ComPosições Políticas Gilberto de Abreu

Page 1

maré intervenções urbanas

:

força que impele as ações humanas com seus avanços e recuos , fluxos e refluxos .

Imagem escolhida Registro da campanha “É Justo?”, realizada pela ONG Rio da Paz Porquê A ação foi desenvolvida em locais marcados pela desigualdade social e por deficiências nos serviços públicos, tais como o Complexo da Maré. Fonte: www.ancelmo.com _ Abril 2014


Residência Artística

Sobre o proponente

Composições Políticas

03

16

'

'

Gilberto de Abreu

07 de abril de 1970 Vive e e trabalha no Rio de janeiro ornalista, executivo de branding, curador independente. Nada disso me define tanto quanto aquele sonho de criança, em que desejava ser astronauta para ver o mundo de outro ponto-de-vista.

Cumprir uma residência artística nesta comunidade permitiria mapear as intervenções urbanas realizadas por moradores e artistas de rua, bem como analisar suas mensagens e aferir o impacto das mesmas em diferentes públicos: moradores, trabalhadores, visitantes, imprensa, opinião e poder públicos.

A possibilidade de imergir em uma realidade social completamente diferente da minha, adversa em certo sentido, e desafiadora em essência, é o que me faz sonhar com a Maré.

A pesquisa abrangeria pichação, grafite, stêncil, adesivos e lambelambes, contemplando iniciativas de cunho artístico, político e social, sendo elas legais ou não.

J


O QUE DIZEM ( N ) AS PAREDES DO COMPLEXO DA MARÉ? O mapeamento das intervenções urbanas no Complexo da Maré tem por finalidade ampliar o alcance e a discussão acerca de tais proposições, gerando maior reflexão acerca das mensagens propagadas pelos indivíduos que lá vivem ou transitam, bem como seu impacto no imaginário da própria comunidade, e das sociedades carioca e brasileira. O dia-a-dia desta residência será documentado por meio de fotos, vídeos, áudios e textos, disponibilizados online, on going, tal como em um diário de viagem: um trabalho em processo sobre a (des)construção dos mais variados sentidos, sejam eles visuais ou verbais. O conteúdo gerado ao longo dos 30 dias de vivência mareense deverá integrar, total ou parcialmente, física ou digitalmente, um projeto expositivo que prevê a participação de lideranças comunitárias, bem como de um ou mais artistas de rua, residentes ou não na Maré.


maré outras histórias

O que há por trás desses inscritos? Quem os faz? O que se pretende comunicar? Como são percebidos pelos moradores da Maré e pela população?


Se é verdade que por toda a parte se estende e se precisa a rede de vigilância, mais urgente ainda é descobrir como é que uma sociedade inteira não se reduz a ela: que procedimentos populares (também minúsculos e cotidianos) jogam com os mecanismos da disciplina e não se conformam com ela a não ser para alterá-los

Michel de Certeau


direções Desafio (Re)conhecer a problemática da comunidade e revelas como ela se reflete nas paredes mareenses. Missão Capacitar membros da comunidade enquanto agentes do processo, seja na mediação, documentação e/ou interpretação de tais mensagens. Visão Fomentar o trabalho colaborativo desde a proposição até a validação e aplicação das diretrizes em campo. Valores Compartilhar o saber apreendido em redes, de modo horizontal, democrático e inclusivo. Online e offline. Premissa Não nos caberá julgar erros e acertos, mas aprender com ambos a melhor gerenciar novas perspectivas. Disponibilidade Atesto para os devidos fins que encontro-me inteiramente disponível para viver e atuar no Compelxo da maré entre os dias 2 de março e 2 de abril, bem como dos eventos da residência: exposições e seminários.

Objetivo EMPODERAR INDIVÍDUOS


marcelo yuka QUANDO ESCREVI A CANÇÕES AS PESSOAS ACHAVAM QUE EU ERA NEGRO ... QUANDO ERA ADOLESCENTE ERA VISTO COMO MACONHEIRO ... QUANDO GRAVEI O PRIMEIRO DISCO AS PESSOAS FALAVAM QUE EU ERA RADICAL DEMAIS PRO MERCADO MUSICAL ... QUANDO ME TORNEI CADEIRANTE FUI MANDADO EMBORA DO TRABALHO PORQUE PASSEI A SER VISTO COMO ALGUÉM IMPRODUTIVO ... QUANDO FUI PANFLETAR CONTRA AS ARMAS DE FOGO, JÁ NA CADEIRA DE RODAS, UMA MULHER - ANTES DE ME OUVIR - FALOU: 'NÃO TENHO DINHEIRO''. QUER SABER? SOU TUDO ISSO E NADA DISSO AO MESMO TEMPO ... MAS E DAÍ? AME FORA DA CAIXA ...


EXPERIÊNCIAS ANTERIORES

traços urbanos Websérie em 5 episódios sobre a cena carioca do grafite e o papel dos artistas de rua na reurbanização carioca, em ações de arte-educação e no imaginário da população que transita pela cidade.

01 tem grafite na paisagem 02 lição pra vida toda 03 retratos da comunidade 04 galeria a céu aberto 05 o grafite no mundo

assista


pimp my boat A mineira Rafaela Monteiro descobriu o grafite há apenas seis meses, mas parece ter nascido para a arte urbana. Depois de trabalhar como estilista, hoje empresta sua arte para grandes marcas de moda, projetos de decoração e causas socioambientais. É nossa entrevistada para o Portal MultiRio.

Como você ingressou no universo do grafite? Rafaela Monteiro – Sempre gostei muito de arte urbana. Ando nas ruas observando os muros desde sempre. Quando resolvi abandonar a moda e voltar a pintar, pretendia explorar grandes plataformas urbanas, mas confesso que morria de medo – medo de me expor durante um trabalho e do material que teria que aprender a usar, no caso, o spray. Você está surgindo num momento em que a cena do grafite é bem mais reconhecida. O que admira na história de quem deu aquele duro no início?

Admiro as barreiras que conseguiram romper e a persistência. A galera que começou no grafite também ajudou a mostrar que o pixo é algo diferente do grafite artístico.

De onde veio a ideia de pintar barcos de pescadores? Eu amo pintar, em qualquer lugar. Dia desses, fui pintar em um evento em Niterói, numa vila de pescadores, e escolhi pintar um barco em vez de um muro.

Pimp My Boat, em português, quer dizer algo como Incremente Meu Barco. Como isso funciona exatamente? Pimp My Boat é um movimento que vai atuar para beneficiar aqueles que praticam a pesca artesanal na Baía de Guanabara. A degradação do ecossistema afeta diretamente as comunidades pesqueiras, e os reflexos são sentidos principalmente por esses trabalhadores, que não possuem alternativas de sobrevivência. Clique aqui para ler a íntegra da entrevista

Acima Barco grafitado pelo artista de rua Rafo Castro em uma comunidade pesqueira na cidade de Niterói, RJ Texto e foto: Gilberto de Abreu.

"A injustiça ambiental está na forma como as comunidades pesqueiras e a população do entorno são tratadas, ou seja, sem saneamento básico, sem infraestrutura e sem política de proteção ao ecossistema. Pimp My Boat é um movimento que luta para tirar da invisibilidade os pescadores artesanais no entorno da Baía de Guanabara, promovendo autoestima e sensibilizando a sociedade".

Rafaela Monteiro


anarkia boladona Hoje valorizado pelo mercado brasileiro, disputando a atenção com o que de melhor é produzido na arte contemporânea, o grafite nacional assiste a uma nova onda de renovação: o crescimento do número de artistas mulheres. Sua contribuição para a arte urbana e o reconhecimento que vem obtendo junto à opinião pública levam à reflexão sobre o papel da mulher nesse contexto.

Observando os muros pintados por garotas em cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Salvador, entre outras, descobrimos que, por trás do colorido quase sempre radiante, existem questões relacionadas à mulher, à forma como é tratada pelos homens e à sociedade de modo geral. O universo feminino retratado pelas grafiteiras tem tantas nuances quanto as artes que pintam nos muros das grandes cidades. Personagens com olhos esbugalhados, de aparência quase infantil, convivem, lado a lado, com mulheres de corpo franzino, fragilizadas pelo

abandono, pela opressão e pelo abuso sexual.

Anarkia Boladona - A carioca Panmela Castro, por exemplo, inseriu-se na cena do grafite há praticamente uma década. Os primeiros trabalhos dessa artista tinham como suporte os muros do bairro da Penha, subúrbio do Rio de Janeiro, onde nasceu e foi criada. Ex-aluna de Belas Artes, Panmela tornou-se conhecida pelo codinome Anarkia Boladona e pelo desafio que se impôs de erguer, no lugar mais alto que alcançasse, sua bandeira em prol do feminismo. E isso não era figura de linguagem. O reconhecimento obtido com seus “grafites feministas” se propagou pelos quatro cantos, com ajuda da imprensa internacional, especialmente da revista norteamericana Newsweek, que incluiu o nome da brasileira na lista das “150 mulheres que movem o mundo”. Clique aqui para ler a íntegra da entrevista

Acima Pammela Castro questiona noções de liberdade sob a ótica felminina: corpo, subjetividade, sexualidade.

Questionando a noção de liberdade sob a ótica feminina, naquilo que diz respeito ao corpo, à sexualidade e à subjetividade da mulher, Pamela diz que não imaginava aonde poderia chegar. “ “Foi na rua e fazendo grafites que pude me descobrir. Quando comecei, não tinha ciência da minha temática. Fazia autorretratos sempre ‘boladona’, de cara fechada. Com o tempo, eu mudei, e meu trabalho mudou”. Pammela Castro


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.