A IGREJA E A JUVENTUDE
Desde os primórdios do cristianismo, os jovens e adolescentes mereceram especial atenção dos apóstolos de Cristo. A Timóteo es creve irmãos; às rnoças, como irmãs, com tôda a pureza» (1. Tim. 5, 1). Ao jovem Tito dedica o mesmo apóstolo uma epístola, fala-lhe em palavras pessoais e amáveis: «Exorta também os moços a que sejam prudentes em tudo c faze-te a tí mesmo um exemplo de boas obras, na tua doutrina, mostrando integridade, seriedade e linguagem sã e irrepreensível» (Op. cit. 2, 6. 7).
S. Paulo: Não repreendas com aspereza aos moços, como
E’, pois, considerado, desde cedo, uma das imprescindíveis obri gações da igreja velar sõbre a conservação, moral e espiritualmente pura, da mocidade de sua grei. Se essa obrigação e êsse santo direito não assistissem à igreja, que outra autoridade seria bastante
forte e credenciada para garantir a pureza das instituições humanas e da própria sociedade!
0 interesse demonstrado pela juventude não tem sòmente a fina lidade de garantir o futuro religioso da comunidade, como também e estimulado por considerações psicológicas. O homem que está cm formação encara a vida de outra forma que o adulto, formula, por conseguinte, as suas próprias e peculiares exigências à vida espiritual e material. O que, aliás, é um direito muito natural que lhe assiste.
Daí, explica-se um fenômeno cuja existência a história de tódas as igrejas regista, fl própria comunidade juvenil indica os moldes da sua vida. Surgiram associações religiosas, escolas dominicais, cul tos infantis, c juvenis, agremiações religiosas para ambos os sexos etc., que sempre requerem especial orientação dos órgãos responsá veis para que o seu desenvolvimento se proceda dentro do espírito da respectiva igreja, evitando-se excessos e fanatismos.
Cabe à Igreja orientar firmemente a vida religiosa, sob todos os pontos de vista, dos seus membros, inclusive e de preferência da juventude, cujo papel saliente, na vida de qualquer organismo social, é indiscutível.
A Igreja presta, assim, os seus reconhecidos serviços à sociedade a quem garante a integridade moral, preservando-a de idéias extre mistas e dissolventes.
A juventude da Igreja Evangélica do Rio Grande do Sul (Sínodo Riograndense) encontra o seu direito de existência, única e exclusiva-
mente, na união cm tôrno do Evangelho de Cristo. E’ êste, aliás, um patrimônio que lhe transmitiu o Grande Reformador. Em 1524, Lutero dirige fervoroso apêlo às autoridades municipais, no qual faz jús à importância dos poderes públicos, no seio da sociedade, c concita-os para colaborarem na formação cristã da juventude. «Não mc é preciso — diz êle — repetir aqui, quanto o poder secular é instituição e ofício de Deus. Sôbrc isso escreví tanto, em outras ocasiões que, como espero, ninguém mais terá dúvida Zelai, meus caros senhores, rigorosamente sôbre a obra que Deus vos legou, cuja execução vos impõe o vosso cargo, essa obra tão indispensável à juventude, c da qual nem o mundo nem o Espírito podem carecer.»
UMA OBRA CRISTÃ
No intuito de pôr mãos à tarefa que, segundo a sua missão religiosa, lhe cabe no concerto das atividades sociais, a Igreja Evan gélica, logo após a sua fundação, empreendeu vasta obra educacional, fundando e mantendo, com sacrifícios, escolas primárias c secundárias, reunindo a juventude em cultos e agremiações religiosos. Essa edu cação, ministrada com acerto e continuidade, proporcionou sólida base cristã à vida de centenas de milhares de brasileiros que pertencem às classes conservadoras do país.
Em 1824, com os primeiros imigrantes estrangeiros, estabeleceuse, entre nós, a Igreja da Reforma de Lutero. Evoluiram os tempos e, com êles, o homem. Tradicional e fiel à Bíblia e ao Hinário Lu teranos, nem por isso deixou de adaptar-se ao meio. Não podia, pois, a Igreja descurar da formação de um ministério religioso nacional.
Tornou-se cada vez mais imperiosa essa necessidade e, por isso, foi fundado em 1922, pelo atual Presidente da Igreja, Dr. H. Dohms, 0 Instituto Pré-Teológico. Mas, vejamos o que s. excia. revma. mesmo diz sóbre essa fundação, «fl princípio, foi minúsculo. Os primeiros alunos residiam em minha casa, sendo eu o seu único professor c diretor. Já nos primeiros anos, a casa não mais suportava os alunos e a minha família. Em 1927, houve motivos que nos levaram a São Leopoldo, onde foi fundada a organização da igreja, flquí, alugamos uma casa maior que, por quatro anos, abrigou os estudantes do I. P. T.
O estabelecimento seria uma espécie de Seminário Menor, que deviam cursar os futuros teólogos, devendo concluir, logo após, seu curso de teologia na Alemanha, porque ainda não temos no Brasil faculdades evangélicas de teologia. Hoje, já possuimos bom número de pastores que seguiram essa marcha de formação.
Os motivos que, pessoalmente, me levaram à fundação do esta belecimento? E’ tudo muito simples: Nascí cm Sapiranga, pequena vila do interior, situada ao pé do histórico Ferrabraz. Cursei alí a escola da comunidade, dirigida por meu pai, que era seu pastor. Queria c devia estudar mais. Que fazer? Aos dez anos de idade, meu pai me acompanhou até ao pórto do Rio Grande e me entregou ao co mandante do transatlântico «Maceió». Cheguci à Alemanha. Cursei o ginásio. Estudei em seguida teologia c filosofia nas universidades
de Leipzig, Halle e Basiléia na Suiça. Estive na Europa nada menos do que 16 anos. Ora, quantas vêzes não tive eu de lamentar nestes 16 anos a ausência do lar paterno e do ambiente pátrio . . . Está aí a razão.» (FORMAÇÃO, Revista brasileira de educação, III, 30) 1
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Assim, realizou-se o que, durante trinta anos de história da Igreja, se apresentara como necessidade, antes não realizável devido ao pequeno número de adeptos.
Estava, pois, garantida a formação de pastores nacionais. «Hoje já possuimos um bom número de pastores na igreja que seguiram essa marcha de formação.» O vasto plano educacional da igreja já apresentava diversos estabelecimentos de ensino comercial em pleno funcionamento, oficializados ou não.
Os pais evangélicos, porém, que pretendiam proporcionar educação ginasial aos seus filhos, foram os primeiros a reclamarem uma
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realização evangélica dêsse problema, pois, viam-se, anualmentc, diante da necessidade de enviar os seus filhos a educandários que obe deciam a outras orientações religiosas.
Foram eles os primeiros a ouvirem de viva voz o apêlo que o Sínodo dirigiu às suas comunidades, solicitando os fundos para a construção e oficialização de um ginásio. Em 1937, fundou-se o Gi násio Sinodal e de sua direção foi, desde o início, incumbido o Pastor Rodolpho Saenger. Definindo a missão educacional a ser exercida por êste educandário, proferiu o futuro diretor, então pastor da paróquia de Montenegro, no ato do lançamento da pedra fundamental, no dia ● do 50.° jubileu da fundação do Sínodo Riograndense, as seguintes palavras; «Revede os arquivos e anais de nossa história pátria e achareis que a Igreja Evangélica sempre teve, com os seus crentes, na integridade da nossa vida social e cultural, não uma política de imperialismo c exclusivismo, mas sim uma única em tôda a sua longa tarefa: a de servir ao Divino Mestre humildemente . . . Daqui, pois, pariirão homens capazes de construir uma vida em base cristã. Fá-lo-ão não sòmente para a sua particular felicidade, mas também, e essen cialmente, para a grandeza da Pátria Brasileira! E por isso depomos, sóbre essa pedra, simultâneamente com as nossas preces esperançosas, os juramentos de fidelidade religiosa e patriótica.»
(Diiírio ele Nolícias 21. 5. 36)
JUVENTUDE
Como vemos, não descurou a Igreja Evangélica do Rio Grande do Sul de encarar c cumprir decididamente a sua missão para com juventude, missão essa que se lhe apresentou, originalmente, como obrigação divina e patriótica, ao mesmo tempo.
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Esse trabalho, como dissêramos, nunca foi olvidado: liá mais de cem anos, a Igreja vem mostrando, em colégios e cultos, o Caminho da Verdade aos filhos de seus crentes.
Há vinte anos, mais ou menos, diante da evolução do trabalho e de correntes diversas e, por vêzes, até anti-religiosas que se faziam sentir aqui e acolá, começou a cogitar na manutenção de um trabalho especial entre a juventude. Em muitas comunidades, formaram-se pe quenos grupos, sem orientação uniforme, mas com a natural finalidade religiosa.
Para evitar a desarticulação do trabalho, vital para a conserva ção da igreja, fizeram-se imediatamente necessários orientação c orga nização precisas. «Tôda a Comunidade é responsabilizada pelo des tino da Juventude confirmada. E’ ela que reune a Juventude como Comunidade Juvenil («Juventude Evangélica») e lhe ajuda a integrar-se no vivo organismo da Comunidade e da Igreja Evangélicas», prescreve a Ordem da Vida Eclesiástica, de 1937.
O ensino deve ser realizado no convívio com a naiureza, pois que, dcsiarle, se torna mais apurada a capacidade de observação e ganham os conhe cimentos a solidez que só o contacto com a realidade objetiva pode dar. Assim nunca serão demais as excursões.
(Francisco Campos» Inslruçôcs Pedat^ógicas)Era muito natural que o grupo da Juventude Evangélica que se formara, faz anos, no estabelecimento destinado à educação de futuros sacerdotes, tomasse a dianteira na fiel execução desta ordem. Seriam êles os primeiros a conhecerem de perto as necessidades das comu nidades juvenis, cada um a começar pelo ambiente de sua cidade ou aldeia natal.
Juventude Evangélica não pode ser outra cousa senão juventude que se prende estritamente ao Evangelho de Cristo. Foi esta a con cepção que levou os estudantes do Instituto Pré-Teológico a se reuni rem em tôrno da Bíblia de Lutero.
O cristianismo não exige fisionomias fechadas, nem porte cur vado do homem que Deus criou ereto entre os seres dêste mundo. A obra do Redentor é bastante para enxugar, de vez, as lágrimas e espalhar a alegria no espaço ocupado pelos homens. Eis o que a
idade juvenil, no meio de sua afirmação inabalável da vida cristã, reclama para si!
■ Não podia assumir outra forma o trabalho da Juventude Evan gélica nos estabelecimentos secundários do Sínodo Riograndense, cm São Leopoldo, pois deparava, desde logo, com tôda a variedade des lumbrante da vida. No políssono concerto das atividades, urgia constantemente não perder de vista a finalidade religiosa.
Quando o sol brilhante de um sábado ou feriado convida para apreciar de perto as maravilhas do torrão pátrio, lá seguem os grupos sorridentes, nos lábios a escapar-lhes uma cantiga animadora, às cos-
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Leopoldo, tas as barracas e outros apetrechos. Mas as mochilas contêm, bem guardado, um Novo Testamento ou um Livro de Oração e um Hlnário Luterano, para que êsses bons companheiros lhes garantam, no meio das pilhérias e dos jogos juvenis em redor do fogo, um condigno adormecer e um raiante amanhecer.
Em outros sábados c domingos, à noite, reune-se o grupo ou a assembléia para fazer os seus jogos, ouvir preleçõcs sôbrc temas da história eclesiástica ou pátria, sendo iniciada ou encerrada a sessão com um trecho da Biblia que imprime o carater à reunião.
E’ do dominio público que os desportes são praticados, entre a juventude, com especial entusiasmo e brio. Um fisico são, robusto c harmônicamente desenvolvido não é sòmente belo: preserva também o seu portador de muitas tentações. Mens sana in corpore sano-eis o tesouro do homem forte que se impõe ao meio pelo seu valor próprio.
Dr. Guilherme F. Rotermund fundou, no dia 7 de junho, um grêmio cívico e literário e deu-lhe, como patrono, a personalidade invulgar de Tobias Barreto, sociólogo eminente e pensador profundo. Com êsse Grêmio, a cidade de São Leopoldo, a exemplo de numerosas co-irmãs, ergue mais outra estátua espiritual em homenagem daquele talentoso caboclo sergipano.
Convidado para a sessão solene de fundação, falou o capitão Mário Fonseca. De seu vibrante discurso, ressaltamos os seguintes trechos: «Há dias, nesta modelar casa de ensino, que, cada vez mais se impõe no conceito da população de São Leopoldo, foi festejado
O Morro de Sapucaia
O aniversário do Presidente da República. Depois, foi celebrada a personalidade de um grande vulto da história militar e política do Brasil — Marechal Floriano Peixoto. Agora, com os mesmos propó sitos e sentimentos, está sendo comemorado o centenário de Tobias Barreto, uma das mais brilhantes expressões da inteligência brasileira. A obra revolucionária do mulato pobre e desageitado incorporou-se, definitivamente, á cultura nacional. Ele, treinado no exercício das verdades científicas, inimigo da intolerância, vibrava de entusiasmo por tudo aquilo que significava progresso. Não se tornou escravo de uma teoria, nem adepto intransigente de um Sistema. Tobias Bar reto foi um lutador e um herói da vontade. Lutou contra os pre conceitos e o marasmo intelectual da época. Encontrou, cm sua vida, dificuldades de tôda a sorte, c, com tenacidade, soube vencê-las. Por isso, êlc permanece como um exemplo animador c sugestivo para a juventude estudiosa. (Correio cie S. Leopoldo, 17. 7. 1939)
As finalidades do Grêmio Cívico e Literário Tobias Barreto foram fixadas no artigo 2° de seus estatutos: « .. . a) incrementar a for mação e 0 desenvolvimento do amor à Pátria, festejando as grandes datas nacionais e o culto aos heróis da história brasileira; b) procurar despertar e aumentar o gôsto pela boa leitura, principalmente dos escritores nacionais; c) realizar conferências sôbre quaisquer temas, desde que sejam úteis e instrutivas e se enquadrem no espírito do Grêmio.»
E estes fins, como não poderia deixar de ser, guiaram-no sempre. Cada sessão girava em torno de uma data cívica, de um herói da história brasileira, da vida e obra de um vulto da literatura nacional. Com cada sessão, novas personalidades do nosso glorioso passadó eram evocadas, seu trabalho estudado e seus frutos exaltados. O núcleo de uma sessão foi «O dia do Soldado», de outra «o Reflorestamento», da anterior «Heroinas Brasileiras», da posterior «A Retirada da Laguna», da seguinte «Rui Barbosa», de outra mais ,,Mauá“. Em tõdas as reuniões, são executadas algumas obras musicais, declamadas algumas poesias, peças teatrais são exibidas, livros novos apresenta dos e recomendados. Na sessão comemorativa do aniversário do Exmo. Presidente da República, lança-se mão da cinematografia e projeta-se na tela a última visita de Getúlio Vargas à cidade de São Leopoldo, que, aliás, um dos professores do educandário filmou.
O livro, 0 pão espiritual do homem, vinculador das idéias no espaço e no tempo, mereceu sempre a devida atenção. A prova.
Semana da Asa. — Com as Forças Aéreas Brasileiras.temo-la no
; «inquérito literário» promovido pelo Correio de São Leo poldo, em 1940, quando abordou ifma conhecida livraria local com a .seguinte pergunta: «Qual a pessoa ou associação que mais adquiriu livros em 1939 em vossa livraria?» A resposta foi: «Quem mais adquiriu livros no ano passado foi o Grêmio Literário Tobias Bar reto, do Ginásio Sinodal desta cidade.» (Correio de São Leopoldo 8. 6. 1940.)
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Aero Clube de S. Leopoldo.
Santos Dumont foi o primeiro homem a elevar-se no espaço com um aparelho mais pesado que o ar. A aviação é a grande conquista do século. Em todo o mundo, a juventude é a grande entusiasta de sua propagação e de seu progresso, paixão através de simples desenhos. lhe as
A criança manifesta-lhe sua A mocidade quer mais: estudaleis e experimenta-lhe o valor. Daí nasce o grande impulso que se nota em todos os quadrantes, pelo aeromodelismo, além de constituir ótima escola preparatória para futuros aviadores e técnicos da aviação.
O desejo de objetivá-lo em nosso meio, pairava, há muito, sôbre Em abril de 1941, enfim, o professor Dr. os alunos do Ginásio.
Guilliernic F. Rotermund funda aqui o l.° clube de aeromodelismo da cidade. Com que arrebatamento o grupo que o forma, se preci pita sóbre os trabalhos preliminares! Com ternura, estudam-se os manuais; com carinho, ouvem-se as palavras de aeromodelistas experi mentados; com amor, constroem-se os primeiros modelos. Quando as aulas permitem uma folga, lá vai o grupo continuar a obra ini ciada. Sem desanimar com as dificuldades iniciais ou com oS <<dcsastres» das primeiras experiências, os jovens levam avante o trabalho. Depois, numa tarde bonita de inverno, eis a vitória: um aeromodelo deslisa durante 30 segundos livremente pelo ar. Exclamações ale gres e amigas saudam o feito do colega.
A faina continua com paciência, dedicação e vontade. Querem progredir. Enquanto parecem brincar, êles trabalham pela Pátria.Eles sabem-no. Não ignoram o extraordinário valor da aviação para o futuro do Brasil. Por isso, mais diligência e indústria na re creação tão querida! A duração dos vóos aumenta c vôos de um minuto são a regra, mas os de dois minutos constituem feitos me moráveis.
Como programa da «Semana da Asa» de 19dl, o Aero Clube de São Leopoldo promove uma exposição de trabalhos escolares que se referem exclusivamente à aviação. O canto reservado ao Ginásio Sinodal é louvadíssimo: grandes desenhos forram as paredes e, sôbrc suportes, pompeiam muitos aeromodelos, desde os mais sim ples, os primários, até os mais avançados, de dois metros de en. r
vergadura. Os construtores recebem elogios e prêmios. Entre os últimos ponteia, sem dúvida, a visita á Base Aérea, sediada cm Canoas, com o inesquecível vôo que, por nímia e encantadora gen tileza do respetivo comandante, eleva ao extremo o entusiasmo ju venil c constitue a coroa das recompensas.
(Francisco Campos, op« cit.)
A educação física lem por fim proporcionar aos alunos o desenvolvimento harmônico do corpo e do espírito, concorrendo assim, paro formar o homem de ação, física e moralmentc sadio, alet^re e resoluto, cònscio do seu valor e das suas responsabilidades.
ORGANIZAÇÃO
A ninguém que estuda positivamente a psicologia da juventude, admira que um grupo, integrado por duzentos ou mais jovens, requer organização especial.
Com 0 crescimento da Juventude Evangélica em número, tor naram-se necessários, para a conservação da unidade espiritual, reuiniões gerais, de preferência ao ar livre, confraternizando os jovens da mesma crença religiosa. A todos ainda está bem viva a impressão da reunião da Linha Brochier, em 1938, onde
se encontraram moços e moças de muitas comunidades, iniciando e encerrando o dia com preleções bíblicas, colhendo informa ções técnicas e científicas para a orientação da Juventude Evangé lica em sua comunidade local. Diariamente içou-se o Pavilhão AuriVerde sob o canto de Hino Nacional, sendo recolhido, à noite, da mesma forma. Foi um dia de especial brilho a recepção festiva às autoridades municipais, naquela reunião, cujo éco patriótico ainda, anos após, se fez ouvir em muitos grupos.
OBSTÁCULOS
E’ visto que uma juventude com finalidades tão claras, exposta às tempestades e paixões das atividades humanas, encontra por tôda parte obstáculos. Se já não são os próprios pais ou parentes que obedecem à orientações diferentes, bem o podem ser os amigos, fóra 'do ambiente diário. Surge, daí, a maior das dificuldades para a conservação pura de um organismo: a de não perder de vista o es trito fim religioso, no meio dos turbilhões.
As atividades cívicas que, com os seus ensaios, segundo o pro grama, fazem parte do plano anual da Juventude Evangélica, devem ser cumpridas fielmente. Justamente no terceiro decênio do século surgiu, a par de correntes políticas nacionais, internacionais ou es trangeiras, uma intensa variedade de «juventudes» — que tratava da arregimentação de jovens, incutindo-lhès as suas idéias mais ou menqs fanáticas.
mais uma
Era chegado o momento em que a Juventude Evangélica devia, vez, meditar sôbre a sua posição dentro da sociedade. E meditar significa, entre jovens, discutir, por vêzes, ardorosamente.
Pode a Igreja Evangélica de confissão Luterana regozijar-se: a sua juventude sempre saiu ilesa desses amotinados tempos, não es quecendo jamais que o seu campo de ação se restringe, exclusiva mente, à orientação religiosa, pura e simples, distanciando-se ela, a olhos vistos, de quaisquer uniões, formações, partidos ou ideologias de núcleos políticos.
«Martin Luther, experimentado em tôdas as tribulações da vida humana, certa vez, com a inspiração do seu gênio, formulou o seu credo com estas palavras:
Eu deposito a minha confiança em homem algum dêste mundo, nem em minha própria pessoa, nem em meu poder, minha habilidade, bondade, piedade ou cm que eu possa ter.
Eu deposito a minha confiança em nenhuma criatura, esteja ela no céu ou na terra.
Eu atrevo-me a depositar a minha confiança unicamente em Deus uno, invisível.
incompreensível, Criador do céu e da terra, que reina, Ele só, sõbre tôdas as criaturas. Não temo tôda a maldade do príncipe dêste mundo e de seus comparsas. Meu Deus é acima de todos êles.
Eu confio, a-pesar-de tudo, em Deus, ainda que esteja desamparado e perseguido por todos os homens.
Eu confio, a-pesar-de tudo, Nêle, seja eu pobre, sem compreensão, sem sabedoria, desprezado ou carecente de tudo.
Eu confio, a-pesar-dc tudo, Nêlc, G ainda que pecador.
Porque esta, a minha confiança inabalável, deve pairar sõbre tudo o que existe e não existe, sôbre pecados e virtudes e sõbre tudo, para que em Deus, pura e sinceramente, se conserve a confiança tal qual o primeiro mandamento me obriga. Nem tão pouco quero esperar prodígios, tentando a Deus.
Eu confio Nele co n st a n t em en t e ainda que Ele demore, nem imponho a Ele termo ou tempo, medida ou modo de sua ação. Mas tudo eu entrego ao juizo da Sua divina vontade, em confiança livre e leal.»
(M. Lulher, apucl Dr. Doh ms; Pública profissão de fé.)