Homenagem ao sambista galhofeiro e contestador, Aluísio Machado, contando as suas histórias.

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REvistA PLUMAs & PAEtês CULtURAL

10ª Edição - março 2019

tiragem: 10.000 exemplares

Circulação Gratuita - venda proibida www.plumasepaetescultural.com.br

/plumaepaetescultural/

PRODUÇÃO:

Diretor Executivo: José Antônio Rodrigues

Jornalista Responsável: tiago Ribeiro (REG.4412/RJ)

REDAÇÃO:

Editor: tiago Ribeiro

Produtor e Projetista Gráfico: Levi Cintra

Revisor: André Camargo (JP.24067-RJ)

Produção e Cobertura de Mídias:Bruno Mariozz, Flávio Nogueira, Gabriel Belino e Rafael Prevot

Textos: André Camargo, Clinton Paz, José Antônio Rodrigues Filho, José Mauricio tavares, Leonardo Antan, Luiz Ricardo Leitão, Rafael Bacelo e tiago Ribeiro.

Fotografias: Acervo UNEsA, Acervo Riotur, Berg silva, Bruno Motta, Cristina Frangelli, Edimar silva, Maickell

Abreu, Marcos Mello, Robson talber, sérgio Lobato e Wigder Frota.

Foto de Capa: Marcos Mello

Figurinos: Marinus Puro Linho

Impressão: MAVI Artes Gráficas

Rua Dr. Garnier 686 Rocha - RJ

CNPJ: 02.822.810/0001-59

Agradecimentos: Baródromo, Dominique Marceau, Jean Claudio santana, Jorge Rodrigues, Mariana Ribas, Marinus Puro Linho, Ricardo Lopes e site Carnavalizados.

todos os direitos reservados. Proibida a reprodução sem autorização prévia e escrita. O conteúdo dos anúncios é de responsabilidade dos respectivos anunciantes. todas as informações e opiniões são de responsabilidade dos respectivos autores, não refletindo a opinião do Plumas & Paetês Cultural.

Pra tudo não se acabar na quarta-feira, assim se passaram 15 anos do Plumas & Paetês Cultural. Utilizando alguns dos mais belos versos, os quais todos nós fomos presenteados no carnaval de 2019, não precisei criar frases mirabolantes para expressar o quanto esta rica cultura popular engrandece às mentes, aos ouvidos e aos corações de uma nação que almeja dias melhores.

Sabedor e consciente dos desafios que se renovam a cada ciclo, raramente me veio o sentimento de desistir dos propósitos e objetivos comuns. Muito pelo contrário. Ao refletir sobre a própria existência e resistência a que este projeto se propõe, não nos limitamos a ser uma simples celebração, mas sim, desde o início, uma busca constante pela preservação e valorização dos artistas da folia.

Diante de todas as adversidades, vaidades encontradas e tensões políticas o Plumas & Paetês Cultural transformou-se, ouvindo as vozes dos heróis dos barracões, o povão que ficou fora da jogada. Motivado por questionamentos que se encontram até hoje sem respostas, dentro deste que é o maior segmento da economia criativa do mundo.

Muitos foram os votos para que continuássemos a nossa trajetória. De boa parte desses qualificados profissionais, que honrosamente tivemos o privilégio de conhecer de perto e perceber no olhar e na fala o quanto são gigantes e capazes de se reinventar mesmo diante de inúmeras dificuldades. É a história que a história não conta, o avesso do mesmo lugar, na luta é que a gente se encontra. Cabe agradecer aos Alexandres, Fábios, Ricardos, Leandros, Edsons, Joãos, Jacks, as Priscillas, Rosas e tantos outros que nos representam e se fazem presente.

Críticas afiadas sempre farão parte diante de toda competição, onde ninguém quer sair perdendo. Mas, com uma pequena mudança na mentalidade, deixando pra lá a individualidade, que ainda faz o concorrente parecer inimigo – quando, ao contrário, deveria ser visto como o grande incentivador capaz de desafiar cada um a crescer, ganhar força e experiência, teremos um cenário muito mais favorável para todos.

Conceitos e preconceitos devem ser reavaliados e muitas vezes extinguidos. O segmento em que a nossa maior festa está inserida exige muita ousadia, diversidade, capacidade de gestão e criatividade, sempre em constante renovação, pois, do contrário, o preço pode ser o fracasso e ou o descrédito. Os desafios são muitos, mas sabemos que nunca é tarde pra sonhar, vamos lá, a hora é essa!

Quem me viu chorar, vai me ver sorrir, pode acreditar, o amor está aqui...

José Antônio Rodrigues Filho

Gestor do Prêmio Plumas & Paetês Cultural

“TALENTO É DOM PRA VENCER. PRECONCEITO NÃO PODE CALAR. FOI
Acompanhe a agenda do Terreirão em nosso site www.rio.rj.gov.br/web/smc
ASCOM SMC CULTURA Programação Nota
o ano inteiro...
do Samba Carnaval 2019 35.907 espectadores a mais que nos dias do Carnaval 2018 15% 128 mil pessoas de janeiro a dezembro 2018
PRECISO ACREDITAR”
Glaucio Burle
10,
Terreirão

Quando o Carnaval carioca desfila seus encantos para plateias de todo o mundo, mais do que enredos, fantasias, alegorias e sambas passam pelas avenidas. inúmeros artistas, produtores e gestores também estão ali desfilando, invisíveis aos olhos do público, formando uma das mais poderosas redes de profissionais de nossa economia criativa.

O mérito e a originalidade do Prêmio Plumas & Paetês estão justamente em voltar os holofotes para esses profissionais, tirando-os da invisibilidade e valorizando seus talentos e técnicas. Artistas de barracões, ateliês, ferrarias, carpintarias e serralherias são alçados ao estrelato, equiparados em arte e importância aos que dançam, tocam, cantam e compõem.

Apoiar o Plumas & Paetês é materializar nossa filosofia de valorizar, antes de tudo, o ser humano que dedica sua vida, energia e história para construir o maior carnaval do planeta e fortalecer o maior patrimônio imaterial desta cidade. Mais do que espetáculo, para a secretaria Municipal de Cultura, o Carnaval e samba são sinônimos de cultura.

| Mensagem |
secretária Municipal de Cultura do Rio de Janeiro

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ALUÍSIO MACHADO S/A

O sambista, galhofeiro e contestador conta sua história e deixa a sua marca

DEU SAMbA!

Miro Ribeiro e os 20 anos do vai dar samba

E VERÁS qUE UM FILHO TEU NÃO FOGE À LUTA, AO SOM DO bUMbUM PATICUMbUM

Aluísio Machado, sambista de fato, rebelde por direito

qUANDO OS DESFILES

ROMPEM A AVENIDA

tradição, espetáculo e diálogo

O ARTISTA NA SUA INTIMIDADE

Conheça Belisário Cunha, o premiado do Plumas como melhor gestor de ateliê 2019

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EdiçõEs antEriorEs

bAIxE O qR READER

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Os MiLLENNiALs E O CARNAvAL O papel da juventude e das novas tecnologias nas escolas de samba

FEstA DE DEBUtANtEs: Conheça a trajetória de alguns dos maiores premiados do Plumas & Paetês Cultural

| Sumário |

Galeria 2018 |

Confira as imagens dos premiados da 14ª edição do Prêmio Plumas & Paetês Cultural em homenagem ao compositor Wilson Moreira. A premiação ocorreu em 28 de abril no Teatro Carlos Gomes, e reuniu os artistas a imprensa especializada e representantes dos segmentos da economia criativa.

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FICHA TÉCNICA:

Fotos: Marcos Mello.

Figurinos: Marinus Puro Linho

Nossos debutantes: Fábio Ricardo, Edson Pereira, Alexandre Lousada, Jack vasconcelos, Rodrigo Negri e Priscilla Motta.

Festa de DEBUTANTES

Em 2019 o Plumas & Paetês chega a sua 15ª edição. Para celebrar, convidamos alguns dos maiores premiados em todo este tempo para compartilhar um pouco das suas trajetórias e entendermos a importância da premiação para os artistas da folia. Alguns recordistas foram selecionados para representar os mais de 933 premiados: os carnavalescos Fábio Ricardo, João vitor, Edson Pereira, Alexandre Lousada e Jack vasconcelos, além do maquiador Jorge Abreu e do casal de coreógrafos Rodrigo Negri e Priscilla Motta.

O primeiro deles é Alexandre Louzada, recordista do prêmio de melhor carnavalesco do Grupo Especial, vencendo em 2006, pela vila isabel, em 2007, pela Beija-Flor, e 2017, pela Mocidade. Ele, que estreou na Portela em 1985, possui seis títulos de campeão do Grupo Especial do Rio de Janeiro e dois em são Paulo. Com uma trajetória de dar inveja, Louzada já trabalhou em dezenas de agremiações, com desfiles marcantes, que lhe renderam mais dois troféus do Plumas & Paetês Cultural: Melhor Figurinista, em 2005, pela Porto da Pedra, e Melhor Pesquisador do Grupo Especial, pelo enredo sobre Portinari, na Mocidade, em 2012.

Entre os carnavalescos da nova geração destacamos Fábio Ricardo, dono de sete troféus do Plumas. sua estreia em nosso palco foi em 2006, como Melhor Figurinista do Grupo Especial, ano em que era assistente de Max Lopes, na Mangueira – parceria que durou oitos anos: “Foi o meu primeiro prêmio no carnaval. Uma surpresa. Nunca tinha imaginado que as pessoas me observavam atrás dos bastidores, então para mim foi um marco, um incentivo para continuar a fazer a arte popular do carnaval”.

Fabinho, como é conhecido, já trabalhou ao lado de outros grandes mestres, como Joãosinho trinta, mas seria em 2008 que sua carreira como carnavalesco começaria, pela Acadêmicos da Rocinha, numa estreia muito premiada: “cada enredo é como filhos que criamos e nos emocionamos. Mesmo aqueles encomendados, patrocinados, amamos do mesmo jeito e o carinho é igual. O primeiro enredo, desfile e filho a gente nunca esquece”, garante o carnavalesco, afirmando que o desfile de 2008 ficará sempre em sua lembrança.

Apaixonado pela arte e pelo carnaval, ele atribui a paixão à presença marcante de sua mãe, que sempre o incentivou – e o levou às lágrimas ao assistir o seu primeiro desfile, em 2008. Fábio Ricardo, que já recebeu os troféus de Melhor Carnavalesco do Grupo Especial, em 2014, pela Grande Rio, e do Acesso, em 2009 e 2010, pela Rocinha, já faturou também os prêmios de Melhor Figurinista do Grupo Especial em 2012 e 2013, pela são Clemente, e Revelação do Carnaval em 2008. Sobre estas homenagens afirma: “Hoje poucos são conscientes em agradecer ao carnavalesco, ao figurinista, ao ferreiro, aos aderecistas, às costureiras. Eles são essenciais, pois sem eles

não fazemos carnaval. Às vezes essas pessoas só querem um ‘muito obrigado’, um aperto de mão, um abraço de coração. Como dizem: a gratidão é o único tesouro dos humildes. Por isso esse reconhecimento feito pelo prêmio Plumas & Paetês é muito importante” Recém contratado pela Paraíso do tuiuti, para o carnaval 2020, João vitor é dono de cinco troféus do Plumas & Paetês Cultural. O carnavalesco, que considera 2017 como seu ano de renascimento, após o sucesso de seu trabalho na Acadêmicos da Rocinha, conta que a premiação é um incentivo para pensar e buscar realizar um trabalho sempre melhor que do ano anterior: “Ganhar o carnaval de 2014 pela viradouro foi uma das melhores sensações da minha vida. Mas retornar à sapucaí desacreditado, em uma escola que passava por uma situação financeira complicada, buscando fazer um carnaval para se manter no grupo, e chegar na hora, deixar toda Avenida boquiaberta, realmente não tem preço. O carnaval de 2017 me emociona até hoje. Foi o meu renascimento em todos os sentidos. Disseram que eu não conseguiria fazer mais nada e eu provei o contrário”.

sua trajetória começou na Portela, no ano 2000, quando entrou num barracão pela primeira vez, aos 15 anos: “Era período de férias escolares e tudo o que eu queria era trabalhar para levantar uma grana extra para comprar os meus livros. Fui levado por um amigo que me disse que a escola estava um pouco atrasada e estava precisando de aderecistas. Eu já era apaixonado por carnaval e já desfilava, mas não fazia ideia de como era feito tudo aquilo que eu admirava”. Depois dessa experiência, João vitor passou cinco carnavais como aderecista na Mangueira, viradouro e Rocinha. Nesta última, sua carreira deu uma grande virada: “passei a exercer a função de carnavalesco da escola mirim da Rocinha (Borboleta Encantada) e a direção artística da ‘escola mãe’ até o início do processo de criação para o carnaval de 2013, que foi o ano do ‘tudo ou nada’ para mim”. Depois de uma experiência frustrada no Grupo Especial, em 2015, pela viradouro, João vitor está de volta à elite da festa já de olho no sexto troféu do Plumas: “O mais bacana disso tudo é que fui premiado em todas as escolas em que eu trabalhei. tenho todos eles expostos na estante do meu escritório. Eu me sinto muito honrado por ter sido premiado cinco vezes. Até hoje me lembro da sensação que senti em todas as edições do Plumas & Paetês de que eu participei. O prêmio é de extrema importância! Essa valorização do profissional que trabalha nos bastidores é necessária, afinal, carnavalesco não trabalha sozinho. Nossa lista de colaboradores é extensa. Quem ganha um ano, quer ganhar sempre! É uma felicidade fazer parte deste ranking luxuoso!”.

Provando que no carnaval não se faz nada sozinho, destacamos agora uma dupla, Priscilla Motta e Rodrigo Negri, pentacampeões

| Capa | Por: André
Camargo
ConheçA A TrAjeTóriA de AlGuns dos MAiores PreMiAdos do PluMAs & PAeTês CulTurAl

da categoria Melhor Coreógrafo do Grupo Especial (2010, 2011, 2012 e 2014, pela Unidos da tijuca, e 2015, pela Grande Rio). Ela começou como componente da comissão de frente da tradição em 2005 e se tornou assistente de coreografia da Unidos da Tijuca no ano seguinte, antes de assumir a abertura da escola. Ele foi assistente na ção em 2005, dançou no salgueiro em 2006, assinou como um dos coreógra fos na Portela em 2007 e só em 2008, na escola tijucana, iniciou a parceria que dura até hoje.

Casados há 12 anos, Rodrigo e Priscilla alcançaram a atenção do grande público em 2010, com a famosa comissão que trocava de rou pas em segundos, no enredo “É do”. A comoção foi tanta que o grupo realizou mais de 300 apresentações extras, no Brasil e em países como Canadá, itália e Angola. Dedicando todos os seus prêmios aos seus bai larinos, o par afirma: “É uma honra pra nós figurar ao lado de tantos artistas competentes e justamente premiados”.

Formado em Belas Artes, o carnavalesco Edson Pereira iniciou sua carreira artística na década de 90, na equipe de cenografia da Rede Globo, onde conheceu Chico Espinosa, que o levou para trabalhar na União da ilha do Governador. Mas seria em 2005 que assinaria seu primeiro carnaval, na Unidos de Padre Miguel. Depois ainda passaria pela União de Jacarepaguá, viradouro, Renascer de Jacarepaguá, Mocidade independente, até chegar na vila isabel, onde já se prepara para o carnaval 2020. “Em todas estas agremiações eu aprendi algo que me enriqueceu como artista e trago um carinho muito grande por esses pavilhões”.

Atual vencedor da categoria Melhor Carnavalesco do Grupo Especial, pela vila isabel, em 2019, Edson possui mais cinco troféus do Plumas: tricampeão como Melhor Carnavalesco do Acesso A, em

2015 e 2017, pela Unidos de Padre Miguel, e em 2018, pela viradouro; Melhor Carnavalesco do Acesso B, em 2008, e Melhor Desenhista do Acesso A, em 2014, ambos pela Unidos de Padre Miguel. Mas lembra que não fez nada disso sozinho: “Aquilo que eu penso para a plástica de um desfile precisa ser executado e o Plumas & Paetês mostra que os profissionais que sonham junto comigo têm talento para levar isso para a Avenida. Quando passo minhas ideias para o papel, preciso de pessoas que caminhem junto comigo e que façam aquilo ser possível. É uma extensão total do meu trabalho e eu não faço nada sem eles. vê-los recebendo prêmios por executarem seus ofícios em prol da minha arte é um reconhecimento muito gratificante”.

Entre estes artistas mais presentes nos bastidores da festa destaca-se Jorge Abreu, pentacampeão do Plumas como Melhor Maquiador Artístico, quatro delas pelo Grupo Especial (2014, 2015, 2016 e 2018) e outra pelo Acesso A (2018), por escolas como viradouro, Estácio de sá, Unidos da tijuca, União da ilha e vila isabel. “sem dúvida esse reconhecimento me trouxe notoriedade e muito mais respeito, principalmente no meio do carnaval, nos bastidores do povo que faz carnaval. isso é de uma importância sem tamanho”, ressalta Jorge, que foi várias vezes considerado um dos cinco melhores maquiadores artísticos do Brasil pelo Prêmio Avon.

Artista plástico de formação, com atuação em vários segmentos como cenografia, adereços e figurinos, Jorge relembra seu início: “Comecei minha vida no carnaval com os concursos de fantasias do Hotel Glória. Daí para a Sapucaí foi um pulo. Através do carnavalesco Jaime Cesário embarquei nas grandes escolas do Grupo Especial e de Acesso”.

Recordista em sua categoria, Jorge Abreu lembra com carinho sua estreia no Plumas: “Acho que foi uma das maiores emoções que eu tive. ser reconhecido pelo meu trabalho, independente de qualquer outra coisa, era um prêmio. Acho que nunca esquecerei

isso” e completa: “O Plumas & Paetês mudou a minha história dentro do carnaval. A visibilidade, a credibilidade no meu trabalho, que foi atestado como um dos melhores, me avalia como um profissional que deve ser respeitado. isso é o que todos buscam em suas áreas de atuação. O prêmio é como se ganhássemos um carimbo de qualidade, de respeito, de credibilidade. São profissionais sendo reconhecidos pela excelência apresentada. Para mim, esse é o maior reconhecimento do nosso trabalho”.

Por fim, mas não menos importante, ele que é o maior premiado da história do Plumas & Paetês Cultural, com o impressionante número de 12 troféus, Jack vasconcelos. Formado na Escola de Belas Artes, fez sua estreia como carnavalesco no império da tijuca, em 2005, pelo então Grupo B. De lá pra cá foi campeão duas vezes no Acesso A (2009 pela União da ilha e 2016 pela tuiuti) e vice-campeão do Grupo Especial em 2018, também pela tuiuti, num desfile histórico.

Recém contratado pela Mocidade para desenvolver o carnaval 2020 sobre a cantora Elza soares, Jack vasconcelos, mostrou ao longo dos 15 anos do Plumas o seu caráter polivalente, sagrando-se vencedor nas categorias Carnavalesco do Grupo Especial, em 2018,

Pesquisador do Grupo Especial, em 2017 e 2018, Pesquisador do Acesso A, em 2010, 2015 e 2016, Figurinista do Acesso A, em 2010, 2014 e 2016, e Desenhista do Acesso A, em 2013, 2015 e 2016. Diante de tantos louros, Jack lembra mesmo é da alegria de estar junto dos seus: “Na mesma premiação tem o carpinteiro que trabalhou comigo, a costureira que eu vi trabalhando desde que eu era assistente, e ver ela subindo no palco recebendo o prêmio é sensacional! É uma premiação que olha pro profissional do barracão e que, muitas vezes, o público não tem acesso àquele nome. Quem faz realmente esse sonho acontecer são esses profissionais e o Plumas nasceu olhando pra eles”.

12 Revista Plumas & Paetês Cultural 2019
ANDRÉ CAMARGO é jornalista, graduado em letras e revisor da revista do prêmio Plumas & Paetês Cultural

Deu Samba!

Quem sintoniza, de segunda a sexta, na rádio 94 FM, às 20h, sabe: toda edição do vai dar samba é iniciada com uma louvação às velhas guardas, aqueles que construíram a história que temos hoje. Da mesma maneira, para falar sobre os 20 anos do programa, nada mais justo do que homenagear aquele que iniciou essa trajetória, o radialista Miro Ribeiro;

Nascido em uma família humilde do subúrbio carioca, moradora de Guadalupe, Abolição e Piedade, Miro é o terceiro de quatro filhos da dona Eunice e Sr. Almiro Barcellos Ribeiro. Ele, que cresceu achando que seria psicólogo - até tentou o vestibular -, acabou cursando Comunicação social. A contragosto, quem diria. Graduado, tomou prazer pela profissão e acabou pós-graduado em Jornalismo Cultural.

A paixão pelo rádio apareceu ainda nos tempos de faculdade, quando foi convidado a participar de um programa radiofônico voltado aos estudantes, onde continuou mesmo após o fim da atração. Em seguida, foi para a Rádio Bandeirantes em um programa chamado Ciranda dos Clubes. Durante este período, ao participar de um concurso na faculdade, conseguiu uma vaga de estágio na então tv tUPi. Lá foi repórter da área de esporte e do jornalismo, mas abdicou da carreira de locutor esportivo, negando o convite de Carlos Lima. seu negócio era mesmo a boemia e o samba.

Dono de uma voz diferenciada, forte e considerada de autoridade, Miro Ribeiro tem feito a festa na radiofonia brasileira, já tendo

passado por quase todas as emissoras do Rio de Janeiro - incluindo algumas comunitárias -, além de atuar como comentarista de carnaval nas tvs Bandeirantes, sBt e CNt. Miro, que foi também locutor da são Clemente, foi convidado pelo radialista Luiz Felipe Melo, então presidente da Rádio Roquette Pinto, para fazer o vai Dar samba, em 1999, e nunca mais deixou o programa.

No início, o vai dar samba ia ao ar apenas nas noites de sábado.

Ao longo dos anos, foi ganhando audiência e mais espaço na programação, em um momento em que o samba não tocava em FM.

O programa passou também pela Rádio Manchete, por oito anos, divulgando o dia-a-dia das agremiações de todos os grupos, bandas, blocos, livros, filmes e tudo o que se refere à cultura do carnaval. Na programação, sambas de enredo, entrevistas com presidentes, diretores, carnavalescos, intérpretes, escultores, aderecistas, famosos e anônimos: um espaço aberto e permanente para o mundo do samba, suas “mumunhas e remandiolas”.

Além de Miro, que também apresenta a cerimônia de premiação do Plumas & Paetês Cultural desde 2010, a equipe do vai dar samba, atualmente, é formada por Paulo Coutinho, Miguel Ângelo e Marcelo Pacífico. Profissionais que, assim como em uma escola de samba, são os responsáveis por manter viva esta cultura.

14 Revista Plumas & Paetês Cultural 2019
Por: rafael Bacelo RAfAel BACelO é sambista e filho de Miro ribeiro Miro Ribeiro e os 20 anos do Vai dar Samba

Por: Tiago ribeiro

Aluísio Machado S/A

o sAMBisTA, GAlhoFeiro e ConTesTAdor ConTA suA hisTóriA e deixA A suA MArCA

Se você chegar na quadra do império serrano e procurar por Alcides Aluísio Machado, ninguém conhece. É o próprio quem diz. Da mesma maneira, se o tal é visto sem o seu chapéu, marca registrada de sua figura, também passa desapercebido. E foi justamente para conhecer mais o homenageado do Plumas & Paetês Cultural 2019, sem deixar passar nenhum detalhe importante, que fomos até a sua casa, para uma boa dose de conversa, regada à cantoria.

Nascido no dia 13 de abril de 1939, em Campos dos Goyta-

cazes, no bairro Guarus, como gosta de frisar, Aluísio Machado é o sétimo e último filho do casal Maria Augusto Machado e Alcides Machado. Ele, mineiro e sanfoneiro. Ela, capixaba e lavadeira. Os dois se conheceram no Espírito santo e rumavam ao Rio de Janeiro quando a gravidez chegou a tal ponto que forçou a pausa na viagem. instalados na cidade, Aluísio veio ao mundo num dia em que Dona Maria levava uma trouxa de roupas para as madames da região. A bolsa estourou e ela acabou dando à luz embaixo de uma árvore.

Mas embora seja grande o carinho pela cidade natal do caçula, a

família só esperou Aluísio crescer um pouco, cerca de um ano, para seguirem para a então capital federal, em busca de melhores oportunidades de trabalho.

No Rio, ele, que é Alcides em homenagem ao pai e Aluísio por sugestão de sua madrinha, fez morada na região de Madureira e bairros próximos, tais como Campinho, Cavalcanti, Ricardo de Albuquerque e Oswaldo Cruz. seria nessa região, ainda na infância, que começaria a brincar de compor, de modo intuitivo, tendo como sua primeira musa inspiradora uma então namoradinha dos tempos do colégio, para a qual escreveu uma canção em formato de bilhete, intitulada “A Carta”.

Com os estudos não teve muito como avançar: “Filho de pobre, 14 anos, fez o primário? carteira de menor e trabalho”. seu pai, pedreiro, queria lhe ensinar o ofício de servente, mas o menino fugia. Acabou como aprendiz de estofador, numa tapeçaria em Copacabana, profissão que lhe rendeu boas histórias, como a que envolvia uma cliente fogosa, que, anos mais tarde, inspiraria a canção “Artifício”, sobre um amor proibido, escondido.

Filho de sanfoneiro numa casa sem nenhum outro músico, foi através do seu irmão, Milton, que conheceu sua inspiração definitiva, o Império Serrano, num tempo em que os desfiles ainda ocorriam na Presidente vargas, com o cortejo cercado por cordas: “Meu irmão desfilava em ala e era um cara que guardava as fantasias de um ano para outro. tudo bonitinho, no plástico. Como a gente tinha o mesmo porte físico, quando chegava o carnaval, ele botava a fantasia nova, eu ia no armário dele e pegava uma roupa do ano anterior. Eu deixava ele ir, depois ia atrás, mas ficava do lado de fora, porque com fantasia velha não podia desfilar. Quando o diretor de harmonia se afastava, eu passava pro lado de dentro da corda. Foi assim que eu comecei”. O ano era 1954, o desfile “O Guarani de Carlos Gomes” e

Aluísio tinha 14 anos.

Enquanto dava os primeiros passos no samba, mudou de emprego, indo trabalhar em uma loja de tecidos na Gomes Freire, Centro do Rio. seria no percurso trabalho-casa que daria um outro passo importante: “Eu estava na Rua da Constituição, em direção à Praça tiradentes pra pegar a condução, quando escutei um ritmo de tambor, atabaque, num sobrado. Um dia eu subi, cheguei lá, era o teatro Popular Brasileiro, de solano trindade. Ele logo me convidou a participar, mas eu disse que não, que eu só tinha ido assistir. Ele insistiu: não quer experimentar? Eu experimentei e gostei da coisa, aprendi muito ali”. No total, Aluísio ficou cerca de dez anos na Cia, se apresentando por todo o brasil, dançando ritmos como congo, maracatu, frevo, cateretê e caxambu, e só não foi para o exterior porque, na época, era menor de idade. Além disso, dançou nos filmes “Rio, 40 graus”, “Orfeu Negro” e “Meus Amores no Rio”. Enquanto conciliava o trabalho na loja e o teatro de solano trindade (saía do serviço entre 17h e 18h, com o ensaio começando às 19h), Aluísio continuava no império serrano. saiu em ala, na bateria (tocando reco-reco, porque, segundo ele, o instrumento mais fácil), e foi passista, antes de escrever sambas para a escola: “Eu já compunha no império, mas pra entrar pra ala de compositores era difícil, porque, no meu tempo, você tinha que fazer um estágio de dois anos pra poder entrar pra ala. Além disso, você tinha que apresentar uma música, o samba de terreiro, que hoje em dia chamam de samba de quadra, mas quadra é lugar de basquete, vôlei, o nome é samba de terreiro”.

| Homenagem |
Fotos: Marcos Mello

Amante do samba, antes de qualquer coisa, aceitaria o convite para ser mestre-sala da imperatriz Leopoldinense, em 1963, quando a escola ainda desfilava no segundo grupo. A ideia partiu de Maurílio da Penha Aparecida e silva, o Bidi, compositor do samba daquele ano, “As três capitais”, que também era fundador do grupo Originais do samba: “ele gostava de me ver dançar. E a imperatriz não era essa que você vê hoje, mas uma escola pequenininha. Pra você ver, o ensaio era no Morro do Alemão, no terreno da casa do Zé Katimba, não tinha nem quadra. Houve uma briga lá com o mestre-sala e o meu compadre me chamou pra eu dançar. Aí saí um ano só”. seria ainda nos anos 1960 que o sambista entraria para a disputada ala dos poetas da serrinha. Desta vez, a musa do seu samba seria vera Lúcia Couto dos santos, segunda colocada no Miss Brasil e terceira no Miss Beleza internacional, em 1964, a mesma que inspirou João Roberto Kelly a fazer a marchinha “Mulata Bossa Nova”: “ela marcou uma visita ao império, que ela gostava muito. Como ninguém pensou em homenageá-la, então eu fiz, sozinho, um boi-com-abóbora, uma água com açúcar. Cantei lá no dia e assim abriram-se as portas pra eu entrar pra ala de compositores”.

O sucesso como compositor no império serrano demoraria um pouco mais a chegar, uma vez que seu ídolo, silas de Oliveira, ganharia todas as disputas de samba de enredo nos anos seguintes, até o final da década. Ao mesmo tempo, com o início de carreira de Aluísio na noite, impulsionada pelo jornalista do Última Hora, Roy Sugar, os horários passaram a conflitar, levando o compositor a ser expulso da ala pelo presidente irani Ferreira: “os compositores tinham que assinar ponto. Quando eu chegava já estava quase no fim do ensaio”. Após a sua saída do império, no início dos anos 1970, por intermédio de um colunista do jornal O dia, o sambista foi apresentado a Martinho da vila, que o aceitou na ala de compositores da vila isabel. Lá, mesmo conseguindo chegar à final da disputa em uma das ocasiões, também não obteve vitória: “eles não me deixavam ganhar, eram muito bairristas. Não é igual agora que ganha gente de tudo que é lugar. E eu como era de fora, fiz vários sambas que, eu sei, tenho autocrítica, podia ganhar”.

Aluísio teria sua primeira composição gravada em 1972, “Gente”, por Miriam Batucada, mas sua carreira começou a deslanchar mesmo em 1974, quando venceu o concurso do programa “A Grande Chance”, de Flávio Cavalcanti, na tv tupi, com a música “Aí Então...”. O produtor do programa, Arthur Faria, o apresentou ao Renato Barros do “Renato e seus Blue Caps”, que produziu o primeiro LP de Aluísio Machado, em 1975, pela CBs, intitulado “Apesar dos Pesares”. O nome não poderia ser mais emblemático: “o cara era de rock, colocou na minha gravação oboé, 16 violinos, Raul de Barros no trombone..., mas eu querendo gravar, fiquei quieto. Poxa, fiquei feliz, mas eu não

sou Emílio santiago. Eu sou mais compositor do que cantor, eu interpreto o que eu canto”.

Neste meio tempo, durante a ditadura militar, seria chamado a prestar esclarecimentos no 1º Batalhão de Polícia do Exército, como subversivo, acusado de cantar músicas de protesto nas “Noitadas de samba” do teatro Opinião. Contestador por natureza, Aluísio abusou das metáforas para manter sua rebeldia, como fez em mais uma de suas canções, “Minha filosofia”: “essa é uma música de protesto, mas pensam que é romântica”.

Nos anos seguintes, seria gravado por grandes nomes como Beth Carvalho e Alcione, em 1981, mesmo ano em que retornaria ao Império Serrano, afinal, “um filho do verde-esperança não foge à luta, vem lutar”. A escola passava por uma de suas maiores crises, seria rebaixada e passaria por novas eleições. O vencedor do pleito, Jamil salomão Maruff, o Jamil Cheiroso, tratou de reunir todos os imperianos afastados, trazendo da vila isabel tanto Aluísio Machado quanto Beto sem Braço: “ele mandou um diretor lá no Bola Preta, onde eu cantava, pra me chamar pro império. Quando chegamos, ficamos de calça curta porque todo mundo já tinha sua parceria. Por sugestão do próprio Jamil, nós formamos uma dupla”. A parceria seria não só a campeã, como o império serrano, mantido na primeira divisão, também: “quando o portão se abriu pra gente entrar na Passarela, o povo já estava cantando”.

O samba, “Bum bum paticumbum prugurundum”, sucesso até hoje – e toque de celular do compositor –, guarda alguns segredos, tais como uma homenagem a silas de Oliveira: “ele era um cara que, antes de fazer a letra do samba-enredo, fazia uma introdução. Então eu pensei: vou fazer desse jeito também porque é bonito”.

Além disso, a letra do samba gerou uma divergência sobre a estrofe final da composição: “o Beto não queria de jeito nenhum que colocasse o verso ‘super escolas de samba s/A...’, porque a gente estava fazendo em cima da Beija-Flor, que vinha com aquelas alegorias grandes e a gente com aqueles carrinhos de pipoca”, mas a rebeldia de Aluísio venceu mais uma vez.

De lá pra cá foram 13 vitórias em disputas de samba enredo no império serrano. Além do célebre “Bum bum”, estão: “Mãe baiana, mãe”, de 1983, “Eu quero”, de 1986, “Com a boca no mundo, quem não se comunica se trumbica”, de 1987, “Jorge Amado, axé Brasil”, de 1989, “império serrano, um ato de amor”, de 1993, “Verás que um filho teu não foge à luta”, de 1996, “Aclamação e coroação do imperador da Pedra do Reino: Ariano suassuna”, de 2002, “E onde houver trevas que se faça a luz”, de 2003, “O império do divino”, de 2006, “ser diferente é normal: o império serrano faz a diferença no carnaval”, de 2007, “A benção, vinícius”, de 2011, e “silas canta serrinha”, de 2016.

Destaca-se entre estes carnavais o de 1989, ano em que iniciou sua segunda grande parceria musical: “o Beto um dia falou ‘tem um cara tocando cavaco - não era nem banjo ainda - e como eu não toco, nem você, chama ele’... aí entrou o Arlindo Cruz pro império, com a minha anuência. E esse foi o primeiro samba que ganhamos juntos”. Além disso, um mês antes do desfile, o mestre-sala do império serrano seria assassinado, levando Aluísio a tomar uma decisão corajosa, rendendo uma de suas maiores emoções na Avenida, dançando ao lado da sua filha, a porta-bandeira Andrea Machado: “Como eu tinha o mesmo porte físico, era mestre-sala nos ensaios, na ausência dos oficiais, e o Império ficou apavorado... então falei ‘eu danço’. Aí entrei no lugar”. Além de Andrea, filha da também porta-bandeira Celina dos santos, do salgueiro, Aluísio tem outros cinco filhos, dez netos e oito bisnetos, dentre eles, tatiana, que dançou pela União da ilha, e o neto Matheus Machado, atual mestre-sala da Lins imperial.

Ao longo destes quase 80 anos de vida, recebeu muitas homenagens e prêmios por sua carreira na música e fora dela. É dono de

seis Estandartes de Ouro, foi Cidadão samba, em 2014, mesmo ano em que recebeu do tribunal marítimo o diploma de bronze pelos 17 anos de serviços prestados. teve sua vida contada no DvD “O famoso Aluísio Machado”, na biografia “Aluísio Machado: sambista de fato, rebelde por direito”, de 2015, e foi tema de enredo do então bloco Coroado de Jacarepaguá, campeão em 2014. Desapegado, doou boa parte de seus troféus: “na minha parede não tinha mais lugar, dei tudo para o Museu do samba. Estou com 79 anos agora, daqui a pouco, meu tempo de validade passa... deixei num bom lugar”.

Gravado por artistas como Zeca Pagodinho, Martinho da vila, Neguinho da Beija-Flor e Dominguinhos do Estácio, em parcerias com Davi Correa, serginho Meriti, Acyr Marques, Nei Lopes, entre outros, Aluísio Machado não para, continua fazendo shows e afirma que a sua melhor música ainda não compôs. Defensor ferrenho do ritmo, afirma que o samba corresponde a 80 ou 90% de um desfile: “Se você tem um bom samba, o jurado fica cego, esquece alegoria, esquece a fantasia...”. Ativo, faz academia e nas ho-

ras vagas gosta de assistir History Channel e namorar. Oposição da atual administração do império serrano, já não disputa samba na sua escola desde antes de a agremiação decidir adaptar a canção “O que é, o que é?”, de Gonzaguinha, para este carnaval. Em 2019, assina o samba da G.R.E.s. Unidos da Barra da tijuca, pelo Grupo E, com o enredo “Eu não sei se você é, mas eu sei que eu sou, Barra da tijuca, meu amor!”.

Legítimo representante da malandragem, poeta do mais alto gabarito, dono de um samba no pé inconfundível, Aluísio Machado traduz em qualquer bate papo o caráter contestador e galhofeiro de sua arte. E se, ao final da entrevista, na hora da foto, trata logo de buscar seu panamá pra colocar na cabeça, nós do Plumas & Paetês Cultural, lhe dedicamos mais uma de suas justas homenagens recebidas, tirando o nosso chapéu.

18 Revista Plumas & Paetês Cultural 2019
TiAGO RiBeiRO é jornalista, doutorando em Artes pela uerj e editor da revista do prêmio Plumas & Paetês Cultural.
19 Revista Plumas & Paetês Cultural 2018

paticumbum

Aluísio MAChAdo, sAMBisTA de FATo, reBelde Por direiTo

Quem vê de longe o seu Alcides Aluísio Machado, o sambista de fato imperiano nascido há quase 80 anos à beira do Rio Paraíba do sul, lá em Campos, não logra imaginar o quanto de arte e fabulação habita aquele personagem. A figura franzina, de expressão ora maliciosa, ora entediada, que se move sempre de um “jeito teatralmente correto”, conforme retratou com raro engenho seu compadre Nei Lopes, guarda na bagagem um currículo que raros artistas do século XXi sonham em exibir.

Por: luiz ricardo leitão mente por conta de uma aventura com uma formosa paulistana, que resultou em enorme dor de cabeça para o libidinoso Aluísio. vale a pena relembrar o causo... tudo começou no concorrido baile do “som de Cristal”, que o campista com manha de carioca quis conhecer para espairecer um pouco – e só terminou na manhã seguinte, com um desfecho digno de comédia pastelão. Ao final do arrasta-pé, o casal foi para o quartinho onde a moça, empregada em um casarão de sampa, se alojava. A madrugada prometia, mas um vizinho xereta flagrou a visita “indesejada” e avisou o dono da casa, um Juiz de Menor em são Paulo – que, obviamente, expulsou os dois pombinhos do ninho...

Para início de conversa, com menos de 18 anos o então aprendiz de estofador iniciou-se na dança com a Companhia de solano trindade, o saudoso ator, poeta e dramaturgo pernambucano. solano, nos anos 50, dirigia o teatro Popular Brasileiro (tPB), difundindo os ritmos do folclore brasileiro ao lado de sua companheira Margarida trindade e do sociólogo Édison Carneiro – e foi com ele que o moleque pé de valsa pôde desenvolver seus dotes de dançarino.

Quem vê o mestre-sala de perto durante suas entradas literalmente coreográficas em cena, logo se dá conta de que, assim como o samba, a dança sempre foi uma paixão avassaladora de Aluísio. Nas aulas ministradas no tPB, ele pôde travar contato com os ritmos mais expressivos da cultura popular brasileira, sobretudo aqueles de forte tradição no Nordeste, terra natal de solano. E, assim, conheceu a fundo uma infinita gama de sons e coreografias, como o bumba-meu-boi, o frevo, o maracatu, o coco, o jongo e o candomblé.

Não fossem as inesperadas presepadas em que o próprio sambista se enredava, ainda bem jovem, seu aprendizado teria sido concluído nos palcos africanos e europeus, onde o grupo de solano, ao final da década de 50, se exibiu em grande estilo. Que o diga a temporada em são Paulo com a companhia, abreviada brusca-

O Brasil e o mundo perderam um dançarino, mas o império serrano e o samba ganharam um de seus maiores compositores. O “vestibular” do calouro se deu enquanto ele prestava serviço militar em um quartel de Campinho. O recruta serelepe arrumava um jeito de driblar a marcação do oficial para não perder os pagodes que os mestres organizavam, como os célebres piqueniques em Paquetá, que o seu império serrano, a Aprendizes de Lucas e a turma do quitandeiro-sambista samuel realizavam uma vez por ano. tempos românticos do samba... Às sete horas da matina, a barca já saía da Praça Xv lotada de bambas, que não paravam de cantar e jogar o “samba duro”, tratando de esquivar-se da pernada que o outro lhe pretendia desferir. Acompanhando a ruidosa caravana, havia ainda um conjunto de baile, que dividia os passageiros em dois grupos: quem gostava de samba ficava de um lado da embarcação; já quem não gostava... Embalados pelo suave balanço das ondas, os músicos seguiam tocando do Rio até Paquetá, onde, ao desembarcar, a turma ia a pé até a Praia da Moreninha, com os instrumentos a todo vapor.

SambiSta De fato, rebelDe por Direito

Cumprido a “quarentena” na caserna, o samba mandou chamá-lo e ele estava pronto para assumir sua missão, mesmo sem vislumbrar àquela época qual seria a trilha mais indicada a tomar. Aos 19 anos, o recruta da batucada apanhava o ônibus 638 (Marechal Hermes – Saens Peña) em Madureira, dava a volta ao mundo pela Zona Norte e descia no ponto final, na Rua General Roca, na Tijuca, para subir o salgueiro, onde dançava de mestre-sala no ensaio de mestre Calça Larga e flertava com as cabrochas de alta linha.

Um compromisso mais sério, porém, logo se sobrepôs. Aluísio enrabichou-se por uma jovem cor de jambo que conheceu no trem, sem saber que a tal Matilde era dama de companhia de Alzira vargas

do Amaral Peixoto, a filha de Getúlio Vargas, casada com outra figura de peso na política nacional, o cacique fluminense Ernâni do Amaral Peixoto. sem dinheiro sequer para o aluguel de uma meia água onde pudesse viver com a futura esposa, o destemido campista não pestanejou e disse sim ao padre. se o casamento não durou quase nada, o presente que a madrinha Alzira pediu ao marido Ernâni foi uma dádiva terrena: um emprego no serviço público, algo que raros sambistas puderam ter na vida.

A partir daí, a carreira do recruta decolou. Ao final dos anos 60 e início dos 70, ele cantava na Churrascaria Belvedere do Méier, no teatro Opinião e em outras casas da Zona sul, entre elas as boates sucata, Degrau, Colt 45 e Cassino Royale. Além disso, Aluísio era atração constante da feijoada do clube Helênico, no Catumbi. E, claro, marcava sempre presença na “Casa de Bamba” da vila isabel, cujo Ala de Compositores o imperiano rebelde integrou depois de se recusar a “bater ponto” nas reuniões da verde e branca da serrinha. Essa veia libertária se tornaria deveras perigosa depois que ele assumiu tons bem “vermelhos” em suas composições. Odiado nos anos 70 pelos militares, a quem seus versos soavam como uma ‘heresia’, o rebelde por direito desconversava, dizendo, com boa dose de picardia, que seu partido era apenas o glorioso partido-alto. Na verdade, desde os tempos da “Noitada de samba” do teatro Opinião, ele tornou-se um cronista da história moderna do Brasil, cantando em seus sambas os “anos de chumbo”, a ambígua “abertura”, o fim da ditadura e a luta pela democracia plena em meio à onda neoliberal nos anos 90.

Para quem desconhece essa faceta de Aluísio, vale a pena conferir uma estrofe do samba “A Humanidade”, mais aguda e didática que muito ensaio sociológico da academia:

Quem tem muito quer ter mais

Quem não tem resta sonhar

Quem não estudou é escravo

De quem pode estudar

Os direitos humanos são iguais

Mas existem as classes sociais

Como diria mestre Nei Lopes, “quem é que disse que a vanguarda do protesto na música popular brasileira foi do rock’n roll?” A aura de subversivo tornou-se ainda mais lendária depois que um soldado, sambista da Portela, o viu entrar no quartel do DOi-CODi, na tijuca (aonde fora tratar de temas do serviço público), mas não o viu sair.

Pronto! Lá em Madureira, o boato de que os militares tinham grampeado Aluísio subiu e desceu os morros, sem que o marrento cidadão fizesse a menor questão de desmentir a prisão.

| Homenagem |
E verás que um filho teu não foge à luta, ao som do bumbum

Do bumbum para o munDo

Já nos tempos da “distensão lenta e gradual”, na virada dos anos 80, os ares ficaram mais leves para o compositor. Em 1981, no histórico LP Na fonte, Beth Carvalho inclui “Escasseia”, música sua em parceria com Beto sem Braço e Zé do Maranhão; e nesse mesmo ano, Alcione registra “Minha filosofia”. Em 1982, Aluísio e Beto despontam para o Brasil e o mundo com a onomatopeia mais famosa dos sambas de enredo (“Bumbum Paticumbum Prugurundum”), denunciando o abandono da gente bamba, engolida pela hipertrofia visual e o gigantismo voraz das agremiações. Entre o lírico e o épico, os versos finais da canção são a súmula do “hino” que até hoje ecoa em nossa memória musical:

Superescolas de Samba S/A

Superalegorias

Escondendo gente bamba

Que covardia!

Após faturar o primeiro dos seis Estandartes de Ouro da carreira, ele seguiu arrepiando corações e mentes com sucessos como “Eu Quero” (1986), que vocalizava as esperanças populares após 21 anos de ditadura. E em 1996, emplacou, em parceria com Arlindo Cruz & Cia (Beto sem Braço falecera três anos antes), outro canto de lírica rebeldia – “E verás que um filho teu não foge à luta” –, samba dedicado ao guerreiro Betinho, “o irmão do Henfil”, cujo refrão marcou época na avenida:

Eu me embalei pra te embalar No balancê, balancear Vem na folia Chegou a hora de mudar O meu Império vem cobrar democracia

Mesmo declarando que não tinha filosofia ou ideologia e que tampouco pensava em “desafiar a política ao compor um samba”, Aluísio sabia que um gênero musical tão genuíno era um “espaço democrático para o registro dos costumes do povo”, conforme ele próprio expressou ao Museu do samba há alguns anos. Eleito Cidadão samba 2014, após uma acirrada disputa com bambas do naipe de Monarco e Nélson sargento, o sambista de fato continua a postos, sob a guarda de um anjo torto, o olhar cúmplice dos orixás e o sorriso carinhoso das musas.

sem dúvida, seu Alcides é mais um baluarte do nosso samba. Do alto dos seus quase 80 anos, ele nos prova que, mesmo bombardeada pelo pastiche sertanejo da mídia e outros gêneros da sociedade de consumo, a boa e velha batucada resiste. Para os mais pessimistas, vale lembrar que “o santo que faz milagre também castiga”; e tudo que dá em abundância, inclusive as pragas mais nefastas – desde o som pasteurizado desta era dita biocibernética até o pau de selfie –, um dia escasseia. Evoé, Aluísio!

Quando os desfiles rompem a Avenida

TrAdição, esPeTáCulo e diáloGo

Desde que nasceram, as escolas de samba então morrendo simbolicamente, gingando entre a tradição e a modernidade. A famosa máxima “no meu tempo era melhor” enche de saudosismo uma manifestação que sempre teve como força o seu poder de negociação. Em seus mais de 80 anos, as escolas de subúrbios distantes e favelas saíram do palco da pequena folia de então ao posto de atração principal da festa carnavalesca, de singelas agremiações a donas de um espetáculo visto pelo mundo inteiro. Da idílica Praça Onze ficou a saudade dos tempos idos, nunca esquecidos, que moldam instituições vivas e mutáveis que souberam muito bem se adaptar as demandas de cada tempo e se reinventarem. Mas até quando?

Em meio a uma crise política e econômica no país, as agremiações carnavalescas sofrem em um cenário que parecia impensável décadas atrás. Acusadas de espetaculares e divorciadas da cidade e da grande massa popular, a tensão do espetáculo segue amedrontando o desfile há décadas. Desde os anos 1960, pelo menos, quando as entidades se aproximaram de profissionais oriundos das artes institucionalizadas, as escolas de samba seguiram um processo de transformação que as transformaram em um espetáculo único no mundo, que reúne diversos saberes artísticos diante de um público amplo e apaixonado.

Foi esse processo, aliando turismo e negócio à lógica da manifestação nascida “popular”, que ajudou a alçar as escolas como principal produto cultural da cidade do Rio de Janeiro. Mas qual foi o preço dessa transformação?

Entre altos e baixos, mais altos que baixos, as escolas vivem nos últimos anos. Os ingressos não vendem mais como antes, não contagiam o povão.... Povão que sempre se interessou pela festa, vide os ensaios técnicos que reuniram enorme público presente nos seus últimos anos. Lugar de disputa e tensão, as escolas são palcos da história da cidade. O Rio é uma cidade com vocação cultural e artística indiscutível e as nossas escolas de samba se fizeram o maior empreendimento inventivo cultural dessa cidade. Mas como reafirmar o valor cultural dessas agremiações? A melhor solução é

realmente vende-las como empresas e produtos simplesmente do turismo?

O carnaval sobrevive hoje em uma lógica empresarial que não se sustentou, que lotou camarotes na sapucaí e fez o público dar as costas para a Avenida, ao som de cantores sertanejos. Os turistas chegam e não levam uma boa experiência da festa, que sofre com atrasos, erros de administração e sérios problemas de infraestrutura. Apesar de espetaculares, as escolas não parecem saber aproveitar isso como deveriam. Poucos se interessam pelos desfiles, pela história da festa, pelo cultural e seus personagens.

As escolas de sambas são arte em estado bruto. Reúnem artistas das mais diversas áreas, entre dança, teatro, música, escultura, pintura e até literatura. seja num enredo, em uma comissão de frente, na bateria, nas alegorias e fantasias, na voz do intérprete e no bailado do casal de mestre-sala e porta-bandeira, uma escola de samba trasnborda arte durante o ano inteiro, em suas quadras e seus barracões.

Valorizar os desfiles das escolas de samba é aumentar seu alcance e público, dialogar com outras instituições, fazendo circular uma produção tão rica artística e culturalmente. seja na literatura, em exposições de artes, filmes e todo tipo de produto cultural. Daí a necessidade de criar selos voltados a publicação de livros sobre a folia, promover exposições e homenagens aos grandes nomes que formaram e definiram as agremiações brasileiras. De levar também essa história e personagem para dentro da academia, onde se pesquisa a fundo nas mais diversas áreas o legado cultural dessa manifestação. O carnaval precisa ocupar novos espaços, reafirmar sua importância como parte da História da Arte brasileira. Ao misturar diversas formas de expressão, as escolas de samba criaram uma linguagem artística única no mundo. A importância de nomes como Rosa Magalhães, Fernando Pinto e Joãosinho trinta se dá além da pista dos desfiles. Faz o país que somos e que queremos ser.

22 Revista Plumas & Paetês Cultural 2019 Revista Plumas & Paetês Cultural 2019 23
| Gestão de Carnaval |
Por: leonardo Antan
luiz RiCARDO leiTãO é escritor e professor associado da uerj doutor em estudos literários pela universidad de la habana (Cuba) leONARDO ANTAN é mestrando em Artes na uerj e um dos diretores do projeto Carnavalize.

Os Millennials e o carnaval

Marcadas por transformações que têm levado a redução de componentes em importantes segmentos, tais como velha-guarda, baianas e compositores, na busca por uma maior renovação, as escolas de samba, atentas a esta nova realidade, já estudam a mudança de seus estatutos, possibilitando assim, a entrada de sócios e componentes mais jovens. A chamada geração Millennials ou Y, nascidos a partir dos anos 80, e, portanto, a primeira criada com facilidades tecnológicas como computadores, internet, smartphones e redes sociais tem sido a energia mais do que necessária para a sobrevivência destas agremiações tão tradicionais da cultura brasileira.

É bem verdade que o papel dessa juventude não é novidade, uma vez que, aquela que é considerada a primeira das escolas de samba, a Deixa Falar, foi fundada por um grupo de

de sAMBA

jovens sambistas, dentre os quais ismael silva, quando este tinha apenas 23 anos. Mas de lá pra cá os desfiles mudaram muito e a cada ano as escolas de samba se esforçam para mostrar algo surpreendente na Avenida, algo que esta geração moderna pode ajudar.

Exemplo dessa fluidez no mundo contemporâneo do carnaval é a criação de sambas de enredo criados por meio do aplicativo WhatsApp. A letra e a própria melodia são construídas com a interação a distância entre os participantes. No máximo um ou dois encontros presenciais são marcados para o refinamento do hino que será cantado por quase quatro mil componentes na Avenida. Outra grande mudança nas Escolas de samba está acontecendo nas posições de liderança e gestão. Como exemplos de Escolas de samba que concentram em suas posições estratégicas jovens da geração Millennials estão a Unidos do viradouro, a Mocidade independente de

Padre Miguel e a Beija-Flor de Nilópolis. Nos três casos os jovens Millennials são descendentes de fundadores e de familiares que frequentam as agremiações carnavalescas. E os resultados não demoraram a aparecer. Campeã em 1997 com um dos desfiles mais marcantes da história do carnaval, “trevas! Luz! A explosão do universo”, de autoria do revolucionário Joãosinho trinta, a Unidos do viradouro viveu nos últimos nove anos um sobe e desce constante, mas a vontade de acertar sempre foi um objetivo a ser atingido. Com inovação e ousadia, características típicas dos Millennials, a Unidos do viradouro conectou-se rapidamente as novas gerações, investindo em carnavalescos como João vitor, Jorge Silveira e Edson Pereira, profissionais contemporâneos da era digital que são considerados pela crítica especializada como a geração substituta de nomes como Rosa Magalhães, Renato Lage e Max Lopes. Marcelo Calil, atual presidente da agremiação, e a vice, susie Bessil, enfatizaram após assumirem a Escola que “é importante mostrar a beleza e a grandeza do carnaval, mas isso tem que ser fruto de uma estrutura interna, focando no fortalecimento do todo”. É a lógica do empreendedorismo na busca do crescimento a longo prazo, e que, pelo jeito vem dando certo.

Na Mocidade independente de Padre Miguel a história não foi diferente. Com um passado de títulos nos anos 80 e 90, a escola ficou um longo período sem figurar entre as campeãs, mas em 2017 foi alçada ao título de campeã, junto com a Portela. O seu “Aladim” sobrevoando a Marques de sapucaí, acoplado a um drone, mostrou que tradição, ousadia e tec-

nologia podem caminhar juntas e atender as expectativas do público que também mudou, como apontou Rodrigo Pacheco, vice-presidente da Mocidade, logo após o desfile de 2017.

Na Beija-Flor, a entrada de Gabriel David, de 20 anos, causou um certo alvoroço no mundo do samba. Muitos se perguntavam como um jovem poderia comandar uma das Escolas de samba mais consagradas do carnaval. A resposta também veio em forma de título no ano de 2018 e o discurso adotado a partir de então dentro da agremiação é deixar a Beija-Flor mais “leve” e conectada com a atualidade na forma de apresentação, buscando assim uma comunicação mais assertiva com o público.

Claro que essa relação nem sempre é tranquila, mas já existe uma consciência de ambas as gerações sobre o resultado positivo e agregador para as Escolas de samba. Em levantamento realizado pelo Plumas & Paetês Cultural em 2018, verificou-se que a presença dos jovens Millennials já é uma realidade na chamada “periferia do samba” que reúne os desfiles de agremiações na Intendente Magalhães. Em menos de cinco anos surgiram cinco novas agremiações carnavalescas, a Unidos da Barra da tijuca, a imperadores Rubro Negros, a Coração Glorioso, a Guerreiros de Jacarepaguá e a Unidos de Queimados, além de uma associação cultural, a Amigos do samba. todas com jovens presidentes, diretores de carnaval e carnavalescos, ajudando-nos a crer que o samba agoniza, mas não morre.

JOsÉ MAuRiCiO TAvARes é historiador com especialização em arte, cultura, figurino e carnaval

24 Revista Plumas & Paetês Cultural 2019
Por: josé Maurício Tavares
o PAPel dA juvenTude e dAs novAs TeCnoloGiAs nAs esColAs
| Gestão de Carnaval |

O

Artista na sua intimidade

ConheçA BelisáRiO CuNhA, o PReMiAdo do PluMAs CoMo Melhor

GesTor de ATeliê 2019

Belisário Cunha é, hoje, um dos grandes nomes do carnaval carioca e com fama internacional. Com quase 30 anos de serviços prestados à folia, conhecido por vestir grandes musas, este carioca, nascido no Méier, abriu o seu coração e ateliê para conversar sobre sua vida, profissão e seu papel como gestor.

Ex-servente de caminhão, bailarino na casa de show Regine’s e manequim em eventos e programas de auditório, como o de Flávio Cavalcante, Belisário Cunha passou por uma mudança brusca de atividade quando começou a trabalhar

em lojas de tecidos como as famosas Casa Luiz e Casa Costa. A partir daí a migração para o corte e costura do carnaval foi um pulo. sua estreia se deu em 1991, reproduzindo fantasias de passistas, através do carnavalesco Max Lopes, então na Unidos do viradouro. Não parou mais. No ano seguinte foi para o salgueiro, onde permanece até hoje.

Contabilizando inúmeros grandes trabalhos ao longo desses 28 anos, o Gestor de Ateliê premiado pelo Plumas em 2019 relembra alguns dos seus momentos de realização e êxtase profissional, quando pôde conhecer de perto e produzir figurinos para estrelas como Sabrina Sato – então musa do salgueiro, fazendo suas fantasias por três anos – as rainhas de bateria Carol Castro e Luana Piovani, e a cantora internacional Beyoncé, quando veio ao Rio gravar um clipe com Alicia Keys, em 2010. sem falar no prazer em poder contribuir para a realização de sonhos dos carnavalescos e ver a alegria de cada folião, na Marquês de sapucaí.

Rodeado de profissionais/amigos, como o ferreiro Júnior, a costureira Marilena e a aderecista simone, que o acompanham há cerca de duas décadas, Belisário é consciente do seu papel de responsável pelo orçamento familiar dos vários artistas que emprega, direta e indiretamente, no período que

| Gestão de Carnaval | Por: Clinton Paz

branco pelo Plumas & Paetês Cultural. Ele, que estreou em 2018 a categoria Melhor Estilista do Grupo Especial, já foi, também, de certa maneira, premiado nas três ocasiões em que Maria Helena Cadar venceu os prêmios de Melhor Destaque de Luxo Feminino do Grupo Especial em 2013, 2014 e 2018, uma vez que é o responsável por materializar, há 16 anos, suas deslumbrantes fantasias. Porque um artista que sabe valorizar a sua equipe e aparece no carnaval através de suas criações, também merece a luz dos holofotes.

CliNTON PAz é mestre em história pela uFrj e jornalista

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