Coeduca 2 direito de aprendizagem e inclusão escolar

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Ione Arsênio da Silva

DIREITO DE APRENDIZAGEM E INCLUSÃO ESCOLAR: DISCUTINDO AÇÕES EDUCATIVAS JUNTO AO ALUNO COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL


Editores Eld Johonny Mônica Baltazar Diniz Signori Texto Ione Arsênio da Silva Revisão Daniel Perico Graciano Lívia Beatriz Damaceno Capa e Diagramação Eld Johonny

SILVA, Ione Arsênio da. Coeduca - Direito de aprendizagem e inclusão escolar: discutindo ações educativas junto ao aluno com deficiência intelectual / Ione Arsênio da Silva. São Carlos - PNAIC UFSCar, 2017. ISBN 978-85-921588-7-3 1. Alfabetização 2. Educação 3. Inclusão


Ione Arsênio da Silva

DIREITO DE APRENDIZAGEM E INCLUSÃO ESCOLAR: DISCUTINDO AÇÕES EDUCATIVAS JUNTO AO ALUNO COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL

1ª edição


DIREITO DE APRENDIZAGEM E INCLUSÃO ESCOLAR: DISCUTINDO AÇÕES EDUCATIVAS JUNTO AO ALUNO COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Ione Arsenio da Silva1 Quando a professora Maria de Lourdes Neves da Silva, da EMEF Professora Eliza Rachel Macedo de Souza, na capital paulista, recebeu Gabriel**, a reação dos colegas da 1ª série foi excluir o menino - na época com 9 anos de idade - do convívio com a turma. “A fisionomia dele assustava as crianças. Resolvi explicar que o Gabriel sofreu má-formação ainda na barriga da mãe. Falamos sobre isso numa roda de conversa com todos. Eles ficaram curiosos e fizeram perguntas ao colega sobre o cotidiano dele. Depois de tudo esclarecido, os pequenos deixaram de sentir medo” (Fonte: revista nova escola) Este ano, a escola recebeu uma criança de 4 anos com deficiência intelectual e os pais dos coleguinhas de turma foram até a Secretaria de Educação pedir que o menino fosse transferido. (Fonte: revista nova escola)

Os exemplos relatados acima expõem uma problemática que ainda permeia boa parte das escolas brasileiras,a inclusão escolar da criança com deficiência. Após 23 anos da Declaração de Salamanca, importante documento elaborado em 1994 a partir de uma conferência na Espanha 1 Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de São Paulo - Campus Campos do Jordão


que denúncia a situação de exclusão escolar e social, das pessoas com deficiência, entre outros, o Brasil, partícipe deste movimento, apresenta dificuldades em traduzir para as escolas práticas educacionais inclusivas. No escopo deste texto abordaremos mais especificamente aspectos ligados à deficiência intelectual que consiste numa das mais desafiadoras para o processo de inclusão escolar. Partimos do princípio de que, conforme o contido no caderno Pacto na Alfabetização na Idade Certa, o PNAIC, referente à educação Inclusiva: [...]não faz sentido falarmos sobre todas as coisas que falamos para garantir os direitos de aprendizagem dos alunos, e não pretendermos – seriamente – que a palavra “alunos” se refira a todos os alunos da nossa sala de aula! Então, quando falamos do lúdico e de como ele é fundamental para a aprendizagem das crianças, estamos pensando que as crianças surdas ou cegas também devem brincar, jogar e explorar estas potencialidades do lúdico em suas vidas e durante sua escolarização. Quando sugerimos que um tipo de material seja usado, por exemplo os Blocos Lógicos, então este material deve ser usado com todas as crianças, sendo proveitoso de diferentes maneiras para aquelas com deficiência intelectual ou paralisia cerebral. (2014, p.6).

É claro que não nos furtamos de admitir, conforme asseveram Mendes, Vilaronga e Zerbato (2014) que os professores de sala de aula têm enfrentado o processo de inclusão escolar raramente tendo o apoio de profissionais especializados ou equipe multidisciplinares devido ao baixo investimento na contratação desses profissionais, o que se transforma em uma séria barreira para a efetivação da política de inclusão escolar. No entanto, ante ao avanço tecnológico é possível perceber a existência de vários recursos educacionais que favorecem a presença do aluno com

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deficiência em sala de aula. Isso nos faz apontar um aspecto espinhoso que circunda o ensino destinado ao aluno com deficiência, a saber, a disponibilidade interna (MANTOAN, 2003) que não é comum à todos os professores. Há, infelizmente, os que tentam, porém não conseguem se libertar de preconceitos e de hábitos enraizados, que não lhes permitem fazer uma releitura de suas atuações, à luz de novos propósitos e procedimentos educacionais. Uma das reações mais comuns é afirmar que não estão preparados para enfrentar as diferenças, nas escolas, nas salas de aulas. Esse motivo é aventado quando surgem quaisquer problemas de aprendizagem nas turmas e até mesmo quando eles existem, concretamente. (2003, p. 28)

Retomando o material do PNAIC (BRASIL, 2014) voltado para educação inclusiva encontramos uma importante reflexão quando nele se afirma que se encontramos a necessidade de falar em inclusão, é por que a exclusão existe e muitos têm sidoexcluídos do sistema educacional. Assim, é mister refletir sobre este aspecto no sistema educacional brasileiro, é preciso refletir na escola, é preciso, por fim, refletir em sala de aula. Quando pensamos em direito de aprendizagem, uma das bandeiras do PNAIC, partimos do princípio de que todos devem fazer parte dessa premissa, isto é, devemos incluir as pessoas com deficiência. Se eu amo a meu semelhante? Sim. Mas onde encontrar o meu semelhante? (Mário Quintana, 2006, p. 88)

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Procurando, para tanto, contribuir com a ação educativa junto aos alunos, público-alvo da educação especial numa perspectiva inclusiva. Arrolamos algumas atividades que desenvolvemos em sala de aula junto a esse público ao longo de nossa experiência como professora tanto nas antigas classes especiais, como em classes do ensino comum. Faz-se necessário antes que alguns aspectos fundamentais sejam considerados e assim, encontramos em Ramos (2006, p. 14/15) importantes orientações neste sentido: • •

• • •

Não priorizar a aprendizagem dos conteúdos educacionais em detrimento da aprendizagem da vida. Elaborar o plano didático não mais mediante parâmetros preestabelecidos, mas levando em conta a realidade dos alunos da classe. Respeitar as diferenças é respeitar o ritmo de aprendizagem de cada um, o qual, o mais das vezes, não corresponde às nossas expectativas. Contudo, não deixe de apresentar determinados temas ao aluno com deficiência intelectual supondo que ele não vá aprendê-los. Avaliar a aprendizagem considerando o potencial do aluno, e não as exigências do sistema escolar.

Considerando os preceitos acima descritos, traremos a seguir algumas atividades que podem ser desenvolvidas junto ao aluno D.I: EIXO ESTRUTURANTE

Leitura

HABILIDADE

Ler palavras com estrutura canônica

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Exemplo: Alguns alunos poderão apresentar dificuldades em associar som-grafia e ao associarmos mais um elemento como as cores podemos facilitar as memorização das vogais, por exemplo: A (AZUL); E (VERMELHO); I (VERDE); O (MARROM); U (AMARELO)

Após trabalharmos essa associação em sala, na construção das sílabas para a leitura das palavras é indicado que se mantenha essa lógica para facilitar o processo de leitura do aluno. Importante: é preferível que as cores escolhidas estejam entre as cores do giz de lousa para facilitar a representação neste recurso. Usar a figura como apoio para a formação silábica. O aluno com deficiência intelectual necessitará em geral de apoio visual para a compreensão da escrita. Uma atividade interessante para a formação de palavras consiste em carimbar figuras de animais e ou objetos escrever seus nomes e circular algumas sílabas de modo a possibilitar a formação de novas palavras, fornecendo para isso um desenho da palavra a ser formada. Exemplo:

MOTO

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LATA

MOLA


EIXO ESTRUTURANTE

Interpretação

HABILIDADE

Interpretar textos

HISTÓRIAS ORAIS Para contar histórias aos alunos utilizar mais recursos visuais, e ao longo das narrativas, observe se as crianças - mediante, por exemplo, expressões, riso, admiração etc. – demonstram compreender o que está ocorrendo.

GÊNEROS TEXTUAIS VARIADOS Apresentar diferentes gêneros textuais, muitas vezes o professor por considerar o aluno com deficiência intelectual incapaz de acompanhar as atividades desenvolvidas com os outros alunos, limita a oferta de diferentes textos ao aluno, empobrecendo o seu contato com a leitura e escrita.

AÇÕES Em um primeiro momento trabalhar em sala e em vários momentos um tipo de texto, exemplo receita. Posteriormente apresentar outro tipo de texto, mas especificando a diferença entre eles, repetindo tal ação algumas vezes e verificar se o aluno reconhece a diferença entre os textos. É interessante repetir em alguns momentos o mesmo texto, isto é, variar o gênero, mas repetir o texto selecionado para cada gênero. A partir do progresso do aluno, variar neste aspecto também.

REGISTRO DA LEITURA a) Em um primeiro momento solicitar que o aluno registre na forma de desenho a história ouvida a fim de perceber o que o aluno apreendeu do texto desenvolvido.

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b) Acompanhar esses registros e instigar, para que o aluno relate o que desenhou a fim de melhorar a expressão de sua compreensão da história. Procuramos aqui, apresentar algumas estratégias de ensino de leitura e interpretação para serem desenvolvidas junto ao aluno com deficiência intelectual. É importante o professor ter em mente que será na maior parte das vezes, necessário significar a leitura e dar sentido a ela, mostrando a sua função social. Ilustrações e fichas de leitura auxiliarão nesse processo.

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REFERÊNCIAS BRASIL. Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Apoio à Gestão Educacional. Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa: Educação Inclusiva / Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, Diretoria de Apoio à Gestão Educacional. – Brasília: MEC, SEB, 2014. 96 p. MANTOAN, M. T. Uma escola de todos, para todos e com todos: o mote da inclusão. In STOBÄUS, C. D.; MOSQUERA, M. (Orgs.). Educação Especial: em direção à educação inclusiva. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2003. p. 27-40. Disponível em http://www.lite.fe.unicamp.br/papet/2003/ep403/uma_ escola_de_todos.htm. Capturado em janeiro de 2017. MENDES, E.G; VILARONGA, C. A. R; ZERBATO, A. P. Ensino colaborativo como apoio à inclusão escolar: unindo esforços entre educação comum e especial. São Carlos: UFSCar, 2014 RODRIGUES, C.Formas criativas para estimular a mente de alunos com deficiência. Disponível em https://novaescola.org.br/conteudo/440/formascriativas-estimular-mente-deficientes-intelectuais. Capturado em fevereiro de 2017

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