Proposta para o
Museu das Águas de Porto Alegre
Comitê Multidisciplinar de Planejamento Urbanístico da Orla do Guaíba
Uma proposta para o Museu das Águas de Porto Alegre 1. Justificativa A água é uma substância essencial e indispensável para todos os seres vivos e para todas as atividades da sociedade humana. Como componente do ambiente natural da Terra, tem um papel fundamental no equilíbrio ecológico e na preservação das condições ambientais que permitem a nosso planeta gerar e manter a vida como a conhecemos. A quantidade de água existente no planeta não se altera ao longo dos tempos, mas sua presença não é uniforme: - espacialmente, oscila entre a abundância excessiva nas zonas mais úmidas e a extrema escassez nas regiões áridas e desérticas; - temporalmente, em uma mesma região varia, com maior ou menor regularidade, das épocas secas, chegando a fortes estiagens de maior ou menor duração até os períodos de chuvas, mais ou menos intensas, prolongados ou breves. Desde a revolução industrial, aumentaram em intensidade e em diversidade os usos da água para as atividades humanas e, em decorrência disso, a disponibilidade desse importante recurso natural deixou de ser considerada como ilimitada, tanto localmente quanto em âmbito planetário. Em outras palavras, a água não é um recurso inesgotável. O aumento e a simultaneidade de usos fizeram com que a sociedade fosse confrontada como a realidade da escassez, seja presente ou futura, seja em âmbito mais localizado ou mais amplo. Para determinados usos, entre eles os mais nobres como o abastecimento humano ou a dessedentação animal, a escassez pode-se produzir em termos de quantidade (quando o consumo torna-se maior do que a disponibilidade) ou de qualidade (quando alguns usos produzem alterações de qualidade que impedem o aproveitamento para outros usos). As questões relacionadas com a disponibilidade limitada da água frente a usos cada vez mais diversificados e crescentes é um tema que vai se tornando prioritário na pauta dos governos e da opinião pública de todo o mundo. Tanto em escala mundial quanto no âmbito das nações, demandam-se políticas públicas que estabeleçam uma gestão pública das águas. A gestão pública deve ser enfocada na proteção (conservação, recuperação e preservação) dos recursos hídricos e na racionalização e compatibilização dos usos múltiplos desses recursos e concretiza-se em leis, sistemas institucionais e instrumentos gerenciais. No cerne da política pública para a proteção e o melhor uso das águas está o processo de educação e de conscientização dos cidadãos, Um museu das águas pode contribuir para a concretização dos objetivos da gestão das águas, na medida em que pode ser importante instrumento de educação e conscientização com todos seus componentes: informação, comunicação, divulgação, participação, entre outras funções culturais.
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2. Conceito geral O museu terá como tema a água, bem ambiental limitado, essencial para a vida e para o desenvolvimento social, suas manifestações na natureza, suas características físicas, os usos múltiplos e simultâneos atuais e ao longo da história e a gestão pública dos recursos hídricos.
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3. Proposta básica -
O Museu das Águas constituir-se-á de três Eixos: Eixo Educativo – em que o tema será desenvolvido em seus diversos aspectos sob forma de modelos reduzidos e maquetes (por exemplo, uma bacia hidrográfica, uma estação de tratamento de água, um sistema de irrigação, uma estação de tratamento de efluentes industriais, uma barragem para geração de energia etc), jogos, instrumentos audiovisuais, programações com escolas, cursos, seminários etc.
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Eixo Histórico – onde serão preservados artefatos e documentos relacionados com a história da água e de seus usos (utensílios de diversas culturas relacionados com os usos da água e dos corpos hídricos, peças e maquinismos com valor histórico referentes a tecnologias, serviços e instituições, documentos, fotos, vídeos ou filmes e outros registros históricos)
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Eixo Artístico – espaço para receber obras produzidas por artistas nos mais variados formatos, suportes, propostas e concepções, enfocando o tema do Museu em seus diferentes aspectos; assim como fomentar a produção dessas obras através de concursos, cursos, oficinas etc. Os espaços expositivos servirão para a apresentação tanto de um acervo a ser constituido quanto para mostras temporárias, oportunizando, inclusive a permuta com entidades similares.
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Os eixos (ou módulos) descritos acima não deverão ser estanques, mas dinamicamente interligados e integrados. Deverá haver a previsão de um espaço comum (midioteca) que abrigue elementos escritos (livros, revistas, cartazes etc), audiovisuais (fotografias, filmes, vídeos, bancos de dados) e sonoros (gravações), aberto ao acesso individual ou coletivo, seja por fruição ou para pesquisas científicas ou educacionais.
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4. O Museu como Centro de Referência Em sintonia com a tendência museológica contemporânea de fazer dessas instituições organismos dinâmicos e atuantes, o Museu das Águas deve ser um verdadeiro centro de referência para a conscientização das questões relacionadas com a proteção das águas e a mobilização dos cidadãos. Deve articular-se com outras instituições com finalidade similar, proporcionando oportunidades de pesquisa documental e promovendo conjuntamente eventos educativos, culturais e recreacionais vinculados ao tema central.
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5. Museus das Águas no mundo Em outros países foram criados museus temáticos voltados à água ou que se ocupam com a questão ambiental, de forma mais ampla, onde aparece também a água. A seguir elencamos alguns exemplos de museus existentes. - Lisboa tem seu museu das águas desde 1919, “composto por quatro núcleos museológicos que correspondem a quatro localizações diferentes dentro da cidade de Lisboa e municípios adjacentes. Cada um desses núcleos fez parte do sistema de abastecimento de água potável à cidade de Lisboa, estando, na actualidade desactivados para estas funções”. - Na Holanda, o Netherlands Water Museum, na cidade de Arnhem, é “um museu interativo dedicado a todos os aspectos da água doce”. - O New York Museum of Water, de acordo com seu site, “é o primeiro e único museu público nos Estados Unidos unicamente dedicado à água e o único no mundo a fornecer uma perspectiva global deste elemento onipresente apesar de muitas vezes escondido”. - Na Rússia, o Museu das Águas de São Petersburgo foi inaugurado em 28 de maio de 2003, localizado em uma “torre de água” (reservatório) de 1860 - Na Itália, foi inaugurado em 2008 o Museo delle Acque de Perugia, o qual “estimula uma viagem ideal à descoberta da água, elemento natural essencial para garantir a vida sobre a Terra” (Existem, também, dezenas de “museus do ambiente” ou ecomuseus. - Em Londres, existe o Kew Bridge Steam Museum – “construido no século XIX para abastecer Londres com água, o museu é reconhecido como o mais importante sítio histórico da indústria do abastecimento de água na Grã-Bretanha”. - Na Espanha, encontram-se o Ecomuseo del Agua de Benamahoma, na Andaluzia e o Museo de la Ciência y del Água da Murcia. - Em Buenos Aires, um antigo reservatório desativado, onde hoje funcionam unidades administrativas do abastecimento de água da cidade (o Palácio de las Águas Corrientes) também abriga um pequeno museu. Em nosso país, temos o exemplo de Blumenau, onde a primeira Estação de Tratamento de Água, de 1943, foi transformada em Museu da Água em 1999. Embora o exemplo de Lisboa seja bastante antigo, a tendência de criar esses museus é bem mais recente. Entre os que foram pesquisados, o objetivo principal é didático, podendo também ser o de museu histórico. Talvez o museu proposto para Porto Alegre seja o primeiro a contemplar, também, o aspecto artístico, integrando os três eixos temáticos. Proposta para o Museu das Águas de Porto Alegre - 9
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6. Referências históricas e conjunturais A ideia de um museu das águas surgiu no contexto do Ano Estadual das Águas, estabelecido pelo Governo do Estado do Rio Grande do Sul em 2004. Este evento, desenvolvido ao longo de todo o ano, em comemoração aos dez anos da Lei 10350/94, Lei Estadual da Água, foi uma proposta da Câmara Técnica dos Recursos Hídricos da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental apoiada por diversas entidades da sociedade civil e órgãos públicos. A idéia do museu foi reforçada pelo conhecimento, trazido pelo Presidente da Associação Riograndense de Imprensa, da existência de museus similares na Europa. Por ocasião do II Fórum Internacional da Água, iniciativa da ARI, em novembro de 2004, a proposta do museu chegou a ser levantada, mas não encontrou maiores apoios. Em 2009, constituiu-se um grupo representativo de diversas entidades para defender a necessidade de um planejamento urbanístico da orla do Guaíba que respeite a proteção ambiental da região. A ideia de um museu voltou a surgir, revigorada com a característica de poder ser um ícone dos esforços para a preservação ambiental da orla. Nada melhor para marcar o planejamento ambiental e urbanisticamente adequado desse espaço do que reservar um lugar de destaque a uma instituição como um Museu das Águas na própria orla do Guaíba. O Museu das Águas de Porto Alegre, além de sua importância para a conscientização da problemática da água, pode ser o símbolo concreto do que a orla do Guaíba significa para a população de Porto Alegre e de todo o Rio Grande do Sul, para além da simples especulação imobiliária e do uso predatório do ambiente natural. Porto Alegre, março de 2010. Luiz Antonio Timm Grassi Membro da Câmara Técnica de Recursos Hídricos Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental – Seção do Rio Grande do Sul
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Arte: Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho Fotos: Cesar Cardia, Eduíno de Mattos, L. A. T. Grassi e Arquivo Histórico da cidade de Porto Alegre
Comitê Multidisciplinar de Planejamento Urbanístico da Orla do Guaíba E-mail: goncalodecarvalho@yahoo.com.br Fone: (51) 3354.2456
Museu das Águas de Porto Alegre Apoios: •Associação Riograndense de Imprensa •Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental - Seção RS