê em processo de gestação. – Quer voltar para a cama? Posso lhe servir alguns cream-crackers, chá, ovos ou um bolo… prefere bolo? Darcy gesticulou com uma das mãos, com os lábios pressionados em uma linha fina e as bochechas do rosto saltadas, transmitindo efetivamente sua versão tácita e não muito educada de “não, obrigada”. O que o deixou parado, olhando para ela, com sensação de impotência. – Há alguma coisa que eu possa fazer por você? Negando com a cabeça, ela murmurou: – Deixe-me sozinha por alguns minutos. Sozinha. Por que ela sempre queria passar por aquilo sozinha? E, droga, por que aquilo o aborrecia tanto? Apertando-lhe a mão de leve, Jeff se dirigiu à cozinha, tencionando preparar um pouco de chá para quando ela estivesse disposta.


O ENJOO não lhe dava trégua. Ela espalmou as mãos sobre o mármore da bancada e observou o próprio reflexo no espelho. Uma manhã. Era tudo que desejara. Apenas uma para se acostumar a acordar ao lado de Jeff sem que seu estômago lhe estendesse um tapete de boas-vindas àquela nova fase do relacionamento de ambos. Fase temporária. Do não relacionamento dos dois. Um profundo suspiro lhe escapou dos lábios. Aquela relação deveria se basear apenas em sexo. E enjoos matinas, particularmente os dela, nada tinham de sensual. Nem de longe. Sentiu um frio na barriga, quando se preparava para deixar o santuário da suntuosa banheira da suíte principal de Jeff. Se teria de ver o arrependimento ou qualquer desconforto refletido naqueles olhos cor de avelã, que fosse agora. Seria capaz de lidar com a desilusão de Jeff, também. Porque não havia uma só parte nela que apoiasse a ideia de permanecer ali. Não, ela estava bem. Era forte. Prática. E resiliente. Um último olhar ao espelho revelou que se encontrava tão recomposta quanto conseguiria ficar. Acabara de sair do banho, escovara os dentes, penteara os cabelos em um coque frouxo. Certamente a blusa estava um pouco apertada e não amava aquela sensação, mas estava contando com a peça justa como um trunfo na discussão que estava por vir. Caminhando pelo corredor, com os pés descalços contra o assoalho de carvalho claro, observou a decoração despojada, os tetos altos e as paredes brancas. Tudo aquilo contrastava com as peças reaproveitadas de aço pesado. O apartamento refletia o proprietário com tanta acurácia que Darcy não teve outra opção senão se apaixonar por aquele ambiente. E acabara de chegar ali. Não importava.


Jeff se encontrava ao telefone, na cozinha, dando respostas monossilábicas entre breves pausas, enquanto quebrava alguns ovos e os colocava em uma tigela com queijo ralado. Não havia se dado ao trabalho de vestir uma camisa. Ainda estava com a calça comprida xadrez com cadarço do pijama e tinha os pés descalços. Os cabelos ostentavam a mesma aparência desgrenhada, do mesmo jeito tentador e perigoso de sempre. E aquela visão era sensual o suficiente para aniquilar qualquer vantagem que a blusa apertada pudesse lhe oferecer. Aquele era o homem que a satisfizera e saciara na noite anterior. E então, naquela manhã… Não pense nisso. Darcy escorregou para o banco que parecia uma espécie de mola industrial encimada por um assento em couro e observou a contração dos músculos definidos dos ombros e braço de Jeff, enquanto ele batia os ovos. – Sim… Aham… Assim está ótimo… Dentro de mais ou menos uma hora, depois… Excelente. – Jeff desligou o telefone e a avistou por sobre o ombro. – Olá. Está se sentindo melhor? – Sim, obrigada. – Aquela era a parte boa do enjoo matinal: quando passava, não deixava vestígios. Bem, ao menos até voltar. Mas no intervalo… ela se sentia ótima. Darcy gesticulou com a cabeça na direção do telefone que ele segurava em uma das mãos. – Tem algum compromisso? – Oh, não. Bem, sim. É para você. Charlie conseguiu o nome de uma loja de roupas para gestante e providenciou entrega de uma seleção de roupas esta manhã. Nada mais de bainhas ásperas a incomodando. Roupas de gestante. Entregues. Para que ela não tivesse de sair com trajes que a incomodassem.


Aquele homem era atencioso em aspectos que a maioria das pessoas negligenciaria. – Obrigada. – E, forçando-se a tocar no assunto que queria esquecer, começou: – Sobre como fiquei quando acordei… Jeff pousou o telefone na bancada atrás dele. – Sei que ainda tem enjoos. Mas fazia um tempo que não testemunhava os efeitos que produzem em você. – Suponho que não é exatamente o que tinha em mente. – Não depois de todas as promessas sedutoras e conversas picantes. Jeff deixou escapar um breve suspiro. – Não exatamente. – Como poderia ser? Cruzando a distância até o balcão em frente ao qual Darcy estava sentada, ele apoiou os antebraços na superfície fria. Um músculo se contraía na mandíbula quadrada. Darcy se forçou a não se contorcer no assento e não desviar o olhar da expressão cheia de remorso de Jeff. – Sinto muito. Então, era isso. Jeff lhe diria que fora um erro ter pedido para que fosse morar com ele. Darcy concordaria e se forçaria a parecer aliviada, mesmo que aquilo a matasse. Porque não deveria ter se iludido. E porque o que importava era manter aquele relacionamento amigável. Pelo bem do bebê e deles. – Não sinta. Nenhum de nós estava pensando direito – retrucou ela, injetando uma leveza nas palavras que estava longe de sentir. – Sério, vamos creditar isso tudo à falta de sono, à overdose de ferormônios e… – Que diabos está dizendo? – perguntou Jeff, todo o sentimento de culpa que estivesse sentindo até aquele momento substituído por uma expressão evidentemente acusatória. – Esqueça a pergunta. Já entendi, mas você certamente não entendeu nada. Não estou lamentando por minha fantasia sexual matinal ser embotada por uma mostra de realidade. O que quis dizer é que sinto muito saber que tem


passado por isso tudo sozinha. Que eu não tenha estado ao seu lado todas as manhãs e em qualquer outra parte do dia que sentisse enjoo. Sinto muito pelo fato de você ser tão acostumada a fazer tudo sozinha que, até mesmo agora, quando estou aqui, sente-se mais confortável sem a minha presença. Estou apenas lamentando por isso não estar sendo mais fácil para você. – Jeff… – E você não vai sair daqui, portanto nem adianta tocar nesse assunto. Acabei de trazê-la para cá. E, droga! Terá de me deixar cuidar de você e gostar disso. – Espalmando uma das mãos na nuca de Darcy e segurando a beirada do banco em que ela estava sentada com a outra, depositou um beijo firme nos lábios macios, posicionando-se entre as coxas quentes e sedosas, que começavam a relaxar. – Escovou bem os dentes? – perguntou ele, com um sorriso brincalhão estampado nos lábios até baixar o olhar e perceber os contornos generosos dos seios fartos apertados nos confinamentos da blusa. – Esqueça, não me importo. E então se apossou daqueles lábios apetitosos outra vez em um beijo mais intenso e demorado. Darcy interrompeu o contato, erguendo as mãos entre os corpos dos dois para uni-las atrás da nuca larga. – Sim, escovei – murmurou, inclinando-se na direção do calor do peito musculoso, no centro do qual depositou um beijo úmido. – E passei fio dental. O próximo beijo teve como alvo o mamilo plano masculino, onde ela escorregou a língua, ouvindo-o gemer. – Querida, adoro quando descreve sua higiene oral para mim. Darcy não conseguiu conter uma risada, mesmo quando o corpo começou a dar sinais de excitação.


Erguendo o rosto para olhá-lo através da cortina de cílios espessos, murmurou: – Utilizei antisséptico bucal, também. Por sessenta segundos. As mãos fortes se espalmaram em seus quadris e, sem nenhum esforço, ele a ergueu e a sentou sobre a bancada, posicionando-se entre as coxas sedosas para que se tocassem nos pontos mais críticos. Jeff baixou o olhar para encará-la, deixando a brincadeira de lado. – Deixe-me apoiá-la no que necessita. E, como em um passe de mágica, as barreiras que ela erguera contra aquele homem envolvente ruíram. Porque não havia defesas diante da forma como Jeff a fitava nos olhos, permitindo que visse o quanto desejava que ela aceitasse seu apoio. E, desde que conseguisse se lembrar de que aquela era uma situação temporária, não importava o quanto fosse prazeroso ceder ao pedido de Jeff, não sofreria.


Capítulo 21 DARCY OBSERVOU o espelho parcialmente coberto pelo vapor, admirando o abaulado de seu abdome, enquanto girava de um lado para o outro. As partículas de ar condensado concentradas na atmosfera começaram a se dissipar quando a porta se escancarou e o reflexo de Jeff se juntou ao dela, antes de as mãos fortes se fecharem em torno das mechas de cabelos ainda úmidas de Darcy fazendo-as cascatear sobre seu peito. – E por falar em incentivo para voltar cedo para casa… – Ele lhe murmurou ao ouvido. O olhar dos dois se encontrando no reflexo diante deles. O dela, um conjunto desnudo de curvas generosas e contornos arredondados e macios. O dele, o costumeiro contraste arrasador que compunha a aparência ao mesmo tempo desgrenhada e impecável. – Só em seu mundo chegar às 19h do trabalho é considerado cedo. As mãos longas escorregaram pelo comprimento das costas delicadas. Os polegares massagearam com círculos suaves os músculos contraídos pelo esforço de carregar o peso de dois corpos em um só. Em seguida, rumaram para o abdome volumoso, contornando-o com um toque quase etéreo para depois sucumbir à tentação à qual ele nunca conseguia resistir. Jeff espalmou as mãos nos seios fartos, sustentando o peso nas palmas. – Esse também costumava ser seu mundo. – Sim, mas eu não chegava ao escritório às 6h30 da manhã. Aqueles polegares hábeis lhe roçaram pela primeira vez os mamilos, arrancando um ofego de Darcy, enquanto ela buscava apoio na beirada da bancada de mármore em frente. Queria envolver a nuca de Jeff com os braços e enterrar o rosto na parte da frente da camisa que ele usava.


Inspirar a fragrância masculina única, mas aquilo implicaria em não poder observar o que estava acontecendo. A mais pura satisfação se refletia nos olhos que ainda prendiam os dela através do espelho, enquanto Jeff inclinava a cabeça para roçar os lábios na curva do pescoço esguio, umedecendo-o com a língua. O corpo de Darcy reagia de formas incontroláveis. Os quadris arquearam para trás, contra as coxas musculosas e firmes. Os lábios se entreabrindo para liberar a respiração pesada. – Deus! Adoro voltar para casa e encontrar isto. Encontrar o sexo. Não ela. Jeff amava aquele estado de semiexcitação sempre presente que se revelara o efeito colateral dos elevados níveis hormonais durante todos aqueles meses de náuseas. Tal constatação não era nenhuma novidade. Tampouco um golpe. Apenas uma realidade que Darcy acabara por aceitar um mês atrás. Aquela que, por fim, abraçara. Porque, com os lábios de Jeff se movendo por sua pele, os polegares lhe acariciando com extrema mestria os mamilos, a ereção pressionada contra suas nádegas, era impossível não se entregar. Amava o prazer que ele lhe proporcionava. Amava a forma como aquele homem a fazia se sentir sensual. Amava o modo como Jeff a olhava naquele momento. E, mais do que isso, amava a jeito com que ele nunca parava de surpreendêla. Amava o lado espontâneo e cheio de energia de Jeff, que, na semana anterior, a arrastara para um bar especializado em tapas e a animara a pegar um voo


noturno sobre Los Angeles em seu helicóptero. Amava os gemidos roucos contra seu pescoço todas as vezes que ele a envolvia nos braços daquela forma e o modo como a aninhava ao próprio corpo antes de dormirem. Amava a maneira como Jeff lhe segurava a mão enquanto caminhavam pela praia. Não importava onde se encontrassem, uma galeria de arte, uma sinfonia ou no supermercado local, aquele homem insaciável sempre tinha algo picante e ultrajante a lhe sussurrar ao ouvido. E amava o fato de ele saber que aquilo a deixava louca de desejo. Era tudo tão maravilhoso. Como nunca sequer ousara sonhar. Mas não o suficiente. As palavras sussurradas lhe reverberaram na mente, indesejadas, mas não inteiramente desconhecidas. Porém, não devia desejar mais. Ser incauta a ponto de alimentar esperanças. Mas como seria capaz de abrir mão daquilo tudo? Como desistir de Jeff se já estava apaixo… – O que houve? – perguntou ele, com a testa franzida, as mãos ainda lhe envolvendo os seios. Darcy fez que não com a cabeça. – Não pare. – Aqueles olhos excessivamente receptivos a encararam por mais alguns instantes, através do espelho, até Darcy morder o lábio inferior e lhes atrair o foco de volta ao que ambos necessitavam no momento. – Por favor. tempo que dispunham era limitado. E Darcy não queria desperdiçar nem um segundo.


O AR perfumado da noite os envolvia, enquanto Jeff a observava sugar e lamber a última colherada de sorvete de brownie. Embora não totalmente imune ao que ela estava fazendo, encontrava- se em um lugar onde tinha de controlar as reações físicas aos gemidos de prazer que ela deixava escapar. Mas talvez aquele recém-descoberto controle tivesse mais a ver com o fato de saber que uma hora atrás fora ele a lhe provocar gemidos que faziam aqueles parecerem insignificantes. Ainda assim… Ele se inclinou na direção do ouvido de Darcy enquanto caminhavam. – Meu ego se encontra um tanto irritado no momento. – Darcy o encarou com um ponto de interrogação em cada olho. Os lábios ainda estavam fechados em torno da colher. – Se continuar gemendo desse jeito, ele se verá obrigado seriamente a provar que pode fazer melhor quando chegarmos em casa. Darcy franziu a testa em uma espécie de expressão penitente e embaraçada, totalmente desmentida pela forma com que ela continuava a deslizar a colher para dentro e para fora dos lábios. Em seguida, acrescentou um gemido sensual, em nada parecido com aqueles inconscientes que deixara escapar momentos atrás. Jeff olhou ao redor para se certificar de que ninguém que passava na rua os observava. Mas, felizmente, ninguém parecia notá-los. E então, enquanto atirava o copo descartável em uma lixeira, ela soltou uma risada, enchendo tudo que os envolvia com aquele som estimulante, do qual Jeff não conseguia se saciar. Darcy se encontrava tão relaxada no momento. Serena. Diferente daquele momento, quando estavam fazendo amor em frente ao espelho, em que ela não se mostrara na mesma sintonia. Na ocasião, Jeff permitira que não se aprofundassem no assunto, mas agora queria entender. – Naquele momento, em frente ao espelho, onde você estava? Darcy sabia a que ele estava se referindo. Jeff conseguiu perceber o instante de hesitação refletido nos olhos cinza, antes de ela lhe confiar a verdade. – Nunca pensei sobre o que estava perdendo, antes – respondeu Darcy,


deixando o olhar vagar pela rua que se estendia diante deles. – Quero dizer, via os casais juntos, se divertindo, mas sempre imaginava se, quando chegavam em casa e ninguém mais os podia observar, aquela expressão de alegria não seria substituída por medo. De repente, Jeff sentiu como se um bloco de chumbo lhe estivesse comprimindo o peito e a interrompeu. – Alguém a fez sentir medo? Darcy pareceu considerar a pergunta, quase como se não soubesse respondê-la. Mas, por fim, disse: – Não foi nenhum namorado meu. Na verdade, nunca deixei que os homens se aproximassem muito. Mas, sim, minha mãe não era tão exigente e alguns dos homens que colocou dentro de casa… me assustavam. – Jeff mal conseguia respirar ou fazer qualquer coisa, além de lhe segurar a mão. Precisava daquele contato, enquanto aguardava para saber o restante. – Alguns deles partiam para a agressão física, outros me olhavam de um jeito que não deveriam. E outros ainda gostavam do jogo do poder que podia significar deixar-nos com fome ou não ter permissão para ir à escola ou para dormir. – Como diabos sua mãe foi capaz de permitir que você vivesse assim? – perguntou ele, nauseado e enraivecido com as ações de uma mulher que havia morrido em um acidente de carro, anos antes. Darcy não ousou lhe sustentar o olhar. Quando respondeu, o som sofrido de sua voz foi como uma lâmina afiada traspassando o peito de Jeff. – Ela dizia que não tinha outra opção, que morreríamos de fome se não tivéssemos alguém que cuidasse de nós. Disse-me que não podia se arriscar a arranjar um emprego e me deixar sozinha com eles, mas que também não podíamos partir até que encontrasse outro homem. Mas aquilo era uma piada. Os homens que ela escolhia… – E, com um movimento negativo de cabeça, acrescentou: – Não sei o que havia de errado com ela, mas os caras com


quem se envolvia eram todos farinha do mesmo saco. E o pior de tudo foi que acreditei que minha mãe não tivesse outra opção. Achava que ela estava tão impotente quanto eu diante daquela situação. Não tinha noção de que minha mãe estava, na verdade, escolhendo viver daquela forma e me obrigando a fazer o mesmo até eu conseguir o emprego em tempo integral que me possibilitou pagar meu próprio aluguel. Agora que serei mãe e a necessidade que tenho de proteger meu bebê é mais forte do que qualquer outra coisa no mundo, fico curiosa para saber por quê. Mas é tarde demais para perguntar e, de qualquer forma, não sei se seria capaz de acreditar em qualquer resposta que ela me desse. Jeff a puxou para os braços, acariciando-lhe os cabelos, enquanto sentia algo morrer dentro dele diante do pensamento daqueles belos olhos cinza, nos quais vira se refletir tantas emoções, se encherem de medo. A inocência os abandonaram cedo demais. – Querida, sinto muito. – Fora aquele o motivo que a fizera abandonar os estudos. A razão por trás do temor de Darcy em permitir que ele cuidasse dela. O motivo pelo qual, a despeito de toda a sua fortuna, nunca conseguira dar a coisa que ela mais desejava na vida: ser totalmente independente. E, pior, fora ele a razão pela qual Darcy perdera a liberdade conseguida a duras penas, pela qual ela tanto se sacrificara. Por sua causa, ela se vira privada do que possuía de mais precioso. Mas, quando pousou o olhar no abdome abaulado de Darcy, ele o fez sem nenhum arrependimento. Tudo que podia fazer era mostrar a ela que existia outro caminho. Provar que nunca desejara detê-la, cerceá-la ou lhe destruir as oportunidades. Faria tudo que estivesse ao seu alcance para que jamais Darcy se sentisse presa por sua causa e que nunca se visse diante da necessidade de escapar. Emoldurando-lhe a mandíbula com as duas mãos, Jeff lhe encontrou o olhar.


– Sei que não acredita que um príncipe de contos de fada possa resgatá-la, mesmo porque resgatou a si mesma, mas estou aqui para lhe dar apoio agora. Nada será igual ao que passou. Não para você. Não para nosso filho. Eu juro. Pestanejando várias vezes para dispersar as lágrimas, Darcy anuiu e disse algo inesperado: – Sei disso. – VOCÊ ME chamou aqui para uma conversa de vestiário masculino? – Connor resfolegou, a voz ostentando o tipo de censura permitida apenas aos melhores amigos. – Eu o tinha em melhor conceito. Jeff estacou no ato de transferir a pilha de papéis e pastas da sua mesa para a mesa de conferências, no extremo oposto do escritório. – Não se preocupe, não pretendendo criar nenhum blog diário sobre o assunto. – Ele olhou para a mesa quase vazia e, em seguida, para o relógio, sentindo o coração acelerar. – Mas, diabos, homem… – Sim, entendi. Os hormônios. São como o mar. E as marés mudam a toda hora. – Ela estava parada à porta. Esperando por mim. À porta. Eu não consegui passar do cabideiro do hal de entrada. Durante. Uma. Hora. Connor deixou escapar um som indiferente que o fez gesticular negativamente a cabeça, com uma expressão incrédula. – É bom saber que ela está se sentindo melhor. Então, o que Gail acha de ela ter se mudado? – Sim, Darcy está se sentindo bem melhor. Com exceção das manhãs, não tem enjoado há duas semanas. Quanto minha mãe, ela não está pressionando. Disse a ela que ficava mais tranquilo com Darcy ao alcance de minhas vistas. Que eu queria acompanhar todos os momentos da gravidez e blá-blá-blá. Mas esqueça a minha mãe e preste atenção. Vamos voltar ao assunto dos hormônios, porque, falando sério, talvez você e Megan possam


querer… – Basta. Entendi. O sexo com sua não namorada grávida… – Darcy. – Está bem. O sexo com Darcy é insano. Mas estou começando a me sentir meio constrangido ouvindo isso. Jeff estacou. Sim, a verdade era que não queria que Connor pensasse nela daquela forma. Também não se sentira confortável com alguns detalhes que o amigo lhe passara sobre Megan. Havia algo de esquisito em ser informado de certos detalhes sobre a esposa de um amigo. Mas Darcy não era sua esposa. O interfone sobre a mesa de Jeff tocou. – A srta. Penn está aqui para vê-lo. Com um rápido aceno de despedida para Connor, ele começou a guardar o telefone celular no bolso da calça comprida, mas pensou melhor e o atirou sobre uma cadeira. Com apenas alguns movimentos, esvaziou o restante da mesa, empilhando tudo na mesa de reuniões. No segundo seguinte, estava se dirigindo à porta e a escancarando com um sorriso de boas-vindas que não chegou a se alargar quando se deparou com Darcy do outro lado, trajando a blusa que ela aposentara por estar muito apertada, na semana anterior. Os olhos se desfocaram momentaneamente enquanto a língua quase rolou para fora da boca. – Olá – cumprimentou Darcy, e ele teve certeza de que a saudação soava totalmente inócua para qualquer um que não tivesse ouvido todas as coisas picantes, fantásticas e incríveis que saíram daquela boca apetitosa quando os dois se falaram ao telefone, meia hora antes. – Fico feliz que tenha passado… por aqui. Para conversar. – Jeff tossiu para disfarçar a ansiedade, dando um safanão em si mesmo mentalmente. – Entre. A saia em camadas de tecido fino oscilava em torno das panturrilhas de Darcy, deixando-lhe à mostra os tornozelos e insinuando o comprimento sexy do que ficava por baixo.


Antes de fechar a porta do escritório, Jeff recomendou para que o assistente não lhe passasse as ligações. Em seguida, Darcy o estava puxando pela gravata para dentro do escritório, antes de começar a tocá-lo com mãos que pareciam estar por todos os lugares. – Não sei o que está havendo de errado comigo – ofegou ela, quando Jeff desatou o nó da gravata e começou desabotoar a blusa. – Mais rápido. – O que há de errado com você? Absolutamente nada – afirmou ele, desejando possuir quatro mãos em vez de duas e, dessa forma, poder desnudar os dois nos próximos segundos. Porque, agora que a tinha ali, precisava cumprir a promessa que Darcy lhe cobrara, ofegante, no banco de trás do carro que lhe designara. “Disse que cuidaria de mim.” Pelo que entendera, ela se encontrava no mercado de produtos orgânicos quando começara a se sentir “inquieta”, como havia definido. E então começara a pensar na mesa de seu escritório. A lustrosa asa de avião que era o orgulho de sua coleção. Com ele sobre o tampo. Jeff abriu o último botão da camisa e começou a abrir o zíper quando percebeu que os olhos cinza se encontravam vidrados pelo desejo. A blusa que ela havia desabotoado pela metade, esquecida para observá-lo se despir. O que o fez se lembrar da noite, na casa da mãe… Com movimentos mais vagarosos e metódicos, Jeff abriu o cinto e o retirou, deslizando-o pelos ilhoses da calça. – O que… o que está fazendo? – perguntou Darcy, com uma voz trêmula ofegante que bombeou mais sangue para sua masculinidade. – Fazendo você esperar. – Jeff enrolou o cinto e o pousou sobre a cadeira em frente à mesa. Em seguida, retirou a camisa, desnudando primeiro um ombro,


depois o outro. – Permitindo que aprecie. Darcy pestanejou com movimentos rápidos das pálpebras. A garganta se esforçava para dar passagem às palavras. Cruzando os braços para segurar os lados opostos da bainha da camiseta, ele a arrancou pela cabeça, se tornando mais quente e mais rígido a cada torturante segundo que se passava, enquanto Darcy o observava. Sim, lento era definitivamente melhor do que rápido. Dessa vez. Quando ele se livrou da camiseta, Darcy deixou escapar um suspiro baixo, estimulando-o a continuar. As mãos longas rumaram para a calça comprida. Primeiro livrando o botão da casa e, em seguida, descendo o zíper lentamente. Teve de trincar os dentes quando a peça de metal lhe roçou a ereção. E, então, ele se inclinou para trás contra a mesa, sem camisa, com a calça comprida aberta e o sexo completamente excitado escapando do confinamento da cueca. – Seu corpo é meu brinquedo favorito – murmurou ela, aqueles olhos cinza enevoados encontrando os dele por um breve instante. Baixando a cueca alguns centímetros, ele segurou a ereção em uma das mãos. – E você disse que não tínhamos nada em comum. Darcy deixou escapar o ar em um sibilo áspero, enquanto ele segurava firme a própria masculinidade e começava a se estimular com movimentos lentos. – Oh, Deus! – choramingou ela, umedecendo os lábios com a ponta sexy e rosada da língua. – Eu… eu… você… estou tão… – Sim, eu também – rosnou ele. – Tire sua blusa para mim, beldade. Sem desviar o olhar dos movimentos de subida e decida que Jeff fazia com a


mão, ela desabotoou o restante da blusa e a descartou, deixando que pousasse levemente a seus pés. As mãos encontraram as pontas dos mamilos intumescidos, que pareciam crescer na mesma proporção da barriga. – Assim? – perguntou ela, o rosto corado pela excitação, enquanto esfregava as palmas abertas contra aqueles pontos hipersensíveis. – Sim. – No mesmo instante, Jeff afrouxou a força com que segurava a ereção, porque, diabos, com Darcy se tocando enquanto ele observava? Um homem conhecia seus limites. – Sua saia, também. Prendendo o lábio inferior entre os dentes, ela caminhou vagarosamente na direção da cadeira em frente à mesa de Jeff e se sentou. Ele paralisou, imaginando o que viria a seguir, mas Darcy estava erguendo as finas camadas da saia, um provocante centímetro de cada vez, até que ele pudesse ver o que estava sendo deliberadamente exibido. E o mundo parou de rodar. – Calcinha? – perguntou Jeff, quase engasgando. – Pensei que não iria precisar dela – explicou Darcy, naquele tom extremamente sexy, enquanto escorregava uma das mãos entre as pernas. Jeff não acreditava no que estava vendo. Mesmo tendo sido ele a começar aquele jogo, do qual Darcy parecia estar gostando, ela havia se mostrado tímida em executá-lo. Portanto, aquilo não poderia estar… – Deixando que aprecie. – Foi a vez de ela dizer, adivinhando a pergunta refletida nos olhos cor de avelã. – Fazendoo esperar. Com uma das sobrancelhas erguidas, de repente, sua deslumbrante menina estava no poder. E Jeff não se importava nem um pouco em permitir que ela comandasse aquele jogo erótico. Ao menos, pelos próximos minutos. – Não pare – estimulou Darcy.


Jeff retomou os movimentos cadenciados com que se tocava, lutando por controle enquanto observava os dedos finos e delicados no local onde ele desejava desesperadamente estar. Ela se encontrava úmida, intumescida, ofegante, pronta para recebê-lo e se aproximando do clímax para o qual fazia questão de guiá-la com seus próprios recursos. Precisava possuí-la. Aquele jogo se prolongara por tempo demais. Ajoelhando-se diante de Darcy, ele espalmou as mãos nas nádegas macias e a puxou, junto com a cadeira, para perto. Um instante depois, a camisa e a blusa descartadas se encontravam enrodilhadas atrás das costas de Darcy, cujos quadris estavam apoiados na beirada da cadeira e as pernas, enroscadas atrás dos ombros largos, enquanto ele lhe explorava a feminilidade com a língua, os lábios e os dentes. E então, muito lentamente para que Darcy não perdesse um só segundo do que estava acontecendo e ele não deixasse escapar nenhuma de suas reações, Jeff endureceu a língua e a escorregou para dentro da entrada quente e úmida que o aguardava. – Jeff! O nome ofegado coincidiu com o primeiro espasmo dos músculos internos de Darcy, porque bastou uma só investida para que ela atingisse o pico do prazer contra a língua de Jeff. E, por não querer abrir mão de nenhum segundo daquela avalanche de erotismo, continuou a penetrá-la com a língua, beijando-a e acariciando-a até que o corpo macio e quente relaxasse, exausto. Sentando-se para trás nos tornozelos, Jeff observou o rosto deslumbrante e saciado à sua frente. Nunca se cansaria de vê-la o encarando daquele jeito. Os olhos cinza nebulosos o percorreram de cima a baixo. – Sabia que poderia contar com você.


Jeff deixou escapar uma risada rouca. – Adoro lhe dar prazer. – Ótimo – murmurou ela, erguendo-se da cadeira do escritório com a ajuda de Jeff. Quando estava de pé, brindou- o com outro de seus sorrisos maliciosos. – Sobre a mesa. Você prometeu. Diabos, sim!


Capítulo 22 – VOCÊ NÃO disse isso – começou Darcy com uma risadinha, mas logo inclinou a cabeça para trás cedendo à gargalhada que Jeff tanto apreciava. As mãos fortes que lhe massageavam o pé direito paralisaram. – Está duvidando de mim? Pressentindo que a massagem no pé poderia estar em risco, ela lhe ofertou seu mais encantador sorriso e prometeu: – Nunca. Com sete meses e meio de gravidez e os pés sentindo os efeitos da gestação, não havia nada que ela não fizesse ou dissesse para garantir que aquela compressão metódica divina não fosse interrompida. Felizmente para ela, Jeff desenvolvera o hábito inconsciente de colocar seus pés sobre o colo todas as vezes que se sentava no sofá ao lado dela para conversar. E os dois conversavam sobre tudo. A respeito dos projetos que estivessem em curso no trabalho de Darcy com Gail, dos últimos empreendimentos da empresa de Jeff, do filme de suspense psicológico que haviam assistido na cama na noite anterior ou das preferências de cada na culinária estrangeira, a possibilidade de tentarem fazer um daqueles pratos ou de irem comer no restaurante especializado. Conversavam sobre a casa que Jeff havia comprado a menos de um quilômetro daquela em que a mãe morava e se Darcy estava disposta a se mudar logo depois que o bebê nascesse ou se desejava esperar um mês ou mais. Jeff achava que o filho dos dois ficaria melhor se herdasse os traços e cabelos de Darcy, não importava se fosse menino ou menina. E a voz maviosa que ele possuía… o que era uma insanidade. Queria que a criança tivesse rapidez de aprendizagem nata e a capacidade de Darcy de resolver problemas. Desejava também que herdasse sua força, principalmente se fosse uma menina. Já que ela se pareceria com a mãe, queria que a filha fosse capaz de se defender do


assédio, caso necessitasse. Os desejos de Darcy eram diferentes. Se tivessem um menino, queria que se parecesse com Jeff e, caso fosse uma menina, com Gail, a versão feminina do filho. Bela e esbelta em vez de excessivamente curvilínea e com uma aparência que costumava atrair o tipo de atenção errada. Queria que aquela criança tivesse o senso de humor, a determinação e a generosidade do pai. E, acima de tudo, queria que ela crescesse com o mesmo tipo de amor e apoio que fizeram vicejar o homem sentado à sua frente. Jeff sorriu, girando-lhe o tornozelo e lhe apertando o calcanhar. – Foi o que pensei. Mas, falando sério, sei que é um compromisso de trabalho, mas deveria ter me acompanhado. Garry é uma figura difícil com que lidar, mas você teria gostado de Denise. Ela tem uma filha de seis meses de idade e um senso de humor parecido com o seu. E sabe de uma coisa? Os dois estarão em minha mesa no evento beneficente da próxima semana. – Pressionando o corpo contra as almofadas atrás de suas costas, Darcy não percebeu que estava recuando o pé, até que ele o puxasse de volta para o colo. – Não tire o pé daqui – repreendeu ele, perdendo um pouco da leveza na expressão. – Pensei apenas que talvez gostasse de socializar um pouco. Quem sabe fazer algumas amizades. – Já conversamos sobre esse assunto. Farei muitos amigos quando o bebê nascer. Apenas não quero fazer isso agora, como sua acompanhante. Não quero ter de me preocupar em explicar que tipo de relação temos ou não temos e sei que não é ingênuo a ponto de pensar que esse assunto não viria à tona. Quero dizer, sinceramente, como iria me apresentar? Os olhos cor de avelã encontraram os dela, com expressão séria que traía uma frustração mais profunda do que aquela noite lhe causara. – Eu diria: “Esta é Darcy Penn.” – E quando as pessoas reparassem em minha barriga ou perguntassem como nos conhecemos? Ou esperassem até que você


estivesse envolvido em alguma conversa sobre assuntos de trabalho para me perguntar sobre nosso relacionamento? – Bastaria dizer que somos amigos e que sua casa só ficará pronta para você se mudar dentro de alguns meses. Ou dê qualquer explicação que a faça se sentir confortável. – Aí é que está. Não me sinto à vontade com nada disso. Não agora. Daqui a seis meses, quando sua mãe der suas festas ao ar livre, eu estiver morando em minha própria casa e você me pedir para que o acompanhe, tudo bem. Poderá me apresentar como a mãe de seu filho. Eu estarei por minha conta, vivendo a vida que passarei a ter, não presa a algum tipo de lugar de conto de fadas, cuja natureza temporária não quero discutir com ninguém. Jeff pareceu querer argumentar, mas naquele momento o jogador de futebol que ela estava gerando resolveu lhe chutar a barriga e Darcy se encolheu, ainda admirada com a força daquele bebê. Quando ela levou a mão àquele ponto, a atenção de Jeff foi imediatamente desviada para o pequeno universo contido dentro do abdome de Darcy. – Ele entrou em atividade? – Abandonando-lhe o pé, Jeff se aproximou para pousar uma das mãos na curvatura acentuada do abdome. – Acho que ele gostou do frango assado que sua mãe trouxe mais cedo. Outro chute atingiu o ponto logo abaixo da palma de Jeff, e ela observou aquele belo rosto se iluminar, com uma mistura de admiração e ternura que reverberou no peito de Darcy. Inclinando-se para baixo, ele depositou um beijo onde a mão estivera e girou o rosto para recostá-lo em sua barriga. Darcy lhe acariciou os cabelos, sintonizada na magia daquele momento, tentando gravar cada detalhe. O calor da respiração de Jeff contra sua pele. A sensação de plenitude não só no abdome, mas também no coração. Não alimentava esperanças de que aquilo durasse para sempre. Mas queria se recordar daquele momento quando tivesse passado.


PARADO NA soleira da porta do toalete da suíte principal, Jeff ajeitou a gravata e prendeu as abotoaduras. Do outro lado do quarto, Darcy se encontrava deitada, apenas parcialmente coberta com a manta. Uma das pernas estava oculta e a outra, exposta. Acabara de se recuperar do enjoo matinal, mas, ao contrário do que as fantasias de Jeff imaginaram, as manhãs ainda não a favoreciam. Todos os dias, Darcy dormia até mais tarde, por ter de se levantar várias vezes durante a noite porque o bebê estava dormindo com um pé em sua bexiga. E quando ela acordava… Era melhor não cutucar a onça com vara curta. Definitivamente era melhor lhe dar alguns minutos, antes de tentar puxar qualquer tipo de conversa com Darcy. Cada dia ficava mais difícil vê-la acordada, antes de partir para o trabalho. E mais fácil se lembrar dela durante as horas em que estavam separados. Ultimamente, Jeff estava saindo do escritório mais cedo do que o exigido por sua carga de trabalho. O que o trouxera para o esquema atual. Arriscando um olhar ao relógio, constatou que eram 4h14. Estaria em sua mesa de trabalho às 4h45 e chegaria em casa doze horas depois. Esse esquema funcionava bem para ele. Permitia-lhe um tempo de convivência com Darcy todos os dias. Para participar de todas as consultas médicas. Presenciar as mudanças de humor e as reflexões silenciosas. E em meio àquilo tudo, estivesse Darcy ronronando como uma gata ou ressonando pesado, ela se encontrava em sua cama. Exatamente onde a queria. O problema era que, em pouco mais de um mês, ela sairia de seu apartamento para ter o bebê. E, quando recebesse alta do hospital, não voltaria. Darcy queria se mudar e ter o próprio espaço. Sem ressentimentos permeando o fim daquele caso amoroso.


Assim haviam combinado. Aquela lhe pareceu a melhor forma de dar o espaço emocional de que Darcy necessitava para que se sentisse à vontade em dividir o espaço físico com ele. Dessa forma, ela não se sentiria presa ou cerceada. Agora que compreendia melhor o passado tortuoso de Darcy, estava mais ciente do que nunca daquela necessidade de agir com cautela. Porém, algumas vezes durante os últimos meses, aquele plano bem traçado, com uma estratégia de término tranquilo, deixou de lhe ser atraente, e um novo começou a tomar vulto. Um plano que envolvia mais do que apenas uma amizade colorida. Inclinando-se sobre a beirada da cama, ele depositou um beijo suave no abdome distendido de Darcy e, em seguida, lhe dispensou o mesmo tratamento ao topo da cabeça. – Tenha um bom dia, beldade. Transformaria aquela amizade colorida em um relacionamento de verdade. Sabia que seria capaz. Tornaria aquele acordo pouco ortodoxo um sucesso, assim como fazia com tudo que desejava. Porque, agora que tivera uma mostra de como a relação entre ambos podia ser, não abriria mão do que possuíam por nada deste mundo. – PENSEI QUE havia dito que iríamos para a casa da sua mãe? Darcy ajustou o travesseiro atrás das costas, observando Jeff dirigir pelas ruas de Bel Air, a expressão de suprema satisfação estampada no rosto sugerindo que estava prestes a fazer um discurso entusiasmado sobre alguma coisa. Estavam a apenas um quilômetro da casa de Gail e duas da “pequena” residência que Jeff comprara para ela e o bebê, mas estavam indo na direção contrária. O mistério que cercava o destino que estavam tomando a fazia imaginar se ele ou, mais precisamente, Gail, havia orquestrado um chá de bebê, apesar de seus protestos. Darcy esperava que não, mas, se fosse isso, ficaria agradecida porque sabia que o fariam com boa intenção.


– De que se trata? – perguntou ela, quando Jeff estacou diante de um portão de segurança que dava para um caminho privativo. – Bom dia, Phil – cumprimentou ele, após baixar o vidro da janela do carro. O segurança lhe ofereceu um breve aceno, antes de ativar a abertura do portão, que escorregou, silencioso. Os olhos de Darcy pousaram na placa com os dizeres “vende-se” na parte da frente, antes de fixá-los em Jeff. O nervosismo a estava fazendo experimentar um frio na barriga que estava acariciando. – Jeff? – Espere e verá. – Ele exibiu um daqueles sorrisos arrasadores que fez o coração de Darcy disparar. Instantes depois, haviam estacionado diante de uma construção colonial espanhola de tirar o fôlego. Jeff saiu do carro, circundou-o e, com um sorriso largo, ajudou-a a saltar do banco do carona. Sem lhe soltar a mão, guiou-a até a entrada da casa. Mas não bateu à porta. Tampouco anunciou a entrada dos dois de alguma forma. Limitou-se a entrar, andando alguns passos à frente dela, fazendo comentários sobre os tetos altos, os detalhes em ferro retorcido, a enorme sala de jantar, a ampla sala de estar, a suntuosa e moderna cozinha. – Fez uma oferta por esta casa? – perguntou ela, temendo ouvir a resposta. Receava em descobrir o que estavam fazendo e por quê. Tinha medo de confiar no coração, que disparara perigosamente adiante da mente. Jeff ergueu uma das sobrancelhas, com uma expressão tão travessa que não lhe restou outra alternativa senão responder com uma risada. – É linda! Incrível. – E enorme. – Está pensando em investir nesta propriedade? – Estava pensando que esta casa me faz lembrar todas aquelas residências estilo espanhol que você


sempre admira quando estamos passeando de carro. Só que esta é ainda melhor. Maior. Tem oito quartos, dez toaletes… – Jeff estivera pensando nela. – Enfim, tem tudo, menos a família que deve ocupá-la. – Oh, Deus! As pernas de Darcy começaram a tremer, forçando-a a se amparar à parede em busca de equilíbrio, mas no mesmo segundo Jeff estava lá, segurando-lhe a mão com firmeza. – Acho que ainda não podemos ocupar todos os cômodos, mas temos um bom começo com nosso pequenino aqui. E talvez, se estiver interessada, dentro de um ou dois anos, podemos pensar em lhe dar um irmão ou irmã. – Jeff – sussurrou ela. Os olhos se encheram de lágrimas, porque aquilo não podia ser verdade. Mas, de repente, se descobriu desejando que fosse com todas as forças de seu ser. Não podia ser… Mas Jeff estava se ajoelhando diante dela, segurando-lhe a mão na dele e a olhando com olhos cheios de expectativa, excitamento. Felicidade. Darcy se doutrinara para não esperar que aquilo acontecesse. Não se permitir acreditar nem ao menos na possibilidade, mas, ao baixar o olhar ao homem pelo qual se apaixonara perdidamente, reconheceu a verdade. Fora uma tola em pensar que seu coração seria capaz de seguir outro destino, senão aquele. – Sei que isso não foi o que combinamos, mas nesses últimos meses tem sido maravilhoso tê-la ao meu lado. E, à medida que foi se aproximando a hora em que você não estaria… Não quero nem pensar sobre isso. Não posso suportar a ideia de passar dias sem ver você ou nosso filho. Ou de perder algum fim de semana ou manhã de Natal, quando não quero perder nada. E sei que você também não quer. O coração que batia como um tambor pareceu parar abruptamente diante das palavras de Jeff, ao perceber o que ele estava dizendo e o que estava omitindo. Até aquele momento, ele afirmara que não queria perder a oportunidade de ser um pai em tempo integral. Era maravilhoso saber que Jeff tinha um


sentimento tão profundo pelo filho que estavam esperando, mas… Talvez ele ainda não tivesse terminado. Talvez, como tudo mais que acontecera entre os dois, Jeff estivesse simplesmente usando a criança como um ponto de partida. Talvez não tivesse dito tudo. Porém, ao mesmo tempo em que tal pensamento lhe veio à mente, outro, desestimulante, o sobrepujou. Você é uma tola. – Sei que isso não é um conto de fadas, mas você mesma disse que não estava interessada em fantasias. Nós nos damos bem. Temos uma química irresistível. Certamente não é o que nenhum de nós imaginou em termos de casamento, mas as pessoas costumam fazer sacrifícios pelo bem de seus filhos e posso pensar em mil motivos piores para casar do que formar uma família em tempo integral. O ar que entrava nos pulmões de Darcy parecia ralo ao mesmo tempo em que a visão começou a turvar. A garganta estava apertada com todos os protestos e argumentos que ameaçavam escapar. Palavras às quais nunca daria voz, porque naquele momento de repentina clareza ela percebeu que havia traído a si mesma de formas que jurara nunca trair. – De fato, não é a pior razão. – A verdade era que ela nunca perdera muito tempo se imaginando casada. Suas fantasias sempre tiveram como base a independência. Mas, quanto mais tempo passava com Jeff, mais era invadida por aquele tipo de sonho que as colegiais costumavam alimentar. E começara a ansiar por algo que ambos não possuíam. – Mas, para mim, também não é a razão certa. Sinto muito, mas não posso aceitar.


Capítulo 23 SINTO MUITO. Aquelas palavras o atingiram como uma rajada de metralhadora. A forma como Darcy o estava olhando até aquele momento, o que havia acontecido entre os dois na última semana, nos últimos meses, o fizeram ter certeza de que ela aceitaria. Até mesmo naquele momento, enquanto encarava os olhos que, na noite anterior, brilhavam nos dele como se o considerassem… tudo, era difícil de acreditar. Não acreditaria. – Vamos conversar sobre isso. – Não – retrucou ela, soltando a mão trêmula para pousá-la sobre o peito que se erguia e descia com a respiração acelerada. – Não desta vez. Nós combinamos. Darcy estava em pânico. Os olhos exploravam o ambiente à procura de uma rota de escape. – Muito bem, acalme-se, querida. Relaxe. Sim, não foi o que combinamos, mas acho que, se sentarmos por um instante e conversarmos sobre o assunto, acabará reconhecendo que… – O que reconhecerei? Com que rapidez será capaz de produzir sua mágica outra vez? – perguntou ela, com uma risada breve, enquanto lágrimas que Jeff não conseguia entender começavam a empoçar nos cantos dos olhos cinza. – Quanto tempo levará para descobrir alguma forma de me dizer exatamente o que preciso ouvir para justificar outra exceção? Para que eu quebre minhas regras mais uma vez? Para convencer-me de que não me arrependerei? Esse é o problema. – Darcy se afastou de maneira brusca, quase perdendo o equilíbrio. Mas, quando Jeff esticou a mão para segurá-la, ela se desviou. –


Insisto em acreditar em você. Cometendo um erro após outro. E sabe o que lamento? O fato de estar presa atrás de uma pilha tão grande deles que não posso mais enxergar a vida que eu teria tido. A vida que eu queria. E o pior de tudo é que tenho apenas a mim para culpar… Porque eu sabia no que estava me metendo! O TRAJETO de volta ao apartamento de Jeff transcorreu em silêncio. Ambos absorviam o que o outro dissera. Os dois desejavam, Darcy tinha certeza, ter retirado o que disseram. E apagado o que ouviram, também. Mas, se havia alguma lição a tirar daquilo tudo, era que não havia como voltar no tempo. Uma vez que algo tivesse sido feito, não poderia ser desfeito. Tudo que lhe restava era seguir em frente daquele ponto. E seu primeiro passo seria um dolorosamente necessário pedido de desculpas. Jeff se encontrava na sala de estar, com o laptop aberto, embora não parecesse estar trabalhando nele, quando ela se sentou no lado oposto do sofá. – Eu não deveria ter dito aquilo. Tudo que fez, desde o instante em que descobriu sobre o bebê, foi tentar facilitar tudo ao máximo para mim. Para nós. Tem sido extremamente generoso. Atencioso. Mais do que qualquer pessoa poderia esperar. – Não se desculpe. Não foi isso que combinamos e… Diabos! Não sei… Como o parto está se aproximando, pensei que houvesse uma forma de fazer isso dar certo. Darcy fez que não com a cabeça. – Não é culpa sua. – Não? – Jeff deixou escapar uma risada breve. – Tive a impressão que sim.


E como poderia não ter? Ela se mostrara aborrecida. Porém, mais consigo mesma do que com Jeff. Finalmente fora capaz de enxergar através de todas as mentiras que vinha contando a si mesma sobre o que estava acontecendo entre os dois. Sobre como se sentia e até onde poderia ir. Ela se apaixonara. E, pior, começara a acreditar que Jeff era capaz de lhe proporcionar o conto de fadas que nunca pensara um dia desejar. Mas a profundidade de seus sentimentos por ele era algo que não poderia revelar. Aquela informação tinha o poder de arruinar um relacionamento futuro de suma importância. Portanto, tentaria lhe dizer a verdade, fazê-lo compreender, sem deixar transparecer o quanto seu coração se envolvera. – Você mencionou o conto de fadas e fato de eu não me interessar por esse tipo de fantasia. E, de fato, era verdade. No que se relacionava a destinos, não queria ter o meu atado ao de outra pessoa. Desenvolvi o hábito de cuidar de mim mesma. De viver por conta própria. O que me agradava, na maior parte do tempo. Mas comecei a ver as coisas sob outro aspecto depois que passei a fazer parte de sua família, que ouvi como era crescer em um lar repleto de amor, respeito e carinho. O tipo de lar que nunca conheci. Depois que experimentei a sensação de não estar sozinha para encarar cada desafio. Ter alguém com quem contar… – Darcy se calou, antes de revelar o que não devia. Em seguida, com um movimento negativo da cabeça, recomeçou: – Sinto como se estivesse me negligenciando durante toda a minha vida. Quando nos conhecemos, estava vivendo sozinha por muito tempo, cuidando de mim do único modo que sabia. Evitando riscos. Já havia me passado pela cabeça o que todo aquele temor e cautela estavam me custando. Que estava deixando de viver. E foi por esse motivo que não consegui resistir à sua oferta naquela primeira noite. Queria apenas viver um pouco. Mas, durante os meses que estou em Los Angeles, morando com sua mãe e depois com você, tive o sabor de como é fazer parte de algo maior. De


algo que não é destrutivo ou implique em abrir mão de coisas. Que me faça sentir mais, em vez de menos. E isso me fez vislumbrar as possibilidades que existem lá fora. Como poderia ser o amor. Você é um homem incrível. Qualquer mulher seria mais do que abençoada em tê-lo em sua vida. Mas nós concordamos que não tínhamos um conto de fadas e não estou preparada para abrir mão de descobrir o meu. Sinto como se devesse isso a mim mesma, ao nosso bebê e a você também. Não deixar que nenhum de nós se conforme com menos. E todos os três mereciam muito mais do que uma família fundamentada no sacrifício. Aquela criança merecia uma mãe melhor do que a que ela tivera. Que a ensinasse lições com sorrisos no lugar de lágrimas, que lhe transmitisse força, em vez de fraqueza. Coragem, em vez de medo. Jeff merecia o tipo de casamento que seus pais tiveram. Uma esposa que ele considerasse uma parceira, uma igual, a outra metade que faltava para tornálos inteiros. Merecia se casar com alguém a quem amasse. E ela merecia mais do que uma vida de desequilíbrio em todos os aspectos, como, por exemplo, amar um homem que encarava o casamento dos dois como um sacrifício que resolvera fazer para manter uma família unida. Merecia ter a esperança de que, algum dia, conheceria alguém que a fizesse sentir tudo que sentia com Jeff e que a amaria pelo que ela era. E não pelo fato de que aquele relacionamento possibilitaria o convívio diário com o filho, como era o verdadeiro desejo de Jeff. Durante determinado momento daquela explicação, ele havia se aproximado e lhe segurado a mão. Agora, Jeff a encarava com o tipo de compreensão que a fez desejar todas as coisas que não podia ter com ele. – Tem razão. Prometo-lhe que não farei mais nenhuma proposta de casamento. Nosso acordo inicial está de pé. – E, oferecendo-lhe um breve


sorriso, acrescentou: – Nosso acordo reformado. Darcy engoliu em seco aquela nova onda de tristeza. – Agradeço muito. – Ela tentou mudar para uma posição mais confortável, mas dessa vez o empecilho não era a barriga, e sim a consciência. – Mas talvez seja melhor para nós dois se, em vez de esperar o bebê nascer, eu me mudar agora. Algo sombrio faiscou naqueles olhos cor de avelã e Darcy pensou que ele fosse argumentar. Mas, em vez disso, Jeff se limitou a anuir e, após apertar brevemente sua mão, ele a soltou. – Darei alguns telefonemas e você se mudará amanhã. DARCY OLHOU ao redor do quarto de sua nova casa, dizendo a si mesma que fizera a coisa certa. Jeff a pedira em casamento. Oferecera-lhe a chance de formar uma família com ele. De cuidar dela. Embora não a amasse, aquele homem lhe provara incontáveis vezes que a trataria como uma rainha, indo até ao cúmulo de surpreendê-la com um castelo e as joias da coroa. Jeff era extremamente generoso. Atencioso. Carinhoso. Belo da forma mais imponente. Divertido e inteligente. Sincero. Mesmo sem a fortuna que possuía, Jeff ainda seria tudo com que ela sonhara em um homem. Exceto a parte de ele não lhe corresponder os sentimentos.


Não tinha nenhuma dúvida de que ele a achava atraente e de que o sentimento que lhe devotava era profundo e real. Mas quando havia procurado alguém para se relacionar… buscara uma mulher que era o oposto dela. Uma parte de Darcy tinha ciência de que fora louca em recusar aquela proposta de casamento. Mas outra, muito maior, sabia que não seria capaz de viver daquela forma. Recordou todas as promessas que fizera a si mesma e concluiu que havia quebrado uma por uma… começando pela noite em que fora para o quarto de hotel de Jeff. Havia se justificado e racionalizado a sensação de bem-estar que experimentara ao lado de um homem que não seria seu. O mesmo que deixara claro que não estava interessado em um relacionamento, e sim em algumas horas de diversão. Sim, mais tarde Jeff lhe dissera que pensara querer mais. Um caso passageiro, talvez. Mas, para se casar, escolhera Olivia, com sua posição social, visão para negócios e estirpe impecável. Como poderia se casar com um homem que estava se conformando com ela? Fazendo uma concessão? Não poderia. Fizera a coisa certa. Mas, enquanto a próxima lágrima lhe escorria pelo rosto, Darcy imaginou como seria capaz de viver sem ele… principalmente, quando as circunstâncias a obrigariam a um convívio constante, que tornaria impossível esquecê-lo. JEFF SE encontrava parado diante da porta aberta do refrigerador, com o olhar fixo na segunda prateleira, onde um bolo amarelo com cobertura de chocolate se encontrava abandonado. Podia apostar dinheiro como Darcy devia quase ter caído em prantos quando percebera que o deixara para trás. E tinha certeza de que isso acontecera aproximadamente às 20h15 da noite anterior. Se estivesse em casa, em vez de ter ficado trabalhando a noite toda no escritório, teria notado o bolo ali e provavelmente feito a mesma coisa que estava fazendo agora. Parado em frente ao refrigerador, perguntando-se se devia levá-lo à casa de Darcy. Mas, de alguma forma, aquela desculpa


pareceu esfarrapada. Até mesmo para ele. Além disso, se a conhecia o suficiente, o que era verdade apesar do fracasso de sua proposta de casamento, que resultara na saída de Darcy de seu apartamento, ela já havia solucionado qualquer desejo que tivesse de comer bolo. Sozinha. Do jeito como ela gostava. Retirando o telefone do bolso, verificou a caixa de mensagem para ver se Darcy havia lhe enviado alguma. Configurara até mesmo uma vibração de quase cinco pontos na escala Richter, associada a um toque diferenciado, para não perder nenhuma ligação ou mensagem de texto que ela lhe enviasse. Mas Darcy não se comunicara. Jeff abriu o refrigerador outra vez. E soltou uma risada breve quando percebeu as marcas de garfo na cobertura de chocolate. Mas o som reverberou, inócuo, no espaço vazio que se encontrava repleto da presença de Darcy dois dias atrás. Ele sentiu um aperto no peito quando todo o humor se evaporou na atmosfera silenciosa que o rodeava. Podia apenas telefonar para perguntar se Darcy queria que ele lhe levasse o bolo. Talvez ela não tivesse se lembrado de acrescentar uma caixa de mistura para bolos à lista de compras da empregada que ele contratara para executar todas as tarefas não adequadas a uma mulher no oitavo mês de gravidez. Claro que deixara um chofer à disposição dela 24h, sete dias por semana. Se Darcy tivesse ido até a casa de sua mãe naquele dia, teria encontrado uma caixa de mistura para bolo lá… mas e se ela não tivesse ido? E se estivesse com fome? E se o motivo de ela não ter telefonado para perguntar sobre o bolo fosse o fato de estar constrangida em fazê-lo, depois de ter se mudado? E se estivesse pensando que ele não queria ouvir sua voz? Muito bem, e se ele nunca mais conseguisse controlar suas emoções? Se Darcy quisesse falar com ele, teria ligado. Se desejasse comer bolo, faria um.


Se o desejasse… diabos! Ainda estaria ali. Em seus braços. Em sua cama. Em sua vida de uma forma que nada tinha a ver com o fato de simplesmente esperarem a criança nascer para que pudessem dividi-la, como dois adultos civilizados. E ela não estava.


Capítulo 24 – DARCY, NÃO me faça arrancar essa pasta de você. São quase 19h! Com a mão espalmada sobre a pasta em questão, Darcy fez que não com a cabeça. – Nem pense em tirá-la de mim, ou dê adeus às suas fantasias de ser chamada de vovó Gail. Vou ensinar este bebê a chamá-la de vovozinha Gigi durante anos. A mãe de Jeff fez uma careta, mas, ao que parecia, naquela noite ela não estava disposta a ceder. Retirou o telefone do bolso e fez questão de mostrar que estava escrevendo uma mensagem. – Espere um minuto, querida. Conversaremos sobre isso em um instante. Depois de eu contar a Jeff como está se alimentando mal e exibindo uma palidez absurda. – O quê? – Darcy ofegou, segurando prato com os restos do burrito orgânico… do segundo burrito, porque não sobrara sequer uma migalha para testemunhar que houvera um primeiro. – Esta é a terceira… não, a quarta refeição que faço hoje. Desde que estou aqui! Gail não ergueu o olhar do telefone, enquanto deixava escapar um suspiro. – Nós, os idosos, nos confundimos facilmente. A pasta. Idosa?! Aos 55 anos, Gail estava longe de ser matéria-prima para asilos, já que possuía mente, físico e atitude de uma mulher com menos de 40 anos. Aquele era mais um item que tinha de acrescentar à sua lista de “motivos para ser igual a Gail quando crescer”.


Darcy baixou o olhar. Sabia que fora um dia estafante, mas a verdade era que ficar em casa sozinha era difícil. Estava morando em uma bela e confortável residência, mas, após uma semana vivendo lá, ainda se descobria consultando o relógio, ansiosa pela parte do dia que se tornara sua favorita, esperando por algo que não aconteceria. Lembrando a si mesma de que Jeff não transporia a porta a qualquer momento. Agora, era apenas ela. Sozinha. Sem nada por que esperar ou antecipar no fim do dia, porque tomara a decisão mais sensata. E desagradável. Darcy costumava se deleitar com o fato de morar sozinha. Mas aquilo fora antes de sentir o sabor de dividir um lar. Antes de Jeff. – Estou imaginando o que ele fará quando souber o quanto você está triste, magra e com aparência cansada. Os olhos cinza de Darcy se estreitaram. Não estava magra. Quanto ao resto, provavelmente sim. Mas não o suficiente para contar a Jeff. Gail estava blefando. Mas se não estivesse… Não. Tratou de suprimir aquela traiçoeira faceta esperançosa de seu ser que procurava por qualquer desculpa ou justificativa para vê-lo. Qualquer coisa que abrandasse o vazio doloroso que se abrira dentro dela no dia em que se mudara e o fizera prometer que lhe daria espaço para se ajustar àquela nova fase do relacionamento dos dois. Em breve teriam de se ver, quando o bebê nascesse. Mas Gail estava blefando, porque não importava o que os dois haviam lhe dito sobre a mudança de Darcy para a nova casa, a mãe de Jeff não era tola. Tampouco cega. E não era do tipo que manipulava o filho à toa. Portanto, não tinha com que se preocupar. Aquela mensagem não chegaria a lugar algum.


Ainda assim, aquele era o maior divertimento que tinha desde que despedaçara o próprio coração ao se mudar do apartamento de Jeff. Talvez não estivesse preparada para abrir mão disso. – Se fizer isso, eu direi a ele… eu direi que… – Com que tipo de mentira, que na verdade nunca contaria, Gail poderia ameaçá-la? Ah! Tinha uma perfeita. – Direi a ele que Grant se insinuou para você! Dessa forma, terá o sangue daquele médico em suas mãos. O que acha disso? Darcy esperou por um ofego, um engasgo, uma risada ou algum tipo de ameaça, antecipando qualquer reposta com satisfação. Pronta para qualquer retaliação por parte da amiga. Mas tudo que conseguiu foi uma expressão de choque. À medida que os segundos transcorriam, as sobrancelhas de Darcy foram se erguendo. – Está brincando! Gail pestanejou e baixou o olhar ao chão, onde fazia um pequeno círculo com a ponta do sapato. Por fim, deu de ombros. – Dê-me o arquivo e lhe contarei tudo. Três coisas cruzaram em disparada a mente de Darcy. A primeira, que Grant não dava valor a própria vida como era esperado de um médico. A segunda… Uau! Não era de se admirar que Jeff não soubesse perder. A terceira, renomear sua lista com o título “Por que Gail é minha heroína” e acrescentar aquilo ao topo da relação. Entregando o arquivo, Darcy tentou não pensar no que passou em sua mente a seguir. O quanto se sentia aliviada por não ter de voltar para sua solitária casa. O quanto estava feliz pelo que provavelmente seria a única distração com poder suficiente para lhe desviar os pensamentos do homem de quem não parava de sentir saudades.


A PORTA se escancarou e Connor pestanejou várias vezes diante dele. – Não que não esteja feliz em vê-lo, mas são 4h da manhã, Jeff. O que está fazendo aqui? Sim, o quê? Tentando evitar cometer um erro monumental. E pedindo ajuda para conseguir. – Tinha de sair do meu apartamento por algum tempo. Então, resolvi sair dirigindo por aí. Acabei vindo para essas redondezas e pensei em passar aqui. – Duzentos quilômetros é um longo passeio de carro. – Sim. – Está com péssima aparência. Jeff mediu o amigo de cima a baixo com o olhar, detendo-se na aparência desgrenhada que deixava os cabelos de Connor no mesmo patamar dos seus. Sem mencionar as marcas do travesseiro no rosto e o olhar desfocado de quem acabara de acordar. – Vindo de você, parece piada. – Rá! Quer entrar ou resolveu só passar por aqui de carro? – Preciso que fique com meu telefone celular. Darcy pediu para que eu lhe desse um pouco de espaço. Estou tentando. Esforçando-me ao máximo. Mas não a vejo há duas semanas. Embora tenha conversado com minha mãe e com Grant e ambos me tenham me garantido que ela está ótima, não é mesma coisa. Não estou conseguindo… diabos! A única razão para não estar batendo à porta dela neste segundo é porque me forcei a virar à esquerda em vez de à direita… e seguir em frente. E a única forma de não telefonar para ela e dizer que não consigo aguentar nem mais um dia, quando preciso suportar uma vida inteira assim, é lhe entregando meu maldito celular. Por favor.


Connor baixou o olhar ao aparelho que ele lhe oferecia e esticou a mão para pegá-lo. – Obrigado – agradeceu Jeff, ao mesmo tempo em que Connor gesticulava para que ele entrasse. – Estou lhe devendo uma, certo? Jeff estava a ponto de negar por educação, embora aquela fosse a mais pura verdade, quando estacou diante do som de plástico e metal esmagados. Com os olhos arregalados, ele virou a cabeça na direção de onde Connor estava destruindo seu telefone celular, entre a porta e o batente. Em seguida, com um sorriso torto, o amigo lhe devolveu em frangalhos o que segundos atrás era um aparelho funcionando, programado detalhadamente para facilitar todos os aspectos de sua vida. Diante da expressão perplexa de Jeff, o amigo atirou os destroços do telefone em sua mão e disse: – Agora, estamos quites. E de nada. Cinco minutos depois, Connor colocou cinco garrafas entre os dois e se deixou afundar na cadeira da cozinha, observando Jeff, que se encontrava do lado oposto. – Primeiro, vamos decidir essa questão. Que tipo de noite teremos? Regada a café? – perguntou, esticando a mão para segurar duas garrafas de café gelado flavorizado com caramelo, antes de movê-la para as garrafas verdes de sua coleção favorita de bebidas importadas. – Ou cerveja? Em seguida, esfregou a mandíbula com uma das mãos e pousou um olhar cauteloso na última garrafa. – Ou, se estiver precisando muito mesmo… e apenas para você. – Connor fez uma careta e desviou o olhar. – Isto. O uísque de vinte e cinco anos do qual Jeff poderia apostar que o amigo não tomara sequer um copo, desde a noite em que tivera de sair às pressas de uma reunião de trabalho e se precipitar para o aeroporto, para que um Connor


bêbado não acabasse batendo à porta da esposa, que na ocasião estava separada dele. – Uau! Você me ama mesmo – disse Jeff, antes de pegar a garrafa de uísque, levantar da mesa e levá-la para a outra extremidade da bancada. Em seguida, voltando o olhar na direção de Connor, girou a garrafa para que o rótulo não o encarasse como o menino mau e fortão da escola. – Mas eu também o amo e, mesmo que isso não fosse verdade, acha que eu ia me embebedar com minha não namorada grávida sabe Deus onde, fazendo sabe Deus o quê, com sabe Deus quem? – Ela não está na casa de sua mãe? – Não. Darcy está em sua nova casa. Provavelmente dormindo. Sozinha. – Claro que estava sozinha. Definitivamente sozinha. Por enquanto. E, no instante em que aquele pensamento o atingiu, um outro o seguiu… Se Darcy não quisesse ficar sozinha, não ficaria. Havia reparado na forma como os homens a olhavam, com oito meses de gravidez ou não. Droga! Sabia como ele mesmo olhava para Darcy. Como a desejava. Como sentia a falta dela. – Vou dispensar a cerveja, também – decidiu por fim, mas logo exibiu uma carranca diante das remanescentes garrafas de café gelado. – Caramelo? – Megan as comprou. A cafeteira está quebrada. Seja homem e beba o que está sendo oferecido. É bem gostoso. Relutante, Jeff pegou uma das garrafas, experimentou e estalou os lábios. – Tem gosto de bala. Connor lhe dirigiu um olhar que expressava “eu não disse?” e voltou a se sentar na cadeira com a garrafa de café gelado na mão. – Muito bem. Agora que já decidimos a parte das bebidas desta noite… quer dizer… manhã, vamos ao que interessa. O que está acontecendo? – Pedi


Darcy em casamento. – E, quando Connor ergueu as sobrancelhas, acrescentou: – E ela não aceitou. – Oh, diabos! Sinto muito. Não sabia que a relação de vocês era séria. Ou ao menos que você tivesse se dado conta de que era… e, provavelmente, não estou ajudando em nada. E por que ela não aceitou? Jeff escorregou um dedo ao longo da condensação na parte externa da garrafa, imaginando se seria possível se sentir meio entorpecido e arrasado ao mesmo tempo. – Da primeira vez, porque ela não dava importância à questão da “legitimidade”. – Humm… só por curiosidade, quantas vezes ela negou seu pedido de casamento? Jeff passou as duas mãos pelos cabelos. – Duas. Algumas, talvez. Uma delas foi quando fiz o pedido em tom de brincadeira. Eu sei. É surpreendente. E outra foi quando a pedi em casamento durante uma crise de vômito. – Caramba! – Connor ofegou, atirando-se para trás na cadeira. – Sim – disse Jeff, com um gesto de mão negligente. – Sim, estava tentando animá-la, mas pedi. E mais recentemente, porque ela acha que pode arranjar coisa melhor. A garrafa de café tiritou contra a mesa enquanto Connor erguia as duas mãos como se tivesse sido atingido por um raio. – Ela acha que pode arranjar coisa melhor que você? Que diabos aquela mulher está procurando? Você é um homem generoso, terno, quase tão inteligente quanto eu, não tão bonito, mas o que lhe falta em beleza, excede em competência. Jeff deixou escapar uma risada superficial, pois o humor estava cada vez mais escasso nos últimos dias. – Não importa o quanto me elogie, não vou mais parar em sua cama, portanto


nem tente. – Uma certa pessoa ainda caçoa de mim por tê-lo confundido com Megan naquele dia – respondeu Connor, com uma musicalidade na voz que deveria levantar o ânimo de Jeff. – Mas, evasivas à parte, tirando o nariz e os cabelos, você é o Príncipe Encantado que qualquer mulher deseja. Estou falando sério. O que ela quer? Jeff tomou um gole do café gelado, mas o sabor adocicado se tornou ácido em sua língua. – Quer ser amada pelo homem com quem se casar. Connor se atirou para trás na cadeira outra vez. E quem poderia culpá-lo? Não sobrava muito espaço para o ultraje com uma defesa daquelas. – Ela disse que não o ama? Jeff pressionou o dorso do nariz com os dedos, pensando em todas as vezes que Darcy o afastara. Colocara um ponto final naquela relação. Dissera que não queria o que ele estava lhe oferecendo. Recordou-se da última conversa que tiveram, do sofrimento refletido nos olhos cinza quando ela disse que não poderia se casar com ele… – Não foi necessário. – Jeff limpou a garganta e sustentou o olhar preocupado do amigo. – Mas não tem importância. Não existia esse sentimento entre nós. Linhas profundas vincavam a testa de Connor. A preocupação deu lugar ao raciocínio em um piscar de olhos. – É mesmo? Jeff mudou de posição na cadeira. O que quer que significasse aquele olhar, não se sentia confortável em ser o receptor dele. – Ora, pare com isso! – Não sei a que está se referindo. – Eu a engravidei. Não me apaixonei por ela. Essa relação nunca se baseou em amor, e sim em construir uma família. Estou aborrecido porque as coisas não saíram como eu esperava. A expressão incrédula continuou estampada no rosto de Connor. – Claro.


– Droga! Não é a mesma coisa que você tem com Megan. – Eu não disse que era. – Você está me olhando como… com esse irritante olhar… presunçoso. O que está me dando vontade de lhe amassar o nariz. Sem demonstrar nenhuma preocupação, Connor esticou o braço sobre a mesa. O tal sorriso presunçoso torto lhe curvou um dos cantos dos lábios, enquanto esfregava o topo da cabeça de Jeff com a mão. – Eu o amo, cara – disse ele, com uma mistura de condescendência e divertimento na voz. – Mas tenha paciência! Não posso acreditar que não conseguiu enxergar o que venho ouvindo no seu tom de voz há meses. A cada vez que menciona Darcy. Cada frustração, cada passagem divertida, cada relato sobre a intimidade dos dois que parece não conseguir conter. E, se você não consegue ouvir isso em suas próprias palavras, então talvez seja o momento de parar para pensar qual a verdadeira razão por trás dessa determinação em fazer dessa mulher sua esposa. Você a pediu casamento por diversos motivos, mas não sei se está conseguindo enxergar tudo que tem de dar em troca. O que significa que Darcy talvez não esteja conseguindo enxergar também. Não. Connor estava projetando o final feliz que tivera com Megan em sua história. Mas a realidade não era essa. Desde o início, ele e Darcy haviam definido os limites para que nenhum dos dois se enganasse. O que funcionara em todos os relacionamentos que tivera depois de Margo. Mas nenhuma daquelas mulheres chegara aos pés de Darcy. Fora fácil dispensá-las, quando sequer podia se imaginar fazendo o mesmo com Darcy. Mas ainda assim… Jeff colapsou para trás na cadeira. Um peso esmagador lhe comprimia o peito diante do incômodo reconhecimento.


– Droga! Connor tinha razão. Mas, infelizmente, aquilo não mudava nada em relação ao fato de Darcy não desejar se casar com ele. Ou viver com ele. Ou ao menos vê-lo, conversar e rir com ele. Ou fazer os milhões de outras coisas que ele queria fazer com Darcy. Aquele era o cerne da questão. Ele queria tudo. Enquanto Darcy desejava apenas uma relação amigável de duas pessoas que dividiriam a criação do filho que estavam esperando… ele queria o conto de fadas. E havia prometido a Darcy que não pediria isso.


Capítulo 25 HAVIA ALGO bastante desagradável em sair de carro para clarear a mente e ficar entocada no banco de trás, com um motorista contratado, que não abriria mão da direção nem diante da súplica chorosa de uma mulher grávida. Por que diabos recusara a oferta de Jeff de lhe comprar um carro? Darcy sentiu um aperto na garganta enquanto imaginava, não pela primeira vez e com uma frequência assustadora, por que negara qualquer coisa a Jeff. Ela o amava. E ele a pedira em casamento. Mas, pelo fato de não poder ter tudo exatamente do jeito que queria, por ser muito mimada, voraz e egoísta… recusara. E ainda por cima, por ser muito bom estar nos braços, na cama e no apartamento de Jeff… se mudara. Seu corpo crescia a cada dia, pleno da criança que haviam gerado juntos. E cada dia que passava sem Jeff sentia como se uma grande parte de si estivesse faltando. De todos os arrependimentos que atirara no rosto de Jeff naquele tenebroso último dia em que estiveram juntos, apenas um permanecera em sua mente. E não tinha ninguém a quem culpar por isso, a não ser a si mesma. Darcy deixou escapar um suspiro pesado, antes de se dirigir ao motorista. – Harvey, sei que lhe disse que não íamos para lá hoje, mas pode me levar à casa de Gail, por favor? Por mais que tivesse evitado discutir seu relacionamento com Jeff por respeito a ambos, precisava de alguns conselhos. Porque permanecer afastada dele parecia mais difícil a cada minuto. E não apenas pela dor da saudade, mas pelo fato de Jeff desejar fazer parte daquela


gravidez e dividir as experiências. Ter pedido para que ele lhe desse espaço, na intenção de esquecê-lo, não fora justo. E, mais do que isso, não daria certo. O TRAJETO até San Diego na hora do rush demorou o dobro do tempo que costumava levar quando feito no meio da noite. Porém, dispor de horas para pensar não era exatamente um castigo, portanto Jeff aceitou os percalços que os deuses das estradas haviam lhe reservado, sem reclamar. Isso até chegar próximo de onde morava a mãe e ver uma ambulância passar em disparada por seu carro, com as luzes piscando e a sirene ligada. O instinto o fez esticar a mão para o telefone, mas tudo que conseguiu pegar foram os cacos do aparelho, o que o fez xingar Connor. Tão logo a ambulância passou, Jeff acelerou, dizendo a si mesmo que o veículo de emergência viraria a esquina, antes de chegar à casa de sua mãe. Ou passaria direto. Darcy estava próximo de dar à luz, mas a ambulância não era para ela. Nada havia acontecido com o bebê. Aquilo não significava a destruição de seu mundo. Não podia ser. Por favor, não. Mas, quando o caminho que levava à garagem da casa de Gail entrou em sua linha de visão, com a ambulância o cruzando em disparada, aquela centelha de pavor se transformou em uma bala de canhão e a sensação de que seu mundo ruiria se algo acontecesse a Darcy pareceu pouco. Seria o fim do seu universo. Uma perda tão grande que os limites lhe fugiam à compreensão. Com as mãos apertando o volante como se quisessem arrancá-lo, Jeff se focou no trecho de rua que ainda tinha pela frente. Quando o cruzou, parou o carro no meio da entrada, colou-o em ponto morto e avistou Gail, parecendo desesperada enquanto guiava um dos paramédicos para os fundos da casa. No segundo seguinte, Jeff estava correndo pelo gramado, tentando fazer a


garganta paralisada pelo pânico funcionar e perguntar o que estava acontecendo. O pequeno grupo estava reunido entre a casa e um canteiro do jardim; os paramédicos, ajoelhados ao lado… – Sério, não preciso de uma ambulância. É apenas uma torção. Sou médico. Jeff estacou repentinamente, o ar sendo liberado dos pulmões ao ouvir a voz de Grant. Que diabos…? Porém, no momento seguinte, tudo que estava acontecendo com Grant se tornou irrelevante, quando um fato o atingiu com a força de um tsunami. Não Darcy. Jeff a viu, esforçando-se para se erguer do local onde estava ajoelha ao lado de Grant. Uma das mãos apoiava a barriga saliente, antes de se equilibrar e erguer a cabeça. Os olhos cinza se desviaram em sua direção, quando ele fechou os últimos metros que os separavam e a tomou nos braços. – Darcy. – O nome soou rouco, quando Jeff o forçou a transpor a garganta. – Você está bem. – Por que você está assim? – E, pelo modo como Darcy o olhava, era óbvio que o horror que acabara de experimentar devia estar estampado em seu rosto. – O bebê está bem. Juro. Estamos bem. Jeff anuiu, tentando não apertá-la. Porém, tê-la em seus braços, após semanas de ausência, encontrá-la bem, apesar da visão daquela ambulância entrando na casa da mãe… Ele teve de se esforçar para não amassá-la contra o próprio corpo e fazê-la jurar que nunca mais se afastaria dele. Porém, não fora para isso que fora até ali e, a julgar pelo cenário que o rodeava, as circunstâncias não eram favoráveis a nenhuma


exigência. O olhar de Jeff se voltou na direção de Grant, que, apesar do socorro médico a seu dispor, parecia estar bem. Mas o que ele estava fazendo ali, às 10h da manhã, no meio da semana? Grant deixara de examinar Darcy desde que ela começara a frequentar o consultório de seu obstetra, meses atrás. Talvez não estivesse ali por razões profissionais. Talvez tivesse descoberto que Darcy se mudara para sua própria casa e decidido ter uma chance com ela, antes que outro o fizesse. Esperto. Mas aquilo fez com que Jeff desejasse que o médico estivesse pior do que de fato parecia. – O que aconteceu? – perguntou ele, enquanto Darcy enterrava o rosto em seu peito. – A culpa foi minha – começou ela. – Disse à sua mãe que não viria esta manhã, mas acabei vindo. E quando fechei a porta… – Acalme-se, Gail – pediu Grant. A voz superava os sussurros de Darcy. – Sei que está preocupada, mas lhe garanto que é apenas uma torção no joelho e… – Não me peça para ficar calma. Foi você o tolo que decidiu pular pela janela e cair. Do segundo andar! Já perdi um homem a quem amava e não quero que seu orgulho ferido me faça perdê-lo também. Jeff deixou escapar o ar que estivera prendendo, certo de que não havia escutado direito. – Mãe? Gail ergueu a cabeça com um movimento brusco, sugerindo que só então se dera conta da presença do filho. Por um instante, os olhos registraram o tipo de choque e nervosismo que era esperado, mas logo voltou a ser ela mesma. E, no instante seguinte, aquele mesmo olhar tinha o brilho do aço.


– Agora não, querido. Jeff sentiu a pressão das mãos de Darcy contra seu peito, como se pretendesse detê-lo, o que era adorável. Mas desnecessário. Ele não ia a lugar algum. – Grant e minha mãe? – perguntou ele. Todas as vezes que seu amigo médico mencionara a agilidade e flexibilidade de Gail, Jeff imaginara que ele estava se referindo ao fato de ela não ter osteoporose, mas, ao que parecia, se enganara. – Acho que ele tem uma queda por sua mãe… desde sempre. Naquela noite que Grant ia nos levar para jantar, intenção dele era passar mais tempo com Gail. E acho que deu certo. – Darcy parecia constrangida. – Esta manhã, Connor telefonou perguntando se você havia chegado. Quando eles ouviram a porta bater no andar térreo um minuto depois, presumiram que era você, e não eu. Portanto, Grant decidiu que a janela seria sua única chance de sobrevivência. Jeff inspirou profundamente, saboreando a fragrância feminina do xampu e da pele de Darcy. – Está bem. – Está bem? – perguntou ela, parecendo cética. – Não vou atacar um homem a caminho da ambulância. – E, quando ela lhe lançou um olhar incrédulo, acrescentou: – Minha mãe me mataria. E, após todas aquelas semanas, Jeff conseguiu ter o que mais lhe fazia falta. Um vislumbre daquele sorriso deslumbrante que iluminava tudo ao redor. O mesmo que ele nunca conseguira esquecer. E que ainda queria ganhar. A contragosto, Grant concordou em deixar que a ambulância o levasse ao hospital para ser atendido e Gail o acompanhou, deixando os dois sozinhos na casa.


Desde que a envolvera nos braços, Jeff não conseguiu mais soltá-la. O que ela parecia entender, a julgar pela forma como se recostava ao seu corpo. Droga! Era maravilhoso estar parado ao lado dela. Tê-la ao alcance das mãos. Porém, enquanto a ambulância desaparecia pelo caminho, Darcy lhe segurou a mão e, após um breve aperto, se soltou daquele abraço. – Quer entrar? – perguntou, parecendo mais nervosa agora que a emergência passara e só restavam os dois. Jeff anuiu com um movimento tenso de cabeça e dirigiu o olhar ao próprio carro que se encontrava estacionado no gramado, com a porta escancarada. – Deixe-me colocar o carro na garagem e logo me juntarei a você. Darcy deu os primeiros passos, mas estacou e girou. – Você está bem? Nem um pouco. Ainda não. – Dê-me alguns minutos e estarei. QUANDO DARCY alcançou a cozinha, ele havia estacionado o carro e estava carregando um deslumbrante vaso de flores e uma caixa de doces, ambos parecendo prejudicados pela longa estada no carro de Jeff. Ainda assim, Gail ficaria emocionada com o gesto atencioso quando retornasse do hospital. Jeff, parecendo exausto, desgrenhado, sexy e atraente como naquela noite em que voltara da Austrália, pousou os itens que carregava na bancada e continuou caminhando na direção dela. – Sei que queria um pouco de espaço sei que a deixei ir, mas… preciso… pensei… estou tão feliz… Darcy o encontrou no meio do caminho, entendendo o tipo de medo que ele devia ter sentido. Desejando ofertar o conforto que pudesse.


Segurando as mãos longas nas dela, ele as pousou sobre o abdome abaulado. – O bebê está bem – afirmou. E um leve chute contra a palma da mão de Jeff corroborou aquelas palavras, fazendo-a soltar uma risada. Todo o alívio diante da presença de Jeff, todo o amor e o nervosismo que fervilhavam dentro dela se libertaram naquele breve instante. Os olhos de Jeff se fixaram naquele ponto, que agora acariciava com movimentos circulares, antes de lhe dar um tapinha leve. – Estou aliviado pelo fato de o bebê estar bem. Claro que estou, mas… – A voz grave falhou quando ele emoldurou a lateral do rosto de Darcy com uma das mãos e lhe encontrou o olhar, parecendo agoniado. – Quando pensei que algo havia lhe acontecido, meu Deus! Mal consegui respirar, o que dizer pensar. O modo como Jeff a olhava… as palavras que dizia. Não era exatamente do jeito que soavam. Mais uma vez, ela estava vendo e escutando o que desejava, emprestando-lhes um significado que não possuíam. Mas dessa vez não cairia naquela armadilha. Darcy apertou o dorso da mão longa mais uma vez, desejando lembrar a sensação daquele toque para sempre, antes de dar um passo atrás. Em vez de se deixar levar pelo coração, se agarrou à realidade que sabia ser verdadeira. Jeff gostava dela. Quanto a isso, não tinha a menor dúvida. E, se havia um momento para reforçar a proposta que lhe fizera três semanas atrás, era aquele. Ele ficara apavorado diante da possiblidade de perdê-los e, conhecendo Jeff como o conhecia, tinha certeza de que, naquele momento, ele seria capaz de fazer, dizer ou prometer qualquer coisa para se livrar daquele sentimento. E por esse motivo aquele não era o momento certo para conversar com Jeff


sobre a possibilidade de ficarem juntos. Para descobrir que tipo de acordo lhes proporcionaria o que desejavam. Ou que se aproximasse disso. DARCY FIZERA aquilo de novo. Afastara-se dele, deixando transparecer que não desejava o que ele lhe estava oferecendo. A atitude certa a tomar seria deixá- la em paz. Mas, droga, fazer a “coisa certa” em relação a Darcy sempre parecia tão errado. Estivera refreando seus impulsos desde o início. Tentando firmar um compromisso, em que exigia mais do que devia, sem perseguir o que de fato desejava. Mentindo para ambos sobre o que seria suficiente. Decepcionando Darcy a cada passo no caminho. Pensando estar sendo honesto com ela. Julgara estar sendo justo. Mas a verdade era que, a cada concessão que fizera, uma parte obscura e secreta dele tinha certeza de que voltaria para pedir mais. Mas aquele tempo acabara. – Como tem passado? – A pergunta parecia banal, mas ele não a via há semanas. Não haviam conversado. E desejava saber. Darcy se encaminhou à pia da cozinha e começou a encher uma chaleira com água. – Estamos passando bem e nos acostumando com a nova casa. E você? Jeff puxou uma das cadeiras da cozinha e se sentou, observando-a fazer chá.


– Tenho me sentido só. Sinto sua falta. Desejando ter feito umas mil coisas diferentes e imaginando se alguma delas me levaria a um desfecho diferente deste. A chaleira pousou com o baque sobre o fogão e Darcy se segurou na margem da bancada atrás dela. Tudo em Jeff dizia para ampará-la, fazê-la se sentar em uma cadeira. Ou melhor, em seu colo. Mas passara muito tempo conseguindo o que queria de Darcy, pressionando para alcançar seu objetivo final, sem lhe dar chance de decidir o que desejava. Tinha de parar com isso, para o bem de ambos. Queria-a confiante em suas escolhas para que ele mesmo não acabasse se arrependendo por prendê-la em um lugar em que Darcy não desejava estar. Portanto, apesar de todos os seus instintos protetores gritarem para que cruzasse a cozinha, a tomasse nos braços e usasse o corpo e as palavras para conseguir o que queria… decidiu permanecer no mesmo lugar. Havia apenas uma coisa que poderia lhe dar naquele momento: a verdade. – Tenho trabalhado 18 horas por dia, tentando me distrair o suficiente para não começar a traçar meu próximo plano que a trará de volta, engendrando o que posso dizer para convencê-la a quebrar suas regras só um pouco para satisfazer meus desejos. Estou cansado. Transtornado. E acho que, se quiser ter qualquer chance de alcançar a felicidade que podemos ter juntos, preciso começar a descobrir como ser o homem que você merece. Um em quem pode confiar e com quem possa contar. Que a faça rir e se sentir segura. E, acima de tudo, que a faça querer ficar em vez de partir. – Quando conversamos da última vez… – Darcy o olhava como se estivesse aterrorizada. As mãos apertavam a beirada da bancada de cada lado do corpo, como se aquele fosse o único recurso que a mantinha de pé. – Talvez este não seja o melhor dia para conversarmos sobre esse assunto.


Jeff queria ser aquele com quem ela contava. Um suporte do qual ela nunca duvidasse. Sempre. – Não se preocupe. Não a estou pedindo em casamento outra vez. – Darcy anuiu com um gesto de cabeça tenso, parecendo tristonha e confusa. E era quase impossível não ir ao encontro dela naquele exato momento. – Prometi que não faria mais isso e pretendo ser um homem em quem você pode confiar. – Jeff limpou a garganta e lhe encontrou o olhar. – Mas vou lhe fazer a pergunta que me trouxe aqui hoje. Concorda em sair comigo como namorado? DARCY PISCOU várias vezes, sem saber se escutara direito. – Está propondo um encontro? – O coração disparou porque Jeff dissera a palavra “namorado” e não havia muitas formas diferentes de interpretá-la. Mas ainda assim lançava mão de seu exíguo estoque de autocontrole para se manter firme e não se atirar naqueles braços fortes, caso aquela não fosse a intenção de Jeff. Antes, ele dissera que sentira sua falta, que desejava que tudo tivesse sido diferente. Mas a forma como Jeff soara não fora diferente da última vez em que a pedira em casamento com o objetivo de formarem uma família para o bem da criança. Ao menos até chegar à parte em que ele a pedira em namoro. O que era… diferente. – Um encontro de namorados? Ou simplesmente um encontro que não significa o que estou pensando, mas… – Um encontro de namorados. Meu objetivo é que se apaixone por mim – respondeu ele. A voz era firme, mesmo quando ele fitava as próprias mãos. – E, sim, talvez seja muita pressão, mas estou cansado de lhe dizer que tudo que quero é uma coisa, quando quero tudo. Quero que se case comigo, mas eu… – Por quê? Para que você possa estar ao lado de nosso filho todas as noites? – As palavras escaparam dos lábios de Darcy, não em tom de acusação, porque ela só queria saber. – Tudo bem se esse for o motivo… Jeff lhe encontrou o olhar e o que ela viu


refletido naquelas profundezas cor de avelã lhe tirou o fôlego e a fez apertar ainda mais a bancada. Não para se conter, mas para se manter de pé. O que via estampado nos olhos de Jeff tinha potência suficiente para fazê-la desfalecer. – Porque eu a amo. Os lábios de Darcy se entreabriram, mas qualquer palavra que pretendesse dizer ou o ar que quisesse espirar lhe ficaram presos na garganta. Tudo que conseguiu foi encará-lo, esperando pelo que ele tivesse a acrescentar. Ainda não conseguia acreditar no que ouvira. Encontrava-se perplexa, mas ainda assim uma parte dela decidira acreditar, porque não estava mais segurando a bancada. Cruzava a cozinha na direção do homem que a olhava como se tivesse testemunhado um milagre. No instante seguinte, Darcy se encontrava parada dentro do “V” formado pelas pernas musculosas, as mãos na massa desgrenhada de cabelos escuros. Estava com a respiração ofegante. – Você me ama? Jeff engoliu em seco e respondeu com um aceno positivo de cabeça, antes de conseguir falar. – Acho que a amo desde aquela primeira noite. Apenas não me permitia admitir. Quando descobri que você havia partido, em Las Vegas, fiquei arrasado, mas tentei me convencer de que não tinha importância. Havíamos acabado de nos conhecer. Eu a esqueceria. Porém, em vez de tirá-la da mente, continuava pensando em você. Imaginando como fui capaz de interpretar de maneira tão equivocada o que havia acontecido entre nós. – Sinto muito – começou Darcy, desejando mais uma vez voltar no tempo, imaginando como tudo poderia ter sido diferente se tivesse ficado. Se tivessem mantido contato. – Fiquei com medo do que você me fez sentir, depois de termos combinado que tipo de noite teríamos. – Eu sei, querida. Mas naquele momento, e mesmo depois de ficarmos juntos outra vez, continuava pensando que você era o tipo de mulher que partia,


capaz de erguer barreiras para que eu não me aproximasse. E, embora isso não tenha me impedido de transpor os limites de nosso constantemente reforçado acordo… foi suficiente para que eu usasse esse pensamento como desculpa para não reconhecer a verdade. Aquela primeira noite com você mudou algo em mim, fez com que eu desejasse mais do que tinha em meus relacionamentos. – E então encontrou Olivia. – Ela me pareceu o par perfeito… exceto pelo fato de não ser você. Darcy enterrou a cabeça no ombro largo, agarrando-se a ele. – Tudo que ouvi dizer sobre ela… Olivia era tão diferente de mim. E todos diziam que o relacionamento de vocês era sério. Que formavam um casal perfeito. Que o casamento era apenas uma questão de tempo. E tudo em que conseguia pensar era que Olivia era tudo que eu não era. Não conseguia me enxergar como outra coisa, senão como um sacrifício que você teria de fazer para dar um lar estável ao nosso filho. – Não. Eu não deveria ter dito isso. Não deveria ter tentado fazer com que nós dois acreditássemos nisso. Darcy lhe envolveu o pescoço com os dois braços e o fitou nos olhos. – Você me ama mesmo? – Muito. – Isso é ótimo, porque me apaixonei por você desde o primeiro instante e, não importava o quanto tentasse, o quanto me esforçasse… nada conseguia deter esse sentimento. Eu também o amo. E, então, Jeff a beijou. Lento, terno, doce e perfeito. Quando ele interrompeu aquele contato mágico, ofegante de desejo, Darcy perguntou: – E então? O que faremos agora? Jeff gesticulou com a cabeça na direção da bancada.


– Eu lhe dou as flores que comprei para você e a convenço a sair comigo, subornando-a com aquele bolo amarelo que preparei na casa de Connor. Depois a tratarei com tanto romantismo que acabará por suplicar para que eu me case com você. Darcy soltou uma risada, com as sobrancelhas arqueadas. – E devo ser eu a pedi-lo em casamento? Com expressão séria, Jeff lhe capturou os lábios outra vez, antes de responder. – Sou um homem em quem pode confiar. Eu lhe prometi e não a pedirei em casamento de novo. Mas… – Ele se inclinou para perto, sussurrando-lhe ao ouvido. – Mas não mudarei de ideia. Portanto, quando se sentir segura e tiver certeza de que é isso que deseja, é só me dizer e… – Case comigo, Jeff. Tomado de surpresa, ele pestanejou várias vezes. Um dos cantos dos lábios se ergueu em um sorriso torto que era só malícia e sensualidade. – Por quê? Darcy ofegou. – Acabou de me dizer que responderia “sim”! – Oh, pode acreditar que direi “sim”, mas você me perguntou por que, portanto também quero saber. Pousando uma das mãos sobre o coração de Jeff e levando a dele ao abdome abaulado, ela anuiu. – Porque o amo. E você me fez acreditar em finais felizes. Portanto, por favor, diga “sim”! – Sim. Duas semanas depois… Com o corpo pesado pela fadiga, Darcy abriu os olhos na penumbra do quarto de hospital para se deparar com a mais preciosa visão de sua vida. O marido, inclinado sobre Garrison Jeffrey Norton, de 3,7kg, fixando a diminuta fralda no lugar, ajeitando a camisa pagão do hospital, segurando- o nos braços e caminhando para se sentar na cadeira ao lado da cama.


Em seguida, inclinando o filho em um ângulo em que ela o pudesse ver, retirou-lhe o gorro de lã, revelando uma massa de cabelos escuros capaz de fazer a do pai parecer domada. – Olhe o que nós fizemos. Pode acreditar nisso? – perguntou ele. – Nossa família – murmurou Darcy. coração parecia flutuar com o amor que sentia pelo precioso presente com o qual foram agraciados. Pelo homem que alternava o olhar entre ela e a criança com tanta adoração, tanto amor que lhe tirava o fôlego. Esticando as mãos para tocar os cabelos sedosos do filho, ela sorriu. – Nosso belo final feliz. Jeff baixou o olhar ao menino com extremo orgulho e, em seguida, brindou-a com um sorriso arrasador, acentuado pela fadiga estampada em cada centímetro da figura alta e imponente. – O primeiro. O que me diz de tentarmos uma menina, com os cabelos parecidos com os seus, da próxima vez? FIM Kel y, Mira Lyn Tradução de: Waking up pregnant CDD: 813 CDU: 821.111(73)-3 PUBLICADO MEDIANTE ACORDO COM HARLEQUIN BOOKS S.A.

Todos os direitos reservados. Proibidos a reprodução, o armazenamento ou a transmissão, no todo ou em parte.

Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com


pessoas vivas ou mortas é mera coincidência.

Título original: WAKING UP PREGNANT Copyright © 2014 by Mira Lyn Sperl Originalmente publicado em 2014 por Mil s & Boon Modern Heat Arte-final de capa: Isabel e Paiva Produção do arquivo ePub: Ranna Studio Editora HR Ltda. Rua Argentina, 171, 4º andar São Cristóvão, Rio de Janeiro, RJ — 20921-380 Contato: virginia.rivera@harlequinbooks.com.br


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