Lux Woman - Amor Multiplicado

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SUmarIO para mulheres com atitude

80 82

NA PRIMEIRA PESSOA

pág. 86 Margarida Rebelo

Pinto escreve sobre os namorados

MÚSICA Lado B dos artistas, t-shirts e discos

II INlERPRETAçlO DAS DIfERENTES TENOtNCIAS PRlMAVERAlVERAo

I

86 ESprRITO DA ESTAÇÃO 96 PEÇAS-CHAVE 98 PANTEVER 106 NOVA PULSÃO

As tendências primavera/Verão O que deve comprar

Calças para sempre

As colaborações na moda

112 120 122 126 131 13-4 137

138

1l,1

DOS BASTIDORES PARA A RUA Tendências Primavera/Verão

NOTrCIAS Colaborações HOMENS Dia do Pai

SAÚDE A saúde feminina em 50 perguntas

COMPORTAMENTO Mãe de verdade

CARREIRA 10 básicos na entrevista de emprego ESCRITÓRIO DE Raquel Prates RELACIONAMENTO •••

Amor multiplicado, os poliamorosos

PESSOAS Enólogos, a paixão pelo vinho

11,8 15..4

VIAGEM Escócia, verdes são os campos

FIM-DE-SEMANA

Serra da Estrela

156 DECORAÇÃO 162 CULINÁRIA 15..-4 OFERTAS & DESCONTOS 167 ONDE COMPRAR 168 HORÓSCOPO 169 ÚLTIMAS

Em casa de Mónica Penaguião

Receitas com massa folhada

170

A CASA DA DESIGNE:R MÓNICA PENAGUIÃO

Ainda este mês

PERGUNTA DO MÊS

4 mulheres respondem: "Concorda que a liberdade de expressão deve ser total e revelar qualquer tipo de factos, ainda que confidenciais?"

ÓCULOS DE SOL por apenas

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relacionamento poliamor

ar

multz

Há quelTI se abra à 111ultiplicidade e al11e várias pessoas ao 111eSl110 tel11pO, em vez de U111a só, porque o coração chega para todos. São aSSil11 os polial11orosos. l'orJ1m".,',\'II","

poliamo!' apresenta-se ('0010

Diz-se que tem raí,>'S na década de 1960, com

uma alternativa ao eSlluema

o movimento feminista l:' com O esbatimento

tradicional das rclaçi>es I11UI10­

continuadu daquilo que são us papéis dos

gâmic<L'\, Daniel Cardoso, po­

géneros sexuais na sociedade. Furmalizado na

liumoroso c a elaborar uma te­

década de 1990, tcm ganhado visibilidadc

se de inycstigaçiiu subre o tema na Faculdade

cum o passar dos anus. O Ii\TO de 1997, "l'he Ethical Slut', dc Dossie Easton e Janet W.

de Ciências Sociais c lIumanas, explica o conceitu: "Ser poli significa qucrer e/ou man­

Hard)', fui pioneiro na apresentação do

tcr a possibilidade de que qualquer pessoa se

conccito de rela ões múltiplas num ambiente

possa apaixonar e/ou sentir-se atraída e cllYol­

de ética c conscnsualitlade entre os parceiros.

\'Cl"-SC com mais do que uma pessoa simulta­

Cumo seda de esperar, c t(:' con('C'ito tem vindo

neamente, sem que.: isso represente lima que­

a criar alguma controvérsia. Oesde sempre

bra dus tennos das I'e!ações que estabeleçu."

fomos ensinados pela sociedade que uma

Não se trata de arranjar lima desculpa esülI'­

'relação' é entre tluas pessoa., e que qualquer

rapada para trair o outro e ter vélrios parcei­

outra opção qlle saia fora desses Illoldt's é

ros o u parceiras de forma incunsequente.

considerada errada e condenável.

i\1uito pelo contrúrio. 'rrata-se também mais

No entanto. cientistas e especialistas têm

du quc ullla relaç:áu dita ·abclta'. O poliamor

debatidu se efectivamente u seI" humano

pres!;upàe honestidade, sincetidade e I'c."ipeitu

lxxle amar mais do que Ullla 1lCS..(�()a ao mesmo

mútuo: tudo coisas que qualquer pessoa pro­

tempo. A questão principal prende-se com o

cura numa relação considemda tradicional.

f'lcto de isto poder ser uma noção adquirida

A diferença f\1T1damental aqui é que se \;VCn1

pela aprcndÍZc'lgem, ao inn''S de ser um comror­

relaçõcs múltiplas em sinndtânco.

t U11ento intrinseco do ser humano.

Ao n1< SnlO tempo, é preciso não confundir

I nês Rolo, 22 anos. polia morosa, apresenta

poliamu!' com poli)!;ulIlia. Por tradiçào, fi poli­

um ponto imp011antc a ter cm consideração

gamia assotia-sc à relaçào dt, um honlem com

nestc debate: "Somus tundicionados social­

vária.o;; mulheres que con\;\'cl11 el11 comunida­

mente a muita coisa. As rap.trigns &1.0 condicio­

de, nln. que nào podem procurar rdaciona­

nadas suciahnente a brincar eOOl bonecas e a

I11cntos c\ternos. O IX)Jiamor não ilnpõe esses

dC"'''''oker tendências matel1lais. As mulheres

limites. Homens e Illulheres s<i.o percepciona­

5<\.0 ('Ondicionadas socialmente a nào dt'S(:.'nvol­

dos da 1111:.'5111a maneira l' com os mesmos direitos. desde que hqja cnnsentinlcnto mútuo.

ver tantas capacidades de raciocínio lógico

(porque osjogos dc.= tipu süo comerciali7:ldos

Ao contrúrio do que se possa pensar Olif,rinal­

como sendo para rapazes). Tudo isto são

mente. o polialllor é um conceito qUl' jú existe

cnndiciollm11cntos sociais, culhlrais."

hú algum tempo.

Assim sendu. u nosso comport.amentu é muitas

Dossie Easton e Janet w. Hardy foram das primeiras autoras a falar sobre a possibilidade de relações múltiplas.

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Assin1, também somos ensinados que ircmos encontrar no nosso percurso de vida a1b1.1 ' ém cspL"'Cial que nos iní. completar c cOlnplementar.

&1e c'Ollceito. veicu1ado tantas ve/..e5 pela litera­ tllra e pelo cincJll'

é percepcionado por Daniel

C0l110 ·uma uistorÇ<10. Nada no significado de

cspecial apunta para a singularidade. V(Íri:L p e s s o a s sâo ecrta mentc e speciais. por várias e diferentes razões", para al m de que "de acordo com essa \' isão, cada pessoa não

é autónOlna,

auto-suficiente. Carla pessoa

é

apenas meia pes..:;oa, que pn.·cis.'l de outra mcia pessoa para vil' a sentir-sc realizada - UIll peso social que só reconhece na parccI;a romântica, sexual uu de eoabital.;àu, lima família 'a sério: uma pc."\..:ooa 'a sério'''. :lias estando dispostos. e consegllindo abrir :-l nossa intimidade a rnais du que lima pessoa. que medida do nosso amor é que podelllus

dar a cada 11m' !

É inegúvel que

a nossa \·ida

é prt'enchida por toda IIllla multiplicidade de relacionamentus. sejam eles fitmiliares ou de amizade, (' que em todos eles existe amor. lVlas I1l1nla relação deste tipu. como é que Sl'

p:utilham os afectos'! Inês apresenta um exemplo clássico au refe­ rir u amor que existe entre os pais e us seus filhus. Um casal que tenha \'árias filhos ama todos incondiciunalmente, sem dbtin<:ões. Por outro lado, Daniel considera também que "ninguém tem duas

rdaçc1cs exactanwll­

te ibruais, se.iam elas de que tipo forem". Islo significa que. apesar de podermos distrihllir u nosso amor por "úrias pessoas, é UIll f;H:to

quc as relações nem sempre Se..' expressam da mesma fonna. Esta é uma decisiio que é

tom aua

iI

partida pelos indivíduos. "Uma

pessoa pode quercl' ter uma relação sexual eUllllllll :UTli;:;o. Ou p<xle apaixonar-se t' qllerer

tel' um namoro com cssa pessoa. Ou pude ter uma amizade tão íntima que decida chamar­ -lhe natnoro", remata Inês. Efectivamente. as rela õ('s poli podem di\'i­ dil'-sl' elll primárias ou set'uncl;írias. consoan­ te o seI! g-r:tu. Como exemplo. uma mulher .- c'lsaoa, que tenha um 01ltro relacionamento vezes dirigido por aquilo tlue IlOS foi cnsina­

fora do scu eu.samento, irá pos.-':iin·lmente l'OIl­

do como sendo o 'corrcdo' c o 'accitú\'el'.

sideral' O seu rnal'ido uma rela 'âu primúl'ia e

Ol' <.tualquer lnancira, useI' humanu é livre e

O outro relacionamento, sel'lllldürio. No en­

isso significa que "nenhum condi<.:iunamcnto

tanto. esta di"isão não é consensual entre us

é ahsoluto. st a

('Ie soda I

ou não. Celtamente

poliamnrosos.já que estahelece uma hiel'ar­

f:1Z

que não nascemos com a eé:lpaddade de amar

<.tuia, destruindo a igualdade que também

apenas uma pessoa ou amar ".iria." pessoas,

palie da estrutura deste conceito relacional.

dos

da mesma forma que nào serlÍ apenas a

Também a estrutllra

soci<:dade a determinar qllem conseguimos

pode sef explicada atraH S de lima série de

re1acioJlamentos

ou queremos amar", esclarece Daniel.

eot11pusições, sendo as mais comuns cn1 m(/1'('O / hJx\voman 139


triflllgulo. em 'V, em cstre1a e em cadeia.

toda lllna reinvenção da fonn,l COI110 as CI;ílIl­

Na;; relaçõcs cm triângulo, os elementos rela­

ças perc epc iona m c interagem com os pais r

cionam-se touos enl,'e si. podendo ter rela­

COl11 outra" pessoas incluídas na rela\".tlo.

cionamentos exteriores (triângulo aberto) ou

Inês apresenta lima perspectiva p o s it iva,

não (triângulo fechado): nas rdações cm

·V.

afirmando que "se abre UIll sem-número dl'

só um uos elementos se relaciona Ue forma

possibilidades. como a educa ,io em conjunto.

íntima com os outros dois. podendo estes

a maior disponibilidade pelo facto de haver

- tal11bénl manter relaçôe exte riore s ou nãu;

mais gente a lomar conta, a partilha dos

na cOll1 posi ão cm estrela, nl1l a p e s s o a

encargos ..:. Também Daniel sublinha que

mantém vúrios relacionamentus; enquanto

"e.xistem V{aI;OS estudos nesta éÍrea. que é bas­

na compos ição COl cadeia, um elemento

tante inexplomda apesar de tudo. que mosl11l111

relaciona-se com outros dois e uni dt"'Stes b:-111

que lima base tlIniliar

Ulll relacionamento exterior.

conttibui para u bcm-estar das cr iaI H..:as".

Como já foi referido. existem também out,·os

No cinema

Com efeito. o próprio modelo de família é

tipos de r.omposições. tantas quantas aquela"

actualmente bastante diferenll' daquele qll"

que os indivíduos desejarem estabelecer, no

esta l 1los habituados a pe r ce pc i unar como

entanto estas sãu as que é possível mapear.

o ideal. O núcleo f,uniliar de pai. mãe e filhos

Claro que viver v;í.ria s relações cm simult....int·o

é hoje suplantado por outros "como se "('

pode representar um problema, A dedicação

pela multiplicação de fi,mílias monoparen­

que se exige nunla relaç;io l'l ltn.· apenas duas

tais, divórcios, scpar ac;õ c s, novos raSatllentos

pessoas aqui é multiplicada tantas vezes

ou uniões. casais

quantos os intl'rvenicntes da mesma. No

Em Portugal. a comunidade poli amol'Osa

entanto, tanto I nê:; cOIno Daniel concol'darn

(ou poli) é mais lilcillllcnte enl'Ontraua através da sua presença na Internet..

que o tempo te m dc' ser gClido de 101111a a dm'

LU BT, etc.", explicila Illês.

a todo:; o espaço e a ded icação necessários.

de di sclI s"ü o como poliamorpl.com.sapo.pt

Contrariamente ao que ini­

Também os citÍnlcs são ,;stos de 1II11H forma

e 1"} IJI,,)rlllg{lI,bl(!g'pot,l'om têm servido como

cialmente se poderia pensar,

l11ais descontraiua. Baseando-se na cornuni­

espaços de esclarecimento c ponto de enconhn

as relações poliamorosas

cação c no r e s p e i t o . e sem a pressão da

para aqueles que se revl.'t!l1l neste ronecito.

têm tido um lugar nas artes, em particular no cinema.

exclusividade, a s rela,ões poliamorosas

Mas nu mundo real c tratando-se de lima

tentam eliminar as inseguranças pessoais

opção de vida diferente. os membros desta

Basta lembrarmo-nos do filme

dos elementos, já que a aherlura pretende

ooll1unidadc cnfrcntmn 111uitL"t VC'Zl."'S o peso da

(1962), de François

ser total. Tuuo acontece com o conhecimentu

descri mina ç ão. Daniel ,'ewla ° que sig nifica

Jules e Jim'

Truffaut, no qual dois amigos

c o consentimento dl' todos.

assumir que se toge aos nloldcs do c.omutn:

são atormentados pelo amor

Jú quando se fala na perspectiva do casa­

"Ir na rua de rnãos dadas a duas pessoas ao

que sentem por Catherine,

mento. Daniel alil'lna: "I': muito do movi­

mcsnlO tenlpo pode suscitm' l11uitos cOIllcntá­

uma mulher que vai acabar

mentu poliamoroso (nacional e int.ernacio­

,ios infelizes. olhares de estTanhl'7 ' e tratmllen­

por dominar as suas vidas.

nal) vê o casamcnto (instituição estatal. legal

Outro exemplo mais recente é o filme 'Os Sonhadores' (Z003), de Bernardo Bertolucci. Aqui,

e fiscal.

não religiosa) como uma platafrll"llla

tos cliferendados:

Nu cntnnto, é entre a própria família que as

de eriação dc desigualdades e de p rivilégi o s

rear.ções pudc1l1 ser mais ad"ersas. Inês é UIll

(primeiro, das relações cntn,:.· pessoas da

dcs..;;es exemplos, assllrnindo que l i foi ridicularizada pela l'IIl,í1ia. desrespeitada,

um triângulo formado por um

mesma etnia, depoi s da relações l'ntre hete­

casal de irmãos (Eva Green

rossexuais, depo is das nl0I1og"dmicas, ele.) que

desconsiderada". Uma situação difkil que se

e Louis Garrel) e um outro

fiu;a hem melhur enl desaparecer."

afilstou daquilo que é "" prcocupaç;io que

jovem (Michael Pit!), juntos

De f lcto, o (O;l,"lllll'ntu

pudessem ter com a minha fClicidade.

inicialmente pela sua paixão

mais fo,tes I'epresenla õcs daquilo que é o con­

os conceito", de uma dada moralidade religiosa

p e l o cinema, os quais se

trato mOl 1ogânl i<.'O , em que d'I;

ti"Cl'tlIll um pe:;o tremendo."

envolvem profundamente,

lideiidade cterna uma à outra, No entanlo. na

Oaniel conhibui COl lll lll lH afil1na\"ão que pode

tocando o incesto e quase

socic.'dadel'OntemI XJrânea, a 'etemidadc' defini­

servir de conclusão: "Celtamellte que muita

suicídio. Sempre com as

da IXJI' esse contrato tcm "indo a durar carla vez

brcnk não se daria bem numa relação rolianlo­

revoluções estudantis do Maio

menos tempo, Nessa mesma linha, I nl'" explica

ro. 1.. Da mesma

que "rara

dm;a bem nunla re la ãu eshit;,tll1cntc monogâ­

o

de

68

como pano de fundo,

pcs.-;o; jur,ull

é a Ix'

Ina, ou seja, que só te m IItn;). rcla lu amo r osa

com uma só

140

\uxwoman !l1W1'ÇO

a em toda a sua vida".

E nisto.

f0l111a que ll1uita gente não se

mica. A verdade é que só d epo is de estarmos dentro de uma dctcl111inada situação é que per­

Nestc esquema relacional importa tambél11

ct-bemos como reagimos." É no fundo , no ínti­

e l'licar de que forma se encaixa a quest o dos filhos. Vl ( I-ia'

aquilo que significa a nOSsa felicidade, •

1110 de cada Ulll de nós, que devemos procurar


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