Metrópole Magazine - Novembro de 2015 / Edição 9

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Novembro de 2015 – Ano 1 – nº 9 – Distribuição gratuita

“Eu faria do mesmo jeito” Fomos até a Fundação Casa para ouvir dos menores sobre a redução da maioridade penal

COMPORTAMENTO

Os casos de racismo nas redes sociais mostram o quanto ainda temos que evoluir para vivermos numa sociedade que respeite todas as diferenças

pág. 28

CIÊNCIA

Da indústria do espaço à geração de renda, a tecnologia pode ajudar o país a sair da crise pág. 19


PRA SABER O QUE ACONTECE EM SÃO JOSÉ, VÁ ATÉ A CÂMARA. OU TRAGA A CÂMARA ATÉ VOCÊ. Acompanhe as sessões da Câmara Municipal, toda terça e quinta, a partir das 17h30, na Rua Desembargador Francisco Murilo Pinto, 33 – Vila Santa Luzia. Você também pode saber tudo o que acontece, ao vivo, sintonizando a TV Câmara nos canais 7 digital ou 29 analógico da NET. Ou do seu computador, tablet ou smartphone, acessando o site da Câmara: www.camarasjc.sp.gov.br .

www.camarasjc.sp.gov.br


São José dos Campos, Novembro de 2015 | 3

PATINAÇÃO SEM GELO Patinadores utilizam redes sociais para agendar os rolês pelo Vale do Paraíba. Saiba mais sobre os patins In Line.

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BANDA JOSEENSE Em pouco mais de um ano com a formação original, a Dom Pescoço já se estabelece como uma das principais bandas da nova cena musical.

32

‘EU FARIA DO MESMO JEITO’ Redução da maioridade penal gera polêmica até entre os internos da Fundação Casa. A Metrópole Magazine foi até lá para saber o que os menores pensam.

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Sumário 14

ENTREVISTA Em cerca de duas horas de conversa, o dono do Colinas Shopping falou sobre São José, empreendedorismo, política, corrupção, mercado, capitalismo, socialismo e tecnologia.

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SAÚDE: É O FIM DO BACON? Relatório aponta o alimento como um dos causadores de câncer no intestino. Mas, isso não significa que seja o fim da linha para quem ainda quer saborear a iguaria.

BLACK FRIDAY Com o objetivo de salvar um ano comprometido pela instabilidade financeira, a expectativa é de que, tanto nas lojas quanto na internet, as redes caprichem nos descontos.

Cidade da tecnologia Falar em alternativas para a área de ciência e tecnologia, atravessando uma crise financeira, é tocar no ponto nevrálgico da economia joseense. Principal arranjo tecnológico e polo aeroespacial do país, o setor está no DNA de S. J. dos Campos.

6 9 12 52 48

Pedro Ivo Prates

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19 Espaço do Leitor Aconteceu& Frases& Veículo& Cultura&

62 66 70 74

UM POUCO DEMAIS Nas eleições do próximo ano, três partidos devem estrear nas urnas. Dois deles já se mobilizam para atrair filiados na RMVale.

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É HORA DE VIAJAR PELO BRASIL

Com a alta do dólar, brasileiros adiam viagens para o exterior.

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TERRA À VISTA Turistas de todo o mundo devem ‘invadir’ o Litoral Norte nos próximos meses. Com a temporada de cruzeiros, mais de 200 mil devem visitar Ilhabela e Ubatuba.

Chef em Casa& Social& Arquitetura& Crônicas&Poesia


São JoséMetrópole dos Campos, – Edição Julho 9de 2015 4 | Revista

metr pole magazine

EDITORIAL

Diretora-executiva

Regina Laranjeira Baumann

Editor-chefe interino

Eduardo Pandeló

Editor

Adriano Pereira

Revisão

Kelma Jucá

Comercial

Fabiana Domingos Alyne Proa

MAIORIDADE PENAL

Adeline Daniele João Pedro Teles

Repórteres

Moisés Rosa

O ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) é reconheciRodrigo Ribeiro do mundialmente por ser um instrumento eficaz na proteção Thiago Fadini aos menores e que estabelece os critérios para que a criança e o adolescente tenham seus direitos reconhecidos e respeiCamilo Alvarez Netto Diagramação e Arte QUEM tados. Vários setores da sociedade resolveram abraçar a ban-CONHECE, CONHECE BDO Ainara Manrique deira da redução da maioridade penal para adolescentes Umaque das Big 5 Carol Tomba cometem crimes e que não podem ser presos, tendo como Líder no middle market Elaine Santos punição máxima a chamada ressocialização com medidas Colaboradores 21 escritórios no Brasil Flávio Pereira socioeducativas e cuja apreensão pode ser no máximoAudit até | Tax | Advisory Idelter Xavier Pedro Ivo Prates que eles completem 18 anos, ou seja, atinjam a maioridade Rogério Marques penal. Percebendo a brecha existente na lei, criminosos comeGabriel Gaia Arte çaram a aliciar crianças e adolescentes para assumir as Lucas Henrique Mídias Sociais funções de protagonistas em delitos como tráfico de drogas Departamento Maria José Souza e matadores de aluguel, ou simplesmente para assumirem Gabriela Oliveira Souza Administrativo a culpa em qualquer ocorrência. Como resultado, temos Tiragem auditada por: menores de idade cometendo a cada dia crimes hediondos como estupros, homicídios, chacinas, latrocínio, assaltos. Tel (55 12) 3941 4262 A polícia se sente incapaz de manter a ordem, pois cada vez www.bdobrazil.com.br que um menor é apreendido em flagrante delito é liberado em pouco tempo, voltando a cometer crimes, e criando um Metrópole Magazine círculo vicioso em que a impunidade lhe serve de escudo. Avenida São João, 2.375 –Sala 2.010 No texto da Proposta de Emenda Constitucional, a intenJardim das Colinas –São José dos Campos CEP 12242-000 ção é punir jovens a partir de 16 anos que tenham cometido PABX (12) 3204-3333 homicídio doloso, lesão corporal seguida de morte ou crimes Email: metropolemagazine@meon.com.br hediondos, com exceção de tráfico. Mas, afinal, o que pensa o menor infrator? A Metrópole A revista Metrópole Magazine é um produto Magazine entrou no debate e foi até a Fundação Casa. Na do Grupo Meon de Comunicação Tiragem: 15 mil exemplares opinião dos quatro adolescentes que ouvimos, a redução da maioridade penal não mudaria nada, mas a educação e uma possibilidade de trabalho os tiraria do mundo do crime. Visite nosso site

Eduardo Pandeló

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6 | Revista Metrópole – Edição 9

Espaço do Leitor Edição 8 – Outubro de 2015 SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

QR CODE

Para dar mais dinamismo e interatividade entre Metrópole Magazine e Portal Meon, esta edição possui uma série de QR Code em que, por meio do celular, você, leitor, é direcionado para o Meon, seja para uma versão online ou o complemento das reportagens. O QR Code é um código de barras em 2D que é escaneado pela câmera fotográfica dos aparelhos celulares. Para que esse código possa ser lido é necessário que o usuário baixe um software de leitura. Esses

aplicativos podem ser baixados gratuitamente. No iPhone, basta acessar a App Store e buscar pelo aplicativo Qrafter. No sistema Android, o software QR Droid está disponível no Android Market. A leitura de um QR Code é rápida e simples. Depois de instalado o aplicativo, posicione a câmera digital sobre o código para que ele seja escaneado. A partir daí, o aplicativo irá redirecioná-lo imediatamente para o link que está no código.

Escrevo mais uma vez para parabenizar pelo conteúdo direto, didático, sem rodeios e volumes desnecessários no texto e a perfeita diagramação da revista. Muito boa!!! Fernando Zogbi

Erramos: Ao contrário do publicado na matéria “Quem são os candidatos?”, na página 27 da edição de nº 8 da Metrópole Magazine, a vereadora prof. Pollyana Gama nunca foi filiada ao PSDB. Nas eleições de 2012, Pollyana candidatou-se e foi reeleita vereadora pelo PPS com 5.567 votos. Na ocasião, seu partido apoiou o candidato do PSD Mário Ortiz à Prefeitura de Taubaté.

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As pessoas falam em crises, problemas. Mas no que isso se compara à luta de uma criança ou jovem com câncer?

Ricardo Tozzi

Você pode trazer a Esperança a inúmeros jovens e crianças com câncer. Sua empresa pode contribuir com o Hospital do GACC. Seja um Parceiro da Vida.

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2015

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Todos os presentes neste material cederam gentilmente suas imagens para campanha. Fotos dos artistas: Rafael Ribeiro


São José dos Campos, Novembro de 2015 | 9

Aconteceu& Católicos de todos os lugares vêm a Aparecida para festa da Padroeira

A Prefeitura de Caraguatatuba concedeu ao Governo do Estado e à Secretaria de Saúde de São Paulo o alvará com a autorização para construção de uma unidade do Hospital Regional na cidade. A nova unidade será instalada em um terreno doado pelo município localizado às margens da Rodovia Rio Santos. A empresa que ganhar a licitação terá um prazo de 24 meses para entregar o prédio, com valor estimado em R$ 176 milhões. O hospital deverá ter cinco pavimentos e 202 leitos, sendo 40 reservados para a UTI (Unidade de Terapia Intensiva).

Moisés Rosa

Rodrigo Ribeiro

Divulgação

Católicos de diversas cidades do país estiveram no Santuário Nacional de Aparecida para celebrar o último dia da Festa da Padroeira do Brasil. O governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), que sempre visita a Basílica no dia 12 de outubro, também marcou presença e assistiu à tradicional missa solene. Segundo o Santuário Nacional, cerca de 400 mil pessoas passaram pela Basílica durante a Festa da Padroeira.

Pais e professores protestam contra fechamento de escolas em São José e Geraldo Alckmin cancela palestra

Prefeitura de Caraguá concede alvará para construção de Hospital Regional

O governador Geraldo Alckmin cancelou uma visita que faria no dia 15 de outubro, em São José dos Campos, após manifestantes terem ocupado o auditório da Faap (Fundação Armando Alvares Penteado) para protestar contra a mudança na distribuição de estudantes das escolas estaduais. O governador já estava na cidade para apresentar uma palestra no “1º Seminário de Gente que Faz na Administração Pública da RMVale”, realizado na faculdade. Porém, a 15 minutos do início do evento, ele teria cancelado sua presença. Com cerca de 80 participantes, o protesto era composto por integrantes do Sindicato dos Metalúrgicos, da Anel (Assembleia Nacional dos Estudantes Livres), da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) e da Une (União Nacional dos Estudantes), além de representantes do PSTU e PSOL.

Câmara de São José aprova extinção de 42 cargos comissionados

Divulgação

Após a terceira reunião para debater a redução de cargos comissionados na Câmara de São José dos Campos, os vereadores aceitaram os argumentos do presidente da Casa, vereador Shakespeare Carvalho, e concordaram em reduzir o número de assessores em seus gabinetes. Como antecipado pelo Portal Meon, a medida vem de encontro às recomendações do conselho do Tribunal de Contas do Estado (TCE), que há três anos notifica a Câmara joseense para que reduza seus cargos em comissão. Segundo o TCE, o ideal seria uma equiparação entre os chamados cargos de confiança e os concursados, mas, em São José, dos atuais 361 funcionários do Legislativo, 70% (252) são comissionados, sendo apenas 109 de carreira.


10 | Revista Metrópole – Edição 9

Aconteceu& Flávio Pereira

Depois de São José, Samu chega a Caçapava, Jacareí e Jambeiro O Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) passará a atender outros três municípios da RMVale. Caçapava, Jacareí e Jambeiro receberam as viaturas no dia 1º de outubro e devem contar com o serviço em novembro, segundo estimativa do Consavap (Consórcio Intermunicipal de Saúde do Alto Vale do Paraíba), que é formado pelas prefeituras de oito municípios. São eles: São José dos Campos, Jacareí, Caçapava, Santa Branca, Jambeiro, Paraibuna, Monteiro Lobato e Igaratá. O treinamento dos profissionais será executado pela SPDM (Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina), que gerencia o Samu na região.

Arquivo Pessoal Divulgação / Eloi Moreno

Primeira FM do Vale do Paraíba, Stereo Vale encerra suas atividades Depois de 38 anos de programação, a rádio Stereo Vale terminou suas atividades às 18h do dia 14 de outubro. O veículo, inaugurado em 1977, sob o comando do empresário Décio Matos, foi substituído pela Band FM, do Grupo Bandeirantes de Comunicação, que há pouco mais de sete anos já havia adquirido a rádio. Primeira emissora em frequência modulada (FM) de São José dos Campos, a Stereo Vale representou um divisor de águas na história do rádio joseense, que até então só contava com veículos em AM. A ‘limpeza’ do som e a programação musical, influenciada pelo auge da era Disco, colocaram a cidade no mapa dos sucessos internacionais em um tempo em que o acesso a essas músicas não era fácil. A emissora também marcou época ao realizar as primeiras locuções ao vivo da cidade.

Divulgação PMSJC

São José vence o Mogi e leva título de campeão paulista de basquete

O São José venceu o time de Mogi das Cruzes, no dia 24 de outubro, e se consagrou campeão paulista de 2015 na casa do adversário. Em jogo bastante equilibrado e disputado, os joseenses conquistaram o título com o placar final de 89 x 86. Este é o quinto título do Basquete Joseense, que venceu em 1980 e 81, e em 2010, 2012 e 2015. Agora a equipe inicia a disputa do campeonato nacional pelo NBB (Novo Basquete Brasil).

O governador Geraldo Alckmin (PSDB) autorizou, no início de outubro, a liberação de mais R$ 1,3 milhão para a Santa Casa de Cruzeiro. O Estado já tinha autorizado o repasse de R$ 420 mil para a unidade, por meio do programa ‘Pró-Santas Casas’. Recentemente, a Santa Casa de Cruzeiro suspendeu as internações, por conta de atraso no repasse de R$ 726 mil da prefeitura. A demora comprometeu o atendimento na unidade, que atende 60 mil pessoas por mês, em média. Após a suspensão, a prefeitura realizou a intervenção na unidade. De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde, o repasse evita que a Santa Casa feche suas portas, prejudicando 11 cidades da região. O repasse de R$ 1,3 milhão será transferido em 12 parcelas.

Divulgação

Estado libera mais R$ 1,3 milhão para a Santa Casa de Cruzeiro



12 | Revista Metrópole – Edição 9

Frases& Arquivo Pessoal

O objetivo era de justamente causar esse desconforto. Estávamos lá para lembrar aos vereadores que as pautas de cultura estão sempre relegadas a um segundo plano, para não falar que são totalmente esquecidas

Andreia Barros, atriz da Cia Teatro da Cidade, sobre manifestação de atores na Câmara Municipal de São José dos Campos

Somos contra a proposta do governo em fechar salas nas escolas estaduais. Apenas, neste ano, 300 salas letivas foram fechadas em São José. Será um grande prejuízo para a sociedade Marcilene da Mota, professora, sobre o fechamento de escolas da rede de ensino estadual

Moisés Rosa

Arquivo Pessoal

A rádio sempre teve essa característica de pioneirismo. Lembro que quando cheguei na Stereo Vale, em 1980, o que me causou mais espanto foi a qualidade do equipamento utilizado no estúdio. Já naquela época era como um parque de diversões

Eloi Moreno, ex-diretor artístico da Stereo Vale FM, sobre o encerramento da rádio


São José dos Campos, Novembro de 2015 | 13

Divulgação CMSJC

Tive a colaboração dos 21 vereadores. Houve a compreensão de todos. É bom lembrar que fizemos um corte puro, corte seco, que irá gerar uma economia real de mais de R$ 1,5 milhão

Shakespeare Carvalho, vereador presidente da Câmara Municipal de São José dos Campos, sobre a demissão de 42 comissionados

Arquivo Pessoal

O tema da redação foi bem previsível. Mas me dei bem porque já tinha feito ele na escola como preparação Lais Guedes, estudante sobre o segundo dia de prova do ENEM

” No STB você encontra as melhores instituições de ensino, os melhores destinos e tudo o que você precisa para ter uma experiência completa no exterior.

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14 | Revista Metrópole – Edição 9

ENTREVISTA Pedro Ivo Prates

Nada me detém! Ao completar 80 anos, Ronald Levinsohn dá um exemplo de vida e cobra liberdade para os jovens criarem e empreenderem

Eduardo Pandeló SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

A

Metrópole Magazine foi recebida, no Rio de Janeiro, em um amplo escritório cercado por centenas de livros, num acervo de autores nacionais e estrangeiros – muitos deles raros. Livros e mais livros, em sua maioria lidos pelo empresário que procura se cercar de cultura, familiares e amigos. No ambiente, porta-retratos com fotos dos membros da família – a mais recente do aniversário recém-comemorado. São recordações que contam a história desse entusiasmado empreendedor que acaba de completar 80 anos. Não esperamos nem cinco minutos para vê-lo entrar caminhando a passos lentos (de quem se recupera de uma cirurgia). Depois de uma calorosa recepção e, com rápida percepção de

nossa curiosidade, ele começa a identificar os personagens das fotos. Com memória invejável, esse octogenário guarda no olhar um brilho e uma vivacidade peculiares. Culto, extremamente inteligente, contador de histórias, e de uma simplicidade surpreendente, é dono de uma personalidade forte e de uma história de vida pautada pelo empreendedorismo, coragem, ousadia e muitas polêmicas. Essas características transformam o empresário Ronald Guimarães Levinsohn em testemunha ocular da história, defensor da liberdade, da livre iniciativa, da democracia, do capitalismo e, como ele mesmo diz, um apaixonado por São José dos Campos. Nascido na cidade de Rio Grande, no Rio Grande do Sul, em 1935, ele é filho de pai inglês e mãe argentina, e neto de um executivo da Swift Foods Company, vindo da Inglaterra para construir um

imenso frigorífico na cidade portuária de Rio Grande. Aos 17 anos, foi morar em Nova Iorque. Empresário de sucesso, possui diversos negócios em vários estados do Brasil, e nos EUA. Foi dono do Grupo Delfin e reitor do Centro Universitário da Cidade do Rio de Janeiro (UniverCidade). Veio para São José dos Campos em 1975 e foi sócio de Rodman Rockefeller no empreendimento Cidade Vista Verde. Levinsohn comprou o imóvel onde hoje estão localizados o condomínio Jardim Colinas, o Colinas Shopping e o Jardim do Golfe, e afirma: “Nada me detém”. Em cerca de duas horas de conversa, o dono do Colinas Shopping falou sobre São José dos Campos, empreendedorismo, política, corrupção, mercado, capitalismo, socialismo e tecnologia – tema pelo qual se diz atraído.


São José dos Campos, Novembro de 2015 | 15

O Senhor viveu o período da ditadura militar. Hoje, em plena democracia, vivemos um momento de manifestações, pedidos de impeachment e de intervenção militar. Que relação o senhor faz entre as manifestações e a democracia? É necessário ponderar acerca do termo ditadura, não esquecendo das pessoas nas ruas pedindo para o Exército tomar conta do Brasil. Na forma como fizeram o Castelo [General Castelo Branco] assumir o Governo, daqui a pouco pode aparecer um cara qualquer. As pessoas não estão pedindo socialismo. O que querem é economia de mercado. Naquela época, havia malucos que torturavam pessoas, como ocorre até nos dias de hoje, na Rússia, no Egito, na Tunísia, na Líbia e até em território americano (Guantánamo). No Brasil, aqueles que foram torturados hoje são governo. E na recente democracia brasileira? O meu pensamento é de que o homem mais festejado no Brasil, Ulisses Guimarães, fez uma Constituição que o José Sarney declarou que torna o Brasil ingovernável. Fizeram uma Constituição parlamentarista embora o povo brasileiro tenha dito “não” ao ser consultado. O sonho dos políticos é o regime parlamentarista* por que aí seriam apenas eles a comandarem.

Mas em sua opinião sempre houve roubalheira na Petrobras? Vou falar uma coisa: Em toda a empresa pública há desvios. Se até na empresa privada tem, como não teria na pública onde ninguém fiscaliza? Como vê a operação Lava Jato? Eu não pensei que poderia haver a Lava Jato por que em São Paulo, no caso da Alstom, nada se concretizou até então. Entretanto, o Sérgio Moro [juiz] mandou bala. Enquanto um processo

decolou, o outro está escondido. O que vem como decorrência desse processo da Lava Jato é que o Brasil vai ser outro, porque ninguém mais vai segurar nada. No Supremo Tribunal Federal, ninguém irá segurar nada e não irão derrubar as sentenças de Moro que, por sua vez, já demonstrou ser um cara preparado, um sujeito limpo e sério. A crise política está influenciando a economia? Ou a equipe econômica do Governo Dilma errou a ponto de colocar o País numa crise? A Dilma briga com político, ao contrário do Lula que não teve problemas em seu governo, porque sempre fazia o que os políticos queriam. Isso está influenciando muito... acabou com a economia... o Brasil quebrou! Não, eu não sou a pessoa indicada pra analisar a economia, porque não sou economista, mas leio jornais e converso com amigos economistas. Parece que a Dilma perdeu completamente o controle das coisas. Aquele genovês que era ministro da Fazenda [Guido Mantega]... ele pensa em genovês, era um aluado, um alucinado. Fazer ‘pedalada’? Você sabe o que é ‘pedalada’? É pegar dinheiro do BNDES e dizer paga lá em meu nome e bota na conta corrente. Isso é proibido. Tem uma lei da época do

Pedro Ivo Prates

O senhor era amigo do jornalista Paulo Francis que, em 1996, denunciou a existência de corrupção na Petrobras. Considerando o que estamos sabendo hoje sobre a Petrobras, o Paulo Francis tinha razão? O Paulo era meu grande amigo, uma pessoa destemida, muito culta e um homem honrado. Há uma história de um sujeito que vendeu uma peça para Petrobras e que era da cidade do Texas. Ele um dia disse para o Paulo: É uma loucura esse seu país, eu vendo peças aqui por US$ 15 mil e eles me fazem vender por US$ 30 mil,

mas recebo US$ 15 mil. A roubalheira era uma coisa muito pequena. Tanto quanto eu sei foi um desses fornecedores lá do Texas que contou ao Francis, mas ele foi processado pela diretoria da Petrobras que ajuizou ação em uma Corte Federal que só é válida para cidadãos americanos e assim a advogada dele anulou o processo. Ele morreu por que estava com uma dor no braço e vivia fugindo de seu médico que queria investigar e ele não queria. Essa dor era um problema cardíaco que ocasionou sua morte. Então, não é verdade que o processo teria sido o causador de sua morte. O Paulo se baseou na denúncia de um fornecedor, dizer que toda a diretoria roubava foi um pouco de exagero dele.


16 | Revista Metrópole – Edição 9

Fernando Henrique que proíbe isso. E fizeram isso. Entendo que o que se tem contra a Dilma não é motivo para um impeachment, penso que longe disso. Mas, é um movimento político para mudar o rumo venezuelano que estava tomando o Brasil, que vinha se ligando à Venezuela. Se quer saber qual o perigo que nós estamos correndo leia os anais do Foro de São Paulo**. Está tudo lá. O impeachment da presidente seria a solução política? Não. Não. A solução é mudar a Constituição que não tem nada a ver com um país capitalista. A nossa Constituição é que precisa ser modificada. O Governo reajustou tarifas, propôs novos impostos, apresentou um rombo no orçamento, e não sinaliza ter uma solução para a crise. Como avalia essas medidas do governo

para os empresários brasileiros? Eu não sou político, sou empreendedor. Penso o seguinte: Tem rombo? Tem que ter uma divisão. Quantos cargos públicos criaram Dilma e Lula? 70 mil? Acaba com esses cargos. Todos eles. Precisa aumentar impostos, vamos aumentar... Por quanto tempo? Dois anos? Ok. Vai fazer a CPMF? Ótimo. Já que estou aqui, vou pagar. Mas não por toda a vida, apenas para tirar o governo do buraco. Mas a partir daí, há que se indagar qual a força e o peso da economia. O Brasil deve estar passando por uma faixa dos 40% do produto bruto em impostos, o que deveria ser no máximo de 28%. A iniciativa privada tem que ficar livre para criar e agir. O senhor é um dos grandes investidores de São José dos Campos, tem negócios em outras cidades da RMVale? Que medidas essas cidades devem tomar para

atrair novos investimentos? Acabar com o ‘não podismo’. Não pode nada... O burocrata, talvez para se sobressair, se achar importante, dificulta tudo. Ele é um servidor público, tchê [exclama revelando sua origem gaúcha]! Por que um funcionário público tem que ter uma função definitiva na vida? Ele tem que ser demitido como qualquer um, como o funcionário da Embraer. Falta incentivo para o empreendedor? Eu penso que o empreendedor não precisa ter incentivo nenhum, ele tem que ter é vontade de ser empreendedor, ter capital e que não haja nenhum obstáculo. Na realidade, não falamos em incentivo, mas, em investimento. Esse deve ser o investimento das cidades em transformar algo que paga quase zero imposto em um negócio que pagará muito imposto. No Brasil, quando se fala em investimento pensa-se logo em algo

Pedro Ivo Prates


São José dos Campos, Novembro de 2015 | 17

O senhor se arrepende de ter investido cerca de R$300 milhões em São José dos Campos? O que o motiva hoje, aos 80 anos de idade? Arrepender-me de jeito nenhum! A vida do empreendedor é fazer coisas e para isso é preciso investir dinheiro. O que me motiva é a vontade de fazer. Eu nunca olhei um negócio pensando em quanto ou quando vou ganhar. Isso não interessa. O lucro está dentro do mercado e por isso podemos ir em frente. Nunca fiquei olhando quanto vou ganhar. Um empreendedor não faz isso.

Como vê a questão do trabalho de Ozires Silva para trazer o WTC (World Trade Center) para a região do Jardim Aquarius, em São José dos Campos? O Ozires Silva é um dos melhores sujeitos que já apareceu no Brasil, uma pessoa extraordinária, um visionário, e sua grande qualidade é ‘fazer’ e ‘entregar’. Dizer não ao investimento do WTC é coisa de débeis mentais. Imagine se ali tivesse um shopping center, um centro de convenções, hotel, etc.? As pessoas podem dizer: Mas isso é concorrência para você! Concorrência? Desde quando a concorrência é ruim? A concorrência estimula. São uns loucos aqueles que são contra tudo. Sempre que querem trazer algo de novo para a cidade tem uns caras que são contra. Por isso, falta um prefeito como o Sobral [Sérgio Sobral de Oliveira – prefeito entre 1970 e 1975] que era um foguete... ou como o Ednardo [de Paula Santos – prefeito entre 1975 e 1978], que colocaram a cidade na rota do desenvolvimento. O senhor acompanhou a nova Lei de Zoneamento?

Não acompanhei, não vi a lei. Mas, afirmo: A cidade está estrangulada... Dário Rais Lopes (atual secretário nacional de Mobilidade Urbana e ex-secretário de Transportes de São José no Governo Emanuel Fernandes) dizia que aqui temos uma cidade que não se movimenta, tudo não pode. São José tem tudo, só não tem vontade. Parece pessoas que querem viver bucolicamente, numa cidade com

apartamento em Nova Iorque, onde construíram uma tripa de 96 andares; o meu prédio tem 30 andares. Isso é urbanismo novo... Por que 96 andares? Para tirar as pessoas das ruas, aglomerar gente ali, cujo escritório está ao lado e o morador vai de bicicleta. Se você quiser impedir a cidade de crescer, os empreendedores vão crescer em outro lugar. É muito triste o que acontece com a mentalidade desses vereadores. O Carlinhos [Almeida] foi vereador, deve conhecer a Câmara melhor que ninguém... a Amélia [Naomi] está lá. Um dos pontos polêmicos da nova lei é a outorga onerosa. O senhor é a favor dessa medida? Certíssimo, sou totalmente a favor. Mas, para pagar depois do ‘Habite-se’. Não antes. Isso por que quem irá pagar será o mercado. Se tiver que pagar antes, o empreendedor se descapitaliza. Sou inteiramente a favor.

Pedro Ivo Prates

nocivo, o que não é o caso. Eu fiz um loteamento em São José dos Campos com tanta dificuldade e estava criando 500 lotes que irão permitir uma fantástica arrecadação de IPTU para a prefeitura! A pergunta é: Por que causam tantas dificuldades?

Dizer não ao investimento do WTC (World Trade Center) é coisa de débeis mentais

poucos mil habitantes. Mas, não é assim que se tem qualidade de vida. Sobre a Lei de Zoneamento, não tenho ideia, mas sei que é preciso mudar, mudar a mentalidade. A mudança é para o bem, o que há contra isso? Deveríamos chamar os urbanistas mais famosos da cidade juntamente com os mais famosos do Brasil e ouvir sugestões, debatendo com a sociedade. Um vereador que não entende nada de urbanismo não pode decidir sem submeter a questão a especialistas no assunto. Um exemplo ocorreu em frente ao meu

E quanto aos seus investimentos em São José dos Campos, quais foram as dificuldades e quais os sucessos? Para nós, do Colinas, todos os entraves que surgiram foram ultrapassados. Eu atendi ao pedido do Mário Covas para instalar o Poupatempo dentro do shopping, quando ninguém queria. Diziam que os frequentadores eram pessoas simples, o que para mim não foi problema porque acredito que o shopping é um espaço para todos, consumidores ou não. Hoje esse tipo de serviço dentro de shopping é comum, mas não era assim à época. A rede hoteleira de São José é voltada para o turismo de negócios e há ociosidade de vagas. Como foi investir nesse segmento? Foi um ovo de Colombo. Não investem por que acreditam que a cidade não comporta. Isso não faz sentido. É necessário testar, investir e esperar o mercado. Ninguém quer investir por que tem medo do risco, só querem entrar na certa. E o


18 | Revista Metrópole – Edição 9

Golden Tulip está aí e é um sucesso com lotação até nos finais de semana. Tem mercado para tudo. É só você acertar naquilo que as pessoas querem. Caso a Lei de Zoneamento seja aprovada, o senhor ainda pretende construir torres residenciais nos terrenos ao fundo do Colinas Shopping? Sim. Se puder... se não me impedirem... vou fazer, claro, sou investidor, sou um cara que faz coisas [pausa]. Nada me detém, tem que investir, tem que fazer, e se houver dificuldades tem que contornar a dificuldade. O bom senso sempre se mostra vencedor. Sou um empreendedor que fala o que pensa, e que só pensa no bem, só pensa em fazer, só pensa em construir. Querem fazer um World Trade Center ao lado do Shopping Colinas, podem fazer e que façam o melhor, pois, aí vamos disputar. Isso é o ‘sangue’ para meu funcionário disputar com o funcionário deles. Aí, vamos saber quem é o melhor. Com tantos problemas e dificuldades, o que ainda o atrai em São José? O que sempre me atraiu foram as pessoas que formaram o maior centro tecnológico do Brasil, a partir de uma escola que é o ITA. E se tiver um governo de gente que faz, a cidade acontecerá.

O senhor foi reitor de uma universidade. Como vê a questão da Faculdade de Medicina para São José dos Campos? Em minha opinião, deveria se abolir o MEC. Uma Faculdade de Medicina tem que ter um hospital e o município deve se unir a um hospital privado por meio de PPP [Parceria Público-Privada] e fazer uma Faculdade. O controle deve ser de uma agência reguladora privada e a supervisão da qualidade da Faculdade de Medicina do Hospital Einstein, por exemplo. O atual ministro da Educação vai enrolar o Carlinhos que, com seu espírito partidário, deve estar constrangido com essas denúncias contra o PT. A eleição em São José vai dizer que o número de petistas diminuiu a menos de 10%. No alto da vida empresarial, o que diria aos jovens? Empreender... Sempre! Inventar e fazer melhorar. Se fizer um chocolate ou uma bola de futebol, tente fazer o melhor chocolate ou a melhor bola de futebol. Meu neto que reside nos Estados Unidos está fazendo mestrado em Mercado Imobiliário na NYU (New York University) onde eu estudei. Ele me ligou ontem contando sobre a utilização de uma nova tecnologia que vem sendo aplicada para fazer a fundação dos prédios na construção civil. Ele disse: ‘Vovô, estão co-

locando oxigênio no concreto! Estão fazendo um negócio insuflado’. Isso é invenção de um jovem. Essa tecnologia usando oxigênio, que é grátis, vai diminuir o custo. O que vai acontecer no mundo do concreto? É isso o que os jovens estão fazendo. Estão criando! São José dos Campos teve uma política educacional voltada ao empreendedorismo. É possível ensinar a empreender? Aí é engraçado. Não, não... Não. O empreendedor já nasce feito. Isso é fantasia. O Matarazzo quando chegou ao Brasil sabia alguma coisa de empreendedorismo e olha o que ele fez. O Ozires... O que ele aprendeu de empreendedorismo para fazer a Embraer? Empreendedor já nasce feito. Você pode melhorar, pode ensinar novas técnicas, mas, aprender a ser empreendedor, acho que não. 

“A vida do empreendedor é fazer coisas, pra isso é preciso investir dinheiro. O que me motiva é a vontade de fazer”

Pedro Ivo Prates

Nas eleições de 2012, o senhor criticou a gestão do prefeito Eduardo Cury (PSDB) em uma série de anúncios que publicou na imprensa escrita e assim se posicionou publicamente. Hoje, faltam empresários com a mesma coragem que o senhor ? Não posso falar pelos outros, cada um é de um jeito. Eu sou assim: reclamo, não mando recado. Quando tenho que reclamar,

reclamo. Quem não gostar, fica meu inimigo.

* Parlamentarismo é um sistema de governo em que o poder legislativo (parlamento) oferece a sustentação política (apoio direto ou indireto) para o poder executivo. No parlamentarismo, o poder executivo é, geralmente, exercido por um primeiro-ministro (chanceler). ** O Foro de São Paulo é composto por partidos e movimentos de esquerda da América Latina e Caribe, como o PT. Ele foi fundado em 1990 pelo PT do ex-presidente Lula e pelo Partido Comunista Cubano de Fidel Castro, entre outros. Para saber mais, visite: http://forodesaopaulo.org/


São José dos Campos, Novembro de 2015 | 19

NOTÍCIAS REGIÃO

Da indústria do espaço à geração de renda para ajudar o país a sair da crise: saiba como o investimento em Ciência e Tecnologia pode mudar a cara do Brasil João Pedro Teles SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

V

amos fazer um pequeno exercício de comparação. Imagine que em uma mão, temos um produto cujo preço por quilo é de aproximadamente R$ 1,25. Já na outra, um item com valor de venda muito mais elevado, de R$ 5.285 o quilo. Imaginou? Em qual deles você investiria em tempos de crise? Em valores, esta é a diferença entre um quilo de soja, cujo saco de 60 kg custa cerca de R$ 75, e um quilo do jato Phenom 100, fabricado pela Embraer e cujo preço está avaliado em aproximadamente U$ 4,4 milhões (ou R$ 17,1 milhões). A analogia pode até parecer meio sem eira nem beira, mas ilustra a dimensão da diferença do valor agregado em um produto de alta tecnologia e outro que, apesar de trazer ciência e inovação em seu processo produtivo, é vendido como matéria-prima. Na balança comercial do Brasil, pautada em produtos com baixo valor agregado, o agronegócio representa 46% das exportações. No primeiro semestre deste ano, só o complexo da soja representou 16% de tudo o que foi exportado no país, sendo o principal produto-exportação no Brasil. Enquanto isso, aqueles de

maior valor agregado, os industrializados, tiveram queda de 8% em comparação ao mesmo período de 2014. Mas, o que falta para que o país siga exemplos como o da Índia, que investe no desenvolvimento de ciência de ponta e hoje é um país que mantém a estabilidade apesar da crise econômica? Nossos companheiros de Brics (grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), os indianos empenham anualmente cerca de U$ 12 bilhões em ciência e tecnologia, valor que representa 1% do PIB. E o objetivo do país asiático é chegar aos 2% até o ano de 2017. Voltando a nossa realidade, o orçamento do MCTI (Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação), que é de R$ 9,7 bilhões, já teve 7% do montante comprometido devido ao corte de verbas anunciado pelo Governo Federal em janeiro. Mesmo assim, quem lida diariamente com o desafio que é trabalhar em ciência e tecnologia no país prefere manter o otimismo. No Parque Tecnológico de São José dos Campos, a ordem é encarar a crise como uma oportunidade para avaliar processos e implementar novidades. O complexo de fomento da tecnologia concentra 60 instituições de ensino e pesquisa, centros de desenvolvimento tecnológico e centros empresariais. Para o diretor de Planejamento do

Fotos: Pedro Ivo Prates

A resposta está na ciência


20 | Revista Metrópole – Edição 9

Para pesquisadores e executivos da área de Ciência e Tecnologia, é hora de encarar a atual crise financeira como uma oportunidade e usar o nosso know-how da indústria espacial

Parque, Marcelo Sáfadi, o setor precisa ser empreendedor para enfrentar o turbilhão econômico dos próximos anos. Sáfadi lembra também que o cenário de crise exige pressa nas pesquisas para desenvolvimento de novas tecnologias. “É hora de apostar em projetos que oferecem resultado em um curto espaço de tempo. No Parque, por exemplo, há muitas pesquisas sobre softwares de games ou comunicação, que são justamente as tecnologias que demandam menos prazo de pesquisa e apresentam os resultados imediatos para os investidores”, afirma.

Espaço Sideral S/A Se por um lado a crise econômica demanda urgência nas pesquisas, por outro, são os investimentos em longo prazo que podem manter o país entre os grandes atores da exploração espacial. A área está prestes a viver uma expansão sem precedentes com o investimento em sistemas de telecomunicação e de mapeamento, por exemplo. Um exemplo dessa massificação da indústria espacial é o projeto OneWeb, que promete colocar em órbita, no ano de 2018, uma constelação de 700 minissatélites, de 150 kg cada, para oferecer acesso à internet em qualquer lugar do

planeta. Os aparelhos serão construídos pela norte-americana Airbus e custarão nada menos do que U$ 1,5 bilhões. A empreitada é bancada pelo grupo Virgin, do bilionário Richard Branson e pela fabricante de chips Qualcomm. Para o diretor do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), Leonel Perondi, o OneWeb é uma prova evidente de que estamos rumando para uma produção em massa de componentes espaciais em um futuro que está muito mais próximo do que imaginamos. “Assim como já acontece com o setor aeronáutico, o Brasil pode ser um grande ator na indústria espacial que vem por aí. O setor é emergente e tenho certeza de que vai tomar as mesmas proporções da indústria aeronáutica daqui a 10 ou 15 anos. Assim como já aconteceu nos primórdios da Embraer, que hoje emprega aí mais ou menos 15 mil pessoas e é a terceira maior fabricante de aviões do mundo, precisamos nos organizar para estarmos fortes neste mercado nas próximas décadas. E esse esforço começa agora”, afirma. Mesmo sem citar Nelson Rodrigues e o famigerado complexo de vira-latas, o diretor do Inpe incita o brio da sociedade brasileira que, segundo ele, não acredita na capacidade de inovação do

país. E é na experiência dos satélites Cbers-3 e Cbers-4, produzidos em parceria entre Brasil e China, que Perondi alicerça sua opinião. Se o primeiro foi comprometido devido a um problema com o lançamento, realizado na China em 2013, o segundo foi lançado com êxito em dezembro de 2014 e está em pleno funcionamento. “A maioria dos itens de tecnologia mais complexa do Cbers-4, como a câmera de alta resolução e os dispositivos de captação de energia, foram desenvolvidos aqui no Inpe. Estamos em um grupo muito seleto de países que detém esta capacidade. Se temos conhecimento para colocar um satélite em órbita, já podemos pensar em uma indústria para produção em larga escala de peças que atendam a demanda por itens espaciais no futuro”.

Mas, e a crise? A proposta, porém, esbarra na indefinição política e na instabilidade econômica que balançam o país atualmente. Mesmo assim, o diretor do Inpe prefere manter a calma ante às dificuldades impostas pela conjuntura atual. “Olha, o momento não é mais propício no Brasil e sair dessa situação vai exigir um esforço coletivo


São José dos Campos, Novembro de 2015 | 21

e principalmente um impulso do governo para nuclear indústrias modernas no país. Mas também não cabe desespero, ao passo que a fase não é de exuberância para muitos países do mundo”, diz. Se Perondi mantém uma visão confiante, o ex-prefeito de São José dos Campos, Emanuel Fernandes (PSDB), que é funcionário concursado do Inpe, adota postura mais desconfiada. De acordo com o tucano, São José dos Campos pode perder com a crise caso haja falta de verbas para projetos financiados pelo Estado. “A cidade perde quando faltam verbas tanto para projetos dos institutos de pesquisa, como o Inpe e o DCTA (Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial), quanto para adquirir produtos oriundos de projetos já desenvolvidos, casos do KC-390 da Embraer, mísseis da Mectron, armamentos da Avibras, entre outros”, afirma.

Cidade da tecnologia Falar em alternativas para a área de ciência e tecnologia atravessar a crise financeira é necessariamente tocar no ponto nevrálgico da economia joseense. Com o principal arranjo tecnológico e polo aeroespacial do país, o setor está no DNA de São José dos Campos. E de acordo com o ex-prefeito, a meta deve ser sempre de expandi-lo para continuar gerando rendas de alto nível e, consequentemente, melhorar a cadeia de indústria, comércio e serviços. Mas, para manter esse fluxo, Emanuel continua a bater na tecla da manutenção dos investimentos tanto para a indústria da alta tecnologia quanto para os projetos desenvolvidos nos institutos localizados em São José dos Campos. “É importante se manter um fluxo mínimo de recursos, pois a crise pode criar fissuras nesse ‘cristal’ que é o arranjo produtivo. Outras atividades de C&T que demandam aportes menores de recursos financeiros

podem sobreviver com ajustes para ‘produzir’ mais pós-graduandos, cursos de treinamento para a sociedade, serviços etc. Mas, o aporte de recursos é fundamental”, lembra. Recursos, aliás, que financiaram a recém-inaugurada expansão do Parque Tecnológico da Univap (Universidade do Vale do Paraíba). Situado no Campus Urbanova, o parque recebeu R$ 3,5 milhões do Finep (Financiadora de Estudo e Projetos), órgão ligado ao Governo Federal. A área de 19 mil metros quadrados, que já abrigava 35 empresas de tecnologia, agora tem um anexo de 5 mil metros quadrados e pode receber mais 13 novas organizações. De acordo com a Univap, nos últimos três anos as empresas instaladas no Parque fomentaram quatro projetos em parceria com a universidade e atraíram mais de R$ 10 milhões em investimentos. Diretor do complexo, o professor Eduardo Jorge de Brito Bastos afirma que a expansão do parque possibilitará a criação de aproximadamente 500 vagas de emprego na região. “O cenário das ciências e tecnologias está sempre em crescimento e nossa Região Metropolitana do Vale do Paraíba é um resultado disso. Nessa área do conhecimento, a academia e as empresas estão constantemente em pesquisa, desenvolvimento e inovação. Isso promove a popularização da Ciência, Tecnologia e Inovação, colaborando para a melhoria da educação e contribuindo para o desenvolvimento

O Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) é referência internacional no setor

Se temos conhecimento para colocar um satélite em órbita, já podemos pensar em uma indústria para produção em larga escala de peças que atendam a demanda por itens espaciais no futuro Leonel Perondi DIRETOR DO INPE

social do país. Um reflexo dessa realidade é a expansão do Parque Tecnológico Univap, que possibilitará a criação de aproximadamente 500 vagas de emprego na RMVale”, diz.


22 | Revista Metrópole – Edição 9

A área de tecnologia espacial está prestes a viver uma expansão sem precedentes com o investimento em sistemas de telecomunicação, mapeamento, novas fontes de energia e acesso à internet

Educação Com ou sem crise, a chave para que o Brasil aproveite as dimensões e recursos que possui para catapultar pesquisas, estudos e o setor industrial relacionados à tecnologia passa necessariamente pela educação. Durante o mês de outubro, a Unitau (Universidade de Taubaté) promoveu o Cicted (Congresso Internacional de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento). O encontro reuniu cerca de 1.300 trabalhos que vão de alunos do Ensino Fundamental até pesquisadores de Doutorado. Esta é a 4ª edição do congresso e o objetivo, de acordo com a universidade, é justamente de proporcionar um ambiente no qual a pesquisa seja celebrada por alunos de todas as idades. “É a oportunidade de divulgar conhecimentos e mostrar, na prática, aquilo que foi aprendido. Apresentar o trabalho é uma parte importante do processo. Na ciência, conhecimento

sem difusão não dá certo, é preciso que o outro possa conhecer, opinar e até melhorar o conhecimento”, explica o professor Francisco José Grandinetti, pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação da Unitau. No Inpe, Leonel Perondi é outro que acredita muito na educação como chave para despertar o interesse pelo conhecimento científico Brasil afora. O diretor faz questão de atender a todos os pedidos de palestra para instituições, assim como não se priva em estreitar os laços entre o instituto e a comunidade. “Incentivamos as visitas ao Inpe e não nos negamos a ajudar quando somos solicitados para eventos em qualquer lugar que seja. O instituto está sempre aberto para ajudar a proporcionar avanço do conhecimento tecnológico. Há convênios com a prefeitura e aqui dentro nós temos um circuito de visitas. As portas estão sempre abertas”, conclui. 

A cidade perde quando faltam verbas tanto para projetos dos institutos de pesquisa, como o Inpe e o DCTA, quanto para adquirir produtos oriundos de projetos já desenvolvidos Emanuel Fernandes EX-PREFEITO


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24 | Revista Metrópole – Edição 9

NOTÍCIAS COMPORTAMENTO

Diversificar para crescer

O setor de TI apresentará alta demanda nos próximos anos. Mas, se não houver diversidade, haverá falta de profissionais qualificados Adeline Daniele SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

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ra por volta de 1842 quando a condessa, escritora e matemática britânica Ada Lovelace escrevia o primeiro código capaz de ser processado por uma máquina. Ela tinha 27 anos quando se tornou a primeira programadora da história do mundo, graças a um trabalho feito em parceria com o cientista Charles Babbage. Apesar dessa grande conquista, 173 anos depois poucas ‘Adas’ conseguiram seguir o caminho da condessa. Em 2015, as estatísticas mostram que as mulheres lutam muito para conquistar espaço no mundo da tecnologia, predominantemente composto por profissionais do sexo masculino. Segundo pesquisas, elas compõem apenas cerca de 30% do quadro de funcionários nas empresas. E pior: podem ganhar 6 mil dólares a menos que seus colegas homens com o mesmo tempo de experiência, de acordo com um levantamento do portal de empregos norte-americano Glassdoor. Fatores assim fazem com que muitas candidatas com potencial se sintam desmotivadas a seguir carreira nessa área.


São José dos Campos, Novembro de 2015 | 25 Coluna igualdade2.pdf 1 09/11/2015 21:19:04

E quem pensa que o problema fica apenas na questão da discriminação de gênero está enganado. Um levantamento feito pelo grupo industrial Code.org afirma que a demanda por profissionais na área de TI (Tecnologia da Informação) vai mais que dobrar até 2020, gerando mais de 1,4 milhão de empregos. No Brasil, a estimativa da consultoria International Data Corporation (IDC) é de que o mercado de TI fique acima do PIB do país e termine o ano como o setor com mais investimentos, chegando a 165,6 bilhões de dólares. Se as mulheres continuarem deixando essa área, haverá uma enorme falta de pessoas qualificadas para preencher tantas vagas, afetando a produtividade e economia do país. “Tudo isso se deve à cultura machista em que ainda vivemos. Geralmente, quando a menina não se sente preparada para atuar em determinada área é por que a sociedade não a incentiva”, afirma a coordenadora e professora do curso de ciência e tecnologia do Instituto de Ciência e Tecnologia da Unifesp, em São José dos Campos, Luciane Capelo. Segundo a professora, o curso conta atualmente com apenas um terço de meninas. Pensando nisso, os próprios alunos tomaram uma iniciativa para discutir sobre esse problema de diversidade. Formado por estudantes do Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia, o Coletivo Conectivo reúne alunos para falar desde temas sobre LGBTS até outros grupos subrepresentados, como mulheres e negros, com o objetivo de encorajar uns aos outros no ambiente universitário, que é onde boa parte da discriminação acontece. “Começamos a nos reunir para tratar sobre as questões das minorias étnicas e sociais, pois percebemos que num campus de exatas as pessoas não dão tanta importância para

isso”, conta à Metrópole Magazine a aluna Karen Silveira, de 22 anos. “Por meio do coletivo promovemos debates e eventos relacionados a esses temas para conscientizar mais as pessoas, pois muitas vezes nem elas percebem que estão sendo preconceituosas”, diz. A Unifesp não é a única a oferecer espaço para grupos que buscam inclusão. Presente em São José dos Campos há cerca de 10 anos, a Fatec também quer injetar mais profissionais femininas no setor. Em um levantamento realizado neste ano, a faculdade revela que a maioria de seus cursos tecnológicos traz pouca diversidade, com apenas 20% de estudantes do sexo feminino matriculadas no Tecnólogo de Análise de Desenvolvimento de Sistemas, uma das formações mais procuradas na profissão de TI. No curso de Banco de Dados, a situação é ainda pior: a aluna do segundo semestre do período noturno, Ana Carolina Moraes, de 19 anos, tem só mais duas colegas mulheres na sala. “Algumas meninas quando chegam em uma turma de 40 pessoas e veem apenas uma ou duas mulheres podem se sentir mais receosas em continuar estudando, pois não se sentem confortáveis”, afirma. E essa não foi a primeira vez em que ela notou essa diferença. Ao fazer outro curso de computação, Ana ainda conta que só havia ela e mais uma menina em sua turma, e que seus colegas chegavam a achar que elas iriam desistir de se formar. “A mulher precisa ser muito persistente para ter sucesso nessa área”, considera. Além da pouca presença feminina na Fatec, a estudante também afirma que já chegou a ser a única menina durante um estágio. A boa notícia é que a própria faculdade reconhece e tenta resolver esse problema. “Nós procuramos dar suporte e cedemos nosso espaço para projetos que incentivam mulheres no mundo da computação”, explica o diretor C

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26 | Revista Metrópole – Edição 9

da Fatec de São José dos Campos, Luiz Antônio Tozi. Nos dias 7 e 8 de novembro deste ano, por exemplo, o espaço da instituição serviu como sede para um evento internacional chamado Django Girls. A iniciativa, fundada no ano passado na cidade de Berlim, ajuda mulheres a organizar oficinas gratuitas de programação para incentivar o público feminino a entrar no mundo da computação. Uma das organizadoras do workshop, a bolsista de iniciação científica do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), Verônica Maria, de 21 anos, afirma que a criação de ações como essa são fundamentais para mostrar que as mulheres são capazes de conquistar esse mundo. “O Django Girls acredita que a tecnologia é para todos, e todo mundo pode construí-la”, fala. Ainda de acordo com Verônica, é preciso não só incentivar as meninas a entrar na área da computação, como também acabar com a discriminação de gênero dentro das próprias empresas, motivo pelo qual muitas deixam suas carreiras na área. “Além do preconceito, outras razões que fazem as mulheres desistir de trabalhar com tecnologia são o assédio moral e sexual”, revela. Um relatório feito pelo Center of Talent Innovation aponta justamente este problema. De acordo com o estudo, as mulheres brasileiras têm 22% a mais de chance de abandonar suas carreiras na área de Ciências, Engenharia e Tecnologia dentro de um ano do que os homens, mesmo que 87% delas tenham afirmado que amam o que fazem no trabalho. Além disso, 29% das entrevistadas disseram se sentir estagnadas em suas profissões. Isso porque 22% dos participantes da pesquisa em cargos seniores afirmaram que mulheres nunca conseguiriam uma posição de liderança em suas companhias. E o mais surpreendente: uma boa parcela

dessas profissionais do país (33%) considera comportar-se como um homem para conseguir uma promoção.

Começamos a nos reunir para tratar sobre as questões das minorias étnicas e sociais, pois percebemos que num campus de exatas as pessoas não dão tanta importância para isso Karen Silveira

22 ANOS, ALUNA DA UNIFESP SJC

Cenário otimista Em fevereiro deste ano, a advogada Ellen Pao moveu um processo contra o fundo de investimentos Kleiner Perkins Caufield & Byers – famoso por levantar fundos para grandes empresas como o Google – alegando ter sofrido discriminação de gênero por seus colegas durante o tempo em que trabalhou como

sócia investidora na firma dos Estados Unidos. O caso foi a julgamento e foi um dos assuntos mais comentados no Vale do Silício, lançando luz sobre o problema da falta de diversidade nas companhias de tecnologia em todo o mundo. Apesar de Ellen ter perdido na decisão do júri, ela se tornou símbolo da luta feminina por mais igualdade nesse mercado e gerou uma avalanche de processos contra outras organizações, demonstrando que haverá cada vez menos tolerância com essas formas de abuso que afastam mulheres de suas carreiras. “Nos últimos tempos, tenho percebido que as próprias alunas da universidade estão mais fortes em suas ações e posicionamentos. Antes que venha uma piada ou assédio elas se posicionam e tomam a frente”, assegura a coordenadora e professora do ICT da Unifesp, Luciane Capelo. Outra boa notícia é que as pesquisas mostram um aumento na procura de mulheres pelas áreas de Computação e Engenharia. Na Universidade de Stanford – uma das instituições mais cobiçadas por jovens que queiram trabalhar no setor – o curso de ciência da computação já é o mais procurado pelo público feminino, ultrapassando a área de biologia, que era a que mais formava mulheres até este ano. O levantamento da Fatec de São José dos Campos ainda revela que o curso de análise e desenvolvimento de sistemas conseguiu dobrar o número de alunas ingressantes entre os anos de 2012 e 2015, com 17 alunas no período matutino contra apenas oito em 2012. A ideia, com iniciativas como o Coletivo Conectivo e eventos como Django Girls, é que essas estatísticas cresçam cada vez mais nos próximos anos, trazendo um mundo tecnológico com mais diversidade e, consequentemente, inovação. 


• Fundamental • Médio • Técnico

Unidade Centro (12) 3928-9816 Unidade Aquarius (12) 3908-0970 Unidade Villa Branca (12) 3955-4510

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28 | Revista Metrópole – Edição 9

NOTÍCIAS COMPORTAMENTO “ Eu não vou apagar nenhum desses comentários. Faço questão que todos sintam o mesmo que eu senti: a vergonha de ainda ter gente covarde e pequena neste país, além do sentimento de pena dessa gente tão pobre de espírito. Não vou me intimidar, tampouco abaixar a cabeça”, Taís Araújo pelo Facebook

Quando a cor da pele incomoda Aumentam os casos de injúria racial na internet; episódio envolvendo famosos chamam a atenção às vésperas do Dia da Consciência Negra Idelter Xavier SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

“ Divulgação

Já voltou da senzala?”. “Cabelo de esfregão!”. “Quem postou a foto desse gorila?”. Esses foram apenas alguns dos comentários postados no Facebook da atriz Taís Araújo, no último dia 31 de outubro, às vésperas do mês dedicado à consciência negra. Casos como o da artista

global ganham repercussão nacional por se tratar de uma pessoa pública, mas – verdade seja dita – são o retrato do cotidiano no nosso país. Infelizmente, episódios do tipo não são exclusividade dos noticiários da TV. Quase todo mundo já presenciou algum ato discriminatório ou conhece alguém que sofreu algum preconceito de raça. Com a estudante de jornalismo de São José dos Campos, Bruna Dutra,

Bruna Dutra, 22 anos, estudante de jornalismo, já foi vítima de racismo na infância

de 22 anos, não é diferente. Segundo ela, depois de adulta, os casos de racismo por ela ser negra diminuíram muito, mas quando criança passou por diversas situações difíceis. “Lembro até hoje... Eu devia ter uns dez anos. Estávamos eu e uns amigos da escola brincando de ‘verdade ou desafio’ e quando um dos garotos foi desafiado a me dar um beijinho, ele disse que só beijava meninas brancas. Isso faz muito tempo, mas com certeza foi a história que mais me marcou”, revela Bruna.

“É muito chato, em 2015, ainda ter que falar sobre isso, mas não podemos nos calar. Na última noite, recebi uma série de ataques racistas na minha página. Absolutamente tudo está registrado e será enviado à Polícia Federal”, Taís Araújo pelo Facebook


São José dos Campos, Novembro de 2015 | 29

Internet Em julho deste ano, a jornalista Maria Júlia Coutinho, garota do tempo do Jornal Nacional, foi alvo de racismo em uma página no Facebook. Comentários como “Em pleno 2015,

ainda temos pretos na TV” e “Só conseguiu emprego no jornal por causa de cota para negros” foram amplamente publicados e compartilhados na rede. Muitas pessoas sofrem crimes de racismo e injúria racial pela internet e não tomam nenhuma atitude. O ato é caracterizado crime como em qualquer outro caso, deve ser registrado em boletim de ocorrência na delegacia, e o responsável deve responder pelo crime. “A pessoa que sofrer qualquer tipo de preconceito na internet tem o mesmo direito de ir até uma delegacia e registrar a ocorrência. Neste caso, é necessário levar a imagem comprovando o ato de

discriminação”, diz Katia. Segundo indicadores do site safenet.com, 64% dos casos de racismo cibernético em nosso país acontecem pela rede social Facebook.

Como denunciar A vítima de racismo ou injúria deve registrar boletim de ocorrência em uma delegacia e procurar um advogado para cuidar do processo. Mesmo quando houver dúvidas se a ação feita trata-se de racismo ou injúria racial, é importante que o caso seja registrado. Em caso de discriminação em ambiente de trabalho, a queixa pode ser feita no Ministério Público do Trabalho. 

Preconceito se derruba com conhecimento Embora sejam mais presentes na mídia e nas redes sociais, as campanhas e trabalhos de conscientização da cultura negra e contra o racismo não fizeram diminuir os casos de intolerância e preconceito que ainda são frequentes em nossa sociedade, seja no trabalho, nas ruas, nos campos de futebol ou até dentro das escolas, mas principalmente na internet. De acordo com dados do Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados), o Estado de São Paulo conta com a maior população negra do país, com aproximadamente 12,5 milhões de negros e pardos. No Vale do Paraíba e Litoral Norte, são mais de 440 mil pessoas. A Secretaria de Promoção da Cidadania de São José dos Campos resolveu tomar uma atitude e criou o projeto Obatalá. O programa busca levar a cultura negra para

Charles de Moura/PMSJC

A estudante conta que nunca sofreu nenhum tipo de racismo virtual. “Pela internet eu nunca vivenciei nada do tipo. Acho que as pessoas entram em perfis de famosos para xingar porque acham que nunca vão ser identificados, por ter muitos comentários”. Atitudes de preconceito racial podem ser enquadradas em dois tipos de crime: racismo e injúria racial. Os dois casos são considerados atos criminais, porém, com conceitos jurídicos diferentes. A lei que caracteriza o racismo como crime inafiançável foi criada há 26 anos, mas até hoje gera certa dúvida na população. De modo geral, a injúria está associada ao uso de palavras difamatórias referentes à raça ou cor com a intenção de ofender a honra de alguém, como no caso da atriz Taís Araújo. O racismo é mais amplo e se adequa a uma série de situações, como recusar ou impedir acesso a um estabelecimento comercial, a entradas sociais em edifícios públicos ou residenciais, a elevadores ou escadas, e ainda negar ou dificultar emprego em empresa privada, entre outros. “A pessoa que sofrer qualquer tipo de preconceito ou injúria deve ir até uma delegacia e fazer a queixa. No momento de registrar a ocorrência, o delegado responsável irá definir em qual categoria o caso se enquadra”, explica a advogada Katia Bizarro, especialista criminal. A pena para o crime de injúria racial é menor, pode chegar a até 3 anos, e o réu pode responder em liberdade, desde que pague a fiança. O crime de racismo, imprescritível e inafiançável, tem penas maiores, podendo chegar a até 5 anos de prisão.

a população da cidade, por meio de diversas formas de expressão artística, como dança, música, grafite, culinária, esporte, contação de histórias, entre outras. A secretária de Promoção da Cidadania, Silvia Satto, explica que essa é uma herança histórica, que apenas será combatida por meio do conhecimento. “Só há um meio de combater a intolerância e o preconceito: levando cultura para a população. Criamos o projeto justamente para valorizar a cultura negra, para que as pessoas entendam e conheçam mais sobre o assunto”. O Dia da Consciência Negra foi criado em homenagem ao principal personagem dos movimentos em favor da liberdade dos negros, Zumbi dos Palmares, que foi assassinado em 20 de novembro de 1695, mas encoraja até hoje a luta pela conscientização da cultura africana.

Além de exposições e shows, o projeto Obatalá irá contar com telas de multimídia, onde os visitantes poderão se informar sobre histórias e curiosidades específicas sobre a cultura africana


30 | Revista Metrópole – Edição 9

NOTÍCIAS REGIÃO

Meu partido é um coração partido

A decepção deixou os brasileiros sem preferência por nenhuma legenda. Por essa e por outras, estão surgindo novos partidos

Núcleo do Novo de São José dos Campos faz apresentação dos valores e do programa do partido

Eduardo Pandeló SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

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m toda a RMVale (Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte), muito se fala da polarização PT x PSDB e na guerra declarada, principalmente nas redes sociais, entre simpatizantes das duas legendas. Em um sistema pluripartidário como o nosso, soa estranho pensar em apenas dois partidos, mas isso acontece aqui por que o PSDB governa o Estado há mais de 20 anos e o PT governa o País há 14. Opções não faltam, pois hoje nosso sistema eleitoral possui 35 partidos políticos; o que ocorre no Brasil é algo praticamente inexistente em outros países democráticos. Apesar do excesso evidente de

partidos e suas legendas, a maioria em busca de uma fatia das verbas do fundo partidário, há quem ache pouco. Nas eleições do próximo ano, três partidos devem estrear nas urnas.

Os estreantes A Rede Sustentabilidade, sob a liderança da ex-presidenciável Marina Silva, defende mudanças no modelo econômico para a construção de um projeto de desenvolvimento socialmente inclusivo e ambientalmente sustentável, além da reforma do sistema político e a garantia de igualdade de gênero. Em São José dos Campos, os trabalhos ainda estão incipientes. Em seu sistema organizacional, a Rede Sustentabilidade trabalha com uma coordenação regional que é responsável pelo município. Os núcleos de trabalho,

formados por voluntários, são quem organizam os chamados elos municipais; os relatores levam as informações para a coordenação regional, que faz o trabalho de intercâmbio com o diretório estadual. Após a organização e o reconhecimento de um coletivo que atenda aos requisitos do partido é que surge um elo. Ainda na fase de desenvolvimento de um coletivo, a Rede não deve participar efetivamente das eleições municipais em 2016. O Novo levanta algumas bandeiras do liberalismo clássico, como a redução da função do Estado, o corte de impostos e a valorização do papel do indivíduo. O partido tem foco nas questões econômicas e gerenciais. Ainda que tenha sido criado por empresários, administradores e profissionais do mercado financeiro, o Novo tenta construir um modelo de financiamento que não dependa de doações empresariais. Ao invés disso, a sigla aposta na arrecadação de recursos com seus filiados. Em São José dos Campos, o trabalho já começou. O Novo criou o grupo Voluntários 30 (número da sigla) e iniciou uma série de atividades para atrair


São José dos Campos, Novembro de 2015 | 31

Partidos políticos brasileiros SIGLA

Partido

PMDB

Partido do Movimento Democrático Brasileiro

PTB

Partido Trabalhista Brasileiro

PDT

Partido Democrático Trabalhista

PT DEM

Partido dos Trabalhadores Democratas

PCdoB

Partido Comunista do Brasil

PSB

Partido Socialista Brasileiro

PSDB

Partido da Social Democracia Brasileira

PTC

Partido Trabalhista Cristão

PSC

Partido Social Cristão

PMN

Partido da Mobilização Nacional

PRP

Partido Republicano Progressista

PPS

Partido Popular Socialista

PV

Partido Verde

PTdoB PP

Partido Trabalhista do Brasil Partido Progressista

PSTU

Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado

PCB

Partido Comunista Brasileiro

PRTB

Partido Renovador Trabalhista Brasileiro

PHS

Partido Humanista da Solidariedade

PSDC

Partido Social Democrata Cristão

PCO

Partido da Causa Operária

PTN

Partido Trabalhista Nacional

PSL

Partido Social Liberal

PRB

Partido Republicano Brasileiro

PSOL

Partido Socialismo e Liberdade

PR

Partido da República

PSD

Partido Social Democrático

PPL

Partido Pátria Livre

PEN

Partido Ecológico Nacional

PROS

Partido Republicano da Ordem Social

SD

Solidariedade

NOVO

Partido Novo

REDE

Rede Sustentabilidade

PMB

Partido da Mulher Brasileira

Agliberto Chagas e Dr. Lúcio Murilo Santos visitam sede do Meon

Fonte: TSE

filiados. O coordenador do núcleo na agora ninguém se inscreveu”, fala. cidade, Agliberto Chagas, visitou a redaPara Dr. Lúcio, a visão do Novo é de ção do Meon acompanhado do médico longo prazo: “No Novo, a gente tem a e professor da Unesp Dr. Lúcio Murilo ideia de que a gente [cidadão] é muito Santos, que já atua como voluntário mais eficaz administrando o dinheiro nas atividades do partido. Na ocasião, público: menos imposto, mais dinheiro Agliberto explicou como está a implanno bolso. O cidadão administra melhor tação do partido no município. “Estamos que o Estado, só que essa mudança é na fase de divulgação e filiação. Aliás, um processo longo”, compara. não chamamos de O Partido da filiados, mas, de Mulher Brasileira sócios. Sócios do ainda não tem diprojeto”, disse. retórios no Estado A pouco mais de São Paulo e, sede um ano das gundo informações Sobre as próximas eleições, o Novo do próprio partido, eleições, não há nada de São José já está seu diferencial com um grupo é a cota máxima definido. Não está formado por cerca imposta à particidescartada a possibilidade de 100 filiados, pação dos homens: de participarmos entre engenheiros, eles não podem ser empresários, arquimais do que 30% Agliberto Chagas tetos, professores e dos dirigentes parCOORDENADOR DO NÚCLEO médicos. Agliberto tidários ou dos canSJC DO “NOVO” espera que o pardidatos da legenda tido participe das nas eleições. eleições municipais A existência de caso a população entenda a proposta e partidos de aluguel não é recente no dê apoio. Brasil. Mas, uma nova modalidade “Sobre as eleições, não há nada dede partido surgiu recentemente: as finido. Não está descartada a possibilegendas criadas com o objetivo de lidade de participarmos das próximas apoiar outros partidos. É o caso do PL, eleições desde que tenhamos ‘massa que está sendo criado com o apoio do crítica’”, sentenciou. PSD, de Gilberto Kassab. O Novo não tem nenhum político O número de partidos em formação tradicional entre os filiados. Caso é muito maior do que os três recém-rehaja o interesse de algum deles em gistrados em 2015. Ainda há dezenas de fazer parte do partido é necessário, no siglas que apresentaram o estatuto ao entanto, atender a alguns requisitos. TSE. Os 35 partidos podem se transforPara se filiar, por exemplo, o candidamar em 40 num futuro próximo. to tem que ter ficha limpa, respeitar Embora muitos partidos políticos os valores e o programa do partido e não tenham representação em nossa ainda se sujeitar a participar de um região a ponto de eleger represenprocesso seletivo. tantes nas cidades da RMVale, a “Temos um processo diferente de expectativa é de que o desgaste das todos os partidos. As pessoas que queoutras legendas façam surgir novas rem ser candidatas têm que participar lideranças e novas propostas. Afinal, de um programa de capacitação para uma recente pesquisa do Datafolha exercer a função pública. Se alguém se mostrou que 71% dos brasileiros não submeter a esse processo, ótimo. Até têm partido de preferência. 


32 | Revista Metrópole – Edição 9

NOTÍCIAS ESPECIAL

‘Eu faria do mesmo jeito’ A redução da maioridade penal é um tema que gera debate até entre os protagonistas desta cena; fomos à Fundação Casa para ouvir dos menores o que eles acham da ideia


São José dos Campos, Novembro de 2015 | 33

Fotos: Pedro Ivo Prates

Adriano Pereira

Atualmente, no Estado de São Paulo, 361 adolescentes estariam presos como adultos caso a maioriade penal fosse reduzida

SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

E

m 1º de dezembro de 2013, Renato* e um parceiro furtaram uma moto. No dia seguinte, o proprietário descobriu onde estava seu veículo, se armou de um revólver e foi tentar recuperar o bem. “Se ele chegasse na pacífica (sic), a gente tinha dado a moto de volta. Mas ele ameaçou

matar a família do meu parceiro, então eu atirei”, conta. Ele tinha 17 anos e deve passar um ano como interno da Fundação Casa, em São José dos Campos. Entretanto, se a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que prevê a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos de idade

estivesse valendo, Renato estaria preso numa cadeia comum e poderia cumprir uma pena que estaria entre 6 e 20 anos, por tentativa de homicídio. Com uma vida inteira pela frente, o jovem perderia a oportunidade de estudar e de se reintegrar à sociedade com uma possibilidade de futuro legítimo.


34 | Revista Metrópole – Edição 9

“Imagina, eu com 16 anos preso com um monte de gente que não tem mais nada pra perder na vida. Eu ia sair de lá roubando de novo”, conta. No texto da PEC, a intenção é punir jovens a partir de 16 anos que tivessem cometido homicídio doloso, lesão corporal seguida de morte ou crimes hediondos, com exceção de tráfico. Nesse universo, até julho de 2015 segundo dados do Estado de São Paulo, 361 adolescentes seriam presos como adultos. Segundo a projeção de especialistas, a média nacional seria de 145 jovens por Estado. As questões são: seriam construídos novos presídios para essa faixa etária? Um novo aparelho regulatório seria criado ou a gestão estaria vinculada às atuais secretarias de administração penitenciária? A resposta é a mesma para as duas perguntas: não há respostas concretas. A emenda sugere a criação de um “estabelecimento” penitenciário independente que não está previsto no ordenamento jurídico brasileiro, ou seja, o adolescente seria julgado por um juiz criminal e consequentemente teria que cumprir pena no sistema penitenciário. “Faria do mesmo jeito”, diz Márcio*. Essa é a quarta passagem do jovem de 17 anos pela Fundação Casa, todas por tráfico de drogas. “Pra mim, só mudaria o tempo que eu ficaria preso. Mas não iria deixar de fazer. Faço por necessidade”, conta. Márcio afirma que comprou móveis e alimentos com o dinheiro do tráfico. O pai dele está preso por roubo e a mãe trabalha para sustentar a família. Jorge* também está na Fundação pela quarta vez, também por tráfico de drogas. “Se eu fosse para um CDP (Centro de Detenção Provisória), em vez de ser educado eu seria estimulado para o crime. Poderiam até me chamar para servir o ‘comando’”, diz. Servir ao comando significa entrar para o PCC (Primeiro Comando da Capital). No caso dele, se a lei fosse aprovada, pensaria duas vezes antes de cometer um crime. Na família de Jorge, o tráfico é uma

“Ficam gastando tempo com isso em vez de punir os políticos corruptos. Por que não aumentam a pena deles?”


São José dos Campos, Novembro de 2015 | 35

Para os adolescentes internos da Fundação Casa, a educação é a única forma de recuperá-los

herança. O pai é dependente e a avó era traficante. “Entrei nessa pra ajudar em casa, mas pra me vestir melhor também. Tem o lado pessoal no crime”, afirma.

Solução As duas primeiras passagens de João* pela Fundação Casa foram por assalto, a terceira por tráfico e agora, na quarta vez, ele está internado por assalto novamente. “O Brasil poderia investir em leis que fossem ajudar a gente. Ficam gastando tempo com isso em vez de punir os políticos corruptos. Por que não aumentam a pena deles?”, argumenta. Entre as entradas e saídas da Fundação, João prestou vestibular e passou. A direção da unidade de São José conseguiu criar um sistema

permitindo que mesmo de dentro ele consiga fazer o curso de tecnologia e logística. “Não são todos que mudam nessa vida. Se não persistir não adianta e são dois caminhos: o certo e o errado. Antes, eu teria praticado tudo de novo, mesmo com a lei. Sei que agora eu cansei dessa vida. Quero estudar”, diz. Na opinião dos quatro adolescentes que ouvimos, a educação e uma possibilidade de trabalho os tiraria do mundo do crime. Mas, esse é um discurso uníssono entre os 112 internos da unidade de São José dos Campos e, geralmente, fora dali, com as influências do ambiente, da família e de amigos, a consciência não é a mesma. Afinal, antes de começarem a praticar delitos, poderiam ter optado por esse caminho.

Em tempo, a PEC 171/93 apesar de aprovada na Câmara dos Deputados, deve ser derrubada no Senado. O presidente Renan Calheiros já disse que apesar da proposta tramitar normalmente na casa, deve ser arquivada. Levantamento feito entre os senadores aponta que ela teria no máximo 32 votos a favor, quando para ser aprovada deveria ter pelo menos 45. “Na visão do Estado, a gente é só número, senhor. Sem lei ou com lei, as cadeias continuam lotadas, sabe por quê? Porque o dinheiro que era pra ser investido aqui, fica no caminho. Tive vários traumas e perdas na vida, aprendi coisas aqui estudando. Esse é o único jeito de mudar”, finaliza João.  * nomes fictícios Veja mais fotos em www.meon.com.br


36 | Revista Metrópole – Edição 9

NOTÍCIAS SAÚDE

É o fim do bacon? Relatório aponta o alimento como um dos causadores de câncer no intestino. Mas, isso não significa que seja o fim da linha para quem ainda quer saborear a iguaria

Adeline Daniele SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

E

m outubro, um relatório divulgado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) determinou que o consumo de carnes processadas, como bacon, salsicha, linguiça, presunto, entre outros, pode aumentar o risco de câncer no intestino. O documento, criado pela IARC (Agência Internacional de Pesquisa do Câncer), agora classifica esses alimentos no grupo 1 de carcinogênicos, o qual inclui substâncias como o tabaco, amianto e fumaça de diesel. Para quem já estava pensando em esvaziar o congelador e cancelar o pedido de delivery do cheese bacon na lanchonete, não precisa entrar em pânico. Afinal, isso não significa que uma pessoa que consome esporadicamente algum desses alimentos tenha as mesmas chances em desenvolver o câncer colorretal que uma pessoa fumante tem em contrair câncer de pulmão. “Além do mais, os alimentos não são os únicos vilões. A hereditariedade e diversos outros fatores também são causadores da doença”, afirma a supervisora de nutrição do Hospital viValle, Natália Trois. Segundo indicação da IARC, uma porção de 50 gramas de alguma dessas carnes processadas por dia pode aumentar em 18% o risco de desenvolver o problema. “Para se ter uma ideia, uma única salsicha pesa 50

Alimentos polêmicos Não é novidade que as gorduras do bacon fazem mal à saúde. E outros alimentos se tornaram polêmicos ao longo do tempo devido a diversas discussões que buscavam provar se eles são ou não prejudiciais na dieta humana. A equipe da Metrópole Magazine preparou uma lista de itens presentes na dieta da maioria dos brasileiros e, com a ajuda da nutricionista Natália Trois, aponta as formas mais saudáveis de consumir cada um deles. Confira: Ovo: “Há muito tempo o ovo deixou de ser vilão na dieta”, afirma Natália. Apesar da atenção quanto ao colesterol, o alimento é fonte de proteína e, se consumido adequadamente, não fará mal ao organismo. Salsicha: Os componentes químicos dessa carne processada podem ser altamente alergênicos. É preciso moderar excessivamente seu consumo, pois ele possui muito sódio, gordura, corantes e conservantes. Carboidratos em geral: Não é preciso descartar o pão de sua rotina diária do café da manhã, pois o carboidrato é fonte de energia. “É indicado priorizar o consumo de carboidratos integrais, pois eles são ricos em fibra e melhoram o funcionamento do intestino”, afirma a nutricionista. Leite: O leite deve ser consumido com moderação até mesmo por quem não tenha intolerância à lactose. “Trata-se de uma fonte de proteína, mas é preciso dar preferência ao leite desnatado caso seja preciso tratar distúrbios nos níveis de lipídios e controlar o peso”, diz. Carne vermelha: O excesso de carne vermelha no organismo pode aumentar o colesterol, entupir veias e artérias e até mesmo causar doenças cardiovasculares. Segundo Natália, é recomendável comer carnes magras, como frango, ou evitar esse alimento com muita frequência. Café: Odiado por uns, recomendado por outros. Polêmico entre especialistas, o café é conhecido por trazer benefícios como combate à depressão, estímulo no foco e atenção. Mas, segundo a supervisora de nutrição, a maioria dos pesquisadores concorda que o limite entre benefícios e prejuízos da bebida está na quantidade consumida e no modo de preparo da bebida.


São José dos Campos, Novembro de 2015 | 37

Frango: Opção para a carne vermelha, o frango é uma fonte de proteína magra. “Ele contém nutrientes essenciais como vitaminas, minerais e aminoácidos para o organismo”, explica Natália. Chocolate: De acordo com Natália Trois, o chocolate deve ser ingerido em doses homeopáticas. “De dois a três quadradinhos por dia é o ideal”, afirma. Também é preciso prestar atenção na quantidade de açúcar e gordura nos ingredientes do alimento. Vinho: Uma taça de vinho todos os dias é o suficiente para quem quer se manter saudável. E o melhor: a bebida não afeta o sistema imunológico. “De acordo com pesquisas da Sociedade Europeia de Cardiologia, uma taça diária diminui em 11% o risco de infecção por bactérias que podem causar doenças como úlceras, gastrites, infecções e outros tipos de câncer”, afirma a nutricionista. Cerveja: Por incrível que pareça, a cerveja também traz benefícios à saúde. Mas, seu consumo deve ser moderado. “A bebida é rica em vitamina B e antioxidantes que, quando combinados com o álcool, podem ajudar a reduzir em 35% as doenças cardiovasculares”, diz Natália. “Além disso, outros componentes do produto ajudam a prevenir alguns tipos de câncer e osteoporose”.

gramas, três fatias finas de presunto 40 gramas, sete fatias de salame pesam 40 gramas e uma linguiça pode chegar a 100 gramas”, explica a nutricionista. Dessa forma, evitar o consumo excessivo de comidas desse tipo e manter uma dieta controlada são atitudes essenciais para preservar a saúde. É importante lembrar também que o risco de câncer não deve ser a única razão para quem precisa diminuir o consumo de carnes processadas. De acordo com a especialista, quem come muita proteína e gorduras também pode ter problemas como gastrite, alteração na pressão arterial, úlcera e obesidade. “Porém, a questão desses alimentos serem fonte de proteína animal não deve ser esquecida. Eles podem permanecer na dieta de uma pessoa contanto que ela também coma verduras, legumes, fibras e frutas, não fume e realize atividades físicas”, diz Natália. Ainda de acordo com a nutricionista, procurar marcas confiáveis, observar a procedência e tomar cuidado ao armazenar esses produtos também é necessário. Todos esses fatores, juntos, ajudam a evitar o desenvolvimento do câncer, manter uma dieta saudável e ainda permitem saborear receitas com bacon sem preocupações. 



São José dos Campos, Novembro de 2015 | 39

NOTÍCIAS EDUCAÇÃO

Educação para a vida Professoras de educação física da rede municipal de Taubaté destacam-se com projetos ambiciosos que vão muito além de chutar bola João Pedro Teles TAUBATÉ

C

om projetos que foram além das expectativas da sala de aula, duas professoras de educação física de Taubaté estão atingindo resultados surpreendentes na rede municipal de ensino. Para Iane Cândida da Silva e Flaviane de Carvalho Andrade, muito além do que ensinar os alunos a chutarem uma bola, o papel do educador físico é de abrir portas para uma percepção de protagonismo que ultrapassa os limites de qualquer esporte. Em outubro, ambas fizeram parte de um grupo de docentes homenageados pela Câmara de Taubaté em evento que comemorou o Dia dos Professores. As duas foram laureadas com o prêmio “Educador do Ano”, concebido pela Casa para valorizar trabalhos de destaque em escolas públicas e particulares da cidade. Flaviane é professora da EMIEF

Vereador Mário Monteiro dos Santos, do bairro Gurilândia, um dos mais simples de Taubaté. A educadora física mudou um pouco o foco das aulas de desenvolvimento corporal para trabalhar a questão de educação alimentar. E foi aí que nasceu o projeto “Horta Educativa”. Em 2013, a educadora aceitou o desafio de juntar os alunos do ensino fundamental para montar uma pequena horta, feita de forma um pouco improvisada com paralelepípedos. A ideia era colocar em prática os conhecimentos adquiridos durante um curso promovido pela Secretaria de Educação do Estado, que ensinava justamente a implantar uma horta dentro da escola. Mas, o que era uma experiência despretensiosa ganhou proporções muito maiores dentro da escola, transformando-se em uma das horas mais divertidas do dia para a criançada. “A gente começou com uma hortinha bem pequena, mas a resposta dos alunos foi muito boa. Fomos promovendo brincadeiras que envolvem a alimentação saudável, pesquisando

Professora e alunos montaram uma compostagem e um minhocário e todos se divertem muito

Imagine só que até rúcula eles estão comendo. Quando a criança tem essa relação tão bonita com o alimento, de carinho mesmo, de vêlo brotar, isso muda a concepção Flaviane de Carvalho Andrade PROFESSORA

sobre materiais, acrescentando novas hortaliças, tubérculos e frutas. Também montamos uma compostagem e um minhocário. E os alunos se divertem muito vendo aquilo que eles plantaram crescer”, explica a professora. Tudo o que é cultivado na horta é orgânico e consumido pelos próprios alunos. Os estudantes levam para casa tomates, beterrabas, rúculas, alfaces ou cebolinhas, que, na mesa, viram alimento saudável para os pequenos. A professora também ajuda, pesquisando receitas que levam como ingredientes aquilo que os alunos plantam na escola. “Imagine só que até rúcula eles estão comendo. No começo até havia uma rejeição, mas quando a criança tem essa relação tão bonita com o alimento, de carinho mesmo, de vê-lo brotar,


40 | Revista Metrópole – Edição 9

Tudo o que é cultivado na horta é orgânico e consumido pelos próprios alunos

isso muda a concepção. Afinal, essa é a nossa rúcula. Há um sentimento de apropriação que faz toda a diferença. Além de plantar, eles também cuidam muito bem do espaço: tiram as ervas daninhas e ajudam a regar a plantação”, acrescenta. A professora mora em Pidamonhangaba e, aos finais de semana, costuma ir à escola para realizar a rega e outros cuidados necessários para manter a horta saudável. De acordo com ela, a plantação tem uma função pedagógica importante para as crianças, além de ser um instrumento para envolver as famílias da comunidade na educação dos pequenos. “A plantação despertou um coleguismo muito saudável entre os alunos. Eles se mobilizam, dividem as sementes. Na hora da colheita, dividem também quanto de cada alimento vai para cada um. Agora que já aprenderam o procedimento, fizemos juntos algumas hortinhas de garrafa pet para o aluno levar para casa. É um barato, porque eles me mandam a foto da plantinha brotando, do prato que os pais fizeram usando aquele alimento”, conclui.

o seu oitavo ano colhendo frutos da inusitada aposta nos exercícios circenses. Em 2007, a professora, que pessoalmente já se identifica muito com a arte do circo, trouxe a prática da cidade do Rio de Janeiro, onde morava. Adaptação foi a palavra de ordem no início do trabalho. Perna de pau, por exemplo, virou perna de lata, feita com barbante e duas latas simples de achar em casa. E não é que esta prática incomum fez sucesso entre os estudantes? As aulas da carioca se transformaram numa febre entre as crianças do 1º ao 5º ano. “Tenho duas situações onde o circo nos ajuda muito: alunos que tinham problemas de concentração ou eram um pouco desobedientes em sala e acabaram encontrando na prática uma atividade que acompanhava o seu ritmo – e, a partir daí, melhoraram também o desempenho em outras disciplinas – e aqueles que tinham boas notas, porém, eram muito introvertidos e encontraram no circo uma maneira de se expressar com mais facilidade”, conta.

Picadeiro Já a professora Iane Cândida da Silva, da EMIEF Professor Ernesto de Oliveira Filho, que fica no Parque Aeroporto, encontrou na arte milenar do circo a forma de motivar os alunos e envolver a comunidade com o convívio escolar. O projeto “Circo na Escola”, implementado pela docente, já vai para

Professora Flaviane e seus alunos da EMIEF Vereador Mário Monteiro dos Santos

Tal foi a identificação que os alunos que foram deixando a escola para estudar no 6º ano mobilizaram-se para continuar os trabalhos fora do colégio. Para isso, a comunidade se organizou para a criação da Trupe Anauê, que reúne ex-estudantes da escola que continuaram a praticar as atividades circenses de forma independente e que se apresentam para a comunidade do bairro. “A iniciativa envolveu também os pais preocupados com a falta de espaços para a cultura e a prática esportiva no bairro. Foi assim que decidiram abrir esse espaço, que hoje conta com mais infraestrutura (que possibilita a realização de aulas de tecido acrobático, por exemplo) e reconhecimento”, explica. Por meio do trabalho da expressão corporal, Iane encontrou também uma forma de despertar os alunos para o contexto social no qual estão inseridos e como portar-se como um agente transformador dentro de uma realidade de privações e opressão. “Esse assunto é recorrente nas aulas, até porque você não pode se considerar um educador se se limita apenas a transmitir a matéria. Então, em um dos espetáculos de fim de ano que promovemos, por exemplo, a temática foi o xadrez. E aproveitamos para falar muito sobre essa questão de não deixar que te façam pensar que seu lugar na vida é o do peão e que cada um faz o seu caminho, independente das dificuldades que se colocam à nossa frente”, reflete. 


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42 | Revista Metrópole – Edição 9

NOTÍCIAS REGIÃO

A Black Friday mais quente de todos os tempos Paulo Pinto

Crise deve promover descontos mais atraentes do que em outras edições. Mas, cuidado, gastos desenfreados são um convite ao endividamento

“A Black Friday é uma data que veio para ficar e que precisa ser levada a sério pelos comerciantes” , sentencia Felipe Cury, presidente da ACI-SJC

João Pedro Teles SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

E

m ano de grave crise econômica, a Black Friday 2015, que acontece no dia 27 de novembro, promete ser um ‘pega pra capar’ entre os gigantes do varejo. Com o objetivo de salvar um ano comprometido pela instabilidade financeira, a expectativa é de que, tanto nas lojas físicas quanto na internet, as redes caprichem

nos descontos e, enfim, promovam uma sexta-feira com promoções que realmente valham a pena. Criada nos Estados Unidos para aquecer o varejo na sexta-feira logo após o feriado de Dia de Ação de Graças, a Black Friday caiu no gosto dos comerciantes e clientes brasileiros e, atualmente, já foi incorporada no calendário de datas comemorativas comerciais no país. Durante a data, a ordem é esvaziar as prateleiras e, assim, entrar com estoque renovado

para as compras de Natal, feriado mais importante para o comércio. No Brasil, a Black Friday é data comercial desde 2010, quando aconteceu somente no comércio online. No calendário do comércio, a data vem bem a calhar. Isso por que existe um hiato de exatamente 74 dias entre o Dia das Crianças e o Natal. Contando que os Papais Noéis normalmente começam a aportar nos shoppings da região ainda na primeira quinzena de novembro, a campanha de Natal segue por mais de


São José dos Campos, Novembro de 2015 | 43

um mês e meio sem parar. Se por um lado a data oferece um fôlego que possibilita aos lojistas incrementarem as vendas antes do Natal, por outro, a Black Friday é motivo de desconfiança para os consumidores desde seu início em território nacional. Principalmente nos primeiros anos, era comum a prática do estabelecimento aumentar o preço dos produtos dias antes das promoções para depois anunciar o desconto. A pegadinha gerou uma série de reclamações. Só em 2014 foram 12 mil registradas pelo site Reclame Aqui. Além das queixas, a data também virou piada na internet. Termos como “Black Fraude” ou frases como “Tudo pela metade do dobro” fizeram o consumidor olhar com desconfiança para os descontos oferecidos.

valores mais altos. De acordo com este levantamento, 2014 teve R$ 1,2 bilhões em vendas e a expectativa para este ano de 2015 é de que o montante chegue a R$ 1,5 bilhão. O motivo da diferença é que na conta da E-bit entram compras realizadas ainda na quinta-feira, assim como bens que não são materiais, como viagens e outras promoções.

Quebrando a internet O fato é que, em números, a Black Friday nunca deixou de ser um arrasa quarteirão para o varejo, principalmente no comércio eletrônico, onde a data comemorativa faz mais barulho (neste ano, por exemplo, 51% dos consumidores pretendem comprar pela internet). De acordo com a Clear Sale, que faz a contabilidade das compras feitas pela internet no período, as vendas no e-commerce em 2014 somaram R$ 872 milhões. A previsão da mesma consultoria para este ano é de aumento deste montante em 12%, o que significa R$ 978 milhões em vendas no dia 27. Desde que a consultoria passou a contabilizar o número dessas vendas, a evolução é latente. Repare que, de 2011 para 2014, os valores mais que dobraram de um ano pra outro. Em 2011, foram registrados R$ 100 milhões; em 2012, R$ 217 milhões; 2013 registrou R$ 424 milhões e, em 2014, o montante foi de R$ 872 milhões. Mas, ainda em relação aos números, outra consultoria, a E-bit, contabiliza

Para economizar de verdade Para a coordenadora dos cursos da área de Gestão e Negócios do Senac Taubaté, Sandra Maria Costa e Souza, a crise econômica vai adicionar um tempero diferente a esta edição da Black Friday. No ímpeto de “salvar” um ano de retração, o comércio, de acordo com ela, tende a investir pesado na data. “Pode ter certeza que os grandes estabelecimentos estão planejando bons descontos para atrair os consumidores que neste ano estão bem ressabiados para gastar. A data entrou definitivamente no calendário do comércio, o que faz todo o sentido, já que o mês de novembro ficava ali meio perdido entre o Dia das Crianças e o Natal. E normalmente é nessas grandes datas que está a aposta do varejo em tempos de crise nas vendas”, afirma. Com a promessa dos descontos sedutores, o desafio para o consumidor é não cair na tentação de comprar de tudo, inclusive o que não precisa.

À medida que a data se aproxima, o marketing envolvendo as promoções também vai se tornando cada vez mais intenso. Portanto, cuidado! Sandra alerta para a importância de programar-se para que a data represente realmente uma oportunidade – e não uma dor de cabeça no final do ano. “São várias as dicas para os consumidores. A primeira delas é checar o que é realmente necessário. Depois disso, o ideal é se planejar. Por exemplo, quem quer aproveitar para comprar um smartphone novo, precisa checar onde o desconto está maior, qual site é confiável para fazer as compras, ou se vale mais a pena fazer a aquisição numa loja física. Também vale ir checando desde já o preço do produto para verificar se não haverá a famosa maquiagem de preços na hora de anunciar a promoção”, esclarece. Quando a esmola é demais, o santo desconfia. Pois é, se a Black Friday aparece como uma tentação ao consumo pouco depois do pagamento da primeira parcela do 13º salário é importante lembrar que, por mais frustrante que seja, o início do ano é sempre uma época complicada para as finanças. E é válido se preparar para o pacotão de impostos, material escolar e todas as outras despesas que janeiro traz consigo. “Por isso, eu não aconselho fazer compras financiadas. O ideal é juntar dinheiro e fazer essa compra à vista. Vamos supor que um consumidor parcelou os valores em cinco vezes e tenha um imprevisto em janeiro ou outro mês do início do ano quando a carga de impostos é alta. Então, sem dinheiro, esse mesmo consumidor deixa de pagar a parcela do cartão de crédito. A partir daí, de nada adiantou correr para fazer a compra na Black Friday. Com os juros do cartão acima dos 400%, no fim das contas o valor do produto, que era para ser promocional, acaba sendo maior do que o preço original”, explica.


44 | Revista Metrópole – Edição 9

No Brasil, a Black Friday bem que poderia se chamar Smartfriday. Afinal, os smartphones são os queridinhos dos consumidores que aproveitam os descontos da data. No ano passado, de acordo com pesquisa do Google, o gadget foi responsável por 27% das compras. A previsão para este ano é de que 29% das vendas realizadas envolvam o aparelho. A categoria de roupas, calçados e acessórios vem logo depois, com 18% da preferência em 2014 e expectativa de 25% para 2015. Notebooks, tablets e computadores fazem parte da classe que vem em terceiro lugar na preferência, correspondendo a 16% no ano passado com expectativa de 24% neste ano. Completam o quadro de prioridades do consumidor os eletrodomésticos, TVs e, por último, itens de beleza.

Comércio de rua

Paulo Pinto

Se a Black Friday é conhecida principalmente pelo envolvimento dos grandes conglomerados do varejo, para os pequenos a data também pode trazer oportunidades de melhorar as vendas. A essa parcela do comércio, a alternativa é contar com a criatividade para entrar na onda. Sem a mesma ‘bala na agulha’ para bancar megapromoções como os gigantes conseguem, o jeito é caprichar na decoração da

Paulo Pinto

Smartfriday

Black Friday caiu no gosto dos comerciantes e dos consumidores brasileiros loja, baixar os preços daquelas peças que já estão fazendo aniversário no estoque e ganhar o consumidor no atendimento personalizado. “A arma do pequeno é investir no que chamamos de venda consultiva. Se o comércio de rua não vai conseguir vender um notebook pelo mesmo preço que uma gigante do setor, ao menos ele pode personalizar esse aparelho para adequá-lo exatamente ao gosto do freguês, coisa que os gigantes não fazem”, afirma a especialista em Gestão e Negócios. Em São José dos Campos, a ordem no comércio de rua é aproveitar ao máximo os atrativos da nova data

Durante a data, a ordem é esvaziar as prateleiras e entrar com estoque renovado para as compras de Natal

comercial para encantar o cliente. De acordo com o presidente da ACI (Associação Comercial e Industrial) de São José, Felipe Cury, a Black Friday é uma data que veio para ficar e que precisa ser levada a sério pelos comerciantes. “Não dá mais para ficar batendo nas teclas antigas. Se fizer uma boa promoção, se decorar a loja e atrair a clientela, dá muito certo. É preciso despertar para as oportunidades. Muitos donos de pequenos comércios acham que essa data é só para as grandes marcas. Mas quem pensa assim está perdendo uma grande chance de iniciar o período do Natal com mais dinheiro no caixa”, opina. O presidente ainda vai além. De acordo com ele, é nas medidas mais modernas que está a chave para enfrentar a crise econômica. “O e-commerce, tão forte na Black Friday, por exemplo, é outra saída para que os pequenos se destaquem no mercado. A ACI está incentivando a prática com um programa de incentivo aos associados que finalmente está decolando. Já são quase 200 estabelecimentos implantando a nova prática e se adequando às novidades”, conclui. 



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NOTÍCIAS TURISMO

Os cruzeiros vão ‘invadir’ o Litoral Norte Picos de visitação acontecem entre dezembro e março

Divulgação

Ilhabela e Ubatuba devem receber quase 235 mil turistas de novembro a maio de 2016

Moisés Rosa LITORAL NORTE

T

uristas de todo o mundo devem ‘invadir’ o Litoral Norte nos próximos meses. Com o início da temporada de cruzeiros, 234.747 mil turistas devem visitar Ilhabela e Ubatuba, entre novembro e maio do próximo ano. A temporada é considerada uma das melhores para o turismo regional, que está no roteiro dos cruzeiros. Em crescente ascensão no mercado, Ilhabela se destaca como a principal rota no litoral para a passagem dos navios. Nesta temporada, serão 8 navios organizados em 105 escalas a

visitar o arquipélago. A cidade já aparece na quarta colocação do ranking nacional da Abremar (Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos), desbancando Salvador, por exemplo, e atrás somente de Santos, Rio de Janeiro e Búzios. Devem desembarcar em Ilhabela 228.891 passageiros durante o período. Para Ubatuba, estão programadas três escalas em um navio. A cidade receberá 5.856 passageiros. Os picos de visitação estão entre dezembro e março.

Economia Em pesquisa realizada pela associação, os turistas devem gastar, em média, R$ 200 por dia de visita nas

duas cidades da região. O movimento deve injetar cerca de R$ 45 milhões em Ilhabela. Já em Ubatuba, os turistas devem ‘deixar’ R$ 1,1 milhão, segundo levantamento da Abremar. O prefeito de Ilhabela, Toninho Colucci, diz que essa é uma oportunidade para fidelizar os turistas. “As escalas de navios são de grande importância para o turismo de Ilhabela, pois envolve diversos segmentos relacionados ao setor. Além disso, é um aperitivo para o turista, que visita a cidade durante um dia e posteriormente planeja voltar”. Para o presidente da Associação Comercial e Empresarial de Ilhabela, Leopoldo Pedalini Neto, a época é positiva para a economia da cidade. A


Os navios Passam por Ilhabela, os cruzeiros da MSC Armonia, MSC Lirica, MSC Splendida, MSC Poesia, Costa Pacifica, Costa Fascinosa, Rhapsody of the Seas e Empress. Ubatuba recebe a MSC Lirica. Dez navios ficarão por seis meses no Brasil e diversos atrativos devem ser oferecidos para os turistas. Entre as opções de lazer nos cruzeiros estão atividades de entretenimento que vão desde cinema 3D, cassinos, passeios em terra e até o aluguel de bicicletas. O valor de pacotes para três noites e três dias custa a partir de R$ 550. A MSC Cruzeiros apostará na ampliação e renovação das cabines, oferecendo serviços exclusivos aos turistas. A maioria dos itinerários tem como partida Santos, passando por Cabo Frio e Ilhabela. Outra escala do transatlântico inclui Rio de Janeiro e Ubatuba. Já a empresa Pullmantur traz para a região a Empress, com roteiros pelo litoral. Com capacidade para 1.877 passageiros em 795 cabines, o navio conta com três restaurantes, seis bares,

Verdadeiras cidades ambulantes, os navios têm cassinos, teatros, cinemas, e oferecem até passeios de bicicleta

duas piscinas exteriores, três jacuzzis, spa, teatro, cassino e lojas Duty Free. As tarifas estão disponíveis de R$ 819 a R$ 4.322 + taxas. Ele chega à costa brasileira no dia 5 de novembro Outra empresa é a Royal, que traz o navio Rhapsody of the Seas, com chegada a Santos em 5 de dezembro. Ele tem capacidade para 1.998 passageiros e oferece duas piscinas, além de jacuzzis, fliperama, tela de cinema e gastronomia diferenciada. No Costa Pacifica e Costa Fascinosa, os transatlânticos serão palco de eventos temáticos, com dança e música. A Costa Cruzeiros anunciou a vinda dos navios Costa Pacifica e Costa Fascinosa para a América do Sul na temporada 2015/2016. As embarcações navegarão por belos destinos brasileiros, incluindo Buenos Aires e Montevidéu entre dezembro de 2015 e março de 2016. O coreógrafo Carlinhos de Jesus abrirá o cruzeiro.

Atrativo Para o presidente da Abremar, Marco Ferraz, os cruzeiros têm atraído diversos turistas pelo Brasil. Em 2014, foram 22 milhões de cruzeiristas. Em 2015, a estimativa é de 23 milhões. “Antes, achavam que os cruzeiros eram apenas para as pessoas da terceira idade. Hoje, essa realidade mudou e muitos jovens estão buscando este tipo de turismo. As variadas atividades e o custo-benefício são os atrativos para a escolha dos cruzeiros”, afirma.

Marco Ferraz, presidente da Abremar Apesar da crise econômica e da alta do dólar, Ferraz destaca que as empresas estão congelando o valor do câmbio para que os turistas possam optar pelos transatlânticos durante a temporada. “A crise afetou todos os mercados, principalmente o mercado de turismo. Com isso, os valores do dólar foram congelados”, diz. O presidente da associação destaca ainda o potencial do Litoral Norte. “Ilhabela está entre as principais rotas dos navios que estão vindo para o Brasil. Outra cidade que também está crescendo neste mercado é Ubatuba. A projeção para ambas as cidades é muito boa, estimulando a economia e permitindo que as empresas ofereçam pacotes com valores acessíveis”, conclui. 

Ranking das cidades mais visitadas* Santos

Divulgação

temporada representa 30% de acréscimo. “Os cruzeiros se consolidaram em nossa economia, principalmente para os comerciantes na Vila [local que recebe o maior número de paradas]. Isso é bom para a divulgação de Ilhabela e muitos retornam”, explica. De acordo com Pedalini Neto, o movimento de turistas tem crescido ultimamente na cidade. “Os comerciantes já estão acostumados com este tipo de público e oferecem atendimento de qualidade para fidelizar esses turistas. O diferencial é que os turistas se sentem ‘em casa’, já que os comerciantes conhecem as preferências deles. Isso acaba atraindo esse turista para Ilhabela”.

Divulgação

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369 mil Rio de Janeiro

239 mil Búzios

229 mil Salvador

134 mil *Previsão Temporada 2015/2016


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Cultura& Fotos: Divulgação

Morrissey chega neste mês em SP

Redação SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

M

orrissey volta ao Brasil para divulgação do álbum “World Peace Is None of Your Business” (2014). Os shows acontecem em São Paulo (dia 17, no Teatro Renault, e dia 21, no Citibank Hall), Rio de Janeiro (dia 25, no Citibank Hall) e Brasília (dia 29, no Net Live). Há quem diga que ele poderia ser

considerado o “pai” do Renato Russo. Pode ser exagero no que diz respeito à música, mas o brasileiro imitava Morrissey descaradamente no início da carreira e assumia isso. A última vez em que Morrissey esteve no Brasil foi em 2012, em shows que misturaram músicas dos Smiths e de sua extensa carreira solo. No início deste ano, o cantor cancelou as apresentações que faria na Islândia porque os donos do local do evento se recusaram

a não vender carne na noite do show, já que Morrissey é ativista do vegetarianismo. Músico de voz distinta e personalidade polêmica, é mais conhecido como ex-vocalista do Smiths, uma das banda mais importantes do rock alternativo dos anos 80. Dono de sucessos como “Ask” e “There Is a Light That Never Goes Out”, o grupo britânico se separou em 1987 e, desde então, Morrissey tem mantido uma sólida carreira solo.


São José dos Campos, Novembro de 2015 | 49

DVD&

A Arte de JeanPierre Melville Preços: DVD: R$ 49,90

maior do polar, o policial noir francês, e um ótimo documentário sobre o diretor, além de quase uma hora de extras. Uma boa opção para fugir dos blockbusters.

A Versátil apresenta “A Arte de Jean-Pierre Melville”, com 2 DVDs que reúne três obrasprimas em inéditas versões restauradas de Jean-Pierre Melville (1917-1983), o mestre

CINEMA&

LITERATURA&

Malala

Diários da Presidência Fernando Henrique Cardoso

Depois de ter se tranformado em livro, a história de Malala Yousafzai agora chega às telas de cinema no documentário do diretor David Guggenheim, vencedor do Oscar de Melhor Documentário de 2007 por Uma Verdade Inconveniente (An Inconvenient Truth). Mala é um dos grandes nomes da luta

pelos direitos das mulheres. Seu engajamento fez com que ela se tornasse, aos 17 anos, a pessoa mais jovem a ganhar o Prêmio Nobel da Paz, em 2014. Em 2012, Malala foi baleada pelo Talibã por defender os direitos humanos básicos para as mulheres de seu país. O filme estreia no dia 19 de novembro.

Preço: R$ 44,90 Durante seus dois mandatos como presidente da República (a primeira entrada data de 25 de dezembro de 1994, quando o presidente eleito mas não empossado reflete sobre a composição do ministério), Fernando Henrique Cardoso manteve o hábito quase semanal de registrar, num gravador, o dia a dia do poder. Os diários têm a franqueza das confissões deixadas à posteridade — como de fato era a intenção original do autor.

SOM&

Vários The Art of Paul McCartney (Sony)

Preço: R$ 34,90

‘The Art Of McCartney” é um tributo a um dos maiores músicos do século 20 e maior compositor de todos os tempos. Sir Paul McCartney escreveu muitas das canções mais conhecidas do mundo como: Let It Be, Imagine, Yesterday, Hey Jude e muitas outras. Este projeto apresenta algumas das maiores estrelas da indústria da música como Bob Dylan, Kiss e The Cure cantando as composições do beatle.

Pink Floyd The Endless River Deluxe

(Sony) Preço: R$ 164,90

O até então inimaginável disco inédito do Pink Floyd chega aos ouvidos do mundo inteiro após 20 anos aguardando para ser lançado. The Endless River é o décimo quinto álbum da banda – e lamentavelmente último de estúdio – que fecha um ciclo iniciado no ano de 1965 por Syd Barrett, em Cambridge na Inglaterra. O projeto é baseado em sessões excluídas do álbum anterior, The Division Bell, de 1994, e em músicas de shows daquela época com a formação que contava com David Gilmour, Nick Mason e Richard Wright, tecladista vítima do câncer que veio a falecer em 2008, para quem o trabalho é dedicado.


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NOTÍCIAS CULTURA

A farra libertária de Dom Pescoço

Pedro Ivo Prates

Banda joseense recusa estereótipos, carrega no desbunde e já é uma das principais apostas do cenário independente

Em pouco mais de um ano com a formação original, a banda se estabelece como uma das principais de São José dos Campos


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João Pedro Teles SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

É

fim de tarde, horário de verão. Mas sol que é bom, necas. Em um dos quiosques do Parque Santos Dumont, São José dos Campos, os integrantes da banda Dom Pescoço promovem uma farofada despudorada com pão, mortadela e margarina. Bolsas, cavaco, violão e farelos esparramados no minúsculo espaço circular. Atmosfera domingueira em plena terça-feira, para dia nublado nenhum meter o bedelho. E não dava para esperar nada de diferente de uma banda que, alheia aos chavões da indústria musical, escolheu o campo do desbunde libertário da brincadeira para talhar sua sonoridade. Em 2014, Miguel Nador (voz) e Gabriel Sielawa (cavaco, guitarra e voz) se uniram a Rafael Pessoto (guitarra e voz), Luiz Felipe Passarinho (bateria e voz) e Dom de Oliveira (baixo e voz) para subtrair o nome do grupo – que na primeira formação ainda chamava-se Dom Pescoço e o Passarinho Quebrado – e multiplicar suas possibilidades. A liga foi instantânea e as composições passaram a fluir desenvoltas dos ensaios e encontros regados à cerveja e batucada. Já são 15 no repertório autoral da banda. Atualmente, a trupe está em estúdio para a gravação do primeiro EP, com previsão de lançamento para o início do ano que vem. O trabalho será a base do disco de estreia, que deve estar pronto no segundo semestre de 2016. “Na brincadeira, a gente encontra tudo. Não existe aquele compromisso em estabelecer uma explicação para a obra e tal. Não há limites ou apego a algum estilo. Fazemos nossa música assim. Jogamos para o público e, a partir daí, a forma como esse som vai dar sentido para ele é responsabilidade do espectador”, explica Luiz Felipe Passarinho.

Na estrada Em pouco mais de um ano com a formação original, a Dom Pescoço já se estabelece como uma das principais bandas da nova cena de São José dos Campos e, aos poucos, vira figurinha

Na brincadeira, a gente encontra tudo. Não existe aquele compromisso em estabelecer um sentido para a obra e tal. Não há limites ou apego a algum estilo Luiz Felipe Passarinho INTEGRANTE DA BANDA

carimbada também em festivais da capital e de outras cidades do interior. “Essa participação que estamos tendo fora de São José é importante para mostrar às bandas daqui que o que tem sido feito na cidade é tão bom quanto aquilo que os artistas em evidência estão fazendo”, conta Miguel Nador. No mês de outubro, a banda foi uma das 25 selecionadas – única da região – para participar da Semana Internacional de Música de São Paulo, evento que acontece entre os dias 2 e 5 de dezembro no Centro Cultural São Paulo. O grupo está no mesmo balaio de nomes importantes no cenário nacional como Bixiga 70, Jesuton, Far From Alaska e Maurício Pereira. Para tocar no festival, a Dom Pescoço passou por uma peneira de 880 grupos de mais de dez países diferentes.

Em agosto, a banda lançou seu primeiro clipe, da música de trabalho Cuba Corazón. O vídeo alcançou pouco mais de 2.600 visualizações no YouTube e, recentemente, foi compartilhado na página do Circo Voador no Facebook. “O importante não é nem quantas pessoas estão visualizando, mas se ele está sendo visto pelos caras certos. Acabou que muitos produtores e gente bacana no meio musical teve acesso ao nosso som por meio deste vídeo”, explica Dom de Oliveira.

Para pagar as contas Depois de tocar nos principais palcos de São José dos Campos – a banda já cumpriu agenda no Sesc, Sesi, Hocus Pocus e Parque Vicentina Aranha – e ser presença recorrente no circuito independente fora da cidade, o sonho dos integrantes é conseguir se sustentar apenas com a música. “É aquela coisa que sempre acontece com quem toca. As pessoas perguntam ‘você é músico, mas qual sua profissão?’. Meu sonho e o da galera da banda é viver de tocar mesmo. Poder pagar as contas. Acho que hoje é esse o objetivo de todo mundo que vai pra música”, afirma Rafael Pessoto.

Cena efervescente Em uma cidade que aos poucos desperta para uma vida cultural mais movimentada, a banda é parte de uma cena atuante, disposta a virar o jogo em campo dominado por outras prioridades. “A gente tem que fazer acontecer. Vivemos um momento importante, com os artistas da cidade unidos em prol de mais espaços para a cultura. Já temos colhido bons frutos, não dá pra ficar só reclamando e se acomodar. Pelo menos isso não rola com a gente”, conclui Gabriel Sielawa. 


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Veículos&

Pequeno notável Adriano Pereira SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

Divulgação

S

abe quando você vai numa rede de fast food e vê aquela foto de um lanche maravilhoso e quando ele vem na sua bandeja, percebe que só era lindo na foto? Pois é, às vezes, as propagandas não são muito fiéis aos produtos. Felizmente, não é o caso do lançamento da Volkswagen. O Cross up! TSI cumpre a promessa de potência e economia em um único motor. Nossa reportagem testou o carro durante uma semana, uma versão literalmente turbinada do up! que já conhecemos – um carro compacto, com motor 1.0 de três cilindros no qual a aceleração e velocidade não são os focos do fabricante, e sim a economia de combustível. Nessa nova versão, você nunca vai sentir que está dirigindo um carro 1.0. A adoção do turbo no bloco de três cilindros do up! o fez ganhar 23 cv de potência em relação ao aspirado, totalizando 105 cv. E olha, fica difícil não acelerar com um carro leve e que tem desempenho de esportivo. A resposta do up! TSI é imediata quando você pisa no acelerador. Em fáceis 9 segundos você já está a 100Km/h e se não prestar atenção a multa chega mesmo. A tecnologia TSI está baseada na injeção direta de combustível. Por meio desse sistema, o combustível é injetado sob alta pressão diretamente na câmara de combustão – no novo motor 1.0 TSI Total Flex, a pressão é bastante elevada: 250 bar. Em comparação com o sistema de injeção convencional, realizado no coletor de admissão, a injeção direta possui as vantagens de ser mais

precisa e de não depender dos tempos de abertura das válvulas, injetando a quantidade adequada de combustível em todas as condições de uso. E por incrível que pareça, com toda essa potência, o Cross up! TSI é um carro muito econômico. Rodamos em estradas e cidades. No primeiro caso, o consumo médio apontado no computador de bordo chegava em alguns momentos a mostrar mais de 20km com um litro de gasolina, mas a média ficou em 18,9 km/l. Na cidade, a média ficou em 13,9 km/l, um consumo bastante

interessante diante do motor potente. A estrutura dessa versão é praticamente a mesma da “prima” mais simples. A diferença fica pela tampa do porta-malas que vem pintada de preto e pequenos detalhes em acessórios. Aliás, as 5 estrelas para proteção de adultos e 4 para crianças na avaliação de segurança do Latin NCap continuam lá, é um carro que passa bastante segurança. O up! TSI está disponível exclusivamente com a carroceria de quatro portas, nas versões move up!, high up!, black up!, red up!, white up! e cross up!.


São José dos Campos, Novembro de 2015 | 53

Todos trazem uma série de recursos eletrônicos de segurança, como M-ABS (controle de tração), alerta de frenagem de emergência e MSR (regulagem do torque do freio motor), entre outros.

Tecnologia O up! TSI oferece como opcional, a partir do high up! TSI, o “maps & more” – sistema de infotainment e navegação. Trata-se de um dispositivo com tela sensível ao toque (touchscreen) que funciona como extensão do rádio e do computador de bordo do veículo, oferecendo

também conectividade multimídia e sistema de navegação (GPS), já com mapas brasileiros e com antena interna de GPS, dispensando conexão com aparelhos adicionais. Tudo por meio de operação intuitiva e simples de usar. Instalado no centro do painel do up! e com tela de 5 polegadas, com o “maps & more” é possível visualizar as seis principais funções do “infotrip” de maneira gráfica: consumo instantâneo, consumo médio, distância percorrida, tempo de percurso, autonomia e velocidade média. Também conta com uma extensão

do quadro de instrumentos, exibindo o conta-giros e o termômetro do motor. Na função ECO, possui uma representação gráfica de comportamento do condutor, para auxiliá-lo a dirigir de forma mais econômica. O “maps & more” tem ainda as funções de rádio, media-player (controla CD-player, entradas auxiliares e as listas de reprodução) e Bluetooth – com recursos de ligações em viva voz e transferência de agenda, sendo possível inclusive o pareamento de dois aparelhos simultaneamente. Outra função


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do “maps & more” é a exibição da imagem do sistema OPS (Optical Parking System) de auxílio ao estacionamento.

Conforto O Cross up! TSI não é um carro com o conforto de um sedan. É mais do que óbvio que quem procura o visual e a motorização da versão não coloca o conforto como característica principal a ser buscada. O carro é bom para quatro pessoas, mas com cinco passageiros ele fica pequeno. O porta-malas também não tem espaço para levar toda a bagagem de uma família numa viagem, mas até que dá conta de duas malas grandes. Entretanto, os bancos da frente têm designs bem interessantes e acomodam bem para viagens de longa distância. O problema é que os passageiros de trás ficam sem visão, já que o apoio de cabeça é parte integrante do banco, ou seja,

não tem aquele espaço vazado comum em outros veículos. Enfim, para quem tem os R$43.490 da versão mais básica com essa motorização, a dúvida sobre gastar esse valor em um veículo compacto ou buscar um carro maior vem logo de cara. Mas, se você procura potência, economia, segurança e não precisa de um carro grande, o Cross up! TSI é uma opção bastante considerável. E veja bem, se é para continuarmos no campo da publicidade, bem no finalzinho da propaganda, o motorista para no semáforo e os ocupantes do carro ao lado ficam olhando para ele. Durante a semana que testamos o Cross up!, nos sentimos exatamente assim. É um carro que chama a atenção e se você estacionar para tomar um café vai acabar se acostumando com as pessoas parando em volta para dar uma “olhada”. 

O carro

Divulgação

Divulgação

A versão vem com a tampa do porta-malas pintada de preto como diferencial

Motor 3 cilindros, 1.0, 12V, turbo Potência 105 cv, flex Câmbio Manual, 5 marchas Altura e peso 1,50m e 951 Kg Porta-malas 285 l Preço A partir de R$ 43.490,00


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NOTÍCIAS ECONOMIA

Será o fim da alta?

Economistas analisam aumento e falam de expectativas sobre melhora da economia brasileira

Rodrigo Ribeiro SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

N

o dia 24 de setembro deste ano, o dólar americano bateu o recorde histórico e chegou aos R$ 4,24. O aumento no preço da moeda americana foi um banho de água fria para algumas pessoas que desejavam viajar ao exterior e para empresas que atuam no ramo da importação.

A Metrópole Magazine conversou com moradores da RMVale (Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte) que de alguma forma foram atingidos pelo aumento e com economistas da região, que explicaram os motivos da alta do dólar. Em resumo, o aumento no preço da moeda americana segue o princípio da oferta e da procura: quando há menos dólares à disposição, mais caros eles ficam.

Um dos motivos da alta também é a instabilidade econômica e política brasileira e a possibilidade do Federal Reserve, o Banco Central dos Estados Unidos, elevar a taxa de juros do país, o que torna o país norte-americano mais atrativo para investidores, frente ao Brasil. “Duas coisas bem antagônicas aconteceram para a alta da moeda: a valorização do dólar nos Estados Unidos e a desvalorização do real no Brasil, sendo esta devida à contínua inflação do momento, o que faz com que nossa moeda a cada dia tenha menor valor no mercado”, explica o economista Roque Mendes, da Univap (Universidade do Vale do Paraíba). Para Luiz Carlos Laureano da Rosa, economista e pesquisador do Nupes (Núcleo de Pesquisas Econômico-sociais) da Unitau (Universidade de Taubaté), há duas razões para o aumento do dólar: uma interna e outra externa. “As crises políticas e econômicas [recessão em dois trimestres consecutivos com PIB (Produto Interno Bruto) negativo] afastam os investidores do Brasil, levando seus investimentos para outro país mais seguro, reduzindo com isso a oferta de dólar aqui dentro”, explica Laureano. “A sinalização do Banco Central Americano para elevar os juros também contribui para uma menor oferta interna de dólar”, completa. Na RMVale, histórias é o que não


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Pedro Ivo Prates

Outlets de Orlando, destino comum de brasileiros que vão ao exterior fazer compras

faltam de pessoas que foram atingidas pelo aumento no preço da moeda. O casal Wodson e Viviane Puosso, por exemplo, preferiram adiar uma viagem para os Estados Unidos. “Já há algum tempo, e dependendo do período do ano, viajar para fora do Brasil era uma opção mais atrativa, mesmo por que algumas companhias aéreas costumam fazer promoções atraentes. Uma vez por ano procuramos fazer uma viagem, de preferência internacional, mas, desta vez, com a alta do dólar, ficou muito difícil”, conta Wodson. O joseense Felipe Miura ainda não sabe o que irá fazer com uma passagem comprada em maio deste ano para Miami e Orlando. “Comprei numa promoção para viajar em janeiro de 2016 e o valor total ficou em R$ 1.550. Mas, quando fui comprar passeios locais e reservar o hotel, o dólar de turismo disparou e chegou a R$ 4,50. Tentei pedir o reembolso da passagem, mas a multa de cancelamento ficava em R$ 1.360. Vou esperar. Se o dólar baixar, eu vou”, conta Miura. Há também quem foi prejudicado e beneficiado, ao mesmo tempo, com a alta do dólar. O joseense Everton Cerqueira é prova disso. Em agosto de 2013, Cerqueira abriu uma empresa

para vender produtos importados pela internet. “No início, eram realizados inúmeros pedidos de vários segmentos e foi possível criar um bom estoque, pois as vendas ocorriam bem, com uma boa margem de lucro. Atualmente, devido à instabilidade do dólar – moeda usada na maioria das compras com fornecedores –, foi necessário diminuir o número de pedidos, e o estoque foi diminuindo”, conta. Segundo Cerqueira, hoje não há pedidos recebidos e nenhuma importação é realizada. “As atividades foram encerradas, restando apenas alguns produtos no estoque que são vendidos para amigos”, explica o joseense que também está vivenciando o lado bom da alta do dólar. “Essa empresa iniciou em paralelo com minha atividade principal que é de Desenvolvedor Web, e que cresceu bastante. Aqui na empresa, atendemos alguns clientes internacionais e, nesses casos, recebemos em dólar. O mesmo dólar que me deixou triste com as importações traz algumas alegrias na hora de receber”, comemora Cerqueira.

Expectativas Os economistas da região não

Quem se beneficia e quem é prejudicado “Quando a moeda estrangeira aumenta, favorece muito as empresas exportadoras, pois como elas recebem em dólar, vão receber muito mais. Já para os consumidores, desfavorece e muito, porque aumenta os preços dos produtos importados comercializados no Brasil, como também encarece o preço de muitos produtos brasileiros, até de primeira necessidade, que dependem de matéria-prima importada”, explica Mendes. Para Laureano, a parte ruim da alta da moeda está nas viagens para o exterior que ficam mais caras, nos preços dos produtos importados que aumentam, nas dívidas feitas em dólares que ficam mais elevadas e nas indústrias nacionais que podem ter dificuldades para importar insumo. “O lado bom é que estimula as exportações, ajudando o Brasil a equilibrar a balança comercial e o produtor nacional, que começa a substituir o bem importado por nacional, estimulando investimentos”, conclui Laureano.


São José dos Campos, Novembro de 2015 | 57

acreditam que a moeda americana possa voltar tão cedo aos R$ 2,35 de 2014, por exemplo. “Entretanto, se as questões políticas e econômicas forem resolvidas, as possibilidades a médio prazo, de um a dois anos, das pessoas voltarem a investir no país são grandes. Assim, a entrada da moeda americana provocaria um aumento da oferta de dólar”, diz Laureano. “Quando uma moeda atinge determinado patamar, dificilmente ela retorna ao ponto em que se encontrava antes dos aumentos. Acho que ainda vamos amargar de dois a três anos para que volte a um valor ao menos próximo ao que se encontrava antes dos aumentos”, opina Mendes. Ambos afirmam que o momento não é para viagens. “Agora não é a hora de viajar, se contarmos com o valor elevado das moedas estrangeiras, principalmente o dólar. Acho que vale a pena

aguardar um pouco mais”, diz Mendes. “O momento é de ter calma e dentro do possível adiar a viagem. Mas, se você já está de viagem marcada, obviamente terá de comprar alguma quantia da moeda do país que é seu destino. As dicas são comprar sempre com dinheiro vivo, independente do preço e tomar cuidado com cartão de crédito ou de débito, para não se atrapalhar financeiramente, uma vez que existe incidência de IOF (Imposto sobre Operação Financeira) sobre compras e pagamentos realizados no exterior para esse tipo de modalidade”, aconselha Laureano.

Economia brasileira O discurso dos economistas também é parecido quando o assunto é a expectativa de melhora da economia brasileira. “Infelizmente, não acredito numa melhora a curto prazo, pois não estamos vislumbrando nada

que esteja sendo feito pelos nossos governantes para mudar esse quadro. A cada dia, aumenta a previsão da inflação e diminui a previsão do PIB que é o medidor da riqueza dos países”, afirma Mendes. “A melhora só acontecerá no final do ano de 2016 ou no 1º semestre de 2017, caso o governo consiga aprovar o pacote de ajuste fiscal”, completa Laureano. 

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NOTÍCIAS ESPORTES

Democracia In Line

Levado a sério por uns e visto como lazer e saúde por outros, os patins ganham cada vez mais espaço no Vale do Paraíba, unindo amadores e profissionais Thiago Fadini SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

Q

o Paguá, patinador profissional e coordenador de esportes radicais da Secretaria de Esportes e Lazer de São José dos Campos. Há cerca de um ano, patinadores e skatistas dividem o espaço do Pavilhão de Eventos – também conhecido como Pavilhão Skate Park – com harmonia. E se engana quem pensa que o In Line tenha menos visibilidade ou ainda que haja ‘tretas’ entre as duas modalidades. Dentro do Pavilhão, atletas profissionais e amadores praticam três das

Fotos: Thiago Fadini

uinta-feira chuvosa com temperatura amena. São mais de oito horas da noite. O Pavilhão parece estar mais vazio do que normalmente se encontra. Não é impressão, realmente está. No entanto, de longe, ouve-se o barulho das rodas deslizando sobre o concreto e do material plástico entrando em atrito com o metal dos corrimãos.

Frio, chuva ou calor, não importa. O que vale para a galera que se reúne no Centro da Juventude, no Jardim América, em São José dos Campos, é treinar e se divertir com o In Line, popularmente conhecido como patins. “Patins é o nome popular no Brasil. No exterior, se chama In Line Skate. Skate é usado para nomear qualquer coisa que desliza em linha. O ‘roller’, que também é bem usado aqui, vem da marca Rollerblade”, explica, logo de cara, Anderson Germano da Silva,

Patins In Line: prática une qualidade de vida e diversão em família


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Manobras categorias mais populares do In Line: radicais e fitness, para quem procura saúde e adrenalina para qualidade de vida; slalom, que foca os praticantes na agilidade em obstáculos no chão; do slalom e do e street, que envolve obstáculos como street, no In corrimãos, escadarias e rampas. O bowl Line (pista em forma de bacia e piscina) também é usado para a prática do esporte. Atualmente, a modalidade vem ganhando espaço físico na região. Diversas páginas e grupos online como ‘Patins In Line São José dos Campos’, ‘Patinadores do Bem’, ‘Rap Rollers’ e ‘Beko Rollers’ são pontos de encontro pintor Anderson Motta Teixeira, que e plataformas para o agendamento de após um longo período parado, enconrolês pelo Vale do Paraíba. trou nos patins uma forma de ter um “Agora estão ampliando os espaços momento único com a família ao lado para a área radical. Espaços para o da esposa e dos sete filhos. Sim, todos, slalom existem aqui em São José dos com exceção do menor, de 10 meses, Campos e em Taubaté. Agora, para a têm ‘rodinhas nos pés’. prática de street o Vale (do Paraíba) “Queria estar sempre junto deles e a está bem recheado com bons ‘banks’”, forma que eu achei foi a patinação, pordisse Anderson Germano. que quando tinha 15 anos eu andava e São José também recebe, desde parei.” conta. 2009, o Super Rival, evento que reúne “O Anderson me incentivou e falou: atletas do mundo todo para competi‘Eu compro o patins, mas você vai ter que ções de street. Em 2015, o torneio aconaprender a andar’. Aceitei o desafio, né?”, teceu em abril, na zona sul da cidade. completa a esposa Ângela Rosa, de 41 anos, que começou a andar há um mês. Um vez In Line, sempre In Line Para quem busca qualidade de vida, A modalidade teve início nos anos o In Line é uma opção que atende a essa 1990 e se consolidou de vez ao fim da necessidade unindo diversão e socialimesma década. Na época, a curiosidade zação, principalmente para as crianças. foi o principal fator para que as pessoas “É uma sensação de liberdade. Para iniciassem no esporte. “A primeira as crianças também é muito bom, queiimpressão que bateu foi a diferença do mam energia. Elas precisam disso”, esporte. Até então ninguém patinava. fala Ângela Rosa. Fomos conhecendo umas pessoas que De acordo com o Inmetro (Instituto também curtiam e fomos nos juntando”, Nacional de Metrologia, Qualidade e contou João ‘John’ Ferreira, de 30 anos, Tecnologia), os patins são indicados sendo 16 deles andando de In Line. para crianças com idade a partir de “Em 1997, teve o boom do esporte seis anos. e comecei a ter interesse. Todo mundo andava, era estranho quem não patina- Patinando fora do gelo Terça-feira. Garoa fina e muito va”, conta Paguá, atleta profissional. vento. Já são quase nove horas da Assim como em qualquer outro esnoite. Chegando à parte alta do Jardim porte, a paixão, na maioria das vezes, Independência, a iluminação é reducresce ao longo do tempo e é passada zida, mas é possível ver um grande de geração em geração. É o caso do

ginásio em meio a uma enorme depressão no bairro. De longe, ouvem-se rodinhas em alta velocidade e um barulho de algo batendo contra o chão. Entrando pela porta principal, se vê uma quadra com marcações poliesportivas, sem traves ou tabelas, tomada por patinadores dando voltas, arriscando giros e manobras. Mais ao centro encontra-se um grupo mais equipado, com caneleiras e tacos. São os Rap Rollers, equipe de hóquei de Taubaté, que desde o início de 2015 conseguiu reunir centenas de praticantes da modalidade no ginásio Independência, encontrado por acaso. “A quadra era poliesportiva, mas infelizmente estava abandonada. Hoje só está do jeito que está porque a gente lava a quadra. As portas ficam trancadas. De 15 em 15 dias tem um mutirão para fazer a limpeza. Colocamos banheiros para funcionar, religamos a água e a iluminação nós arrumamos”, revela Robson de Oliveira Almeida, o Kid, 41 anos, integrante dos Rap Rollers. Assim como em São José, muitos patinadores, incluindo diversas famílias, se encontram a partir das 18h no ginásio para andar de In Line. O local foi liberado pela Prefeitura de Taubaté para a prática exclusiva da patinação e a promoção de eventos da modalidade à população. Um deles, que aconteceu em outubro, foi o 2º Roller Night, evento beneficente que reuniu cerca de


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250 pessoas e muitos grupos do Vale do Paraíba, como: o Role de Pinda, o Beko Rollers, o Role de Rua, o Taubaté In Line e o Zero Cano. Foram arrecadados 166 quilos de alimentos, que foram doados posteriormente a uma instituição de caridade de Taubaté. “O lugar é estritamente familiar. Não é permitido fumar dentro do ambiente, andar sem camisa, não é permitido falar palavrão. As pessoas andam com crianças, as esposas levam as crianças e os maridos ficam conversando, tomando refrigerante”, descreve Wilson Trama, de 41 anos, natural de São Paulo e jogador de hóquei. A união dos patinadores taubateanos se deve ao reencontro dos Rap Rollers. A equipe existe há quase 25 anos e foi a que deu o pontapé na busca por um espaço no município. “Foi em 1991. Começamos a frequentar uma quadra de gelo que tinha no Taubaté Shopping. Quando a quadra ‘foi embora’, optamos pelo In Line. Fomos os pioneiros em importar esses patins e fundamos o Rap Rollers”, explica Kid. Para o grupo de Taubaté ter mais força junto à Prefeitura, foi criada a Apat (Associação de Patinadores de Taubaté), que está em processo de registro. De acordo com os idealizadores

É uma sensação de liberdade. Para as crianças também é muito bom, queimam energia. Elas precisam disso Ângela Rosa

ESPORTISTA, 41 ANOS

do projeto, a administração promoverá uma reforma no ginásio Independência para que o local tenha uma quadra de hóquei com medidas oficiais para torneios estaduais e nacionais. Em troca, os Rap Rollers ensinarão a patinação e o hóquei a crianças carentes do município e cuidarão do espaço. “O mais legal foi que, depois de 15 anos, toda a galera se uniu outra vez. Estamos todos juntos agora e estamos conseguindo fazer mais do que fizemos naquela época. Hoje não precisamos fazer muita força, só o que a gente faz é reunir o pessoal”, diz Wilson, em tom de satisfação.

E se o ambiente é familiar, acaba sendo saudável para qualquer pessoa, principalmente para as que não são da cidade. O militar Carlos de Cavali, de 33 anos, veio de Manaus, no Amazonas, junto com a mulher e o filho de cinco anos e encontrou no ginásio no Jardim Independência uma verdadeira ‘rede social’. “Há dois meses e meio, mais ou menos, nós começamos a vir e nos apaixonamos. Começamos a comprar equipamento e a vir toda terça e quinta-feira”, afirma Cavali. “Como tem muita família, a receptividade foi muito boa. Sinto que hoje estou bem mais ágil e melhorei o meu condicionamento físico. O esporte melhora a autoestima, melhora a relação interpessoal, melhora tudo”, conta Gisele de Cavali, 35 anos, esposa do militar.

Futuro Com mais espaço e força, o In Line vê na nova década um caminho mais simples e curto para a atração de novos adeptos no Vale do Paraíba. “Hoje a gente tenta levar os patins para frente, porque quando a gente começou não existia esse apoio que hoje temos. Esses espaços... Não tinha loja para comprar, era uma coisa sonhadora. Então, é legal ver o pessoal se unindo e reunindo a galera pra andar”, opina João ‘John’ Ferreira. No caminho da democracia, a modalidade vai recebendo o carinho e o olhar cada vez mais curioso de famílias de todos os perfis. “Tem espaço para a criança, para o pai, para o atleta, para aquele cara que está meio perdido, para todos”, conclui Anderson Germano, atleta profissional. 

Anderson Motta Teixeira, Ângela Rosa, os sete filhos e os dois sobrinhos: todos apaixonados pelo In Line


MATRÍCULAS ABERTAS Oficina de Arte e Cultura (Musicalização e Teatro) | Expressão Corporal | Prevenção Odontológica | Inglês ATIVIDADES COMPLEMENTARES Ed. Física | Capoeira de Angola | Dança | Projetos Tecnológicos, Ambientais e Sociais | Lego ® Education Acompanhamento Nutricional e Psicopedagógico INCLUÍDAS:

Com uma filosofia que destaca a ética e a moral, a Escola Grilo Falante constrói com as crianças um ambiente de carinho e respeito, onde o cuidar e o educar estão sempre em equilíbrio. E, para os pequenos, o método funciona de um jeito muito simples: todos aprendem se divertindo e se divertem aprendendo.

Unidade 1 (Berçário e Educação Infantil): Rua Santa Elza, 218, Vila Adyana ( (12) 3911.4367 Unidade 2 (Berçário): Av. Barão do Rio Branco, 78, Jd. Esplanada ( (12) 3322.7488 www.escolagrilofalante.com.br /escolagrilofalante Aqui é divertido aprender.


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Sabor&

Por Elaine Santos

Chef em Casa Uma receita de ‘Família Santista’

N

a coluna desta edição, preparamos uma receita para ser usada nos seus melhores momentos e você ainda levar o crédito de super chef! O preparo é fácil, mas requer certos cuidados, afinal de contas, fazer uma boa receita de frutos do mar não é para qualquer um. O traquejo caiçara não “migra” tão fácil. Por isso, fique atento às dicas. Engenheiro e empresário em São José dos Campos, Christiano Ruffo é quem dá as ordens na cozinha de casa. Até na principal ceia da família, a do Natal, é sempre ele o responsável. Vindo de Santos, Christiano trouxe o tradicionalismo dos Ruffo, mas também acrescentou um pouco de modernidade na sua arte culinária. “Na minha família, todos cozinham desde sempre. Um dos meus primos foi chef da seleção alemã, mas nem vou falar muito dele (risos), afinal, perdemos a copa!”, brinca enquanto separa os ingredientes para a receita de Camarão na Moranga. Christiano e a esposa residem em São José dos Campos desde 2008. Na época, eram noivos. Aqui, casaram e tiveram dois filhos: Alexandre, de 3 anos e Lorenzo, de 1 ano. “Recebi uma proposta de trabalho e aqui estamos desde então. A cidade nos acolheu muito bem, casamos e tivemos nossos filhos. Montamos uma loja de iluminação que segue a tradição do ramo familiar na Baixada Santista desde 1966. Mas lá [loja], quem comanda é minha esposa”, explica.


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Confira a receita especial de Camarão na Moranga!

Fotos: Carol Tomba

Christiano Ruffo e Andrea Beltrame seguem a linha tradicional: receber bem e ter sempre a família reunida nas refeições. Para isso, o apartamento no Jardim Aquarius ganhou uma área gourmet com cozinha e sala de jantar integradas. “Tem duas coisas que eu gosto muito: carro − por isso, sou engenheiro − e família. E eu acredito que preparar a refeição e ter todos à mesa é uma forma de unir a família. Pelo menos uma vez ao dia, faço questão de ter todo mundo junto. Foi assim que aprendi e é assim que vou seguir com meus filhos”.


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Ingredientes 1 moranga (tamanho médio) 5 colheres de azeite 1 cebola grande picada 1 kg de camarão limpo (tamanho médio) 2 dentes de alho picados 5 tomates italianos picados sem pele e sem sementes Sal e pimenta do reino a gosto 1 lata de creme de leite sem soro 1 pimenta Dedo de Moça sem sementes e picada Cheiro verde a gosto 300 g de requeijão cremoso 250 ml de polpa de tomate

Modo de preparo Lave a moranga, retire a polpa e as sementes e abra uma tampa em 45°. Coloque um “dedo de água” no interior da moranga, envelope com papel filme e reserve. Para o recheio, refogue no azeite o alho, a cebola e a pimenta e, aos poucos, acrescente o camarão. Misture tudo por alguns segundos até que o camarão fique rosado. Coloque o sal e a pimenta do reino. Acrescente o tomate picado e a polpa; ao levantar fervura, adicione o creme de leite e mexa até a mistura ficar homogênea. Reserve. Leve a moranga ao forno por 20 minutos a 180° e, logo depois, com ela ainda quente, raspe parte da polpa. Em seguida, coloque sal, pimenta e unte com o requeijão cremoso. Acrescente o recheio e sirva ainda quente.



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Social&

Fim de ano é o momento de agradecer mais doze meses que se passaram. Para isso, o Gacc (Grupo de Assistência à Criança com Câncer) convidou a modelo internacional Isabeli Fontana, que já conhecia o projeto, para ser a madrinha da nova campanha da instituição. O ano de 2015 foi um período desafiador para o hospital. A crise, temida por muita gente, refletiu na entidade. “Apesar do trabalho árduo, estamos conseguindo contribuições e superamos a cada dia a crise que nos afeta”, afirma Rosemary Sanz, presidente do Gacc. Para fortalecer a campanha de arrecadação de verbas, além da ajuda da modelo, o estilista Dudu Bertholini assina a nova coleção de camisetas da instituição.

Fotos: Carol Tomba

A moda a favor de uma boa causa

O milagre do guarda-roupa Com um simples guarda-roupa e uma boa dose de criatividade é possível criar looks que você sequer poderia imaginar. Às vezes, tudo o que precisamos é renovar o closet, mas sem a obrigatoriedade de ir ao shopping comprar tudo novo. Para situações do tipo, entram em ação profissionais como a Fê Bastos, que é consultora de imagem há 5 anos. Formada em Hotelaria, Administração de Empresas e Finanças, Fê encontrou nessa nova profissão um raro prazer que cultivava quando criança, o de “criar”roupas. Fê realiza quatro etapas para conhecer as reais necessidades da cliente, entre conversas sobre o estilo de vida, análise de cores e análises corporal e facial, para finalmente entrar no closet e “fazer uma limpa” – se for o caso. A consultoria de imagem envolve a elaboração de um dossiê com fotos de todos os looks possíveis a serem combinados, o que ajuda na escolha das roupas no dia a dia.


Temos diversas aTividades para você acabar com essa preguiça e ficar pronTo para curTir o verão: Low Pressure Fitness (a técnica da barriga negativa), MuscuLação, esPortes, Lutas, natação, ginástica, danças e muiTo mais.


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Social& Gente do bem

Divulgação/Instituto Vladimir Herzog

Joseense conquista Prêmio Vladimir Herzog

Carol Tomba

Sempre envolvida nas causas sociais, a esposa do deputado federal Eduardo Cury, Rosana Dalla Torre, conta com a ajuda de um time de peso para a realização do “Bazar do Bem”. O objetivo é angariar fundos para o projeto Bemme-quer, que dá assistência a gestantes carentes, e proporcionar um Natal mais alegre para mais de 400 crianças do bairro Jardim Diamante, na zona leste de São José. Sabe aquela roupa que você não usa mais, porém está em bom estado? Ou aquele acessório que você já está cansada de usar? Tudo isso pode ser doado para o bazar. Para fazer a sua doação, basta procurar a página oficial do evento no Facebook. Todas as peças arrecadadas serão vendidas a preços módicos – vai ter até vestido de festa no valor de R$ 100. O bazar acontece no dia 27 de novembro, das 10h às 19h, no Espaço Petit Decorações. O endereço é Rua Maria da Conceição Chaves Monteiro, 294, Condomínio Chácaras do Paraiba, Urbanova.

O Prêmio Vladimir Herzog, uma das principais honrarias do jornalismo brasileiro, selecionou neste ano o trabalho de um joseense. O repórter fotográfico Ronny Santos, que trabalha para a Folha Press, de São Paulo, conquistou o troféu na categoria fotografia com a imagem de um haitiano tomando banho em um mictório da Igreja Nossa Senhora da Paz, no bairro Glicério, região central de São Paulo. A foto, publicada no jornal Agora deste ano, foi feita durante uma matéria sobre imigrantes. Ronny Santos é do bairro Dom Pedro, região sul de São José. Seu primeiro contato com a fotografia se deu pelo registro de casamentos na empresa de um primo. Logo depois, ele conseguiu um emprego como laboratorista no antigo jornal Valeparaibano onde descobriu o que realmente sabe fazer, contar histórias por meio da fotografia.



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Arquitetura& Por Adeline Daniele

Moderno, mas com ‘pegada’ natural

Para dar um visual mais natural ao ambiente, foram escolhidos tons azuis, verdes e um MDF claro na decoração do apartamento


Fotos: Arnaldo Kikuti

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O A dupla de arquitetos Natália Traunmüller e Lucas Sonnewend, responsáveis pelo projeto

dia a dia na cidade não impede um jovem casal de curtir um ambiente mais próximo da natureza ao chegar do trabalho. Foi pensando nisso que os sócios arquitetos Natália Traunmüller e Lucas Sonnewend, em parceria com a Atual Madeira, conseguiram transformar um apartamento de 64 metros quadrados em um confortável lar no Jardim Aquarius, em São José dos Campos. Cultivar plantas, cozinhar e apreciar paisagens foram algumas das particularidades do casal que deram personalidade ao projeto. Para trazer um visual mais natural, foram usados revestimentos em madeira e tijolos, com destaque para o toque artesanal no pilar que norteia os espaços da casa. E o desafio para tirar esse desejo do papel foi grande: como a planta do imóvel era em diagonal, Natália conta que foi preciso modificar os cômodos e produzir móveis planejados para deixar o ambiente mais simétrico para quem entra no apartamento. “Nós quebramos uma parede, aproveitamos a varanda como sala de jantar e colocamos um balcão que integra a cozinha, sala de estar, sala de jantar e área de serviço. Assim conseguimos criar uma linearidade no visual, trazendo a sensação de aconchego”, diz a arquiteta.

Além da disposição dos espaços, as cores também foram muito bem selecionadas para transmitir conforto. Tons em azul turquesa, cinza e verde e um MDF mais claro foram utilizados justamente para deixar o ambiente mais natural. A mesa com pé de vidro buscou trazer um ar mais leve para a sala de jantar. A praticidade também foi levada em consideração no desenvolvimento do projeto. Em um apartamento com apenas 64 metros quadrados e dois dormitórios, o espaço para a suíte do casal ficou bem limitado e nem um criado mudo caberia ali. “Para resolver esse problema, criamos um painel mais grosso na parede e fizemos um nicho para que o casal possa apoiar celulares ou um copo de água perto da cama. Além disso, colocamos portas espelhadas no guarda-roupas para ampliar o espaço”, explica Natália. E esse não foi o único improviso: como a tampa da caixa de energia ficava no meio da cozinha, os arquitetos resolveram criar um design de lousa com escritas em giz para dar um toque moderno sem atrapalhar o visual do restante do imóvel, que ficou com um ambiente tão convidativo quanto os dizeres no quadro.


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Para dar linearidade ao apartamento, que é em formato de um “X”, arquitetos dividiram ambientes com um balcão e um piso diferente na cozinha

A praticidade também foi levada em consideração no desenvolvimento do projeto

Solução para quarto pequeno: um painel de madeira mais grosso foi colocado atrás da cama e funciona como um criado mudo

Arquitetos optaram por um acabamento mais artesanal na parede da televisão da sala

Dica dos Arquitetos Diferenciar os pisos é uma das melhores formas de dar linearidade a um espaço com mais de um ambiente. E quem quer ter um piso de cozinha com o mesmo estilo da foto acima pode optar pelo porcelanato em vez do ladrilho hidráulico, pois ele é mais fácil de limpar e fazer manutenção.


Vai construir, ampliar ou reformar? Contrate sempre um engenheiro ou arquiteto com registro válido no CREA ou CAU.

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Crônicas & Poesia

O bêbado sincero por Alexandre Correa Lima

– Um minutinho da sua atenção, dotô... Tenho que admitir que me constrangi com a abordagem, poucas quadras após sair de uma inocente festa infantil. Talvez por ser quase 11 da noite de um sábado, numa rua deserta, eu com um filho pequeno no colo e a mulher com o outro ao lado. Talvez pela intimidação psicológica de uma abordagem no breu da rua mal iluminada. Talvez pela paranóia coletiva em que mergulhamos com medo da violência urbana. Ou talvez por já prever o óbvio desfecho arrecadatório daquela lenga lenga introdutória. De todo modo, o sujeito acabou engatando seu discurso cambaleante sem que eu tivesse como me desvencilhar. – Vou ser sincero pro senhô. Eu podia dizer que eu tô com fome, que eu tô precisando comprar remédio, ou que preciso pegar um ônibus, mas seria mentira, dotô. O que eu quero mesmo é comprar pinga. Então, eu tô sendo sincero. O senhô podia me dar algum dinheiro pr’eu ir pro bar? Confesso que desmoronei. Estava preparado para debater a respeito de qualquer assunto, desmontar argumentos frágeis, discutir o comportamento do Bóson de Higgs ou qual deveria ser a solução para a crise hídrica do Sudeste. Ou então sacar uma moeda de 1 real do bolso e acabar laconicamente com o imbróglio, como às vezes a gente faz, mais por comodismo e intimidação do que por caridade, já que os especialistas

dizem que assim atrapalhamos mais que ajudamos. Mas, não tinha noção do que fazer naquela situação. Premiar a sinceridade incentivando o vício que consumia aquela pobre alma? Acabei não dando o dinheiro. Primeiro por que só tinha uma cédula de 50 reais, quantia que convertida em pinga de quinta seria um passaporte imediato para o coma alcoólico. Segundo, por que me sentiria mal consentindo assim tão cinicamente com a derrocada do sujeito. Mas, juro que simpatizei com a incomum atitude de sinceridade, em sua integridade ébria. Etilicamente ético. Pra finalizar, mesmo sem receber nenhum vintém, o bebum agradeceu a atenção da família e se despediu com um polido ‘boa noite’. Um gentleman na elegância trôpega de seus trapos. E então refleti o quão carente andamos de sinceridade no mundo atual. O x-burguer real é sempre menos suculento que o do cartaz. As fotos ultra produzidas do perfil do Facebook são tão lindas que quase não nos reconhecemos nelas. E vamos construindo nossos disfarces para sermos cada vez menos quem realmente somos. Cílios postiços, peitos artificiais, juventude botulínica, bíceps anabolizados. Mentira em fartas doses. Uma das coisas que têm me incomodado são as entrevistas de emprego que por força da minha atuação às vezes preciso conduzir. Os candidatos estão muito mais preparados para a entrevista do que

para a função. Uma das perguntas que eu sempre fazia, mas desisti antes que a úlcera consumisse este maltratado corpo, era a de defeitos e qualidades. – Qual é a sua principal qualidade? E vomitam uma batelada infindável de autoelogios. Trabalho em equipe, sou pró-ativo, gosto de desafios, de adquirir novos conhecimentos, blábláblá, pipipi, o que me mostra que foco e concisão certamente não são qualidades integrantes dessa lista. Mas, o toque final de crueldade vem na hora em que pergunto qual o defeito, quando os entrevistados me respondem com mais qualidades: – Ah, meu defeito é ser perfeccionista… (Jura? E por que não corrigiu a palavra “proficional” logo na primeira página do seu currículo?) – Olha, o meu defeito é que eu gosto de tudo bem organizadinho… (Puxa, que pena, esta vaga é só para quem gosta de tudo bem bagunçadinho…) Está faltando conteúdo pra encher tanta embalagem vazia. Numa sociedade tão orientada para as aparências e para o exibicionismo acéfalo, não espanta que tenhamos tanta dificuldade em encontrar a coragem de nos assumir como somos, demasiadamente humanos, com nossos defeitos e qualidades que nos fazem únicos. Uma sociedade em que somente o bêbado é sóbrio o suficiente para falar a verdade é mesmo um grande porre.


PODE COMPARAR, NENHUMA OUTRA RÁDIO TOCA TANTA MÚSICA COMO A ANTENA 1.



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