Afirmação da Fé e Compromisso
Prédicas e Textos do Pastor Karl Gustav Busch (1936-1975)
São Paulo Setembro de 2016
Capa: DĂŠbora Ludwig Foto do Pastor Karl Busch publicada na Revista Realidade Janeiro 1968
Sumário Cronologia .................................................................................... 10 Apresentação ................................................................................ 12 Introdução ..................................................................................... 16 Parte I – Prédicas em português Lucas 14.1-6 – 7 de outubro de 1962 .......................................... 20 Efésios 4.1-6 – 14 de outubro de 1962 ........................................ 24 Efésios 6.10-13+16 – 28 de outubro de 1962 .............................. 31 1 João 2.8 – 24 de dezembro de 1962 .......................................... 38 Lucas 2.1 – 25 de dezembro de 1962 .......................................... 42 Salmo 103.2 e Filipenses 3.13-14 – 30 de dezembro de 1962 .. 46 1 Pedro 4.7-11 – 24 de julho de 1966 .......................................... 51 Romanos 8.12-17 – 31 de julho de 1966 ..................................... 57 Hebreus 13.20-21 – 1º. de janeiro de 1967 ................................. 62 Romanos 12.1-2 – 8 de janeiro de 1967 ...................................... 67 Efésios 5.8-10 – 12 de março de 1967 ......................................... 73 2 Pedro 2.21b-25 – 9 de abril de 1967 ......................................... 78 Efésios 4.23-24 – 8 de outubro de 1967 ...................................... 82 Mateus 18.23-35 – 22 de outubro de 1967 ................................. 87 João 4.46-54 – 12 de novembro de 1967 ..................................... 92 João 1.43-51 – 14 de janeiro de 1968 ........................................... 97 Marcos 1.15 e 2 Coríntios 5.17 – 28 de janeiro de 1968 .......... 103 João 17.20-26 – 10 de março de 1968 ........................................ 108 Lucas 11.23 e João 3.17 – 17 de março de 1968 ....................... 113 Apocalipse 21.5 – 20 de março de 1968 ................................... 119 João 6.1-15 – 24 de março de 1968 ............................................ 125 Lucas 24.6,34 e João 14.19 – 14 de abril de 1968 ..................... 131 Salmo 98.1 – 12 de maio de 1968 .............................................. 135 Efésios 1.15-23 – 26 de maio de 1968 ....................................... 140 Efésios 1.3-4 – 9 de junho de 1968 ............................................ 145
Romanos 12.1-2 – 23 de junho de 1968 .................................... 151 Lamentações de Jeremias 3.22-23 – 4 de agosto de 1968 ....... 157 Lucas 14.16-24 – 18 de agosto de 1968 ..................................... 164 Mateus 8.5-13 – 8 de setembro de 1968 ................................... 171 Atos 3.1-7 – 10 de novembro de 1968 ...................................... 176 Romanos 14.7-9 – 29 de novembro de 1968 ............................ 181 Romanos 13.11-14 – 1º. de dezembro de 1968 ........................ 187 2 Pedro 16-21 – 8 de dezembro de 1968 .................................. 194 Tito 2.11-14 – 24 de dezembro de 1968 .................................... 200 Mateus 2.13-18 – 29 de dezembro de 1968 .............................. 206 João 20.15-18 – 6 de abril de 1969 ............................................. 212 Lucas 12.35-40 e 2 Pedro 3.13 – 23 de novembro de 1969 ..... 217 Tema: Trindade – 24 de maio de 1971 ..................................... 222 Salmo 39 – 24 de novembro de 1972 ........................................ 225 Mateus 4.1-11 – 11 de março de 1973 ....................................... 230 Hebreus 13.8 – 31 de dezembro de 1973 ................................. 234 Prédicas sem data Salmo 50.15 – s.d. ........................................................................ 238 João 14.1-6 – s. d. ......................................................................... 242 Mateus 13.31-33 – s. d. ............................................................... 245 João 4.7-15 – s. d. ......................................................................... 251 Mateus 13.10-12 – s. d. ............................................................... 254 Lucas 17.7-10 – s. d. .................................................................... 259 1 João 3.8 – s. d. ........................................................................... 264 Isaías 6.1-13 – s. d. ...................................................................... 269 Mateus 16.21-27 – s. d. ............................................................... 277 Lucas 6.37-38 – s. d. .................................................................... 282 Lucas 2.10-12 – s. d. .................................................................... 287 Atos dos Apóstolos 16.30-31 – s. d. .......................................... 293 Salmo 34.8 – s. d. ......................................................................... 299 Provérbios 8.17 – s. d. ................................................................. 305
Parte II – Artigos, Meditações, Textos – Publicados no jornal A Cruz no Sul Celebremos a Festa! – 1 Coríntios 5.8 – março-maio 1963 .... 318 Conservar a paz – junho 1963 ................................................... 320 Sacrifício e culto – julho 1963 .................................................... 323 O nosso culto racional – agosto 1963 ....................................... 325 Misericórdia e bondade – setembro 1963 ................................ 327 Porque confirmação? – outubro de 1963 ................................. 329 Direito de greve! – novembro de 1963 ..................................... 331 Aconteceu no Natal... – dezembro de 1963 ............................. 333 Mãos limpas e calejadas – janeiro de 1964 .............................. 335 As mãos – fevereiro de 1964 ..................................................... 338 Os outros... e nós – março de 1964 ........................................... 340 Um diálogo – abril de 1964 ....................................................... 342 Para onde vamos?!! - junho de 1964 ....................................... 345 Novos rumos pelo Evangelho – julho de 1964 ....................... 347 “Ecclesiam suam”:A igreja no mundo de hoje – setembro de 1964 ............................................................................................... 349 Salve! Agraciada; o Senhor é contigo! – dezembro de 1964 . 352 Alegria sem igual – dezembro de 1964 ................................... 355 “Eu” para “você” – fevereiro de 1965 ...................................... 357 Os justos e os outros – março de 1965 ..................................... 360 Deus – o Criador! – setembro de 1965 ..................................... 362 Justificação e boas obras – outubro de 1965 ........................... 364 Sede de justiça – novembro de 1965 ........................................ 367 Tempos de alegria – dezembro de 1965 .................................. 370 Uma história de Natal – dezembro de 1965 ........................... 373 O crescer para Cristo – janeiro de 1966 ................................... 376 Ordenação do Pastor K. G. Busch – junho de 1966 ............... 379 Ordination und Installation von Pastor Busch – julho 1966. 380
O compromisso de dar - Por que e para que? – setembro de 1966 ............................................................................................... 382 75 anos de atividades da Igreja Evangélica Lutherana de São Paulo - outubro 1966 .................................................................. 386 Natal: Fé – Esperança – Amor – dezembro de 1966 .............. 389 Aconteceu no ano que passou! – março de 1967 .................... 392 Transmitir o Evangelho – maio de 1967 .................................. 398 Novas formas e novos caminhos para o sempre novo Evangelho – julho 1967 .............................................................. 401 “A PONTE, em breve uma realidade!” – julho de 1967 ........ 405 A Igreja a caminho do novo Advento – dezembro de 1967 . 410 Ano Novo – Um oferecimento – janeiro de 1968 ................... 414 Fraternidade e reconciliação – março de 1968 ........................ 416 Senhor, os teus olhos atentam para a fidelidade – setembro de 1968 ............................................................................................... 419 Paz seja conosco! – dezembro de 1968 ..................................... 421 Vêde, pois, como ouvis – fevereiro de 1969 ............................ 425 So seht nun darauf wie Ihr zuhört – fevereiro de 1969 ......... 427 Lucas 24.30 – abril 1969 ............................................................. 429 A presença de Deus no nosso meio – dezembro de 1969 ..... 431 Gottes Gegenwart unter uns! – dezembro de 1969 ............... 433 Nossas atividades em 1969 ....................................................... 435 Jovens da Ia. Região reunidos em Araras ............................... 446 Parte III – Prédicas em alemão Lukas 5,1-11 ................................................................................. 456 Matthäus 13,31-33 ....................................................................... 463 Matthäus 13,1-12 ......................................................................... 469 1. Thessalonicher 4,11-12 ........................................................... 474 Galater 5,1.13-15 ......................................................................... 478 Psalm 50.15 .................................................................................. 483
Ewigkeitssonntag ....................................................................... 489 Philliperbrief 4.4-7 ...................................................................... 497 Lukas 21.25-28 ............................................................................. 506 Lukas 2.10-12 ............................................................................... 513 1. Korinther 8.6 ............................................................................ 519 Andacht zur Vorstandssitzung ................................................ 523 Epheser 4.23-24 ........................................................................... 526 Jesaja 6.1-8 .................................................................................... 531 Lukas 11.1-2 ................................................................................. 536 Johannes 3.8 ................................................................................. 541 Epheser 1.3-14 ............................................................................. 546 Ein Wort zum Anfang ................................................................ 552 Psalm 103.2 und Philliperbrief 3.13-14 .................................... 554 Klagelieder Jeremias 3.22-23 ..................................................... 560 Lukas 14.15-24 ............................................................................. 566 Markus 4.26-29 ............................................................................ 568 Lukas 18.31-43 ............................................................................. 572 Markus 16.3 ................................................................................. 577 Johannes 15.6 ............................................................................... 582
Breve Cronologia – Pastor Karl Gustav Busch
08/09/1936 - Nascimento em Belo Horizonte/MG 1953 - 1956 - Estudos no Instituto Pré-Teológico – São Leopoldo/RS 1957 - 1962 - Estudos na Faculdade de Teologia – São Leopoldo/RS 13/08/1962 - Início do ministério em São Paulo/SP 07/01/1963 - Casamento com Elisabeth Müller Busch 24/04/1966 - Ordenação ao ministério pastoral – Igreja Martin Luther – São Paulo/SP 02/01/1975 - Falecimento em São Paulo/SP Funções e atividades: – 1º. Pastor Distrital do Distrito Eclesiástico São Paulo (1969 – 1974) - Pastor Karl Gustav Busch foi o pastor responsável pelo trabalho da Juventude Evangélica na 1ª. Região Eclesiástica I - Participação do Conselho Nacional da Juventude Evangélica – CONAJE e da Escola de Líderes da Juventude Evangélica - Coordenação espiritual junto à Ordem Auxiliadora de Senhoras Evangélicas de São Paulo - Coordenação do Colégio Pastoral da União Paroquial de São Paulo - Atividades ecumênicas com igrejas cristãs de São Paulo
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Apresentação Como apresentar Pastor Busch? O que dizer de um homem de sua estatura? Física e intelectual! Dizem que foi o maior Pastor da Igreja Luterana... Alguns pensavam que à frente ou atrás do altar ele ficava em pé sobre um banquinho, mas isso não era verdade. Ele estava mesmo sobre o chão e todos o enxergavam muito bem no alto de sua estatura avantajada de 1,98m, em cujo rosto brilhavam grandes e expressivos olhos azuis. Uma pessoa inquieta, comprometida, estudiosa, corajosa, crítica, de convicção profunda na fé cristã. Seu hino preferido era “Jesus Cristo é Rei e Senhor”, entoado, com sua voz possante, em muitos dos cultos oficiados por ele. Era apaixonado pela esposa Elisabeth, que tentou salvar sua vida doando-lhe um rim. Mas a técnica dos transplantes ainda era incipiente, e a rejeição ao órgão transplantado o levou com apenas 38 anos, deixando os filhos Carlos e Ana Paula ainda pequenos. Notabilizou-se
pelas
prédicas
instigantes,
que
demandavam reflexão, pelas ideias adiante de seu tempo e por ter começado a efetivamente atender uma Comunidade em sua maioria descendente de alemães, mas que já não dominava mais a língua de seus antepassados. Havia uma demanda 12
crescente e exigente por um Pastor que pudesse se comunicar bem com os luteranos que tinham como sua língua materna o português e não mais o alemão, e que conseguisse também comunicar-se bem com os jovens. Sendo brasileiro, estabeleceu pontes com outras Igrejas, principalmente a Católica, construindo espaços para um movimento ecumênico que ainda estava sendo gestado, em seus primórdios. A Juventude Evangélica de São Paulo - JESP Grupo Centro, foi, talvez, sua realização mais importante. Hoje, os jovens dos anos sessenta que por ali passaram lembram-se do Pastor Busch e da JESP com saudade. Vivia-se uma época de conflitos políticos, de ditadura militar, de mudanças profundas no comportamento, que logrou ficar conhecida como anos rebeldes. Ele soube compreender os jovens e lidar com as contradições desse período de profundas mudanças sociais. Um período em que um Pastor deveria ter cautela, preocupando-se com sua segurança e de sua família, não no sentido com que hoje se pensa a segurança. São Paulo ainda era uma cidade relativamente tranquila, na qual nós, jovens, íamos de ônibus, de trem e até de bonde para o centro, para a reunião da JESP às quartas-feiras à noite. Mas a segurança do Pastor poderia estar ameaçada pela censura que imperava sobre os jornais, sobre as aulas e até sobre as prédicas. É preciso entender 13
os seus escritos dentro deste cenário, difícil de compreender para quem nasceu a partir dos anos oitenta. Cada jovem que passou pela JESP Grupo Centro tem alguma história, alguma passagem na companhia do Pastor Busch, para ser lembrada e compartilhada. Mas sobretudo, saiu para a vida adulta com seu sentido de vida de alguma forma marcado pela memória da Igreja Luterana, o que não é pouco. Há que se ressaltar que este interesse genuíno e autêntico pelos jovens era um valor caro também a outros Pastores contemporâneos de Karl G. Busch, que desenvolveram atividades com jovens. No caso específico dele, a quem conheci mais de perto, havia efetivamente um amor pelo trabalho com a juventude. Ele apostava nos jovens, gostava de estar com eles e, porque gostava, realizava com interesse e prazer. E acertava! Dado o avanço de seu pensamento e a fé profunda em Jesus Cristo, acredito que a leitura de seu legado possa ser inspiradora também para os dias de hoje.
Maria Cristina Faber Boog
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Introdução O presente livro reúne prédicas proferidas pelo Pastor Karl Gustav Busch ao longo do seu ministério pastoral junto às paróquias da Igreja Evangélica Luterana de São Paulo no período de 1962 a 1973. Traz igualmente uma coletânea de artigos, meditações e textos diversos publicados originalmente no jornal A Cruz do Sul. A edição deste livro foi possível graças à guarda e à preservação dos documentos originais feita pelo filho Carlos Henri Busch e também graças ao trabalho incansável de Carolina Adriana Sichero Gonzalez que fez a transcrição dos manuscritos. A isso se soma também o incentivo de várias pessoas, que sabedoras da existência do material, animaram e motivaram para que a obra viesse à público em formato digital. “Afirmação da fé e compromisso” tem como cenário um período histórico importante na vida da Igreja Evangélica de Confissão Luterana em São Paulo. As prédicas e os textos emergem numa fase de transição na igreja e na sociedade. Em termos eclesiásticos estava-se no processo de estruturação de uma igreja nacional. A vocação e a formação de pastores nativos era incentivada. A língua pátria se impunha na vida comunitária. E o Pastor Karl Gustav Busch foi o primeiro brasileiro a atuar em São Paulo. Uma aproximação mais atenta revela a Palavra anunciada em plena efervescência política do país, marcada ideologicamente pela guerra fria. Apresenta um posicionamento frente ao desenvolvimento da ciência e da tecnologia (vivia-se a corrida espacial). Aparece o tema da morte de Deus, presente em tendências culturais secularizantes. Surge, cheio de entusiasmo, o diálogo, o encontro e aproximação dos cristãos, 16
impulsionado pelo movimento ecumênico e pelo Concílio Vaticano II. Por fim, irrompe, neste cenário, a irreverência e o espírito irrequieto da juventude e as mudanças na área comportamental e dos costumes (minissaia, pílula, etc.) Neste contexto, ocupar o púlpito, escrever um texto, atuar na igreja e falar sobre a fé cristã significava sempre um desafio e uma grande oportunidade. De um lado, proclamar a boa notícia da graça de Deus, como o indicativo da fé e, de outro lado, conclamar para a vivência desta mensagem no cotidiano da existência, como imperativo da fé. Deus se volta para o ser humano e o acolhe incondicionalmente. A resposta a esta acolhida se traduz em gestos e atitudes nos diversos espaços de vida das pessoas. Pode-se ver o texto bíblico aterrissando no contexto da vida das pessoas frequentadoras das comunidades de São Paulo. As prédicas são uma interlocução com as pessoas, suas questões, seus dramas e suas preocupações. Refletem sempre o núcleo central do Evangelho e apontam para a importância da fé na vida do dia-a-dia. Essa sintonia e essa empatia encantou e seduziu toda uma geração. Forneceu balizas éticas para a sua vida profissional. Estabeleceu vínculos profundos de amizade. Despertou e motivou para a participação e o engajamento na vida comunitária. Somos agradecidos pela vida e testemunho do Pastor Karl Gustav Busch. Somos agradecidos pelas sementes da Palavra por ele proclamada. Somos agradecidos pelos frutos que pudemos colher ao longo das últimas décadas. Pastor Rolf Schünemann 17
PARTE I
Prédicas em português
07/10/1962 Lc 14.1-6 A graça do nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com nós todos. Amém. Cara comunidade: Os evangelhos, repetidas vezes, nos relatam como Jesus se portou nas casas onde estava. Nestas ocasiões geralmente acontecia algo de especial. Os descrentes tornavam-se homens de fé, os tristes eram consolados, os doentes eram curados. Mas na casa dos fariseus vamos encontrar Jesus numa atitude ostensiva, a tal ponto que chegou a usurpar do direito de hóspede, pois fez uma cura num doente durante o dia de descanso. Isto significava uma transgressão dolorosa para os fariseus. Jesus por meio desta ação de curar um hidrópico na casa dos fariseus tem em seu fundo uma observação tão decidida que também vale a nós hoje. O Senhor lança a verdade divina ao encontro dos homens. Sim, Jesus com este ato de cura inapelavelmente declara os fariseus tomados de uma doença muito grave, apesar de que na aparência se julgavam homens sãos. Aos fariseus é apontada a sua hipocricidade, a sua inclinação egoísta e impiedosa, verdadeiros seres medíocres na ânsia de cumprir os mandamentos divinos. Aqueles mandamentos dados aos judeus como ajuda de um modo apreciável de vida para com Deus, tornaram-se um motivo de vergonha, de pavor e até de nojo. No dia do descanso reuniramse numa piedade falsificada, não chegando nem a enxergar aquele doente que se achava sentado à sua frente. Nem de longe veio-lhes a ideia de ajudar a este coitado, pois julgavam que não seria lícito fazê-lo no dia do descanso. Muralhas, altas muralhas 20
escurecem o horizonte a estes homens. E Jesus os acusa com toda seriedade, mostrando-lhes que a verdade lhes não é mais verdade. E às perguntas do Senhor, os fariseus respondem com o silêncio, este silêncio que nada mais é do que muralhas que os separam, povoando daí a incapacidade de reconhecer a sua verdadeira situação de pecadores, de doentes. E por este mesmo modo, Jesus nos pergunta o que realmente está por trás de nossas palavras como Humanidade, Direito, Democracia e Educação, termos estes que tanto usamos na nossa vida diária. Convenhamos, o significado destas palavras tem se alterado de tal forma que apenas nós mesmos as compreendemos. Deixaram de encadear a verdade, tornandose verdadeiras muralhas de desentendimentos e de omissões. Mas para Jesus é pecado, indiferença é indiferença, omissão é omissão, desgraça é desgraça. Sim, Jesus Cristo quer abrir os nossos olhos para a realidade, livrar-nos dos famosos “slogans” que imperam em nossa vida. O reconhecimento da verdade está em Deus, do qual todos nós dependemos. Infelizmente nós nos achamos presos a certos sistemas e métodos que nos afastam cada dia da realidade. Criamos um mundo totalmente particular, à semelhança dos fariseus. E assim nos deixamos levar junto à corrente intempestuosa das desavenças, da sabotagem e das desorganizações. Aos poucos vamos nos esquecendo de que somos seres racionais aos quais foi dado o dom de raciocinar, de pensar. Mas preferimos que outros pensem por nós e como crápulas deixamos nos levar pelos agitadores e egoístas ao caos de nossas vidas. Deixamos assim que uma série de fatores obscureçam a nossa vida, assumindo a forma de altas muralhas, muralhas escuras e nefastas. E exatamente estes chavões comuns nos levam à beira 21
do abismo. Jesus Cristo, porém, volta-se a nós dizendo: Fora com estes chavões que fazem de ti um simples objeto de jogatina e de desagravos. Lance fora esta propaganda que inverte a meta de tua vida. Liberta-te, ó homem, deste aparelho obscuro que faz de ti um número, um simples algarismo. Pode acontecer que por um motivo de insucesso dos slogans ou dos chavões que se tornaram nossos guias, nossos olhos se abram à verdade. Ou, quando a necessidade se torna uma provação, deixa cair a máscara das muralhas e nos tornamos responsáveis de nossos atos. Mas geralmente não acontece. Procuremos cada um pessoalmente as muralhas que nos tem obscurecido a nossa vida. Estas muralhas muitas vezes se tornam instransponíveis. São os muros da vaidade, os muros de nossos impulsos pessoais, do egoísmo, do fanatismo desenfreado. São os muros da ambição que não conhece barreiras. Lancemos fora a vaidade e vamos reconhecer novamente em nossa esposa, ou em nosso esposo aquela pessoa tão estimada e querida dos primeiros anos de nosso matrimônio. Deixemos de lado os impulsos pessoais e vamos nos encontrar perante um milagre: os nossos filhos reconhecerão os seus pais novamente. Voltarão aos braços como o faziam antigamente, trazendo consigo os problemas que carregam no íntimo. Fujamos de uma vez por todas da escravidão do cotidiano e estaremos purificando o ambiente em que vivemos. Se conseguirmos nos desvencilhar destas muralhas absurdas sentir-nos-emos libertos e podemos então respirar novamente os ares da liberdade pessoal. Na maioria das vezes nós mesmos não reconhecemos esta construção de muros que nos dificultam o direito de viver a 22
nossa própria vida. Por isso torna-se necessário que alguém nos indique com precisão quais são na verdade os nossos erros. É preciso que alguém nos diga: isto está errado em ti, aquilo não fica bem, não cometa este ou aquele desatino. E isto deve acontecer com a mesma clareza que há 20 séculos, quando Jesus abriu os olhos dos fariseus. Este mesmo Jesus Cristo ainda é hoje o único que nos pode alertar, que nos pode indicar onde estão os nossos passos falsos, que nos pode mostrar com segurança o isolamento no qual nos encontramos. Jesus Cristo é o técnico de nossas vidas, de nós homens, que quer dirigir os nossos passos à verdadeira luz, ao verdadeiro caminho da liberdade e da compreensão, do amor e da comunhão. Quando compreendemos isto, alcançaremos a esperança de vencermos os problemas cruciantes do dia a dia, em nossos negócios, em nossas relações, em nossas famílias. Pois Jesus não quer, nada mais nada menos, do que nos ajudar. Ajudar com toda convicção, com toda certeza. Confiando em Cristo, estaremos recebendo a Ele mesmo em nossas vidas. É a isto que necessitamos: necessitamos da ajuda de Jesus Cristo, necessitamos de Cristo do nosso lado. No Senhor teremos a possibilidade em iniciar uma nova vida, uma vida de valor, de compreensão, de alegria, de felicidade, de bondade. Jesus Cristo, muitas vezes, foi hóspede em casas de homens e mulheres como nós. Deixemos que Jesus Cristo também seja um hóspede contínuo em nosso lar, em nossa casa; ou melhor: deixemos que Jesus Cristo seja o nosso Salvador e Senhor de hoje em diante e para sempre. Amem.
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14.10.1962 Efésios 4.1-6 A graça do nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos nós. Amém. Cara comunidade: O apóstolo Paulo, ao escrever esta admoestação à unidade de fé e à unidade da comunidade cristã, encontrava-se preso por causa da sua pregação da palavra da cruz. Exatamente por este motivo ele se dirige à comunidade de Éfeso, indicando-lhes que realmente se sentia autorizado a proclamar o evangelho como enviado de Cristo. Baseado nessa autoridade, via-se necessitado em conclamar a comunidade cristã à unidade a unidade de fé. Mas esta mesma palavra de admoestação também nos é dirigida exatamente neste domingo de hoje, quando os principais jornais de nossas cidades com grandes manchetes anunciam a instalação do II Concilio Ecumênico do Vaticano. Exatamente por este motivo, já que a unidade da Igreja é o assunto palpitante do momento, torna-se necessário que nós nos certifiquemos como participantes de uma comunidade cristã, em que pontos esta unidade está fundamentada. Posso de antemão adiantar que não vamos nestes poucos minutos ter respondido todas perguntas que existem sobre a unidade da Igreja. Apenas desejamos nesta oportunidade apresentar resumidamente os pontos básicos da Igreja sobre tão palpitante assunto. Esta passagem da epístola de Paulo aos Efésios contém todo fundamento da própria comunidade cristã. Logo de início somos alertados de que o simples fato de nos acharmos reunidos numa comunidade cristã já faz parte de um magno
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presente de Deus. E este presente divino chama-se simplesmente: Jesus Cristo. Na verdade, nós todos somos chamados pela vocação do Evangelho de Jesus Cristo à unidade cristã. Esta unidade da comunidade, da qual o apóstolo fala e nos admoesta para a sua preservação, é dada pela própria palavra de Cristo. Não fomos nós que a criamos, como também não a procuramos fomentar. Ela veio de cima, de fora dos nossos limites foi criada por Jesus Cristo, nos oferecida pelo atestado veemente do Evangelho. E por isto mesmo o apóstolo chama esta unidade como a “unidade do Espírito no vinculo da paz”. Este Espírito da Verdade, este espírito da paz, que une os mais diversos seres humanos na comunidade, é a garantia da unidade. Sabemos muito bem, que a unidade cristã só pode subsistir unicamente pela força de Deus. Daí poderão também compreender que homens das mais adversas concepções se unem num único corpo, chamado Igreja. Se olharmos para a Santa Ceia do Altar vamos reconhecer este milagre, quando as diferenças e as contradições tão comuns entre os homens deixam de existir, mesmo que só por um momento, mas um momento sublime e emocionante. Mas também aqui poderão ocorrer graves mal-entendidos. Poderia pensar-se, por exemplo, que a comunidade cristã está inócua a qualquer influência estranha. Quem assim pensa está redondamente enganado. Conhecemos todos o quadro triste do cristianismo. As inúmeras desagregações das igrejas, a sempre renovadora crise das seitas aí está para nos atestar que realmente estamos perante um grande problema. A fé cristã que nos conduz à unidade da
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comunidade e comunhão do Senhor está sempre ameaçada por perigos os mais diversos. E por que? Porque Deus deu aos homens incumbência de guiar os passos terrenos da Igreja, ordenando-nos a pregação da palavra do Evangelho. E bem o ser humano é a causa única e primordial da desagregação da Igreja. Devemos lembrar-nos aqui que os maiores inimigos da Igreja são aqueles que saem de suas hostes para proclamar as desavenças e as confusões de fé. O mundo proporciona ao homem os mais diversos meios para alcançar a sua meta de subir, subir cada vez mais, até o ponto da autolatria. Os homens que receberam o magno dom de dirigir a Igreja não se satisfizeram em deixar Deus ser o Senhor da Igreja. Deixaram-se levar pela idolatria e pela sugestão pessoal de lançarem os seus nomes à triste história da Igreja. A causa desta catástrofe da divisão da Igreja cristã, da qual nós hoje temos que colher frutos azedos e amargos, só foi o homem egoísta e temperamental. Assim agiram os bispos de Jerusalém, de Constantinopla, da Alexandria e de Roma há cerca de XIV séculos. Todos queriam para si o direito de dominar a Igreja. Mas não vamos encontrar os perigos da destruição e da divisão somente na Igreja em si, mas também nas comunidades cristãs que formam esta Igreja. Por existirem estes perigos, o apóstolo quer deixar bem claro de que a unidade da comunidade também depende de nós seres humanos. Exatamente por isso somos admoestados a viver em humildade no seio da comunidade. Assim encontramo-nos perante o dever de preservar e defender a unidade da comunidade. Assim primeiramente encontramo-nos perante o dever de viver com toda humildade mutuamente. O que é humildade Jesus Cristo mesmo nos mostra, o qual jamais julgou necessário apelar para a sua posição de filho de Deus. Ele não 26
conhece o orgulho tão comum dos homens e dá-nos o exemplo de toda humildade, entregando a sua própria vida a favor de nossos pecados. Sem qualquer protesto deixou se crucificar para nos demonstrar a misericórdia de Deus. E é bem pela misericórdia de Deus que a humildade humana deve ser cuidada e preservada. Pois Deus em sua plenitude vem ao nosso encontro, se rebaixa a ponto de se revelar como ser humano para nos alcançar com sua mensagem de salvação. Assim também a humildade, da qual o apóstolo nos fala, é um dom proveniente de Deus, a qual nós devemos fomentar na comunhão mútua. Pela humildade demonstramos que nossos verdadeiros cristãos. Mas o apóstolo também nos chama à mansidão e à paciência. Assim certos sinais nos levam à verdadeira comunidade. Se nos sabemos guiados por estes sinais, isto é, pela humildade, pela mansidão e pela paciência, reconheceremos no contato entre os que nos cercam os verdadeiros frutos da fé e a unidade da comunidade. Se nós nos portamos em humildade, em mansidão e paciência mutuamente, poderemos vencer egoísmo desenfreante e desejos particulares dos seres humanos. Pois aí saberemos todos que como membros de uma comunidade cristã temos um dever para com o próximo e que nós devemos suportar uns aos outros em amor. As milhares de coisinhas, pelas quais nós nos combatemos e que tanto sobrecarregam a nossa vida, não nos poderão dividir, discernir ou esfolar. E para que isto não aconteça devemos nos compreender sob o signo do amor, do amor que tudo crê, tudo sofre, tudo espera, tudo recebe. Então também poderemos perdoar-nos mutuamente, como Cristo nos perdoa diariamente. Ao falar até agora dos deveres dos cristãos para a conservação exaltação da unidade da comunidade, o apóstolo dirige os 27
nossos pensamentos ao fundamento e primordial da Igreja em si. Também este fundamento nos é dado pela graça de Deus. Daí não nos devem esquivar ou fugir do verdadeiro fundamento da Igreja. Este fundamento é vital e necessário. Em primeiro lugar todos cristãos devem saber que a comunidade tem um único Senhor, o qual todos nós podemos confessar e este é Jesus Cristo, nosso Salvador e o único Senhor da Igreja, a única cabeça do corpo da comunidade. Nenhum poderio do mundo poderá tomar sobre si a direção da Igreja. Por este motivo o perigo do institucionalismo da Igreja tem que ser combatido, pois quando as causas terrenas tomarem conta da comunidade, aí estaremos no mesmo ponto em que Martinho Lutero se encontrava antes da Reforma. Martinho Lutero baseado num longo e dedicado estudo da mensagem do Novo Testamento iniciou a Reforma da Igreja, exatamente por ter a Igreja se institucionalizado, deixando se levar pelas causas terrenas. Se a Igreja se dividiu não foi possível remediar, pois o grande Reformador se viu expulso das hostes da Igreja-Mãe e isto como um herege involuntário. Lutero jamais desejou uma divisão, mas ele queria alertar a Igreja de seus erros, conduzindo-a à verdadeira luz da palavra de Deus e do Evangelho. Mas apesar da longa e muitas vezes triste história da Reforma, estamos todos expostos a grandes perigos contra a unidade da Igreja e principalmente da comunidade cristã. Mas nas comunidades em si poderão ocorrer mal-entendidos que se podem tornar catastrofais. Muitos de nós julgamos, isto erradamente, que o pastor e a diretoria da comunidade são os senhores e os donos desta. Num julgamento assim precipitado não devemos nos esquecer, que estes homens aos quais é dado o dever de dirigir os passos da comunidade, também são servos 28
de Cristo. Igualmente estes dirigentes da comunidade têm que prestar contas ao Senhor Jesus Cristo sobre seus atos e suas atitudes. Mas não só as personalidades de uma comunidade se tornam um perigo para a unidade da comunidade, como também principalmente as falsas confissões de fé. Muitos de nós, durante os anos, criamos uma norma de fé totalmente particular, pela qual julgamos confessar o nome do Senhor. Nestas confissões particulares e pessoais, porém, nos baseamos naqueles pontos que são do nosso interesse e assim criamos uma nova confissão de fé. Se esta confissão de fé se limitasse a nossas pessoas, tudo iria muito bem. Acontece, porém, e aí reside o perigo, que nós propalamos e levamos a outros seres humanos a particularidade de nossa fé. E isto se torna catastrofal, pois deixamos de levar aos homens que nos rodeiam o caminho da salvação, mostrando-lhes o caminho da perdição e da morte. Contra estes perigos o apóstolo admoesta, evidenciando que a nossa fé cristã se baseia única e exclusivamente no Senhor Jesus Cristo. Só a verdadeira fé em Jesus Cristo poderá conservar a unidade da comunidade e da Igreja. Na verdade, somente a fé pura e fundamentada em Jesus Cristo alcançará a salvação e a justificação perante Deus. E esta fé nos é oferecida pela pregação da palavra do Evangelho e nos chama à comunhão daqueles que se unem em torno de Cristo. A fé também é o traço de união para o batismo. Pelo batismo somos chamados a participar do corpo de Cristo e subjugar–nos sob a mensagem do Evangelho. Assim o batismo, um sinal visível de nossa incorporação na Igreja cristã, une a todos os cristãos do mundo sob o único e verdadeiro signo que é Jesus Cristo. 29
E para finalizar, o apóstolo em sua admoestação indica-nos que há um só Deus. Pois Deus é apresentado assim como o último motivo do verdadeiro fundamento da Igreja, a causa de tudo, como também da unidade da comunidade. Tudo, porém vem unicamente de Deus, que sendo o Pai de todos nós, está sobre todos nós, age por meio de todos nós e está em todos nós. Isto é, somos todos envolvidos por Deus. Reconhecendo este último motivo da unidade cristã, poderemos confessar confiantemente em qualquer momento de nossa vida, que Deus, como único Pai, nos tornou participantes de seu reino por meio de Jesus Cristo, por meio dos inúmeros dons da fé, dos sacramentos e com o dom do Espírito Santo que nos reunifica e que nos dá a compreensão mútua dentro da comunidade cristã. Por isso louvemos com salmista: Agradece ao Senhor, pois ele é bondoso e a sua benignidade dura para sempre. Amém.
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28.10.1962 Efésios 6.10-13+16 A graça do nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos nós. Amém. Cara comunidade: “Sede valorosos!” Esta é a admoestação que nos é dirigida neste momento. A mesmíssima exclamação: “Sede valorosos”, corresponde a palavras de encorajamento de um general às suas tropas que estão prestes a entrar num campo de combate. As últimas instruções estão sendo dadas antes que a fúria e a confusão da batalha sejam notadas, inclusive a moral dos próprios soldados ainda é levantada, para que não se deixem levar pelo cansaço e pela fadiga naturais das lutas carnificinas. Somos também chamados à luta, ao combate por algo mui significativo. Mas as palavras do apóstolo Paulo em sua epístola aos Efésios não são apenas “sede valorosa”. O apóstolo apresenta à sua admoestação uma conclusão muito importante e esclarecedora. “Sede valorosa no Senhor”, diz a epístola. Com isto o motivo do encorajamento tem um sentido muito mais relevante do que uma simples palavra, com o fito de levantar a nossa moral. Estas palavras se dirigem a nós cristãos e querem especificar o motivo pelo qual nós nos devemos comportar com valor. Trata-se aqui de um chamamento à fé, a fé no único Senhor Jesus Cristo. A meta destas palavras “sede valorosa” não tem como fim a luta de um poder político ou econômico, ou mesmo uma guerra de conquistas ou de destruições. O verdadeiro sentido desta admoestação tem como fim a luta pela verdadeira fé que se baseia no Evangelho de Jesus Cristo. E a verdadeira fé, a qual nos chama ao Senhor, a qual nos coloca sob a libertação do jugo 31
do pecado e do mal, sempre terá que resistir aos mais graves perigos. A luta a qual todos nós estamos expostos é uma luta que não permite o uso das armas poderosas fabricadas e idealizadas pelas mãos humanas. Esta luta pela fé jamais poderá ser levada o efeito pela estratégia de um almirantado ou generalato. Aqui se trata de algo muito superior e de muito maior responsabilidade, pois é a causa de Cristo Jesus que está em jogo. Por isto, por se tratar de uma luta pela causa suprema do Evangelho, o apóstolo assevera que para alcançarmos as verdadeiras finalidades desta luta pela fé, necessitamos de um armamento muito diferente ao usado comumente nas guerras e nas lutas humanas. Necessitamos da armadura de Deus, isto é, precisamos das armas que o próprio deus nos põe à disposição a fim de podermos enfrentar com sabedoria e inteligência o inimigo audaz. Porém, não podemos deixar de fazer aqui uma pergunta, a qual é de uma importância fundamental: Quem são os nossos inimigos? Realmente esta pergunta não deve ser desprezada, pois se necessitamos de armamentos tão especiais, devemos também saber quem são os inimigos. O apóstolo Paulo também não poupa palavras para indicar com segurança quais são os opositores dos cristãos. São as forças inimigas de Deus que se manifestam neste mundo, onde os cristãos se acham como peregrinos. Isto significa que os inimigos de Deus, também são os nossos inimigos, pois nos compreendemos como filhos remidos e aceitos de Deus. Na verdade, não se trata aqui de um inimigo qualquer, de um inimigo que jamais sofreu o amargar da derrota. Ao contrário, as forças opositoras a Deus, já foram derrotadas por Jesus Cristo, o qual por sua ressurreição e elevação à direita do Pai 32
“pôs todas as coisas debaixo de seus pés” (Ef 1.20). Mas apesar do inimigo ter sido vencido por Jesus Cristo e por não se reconhecer como tal, continua sendo uma ameaça constante a nós cristãos. Para podermos entender a relação verdadeira de que Cristo já venceu as forças inimigas, mas que estas ainda lutam desesperadamente pelo poder perdido, devemos imaginar-nos uma serpente, cuja cabeça foi inapelavelmente decepada. Porém, o corpo da serpente ainda mostra sinais evidentes de vida e no seu chicotear desesperado deixa atrás de si vestígios evidentes de luta. Jesus Cristo por sua morte na cruz e pela ressurreição decepou a cabeça das forças inimigas, mas estas completamente atordoadas e desnorteadas deixam onde podem os vestígios da destruição. Assim não querem se reconhecer como forças vencidas. Indubitavelmente o inimigo comum dos cristãos e de Deus está personificado nas forças do mal. Seria triste e verídico se fossemos agora situar o inimigo numa esfera sobrenatural e fora de âmbito de nossa compreensão. Seria catástrofe, se quiséssemos explicar as forças malignas, usando para isso um mito qualquer da antiguidade ou de um conto fantástico da literatura. Jamais reconheceríamos a relação fidedigna do inimigo. O apóstolo Paulo, porém, é bem explícito e claro ao indicar quem é o inimigo. Assim chegamos finalmente à resposta de nossa pergunta: Quem são esses inimigos? A força maligna que representa o inimigo comum de Deus e dos cristãos encontra-se personificado nas grandes potestades, nos principados do mundo, isto é, nos chamados dominadores do mundo. Estes são os instrumentos destas forças do maligno, os quais aproveitando a sua posição relevante dentro dos desígnios do mundo, opõe-se a Deus. O inimigo, que deve ser
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combatido, está claramente delineado. Realmente nós vivemos dentro de um mundo o qual se caracteriza por sua oposição velada a Deus. Esqueceram-se do Criador e só pensam na Criação e onde quer que olhemos, sempre estamos rodeados pelo perigo de seguirmos o mesmo caminho. Poderíamos aqui apresentar um número sem par de exteriorizações destas forças malignas, das quais fala o apóstolo. Nem sempre vamos encontrá-las apenas nos senhores deste mundo, nos tiranos implacáveis, nos ditadores dos povos, nos falsos líderes. Elas se apresentam nas mais variadas cores. De um lado, vamos encontrá-lo também nas grandes filosofias, que pelas suas ideias e por seus escritos, constroem aos homens uma forma de pensar e de viver estranha ao sentido cristão. Para estes a vida humana é limitada pelo nascimento e pela morte. O homem é materializado em suas verdadeiras funções e por isso lhe é vedado o verdadeiro objetivo de sua vida, isto é, o reconhecimento de Deus. Do outro lado, vamos encontrar doutrinas que oferecem todas felicidades do mundo e jogamlhe ao encontro uns punhados de ideais fantásticos. O homem ansioso e esperançoso se lança na busca de ideais e quando não alcançam um, procuram tornar o outro como fundamento. São dadas inúmeras oportunidades, que se tornam duras provações, mas das quais o cristão sempre é convidado a participar. Mas mesmo que nos sejam oferecidas as maiores riquezas neste mundo, estas nada significam perante as riquezas que nos são dadas pelo Evangelho de Cristo. E as forças malignas querem furtar este presente de Deus das mãos dos homens e, inclusive, impedem que o Evangelho seja oferecido aos homens que dele ainda não participam. Por isso mesmo estas forças de oposição oferecem as causas mais impossíveis para substituir o 34
Evangelho de Jesus Cristo. Os meios não lhes interessam, apenas lhes são importantes os fins. Oferecem aos homens um reino onde mana leite e mel. Mas, na verdade, estão oferecendo os próprios pecados, seduzindo os seres humanos a uma vida em pecado, sob o signo do mal e do despotismo. Mas uma causa é certa: os inimigos de Deus e dos cristãos só alcançam o seu propósito onde os homens não se deixam guiar pela vontade de Deus. O perigo da decadência e do pecado só existe onde a mensagem do evangelho do nosso Senhor Jesus Cristo não encontra ressonância por estarem os corações endurecidos e intumescidos. Por isso o apóstolo realça de que estamos perante um inimigo de caráter especial. Somos chamados todos a uma luta, a uma luta que não é contra sangue e carne. Não é uma batalha de homens contra homens, mas uma luta honrosa pelo próprio homem, uma luta que leva os homens a Deus, à liberdade que está em Jesus Cristo. Não se trata de uma batalha sanguinária e de destruição. A luta pela fé não quer destruir, nem matar, nem derramar sangue, pois a fé quer conquistar homens para a causa do Senhor; a fé quer construir, quer levar a todos à redenção, quer libertar e não escravizar. A nossa luta, cara comunidade, a luta dos cristãos é uma luta de resistência. Somos chamados a resistir aos ataques desnorteados e desenfreados do inimigo, deste inimigo que não poupará nada para arrebatar a coroa da vida. É a própria causa do Senhor que está em jogo. A nossa luta de resistência tem a finalidade precípua de mantermos o campo, o qual Cristo conquistou e o qual não entregaremos jamais. Somos todos chamados à prontidão eficaz em prol do evangelho da paz.
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E para que possamos estar de prontidão, o apóstolo Paulo indica-nos que devemos revestir-nos com a armadura de Deus, com a armadura que Deus mesmo nos dá para tornamos soldados valorosos. A senha de guerra dos cristãos é, nada mais, nada menos, do que: Resista. Seja valoroso. Somos chamados à luta pela fé e devemos defender-nos das setas incendiárias do maligno. Por isso tomemos a nós o escudo da fé, o qual poderá defender-nos dos dardos inflamados do maligno. A espada que empunhamos, é a palavra de Deus viva e eficaz. Exatamente a palavra de Deus é o principal instrumento que podemos empunhar, pois é a palavra da paz verdadeira e da pura verdade pela qual podemos mostrar ao mundo e ao inimigo o caminho leva à liberdade. Cada um de nós deve estar sempre preparado e pronto para a luta. Por isso devemos revestir-nos pela armadura de Deus sem vacilar um momento só. O inimigo sempre está à espreita e não perderá nenhuma oportunidade de nos colocar sob o seu poder. Mas enquanto vivermos sob o signo da cruz e do Evangelho de Jesus Cristo não precisamos temer nada, pois o Senhor ajudarnos-á e nos guiará ao verdadeiro sentido de nossa luta pela fé cristã. Por isso fiquemos de prontidão para a luta pela preparação decidida do evangelho da paz. Amem. Lembremo-nos das pessoas falecidas e de todos que choram o pranto da saudade elevando nossos pensamentos ao Senhor com as palavras de uma singela, mas sincera oração: Deus Onipotente, nosso Pai eterno. Nós viemos a ti agradecer de coração pela esperança que podemos depositar em ti, tens recebido em graça aos que nos deixaram. Senhor, aceita o nosso reconhecimento por tudo que fizeste a este nosso ente querido e aos que tiveram a oportunidade de viver ao redor deles.
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Pedimos com humildade pelo consolo de tua santa palavra e pela paz que vem de ti. Ajuda-nos para que também nos lembremos de nossa morte e fortaleça-nos para que sempre e permaneçamos firmes e inabaláveis na fé em Ti e no teu amado filho Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador. Senhor, permita-nos que também participemos de teu amor, de tua bondade, de teus dons, da vida eterna, da ressurreição, para que possamos viver na compreensão mútua e na esperança de teu santo e infinito reino. Amém. Em memória aos falecidos membros da comunidade cantemos do hino 37 as estrofes 4 e 5. A paz de Deus que excede a todo entendimento guardará os nossos corações e sentimentos em Cristo Jesus. Amém.
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24.12.1962 – Culto de Véspera de Natal. 1 João 2.8: “As trevas se vão dissipando e já brilha a verdadeira luz”. “Uma luz fria e deprimente abre o mundo” – estas são as palavras iniciais de um cientista inglês ao apresentar uma conferência sobre os problemas e os perigos das experiências atômicas. O cientista chama esta luz de fria, apesar de produzir um calor amedrontante, pois ela extermina com toda frieza e deprimencia a própria vida. Na verdade, a luz jamais deve destruir, mas, ao contrário, a luz é a própria fonte da vida e não tem caráter destrutivo. Mas se o conferencista fala em seu documentário de uma luz fria, uma luz que tem o poder de destruir, o Evangelho do Natal fala-nos de uma luz diferente, de uma luz que produz calor em nossos corações, em nossos íntimos. Na verdade, a mensagem do Natal tem características muito diferentes de uma luz fria e aterradora. Esta luz que provém dos presépios de Belém enche os nossos corações de calor, de calor no amor, na alegria e na bondade. Antes de tudo, notamos algo deste calor nas formalidades natalinas, como nos presentes que nos damos mutuamente nesta época de festas, nas próprias mensagens natalinas que recebemos. Este calor do Natal pode ser exemplificado pelas palavras amáveis de uma mãe ao falar de seu único filho: Quando penso nos presentes de Natal que recebo de meu filho nesta época, sinto um calor indescritível no meu íntimo. Meu filho quer me ver alegre e satisfeita no Natal. Mal chego a reconhecê-lo, pois durante o ano ele é um verdadeiro rebelde e, às vezes, choro de desespero ao julgar que ele não tem nem um pouco de amor por sua pobre mãe. Mas quando o Natal se
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aproxima noto que estou muito enganada”. A confissão desta mãe traduz as próprias palavras de Santo Agostinho, uma das figuras proeminentes do cristianismo no século VI, ao escrever: “Pela bondade e pela amabilidade os corações dos homens podem ser aquecidos e confortados”. É uma verdade incontestável que onde impera o ódio, o ambiente se torna frio e sobre carregado. E em ambientes assim as criaturas humanas se agastam, sentindo assim repulsa, e não é para se admirar quando dão vazão aos seus sentimentos de ódio e de desprezo. Mas neste tempo de Natal parece que algo se transformou. Há mais compreensão entre os homens e os sentimentos que se exteriorizam, são sentimentos de fraternidade, de amizade, e alegria e de amor. Aqueles que durante todo ano se esquivavam uns dos outros procuram entender-se. Aos pobres e desprezados dá-se uma pouco mais de atenção. Relações de famílias, antes estremecidas, se solidificam sob o signo da estrela do Natal. Onde está a causa desta transformação? A resposta é facílima. A causa desta alegria, desta amabilidade, desta fraternidade, está em Deus mesmo, o qual fez nascer nesta noite o seu Filho, que é Jesus Cristo. Uma nova luz, completamente diversa das luzes comuns que conhecemos, uma luz de alegria e de amor brilha neste mundo. Esta é a causa primordial, pela qual o ambiente durante esta época do ano se transforma, se enche de calor, de bondade e de amor. Este é o reflexo do acontecido na gruta de Belém. Cada criatura humana devia sabê-lo: a gruta de Belém, a pobre e simples manjedoura do Menino Jesus espelham as suas luzes para o mundo. Se em vez de lançamos bombas atômicas, lançássemos bombas natalinas sobre as cidades, vilas e pequenos lugarejos da face da terra, então não viveríamos mais sob o terrível espectro da destruição, mas conforme a vontade
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explícita de Deus, nosso Pai, conforme a fonte de verdadeira luz e do infinito amor. Aí, sim, teriam realmente paz na terra e boa vontade entre os homens. Deste modo esta paz gostosa, esta harmonia sem par, esta fraternidade sem barreiras não se circunscreveria a uma pequena época do ano. Alguém poderia perguntar nestas alturas: Por que a mensagem divina de paz na terra e boa vontade entre os homens não têm efeitos duradouros? Caros irmãos: uma luz uma vez acesa para que a mesma continue gerando efeito, deve ser cuidada com muito carinho e desvelo. A nós foi dada a luz. Resta-nos cuidar da mesma. As falhas, cara comunidade, não vamos encontrar na mensagem do Natal, nem em Jesus Cristo, mas em nós mesmos que nos chamamos e nos dizemos cristãos. São os homens que falham e já falharam redondamente. Durante a época do Natal os homens se preparam, para visitarem a gruta de Belém. Após as festas, porém, esquecem-se totalmente do acontecido, mesmo daquilo que lhes tocou fundo no coração, assim como se o Natal não existisse, como se Jesus Cristo jamais tivesse trazido ao mundo a luz do amor e da bondade. Após as festas natalinas as criaturas humanas voltam às suas características antigas, acendendo de novo a chama do ódio em seus corações, deixando se levar por seus instintos de ganância, de desprender, de desgraça, de egoísmo, da mentira, do desentendimento. Esta é a causa pela qual explodem as bombas atômicas e de hidrogênio. Mas o anjo da anunciação proclama aos pastores nos campos de Belém: Glória seja a Deus nas maiores alturas e paz na terra e boa vontade entre os homens!” Na verdade, como cristãos decididos, não devemos agradecer e louvar a Deus só durante a época do Natal. Sempre, todos os dias devemos mostrar de
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qual espírito somos formados e a quem pertencem a glória e o louvor, o agradecimento e a nossa própria vida. Pela luz fria o mundo será destruído e nós com o mundo. Pela luz da estrebaria de Belém vive o mundo e nós viveremos com ele. Jesus Cristo, deseja que vivamos já neste mundo sob a luz inconfundível e depois na eternidade. Natal é a luz que nos deverá abrigar em todas circunstâncias de nossa vida, pois por esta luz somos conduzidos à verdade e à própria vida. Que Deus vos abençoe neste Natal, e que cada um de vós reconheça a sua responsabilidade de se tornar participante da luz que nos é irradiada pela manjedoura do Menino Jesus. Não vos esqueçamos da palavra de João em sua epístola: “As trevas se vão dissipando e já brilha a verdadeira luz”. Amém.
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25 de dezembro de 1962 Lucas 2.1: “Hoje vos nasceu na cidade de Davi o Salvador, que é Cristo, o Senhor”. Amém. “Hoje vos nasceu o Salvador”. Estas poucas palavras resumem o acontecimento do Natal. Nem uma palavra mais, nem uma palavra menos. Nós todos o sabemos, pois na mensagem do Natal não nos é dado nada de novo. Desde a nossa infância nós podemos tomar conhecimento destas palavras que fazem parte do anúncio do anjo do Senhor aos pastores nos campos de Belém. E algo é surpreendente: até a criatura indiferente a tudo que diz respeito à fé sabe que no Natal festeja-se o nascimento do filho de Deus. Por isto, nós podemos afirmar que não há nada de novo nesta mensagem natalina, realmente nada de novo. Se pelo menos esta mensagem trouxesse alguma novidade consigo, algo que ainda não aconteceu há tanto tempo. Talvez então teríamos mais interesse por ela. Com as palavras do Natal acontece o mesmo como para aquele senhor, que necessitando comprar um presente para o seu filho, entrou numa grande livraria. O livreiro lhe indicou uma grande obra, uma obra de valor inestimável, premiada inclusive com grandes medalhas e aplaudida pela crítica especializada. Mas no balcão estavam vários livros, que apenas haviam surgido nestes dias, aproveitando a grande procura de presentes. Porém, não chegavam aos pés da obra recomendada pelo livreiro. Mas na capa dos citados livros, estava estampada em letras berrantes a palavra: última novidade! Não é quase necessário dizer que o comprador recusou o livro antes oferecido, preferindo levar a “última novidade!”
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Indiscutivelmente, seria a mensagem do Natal a “última novidade”, fosse ela atualizada e noticiada com espalhafatosas manchetes, os homens se lançariam sobre os quiosques de jornais, na ânsia de tomarem conhecimento da “última novidade”. A boa nova do Natal é tão bagatelizada, porém, e por isso não nos é possível festejar verdadeiramente esta festa magnífica da cristandade. Nós não sentimos uniformidade e a seriedade das palavras do anjo de anunciação, ao afirmar aos pastores no campo de Belém: “Eis que hoje vos nasceu o Salvador!’”. Por mais interessante que seja, estas palavras também se dirigem a nós hoje, neste dia 25 dezembro de 1962. Torna-se por isto necessário que nós compreendamos a magnitude desta mensagem. Cara comunidade, as palavras que servem de fundamento para esta prédica tem um valor insubstituível, pois dizem respeito ao nosso próprio passado e ao nosso presente. Como tudo neste mundo está preso ao próprio tempo, este tempo que é caracterizado pelo passado, pelo futuro e pelo presente, todos nós temos uma relação com ele. Assim, todos nós temos um passado, e mesmo um passado cheio de dificuldades, de lutas e de culpas. O nosso passado sempre nos acompanha e não podemos negá-lo em qualquer circunstância. Antes podemos ignorá-lo, mas convenhamos que é dificílimo desconhecer o tempo atrás de nós. O nosso passado sempre nos acompanha não só por nossa árvore genealógica, não só pelas lembranças das boas e belas horas, ou pelas lembranças de aborrecimentos e de grande dor. O nosso passado está presente em nós, em nossa própria vida pela palavra culpa.
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A palavrinha “culpa” está inscrita em enormes letras na parede do nosso passado e ninguém mesmo, pode afirmar que desconhece esta palavra. Quem afirmar o contrário está se incriminando ainda mais na culpa que lhe acompanha desde o passado. Infelizmente a culpa não se limita ao nosso passado, mas infiltra-se até o nosso presente. Mas, caros irmãos em Cristo, esta parede do nosso passado também tem uma porta, na qual o nosso Senhor Jesus Cristo bate, e se a abrirmos, nós vamos ao encontro da gruta de Belém, encontraremos o nosso Salvador, o qual nasceu para nós criatura humana. O nosso Senhor Jesus Cristo está tão perto de nós, por ter tornado sobre si as formas humanas, constituídas da mesma carne como a nossa carne. Por isto o menino de Belém está ali onde também se encontra a nossa culpa, tão perto da mesma, pois Ele quer apagar para sempre esta palavrinha de nosso passado. Daí a mensagem do anjo da anunciação dirigir-se igualmente a nós no dia do Natal: ” Eis que hoje nos nasceu o Salvador!” E assim como nós temos um passado, do mesmo modo temos um futuro a ser enfrentado. E este futuro igualmente influencia os nossos dias de hoje, os dias do presente. À nossa frente temos uma grande interrogação, uma parede imensa e para nós, ás vezes, intransponível, na qual está gravada a palavra “ânsia”. Na nossa ânsia, no nosso medo estão concentrados os nossos problemas, a nossa velhice, a nossa própria morte. Mas também nesta parede, onde em letras enormes lemos a palavra “ânsia”, existe uma porta, na qual o senhor bate incessantemente, esperando de nós que a abrimos a Ele. Ao abri-la poderemos vê-lo aproximar-se de nós em sua majestade. Ele está presente com sua mensagem do anjo: “Eis que hoje vos nasceu o Salvador!’”. E finalmente não podemos esquecer do nosso presente, dos dias que enfrentamos com nossas preocupações, com nossos 44
problemas, com nossas aflições. Os presentes nós de modo algum podem desconhecer, pois eis-nos todos aqui e se manifesta em nossos corações por nossas preocupações, pelas pequenas e grandes preocupações. Assim como o Senhor nos tira a culpa do passado, substitui a ânsia do futuro, de modo análogo, Ele vem junto às nossas preocupações diárias com sua palavra e com os sacramentos, anunciando-nos assim a sua presença. O Senhor, estando presente, e nós, sentindo a sua presença, podemos em cânticos, em orações e súplicas pedir o seu auxilio para o nosso vai-e-vem diário. É preciso que deixemos o Senhor falar conosco por intermédio de sua palavra, para então estarmos cientes do anúncio: “Eis que hoje vos nasceu o Salvador!” No dia de Natal devemos compreender que Cristo está presente, ele está entre nós. Isto nada mais quer significar que Jesus Cristo bate às portas do nosso passado, do nosso futuro e do nosso presente. De todos os lados vem o Senhor, e com ele o fim de nossa culpa, de nossas preocupações. Com ele vem a Salvação, a paz. E onde nós andarmos, para onde olharmos, só podemos ser agradecidos a Deus pela Salvação e pela Paz que nos é oferecida por Deus. Deus vem a nós por meio do Menino de Belém, oferecendo-nos a sua paz e verdadeira Salvação. Aceitemos estas dádivas que, apesar da mensagem do Natal não ser a última novidade de nosso mundo, esta transcreve a obra de valor incalculável a nós homens, que é a nossa Salvação em Cristo Jesus. Mesmo que nós conhecemos as palavras: “Hoje nos nasceu o Salvador”, meditemos e reflitamos sobre a substância de seu significado. Que o Senhor abençoe a todos com sua infinita graça nestes dias em que a cristandade festeja o natalício de Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador. Amém. 45
30.12.1962 Salmo 103.2: “Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e não te esqueças de nem um só de seus benefícios”. Filipenses 3.13+14: “Uma cousa faço: esquecendo-me das coisas para trás ficam e avançando para as coisas que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus”. Cara comunidade: Encontramos na leitura destas palavras bíblicas duas expressões, as quais se assemelham a uma ordem e a uma contraordem: A primeira é: “não te esqueças” e a outra: “esqueça-te”. Ambas as ordens provêm do mesmo espírito bíblico e são de uma importância para a passagem de ano. “Não te esqueças” – é uma admoestação! Na verdade, o homem moderno corre o grande perigo de agir com o tempo como com um calendário, dependurado numa parede qualquer da casa, ou colocado sobe a mesa de trabalho: arrancamos folha após folha e no fim resta do calendário apenas um papelão nos serve. Se Deus nos colocou o tempo à nossa disposição, então não podemos agir friamente com o mesmo, como se estivéssemos arrancando folha por folha do calendário, vivendo por ai sem qualquer alvo em nossa vida, para depois restar apenas uma lembrança do que se foi e não volta mais. Na verdade, não podemos prender nenhum dia de nossa vida. Mas felizmente podemos guardar dos dias que passaram as coisas boas ou os benefícios, dos quais participamos. O salmista mesmo diz: “Não te esqueças nenhum só de seus benefícios”. Em todos dias de nossa vida Deus foi fiel para conosco. Infelizmente somos induzidos a esquecer, a fidelidade e o 46
esforço contínuo de uma mãe, a qual dia a dia, mesmo quando suas forças alcançaram um limite, preocupa-se pela família, não se lamentando, nem se queixando de suas inúmeras atribuições caseiras. Todo o lar vive desta dedicação, deste esmero, mas são poucos os que reconhecem estes benefícios. Os benefícios de Deus para com nós, criaturas humanas, é semelhante ao papel pouco reconhecido da mãe, daí o nosso esquecimento tão comum. Naturalmente Deus proclamou que sem Ele nada podemos fazer, nada somos, de nada valerão nossos esforços. Nem sempre podemos compreender esta situação de dependência, pois julgamos que tudo depende exclusivamente de nós. Do outro lado, somos chamados e somos praticamente admoestados: “Não te esqueças nenhum só de seus benefícios”. – Esta ordem vale para cada dia que vivemos, para cada noite que alcançamos. E estas palavras do Salmo 103 também nos são de estimável valor, ao alcançamos mais um fim de ano. Ninguém de nós poderá neste dia de hoje negar que sentiu a proteção de Deus, que participou dos benefícios de Deus, que se deixou orientar pela palavra de Deus. Talvez não notamos estes benefícios com clareza, mas se meditarmos bem, algo aconteceu pelo qual devemos estar agradecidos a Deus. E este algo se resume que aqui estamos reunidos, com a plenitude de nossa vida. Deus quer que não nos esqueçamos disso: Ele nos deu a vida! Indiscutivelmente, os benefícios e as dádivas de Deus em nossa vida permanecem com o tempo. O que passou, passou. Algo, porém, permanece: o nosso agradecimento, o nosso reconhecimento. Por isto devemos elevar o nosso reconhecimento a Deus por meio da oração, pois todos nós desejamos entrar no ano cumprindo com o nosso dever. Daí a 47
ordem do Salmista: “Não te esqueças de nem um só de seus benefícios!” Mas do outro lado vamos encontrar a contraordem do apóstolo Paulo: ”Esqueça-te das coisas do passado”. Para as nossas grandes realizações temos uma boa memória. Onde e quando foi possível abrimos as nossas bocas e referimos aos que nos cercam das “nossas” grandes realizações, dos “nossos” grandes feitos. Mas quando alguém nos revida e nos ultrapassa, perdemos as estribeiras e o nosso egoísmo não conhece mais barreiras. Naturalmente cada criatura humana deveria ter a sua meta, um alvo a alcançar. Porém, nem sempre é dito que alcançamos este alvo, principalmente quando há outros competidores. Mesmo que não tenhamos chegado ao nosso alvo, mesmo que este nos tenha sido arrebatado, sempre de novo temos a possibilidade de iniciar o caminho de novo. Cada um de nós tem a possibilidade, depois de ter caído, levantar-se e competir novamente. Cada um de nós pode constatar no seu passado grandes derrotas, derrotas estas que fizeram com que tenha vindo sobre nós o desânimo e a pouca vontade de levar avante os nossos planos. Constatamos assim em nossa vida uma certa indiferença, deixando-nos apáticos à espera do desenrolar dos acontecimentos. E é bem neste sentido que recebemos uma contraordem: “Esqueça-te das coisas do passado!”. Talvez é fácil ditar uma ordem de tal quilate. O problema em si é esquecer as coisas do passado. Realmente é dificílimo obedecer a um tal dito: esqueça-te das coisas do passado. Mas existe uma grande verdade atrás destas palavras, pronunciadas pelo apóstolo Paulo. Para podemos lutar com novas forças, com novo ânimo, com desdenho e preparação, é
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mister que passemos um traço nos nossos fracassos do passado, no tempo perdido e que não podemos recuperar. É necessário que nos desvencilhemos das garras do passado. Não nos é possível seguir novos caminhos, caminhos promissores e fiéis, se somos recalcados e se desejamos que tudo continue como está. Caros irmãos, existe um apagar do nosso passado, pois mesmo nas coisas espirituais, estas coisas que nos afastaram de Deus, nos são perdoadas. As nossas próprias dívidas para com o Criador foram afastadas do nosso caminho por meio de Jesus Cristo. Também nesta hora vemos à nossa frente à cruz de Gólgota, onde Deus se esquece do nosso passado. Cara comunidade: se Deus, o Criador e Pai de todas as coisas, esquece o nosso passado, como nós, criaturas humanas, nos deixaremos levar pelos nossos recalques, pelos nossos erros, pelas nossas faltas. Se Deus apagou as nossas iniquidades, nos libertou do jugo do pecado, porque nós vamos nos deixar oprimir pelo nosso passado. Nada é mais deprimente do que ver uma criatura humana sem ânimo, sem forças para a luta. Nada é mais decepcionante que um homem entrar no ano novo com complexos e recalques. Nada é mais chocante do que ver uma pessoa amargurada por seu passado. Por isto, caros irmãos em Cristo, desvencilhemo-nos de tudo que nos choca, que nos deprime, que nos decepcione, para podemos entrar no ano novo sem o peso do nosso passado. Entremos no ano novo como pessoas regeneradas e novas também. Não devemos enfrentar o futuro com pessimismo. Cada um de nós trace um plano com o qual deseja alcançar o alvo almejado e sonhado.
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Cara comunidade: o novo ano de 1963 também trará os seus problemas, as suas dificuldades, os seus inconvenientes, as suas interrogações, as suas lutas. Não fujamos de tudo que nos espera, mas sim enfrentemos tudo com energia e muito ânimo, bem como, com muita confiança. E não nos esqueçamos que nós prosseguimos, como hóspedes deste mundo, ao encontro de nosso alvo que está no chamamento de Cristo Jesus a todos homens. Como cristãos sabemos de nosso prêmio e devemos estar prontos para o futuro. Deus é fiel e nos cobrará também neste ano de 1963 de seus benefícios. Por isso, caros irmãos em Cristo, os votos de feliz e abençoado ano de 1963 a todos os vós e que a benção de Deus vós acompanhe em todos nossos caminhos. Amém.
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24.7.1966. 1 Pedro 4.7-11. Cara comunidade: Semana fatídica esta para o Brasil. Desvaneceram-se as esperanças, ruiram-se os castelos construídos com muita fibra e com muito amor durante anos a fio. Em alguns minutos findou um sonho. O desânimo, a tristeza, a decepção, a alegria de milhões se perdeu num vazio indescritível. O Brasil decepcionou ao próprio Brasil. Muitos de nós acompanhamos minuto a minuto a caminhada de 22 jogadores no caminho do tri. Tudo era esperança. Mas os fatos nos desiludem e agora resta perguntar: Quem chegará à última etapa?” “Quem ficará até ao fim?” Outros ainda continuam no páreo. – Mas quem dentre nós estará apto a participar da etapa final, quando chegar o fim que Deus decretará sobre o universo? Quem dentre nós realmente está preparado para enfrentar o ato final de sua vida e ao fim de todas as coisas?”. O nosso texto se inicia com a afirmação de Pedro: “O fim de todas as coisas está próximo”. Certo é de que a proximidade deste fim já tem durado 19 séculos. E tudo indica, pelo menos esta é a nossa esperança – de que este fim ainda não está tão próximo assim. Muitos já quiseram predizer a data certa do final do universo, contudo, tudo permanece no mesmo. Assim mesmo a confissão que une todos os cristãos do mundo – o Credo Apostólico diz: “Creio em Jesus Cristo ... que está sentado à direita de Deus Pai, todo poderoso, de onde virá para julgar os vivos e os mortos”. Os velhos romanos tinham um ótimo provérbio: “Quidquid agis, prudenter agas et respice finem”, que quer dizer: “Tudo que fazes, faça o com prudência e respeite o fim”. Não raras vezes
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esquecemo-nos de nossa real situação neste mundo e a agimos despreocupadamente não levando em conta o nosso próprio fim. Quantas vezes nós nos queixamos de insucessos e desilusões da vida e dizemos: “Se tivesse sabido disto, teria feito tudo diferente”. Mas, muitas vezes, não podemos recuar no tempo. Sim! Talvez um dia teremos que dizer: Se o pudesse, teria feito diferente! Todavia, como cristãos não temos desculpas, nem se conhece evasivas. Sabemos o que nos espera: o nosso próprio fim, bem como o fim de tudo nos cerca e nos rodeia: “o fim de todas as coisas!” Além de Jesus Cristo, isto nos comprovam a própria ciência, cientificando-nos que nem os princípios mais comuns e inabaláveis do universo são irreversíveis, sendo que a nossa própria vida pode descobrir o seu fim de um momento ao outro. Indubitavelmente este pensamento do fim de todas as coisas nos assusta e nos conduz ao desencorajamento. Mas com todo bom senso nos é dado chegar a conclusões mais otimistas. Sabemos que a nossa vida é comparável com um longo caminho; cada passo neste caminho, cada ponto nesta linha tem o seu significado especial. Nada deve ser desobservado nesta caminhada. Tudo que fazemos e deixamos de fazer está em relação com a nossa própria vida e a nossa caminhada ao objetivo proposto por Deus. Tudo se desenvolve, mas o que está feito está feito. Se estiver certo, ótimo. Mas se estiver errado, aí as coisas estão mal. Nesta análise, porém, não nos cabe fugir da realidade da vida com suas dificuldades assombrosas. Tudo que realizamos ou que estamos dispostos a concretizar corre o perigo de influências do nosso querer e desejar. O mundo é caracterizado pelo perigo do desmoronamento, pela corrupção, e pelo esquecimento. Todavia nesta mesma realidade tão controvertida, encontramos a realidade de Deus. Por 52
intermédio de Jesus Cristo Ele nos concede meios de ação objetiva e frutífera neste mundo, de modo que somos capacitados em conduzir a nossa vida ao objetivo que Deus nos propõe. A mensagem do Evangelho do Nosso Senhor Jesus Cristo quer nos conduzir com segurança pelas vicissitudes da própria vida, por intermédio de todos os transes já imagináveis, a fim de que sejamos vitoriosos. Não vitoriosos para nós mesmos – pois isto seria além de puro egoísmo, um desserviço para a própria humanidade – mas vitoriosos na nossa ação junto aos nossos concidadãos, junto aos homens que ao nosso alcance se dispõem. Se nos soubermos conduzidos como cristãos ao fim que Deus, o criador, se dispõe a realizar, condução serena e segura pelas agruras da vida afora, cabe-nos a ação. Sem ação, sem frutos, jamais poderemos chegar ao fim proposto por Deus, quanto mais para nós mesmos, tanto mais para com os outros. A primeira expressão do nosso texto de hoje: “O fim das coisas está próximo” está ligada com a ação do cristão, a qual resumimos a três fatos consequentes: 1. Sede criteriosos e sóbrios – orai. 2. Tende amor intenso uns para com os outros – porque o amor cobre multidão de pecados. 3. Servi uns aos outros conforme o dom que recebeu como despenseiros da multiforme graça de Deus. Estas, meus caros ouvintes, devem ser as características de um cristão:
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a. Ser criterioso e sóbrio b. Demonstrar amor aos outros (não a si mesmo) c. Servir aos outros por intermédio de seu dom. As características acima evidentemente simbolizam ação, exigem ação e se demonstram apenas e somente pela ação. 1. Quantas vezes nos incriminamos o nós mesmos por intermédio de atos impensados e funestos não só para nós mesmos, como principalmente para os outros. Esquecemo-nos de que somos criaturas cujo dom é pensar e refletir antes de praticarmos os nossos atos. Irreflexões e improvisamentos nem sempre são formas de acerto e de eficiência, antes causas de impróprios e malversações. Por isto é preciso usar a oração como meio “criterioso e sóbrio” de ação. Na oração não precisamos usar palavras ou retórica. Nós podemos e devemos falar com Deus sobre todos os nossos propósitos com simplicidade e sinceridade, como filhos falam aos pais. Com isto nós nos certificamos de nossa ação pura e discreta, criteriosa e sóbria. 2. Evidentemente isto não basta para o verdadeiro cristão. Torna-se necessário e obrigatório que demonstremos a nossa ação na intensidade do amor de uns para com os outros. Podese aqui perguntar, se realmente existem no mundo de nossos tempos sinais ou evidências de um amor intenso. Certo é que há muitos dentre nós que não creem mais no amor, julgando se tratar de um sentimento passageiro e variável de pessoa a pessoa. Às pessoas que assim creem, é preciso lembrar as palavras do apóstolo Paulo na 1ª epistola aos Coríntios no capítulo 13:
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Não se trata de um simples sentimento, mas de uma forma concreta de ação. O amor não é algo que flui simplesmente de um sentimento, mas sim, é aquilo que arraigamos, pelo qual lutamos, para depois usarmos em benefício de nós próprios, não como um amor próprio, mas sim que usamos na nossa relação com nossos semelhantes, quer sejam quais forem as circunstâncias. Se fizéssemos os devidos usos do amor, eles seriam capazes evidentemente de cobrir a multiplicidade do pecado dos nossos semelhantes. Quão fácil é difamar, esquecendo–se de dar o necessário apoio ao nosso semelhante. Quão difícil é ver-se a si mesmo. No entanto, pelo amor sincero nos é dado cobrir a multidão de pecados dos outros e sentir em nós mesmos a ação do perdão de Deus por intermédio de Jesus Cristo, por Ele Deus nos revela o profundo e intenso amor. Quem crê em Deus e aceita o Cristo em sua vida só confirma esta sua fé na intensidade de seu amor para com o seu semelhante. 3. Mas resta a pergunta final: Como posso, como cristão, demonstrar a intensidade do meu amor em meu semelhante? O texto nos dá a resposta: “Servi uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus”. É preciso salientar que não há neste mundo sequer uma criatura humana que reúna todos os dons humanos. Seria assim um gênio universal. Mas isto não existe. No entanto, ninguém poderá afirmar que não possui dom qualquer. Cada um de nós possui um ou mais dons, com os quais Deus nos municiou, com os quais somos capacitados um servir uns aos outros, em demonstrar a intensidade do nosso amor.
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Cada um de nós pode servir no sentido de seu tempo, de seu trabalho e de seu dinheiro. Porque, no fundo, quer o tempo, quer o trabalho, os dinheiros são dons que não nos pertencem, diretamente, mas que nos são delegados pelo Criador. E estes dons devem ser colocados à disposição dos nossos semelhantes a fim de sermos nós mesmos beneficiados pelos mesmos. Jamais nos esqueçamos de que mesmo contra nossa vontade, mesmo contra nossas convicções contrárias, mesmo contra a nossa adversidade, Deus continua e continuará sendo o princípio, o meio e o fim de todas as coisas. Deus é o autor, o mantenedor e finalizador de tudo, inclusive de nós. Mas apesar disto. Ele se dispõe a estar ao nosso lado por intermédio de sua palavra, o evangelho do Nosso Senhor Jesus Cristo, pelo qual nos é dado sermos sóbrios e criteriosos em oração, agirmos na intensidade do amor em função de nossos semelhantes, servindo-os (os nossos semelhantes) em conformidade com os dons que recebemos de Deus – entre estes o nosso tempo, o nosso trabalho e o nosso dinheiro. Deus nos conceda que a nossa vida seja uma demonstração de oração, de amor e de serviço ao semelhante por intermédio de nossa ação. Pois a ele compete o poder e a honra da eternidade a eternidade! Amém.
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31.7.1966 Romanos 8.12-17 Cara comunidade: Raras vezes somos conscientizados de nossos múltiplos compromissos como criaturas humanas dentro do concerto da humanidade. Em todas as ocasiões, em qualquer que seja a oportunidade, somos sempre devedores. E como devedores cabe a cada um de nós saldar os nossos compromissos para não sermos recriminados e sofrermos sanções as mais diversas. Na realidade toda a nossa vida é um compromisso que se inicia na nossa família e se desenvolve até aos nossos deveres de cidadãos perante a nação, à qual pertencemos, deveres no cumprimento das leis, do pagamento de impostos, e na coresponsabilidade política na vida do país. Cada compromisso exige que dirigimos os nossos pensamentos e as nossas ações no sentido de o saldarmos com fidelidade, a fim de não sofrermos as sanções previstas no caso de faltarmos com as nossas dívidas. Além destes compromissos sociais – em relação à sociedade constituída – ainda temos de reconhecer as nossas necessidades naturais do corpo, o alimento, a higiene, da necessidade física e sexual. São fatos incontestáveis que rondam a nossa vida diária e evidentemente cabe a cada um de nós preocuparmo-nos com os mesmos. Todavia é preciso nos perguntar se basta ao homem, à criatura humana, na sua vida, em simplesmente saldar compromissos de ordem pública e física? Seria o homem feliz apenas como cumpridor de ordens e de necessidades? É evidente que não. A vida do homem só é completa quando tem um sentido. Seguro, mas não feliz.
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Um dos grandes males de nossa época conforme a afirmação dos psicólogos e sociólogos é a falta de sentido objetivo da vida do homem moderno. O homem moderno tem se transformado num elemento introvertido, que aos poucos vai apenas se preocupando consigo mesmo, com seus problemas, com seus males pessoais. Ele se torna cada vez mais desconfiado e vive cada vez mais para si. Ele cumpre os seus deveres naturais perante si mesmo e perante a sociedade, mas lhe falta a substância, o objetivo, o sentido da vida. Não acontece o mesmo conosco? Não é este o quadro de nossa vida? O texto do domingo de hoje quer nos ajudar a suplantar esta situação de apatia da vida, desejando demonstrar que o cristão não deve ser apenas uma criatura vegetativa, a qual apenas se desincumbe de seus deveres e normas no corpo social e físico, mas que tem um sentido na vida: o sentido de ser filho de Deus, no de ser herdeiro de Deus e co-herdeiro de Cristo. Evidentemente este ser filho de Deus, e, por conseguinte herdeiro de Deus e co-herdeiro com Cristo, exige novos compromissos. Não se trata de compromissos antagônicos aos deveres naturais de cada um de nós, mas se trata de um poder proveniente da dinâmica divina que deseja “constituir uma forma de vida responsável na afirmação da criatura humana”. Esta dinâmica proveniente de Deus deseja que o homem santifique a sua vida dentro do mundo. Esta santificação do homem deseja que ele se deixe conduzir pela verdade de Deus. Deus dá ao homem uma forma de vida atuante, pela qual ele possa atuar com galhardia e sob a responsabilidade não apenas de si mesmo, mas que ele se sinta responsável também por aquilo que acontece ao mundo.
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A palavra de Deus que nos chama a sermos filhos sinceros do Criador quer que nós nos incomodemos, que nos dediquemos com o desenvolvimento do mundo e com a caminhada da humanidade. Como cristãos, como filhos de Deus, temos um compromisso para com o Pai, com o próprio Deus. O nosso compromisso não é o de silenciar e calar perante os problemas que sufocam o mundo, mas o de participar dos problemas que abalam a humanidade. Na realidade devemos atuar assim como herdeiros que tem interesse que a herança recebida não perca o seu valor, não seja inflacionária, mas que ela se transforme e se valorize para o nosso bem e para o bem daqueles que usufruírem desta herança. E qual é esta herança, pela qual demonstramos a nossa filiação sincera com Deus? Estas heranças indiscutivelmente encontram em Jesus Cristo, a qual legou aos homens, a nós a mensagem do Evangelho, a mensagem do amor como relação intrínseca entre a humanidade, a mensagem da paz completa e profunda, a legação do perdão, elemento pelo qual os homens se aproximam mutuamente, a mensagem da profunda justiça, pela qual os homens vivem sedentos. Esta herança está à nossa disposição. Ela é nossa, tua e minha. Cabe a nós como herdeiros desta mensagem, a qual não é uma simples ideologia, porém, maneira indispensável para uma vida em harmonia e paz neste mundo, fazer uso do mesmo. Eis que, todavia, uma nova questão se incorpora no uso e na atuação desta herança: o uso e a atuação em conformidade com a mensagem de Evangelho exigem de todos nós coragem e astúcia. E somos herdeiros de Deus e desejamos valorizar a 59
herança recebida por intermédio de Jesus Cristo. É preciso coragem e astúcia, pois no uso e na atuação cotidiana do Evangelho no mundo em que vivemos, é preciso lutar e lutar muito. E não existe luta neste mundo que não traga consigo o sofrimento. Este sofrimento tem motivo de ser. O mundo de hoje vem se demonstrando numa forma de completa inércia. Cada qual, todo grupo, qualquer sociedade tem se restringido a si mesmo. Ninguém se interessa por problemas e causas que afligem a outros. Enquanto tudo vai bem conosco, o resto não interessa. Ao cristão cabe, todavia, uma atitude bem diversa. Mesmo que não seja atingido por uma certa desgraça, mesmo que um devido problema o persiga, o resto luta por si, nem por sua causa, mas pelo próximo, por seu semelhante. Ora, se Jesus Cristo, não um simples idealizador, mas o portador da própria mensagem do amor, da paz, do perdão, da justiça, sofreu, sofreu a ponto de ser conduzido à cruz, também a nós não cabe um pouco de sofrimento na luta, na luta que é nossa, nossa em prol aos nossos semelhantes, os quais também sofrem. Mesmo os que nos fazem sofrer, não querem, nem merecem compaixão, são o alvo de nossa luta. Não que queiramos ser nós os vitoriosos, filhos todos de um só Pai, de Deus, o nosso Criador. Caro ouvinte, meu irmão, minha irmã: Se tua vida apenas se reduz a um compromisso simplesmente obrigatório e físico, aceite um compromisso maior: o compromisso com Deus, o qual te faz herdeiro, herdeira da mensagem que mundo necessita.
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Se deseja fazer este compromisso, faça-o não perante homens, mas perante Deus e Ele te abençoará e te guiará pelas veredas e caminhos da luta que te espera! Amém.
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Ano Novo 1967 Hebreus 13.20+21 „O Deus da paz, que tornou a trazer dentre os mortos a Jesus, nosso Senhor, o grande Pastor das Ovelhas, pelo sangue da eterna aliança, vos aperfeiçoe em todo bem, para cumprirdes sua vontade, operando em vós o que é agradável diante dele, por Jesus Cristo, a quem seja a glória para todo o sempre”. Lema do ano de 1967: “Senhor, concede-nos a paz, porque todas as nossas obras tu a fazes por nós”. Isaias 26.12. Cara comunidade: A. O nosso ano é iniciado entre os homens das mais diversas maneiras, dando lugar às expressões de tradição e de estado de espírito. Alguns esperam a passagem de ano em silenciosa e profunda reflexão. Aproveitam estes momentos para lembrar os bons e os maus momentos do ano que passou, fazem o seu balancete pessoal. Os que assim agem certamente sentem um pouco de angústia e mesmo de decepção, pois sabem que o passado não volta e o tempo que se foi dificilmente pode ser recuperado. Mas aos mesmos é dado contemplar os dias de um novo ano com mais esperança e melhor objetividade. Outros há que passam de ano a outro em alegres e retumbantes festividades, regadas de ceias e champanhotas, muita alegria – quase sempre artificialmente, música, confeites e serpentinas. Não tem, nem tiveram momento sequer para pensar ou refletir no ano que passou ou que está nascendo. Tantos afazeres, tantas preparações, nem havendo tempo de serem notificados que mais numa cortina está se fechando e outra se abrindo. Serão estão os felizes, os que não se preocupam, “que não perdem tempo”- pejorativo – em refletir e pensar.
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Certo é que ambos os tipos desejaram aos outros e a si um novo ano repleto de sucessos, alegrias e felicidades. 1. Na realidade: somos o que somos, quer por nosso berço, quer por nosso trabalho, quer por nossos dons, quer por nossos esforços próprios. Apesar de sabermos disto, desejamos lá no nosso íntimo que a sorte caia em nossos destinos, qual um toque de mágica. Ser fariseu num momento assim seria inoportuno: pois vence aquele que luta; seja aquele que aproveitou a sorte para refletir e fazer seu balançozinho pessoal, seja aquele que apenas pensou em se divertir ou divertir aos outros. 2. Todavia a ambos algo de concreto neste dia de Ano Novo pode ser dito. Algo não apenas de confortante, mas algo que leve a qualquer pessoa a imprimir novas atitudes nos próximos 365 dias de 1967. O caminho que nos cabe percorrer está livre. Ele é nosso, é teu e meu. Livres como os pássaros, livre como crianças, assim se encontra a nossa nova jornada, pois Deus nos a colocou à nossa inteira disposição. E de tal maneira que não lhe devemos coisa alguma, nada. Não por nosso merecimento nada devemos ao Pai de N. S. Jesus Cristo, mas sim, por Ele nos certificar do seu perdão, de seu perdão a todo aquele que deseja ser livre. Por isto somos livres. Daí a confissão da palavra que nos serve de lema do ano: ”porque todas as nossas obras Tu as fazes por nós”. Deus em Jesus Cristo também hoje por sua palavra e por seu Sacramento da Eucaristia faz a sua obra em nós. Se alguém julgar que está realizando algo de enorme na vida, algo que merece aplauso e louvor, pense bem: quem tudo faz em nós e por nós é em última análise Deus.
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3. Por isto, cabe aqui dizer que todas nossas boas obras, não são nossas; apenas somos os intermediários do bem. Deus usa a cada um de nós para que o mundo, os homens, reconheçam que Ele é bondade, amor e paz. Quem sabe, para um ou outro o fato de sermos instrumentos de Deus num mundo problemático e tão antagônico, seja algo incompreensível, talvez até algo inconsequente. Mas não o é. Assim como Deus encarregou a uma criatura como Jesus Cristo, cujo natalício acabamos de festejar, de levar aos homens sua mensagem de paz, assim como Jesus Cristo incumbiu aos doze apóstolos pregar o Evangelho em todo mundo, do mesmo modo somos colocados no nosso meio ambiente como representantes d’aquele que veio redimir, salvar, humanizar e concretizar um mundo melhor à humanidade. É algo incrível, ao primeiro momento, mas é algo possível. Certamente cada um de nós traz consigo nesta passagem de ano uma enorme bagagem de desejos, desejos sinceros e objetivos, tanto universais como pessoais. Entre os desejos pessoais existem uns números sem par e infinito que vão desde o sucesso particular até à despreocupação para com o futuro. No entanto, cada um de nós sabe que todos os desejos pessoais apenas poderão sair do “glutão”, do aprisionamento pessoal, quando o ambiente em que vivemos para tal for propicio. Mesmo que não o tenhamos apercebido, é de maior grandeza desejar num dia como hoje um mundo melhor, mais humano, mais compreensível e justo, desejar que os conceitos humanos sejam elevados a um grau maior de direitos e de justiça, desejar que este novo ano transmita a nós e às gerações futuras mais esperança e mais segurança.
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No entanto, ninguém de nós ousa fazer desejos de público. Tudo que nos envolve e nos circunda nega as possibilidades de um mundo melhor. Há por demais miséria nos rondando, insatisfações, egoísmo, fanatismo, ameaças grandes demais para a concretização de verdadeiros sonhos. 1. Como mundo melhor? 2. Aspirações como justiça, paz, integridade moral e intelectual? 3. Como dar segurança e esperança às gerações futuras? Fora de nosso alcance! Se os grandes políticos nada conseguem e que tem o poder em suas mãos, como nós – um grupinho – o podemos arriscar? O papel do cristão: arriscar. Arriscar até o impossível. Saibamos de antemão de que para Deus nada é impossível. Desta premissa cabe-nos partir e confiar acima de tudo em Deus. A nós pertence, no entanto, a parcela de participação na concretização de nossos desejos universais. Ao nos reconhecermos como co-participantes como intermediários da obra divina no mundo, a nossa primeira atitude deve ser invariavelmente a de “sermos aperfeiçoados em todo bem”. Como? Muitos meios e modalidades. Acima de tudo ouvimos a Palavra do Senhor, participarmos do Seu Evangelho.
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Jamais poderíamos cumprir a vontade de Deus no mundo, sem antes vivermos o Evangelho de Jesus Cristo, sem crermos firmemente em suas palavras, sem antes nos cientificarmos que Ele veio ter entre nós não para nos julgar e nos desclassificar, mas para nos salvar, nos redimir, nos tornar aptos e prontos para toda boa obra. Meus amigos, também ao principiarmos um novo ano, são chamados e conclamados a unidos operarmos não só em nossa vida o que é agradável a Deus, mas também causarmos por nossas atitudes e ações a transformação renovadora que o mundo necessita e que em silencio também espera. Ao, no dia de hoje, desejamos a todos um feliz, próspero e abençoado ano novo, devemos estar cientes de que estes desejos não são apenas, esperemos, por serem uma atitude de cordialidade e de educação recíproca. Mas sim, devemos formular estes votos na certeza de que nos colocaremos ao lado de Deus, como operadores anônimos e cênicos. 1. de um mundo melhor, mais humano, mais compreensível e mais justo! 2. de que os direitos humanos sejam elevados num grau maior! 3. de que este novo ano transmita não apenas a nós mais esperança, mais segurança, mais prosperidade, mas a todos os homens! Deus por intermédio de Jesus Cristo pode operar este milagre, desde que nós nos demonstremos não como obstáculo à sua obra, mas como verdadeiros intermediários. Feliz ano novo, cheio de alegrias e prosperidade! Deus os abençoe! Amém.
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08.01.1967 1o. Domingo após a Epifania Romanos 12.1-2 Cara comunidade: a. Deus não exige, Deus dá. Se alguém até hoje ainda não souber algo de concreto em relação a Deus, se alguém julga que Deus está morrendo – o novo chavão de nossos tempos – se alguém deseja se informar a respeito de Deus e de sua mensagem, que leia uma vez detalhadamente a epístola de Paulo aos Romanos. A epístola de Paulo aos Romanos, em resumo, nos apresenta as bases, as somas e os resultados práticos da fé cristã. Ao nos confrontarmos com a mensagem cristã contida na epístola aos Romanos, poderemos tirar nossas conclusões e perguntar: Que nos significa a mensagem apresentada pelo apóstolo Paulo, em que fatores ela determina a nossa vida? Deus não é um Deus que exige. Isto nos demonstra a mensagem cristã. Este é o centro da fé cristã. Deus não exige, mas nos dá, Ele nos presenteia. E quando Ele exige, então Ele prepara as possibilidades, a fim de podermos obedecer, isto é, por sua atitude de dar, de presentear. O Deus exigente, todos os povos da face da terra conhecem. Assim era o Deus de Judeus que não concebia a falta, o erro humano. Assim foram os deuses dos romanos, dos gregos, dos babilônicos, assim é o Deus Buddha, assim é Alá, assim continuam sendo os “oxuns” e os “orixás” das religiões afrobrasileiras. Este Deus exigente também é conhecido pela filosofia dos últimos três séculos, quando ouvimos falar do
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“imperativo categórico”, ou quando se fala nas “infinitas obrigações” sob as quais o homem vive, negando que o mesmo é livre. O Deus, que por suas exigências e por sua persuasão cria o medo e a falsa bajulação, é o Deus que apenas sabe apontar o dedo acusador sobre os humanos. A esses deuses o homem é capaz dos mais variados e imagináveis sacrifícios, tudo por causa do medo, da insegurança e insatisfação própria. Daí o homem – do ignorante ao mais culto – se agregar a estes deuses falsos, como os amuletos, como às benzedeiras, como aos horóscopos, como as simpatias, aos galos pretos. Tudo, por causa de seus deuses ou seu Deus exigente e apenas apontador de culpas e de erros. Estes deuses, este Deus, para o apóstolo Paulo, para os verdadeiros cristãos já estão mortos, já morreu há muito tempo, ou melhor, jamais existiu. Por que? b. Deus é o Deus misericordioso. Deus existe, como aquele que nos justifica, como aquele que de nós se aproxima dentro de nosso estado normal de criaturas não merecedoras, erradas e falsas, porém, não nos lançando aos lobos, não nos acusando, nos desmoralizando, mas como aquele que nos quer ajudar a levantar a lama, como aquele que nos dá novas possibilidades de uma nova vida. Deus se aproxima de todos que o procuram, do cético como do entusiasta, do despreocupado como do decepcionado, do desconfiado como do confiante, do de pouca fé como daquele capaz de remover montanhas por sua fé. O apóstolo Paulo afirma: “Mas, agora, sem lei, se manifestou a justiça de Deus testemunhada pela lei e pelos profetas; justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para todos os que crêem; porque não há distinção, pois todos pecaram e carecem da glória de
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Deus, sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus”. (Rm 3.21-24). Por esta afirmação do apóstolo Paulo – bem como, por nossa observação pessoal – somos de princípio criaturas devedoras, perante Deus e nossos semelhantes, todos somos pecadores. Indubitavelmente Deus por Jesus Cristo aponta as nossas feridas. Mas Ele não aponta simplesmente nossas enfermidades, porém, dá-nos o medicamento contra o nosso estado febril. Mediante Jesus Cristo, mediante suas palavras, mediante suas obras, somos conduzidos pelo perdão a nova situação, somos novas criaturas. Daí a afirmação do apóstolo Paulo: “se alguém está em Cristo é nova criatura; as causas antigas já passaram; eis que se fizeram novas”. (2 Co 5.17). Se, como cristãos, podemos nos sentir como novas criaturas, não o somos pelo fato de termos por nossos esforços, por nossos galardões, por nossas lutas, alcançado esta situação privilegiada. Deus, em sua muita misericórdia, Deus em sua infinita bondade, se nos fez reconhecer por intermédio de Jesus Cristo, que de nada adianta separar o joio do trigo, categorizando os homens entre si, de maus e bons, de descrentes e pios, de valorosos e covardes, mas sim, dar à humanidade o caminho da nova retidão, o caminho de um novo povo de Deus, o caminho da nova humanidade, não excluindo uma só criatura de seu plano providencial. Mas, na grande realidade vemo-nos sempre perante os grandes obstáculos de nossa própria crítica. Tudo isto Deus nos dá um Jesus Cristo: possibilidades de uma nova humanidade. Todavia, onde estão os resultados, os efeitos destas dádivas divinas? Onde está a nova humanidade que Deus deseja, continua desejando, criar no mundo?
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Onde? Onde? Onde? É um grito, não mais de desespero, mas de desconfiança. Esta é infelizmente a realidade de nossa época. Vivemos em constante desconfiança de uns para com os outros. Desconfiamos de nossas autoridades, desconfiamos de nossos superiores, desconfiamos de nossos amigos, de nossos parentes, de nossos vizinhos, dos nossos pastores, dos nossos membros, porque também não desconfiaríamos da mensagem cristã. Mas, nem tudo está perdido. Devemos antes de qualquer coisa lutar contra este ar de desconfiança, de acomodação e de inércia dos nossos tempos. E isto criando confiança, espalhando confiança ao mundo. Temos que ser confiantes para que outros também possam confiar. Na verdade Deus conquistou a nossa confiança por tudo que nos deu e nos continua dando pela mensagem de Jesus Cristo. Pois por intermédio de Jesus Cristo Deus se colocou num plano só conosco: se nos revelou naquele que nasceu, vivei e morreu para que nós o reconhecêssemos como mensageiro de Deus. Deus em Cristo se abriu para nós. Ele se mostra a nós. Por isto Jesus diz com razão: “Quem me vê a mim, este vê o Pai”. Partindo deste reconhecimento, e sabendo da necessidade de dar “confiança” ao mundo; o apóstolo Paulo dirige quase no fim de sua epístola um apelo, um apelo sério e profundo aos cristãos: “Rogai-vos, irmãos, pelo fato de Deus ser misericordioso, pelo fato de Deus ter se mostrado benigno conosco, pelo fato de Deus demonstrar paciência conosco, que cada um de nós de também sua resposta pessoal a Deus, não em benefício próprio, mas em benefício da coletividade”.
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c. “Apresenteis os vossos corpos por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus”. Para evitar logo de princípio os mal-entendidos seria melhor afirmar com o original grego do texto: ”Apresentai-vos a vós mesmos por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus”. Talvez para um ou outro tornamo-nos incoerentes afirmando com o apóstolo Paulo que devemos nos apresentar por sacrifício perante Deus, depois de dizermos que Deus – o revelado por Jesus Cristo – não exige, mas dá. Mesmo parecendo uma incoerência, não estamos perante um antagonismo. Se nos perguntamos pelo onde estão os resultados da mensagem cristã (onde está a nova humanidade preconizada pelo Evangelho de Jesus Cristo), antes deveríamos pesquisar em nós mesmos o onde está a nossa resposta às dádivas que Deus nos dá por intermédio das palavras e da obra de Jesus Cristo. Para o apóstolo Paulo a mensagem de Jesus Cristo só é valido, só é aceito, só é de valor no momento em que nós os cristãos estamos dispostos a ser sacrifício vivo. Não nos cabe trazer algo como sacrifício, mas ser sacrifício. Não adianta querermos seguir a mentalidade ainda hoje enraizada em nós mesmos, proveniente da antiguidade dos deuses de trazer sacrifícios em forma de dinheiro – para aliviar nossa consciência, em forma de roupas, de calçados, de remédios, isto é, esmolas, quando estas atitudes apenas significam um pouco de nossas sobras, algumas migalhas de pão que caem de nossas mesas. Deus precisa de cada um de nós, do nosso tempo, do nosso trabalho, do nosso rendimento, isto é, de nosso próprio sacrifício, a fim de que realmente o mundo sinta que não somos egoístas, mas sim, instrumentos de uma mensagem de renovação.
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Uma criatura humana passou por esta terra, e nos demonstrou o seu sacrifício. Ele não trazia ou trouxe sacrifícios. Ele era o sacrifício. Ele sentia na própria carne a angústia humana. Ele sabia que era preciso tomar atitudes contra este estado de coisas. Ele reconheceu que era preciso agir. E agiu. Seguiu sua vida em responsabilidade e sacrifício, provando à história de que estava certo, pois foi amaldiçoado, cuspido, xingado e morto na cruz. Cristo Jesus nos provou que o mundo não vive, nem jamais poderá viver de sacrifícios mortos, nem de amuletos, nem de horóscopos. O mundo vive, isto sim, de sacrifícios vivos. Isto não são palavras nem conceitos vazios, mas os fatos da própria realidade. O mundo, a nossa vida nada poderiam ser sem os sacrifícios. Pois todo e qualquer benefício que usufruímos em nossa vida, partindo do nosso pão de cada dia, pelos medicamentos até aos nossos momentos de diversão, tudo é fruto de sacrifícios. É preciso que o mundo – principalmente a família cristã – reconheça que os sacrifícios vivos não são algo irreal ou frutos de ignorância. Isto sim, são frutos conscientes de responsabilidade, responsabilidade sobre o nosso destino, o destino do mundo de hoje, o destino das futuras gerações. Cada um de nós, como parte e membro desta humanidade, do povo de Deus, somos responsáveis, hoje e no dia de amanhã, na formação ou não de uma nova humanidade, de uma humanidade irmanada pela fé, onde as raças, as tradições e as fronteiras deixarão de existir. E isto só é possível quando estaremos dispostos a ser cada um no seu meio, no seu ambiente, sacrifício vivo, santo e agradável a Deus. Que assim seja!
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12.03.1967 Efésios 5.8-10 “Outrora éreis trevas, porém, agora sois luz no Senhor; andai como filhos da luz, porque o fruto da luz consiste em toda a bondade, e justiça, e verdade, provando sempre o que é agradável ao Senhor”. Cara comunidade: No século passado era-se da opinião de que o tempo da história universal se resumia na luta entre a fé e a descrença. Antes, porém já se conhecia esta opinião. O apóstolo Paulo – luta intermitente entre a luz e as trevas. Também nós vivemos numa época em que continuadamente os elementos luz e trevas se entrechocam. Os antagonismos se evidenciam cada vez mais e nos conduzem a situações aflitivas e preocupadoras. O estabelecimento desta luta entre a luz e as trevas são assunto diário dos jornais, das revistas, do rádio e da televisão, encontrando-se, inclusive, dentro do próprio cinema moderno. O grito do desespero, da incerteza, da desordem, da injustiça e da mentira ouve-se em todos os lugares. São os sinais das trevas que a todo vapor e com todo ímpeto vão transformando a luz em penumbra. Podemos nós de uma forma qualquer fugir desta luta? Qual a nossa real situação como cristãos perante este fenômeno normativo e comum da vida diária? Podemos permanecer na expectativa, na neutralidade? Existe uma só resposta: É necessária uma confissão livre e responsável de cada um, é preciso uma tomada de posição pessoal perante todo este quadro complicado e antagônico do
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mundo que nos rodeia. Ou nos encontramos ao lado da luz ou nos unimos aos discípulos das trevas? Aqui não há um terceiro caminho. Ou somos testemunhas da luz ou somos seguidores das trevas. O apóstolo Paulo escreve sua epístola a uma comunidade, cujos membros outrora eram pagãos. Todavia, sofreram uma transformação radical em sua vida. Com toda consciência decidiram-se por uma nova luz ascendente em seu horizonte na vida, Jesus Cristo. Algo de impetuoso e revolucionário lhes era dado na vida, de modo que se viram divididos em duas eras e realidades. A antiga e que havia passado: a era e a realidade das trevas. A nova, a era da luz, a era da fé em Jesus Cristo, era que exigia a sua transformação de escuridão para luz revelada. Para os Efésios a luta havia se decidido. Queriam ser filhos da luz. Todavia, a luta, apesar de decidida, ainda não está terminada. Nada de acomodamentos, nada de louros. A luta continua e diariamente se desempenha de modo desenfreado. Ao discípulo da luz é exigido não recair nas malhas da escuridão, mas vir em socorro daqueles que lá ainda se encontram. Como filhos da luz cabe-lhes transformar a penumbra e a escuridão em luminosidades, em luz que penetra e que finalmente vence. E como se define esta luta entre a luz e as trevas em nossa atualidade? Fazemos parte desta luta? Um ou outro poderia se basear em argumentos tais, como a afirmação de que a nossa situação hoje difere daquele dos Efésios, aos quais o apóstolo Paulo enviou as palavras de exortação e de chamamento. Certamente, fomos conduzidos por nossos pais e padrinhos à pia batismal. Recebemos dentro de nossas possibilidades uma educação cristã. O espírito cristão definiu-se em nossas vidas e é uma constante em nossas atitudes normativas. Mesmo 74
aqueles que negam a Cristo e seu Evangelho, não se podem furtar de sua influência – ainda mais entre nós brasileiros, que, conforme estatísticas, contamos entre os povos mais cristianizados do mundo. Tão escuro, como no mundo pagão de antigamente, jamais poderá ser tida a escuridão entre os povos chamados cristãos, mesmo perante as tremendas manchas negras que sempre de novo se nos apresentam. Tudo isto podemos reconhecer com um pouco de otimismo e boa vontade. No entanto permanece vigente a pergunta: “Consideramo-nos verdadeiramente como filhos da luz? Demonstramos as nossas lutas como aqueles que demonstram continuadamente os frutos de bondade, de justiça, de verdade? Provamos verdadeira e sinceramente que somos agradáveis ao Senhor, seguindo os seus passos de sacrifício, de amor, perdoando, pacificando e imputando justiça aos outros”? Se, ao desejarmos responder estas perguntas, chegarmos ao reconhecimento que no fundo, em última análise nada disto vem acontecendo em nossas vidas, que de fato nos acomodamos nesta luta pela mensagem cristã, assim cabe-nos lembrar e sublinhar que nos encontramos no tempo da paixão e morte de Jesus Cristo. Ao nos encontrarmos nesta época da paixão, somos chamados a nos colocar aos pés da cruz de Cristo. Pois foi exatamente Jesus Cristo que efetivou a luta da luz contra as trevas do mundo. Ele foi a iniciador e igualmente o Consolador, o Finalizador da fé cristã, a arma da luz, a arma do amor, a arma do perdão, a arma da paz, a gloria da justiça. Para muitos incautos e supérfluos existe a impressão de que, nesta luta iniciada por Jesus Cristo, onde luz e trevas se combatem, as trevas saíram-se vitoriosas. Indiferentes, sarcasticamente os inimigos da luz chamam ao crucificado:” ai tens o teu fim; tudo se acabou, Mestre e Senhor Jesus”.
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Povo – júbilo – acusação Oficiais e soldados Os próprios discípulos se dispersam Angustiados e medrosos. Esta impressão do fracasso tinha-se realmente: pela morte de Jesus toda sua obra redentora tinha encontrado o seu fim. Eram mais um idealista que perdia sua importância. Todavia, os inimigos de Jesus Cristo não se imaginavam nem de longe que estavam sendo usados como “instrumento” de Deus, para a declaração vitoriosa da luta entre a luz e as trevas, por Jesus Cristo que ressurgiu na Páscoa com a mensagem da nova vida, reunindo surpreendentemente os seus discípulos, quebrando o seu círculo interno e dando aos mesmos a ordem da missão: “Ide a todo mundo”. A mensagem de Cristo se tornava agora uma arma universal contra as forças das trevas. Apesar de decorridos 20 séculos esta mensagem cristã da luz, do amor, do perdão, da paz e da justiça continua transformando mentes, renovando corações, dinamizando e controlando criaturas humanas, dando objetivo às suas vidas antes vazias, sem vivacidade, acomodadas e, acima de tudo, tristes. A luz continua a brilhar mesmo até para abafar a proclamação cristã. Mesmo entre a imensa escuridão permanece acesso o filete de luz, Cristo Jesus. Na realidade, quanto arrependimento podemos aprender aos pés da cruz. De que modo penetrante nos fala a cruz a cada um de nós! Como nos sentimos envergonhados, quando nós comparamos com aquele que foi fiel um amor, em bondade, em justiça, em verdade até a morte, e morte de cruz! Mas este é apenas um lado da cruz, o lado que nos faz olhar o nosso
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passado. A cruz, porém, não só nos condena e nos julga. Ela também tem a força e o poder de nos renovar, de nos transformar. E esta duplicidade da cruz deve para nós ser o elemento chave de nossa vida: o passado de nosso viver pode ser negro, escuro e manchado – e Jesus Cristo nos causa nesta negridão da vida; porém, Ele não permanece ali. Dele também fluem as forças da renovação da vida. Amor – base da mensagem Fragilidade arrependimento)
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perdão
(precedido
pelo
Paz – justiça dada pela fé, pela ação cristã. Nesta época da paixão de Cristo somos chamados a participar da luta entre a luz e as trevas. Somos chamados à decisão. E se nós decidimos pela luz, cabe-nos demonstrar esta nossa posição pelos frutos primordiais da bondade, da justiça e da verdade. Ao reconhecermos a nossa participação nesta luta, reconhecemos que Jesus Cristo já é vitorioso na luta e que ele nos ofereceu por sua mensagem também nossa vitória. Mas apenas poderemos ser vitoriosos sinceramente se nós lançamos a viver o Evangelho da Cruz, deixando apenas de intelectualiza-lo. Devemos amar, devemos dar um pouco de nós pela causa iniciada por Cristo. Ele convocara a nossa vida com louvor e com paz intima e sincera. Amém.
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09.04.1967 Misericordias Domini 2 Pedro 2.21b-25 Cara comunidade: “Porque estáveis desgarrados como ovelhas; agora, porém, nos convertestes ao Pastor e Bispo das nossas vidas”. 1 Pedro 2.25. O domingo “Misericórdias Domini” é conhecido no ano eclesiástico como sendo o “domingo do bom Pastor”. Cada domingo do ano eclesiástico tem um tema, tirado das Sagradas Escrituras, como sinal evidente e marcante de que tiramos os nossos princípios da própria Bíblia, a qual contem a verdade divina. O tema de hoje encontramos no Evangelho de João 10.11: Jesus Cristo diz: “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas”. Desta maneira singular somos lembrados mais uma vez o fato de que Jesus, como o grande e bom pastor, deu a sua vida por suas ovelhas. Igualmente somos lembrados de que assim como o pastor e seu rebanho formam uma unidade, Jesus Cristo e a comunidade cristã hoje devem ser uma unidade inseparável. Mas todos nós sabemos quão difícil nos é nos dias de hoje afirmar-se categoricamente que Jesus Cristo e a comunidade cristã se demonstram como uma unidade coesa e inseparável. A história da Comunidade Cristã, da Igreja Universal, nos apresenta aspectos difíceis e até desnorteantes. Ela se encontra separada em várias confissões e estas confissões em denominações. Apesar disto, apesar destes agrupamentos cristãos, o objetivo de todos se resume num só: de levar uma mensagem objetiva ao homem, a mensagem da afirmação da fé.
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Todos sabemos que o homem de natureza é um “ser social” acostumado a arrebanhar–se em grupos. A maioria destes grupos está unida de certa forma com seus interesses pessoais. Daí a formação de associações de grupo, de classes, de ideias, de ideais, de sindicalização. De fato, há tantas associações quanto interesses e ideias comuns entre os homens. No entanto, estes agrupamentos de interesses e ideais comuns nem sempre satisfazem criaturas humanas, pois as suas vidas não se limitam a simples questões funcionais e profissionais. O homem é atendido por outros problemas, por outras questões vitais a sua existência em comunhão com outras criaturas humanas. Há também a necessidade do homem manter relações com outras pessoas fora de sua esfera funcional e mesmo familiar. Em nossa época algo é peculiar e quase é uma queixa comum à maioria dos homens. Apesar das imensas possibilidades do homem de agora se associar a um número sem fim de grupos, apesar de poder participar da manifestação de muitos ideais, no fundo, no fundo mesmo, no seu íntimo ele se sente um solitário, alguém que está só. Certa ocasião um famoso psicólogo afirmava: a humanidade mais se parece a um grande rebanho de ovelhas desordenadas e desgarradas, que se juntam para sobreviver em classe, alcançar os fins de seu interesse pessoal ou apenas conseguir se garantir para vida. No mais, ao conseguir isto e tudo mais ele se ente não realizado, mas frustrado. Frustrado por concluir que fez apenas aquilo que todos os outros também fazem. Neste mundo existe a comunidade de Jesus que ele criou com o sacrifício de sua vida. Ele é o bom Pastor das ovelhas e estas lhe pertencem e obedecem às suas vozes. Pertencer a Cristo e seu
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rebanho, a comunidade, é participar da comunhão que é obra do Espírito santo e não apenas de interesses humanos comuns, é saber que nossa vida não está exclusivamente em nossas mãos, mas sim que temos um Pastor e Bispo de nossas almas. Ele nos “guia a pastos verdejantes e águas tranquilas” (Leia Salmo 23!). E apesar de todos os ataques que sofremos neste mundo, nas tentações, nas desgraças e nas dificuldades, não convém desanimar pensando que as forças adversas sejam insuperáveis. Pelo contrário: Sob a proteção do grande Pastor e Bispo das nossas almas podemos enfrentar tudo que seja contrário à vontade de Deus, e mesmo no vale da sombra da morte podemos ter a certeza que Ele está conosco, nos ajuda nas lutas desta vida e deseja que saiamos vitoriosos de todas estas lutas. Não vivemos abandonados neste mundo, entregues a nossas fraquezas, preocupações e tristezas, mas gozamos da proteção e do auxílio mais eficaz que pode haver. O Pastor Jesus Cristo cuida de sua comunidade e de cada um de nós, alimenta nossas almas com sua palavra e nos conforta com o pão da vida. Ele nos chama de volta dos caminhos que nós achamos certos e nos faz ver que Ele é o caminho que conduz ao alvo. Ele conhece a cada um pessoalmente e chamou cada um por seu nome. Mas na comunidade de Cristo não pode haver membros que não participam da vida comunitária querendo ficar para si. Cristo nos une – não para uma sociedade que cultiva seus interesses religiosos, mas para sermos uma comunidade que deve o testemunho e o serviço de Cristo ao mundo. Também nós devemos ser bons pastores que cuidam do Evangelho que nos foi confiado por Deus, transmitindo-o aos nossos filhos e nossos semelhantes. Sim, nós cristãos temos a missão de sermos curas d’almas ao nosso próximo de prestar-lhe assistência pastoral em nome e na presença de nosso Pastor comum. Nós todos somos sacerdotes encarregados de ajudar a carregar os 80
fardos do irmão e leva-los em oração comum ao pé do Crucificado. Não basta que salves tua própria alma, Cristo te envia a outros com o Evangelho para que sejam salvos também. Lembremonos do grande e Bom Pastor que deu sua vida em favor de nós e cumpramos com zelo e fidelidade essa nossa missão! Que faremos nós, como comunidade evangélica luterana em São Paulo já que representamos o corpo de Cristo? Grupos de reavivamento – Responsabilidade.
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08.10.1967 Centro - Seminário Martin Luther Efésios 4.23-24: “Renovai-vos no espírito do vosso entendimento e revesti-nos do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e salvação procedentes da verdade”. Cara comunidade: Renovação! Reforma! Novos Rumos! Novas relações! Isto são as paródias e as exigências de nosso tempo! Na verdade, não só de nossos tempos, mas de todos os tempos. A história da humanidade é a demonstração inequívoca de que a criatura humana se encontra na procura continua da renovação. É certo que na nossa época os desejos de “novos caminhos e rumos” nascem de cruciantes problemas típicos e clássicos do mundo conturbado de hoje – o desenvolvimento armamentista – o uso da energia nuclear tanto para o bem e o mal do homem – a explosão demográfica dos países em desenvolvimento ou subdesenvolvidos – o choque das gerações. Por isto mesmo homens e sociedades, indústrias e estado, escola e igreja se encontram num estágio de transformações rápidas. É o esforço conjugado de melhorar, transformar, reformar, renovar, rever os fatos e as situações de nossa atualidade. Hoje somos todos convocados a participar ativamente destas transformações inegavelmente necessárias. Cada um de nós participa com seu quinhão, com seus conhecimentos e com suas possibilidades, pois reconhecemos que as atuais estruturas da sociedade, do trabalho e das relações humanas não condizem com a necessidade da sobrevivência justa das futuras gerações. Assim todos nós nos preocupamos com o futuro do mundo. Esta preocupação não é apenas de caráter generalizado, mas parte por nos preocupamos todos com o futuro de nossos filhos, 82
nossas famílias. Estamos no fundo nos encaminhando a uma nova realidade e cabe-nos adaptarmos responsavelmente a esta nova realidade que se está desabrochando muito mais rapidamente que julgamos a princípio. Seja dado apenas um exemplo entre os múltiplos: a nossa cidade de São Paulo: Hoje: 6.400.000 de habitantes aproximadamente. 1970: 6.800.000 de habitantes aproximadamente. 1980: 12.800.000 de habitantes aproximadamente. Já hoje a cidade que mais cresce no mundo é desumana e problemática. Apenas 48% da população se beneficia de redes de esgoto e água. A rede hospitalar atende apenas ao que chamamos de ação saneadora, ainda nem se pensando na ação médica preventiva. O trânsito é causador de males nervosos imprevisíveis. O ar está completamente contaminado, diminuindo em 30% a possibilidade de vida. O sistema escolar tende a entrar em colapso total em 10 anos. Isto são fatos que nos devem preocupar fundamentalmente. Este exemplo apenas já nos faz sentir a necessidade de uma renovação e reforma das instituições sociais, políticas, às quais como criaturas responsáveis não nos podemos furtar. Todavia cabe-nos aqui formular uma questão de suma importância: Basta exigirmos em nossos dias uma renovação social, política, financeira de nossas instituições para enfrentarmos a realidade controvertida de nossa época, deixando que permaneça o egoísmo humano, o amor próprio, o pensar e agir apenas para si do indivíduo? A resposta evidentemente é negativa: não. O maior problema da
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atualidade é o próprio homem. E continuará sendo também o problema do futuro se ele não estiver disposto a se renovar, a se transformar radicalmente. A criatura humana deve ser renovada e transformada para poder assim assumir a sua responsabilidade para com o mundo, a fim de poder dar uma solução de continuidade aos problemas que se equacionam. Mas como poderá o homem assumir tal projeção ao posto de estar apto a realizar aquilo que tanto se deseja, se ele continua pensando em si, se continua agir egoisticamente para si? Esta pergunta evidentemente não está sendo colocada hoje em discussão pela primeira vez. Ela sempre acompanhou o gênero humano. Também os apóstolos se preocuparam sistematicamente com a mesma pela força de seu encargo missionário. O autor de nossa epistola aos Efésios igualmente fala desta problemática em seu tempo e lança um repto aos seus leitores: “Renovai-nos no espírito de vosso entendimento”. “Renovai-vos no espírito de vossas relações humanas”, diríamos nós hoje. Aqui sabe uma pergunta: Pode um homem transformar-se radicalmente a ponto de se renovar? Para o mundo comum e secular isto praticamente é impossível, pois o mundo obedece às leis imperiosas da bioquímica: uma casa velha jamais poderá ser nova – renovar aqui significa tornar novo – apenas ser reformada. Um cano usado sempre permanecerá um cano usado. Uma árvore má não poderá dar bons frutos. Assim julgamos ser quase impraticável o fato de um homem se transformar a ponto de se renovar. Concordamos que por seu esforço, por sua boa vontade possa ele se libertar de vícios, de maus modos e dos maus relacionamentos. Mas renovar-se no sentido de ficar novo, isto jamais. 84
Mas o apóstolo é de opinião que existe esta possibilidade numa renovação no espírito do Evangelho. Esta renovação do homem não pode ser efetivada por lei, mérito, esforço humano, mas é obra do espírito de Deus no homem. Daí o convite que Paulo faz aos seus leitores e a nós mesmos: “Revesti-vos do novo homem” “novo homem ~ Cristo Jesus não é uma vestimenta que esconde o que a criatura humana é. Não é ilusão, sonho. “O homem em seu todo” até aos pequenos detalhes. Jesus Cristo é o novo homem, é a obra de Deus em pessoa dentro de nosso mundo. A fé em Jesus Cristo transforma a nossa vida, conduzindo-nos à renovação. Em Cristo nos tornamos “novas criaturas” “Revesti-vos do novo homem” significa que devemos viver esta nova realidade nos proposta pela fé em Jesus Cristo. Esta renovação no espírito do Evangelho, então também vai nos revelar o nosso semelhante em toda sua substância, em todo seu existir. E sendo-nos revelado nosso próximo, sentir-nos-emos responsáveis pelo mesmo e nos preocuparemos não mais apenas conosco, mas também por ele. Aí estaremos dispostos a servir. A servir ao Senhor para que ele também manifeste aos outros por nosso intermédio a sua renovação total.
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A servir à Igreja para que ela possa oferecer aos homens a mensagem redentora de Deus em Cristo Jesus. A servir ao mundo para que o mundo se transforme num mundo de sincera justiça, de paz, de amor, bases para o seu verdadeiro desenvolvimento, vencendo os problemas que o assolam. A família cristã unida e transformada, bem como, renovada poderá transformar e renovar o mundo. Aí sim, poderemos deliciar com a felicidade de um mundo acolhedor e verdadeiro. Amém.
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22.10.1967 22o. Domingo após Trindade Igreja Matriz - Centro Mateus 18.23-35 Introdução ao texto: A – Análise do texto: É preciso sempre ao analisar um texto perguntar por sua motivação, verificando a oportunidade na qual foi relatado. 1.
Motivo da parábola – é a pergunta feita por Pedro no ver. 21: ”Senhor, até quantas vezes devo perdoar ao meu irmão quando este pecar contra mim”? (tradução original do grego).
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Esta pergunta está ligada a uma admoestação feita anteriormente por Jesus em referência ao tratamento que devemos a um nosso “irmão” (= semelhante) culpado: vers. 15 a 17. Três são os aspectos apresentados por Jesus, a saber: a. agir primeiramente com amor fraternal = arguição pessoal. b. Só então tornar atitude de caráter rigoroso, mas sábio = convocar testemunhas. c. Apelar à última instância, à comunidade, com seriedade santa.
B. A parábola do credor incompassivo = inconsequente.
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1. Vers. 23+24: “Por isso o reino dos céus é semelhante a um rei, que resolveu ajustar contas com os seus servos (= súditos diretos e responsáveis pela administração de seu reino). E passando a fazê-lo, trouxeram-lhe um que lhe devia dez mil talentos”. Comentários: a situação deste servo deve ser considerada como bastante difícil e grave praticamente insolúvel. A sua dívida, e assim culpa, é irresgatável = cerca de N Cr$ 52.500.000,00. Assim também Deus nos pode chamar á prestação de contas num momento qualquer: Como saldar a dívida então? Esta deve ser também nossa preocupação. 2. Vers.25: “Não tendo ele, porém, com que pagar, ordenou que fosse vendido ele, a mulher, os filhos e tudo quanto possuía, e que a dívida pudesse ser saldada” (= em partes!!!). Comentários: A infidelidade deve ser castigada. Da dívida deve pelo menos ser resgatado uma parte para que o prejuízo não fosse total. Comparando-se textos do Antigo Testamento (Êxodo 22.2; Levítico 25.39; 2. Reis 4.1) verifica-se a existência de leis que autorizam esta venda também de pessoas, mas as resguardando de exageros. 3. Vers. 26: “Então o servo, prostrando-se reverente, rogou: se paciente comigo e tudo te pagará”. Comentário: Reconhecimento da dívida e o desejo sincero de devolução da mesma, mais o pedido humilde ao Senhor, isto evidenciará em Deus consideração. 4. Vers. 27: “E o senhor daquele servo, compadecendo-se, mandou-o embora, e perdoou-lhe a dívida”.
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Comentário: Aqui se evidencia claramente o significado prático da “obra de Deus em Cristo”, apresentando-se as consequências do perdão na vida prática e diária. Vide Efésios 4.31.32 ou Lucas 6.36. Ou mesmo a quarta petição do Pai Nosso. 5. Vers. 28-30: “Saindo, porém, aquele servo, encontrou um de seus conservo que lhe devia cem denários; e, agarrando-o, o sufocava, dizendo: Paga-me o que me deves. Então o seu conservo, caindo-lhe aos pés, lhe implorava: Se paciente comigo, e te pagarei. Ele, entretanto, não quis; antes, indo-se, o lançou na prisão, até que saldasse a dívida”. Comentário: As faltas e os erros de nossos semelhantes em relação a nós são na realidade insignificantes, isto ao observarmos as nossas dívidas perante Deus (100 denários no caso significam N Cr$50,00). O servo experimenta de modo concreto a graça do perdão divino e eis que num seu conservo lhe é dada a oportunidade de comprovar o seu reconhecimento, imitando o ato divino. E, no entanto..... 6. Vers. 31-35: “Vendo os seus companheiros o que se havia passado, entristeceram-se muito, e foram relatar ao seu senhor tudo o que acontecera. Então o seu senhor, chamando-o, lhe disse: Servo malvado perdoou-te aquela dívida toda porque me suplicaste; não devias tu, igualmente, compadecer-te do teu conservo, como também eu me compadeci de ti? E, indignandose, o seu senhor o entregou aos verdoengos (= carrascos), até que lhe pagasse toda a dívida. Assim também meu Pai celeste vos fará, se do íntimo não perdoardes cada um a seu irmão”. Comentário: Uma atitude anti-conciliatória jamais pode alcançar o perdão ou até mesmo faz perder o perdão já recebido. Para a quase necessidade do perdão devemos nos lembrar categoricamente da graça e justiça recebida por Deus em Jesus
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Cristo. De nada adiantará a nossa fé se não vemos em cada devedor nosso o nosso irmão e semelhante. Vide Tiago 2.13; Mateus 5.23-26; 6. 12,14,15. C. Para nossa meditação e conscientização: À pergunta de Pedro, que evidentemente esperava uma resposta metodológica, baseada na qual cada indivíduo pode agir seguramente, foi apresentada uma resposta quase inspirável: “Setenta vezes sete!” Em outras palavras: indefinidamente. A este “indefinidamente” Jesus ainda acrescenta esta parábola – que é a indicação clara e insofismável da situação realística da criatura humana perante Deus. Esta situação se caracteriza por três ângulos: 1. A dívida do homem perante Deus é indubitável. (vers.24). 2. O homem é incapaz de saldar este compromisso por si mesmo. 3. O “crente” – aquele que foi perdoado de sua dívida, encontra-se perante Deus em situação de compromisso – por ter recebido a dádiva em seu débito ter sido saldado por Ele – de agir de modo análogo junto aos seus semelhantes. O ato perdoativo de Deus em saldar as nossas dívidas, requer evidentemente que criemos uma nova dimensão entre nossos semelhantes, na nossa concreta relação aos mesmos. Todo aquele que se sabe na situação paradoxa e mesmo controvertida perante Deus – de um lado como devedor e ao mesmo tempo como libertado de seu saldo devedor – jamais poderá tornar-se controverso na sua atitude comum e regular com seus semelhantes. Esta atitude deve se concretizar consequentemente na nossa vida 90
conjugal (onde o amor sempre se deve demonstrar perdoativo e jamais prestativo = prestar contas), no lar, na família, em cada contato humano, extendendo-se às relações dos povos entre si. Isto quer dizer: a fé em Jesus Cristo deve ser consequente e determinada na vida diária por causa da graça recebida e alcançada. Pois na realidade não pode haver fé sem frutos e reflexos. “Assim também a fé, se não tiver obras, por si só está morta” (Tiago 2.17).
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12.11.1967 24º. Domingo após a Trindade João 4.46-54 João 4.48-50: “Então Jesus lhe disse: Se porventura não virdes sinais e prodígios, de modo nenhum crereis. Rogou-lhe o oficial: Senhor, desse antes que meu filho morra. Vai, disse-lhe Jesus; teu filho vive. O homem creu na palavra de Jesus e partiu”. O oficial segue até sua casa. É recebido com a auspiciosa notícia de que seu filho vive. Evidentemente esta cura de uma criança quase à morte é relacionada a Jesus. O texto diz suficientemente um fato no fim do versículo 53: “ele creu e toda a sua casa”. Este homem e todos os seus creram exatamente por causa desta cura. E como cremos nós hoje? Por intermédio de sinais e prodígios? É certo que não podemos em nossos dias afirmar ser-nos dado crer por intermédio de sinais ou prodígios, mesmo que tais sejam não raras vezes relacionadas ao poder transmitido por Cristo à sua Igreja. Do outro lado, todos nós conhecemos outros fatos onde os sinais ou prodígios esperados jamais se manifestaram. E estes são os fatos mais comuns. Por isto a pergunta: “Qual o valor de tais descrições de cura do Novo Testamento em nossa vida diária hoje, 12 de novembro de 1967? ” Antes de qualquer coisa dever-se-ia dizer com toda objetividade quase nada significarem para nós hoje. Interessamnos agora mais os sinais provocados por um pregador livre como o cognominado “missionário Josias” que num cinema do Brás afirma ter poderes de expulsar demônios – toda e qualquer doença é apenas e simplesmente ação demoníaca no indivíduo. É de caráter muito mais sensacional acompanhar os feitos do
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Arigó de Congonhas do Campo que pela interferência do espírito do médico Fritz pode operar pessoas desenganadas pela medicina. Para nós hoje é muito mais emocionante acompanhar as experiências de um certo centro espírita de Niterói, onde um “médium”, por intermédio de seu espírito– guia, é capaz de provocar uma “parada cardíaca” por três minutos. Mesmo duvidando desconfiadamente destes fatos, estamos dispostos a aceitar tais acontecimentos. Porém, com certa dificuldade e mesmo desconfiança acentuada está a dar um valor real das descrições de cura nos enunciadas pelo Novo Testamento em nossos dias de hoje. Quando interpelamos seriamente alguém a respeito deste tema, verificamos que as pessoas têm uma certa desconfiança fundamentada inclusive na atitude da própria igreja. A desconfiança se situa no fato de que “crermos”, para termos verdadeira fé, devemos capitular a nossa compreensão, fazer capitular o nosso intelecto. Então a afirmação errônea é de que para crer, para ter fé profunda e verdadeira é preciso desligar a nossa inteligência, o nosso compreender e a nossa experiência cientifica. Para uma tal capitulação existe inclusive uma formula muito ouvida e usada; “Isto a gente não pode compreender, isto apenas se pode crer!” Quantas discussões, mesmo quantas prédicas, quantos estudos bíblicos são conduzidos a este ponto de capitulação. Todavia, devemos estar cientes de que tal capitulação, tal divisão do “compreender e crer” são apenas uma fuga à realidade e à verdade. Porque não se é consequente e se separa de uma vez o compreender, o saber, do crer, do ter fé. Isto talvez fosse o mais certo. Assim o menos iletrado, para não dizer ignorante, teria maior potencial de fé do que o indivíduo culto. 93
A pessoa culta apenas se satisfaria com alguns elementos de fé onde a razão e a compreensão ainda não pudessem ter alcançado clareza. O movimento da fé assim seria um permanente recuar e diminuir, consequente da solução dos grandes enigmas que preocupam a humanidade. Se assim o fosse apenas estaríamos dando o braço a torcer às filosofias materialísticas ao afirmarem que “a religião é o ópio do povo que o afasta da realidade universal”. Mas o fato de que Jesus é de opinião diferente, isto nós podemos descobrir no texto que hoje nos serve de base. Aqui se trata na verdade da libertação inequívoca da fé. Para que isto seja realçado devemos nos lembrar para o episódio que dá início a este relato: um oficial romano pede auxílio a Jesus para o seu filho doente. Jesus, porém, nas suas palavras iniciais desconhece praticamente o sofrimento ou a causa do pedido. Antes dirige uma crítica: “Se porventura não virdes sinais e prodígios, de modo nenhum crereis”. Trata-se inequivocamente de uma veemente crítica contra a fé que se baseia unicamente em sinais e prodígios. Assim podemos afirmar: Jesus se coloca contra a fé constituída à base de provas. Alguém poderia afirmar com toda razão que Jesus neste relato se portou de modo inconsequente. Ele atendeu ao pedido de auxílio. Mas não vejamos aqui como uma contradição, porém, uma nova luz sobre os presságios da fé, analisando as atitudes de Jesus num todo e não apenas em partes. Jesus realmente ouviu, ajudou aos outros, aqui e ali, sempre se mostrou prestativo, inclusive a este pai. Mas é bom nos lembrarmos de que Jesus não raras vezes apresentou fatos contraditórios, sem que para prová-los usasse de sinais ou provas. Apenas um exemplo seja aqui apresentado superficialmente: quando lhe foi exigido transformar pão de pedras. Mas não o fez. 94
É preciso dizer afirmativamente de que em todas as suas múltiplas atitudes Jesus estava erigindo para toda posteridade os sinais evidentes e inequívocos do amor de Deus em relação aos homens. Jesus em suas palavras, em seus atos, em suas atitudes nada mais quer almejar do que demonstrar anunciar e apresentar o fato de que Deus continua amando a sua criação, em especial; os homens, apesar de se portarem contra a sua vontade, apesar de sua insubordinação contra a paz, justiça e a vontade. Jesus quer se aproximar por intermédio de suas palavras, de seus atos e também de seus milagres das criaturas humanas, convocando-as à nova vida do Evangelho do Perdão. Exatamente assim Jesus está criando e preparando o terreno onde a fé deve trazer seus resultados positivos e sinceros. Por isto jamais devemos optar por um aspecto do Senhor, mas para o seu todo. Porque a criatura humana que apenas vê Jesus Cristo sob um aspecto, no caso, o aspecto de seus milagres, de suas curas, perde de vista a sua obra: a da redenção da humanidade, sabendo-a continuadamente de sua perdição. Pois a fé que se baseia apenas e somente nos sinais visíveis e nos prodígios, vai exigir sempre de novo novas provas. Esta exigência de provas o colocará indubitavelmente sob o poder exclusivo de seu intelecto, jamais lhe dando lugar e oportunidade de agir conscientemente por intermédio de seus sentimentos. A criatura humana estará perdida ali onde sinais e prodígios o chamam à capitulação de seu intelecto, de seu conhecimento, ou da ação espontânea de seus atos. Pela fé em Jesus Cristo ninguém está sendo forçado a ceder aos princípios sadios de sua mente e razão, nem mesmo criar uma fórmula de fé contrária aos preceitos da pura ciência. Mas igualmente ninguém deve se esquecer que a palavra de Jesus Cristo faz crescer em nós a fé. Esta fé, no entanto, não pode 95
permanecer escravizada apenas aos nossos princípios racionais, mas deve extravasar e alargar os limites de nossa compreensão até ao infinito. Jesus Cristo nos abre novos horizontes, deste que nós demos a devida liberdade a ela, não a situando apenas em nosso aspecto pessoal de ver as coisas. Pela fé uma nova realidade se nos é aberta: a realidade universal da vida. Visto neste aspecto, reconheceremos Jesus Cristo como sendo o médico e salvador como aquele que verdadeiramente veio buscar o que estava perdido. Nós todos, sem exceção, participamos daquilo que faz parte do perdido. E no meio desta confusa situação Jesus Cristo vem ao nosso encontro e nos afirma: Também tu vives! Também nós vivis chamados para a verdadeira vida. Que Deus por intermédio da palavra viva e vivida em Jesus Cristo também a nós proporcione esta experiência: a de nos sabermos chamados à realidade da vida universal. Amém.
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14/01/1968 2º. domingo após Epifania João 1.43-51
Cara comunidade: Os domingos que sucedem à época de Natal são dedicados de forma expressiva ao “aparecimento público” de Jesus no início de sua pregação e obra. Isto é, o confronto de Jesus com o mundo. O confronto de Jesus com o mundo evidentemente se dá no seu “encontro” com criaturas humanas, das mais diversas categorias funcionais e sociais, como políticas e religiosas de seu tempo. Este encontro vai desde os simples pescadores, artífices, como Simão Pedro, André, Filipe, por intermédio de homens intelectuais como Natanael, funcionários públicos como Mateus, autoridades como Pôncio Pilatos, oficiais romanos até às autoridades religiosas de seu povo. Este encontro dos homens com Jesus iniciou-se até nos campos áridos da Galileia e se transportou até aos nossos dias como uma corrente interminável e sempre continua de criatura humana para criatura humana. O interessante em nosso texto de hoje reside exatamente numa forma existencial do encontro entre criaturas humanas e Jesus. No mesmo texto não há primeiramente um confronto pessoal de Jesus com Natanael, mas este encontro é provocado por Felipe. Esta mesma técnica é a de nossos dias. Outros provocam outros para o encontro com Cristo. Como Felipe pode provocar o encontro de Natanael e Jesus? Felipe já pertencia ao número daqueles que reconheceu em
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Jesus a nova autoridade, aquele que era o portador de uma nova perspectiva de vida dirigida ao conceito universal, quebrando a tradição particularista de viver em função de si mesmo. Ele estava engajado numa nova numa nova evolução das relações entre os homens e Deus, os homens entre si mesmos. Este engajamento por Jesus levou-o a provocar o encontro de outros com aquele que era seu mestre, seu senhor e guia. Podemos nós hoje também provocar o encontro de nosso semelhante com Cristo? Podemos nós nos aproximar dos outros e lhe dizer que encontramos aquele que nos pode proporcionar um novo estilo de vida, livre e responsável? Visivelmente a cada dia que passa, este encontro com Cristo hoje se torna deveras mais complicado. Principalmente por causa da mentalidade generalizada de que a portadora da mensagem de Cristo, a porta-voz do Evangelho, a Igreja é visto como algo ultrapassado num mundo técnico, onde não há lugar para causas relativas como foi cristã. “Estamos na era da ciência técnica, aquela que emite provas, aquela que exige cifras e números estatísticos resultados imediatos. A nossa salvação reside no desenvolvimento da técnica, a qual por si mesma acarretará a evolução científica, cultural e biológica do homem. O que já nos pode oferecer a Igreja de bom, de positivo neste sentido?” Esta atitude do homem, principalmente deste que vive e que se encontra numa metrópole, a qual por suas características necessita sempre de mais e mais resoluções técnicas do que humanas, é idêntica, se identifica com a mesma de Natanael: “De Nazaré pode sair alguma coisa boa? ”. Natanael era o homem da grande Jerusalém, ciente dos grandes acontecimentos religiosos e políticos de sua terra. Nazaré era o 98
pequeno vilarejo do interior. O que já poderia sair de lá que merecesse consideração e mesmo fosse capaz de oferecer algo. A igreja hoje se parece muito com Nazaré, o vilarejo sem muita importância para o mundo. Mas este mundo tão importante está adorando ídolos. Lança suas esperanças nas descobertas cientificas, está se construindo em probabilidades futúricas, está interessado mais em “transplantes de corações”, em vez de também se importar com a estabilidade intima e interior do seu mais importante elemento que é o homem, que é você, que sou eu, que somos nós todos. Muito daquilo que hoje chamamos de progresso e comodidade nada mais é do que um artificialismo da vida. É um jogo no qual poucos fazem as regras para a maioria expressiva ter que se perfilar. Isto quer nos salientar que hoje existe uma luta silenciosa entre a técnica generalizada em esta, ser escrava do homem ou o homem escravo da técnica. Hoje há uma probabilidade muito grande de se generalizar tudo. Estamos perante o grande perigo: o perigo da inversão, o grande perigo: o perigo da inversão de valores. Valoriza-se a técnica, desvaloriza-se o homem. Não é mais a técnica que deve ser moldada às condições humanas, mas estas devem se moldar conforme os princípios da técnica. Perante esta situação não nos cabe como membros da Igreja silenciar. É preciso que convoquemos os homens à consciência da respeitabilidade mútua. É necessário convocar os técnicos, os tecnocratas, os engenheiros, os arquitetos, os químicos, os médicos, os trabalhadores, os especialistas, enfim, a todos os homens, para valorização da vida humana. A grande e reconhecida característica do Evangelho de Cristo exatamente se encontra na valorização do homem, na sua conscientização
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de responsável pelo outro, por seu semelhante e na sua disponibilidade para o mesmo. O nosso encontro hoje com Cristo não é físico, como foi para Natanael, que certamente movido pela curiosidade e pelo desafio que lhe lançado por Felipe: Vem e vê! foi ao encontro de Jesus, o Nazareno. O encontro com Cristo hoje pode provocar, porém, de modo bem semelhante, quase idêntico ao de Natanael. É o encontro do homem de hoje com sua mensagem de modo visível, audível, substancial, perceptível, provocador e renovador. O encontro é visível – pois existe a comunidade de Cristo no mundo; é audível – pois a mensagem que ecoa por intermédio desta comunidade de Cristo pode ser ouvida das mais diversas maneiras, por intermédio das mais diversas técnicas; é substancial – pelo fato de nos apresentar o conteúdo do Evangelho de Cristo, o qual reflete a vontade de Deus para conosco; é perceptível – pelo fato de nos vermos confrontados com esta nova realidade do Evangelho; é provocador – pelo fato da palavra de Cristo provocar em nós uma atitude a favor ou contra, pela fé ou contra a fé cristã; e é renovador – pois nos abre as fronteiras do amanhã, apagando pelo perdão o nosso próprio passado, o nosso próprio ontem, libertando-nos para o momento presente e futuro. A principal assertiva e provocação integral do encontro com Cristo hoje são de uma importância fundamental. E consiste que para o Evangelho, e consequentemente para Deus, o homem não vale por aquilo que ele é ou representa no momento, mas
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por aquilo que o mesmo realiza e concretiza para o mundo no qual vive. Não importa que o mesmo seja um cientista, um pesquisador, um escritor, um professor, um trabalhador, um estudante, um comerciante, bancário ou pastor. O importante, o bancário ou pastor. O importante é o que ele pode concretizar para o mundo no qual se acha colocado. Aqui vem a calhar o lema escolhido para o ano de 1968: “Servivos uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu”. Exatamente isto quer provocar em nós hoje o encontro com Cristo: o de servir ao mundo por intermédio daquilo que pode realizar e concretizar. E este serviço ao mundo sempre deve fundamentalmente ter por objetivo o homem e jamais a técnica. O momento histórico da “Igreja” – no sentido latente da palavra, sentido geral e universal – exatamente se caracteriza pelo proporcionar o encontro dos homens das mais diversas e adversas categorias ideológicas para o benefício da humanidade. Todavia, a eficácia deste encontro, que também é um encontro com a mensagem cristã atinge o indivíduo e o liberta para Cristo, não está na dependência dos mentores eclesiásticos de nosso tempo, mas depende de você, de você que está assentado no banco de sua igreja, com você que já agora está efetivando o seu encontro com Ele e sua mensagem, você que trabalha e que vive num mundo, o qual perigosamente quer nos transformar a todos rapidamente num objeto, numa máquina, num escravo da tecnocracia moderna. Todos nós estamos sendo chamados a proporcionarmos aos nossos semelhantes o encontro verdadeiro e sincero com Cristo. Com Cristo que nasceu, que morreu, mas que foi reconhecido e como tal elevado a um nome superior a todo e qualquer nome,
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perante o qual nós nos tornamos pequenos demais. Mas por Ele mesmo somos conduzidos a participarmos na sua grande e duradoura missão: a de valorizar o homem, a criatura humana, beneficiando com os valores do profundo amor, da certeza da paz, da reconciliação do perdão, e subsequentemente a justiça para toda humanidade. Perante as reações negativas e evasivas dos outros, digamos nós também como Felipe o fez a Natanael: “Vem e vê!” Amém.
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28.01.1968 4º Domingo após Epifania Jesus Cristo diz: “O tempo cumpriu-se e o reino de está entre nós! Arrependei-vos e crede nos Evangelho!” - Mc. 1.15 “E assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura. As coisas antigas já passaram; eis que se tornaram novas”. - 2 Co 5.17 Cara comunidade: Como os tempos atuais têm a tendência de mudarem rapidamente! Não raras vezes ficamos admirados, e mesmo surpresos, com o que vem acontecendo no nosso mundo. As transformações são tão rápidas, a ponto de não termos nem tempo de assimilarmos as coisas e já são substituídas por outras. Há uma necessidade imperiosa de renovação constante e eficiente. Basta um simples exemplo: Se pensarmos, nós os mais velhos, em nossas aulas de geografia. Quando estudávamos os nossos Atlas encontrávamos uma série de lugares ainda inexploráveis, dos quais quase não se conhecia dado relevante quanto à topografia, clima, possibilidades de vida, meios de transporte, costumes, tradições, língua e tradição. Lugares assim eram comuns na África, na longínqua Ásia, na Austrália e mesmo na América do Sul. Hoje, no entanto, a configuração é bem outra. Podemos afirmar que todos os recantos do mundo hoje são ou estão sendo explorados nos seus mais perfeitos detalhes. Praticamente inexistem hoje lugares a serem pisados pela primeira vez pelo homem.
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Sinal disto encontramos no próprio desenvolvimento e na importância sempre maior dos “jovens países e nações” que vão surgindo, expressando novas mentalidades, novas fronteiras de cultura e de religião, influenciando determinadamente o caminho da humanidade. Isto tudo se deve ao desenvolvimento rápido dos meios de comunicações, como o rádio, o cinema, a imprensa, os satélites artificiais de telecomunicações, e principalmente a grande expansão da pesquisa aerofotométrica e à própria aviação. “O mundo agora vem a nós e não somos mais nós que vamos ao mundo”. Se desejarmos estar a par de tudo – pelo menos dos fatos mais importantes que vai acontecendo por aí – tornou-se uma necessidade impressiva de aprendermos sempre de novo a nossa geografia. E os homens, que hoje já não podem mais descobrir num desbravar os continentes desconhecidos e novos, voltam os seus olhos a outros e novos objetivos. Traçam planos, realizam projetos, concretizam experiências espetaculares nos mais variados e amplos campos da ciência. Até querem e já conseguiram libertar-se das fronteiras naturais de nosso globo terrestre, desejando em breve pisar na Lua, ou conquistar em nome deste ou daquele o Marte. É a procura constante e inesgotável por aquilo que ainda é irrevelado, por algo “novo” e merecedor de aplausos. Perguntemo-nos, porém: ”Não existe ainda mais neste mundo que seja “novo” e não esteja ligado a grandes realizações, que não exija grandes investimentos, que seja acessível a cada um de nós? Será que para encontrar novas coisas, novas relações, novos fatos, devemos primeiramente nos tornar especialistas ou técnicos?
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Na realidade nada disto é necessário. Não precisamos ser especialistas, nem técnicos, quanto mais cientistas para encontrarmos fatos novos. Basta sermos o que somos, simples criaturas humanas, para deixar-nos surpreender por tudo que acontece em nosso redor. A necessidade de sermos abertos aos outros. O diálogo. E jamais fechados. Assim impressionarmos com a bondade de alguém, com a maneira clara de ver as coisas. Mesmo entre pessoas que julgam se conhecer profundamente podem descobrir coisas e fatos novos até então irrevelados. Vide um casal. Às vezes é preciso desligar um pouco o “televisor”, o “rádio” e simplesmente “falar um ao outro”. O “nosso próprio meio” é uma fonte inesgotável de fatos e valores novos, que vão se revelando quando nós nos interessamos por ele. Aquela pessoa que possui uma personalidade aberta e franca, que dispõe tempo para o outro, descobrirá entre velhas amizades grandes novos fatos. O mesmo também se dará, ao lembrarmos do Novo Testamento. Ao abri-lo descobriremos coisas que julgávamos apenas ser fatos de frutos de nosso tempo. Descobriremos que esta ansiedade por renovações e pelo novo já existe desde os tempos passados, os mais longínquos. E todo o N.T. se preocupa com este tema da necessidade de renovação pessoal e comum, não apenas como uma ansiedade humana, suas como também um desejo de Deus em Jesus Cristo. Apesar do NT não nos ser nenhuma novidade, ele representa o conteúdo de uma mensagem que objetiva a “mocidade de vida”, objetiva a transformação do velho e antigo em “novo” e sempre “atual”.
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Dentro deste conceito de “mocidade de vida” e o “novo e atual” encontramos a proclamação do “reino de Deus”. O “reino de Deus” não deseja ser uma “fantasia” ou um ideal a se concretizar num futuro próximo ou remoto, mas é uma realidade concreta e existente já hoje. Com a vinda de Jesus Cristo o mesmo o tornou presente e realidade e ninguém poderá afastá-lo de nosso mundo. “O tempo cumpriu-se e o último de Deus está entre nós”. Assim podemos afirmar sem quaisquer reservas ou cautelas: com Cristo teve início algo de concretamente “novo” no nosso mundo, uma nova maneira de comunhão, irmandade e fraternidade humana, um novo reino, um novo governo, no qual as interferências humanas de caráter democrático, social, déspota ou plenipotenciário representam apenas falhas e incoerências. Quem rege este novo governo em suma é Deus e nele prevalecem as suas diretrizes e os seus objetivos representam essencialmente os desejos seculares da humanidade, a qual quer paz, compreensão, respeitabilidade mútua, amor, progresso e justiça. A este reino, a este governo de Deus todos nós temos acesso, seja qual for a sua condição social, raça ou cultura. Certo é que este ingresso, esta participação neste governo, neste reino não é incondicional. Para participarmos do mesmo há uma exigência fundamental, a qual traz inevitavelmente uma série de consequências consigo. Esta exigência básica e fundamental é: ouvir, ouvir o que Deus nos tem a oferecer. E Deus neste seu reino quer oferecer nova modalidade de vida. Esta mocidade da vida significa quase sempre uma mudança radical para a nossa existência, onde deixa de imperar o “eu” e a minha vida passa a ser dedicada
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aos outros. Estando disposto a ouvir o que Deus tem a dizer, dispostos a radicalmente mudar a nossa existência, colocandonos à disponibilidade de outrem, ai serão parte ativa do reino de Deus. Daí: “Arrependei-vos e crede no Evangelho”. A mulher de um soldado – expressou: “O Cristianismo se baseia em três comandos bem preciso: 1 - “Alto” 2 - “Meia volta” 3 - “Marchar” Deus diz : “Alto” ~ diversas circunstâncias. Aí então nós nos conscientizaremos daquilo que somos. E aí Deus deseja que nós nos transformemos. “Meia volta” “Marchar” para os nossos semelhantes. “Instruções” – sabendo-as e as conhecendo profundamente, estamos prontos e aptos para andarmos no rumo certo. Sim, lembremo-nos que o reino de Deus está entre nós e que podemos participar do mesmo com todo sua essência. Basta seguirmos os comandos de “alto” “meia-volta” “marchar”! 107
10.03.1968 Domingo Reminiscere João 17.20-26 Apocalipse 21.5: “Eis que faço novas todas as coisas”. Cara comunidade: Época de Paixão. Oração sacerdotal de Jesus: 1. Jesus ora para a sua glorificação. “Pai, é chegada a hora”! 2. Jesus ora pela santificação de sua comunidade. – Santificá-lo na verdade. 3. Jesus ora pela unidade de sua comunidade e por sua perfeição. A época da paixão e sua caracterização ecumênica. Há uma unidade de reflexão e de meditação. Os cristãos se unem em torno de Jesus Cristo. Um grande fato histórico – a Assembleia Geral do Conselho Mundial de Igrejas em Uppsala, Suécia – país essencialmente luterano entre os dias 2 a 20 de junho. Tema: “Eis que faço novas todas as causas”. Apocalipse 21.5 “Eu lhes tenho transmitido a glória que me tens dado, para que sejam um como eu o somos”. Vers. 22. - “para que sejam um” – futurum divinum, um futuro divino?
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“obra direta É aquilo que nós como criaturas divinas não podemos provocar, mas é unicamente “obra direta e provocada por Deus”. “para que sejam aperfeiçoados na unidade” - futuro divinum Objetivo: “para que o mundo reconheça que tu me enviaste, e os amaste como também amaste a mim!” O maior fator de desconfiança perante a mensagem cristã é a total divisão e confusão da Igreja no mundo.
Por que Jesus na oração sacerdotal faz uso das formas verbais do “futuro divino”: Para que sejam um Para que sejam aperfeiçoados na unidade. Voltarmos os nossos olhos para as criaturas em torno de Jesus na sua via da paixão: Judas: do qual Jesus afirmou: “Em verdade vos digo que um dentre vós, o que come comigo, me trairá: Na comunhão da mesa – o mais sagrado que há na família ,entre amigos e na comunidade, está o traidor”. Também hoje?
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Compreender as palavras de Cristo no Jardim das Oliveiras: “Pai, tudo te é possível: passa de mim este cálice; contudo, não seja o que quero, e sim, o que tu queres”. A figura de Caifás – o Sumo-Sacerdote, conhecedor profundo das leis, participante das mensagens proféticas em torno de Jesus, é o causador da condenação do Senhor: blasfemador. A blasfêmia continua. Pedro nega ao Senhor no pátio do Sinédrio: o mesmo que reconheceu a Jesus, caindo-lhe aos pés: “Eu reconheço que tu és o Cristo, o Filho de Deus, que veio ao mundo para salvá-lo”. Diálogo com a criada: -
“Tu também estavas junto com este Jesus, o Nazareno?” “Não sei e nem entendo sobre o que falas!”
Na hora da decisão quantos não são os Pedro que continuam negando ao seu Senhor! Pilatos: -
-
“És tu o Rei dos judeus?” “Tu dizes que sou rei. Eu para isso nasci e para isto vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz”. “Que é a verdade?”
Os dois soldados que deitam sorte sobe o manto de Jesus.
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Ladrão à esquerda: “Não és o Cristo? Então desça, salva-te a ti mesmo e a nós!’ Tirar proveito da causa. Ai há participação”. Ladrão à direita: “Jesus pense em mim, quando penetrares no teu reino”. Culpa reconhecida – um novo caminho se abre. O comandante da guarnição romana: “Realmente, este é o filho de Deus!” Estes antagonismos de ontem e de hoje caracterizam também o caminho da Igreja. Se-lhes voltam contra. Os que estavam contra se voltam, não contra, mas a Ele. Este será o caminho inexorável da Igreja: o caminho da paixão de Cristo. Este também é o nosso caminho como cristãos: o caminho da paixão de Cristo. Por que andamos este caminho? Porque sabemos do poder do Evangelho de Jesus Cristo, porque sabemos do poder de Deus. “Eis que faço novas todas as coisas”. Provou-o no caminho da paixão do Senhor. Houve a paixão, a morte e a ressurreição. Há a velhas estruturas e as novas também virão conseqüentemente. Não existe luta sem vitória. Aperfeiçoamento na nossa vida. Aperfeiçoamento na Igreja do Senhor. para que o mundo reconheça a Deus.
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reconhecendo a Deus, se torna mais humano. Assim a época da paixão nos sugere: 1. o nosso aperfeiçoamento pessoal pela fé. 2. o aperfeiçoamento da Igreja pelo Evangelho. 3. o reconhecimento e conhecimento de Deus pelo mundo. Amém!
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17.3.1968 Domingo Oculi Lucas 11.23: Jesus, o Nazareno, diz: - “Quem não é por mim, é contra mim: e quem comigo não ajunta, espalha”. João 3.17: “Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele”. Cara comunidade: Duas palavras de certa maneira ambivalentes e ambas de autoridade da mesma criatura: Jesus. 1ª exige “determinação, decisão” 2ª apresenta um objetivo a ser alcançado pela determinação da 1ª. Mas, procuremos desenvolver uma relação determinação exigida por Jesus e o seu objetivo.
entre
a
“Quem não é por mim”. É o chamado à decisão: favor x contra. Determinante: aos que dormem – acordar. aos inseguros – segurança aos descrentes – fé. Aos que jamais se sabem decidir – decisão.
Jesus se torna concreto, sem fugas, sem margem a más interpretações. De certa maneira este modo de determinação por parte do Cristo nos pode parecer constrangedor – estranho:
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Na realidade Jesus não é apenas aquela figura meiga de olhos penetrantes, de caráter bondoso, sempre compreensivo e perdoativo, que com grande tática afasta as fraquezas e os erros humanos – como muitos quadros e pinturas o apresentam. Evidentemente estes traços também lhe são característicos. Isto permanece e deve permanecer como consolo e alegria daqueles que por seus semelhantes não são compreendidos, acuados e acusados: Permanece a certeza: Quando todos me rejeitam – Ele não. Quando ninguém em entende – Ele entende. Quando todos me acusam – Ele perdoa. Quando tudo ao meu derredor cai – Ele me levanta. Posso me dirigir a Ele em todo e qualquer momento. Mas Jesus é acima de tudo de uma personalidade forte, determinante e jamais vacilante. Ele é a expressão de uma pessoa que sabe o que quer e deseja, que não vacila que por meio de escárnio, zombaria, acusações, perseguições, imposições sempre permanece fiel ao cumprimento de sua missão. Contra seus próprios amigos e inimigos, contra a imposição de seus próprios discípulos segue firme com toda decisão e determinação à vontade de Deus, bebendo o cálice amargo de sofrimento, carregando o insulto da cruz, obediente até as últimas consequências, a morte. Como Ele, determinante e decisivo, devem ser os seus discípulos, os seus seguidores, os que como “cristãos” se deixam definir. “Quem não é por mim, é contra mim: e quem amigo não ajunta, espalha”. Estas palavras se dirigem no domingo de hoje contra a grande legião daqueles que preferem ficar e permanecer na neutralidade, sem definição, sem responsabilidades. Contra aqueles: 114
Que se comprometem de uma maneira de um lado Do outro, porém, nada querem perder; Que hoje estão ao lado deste, Amanhã ao lado daquele; Que mudam suas opiniões Conforme os ares do momento, Conforme melhor lhes convier.
Sim, hoje o texto se dirige substancialmente a todos aqueles que perguntam “quais as vantagens de ser cristão?” quais as vantagens de pertencer ao movimento da Igreja? Será que isto provocará desvantagens e compromissos para mim? Não é melhor esperar? Amanhã, sempre amanhã, hoje jamais.
Do outro lado, eis a resposta firme a este tipo de perguntas e atitudes de “chove e não molha!” – Tomar partido, colocar as cartas na mesa, abrir o jogo. Decidir-se com determinação a Jesus: a favor ou contra. Não há meio termo. Qual a conseqüência de nossa decisão a favor de Cristo? Qual o compromisso? Pertencer completamente a Jesus: com toda nossa vida, com toda nossa ênfase: em cada situação, em cada momento estar disposto a ouvi-lo, a defendê-lo, participar da causa de Deus. E isto em qualquer circunstância e não apenas escolher ocasiões ou oportunidades.
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- “Cristãos das oportunidades”. – não. - “cristãos de sempre” – “para sempre” na totalidade da vida, no dia a dia de seu viver. Todavia, quem de nós poderá se dignar a afirmar sinceramente ter sido um “cristão de sempre” e no fundo apenas ter sido um “cristão das oportunidades pessoais?” Quantos não foram os momentos, melhor, os dias, as semanas, os meses, os anos que não estivemos determinadamente ao seu lado, furtando-nos do seu contato, fugindo de seu diálogo, quando em vez de construirmos os seus campos de ação no mundo, nós, de fato, destruímos? Por isto mesmo, estas palavras de Jesus são palavras de condenação. Estamos sendo julgados: “Quem não é por mim, é contra mim: e quem comigo não ajunta, espalha”. Aqui há de repente uma inversão dos papéis; Ele é o réu primeiramente, nós os juízes. Nós o condenamos na hora de defendê-lo. Nós gritamos com o povo alucinado: “crucifica-o! crucifica-o!” Para muitos seria melhor que Jesus não tivesse existido, pois assim não se defrontaria com o mesmo. Mas a sua existência é irreversível: Ele existiu, Ele continua existindo. Ele nos falou pelo testemunho dos apóstolos e continua nos falando. E mesmo que nos queiramos furtar de sua presença, ela se torna presente no mundo que nos rodeia, quer pelas igrejas, quer por seus sinceros seguidores, quer pela própria Bíblia. E mesmo ali, onde os homens por suas ideias filosóficas de caráter materialistico tudo fazem para destruí-lo ainda hoje, mesmo ali onde se cerceia o direito de professar e seguir o Mestre, mesmo ali onde a Bíblia é o grande proibido, ali Ele se faz presente e continuará presente. Porque ninguém substituirá a “cruz de Gólgota” pelo “martelo e a foice”, porque ninguém substituirá a evocação e a adoração ao Cristo, pela personificação de um Mao-Tse-Tung.
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Por isto permanece a acusação de Jesus: “Quem não é por mim, é contra mim: e quem amigo não ajunta, espalha!” Esta palavra está nos julgando, ela nos está condenando. Mas este mesmo Cristo quem aqui nos está julgando, é o mesmo que na sua determinação nos mostra o grande objetivo. “Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que o julgue o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por Ele!” Sim, aqui Cristo está nos revelando a sua intenção para conosco mesmos: o de nos salvar, o de nos mostrar os caminhos certos, exatos, objetivos e realistas que podemos percorrer sem medo, sem insegurança, sem dúvidas, sem desvantagens. Exemplo: fogo na casa, o morador nota o perigo – dorme a sono solto. Amigos, vizinhos chamam – debalde. Até que alguém resolve, enfrenta o perigo, sacode e acorda o morador. Este a princípio está assustado e não entende o que está acontecendo. Nem percebe o perigo. No entanto... Assim é o desenrolar da missão do Mestre: Ele chama, não damos ouvidos. Então Ele vem, nos acusa, nos condena. E, no entanto fazem tudo isto, com um só objetivo: o de vos demonstrar, o de nos indicar o caminho de nossa reabilitação, o caminho da certeza, que nos conduzirá sempre a Deus. Já na nossa vida diária e comum notamos quanto é enervante e mesmo complicado e inseguro quando não sabemos o que queremos. Experimenta-se aquele caminho, depois um outro, também não serve, então se vai por um outro. Vamos perdendo tempo, vamos perdendo forças, as desilusões aumentam, porque nos falta um objetivo claro e definido a percorrer. Mas quem tem um alvo certo a encontrar, este seguem os seus caminho com firmeza e total decisão. Assim, nós te pedimos, ó Senhor, mostre-nos o caminho que devemos trilhar e nos ajude a ir ao encontro de nossa verdadeira justiça para que um mundo novo e justo possa construir. Para isto nos dê a toda a determinação e decisão firme como 117
inabalável, para que te possamos seguir pela estrada que nos dá a verdadeira vida, a de servir à tua causa e à causa de nosso irmão! Só contigo, ó Senhor, queremos peregrinar pelos vales deste mundo. Amém.
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20.03.1968 Painel sobre o ecumenismo Igreja Matriz “Eis que faço novas todas as coisas”. - Apocalipse. 21.5. Tema geral da 4ª Assembleia Geral do Conselho Mundial de Igrejas em Uppsala de 2-20 de julho de 1968. O movimento ecumênico entende-se como um movimento de renovação, não proveniente diretamente do desejo dos homens, mas qualificado e determinado pelo próprio Senhor da Igreja. Isto exige, no entanto, que todas as confissões cristãs ouçam não o chamado de líderes expoentes das mais variadas igrejas, mas que deem atenção primordial ao desejo imperioso do Senhor. Isto vem ainda significar que não nos cabe apenas e somente lamentar o estado de coisas existentes, mas impregnar e concentrar nossos esforços ao encontro deste princípio da unidade da Igreja em torno de Cristo Jesus. Toda e qualquer experiência neste sentido só pode ter possibilidades de sucesso, quando as igrejas estiverem dispostas, não em se fecharem a si mesmas, fundamentalizando ainda mais em si mesmas, mas no fato de darem em seu meio lugar ao espírito renovador de Deus. Neste ínterim cabe a cada confissão cristã apurar responsavelmente a sua posição, a sua relação para com o mundo. Pois a cada igreja cabe oferecer ao mandato do Senhor, o de se saber enviada ao mundo por intermédio de seu servir e de sua missão: proclamar o Evangelho, proclamar a mensagem da renovação das relações entre Deus e os homens e os homens entre si. Ora, é claro e sabido que na dura realidade do mundo atual a Igreja dividida não pode conduzir responsavelmente a sua 119
missão, porque lhe falta por completo a autoridade moral e espiritual de indicar os caminhos da renovação ao mundo em que vive. É fácil concluir - basta ter os olhos abertos – a necessidade da renovação, tanto na Igreja como no próprio mundo. Por causa desta necessidade é palavra Bíblica: “Eis que faço novas todas as coisas” tem uma expressão fundamental dentro do movimento ecumênico atual. Aqui se trata mais do que um simples lema, mais que um simples apanhado daquilo que nós entendemos por renovação. Aqui estamos perante uma afirmação objetiva, e da qual não nos podemos furtar. No último livro da Bíblia Deus nos indica qual o alvo, ao qual Ele mesmo nos quer levar. Este alvo não é fruto da perfeição das possibilidades genericamente humanas, nem é o resultado do progresso histórico. Este alvo será ato de Deus, unicamente ato de Deus. Aquele que iniciou a Criação, a Ele cabe também conduzir tudo ao fim. E este fim é a renovação. Isto não quer significar que o mundo de si mesmo terá as condições de se renovar. Estas condições estão ligadas a Deus, o Criador. Deus conduzirá o mundo à renovação = valendo o mesmo à Igreja Universal. Concluímos, pois, que pela ação de Deus a própria participação humana na renovação, quer do mundo, quer da igreja é sumariamente delimitada. Perante tal conclusão objetiva desfalecemos por completo e nossa ação fica restrita à nossa boa vontade de alimentar “um sonho irrealizável”. Nós criaturas humanas evidentemente podemos contribuir nesta situação com muitas mudanças e reformulações e jamais alcançar uma renovação total. Que faremos então? “Permaneceremos onde nos encontramos, cruzando os braços a espera de Deus intensifica no mundo e na Igreja? Ou: não nos
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damos por satisfeitos, arregaçamos as mangas da camisa e nos dispormos a seguir em frente num caminho de renovação? Para nos decidirmos para uma das opções “permanecer onde estamos” “ou dispor-se no caminho da renovação” é preciso reconhecer que Deus já interferiu na história do mundo em Jesus Cristo, é preciso reconhecer que cada vez que o Evangelho é pregado, anunciado, ouvido pela Igreja, Deus continua interferindo em Jesus Cristo. Ou será que os cristãos do mundo atual não mais depositam a sua confiança na mensagem da Ressurreição de Jesus Cristo? Pois aqui temos na Ressurreição de Jesus Cristo – o ato criativo de Deus do inteiramente novo. Por este ato criativo de Deus – da Ressurreição de Cristo Jesus dos mortos – cabe-nos reconhecer a nossa opção: a saber, se temos confiança em Deus, o qual ressuscita da morte, do Deus vivo que é capaz de renovar tudo, ou se a nossa fé apenas se restringe simplesmente às nossas poucas capacidades ou possibilidades. A resposta clara e insofismável quanto ao que nos cabe fazer é a nossa resposta à mensagem da Ressurreição de Cristo: isto é, nós confiamos na ação renovadora de Deus. Ora, se nós confiamos na ação renovadora de Deus, então participamos desta ação. E na realidade é assim: se falarmos na ação renovadora de Deus, se confiamos na mesma, se cremos no Deus vivo, então estamos participando já agora da ação de Deus. A ação de Deus não exime a ação do homem, pois pela ação de Deus o homem é atingido e se ele é alcançado, então lhe cabe participar da ação de Deus. A revelação de Deus em Jesus Cristo nos informa da sua magnânima vontade. Deus não criou apenas o mundo, o universo, mas, por intermédio da reconciliação e a salvação em Cristo, conduz o mesmo mundo, o mesmo universo ao seu alvo, ao seu objetivo. Se este alvo, este objetivo só pode ser completamente alcançado pelo ato criativo de Deus, assim já
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agora as vidas das criaturas humanas participam do movimento em sentido ao alvo, ao objetivo. A aparição e a presença de Jesus Cristo no mundo já nos demonstra o grande fato, que Deus não deseja que o mundo contemporâneo permaneça em suas velhas e ultrapassadas estruturas. O Espírito Santo de Deus cria nova vida, assim que podemos professar: “Se alguém está em Cristo, é nova criatura: as coisas antigas já passaram: eis que se fizeram novas”. 2 Coríntios 5.17. Por isto tudo o nosso sim ao ecumenismo, pois é o movimento dos homens da Igreja, de todos cristãos que ouvem o chamado de Deus para a unidade do corpo visível de Cristo no mundo contemporâneo, e que pessoalmente se sentem renovados pelo poder de Deus no Evangelho de Jesus Cristo, e como criaturas renovadas desejam firmemente a renovação da Igreja, e por intermédio desta renovação do mundo. Pergunta: Qual o caminho mais acertado para alcançar a unidade da Igreja? Resposta teórica, mas objetiva: O caminho para alcançar a meta da unidade da Igreja, como sendo a união em torno de Jesus Cristo, há caminhos promissores, verdadeiros e fundamentais: o morrer das igrejas confessionais para dar lugar a um “novo povo de Deus”. Há a necessidade da morte das igrejas para a Ressurreição da Nova Igreja. Jamais será possível dar à Cristandade uma só Igreja no aspecto atual das coisas. A Cristandade é como uma família desagregada num regime em que só se concebe o desquite. A mãe e o pai estão livres e, ao mesmo tempo, presos. Os filhos completamente desorientados. Propõe-se a congregar a família – pois como está não dá mais. O problema dos pais é insolúvel
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e os filhos se desintegram. Na morte do pai e da mãe se reúnem e se reencontram. 1. Conscientização de cada igreja perante a vontade expressa de Jesus Cristo mesmo da unidade da Igreja Universal. 2. Apurar cada igreja a sua relação com o mundo ao qual é enviada pelo mandato de Cristo. 3. Divisão não é instrumento de renovação. 1) Primeiro passo para a prática do ecumenismo pessoal e comum: Motivar-se neste sentido – Ponto de partida objetivo nunca subjetivo namoro! Parentes! Amigos! Colegas!
Principio válido para todos que queremos envolver: 1) Queremos envolver os cristãos – pois estes confiam na ação renovadora que provém de Deus em Jesus Cristo – Ressurreição! Buscamos a nossa motivação na “BÍBLIA”! 2) Conhecer profunda e suficientemente princípios básicos de sua Igreja Confessional! 3) O Diálogo. 123
4) A vivência unitária – ecumênica “O casamento ecumênico” – errado “Matrimônio ecumênico” – certo. 5) Considerar o que é “IGREJA” (Instrumento) no mundo. Eclésia – Comunhão dos Santos.
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24.03.1968 Domingo Laetare João 6.1-15 Cara comunidade: Celebrar um culto divino sempre é algo responsável e por isto difícil que deve ser levado muito sério. Mas, creiam, hoje este ato é sumamente difícil. O texto que nos serve de base para a nossa meditação em conjunto nos sugere uma temática realmente desafiante e que, sinceramente, preferíamos não existisse: a fome. Hoje, meus caros irmãos e irmãs em Cristo, mesmo de certa forma obrigados a enfrentar uma realidade brusca, mesmo escandalosa existente no nosso mundo, e também, por mais que admiremos a nossa terra, tão boa e generosa na expressão dos estrangeiros, no Brasil: a subnutrição, o espectro da fome. De cada três crianças que nascem no Nordeste brasileiro, duas morrem por causa da subnutrição. Na Índia, de cada duas pessoas abaixo de 20 anos, uma morre de fome. Um terço da população mundial vive hoje sob o medo da falta de alimentação. Estes números tendem a aumentar gradativamente, e se os governantes do mundo atual não tomarem uma providência dramáticas, urgentes, a curto e longo prazo, no ano de 2000 quase 2/3 da humanidade se revoltarão por não terem o que comer. Próximo está o dia em que poderemos adquirir um rádio de pilhas a preço de banana, e a banana a preço de um rádio de pilha. 1. Perante esta situação tão chocante se faz presente e mesmo oportuna a pergunta que Jesus dirigiu aos discípulos ao observar a grande multidão que se havia reunido a sua volta e
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por sua causa “– “Onde compraremos pães para lhes dar de comer?” Jesus se encontra perante uma situação clara e definida. Uma multidão imprevisível se reúne por sua causa. E Ele se sente responsável perante a mesma. Aqui então nos é relatada uma atitude de Cristo: Usa de seu poder, multiplicando cinco pães e dois peixes em cestos e mais cestos de alimentos para saciar a fome da multidão irrequieta. Assim podemos facilmente concluir que o Senhor não só sente a necessidade física das criaturas humanas, operando um milagre, ligado inerentemente ao seu poder. Este milagre da multiplicação dos pães é de tal amplitude que a multidão vê nele aquele que pode solucionar os seus grandes problemas naturais básicos, ao posto de aclamá-lo como rei, como o seu governante incondicional. Jesus, porém, esquiva-se desta grande manifestação, sem dar quaisquer explicações, retirando-se sozinho para um lugar esmo e sossegado. 2. Jesus se retira, para a decepção das cinco mil pessoas reunidas ali margens do mar da Galileia. Por que? Porque sabe que este é o seu caminho indefectível: o caminho da solidão, ainda mais, do completo abandono. E terá de vencê-lo completamente sozinho. Este mesmo povo que agora o quer aclamar rei, amanhã o acusará. Os seus próximos colaboradores, os mesmos que distribuíram colaboradores, os mesmos que distribuíram o alimento à multidão e assim testemunhas reais das grandes virtudes do seu Mestre, o abandonarão. Mas este caminho um tanto incompreensível será necessário para que Ele – o Senhor – se torne “o pão verdadeiro da
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verdadeira vida” – o pão espiritual do qual os homens de todos os tempos possam saciar a sua fome espiritual. Mesmo que não soframos a fome física, quantas vezes nos é dado sofrer profundamente a fome espiritual, intima e mesmo dolorida, a qual nenhum governante, nenhuma autoridade política ou estatal poderá saciar, nem acalentar ou dizimar. Pois na maioria das vezes, executando-se a causas de ordem política ou social, esta fome espiritual é causada por nós mesmos, por nossa insegurança espiritual, por nossa desconfiança, por nossas atitudes e ações irresponsáveis ou falsas, conduzindonos ao peso da enorme cruz da culpa. Enquanto que na nossa fome material possamos lançar a culpa a terceiros, na fome espiritual as causas são nós mesmos. Isto nos leva ao desespero, isto nos perturba, isto nos leva a sofrimentos imensos. Nós somos os causadores desta fome. Exatamente aqui Cristo quer e pode nos ajudar concretamente, pois Ele é o portador do grande oferecimento divino: a remissão de nossos pecados, a redenção de nossa culpa. A grandiosidade deste oferecimento Ele mesmo nos testifica na hora de maior sofrimento ao interceder na maneira por seus próprios causadores, escarnecedores ao dizer: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem!” Realmente não sabiam o que faziam. Estavam erigindo o maior símbolo entre toda humanidade: o símbolo daquele que se entregava na cruz, a fim de que nós hoje possamos receber dele a nossa redenção, a remissão de nossos pecados, de nossa imensurável culpa, usufruindo ainda da grande “satisfação” de sempre um novo início, de uma nova chance em nossa vida. Na Eucaristia, na Santa Ceia do Senhor, isto nos é revelado profundamente. Nos aproximamos da mesa do Senhor com o
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nosso coração alquebrantado, asfixiado por nossa culpa, envolvido pelas torpes manifestações do mal que nos corrompe, que nos quer subjugar. Mas ao participarmos das palavras “dado e derramado por vós para a remissão dos pecados”, sentimo-nos aliviados, alegres, felizes e prontos para uma nova fase de nossa vida, pois fomos agraciados pelos dons do verdadeiro pão de nossa vida: Jesus Cristo. 3. Mas uma questão, cara comunidade, permanece nos desafiando, insolvente, aberta e perante a qual ao primeiro momento nos possamos sentir de mãos vazias. A fome material de um terço da população mundial!!! Analisando profundamente a problemática da fome, verificaremos com certa facilidade que este não se resume apenas no campo puro e simples da alimentação, mas envolve a questão da educação, instrução, cultura no terreno do desenvolvimento técnico e cientifico, na criação de novas áreas de trabalho, no investimento maciço da dinâmica social = econômica do mundo. Isto quer dizer: enfrentar o problema da fome é criar novas estruturas no nosso mundo. Como cristãos, como enviados ao mundo, a nossa preocupação não pode se resumir simples – e puramente a Cristo como “o pão da vida”. Igualmente estão equivocados todos aqueles que julgam ser a atividade da igreja apenas delimitada pela missão espiritual, competindo apenas aos políticos e possuidores do poder civil neste mundo a sua atividade planejadora, executiva material.
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Exemplo: recente acontecimento no Nordeste do Brasil, com sério atrito entre Igreja e Estado. O relato da multiplicação dos pães indica-nos clara – e fielmente que Cristo se preocupa tanto com o lado material e espiritual da criatura humana, isto é, o homem é visto por Cristo como um todo. E como tal também nós como cristãos e participantes da igreja somos responsáveis por aquilo que materialmente aflige o homem de hoje. Daí desafiarmos os governos e as autoridades de todo mundo em primeiro lugar a optarem claramente, ou pela fabricação e armazenamento de armas, extravasando desta maneira o seu armamento absoluto e guerras sem nexos, em conflitos indefinidos e sem objetivo, ou se disponham a investir estas mesmas astronômicas somas de armamentos na solução complexa, imediata, a curto, longo prazo da fome no mundo. Se este exemplo da fome persistir estaremos próximos ao grande caos da humanidade. Pois um povo faminto, um povo sem chances de instrução, de cultura, de trabalho é um povo revoltado e indomável. E a sua revolta não é apenas perante outros povos, mas também é contra Deus, pois no seu estado de espírito não podem compreender que a miséria em que vive não provem de Deus, mas sim, da desobediência dos homens que empunham o poder e que preferem garantir-se a si mesmos, em vez, de voltar os seus olhos para os sofrimentos de seus semelhantes. Cara comunidade: se aceitarmos a Cristo em nossa vida, como aquele que é capaz de sanar o nosso pecado, tirando-nos a culpa, dando-nos continuadamente novas chances de vida, então também aceitamos a nossa co-responsabilidade para com a solução dos problemas do mundo, entre eles, o pior: a fome.
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Que Deus nos inspire a todos para que possamos aceitar dignamente este desafio de nosso sĂŠculo. AmĂŠm.
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14.04.1968 Domingo da Páscoa Lucas 24.6+34 “Ele não está aqui, mas ressuscitou!” “O Senhor ressuscitou”. João 14.19: “Porque eu vivo, vós também vivereis”. Cara comunidade: Páscoa – quer ser anunciada. Páscoa – quer ser compreendida. Páscoa – quer ser vivida.
1. Páscoa – quer ser anunciada. Ela não quer ser discutida, comprovada ou desmembrada em pequenos detalhes, mas ela quer ser transmitida, pregada e anunciada. Assim o fez a igreja nos seus primórdios. Os discípulos também não se pararam à frente do túmulo vazio, discutindo a possibilidade e a impossibilidade do túmulo vazio – pedra volumosa. Pelo contrário, passaram adiante a informação: o Senhor ressuscitou! Se hoje não fôssemos mais capazes de também transmitir esta mensagem – o Senhor ressuscitou – e nos ativéssemos apenas a discutir incensuravelmente a respeito do fato da sepultura vazia, ou mesmo procurássemos comprovar que Deus, afinal, contribuiu e disto não nos caberia duvidar – então a própria Igreja perderia a sua força.
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Aí não há nada que discutir. Ou estaríamos agindo como aqueles prisioneiros: Foi lhes jogado uma chave mestra que alivia toda as portas de prisão. Reúnem-se e discutem. Uns acham isso, outros aquilo, no fim estão tão desorientados que julgam não se tratar de uma chave. Assim age o mundo. Discutir é a sua grande característica. E sabemos como não poucas pessoas não conseguem vencer a velha palavra: “Ouvir a mensagem, aceito; mas crê, isto não posso”! Respeitamos estas pessoas, mas respeitamos mais a Deus, o qual nos manda transmitir a mensagem: o Senhor ressuscitou! 2. Mas, enfim, a Páscoa quer ser compreendida. A mensagem da Páscoa tem algo de fantástico, de enorme e até de assustador. É um acontecimento invulgar na história e como toda história tem o seu caminho da preparação, aqui também. A preparação da Páscoa toda está constituída na sombra da Paixão de Cristo e na sua crucificação. Ele veio ao mundo para concretizar uma grande alegria. Assim foi anunciado o seu nascimento: “Eis que vos trago boa nova grande alegria!” Esta alegria ele viveu e exemplificou em suas obras e palavras. Parábola do Filho Pródigo. O anúncio de um novo reino de alegria na parábola das bodas: justiça e amor. Alegria da nova vida no perdão. E a resposta dos homens foi a cruz! 132
Silenciar este homem – uma necessidade. O plano funcionou. Delatado por um dos seus. Negado. Blasfemado. Tudo em vão! Nenhum reconhecimento por parte dos que o conheceram e dele receberam muitas graças. “Abandonado” – na hora mais difícil. Todos nós já passamos por um momento assim. No entanto, Ele ainda tinha palavras de carinho demonstrando na hora da angústia o seu grande amor pela humanidade: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem!” Pensando que com a pedra na frente da sepultura normalmente estaria decretado o “fim” deste homem. Normalmente seria assim. No entanto, Deus diz a este decreto humano o seu “não”. Ele dá aquele que os homens queriam do mundo, uma nova vida. Nova vida – para suas palavras. Nova vida – para suas obras dá um novo início no grande movimento da reconciliação. Deus quer reconciliar o mundo consigo – isto é a mensagem da Páscoa. Isto todos nós devemos e podemos compreender! Deus quer em Jesus Cristo nos dar uma vida cheia de amor, de paz e de justiça. E este caminho Ele não impõe, mas oferece, oferecendo o seu perdão. A fim de podermos andar todos os dias em novidade de vida. Aqui deve ser ressaltar o fato de que Jesus Cristo não só nasceu para este oferecimento de nova vida, mas por esta oferta morrer na cruz, erigindo o símbolo de nossa salvação. Por este mesmo 133
símbolo ele ressuscitou, não apenas para que a sua oferta permanecesse viva, mas para que todos nós pudéssemos viver de tristezas e de decepções. Cristo vive e nós vivemos por Ele. 3. Por este fato de Cristo viver ainda hoje por suas palavras e pelos santos sacramentos cabe que a Páscoa seja por nós vivida. Como deve ser vivida? Cf. aconteceu com os discípulos – de boca a boca, de pessoa a pessoas. Esfera pessoal!!! Viver a mensagem de Cristo – seguindo os seus ensinamentos e suas palavras. O exemplo levará o nosso próximo a copiar nossa vida. E aí será desencadeada uma reação em cadeia. Talvez não creiamos que isto possa acontecer, pois nós mesmos não estamos sinceramente engajados na causa do Senhor. Só ao nos engajarmos pela causa do Senhor, poderemos verificar sinceramente que o Senhor realmente Ressuscitou e que a Páscoa é mais do que uma festa cristã. Mas é o ponto de partida onde tudo que estava perdido se encontrou, onde o que estava morto reviveu!
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12.05.1968 Domingo Cantate Dia das Mães Salmo 98.1: “Cantai ao Senhor um cântico novo, porque ele tem feito maravilhas”! Cara comunidade! Hoje festejamos o “dia das mães”, das mães zelosas, sinceras, puras e que jamais souberam fugir de uma missão sagrada: a de dar formação de novos seres, a saber, criar-nos como seus filhos e filhos de Deus. A estas mães zelosas, sinceras, puras e missionárias, que são capazes de dar tudo de suas vidas em favor de seus filhos, a elas rendemos a nossa profunda homenagem. Mas não apenas hoje queremos render-lhes homenagens. Sempre, sempre, todos os dias, todos os dias, todos os momentos elas merecem o nosso fervoroso calor e amor, isto pelo simples fato de existirmos. Somos o fruto do sincero amor que uniu nossos pais, somos os causadores de tantos momentos difíceis e dolorosos em que nas suas intimidades ganhávamos forma, procriando-nos até à hora do perigo supremo das dores físicas, suplantadas pela alegria de nosso primeiro choro. E desde então fomos a causa de seus carinhos, de seus esforços, de seus grandes e anônimos sacrifícios. Tudo ela tem por nós: os seus cabelos brancos, as suas rugas, suas lágrimas, suas preocupações. E ao falar nas preocupações, lembro-me daquela mãe que já na véspera do seu dia se sentia oprimida por uma pergunta: “Será que fui uma mãe sincera e sempre justa para os meus filhos?” Ela sabia, e naquela noite principalmente, o quanto e como não raras vezes havia perdido a paciência, e mesmo falhado na
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educação dos mesmos. Mas a preocupação se tornava mais inquietante. Sim, ela havia conduzido os filhos ao batismo. Mas, será que também lhes havia mostrado e demonstrado o caminho a Deus? Quantas vezes havia orado com eles, mas seus pensamentos estavam presos a outros fatos. Reconhecia assim que estava cheia de culpa perante seus filhos e perante Deus como mãe e nada mais lhe restava como afirmar e confessar: “Perdoa-me, ó Deus e Pai!” E eis que de manhãzinha as crianças vieram e a surpreenderam ainda dormindo. Traziam-lhe um pequeno mimo e lhe diziam palavras afáveis e de calor filial. Era aquele momento, como se Deus tivesse ouvido a sua confissão de culpa e neste momento por intermédio de seus próprios filhos Deus lhe dizia: “Eis que te ouvi, a tua culpa está perdoada”! Esta mãe recebia a graça de Deus por intermédio de seus filhos. Era para ela o mais régio presente. Quem no dia de hoje recebeu ou receberá uma singela flor, uma palavra de carinho, um sorriso, um pequeno mimo, um beijo, um abraço, esta mãe pode ter a certeza de que o seu amor foi compreendido, o seu sacrifício foi compensado, as suas preocupações se dissolveram. Mas esta mãe não apenas participará disto tudo, como também saberá reconhecer nestes atos singelos de seus filhos de que Deus também lhe perdoou neste momento toda e qualquer falha porventura surgida ou revelada no comprimento de sua divina missão: a de ser mãe! Graças de Deus. Apesar de hoje festejarmos e comemorarmos o dia das mães, o texto do Salmo 98, diz: “Cantai ao Senhor um cântico novo, porque ele tem feito maravilhas!” Como centro de nossas
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atenções hoje não deve de certo modo estar só “a mãe”, mas “Deus” mesmo. Porque somos chamados a cantar um novo cântico ao Senhor? Responderíamos a esta pergunta com um coral famoso e belíssimo, de um lirismo profundo, contendo uma mensagem inesgotável de autoria de grande poeta e compositor Paul Gerhardt: “Louvai a Deus, que nos guiou em dor e provação, desde nascermos nos guardou a sua proteção” Hino 197.1-3. Hoje é o Domingo Cantante também. Uma das grandes expressões de fé em Jesus Cristo e por seu intermédio a Deus usadas pelos cristãos de todos os tempos, é o canto. O canto em princípio é uma expressão dos sentimentos profundos daquilo que vira centro de nós. Jamais nos associamos a um cântico, se ele não reflete o nosso estado de espírito. Sou de opinião de que o nosso “cantar” sempre deve representar em primeiro lugar um louvor e um agradecimento. Afinal, que seríamos nós sem a confiança paterna de Deus? Estaríamos sós e desnorteados, estaríamos sempre girando entre o temor e o medo. Por termos reconhecidos em Deus, o nosso Pai comum, que em Jesus Cristo quer também o nosso bem comum, agradecemo-lo todas as dádivas que Ele tem nos colocado à nossa disposição.
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Agradecemos a Deus hoje de forma especial e concreta para a maior dádiva que Ele a todos nós proporcionou: uma mãe cristã, temente e cheia de confiança em Deus. Por este fato lhe queremos cantar sempre novo cântico. Pois, além de todas as maravilhas que nos rodeiam, temos ou tivemos talvez a maior delas: a nossa mãe. As mães que juntam as mãos em oração com seus filhos. Que introduzem na caminhada da vida, preparando-lhe uma bússola e lhes ensinando como usar a bússola de nossas vidas: Cristo Jesus. E aqueles primeiros cânticos que aprendemos? Deles não nos esquecemos tão facilmente e sempre de novo voltam à nossa lembrança. Como este, por exemplo:
“Sou cordeiro de Jesus vivo bem na sua luz. Meu Pastor é tão bondoso, Tem um campo delicioso. Ele me ama com fervor, Meu querido e bom pastor”.
Crianças creem e confiam ainda sem temor e dúvidas. Pedem ainda com sinceridade a Deus do mesmo modo que pedem ao papai e à mamãe. Talvez, ao falarmos das crianças, tenhamos fugido do tema de hoje! Mas como podemos festejar o dia das mães sem os filhos. 138
Assim como a mãe para nós é a grande maravilha de Deus, assim os filhos são as maravilhas do Criador para as mães. Todavia, em última análise, minha cara comunidade, o dia de hoje não é apenas o dia das mães. Como poderiam as mães festejar este dia se ao lado delas não estivessem os nossos pais e nós mesmos. É a festa do dom supremo da família, a célula de qualquer sociedade sadia e justa. E por esta família, todo e qualquer sacrifício vale à pena. Pela existência da família, instituídas pela vontade de Deus, vale à pena cantar um cântico novo ao Senhor. Onde não existe a família, onde não existe uma mãe, um pai, os filhos, tudo é solidão, ali não existe um sentido objetivo e cabal para a vida. Por isto, seja o dia de hoje um dia de louvor e de graças ao Senhor, nosso Deus e Pai. Que Ele abençoe e ilumine nossas mães, guarde as nossas famílias. “Cantai ao Senhor um novo cântico, porque Ele tem feito maravilhas! Amém.
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26.05.1968 Domingo Exaudi Efésios 1.15-23 Cara Comunidade: Domingo Exaudi um intermeio entre a Ascensão do Senhor – Deus eleva a Cristo ao poder sobre todas as coisas. E a Festa de Pentecostes – Deus envia em nome de Cristo, o Consolador – o Espírito Santo. Exaudi – “Escuta-nos, ouça-nos, Senhor!”. Um pedido – a formulação de algum desejo – pessoal ou partindo de uma coletividade? Coletividade – a comunidade de Cristo. Associar-nos a esta fantástica oração de Paulo dirigida aos membros da comunidade de Éfeso. Talvez o apóstolo ao se dirigir a nossa comunidade não pudesse se regozijar com os frutos de nossa fé ou mesmo teria de tecer veementes críticas ao amor que vive entre nós, ou que deixamos de desenvolver no nosso meio. Mas certamente ele nos desejaria indubitavelmente que chegássemos ao pleno conhecimento de Jesus Cristo. Conhecer - saber; conhecer é compreender; conhecer é participar de um conhecimento. E como cristãos ao conhecimento verdadeiro da sincera fé em J.C. Desde de pequenos somos chamados a tomar este pleno conhecimento de Jesus Cristo em nossa vida. Domingo a domingo nesta igreja e em muitas outras é pregada e anunciada a Palavra de Deus que 140
tem o objetivo de nos levar a este pleno conhecimento de Jesus Cristo, que é a fé e a demonstração de seus frutos. Mas não só isto acontece em nossa comunidade. As múltiplas atividades que por seu intermédio são realizadas entre nossas crianças, nas escolas, entre os jovens entre as senhoras, entre os leigos, mesmo dentro daquilo que um membro definiu como sendo nada mais que um “trabalho de fachada”, a saber, a parte administrativa e planejadora de uma comunidade tem por objetivo levar-nos todos ao pleno conhecimento de Jesus Cristo. E apesar de tudo que sinceramente queríamos realizar para o reavivamento desta comunidade, no fortalecimento da fé de seus membros, na concretização de nosso verdadeiro relacionamento de uns aos outros no amor, verificamos que não somos perfeitos no nosso realizar e trabalhar. Na realidade nada somos, minha cara comunidade, apenas por intermédio de nossos esforços conhecer plenamente a Jesus Cristo. Os nossos esforços, a nossa boa intenção nada significam, se não estamos dispostos em reconhecer um fato muito relevante. A este fato relevante o apóstolo Paulo dá um destaque muito especial e mesmo central neste texto que hoje nos serve de base para a nossa reflexão. Se “Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória” não nos conceder o seu espírito de sabedoria e de revelação jamais poderemos chegar ao pleno conhecimento de Jesus Cristo. Jamais poderemos de mesmo modo ufanarmo-nos de frutos sinceros de fé, nem regozijarmo-nos na vivência no amor sem que nos seja concedido por Deus o seu espírito de sabedoria e de revelação.
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Somente por intermédio deste espírito de sabedoria e revelação poderemos, com os corações iluminados, reconhecer e saber a esperança do seu chamamento continuo para nós, chamamento pelos profetas, pelos apóstolos e pela igreja até aos nossos dias. E por este espírito de sabedoria e de revelação queremos pedir no domingo de hoje. “Escuta-nos, ouça-nos, Senhor, Pai de toda glória”. Envia-nos o teu Espírito Santo, a fim de podermos todos nos desincumbir de nossa missão: A de revelar o teu amado Filho Jesus Cristo como Senhor e Salvador para toda e qualquer criatura. Ao hoje clamarmos a Deus o nosso pedido queremos faze-lo num sentido muito amplo, mas profundamente sincero. O mundo convulsionado de nosso momento atual necessita urgentemente de um elo conciliador e dinâmico que possa restabelecer paz, compreensão, harmonia e justiça entre os homens. Exatamente isto Jesus Cristo quer almejar por sua mensagem no Evangelho. E para isto Deus o colocou “acima de todo principado e potestade, e poder, e domínio, e de todo nome que se possa referir não só no presente século, mas também no vindouro”. Cristo é o Senhor de tudo e de todos. O apóstolo continua e afirma que Deus pôs “todas as coisas debaixo dos seus pés, e, para ser a cabeça sobre todas as coisas, o deu à igreja, a qual é o seu corpo, a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas”. Isto nos quer afirmar que a igreja como corpo ativo de Cristo deve existir no mundo como um poder de Deus. Em outras palavras: a igreja é o instrumento poderoso de Deus no mundo,
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pois representa a plenitude do próprio Deus, a sua presença no mundo atual. Mas como pode a igreja representar sinceramente e com validade esta sua missão de representar o poder de Deus num mundo convulsionado e confuso? A própria pergunta já é uma veemente crítica à situação atual da igreja. Infelizmente, pelo pecado contínuo dos homens a igreja hoje está até certo ponto desacreditada no mundo, principalmente por sua divisão. Num mundo dividido, encontramos a igreja, instrumento da plenitude de Deus – a igreja – também dividida. Todavia, algo está acontecendo. Algo que muitos querem negar ou mesmo dificultar: a igreja foi acordada e se encontra no caminho da unidade por intermédio do diálogo sincero e verdadeiro, provocado unicamente e exclusivamente pelo Espírito Santo. Sim, Deus do nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, está ouvindo o pedido de seu povo, quando este clama: “exaudi”, escuta-nos, ouça-nos, Senhor, envia-nos o teu espírito de sabedoria e de revelação! Enquanto o mundo intensifica a divisão da humanidade por causa da suas intenções políticas, por causa de suas injustiças sociais, por causa de seu espírito de guerra, por causa de seu faccionismo, Deus por intermédio do Espírito Santo está conduzido o seu instrumento de plenitude no caminho da compreensão e da unidade.
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Os cristãos estão chegando ao pleno conhecimento de sua união inflexível em torno de Jesus Cristo para se tornar o instrumento conciliador do qual o mundo tanto necessita. Por isto tudo vale à pena pedir a Deus: Escuta-nos, ouça-nos, queremos o teu espírito de sabedoria e de revelação para chegarmos ao pleno conhecimento de Jesus Cristo. Hoje, se inicia em todo mundo a semana de Oração pela Unidade da Igreja. Todas às noites cristãos de todas as confissões conscientes se reúnem em Meditação e Oração, pedindo em favor da Unidade da Família de Deus em torno de Jesus Cristo, a cabeça de todos os irmãos. Que todos nós nos conscientizemos que verdadeiramente algo está acontecendo pelo poder do Espírito Santo e que não sejamos nós empecilho desta obra. Ao contrário, que nos unamos aos outros cristãos de boa vontade e peçamos a Deus: “Espírito Verdade, em nós vem habitar, difunde claridade, o mal vem afastar. Derrama em nossa mente do santo fogo o ardor, que todos fielmente, confessem Seu Senhor”. Amém.
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09.06.1968 Domingo da Trindade Efésios 1.3-4 Cara comunidade: 1. Domingo da Trindade – assim é conhecido o domingo após Pentecostes no ano eclesiástico e se refere à Trindade de Deus. O que é a Trindade de Deus, isto nos revelam as próprias confissões cristãs: A fé cristã confessa Deus como Pai, Filho e Espírito santo. Por largos séculos e tempos o dogma cristão da Trindade queria ser um resumo daquilo que seriam as normas confessionais inseridas nas Escrituras Sagradas. Hoje reconhecemos que nem de longe este dogma e as confissões podem registrar o todo das expressões bíblicas sobre Deus como Pai, Filho e Espírito Santo e que na verdade a própria Bíblia expressa de forma dinâmica e infinita a complexidade divina. Basta, como exemplo, e isto são o que hoje o nosso texto apenas deseja ser, os primeiros versículos da epístola de Paulo aos efésios, que exprimem a riqueza de pensamentos sobre a ação divina em Jesus Cristo e nos é transmitida pela força e pelo poder do Espírito Santos. Na realidade a confissão ao Deus trino é fruto da tradição eclesiástica, quando o Novo Testamento ainda não tinha sido canonizado. Nos Concílios de Niceia, em 325, e de Constantinopla, em 381, foram formuladas as confissões sobre a Trindade divina. As mesmas são comuns a todas as confissões
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cristãs. Mais ainda: são uns elos de ligação entre as igrejas das mais variadas tradições teológicas. Também hoje, no movimento ecumênico, as confissões cristãs de Niceia e de Constantinopla permanecem como elo de fé cristã apostólica e universal. A Assembleia Geral do Conselho Mundial de Igrejas em Nova Delhi, contando com a participação de nossa Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, formulou em 1961 a sua base confessional: “O Conselho Mundial de Igrejas é uma comunidade de Igrejas, que confessam a Jesus Cristo como Deus e Salvador nas bases das Escrituras Sagradas, para a glória e honra de Deus, o Pai e o Filho e o Espírito Santo”. 2. Mesmo que estejamos acostumados desde a nossa infância, seja nos cultos dominicais ou em qualquer cerimônia da Igreja, a ouvir a formula trinitária, não poucos são os que não podem compreender, nem explicar a confissão a Deus como Pai, Filho e Espírito Santo. Do outro lado, prefere-se silenciar perante uma temática deste quilate. Mas porque fugir. Perguntamo-nos simplesmente: “Que nos quer dizer a doutrina, o dogma, ou a confissão da Trindade de Deus?” De certo modo o texto que lemos no início, e que nos deve servir como exemplo de uma confissão cristã, indica o significado desta doutrina, a saber: a ação de Deus em Jesus Cristo para conosco criaturas humanas hoje. E este “hoje” é a ação do Espírito Santo. Mesmo que muitos consideram tratar-se de um tema de grande profundidade teológica, e pertencer à esfera da discussão entre teólogos, deve-se afirmar que a fé no Deus triúno, mesmo dentro da evolução do nosso momento, mesmo com o desejo de
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se alijar toda e qualquer estrutura do passado, continuará sendo à base de nossa confissão. A Igreja Evangélica confessa que Jesus Cristo, reconhecido como Filho de Deus e ao mesmo tempo figura humana, mostrou aos homens de todos os tempos quem Deus é: o Criador. Deus como criador, é tão santo e infinito, que nenhuma criatura humana de si mesma jamais o pode ver ou mesmo de si mesma o reconhecer. Mas Jesus insiste em afirmar a nós homens que este Deus santo e infinito é o nosso Pai comum. E isto nos demonstra o Cristo por sua vida, sua inestimável obra, principalmente por sua crucificação e ressurreição. A crucificação e a ressurreição revelam de um lado o poder e a misericórdia de Deus. “Deus jamais abandona um filho seu, mesmo nas mais tremendas e inconcebíveis situações, dentre elas, a própria morte”. Do outro lado destes mesmos fatos nos demonstra quão infinito e santo ele é, a ponto de não se dar a conhecer a si mesmo, mas sim, por intermédio, de seu poder, pela manifestação de sua misericórdia. Isto é, o pai fez reviver o seu filho. Assim o Deus criador se nos apresenta como aquele que sempre de novo nos chama à sincera e verdadeira vida. Ele, Cristo Jesus, reconhecido como nosso irmão, nos mostra e deixa aberto o caminho a Deus, o pai e criador. Agora, a fé em Jesus Cristo tem causa a ação do Espírito Santo, por intermédio do qual somos congregados para a nova vida, para a recriação de nós mesmos. Assim, caras comunidades, estão perante três atos distintos de Deus em nós criaturas humanas.
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Criação – Salvação – Nova Criação Santificação – Revelação – Comunicação Pai – Filho – Espírito Santo TRÊS ATOS ~ UM SÓ AGIR DE DEUS Estes são os três atos de Deus em nós criaturas humanas, mas se trata de um só agir, de uma só ação do mesmo Deus Pai, Filho e Espírito Santo. -
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o que o Pai realiza, isto o Filho e o Espírito Santo realizam concomitantemente com ele. O que o Filho concretiza, isto o faz pela vontade implícita do Pai e do Espírito Santo. Aquilo que é acionado pelo Espírito Santo, isto acontece em nome do Pai e do Filho.
3. Aqui, porém, vem ao nosso encontro uma nova pergunta: “Qual o significado da fé cristã nos Deus triúno para a nossa confissão hoje?” Em todos os tempos – e principalmente hoje – muito se tem escrito sobre Deus. As discussões hoje sobre este tema são as mais acirradas e profundas, não apenas entre a Cristandade, como também em outras religiões e na filosofia. Muitos filósofos construíram seus esquemas e ensaios filosóficos, colocando o termo “Deus” como conceito supremo. Mas este conceito supremo “Deus” está intimamente ligado ao pensamento humano, isto é, está subjugado à subjetividade do pensador. E tudo que está preso ao pensamento humano não é
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genuíno e não possui a necessária objetividade, sendo apenas uma meia verdade. Sinal desta subjetividade pode ser reconhecida no fato dos filósofos hoje chegam à formulação de que “Deus está morto”. Outros são, no entanto, defensores de que Deus hoje está mais vivo do que nunca. A quem aceitar? Quem está com a verdade? É difícil se dizer quem neste quadro complexo da filosofia contemporânea está com a razão. Perante esta situação complexa e confusa, como também antagônica depreende-se da fé cristã que todas as experiências da razão humana não são suficientes para se reconhecer e confessar a Deus. Quem Deus é, a saber, o Criador, o infinito, o santo, o longínquo e ao mesmo tempo o perto de nós, só podemos saber por intermédio de Jesus Cristo. E isto por um simples fato: o de ter este nos demonstrado por sua vida e obra quem Deus é. Cristo é o único caminho que nos pode conduzir a Deus. Apenas aquele que convive com a mensagem de Cristo, apenas aquele que demonstra em frutos esta convivência dentro e fora da Comunidade do Senhor sabe do significado da confissão ao Deus Trino Pai, Filho e Espírito Santo. Pelo fato do filho e do Pai serem uma unidade, podemos como cristãos hoje confiar plenamente que o Deus que adoramos e confessamos é o Deus por nós. Não um Deus longínquo e inacessível – como muitos acham – não um Deus assustador – como não poucos o tem em mente -, mas um Deus = Pai, o qual vem ao nosso encontro em seu Filho como criatura humana, os quais não precisam buscar ou procurar debalde nas especulações filosóficas dos tempos. Isto quer nos sublinhar e reafirmar a ação contemporânea e efetiva do Espírito Santo: o reconhecimento do Deus verdadeiro
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e vivo não é apenas fruto da razão humana, mas a revelação livre de Deus para nós homens. A este Deus, perante este Deus somos chamados a tomar uma atitude digna e sincera: a da adoração. Só em sincera, pura e digna adoração pode falar de e sobre Deus. Isto nos demonstra o apóstolo Paulo ao iniciar esta prece de glorificação à ação conjunto de Deus: “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo”. Por este mesmo fato: da necessidade do espírito sincero de adoração, ao nos reunirmos aos domingos, iniciamos os nossos cultos com a glorificação de Deus: “Glória seja ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo, como no princípio, agora e sempre e por todos os séculos”. Amém.
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23.6.1968 2º. Domingo após Trindade Cara comunidade: Tema: “Existem realmente pequenas coisas sem importância para um cristão?” A princípio somos conduzidos a responder com uma certa leviandade que certas pequenas coisas da vida não são de importância fundamental para um cristão. Pois, qual já pode ser o valor, ou mesmo, a interferência na minha existência cristã, o modo como a minha casa é mobiliada, ou como passo o fim de semana, ou o que eu faço com meu tempo livre? Isto não importa a ninguém, ou – refletindo melhor – quase ninguém. São fatos, e momentos pessoais, onde quase sempre, o que importa é a minha decisão. Se for assim, então automaticamente se faz presente uma contra-apresentação. Isto significa então que evidentemente existem, setores na minha vida que não importam aos critérios básicos de fé cristã? Então, se assim o é, existem certas atividades, como a técnica, a economia, as artes, certas ciências, nas quais a palavra de Cristo e Deus não podem realmente ter seu lugar, nem mesmo podem ser levadas em conta. Mas ao nos preocuparmos com determinadas passagens do Novo Testamento – verificamos que Cristo e seus apóstolos não se cansaram em sublinhar, que toda a nossa vida deve ser dedicada a Deus. Vejamos um exemplo: Romanos 12.1-2: “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus que apresenteis os vossos corpos por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos 151
conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação de vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”. Como somos uma unidade, e jamais nos podemos compreender, como partes divididas, não existem no fundo atos ou atividades, nem mesmo decisões ou relações que não importem a vida de um cristão. Sou da opinião que devemos saber o que afinal nos impregna, nos caracteriza no fundo o nosso existir como cristãos. Não se trata de leis ou normas, mas, sim, o fato de que somos impregnados no nosso ser pelo Cristo vivo. Não é uma lei, como a de um estado, ou de uma cartilha de objeções éticas, escritas pelas normas de uma sociedade puramente humana. Se assim o fosse, a nossa vida seria um rebuscar de coisas proibidas e permitidas. E esta impressão é marcante entre muitos grupos de cristãos, onde tudo se revela num periódico “não é permitido”, isto é, onde uma fase negativa é fortemente sublinhada. No entanto, as palavras de Cristo têm sempre um valor positivo, são de uma forma de incentivo. “Amarás a teu Deus de todo teu coração, de todo teu entendimento”. “Amarás a teu próximo como a ti mesmo”. “O filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos”. “O filho do homem não veio para julgar, mas para buscar o que estava perdido”.
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Já estes exemplos nos indicam que não existe, de um lado, um “sim” e, do outro, um “não”. Mas sempre uma indicação a um sentido concreto. Deduz-se daí que em tudo, também nas coisas que julgamos insignificantes em nossa vida, um sentido positivo, um incentivo para o nosso agir. Consequentemente toda e qualquer atitude nossa, deve sempre ser um reflexo deste lado positivista do cristianismo. Por isto mesmo as coisinhas insignificantes de nossa vida são de um tremendo valor. Fato é, e isto não se pode ignorar, que estas coisas de pouca importância sempre estão ligadas intimamente a cada indivíduo. Só o relacionamento sincero de cada um de nós para com estas coisas aparentemente insignificantes pode nos conduzir a uma posição definida, e jamais pode ser generalizada. Vejamos um exemplo: o álcool. O álcool tem várias facetas diferentes. Poderíamos julgá-lo de imediato como pernicioso como muitos o fazem. Todavia, não nos esqueçamos que a própria Bíblia trata o assunto com carinho e esmero, nem sempre o relegando às causas imprestáveis. Para um indivíduo de caráter e personalidade, o álcool em doses mínimas não raras vezes é uma necessidade. Já há outras pessoas que indiscutivelmente sempre estão correndo perigo imediato de se tornarem escravas do mesmo. Mas mesmo para o indivíduo sério e de caráter, basta uma dose de bebida alcoólica e sentar-se num volante de um automóvel, e eis que está solto um possível atropelador, causando assim perigo profundo para seu semelhante.
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Já este exemplo nos evidencia que não raras vezes as coisas insignificantes da vida podem ter causas funestas. Por isto devemos perguntar sinceramente: “Qual a minha relação para estas coisas insignificantes de minha vida?”. Na realidade, Deus também as colocou a nossa disposição para que sejam usadas em liberdade. No fundo, elas não podem ser simplesmente consideradas como más ou proibidas. O perigo sempre se encanta em nós mesmos. O que fazemos delas, isto é de nossa decisão e responsabilidade. Isto significa que necessitamos todos de uma liberdade e consciência ao agirmos com as coisas insignificantes da vida. Mas o que é esta liberdade? Não ser escravo das coisas, sejam quais forem quando devemos decidir sobre as mesmas. Como conquistamos esta liberdade? Cada um de nós sabe muito bem como nos influenciam facilmente por determinadas atividades – geralmente as chamamos de “hobby”, ou como nos prendemos involuntariamente a nossa coleção de selos, às nossas plantas ornamentais, ao cigarro, aos quadros de arte, aos mimos, pois – todos – de certa forma representam algo para nós. Nisto não deve ser visto qualquer mal. Todavia, cabe-nos permanecer livre perante os mesmos, pois permanecendo escravizados aos mesmos, são fruto de nosso egoísmo e de nosso pecado. E o egoísta e o pecador, não estão livres, como Cristo quer nos propor que sejamos. Pois pelo Evangelho do Senhor nos tornamos filhos livres de Deus e como um filho livre também deve tratar das nossas coisas insignificantes. Como cristãos temos as grandes chances da liberdade. Muitos são aqueles que falam da liberdade, mas na verdade, são
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escravos de conceitos, de estruturas, de si mesmos em seu egoísmo e de seu passado. Somos livres para o servir ao nosso semelhante. Este é o grande mandato, ao qual a nossa vida está intimamente ligada: Nós estamos designados ao serviço do Senhor! E este serviço do Senhor caracteriza se existem ou não causas insignificantes em nossa vida e qual a sua importância. Enquanto estas pequenas coisas sem muita importância não forem tropeço para a nossa ação livre como aqueles que se sentem sob o mandato de Cristo, sob o serviço de Cristo, então elas não nos estão subjugando. Mas no momento em que sentimos que as mesmas nos estão dificultando transmitir – em palavras e ação – o amor de Cristo, aí então algo está errado, profundamente errado e não seremos mais livres. Isto quer dizer – que também nas pequenas coisas, a princípio tão insignificantes – sempre devemos perguntar pelos frutos das mesmas, se interferem ou não na vida de nossos semelhantes, e se interferir, de que modo – beneficamente ou maleficamente. O cristão não deve assim cultivar um velho lema, uma velha frase, que tão comumente gostamos de pronunciar: “o que os outros tem com isso?”. Talvez nada, mas não poucas vezes, estamos desservindo a Cristo. Exigência de cautela – álcool, cigarro, por nossos hobbies, quando alguém está necessitando de ajuda e apoio. Não bastam palavras, mas atitudes. Ou como nos fala a epístola de João do domingo de hoje:
“Não amemos de palavras, nem de língua, mas de fato e de verdade!”.
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João 3.18. Finalizando esta reflexão: Como agimos com as pequenas coisas da vida? Deus nos dá completa liberdade de ação. Se esta nos estiver faltando, então, saibamos pedir a Deus em Cristo Jesus que Ele nos ajude em sermos livres, sinceramente livres para a causa do seu grande Evangelho, o Evangelho do Amor. Amém.
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04.08.1968 8º. Domingo após Trindade Lamentações de Jeremias 3.22-23 “A misericórdia do Senhor, é a causa de não sermos consumidos”; a sua misericórdia não tem fim; porém, renova-se cada manhã. Grande é a tua fidelidade”. Cara comunidade: Estas palavras revelam um profundo sentido da própria vida! Infelizmente nos faltam dados mais concretos sobre o autor desta expressão, que, de certa forma inolvidável, via a sua vida como sendo sempre um novo presente e oferecimento da graça e misericórdia de Deus. Muitas gerações, incalculáveis gerações nos separam deste homem e de sua afirmação. Tal é o hiato de tempo que hoje infelizmente encontramos poucas criaturas capazes de concordarem e de afirmarem tais palavras de otimismo. Pois quem assim é capaz de se expressar, este mesmo sempre de novo sentir-se-á surpreso o quanto a sua vida é delimitada e, no entanto, cada manhã, cada novo despertar, cada novo começo lhe representa uma novidade. Nada lhe é tão natural assim e a desgraça da rotina cotidiana num ser humano deste quilate não tem lugar. Todos nós podemos citar inúmeros exemplos de pessoas de nossas relações e não raras vezes somos lhes muito idênticos onde tudo na vida é tão natural e onde tudo se desenvolve num ritmo de grande passividade, onde nada acontece de anormal; não acontecem acidentes pessoais, onde também não acontecem alegrias nem tristezas. Aquela vidinha costumeira e normal. E depois no nosso meio não há grandes novidades que 157
nos pudessem extraviar ou mesmo interessar: as mesmas caras de sempre, o mesmo banco, a mesma arvore, o mesmo jardim. Faz o que se pode e se deve: trabalhar, comer, dormir, algum divertimentozinho, uma festinha, e nada mais. Tudo é tão natural, um costume de viver. Mas de repente, o destino nos apronta uma cilada inesperada. Tudo parece fora de seu lugar. Qualquer coisa nos diz que aconteceu uma catástrofe, o nosso pequeno mundo vem abaixo. E isto se pode manifestar das mais diversas formas: uma enfermidade pertinaz, a morte de um ente querido, aos negócios que vão de mal a pior, é a família que não se entende mais, são os filhos e os pais que se combatem mutuamente, ou a filha que aparece com um namorado não de nosso gosto e assim por diante. Tudo ia tão bem e agora, parece o fim do mundo. Mas com isto tudo a nossa velha letargia, a nossa rotina, a nossa tão grande naturalidade dá lugar a inúmeras reflexões – que normalmente não seriamos capazes de fazer, nem de concretizar. Até – não poucas vezes, parece-nos um milagre o simples fato de vivermos, de podermos respirar, de vermos a luz do sol ou mesmo o anoitecer. A vida se torna mais apreciada e amada, pois sentimos que não somos senhores sobre ela, mas que ela nos é oferecida para dela nós desfrutarmos a todos os momentos. É certo que uso o termo “desfrutar” o oferecimento divino da vida com certas reservas. No entanto, seria o cúmulo da tolice se quiséssemos afirmar que somos os portadores de um direito inalienável sobre a nossa própria vida, como se o viver de minuto a minuto, de hora em hora, de dia a dia, de ano a ano correspondesse apenas e simplesmente a favor de desejo nossos. No fundo, no fundo a vida não nos pertence e jamais pertencerá e mesmo que notemos isto apenas em determinadas
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circunstancias de nossa vida. E por isto não devemos nos perturbar com os momentos em que somos tirados da normalidade de nosso viver costumeiro, de nossa sonolência. Aqui talvez até encontremos com uma diferença existente entre a geração de hoje e as do passado. Muitos jovens não podem entender como podiam os homens de antigamente viver assim a sua vidinha organizada e sistematizada. Tudo tinha a sua hora e o seu momento exato. Era como um riacho que sempre permanecia fiel ao seu leito, calmo e poucas vezes brando. E por isto não poucos são os que exaltam quando de vez em quando surgem verdadeiras ondas e o riacho dantes calmo e sossegado derriba suas margens, alagando e destruindo enormes áreas, formando redemoinhos terríveis e perigosos. Aí então vem à repressão, aí então vem a violência. E isto, às vezes, é necessário e até bom quando acontece algo em nossa vida particular ou na vida até de uma nação. Aí notamos e aprendemos de novo que nem tudo é tão natural assim no mundo, que tudo tem seus limites e tudo a sua dimensão e maneira de ser e existir. Na realidade nem nos devíamos assustar tanto com determinados fatos, com determinados acontecimentos, mas deveríamos estar agradecidos que não fomos atingidos pelos mesmos e podemos continuar a viver o nosso dia a dia. Porém, umas coisas não devemos jamais desprezar. As grandes catástrofes e ética de nossa vida nem sempre são causadas por terceiros, mas as suas causas não poucas vezes são inerentes a nós mesmos, estão dentro de cada um de nós. Quantas vezes não somos nós mesmos a causa de determinados acontecimentos nefastos em nossa vida, quando, de repente, tudo não quer dar certo, quando a família se desagrega por não sabemos contemporizar por não sabermos usar de objetividade, 159
quando falhamos por nossas falsas ideias, nossos falhos exemplos, quando destruímos a nós próprios, quando então culpamos os outros, culpamos até Deus por nossas desgraças. E aí, neste exato momento de nossas desgraças, podemos nos surpreender e mesmo maravilhar que não somos consumidos pela voragem de nossas falhas e de nossos erros, mas que ainda vivemos, que ainda existimos, que não estamos exterminados, mas que ainda nos resta o viver de minuto a minuto, de hora em hora, de dia a dia. Fato é que conduzidos pela realidade de nossa vida particular, pelas nossas próprias desilusões, tornamo-nos insensíveis àquilo que vai acontecendo fora de nossa esfera particular e pessoal. Todos os dias somos injetados por informações as mais drásticas. É uma tempera de nossos tempos que apenas fatos tristes e mesmo chocantes merecem um destaque efetivo por nossa imprensa lida e falada, enquanto que fatos de realce e de bons agouros são relegados a segundo plano. Queda de aviões, desastres, acidentes, mortes e fome. Resultado desta tempera é que nem mais ligamos para estas realidades negativas, pois não temos elementos comparativos. Somos tão insensíveis a fatos chocantes que a nossa reação se assemelha ao encontro casual de um pardal morto ao lado da calçada. Mas, para que refletir tanto sobre estas coisas desagradáveis? Afinal temos sorte de não sermos atingidos por determinadas catástrofes. Mas a vida vai se tornando cada vez mais pobre e mesmo ociosa quando não mais refletimos nestas coisas negativas e deprimentes da nossa existência. Pois quando começamos a refletir sobre tudo isto que nos rodeia, nos cerca e nos influencia, aí não podemos mais ter um momento de 160
passividade, pois estamos cientes dos perigos que podem nos assaltar de momento em momento e perante os quais nada podemos praticamente fazer. A morte se torna de certa forma o ângulo de nossa visão. Sem querer, quase involuntariamente encontramos em todos nossos caminhos a morte e ninguém poderá fugir desta realidade mesmo que insistamos fugir da mesma. Todavia, ninguém poderá furtar-se da mesma. Cedo ou tarde ela virá sorrateiramente como o ladrão à noite. Agora a questão chave que se abre aos nossos olhos: Podemos, apesar de tudo isto que ouvimos e muito mais, alegrar-se ainda na vida e pela própria vida? Aqui se revela na verdade o sentido profundo da palavra básica de que partimos. Melhor: duas portas se nos são abertas. Uma evidentemente nos leva à total desilusão, para não dizer, ao desespero. Por ela apenas vemos a vida em terrível pessimismo e não vamos jamais encontrar nela o sentido puro e fundamental de nossa existência. Que dirá encontrar nela alegria ou coragem de viver! É a porta por intermédio da qual apenas se vê desgraças, hecatombes, catástrofes, a própria morte. Já a outra porta, a qual para a maioria de nós passa despercebida, nos pode levar à uma enorme alegria, mesmo ao contentamento e à satisfação. Por intermédio dela vemos a VIDA como um oferecimento sempre novo de Deus, que não quer nem anuncia a morte, mas que nos dá a vida. Sim, Deus se preocupa profundamente conosco, criaturas e seres humanos tão complicados, tão confusos, tão inacessíveis, tão rancorosos, tão tristes, emudecidos e fechados. E além de se preocupar conosco, ele nos dá um sentido no nosso viver, um sentido
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sempre inerente a cada um de nós. “A misericórdia do Senhor é a causa de que não somos consumidos”. Certamente muito mais pessoas perderiam facilmente a coragem para viver se não fossem assim tão apagados, tão acomodados e tão desligados da realidade de nosso mundo contemporâneo. Mas este viver o dia a dia não é vida. Quem assim dispõe de sua vida não vive, mas simplesmente vegeta. Já estamos acostumados a tudo e a tanto que nem mais damos o valor ao simples fato de vivermos, de que continuamos a existir. Nem as causas boas, nem as más nos perturbam. Nem nos lembramos de que falhamos e fracassamos seguidamente perante Deus, não levando amor, nem solidariedade aos outros. Não basta apenas viver. É preciso reconhecer que vivemos, não de nós, nem por nós mesmos, mas pelo grande favor de Deus. Pelo simples fato de diariamente sermos colocados perante outros fatos, outras realidades – boas – ou más, alegres ou nefastas, isto não interessa colocados perante outros problemas e outros deveres como compromissos, só isto já é um presente, um presente inesgotável. Pelo fato de Deus ter sempre de novo plano conosco e não nos enxotar de nossos caminhos comuns, só isto já é motivo de grandes alegrias. “A misericórdia do Senhor é a causa de não sermos simplesmente consumidos; a sua misericórdia não tem fim; porém, renova-se cada manhã. Grande é a fidelidade de Deus”. “Renova-se cada manhã” – que sentimento altruitivo e sincero para o sentido e a valorização de nossa vida. Despertemos para esta realidade – a de que vivemos graças ao Deus, Criador e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo – e muita coisa poderá ser
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diferente em nossa vida. Basta reconhecer que em cada manhã a graça de Deus renova o nosso, o teu e o seu viver! Amém!
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18.08.1968 10º. Domingo após a Trindade Lucas 14.16-24 Cara comunidade, meus caros jovens: Como início deste nosso culto divino podemos cantar: “Vinde, abri-me a porta bela, que no templo eu possa entrar”. Trata-se de um pedido no sentido de que hoje vos seja dado pleno acesso à participação e ao engajamento da comunidade cristã, na qual, vós, hoje confirmados, fostes batizados quando ainda crianças. Isto pressupõe de que pelo batismo já pertenceis a esta comunidade, mas que se torna imperioso que todas as suas portas vos sejam abertas com sinceridade e veracidade, a fim de que podeis aprender a amá-la e viver plenamente em sua comunhão. Qual o primeiro passo para a participação e o engajamento dentro de uma comunidade cristã? Resposta simples: participando de sua vida comunitária, partindo, ou iniciando pela participação dos cultos dominicais, pois estes são “o centro” de toda e qualquer atividade da igreja. Apenas partindo deste “centro” da vida da comunidade – o culto dominical – é que podemos concretizar os trabalhos tradicionais e abertos da Escola Dominical para crianças, Juventude Evangélica, Ordem Auxiliadora de Senhoras Evangélicas, de Legião Evangélica, Legião dos leigos, Mordomia; somente em função deste “centro”, os cultos – podem admitir a ação de Conselhos Comunitários, de um Presbitério; mesmo faz se dependente do “culto dominical” a própria existência da Igreja.
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Este “centro” faz com que todas as atividades de uma comunidade são realizadas e concretizadas em relação ao mesmo. Indiscutivelmente pode se medir a vida de uma comunidade, suas concretizações, seus trabalhos e suas atividades, quanto à participação ativa de seus membros nos cultos divinos. Apesar disto devemos nos perguntar: Por que vamos à Igreja? A parábola da grande ceia indica claramente uma resposta: I. “Vamos à igreja, dirigimo-nos ao templo, pelo fato de Deus estar nos convidando”. Não vemos Deus. Mas podemos ouvi-lo por intermédio de sua palavra, pois a palavra permanece sendo o elo de comunicação eficaz e sincero. E esta “palavra de Deus” chega até a nós por intermédio de criaturas humanas como nós, principiando pelas grandes figuras bíblicas, como Moisés, Josué, os Juízes, os Reis, os Profetas, pelo próprio Jesus Cristo, os apóstolos depois, pelos missionários, pelos pastores, pelos leitores, pelos catequistas, nossos próprios pais, por intermédio de nossos amigos na sua confissão pública pela causa de Cristo e de Deus no mundo de hoje. É um fato inédito nisto tudo que nossos capazes de distinguir quando estas criaturas humanas estão nos falando desta palavra de Deus. Notamos como estas palavras não são inventadas ou construídas por homens, mas que transmitem uma verdade tão profunda, verdade esta que o homem de si mesmo não é capaz de proferir. Mas é Deus que está agindo por intermédio deles, a fim de que reconheçamos o profundo amor que Deus dedica a cada um de nós, a ponto de nos escolher
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como os instrumentos de sua pregação, da proclamação das boas novas do Evangelho em Jesus Cristo. Jesus contou esta parábola, a parábola da grande ceia, a qual também é conhecida como a parábola do grande convite. “Certo homem deu uma grande ceia e convidou a muitos. À hora da ceia enviou seus mordomos para avisar aos convidados: ”Vinde, porque tudo está preparado”. Mas como todos os convidados começaram a escoar-se, a descobrir motivos impróprios de uma hora, pois com antecedência já sabiam do convite, o homem convocou seu mordomo e lhe deu uma nova ordem, quase que inesperada: “Sai depressa para os becos e suas cidades e traze para aqui os pobres, os aleijados, os cegos e os ascos”. Isto também foi cumprido, mas ainda havia lugares. Uma nova ordem teve de ser executada: “Sai pelos caminhos e atalhos, e obriga a todos a entrar, para que fique cheia a minha casa”. Este homem do convite é Deus. Deus nos convida à sua casa e esta igreja foi erigida por nossos avós e antepassados com o sentido de que aqui seja manifesto o desejo de aceitarmos o convite de Deus. Por que vamos à Igreja? Porque Deus deseja que a sua casa fique cheia. II. Por que Deus nos convida? Por que ele quer que a Sua casa fique cheia, por que Ele quer que todos venhamos a ela? Diríamos: por se tratar de uma necessidade para o nosso verdadeiro engajamento como cristãos. Cada convite que recebemos sempre deve se constituir para nós uma honra e um privilégio. Podemos participar com o nosso hospedeiro de momentos de alegria, quando trocamos ideias e
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nos deleitamos com seus comensais. O fato de podermos conviver com outrem por algumas horas, onde este convívio é um estreitamento dos laços de amizade, já é importante para todos nós. Mas o convite de Deus é bem mais imperativo, pois na parábola Jesus faz uma afirmação que não nos pode ficar despercebida: “Porque vos declaro que nenhum daqueles homens que foram convidados, provará a minha ceia - uma palavra verdadeiramente desnorteante, mas compreensiva. Se Deus nos convida a participarmos integralmente de sua mensagem, se somos chamados a sermos cristãos sinceros, só podemos ser se continuadamente ouvimos esta mensagem, mais ainda, se continuadamente estamos dispostos a viver esta mensagem, se aceitamos o seu convite”. Alguém agora então poderá dizer: Está muito bem! Deus me convida a participar da mensagem cristã e, ao mesmo tempo, vivê-la. Posso ouvir e ler a “palavra de Deus” em minha casa, e viver a mensagem não basta fazê-lo na igreja. Por que então vir à igreja? E logo num domingo de manhã, quando pode se esticar o sono um pouco mais, ou passar o dia simplesmente em casa, bem à vontade! E depois: Deus não está em todos os lugares? Realmente: Deus está em todos os lugares. Ele é Onipresente – está presente em tudo e no todo. Mas o que já nos pode interessar isto profundamente e acima de tudo, o que já nos pode dizer respeito a cada um de nós? Podemos comparar a “presença de Deus em tudo e no todo” com as ondas do rádio, ou as ondas ultracurtas da televisão. Estão em todos os lugares. Também aqui nesta igreja. Mas nós podemos perceber a ação destes raios sem um aparelho capaz de receber estas ondas, como este rádio.
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Assim podemos dizer que o “aparelho receptor” de Deus é a igreja, é o templo, é a sua casa, a casa consagrada com o objetivo de reunir e congregar os seus filhos, vindos de todos os cantos, de todos os bairros arrabaldes e cidades vizinhas do Grande São Paulo. E nesta comunhão de criaturas humanas que não se reúnem por qualquer motivação inerente – mas que aceitam o convite de Deus, a “palavra de Deus” tende a tornar-se viva e atualizada em função do tempo em que hoje vivemos. Onde a Palavra de Deus se torna viva – pela pregação, pelo louvor, pelo canto, pela oração, onde a Palavra de Deus se torna visível – pelos sacramentos do batismo, da Santa Ceia, ali podemos contar com a presença de Deus. Na comunhão de uns para com os outros se torna claro o nosso chamado de Deus: o convívio entre Ele e nós, e nós com nossos irmãos. Um cristão verdadeiro, não apenas de nome, não deve apenas e simplesmente saber alguma coisa sobre Deus, mas Ele deve ter contato na comunidade, em comunhão com os outros com Deus. Por isto não basta apenas assistir as aulas de confirmação, ou à OASE ou estar ligado a um trabalho específico da comunidade ou da igreja, ou apenas servir-se da comunidade quando sinto necessidade intima da mesma. Lembremo-nos que somos parte integrante da comunidade de Cristo. Cada um de nós é uma pedra viva deste edifício. E quando somos de opinião que a igreja está falhando, quando achamos que ela não está nos dizendo o que dela esperamos, quando ela se nos torna estranha, somos chamados a reavivála, ativá-la, reformá-la. Por que vamos à igreja? Espero que possam sentir a necessidade de participar frequentemente dos nossos cultos divinos.
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1.
Porque Deus tem nos convidado a isso para que o possamos conhecer e receber dele com sinceridade a mensagem que Ele depositou em Jesus Cristo e nos apóstolos. 2. Porque Deus quer que também com isto possamos conviver com outros cristãos da Palavra Viva e Visível. 3. Porque assim também estaremos prontos e preparados a agir como verdadeiros cristãos no mundo onde Deus nos colocou, a saber, no nosso lar, na escola, no trabalho, nos lugares de divertimento, de alegrias e de tristezas. 4. Porque a simples ida à igreja é um pedaço de missão. Os outros, nossos familiares, nossos amigos, nossos colegas estarão notando visivelmente que não nos envergonhamos, de junto com muitos, estarmos indo ao encontro sincero com Deus. Assim estaremos confessando a nossa fé sincera, a de que cremos ter encontrado em Jesus Cristo o Deus vivo e verdadeiro que é o esteio, o fundamento de nossas ações e atitudes que praticamos diariamente. Não queremos mais perguntar: por que vamos a igreja? Mas queremos que os outros achem a resposta certa à esta pergunta pelo fato de irmos e participarmos da vida de nossa comunidade, a fim de que também eles experimentem e sigam o convite que Deus continua fazendo “Vinde, eis que tudo está preparado”. Meus caros confirmados do biênio 1968/1969: por este ato público dentro desta comunidade apresentam-vos aos seus membros, transmitindo-vos o convite de participar com 169
sinceridade da vida desta comunidade. Ouvistes o convite de Deus. As portas vos foram abertas. Aproximastes-vos de Deus, como antes cantastes: “Eu me tenho a ti chegado”, vem, Senhor, também a mim; onde Tu tens penetrado tudo é céu, prazer sem fim,
e que seja o nosso pedido hoje transcrito nas últimas duas linhas desta 2ª estrofe do hino 126: “vem, Senhor, em mim entrar, templo Teu me vem tornar”. Amém.
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08.09.1968 13º. Domingo após a Trindade Mateus 8.5-13 Cara comunidade: Não faz muito tempo recebi um livro a respeito da nova expressão de arte das jovens igrejas missionárias. Histórias bíblicas e expressões cristãs fundamentais foram transportadas por artistas e artífices cristãos em formas originais de acordo com as tradições existentes na Índia, na Indochina, no Japão, em Nova Guiné e na África. Até surgiram as primeiras comunidades cristãs como fruto do trabalho missionário dos fins do século XIX e princípios do século XX, enfatizado pelas grandes igrejas europeias e norte-americanas. Hoje estas “igrejas jovens” quase não mais possuem traços de suas igrejas de origem, pelo contrário, desenvolveram as suas próprias manifestações de arte mural, - música, na arte, em formas confessionais, criando assim uma série de características próprias e nativas, onde os Evangelhos são o elo da unidade a Jesus Cristo, Senhor e Salvador. O motivo de iniciar hoje com estas informações deve-se ao fato de que no “centurião de Cafarnaum” temos o primeiro exemplo deste desenvolvimento universal que sofre o Evangelho de Jesus Cristo ao atingir criaturas humanas de origens diferentes, de alturas antagônicas, de pensamentos e tradições as mais adversas. À primeira vista Mt 8.5-13 é apenas mais um relato da ação milagrosa do Senhor e que se identifica em muitas maneiras de outras curas praticadas por Jesus, o Nazareno. Importante e fundamental nestas narrativas é a sua expressão de que a ação
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de Jesus sempre se dirige ao homem no seu todo, isto é, na sua relação psicossomática como uma unidade. Assim estaremos cometendo um erro imperdoável ao pensarmos ao ser de opinião que Deus e a fé apenas se relacionam com o íntimo do homem ou à sua espiritualidade. “uma cadeia de jornais que são desta opinião, criticando inusitadamente o grande fato histórico da Igreja cristã estar voltando-se concretamente ao mundo e aos seus problemas”. Na realidade o encontro de Jesus com criaturas humanas de seu tempo sempre se caracteriza pela ação concreta ao homem, interferindo até à sua própria saúde, a sua percepção física e de suas necessidades. O excepcional nesta narrativa de Mateus encontramos exatamente na pessoa deste homem, um oficial do exército de ocupação, que procura a Cristo por causa de um de seus comandados, de um soldado doente, sofrendo de um mal pertinaz, a paralisia. Jesus vê o homem, indiferente da sua posição de militar e ouve atenciosamente. É um romano, é oficial que não está integrado nas tradições do povo judaico e nem mesmo tem qualquer relacionamento religioso com o templo de Jerusalém. Alguém deve lhe ter falado de Jesus e de sua ação, o que também hoje pode ainda acontecer a alguém que nunca ouviu nada a respeito do Senhor. Ele toma a atitude de procura-lo. Não lhe custava nada experimentar. Quem sabe também o seu criado pudesse experimentar o alivio das dores e do sofrimento como tantos outros cegos, surdos, doentes mentais. E interessante é o modo de agir do centurião. Ele está acostumado a dar ordens, as quais lê e são obedecidas ao pé da letra. Quando ordena: venha cá, seus comandados vem. 172
Quando manda alguém fazer algo, ele o faz, pois o oficial ordenou. E dentro desta conjugação de fatos o centurião também entende o poder de Jesus. Basta uma ordem e esta será cumprida. Para o centurião Jesus é idêntico a um oficial que dá a suas ordens e estas serão cumpridas. Realmente é curiosa esta coordenação de pensamentos de centurião e não condiz sempre com os profundos resultados da teologia. Todavia, estes pensamentos, em sua total simplicidade, apresentam um profundo reconhecimento: Jesus Cristo é Senhor porque as suas ordens são obedecidas. Exatamente isto, a simplicidade dos fatos em torno de Jesus, a coragem de expressar as histórias bíblicas e os fatos relacionados com Jesus, desprezando-se as tradições antigas, é que surpreende a qualquer um ao estudar as jovens igrejas cristãs do mundo. Elas querem apresentar a Jesus Cristo não com um complicado aparelho teológico, mas com a máxima simplicidade, de acordo com a capacidade de compreensão de seus povos e de suas culturas. Adiante verificaremos um outro aspecto do centurião, além de sua compreensão de ser Jesus o supremo comandante: é a sua profunda humildade e sinceridade. Quando Jesus lhe disse: “Eu irei cura-lo!”, ele de imediato responde: “Senhor, não sou digno de que entres em minha casa; mas apenas manda com uma palavra, e o meu rapaz será curado”. Trocando em miúdos a resposta do centurião se resume nisto: Senhor, não precisas fazer nada, a tua palavra basta! Apesar de ser um oficial, um comandante de tropa, ele não se julgava digno o suficiente para receber a Jesus em sua casa. Ele tinha certeza de que bastava uma palavra e o seu rapaz seria curado.
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Esta certeza do centurião mereceu de Jesus uma grande admiração: “Nem mesmo em Israel achei uma fé assim!” Uma fé assim: - representa o conteúdo especifico da fé em Jesus Cristo – é a certeza inoxidável para o poder, para a autoridade que provém e se reflete de Cristo, mesmo que esta certeza, meus caros irmãos, apenas possa ser reproduzida com muita simplicidade, estar ligada à sinceridade e a confiança. Evidentemente podemos dizer: a fé e o reconhecer-se que Jesus Cristo é o Senhor soberano em todos os setores e campos da vida e da morte de um lado, e ligado a este “conhecer-se” o fato de confiarmos plenamente neste poder de Cristo sobre todas as coisas e sobre nós também. Com e por intermédio desta fé o centurião de Cafarnaum se tornou o primeiro membro de um número sem par de criaturas humanas, povos e igrejas de todos os cantos do mundo que experimentaram e continuam experimentando a força e o poder salvador de Cristo e de seu evangelho. Ainda mais: que souberam e continuam sabendo expressar com suas típicas originalidades, em novas formas, em novas palavras, orações e confissões a sua fé em Cristo Jesus como Senhor e Salvador. Também nós hoje queremos, ao participar da Santa Comunhão e Ceia dizer humildemente ao Senhor: “Senhor, não sou digno de que entres em minha casa; mas apenas manda com uma palavra e eu irei curado”. E Jesus Cristo, o nosso Senhor e Salvador nos dirá:
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“Tomai e comei, este é o meu corpo dado em favor de vós”
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“Tomai e bebei, este cálice é a nova aliança em meu sangue, dado e derramado em favor de vós para a remissão dos pecados. Fazei isto uma memória de mim”.
“Assim eu estou curado, assim eu estou renovado, pois assim o quer o Senhor!” Amém!
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10.11.1968 22º. Domingo após a Trindade Atos 3.1-7 3.6: ”Pedro, porém lhe disse: “Não possuo nem prata, nem ouro, mas o que tenho, isso te dou: em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, anda”! Cara comunidade! No 2º capitulo a grande prédica proferida por Pedro no dia de Pentecostes. Logo em seguir lemos este relato da mão de um mendigo. Prédica + diaconia Prédica + ação voltada para a criatura humana, a grande caracteristica de todo o plano de Deus em Jesus Cristo. Na realidade Jesus não apenas disse aos seus apóstolos: “Ide por todo mundo e anunciar o Evangelho a toda criatura humana”, mas acrescentou a esta ordem da missão a seguintes palavras: “Estes sinais hão de acompanhar aqueles que creem: em meu nome expelirão demônios; falarão novas línguas; se impuserem as mãos sobre enfermos, eles ficarão curados”. Evangelho – diaconia um em razão do outro, um não existe sem o outro. Pois o Evangelho é diaconia, é serviço no semelhante, é serviço para o mundo em nome de Jesus Cristo.
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Isto quer significar que cada palavra da igreja, de nós como comunidade, tem de ser uma ação e cada ação deve ser reconhecida como uma palavra de Deus. Por isto todo o trabalho de uma comunidade é o culto racional a Deus. Melhor ainda toda nossa ação como cristãos, como aqueles que creem em Jesus Cristo, deve ser nosso sincero e verdadeiro culto racional a Deus. Exatamente por causa desta relação Pedro, o pregador também pode ser reconhecido como o mesmo após todo Pedro, o que cura um enfermo. Por isto o cristão não é apenas aquele que crê, que tem fé, mas se torna ao mesmo tempo servo de Jesus Cristo, servo no sentido de não servir em seu próprio nome, mas no Senhor que dá sentido ao servir ao outro, e a outrem. O que esperava o coxo à porta do templo? “Esmola – mas a resposta foi “Não possuo nem prata nem ouro” – decepção – “mas o que tenho, isso te dou” – era a riqueza do apóstolo e a benção para o cosmo – “em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, anda”! Tudo o que em nosso mundo de hoje possui em decepções, frustrações, sofrimentos, misérias é resumido falsamente numa única expressão: é a questão social! Na realidade – questões sociais clamam por soluções profundas e rápidas, bem como, a longo prazo. E também nós como comunidade de Cristo sentimos a problemática e também a nós é pedido ajuda. No entanto, apenas nos lamentamos e dizemos: “Ah, se tivéssemos dinheiro! Ah, se tivéssemos ouro e prata, quantos problemas não poderíamos solucionar, quantas 177
lágrimas poderíamos enxugar, quanta miséria poderia ser diminuída”! Esta afirmação deve ser considerada como uma desculpa e nada mais. Uma desculpa generalizada. Pois deveríamos nos perguntar sinceramente: será que apenas ouro e prata podem curar feridas e enfermos, secar lágrimas, silenciar acusações, sanar preocupações, diminuir as misérias do mundo? Esta pergunta é dirigida a todos nós. Ou será que também somos da opinião que com esmolas estaremos ajudando concretamente? “Não possuo nem ouro, nem prata, mas o que tenho, isso te dou; em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta e anda!” Na expressão: “mas o que tenho, isso te dou” estamos perante uma outra afirmação muito oportuna, a saber: não dê o que não tens! É uma grande verdade: Se não tens fé, nem paz, não fale então de coisas de fé, nem mesmo queira ser um mensageiro da paz. Não concite ninguém a ter paciência e persistência nas tuas relações e coisas pessoais. Igualmente não te disponhas a agir em amor, se não conheces e nem queres viver a grande mensagem do amor. Não fale em misericórdia e piedade quando não experimentas em teu viver a grande misericórdia e piedade de Deus para contigo, o qual, apesar de ter razões suficientes em te considerar e julgar para sempre, perdoa os teus erros e falhas continuadamente e graciosamente.
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Igualmente não fale tanto da vontade de Deus, se não estás disposto a viver concretamente a mensagem do Evangelho de Cristo Jesus. Não queiras dar a outros o que não tens! Isto é básico e genuíno. Mas aquilo que tens, isto não guarde para ti, mas coloque à disposição de outrem. Se tiveres ouro e prata, então sacrifique um pouco disto em favor dos que nada tem. Se tiveres um pouco de tempo livre, coloque-o à disposição do que necessitam de tua experiência, de teus conselhos, de tua ajuda, de tua palavra, o simples ouvir. Se tiveres um coração bondoso e mãos abençoadas, então ajude na assistência aos doentes e enfermos. Se tiveres misericórdia e piedade dos outros, então faça misericórdia para com eles, conduzindo-os a um sentido de viver sincero em Jesus Cristo. “Dê, o que tens e dê o que és!” Ao darmos aos outros uma parcela daquilo que temos, então não estamos dando em nosso nome, ou para a nossa honra, nem mesmo por nosso mérito, ou em favor de algum benefício pessoal, mas a nossa ação de dar é realizada em nome de Jesus Cristo. Quando damos, então damos por termos recebido algo concreto por parte de Deus em Jesus Cristo. A nossa motivação de qualquer ato diacônico nos é lembrado pelos candelabros no altar, cujas velas vão se entregando aos poucos. Mas este se entregar aos poucos tem um sentido, o sentido de iluminar com sua luz a verdade que está Jesus Cristo, o qual se entregou na cruz por nossos pecados. Nós somos como cristãos esta luz no mundo e por isto não nos sentimos 179
humilhados em demonstrar a nossa ação ao que necessita de nossa compreensão, do nosso amor, de nossa piedade, acima de tudo a nossa participação. Cabe-nos levar as nossas mãos aos que sofrem, aos que choram, aos que perderam um sentido de viver, assim como o fez concretamente o apóstolo Pedro, conforme o registro nos Atos dos Apóstolos: “E tomando-o pela mão direita, o levantou”. Este contato direto com o sofrimento, esta participação, esta solidariedade concreta permanece sendo o centro, o auge, o motivo supremo do serviço cristão, servir este proveniente da ação de Deus em Cristo Jesus em nós criaturas humanas. O nosso exemplo permanece sendo igualmente o nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, no qual não podemos deixar de confiar, e dele nos lembramos ao juntos confessar: A ti, meu Deus, o confesso e digo a quem me perguntar.
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29.11.1968 24º Domingo após a Trindade Romanos 14.7-9: “Cada um tenha opinião bem definida em sua própria mente”. “Porque nenhum de nós vive para si mesmo, nem morre para si. Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos. Quer, pois, vivamos ou morramos, somos do Senhor. Foi precisamente para este fim que Cristo morreu e ressurgiu: para ser Senhor, tanto de mortos como de vivos”. Cara comunidade: “O nascer já significa o morrer de cada um de nós. Cada dia, cada hora, cada minuto de nosso viver é um aproximar-se inevitável de nossa própria morte”. Se em quase tudo nesta nossa existência se pode evitar, quer pelo dinheiro, quer por nossa posição, quer por intermédio de outros, a morte temos de enfrentar pessoalmente. Ela não escolhe, ela pode tardar, mas ela vem e nos busca a cada um pessoalmente. Por ser a morte algo de inevitável, nós nos assustamos profundamente e não raro nos martirizamos com este pensamento. O medo pela morte faz com que o indivíduo nas suas inquirições contínuas pela mesma, procure determinar respostas. Mas onde achá-las? Achá-las de um modo concreto, seguro. Achá-las de tal forma que a nossa vida realmente ainda tenha um sentido, além de dormir, levantar, trabalhar, amar e novamente dormir e assim por diante. Quando pesquisamos na história dos povos e das diversas culturas humanas, verificamos a grande preocupação com os problemas referentes ao espectro da morte. Também nas 181
biografias de grandes vultos da história esta preocupação não é de somemos importante. Atemos apenas dois exemplos: Hemingway e Ginsberg. Ernst Hemingway nos deve ser conhecido a todos como autor de grandes obras contemporâneas. Era um homem de características fenomenais, amante da vida e como seu grande hobby conhecemos as suas grandes caçadas na África. Não acreditava na existência de Deus. Era agnóstico. Numa de suas caçadas foi muito infeliz ao falhar uma de suas armas e um rinoceronte quase esmagou. Desde esta época jamais pode recuperar a sua saúde. Não podendo mais se dedicar ao seu esporte favorito, a caça, ia se desesperando cada vez mais. Não via mais sentido em seu viver, apesar de se ter tornado uns escritores famosos, cujas obras eram cobiçadas por seus milhares de leitores. Certo dia foi até a sua sala de armas, escolheu a melhor arma que possuía e se suicidou. De uma maneira trágica e quase inteligível pôs fim à sua vida tão cheias de glórias. Josef Ginsberg se tornou um dos mais famosos atores do cinema, da televisão e do palco europeus. Poucos foram capazes de suplantá-lo como ator dramático. Cada uma de suas interpretações era festejada por seu imenso público. Havia um detalhe que poucos podiam compreender: jamais se apresentava num domingo. Reunia-se com sua família ou com seus amigos em torno da Bíblia. Daí a sua grande amizade com grandes teólogos como Karl Barth, Rudolf Bultmann, Ernst Käsemann, Gerhard von Rad e outros. No auge de sua carreira teatral sentiu os primeiros sintomas de uma pertinaz moléstia que mais tarde foi reconhecida como sendo a mal de Parkinson.
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Era o fim de sua carreira. Outros em seu lugar estariam à beira do desespero. Mas Ginsberg aceitou humildemente a doença. Seus amigos sempre se admiravam de sua grande disposição, acima de tudo por seu ânimo de viver, sem temer a própria morte. Muitos contam que ao visitarem Ginsberg no seu quarto de uma clínica com o objetivo de animá-lo e trazer um pouco de alegria, acontecia sempre um milagre. Era ele, Ginsberg, que transmitia aos seus amigos e familiares maiores ânimo e alegria, confessando-se sempre como temente a Deus. Desta fase trágica de sua vida é que provêm os mais belos poemas que sempre se baseavam em suas palavras bíblicas. Ao morrer, depois de longos anos de sofrimento, o pastor de sua cidade natal na Suíça leu um dos epílogos mais construtivos sobre o significado da morte para um cristão, de autoria do próprio Ginsberg. Infelizmente encontramos poucas pessoas que tem total confiança em Deus a respeito do problema da morte. Antes as criaturas humanas preferem-se iludir com respostas arquitetônicas, as quais, todavia, não representam a realidade. Quando a Igreja fala no fim das coisas, e dentre elas, da morte, ela tem muitos ouvintes ávidos de uma solução para um problema quase insolúvel. Todos esperam que algo será feito sobre o outro lado da morte. Isto é compreensível, pois a Igreja é compreendida como sendo um organismo, o qual ouve e transmite aquilo que provém de Deus e Deus é o eterno, o todopoderoso, do qual provém tudo e a quem tudo se volta. Mas, cara comunidade, que a Igreja ouve e recebe não é aquilo que de antemão nós esperamos e não poucos aceitam como um fato real, a saber, a voz dos mortos, a voz daqueles que antes de nós adentraram nos caminhos obscuros da morte. A Igreja jamais poderá ouvir ou receber a voz dos mortos, pois os mortos não têm voz, e assim também não falam. 183
O que a Igreja ouve e recebe é a voz daquele que vive eternamente, Deus. Somente Deus está do outro lado, só Deus se encontra do outro lado do perecível e do que não está preso às leis normativas da Criação. Neste assunto só vale na realidade a palavra de Deus, pois a sua palavra tem fundamento, mesmo quando esta não é aceita ou distorcida. Tudo neste mundo passa, mas as palavras de Deus permanecem. Qual o significado da morte para nós, os cristãos? O Novo Testamento nos afirma claramente que todas as criaturas humanas, mesmo se encontrando sob o estado da morte, terão de comparecer perante o “tribunal de Cristo”. Isto também afirma o apóstolo Paulo ao escrever: “Importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de Cristo para que cada um receba segundo o bem ou o mal que tiver feito pelo corpo”. (2 Coríntios 5.10). Assim todos nós temos um alvo a alcançar indefectivelmente: o tribunal de Cristo, onde seremos julgados segundo as obras que praticamos por intermédio de nosso corpo. Assim, a morte não é apenas um acontecimento físico-natural e biológico, mas também significa que não serão possíveis quaisquer correções no sentido de se garantir as boas ações do ser humano. Ou como diz Martim Lutero: “assim como morremos, assim também permanecemos”. Isto quer dizer, meus irmãos, que o juízo de Deus já se concretiza na vida de cada um de nós, pois na morte permanecemos sendo o que somos. Realmente, se permanecêssemos apenas nestas constatações – de que apenas vale o que realizamos no nosso viver por intermédio do corpo – e Deus nada mais nos tivesse a dizer, aí sim, teríamos que realmente temer a morte. Porque sabemos
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todos que nenhum de nós se pode aproximar da morte sem antes ter tido qualquer tipo de contato com as esferas do maligno. O maligno existe no nosso mundo e, inclusive, em nós mesmos. Negar isto é negar a si mesmo. Felizmente Deus se nos revela o tipo do seu signo por intermédio de Jesus Cristo. Jesus Cristo, na verdade, não veio para julgar o gênero humano, mas para se desincumbir do ministério da reconciliação. Sobre este ministério da reconciliação o apóstolo Paulo mesmo escreve: “Tudo provém de Deus que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo, e nos deu o ministério da reconciliação, o saber, que Deus estava em Cristo, reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões”. Aqui nos é dito claramente, sem quaisquer réstias de dúvida, de que Deus oferece a todos homens em Jesus Cristo novas modalidades de desenvolver a sua existência de modo que nada tenha a temer, nem a sua própria morte. Quem aceitar este oferecimento de Deus da reconciliação por Cristo, este é uma nova criatura que não mais se encontra presa às forças do maligno. E como criatura reconciliada por Cristo também não teme o tribunal final, pois suas transgressões não lhe serão imputadas. Seus erros, suas falhas e faltas lhe estão perdoadas. Daí o sincero cristão não ter que apelar a outros subterfúgios errôneos e falsos como enganadores que lhe são oferecidos pelas ilusões da cartomancia, do espiritismo, da umbanda, da bruxaria que nada mais são sinais de uma era ultrapassada, onde imperava a ignorância e a falta de conhecimento da verdade que provém de Deus. Quem insistir em aceitar estas manifestações está na realidade zombando de Deus e bagatelizando o oferecimento sincero de Deus: a reconciliação do mundo. 185
De uma coisa não devemos esquecer: do fato de que devemos ter uma opinião definida em nossa mente, a saber, que nenhum de nós vive para si mesmo, nem morre para si. Porque se vivemos, para o Senhor vivemos, se morrermos, para o Senhor vivemos. Que, pois, vivamos ou morramos somos do Senhor. Foi precisamente para este fim que Cristo morreu e ressurgiu: para ser Senhor tanto dos vivos como dos mortos. Jesus Cristo hoje é o nosso Senhor e numa determinada fase da evolução universal dar-se-á a conhecer como o nosso Advogado de defesa é Salvador. Nesta fé em Jesus Cristo pode permanecer em alegria e esperança. Tudo o mais apenas servirá para a nossa própria condenação, “pois um outro fundamento ninguém poderá colocar, além, deste que foi colocado, o qual é Jesus Cristo”. Amém.
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01.12.1968 1º Domingo do Advento Romanos 13.11-14 Numa versão direta do texto original grego: “Tudo, o que fizerdes, façam-no lançando vossos olhos ao futuro. Pois o dia do Senhor se aproxima cada vez mais de hora em hora. Já é tempo de despertardes do sono. Porque a salvação, o nosso erguimento para um novo viver, está agora mais perto do que a princípio cremos. A noite que achamos viver já vai alta, pois o dia vem nascendo. Tivemos as consequências: deixemos as obras das trevas e nos cubramos com as armas da luz”. Não temos de temer a luz. Por isto andemos em conformidade da luz, isto é, em clareza e retidão. Orgias e bebedeiras não podem ser nossas armas para fugir à responsabilidade. Do mesmo modo não nos cabe solidarizarmo-nos com as aventuras de um amor falso e egoístico que tudo quer apenas para si ou com contendas ciumentas e sem projeção. Revesti-vos Jesus Cristo, o Senhor. Vesti-o como a um manto, assim que outros sempre por intermédio de vós o tenham à frente de seus olhos. Sede íntegra do corpo mente e vida! Cara comunidade: Estamos perante um texto maravilhoso e quase inesgotável de fatos que nos chamam a uma profunda meditação de nosso método e meio de orientação para a vida, principalmente para o mundo de hoje, que exige de cada um de nós exemplos de autenticidade. O advento é o tempo no qual projetamos os nossos pensamentos para um acontecimento provocado não por 187
criaturas humanas ou por quaisquer impérios políticos, mas para um fato de autoria de Deus: a própria encarnação, o se tornar criatura humana de Deus em Jesus Cristo. Deus interferiu no tempo, na própria história da humanidade, dirigindo-se aos indivíduos de todos os tempos, de todas as épocas. Esta interferência de Deus nos assuntos históricos e humanos do mundo tem um objetivo, o qual o apóstolo Paulo vê como sendo renovado ao despertar do sono em direção à luz do sono! Este despertar do sono se fundamenta e se constitui num fato acontecido, a saber, que Deus estava em Jesus Cristo no Natal. Mas este Natal de Jesus se projeta para um futuro indeterminado, a saber, o novo advento de Cristo, para a renovação de tudo que é perecível e humano, a constituição de uma nova humanidade. Trata-se, assim, evidentemente de um partir-se do que aconteceu em direção a algo que há de acontecer. É um movimento sempre contínuo, onde há características de uma ação igualmente contínua: a ação de despertar do indivíduo, da criatura humana para uma realidade, à qual não se deve furtar ou fugir, pois ela não lhe pertence: é de Deus. Como acontece este despertar do indivíduo? Este despertar, que provém de Deus, é o rompimento de leis que normalmente influem nas atitudes humanas normais que se baseiam em tradições ou costumes ultrapassados. É o rompimento daquilo que sempre fizemos, daquilo que estamos acostumados a viver e a testemunhar como normal, sem jamais nos incomodarmos se é certo ou errado, benéfico ou maligno para nós e os outros. A ação de Deus no Natal é a crítica contra nós, contra o fato de vivermos os nossos dias sem analisarmos este dia após dia de nossa existência. É a crítica de Deus contra o nosso grave erro
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de vivermos fechados no nosso “eu”. Tudo deve gerar em torno de nós mesmos e assim comumente pensamos e agimos. No entanto o “eu”, o meu ego e subsequente egocentrismo, é um elemento parcial e deveras elementar na análise do meu viver certo ou errado. E como estamos rodeados de outros “eu”, de outros indivíduos egocêntricos, jamais podemos esperar que as relações neste mundo se modifiquem profundamente. Assim todos nós que não reconhecemos mutuamente estamos agindo sempre em função de nós mesmos. E este agir em função de nós mesmos é um agir no escuro, sem chances de vermos a luz da verdadeira da vida. Deste modo devemos ser despertados a nossa nova realidade de viver, onde “eu” seja complementado por outro “eu”, para formarmos um “nós” harmônico e sincero que se projete realmente para o outro futuro. Exatamente esta é a nova orientação que se baseia no reconhecimento proveniente da notificação de Deus em Jesus Cristo. Deus se revelou em Jesus Cristo como o “eu” necessário para o diálogo com o outro “eu” que somos nós, afim de que a unidade entre o “eu” Deus mais o “eu” criaturas humanas se transforme num “nós” harmônico e autêntico. E Jesus Cristo é o elo destes nós entre Deus e os homens. Esta, na verdade, é a primeira grande missão de Jesus Cristo: despertar-nos do sono de nosso “eu” para irmos ao encontro do “nós”. Esta missão de Cristo hoje está nas mãos dos cristãos, de cada um de nós que segue as pegadas do Senhor: Conduzir os que ainda estão sob a influência de uma manhã cinérea, uma manhã cinzenta em direção da luz clara e límpida do amanhecer. Assim uma jovem soube descrever o que no fundo a mensagem do Advento nos quer transmitir. Ouçamo-la:
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Pensei numa manhã cinérea. Norma M. Porto Um relógio... na sexta badalada. Olho a janela – cinérea manhã: A tão calma noite, transformada; Em dia, em um tempo afã. No ar gorjeia a cotovia. Seu canto à aurora matinal... Quem sei eu também cantaria, Porém, sem alegria igual. Noite passou e foi velada, Por tantos, tantos... E eu não fiz nada, Não pude acalmar seus prantos. Crianças morrem de fome Por algo que já passou, Nada faço que as transforme... Santo Deus, quem sou? Um jovem que vive só, Luta por querer amor; Vou transformar-me em pó, E conheço um pouco da dor. A dor que não sei definir. A dor de querer ajudar, 190
E quase nunca conseguir, Por não saber começar. Pai! Teus filhos são loucos, Pensam saber a verdade E vão se matando aos poucos; Não veem com claridade. Todos sabem protestar E até eu por momentos, Dor e amor pensei rimar Esquecendo que são sentimentos. Seis badaladas... e um grande véu Cobre cinérea a vida. A rua, a gente, o céu, Parecem já coisas esquecidas. Tu fizeste isto tudo: A fome, a dor, a guerra... O mundo tornou-se mudo, Derramaram sangue na terra. Porém, Senhor, também deste; Ao homem felicidade, O encano que a terra veste De amar possibilidade. E eu obrigada, aprendi...
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Ensinaste-me a amar; Num encanto me envolvi, E não me quero afastar. Senhor, ajuda-me sempre; Em cada cinérea manhã, Lutar, e que nem sequer tento; Deixá-la cinérea manhã. Somos convocados a despertar, a despertar para a luz. E este despertar para a luz exige de nós algo mais que o comodismo, ou o desânimo, aquela expressão: ora nada podemos fazer mesmo. O despertar para a luz é lutar, lutar com clareza e retidão, a saber, não lutar contra tudo. É falso pensar que sozinhos seremos capazes de reformar, renovar e revolucionar o mundo. É preciso que primeiro lutemos contra nós mesmos e vencendo esta luta e nos colocando na luz que seremos capazes de fazer algo a outrem juntamente com outros que igualmente lutaram consigo mesmos e se decidiram finalmente pela luz. Esta decisão pela luz evidentemente tem suas características, pois significa que nos desfazemos das obras das trevas, aqui citadas como orgias, bebedeiras, nada mais que artificialização de nossa vida, as aventuras do amor falso e egoístico, aquele que quer tudo só para si ou as contendas ciumentas e sem projeção que apenas destroem e não constroem, como não se projetam do presente ao futuro. Em nossa vida como cristão tem de se efetivar assim uma semelhança, uma guinada de 180°. Isto não quer ainda dizer que somos melhores que os outros, pois devemos, mesmo ao nos termos decidido pela luz, continuar lutando contra as
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expressões do nosso “eu”. É como Martim Lutero o diz: “O cristão tem de ser o seu próprio inimigo”. O que nos diferencia dos outros é que os revestidos pelo Senhor Jesus Cristo reconhecem que algo de maravilhoso principiou em Belém da Palestina e nos leva a Gólgota de Jerusalém, conduzindo-nos hoje ao testemunho sincero de que para nós a salvação chegou. Por isto mesmo sabemos que existe a cinérea manhã: Sabemos que há fome, guerra, dor, sofrimento, sacrifícios inúteis de jovens na Vietnã, em Biafra, no oriente, que poderosos não tem coragem de se sentarem à mesa de conferencia e proporcionar paz. Do outro lado, sabemos que Deus nos deu felicidade em Jesus Cristo que podemos admirar as belezas da natureza criadora e que até os outros podemos amar, não porque queiramos, mas por Ele em Cristo nos ter dado e ensinado amar. Reconhecendo estes fatos estamos também neste advento dispostos a revestir-nos com o manto da luz que provém de Cristo, fazendo com que outros também possam despertar do seu sono e servir com integridade, retidão e clareza aquele que foi aclamado outrora: “Bendito o que vem em nome do Senhor!” Amém.
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08.12.1968 Dia da Bíblia Centro - SP Paz seja como irmãos, e amor com fé, da parte de Deus Pai e do Senhor Jesus Cristo pelo poder significante do Espírito Santo. 2 Pedro 16-21 Cara comunidade: Tema: A Palavra de Deus na palavra humana. Lembro-me de ter dito no ano passado, neste mesmo dia da Bíblia, que deveríamos considerar a Bíblia como sendo a bússola para a nossa vida. Depois pude ouvir vários protestos. -
Como se pode afirmar um absurdo deste hoje? Não é a Bíblia um livro como outro qualquer? Por que deve ser ela considerada bússola para a nossa vida? Não deveríamos nós orientar-nos hoje pelos estudos de ordem sociológica, pedagógica e psicológica?
Perante estas perguntas – que são válidas – ouvimos a afirmação de Pedro: “Fazeis bem em atender à palavra profética como a uma luz que brilha em lugar escuro”. Mas como poderá a Bíblia ser ainda considerada nos nossos tempos como “lâmpada para os seus pés e luz para os meus caminhos” se ela foi escrita por criaturas humanas como nós?
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Ou não vale a afirmação dos entendidos – a Bíblia e seus conceitos são palavras e tudo está ultrapassado? Então eu pergunto com toda sinceridade: Ainda há algum sentido de domingo após domingo pregarmos e interpretarmos para os dias de hoje textos bíblicos? Há sentido ainda de dedicarmos alguns momentos do dia de descanso para nos congregarmos em torno da Palavra de Deus, se no fundo ela não deixa de ser palavras de homens? Meu caro amigo não pode desconhecer os acontecimentos em torno das Sagradas Escrituras. Elas foram objeto de uma profunda operação, cirurgia. Cada trecho seu passou e continua passando pelo bisturi e raio X da crítica, da análise e do estudo dos teólogos e não teólogos, dos entendidos e dos curiosos. A Bíblia, em suma, é o livro sobre o qual mais se faz polêmica. Por intermédio destas análises críticas, interpretações e estudos sabe-se hoje que também o chamado Livro dos livros têm sua história – isto é, ele não caiu misteriosamente dos céus. Séculos foram necessários para que fosse escrito. Só no terceiro século de nossa era é que a Bíblia tornou o formato que hoje possui. Nesta sua longa história centenas de criaturas humanas participaram de sua formação. Homens de diversas épocas, sob a influência de muitas tradições e conceitos transferiram ao próprio as suas confissões a respeito de Deus e de seus semelhantes. Desejaram testemunhar as futuras gerações suas convicções de que Deus, o Criador, continuava agindo na história dos povos e de toda humanidade. Como hoje não podemos colocar em dúvida os resultados da teologia e da historiografia bíblica: a saber, a Bíblia não caiu dos céus, mas é resultado de uma longa história de fé, de conduta, de esperança, estamos mais abnegados a não mais reconhece-la
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como autoridade sobre nós. Pode-se dizer: o lado humanizante das Sagradas Escrituras fizeram com que elas caíssem em descrédito! Mas, pergunto, por que tanto negativismo perante a Bíblia e a sua longa história? Voltemos os nossos pensamentos ao centro de toda manifestação bíblica. Aí vamos encontrar realmente criaturas humanas como nós, mas com uma diferença capital: foram testemunhas oculares dos fatos que transcreveram. “Nós mesmos fomos testemunhas oculares da sua majestade”. O que desejam estes homens? Desejam transmitir uma mensagem: ”Deus não se esqueceu de sua criação. Deus não permanece mudo ou omisso perante o desenrolar dos fatos no seu universo. Ele agiu, ele está agindo, ele falou, ele continua falando, ele fez e faz grandes coisas. Ele age, fala, faz tudo por intermédio de Jesus, o Nazareno. E nós, suas testemunhas, o vimos, ele foi como contra criatura humana qualquer. Falamos com ele. Ele falou conosco e com muitos outros. Apertamos-lhe a mão. Nós vimos seus olhos. E, no entanto, ele era diferente de nós. Nele fizemos uma descoberta: Se estamos com ele temos acesso a Deus e, tendo acesso a Deus, tornando-nos outras criaturas humanas, não mais fechadas em si, vivendo sem sentido de viver, na solidão, mas estamos abertos para os outros, tudo no nosso existir ganha sentido de viver. Meus caros amigos! Ao tomarmos consciência disto, a partir deste momento não existe mais uma polêmica com a Bíblia, mas sim uma polêmica com Jesus, o Nazareno. Não existe mais agora uma decisão contra Marcos, Mateus, Lucas ou João, a favor de Paulo e de Pedro, mas persiste uma decisão final a favor ou contra o próprio Jesus, o Cristo. Exatamente esta relação direta com Jesus por intermédio de seus escritos, é o que as testemunhas oculares querem 196
transmitir: ”ao nos ouvirdes, aos lerdes, estais participando diretamente do diálogo com Jesus, e por intermédio de Jesus também tendes acesso a Deus. Por isto crede em Jesus. Ele foi reconhecido por Deus. Deus o elevou sobremaneira e lhe deu poderes que só são inerentes a Deus mesmo: perdoar, dar paz, transmitir amor, imputar justiça aos sinceros. Na opinião destas testemunhas Deus em Jesus percorreu os caminhos humanos. Deus se identificou com os homens. Deixou-se prender, permitiu que o processassem, suportou a humilhação da crucificação. E exatamente por isto mesmo a sua palavra, a sua mensagem, o seu Evangelho tornou-se objeto da especulação humana. Deus faz uso de um instrumento de contradição, que somos nós mesmos. O que hoje acontece com a Bíblia identifica-se com o mesmo acontecido com Jesus, o Nazareno, no qual Deus se faz presente entre as criaturas humanas. E do mesmo modo como Jesus venceu, também a Bíblia vencerá. Pois ela nos quer oferecer, nos trazer ao próprio Jesus. Daí a decisão também hoje não ser simplesmente a favor ou contra a Bíblia, mas sim, ser fiel ou infiel ao Cristo e Senhor. Este fato nos leva a uma outra descoberta: A Bíblia continua sendo o grande instrumento de fé. As palavras das testemunhas continua hoje chamando as criaturas humanas à fé, à conduta, à confiança, à esperança em Jesus Cristo. Quem quiser saber algo de fundamental sobre Deus deve se confrontar diretamente com o testemunho bíblico, principalmente dos apóstolos. Apesar de ser palavra humana, ela se identifica com a vontade de Deus, pois “homens falaram por parte de Deus movidos pelo Espírito Santo”. Isto quer significar que os autores bíblicos foram englobados no plano de Deus a partir do momento em que se encontraram com Jesus, o Nazareno, participando de sua obra de redenção humana. Deus mesmo
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agiu por intermédio destes homens, a fim de que transferissem para o papel aquilo que eles mesmo experimentaram: a saber, Deus não nos abandona. Deus nos ama. Isto ele nos garante e subscreve em Jesus Cristo. Realmente só podemos reconhecer estes fatos quando nós mesmos nos inteiramos dos acontecimentos, das palavras da própria Bíblia. Quem não lê jornais, quem não ouve notícias, quem não liga o seu televisor, não pode estar ao par dos grandes acontecimentos mundiais. Os veículos como o jornal, a rádio, a televisão, mesmo o cinema, são divulgadores de nossos tempos. No passado os divulgadores de fatos e acontecimentos eram as próprias testemunhas; e só quando a validade destes fatos e acontecimentos era comprovada, passava-se a mesma adiante, quem em testemunho pessoal ou escrito. Assim a Bíblia – mesmo perante os modernos veículos de propagação – é o elemento chave da nossa relação com Deus em Cristo Jesus. Uma Bíblia na estante assim não passa de uma peça de museu, um antiquariado. Ela não convence, ela não fala. Mas quando a lemos, estamos vendo Deus por intermédio das testemunhas oculares da majestade revelada por Jesus, o Nazareno. Evidentemente, preocupados, acompanhamos a maneira e o modo como a Bíblia tem sido tratada. Apesar de ser a Bíblia o grande “best-seller”, o livro mais vendido do mundo, a prática nos mostra que pouco é o interesse em torno dela. No entanto, não podemos esquecer, do outro lado, das milhares de criaturas humanas que vem descobrindo pela Bíblia o seu encontro com Deus. E quais são as consequências disto para nós? Devíamos antes de mais nada deixar com que realmente a Bíblia fosse para nós um elemento de orientação, ou melhor: a bússola de nossa vida. A
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Bíblia pode indicar a cada um de nós, sempre de uma maneira pessoal, qual o rumo certo de nosso viver. Isto não deve acontecer apenas aos nossos ofícios dominicais ou no trabalho desenvolvido pela Comunidade cristã, mas pode acontecer diariamente, quando lemos a Bíblia. A Bíblia na estante não o faz. Ela quer ser lida e ouvida. Ao ser lida e ouvida ela realmente pode se tornar para cada um de nós uma luz na noite escura de nossa existência, consolo no sofrimento, alento na dor, alegria na tristeza, fundamento no viver. A melhor maneira de amá-la, minha cara comunidade, é tornar-se hoje o mesmo que foram os autores bíblicos: testemunhas vivas de Jesus Cristo. Que assim o seja também entre nós. Amém.
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24.12.1968 Véspera de Natal ~ Natal 1968 Tito 2.11-14 Cara comunidade: 1. A graça de Deus se manifestou... Onde? Em Belém. Cf. Lucas 2. A graça de Deus se manifestou em Belém por intermédio de Jesus numa estrebaria. Como cristãos partimos deste postulado. Muitos hoje festejam o Natal de uma maneira peculiar. Darão presentes. Dirão: Feliz Natal. Participarão da ceia natalina. Mas tudo isto farão sem Jesus. Tudo isto farão sem voltar seus olhos a um fato que verdadeiramente aconteceu. Duvidam que ele nasceu. Não podem aceitar a estrebaria como o lugar adequado de ter nascido aquele que se veio revelar como Senhor e Salvador. Ora, que estrebaria melhor que o nosso próprio mundo. Dizem que jamais os pastores nos campos foram notificados do nascimento do diplomata da Paz. Não houve sábios nesta história de Natal. É a afirmação de outros. Ora conhecemos pessoalmente tantos humildes e sábios que se aproximavam de Jesus. Inclusive prêmios Nobel. Quanta polêmica, quanta disposição infrutífera e estéril! O que interessa verdadeiramente no Natal é o fato incontestável acontecido quando César Augusto era Imperador Romano e Quirino governador da Síria. A graça de Deus se manifestou em Belém. Jesus, filho de José e Maria, é o objeto da graça de Deus. “Graça”! Que é graça? Max Frisch, autor da peça “Andorra”, afirma no seu primeiro ato que “graça é um eterno boato”. Partamos deste pensamento – “graça é um eterno boato”. 200
Eternamente – ou enquanto o homem viver, ele depende de favores, de compreensões, de concessões. Cada criatura humana espera que seja favorecido no decorrer de sua vida, que seja compreendido nas ações e nas atitudes de sua infância, de sua juventude, do tempo de sua maturidade e velhice, a fim de que a sua existência não termine num vazio, num nada. Quem realmente conhece a vida nos seus mais variados ângulos e aspectos, sabe que ela se constitui num eterno compreender de fatos e conceder de favores. Max Frisch, porém, afirma que esta graça é apenas um boato, uma ilusão, a qual estamos subjugados. Mas a epistola Tito afirma o contrário. Não se trata de uma ilusão ou de um boato, mas ela se manifestou, ela se revelou. Manifestação é aquilo que se tornou visível, audível, palpável, evidente e patente. Certo é de que esta graça manifestada não é uma ação humana, mas é a graça que provém de Deus mesmo, Deus no seu voltar a nós criaturas humanas. Isto nos quer dizer o Natal: Deus se dirige ao encontro de nós criaturas humanas. Este “dirigir-se ao nosso encontro” é a graça, é o conceder de favores a nós humanos, é o abdicar de seus direitos de Criador. E todo o evangelho é uma série de favores concedidos a nós criaturas humanas que pelo oferecimento continuo do perdão objetiva a paz e que por esta paz haja em nosso meio mais amor, mais compreensão, maior justiça e bondade. E, cara comunidade, esta graça tem um lugar, aconteceu num tempo, e está presa a uma pessoa, isto é, se tem manifestada de modo concreto: Jesus Cristo. É um fato e acontecimento ligados a Belém, um lugar, a um determinado tempo, e a uma pessoa.
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Se alguém agora perguntar: Onde está esta graça? Respondemos: ela está aqui. Ela não se encontra em qualquer lugar no infinito, através da estratosfera e nem mesmo será encontrada pela cápsula Apolo 8, vem por Frank Borman, James Lovell, ou William Anders – os conquistadores de espaço lunar. Esta graça, que nos chama ao perdão e continua objetivando a paz para um melhor entendimento entre nós humanos, está perto de cada um de nós em Cristo Jesus. Aquele que comungar com Jesus Cristo, aquele que dialoga com a mensagem do Senhor, este será capaz de proclamar que a graça de Deus não é ilusão, não é um boato, mas é um fato incontestável na própria ação do perdão. Pois ali onde somos perdoados e estamos dispostos a perdoar, a graça de Deus se manifesta de modo concreto, palpável, audível, visível e patente. Tem seu lugar, seu tempo, e está ligado à uma pessoa. É por isto, minha cara comunidade, que hoje, neste Natal, queremos receber o perdão de Deus por nossas inconsequências, por nossas faltas, por nossas injustiças, mas perdoando-nos uns aos outros, não levando mágoas de ninguém, e partirmos daqui como mensageiros da paz, anunciando e proclamando alegremente: “Glória a Deus nas maiores alturas e paz na terra entre os homens a quem Ele quer bem”. 1. Cara comunidade: por que somos chamados a sermos neste Natal “mensageiros da paz”? Porque a graça de Deus se manifestou “salvadora a todos os homens”. Só podemos ser mensageiros da paz, quando estamos em paz conosco e Deus e como nos próximos. O objeto do Natal, Jesus e sua paz, transfere-se através de nós a todos os homens. Assim o Natal não é privilégio da comunidade cristã. Cada 202
criatura humana é candidata da paz que provém de Deus. As grandes massas, os descrentes, os polemizadores, o batalhão dos odiadores, os transtornados, os solitários e os individualistas, os incompreendidos e desesperados, os pobres e os ricos, a todos vale a graça de Deus, manifestada em Jesus Cristo na noite santa de Belém. Também a eles vale o favorecimento de Deus: o perdão e não o nosso julgamento, o nosso moralismo, ou o nosso desdito de querermos ser melhores do que eles. No Natal e porque não em outras épocas, não há conceitos, não há privilégios, não há muros, crenças ou confissões: a todas vale a graça de Deus. Deus ama a todas as criaturas humanas, também aquelas que nós não amamos. Ele quer transformar toda humanidade em Jesus Cristo. Não é este transformar de toda uma humanidade uma tanto ilusão e boato? Talvez sim. Lembremo-nos, porém, que talvez sejamos nós mesmos, os cristãos, o tropeço para a caracterização de um novo homem, transformado pela fé. Quem não luta por uma nova humanidade? E que fazemos nós em favor deste novo povo de Deus? Que temos nós feito no terreno pessoal, ali onde temos influência ou somos influenciados, em prol de uma nova sociedade? Estas perguntas podem parecer uma ilusão, um boato, uma irrealidade. Mas não o é. É certo que também nós “aguardamos a bendita esperança e a manifestação da glória de nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo”. Mas como participantes da graça do Natal não participamos apenas de uma esperança em favor de uma nova humanidade, mas já hoje podemos participar desta nova humanidade, pois nos tornamos novas criaturas sob a influência da paz que provém de Deus. Isto não é fantasia. Isto não é ilusão. Isto não é boato. Apenas requer a nossa participação integral no plano da graça de Deus.
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1. Acompanhamento à digressão do nosso texto, que diz: “A graça de Deus se manifestou...”. partimos assim de um postulado “salvadora a todos os homens...” em direção aos homens, à humanidade e para concretizá-la é preciso que “nos eduquemos”. Ora, se desejamos algo de concreto, então é preciso que nos tornemos agressivos, que não permaneçamos num plano secundário de defesa, típico para o cristão: eu não faço isto ou aquilo; eu me porto com dignidade, sou fiel ao princípio do amor. Mas veja o que aqueles ali fazem. Não se comportam como cristãos. Fazem isto e aquilo. Isto nos princípios da pedagogia nós chamamos de “densa passividade defensiva”, a intocabilidade de conceitos. Isto é, querer moldar todas as criaturas humanas numa forma, na qual todos têm de ser integrados, do contrário, não podem ser o que deixam ser. Mas isto a graça de Deus manifestada em Jesus Cristo jamais quis objetivar: igualar todos em determinadas feições. Assim como na educação o objetivo sempre é a criança a ser educada, onde as características da mesma são levadas profundamente a sério, assim também Deus se dirige pessoalmente a cada criatura humana na sua situação peculiar, convocando-o a aceitar a graça do perdão, da paz, a fim de que então possa amar verdadeiramente, viver sinceramente, e o principal, ser justos para com os outros. Meus caros irmãos e irmãs: Deus em Jesus Cristo manifestou a sua graça para todos nós. Ele a nos oferece, bem como, oferece
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a toda e qualquer criatura humana. E este oferecimento é nada mais que a pedagogia, a educação que Deus nos quer oferecer, para que nos encaminhemos já hoje à nova humanidade. Em aceitando esta graça de Deus, em nos sentirmos perdoados e dispostos a perdoar, vivendo a paz natalina tão benfazeja e construtiva, nós estamos adquirindo os dons necessários para o povo. Não que vamos colocar todos os homens em e sob determinados moldes, mas vamos, por intermédio de nosso testemunho, fazê-lo sentir que no Natal aconteceu um milagre, mas uns milagres palpáveis, audíveis, visíveis e patentes: Deus veio a nós criaturas humanas, em forma de criatura humana, com o objetivo de não nos condenar, de não nos julgar, nos criticar negativamente, nos destruir, nos dividir, mas veio para buscar o perdido, para buscar a toda criatura humana como ela é e salvar, isto é, colocá-la sob o poder da Paz, da Reconciliação, da Alegria, afirmando que nem tudo está perdido e também os corrompidos, os assassinos, os difamadores, os mentirosos, os adúlteros, os escravizadores, os rebeldes, os pecadores, os pobres e os ricos, os egoístas e individualistas, os injustiçados, todos, sem nenhuma exceção, podem ter um feliz e abençoado, Natal, cheio de alguém, cheio de bênçãos e de carinho, pois a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens. Amém.
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29.12.1968 1º Domingo após o Natal Mateus 2.13-18 O endurecido rei Herodes em Jerusalém, as crianças ameaçadas de Belém, a família santa em fuga para o Egito, dão aos fatos e acontecimentos do Natal um realismo supremo sobre as condições em que aconteceu a revelação de Deus. Assim é o mundo no qual nasce o Deus menino. Assim são as criaturas humanas entre as quais Jesus quer conviver. Perante ele não se dobram logo os joelhos. Nem todas as portas se lhe abrem. Ao contrário. A vida de Jesus principia pela fuga. A sua vinda é causa de lágrimas, de tristeza, de crueldade e desumanidade. Mas exatamente a estas circunstâncias vale a mensagem natalina da salvação e da paz. Por isto não basta – como o fazem os artistas – apresentar nesta época apenas os aspectos positivos da grande glória de Deus. Ao mesmo tempo temos de considerar substancialmente a caráter de nosso mundo, para o qual, em razão de quem aconteceu o Natal! 1. Herodes ainda vive em nós. Não pensemos logo nos detentores do poder, os estadistas e poderosos. A verdade é que o modo de pensar de Herodes é idêntico ao nosso pensar. Naqueles tempos Herodes temia perder a seu prestígio, o seu poder. E por isto empregou a força. O seu poder tornou-se mais importante do que a justiça. Assim a sua ação não se regia pelo princípio do que é justo, mas do que lhe é favorável, o que lhe é de interesse pessoal. A falta de respeito e de direito aos outros tornou-se a arma poderosa de sua própria glória.
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Herodes se servia de todos os meios possíveis para resguardar o seu poder. E por que? Simplesmente porque tinha medo de perder o seu poder, a sua força, a sua autoridade. Assim o medo era a sua lei, a sua autoridade, o seu prestigio. Até perante uma criança ele tremia. Sejamos sinceros! Quão depressa também nós desprestigiamos os outros, passamos sobre os mesmos e apenas pensamos em nós e em nossos privilégios. Quão depressa também nós fazemos aquilo que nos é favorável, de interesse pessoal e próprio, em vez de sermos justos. Também nós agimos mui facilmente sobre a ação do medo, para não sermos desprestigiados. Somos também regidos pelo poder do medo, medo de sermos menos que os outros. A nossa característica nem é tão diferente da de Herodes. Mesmo que em nossas mãos não corra o sangue de inocentes. Mesmo que a nossa falta de respeito pelos outros seja mais temperada e cultivada e o nosso medo seja mais disfarçado e inventivo, identificamo-nos muitos a Herodes. Mas Deus veio a este mundo para destruir estas ações negativas de nós humanos, de dizer um basta ao nosso fingimento, ao artificialismo de nosso viver, de dizer um “fim” sonoro ao nosso medo e seus poderes. E Deus não exclui o próprio Herodes. Ele não dispensa nenhum de nós. Isto é Natal. Deus não vem com violência e poder sobre nós. Isto não nos teria ajudado. Pois violência infelizmente gera violência. Deus também não falounos da distância do inescrutável e longínquo como inacessível. Ele quase nada teria conseguido. Mas Ele nos veio numa singela e pequenina criatura, assim como também nós surgimos. Em vez de ser afastado Herodes, a família santa foge e se asila no Egito.
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Aqui nos é dado sentir o alcance do amor divino e do caminho de sua salvação: todos têm chance, inesgotável chance! 2. Mas será que a mensagem de paz do Natal também se dirige aos pais enlutados de Belém? A “glória a Deus nas maiores alturas e paz na terra entre os homens a quem Ele quer bem” ainda soava nos ouvidos dos pastores no campo, quando ouviram o lamento daqueles que perdiam seus filhos miseravelmente. Não é isto uma hipocrisia? Uma hipocrisia idêntica aos armistícios de paz e suas tréguas natalinas, apenas para se reorganizar e reagrupar de tropas no Vietnã e em Biafra? Na verdade, não podemos passar por cima das crianças inocentes de Belém, nem mesmo pelo sofrimento e pela dor incompreensível de nossos tempos atuais. “Como Deus pode permitir algo assim”. “Como pode Deus permitir que isto aconteça” é um grito de revolta dos que sofrem, dos que sentem as injustiças, dos que partilham da sua dor e da dos outros. E não raras vezes estas palavras de quase protesto são pronunciadas por nós mesmos ao vermos determinados fatos acontecendo ao nosso redor, como fome e ódio, crime e medo, injustiça e sofrimento, infidelidade e incompreensão. Isto tudo evidentemente deve nos preocupar. Mas, convenhamos, nós temos uma ideia curiosa sobre Deus. Imaginamos Deus como uma força policial invisível capaz de evitar catástrofes e sofrimentos, capaz de afastar injustiças e medos. Deus deve ser assim um freio de emergência para determinados fatos contrários à nossa vontade. Mas nos esquecemos que se Deus fosse assim um agente controlador de marionetes sem direito a decisões livres e espontâneas.
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É interessante! Os homens de um lado afirmam: “Como pode Deus permitir isto ou aquilo”. Do outro lado ele, porém, não dizem: “Como Deus pode permitir que eu trate o meu cônjuge, sem amor e carinho, e que meus filhos tem de sofrer com o meu temperamento sem limites?” Eles não dizem: “Como pode Deus permitir que eu não me importe com os problemas de meus semelhantes e que eu, por causa de minha indiferença e desconsideração, dificulte tanto a vida dos outros?” É um fato indiscutível que nós não podemos sempre explicar todos os sofrimentos, todas as manifestações negativas da vida. Não podemos dar qualquer resposta aos “por quê” dos pais de Belém, ou aqueles que hoje sofrem de uma ou de outra maneira. Evidentemente em determinados aspectos Deus tem silenciado, permanecido um segredo. Mas quem simplesmente associa seus sofrimentos, suas dores ao “extrato”, à conta corrente de Deus, este lamentavelmente agiu falsamente. Fome não é vontade de Deus, assassinar não é ordem de Deus. Ódio e medo não provem de Deus. A vontade de Deus é paz e segurança, liberdade e amor. Lembremo-nos que Deus não veio até nós na criança de Belém para evitar as consequências da ação de corações malintencionados e corrompidos. Ele veio, porém, com a intenção de transformar os corações humanos, substituindo a má intenção pelo bem, da corrupção transformada se espera uma ação transformada. Fome e ódio, crime e medo, injustiça e sofrimento, infidelidade e incompreensão continuarão a caracterizar o mundo. Mas onde encontrarmos pessoas dispostas a se deixar orientar por Jesus, onde houver interesse em se ser justo um ao outro, onde imperar respeito e fidelidade, onde o amor for uma
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contingência do agir, até haverá transformações radicais, até haverá paz e justiça. 3. Nesta nossa terra a família divina se lançou na fuga. Jesus tinha de ser salvo da mediocridade, do medo, da injustiça e da crueldade de Herodes. Quanto mais contemplamos este quadro, mais nos aproximamos do outro fato: Herodes, no entanto, foi feliz no seu objetivo; mas, mais tarde, sob as mãos impiedosas dos altos dignitários do templo em Jerusalém, ele foi condenado à morte, e morte de cruz. Será que Deus continua fugindo ainda hoje? Será que não somos nós por nossa radicalização, por nossa contínua crítica, por nossa falta de amor, por nosso egoísmo, por nossa fraqueza e medo, fazemos com que Deus se afaste sempre de novo de nós? Onde está o nosso exemplo, o nosso testemunho para Deus, pelo qual outro possa ser por ele atingidos? Pode ser até que estamos perante o presépio, mas o presépio está vazio. Jesus, o filho escolhido do Pai, está na fuga, pois não temos para ele lugar em nossos corações. Deus vai ao exílio, não porque ele nos quer assim condenar, mas por não reconhecermos nele o nosso Senhor, o nosso Orientador, o Doador da sincera e profunda e substancial fé. Deus não condena, Deus não julga, Deus não dispensa ninguém. Deus em Jesus Cristo veio a todos os homens, a todos, de maneira salvadora, construtiva, transformadora. Ele veio a este mundo, no mundo de Herodes, no nosso mundo, no mundo do sofrimento e da dor, no mundo dos antagonismos, no mundo dos contrastes, dos conflitos. Ele veio a fim de que o mundo se transforme para melhor. E este transformar para melhor depende de você, de mim, de todos nós. Deixemos que ele semeie em nossos corações a sua
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mensagem poderosa, transformando-nos em instrumentos de sua paz e de sua justiça! AmÊm.
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06.04.1969 Domingo da Páscoa João 20.15-18 “Pergunta de Jesus a Maria Madalena: Mulher, por que choras? A quem procuras? Ela supondo ser ele o jardineiro, respondeu: ”Senhor, se tu o tiraste, dize-me, onde o puseste, e eu o levarei“ Disse-lhe Jesus: “Maria!” Ela, voltando-se, lhe disse em hebraico: “Raboni!” Que quer dizer: Mestre! Cara comunidade: A tragédia da sexta-feira ainda está viva no íntimo de Maria Madalena quando esta se dirige ao sepulcro de Jesus. Ainda se lembra de todos o acontecimento. Tudo em sua volta é silencio, decepção, ilusão, tristeza, amargura. Assim também estavam as outras mulheres que a acompanham. Levadas pelo sentimento e compaixão foram render suas últimas homenagens a Jesus, embalsamando, como de costume, o seu corpo. Ao amor terreno honra as sepulturas, enfeita os cemitérios. Por isto podemos entender Maria Madalena. Principalmente podemos compreendê-la no momento em que descobre o pior: a sepultura de Jesus está vazia. Até este direito, o de homenagear e honrar um morto, acabava de ser tirado. Era o último consolo: E este se desfez como num sonho. O sinal da presença do Nazareno, o seu corpo inanimado e em decomposição, também desapareceu. O Senhor está morto. E quem está morto pertence ao passado. Resta ainda sua lembrança um tanto vaga e deslocada. Quem não participa mais de nossos problemas, de nossas decisões, de nossas angústias ou alegrias, este não existe. Esta é hoje para
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muitos uma realidade: Jesus, o Nazareno está morto, ele não mais existe. Inclusive os seus restos mortais desapareceram. Para que ainda importar-se com ele? Mas Maria Madalena protesta contra este fato. Ela tem o direito de reclamar para si os restos mortais de seu Senhor, de seu Mestre e Guia. Ela não se dá simplesmente por vencida. Ela não se convence com a sepultura vazia. Ela continua a procurar, ela continua a se perguntar: onde está ele? Quem o tirou do sepulcro? Também nós neste domingo de Páscoa, depois de termos de uma ou de outra forma participado das festividades da Semana Santa, queremos participar de algo concreto: queremos de uma cerimônia na qual sejam lembrados determinados fatos marcantes na vida de Cristo. Mas do outro lado, o acontecimento chave do domingo de páscoa parece não mais se coadunar com o nosso modo de pensar num mundo em constante modernização, num mundo industrializado, técnico. Afinal, onde podemos encontrar Cristo? Será que ele ressurgiu mesmo dos mortos? É possível ainda hoje crer na ressurreição de Jesus Cristo? Será que na realidade ele realmente esteja morto? Não é a páscoa também para nós nada mais que uma sepultura vazia, totalmente vazia? Para Maria Madalena evidentemente a manhã daquele domingo só tinha uma lógica: haviam tirado o corpo de Jesus, o Nazareno. Onde está ele? Quem o tirou do sepulcro?
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O fato do sepulcro vazio, a própria presença de Jesus no suposto jardineiro, nada lhe dizia ou significava, pois não o reconhecia. Igualmente de nada significa a nossa religiosidade, a nossa santidade ou pureza, de nada valem os nossos votos de feliz páscoa se não participamos de ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos. Igualmente de nada nos poderão valer explicações lógicas para o ocorrido naquele domingo de manhã num jardim das cercanias de Jerusalém. Mas o que fez Maria recobrar a razão e concretamente aceitar a nova realidade de Jesus, não mais como crucificado, agora como Ressuscitado, ressurgido dos mortos? Quem lhe abriu os olhos para esta realidade da páscoa? Na realidade não foi a lógica nem os seus sentimentos que o fizeram encontrar-se perante a realidade da Ressurreição de Cristo, mas simplesmente, uma voz, uma palavra: a voz de Cristo mesmo, uma palavra sua, aliás, o chamar e o dizer de seu próprio nome: Maria. Maria reconhece a voz de seu Senhor e responde: “Raboni!” que traduzido quer dizer “Mestre”. Aliás, esta resposta pertencia aos discípulos que sempre lhe chamavam de “Mestre!” Maria Madalena agora não mais se reporta às suas lagrimas, às suas dúvidas e dores. Cristo não está morto: ele não está irremediavelmente preso ao passado, mas ele vive no presente, ele participa de nossas decisões, de nossa própria vida. Para ela não é mais problema aceitar o fato de que Cristo ressurgiu dos mortos e que Ele vive. E isto não é resultado de longos estudos ou discussões teológicas, ou pelo fato de sepulcro estar vazio, mas por um único fato plausível: ela reconheceu a sua voz, ela ouviu a sua palavra e a sua palavra a designou com uma missão. 214
“A de transmitir aos outros, aos discípulos, à sua mãe, aos indivíduos o que havia visto!’ Cara comunidade: “Tudo o que Jesus afirmou por suas palavras, tudo o que fez e concretizou, não são objetos de nossas lembranças, ou devem ser tradicionalmente guardadas ou honradas. Ao contrário: a vida, a paixão, a morte e a ressurreição de Jesus Cristo fazem parte de umas realidades contemporâneas, presentes entre nós hoje, para o nosso tempo e tempos vindouros: Cristo continua a nos falar, a sua voz ainda é e sempre será ouvida entre os homens as suas palavras continuarão sendo validas hoje e sempre”. Pela palavra do Evangelho, pela aliança do perdão, pelo chamamento à paz e ao amor, Jesus Cristo está presente entre nós. Jesus Cristo continuará a chamar criaturas humanas ao seu serviço, à sua causa, assim como o fez com Maria, com Simão Pedro, com Tomé, com Paulo e milhões de outros. Quem sabe agora neste momento Jesus esteja chamando-nos por nosso nome, quem sabe o Senhor tem uma palavra a dizer a cada um de nós. Talvez ainda permanecemos na realidade da amargura, da angústia, da solidão, da tristeza e das lágrimas, a procurar, a procurar e apenas acharmos sepulcros vazios, totalmente vazios. O Senhor está presente entre nós e sua voz continua a chamar a cada um de nós a participarmos da grande realidade da Ressurreição, da grandeza da nossa vida, onde não se julga, mas se perdoa, onde não se odeia, mas ama, onde se expulsa, mas se acolhe, onde não se morre, mas se revive, onde somos todos irmãos em um só Espírito: o espírito de Jesus Cristo.
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É tão fácil participar desta realidade: ouvir a voz, a palavra de Cristo e dizer: “Mestre, aqui estou! Chamaste-me pelo meu nome, eis que também sou teu!” Amém.
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23.11.1969 Último Domingo do Ano Eclesiástico Lucas 12.35-40 + 2 Pedro 3.13 Cara comunidade: “Já vivemos o futuro” – título de um livro. Todos nós temos ciência de que vivemos numa década de rápidas transformações. A velocidade do progresso sobrepuja o nosso próprio pensar e assimilar. A explosão demográfica é uma realidade inconteste. Será que o nosso planeta terá lugar para todos os seus próximos novos e jovens habitantes? A ciência se preocupa com este problema cruciante. A vida das criaturas humanas está sendo prolongada. Não tanto o trabalho, mas o lazer do homem começa a se tornar um problema. Como vão viver as gerações do amanhã? Continuarão as guerras bélicas e tradicionais ou teremos guerras bacteriológicas, dirigidas por computadores, destruindo povos, talvez continentes? Isto são pensamentos que preocupam fundamentalmente a muitas pessoas. Esperançosos, de um lado, mas assustados e temerosos, de outro, perguntamos pelo futuro. Já há inclusive nos nossos tempos uma nova ciência que se preocupa basicamente com o mundo de amanhã, cujo representante esteve aqui em São Paulo na semana passada – Hermann Kahn – a futurologia. 1. O texto deste domingo de certo modo é uma contribuição para a futurologia e se preocupa com o amanhã. Fato é que estas
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palavras bíblicas não se coadunam com os esquemas e as concepções cientificas da futurologia, pois fala de Jesus Cristo, do seu futuro, da sua nova vinda como o Senhor de todas as coisas. E esta verdade, este postulado de fé – a nova vinda do Senhor – não é de caráter universal, mas é aceito apenas – de modo reservado – pelos cristãos. E ser cristão exatamente significa: - viver na expectativa da nova vinda do Senhor, encaminhando-se já hoje a este futuro de Cristo, A nova vinda do Senhor – muitos preferem não tocar neste tema; melhor é desligar – mais parece uma fábula que não serve mais na nossa atualidade. Assim muitos podem pensar. Todavia, neste linguajar típico do Novo Testamento – da nova vinda do Senhor, encontramos elementos fundamentais e importantes para o nosso modo e meio de ação como cristão como homens e mulheres engajados na renovação de todas as coisas por Deus. Ou como diz o apóstolo Pedro: “Nós, segundo a promessa de Cristo, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça”. (2 Pedro 3.13) Nesta expectativa, porém, os cristãos não permanecem passivos – aguardando os acontecimentos. Bem ao contrário: aguardam a vinda do seu Senhor, empenhados a cumprir as suas obrigações e misteres. Estão atentos a preparados para toda e qualquer obra em favor da justiça do bem. Certa vez perguntou-se a um famoso cientista de nossos tempos, o que o mesmo faria se soubesse que em alguns dias tudo teria o seu devido fim. Ele respondeu: “Continuaria pesquisando e estudando com afinco na solução de algum problema vital em favor de meus semelhantes, como o venho fazendo desde minha juventude”.
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Cristãos têm a missão de seu Senhor de viver responsavelmente, tornando a vida cotidiana mais sincera e humana para o bem-estar de seus semelhantes, mesmo se soubessem que amanhã o próprio Senhor vem e transformará tudo para a justiça do bem. Jesus Cristo, como o que há de vir, engaja e nos compromete para a nossa participação ativa para a solução dos grandes e pequenos problemas que cercam a humanidade e as criaturas humanas são colocadas às nossas mãos como nossos próximos semelhantes. Nos limites cotidianos, como também além de nossa própria limitação pessoal e individual, esperam por cada um de nós deveres suficientes e possíveis de serem por nós atacados e solucionados. Basta que andemos de olhos abertos, pedindo continuadamente que Deus nos dê coragem e forças de ataca-los. Contudo sempre devemos estar cientes de que a nossa ação como cristãos nunca é definitiva, assim também, como os esquemas e as concepções de futurologia jamais o poderão ser efetivamente. A nossa ação como trabalhadores do Senhor é sempre e em todos os lugares um servir. Servimos aos outros conforme os nossos dons e possibilidades. Servimos a indivíduos e pessoas como nós e pessoas como nós. Chamamolos a participarem já agora da novidade de vida, concebidas em nosso favor por Cristo Jesus. Encorajados pela mensagem de Cristo – pela qual fomos encorajados a tomarmos atitudes efetivas que hoje já constituam o novo mundo de amanhã, onde não haverá injustiças, sofrimento ou opressões. Pelo ativar e cultivar contínuo das virtudes cristãs – a saber – pelo perdão em função do amor – que é o suplantar e vencer-se a si mesmo pelo outro – provocando assim a paz o lema de nosso intenso viver – estamos já agora vivendo um pouco desta realidade futura –
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que num dia qualquer será provocada definitivamente por Deus, enviando-nos de novo a Cristo Jesus. 2. Mas – quando virá o Senhor? Quando se inicia definitivamente este “novo céu e nova terra, onde permanecerá a justiça”, conforme as palavras de Pedro? Meus amigos, a estas perguntas não existem uma resposta definitiva, o qual podemos medir pelo tempo. Jesus responde a esta expectativa de uma maneira um tanto misteriosa: “Ele virá como um ladrão, de modo inesperado, imprevisível e surpreendente”. Na realidade é um vir ao nosso encontro enquanto nos desincumbirmos de consolar efetivamente os que sofrem e choram, de compreender os incompreendidos, de dar paz aos que a procuram sinceramente, de amar aos que necessitam de afeição, compreensão e preocupação. Jamais nos esqueçamos da grande afirmativa de Jesus aos que estão vigilantes na sua ação de servir: “Bem-aventurados aqueles trabalhadores a quem o Senhor encontrar vigilantes”. Nós nos encaminhamos ao futuro promissor, onde todos os nossos esforços e nossas atitudes se canalizam num grande milagre: saber, que a fidelidade e o compromisso de Deus conosco jamais terá fim e que Jesus Cristo como ontem, hoje, também amanhã estará ao nosso lado, reconhecendo em nós os seus sinceros – apesar de imperfeitos – trabalhador. 3. Finalizando, voltemo-nos mais uma vez à futurologia, à ciência e a preocupação técnica pelo amanhã. Existem atualmente entre nós dois modos de ver o futuro. De um lado, estão aqueles que exigem um engajamento imediato de todos na mudança radical de todas as relações e relacionamentos existentes no mundo. Este engajamento não vê meios que não possam ser usados, salientando-se, inclusive, os 220
meios violentos, desrespeitando, inclusive, o direito humano da decisão, onde a participação de Deus é vista como ridícula e infantil. Do outro lado, estão aqueles que, de há muito, já assumiram a posição da resignação e que já se conformaram com a situação de sua vida. São os desesperançosos. Ambas as formas e modos de ver o amanhã não podem incorporar a ação do sincero cristão. Como cristãos, que aguardam e aceitam a vinda de Cristo como uma realidade, todo conformismo, toda resignação ou passividade são elementos proibidos. Pelo contrário, são trabalhadores cingidos e engajados no servir contínuo em nome do Senhor. Esforçamse de passo em passo na concretização já agora da verdadeira liberdade e da justiça, da paz e da humanização, jamais se esquecendo que a sua obra de servir não é definitiva. O definitivo e o sinceramente novo estão nas mãos do Senhor que virá como o ladrão da noite e será recebido com júbilo por todos que estiverem vigilantes! Que assim também seja aqui entre nós! Amém.
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24.05.1971 Campinas/SP Hoje toda a Cristandade comemora o domingo da “Trindade”. É um termo, um conceito meio incômodo, um conceito que desafia a lei mais elementar da lógica existente nos nossos dias. Para nós três são três e um é um. Para o conceito da “Trindade” afirma-se no entanto que três são um e que um é igual a três. O que nós entendemos afinal por “Trindade”? Por “Trindade” nós compreendemos DEUS PAI DEUS FILHO E DEUS ESPIRITO SANTO. Israel – assim o Antigo Testamento – apenas conhecia DEUS como o Criador de todas as coisas, aquele que designou a Abraão fundar um novo povo e conduziu este povo através da história. Este é o Deus, do qual também fala JESUS CRISTO. Jesus Cristo foi alguém fenomenal. Além de dizer e afirmar a necessidade dos homens reformularem os seus conceitos egoísticos de lei e modo de viver, ele fazia tudo aquilo que ensinava. Jesus era coerente com seus princípios e viveu por isto a intensidade da mensagem do AMOR, identificando-se intimamente com DEUS, O CRIADOR e Mantenedor da VIDA. Ao morrer na cruz, Jesus levou às últimas consequências a mensagem do AMOR. Os discípulos de seu lado acharam que agora era o fim. Só depois que se reencontraram com Jesus Ressurreto passaram a compreender que Ele não foi um homem qualquer. Na pessoa, nas palavras, nos atos daquele Jesus Deus mesmo estava presente entre nós humanos. A pessoa de Jesus
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foi uma maneira de deus se fazer presente entre nós. E assim, se começou a falar de Deus como Pai e de Jesus como Filho. Após isto os discípulos de Jesus se sentiram na obrigação de levar este reconhecimento aos outros e se lembraram das palavras: “Ide por todo mundo, pregai o Evangelho”. Mas como fazê-lo? Preocupados pelo “como fazê-lo” perceberam que podiam pregar, que conseguiam passar adiante o que tinham ouvido e visto em Jesus. Perceberam também que as pessoas conseguiam entender o que testemunharam. Estas mesmas pessoas passaram a crer, a confiar, a participar de Jesus e passaram a congregar, a formar as primeiras comunidades. Como é que conseguiam isto: Era o Espírito que os ajudava a proceder assim, era o Consolador prometido por Jesus. E assim chegaram à conclusão: o Espírito Santo é mais uma forma de Deus estar presente entre nós: é uma força com a qual Deus atua por nosso intermédio. Agora a pergunta: São três? Claro que são. É um? Nada há o que duvidar. Mas como? Muito simples: é um único Deus, que se revelou, que se apresentou de três maneiras diferentes entre nós. Por isto nós falamos de DEUS – PAI, de DEUS – FILHO, de DEUS – ESPIRITO Santo. E por isto falamos de Trindade. E assim podemos compreender as palavras do apóstolo Paulo na sua saudação trinitária na 2ª epístola aos Coríntios, onde lemos:
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“Aperfeiçoai-vos, consolai-vos, sede do mesmo parecer, vivei em paz, e o Deus do amor e da paz estará conosco. Saudai-vos uns aos outros”. A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós! ” Aleluia.
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24.11.1972 Salmo 39 Responsório! João 8.12: Jesus Cristo diz: “Eu sou a luz do mundo Quem me segue terá a luz da vida – e nunca andará nas trevas”.
Cara comunidade: Último domingo eclesiástico – tradição falar-se de um tema um pouco singular – para muitos inconvenientes – e que preferimos evitar: a morte! Será que já nos acostumamos com a morte? Ou será até que nós já temos a resposta? Há muitas respostas: Científicas Religiosas – reais Religiosas-imaginárias Ou falta de alguma convicção filosófica ou mesmo de uma crença. Mesmo que tenhamos o resultado de nossas convicções sempre à nossa mão, o mais importante é tentar saber e isto é 225
difícil como muito vasto ter a resposta cristã e bíblica! Ter a resposta bíblica e fazer dela a nossa resposta, isto exige de nós um conhecimento bíblico imenso ao mesmo tempo exige de nós confiança. Vou tentar dar um enfoque de Novo Testamento, tornando como base principalmente a opinião expressa pelo evangelista João, a palavra de Jesus, aliás, uma palavra importante e quase central: “Eu sou a luz do mundo, Quem me segue terá a luz da vida, E nunca andará nas trevas!” Pois bem! No relacionamento entre “morrer” e “morte” costumamos usar exemplos, que alguém tem com o termo “escuridão”. Sombra da vida, a escuridão da morte. Inclusive a cor de luto no mundo ocidental é o preto. Com isto queremos dizer: Onde a morte penetra, ela nos rouba a claridade da vida. A morte parece nos ser a própria negação da vida. Por isto, talvez, aqui tenhamos a causa por que na nossa cultura o tema em torno da morte é tão evitado “disto não se fala”! Principalmente nos nossos dias o tema não é atual. Aliás, temos problemas suficientes com que nos preocupar as crises pessoais e as universais, falta de petróleo, falta de carne por causa do tabelamento e do preço mínimo inadequado para os criadores de gado, falta de papel, o vestibular de nossos filhos, as pessoas de fim de ano, o orçamento de casa e assim cresce a nossa lista. Como muita mãe preferiu silenciar à pergunta da criança. “Isto não é tema para você!” assim preferimos nos desviar do tema. O afastamento de pensamentos acima é parte do pensamento 226
de grandes cidades e pouco nos importamos com o cortejo fúnebre ou mesmo o atropelamento de um transeunte. Preferimos dizer: “Arre, que bom que não sou eu, ou alguém da minha família!” Mas esta insensatez termina no momento em que alguém que queremos bem, é ceifado do nosso meio pela morte. Aí somos atingidos pessoalmente. Aí nos tornamos inseguros e carentes de ajuda. Nós, no fundo, nos sentimos em perigo e nos falta a devida orientação, daí o desespero, o nosso descontrole. Perante esta situação o nosso texto faz uma afirmação corajosa, mesmo que ao primeiro minuto um tanto absurdo: Perante a escuridão que nos seja na hora da morte Jesus se oferece como amparo: “Eu sou a luz do mundo!” Jesus Cristo este é desafio contra a morte, nada mais. Ele próprio passou pelo sofrimento de enfrentar a morte. E a enfrentar em toda sua dura realidade – a morte de cruz – mais eis que Deus não permitiu que a “morte” invariavelmente fosse o fim, como, aliás, era o desejo de seus oponentes. Jesus Cristo ressuscitou dos mortos para nos dar a esperança da vida eterna. Onde criaturas humanas vivem desta luz, podemos falar naturalmente da morte, inclusive de dar ao luxo de se falar na morte natural e física. É parte de nossa vida a nossa morte. Mas definitivamente nos ocupamos com galhardia ou não, isto são outros problemas, um lugar na história, um espaço no tempo, fomos sentindo e nos fizemos presentes no mundo. Afinal de contas existimos ao deixarmos lugar, espaço e deixarmos de ser sentidos ninguém poderá afirmar que nunca existimos. O fato de termos vivido fisicamente nos concede o atributo de que continuamos existindo se não o é perante os homens, pelo menos para Deus.
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Lembremo-nos de um fato muito importante: Jesus coloca os limites entre morte e vida em bases bem diferentes. Ele expressa isto em outras categorias, muito mais edificantes e sugestivas do que costumamos fazer. Vejam aonde, acima de tudo, para Jesus Cristo a morte vai penetrando: exatamente ali onde o “amor” desaparece, ali está presente o morrer. A falta de amor despersonaliza o caráter e a ética do indivíduo. Ou ali onde a ingratidão é uma constante, ou porque nada esperam da vida, passando de participantes a meros espectadores, mesmo que imperceptível, mas ali a morte está tomando conta do indivíduo. Ou quando criaturas humanas julgam não necessitarem mais de compreensão, consequentemente de perdão, e não estão dispostos a ser tolerantes e perdoar aos outros, a morte penetrou definitivamente. Este tipo de morte, sim, este devemos temer profundamente. Por isto não deixemos de lado o conceito cristão de vida. Este sim que é importante e que devemos zelar e cuidar, e o qual a parábola de hoje chama a atenção: “Estejam atentos enquanto é tempo! Pois chegará a hora em que de nada adiantarão os apelos! Sempre tempo é tempo, mas há um tempo que não será mais nosso então!... Bem, o conceito de vida de Cristo é: enquanto praticarmos o amor, enquanto nos voltamos com sinceridade e mesmo alegria em amar aos outros, enquanto temos forças e coragem de perdoar aos que se tem tornado culpados em nós, enquanto estamos atentos e participamos das decisões de nossa existência, estamos do lado da VIDA, do lado da luz, do lado de Jesus Cristo!”. Para cumprirmos esta tarefa Jesus Cristo nos quer ser mais que um amparo, e sim um incentivador incansável. O tempo de viver de cada um de nós é uma oportunidade a mais que Deus 228
nos concede para uma vida de amor, de paciência, de insegurança, mesmo na insegurança e na dificuldade de nosso dia a dia. O tempo de viver é presente régio – o tempo para uma palavra construtiva, tempo para sorriso, tempo também para uma lágrima de saudade, tempo para agradecer, mesmo que as mãos, os pés comecem a cansar! O lema: é não desistir! Jamais, Ele está ao nosso lado na vida, na morte, e após a nossa morte! Amém.
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11.03.1973 Domingo Invocavit Mateus 4.1-11 Tentações – quem já não as teve? São desejos que brotam dentro de nós. É um impulso, uma ambição, uma vontade que nem sempre pode se realizar ou ser satisfeita. Desejo de “realização na vida” “posição” “reconhecimento publico” “poder” e o desejo mórbido de conseguirmos isto por intermédio de “meios” nem sempre recomendáveis. - Uma diferença ver um desejo satisfeito por merecimento ou por caminho tortuosos (sem se incomodar com os danos que vamos causando). Por isto é importante sabermos fazer algumas diferenças entre: 1. desejo e vontade 2. desejo e necessidade. 1. Vontade é o resultado de uma escolha, de uma decisão fruto de uma lógica – algo bem pesado e bem pensado. Mas o desejo pode ser irrefletido, um dominado por um empenho, por uma oportunidade inesperada, pode inclusive fazer com que uma pessoa fique fora de mim. – Gerador, criador, fazedor de “conflitos”. 2. Outra distinção:
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Necessidade – vir a corrigir uma falta, suprimir uma deficiência, ou mal-estar. O “desejo” do seu lado quer obter uma satisfação, um prazer, sem que seja preciso haver uma falta ou deficiência, mesmo uma perturbação qualquer que justifique uma atitude impensada. - Aliás aqui está a grande problemática das “tentações” no nosso mundo atual – na “sociedade de consumo”. É evidente que não nos são oferecidos poderes em: a) “Transformar pedras em pães” b) “Contendo-se poderes para governarmos uma cidade, um povo” c) “Pulamos o edifício Itália sem que nada aconteça a nós” ganhando aplausos e admiração. E depois nós não podemos nos comparar com a pessoa de Jesus, o qual se prepara para a sua missão – estando perante momentos decisivos, onde a “vontade” e a “necessidade” devem certamente imperar as tentações e os desejos, frutos das ofertas tentadoras. 1. Saciar a “fome” do povo – 1ª preocupação + motivação de todo indivíduo. Lembrando que nos tempos de Jesus não havia a variedade de hoje. A alimentação muito restrita, sendo o pão de trigo integral o alimento fundamental. 2. A grande repercussão em Jerusalém – capital da Palestina do salto de Jesus do alto do templo nem flui. Estaria aberta a porta do sucesso. Seria admirado por todos por este feito magnífico. 3. A mais ousada oferta: ser governante do Império Romano – seria a grande e irresistível vitória política de Jesus. 231
Não podemos traçar paralelos, mas cada um de nós está envolvido por tentações e desejos também hoje. Apenas um exemplo nos poderá esclarecer os quantos são levados a por de lado a “vontade” e a “necessidade”, deixando com que os “desejos” imperem em nossa vida. As modernas técnicas proletárias – devemos distinguir tv de comunicação e informação – se preocupam em criar “desejos” + tentações através de vários artifícios, provocando impulsos interiores irrefletidos. Isto acontece em particular com antigos “novos” – produtos/lançamentos. As mensagens propagandísticas procuram atiçar os desejos do público consumidor – mostrando por meio de persuasão, ou de cores, ou figuras, fotografias – que a vida moderna, o progresso tecnológico, as novas condições sociais, permitem finalmente gozar disto ou daquilo – que antes era privilégio destes ou daqueles. E para que a tentação seja ainda maior, criou-se uma estrutura que facilita a aquisição daquilo que não poucas vezes é supérfluo. Uma pesquisa indicou que na maioria das vezes indivíduos menos favorecidos são os compradores de coisas supérfluos, “TV a cores”. Este condicionamento de despertar desejos nas pessoas tem consequências terríveis na maioria das vezes: Produzem – frustrações, tensões, e tanto naqueles que viram seus desejos satisfeitos, como naqueles que não foram satisfeitos – pelas contingências do momento – falta de condições ou meios. Então nós todos estamos envolvidos por uma situação continua de tentações e desejos, capazes de ir contra a nossa “vontade natural”. Não há dúvidas que é supremamente difícil conseguir “salvar-se” desta influência.
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Não leio jornais, revista, não vejo TV, não vou ao cinema.... Fugir do nosso mundo atual é especificamente impossível, pois... O homem fundamentalmente é interdependente do ser mundo, de sua época, dos costumes do seu meio social. Apesar dele ser feito do seu meio “ele” é um “ser consciente”. Aqui a resposta – não como viver livre das tentações ou desejos, mas de colocar a vontade e a necessidade em primeiro plano. Fruto do “ser consciente” – Jesus consciente de seu caminho, de sua missão, decidiu-se pela expectativa do futuro e não pelo oportunismo. Decidiu-se: pelo caminho da humildade será que ao “Filho de Deus” não poderia ser reservado um caminho mais oportuno do que o caminho à cruz?
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31.12.1973 – 20h Silvestre Igreja Matriz Jesus Cristo, ontem, hoje e o será por todo sempre!” Hebreus 13.8. “Ontem e hoje são termos que descrevem para nós um espaço de tempo o que se foi e o que é”. Ontem e hoje cada um tem o seu. Mas para Deus tudo isto não é importante. Deus age num outro plano infinito, onde o ontem, o hoje e o amanhã se misturam. Interessante como, porém, uma morte, como a de hoje parece tão importante. Nós imaginamos que de repente nesta morte há um corte entre o ontem e o amanhã. Realmente, se nos sentimos como pessoas responsáveis e aproveitamos para fazer um leve “balanço” do que foi “ontem”. Recordações agradáveis, outras desagradáveis. Numa infância, os bons anos de juventude, a escola, o primeiro emprego, o primeiro obstáculo, o primeiro amor, e depois os anos em que tudo na vida passou a ser encarado com outros olhos, mais seriedade, lembramo-nos dos nossos queridos que talvez não estejam mais conosco compartilhando a vida terrena. Os amigos, os filhos crescendo, casando, nós nos tornando curvados pelo peso dos anos. Sim, enfim, os últimos meses deste ano que hoje chega ao fim, trouxeram uns dias amargos, como também, isto ninguém pode esconder, os momentos felizes e bons.
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Mas não podemos nem devemos só pensar nas coisas e fatos revelados. Devermos perguntar pelo que também esteve atrás de tudo isto, assim dizer nos bastidores da vida. Nos bastidores da vida houve também um poder que emanou suas forças, dirigiu de certo modo nossos passos, cuidou de nós, Deus. Muitos dos nossos instintos, desejos e vontades foram refreados por seu poder imanente, sempre presente neste nosso mundo. Muitas decisões certamente se tornaram mais difíceis, pois sabemos de seu constante atento. Outras foram tomadas com mais facilidade, pois nos sentimos guiado por Ele. Quem sabe, Ele nos deixou passar por maus momentos, afim de que nossos olhos se abrissem à realidade. E não raras vezes confiamos a Ele os momentos impenetráveis da vida. Se rebaixarmos em nossas recordações deste último ano, sem que ninguém, injustos ou ingratos, descobrirmos que mais um ano fomos o suficiente abençoados, uns mais, outros menos, isto é verdade. Todavia isto não nos deve aborrecer, pois todos nós ganhamos em experiência de vida e estamos mais bem preparados para amanhã. O amanhã! O que nos será reservado no ano novo – que se inicia em algumas horas? Parece-nos que este novo ano de 1974 será uma grande incógnita. Geralmente otimista! É interessante o certo pessimismo de precisões. Sabe-se de antemão que o mundo ocidental sofrerá uma enorme depressão econômica onde a inflação, o pior, o desemprego em massa, a diminuição de salários, diversidade de empregos onde muitos terão que se readaptar para ter meios para seu sustento. As grandes crises políticas, as lutas das ideologias, tudo isto faz com que o amanhã seja uma grande incógnita para o mundo e nós que nele vivemos. 235
Será isto, porém, motivo, de não termos esperança para o amanhã. Cremos que a esperança não deve dar lugar ao pessimismo exagerado. Precisamos enfrentar o amanhã com realidade, preparando para bons e maus momentos, para os altos e baixos. O mais importante, porém, é nos lançamos com a mesma dedicação ao nosso trabalho, à nossa família como no ano que está passando. O importante é permanecermos lúcidos a responsáveis nas nossas decisões. Afinal, o mesmo que ontem e hoje esteve ao nosso lado, também nos acompanhará com certeza durante este novo ano de 1974, concedendo-nos as suas bênçãos e carinhos, e guiando-nos a tudo pela sua segura mão! Boas entradas a todos e que as 12 badaladas da meia noite, as sirenes e buzinas, o espocar de foguetes sejam um prenúncio de felicidade para todos nós! Sob a proteção do Senhor! Amém.
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PrĂŠdicas sem data
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Invoca-me no dia da angústia: eu te salvarei e tu me glorificarás, diz o Senhor! Salmo 50.15. Cara comunidade: “Invoca-me”! Assim se inicia esta palavra. Invocar é sinônimo de apelar de chamar insistentemente. Isto me faz lembrar que não é do nosso feitio apelar ou chamar qualquer pessoa com insistência, se não a conhecemos profundamente. Pois quando lançamos um apelo ou um chamado insistente, o fazemos na certeza de sermos atendidos. No intimo não gostamos de apelar aos outros. Preferimos seguir o nosso próprio caminho, sofrer os nossos próprios sofrimentos, realizar nossos próprios sacrifícios, pois em última análise: o problema é nosso. Os outros talvez não nos compreendam, quem sabe até farão pouco caso de nossa dor, de nosso sofrimento. Daí cada um querer cuidar de sua própria vida. No entanto, no nosso texto as coisas se encontram de um modo bem diverso. Alguém, que me deve conhecer muito bem, convida-me no sentido que o invoque, que lhe dirija prontamente o meu apelo. Este alguém, não quer saber de longas histórias. Ele não quer saber por que lhe dirijo o meu apelo, nem se interessa pelos motivos que me levam à necessidade de inovar alguém para me ajudar. Ele simplesmente se oferece a mim, a ti, enfim a nós, com a intimação: ”invoca-me!” Quem diz isto? Deus? Sim, Deus! Mas a palavra Deus é tão usada e abusada, ela está mais gasta que uma velha moeda que vai de mão em mão. Na verdade: existem tantos deuses! Deuses oficiais, deuses pessoais, deuses abstratos, outros deuses maneáveis. Fazemos com eles o que bem entendemos:
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”Deus está morrendo? ” Sim, o Deus desconhecido, o Deus dos nossos sonhos, o Deus que carregamos dentro de nós, aquele Deus que nos serve em toda e qualquer situação, este Deus realmente está morrendo: o Deus falso! Todavia, o Deus que se aproxima de mim e que me pede de invoca-lo, de chamá-lo, é o outro, o qual é diferente de todos estes deuses moribundos, que é diferente do que todo mundo, diferente do que eu, do que cada um de nós. Ele é aquele ao qual em último e inapelável instância pertencemos, queiramos ou não. Pois nós não nos pertencemos a nós mesmos, mas a Ele, que criou a nós e todo o cosmos, desde a Via Láctea, exuberante e infinita, até a pequenina mosca, o pequenino mosquito, incomodado e insistente: enfim, Senhor sobre todas a coisas. Mas Ele é mais: Ele por intermédio de Jesus Cristo se aproximou-se de nós em forma pessoal, de modo todo familiar, como Pai, como um pai que se preocupa por seus filhos e que se continuará preocupado por nós. Evidentemente, apesar de nosso Pai, Ele continua sendo o nosso Juiz, perante o qual não podemos subsistir, perante o qual sem exceção somos todos culpados e permanecemos sempre alçados. Por que? Pai e Juiz. Dois contrastes. Não. De modo nenhum. Deus é Pai como também Juiz. Pois agimos contra sua vontade: não só somos contra Ele, como também contra nossos semelhantes. Apesar disto, porém, é Ele que nos ama, é Ele que nos segura da queda. Apesar de nossa indiferença perante Ele, apesar de nossas queixas e lamentações, apesar de nossas dúvidas, Ele continua
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sendo Deus e Pai de toda humanidade, Senhor e Mestre do Kosmos. Ele é exatamente aquele outro que podemos invocar. Ele nos chama em Jesus Cristo. Ele nos chama hoje no 4º Advento, quando nos preparamos para a grande festa da confraternização da cristandade. Mas como e para que Ele nos chama? Ele praticamente nos convoca: “Invoca-me no dia da angústia”. “No dia da angústia”. “Angústia”, “sofrimento”, “preocupação”. Todos nós conhecemos e compreendemos essa situação. Angústia, sofrimento, preocupação, são situações das quais gostaríamos de nos livrar. Onde olharmos ao nosso redor sempre vamos dar de encontro com tais situações: na nossa vida pessoal, lá fora nos caminhos e nos becos do mundo. É certo que mais nos preocupa e faz pensar são as nossas angústias pessoais, sejam elas pequenas ou grandes, leves ou pesadas. A nossa angústia pode ser permanente ou simplesmente passageira. No fundo cada criatura humana sente um pouco de angústia em sua vida. Deus também conhece e vê esta situação em angústia, esta angústia pessoal tua e minha, e nos diz, a ti e a mim, que o podemos invocar no dia da angústia, nos nossos momentos de sofrimento e de dor. Perante este reconhecimento – não devemos esquecer de que, além de nós, outros mais carregam a pesada cruz da angústia. E nunca jamais devíamos esquecer que todos os homens reunidos são uma sociedade angustiante. A grande angústia vamos encontrar no fato – de apesar da técnica moderna da vida – o nosso viver e o nosso conviver cada vez mais se contraem, sofrendo um retrocesso imaginável e inclusive inesperado. E
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esta situação de não-entendimento e de falta de compreensão tem gerado a desunião dos povos, a dissolução dos costumes, a erradicação dos mais básicos princípios da vida: o direito de viver, a liberdade, a justiça. Seria mais fácil de dizer não temos nada a ver – com estes problemas, com estas preocupações. O que nos interessa, são nossos problemas, nossas preocupações. Mas, assim não devemos nem podemos pensar, pois a situação angustiante, enfim, tem por causa a angústia de cada um de nós. Somando-se as angústias, os problemas, as preocupações, os sofrimentos de um a um, resultam na desolação da própria vida. Isto quer dizer: cada um de nós é parte constituída desta sociedade angustiante. Daí resulta: “Invoca-me não só na angústia pessoal, mas também dentro da angustiosa situação do meio em que vives!”. A angústia. Onde está o motivo da angústia humana? O homem mesmo. O homem sofre a si mesmo. Erva daninha
“Invoca-me no dia da angústia” pessoal geral de todos. “eu te salvarei” Consequências.
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A graça... O amor..... e a comunhão. João 14.1-6: Os evangelhos nos relatam detalhadamente às vezes sobre as andanças de Jesus pela Palestina afora. E não poucas vezes vamos encontrá-lo como hóspede em casa de pessoas completamente estranhas ao seu meio. Os fariseus, por exemplo, eram antagonistas de Jesus. 2º Mandamento
“Não tomarás o nome do Senhor, teu Deus em vão; porque o Senhor não deixará impune aquele que abusar de seu nome”. O nome de Deus – não dado por homens. Revelado a nós por pura graça. Mas também há um limite: “em vão”. Mandamento do respeito e da veneração a Deus. Não um mandamento do silêncio. O cristão tem o direito de usá-lo. - Tomar em vão + abusar. Abusar
uso – Abuso -
1.
2.
Abuso – amaldiçoar – jurar – praticar a feitiçaria – mentir – enganar pelo seu nome. Uso – invocá-lo em todas necessidades – orar, louvar e agradecer.
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O 2. os cristãos lamentavelmente esqueceram muito, enquanto 1. muito difundido. Talvez o nome de Deus só venha a ser pronunciado por nossos lábios no abuso. Mas Deus não deixará “impune” aquele que abusar de seu nome. – Mt 12.31-32. -
Blasfêmia contra o Espírito Santo.
Juramento – Mt 5.33-37 Sim – sim não – não. O 2º mandamento dirige os nossos passos ao culto dominical. Por que? Romanos 10,13: “Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo”. Daí não podem amaldiçoar e invocar ao mesmo tempo. 7º Mandamento - Não furtarás O direito da propriedade. Pela vontade de Deus deve existir a propriedade. Quem dissolver esta verdade, está dissolvendo a ordem divina. O mundo é dividido em propriedades. 1. Moisés – Gênesis 1.28-29-30. Deus diz: “Eis o que vos dei”. Mas o mundo caiu e forças demoníacas têm a terra envolvida em seu manto. Lc 4.6-7. A vinda de Cristo e o seu significado para o mundo – Mc 10.1722
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O jovem rico – MT 19.27-29 A propriedade foi derrubada a paråbola do rico. Mt 13.24-30.
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Mateus 13.31-33 Cara Comunidade: Em que situação deve ter Jesus contado esta parábola do grão de mostarda? É inevitável e imprescindível antes de qualquer coisa procurarmos a resposta exata a esta pergunta. As palavras que acabamos de ouvir eram dirigidas aos discípulos de Jesus, os quais se encontravam deprimidos e desanimados, pois não viam progressos na obra do Senhor. A disposição de espírito ao redor de Jesus era das mais incríveis e avassaladoras. Não há dúvida: vamos encontrar as multidões assentadas ao redor de Jesus, ouvindo a sua pregação e a sua doutrina. Mas eram poucos que realmente pudessem ser chamados de verdadeiros seguidores de Cristo. – As massas humanas em geral tornam-se passivas e omissas, perante uma grande novidade, de modo que as reações eram fracas e despercebidas. Ninguém terá a coragem em negar que havia homens obrigados seguindo ao Senhor, mas eram infelizmente pouquíssimos. Além dos discípulos, vamos ainda encontrar uma pequena legião de doentes, de inválidos, de solitários e de marginais que se dão ao trabalho de acompanhar o Mestre em sua peregrinação. Estes, porém, esperavam uma recompensa material do Senhor. Tão logo estavam satisfeitas suas exigências, desapareciam como por um milagre. Convenhamos, jamais se poderia esperar resultados positivos para o reino de Deus com uma legião de seguidores infiéis e egoístas. Ainda tem mais. Outros ângulos devem ser observados e o resultado será mais desanimador ainda. Poder-se-ia proclamar de antemão o fracasso da obra iniciada por Cristo. Os líderes do povo judeu, os fariseus, os escribas e os sacerdotes, homens 245
cônscios de seus deveres, respeitados por uma nação inteira por causa de sua dedicação profunda e aprimorada aos conceitos e às leis divinas, combatem eficazmente a obra do Senhor. Estes que deveriam ser os principais a propagar a doutrina cristã, lançando-se com eficácia na comunicação do reino de Deus, torna-se uma muralha subversiva. Ao em vez de colaborarem no progresso da doutrina cristã, ressentem o cristianismo no seu desenvolvimento. Mas, o Nazareno, filho de Maria, afirma categoricamente que é chegado o reino de Deus. Porém, para quem é chegado o reino de Deus? O mundo não torna conhecimento da pregação do Filho de Deus, e aqueles que deveriam ser o veículo capaz de propagar e espalhar a doutrina cristã, a combatem, ao ponto extremo de perseguir a Jesus. Esta, meus amigos, era a atmosfera em que viviam os discípulos e seguidores de Cristo. O ambiente pode ser caracterizado pelo desânimo e pela opressão, fazendo-se necessárias palavras pelo estímulo e de consolo. Foi numa ocasião destas que Jesus se dirigiu aos discípulos em especial, contando-lhes esta parábola do grão de mostarda. Um minúsculo grão de mostarda, talvez uma das menores sementes de hortaliças, compara-se ao reino de Deus. Na verdade, o peso da parábola não reside no grão de mostarda em si, mas nos efeitos que são produzidos pela mesma. É um fato incontestável que tão logo esta minúscula semente é lançada em terra fértil, torna-se com o tempo numa bela e admirável hortaliça, capaz de abrigar inclusive os ninhos dos pássaros. Lamentavelmente esta parábola do grão de mostarda já foi objeto de falsas interpretações. Julgava-se que o sentido da parábola expressava o desenvolvimento progressivo e
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automático do cristianismo sem a ação colaboradora do próprio homem. Mas o cristianismo jamais poderia alcançar os homens e os povos do mundo pelo simples fato de ter sido lançado na Palestina. O indivíduo e a própria comunidade cristã têm um papel destacado na propagação do evangelho. O cristão, a comunidade cristã é como um raio de luz que envolve a tudo e a todos que estão ao seu redor. É o reflexo da própria semente que causa o efeito. Estes efeitos podem comparar com outros exemplos. Basta que reflitamos nos efeitos produzidos por pequenas causas, as quais muitas vezes julgamos banais e sem importância. Bastam alguns grãos de fermento para que uma massa constituída de farinha e água seja totalmente levedada. Basta apenas uma pitada de sal para que os nossos alimentos diários tomem a si um gosto agradável ao nosso paladar. Basta um insignificante filete diário para que uma barragem hidráulica seja completamente destruída. São causas mínimas, que, porém, produzem efeitos estrondosos. O mesmo acontece com o grão de mostarda. De uma semente mínima germina um arbusto, de modo que as aves dos céus vêm aninhar-se nos seus ramos. Algo de mínimo, que à primeira vista nos parece sem valor, mas tem um efeito deveras impressionante. Semelhantemente acontece com nós cristãos: se olharmos para a massa, somos uma pequena minoria. Para verificamos isto não precisamos ir longe. Basta que tomemos a nossa própria comunidade, por exemplo. Nós todos sabemos que existem algumas centenas de famílias evangélicas nesta cidade, mas se olhamos ao nosso redor, ficaremos entristecidos e até desanimados, pois ainda há muitos lugares vagos nos bancos desta casa de Deus. Na verdade, somos uma pequena legião de 247
seguidores de Cristo. E exatamente por nos sentirmos uma pequena legião, temos vergonha de falar aos homens das coisas de fé. Não queremos ser reconhecidos como cristãos na rua, no local de trabalho, no clube, no campo de futebol, pois tememos os olhos críticos e zombeteiros dos que se encontram ao nosso redor. Ninguém de nós quer passar por um vexame público. Por que? Porque nós cristãos sofremos do complexo de inferioridade; porque nos envergonhamos e somos uma minoria neste mundo convulsionado de hoje. Preferimos ser iguais aos outros, ser uma criatura comum como as outras também. Pela parábola do grão de mostarda, porém, nos é evidenciado que é exatamente nesta minoria é que se encontra a causa para o progresso da propagação do evangelho de Jesus Cristo. Na verdade, os efeitos não dependem de grandezas e das massas, das maiorias. O que interessa é onde está a verdadeira causa dos efeitos propalados. E devemos reconhecer que as causas de muitos efeitos podem encontrar nas pequenas causas. Enquanto os grãos de fermento não forem acondicionados à massa do trigo e da água, também não há qualquer efeito de levedação na massa. Enquanto o sal permanecer no saleiro, os alimentos não podem adquirir um gosto agradável ao nosso paladar. Podemos assim afirmar que antes de tudo é preciso acionar a força contida na causa para sentirmos os verdadeiros efeitos. A própria comunidade cristã, por menor que ela seja, pode transformar o mundo e cativar os homens para o evangelho. Mas o sentido da parábola do grão de mostarda ainda vai muito adiante. O sentido da mesma atinge também desenvolver e o crescer da fé no indivíduo que forma a comunidade cristã.
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Na maioria das vezes basta que um pequeno grão da palavra de Deus caia em nossos corações, e este grão pode mudar o rumo de vidas humanas. Sempre de novo a palavra de Deus nos é anunciada e esta faz nascer em nós à fé em Jesus Cristo. Mas se esta fé apenas é superficial, então ela de nada servirá. É como no grão de mostarda. Se o grão não é semeado e cuidado, jamais poderá desenvolver-se a um arbusto. Pelo contrário, o grão se decomporá com o tempo e não terá valor algum. A fé ao nos atingir quer crescer e se desenvolver a ponto de abranger os nossos familiares, os nossos parentes, os nossos amigos e colegas. Mas se a fé só fica no nosso íntimo, tornandose assim uma propriedade particular nosso, aí a fé se torna de uma piedade chocante aos nossos próximos. Aí não se trata mais de uma fé pura que tem seu fundamento em Cristo. Pois a verdadeira fé meus irmãos em Cristo, não conhece barreiras, conhece só perdão, amor, confiança e esperança. Por isso a fé tem que se enraizar em nossos corações e ao mesmo tempo se desenvolver para fora. Enquanto as raízes se aprofundam nos nossos corações, o arbusto da fé tem que ocupar um lugar de destaque em nossa vida, isto é, devemos mostrar para fora quem somos nós. A palavra de Deus, a qual foi semeada em nossos corações, quer desenvolver-se, quer crescer, quer trazer frutos. E para que isto aconteça devemos ser cristãos ativos, ativos, em prol da causa do evangelho de Jesus Cristo. O reino de Deus neste mundo tem de partir de nós, de nós que somos ouvintes da palavra de Deus e participantes de sua multiforme graça. A palavra de Deus quer constituir algo de novo no mundo. A nossa família, nossos parentes, nossos vizinhos, nossos amigos devem ser abrangidos pelo reino de Deus.
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Uma revolução imprevista e silenciosa deve tomar conta da face da terra: primeiros são alcançadas algumas criaturas humanas, então são transformadas as situações antes existentes. Esta transformação limitada a algumas pessoas poderá então mais tarde influenciar as massas. O indivíduo influencia o outro até tornarem-se uma pequena legião e esta legião causa outros efeitos, como influenciar as massas e os povos. Exatamente, nós criaturas humanas do século XX temos um grande dever a cumprir: por meio de nossa fé, por meio de nossa confissão devemos propagar o evangelho, dar prosseguimento no processo revolucionário que Cristo iniciou na Palestina, chamando os homens à realidade da vida, exigindo-lhes a justiça e o cumprimento do mandamento do amor. Nós temos o grande dever de semear grãos da verdadeira fé nos corações dos homens. Uma coisa é certa e jamais ninguém a poderá negar: só podemos ser verdadeiros colaboradores do reino de Deus do momento em diante em que a palavra de Deus, o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, tomou morada definitiva de nossos corações. Quando isto acontecer para cada um de nós, aí poderão estar certos da vitória desta vitória que não é nossa, mas sim de Cristo que é o Senhor do Mundo e que voltará um dia para julgar tanto os vivos e os mortos. Os que têm fé em Jesus Cristo nada tem a temer, porque Ele conhece o nome de suas ovelhas e suas ovelhas conhecem a sua voz. Amem.
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Evangelho de João 4.7-15 Algo de fora do comum, algo de inconcebível talvez, nos relata esta passagem bíblica, na qual nos é transcrito um diálogo de Jesus com uma mulher do Samaria. Este diálogo gira em torno de um tema, o qual podemos transcrever com o título: “a água”. Todos nós sabemos o valor deste precioso líquido para a nossa vida. O próprio corpo do ser humano é constituído por 2/3 de água, tornando-se daí evidente que não podemos passar à mingua deste precioso líquido. Mas não só o nosso corpo necessita da água. Como também praticamente tudo que temos, tudo que existe ao nosso redor, toda natureza viva não pode permanecer sem a água. Poderia fazer-se um estudo profundo e pormenorizado sobre este tema e no final chegaríamos à conclusão que sem esta matéria formada de hidrogênio e oxigênio não existiria vida neste universo, nesta nossa terra. Sem a água não existiria o menor sinal de vida. Se chegarmos a esta conclusão, podemos sem qualquer objeção compreender as palavras desta mulher samaritana, palavras estas dirigidas a Jesus, à beira de uma fonte, da qual espirra o precioso líquido que é o fator primordial e fundamental para a existência da vida de um povo. A samaritana mesmo chama a atenção de Jesus dizendo em outras palavras, que aquele poço era o centro das atenções de seu povo, de suas famílias, de seu próprio gado. Ela com toda naturalidade pode compreender o pedido do Senhor: “Dá-me de beber”. Indiscutivelmente nós também compreendemos sem qualquer dúvida se algum desconhecido bate à nossa porta e pede um copo d’água. Nós todos sabemos
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bem que a sede deve ser saciada e prontamente atendemos ao pedido de um copo d’água. Depois de termos tomado um copo do precioso líquido vemnos um sentimento de satisfação, de alivio e de prazer. De um lado, vimos a importância vital da água, do outro lado, reconhecemos também a necessidade que experimentamos da água. -
Não podemos limitar-nos a isto Nossa vida na verdade é mais que comer e beber.
Ou será? Filosofia medíocre que não há maior paraíso no mundo do que o momento em que temos o estômago cheio ou como diz o dito popular: sombra e água fresca. Quantos não são os que assim pensam? Sede espiritual? Problemas não podem ser resolvidos em nossa vida, sem que no nosso íntimo exista um alvo, um alvo a alcançar. O cotidiano nos mostra claramente que de nada servem as comodidades da vida, o luxo, a despreocupação se o íntimo de cada um de nós não está satisfeito. Lacuna – causadora de muitos males. Jesus Cristo é a água viva, da qual bebendo-se jamais se terá sede. Por que? Porque Jesus Cristo é a causa primordial de nosso alvo, do alvo que na vida terrena devemos e podemos almejar. A fé em Jesus Cristo é esta água viva da qual tanto necessitamos, a qual nos é lançada, para que pela nossa paz
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íntima, pelo conforto de nossa consciência, pela luz da verdade possamos enfrentar o que está a nossa frente. Cada um de nós peça também a Jesus Cristo no dia de hoje, como o fez a samaritana: Senhor, dá-me desta água para que eu jamais tenha sede? Jesus Cristo dá-nos acesso a esta água que está contida na santa palavra salvadora da cruz e da ressurreição. Do momento em diante em que cremos em Jesus Cristo, como Senhor e Salvador, nossa sede espiritual estará saciada, pois saberemos o nosso alvo, saberemos vencer-nos a nós mesmos, vencer o que nos espera, viver dignamente perante Deus, o Criador e perante os nossos próximos. Amém.
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A graça, amor, comunhão.... Mateus 13.10-12 Cara comunidade, caros jovens! Poucos certamente são os que não conhecem esta passagem do Evangelho de Mateus. Ao ouvirmos o relato deste acontecimento talvez nós nos tenhamos admirado com a discussão encabeçada pelos discípulos. Jesus se encontrava assentado à beira mar, rodeado por uma enorme multidão. Acabava de contar a conhecida parábola do semeador, o qual saiu a semear. Ao semear uma parte caiu a beira do caminho e vindo as aves, comeram a semente lançada. Outra parte caiu em solo rochoso e o resultado foi a inutilização da semente, visto o solo não ser propício. Outra caiu entre espinhos e os espinhos naturalmente sufocaram também esta parte. Mas outra caiu em solo fértil, germinou e frutificou esplendidamente. Conhecemos esta parábola, a qual tornou motivo de tropeço para os discípulos. Com certeza os discípulos de Jesus não estavam lá muito satisfeitos com o modo de ensinamento de Jesus, pelo menos não com as parábolas. Julgavam que seria melhor dirigir-se diretamente o assunto ao povo, assim como no sermão do monte e não por meio de ilustrações. Naturalmente preferiam o relato claro das relações do homem para com o reino de Deus. Daí ter surgido a questão: “Por que lhes falas em parábola”? A resposta do Senhor é incisiva e clara, deixando bem evidente que ele não tem interesse nenhum em contar e ensinar às multidões belas histórias e parábolas, como a do grão de mostarda, ou do tesouro escondido, ou ainda de semeador.
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Com toda certeza a resposta de Jesus não é tão compreensiva a nós criaturas humanas. Inclusive torna-se chocante e brinca com os nossos sentimentos espirituais, pois diz: “A vós é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, aqueles não o é concedido”. Como vamos entender esta resposta? Quer ela subentender que para Deus há de atenção duas qualidades de criaturas humanas: de um lado os “escolhidos” e do outro os “renegados”? Meus amigos, quando falamos da vinda e do crescimento do reino de Deus, cabe-nos não esquecer de uma coisa: pensamentos humanos, isto é, nossos pensamentos sempre foram diversos e sempre serão diferentes do que os pensamentos de Jesus Cristo. Isto já aconteceu nos tempos dos discípulos. Os homens daquela época esperavam a vinda do reino dos céus como se Deus viesse em forma de uma força sobrenatural, tirando-os da opressão, da miséria, das dificuldades. É exato que estas ideias não são erradas e supérfluas, mas não formam o fundamento dos ensinamentos do Senhor. Mesmo que as preocupações e os problemas terrenos abrangem a vida do homem, o alvo de Jesus era e é outro muito mais importante. As nossas limitações de compreensão, o nosso mundo intelectual não permite muitas vezes a acepção de coisas muito mais valiosas e ricas. Por isso o alvo do Senhor era e é ainda até hoje em destruir estas fronteiras humanas, estas limitações do nosso raciocínio, da nossa compreensão. E para isto Deus faz uso da Palavra. A palavra, como instrumento de Deus, quer atingir este alvo, e por isto a palavra é dirigida a nós criaturas humanas, a nós que nos servimos da palavra para a compreensão e o entendimento mútuo. O instrumento que Deus usa para nós é substancial, pois é por este 255
mesmo instrumento que nós quebramos e destruímos as frias fronteiras do mundo. Nem mesmo a infinidade de línguas e de dialetos torna-se obstáculo à compreensão mútua, ao entendimento profícuo e amigável. Mas Deus, não só faz uso de sua palavra para que o possamos compreender e entender. Ele não só quer nos atingir e destruir as fronteiras de nossas limitadas capacidades humanas. Há ainda algo de muito fundamental atrás da palavra que provém de Deus. Deus não quer nos fazer escravos de sua palavra. A palavra dirigida não tem um poder de irresistível. Pelo contrário, cada um de nós poderá resistir a ela. A palavra de Deus é uma palavra que nos quer conservar a liberdade. Exatamente por causa desta liberdade, a palavra de Deus poderá encontrar corações cheios de compreensão, corações abertos e solícitos. Mas esta também poderá encontrar portas fechadas, poderá ser desprezada, poderá ser desvirtuada. A maneira pela qual isto tudo pode acontecer nem precisamos mencionar, pois os exemplos estão aí na diversificação do mundo. Por isto mesmo, meus irmãos, jamais devem dentro do senso de liberdade da Palavra esquecer de uma coisa: a palavra de Deus é dirigida a nós. Ela quer uma definição de nossa parte. Cada um de nós tem a liberdade de decidir sobre o rumo de sua vida sobre a forma de viver. E para isto é preciso de muita sobriedade e responsabilidade. Certamente é preciso que nos desvencilhemos de muitos dos nossos pensamentos, de muitas crenças particulares, pois não podemos traçar conforme o mesmo critério caminhos para a causa de Deus. Aquele que permanecer firme no seu conceito pessoal, aquele que não consegue separar-se de suas ideias fixas, aquele que
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não quer compreender a mensagem da palavra de Deus, este continua e continuará sempre no perigo de pertencer a estes dos quais fala o Senhor em sua resposta aos discípulos: “aqueles não é concedido conhecer os mistérios do reino dos céus”. Mas a resposta de Jesus não termina aqui. Ela ainda vai adiante e quer nos mostrar a seriedade com que devemos encarar a nossa definição perante a palavra de Deus, perante a fé nos concedida pela mesma. O nosso texto diz: “Ao que tem se lhe dará e terá em abundância; mas ao que não tem, até o que possui lhe será tirado”. Infelizmente não são poucas as pessoas que julgam poder vencer as tribulações da vida com um mínimo de fé. Esta criatura humana é cristã por conveniência. Para estes a fé é um objeto, como outro qualquer, que só tem valor quando necessitado. Agem com a fé como com um casaco ou paletó: quando está quente tiram-no e dependuram num cabide; quando, porém, a temperatura se torna amena, correm ao armário retiram o paletó do cabide, dão uma escovada por cima e o vestem. Isto é, usam o objeto fé quando lhes convém. Daí o cristão por conveniência. Fé cristã não é uma propriedade arraigada a nós desde a nossa nascença. Fé cristã é uma dádiva de Deus que quer ser cuidada, que se quer desenvolver e crescer. Fé cristã quer ser praticada. Fé cristã não é um objeto qualquer que podemos dependurar no prego e buscar quando necessitamos dela. Antes ela nos é tirada por Deus, como diz a palavra do evangelho de hoje: “ao que não tem, até o que possui lhe será tirado”. Do outro lado, se cuidamos aquilo que recebemos, se praticamos a fé, se vivemos conforme a vontade de Deus, é-nos certificado que ainda receberemos mais e teremos em abundância.
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Esta promissão é dirigida a nós nesta hora, assim como aos discípulos há centenas de anos: “Ao que tem se lhe dará, e terá em abundância”. Por isto, esforcemo-nos todos para que vençamos este acanhamento de nossa fé, esta timidez de confessar-nos como sinceros cristãos. Deus mesmo nos ajuda a vencer estes complexos por meio de nossa dedicação às sagradas Escrituras, por meio da nossa participação ativa da Palavra de Deus, por intermédio da oração sincera e pura, pela comunhão, pelo uso dos sacramentos. Aqui estão expressas as maneiras de nos aproximarmos de Jesus Cristo, de compreendermos o verdadeiro sentido do reino dos céus. Por isto, cara comunidade, principalmente caro jovem, estão reunidos nesta casa de Deus para demonstrarem a nossa participação nesta promissão de Cristo. Sois representantes de centenas de jovens evangélicos do Brasil Central que desejam ser colaboradores da seara do Senhor, depositando uma confiança nas deliberações das Juventudes Evangélicas do Sínodo Evangélico do Brasil Central. Com toda certeza estão com seus pensamentos voltados a este congresso. Aqui estais para que também a vós seja dado conhecer os mistérios do reino dos céus. Que Deus, nosso Pai, ilumine com a graça do Espírito Santo a vós todos e que vos dê corações abertos e jubilosos para a sua santa palavra e promissão. Cuidamos com carinho, amor e paciência do dom da fé no nosso Senhor Jesus Cristo, pois também o nosso alvo é receber e ter em abundância. O Senhor da Igreja, o Salvador esteja com todos vós e vos cubra nestes dias com ricas bênçãos e muita alegria. Amém.
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Lucas 17.7-10: Jesus diz: “Qual de vós, tendo um servo ocupado na lavoura ou em guardar o gado, lhe dirá quando ele voltar do campo”: “Vem já e põe-te à mesa?” E que antes não lhe diga: “Prepara-me a ceia, cinge-te, e serveme, enquanto eu como e bebo; depois comerás tu e beberás”. Porventura terá de agradecer ao servo por ter este feito o que lhe havia ordenado? Assim também vós, depois de haverdes feito quanto vos foi ordenado, dizei: “Somos servos inúteis, porque fizemos apenas o que devíamos fazer”. Cara comunidade: 1. Os discípulos de Jesus são considerados como grandes figuras de uma importância essencial para o desenvolvimento do cristianismo. Foram as grandes testemunhas do Senhor. Por intermédio deles hoje nós podemos nos inteirar o suficiente dos fatos, dos acontecimentos, dos ensinamentos e das palavras de Jesus, o Nazareno, o qual por sua morte na cruz foi nos revelado como o Cristo, o Ungido, o Salvador. Mas estas testemunhas oculares, os discípulos, não deixaram igualmente de espelhar as suas grandes fraquezas nos seus relatos. E hoje podemos nos inteirar de uma ocasião de fraqueza dos seguidores imediatos do Senhor. Aproximou-se de seu Mestre com um pedido um tanto singular e mesmo egoístico: “Dá-nos cada vez mais fé!” Desejavam assim serem colocados numa esfera maior. Mas Jesus revidou 259
veemente este pedido, esta atribuição de maior fé: “Se tiverdes a fé equivalente a um diminuto grão de mostarda, estareis capacitados a dizer a uma amoreira:”Arranque as tuas raízes da terra e transplanta-te ao mar “e ela obedecerá”. A fé não pode ser medida. Ela não tem tamanho. O que importa é o resultado desta pequenina fé; é a sua consequência e a sua intenção na nossa vida. A fé é um primeiro lugar o resultado de nosso “ouvir atento” sobre os fatos, os acontecimentos e as palavras de Jesus, o se informar de tudo que envolve a pessoa e a personalidade de Cristo. Mas este “ouvir atento” e “se informar” não bastam. Não basta apenas aprender um ofício, se munir de conhecimentos, se nós não os aplicarmos na vida real. Com a fé acontece o mesmo: a fé quer ser vivida, a fé exige ação. Onde se concretiza esta ação? No servir à causa de Deus, no se integrar no disciplinado de Cristo no mundo de hoje. Sobre este servir incondicional é que a comparação deste domingo nos quer dizer algo importantíssimo. “Quem dentre vós tendo um servo para os trabalhos na lavoura e no pastoreio, lhe dirá ao voltar da difícil faina do dia”: “Venha, senta à mesa e come!” Isto jamais acontecerá. Antes lhe deverá ser dito: “Prepare a ceia, lave-se e se vista decentemente para servir-me a mesa enquanto como e bebo. Depois poderás comer e beber”. Ao servo terminar mais este trabalho também não lhe é devido qualquer agradecimento ou recompensa. Por isto fazei o mesmo que o servo. Depois de haverdes feito tudo que vos foi ordenado, então vos resta apenas dizer:
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“Não temos nenhum direito a qualquer recompensa. Apenas cumprimos o dever”. 2. Este relacionamento entre senhor e servo, patrão e empregado nos parece hoje um tanto estranho. Mesmo existindo ainda determinadas funções que muito se assemelham a esta situação relatada pelo texto, hoje, pelos direitos das leis trabalhistas, os empregados têm horas mínimas e máximas de trabalho e serviço. Há uma proteção para o indivíduo dependente de terceiros. Do outro lado o empregado tem direito ao seu salário, às compensações de suas horas extras, suas férias. Todavia, o texto nos conta uma situação que para nós hoje seria incabível e mesmo inaceitável. Um servo, um empregado naqueles remotos tempos, tinha por obrigação estar à disposição de seu patrão integralmente por 24 horas. E não lhe cabia o direito de exigir qualquer remuneração ou recompensa a não ser alimentação, o seu vestuário e a sua cama. Evidentemente aqui a humanidade, exatamente na relação do trabalho, vem evoluindo de modo concreto e no mundo urbano e industrializado não se admite mais este relacionamento de trabalho integral para com terceiros. Isto pertence ao passado. Apesar disto a comparação de Jesus ao ser aplicada quanto ao servir a Deus por toda e qualquer criatura humana - permanece válida. 3. Aqui não nos interessa mais se o relacionamento senhor e servo dos tempos passados é justo ou injusto. Isto não está em discussão.
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O que nós devemos perguntar é se a exigência proposta por Jesus vale para nós hoje. Podemos sinceramente servir à causa de Cristo incondicionalmente? Será que estamos dispostos integralmente 24 horas por dia servir o Senhor sem exigir a mínima recompensa, sem esperamos pelo menos o agradecimento pelo nosso servir desinteressado? Podemos esperar hoje numa época conturbada, cheia de problemas e de lutas pela sobrevivência que há pessoas prontas a dar tudo de si para a causa de Cristo ao lado de seus tantos afazeres pessoais e profissionais? O pensamento “servir” no Novo Testamento é uma constante. Principia na própria pessoa de Jesus, o qual diz: “Eu não vim para ser servido, mas para servir, e dar a minha vida em resgate por muitos”. Jesus assim dá a nota constante de sua vida e peregrinação: servir integralmente mesmo com sua vida – ao mundo. E ele transfere esta atitude para todos que nele creem e confiam, que nele reconhecem o Senhor. Assim se manifestam os apóstolos em várias ocasiões e mesmo por seus exemplos: ”Dedicam a sua vida toda à causa do Senhor”. Daí a palavra apostólica também: “Servimos uns aos outros cada um conforme o dom que recebeu da plenitude da graça de Deus”. A mesma relação vamos encontrar em figuras expoentes da história cristã. Podemos citar o exemplo de muitos contemporâneos nossos que de modo total se entregam ao serviço da causa de Deus: Dietrich Bonhoeffer, Karl Barth, o médico e teólogo Albert Schweitzer. Mesmo dentro de nossa igreja há exemplos desta decisão de servir integralmente à causa de Cristo. O exemplo mais recente foi quando 35 membros dos mais variados recantos do Brasil se dispuseram em deixar as suas lides profissionais e se candidataram ao curso intensivo de pastores e hoje junto com suas famílias estão servindo nas mais longínquas comunidades brasileiras. 262
Quantos não existem mesmo dentre nós que o lado de todos seus compromissos profissionais, sociais, familiares e pessoais estão servindo no anonimato à causa do Evangelho. Por que e para que? Recompensa? Não. Reconhecimento.
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1 João 3.8: “Aquele que pratica o pecado procede do diabo, porque o diabo vive pecando desde o princípio. Para isto se manifestou o Filho de Deus: para destruir as obras do diabo”. Cara comunidade: Falar hoje do “diabo” é considerado como ultrapassado. Quem ainda perdurar numa afirmação assim, não evolui. A evolução de nossa estirpe, isto é, da raça humana parece para muitos algo inconteste, fora de qualquer discussão. Mas será que a humanidade realmente evolui? Será que com a evolução técnica, científica, filosófica, os homens se transformaram para melhor? Houve progressos. Disto não pode haver a menor dúvida. Houve transformações positivas nos mais extensos campos da atividade humana. Disto estamos todos conscientes. Fatos que ontem julgávamos impossíveis, hoje são normativos para a nossa vida. Captamos há muito a voz de grandes figuras da humanidade. Acontecimentos longínquos são testemunhados e traduzidos de imediato. A partir da última sexta-feira também nós brasileiros somos beneficiados pelas imagens dos fatos. No momento que ocorrem, participamos dos mesmos visualmente: Não demorará e estaremos participando ativamente dos acontecimentos mais controvertidos, porque a imagem do mundo ingressa de imediato em nossos lares. “O mundo em seu lar” Quem imaginaria isto há dez anos. Quase ninguém. Os técnicos e alguns mais! E, no entanto, ainda temos coragem de falar “das obras do diabo”. Perguntemos uma vez pelas obras do diabo, e deixamolo um pouco de lado. Quais são as “obras do diabo?”
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O evangelho e as três epístolas de João emitem uma série de afirmações a respeito destas “obras”: a mentira, aquela que encobre a verdade; a falsidade, aquela que destrói a honestidade; a fraude, aquela que corrompe a integridade; a violência, aquela que desconhece o direito alheio; a tentação, aquela que não reconhece limites; enfim, é o pecado de não respeitarmos o nosso semelhante, aquele que, como nós, é criatura humana, com direitos iguais. O evangelista João resume todas estas manifestações negativas como sendo as “obras das trevas”. As trevas tornam a existência de cada um de nós num verdadeiro martírio. Pois nas trevas continuadamente tropeçamos e caímos, nunca chegando ao objetivo sincero de nossa vida. Algum poderá negar estes fatos? Não é assim que sempre de novo encobrimos estas “obras malignas” em nossa vida? Qual é o namorado que se apresenta à sua escolhida assim como é, demonstrando seus erros e falhas? Quem é o homem que tem coragem de reconhecer que ele é a causa da mentira, da falsidade, da fraude, da violência, da tentação, que ele diariamente na sua ação em relação aos outros comete infrações, menosprezando e difamando, rebaixando e se levantando a si mesmo perante os outros? Alguém poderia perguntar pela origem destas ações negativas e obscuras, obscuras pelo fato de não gostarmos de revê-las. O texto da epístola de João diz que o pecado, e pecado é a ação negativa e obscura, é a ação contra os frutos da luz, o pecado procede do diabo. Então existe, enfim, o diabo? É evidente que o diabo não vem ao nosso encontro em forma personificada e mitológica, assim como todos nós o conhecemos da figura como um ser horrível,
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cheio de chifrinhos, olhos esbugalhados e fogosos, de aspecto medonho. Mas vem ao nosso encontro na forma de indolência, da preguiça, da comodidade, da indecisão, na forma de crítica destrutiva, como sugestionismo enervante “eu enfim sou uma boa pessoa”, “nada devo a ninguém”. Nestas formas ele existe. Ele nunca necessita de nós por completo. Ele se satisfaz quando lhe oferecemos o dedinho: um pouco de mentira, um pouco de falsidade, um pouco de pecado. Isto já basta. E quantos não são que se conformam com esta situação e, inclusive, sempre acham um motivo plausível para a mesma. Poder-se-ia compreender este conformismo se não existisse em contraposição, uma saída honrosa e definitiva. Mas ela existe. O próprio evangelista João afirma: “Para isto se manifestou o Filho de Deus, para destruir as obras do diabo”. Temos verificado que existem ainda hoje, num mundo evoluído e progressista, fenômenos marcantes que denunciam o poder do maligno, o poder evasivo e obscuro ao qual o Novo Testamento chama de “diabo”. Este poder maligno faz suas exigências ao homem, levando-o inclusive à destruição. Do outro lado, porém, nós somos cientificados que contra este poder escuro existe erigido no mundo um sinal incontestável, um símbolo que marca profundamente a história da humanidade, a saber, a cruz de Cristo. Este símbolo da cruz de Jesus Cristo demonstra que o maligno não possui um poder absoluto, do qual a criatura humana não se possa libertar. O poder do assim chamado “diabo” é limitado. Vejamos: Os evangelistas do Novo Testamento ao darem seu testemunho a respeito de Jesus, jamais omitiram os momentos em que o próprio Mestre era envolvido pelas manifestações do poder negativo e maligno.
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“Se és o Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães! Diz o” tentador “. “Está escrito: Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus”.
Ler Mateus 4.1-10. Outra passagem nos pode ilustrar este relacionamento, quando um discípulo passa a tentar o próprio Senhor. Ouvimos o trecho de Marcos 8.27-33. Ler Marcos 8.27-33. Em todo curso de seu ministério Jesus foi obediente à sua vocação, portanto, vencedor na tentação. Renunciando ao caminho fácil de um Messias carnal e glorioso, Jesus vai de despojo até à humanidade extrema da morte e do abandono na cruz. O grito de Gólgota “Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste? Expressa o ponto mais crítico da vida tentada de Cristo: neste momento está em jogo a causa do maligno e a causa de Deus. Porém, ao mesmo tempo, Deus nunca esteve tão perto de seu filho escolhido. Pois o grito de abandono de Jesus: ” Deus meu, Deus meu, por que me abandonastes?” é uma oração. Isto significa que Deus estava oculto no coração de Jesus abandonado. Jesus naquele momento optou por Deus e não contra Deus, mas sim contra o poder do assim chamado “diabo”. Jesus libertou-se assim dos grilhões do poder negativo e maligno. A vitória de Jesus ilumina toda a vida humana. Cabe-nos agora, minha cara comunidade, tirar as consequências desta ação de Jesus, que para ele se decidiu na cruz, com relevância também para nós hoje. Aqui nos é
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indicado o caminho de nossa libertação deste poder destruidor e aniquilado, como tentador e diversificado. Nos é dada uma clara opção por intermédio de Jesus Cristo. Mesmo que sejamos experimentados continuadamente pelas circunstâncias da vida, de modo que a nossa existência esteja constantemente correndo perigos, não precisamos por em risco a sinceridade de nosso viver, conformando-nos simplesmente com constatações subjetivas: Para as obras do diabo não há saída. Há sim! Desde o momento em que o Filho de Deus veio, viu, experimentou e venceu as tentações, desde que ele nos indica os caminhos da luz, não mais precisamos permanecer nas trevas do maligno, fugindo e escusando-nos dos nossos semelhantes. Também nós devemos, na hora da tentação, optar por Deus, e repetir em oração a 7ª petição do Pai Nosso: “Não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal”. Aí Deus estará em nós mesmos e experimentaremos aquilo que o apóstolo Paulo escreve: “Deus é fiel e não permitirá que sejamos tentados além de nossas forças!” Amém.
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Isaías 6.1-13 Cara comunidade, em especial caros jovens: Hoje lemos um trecho do Antigo Testamento como base a nossa meditação. O profeta dá-nos um retrospecto de uma passagem de sua vida que o levou ao trabalho e à missão entre o povo de Israel. O profeta encontra-se no templo da cidade santa, a cidade de Jerusalém. Contempla com todos os detalhes o Santo lugar que se apresenta aos seus olhos, lugar este fechado por grossas cortinas, ao qual só o Sumo-Sacerdote tem acesso direto. À frente deste descortinado encontra-se o Trono de Altíssimo, totalmente esculpido e revestido com todo esplendor. No alto das paredes estão gravadas as enormes figuras de Serafim. Este é o quadro que o profeta contempla minuciosamente. Mas de um momento ao outro, como um toque mágico, o quadro antes imóvel é tomado de vida. O trono, antes vazio, é ocupado pelo Senhor com toda majestade e as obras de suas vestes enchem o templo. Os Serafim, há pouco apenas figuras abstratas de paredes, voam resplandecentes sob o trono do Altíssimo. Esta é a visão do profeta Isaias. O cântico dos Serafins enche o templo, tornando-se tão volumoso que o profeta tem a impressão de que os limiares do templo se movem. Os Serafins chamam uns aos outros em alta voz: “Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos; toda terra está cheia de sua glória”. Realmente, no templo em Jerusalém, o profeta experimentou a glória de Deus, por meio desta visão. Mas esta glória de Deus que se manifestou num lugar concreto, não está presa às paredes do templo, aos limites da cidade de Jerusalém, ao monte de Sinai ou às fronteiras de Israel. A glória de Deus, esta
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mesma glória de Deus manifestada ao profeta, é universal e não local. Isto nos proclamam à viva voz os Serafins em seu cântico: “Toda terra está cheia da glória de Deus”. A glória de Deus manifestou-se assim ao profeta no templo. Todo resplendor da realidade divina mostrou-se aquele homem num sinal visível e inegável a quem quer que seja. A glória de Deus não é uma ideia abstrata ou copiada de uma vã filosofia, de uma doutrina humana, ou extraída das leis implacáveis da natureza. Assim, por exemplo, têm agido muitos cientistas no correr dos séculos, os quais procurando estudar as causas de certos fenômenos da natureza, não raras vezes encontram-se à frente de enigmas insolúveis. Quando então as pessoas falham e não há uma resposta convincente, recorrem a esta formula simplificada e por demais usual: “Aqui se faz notar a majestade do Criador”. Esta inconsequência da verdade acarreta uma fé material, um reconhecimento da glória de Deus baseada num fracasso do homem pesquisador. Estes que julgam encontrar a glória de Deus nos enigmas da natureza ou do universo enganam-se, pois a manifestação da glória de Deus ao mundo não é nossa obra, mas sim, esta manifestação vem de Deus a nós homens. Assim, meus ouvintes, a glória de Deus foi manifestada a nós por intermédio de Jesus Cristo. Jesus Cristo é o sinal visível da glória de Deus no nosso meio. Ao profeta Deus se manifestou por meio de uma visão. A nós, porém, Deus manifestou sua glória por Jesus Cristo na cruz em Gólgota. Jesus Cristo entregou-se no madeiro por nós homens, para que reconhecêssemos a verdadeira e única glória de Deus. Jesus Cristo não é uma ideia abstrata que copiamos de uma doutrina filosófica ou que adquirimos de um dos múltiplos enigmas que esta imensa natureza e o cosmos nos apresentam. Só em Jesus
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Cristo, o Ressuscitado, em ninguém mais podem reconhecer a verdadeira glória de Deus. Perante a revelação da glória de Deus ao profeta, algo de muito importante se lhe evidenciou. Algo de muito particular e individual apresentou-se aos seus olhos e fez com que chegasse a um reconhecimento. Reconheceu-se pecador, afastado de Deus e clamou: “Ai de mim! Estou perdido! Os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos”. Ao primeiro momento, ouvindo esta afirmação, talvez não compreendemos o sentido exato destas palavras, pronunciadas numa ocasião muito especial e talvez única para o profeta. Talvez não damos à primeira vista o devido valor ao significado desta expressão. Mas, na verdade, estas simples e singelas palavras do profeta indicam a realidade da vida de cada ser humano. Perguntemonos, porém quais os motivos que levaram o profeta ao reconhecimento de seu estado de pecador? Não houve uma série de motivos, mas, sim, um único e essencial. Foi lhe dada uma grandeza pela qual pode facilmente, sem quaisquer quebra-cabeças ou enigmas, convencer-se e confessar-se pecador. Nestas duas afirmações: “Ai de mim! Estou perdido!” Está contida esta confissão perante a grandeza recebida que é a glória de Deus. Continuando as palavras do texto, nos deparamos de imediato com a realidade divina. Ao pecador são perdoados os pecados por uma obra exclusiva e única de Deus. Um dos Serafins voou para o profeta trazendo na mão uma brasa viva, presa na ponta de um tenaz. Com esta brasa viva tocou os lábios do profeta e disse: “A tua iniquidade foi tirada e perdoado o teu pecado”. Deus por intermédio de um Serafim aproximou-se do profeta e lhe perdoou, após o seu reconhecimento de pecador, todos seus pecados.
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A obra do perdão, meus amigos, não pertenceu de modo algum ao profeta. Foi obra única de Deus, bastando ao ser humano reconhecer e confessar-se pecador. Quantos não são os que querem reconhecer os seus pecados, criando uma grandeza própria para esta finalidade. Esta grandeza individual contém leis e regras, artigos e parágrafos que são adaptados à pessoa interessada, fundamentada nas próprias possibilidades realizadoras. Por esta grandeza de caráter pseudo-legal procuram então achar em si uma transgressão, um pecado. Finalmente, depois de pesquisar e confabular muito, encontram algo de errado. Um erro cometido deve ser afastado e castigado. O que acontece, porém, nestes casos é que, baseados em seu código particular, procuram absolver-se da falta cometida. Perante a sua grandeza própria descobrem meios de absolvição simplificados e de fácil executabilidade. Ajudam, então, a um orfanato, contribuem com uma esmola a alguém necessitado ou em forma de outros meios acessíveis. A conclusão que se chega, agindo desta maneira, pode ser bem esclarecida, usando-se para isso terminologia jurídica. O ser humano, que age desta maneira, apresenta-se primeiro como réu, pois transgrediu à sua lei própria, por cuja transgressão quer indiscutivelmente receber o devido castigo ou a isenção sumária da culpa. Necessita, porém, de um juiz. Mas somente ele conhece as leis e necessariamente tem de fazer o papel de juiz. Assim representa os papéis de réu e de juiz simultaneamente. O resultado disso sabemos de antemão, sem haver processo e julgamento: Se for declarar-se culpado, pagará uma pena suave; declarando-se inocente, o que acontecerá certamente com muito mais facilidade e frequência, estará livre,
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feliz e despreocupado. Estará livre e feliz por ter-se enganado a si mesmo por sua tabuada formal. Lamentavelmente muitos agem deste modo, mesmo que seja só no subconsciente. Pensam poder reconhecer, deste modo simplificado, o pecado em si mesmos e perdoar-se a si mesmos. A verdade e a realidade, porém, são bem outras. Só há um meio pelo qual podemos reconhecer o nosso estado de pecadores. E este único e verdadeiro meio é a glória de Deus nos manifestada pelo intermédio de Jesus Cristo. Jesus Cristo é a única e verdadeira grandeza pela qual realmente podemos reconhecer que somos pobres e miseráveis pecadores. E por que? Porque Jesus Cristo morreu por nossos pecados, salvou-nos do vale da escuridão, trazendo-nos a luz da sabedoria e da justiça divina. E é por Jesus Cristo mesmo que nos serão perdoados os pecados. É este perdão a graça de Deus, que por intermédio de Jesus Cristo recebemos diariamente. Não alcançamos este perdão por nossas obras, por nossos merecimentos, por nossas benevolências. O perdão é a obra única de Deus por meio de Jesus Cristo. E este perdão vem a nós também por sinais visíveis e eficientes. É pela palavra de Deus, pelos Sacramentos que alcançamos a graça de Deus e o perdão. Pela palavra de Deus, pelos Sacramentos instituídos por Jesus Cristo recebemos verdadeiramente, sem distinção o perdão dos nossos pecados. Esta sim, e nenhuma outra, é a realidade divina. O profeta ao receber a graça de Deus, atende sem quaisquer reflexões ao chamado que lhe é dirigido: “A quem enviarei, e quem há de ir por nós? A resposta foi imediata: ” Eis-me aqui, envia-me a mim “.
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O profeta recebe a mensagem que deve ser anunciada ao povo de Israel: “Vai, e dize a este povo: Ouvi, ouvi e não entendais, vede, vede, mas não percebais. Torna insensível o coração deste povo, endurece-lhe o ouvido, e fecha-lhe o olho para que não venha ele a ver com os olhos, a ouvir com os ouvidos e a entender com o coração e se converta e seja salvo. E isto até que seja grande o desamparo no meio da terra. Mas se ainda ficar a décima parte dela tornará a destruída. Como terebinto e como carvalho, dos quais depois de derrubados, ainda fica o toco, assim a santa semente é o seu toco.” Esta, caros ouvintes, é a mensagem que o profeta recebeu para ser anunciada ao povo. É a mensagem da perdição de um povo de lábios impuros, é a mensagem de um juízo. É a promissão de obstinação e endurecimento ao povo, o qual não poderá ouvir, nem ver, a fim de não se converter e ser salvo. As possibilidades de o povo reconhecer o seu afastamento gradativo de Deus são praticamente nulas. O povo está sob o jugo do juízo. Este pronunciamento, porém, não só traz consigo o anúncio da destruição. O profeta pode indicar a salvação de uma pequena parte de povo julgado, da qual uma nova fonte de vida brotará. É a nova vida do povo de Israel. Mas, devemo-nos perguntar nesta altura meditação: quem traz a nós agora a mensagem e qual é a mensagem? Encontramo-nos na mesma situação do povo de Israel no tempo da morte do rei Usias? Deus agiu naquela época por meio de um ser humano, ao qual ordenou anunciar uma mensagem. Mas a nós a mensagem de Deus atinge de uma maneira muito diferente. Não é por meio de um simples ser humano que nos vem a mensagem divina. Deus na época do profeta Isaias agiu de um modo muito
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diferente do que age agora. Deus não se revela a nós por meio de um profeta, mas revela-se a nós por meio de Jesus Cristo, seu Filho amado. Deus mesmo está em Jesus Cristo, que é a glória divina. Jesus Cristo traz-nos a mensagem do Evangelho, da Salvação de todos os homens. Algo de novo tem conosco. Uma nova ordem de causas adveio a nós, uma nova vida, sob aspectos bem diferentes. Façamos uso do mesmo exemplo que o texto nos dá. Do carvalho derrubado ainda resta um toco. Deste toco uma nova vida surge, um novo carvalho, completamente diferente, sob nova forma. Assim Jesus Cristo é o toco, é a semente santa, é o rebento que saiu do tronco de Jesus. Criou uma nova ordem de coisas, que nos libertou do jugo do pecado, que nos trouxe a salvação. O pecado foi derrubado e agora não vivemos mais debaixo do jugo do pecado, nem da lei, mas vivemos sob a graça de Deus, que nos é revelada por Jesus Cristo, nosso Salvador. Essa nova ordem de coisas é a graça do Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos governa e governará para sempre. O jugo do pecado não mais pesa sobre nós, nem a lei, mas unicamente a graça de Jesus Cristo. Caros jovens, cara comunidade! Esta mensagem da graça de Deus deve-nos acompanhar sempre e devemos nunca esquecer de que ao nosso redor, em nosso trabalho, onde quer que seja, muitos há que não conhecem esta mensagem. Sejamos verdadeiros colaboradores da Igreja de Jesus Cristo e também anunciemos esta mensagem de Salvação aos nossos próximos, aqueles que nos rodeiam. Igualmente não esqueçamos o que o apóstolo Paulo escreveu aos Romanos:
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“O pecado não terá domínio sobre vós, pois não estais debaixo da lei, e sim, da graça”. Amem. Oremos: Pai de Nosso Jesus Cristo. Perante tua glória, nos manifestada por teu Filho amado, reconhecemos que somos pecadores. Mas por tua benigna graça perdoa nossas transgressões. Por isso viemos a Ti humildemente agradecer e pedir que abençoes a todos homens com tua graça ilimitada. Amém.
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A graça O amor E a comunhão. Mateus 16.21 -27 Não faz muito tempo li num dos jornais de nossa capital uma interessante estatística. Esta estatística comprovava por meio de comparações que durante o último decênio as horas de trabalho de 80% das profissões oficializadas por lei haviam diminuído cerca de 20 a 30%. Isto significa que uma margem enorme de pessoas durante estes últimos dez anos tem mais tempo livre à sua disposição numa média que varia de 2 a 3 horas por dia. Estes dados fizeram com que eu chegasse à seguinte reflexão: Se estes dados realmente são verdadeiros e coincidem com a situação atual, o homem brasileiro em sua grande parte, deve ter mais tempo para a sua vida íntima, para a sua família, para os seus hobbies, para seus amigos, para seus divertimentos e porque não teria também mais tempo para a meditação sobre as coisas da vida, e isto não apenas superficialmente, mas com toda sinceridade, com toda expressão, com toda consequência. Não nos iludamos, porém, pois se a pergunta “quantos de nós meditamos consequentemente sobre o sentido e o alvo verdadeiro da vida” tivesse que ser respondida sinceramente por todos nós, poucos, pouquíssimos já se ocuparam com ela. “Que aproveitará o homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua vida”, diz Jesus Cristo. Meditação é, em primeiro lugar, um chamado inequívoco para a lucidez, isto é, para um confronto claro e penetrante daquilo que existe, daquilo que acontece ou aconteceu.
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Todos nós nos lembramos dos acontecimentos e dos jeitos humanos ao que concerne às grandes explorações espaciais dos últimos anos. Ninguém poderá duvidar que isto são vitórias incalculáveis da humanidade. Todos nós participamos destes feitos da ciência e do progresso humano. Mas se pensarmos e refletirmos bem, as explorações espaciais pertencem apenas a um ínfimo grupo de seres humanos que se dedicam exclusivamente neste estudo, neste trabalho. A nossa real participação nisto tudo apenas é pelo estimulo, é pela alegria em ver esta realização. O homem sempre almejou e sempre almejara os progressos e os realizara também. Todos nós desejamos progredir, alcançar a realização de nossos desejos. Mas será que com a obtenção de progressos científicos estamos realmente satisfeitos? Isto deve reconhecer: nada, mesmo nada neste mundo nos leva a uma satisfação de nossos desejos. Continuamos os velhos insatisfeitos, continuamos a ser os mesmos. “Que aproveitará o homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua vida” é uma palavra que contém uma grande verdade, uma verdade incontestável. Mas nós não gostamos de ouvi-la, quanto mais meditar sobre ela com toda consequência. “Tenho que morrer”. Esta afirmação é tão odiada por nós, a tal ponto que a retiramos de nosso vocabulário comum, que a renegamos a um plano inferior. Costumamos calcular com todas as probabilidades de insegurança em nossa vida. Chegamos ao ponto de construir ao nosso redor um aparelho de segurança fantástico, onde tudo está previsto, menos a nossa morte, o nosso fim. Por isto estes nossos cálculos, estes nossos aparelhos de segurança são duvidosos e incertos. Pois a morte coloca todo nosso modo de ser, de existir, de viver sob o signo da dúvida e da incerteza. Daí deveriam aprender a
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refletir melhor sobre a vida, sobre a nossa vida, pois a morte não nos põe a frente de uma escolha, mas é um traço final em nossa existência. A este traço final se seguirá o dia da responsabilidade, se assim podermos chamar o dia do qual o texto de hoje nos pode falar: “O filho do homem há de vir na glória de seu pai, com os seus anjos e então retribuirá a cada um conforme as suas obras”. Ninguém de nós, nenhuma criatura humana só, poderá negar esta relação existente em nossa vida: a morte. Igualmente ninguém poderá desconhecer o dia da responsabilidade que advirá com a vinda de Jesus Cristo, quando a cada um será retribuído conforme as suas obras durante a vida. O texto nos fala de retribuição àquilo que fazemos em nossa vida. Indubitavelmente muitos são os que querem perante uma afirmação como estas “retribuições a cada um conforme suas obras” vangloriar-se de sua ação. Apresenta–se perante os outros como pessoas de bem, como colaboradores de obras sociais, como mantenedores de hospitais, asilos de velhos. Querem-se realçar por suas obras puramente sugestivas e humanas. Ninguém duvidará de sua ação. Mas do “como” de sua obra, do verdadeiro “sentido” da causa. Jamais precisarei esperar uma retribuição por parte de Deus de uma obra de mim realizada, quando destinei uma soma a uma entidade caritativa, sabendo, porém, que juntando as provas aos documentos da delegacia de imposto de renda, isto seria descontado. Meus amigos, isto não é obra cristã. Isto é imoral. Isto é querer arregimentar para si um modo pelo qual vencer o medo da morte, o medo do dia, em que será chamado à responsabilidade. A estes vale a palavra de Jesus Cristo: “Quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á”.
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Na verdade Deus julga o homem por intermédio de uma relação muito diversa e diferente da nossa. Deus nos deu um caminho, deu-nos uma forma segura de encaminharmo-nos a retribuição de nossas obras, obras estas que advém não de nós, mas que refletem aquilo que recebemos. Este caminho, esta forma é nos dada por Jesus Cristo mesmo por seu chamado claro e sempre evidente: “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me”. É a afirmativa continua e diz: “Pois quem perder a sua vida por minha causa, acha-la-á”. Exatamente, segundo o Cristo, nós alcançaremos a retribuição certa e exata de nossas obras, pois devemos imitar ao Senhor, tomar a nossa cruz, negando-nos a nós mesmos, negando as nossas pretensões, os nossos desejos, a nossa causa particular. Negar a si mesmo, meus irmãos é perguntar pela vontade de Deus, não pela nossa vontade. Por que será que a palavra “cruz” tanto nos irrita, tanto nos choca? Por um só motivo: porque queremos deixar de lado os nossos sentimentos humanos, porque não queremos nos preocupar com a seriedade da causa de Deus, porque não queremos ser verdadeiros servos de Deus, porque temos medo de tornarmo-nos motivo de escândalo para os que nos cercam. É duro ouvir isto, é duro aceitarmos tal conveniência dos fatos. Ao ser iniciado mais uma vez o tempo da Paixão, tempo este em que o acontecimento da cruz é realçado no seio da cristandade, somos nós chamados a carregar a nossa cruz. Negar-se a carregar a nossa cruz, deixando de imitar assim a Cristo mesmo, estaremos não só negando a Jesus Cristo mesmo, mas estaremos também negando o reconhecimento da morte e a seriedade de nossa vida. Só pode haver um sentido verdadeiro em nossa vida, do momento em que renunciamos 280
ao nosso egocentrismo, isto é, aos desejos e impulsos pessoais, e de maneira enfática nos voltemos à vontade de Deus. Mas como devemos fazê-lo? Ninguém deverá esperar aqui dez regras de um comprovante seguro para atingir o alvo desejado. O que devemos saber e fazer são: vencer a si mesmo. Evidenciar claramente por seus atos ser um servo ou uma serva de Cristo. Cultivar o amor para com os outros, este amor que não deseja nada para si. Amparar por causa da fé recebida de Cristo aqueles que necessitam de nós, mesmo que isto nos custe trabalho, tempo e dinheiro. Colaborar no seio da comunidade nas múltiplas missões da Igreja. Levar a mensagem do Evangelho da Salvação aos que dele necessitam, confessar pública e abertamente ser cristão, agir como um cristão, desafiar o mundo com galhardia. Resumindo: devemos em todos nossos atos e em todas nossas ações fazer tudo não por nossa causa, mas pela causa de Jesus Cristo. Agir de tal modo no mundo que as nossas obras não sejam nossas, mas sim obras de Jesus Cristo por nosso intermédio. Ao alcançarmos isto, aí, sim, poderão compreender as palavras que nos são dirigidas hoje. Aí se compreende que a cruz a qual carregamos é apenas um fardo leve e suave, e o galardão e a vitória são de Deus. Que Deus nosso Pai ajude a todos nós a reconhecer o verdadeiro sentido de nossa vida, para que possamos carregar a nossa cruz com alegria, com satisfação! Que assim seja. Amém.
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Lucas 6.37-38 Cara comunidade: “Não julgueis e não sereis julgados”. – Sem dúvida alguma, esta expressão pertence às principais e fundamentais palavras da ética cristã, isto é, à própria vida do cristão. Igualmente esta palavra do Senhor é compreendida com muita facilidade, pois deve ser opinião formada de que ninguém gosta de ser julgado. De modo semelhante estamos convictos de que ninguém tem o direito de se sobrepor aos outros. Pois, enfim, somos todos iguais e todos apenas temos um telhado de vidro, e todos temos lá nossos defeitos, nossos erros, enfim, somos todos contraditórios. Todavia, basta afirmar que, em última análise, somos todos iguais, para que se levante uma onda de protestos, protestos de silêncio, protestos em forma de canções, protestos em forma de exemplos – veja aquele é um verdadeiro santo, protestos em forma de sentença e assim por diante. E, no entanto, “não julgueis”. Como também desejamos constituir a nossa vida, sempre estamos incorrendo no perigo de impormos os nossos princípios aos outros, esquecendo-se de constituir os nossos próprios passos pelos mesmos. Conosco acontece o mesmo que com aquele pai ao recomendar ao seu filho: “Faça aquilo que eu mando, mas não faça o que eu faço”. Porém, o importante nestes protestos todos, bem como, em todas as recomendações mesmo quando nos certificamos da impossibilidade de seguirmos o princípio de não julgar os outros – a palavra “não julgueis e não serão julgados” continua
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de pé. Ela continua tendo valor, mesmo contra a voz da experiência. Existe, sim, a pergunta no ar do significado exato do termo ”julgar”. Talvez este esclarecimento nos ajude um passo à frente. Em primeiro lugar, deve ser dito que nenhum homem tem o direito de tomar o lugar de Deus. Não existe “juízo final” criado ou falsificado nas mãos humanas. Melhor dito: pelo menos não deveria existir. Não é concedido ao homem o direito de “julgar definitivamente”. Isto está nas mãos de Deus. Porém, sabemos pela história da humanidade que houve muitos julgamentos definitivos feitos pelos homens que em nossos dias são motivos de revisionismo. Nem sempre o julgamento humano é justo e objetivo e por este mesmo motivo ele jamais é definitivo. Julgar não é sanear um mal, nem mesmo se presta a sanar os defeitos dos homens, e, muito menos, valoriza o homem. Em segundo lugar, é preciso salientar que julgar não é opinar. É sabido que a vida moderna exige que o homem tenha opinião formada, pois, do contrário, ele nada mais é que uma pedra que se deixa movimentar ao bel prazer. Sem opinião não se pode viver. Devemos sempre ter uma opinião formada a respeito das coisas que nos cercam e que de nós são exigidas. E neste plano de opiniões também se encontram os homens, aquelas criaturas humanas que nos cercam. Na realidade – jamais fujamos dela – descobrimos que a própria sociedade em que se vive, nada mais é que “uma rede de opiniões”, opiniões as mais diversificadas, as mais contraditórias – o que nem sempre é ideal. Mas “cada cabeça sua sentença”. Somos indivíduos, somos cada um mundo para si, todavia, mundo dependente de outro mundo, jamais auto-suficiente. E por causa, desta nossa insuficiência é preciso completarmo-nos nas relações com os outros. – O 283
matrimônio é fruto desta necessidade; a vida social do homem deseja ajudá-lo em suas relações, a comunidade cristã tem por objetivo alicerçar, fundamentar o homem para uma relação conscienciosa com seus semelhantes. – Esta necessidade imperiosa de nos complementarmos na nossa relação com os outros exige de cada um de nós mutuamente, igualmente exige que saibamos o valor de cada um dos que nos cercam. Por isto ao formarmos nossa opinião somos capazes de expressar nossos pensamentos a respeito deste e daquele, somos sempre conduzidos pela simpatia e pela antipatia dos nossos semelhantes. Isto é, nós opinamos a respeito dos outros, os outros expressam sua opinião a respeito de nós. Esta ação tão humana ainda não chega a ser “um julgamento definitivo”. Porém jamais nós podemos esquecer que ter opinião a respeito do outrem ainda não é julgar ou condenar. Todavia existe um limite, limite no qual a opinião é um julgamento, é uma condenação. No mundo de Jesus este limite sempre de novo era comumente ultrapassado. Não existia o mínimo de tolerância para com aqueles que não se deixavam conduzir como “cordeiros ao matadouro”. Aquele que não seguia as prescrições era julgado definitivamente, era condenado ao ostracismo, ao esquecimento. Julgar significava no tempo de Jesus cortar todas as relações com aqueles que não seguiam a cartilha doutrinária dos judeus, ou melhor, das cúpulas dos judeus – os fariseus e sacerdotes. O julgado, o condenado era expulso, era cortado da comunhão, da comunidade, enfim um excluído. O excluído é um morto vivo. Ele pode continuar vivendo para si, não para os outros. Consequência: Todas as possibilidades de retorno, de arrependimento, todas as chances de recuperação estavam cortadas definitivamente. A estes Jesus dirigiu estas palavras:
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“Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados”. Mas sejamos sinceros conosco mesmos: Não fazemos o mesmo hoje? Por acaso o mundo que se diz moderno, e evoluído, civilizado, informado, não age como dantes agiram os fariseus e sacerdotes? Não é assim que o mundo julga definitivamente aqueles que não concordam com certos princípios? Não somos nós mesmos que julgamos e condenamos os outros definitivamente quando as suas expressões, as suas opiniões passam pelo caminho? Nas raras vezes afastamos para sempre pessoas de nossas relações, não lhes dando possibilidades nem meios de reintegração? Contra estes fatos Jesus se rebelou em seu tempo, contra esta situação a sua mensagem se volta nos nossos dias. Não temos o direito de julgar e condenar definitivamente os outros. Não nos cabe afirmar: “Este ou esta estão mortos para mim!”. “Com aquele não quero mais conversa”. Sim, não julgueis e não sereis julgados. Pois o feitiço pode voltar ao feiticeiro. E daí estaremos nós na triste e desolada situação. Todos os caminhos nos estarão cortados. Que faremos então de nossa insuficiência, de nossa dependência, se não somos autosuficientes, nem mesmo independentes? É fácil apontar a culpa, os erros, os defeitos os outros. É fácil desclassificar os outros, diminuí-los, afastá-los de nossa vida. Com isto não solucionamos nada, nem mesmo nada de positivo realizamos. O senhor também não permaneceu apenas na crítica – não julgueis, não condeneis – mas apontou o caminho que podemos e que nos cabe ir: “perdoai e sereis perdoados; daí e dar-se-vos-
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á boa medida, transbordante, generosamente vos darão; porque com a medida com que tiverdes medido vos medirão também”. A atitude do cristão no mundo não é a de julgar e condenar o mundo em que vive. Cabe-lhe o direito de apontar os erros, os defeitos, os males, mas é o seu dever de dar solução aos problemas, de dar de si o que pode e tem, de oferecer os caminhos e os meios para que ninguém seja excluído da comunhão que ele necessita. Cabe ao cristão, em nome e baseado no exemplo de Cristo, ser no mundo em que vive uma luz clara capaz de iluminar o caminho dos outros. Lembremo-nos sempre de que Jesus Cristo não veio para julgar o mundo, mas para salvá-lo, para erguê-lo, para humanizá-lo, tirando-o do ódio, da injustiça, da incompreensão, das lutas entre irmãos, das guerras entre os povos. Amém.
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Lucas 2.10-12 Cara comunidade: Novamente temos a felicidade e a alegria de festejarmos o Natal. Mais uma vez a tão tradicional, mas sempre bela história de Natal é por nós relembrada e reavaliada. Uma palavra, porém, acima de todas sempre nos deve impressionar: “encontrareis uma criança envolta em faixas e deitada numa manjedoura!” Após ouvirem estas palavras simples, pastores que estavam cumprindo seus afazeres mutuamente resolveram: “Vamos até Belém e vejamos os acontecimentos que o Senhor nos deu a conhecer!” Seguiram o caminho de Belém à procura do que lhes foi anunciado. Finalmente acharam: uma criança envolta em fraldas, deitada em numa manjedoura! Este foi o quadro que acharam. Realmente é preciso nos perguntar perante este relato: Como puderam os simples pastores dobrar seus joelhos perante tão pitoresca situação: uma criança numa estrebaria? Como é possível que após quase 2000 anos cristãos de todo mundo festejam com pompa e alegria este dia de Natal? Como pode o grande reformador D. Martinho Lutero afirmar deste acontecimento: “A luz eterna ali tomou morada e dá ao mundo uma nova luz, luz límpida para iluminar os pés de toda humanidade”. Em suma todos nós sabemos o que esta criança significou e ainda significa para o mundo. Deixou sua comodidade familiar 287
e se lançou entre os homens com suas palavras e ações, anunciando a grande mensagem: o eterno Deus, o qual não achais de si próprios, vem ao vosso encontro. Ele vem a vós não como Juiz que vos castiga e desconhece, mas Ele vos procura como Pai. Deus vos quer ser um Pai misericordioso, isto a cada um pessoalmente em seu tempo e na eternidade. Com esta talvez tão ingênua e simples mensagem - o menino de Belém tornou-se o Salvador. Nele nos cabe descobrir aquele que em nome do Criador vem humanizar a humanidade, nem lhe trazendo durante 2000 anos uma mensagem de renovação, de renovação aos homens desfeitos quaisquer laços de sangue, cor ou nacionalidade. Isto de certa forma é o singular e mesmo curioso nesta criança: nasceu em terras estranhas. Ele diretamente não tinha terra natal jurídica como cada um de nós. Na realidade ele não pertenceu a Belém. Quando nasceu seus pais haviam acabado de participar do grande recenseamento romano. Havia passado. O nome “Jesus” não existia em nenhuma lista de recenseamento. Esta criança não tinha pátria. Era, em suma, uma criança livre de quaisquer preconceitos. Era livre. Perante todos os fundadores e criadores das religiões mundiais, Jesus Cristo era diferente e continua sendo diferente. Mohamed o fundador do Islamismo – era árabe e em tudo que fazia e realizava, ele era uma árabe para os árabes. Buddha o criador do Buddhismo era natural da Índia. Cada templo Budhista demonstra claramente que Buda sempre foi um asiático para os asiáticos. Jesus, porém, não permaneceu sendo um Israelita para os israelitas, mas se tornou um samaritano para os samaritanos, um humano aos humanos, um grego aos gregos. A sua mensagem pertenceu e continua pertencendo à humanidade.
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Pois Jesus Cristo sobe a um monte, iniciando sua pregação ministerial: “Felizes os humildes de espírito, Porque deles é o reino dos céus”. “Felizes os que sofrem, porque serão consolados”. “Felizes os de boa mente porque alcançarão a misericórdia”. “Felizes os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus”.
Quando e onde estas palavras são ouvidas, ali elas também são entendidas e vividas. Isto se entende em qualquer lugar, na cidade ou no campo, na fábrica ou no banco escolar, no Brasil ou em Portugal, enfim, em todos os continentes. Parábola do Bom Samaritano. Parábola do Semeador. Parábola do Filho Pródigo – relação Deus ~ homens. A nossa própria vida é a demonstração de que entendemos as palavras do Senhor. Infância ~ Adulto. Jesus Cristo é o mensageiro de Deus para todo o mundo. Não se tornou mensageiro de Deus no decorrer de sua vida.
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Também não se sentiu vocacionado a uma vida ser o Salvador. Ele nasceu como tal: mensageiro de Deus e Salvador dos homens. Por isto se inicia com o nascimento de Jesus uma nova era no mundo. “Achareis a criança envolta em fraldas e deitado numa tosca manjedoura”. Uma criança deitada numa tosca manjedoura – meio a um mundo que nada queria ter com o menino. Se realmente na hospedaria não houvesse um lugarzinho para a criança e Maria, onde houvesse calor e abrigo, isto não sabe. Sabemos que apenas lhes sobrou a estrebaria, a hospedaria dos animais. Mas de qualquer modo podemos imaginar o movimento da hospedaria: homens e mulheres entrando e saindo. Certamente estavam informados daquilo que havia acontecido na hospedaria – nasceu uma criança. A mulher da hospedaria deve ter contado à hospede, esta contou a seu marido e a noticia correu. Mas ninguém se importunou. Aliás, uma criança vir ao mundo não é raridade. Talvez até não era tão incomum alguém nascer numa estrearia. Do outro lado: crianças são importunas numa hospedagem. Ninguém quer ouvir o choro de uma inocente criança. Incomoda. A gente quer descansar e dormir. Sim, assim acontece a esta criança quando nasceu. De certo modo assim continuou em sua vida. Ninguém queria ser importunado por Jesus. É difícil se compreender como esta criatura – que possuía a chave de Deus em suas mãos, o mensageiro de Deus – quase sempre foi alvo de inimizades e mal-entendidos. Triste, mas é verdade. Na sua morte então se resumia num grito alucinante: acabem com Ele! Fora com Jesus! Os altos dignitários do templo em Jerusalém lhe impuseram a
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pena e morte. O povo, que dias antes proclamaram-no como rei nas ruas de Jerusalém, pediam em altas vozes: “crucifica-o!” Os discípulos, Pôncio Pilatos, sela a sua morte e o manda ao Calvário. Tudo isto aconteceu. Não por ter Ele diretamente atingido até a âmago as criaturas humanas, nem por suas palavras eloquentes, nem por suas obras. Tudo isto aconteceu e continua acontecendo pelo fato da criatura humana não suportar a verdade que vê de Deus. A criatura humana sente-se apenas realizada quando vê confirmada que é de bom coração e que o mundo seria melhor se todos fossem iguais a ela. Mas quando é preciso ser dito que muita coisa deveria mudar em sua vida para que à vontade de Deus realmente fosse revelada no mundo conturbado de hoje. Foi por causa das verdades que Jesus se viu obrigado a dizer o seu caminho foi tão espinhoso. Mas, cara comunidade, apesar do caminho espinhoso que como cristãos trilhamos, cabe-nos o privilégio, a honra desmedida, de anunciar no mundo de hoje, com toda sua problemática, que Deus é um Deus de paz, o Deus do perdão, do amor e da luz. Também nesta noite memorável, apesar de todas tristezas, apesar da chuva que enlutou lares, que trouxe consigo angústias tremendas em muitas famílias, apesar de tudo isto, vale o anuncio: “Glória a Deus nas maiores alturas e paz na terra entre os homens a quem Ele quer bem!” Os pastores de Belém procuraram na noite escura. Eles sabiam o que deveriam buscar. E eles acharam! Também no mundo de hoje há muitas manchas escuras. Escuridão sobre o Presente o sobre o Futuro. Muito se procura nos nossos tempos, mas poucas soluções têm infelizmente sido 291
achadas. Por que? Porque os homens esqueceram a quem e o que procuram. Todavia neste Natal mais uma vez nos é dado proclamar que uma luz ilumina o mundo. É a luz da estrebaria de Belém, a luz eterna que o Criador colocou no nosso meio para despertar os corações humanos, a fim de que esta paz do Natal não se extinga nem se apague na segunda-feira, mas que continue viva e cada vez mais resplandecente. Se cada lar cristão irradiar esta luz no seu meio ambiente, nos quatro cantos da cidade, trará mais paz aos aflitos, aos entristecidos, trará amor e esperança. Por isto, unidos e solitários, procuremos e acharemos. Procuremos e acharemos paz no espírito, luz para o nosso caminho e a certeza de que Deus nos tem abençoado em Jesus Cristo. Feliz Natal!
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15. Domingo após Trindade Atos dos Apóstolos 16.30-31 Cara comunidade: Quem dentre nós se preocupa fundamentalmente com as questões de nosso tempo. Pelo menos se espera de toda pessoa responsável que procure uma resposta às perguntas que dia a dia nos perseguem. Como nunca dantes o momento histórico que vive exige de cada um uma “tomada de posição”. As indecisões geram frutos de grande insatisfação, motivo de grande intranquilidade. Todos de certa maneira, uns mais, outros menos, se desdobram no sentido de compreender e de solucionar os enigmas que vão se assomando. Todos desejam encontrar um objetivo para o seu viver, para a sua existência e, ninguém deveria dormir sossegado e descansado, enquanto não decifrar este enigma que é a nossa própria vida. Mas, infelizmente, preocupados que estamos, ou ouvimos talvez, quem sabe cansados de procurar respostas às nossas perguntas, sempre nos afastamos de uma problemática vital, ponto de partida para determinadas soluções pessoais de cada um de nós. Por mais fantasioso, e mesmo, inacreditável, deste ponto de partida depende, não raras vezes, a nossa segurança, a nossa alegria e o nosso prazer, mesmo a paz, tão desvanecida e desaparecida do nosso tempo de viver. Ou será que nos satisfazemos com o nosso tempo de viver? Como tempo de viver deve-se entender a margem que vai de nosso nascimento, pelo ser criança, jovem, finalmente adulto e depois de ser velho! Esta margem de viver, este amadurecer biológico e psíquico é inevitável. E por ser inevitável, vamos acompanhando o ritmo que as circunstâncias nos impõe: isto é, viver o dia a dia, ir crescendo com o mesmo, levantando-se, caindo-se, até que então, previsível ou imprevisivelmente chegue o nosso fim. 293
Será que isto nos satisfaz? Basta apenas “viver” como os outros, igual aos outros? Para quem se sente feliz e satisfeito com a vida que vai levando, igual aos outros, sem preocupações, sem se incomodar com nada, certamente não necessita de um ponto de partida, não precisa de um sentido para a sua existência. Jamais se preocuparia com a pergunta feita pelo carcereiro: “Que devo fazer para ser salvo?” Certo é que quem assim pergunta deve estar sob a ação de um grande impacto emocional. Algo desnorteante, incomum, desfavorável, uma grande insegurança. A luta de consciência só nos poderá levar a uma pergunta assim. Só quando eu me sinto perdido, deslocado, sozinho, quando tudo parece se transformar é que sinto a necessidade de alguém me salvar, de alguém ou de alguma coisa capaz de me indicar um rumo, dar-me uma orientação, ser na verdade um esteio. Só quando escurece em minha volta é que procuro por uma luz capaz de orientar. Feliz é aquele que, num momento assim, descobre uma boa alma pronta a lhe ajudar, alguém disposto a ouvir, pronto a carregar conosco a grande cruz. Todavia, nem sempre encontramos tais criaturas, bondosas e caridosas. A luta continua... Aí talvez é chegado o momento fatal, a grande decisão de se perguntar por Deus. Já vi pessoas que nada queriam saber de Deus, negavam a sua existência, não aceitando o fato de sua manifestação durante os séculos; simplesmente, não existe, não há, é invenção do homem, é pura imaginação. E, no entanto, quando colocados perante um fato concreto e pessoal, quando atingidos no seu ser mais íntimo e pessoal, na manifestação de uma dor e de seu sofrimento, eram capazes, não só pronunciar
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o nome de Deus, como suplicar ajuda, compreensão, chamando por “salvação”. MAS ONDE ENCONTRAR DEUS? Em nós mesmos – Muitos acham que Deus está em si mesmos. Deus se coaduna com seu modo de pensar, de agir, de ser. Filosofia. Na natureza – Por que não? Ela nos dá sinais profundos de sua existência. Natureza, todavia, é algo impessoal, frio, não possui calor íntimo. Na ciência – muitos são os que descobrem Deus pela ciência, pois em última análise ciência é o descobrir, o catalogar das grandes manifestações da Criação. A ciência não é inventiva, mas é o abrir-se, o revelar-se do que existe. São caminhos – mas que não sucessivamente envolvem a manifestação profunda de Deus. Porque toda e qualquer manifestação, seja ela humana ou divina, ela precisa, ela necessita de um fluxo de contato, de informação: - palavra, comunicações faladas, explicativas e convincentes, praticáveis no nosso viver. Não é um simples encontro, mas é o falar, a comunicação por palavras. E daí onde encontrar a Deus? O apóstolo tem uma resposta que ao primeiro momento parece simplista, para não se dizer em termos de hoje, tão largamente difundidos, demagógica: Jesus Cristo. Mas não é só o apóstolo que assim responde: os diversos autores dos vários livros de Novo Testamento, de caráter e personalidade diferentes, dão o mesmo testemunho a uma só vez: Jesus Cristo. Jesus Cristo é este que nos foi apresentado como sendo o portador da verdade provinda de Deus. Viveu num momento
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histórico inolvidável e indiscutível. Fez parte integrante de uma humanidade da qual hoje somos uma decorrência clara e definitiva. Encontrou-se com criaturas humanas, homens, mulheres e crianças, como nós. Pela palavra falada falou àquelas criaturas humanas sobre o profundo quilate da verdadeira existência humana substanciada pelo relacionamento do amor. Confirmou não só em palavras, mas em ações definitivas, que não se sentia jamais enviado no sentido de destruir, de julgar definitivamente, de prejudicar ou de maldizer, a raça humana, mas veio para servir, para buscar o que estava perdido, para soerguer, para humanizar a existência humana, enfim, para salvar, para dar concretamente os caminhos da renovação da existência de todo aquele crê, todo aquele que tem profunda fé, nele, Cristo Jesus. Testemunhas deste fato, ocorrido na humanidade de um determinado tempo histórico, deram a si o trabalho de colocar estas palavras em velhos pergaminhos, não no fito de se tornarem a si famosos, mas com o objetivo de gerações sem fim da mesma humanidade não apenas tomassem conhecimento de Jesus Cristo, mas pudessem igualmente concretizar em sua existência a determinação de que ali está aquele que é capaz de nos dar um sentido profundo no nosso viver. E para que arraiguemos para nós este profundo sentido de viver, opera também entre nós o poder para que nós hoje possamos crer, possamos confessar a nossa fé em Cristo Jesus. Mas aqui se infiltra a crítica imorredoura dos nossos semelhantes e circunstantes: vocês com sua fé! Será que não existe nada melhor neste mundo que possa orientar a vida além desta fé, neste mito Jesus Cristo? Será que vocês apenas conhecem esta música de “uma nota só” – Jesus Cristo?
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Para sermos sinceros, respondemos afirmativamente: realmente, caros irmãos, nossos semelhantes em Cristo, não conhecem nada que possa operar tão grandes transformações em nossa vida como a fé em Cristo Jesus. Esta crítica, não poucas vezes, é fruto simples da completa falta de conhecimento da causa de Jesus Cristo e, não raras vezes, fruto de nossa omissão em não termos coragem e convicção de confessarmos que Cristo Jesus é realmente o nosso Salvador, o Caminho e a Verdade da Vida que nos conduz a Deus. Um estudante de Filosofia escreveu um ensaio contra a fé cristã com o objetivo de tomar uma posição definitiva contra os colegas cristãos. Resultado: o ensaio filosófico estava premiado de tão graves erros, frutos do tão comum “ouvir falar”. Não se deu por vencido e decidiu-se buscar as informações “in fontis”. Este Novo Testamento está cheio de comentários às margens, onde determinadas passagens estavam sublinhadas. Não escreveu um segundo ensaio contra a fé cristã. Hoje como professor de física e química numa Faculdade brasileira inicia as suas aulas escrevendo no quadro negro um versículo do Novo Testamento, sobre o qual tece certos comentários e é admirado por todos estudantes. Meus caros amigos: não é por simples casualidade que no nosso texto de hoje estão escritas as palavras: Crê no Senhor Jesus! Este é ponto essencial do qual devemos partir para o nosso viver sincero e objetivo do nosso dia a dia. Jesus Cristo tem de ser o nosso Senhor, ao qual estamos dispostos a servir integralmente, ao qual confiamos completamente, perante o qual nos dispomos a caminhar sempre em frente, aceitando os desafios de nosso mundo e de nossos semelhantes. Este “Crê em Jesus Cristo!” não é um simples “acompanhar os outros”, ou fazer e orar aquilo que os outros simplesmente fazem e falam, 297
nem o repetir de fórmulas tradicionais, nem o fingir que se é alguma coisa, e, no entanto, não se o é. Bem ao contrário: este crer no Senhor é muito mais rico, muito mais profundo, tornando-se uma causa de todo nosso ser, de todo nosso entendimento, de toda nossa vontade, autenticidade. Só é possível quando nos sentimos ramos da videira – organicamente formando uma unidade com Cristo pelo elemento básico de nossa total compreensão: a palavra. – Não apenas um meio, ou um veicula de comunicação. Mas palavra de Cristo é a força motriz, por qual nossas ações, atitudes, palavras evidenciem o nosso ser, como crentes e tementes a Deus. Quando formos capazes, de assim como somos, com alegria e abnegação, com todo corpo e todas as energias, entregar-nos ao Senhor, confiar plenamente nele e em suas palavras, então estaremos plenamente integrados no seu plano de salvação. Só Jesus Cristo é capaz e nos pode dar a eterna fonte da esperança e da paz! Por isto, caro irmão e irmã em Cristo, aceitem o chamado: “Crê no Senhor Jesus, e serás salvo, tu e tua casa”. Amém.
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Dia de ação de graças pela colheita. Rio Claro – Ferraz
Salmo 34.8: “Provai, e vede que o Senhor é bom!” Cara comunidade: Esta curta palavra: “provai, e vede que o Senhor é bom” deseja simbolizar o sentido profundo desta hora, deste momento de ação de graças pela colheita. Aí temos à nossa frente os frutos dos campos, bem como os seus produtos manufaturados e industrializados. Para este dia de ação de graças pela colheita, as dádivas da terra promissora, as batatas, as verduras, as laranjas, a mandioca, o milho, o café, vem até a esta casa dedicada ao Criador e, elas mesmas, é que hoje nos falam, dirigem-se diretamente a nós. O ano inteiro, isto é fato, os frutos dos campos aqui se acham representados pelas flores que enfeitam o altar, a mesa de Deus. Mas no domingo dedicado à colheita, os frutos comparecem pessoalmente e, em última análise, são a própria pregação e o próprio anúncio do culto divino. Assim falam as dádivas da terra: o Criador permitiu mais uma vez que da semeadura nos tornássemos frutos. Ele permitiu que nós nos desenvolvêssemos de acordo com o trabalho, o cuidado e o carinho do colono ou do estancieiro ou do fazendeiro. Aqui estamos perante o altar do Senhor e perante os nossos olhos para vos lembrar que graças ao bom Deus as vossas mesas poderão contar novamente conosco. Mas não foi tudo assim tão fácil: sofremos calor, também frio; suportamos algumas tempestades, como também tivemos sede. Passamos não poucas vezes por situações difíceis, principalmente quando 299
vieram os especuladores e não quiseram recompensar o trabalho suado e difícil de colono, ou quando simplesmente vieram, compraram toda a safra, mas não nos colheram, não nos levaram para as cidades para que o nosso preço se mantivesse alto e não perdêssemos ser o “pão de cada dia” de muitas pessoas pobres que tanto necessitam de nossa presença em seus lares. Já nem falamos “em suas mesas”, pois nem mesas, às vezes, não as tem. Finalmente podemos estar aqui conosco nesta casa de Deus perante a comunidade congregada. E a nossa mensagem a vós todos hoje é: “Provai, e vede que o Senhor é bom!” Esta foi a mensagem dos frutos da terra. Este é o chamado que eles nos tem a fazer. Todavia, quem sabe, nós pensamos de modo diferente. Talvez olhemos estes frutos por intermédio de um ângulo (prisma) diferente. Quem sabe, preferimos dizer: “Vede, quão dedicadamente o colono tem trabalhado?” Vede de que modo abnegado tem contribuído a sua esposa, seus filhos e empregados? Evidentemente não podemos relegar a um plano inferior o trabalho, a dedicação e a abnegação dos que labutam na terra, pois lhes cabe uma grande participação nos resultados da colheita. Daí também se dirigir aos mesmos a nossa gratidão e os nossos elogios. Não podemos, porém, limitarmo-nos aos que diretamente estão ligados ao cultivo dos campos, mas estendermo-nos aquelas múltiplas pessoas, os pesquisadores de laboratórios, os agrônomos, os técnicos rurais, os fabricantes de produtos básicos como adubos, implementos agrícolas, os técnicos em cooperativismo, os quitandeiros, feirantes que possibilitam que os frutos da colheita cheguem até as nossas mãos. É o longo caminho percorrido pelos frutos da colheita. Quando nos encontramos às nossas mesas nem sempre temos consciência
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disto. E por isto é tão importante que nós, como comunidade cristã, dediquemos, pelo menos uma vez ao ano, um domingo como ação de graças pela colheita, a fim de que tornemos consciência de que Deus está agindo por meio destas inúmeras mãos, desde o colono através dos técnicos, até aos comerciantes, para a nossa subsistência. Normalmente achamos muito natural termos o necessário para a nossa subsistência. Mas isto não é tão natural assim. Lembremo-nos igualmente hoje no fato de que nem sempre o trabalho do colono parece ser tão compensador assim, onde muitas vezes, até o motivo para agradecer sinceramente a Deus pode faltar. Nem todos os anos podem constatar com exatidão esta bondade de Deus por intermédio dos frutos escolhidos. É a geada que queima impiedosamente as plantações? É a falta de chuva que resseca a terra? São as tempestades de granizo que a tudo destroem? É uma praga imprevista que nem mesmo o agrônomo soube reconhecer? Ou quando, pela falta de meios, a colheita não pode ser realizada? Ou como ainda nestes dias foi notificado, que era preferível não colher as batatas, pois os preços não compensavam? Na realidade nem todo ano é igual ao outro. Sempre haverá altos e baixos. E então? Aí estarão perante um problema deveras grave, e, normalmente não temos forças íntimas de agradecer. Pois tudo deu errado! E isto não apenas em relação ao colono, como também quanto a nós. Mas quem assim pensar, quem julgar não ter um só motivo de agradecer, deve uma vez perceber que a nossa vida não se constitui apenas de sucessos, e também, não apenas de insucessos. Eu sei que há muitos irmãos que em tudo veem apenas a mal, a maldade, o insucesso e que nunca conseguem alguma coisa de positivo em seu viver. Acontece que também 301
nada fazem nem realizam no sentido de se livrarem de uma situação assim tão negativa e aflitiva. Cara comunidade, pode parecer um consolo barato, porém, muitas vezes, o simples fato de continuarmos vivos, de sentirmos a vida pulsar dentro de nós, é motivo de grande gratidão a Deus, pois se estou vivo, se existo, Deus tem me dado uma nova chance. Aliás, toda manhã deve significar para todos nós uma nova oportunidade, uma nova chance de sermos alguma coisa, de vencermos uma dificuldade. Aqui devemos nos lembrar de uma palavra muito antiga de Jeremias, quando ele confessa: “A misericórdia do Senhor é a causa de não sermos consumidos; a sua misericórdia não tem fim; porém, renova-se cada manhã. Grande é a fidelidade do Senhor”. Quem for capaz de analisar a sua vida neste prisma, angústia, dor e sofrimento, de que é graças à bondade de Deus não sermos consumidos, não sermos simplesmente exterminados, que, porém, a cada manhã esta bondade se renova, este terá – mesmo nos seus insucessos motivo de agradecer, de se fazer ouvido por Deus em sua gratidão. Pois analisemos os próprios acontecimentos em torno de Jesus Cristo, constatando, que na própria vida do Senhor nem tudo foi alegria. Umas das palavras mais belas do Novo Testamento em relação ao motivo, à causa da vinda de Nosso Senhor, encontramos na 1ª carta de João: “Vede que grande amor nos tem concedido Deus, o nosso Pai em Jesus Cristo!” A palavra é certa. Mas vejamos o que este amor de Deus exigiu de Jesus: eilo numa pobre e miserável estrebaria, sobre feno e numa manjedoura; ei-lo a caminhar por através de sua terra, sem ter um lugar seguro, sem ter um lar, um lugar onde recostar a sua
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cabeça; ei-lo sendo conduzido ao madeiro; ei-lo morrer na cruz como fosse um bandido, um ladrão comum. Estes fatos, evidentemente, não refletem o amor de Deus conforme nós o entendemos. E, no entanto, ele foi por este caminho para nos demonstrar o grande amor de Deus para conosco, criaturas humanas. Nele nos é oferecido o perdão por nossos insucessos, por nossas faltas; nele nos é dito, mesmo que tenhamos falhado no nosso trabalho, mesmo que não tínhamos nos esforçado para colher os verdadeiros frutos para a colheita, ele nos perdoará e perdoa estes fracassos, para que todos possamos começar tudo de novo. Também hoje, neste dia de ação de graças pela colheita, o Senhor nos chama ao novo começo de nossa vida. Os pequenos pregadores desta festa, os frutos e produtos são um símbolo evidente da ação de Deus dentro da natureza em nosso favor. Estes frutos da terra estão a nos dizer: “Provai, e vede que o Senhor é bom!” As dádivas que aqui foram trazidas por mãos agradecidas e carinhosas não estão dizendo: “Provai, e vede como somos bons frutos” Mas através de si querem nos lembrar da bondade daquele que criou “céus e terra”, todo mundo vegetal e animal e que criou a nós à imagem e semelhança. Queremos hoje ouvir a confissão silenciosa dos frutos quando nos querem dizer: Fomos criados por Deus em favor de nós que fostes criados à imagem e semelhança do Criador.
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Por isto, dai louvor ao Senhor! “Provai, e vede que o Senhor é bom!” Amém.
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Provérbios 8.17 “Eu amo os que me amam; os que me procuram me acham”. Diz Deus, o Senhor! Existe Deus!!! Preconização – A morte de Deus para um mundo conturbado! O mundo – lugar do nosso viver, o palco entre o levantar-se do pano do nascimento e o baixar do pano da morte. O mundo de hoje está dividido pelo ódio das raças, surgindo o poder d negro – vide os acontecimentos da olimpíada no México, quando dois negros foram exemplos, por manifestarem os, seus, protesto válido e sincero. O mundo hoje se digladia por causa das ideologias que não desejam o bem da humanidade, mas a supremacia sobre os povos e nações. O mundo de hoje vai se desintegrado por suas intermináveis crises na juventude, na política e também nas igrejas. E perante esta situação vai crescendo a grande dúvida: “Existe Deus?” Uma grande interrogação que deve ser por nós respondida no campo individual e pessoal. Ao procurarmos pela existência de Deus, torna-se necessário a nossa participação neste procurar da resposta de um enigma. Por onde começar: Por aquilo que nos rodeia e circunda,
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Por aquilo que nos é inerente, Por aquilo que fazemos parte: 1 - Na Natureza + (positivo) Reconhecemos que há algo de extraordinário, onde impera perfeição, beleza, onde impera vida, onde a Criação é um imperioso argumento da existência de Deus. - (negativo) onde imperam as catástrofes, e a maior delas – a morte, a desintegração da vida biológica e vegetativa. 2 - Na história + (positivo) onde encontramos a continuidade da raça humana, lutando por justiça e paz, onde inclusive houve uma decisão nos tempos na figura de Jesus Cristo que procurou dar à historia novos traços, suplantando as categorias separatistas entre a humanidade como raça , nação e ideologia. - (negativo) apesar dos sinais positivos o destino da humanidade se encontra perante encruzilhadas terríveis e desastrosas, onde impera a guerra, a decisão, a injustiça, a fome, a luta dentre os povos desenvolvidos e subdesenvolvidos, entre a opressor e o oprimidos. 3 - No nosso próprio existir. Na nossa própria existência Na nossa razão Nos nossos sentimentos Evidencia o existir também de algo, ou melhor, de alguém mais forte, mais alto, mais potente que nós. Mas a dupla
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personalidade do bom – do mal e do bem – do maligno é o desafio negativo da constatação do existir de Deus. De um lado a nossa consciência nos diz que Deus existe e seria inconsequente querer se abandonar tão facilmente a existência de Deus. Seria o mesmo que duas ostras discutissem no fundo do mar se existe sol ou não. Ao procurarem a prova e entrarem em contato com a luz, morreriam. Certamente Deus não se deixa comprovar por fórmulas matemáticas, por turmas de álgebra ou trigonometria, ou por fórmulas químicas. Por intermédio da natureza, da história ou do nosso próprio ser, as provas não são convincentes. Só uma dúvida permanece no nosso intimo: Deus tem de ser maior, deve ser infinito, mais inacessível do que imaginar! Mas a pergunta continua: “Como encontrar Deus?” Deus vive numa luz inacessível. Ninguém jamais o viu. Todavia, Ele mesmo quebra o mistério que o cerca. Isto é, Deus mesmo se nos mostra, se nos revela, Ele mesmo diz a nós quem Ele é. Certamente Deus não nos fala pessoalmente, mas usa instrumentos plausíveis e válidos para se revelar a nós criaturas humanas: próprias criaturas humanas. DEUS SE REVELA Profetas
Jesus
Assim continuadores
Cristo
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apóstolos
Fala o senhor
eu e o pai somos um
de Cristo
BIBLIA AT – NT Primeiramente – na história de um povo, o qual foi escolhido como sendo o povo, a nação da qual Deus escolheu a sua revelação necessária para que soubéssemos quem Ele é, como Ele é, e o que deseja de nós. Jesus Cristo, enviado a nós como criatura humana, o qual depositou total confiança a Deus, reconhecendo-o e apresentando-o como Pai, não apenas seu, mas também como nosso Pai... E cabe então aos apóstolos dar a continuidade desta realidade. “Deus existe” e é reconhecido suficientemente em Cristo Jesus. Depositar a nossa confiança naquele que nos veio dizer concretamente quem é Deus: Jesus Cristo. Quem se dispõem a ouvir Cristo, quem estiver pronto a seguir o exemplo em suas palavras, verá encontrar um milagre, mesmo não mais acreditando em milagres na sua vida pessoal: Cristo revelará que Deus existe tão concretamente como nós existimos. Sigamos, pois, num mundo secularizado e material, num mundo em profunda crise, num mundo incrédulo e que desvalorizada os grandes ideais, as pegadas de Cristo para sermos discípulos e apóstolos do grande amor que não veio a nós para nos destruir, mas para nos salvar e dar a vida eterna. Amém.
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Pastor Karl Gustav Busch
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Dia da Ordenação – 24 de abril de 1966
Participação no Concilio Geral da IECLB - 1968 310
Pastor Distrital Karl Busch – Paróquia do ABCD - 1970
Grupo de Confirmandos e Confirmandas 311
Grupo de Confirmandos e Confirmandas
Grupo de Confirmandos e Confirmandas 312
Grupo de Confirmandos e Confirmandas
Grupo de Confirmandos e Confirmandas 313
Grupo de Confirmandos e Confirmandas
Pastor Karl Busch
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PARTE II ARTIGOS, MEDITAÇÕES E TEXTOS Publicados no Jornal A Cruz no Sul
CELEBREMOS A FESTA! 1. Coríntios 5.8: "Celebremos a festa, não com o velho fermento, nem com o fermento da maldade e da malícia; e, sim, com os asmos da sinceridade e da verdade." O apóstolo Paulo ao escrever estas palavras à comunidade cristã de Corinto, lembrava-a da conveniência de como devia uma igreja celebrar dignamente a festa da páscoa. Na verdade, o apóstolo não se contestou com uma simples admoestação, falando talvez em forma de uma proposta que, posteriormente, devia ser posta à prova. Pelo contrário. O versículo acima evidencia claramente que cada cristão jamais devia deixar com que este dia da páscoa passasse em branco. A expressão "celebremos a festa" é quase uma ordem, pois não só inicia uma oração que termina com as palavras "com os asmos (asmos aqui se subentende como pães que não contêm fermento em sua massa, isto é, pães puros) da sinceridade e da verdade”, mas é um chamamento geral, um imperativo que se faz necessário. "Celebremos a festa" é um chamamento à nossa participação ativa do acontecimento pascal, da ressurreição do Nosso Senhor Jesus Cristo. Esta festa é motivo de alegria e de júbilo, é motivo de espoucar foguetes e fogos de artifício. Realmente esta alegria tem o seu fundamento claro e primordial num fato importante para a nossa existência humana: Nós humanos não somos justos por natureza, não somos perfeitos, nem tão pouco dirigimos os nossos passos conforme os ensinamentos divinos, antes, somos levedados pelo fermento da maldade e da malícia, pelo velho fermento das tentações humanas. Nem mesmo pela nossa boa vontade, nem o nosso maior esforço, nem a nossa própria convicção realizam para nós algo de construtivo, de edificante perante Deus. Algo sempre está errado em nossas vidas. Mas pela cruz e pela ressurreição de Jesus Cristo, tudo isto, tudo
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mesmo, nos é perdoado, nos é descontado. Jamais poderemos como criaturas humanas alcançar um grau de perfeição, porém, pela fé em Jesus Cristo temos não só a possibilidade de alcançar o perdão junto a Deus, como verdadeiramente somos perdoados e reconciliados com o Pai Celestial. Por isto mesmo celebremos a páscoa com toda sinceridade e com toda a plenitude de sua verdade. Por intermédio da páscoa não só participamos da cruz de Gólgota, mas também participamos da ressurreição de Cristo dos mortos, isto é, podemos também ter a certeza da vida eterna. Cristo vive e com Ele também nós vivemos. Celebremos a festa! K. Busch A Cruz no Sul. No. 2, março-maio 1963
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CONSERVAR A PAZ Parece que desde os últimos cinco anos vivemos no nosso pais sob o impacto das chamadas reformas, de base. Atualmente encontra-se em debate no legislativo de Brasília, lá na praça dos Três Poderes, uma emenda à magna constituição brasileira, no fito de somente assim ser possível a chamada reforma agrária. O noticiário a respeito é unânime afirmar que os debates são os mais controvertidos e dificilmente chegar-se-á a uma solução adequada, a qual finalmente satisfaça a "gregos e troianos". Porém, nisto, tudo há um, fato curioso, o qual também é registrado pela crônica especializada dos nossos veículos informativos. Quase em todos os debates em relação à reforma agrária e equivalentes, a última encíclica do Papa João XXIII tem sido objeto das mais variadas interpretações. "Gregos e troianos", lobos e cordeiros" lançam mão deste documento, procurando, por meio dos mais inesperáveis artífices provar que suas reivindicações ideológicas se acham fundamentadas no Evangelho do Senhor, mas na verdade não têm nada a ver com o mesmo. Por meio de palavras e pensamentos cristãos, têm eles uma só finalidade: a de confundir o povo que assiste pacificamente a tudo, levando ao seio da massa popular a discórdia, e pior ainda, a agitação. A encíclica papal, intitulada "Paz na Terra", torna-se assim uma arma comum nas lutas das ideologias antagônicas. Afinal que deseja esta encíclica? Esta carta pastoral, numa exortação inigualável nos últimos séculos, veio salientar mais urna vez que a humanidade não pode mais viver conforme os desígnios da injustiça e do egocentrismo de alguns, sofrendo os mais humilhantes papéis de mera jogatina, como se fosse uma mera de mera jogatina, como se fosse uma mera [problema de composição gráfica] clica "Paz na Terra" que 'os homens devem cultivar mais o amor, a fim, de que sejam melhores as relações entre as criaturas, mesmo as que só 320
conduzidas por ideologias contrárias ao cristianismo. Adiante a encíclica pede a aplicação do cristianismo em sua forma fundamental e lógica, baseada nos ensinamentos do Nosso Senhor Jesus Cristo. Do mesmo modo menciona a renovação do cristianismo na face da terra. A mesma encíclica reformula aos homens o cumprimento expressivo de seus deveres para com a pátria, a sua família e seu próximo. Daí podemos concluir que a encíclica papal: só conhece alma finalidade: a de proclamar os homens; a cultuar e conservar a paz entre a humanidade. Verdadeiramente o papel preponderante ao Evangelho de Cristo é proclamar aos homens a paz, a paz que vem} de Deus, como Paulo, o apóstolo mesmo diz: "Deus vos tem chamado à paz" (I Coríntios 7.15). E Deus igualmente deseja a paz entre os homens. Aqui nos lembramos da exortação do mesmo apóstolo ao escrever: “Se possível, quando depender de vós, tende paz com todos os homens" (Romanos 12.18). A Igreja tem um papel muito importante a desenvolver no mundo: incrementar a paz entre os homens. O pregador cristão, o servo de Cristo, daí não está autorizado a servir a governadores ou a governados como instrumento político de agitação. Igualmente o papel da Igreja não é fomentar a agitação ou colaborar com a mesma, mas ela tem sua função preponderante de anunciar com toda veemência a palavra de Deus, tanto a um como ao outro, tanto à autoridade superior, como também aos regidos pela autoridade. Como cristãos não admitimos a agitação social, assim como também não admitimos a injustiça social, o esmagamento das massas em benefício de alguns. Exigimos, fundamentados na doutrina cristã, a justiça social entre os homens, a humanização da vida, a liberdade incondicional da criatura humana bem como seus direitos, mas isto, dentro de um ambiente, de paz, de
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harmoniosa paz na fĂŠ em Deus por intermĂŠdio de Jesus Cristo. Por isto, caros leitores, cultuemos a paz, cultivemos a paz, conservemos a paz! K. G. Busch. A Cruz no Sul - Junho 1963
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SACRIFÍCIO E CULTO Os termos "sacrifício" e "culto" certamente não são completamente desconhecidos ao leitor assíduo de nossa revista paroquial. Sabemos que se tratam de palavras muito usadas no seio da Igreja, mas nos esquecemos com certa facilidade que os mesmos formam o centro da vida do cristão. Por este motivo nada mais que natural algumas considerações a respeito, principalmente numa época, como a nossa atual, em que algo de concreto deve, ser falado a respeito daquilo que nos é de importância vital referente às nossas questões de fé. Quando falamos em sacrifício, pensamos no sacrifício de Jesus Cristo na cruz de Gólgota. Outrossim lembramo-nos também do nosso sacrifício para a causa de Deus. Exatamente este tema é que hoje nos interessa debater por meio de algumas considerações. Qual é o sacrifício que nós podemos oferecer pela causa de Deus? É voz corrente entre muitos cristãos que o nosso sacrifício para com Deus resume-se que a nossa própria vida já é sacrificada por múltiplos problemas diários. Outros já dão um passo adiante: as ofertas esporádicas durante os cultos divinos, as contribuições normais e especiais para o trabalho da Igreja, constituem o sacrifício. Terceiros já opinam de modo diferente. Acham que o sacrifício deve ter uma forma mais pessoal, assim como certas abstenções, certos castigos corporais. Na verdade, não devemos desmerecer estas formas usuais de sacrifícios, mas do outro lado é necessário dizer que se tratam apenas de renúncias limitadas às circunstâncias pessoais de cada um. Realmente esta afirmação é bastante ousada, mas fundamentada na palavra de um apóstolo de Cristo, o qual sempre se preocupou em orientar os cristãos, de todas as épocas. Assim escreve ele: "Rogo-vos irmãos, pelas 323
misericórdias de Deus que apresenteis os vossos corpos por sacrifício vivo, santo, e agradável a Deus, que é o vosso culto racional" (Romanos 12.1). Para o apóstolo Paulo o sacrifício de cada cristão é o sacrifício pelo qual pomos o nosso corpo, isto é, a nossa existência à disposição de Deus. Isto vem a significar que o verdadeiro sacrifício do cristão é aquele em que entregamos a nossa existência, o nosso ser, no trabalho do Senhor. Este sacrifício de Cristo aconteceu por nossa causa e para nós. Por meio do mesmo sacrifício Deus apagou em todos nós que cremos em Cristo a mancha negra de nossa existência em pecado. E nada mais certo como 'também 'dedicarmos a nossa existência a Deus como sacrifício de agradecimento. Agora devemos associar o nosso sacrifício de agradecimento com o sentido daquilo que o apóstolo chama de “vosso culto racional”. Disto trataremos no próximo número. K. G. Busch A Cruz no Sul - Julho 1963
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O NOSSO CULTO RACIONAL O apóstolo Paulo sempre evidenciou em suas admoestações as verdadeiras relações da criatura humana para com Deus. Verdadeiramente é mais que evidente que também nós criaturas humanas devemos refletir para com Deus o nosso reconhecimento por tudo que fez por nós, por intermédio de Cristo. Deus deu o seu próprio Filho, o Nosso Senhor Jesus Cristo, como sacrifício para a redenção de nossos pecados, de nossas, transgressões, de nosso afastamento das normas mais eficientes e edificantes para a nossa vida que são os mandamentos divinos. Isto e muito mais Deus nos preparou e presenteou. Por meio do sacrifício de Cristo, Deus apagou em todos nós a mancha negra de nossa existência em pecado. Sim, toda nossa existência mereceu por parte de Deus Misericórdia, amor, benevolência, perdão. E por isto nada mais certo como também nós dediquemos a nossa existência a Deus: "Rogo-vos, pelas misericórdias de Deus que apresenteis os vossos corpos por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é O VOSSO CULTO RACIONAL" (Romanos 12.1). E por que o nosso culto racional seria o sacrifício vivo de nossos corpos, melhor, de nossas existências? Porque o nosso sacrifício não é de obrigação, mas de agradecimento, pois éramos pecadores da cabeça aos pés e fomos salvos dos pés à cabeça. O perdão de Deus, no entanto, não é uma cousa lá muito natural, assim como o alimento diário ou cousa que o valha o são na nossa vida diária. O perdão de Deus é um presente infinito e nos é oferecido todos os dias como uma dádiva, dádiva esta que nós não podemos retribuir no seu valor fundamental. Por isto a nossa retribuição só pode ser exteriorizada e efetivada por intermédio de evidentes sinais de regozijo e de alegrias. E esta
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exteriorização pode e deve significar que a nossa existência é um agradecer eterno a Deus. Agradecer a Deus é prontificar-se a levar a mensagem do Evangelho a todos, os homens. Este é o nosso culto racional, esta é a nossa verdadeira dedicação a Deus: Colocamos a nossa vida, o nosso corpo, enfim a nossa existência à disposição da causa de Deus. Em tudo que fazemos, seja a oportunidade que for, seja a hora que for, seja a causa que for, sempre devemos saber que a nossa vida como cristãos deve ser uma existência a serviço da causa de Deus. O nosso culto a Deus jamais deveria resumirse a alguns minutos aos domingos: toda nossa vida é culto a Deus. Deus ajude com que também as nossas vidas sejam dedicadas a Ele como sacrifício de agradecimento, como culto eterno por tudo que fez por nós criaturas humanas. K. G. Busch A Cruz no Sul - Agosto 1963
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MISERICÓRDIA E BONDADE Desde os tempos mais remotos homens possuídos de fé confessam que Deus é misericordioso e bondoso. `Lembra-te, Senhor, das tuas misericórdias e das tuas bondades' (Salmo 25.6) ó um destas confissões, confissão esta pertencente a uma oração. Convenhamos, porém, há e sempre houve uma certa desconfiança perante as palavras enunciadas pelo Salmo, pois todos nós conhecemos os graves problemas que afligem o mundo, males muitas vezes incontroláveis. Não raras vezes a nossa própria vida é nada mais que um emaranhado de sofrimentos, de renúncias, de problemas de ordem social. Como criaturas tementes a Deus deveríamos saber que tudo provém dele, dele que é o Criador do universo. Será que também o quadro real da vida tem por causa a sua vontade? Certamente que não. Nós realmente 'vivemos da bondade e da misericórdia de Deus. Acontece, no entanto, que nós, não participamos desta relação, desta realidade. Se o quadro de nossa vida se apresenta deveras negro e, porque não, bastante pessimista, deve existir uma causa a isto. Não sendo Deus, quem então? Não é nosso intuito julgar ou condenar, mas sim, esclarecer. Como participantes da humanidade temos o costume bastante comum em procurar as causas fora de nosso círculo, de modo que não sejamos atingidos pela dureza da verdade. Se fôssemos, porém, agir com sinceridade teríamos que reconhecer de que a culpa, a culpa no sentido da palavra está cá conosco mesmo. Como assim? Sejamos sinceros: quem de nós acha necessária a ajuda de Deus na solução dos problemas diários de nossa vida? Pouquíssimos 327
— pois somos nós mesmos que desejamos resolver tudo ao nosso modo naturalmente! Orar — orar é cousa do passado. Claro que precisamos de Deus, mas isto é nas horas propícias da vida, num domingo, num batismo, num casamento ou cousa que o valha. Assim pensam muitos, muitíssimos. Será que Deus pode ajudálos a reconhecer que não estão muito certos em seu modo de pensar e de agir? Deus pode, Deus já fez, Deus o continua fazendo. Mas como? Ora, por intermédio de Jesus Cristo. Jesus Cristo evidencia a todos nós, e isto todos os dias se necessário, que Deus é misericordioso. Pois a mensagem do Evangelho, onde se fala do perdão, do amor, da paz, da salvação, é o retrato da misericórdia e da bondade de Deus para com toda a criatura humana. Se é seu desejo conhecer a verdadeira misericórdia e bondade de Deus em sua vida, deixe com que Ele participe de toda sua vida. Procura resolver as causas que dizem respeito a você em conformidade com aquele que veio ao mundo não para julgar, mas para salvar — Jesus Cristo. Experimentemos todos. Vale a pena. K. G. B. A Cruz no Sul - Setembro 1963
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POR QUE CONFIRMAÇÃO? Logo após o nosso nascimento os nossos nomes foram inscritos no registro civil de nossa cidade natal. Este registro tem seu valor até a data em que por intermédio de um atestado de óbito é comunicada a nossa morte às autoridades competentes. Enquanto vivemos nos estão assegurados todos os direitos civis que a instituição da nação garante a toda e qualquer pessoa. Pelo menos assim deveria ser! Quando fomos batizados, igualmente os nossos nomes foram assentados num livro de registro de nossa comunidade e foi expedida uma certidão neste sentido. Este fato simboliza que somos também participantes da multiforme graça de Deus. A criatura humana é importantíssima para Deus. Todos nós nos temos confrontar com Ele, em último caso no dia do juízo final. Convêm a nós todos reconhecer e confirmar pessoalmente o fato do nosso batismo. Por isto participamos como jovens de um ensino cristão, para então ratificarmos o ato do nosso batismo. Certificamos a comunidade, à qual nos sentimos ligados, de que ouvimos e participamos da mensagem de Jesus Cristo, reconhecendo assim qual a verdadeira vontade de Deus. Ninguém, no entanto, poderá ler os pensamentos dos nossos jovens durante o acontecimento da confirmação. Devido a isto não nos assiste o direito de julgarmos se os jovens confirmandos confessam sinceramente a fé cristã, ou se apenas recitam mecanicamente formulas de, fé, aprendidas por ocasião do seu ensino confirmatório. Sobre estas questões de juízo quem decide é um só: Deus, o qual semeia a fé nos corações humanos' por intermédio da palavra regeneradora de Jesus Cristo. Este fato, porém, não isenta a Igreja em levar a sério a confirmação. Pela confirmação e seus preparativos nossos
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jovens, nos quais sempre estão depositadas grandes esperanças, têm a oportunidade de conhecerem de perto os fundamentos da verdadeira fé cristã. Por intermédio da 'confirmação abrem-se as portas à compreensão da 'multiplicidade dos dons provenientes de Deus. Igualmente os jovens confirmandos estão aptos a tomarem sobre si a responsabilidade de sua comunidade, empenhando-se na luta cada vez mais necessária pela liberdade cristã, aperfeiçoando-se como criaturas dignas e cultas, no mundo controvertido de hoje. Do mesmo modo podem eles descobrirem que as suas vidas só têm sentido estando sob a bênção de Deus. Esta é a resposta à nossa pergunta, sendo que a confirmação sempre deve alcançar os seus objetivos claros e evidentes: conduzir o jovem ao caminho do Nosso Senhor Jesus Cristo. K. G. B. A Cruz no Sul - Outubro 1963
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DIREITO DE GREVE! Pode um cristão participar de uma greve? Sim. Pois a greve faz parte da luta social do mundo. O princípio da luta social se prende no fito de assegurar os direitos trabalhistas, daqueles cujas rendas dependem de terceiros. Naturalmente estes direitos, qualquer que seja a classe, têm de ser orientados pelos representantes legais e oficiais da classe que representam, dentro da legalidade jurídica ditada pelas leis que regem o país. Os sindicatos, representantes oficiais de classe, têm na sua essência o papel de intermediários, salvaguardando os direitos de seus associados. Nas suas mãos está o direito de greve, isto no momento em que quaisquer negociações entre empregados e patrões não puderem chegar a entendimentos razoáveis, entendimentos estes num clima de honestidade e de direitos asseguráveis. Só quando estes entendimentos não alcançarem os objetivos legais, aí fica lhes assegurado o direito de greve. Os objetivos legais da greve naturalmente só podem ser reconhecidamente de caráter reivindicatório, com a reivindicação de melhores salários, da regulamentação das horas de trabalho, de salubridade, da observância das leis existentes. Mas toda e qualquer greve que descamba para um lado políticoideológico, ou de caráter de simples solidariedade, ou que afete a segurança do próprio novo, ou que assuma características de calamidade pública --- assim como greve nos setores de água, luz, assistência médico-hospitalar, alimentação — tem de ser repudiada e rechaçada prontamente. Aí não se trata mais de greve, mas sim de subversão e abuso de poder. Estes movimentos geralmente geram e têm gerado ódio e desentendimento entre os, homens. E isto não se harmoniza
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com os princípios evangélicos de Cristo. É certo que os cristãos também têm o direito de participação nas greves de sua classe. Mas Jesus Cristo, como Senhor e Salvador, deseja também que nas suas lutas sociais, cuja última arma é a greve, tudo corra dentro da mais severa ordem e honestidade. E para que isto aconteça devem os cristãos assalariados participar intimamente dos sindicatos, colaborando ativamente em suas hostes. Os cristãos devem, até precisam aceitar altas funções diretivas nos sindicatos de classe, pois só assim estes serão influenciáveis para servirem verdadeiramente às causas lhes confiadas, e isto dentro da mais severa ordem e respeito. Por isto o trabalhador cristão não pode nem deve omitir-se perante a sua classe, pois o maior pecado do cristão é a omissão. Omitir-se como cristão, seja onde for, é negar os princípios que Cristo legou aos homens, é negar-se a si mesmo. K. G. B. A Cruz no Sul - Novembro 1963
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ACONTECEU NO NATAL ... Aconteceu no Natal. Deus abre para todo o sempre novas perspectivas ao mundo. Nasce Jesus, o Salvador, o Messias. Não se reproduz simplesmente o milagre do nascimento de uma nova criatura. É o próprio Filho de Deus. É difícil compreender. Mas assim o é. Os mesmos caminhos da vida, que milhares trilham neste mundo, foram igualmente vencido por Ele. Aconteceu entre nós este Jesus. Sua terra natal não foi Jerusalém, a pérola da Terra da Promissão. O local, o ambiente não se assemelhava a um palácio, onde salvas de tiros anunciariam o nascimento do pequeno príncipe. Do início ao fim segue Ele o caminho da humildade e da retidão, "sendo obediente até à morte, morte de cruz": Belém a Gólgota. Aconteceu nos moldes da mais pura singeleza. Assim aconteceu, pois nenhuma só criatura pode se sentir excluída da obra de Deus. Ela pertence a todos. Deus não só se dirigiu em palavras ao mundo, mas também, o visitou. Desde o Natal não estamos sós. A partir do Natal frio e cálido ide Belém não é conveniente fazer como se nada tivesse acontecido. Leitor amigo. Já compreendeste, já avaliaste o real significado dia vinda do próprio Filho de Deus? Deus jamais esqueceu-se da criatura humana. Ela não é simplesmente uma parte da Criação divina, participante do milagre da vida que palpita, que emociona. A criatura humana é o auge da Criação. E sendo o auge da Criação ela item o seu alvo concreto: a vida eterna. Aconteceu no Natal que "Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna".
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Vida eterna é uma vida (guiada pelos caminhos da límpida luz, é uma vida em paz, em amor, em retidão, em humildade, em confiança, em compreensão, em responsabilidade, não só perante Deus, mas também perante o próximo. Quem de nós deseja participar de uma vida assim! No íntimo toda criatura o quer ardentemente. Para isto 'basta aproximar-se da rústica manjedoura e cantar com todos: "Mundo perdido, Cristo é nascido! Alegrai-vos, alegrai-vos, ó cristãos!" Aconteceu no 'Natal: Deus oferece aos homens a vida eterna. Feliz Natal, caríssimo leitor. Deus te ilumine e abençoe! K. G. B. A Cruz no Sul - dezembro 1963
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MÃOS LIMPAS E CALEJADAS Sai ano, entra ano. 1963 dá lugar a 1964. Para muita esta transição já é corriqueira. Para outros, no entanto, constitui algo mais: novas esperanças, quem sabe, inclusive novos rumos. Enquanto a alguns vale o conceito de que tanto faz como fez. Para outros não. Querem que seja posto um fim em certos dramas da vida, dramas que nem sempre têm o seu motivo de ser. Negar que atualmente vivemos todos nós um drama neste imenso Brasil, cujo fim de certo modo é imprevisível, é negar o alimento diário para a nossa existência. Onde vamos parar? Que será do dia do amanhã? Quem nos dará garantias de uma vida mais humana e justa no ano que ora se inicia? É certo que como cristãos vivemos na esperança do dia do amanhã, na esperança de que Deus não se esquecerá de nós criaturas humanas, conduzindo-nos ao alvo comum, alvo este nos revelado por intermédio de Jesus Cristo: A redenção do mundo! Na verdade, porém, já somos criaturas redimidas, criaturas que recebem o perdão por intermédio da fé inabalável. Isto pode então significar que já participamos de um pequeno mundo em redenção. Mas qual será o motivo pelo qual este mundo em redenção não se evidencia concretamente em nosso meio? O motivo é grande demais para ser compreendido. Mas reside no fato de que milhares de criaturas vivem na fé e têm, ia certeza de que Deus efetivará este mundo ¡da redenção. Vivem assim da esperança. Dizem crer em Deus, dizem crer no Evangelho de Cristo, dizem... bem, dizem muita cousa. Inclusive procuram "organizar" a sua vida em conformidade com aquilo que dizem crer. Chamemos estas criaturas de cristãos de "mãos limpas", mãos limpas no sentido de praticarem certa obediência aos preceitos emitidos pelo próprio Evangelho. Certamente 335
gostariam de lutar, ide cerrar (fileiras junto aos que sofrem, junto aos que reivindicam autoridade e justiça„ exigir respeito e autoridade. Mas não se querem arriscar. Têm medo de sujar as "mãos limpas". Aqui, bem aqui, ao não querer se arriscar, ao não querer sujar as mãos "limpas" é que está em parte a resposta a nossa perguntinha. De certo modo o Evangelho nos adverte veementemente de que esta atitude das mãos "limpas", isto é, nas mãos vazias na concretização daquilo que Jesus Cristo anunciou ao mundo, é o DELITO COMUM, delito este que nada mais pode significar ¡do que a condenação -dos homens perante o julgamento divino. A omissão, a indiferença, o não fazer nem realizar nada, face os dramas que nos assolam; e perante as misérias humanas, são os PECADOS que Jesus Cristo considera como ofensas pessoais à Sua pessoa, sendo assim um verdadeiro desprezo ao Evangelho. Ser apenas um cristão de "mãos limpas" e manter os braços cruzados face os dramas contundentes de injustiças, de privilégios descabidos, de desigualdades chocantes, é ser CÚMPLICE deste estado de cousas inconcebíveis. O Evangelho é exigente, pois proclama a necessidade do amor fraternal, deste amor que nos impele à ação, conduzindo-nos certamente à renúncia de nossa comodidade e, quem sabe, inclusive a correr certos riscos em nossa integridade física. Não nos esqueçamos, porém, o cristão deve sempre lutar por meios justos e honestos, agir integralmente para combater o mal, tendo por objetivo o bem. Cada cristão, sem exceção, tem de se empenhar efetivamente pela concretização da justiça e da fraternidade em todos os ângulos imagináveis da convivência humana. E para que isto aconteça, diríamos que para um cristão não basta ter apenas mãos limpas, mas sim "mãos limpas e calejadas".
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Jesus Cristo pode exigir isto e muito mais de nós, porque, além de suas mãos permanecerem limpas e calejadas, as suas mãos crucificadas brilham aos nossos olhos rasgadas pelos cravos da injustiça, da mentira, do ódio e da impostura. Por isto, caros leitores, não sejamos simplesmente cristãos de conveniência, mas sim, cristãos de mãos limpas e calejadas, mãos, que demonstram claramente ação. Só desta maneira será possível que este novo ano seja mais esperançoso, quando por nossa ação certos dramas possam ser relegados ao passado. Não nos incriminemos perante Deus e perante os nossos próximos pelo nada fazer, pela inércia, pela indiferença ou pela omissão. Ação, ação irrestrita cada dia do ano, seja onde for. K. G. B. A Cruz no Sul - Janeiro 1964
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AS MÃOS Nos Evangelhos há uma interessante passagem referente às mãos de Jesus. Isto aconteceu quando os discípulos após Sua ressurreição estavam incrédulos com o aparecimento surpreendente do Mestre, quando este exclama num argumento final e decisivo: "Eis as minhas mãos". Que grande valor têm as mãos! Assim soube descrever as mãos o velho Quintiliano: "As mãos! Com elas pedimos, com elas prometemos, chamamos, despedimos, ameaçamos, suplicamos, repelimos, intimidamos, interrogamos, negamos; com elas expressamos o gozo, a amargura e a dúvida; confessamos arrependimento; indicamos as medidas de espaço, de tempo, de número e de abundância. Na diversidade das línguas de todos os povos, as mãos falam a linguagem comum de todos os homens." Jesus na definição clara de sua obra terrena, exalta o papel das mãos: "Eu vim para servir e tão para ser servido." Jesus em tudo que fazia estava nada mais nada menos que em "serviço". E o serviço, este depende das mãos. Das mãos de Deus que tudo criaram, das mãos do escultor que modela o barro e que lhe aviva as formas, das mãos do músico que fere as teclas ou que vibra o arco arrancando melodias celestes, das mãos do operário que faz a argamassa e que constrói os monumentos, das mãos do médico e do cirurgião que curam os enfermos, das mãos da mãe que acaricia os filhos. Tudo, senão tudo, muito depende das mãos. Mas afinal as mãos que o mundo necessita são as mãos de Cristo. Um mundo angustiado e sofredor não deve prescindir daquele toque amorável e confortador do Senhor. Aquelas mãos curavam, levantavam paralíticos, purificavam leprosos,
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agasalhavam crianças, amparavam sofredores e muito mais — os pecadores. "Eis as minhas mãos!" Mãos para trabalhar, para curar, para dar, para levantar, para servir, para abençoar, para orar, até serem transpassadas pelos cravos. Se o mundo tivesse as mãos de Jesus! Se os homens tivessem mãos assim, mãos limpas e calejadas. As mãos de Jesus! Benditas sejam as mãos de Jesus! Que elas pairem sobre as nossas frontes. Que elas se estendam sobre a nossa pátria, para a salvação do Brasil! Adaptado para "Cruz no Sul" por K. G. Busch — "As mãos" de Jorge Goulart em UNITAS - Jan. 63. A Cruz no Sul - Fevereiro 1964
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OS OUTROS... E NÓS Nós somos os membros da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil. Os outros são das outras Igrejas. Nós temos as nossas igrejas, nossos pastores, nosso trabalho préestabelecido. Confessamos que Jesus Cristo é o único fundamento de nossa fé, pois "não há salvação em nenhum outro" (Atos 4.12). Ninguém hoje em dia duvidará que vivemos no século dos grandes movimentos ecumênicos, os quais se desenvolvem nas mais diversas frentes cristãs. Isto nos leva a crer que não é lícito falarmos "dos outros e de nós" no que concerne à nossa Igreja, como se fôssemos um grupo abstrato de criaturas pertencentes à uma Igreja determinada e "os outros" como sendo grupos apartados de nós. Também não nos caberia o direito de afirmamos que a nossa participação com "os outros" se concretize simples e formalmente no terreno internacional, em movimentos com o Conselho Mundial de Igrejas, com a Federação Mundial Luterana, e no terreno nacional por intermédio da Confederação Evangélica do Brasil. Já é alguma cousa. Mas esta participação ainda não é suficiente. Algo mais é necessário. Um novo passo foi dado não faz muito tempo. No último dia 8 de fevereiro pudemos participar, a nossa comunidade foi gentilmente convidada — poucos atenderam ao convite do culto de ação de graças, celebrado com júbilo e contentamento pela criação da Comissão Ecumênica Intereclesiástica. Que vem a ser esta nova Comissão? Homens lúcidos e sempre tangidos pelo espírito ecumênico, encorajaram-se, lançando as sementes de um novo trabalho em prol da unidade das Igrejas Evangélicas constituídas no Brasil. Partiram para a luta convictos de que o fundamento de todos é um só, quer "dos 340
outros e de nós": Jesus Cristo, Senhor e Salvador! Sim, este é o fundamento de todos e nosso também. Por isto não pode existir na Igreja este "os outros e nós", mas somente um "nós" uníssimo pela causa de Cristo. Este "nós" uníssimo exige de todos novos rumos, novas forças, novos objetivos, tendo por fundamento o Evangelho de Jesus Cristo. Aqui está um dos desejos principais da Comissão Ecumênica Intereclesiástica, que tem por objetivo o ecumenismo na expressão da palavra: servir em comum a Jesus Cristo na pátria brasileira. E se falarmos de objetivos do ecumenismo, um deles certamente é o mais evidente e ao mesmo tempo o mais difícil de ser concretizado: edificar a glória de Nosso Senhor Jesus Cristo neste mundo conturbado, a fim de que os homens sejam santificados por intermédio desta glória vitoriosa do Senhor. Mas para a efetivação deste objetivo urge que todos "os outros... e nós'" também sejamos "um", isto é, que vivamos em harmonia e unidade, identificando-nos em todas as frentes pela causa do Evangelho de Jesus Cristo. Dividido e vivendo como irmãos separados, jamais poderemos alcançar objetivo de tão alto valor. Os delitos comuns da vida eclesiástica de todos os tempos devem ser suplantados no nosso século, as diversificações devem ser abolidas, bem como devemos acabar com o nosso egocentrismo confessional delimitado, abrindo as nossas portas aos homens de boa vontade, em cujos corações está viva a chama da unidade da Igreja. Daí o nosso íntegro apoio à Comissão Ecumênica Intereclesiástica, pedindo ao caríssimo leitor amigo que eleve preces sinceras ao Senhor da Igreja para a bênção de mais esta magnífica obra na Sua seara! K. G. Busch
(A Cruz no Sul - Março 1964)
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UM DIÁLOGO O seguinte diálogo se deu entre um pastor e uma jovem senhora africana: "Pastor, gostaria de lhe dirigir uma pergunta.” "Que desejas me perguntar?" "Pastor, disseram-me que há várias pessoas que amanhã serão batizadas!" "Sim, minha senhora. E a senhora sabe aquilo que sabem aqueles que desejam participar do batismo?" "Pergunte-me, sr. pastor." "Sabe os 10 mandamentos?" "Sabe o Credo Apostólico?" "Não." "Pelo menos então sabe orar o Pai-Nosso?" "Não sabe talvez um versículo bíblico ou então uma estrofe de um hino cristão?" "Não." "Então, minha caríssima senhora, desta vez ainda não poderei batizá-la, pois ainda tem que aprender muito." "Mas, sr. Pastor, permita dirigir-lhe algumas perguntas?" "Pois não. Estou aqui para responder tudo que é de seu interesse." "Sr. Pastor, contaram que entre aqueles que serão batizados está o seu filhinho que nasceu há alguns meses. É verdade?" 342
"Sim, é verdade. Há algum mal nisto?" "Mas, sr. Pastor, diga-me com sinceridade: O seu filho sabe os 10 mandamentos?" "É evidente que não." , "Sabe ele por acaso recitar o Credo Apostólico?" "Não, pois não passa de uma criança." "Ele talvez saiba então orar o Pai-Nosso?" "Como poderia saber se ainda nem falar não sabe." "Bem,, sr. Pastor, se a cousa é assim, diga-me ainda: que autoridade é a sua de poder batizar o seu filho e a mim não? Se ele não sabe o que 15 sr. exige de mim, como pode ser isto?" 'Minha senhora, eu lhe explico. Nós cristãos temos a confiança de que Deus também ama às crianças que ainda não são capazes de saberem aquilo que nós adultos sabemos e que Ele também presenteia aos nossos pequeninos a Sua grande e maravilhosa graça." "Pois é, eu por ser uma analfabeta, uma pobre coitada, uma ignorante que tem uma cabeça dura tenho direito de ser filha de Deus. Será que Ele não me ama como ama o seu filho? Então o senhor está decidido a não me batizar, apesar de ter as mesmas condições de seu próprio filhinho?" Certamente o silêncio alongou-se após esta pergunta sincera, mas profunda desta senhora que tinha o ardente desejo de se saber sob a proteção de Deus. O pastor reconheceu:
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"Como posso ser tão tolo!" e respondeu à boa senhora: "Minha estimada senhora. Acabo de aprender uma grande lição. Também a senhora será batizada amanhã." Que este diálogo sirva-nos não apenas de exemplo, como também nos leve a meditar sobre as nossas relações com aqueles que na sua ignorância e no seu desconhecimento espiritual nos dirigem muitas vezes perguntas concernentes à nosso fé cristã. Adapt. da Folha Dominical por K. G. Busch A Cruz no Sul - Abril 1964
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PARA ONDE VAMOS?!! Todos bons brasileiros que têm amor à pátria verde-áurea, respiram um ar de alívio e de otimismo nestas últimas semanas, após uma demonstração inegável de que homens responsáveis e cônscios de suas posições zelam pelos direitos de seus concidadãos. Todos nós nos preocupávamos com o futuro do nosso Brasil, afinal também com o nosso próprio futuro. Vivemos 'momentaneamente' na certeza de que por algum tempo as forças sinistras e anti-cristãs, que tanto nos ameaçavam, foram relegadas a um segundo plano. Isto, porém, não quer significar que eles — os inimigos comuns da pátria e de nossa fé cristã — se considerem como vencidos. Preparamse de um modo ou de outro ao contra-golpe. Mas, que temos nós a ver com tudo isto como membros da Igreja Luterana? Nos últimos decênios temos sido por demais cautelosos como membros de nossa Igreja em assuntos que dizem respeito diretamente à nossa situação de cidadãos brasileiros. Agíamos e muitos continuam a agir até hoje com certas precauções, com certas restrições no concernente das grandes decisões públicas e políticas de nossa pátria. Certo é que a Igreja tem lembrado às vésperas de eleições dos deveres de todos os cristãos evangélicos em cumprirem as obrigações constitucionais do voto. Mas é hora de assumirmos a nossa verdadeira posição dos cristãos evangélicos, pois o Evangelho que deve imperar em nossos corações não se reduz a alguns aspectos apenas de nossa vida, limitando-se não raras vezes puramente às relações familiares, de parentescos, de amizades, ou simplesmente como o sustentáculo da comunidade a qual pertencemos. O Evangelho de Jesus Cristo é por demais amplo e deve atingir a toda a nossa existência, a todas as nossas atividades e relações, incluindo naturalmente a nossa vida
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social e política. Isto nos faz lembrar que, se desejamos, dar aos nossos filhos e a nós mesmos dias mais venturosos no futuro, então é necessário sermos co-responsáveis pela manutenção das liberdades humanas e sempre estarmos alertas como evangélicos na defesa dos princípios cristãos, princípios estes que sempre estão na mira da destruição das forças sinistras e ateístas. — Para onde vamos?!! As palavras eloquentes e animadoras do estimado Presidente de nossa Igreja, Pastor Dr. Ernesto Schlieper, são a resposta à nossa pergunta e exclamação: "É tempo, pois, de deixarmos atrás a mentalidade da primeira geração, para a qual era natural que se considerassem como hóspedes da terra que os, acolhera, sentindo-se felizes em poderem conservar para si e seus filhos o que tinham trazido em bens espirituais, mas deixando a outros a responsabilidade e as decisões sobre o rumo e destino desta terra. Nós, somos filhos desta terra, orgulhamo-nos de nossa pátria e não queremos outra, mas; por isso, também somos responsáveis pelo testemunho público do Evangelho, para que ele não falte no esforço de todos pela solução dos grandes problemas do nosso país. Sim, somos responsáveis para que a Igreja e todos que a ela pertencem, também aqui no Brasil, hoje e sempre, testifiquem em alto voz: Não nos envergonhamos do Evangelho de Jesus Cristo, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê." Vamos então trabalhar pela Igreja, tomando também sobre nós a tarefa de missionar, de testificar, de testemunhar o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo. Sejamos todos responsáveis pelos destinos de nossa pátria, a qual espera que seus filhos abnegados e fiéis cumpram com seu dever. Karl G. Busch A Cruz no Sul - Junho 1964
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NOVOS RUMOS PELO EVANGELHO Podemos afirmar que no mundo existem três tipos de fome. Primeiramente trata-se da fome do corpo pelo alimento. Certo é que grandes esforços têm sido feitos no sentido de minorar este tão cruciante problema mundial. Mas muito ainda tem que ser feito, principalmente no nosso pais. Também existe a fome de espirito, uma fome de certo modo insaciável por ideias e ideais, por ideologias e doutrinas, pela própria verdade. Esta fome é sentida com mais evidência por aqueles que não sabem ler. Devem existir no mundo cerca de 500 milhões de criaturas humanas entre 15 e 50 anos consideradas analfabetas. A Organização das Nações Unidas, no seu plano de educação pana os próximos: 10 anos, tem como meta alfabetizar 350 milhões das 500 milhões de criaturas analfabetas do mundo. No entanto, há igualmente a fome pelo verdadeiro amor. Alimentos para o corpo e para o espirito são fatores importantes. Mas não são suficientes. Falta algo. O homem sempre é tangido pelo pensamento de que é alguma causa, de que é importante dentre o concerto do universo, de que é amado. Paria isto necessita de alguém que o ame e a quem possa amar. Urna cousa é evidente: Enquanto estas três formas de fome não sejam saciadas, o homem viverá uma vida paupérrima, descabida de qualquer objetivo, praticamente desvalorizada. Como cristãos que somos ou desejamos ser, somos capazes de dar a nossa parcela de ajuda para minorar o espectro da fome. Além de colaborarmos para que outros menos-favorecidos tenham alimento para o corpo e de nos propusermos a alfabetizar um analfabeto, temos em nossas mãos a arma
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invencível da fé. A fé conduz o homem à verdade implacável que está em Deus, ao amor verdadeiro que está em Jesus Cristo. Lembremo-nos dos primórdios da Cristandade. Os primeiros cristãos sabiam que a promessa de Cristo permanecia — e ainda hoje permanece entre nós! -- viva no mundo: "Eis que estou convosco todos os dias até a consumação do século." A Sua presença não estava jamais limitada a um só lugar. Onde eles se dirigiam, ali também estava Ele, dando assim motivo de sobra para que anunciassem a Sua Obra redentora e salvadora. Jesus Cristo era e permanece sendo a resposta para a fome do espírito e do verdadeiro amor. E milhares tomavam conhecimento d'Êle por intermédio dos cristãos, alegrando-se creram e obtiveram a verdadeira vida. A Igreja tem a incumbência de anunciar ao mundo como sendo Jesus Cristo o único capaz de saciar a fome do homem por uma verdadeira vida. Nós, você e eu, somos a Igreja, nós formamos a Comunidade de Cristo, nós somos os mensageiros capazes de traçar por intermédio do Evangelho novos rumos no munido! Não relutemos, mãos à obra! Karl G. Busch A Cruz no Sul - Julho 1964
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'ECCLESIAM SUAM': A IGREJA NO MUNDO DE HOJE Seguindo os passos de seu antecessor, Papa João XXIII, atual Papa Paulo VI deu ao conhecimento dia Humanidade a sua primeira encíclica. Não podemos negar, mas há muito se esperava uma carta pastoral do atual primaz da Igreja Católica Romana. Trata-se de uma tomada de posição decidida e corajosa perante o mundo contemporâneo, expressando o pensamento abalizado do Sumo Pontífice, partindo das posições concretas em que encontra a humanidade com relação à Igreja Católica. Tem como objetivo demonstrar a todo mundo interessar-se, por um lado, pela salvação da sociedade humana, e por outro, expressar o desejo que haja entre uma e outra igreja, contato, conhecimento e amor recíprocos. A atual encíclica foi elaborada em três partes, intituladas: a Consciência, a Renovação e o Diálogo. A nós evangélicos sem dúvida alguma interessa profundamente a terceira parte, pois nesta somos atingidos diretamente. Asseverando que a Igreja si sempre deve ser diálogo, são ressaltados 4 caracteres deste diálogo: 1. A clareza, para que seja compreensível, popular, selecionado. 2. Suave, para que não veja orgulhoso, pungente, ofensivo, porque não é um mandamento e não procede de fome imperiosa, mas sim de forma pacifica. 3. A confiança, tanto na virtude de sua própria palavra, como na capacidade de acolhida do interlocutor. 4. A prudência psicológica que levará em conta as condições psicológicas e morais do ouvinte. Este diálogo, porém, só pede ser genuíno se o homem é compreendido e respeitado no possível que mereça. O pontífice classificou as posições concretas em que a humanidade se encontra em relação à Igreja Católica "como se fossem círculos concêntricos ao redor do centro onde a mão de Deus nos colocou". O primeiro círculo 349
compreende-se os que 'em grande número se declaram ateus'. Neste círculo situam se aqueles cujos sistemas die pensamento negam a Deus, os perseguidores da Igreja, sistemas com frequência com regimes econômicos, sociais e políticos, 'entre os quais, encontra-se, especialmente, o comunismo ateu. O seguindo círculo refere-se ao povo Hebreu, aos adoradores de Deus segundo o conceito da religião monoteísta-muçulmana e aos fiéis das grandes religiões afro-asiáticas. Ao tratar destas religiões não cristãs parece ter sida feita uma grande concessão às mesmas, quando em certa altura da encíclica diz: 'Queremos com elas promover e defender os ideais que podemos ter em comum no terreno da liberdade religiosa, da fraternidade humana, da santa cultura, da beneficência social e da ordem civil'. Com relação ao terceiro círculo que se denomina cristão é salientado que o diálogo já existe no ecumenismo, afirmando o Papa, que 'com prazer, tornamos nosso o princípio: evidenciar diante de todos, tudo que temos em comum, antes de ressaltar o que nos separa.... Diremos mais, que em numerosos pontos que nos afastam quanto à tradição, espiritualidade, leis canônicas, culto, estamos dispostos a estudar a maneira de responder aos legítimos desejos de nossos irmãos cristãos, todavia separados de nós'. Esta declaração a princípio tão auspiciosa, porém, se contradiz fatalmente ao lermos mais adiante: `Mas devemos dizer também que não está em nosso poder transigir sobre a integridade da fé e sobre exigências de caridade'. Certo é que esta afirmação seja cautelosa e não seja 'tão rigorosa, ao ponto de se afirmar que todo o diálogo em prol uma unidade da Igreja seja infrutífero. No entanto, a própria encíclica faz com que os ares do natural pessimismo venham toldar os sinceros objetivos do Sumo Pontífice, ao expressar claramente: `Um pensamento a respeito nos aflige, o de ver, que 350
somos justamente nós, os defensores desta reconciliação, os que somos considerados por muitos de nossos irmãos, como o obstáculo, a causa da primazia dia honra e da jurisdição que Cristo conferiu ao apóstolo Pedro e que dele 'herdamos'. Sabemos que não será este o único, e primordial problema que causará certas dificuldades no diálogo. Há problemas mui profundos no terreno da compreensão da 'verdadeira fé, problemas de muito maior alcance do que a Primazia Papal. Esta apenas obscurece as mais graves. Porém, devemos aqui unir-nos à afirmação papal ao dizer acertadamente ‘que antes de se abrir em conversações fraternais se expresse, em colóquios com o Pai celeste, em efusão de orações e de esperanças'. Por isto oremos, pedindo ao Pai Divino que Ele oriente a Sua Igreja, congregando-a cada vez mais, conservando-a em obediência e fé na Sua palavra e nos Seus Sacramentos. Peçamos com sinceridade que o Senhor seja benigno com todos e que todos o sirvam na verdadeira fé e compreensão. KGB A Cruz no Sul - Setembro 1964
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SALVE! AGRACIADA; O SENHOR É CONTIGO! Dezembro lembra-nos festa, festa do Advento e Natal. Mesmo meio ao burburinho festivo — presentes, ceias, reuniões as mais diversas, lojas engalanadas, Natalzinho para os menos favorecidos, conversas animadas, programas e mais programas - um pouco de tempo há de sobrar para meditarmos sobre o Natal. O presépio tão encantador, pelo menos o foi na nossa saudosa infância, talvez nos proporcione um ângulo de partida para algumas reflexões natalinas. Vejamos: a manjedoura e Maria. "Por que a nossa Igreja não propaga em seu seio a figura de Maria?" Convenhamos que nesta época do ano a Igreja Evangélica com certa cautela realça o papel daquela que foi a mãe terrestre do Senhor. A pergunta antes surgida do acaso não é tão simples corno possa parecer. Mesmo que aos domingos ouvimos confessar que Jesus Cristo é ... "nascido dá virgem Maria"... falta-nos a adoração tão central lhe dada por nossos irmãos católicos. Será que não lhe damos o devido valor, a relegamos ao esquecimento proposital? Ou. . . Afirmar que a Igreja da Reforma relega Maria ao esquecimento ou a um segundo plano não pode ser sustentado. Martinho Lutero dedicou grande parte de seu estudo e também de sua pregação ao papel que desempenha Maria no plano e, na ação de Deus no mundo. Pode-se dizer que o Reformador soube reconduzir Maria ao seu devido lugar, lugar que lhe pertence peia graça de Deus — agraciada; Senhor é contigo! Houve um momento de, pane na vida desta simples jovem ao ser saudada pelo estranho mensageiro de Deus: "Salve! agraciada; o Senhor é contigo!. . . Não temas; porque achaste 352
graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho a quem chamarás pelo nome de Jesus" (Lucas 1.28.30---31). Temor ...apenas momentâneo acompanhado de assombro, mas certamente de lances inesquecíveis: "serve ao Senhor". Estas palavras te tornaram realidade na noite de Natal. Todos nós o sabemos desde pequeninos ainda. Nasceu o Salvador, numa pobre estrebaria coberta de simples feno. Maria, naquela noite singela e aventurosa tornava-se "não somente mãe daquele que ela amamentou e criou, mas também daquele que nasceu para o mundo; pois Ele é a mesma pessoa que perante o mundo nasceu do Pai na eternidade e nascido da virgem Maria, assim unido em uma pessoa, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem". Estas palavras de Lutero realçam o conceito neotestamentário e que nos demonstra que "o Verbo se fez Carne". O papel relevante de Maria no plano salvífico de Deus se identifica no fato de que Deus se revelou no mundo na forma de uma criatura humana e sito por intermédio ide Maria. Este é o resumo do significado do Natal. A personagem de Maria é o signo da concretização, da verdade histórica, da incontestável e única revelação de Deus em forma de criatura humana. Esta é a ênfase que nos cabe dar a Maria como cristãos, este é o caráter irrevogável que podemos, e ainda mais, devemos dar à figura proeminente, da mãe verdadeira e terrena de Jesus Cristo. Devemos, isto sim, afastar o grande perigo de dar à Maria um papel de Mediadora entre nós criaturas humanas e Jesus Cristo, erro que a história eclesiástica vem apontando continuamente e que teve o seu clímax nos últimos decênios, proclamando a sua ascensão, análoga à do Senhor. É sabido que o testemunho dos apóstolos no Novo Testamento desconhece por completo um passo tão arrogante, arrogante ao ponto de tornar uma união 353
família cristã impraticável.
quase
impossível
e
um
diálogo
quase
Maria além de mãe natural do Senhor, acompanhando certamente os passos de seu filho amado até o cruciante momento da cruz, teve no plano salvífico de Deus o papel único e preponderante de gerar ao Salvador. Por intermédio dela o Salvador nos foi dado, porém, aquilo que a nossa fé cristã quer e deseja, nos dá única e exclusivamente o próprio Senhor Jesus Cristo. No terreno da fé em Cristo também Maria está ao lado de todos os cristãos. Lutero soube expressar isto de modo muito simpático ao escrever: "...tenho eu fé em Cristo, então o apóstolo Pedro é meu irmão, Maria é minha irmã; porque no espírito e na fé ninguém é maior que o outro. . ." Aceitemos de corações abertos, neste Natal o que Deus nos oferece por intermédio de Maria: Jesus Cristo em nossa Vida, o qual se tornou igual a nós, a fim de termos acesso a Deus, nosso Pai Celeste. "E por isto honre a mãe de Cristo, mas não de modo que permaneçais aí, mas sim, avance até Deus, sobre Ele fundamente o teu coração e nunca jamais tire a Cristo do centro e saiba, que neste (em Cristo) somos todos irmãos e irmãs", palavras de Martinho Lutero no ano de 1522. K. G. B. A Cruz no Sul - Dezembro 1964
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ALEGRIA SEM IGUAL! Lucas 2.10: Eis aqui vos trago boa nova de grande alegria, que o será para todo povo. Grande alegria! Este era o anúncio que os mensageiros de Deus proclamaram aos pastores nos campos de Belém. Grande alegria! Esta é a mensagem que também hoje pode ser anunciada com júbilo a toda humanidade. Sim, a todo povo, aos grandes e aos pequenos, aos sãos e aos doentes, aos alegres e aos tristes, aos que vivem sob o signo da liberdade e aos oprimidos. Ninguém deve nem pode ser excluído desta grande alegria. O motivo desta alegria? Hoje vos nasceu o Salvador! Jesus Cristo é o Salvador, o qual veio ter entre nós humanos'. Ele é o nosso Salvador, pois somente Ele nos pode libertar dos delitos que cometemos diariamente perante Deus. Só Ele nos pode resgatar de nossa grande culpa perante Deus. Já refletiste sobre estes fatos, do fato de necessitares de alguém capaz de pôr a tua vida em ordem? Então permita que durante o Natal te seja dito isto! 'Jesus Cristo é o Salvador e Senhor!' Ele realmente é capaz de te dar algo que todas as riquezas do mundo não dão: alegria e paz. No desenrolar de uma das guerras medievais, soldados saqueavam a cidade recém tomada. Ao passarem em frente à prefeitura outros soldados surgiram de dentro dela carregando um pesado baú. Os soldados prontamente largaram o produto de seu saque e se jogaram sobre o baú. Por que? O baú continha o tesouro da cidade, que era superior a todas as outras coisas antes saqueadas.
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Que nos quer dizer este acontecimento? Nós estamos sobrecarregados com cousas vãs e mundanas, as quais são passageiras e de, nada nos adiantarão num futuro próximo. Deus, porém, nos oferece em sua misericórdia o maior tesouro do universo: seu próprio Filho. Por isto mesmo vale a pena desprezar tudo que temos e agarrar com firmeza este tesouro que procede de Deus. E agarrar este tesouro significa crer, crer que Deus nos, ama e que Jesus Cristo nos salva agora e para a eternidade. Quem crer sinceramente, conhecerá a verdadeira alegria e poderá concretizar os objetivos de sua vida sob o símbolo renovador da luz natalina. Feliz Natal! K. G. B. A Cruz no Sul - Dezembro 1964 - Edição Especial de Natal
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"EU" PARA "VOCÊ" - Todo aquele que se dedica ao estudo e às observações da evolução do mundo no decorrer da história concluirá com certa facilidade que a nossa atualidade é caracterizada por um hoje que já é uma parcela do amanhã. Isto é, no dia de hoje já participamos da realidade do dia de amanhã. O que hoje é novidade, no amanhã estará irremediavelmente superado e será substituído por algo melhor que ainda deverá ser melhorado e aperfeiçoado. Há alguns decênios ainda podíamos nos adaptar às transformações. Mas hoje isto quase não é mais possível. Vivemos em nossa atualidade momentos de fundamentais transformações, transformações que mal se agregam a nós e já são motivo de novas inovações. Sentimos em nossa própria carne estas verdadeiras metamorfoses, pois aos poucos vamos perdendo o interesse pelo que existe e existiu, dando lugar quase que indistintamente às cousas que hão de surgir, ao que há de vir. E nós como Igreja . . . Participamos desta realidade? Sim. Até certo ponto. A Igreja sempre participa ou deveria participar das transformações e mutações do homem, pois ele é o seu objetivo fundamental. Se o homem é alvo das metamorfoses, criadas e realizadas por ele próprio, espera-se que a Igreja o acompanhe com a mensagem evangélica e cristã. Os meios, talvez, que a Igreja usa para transmitir a mensagem ao homem, desejoso por inovações, sejam ultrapassadas e não o atinjam no seu meio ambiente. Esta talvez seja a realidade com a qual devemos nos confrontar e achar meios novos para que mensagem cristã alcance o homem metamorfósico. Mais do que nunca cabe-nos hoje como Igreja — Igreja no sentido amplo de sua palavra, todos nós que nos sentimos sinceramente ligados a ela — aproximarmo-nos dos homens 357
envolvidos pelo espírito da atualização constante de uma forma bem pessoal, como um 'eu' para 'você'. Pois constata-se sempre de novo que a criatura que se deixa levar pelo espírito atualizante perde a sua pessoalidade, o seu contato humano com outros homens, depositando a sua confiança, o seu desprendimento, a sua esperança, enfim, a sua fé unicamente no mundo que se transforma. Por isto a necessidade premente e inadiável de reunirmo-nos como membros cônscios de nossa Igreja em torno de um objetivo que tenha por bases o contato pessoal entre o 'eu' e o 'você'. Isto quase vem a equivaler a um testemunho pessoal de nossa parte, para o qual devemos estar preparados e prontos fazê-lo junto ao que desejamos ajudar e alcançar. Foram-se os tempos em que a igreja era o centro da vida social do homem. O centro das atenções mudou-se para outros pontos, entre os quais o local de trabalho, as reuniões de interesse comum, e bem-estar de cada um. A mensagem que vem do Evangelho, por isto mesmo, não pode ser mais de um exclusivismo clerical ou preso às delimitações da própria Igreja. E para explodir este quase exclusivismo torna-se necessário que cada membro de nossas Igrejas seja um missionário, uma luz que consiga irradiar o calor e a sabedoria da verdadeira fé cristã. Para que isto seja alcançado é necessário que os responsáveis pela Igreja, pelas comunidades efetuem novos meios de trabalho, novos métodos de ensinamento, novas modalidades de preparação a nossos membros. Pois sabemos muito bem que mesmo sendo poucos os verdadeiramente interessados, poderão alcançar muito. Pois são exatamente os nossos membros que vivem nas fábricas, nas ruas, em contato com seus vizinhos e amigos, e seu alcance é maior do que pode parecer a princípio.
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Num mundo atualizante, no qual o homem a princĂpio deseja orientar-se, atualizemos os nossos meios e certamente seremos abençoados por Deus. K. G. Busch A Cruz no Sul – Fevereiro 1965
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OS JUSTOS E OS OUTROS "Como podem os justos serem injustos." Sob este título um conceituado matutino de nossa Capital transcreveu um artigo que era assinado por uma criatura cujos conceitos sempre primaram em criticar a atitude dos chamados cristãos. Escreve o cavalheiro, cujo nome não desejamos citar, pois é um de muitos que assim pensam, que uma grande maioria de cristãos têm como caraterística o fato de sempre acusarem os outros de seus erros, esquecendo-se de que também não são santos, inclusive não tendo o direito de desfazer os outros baseados em seus próprios atos. Cabe-nos de cento modo confirmar estes fatos, afirmando que atrás desta acusação — se podemos chamar isto de acusação — está um delito muito comum de criaturas que têm o desejo íntimo de seguirem as pegadas da fé cristã. Como cristãos realmente não nos é dado o privilégio de nos julgarmos os acusadores dos menos cristãos ou não-cristãos. Se estivermos agindo de tal modo, estamos nos esquecendo de uma palavra, entre muitas outras, do próprio Senhor Jesus Cristo ao dizer: "Os sãos não precisam de médico, e, sim, os doentes; não vim chamar justos, e sim, pecadores" (Marcos 2.17). Pelo testemunho das Escrituras somos todos pecadores, isto é, não há um só justo entre nós. Visto por Deus não há diferenças entre nós criaturas humanas, diferenças no sentido de uns serem bons e de outros serem maus. Estas diferenças só existem no ponto de vista meramente humano. Por isto podemos afirmar de que o julgar-se justo, bom, e perfeito é nos olhos de Deus, a mais calamitosa característica que o homem possa se arraigar. Pois a ação misericordiosa de Deus por intermédio de Jesus Cristo se dirige diretamente ao pecador, ao
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doente, àquele que necessita e que sente necessidade de ser curado. O Evangelho inicia com a proclamação: "Eis que vos trago uma boa nova de grande alegria!" Esta proclamação nos faz refletir e finalmente reconhecer, que cada um de nós pertence ao rol dos pecadores, dos injustos, dos delinquentes e não ao grupo dos justos. Mas ao mesmo tempo algo muito mais importante: acontece no momento era que eu reconheço a minha situação entristecedora: o fato de que a graça de Deus está presente. No momento do meu reconhecimento de pecador a grande alegria que vem de Deus acha lugar para penetrar em mim. A verdade então nos libertará, mesmo que esta verdade a princípios um peso insuportável. E esta verdade sempre nos certificará que de todos os modos somos pecadores. Mas ao tomarmos, o conhecimento de nosso estado pecaminoso somos penetrados pela luz da justiça que procede de Deus e podemos ter a certeza de que apesar de sermos pecadores também somos por intermédio da graça de Deus justos. Pecadores e justos ao mesmo tempo. Mas apesar disto continuamos a necessitar como todos os outros do médico, de Jesus Cristo, que deseja acima de tudo nos conduzir ao caminho .da verdade. E não nos esqueçamos, de pedir a Deus que Ele em Sua grande misericórdia evite que nós nos tornemos acusadores e julgadores dos que nos cercam. K. G. Busch A Cruz no Sul – Março 1965
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DEUS — O CRIADOR! Ao nos encontrarmos reunidos nos cultos dominicais, confessamos em comunhão com a Cristandade a nossa fé com as palavras do Credo Apostólico. Esta confissão de fé tornou-se uma tradição e como toda tradição pode de certo modo ser apenas um costume, um bom costume mais seguramente. De certa forma é preferível esquecimento. Mas não é cabível, nem mesmo desculpável, proferirmos a nossa fé por mero costume ou tradição. É preciso compreendermos o profundo sentido daquilo que confessamos. "Creio em Deus Pai Todo-poderoso, Criador do céu e da terra" — com estas singelas palavras se inicia o Credo Apostólico. Que querem dizer estas palavras? Certo é que este primeiro artigo não deseja acima de tudo sublinhar o fato de que o mundo por nós habitado não proveio do "nada", do "vazio", mas que atrás da Criação está presente o Espirito de Deus. Assim nos é dado o direito de afirmarmos que nem tudo neste nosso mundo é casualidade. Nem a nossa própria vida é uma simples casualidade. O mais importante na confissão do primeiro artigo sem dúvida nenhuma é o fato de Deus ter criado o Universo é tudo que nele palpita e — eis o mais importante — que é poder criativo de Deus continua a se revelar e a se demonstrar. Cada flor que desabrocha, cada nova criatura que se forma, cada nova invenção, cada nova descoberta, tudo está em íntima relação com o poder criativo e operante de Deus. Muitas vezes ficamos, inseguros perante as revelações que o mundo não nos cansa de oferecer. Ficamos atônitos e, porque não dizer, confusos e desorientados perante a múltiplas possibilidades atuais de todos os ramos dia ciência. Será que há 362
algo de errado atrás do fato do homem desejar ver o que há na lua, no planeta Marte, enfim no fato de explorar o espaço que nos rodeia, mais que não nos circunscreve? Porque não deva realizar o homem os seus sonhos e satisfazer sua curiosidade natural. Que o homem o faça. Todavia, não vá o homem criar com isto um falso complexo de superioridade ou desejar por intermédio de suas aventuras que agora conhece a Deus mais de perto (ou afirmar simplesmente que não encontrou a Deus no espaço percorrido). Que o homem se lembre também de sua certa insignificância perante a majestade da Criação de Deus, bem como, da limitação, de suas forças e faculdades exploradoras. Pois que representa a nosso sistema solar perante os outros 500 milhões de sistema equivalentes? Nada. Deus que criou e conserva a Sua Criação se voltou a nós de modo pessoal e concreto. Sim, Ele veio até nós ínfimas e simples criaturas humanas com o desejo de ser a estrutura de nossas vidas, no sentido de nos aperfeiçoar e de nos conferir a glória de Sua Criação. Só aquele que conhece a Jesus Cristo conhece a Deus na plenitude de Seu infinitivo poder, dê Seu amor. Que subjuguemos o espaço que nos rodeia, mas não nos deixemos conduzir ao mal-entendido de termos realizado cousas insuperáveis e jamais vistas. Deus sim tem realizado enormes cousas em nosso beneficia, em benefício de nossas vidas. A Ele somente dediquemos louvor e glória por intermédio da nossa confissão de fé "Creio em Deus Pai, Todo-poderoso, Criador do céu e da terra." Que estas palavras não sejam apenas expressas por 'tradição e costume, mas que sempre evidenciem a profundidade da realização do Criador em favor de nós, pequenas e ínfimas criaturas, tantos sonhos e complexos de superioridade. K. G. B. (A Cruz no Sul – Setembro 1965)
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JUSTIFICAÇÃO E BOAS OBRAS Justificação é em essência um termo jurídico e como tal também pode ser compreendido no uso da fé cristã, quando a mesma se refere ao reatamento das sinceras relações do homem pecador no concernente à sua comunhão com Deus. Este reatamento não é causado pelo próprio homem, o qual desobserva a vontade de Deus". Jesus Cristo mesmo se coloca no lugar do pecador, tomando sobre si todas as recriminações, toda culpa do homem e ainda deixar lançar sobre si mesmo própria condenação de Deus. O que então ocorre é a transformação do que em si é culpado em alguém que é justificado e assim um filho remido de Deus. Deus é quem justifica o pecador por intermédio de Cristo e não é o pecador que se justifica a si mesmo perante Deus. No terreno da justificação do homem perante Deus vamos encontrar a grande diferença entre nós os evangélicos e os irmãos católicos romanos. Enquanto o testemunho do Novo Testamento afirma que somos justificados gratuitamente (veja Romanos 3.28) por Deus em Cristo, os dogmas romanos preveem como condição ao recebimento da graça justificadora de Deus a colaboração decidida do homem pecador, isto por intermédio de uma série de obras que igualmente lhe são prescritas. Atrás deste ato de colaboração do homem está enraizado o famoso pensamento muito humaníssimo demais da recompensa: Deus recompensará as minhas obras. Se ajudo a um pobre, esta ajuda terá uma recompensa na eternidade. Martin Luther, bem como os outros reformadores da época, pôde constatar, baseando-se nas Sagradas Escrituras, que as boas obras que ao serem feitas objetivam uma recompensa na eternidade não têm valor algum para a justificação do homem perante Deus. Deus é quem justifica o homem, pois este não 364
possui quaisquer propriedades ou possibilidades de colaborar na sua justificação perante Deus. "As obras nunca poderão livrar-me do pecado. O livre arbítrio tenta em vão guiar o condenado". . . escreve Martin Luther num hino de justificação. Na verdade, o cristão ao estar perante a cruz de Cristo se vê incondicionalmente condenado e até destruído. A lei implacável de Deus o condena. Mas perante a mesma cruz o cristão é chamado, é convidado a participar da imensa graça de Deus. É a graça muitas vezes, incompreensível magnânima de Deus que se revela ao pecador, pois Ele se humilhou e se compadeceu do que está condenado e perdido, oferecendo o Seu próprio Filho para a nossa salvação. Deus é que está agindo por Sua própria e única iniciativa. Jesus Cristo nos notifica esta ação de Deus. Por isto podemos afirmar que em Cristo nos é proporcionado o encontro com Deus, um encontro que de um lado nos revela o juízo de Deus sobre nós — sois delinquentes e pecadores - e do outro lado nos proporciona o ilimitado amor de Deus, a Sua infinita graça — sois justificados. Este é o sentido profundo da ação de Deus para a nossa justificação e salvação. A nossa salvação está resguardada de quaisquer equívocos, de quaisquer manobras ou mesmo da ação nefasta de dogmatizações, as quais em última análise desejam fazer da fé cristã uma linhagem estática para a vida, isto é, impor condições para alcançar certos fins. Por isto é comum ouvirmos dizer: faça o bem e Deus recompensará, ou lermos aquela tabuleta tão comum: que Deus dê em dobro a ti o que me desejais. Devemos nos certificar de uma vez por todas de que existindo uma relação sincera entre Deus e nós, esta não existe por causa de nossas boas obras ou por nossas ações meritórias. Deus é quem vem nos procurar e quem restabelece uma relação contínua e inseparável.
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Mas nós não podemos permanecer impassíveis perante o oferecimento de Deus, a saber, nossa justificação gratuita. Este oferecimento de Deus deve produzir em nós, deve demonstrarse em reflexos de agradecimentos, louvor e — acima de tudo — ser vir ao Senhor pela causa da salvação dos homens. Em nossas ações e na nossa própria peregrinação neste mundo os frutos provenientes de nossa justificação devem ser sentidas e comprovados. Deus deseja ver os nossos frutos, as nossas boas obras. E ao realizarmos as boas obras não o fazemos para sermos recompensados, mas nossas boas obras são o reflexo da ação de Deus em Cristo para que também eu possa conduzir o meu próximo ao encentro proporcionado por Cristo, entre ele, o meu próximo, e Deus. K. G. B. A Cruz no Sul – Outubro 1965
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SEDE DE JUSTIÇA Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos. Mateus 5.6. Há muita gente que vive clamando contra as injustiças da terra. Serão estas palavras acima dirigidas a pessoas que assim agem? Está claro que não, porque se assim fosse o número de bemaventurados seria incontável. Jesus, ao pronunciar estas palavras quis dizer algo bem diferente. O cristianismo coloca diante dos homens um ideal elevadíssimo e igualmente sublime. Mas na própria natureza humana há forças que tenazmente se opõem à concretização de tais ideais. Estabelecese uma luta íntima no indivíduo, a qual é constante e áspera. O homem quer se aperfeiçoar, mas não o consegue. E este querer se aperfeiçoar é que de certa forma Jesus chama de ter "fome e sede de justiça". A fome, embora possa ser incômoda, é absolutamente necessária para o desenvolvimento do organismo. Quando ela não existe há sempre a desconfiança de qualquer sintonia de doença ou cousa que pareça. Basta uma criança não demonstrar apetite, eis que os pais já se preocupam. Mas o texto não fala apenas na fome. Refere-se igualmente à sede que é muito pior que a primeira. O homem pode viver uma série de dias sem ingerir alimentos constantes, mas dificilmente suporta a falta da água. Jesus referiu-se de uma só vez aos dois impulsos — fome e sede — deixando bem claro que se refere apenas a um desejo vago e comum de justiça, mas sim a urna aspiração veemente dá mesma. Feito este paralelo, indignamos dois fatos que podem dar ideia da maneira pela qual a fome e a sede espirituais se transformam em bem-aventurança.
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Primeira — Casos há em que não se consegue despertar nas criaturas humanas qualquer desejo substancial pelo conhecimento e pela participação da verdade do Evangelho. Falta a estas pessoas ou o conhecimento da verdade evangélica ou falta-lhes a necessária tenacidade. Há, todavia, o polo oposto, felizmente. É o descontentamento com a própria justiça e de anseios vigorosos de uma vida melhor e exemplar. Em outras palavras: fome e sede de justiça. Isto deixa patente como é que um estado que parece ao primeiro momento tão indesejável é condição necessária para o recebimento de uma benção, a bem-aventurança. Segundo — Uma das forças retroativas ao progresso espiritual é a da acomodação. Diversas influências, principalmente as do próprio meio em que o cristão vive, favorecem o comodismo, que nada mais é do que uma inércia espiritual. Não terá a mínima sede de justiça. Assim coimo as coisas estão, está tudo muito bem. Há aqui também o lado oposto. Existem criaturas que não se satisfazem com simples sofismas ou simples palavras de consolo. São os representantes da reação contra o ambiente e do declínio espiritual. Desejam ardentemente construir e constituir a justiça. Mas... Se alguém sofre de falta de apetite, há médicos em profusão que podem curar este mal. Mas será que alguém possa iluminar o homem que tem fome e sede de justiça, dando-lhe o sentimento de "estar farto"? Se acompanharmos a experiência do homem na luta para o aperfeiçoamento, veremos que, com seus próprios esforços ele jamais satisfará integralmente a sua sede pela justiça. O homem na verdade não tem recursos próprios para chegar à perfeição. E se ele não tem recursos próprios para satisfazer sua sede de justiça uma possibilidade lhe é dada: basta fazer uso da mesma: 368
Jesus Cristo. Sim, nele se encerra toda a justiça deste mundo. Só ele poderá fartar os homens na sua sede de justiça. Apenas pela graça infinita dó próprio Cristo — e de nenhum outro modo — podemos alcançar a bem-aventurança anunciada em Mateus 5.6: Bem-aventurados os que têm Tome e sede de justiça, porque serão fartos. K. G. Busch A Cruz no Sul – Novembro 1965
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TEMPOS DE ALEGRIA Estamos em plena época de advento. É chegado o tempo em que nossos corações se enchem de alegria. A própria atmosfera e o nosso ambiente de todos os dias inegavelmente contribui para que este tempo que precede do Natal nos faça sentir alegres e confortados. Tudo é festas. Tudo é congraçamento, esperança e até certo pomo paz. Será difícil descobrir a causa ou as causas de tal transformação? Muitos dirão simplesmente que o próprio aspecto das ruas, das lojas, dos lares, evidenciam a causa desta alegria. Porque é Natal. Se perguntamos a uma criança sabre o significado do Natal, ela saberá responder que neste dia nasceu o Menino Jesus e que o Papai Noel traz presentes e brinquedos para as crianças educadas e boazinhas. As crianças são sinceras em suas respostas. Por que? Porque assim aprenderam de seus pais. E se o Natal é o dia dos presentes, do Papai Noel, então os pais ensinaram assim. Será que o Natal apenas se resume nisto? Presentes e Papai Noel? Não. Ainda nos esquecemos das belas canções de Natal do Jingle Bell, Noite Feliz, Olhai como dorme o Menino Jesus. E tem mais. Os sinos das igrejas repicam alegres. Depois as belas ceias de Natal. Tudo é motivo de festa e festa. É alegria. Ao procurar retratar em singelas pinceladas as causas da alegria natalina que já se manifesta agora no advento, algo importante foi se transformando em sutil e de pouco valor: o sincero motivo do Natal. Mesmo que a criança e saiba superficialmente — nasceu o Menino Jesus — a causa sincera e essencial do Natal, da alegria, da paz, reside não nestas cousas exteriores. Está em Deus mesmo. Deus veio ao mundo em Jesus Cristo. Mas por que Deus veio ao mundo?
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Quando os homens antigamente imaginavam que Deus viria ao mundo, enchiam-se de médio, de terror. Pensavam eles, que no momento em que Deus os visse de perto, assim como eram, Ele se revelaria numa onda de ódio e de destruição. Estavam cientes de sua situação clamorosa e vergonhosa, de seu estado delituoso perante o Criador, o Deus da ordem, da justiça, da harmonia, da paz. Mas quando Deus realmente veio em Jesus Cristo, apresentouse de maneira bem diferente daquela imaginada pelos homens antigamente. Certo é que não faltou o medo. Os fariseus foram os primeiros a se intimidarem com Jesus e sempre se preocuparam com o meio de afastá-lo de Sua missão. Viam nele aquele que os podia desmascarar. E Jesus o fez. Venceu a cruz. Não nos esqueçamos do discípulo Pedro. Também ele se deixou apoderar pelo medo. Foi na ocasião da pesca milagrosa, quando Jesus ordenou aos pescadores que voltassem à pesca depois de uma noite infrutífera de trabalho. Quando Pedro viu e sentiu que as redes se rasgavam do peso do pescado, voltou-se a Jesus: “Senhor, retira-te de mim, porque sou pecador.” Todavia, todos aqueles que atentavam ás palavras de Jesus – entre os quais o próprio Pedro – estes sabiam que a vinda de Deus em Jesus Cristo não tinham por objetivo amedrontar os homens. Deus notificava os homens de uma vez por todas que não queria deixá-los à vã sorte. Mas que desejava estar ao lado dos mesmos para sempre. Deviam confiar nEle, pois só Ele poderia e pode dar-lhes uma nova vida, salvá-los. Ou como o evangelista João afirma: "Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por Ele" (João 3.17). Meus amigos, é este o motivo de tão incomensurável alegria no tempo do Natal: o amor de Deus. Deus veio nos acolher como 371
seus filhos, veio para nos salvar, para nos dar novas chances, novos propósitos de uma vida santificada e proveitosa perante o mundo e perante Deus. Advento, Natal, não é uma época idealizada peio homem. É a festa que Deus nos proporciona em Jesus, Cristo, o Menino Jesus da estrebaria de Belém que nos quer cobrir de bênçãos de amor, de paz, de alegria. "Alegrai-vos sempre no Senhor". K. G. B. A Cruz no Sul – Dezembro 1965
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UMA HISTÓRIA DE NATAL Existem histórias de Natal e existem fatos reais de Natal. E existem fatos reais que refletem uma sincera história de Natal, merecendo nossa atenção e leitura, pois de certa forma singela nos transmite uma mensagem pura e cálida. Pelo título — "Papai Noel não gosta de favelas" — poder-se-ia pensar que o desconhecido autor se dispunha a criar uma celeuma, ou mesmo apresentar seu protesto contra abusos e disparidades tão comuns do Natal. Mas ele não protesta contra coisíssima nenhuma. Ele apenas nos conduz ao centro dos acontecimentos natalinos. Eis a história de um fato... "Ouvira falar de sapatos na janela..." Na praça havia garotos bem vestidos, garotos com babas, reizinhos bem servidos. Todos comentavam o Natal que se aproximava: --- Você vai ver, Enio, o meu sapato. A mamãe disse-me que custou uma fortuna. Papai Noel irá deixar um rico presente... Tomara que chegue logo O Natal! — Eu quero de Papai Noel um velocípede... — Eu não. Quero um revólver de "cow-boy". Sebastião mora na favela. Não sabe desejar. Gostou da história dos sapatos. Vai experimentar. Talvez... Papai Noel é velho e não sobe morro. É bem verdade que o seu sapato não tem valor. O papai já o comprou há um ano. Está furado e as pedras do caminho lhe angustiam quando vai à Igreja nos domingos... "Será que eu, pensa ele, não poderei também possuir o meu brinquedo"...
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Natal chegou. Papai Noel passou bem longe... Sebastião levantou-se com esperança. O seu sapato furado, na tosca janela da favela não traz nada. Para ele, sapatos na janela foi história. — Meu filho vá à fonte buscar água. Sebastião sai, lata d'água na cabeça. O Natal do pretinho não traz novidade. É apenas mais um dia. A sucessão de latas d'água. O menino do morro não tem Papai Noel.... Desce à tarde o pequeno Sebastião a cobiçar o Natal dos apartamentos. A praça regorgita. A petizada está abraçada à sua realidade. Os pais enganam os meninos afirmando-lhes que foi Papai Noel... Sebastião não calçou os sapatos. Está a sorrir com a felicidade dos outros. — Vamos brincar de mocinho. --- Vamos. — Eu sou o mocinho — Eu sou o bandido. Todos na tocaia para a luta de tiros. Sebastião foi convidado. Houve disputas se deviam aceitá-lo ou não. Afinal, entra como bandido preto. Vai brincar com o Natal do outro... Passa o dia todo fazendo "às vezes", radiante de sua posição. Está participando do Natal dos outros. Na melhor da distração os papais dos garotos os separam e cada um vai para sua casa, e o 'Sebastião é o único solitário na praça, sem brinquedo, sem Papai Noel. A mamãe de Sebastião, lá do alto do morro mostrou-lhe um outro Natal. Disse-lhe que fosse à igreja, fosse ver o presépio.
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Está descalço, rasgado, mas não faz mal. Lá não está um velho barbudo conhecido por Noel... Sebastião ouve os sinos da Matriz. Corre porta a dentro. "Pobrezinho 'nasceu"... — todos cantam. Esticado na ponta dos dedos o pequerrucho vê bois, burros, camelos, estrebaria... Lembra-se de que alguém já lhe falou daquele menino... Sabe que Ele é diferente do Papai Noel... Ele sobe os morros e entra em qualquer casa. Na sua mesmo Ele está numa parede, já homem, morrendo na cruz. Sebastião nota que o Menino está numa estrebaria e nem sequer possui janelas para colocar sapatos"... O Sebastião, menino simples, de vida simples, de gênio humilde, descobriu a essência da mensagem do Natal: O Menino Jesus entra em todo lar, vai lá onde estão os homens, quer na mansão, quer no barracão, quer no apartamento, quer na vida. Este Menino, do qual nos fala o Natal, quer morar em nossos corações, quer ser parte nossa, quer estar conosco. Abri as portas de vossos corações ao pequeno de Belém. Que o Natal não seja motivo de ostentação, mas sim, de humildade e singeleza, de alegria e prazer, pois nos nasceu o Salvador Jesus. Abençoado e feliz Natal, caros leitores. P. K. G. Busch A Cruz no Sul – Dezembro 1965 – Edição Especial de Natal
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O CRESCER PARA CRISTO Na epístola de Paulo aos Efésios vamos encontrar a senha dedicada ao ano de 1966, a saber: "Seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é o cabeça, Cristo” (4.15). Crescer é o desenvolvimento progressivo de algo concreto, é o se desenvolver físico de uma pessoa, é o se desabrochar de uma planta, é o prosperar de alguma cousa ou o nosso próprio prosperar na vida. E neste ano somos chamados a crescer em tudo, isto é, em todos os sentidos, quer na nossa vida pessoal, quer na vida profissional, quer na nossa vida de fé, tendo por objetivo a Jesus Cristo. Podemos transcrever certamente o termo crescer, substituindo-o simplesmente por prosperar. E quem será entre nós que não alimente o desejo sincero de prosperar? Todos nós queremos ter uma vida cheia de prosperidade, e por isto mesmo desejamos aos nossos ente queridos, aos nossos amigos, mesmo aos desconhecidos um "próspero ano novo". Mas que sentido damos a este desejo tão comum destas épocas? Será que pensamos no sentido de prosperidade funcional, no sentido de apoderarmos fortunas ou riquezas? O será que os nossos desejos são desejos de felicidade, de, saúde, de paz na família, de alegrias, no sentido de que tudo tenha um transcorrer normal nestes 365 dias de 1966? Será que nossos votos de um "próspero ano novo" sejam apenas desejos de ordem material e de bem estar pessoal? Sinceramente assim pode parecer muitas vezes. Expressamos nossos sentimentos de um modo um tanto otimista, um tanto utópicos, a tal ponto de querermos esconder certas angústias vivas em nossos íntimos. Será que este ano tudo realmente será como nós nos imaginamos e sonhamos; será que não teremos também desgostos, ou que teremos de passar por privações, por tentações? Será.., e pelos "serás" afora encontraremos motivos
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suficientes de dúvida, de insegurança, de angústia, medo e temor. Mas... assim pensamos na maioria das vezes... porque dar lugar a preocupações e reflexões tão sérias e angustiantes numa época tão bela como esta da passagem de ano, onde há tanta alegria. Infelizmente costuma ser assim: vivemos procurando um meio seguro e inabalável de concretizarmos a nossa própria existência. Todavia, raramente encontramos este meio tão desejado. Preferimos então esquecer as nossas preocupações por alguns instantes, afogando-as numa alegria um tanto artificial. Creiam, estamos de certa forma fugindo da "verdade", da verdade que revela sempre as causas da realidade constante dos fatos de nossas existências. Todavia, esta fuga é um sinal de debilidade, para não se afirmar covardia. Por que fugimos? Há motivos de fuga? Desde quando a verdade é algo que devemos temer, da qual procuramos fugir? A verdade é a que não podemos afastar de nossas vidas; ao contrário, é uma sentença que nos atinge a todos e qualquer artifício por nós usado jamais poderá afastar a verdade da vida de nossa existências. Se assim o é, então só há um passo a se dar: encarar a nossa existência, encarando a própria verdade. Houve, há e sempre haverá pessoas que julgam encontrar na realidade da vida apenas motivo de pessimismo e de preocupações, eternas. Tudo depende naturalmente do modo com que encaram a verdade. Podemos considerar a verdade como sendo algo natural, ou podemos ver na verdade algo que nos é um empecilho para a vida. Enquanto uns desejam viver com naturalidade e espontaneidade, outros querem fazer da vida algo artificial e estranho. Mesmo que entre os primeiros e os segundos haja aqueles, que se sentem felizes, há a turba imensa dos descontentes e infelizes. Para estes a verdade é algo 377
de irrealizável. Mas será mesmo? O apóstolo Paulo por intermédio de suas palavras é de opinião diversa. No seu entender há a possibilidade de nos sentirmos realizados e na verdade, unindo para isto uma ação que podemos arraigar facilmente, pois esta ação nos é oferecida, ela nos é dada de presente. Esta ação se chama "amor" (veja 1 Coríntios 13). a Não é uma fórmula mágica qualquer, não se trata de novo de um artifício, mas se trata de uma forma realizável do desenvolver, do progredir de nossas vidas dentro dos princípios da verdade. "Seguindo a verdade em amor.... "O amor é paciente, é benigno, o amor não arde em ciúmes,' não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta" (1 Coríntios 13. 4-7). Onde Paulo pôde conceber tal estrutura do amor? Indubitavelmente Paulo concebeu esta estrutura do amor tendo à sua frente como símbolo ao próprio Senhor, Jesus Cristo. Paulo viu e reconheceu nEle o conteúdo do amor: da estrebaria à cruz, da cruz à ressureição. E por reconhecer isto também Paulo pode escrever, e nós podemos aceitar, que "seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo daquele que é o cabeça, Cristo". K. G. B. A Cruz no Sul – Janeiro 1966
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A Ordenação do Pastor K. G. Busch Domingo, dia 24 de abril de 1966. Um lindo dia. Na Igreja Central, uma atividade incomum. Uma solenidade de caráter todo especial ia ser realizada: a ordenação do Rev. Pastor Karl Gustav Busch. Para tal reuniram-se todos os pastores de confissão lutherana da nossa cidade, além do Presidente D. Schlieper, da Igreja Evangélica de Confissão Lutherana no Brasil. Além dos pastores, reuniu-se também a Diretoria da Igreja e uma grande parte da Comunidade. O Culto começou às 9 horas e foi celebrado em português e alemão. A cerimônia foi de beleza invulgar e notava-se na comunidade o impacto e a emoção de um momento tão importante. Após a liturgia, foi feita a ordenação do P. Busch pelo rev. D. Schlieper, P. Zander e P. Reichardt. Logo após foi feita a prédica pelo P. Busch, então já ordenado. Depois da prédica o rev. P. Busch foi introduzido junto com os novos membros da Diretoria ao serviço da comunidade. Ao terminar o culto, a Diretoria e os Pastores se reuniram no Clube Transatlântico, onde houve festivo almoço. Temos, assim, agora, o P. Busch com todas suas formalidades cumpridas, estando ele agora perfeitamente integrado com suas atividades e direitos pastorais que tem como Pastor de nossa Igreja. Com esse acontecimento só podemos regozijar-nos e desejar ao P. Busch um fecundo e profícuo serviço pastoral e que realize todas as suas obras daqui para o futuro corno as vem realizando há muito tempo e pedir a Cristo que abençoe o trabalho deste e de todos os homens que com seu serviço enaltecem a Deus, honram a Pátria e ajudam ao próximo. Boog - A Cruz no Sul – Junho 1966 379
Ordination und Installation von Pastor Busch Heiter stralhte die Sonne von einem wolkenlosen Himmel, heiter waren auch die Gemüter der Menschen, die sich an jenem Sonntag, den 24. April 1966, zum Gottesdienst in der Stadtkirche zusammenfanden: sollten doch sie und unsere Gemeinde einen besonderen Tag in der Geschichte der paulistaner Gemeinde erleben, nämlich die 0rdination des Hilfspastors Karl Gustav Busch zum Pfarrer der Evangelischen Kirche lutherischen Bekenntnisses in Brasilien und seine Einführung zum Dienst an der Gemeinde von São Paulo. So versammelten sich an diesem Sonntagmorgen die abkömmlichen lutherischen Pfarrer von São Paulo, so wie auch der gesamte Kirchenvorstand unserer Gemeinde, um diesem Festgottesdienst beizuwohnen. Der Gottesdíenst begann um 9 Uhr und wurde sowohl deutsch als auch portugiesisch gehalten, so dass alle Anwesenden dieser Feier mit grosser innerer Bewegung folgen konnten. Im Anschluss an die Liturgie wurde P. Busch durch den Herrn Kirchenpräsidenten D. Schlieper zum Pfarramt ordiniert, assistiert von P. Reichardt und P. Zander, den beiden Senioren unserer Gemeinde. Danach predigte P. Busch auf portugiesisch. Durch den Kreispfarrer des Südkreises unserer Synode, Herrn Pastor Grätz aus Rio Claro, wurde P. Busch dann zum Dienst in der Gemeinde São Paulo eingeführt; anschliessend dann ebenfalls die neugewählten Kirehenvorsteher unserer Gemeinde durch P. Reichardt. Im Anschluss an diesen unvergesslichen Festgottesdienst fand für den Kirchervorstand und die Pastoren: ein Festessen im
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Club Transatlântico statt. Während des Essens wurde eine ganze Reihe von Reden gehalten, welche die Freude üiber diesen Tag und die Glückwünsche an P. Busch zum Ausdruck brachten. P. Busch dankte in zu Herzen gehenden Worten für diese Anteilnahme und Treue, welche er aus allen Worten herausgehört babe. So können wir uns alie über diesen grossen Tag unserer Gemeinde freuen und Herrn P. Busch noch viele Jahre des segensreichen Wirkens in unserer Gemeinde wünschen, dass es ihm gelinge, die portugiesische Arbeit unserer Gemeinde weiterhin mit Gottes Hilfe aufzubauen. A Cruz no Sul – Julho 1966
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O COMPROMISSO DE DAR – POR QUE E PARA QUE? Meu caro amigo leitor! Talvez não aches certo, nem mesmo aconselhável, usar a primeira página desta revista para tratar de um assunto tão melindroso e até certo ponto desagradável. Já enfrentamos tantos problemas e tantas dificuldades no nosso momento atual. Porque não abrandar esta situação com palavras de conforto e de estímulo em vez de falar em mais um problema. Todavia "nem tudo que reluz é ouro". Coragem e vamos enfrentar a questão sem usar analgésicos ou mesmo paliativos, afirmando desde já que o assunto em relevo é da alçada dos outros e não de cada um de nós. Infelizmente a questão aqui apresentada é de minha e de tua particular alçada. Certo é de que qualquer pedido, para não usar a palavra odiosa "exigência", partindo da Igreja ou da Comunidade sempre é mal recebido, ou melhor, mal interpretado. Parece que poucos ou pouquíssimos querem se comprometer com sua Igreja e Comunidade. Alguns inclusive são capazes de assumirem um compromisso escrito e formal, assinado legivelmente, em se prontificarem a contribuir mensalmente, trimestralmente, semestralmente ou anualmente com o trabalho de sua Comunidade, isto quase sempre em ocasiões propícias e exigíveis como num 'batismo, numa confirmação, num casamento, nas bodas de prata e de ouro, ou mesmo num enterro. Mas passado este transe, nada mais acontece, esquecendo-se daquilo que assinaram. E assinar significa a pôr o seu próprio nome em forma de compromisso. Está certo isto? É evidente que não. Melhor, porém, não entrar no mérito da questão. Apreciemos, no entanto, o que deve ser feito com máxima urgência, a fim de evitarmos cousas piores e que infelizmente rondam a nossa Comunidade evangélico-luterana de São Paulo: a lacração das portas de suas igrejas e instituições.
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Muito bem! Sabes, amigo leitor, que a tua Comunidade, a Igreja Evangélica Lutherana de São Paulo, está atravessando uma crise jamais anotada na sua longa história? Sabes que a sua Comunidade está sendo forçada a pedir esmolas para poder sobreviver? Não é isto chocante e por demais desagradável como triste? A tua Comunidade em vestes de mendigo! E na realidade ela tem mais a fazer e se preocupar do que simplesmente sobreviver. Ela tem uma missão a cumprir, missão não lhe ditada por qualquer grupo de pessoas interessadas na sua sobrevivência, ou por ideias contemporâneas do mundo em que ela vive, mas lhe ordenada por Jesus Cristo: levar a mensagem de seu santo e valoroso Evangelho a todos os recantos de São Paulo e das cidades circunvizinhas. Foste batizado, confirmado, comungaste, recebeste a bênção matrimonial, batizaste teus filhos, desejas que eles sejam confirmados, pois assumiste junto com os padrinhos de educá-los e instruí-los nos princípios da sincera e verdadeira fé cristã. Isto significa que és participante e coresponsável da missão que Jesus Cristo confiou à Comunidade, à qual tu também pertences pelo teu batismo. Como membro de um corpo que deve ser vivo e dinâmico. Assim pelo menos esperas que ela seja, viva e dinâmica, a fim de que ela possa servir a ti e também aos outros. Mas para que a tua Comunidade possa realmente servir a ti e aos outros é preciso cumprires os teus deveres em relação à mesma. Primeiramente tens um compromisso assumido perante Deus: o de seres uma criatura que sabe de sua responsabilidade de viver em conformidade com os princípios da fé que provém da palavra do Evangelho de Jesus Cristo, de seres no mundo em que desenvolves o teu dia a dia um missionário de Deus, um cristão atuante. Do outro lado,
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consequência inevitável e inerente do anterior, és coresponsável com os destinos de tua própria Comunidade, no caso a Igreja Evangélica Lutherana de São Paulo, dentro da qual és parte integrante e importantíssima, pois sem tua presença, sem tua co-responsabilidade ela não pode ser o que deve ser: parte integrante de tua própria vida. Como assumir esta co-responsabililade? No momento atual é preciso que coloques à disposição da tua Comunidade os meios necessários para que ela possa realmente exercer suas funções e sobreviver a esta crise de mendicância. O teu compromisso seria dar um pouco daquilo que tens. Sabemos que lutas com dificuldades, que tens os teus outros compromissos importantes e urgentes de família, de cidadão, de companheiro, dentro do própria sociedade. Mas lembra-te de tua Comunidade. Ela também é importante. Se já és membro inscrito, reformule a tua contribuição. Veja se no teu orçamento a Comunidade pode receber um quinhão melhor. Se ainda não te inscreveste como membro efetivo, faça-o sem demora e se comprometa assim a colaborar no desempenho de tua Comunidade. E ao fazeres este teu compromisso, lembra-te de algo muito importante: não o faça perante o teu pastor, por não poder negar um pedido vindo pessoalmente dele, nem perante a diretoria, mas faça-o acima de tudo perante a tua própria consciência e perante Deus. Igualmente não te esqueças das três regras fundamentais pelas quais podes orientar o teu compromisso para dar: 1. Todos queremos dar. 2. Todos queremos dar conforme as nossas possibilidades. 3. Todos queremos dar alegremente.
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Esta regra de três já evidencia que ninguém deseja sinceramente fixar qualquer contribuição de 2, 3, 5, 7, 10 ou 20 mil cruzeiros mensais. Mas se ninguém dá nada tem de se pedir e pedir o tanto que a Comunidade necessita para saldar os seus próprios compromissos essenciais e necessários. Pois também ela tem seus compromissos inadiáveis. E não são tão poucos assim. Todavia, tudo poderá melhorar e até se aperfeiçoar, com o teu compromisso de dar. Temos muito a fazer unidos, tu e eu. Muito esperam de nós como Comunidade. Porém, nem tudo poderá ser feito sem o teu e o meu compromisso de dar. Pastor Karl G. Busch e a Comissão do trabalho em português da Igreja Evangélica Lutherana de São Paulo. A Cruz no Sul – Setembro 1966
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75 anos de atividades da IGREJA EVANGÉLICA LUTHERANA DE SÃO PAULO Em 29 de outubro de 1891, por ocasião da comemoração da Reforma de Martin Luther, constituía-se, após várias tentativas, oficialmente a Igreja Lutherana de São Paulo, com sede na atual avenida Rio Branco, próxima ao Largo do Paissandu, hoje um dos centros nevrálgicos da metrópole paulista. Pode-se, no entanto, constatar que já em 1858, em pleno Império do Brasil, realizavam-se os primeiros ofícios luteranos em São Paulo. O ano de 1891, porém, foi decisivo para a constituição oficial da nossa Comunidade. Eram dados os passos fundamentais para a sua formação e a construção da primeira igreja, a qual se tornou realidade entre os anos de 1907 a 1909, sendo celebrados os cultos e os ofícios até esta ocasião em casas particulares, bem como, no templo da Igreja Presbiteriana. São 75 anos de atividades ininterruptas nesta cidade que hoje não é mais comparável aos 15 lustros que se foram. Com a mesma cidade, desenvolveu-se a própria Comunidade, estendendo o seu campo de ação além dos seus limites, abrangendo as regiões de Santo André, São Bernardo de Campo, São Caetano do Sul, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires, Ferraz de Vasconcelos, Mogi das Cruzes, Guarulhos, São José dos Campos, Campos do Jordão, Santos. Nota-se indiscutivelmente na história desta Comunidade um desenvolvimento progressivo e por vezes arrojado. Homens de valor, pela fé, uns após os outros, em sucessão contínua, trazendo vivo e crescente o objetivo de lançar as sementes do Evangelho nos lares evangélico-luteranos desta imensa região. Hoje a Igreja Evangélica Lutherana de São Paulo, membro efetivo do Sínodo Evangélico do Brasil Central,
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(subsequentemente da Igreja Evangélica de Confissão, Lutherana no Brasil), é parte integrante desta metrópole paulista e, como nunca, vê de olhos abertos a sua responsabilidade como Igreja de Cristo junto ao mundo lhe disposto por Deus. Ao lutarmos momentaneamente com sérias dificuldades e provações como Comunidade evangélicaluterana, dirigimos os nossos pensamentos ao futuro no sentido de dinamizar ainda mais dentro de nossas possibilidades humanas a proclamação da fé viva e constituinte em Jesus Cristo, o único Mediador entre Deus e os homens. Vencido este longo prazo de 75 anos, não é outro o nosso propósito, não é outra a nossa disposição, de nos conscientizarmos: de nossa missão, árdua e às vezes, tão difícil como também assustadora, mas abençoada por Deus, o qual por intermédio de Jesus Cristo, delegou-nos a ordem irreversível de "irmos por todo mundo e pregarmos o Evangelho a toda criatura". O nosso mundo é a região onde nos encontramos, é esta cidade transtornante e por demais problemática, são os subúrbios e os centros industriais que nos cercam. A Palavra de Cristo, nas suas mais variadas formas de pregação, deve alcançar as criaturas que no dia a dia nos envolvem com sua presença, que batem, às nossas portas, que passam ao nosso largo, que nos olham, de soslaio, curiosas ou não, desconfiadas ou não, aflitas ou não. Ao comemorarmos estes 15 lustros de nossa "Igreja Evangélica Lutherana de São Paulo" devemos todos em conjunto reafirmar o nosso propósito e, subsequentemente, reativar o nosso empenho em desejarmos ser Comunidade de Cristo em São Paulo. Para isto não basta apenas "assistir" aos evangélicoluteranos de nosso âmbito, mas participar efetivamente da problemática do mundo em que estamos colocados, não apenas apontando males, porém, colaborando efetivamente com uma parcela de nossos esforços e de nossas atitudes a sermos 387
responsáveis também pelo destino da vida das criaturas humanas que ao nosso lado se encontram. Ao relembrarmos respeitosamente estes 75 anos de disposição, de continuidade de constantes atividades, elevamos as nossas preces de graças e louvor a Deus, pedindo-Lhe que nos supra com as forças necessárias, a fim de que todos unidos possamos consagrar e multiplicar as bênçãos advindas da mensagem sempre renovadora e substancial do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo. K. G. Busch A Cruz no Sul – Outubro 1966
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NATAL: FÉ - ESPERANÇA - AMOR Mais um Natal. A cristandade celebra uma das suas grandes festas: o Natal. Sem sombra de dúvida todas as famílias cristãs, das mais diversas tendências doutrinárias, fundamentadas nas mais adversas tradições, sentem-se unidas pelos mesmos sentimentos de alegrias de paz e de boa vontade. Por que? Por ser Natal. Que é o Natal? O Natal é a comemoração do nascimento de uma criança envolta em faixas numa das mais pobres e abandonadas estrebarias da antiga Belém da Palestina. Esta criança, no entanto, não era apenas mais uma entre milhares que naquele dia vieram ao mundo: Cabia-lhe uma missão, uma missão diferente e árdua: ser o traço de união entre os homens e o Criador. Por isto mesmo a Rússia e seus países satélites, a China e seus adeptos não podem festejar esta tão magna data. Por isto seus governos não poderão unir-se aos seus cidadãos por intermédio de uma mensagem de congraçamento. Antes reapresentarão o papel de Herodes: combaterão a festa de Natal, pois temem ser derrubados de seus poder pela mensagem contaminadora de Jesus Cristo. No entanto, não poderão eles penetrar no íntimo daqueles sob sua jurisdição legal que conheceram a Cristo Jesus e que no silêncio desta noite em preces murmuradas se rentem unidos aos outros milhões de cristãos que dão vasão sincera, ou mesmo falsa, de seu júbilo e de sua alegria do Natal. Pois acima de tudo, e apesar das distorções e dos abusos, Natal é uma festa de fé, esperança e amor. Por que de fé? Na festa de Natal, nós, os cristãos, desejamos reafirmar e manifestar a certeza e a convicção de termos achado e descoberto em Jesus Cristo o nosso Guia, o nosso Líder, o nosso Salvador que todos em comum nos une ao nosso Criador. 389
Daí encontrarmos nEle a nossa grande e viva esperança, apenas e somente por intermédio dEle chegarmos à verdadeira e sincera Redenção da humanidade. Apenas unidos com Cristo poderemos fundamentalmente livrar-nos de nossas preocupações pelo futuro, não só o nosso e de nossos filhos, mas também livrarmo-nos do espectro da destruição, do esvaziamento, e dia mutilação das gerações futuras pelo egoísmo das filosofias humanas. Cristo é a nossa esperança porque Ele nos indica o caminho que devemos unidos e solidários caminhar até o fim. E este caminho? É o caminho do amor. Em Jesus Cristo nos é revelado o caminho do amor. Melhor ainda, em Jesus Cristo achamos incarnado o amor. Pela mensagem cristã está sendo implantado um novo reino, poucas vezes compreendido, muitas vezes mal interpretado, o reino do Amor. Os homens algum dia deverão chegar ao reconhecimento de que jamais se sentirão realizados pela padronização da vida. Padronização é algo que nos escraviza a leis exigentes e que nos conduzem à monotonia, isto é, um passo apenas da insatisfação. A mensagem de Cristo, cuja história se iniciou com seu nascimento, almeja conduzir os homens à uma condição de compreensão e de respeitabilidade mútua, baseada não na rigidez e na intranquilidade do cumprimento da lei, mas no princípio único e básico do amor: amar o próximo como a si mesmo. Sim, este amor pode fazer milagres grandes milagres. Mas como? Como? O primeiro milagre deve ser realizado e concretizado no nosso lar, em nossa família. O Natal simboliza afinal a família: Maria e José, ambos sorridentes e felizes com pensamentos de pureza e abnegação voltados ao Menino que lhes foi depositado em suas bondosas mãos pelo Altíssimo. Assim também deve o
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Natal 1966 consagrar nossas famílias, abençoando-as e elevando-as acima de todas nossas infinitas disputas pessoais. Que neste dia pais e filhos, avós e netos, tios e sobrinhos, sogras e noras, padrinhos e afilhados se unam estreitamente em teimo do Menino Jesus, sentindo assim a imensidão das bênçãos advindas da mensagem, a qual reflete em nós fé, esperança e amor. E quem tem fé, esperança e amor, este está apto a produzir muitos milagres, milagres mesmo, no mundo em que vive, o qual anseia por milagres de amor. Feliz Natal, rejubilemo-nos com a festa de Natal! K. G. Busch A Cruz no Sul – Dezembro 1966
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ACONTECEU NO ANO QUE PASSOU ! O cabeçalho diz tudo. Ai vem um retrospecto cansativo e por demais amolante. Afinal o que passou, passou. "Águas passadas não voltam mais." Esta é geralmente a nossa 'atitude normal quando nos vemos obrigados a rebuscar o passado. Todavia, nestes exatos momentos nos vemos perante a nossa própria realidade. Esta realidade representa para cada um de nós uma coletânea de fatos que se impregnaram em nosso passado e por isto, de certa forma, continuam influenciando nossas decisões presentes e futuras. Isto vem nos dizer que devemos igualmente preocupar nos com aquilo que já aconteceu. Pois aquilo que já aconteceu é constituinte para os novos caminhos e as novas experiências. Um retrospecto assim é para nós membros da Comunidade de vital importância. Procuremos em rápidas pinceladas fixar aquilo que de mais importante marcou o nosso trabalho em português dentro dia Igreja Evangélica Luterana de São Paulo no ano que passou. a) Os cultos dominicais. Os cultos divinos em português foram celebrados dominicalmente, revezando-se na pregação e administração dos sacramentos os pastores, Otis Lee, Reinhold Mauritz, Istvan Gemes e Carlos Busch. Ponto de destaque foi a presença e a pregação do Presidente de Igreja D. Ernesto Schlieper por ocasião da passagem dos 75 anos de fundação oficial de nossa Comunidade aqui em São Paulo. Durante muitos cultos sempre pudemos contar com a colaboração decidida dos jovens de nossa Juventude, principalmente do Grupo Centro. Algumas prédicas em forma de painéis foram recebidos muito bem pela Comunidade. Igualmente constatamos em nossos livros de Igreja que a frequência aos cultos divinos na Igreja Matriz aumentou consideravelmente e
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no correr dos tempos talvez se torne necessário aumentar o número de celebrações de cultos divinos. b) A Escola Dominical para crianças. No ano passado introduzimos na Igreja Matriz oficialmente a Escola Dominical para crianças. A Escola Dominical funciona paralelamente aos cultos divinos, possibilitando assim os pais de trazerem seus filhos à igreja. Alcançamos uma média de 40 a 50 crianças frequentando as aulas que tiveram lugar no salão paroquial. A equipe responsável é dirigida com esmero e carinho pela sra. Kathrin Lee. Temos escutado os mais positivos elogios dos pais das crianças a respeito do trabalho que os jovens vêm fazendo, procurando entrar no mundo infantil da criança na simplicidade Palavra de Jesus Cristo. Isto é maravilhoso. Que mais jovens se conscientizem deste serviço cristão para que mais pequenas criaturinhas possam ouvir e contar aos outros as maravilhas do Evangelho. Parabéns a vocês, estimados jovens! c) O ensino confirmatório. O ensino confirmatório em português na Igreja Matriz sofreu uma pequena transformação. Vários pais de confirmandos foram de opinião que a confirmação deveria coincidir com uma data festiva o ano eclesiástico. Decidimos acatar a sugestão dos pais, pois reconhecemos que estas datas sempre de novo fazem lembrar o jovem do dia em que perante o altar de Deus deu o seu voto de fé. Sendo assim que os jovens do ano passado serão confirmados no próximo domingo de Ramos, dia 19 de março vindouro. Aqueles que desejam participar do próximo curso de confirmandos em português na Igreja Matriz deverão se matricular com os pastores até o dia 5 de abril. d) A Juventude Evangélica - Grupo Centro. Este grupo, que neste mês completa três anos de fundação, demonstrou à comunidade a sua dedicação e abnegação durante o ano 393
transcorrido. Muitas foram as suas atividades dignas de todo o louvor e agradecimento. Jamais se negaram a um só serviço e sempre participaram ativamente da vida da Comunidade. Entre estas atividades cabe-nos' sublinhar a publicação mensal d' "A Voz da Juventude" — trazendo notas, notícias e informações a respeito dos trabalhos do grupo, jamais faltando uma palavra de estimulo cristão -, acampamento de trabalho no Asilo da OASE na Freguesia do Ó, festa de confraternização entre os grupos da JE de São Paulo no Centro Comunal do Paraiso, a sua participação ativa na Escola de Lideres da JE de nossa Igreja em Hamburgo Velho, a sua colaboração sempre ativa durante os cultos dominicais por intermédio de peças e de jograis de pregação. Mas não nos podemos furtar de um outro interessantíssimo trabalho que exigiu muito tempo, muito trabalho e muita paciência: a realização do "Bazar da Jesp" (I. BAJESP) no primeiro domingo de dezembro. Devemos ressaltar que os jovens assumiram todos os riscos: o risco do fracasso e o risco do sucesso. Por causa disto mesmo devemos nos associar aos jovens, não pelo seu sucesso pleno, mas pelo fato de assumirem tamanha responsabilidade. É mas uma prova contundente que as iniciativas dos jovens nunca devem ser toldadas ou mesmo impedidas. Eles devem ter consciência de sua responsabilidade e esta apenas pode ser adquirida pela experiência. Também os seus erros e as suas falhas são urna escola da vida. E se nós na orientação deste importante setor da vida comunitária incentivamos o jovem nos mais variados terrenos da vida humana: se os procuramos introduzir nos mais variados campos de ação, é porque a fé cristã não se resume a etapas da vida, mas engloba a criatura humana em toda sua atividade. A nossa Comunidade deve tomar consciência de sua enorme responsabilidade perante o elemento jovem que ela congrega. Ainda mais que a população atual do Brasil é
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formada de 60% de pessoas abaixo da idade de 20 anos. E isto deve se refletir também na vida da Comunidade. Esta realidade ninguém poderá colocar em dúvidas. Não nos deixemos também iludir. A situação e as relações de uma metrópole como São Paulo, que além de oferecer aos jovens as mais diversas oportunidades de "matar" o seu tempo, possui todas as formas de afastar o jovem da Igreja. É preciso acordar os futuros líderes também da Comunidade e não simplesmente esperar que estes "caiam milagrosamente do réu". Por isto um dos principais objetivos de nosso trabalho entre jovens se caracteriza no fato de acordar, e desenvolver as lideranças, pois apenas por seu intermédio poderemos alcançar aqueles que se dizem desinteressados e os acomodados. Este simples fato deve por nós ser conscientizado e deve ser um marco- de nossos trabalhos mais importantes dentro da Comunidade, sem detrimento das outras formas de serviço comunal naturalmente. Fato auspicioso e até histórico foi a criação no ano passado do Conselho da Juventude Evangélica de São Paulo, o qual tem por objetivo coordenar diversas formas de trabalhos entre os cinco grupos de Juventude existentes em nossa Comunidade. Cabe a este Conselho organizar e realizar congressos, acampamentos, cursos de formação, seminários de estudos, conferências, sem tirar a autonomia e a genuinidade de cada uni dos grupos. O grande desejo é integrar de forma responsável o nosso jovem dentro do mundo em que vive, também em sua Comunidade e Igreja. e) A Comissão de Trabalhos Comunais em Português. Pela premente necessidade de se planejar responsavelmente o trabalho comunal em português na nossa Igreja Evangélica Luterana de São Paulo foi constituída na Igreja Matriz em
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caráter provisório uma Comissão de Trabalho, formada por membros diretamente ligados e interessados ao trabalho em português de nossa Comunidade. Esta Comissão de Trabalho reuniu-se por diversas vezes, quando tratou de assuntos de vital importância, onde debateu problemas, onde chegou a soluções e o que é muito importante, concretizou dentro de suas possibilidades as soluções encontradas. Também neste ano é nosso propósito dar maior ênfase aos trabalhos desta Comissão, na esperança de também podermos contar com a presença de membros representantes de Santo Amaro e de Campo Grande, onde o serviço comunal em português tem tido um avanço considerável. Desde a sua inauguração, a Igreja da Paz em Santo Amaro, tem proporcionado cultos e demais serviços comunais em português aos membros residentes na Zona Sul. Igualmente cabe-nos sublinhar o trabalho que vem sendo realizado em português na jovem Comunidade de Campo Grande, onde encontramos pessoas abnegadas e dedicadas na pregação e no anúncio do Evangelho de jesus Cristo entre adultos, jovens e crianças. Tanto em Santo Amaro como em Campo Grande contamos com o trabalho dedicado dos pastores Friedrich Zander e Louis Becker. f) Um outro fato importantíssimo ocorrido em 1966 não pode ser aqui esquecido: a criação de um grupo da Ordem Auxiliadora de Senhoras Evangélicas em português. Este grupo reúne-se normalmente na última quinta-feira do mês sob a direção da sra. Kathrin Lee na Igreja Matriz, à avenida Rio Branco, 34. Aproveitamos estas linhas para dirigir um apelo a todas as senhoras de nossa Comunidade para virem participar destes trabalhos tão importantes. Sempre sobre um tempinho, mesmo quando as tarefas são múltiplas. Mas estas reuniões
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exatamente querem dar às mães, as donas de casa, às esposas algumas horas de conselhos e de conforto espiritual, ainda mais hoje que tanto se corre ao psiquiatra. Pelo menos cada senhora poderá assumir o compromisso de vir urna vez para ver como é. E depois... garantimos que voltará. g) E o futuro? Ele está nas nossas mãos. Ele depende de nós. Ele até poderá ser delineado por nós. Isto na confiança e na certeza de que pelo Evangelho de Jesus Cristo somos providos das armas que necessitamos para vencer. Muitos podem ser os nossos planos e projetos. Mas deverão deixar de ser simples planos e projetos no momento em que todos unidos os atacarmos unidos sob o espírito do Evangelho e deixemos que Deus nos use como seus instrumentos de ação. Aconteceu no ano que passou. E continuará acontecendo também -neste ano: pois assim o quer o Senhor! Pastor Carlos G. Busch, coordenador do trabalho em português junto à Igreja Matriz. A Cruz no Sul – Março 1967
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TRANSMITIR O EVANGELHO Pedro e João, os dois apóstolos, encontram-se perante a máxima expressão religiosa dos judeus, o Sinédrio, respondendo a acusações. São acusados de semear uma nova mensagem que de certa forma contraria as leis e o culto judeus. São advertidos de não mais transmitir esta mensagem de Jesus Cristo, pois vem transtornando o povo, destruindo inclusive a sua unidade de povo e religião. No entanto, estes dois homens não se deixam intimidar pelos respeitáveis senhores do Sinédrio e em sua presença afirmam de uma vez por todas: "Nós não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos" (Atos dos Apóstolos 4.20). Esta é a reação de dois 'homens conscientes de que possuem um tesouro inestimável em suas mãos e que é necessário investi-lo em toda sua grandeza. Assim também deve ser hoje. Precisamos de pessoas que se disponham transmitir categoricamente o Evangelho de Jesus Cristo. E por que deve ser assim? Como primeiro responderíamos com a indicação da ordem que emana de Jesus Cristo: "Ide por todo mundo, fazendo discípulos de todas as nações." A fé em Jesus Cristo exige esta obediência de "ir" e transmitir o Evangelho ao mundo para que novas testemunhas se enganchem na semeadura da Palavra de Deus. Mas não apenas esta ordem do Senhor exige a transmissão dos princípios da fé cristã, como também o reconhecimento de que em Jesus Cristo temos o Salvador do Mundo. Não há outro caminho que nos possa conduzir a Deus além de Jesus Cristo mesmo. Isto já era o reconhecimento da comunidade cristã primitiva em Jerusalém ao proclamar: "E não há salvação em nenhum outro: porque abaixo do céu não existe nenhum outro
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nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos" (Atos 4, 12). Esta confissão e este reconhecimento querem nos dizer que todo o mundo necessita deste Salvador, Jesus Cristo. Também nós hoje — como comunidade evangélico-luterana em São Paulo — temos urna missão a cumprir. Também nós hoje temos um encargo a desincumbir. Também nós hoje somos mandados Por Jesus Cristo ao mundo que nos rodeia. Também nós devemos "ir" e fazer "discípulos" de Jesus Cristo aqueles que sempre de novo ao nosso encontro vêm. Afinal nós somos testemunhas vivas e enviados responsáveis de Deus no mundo de hoje. Os fatos nos relacionados na parábola do filho pródigo certamente nos poderão elucidar qual e a forma de nossa missão, de nosso encargo cristão no mundo que hoje nos envolve. Ali encontramos o pai que sempre de novo vai até aos umbrais da porta para ver se seu filho está retornando para o lar. Assim também nós deveríamos agir como comunidade. Sempre deveremos dar uma olhada para fora de nossos limites e descobrir aquelas centenas de milhares de criaturas humanas que estão "perdidas", isto é, que pertencem de certa forma a nossa comunidade, mas ainda não descobriram que têm seu lugar assegurado dentro da comunidade. Ali está o pai indo ao encontro de seu filho perdido. Assim também nós devemos agir como comunidade. Não devemos nos limitar a ver se encontramos alguém dos nossos, mas ir ao seu encontro. Certamente este ir ao encontro dos outros não é tão fácil assim. É um longo caminho, espinhoso e paciente acima de tudo. Mas é preciso percorrê-lo.
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Ali está o pai que abraça o seu filho perdido e que se alegra com ele. Da mesma forma devemos agir como comunidade. Receber de braços abertos aos que vêm a nós, fazendo com que se sintam à vontade e realmente como um entre nós. Resumindo: receber com muita alegria e satisfação. Porque se assim agimos aí também poderemos ter a certeza de que estamos transmitindo realmente o Evangelho de Jesus Cristo. Pois estas características são fruto da pregação da Palavra de Deus, do estudo da Palavra Divina, do ensinamento das Verdades Bíblicas, do Testemunho consciencioso da fé cristã. E cada um de nós dirá: isto queremos ser, isto queremos fazer. K. G. B. A Cruz no Sul – Maio 1967
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NOVAS FORMAS E NOVOS CAMINHOS PARA O SEMPRE NOVO EVANGELHO "As Igrejas de todo o mundo se preocupam sempre e continuarão se preocupando com o seu objetivo central da pregação e do anúncio do Evangelho de Jesus Cristo. A Igreja Evangélica da Alemanha por sua responsabilidade está ciente de sua posição perante o movimento da Reforma em todas as partes do mundo. Além dela desejar o dinamismo da pregação, cabe-lhe preocupar-se profundamente com novas formas e novos caminhos para o sempre novo Evangelho do Senhor. E muitas têm sido as experiências neste campo de ação, cujos frutos positivos se manifestam cada vez mais e devem ser por isto mesmo dados adiante e não presos como sendo experiências exclusivistas e próprias da Igreja Evangélica da Alemanha. Se esta vem apoiando e financiando as manifestações destas novas formas e caminhos em todo o mundo --- as Academias Evangélicas, as visitas continuadas dos "chantres", pessoal especializado nos vários ramos da expressão eclesiástica, a saber, professores de teologia, diaconisas e diáconos, obreiros e especialistas em assuntos eclesiásticos — não o faz no sentido de exportar ideias e artigos como muitos falsamente o entendem. Mas é a consciência de que a Igreja Evangélica da Alemanha pode ajudar substancialmente às novas Igrejas com a sua larga e efetiva experiência. Na atual pluralidade da sociedade contemporânea a Igreja deve se manifestar e dizer-se presente ali onde se encontra o homem, o qual sempre é o alvo do anúncio da mensagem renovadora e revolucionária de Jesus Cristo. E este ir lá onde o homem genuinamente se encontra requer que a Igreja ache novas formas de ação, trilhe novos caminhos para a proclamação daquilo que basicamente pertence à criatura humana e lhe é sempre de novo dirigido pelo Evangelho de Jesus Cristo." Estes 401
pensamentos tão oportunos para nós evangélico-luteranos paulistas foram apresentados pelo presidente do Departamento de Relações Exteriores da Igreja Evangélica da Alemanha Dr. Adolf Wischmann, em sua recente visita a São Paulo nos últimos dias 9 a 11 de maio. Dr. Adolf Wischmann preside desde 1957 este departamento, tendo em função de seu cargo viajado a praticamente todas as partes do mundo onde penetra a Igreja da Reforma. Estas visitas contínuas são de grande importância para a atualidade do movimento da Reforma no mundo, pois desejam expressar "a verdadeira comunhão eclesiástica" que não se limita a qualquer fronteira de povos, nações, raças e mesmo ideologias. Além do mais poderão ser aquilatados sem distorções os graves e grandes problemas que as jovens Igrejas enfrentam e onde se pode fazer presente a ajuda sincera da Igreja Evangélica da Alemanha. Estas ajudas são desprovidas de quaisquer compromissos e inclusive alcançam até às Igrejas constituídas atrás da Cortina de Ferro. Ainda recentemente Dr. Wischmann pôde visitar a Hungria, de onde voltou impressionado com o trabalho profícuo ali realizado pela Igreja Luterana Húngara. Por intermédio desta atitude a Igreja Evangélica da Alemanha, à qual também estamos ligados como Igreja Evangélica de Confissão Luterana, no Brasil por nosso passado e presente históricos, demonstra claramente que não deseja ser uma Igreja Nacional limitada às duas partes atuais da Alemanha, mas' sim, uma Igreja-Mãe pronta e disposta a contribuir profunda e basicamente na missão de suas Igrejas Irmãs espalhadas pelo mundo afora. O rev. Dr. Adolf Wischmann durante a sua estada entre nós teve a oportunidade de conhecer de perto os problemas e também as realizações da Comunidade local, a saber, da Igreja Evangélica
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Luterana de São Paulo. Esteve em Santo André, onde demoradamente pôde estudar o Projeto Social do ABC a ser erigido em breve na rua Almirante Tamandaré naquele populoso centro industrial de nosso Estado. Naquela oportunidade expressou o seu regozijo por aquela obra de fraternidade cristã, apoiando na íntegra os planos lhe apresentados. À noite do mesmo dia 9 de maio o ilustre visitante foi recepcionado na residência oficial do Consul Geral da Alemanha, oportunidade na qual também estiveram presentes os diretores da Igreja Evangélica Luterana de São Paulo, mantendo assim um contato informal com o Presidente Dr. Wischmann. No dia seguinte pôde S. Sa. visitar demoradamente a recéminaugurada igreja de Torres Tibagy—Picanço, congratulandose com a comunidade evangélico-luterana de Guarulhos por mais este passo decisivo ali concretizado. Demonstrou sua satisfação em ver tão bem empregado a ajuda substancial recebida pela Comunidade de uma campanha de confirmandos alemães na região de Francfurte no Meno, local da sede do Departamento de Relações Exteriores da Igreja Evangélica da Alemanha. Ainda na mesma manhã Dr. Wischmann participou do outro lado da Grande São Paulo da entrega das chaves do "centro de diaconia" da Igreja da Paz em Santo Amaro, reportando-se ao fato de que há muitos anos ali já estivera na ocasião da construção da igreja e se sentia feliz em ver os progressos realizados. Mas ressaltou que estas obras apenas têm valor quando dentro delas e fora das mesmas fosse sentida a vida em comunhão com Cristo e a ação de servir ao próximo. A seguir participou de um almoço com os membros da Comunidade que acorreram à Igreja da Paz. À tarde pôde S. Sa. dirigir algumas palavras aos pastores da Região Sul do Sínodo Evangélico do Brasil Central, relatando os acontecimentos 403
históricos do último Sínodo da Igreja Evangélica da Alemanha realizado em Berlim-Spandau (parte ocidental livre) e BerlimFürstenwalde (parte oriental). A Igreja Evangélica da Alemanha é a expressão maior das diversas Igrejas oriundas da Reforma nas duas Alemanhas e por certo o seu Sínodo, o concilio supremo, se realizasse conjuntamente. Todavia, com as dificuldades interpostas pelas autoridades policiais comunistas de autorizarem a participação dos representantes oficiais vindos da Alemanha Oriental, este Sínodo viu-se forçado a funcionarem 2 grupos simultaneamente. Apesar destas dificuldades as resoluções e conclusões, bem corno a eleição do Presidente da IEA Bispo Dietzfelbinger de Munique, puderam se desenvolver normalmente com diferenças apenas de algumas horas. À noite Dr. Adolf Wischmann pronunciou em Parais() a conferência "Perguntas à Igreja de hoje, para a Igreja de amanhã", palestra da qual tiramos os pensamentos inseridos no inicio desta apresentação. De São Paulo S. Sa. viajou para La Paz, Bolívia, participar de uma Conferência Luterana realizada na Capital boliviana. Ao partir o nosso hóspede deixou expresso o seu agradecimento, bem como, augurando olhos voltados ao grande desempenho missionário de levar em diversas formas, em meio de novos caminhos o sempre novo Evangelho ao homem paulistano. Compilado e Composto por K. G. Busch A Cruz no Sul – Junho 1967
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"A PONTE, em breve uma realidade!" "Ponte" é uma construção que liga dois pontos separados por um acidente geográfico, a saber, um rio, um ribeirão ou um vale. Assim aprendemos na escola. Uma ponte é acima de tudo um elo de ligação, provocando automaticamente maior contato entre as partes ligadas. Já há bastante tempo o Colégio Pastoral, principalmente os pastores responsáveis pelo trabalho na Igreja Matriz, têm se preocupado com os "pontos de separação" de nossa Comunidade, os quais devem ser ligados entre si para formar um todo harmônico e fiel às diretrizes de comunhão e responsabilidade cristãs. Sabemos que muitos são estes pontos de separação. Nem todos poderão ser sanados de imediato, pois isto requer reformas profundas em nossas atividades. Mas antes destas "obras de profundidade" (há a premente necessidade de se realizarem os "ensaios preliminares". Exatamente isto, os ensaios preliminares, desejamos concretizar com o projeto chamado de "A PONTE'. Que vem ser "A PONTE"? A PONTE deseja ser em sua estrutura geral a ligação da Comunidade para o mundo que a rodeia diariamente, quer ser o elo de união entre a própria Comunidade. Na verdade, algo de muito complexo, mas de fácil compreensão. A PONTE se diferencia de uma obra arquitetônica no fato de não restringir a sua ligação a dois pontos, mas a múltiplos setores da vida humana. Em última análise ela quer ser a ligação entre criaturas humanas. Antes de mais nada é necessário localizar as estruturas desta PONTE. Todos conhecem a Casa Gustavo Adolfo nos fundos de nossa Igreja Matriz, à avenida Rio Branco 34. Até a pouco tempo esta casa servia de residência pastoral, possuindo ainda
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uma sala de parcos recursos para as programações da Comunidade. Com o desenvolvimento dinâmico do trabalho, no entanto, sobreveio a necessidade urgente de maior espaço. Ao ser reconhecida esta necessidade, os mais afoitos preconizavam a construção de um edifício no local. Existe inclusive uma comissão estudando a viabilidade disto ser concretizado em tempos vindouros. Mas somos de opinião que se deva ir com calma. Ir com calma não significa fazer nada. Pelo contrário, onde há problemas, estes devem ser atacados. Fruto deste ataque é a concretização do projeto A PONTE, já configurado num estudo apresentado em meados de 1965 à Diretoria da Igreja Evangélica Lutherana de São Paulo. A única mudança de estrutura prevista pelo projeto é a supressão da residência pastoral, a qual deve ser substituída em breve por uma outra localizada de preferência onde se concentram famílias pertencentes à Igreja. Esta supressão então dará lugar ao "Centro de Encontros". O "Centro de Encontros" prevê três faixas de trabalho: 1. No período tradicional do almoço, isto é entre as 11 e 14 horas. Nesta faixa de horário, que seria assim a grande inovação, desejamos servir ao público indistintamente, oferecendo-lhe a oportunidade de reunião, de informação, de contatos e de descanso. Milhares de pessoas perambulam durante este tempo pelas ruas centrais de nossa metrópole. Não o fazem porque assim o desejam, ou por interesse particular, mas pelo fato de não saberem onde poder passar a hora de descanso de modo honesto e sadio. Numa enquete por nós realizada pudemos verificar que entre 10 pessoas pesquisadas, 5 se manifestavam a favor de um lugar onde se pudessem reunir, conversar, ler um jornal, folhear uma revista. Isto nos 406
diz que há um interesse por parte das pessoas num local de reunião. Igualmente fomos procurados diversas vezes por pastores e representantes de outras igrejas evangélicas com sugestões de abrirmos as portas de nossa igreja no período do meio dia. Ao apresentarmos o projeto A PONTE, expressavam o seu entusiasmo e integral apoio à iniciativa. Igualmente muitos membros de nossa Comunidade se colocaram a favor da concretização do empreendimento. Como funcionará? Semanalmente será preparado um painel, mais conhecido por jornal mural, sobre os acontecimentos nacionais e internacionais acompanhados de comentários. Os principais jornais diários de São Paulo estarão à disposição dos leitores, encontrando igualmente as revistas de maior penetração para o manuseio e leitura. Os amantes da boa música poderão igualmente se deliciar com as obras dos grandes mestres. Com os tempos uma boa discoteca deverá ser montada indo ao encontro dos interesses de muitos. Cada semana contaremos com a presença de uma personalidade ligada ao mundo industrial, comercial, cultural, social, político ou assistencial. O convidado deverá dialogar e apresentar assuntos afeitos à sua esfera professional ou funcional. Aqui ainda estamos estudando a possibilidade de serem servidas refeições leves. Evidentemente que o famoso e tradicional cafezinho se fará presente. Quando funcionará? A partir de setembro pretendemos iniciar em fase experimental. Após esta fase e vencidas as arestas porventura surgidas passaremos a funcionar normalmente de segunda a sexta-feira. 2. No período compreendido entre as 14 e 18 horas terão lugar as "programações da comunidade". Aí teremos as aulas para os confirmandos, cursos os mais diversos, bem como pensamos na 407
possibilidade de criarmos um meio de "guarda de crianças" para que as 'mães em determinado dia da semana possam fazer em paz suas compras ou ir ao cinema. Igualmente nesta faixa de horário se reunirão os grupos de trabalho da comunidade ou ligados à comunidade de uma forma ou de outra. 3. A terceira faixa diz respeito ao programa da noite que de certa forma prevê uma continuidade na programação afeita à comunidade, incluindo-se especificamente o desenvolvimento de palestras, cursos específicos, bem como o desenvolvimento da Academia Evangélica e da Juventude Evangélica. Aqui as possibilidades são múltiplas, dependendo muitas vezes dos interesses de nossos membros ou interessados. Paralelamente ao "Centro de Encontros" A PONTE contará com duas áreas de trabalho: A Administração Central da Igreja Evangélica Lutherana de São Paulo e A Junta de Ação Social. A Administração Central: Por enquanto a nossa administração vem funcionando em duas salas acanhadas à frente da Igreja Matriz. Inclusive o atendimento aos nossos membros vem sendo feito de maneira inadequada e não raras são as queixas. Indo ao encontro de nossos membros verificar-se-á uma radical modificação, beneficiando não só aos primeiros, como também aos nossos funcionários. A administração será transferida para três amplas salas na Casa Gustavo Adolfo. Esta administração prevê uma Secretaria Geral, Tesouraria, Arquivo, Almoxarife e Departamento de Publicações. A Junta de Ação Social: Esta parte está atualmente em estudos e cremos poder contar com os seus "serviços" em breve tempo. No nosso entender toda Comunidade tem sua responsabilidade social perante os menos favorecidos, doentes, desempregados e idosos como sós no mundo. Até agora as abnegadas senhoras
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pertencentes à Ordem Auxiliadora de Senhoras Evangélicas — OASE — têm se incumbido desta obra de assistência social, conseguindo realizar obras merecedoras de todo respeito, entre as quais o seu Retiro na Freguesia do Ó. Ao mesmo tempo está se concretizando a constituição do Projeto do ABC, sob a responsabilidade d'a Igreja Evangélica Lutherana de São Paulo, encaminhando 2 passos largos um trabalho de assistência à família em possível convênio com o famoso Serviço de Orientação para a Família — SOF. Pensando em primeiro lugar no desenvolvimento destes trabalhos fomos conduzidos a pensar num órgão que pudesse orientar estes serviços no campo social. Caberá ainda a esta Junta orientar, planejar, coordenar todo e qualquer serviço de assistência social que porventura se desenvolver no campo operativo de nossa Comunidade. Desta Junta participarão todos os representantes do campo social de nossa Igreja em São Paulo. Além do mais deverá estar a serviço da mesma uma assistente social em tempo integral, a qual poderá orientar e difundir os trabalhos previstos pela Junta de Ação Social. Em rápidas pinceladas procuramos apresentar o que deseja ser A PONTE. Não se trata realmente de nada ousado. Mas queremos aproveitar as oportunidades que se nos apresentam momentaneamente como viáveis. Finalizamos com um pedido: queiram escrever-nos: emitindo suas opiniões, formulando perguntas, dando sugestões e fazendo críticas. Façamos desde já com que o diálogo seja o caminho pelo qual nos podemos entender e compreender. A PONTE, um elo entre muitos pontos, em breve uma realidade. Compilação Carlos Busch, pastor. (A Cruz no Sul – Julho 1967)
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A IGREJA A CAMINHO DO NOVO ADVENTO Abrimos o jornal: crise. Ouvimos os noticiosos: crise. Assistimos ao tele-jornal: crise. Vivemos num imundo de crises, crises que se amontoam e se dissipam), que ressurgem e se vão. E um movimento 'incessante de ir e vir. E também a Igreja não se pode excetuar deste ir e vir que são em última análise também as suas crises. Também ela vive e existe num suceder de alterações e transformações. Para muitos isto são maus presságios. Diríamos, no entanto, de que a Igreja é praticamente inimaginável se não passar por contínuas crises, por situações de transições momentâneas. Por que? Porque a Igreja é um instrumento dinâmico, nunca estático e parado, de Deus num mundo sempre em crise e transição. Como instrumento divino a Igreja não pode desconhecer a situação na qual ela se situa invariavelmente: ela faz parte integrante do mundo. Ela mesmo está em contínua transição entre Pentecostes e o novo Advento de Jesus Cristo, isto é, ela se movimenta entre dois polos em aparente aperfeiçoamento, mas nunca como uma grandeza fechada e concluída. A sua missão como Igreja apenas estará concluída num momento de crise irreversível que será o novo Advento de Jesus Cristo, quando ela deixará de existir. Nos quatro domingos que antecedem ao Natal os cristãos todos, independentemente de suas confissões, voltam os seus olhos não apenas aos acontecimentos que precederam ao nascimento de Jesus, mas também são conclamados a dirigirem os seus pensamentos para o que há de vir. Nesta reflexão se encontra o Novo Advento do Senhor. Este fato é importantíssimo e fundamental para lançarmos mão daquilo que hoje nos preocupa como membros da Igreja Universal, partindo inclusive das crises que hoje vivemos como Igreja. Muitos fatos podem ser enunciados como responsáveis pela crise ou crises
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que hoje necessariamente atingem à Igreja Universal: a natureza das verdades da fé, querendo se separar infantilmente a razão humana do crer; o crescimento demográfico desordenado e generalizado, mais os problemas migratórios imprevisíveis do homem moderno; o senso crítico e interrogador do homem moderno, principalmente com o aparecimento de movimentos religiosos sincretistas de caráter metafísico, como o espiritismo, a umbanda e outros; a influência cada vez maior das religiões universais como o Islamismo, o Hinduismo — pelo Ioga hoje tão praticada no mundo ocidental — o Bramanismo e outras; o estabelecimento e o surgimento de novos grupos religiosos que se dizem cristãos livres e independentes de quaisquer conscientizações teológicas; a precipitação isolada na maioria das vezes de formulações e opiniões referentes às bases conscientes da fé cristã; o ecumenismo falso e agrupado no fito de se tirar vantagens sem no fundo desejar o diálogo sincero e sem condicionamentos em prol da unidade cristã; o mau exemplo de uma maioria esmagadora de cristãos no campo moral e ético; a tremenda deficiência catequética e missionária da Igreja em nossa época, dando lugar aos movimentos religiosos sincretísticos e metafísicos; a não arregimentação do povo nas questões reformadoras da Igreja na atualidade, provocando as discussões áridas e retrógadas entre os "ortodoxos tradicionais," os "progressistas", já de antemão rotulando qualquer sinal de evolução e transformação necessária e premente. E assim poderíamos ir apontando uma longa e interminável ladainha te fatos que comprovam o porquê da crise da Igreja Universal de nossa atualidade. Para muitos estes fatos são deploráveis e não poucos os que profetizam a proximidade do desfalecimento da Igreja de Cristo. Estas crises são vistas como uma corrosão das "sólidas" bases do Cristianismo, provocando um círculo vicioso, onde já 411
não se pode mais distinguir o que é causa e o que é efeito, havendo assim uma confusão sofisticada que levará a continuidade da Igreja à sua própria sepultura. Evidentemente, quem aceita apenas a ação puramente humana na solução das crises no seio da Igreja, está esquecendo que a mesma transcende a esfera restrita do homem. Apesar de ser formada pela comunhão de cristãos que são enfim criaturas humanas — ela é regida pelo Espírito poderoso de Deus. Jamais as crises da Igreja, por menores que sejam, poderão ser resolucionadas somente pela interferência humana, ou mesmo serem insolúveis por nossas intransigências meramente humanas e pecadoras. Deus continua sendo a parte integrante da Igreja. Isto não pode jamais ser relegado ao esquecimento ou mesmo ser desconhecido ao tratarmos de algo tão complexo e importante. Enquanto ecoar vivamente a Palavra do Evangelho de Jesus Cristo nos cinco cantos da Terra, enquanto a Igreja se dispuser seriamente ir de encontro à sua missão de evangelizar as criaturas humanas, chamando-as ao convívio pleno do amor de Deus revelado a nós por Jesus Cristo, a Igreja permanecerá viva por intermédio de qualquer crise que lhe for imposta pelas circunstâncias do meio em que ela se faz presente. Enquanto a Palavra de Deus se fizer ouvida a Igreja poderá vencer galhardamente todos os momentos críticos de sua existência, pois ela mesmo é um veículo de transição no mundo que se encaminha ao Novo Advento do Senhor. Ou será que não mais contamos com este fato do Novo Advento de Nosso Senhor Jesus Cristo? Se não mais contarmos com o fato do novo Advento de Jesus Cristo, então estaremos colocando em dúvida toda a dinâmica da fé cristã. Aí estaremos desligando para todo o sempre a 412
ESPERANÇA depositada nas palavras de Cristo que nos promete pelo Evangelho estar "conosco todos os dias até a consumação dos séculos", quando será aposto um ponto final irreversível não só às crises da própria Igreja a qual evidentemente deixará então de existir - como também às nossas crises puramente humanas. Pastor Carlos G. Busch A Cruz no Sul – Dezembro 1967
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ANO NOVO - UM OFERECIMENTO! Um grupo de pessoas estava reunido na noite derradeira de mais um ano. Aguardavam o momento dos ponteiros do relógio se cruzarem na meia-noite. Enquanto isto não acontecia fez se a sugestão que cada um dos presentes expressasse um desejo para o ano novo. "Viagem” "Sucesso comercial". "Casamento". “Noivado". "Prosperidade". "Sucesso pessoal". “Um carro". "Uma casa". Este foi o resultado. Mas entre estes desejos, um suscitou muita polêmica. Uma mocinha disse com toda sinceridade: "Como presente de ano novo, eu desejo um coração novo." Todos balançaram A cabeça. "Um coração novo!" Quase todos notaram o que desejava esta moça, mas estavam incrédulos, pois para os mesmos não havia lugar para Cristo nesta noite de vigília de ano velho - ano novo. O importante naquela noite era a ceia, era o "réveillon", era o espocar de champanhas. Nem mesmo os sinos manifestavam em seus corações qualquer eco à pergunta de Jesus: "Que queres que eu te faça?" ( Lucas 8.41). Este é um triste estado espiritual destas pessoas que não podiam conceber numa noite como aquela um pedido dirigido não a qualquer um, mas de um desejo que apenas Cristo Jesus podia concretizar. Mas esta é a nossa realidade humana. Aqui todos nós nos assemelhamos muito. Há ocasiões em que o Menino de Belém — ao qual louvamos como o grande rei, o Salvador dos homens há poucos dias atrás — não tem lugar em nossas vidas. Jornais e revistas O omitem, ou, o que é muito pior, exploram-No para fins comerciais. A literatura contemporânea praticamente O desconhece, ou simplesmente O polemiza. Nas escolas, os poucos mestres e alunos que não se envergonham dele,
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parecem, às vezes, desencorajados de testemunha-Lo. — Nos graves problemas político-sociais, entre empregadores, dirigentes e dirigidos, ricos e pobres, não há mais lugar para Ele. O despotismo desumano e a inveja doentia e prepotente repelem-No. Negócios, prazeres, esportes estão fechados para Ele. E, no entanto, apesar de tudo e de todos, Ele continua a nos perguntar: "Que queres que eu te faça?" Que poderíamos responder e pedir? Senhor, o vazio e a aridez nos abatem e nos afastam da verdadeira concepção de nosso viver: Pensamos poder construir verdadeiros edifícios por nossas próprias mãos. Todavia, sozinhos não o conseguimos. Mas, insistimos. 'Tu também continuas insistir conosco. E isto é bom, muito bom. Hoje não vemos a Tua glória. Quem sabe, porém, amanhã! Ou melhor ainda: já agora, neste novo ano de 1968! Perdoa-nos Senhor, neste ano novo! Que o 'bálsamo de Tua paz e o poder de Teu Espírito nos ilumine por estes próximos 366 dias. Queremos também durante ele, ouvir as "Boas Novas" de Perdão, Reconciliação, Paz, Alegria, Vida, Amor, Redenção. K. G. B. A Cruz no Sul – Janeiro 1968
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FRATERNIDADE E RECONCILIAÇÃO Uma iniciativa ecumênica em Olinda, Pernambuco. Sob o título "Fraternidade e Reconciliação" tem curso em Olinda, Pernambuco, uma experiência ecumênica inédita no nosso país. Quatro jovens evangélicos e dois seminaristas maiores beneditinos vivem em comum, num casarão de dois pavimentos à rua São Bento, 44, naquela cidade, nas proximidades do Mosteiro Beneditino de Olinda, um dos mais antigos do Brasil. Os evangélicos' são os irmãos, Miguel Bergmann (luterano, exercendo as funções de moderador), Bruno (anglicano), Lucas e Orlando (ambos presbiterianos) e pertencentes à Comunidade de Reconciliação de Taizé. Os dois seminaristas são Carlos e Anselmo, ambos minoritas que cursam Teologia, sendo o primeiro formado em Medicina. Em 1940, em plena guerra, o pastor presbiteriano Roger Schurtz, inclusive muito conhecido nos meios ecumênicos brasileiros por seus exemplares ensaios sobre o ecumenismo mundial, fundou a Comunidade de Reconciliação, na aldeia de Taizé, França, perto da cidade de Cluny, onde de outro lado se encontra a famosa Abadia beneditina que data do século X. O rev. Roger Schurtz adotou o sistema de vida em comunidade, da mesma forma que nos mosteiros católicos da melhor tradição. A iniciativa, marcadamente espiritual, tem sentido ecumênico. Jovens de qualquer procedência confessional cristã podem participar desta comunidade, desde que se disponham a seguir as diretrizes de Taizé, participando desta experiência ecumênica sóbria e acima de tudo sincera. Nos últimos anos vários irmãos de Taizé têm deixado a França para realizarem em outras partes do mundo estas mesmas experiências.
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Esta mesma experiência tem sido levada a efeito desde o último domingo de Pentecostes, nó ano passado, em Olinda, e assim transplantada para a América do Sul vem alcançando pleno êxito. Aliás, o irmão Miguel Bergmann há cerca de um ano esteve entre nós aqui em São Paulo, falando principalmente aos pastores de nossa Igreja pertencentes ao Sínodo Evangélico do Brasil Central, ocasião na qual expressávamos o nosso desejo de serem realizadas estas experiências também aqui em nossa capital, por considerarmos encontrar-se aqui atualmente os mais expoentes institutos teológicos evangélicos e católicos. Como o irmão Miguel já havia aceito o compromisso para talvez mais tarde possa se realizar nesta região experiência idêntica e bem mais expressiva. Nesse trabalho, que podemos considerar como pioneiro de ecumenismo cristão vivido no Brasil, a completar o seu primeiro ano, merece destaque o fato de seus participantes considerarem o celibato uma escolha válida para tal trabalho. Sinceramente não haveria vida monacal possível sem o celibato. Fato importante é que os jovens fizeram conscientes esta escolha para que a sua vida comunitária pudesse realmente ser um viver completo para Cristo. Igualmente os seus participantes não adotam nenhum traje especial que os distinga dos outros homens. Ao lado das orações e dos estudos em comum, estes jovens dedicam-se com afinco, a obras sociais e assistenciais, procurando desta forma afirmar com autenticidade a sua vocação, recolhendo da convivência frutos válidos para o progresso da unidade cristã e a paz entre os homens. Quanto à sua subsistência não dependem de verbas, nem de esmolas, mas todos, exercem uma profissão autêntica, cujos rendimentos pertencem à toda comunidade. Esta por sua vez 417
provê os mesmos de tudo que necessitam dentro de seus mínimos detalhes. Aqui estamos perante algo autêntico e verdadeiro, pois é na comunhão de bens quer materiais, quer espirituais procuram eles um caminho abençoado em benefício da unidade em torno de Jesus Cristo. Esta iniciativa e experiência ecumênica em Olinda merece todo nosso aplauso e nosso respeito, pois representa, na confusão ecumênica de nossos tempos, principalmente em nosso país, onde surgem como cogumelos, os assim chamados movimentos de unidade cristã, a sinceridade profunda de ouvir em primeiríssimo plano não a voz dos homens, mas a voz do próprio Cristo. Dados coletados e comentários por K. G. Busch A Cruz no Sul – Março 1968
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Lema do mês de Setembro: "SENHOR, OS TEUS OLHOS ATENTAM PARA A FIDELIDADE!" Jeremias 5.3a. FIDELIDADE! Fidelidade a nós mesmos! Fidelidade à família, à escola, aos amigos, ao trabalho, à pátria, por que não? E, quem sabe, fidelidade à Cristo, por intermédio dEle à sua comunidade! Quantas vezes em tantas ocasiões não nos sentimos constrangidos em declarar, mesmo em jurar, publicamente proferir a nossa fidelidade a alguém ou a alguma cousa. No entanto, nem sempre somos capazes de cumprir esta nossa fidelidade antes prometida e mesmo jurada. Pode-se, sem ferir a dignidade de ninguém, afirmar que a FIDELIDADE pertence ao rol daquelas cousas bastante relativas de nossa curta existência. Ela é relativa aos momentos e às circunstâncias que nos envolvem em determinadas ocasiões, onde uma promessa ou um juramento perdem por completo a sua validade. Desejamos permanecer nela, agir por intermédio dela, vivê-la, concretizá-la. Mas... nem sempre é possível. Negar esta relação é o mesmo que ir contra a verdade. A infidelidade entre nós é uma constante, permeando sempre a nossa vida cotidiana. "Senhor, os teus olhos atentam para a fidelidade!" Qual a validade, então, destas palavras para nós hoje? Quando Jeremias, em forma de oração e de apelo, pronunciou estas palavras, havia constatado que o seu povo sofrido e dividido continuava agindo infielmente. Apesar de seus sofrimentos e dos castigos sofridos, o povo continuava minando a sua fidelidade prometida a Deus. A promessa de fidelidade a Deus simplesmente era ignorada, apesar que intimamente esperavase ao mesmo tempo uma ação salvífica e misericordiosa por
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parte do Criador, que tirasse o povo de uma situação tão aflitiva. Conclusão que se nos revela nestas palavras: A infidelidade sempre existiu. Isto é, ela sempre continuará existindo. Nada podemos fazer contra tal situação inerente às criaturas humanas. Todavia, como cristãos, não podemos assumir uma posição tão simplificada. Não podemos nos omitir perante o continuado chamamento à fidelidade nos feita constantemente pelo Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo. D’Ele depreendemos num continuo constante o que é fidelidade, fidelidade construída no grande plano de soerguimento das criaturas humanas pelo usufruto do perdão, a fim de que o sincero amor, ao qual Deus nos conclama em Cristo, possa ser fortalecido e servir como o relacionamento fiel entre nossas semelhantes e também para com Deus. Pois infidelidade é o mesmo que falta de amor a nossos semelhantes, a nossa família, a nossos amigos, a nossa pátria, a nossa comunidade e Igreja, a Cristo, e assim também, a Deus. Estas palavras: "Senhor, os teus olhos atentam para a fidelidade" devem servir-nos como o termômetro de nossas ações e atitudes, no qual medimos a sinceridade, a autenticidade e a fidelidade das mesmas. Atentando para a fidelidade que provém de Cristo, verificaremos o quanto também nós podemos ser verdadeiros e sinceros em nosso viver de dia a dia. K. G. B. A Cruz no Sul – Setembro 1968
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Paz seja convosco! Assim como o pai me enviou, eu também vos envio. Evangelho de João 20.21. O fluir de fatos e acontecimentos no mundo Vivemos num mundo em continua transformação, preenchido de graves crises. O mundo não é simplesmente a reflexão de um original estático, inerte ou criativamente concretizado. O mundo e a história da humanidade são um fluxo incessante de fatos e acontecimentos que não podemos simplesmente frear ou cercear, mas, os quais, podemos moldar com muita dinâmica e autenticidade. A história hoje é o caminhar para frente, do transformar em grau maior, onde as perspectivas criadoras tendem a se revelar como genuínas e verdadeiras. Este caminhar para a frente, porém, não pode ser compreendido como se uma amostragem da vida seja simplesmente substituída por outra, mas sim, como sendo o resultado consequente da evolução do próprio homem nos múltiplos campos da ciência, principiando pela filosofia e se concretizando nos campos da tecnologia. A presença da Igreja num mundo em transição desuniforme. No evoluir da história também a Igreja se faz presente como o povo de Deus, o povo da nova aliança, formado por "homens de toda raça e língua que, com a sua fé em Jesus Cristo, correspondem à pregação do Evangelho". Deus em Jesus Cristo chama por intermédio do Espirito Santo as criaturas humanas a viverem uma nova realidade da fé, do amor e da esperança. Os que creem, os que se confessam a Cristo Jesus como seu Senhor e Salvador, os que se unem ao Cristo crucificado e ressurreto, "pertencem e formam a Igreja".
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Embora a Igreja não seja do mundo e não pertença aos homens, mas a Deus, ela vive concretamente no mundo. Existimos como Igreja no mundo entre o ir e o vir de Jesus Cristo, com a missão primordial e única de anunciar concretamente ao mundo o Evangelho da Salvação que Deus nos oferece em seu amado Filho, nosso irmão, Jesus, o Nazareno. A Igreja é na realidade a presença inexpugnável de Cristo mesmo entre os homens de todas as latitudes e longitudes até a consumação dos séculos. Por estes fatos todos, principalmente pela constatação, dela ser formada por criaturas humanas — as quais sentem em si próprias de modo concreto a problemática do mundo — a Igreja sente em sua própria existência contemporânea o processo evolutivo no lugar de sua ação renovadora pela proclamação do Evangelho. Não há dúvidas: a técnica moderna concentra todas as suas poderosas forças no sentido de impor ao homem o seu modo de agir, de pensar e de viver, sugando todo o seu tempo, todo o seu trabalho, e mesmo a sua dignidade de ser livre e responsável. E neste mundo tecnizante vale a missão de Cristo: "Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio!" Os enviados e suas características Os enviados hoje são muitos, poucos, porém, para o campo de ação. Apesar disto se dividem e subdividem em muitas matizes diferentes, entre as quais três são predominantes: os saudosistas, os conformados e os realistas. Os saudosistas vão desafiando o seu tempo no tentativa vã de reviver o passado. Os conformados ou comodistas vivem o seu dia a dia em suas estreitas dimensões de aguardar o desenrolar dos fatos, satisfeitos com todos e com tudo. Em contrapartida encontramos os realistas que querem tirar "o presente do passado e se projetar no futuro em perspectivas criadoras" e não apenas modernizantes, no simples sentido de desejarem 422
construir algo que seja o anti-existente. No entanto, uma perspectiva criadora somente é genuína e autêntica quando parte daquilo que se revelou como verdadeiro e comprovado pelos séculos afora. E como cristãos toda e qualquer projeção criadora do presente para o futuro está, qualitativa e quantitativamente ligado ao fundamento, do qual a epistola aos Hebreus diz: "Jesus Cristo ontem e hoje é o mesmo e o será para sempre". A grande preocupação: recuperar o Evangelho Efetivar o encontro do mundo que nos rodeia com Jesus Cristo deve ser a preocupação da Igreja de hoje. Por isto é válida a preocupação decisiva com a forma e o modo de nos desincumbirmos desta missão. Nesta tentativa cabe à Igreja — com palavras de Karl Barth — "viver a aventura com a Bíblia" ... "num intercâmbio entre ela, a igreja, e a Palavra de Deus". Assim a nossa primeira preocupação não deve ser simplesmente, como muitos o querem, a de remover determinados obstáculos à manifestação e à vivência do Evangelho hoje, dando novas roupagens à Igreja, com o fito de assim modernizá-la. Devemos ir muito mais longe, ao âmago da realidade cristã, fazendo valer acima de tudo as suas origens e bases. É o esforço de recuperar a mensagem do Evangelho de Jesus Cristo na sua pureza radical. É o ressurgimento do cristianismo. É procurar efetivar hoje o que era fundamental e vital nos primórdios da Igreja, a saber: a comunhão com o Senhor vivo, o testemunho real do Evangelho, a comunidade fraternal, a caridade e o amor autênticos, o servir, o orar e o se engajar nos preceitos da fé. Devemos estar dispostos a renovar a vida substancial da Igreja. Este renovar da Igreja pode ser resumido à afirmação: "Reviver hoje, num mundo em transição e preenchido da mais veemente 423
crítica, a mais extraordinária das experiências — comungar o Deus vivo em Jesus Cristo, o Ressurreto". A paz de Cristo: ponto de partida para a missão da Igreja. Jesus Cristo envia-nos também hoje ao mundo contemporâneo, assim como Deus o enviou a seu tempo. Mas antes de nos enviar, Ele mesmo nos assegura a necessidade da paz. Não uma paz projetada, ou mesmo uma paz diplomática ou política. Mas a Sua paz: "PAZ SEJA CONVOSCO!" Perante todas as nossas preocupações, perante todas as nossas incongruências, perante toda a nossa dúvida e mesmo desconfiança de sermos capazes de concretizar a missão de fazer convergir criaturas humanas de hoje à fé em Jesus Cristo, Ele se aproxima de nós e nos oferece o que nenhum de nós é capaz de alcançar por si mesmo: a Sua paz! Ele mesmo assegurou para nós esta paz, a fim de que nós mesmos, suplantar as nossas diferenças e os nossos princípios, possamos nos sentir enviados em Seu nome, como o foram os seus discípulos e apóstolos. Por intermédio desta paz que é proveniente de Cristo mesmo — PAZ SEJA CONVOSCO — cabe-nos vencer todo o nosso saudosismo, todo e qualquer comodismo e realismo falso e dar lugar a sua só verdade e realidade cristã: A de conclamar autenticamente outros a comungarem conosco o Deus vivo em Jesus Cristo, o Ressurreto! K. G. Busch A Cruz no Sul – Dezembro 1968
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Lema do mês de fevereiro de 1969: "VÊDE, POIS, COMO OUVIS." Lucas 8,18a. Ouvir! Ver! São duas percepções importantes para a formação do homem. Poderia se inclusive dizer que dentre os sentidos são os mais aperfeiçoados na criatura humana. Na própria história há indícios bem claros da unidade entre o ouvir e o ver, conforme nos revelam principalmente as artes. Todavia, nos nossos dias esta união tem uma influência capital sobre os indivíduos, fruto do rápido desenvolvimento tecnológico no campo das comunicações em massa, a saber, o cinema, a televisão e o jornalismo moderno e figurativo. Há evidentemente uma melhor faculdade de percepção e aceitação de fatos e acontecimentos por parte dos homens quando o ouvir se acha ligado ao ver. Existe no terreno da fé cristã algum relacionamento entre o ouvir e o ver? Sim: inclusive uma ligação muito íntima. E não é fruto de uma pressão tecnológica qualquer. Vejamos: Ouvir! O ouvir é básico para a fé cristã. Pelo nosso ouvir nós silenciamos e nos compenetramos para receber a comunicação e a transmissão de fatos, de acontecimentos, das palavras e das afirmações de Cristo. É o momento necessário para a recepção das cousas de Deus. Este ouvir das cousas de Deus provoca em nós alguma reação: o aceitar, o não aceitar destas cousas de Deus, ou a indiferença. No entanto, a decisão favorável, o aceitar do fato e acontecimento Cristo já é fé. A fé provém assim do ouvir das cousas de Deus. Porém a fé é dinâmica. Ela quer ação. Aí entra em função a percepção do ver.
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Ver! Ver não é apenas um se extasiar de fatos e acontecimentos. Não é apenas uma atitude de espectador. "Se porventura não virdes sinais e prodígios de modo nenhum crereis" (João 4. 48). Os homens sempre foram e continuam sendo susceptíveis a sinais. Ao verem determinados fatos estarão dispostos a participar dos mesmos, de aceitá-los como realmente são. É uma fraqueza humana. Realmente o ver não é apenas um assistir, mas é um participar, um crer. Isto é que a fé em Cristo nos deve inspirar e dar: participação dos fatos, dos acontecimentos e das palavras do próprio Senhor hoje, agora na vida pessoal de cada um de nós. É sair da cômoda posição de ouvinte apenas e se tornar "praticante da palavra de Deus" (Tiago 1.22). Assim agindo, unindo o ouvir ao ver, nos vamos encaminhando a dois objetivos. Primeiro, nos mesmos estaremos vendo e participando dos frutos da fé, os efeitos de sermos amados e perdoados, em nossa própria vida pessoal. Segundo, os outros, os que nos rodeiam, estarão curiosos em saber as causas das transformações em nosso viver. Então, por nosso testemunho vivo, ouvirão das coisas de Deus, participando deste modo conosco do ouvir e do ver. Ouvir e ver é assim um binômio de importância fundamental para o cristão. Nem uma, nem outra fase deve faltar ou imperar, pois as duas se complementam continuadamente. Por isto 'VEDE, POIS, COMO OUVIS." K. G. Busch A Cruz no Sul – Fevereiro 1969
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Monatsspruch für den Monat Februar 1969: "SO SEHT NUN DARAUF WIE IHR ZUHORT." Lukas 8,18a Hören! Sehen! Beides sind wichtige Dinge für die Bildung des Menschen. Ja, man kann sogar sagen: Es sind die wichtigsten Wahrnehmungsmöglichkeiten der menschlichen Kreatur. Die Geschichte liefert uns genügend Beispiele, die uns zeigen, dass Hören und Sehen zusammengehören. Vor allem können wir das bemerken, wenn wir uns der Kunst zuwenden. Auf jeden Fall hat diese Einheit von Hören und Sehen heute einen fundamentalen Einfluss auf den einzelnen Menschen. Sicher ist dies auch eine Folge der schnellen technischen Entwicklung auf dem Gebiet der Massenkommunikationsmittel, Kino, Fernsehen und das Pressewesen in all seinen Ausformungen. Auf jeden Fall nimmt der Mensch die Dinge besser und intensiver wahr, wenn Hören und Sehen miteinander verbunden sind. Gibt es auf dem Gebiet des christlichen Glaubens auch eine Verbindung von Hören und Sehen? Ja! Und dazu eine sehr intensive Verbindung, die aus der Sache selbst sich ergibt und nicht künstlich eingetragen wird. Beginnen wir mit dem Hören. Das Hören ist der Grund des christlichen Glaubens. Erst werden wir stille und bereiten uns so darauf vor, etwas zu hören, etwas zu erfahren von den Dingen und Ereignissen der Vergangenheit, vor allem von den Worten, die Christus gesagt hat. Auf diese Weise nehmen wir Gottes Wirklichkeit wahr. Und diese Wahrnehmung löst in uns eine Reaktion aus: Entweder wir nehmen das, was wir hören an, oder wir lehnen es ab, oder wir wenden uns anderen Dingen zu. Auf jeden Fall ist die positive Reaktion, also die Annahme der Wirklichkeit Gottes in Christus schon der
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Glaube. Somit erwächst der Glaube aus dem Hören der Taten Gottes. Dieser Glaube ist deswegen dynamisch, weil er das Handeln einschliesst, d.h. zum Handeln führen wird. Aber nun kommt das zweite dazu: das Sehen! Dabei geht es nicht nur um dia Wahrnehmung von Ereignissen. Es ist nicht das Sehen des Zuschauers gemeint. Joh. 4,48 sagt Christus: Wenn ihr nicht Zeichen und Wunder seht, so glaubt ihr nicht! Der Mensch verhält sich immer zurückhaltend den Zeichen gegenüber. Aber, indem der Mensch sieht, ist er nicht nur Zuschauer, sondem zugleich beteiligt, und dieses Beteiligtsein ist wiederum identisch mit dem Glauben. Durch den Glauben an Christus erhalten wir Anteil au dem, was Christus getan und gesagt hat. Das gilt auch für die Gegenwart, für unser persönliches Leben im Glauben. So werden wir aus Hörern zu Tätern seines Wortes (Jak. 1,22). Indem wir so das Hören mit dem Sehen verbinden, erfahren wir zwei Konsequenzen: Wir erhalten Anteil an den Früchten des Glaubens und erfahren, dass wir von Gott geliebt werden und dass unsere Schuld vergeben ist. Und: Unsere Umgebung bemerkt eine Veränderung an uns und möchte die Ursache wissen. Durch unser lebendiges Zeugnis erfahren die Menschen in unserer Umgebung etwas vou der lebendigen Wirklichkeit Gottes und nehmen teil mit uns am Hören und Sehen. Daher können wir sagen: In diesen beiden Worten Hören und Sehen besteht das Geheimnis des christlichen Glaubens. Beides zusammen und wenn eines von beiden fehlt, dum fehlt uns alles. Darum: Seht nun darauf, wie ihr zuhört. K. G. Busch. (A Cruz no Sul – Fevereiro 1969) Übersetzung: Mtz 428
Lema do mês de Abril de 1969:. "E ACONTECEU QUE, QUANDO ESTAVAM A MESA, TOMANDO ÊLE O PÃO, ABENÇOOU-O, E, TENDO-O PARTIDO, LHES DEU." Lucas 24.30 A palavra acima encontramos na conhecida história dos discípulos que logo após a Páscoa se dirigiam à cidade de Emaús e no caminho encontraram com Jesus. Uma frase muito importante dá continuidade ao lema deste mês: "Então se lhes abriram os olhos, e o reconheceram." Reconheceram o Senhor no fato do partir do pão, pois se lembraram da Santa Ceia. Muitos de nós participaram da Santa Ceia na Semana Santa. Tomamos pão e vinho na certeza de que assim participamos de modo específico da presença de Deus em Jesus Cristo em nós. A palavra de Deus sempre de novo nos assegura esta presença de Deus. Mas com facilidade ela pode passar despercebida ou ser mal interpretada. Talvez pela simples palavra ouvida não concretizemos a desejada comunhão com Deus. Na celebração da Santa Ceia as coisas são diferentes. Aí não nos podemos esconder no meio da massa de anônimos. Cada um por si decide ir ao altar, cada um pessoalmente toma o pão e o vinho. E assim como o pão e o vinho penetram e tornam conta de nosso corpo, assim também a presença de Deus em Jesus Cristo penetra em nós e o Senhor toma conta de nossa vida. Alcançamos desta maneira a tão desejada comunhão com Deus? É uma pergunta muito importante ! Não é assim que participamos simplesmente da Santa Ceia por mera formalidade? Não temos, na maioria dos casos, mais um contado sincero com a Ceia do Senhor e nem estamos
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capacitados a exemplificar aos outros o "porquê” da mesma para a nossa fé e existência. Pode ser que o pão de Cristo é partido por nós, mas os nossos olhos não se abrem e nós também não O reconhecemos. Onde reside a causa disto? Talvez reside no fato de estarmos acostumados a constituir a nossa existência sem a participação de Deus? Culto dominical e Santa Ceia estão relegados a um segundo plano em nossa vida, não mais havendo qualquer influência daí no nosso dia a dia. As nossas grandes decisões são tomadas completamente fora da esfera de Deus. Ainda permitimos a existência de Deus num plano secundário, assim por dizer, para um caso de extrema necessidade. Mas tudo isto reside [em nossa própria culpa e, se quiséssemos, poderia ser ditei rente. O oferecimento de Deus permanece. Deu não nos dá as costas. Deus continuará nos esperando na esperança de nosso retorno a Ele, assim como nos é dito na parábola do filho pródigo, onde o Pai espera ansioso pela volta do filho. Deus deixa a porta aberta a todos nós. Por que não o fazemos? Ele quer partir também para nós o pão e nos presentear com a sua comunhão. Ali onde aceitamos realmente este oferecimento, os nossos olhos se abrirão e vamos reconhecê-lo como o Senhor de nossa vida. Ainda mais: vamos perceber concretamente a bênção de Deus em todos os momentos de nossa existência. (Adaptado por K. G. B.) A Cruz no Sul – Abril 1969
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Lema do mês de dezembro de 1969: "Eis que venho e habitarei no meio de ti", diz o Senhor. Zacarias 2.10 b. A PRESENÇA DE DEUS NO NOSSO MEIO. Qual seria a nossa reação se alguém repentinamente nos mandasse um recado, expressando o desejo de estar entre nós por algum tempo? Desde que não fosse ninguém sumamente estranho a nossa reação seria bastante positiva. Quando é alguém que estimamos profundamente, este é recebido com alegria. Todos nos esforçaríamos em lhe dar além de uma boa acolhida, toda e qualquer assistência, sintonizando todas as nossas ações em função direta de nosso bem amado hóspede. Mostrar-nos-emos de nosso melhor lado, dar-lhe-íamos enfim uma ótima impressão. Mas se o conviva expressasse o desejo de permanecer para sempre? As coisas mudariam de aspecto. Também ele deveria participar de nossos problemas, de nossas preocupações, do sustento de nossa casa. Não teria apenas direitos, como também deveres. Será esta também a nossa reação se Deus, nos revelasse derepente o desejo de habitar concretamente conosco no dia a dia? Logo diríamos: Como pode Deus habitar entre nós? O seu lugar é outro. Realmente não nos podemos imaginar assim tão simplesmente o fato e Deus participar de nosso cotidiano, de nossas coisas tão comuns e triviais. Do outro lado, porém, não deixamos de também festejar datas centrais, as quais só são possíveis e existentes por intermédio da ação de Deus, como a festa do Advento e do Natal.
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Exatamente o Advento e o Natal nos querem dar ciência de que Deus veio estar entre nós, veio tomar habitação junto conosco, os mortais. "Deus estava em Cristo" (2 Corintos 5.19) é o reconhecimento apostólico, também válido em nossos tempos, de que realmente o Criador vem habitando concretamente no nosso meio. Os israelitas, a quem foram dirigidas estas palavras de Zacarias, contentavam-se com a presença simbólica de Deus nos instrumentos sagrados e cúlticos de sua religião. Como cristãos, todavia, sabemos que Deus está presente entre nós não apenas por Sua magnífica Criação, como também por Sua irrevogável Palavra da Reconciliação, objetivando a nossa PAZ consigo mesmo, com nossos semelhantes e com a própria Criação. Esta presença, este habitar de Deus entre nós se mostra concretamente na mensagem do Advento e do Natal de Jesus Cristo. Em Cristo esta 'habitação de Deus se concretizou de modo evidente. Sabedores disto, cabe-nos sintonizar todas as nossas ações cotidianas, triviais e comuns de tal modo que as mesmas estejam dirigidas em relação ao grande hóspede Jesus Cristo, o qual assume certamente as funções de direito e de dever ao estar entre nosso meio. Esta é a maneira real e mais sincera de nos colocarmos evidentemente no espírito natalino, festejando a Sua presença entre nós também neste Advento. "E O VERBO SE FËZ CARNE, E HABITOU ENTRE NÓS CHEIO DE GRAÇA E DE VERDADE!" João 1.14. K. G. Busch A Cruz no Sul – Dezembro 1969
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Monatsspruch für Dezember: "Siehe, ich komme und will bei dir wohnen", spricht der Herr. Sach. 2, 10 b. GOTTES GEGENWART UNTER UNS! Wie würden wir reagieren, wenn uns jemand einen Brief schicken würde mit der Nachricht, dass er uns besuchen würde. Sollte es jemand sem, den wir kennen, so wäre unsere Reaktion sicher positiv. Sollte es jemand sein, den wir ausgesprochen gern haben, würden wir ihn sicher mit Freuden erwarten und aufnehmen. Wir würden alles tun, um ihm den Aufenthalt so angenehm wie nur möglich zu gestalten, wir würden uns von der besten Seite zeigen und würden dafür sorgen, dass er einen guten Eindruck bekommt. Sollte der Gast den Wunsch äussern, dass er für immer bei uns bleiben wolle, würde sich die Sachlage verändern. Er wäre dann kein Gast mehr, sondem würde zur Familie gehören. Das heisst: er müsste teilnehmen an den Sorgen und Nöten der Familie, er müsste auch von sich aus etwas zum Lebensunterhalt beisteuern. Er hätte also nicht nur besondere Rechte, sondem auch Pflichten. Würden wir auch so reagieren, wenn Gott uns plötzlich mitteilen liesse, dass er bei uns wohnen wolle? Wir würden wohl gleich antworten: Wie kann Gott unter uns wohnen? Sein Ort ist ein anderer. Wir können uns nicht vorstellen, dass Gott an unserem alltäglichen Leben so einfach teilnehmen könne. Auf der anderen Seite feiern wir wie eh und je unsere grossen Feste, Advent und Weihnachten, die ja nur dadurch möglich geworden sind, dass Gott wirklich und wirksam gehandelt hat.
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Advent und Weihnachten, diese Feste wollen uns nachdrücklich darauf hinweisen, dass Gott zu uns gekommen ist, dass er unter uns Sterblichen Wohnung genommen hat. GOTT WAR IN CHRISTUS (2. Kor. 5, 19); mit diesem Wort nehmen die Apostel bezug auf diese Tatsache, die auch in unserer Zeit noch Gültigkeit hat und für uns dasselbe bedeutet: Der allmächtige Gott ist wirklich zu uns gekommen. Die Israeliten, an die Sacharja seine Worte richtete, gaben sich mit einer symbolischen Gegenwart Gottes zufrieden, die zum Ausdruck kam durch heilige Dinge und Handlungen. Als Christen wissen wir jedoch, dass Gott nicht nur durch seine wunderbare Schöpfung gegenwärtig ist, sondem vor allem auch durch sem Wort von der Versöhnung, durch welches er uns seinen Frieden geschenkt hat, den Frieden mit sich und den Frieden unter uns allen. Um diese Gegenwart Gottes geht es bei der Botschaft der Advents- und Weihnachtszeit. In Christus ist diese Gegenwart Gottes einmalig sichtbar und wirklich geworden. Haben wir das einmal erkannt, so fällt auf unseren Alltag ein anderes Licht. Die alltäglichen Dinge und Probleme stehen nun in einer lebendigen Beziehung zu unserem grossen Gast Jesus Christus, der wirklich unter uns ist und unter uns bleiben will, in jeder Lebenslage. Darum geht es in der Adventszeit und an Weihnachten, dass wir dies bedenken und feiern: Gott ist in Jesus Christus unter uns: "DAS WORT WARD FLEISCH UND WOHNTE UNTER UNS VOLLER GNADE UND WAHRHEIT." Joh. 1,14. K. G. Busch (übers. Mtz.) A Cruz no Sul – Dezembro 1969
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NOSSAS ATIVIDADES EM 1969 Um retrospecto do trabalho comunitário em português junto à Igreja Matriz e suas implicações necessárias As atividades na língua pátria junto à Igreja Matriz são coordenadas pelo Conselho Comunal em estreita colaboração com o respectivo pastor. Pela nova orientação e reestruturação da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil tornar-seá necessário um re-estudo profundo das atribuições meramente coordenadoras e efetivamente administrativas do Conselho Comunal, o qual deverá ter formas e características de Conselho Paroquial. A adaptação e o funcionamento das Paróquias, bem como, da União Paroquial (Igreja Evangélica Luterana de São Paulo) deverá se efetivar até fins de 1971, conforme indica o artigo 51 da Constituição promulgada e registrada da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil. Isto nos indica que a nossa União Paroquial, bem como, suas atuais e respectivas paróquias deverão se enquadrar nas disposições eclesiásticas, com o que também os atuais Conselhos passarão a ter novas normas de funções, atribuições e tarefas. Isto determina que as atividades dos Conselhos serão fundamentalmente aumentadas, transformando impreterivelmente as atuais estruturas. Talvez já no próximo ano os nossos boletins retrospectivos deverão tomar formas bem diferentes. Queremos realçar aqui as principais atividades de esfera pastoral em si — esta de íntima ligação com as funções do Conselho Comunal — e intrínseca — ligada a atribuições recebidas por esferas superiores à União Paroquial. A. — Atividades de esfera Pastoral Geral O pastor tem primordialmente a incumbência de pregar o Evangelho de Jesus Cristo é de administrar os Sacramentos, 435
dedicando-se também á instrução cristã e à assistência espiritual, tarefas estas que têm o objetivo de preparar, de apoiar, de incentivar os membros de sua Paróquia para o seu serviço de testemunhas vivas de Cristo neste mundo. Para exercer tão imensa missão ele tem como apoio fundamental, além de servidores eclesiásticos e de colaboradores voluntários, um Conselho Paroquial, o qual juntamente com ele procura coordenar e conjugar as atividades da Paróquia, preocupandose num todo com as mais diversas e necessárias formas de trabalho eclesiástico nos mais múltiplos setores de atividades comunitárias. Para muitos isto pode parecer apenas uma preocupação tipicamente administrativa, a qual também é de relevante importância. No entanto, nos nossos dias atuais, é vital que muitos se preocupem com a forma e a executabilidade dos trabalhos de esfera comunitária visando "especificamente o indivíduo, pelo chamamento ao arrependimento, pela mensagem do perdão e da vida nova em Cristo e pela prática da caridade” (Constituição da IECLB art. 7). Neste sentido devem ser observados sempre os objetivos básicos da comunidade: a) cuidar da pregação pura da Palavra de Deus e da reta administração dos Sacramentos; b) zelar para que seja dado testemunho do Evangelho... c) dedicar-se à assistência espiritual e à caridade; d) participar do trabalho evangelizador e missionário; e) animar a cada um de seus membros a servir ao próximo no âmbito familiar, comunitário, profissional e público; f) assistir ás novas gerações, principalmente quanto à formação dos batizados;
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g) incentivar e promover a participação específica de jovens, homens e mulheres no trabalho e na vida da comunidade". (Conforme o art. 11 da Constituição da IECLB). Lançando mão de nossas atividades no ano de 1969 constatamos que de certo modo viável pudemos ir ao encontro dos objetivos centrais de nosso campo de responsabilidade: 1. Durante o ano passado foram celebrados 69 cultos dominicais em português com uma participação média 120 pessoas. Introduzimos neste ano uma vez por mês (cada 2.o domingo às 19 horas) o culto à noite a insistentes pedidos de nossos membros. A experiência foi além das expectativas. Verificou-se de que mesmo formas novas de culta foram bem aceitas durante os cultos vespertinos, tendo participado deles com afinco e esforço os nossos jovens da Juventude Evangélica — Grupo Centro, destacando-se dois temas a_ "O Tempo é do Senhor" e “A Iniciativa" — quando se usou a técnica de gravações e projeções. Em dezembro último no lugar do culto à noite pudemos participar da apresentação do Coral Assunaro com "O Messias" de Haendel. Em duas outras oportunidades participou de nossos cultos o "Coral Eucarístico da Basílica de Santa Ifigênia". Numa demonstração de fraternidade ecumênica. Na celebração destes 69 cultos em português participaram, além do pároco efetivo, os Pastores Reinhold Mauritz, Friedrich Zander, Louis Becker este retornou aos Estados Unidos em Junho passado com sua família — Eugen Baltzer e o Pastor Auxiliar Erwin Gojtan, os Leitores Asclepíades Pommê, Dr. Gunther v, Cernik. Eduardo Sandri, a Catequista Helga Konrad, os estudantes de Teologia Edgar Hummes, Uwe Wegner e os monitores Alfred Erbert, Norma Pôrto, Paula Heinig e Silvia Reben. Aqui ficam registrados nossos agradecimentos a todos. Ainda neste setor é 437
preciso salientar que o nosso pastor efetivo também celebrou cultos no Asilo da Sociedade Beneficente Alemã, na Igreja da Paz, na Igreja de Golgotá, em Ferraz de Vasconcelos, em MonteMor e Rio Claro. 2. A nossa Escola Dominical para Crianças funcionou normalmente durante o ano de 1969, sendo responsável pelas aulas às 8:30 e 10:00 hs., num total de 106 reuniões efetivas numa média de 3 a 4 cursos diversos por reunião Para que isto se tornasse realizável temos de agradecer a um grande número de monitores especialmente preparados para esta tarefa tão importante, a saber: Paula Heinig, Beatriz Schneider, Helena Kiessling, Norma Porto, Eliana Hadlich, Arthur Battaglia, Emilio Boog, Cristina Faber, Waldemar Battaglia, Rose Mari, Alfred Erbert, Silvia Reben, Irene Heinemann, Sônia Helena de Oliveira, Nélia Naldi de Oliveira. Estes foram aqueles que dispuseram de seu tempo para as nossas crianças. A grande problemática da Escola Dominical sempre foi o material de trabalho, o qual também em 1969 causou alguns problemas de ordem técnica e pessoal. Igualmente é uma forma de servir que exige um profundo investimento por parte da União Paroquial, já que as coletas levantadas não dão a necessária cobertura. A partir deste ano as perspectivas se nos apresentam mais animadoras, principalmente pelo fato de podermos contar na coordenação dos trabalhos da Escola Dominical, com a nossa catequista Srta. Helga Konrad. Por intermédio de sua dedicação e a colaboração efetiva e necessária de monitores esperamos que a nossa Escola Dominical possa dinamizar-se ainda mais concretamente. Para isto necessitamos Igualmente do apoio integral dos pais de nossas crianças, lembrando sempre o seu compromisso de se disporem a educar e instruir seus filhos menores nos princípios da fé cristã, Durante o ano de 1969 houve uma participação de cerca de 150 crianças na Escola 438
Dominical. Regularmente, porém, apenas participaram cerca de 30 a 40. A Escola Dominical precisa ser levada a sério, pois ela vem a substituir de modo mais profundo e realista a supressão continuada das aulas de ensinamento cristão nas escolas de esfera pública e particular. O mesmo vem acontecendo de modo acentuado inclusive em escolas ligadas intimamente à nossa Igreja em São Paulo. E depois este é o caminho mais aconselhável para os candidatos ao Ensino Confirmatório, adquirindo já aqui as necessárias bases para uma maior intensificação no diálogo, na reflexão e na decisão da confirmação pública do batismo de nossos jovens. 3. O Ensino Confirmatório durante o ano passado foi ministrado pelo nosso pároco a quatro grupos distintos (dois na Igreja Matriz e dois no Centro Comunitário da Lapa) abrangendo 39 jovens. As confirmações serão realizadas no Próximo domingo de Ramos - 22 de março de 1970 às 8 horas para os jovens da Igreja Matriz, e no domingo de Pentecostes 17 de maio de 1970 - para os jovens do Centro Comunitário da Lapa. Também aqui o trabalho pastoral é intensamente difícil, pois o tempo de duração do curso é limitadíssimo e não permite nos atuais moldes uma introdução intensiva aos nossos jovens da atual problemática da ré e consequentemente da atuação da Igreja contemporânea. Os métodos de gerações passadas hoje se tornaram obsoletos e impraticáveis. Cada curso de confirmandos é sempre uma nova experiência preenchida por preocupações e mesmo por decepções. De um lado os nossos jovens vivem hoje uma intensa e complicada vida escolar e não poucos já precisam colaborar com o seu salário de menor na manutenção da família. Do outro lado no curso confirmatório é a primeira vez que os mesmos são Confrontados com a Bíblia, com os princípios do Evangelho e com a tradição da própria Igreja. Em 30 aulas é praticamente impossível dar aos mesmos 439
um suprimento básico e fundamental para a vida. Por este motivo é necessária a participação e colaboração dos próprios pais durante esta época da confirmação, no que também são concretizados contatos com os mesmos e o próprio pastor. No entanto, é chegado o momento de ser estudada a viabilidade de ser instituído entre nós também o chamado Ensino PréConfirmatório, pelo qual os jovens são introduzidos aos conhecimentos bíblicos de base para uma melhor compreensão e decisão pessoal dos múltiplos aspectos de fé e da vivência na Comunidade. Aliás este aspecto pré-confirmatório é usual de há muito na grande expressividade de outras paróquias de nossa Igreja. 4. Cabe à cada Comunidade instalada "incentivar e promover a participação de jovens ... no trabalho e na vida da comunidade". É primordial para a continuidade, bem como, a renovação Integral da comunidade a participação ativa dos jovens. Não basta limitar-se a oferecer ao jovem evangélico um lugar, uma hora e talvez uma programação nos trabalhos comunitários. Isto acontece na Juventude Evangélica de São Paulo — Grupo Centro que se reúne normalmente às quartas-feiras a partir das 18 horas no nosso Centro Comunitário "A Ponte", fundos de nossa Igreja Matriz, contando com uma participação de 40 a 60 jovens continuadamente. O jovem precisa integrar-se nos direitos e nos deveres de uma comunidade, participando de suas decisões e encargos, sendo-lhes permitido contribuir efetivamente nos destinos da mesma. E para isto é preciso que ele se manifeste dentro de suas estruturas na forma e participarão ativa dos cultos, nos Conselhos Comunais e Paroquiais, no próprio Presbitério, e de modo específico também nas suas Assembleias Gerais. A Igreja no Brasil neste sentido deu ao nosso jovem um instrumento de ação básica promulgando em sua Constituição o direito de participar aos 18 440
anos de todas as regalias da Comunidade, Paróquia, Distrito, Região e Igreja. Por isto não podemos limitar nossas atividades jovens a um grupo instituído mas alargar os horizontes convocando-os a também se responsabilizarem ativamente de todos os campos de ação comunitária. 5. As atividades de nossa Ordem Auxiliadora das Senhoras Evangélicas — Grupo Centro em português — têm sido das mais proveitosas por intermédio de encontros de trabalho assistencial todas as quintas-feiras, não se esquecendo da formação espiritual, onde temas de grande profundidade tem sido estudados, debatidos, observando-se principalmente a problemática da "dona de casa, da esposa, da mãe de família. Em cada última reunião do mês as senhoras evangélicas se encontram para estes estudos e debates. Também o pastor esporadicamente tem participado destas reuniões, ainda estando vivas as impressões de um estudo sobre o sentido e significado do matrimônio em nossa atualidade, bem como, os estudos bíblicos em torno do Evangelho de Mateus. 6. As senhoras do Conselho Comunal — Setor Português junto à Igreja Matriz passaram em 1969 a intensificar o projeto de "Ação Comunitária" principiando com visitas a Asilos e Orfanatos ligados à nossa Igreja e, assistindo por intermédio de roupas para crianças uma maternidade localizada no Alto da Lapa. O Conselho participou da viagem à inauguração de nossa Igreja em Brasília. Igualmente organizou em mais uma visita à Comunidade Luterana de Monte-Mor que foi concorridíssima. Ressalte-se aqui a promoção "O Mercado" em 11 e 12 de outubro passado, a qual superou todas as expectativas. Esta promoção contou também com o entusiasmo dos membros da Juventude Evangélica de São Paulo — Grupo Centro. A "Ação Comunitária" deverá ser intensificada no decorrer deste ano,
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abrangendo inclusive visitas a membros de nossa União Paroquial, auxiliando assim decisivamente ao 'pastor neste campo de substancial importância de unir e congregar nossas famílias evangélicas. Aliás, o plano de "Ação Comunitária" pretende abranger a dinamização dos vários campos de atividades conforme um documento de 22 de agasto de 1969, o qual oportunamente também será dado a conhecimento de domínio público. 7. Nesta retrospectiva de 1969 não poderemos deixar de mencionar o grande campo afeto à esfera pastoral, a saber as casuálias em português. Os batismos( 59 ) e os casamentos (36 na Igreja Matriz e 5 na Igreja da Paz) sempre são precedidos por encontros dos pais e dos jovens noivos, ocasião na qual, além de uma maior aproximação com o próprio pastor, é debatido o sentido e as implicações das respectivas casuálias. Igualmente registramos em nossos livros 31 sepultamentos, foram em português, mas feitos por vários pastores da União Paroquial. Igualmente várias foram as visitas a doentes, em cuja oportunidade também foi administrada a Santa Ceia (22). As casuálias são de uma importância vital, pois são ocasiões específicas e propícias de aproximação entre o pastor e os membros. 8. Igualmente não devem ser preteridos ao esquecimento os plantões semanais e normais junto à Igreja Matriz e ao Centro Comunitário da Lapa quatro vezes à semana, quando os membros e outras pessoas vêem procurar o pastor com seus problemas, suas angústias ou mesmo um simples bate-papo informal. Durante 1969 ficou mais uma vez provada a necessidade destes plantões, os quais estão abertos também a outras pessoas de outras confissões, muitas vezes como um sinal de nossa era de abertura ecumênica.
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9. O ano que passou caracterizou-se por uma nova era de contatos muito importantes, a saber, os casais interconfessionais. Vários encontros (12) eis diferentes locais, geralmente em casas de família, foram debatidos assuntos, organizadas palestras de cunho informativo, girando a temática em torno do comportamento, a vivência e a experiência de fé em famílias onde os pais pretendem permanecer fiéis à suas confissões e igrejas de origem. Neste campo de ação fica patente, mesmo com os movimentos de aproximação interconfessionais - principalmente do Conselho Mundial de Igrejas com a Igreja Católica Romana, o pouco que tem sido feito em prol daqueles pretendentes a uma vivência de fé ecumênica no seio de suas famílias. Ainda há muito pouca abertura nas Igrejas Instituidas para esta problemática que aos poucos vai explodindo no seio da família cristã, tornando-se necessária uma tomada de consciência principalmente perante os assim chamados "casamentos ecumênicos" — para muitos uma encenação, para outros, porém, um novo campo de importância vital nas futuras relações das Igrejas entre si. 10 Finalmente ainda cabe aqui reportar-se os primeiros passos efetivados em criar os pontos de apoio para o novo trabalho na Zona Oeste da Cidade, tendo como referência básica no Centro Comunitário à Rua Tomé de Souza, 869 — Alto da Lapa. Neste sentido estão sendo visitados os nossos membros nos bairros de Pirituba — Vila Zatti — Vila Jaguara — Vila Mangalot —Vila Anatácio. Para este semestre ainda iniciamos as visitas em Vila Hamburguêsa, Vila Leopoldina, Jaguaré e município de Osasco. Estas são as tarefas e atribuições básicas pastorais do ano de 1969, as quais foram cumpridas era estreitas ligações ao Conselho Comunal junto à Igreja Matriz e o Presbitério da Igreja
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Evangélica Luterana de São Paulo. Certamente outras tarefas foram esquecidas ou mesmo sofreram solução de continuidade. Todavia, nem tudo pode ser realizado e concretizado de uma só vez. E muito só pode ser realizado pelo esforço abnegado e sincero de múltiplos colaboradores nas mais diversas esferas e setores de trabalho de nossa Comunidade, pelo que aqui registramos os sinceros agradecimentos e os votos de que voltem a contribuir com mais entusiasmo ainda, trazendo inclusive novos membros na edificação da causa do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo — centro de nosso ser e existir como Comunidade Evangélica Luterana cie São Paulo. B. — Outras atividades extra-comunitárias do Pastor Durante o ano de 1969 o nosso pároco foi incumbido a exercer uma série de atividades com íntimo relacionamento com a União Paroquial, o Distrito, a Região e mesmo com a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil. Muitos destes encargos lhe têm exigido tempo e sacrifício nas funções puramente pastorais, mas que são de imenso valor e necessários para a implantação de novos caminhos e rumos de nossa Igreja como um todo específico. Coube assim ao P. Karl G. Busch durante 1969 coordenar os trabalhos da Juventude Evangélica na 1ª. Região da IECLB, constando de organizar encontros e coordenando a participação de jovens na VIII Escola de líderes da Secretaria Geral da Juventude Evangélica no Brasil. Nesta função ele também é membro do Conselho Nacional da Juventude Evangélica da IECLB. P. Busch pôde durante também prestar seus serviços como coordenador espiritual junto à Diretoria da Ordem Auxiliadora de Senhoras Evangélicas no Grande São Paulo. Além disto
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preencheu também as funções de coordenador do Colégio Pastoral da União Paroquial, sendo assim também membro efetivo da Diretoria Executiva da Igreja Evangélica Luterana de São Paulo, assistindo e colaborando por diversas vezes à Comissão de Finanças da mesma. Juntamente com o Sr. Asclepíades Pommê foi responsável pela parte em português de nosso mensário "A Cruz no Sul". No 1º. Concílio Distrital do Distrito Eclesiástico de São Paulo da 1.a Região da IECLB foi eleito como Pastor Distrital, encargo este que veio exigir uma grande mobilidade e muitas ausências de São Paulo, participando de várias reuniões de planificação e execução das tarefas eclesiásticas no Distrito. Fazendo um balanço destas atividades resta-nos apenas pedir que Deus continue iluminando e despertando sempre mais em nós todos, membros desta Igreja Evangélica Luterana de São Paulo, a vivenciarmos a nossa fé em Cristo Jesus, criando a possibilidade que muitos outros possam participar desta missão dignificante de congregarmo-nos numa comunidade sincera e profundamente irmanada pela fé apostólica e evangélica. Que também nós participemos desta advertência de Cristo: "A seara é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores nora a sua seara". — (Lucas 10.2). Conselho Comunal — Setor Português Junto à Igreja Matriz. P. Karl G. Busch — Coordenador do serviço em português junto à Igreja Matriz. A Cruz no Sul – março 1970
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Jovens da Ia. Região reunidos em Araras O Departamento da Juventude Evangélica Luterana da Ia. Região da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil patrocinou no Seminário doa Pregadores em Araras, Petrópolis um encontro de jovens visando uma maior participação de nossas Juventudes Evangélicas no importante trabalho junto às nossas crianças e jovens adolescentes. Mormente este trabalho é conhecido entre nós luteranos como "culto infantil" ou "escola dominical para crianças. Foi intenção deste encontro dar uma visão mais ampla das múltiplas possibilidades de um trabalho dinâmico e apropriado para os nossos dias com as crianças ligadas direta- ou "indiretamente" às nossas comunidades. “Indiretamente" pelo fato de aqui poder residir a nossa ação evangelizadora no nosso meio influente, de quebrarmos nossas barreiras confessionais tradicionais, envolvendo nossos vizinhos; nossas família, amigas, sem no entanto, estarmos fazendo proselitismo. O importante é levar aos "'outros" e as crianças e os adolescentes são também os outros — a mensagem de Jesus Cristo. Apesar de certo pessimismo advindo de “terceiros", coube aos jovens reunidos em Araras fazer um levantamento num raio de dois quilômetros, verificando quantas crianças entre 3 e 12 anos moravam nas redondezas do Seminário de Pregadores. Aproveitando esta tarefa coube-lhes convidá-las a participar por quatro dias dos trabalhos práticos dos jovens. Assim os mesmos foram em várias direções pesquisando e ao mesmo tempo distribuindo convites para as manhãs seguintes. Nada mais de 176 crianças foram catalogadas em menos de duas horas de visitas. Será que virão crianças? Será que os pais vão permitir a vinda das mesmas? Sob esta expectativa foram preparadas catequeses, os programas recreativos, ensaiadas as 446
canções. Os jovens escolheram como primeiro tema “Deus e a Criação”. Já durante o café da manhã seguinte notava-se o movimento nos pátios do Seminário. Nada menos que 95 crianças ali vieram ter, participando ativamente desta nova experiência, pois para a maioria dos jovens era a primeira vez que iriam testar suas qualidades de liderança. Vencidas as primeiras inibições, notava-se a euforia de todos. Motivados por esta primeira etapa prática, todos sentiram-se impelidos a ir em frente com mais ânimo e assim foram sendo preparados outros temas: "José e seus irmãos", Os filhos perdidos" (parábola do filho pródigo) , "o bom samaritano", "'o encontro de Jesus com Zaqueu”. Por esta atividade pudemos alcançar no fim do encontro o cerca de 110 crianças de diferentes idades e níveis sociais, de famílias pobres radicadas em Araras até os filhos de veranistas. Quem sabe esta nossa experiência possa motivar a direção do Seminário dos Pregadores a irradiar um pouco de sua presença na vila de Araras, deixando o seu "isolamento" — comentário dos moradores! Na preparação destes trabalhos usou-se um variado e substancioso material acessível a todas as nossas comunidades, dando assim a necessária cobertura aos seus monitores. A “equipe” responsável pelo encontro – formada por Helga Konrad e Erno Wallauer, ambos catequistas de nossa Igreja, Hannelore Ludwig e Pastor Carlos Busch – procurou sempre orientar os jovens, possibilitando no entanto, que dessem “asas” a sua imaginação, muitos descobrindo assim seus dons e dando “adeus” às suas inibições. Aliás o encontro todo se caracterizou por sua maneira muito aberta, franca e liberal, fazendo que com o correr dos dias o entrosamento dos participantes se tornasse global. Aqueles 26 participantes do dia 11 de janeiro, indo do Espirito Santo, de
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Minas Gerais, do Rio de Janeiro, da Guanabara e de São Paulo, das zonas rurais, das grandes capitais, os pequenos centros urbanos, todos heterogêneos entre si no dia do encerramento — 18 de janeiro — se transformaram numa família harmoniosa. O momento mais difícil do encontro foi a despedida entre sorrisos e lágrimas, um misto de gratidão e de saudades. K. G. B.
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Aniversário Pastor Busch - 1966
Presença da “Furiosa” no Aniversário 1966
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Aniversรกrio Pastor Busch 1967
Aniversรกrio Pastor Busch 1967
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Pastor Busch e jovens em Santo Amaro – São Paulo/SP
Pastor Busch e jovens na praia 451
Pastor Busch e jovens em Petrรณpolis/RJ
Pastor Busch e jovens em Teรณfilo Otoni/MG
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Jovens em Curitiba/PR
Pastor Karl Gustav Busch
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Parte III Prédicas em Alemão
Lukas 5,1-11 „Die Gnade unseres Herrn Jesus Christus und die Liebe Gottes und die Gemeinschaft des heiligen Geistes sei uns mit allen! Amen. Der gerade verlesene Text ist uns allen als der „wunderbare Fischzug des Petrus“ bekannt. Seit unserer Kindheit kennen wir diese Geschichte und immer wieder fragen wir uns über dieses Wunder des Herrn Jesu. Aber dieser kurzer Bericht des Lukas Evangelium will uns etwas viel Wichtigeres nahebringen, als nur (von) einer Wundergeschichte (zu sprechen). Hier wird uns nun gezeigt wir Jesus einen einfachen Fischer als seinen Jünger und Apostel beruft. Aber lassen wir doch dem Text uns selbst dieses wichtige Ereignis erzählen. Wir hörten, dass Jesus am See Genezareth stand und dass sich um ihn eine große Volksmenge drängte. Alle wollten seine Worte über das Reich Gottes hören. Unmittelbar befinden sich viele unter dem Volke die nur als Neugier hinter Jesus herliefen, da sie vielleicht sehen könnten wie er Krüppel, Kranke und Blinde heilte und ihn nur als einen wunderbaren Arzt anerkannten! Andere schon fühlten sich durch seine kraftvollen Worte angezogen! Aber in dieser Volksmenge, etwas abseits, befinden sich einige Fischer, unter ihnen Simon Petrus, die gerade mit ihrem täglichen Werk beschäftigt sind. Das unruhige und neugierige Volk drängte sich immer mehr um Jesus denn jeder einzelne wollte nun das Vorrecht haben Jesus von der Nahe aus zu sehen. Als Jesus diese Unruhe unter dem Volke merkte, trat er einfach in eines der Schiffe und bat den Fischer Simon Petrus, dass er es ein wenig von Lande
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führen solle, von wo aus er dann ungestört und unbesorgt das Wort Gottes predigen konnte. Hiermit haben wir schon ein wichtiges Ereignis vor uns, welches öfters unbemerkt bleibt. Obwohl Jesus für Petrus fast ein Unbekannter war, von dem er vielleicht schon bei einer Gelegenheit gehört hat, lässt er seine Arbeit liegen und stößt sein Schiff eigene Meter vom Lande ab. So tut dieser Fischer wie der Herr ihn befohlen hat: Er gehorcht auf die Bitte des Herrn hin. Vom Schiffe aus lehrte Jesus mit aller Ruhe und Gewissenhaftigkeit das anwesende Volk. Zu seiner Seite saß auch die ganze Zeit Simon Petrus, welcher ob er wollte oder nicht, die Worte des Herrn anhören musste. Und es wird uns berichtet, dass, als Jesus aufgehört hatte zu reden, er zu Simon sprach – „Fahre auf die Höhe“ und indem er sich zu den andren Fischern wandte „und werfet eure Netze aus, dass ihr einen Zug tut“. Auf diese plötzliche und fast unerwartete Aufforderung Jesu antwortet Simon Petrus: „Meister, wir haben die ganze Nacht gearbeitet und nichts gefangen; aber dein Wort will ich das Netz auswerfen“. Wenn wir uns kurz auf die Antwort des Petrus beschenken, so stellen wir fest, dass Jesus als Meister angesprochen wird. Ja, Petrus hat durch die Predigt des Wortes Gottes den Meister erkannt. Darum kann Simon Petrus auch zu Jesus Vertrauen haben, indem er deutlich sagt, dass er und seine Freunde die ganze Nacht durch schon auf du hohen See waren und bei Arbeit, keinen Erfolg gehabt hatten. Aber auf Jesu Aufforderung hin will er es tun. Simon beugt sich nochmals im Gehorsam unter dir Vollmacht des Herrn. Simon Petrus, als erfahrener Fischer, könnte ohneweiters die Aufforderung des Meister mit einer einfachen Handbewegung abweisen oder ihm 457
kur sagen: „Herr, tagsüber ist durchaus kein Erfolg zu erwarten. Es ist unnötige Kraftverschwendung“. Aber zu unserem Erstaunen hat er sein Boot genommen und ist zur See hinausgefahren. Als die Fischer nun die Netze auswarfen, erfuhren sie diesen wundervollen Fischzug. Dieselben Netze, die vor einigen Stunden leer zurückkamen, begannen unter der Last der Fische zu reißen, soweit, dass die Fischer um Hilfe bitten mussten. Gerade durch dieses unerwartete Zeichen erkannte Simon Petrus seine wahre Situation und indem er seinen menschlichen Egoismus überwindet, fiel er zu Jesu Füssen und sprach fast verzweifelt: „Herr, gehe von mir hinaus! Ich bin ein sündiger Mensch“. Durch das Zeichen des wunderbaren Fischzuges wurde dem armen und kleingläubigen Fischer offenbar, dass er sich vor dem Gottes befand und dass er als sündiger Mensch kein Recht hatte ihn anzuschauen. Er was erschrocken und mit ihm seine Gesellen. Jesus aber sprach zu Simon: „Fürchte dich nicht“ und fordert ihn nun auf: „von nun an wirst du Menschenfischer sein“. Ja, vor dem Meister, vor dem Herrn gibt es keinen Grund zur Furcht, sondern nur Grund zur Freude, nur Grund zum Vertrauen und zur Hoffnung, denn gerade der sündige Mensch wird aufgefordert nicht nur seine Lage zu erkennen, sondern auch Nachfolger des Herrn zu sein. Simon Petrus gibt uns nun auch noch einen weiteren Erweis seines Gehorsams, indem er alles liegen lässt und dem Herrn nachfolgt. Diese Nachfolge bedeutet eine ganz neue Umkehrung seines bisherigen Lebens. Simon Petrus wird zum Jünger Jesu berufen und als Apostel bestimmt. Er verlässt seine Schiffe, die Netze, seine Arbeit, sein Hab und Gut folgt dem Meister, seinen neuen Herrn. Jesus spricht diese Berufung zur Nachfolge unausweichlich in den Alltag dieser Fischer hinein. 458
Liebe Gemeinde, fragen wir uns doch ganz schlicht und ohne irgendwelche Hemmungen: Werden wir nicht heute noch zur Nachfolge Christi gerufen, jetzt in dieser Zeit du großartigsten Erfindungen, in der Zeit der Automatisierung, wenn nicht der Materialisierung? Wird nicht jeder Einzelne von uns aufgefordert Jesus Christus im Gehorsam und Vertrauen nachzufolgen und sein Jünger zu sein? Auf diese Fragen hin gibt es nur eine Antwort, die auch ohne Bedenken auszusprechen ist. Sie lautet: Ja, auch heute wirst du aufgefordert ein entschiedener Jünger Christi zu sein. Derselbe Jesus, der Simon Petrus zum Menschenfischer machte, will auch dich als seinen entschlossenen Nachfolger haben. Jesus ruft uns heute noch zum Gehorsam. Zum Dienst, zur Gemeinschaft. Aber in welcher Weise kann Christus uns heutzutage auffordern sein Nachfolger zu sein? Als es nun soweit war, dass Jesus diese irdische Welt verlassen sollte, befahl er seinen Jüngern: „Gehet hin und machet zu Jüngern alle Völker: taufet sie auf den Namen des Vaters uns des Sohnes und des Heiligen Geistes und lehret sie halten alles was ich euch befohlen habe“. Hier haben wir den Befehl Christi, die Aufforderung Christi, alle Völker, zu seinen Jüngern zu machen. Und durch das Wirken des Heiligen Geistes versucht, die Kirche diesen Befehl nachzukommen, indem sie alle tauft die auf das Wort Gottes hören. Durch die heilige Taufe werden und werden wir aufgefordert Christi nachzufolgen. Unsere Eltern und Paten haben einstmals das „Ja“ zur Nachfolge und zum Gehorsam gesprochen und auch später konnten wir dann bei du Konfirmation dieses „Ja“ unser Eltern und Paten bestätigen. Damit sind wir in der Nachfolge Christi gerufen. Aber nicht durch die Taufe allein werden wir aufgefordert Jünger Christi zu sein. Wo und wann das Wort Gottes gepredigt
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und das Evangelium verkündigt wird, dort wird jeder von uns angesprochen. Die Verkündigung des Wortes vom Kreuz ruft uns immer von neuen zur Nachfolge. Die Verkündigung unseres Herrn Jesu Christi trifft uns immer von neuem in unserer jeweiligen Situation. So wie Petrus sich vor dem Herrn als sündiger Mensch erkannte, so sollen wir auch unsere wahre Lage vor Gott erkennen. Wir sind nicht vollkommen, wie wir es gerne sein möchten. Ja, wo auch immer das Wort Gottes gelehrt und gepredigt wird, dort wird unsere klare Entscheidung gefordert, der wir nicht ausweichen können. Wir müssen die Aufforderung Christi immer beantworten: Für Christus oder gegen Christus. Wir können das Wort unserer Erlösung, unseres Heils annehmen, oder können es auch verachten. Uns ist die Freiheit der Entscheidung gegeben, aber angesichts des Wortes Gottes muss sie fallen. Wir suchen immer irgendeine letzte Erfüllung. Wir sind nie ganz zufrieden. Zwar haben wir unser Haus, unsere Familie und unseren Beruf, unsere Kleidung, das tägliche Brot und unser Hab und Gut. Trotzdem fehlt uns immer noch etwas. Wir suchen den nötigen Trost in Zerstreuungen aller Art, wir spielen mit unserem Leben, wir lassen uns durch den gewaltigen Strom des Alltags mitschleppen, aber doch bleibt diese Leere in unserem Leben weiterbestehen. Nicht einmal die Verlockungen dieser Welt bringen uns den gewünschten Frieden. Es fehlt etwas. Es fehlt uns etwas Grundlegendes in unserem Leben, wonach wir trachten, wonach wir suchen. Aber wir sehen ja nur auf menschlicher Basis und vergessen deshalb, dieses wunderbare und große Geschenk Gottes: nämlich den Glauben an Jesus Christus. Gott schenkt uns diesen Glauben, aber wir wollen ihn nicht annehmen, denn wir fürchten uns davor. Erinnern wir uns doch an die Antwort die Jesus dem
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Petrus gab: „Fürchte dich nicht!“ Wir haben schon Grund uns vor Gott, vor Jesus Christus zu fürchten. Es fehlt uns doch vieles, wir müssen zugeben, dass wir unserer Aufgabe als Christen vor Gott und vor unseren Nächsten mit unseren eigenen Kräften nicht nachkommen. Wir wollen unsere typische Art und Weise des gewöhnlichen Lebens nicht ändern. Alles stört uns: wir können unseren Nächsten nicht leiden und wir sehen nur seine Fehler. Anstatt dass wir ihm in allen Stunden beistehen, ihn versuchen zu verstehen, ihm zu helfen und ihm mit guten Beispiel voranzugehen, lassen wir ihn laufen und kümmern uns lieber um unsere Angelegenheiten. Warum sollen wir uns darum auch noch kümmern, denn wir selber haben ja schon genügend Sorgen. Aber, liebe Gemeinde, das Wort Gottes richtet sich auch an dich und es will die gerade den wahren Weg Gotteszeigen. Wenn wir alle den Ruf des Herrn wahrnehmen, dann werden wir erkennen, dass wir dem Herrn gehören und sein Eigentum sind. Und wir werden auch die Reihe derer schließen, die sich in der Nachfolge Christi wissen. Dann hat auch immer Leben ein neues Ziel: dem Herrn dienen in unserer Arbeit, in unserem persönlichen Leben. Das Wort Gottes kann Wender wirken und es gilt auch dir, liebe Gemeinde. Auch bei die können sich Änderungen vollziehen wenn der den Ruf des Herrn nachkommst. Dann wirst du auch deinen Nächsten lieben können, du wirst dich mit ihm freuen, mit ihm trauern, mit ihm leiden und wirst erkennen welche Aufgabe der Herr dir persönlich gegeben hat. Und wir werden alle für die unendliche Liebe Gottes, für die großartige Barmherzigkeit und für so viel Glück jeden Tag dankbar sein. Ein wahrer Nachfolger Christi sein, bedeutet Vertrauen zu Gott haben, Ihm unser Leben in seine Hände Befehlen. Und dies alles 461
hier in dieser Welt, in unserem Beruf, in unserem Familienleben. Jünger Christi sein, bedeutet Ihm Gehorsam leisten durch den Glauben an Jesus Christus erleben wir, dass jeder von uns eine Gabe von Gott hat, die wir auch in die Tat umsetzen müssen. Der Apostel Paulus schreibt schon an die Korinther: „Es sind mancherlei Gaben; aber es ist ein Geist. Und es sind mancherlei Ämter; aber es ist ein Herr. Und es sind mancherlei Kräfte, aber es ist ein Gott der da wirket alles in allen“. Jeder von uns bemühe sich doch seine Gaben in die Tat umzusetzen. Lasset uns alle wahre und freudige Dieser des Wortes sein, damit wir auch die Größe und die Unendlichkeit der Liebe Gottes erkennen dürfen die uns durch Jesus Christus, unseren Herrn und Heiland, offenbart wird. Amen.
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Matthäus 13,31-33 Die Gnade unseres Herrn Jesus Christus und die Liebe Gottes und die Gemeinschaft des Heiligen Geistes sei mit uns allen! Amen. Liebe Gemeinde! Wenn man das Gleichnis vom Senfkorn recht verstehen will, muss man sich zuerst die Stimmung der Leute Klarmachen, die damals um Jesus herumstanden. Sie waren doch alle deprimiert und hatten den Mut schon praktisch verloren weiterzumachen, denn sie sahen keinen Fortschritt im Werk des Herrn. Teilweise können wir zustimmen, dass das Volk manchmal stundenlang um Jesus saß und sich seine Predigt anhörte. Aber doch muss man feststellen, dass sich nur recht Wenige als wirkliche Teilnehmer bei der Arbeit am Reich Gottes bekannten. So ist es nun einmal in unser Welt: die Menge ist meistens passiv und nachlässig. In der Tat wissen wir, dass es Männer gab die Wegen Jesu ihre Arbeit, ihr Hab und Gut verlassen hatten um seine wahre Jünger und Nachfolger zu sein. Dann treffen wir auch noch eine Legion von Armen, Einsamen und Kranken die hinter Jesus herliefen in der Hoffnung bei ihm eine Hilfe oder Erlösung zu erlangen. Wenn wir dieses Bild vor Augen haben, dann werden wir behaupten, dass von Jesus verkündigte Himmelreich einen Misserfolg sondergleichen hätte erleben müssen. Wenn wir auch die ganze Lage von einem anderen Gesichtspunkt ansehen, müssten wir noch pessimistischen denken. Die geistige und politische Führung des Volks lehnte Jesus ja ab, oder, was noch schlimmer ist, sie ignoriert Ihn. Auch die Kulturwelt der damaligen Zeit, das römische Kulturzentrum, nahm von Jesu Verkündigung gar keine Notiz.
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Aber doch behauptet Er ohne Einschränkungen, das Reich Gottes sei mit Ihn angebrochen. Wenn man aber fragt: Wir denn? Dann klingt es wirklich peinlich, wenn man sagt: Es sind ein paar schmutzige Kinder, die hinter Ihn herlaufen, die Bettler und die paar Randsiedler der Gesellschaft. Diese können doch nicht gut das Reich Gottes bilden! Die Lage war doch recht komisch und das Reich Gottes ist doch dadurch ein hoffnungsloser Fall. In dieser Atmosphäre gelten nun die Jünger Jesu, die ihre ganze Existenz auf dieses Werk gesetzt hatten. Es war doch eine Stimmung der Mutlosigkeit und vielleicht der Bedrückung. Einige Worte des Ansporns und des Trostes waren bitter nötig. Und siehe, Jesus suchte sich gerade so eine Gelegenheit aus, als die Jünger den Kopf hängen ließen, um ihnen durch dieses Gleichnis neue Kraft zur Arbeit zu schenken. Dieses Gleichnis enthält in der Tat eine große Wahrheit, die auch uns heute noch gilt. Jesus vergleicht nun das Himmelreich mit einen winzigen Senfkorn. Was ist schon ein Senfkorn, welches vielleicht als das kleinste Samenkorn vorzustellen ist. So ein Minimum von Samen! Aber merkwürdig: Wenn dieses Körnchen Gesät wird, dann wächst eine große Staude daraus hervor, so dass sogar die Vögel sich in ihren Zweigen einnisten können. Darüber staunt mancher von uns. Hier entsteht nun die Frage: Was will Jesus damit andeuten? Wollte er damit sagen, dass das Christentum in der Art einer politischen Partei, so wie es die Juden zu seiner Zeit sahen, die Welt erobern würde? Ganz bestimmst nicht. Hiermit will Jesus uns auf die wahre Aufgabe seiner Gemeinde aufmerksam machen. Aber nicht nur auf die Aufgabe seiner Gemeinde wird hingewiesen, sondern jeder einzelne Mensch wird hier
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angesprochen. Jeder Christi ist ein Lichtstrahl, der das, was um ihn herum liegt und steht, ergreift. Auch andere Bilder veranschaulichen das. Da ist vom „Sauerteig“ die Rede, der die ganze Masse des Mehls durchsäuert und in seiner Qualität verändert. Da ist vom „Salz“ die Rede, das auch in kleinsten Mengen den Geschmack einer Speise verändert. Wir brauchen ja nur an die kleine Lichtquelle eines Autoscheinwerfers denken, die aber mit ihrer Strahlkraft einige Kubikmeter der nächtlichen Finsternis erleuchtet, soweit, dass man es von hunderten von Metern sehen kann. Dasselbe können wir auch von dem Senfkorn behaupten. Man braucht dieser winzigen Samen nur nehmen und säen. Wenn er gewachsen ist, so kann er grösser als alle Sträuße, groß wie ein Baum sein! Ähnlich geschieht es bei den Christen: auf die Menge gesehen, bleiben sie ein kleines Häuflein, eine Minorität. Um das festzustellen, brauchen wir ja gar nicht weitzugehen. Nehmen wir doch unsere Gemeinde als Beispiel. Wir wissen doch alle, dass in dieser riesigen Stadt tausende von Evangelischen wohnen. Wenn wir aber nun auf die leeren Bänke unserer Kirchen schauen, dann müssen wir erkennen, dass es sich nur um eine kleine Schar von diesen handelt, die sich an das Reich Gottes beteiligen. Das wirkt schmerzlich und enttäuschend. Und gerade weil wir uns als eine kleine Schar wissen, schämen wir uns mit unseren Mitmenschen über Glaubenssachen zu sprechen. Wir wollen als Christen in der Öffentlichkeit nicht erscheinen; denn wir fürchten uns von den kritischen Augen derer die sich um uns befinden. Wir fürchten, ausgelacht zu werden. Wir leiden unter Minderwertigkeitskomplexen.
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Warum? Weil wir der Minorität angehören und wir wollen uns lieber mit den gewöhnlichen Menschen unserer Umgebung gleichstellen. Aber durch dieses Gleichnis, will Jesus uns deutlich machen, dass gerade bei dieser kleinen Schar, die wir letzten Endes auch sind, dass bei ihr die Strahlkraft und die Wirkung für die Verkündigung der frohen Botschaft umso grösser sein kann. Es hängt nicht von der Menge, sondern von der Energie und der Tatkraft ab. Es kommt immer darauf an, wo die eigentliche Wirkungskraft liegt und die kann doch öfters bei einer kleinen Schar zu finden sein. Wenn die Hefe nicht dem Mehl zugesetzt wird, dann kann sie den Teich auch nicht auftreiben. Solange die Salzkörner im Salzfass sind, können sie den Geschmack der Speise nicht verändern. Wenn die Energie einer Autobaterie nicht gebraucht wird, solange wird der Scheinwerfer keinen einzigen Zentimeter die Finsternis der Nacht durchdringen. Wir erkennen damit, dass die Energie, die Strahlkraft selber in die Tat umgesetzt werden muss, sonst sind keine Resultate zu erwarten. Dieses Gleichnis vom Senfkorn meint aber nicht nur die Gemeinde, sondern auch den einzelnen Menschen, der zu dieser Gemeinde gehört. Es geht hier um das Wachsen des Christen in seiner Gemeinde; es geht um das Ausreifen seiner Bestimmung für das Reich Gottes. Manchmal braucht nur ein einziges Körnlein des göttlichen Wortes in ein Menschenherz fallen und es kann ein ganz neues Ziel seiner Wege für diesen Mensch bedeuten. Uns wird das Wort Gottes immer von neuem ins Herz gelegt und weckt bei uns den Glauben an unserem Herrn Jesus Christus. Wenn aber dieser Glaube nur immer oberflächlich sein will, dann ist er für uns und für unsere Mitmenschen nicht zu gebrauchen. Wie 466
beim Senfkorn: wird es nicht gesät und gepflegt, so kann es auch nicht zu einer Staude wachsen. Es verkommt. Der Glaube beginnt in der Stille unseres Herzens, soweit stimmt es schon. Aber der Glaube will auch wachsen er muss gepflegt werden, er muss sich entwickeln können, damit es auch zu einer Wirkungskraft kommt, welche unsere Nächsten, unsere Kollegen und Freunden ergreift. Wenn der Glaube aber nur im Innern bleibt, dann zersetzt er sich und wird zu einem Selbstlob, zu einer persönlichen Frömmigkeit, die unsere Mitmenschen von dem Himmelreich und von der Gemeinde Christi abschreckt. Der Glaube muss wachsen und sich Innerlich wie auch Äußerlich festigen. Auch ein wachsender Baum vergrößert ja in dem gleichen Masse, wie er mit seinem Wipfel den nicht baren Raum erfüllt, sein unsichtbares Wurzelwerk unten im Erdenreich. Dieselbe Entwicklung muss unser Glaube haben. Das Wort Gottes, welches als Korn in unser Herz gefallen ist, enthält eine unerhörte Sprengkraft; es will heraus, es will ein Baum werden, es will Früchte bringen. Aber dazu müssen wir auch tätig sein, indem wir aktiv in die Arbeit des Himmelseiches treten. Das Himmelreich muss von uns aus wachsen, die wir das Wort Gottes hören und Teilnehmer der Botschaft des Evangeliums sind. Das Wort Gottes will etwas Neues gestalten. Unsere Familie, unsere Angehörigen, unsere Nachbarn, unsere Freunde sollen auch Teilhaber vom Reich Gottes sein. Mit dem Samen des Wortes kommt eine heimliche Revolution in die Welt: zuerst werden einige Menschen bewegt; dann ändern sich ihre Verhältnisse, in denen sie leben. Diese neue Veränderung der einzelnen Menschen durch das Wort Gottes wird dann auch bei der großen Masse spürbar werden. Hier wird uns das Bild des Senfkornes und des Sauerteigs
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deutlich. Der Einzelne wirkt auf den andren, und diese kleine Schar Menschen hat die Kraft und die Möglichkeit, bei der Masse, bei der Volksmenge einzuwirken und sie zu beeinflussen. Gerade wir heutigen Menschen, die wir dauernd glauben so entsetzlich viel zu tun zu haben, müssen uns immer von neuen vergewissern, dass wir als Teilhaber des Reich Gottes, als Glieder seiner Gemeinde durch unseren Glauben und unser Bekenntnis die Aufgabe haben, den Samen des Wortes anderen Menschen anzubieten und diesen in ihre Herzen zu säen. Wir müssen alle für diese Mission vorbereitet und unserer Aufgabe als Christen gewiss sein. Aber einer Sache muss sich jeder von uns bewusst sein: wir können nur wahre und aktive Mitarbeiter am Himmelreich sein, von der Stunde an, wo das Wort Gottes, das Evangelium unseres Herrn Jesus Christus in unseren Herzen Wohnung nimmt. Wenn dies geschieht, dann werden wir auch erkennen, dass die Verkündigung des Evangeliums bei allen Völkern, in aller Welt die wichtigste Rolle spielt. Nur unter dem Wort Gottes können wir bestehen und wirklich leben. Mir und dir ist die Aufgabe gegeben den Samen des Wortes in die ganze Welt auszustreuen, auch wenn wir nur eine kleine Schar sind. Eines ist sicher und soll uns allen weiterhelfen: Wir haben einen Herrn, Schöpfer Himmels und der Erde; wir haben einen Heiland, Jesus Christus, durch welchen wir zur Seligkeit geführt werden; wir haben den Heiligen Geist, der uns für die wichtige Arbeit hier in seinen Reich ausrüstet. Wenn wir daran denken, werden unsere eigenen kleinen Anliegen zum Guten und Großen gefördert. Darum braucht uns das Kleinste nicht zu klein zu sein, denn das Große ist letzten Endes in Gottes unergründlichen Ratschluss verborgen. Amen.
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Die Gnade unseres Herrn Jesu Christus, die Liebe Gottes und die Gemeinschaft des Heiligen Leistes sie mit uns allen! Amen. Wir stellen uns unter das Wort der Heiligen Schrift und hören das Evangelium des heutigen Sonntags, wie wir es aufzeichnet finden im Evangelium zu Matthäus, im 13. Kapitel die Verse 10 bis 12. Der Evangelist schreit. Liebe Gemeinde! Das heutige Schriftwort aus dem Matthäusevangelium stellt eine Diskussion dar, über die Art wie Jesus lehrte. Der Herr wandte sich zum versammelten Volke und erzählte das Gleichnis vom Säemann, welcher ausging und säte. Und indem er säte fiel etliches an den Weg; da kamen die Vögel und frassen’s auf... (siehe Mt 13, 4-8). Dies war nun das Gleichnis, welches Jesus dem Volke erzählte über den Himmelreich. Die Jünger Jesu aber waren mit dieser Art der Gleichnisreden nicht einverstanden. Sie erhofften sich von einer direkten Anrede viel mehr und gerade darum stellten sie die Frage: „Warum redest du zu ihnen in Gleichnissen?“ Die Antwort, die Jesus ihnen gab, macht deutlich, dass es Herrn nicht darum ging den Menschen um sich schöne Parabeln zu erzählen und interessante Geschichten vom Säemann, oder vom Senfkorn, oder von einer kostbaren Perle mitzuteilen. Die Antwort Jesu ist nicht einfach zu verstehen und entspricht weithin nicht die Erwartung die der Durchschnitts Christ des XX. Jahrhunderts erwartet, wenn er sich mit dieser Frage beschäftigt. In gewissen Weise ist die Antwort erregend und schwerwiegend, denn sie lautet: „Euch ist es gegeben die Geheimnisse des Himmelreiches zu verstehen diesen aber ist es nicht gegeben“. 469
Wie ist die Antwort Jesu zu verstehen? Will er damit sagen, dass die Menschen von vorne herein als Auserwählte einerseits und nicht Auserwählte anderseits vom Gott her bestimmt sind? Wenn vom Wachsen und Kommen des Himmelreiches die Rede ist, dann müssen wir letzten Endens eines nicht vergessen: Menschliche Gedanken, das heißt unsere Gedanken sind immer ganz anders gewesen und werden auch immer ganz anders sein als die Gedanken Jesu Christi. Das geschah schon bei den Menschen zur Lebenszeiten der Jünger Christi. Sie erwarteten das Kommen des Reiches Gottes in der Lohn, dass Gott mit seiner großen Macht alles von ihnen nehmen würde, was sie drückst was sie belastet und was sie beschwert. Gewiss sind diese Vorstellungen nicht falsch, aber sie bilden nicht das Fundament der Verkündigung des Herrn. Obwohl diese Gedanken in unserem Lebenswandel eine wichtige Rolle spielen, wird uns durch Christus etwas viel wichtigeres nahegelegt. Unsere bekränzte Gedankenwelt muss geholfen werden, unsere Erkenntnis muss weitere Horizonte erkennen. Um diese unsere Gedankenwelt zu brechen benutzt Gott das Wort als sein Werkzeug. Das Wort Gottes hat auch ein Ziel und dieses Ziel ist einzig du Mensch. Du Mensch ist in einer Ganzheit von Liebe und Geist gemeint. Es muss ihn so auch treffen. Wenn wir es mit anderen Worten ausdrücken dürfen, dann sieht es so aus: Gott will keinem Menschen auf dieser Welt sein Wort aufzwingen. Jeder von uns kann dem Worte gegenüber widerstehen, denn er will uns nicht zu Sklaven machen, sondern will uns die Freiheit bewachen. Und gerade deswegen kann das Wort Gottes offene Herzen treffen, aber es kann auch vor geschlossenen Toren stehen, es kann verachtet werden, es
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kann misshandelt werden. Wie schnell und leicht kann das alles geschehen. Wir wissen gar nicht wie schnell. Und doch wollen wir nicht vergessen. Dass trotz alle Freiheit wir es mit ein lautvernehmbaren Worte Gottes ernst nehmen müssen. Es nötigt uns zur Entscheidung, zur Entscheidung die jeder von uns selbst treffen muss. Wir haben die Freiheit über den Verlauf und Ausgang unseres Lebens zu entscheiden. Um dieser Entscheidung zu treffen gehört vieles dazu. Wer sich in seinen Gedanken seine eigenen Wegen über das Wachsen und Kommen des Reiche Gottes macht, der nicht in der Lage ist, sich vor wird erfahren müssen, dass seine Gedanken sie mit dem zusammenstimmt was Jesus durch sein Wort meint. Wer sich selbst nicht überwinden kann, dieser steht in der Gefahr, zu denen zu gehören, von denen gesagt wird – „diesen aber ist es nicht gegeben“. Der zweite Gedanke, den Christus zur Antwort der Frage seiner Jünger gibt, zeigt uns wie Ernst wir es immer mit unserer Entscheidung und mit dem Glauben nehmen sollen. Es heißt in unserem Text: „Wer da hat, dem wird gegeben, dass er die Fülle habe, wer aber nicht hat, von dem wird genommen, was er hat“. Es gibt ja nicht wenige Menschen, die der Überzeugung sind, dass ein Minimum an Glauben für den Kampf des Lebens ausreicht. Solche Menschen sind Christen wann es ihnen gerade passt und gehört. Für jene ist der Glaube ein Gegenstand, den man gerne hervorbringt wenn die jeweilige Situation es verlangt oder veranlasst. Solche Menschen handeln mit dem Glauben – wenn das Beispiel hier angewandt werden kann – wie mit einer Jacke: wenn es aber kühl wird, dann wird die Jacke schnell vom Bügel heruntergenommen, vielleicht noch kurz abgebürstet und angezogen. Zum Glück verhält es sich
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mit den Glauben nicht so. Christlicher Glaube, liebe Gemeinde, will erhalten bleiben, er will wachsen, er will praktiziert werden. Christlicher Glaube ist kein Gegenstand, den man abschütteln kann, wenn er uns stört. Eher wird er uns von Gott selbst abgenommen. Denn christlicher Glaube ist eine Gabe, die von Gott kommt. Und bei dieser Gabe ist es nicht so dass sie über uns strömt und so unser Besitztum für immer bleibt, ob wir sie auch benützen oder missbrauchen. Es ist und bleibt auch so: Der Gebrauch der empfangene Gabe führt zur Fülle wenn sie verwaltet und benützt wird. Aber wird die göttliche Gabe von uns verachtet und misshandelt, so wird sie uns entzogen. Darum, da dieses Verhältnis des würdigen und unwürdigen Gebrauches des Glaubens besteht, sollen wir nicht von einer Ungerechtigkeit Gottes reden, sondern wir sollen uns bemühen, dass wir aus der Halbheit und Lauheit des Glaubens herauskommen. Das geschieht und kann jeden Tag geschehen durch Beschäftigung der Heiligen Schrift, durch Hören auf das Wort, Gottes, durch Gebet, durch Pflege du Gemeinschaft, durch Gebrauch der Sakramente. All das sind Möglichkeiten zum Wachsen des innwendigen Menschen. Jeden von uns ist die Gabe gegeben sich unter das wahre Wort Christi zu stellen. Das Wort Christi „wer da hat, dem wird gegeben, dass er die Fülle habe“ ist an dich und an mich gerichtet. Jeder von uns kann diese Fülle an die Gaben Gottes erleben; dazu brauchen wir nur ein offenes Herz für den Herrn haben. Lasset uns alle den Glauben, an unseren Herrn Jesus Christus mit viel Liebe und in Geduld pflegen, damit er immer viele Früchte bringe. Auch wir werden dann die Wahrheit dieses
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Wortes des heutigen Evangeliums: „wer da hat, dem wird gegeben, dass er die Fülle habe“ erleben. Der Herrn führe und leite uns nach seinem Wort und schenke uns seine ungrenzbare Gabe es wahren Glaubens. Amen.
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1. Thessalonicher 4,11+12: „Liebe Brüder, ringet danach, dass ihr stille seid und das Eure schaffet und arbeitet mit euren Händen, wie wir euch geboten haben, auf dass ihr ehrbar wandelt gegen die die draußen sind, und niemandes bedürfet“. Liebe Gemeinde: Sei stille und arbeite, heißt es bei Paulus. In der ersten Christenheit ist ein sehr großes Problem aufgetaucht, welches uns bis heute noch mehrmals begegnet. Zur Anfangszeit des Christentums glaubten viele Menschen, dass das Christsein nichts anderes bedeutete als sich selbst Gott zu überlassen. So glaubten viele Christen die Nöten des Alltags ohne viele Sorgen zu überwinden und sich um fast nichts mehr zu bekümmern. Sie bereiten sich so auf das Kommen des Herrn vor. Wir wollen dies auch nicht verurteilen, denn darin liegt ein gutes Stück echten Glaubens. Unser Herr Christus hat ja selbst verkündigt: „Sorget nicht für den anderen Morgen, was ihr essen und trinken werdet, auch nicht für euren Leib, was ihr anziehen werdet; trachtet am ersten nach dem Reich Gottes und nach seiner Gerechtigkeit, so wird euch solches alles zufallen!“ (Mt 6). Viele Menschen nahmen dieses Wort aber nur wörtlich auf und vergaßen dabei den eigentlichen Sinn dieser Verkündigung. Darum diese Schattenseite der Urchristenheit. Es entwickelte sich eine Schwärmerei. Man bereitete sich für den Himmel vor, aber vergaß dabei leicht die Erde. Der Beruf jedes Menschen wurde verharmlost. Es gab Christen, wie es noch bis heute gibt, die aufgeregt hin und her gingen und immer nur von den Dingen redeten die da kommen werden. Ihre Arbeit ließen sie liegen. Diese Menschen vielen den anderen auf die Nerven,
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denn sie wollten nur von die Wohltätigkeit der anderen leben. Sie wurden zu einer Last. Dagegen aber wandte sich der Apostel Paulus mit ganzer Energie. Er dringt nun einmal auf die pünktliche Erfüllung des Berufes. Er fordert ein nüchternes Wesen. Er erinnert an die Gottesordnung: „Wer nicht arbeiten will, der soll auch nicht essen“. Darum wird die Gemeinde gemahnt, ihre Ehre darein zu setzen, die einfache Schuldigkeit zu ehren, und die wirtschaftliche Selbstständigkeit zu erhalten. Ja, der Apostel geht so weit und verlangt: jeder Christ soll womöglich niemand nötig haben, sondern soll immer bereit sein dem zu helfen, der ihn brauchen kann. Wenn wir nun dies wirklich verstehen wollen, dann müssen wir ins klar sein, dass es gar nicht so ist. Als Erstes sollen wir nach dem Reich Gottes und seiner Gerechtigkeit trachten. Das heißt, wir sollen immer an unser Ende denken, und ein Ziel für dieses unser Ende im Auge haben – welches ist das Reich Gottes, welches unser Herr Jesus Christus die Welt verkündigt hat. Dieses Trachten nach dem Reich Gottes und nach seiner Gerechtigkeit sollen wir soweit führen, dass uns die Sorgen um den Alltag, um unsern Leben, um unserer Familie, um unser Beruf ums nicht abführt oder Irre bringt. Aber das heißt nicht, sich loslassen von dieser Welt. In der Tat darf der Christ, dies nicht vergessen: er in diese Welt, er gehört zur Welt, so wie, eine Schublade zu einem Schank gehört. Und gerade weil der Christ zur Welt gehört untersteht er auch der Ordnung Gottes, untersteht er seiner Aufgabe in dieser Welt. Er muss arbeiten. Er muss für Erhalten sein seines Lebens sich bekümmern. Er muss seinen Beruf ausüben, damit er nicht den anderen Mitmenschen zu Last wird und so zu Ausstoß des Herrn Christus bei diesen Mitmenschen wirkt. Eher soll er für diesen Mitmenschen da sein, bereit sein ihm in jeder Lage zu helfen, beizustehen. 475
Und was für ein Sim hat das alles? Den einen klaren und deutlichen Sinn – den Herrn zu dienen. Ja, auch durch die Ausübung unseres Berufes, durch unsere Arbeit, durch unsere Pflichterfüllung des irdischen Berufes dienen wir dem Herrn. Natürlich dürfen wir wie das „wie“ unserer Arbeit vergessen. Wir müssen uns als Christen und als Nachfolger Christi klar sein, „wie“ wir unser Beruf als Gottesdienst ausüben dürfen und können. Der Apostel Paulus kann uns die Antwort auf unser „Wie“ geben. „Stille“ sein und arbeiten“ heißt es in unseren heutigen Text. Darum, liebe Gemeinde, weg mit allem lauten, aufdringlichen Wesen, dass man sich immer in die erste Reihe drängen will und von sich nur reden lassen will. Fragen wir uns doch einmal: Ist es denn nötig – und ist es auch dienstlich für alles, was wir getan haben Anerkennung zu fordern und beleidigt zur Seite zu treten, wenn sie ausbleibt? Nein, es ist nicht nötig. Wenn die Menschen im uns, das was wir gemacht haben und geschaffen nicht anerkennen wollen, dann sollen wir nicht beleidigt sein, sondern wir sollen mit unseren Gewissen im Klaren sein: ich habe mein Beste getan. Ist das nicht schließlich viel wichtiger, das jede von uns sich sicher ist – eine Arbeit recht ausgefüllt zu haben. Darum, sollen uns heute die Worte des Apostels begleiten: Sei stille und arbeite. Der hat es doch nicht im Geringsten nötig, deine Leistungen auszuposaunen. Es ist halt einmal so in dieser Welt: unsere Arbeit, unsere alles was von wichtig hat nicht immer Anerkennung. Aber im Moment wenn wir einen Fehler machen, wenn es plötzlich nicht klappt, dann werden gemacht. Das ist ein der Tat keine Tugend einen Menschen schlecht zu machen das kann schnell, schnell genug, verkommen.
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Liebe Gemeinde, wir als Christen haben nun ein ganz anderes Ziel in unserem Leben. Unser erstes Ziel ist unserem Herrn durch unsere Arbeit, durch unser Tun und Lassen zu dienen. Und eines können wir auch erwarten: wenn wir unser Aufgabe nicht nachgekommen sind, wie es eigentlich sein sollte, so werden wir schon Vergebung erfahren dürfen. Gott, unser Herr, ist ein gerechter Gott und wird uns nicht verleumden, sondern er wird uns vergeben und uns helfen in unser Not. So lasst uns alle das Wort des Apostels Paulus ernst nehmen, wenn er uns heute mahnt: seid stille, schaffet das Eure und arbeitet, damit ihr von Niemand was bedürfet. Jeder von uns bitte darum dem Herrn: Herr, gib, dass ich tu mit Fleiß, Was mir zu tun gebühret, Wozu nicht dein Befehl In meinem Stande führet! Amen.
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Galater 5, 1. 13-15 Liebe Gemeinde: Was ist Freiheit? Nur in Traum. Ein Wunsch. Oder eine Tatsache. Eine Antwort auf diese Frage ist nicht leicht. Wann sind wir frei? Frei von? Wir soll der Mensch seine Freiheit gestalten? In diesen Fragen las ich einige Kapitel des Buches „Brüder und Knechte“ von Willy Kramp. Kramp gibt darin ein Bericht über das von ihm erlebte in den Jahren nach denn Kriege in einem russischen Lager. Damals war Freiheit für ihn eine klare und deutliche Lage: Alle „Hoffnungen und Erwartungen“ gingen auf den Moment, in dem die Gefangenen in den „Transportzug“ steigen sollten und in dem den Stacheldraht und die Posten hintergelassen werden könnten. Damals halte diese Freiheit ihren Inhalt: Sie war Freiheit von Hunger, Not, Stacheldraht, Misshandlungen, Angst und Sorge um das Leben du Angehörigen und um das eigene Leben. Und diese Freiheit geschah auch. Aber nun tauchte eine neue Frage auf: Und was machen wir nun mit der uns geschenkten Freiheit? Nach Willy Kramp liegt hier die entscheidende Wende der Freiheit. Hier bei dieser Frage – was bedeutet deine Freiheit – müssen die Menschen begreifen, dass der Inhalt der Freiheit von uns und von dem, was wir tun oder unterlassen, abhängt. Aber soweit wir den Menschen kennen, wissen wir, dass er seine Freiheit missversteht und sie nur in einem egoistischen Sinn auswertet. Und bei dieser egoistischen Auswertung der Freiheit des Eigenen, werden andere Menschen zu Sklaven, zu Unfreie und zu Knechte der anderen. Das ist das Dilemma der Freiheit.
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Dieser Gedankengang der freie und zugleich unfrei machende Menschen zeigt uns schon, dass wir von uns aus schwerlich eine Antwort oder eine Lösung finden. Aber fragen wir einmal anders: Was sagt uns denn nun Gott über unsere Freiheit? Hilft er uns vielleicht dieses Dilemma zu überwinden? 1. Das Ziel zu dem uns Gott beruft, ist die Freiheit. Gott will, dass wir frei sind, frei werden und frei bleiben. Sein Ziel mit uns ist die Freiheit. Das zeigt uns der heutige Text: „Zur Freiheit hat uns Christus befreit!“ Aber nun unser Problem, unsere Not und Sorge: Wie erreichen wir Christen diese Freiheit, zu der wir berufen? Als erste Vorbedingung zum Erreichen der Freiheit ist es maßgebend, dass wir diese niemals aus eigener Kraft erzielen noch erreichen können. All unser Tun um die wirkliche Freiheit zu Genießen führt uns auf Irrwege hin. Unser Text will uns gerade zeigen, dass wir als Menschen ein Ziel haben, welches wir aber nicht selber gestalten können. Es ist etwas Gegebenes, etwas Geschenktes: „Ihr, seid zur Freiheit berufen“, schreibt du Apostel. Das will heißen: die Freiheit ist da, sie ist etwas Unwiderrufliches. Sei besteht. Und wir werden berufen sie als unser Eigenes zu machen. Gott in Jesus Christus ruft uns zur Befreiung unserer Sklaverei in der Sünde. Die Sünde führt uns zur Not und Zur Sorge unserer Schuld. Wir leben unter du Macht unserer Schuld und unsere Schuld verbietet es uns eine wohlhabende und dynamische Freiheit zu führen. Wer belastet ist kann nicht frei sein. Unter unsere Belastung liegt in die Sünde. Die Sünde ist allein unsere Gefangenschaft. Und wer von ums will sich dieser
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Gefangenschaft nicht frei machen? Alle. Aber es liegt nicht in unseren Händen wie auch nicht in unsere Kraft diese Gefangenschaft der Sünde und der Schuld aufzulösen und aufzubrechen. Gott durch Jesus Christus aber hat die Kraft und die Macht die Türe dieser Gefangenschaft weit aufzumachen und uns frei von unserer Schuld zu sprechen. Das tut er auch immer dauernd durch sein Wort, durch das lebendige Wort des Evangeliums unseres Herrn Jesu Christi, das ja nichts mehr ist als ein Wort der Freiheit. Und diese Freiheit wird zu einer Tatsache bei dem der das Wort du Vergebung, der Liebe, des Friedens und der Gerechtigkeit mit offenen Herzen aufnimmt. Denn dies Evangelium sagt uns allen: Ihr seid frei! Lebet frei! Bauet euer Leben in Freiheit auf! Nun hängt es allein von uns ab wie wir diese Freiheit, die ums Gott durch Jesus Christus zuruft, und zur welcher wir berufen werden, in unserem Leben auswerten. 2. Nun aber die Entscheidende Frage: Was tue ich mit du Freiheit die Gott mir zuspricht? Wie werte ich diese Freiheit ein täglichen Leben aus? Direktor des staatlichen Gefängnisses von Carandirú sagte mir anlässlich eines Besuches dort: „Wenn einer dieser Menschen – 10-30 Jahre hinter diesen Mauern erlebten – nun das offene Tor der Freiheit durchgehen soll, bleibt er unsicher, desorientiert und ganz verzweifelt, denn er weiß nicht genau wie er seine Freiheit ausnutzen soll. So ähnlich geht es auch uns Christen wenn uns versichert wird, dass wir frei sind, frei leben sollen, und in Freiheit unser Leben gestalten sollen. Wir wissen nicht genau etwas konkretes damit
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anzufangen. Oder, was meistens geschieht, missverstehen wir unsere eigene Freiheit. Der junge Sohn – Eltern. Der Politiker – und sein Amt. Der Unternehmer – und sein Kapital. Der Arbeiter – seine Arbeit. Der Geschäftsmann – die Hausfrau. Ich mache was ich will und was mir Freude macht. Ein Schritt vor dem Kaos. Ein wirkliches beißen und fressen. „Wenn ihr euch aber untereinander beißet und fresset, so sehet zu, dass ihr nicht voneinander verzehrt werdet“. 3. Darum muss eine letzte konkrete Frage stellen, die nun hier entscheidend für unsere Freiheit ist: Inhalt und Bewährung der Freiheit? Die Liebe. Was Gott einmal angefangen hat, führt er auch zu Ende. Er hat uns zum Ziel der Freiheit berufen und führt uns zu dieser Freiheit. Wie führt er? „Durch die Liebe diene einer dem anderen!“ sagt uns Paulus. Was mit der Freiheit anfangen? Fragen wir. Sie als Spielraum der Liebe einsetzen. Operationsbases für die Liebe ist sie. Dazu hat Gott sie uns geschenkt. Dazu hat Christus uns freigemacht. Indem er uns liebt, macht er uns zur Liebe fähig. Diese Liebe
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nun ist frei vom der Frage: Was erhalte ich dafür? Sondern sie fragt immer zuerst nah dem Nächsten, dem Menschen, der mir gar nicht verbunden zu sein braucht. Was braucht er? Wo habe ich für ihn einzutreten? Wo muss ich für ihn da sein? Wo braucht er mich? Da sein wo die Not ist, mit der Liebe, mit meinem Einsatz, mit meiner Person. Das ist Freiheit. Jesus hat es öfters – getan, dies Dienen in Freiheit. Die ganzen Evangelien sind voll von solchen Berichten. So sollen wir also auch leben. Wo? Überall im Leben, wo wir mit Menschen zusammen kommen. In den Krankenhäusern, in den Altersheimen, in der Nachbarschaft, wenn Alte und Kranke sich nicht alleine helfen können. Springe zu und fasse an ohne Frage nach Lohn oder Dank. Das ist deine Freiheit, der Christ, in der Liebe zu dienen. Das gilt überall. In der Ehe, in der Politik, in der Wirtschaft. Durch die Liebe diene einer dem anderen. Das ist also Leben in Freiheit: Einander dienen. Nichts andres. Wir das ablehnt sucht die Freiheit als Operationsbasis für sein Fleisch, für sein Ich, du dient nur sein eigenem Egoismus, der schließt hinter sich die Freiheit die Gott allen uns schenkt. So bestehet in der Freiheit durch euer Dienen untereinander! Wir werden in der Freiheit bestehen, aber nur so! Allein durch die Liebe! „Zur Freiheit hat uns Christus befreit. So stehet nun fest lasset euch nicht wiederum in das knechtische Joch fangen!“ Amen.
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„Rufe mich an in der Not, so will ich dich erretten und du wirst mich reisen“. Psalm 50,15.
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Rufe mich an In der Not So will ich – dich erretten Und Du wirst mich preisen
Liebe Gemeinde! „Rufe mich an!“ heißt es da. Das könnte mich wohl darin erinnern, wie es ist, wenn einer mich „anruft“, am Telefon nämlich, unterbricht und stört mich bei meiner Arbeit oder mitten in einem Gespräch oder vielleicht, wenn ich gerade beim Essen bin, sie fängt an, mich zu fragen: wie es mir gehe, trägt mir irgendein Anliegen vor, erzählt mir eine lange oder kurze Geschichte und sagt wohl zum Schluss: „Rufen sie mich einmal an!“ Hier, in unserem Text, ist alles ganz anders. Da ruft mich freilich auch einer an und unterbricht mich bei meiner Beschäftigung. Aber der fragt lange, wie es mir geht, denn er weiß das besser, als ich selber es weiß. Und er hat mir auch Anliegen vorzutragen – was könnte ich schon für ihn tun? Und eine wichtige Geschichte hat er mir auch nicht zu erzählen, denn die eine einzige wirkliche Geschichte fängt denn damit an, dass er mich anruft. Und was am Telefongespräch das Letzte ist, das ist hier das Erste, was dort Nebensache ist, das ist hier die Hauptsache, das eine und einzige sogar: „rufe mich an“.
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Wer sagt das? Ja, Gott! Aber das Wort „Gott“ wird so viel gebraucht, ist so abgegriffen wie eine alt Münze, und jeder versteht etwas anderes dabei. Und es gibt ja auch so viele Götter! Sagen wir es einmal so: Der mich da anruft und mir sagt, dass ich ihn wieder anrufen soll, das ist der andere: der eben ganz anders ist als wir alle, als der und ich, als die ganz Welt. Er ist der, dem wir eigentlich in letzter Instanz gehören. Denn wir gehören nicht uns selber, sondern Ihm, der uns und die ganze Welt, von der kleinsten Mücke bis zum Planeten und Finstern geschaffen hat, ohne den alles nicht wäre und auch wir ohne Ihn garnichts wären: Herr aller Dinger! Er ist unser Vater, der für uns gesorgt hat, der für uns weiter sorgt. Er ist freilich auch unser Richter, vor dem wir alle nicht bestehen können, vor dem wir alle ohne Ausnahme schuldig sind und auch weiter schuldig bleiben. Warum? Weil wir es nicht meinen und machen: mit Ihm und unseren Nächsten nicht und mit uns selber nicht! Er ist aber der, der uns nicht fallen lässt, wie wir es wohl verdient hätten. Trotz unserer Gleichgültigkeit gegenüber Ihm, trotz unser Schimpfen und Fluchen, trotz unser anscheinenden Frömmigkeit, bleibt er Gott und Vater aller Menschen, Herr und Meister der Welt. Er ist auch der andere, den wir anrufen dürfen und sollen. Allerdings er ruft uns erst an: „Mensch, wo bist du? Hörst du mich? Ja, du hörst auch wenn du dich dagegen wehrst. Du hörst mich tatsächlich. Du wärest kein Mensch und dich kein Gott, wenn du mich nicht hörtest“. Was aber sagt er uns, ruft er uns zu? Alles im allem nur dieses eine sagt Gott zu uns: „Rufe mich an! Das ist die gnädige Erlaubnis, die ich dir gebe. Das ist aber der störende Befehl, der von mich dir ergeht. Rufe mich an in der Not“!
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In der Not: „Not“ ist ein Wort, das wir alle verstehen. Not heißt Verhängnis, Druck, Leid, die wir loswerden möchten und nicht können. Es ist überall viel Not: bei uns ganz persönlich, da draußen auf der Wege und Straßen, allerdings in der ganzen Welt. Aber was uns zuerst bedrückt und bedrängt ist unsere ganz besondere Not, die vielleicht klein ist, vielleicht auch sehr groß, vielleicht leicht, vielleicht auch ganz schwer. Unsere Not kann vielleicht vorübergehend sein, vielleicht auch eine lange, dauernde. Im Grunde genommen empfindet jeder Mensch einen Pfaden von Not in seinem Leben. Gott kennt und sieht auch diese Not, diese deine und meine persönliche Not und sagt uns dir und mir, dass wir ihn in unsere Not anrufen sollen. Aber wir sollen daher nicht vergessen, dass wir nicht allein Not tragen und in Not sind. Wenn man sich es ganz recht bedenkt, so ist eigentlich die ganze Welt, die ganze Menschheit eine einzige Notgemeinschaft. Und die große Not liegt gerade da, dass wir zwar die Technik des Lebens immer besser beherrschen können unser Leben und Zusammenleben selbst aber immer schlechter zu gestalten wissen. Das ist eine Not, die einfach da ist, und die immer wieder in großen Geschwüren aufbricht: einmal in Argentinien, dann in Uruguai; zur selben Zeit in Mexico, in Vietnam, wer weiß einmal auch hier unter uns in Brasilien! Vielleicht könnte man sagen: dieser Menschheitsnot haben wir nichts zu tun. Erst haben wir selber mit unserer Not festig zu werden. Aber, so dürfen wir nicht denken, denn die Menschheitsnot ist nur Frucht der gemeinsamen und persönlichen Not des Menschen. Und wir gehören dazu. Dann
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gilt auch das: „Rufe mich an – nicht nur in deiner persönlichen sondern wirklich auch in dieser Menschheitsnot! Die Not. Wo liegt der Grund der Not? Die eigentliche wahre Not, in der wir sind, meine liebe Gern, besteht ganz einfach darin, dass der Mensch ist, wie er ist, und von sich selbst nicht anders machen kann. Er ist seine eigene Not. Er leidet an sich selber – Selbstvertrauen, Egoismus. Der Mensch ist gefallen, ein in sich verkehrtes Wesen. Da geht es nicht um die Sünden, die wir begangen haben und begehen, sondern um die Sünde, aus der alle Sünden hervorgehen, und so um die Not, in der alle unsere Nöte, die persönlichen und die allgemeinem, ihren Grund haben, wie das Unkraut immer wieder wachsen muss aus der Unkrautwurzel. Der Mensch selbst ist, die eigentliche, die wahre Not. Wer darum nicht weiß, der weiß nicht was eigentlich Not ist. Und doch erfahren wir das Angebot Gottes: „Rufe mich an in dieser tiefen, wahren und eigentlichen Not“. Rufe mich an! Appelliere an mich – in deiner eigenen und in der allgemeinen und wahren Not, in der auch du bist“! Und nun kommt es: So will ich dich erretten. Wenn in der Bibel dieses Wort „erretten“ vorkommt, ist immer gemeint, dass Gott schon errettet. Wenn Gott etwas will, dann tut er es schon. „Erretten“ – das heißt wohl: trösten, ermuntern, Mut machen, helfen. Aber erretten ist noch mehr. Erretten heißt: herausreißen, befreien, erlösen, anders und neu machen. „Rufe mich an so will ich dich erretten“. Alle die, die Gott in ihren Not anrufen, die hat Er schon zu einem neuen Menschen gemacht: zu Bürgern einer neuen Welt,
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in der Er alle Tränen abwischt, und Leid, Tränen und Geschrei werden nicht mehr sein. – Oder wie der Apostel uns bezeugt: „Der seinen eigenen Sohn nicht verschonte, wie sollte er uns in ihm nicht alles schenken“? Und nun noch das Letzte und Beste: Und wirst mich preisen. Die Meinung ist nicht: du solltest, du müsstest, sondern du wirst mich preisen. Einbezogen im Verhältnis – DU – ICH – Mensch + Gott. Du kleine, böser, betrübter, großen sündiger Mensch in deiner großen Not – ICH – der heilige, herrliche und gerechte Gott sind in seiner Einheit verbunden. Ja, du sollst, du wirst mich loben? Wie? Nur eben damit, dass wir Gott anrufen, dass er unser Erretter wird, so leben wie schon Gott. Ja, dieses Loben Gottes wird in unseren Lippen sein, wenn wir nie Gott innerhalb unserer Not heraus anrufen. Es kann gar nicht anders sein. Bei uns muss das Licht der Errettung Gottes wiederscheinen indem wie ihn und seinen Namen loben. Wir sind durch den Lob, seine Zeugen, Zeugen in der Welt der Not, Licht in der Finsternis der Notmenschheit. Denn wir haben es erfahren, dass Gott uns aus der Not heraus, die bei uns selber liegt, herausholt zu einem neuen Menschen, Menschen der errettet ist und der durch diese Erfahrung heraus sich von selbst zum Lobe Gottes erhebt. Und mit dieser Verheißung, „rufe mich an in der Not, so will ich dich erretten und du wirst mich loben“, dürfen und wollen wir nach Hause gehen, in Anrufung an Gott, Anruf auch des
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Dankes, der Wehmut, der Zuversicht und der Bitte. Er wird bei uns und mit uns sein. Amen.
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Am letzten Sonntag des Kirchenjahres – der als Ewigkeitssonntag und der in Deutschland auch als Totengedenktag bekannt ist – möchten wir uns mit die Frage um die Ewigkeit beschäftigen. Wir gehen dazu von folgenden Grundsätzen aus:
1. Wir wollen leben – und nicht sterben. 1. Petrusbrief 5,7 : “Alle eure Sorgen werfet auf ihm, denn er sorget für euch“. 2. Der Trost für die Sterbenden. Römer 15, 13: „ er Gott aber der Hoffnung erfülle Euch mit aller Freude und Frieden im Glauben, dass ihr völlige Hoffnung habet durch die Kraft des heiligen Geistes“. 3. Unsere Erlösung Jeremia 31, 3: Der Herr spricht zu Jeremia: „ Ich habe dich je und je geliebt, darum habe ich dich zu mir gezogen aus lauter Güte“. 1. Johannesbrief 4: „ Gott ist die Liebe – und wer in dieser Liebe bleibt, der bleibt in Gott und Gott in ihn“. 4. Wem gehören unsere Verstorbenen? Psalm 90: „ Der du die Menschen läsest sterben und sprichst: - „ Kommt wieder, ihr Menschenkinder“. 5. Das letzte Wort hat Gott. Jesaja 43, 1: Der Herr spricht:“ Fürchte dich nicht, denn ich habe dich erlöst: ich habe dich bei deinem Namen gerufen; du bist mein!“
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Liebe Gemeinde! 1. Wir wollen leben und nicht sterben Jeder Mensch will gesund bleiben, oder, wenn er krank ist, wieder gesund werden. Wir tun viel für unsere Gesundheit – denn, so sagen wir: Gesundheit ist das höchste Gut. Auch die beste Krankheit taugt nichts. Wer schon einmal ernstlich krank war, der weiß genau, dass unser leben an einen Faden hängen kann. Der weiß: es gibt Krankheit, die zum Fade führt. Deshalb mobilisieren wir dann alle Kräfte, um wieder auf die Beine zu kommen. Denn wir wollen wieder gesund sein, weil wir denn Tod entgehen möchten. Wir wollen leben – und nicht ableben. Darum ist die Gesundheit das höchste Gut. Und wir schätzen sie deshalb so hoch ein, weil wir wissen: sie ist eine Gabe, sie ist nicht selbstverständlich. Darum möchten wir sie festhalten und klammern uns an sie. Viele Menschen haben Angst dann, eine gefährliche Krankheit in sich zu haben. Sie fürchten die Diagnose des Arztes und sie beschäftigen sich mit den Gedanken, dass die Magenschmerzen vielleicht der Anfang von Ende sein könnten. Manche Geräte sich unnütz, und sie könnten durch den Arzt von ihren Sorgen befreit werden. Wir wollen leben nicht sterben, Deshalb versuchen viele Menschen, aus ihren Gedanken den Tod auszuklammern. Aber – das gelingt uns nicht. Denn wir merken an unserem eigenen Leben, dass wir älter werden, dass unsere Kräfte nachlassen. Und wir erleben es immer wieder mit, dass andere Menschen
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um uns herum sterben. Auch wenn wir es wollen – wir können den Tod nicht vergessen machen. Wir brauchen ihn auch nicht totzuschweigen. Wir dürfen darüber reden. Und wenn es uns schwerfällt, mit anderen Menschen und mit unseren Angehörigen darüber zu sprechen, dann sollen wir Gott die Sorgen und unseren Tod anvertrauen. Bei ihn sind alle Sorgen gut und richtig aufgehoben, auch die große Sorge und unser Leben. Dieses Reden mit Gott macht uns frei. Es nimmt uns die Angst. Darum sollen wir auch das Wort des Apostel Petrus immer dauernd in die Tot umsetzen: „Alle eure Sorgen werfet auf den Herrn, denn er sorget für euch“. 2. Der Trost für die Sterbenden Wir wissen alle, dass wir sterben müssen. Aber wir wollen es nicht wissen. Das ist ein harter Satz. Ich meine ihn so: Wir sehen den Tod oft ins Gesicht – und trotzdem versuchen wir immer wieder, ihm aus den Augen und aus dem Sinn zu lassen. Wir alle wollen leben – und wir wollen den Tod nicht sehen; nicht auf die Straße – nicht in Krankenhaus – nicht in der Familie. Ich kann es sehr gut verstehen, wenn jetzt gesagt wird: reden Sie nicht mehr weiter von Sterben – denn wir wollen leben. Ich will auch leben. Ich liebe das Leben, so wie alle hier das Leben lieben. Aber ich meine, dass wir auch mit du Wirklichkeit des Sterbens fertig werden müssen. Wir überwinden aber die Todesangst nicht durch die Flucht – und auch nicht durch das Bekenntnis zum Leben. Sondern nur durch echte, wirkliche Hoffnung. 491
Solch eine Hoffnung, die uns hält und die uns die Zukunft wieder offen und für macht, können wir uns aber nicht selbst geben. Die kann man nur erbitten – und sich schenken lassen. Darum schreibt auch der Apostel Paulus: „ Der Gott der Hoffnung erfülle Euch mit aller Freude und Frieden im Glauben, dass ihr völlige Hoffnung habet durch die Kraft des heiligen Geistes“. Rm 15,13. Jeder Mensch sehnt sich nach Hoffnung. Aber Hoffnung hilft nur, wenn sie Zuversicht gibt, wenn sie uns einen Weg der Gewissheit schenkt. Dann muss die uns geschenkte Hoffnung eine Gewissheit geben, damit uns die Sterbeangst verlässt. Was kann uns hoffen? Nur das eine, liebe Gemeinde, was uns Jesus Christus selber in seinen Worten und Leben ausspricht: Wenn wir dieses Leben verlassen, will Gott uns aufnehmen. Das allein kann unsere Angst durchbrechen, denn Gott verlässt uns nicht. Darum können wir alle darum festhalten, dass Gott uns nicht verlassen wird. Und darum können noch wir als Christen miteinander beten und bekennen: „Wenn ich einmal soll schieden, so schiede nicht von wir; wenn ich den Tod soll leiden, so tritt du dann herfür; wenn mir am allerbeingsten wird um das Herze sein; so reiße mich aus den Ängsten heraus.“ 3. Unsere Erlösung Wenn ein Mensch stirbt, dann wird es totenstill. Denn der Tod macht uns Menschen stumm. Er reißt eine Lücke. Und die Trennung für immer macht uns hilflos und sprachlos.
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Aber das Leben geht weiter. Wir können nicht stumm bleiben. Wir müssen reden mit den Nachbarn, mit den Angehörigen. Und man ist froh, wenn die Stille Aufhört. Wenn jemand nach langen Leiden gestorben ist, dann sagen wir vielleicht: Er ist erlöst. Er hat es gut. Damit meinen wir die Erlösung von den Schmerzen, die ihn quälten. Das gibt es – Erlösung von den Schmerzen. Das gibt es, dass die Schmerzen den Lebenswillen lähmen und dass Menschen sich deshalb nach du Erlösung sehnen. Aber wenn jemand bei einem Betriebs – Unfall umkommt, wenn eine Mutter von drei Kindern mit dem Auto verunglückt – was sagen wir dann? Schicksal – wem hilft das weiter? Öfter ist der Tod kein Erlöser, sondern ein Zerstörer. Er hat Gewalt über uns und dieser Gewalt müssen sich alle Menschen beugen. Die eine früh, die anderen auf Höhe ihres Lebens, und wieder andere im hohen Alter. Aber, liebe Gemeinde, diese Gewalt darf nicht nur als ein Zerstörer angesehen werden. Wir müssen weiter denken und nicht bei dieser Gewalt stehen bleiben. Denn hinter dem Tod steht Gott, Gott der uns liebhat. „Ich habe dich je und je geliebt, darum habe ich dich zu mir gesogen aus Güte“. Dieses Wort gilt allen Toten, es wird auch uns einmal gelten. „Ich habe dich je und je geliebt, darum habe ich dich zu mir gezogen aus Güte“. Die Liebe Gottes bleibt auch im Tod gültig. Wir sehen oft nur die Gewalt des Todes. Und es ist nicht leicht, hinter dem Tod die Liebe Gottes zu erkennen. Ich wüsste, bei den vielen und oft schweren Beerdigungen, die ich zu halten habe, nichts zu sagen, wenn ich nicht der festen Überzeugung wäre, dass Gott der Herr über Leben und Tod ist.
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Seit Christus von Gott aus dem Tod zum Leben erlöst wurde, wissen wir Christen, dass der Tod seine Gewalt über uns verloren hat. Uns ruft der lebendige Gott, der uns liebt. Der Ruf in der Todesstunde ist menschlich gesehen der letzte Ruf, den wir hören. Denn Gott ruft den Menschen schon eher – er ruft ihn ins Leben – er ruft uns während unseres Lebens. Und jeder Ruf Gottes ist mit Liebe verbunden. Auch sein letzter Ruf. Das ist nicht leicht einzusehen. Denn wir meinen, dass Gott uns das Leben lassen müsste, wenn er uns liebt. Er hat es uns auch bisher gelassen. Er lässt uns noch Zeit, unsere Aufgaben zu tun und seine Stimme kennenzulernen. Wer in seinem Leben die Liebe Gottes erfährt, der kann sich auch im Leiden und im Sterben auf sie verlassen. Denn „ Gott ist die Liebe – und wer in dieser Liebe bleibt, der bleibt in Gott und Gott in ihm“ – Nach 1. Johannesbrief 4. 4. Wem gehören unsere Verstorbenen? Die Verstorbenen hören uns nicht mehr. Denn sie gehören uns nicht mehr. Wem gehören sie denn? Ich nenne hier ein Wort aus dem 90. Psalm, wo steht: „ Der du die Menschen lässest sterben und sprichst: kommt wieder, ihr Menschenkinder!“ Als „Kinder“ werden wir Menschen da angesprochen. Und das bedeutet: auch im Sterben bleiben wir Gottes Kinder. Wir werden heimgerufen. Wir gehen heim. Wir Christen glauben, dass das Ziel unseres Lebens bei Gott ist. Er gibt viele Ziele, die wir uns in unserem Leben stehen und die wir, wenn wir Glück haben; auch erreichen. Dieses letzte Ziel erreichen wir auf jeden Fall. Aber wir können es nicht von uns aus erreichen, wir können nicht sagen: „Jetzt reicht es, oder „jetzt bin ich bereit“. Unser letztes Ziel das bestimmt allein Gott.
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Und wo wir bleiben und was aus uns wird, das bestimmt auch allein Gott. Bei ihm ist das Ziel. Und bei ihm dürfen wir auch die Stimme Gottes hören, die uns zu ruft: „ Kommt wieder, ihr Menschenkinder!“ Und wenn wir diese Stimme schon im Leben hören, dann brauchen wir uns auch nicht wir der Sterbestunde zu fürchten.
5. Das letzte Wort hat Gott Das letzte Wort ist oft entscheidend. Wer das letzte Wort hat, der kann eine Entscheidung herbeiführen – über Krieg und Frieden, über Feindschaft und Freundschaft. Das letzte Wort über den Tod kann kein Mensch sprechen. Denn wir können den Tod nicht anreden. Und wir können ihm auch keine Bedingungen stellen – wie wir sterben wollen, wann wir sterben wollen und ob wir überhaupt sterben wollen. Wir haben nicht das letzte Wort über den Tod. Aber Gott will nicht, dass der Tod das letzte Wort über uns hat. Jetzt fragen wir uns vielleicht: Woher kann man das wissen? Darauf bekommen wir die Antwort: Das wissen wir auch seit dem Tage, an dem Christus wieder aus dem Totenreich heraustrat. Ich meine damit das Geschehen in jener Osternacht, in der einmalig und unwiederholbar sichtbar wurde, dass mit dem Tode nicht alles aus ist. Ich möchte das sehr genau und unmissverständlich sagen. Als Christus auferweckt wurde, hat Gott seine Macht gegen die Macht des Todes eingesetzt. Damit hat Gott sich auf die Seite der sterblichen Menschen gestellt. Er hat an die Auferweckung Jesu Christi von den Toten gezeigt, dass der Tod nicht das letzte Wort über die Gestorbenen behält. 495
So können wir mit Gewissheit sagen: Christus war tot. Aber die Totenstille wurde von Gott her durchbrochen. Das Wort aus dem Jesajabuch nimmt hier greifbare Gestalt an, wenn es da heißt: „ Fürchte dich nicht, denn ich habe dich erlöst: ich habe dich bei deinem Namen gerufen; du bist mein. Das bedeutet nun meine liebe Gemeinde: Wir müssen zwar sterben. Wir müssen uns von dieser Welt scheiden. Aber wir gehen nicht namenlos unter. Wir werden von Gott nicht geschieden. Und warum? Weil wir von Gott den Schöpfer, geliebt werden, will er uns nicht vergessen. Er behält uns fest bei sich. Er gibt uns nicht auf. In dieser Hoffnung können wir leben und sterben. Diese Hoffnung macht uns frei von der Todesangst. Oder wie der Apostel Paulus selber schreibt: „Denn ich bin gewiss, dass weder Tod noch Leben, weder Engel noch Fürstentümer noch Gewalten, weder Gegenwärtiges noch Zukünftiges, weder Hohes noch Tiefes noch keine andere Kreatur kann uns scheiden von der Liebe Gottes, die in Christus Jesus ist, unserem Herrn“. Römer. 8, 38.39. Das soll auch unsere Gewissheit sein. Amen.
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Philliperbrief 4.4-7 „Freuet euch in dem Herrn allewege! Und abermals sage ich: Freuet euch! Eure Lindigkeit lasset kund sein allen Menschen! Der Herr ist nahe! Sorget nichts, sondern in allen Dingen lasset eure Bitten im Gebet und Flehen mit Danksagung vor Gott kund werden. Und der Friede Gottes, welcher höher ist denn alle Vernunft, bewahre eure Herzen und Sinne in Christo Jesu!“ Amen. Liebe Gemeinde, liebe Gäste und Freunde der Gemeinde von Torres Tibagy! 1. Im Mittelpunkt dieses Textes stehen vier kleine Worte, die die Adventszeit charakterisieren: „Der Herr ist nahe!“ Diese Worte hat der Apostel in der Meinung geschrieben, dass die Wiederkunft Jesu Christi unmittelbar bevorstehe. Aber nun konnten wir Christen durch die lange Geschichte du Christenheit hindurch feststellen, dass die Gottes Uhr anders geht als unsere Uhren. Was wir Menschen „Zeit“ nennen, ist eingebettet in das, was die Philosophen und Denker heute die kosmische Zeit nennen und was der 2. Petrusbrief andeutet , wenn er sagt, dass vor Gott ein Tag ist wie tausend Jahre und tausend Jahre wie ein Tag. So ist in Gottes Zeitrechnung die Wiederkunft Christi uns Menschen von heute ebenso nahe, wie sie dem Apostel Paulus war Diese Wiederkunft wird ja nichts anderes sein als die letzte Offenbarung einer ewigen Tatsache – der Tatsache nämlich, dass der Herr uns nahe ist, richtend und mahnend, helfend und segnend, auf Schritt und Tritt, hin auf Erden und in aller Ewigkeit. Manchmal kann man es fühlen, wie nahe er ist. Vielleicht am Bett des neu geborenen Kindes, oder zur Sterbestunde eines geliebten Menschen, oder zur Stunde der Gefahr, oder an einem
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Tag besonderer Dankbarkeit. Man kann die Nähe des Herrn auch nachträglich gewahr werden, zu undenkbaren Situationen wie auch Zeiten. Und auch wenn man es nicht spürt – so bleibt die Tatsache: Der Herr ist nahe. Unser Herr Jesus Christus hat gesagt: „Selig sind die nicht sehen und doch glauben“ – und das hat er in der verkommenen Gewissheit gesagt, weil wir nämlich einmal sehen werden, was wir geglaubt haben. So könnte man diese Selig Weisung umschreiben und auch sagen: selig sind die nicht spüren, dass der Herr nahe ist, und doch glauben. Auch wir werden einmal spüren und fühlen was wir geglaubt haben. Immer wieder versuche ich meinen Konfirmanden zu sagen: auch wenn sie alles wieder vergessen, was ihnen im Konfirmandenunterricht gesagt worden ist, so sollten sie wenigstens die drei Worte behalten: „Gott ist gegenwärtig“. Wo das im Herzen lebendig bleibt, da kann der Mensch nicht verlorengehen, denn ihm ist es zu jeden Lebensmoment gewiss, dass der Herr nahe ist. Der Herr ist nahe! Er ist uns niemals so nahe, als wenn wir uns versammeln um sein Wort. Das ist das gesegnete Geheimnis jedes echten Gemeindegottesdienstes. Das sollen wir hier in unseren neuen Kirche in Torres Tibagy immer spüren, dass Gott uns nahe ist mit seinem Wort, in seinen Sakramenten, damit, wir Ihn durch unser Beten und singen eine freudige und fröhliche, wie auch dankende Gemeinde sein können. 2. Der Herr ist nahe! Aus dieser Grundlegenden Tatsache zieht nun der Apostel die Konsequenzen. Die erste Konsequenz ist der Ruf zu Freude: „Freuet euch in dem Herrn allewege, und abermals sage ich: freuet euch“!
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Das auffallende in diesen Wort ist, dass der Apostel mit einem Imperativ einsetzt und so wie Christus es seinen Jüngern befahl uns auffordert freuet euch, euer Herz soll sich freuen, ihr sollt an dem Herrn Freude haben. Wir möchten uns nicht täuschen lassen, wir auch ist es sinnlos wenn wir die Wirklichkeit des Lebens verlassen würden. Niemand, und auch kein Christ, kann sich immer und unter allen Umständen freuen. Auch die Traurigkeit hat nach Gottes Willen ihnen Platz in unserem Leben. Christlicher Glauber geht ja in Gegensätze einher. Denn im Glauben berühren sich Irdisches und Ewiges. Das muss zu Spannungen führen. Der Christ ist arm und reich zugleich. Er ist erlöst und steht doch täglich in der Sünde. So lebt er auch nach dem bekannten Wort: „Als die Traurigen und doch allezeit fröhlich“! Es fragt sich nur, worauf der Christ den Akzent legt. Das ist nicht in erster Linie eine Frage der Naturanlage oder Lebensernährung. Sondern es hängt dann ab, wie der Christ den Willen Gottes versteht. Denn es gibt ja in der Welt drei Arten von Christen: Erstens die, die immer zu klagen haben. Zweitens die, die immer zu kritisieren haben. Drittens die, die immer pessimistisch in die Zukunft schauen. Bei ihnen ist Christsein alles mir nicht eines: in Freude sein, Freude haben an den Herrn. Wir haben alle Freude an den Herrn, der uns eine Botschaft von der Grade Gottes gibt. Man soll beim Christen, hauptsächlich in der Gemeinde Christi, mühen, dass ein Zug der Freude hindurchgeht, wo das fehlt, wo die Freude an den Herrn nicht offensichtlich gefühlt wird, da hat man Ihn, unseren Herrn Christus, noch nicht erfasst, da hat man ihn noch nicht erkannt, da ist er den Menschen noch ferne, denen ist er noch fremd.
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Aber denen Er nahe ist, denen gilt auch der Aufruf des Apostels: „Freuet euch in dem Herrn allewege, und abermals sage ich: freuet euch!“ 3. Und nun die zweite Konsequenz des Advents: „Eure Lindigkeit lasset kund sein allen Menschen!“ „Lindigkeit“! Das ist eine genau – treffende Übersetzung Martin Luthers, wo ein anderer vielleicht „Milde“ oder „Freundlichkeit“ gesagt hätte. Lindigkeit – das ist die zarte und taktvolle Art, mit der die Liebe an den anderen herantritt und die der Liebe erst wirklich zu Liebe macht. Lindigkeit ist Liebe mit dem ganzen Herzen, Lindigkeit ist Liebe mit dem ganzen Ich = der Bezogenheit der Menschen unter sich, Lindigkeit ist Liebe die niemals aufhört. Es ist in der Zeit vor Weihmachten vielleicht nicht überflüssig, daran zu erinnern, dass wenig darauf ankommt, was wir schenken, dass aber alles darauf ankommt, wie wir schenken. Es muss nämlich zum Ausdruck kommen, dass wir mit unserem Geschenk den inneren Menschen suchen, dass wir ihm Freude machen oder ihm helfen möchten, so dass ein Band von Mensch zu Mensch geschlungen wird, wo die persönliche Kälte entfernt wird. Ich kann mich noch genau erinnern wie zu einer großen Überschwemmung in den Südstaaten Brasiliens unter Leitung einer Gemeindeschwester einen täglichen Mittagstisch für die Notdürftigen veranstaltet wurde, wobei die Gemeinde sich verantwortlich fühlte. Es war nicht eine vereinzelte Essenausgabe. Es war auch nicht eine Veranstaltung, wie sie in der Weihnachtszeit üblich ist, wo sich Menschen einmal in Jahr mit einer Coca-Cola und Süßigkeiten Verteilung für die Armen ihr soziales Gewissen freizukaufen suchen. Damals zur
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Überschwemmung war es ein großer gedeckter Tisch, zu dem die Bewohner sich täglich zusammenfanden und alltäglich eine Gemeinschaft bildeten, in der niemand Minderwertigkeitsgefühle zu haben brauchte, eine Gemeinschaft, die über das tägliche Essen hinaus zusammenhielt. Ohneweiters war das im Leben der Gemeinde nun ein Geschehen am Rande, bedingt durch die katastrophalen Verhältnisse der Umgehung. Aber es ist mir in Erinnerung geblieben als ein Beispiel dafür, wie nicht nur der Einzelne, sondern auch eine ganze christliche Gemeinde Lindigkeit üben sollte im Blick auf den Herrn, der uns allen nahe ist! 4. Und nun eine weitere Konsequenz des Advents: „Sorget nichts!“ Ja, wer könnte ohne Sorgen sein, wo es doch heute nichts nur um unsere persönliche Existenz geht, auch nicht nur um die Existenz unserer Angehörigen, sondern wo die Existenz der gesamten Menschheit auf dem Spiele steht! Aber trotzdem besteht der Imperativ: sorget nichts! Das ist keine Mahnung ins Blaue hinein. Es ist nicht einer der guten Ratschläge, die man in jeder Tagunsgszeitung lesen kann. Es ist nicht einer der guten Ratschläge, die uns an jeder Straßenecke angeboten wird. Sondern dieser Aufruf ist der aufrüttelnde Ratschlag des Arztes, der das Rezept dazu sofort gibt: „Sondern in allen Dingen lasset eure Bitten im Gebet und Flehen mit Dankbarkeit vor Gott kund werden!“ Das Gebet des Christen fängt immer damit an, dass er danken muss. Denn er hat immer zu danken – für das Allgemeine, Große, dass Gott an allen Menschen tut, damit auch an ihn. Und dazu kommt noch das Besondere oft scheinbar Geringe, das 501
Gott uns jeden Tag erweist. Wo der Mensch aber zu danken hat, da weichen die Sorgen einem großen Vertrauen! Und dieses Vertrauen können und dürfen wir so verstehen: Gott, für dessen Barmherzigkeit wir danken, wind sich auch morgen wieder als der bezeugen, dem wir immer von neuem zu danken haben. Und was da noch von Sorgen übrig bleibt, das geht beim Bitten unter. Denn der Christ kann nicht nur für sich selber oder für seinen nächsten Angehörigen bitten. Ihn soll die zweite Bitte des Vater Unsers immer wieder vor die Augen biegen: dass Gottes Reich komme! Dass in dieser Welt, die bis einem gewissen Grad unbarmherzig und friedlos ist, endlich Gottes Wille geschehe und dass sein Ruf in die Freiheit von dieser Menschheit gehört werde, von dieser Menschheit, die immer wieder Gewalt und Macht übt, der letzte Schluss aller Weisheit erscheint – dann betet der Christ. Der Christ lebt in großen Horizonten. Und dabei macht er die Erfahrung, dass große Sorgen die kleinen aufheben. Wenn die Frau um das Leben ihres Mannes bangt, dann ist es ihr auch gleichgültig, was für ein neues Sommermodell sie für die neue Saison tragen muss. Und wo weiß er auch ganz genau, dass es hier in der Adventszeit um die Botschaft Jesu Christi geht, die sich niemals, auf keinem Fall, bei den persönlichen sorgen des Einzelnen stehen bleiben kann. Das Evangelium will gelebt werden. Und wenn es gelebt werden soll, dann muss es auch bezeugt werden in der Welt und unter der Menschheit. Denn, meine liebe Gemeinde, wer frei geworden ist von allen kleinen und persönlichen Sorgen des täglichen Lebens, in dessen Herz wird auch Frieden einkehren.
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5. „Und der Friede Gottes, welcher höher ist als alle Vernunft, bewahre eure Herzen und Sinne in Christi Jesu“. So schließt unserer heutige Text. Um einen Frieden der Vernunft mühen sich heute die Staatsmänner – nicht in allen, aber doch in vielen Staaten. Sie haben endlich eingesehen, dass es unvernünftig ist, vom Kriege eine Besserung unserer Lebensverhältnisse zu erwarten. Sie haben aus bitteren Erfahrungen gelernt, dass Gewalt im letzten Grunde ohnmächtig ist und sich später in der folgenden Generation rächt. Aber das christliche Evangelium weiß von einem Frieden, der höher ist als alle Vernunft. Und was höher ist als alle Vernunft, ist ein Wunder. Und eben dies haben wir am Göttlichen Wort zu verkündigen: dass ein Wunder des Friedens geschehen ist. Gott hat einer Welt, die nur mit unruhigem Gewissen zu ihm aufschauen konnte, seinen Frieden geschenkt, indem er ihre Sünde seinem eingeborenen Sohn auf die Schultern gelegt hat. Wer sich darauf verlässt, dessen Herz hat Frieden! Frieden in Jesus Christus! Dieser Friede ist da! Gott hat ihn gemacht! Er hat auch uns alle von diesem Frieden etwas spüren lassen. Und nun soll dieser Friede Gottes unsere Herzen bewahren! Er soll sie bewahren vor Missglauben, Verzweiflung und anderen großen Schanden und fasten. Er soll sie bewahren vor der Versuchung zu Angst, zu Streitsucht und zum Pessimismus, damit wir Menschen werden, an denen Gott Freude haben kann! Dieser Friede wirkt dann auch hinaus in das äußere Leben. Der Kollektiv – Egoismus der Nationen ist eine so ungeheure Macht, dass er mit Vernunftsgründen nicht aus der Welt zu schaffen ist. Es muss über die ganze Welt hin eine Schar
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Menschen geben, die nach Frieden strebt um Gottes willen, die den Frieden verwirklicht im kleinen Kreis und die mit ihr Verlangen nach Frieden hinausstrebt in die Völkerwelt, weil ihr Gewissen sie treibt. Und diese Schar muss die Christenheit sein! Zu dieser Schar werden wir durch Jesus Christus gerufen! Zu dieser Schar müssen au ch wir hier in dieser Gemeinde gehören! Freude, Friede, Menschen, auf denen Gott sein Wohlgefallen hat – das ist wie ein vorausgenommenes Weihnachtsevangelium in der Adventszeit. Aber in Wirklichkeit ist nichts vorausgenommen. Sondern hier erfahren wir, dass Bethlehem nicht irgendwo in der Welt abgegrenzt ist, sondern Bethlehem ist überall, auch hier innerhalb unserer Gemeinde, in unseren Häusern, bei unserer Arbeit. Wenn ich heute diese Antwort auf Advent gebe, so geschieht das, meine liebe Gemeinde, mit den Wünschen, dass diese neu errichtete Kirche, allezeit eine Stätte sein möchte, an der eine Christliche Gemeinde die Nähe des Herrn in Wort und Sakrament spüre und fühle, dass diese Gemeinde „ihre Lindigkeit kund lasse werden allen Menschen die sich von ihr angesprochen fühlen“, dass sie sich versammele unter dem Gebet, unter der Danksagung gegenüber dem Herrn,
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und dass sie sei eine ständige Schar von Menschen, die den Frieden Gottes nachstehen, und als Frucht dieses Frieden viel Freude sich erkennen lasse!
Das sind unsere ganz persönliche Wünsche, verbunden mit der Gewissheit, dass der Herr uns allen nahe ist! Gelobt sei der da kommt im Namen des Herrn, Hosiana in der Höhe! Predigt – 27.11.1966 1. Advent 1. Gottesdienst in der neuen Kirche (Guarulhos)
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Aus dem Evangelium für den 2. Advent.
„Es werden Zeichen Geschehen an Sonne und Mond und Sternen; und auf Erden wird den Leuten Bange sein, und werden zagen; denn das Meer und die Wasserwogen werden brausen, und die Menschen werden verschmachten vor Furcht und vor Warten der Dinge, die kommen sollen über den ganzen Erdkreis, denn auch der Himmel Kräfte werden sich bewegen. Und als dann werden sie sehen des Menschen Sohn kommen mit großer Kraft und Herrlichkeit. Wenn aber dieses anfängt zu geschehen, so sehet auf und erhebet eure Häupter, darum dass sich eure Erlösung naht“. Lukas 21,25-28. Liebe Gemeinde! Die Botschaft zum 2. Advent ist von einen ungewöhnlichen Art und Gestalt. Denn die Adventszeit, als die vorweihnachtliche Zeit, ist als die Zeit der Erwartung, Vorbereitung und Freude gekennzeichnet. Wenn wir aber das Evangelium zum 2. Adventssonntag näher betrachten, so fällt als erstes die Freude weg. Die Erwartung weicht ihren Platz zur Angst, zur Angst der angekündigten Dinge, die nun einmal der Welt und dem ganzen Kosmos bevorstehen. Auch wenn viele Menschen dieses schreckliche Ende in ihren Leben nicht ernst nehmen, so soll man nicht vergessen, dass es hier nicht um eine religiöse Parole geht. Sondern wir wissen alle, oder mindestens, müssten es wissen, dass es wissenschaftlich festliegt: die Welt geht ihrem Ende zu. Der Kosmos, und damit unsere Welt, ist, was er durch gestern geworden ist. Gestern war der Kosmos leer und wüst. Heute ist er Ordnung und spiegelt Licht, Majestät und Leben. Und morgen? Und der Zukunft? Die Zeit wird es uns zeigen, und wenn uns nicht, dann den zukünftigen Generationen.
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1. Wir leben in der Zeit. Gestern, heute und morgen, Vergangenheit, Gegenwart und Zukunft sind unser Leben. Heute sind wir, was wir durch gestern geworden sind. Und morgen? Eine Pflanze sorgt nicht für morgen, eine Tür auch nicht. Es ist ja ganz schön, wenn es in der Bergpredigt heißt: „Sehet die Vögel, sehet die Lilien ... sorget nicht für den morgigen Tag“. Aber schließlich sind wir keine Vögel und keine Lilien, sondern Menschen, Menschen in der Zeit. Und die Zeit vergeht und wir vergehen mit ihr. Und gerade durch dieses Erkenntnis, dass wir mit der Zeit vergehen, möchten wir auch gerne bestimmen, wohin die Zeit uns führt. Denn als verantwortliche Menschen haben wir die Pflicht und Schuldigkeit, für unsere Zukunft zu sorgen. Mindestens das eine sollen wir doch ganz sicher und genau bestimmt haben: dass der morgige Tag so wird, wie ich es mir denke, wie jeder es sich ganz persönlich wünscht. Aber .... . Warum erschrickt ein Mensch bis ins Herz, wenn er nun plötzlich erfährt, dass er an eine Krankheit leidet, die die moderne Arznei nicht verhindern kann? Warum erschrickt der Mensch, wenn ihm die Nachricht erreicht dass ein Angehöriger im Sterben liegt? Warum erschrickt der junge Mensch, wenn er, nach langer und geduldiger Vorbereitung und Mühe, erfahren muss, dass er sein Studium nicht zu Ende führen kann? Dies Erschrecken ist wirklich ein zu „Tode erschrecken“. Weil in all dieser Fällen der Mensch entdeckt, dass er nun nicht mehr weiß, was die Zukunft bringt. Wenn ich nicht weiß, was morgen und später sein wird, wie kann ich fröhlich sein. Ohne Aussicht auf Zukunft ist es aussichtslos zu leben. 2. Aber doch muss jeder Mensch etwas zu hoffen haben, aber eine Hoffnung die sich auch einmal ereignen kann.
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Leider ist unsere Zeit dazu angetan, uns an diesem Punkt nicht allzuviel Mut zu machen. Aussichtslos sieht es nicht allein in unserer persönlichen Zukunft, sondern auch ist die Zukunft der Menschheit in Großen und Ganzen aussichtslos. Man fürchtet die demografische Explosion in den verschiedensten Erdteilen und die dazukommenden Probleme: Hunger, Durst, Arbeitslosigkeit, neue unbestimmte Krankheiten, moralische Dekadenz, Oberflächlichkeit, schließlich große Armut. Auszudenken, wie es in der Zukunft sein wird, ist gar nicht so schwer. Zukunftsromane helfen uns dabei, wenn unsere Phantasie nicht einfallsreich genug ist. Orwells „1984“ und Huxleys „Schöne neue Welt“ unterscheiden sich nur darin voneinander, dass die Zukunft bei dem einen ästhetischer, vornehmer ist, nicht so brutal, nicht so stinkend nach Schweiß, Dreck und Angst wie bei dem Anderen. Im Grauenhaften, Ausweglosen jedoch unterscheiden sie sich nicht. Keiner von uns möchte in so einer Zukunft leben. Wenn man aber die Zeitungen liest und die Gegenwart beobachtet hat man plötzlich den Eindruck, Anzeigen und Weichenstellungen zu sehen in Richtung auf das, was wir bisher nie in Büchern fanden. Da fragen wir uns ganz erschrocken: Hat die Zukunft doch schon begonnen? 3. Ähnlich dunkel sind die Farben, mit denen Lukas das Bild der Zukunft malt. Wir lesen da von Kriegen und Revolution von Hungernot und Pest, dazu „Zeichen an Sonne und Mond, und auf Erden Angst der Völker, so dass sie sich nicht zu raten wissen vor dem Bösen und wogen der Meere. Menschen werden den Geist aufgeben vor Furcht und Erwartung der Dinge, die über den Erdenkreis kommen werden. Denn auch die Kräfte der Himmel werden erschüttert werden“. Diese furchtbaren Bilder gehören für den Schreiber des Lukasevangeliums und seine Zeitgenossen zu den
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„endzeitlichen Wehen“. Die alte Welt geht zu Ende. Ihre Zeit ist abgelaufen. Gab es bisher die Möglichkeit, aus dem „Heute“ auf das „Morgen zu schließen, jetzt ist diese Möglichkeit vorbei: es gibt kein Morgen mehr. Aber wer zerstört diese unsere schöne Welt und nimmt uns die Chancen der Zukunft? Menschen, unbekannte Kräfte, unsichtbare Gewalten, Gott? Gott, dürfte es doch nicht sein, denn wir haben es erfahren, dass Gott Liebe ist. Wir brauchen aber nicht lange Fragen. Wir Menschen sind an diesem Ende der Welt und des Kosmos mitverantwortlich, auch wenn die Gewalt der Natur unermesslich ist. Denn was hat der Mensch grundlegenden von sich aus für die Zukunft der anderen gemacht? Was hat der Mensch getan um Pest, Hunger, Durst, Obdachlosigkeit, Arbeitslosigkeit, Krieg und Hass aus dieser Welt zu beseitigen? Nichts, wäre eine unverschämte Antwort auf eine deutliche Frage. Aber – fast nichts. Darum ist der Mensch von damals, wie der Mensch von heute, Schuldig an die Angst der zukünftigen Generationen. Es hat sich fast nichts geändert. 4. Und doch, liebe Gemeinde, sieht nicht alles so aus, dass wir heute eine hoffnungslose Generation sind, die der Zukunft pessimistisch entgegenläuft. Auch Lukas hat uns anderes zu sagen, als dass unsere Zukunft genauso hoffnungslos sei wie fast vor 2000 Jahre. „Seht auf und erhebet eure Häupter, darum dass sich eure Erlösung naht“. Das ist doch ein anderer Ton. Inmitten dieser Rede von der unerbittlich ihren Ende entgegenlaufenden Welt vernehmen wir diesen ganz anderen Ton: Erlösung. Also den Katastrophen dieser Welt gegenüber haben wir Christen eine andere Erwartung, eine deutliche Hoffnung: wir gehen der vollkommenen Erlösung entgegen.
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Vielleicht stehen wir hier bei dieser Aussage gegenüber einem schweren Ausweg: Was geschieht in dieser Zukunft, was bringt uns diese Zukunft, die Erlösung heißt? Wir können wir diese Erlösung heute mit Zuversicht und Gewissheit aufbauen und annehmen? 1. Als erstens müssen wir fragen: Was ist Erlösung? Erlösung ist nichts mehr als Errettung. Erretten – das heißt wohl – trösten, ermuntern, Mut machen, helfen. Aber erretten und Errettung. Erretten – das heißt wohl – trösten, ermuntern, Mut machen, helfen. Aber erretten und Errettung ist vielmehr. Erretten heißt hinzureißen, befreien, anders und neu machen. In einem Psalm heißt es: „Rufe mich an in der Not, so will ich dich erretten“ (Ps. 50,15) Anderswo heißt es auch: „ Der Herr ist nahe uns allen, die ihn anrufen – allen, dir ihn mit Ernst anrufen“. Das will nun heißen: Alle die, die Gott in ihrer Not anrufen, die hat er schon zu neue Menschen gemacht: zu Bürgern einer neuen Welt, in der er alle Tränen abwischt, und Leich, Tränen und Geschrei werden nicht mehr sein. – Oder wie der Apostel es uns sagt: „ Der seinen eigenen Sohn nicht verschonte, wie sollte er uns in ihn nicht alles schenken“? Damit, liebe Gemeinde, wird uns schon heute angedeutet was die vollkommene Erlösung sein wird: wir werden neue Kreaturen in einer neuen Welt, und jetzt und heute schon an dieser neuen Welt teilnehmen können. 5. Aber wie werden wir die Sicherheit haben an dieser vollendeten Erlösung teilzunehmen? Gerne würde ein Prediger eine deutliche Antwort auf diese Frage geben. Aber alles, was man an Genauigkeit in Bezug auf Gottes Zukunft mit uns und unserer Welt zu wissen meint, ist Spekulation. Wie und wann 510
diese neue Welt kommt wissen wir nicht. Wir wissen nur, dass sie mit der Wiederkunft Jesu Christi zusammenfällt. Die Ungewissheit, die wir fürchten und vielleicht nicht ertragen, ist nicht in der uns unbekannten Zukunft gegründet, über die wir nicht vermögen, sondern diese Ungewissheit, diesen Unglauben liegt in uns selbst. Selbst wenn die Zukunft ganz bekannt wäre und feststünde, so fest wie unser Tod, würde sie uns nicht beruhigen und gewiss machen. Die Ungewissheit die wir nicht erdulden, ist im uns selbst gegründet. Wir sind uns selbst ungewiss und wissen gar nicht was wir eigentlich wollen. Wir sind in uns selbst nicht heil. Dann können wir für uns selbst nicht garantieren, darum haben wir uns selbst nicht im der Hand. Aber dadurch, dass wir der Zukunft entgegengehen, und auf die Gegenwart nicht stationiert bleiben müssen wir uns fürchten. Fürchten vor Gott? Das brauchen wir nicht. Denn er ist die Liebe. Und Furcht gibt es in der Liebe nicht. Dann brauchen wir Vertrauen, Vertrauen zu Gott, in dessen Hand die Zukunft liegt. 6. Eines dürfen wir an Hand des heutigen Lukasevangeliums erfahren. Es gibt zweierlei Zukunft, die wir entgegengehen. Ja, zweierlei Zukunft auf ein und desselben Weg – durch die Zeit, die nicht aufhört. Einmal, ohne Ihn, ohne den Herrn, so dass wir auf demselben Wege durch die Zeiten – den wir alles gehen müssen – nichts anderes zu erwarten haben als uns selbst und die Folgen unserer Taten. Das kennen wir als den Weg des Egoismus und Egozentrismus neuen, oder, um einen alten kirchlichen aber missverständlichen Begriff zu gebrauchen: den Weg der Hölle.
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Und nun können wir einmal den Weg gehen, mit dem, dessen Geburt wir zu Weihnachten gedenken und der uns „neue Herzen“ schafft. Mit dem, der uns immer neue Wege der Mitverantwortung, der Mitliebe, des Mitleids aufschließt, so dass wir auf unserem Wege durch die Zeiten schließlich nichts anderes zu erwarten haben, als was wir heute schon haben: Ihn, unseren Herrn und Leiter Jesus Christus. Das, liebe, Gemeinde, mag wohl der Himmel sein. Was sollen wir fürchten? Wen sollen wir fürchten? Uns selber. Denn Gott legt in unseren Hände unsere Zukunft. Wirklich Weinachten zu feiern, fröhlich und singend dieser Freude entgegengehen kann nur der, der die Entscheidung seiner Zukunft in den Herrn Jesus Christus legt. Und dann Advent: Der Herr ist uns nahe! Amen.
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Lukas 2,10-12: Ein Bote Gottes sprach zu den Hirten auf dem Felde in Bethlehem: „ Fürchtet euch nicht! Liebe, ich verkündige euch große Freude, die allem Volk wiederfahren wird; denn euch ist heute der Heiland geboren, welcher ist Christus, der Herr, in der Stadt Davids. Und das habt zum Zeichen: ihr werdet finden das Kind in Windeln gewickelt und in einer Krippe liegen!“ Liebe Gemeinde! 1. Wieder einmal dürfen wir Weihnachten erleben. Da soll die alte, unvergessliche Weihnachtsgeschichte noch einmal an den sinnenden Herzen vorüberziehen. Und wir halten stille bei dem einen Wort: „Ihr werdet finden das Kind in Windeln gewickelt und in einer Krippe liegen“! Das haben die Hirten gesucht und haben es schließlich gefunden: ein Kind, in Windeln gewickelt und einer Krippe liegend! Weiter gab es nichts zu finden und zu sehen. Wie kommt es, dass die Hirten vor diesem einfachen und armseligen Anblick die Knie beugten? Wie kommt es, dass nach fast 2000 Jahren Millionen von Christen, über die ganze Welt, diesen Tag (diese Heilige Nacht) feiern? Wie kommt es, dass Martin Luther von diesem Anblick hat sagen können: „Das ewige Licht geht da herein, gibt der Welt einen neuen Schein“. Wir wissen alle, was eigentlich dieses Kind bedeutete und weiter bedeutet, als es herangewachsen war, wie es dann unter die Menschen ging und mit Wort und Tat die eine große Botschaft verkündigte: der ewiger Gott, den ihr nicht findet, sucht euch auf. Er kommt zu Euch, nicht als der ewige Richter, der euch verdammt und ausstoßt, sondern er kommet zu Euch
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als der gnädige Vater. Gott will euch Menschen ein gnädiger Vater sein, jedem einzelnen von euch, für Zeit und Ewigkeit! Mit dieser Botschaft wurde das Kind, welches wir heute preisen und leben, du Heiland der Welt. Hier erkennt die Welt ihn als du auf dessen Schulter die Menschheit zu einer neuen Menschheit werden kann. 2. Das war doch das Merkwürdige an diesem Kind: es wurde in der Fremde geboren. Es gehörte nicht nach Bethlehem. Als es geboren wurde, war die große Volkszählung, die die Eltern nach Bethlehem geführt hatte, gerade vorbei. Der Name „Jesus“ stand auf keiner Liste. Dies Kind hatte keine Heimat. Es gehörte keinem Volk. Es war ein Kind, frei von allem, was sonst die Menschen prägt. Es war allem von Gott geprägt. Und so, allem von Gott geprägt, gehörte es du ganzen Menschheit“. Bei all den anderen Propheten und Religionsstiftern, die die Welt je gesehen hat, war es anders. Mohammed war Araber, und in allem was er tat und sagte, war er Araber für seine Araber. Buddha, war Inder, und jeder buddhistischer Tempel zeigt, dass er Asiate für Asiaten war. Jesus aber, blieb nicht allein ein Israelit, sondern er war den Samaritanern ein Samariter, den Römern ein Römer, den Griechen ein Grieche. Seine Botschaft galt und gilt der Menschheit. Denn Jesus Christus geht auf einem Berg und beginnt seine Predigt: “Selig sind, die da geistlich arm sind, denn das Himmelreich ist ihr. Selig sind, die da Leid tragen, denn sie sollen getröstet werden. Selig sind die Barmherzigen, denn sie werden Barmherzigkeit erlangen. Selig sind die Friedfertigen, denn sie werden Gottes Kinder heißen“. Und die Welt hält den Atem an. Das versteht jeder, auf welchem Kontinent er auch wohnen mag. Jeder versteht, dass er mit diesen Worten angesprochen wird. Und auch da, wo einmal die Verhältnisse 514
sich geändert haben, bereiten die Worte Jesus Christi niemanden Schwierigkeiten. Das Gleichnis vom barmherzigen Samariter versteht jeder. Was das Gleichnis vom verlorenen Sohn von Gott und Menschen sagen will, vergisst keiner, der es je gehörte hat, an welchem Ende der Welt er auch wohnen mag. Wenn wir alle an unsere Kindheit nachdenken, so werden uns die christlichen Geschichte neu lebendig. Und auch wenn mancher unter uns denken sollte christlicher Glaube ist schön und gut für unsere Kinder, so sollte er nicht vergessen, dass gerade diese Botschaft der Krippe immer wieder von neuem lebendig ist und unser Leben auch prägt. Jesus Christus ist der Bote Gottes für die ganze Welt. Er ist es nicht im Lauf seines Lebens geworden. Er fühlte sich nicht in der Jugendzeit dazu berufen. Sondern er ist als so ein Gottesbote geboren. Dann beginnt mit seiner Geburt und durch seine Botschaft eine neue Welt an. Dann dürfen auch wir heute so sprechen – wie Martin Luther sprach – ein Blich auf die Krippe hin: „Das ewige Licht geht da herein, gibt der Welt ein neuen Schein“! 3. „Ihr werdet finden das Kind in Windeln gewickelt und in einer Krippe liegen“! Ein Kind liegt in der Krippe – inmitten einer Welt, die nichts mit ihm zu tun haben will. Ob die Herberge, die Maria und Joseph aufsuchten, wirklich kein Obergeschoss hatte, indem man es der Mutter und ihrem Kind ein bisschen freundlicher hätte machen können als aus gerechnet im Stall, das wissen wir nicht. Jedenfalls wird es, wie in jeder Herberge, die Nacht über ein Kommen und Gehen von Menschen und Türen gegeben haben.
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Sicherlich auch Frauen darunter, denen die Wirtsfrau gesagt hat, was da im Stall vor sich ging. So etwas erzählen Frauen einander sofort. Aber keinen von diesen Frauen macht sich die Mühe, einmal nachzusehen, ob da etwas zu helfen wäre. Die Männer schon gar nicht. Ein Kind in der Herberge ist unerwünscht. Man will keine Rücksichten nehmen müssen. Man will schlafen und sich ausruhen. Man will sich um die eigenen Angelegenheiten kümmern. So geschah es dem Kind, als es ins Leben trat. So ist es geblieben bis zu seinem Tod. Es ist für uns schwer zu begreifen, dass der, der den Menschen die frohe Botschaft von Gott brachte, auf Schritt und Tritt der Feindseligkeit begegnet ist. Aber so war es. Und bei seinem Tode vereinigt sich alles in dem Entschluss: Hinweg mit diesem! Der Hohe Rat in Jerusalem, der als erster das Todesurteil sprach; das Volk, das ihm noch vor ein paar Tage sein Hosianna zugerufen hatte, schreit jetzt wie aus einem Munde das „Kreuzige ihm!“. Die Jünger lassen ihn im Stich und fliehen. Der römische Angestellter spricht das endgültige Todesurteil. Und dann stirbt er Auf dem Hügel Golgatha, von allen verlassen. Nur seine Mutter, Maria, und sein Lieblingsjünger bleiben bei ihm in der Stunde der Not. Das alles aber geschieht – nicht weil er besonders feindselige Worte gegen irgend jemanden gesprochen hätte, sondern es geschieht, weil er war, der er war. Der Mensch kann die reine Wahrheit Gottes nicht ertragen. Er will von Gott bestätigt bekommen, dass er doch im Grunde ein gutes Herz habe und dass, wenn nur alle so wären wie er, ein schönes Leben auf du Welt geben würde – alle Tage Weihnachten, so ungefähr. Dass ihm jemand sagt: es müsse ganz anders werden, wenn Gott an ihm Freude haben solle; dass ihm das jemand mit Volkmacht
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sagt, so dass ihm die Widerrede im Halse steckenbleibt – das will er nicht. Nein, das wollen wir alle nicht! Aber, liebe Gemeinde, trotz allem aber erfahren wir von Bethlehem wie auch von Golgatha aus, dass durch Jesus Christus die Gottes vergebende Gnade verkündigt wird, die uns zum Frieden führt. Als Stifter eines neuen Verhältnissen in dieser Welt wurde das Kind aus Bethlehem von den Hirten erkannt. Schon über die Krippe zu Bethlehem leuchtet die Gnade Gottes, die uns im Kreuz von Golgatha zur Erkenntnis gegeben wird. Das ewig Licht geht da herein, gibt der Welt ein neuen Schein! 4. Die Hirten von Bethlehem haben in der Dunkelheit gesucht. Sie wussten, was sie suchen sollten. Und sie haben es gefunden! Auch in der Welt von heute sieht es sehr dunkel aus. Finsternis über der Zukunft, von der niemand weiß, was sie bringen wird. Und Finsternis über die Gegenwart! Es ist viel Suchen in unserer Zeit und wenig Finden, weil die Menschen vergessen haben, wen sie suchen sollen. Wir können den Geist der Zeit nicht ändern. Wir können es nicht ändern, dass der Egoismus der einzelne und der Völker jeden echten Frieden hindert, dass Ehen zerbrechen, dass Jugend vergiftet wird, dass löse Kritik alles wieder zu brechen sucht, was den Menschen gut sein sollte. Alles redet von Maßnahmen, durch die du sittliche Untergang du Völker überwunden werden soll, von politischen Maßnahmen, von sozialen Maßnahmen, von Bildungsmaßnahmen, von materiellen Maßnahmen – und spürt im Grunde doch, dass alles keine Abhilfe und keine Erneuerung bringen kann. Wir können nichts anderes tun, als uns in unserem persönlichen Leben durch alle Dunkelheit zu dem wieder durchkämpfen, der in der Krippe von Bethlehen 517
gelegen hat – in der Gewissheit, dass über dieser Krippe Gottes ewiges Licht in diese dunkle Welt hereinbricht und der Welt einen neuen Schein gibt. Wirklich, ein neuen Schein! Wer ihn sucht, der wird ihn finden. Wir wollen ihn suchen gehen. Überall in der Welt, wo wir auch sein. Dann wollen wir gehen und ihn suchen und das Kind in der Krippe auch finden. Es ist überall auch in dieser Nacht (auch heute) unter uns, in unsere Familie, im unserem Haus. Gesegnete Weihnachten! „Das ewige Licht geht da herein, gibt der Welt ein neuen Schein!“
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Silvester 1966/1967 - Santana 1. Korinther 8,6:“Wir haben nur einen Gott, den Vater, von welchen alle Dinge sind und wir zu ihm; und einen Herrn, Jesus Christus, durch welchen alle Dinge sind und wir zu ihm“. Liebe Gemeinde: Bei dem Übergang von einem altwerdenen zu einem neuen Jahr geht es uns allen so, dass uns das Geheimnis der Zeit in besonderer Weise anrührt. Während die Blumen, so will es uns wenigstens scheinen, zeitlos im Licht der Sonne Gottes träumen, ist der Mensch dasjenige Geschöpft und Wesen, das um seine Zeit weiß. Die Zeit hat für uns ein dreifaches Gesicht, und mit jedem blickt sie uns wieder anders an. Die Zeit als Vergangenheit liegt fest. Wir können zu Gott bitten, dass er in seine Barmherzigkeit zurechtbringen und bedecken möge was wir verdorben haben. Die Zeit als Gegenwart ist ganz frisch. Sie strömt uns zu und schenkt uns neue Möglichkeiten. Die Gegenwart steht vor uns, so wie das neue Jahr vor uns ist. Wie viel geht hinein in ein neues Jahr! Was lässt sich da alles schaffen und wirken an Gutem und Wertvollem in Beruf und Familie, in Gemeinde und Haus, im Dienst am Nächsten und an der Menschheit! Wollen wir doch treu sein mit diesem kostbaren Gut der anvertrauten Zeit! Denn Gott wird einmal uns fragen: „Was hast du aus diesem Jahr Gemacht? Die Zeit hat noch ein drittes Gesicht. Es liegt vor uns: die unergründliche Zukunft, mit tausend Gewande uns verschleiert. Wir können schon durch den Nebel der Zukunft hindurchsehen, aber trotzen wissen wir nicht genau was uns bevorsteht. Denn wir wissen genau, was geht alles in ein Jahr
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hinein an Kummer, an Enttäuschung, an Überraschung und Aufregungen, an Krisen und Gefährdungen, und das soll im privaten und öffentlichen Leben uns Geschehen! Kein Wunder, wenn viele Menschen sich aus Angst und Sorge in dieser Nacht berauschen und betäuben, nur um nichts denken zu müssen. Andere noch greifen zu allen möglichen abergläubischen Maßnahmen, die der Linderung oder der Enthüllung gegenüber der Zukunft dienen sollen. Als Christen mögen wir auf all solche fragwürdigen Stützen verzichten und uns statt dessen an die Zusage halten, die uns der Apostel Paulus gibt: “Wir haben einen Gott, den Vater, von welchem alle Dinge sind und wir zu ihm; und einen Herrn Jesus Christus, durch welchen alle Dinge sind und wir durch ihn“. Bei den Göttern der Heiden verhielt und verhält es sich so, dass jede Gottheit jeweils nur eine Naturkraft entspricht. So war es bei den Griechen, so war es beiden Römern, so war es bei den Germanen, so ist es bis heute bei den meisten afrikanischen Religionen, die auch ihren Einfluss hier in Brasilien in dem Kultus du „Umbanda“ sich verwirklichen, Kultus an dem eine überraschende Zahl von Menschen sich bekennt, die von den besten kulturellen Kreise dieses Landes gehören. Diese Vielheit der Götter kommt, dass man glaubt, niemals eine Gottheit allein völlige Geborgenheit und Zuflucht dem Menschen schenken kann. Immer muss noch diese oder jene Macht hinzugenommen werden, wenn der Mensch wirklich Vertrauen fassen soll auf seine Zukunft. Aber es gibt auch Menschen die sich dieser Gottheiten nicht annehmen, aber dazu sich anderer ähnlichen Göttern hinzuziehen: wie die Weisheit der Sterne, an Amuletten, als Hilfe gegen die Weltangst und Weltsorge.
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Nun werden aber wir Christen durch die Botschaft Jesu Christi aufgefordert: Setze dein Vertrauen niemals auf irgendeine begrenzte Herrschaftsmacht, halte dich an den einen Gott, der Himmel Erde gemacht hat, der alle Kräfte in sichtbaren und unsichtbaren Reichen umfasst und von dem und durch den und zu dem hin auch unser Leben ist! Das, liebe Gemeinde, befreit den Mensch. Er weiß sich allein getragen und umfangen von der Allmacht Gottes. Es liegt in der Luft, heute, am letzten Tag des Jahres, einen Augenblick innezuhalten, auf das vergangene Jahr zurückzuschauen und auf das kommende vorauszublicken. Manchem von uns ist der Jahreswechsel im Grunde etwas Unheimliches. Aber selbst der, der eigentlich nicht gewillt ist viele Gedanken daran zu wenden, kann sich dem Wissen nicht entziehen, das vieles vorbei ist und manches sich nicht mehr ändern lässt. Und das neue Jahr gleicht einem fremden Land, von dem man noch nicht weiß, was es alles in sich bringt. Es ist wahr: Jeder von uns betritt es auf andere Art: einer mit Hoffnung, der andere mit Sorgen, einer oder andere auch mit Resignation. Aber, meine liebe Gemeinde, das urchristliche Bekenntnis: „Wir haben einen Gott, den Vater, von welchem alle Dinge sind und wir zu ihm“, will uns dazu helfen, dass neue Jahr geführt und mit Zuversicht beginnen, geborgen in der Schutzmacht dessen, der über alle Kräfte der Natur verfügt und sie uns zur Verfügung stellen kann. Wenn der Apostel Paulus fortfährt und schreibt: „und wir haben einen Herrn, Jesus Christus, durch welchen alle Dinge sind und wir durch ihn“, dann will er unser Leben damit herausnehmen aus aller Willkür und Unordnung und will ihm eine klare, berechtigte Ausrichtung geben. Nach außen hin wissen wir im Allgemeinen wohl, wie unser Weg 521
durch das neue Jahr verlaufen wind. Wir haben unseren Beruf, unser Geschäft, wir haben als Eltern unsere Aufgabe an den Kindern. Jede hat so seinen allgemeinen Weg. Aber dieser allgemeine Weg jedes einzelnen von uns ist ein Weg du vor Gott und vor unseren Mitmenschen beschritten wird. Das heißt, wir haben es mit Verhältnisse zu tun. Und ein Verhältnis möchten wir nicht zerstören, sondern nur bewahren und befestigen. Das soll auch im kommenden neuen Jahr geschehen, wenn wir vor uns immer das Bild Jesu Christi haben, und auf sein Wort und Sakrament bestehen. In Jesus Christus vereinigen sich unsere Verhältnisse zu Gott und zu unseren Mitmenschen. Wer an Jesus Christus festhält, der hält auch fest an Gott und seinen Nächsten. Der Vertrauen zu Jesus Christus hat, der weiß auch, dass alle Sorgen, alle Kümmernisse, alle Traurigkeit nichts sei neben der Segen, der von Ihm, unseren Herrn, über uns täglich von neuem ergeht. Dann, soll unser Bekenntnis, gegenüber alle Fährlichkeit dieses Lebens, auch in dieser Silvesternacht ein Bekenntnis des Vertrauens und des Glaubens sein. Und wenn wir auch gerne müssten, ob sich unsere Pläne verwirklichen, ob unsere Befürchtungen eintreffen werden, so sind wir doch einmal dankbar, dass wir einen Gott haben, den wir als Vater anrufen dürfen, durch Jesus Christus, „durch welchen alle Dinge sind und wir durch ihm“! Ein gesegnetes Neues Jahr! Amen.
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Andacht zur Vorstandssitzung am 10.4.1967 Apostelgeschichte 4,20; 4,12 Matthäus 28,19. Acta 4,20: Petrus und Johannes erwidern den Befehl des Hohen Rates, der ihnen verboten hat weiter unter dem Volk zu predigen:”Wir koennen es ja nicht lassen, dass wir nicht reden sollten von dem was wir gesehen und gehört haben”. Acta 4,12: Das Bekenntnis der Urgemeinde:”In keinem anderen ist das Heil, ist auch kein anderer Name unter dem Himmel den Menschen gegeben, dann wir sollen selig werden”. Matthäus 28,19: Ein Wort aus dem Missionsbefelhl Jesu Christi:”Gehet hin und macht zu Jünger alle Völker”. Petrus und Johannes stehen vor dem Hohen Rat in Jerusalem. Ihnen wird vorgehalten, dass sie eine neue Lehre verbreiten, die dem Menschen einen neuen Weg zeigen Gott zu finden als der alte Weg des Gesetzes und des jüdischen Kultus. Sie werden praktisch verurteilt. Ihnen wird ein Verbot gegeben: „Ihr sollt von jetzt ab nicht mehr diesen Christus Jesus predigen, der als Ketzer aufgehängt wurde“. Die offizielle Stimme des jüdischen Tempels hat gesprochen. Aber beide Aposteln erwidern diesen Befehl und Verbot und behaupten prompt: “Wir können es nicht anders. Wir haben es gesehen und wir haben es gehört. Wir sind Zeugen dieser Botschaft. Wir werden sie weitergeben auch wenn es uns verboten wird“. Das ist die Reaktion von zwei Menschen die einen überzeugenden Glauben haben und diesen Glauben nicht allein für sich selbst behalten können. Sie sind zu überzeugeng gekommen, dass sie einen Schatz besitzen, der nun investiert werden muss. Und er kann nur dann investiert werden, wenn 523
er auch weitergegeben wird. So war es bei den Aposteln. So muss es heute auch sein. Wir müssen die Botschaft des Evangeliums Jesu Christi heute den Menschen weitergehen, damit andere außer uns den Weg zum evangelischen Glauben finden. Und warum muss es so sein? Als erstes können wir den Missionsbefehl Jesu Christi selbst nennen. „Gehet hin und machet zu Jünger alle Völker“. Der Glaube an Jesu Christus verlangt die Wahrnehmung und den Gehorsam auf diesem Befehl. Aber nicht allein dieser Befehl ruft uns zur Weitergabe des Evangeliums. Es ist auch das Wissen darum, dass Jesus Christus der Heiland der Welt ist. Es gibt kein anderer Weg der zu Gott führt als Jesus Christus allein. Er ist der Eckstein des Glaubens. So hat es schon die Urgemeinde erkannt und weitergegeben: „In keinem anderen ist das Heil, ist auch kein anderer Name unter dem Himmel den Menschen gegeben, dann wir sollen selig werden“. Dieses Urbekenntnis will nun heißen, dass die ganze Welt dieses Heilandes bedarf. Darum finden wir in der langen Geschichte der Christenheit Menschen die dieses Zeugnis weitergegeben haben und es werden sich auch immer Menschen finden, die das Zeugnis ihres Glaubens der Welt und Umwelt ablegen werden, die ihren Glauben an andere Menschen investieren werden. Auch wir heute – als evangelisch – lutherische Gemeinde in São Paulo – haben einen Auftrag nachzugehen, der schon von der Urgemeinde in Jerusalem wahrgenommen wende. Auch wir heute sind von Gott in unserer Umwelt gesandt, Menschen für Jesus Christus zu gewinnen und einzusetzen. Wir sind heute lebendige Zeugen und Gesandte Gottes.
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Vielleicht kann das Gleichnis des verlorenen Sohnes uns das Beispiel zu unserem Gesandtsein in der Umwelt sein: Da ist der Vater der immer wieder zur Türe hingeht und ein Blick auswirft ob der verlorene Sohn nicht kommt. So auch wir als Gemeinde. Wir sind auf die Suche und in der Erwartung des Kommens der verlorene Kinder. Die Statistik weist uns auf, dass nur in São Paulo 200.000 Deutsche leben. Darunter – schlecht gerechnet – können wir uns 70.000 evangelisch–lutherische Menschen vorstellen. Da ist der Vater der seinem verlorenen Sohn entgegengeht. So auch wir als Gemeinde. Wir müssen den verlorenen Kinder des evangelischen Glaubens in dieser Problemenstadt durch unsere Arbeit, durch unsere Dynamik, entgegengehen. Ja, öfters wird dieser Weg nicht leicht sein. Ein langer, verantwortlicher und geduldiger Weg. Da ist der Vater der seinen verlorenen Sohn umarmt und mit ihm sich freut. So auch wir als Gemeinde. Wir nehmen unsere Brüder und Schwestern in der Gemeinschaft Jesu Christi auf mit viel Freude. Sie sollen zu allen Stunden wissen, dass sie mit uns ein zu Hause haben. Das alles bedeutet Predigt, Bekenntnis, Unterweisung..... Dann ist unser Ziel erreicht, wenn wir wissen, dass Menschen um uns auch den Weg zu Gott durch das Evangelium Jesu Christi gefunden haben. Gott hat uns diesen Schatz des Evangeliums anvertraut. Auch Er wird uns mit seinem Segen beistehen. Er hilft uns dabei!
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1.10.1967 – Santana 8.10.1967 Centro – Seminário Epheser 4, 23-24 „Erneuert euch im Geist eures Gemüt und ziehet den neuen Menschen an, der nach Gott geschaffen ist in rechtschaffener Gerechtigkeit und Heiligkeit“. Liebe Gemeinde! Erneuerung! Reform! Neue Wege! Neues Verhalten! Das ist die Parole unserer Zeit! Besser gesagt, nicht nur unserer Zeit, sondern aller Zeiten. Die Geschichte der Menschheit zeigt uns und beweist es da rund, dass der Mensch eigentlich immer auf die Suche der Erneuerung sich befindet. Es ist klar: heute ist das Streben nach „neue Wege“, „neues Verhalten“ durch die umwälzenden Problemen unserer Zeit in einem großem Masse gestiegen. Menschen und Gesellschaften, Industrie und Staat befinden sich in einer großen Wandlung. Sie bemühen sich dauernd den heutigen Tatsachen gemäß zu ändern und auszubessern, wiederherstellen und reformieren, verbessern und erneuern. Alle Menschen, die einen aufgeschlossenen Sinn zu ihrer Umwelt haben, nehmen an dieser Umwandlung unserer Zeit teil. Jeder nach seinen Kenntnissen und Möglichkeiten, denn alle erkennen die Notwendigkeit, dass manche Strukturen der heutigen Gesellschaft die Förderung des Lebens stören und hindern. Wir alle machen uns Sorgen mit der Zukunft der Welt, und damit ist auch die Sorge an unsere Familie, unsere Kinder mitverbunden. Wir laufen einer neuen Realität entgegen. Und wie müssen uns dieser neuen Realität anpassen: Unsere Stadt heute:
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1967: 5.400.000 1970: 6.800.00 1980: 12.800.00 Heute ist diese Stadt schon eine unmenschliche und problematische Stadt. Wenn wir heute uns über die Zukunft der Stadt nicht nur Beklagen, sondern auch die Lösung – Wasser – Verkehrsmitteln – Wahrung – Hospitäler – in Tatsache umsetzen, das sollen wir erwarten. Darum ist eine Erneuerung, eine Reform unserer gesellschaftlichen und staatlichen Einrichtung eine Notwendigkeit unserer Zeit, die wir als verantwortliche Menschen nicht in der weiteren Zukunft herausschieben können. Aber nun ist hier eine klare und deutliche Frage zu stellen: Ist es genug? Wenn wir eine soziale, politische, finanzielle? Wirtschaftliche Erneuerung fordern und die problematischen Tatsachen von heute und von der Zukunft aus der Welt schaffen zu können? Nein. Denn die problematischste Tatsache liegt beim Menschen selbst. Der Menschen ist das schwierigste Problem und wird es auch bleiben, wenn er nicht bereit ist sich zu erneuern. Der Mensch muss sich erneuern, der Mensch muss offen und verantwortlich gegenüber der Welt stehen, damit die Problemen die denselben Menschen überfallen eine konkrete und menschliche Lösung finden können. Und wenn wir schon von der Notwendigkeit des Menschen sprechen, offen und verantwortlich gegenüber der Welt zu stehen, dann fallen auch die Frage und das Problem „seines Verhalten zu Gott“? Und wir wissen wie es mit diesem Verhalten von Gott steht. Dieses Verhalten ist nicht in Ordnung. Und darum ist es auch bei uns nicht in Ordnung. 527
Wieder einmal stehen wir von der Tatsache, dass die uns gegebenen Worte des Neuen Testaments, obwohl es Worte der Vergangenheit sind, uns immer von neuen auffordern zur wahren Entscheidung. Der Apostel ruft uns auch heute zur Erneuerung auf. Nicht zuerst zur wirtschaftlichen, sozialen Erneuerung, sondern „zur Erneuerung im Geist“. Diese Erneuerung zielt nicht „etwas“ bei uns, ein Teil von uns, oder um uns, sondern uns selbst. Denn „Erneuerung im Geist“ bedeutet dass wir anders, werden sollen, dass wir neu werden. Wir werden staunen und gleich einzuwenden haben: „Ist das möglich? Kann ein Mensch sich radikal verändern, anders werden als er ist? Für die Welt ist das nicht immer möglich, dass etwas was da ist radikal sich ändert. Ein altes Haus kann man nie neu machen. Man kann es renovieren, aber nicht neu machen. Ein alter Wagen ist nie ein neuer Wagen. Auch kann der Mensch von sich aus eine vollkommene Erneuerung erreichen. Er kann wohl durch guten Willen und Selbstaufopferung sich von schlechten Sitten und Verhalten befreien. Durch Erziehung und eigene Leistung kann der Mensch vieles erreichen. Aber vollkommen neu werden, das geht nicht. Die Erneuerung im Geist des Evangeliums ist aber doch möglich. Denn diese kann nicht durch Gesetze oder durch guten Willen erreicht werden. Das will uns der Apostel sagen. Denn diese Erneuerung im Geist des Evangeliums ist Werk des Geistes Gottes an und in uns. Jesus Christus ist der der uns diese Möglichkeit schafft und uns zu neuen Menschen macht. Darum fordert Paulus uns auf: „Ziehet den neuen Menschen an“. Was ist das? Dieses „neue Mensch“ ist nicht gleich einer Verkleidung die den Menschen verdeckt oder versteckt. Das wäre nur eine Illusion. Denn wer
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von uns, wenn er offen wäre, würde nicht gerne „neu sein“? Der „neue Mensch“ vereinigt den ganzen Menschen in sich bis in den Einzelheiten seines Seins. Und er wird nicht durch uns selbst gebildet, aber allein durch Gott. In der Tatsache gibt ist nur einen den wir als „neuen Menschen“ aufzeichnen können: Das ist Jesus Christus. Jesus Christus ist der neue Mensch, ein Abbild Gottes. Durch sein Leben, durch sein Tod hindurch will er uns von unserer sündhaften Natur befreien und uns mit seiner Gerechtigkeit, Heiligkeit und Liebe anziehen. Christus wandelt unser Leben. Unser Glaube an ihm bringt uns zu unserer Erneuerung. Dies ist das Werk des Geistes in uns, das uns umwandelt und zu einem neuen Leben des Glaubens führt zu unser Heiligkeit. So wie wir uns zum Sonntag umkleiden, und unsere beste Kleidung anziehen, so soll Christus von uns angezogen werden, und er wird uns mit seinen Gerechtigkeit und Heiligkeit umwandeln, erneuern. In Christus sind wir neue Kreaturen, denn in der heiligen Taufe sind wir mit Christus in seinen Tod gegangen und auch auferstanden zu einen neuem Leben. Die Taufe ist die große Wende in unseren Leben, aber gilt nur dann wenn wir mit all unserer Kraft dieses neues Leben und Sein mit Christus leben. „Ziehet den neuen Menschen an“ – das bedeutet – Lebet diese neue Realität, diese neue Tatsache in Christus Jesus. Sind wir Christen, so lasst uns auch als Christen leben. Niemanden soll es versteckt werden, dass wir Christen sind, nicht nur namentlich, sondern tatsächlich. Diese Erneuerung im Geist des Evangeliums unseres Herrn Jesus Christus offenbart in uns die Liebe – nicht mehr uns selbst nicht – auch den anderen – Liebe für die Mitmenschen.
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Wenn wir durch den Glauben in Liebe uns beweisen, dann wächst der neue Mensch in uns, und gibt uns neue Möglichkeit und neue Freude zum Dienst des Herrn, der Kirche und der Welt. Dienst zum Herrn – andere Menschen zur Erneuerung zu führen. Dienst der Kirchen – für die Gerechtigkeit in der Welt stehen. Dienst der Welt – sie unter denn Aspekt der Liebe dahinzufahren dass der Zukunft eines neues Weltbild geschaffen werden kann, das allen Menschen gerecht werde. Kleines Häuflein ~ großes Werk – Werk Gottes. Lasst uns Erneuern lassen im Geist des Evangeliums, indem wir den neuen Mensch anziehen, der da Jesus Christus ist.
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Jesaja 6,1-8 Liebe Gemeinde! I – Israel ein geteiltes Volk: Zwei Staaten: Judäa und Israel. Im Todesjahr des Königs Usia (740 v. Chr.) findet im Tempel zu Jerusalem die Vision und Berufung des Propheten Jesajas statt. Jesaja befindet sich im Tempel in Jerusalem. Warum gerade im Tempel? Davon gibt uns der Text keine Auskunft. Aber Wir können es uns denken. Er nahm an das Los des Volkes teil. Er fühlte sich mitverantwortlich für die Unreinheit und die Uneinigkeit unter dem Volke Israels. Bei diesem Besuch im Tempel, während er über die Situation seiner umgebenden Welt sich Gedanken machte, sah Jesaja wie sich die Bilder des Heiligen Hauses Gottes auf einmal lebendig verwandelten. Die toten Bilder der Seraphinen bekamen Leben, der leere Thor Gottes erfüllte sich mit seiner unendlichen Herrlichkeit. Die Seraphinen sprachen sich gegenseitig an, mit den alten Lobgesang der gläubenden Gemeinde Israels: „Heilig, heilig, heilig ist der Herr Zebaoth, alle Lande sind seiner Ehre soll!“ Die Seraphinen, deren Haltung die tiefste Ehrfurcht und Dienst Bereitschaft wiedergeben, offenbaren durch dieses Lobgesang das Bekenntnis, dass nicht allein Israel, sondern „alle lande“ sind der Ehre Gottes voll. Das entnahm Jesaja in großer Furcht.
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„Alle Lande“ ist der werte Horizont der Dinge Gottes. Er will sich nicht nur denen oder jenen offenbaren, sondern der ganzen Welt. Und diese ganze Erde ist seiner Ehre voll. Und die Ehre, meine Lieben, ist immer Grund geschehener Ereignisse und Fakten. Niemand kann geehrt werden, wenn er es vorher nicht verdient hat. Und die Verdienste Gottes sind in der Welt, im Universum, manifestiert. Die Schöpfung, allein ist schon die Ehre Gottes. Alle Lände sind seiner Ehre voll. Vor diesem Ereignis dieser Vision und dem Erkenntnis, dass Gott am Werke ist, wie verhält sich der Mensch Jesaja? Unter Anept, Schrechen! Dieser Vision zu entgehen und sich zu flüchten! Im Zweifel! Unter an Fragen den! Nein. Sondern Jesaja erkennt sich selbst. Gegenüber dem allen erkennt Jesaja sein eigenes Verhältnis und seines schuldigen Volkes gegenüber Gott: „Weh mir, ich vergehe! Denn ich bin unreiner Lippen und wohne unter einem Volk von unreinen Lippen, denn ich habe den König, den Herrn Zebaoth, gesehen mit meinen Augen“. Und nun können wir hier fest stellen: Wer unter dem Eindruck der Heiligkeit Gottes seine Sündhaftigkeit tief und schmerzlich empfindet, dem kommt eben der Heilige wider seine Schuld und Feinde zu Hilfe. Jesaja erkennt seine Schuldigkeit und empfängt die Vergebung seiner Schuld. Und nun erfahren wir, dass auch der von seiner Schuld und Sünde freigegebenen, nun auch seine Bereitschaft gegenüber Gott laut werden kann, als der Herr fragt: 532
„Wenn soll ich senden? Wen will unser Bote Sein“? Ja, Jesaja sprach: „Hier bin ich, sende mich“! II – Nun könnten wir hier mit Recht einwenden: was sagt uns diese Geschichte heute? Heute sind doch die Verhältnisse anders als wie vor 2.708 Jahre? Heute ist es normal die Redeweise zu hören: “Der moderne Mensch leidet nicht mehr unter seiner Schuld. Er hat andere Anfechtungen und Nöte wenn er an Gott denkt. Er wird von dem primitiven und radikalen Zweifel gequält: „Gibt es überhaupt einen Gott, und wenn es ihn gibt, wo und wie kann er für mich sichtbar und vernehmbar werden“? Wenn wir auf diese Frage eine punktierte Antwort geben wollten, dann würden wir stunden gebrauchen. Aber eins, müssten wir auch hier behaupten können um diese Frage mindestens teilweise gerecht zu werden. Auch wenn uns keine Vision geschenkt werden kann, wie bei Jesaja, wo ihm die Existenz Gottes persönlich widerfahren ist, so dürfen wir sagen, dass auch heute die Existenz Gottes offenbar wird. Bleiben wir bei den Errungenschaften der Wissenschaft unserer Zeit. Was geschieht in der Wissenschaft unserer Tage? Sind die Errungenschaften allein den Wissenschaftlern zu rechten? Ich glaube nicht allein ihnen. Auch sie haben ihre Ehre dabei. Aber all diese Errungenschaften sind nur möglich weil in der Schöpfung selbst ihnen die Möglichkeiten gegeben sind, neue Entdeckungen zu vollziehen. Im Grunde entdecken, offenbaren und manifestieren sie die großen Möglichkeiten die Gott dem Menschen und der Menschheit geschenkt und zur Verfügung gestellt hat. 533
Die Wissenschaft Oppenheimer, der Vater der Atomkraft, in seiner Biographie, behauptet: Die Wissenschaft hat die Rolle nicht erfinderisch zu sein, sondern dass aufzudecken, was die Natur in ihren Schoss verbirgt! Gerade hier wo man der Meinung sein dürfte, dass die Wissenschaft die Existenz Gottes verleugne, können wir sie finden. Es bleibt aber das Problem offen: „Wie kann er für mich persönlich sichtbar und vernehmbar werden“? „allen Gebiete der Welt sind der Ehre Gottes voll“. Paul Tillich hat die religiöse Problematik unserer Tage so formuliert: „Der Mensch im zwanzigsten Jahrhundert verlangt nicht nach Vergebung, um so mehr sehnt er nicht nach einer Sinngebung seines sinnlos gewordenen Daseins. Der Mensch von heute fragt nach dem Sinn seiner Geschlechtlichkeit. Er fragt nach dem Sinn der Arbeit in einer Welt, die den einzelnen im Massengeschehen mitleidlos zermürbt und aufreibt." Sicher handelt es sich dabei um echte Nöte und Fragen, die wir in ihren schwersten Ernst nicht verkommen wollen. Der Mensch in der Massifikation der modemen Arbeitswelt verliert tatsächlich seinen Sinn im Leben, denn er ist leider nur noch einer unter vielen, wo sein persönliches Verhalten zum andren Nutzlos scheint. Beispiel – Zahnarzt. Trotzdem, dass der Mensch den Sinn seines Lebens im Massengeschehen der heutigen Welt sucht, und nach 534
allgemeiner Meinung nicht mehr unter seiner Schuld leidet, muss hier konkret gesagt werden: „Sinngebung des Daseins kann uns immer nur auf der Grundlage der göttlichen Vergebung zuteilwerden“. Und auch hier vernimmt der Mensch persönlich Gott in seinem Leben. Denn in Jesus Christus wird uns persönlich Gott offenbar, der uns in seiner Ehre aufsucht, und die Vergebung uns anbietet und schenkt. Solange der Mensch mit Gott im Streit, im Unfrieden, in der Entzweiung lebt, bleibt ihm auch der Sinn seines Daseins verschlossen. Es fällt kein Licht auf sein Tun. Es bleibt alles im Dunkeln, im Trüben. Tut sich aber der wahre Sinn unseres Lebens auf im Wunder der Vergebung, dann können die Lichtstrahlen Gottes auf alle Bereiche unseres Lebens fallen und sie überglänzen. Wer mit Gott Zerfallen ist, ist immer auch mit der Welt und mit seiner Umwelt Zerfallen. Der mit Gott im Bund des Friedens steht, wem die Lippen gereinigt worden sind mit der Jesus Christus glühenden Kohle vom Altar Gottes, der kann auch Gott wieder lieben und loben in allen seinen Werken. Mehr noch: Wer frei ist von seiner Sünder und Schuld, ist auch frei für seinen Mitmenschen, ist frei für Gott, und steht da und antwortet auf die Trage Gottes: „Wen soll ich senden? Wer will unser Bote sein?“ „Hier bin ich, sende mich!“ Amen.
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Rogate 19.5.1968 Lukas 11,1-2. „Und es begab sich, dass Jesus war an einem Ort und betete. Und da er aufgehört hatte, sprach seiner Jünger einer: „Herr, lehre uns beten!“ Jesus sprach zu ihnen: „Wenn ihr betet, so sprecht: „Unser Vater im Himmel!“ Liebe Gemeinde! Heute, zum Sonntag Rogate, bringen wir die Losung aus Lukas 11,2, den Anfang des Vater Unsers. Nur den Anfang. Also: „Unser Vater im Himmel“! Das ist eine heutige Losung. Aber es ist auch eine große Losung! Zuerst schon deshalb, weil sie uns, ohne im Wort davon zu sagen, daran erinnert, dass wir den Tag nicht anfangen dürfen, ohne zu beten! Beten aber nun heißt: nicht nur für einen Augenblick ein frommes Gefühl haben, sondern etwas sagen. Dem Gott, der über uns ist, etwas sagen! Denn dieser Gott ist da. Er hat uns schon angesprochen, und nur werden ihn wohl antworten müssen. Er hat uns angesprochen, als er seinen Sohn Jesus Christus in die Welt schickte, um uns zu sagen: „Ich bin nicht nur der die Welt erfüllt. Ich bin nicht nur der Schöpfer des Weltalls, das so groß ist, dass alle Raketen nicht mehr davon erreichen, als wenn ein Vogel im Urwald von einem Strauch auf den anderen springt, sondern ich kenne jeden einzelnen von euch. Ich habe jeder einzelnen bei seinen Namen gerufen, dass er zu mir kommen soll!
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Und damit ihr das glaubt, damit ihr nicht etwa denken sollt, ihr wäret nicht genug um in meinen Reich zu passen, habe ich meinen Sohn Jesus Christus aus Kreuz gehen lassen. Alles, was ihr erleiden könnt, das hat er auch erlitten; alles, was euch das Leben ein Ernst schwermachen kann, das hat auch ihm das Leben schwergemacht. Aber durch dies alles hindurch ist sein Ruf geklungen, sein Ruf der ewigen Wahrheit: Ihr habt einen Vater im Himmel! Glaubt das, erlebt das, packt das na, was euch da als Lebenshalt geboten wird: Wir haben einen Vater! Er ist im Himmel; wir sind auf der Erde. Aber sein Himmel ist nicht eine Welt über den Wolken, wo Petrus an der Tür steht und die Engel immer auf der Harfe spielen. Sondern sein Himmel ist eine Welt, die uns jeden Tag umgibt, die unsere Heimat sein soll im Leben und im Sterben. Es ist eine Welt, die von unserer irdischen Welt nur wie durch eine Papierwand, eine dünne Papierwand, getrennt ist. Wir brauchen nur einmal kräftig durchzustoßen, dann flutet die ewige Welt in unsere irdische Welt hinein. Dann wandelt sich die ganze Atmosphäre unseres Lebens. Wir leben dann nicht mehr in der Vergänglichkeit, sondern in der Klarheit Gottes. Und dies Durchstoßen durch die Wand, das geschieht, indem wir beten. Ganz einfach beten, also ein Gebet sprechen. Dies Gebet wird eine Anrede haben müssen. Wir machen das ja untereinander auch so. Im Gang des Gespräches, vor allem mit denen, die uns gleichgestellt sind, brauchen wir vielleicht keine besondere Anrede. Aber wenn wir jemand respektieren und ernst mit ihm reden, dann fangen wir mit einer Anrede an: Frau Soundso – Herr Professor – oder was es sonst ist. Und Gott gegenüber? 537
Gott gegenüber werden wir auch eine Anrede brauchen müssen. Wir sagen wohl zu ihm: „Liebe himmlischer Vater“. Und wenn wir dann gar nicht weiter wissen – es ist schon ein Gebet gewesen, wenn wir nur einmal von Herzen gesagt haben: „Lieber himmlischer Vater!“ Jesus sagt: Unser Vater! Das will sagen: wenn wir uns anschichten zu einem Gebet, dann betet er mit! Gewiss, wir schließen auch die anderen Menschen ein, wenn wir sagen: Unser Vater! Aber zunächst schließen wir den mit ein, von dem wir das Gebet gelernt haben, Jesus. Er hat gesagt: Unser Vater! Damit war er eingeschlossen. Jetzt sagen wir: Unser Vater. Damit ist er wieder eingeschlossen. Wir beten und er betet mit! Das gibt unserem Leben den Aufschwung und die Kraft. Wir sind nicht uns selber überlassen, auch nicht beim Beten. Wir sind nicht einsam, auch wenn wir uns manchmal einsam vorkommen. Sondern einer steht neben uns, der betet mit! Und einer ist ein Himmel, der hört, was wir beten. Das ist der von dem geschrieben steht, dass er Gebet erhört. Ja, er erhört Gebet – auch heute noch! Rogate! Betet! Das sollte nicht nur über diesen Gottes dienst stehen, sondern zu mindestens über der ganzen Woche. Wir wird nämlich der Meinung, dass das Beten nicht eine unter vielen anderen Pflichten eine und Vorrechten der Christen ist, sondern das Beten ist die Grundlage des ganzen christlichen Glaubens. Wer nicht mehr betet, der glaubt auch nicht. Und ob jemand Christ ist, das erkennt man nicht an seinen Taufschein. Man erkennt es nicht einmal daran, ob er in die Kirche geht, sondern ganz einfach daran, ob er betet.
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Beten heißt, ein Gespräch mit Gott führen. Natürlich kann man seinen Gesprächspartner, also Gott, nicht hören. Man soll auch nicht meinen, man müsse Gottes Gegenrede jeden Mal gleich in seinem Gemüt empfinden. Das führt bloß zur Enttäuschung und zur Grübelei. Sondern man muss glauben, was in der Bibel hundertmal gesagt wird – und zwar von Menschen, die in diesem Punkt eine große Erfahrung gehabt haben -, dass Gott zuhört, wann wir beten, und auch Antwort gibt; vielleicht nicht gleich, wenigstens nicht immer gleich, aber doch eben eine Antwort gibt. Gebete sind nicht Monologe der Menschen, sondern sind wirkliche Gespräche mit Gott. Es sind Gespräche, in denen man alles sagen kann. Am häufigsten wird man Gott Dank zu sagen haben, an jeden Tag, besonders des Abends, wenn man den Tag überdenkt. Denn es gibt im Leben eines Christenmenschen keinen Tag, indem er nicht für etwas zu danken hätte. Und Dank muss ausgesprochen werden. Jedenfalls Gott gegenüber muss er alle Tage ausgesprochen werden. Und dann hat man natürlich seine Bitten auf dem Herzen. Die müssen auch gesagt werden. Und was da ausgesprochen wird, das wird auch gehört. Und wenn es recht ausgesprochen war, dann wird es irgendwie erhört und erfüllt. Vielleicht ganz anders, als wir uns das gedacht hatten. Aber erhört wind es! Darauf können wir uns verlassen. Und endlich kommen die Fürbitten für die anderen. Dass Eltern für ihre Kindern beten – und umgekehrt: Kinder für ihre Eltern – das sollte so selbstverständlich sein, dass man kein Wort darüber zu verlieren brauchte. Aber für den erwachsenen Menschen weitet sich im Verlauf des Lebens die Zahl der Menschen und der menschlichen Werke, 539
für die er Fürbitte tun muss, immer mehr, so dass er sich manchmal eine Einteilung machen muss für wem er allgemein betet. Und für unsere Gemeinde, für unsere Kirche, und auch für dieses Amt sollten wir alle Tage beten. Die haben es jetzt sehr nötig – wirklich sehr nötig! Aber den letzten und entscheidenden Segen vom Beten haben wir selbst. Denn Beten gibt Kraft. Die Heilige Schrift sagt sogar: es gibt große Kraft! Und das ist wahr. Es ist einfach wahr! Es soll auch heute bei uns wieder wahr werden! Herr, wir bitten dich; lehre uns beten! Unser Vater im Himmel! Das ist seine Antwort für dich und für mich. Für uns allen! Amen.
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Pfingsten 2.6.1968 Johannes 3,8: „Der Wind bläst, wo er will, und du hörst sein Sausen wohl; aber du weißt nicht, von wo er kommt und wohin er Fährt. Also ist auch ein jeglicher, der aus dem Geistgeboren ist“. Liebe Gemeinde! Der Wind weht, wo er will. Damit ist eine Tatsache ausgesprochen, an der der Mensch nichts ändern kann. Die Meteorologen, das sind die Wetter kundigen, können wohl sagen, woher ein verheerender Sturm kommt, aber sie können ihn nicht aufhalten, oder ihm die Richtung weisen, die er nehmen soll. Unversehens kann er auch seinen Lauf ändern und ganze Städte, Dörfer und Wälder zerstören, wo man es gar nicht voraussah. Das kann und darf ein Bild sein für die Allmacht und das Wirken Gottes in der Welt, demgegenüber die Ohnmacht des Menschen steht. Mensch ~ als Ich der sich auf sich selber ein Leben aufbauen will, aber doch dabei vergisst, dass er von sich aus nichts sein kann. Es fehlt ihm das kritische Denken, es fehlt ihm eine objektive Weise sein Leben so aufzubauen, dass er in einem Weltverhältnis leben kann, d.h., ein Leben mit seinen Mitmenschen und mit Gott. Man könnte hier auf das alte und oft von Alltag bestätigte Sprichwort hinweisen: Der Mensch denkt und Gott lenkt. Und so ist auch im jeden Menschenleben, auch wenn er es selber nicht erkennen will.
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Pläne und Projekte, Wünsche und Bitten, dessen Ausführungen der Menschen anbahnen, aber nicht immer vollbringen. Und warum? Weil er es alleine machen will, und dabei nicht mit Gott, mit dem Geiste Gottes rechnet. In der Bibel ist viel vom Geist Gottes, von heiligen Geist die Rede, unwohl im Alten wie im Neuen Testament. Das Wirken des Heiligen Geistes in der Welt ist nun eine Tatsache, an der der Mensch nicht vorbeikommen kann. Oft, das ist wahr, haben die Menschen den heiligen Geist Gottes missbraucht – wie die Schwärmer und Falschgläubigen. Und solche, die ohne Gott leben, belächeln ihn und nennen ihm Aberglauben. Aber an seiner Wirklichkeit können sie nicht rühren, sowenig sie an der Naturescheinung des Windes rütteln können. Es mag auch Menschen geben, die deswegen die Wirklichkeit des Heiligen Geistes leugnen, weil sie sonst ihren Sinn ändern, ihrem Denken eine andere Richtung geben und ihr Leben anders gestalten müssten. Denn so war er zu der Apostel Zeiten. Was am ersten Pfingstfest im Kreis der Jünger geschah, haben wir ja heute wieder einmal gehört und so erfahren dürfen. Es kam am Tag der Ausgießung des Geistes zu einer Scheidung der Geiste. Eine große Menge Menschen war zusammengekommen. Einige von ihnen, die sahen, was geschah und die Jünger Jesu redenden, jeder in einer Form und Sprache, über die großen Taten Gottes in Jesus Christus. Aber diese Menschen haben es nicht verstehen können, was da
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geschah, und deswegen haben sie demgegenüber gespottet, denn ihre Herzen waren verschlossen: „Sie sind betrunken!’ Aber denen gegenüber konnte andere Menschen unter der Menge Fragen: „Was sollen wir tun?“ Darauf gaben die Aposteln eine deutliche Antwort, die einen konkreten Weg demonstriert und offenbart, und auch uns heute am Pfingstsonntag gilt, wir von der Frage sind: „Was sollen wir tun?“ „Tut Busse, ändert euren Sinn!“ ist die Antwort der ersten Zeugen Jesu Christi. Oder, in der Sprache unserer Zeit gesprochen: „Stellt euch um, stellt euch ganz und gar um. Rechnet mit dem Wirken Gottes in Euren Leben durch die Tatsache des Heiligen Geistes, die uns gesandt worden ist durch Jesus Christus, damit wir erkennen dürfen wo die Wahrheit zu finden ist, und diese Wahrheit wird uns von unserem alten Menschen befreien!“ So wie die ersten Christen zum 1. Pfingsttag, sollen auch wir durch den Glauben an den gekreuzigten und auferstandenen Herrn Jesum Christum, zu einem neuen Denken und Leben, was fortan unser Tun und Lassen, die Richtung weist. „Wie es mit dem wind ist’, so sprach Jesus zu Nikodemus, „also auch so ein jeglicher, der aus dem Geist geboren ist“. In diesem Sinne, sollten wir uns Gedanken machen. Etwas Deutliches geschah zu Pfingsten in der Welt: Eine Scheidung. Viele haben geglaubt, aber auch andere viele haben den Rücken gewendet. Das bedeutet für uns auch heute noch, dass Pfingsten Entscheidung und Scheidung bedeutet. 543
Der Geist Gottes in der Tatsache, der zu uns spricht im lebendigen Wort des Evangeliums unseres Herrn Jesus Christus, ruft uns allen zur einer klaren Entscheidung: für Christus oder nicht für Christus. Denn der Glaube an der auferstandenen Herrn kann und darf nicht einen Menschen aufgezwungen werden. Sondern es liegt in unsere persönliche Entscheidung, ob wir Glauben haben oder nicht. Und das bedeutet Scheidung der Menschen: die Glaubende Menschheit und die nicht glaubende Menschheit. Die Frage: Ist das zu verantworten in unsere Zeit? Man weiß, dass die Menschheit in unsere Zeit auf allen Lebensgebieten schwere Krisen zu bestehen hat: Wirt = schaftskrisen, politische krisen, Völkerunruhen, Studentenbewegung, Hungers = nöte. Man stellt heute auch die Existenz Gottes in Frage. Man hat öfters den Eindruck, dass die Welt aus sich, zufällig aus zusammenrufenden Entwicklungsvorgängen entstanden ist, und darum an keine Ordnung Gebunden ist. Aber doch ist die Welt nicht nur ein Zufall, sondern sie ist mit dem Kosmos die Schöpfung Gottes. Jesus sagt das uns und spricht vom Geist Gottes der in der Welt eingreift, hineinwirkt, als der Erlöser, dass der heilige Geist, der – wie Luther im dritten Artikel des Glaubensbekenntnis erklärt. „die ganze Christenheit auf Erden beruft, sammelt, erleuchtet, heiligt und bei Jesus Christus erhält im rechten einigen Glauben“. Liebe Gemeinde, das alles ist Pfingsten, das alles gilt weiter auch heute für uns. Das ist das Fest des Geistes, das wir feiern 544
wollen mit dem Gelöbnis der Treue zu unserer eigenen Gemeinde und unserer Kirche und dem Gebet des Herzens: „Komm, o komm, du Geist des Lebens, wahrer Gott von Ewigkeit; deine Kraft sei nicht vergebens, sie erfüllt uns jederzeit; so wird Geist und Licht und Schein in dem dunklen Herzen sein. Amen.
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Trinitatis 9.6.1968 Epheser 1,3-14 Liebe Gemeinde! Sonntag Trinitatis – so heißt im Kirchenjahr jeweils der Sonntag nach Pfingsten und ist der Gedenktag der Dreieinigkeit Gottes. Was mit der Dreieinigkeit gemeint ist, geht ja aus den christlichen Glaubensbekenntnis hervor: Der Glaube der Christenheit bekennt Gott als den Vater, den Sohn und den Heiligen Geist. Das sogenannte Trinitätsdogma bedeutete allerdings auch einmal eine Zusammenfassung dessen, was in der Bibel wietend entfaltet ist. Heute müssen wir aber erkennen, dass dieses Dogma, wie auch die hervorgegangenen Glaubensbekenntnisse der ersten Christenheit nicht die Gesamtausführungen und – aussagen der Heiligen Schrift enthalten. In der Tatsache ist die Bibel als solche ein unerschöpfliche Glaubensurgrund über Gott den Vater, den Sohn und den Heiligen Geist. Als kleines, aber reiches, Beispiel brauchen wir nur die Anfang Verse des Epheserbriefes nehmen, die in einer kurzen und bindende Form ein Bekenntnis ausspricht, wobei die Dreieinigkeit Gottes hervorgeht. Es wäre ratsam zu Hause, in einer stillen Stunde, diese Verse des 1. Kapitels – Verse 3-14, andächtig nachzulesen. Denn wir können in einer schichten Predigt längst nicht die Fülle dieser Gedanken des Apostel Paulus wiedergeben. Wichtig für das Trinitätsdogma sind zwei kirchengeschichtliche Ereignisse: die Konzilen zu Nicäa, 325,
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und zu Konstantinopel, 381, wo das Bekenntnis zum dreieinigen Gott formuliert wurde. Es ist gemeinsam in allen christlichen Konfessionen. Zugleich ist es weiterhin ein Bindeglied unter der Kirchen verschiedener Herkunft und Traditionen. Auch heute in der ökumenischen Bewegung bleibt weiterhin das Glaubens = bekenntnis von Nicäa und Konstantinopel das Bindeglied unter den Kirchen. Die Vollversammlung des Ökumenischen Rates der Kirchen in Neu Delhi, Indien, im Jahre 1961, wobei auch unsere Evangelische Kirche lutherischen Bekenntnisses in Brasilien vertreten war, hat ihre gemeinsame Glaubens-Basis mit folgenden Satz formuliert: „Der Ökumenische Rat der Kirchen ist eine Gemeinschaft von Kirchen die den Herrn Jesus Christus gemäß der Heiligen Schrift als Gott und Heiland bekennen und darum gemeinsam den Weg der Einheit zu erfüllen trachten, wozu sie berufen sind, zur Ehre Gottes, des Vaters, des Sohnes und des Heiligen Geistes“. 2. Auch wenn wir seit unserer Kindheit gewohnt sind, sei es im Gottesdienst, sei es bei einer kirchlichen Feier oder Amtshandlung die Trinitarische Formel zu hören, so wissen doch die meisten unter uns das Bekenntnis Gottes des Vaters und des Sohnes und des Heiligen Geistes sich nicht zu erklären. Anderseits schweigt man gerne bei schwierigen Erklärungen, wie es dieses Thema vielleicht andeuten lässt und scheint. Aber fragen wir uns einmal ganz schlicht: “Was will die Lehre von der Trinität, von Dreieinigkeit, Gottes uns heute sagen? Hat sie noch eine Bedeutung für uns heute? Der heute vorgelesene Ephesertext will uns ein Beispiel auch dazu sein, um uns den eigentlichen Sinn diesen Lehre und des 547
Bekenntnisses zu erklären. Also will sie uns das Wirken Gottes in Jesus Christus heute durch den Heiligen Geist wiederspiegeln. Gott spricht zu uns Jesus Christus durch den Heiligen Geist, durch das lebendige Wort seiner Taten für uns Menschen heute, wäre eine Zweite Möglichkeit, kurz und schlicht die Trinitätslehre wie dazugeben. Auch wenn allgemein die Meinung besteht, dass dieses Thema nur zur Sphäre der Theologen gehört, so muss man doch sagen, dass es nicht so begrenzt behandelt werden kann, denn hier finden wir den Bestandteil des Christlichen Glaubens. Die evangelische Kirche bekennt, dass Jesus Christus, Sohn Gottes und Mensch, uns Menschen gezeigt hat, wer Gott ist: der Schöpfer. Gott, der Schöpfer, ist so heilig, dass kein Mensch ihn von sich alleine und für sich alleine sehen und erkennen kann. Jesus sagt uns Menschen, dass dieser heiliger Gott unser Vater ist, Vater aller Menschen zu allen Zeiten. Das zeigt uns das ganze Leben und sein überfülltes Werk, Jesu Christi. Durch die Kreuzigung und Auferstehung Jesu wurde uns die Kraft und die Gnade Gottes gegeben. Er hat seinen Sohn lebendig gemacht. Soweit lebendig gemacht, dass sein ewiges Wort heute weiter noch lebendiger ist als sonst. Denn in der heutigen Welt braucht der Mensch einen festen Halt, einen objektiven Grund für sein weltliches Dasein. Und Gott ist es, der uns in Christus Jesus immer wieder zum neuen Leben, zur Neuschöpfung ruft. Und das tut er durch das lebendige Wort, welches gegenwärtig zu uns kommt durch die Mitteilung des Heiligen Geistes. So wird uns der Zugang zu Gott durch Jesus Christus offengehalten.
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So stehen wir gegenüber drei Akte Gottes an uns Menschen auch heute. SCHÖPPUNG – ERLÖSUNG – NEUSCHÖPFUNG HEILIGKEIT – OFFENBARUNG – MITTEILUNG VATER – SOHN – HEILIGE GEIST 3 AKTE ~ ABER NUR EIN HANDELN GOTTES. Diese sind die drei Akte Gottes, drei verschiedene Akte, aber das Handeln ein und desselben Gottes des Vaters, und des Sohnes und des Heiligen Geistes. Das was der Vater tut, tun mit ihm der Sohn und der Heilige Geist. Was der Sohn tut, ist mach dem Willen des Vaters und des Heiligen Geistes. Was der Heilige Geist wirkt, geschieht im Namen des Vaters und des Sohnes. 3. Hier wie drum stellt sich eine brennende Frage, denn das bisher besagte kann ja nichts Neues sein: „Was bedeutet nun der christliche Glaube an die Dreieinigkeit Gottes für das Bekenntnis des Christen heute?“ Zu allen Zeiten und auch heute ist viel über Gott geschrieben und diskutiert worden. Nicht nur in der Christenheit, sondern auch in anderer Religionen und mit großen Einsatz in der Philosophie. Die Philosophen haben öfters ihre Lehrgebäude errichtet und als höchsten Begriff „Gott“ gesetzt. Aber dieser oberste Begriff „Gott“ bei den Philosophen ist dem menschlichen Denken
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unterworfen. Und alles was dem menschlichen Denken unterworfen ist nicht genuin und enthält nur eine sehr gemäße Wahrheit, meistens sehr subjektiv. Darum kommen Philosophen heute zum Gedanken „Gott ist tot“. Während bei einer Philosophengruppe Gott tot ist, steht eine andere Gruppe auf und erklärt, dass Gott lebendig sei. Wem soll man da glauben? Wer hat die Wahrheit erfasst? Zu welcher Seite halten wir uns? Es ist natürlich sehr schwer so ohneweiters eine treffende Entscheidung zu fällen. Gegenüber dieser komplexen und konfusen Situation lehrt und erklärt der christliche Glaube, dass alle Versuche der menschlichen Vernunft, Gott zu beschreiben, scheitern müssen. Wer Gott ist, nämlich der Schöpfer, der Unendliche, der Heilige, der Ferne, wissen wir nur weil Jesus Christus ihn uns gezeigt hat. Allein durch Jesus Christus führt der Weg zum Vater. Allein der Mensch, der mit der Botschaft Jesu Christi innigst sich beschäftigt und belehren lässt, kann sein Vertrauen ganz darauf setzen, dass Gott der Gott für uns ist. Nicht ein nur ferner, nur erschreckender Gott, sondern ein Gott = Vater, der uns in seinen Sohn als Mensch begegnet, den wir daher nicht durch philosophische Spekulation vergeblich zu suchen brauchen. Das christliche Bekenntnis an den Dreieinigen Gott stellt uns eine deutliche Mahnung: das Erkenntnis über Gott, den wahren und lebendigen Gott, kann nicht allein Sache der menschlichen Vernunft sein, sondern auch der freien Offenbarung durch Gott selbst. Und diesem Gott gegenüber gebührt es uns Menschen als erstes eine Haltung einzunehmen: die der Anbetung.
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Nur in wahrer und wirklicher Haltung dürfen wir über und von Gott sprechen. Das zeigt uns der Apostel in seinen Brief en die Epheser, wenn er mit einer Anbetung beginnt: „Gelobet sei Gott, und der Vater unseres Herrn Jesu Christi, der uns gesegnet hat mit allerlei geistlichen Segen in himmlischen Gütern durch Christum“. Gerade auch deswegen, durch die wahre Haltung die uns gebührt, beginnen wir unsere Gottesdienste unter dem wahren Lob und Ehre Gottes, wenn wir ihn anbeten: „Ehre sei dem Vater und dem Sohne und den Heiligen Geiste, wie es war im Anfang, jetzt und immerdar, von Ewigkeit zu Ewigkeit“.
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16.12.1968 Ein Wort zum Anfang Dynamit. Was Dynamit ist, wissen wir alle. Was Dynamit ausrichten kann, werden viele von uns schon je und dann miterlebt haben. Schon kleine Mengen Dynamit reichen aus, um große Felsmassen auffliegen zu lassen. Ein Jugendleiter hat einmal auf einer Jugendtagung eine Begrüßungsansprache gehalten und so begonnen. „Ich stehe hier vor Euch und habe eine Handvoll Dynamit in der Hand. Soll ich es in Eure Mitte hineinwerfen?“ Großer Schrecken ging durch die Versammlung. Man wusste erst nicht, was gemeint war. Der Jugendleiter aber öffnete seine Hand und zeigte ein kleiner Neue Testament, das er stets bei sich hatte. Die Erklärung – wie er zu diesem Ausspruch der Dynamit kann – wurde auch gegeben: Der Apostel Paulus hat an einer sehr bedeutsamen Stelle des Römerbriefes die Botschaft von Jesus Christus als eine „dunamis tou Teou“ – eine Kraft bezeichnet. Dafür gebraucht er hier gerade den Ausdruck „dunamis“, an dem das Wort „Dynamit“ hergeleitet ist. Viele haben leider zumal durch manche Christen den Eindruck, als wenn es sich beim christlichen Glauben um eine „weichliche Sache“ handle, die eigentlich nur Kinder und Frauen angehe. Wir würden doch sagen müssen, dass gerade das Gegenteil der Fall ist. Echtes Christsein hat mit Weichlichkeit stärkster Art. 552
Die Dynamik der Botschaft Jesu Christi ist eine Tatsache, auch wenn man es nicht als ganze Wirklichkeit annehmen will. Oder wenn man mit der „Dynamis“ der menschlichen Institution den Schrei zur Revolte, zur Freiheit und zur sozialen Gerechtigkeit stillen will, so bleibt das Evangelium die Kraft, die Dynamit, die den Menschen in seiner Ganzheit ansprechen will und ihm zu Vollkommenheit des Glaubens in seine ganzer Existenz führen kann. Der Mensch ist nicht Sklave und stiller Schweiger seiner Welt, aber er ist frei zum Handeln im Namen dessen, der uns zur Freiheit ruft. Wer unter dem Glauben des Evangeliums steht, steht der Dynamis, unter der Kraft Gottes. Darum gilt es auch noch heute und wird bis am Ende der Tage weitergelten, was Paulus bezeugt hat: „Das Evangelium von Jesus Christus ist eine Kraft Gottes“. Römer 1,16.
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Silvester 1968 Psalm 103,2: „Lobe den Herrn, meine Seele, und vergiss nicht, was Er dir Gutes getan hat”. Philliperbrief 3,13-14: „Eins sage ich: Ich vergesse, was dahinten ist, und, strecke nicht nach dem, das da vorne ist, und jage nach dem vorgestreckten Ziel nach dem Kleinod der himmlischen Berufung Gottes in Christus Jesus“. Liebe Gemeinde! Das sind zwei Worte, die lauten wie Befehl und Gegenbefehl: „Vergiss nicht!“ und Vergiss!“ – Und doch sind die beiden aus einem Geist heraus gesagt und sind uns beide gleich nötig für den Schritt über die Schwelle des Jahres. „Vergiss nicht!“ Das ist eine Warnung! In unseren schnellzügigen Zeit sind wir noch mehr als früher in Gefahr, dass wir mit unseren Jahren umgehen wie mit dem Kalender: man reißt ein Blättlein nach dem anderen ab, und dann erscheint die leere Kalenderwand, die uns nichts mehr zu sagen hat... Wenn uns Gott das kostbare Gut unserer Lebenszeit anvertraut, dann dürfen wir sie nicht nur abreißen Tag für Tag, nicht nur genießen, wie die Tage fallen, nicht nur an uns vorbeigehenlassen, bis am Schluss nichts mehr da ist als die leere Kalenderwand. Und doch können wir keinen Tag festhalten. – Doch! – Das Beste von ihnen können wir festhalten, sagt unser Wort: „Vergiss nicht, was Er dir Gutes, getan hat!“ In allen unseren Tagen hat Er seine Treue hineingelegt! Nichts wird so leicht vergessen, wie die stille Treue einer Mutter, die jeden Tag – auch wenn es an die Grenze ihrer Kraft geht – sorgend und 554
schaffend für die Ihrigen auf dem Posten steht! Alle im Hause leben davon, und keiner ermisst es nicht. Von dieser stillen Art ist die Treue Gottes. Gott hat es uns wohl kundgetan: „Ohne mich könnt ihr nichts tun“, keinen Atemzug, keinen Handgriff, keinen klaren Gedanken – aber wir vergessen wie viel Gottestreue in einem Tag und in einer Nacht liegt, auch und gerade, wenn nichts Aufregendes und Wichtiges darin – nach unserer Meinung – geschieht. „Vergiss nicht, was Er dir Gutes getan hat!“ – Das gilt für jeden Morgen und für jeden Abend. Aber das gilt besonders beim Rückblick auf ein Jahr. Für jeden von uns sagen besondere Wohltaten Gottes heraus aus diesem Jahr wie Leuchttürme, an denen wir uns orientieren können! Damals, als Sorge und Angst die Oberhand hatten, ist der Dank erstickt. Jetzt muss er aufflackern, denn jetzt beginnen wir zu sehen: „Ich will euch heben und tragen und erretten!“ – „Gott legt uns eine Fast auf, aber er hilft uns auch“. Und gerade das durften wir alle in diesem alten Jahr selbst feststellen. Der Herr stand uns so oder so zur Seite, sei es mit seinem Wort, mit seinem Sakrament, sei es mit Trost oder mit seiner Mahnung. Und Gott will, dass wir das nicht vergessen! Eine Möglichkeit dies zu Zeigen – dass wir das Handeln Gottes an ums auch in diesem Jahr erkennen – ist: Ihm Dank zu bringen! Es ist ja auch wahr: Nicht dem Herrn geht etwas ab, wenn wir Ihm den Dank versagen – aber uns selbst machen wir arm. Die Gaben und Wohltaten Gottes gehen in die Vergangenheit mit den Tagen, in die sie gefallen sind. Der Geber allein bleibt.
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Darum: Wer sich im Dank für die Gaben an den Geber binden lässt, der geht nicht leer aus einem Jahr hinaus. Darum „vergiss nicht, was Er dir Gutes getan hat“. Nun steht daneben das Wort des Apostels: „Folget mir, liebe Brüder, ich vergesse, was da hinten ist“. Wer das sagt ist derselbe der einer anderen Gemeinde geschrieben hat: „Seid dankbar in allen Dingen!“ In der Tatsache fällt es ihm nicht ein das „Vergiss nicht“ des 103 hundert dritten. Psalms umzuwerfen. Aber er weiß, das Lob Gottes erstickt bei uns meist daran. Dass wir gefangen sind in dem, was wir nicht vergessen können – die eigenen Leistungen, die eigenen Sorgen, die Bitterkeit und die Schuld. Ja, für die eigenen Leistungen haben wir immer ein gutes Gedächtnis. Wenn uns nur da einer dreinredet, dann vermuten wir gleich eine finstere Missgunst, die uns den berechtigten Stolz missgönnt, und die kühne Leistungsbereitschaft lähmt. Gerade das Gegenteil hat unser Wort im Sinn! Es stellt uns ja den Wettläufer vor Augen – so wie es in einigen Stunden bei über 300 Weltläufer der „São Silvestre“ sein wird – der dem Ziel entgegenläuft und vor dem Ziel keine Zeit hat, sich dem Hochgefühl seiner Leistungen hinzugeben. Hier will uns etwas Paulus sagen: Er will sagen, dass wir frei sind für die neue Hindernisstrecke des Jahres 1969. Denn der Text lautet: „Du darfst absehen von dem, was du geleistet hast oder nicht. Das steht unter Gottes Urteil“. Ja, sagen wir, davon wollen wir auch absehen; Aber was uns eigentlich hindert, getrost und tapfer an die neue Jahresaufgabe heranzugehen, das können wir nicht vergessen“. Wir können die Sorgen nicht vergessen, die uns mit in das neue Jahr
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begleiten und uns keine Ruhe lassen werden. Wir können nicht vergessen, was uns angetan wurde und was unseren Weg versperrt und dazu unsere eigene Last vervielfacht hat. Wir können nicht vergessen, was wir versäumt haben und nie, nie mehr aufholen können. Das stimmt! Wir können nicht vergessen. Die Nervenärzte, die Psychiater können uns davon viel erzählen, wie viel Unfug und Zerstörung entsteht aus dem krampfhaften Vergessenwollen, dem Vergessenwollen der Schuld, die in uns bohrst. Aber es gibt da auch ein Vergessen, zu dem wir Recht und Freiheit bekommen, weil es ein Vergeben gibt, das uns vor Gott gerecht und für ihn frei macht. Auch in dieser Stunde sehen wir das Kreuz hoch über uns. Das ist das Zeichen solcher Vergebung: „Er nahm auf sich, was auf Erden wir getan, gibt sich daran unser Lamm zu werden“. Liebe Gemeinde! Wenn uns Gott die Freiheit schenkt, ihm unsere Schuld zu lassen, wenn uns Gott Befreiung schenkt von unsere verdiente Schuld, dann geschieht etwas Wunderbares: dann können wir endlich vergeben, was uns angetan wurde, und merken: dass wir selbst mehr gestraft sind als die anderen mit unserer Unversöhnlichkeit. Nun können wir auch die Sorgen loswerden und sie auf Gott werfen denn auch diese nimmt er auf sich, so wie Er unsere Schuld auf sich genommen hat. Wir sollen uns freuen, dass wir es bis hierher geschafft haben. Er hat uns geholfen, er hat uns
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bis hierher geführt, er hat uns frei gemacht von unserer Schuld, und auch von unseren Sorgen. Aber meine lieben alle! Das neue Jahr wird auch seine Last bringen und seinen Kampf. Aber das wird sich jetzt entscheiden, ob wir für diese Last und für diesen Kampf gerüstet sind, ob wir den Rücken frei haben und ob wir das Ziel vor Augen haben. Und von diesem Ziel spricht auch unserer Text: „das Kleinod der himmlischen Berufung“: Jesus Christus. Das soll unser Ziel sein. Gott deckt uns die Vergangenheit und zugleich gibt er uns ein Ziel, welches wir erlangen sollen. Und dieses Ziel nennt der Apostel: das Kleinod, d.h., der große Schatz, das große Wertstück die Prämie, das da heißt: Jesus Christus! Wir sind auch für das neue Jahr gerüstet, wir werden das uns gegebene Ziel auch erreichen, wenn wir dieses Wertstück, das da Jesus Christus heißt, auch ständig in Gebrauch nehmen, denn dann auch werden wir erkennen können, dass wir „Menschen unterwegs“ sind und deshalb frei zum Aufbruch und frei zum Dienst. Vergessen wir nicht: Er ist treu, der uns Berufen hat. „Von guten Mächten wunderbar geborgen erwarten wir getrost, was kommen mag. Gott ist mit uns an Abend und am Morgen und ganz gewiss an jedem neuen Tag“. 254, 1-3 25, 1-3 4-5 252, 1-3
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Das soll unser Bekenntnis sein an dem heutigen Abend. Wir vergessen nicht was er uns Gutes Getan hat. Aber wir mรถchten das vergessen, was dahinter ist, um in neuer Hoffnung den uns gegebenen Weg, des neuen Jahres in Freude, in Freiheit, zu vollziehen, indem wir nicht dem vorgestreckten Ziel verlieren, der da uns versprochen ist: Jesus Christus. Gelobt sei der Name Gottes, der in Jesus Christus uns diese neue Hoffnung schenkt. Ein gesegnetes neues Jahr!
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22.06.1969 – Sto. Amaro 8. Sonntag nach Trinitatis „Die Güte ist es, dass wir nicht gar aus sind; seine Barmherzigkeit hat noch kein Ende, sondern sie ist alle Morgen neu; und Seine Treue ist groß“. Klagelieder Jeremias 3,22.23. Liebe Gemeinde: Was ist das für im Lebensgefühl, das sich in diesen Worten ausspricht! Wir haben keine Ahnung von den Lebensumständen des Mannes, der in dieser Weise sein Leben als im immer neues Geschenk der göttlichen Gnade empfunden hat. Aber über die Jahrhunderte hinweg berührt uns ganz unmittelbar dieser Lob Gottes eines demütigen und dankbaren Herzens. Und das um so mehr, als dieses Lebensgefühl aus mehr als einem Grunde unter uns sehr selten, fast möchte ich sagen, schwierig geworden ist. Denn wer so spricht, der ist sozusagen darüber verwundert, dass sein Leben immer wieder gefristet wird und dass er sich an jeden Morgen von neuem aus dem Schlaf erheben und sein Tagewerk gehen kann. Es ist ihm nichts selbstverständlich; der Bann einer stumpfen und bleibenden Gewohnheit ist durchbrochen. Wir kennen das ja von manchen Menschen unserer Umgebung, vielleicht von uns selbst, dass das Leben so selbstverständlich und gleichmäßig dahingeht, ein Tag wie der andere; es passiert ja kein erschütterndes Unglück, es ereignen sich auch keine besondere Freuden. Auch an die Menschen, bei denen wir das Leben teilen, ist man so sehr gewöhnt, dass man sie kann noch besonders anschaut; sie sind eben einfach da. Und man geht an seine Arbeit, alles im ausgefahrenen Geleise
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der Gewohnheit, und man wundert sich über nichts; es ist alles so selbstverständlich, eine mehr oder weniger angenehme Gewohnheit des Daseins. Aber dann hat plötzlich der Blitz des Schicksals in dieses scheinbar so dauerhaftes Haus eingeschlagen. Eine Katastrophe hat das zerstört, was selbstverständlich geworden war; ein Mensch, der immer dagewesen war, ist mit einen mal nicht mehr da und für uns gänzlich unerreichbar geworden. Es ist alles anders geworden. Wir wundern uns, dass wir selber noch da sind, dass wir noch leben, dass wir noch atmen; dass immer wieder ein neuer Tag anbricht und das Licht du Sonne scheint. Das Leben wird kostbarer, wenn wir es nicht als einen selbstverständlichen Besitz hinnehmen, sondern uns wundern über dies Geheimnis, dass uns dieses Leben erhalten und gefristet und alle Morgen neu geschenkt ist. Mit Bedacht sage ich „geschenkt“. Denn es wäre ja der Gipfel den Torheit, wenn wir das für unser gutes Recht halten wollten, dass wir immer so von Tag zu Tag und von Jahr zu Jahr weiterleben dürfen. Es ist kein Anlass, uns zu verwundern oder uns zu beklagen, wenn wir durch irgendeine empfindliche Störung aufgeschreckt und aufgescheucht werden aus dieser gewohnten Bahn. Hier ist vielleicht ein tiefer Unterschied zwischen dem heutigen Geschlecht und der Generation vor uns. Viele Menschen der jüngeren Generation können sich gar nicht mehr vorstellen wie geordnet und selbstverständlich der Gang des Lebens damals vor einem halben Jahrhundert gewesen ist, wie ein breiter Strom, der in gleichmäßiger Ruhe dahinzieht. Viele Menschen beklagen sich dann, wenn der Lebensstrom plötzlich einen starken Wellengang hat, wenn er Stromschnellen und gefährliche Wirbel bildet und wenn das Leben gefährlich wird. Aber das ist gut, dass wir alle das wieder
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haben lernen müssen, dass Garnichts in diese Welt selbstverständlich ist, kein Besitz, keine Dauer. Wir sollten uns nicht so sehr über die Störungen, Unglücksfällen und Katastrophen so verwundern, sondern vielmehr darüber, wenn uns solche Katastrophen erspart bleiben und wir unbeschädigt von Tag zu Tag weiterleben dürfen. Aber eins sollten wir uns auch dabei bedenken: Die Katastrophen kommen ja nicht nur von außen, sondern sie haben ihre heimlichen Bundesgenossen in uns selber. Wir selber sind längst beschädigt, verunglückt, angeschlagen, missraten, auch wenn uns dem äußeren Anschein nach nichts passiert ist. Und es ist im Anlass, sich zu wundern, dass innere Schaden (den niemand einfach übersehen oder leugnen kann) nicht längst auch zur Störung oder Zerstörung des äußeren Lebens geführt hat, dass wir nicht längst an unseren Verkehrtheiten, an der ständigen Versetzung der Ordnung des Lebens zugrunde gegangen sind. Es ist erstaunlich, und wir können uns nicht genug darüber verwundern, dass wir noch nicht gar aus sind, noch nicht ganz am Ende sind, dass wir immer noch und immer wieder uns die Frist gegeben wird, das Leben weiterzuführen. Das Gefühl zu solch einer erstaunlichen Gegebenheit kann sich sehr abstumpfen. Man kann unerfindlich werden gegenüber diesen das Leben von außen her bedrohenden Gefahren. Man liest jeden Tag so viel schreckliche Dinge; man gewöhnt sich daran, dass Woche für Woche ein paar hundert Menschen tödlich überfahren werden, dass Flugzeuge abstürzen, dass irgendwo in der Welt Millionen am Rande des Hungertodes existieren müssen; und man nimmt das zur Kenntnis, wie man irgendwo auf der Straße einen toten Spatzen gesehen hat. Und man ist halt selbstverständlich noch gut davongekommen, hat
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wieder einmal Glück gehabt. Wozu darüber nachdenken? Man nimmt es noch mehr als selbstverständlich hin, dass wir so vielfältig versagen und dass wir trotzdem weiterleben. Warum darüber viel nachdenken? Das Leben aber wird ärmer, grauer, langweiliger, wenn man nicht darüber nachdenkt. Denn wenn man anfängt nachzudenken, zu erschrecken und sich zu verwundern, dann kann man allerdings das Auge nicht mehr verschließen vor der unheimlichen Bedrohung, der wir ständig ausgesetzt sind. Man bekommt den Tod ins Blickfeld. Man begegnet unversehens auf allen Wegen dem Zug des Todes und kann sich nicht mehr dadurch, dass man die Augen zumacht, darüber täuschen, dass wir selber mitten im Leben vom Tode umfangen bedroht sind. Kann man denn auch dann noch, wenn man das alles weiß sich noch des Lebens freuen? Ist noch ein Funcke Freude daran, dass wir uns Tod umfangen sind? Hier öffnet sich die letzte für zum Verständnis jenes Wortes, sondern wir ausgegangen sind. Oder vielmehr: es öffnen sich zwei Türen. „Die Güte des Herrn ist es, dass wir nicht daraus sind; seine Barmherzigkeit hat noch kein Ende. Die eine führt zweifelst zur völligen Verzweiflung an irgendeinem Sinn des Lebens und zu % einem absoluten Pessimismus %; der keine Freude am Leben und keinen Mut zum Leben hat. Der Tod herrscht über uns. Allein der Tod Macht über um. Die andere Tür führt nun wirklich zu einer überlegenen Freudigkeit, ja zur Heiterkeit des Lebens: Das Leben, ein immer neues Geschenk Gottes, ein Geschenk, sie ist alle Morgentür, und seine ist groß. Der nicht den Tod, sondern das Leben will, der uns armen, komplizierten und verfahrenen Menschen einen 563
Sinn geben will zum Leber der Verfasser. „Die Güte des Herrn ist es, dass wir nicht gar aus sind“. Vielleicht würden sehr viel mehr Menschen den Mut zum Leben verlieren, wenn sie nicht einfach durch das starke Band der Gewohnheit darin festgehalten würden; selbstverständlich macht man eben weiter von Tag zu Tag. Aber das ist kein Leben, das diesen Neuen verdient. Wir sind so blasiert und abgebrüht, dass wir uns über nichts mehr wundern, weder im Guten noch im Bösen, weder darüber, dass unser Leben immer noch erhalten wird, noch darüber, dass wir selber in diesem Leben so hundertfach versagen und Ihn das Beste, nämlich die Liebe und Hingabe des Herzens, schuldig bleiben. Der Glaube an Gott und der Dank für seine Güte ist kein Rezept, um über die Misere des Lebens hinwegzukommen; es ist der aus einem Herzen, dass sich noch wundern kann, aufsteigender Dank für dieses rätselhaftes Geschenk des Lebens und die Bereitschaft, es mit neuer Freudigkeit zu ergreifen. Nur weil das Leben uns immer von neuem vor eine anderer Aufgabe stellt, das ist kleine Geschenk. Nur weil Gott immer von neuen Pläne mit uns hat und uns nicht von dem Wege verjagt, auf dem wir zu seinem Ziel gelangen, nur darum können wir uns des Lebens freuen. Darum gibt es uns auch mal wenn bei uns so manches anders geworden ist, dieses Wort. Dies sollte unser Bekenntnis sein, dies sollte unser Lebensweiser sein; hier ist unsere Freude, dass wir alle Morgeneu, wir neuer Aufgaben stehen, dass wir alle Morgen neu feststellen können, dass sie Güte und Barmherzigkeit des Herrn gegenüber nicht aus, sondern seine Treue ist immer groß. Der Güte des Herrn ist es, dass wir nicht gar aus sind, seine Barmherzigkeit hat noch kein Ende, sondern sie ist alle Morgen neu und seine Treue ist groß.
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„Alle Morgen neu“ – was ist das für ein wunderbares Gefühl für Sinn und Wert des eigenen Lebens!
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01.07.1973 2. Sonntag nachTrinitatis Stadtkirche Lucas 14, 15-24 Liebe Gemeinde! Durch dieses Gleichnis werden auch wir heute angesprochen. Wir werden eingeladen! Wir werden zum „Feiern eines Fastes“ eingeladen. Vielen von uns scheint der Sinn für das Feiern eines Festes, das mehr ist als oberflächliche Zerstreuung, abgestorben sein. Das wäre allerdings höchst bedenklich. Wenn wir uns keine Zeit mehr nehmen, ein festliches Beisammensein zu lassen und zu veranstalten wird ein ganz bestimmter Glanz aus unseren Leben verschwinden. Ja, der Ernst des Lebens und die Heiterkeit einer Feststunde schließen sich keineswegs aus. Und ein wirkliches und nettes Fest kann sehr wohl die Chance bieten, uns von allem zu lösen, was an „seelischen Hunger“, an „unerfüllter Erwartung“, an „erfahrener Enttäuschung des Lebens“ grau, eintönig, lustlos und verarmt macht oder geworden ist. Wir hören aus dem Munde Jesu, so ungewohnt es unseren Ohren auch bringen mag, dass Gott uns einlädt, bei ihm und mit ihm das Fest des Lebens zu feiern. Der Mann im Gleichnis lässt, nach palästinensischer Sitte, zunächst eine vorläufige Einladung überbringen. Schließlich muss er wissen, mit wem er rechnen kann. Wer zusagt, hält sich bereit, auch wenn er sich inzwischen dies und das vornimmt: das Leben geht ja weiter! Als nun aber im Hause die Fische zusammen Geschoben werden, das Fleisch in den „Schmortöpfen“ seinen 566
charakteristischen Duft ausströmt und nun der Bote die endgültige Einladung überbringt, da sagen plötzlich alle Gäste ab. Einer hat ein Grundstück erworben, der andere hat einige Ochsen gekauft. Rechtmäßig wird der Kauf erst mit dem Besehen, und um die günstige Gelegenheit nicht zu versäumen müssen die beiden Käufer – des Grundstücks + der Ochsen – eben genau zur Zeit des Testmahles hingehen. Der Dritte hat gerade geheiratet; deshalb kann er nicht kommen. Sie alle meinen, Verständnis für ihre gewichtigen Gründe zu finden. Im Grunde aber ordnet jeder seine eigenen Gelegenheiten dieser Einladung über. Jeder entscheidet das Zusammenfallen der Termine in seinem eigenen Sinne, niemals zu Gunsten des Gastgebers. Erst die eigenen Interzession und Sachen, dann denken wir weiter... so die Eingeladenen. 121,1-3 113, 1-3 122, 2+3 330, 1-3 114 Wir sollen Ihn den Gastgeber nicht warten lassen, wenn er uns einlädt zum großen Fest des Lebens. Unser Leben soll nun dieses große Fest sein. Dabei sollen wir nicht das Unselige allein nachgehen, sondern bedenken, das andere um uns leben und auch das große Fest des Lebens mitfeiern, denn auch sie sind, wie wir – „Gäste Gottes“ – unser Herr und Schöpfer! Amen.
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„ERNTEDANKGOTTESDIENST“ Markus 4, 26-29 Liebe Gemeinde! „Erntedankgottesdienst!“ So etwas mitten in einer Großstadt zu halten, scheint etwas Komisches geworden zu sein. „Erntedankgottesdienst!“ – so mancher hat darüber schon geschmunzelt und sich eine im Stillen gelacht. So etwas Fremder mitten in einer Zementstadt, wo es kann grüne Flächen noch gibt. „Erntedankgottesdienst!“ ist das nicht ein Übrigbleibsel eines Sehnsuchtsgefühls unserer Vergangenheit. Ist das nicht ein Zurückgreifen zur Vergangenheit als unsere Vorfahren noch Bauern und Handwerker waren. Heute sind wir alle in der mannigfaltigen Welt der Technik eingebahnt. Jeder hat sein spezifischen Beruf und sein vorgeschriebene Arbeitsgebiet. Immer mehr verlieren wir unseren Kontakt mit der Natur. Immer weniger Menschen leben heute noch von der Landwirtschafft, wobei, unter anderem, die Felder erarbeitet werden, dann wird Gesät. Der Landwirt geht nach Hause und indem er sich mit anderen Aufgaben abgibt – „schläft und steht auf, Tag und Nacht, und die Saat quellt auf und treibt, ohne dass er darum weiß“. Dann kommt die Zeit, wenn die Frucht bereitsteht, dann kommt er wieder, denn die Erntezeit ist da. Ja, es hat sich so manches in den letzten Jahren verändert. Unser Gemüsegarten, unsere Obstgarten, unser Stall, der Hühnerstall, ja all das ist heute das große Kaufhaus geworden. Wer kann heute noch das Rezept eines Hausbrotes das richtige Maß von Mehl, die Portion Hefe, Salz, Fett ja der Backofen auf
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dem Hof das ausgesuchte und trockene Holz die richtige Temperatur! Ja, warum das Alles – dafür gibt es ja die Bäckerei die Konfitüre... Der Blumengarten – die Blumen der gute Duft ach ja, im Blumengeschäft gibt es das alles. Und wenn jemand heute noch eine kleine Ehr zu Hause hat dann ist das ein Zeichen des „dekadenten Mittelbürgerschaft“ – so behaupten es die Anhänger der lange Hau mit den vielen Häusern, mit den ausgewaschenen Hosen! Die Revolutionäre! Es scheint heute alles so fürchterlich leicht zu sein. Alles wird uns schön eingepackt, schön eingerollt, schöne Aufmachung in modernen Farben angeboten. Neu zupacken, bezahlen, nach Heue nehmen, vorbereiten, essen oder trinken! Ja, wenn man das alles bedenkt, dann muss man schon frage: „Warum Erntedankgottesdienst!“ Haben wir mit etwas Großartiges zur Ente beigetragen? Was haben wir getan um täglich einen gedeckten Fisch vor uns zu haben? Ja, wir haben die Lebensmitteln und alles was wir für unser Weiterbestehen brauchen gekauft. Durch unserer Arbeit oder du anderer – haben wir unser Gehalt, unser John, unsere Dividenden bekommen. Interessant! Durch unsere Arbeit erlangen wir all was vor für unserer Tafel brauchen. Was bedeutet das? Durch eine indirekte Form nehmen auch wir teil an dem Progress, von dem unser heutige Text spricht: „Ohne unser direktes Zutun bringt die Erde Frucht. Erst der Halm, dann die Ähre“.
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Auch wenn wir nur „Konsumenten der Ernte sind, so nehmen wir auch Teil an die Arbeit, am Gedeihen oder nicht Gedeihen der Felder auf dem Lande. Durch die meist anonyme Arbeit von vielen Menschen wird uns ermöglicht, dass wir Kaffee und Brot, Tee und Milch, Käse und Butter, Fleisch und Fleischproduckte, Reis und Bohnen, Kartoffeln und Gemüse. Früchte und so manchen leckeren Nachtisch, täglich vorgesetzt bekommen. Ist das nicht alles schon Grund großer Dankbarkeit. „Erntedankfest“ ist dann ein Moment unserer großen Dankbarkeit dem, dem alles gehört, der da ist, der da war, der auch immer da sein wird. Ja, liebe Gemeinde, ein letzten Grund ist allein Gott der Herr der Saat, ist Gott der Herr des Wachstums, ist Gott der Herr der Ernte. Ja, Gott ist der Herr der Saat. Auch in unser Herz hat der Herr Generationenlang den Samen der Hoffnung, des Glaubens und der Liebe gesät. Sein Wort blinkt überall, mit dem Aufruf, dass Gott der gnädige Herr über alle Menschen ist. Unser Wachstum in „Hoffnung, Glaube und Liebe“ ist dem Herrn nicht gleichgültig. Er will das Menschen auf ihm ganze Hoffnung setzen, den Glauben stärken und seine unendliche Liebe anderen Menschen um uns kundtun sollen mit den „Beweis“ – dass „Gott allen Menschen seine Güte kundtut“ – besonders durch das notwendigen „Brot“ des täglichen Lebens. Auch heute zum „Erntedankfest“ werden wir daran erinnert, dass Millionen Menschen unter dem „Hunger“ leiden. Sir können nicht täglich ihren Hunger stillen, denn ihre soziale Lage, dazu den Analphabetismus, die Unkenntnis und Unfähigkeit das Leben in einer immer nur technisierenden Arbeitswelt, die Lebensverhältnisse immer mehr erschweren. Wer hat die Schuld an dieser Situation? Gott? 570
Wir wissen genau, dass die Schuld an solche traurige Verhältnisse nicht bei Gott und seiner Schöpfung liegen. Die Verantwortung für diese Menschen liegt bei uns! Klar, wir werden dies Problem nicht von der Weltfläche wegfegen können. Wir werden durch die Botschaft Gottes in Jesus Christus aber aufgefordert das Leiden und die Not unserer Mitmenschen in unserer mittelbaren Nähe durch den Dienst zu mindern. Wir sollen uns für andere Menschen einsetzen soweit es uns möglich ist! Wir sollen uns verantwortlich wissen, damit durch unsere Liebe und Unterstützung auch die Armen und Hungrigen bekommen dürfen, dass die Güte Gottes unendlich ist, und seine Barmherzigkeit für ewig bleibt. Der Altar mit den vielen Früchten des Feldes will uns heute ganz besonderes an den vielen Menschen. Bauern + Landwirten + und Handwerker die von der Landwirtschaft abhängig sind, erinnern. Weiterhin will uns der Altar mit den vielen Früchten des Feldes auf Gott selbst, unserem Schöpfer, hinweisen... der unsern täglichen Tisch mit den vielen Gaben des Landes versorgt. Der Herr ließ uns alles zuwachsen in Sommer und Winter, in Nacht und Tag, in Höhen und Tiefen, in Armut und Reichtum, in Ernte und Missernte. Darum bekennen wir auch heute: „Alles, was wir haben, kommt, o Gott, von dir. Alles, was wir entbehren müssen, lässt uns entbehren. Es ist kein Leben ohne Dich!“ Amen.
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Lukas 18,31–43 Liebe Gemeinde! Die Passionszeit beginnt wieder – welch ein Gegensatz zu Trubel und Jaumel dieser Zeit des Karnevals. Künstliche und falsche Freude können aber die große Tatsache nicht verblenden, dass ein großer Teil der Menschheit, dir Christenheit, Augen und Gedanken auf das Geschehen du Passion Jesu Christi wenden. Auch der Karneval und Fasching unserer Tage kann das große Ereignis des Kreuzes nicht in die Vergessenheit führen. Und mögen so viele Menschen immer wenigen davon Kenntnis nehmen, was diese Wochen vor Ostern bedeuten – so wollen wir nunmehr diese Passionszeit halten und auf den Weg Jesu Christi achten, der uns heute durch die Verkündigung des Evangeliums vor Augen Gestellt wird. Dieses Sonntagsevangelium zum Eingang der Passionszeit will uns zu guter Wegweisung dienen für unser Wandern. Zwei scheinbar verschiedene Abschnitte hören wir hier aus Lukas 18 zum Beginn dieser Passionszeit: Die Leidensverkündigung des Herrn und die Geschichte der Heiligung einer Blinden am Wege zu Jericho. Drei Sätze können uns als Weisungen zum Wandel in Not und Leid, in Kampf und Wandern helfen: 1) Mit blinden Augen wandern – das ist ein schwerer Weg. 2) Mit sehenden Augen allein – das ist ein furchtbarer Gang. 3) Mit von Jesus geöffneten Augen – das ist getroste Wanderschaft. 572
1) Mit blinden Augen – das ist ein schwerer Weg! – Mit blinden Augen gehen, tastend, unsicher sich fortwegen, sich selber und anderen zur Last, abgeschnitten von fast aller Welt, wie einggesperrt in einer dunklen Kammer, wie dieser Blinder am Rande des Weges zu Jericho, das ist tatsächlich ein schwerer, schwerer Weg. Aber auch Menschen mit „normalen“ Augen können blind sein, blinder noch, hilfloser und ratloser als einer, diesen äußeren Augenlichtes erlosch. Menschen können blind sein, die doch sehen müssten – sie sind verblendet sind wie verblendet. Mit sehenden Augen sehen sie nicht! Wie die Jünger hier, wie es das Evangelium berichtet. Sie hätten es längst merken müssen und begreifen sollen, nachdem es der eigene Herr ihnen mehrmals gesagt hatte: „Sehet, wir gehen hinauf nach Jerusalem und es wird alles vollendet werden, was geschrieben steht durch die Propheten von des Menschen Sohn“. Können sie es nicht sehen was das geschehen wird? Oder ist das alles ihnen zu furchtbar? Gerade weil sie diesen Weg der Passion nicht verstehen, weil alles für sie so Unheimlich ist, sind sie wie verblendet. Das gilt aber auch für unserer Zeit. Für alle, die da rennen und laufen und schaffen um die Güter und Funden dieses Daseins und gar nicht merken dass doch alles früher oder später wieder unter den Hände verrinnt. Das gilt für alle die den Weg nicht sehen wollen und können der uns gewiesen ist durch Gottes. Lenkung in Jesus Christus.
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Ja, das gilt für alle die nur an sich und für sich denken, und wenn sie über die Leiche ihrer Nächsten ziehen müssen. Jawohl, mit blinden Agenda ist ein schwerer Weg? 2) Freilich – besser sind sehende als blinde, tote Augen. Aber das Sehen selber, das Sehen allein macht es nicht! Im Gegenteil! Mit sehenden Augen allein gehen müssen – das ist ein furchtbarer Gang! Es ist klar, dass wir in unserer heutigen Zeit immer so unser Leben aufbauen und aufziehen wie es die Zeit und die Tatsachen verlangen. Alles muss geprüft und überlegt werden und das können wir nur mit offenen Augen tun, wenn wir verantwortungsvoll der Zukunft entgegengehen möchten. Aber was wartet auf uns Morgen? Wenn wir nur allein mit sehenden Augen der Zukunft entgegengehen – dann müssen wir irgendwo und irgendwann das Ende schauen, das Aufhören und Aufbrechen, das Zerbrechen und Zergehen, unseren liegenden Tod! Und das ist furchtbar wenn wir uns mit den Gedanken des Todes hinschlagen, ohne eine klare Antwort zu finden ob es sich trotzdem noch lohnt heute für morgen zu kämpfen. Nur sehende Augen helfen uns nicht über diese Grenze! Darum darf man auch sagen: „Nur mit sehenden Augen – das ist ein furchtbaren Gang“. Nein! Aufs Sehen allein kommt es nicht an! Darum ist das Entscheidende in unserem Evangelium hier ein Drittes!
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Was sagt uns der Herr selber in seiner Leidens Verkündigung? Er sagt nicht – es geht mit mir zu Ende sondern – es muss alles vollendet werden. Nicht – nur geht es zu Ende, nun geht es bergab mit mir – nein – hinauf! Hinauf auf den Berg! Hinauf zur Vollendung. Unser Herr und Heiland ist auf seinen Passionsweg ja nicht aus Ungewissheit oder Ungeschicklichkeit oder Ohnmacht in die Gefahr hineingelaufen und in den Tod gegangen. Nicht nur allein mit sehenden Augen, sondern mit den Augen, sondern mit den Augen des Glaubens schaut er auf seinen Weg. Das macht ihn so unbegreiflich stark, so unglaublich getrost, so unsagbar ruhig: „Und wenn es auch durch Not und Tod, durch Hohn und Spott, durch Stunden der Versuchung und Anfechtungen geht – Mein Weg geht bergauf und nicht bergab! Denn es ist Meines Vaters Plan und Willen!“ Was will denn Jesus anderes von uns und für uns – als, dass wir diesen Seinen Weg gehen, mit Augen, die Er uns öffnet! Mit Augen die einen neuen Blick bekommen für diese Welt mit ihrer Schönheit und Verlorenheit, mit Augen die Er uns öffnet für den letzten Sinn von Leid und Not, mit Augen, die das Ziel sehen: nicht das Ende, sondern die Vollendung! Freilich, eins ist schon notwendig. Darum dient dieser Blinde am Weg zu Jericho als Beispiel und Vorbild. Jesus drängt sich nicht auf. Er öffnet sich nicht gewaltsam die Augen, die blinden Augen. Wir müssen schon rufen! So dringend wie dieser Blinder am Wege zu Jericho. Und wir dürfen uns nicht einschüchtern
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lassen, so wie er es auch nicht tat, da man ihn bedrohte, er solle schweigen. Umso lauter rief er: „Jesu, du Sohn Gottes, erbarme Dich meiner!“
Die Passionszeit beginnt wieder da wo die Gemeinde Jesu in stiller Betrachtung des Herrn Leidensweg anschaut, nachgeht und mitgehen will. Dieser wird die Botschaft bezeugt: „Jesus von Nazareth geht vorüber! Soll er wirklich nur vorübergehen? Gar vorbeigehen? Die Entscheidung liegt allein bei uns. „Mit blinden Augen gehen – das ist ein schwerer Weg!“ Mit sehenden Augen nur – das ist ein furchtbarer Gang! Mit Augen, die Er uns geöffnet hat – das ist getroste Wanderschaft! Amen!!!
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Quasimodogeniti Markus 16,3: „Wer wälzt uns den Stein von des Grabes Tür?“ Liebe Gemeinde! Alle sind wir so viel zu viel gezwungen, irgendeinen Stein zu wälzen, irgendeine Schwierigkeiten des Lebens zu überwinden. Der eine kämpft mit finanziellen Schwierigkeiten, der andere hat familiäre Probleme. Der eine kämpft mit einer Krankheit, der andere ringt mit dem Tode. So oder so hat seit je kein Mensch gelebt, der in Laufe seines Lebens ohne Sorgen war und nicht irgendwann oder irgendwie den Stein der Schwierigkeiten, der ihm drückte, abwälzen musste. Manche von uns mussten einige oder mehrere Steine wälzen, die tatsächlich, wie im Falle der Frauen, sehr groß sind. Wir alle bemühen uns, wir alle kämpfen, um einmal der Schwierigkeiten Herr zu werden. Im Grunde aber, das was uns wirklich müde macht, was unsere Kraft verbrannt und uns lähmt, ist nicht die Überwindung der gegenwärtigen Schwierigkeiten, sondern die Beschäftigung mit Problemen, die vielleicht einmal an uns herantreten könnten. Folgen wir nun die Frauen. Heldenhaft hatten sie sich gegenüber unüberwindlichen Schwierigkeiten verhalten. Sie allein halten den Mut, dem Herr und seiner Mutter beizustehen noch in der furchtbaren Stunde des Kreuzes. Sie allein hatten es gewagt, sich über alles hinwegzusetzen, was Angst und Gefahr heißt, und sich als treue Anhängerinnen des von allen verlassenen Sträflings zu zeigen. Und allein sie unternahmen, bevor der Tag noch anbrach das gefährlichste Unternehmen: zu ihm zu kommen, um seinen toten Leib mit Balsam zu salben.
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Und trotz des Mutes, mit dem sie die bisherigen Widerstände überwunden hatten, beschäftigen sie sich jetzt mit einer Schwierigkeiten, welche sich eigentlich noch nicht darstellte, die aber ihnen als kommende erschien. Wie sollte man den großen Stein aus dem Eingang des Grabes wälzen? Interessant sie ich damit beschäftigten, wie man den Stein wälzen könnte, dass jemand bereits den Stein abgewälzt hatte und sowohl den Eingang wie das Grab selbst Freitag. Sie hatten vergessen, dass sie nicht allein waren, dass über ihre Gedanken, über ihre Schwierigkeiten jemand wachte, jemand, der die Kraft hat Ängste verstehen, jemand, der etwas möglich macht, was den Menschen unmöglich ist. Wenn wir uns allein auf unsere Kräfte stützen, sind wir tatsächlich nicht in der Lage, diejenigen Schwierigkeiten zu überwinden, die menschlich überwunden werden müssen. Mit der Gnade Gottes aber bekämpfen wir Widerstände, die eigentlich unüberwindlich sind. Und obwohl wir die gute Erfahrung der Hilfe Gottes haben, versäumen wir oft im Leben, diese Hilfe zu erbitten oder wir erbitten sie erst, nachdem wir abgekämpft und erschöpft sind. Wir streben uns seelisch und körperlich an, und oftmals erschöpft uns dieser Kampf vollends. Wir haben nicht den Mut gegenüber den wahren Schwierigkeiten die göttliche Hilfe zu erbitten. Wie rechnen gar nicht mehr mit ihr. Und darum wird unsere Phantasie nur erzeugt und wir stehen vor unüberwindbare Bergen von Problemen. Man hat den Eindruck, dass der uns von Gott angebotene Frieden in Jesus Christus uns zu einem Fatalismus führt. Das kann auch möglich sein, dann, wenn wir die Gaben Gottes missbrauchen. Aber dieser Missbrauch der Gaben Gottes sollte
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nicht dazu führen, dass man in seinem Leben aufhört, mit der Hilfe Gottes zu rechnen. Es ist klar: gegenüber den Ereignissen um uns selbst, gegenüber den Unruhen innerhalb unser Welt, seien sie drüben in Brasilien, reagieren wir britisch und sind der verschiedensten Meinung. Aber eine Reaktion gegenüber all dieser Geschehen ist die Angst. Die Angst führt uns zur Sorge, und die Sorge ist der große Stein in unserem Leben. Tun wir aber etwas um diesen Stein zu wälzen? Mehr noch, bitten wir, um die Hilfe Gottes? Müssten wir als Christen nicht aus unsere Passivität herauskommen? Wenn wir die Geschehnisse des alltäglichen Lebens betrachten, dann werden wir wahrhaftig einsehen müssen, dass die Hilfe Gottes uns niemals zur Passivität führt. Sondern die Hilfe Gottes besteht darin die Angst und die Sorgen vor den bestehenden Schwierigkeiten und Problemen unseres Lebensaufhörens. Ohne Angst und ohne Sorgen, denn Gott wird auch in und durch uns sein Werk der Gerechtigkeit vollenden, gehen wir diesen Schwierigkeiten und Problemen des Lebens entgegen. Das, liebe Gemeinde, hilft uns, ruhig zu denken, nicht zu fürchten und nicht erschüttert zu werden vor dem, was die Zukunft bringen kann. Als Christen, die von Gott Hilfe erbitten, die von Gott Hilfe erwarten, die von Gott Hilfe bekommen, werden wir zur Tätigkeit gerufen. Wer die Hilfe Gottes vertraut, wird sich von in der Passivität entfernen. Er hofft auf die Hilfe Gottes, nicht so, dass er dabei nichts tut, sondern dass er das menschlich Mögliche beiträgt, jedoch ohne Angst. Er weiß, dass es über seine Kräfte und Bemühungen hinaus Gott gibt, der bereit ist
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zu helfen und sich einzusetzen, wenn die menschlichen Kräfte entsagen. Ja, meine lieben alle, so beruhigt kämpft der Christ mit allen Kräften für die Gegenwart und die Zukunft, auf jeden Widerstand, die möglicherweise erscheinen sollte, zu überwinden. Dann auch hier die Aufforderung: Lasst uns aufrichtig und gerecht sein. Die Passivität und die Lähmung unserer Kräfte kommen nicht aus dem völligen Vertrauen auf Gott, sondern aus der Angst, die erzeugt wird aus dem Unglauben an das Vertrauen auf Gott. Die Angst ernährt keine Kämpfer, sondern nur Kleinglaube und der Kleinglaube seelisch gelähmte Menschen. Und darum auch die Passivität der einzelnen Christen. Unser Fehler als Christen in einer Problemenwelt, liegt darin, dass entweder wir die Verheißung Gottes völlig vergessen, oder an dieselbe nicht richtzeitig denken. Wenn wir es nicht vergessen hätte, könnte die Angst des Lebens nicht um uns ringen, uns zugrunde richten, und wir würden in Kampf des Lebens bessere Kämpfer sein. Wenn die Frauen es nicht vergessen hätten, dass der Herr ihnen vor dem Tode sagte, er würde sie in Galiläa treffen, hätten sie sich nicht unnütze Gedanken gemacht, wer den Stein aus dem Grabe wälzen sollte. Statt sich mit der furchtlosen Angst zu quälen, sollten sie daran denken, dass er, der eine Auferstehung so sicher war, auch die Lösung für ihr Problem selbst gewesen ist. Deshalb, liebe Gemeinde, lassen wir uns nicht Spielball der Angst werden! Vergessen wir nicht die Verheißung Gottes und glauben wir nicht, dass wir allein die Schwierigkeiten des 580
Lebens meisten müssen! Denn wenn wir so ängstlich in die Zukunft schauen, erschweren wir unsere Last, die wir so oder so zu tragen verpflichtet sind. Wenn wir uns Mühe geben, es richtig zu verstehen, dann werden wir unseren Mitmenschen gegenüber, Boten unaufhörlicher Freude sein. Denn die Art, wie wir unser Leben führen, wird ein lebendiges Zeugnis sein, dass der Herr wahrlich auferstanden und lebendig ist „gestern und heute und derselbe in Ewigkeit“ – immer bereit, jedem einzelnen zu helfen, der sich auf seine Hilfe voll Vertrauen stützen möchte.
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Taufe Lasset uns ein Wort Gottes hier in dieser Stunde der Freude und des Ernstes zuglich vernehmen: Ihr habt mich nicht erwählt, sondern ich „habe euch erwählt und gesetzt, dass ihr hingehet und Frucht bringet’, sagt der Herr Jesu Christus (Johannes 15,6). Liebe Eltern und Paten: Dieses wundervolle Wort sprach Jesus zu seinen Jüngern als sie um einen Vorrecht im Himmelreich baten. Sie wollten eine bessere Position erreichen als die anderen Mitmenschen! Und doch bezeugt ihnen Jesus! „Ihn mich nicht erwählt, sondern ich habe euch erwählt und gesetzt, dass ihr hingehet und Frucht bringet“. Die tiefe Wahrheit dieses Wortes bezeugt sich uns eindrucksvoll, so oft ein kleines Kind zur Taufe gebracht wird. Da tritt uns jedes Mal die eine Tatsache entgegen: ehe wir nach Gott gefragt haben, fragt er nach uns; ehe wir ihn gesucht haben, streckt er uns seine Hand entgegen und deckt uns den Tisch mit viel reichen Gaben, nicht nur mit Mutter – und Vaterliebe, die dem jungen Menschenkinde entgegen kommt, sondern mit allen heiligen schätzen des Evangeliums, mit dem ganzen Heil in Jesus Christus. Das alles war da, ehe wir da waren, und es wartet auf uns, bevor wir davon wissen. Es ist auch für diese Kinder da, und wir haben nur Grund zu danken dass Gott diese Kinder erwählt hat, Teil zu haben an allen Gütern seines Reiches. Wenn Gott diese Kinder auch zu seinem Reiche erwählt hat, dann will er auch dass ihr Leben Früchte des Glaubens und der Liebe bringt. Es heißt doch: ich habe euch erwählt und gesetzt, dass ihr Frucht bringet. Das gilt auch diesem lieben Kinde. Aber zunächst geht dieses Wort auch die an, die für dies Kinder zu sorgen haben. Als der Herr euch 582
dieses Kind schenkte, hat er euch gleichsam neu erwählt. Aber wenn der Herr segnet und gibt, dann fordert er auch. Und die Frucht, die er jetzt von euch fordert, ist die, dass ihr diese Kinder recht erziehet. Darum, liebe Eltern und Paten, gebt diesen Kindern die Möglichkeit durch Euer Leben und Dienst den Weg des Herrn Jesus Christus bei allen Stunden zu erkennen. Gott wird euch durch sein Wort und Leben die nötige Kraft schenken, diese wichtige aber wunderbare Aufgabe recht zu erfüllen. Amen.
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