#OCaminhoDoCoração Passo Cinco: “Jesus chama-nos seus amigos

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DEAR FRIENDS IN THE LORD

O Caminho do Coração é o itinerário espiritual proposto pela Rede Mundial de Oração do Papa. É o fundamento da nossa missão, uma missão de compaixão pelo mundo. Inscreve-se no processo iniciado pelo Papa Francisco com a Exortação Apostólica Evangelii gaudium, «A Alegria do Evangelho»

Constitui o resultado de um longo processo impulsionado pelo P Adolfo Nicolás, então Superior Geral da Companhia de Jesus No início elaborou-se um esquema, designado então de marco referencial, com uma equipa internacional liderada pelo P Claudio Barriga SJ Este itinerário foi apresentado ao Papa Francisco num documento intitulado

Um caminho com Jesus em disponibilidade apostólica (agosto de 2014) Apresentava-se uma nova forma de compreender a missão do Apostolado da Oração, numa dinâmica de disponibilidade apostólica

O Santo Padre aprovou-o em dezembro de 2014

O Caminho do Coração é essencial para a recriação desta Obra Pontifícia como Rede Mundial de Oração do Papa Constitui um aprofundamento, para os nossos dias, da tradição espiritual do Apostolado da Oração, e articula, de uma forma original, elementos essenciais deste tesouro espiritual com a dinâmica do Coração de Jesus É a chave de interpretação da nossa missão Por isso apresentamos em 2017 um comentário a este itinerário espiritual, designado agora «Dinâmica interna do passo», para ajudar as equipas nacionais da Rede Mundial de Oração do Papa a entrar na dinâmica interior do Caminho do Coração e a aprofundá-lo

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Com o desejo de desenvolver o processo de recriação, sentimos a necessidade de ampliar os conteúdos escritos. Assim, iniciamos em 2017 um trabalho de elaboração e organização dos materiais que constituem hoje os 11 livros de O Caminho do Coração. Este trabalho realizou-se com uma equipa internacional liderada por Bettina Raed, diretora regional da Rede Mundial de Oração do Papa na Argentina e Uruguai. Assim, a partir da pátria do Papa Francisco, e com o apoio de diversos companheiros, quer jesuítas quer leigos, foi articulado este trabalho. Agradeço de modo particular a Bettina por toda a sua disponibilidade e pelo seu trabalho de elaboração e coordenação.

Agradeço também a TeleVid, das Congregações Marianas da Colômbia, pelo seu apoio na conversão deste material num suporte acessível ao nível digital e visual. www.caminodelcorazon.church (em castelhano).

Espero que estes conteúdos ajudem a propor a missão de compaixão pelo mundo com criatividade (em retiros espirituais, sessões de formação, os encontros das Primeiras Sextas-feiras, etc.).

É o fundamento da nossa missão, o nosso modo específico de entrar na dinâmica do Coração de Jesus.

P. Frederic Fornos SJ

Diretor internacional da Rede Mundial de Oração do Papa

– inclui o Movimento Eucarístico Juvenil Cidade do Vaticano, 3 de dezembro de 2019, Dia de São Francisco Xavier e dos 175 anos do Apostolado da Oração

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Esquema para orientar o passo

Palavra-chave: DECIDIR-SE

Objetivo: Determinar-se a seguir Jesus

Atitudes-chave: Determinação Entusiasmo e opção pelo projeto de Jesus

O que se pretende alcançar – Fruto: Abertura e escuta Disponibilidade para responder ao chamamento de Jesus

Dinâmica interna do passo: Do «projeto próprio» à «amizade pessoal e a um projeto com Jesus»

Marco referencial

Jesus Cristo chama-nos seus amigos e convida-nos a uma aliança de amor pessoal, íntima e afetiva com Ele Está vivo a interceder por nós, ativamente empenhado em atrair-nos para Ele, pois somos preciosos aos seus olhos A amizade com Ele leva-nos a olhar o mundo com os seus próprios olhos, a sofrer com os seus sofrimentos e a alegrarmo-nos com as suas alegrias, oferecendo as nossas pessoas para trabalhar com Ele em favor dos nossos irmãos e irmãs Jesus está connosco todos os dias, até ao fim do mundo

Internal dynamics of the Step

Deus não quer fazer nada sem nós, está sempre connosco. Por isso, a primeira coisa que Jesus faz é chamar outros para estarem com Ele, envolvendo-se na sua missão: «Passando ao longo do mar da Galileia, viu Simão e André, seu irmão, que lançavam as redes ao mar, pois eram pescadores. E disse-lhes Jesus: "Vinde comigo e farei de vós pescadores de homens". Deixando logo as redes, seguiram-no» (Mc 1, 16-17)

Os discípulos de Jesus, aqueles que o seguem, caminham com Ele de povoado em povoado, partilham os seus alimentos, escutam as suas palavras e meditam sobre as suas ações, trabalham com o Mestre durante o dia e vigiam com Ele durante a noite Desejam conhecê-lo cada dia mais profundamente, com o coração, e dia após dia vai crescendo neles o desejo de amá-lo e segui-lo

Decidir-se a seguir Cristo

Recordemos: Jesus e os seus discípulos estavam no norte da Galileia, na região de Cesareia de Filipe, num lugar onde ninguém os poderia incomodar, e Jesus perguntou-lhes: «Quem dizem os homens que é o Filho do Homem?» (Mt 16, 13) Jesus interroga-se sobre aqueles que ouvem falar d’Ele, sobre todos os que o vêm escutar, sobre todos os que procuram alguma cura ou pão e peixes, todos os habitantes da Judeia e Samaria, judeus, gregos ou de outras origens O que procuram eles? Têm olhos para ver e ouvidos para escutar? Compreendem de facto quem é Jesus ou

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projetam n’Ele os seus desejos, os seus medos e os seus sonhos? E aqueles que o Mestre chamou para o acompanharem na sua missão, conhecem-no realmente, reconhecem quem é? Estão prontos para o seguir até ao fim? Jesus pede-lhes que se decidam por Ele

Viver ao estilo de Jesus

Seguir a Jesus Cristo é participar, hoje, na sua missão e no seu plano de amor pela humanidade, mediante as nossas decisões, palavras e ações Para isso, o discípulo é chamado a entrar no itinerário humano de Jesus, a adotar o seu estilo de vida Um estilo onde há coerência entre a palavra e os gestos: Jesus diz o que faz e faz aquilo que diz A sua palavra atua e as suas ações falam Falar de coerência entre as nossas palavras e as nossas ações é outra forma de falar de santidade. Jesus chama-nos a adotar o seu estilo de vida, uma existência entregue, que leva até ao extremo o amor, na abertura ao mundo e, de modo especial, àqueles que sofrem, que são excluídos e rejeitados.

«Quanto a vós, ditosos os vossos olhos, porque veem, e os vossos ouvidos, porque ouvem Em verdade vos digo: Muitos profetas e justos desejaram ver o que estais a ver, e não viram, e ouvir o que estais a ouvir, e não ouviram» (Mt 13, 16-17)

Precisamos de ver e de escutar Jesus Muitos se têm perdido enquanto procuravam Deus Só Jesus o revela Ele é o caminho, a verdade e a vida

To Decide

O amor de Jesus Cristo abre-nos à vida e faz-nos crescer em liberdade O inimigo, porém, quer sempre fazer-nos duvidar do amor de Deus Quer convencer-nos que, para sermos amados por Ele, devemos ser perfeitos e impecáveis, acabando por conseguir afastar-nos dos sacramentos, da oração e do próprio Deus. Quer convencer-nos que não somos dignos de ir à presença do Senhor, que o seu amor depende dos nossos méritos pessoais. Isso não é verdade; o Senhor ama-nos gratuitamente, sem esperar nada em troca, sem mérito algum da nossa parte, só por amor, tal qual somos: nisto consiste a Boa Nova! A graça não exige nada, não depende dos nossos atos «A palavra gratuitamente deve ser interpretada no sentido literal» Se o amor de Deus dependesse de nós, não seria totalmente gratuito

Até onde terá de chegar Deus para que nós acreditemos que nos ama de verdade, sem esperar nada de nós a não ser um coração aberto? Porventura não nos deu já tudo, dando-nos o seu Filho? Não nos deixemos «enganar» pelo inimigo, que não quer que sigamos Jesus até ao fim, pelo caminho do amor

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Eu sei, por experiência, que o Senhor tem sido fiel na minha história todos os dias; assim também o será amanhã Apenas depende de mim decidir-me a segui-lo, aconteça o que acontecer, viver segundo o seu estilo de vida e ser seu amigo Qualquer decisão está sempre sujeita a incertezas No entanto, não há vida que cresça sem o risco de uma decisão

A decisão deve ser a resposta a um chamamento, um dom e não uma decisão por dever ou por obrigação Para Santo Inácio, o amor é uma comunicação recíproca (EE 231) e é no âmbito desta que se toma uma decisão Pode existir muito amor e generosidade, mas se não se inscreve e encarna numa decisão, por pequena que seja, traduz-se apenas em vazio Contudo, se este amor e esta generosidade encarnam numa decisão, mesmo frágil, são capazes de abalar o mundo inteiro: eis o movimento da Encarnação.

Decidir-se em relação a Cristo significa decidir-se a viver o Evangelho. «Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me» (Mc 8, 34).

Só então, quando tomamos a decisão de o seguirmos até ao fim, desejando ser como Ele, é que Jesus nos diz: «Já não vos chamo servos, visto que um servo não está ao corrente do que faz o seu senhor; mas a vós chamei-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi ao meu Pai» (Jo 15, 15)

Assim, o verdadeiro «servo de Cristo» é um «amigo», como diz a Escritura, quer dizer, alguém a quem Jesus deu a conhecer «tudo o que ouviu do Pai» Isto significa familiaridade, proximidade, intimidade, estar o mais perto possível do coração Para crescer nesta intimidade com Cristo, somos convidados a comer a sua Palavra e a encontrá-lo nos sacramentos

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Entrada segundo a perspetiva bíblica

A amizade é um dos dons mais maravilhosos que Deus nos concedeu. Todos nós, na nossa vida, temos a graça de poder contar com amigos que caminham connosco, a quem amamos e que nos amam.

A nossa vida de fé confere um sabor muito especial ao dom da amizade, porque Jesus Cristo, o enviado do Pai ao mundo, que nos reconcilia e nos ama infinitamente, fez da amizade uma realidade sagrada Ele, o próprio Filho de Deus, quis partilhar a sua vida na terra com outros homens por Ele escolhidos, aos quais chamou seus amigos A amizade com Jesus é um dom que Ele nos concede e, por ela, somos convidados a estar com Ele, a partilhar o seu estilo, a sua vida e a sua missão

Jesus escolheu os seus amigos e continua a escolhê-los ainda hoje; no seu infinito amor, Ele introduz-nos no seu círculo íntimo, confia-nos os segredos de seu Pai, convida-nos a estar com Ele e a colaborar na construção do Reino de seu Pai

Já no Antigo Testamento Deus nos dá a conhecer a sua eleição de amor, a sua amizade e a sua predileção: «Chamei-te pelo teu nome, tu és meu. És precioso aos meus olhos, Eu te estimo e te amo» (Is 43, 1.4)

Diz-nos o evangelista Marcos que «Jesus subiu depois a um monte, chamou os que Ele queria e foram ter com Ele. Estabeleceu doze para estarem com Ele e para os enviar a pregar» (Mc 3, 13-14) A estes chamou apóstolos

Jesus convida-nos a travar amizade com Ele para cumprir a missão do Reino de seu Pai: assumindo o estilo do Mestre, participaremos no seu projeto de salvação do mundo «Já não vos chamo servos, visto que um servo não está ao corrente do que faz o seu senhor; mas a vós chamei-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi ao meu Pai» (Jo 15, 15)

Jesus oferece-nos a sua amizade; a iniciativa, portanto, é d’Ele Diante dela, somos convidados a dar uma resposta de escuta e disponibilidade ao seu chamamento, uma resposta concreta na nossa situação de vida e no tempo histórico que estamos a viver: «Ouvindo-o falar desta maneira, os dois discípulos seguiram Jesus. Jesus voltou-se e, notando que eles o seguiam, perguntou-lhes: "Que pretendeis?" Eles disseram-lhe: "Rabi – que quer dizer Mestre – onde moras?" Ele respondeu-lhes: "Vinde e vereis" Foram, pois, e viram onde morava e ficaram com Ele nesse dia Eram as quatro da tarde» (Jo 1, 37-39)

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Assim, tal como ocorreu com os primeiros discípulos, também nós seremos chamados de diversos modos à amizade com Deus Seja qual for a forma de chamamento adotada, não estaremos sozinhos no momento de dar a nossa resposta a esse chamamento: teremos irmãos com quem partilhá-la Eles nos levarão a Jesus, ou poderemos ser nós a levá-los a Ele, para que também possam responder a este chamamento «[André] encontrou primeiro o seu irmão Simão, e disse-lhe: «Encontrámos o Messias!» – que quer dizer Cristo. E levou-o até Jesus» (Jo 1, 41-42)

Na chamada «Meditação do Reino» do seu livro de Exercícios Espirituais, Santo Inácio de Loiola recria o convite de Jesus a travar amizade com Ele e a trabalhar no projeto do reino do Pai «Quem quiser vir comigo, há de estar contente de comer como eu, e também de beber e vestir, etc ; de igual modo, há de trabalhar comigo de dia e vigiar de noite» (EE 93). É o chamamento dirigido por Cristo aos seus amigos a seguirem o seu estilo, a sua maneira de viver, as suas decisões.

Jesus convida-te, hoje, a travares amizade com Ele, a aceitares o seu convite a ser um dos seus, dos que aderem ao projeto das Bem-aventuranças, dos que trabalham pelo Reino de seu Pai, com o seu estilo, para que, com Ele e como Ele, façamos parte dos bem-aventurados do reino de Deus «Vendo Jesus aquelas multidões, subiu a um monte e, tendo-se sentado, aproximaram-se d’Ele os discípulos. Então, tomou a palavra e ensinava-os, dizendo: "Bem-aventurados os pobres de espírito… os que choram…os mansos… os que têm fome e sede de justiça…os misericordiosos… os puros de coração… os que promovem a paz… os que sofrem perseguição por causa da justiça…"» (cf Mt 5, 1-12)

Jesus continua a dizer aos seus amigos que viver em amizade com Ele, seguindo estas instruções do Reino, transforma-os em «luz e sal da terra» Os amigos de Jesus não serão os doutores da lei, mas sim os que viverem segundo o seu estilo, adotando os seus gestos e as suas decisões. Jesus espera que sejam os seus amigos a temperar e a iluminar a terra com o sabor e a luz que irradiam do seu Amigo: «Vós sois o sal da terra. Ora, se o sal se corromper, com que se há de salgar? Não serve para mais nada, senão para ser lançado fora e ser pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte; nem se acende a candeia para a colocar debaixo do alqueire, mas sim em cima do candelabro, e assim alumia a todos os que estão em casa» (Mt 5, 13-15) Os amigos de Jesus serão aqueles que vivem segundo o projeto do Reino e as suas obras refletirão a luz do seu Pai: «Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, de modo que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai, que está no Céu» (Mt 5, 16)

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Ele convida-te. Cabe-te a ti dar uma resposta.

● «Chamei-te pelo teu nome, tu és meu És precioso aos meus olhos, Eu te estimo e te amo» (Is 43:1-4)

● «Jesus subiu depois a um monte, chamou os que Ele queria e foram ter com Ele. Estabeleceu doze para estarem com Ele e para os enviar a pregar» (Mc 3:13-14)

● «Já não vos chamo servos, visto que um servo não está ao corrente do que faz o seu senhor; mas a vós chamei-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi ao meu Pai» (Jo 15:15)

● «Pedro voltou-se e viu que o seguia o discípulo que Jesus amava, o mesmo que na ceia se tinha apoiado sobre o seu peito» (Jo 21:20)

● «Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos» (Mt 28:20)

● «Ele pode salvar de um modo definitivo os que por meio d'Ele se aproximam de Deus, pois Ele está vivo para sempre, a fim de interceder por eles» (Hb 7:25)

● «Quem quiser vir comigo, há de estar contente de comer como eu, e também de beber e vestir, etc.; de igual modo, há de trabalhar comigo de dia e vigiar de noite» (EE 93).

Para aprofundar Recursos Anexo três: «Chama-nos seus amigos»

Para aprofundar. Recursos. Anexo quatro: «Não só santos de altar».

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Entrada segundo a perspetiva da fé

Seguir Cristo

«Quando se punha a caminho, alguém correu para Ele e ajoelhou-se, perguntando: "Bom Mestre, que devo fazer para alcançar a vida eterna?" Jesus disse: "Porque me chamas bom? Ninguém é bom senão um só: Deus. Sabes os mandamentos: Não mates, não cometas adultério, não roubes, não levantes falso testemunho, não defraudes, honra teu pai e tua mãe". Ele respondeu: "Mestre, tenho cumprido tudo isso desde a minha juventude". Jesus, fitando nele o olhar, sentiu afeição por ele e disse: "Falta-te apenas uma coisa: vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu; depois, vem e segue-me"» (Mc 10:17-21)

Ao escutar este relado do Evangelho, poderíamos pensar que se trata de um chamamento para a vida consagrada como religiosos, religiosas ou sacerdotes, como se esta forma de vida se baseasse apenas em «dar aos pobres e depois seguir Jesus»

No entanto, este é o relato do chamamento a ser discípulo de Jesus Um relato que diz respeito a todos nós

Jesus conheceu muita gente nos caminhos da Galileia, mas nem todos se tornaram seus discípulos A multidão que viera da Judeia, de Jerusalém e de além-Jordão amontoava-se à volta do Mestre e a alguns, tanto homens como mulheres, a sua palavra e os seus gestos faziam muito bem Pensemos, por exemplo, na Hemorroíssa, mas também em Zaqueu e na Mulher Sirofenícia. Contudo, estes não o seguiram, não se tornaram seus discípulos. A atitude do discípulo é caminhar no encalço do Mestre, segui-lo.

Por outro lado, algumas pessoas que Jesus encontra no caminho, em cidades e aldeias, segui-lo-ão depois de escutarem o seu chamamento: «Segue-me!»

A vocação cristã

Falar de vocação é falar de um «chamamento» É Jesus Cristo que chama Ao ouvir «vocação», é frequente pensarmos em vida religiosa, em gente consagrada No entanto, quando falamos de vocação referimo-nos a vocação cristã Pelo nosso Batismo, sendo ungidos como sacerdotes, profetas e reis, todos nós somos chamados a colocar os nossos passos sobre as pegadas de Jesus, o Cristo, para seguir o seu caminho A vocação cristã é uma resposta ao chamamento a sermos seguidores de Cristo

O discípulo quer conhecer o Mestre: «Onde moras?» (Jo 1, 38). Ele quer conhecê-lo, para melhor o amar e seguir. O discípulo quer tomar o caminho de Jesus, seguir no

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seu encalço. Os relatos evangélicos narram a vida de Jesus e aquilo em que Ele se converte para aqueles que se cruzam no seu caminho Àqueles que respondem ao seu chamamento e se tornam seus discípulos, Jesus vai comunicando, pouco a pouco, a sua identidade e a sua maneira de ser, que se transformará, como veremos, na própria maneira de ser do discípulo

Para nos tornarmos discípulos de Jesus Cristo, vivendo em intimidade com Ele, devemos estar à escuta e ser dóceis à vida do Espírito É o que vemos no chamamento dirigido ao Jovem rico que, impelido por um profundo desejo de vida, de «vida eterna», responde a Jesus que tem observado todos os mandamentos desde a sua juventude Jesus responde-lhe: «Falta-te apenas uma coisa: vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu; depois, vem e segue-me». Este chamamento que Jesus lhe dirige vai mais longe, apelando a uma superação do mero cumprimento da lei. «Vem e segue-me» é um chamamento à minha liberdade, que supera o mero cumprimento e me convida a entrar numa história, na história de Cristo. A sua história converter-se-á na minha própria história, numa história que eu invento hoje com Ele e que se irá gerando com o meu «sim» e na liberdade do seu Espírito Por conseguinte, tornar-nos discípulos de Jesus constitui um chamamento a entrar na vida segundo o Espírito Nisto consiste a única vocação cristã

Entrar na vida segundo o Espírito

Voltemos ao Evangelho e imaginemos o seguinte: Certo homem caminha, de noite, pelas ruelas escuras de Jerusalém Escuta o som dos seus próprios passos Tem um encontro importante Este homem é um notável judeu, um estudioso, um doutor em Israel, reconhecido por ensinar a sabedoria da Lei, da Torá O seu nome é Nicodemos Vai encontrar-se com Jesus «"Rabi, nós sabemos que Tu vieste da parte de Deus, como Mestre, porque ninguém pode realizar os sinais portentosos que Tu fazes, se Deus não estiver com ele". Em resposta, Jesus declarou-lhe: "Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer do Alto não pode ver o reino de Deus".

Perguntou-lhe Nicodemos: "Como pode um homem nascer, sendo velho? Porventura poderá entrar no ventre de sua mãe outra vez e nascer?" Jesus respondeu-lhe: "Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus Aquilo que nasce da carne é carne e aquilo que nasce do Espírito é espírito Não te admires por Eu te ter dito: 'Vós tendes de nascer do Alto' O vento sopra onde quer e tu ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem nem para onde vai. Assim acontece com todo aquele que nasceu do Espírito"»(Jo 3:1-8)

Escutamos neste episódio como Jesus ajuda Nicodemos a descobrir a vida no Espírito Nicodemos é um homem da Torá Ele conhece a sabedoria da Lei; contudo,

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mesmo sendo um estudioso e sabendo muitas coisas, vive na noite. Aceder ao «reino de Deus» não é uma questão de observância da lei ou de conhecimentos, mas de nascimento É necessário «nascer de novo», «nascer do Alto» É sempre necessário nascer para a vida no Espírito Com efeito, praticar esta ou aquela virtude, obedecer à lei ou cumprir os mandamentos não nos permite aceder plenamente à vida segundo o Espírito

Uma pessoa chega à vida segundo o Espírito, à vida espiritual, quando se abre às «moções», quer dizer, aos «movimentos» da nossa afetividade, inspirados pelo Espírito Então, quem entra nesta vida cresce em familiaridade com a sua vida interior que, gradualmente, vai conseguindo decifrar, aprende a dispor-se a receber os movimentos do Espírito e a reconhecer a voz do Outro que tenta falar consigo É essa a caraterística do discernimento espiritual.

O próprio Jesus foi um homem de discernimento. Um homem dócil ao Espírito. Como vemos em muitos episódios do Evangelho, tentava constantemente discernir o seu caminho mediante a oração a seu Pai. A sua vida não fora planeada de antemão. Tomar a sério este discernimento significa tomar a sério a própria humanidade

Um episódio significativo é o da mulher grega, sirofenícia de nascimento, cuja filha tinha um «espírito impuro» Depois das tensões com os fariseus e os escribas, Jesus retirou-se para um país pagão na região de Tiro e não queria ser reconhecido Todavia, esta mulher grega reconhece-o e pede-lhe que «expulse o demónio da sua filha» Ao princípio, Jesus recusa-se a atender esse pedido: «Permiti, primeiro, que os filhos se saciem. Não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cães» (Mc 7, 27) As suas palavras são duras Jesus parece entender a sua missão apenas no contexto de Israel, com quem Deus fizera um pacto No entanto, acaba por escutar a reação da mulher até ao fim Ouve a sua «palavra» Não se encerra na sua posição, não tenta continuar a discutir, deixa-se impressionar por essa palavra e move-se nas suas convicções. Por essa «palavra», liberta a menina. Jesus é um homem capaz de acolher, que pode dar as boas-vindas ao outro até ao ponto de ser transformado por ele. Deixa-se desinstalar das suas certezas. A partir de então, depois deste encontro, Jesus abrir-se-á aos gentios e decidirá viajar pelo seu país. Este encontro, de facto, permitiu-lhe discernir a sua missão

O discípulo é chamado, por sua vez, a entrar na vida do Espírito, é chamado a discernir como seguir Jesus no mundo de hoje, como ser dócil ao seu Espírito Este chamamento também é para ti

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Entrada segundo a perspetiva espiritual

Jesus at the center of our lives

O grande desafio que nós, seres humanos – crentes ou não –, temos de enfrentar é a necessidade de encontrar novos caminhos para tornar a vida mais humana, mais digna e mais sã Além disso, os que queremos seguir Jesus precisamos de alimentar-nos do seu estilo de vida. A maneira de ser e de agir de Jesus fazia renascer a esperança num mundo mais fraterno e mais solidário nas pessoas que se encontravam com Ele. Imitando-o, continuaremos a ser, hoje, colaboradores do projeto do reino de Deus. A pergunta a fazer é esta: Como?

O homem moderno experimenta uma perda de sentido e de horizonte na sua vida; isto provoca-lhe insegurança e desconfiança devido a um progresso desmedido, em detrimento de si próprio A ciência, a tecnologia, a medicina, a informática e os inúmeros avanços em diversos âmbitos da técnica não têm conseguido satisfazer o profundo desejo que existe nele de amar e de se sentir amado

É cada vez maior o número de pessoas que manifestam abertamente a insatisfação que há nas suas vidas Têm tudo para ser felizes, ou pelo menos assim julgavam, mas não o são; talvez seja esta a maior frustração e pobreza do presente século

Apesar de muitas vezes viverem num mundo que lhes oferece numerosas alternativas, o homem e a mulher de hoje carecem do fundamental para viver. Padecem fome – mas não como as pessoas que não têm que comer e que vagueiam pelas ruas alimentando-se do que encontram nos caixotes de lixo; a sua fome é avassaladora e brutal e vai-os matando de inanição afetiva e espiritual, porque lhes falta sentirem-se amados por Deus e pelos seus semelhantes.

Mesmo que não tenhamos plena consciência disso, andamos à procura, tentando que Jesus e o seu projeto do Reino voltem a ser o centro da nossa vida Precisamos, por isso, de nos situarmos no coração do mundo, com uma espiritualidade centrada no Coração de Jesus: um coração compassivo e misericordioso, que se envolve na vida das pessoas a fim de torná-la mais digna

Todavia, esta nova maneira de nos situarmos só será possível se recuperarmos a relação pessoal e afetiva com Jesus Do encontro pessoal e insubstituível que tivermos com Ele na oração brotarão do nosso interior os sentimentos e as atitudes que mobilizavam o Coração de Jesus perante o sofrimento da multidão Ele procurou sobretudo que a existência das pessoas fosse mais digna, propondo, com a sua vida, um estilo particular para tornar o mundo mais justo. Aproximando-nos do coração de

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Jesus, aproximamo-nos também dos seus sofrimentos e dos seus sentimentos por todos Ele conduz-nos a uma missão de compaixão pelo mundo

Precisamos de deixar que o amor de Deus nos alcance Contudo, antes de nos entusiasmarmos pela sua causa ou pela sua missão concreta, precisamos de cultivar uma relação pessoal com Jesus Cristo, de travar uma amizade profunda com Ele Só depois poderemos apaixonar-nos pelo seu projeto de uma vida mais humana, sã e ditosa para todos Será o seu amor a forjar em nós o estilo de vida que nos tornará seguidores e colaboradores no seu projeto do Reino O coração do apóstolo, que nunca deixa de ser discípulo, deve estar sempre à escuta da voz do Mestre

No espaço sagrado da oração sintonizamo-nos com os sentimentos de Jesus, de tal modo que, pouco a pouco e de maneira invisível, vá tendo lugar um «verdadeiro transplante de coração», até assumirmos a sua maneira de ser e de proceder. O Espírito ensina-nos a contemplar as coisas com o seu olhar, a sentir como Ele e a desejar que o mundo se transforme no reino de Deus.

O amor do Pai manifestado em Jesus não é teórico Ele não o exprimiu somente por palavras, mas tornou-o concreto com gestos de compaixão e misericórdia Por isso, a nossa maneira de seguir Jesus deve estar marcada pelo seu modo de proceder Só assim nós, apóstolos de Jesus, poderemos refletir um rosto mais parecido com o d’Ele

Contemplar a vida de Jesus

Se queremos conhecer Jesus em profundidade, precisamos de conhecer a sua vida, o seu estilo, o seu modo de decidir e de atuar Nos Evangelhos e nos livros do Novo Testamento encontramos relatos sobre a sua vida neste mundo que são luz e guia para a nossa vida Somente reservando tempo para «comer» e para nos alimentarmos desta Palavra, fonte de vida em abundância, poderemos travar uma amizade profunda com Jesus, o Filho de Deus.

Ler os Evangelhos e contemplar a vida de Jesus constitui uma maneira de orar, de entrar em intimidade com o Senhor e de deixar que a sua vida interpele a nossa e nos conduza a um caminho de transformação interior Contemplar o Evangelho consiste em determo-nos nas imagens, em olhar, ver e escutar aquilo que os relatos da vida de Jesus nos dizem Permitir que os detalhes das personagens e do episódio nos «impregnem o coração», até que os «tiques» de Jesus, os seus gestos, os seus modos de pensar, de sentir, de olhar e de agir, se reflitam nos nossos

No seu livro dos Exercícios Espirituais, Santo Inácio de Loiola põe o exercitante à

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prova, antes de lhe propor o seguimento de Jesus. Como pessoa formada nas artes da cavalaria, estava bem ciente do que significava «seguir o rei» Recria, assim, um apelo feito por um rei querido e respeitado aos seus súbitos, para que adiram à sua causa E diz-lhes: «Quem quiser vir comigo, há de estar contente de comer como eu, e também de beber e vestir, etc ; de igual modo, há de trabalhar comigo de dia e vigiar de noite para que, assim, depois tenha parte comigo na vitória, como a teve nos trabalhos» Este Santo intuía que quem se decidisse a seguir a Cristo devia ter disponibilidade suficiente para se entusiasmar com projetos humanos ou com causas de valor conduzidas por pessoas de bem De facto, se tal não se «comprovava», o seguimento de Jesus poderia ser apenas uma fantasia ou utopia pessoal Assim, Santo Inácio inicia a pessoa, provando-a em relação a um seguimento concreto e palpável Ora, esse exercício ajuda o exercitante a «medir» a realidade da determinação de alguém em seguir o «Rei Eterno», Jesus Cristo. Ou seja, é uma ajuda que depois torna mais fácil medir o grau de «autenticidade» da sua decisão. Pensaste que capacidade tens para te entusiasmares no trabalho envolvido em projetos humanos de bem ou no seguimento de projetos de outros que ajudem a construir valores como o bem, a verdade, a justiça ou a ajuda aos mais frágeis? Que coisas te entusiasmam ou te fazem entregar a tua pessoa, o teu tempo, os teus bens, a tua disposição interior?

Noutra parte do seu livro dos Exercícios Espirituais, Santo Inácio de Loiola convida-nos a pedir «conhecimento interno do Senhor que por mim se fez homem» (EE 104), quer dizer, conhecê-lo intimamente, descobrir como é o seu coração, que coisas o comovem, o que deseja, o que espera Para quê? Para melhor o amar e seguir Santo Inácio «descobriu» que, para seguir Jesus Cristo, é preciso amá-lo profundamente e em liberdade, e que para o amar assim, é preciso conhecê-lo Não se ama quem não se conhece E o grande mistério de amor reside no facto de que, quanto mais conhecemos Jesus e mais aprofundamos o rasto deixado pela sua vida na terra, mais nos apercebemos de que o seguimento consiste em deixarmo-nos amar e conduzir por Ele. Com efeito, é Ele que toma a iniciativa, é Ele que faz o convite e a proposta, restando-nos a nós acolhê-los e decidirmo-nos a segui-lo.

Todavia, esta experiência não é uma teoria nem uma declamação, mas uma experiência de vida que só poderemos fazer caminhando com Jesus, contemplando-o nos Evangelhos, permitindo-nos refletir na sua vida, deixando que o contacto com a sua palavra nos transforme Mais uma vez, Santo Inácio dá-nos uma orientação para «fazermos o exercício de contemplar», de ver as pessoas do relato, de ouvir o que dizem e de observar o que fazem, e depois considerar, ou seja, deixar que a imagem nos diga alguma coisa, nos transmita alguma luz e faça eco no nosso coração E disso tirar proveito para a nossa vida

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Seguir Jesus consiste, portanto, em aderir ao seu projeto, em trabalhar na sua missão, mas com o seu estilo, vivendo a sua vida, os seus gestos, as suas atitudes, fazendo nosso o seu modo de proceder, para que a nossa vida seja reflexo da d’Ele E isto só nos alcançará se nos deixamos transformar pela contemplação da sua vida, para que se faça Vida na nossa vida

Para aprofundar. Recursos. Anexo dois: «Viver um tempo diferente».

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Entrada segundo as palavras do Papa

«Primeirear», envolver-se, acompanhar, frutificar e festejar

«A Igreja " em saída" é a comunidade de discípulos missionários que "primeireiam", que se envolvem, que acompanham, que frutificam e festejam. Primeireiam

desculpai o neologismo –, tomam a iniciativa! A comunidade missionária experimenta que o Senhor tomou a iniciativa, precedeu-a no amor (cf. 1 Jo 4, 10), e, por isso, ela sabe ir à frente, sabe tomar a iniciativa sem medo, ir ao encontro, procurar os afastados e chegar às encruzilhadas dos caminhos para convidar os excluídos Vive um desejo inexaurível de oferecer misericórdia, fruto de ter experimentado a misericórdia infinita do Pai e a sua força difusiva Ousemos um pouco mais no tomar a iniciativa! Como consequência, a Igreja sabe "envolver-se" Jesus lavou os pés aos seus discípulos O Senhor envolve-se e envolve os seus, pondo-se de joelhos diante dos outros para os lavar; mas, logo a seguir, diz aos discípulos: "Sereis felizes se o puserdes em prática" (Jo 13, 17) Com obras e gestos, a comunidade missionária entra na vida diária dos outros, encurta as distâncias, abaixa-se – se for necessário – até à humilhação e assume a vida humana, tocando a carne sofredora de Cristo no povo

Os evangelizadores contraem assim o "cheiro das ovelhas" e estas escutam a sua voz. Em seguida, a comunidade evangelizadora dispõe-se a "acompanhar". Acompanha a humanidade em todos os seus processos, por mais duros e demorados que sejam. Conhece as longas esperas e a fadiga apostólica. A evangelização patenteia muita paciência e evita deter-se a considerar as limitações. Fiel ao dom do Senhor, sabe também "frutificar" A comunidade evangelizadora mantém-se atenta aos frutos, porque o Senhor a quer fecunda Cuida do trigo e não perde a paz por causa do joio O semeador, quando vê surgir o joio no meio do trigo, não tem reações de lamentação ou de alarmismo Encontra o modo para fazer com que a Palavra se encarne numa situação concreta e dê frutos de vida nova, apesar de serem aparentemente imperfeitos ou defeituosos

O discípulo sabe oferecer a vida inteira e entregá-la até ao martírio como testemunho de Jesus Cristo, mas o seu sonho não é estar cheio de inimigos, mas antes que a Palavra seja acolhida e manifeste a sua força libertadora e renovadora Por fim, a comunidade evangelizadora jubilosa sabe sempre "festejar": celebra e festeja cada pequena vitória, cada passo em frente na evangelização. No meio desta exigência diária de fazer avançar o bem, a evangelização jubilosa torna-se beleza na liturgia. A Igreja evangeliza e evangeliza-se com a beleza da liturgia, que é também celebração da atividade evangelizadora e fonte dum renovado impulso para se dar»

(Pope Francis, Evangelii Gaudium No. 24)

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Entrada segundo a perspetiva da oração

Jesus chama-nos a ser seus amigos

O perdão faz ressurgir o amor em nós Um amor que é livre e generoso Um amor que nos leva a identificarmo-nos com Cristo, a reproduzir os traços do Filho É um amor que nos leva a ter os mesmos sentimentos daquele que nos chama amigos Jesus convida-nos a estar com Ele, a colaborar na sua missão. Neste passo do Caminho do Coração devemos reorientar a vida para a pessoa de Jesus, ordenar os afetos que movem a nossa vida.

Sabemos o que o Pai é capaz de fazer em nós quando o deixamos entrar, conhecemos o dom de Deus e, por isso mesmo, dispomo-nos a deixar-nos conduzir e guiar por Jesus Deixamo-nos enamorar por Ele, permitindo-lhe que arrebate tudo, que afete tudo Queremos deixar-nos transformar pelo seu convite e pela sua promessa, deixar-nos habitar por Ele, a fim de pormos n’Ele toda a nossa confiança e toda a nossa esperança Deixamo-nos chamar porque reconhecemos no convite que Ele nos faz um caminho de vida radical e profundo

A palavra «meu» grava-se tão fortemente na nossa mente e no nosso coração que temos dificuldade em assimilar a expressão «é dos dois» ou «é de todos» Quando, na infância, nos compravam alguma coisa e nos diziam «é para os dois» ou «é para todos», era o mesmo que fazer deflagrar uma guerra campal Porquê? Porque existe uma tendência em cada um de nós para querermos «tudo para mim». Partilhar é o que se segue ao egoísmo. É um caso de superação pessoal, um sinal de progresso e de crescimento pessoal. Desde crianças, tornamo-nos conscientes de quem somos e do que se passa à nossa volta, sentimo-nos queridos pelas pessoas que têm um amor «preferencial» por nós e damo-nos conta de como essas pessoas são importantes e necessárias para nós É esta a primeira etapa da nossa vida

A etapa seguinte está marcada pela necessidade de aprender a estar com os outros, com as pessoas a quem queremos e que nos querem bem, mas damo-nos conta de que não é um passo simples de dar Constitui uma mudança total de perspetiva e exige que nos ponhamos no lugar do outro Só poderemos situar-nos neste novo paradigma se tivermos vivido bem a primeira etapa e se estivermos dispostos a atravessar o mar do egoísmo para entrar na vida dos outros: entrar num mundo novo Esta segunda etapa inaugura-se na infância, quando aparecem os amigos No n º 95 dos Exercícios Espirituais, Santo Inácio de Loiola coloca nos lábios do Rei Eterno um chamamento dirigido aos discípulos a entrarem nessa nova perspetiva, dizendo: «Quem quiser vir comigo há de trabalhar comigo, para que seguindo-me na pena, também me siga na glória».

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Jesus convida-nos a ultrapassar as fronteiras do «eu» para passarmos a perceber a vida a partir do «tu»: trata-se de um passo que requer valentia e coragem, porque significa abandonarmos as nossas próprias seguranças e comodidades, para vivermos segundo o seu estilo de vida Devemos trabalhar duramente, suar muito e estar dispostos até, nalguns momentos, a chorar a perda dos «alhos e das cebolas do Egito» Atravessar a primeira etapa da nossa vida significa dar um salto qualitativo, realizar um êxodo interior que muitos não se atrevem a dar Jesus chama-nos amigos e convida-nos a pronunciar e conjugar, com a nossa própria vida, o verbo partilhar Se a primeira coisa que aprendemos é valorizar aquilo que somos, ou seja, o «eu», o passo seguinte consiste em passar a sentir empatia pelo «tu»

Ainda que nos possa parecer estranho, a configuração com o estilo de Jesus produz-se à medida que formos adquirindo a atitude de partilhar. Em suma, a maturidade no seguimento de Jesus mede-se pela capacidade de entrega do discípulo. Desenvolver a atitude de partilha significa romper e sair, pouco a pouco, da «casca» do egoísmo para descobrirmos a beleza da vida através do olhar de Jesus. Quando contemplamos o mundo através do olhar de Jesus, colocamo-nos numa nova perspetiva da realidade que nos faz descobrir todas as coisas como novas

Partilhar é uma atitude fundamental para se poder estar com Jesus Pode ser que seja simples dar alguma coisa, uma porção de algo que nos pertence, mas darmo-nos a nós mesmos é uma realidade que nos faz tremer Dar aquilo que somos é uma tarefa difícil porque toca as fibras mais íntimas do egoísmo, que referencia tudo a si mesmo Nem sempre estamos dispostos ou preparados para quebrar a inércia de girar sobre o nosso próprio umbigo A partilha é uma batalha interior que nos acompanhará toda a vida Tem por objetivo libertar o amor e o seu potencial: a generosidade Devemos aprender a viver «tudo» aquilo que somos e aquilo que temos, fazendo-nos «parte» no outro. A partilha é uma atitude que nos obriga a enfrentar-nos com o desprendimento e o desapego, para viver segundo o estilo de Jesus.

Só se transitarmos bem por esta segunda etapa estaremos preparados para valorizar o «nós» Sem este processo da tomada de consciência humana e do desenvolvimento afetivo, não compreenderemos completamente o que significa darmo-nos, oferecermo-nos, partilharmo-nos com os outros

Para aprofundar. Recursos. Anexo um: «AAlegria do Evangelho».

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Propostas de exercícios

EXERCÍCIO: Oferecimento na vida quotidiana

O ritmo diário de oração que propomos na Rede Mundial de Oração do Papa tem pelo menos três momentos específicos, tal como vimos na introdução ao Caminho do Coração Aqui convidamos-te a pôr em prática, com particular atenção, este primeiro momento No oferecimento diário, entregamo-nos ao Senhor para colaborar com Ele, tornando-nos disponíveis para a sua missão É o momento do dia em que pomos em prática, de modo especial, o desejo de crescer em disponibilidade apostólica, que se traduz numa abertura do coração à ação do Senhor, à sua palavra, a nos deixarmos conduzir por Ele Esta disponibilidade significa pormo-nos à escuta da sua voz, que poderá ou não concretizar-se numa ação, mas que se realiza primeiro numa total disponibilidade interior para Ele.

Pela manhã, ao começar o dia, Com Jesus pela manhã, num momento de silêncio, colocar-te-ás na presença de Jesus Ressuscitado, que está contigo. Pedirás ao Pai que te torne disponível para a missão do seu Filho durante esta nova jornada, oferecendo-te com o que és e tens. Pedes ao Espírito Santo que abra o teu coração às necessidades e desafios com que se confronta a humanidade e a missão da Igreja e oras por eles segundo as intenções do Papa para esse mês Poderás fazer diariamente esta oferenda, através da aplicação Click to Pray Propomos-te que, em cada manhã, rezes o momento de oração de Click to Pray e eleves ao Pai esta oração:

Pai de bondade, eu sei que estás comigo Aqui estou neste dia Coloca mais uma vez o meu coração junto ao Coração do teu Filho Jesus, que se entrega por mim e que vem a mim na Eucaristia Que o teu Espírito Santo me faça seu amigo e apóstolo, disponível para a sua missão Coloco nas tuas mãos as minhas alegrias e esperanças, os meus trabalhos e sofrimentos, tudo o que sou e tenho, em comunhão com os irmãos e irmãs desta rede mundial de oração Com Maria, ofereço-te o meu dia pela missão da Igreja e pela intenção de oração do Papa para este mês Ámen.

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EXERCÍCIO: Oferecimento de maior estima e momento / de maior amor e entrega

Propomos-te que faças um exercício seguindo uma das pistas que Santo Inácio nos volta a dar no seu livro dos Exercícios Espirituais Este Santo está ciente de que nem todas as pessoas alcançarão idêntica disposição interior em termos de decisão e entrega de seguir o Senhor, mas que cada um fará a sua própria entrega, dará a sua própria resposta ao convite do «Rei Eterno» Assim, intui que alguns «quererão afeiçoar-se mais», ou seja, quererão ir um pouco mais longe e entregar-se não só ao trabalho, mas entregar-se a si próprios, a sua própria pessoa, à causa do reino de Deus Inclusivamente, quando sintam que isso é difícil e que gera resistências interiores, fá-lo-ão por amor e gratidão pelo chamamento desse Senhor

Convidamos-te, por isso, a que «te proves na tua própria entrega» Até onde estás disposto a chegar pela causa de Jesus Cristo? O que estás disposto a entregar ao Senhor? Que compromissos estás disposto a assumir?

Imagina que te apresentas diante do Senhor e que com Ele estão todos os santos e santas do Céu, toda a corte de anjos e a Mãe do Céu, que são testemunhas desse momento em que te dispões a oferecer-te ao Senhor, o momento em que lhe dizes que estás disposto a segui-lo, a ir aonde Ele te levar, a trabalhar onde Ele precisar de ti, mesmo que tenhas de passar por situações difíceis, duras ou injustas Imagina este momento em que pedes ao Senhor que aceite o teu oferecimento, que te receba ao seu serviço e que te una à sua missão Que lhe dirias? Como seria esse momento?

Escreve o teu discurso, diz ao Senhor que e como te entregas e pede-lhe que, se precisar de ti, te receba na sua missão

EXERCICIO: Aprender a contemplar a vida de Jesus

Propomos-te que faças um exercício de contemplação da vida de Jesus

Esta maneira de rezar é particularmente apropriada em relação às cenas bíblicas em que há personagens para vermos e escutarmos. Contemplar é mais do que um modo de fazer, é uma maneira de «estar com» Jesus Cristo. Quando contemplas uma paisagem ou um riacho, com a água a saltar sobre as pedras, por exemplo, ficas parado, pura e simplesmente, sem fazer nada, sem pensar em nada, limitando-te a estar presente Desfrutas desse momento, recebendo aquilo que estás a ver e a escutar

Essa mesma atitude deverás ter em relação aos relatos do Evangelho Deverás contemplar o próprio Jesus, as suas palavras e os seus gestos, a sua vida, como se estivesses presente

Hoje convido-te a escutar o chamamento dos primeiros discípulos, no Evangelho de Mateus Escuta este relato como se estivesses com eles Imagina aquilo que vês e

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escutas, como se também tu estivesses presente na margem do lago. Gasta o tempo necessário para provares e saboreares a cena, sem pressas Lembra-te: «Não é o muito saber que sacia e satisfaz a alma, mas o sentir e saborear as coisas interiormente» (Santo Inácio de Loiola)

«Vinde comigo».

«Caminhando ao longo do mar da Galileia, Jesus viu dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e seu irmão André, que lançavam as redes ao mar, pois eram pescadores. Disse-lhes: "Vinde comigo e Eu farei de vós pescadores de homens". E eles deixaram as redes imediatamente e seguiram-no. Um pouco mais adiante, viu outros dois irmãos: Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João, os quais, com seu pai, Zebedeu, consertavam as redes, dentro do barco. Chamou-os, e eles, deixando no mesmo instante o barco e o pai, seguiram-no» (Mt 4,18-22).

Aquilo que nos pode ajudar a entrar numa contemplação mais profunda é avançar passo a passo. Como?

Primeiro, temos de ver. Ver as pessoas que estão presentes neste relato.

Ver Há uma maneira de olhar sem ver Gasta o tempo necessário para ver de verdade Como estão vestidas as pessoas, como são os seus rostos quem são? (A sua história, o seu temperamento, as suas alegrias e as suas dores, as suas aspirações)

Também te podes envolver nesta cena Então, não contemples este relato como se estivesses fora dele, mas dentro Podes estar no meio da multidão, ser um discípulo, um fariseu ou um doente e ver tudo a partir daí Como viveu cada uma dessas personagens esta cena, que via do lugar onde se encontrava, como viu Jesus, etc ?

Em seguida, deves gastar o tempo necessário para «sentires e saboreares as coisas interiormente», deixando ressoar no teu coração aquilo que vês Como se une tudo isto à minha vida? Poderá haver uma imagem, um gesto, um olhar que te tenha comovido. Podes deixar-te ficar aí enquanto te apetecer. Como devemos avançar na contemplação? Falamos do primeiro passo: ver as pessoas do relato bíblico como se estivesses lá. O segundo passo consistirá em escutar.

Escutar É possível ouvir sem escutar Com efeito, se estás demasiado cheio de ti mesmo, dos teus pensamentos, daquilo que julgas saber, ser-te-á difícil acolher aquilo que o outro diz realmente É necessário gastar o tempo necessário para escutar, sem encher a tua oração de palestras, para estares atento àquilo que ouves e para escutares de verdade

O que dizem as pessoas deste relato bíblico – os discípulos ou Jesus, por exemplo –como é a sua voz, a sua intenção, o peso daquilo que dizem? Escuta as palavras e

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aquilo que revelam acerca de quem fala, o silêncio que carregam. Não se trata de refletir sobre estas palavras, mas de as escutar, receber e deixar ressoar no teu coração Se escutas realmente, como se estivesses presente, sem fazer esforço algum, poderás escutar as palavras como se te fossem dirigidas a ti pessoalmente

Depois de teres gastado o tempo necessário para «sentires e saboreares as coisas interiormente», poderás voltar a esta ou àquela palavra para aí te deteres e retirares proveito para a tua vida Daquilo que escutaste, o que é que diz respeito à tua pessoa? Deixa-te ficar aí enquanto te souber bem

Não podemos segmentar os diversos momentos da contemplação Pode suceder que «ver» e «escutar» se interpenetrem Se isso te ajuda a estar mais perto de Jesus Cristo, não há problema Se sentes, pelo contrário, que estás a fazer o teu «filme» e a afastar-te daquilo que diz o texto bíblico, é preferível regressares ao primeiro momento, «ver», para avançar passo a passo. Há um terceiro momento na contemplação. Trata-se de considerar aquilo que sucede no relato.

Considerar1 . Depois de teres gastado tempo para olhar as pessoas presentes no relato e escutar as suas palavras, podes considerar os seus gestos, atitudes, reações e intenções Não é um momento de reflexão Permanece numa atitude interior de contemplação Trata-se de saborear a partir de dentro, de sopesar o que estão a tentar fazer e de deixar ressoar em ti aquilo que se passa neste relato Deixo ressoar em mim esta experiência O que significa?

Depois, tenta sentir de que modo aquilo que contemplaste fala da tua vida, da tua história, de ti Também aí, sem qualquer tipo de esforço, acolhe tudo o que vier Para contemplar um relato evangélico, é importante tomar tempo para preparar o corpo e o coração, sem se apressar Se entras demasiado depressa na contemplação, corres o risco de te ficar na cabeça Podes considerar, a partir do que vês e escutas, como o que vivem os primeiros discípulos no seu encontro com Jesus (ver relato do Evangelho de Mateus 4, 18-22) se une à tua vida pessoal.

Contemplar um texto bíblico passo a passo

Resumo

Contemplação

• Ver as personagens

Vejo as personagens presentes na cena evangélica Como se vestem, quais são os seus rostos quem são? (A sua história, o seu temperamento, as suas alegrias e as suas dores, as suas aspirações)

1 Considerar: olhar ponderando no coração, com empenho afetivo

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• Escutar aquilo que dizem Escutar o que dizem, como se eu tivesse estado presente Qual é o tom da sua voz e a sua intenção?

• Considerar aquilo que fazem Quais são os seus gestos, atitudes, reações e intenções? Sopesá-lo, para tentar sentir aquilo que tentam fazer Depois de cada um destes momentos, senti-los e saboreá-los interiormente Deixar ressoar em mim as palavras e os gestos, pôr-me à escuta daquilo que isso produz em mim Como me fala tudo isto, como se une à minha vida?

Para concluir o encontro

No fim do tempo estabelecido, reserva um momento para falares com o Senhor como «um amigo fala com outro amigo». Isto significa que antes dedicaste tempo para contemplar. Agora, dizes-Lhe simplesmente o que esta contemplação produziu no teu coração. Podes terminar com as próprias palavras de Jesus: Pai nosso.

Prática do exame temático Rever a contemplação

Agora propomos-te que revejas este exercício: Durante cinco minutos, recorda o momento de contemplação e identifica aquilo que fizeste e aquilo que experimentaste

Observa o que fizeste (a forma da contemplação) As indicações anteriores ajudaram-te (lugar, duração, posição corporal, etc )? Gastaste tempo para te colocares na presença do Senhor ou precipitaste-te sobre o texto? Pediste aquilo que «procuras e desejas»?

Escuta o que experimentaste (o conteúdo da contemplação). Recebeste o que pediste ou o teu desejo mudou? Houve alguma palavra que te tenha comovido de modo particular? O que descobriste sobre ti, sobre o mundo e sobre o Senhor? Em que estado te encontras agora? Alegria, paz, confiança, frieza, sentimento de vazio, de encerramento…

Toma nota para recordares e identificares, dia após dia, de que modo o Espírito do Senhor te conduz

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Recursos Anexo 1

A alegria do Evangelho

Uma nota característica de quem vive o estilo de Jesus é a capacidade de se alegrar com a felicidade do outro. Mesmo que não sejamos protagonistas diretos dessa felicidade, por estarmos a atravessar momentos difíceis. Ou será que só nos alegramos com a felicidade dos outros se formos nós mesmos a causa ou os protagonistas dela? É maravilhoso encontrarmo-nos com pessoas que têm a capacidade de sorrir perante os êxitos dos outros, podendo elas próprias estar a atravessar situações difíceis e complicadas Por outro lado, surpreende ver pessoas que fizeram aliança com a tristeza, obstinando-se em curvar-se sobre os seus próprios problemas É assombroso as horas que podemos passar «dando voltas» aos nossos pensamentos que destilam amargura e ressentimento Todos nós sabemos que a alegria neste mundo não será completa, mas não podemos esquecer nem pôr de lado aquelas pequenas e preciosas manifestações de alegria dos outros, para podermos ser contagiados por elas Deus também nos consola mediante as alegrias dos outros

Aprender a sorrir com a felicidade do outro é uma atitude contrária à do mundo, que nos quer convencer de que só poderemos ser felizes se conseguirmos chegar ao cumprimento de todos os nossos sonhos. Também podemos ser felizes partilhando as alegrias dos outros. Quem aprender a desenvolver essa capacidade de sair dos seus poços de amargura estará cada vez mais perto de se tornar cidadão do reino dos Céus

Escutamos, muitas vezes, que os verdadeiros amigos são aqueles que nos acompanham e apoiam nos «momentos difíceis», mas creio que esse pensamento está incompleto Os verdadeiros amigos são os que também sorriem com as nossas alegrias, exultam, jubilosos, quando nos veem felizes e se emocionam connosco quando alcançamos algum êxito Manifestar pena e compaixão pelo que sofre quando estou bem é fácil, mas alegrar-me pelo outro quando me encontro numa situação difícil significa que alarguei as fronteiras do coração para além das cercas de arame farpado do egoísmo Talvez por isso, Jesus disse que o reino dos Céus é semelhante à boda que um Rei preparou em honra do seu filho, pois para participar da alegria dos outros precisamos de ser capazes de sair de nós mesmos.

Para terminar, quero compartilhar contigo este pensamento de José Luís Martín

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Descalzo: «Um bom sorriso é mais uma arte do que uma herança. Algo que deve ser construído paciente e laboriosamente, com equilíbrio interior, com paz na alma, com um amor sem fronteiras As pessoas que amam sorriem facilmente, porque o sorriso representa, sobretudo, uma grande fidelidade a si mesmo Uma pessoa amargurada jamais saberá sorrir Menos ainda um orgulhoso»

Anexo 2

Viver um tempo diferente

Disse Viktor Frankl, psiquiatra austríaco: «Há muita sabedoria nesta afirmação de Nietzsche: «Aquele que tem uma razão para viver consegue suportar praticamente tudo»»

A plenitude da nossa vida não reside naquilo que conseguimos ou podemos alcançar, mas no motivo que mantém a nossa vida em andamento

Para muitos, a sua vida acaba quando alcançam as metas preestabelecidas ou cumprem os seus propósitos imediatos; depois, o seu entusiasmo esvazia-se como um balão no fim de um dia de aniversário Quando não se tem um motivo que transcenda o tempo e o espaço, ou a disponibilidade de coração para «sentir e saborear» o caminho, a tua vida torna-se insípida e o teu caminhar pesado

Porque será que, mal alcançamos «aquilo» que parecia tão motivador e desafiante, logo perdemos interesse? Quando os nossos motivos para viver se engastam com o propósito de Deus, acontece algo diferente, porque viver ancorado no kairos eleva a existência humana a um nível temporal diferente: compreendemos a nossa vida. O importante não é o tempo quantitativo, medido segundo o cronos, mas o tempo qualitativo do kairos, que valoriza cada passo, cada avanço e também cada retrocesso, tropeço ou extravio. O cronos assinala metas e conquistas que depois desaparecem, à semelhança do gelo, quando chega o sol da primavera. Devemos situar-nos no kairos, nesse tempo oportuno em que apreendemos a vida como um dom que devemos apreciar, desfrutar e partilhar. No kairos, que é o tempo de Deus, encontra-se uma razão que nos permite suportar praticamente todos os tipos de sofrimento.

A fé dá-nos uma perspetiva mais lata da vida do que as metas imediatas, permitindo-nos alcançar uma visualização criativa sobre a realidade; ora, para criar, é necessário crescer. O motivo da nossa vida não é como uma «cenoura do burro» que faz o animal mover-se de um lugar para outro. Também não pode ser como um

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comboio de alta velocidade levado pela premência de chegar ao seu destino sem desfrutar da viagem nem apreciar a beleza da paisagem que vai percorrendo A vida é este tempo, oferta de Deus, que aprendemos a saborear «aqui e agora», sem perder de vista o nosso destino

Receber o Evangelho

Se perguntássemos a muitos dos que recebem missionários nas suas casas se com essa visita receberam, de verdade, o Evangelho, quer dizer, uma boa notícia, que respostas receberíamos? Recordemos que evangelizar vem da palavra Evangelho, que significa «boa notícia»

Na missão dos setenta e dois discípulos (Lc 10, 1-11), Jesus informa-os sobre «a realidade» à qual são enviados, dá-lhes indicações sobre o que levar e instruções sobre as atitudes a tomar. Em seguida, coloca-os na «casa» aonde chegarão. Esta casa pode ser a minha, a do meu vizinho ou a de qualquer pessoa que vamos visitar.

«Nestas casas» podemos encontrar muitas pessoas necessitadas de consolação, de compreensão, de saúde física e espiritual, porque vivem situações conflituais, difíceis, complexas Esperam um Senhor misericordioso

Seja qual for a realidade vivida «nessas casas», somos chamados a levar-lhes a boa notícia, o Evangelho de um Deus que ama gratuitamente e sem condições Por isso, a primeira recomendação de Jesus, muito apelativa, é que cheguem «aos lares» das pessoas como uma «bênção», sem preconceitos nem discursos preparados; com palavras de bondade, humildes, desprovidas de imposições e leis, com entranhas de misericórdia A norma é fazer-se um com os que ali habitam, respeitando-os e acolhendo-os no seu ser O reino de Deus chegou até eles através dos missionários que os visitam

O não-acolhimento do reino de Deus é uma perda para aqueles que, podendo descobrir e acolher a paz e a misericórdia do Pai, se negam a essa experiência. Por isso dispomo-nos, com paixão e criatividade, a continuar a semear, porque «a messe é grande, mas os operários são poucos».

Jesus foi boa notícia, bênção, porque estava profundamente convencido de que Deus é Pai de bondade; para Jesus, Deus é Abbá Ele andava pela Galileia, entrando «nas casas» e nas vidas das pessoas que encontrava no caminho, comendo o que todos lhe ofereciam, porque eram pecadores, pobres e doentes; fazia-se querer, acolhia-os e devolvia-lhes a confiança no Deus amor

Não é por acaso que a recomendação de envio dos Evangelhos refira que, ao chegar,

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é importante dizer «paz a esta casa», porque na realidade os que chegam são «mensageiros de paz e pacificadores» Quando Deus chega a uma casa, o seu reinado oferece-se aos que a habitam Como fazemos presente o reino de Deus às pessoas, irmãs e irmãos nossos, que vivem situações de dor e de solidão em muitos ambientes hostis, violentos, agressivos, não misericordiosos? Qual é a verdadeira atitude missionária, o comportamento que tornará presente Deus Pai no meio deles?

Anexo 3

Chama-nos seus amigos «Chamei-te pelo teu nome; tu és meu. És precioso aos meus olhos, Eu te estimo e te amo» (Is 43, 1 4) Estas palavras que Isaías põe na boca de um Deus que nos ama ternamente são repetidas e cumpridas por Jesus em diversos momentos da sua vida, desde a eleição daqueles a quem chama para estarem com Ele ao serviço da sua missão (Mc 1, 16-17) até à sua «confissão» de amizade: «Não mais vos chamarei servos… mas amigos» (Jo 15, 15) Quais são os traços distintivos dos autênticos «amigos» de Jesus?

Deixar-se seduzir. «Tu me seduziste, Senhor, e eu deixei-me seduzir» (Jr 20, 7) Trata-se de uma pessoa que se deslumbrou com Jesus Cristo Dir-se-ia que Jesus se plantou no centro do seu coração e que, a partir daí, fecunda e irriga a sua vida inteira A confiança ilimitada e absoluta em Jesus, até podermos dizer, com Pedro: «A quem iremos nós, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna» (Jo 6, 68).

Projeto de vida: Jesus. O projeto de vida de quem foi seduzido por Ele e pôs n’Ele a sua confiança só poderá ser o do próprio Jesus: o amor grande a Deus, seu Pai, a solicitude para com os débeis, o apreço pelos pobres… em suma, libertar, curar, dar vida, oferecer paz e alegria Um verdadeiro seguidor de Jesus aceita a pessoa, a missão e o destino de Jesus Compromete-se com Ele em fidelidade Une a sua pessoa à de Jesus e o seu destino ao d’Ele Vive para Ele

É sinal de contradição. Assume a contradição e a perseguição, a partir do espírito das bem-aventuranças Seguir Jesus, ser seu amigo, não é apenas ser seduzido, mas levar consigo a sua cota-parte de contradição (Mt 5, 11-13)

Uma última caraterística: a alegria habitual, ocasionalmente intensa. Essa alegria que faz com que uma pessoa se sinta bem na sua própria pele, estar serena no meio das contrariedades, ser capaz de transmitir esperança quando à sua volta só encontra desilusão e vazio. No seguimento de Jesus, nem tudo é contradição, também há a consolação. «Alegrai-vos sempre no Senhor!» (Fl 4, 4).

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Anexo 4

Não só santos de altar

Há momentos em que Deus nos permite compreender o amor que nos tem, fazendo-nos descobrir como é capaz de amar um homem ou uma mulher como tu ou como eu. Dir-me-ás, talvez: «Isso são os santos!». Sim, os santos são assim graças à sua capacidade de amar e de servir a Deus e ao próximo; mas não me refiro aos santos canonizados, antes àquelas pessoas de carne e osso como as que encontramos a caminhar pelas ruas, sentadas num banco de alguma praça, a partilhar o seu tempo com amigos, a ajudar e a servir os que precisam de apoio e consolação e que embelezam o nosso mundo

O que é que os torna especiais, então? Precisamente o facto de não terem «nada» de especial O seu amor não é especial, é simplesmente amor Do mesmo modo que o amor de Deus é simples e generoso, em simultâneo Ocasionalmente, essas pessoas nem sequer têm consciência do amor que são capazes de dar Não se sentem distintas nem diferentes dos outros Limitam-se a ser quem são A sua capacidade de amar (perdoar, compadecer-se, sacrificar-se, etc ) passa despercebida aos seus próprios olhos, mas não aos nossos, pois sabemos que esse tipo de amor provém da fonte do amor: Deus

Há pouco tempo conheci uma pessoa assim. Não quero referir o seu nome, por respeito, mas gostaria de dizer que a sua história me cativou. Surpreendeu-me quando a ouvi falar. Estava um pouco nervosa e até parecia que sentia vergonha –não tenho bem a certeza –, mas na sua voz fui notando uma maior serenidade à medida que ela ia relatando e aprofundando a sua história, não sem longas pausas, provocadas pelas lágrimas Era uma história de dor e de amor História de pecado e de perdão História de desconcertos e de confiança História de perdas dolorosas e de reencontros Em suma, aquela pessoa era alguém que tinha aprendido o que é amar

As pessoas que desenvolvem e potenciam a sua capacidade de amar têm em comum o facto de terem passado por momentos muito difíceis – por vezes trágicos, até –, nas suas vidas Todavia, em vez de se afundarem na dor, no lamento ou na depressão, tiraram sábias lições desses momentos É como se a dor as tivesse fortalecido em termos de bondade e de amor As dificuldades não as amedrontam nem os fracassos as impedem de seguir em frente O que há nestas pessoas, que parecem invencíveis? Estabeleceram ligação com a fonte do amor O amor que têm pelos outros e a sua vontade de viver ultrapassam os limites do bem-estar meramente pessoal. Não se movem pela pieguice enjoativa dos anúncios televisivos

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que convidam a colaborar nalguma coleta para os «mais pobres»: amar e servir transformou-se, para elas, num estilo de vida

Quando estabelecemos ligação com Deus e percebemos que o seu amor por nós é maior do que qualquer dificuldade, quando a nossa confiança em Jesus é mais forte do que a morte e compreendemos que nada nos separará d’Ele, descobrimos que de cada vez que tropeçamos há uma mão forte e firme que se estende para nos levantar Esse é Deus, o Pai de bondade e de misericórdia que nos ama como ninguém Amor que não se entende, até que o comproves ou vislumbres a bater no coração de pessoas com capacidade para amar O teu coração é capaz de amar e de servir?

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