Metrópole Magazine - Março de 2017 / Edição 25

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Março de 2017 – Ano 3 – nº 25 – Distribuição gratuita

Do Vale para o mundo

Mercado da exportação cresce 205% e região ultrapassa a média estadual ENTREVISTA

Felipe Augusto, prefeito de São Sebastião, quer fazer a diferença pág. 18

EDUCAÇÃO

Um sonho que resultou no celeiro das mentes mais geniais do mercado brasileiro pág. 36








metr pole magazine

8 | Revista Metrópole – Edição 25

www.meon.com.br/revista

EDITORIAL

Diretora-executiva Regina Laranjeira Baumann Editor-chefe Eduardo Pandeló

A pujante Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte

Editor Rodrigo Machado Repórteres Lucila Guedes Moisés Rosa Rodrigo Machado Fotografia

As exportações das 39 cidades

receber o turista do mundo intei-

Pedro Ivo Prates

da RMVale (Região Metropolitana

ro. Em entrevista à Metrópole

Diagramação

do Vale do Paraíba e Litoral Norte)

Magazine, no mês de aniversário

tiveram um aumento efetivo. Entre

de São Sebastião, o prefeito des-

janeiro e novembro de 2016, São

sa bela cidade mostra as dificul-

José dos Campos exportou R$14,6

dades de administrar 100 km de

bilhões e importou R$ 9,4 bilhões,

praias, o que impõe uma logística

registrando um saldo na balan-

que deve ser minuciosamente es-

ça comercial de R$ 5,2 bilhões,

tudada para garantir a prestação

que representa um aumento de 74,74% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo

Arte Giuliano Siqueira Mídias Sociais Nena Florêncio

QUEM CONHECE, CONHECE BDO Executivos de Negócios

Uma das Big 5 de um serviço público qualidaLíder node middle market 21 escritórios no Brasil de, direito do cidadão e dever do Audit | Tax | Advisory

Executivo Municipal.

dados divulgados pelo Ministério

A região serrana igualmente

do Desenvolvimento, Indústria

contribui com o desenvolvimen-

e Comércio Exterior e publicado

to local, como mostra reportagem

pelo Secovi. Os números de toda

sobre produção de azeite de ex-

a região demonstram o potencial

José Linhares Colaboradores Gustavo Nascimento João Pedro Teles Marcus Alvarenga Yasmin Faria Pedro Ivo Prates (fotógrafo) Tânia Campelo

celente qualidade (acidez 0,2%)

Amanda Fonseca Carlos Henrique Dimas Ferreira Fabiana Domingos Fernando Maringo Greyce Candido Joice Martins Juliana Silveira Norival Silva Paloma Perlira Yago Morais

Departamento Administrativo Gabriela Oliveira Souza Larissa Oliveira Maria José Souza Roseli Laranjeira

Tiragem auditada por:

Visite nosso site

e desenham o futuro que será es-

elevando o Brasil ao12) patamar dos Tel (55 3941 4262

petacular, se aproveitarmos essa

www.bdobrazil.com.br melhores produtores do mundo.

onda de negócios e serviços.

Outras

reportagens

compõem

O Litoral Norte vive um momen-

esta edição que inaugura mais

to pujante, onde 4 jovens prefeitos

um ano da revista Metrópole

estão dispostos a unir as virtudes

Magazine, firme no propósito

em prol do roteiro Litoral Norte,

de ser um instrumento a favor da

investindo em infraestrutura para

nossa região.

Boa Leitura Regina Laranjeira Baumann

Meon Comunicação Ltda Avenida São João, 2.375 –Sala 2.010 Jardim Colinas –São José dos Campos CEP 12242-000 PABX (12) 3204-3333 Email: metropolemagazine@meon.com.br

A revista Metrópole Magazine é um produto do Grupo Meon de Comunicação Tiragem: 15 mil exemplares Distribuição gratuita


Março de 2017 | 9

SUMÁRIO Pedro Ivo Prates

Matéria de Capa

26

Do Vale para o mundo: 61 empresas instaladas na região do Vale do Paraíba e Litoral Norte, apostam no mercado internacional exportam pela primeira vez e deixam de lado a crise.

muitos compromissos e uma 18 Entre agenda intensa entrevistamos o ENTREVISTA

CULTURA Magazine mostra a 30 Metrópole 52 Casas noturnas apostam nas história do casal que transformou o AIDS

engenheiro Felipe Augusto (PSDB), prefeito de São Sebastião.

58 EmARRANCADA Tremembé encontramos

uma pista de automobilismo com padrão internacional que reúne competidores de todo o Brasil.

44 OESPECIAL azeite produzido na Serra da Mantiqueira ganhou reconhecimento internacional. Divulgação

EDUCAÇÃO 26 Com um dos vestibulares mais

difíceis do país o ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) atrai estudantes de todo o Brasil.

10 14 16 56

noites de início de semana e começam a mudar o status da cena cultural e musical de São José.

Divulgação

da população de rua exigiu da administração municipal uma ação rápida e uma nova política de apoio social.

Pedro Ivo Prates

Pedro Ivo Prates

22 POLÍTICA Em São José dos Campos o aumento

medo do HIV em esperança. Uma exceção entres os mais de 14 mil pacientes soropositivos da RMVale.

Espaço do Leitor Aconteceu& Frases& Cultura&

64 68 70 74

TURISMO 62 Preparamos uma reportagem

especial sobre São Sebastião, o município reúne história, cultura popular e, também, caiçaras acolhedores.

Gastronomia& Social& Arquitetura& Crônicas&Poesia


10 | Revista Metrópole – Edição 25

Espaço do Leitor Edição 24 – Fevereiro de 2017 SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

Em fevereiro, a Metrópole Magazine antecipou o Carnaval, com a maioria das cidades da região cancelando seus eventos, nossa reportagem foi entrevistar Galvão Frade, o maior compositor de marchinhas de São Luiz do Paraitinga, que entre outras coisas, lamentou o cancelamento da mais tradicional festa da região. Nossa matéria de capa antecipou uma polêmica que ainda repercute em todo o Brasil, as escolas de samba devem retratar temas religiosos? ‘Entre o sagrado e o profano’ mostrou como a escola de samba Unidos de Vila Maria conseguiu levar para a avenida os 300 anos da descoberta da imagem de Nossa Senhora Aparecida. O avanço da floresta também trouxe à tona uma importante questão ambiental, e mostrou que na maioria das cidades da

Fevereiro de 2017 – Ano 2 – nº 24 – Distribuição gratuita

Entre o sagrado e o profano Imagem de Nossa Senhora Aparecida vai desfilar no sambódromo de São Paulo e com a bênção da Igreja Católica

CONHEÇA O LOWPOO

Nova técnica capilar conquista adeptos e promete benefícios para os cabelos e para o meio ambiente pág. 48

Feedback

POLUIÇÃO VISUAL?

Urbanista Elisabete França fala sobre o excesso de placas de publicidade em canteiros ‘adotados’ pág. 26

Meio ambiente

42 | Revista Metrópole – Edição 24

NOTÍCIAS MEIO AMBIENTE

Mais de 450 mil hectares de florestas nativas, um crescimento de 83% em toda a RMVale

“Gostei muito da reportagem sobre o avanço da floresta na região, traz dados importantes e o assunto foi bem explorado. Além disso, o conteúdo da revista é muito bom e interessante” Eunice César, aposentada, 55 anos. Moradora do bairro Vila Branca, em Jacareí.

Confira no portal Meon imagens feitas pelo repórter-fotográfico Pedro Ivo Prates

Gastronomia

“Adorei a dica da revista e fui pessoalmente conhecer o restaurante em Campos do Jordão. Parabenizo a revista pelo conteúdo de todas as matérias publicadas. Desejo sucesso sempre.” Wellington Marinho

Crônica

74 | Revista Metrópole – Edição 24

Crônicas & Poesia O passarinho não pode mais cantar

Pedro Ivo Prates

A floresta avança

Fotos: Pedro Ivo Prates

RMVale as florestas nativas aumentaram, além disso demonstrou como boas iniciativas de reflorestamento também auxiliam o meio ambiente. A reportagem sobre a poluição visual e a exploração publicitária de áreas públicas de São José dos Campos também chamou a atenção dos leitores que se manifestaram através das redes sociais. A edição nº 24 da Metrópole Magazine trouxe também informações sobre o turismo, política, saúde, bem estar, valorizando as pessoas e a cultura da Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte. Por tudo isso, ao entrar em seu terceiro ano de vida a Metrópole Magazine conquista, a cada dia, a admiração e o respeito dos leitores e mantém este canal aberto para registrar a sua opinião.

Por Neide Pereira Pinto O bairro Vila Ema de São José dos Campos sempre teve um som: o canto de um passarinho. O canto começava longe e baixinho, mas aos poucos se aproximava e a melodia se intensificava. O ritmo do passarinho era marcado pelo ‘tectec’ da bengala que abria o caminho e ajudava a identificar os obstáculos. Era impossível não parar o que estávamos fazendo e procurar com o olhar a direção do som. Quando, finalmente, o passarinho chegava, o seu canto era tão intenso e melodioso que ninguém notava a falta de brilho dos seus olhos, que nada viam mas tudo enxergavam na ponta da bengala. No seu destino final, bem em frente a um supermercado da região, o passarinho se acomodava encostando em uma parede e continuava cantando para chamar a atenção dos transeuntes e ganhar um troco para as suas necessidades básicas. Com os anos, tornou-se parte de um cenário e o som de um bairro. A cada moeda que ouvia tilintar na sua caneca, retribuía com palavras de profunda gratidão e um sorriso nos lábios. Único momento em que se calava o passarinho e dava lugar às palavras de um ser humano que a vida privou de bens materiais mas foi generosa na resignação e na fé. Como se chama? Onde mora? O que sente? Provavelmente ninguém sabe, nem mesmo eu sei. Será que isso importa para as pessoas que passam sempre

com muita pressa e sem tempo para conversar? Afinal ele nos alegra com seu canto e nós retribuímos com moedas, e a vida segue seu curso. Mas como toda história tem os seus senões, o passarinho parou de cantar. Ficou apenas o ‘tectec’ da sua bengala e a figura encolhida encostado na parede. Para os mais atentos, ele ainda é a mesma pessoa com as mesmas necessidades, então as moedas continuam caindo na sua caneca. Para os mais apressados, o canto do passarinho faz falta para chamar a atenção. Quantas vezes passei por ali sem notar que o passarinho não mais cantava? Não faço ideia! Até o dia em que parei a seu lado e pedi para ele cantar. Em resposta ouvi que não era possível porque havia perdido seus dentes, e com os dentes a sua capacidade de imitar os pássaros. O nosso passarinho cantador não pode mais cantar! Por um instante quem ficou muda fui eu! Perdi a voz e a reação, porque não esperava por essa resposta. O silêncio foi quebrado pelo próprio passarinho

quando disse ter fé que um dia alguém haveria de lhe dar novos dentes para voltar a cantar. O que fazer naquele momento? Promessas vazias que provavelmente seriam esquecidas no primeiro assunto que se fizesse mais urgente? Pedir para ele manter a sua fé em que um dia alguém lhe daria novos dentes? Desnecessário, para quem a fé nunca abandonou. Coloquei umas moedas na sua caneca, recebi seus agradecimentos e segui meu rumo com muitas perguntas para as quais tinha poucas ou nenhuma resposta. O nosso passarinho perdeu os dentes e o canto, e nós perdemos o som do bairro. Podemos mudar essa situação? Claro que sim! Temos disposição e disponibilidade para isso? Tenho minhas dúvidas. 

PODE Olá! Sou de Ilhabela e li a crôniCOMPARAR, ca “O passarinho não pode cantar mais”, na revista Metrópole NENHUMA Magazine que recebi em um OUTRA RÁDIO evento da FACESP. TOCA TANTA Quero parabenizar a escritora Neide MÚSICA COMO Pinto pela bela reflexão! APereira ANTENA 1. Luciano Krob Meneghetti, através das redes sociais.

Neide Pereira Pinto é arquiteta, empresária e membro da Academia Joseense de Letras. Escreve roteiros de HQ e livros sobre Meio Ambiente e cidadania para o público infanto juvenil.

Erramos

Diferentemente do publicado na reportagem ‘Redes de farmácias entram em disputa territorial’, da edição nº 23, a esposa do empresário Manoel Conde Neto, é Claudia Conde, farmacêutica. Ela é fundadora da empresa que possui 180 lojas, está presente em 80 municípios e São José dos Campos recebeu sua 13ª unidade.

Envie email contendo: nome, idade e profissão para metropolemagazine@meon.com.br ou por correio para av. São João, 2375 - sl 2010 - Jardim Colinas - São José dos Campos - SP - CEP: 12.242-000. Em função de espaço, as mensagens poderão ser resumidas.

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SÃO JOSÉ NA MEMÓRIA Grande parte da memória de São José dos Campos pode ser pesquisada pela internet. No site da Câmara Municipal de São José dos Campos você encontra o Pró-Memória, uma parceria entre a Câmara, a Fundação Cultural Cassiano Ricardo e a Fundação Valeparaibana de Ensino, mantenedora da Universidade do Vale do Paraíba (Univap). No site Pró-Memória estão disponibilizados documentos, fotos e edições de jornais antigos que contam a história de São José dos Campos. Acesse:

www.camarasjc.sp.gov.br/promemoria

Canal 7 da NET e 9 da VIVO TV www.camarasjc.sp.gov.br /camarasjc

/camara_sjc /camarasjc /camarasjc

CÂMARA MUNICIPAL SÃO JOSÉ DOS CAMPOS A vida da cidade passa por aqui


12 | Revista Metrópole – Edição 25

Artigo&

Saindo da zona de conforto Divulgação

C

aro leitor, lá vamos nós de novo, batendo na mesma tecla - como envelhecer bem? Como usufruir dessa fase, que pode ser desde a mais entediante até a mais interessante, a cereja do bolo? A probabilidade de envelhecermos é enorme. A expectativa de vida se eleva em um ano a cada década nos países avançados e as áreas desenvolvidas dos países em desenvolvimento parecem seguir essa tendência. O mesmo não se pode dizer de regiões subdesenvolvidas deste país que foi jocosamente chamado de Belindia, uma mistura de Bélgica e Índia. Ora, se como país estamos tentando incorporar mais pessoas a esse contingente com melhores condições de vida e se, com isso, teremos mais idosos, o próximo desafio é fazer essa longevidade valer a pena. A participação política tem uma importância enorme nesse processo. Não é de graça que os idosos ganharam as academias ao ar livre, as “Casas do Idoso”, os lugares preferenciais nas filas e nos transportes, etc. As reuniões no Conselho do Idoso ou no Conselho Municipal da Saúde são abertas à população, mas quem vai? Você frequenta, ao menos, a Associação de Bairro, que lhe toca mais de perto? Pois é, nosso país é assim, paradoxal. Péssimos políticos e uma população fadada a ficar no terceiro mundo... Que tal mudar? Que tal ter uma participação política? Na Grécia antiga, o conceito de “privado” não era exatamente valorizado: privado significava ser privado da coisa pública, ou seja, não exercer plenamente seu papel na sociedade. Em nossa sociedade individualista, porém, o privado ganhou um valor extraordinário,

um luxo, uma benesse. É um conceito que merece reflexão, pois pode levar a um crescimento pessoal considerável numa fase de vida em que isso (o crescimento) não é mais esperado. Ora, como já vimos em artigo anterior, a vida é uma sucessão de perdas e ninguém gosta de perder. Menos ainda a vida, a última perda. Mas, se cair é inevitável, vamos fazer como o Buzz Lightyear (do Toy Story) - vamos cair com classe e, com isso, transformar a queda num belo voo. Transformar esse é o segredo. Para compreendermos o conceito de transformação, usamos alguns termos: Resiliência - é a propriedade do material de retornar à forma anterior após sofrer um impacto. Negligência - é a aceitação passiva dos fatos. Obstinação - é a persistência incoerente, lutar quando a vitória é improvável. Experiência - é o conhecimento acumulado por quem já passou por situação semelhante e se lembra dela. Sabedoria - é a capacidade de

discernir entre as diversas opções, sabendo relativizar e fazer a opção que mais beneficie a todos os envolvidos. Vem daí que para se conseguir lidar com tantas perdas e compreendê-las como meras transformações inexoráveis, ditadas pelo tempo, temos que ser resilientes, humildes, batalhadores, sem negligenciar nem se assustar diante das dificuldades. Virão dores, incapacidades, limitações, sempre percebidas como possibilidades de crescimento e superação até o último dia de nossas vidas. É enorme a dificuldade de se separar com clareza o que se deve aceitar e quais os momentos de batalhar, de maneira que temos que aceitar que erros vão ocorrer. Todos os erros são experiências, fontes de conhecimento, preparação para o futuro. Deus permita que eu aprenda com meus erros, para não repeti-los ad eternum. Vamos sair da zona de conforto? Roberto Schoueri Jr Médico geriatra em São José dos Campos, trabalha no Hospital REGER e se interessa pelas questões mais comuns que ocorrem na velhice.


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14 | Revista Metrópole – Edição 25

Aconteceu& Pedro Ivo Prates

Jatos executivos da Embraer começam a voar na Argentina Em fevereiro, dois novos jatos executivos da Embraer, o Phenom 100, iniciaram os voos pelo céu argentino, marcando a entrada da empresa de São José dos Campos no mercado da aviação executiva no país vizinho. A manutenção das aeronaves ainda será realizada na unidade de Sorocaba, no interior de São Paulo. Outras 340 unidades do mesmo modelo estão espalhados pelo mundo. E também foram anunciadas em reportagens do portal Meon, como nos Emirados Árabes, além das inovações apresentadas para o modelo da linha Phenom em 2017. 

Fotos: Meon

O Grupo Meon de Comunicação completou três anos de história. São 1.096 dias de notícias com qualidade e relevância, sobre as 39 cidades da Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte, publicadas no Portal Meon. Lançado em 14 de fevereiro de 2014 o portal de notícias tem como principal objetivo informar o público sobre os acontecimentos da região, o portal Meon é o único jornal 100% digital da região. Entre 14 de fevereiro de 2014 e 14 de fevereiro deste ano, o portal teve 24 milhões de páginas visualizadas. Assinada pelo Grupo Meon, a Metrópole Magazine, traz matérias aprofundadas sobre os principais assuntos que acontecem no cotidiano da população da região. Com editorias que abordam diversos assuntos, a revista é distribuída em 10 cidades da região, com a tiragem de 15 mil exemplares, auditada pela BDO, com validação da quantidade impressa por certificação. 

Pedro Ivo Prates

Guaratinguetá driblou a crise

A crise financeira atingiu diversas prefeituras do Vale do Paraíba e comprometeu a programação do carnaval 2017. Várias festividades foram canceladas na região, no entanto, a tradicional festa de rua de Guaratinguetá, uma das maiores do Vale, foi mantida pelo prefeito Marcus Soliva (PSB). Este ano, a cidade não teve desfiles de escolas de samba e mesmo assim tiveram investimentos de R$ 700 mil. Com o slogan “Nosso DNA é o Samba”, a Prefeitura de Guaratinguetá contabilizou em cinco dias de folia 15 mil pessoas com um carnaval multicultural. “Devido à crise, o Carnaval deste ano foi organizado de forma mais contida, procurando fazer mais com menos recursos financeiros”, explicou o prefeito. “Nós otimizamos o Carnaval, dando espaço e oportunidades para artistas locais.” 

Grupo Meon de Comunicação completa três anos de história


Março de 2017 | 15

Pedro Ivo Prates

Encontro reúne presidentes de associações comerciais da RMVale O presidente da ACI (Associação Comercial e Industrial) de São José dos Campos, vice-presidente da Facesp (Federação das Associações Comerciais e Industriais de São Paulo), Felipe Cury, se reuniu com mais 23 presidentes de associações comerciais da RMVale e Litoral Norte, em Ilhabela, para discutir a indústria do turismo. A reunião abriu o calendário 2017 da Facesp, e o portal Meon acompanhou tudo de perto. A cerimônia foi presidida por Cury, e contou com a presença do prefeito de Ilhabela, Márcio Tenório (PMDB) e secretários de turismo das quatro cidades do Litoral Norte. 

São José retoma parceria com a Santa Casa

Pedro Ivo Prates

Prefeitos de 70 cidades se reuniram para debater o turismo no Estado de São Paulo Os municípios do Litoral Norte e demais estâncias turísticas de São Paulo que apresentarem projetos que fomentam o turismo e a infra-estrutura poderão ser beneficiados por uma verba de R$ 300 milhões do Departamento de Apoio ao Desenvolvimento das Estâncias. A verba poderá ser liberada ainda este ano. O anúncio foi feito pelo secretário estadual de Turismo, Laércio Benko, que também esteve na primeira reunião ordinária do ano da Aprecesp (Associação das Prefeituras das Cidades Estância do Estado de São Paulo), realizada no auditório da Prefeitura de Ilhabela. Além dos prefeitos do Litoral Norte, a reunião teve a presença de outros 70 administradores municipais, entre secretários de turismo e representantes das estâncias turísticas de todo o Estado de São Paulo. 

Divulgação/Samta Casa

Após pouco mais de 10 anos ‘separados’, a Santa Casa e a Prefeitura de São José dos Campos retomam a parceria para ampliar a rede de internação clínica hospitalar no município. O anúncio foi feito pelo prefeito Felicio Ramuth (PSDB) em seu canal no Facebook no último dia 17 de fevereiro O hospital recebeu os primeiros quatro encaminhamentos de pacientes do Hospital Municipal, mas esse número será bem maior, pois ficará dentro do limite das 120 vagas destinadas por intermédio da Cross (Central de Regulação de Ofertas de Serviços de Saúde). As vagas destinadas aos pacientes encaminhados pelo Hospital Municipal estarão dentro da cota de filantropia. Por isso, a prefeitura não precisará investir recursos municipais nessa parceria, segundo a Secretaria de Saúde. Atualmente, a Santa Casa tem disponíveis 120 leitos para o SUS (Sistema Único de Saúde). 


16 | Revista Metrópole – Edição 25

Pedro Ivo Prates

Frases&

“É obrigação de cada deputado defender o turismo, a missão do gestor é lutar para que tenhamos mais geração de emprego e renda, e o turismo ajuda a cumprir essa missão”

É super normal. Somos do mesmo segmento, mas cada uma tem a sua essência e individualidade no trabalho, o que nos torna diferentes umas das outras

Allycia, cantora de funk, moradora de São José, sobre a comparação com Anitta, Lexa e Ludmilla.

Arquivo Pessoal

Márcio Tenório (PMDB), prefeito de Ilhabela, cobrando o apoio dos deputados presentes ao encontro de prefeitos realizado na cidade.


Março de 2017 | 17

Existe um novo mundo surgindo e nesse novo mundo, a relação com o trabalho muda

Arquivo Pessoal

Arquivo Pessoal

Gustavo Tanaka, sobre a insatisfação no cenário corporativo.

Tomar conta do seu orçamento é uma atitude que te fará ter muito mais controle do que pode ser realizado, com recursos que você tem e o que precisa fazer para alcançar o que você quer

Vivian Sant’Anna, coach e especialista em poupar dinheiro. Pedro Ivo Prates

Nosso primeiro ato foi acabar com a promoção automática dos servidores baseado na apresentação de título. Nós criamos limitadores de progressão salarial. Com isso, conseguimos uma economia de mais de R$ 700 mil neste ano

Juvenil Silvério (PSDB) , presidente da Câmara de São José dos Campos, sobre a reforma administrativa em curso no legislativo.


18 | Revista Metrópole – Edição 25

ENTREVISTA

Fotos: Pedro Ivo Prates

Para transformar a política Felipe Augusto, prefeito de São Sebastião, quer fazer a diferença Rodrigo Machado SÃO SEBASTIÃO

A

os 40 anos, o engenheiro Felipe Augusto (PSDB) comanda a prefeitura de São Sebastião, no Litoral Norte, por acreditar na política como um instrumento de transformação, que permite ao eleito entrar para a história de forma positiva. “É a oportunidade de promover a diferença na vida dos quase 85 mil moradores da cidade”, afirmou o prefeito, que tem pela frente a missão de desburocratizar a máquina pública, mudar políticas educacionais para manter os estudantes nas instituições e universidades instaladas no município, fomentar o turismo para a baixa temporada e rever questões ligadas à mobilidade, estética e o desenvolvimento econômico de São Sebastião. Entre muitos compromissos e uma agenda intensa o prefeito que cresceu no ambiente político, casou-se com a filha de uma família de políticos e acumulou experiências em cargos nas administrações públicas da capital e do Estado de São Paulo –nos governos de Geraldo Alckmin, José Serra e Mário Covas- e nas eleições de 2010, como candidato a deputado estadual, obteve a maior votação do Litoral Norte, mas não conseguiu se eleger. Em clima descontraído concedeu a seguinte entrevista à Metrópole Magazine. O que o motiva na política? Eu comecei na política meio que por acaso. Sai daqui em 1995 e fui para São Paulo em 1995 estudar engenharia. Fui trabalhar na Assembleia Legislativa como officeboy, pois precisava custear meus estudos e aí tomei gosto pela política, passando a

trabalhar partidariamente. Trabalhei na Assembleia por sete anos, para o governo do Estado, na Prefeitura de São Paulo, com o José Serra, e percebi a política como grande instrumento de transformação, um momento pra gente entrar para a história contribuindo com o melhor. A política precisa ter gente boa, não dá para deixá-la solta, porque senão daqui a pouco não tem mais

“A política precisa ter gente boa, não dá para deixá-la solta, porque senão daqui a pouco não tem mais gente do bem disputando eleições. Quero contribuir para a história e de forma positiva com o nosso município e o Litoral Norte. ” gente do bem disputando mandatos, disputando eleições. Quero contribuir para a história e de forma positiva com o nosso município e o Litoral Norte. Eu gosto de fazer política boa, transparente, sem embromação. Como a sua história começou em São Sebastião?

Eu sou de São Sebastião. Estou aqui desde os meus 10 anos de idade. Sempre vivi São Sebastião. Minha história começa quando os meus pais saem do Espírito Santo e se mudam pra cá. Vivo essa cidade de norte a sul, sempre. Mesmo morando e estudando em São Paulo, durante esses anos trabalhando no governo, todos os finais de semana estive aqui. Nunca deixei de viver a cidade. É a cidade que amo. Escolhi para viver com minha família e para ter meus filhos. Quando foi o primeiro contato com a política? Comecei em 1995. Coincidentemente ou não, como lembram meus colegas do colégio, eu sempre disse que queria ser o prefeito desta cidade. Sou oriundo do ensino público e vejo na política uma importante ferramenta de transformação. Aprendi a fazer política ao lado de pessoas como Geraldo Alckmin, José Serra e Mário Covas. Trabalhei muito tempo com o Antônio Carlos Silva, que é o nosso líder na região, meu sogro, um parceiro do PSDB, e um exemplo a ser seguido. Ao longo de quatro mandatos e 16 anos à frente da prefeitura de Caraguatatuba, de forma muito responsável, ele conseguiu organizar e reestruturar uma cidade que até então era chamada de banheiro do Litoral Norte e hoje é uma grande potência. Uma vida política exige renuncia de várias ações da vida privada. Como o prefeito lida com essa questão? Como é dividir o Felipe que trabalha para a população e o Felipe pai, esposo e empresário? Uma confusão danada (risos). Minha esposa conhece, entende bem de política, afinal de contas, o pai dela foi prefeito


Março de 2017 | 19

em Caraguatatuba, o avô vereador em São José dos Campos, o tio também vereador. O pai do Antônio Carlos (ex-prefeito de Caraguatatuba) também foi da política em Lorena. A família toda envolvida com esse espírito. Assim, para ela é mais fácil administrar porque já conhece, mas não é facil digerir o dia a dia. A nossa cidade é extensa, com mais de 100 quilômetros, mas é também uma cidade intensa, porque nas extremas franjas do município temos bairros como o Boiçucanga, que é muito forte e tem vida própria. É uma cidade que exige atenção de uma ponta a outra. Não é fácil para se administrar por questão logística, mas, por outro lado, mostra-se fácil entender a administração a partir do momento em que você define a identidade dela como centro, norte e sul, enquanto regiões bem definidas. Assim entendemos quais são os desafios de cada uma delas. A família, é claro, acaba sofrendo com isso, mas pelo sonho de ter uma cidade melhor e um município mais preparado e organizado vale à pena para todos nós. Pensar na mobilidade junto com as outras três cidades (Ilhabela, Caraguatatuba e Ubatuba), para promover a economia e o turismo do Litoral Norte. Qual a importância de estarem juntas para discutir as políticas públicas neste setor? No momento atual não é possível que as cidades trabalhem separadas. Nós temos problemas comuns, isto é fato. O cidadão da cidade ‘A’ frequenta a estrutura da saúde da cidade ‘B’, e sucessivamente em todas as áreas - esportiva, educacional, logística e trabalho. As cidades estão interligadas. Existe um estudo, por exemplo, que mostra que 8.000 pessoas transitam pela balsa por mês, porque muitos dos residentes

trabalham ou estudam em local diverso à sua moradia. Cerca de 4.000 moradores da Costa Sul são atendidos pela rede de saúde de Bertioga, outros 4.000 pela rede de Caraguatatuba, São José dos Campos, Taubaté. Enfim, não dá mais para pensar de forma isolada, de não ter as cidades como irmãs, precisamos trabalhar juntos e integrados, nossos problemas são comuns e esse entendimento tem sido muito positivo. Nós estamos intensificando essa parceria para valorizar o serviço público prestado. E essa parceria não fica só na saúde, mas também em outras áreas, como a segurança pública. Nós fizemos a primeira operação conjunta agora, as duas guardas civis municipais com os dois comandos da Polícia Militar, Bertioga e São Sebastião. Também vamos integrar o sistema de vídeomonitoramento da travessia de balsas, para trazer mais segurança para São Sebastião e Ilhabela. Essas ações em conjunto visam não só a questão da segurança, mas também habitacional, saúde, social e educacional. E sp e c i f ic a mente no caso de Bertioga há uma questão importante que é a índigena. A Aldeia Ribeirão Silveira ocupa as duas cidades tendo sua entrada em São Sebastião e ocupando território de Bertioga.

Utilizam-se da rede de saúde de Bertioga e estudam em São Sebastião, cujos professores são de Bertioga. Enfim, tudo se mistura. É certo que, ao trabalharmos juntos, podemos muito mais. Educação. O senhor tem discutido isenção tributária para atrair novos cursos universitários e a concessão de bolsa integral para os alunos estudarem em São Sebastião. Isso é viável para a administração? O estudante tem esse direito. Há muitos anos não existiam faculdades na cidade ou em municípios vizinhos. Há que se considerar, como mencionado anteriormente, que São Sebastião é uma cidade totalmente atípica, com


20 | Revista Metrópole – Edição 25

“São Sebastião é a cidade que escolhi para viver com minha família e para ter meus filhos “

mais de 100 quilômetros de extensão e duas realidades distintas. Dar condições de estudo para jovens que queiram ter um futuro melhor é o nosso objetivo. O que nós estamos propondo é uma reorganização. O estudante que cursa fora, como em Mogi das Cruzes, São José dos Campos, Caraguatatuba ou Taubaté, passa a ter subsídio de 50%, antes era 100%. O estudante que cursar no município passará a ter 100% de isenção no transporte. Tudo isso para incentivá-los a evitar as estradas, que sempre representam perigo e os deixa longe de casa e da família por muitas horas diariamente. Essa medida tem também o objetivo de reter talentos no município? Eu acho que o nosso dever não é o de reter, o nosso dever é de gerar talentos. Nós temos uma oportunidade única de ter o estudante formado, preparado no nosso município. Nossa cidade já tem faculdade – aliás, é a única cidade da região quem tem Fatec e Etec - tem uma

escola técnica privada e um campus da USP. O município precisa atrair esses

“Dar condições de estudo para jovens que queiram ter um futuro melhor é o nosso objetivo. O estudante que cursar uma faculdade no município passará a ter 100% de isenção no transporte.”

novos investimentos educacionais e gerar novas oportunidades. Como tornar o turismo uma potência permanente na economia? O país está em crise, ninguém duvida mais disso, provocando verdadeiro estrago nos nossos municípios. Dados do governo federal comprovam, inclusive com nome e endereço de quem está desempregado, onde mora e o que precisa. E, de outro lado, nós temos um enorme potencial turístico. Em São Sebastião, por exemplo, temos 100 quilômetros de extensão de praias e, por consequência, o turismo náutico que não é explorado. Só o Estado da Flórida, nos EUA, tem cinco vezes mais embarcações que o Brasil. A indústria náutica é acanhada no país, mesmo considerando que cada barco gera pelo menos sete empregos: marinheiro, tratorista, mecânico, eletricista, dono da loja, marina e daí sucessivamente, diretos e indiretos.


Março de 2017 | 21

Precisamos começar a rediscutir e mudar a cultura do povo brasileiro que pensa que ter um barco é coisa de rico. Moramos numa das costas mais lindas do país e temos um dos melhores canais de navegação do mundo. É necessário incentivo para a indústria náutica e para a indústria do turismo náutico; incentivo para os comerciantes durante a baixa temporada. Enfim, nós temos uma diversidade ímpar e devemos investir na organização do turismo. Com isso teremos um resultado prático. Qual é a avaliação que o senhor faz dos primeiros 50 dias de seu governo? Muito trabalho, trabalho e ainda está dando trabalho. Encontramos um caos administrativo, além de desestruturação do ponto de vista de prédio, funcionalismo e desorganização. Nós estamos reorganizando a máquina pública, cortando despesas, reestruturando projetos, com ações que visam atrair investimentos do setor privado. Discutimos a ampliação do porto, com sustentabilidade e respeito ao meio ambiente. Foram 50 dias extremamente intensos, três visitas a Brasília, diversas visitas aos secretariados do Estado, conversas com o governador, eventos, reuniões, palestras, discussões, tudo para conceber um município novo, ágil e moderno

e que responda às necessidades do cidadão. O senhor está preparando a reforma administrativa, qual a importância neste momento? A reforma administrativa visa atender a um gargalo que a administração pública vive hoje em decorrência de ações propostas pelo Ministério

“ A reforma administrativa visa atender a um gargalo que a administração pública vive hoje em decorrência de ações propostas pelo Ministério Público.” Público. O que nós queremos é atender ao Judiciário o mais rápido possível. Vamos fazer isso com essa reorganização dos quadros de comissionados e a implantação do novo estatudo do servidor.

Balsa entre São Sebastião e Ilhabela. Mobilidade entre as cidades do litoral é um dos desafios

Como é sua relação com Geraldo Alckmin? Na RMVale temos São José dos Campos, Jacareí, Taubaté sob o comando do PSDB. O mapa tucano pode facilitar a administração do municípío? O governo estadual sob o comando de Geraldo Alckmin atualmente é diferente do passado, mais distante dos municípios, o que é inteligível eis que o mesmo terá mais um ano de governo e irá para disputa nacional. Hoje, os municípios precisam se unir e existe um cenário interessante. Após tanto tempo dessa onda vermelha, os ministérios, as secretarias nacionais e o governo federal se abriram aos prefeitos, principalmente os do PSDB e de São Paulo. Ilhabela e Caraguatatuba passaram por muitas transformações nos últimos anos. E São Sebastião? Primeiro criamos uma Secretaria de Urbanismo para cuidar do nosso cotidiano, para cuidar da cidade como um todo. São Sebastião nos últimos 12 anos perdeu muito espaço na questão urbanismo e paisagismo. Agora damos início aos projetos como a extensão da Guarda Mor Lôbo Viana e a reorganização da avenida Dario Leite Carrijo, entre outras. Tem muito trabalho a fazer 


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NOTÍCIAS POLÍTICA

Fotos: Pedro Ivo Prates

Moradores de rua: um desafio para São José

Aumento da população de rua faz poder público criar plano emergêncial Rodrigo Machado SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

U

ma casa improvisada dentro do Viaduto Kanebo, no principal corredor viário de São José dos Campos, o Anel Viário. Esse é o retrato da realidade da população de moradores de rua, que nos últimos anos se multiplicou em todas as regiões da cidade e tornou-se um problema crônico no dia a dia do município. A Metrópole Magazine saiu às ruas e avenidas da região central e visitou bairros, onde a concentração de mendigos e pessoas em situação de vulnerabilidade é mais intensa. No Centro, como é o caso das avenidas Nelson D’Ávila, Adhemar de Barros e José Longo e ruas como a Major Antônio Domingues e Paraibuna, o cenário é de chamar a atenção. Segundo balanço da Secretaria de Apoio Social ao Cidadão, São José dos

Campos possui 550 pessoas morando nas ruas. Pessoas sem perspectivas de mudanças ou inseridas em programas de ressocialização com resultados menos eficientes e duradouros. O que se vê é um caos urbano e uma missão para a secretária de Apoio Social ao Cidadão, a assistente social Edna Tralli: ampliação das equipes de abordagem nas ruas, melhorias na infraestrutura para o trabalho de busca e a revisão dos programas de reinserção das pessoas à sociedade e ao mercado de trabalho, são alguns dos desafios. No viaduto Kanebo, a ‘casa’ é improvisada com colchão, pequenos tapumes, vasilhas e até um pequeno local para o preparo de comida ‘decorado’ com uma bandeira do Brasil. A moradia dentro do viaduto tem até ‘gato’ de energia elétrica – ligação clandestina para furtar energia e uma escada para facilitar o acesso do morador.

A cena degradante se repete em outras regiões como as zonas sul e norte. Na avenida Andrômeda, por exemplo, algumas marquises de lojas viraram redutos de moradores de rua. No Jardim Satélite, bairro que fica na zona sul da cidade, existem pelo menos quatro pontos de concentração de pessoas em situação de vulnerabilidade. Um deles é a marquise de uma loja do cruzamento das avenidas Andrômeda e Cassiopeia. No Campo dos Alemães, também na região sul, usuários de drogas e moradores de rua montaram suas barracas em dois pontos em um terreno na avenida João de Oliveira Silva, ao lado da base do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência). A 200 metros do local, outras barracas ocupam o espaço do antigo Pinheirinho. As barracas são usadas por um grupo de usuários de drogas.


Março de 2017 | 23

No Parque Industrial, a praça Aldo Pires e trechos das pistas de caminhada da rua Palmares e avenida Icatú viraram endereços fixos para alguns moradores. O grupo sempre é atendido por grupos de cristãos que fazem noites solidárias oferecendo alimentação como sopa, café e leite. Na zona leste, considerada uma das regiões mais populosas de São José, a praça Aída Monteiro de Castro Veloso, na Vila Industrial, é a ‘casa’ de pelo menos oito homens, que vivem no local diariamente sob efeito de álcool e drogas, segundo comerciantes e vizinhos. A praça fica em frente ao Hospital Municipal, no coração do centro comercial do bairro. A Metrópole Magazine conversou com a secretária para saber quais

“Hoje, estamos com seis peruas e cada uma delas leva uma equipe contendo educadores sociais e o apoio de uma assistente social. Isso não estava acontecendo antes, não tínhamos equipes suficientes” Edna Tralli

SECRETÁRIA DE APOIO SOCIAL

projetos e programas que a cidade deve apostar para combater e reduzir a população de rua, como tem sido o trabalho de abordagem e quais serão as primeiras ações da pasta para o desenvolvimento de políticas públicas para moradores em situação de fragilidade. A administração do prefeito de São Paulo, João Dória (PSDB), tem apostado em projetos para combater as cracolândias, onde há bastante concentração da população de rua. A ação de Dória visa, não só tirá-los de lá, mas também encaminhá-los aos diversos programas de reestruturação, incluindo a reinserção no mercado de trabalho. A secretária explicou que desde a última semana de fevereiro ampliou ações estratégicas para a abordagem das equipes e dobrou o número


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Acima: família ocupa terreno público na Zona Sul Ao lado: casa improvisada embaixo do Viaduto Kanebo

de educadores sociais no trabalho de recolhimento. “Durante todo o dia três peruas com uma única assistente social faziam abordagens seis horas por dia. Hoje, estamos com seis peruas e cada uma delas leva uma equipe contendo educadores sociais e o apoio de uma assistente social. Isso não estava acontecendo antes, não tínhamos equipes suficientes”, disse Edna. Ela explicou que a dinâmica dos agentes nas ruas está sendo readequada ao novo plano de trabalho no combate ao problema. Os seis veículos estarão disponíveis e ao mesmo tempo estarão abordando os moradores. “A cidade tem sete abrigos de acolhimento, com grande estrutura para o atendimento de 120 pessoas e outros seis abrigos menores, que abrigam de 15 a 20 pessoas. Colocamos novos agentes educadores em treinamento. Tínhamos 18 educadores, agora são 28 profissionais”, disse. “Ao assumir a pasta vi que tínhamos apenas uma assistente social e um coordenador para cobrir a cidade 24 horas”, completou.

Hoje, são 44 agentes educadores nos abrigos e sete assistentes sociais.

Implantação O novo plano é coordenado pelo Apoio Social e conta com suporte das secretarias de Saúde, Educação e Cidadania, Manutenção da Cidade. O telefone 153, do COI (Centro de Operações Integradas), foi preparado para receber informações e pedidos da população sobre os moradores em situação de vulnerabilidade. “É um atendimento especializado. Todas as pessoas recolhidas passam a ser encaminhadas para o abrigo ou para os dois Centros Pop. As pessoas podem passar o dia, ter alimentação e tomar banho. Teremos, a partir de agora, encaminhamento para outras ações como emprego, moradia, entre outros”, contou. Segundo a secretária, será uma força-tarefa envolvendo a saúde, por meio dos Caps (Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas) e entidades parceiras. “Muitos desses

moradores têm a saúde comprometida por conta do álcool e abstinência”, disse. “Sou moradora há mais de 20 anos em São José. O que aconteceu foi uma desatenção do poder público nos últimos anos em relação a esse problema. Nossa meta é diminuir esse quadro e cuidar dessas pessoas como seres humanos”, completou. 

Saiba mais: ••

Para atendimento de dependência química, a Secretaria de Saúde disponibiliza duas unidades: o Caps-AD (para homens adultos) e o Sama (para mulheres adultas e adolescentes masculino e feminino);

••

São atendidos em média 450 pacientes/mês, com livre demanda;

••

Para casos de urgência/ emergência, tem a UPA de Saúde Mental, com cerca de 60 pacientes atendidos por dia em média.


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NOTÍCIAS ECONOMIA

Do Vale para o mundo Mercado da exportação cresce 205% e região ultrapassa a média estadual

Fotos: Pedro Ivo Prates


Março de 2017 | 27

Moisés Rosa RMVALE E LITORAL NORTE

O

mercado de exportação ganhou uma nova configuração para as empresas instaladas na região do Vale do Paraíba e Litoral Norte. Apostar no mercado internacional e deixar de lado a crise. Foi isso o que fizeram 61 empresas da região que decidiram investir pela primeira vez na exportação de seus produtos e contribuíram para alavancar o resultado recorde no acumulado de 2016: 205% de aumento no número de empresas da região que enviaram os seus produtos para o exterior em relação ao ano anterior. O estudo é da Investe São Paulo, a agência de promoção de investimentos e competitividade ligada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado de São Paulo, com base em informações disponíveis no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. O resultado é visto como positivo para o mercado que alcançou a melhor marca desde 2001, quando a série começou a ser impulsionada. A região ultrapassou o resultado estadual que foi de 126,1%. No ranking de cidades que enviaram produtos para outros países, São José dos Campos aparece na liderança com 130 empresas que exportaram. Em seguida, Taubaté com 54, Jacareí com 51, Pindamonhangaba (41), Caçapava (21), Lorena (20), Guaratinguetá (13), Cruzeiro (10), Ilhabela e São Sebastião

aparecem com cinco, Ubatuba com quatro empresas, entre outros municípios. Dessa fatia, 20 empresas de São José exportaram pela primeira vez, seguida de Taubaté (10) e Jacareí (6).

Perfil A região é considerada a ‘menina dos olhos’ para o mercado de exportação. Além do potencial em atrair empresas que se instalam nas 39 cidades, a região está localizada em um eixo imprescindível para a economia, classificada como a 12ª maior região metropolitana mais populosa. Com empresas de médio e grande aporte, a expectativa do Estado é que a região possa expandir ainda mais a atuação em outros países. A recuperação da economia ainda neste ano refletirá nos resultados positivos para as empresas. Segundo o diretor da Investe SP, Sérgio Costa, o ano será de fomento à área. “O quadro reflete um dos ensinamentos que procuramos passar às empresas, que é o fato de que é sempre interessante começar a exportar aos poucos. Nossa expectativa, inclusive, é que o ano de 2017 feche com um número mais expressivo de empresas que fizeram remessas maiores, tendo debutado em 2017”, afirmou Costa.

Tipos de produtos

À Metrópole Magazine, Costa disse que o desempenho da RMVale e Litoral Norte no ranking já era esperado devido ao movimento da economia e da logística favorável.

“Foi uma grata constatação. Tivemos um recorde de empresas que exportaram no ano passado e aquelas que enviaram pela primeira vez os seus produtos para fora do país. Isso foi estimulado porque o produto brasileiro ficou mais barato e abriu portas para a exportação”, explicou Costa. Outra característica importante que fomentou o mercado é o conglomerado de empresas nas áreas de tecnologia. Isso, segundo o diretor da Investe SP, ajudou a internacionalização dos produtos. “Temos diversas empresas que atuam no ramo da tecnologia e a instalação ajuda na comercialização. A região também é composta por produtos que atendem o mercado, entre eles, o setor de máquinas e equipamentos, indústria química, ótica, o setor de madeiras, de produtos alimentícios, etc”.

Suporte às empresas Acompanhando as empresas ainda nos primeiros anos ‘de vida’, o Governo do Estado trabalha no auxílio da estabilidade delas no mercado. “O trabalho é para auxiliar a manutenção das empresas no ramo, capacitando, e orientando para que tenham continuidade nos negócios. Primeiro, elas se preparam melhor e precisam arrumar a casa, alertamos para as regras e características do mercado e levamos a inteligência comercial”. De acordo com o diretor, a região se destacou por não tem apenas um produto em comercialização. “O Vale do Paraíba e Litoral Norte possuem uma vasta diversidade de produtos, não existe uma predominância, e isso é um fator que conta


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muitos pontos, atraindo investimentos e aumentando as possibilidades de exportações”, destacou Costa.

Petróleo e gás Outro fator que impulsionou a economia é a exploração de gás natural e, principalmente, do pré-sal, nos campos de Mexilhão e Sapinhoá, ambos na bacia de Santos. O arquipélago de Ilhabela ficou entre as 20 cidades exportadoras dos derivados de petróleo, figurando como a quinta principal exportadora do Estado de São Paulo, de acordo com relatório da ANP (Agência Nacional de Petróleo). No Litoral, os quatro municípios são confrontantes com os campos de Mexilhão (Caraguatatuba, Ilhabela e Ubatuba), Sapinhoá, Sul de Sapinhoá e Lapa (Ilhabela). O município de São Sebastião possui instalações de embarque e desembarque de petróleo e/ou gás natural. Juntos, receberam em janeiro de 2017 cerca de R$ 25 milhões royalties --compensação financeira dada pelas

“Foi uma grata constatação. Tivemos um recorde de empresas que exportaram no ano passado e aquelas que enviaram pela primeira vez os seus produtos para fora do país. Isso foi estimulado porque o produto brasileiro ficou mais barato e abriu portas para a exportação” Sérgio Costa

DIRETOR DA INVEST-SP

empresas que fazem a exploração. O repasse dos royalties também influenciou nos momentos de ‘bonança’ para as cidades do litoral. Diferente de outros municípios que dependem do petróleo, as cidades do Litoral Norte estão entre as que mais recebem o valor dos royalties no país, o que reflete diretamente no investimento em obras e melhorias em infraestrutura.

Trajeto No Litoral, a Petrobras possui uma unidade de tratamento de gás, considerada destaque no aumento da oferta de gás natural para o mercado brasileiro. A unidade apresenta capacidade total instalada de processamento para 20 milhões de m³ de gás natural por dia. De lá, o gás processado dá origem a três produtos o gás natural, que tem uso industrial, residencial e veicular; o GLP, gás liquefeito de petróleo (GLP) ou gás de cozinha; e o C5+ (produto líquido utilizado para a produção de nafta petroquímica, gasolina e diesel). Para escoar


Março de 2017 | 29

este gás, a empresa utiliza um gasoduto instalado entre CaraguatatubaTaubaté, onde é interligado ao gasoduto Campinas-Rio de Janeiro. Estes dutos também são responsáveis pelo transporte do gás liquefeito de petróleo, gás de cozinha e o C5+ até a Revap (Refinaria Henrique Lage), em São José dos Campos.

Efeitos Para o economista Roque Mendes, da Univap (Universidade do Vale do Paraíba), a exportação também é uma forma de compensar o que não foi comercializado internamente. Segundo ele, pequenas empresas estão adotando essa prática e aderindo ao ramo. “Principalmente nesta época em que estamos passando com desemprego, a exportação é uma forma de compensação daquilo que não estamos comercializando internamente. A exportação é uma forma de compensar”, disse. Ele destacou importantes empresas

“Principalmente nesta época em que estamos passando com desemprego, a exportação é uma forma de compensação daquilo que não estamos comercializando internamente. A exportação é uma forma de compensar” Roque Mendes

ECONOMISTA DA UNIVAP

na região que despontam no mercado, como Embraer e GM. Em sua avaliação, o setor automobilístico e de aviação são os que mais puxaram a alta para a região. “Cada vez mais as empresas, até mesmo as menores, estão optando pela exportação, uma alternativa até para a manutenção de empregos. Temos a Embraer, a GM, empresas que já atuam neste nicho e que recompõem as vendas com o mercado exterior”, ressaltou. Roque ainda destacou a importância do Litoral Norte na exportação de petróleo no cenário nacional. Segundo Mendes, os municípios ganham investimentos e melhorias com os repasses. “Favorece todos os municípios próximos. Quem esteve em Caraguatatuba há três anos e agora retorna, pode encontrar uma nova cidade. Você pode observar as avenidas à beira mar e outros investimentos que foram realizados com a aplicação dos royalties. Isso se espalha para os municípios próximos”, acrescentou. 


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NOTÍCIAS SAÚDE

Fotos: Pedro Ivo Prates

Medo, superação e solidariedade

Casal de Ubatuba cria ONG para ajudar pessoas vivendo com HIV

Silmara e Sérgio criadores da ONG BlaBlaBla Positivo


Março de 2017 | 31

Marcus Alvarenga UBATUBA

E

sta é a história de duas pessoas que transformaram o medo do diagnóstico de HIV (sigla em inglês para Vírus da Imunodeficiência Humana) em uma luz de esperança e felicidade. Sérgio e Silmara Retti são exceção entres os mais de 14 mil pacientes soropositivos da RMVale que não têm apoio da família, o respeito dos amigos e temem a reação preconceituosa da sociedade. Os programas em âmbitos federal, estadual e municipal trabalham muito com a prevenção, mas ainda falta uma força-tarefa para disseminar o conhecimento sobre o HIV para promover o respeito. “Falta uma política pública, uma estrutura melhor. Os programas de DST focam apenas na distribuição do preservativo e teste rápido. Precisamos de uma equipe multidisciplinar com psicólogos, sexólogos e e outros especialistas, porque só a gente, as ONGs, não suportam a demanda e não tem esse recurso”, afirmou Silmara Retti. Mas para contar a história de luta deste casal é preciso voltar no tempo: Em 1982 surgiram os primeiros casos da AIDS no Brasil, na época rotulados de ‘Peste Gay’ pela imprensa internacional e nacional. Nesse período, Sérgio Rossi era apenas um adolescente no auge da sua curiosidade por novas experiências e que não pensava que suas atitudes poderiam colocá-lo em risco pela contaminação de uma doença ainda pouco conhecida e fatal. Com a maturidade a decisão de se distanciar das drogas o aproximou de um grande amor, interrompido pela morte repentina da parceira. Foi quando o jovem surfista e agente administrativo da Secretaria de Saúde de Ubatuba conheceu uma colega de trabalho, também viúva, Silmara Retti, e juntos transformaram um momento de luto em uma nova vida. “Ele me levava para dançar, me divertir, até os meus dois filhos se


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apaixonaram por ele depois que ficaram sem o pai”, relata Silmara Retti. Da união nasceu João e logo após Sérgio foi diagnosticado com toxoplasmose e internado com urgência na Santa Casa de Ubatuba. “Achávamos que era um derrame, mas o exame de HIV deu positivo”, conta Silmara. “Era uma época completamente diferente de hoje e os médicos me pediram para contar ao Sérgio, pois os médicos não queriam falar. Ninguém me orientou e eu sequer cogitei que também poderia estar contaminada”, relembra. Mas, como estava amamentando, buscou ajuda e recebeu as primeiras orientações médicas. “Eu procurei a Secretaria de Saúde, onde trabalhávamos, a médica me disse para interromper a amamentação. Fiz um teste rápido e voltei para casa com o meu resultado positivo. Eu só pensava no meu filho”

Exames O tratamento começou de imediato para o casal e os exames do bebê foram agendados logo após a descoberta. “Foi um tratamento com nove remédios pela manhã e nove à noite e demorei cerca de 15 dias para me adaptar, porque o corpo muda muito depois da ingestão dos medicamentos”, conta Sérgio. Como ainda não havia desenvolvido a doença, Silmara, foi medicada com um coquetel mais leve, eram cinco medicamentos. Mas a grande dificuldade foi lidar com os sentimentos. “Ter que cuidar de uma pessoa que depende de você, que te transmitiu o vírus, cuidar do bebê e da família, ver a preocupação dos pais idosos, foi realmente um desafio” relembra. Quanto ao bebê “como eu estava amamentando, o primeiro exame detectou apenas meus anticorpos no sangue do João. Não era o vírus dele, mas só deixamos de nos preocupar quando fizemos mais três exames e todos resultaram negativo”, diz.

Superação Após 18 anos convivendo com o tratamento diário e seguindo à risca todas as orientações médicas, Sérgio busca qualidade de vida a cada manhã. Para chegar à vitalidade de hoje, lutou contra ele mesmo, para não se deixar abalar. “Às vezes as pessoas não encontram motivação para deixar de beber ou abandonar as drogas e para mim a AIDS produziu este efeito”. Relembra que depois de sair da cama, onde ficou por 1 ano e 7 meses em razão da toxoplasmose e desenvolvimento do HIV, pensou: “agora ninguém me para”. Silmara encontrou no sorriso a principal ajuda para não deixar a doença se manifestar e abalar. “Eu tive que aprender a ser mais feliz. O que ganhei nisso tudo foi maturidade, passei a ver o mundo de outra maneira. Desejando mais momentos felizes e valorizando o convívio com a família”, relata.

Estatísticas A Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo vem contabilizando os casos de AIDS desde 1980, quando entre as 39 cidades, que hoje formam a RMVale e Litoral Norte, apenas 17 municípios apresentaram pacientes confirmados com a doença. No primeiro ano de diagnósticos foram descobertos 227 casos. No ano seguinte, em 1981, o número de casos diagnosticados teve um crescimento, alcançando 5.268 pessoas com HIV em toda a região. Após 1983 eram diagnosticados, em média, cerca de 500 casos por ano. O ano com o menor índice foi 2016, quando apenas 123 pacientes foram confirmados com AIDS. Atualmente as cidades que formam a RMVale e Litoral Norte somam 14.023 casos diagnosticados desde o início da contabilização pelo Governo do Estado em 1980. Entre as cidades com mais casos confirmados estão as mais populosas: São José dos Campos, com 3.882 diagnósticos, Taubaté com 2.221 pacientes, Jacareí com 1.522 confirmações e Caçapava com 872 casos. Fonte: Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo - SES-SP

“Às vezes as pessoas não encontram motivação para deixar de beber ou abandonar as drogas e para mim a AIDS produziu este efeito” Sérgio Rossi

“Eu precisei tomar uma decisão, por estar com uma doença ainda mal vista e em uma cidade pequena. Me perguntei: vou continuar o tratamento aqui? Vou contar para as pessoas? E a resposta foi ‘sim’ “, disse a funcionária pública que decidiu ajudar pessoas na mesma situação, além de verbalizar sobre o assunto em todos os lugares que frequentava. “A AIDS é uma doença muito solitária, a pessoa passa por tudo e ao mesmo tempo não tem com quem se expressar e dividir. Não se pode falar como se fosse uma dor de estômago, porque a sociedade não encara como algo natural”. Depois de refletir sobre isso, levou a ideia para a equipe com a qual trabalhava na Secretaria de Saúde de Ubatuba e assim surgiu o Programa DST/AIDS na cidade do Litoral Norte. Em um ano, ela e outros profissionais já estavam nas comunidades trabalhando com a prevenção e conscientização. “Foi uma época que não tínhamos onde nos apegar. Após a equipe montada, as pessoas souberam e começaram a nos procurar. Com o tempo tivemos reforço de médicos e infectologistas”, lembra o casal que serviu de exemplo contando a própria história para grandes plateias durante palestras e encontros.


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O impacto foi com o preconceito dos próprios colegas da área da saúde. “Cheguei para trabalhar e fui recebida com a informação que deveria usar utensílios pessoais e evitar usar o mesmo banheiro que o restante dos funcionários”, conta Silmara,que de tão chocada demorou a perceber que essas atitudes estavam erradas. É posível contrair AIDS através da saliva? E no banheiro? São perguntas que ainda pairam na cabeça de muitas pessoas. Mesmo àquela época, em uma equipe de saúde, essas informações já deveriam estar claras. Mesmo assim Silmara decidiu buscar ajuda, “levei essas dúvidas para o meu médico que me orientou. Chorei muito, fiquei mal, mas tomei uma

atitude dura mas necessária. Ao chegar no trabalho no dia seguinte decretou: “A partir de hoje vou usar todos os utensílios e o mesmo banheiro”. Depois decidiu levar o infectologista para conversar e orientar os colegas. Ainda mais duro foi acompanhar o sofrimento do filho, o bullying na escola durante a infância e adolescência. “Eu sofria muito. Ele queria que sumisse a doença. Embora eu tentasse explicar ele sofria e chegou a negar para professoras que era meu filho”, relembra Silmara emocionada. Agora com 18 anos, João já compreende melhor o desconhecimento das outras pessoas e reflete sobre os amigos que o ajudaram a lidar e superar os preconceitos. Junto com seus pais e irmãos (André e Rafael), compõem um grupo de

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34 | Revista Metrópole – Edição 25

pessoas que abraçou a iniciativa de levar o assunto para todos os lugares, criando a ONG BlaBlaBla Positivo. A organização social completa 20 anos em 2017, somando em sua trajetória mais de 800 palestras e milhares de atendimentos à comunidade. “Aqui não temos uma divisão de quem é soro positivo ou não. Não perguntamos e não nos importamos em saber. Nosso objetivo é durante uma roda de conversa, um curso de capacitação ou um atendimento no salão de beleza, conversarmos sobre a prevenção, debatermos o assunto, abrindo espaço para dividir o sentimento, aquilo que as pessoas não têm em casa ou em outro lugar”, reforça. A criação do projeto que hoje é a ONG decorre da proibição imposta pela Secretaria de Saúde de que casal realizasse um trabalho mais próximo aos pacientes. “O programa era mais frio, achavam que deveríamos tratar de forma indiferente. Eu não os via como pacientes, mas como companheiros de luta e o trabalho não permitia isso. Já no BlaBlaBla Positivo buscamos humanização e a interação com a comunidade”. Até 2015 a ONG era financiada pelo próprio casal e sua família, mas no último ano um recurso do Governo Federal em parceria com a Prefeitura de Ubatuba encaminha R$ 3 mil por mês para manter os trabalhos, além disso a sede permanece dentro de um galpão da prefeitura na praia do Perequê-Açu. “Em 10 anos de trabalho, conseguimos essa ajuda financeira apenas em 2016. Precisamos de uma estrutura melhor e de parceiros que possam financiar os cursos de capacitação, como o projeto de levar a prevenção mais próxima do cotidiano das pessoas”, destaca Silmara.

Números

Motivação A cada dia o casal e voluntários se encontram com o objetivo de promover uma qualidade de vida melhor para a comunidade e conscientizar as pessoas sobre as DST (Doenças Sexualmente Transmissíveis), tentando exterminar o preconceito e medo que a AIDS ainda provoca na sociedade. A motivação para prosseguir é exatamente quando percebem a importância do trabalho, quando

“Em 10 anos de trabalho, conseguimos essa ajuda apenas em 2016. Precisamos de uma estrutura melhor e de parceiros que possam financiar os cursos de capacitação, como o projeto de levar a prevenção mais próxima do cotidiano das pessoas” Silmara Retti as pessoas buscam ajuda, como ocorreu com uma mulher que queria por fim à própria vida e depois de muita conversa por telefone, foi embora aliviada. Tempos depois enviou uma mensagem de Natal agradecendo e dizendo que graças ao contato com a ONG havia iniciado o tratamento.

Ação do Governo A psicóloga da área de prevenção do

Centro de Referência e Treinamento DST/Aids-SP, do governo estadual, Paula de Oliveira e Souza, explica que cada cidade tem peculiaridades na forma de realização dos projetos de prevenção. “Não tem uma ação mais eficaz, temos várias iniciativas que achamos importante, mostrando-se fundamental a construção de uma ação com o público que você quer atingir mas, sem dúvidas, são necessários vários parceiros”, diz. Segundo a psicóloga, projetos do Estado envolvem pessoas locais, buscando introduzir o assunto em momentos menos esperados. “Podemos ter parceiros como o cara da lanhouse, um bar para a comunidade LGBT, uma borracharia ou outro estabelecimento que chamamos de ‘Estação de Prevenção’. Esses lugares são da rotina comum, eles vão conversando, entregam o preservativo, indicam o serviço de saúde e assim vão se tornando multiplicadores de prevenção”, descreve Paula. Entre todas as cidades do Estado de São Paulo que têm atribuído esse trabalho de conscientização e prevenção, algumas recebem uma atenção maior. “No Estado temos 145 municípios com os maiores números de casos que também concentram o maior volume de diagnósticos. Procuramos desenvolver tecnologias e metodologias para todos, cada um com a sua necessidade, desde uma epidemia em jovens, grupo LGBT, idosos, mulheres”, explica. A psicóloga reforça: “Precisamos, a cada ano, fazer um trabalho de prevenção como um todo, mas dando ênfase para onde está a população de maior vulnerabilidade em cada cidade”. 

Fonte: Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo - SES-SP

Em 2015, o Estado de São Paulo registrou 2.573 mortes de pacientes portadores da AIDS. Somente na RMVale e Litoral Norte foram 178 pessoas que tiveram agravamento no quadro de saúde e chegaram a óbito.



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NOTÍCIAS EDUCAÇÃO

Fotos: Pedro Ivo Prates

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Lucila Guedes SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

A

pós conhecer o MIT – Massachusets Institute of Technology, um dos centros de ciência e tecnologia mais importantes do mundo localizado em Massachusetts, nos Estados Unidos, o piloto cearense Casimiro Montenegro Filho retornou maravilhado com a ideia de criar um instituto semelhante no Brasil. O ano era 1943 e Montenegro estava à frente da Subdiretoria Técnica da Aeronáutica. Seu sonho de ter no país uma escola de excelência para formar engenheiros e desenvolver a tecnologia aeronáutica o encorajou, dois anos mais tarde, a preparar uma apresentação a um grupo de oficiais do Estado Maior da Aeronáutica seu projeto de como seria o futuro campus do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica). Apontava na planta onde ficaria os laboratórios, a área residencial, as casas e apartamentos para os professores e oficiais, além do alojamento dos alunos – o que também envolvia a criação do atual DCTA (Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial). Ao se despedir da reunião, ouviu do chefe do grupo: “Até a vista, Júlio Verne”! Mas o que o cético não sabia é que Verne, pai da ficção científica, antecipou em quase uma centena de livros as principais conquistas tecnológicas do século 20! E, se hoje quisermos saber a origem de algumas das mentes mais brilhantes do país – capazes de feitos como quintuplicar o faturamento de suas empresas em plena crise – a resposta é: do ITA. Criado nos moldes do MIT, o ITA atrai dois tipos de pessoas: os que nascem com uma genialidade natural e os que estudam e se dedicam ao extremo. Considerado um dos vestibulares mais difíceis do país, exige do candidato uma rotina selvagem de estudos – que, em muitos casos, a programação só

oferece tempo de folga para alimentação, higiene e o mínimo de sono. Por isso, não é um abuso afirmar que as turmas preparatórias para o ITA são compostas em sua maior parte pelos ‘nerds’. No processo seletivo 2017, que recebeu 12,4 mil inscrições para as 110 vagas nos seis cursos de engenharia oferecidos no instituto, os dedicados candidatos brigaram por sua vaga com outros 112. Mas algo profundamente transformador ocorre com os iteanos, ao contrário do pensamento comum que a rigidez gera ‘bitolados’. O até então ‘nerd’, que só tinha olhos para fórmulas e milhares de horas de estudo, encontra no ITA um

“Um iteano resolve qualquer problema em meia hora; saímos do ITA com um relacionamento fortíssimo, podemos confiar na palavra um do outro. A palavra de um iteano vale mais do que um documento” Bruno Werneck, 36 ENGENHEIRO ITA

celeiro de mentes brilhantes, ativas e dezenas de projetos inovadores acontecendo na sua frente. Sai do instituto um profissional flexível, empreendedor, desafiador de mudanças e domador de fracassos. Não desiste de suas metas racionais, mas é um sonhador nato. Muitas vezes, só para trocar de área quando realiza seu sonho, seja ele o de atuar em sua formação, abrir uma fábrica de calçados, de automóveis ou de foguetes climáticos. Muitos se voltam para o que os transformou: a educação. Quando funcionários, iteanos tem dois lugares nas empresas: na diretoria ou na presidência. “Toda magia do ITA está no H-8. É lá que tudo acontece”, afirma o engenheiro eletrônico Bruno Werneck, formado em 2006 e dono da startup Kuadro, que de um estúdio do escritório em São José dos Campos administra um curso pré-vestibular online. A clientela é abrangente: inclui alunos de todos os estados brasileiros. Com todo suporte de um cursinho tradicional (monitoria e orientação pedagógica, plantão de dúvidas, exercícios etc), Werneck levou para o virtual toda metodologia e qualidade de ensino preparatório. Resultado: atualmente é o sexto cursinho que mais aprovou no ITA e marca presença no ranking dos melhores do país. Aprimeira ‘turma ITA’ foi formada em 1994. Agora também oferece turmas de medicina e que preparam para o IME, AFA, Fuvest, Unicamp e Enem. Este ano, a Kuadro colecionou bons resultados com aprovados para a AFA (Academia da Força Aérea), IME (Instituto Militar de Engenharia) e Fuvest. Da primeira vídeo-aula gravada em sua casa,o engenheiro evoluiu para um modelo de negócio que hoje emprega 29 pessoas (entre funcionários diretos e indiretos) e tem um número de alunos que cresce quatro vezes a cada ano desde sua existência.


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A um custo anual que não chega a 15% do valor total de um cursinho de ponta, a ‘sacada’ do empresário foi a de não tirar os alunos dos cursinhos tradicionais, mas oferecer ensino de qualidade (boa parte dos professores são iteanos) onde não existe. “Damos a oportunidade para os que não poderiam jogar nesse campo”, resume.

Fonte de Empreendedorismo Werneck pode não ser o primeiro a pensar em um curso preparatório online, mas imprime nele uma marca de qualidade que trouxe do ITA. Mineiro de Belo Horizonte, o engenheiro atuou em sua área no início da carreira e fez mestrado em finanças na Europa, além de se dedicar a projetos de educação em Goiânia. Mas por que voltou à cidade que abriga o ITA para criar algo do quarto de sua casa? “O ITA nos ensina a resolver

problemas, nos desafia a apresentar nas provas o que não foi dado em sala de aula e por isso sempre buscamos algo”, disse. “No H-8 você já vê alunos do 4º e 5º anos discutindo economia, gestão, empreendedorismo e participando de competições de engenharia”, afirmou Werneck. Neste cenário de mentes pensantes e atuantes, tudo se resolve. O engenheiro lembra que quando chegou ao H-8 havia ali dois ‘orelhões’. O problema foi resolvido pelos próprios universitários, que criaram toda a rede de telefonia do alojamento, desde a tecnologia até o cabeamento. O aluno que chega ao ITA parece ser contagiado por um verbo: participar. Por isso, cuidam de todas as melhorias do H-8 e administram o alojamento como uma microcidade. “Quem tem interesse em crescer dá seu jeito lá dentro, é natural os alunos entrarem e já participarem de iniciativas e projetos.”.

Werneck também desfruta de outra especialidade que trouxe do ITA: a grande rede de relacionamento que une os iteanos já em suas carreiras profissionais, mas que sempre tem início no H-8. “Um iteano resolve qualquer problema em meia hora. Saímos do ITA com um relacionamento fortíssimo, podemos confiar na palavra um do outro. A palavra de um iteano vale mais do que um documento”, contou.

Celeiro de mentes A experiência de Werneck não é única. Continua sendo vivenciada no ITA. Aliás, o ITA é uma instituição que mantém todas suas regras acadêmicas e normas de conduta desde a primeira turma, na década de 50 – apenas as adaptando para os tempos atuais. Por isso, morar no ITA completa toda a formação oferecida pelo instituto. “Moro com pessoas incríveis! Parece que o ITA reúne as melhores mentes do

Equipe da Kuadro: número de alunos cresce quatro vezes ao ano desde a criação da startup


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país e as coloca em um só lugar”, disse o aluno do 3º ano de Engenharia Aeronáutica, Leandro Ygor Loli, de 21 anos. Vindo de uma cidade de três mil habitantes, Gabriel Monteiro (SP), ele chegou no H-8 e já começou a se dedicar a uma das mais importantes iniciativas dos alunos do ITA: o Casd Vestibulares e o Casdinho – que juntos formam o Centro Acadêmico Santos Dumont. Localizado no bairro Floradas de São José, o curso preparatório totalmente gratuito administrado pelos alunos do ITA (com verbas da prefeitura e outras parcerias) oferece ensino de qualidade a crianças e adolescentes de baixa renda que estejam cursando o ensino médio (preparação para o vestibular) e os que são do ensino fundamental e vão passar pelos vestibulinhos de cursos técnicos ou escolas.

Atualmente, Loli é presidente do CASD e se emociona ao falar dos alunos. Quem ouve seu relato associa claramente a continuação de sua vida de iteano transformada em exemplo para os alunos, que geralmente trazem uma história

“Aqui nós acreditamos na realização do sonho de cada um. Fico mais feliz com o sucesso deles do que quando passei no ITA” Leandro Ygor Loli, 21 PRESIDENTE DO CASD

de vida problemática e repleta de problemas familiares e financeiros. Segundo Loli, eles são assistidos por psicólogos e assistentes sociais, mas muitas vezes precisam apenas ser ouvidos. “Aqui nós acreditamos na realização do sonho de cada um deles e oferecemos ensino de qualidade e ambiente familiar”, responde Loli ao ser indagado sobre qual o segredo de adolescentes muitas vezes desmotivados se tornarem estudiosos dedicados que fazem sucesso nas seleções. Neste ano, dos 180 alunos do Casdinho, 102 conseguiram passar nos vestibulinhos e muitos ganharam medalhas. “Fico mais feliz com a realização deles do que quando eu passei no ITA”, diz o iteano às lágrimas. No ITA, Loli também é o atual responsável para passar aos recém-chegados todas as normas e valores do instituto.

Para Leandro Ygor Loli, que cursa o terceiro ano de Engenharia Aeronáutica, o ITA honra suas tradições


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ELAS NO ITA Após 45 anos de sua criação,o ITA deixou de ser um instituto exclusivo para os homens. Em 1996, duas mulheres ingressaram no ITA pela primeira vez. Quatro foram selecionadas, mas somente duas fizeram a matrícula. Hoje, o número de mulheres aprovadas no vestibular é alto em comparação ao passado, mas ainda tímido – 25,3% de aprovação, o que representa apenas 8,3% do total de ingressos. A primeira mulher a se formar no ITA, a engenheira aeronáutica Karina Diogo dos Santos, afirmou na época de sua graduação, em 2000, que sua chegada causou estranhamento no instituto. “Eles não sabiam como lidar com a gente”, afirmou. Hoje, Gabriela Tourinho, de 21 anos, uma das 70 atuais mulheres que cursam o ITA afirma que vê essa situação de outra forma:“Acho que a mulher que mete a cara e tem como desafio cursar o ITA tem mais iniciativa tanto dentro como fora da instituição”. Carioca e até então moradora de Brasília, Gabriela está no 4º ano de computação e se forma em 2018. Vinda de uma família de iteanos, ela admite que o machismo não deixou de existir e já presenciou colegas em situações desagradáveis como as piadinhas de mau gosto. “Para mim, viver no ITA nunca foi um ambiente hostil ou nada que chegue próximo disso”, afirmou.

Educação como caminho Loli admite que o caráter que o ITA exige de seus alunos o transformou, assim como o acolhimento e o incentivo se transformaram no único caminho para a mudança dos alunos do CASD e Casdinho. Ou o “caminho mais perene para a transformação social”, como prefere afirmar. O iteano disse que morar no H-8 envolve acima de tudo honestidade e caráter. Ele explica que, apesar do iteano não ter disciplinas de humanas ou que envolvam inteligência emocional no currículo, são as normas de conduta e a convivência que moldam quem estuda no ITA.


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Provas feitas longe do professor sem colas, supermercado sem caixa (quem consome anota o que levou e o valor) são alguns exemplos dessa ‘micro sociedade’ baseada em valores. Como toda sociedade, há a exceção. “Quando sabemos que alguém colou na prova, por exemplo, denunciamos e acionamos nossa legislação interna”, disse Loli. O lado criativo e empreendedor do iteano que tanto se destaca no mercado de trabalho é incentivado porque o H-8 não é somente estudo. Segundo Loli, além de várias atividades acadêmicas e sociais que acontecem no alojamento, há todo um lado social de festas,

Gabriela Tourinho, 21 anos: uma das 70 atuais mulheres que cursam o ITA atualmente


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churrascos e ‘viradas de noite’. “Vivo uma vida normal e sou feliz porque tenho orgulho de meus amigos. E também viro as noites sim, seja para o estudo ou para as festividades”, diz sorrindo.

Ele ‘se superou’ e virou escola para o cérebro Quem passa na Avenida Barão do Rio Branco e vê a Supera – Ginástica para o Cérebro não imagina a história que originou a metodologia que propõe em umaaula semanal de duas horas uma mente saudável e um resultado que envolve, mais concentração, raciocínio, memória, criatividade e autoestima. O iteano Antônio Carlos Guarini Perpétuo, de 56 anos, disse que um dos destaques de seu método é construir a ponte entre o conhecimento existente e sua aplicação na vida real. “Confiança e relaxamento são os alicerces dessa ponte”, disse.

Guarini traz em seu currículo iniciativas desde um carrinho de batata frita que colocou na rua enquanto cursava engenharia aeronáutica no ITA, uma fábrica de calçados e bolsas e outra de foguete meteorológico para evitar chuva de granizo. Após ficar viúvo e ter um filho com TDHATranstorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade, resolveu pesquisar e criar o método que hoje tem 280 franqueados espalhados pelo Brasil, presente em todos os estados brasileiros. O que se destaca na história de Guarini é todo seu planejamento e atitude serena diante dos vários desafios que enfrentou, até mesmo o de “ser suspeito de terrorista” duas vezes na década de 80 em rede nacional devido às explosões na fábrica de foguetes – que não causaram problemas maiores e nada tinham a ver com outros casos que envolviam a situação política do país na época. 

Antônio Carlos Guarini Perpétuo: 280 franqueados no país

Da Microsoft para a Avenida São João Na esquina de uma das principais avenidas de São José dos Campos uma empresa de três iteanos formados em engenharia da computação teve seu faturamento quintuplicado de 2015 para 2016. A Quero Bolsa, uma startup que teve início ainda quando Lucas Andrade Gomes Silveira (29 anos, de Belo Horizonte), Bernardo de Pádua dos Santos (34 anos, também de BH) e Thiago Brandão Damasceno (29 anos, de Recife) cursavam engenharia de computação no ITA vive o “boom” desde 2015 quando passou de 30 a mais de 150 funcionários e faturamento cinco vezes maior. O trabalho da Quero Bolsa consiste em fazer a ‘ponte’ entre candidatos e faculdades particulares oferecendo para a instituição o aluno e para o aluno uma bolsa que pode variar de 10% a 80% -- além de oferecer uma visão nacional das faculdades na área que o candidato escolheu para cursar. Funcionando como uma market place online, a startup teve 10 milhões de usuários no segundo semestre do ano passado. Lucas Silveira, que chegou a trabalhar por quatro anos na sede da americana Microsoft não se arrepende de ter voltado à “terra do ITA” para dar continuidade ao sonho de um projeto voltado à educação: trabalha de bermuda, com animal de estimação e um tobogã azul bem no meio do escritório.



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NOTÍCIAS ESPECIAL

Azeite O ouro líquido que brota em terras da Mantiqueira

Fotos: Pedro Ivo Prates


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Tânia Campelo SÃO BENTO DO SAPUCAÍ

Q

uando o assunto é azeite extravirgem, nove em cada dez consumidores pensam em rótulos importados. Mas ao contrário do que imagina a maioria, o azeite nacional, inclusive o produzido no Vale do Paraíba, conquista o paladar e o reconhecimento de especialistas e chefs. O volume da produção nacional ainda é irrisório comparado ao do importado, mas é justamente essa dependência do mercado externo que projeta um futuro promissor aos produtores brasileiros. Os números comprovam o potencial deste mercado: em 2015, o Brasil comprou 67,6 mil toneladas de azeite de oliva, de acordo com os dados mais recentes do Conselho Oleícola Internacional (International Olive Council). No ano anterior, o Brasil chegou a importar 75 mil toneladas. Os olivais brasileiros estão concentrados em áreas de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e São Paulo. A colheita da safra 2017 é feita entre fevereiro e março, quando também ocorre a extração do óleo da azeitona. A partir de abril, já estará sendo comercializado. “Não há azeite extravirgem melhor do que o mais fresco e bem elaborado. Os produtores brasileiros estão aprendendo muito bem as boas práticas de produção [cultivo, manuseio e extração], mas a nossa maior vantagem em comparação ao importado é o frescor”, afirma o azeitólogo Marcelo Scofano, considerado um dos principais especialistas no Brasil. E este ouro líquido que começa a brotar em fazendas das Serras da Mantiqueira, Bocaina e do Mar é digno dos mais exigentes paladares. Sua qualidade impressionou degustadores que visitaram o estande do Brasil no V Salão Internacional do Azeite Extravirgem, na Expoliva, maior evento internacional de olivicultura, que ocorre a cada dois anos na cidade de Jaén, na Espanha, em 2015. “Tive a responsabilidade de selecionar cinco rótulos brasileiros para

apresentar no Salão. Dois deles, um gaúcho e um da Mantiqueira, foram degustados em um simpósio, conduzido por mim e por dois importantes profissionais espanhóis. Todos ficaram surpresos com a qualidade do azeite brasileiro. Foi a sessão mais concorrida do evento, pois desconhecia-se a produção no Brasil”, disse Scofano. Ele acompanha a produção nacional desde a sua segunda safra, em 2009.

Qualidade Um azeite extraído de olivas frescas, em boas condições de maturação, e sem agentes que possam alterar suas propriedades. Esses são os principais fatores que garantem o frescor do azeite nacional frente ao importado. “Colhemos nossas azeitonas no melhor ponto de maturação para o azeite e fazemos a extração em menos de 24 horas. Após a extração, o azeite decanta ainda por algumas semanas, mas logo está disponível ao consumidor. Lugares com equipamentos de última geração, por centrifugação, também colaboram

para a qualidade final do produto”, disse Carlos Diniz, presidente da Assoolive (Associação dos Olivicultores dos Contrafortes da Mantiqueira), que reúne 41 produtores paulistas e mineiros. Este processo resulta em um índice de acidez inferior a 0,2 % para a maioria dos azeites produzidos na região.

Cultivo em expansão Produtores de Minas Gerais e São Paulo estimam que haja um crescimento anual de 25% no volume de azeite produzido na região sudeste durante os próximos dez anos. A projeção leva em conta diversos fatores, como o aprimoramento das técnicas de cultivo e de extração do óleo e a idade dos olivais existentes. As oliveiras começam a dar frutos somente a partir do terceiro ou quarto ano. Em todo o país, são cerca de 3.800 hectares cobertos por olivais. Somente na região das serras da Mantiqueira, Bocaina e do Mar são cerca de 1.800 hectares com cerca de 700.000 oliveiras, segundo dados da Assoolive.

História do azeite no Brasil começou em Campos há meio século A Apta mapeou os municípios paulistas que apresentam condições climáticas e de solo favoráveis ao cultivo de oliveiras. A maioria se concentra em regiões de altitudes elevadas, acima de 800 ou 900 metros e com temperaturas mais amenas, pois para o florescimento da planta são necessárias mais de 500 horas de frio, com temperaturas abaixo de 12ºC. O sucesso de muitos produtores motivou o interesse pelo cultivo. Hoje, os olivais já estão presentes em diversos municípios, como Pedra Bela, Cabreúva, Pilar do Sul, São Roque, Piedade, Capão Bonito, São Sebastião da Grama, Águas da Prata, São Pedro, Lindóia, Amparo, Pilar do Sul, Itararé e Serra Negra. Na região, há olivais em São Bento do Sapucaí, Santo Antônio do Pinhal, Silveiras, Cunha e Lorena, entre outros. Mas, por incrível que pareça, a história do cultivo de azeitonas na região remonta mais de meio século. Foi o português Antonio de Oliveira Pires, que se instalou em Campos do Jordão em 1936 para tratamento de saúde, o pioneiro da olivicultura em São Paulo (na mesma ocasião, outras experiências ocorriam no Sul do país). No início da década de 40, Pires já colhia suas azeitonas para fabricar o primeiro azeite extravirgem brasileiro. Mas, sem investimento, a produção cessou ainda na primeira metade da década de 60. Outras tentativas foram feitas, também sem sucesso, na década de 70. Foi somente a partir do trabalho realizado pela Epamig (Empresa de Pesquisas Agronômicas de Minas Gerais (Epamig) que a olivicultura foi definitivamente introduzida no cenário agrícola do sudeste brasileiro.


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Vera Masagão Ribeiro, que é sócia do Azeite Oliq, em São Bento do Sapucaí, espera produzir e comercializar 3 mil litros de azeite, este ano. A Oliq é uma sociedade de três produtores, donos de duas fazendas com 10 mil plantas de diferentes idades --as mais velhas com dez anos. O carro-chefe da marca é o azeite, mas na fazenda ela também vende azeitona em conserva e azeitona passa (desidratada no sal). “Minha filha também produz cosméticos naturais a base do azeite – cremes e sabonetes”, ressaltou Vera.

Investimento de risco Para a safra deste ano, estima-se uma produção de 40 mil litros de azeite na região, um aumento de 60% com relação ao volume produzido em 2015. No ano retrasado foram colhidas 250 toneladas de azeitonas na região, que resultou em 25.000 litros de azeite. Já no ano passado, os fatores climáticos prejudicaram a safra, derrubando a produção de azeite para 7.000 litros apenas. Estas grandes oscilações nas safras representam o maior risco para o produtor rural que pretende investir em olivais. Enquanto o mercado consumidor de azeite tem uma demanda garantida e retorno financeiro atraente, o

investimento no cultivo é incerto e extremamente arriscado. “É um investimento de muito risco, mesmo nas regiões consideradas adequadas. Como é uma cultura exótica e a experiência tem menos de 12 anos, ainda não há uma estabilidade, não sabemos o que vai acontecer com essas plantas. Por isso o produtor não pode ter essa cultura como atividade principal”, disse a pesquisadora da Edna Bertoncini, coordenadora do projeto Oliva SP, desenvolvido pela Apta (Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios) para pesquisar, divulgar informações e dar suporte aos olivicultores do Estado de São Paulo. O Projeto Oliva SP foi implantado em 2010 após muitos produtores procurarem a Secretaria de Estado da Agricultura interessados no cultivo de oliveiras. Também integrante do grupo, a pesquisadora Angelica Prela Pantano, do IAC (Instituto Agronômico de Campinas), ressalta que a olivicultura e a extração do azeite, quando orientados por profissionais especializados, podem gerar resultados bem positivos. “Temos solo, clima e condições propícias ao cultivo. O mercado é certo, desde que o produto seja de qualidade superior, o que demanda investimento

São Bento do Sapucaí colheu 250 toneladas de azeitonas na região em 2015. A produção resultou em 25.000 litros de azeite

financeiro e manejo adequado. No entanto, o retorno financeiro se dá a médio e longo prazo, pois a cultura tende a estabilizar a produção a partir de 8 anos”, disse Angélica. Apesar das pesquisas já desenvolvidas pela Apta e pela Epamig (Empresa de Pesquisas Agronômicas de Minas Gerais), os produtores reivindicam mais apoio governamental para expansão da olivicultura no sudeste brasileiro. “Nossa produção é insignificante em comparação ao consumo de azeite no Brasil, portanto há espaço para novos produtores, mas não existem incentivos governamentais específicos para plantios ou custeio”, disse Carlos Diniz, que também é proprietário da Olival Serra dos Rosas, em Consolação (MG). Em 2015, a Assoolive fez um levantamento que apontou que o custo médio da manutenção do pomar na região estava em torno de R$ 6.200 por hectare, já o investimento médio do plantio era de R$ 10.000 por hectare. O preço médio do azeite produzido na Mantiqueira é R$ 40,00 (garrafa de 250ml). Para este ano de 2017, estima-se que somente com a venda de azeite os produtores da Mantiqueira devam movimentar cerca de R$ 6,4 milhões, caso o preço médio de venda se mantenha. 


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Da entrada à sobremesa “Enquanto na região da Mantiqueira os azeites são mais suaves, com frutados maduros e herbáceos, alguns ‘quase doces’; o sul do país, embora com características também maduras, possui frutados mais verdes com características de amargo e picante mais pronunciados”, disse o azeitólogo Marcelo Scofano. Segundo o especialista, que acompanha e realiza estudos de harmonização do azeite na culinária brasileira, é grande o leque de uso do azeite, inclusive com frutas e sobremesas. “A harmonização do azeite se dá basicamente por semelhança: azeite mais intensos com pratos de sabores mais fortes (pratos condimentados, carnes de caça ou grelhadas, queijos picantes ou fortes e algumas pizzas), já o azeite suave com pratos de sabores mais leves, como saladas de folhas claras, peixes, carnes e legumes cozidos”, disse o especialista. Assim os azeites da Mantiqueira harmonizam perfeitamente com carnes de panela, peixes, cozidos, verduras, queijos frescos, doces e frutas. Estranhou? Ainda incomum na mesa dos brasileiros, o uso de azeite em sobremesas é muito comum na Europa. Em São José dos Campos, a mestre gelataia Sandra Chaves Dutra, sócia da Artesane Gelateria, costuma utilizar o azeite extravirgem na sua pasta de pistache. “Além do sabor, o azeite é extremamente saudável, muito melhor que usar qualquer outro tipo de gordura”, disse Sandra.


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NOTÍCIAS COMPORTAMENTO

Foto: Arquivo pessoal

Tatiane Andrade, durante a hospedagem em um hostel de Ubatuba

Viajar é compartilhar experiências

Hostel oferece oportunidade para conhecer novas culturas dividindo um quarto, uma cozinha ou até um banheiro Marcus Alvarenga LITORAL NORTE

V

iajar é sinônimo de adquirir uma bagagem de novas experiências, culturas e conhecimento. Em busca de aprimorar o relacionamento entre os viajantes e tornar o encontro entre pessoas diferentes algo mais pessoal, é que cada vez mais turistas escolhem se hospedar em hostels. A acomodação compartilhada ainda gera alguma confusão entre os brasileiros, desde sua pronúncia (róstel)

“Aqui é tipo uma família que você não conhece. A gente logo que chega já interage com todo mundo.” Tatiane Andrade, GOIANA DE 20 ANOS

até sua tradução para o português. A palavra de origem francesa hostel é um estrangeirismo, frequentemente sinônimo de albergue. Por aqui durante muito anos eram conhecidos como “albergues da juventude”, o nome se popularizou não porque a busca da hospedagem era feita especificamente por jovens, mas sim por te fazer sentir-se jovem. “Aqui é tipo uma família que você não conhece. A gente logo que chega já interage com todo mundo. Quando um hóspede vai embora faz falta. Não esperava que fosse tão intensa essa


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Divulgação

Passeio pelas ilhas e praias de Ubatuba

interação, realmente”, conta a goiana de 20 anos, Tatiane Andrade, que está hospeda no Green Haven Hostel, em Ubatuba. A jovem chegou à cidade no dia 7 de fevereiro e está com a passagem de volta comprada para o dia 14 de março, mas a sua experiência no Litoral Norte está fazendo ela mudar os planos. “Eu decidi que ia ser um mês, mas já quero mudar minha volta para o dia 20 ou mais. Está sendo minha primeira viagem sozinha, mas você descobre que não está sozinha. Todos querem saber de você, como vive, trocamos um pouco dessa coisa de cada cultura, como fiz conversando com um holandês e um sueco”, conta a estudante de nutrição da Universidade Federal de Goiás, que está usando o hostel como hospedagem durante sua viagem de férias. A experiência que Tatiane está tendo em um dos hostels mais premiados na América Latina começou na Alemanha em 1909, onde os europeus já têm

incorporado o “espírito hostel”. Marisa Sandes de 47 anos, supervisora de qualidade da HI (Hosteling Internacional), grupo internacional responsável pela Apaj (Associação Paulista de Albergues da Juventude) e por parte das acomodações no Brasil, explica que o

brasileiro precisa desmistificar vários preconceitos. “Em países europeus eles já nascem sabendo e aqui no Brasil ainda é pouco conhecido. As pessoas acreditam que não é seguro dormir com um desconhecido, por que o brasileiro tem um Divulgação

Hostel de Campos do Jordão


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espirito mais privativo, enquanto os estrangeiros já têm o “espírito hostel”, explica a supervisora que acredita que na mudança de pensamento através da educação. Para Tatiane, que viajou sozinha por mais de mil quilômetros para chegar a Ubatuba, o turista não pode pensar muito. “Sozinho você é obrigado a se virar, se comunicar, conhecer gente nova e sinceramente, não teve nenhuma situação que fiquei com medo”, conta a viajante que permanece em um quarto compartilhado com mais 14 pessoas, em um hostel que recebe até 47 pessoas. Outro fator que preocupa muita gente, ao decidir em ir ou não para um hostel, é a segurança, que para a estudante é um quesito já descartado. “Eu deixo meu celular jogado na cama, volto para pegar horas depois e ele está no mesmo lugar, as malas ninguém mexe. Você coloca o nome da sua comida e ninguém come, tem hospede que até deixa a comida, vai embora e ela continua lá”, esclarece Tatiane.

“As pessoas acreditam que não é seguro dormir com um desconhecido, por que o brasileiro tem um espirito mais privativo, enquanto os estrangeiros já têm o “espírito hostel”” Marisa Sandes,47

SUPERVISORA DE QUALIDADE DA HI

É possível encontrar hostels em todo o país, na última checagem realizada pela equipe do HI, em 2015, foram contabilizados 600 unidades. Mas credenciados e acompanhados pela organização internacional atualmente são apenas 76 e na nossa região três, estes são o Tribo Hostel, em Ubatuba; Maresias Hostel; em São Sebastião; e o Hostel Central, em Ilhabela. Mas entre os hostels premiados e mais populares nos últimos anos está o Green Haven Hostel, localizado no bairro do Perequê-Açu, em Ubatuba. O estabelecimento é gerenciado pelos irmãos Fiore, que o definem como “party hostel”. “Te garanto que as pessoas que vêm pela primeira vez, já mudam o pensamento completamente. 90% dos hóspedes são estrangeiros, por que o brasileiro ainda não sabe compartilhar uma área social, dormir no mesmo quarto e agora que está começando a usar. Podemos ver que no nosso Carnaval


Divulgação

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Turistas em praia de Ubatuba

a maioria são brasileiros”, destaca Vinicius Fiore. Para todos os turistas que chegam à cidade, os proprietários já sugerem roteiros de viagem, levam para conhecer as mais belas praias e ilhas, além de promoverem todos os dias algum evento ou festas para entreter os viajantes. “O nosso objetivo não é oferecer só a cama, mas a experiência. É para ele dividir, aprender a compartilhar, fazer “trips” em praias, churrasco, comer peixe. O grande negócio é viajar para conhecer pessoas”, completa o empresário. A proposta de hospedagem ainda é recente no Brasil, houve um crescimento no período entre a Copa do Mundo e a Olimpíada, porém em sua maioria por estrangeiros. No entanto, ainda faltam aos brasileiros aprenderem a usar essa modalidade de acomodação, que é mais barata e oferece mais troca de conhecimentos e culturas. 


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NOTÍCIAS CULTURA

Fotos: Pedro Ivo Prates

Terça-feira e os joseenses curtem o Clube do Samba

Nem parece São José

Casas que apostam nas noites de início de semana começam a mudar o status da cena noturna da cidade João Pedro Teles SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

N

a esquina da rua Santo Agostinho com a avenida São João, em São José dos Campos, o cair da noite de uma segunda-feira trivial ganha paletas de nostalgia enquanto pouco mais de dez músicos evocam, instrumentos à mão, os lamentos e cantorias de Pixinguinha, Jacob do Bandolim, Paulinho da Viola, Noel Rosa, entre tantos. A roda de choro, que acontece no Bar do Sampaio, ganha a noite enquanto curiosos param

para apreciar o movimento, tão incomum no cenário noturno da cidade. À medida que avançam o ritmo de pandeiro, violões, flauta, cavaco e acordeon, mais se estendem a fileira de apreciadores de um dos mais brasileiros de todos os ritmos. Por volta das 21h a casa, única aberta àquela altura da noite de muito calor, encontra-se abarrotada de clientes que, surpresos com a movimentação, sacam sem parar os celulares dos bolsos para compartilhar a cena. Aquela era a segunda edição do projeto “Segundas de Primeira”,

idealizado pelo empresário Ricardo Sampaio em parceria com o músico Ricardo Bona. As segundas-feiras de casa lotada no estabelecimento são indicativos do que pode vir a ser uma nova fase do cenário noturno de São José dos Campos, historicamente atrelado aos finais de semana. “É uma novidade boa para todo mundo. O empresário que movimenta seus dias mais fracos, e o amante da boa música que pode ter mais opções para atrasar um pouco a volta para casa. Começamos a perceber que, desde que abrimos às segundas com essa


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proposta, o público reagiu super bem. Uma senhora que mora no prédio vizinho me disse que desligou a TV, abriu uma cerveja na varanda e ficou curtindo o chorinho. Esse ambiente de integração e cultura faz bem para todo mundo”, explica o empresário antes de afirmar que o evento encerra-se às 22h em ponto. O proprietário, que também já esteve à frente do Funil, bar na avenida Adhemar de Barros, lembra-se do sucesso das noites de forró pé de serra que ainda lota seu antigo estabelecimento todas às terças-feiras.

“É uma novidade boa para todo mundo. O empresário que movimenta seus dias mais fracos, e o amante da boa música que pode ter mais opções para atrasar um pouco a volta para casa. Começamos a perceber que, desde que abrimos às segundas com essa proposta, o público reagiu super bem. Uma senhora que mora no prédio vizinho me disse que desligou a TV, abriu uma cerveja na varanda e ficou curtindo o chorinho. Esse ambiente de integração e cultura faz bem para todo mundo” Ricardo Sampaio, EMPRESÁRIO

“Desde que apostamos na terça como um dia para este público da dança a data sempre foi a melhor da casa”, comenta.

Tem terça-feira no samba A maior virada da noite de meio de semana em São José dos Campos, entretanto, tem nome e padroeiro: Casa de Jorge. O clube de samba aberto a pouco mais de três meses na cidade caiu instantaneamente no gosto do público. O ambiente despojado, de som animado e cerveja gelada faz até o típico empregado do mês esquecer-se que ainda nem chegamos ao meio da semana. A casa abre às 19h e o samba começa por volta das 20h30, quando o público já começa a tomar os dois ambientes do estabelecimento, o maior deles ao ar livre. Às primeiras batucadas no bumbo da roda de samba, o clube já conta com cerca de 300 pessoas. O clima é de sábado à noite. A despeito do restante da semana de trabalho, a música, a dança e a cerveja circulam em cadência de entusiasmo. Decidirem-se por abrir ou não as portas ao público durante o meio da semana foi um dilema para o casal Luana dos Santos Mecatti e Bruno Cândido dos Santos, proprietários da Casa de Jorge. A primeira proposta era de promover uma noite voltada aos músicos e outros profissionais que trabalham aos finais de semana. Mas a grande procura acabou surpreendendo. “Sou músico de samba também e sei que os dias que os músicos têm para se divertir ou tocar sem compromisso são as segundas e terças. Mas não esperávamos um sucesso tão grande assim. Isso mostra o tamanho do potencial que o cenário noturno de São José possui e que não é explorado de forma correta. Também tem essa questão da gente apostar no centro da cidade, o que facilita o acesso e ainda dá um charme especial para a casa”, explica Bruno.


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Eclético O perfil do público é o mais eclético possível. Apesar da maioria já estar vinculada ao samba a mais tempo, grande parte ou migra de outras tribos ou é formada por um pessoal que gosta mesmo é de curtir uma cervejinha em um ambiente animado. O casal de proprietários enxerga nesta característica uma conquista para a casa. “A gente pensou muito em abrir um lugar onde todo mundo sinta-se à vontade mesmo. Aqui não tem essa de ser mais do que ninguém, e isso agrada o público. Por exemplo, a gente não tem garçom, as pessoas vão ao bar, pegam sua cerveja, voltam pra mesa, e, nesse trânsito, convivem com o movimento do bar, conversam com pessoas desconhecidas. Isso vai integrando o povo. E as pessoas não estão tão acostumadas com esse tipo de comportamento. Tanto que já perdi as contas

de quantas vezes ouvi dos frequentadores que a casa nem parece que é de São José”, afirma. Músico e amante do samba, Marcos Roberto, o Marquinhos do Pandeiro, costuma frequentar a casa durante às terças na companhia da esposa, a coaching Fabiana Eneira. De acordo com Marquinhos, São José precisa contar com mais opções para quem gosta de sair durante a semana. “A gente às vezes precisa ir para os clubes de samba de São Paulo para conseguir pegar algo que não seja aos finais de semana. Agora, com essa opção dando certo, espero que mais casas sigam a tendência. Até porque, quando o lugar é bom as pessoas vão sim, não importa se é segunda, terça ou quarta-feira”, diz.

Black na carona do futebol Desde que abriu as portas, há pouco menos de 12 anos, o Dunlunce Irish

O casal Marquinhos e Fabiana namoram dançando samba

Pub, em São José, sempre promoveu eventos durante às quartas-feiras. O dia de rodada de futebol é um atrativo a mais para que a casa conte com uma média de público de 500 pessoas. Atualmente, além do futebol no sport bar, a quarta-feira também é dia de hip-hop e música Black. Para um público de seus 25 anos aproximadamente, já tocaram expoentes da cena nacional do ritmo da periferia. Projota, Karol Conka e Tássia Reis são alguns deles. Sócio-proprietário da casa, Allan Nascimento de Mello comemora o que pode ser uma mudança no perfil do cenário noturno da cidade. “É importante porque as pessoas gostam de ter boas opções. O empresário precisa é oferecer coisas legais. A gente está com essa pegada de música Black há quatro anos e sempre deu bastante certo”, conclui. 

“A gente às vezes precisa ir para os clubes de samba de São Paulo para conseguir pegar algo que não seja aos finais de semana. Agora, com essa opção dando certo, espero que mais casas sigam a tendência. Até porque, quando o lugar é bom as pessoas vão sim, não importa se é segunda, terça ou quarta-feira” Marquinhos, MÚSICO



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Cultura& O suingue do surrealismo joseense

Em quatro anos de grupo, Dom Pescoço reúne apresentações em grandes festivais, e entra em 2017 com turnê nacional e novo clipe Marcus Alvarenga SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

H

á três anos o cenário autoral da música regional ganhou uma nova integrante, a banda Dom Pescoço, que nasceu em busca de levar suas composições cheias de suingue e energia pelas cidades da RMVale e Litoral Norte.

Em 2017, a banda se reformula e inova, levando pela primeira vez ao sul do Brasil o som autoral de São José dos Campos com a turnê ‘Temperar Sul’. A viagem musical ocorreu por 25 dias, registrada em três gravações audiovisuais e um single. Ao voltar às terras do interior paulista, Dom Pescoço continua sua programação intensa neste ano com o

lançamento do videoclipe ‘Manhã’, na primeira semana de março, logo após o Carnaval. O surrealismo foi à estética escolhida pelo grupo para representar a canção que traz uma ideia subliminar, segundo os integrantes da banda. “Somos, de alguma maneira, a forma como o universo possibilitou ter consciência própria de si”, explica Dom

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Banda Dom Pescoço


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Oliveira, produtor cultural e vocalista da banda. As imagens da lente de Lucas Baumgratz foram surgindo no primeiro momento que o diretor e roteirista ouviu o single. “Várias referências surrealistas, onde estamos numa posição em que o sonho parece muito com a realidade, porém a algo ali que a denuncia”, declara. A proposta crítica da música também esteve presente nas imagens, que tiveram como inspiração e referência obras de René Magritte (pintor), Salvador Dalí (pintor), Man Ray (fotógrafo) e Richard Linklater (diretor).

Trajetória

Internacional de Música de São Paulo, edições da Virada Cultural Paulista, festivais por todo o Estado de São Paulo e sul de Minas. A banda também foi convidada para apresentar a sua música no programa Metrópolis, da TV Cultura, meses depois de lançar o primeiro clipe ‘Cuba Corazón’, em 2015. No último ano, foi o momento de novidades para os fãs e admiradores com o EP Temperar, buscando valorizar a pluralidade da história da banda, traduzido como ‘Tropsicodelia’. Este mesmo disco continua sendo o álbum de trabalho do Dom Pescoço, o qual pode ser visto no videoclipe que está disponível na página de Variedades do portal Meon. 

Dom Pescoço chegou ao cenário musical em 2014, desde lá a banda já esteve presente no palco da Semana

CINEMA& Três momentos da vida de Chiron, um jovem negro morador de uma comunidade pobre de Miami. Do bullying na infância, passando pela crise de identidade da adolescência e a tentação do universo do crime e das drogas, este é um poético estudo de personagem. Vencedor do Oscar o filme não é recomendado para menores de 16 anos.  Duração: 1h 51min. Direção: Barry Jenkins Elenco: Alex R. Hibbert, Ashton Sanders, Trevante Rhodes Gênero: Drama Nacionalidade: Eua

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MOONLIGHT


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NOTÍCIAS ESPORTES

Fotos: Rodrigo Vieira

Prova de Arrancada

Esporte que une motor e adrenalina é paixão de competidores do Vale do Paraíba. Região possui pista com padrão internacional Yasmin Faria TREMEMBÉ

Q

uem nunca sonhou em pilotar carros potentes nas melhores pistas ao estilo “Velozes e Furiosos”? No Vale do Paraíba, esta é a realidade de praticantes e fãs das provas de arrancada automobilística. Os apaixonados pelo esporte se reúnem em uma pista especializada nessa modalidade, construída recentemente, em setembro do ano passado, em Tremembé. Antes disso, os praticantes do esporte saíam da região para competir e até mesmo treinar para os campeonatos.

Para o técnico de aeronaves executivas, Everton Domingos, que pratica arrancada, a pista foi construída em boa hora. “Aqui no Vale do Paraíba não tínhamos nada parecido com a infraestrutura dessa pista, com todos os aparatos que ela tem”, afirma o competidor. E a ideia de construir a pista surgiu justamente da paixão pelo esporte de arrancadas entre três amigos. O projeto foi todo baseado na pista de Bakersfield, na Califórnia. Já considerada uma das melhores do país, o campeonato paulista de arrancadas está acontecendo no Vale do Paraíba este ano. Mas afinal, como funciona uma prova de arrancada? A competição de

arrancada nada mais é que uma disputa automobilística onde os competidores completam um determinado trajeto no menor espaço de tempo possível, sempre largando do mesmo local e no mesmo momento. Antes da largada os pilotos efetuam o aquecimento de pneus para aumentar a aderência à pista e, em seguida, se alinham lado a lado em frente a um semáforo. Quando chega o momento da luz verde, é a hora de acelerar fundo, até o final da pista. As provas de arrancada possuem um público bem diversificado e fiel. É uma competição onde a energia das pessoas que assistem a prova passa para os


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Pista em Tremebé sedia o Campeonato Paulista de Arrancada

pilotos. O esporte é um sucesso entre o público, que pode acompanhar de perto carros e pilotos na área do box. O fotógrafo Rodrigo Vieira é um dos apaixonados pelo esporte e tudo começou em 2001, quando decidiu fazer um portal para falar sobre o assunto e postar fotos das provas e expressar seu amor pela competição e carros. “Comecei com o portal em 2001, em extensão da minha paixão por carros e competições. Ver dois carros alinhados, sendo conduzidos por pilotos que não podem errar nada e devem fazer tudo apenas naquela chance, proporciona uma adrenalina incomparável. Na arrancada não existem várias voltas onde você pode se recuperar. Tudo acontece muito rápido e não existem muitas chances. É muito excitante imaginar que qualquer carro turbo percorre a metragem de arrancada muito mais rápido que um Fórmula 1. Alguns carros têm tanta força e tanta tração, que chegam a empinar na hora da

largada”, disse Vieira. Já para Everton, dono de um Opala 1977 turbo, a paixão começou ainda quando criança. Atualmente, as competições são apenas por hobbie, mas mesmo assim levadas a sério. “É muito excitante participar de uma prova de arrancada porque junta o desejo de fazer tudo certo e o cuidado para respeitar o carro e saber a maneira certa de acelerar”, disse. E se você pensa que esportes automobilísticos são exclusividades masculinas, errou feio. Livia Loubet, além de sócia da pista, pratica o esporte há anos com seu Camaro 1968, popularmente chamado pelos americanos de ‘o carro musculoso’. “Como a arrancada é um esporte predominantemente masculino, é difícil ter mulheres, mas sempre as incentivo a competirem mais”, explica. “A minha paixão pelo esporte veio por meio do meu marido, que é piloto há muitos anos. Já faz três campeonatos que eu participo das provas e no último

campeonato paulista eu consegui entrar na casa dos 5 segundos. A prova é muita adrenalina, um esporte de muita atenção e foco, pois se alguma ‘coisinha’ der errado, são milésimos de segundos para acontecer um acidente”, diz Livia.

Carro dos sonhos Os carros são modificados para participar das provas, buscando sempre o melhor desempenho nas competições. São alterados praticamente todos os componentes internos do motor para suportar as novas configurações do veículo. Um carro que tinha originalmente apenas 70 cavalos, com todas as mudanças, passa a ter quase 1.000. Em geral, as customizações feitas são injeções reprogramáveis, pneus especiais, câmbios especiais, novos cintos de segurança para competição, sistemas de extinção de incêndio e, em algumas categorias, os carros necessitam até de paraquedas para frear.


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Todas as alterações técnicas e de segurança são feitas em proporção às mudanças no veículo, que é um verdadeiro carro de corrida e, na maioria das Confira a galeria de fotos:

Carros alinhados na largada

vezes, não transita nas ruas e avenidas das cidades.

Regras e especificações Existem dois tipos de metragens de provas de arrancada: 201 metros (1/8 de milha) e 402 metros (1/4 de milha), variando de acordo com a competição. No caso do campeonato Paulista, a distância é de 201 metros, sendo que existem mais 350 metros para desaceleração, tendo em vista a alta velocidade dos veículos. Os pilotos seguem regras desportivas e são federados pela Federação Paulista de Automobilismo (FASP), órgão que obedece a Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA). Os competidores fazem as inscrições e seus carros passam por uma rigorosa averiguação técnica para confirmar se estão dentro do regulamento, bem como dos equipamentos de segurança que são

obrigatórios e possuem data de validade. Existem fiscais técnicos da FASP que regulamentam e fiscalizam os carros antes, durante e depois das corridas. As metragens da corrida, cronometragens, segurança dos carros seguem preceitos pré-estabelecidos. O cronograma da prova se inicia com treinos livres. Depois, baterias classificatórias para cada categoria. Os classificados passam a fase de eliminatórias no estilo mata-mata, onde as chaves vão se afunilando até chegar o grande vencedor de cada categoria. A intenção é que a competição seja entre os carros da mesma categoria, onde existem regulamentos técnicos específicos para cada uma. O campeonato paulista de arrancada é o mais antigo campeonato do Brasil, começou em Interlagos e agora está na pista em Tremembé, em seis etapas. 

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COLUNA Edu Rosa

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NOTÍCIAS TURISMO

Fotos: Luciano Vieira/PMSS

Do tempo das capitanias a destino turístico do Litoral Norte

Ao visitar São Sebastião, o turista pode mergulhar na história e ainda explorar praias paradisíacas Gustavo Nascimento CARAGUATATUBA

F

ora da alta temporada, quando milhares de carros “invadem” a praia repletos de turistas em busca do melhor lugar na areia, São Sebastião é um dos destinos da Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte que pode ser visitado o ano inteiro para um passeio pela história. No mês que São Sebastião completa 381 anos de emancipação político-administrativa, preparamos uma reportagem especial sobre esta cidade turística procurada principalmente nos meses de Verão. Muito além das praias e da Mata Atlântica que cercam o lugar, o município reúne história, cultura popular e, também, caiçaras acolhedores. Longe das altas temperaturas que costumam ser registradas nos meses de Verão, o clima começa a ficar mais ameno com a proximidade do Outono. Perfeito para explorar um pouco dos 515 anos de

história de uma cidade com traços coloniais e vista para o mar. Avistada pela expedição de Américo Vespúcio em 20 de janeiro de 1502, foi chamada inicialmente de Ilha de São Sebastião, em razão do santo do dia, que tornou-se o padroeiro da cidade. Mas São Sebastião só foi elevada à categoria de vila em 1636. A formação do povoado ocorreu devido à ocupação de terras pelos sesmeiros portugueses, que vieram da Vila de Santos. Antes da colonização portuguesa, a região era ocupada por índios Tupinambás e Tupiniquins. A serra de Boiçucanga, na Costa Sul, era a divisa natural das terras das tribos do norte e do sul. Quem passeia pelo Centro Histórico pode visitar os casarões e edifícios tombados pelo patrimônio histórico. É impossível passar pela Igreja Matriz de São Sebastião, no coração da cidade, e não fazer uma selfie para levar de lembrança da viagem.

Vista da praia das Cigarras - beleza aos olhos e tranquilidade às famílias

É na Praça Major João Fernandes (Praça do Coreto) que foliões de várias idades celebram o Carnaval de Marchinhas em fevereiro, com músicas e uma grande festa que remete à folia de antigamente. A Rua da Praia, ponto de encontro de famílias e da moçada, completa o complexo turístico da região central. É lá onde grandes artistas da música brasileira e grupos locais divertem moradores e turistas durante as festividades. Mas também reserva um ar de cidade pacata ao longo do ano – seja para levar as crianças ao parque infantil ou tomar um refrescante sorvete no quebra mar, próximo aos canhões expostos ao ar livre. Dos inúmeros bancos dispostos nos jardins do complexo turístico, é possível ter visão “de camarote” para prédios como a Casa Esperança, construída em meados do século 18, em pedra e cal. Até hoje, abriga uma loja de tecidos e o Espaço Cultural Adriana Vasques Fernandes. Já o São Francisco reúne um museu a céu aberto. O ar bucólico do bairro revela um cenário repleto de pescadores caiçaras e ceramistas. Também à beira-mar, há o Convento de Nossa Senhora do Amparo. A igreja, com suas longas escadarias e uma das preferidas para casamentos, foi construída também em pedra e cal, entre os anos de 1657 e 1664. Hoje São Sebastião continua com história preservada e Mata Atlântica separada do oceano pela sinuosa Rodovia Rio-Santos. Em cada curva da única via que interliga as cidades vizinhas há paisagens incríveis e elogiadas por quem já viajou pelo mundo afora.


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Futuro – A crise financeira parece não ter abalado turistas e veranistas na alta temporada de Verão. Isso porque a cidade registrou grande movimento na estação mais quente do ano. E o turismo é considerado como uma das saídas para alavancar a rede de serviços, gerar empregos e renda para a população. Em São Sebastião, o novo governo pretende fazer mudanças na Secretaria de Cultura e Turismo com a reforma administrativa. A ideia, em primeiro momento, é separar as pastas para que ganhem autonomia e possam garantir novos investimentos nas áreas. À Metrópole Magazine, o secretário de Turismo, Edson Pavão, explicou que o objetivo é integrar a pasta de Cultura na já existente Fundação Cultural Deodato Santana. Segundo as primeiras informações, o Turismo caminharia como secretaria podendo, futuramente, se transformar em uma agência de fomento ou autarquia. Esta medida ainda passa por estudo jurídico de viabilidade. Recentemente, o símbolo turístico do município foi resgatado para promover São Sebastião como destino para o Brasil e o mundo. Trata-se da imagem de um peixinho, de autoria da renomada

artista plástica, Leslie Amaral. A obra teve seus direitos de uso de imagem cedidos à cidade e ficou conhecida na Regata Internacional Whitbread (1998). Roteiro – Mas se o leitor deseja além da história desbravar as badaladas praias da Costa Sul de São Sebastião ou mesmo encarar um destino selvagem é bom ler com atenção as próximas cinco praias escolhidas pela redação para um passeio inesquecível. Maresias – Destino do surfe de dia e balada à noite. Uma das praias mais movimentadas de São Sebastião também já revelou atletas para o mundo, como Gabriel Medina, que recentemente inaugurou seu instituto no bairro. Com ondas poderosas, a praia tem areia branquinha, além de rede de hotéis e restaurantes bem desenvolvida. Boiçucanga – Cenário para um magnífico pôr-do-sol, que deu nome inclusive à praça no bairro, Boiçucanga é uma praia de tombo com mar verde esmeralda e abriga uma vila de pescadores. O rio, no lado esquerdo, reserva enorme variedade de peixes e passeios de barco para as ilhas da região. Calhetas – Na altura do Km 144 da Rio-Santos, a praia de Calhetas é um

destino selvagem e que reserva uma das paisagens mais incríveis do Litoral Norte. O acesso de veículos é restrito aos moradores de um condomínio particular, mas pedestres em geral têm entrada livre. Com formações rochosas, há um morro que, do alto, é possível apreciar a Ilha de Toque Toque e a Serra do Mar. Juquehy – Ainda na Costa Sul, a praia de Juquehy também é ideal para o surfe, inclusive recebe campeonatos esportivos ao longo do ano. Agitação e gente bonita são presentes tanto na praia quanto no bairro. No canto direito ficam os surfistas, no meio bares e restaurantes enquanto que no lado esquerdo, próximo ao rio, há muita tranquilidade. O bairro conta com shopping, bares, restaurantes e vida noturna animada. Cigarras – Localizada na Costa Norte da cidade, a praia de Cigarras fica em um bairro residencial, com ruas e avenidas principais pavimentadas. É ideal para as famílias que podem levar crianças e aproveitar as águas calmas e areia grossa. Em dias de sol e calor é necessário chegar cedo para garantir uma vaga de estacionamento e um lugar na areia. 

Rua da Praia, o principal cartão postal de São Sebastião


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Gastronomia&

Fotos: Pedro Ivo Prates

Bacalhau – O protagonista do Feriado Santo Conheça o sabor do bacalhau à três queijos

Apresentação do prato é de dar água na boca

André Fressant SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

C

om a aproximação da Semana Santa, aquele velho hábito de cozinhar e elaborar pratos a base de peixe ressurgem. Um queridinho do público e quase obrigatório na mesa dos brasileiros neste período do ano é o bacalhau. Um

pescado que além de saboroso é fonte de proteína e possui baixo teor de gordura. “Um motivo a mais para ser a opção número um de refeição nessa época”, destacou o chef de cozinha, Adeílson Urbano. A tradição que remonta à Idade Média, quando havia um intenso e rigoroso calendário religioso de jejum de carnes vermelhas, foi

popularizada no Brasil com a chegada da corte portuguesa, no século XIX. Desde então, a relação do bacalhau com as festa cristãs sempre foi muito próxima. “Mesmo para quem não é cristão é uma boa desculpa para comer o prato”, afirmou o chef, enquanto selecionava os ingredientes na cozinha do restaurante em que trabalha.


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Tecnicamente, bacalhau não é um peixe, mas vários. São cinco espécies marinhas que podem ser encontradas com esse nome de acordo com o chef. “Existe, porém, o chamado bacalhau legítimo: o peixe Gadus morhua, considerado o melhor de todos. Ele também é conhecido como bacalhau do Porto”. Apesar de não haver bacalhau em águas lusitanas, a cidade do Porto é um importante centro de comércio do peixe seco e salgado. Segundo o Conselho Norueguês de Pesca, a primeira exportação oficial do produto para o Brasil aconteceu em 1843. Hoje, cerca de 95% do bacalhau consumido no Brasil tem sua origem na Noruega. A questão é que muita gente gosta de inovar, mas não sabe como. O bacalhau é tão tradicional que em Portugal, são mais de 1200 receitas diferentes catalogadas: cru, cozido, frito, assado no forno ou na brasa, guisado, grelhado, gratinado, estufado, com pimenta, louro, azeitona, cravo, noz-moscada, cebola, alho, salsa, coentro, couve, tomate, pimentão e hortelã. Acrescentar um acompanhamento ou, até mesmo, um ingrediente, ou uma releitura de um prato clássico, pode ser uma boa opção para quem quer renovar o menu este ano. Especialista em frutos do mar e com mais de quinze anos à frente de restaurantes do Litoral Norte, o culinarista Adeílson Urbano, natural de Guaratinguetá, é quem ensina uma receita sofisticada e leve de bacalhau, o pescado à três queijos. Nessa receita feita com lombo de bacalhau, o peixe é pré-cozido no leite integral e na água por cinco minutos. “Todo o segredo do prato se resume a este processo de pré-cozimento. Este truque vai criar uma crosta crocante no lombo durante a hora de grelhar”, revelou.

Bacalhau pré-cozido no leite

Gratinar o bacalhau que foi imerso no leite é o que cria esta crosta no lombo e o deixa suculento


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“Com os lombos gratinados, o molho branco é jogado em cima do bacalhau e três camadas de queijos são delicadamente postas junto ao preparo. A porção, que serve tranquilamente três pessoas, vai para o forno onde fica por 10 minutos em temperatura média, cerca de 180º” Adeílson Urbano CHEF DO RESTAURANTE MARBELLE

O Cheff Adeílson Urbano exibe uma de suas criações


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Elaborado pelo chef no Restaurante Marbelle, em São José dos Campos, é sem dúvida o grande forte da casa. O peixe salgado também revela seu melhor sabor, devido ao molho branco que dá textura e leveza ao prato. “Com os lombos gratinados, o molho branco é jogado em cima do bacalhau e três camadas de queijos são delicadamente postas junto ao preparo. A porção, que serve tranquilamente três pessoas, vai para o forno onde fica por 10 minutos em temperatura média, cerca de 180º”, contou o chef. O acompanhamento é simples para não tirar a atenção e brilho do prato principal. “Vai à mesa acompanhado de batata palha caseira e um arroz branco. A bebida que harmoniza com essa comida é o vinho branco”, observou. No restaurante na região da Vila Ema, o ambiente com ares de litoral cria uma sintonia com a explosão de sabores do bacalhau. Um estilo “navy” (ou náutico, em tradução literal) deixa a decoração descontraída e ganha um toque de classe e frescor. 


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Social& por André Fressant

Divulgação

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Perfil

Aos 44 anos, Eriberto Leão, vive um dos melhores momentos da sua carreira. Querido do público e consagrado pelos críticos, o ator, que tem pé no chão e cabeça nas nuvens nasceu em São José dos Campos mas foi criado na capital. Filho da estilista pernambucana Telma de Castro Leão Monteiro e do empresário joseense Eriberto Monteiro, o ator não fala em coincidências e sim, em sincronicidade. Para ele nada é “por acaso” e tudo está “interligado”. “Meu pai e minha mãe nasceram no mesmo dia, no mesmo mês e no mesmo ano, 14 de julho de 1944, com uma diferença de dez minutos. Minha mãe em Pernambuco e meu pai em São Paulo”, explicou. Em 2015, Leão esteve em São José dos Campos para ser homenageado pela Câmara Municipal com a medalha Cassiano Ricardo, que é entregue aos cidadãos do município considerados ilustres. “Tenho muito orgulho de ter nascido na capital do Vale do Paraíba. Com o falecimento do meu pai há seis anos, a homenagem é para ele. Foi uma emoção muito grande”, comentou. Com quinze novelas no currículo e personagens inesquecíveis, Eriberto não faz pose ou deixa se levar por rótulos. Mantém o jeito simples na relação com as pessoas que fazem parte de seu dia a dia. Na chegada ao Sesc São José, onde apresentou a peça “Coelho Branco, Coelho Vermelho” que está em cartaz há três anos, ele conversou com todos que pediram fotos e abraços. No ano passado, Eriberto viveu uma experiência brilhante na carreira. Dar vida ao personagem Ernesto, da novela “Êta mundo bom”, trama das seis da Rede Globo, em que interpretou seu primeiro personagem como vilão. “Foi uma sensação muito boa de realização. Me senti motivado por ser um papel bastante diferente dos que eu já fiz e também por estar inserido em uma obra-prima, que foi essa novela”, avaliou ele, com 20 anos de trajetória artística. Pedro, Zeca Diabo, Tomé, Mestre Gael e tantos outros personagens memoráveis das mais variadas personalidades. Por trás deles, um homem que acredita na reciprocidade e que carrega o lema que foi ensinado por seu pai “força e honra”.


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Inauguração O primeiro hospital veterinário de São José dos Campos foi inaugurado no início do mês de fevereiro e promete dar melhor assistência aos pets da região. O Anima Hospital Veterinário contará com infraestrutura para atendimento clínico e cirúrgico de animais de pequeno porte e de animais silvestres. “É muito semelhante à estrutura de um hospital humano. O objetivo é dar conforto e tranquilidade ao animal. O carinho faz toda a diferença no tratamento”, afirma a veterinária e sócia-proprietária, Daniana Pinotti. Com equipamentos modernos e profissionais capacitados, o Anima Hospital oferece ainda atendimento VIP ao cliente. O proprietário pode ficar “internado” com seu pet. “Disponibilizamos um quarto com frigobar, TV, ar-condicionado, banheiro particular e serviços de alimentação”, conta o sócio proprietário, Edric Pinotti. O primeiro Hospital Veterinário de São José dos Campos fica na Rua Professor Vieira de Moura próximo à entrada do Parque Vicentina Aranha.

Palestra O cantor sertanejo Leo Chaves, da dupla Victor & Leo, se prepara para uma turnê diferente de todas as outras que ele já vivenciou. Desta vez, o músico sobe ao palco como palestrante profissional, com a missão de inspirar multidões com a sua trajetória de vida, contando sobre como a PNL (Programação Neurolinguística) o ajudou a encontrar o equilíbrio por intermédio da inteligência emocional. O Vale do Paraíba será uma das regiões escolhidas para receber esse projeto. O público de São José dos Campos já pode reservar o dia 26 de abril para conhecer o cantor de uma forma que poucos até agora tiveram a oportunidade de ver, ouvir e sentir. O “workshop show” vai percorrer ainda outras 15 cidades do Brasil entre março e maio. O evento terá a palestra de abertura ministrada por Bento Augusto, autoridade em PNL e fundador do Instituto VOCÊ, seguida da conversa com Leo Chaves. A palestra irá acontecer no espaço Interative Hall.


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Arquitetura&

Fotos: Arquivo pessoal

Apartamento duplex com estilo moderno Arquiteto optou pelas cores neutras e detalhes da iluminação Moisés Rosa SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

U

m projeto de apartamento duplex estruturado para um casal jovem e moderno. Localizada no bairro Jardim Esplanada, região nobre de São José dos Campos, a construção foi executada em quatro meses e apresenta detalhes de gesso e iluminação, paginação de piso, marmoraria e decoração refinada. O casal de empresários, que possui um filho de onze anos, optou junto com o arquiteto Murilo Sgorlon por um estilo mais moderno e com cores neutras. “No caso deste duplex o estilo optado foi o moderno. Vemos muitos ângulos retos e o interior mais clean, pedras e revestimentos, trabalhados com cores neutras e valorizando as cores nos detalhes da casa”, explicou o arquiteto. Segundo o profissional, o projeto priorizou a reforma em ambientes mais utilizados pelo casal e o filho. “A reforma foi completa, abrangendo todos os ambientes da residência, porém os proprietários focaram mais nos ambientes os quais eles passam a maior parte do tempo, como o living e a sala de TV. Deram uma atenção especial também na área de lazer do segundo pavimento, pois queriam ter

um ambiente para receber os amigos”, disse. O charme do projeto apresentado foi na implantação de uma cobertura e uma hidro. “Foi feita uma cobertura em pérgola, instalamos uma hidro e fizemos a área da churrasqueira, priorizando sempre o espaço para eles optarem entre o estilo churrasco, preenchendo o ambiente com mesas desmontáveis e o estilo lounge, para sunsets ou eventos noturnos. Além disso, eles também precisavam de muito espaço para armários e para isso foi determinado que um dos quatro quartos da residência fosse transformado em um closet”, definiu Sgorlon. “Os materiais utilizados foram todos definidos depois da escolha do uso da madeira no piso. A partir disso, as cores, o mobiliário, a decoração e todo o resto do conjunto foram definidos a fim de conversar perfeitamente com a madeira”, acrescentou o arquiteto.

Perfil Murilo Sgorlon é Pós-Graduando em Design de Interiores na FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado) e graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Unitau (Universidade de Taubaté). O arquiteto já possui projetos no Brasil e Austrália. 


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Iluminação utilizada dá o toque especial nos ambientes do apartamento


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Hidro foi colocada para os momentos de lazer e diversão da família

Sala transmite sensação de conforto com os materiais usados

No quarto foram usados usados assoalhos em peróba e deixam o ambiente mais acolhedor e sofisticado; ambiente externo da residência conta com pérgola



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Crônicas & Poesia Pós verdades Por Alexandre Corrêa Lima

Não há fatos eternos, como não há verdades absolutas, disse certa feita o filósofo alemão Friedrich Nietzsche. Nada mais verdadeiro, sobretudo para um amante da filosofia. É preciso ter a mente aberta para o caráter impermanente das coisas. As verdades de hoje podem ser as mentiras de amanhã e é bom que tenhamos humildade intelectual para aceitar as novas evidências. Houve um tempo em que se aceitava como verdade absoluta que a Terra era uma tábua. Como já foi “verdade” (em maior ou menor nível de aceitação) que negros, judeus e mulheres eram inferiores, e que o menisco poderia ser totalmente extraído dos joelhos sem consequências futuras. As verdades mudam conforme colecionamos novas evidências e mudamos nossos paradigmas (inclusive o paradigma de usar paradigma nas frases com ar de conselho sábio). A verdade de hoje sempre correu o risco de ser a mentira de amanhã, mas pela primeira vez na história estamos vendo a mentira de sempre querer virar verdade. O dicionário Oxford costuma eleger “a palavra do ano”, normalmente algum neologismo da moda, que tenha explodido na internet e na sociedade no ano anterior. E em 2016 esse vocábulo foi “pós verdade”, cujo significado denota as circunstâncias nas quais os fatos objetivos são menos importantes na formação da opinião pública do que as emoções e as crenças pessoais. Em resumo, uma verdade customizada, fabricada de acordo com o gosto e as conveniências do cliente. O termo ganhou destaque com

eventos e líderes políticos que andaram na mídia em 2016, sobretudo o polêmico Donald Trump, cuja campanha foi marcada pela guerra de versões, pelo preconceito e pela fabricação de notícias. Rebelando-se contra a imprensa, o novo Presidente americano (que apesar de posar de doido ainda não rasgou cédulas com a cara do Benjamin Franklin) alardeou seus fatos alternativos, versões delirantes da realidade, sem base nas evidências. Uma mentira com roupa de fato, na qual a ausência de veracidade é mera circunstância transitória. Ficção, realidade e crenças fundem-se numa esfinge indecifrável que devora o bom senso. Um breve passeio pelas redes sociais do mundo mostra que essa parece uma tendência ainda mais mundana do que o dicionário Oxford poderia prever. Como se até mesmo a verdade pudesse agora ser comprada num supermercado, no qual você escolhe a sua própria versão, nos sabores baunilha, laranja ou chocolate meio amargo.

Talvez a internet, essa democracia digital que deu palanque a todas as vozes, tenha contribuído um pouco para a tendência. Com sua inteligência artificial, tende a nos sugerir e entregar apenas as páginas e conteúdos que mais se assemelham com o que vimos, navegamos ou curtimos antes, gerando um efeito cascata em que temos cada vez mais das mesmas vertentes, variações sobre o mesmo tema, que fortalecem nossas crenças prévias e nos afastam do infortúnio do convívio com o diferente ou com as antíteses, uma ilha de conformidade que nos dão o conforto de acharmos que nossa pequena tribo é a maioria do planeta. E assim vão se fabricando verdades sob medida, ao sabor das conveniências. Só espero que a pós verdade não seja uma pré tragédia. Porque a verdade pode até um dia mudar, mas uma mentira será sempre o que sempre foi: uma mentira.  Alexandre Corrêa Lima é administrador de marketing e pesquisas, palestrante e escritor diletante. Escreve semanalmente para o portal Meon.


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