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Rostos da “Villa Urbana” em livro pela mão de Marisa Silva

Uma fotografia da Associação do Porto de Paralisia Cerebral, em dias em que ainda não havia isolamento social, um cartaz da Unidade Residencial “Villa Urbana” de Valbom e a inspiração da ilustradora Marisa Silva foram o ponto de partida para uma pequena produção artística levada a cabo na instituição que tem residências em Gondomar, no distrito do Porto, dedicadas à paralisia cerebral. “Há uns anos, por intermédio de uma amiga voluntária [Glória Rodrigues] fiquei a conhecer a Associação do Porto de Paralisia Cerebral (APPC). E foi na ‘Villa Urbana’ de Valbom, entre muitas conversas que me marcaram, que recebi uma verdadeira lição de vida da Elisabete Cunha”, descreve a ilustradora Marisa Silva, contando que depois disso manteve a “amizade” com a APPC e começou a nascer a vontade de um dia poder colaborar em projetos da instituição. “Recentemente vi uma fotografia da Elisabete e lembrei-me de vos oferecer isto. Espero que gostem!”, foi a mensagem enviada pelas redes sociais. O isto é um livro de ilustrações que retrata todos os residentes da ‘Villa Urbana’. O “Estes somos nós” dá a conhecer, conforme se lê na introdução, “a cores mas sem filtros, com expressões, sentimentos e formas de estar”, quem vive unidade residencial da APPC em Valbom, Gondomar. “Estes somos nós. E é assim que todos nos conhecem, com virtudes e defeitos. Nos últimos meses, em confinamento, tivemos que nos redescobrir. Conhecemos ainda mais de nós... Sabemos há muitos anos o que é viver em confinamento – mas um confinamento muito específico, que às vezes nos faz sentir prisioneiros. Voar... Era nosso sonho poder “voar”. Estas fotografias são nossas (e feitas por colaboradores da APPC, amigos e familiares). São perfeitas? Não, tal como nós. Bom... Tal como todos vós! Nas páginas deste livro outra pessoa terá a responsabilidade de nos fazer “voar” (ilustrando os nossos pensamentos e quem somos). Porque estes, sem filtros, somos nós”, termina a introdução. Marisa Silva é arquiteta, designer, ilustradora, fotógrafa, decoradora e entusiasta de “DIY” – “faça você mesmo”. Como criadora de conteúdos no âmbito da moda, decoração e reutilização, colabora com várias publicações. É coautora, com Nuno Markl, do projeto “Páginas Rejeitadas” e ilustradora do livro “Páginas de livros infantis rejeitadas” e diretora artística do grupo de teatro “Sururus”. “Quem vive com Paralisia Cerebral é, por norma, uma pessoa socialmente confinada. Não o somos todos, admito, mas muitos daqueles que conhecem esta realidade já estão habituados a algum isolamento, a algum confinamento e a muitas limitações. Assim sendo, estes últimos meses não foram, para muitos de nós [pessoas com paralisia cerebral], uma total surpresa”, refere, a propósito deste projeto, o presidente da APPC, Abílio Cunha. O dirigente conta que “tudo aconteceu de forma muito súbita”: “Em finais de fevereiro, início de março, saltava para as bocas do mundo a covid-19 e a pandemia. Quase todos foram, mais ou menos, apanhados de surpresa. Afinal o mundo e a nossa realidade – com tudo de bom e de mau que têm – não seria um coisa assim tão linear e simples. Parece que foi ontem... E já lá vão oito meses. Foram uns primeiros dias complicados, de alguma revolta. Da unidade residencial ‘Villa Urbana’ de Valbom alguns moradores transmitiam-me descontentamento e surpresa. Custava-lhes aceitar que se estavam a criar ainda mais barreiras à vida diária. Primeiro estranhou-se. Com o tempo, e com a presença constante nas notícias, o assunto entranhou-se. Estas são imagens [fotografias da APPC e ilustrações de Marisa Silva] que retratam o tal de ‘novo normal’ dos últimos meses. São imagens que, depressa, gostava(mos) que fossem apenas uma memória”.

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