EDITORIAL
É
com muita satisfação que apresentamos a primeira edição da Revista -HIV+, com os projetos das Organizações da Sociedade Civil (OSC) financiados pelo Programa Municipal de DST/Aids da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo, através da seleção pública de 2010.
A resposta organizada à epidemia é fruto de vários movimentos no país, em busca não só de saúde, mas também de democracia e de respeito aos direitos humanos. As organizações comunitárias vêm ampliando o seu leque de ação e a sua capacidade de acompanhar o avanço da política, com monitoramento, parcerias e muito trabalho conjunto em meio às adversidades. O enfrentamento da epidemia de aids na cidade de São Paulo reúne, ao longo do tempo, atores que se organizam na busca da institucionalização das políticas públicas capazes de responder às necessidades da população que chega ao Sistema Único de Saúde. Parte considerável desse enfrentamento é representada pelas OSC. No processo, somaram-se esforços, aglutinaram-se pessoas e ampliou-se o conhecimento para a implantação da política de DST/aids no município de São Paulo. Com os recursos destinados pela Portaria GM/MS nº 2313/02, a Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo, por meio do PM DST/Aids, lançou, em 2010, a primeira Seleção Pública para Financiamento de Projetos de Ação Comunitária a serem executados por OSC sem fins lucrativos. Os projetos aprovados nessa primeira seleção foram concluídos no primeiro semestre de 2013. Essa foi uma importante medida para a efetivação e consolidação da política pública de saúde destinada ao enfrentamento das DST, HIV e aids no município de São Paulo: ampliou o leque de ações por meio de parcerias intersetoriais, fortaleceu a resposta social à epidemia de aids e colaborou para reduzir a discriminação e o preconceito contra aqueles que vivem com HIV/aids e demais populações vulneráveis.
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No município de São Paulo, os 21 projetos que compuseram o processo mais recente de seleção procuraram atender cada sujeito que busca orientação ou apoio para a garantia de seus direitos. Essas são questões centrais para edificar políticas de prevenção e de tratamento, tão necessárias, que demandam articulação constante e interlocução diária. A participação popular e o controle social das ações desenvolvidas “in loco”, e também da política macroinstitucional, compõem a resposta ampliada à epidemia, na perspectiva dos direitos humanos. Nada disso seria possível sem o trabalho desenvolvido continuadamente pelas organizações não governamentais em seu tempo e espaço. A importância desse trabalho pode ser visualizada em cada uma das ações aqui registradas.
José de Filippi Junior Secretário Municipal da Saúde
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ASSOCIAÇÃO CIVIL ANIMA
PROJETO AMPLIAÇÃO DO ESPAÇO PSICOPEDAGÓGICO ANIMA
Projeto promove integração entre jovens vivendo e convivendo com HIV
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m um grupo de jovens vivendo com HIV, um adolescente de 14 anos conta aos demais que entrou para a “gangue do mal” da escola para não descobrirem sua sorologia. Embora não fosse alvo de nenhuma desconfiança, para ele a aids era seu ponto fraco e, em seu raciocínio, depredando ou praticando bullying com a “gangue” estaria protegido. Em seguida, um jovem de 19 anos diz que precisa de um “manual de sobrevivência” na escola para se proteger do preconceito. A gargalhada é geral. Naquele momento, porém, nascia o Manual de SobrevHIVência.
Produzido por adolescentes e jovens vivendo e convivendo com HIV, com jovens em liberdade assistida – os grupos assistidos pelo Projeto ANIMA Jovem –, o livro discute questões típicas da adolescência e juventude e apresenta informações e dicas para dar suporte a jovens soropositivos na integração à rotina escolar e na adesão
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ao tratamento com os medicamentos antirretrovirais. “O jovem tem muitas ideias, é muito rápido. O livro surgiu no grupo frequentado apenas por portadores e discute as questões relacionadas à doença e à adolescência, o que é ser jovem com HIV. A ideia foi levada ao grupo maior, de portadores e não portadores. Ao final, 13 jovens engajaram-se na elaboração do livro”, conta a psicopedagoga Renata Godinho Brandoli, diretora da Associação Civil ANIMA e organizadora da publicação. O grupo de jovens vivendo com HIV é uma das atividades do Projeto ANIMA Jovem. O nome inicial do projeto era “Ampliação do Espaço Psicopedagógico ANIMA”, mas foi mudado no decor-
“O grupo, frequentado apenas por portadores, discute as questões relacionadas à doença e à adolescência, o que é ser jovem com HIV” rer de sua execução. “Eles achavam o nome muito formal”, explica Renata. “O projeto é um refinanciamento, uma ampliação. Eles vêm para cá uma vez por semana para as oficinas de informática, de leitura e escrita, para a roda de conversa ‘Pensamento Crítico’ e para o teatro. Em cada uma das oficinas é debatido um tema que eles escolhem: violência doméstica, drogas, álcool e sexualidade, por exemplo. O tema da aids é nosso, não tem muita escolha”, conta Rodney Marques, coordenador do projeto. Renata conta que, numa oficina de informática, os jovens assistiram às campanhas de prevenção de aids produzidas desde o final dos anos 80. “Não ensinamos apenas a utilizar o computador, mas apresentamos o que se pode fazer com a máquina, seja um vídeo, uma matéria, ou um cartaz para uma atividade.”
tórias bem humoradas, escritas pelos próprios adolescentes, sobre namoro, sexualidade, gravidez, saúde e prevenção de doenças. A peça foi apresentada durante todo o mês de agosto nos Centros Educacionais Unificados (CEU) do Butantã, Guaianazes e Paraisópolis, e nas bibliotecas públicas de Santo Amaro, Perus, Tatuapé, Vila Maria, Guaianazes e Jardim Parque Morumbi e foi vista por mais de 1.500 pessoas. “Agora, o objetivo do grupo é produzir mais espetáculos experimentais, que aprofundem os temas da diversidade, sexualidade na adolescência e prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e aids”, conta Rodney.
drome é visível são dois jovens portadores de síndrome de Down, também eles plenamente integrados ao grupo. Periodicamente, o grupo recebe novos integrantes; a rotatividade maior de atendidos está entre os que cumprem medidas socioeducativas. Em dois anos, o Projeto ANIMA Jovem atendeu a 180 adolescentes e jovens mensalmente e ampliou o espaço psicopedagógico.
Uma peculiaridade dos adolescentes e jovens com HIV atendidos pelo ANIMA: todos foram infectados no nascimento. Hoje, alguns têm mais de 20 anos de idade. “O sigilo aqui é garantido o tempo todo”, Renata salienta. “Na roda de conversa ‘Pensamento Crítico’ discutimos muito a questão do sigilo. Se alguém quiser falar que é soropositivo, homossexual, que mora num abrigo ou está em liberdade assistida, só vai dizer se estiver à vontade para isso”. Ela conta que o jovem encaminhado à organização para cumprir medidas socioeducativas“ muitas vezes chega até mais fragilizado do que o soropositivo”.
Na transversalidade do tema aids, a organização também tem identificado casos de abuso sexual. “As crianças normalmente falam quando são abusadas”, conta Renata. “Nós gravamos o depoimento da criança e levamos à Delegacia de Polícia, ao Conselho Tutelar, à Vara da Infância, vamos às últimas consequências.” Um desses casos foi parar na televisão e o abusador foi processado, condenado e continua preso. Entre os mais jovens, normalmente os que vivem em abrigos foram sexualmente abusados, casos em que o processo judicial foi concluído. “Nossa responsabilidade é trabalhar com a ferida que ficou naquele jovem ser humano”, finaliza Renata.
Por isso, a integração é outro tema central para a organização. “Nós promovemos a integração de jovens portadores e não portadores do HIV. Quando vêm para cá, os não portadores já sabem que conviverão com soropositivos”, explica. Mas os únicos participantes cuja sín-
ANIMA Associação Civil ANIMA Projeto Ampliação do Espaço Psicopedagógico – ANIMA Jovem
População Prioritária
99 Crianças, adolescentes e jovens vivendo com HIV e Aids 99 Pessoas em situação de pobreza
Área de Atuação
99 Promoção e Prevenção
Foi também com o objetivo de abordar o tema da prevenção que surgiu o Grupo Teatranima e a criação coletiva Um Clique para a Vida, uma colagem de his-
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ASSOCIAÇÃO SAÚDE DA FAMÍLIA
“A diferença é a formação desses idosos para serem protagonistas na prevenção. É o idoso falando com o idoso”
PROJETO AGENTES IDOSOS DE PREVENÇÃO
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Projeto capacita idosos para prevenção na terceira idade
Programa de Acompanhamento de Idosos da Associação Saúde da Família acendeu a luz vermelha. “Preocupados com o aumento de casos de aids em pessoas idosas, percebemos a necessidade de trabalhar a sexualidade dessa faixa etária”, conta a gerontóloga Vanilda Martiniano de Souza, coordenadora do projeto. Em 2010, o Projeto Agentes Idosos de Prevenção recebeu o Prêmio Talentos da Maturidade, conferido por um banco, na categoria Programas Exemplares. O projeto capacitou idosos para falar com outros idosos sobre prevenção às DST e ao HIV. “A diferença é a formação dessas pessoas para serem protagonistas na prevenção. É o idoso falando com o idoso. ”Segundo Vanilda, a vantagem de se trabalhar entre pares é a acessibilidade da linguagem, afinal, cada geração tem o seu vocabulário. “Procuramos idosos atuantes em suas comunidades; entramos em contato com o Conselho do Idoso para encontrar pessoas que tivessem capacidade de ir às comunidades para
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conversar com seus pares”, relata a coordenadora, sobre o recrutamento de pessoas idosas interessadas na proposta. Iniciado com um curso de formação de seis meses em São Miguel Paulista, na zona leste de São Paulo, os participantes foram capacitados a falar de prevenção de doenças sexualmente transmissíveis (DST) e HIV/aids, questões de gênero e diversidade sexual, mitos do envelhecimento e comunicação para suas abordagens entre pares. Também receberam instrução especial para orientar e incentivar a realização de testes para a detecção de HIV, sífilis, hepatites B e C, além da realização periódica de exames ginecológico, Papanicolau, PSA e próstata. Meses depois, outra capacitação semelhante foi ministrada na zona norte, para onde o projeto foi expandido. “Eles trabalharam em duplas e mapearam núcleos de convivência, bailes, enfim, onde se pudessem encontrar idosos”, explica Vanilda. “Nesses espaços, ministraram oficinas de prevenção às DST e aids. Com o apoio de um modelo pélvico e um pênis de silicone, eles explicaram como usar os preservativos masculino e feminino e o gel lubrificante também para mulheres, porque depois da menopausa elas ficam mais
ressecadas e têm mais dificuldade na relação sexual. Isso é uma vitória do projeto, que conseguiu junto à Secretaria a disponibilização de gel também para mulheres”, acrescenta. Nos bailes, no entanto, não eram ministradas oficinas de prevenção. “Há uma quantidade muito grande de idosos nesses bailes e eles estão lá com outros objetivos. Por isso, nesses espaços foi feita apenas uma sensibilização ao tema com distribuição de preservativos e de material informativo.”
Para Vanilda, enquanto coordenadora do projeto, a surpresa foi a recepção obtida dos núcleos religiosos de idosos. “Tendemos a achar que, por serem mais velhas, as pessoas na terceira idade têm mais dificuldade em falar de temas tabus.” “Tendo em vista que entre 2000 e 2010 o número de idosos com aids aumentou 150%, acho que a grande importância do projeto foi visibilizar o aumento da aids nessa população”, conclui.
Além dos grupos para convivência de idosos, os agentes de prevenção foram além da demarcação etária do projeto depois que começaram a receber convites para falar em albergues, em garagens de ônibus e nos restaurantes Bom Prato. “Eles ampliaram esses locais.” Outra surpresa foi a parceria estabelecida com templos e igrejas. “Nós pensávamos que teríamos dificuldades para acessar os núcleos de convivência de idosos alocados em templos e igrejas, mas os religiosos foram bem abertos”, relata Vanilda, que ressalta a distribuição de preservativos nos núcleos de convivência religiosa. A ampliação do projeto também foi sentida nos números. O objetivo era acessar duas mil pessoas e foram alcançadas 6.192 pessoas; 1276 receberam encaminhamento para fazer o teste de HIV. Em 2010 foram capacitados 28 agentes de prevenção, que formaram 14 duplas. Ao final do projeto permaneciam cinco duplas de agentes. As mais de seis mil pessoas acessadas receberam, além de preservativos e gel, um panfleto com os endereços de todos os Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA) do município de São Paulo. “Todas foram encaminhadas”, considera Vanilda.
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Associação Saúde da Família Projeto Agentes Idosos de Prevenção
População Prioritária
99 Mulheres e Homens em contexto de vulnerabilidade
Área de Atuação
99 Promoção e Prevenção
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INSTITUTO CULTURAL BARONG
PROJETO SAÚDE SEXUAL E REPRODUTIVA, CAMINHOS SEGUROS
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Trabalhar em conjunto é o segredo do caminho seguro everina chega diante do prédio de 13 andares na avenida São João com as sacolas lotadas da xepa do Mercado Municipal. Passa acuada pelos policiais que esperam decisão liminar para desocupar – ou não – o edifício. Respira fundo e enfrenta centenas de degraus, cruzando com outras mulheres, homens e crianças, enquanto mais uma assembleia acontece no segundo andar. Ainda que o endereço seja mantido, há outros desafios. Tomar banho vai ser difícil, porque são 30 famílias para um banheiro e a água pode ser cortada. E mesmo que corra tudo bem, será que o marido vai forçar o sexo ou agredi-la?
Esses poucos minutos resumem o que os técnicos do Barong encontraram nessa Galera Livre da São João e em outras três ocupações (Rua das Palmeiras, Consolação e Ipiranga), quando começaram a desenvolver com os sem-teto o Projeto Saúde Sexual e Reprodutiva, Caminhos Seguros, cujo objetivo é a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis (DST), HIV/aids, hepatites, tuberculose e uso abusivo de substâncias lícitas e ilícitas. Um grande desafio, porque nada ali é ortodoxo. “Hoje vamos desenvolver oficina de sexo seguro? Não, primeiro vamos ver quem foi preso e vamos à assembleia para, só depois, fazer o que pretendíamos”, aprende e ensina Marcelo Peixoto, coordenador dessa ação no projeto. E assim será com outras populações atendidas pelo Barong: artesãos de escola de samba, adolescentes que cometeram delitos, mulheres beneficiárias do Programa Bolsa Família, homens. Diferentes populações, distintas estratégias, resultados surpreendentes. O segredo do caminho seguro, para o Barong, é mesmo pensar e desenvolver ações em conjunto. No caso dos sem-teto, a história tem recomeço, com apoio de técnicas como massagem, teatro e aconselhamento individual. “O maior resultado é o equilíbrio emocional entre casais. Não é chegar, jantar, usar o banheiro, dar uns tapas e fazer sexo com a mulher. Ela é parceira. É aprender que a vida pode não ser violenta, pode ser afetiva. Que é possível ouvir, discutir e não brigar, inclusive nas assembleias. E aí dá para transar melhor, prevenir-se e evitar gravidez, fazer exame e, se estiver doente, não ser excluído como antes. Lutamos por saúde afetiva, saúde mental, mais do que sexual”, afirma Marcelo. Já no Grêmio Recreativo Escola de Samba Tom Maior, na Barra Funda, uma coincidência favoreceu o projeto: o enredo de 2013 sobre sexualidade. As oficinas de prevenção aconteciam durante a produção do desfile, entre aderecistas, costureiras, pessoal de cenografia e figurino, no meio de purpurina e isopor. “Um dia, ao lado do carro alegórico do Kama Sutra, a gente falava de sexo seguro, com apoio de vídeos sobre prevenção e álbum seriado”, conta Marta McBritton, presidente do Barong. Esse ambiente excitante, com esculturas de mulheres e homens nus, também anima para o sexo e a masturbação. A parceria com a empresa DKT facilitou a distribuição de preservativos e a introdução do marketing social. Alguns integrantes foram encaminhados para tratamento, como um homem com hepatite C e um jovem com gonorreia. “Despertamos naquela população os cuidados, o conhecimento dos postos de saúde para se tratar”, garante Marta. Na Associação Novo Olhar, na Bela Vista, o Serviço de Assistência Social à Família e Proteção Social Básica atende 360 famílias, incluindo cursos profissionalizantes. Lá o Barong atuou junto a técnicos e frequentadores,
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“A gente falava de prevenção entre os adereços de carnaval” a grande maioria de beneficiárias da Bolsa Família. A rotatividade é alta, porque os cursos de manicure e costureira ajudam as mulheres a conseguir emprego. É destaque a presença de homens em oficinas sobre sexualidade. “Então é sobre isso que nossas mulheres conversam aqui”, constata um estreante. Em outra instituição, a Sociedade Santos Mártires, que acessa a população do Jardim Ângela e adjacências, o Barong qualifica o Serviço de Medida Socioeducativa em Meio Aberto. Adolescentes que passaram pela Fundação Casa sentem que o pior já passou, querem viver tudo, usam drogas, transam sem camisinha. O fato de terem sido humilhados na fundação tem consequências. Precisam “desconstruir a sombra de que são apenas adolescentes que cometeram delitos e foram pegos”, explica a educadora Claudia Barros. Assim, as oficinas não são apenas sobre sexualidade, prevenção de DST/aids e de gravidez, gênero, orientação sexual – também há meninas, gays e travestis –, mas incluem pedofilia e abuso. “Como tratar de um menino que foi abusado e acabou na fundação porque também abusou?”, pergunta Claudia. E responde: “É dar atenção, informação, sem julgar. Não vou dizer para não usar a droga, mas informar a consequência”. Alguns entendem que cuidar de si e usar preservativo é uma escolha, uma adesão. O trabalho em saúde e prevenção estende-se a eles, assim como aos pais. Com os homens é mais difícil, há resistência a se falar de urologista ou de camisinha.
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Já no Centro da Criança e do Adolescente Raio de Sol, também em Capão Redondo, um adolescente de 12 anos era considerado portador de transtorno mental. “Mas descobrimos que não era isso e, sim, consequências do abuso que sofria do próprio pai desde os oito anos”, relata Claudia. “Levei isso para a coordenadora. A gente conversou, ele chorou, eu me segurei. Não somos salvadores da pátria, mas se o projeto não contemplasse demandas não previstas, o que seria dele? Hoje, esse menino está fazendo terapia, a mãe também, o pai, sendo processado. E sempre que ele me vê, diz: ‘Tia, Caminhos Seguros, hein? Não pode ir embora daqui não’. De alguma forma, surgiu um caminho seguro para ele”.
BARONG Instituto Cultural Barong Projeto Saúde Sexual e Reprodutiva, Caminhos Seguros
População Prioritária
99 Pessoas em situação de pobreza 99 Pessoas em situação de rua
Área de Atuação
99 Promoção e Prevenção 99 Promoção de Direitos Humanos
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CAF – CASA FILADÉLFIA
PROJETO MEU CORPO, MEU BEM
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Projeto desmitifica histórias de aids e abuso sexual
Quer uma balinha?” A pergunta está no imaginário da população. Mas, se nem sempre uma bala é oferecida, pelo menos nesse imaginário, tem-se dessa situação uma criança sexualmente abusada.O retrato da realidade, porém, foi pior. A nova administração de um abrigo de menores identificou crianças com HIV infectadas não por transmissão vertical, mas por abuso sexual. “Ali surgiu a necessidade de trabalharmos essa questão. Com o apoio de parceiros, integrantes da equipe do abrigo foram pesquisar e fazer cursos fora do país. Depois, criamos uma metodologia usando a arte-educação e elaboramos um projeto-piloto que deu certo com as crianças do abrigo”, conta a biomédica Regina Trabachini, sobre o início do Projeto Meu Corpo, Meu Bem, da Casa Filadélfia (CAF). A metodologia criada pela equipe multidisciplinar foi baseada em cinco pilares: “conhecer”, “apreciar”, “cuidar”, “respeitar” e “proteger”. Na arte-educação, segundo Re-
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gina, a ênfase foi dada à cultura brasileira, por conta do perfil dos assistidos pela CAF, cuja expressiva maioria é de nordestinos. “Foi uma forma de nos aproximarmos da população pela cultura”, justifica. Depois, o projeto foi desenvolvido nas escolas frequentadas pelas crianças do abrigo. Levado às escolas para acessar os adolescentes, a equipe percebeu que era tarde. “Quando as informações e as orientações chegavam até eles, muita coisa já havia acontecido”, esclarece. Quando chegava a uma escola, a equipe do projeto sensibilizava a diretoria, os professores, pais e cuidadores, diz Regina. “Eles eram informados exatamente sobre o que faríamos. Os menores, de 4 a 7 anos, só podiam participar com autorização dos pais; os maiores não precisaram de autorização porque naquela semana as atividades entraram para a grade curricular”, ela relata. “Não foi fácil. Esbarramos no preconceito, na dificuldade de abordar o tema e na resistência de professores, que não queriam mais uma atribuição na sala de aula.”
“Levamos os preservativos e demostramos como são utilizados. Não dá para fugir do preservativo quando falamos de prevenção” Baixada a resistência, cada turma teve seis encontros de uma hora e meia. O primeiro baseou-se no pilar “conhecer”, que é conhecer o corpo, principalmente a região íntima. “Ensinamos os nomes corretos porque conhecendo o corpo é que, no futuro, o indivíduo poderá saber se há algo de errado com ele”, explica Regina. “Com os menores, desenvolvemos o autocuidado para a prevenção do abuso. Com os maiores, abordamos também a prevenção das DST (doenças sexualmente transmissíveis), HIV e gravidez precoce.” Nessa lógica, os pilares “apreciar”, “cuidar” e “respeitar” foram desenvolvidos sucessivamente, baseados na autoestima, no autocuidado e no respeito mútuo. Por último, “proteger” significou autoproteção para menores e maiores. No sexto e último dia de cada turma foram entregues os certificados. O professor, que acompanhou todo o processo em sala de aula, também foi capacitado para tratar de um possível caso. “Tivemos professor atribuindo sua contrariedade ao projeto ao incômodo provocado pelo tema.” Regina afirma que a forma de abordar o tema facilitou o ingresso nas escolas. “Ainda existe muito tabu, muito preconceito. Nós somos uma organização cristã batista. Se a escola não permite a distribuição de preservativos, não distribuímos. Mas levamos os preservativos masculino e feminino e demostramos como são utilizados. Não dá para fugir do preservativo quando falamos de prevenção”. Segundo Regina, a maioria dos pais elogia a iniciativa, perguntando o que responder às perguntas dos filhos pequenos. “Eles dizem que não sabem como abordar o tema ou que ficam constrangidos diante do filho”, diz ela. “A princípio contra, um pastor agradeceu porque o filho quase sofreu um abuso, mas com as orientações recebidas na oficina, o menino contou a ele quem e o que queriam fazer. Acontecem várias situações. Na maioria, temos um bom retorno”, conta. O retorno é excelente. Essa foi a palavra usada pela diretora Ana Soraia Albuquerque Santos de Barros, da Escola Municipal de Educação Infantil Tomás Antônio Gonzaga, uma das escolas onde o Projeto Meu Corpo, Meu Bem foi desenvolvido. “Estamos na divisa com a Favela da Vila União e temos vários problemas dessa ordem, porque a criança geralmente apresenta na escola os indícios de que pode ter sofrido abuso. Se necessário, os professores sentem-se habilitados para tentar solucionar o problema encaminhando ao Conselho Tutelar ou a um psicólogo, por exemplo. Alguns pais questionam o projeto e o preconceito fica explicitado, mas quando são chamados para saber como o tema será abordado, eles concordam.”
População Prioritária
99 Crianças, adolescentes e jovens vivendo com HIV e aids 99 Pessoas em situação de pobreza Área de Atuação
99 Promoção e Prevenção
CAF Casa Filadélfia Projeto Meu Corpo, Meu Bem
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CENTRO DE CONVIVÊNCIA “É DE LEI”
PROJETO REDUÇÃO DE DANOS É DE LEI Cultura de uso muda kit de redução de danos na cracolândia
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uas vezes por semana, uma dupla de redutores de danos deixa a sede do Centro de Convivência “É de Lei”, em uma galeria do centro de São Paulo, e dirige-se ao bairro da Luz. Uniformizados para chamarem a atenção, levam em suas mochilas o novo kit de redução de danos: piteiras de silicone, protetor labial, preservativos e informativos com endereços de serviços de saúde e assistência social. O destino é a Disneylândia – que é como usuários de crack chamam a região da cracolândia, um mundo onde tudo é permitido. “Além de prevenir o risco de infecção de algumas doenças, o insumo tem a função de facilitar uma aproximação, de abrir um diálogo na rua”, explica o psicólogo Thiago Calil, coordenador do Projeto Redução de Danos É de Lei. “O PRD É de Lei é o que a gente considera projeto-base. Ele financia as ações do espaço de convivência, os redutores de danos, o acolhimento e as atividades que a gente faz na sede. E também o trabalho de campo na rua, na cracolândia, que é o forte do É de Lei. A nossa presença na rua é uma parte muito forte do nosso trabalho”, contextualiza o psicólogo – o que, no caso da Redução de Danos (RD), nunca é demais. “É um projeto-base porque, desde sua origem, a RD trabalha com a lógica de alcançar o usuário no contexto de uso da droga”, argumenta. “A base do trabalho do É de Lei é o PRD.” A RD é um conjunto de políticas e práticas cujo objetivo é reduzir os danos associados ao uso de drogas em pessoas que não podem ou não querem parar de usá-las. Por definição, a RD foca suas ações na prevenção aos danos, ao invés de atuar na prevenção ao uso de drogas. É para prevenir os danos à saúde de usuários de
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drogas, mais especificamente de usuários de crack, que as duplas do PRD É de Lei saem a campo. Thiago considera que, além do ganho prático para a prevenção, o trabalho de campo é um posicionamento político. “É a sustentação de uma proposta de lidar de frente com a questão do uso de drogas, pois há alternativas para pensar um cuidado nesse contexto”, argumenta. Assim como a piteira e o protetor labial, o cuidado é outra peça fundamental para o É de Lei, que com o PRD, “pretendeu abrir um diálogo sobre a questão das drogas” com o próprio usuário. “Tanto na sede quanto no campo e a partir da escuta e do vínculo que vai sendo criado, buscamos construir um caminho de cuidado”, diz. Segundo Thiago, uma das bases da RD é que não se tem uma receita para atuar, pois cada caso é tratado de
“É o pessoal do É de Lei, é o pessoal que pensa como a gente”
uma forma específica. “O PRD é o que propicia esse trabalho”, orgulha-se o psicólogo do projeto que vem sendo financiado desde o início dos anos 2000, primeiro pelo Ministério da Saúde, depois pelo Programa Estadual de DST/Aids de São Paulo e, neste primeiro edital, pelo Programa Municipal de DST/Aids de São Paulo. Tradicionalmente, um kit de RD possui preservativos, agulha, seringas, informativos e demais apetrechos de uso injetável seguro. O kit de RD dos usuários da cracolândia-
foge do usual. Além dos preservativos e informativos, piteiras de silicone e um protetor labial de calêndula e própolis – com maior poder cicatrizante – são distribuídos. “A ideia do insumo é interessante porque é uma construção que vem de longo prazo”, lembra Thiago. “Junto deles nós pensamos na piteira de silicone, que pode ser encaixada no cachimbo de alumínio”, relata. A piteira é um incentivo ao uso individual, visa a prevenir doenças transmissíveis, como a tuberculose e a hepatite B. “A gente entende que, numa cultura em que o compartilhamento é muito presente, é difícil mudar essa prática. Mas, em longo prazo, as pessoas vão incorporando a ideia de não compartilhar objetos que possam infectá-las. A piteira tem um ganho concreto, porque ela não esquenta, mesmo que a pessoa fume compulsivamente num cachimbo de alumínio”, afirma Thiago, baseando-se nos relatos dos usuários. Thiago conta que conversava com um grupo quando um rapaz aproximou-se perguntando quem era a dupla. “Um deles respondeu: ‘É o pessoal do É de Lei, é o pessoal que pensa como a gente’.Na rua a gente tem esse reconhecimento. A gente tem uma aproximação um pouco mais informal. O insumo proporciona o momento de falar sobre o assunto. O insumo ajuda a gente se aproximar”. Para Thiago, piteira de silicone e protetor labial têm, para o uso de crack, a mesma função que preservativos para as relações sexuais: oferecer uma forma de cuidado para o caso de exposição a algum risco. Thiago salienta que o PRD É de Lei teve – e ainda tem – a meta de “levar o usuário a pensar em novas formas de cuidado em relação ao uso do crack. Tentamos, nesse projeto, promover oficinas em campo com o usuário com o propósito de pensar em um novo insumo, mas na dinâmica da rua é muito difícil reunir um grupo e fazer uma oficina organizada”, explica ele.
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População Prioritária
99 Adultos vivendo com HIV e aids 99 Pessoas em situação de rua
Área de Atuação
99 Promoção e Prevenção 99 Promoção de Direitos Humanos
Na estratégia de refletir sobre o cuidado, Thiago levou à rua um cachimbo de vidro, trazido de uma organização francesa, no qual a retirada da borra – valiosa na cultura de uso – é feita sem a agregação de outros componentes ainda mais tóxicos. “Isso os incentivou a pensar em novas alternativas de uso, novas formas de cachimbos que pudessem ser menos danosos. Apareceu, por exemplo, o cachimbo que eles chamam de busca-longe, que é bem mais longo. Segundo os usuários, quanto mais longo o cano, mais longe a brasa fica da boca.” Apareceram, também, cachimbos de lâmpadas ou de vidros de esmalte, azeite e perfume. “Os próprios usuários começaram a ter ideias que incorporam um cuidado ao uso da droga.”
É de Lei Centro de Convivência “É de Lei” Projeto Redução de Danos É de Lei
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CIM – CENTRO INTEGRAÇÃO MULHER
PROJETO VIVA A VIDA EM CADA ATO ONG leva teatro à feira para falar da violência e desigualdade sofrida pela mulher
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uma feira livre, um grupo com os rostos pintados de branco e roupas extravagantes aproxima-se tocando e cantando uma música sobre a desigualdade da mulher na sociedade. Das barracas, atentos à movimentação, vendedores de frutas, verduras e legumes chamam a atenção de suas freguesas para a qualidade dos produtos que comercializam. Após a canção, o grupo começa a encenar a condição da mulher dona de casa, submissa ao companheiro e à violência doméstica. Aos berros, os feirantes tentam impedir a continuidade da dramatização. Passado algum tempo, diminuem o tom até o grupo conseguir trabalhar.
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“Com o teatro na feira, trabalhamos para interromper o modo de contaminação das mulheres, principalmente a mulher que tem parceiro fixo. Consideramos isso uma questão de violência, de desigualdade entre homens e mulheres na nossa sociedade. Essa desigualdade gera contaminação”, afirma a diretora e atriz Marta Baião, coordenadora do Projeto Viva a Vida em cada Ato, do Centro Informação Mulher (CIM). Marta atribui a reação inicial dos feirantes a certa identificação com a atitude machista de quem não considera útil o trabalho da dona de casa. “A feira é um microcosmo da sociedade. Os feirantes, em sua maioria, são homens como os outros, extremamente machistas e que ainda tratam as mulheres que circulam por ali com um imenso desrespeito”, argumenta. De uma forma bem humorada, a peça “Vai ter B.O., vai ter” ou “Viva a Vida em cada Ato” ridiculariza o homem que se comporta como um ser superior à mulher, tratando da desigualdade a que Marta se refere. “Nós falamos de coisas engraçadas, mas também dessa violência. Falamos do trabalho invisível da mulher dentro de casa, falamos da relação sexual sem prazer, dos milhares de estupros que as mulheres sofrem dentro de casa cometidos pelos próprios maridos, que não respeitam o prazer delas.” Segundo Marta, quase 70% das mulheres contaminadas com HIV têm parceiros fixos e muita dificuldade de negociar o uso do preservativo com seus companheiros. Para ela, o homem ainda faz sexo fora do relacionamento sem uso do preservativo. “Quando essa mulher se contamina, morre mais cedo porque não descobre rapidamente a doença e quando descobre não consegue se tratar. Mas quando sabe que o companheiro está contaminado, ela cuida dele.” Inicialmente, as intervenções do projeto eram realizadas em feiras livres da região central de São Paulo, mas, segundo Marta, as feiras do centro são montadas em dias muito próximos uns dos outros. “Com o tempo, fomos saindo dessa região porque vimos que tínhamos outros espaços para traba-
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lhar. Trabalhamos também em lugares como praças e ruas e fomos ampliando a atuação, até que ficamos com dois grupos. Um ia para uma feira, outro para lugares alternativos”, explica ela. Em uma feira do Jardim Miriam, todos os atores se reuniram e um documentário foi feito mostrando esses dois grupos encenando a mesma peça. Ao contrário dos feirantes, raras são as mulheres que se negam a escutar o que o grupo encena e canta. “Algu-
“Com o teatro na feira, trabalhamos para interromper o modo de contaminação das mulheres” mas se incomodam e reclamam, mas a maior parte delas olha com muita curiosidade e simpatia. Uma coisa que eu percebi nas feiras é que a maioria das pessoas, homens e mulheres, conhece a Lei Maria da Penha, apesar de muitas mulheres não receberem a atenção prevista em Lei. Se para os homens a lei virou motivo de gozação, para as mulheres trouxe uma elevação da autoestima. Agora, ela se percebe não objeto e não objeto da crueldade do outro”, comenta
a atriz. “Elas olham das barracas, rodeiam. Distribuímos a todas um kit contendo uma cartilha sobre racismo, homofobia e sobre a Lei Maria da Penha, com gel e preservativos masculino e feminino.” A cartilha traz uma relação não apenas dos serviços de atendimento às doenças sexualmente transmissíveis (DST) e aids, como também os que assistem as mulheres na questão da violência. Depois de assistirem às apresentações, as mulheres aproximam-se para receber os kits e para contar suas histórias. “Elas dizem que na casa delas acontece violência. Elas contam muitos casos e alguns são atribuídos a uma vizinha. Eu me choco com a crueldade desses relatos. E aqui no CIM vêm muitas mulheres também contar suas histórias, apesar de não sermos uma entidade de atendimento, mas de reunião de informação.” O Grupo MalAmadas, que apresenta a peça “Viva a Vida em cada Ato”, foi criado no início dos anos 90. O Centro Informação Mulher é uma ONG criada em 1981. Quando Marta entrou para o CIM, em 2001, ela levou o grupo para a organização, que reúne um dos maiores acervos da América Latina na questão de gênero.
CIM Centro Informação Mulher Projeto Viva a vida em cada ATO
População Prioritária
99 Pessoas em situação de pobreza 99 Profissionais do sexo
Área de Atuação
99 Promoção e Prevenção 99 Promoção de Direitos Humanos
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CMB – CONFEDERAÇÃO DAS MULHERES DO BRASIL
PROJETO CINE MULHER Cinema sensibiliza pessoas em situação de pobreza a cuidarem de si mesmas
U
ma sessão de cinema numa comunidade provoca uma discussão sobre o sexo seguro, a transmissão do HIV e das doenças sexualmente transmissíveis (DST). No debate, adolescentes e adultos elucidam dúvidas, aliviando angústias. Assim, o Projeto Cine Mulher, da Confederação das Mulheres do Brasil (CMB), chegou a muitas pessoas das comunidades de Paraisópolis e Bela Vista. Em algumas dessas comunidades, além da CMB e de outras associações, profissionais das Unidades Básicas de Saúde (UBS) das regiões estiveram presentes, enriquecendo as oficinas ministradas após as sessões de cinema. “Isso contribuiu para que a formação fosse mais plena. Nada melhor do que um profissional da saúde para debater o tema com o jovem”, conta Rejane Santos, presidente da Associação de Mulheres de Paraisópolis e coordenadora local do projeto.
De acordo com Hilda Fiori, coordenadora geraldo Cine Mulher, o foco inicial era sensibilizar os jovens para o tema, chamá-los para a sessão e incentivá-los a entrar na discussão. Caso algum participante fosse soropositivo, era encaminhado ao serviço de saúde. Em algumas regiões, foi preciso adaptar o projeto à realidade da comunidade. Um dos filmes exibidos pelo Cine Mulher foi Pela Vida Com Saúde, uma produção da CMB, em parceria com o Ministério da Saúde. O papel das coordenadoras locais do projeto foi articular o local de exibição do filme – na maioria das vezes, por meio de parcerias com a própria comunidade –, além de motivar o jovem e o serviço de saúde da região aparticipar da discussão. Foi o que aconteceu. As principais dúvidas encontradas pela equipe do Cine Mulher são, em geral, muito simples. “Alguns jovens ainda pensam que o preservativo serve apenas para a prevenção de uma gravidez indesejada e que a única DST é a aids”, explica Hilda. Mas um insumo em especial provoca muitas perguntas dos participantes: a camisinha feminina. Onde encontrá-la e como usá-la são as dúvidas mais frequentes. Outra pergunta comum é o que fazer quando alguém se descobre soropositivo. Um fato curioso sobre as perguntas é que quem as faz nunca é o dono do questionamento. “A dúvida é sempre de um amigo, um primo ou um irmão que já pensou antes no assunto. É um tema que atrai o jovem, que sempre traz a dúvida do outro. O problema é sempre de um amigo”, explica Rejane. “Depois da sen-
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-HIV+ Uma Publicação do Programa Municipal DST/AIDS
“Ela tinha um filho e temia por ele, por ser filho de uma mulher com aids” Em uma das primeiras oficinas, por exemplo, Andréa e a equipe depararam-se com meninas de 12, 13 anos, grávidas. “O que acontece com muitas adolescentes é que, quando elas não aceitam transar sem camisinha, o parceiro acaba dizendo que o sexo não vai ‘rolar’. Com medo de perder o parceiro, elas acabam praticando sexo sem segurança.” As adolescentes relataram que evitavam fazer perguntas sobre sexualidade às suas mães para esconder delas o fato de já terem uma vida sexualmente ativa. De acordo com Andréa, muitos jovens ainda recusam a camisinha alegando falta de prazer ou constrangimento de colocar o preservativo na frente da menina. “Isso é um mito. Fizemos o teste da camisinha na mão e eles puderam sentir o assopro. É importante debater que, com camisinha ou sem, a pessoa terá a mesma sensação, mas sem camisinha corre o risco de pegar uma DST”, diz Andréa.
sibilização e da percepção da importância do uso da camisinha, o jovem nota que é preciso mais pontos de distribuição dos preservativos, como em bairros com grande concentração de baladas”, diz ela. Paraisópolis vive um momento especial e de grande crescimento, com um dos maiores processos de urbanização de favelas da América Latina. A região conta com três UBS e contou, também, com o Cine Mulher. “As dúvidas são simples, diz Rejane. “É preciso continuar informando, porque não existe só a dúvida, mas a questão cultural é muito forte. O jovem não pode discutir isso com os pais. Algumas coisas ficam mais fáceis quando debatidas numa roda de amigos do que com os pais”, afirma. A região da Bela Vista “embora seja perto da Paulista, não é só classe média”, lembra Andréa Santiago, diretora de disciplina da Velha Guarda da Escola de Samba Vai-Vai e coordenadora local do Cine Mulher. Segundo ela, a região tem muitos casos de gravidez precoce e de diagnóstico de aids ainda na adolescência. “As drogas são portas para a transmissão das DST”, raciocina.
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Na Casa de Acolhida, a experiência do Cine Mulher deu-se com moradores de rua, pessoas em situação de extrema pobreza. Eliane Souza, coordenadora local, conta que, certa vez, antes mesmo de o filme começar, uma mulher disse-lhe que era soropositiva, mas que ninguém dali sabia. “Essa mulher tinha um filho e temia por ele, por ser filho de uma portadora do vírus da aids. O dilema dela era saber o que fazer com o preconceito. Tinha medo pelo filho. Foi tocante”, lembra Eliane, que disse à mulher que o preconceito existe em todos os lugares, mas que ela não podia parar de viver por causa dele.
CMB Confederação das Mulheres do Brasil Projeto Cine Mulher
População Prioritária
99 Pessoas em situação de pobreza
Área de Atuação
99 Promoção e Prevenção
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CONVIVER É VIVER
PROJETO VIVENDO COM AIDS Projeto trabalha convivência e alternativas de autossustentabilidade
E
m um casarão próximo à Represa Guarapiranga, na zona sul de São Paulo, um grupo de mulheres participa de uma oficina de bordado. Na hora do intervalo, fazem um lanche frugal. Quando voltam à oficina, o tema é mudado. Ao invés do ponto cruz, formas de prevenção às doenças sexualmente transmissíveis (DST) e ao HIV/aids. “Fizemos os cursos com as oficinas de prevenção intercaladas porque tentamos marcar em separado e não aparecia ninguém”, conta Norma Calandriello, coordenadora do Projeto Vivendo com Aids, do Grupo Conviver é Viver. O Projeto Vivendo com Aids trabalhou a prevenção das DST e do HIV e autossustentabilidade para a população das adjacências da represa. Nas aulas de artesanato foram ensinados crochê, ponto cruz e pintura em tecido. Na horta-escola, os participantes aprenderam a cultivar produtos orgânicos e na oficina de alimentos saudáveis, como reaproveitar alimentos produzidos na horta. As oficinas de economia solidária foram destinadas à formação de pequenos empreendedores. Além disso, aulas de ginástica e dança conscientizaram pessoas com HIV e aids sobre a importância da prática de exercícios físicos para melhorar a qualidade de suas vidas. 18
-HIV+ Uma Publicação do Programa Municipal DST/AIDS
“A gente aprende tudo de novo, a comer melhor, a dormir melhor, a ter uma saúde melhor. Tudo o que não fazia antes, a gente reaprende a fazer”, diz Toniel Basílio, soropositivo há dois anos e beneficiário do projeto. Atualmente ele compõe a equipe como agente de prevenção da Casa, como o grupo é chamado. “Foi uma aprendizagem boa para mim, que me motivou a ajudar essa população carente.” A maioria da população atendida pelo Conviver é Viver está em situação de pobreza. “Grande parte das mulheres ficava em casa cuidando dos filhos, sem possibilidade de ajudar na renda familiar. Com os cursos, elas aprenderam
“A gente aprende tudo de novo, a comer melhor, a dormir melhor, a ter uma saúde melhor. Tudo o que não fazia antes, a gente reaprende a fazer”
falo de prevenção e ainda me identifico como uma das soropositivas da Casa.” Tábata teve a ajuda de Toniel para escolher os vídeos assistidos e os informativos abordados nos espaços de prevenção das oficinas. O CTA também foi um grande parceiro, diz ela, que conta ter acompanhado seis mulheres de uma vez ao serviço para a realização de testagem e aconselhamento. “Começamos com a equipe da Casa, porque elas não queriam ir. A Norma e as voluntárias foram. Algumas mulheres perguntaram se teriam que ir sozinhas. Fui com elas e esperei todo mundo fazer a testagem no CTA. Elas não queriam ir sozinhas, precisavam ter por perto alguém em quem pudessem confiar”, revela. Tábata revela, ainda, que tem dificuldades com a nova geração. “Os que estão se infectando têm de 14 a 24 anos. Três desses jovens estão resistindo demais em vir. Muito deprimidos, ligam dizendo que vão se matar, que vão sair do trabalho. Eu respondo enfatizando que não conseguiremos ajudar se eles não se dispuseram a vir e conviver conosco.” Ela conta que mostrou um vídeo sobre pessoas que vivem com HIV há muito tempo, que têm filhos e uma vida sexualmente ativa, normalmente. “Mas é bem difícil.” Uma última atividade acontece no terceiro sábado de cada mês, quando algumas pessoas vivendo com HIV ou aids participam de um café da manhã. “Fazemos uma roda de conversa bem descontraída e nesse momento acompanhamos se estão tomando a medicação, se estão fazendo o tratamento corretamente”, diz Tábata. “Alguns deles nem aparecem quando há qualquer atividade aberta. Outros trazem alguém da família”, ressente-se Norma.
a bordar, a pintar em tecido, a fazer crochê e começaram a vender seus produtos”, diz Norma. “Na parte da prevenção, desmistificamos muita coisa e abrimos um leque para a comunidade, que não havia”, acrescenta ela, referindo-se a como a comunidade encarava o trabalho da ONG. “Tinha gente que atravessava a rua, não passava na porta.” Norma conta que foi necessário primeiro atualizar a equipe da Casa sobre os aspectos da prevenção e do tratamento das DST e do HIV e aids. “Mesmo pessoas que frequentavam a casa tinham uma ideia distorcida do que é ser soropositivo e do que é ter aids, ou como se contrai o HIV. Não adiantava capacitar alguém de fora se quem era da Casa estava mal informado.” E foi internamente, também, que aconteceu uma das desmistificações no âmbito da prevenção promovidas pelo Grupo Conviver é Viver. “Eu fui capacitada pelo CTA (Centro de Testagem e Aconselhamento) para falar entre pares: mulher casada falando para mulher casada, gay com gay; por isso, foi um desafio muito grande para mim, mas me acolheram muito bem”, diz Tábata Alves, técnica responsável pela prevenção no projeto. Ela mesma foi uma das assistidas do grupo, anos atrás. Travesti “com muito orgulho”, Tábata diz que não fala só de prevenção. “Eu
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Ela pondera que apesar da alta rotatividade de participantes, o projeto atingiu uma média de 500 pessoas. “O objetivo era acessar 30, mas nós temos 40 famílias cadastradas. Conseguimos acessar praticamente toda a comunidade. Foi bem gratificante. Agora, 90% dos nossos voluntários são moradores da região. A Casa foi uma descoberta para a comunidade.”
Conviver É Viver Grupo Conviver é Viver Projeto Vivendo com Aids
População Prioritária
99 Adultos vivendo com HIV e aids 99 Pessoas em situação de pobreza Área de Atuação
99 Promoção e Prevenção 99 Promoção de Direitos Humanos
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CORSA
PROJETO CECICUIDA – PREVENÇÃO E CIDADANIA HSH sem fronteiras para a prevenção
P
ense em um projeto escrito e idealizado por duas pessoas e coordenado por outra. Agora pense que esse projeto replicaria em outro local uma iniciativa de sucesso; pense que sua proposta era fazer uma coisa e fez outra. Certamente seu raciocínio lhe fará concluir que deu tudo errado com o projeto. “Fomos sacudidos, demos a volta por cima e usamos a criatividade”, afirma o educador Luiz (Lula) Ramires, coordenador do Projeto Cecicuida e presidente do Grupo Corsa. O projeto mudou tanto que até o nome foi alterado. Passou a ser chamado Projeto #vc_se_cuida? Assim mesmo, com hashtag e underline.
são que pudesse passar pela autoestima e pela cidadania de gays e HSH e que se relacionasse à vulnerabilidade dessa população às DST (doenças sexualmente transmissíveis) e ao HIV. O objetivo era criar um espaço em que eles pudessem elaborar melhor sua autoestima e se posicionar mais como cidadãos. Poderia resultar em maior adesão ao tratamento ou, se não fos-
A ideia inicial era replicar uma experiência bem sucedida do Corsa no Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) Santo Amaro: formar um grupo de convivência de gays e outros homens que fazem sexo com homens (HSH) com usuários de um serviço de saúde municipal, dessa vez não em um CTA, mas no Serviço de Atendimento Especializado (SAE) Ceci – por isso o nome Projeto Cecicuida. “No grupo, aprofundaríamos uma discus-
preservativo seja indício
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“Talvez estejamos vivendo um momento de recrudescimento de um moralismo no qual o portar um de promiscuidade” sem soropositivos, a práticas de sexo seguro, evitando a transmissão de DST e do HIV”, lamenta Lula. “O que aconteceu, por uma grande falta de sorte, foi que o SAE Ceci ia
-HIV+ Uma Publicação da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo
começar uma reforma e por isso estava com falta de espaço para reuniões ou não havia profissionais que pudessem acompanhar o projeto, ou tudo isso junto, quando tentamos implantá-lo lá”, ressente-se Lula. “Procuramos o SAE Butantã, mas, pelas mesmas razões, o projeto também não pôde ser iniciado naquele serviço. ”Segundo Lula, em uma reunião de monitoramento do projeto, um técnico do Programa Municipal de DST/Aids foi explícito ao dizer que não os queria dentro de um serviço de saúde, mas na rua. “Eu achei que ele estava coberto de razão e a partir daí construímos nossas ações no sentido de ir para a rua”, concorda. Mapeados os pontos da população prioritária, o grupo escolheu o Autorama, tradicional ponto de encontro de HSH em um estacionamento do Parque Ibirapuera. Depois, frequentou e também distribuiu preservativos na “rua G” do Parque do Carmo, ponto de encontro para sexo explícito de HSH. “Também fomos com regularidade à praça ao lado do Shopping Tatuapé, que, historicamente, é um ponto de encontro de adolescentes gays”, relata. Para Lula, o coração do projeto foi fazer o trabalho de campo. “Digo isso
porque, levando a mensagem de prevenção às ruas, tivemos um feedback muito interessante. Nessa mesma praça ao lado do shopping, por exemplo, era comum oferecermos preservativos e alguns meninos não aceitarem, o que nos incomodava profundamente.” Segundo avalia Lula, “talvez estejamos vivendo um momento de recrudescimento de um moralismo no qual o portar um preservativo seja indício de promiscuidade. Não tivemos condições de fazer uma pesquisa qualitativa, mas essa foi uma questão observada”, reflete. Para ele, ações de prevenção face a face são necessárias porque ainda existem pessoas praticando sexo de forma insegura. No meio desse processo, em um espaço cedido por um parlamentar médico sanitarista no centro da cidade, foram realizadas diversas oficinas. “Nelas, abordamos uma multiplicidade de temas, desde elementos básicos sobre o que é uma DST, o HIV, como se prevenir e repensar essas estratégias de prevenção, até como usar a arte, a internet e as redes sociais a favor da prevenção”, esclarece Lula. O grupo passou também a utilizar-se das mídias sociais online. “Investimos em um site e na meta de tornar nossas oficinas um momento de forma-
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População Prioritária
99 Pessoas em situação de pobreza 99 Homens que fazem sexo com homens Área de Atuação
99 Promoção e Prevenção 99 Promoção de Direitos Humanos
ção para engajar ao máximo aquelas pessoas na prevenção, a fim de que elas pudessem fazer prevenção onde e com quem estivessem: na escola, no trabalho, com a família, com os amigos”, esclarece Lula. Segundo ele, a grande sacada do projeto foi tentar comprometer um número cada vez maior de pessoas para construir uma rede. “Diversas pessoas aproximaram-se do Corsa em função disso”, conta. Para Lula, no entanto, todas as mudanças foram positivas. “Se tivéssemos ficado em um serviço, teríamos tido um ganho porque faríamos ações concentradas, consistentes, bem estruturadas e que funcionariam a con-
tento. E acessaríamos um número de pessoas para quem nós realmente seríamos um apoio e o grupo funcionaria como espaço de reflexão para essas pessoas. Por outro lado, seria tolo imaginar que alguém vive isolado em um bairro da cidade de São Paulo. Embora tenhamos perdido essa profundidade, ganhamos no sentido cosmopolita”, encerra.
CORSA Grupo CORSA – Cidadania, Orgulho, Respeito, Solidariedade, Amor Projeto #vc_se_cuida? (originalmente, Projeto Cecicuida)
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ECOS
PROJETO ++ MULHERES PELA CIDADANIA
O
Projeto ajuda mulheres a reconstruirsua autoestima por meio de atividades socioculturais
bordado, o café, os panos de prato, o alongamento, os almoços, o teatro. Tudo isso realizado em grupo e tecido por uma intensa roda de conversa, que alivia, informa e fortalece. Esse é o projeto ++ Mulheres pela Cidadania, da Ecos, que busca recuperar a autoestima e estimular o empoderamento da mulher soropositiva por meio da promoção da cidadania e usando técnicas de arte-educação. Muitas mulheres já foram beneficiadas por conta do projeto desde 2007. A Ecos tem por tradição trabalhar com a prevenção do HIV e, também, diretamente com as pessoas soropositivas. Em 2012, segundo a coordenadora do projeto, Maria Helena (Lena) Franco, foram 14 mulheres envolvidas nas atividades coletivas e socioculturais do ++ Mulheres pela Cidadania. Foi naquele ano também que o grupo passou a ter atividades de expressão corporal a partir de técnicas teatrais. “Começamos com uma fotógrafa, a Evelyn, que já usava técnicas de empoderamento. Era um trabalho mais político”, conta ela. Durante o projeto, em um determinado momento em que o grupo de mulheres estava passando por dificuldades financeiras, alguém sugeriu que fosse feito algo que pudesse gerar renda para elas. “O que elas têm em comum? A cultura, o gênero, o vírus. Mas, em termos de profissão, nada. Uma ou outra sabia bordar ou fazer algo de artesanato”, explica Lena, que, na adolescência, comprava rou-
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-HIV+ Uma Publicação do Programa Municipal DST/AIDS
pas com o dinheiro que ganhava vendendo seus bordados. E, então, dentro do grupo, elas criaram um caminho, fizeram experiências e deu certo. Hoje, além de venderem os artefatos produzidos, elas participam de exposições. “A gente poderia levar esses bordados para qualquer galeria”, orgulha-se Lena. Na Ecos, as beneficiárias chegam, tomam café juntas, fazem um alongamento e participam da roda de conversa, considerado o momento mais importante por algumas. “É um momento só nosso e a maioria de nós não pode se abrir em casa com a família ou um vizinho. Então, aqui todo mundo é igual”, diz Lenise, de 65 anos. Lena acredita que, às vezes, é preciso apenas dar uma oportunidade a uma pessoa para que ela nos surpreenda. E é o que acontece no dia a dia do projeto. Cada beneficiária tem a sua história pessoal e de superação e isso tem muito a ver com o que é feito no Ecos. “É uma troca, não há preconceito. É nesse ponto que a Lena mais insiste, ela
“É um momento só nosso e a maioria de nós não pode se abrir em casa com a família ou um vizinho. Então, aqui todo mundo é igual”
sempre está dando uma aulinha sobre todo tipo de preconceito. Todo mundo tem um pouco”, fala Dalva, 60 anos. A beneficiária Regina, de 50 anos, foi levada ao projeto pela mãe, na época com 76 anos, que também frequentava as oficinas. Regina e sua família não tinham o costume de conversar uma com a outra, de fazer as refeições juntas. Então, sua mãe gostou tanto da experiência que acabou adotando o costume em casa. “Levar as experiências daqui para casa é o reflexo do trabalho que, quando fortalecido, também fortalece as relações. E vai além da soropositividade”, diz Lena. “Hoje em dia, frequento aqui e recebi alta do psiquiatra. Eu só chorava. Pago meu condomínio, tirei carta e tenho meu carrinho”, conta Neide, de 45 anos. Regina ainda diz que foi no ++ Mulheres pela Cidadania que lembrou quem era. “Eu recuperei minha autoestima e lembrei que eu sou uma costureira, porque eu tinha me esquecido”. Foi ela quem comandou a máquina de costura para a fabricação dos figurinos da peça de teatro apresentada pelo grupo em 1º de dezembro de 2012, Dia Mundial de Luta contra a Aids. Aliás, a experiência teatral foi algo emocionante para essas mulheres, pois todo o texto da peça foi desenvolvido a partir de suas sugestões e de suas histórias reais. Ao reunir mulheres soropositivas, o projeto devolve para elas a sensação de que a vida continua, de que elas não estão sozinhas nesse barco e de que é possível driblar o preconceito e tocar a vida normalmente. Lena afirma que
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o X da questão no ++ Mulheres pela Cidadania é a união do grupo. “Temos peças-chave, mas temos cada uma delas individualmente e a vontade do grupo de ficar junto”, fala. E como diz Neide: “Quando eu estou muito triste, coloco um CD para dançar e penso: ‘aquela Neide coitadinha, não!’.”
ECOS ECOS – Comunicação e Sexualidade Projeto ++ Mulheres pela Cidadania
População Prioritária
99 Adultos vivendo com HIV e aids 99 Pessoas em situação de pobreza Área de Atuação
99 Promoção de Direitos Humanos 99 Advocacy e Controle Social
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EPAH
PROJETO TIPO ASSIM Projeto forma adolescentes e jovens para autonomia e cidadania
E
m uma sala de um Centro da Criança e do Adolescente da zona sul de São Paulo, um grupo com 25 adolescentes e jovens olha desconfiado para dois adultos estranhos, como se seus olhares perguntassem quem são eles, o que querem e o que fazem ali. “Alguns pensam que vamos ensiná-los a fazer sexo”, diz a assistente social Maria José dos Anjos, da equipe do Projeto Tipo Assim. “Respondo que estamos lá para ensiná-los a se prevenir, principalmente das drogas”. “Nas oficinas temáticas, formamos agentes multiplicadores de promoção à saúde e prevenção às doenças sexualmente transmissíveis (DST) e ao vírus HIV”, acrescenta o tecnólogo Marcelo Oliveira, coordenador do projeto da Associação Espaço de Prevenção e Atenção Humanizada (EPAH). As oficinas são ministradas em dez de 12 encontros e abordam os temas: corpo físico, corpo erógeno ou erótico, relações de gênero, álcool e outras drogas, violência doméstica, sexo seguro e prevenção às DST/aids, cultura familiar e sexualidade, violência e exploração sexual, gravidez na adolescência e projeto de vida. As turmas são formadas por adolescentes e jovens de 16 a 24 anos de idade, vinculados a Centros da Criança e do
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Adolescente (CCA) na zona sul de São Paulo. No primeiro encontro, com dinâmicas para as apresentações do projeto, dos temas desenvolvidos e de todos os participantes, pede-se a cada um que escreva uma carta relatando a expectativa com o curso. No último encontro, as cartas são devolvidas e eles têm a opção de lê-las para o grupo e revelar se as oficinas atingiram as expectativas, se ficaram aquém ou, até, se foram além do esperado. “Eu escrevi ‘que eu aprenda bastante com todas as oficinas e que meus colegas tenham o mesmo comprometimento que eu vou ter’. Escrevi, mas esqueci. Quando vi a carta surpreendi-me com o que li. Tudo o que esperava foi superado”, diz a estudante Léia da Silva Oliveira, de 17 anos, beneficiária do projeto. Ela aprendeu o máximo que pôde. “A Léia foi assídua às oficinas, às atividades externas, foi sempre presente e participativa. Depois, a turma dela foi encerrada e em outra formação na instituição parceira ela nos ajudou a organizar o material e os oficineiros”, elogia Maria José. Léia gostou muito da oficina de conhecimento do corpo. “Eu ainda não tive relação sexual, mas foi bom saber para quando chegar a hora eu estar preparada.” E emocionou-se na oficina sobre álcool e outras drogas, quando leu cartas de internos de uma clínica de recuperação para dependentes químicos. “A de um deles dizia para não entrarmos nessa vida que só leva à destruição. A
População Prioritária
99 Crianças, adolescentes e jovens vivendo com HIV e aids 99 Mulheres e Homens em contexto de vulnerabilidade Área de Atuação
99 Promoção e Prevenção
carta de uma mãe interna com saudade da filha pequena também me emocionou. A droga acaba destruindo famílias também.” “Nós criamos vínculos. Na terceira oficina já nos chamam pelo nome e temos de aprender o de cada um deles também. Na décima, décima primeira oficina, começa a dar uma melancolia porque a gente sabe que vai ter de deixá-los, diz Marcelo. “No decorrer de três
“Eu ainda não tive relação sexual, mas foi bom saber para quando chegar a hora eu estar preparada” a quatro meses, que é o período em que ficamos com essas turmas, percebemos a evolução deles”, comenta Maria José, para quem em alguns espaços os adolescentes são mais maduros: “Eles conseguem entender alguns temas e executar algumas atividades com excelência, já em outros espaços são mais carentes, até de informações básicas”, avalia. “Mas vamos nos adaptando para atender às necessidades deles.”
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Para Marcelo, o balanço “é extremamente positivo”, porque o Projeto Tipo Assim foi desenvolvido na periferia da zona sul de São Paulo, “muito esquecida pelo poder público”. É positivo, segundo ele, porque a formação torna-se uma alternativa aos “pancadões”, que proliferam na região onde faltam espaços de cultura e lazer para os jovens. “Muitos convivem com esses ‘pancadões’, baladas onde rola muito álcool, muita droga. E quando a gente ouve, no final da oficina, a carta deles, dizendo que iam ao ‘pancadão’ e que hoje não fazem 10% do que faziam, é muito positivo.” O “pancadão” acontece em locais que não têm segurança e “tudo o que é ilícito acontece ali. Isso, volto a dizer, só acontece devido à falta do poder público. Léia nunca foi a um ‘pancadão’. “Eu fui criada de uma maneira totalmente diferente.” Ela é evangélica, mas frequentemente é convidada por suas colegas a ir a uma dessas baladas. Apesar dos convites, nunca sentiu “aquela vontade de ir”. “O curso me ensinou a falar com meus colegas a se prevenirem nas relações sexuais e a tomar cuidado com os ‘pancadões’.”
EPAH Associação Espaço de Prevenção e Atenção Humanizada Projeto Tipo Assim
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GAPA
PROJETO SERVIÇO SOCIAL E PREVENÇÃO POSITIVA II
I
GAPA une centro de documentação e serviço social pela prevenção positiva
ncentivar pessoas soropositivas em situação de pobreza a procurar informações sobre o vírus HIV e a melhorar sua qualidade de vida adotando as perspectivas da Prevenção Positiva: esse é o propósito do Projeto Serviço Social e Prevenção Positiva II, do GAPA. “Nós unimos o Serviço Social ao Centro de Documentação (Cedoc) do GAPA para estimular essas pessoas a buscar mais conhecimento, qualidade de vida e autoestima”, explica a assistente social Vanda Rosa Cruz, coordenadora do projeto.
materiais acessados na biblioteca. Mas, gradativamente, os temas das discussões foram tomando novos rumos.“Os usuários começaram a trazer suas próprias demandas para essas discussões, temas que eles estão levando, inclusive, para os locais de tratamento”, conta ela, ressaltando que houve momentos em que as questões levadas para a roda de conversa foram retrabalhadas.
“Observamos que o nosso usuário vinha para uma reunião ou para retirar uma cesta básica, mas não tinha uma discussão voltada para as questões do HIV. No entanto, o GAPA tem um Centro de Documentação (Cedoc) enorme à disposição”, diz Vanda.
“Eles se fortaleceram
O projeto foi desenvolvido em duas frentes. Iniciou-se com a catalogação dos livros, das fotos, revistas e jornais, teses e centenas de publicações sobre HIV, aids, coinfecções, doenças sexualmente transmissíveis (DST), Direitos Humanos e controle social disponíveis no Cedoc. Então, foram realizadas rodas de conversa pautadas pela leitura de um dos 26
Segundo Vanda, questões sobre preconceito e discriminação no trabalho e na
individualmente e como grupo” família, orientação sexual e soropositividade e, também, sobre relacionamentos sorodiscordantes foram as primeiras discutidas pelo grupo. “Depois eles trouxeram a questão do jovem vivendo com HIV, que foi bastante debatida e culminou no Seminário de Jovens como Multiplicadores de Informação. Por último,
-HIV+ Uma Publicação da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo
discutimos as questões do cotidiano, as questões deles sobre a doença.” Mas o grande problema com relação ao tratamento é, segundo Vanda, a falta de voz no momento da consulta médica. “Eles têm as dúvidas e as guardam na consulta. Depois, trazem para o grupo. A partir dessa constatação convidamos especialistas para conversar com eles e elucidar as mais frequentes, o que foi muito produtivo”, diz. As pessoas com HIV atendidas pelo GAPA são, em sua maioria, desempregados, aposentados ou beneficiários de auxílio-doença. Um dos objetivos da criação das rodas de conversa foi incentivar a população atendida a levar as informações sobre HIV e aids para a família, “porque muitos tinham vergonha de falar”, diz a coordenadora do projeto. “Alguns deles já chegaram aqui dizendo que o vizinho havia comentado alguma coisa sobre HIV e que eles não tiveram coragem de conversar sobre o assunto, porque se começassem a falar, ‘o meu vizinho saberia que eu tenho HIV’. Com o tempo, percebemos que isso mudou muito.” Segundo Vanda, atualmente eles já não têm receio em falar sobre a soroposi-
tividade com a família e pessoas que tocam no assunto e levam colegas de tratamento dos serviços de saúde para participar das reuniões. Planejadas para um grupo de 20 pessoas, atualmente 12 pessoas vivendo com HIV ou aids participam das rodas de conversa, que começaram antes do projeto, há quatro anos. O projeto, elaborado para distribuir 35 cestas básicas mensais, atualmente distribui 18 cestas. Por meio do Projeto Serviço Social e Prevenção Positiva II, o GAPA dá orientação sobre benefícios a seus assistidos, além de suporte jurídico e psicológico. “Se a pessoa precisar de uma cesta básica, depois de cadastrada no GAPA, eu agendo uma visita à casa dela”, relata. A visita, segundo Vanda, é principalmente para constatar a condição socioeconômica e familiar declaradas. “Vou saber se a família sabe do tratamento, como entende o HIV e como participa da vida dessa pessoa. Algumas vezes, quando percebemos que algo em casa pode estar atrapalhando ou vir a atrapalhar o tratamento, encaminhamos a pessoa para a Psicologia.” Para Vanda, apesar das dificuldades que o GAPA vem passando, “o que me deixa mais feliz é que o grupo não se
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perdeu. Eles se fortaleceram individualmente e como grupo. Eles vêm, discutem e agora estão fazendo um desenho para estampar uma camiseta para o 1º de Dezembro, por iniciativa deles. Isso é o mais importante.” “Nós ainda não conseguimos informatizar tudo, mas antes do projeto tínhamos uma dificuldade muito grande de localizar um material para um estudan-
te que vinha pesquisar no GAPA. Agora temos uma pessoa específica para controlar e cuidar desse material, que é muito precioso”, finaliza.
GAPA Grupo de Apoio à Prevenção à AIDS Projeto Serviço Social e Prevenção Positiva II
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GELEDES
PROJETO PROMOTORAS LEGAIS POPULARES NA PREVENÇÃO DAS DST/ HIV/AIDS/HEPATITES Promotoras Legais Populares difundem informações sobre DST, HIV e aids na zona leste
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o extremo leste de São Paulo, duas mulheres negras conversam desoladamente. Enquanto uma conta dos maus tratos que sofre do companheiro alcoolizado em casa, a outra relata o modo como foi tratada em um serviço de saúde. Entretidas com suas dores, não se escutam, apenas desabafam. Mas uma promotora legal popular ouve o lamento, apresenta-se e explica às mulheres que uma sofreu violência doméstica e a outra teve seus direitos humanos violados, iniciando uma orientação para que elas
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não sejam submetidas a essas situações novamente. A cena não ocorreu, mas não foge muito das encenadas por lideranças comunitárias em uma oficina de psicodrama do Projeto Promotoras Legais Populares na Prevenção das DST/HIV/Aids e Hepatites. Previsto inicialmente para capacitar Promotoras Legais Populares a difundir informações sobre doenças sexualmente transmissíveis (DST), HIV, aids e hepatites e incentivar o acesso da população de Cidade Tiradentes e São Mateus aos serviços de saúde, o projeto se expandiu. Além de territorial, o aumento da abrangência foi populacional, conta Élida Miranda, pedagoga e coordenadora do projeto do Instituto da Mulher Negra – Gele-
-HIV+ Uma Publicação da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo
dés. “Quando iniciamos a articulação comunitária, nós tivemos a inclusão de lideranças de Guaianazes, Ermelino Matarazzo e São Miguel Paulista. Elevando em consideração que a população jovem, sobretudo quando se faz o recorte racial, é a principal vítima da epidemia do HIV e da aids, nós incluímos a juventude também, o que foi muito bom.” A Promotora Legal Popular (PLP) é uma liderança que orienta e acompanha pessoas da comunidade no acesso aos serviços públicos, seja de saúde, de assistência social ou de justiça, em casos de violação de direitos humanos, sobretudo violência doméstica. “Capacitar promotoras legais populares com informações específicas
em DST, HIV e hepatites foi central no projeto, porque, se elas lidam com mulheres vítimas de violência e se dominam os primeiros protocolos de atendimento à saúde, também podem orientar essas mulheres em relação à epidemia de HIV e aids”, diz Élida. As PLP mapearam as lideranças e estas mobilizaram a comunidade. Então, foi criada uma comissão de representantes de PLP por região. “Foi uma construção muito bonita. Seria muito pretensioso organizar esse processo de cima para baixo porque as lideranças estão ali e é a comunidade que tem de apontar quem são os atores que precisam ser mobilizados e incluídos nesse diálogo. Foi um processo coletivo de construção das mulheres.”
“O caminho é fazer alguma coisa porque as mulheres negras estão morrendo mais de aids” Lideranças mapeadas, foram realizadas oficinas sobre prevenção das DST, do HIV, aids e das hepatites virais, e sobre uso de álcool e outras drogas, “sempre problematizando o cotidiano, partindo do pessoal para trabalhar as questões coletivas”, ressalta Élida. “Empregamos a metodologia de Paulo Freire, que contextualiza a formação. Nessa perspectiva trabalhamos com teatro, com cinema, com diversas ferramentas que possibilitam uma reflexão crítica do mundo. Trabalhamos com as pessoas utilizando o psicodrama, que só funciona a partir da realidade do sujeito”, explica a pedagoga. Segundo Élida, as mulheres negras morrem mais de aids do que as mulheres não negras, muito em razão do racismo institucional e da diferença no atendimento médico. “A formação fortalece essas mulheres para a utilização desses serviços, a partir da compreensão de que o atendimento igualitário é um direito, de que não deveria existir diferença no tratamento em razão da condição racial e de qual é o perfil do profissional que nós queremos nos serviços de saúde. Essas questões nós
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problematizamos pensando sempre no que a Constituição Federal diz em relação à acessibilidade e no que o SUS (Sistema Único de Saúde) diz em relação ao atendimento.” As oficinas também foram ampliadas. Foi incluída a gestão local, tanto da Cidade Tiradentes quanto de São Mateus. “Os Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA) e a Supervisão Técnica de Saúde participaram juntos e escutaram as lideranças comunitárias. Isso para nós foi um salto qualitativo, porque foi um projeto que mobilizou efetivamente as pessoas. Vimos pessoas que transformaram suas vidas, que passaram a utilizar os serviços de saúde e que romperam a barreira do acesso ao serviço.” Ao final, para Élida, o projeto apresentou dois principais resultados. O primeiro foi a articulação entre as PLP e os serviços de saúde. “O segundo ponto foi a discussão do racismo institucional. Por que as mulheres negras morrem mais de aids do que as mulheres não negras? Estamos discutindo o perfil profissional e institucional dos serviços de saúde, que contradiz tanto a Constituição quanto o SUS. Estamos dizendo que o caminho é fazer alguma coisa porque as mulheres negras estão morrendo mais de aids”, finaliza.
GELEDÉS Geledés – Instituto da Mulher Negra Projeto Promotoras legais populares na Prevenção das DST/HIV/Aids e Hepatites
População Prioritária
99 Pessoas em situação de pobreza 99 Pessoas em situação de rua
Área de Atuação
99 Promoção e Prevenção 99 Promoção de Direitos Humanos
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GIV
PROJETO PREVENÇÃO POSITIVA E ADESÃO PARA A VIDA Prevenção positiva e dança contra a criminalização
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quela mulher, soropositiva, chegou fragilizada ao Grupo de Incentivo à Vida (GIV), procurando assistência. Ficou mais de uma hora no Serviço Social e chorou muito. Na Psicologia, chorou mais um pouco com a proposta de um acompanhamento breve. No Jurídico, quando esboçou mais algumas lágrimas, ouviu o advogado dizer-lhe, gentilmente, que se ela começasse a chorar ele não conseguiria saber qual era o problema e não poderia ajudá-la. “Nós entramos com uma ação judicial, ela acessou o auxílio-doença durante um período e recebeu os atrasados”, relatao advogado Claudio Pereira, presidente do GIV. Paralelamente, ela entrou para o grupo que faz aulas semanais de dança, uma das atividades do Projeto Prevenção Positiva e Adesão para a Vida. “Agora ela é outra pessoa. Está mais curiosa, mais atenta”, conta Edson Arata, assistente de coordenação do projeto. “A gente tem visto que esse aspecto lúdico da dança tem incentivado o interesse das pessoas”, acrescenta ele. “A aula de dança surgiu com a percepção da diminuição de participantes na instituição. Quando planejamos o projeto, resolvemos fazer um trabalho lúdico, que não tivesse
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-HIV+ Uma Publicação do Programa Municipal DST/AIDS
ligação direta com o tema da aids, mas que fosse um catalisador. Deu certo. As pessoas envolveram-se com a dança e estabelecemos um link com as demais atividades do projeto”, conta Claudio. As atividades a que Claudio se refere são as oficinas de adesão, sexo seguro, prevenção positiva, sexualidade, revelação e direitos humanos que foram idealizadas pelo grupo. “Um dos objetivos do projeto era trabalhar a prevenção positiva e questões sobre direitos humanos e HIV e aids, como direitos previdenciários do portador e criminalização da transmissão sexual do HIV”, elenca Edson. “E nós ainda oferecemos oficinas de sensibilização, sexualidade, revelação do diagnóstico e muita informação”, salienta. No projeto, a prevenção positiva foi relacionada à criminalização da transmissão do HIV. Em uma das oficinas, um jovem soropositivo perguntou se essa criminalização poderia ter como consequência a prisão em regime fechado. Claudio respondeu afirmativamente. “Uma parcela das pessoas acredita que não tem obrigação de usar preservativo, que não tem obrigação de contar para ninguém que é soropositiva, ou que faz uso correto da medicação. Essa questão tem de ser muito discutida”, diz Claudio. “Trabalhamos as questões da prevenção, inclusive aquelas que podem prevenir uma possível crimina-
População Prioritária
99 Adultos vivendo com HIV e aids
Área de Atuação
99 Promoção e Prevenção 99 Promoção de Direitos Humanos
“A gente tem visto que esse aspecto lúdico da dança tem incentivado o interesse das pessoas”
lização, porque há pessoas que não usam camisinha e com essas temos de atuar com firmeza, visando a um tratamento o mais correto possível.” Outra atividade oferecida pelo projeto do GIV foi o atendimento jurídico. Claudio conta que foram centenas de atendimentos, alguns dos quais se transformaram em ação judicial. A maior demanda, segundo ele, são as questões previdenciária, de auxílio-doença e de aposentadoria. “Mas há, também, a questão constitucional, de acesso a medicamento e a tratamento”, elenca. Mas, acesso a tratamento ainda hoje? Claudio conta que no começo do ano houve o caso de uma mulher com HIV que não conseguia operar um prolapso do útero havia dois anos. “Nós entramos no Ministério Público. Depois de três meses ela foi internada para operar, mas minutos antes de ser anestesiada teve alta porque não havia anestesista. Remarcaram a cirurgia para dali a dois meses. Ela finalmente foi operada, após dois anos de espera”, relata. “Houve, ainda, o caso de um rapaz que precisou operar um câncer e teve de trocar a bacia por uma prótese. Ele ficou numa fila de espera durante três anos. São casos que deixam clara a necessidade, ainda hoje, de ações que garantam o acesso ao tratamento.”
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Apesar de muitas das consultas jurídicas não terem sido convertidas em ações judiciais, Claudio considera importante o atendimento da demanda. “Muitas vezes encaminhamos as pessoas a outros parceiros, como o Ministério Público e a Defensoria Pública. Atendemos em nosso âmbito e o que excede encaminhamos a outros locais, para que a pessoa não fique sem assistência. É uma forma de se possibilitar algum suporte às pessoas que procuram o projeto.” A equipe do projeto do GIV também elaborou e publicou duas cartilhas, uma sobre prevenção e outra sobre criminalização. As cartilhas abordam aspectos dos Direitos Humanos relacionados ao HIV. “A produção do material foi planejada, estava no projeto. Mas, quando juntamos a equipe, surgiu a ideia de elaborarmos uma coleção. Já estamos indo para a quinta cartilha”, orgulha-se Claudio.
GIV Grupo de Incentivo à Vida Projeto Prevenção Positiva e Adesão para a Vida
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GRUPO PELA VIDDA
PROJETO PROFISSÃO: PREVENÇÃO Projeto incentiva acesso de profissionais do sexo a serviços de saúde
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exta-feira, quase nove horas da noite. Enquanto muita gente se arruma para sair, o carro do Grupo Pela Vidda está prestes a chegar a algum ponto de prostituição em São Paulo. No veículo, dois agentes do Projeto Profissão: Prevenção levam preservativos, gel lubrificante e material informativo sobre prevenção de doenças sexualmente transmissíveis (DST) e HIV para distribuir a homens, mulheres e travestis profissionais do sexo. “Além de gel e preservativos, levamos informação sobre direitos básicos, que a maioria não conhece. Incentivamos a acessar os serviços de saúde e a fazer o teste de HIV principalmente as pessoas que chegaram à cidade recentemente, população que mais temos encontrado nos locais de prostituição”, relata Paulo Rogério da Silva, assistente de coordenação do projeto. Com frio ou chuva, Paulo, João e Marcos revezam-se em duplas nas noites de quarta, quinta e sexta-feira, das nove da noite até a madrugada. Em cada turno, uma dupla percorre dois locais diferentes nas regiões de Santana, Barra Funda, Centro e Indianópolis. “Encontramos as mais variadas demandas. Uma mulher da região de Indianópolis é mãe de dois filhos, está grávida do terceiro, mas só saber fazer programa. A gente busca uma reinserção pela educação ou por outras vias, mas é complicado. Na maioria das vezes, o meio de socialização em que ela está é o que a acolhe melhor”, pondera Paulo. João Batista sente certa frustração. “Vemos que mesmo com a facilidade de acesso ao preservativo e ao gel, ainda assim ocorrem condutas de risco. Essa mulher engravidou uma vez, engravidou uma segunda vez e já está grávida pela terceira vez. Ela relatou que o filho é do companheiro, com quem não usa preservativo, mas garantiu que se previne no trabalho. Porém, estamos cientes de que o uso relatado no trabalho é relativo”, diz.
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Há muitos relatos, também, de mulheres que reclamam dos clientes. “Às vezes, elas ficam no ponto duas, três horas sem sair com um cliente quando, então, aparece alguém oferecendo mais dinheiro para fazer um programa sem camisinha. Independentemente do risco, tanto para ele quanto para ela, o cliente insiste em transar sem camisinha. Para que elas se protejam dessa situação, orientamos a utilizar a camisinha feminina de uma forma discreta”, relata Paulo. “Tivemos relatos de duas meninas que se protegeram dessa maneira e foram bem sucedidas com os clientes. O uso abusivo do álcool acaba tirando a sensibilidade e a pessoa muitas vezes nem percebe direito o que está fazendo”, acrescenta João. “Isso também é frustrante, porque prova que o cliente não está preocupado. Por mais que se faça um trabalho pesado com informação sobre o risco das DST e da aids, mesmo assim ainda observamos que tem gente que pensa que a aids só acontece com o vizinho”, diz Paulo, desolado. “O problema para alguns desses homens é a falta de ereção. Eles não conseguem ter ereção usando preservativo, principalmente se fizeram uso de álcool ou de outra droga”, explica. O trabalho de prevenção com homens profissionais do sexo é ainda mais difícil. Não porque eles atualmente se
“Na maioria das vezes, o meio de socialização que ela está é o que a acolhe melhor”
concentrem na região da Rua do Arouche, mas porque são mais arredios do que as mulheres ou as travestis. “É uma população à qual temos muita dificuldade de acesso porque geralmente eles querem apenas uma cartela, ou um único preservativo”, queixa-se João. “Já tentamos fazer uma rotatividade de horários para termos uma noção da quantidade de pessoas que frequenta o local nos diferentes períodos. Se vamos mais cedo, a rua está vazia. Depois da meia-noite existe um público que parece não ter sexo como objetivo. Na madrugada a coisa é mais agitada, parece um ‘baladão’. O horário em que vamos para a rua é quando as profissionais do sexo estão voltadas para o trabalho”, explica Paulo. A população mais acessada pelos agentes do Projeto Profissão: Prevenção foi a de travestis, com 67%, do total. O restante divide-se em mulheres (26%) e homens (7%). A região em que eles distribuíram mais material foi a de Indianópolis, que recebeu 26%. Santana recebeu 23% e o Centro, 14%. “Temos esses números porque todo material ou insumo é contado. Numa planilha, marcamos com um X na coluna de cada tipo de material ou de insumo distribuído, dividido por região”, relata Paulo. Apesar das dificuldades, Paulo diz que o trabalho é enriquecedor. “Elas nos ensinam muito. Não sofremos nada perto da experiência de violência que elas têm vivido nas ruas, porque o desrespeito aos direitos é total. A começar da polícia, que deveria protegê-las, independentemente do que estão fazendo ali, até a própria vizinhança, que joga ovo, briga e ofende”, finaliza.
Pela Vidda Grupo Pela Valorização, Integração e Dignidade do Doente de aids – SP Projeto Profissão: Prevenção
População Prioritária
99 Profissionais do sexo
Área de Atuação
99 Promoção e Prevenção
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INSTITUTO SEDES SAPIENTIAE
PROJETO SEXUALIDADE, CULTURA E PREVENÇÃO – PROGRAMA DE PREVENÇÃO EM DST/HIV/AIDS Jovens usam novas tecnologias para mapear vulnerabilidade na zona sul
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região de Parelheiros, de 353 km², é composta pelos distritos de Parelheiros e Marsilac. Sua área concentra um terço da população de São Paulo e maior porcentagem de jovens e de gravidez na adolescência do que a média do município. Originalmente povoada por índios, a região foi formada por imigrantes e migrantes. Negros, japoneses e alemães estão em sua configuração étnica inicial. Migrantes chegaram, a partir dos anos 80, de favelas da zona sul, desalojados pela construção de grandes avenidas. “A ideia era que pudéssemos entrar numa cultura com essas características migratórias de megametrópole”, diz a psicóloga Claudia Paula, da equipe de coordenação do Projeto Sexualidade, Cultura e Prevenção: Programa de Prevenção às DST/HIV em Parelheiros (SCP). O SCP foi elaborado a partir de dois eixos: um primeiro, de formação de jovens multiplicadores de informações sobre prevenção de doenças sexualmente transmissíveis (DST) e HIV/aids em oficinas ministradas por jovens multiplicadores capacitados em projeto anterior. E um segundo eixo, de fortalecimento de uma rede de articulação, sustentação e viabilização das intervenções dos multiplicadores. A rede, constituída de jovens multiplicadores formados, ONG, Unidades Básicas de Saúde (UBS), equipes do Programa Saúde da Família (PSF) e outras instituições, também é produto daquele primeiro projeto.
Assim, jovens multiplicadores capacitados, assessorados e monitorados pela equipe do SCP ministraram as oficinas de capacitação de multiplicadores. O trabalho foi desenvolvido prioritariamente em Vargem Grande, bairro da região que se assenta sobre uma cratera criada com a queda de um meteoro no local, há milhões de anos. Hoje com 35 mil habitantes, o bairro foi formado a partir do final dos anos 80 por uma associação de favelas. Os jovens de Vargem Grande fizeram as intervenções a partir das escolas em que estudam, mas começaram a acessar a UBS do bairro vizinho “porque ele não pode ser atendido pela madrinha”, explica Claudia. A rede tem o objetivo de oferecer a esse jovem, além do atendimento sigiloso na UBS, “esse nível de troca de referências para que eles tenham um acesso com mais
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-HIV+ Uma Publicação do Programa Municipal DST/AIDS
cuidado, com acolhimento melhor e com a possibilidade efetiva de buscar auxílio”, garante ela. Em paralelo às atividades, no decorrer do projeto encontros reuniram todos os participantes de formações anteriores. “Nesses encontros, fortalecemos a rede de sustentação e de viabilização das intervenções dos jovens multiplicadores”, salienta Claudia. A rede funciona como ponto de ancoragem para formandos e formados. No grupo de formação, é produzida uma grande oficina de mapeamento com cada um mapeando o seu bairro e inserindo os pontos no Google Earth. O mapeamento nessa plataforma facilita o diagnóstico da situação e, consequentemente, o planejamento das intervenções. “O mapeamento foi muito importante para que tivéssemos uma dimensão da composição com a qual estávamos lidando e para saber quais eram os preconceitos entre os grupos”, esclarece a psicóloga Fátima Milnitzky, da equipe do projeto. Produto da formação, o mapeamento é a apropriação de uma tecnologia que aqueles jovens não possuíam. Hoje manuseiam uma ferramenta que abre possibilidades. “Se vão a um lugar fazer o diagnóstico de um contexto paraplanejar uma intervenção, estão adquirindo uma capacitação que será útil até na hora de procurar emprego. A ideia era essa, poder criar, capacitar, enfim, construir com eles esse conhecimento”, acrescenta Claudia, empolgada. Claudia explica que “a rede e a capacitação de jovens caminham em momentos distintos, mas se encontram algumas vezes”. Segundo ela, o conceito de vulnerabilidade é quase uma abstração absoluta para esses jovens. “Nós vamos intervir no pancadão ou não? Vale a pena intervir no pancadão? Temos condições de intervir de fato, sem correr riscos, sem nos perder, ou será que o risco seria excessivo? Isso é vulnerabilidade”, traduz.
tação passa por todos esses momentos de uma forma dinâmica”. Resultado dessa dinâmica é, por exemplo, do logotipo do projeto, produzido nas oficinas. Além das atividades, o seminário Onde a Lógica da Informação e Conhecimento Falha, o Desejo Pulsa pretendeu articular as diretrizes do projeto com a psicanálise. “A gen-
“A gente sabe que informação só não basta. Ou se constrói algo que seja da ordem do conhecimento ou não se anda” te sabe que só informação não basta. Ou se constrói algo que seja da ordem do conhecimento ou não se anda. A ordem do conhecimento é sempre do ponto de vista do conflito. Não existe uma possibilidade única e certeira de o indivíduo lidar com a própria sexualidade sempre do melhor modo. Isso é da ordem do ideal. A gente tropeça, corre um risco aqui, outro ali. Isso é real”. Além das psicólogas Claudia Paula e Fátima Milnitzky, a equipe de coordenação do SCP conta com o também psicólogo Carlos Bicalho e a psicanalista Maria AntonielaWhately. O Projeto Sexualidade, Cultura e Prevenção: Programa de Prevenção às DST/HIV em Parelheiros foi desenvolvido pelo Instituto Sedes Sapientiae.
Concretizando a série de conceitos, o SCP trabalhou nas formações os conceitos de grupo, de sexualidade, a questão de gênero do ponto de vista do feminismo e do que é a cultura machista, etnias e origens – “o que fazia o maior sentido no local” –, para, só depois, entrar no território da sexualidade. Esse é o ponto em que se fala no amor, no ficar e no sexo. A partir do sexo, o tema da prevenção à gravidez não desejada e à infecção pelo HIV ou outras DST é abordado. “A capaci-
Instituto Sedes Sapientiae Projeto Sexualidade, Cultura e Prevenção: Programa de Prevenção às DST/HIV em Parelheiros
População Prioritária
99 Crianças, adolescentes e jovens vivendo com HIV e aids 99 Adultos vivendo com HIV e aids Área de Atuação
99 Promoção e Prevenção 99 Atenção a pessoas vivendo com HIV e aids
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INSTITUTO VIDA NOVA
PROJETO EDUCAR PARA FORTALECER Projeto educa soropositivos para o exercício da cidadania
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ílian e João frequentaram o curso de Políticas Públicas. Moacir e Adilson, o Café Espaço Livre. Andréa e Eduardo encantaram-se com as oficinas de arte-terapia. Júlio César estava em todas. As atividades estiveram entre as ações do Projeto Educar para Fortalecer, desenvolvido pelo Instituto VidaNova (IVN) “com o propósito de educar as pessoas vivendo com HIV e aids (PVHA)”, acrescenta Américo Nunes Neto, coordenador de projetos da ONG. Além dessas, um grupo de jovens, um boletim semestral e a campanha “Sua moeda vale uma Vida Nova” completaram as ações. João participa das atividades do IVN há mais de dez anos. Conselheiro gestor no Serviço de Atendimento Especializado (SAE) Fidelis Ribeiro, fez o curso de Políticas Públicas. “A gente dá um duro danado para conseguir alguma coisa, mas vamos chegar lá”, diz ele sobre sua representação no Conselho Gestor. Júlio César afirma que aprendeu a se fazer ouvir no SAE Líder II, onde se trata há nove anos. “Aprendi a exercer a minha função de con36
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selheiro gestor.” Lílian tem deficiência visual e não vive com HIV, mas participou do curso e avalia ter ganhado ferramentas que a ensinaram não apenas a reivindicar direitos, mas a pensar em melhorar o ambiente em que vive, como “o posto de saúde”. Principal atividade do Projeto Educar para Fortalecer, as oficinas de Políticas Públicas tinham por objetivo capacitar PVHA para atuar nos conselhos gestores das unidades de saúde em São Paulo. Uma parceria com ANIMA (oeste), EPAH (sul) e Projeto-Bem-Me-Quer (norte) possibilitou sua concretização na sede dessas organizações em quatro regiões da cidade. A oficina da região leste foi realizada no IVN. “Houve oficinas em que tivemos a participação de profissionais dos serviços de saúde”, conta Américo. Afora as diferenças entre as regiões, para ele ficou claro que “muitas PVHA não reconheciam seu papel de cidadãs enquanto representantes nos conselhos gestores”. Para Américo, as oficinas foram necessárias devido à falta de participação de usuários nos conselhos gestores dos
serviços de saúde no município, ao conflito de interesses e ao desconhecimento do papel do conselheiro gestor enquanto representante de usuários. Esses ingredientes fecharam um “diagnóstico muito ruim”. De oficinas ao Seminário em Defesa da Saúde Pública foi um salto. Ao final, participantes do evento divulgaram uma carta aberta. Como resultado, afirma, pontos do documento foram inseridos nas diretrizes do Programa Municipal de DST/ Aids (PM-DST/Aids), tendo sido discutido exaustivamente no Mopaids, fórum municipal de ONG/aids. Ele estima que pelo menos oito pessoas estejam participando ativamente de Conselhos Gestores. Conselheira no SAE Fidelis Ribeiro, Andréa participou das oficinas de arte-terapia, que a ajudaram “a mexer os braços e as pernas”. “Ajudaram também a minha memória. Sou outra pessoa”, diz. “Se eu não sabia conversar – e posso não saber até hoje – antes eu sabia menos ainda. Eu encontrei uma nova vida para mim.” As oficinas foram suspensas com o falecimento da instrutora Sueli (Sal) Viana. Para Júlio César, a arte-tera-
“Houve oficinas em que tivemos a participação de profissionais dos serviços de saúde” pia faz muita falta. “Aqueles desenhos eram a alma da gente”, revela. Para ele “o trabalho ficou incompleto”, diz, referindo-se com tristeza ao fim dos planos de uma possível exibição da produção do grupo em espaços de Pontos de Cultura.
debateram temas como direitos humanos, uso do preservativo, sorodiscordância e prevenção primária e secundária, lembra Américo. A dificuldade inicial de agregar jovens soropositivos foi outra atividade que incentivou a parceria entre as ONG. Dessa vez, além de ANIMA, EPAH e Projeto Bem-Me-Quer, o GIV também entrou na parceria. “Os jovens participaram do sarau do GIV, do seminário de prevenção do Bem-Me-Quer e também participaram do nosso grupo de convivência”, diz. A campanha “Sua moeda vale uma Vida Nova” teve dois objetivos: propiciar às PVHA um complemento na renda e captar recursos para a instituição, deixando um cofre perto do caixa de um estabelecimento comercial, no qual os clientes pudessem depositar as moedas de seus trocos. “Nós oferecemos ajuda de custo e um percentual sobre o arrecadado, mas não houve muito interesse”, lamenta Américo. “Para a campanha continuar, tive de buscar outras pessoas, que triplicaram os pontos de arrecadação, elevando-os para cerca de 90”, afirma. A campanha continua após o encerramento do projeto. Por fim, o projeto publicou quatro edições do Boletim Vida Nova, com a divulgação de notícias sobre aids na cidade, depoimentos de PVHA emarketing institucional. Seus 2,5 mil exemplares são distribuídos nos serviços de saúde da rede municipal especializada e em eventos sobre HIV e aids. “O que eu considero importante foi que esse edital de financiamento do PM-DST/Aids foi uma primeira iniciativa de convênio com as ONG, o que eu considero extremamente estratégico pelo vínculo direto firmado com o município e pela questão da descentralização dos recursos, o que potencializa as ações propostas pelas ONG na cidade de São Paulo”, finaliza.
Eduardo participa de diversas atividades no IVN. “Mas a Sal me incentivou a abrir os olhos”, diz, revelando sua preferência. Ele conta que sentia falta dos amigos, que se afastaram depois que ele descobriu-se soropositivo e mudou para a zona leste. “Eu disse a ela que estava me sentindo muito sozinho. Sal sugeriu que eu fizesse minha parte e ligasse para quem eu sentia falta. ”Sal trabalhava com xilogravura, mosaico, aquarela e escultura. Assim como Júlio César, Américo também lamenta a interrupção do trabalho. Café Espaço Livre foi o nome dado ao grupo de homens que fazem sexo com homens (HSH). Nele, Adilson participou de debates, onde aprendeu muito. “O Vida Nova renovou minha vida em todos os sentidos”, resume ele. Para Júlio Cesar, o objetivo do grupo era ajudar um ao outro a se conhecer melhor. “O que ajuda muito a gente é estar entre iguais”, acrescenta Moacir, concordando. Ele procurou o IVN para fazer fisioterapia depois de duas cirurgias de artroplastia de quadril. Mas, segundo afirma, nas reuniões do grupo recebeu muita ajuda para elevar sua autoestima e foi se “abrindo”. O grupo começou com poucas pessoas e expandiu-se gradativamente. Além da descontração, os participantes
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Vida Nova Instituto Vida Nova – Integração Social, Educação e Cidadania Projeto Educar para Fortalecer
População Prioritária
99 Adultos vivendo com HIV e aids 99 Homens que fazem sexo com homens Área de Atuação
99 Promoção e Prevenção 99 Promoção de Direitos Humanos
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LABORIDADE
PROJETO CONVHIVA
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-HIV+ Uma Publicação do Programa Municipal DST/AIDS
De igual para igual alar sobre a sexualidade e a prática do sexo seguro ainda pode ser um grande tabu para as famílias brasileiras, mesmo que a realidade tenha mudado bastante nos últimos anos. Foi pensando nessa demanda e seguindo as recomendações do Ministério da Saúde sobre doenças sexualmente transmissíveis (DST) e aids que nasceu o Projeto ConvHIVa. Por meio dele, muitos jovens tornaram-se referências em suas comunidades na orientação desse tema importante, atual e de difícil abordagem.
A equipe do Laboridade, desenvolvedora do projeto, chegou ao Centro de Desenvolvimento Social e Produtivo para Adolescentes (Cedesp), em São Mateus, na zona leste de São Paulo, por meio de pesquisas: eles queriam saber quais entidades poderiam juntar-se à empreitada de levar profissionais, informação, convívio e solidariedade para perto de uma comunidade carente. A intenção inicial era começar por pequenos grupos.Porém, foi preciso, primeiramente, acessar todos os estudantes da escola, que abraçou o projeto. Foram 130 jovens que, dentro de seu cronograma escolar, passariam a falar sobre sexualidade, sexo seguro, DST e aids. Na primeira etapa, pais e professores participaram de uma reunião em que o objetivo do Projeto ConvHIVa foi expresso claramente: encontrar jovens engajados e ativos, que pudessem se tornar agentes dentro da própria comunidade. E, então, nas aulas oferecidas e em cada evento que o Cedesp organizava para a comunidade, a cada abertura encontrada, lá estava a equipe do ProjetoConvHIVa distribuindo material informativo, preservativo feminino e masculino e expandindo ideias. Essa presença foi muito importante para aconstrução do vínculo entre o projeto e a comunidade, o que é essencial para qualquer trabalho comunitário.
“Alguns ficam com vergonha de fazer alguma pergunta porque o tema ainda é tabu, mesmo entre jovens” Como o Cedesp é um centro de formação profissional – onde são dadas aulas de administração, tecnologia da informação, secretariado e marcenaria, por exemplo –, o jovem está ali na expectativa de conseguir um emprego para compor e aumentar a renda da sua família. “Isso foi uma dificuldade encontrada, pois os estudantes tinham essa necessidade de trabalhar e foi difícil achar quem estivesse disponível”, explica a assistente social Maria Cecília Teodoro Sanches, coordenadora do projeto. Mas o ConvHIVa conseguiu encontrar seus jovens agentes.
conta a história de Valéria Polizzi, portadora do vírus HIV), ganharam livros que abordavam o tema etc. Ficaram cada vez mais envolvidos e engajados. Entre os agentes formados pelo ConvHIVa está Nelaine Cristina Alves de Carvalho Santos, de 19 anos. Ela conta que participou de uma capacitação e que a turma foi convidada pela direção do Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) São Mateus, a participar da gravação de um vídeo que retratou uma ação de prevenção na comunidade. Depois disso, participou de uma seleção e está trabalhando no Plantão Jovem, projeto de prevenção às DST e ao HIV/aids desenvolvido pelo CTA. “Todo mês tem evento de hip hop na comunidade. Nesses e em outros eventos, eu distribuo preservativos e falo de prevenção”, conta ela sobre o trabalho que desenvolve entre seus pares na comunidade. Ela também abriu uma página do Projeto ConvHIVa em uma rede social online para tirar dúvidas sobre prevenção de DST e HIV. “Durante a capacitação, alguns ficam com vergonha de fazer alguma pergunta, porque o tema ainda é tabu, mesmo entre jovens. Então eles tiram dúvida por lá”, diz. Atualmente, Nelaine prepara-se para cursar Gestão Pública em uma faculdade. “Quero me capacitar e me envolver ainda mais”, diz ela, empolgada. Em suma, o Projeto ConvHIVa capacitou e orientou o jovem a falar sobre prevenção de DST e do HIV para outros jovens, desenvolvendo a cultura do sexo seguro, na mesma linguagem. Esses agentes identificam as dúvidas dos outros e apontam os caminhos para solucioná-las. “É o jovem transformando-se em uma fonte confiável de informação e, principalmente, de fácil acesso”, avalia Maria Cecília.
LABORIDADE Projeto ConvHIVa
População Prioritária
A segunda parte do projeto foi focada na formação desses agentes, após a peneira natural que aconteceu durante a fase anterior, com os 130 jovens. Quem gostava do assunto e acreditava no projeto estava ali, participando. “Os jovens agentes aprenderam desde a falar em público, por exemplo, até como redigir um currículo ou mesmo colocar no papel suas próprias ideias e desenvolver um projeto próprio”, conta Maria Cecília.
99 Crianças, adolescentes e jovens vivendo com HIV e aids
Ao mesmo tempo em que o treinamento ia sendo feito, o projeto ia aumentando a rede de ligações entre o jovem e a temática. Eles tiveram a oportunidade de assistir à peça de teatro Depois Daquela Viagem (que
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-HIV+ Número 1 JANEIRO|DEZEMBRO 2013
99 Pessoas em situação de rua
Área de Atuação
99 Promoção e Prevenção
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PROJETO BEM ME QUER
PROJETO PARTILHAR ESPERANÇA II Estímulo ao empreendedorismo de pessoas com HIV e reforço de parceria com serviços de saúde
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dona de casa Flávia tem 39 anos. O caminhoneiro aposentado Boaventura, 44 anos. Aos 41, Luciana é doméstica. Rubens é confeiteiro, padeiro, pintor e está com 45 anos. E as também donas de casa Geralda e Joana, de 48 e 58 anos, respectivamente, são amigas inseparáveis. Todas essas pessoas têm o HIV em comum, mas também histórias de amizade, de superação e de solidariedade. Faz 20 anos que Geralda vive com HIV. Há 15 ela tem frequentado as atividades do Projeto-Bem-Quer (PBMQ) porque “tudo é muito bom”. Com problemas na coluna cervical, mais recentemente começou fazer aulas de Yoga, uma das atividades do Projeto Partilhar Esperança II. Geralda é assídua às sessões de terapia em grupo. Foi ela quem levou Joana ao PBMQ, há quatro anos. Foi ela quem Joana chamou ao ter febre e diarreia intermitentes, primeiros sintomas do HIV, e quem a levou para fazer o teste e iniciar o tratamento. Moradoras da grande São Paulo, vão juntas às consultas no Serviço de Atendimento Especializado (SAE) Paulo César Bonfim, na Lapa. “As duas são tão unidas que, quando uma tem dor de barriga, a outra telefona para avisar que ambas não virão”, brinca Margarete Preto, assistente de coordenação do projeto. Beneficiário do Serviço de Psicologia desde 2005, Boaventura conta que teve uma toxoplasmose que “virou ao contrário” sua mente. “Quando eu soube que estava infectado, tentei me matar umas quatro vezes.” Ele conta que chegou ao Centro de Referência (CR) Nossa Senhora do Ó muito doente. Apesar de queixar-se de “uns brancos” eventuais e de uma dificuldade com operações matemáticas, “que antes não tinha”, Boaventura ainda
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-HIV+ Uma Publicação do Programa Municipal DST/AIDS
sonha em voltar para a estrada. Rubens é o empresário da turma. Ele é confeiteiro, padeiro e pintor. No CR, também é agente de prevenção. Foi lá que, ao descobrir sua soropositividade, viu um cartaz e foi pedir referências do PBMQ à assistente social. Quando chegou à ONG, há oito anos, pesava 43 Kg. No Projeto Partilhar Esperança II fez aulas de Yoga, curso de confeiteiro e também aprendeu a fazer salgados. “Este é um espaço acolhedor onde tenho liberdade para falar e sou ouvido”, diz, agradecido. Atualmente, tem como clientes três padarias, para quem vende seus salgados. “Eu fiz o curso e tiro meu sustento com o que aprendi aqui.” No sexto mês de gravidez, durante o pré-natal, Luciana descobriu-se soropositiva. O companheiro, usuário de
“Aqui recebo o acolhimento que não tenho na minha família. Aqui eu me sinto em família” droga injetável, foi internado e faleceu em seguida. Encaminhada ao CR Nossa Senhora do Ó, foi o serviço de saúde que indicou o PBMQ a ela. “Recebi muito apoio. Toda semana iam à minha casa para ver como eu estava”, relata sobre a visita domiciliar que recebia periodicamente. Luciana é beneficiária das ações do PBMQ há 15 anos, a mesma idade de Vitória, nome dado à filha cujo HIV foi negativado aos oito meses de vida e que é “praticamente criada”, junto com o irmão de 16 anos, na ONG onde frequentam o curso de informática. “Fiz
curso de artesanato, ponto cruz, crochê, confeitaria, padaria e culinária. Só não fiz Yoga”, elenca ela, que afirma viver do que aprendeu com o projeto. “Vivo do meu crochê, do meu ponto cruz. Faço bolo para festinhas, salgados e artesanato.” Flávia frequenta o PBMQ desde que deu à luz a filha, hoje com seis anos. Quando se descobriu com “o problema”, como se refere ao HIV, encontrou na ONG a “esperança de viver”. “Aqui recebo o acolhimento que não tenho na minha família. Aqui eu me sinto em família”, diz ela, emocionada. “Quando eu estava desistindo de tudo eles me buscaram, me internaram e me deram muita força”, conta ela, lembrando o tempo em que, grávida do caçula, hoje com dois anos, parou de tomar a medicação e adoeceu, deprimida com a morte da mãe. Além da equipe da visita, ela também recebeu o psicólogo em casa.
ou nem quer ouvir falar de HIV. Na maioria das vezes, quando o visitador chega ao domicílio a pessoa está debilitada, deprimida”, diz, justificando a necessidade desse tipo de assistência. “O HIV é o menor dos problemas da população que assistimos. Estamos numa região muito pobre e violenta”, analisa. Para Margarete, o destaque do projeto, no entanto, foram as Oficinas Dialogadas com os gestores dos serviços públicos da região. “Não sabíamos o que queríamos, nem eles o que podiam oferecer e vice-versa. Com o tempo, o grupo percebeu que o objetivo era melhorar o fluxo do usuário. Foi aí que formamos a Renorte, Rede de Serviços da Região Norte e Noroeste. “Efetivamente, imagine que uma pessoa vá à subprefeitura retirar um cartão e, identificada como soropositiva, seja referenciada ao PBMQ”, diz, sobre o objetivo de fortalecer ainda mais a parceria com o poder público.
“O projeto foi composto por ações que acreditamos beneficiarem a população atendida”, diz Margarete. Ela conta que, desde a fundação, em 1996, o Projeto Bem-Me-Quer tem duas premissas: a prevenção e o atendimento domiciliar direto. “Se uma pessoa não vem há mais de dois meses a uma atividade que se propôs a vir, é porque está com algum problema: doença, óbito
Projeto Bem-me-quer Projeto Partilhar Esperança II
População Prioritária
99 Crianças, adolescentes e jovens vivendo com HIV e aids 99 Adultos vivendo com HIV e aids Área de Atuação
99 Promoção e Prevenção 99 Atenção a pessoas vivendo com HIV e aids
-HIV+ Número 1 JANEIRO|DEZEMBRO 2013
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PROJETO ESPERANÇA SÃO MIGUEL PAULISTA
PROJETO PARCEIROS DA ESPERANÇA Projeto forma jovens católicos para falar de prevenção sem julgamentos
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ngajar adolescentes e jovens de grupos religiosos católicos na prevenção de doenças sexualmente transmissíveis (DST) e do HIV, desmistificando temas tabus sem atribuição de valor, sem quaisquer julgamentos. Essa foi uma das missões do Projeto Parceiros da Esperança. “A ideia era formar jovens parceiros da esperança na prevenção, era estruturar grupos nas paróquias que atuassem como agentes multiplicadores e que promovessem a vida com a prevenção das DST e da aids”, reflete Eduardo Brasileiro de Carvalho, coordenador do Projeto Esperança de São Miguel Paulista. A abertura de “alguns padres para o diálogo com a prevenção” facilitou a aproximação com a igreja, diz. Eduardo relata que, nas comunidades das paróquias de Itaquera, Nossa Senhora do Carmo, Penha, Guaianazes e Ermelino Matarazzo, foram formadas 42
turmas com uma média de 20 jovens “Parceiros da Esperança na Prevenção”. Segundo ele, a aproximação foi facilitada, ainda, por um debate específico sobre preservativo que estaria sendo travado no interior da Igreja Católica. “Há padres que defendem
“Há padres que defendem a necessidade de a igreja entender a função do preservativo para a prevenção e para a reprodução” a necessidade de a igreja entender a função do preservativo para a prevenção e para a reprodução”, afirma.
-HIV+ Uma Publicação da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo
As reuniões das turmas foram organizadas com a abordagem de temas como vivência da sexualidade, riscos das DST e da aids e vulnerabilidade às drogas, intercalados a dinâmicas interativas e a discussões de tabus como atividade sexual antes do casamento, homossexualidade, gravidez na adolescência, aborto e vida com aids. “Nesses momentos de interação, eles falavam um pouco da vivência deles, do que traziam da própria sexualidade”, exemplifica. No entanto, segundo Eduardo, com exceção dos padres mais abertos, “qualquer liderança católica vai pedir que não se distribuampreservativos nesses espaços”. Por isso, camisinhas não são bem-vindas nas comunidades paroquiais, “para não causar estranhamento”, explica. “Mas falávamos claramente sobre a eficácia do preservativo na prevenção, informando que o insumo está disponível em todos os postos de saúde e na sede do Projeto Esperança”, justifica.
A defesa que Eduardo faz do preservativo deve-se, segundo ele, à percepção de que a grande maioria dos jovens atendidos pelo Projeto Esperança tem vida sexual ativa, “alguns em relacionamentos estáveis”. “A gente orienta o jovem a ter preservativo em todos os momentos, porque ninguém sabe quando o desejo vai se mostrar, principalmente nos espaços em que os jovens estão inseridos.” Apesar do tabu, muitas pessoas na igreja afirmam-se homossexuais, diz Eduardo. “Eu acompanho a Pastoral da Juventude de Itaquera, mas em outros espaços há jovens que dizem continuar ‘em pecado’. Essa não é a posição do Projeto Esperança”, salienta ele, que também é coordenador da Pastoral da Juventude da Diocese de São Miguel Paulista. “O jovem católico tem de respeitar que essas pessoas não estão em busca de cura nenhuma”, posiciona-se. A formação dos “Parceiros da Esperança” promove, ainda, encontros de jovens soropositivos e soronegativos, nos quais os primeiros podem falar da vivência da soropositividade. “A receptividade é quase sempre muito estigmatizada porque ainda se julgam promíscuas algumas formas de exercício da sexualidade das pessoas”, lamenta Eduardo. Afora a formação de jovens e a estruturação de grupos católicos “que possam dialogar, sem juízo de valor, sobre o tema nas igrejas”, jovens soropositivos atendidos pelo Projeto Esperança também se formaram Parceiros da Esperança. No ano passado, durante o Dia Mundial de Luta contra a Aids, em 1º de dezembro, o Projeto Parceiros da Esperança fez uma ação na Praça Padre Aleixo, quando, pela primeira vez, jovens vivendo com HIV, capacitados como multiplicadores de informação sobre prevenção, abordaram as pessoas na praça. “Eles distinguiram a diferença entre falar com um público curioso e abordar pessoas que, às vezes, respondem até rispidamente ao tema. Eles puderam perceber que a aidsainda é um estigma na sociedade. Mas, para nós, o importante foram os laços que criamos com eles.”
-HIV+ Número 1 JANEIRO|DEZEMBRO 2013
Projeto Esperança Projeto Esperança de São Miguel Paulista Projeto Parceiros da Esperança
População Prioritária
99 Crianças, adolescentes e jovens vivendo com HIV e aids 99 Pessoas em situação de pobreza Área de Atuação
99 Promoção de Direitos Humanos 99 Atenção a pessoas vivendo com HIV e aids
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UNAS
PROJETO HELIÓPOLIS BAIRRO EDUCADOR NA PREVENÇÃO ÀS DST/AIDS Heliópolis: uma Comunidade luta contra a aids
U
m sedan aproximava-se, estacionava perto de uma praça, um largo ou uma viela e ligava um “funk pancadão” no último volume de seu potente sistema de som. Em poucos minutos, a cena era formada em Heliópolis. “As equipes de funk começaram forte na comunidade. Nós entramos forte também e fizemos a Balada da Prevenção”, lembra a educadora Solange Agda da Cruz, coordenadora do Projeto Heliópolis: Bairro Educador na Prevenção às DST/Aids. Nada contra o funk. “O problema é que esse ‘pancadão’ aproxima muita droga e álcool de crianças, pré-adolescentes e adolescentes”, argumenta. Uma das alternativas para coibir as consequências do ‘pancadão’, conta a educadora, foi a promoção da “Balada da Prevenção na Balada Black, nas quais agentes multiplicadores distribuíram preservativos e material informativo sobre prevenção. “Nós juntamos hip hop, funk e balada e começamos a interagir nesse meio”, lembra Solange. Os líderes da comunidade também foram reunidos e decidiram proporcionar alternativas à população.
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Mais próxima de uma força-tarefa, a interação consistiu em um programa na rádio comunitária e o início de um trabalho com os profissionais das creches e escolas da região para a divulgação de informações sobre doenças sexualmente transmissíveis (DST) e HIV/aids aos pais. A ação prosseguiu com um ciclo de debates preparado em parceria com o Serviço de Atendimento Especializado José Francisco de Araújo – SAE Ipiranga e culminou com o fechamento das ruas, quando os agentes multiplicadores entraram novamente em ação, convidando toda a comunidade a fazer o teste.
Ainda existem esses grupos de funk, mas é pouco. Quando a gente começou havia em todas as ruas.”
Isso não foi tudo. Donas de casa foram capacitadas e, nas mesmas vielas, largos e praças da comunidade, fizeram oficinas de sexo seguro. “Nós gravamos um vídeo de uma senhora ministrando uma oficina. Também promovemos formação com os educadores, com quem trabalha nas creches, com as coordenadoras pedagógicas. Eu acho que a educação sexual tem de ser constante, tem que estar na educação, na política, em tudo”, pondera Solange.
mulher, ter de lidar
Segundo a educadora, as “equipes de funk” continuam na comunidade. “Hoje em dia eles têm uns carros tão potentes e nem são daqui. Quando encostam esses carros junta morador e diz: ‘Olha, abaixa isso aí que já deu!’
-HIV+ Uma Publicação da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo
Atualmente, sem falta, é comum o uso de preservativos. “O uso da camisinha tornou-se um hábito. Hoje ninguém mais brinca com camisinha, antes eles assopravam e faziam balão. Hoje vêm procurar.” O hábito do uso do preservativo foi incentivado pelo grupo de lés-
“Com esse trabalho fui descobrir o que é ser com o HIV adquirido do companheiro e ter de tocar a vida” bicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT) da comunidade, que eram os agentes multiplicadores do projeto. “Geralmente, eles fazem parte de todos os projetos ligados à prevenção. A maioria também atua nos projetos. Isso foi uma coisa legal porque havia muito preconceito; hoje eles são
educadores, estão na cozinha das escolas, ou coordenam projetos. A UNAS tem essa diversidade”, explica Solange. Além do grupo LGBT, na comunidade de Heliópolis também atuam grupos de mulheres. “Nos últimos três anos a gente voltou a ‘segregar’ de novo. A gente se reúne muito, mas faz algumas coisas por segmento. Existem algumas questões, como a violência contra a mulher ou a homossexualidade, que são muito específicas e têm de ser debatidas em separado”, diz. “Diminuiu bem”, afirma a coordenadora do projeto, referindo-se aos resultados dos testes de HIV, incentivados em toda comunidade. “Essa comunidade tem muita mulher chefe de família. Com esse trabalho fui descobrir o que é ser mulher, ter de lidar com o HIV adquirido do companheiro e ter de tocar a vida. Porque ela só descobria sua própria contaminação quando o companheiro morria. Aí há uma adesão muito forte das mulheres também, de usar o preservativo, de ir ao ginecologista, de se se cuidar.” No período de execução do projeto, um grupo de jovens mães também foi capacitado como multiplicador. “Sentimos que o trabalho é muito importante”, ressalta a educadora. UNAS é uma ONG com diversos núcleos e está em um milhão de metros quadrados da comunidade de Heliópolis. Além do trabalho social, a ONG administra 11 creches, oito Centros para Crianças e Adolescentes (CCA), uma escola municipal de educação infantil (EMEI), uma de ensino fundamental (EMEF), uma escola técnica (ETEC) e três Centros de Educação Infantil (CEI). “É a junção do Estado com a iniciativa privada, a Prefeitura e o Governo Federal. A gente ainda está em construção. Nossa missão é o bairro educador”. Hoje em dia, há distribuição de preservativos em todas as partidas de futebol disputadas na quadra da UNAS, em Heliópolis. E o programa da rádio comunitária continua a emitir mensagens de prevenção às DST e ao HIV/aids.
População Prioritária
99 Pessoas em situação de pobreza 99 Pessoas em situação de rua
Área de Atuação
UNAS União de Núcleos e Associação dos Moradores de Heliópolis e Região Projeto Heliópolis Bairro Educador na Prevenção às DST/Aids
-HIV+ Número 1 JANEIRO|DEZEMBRO 2013
99 Promoção e Prevenção 99 Promoção de Direitos Humanos
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SERVIÇOS MUNICIPAIS ESPECIALIZADOS EM DST/AIDS
REGIÃO LESTE
515 – Teotônio Vilela – Sapopemba – Tel.: 2704-3341
|| CTA SÃO MIGUEL Rua Engenheiro Manoel Osório, 151 – São Miguel Paulista – Tel.: 2297-6052
|| CR PENHA Praça Nossa senhora da Penha, 55 – Penha – Tel.: 2092-4020
|| CTA CIDADE TIRADENTES Rua Luis Bordese, 96 – Cidade Tiradentes – Tel.: 2282-7055
|| AE VILA PRUDENTE Praça Centenário de Vila Prudente, 108 – Vila Prudente – Tel.: 2273-1665 / 2061-7836 / 2272-5763
|| CTA Dr. SÉRGIO AROUCA (ITAIM) Rua Valente de Novaes, 131 – Itaim Paulista – Tel.: 2963-3458
|| AE Dr. ALEXANDRE KALIL YAZBECK – “CECI” (JABAQUARA) Avenida Ceci, 2235 – Jabaquara – Tel.: 2276-9719
|| CTA SÃO MATEUS Avenida Mateo Bei, 838 – São Mateus – Tel.: 2919-0697
|| CTA MOOCA Rua Taquari, 549 – Sls 09 e 10 – Mooca – UBS Mooca – Tel.: 2694-3338
|| CTA GUAIANASES Rua Centralina, 168 – Guaianases – Tel.: 2554-5312
REGIÃO NORTE
|| SAE CIDADE LÍDER II Rua Médio Iguaçu, 86 – Cidade Líder – Tel.: 2748-0255 / 2748-1139 || SAE FIDÉLIS RIBEIRO Rua Peixoto, 100 – Ermelino Matarazzo – Tel.: 2622-0123 / 2621-4753 / 2621-0217
|| SAE MARCOS LOTTEMBERG (SANTANA) Rua Dr. Luiz Lustosa da Silva, 339 – Mandaqui – Tel.: 2977-7739 || CR NOSSA SENHORA DO Ó Avenida Itaberaba, 1377 – Freguesia do Ó – Tel.: 3975-9473
REGIÃO SUDESTE
|| CTA PIRITUBA Avenida Dr. Felipe Pinel, 12 – Pirituba – Tel.: 3974-8569
|| SAE JOSÉ FRANCISCO DE ARAÚJO (IPIRANGA) Rua Gonçalves Ledo, 606 – Ipiranga – Tel.: 2273-5073
REGIÃO CENTRO-OESTE
|| SAE HERBERT DE SOUZA – “BETINHO” (SAPOPEMBA) Avenida Arquiteto Vilanova Artigas,
|| CTA HENFIL Rua Líbero Badaró, 144 – Sé – Tel.: 3241-1627 / 3241-2224
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-HIV+ Uma Publicação da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo
|| SAE CAMPOS ELÍSEOS Alameda Cleveland, 374 – Campos Elíseos – Tel.: 3331-1317 || SAE PAULO CÉSAR BONFIM (LAPA) Rua Tomé de Souza, 30 – Lapa – Tel.: 3832-2551 || SAE BUTANTÃ Avenida Corifeu de Azevedo Marques, 3596 – Butantã – Tel.: 3768-1523
REGIÃO SUL || CTA PARQUE IPÊ Rua Francisco Antunes Meira, 255 – Parque Ipê – Tel.: 5842-8962 || CTA SANTO AMARO Rua Promotor Gabriel Nettuzzi Perez, 159 – Santo Amaro – Tel.: 56861475 / 5686-9960 || SAE JARDIM MITSUTANI Rua Vitorio Emanuele Rossi, 97 – Jd Bom Refúgio – Tel.: 5841-5376 || CR SANTO AMARO Rua Carlos Gomes, 695 – Santo Amaro – Tel.: 5524-3032 || SAE CIDADE DUTRA Rua Cristina de Vasconcelos Ceccato, 109 – Cidade Dutra – Tel.: 56668301 || SAE M’BOI MIRIM
Previsão de inauguração: 2013
Rua Deocleciano de Oliveira Filho, 348 – Jd. São Luiz – CEP 05834-000