Anuário Evangélico 2011
Paz na Criação de Deus – Esperança e Compromisso Glória a Deus e paz na terra Lucas 2.14
o
An º 0 4
Anuário Evangélico 2011 Publicado sob a direção de Meinrad Piske
© 2010 Editora Otto Kuhr Caixa Postal 6390 89068-970 – Blumenau/SC Tel/fax: (47) 3337-1110 E-mail: grafica.ok@terra.com.br
Conselho editorial: P. em. Heinz Ehlert e esposa Elfriede, P. em. Meinrad Piske (Diretor), P. em. Nelso Weingärtner, Armando Maurmann e esposa Vânia, P. Dr. Osmar Zizemer (editor), P. em. Friedrich Gierus, Jornalista Anamaria Kovács Correspondência e artigos: P. Dr. Osmar Zizemer Caixa Postal 6390 89068-970 – Blumenau/SC Tel/fax: (47) 3337-1110 E-mail: cml@centrodeliteratura-ieclb.com.br
Produção editorial: Gráfica e Editora Otto Kuhr Ltda. Produção gráfica: Gráfica e Editora Otto Kuhr Ltda.
Os artigos assinados são de responsabilidade de seus autores. Direitos reservados à Gráfica e Editora Otto Kuhr Ltda.
Prefácio 40 anos de Anuário Evangélico. Um longo período para uma vida humana - pode ser metade da vida. É a idade do nosso almanaque e o afirmamos com orgulho e ao mesmo tempo gratidão. Gratidão a Deus que nos permitiu levar adiante este empreendimento. Gratidão também aos nossos leitores nas comunidades da IECLB e fora dela. E somos muito gratos também a todos os colaboradores: dirigentes, redatores (tivemos apenas três no período), Conselho Editorial , autores convidados, anunciantes e distribuidores. E bem assim à Editora antes à Editora Sinodal e agora à Editora Otto Kuhr - pela sua fidelidade e empenho. Tive o privilégio de ser o primeiro Diretor e continuo até hoje no Conselho Editorial. Tenho um amor todo especial pelo nosso Anuário Evangélico. Vale lembrar que a iniciativa de editar um anuário evangélico em língua portuguesa foi de um membro leigo em Curitiba: Emil Dietz. O então Conselho Diretor da Igreja “deu luz verde”, pela Palavra do Pastor Presidente Karl Gottschald. Havia já uma longa tradição de anuário dentro da Igreja, mas em língua alemã, o “Jahrweiser”. Muitas vozes pediam um equivalente em português. O próprio nome escolhido caracterizava a sua natureza. Deveria acompanhar os acontecimentos importantes no tempo, ano após ano , prestando informação, mas ao mesmo tempo ajudar a analisar e refletir sobre eles a partir do Evangelho, vinculado à Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil. Teria, pois, também o propósito de contribuir para a formação e edificação espiritual. Conscientizar que sofremos história, mas também participamos ativamente da história. Este objetivo deve continuar.
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A idade do nosso Anuário parece indicar que este tipo de literatura ainda faz sentido e tem seu espaço, hoje. Junto com o Anuário, como parte integrante dele, é publicado anualmente o “Prontuário da IECLB”, de responsabilidade de sua Secretaria Geral . Por que isto? Certamente um instrumento útil e prático, principalmente para os obreiros e lideranças da IECLB, nos seus Sínodos, Paróquias e Comunidades. Mas serve também como órgão de divulgação do trabalho desta Igreja neste País, seu relacionamento com outras Igrejas e organizações, em âmbito nacional e internacional. Acentua assim a postura ecumênica da IECLB. Nestes 40 anos aconteceram transformações na IECLB. O Anuário refletiu isso. Constituída em 1968 como Igreja nacional, com a estrutura em Comunidades, Paróquias, Distritos Eclesiásticos e Regiões Eclesiásticas, a IECLB se estruturou entrementes em 18 Sínodos, bastante independentes em sua organização e trabalho, mas com a mesma finalidade e base confessional para ser “Igreja de Jesus Cristo” neste País. Almejamos que o Anuário Evangélico continue acompanhando e refletindo o curso desta história. P. em. Heinz Ehlert Conselho Editorial
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Lemas dos Meses 2011 JANEIRO – Gênesis 1.27: Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o Criou; homem e mulher os criou. FEVEREIRO – Romanos 8.21: Na esperança de que a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. MARÇO – Salmo 62.2: Só Deus é a minha rocha, e a minha salvação, e o meu alto refúgio; não serei muito abalado. ABRIL – Mateus 26.41: Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca. MAIO – Romanos 15.13: O Deus da esperança vos encha de todo o gozo e paz no vosso crer, para que sejais ricos de esperança no poder do Espírito Santo. JUNHO – Provérbios 11.24: A quem dá liberalmente, ainda se lhe acrescenta mais e mais; ao que retém mais do que é justo, ser-lhe-á em pura perda. JULHO – Mateus 6.21: Onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração. AGOSTO – Mateus 7.7: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei, e abrirse-vos-á. SETEMBRO – Mateus 18.20: Jesus Cristo diz: Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles. OUTUBRO – Jó 4.17: Seria, acaso, o homem puro diante do seu Criador? NOVEMBRO – Naum 1.7: O Senhor é bom, é fortaleza no dia da angústia e conhece os que nele se refugiam. DEZEMBRO – Isaías 54.7: Deus diz: Por breve momento te deixei, mas com grandes misericórdias torno a acolher-te.
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Datas Festivas do Calendário Eclesiástico
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2 0 1 0
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Janeiro 1 Sáb 2 Dom
Nm 6.22-27 Jr 31.7-14
3 Seg 4 Ter 5 Qua 6 Qui 7 Sex 8 Sáb 9 Dom
Êx 2.1-10 Gn 21.1-7 Gn 9.12-17 Ef 3.1-12 1 Jo 3.1-6 1 Jo 2.12-17 Is 42.1-9
10 Seg 11 Ter 12 Qua 13 Qui 14 Sex 15 Sáb 16 Dom
17 Seg 18 Ter 19 Qua 20 Qui 21 Sex 22 Sáb 23 Dom
24 Seg 25 Ter 26 Qua 27 Qui 28 Sex 29 Sáb 30 Dom
31 Seg
ANO NOVO – Dia Mundial da Paz 2º DOMINGO APÓS NATAL Branco Cantem ao Senhor com alegria, povos de toda a terra! Louvem o Senhor com canções e gritos de alegria. Salmo 98.4
EPIFANIA 1890 – Declarada a plena liberdade religiosa no Brasil
Branco
1º DOMINGO APÓS EPIFANIA Branco Depois que Jesus foi batizado, ouviu-se uma voz dos céus: Tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo. Marcos 1.11
At 10.37-48 Js 3.9-17 Cl 2.1-7 Mc 10.13-16 1635 – ✩ Philipp Jakob Spener, pai do pietismo luterano, † 05/02/1705 Lc 12.49-53 1875 – ✩ Albert Schweitzer, teólogo evangélico e médico, † 04/09/1965 Mt 6.6-13 Jo 1.29-42 2º DOMINGO APÓS EPIFANIA Verde O Senhor me disse: Israel, você é o meu servo, e por meio de você serei glorificado. Isaías 49.3 1910 – Fundação da Obra Gustavo Adolfo (OGA) brasileira, em Hamburgo Velho, RS Dt 4.5-13 1546 – Última pregação de Martim Lutero em Wittenberg (Rm 12.3) Mc 2.23-28 Lc 16.14-18 At 15.22-31 1866 – ✩ Euclides da Cunha, escritor brasileiro († 15/08/1909) Jo 7.1-13 1800 – ✩ Theodor Fliedner, fundou a primeira Casa Matriz de Diaconisas Dt 33.1-16 1532 – Fundação de São Vicente, primeira vila do Brasil-Português Mt 4.12-23 3º DOMINGO APÓS EPIFANIA Verde Percorria Jesus toda a Galiléia, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando toda sorte de doenças e enfermidades entre o povo. Mateus 4.23 1637 – Chegada do conde João Maurício de Nassau-Siegen, governador do Brasil-Holandês, a Recife, PE Is 19.19-25 1 Rs 17.8-16 1554 – Fundação pelos jesuítas do núcleo de São Paulo Rt 1.1-21 1654 – Fim do Brasil-Holandês: capitulação dos holandeses At 13.42-52 Lc 4.22-30 1808 – Abertura dos portos brasileiros aos navios das nações amigas Ap 15.1-4 1499 – ✩ Catarina von Bora, esposa de Martim Lutero († 20/12/1552) Mq 6.1-8 4º DOMINGO APÓS EPIFANIA Verde Jesus leu no livro do profeta Isaías: O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos. Lucas 4.18 1990 – 8ª Assembléia Geral da FLM, em Curitiba, PR Mt 21.18-22 1531 – Chegada de Martim Afonso de Souza a Pernambuco Fases da Lua:
= Crescente
= Cheia
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= Minguante
= Nova
1º mandamento
Eu sou o Senhor teu Deus. Não terás outros deuses diante de mim.
Esta é a versão que estudamos e que conhecemos do Pequeno Catecismo de Lutero. É uma pena que Lutero não citou todo o versículo 2 de Êxodo 20, onde lemos: “Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirou da terra do Egito, da casa da servidão”. É verdade que o Egito está distante. Além disso, lá não fomos escravos. Ainda assim, esta observação é vital para a compreensão do mandamento, pois ela caracteriza o “Senhor teu Deus”. O Senhor Deus é o Deus que LIBERTA. Por isso alguém propôs uma tradução assim: “Eu sou o Deus que te liberta...”. A grande experiência do povo de Israel foi a libertação. Deus continua sendo o Deus da libertação. Nós somos escravos de tanta coisa! Escravos de tradições, escravos de ideologias políticas e outras tantas, escravos de preconceitos, escravos do nosso próprio EU, teimoso, cabeçudo. Tudo grandezas capazes de nos impedir de ver a nós mesmos como realmente somos, e deixar os outros serem gente, criaturas de Deus, e de vermos o mundo como mundo de Deus. Deus nos liberta para a vida plena como
seus filhos e filhas, que sabem que são “tutores de seus irmãos” e tutores de toda a criação. Mais do que nunca temos que ouvir isso: Somos libertos para ser cuidadores de nós mesmos, das demais criaturas e de toda a criação. Os outros deuses estão sempre de olho e são muito mais sutis e eficazes do que simples imagens: São os deuses do egoísmo, da ganância, do lucro fácil. O egocentrismo que nos determina e ao qual somos constantemente induzidos, é fatal para nós e para os outros. Deus não se limita a dizer que não devemos ter outros deuses, mas ele nos dá uma ferramenta preciosa que nos ajuda: Os mandamentos. Eles falam das relações entre seres humanos. Eles são como um corrimão com ajuda do qual podemos caminhar na vida com Deus e com sua criação. E não só isso: Deus nos deu e dá seu Filho, o Cristo, que viveu radicalmente a liberdade que Deus dá. P. em. Harald Malschitzky Proeduc – São Leopoldo/RS
Oração Senhor, nosso Deus. Obrigado pela liberdade que nos liberta de nós mesmos e nos encaminha para ti e para todas as tuas obras. Não permitas que voltemos à escravidão de outros deuses, que destroem a vida e nos afastam de ti. Por Cristo. Amém.
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Fevereiro 1 Ter 2 Qua 3 Qui 4 Sex 5 Sáb 6 Dom
Mt 8.28-34 Mq 3.1-4 At 28.1-8 Lc 11.14-23 Is 51.1-6 Mt 5.13-20
7 Seg 8 Ter 9 Qua
Ec 9.1-10 Ec 8.14-17 Dn 2.27-47
10 Qui 11 Sex
Gn 45.1-15 Jo 7.25-36
12 Sáb 13 Dom
Ap 8.1-18 Dt 30.15-20
14 Seg 15 Ter 16 Qua
2 Co 3.9-18 Jo 1.43-51 Jo 3.31-36
17 Qui 18 Sex 19 Sáb 20 Dom
Ap 1.1-8 Jo 8.12-20 Nm 6.22-27 Mt 5.38-48
21 Seg 22 Ter 23 Qua 24 Qui 25 Sex
Lc 19.1-10 Hb 12.12-17 1956 – Criação da Fundação Diacônica Luterana, em Lagoa Serra Pelada, ES Mt 10.40-42 1 Co 3.1-8 Jo 2.13-22 1778 – ✩ José de San Martin, general argentino, libertador latinoamericano († 17/08/1850) 1 Co 1.26-31 1 Co 4.1-5 8º DOMINGO APÓS EPIFANIA Verde As misericórdias do Senhor Deus não se acabam, pois elas não têm fim. Lamentações 3.22 Dt 32.44-47 1997 – Reestruturação da IECLB, extinção dos DE’s e das RE’s; criação dos Sínodos
26 Sáb 27 Dom
28 Seg
Apresentação de Nosso Senhor Branco 1931 – Fundação da Federação das Igrejas Evangélicas no Brasil
5º DOMINGO APÓS EPIFANIA Verde Jesus Cristo diz: Eu sou a luz do mundo; quem me segue nunca andará nas trevas, mas terá a luz da vida. João 8.12
1558 – Execução dos primeiros evangélicos no Brasil, na baía de Guanabara 1868 – Fundação do Sínodo Teuto-Evangélico da Província do Rio Grande do Sul, em São Leopoldo, RS (extinto em 1875) 6º DOMINGO APÓS EPIFANIA Verde Simão Pedro respondeu a Jesus: Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna. João 6.68 Dia Mundial contra a Lepra 1497 – ✩ Filipe Melanchthon, colaborador de Martim Lutero em Wittenberg († 19/04/1560) 1546 – † Martim Lutero, reformador alemão, em Eisleben (✩ 10/11/1483) 7º DOMINGO APÓS EPIFANIA Verde Jesus pede a Deus em oração: Santifica meus discípulos na verdade; a tua palavra é a verdade. João 17.17
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2º mandamento
Não abuse do nome do SENHOR, seu Deus, porque o SENHOR não considerará inocente quem abusar de seu nome.
Muito pequeno aprendi que não se deve “jurar por Deus”. Mas na infância, segundo critérios amplamente acordados, sempre que algo inusitado, incrível, sensacional acontecia, como “ganhei uma bola de couro no Natal” ou “fui visitar minha tia em outra cidade”, era necessário contar para os amigos. Já naquela época existiam os desconfiados que sempre duvidavam: jura? Jura por Deus? Jurar por Deus era uma confissão de que o acontecido era absolutamente verdade. Simplesmente jurar não garantia a veracidade do fato, mas jurar por Deus, sim. Era uma espécie de código de honra. Jamais se mentia quando se estava jurando por Deus. Os tempos passaram e o nome de Deus continua sendo invocado, de norte a sul, de leste a oeste. Jurar, ou falar em nome de Deus e em nome de Jesus virou algo trivial e corriqueiro. Já são incontáveis os shows de TV que afirmam falar em nome de Deus. Utilizam palavras e apelos retóricos e emocionais para convencer multidões de que são, verdadeiramente, mensageiros da Palavra de Deus. Alguns desses programas estão sendo severamente questionados em seus verdadeiros objetivos. Denúncias de falácias aparecem por toda a parte. Falar em nome de Deus, ou presumir que
Deus apóia aquilo que se fala é algo muito sério. Não é à toa que o assunto entrou como um dos dez mandamentos. Falar é um gesto importante. Nossa fala e nossas palavras revelam quem somos. Nossa credibilidade é medida pela coerência entre nossas palavras e nossas ações. Falar em nome de Deus é muito importante. Podemos e devemos falar em nome de Deus. Na verdade, como pessoas cristãs, falamos em nome de Deus constantemente, através de palavras, atos e atitudes, quer estejamos conscientes deste fato quer não. Martim Lutero, em sua explicação do segundo mandamento no Catecismo Maior afirma que se deve jurar, não para o mal e a mentira, mas para o bem e em benefício do próximo. “É obra justa, boa, com que Deus é louvado, a verdade e a justiça [!] confirmadas, a mentira refutada, pessoas reconciliadas...”. Que possamos continuar falando em nome de Deus e invocando o Seu nome, de forma simples e humilde, mas comprometida com a verdade. Que possamos continuar testemunhando o amor que Deus tem pelo mundo e colocando sinais visíveis desse amor, que se traduz em pão, água, paz, justiça, trabalho, saúde, educação, lazer. P. Dr. Mauro B. de Souza São Leopoldo/RS
Oração Bondoso Deus: Permite que saibamos invocar o Teu Nome e usá-lo de forma apropriada. Dá-nos força e coragem para que, através de nossas palavras, atos e atitudes, mais pessoas enxerguem a Igreja que tu criaste como uma instituição séria e comprometida com a justiça e com a vida digna. Amém.
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Março 1 Ter 2 Qua 3 Qui 4 Sex 5 Sáb 6 Dom
7 Seg 8 Ter 9 Qua 10 Qui 11 Sex 12 Sáb 13 Dom
14 Seg 15 Ter 16 Qua 17 Qui 18 Sex 19 Sáb 20 Dom
21 Seg 22 Ter 23 Qua 24 Qui 25 Sex 26 Sáb 27 Dom
28 Seg 29 Ter 30 Qua 31 Qui
Êx 7.1-13 Mc 6.1-6 Lc 6.43-49 Jo 12.34-42 Dia Mundial de Oração – DMO Mt 13.31-35 Mt 17.1-9 ÚLTIMO APÓS EPIFANIA Branco O salmista canta ao Ungido de Deus: Tu és o mais formoso dos humanos; nos teus lábios se extravasou a graça; por isso Deus te abençoou para sempre. Salmo 45.2 Lc 13.31-35 Lc 5.33-39 Dia Internacional da Mulher Jl 2.1-2, 12-17 Cinzas Violeta ou preto ou vermelho Zc 7.2-13 1557 – Primeira pregação evangélica (calvinista) no Brasil, na baía de Guanabara (Sl 27.4) Jo 8.21-30 Dn 5.1-30 1607 – ✩ Paul Gerhardt, teólogo luterano e poeta alemão († 27/05/1676) Gn 2.15-17; 1º DOMINGO NA QUARESMA Violeta Gn 3.1-7 Jesus respondeu ao tentador: Está escrito: Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus. Mateus 4.4 1630 – Proibição do tráfico de escravos africanos no Brasil 1 Jo 3.7-12 1965 – Consagração do primeiro diácono na IECLB, em Lagoa Serra Pelada, ES Jó 1.1-22 1937 – Abertura do Ginásio (hoje Colégio) Sinodal, em São Leopoldo, RS 1 Co 10.9-13 1969 – Inauguração do Instituto Concórdia, da IELB, em São Leopoldo, RS Tg 4.1-10 Hb 2.11-18 Ap 20.1-6 Dia da Escola Rm 4.1-17 2º DOMINGO NA QUARESMA Violeta Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. João 3.16 Jr 26.1-24 1557 – Primeira celebração evangélica (calvinista) da Santa Ceia no Brasil, na baía de Guanabara Jó 2.1-10 Êx 17.1-7 1 Sm 16.14-23 Is 7.10-14 ANUNCIAÇÃO DO NASCIMENTO DE JESUS Branco 1824 – Promulgação da 1ª Constituição do Brasil, por D. Pedro I Gl 2.16-21 1946 – Abertura da Escola de Teologia em São Leopoldo, RS Jo 4.5-26 3º DOMINGO NA QUARESMA Violeta Jesus Cristo a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz. Filipenses 2.8 Lc 14.25-35 1823 – ✩ Dr. Hermann Borchard, fundador do Sínodo Teuto-Evangélico da Província do Rio Grande do Sul († 03/08/1891) Jó 7.11-21 1549 – Chegada dos primeiros missionários jesuítas ao Brasil, chefiados pelo padre Manuel da Nóbrega Mc 9.38-47 Marcos 8.10-21 1492 – Expulsão dos judeus da Espanha
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3º mandamento
Santificarás o dia de descanso.
A forma como encaramos e vivenciamos o dia do descanso depende de como encaramos e vivenciamos o trabalho. Para muitas pessoas o trabalho é visto como algo exaustivo, fatigante, quase como um castigo de Deus para o ser humano pecador. A palavra portuguesa trabalho, por exemplo, tem sua origem no termo latino “tripalium”, que era um instrumento de tortura no império romano. Tripaliari (trabalhar), portanto, vem da expressão “torturar com tripalium”. Ora, se alguém trabalha como se estivesse sendo castigado, então seu dia de descanso será simplesmente uma fuga, um esvaziarse de todo o cansaço que o trabalho lhe causou. Mas em Êxodo 20, onde nos são dados os 10 mandamentos, nos é dito que Deus descansou de seu trabalho. O Trabalho de Deus certamente não é algo fatigante, exaustivo e torturante, mas uma ação criadora sua. Dizer que Deus descansou de seu trabalho significa dizer que Deus usufruiu do fruto de seu trabalho. Deus pôs-se a contemplar as suas obras, alegrou-se com o resultado de seu trabalho e folgou com a beleza do Jardim do Éden, como alguém que caminha pelo meio das flores que plantou.
O trabalho não é um castigo de Deus, mas uma bênção. Através do trabalho o ser humano reencontra, em si, algo da imagem divina, redescobre a sua criatividade e capacidade de contribuir para a promoção de um mundo com mais beleza e mais vida. Quem vivencia o trabalho como este servir criativo a Deus e ao próximo, verá no dia do descanso uma oportunidade de usufruir e alegrar-se com os frutos do trabalho. Vivenciando comunhão com família e amigos, descansando o corpo, alegrando a alma e descansando em Deus. Através do louvor, da gratidão, da oração, do ouvir da sua Palavra somos reabastecidos para o trabalho criativo e para o serviço cristão. Assim santificamos o dia de descanso. Deus foi tão gentil com a pessoa humana que o primeiro dia de nossa existência foi o dia de descanso. Sim, a pessoa humana foi criada no sexto dia e no sétimo já descansou. A vida começou no descanso, na comunhão com Deus e com a família. No descanso Deus quer nos alimentar. Quer fornecer o que precisamos para fazer de nosso trabalho oportunidade de criar e servir. P. Sinodal Breno Carlos Willrich Blumenau/SC
Oração Amado Deus e Pai. Nós te louvamos por podermos te servir através de nosso trabalho e por podermos descansar em ti. Permite, Senhor, que sempre possamos nos alegrar nas obras das tuas mãos e nos frutos de nosso labor. Amém.
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Abril 1 Sex 2 Sáb 3 Dom
4 Seg 5 Ter 6 Qua 7 Qui 8 Sex 9 Sáb 10 Dom
11 Seg 12 Ter 13 Qua 14 Qui 15 Sex 16 Sáb 17 Dom
18 Seg 19 Ter 20 Qua 21 Qui 22 Sex 23 Sáb 24 Dom
25 Seg 26 Ter 27 Qua 28 Qui 29 Sex 30 Sáb
Mt 10.34-39 1985 – Lançado o primeiro número do jornal O CAMINHO Lc 17.28-33 Ef 5.8-14 4º DOMINGO NA QUARESMA Violeta Assim como Moisés, no deserto, levantou a serpente numa estaca, assim também o Filho do Homem tem de ser levantado, para que todos os que crerem nele tenham a vida eterna. João 3.14-15 Dt 8.1-10 1968 – † Martin Luther King (assassinado), pastor batista, líder do movimento negro dos EUA (✩ 15/01/1929) Jó 9.14-35 Jo 15.9-17 2Co 4.11-18 1831 – Abdicação de D. Pedro I, primeiro imperador do Brasil Jo 10.17-26 Jo 14.15-21 1945 – † Dietrich Bonhoeffer, teólogo alemão, mártir do nazismo (✩ 04/02/1906) Jo 11.1-3, 5º DOMINGO NA QUARESMA Violeta Jo 17-27 Jesus Cristo diz: O próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida para salvar muita gente. Marcos 10.45 Mt 26.1-16 Jó 19.21-27 Hb 9.11-15 1598 – Edito de Nantes; tolerância para os protestantes na França (revogado em 1685) 1Co 2.1-5 Hb 10.1-18 Ap 14.1-5 Mt 21.1-11 DOMINGO DE RAMOS – PAIXÃO Violeta ou Vermelho Jesus respondeu aos discípulos: É chegada a hora de ser glorificado o Filho do Homem. João 12.23 Rm 5.6-11 Mt 27.1-14 Dia dos Povos Indígenas Is 26.20-21 1529 – 2ª Dieta de Espira: protestos dos príncipes evangélicos alemães contra a restrição da liberdade de religião (“protestantes”) Mt 26.36-56 QUINTA-FEIRA DA PAIXÃO – QUINTA FEIRA SANTA Branco 1792 – † Tiradentes, Joaquim José da Silva Xavier, enforcado 1960 – Inauguração de Brasília como nova capital do Brasil Sl 22.1-19 SEXTA-FEIRA DA PAIXÃO Preto, Vermelho ou ausência de cor SEXTA-FEIRA SANTA 1500 – Chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil (descobrimento do Brasil) Jó 14.1-14 SÁBADO DA PAIXÃO – VIGÍLIA PASCAL Violeta ou Preto Dia Mundial do Livro Mt 28.1-10 DOMINGO DA PÁSCOA Branco ou Dourado Sabemos que Cristo foi ressuscitado e nunca mais morrerá, pois a morte não tem mais poder sobre ele. Romanos 6.9 Cl 2.14 1Co 15.20-28 1500 – Primeira missa no Brasil 1Co 15.35-49 1Co 15.50-57 1Co 5.6b-8 2Tm 2.8-13
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Paixão e Páscoa
Sabemos que Cristo foi ressuscitado e nunca mais morrerá, pois a morte não tem mais poder sobre ele. Romanos 6.9
Todos nós guardamos fatos marcantes da infância, alguns de alegria, outros de dificuldade. Lembro, por exemplo, quando nuvens escuras prenunciavam um temporal. O pai e a mãe tomavam medidas para proteger os animais, recolher objetos e, depois, a ordem era todos dentro de casa, com a precaução de fechar portas e janelas. Eram momentos de apreensão. Normalmente, depois das primeiras lufadas de vento, o pai dizia, para alívio de todos: “O pior já passou!”. Estamos na época da Paixão e da Páscoa. Jesus caminha em direção a Jerusalém. Isto significava ir ao encontro às nuvens escuras que subiam no horizonte. Ou melhor dizendo: Jesus caminhava em direção ao olho do furacão, onde o plano da sua morte estava sendo arquitetado. A oração do Getsêmani - o pedido ao Pai para que o poupasse da cruz – mostra profunda angústia. Quando, por volta do meio dia, Jesus morre, o sol se escondeu e a escuridão cobriu a terra (Lucas 23.44). A apreensão e a incerteza perduraram até domingo, especialmente para os/as seguidores/as. A notícia surpreendente chegou com a alvorada. Ao clarear deste novo dia as mulheres encontram a pedra removida. Espantadas, admiradas e alegres elas saem
para dar a notícia: Jesus vive! Aquele que na cruz carregou sobre si os pecados, que não eram seus, ressuscitou. O amor de Deus para com a humanidade e a fidelidade ao seu Filho fizeram a vida vencer a morte: É Páscoa! Você e eu sabemos que na jornada da vida somos presenteados com alegrias: o nascimento de um filho, o reencontro com um amigo, o convívio em comunidade, etc. Mas, também sabemos que as alegrias são entremeadas por apreensão: o diagnóstico de uma doença, a notícia da perda do emprego, o/a filho/a envolvida com drogas. Em qualquer uma destas situações, de bonança ou de tempestade, os filhos e as filhas de Deus carregam consigo e se agarram à Boa Nova contida no sofrimento, morte e ressurreição de Jesus Cristo. Na Paixão e na Páscoa Deus declara: “O pior já passou.” As alegrias e a comunhão já são sinais do Reino entre nós. As cruzes que ainda existem estão com os dias contados. O povo de Deus caminha em direção à alvorada. Quando assim cremos, temos motivos para louvar a Deus. Quando assim cremos, recebemos força para enfrentar obstáculos, ânimo para servir o próximo, coragem para dar testemunho de fé no lugar onde Deus nos coloca. P. Sinodal Nilo O. Christmann Toledo/PR
Oração Bondoso Deus! Muito obrigado que percorreste em nosso favor o caminho da cruz. Obrigado pela dádiva da salvação. Ajuda-nos em meio às tempestades. Presenteia-nos tempos de paz. Concede-nos ânimo para te servir. Amém.
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Maio 1 Dom
At 2.14a, At 2.22-32
2 Seg 3 Ter
Is 42.10-16 Jó 42.7-17
4 Qua 5 Qui
1Pe 1.22-25 Jo 17.9-19
6 Sex 7 Sáb 8 Dom
Lc 23.50-56 Jo 12.44-50 1Pe 1.17-23
9 Seg 10 Ter 11 Qua 12 Qui 13 Sex 14 Sáb 15 Dom
Nm 27.12-23 1Co 4.9-16 Jo 17.20-26 Ef 4.8-16 Mt 26.30-35 Jo 14.1-6 Sl 23
16 Seg 17 Ter 18 Qua 19 Qui 20 Sex 21 Sáb 22 Dom
Rm 1.18-25 2Co 5.11-18 Jo 8.31-36 Rm 8.7-11 Jo 19.1-7 Ap 22.1-5 Jo 14.1-14
23 Seg 24 Ter 25 Qua
Tg 1.17-27 Lc 19.36-40 Rm 15.14-21 1700 – ✩ Nikolaus Ludwig, Conde de Zinzendorf, fundador da Igreja Evangélica dos Irmãos Herrnhut, Alemanha († 09/05/1760) 1Co 14.6-19 Lc 22.39-46 Jo 6.60-69 Jo 14.15-21 6º DOMINGO DA PÁSCOA Branco ou Dourado Jesus Cristo diz: Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada. João 14.23 1537 – Declarada a liberdade dos indígenas americanos pelo Papa Paulo III 1Rs 3.5-15 1909 – ✩ Dr. Ernesto T. Schlieper, 2º Pastor Presidente da IECLB († 31/10/1969) Êx 17.8-13
26 Qui 27 Sex 28 Sáb 29 Dom
30 Seg 31 Ter
2º DOMINGO DA PÁSCOA Branco ou Dourado Jesus disse para Tomé: Você creu porque me viu? Felizes são os que não viram, mas assim mesmo creram! João 20.29 Dia do Trabalho 1824 – Fundação da primeira comunidade evangélica pertencente à IECLB, em Nova Friburgo, RJ 1865 – ✩ Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, sertanista e geógrafo brasileiro († 19/01/1958)
3º DOMINGO DA PÁSCOA Branco ou Dourado Os discípulos de Emaús disseram um ao outro: Porventura, não nos ardia o coração, quando ele, pelo caminho, nos falava, quando nos expunha as Escrituras? Lucas 24.32 DIA DAS MÃES 1945 – Fim da 2ª Guerra Mundial na Europa 1886 – ✩ Karl Barth, teólogo evangélico suíço († 10/12/1969) 1888 – Abolição da escravatura no Brasil 1950 – 1º Concílio Geral da Federação Sinodal, em São Leopoldo, RS 4º DOMINGO DA PÁSCOA Branco ou Dourado Jesus Cristo diz: Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem a mim. João 10.14 1939 – Fundação da Casa Matriz de Diaconisas, em São Leopoldo, RS 1886 – Fundação do Sínodo Riograndense, em São Leopoldo, RS 5º DOMINGO DA PÁSCOA Branco ou Dourado Jesus Cristo diz: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim. João 14.6
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4º mandamento
Honre o seu pai e a sua mãe para que você viva muito tempo na terra.
“Vida com qualidade” ou “qualidade de vida” são expressões que se tornaram comuns e constantes. Falamos, buscamos e fazemos muito para que tenhamos uma vida com qualidade. Desejamos alcançar idade elevada e, sobretudo, viver uma vida com qualidade. O que se entende por qualidade de vida? Principalmente vida com saúde, mas também com lazer e bem estar. Neste sentido, prefeituras oferecem oportunidades para que as pessoas, sobretudo idosas, possam viver bem: espaços para exercícios e atividades físicas, para caminhadas, para dança e jogos, para encontros e viagens. Também se oferecem cada vez mais orientações para uma alimentação saudável e equilibrada com o objetivo de evitar doenças e ter mais saúde. Neste sentido, também jovens freqüentam academias para ter um corpo sarado, mas também para sentir-se bem e chegar à fase idosa com saúde. No quarto mandamento há uma promessa de vida longa (Êxodo 20.12) e vida boa (Deuteronômio 5.16): idade avançada com qualidade de vida. Vida longa e boa é prometida àqueles que honram os seus pais. Sem dúvida nenhuma, bons relacionamentos fazem parte da qualidade de vida. Saúde boa. Lazer. Alimentação boa. Moradia
boa. Acesso à educação. Mas também bons relacionamentos na família, na comunidade, no local de trabalho resultam em qualidade de vida. No catecismo menor Martim Lutero explica o que se precisa evitar e também o que se pode fazer para honrar os pais, ter um bom relacionamento e ter qualidade de vida Ele aponta o desprezo e a irritação como atitudes que atrapalham o relacionamento com pais e prejudicam a qualidade de vida. Por isso devem ser evitados. Mas também fala daquelas atitudes que ajudam a construir um bom relacionamento com os pais: “mas devemos honrá-los, servir e obedecer-lhes, amar e querê-los bem”. Como são difíceis essas atitudes! Amar e querer bem, isso sim. Mas quem quer servir e obedecer? Mas são palavras amáveis, gestos de humildade e disponibilidade para acolher, ouvir e aprender dos pais que constituem um bom serviço para construir bons relacionamentos. Respeito às opiniões, valorização das sugestões, diálogo atencioso com os pais certamente também contribuirão para que todos vivamos uma vida com mais qualidade. P. Ivo Schoenherr Marília/SP
Oremos Querido e bondoso Deus, Mãe e Pai! Obrigado pela dádiva do relacionamento familiar. Concede-nos sabedoria e discernimento para perceber o que podemos fazer para criar um ambiente amoroso entre pais e filhos. Amém.
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Junho 1 Qua 2 Qui 3 Sex 4 Sáb 5 Dom
6 Seg 7 Ter 8 Qua 9 Qui 10 Sex 11 Sáb 12 Dom
13 Seg 14 Ter 15 Qua 16 Qui 17 Sex 18 Sáb 19 Dom
20 Seg 21 Ter 22 Qua 23 Qui 24 Sex 25 Sáb 26 Dom
27 Seg 28 Ter 29 Qua 30 Qui
Lc 11.1-4 Lc 24.44-53 Jo 18.33-38 Ef 6.18-24 At 1.6-14
ASCENSÃO DO SENHOR
Branco ou Dourado
7º DOMINGO DA PÁSCOA Branco ou Dourado Jesus Cristo diz: Não os deixarei órfãos, voltarei para vocês. João 14.18 Dia Mundial do Meio Ambiente
Ez 11.14-20 Lc 21.12-19 Lc 12.8-12 At 1.12-26 Jo 19.25-27
1888 – 1º número do “Sonntagsblatt” (Folha Dominical) do Sínodo Riograndese Zc 4.1-14 1948 – Criação da Sociedade Bíblica do Brasil Jo 7.37-39 DOMINGO DE PENTECOSTES Vermelho Jesus Cristo diz: Quando o Espírito Santo descer sobre vocês, vocês receberão poder e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria e até nos lugares mais distantes da terra. Atos 1.8 1Co 12.3b-13 Segunda-feira de Pentecostes 1525 – Casamento de Martim Lutero e Catarina von Bora At 4.23-31 1910 – Conferência Missionária Mundial em Edimburgo, na Escócia At 8.9-25 At 11.1-18 At 11.19-26 1703 – ✩ John Wesley, pai do metodismo († 02/03/1791) At 18.1-11 MT 28.16-20 1º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Branco ou Dourado TRINDADE Os serafins diziam em voz alta uns para os outros: Santo, santo, santo é o Senhor Todo-Poderoso; a sua presença gloriosa enche o mundo inteiro! Isaías 6.3 1934 – Constituição da Confederação Evangélica do Brasil (CEB) Jr 10.6-12 Is 43.8-13 At 17.22-34 Ef 4.1-7 CORPUS CHRISTI Lc 1.57-80 João Batista, profeta Branco 1904 – Fundação da Igreja Luterana do Brasil (IELB) Jo 14.7-14 1827 – Fundação da Comunidade Protestante Teuto-Francesa do Rio de Janeiro, hoje pertencente à IECLB Mt 10.40-42 2º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde O Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, conceda a vocês espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele. Efésios 1.17 AÇÃO DE GRAÇAS PELA COLHEITA – Dt 26.1-11 1945 – Criação da ONU em São Francisco, EUA Lc 10.1-16 Jr 36.1-31 1912 – Fundação do Sínodo das Comunidades Teuto-Evangélicas (Sínodo Evangélico) do Brasil Central no Rio de Janeiro 1Ts 2.1-12 Jo 21.15-19 1947 – Assembléia Constituinte da Federação Luterana Mundial em Lund, na Suécia
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5º mandamento
Não mate.
Este talvez é o mandamento, do qual você dirá: Este mandamento é muito fácil de cumprir. Este eu garanto que cumpro. Afinal, não sou assassino, não ando armado. Eu seria incapaz de sequer ferir fisicamente uma pessoa, quanto mais tirar-lhe a vida! Que bom se assim for. Que bom se o valor da vida está tão em alta na sua escala de valores!! Porque hoje, de modo geral, o valor da vida está muito em baixa. Mata-se e morre-se por qualquer motivo, e mesmo sem motivo aparente. E cada vez com maiores requintes de crueldade. Basta acompanhar um pouco os noticiários policiais, que dá para ficar com o cabelo arrepiado: “Irmão mata irmão com machadada”; “Pedófilo estupra menina e depois a mata por enforcamento” ; “Jovem esfaqueia avó em luta por dinheiro para comprar crack”; “Adolescente preso confessa que já matou três”; “Jovem invade escola e chacina cinco colegas e três professores na Alemanha”... Como o valor da vida anda defasado... E qual será a causa para este crescimento assustador violência no mundo? Penso que todos precisamos nos preocupar seriamente com isto. Você talvez dirá: Mas para mim isto não vale! Para mim a vida tem o supremo valor que existe. Eu jamais mataria! Você tem certeza? Eu conheço alguém que também pensava, falava assim e sempre agiu assim. E de repente estava em meu escritó-
rio, num choro incontido, dizendo: - Pastor, eu atropelei uma pessoa. Ela morreu!! Eu não pude fazer nada. Ela simplesmente saiu pela frente de um ônibus parado e veio para o meio da pista por onde eu vinha. Eu queria que o senhor visse o rosto apavorado dela imediatamente antes do impacto! Eu matei uma pessoa, pastor!! Claro, foi um acidente. Não foi intencional. Mas foi uma morte! Como você vê, você não pode ter plena certeza que sempre conseguirá cumprir este 5º mandamento... Na sua explicação a este mandamento, no Catecismo Menor, Martim Lutero nos ensina que “matar” é mais do que só causar a morte física. É causar qualquer dano ou mal ao nosso próximo em seu corpo também é matar. Eu diria mais: Também causar dano ou mal psicológico ou moral é “matar”. Quando compreendemos o 5º mandamento por esta perspectiva, percebemos que também este mandamento não nos quer deixar com uma postura de fariseus. Que também ele nos faz reconhecer que necessitamos da graça e do perdão de Deus diariamente. De Deus, que nos compromete com a luta e o empenho pela vida, nossa e do nosso próximo. Lutero encerra a sua explicação dizendo: “Devemos ajudar o nosso próximo, para que tenha tudo de que precisa para viver”. P. Dr. Osmar Zizemer Blumenau/SC
Oração Senhor, obrigado pelo dom da vida. Ajuda-me a empenhar-me com todas as minhas forças contra tudo que promove a morte; ajuda-me a viver e a promover a vida, como a ti agrada. Amém.
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Julho 1 Sex
Lc 22.24-30
2 Sáb 3 Dom
Fp 1.12-18a Rm 7.15-25a 3º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde A semente que caiu na boa terra são os que, tendo ouvido de bom e reto coração, retêm a palavra; estes frutificam com perseverança. Lucas 8.15 Pv 9.1-10 1776 – Independência dos Estados Unidos da América (EUA) Êx 2.11-25 1 Sm 1.1-11 Mt 15.29-39 Lc 23.39-43 Jr 31.7-14 Mt 13.1-23 4º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Se guardares o mandamento que hoje te ordeno, que ames o Senhor, teu Deus, andes nos seus caminhos, e guardes os seus mandamentos, e os seus estatutos, e os seus juízos, então, viverás e te multiplicarás, e o Senhor, teu Deus, te abençoará. Deuteronômio 30.16 1509 – ✩ João Calvino, reformador de Genebra (Suíça), líder do ramo calvinista do protestantismo († 27/05/1564) Lc 5.27-32 Êx 32.30-33.1 Jo 5.1-16 1553 – Chegada do jesuíta José de Anchieta ao Brasil Mt 18.15-20 Mt 27.3-10 Rm 8.1-16 1054 – Cisão da Igreja Ocidental (Roma) e Oriental (Constantinopla) Is 44.6-8 5º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Deus diz: A palavra que sair da minha boca não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a designei. Isaías 55.11 Lc 5.17-26 Ne 9.1-36 Mc 11.20-26 1873 – ✩ Alberto Santos Dumont, pioneiro da aviação († 23/07/1932) 1Co 12.19-26 Lc 23.17-26 2Co 13.10-13 Mt 13.44-46 6º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Simão Pedro respondeu a Jesus: Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna. João 6.68 Lc 6.12-19 1824 – Chegada dos primeiros imigrantes alemães em São Leopoldo, RS Dia do Colono e do Motorista Gn 35.1-15 Ez 2.3-8a At 15.4-12 Lc 22.31-34 Fp 3.12-16 Rm 9.1-5 7º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Jesus diz: Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada. João 14.23
4 Seg 5 Ter 6 Qua 7 Qui 8 Sex 9 Sáb 10 Dom
11 Seg 12 Ter 13 Qua 14 Qui 15 Sex 16 Sáb 17 Dom
18 Seg 19 Ter 20 Qua 21 Qui 22 Sex 23 Sáb 24 Dom
25 Seg 26 Ter 27 Qua 28 Qui 29 Sex 30 Sáb 31 Dom
1921 – Fundação do Instituto Pré-Teológico do Sínodo Riograndense, em Cachoeira do Sul, RS
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6º mandamento
Não cometa adultério.
Por que tem sido tão difícil levar uma vida sexual responsável, amar e respeitar o cônjuge? Simplesmente porque tem faltado o essencial: Temer a amar a Deus acima de todas as coisas. Qual foi a pergunta que Jesus fez a Pedro por três vezes seguidas? (João 21.15-17) Você me ama? Jesus conhecia Pedro muito bem. Este Pedro, que se disse forte para defender e seguir a Jesus, acabou mostrando-se fraco e medroso, a ponto de traí-lo, o melhor, negá-lo por três vezes seguidas. Ao indagálo, Jesus não quer saber o que Pedro fez. Jesus olha para o amor que está no fundo do coração deste homem e o faz emergir, tornar-se visível. É exatamente esse homem fraco e culpado que é chamado por Jesus para uma grande responsabilidade. No entanto, o que vai ser determinante para o êxito da tarefa não é a força ou a capacidade de Pedro, mas sim o seu amor ao Senhor. Este sim, faz toda a diferença. Quando não se ama ao Senhor acima de
todas as coisas, é porque amamos outras coisas mais, e aí se torna muito difícil o relacionamento entre as pessoas, também entre casais, pais e filhos, etc. Assim como Jesus confiou uma responsabilidade a Pedro depois de sua resposta afirmativa, assim também depois do SIM diante do altar, diante de Deus, a nós é confiada uma responsabilidade muito grande, a saber: fazer o outro feliz. Deus sabe que somos fracos, falhos, mas mesmo assim ele nos chama para esta grande responsabilidade. E só vamos dar conta dela com êxito, se por trás de tudo estiver o amor ao Senhor. Quem ama ao SENHOR não usa, não abusa e nem se aproveita do outro. Quem ama ao Senhor não procura desfazer, menosprezar, trair, escravizar o outro. O verdadeiro amor cultiva a fidelidade, a compreensão, a franqueza, que por sua vez valoriza e perdoa o outro, e que é fruto do amor que temos por Deus. P. Lauro E. Fleck Marechal Cândido Rondon/PR
Oração Ó Deus, através do Espírito Santo encontra, mesmo que escondido no fundo do nosso coração, o verdadeiro amor, e traze-o à tona para reger nossas relações. Dá que o amor entre nós jamais acabe, que ele seja verdadeiro, daquele que conforme o apóstolo Paulo diz: tudo sofre, tudo crê, tudo espera e tudo suporta. Amém.
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Agosto 1 Seg 2 Ter 3 Qua 4 Qui 5 Sex 6 Sáb 7 Dom
8 Seg 9 Ter 10 Qua 11 Qui 12 Sex 13 Sáb 14 Dom
15 Seg 16 Ter 17 Qua 18 Qui 19 Sex 20 Sáb 21 Dom
22 Seg 23 Ter 24 Qua 25 Qui 26 Sex 27 Sáb 28 Dom
29 Seg 30 Ter 31 Qua
Êx 14.15-22 At 2.32-40 At 16.23-34 Mt 18.1-6 Jo 19.31-37
1927 – 1ª Conferência Mundial de Fé e Ordem, em Lausanne, Suíça
1872 – ✩ Osvaldo Gonçalves Cruz, cientista e médico-sanitarista brasileiro († 12/02/1917) Ap 3.1-6 1911 – Fundação da Associação de Comunidades Evangélicas Alemãs de Santa Catarina, em Blumenau Mt 14.22-33 8º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde A fé é a certeza de que vamos receber as coisas que esperamos e a prova de que existem coisas que não podemos ver. Hebreus 11.1 2Cr 30.13-22 Mt 22.1-14 Zc 8.9-17 1Co 10.16-17 Lc 22.14-20 Ap 19.4-9 Is 56.1, 6-8 9º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Deus nos deixou a promessa de que podemos receber o descanso de que ele falou. Hebreus 4.1 DIA DOS PAIS Tg 2.14-26 1899 – Fundação da OASE em Rio Claro, SP 2Co 6.11-18 Tg 3.13-18 Lc 11.33-41a Jo 18.19-24 1925 – 1ª Conferência Universal Cristã de Vida e Obra em Estocolmo, na Suécia Fp 2.12-18 Mt 16.13-20 10º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Jesus acabou com o poder da morte e, por meio do evangelho, revelou a vida que dura para sempre. 2 Timóteo 1.10 Semana da Pessoa Portadora de Deficiência – 21 a 28 de agosto 1 Rs 3.16-28 1948 – Assembléia Constituinte do Conselho Mundial de Igrejas, em Amsterdã, na Holanda Ez 3.16-21 Mt 19.4-15 Ef 5.15-20 Jo 19.9-16a Lc 12.42-48 Rm 12.9-21 11º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Ó Senhor, eu sou teu, e por isso as tuas palavras encheram o meu coração de alegria e de felicidade. Jeremias 15.16 Rm 11.1-12 Lc 21.5-24 Jo 4.19-26
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7º mandamento
Não roube.
Na explicação dada por Martin Lutero aprendemos que, em primeiro lugar devemos temer e amar a Deus. Quem ama a Deus, também ama o seu semelhante. Por isso não devemos lhe tirar nada, nem ser falso, nem ser desonesto. Pelo contrário, quem ama vai ajudar o seu próximo. Nos mandamentos os verbos “roubar ou cobiçar” não significam apenas desejar algo que pertence à outra pessoa, mas significa também usar um artifício para ter direito de posse e a consequente ação de tomar posse. Portanto, no sétimo mandamento está colocada a questão do direito e da propriedade. A questão da propriedade particular na Bíblia é vista, por um lado, de maneira positiva, entendida como sinal de bênção divina. No NT, nos Evangelhos e nas epístolas é visto como algo normal, que as pessoas trabalhem e até multipliquem seus bens (Lucas 19.11ss; Mateus 20.15). A propriedade faz parte da vida do ser humano no sentido de que ele deve ter condições e um ambiente que lhe permite a boa sobrevivência. Por outro lado a propriedade privada não é santificada na Bíblia. Há críticas a ela. O aspecto negativo da propriedade é apontado em Deuteronômio, pelo profeta Amós, por Jesus e pelos apóstolos. O aspecto negativo é que a propriedade/bens, usada como necessidade para a sobrevivência e desenvolvimento da vida, pode ser transformada em instrumento de poder contra seu semelhan-
te. Aí passa a ser uma ameaça à justiça e à paz. Contra estas situações se levantam os profetas e o próprio Jesus, colocando-se ao lado dos fracos e necessitados. Portanto, a ganância, o roubo (nas suas mais variadas formas) e a ambição deixam a vida humana mais sofrida e pobre de valores fundamentais. Neste sentido Jesus é radical ao afirmar: “Vocês não podem servir a dois senhores” (Mateus 6.24). O sétimo mandamento nos quer abrir os olhos, apontando o caminho da liberdade, da responsabilidade, da honestidade e da vida em abundância para todos. Todos devem viver em respeito, honestidade e harmonia. O mandamento aponta na perspectiva de uma nova sociedade em que a ordem política, econômica e social leva em conta a vida de todas as pessoas, contemplando, por exemplo, o direito a moradia, salário justo, trabalho, escola, saúde, preços justos, terra para nela plantar, vestimenta, comida etc. Neste mandamento aprendemos ainda que a espiritualidade cristã desperta e conduz para a partilha e o engajamento solidário contra todas as formas de exploração e dominação. Temer e amar a Deus impulsiona e desafia para querer sempre o bem do nosso próximo. E isso traz consequências concretas para a vida. P. Valdemar Witter Piratuba/SC
Oração Amado Deus e Pai! Eu te agradeço por me dares o que preciso para viver, e até mais. Ajuda-me a receber com gratidão este “pão de cada dia”, e dá que eu o use para servir a ti e às pessoas com que convivo. Amém.
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Setembro 1 Qui 2 Sex 3 Sáb 4 Dom
5 Seg 6 Ter 7 Qua 8 Qui 9 Sex 10 Sáb 11 Dom
12 Seg 13 Ter 14 Qua 15 Qui 16 Sex 17 Sáb 18 Dom
19 Seg 20 Ter 21 Qua 22 Qui 23 Sex 24 Sáb 25 Dom
26 Seg 27 Ter 28 Qua 29 Qui 30 Sex
Rm 11.13-24 1939 – Início da 2ª Guerra Mundial na Europa Lc 23.27-31 1850 – Início da colonização em Blumenau, SC Dt 4.27-40 Mt 18.15-20 12º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Alegrem-se sempre no Senhor; outra vez digo: alegrem-se. Filipenses 4.4 1850 – Abolição do tráfico de escravos africanos no Brasil Ez 17.1-24 Gn 19.15-26 Mt 6.9-13 1822 – Independência do Brasil Verde 1Pe 5.1-5 Dia Mundial da Alfabetização Lc 22.54-62 Is 26.1-6 Dia da Imprensa Gn 50.15-21 13º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Tudo o que está nas Escrituras foi escrito para nos ensinar, a fim de que tenhamos esperança por meio da paciência e da coragem que as Escrituras nos dão. Romanos 15.4 Mt 9.27-34 1990 – Fundação da Comunhão Martim Lutero em Joinville, SC Nm 12.1-15 Mt 17.14-21 Tg 5.13-16 Lc 23.6-12 Is 57.15-19 Mt 20.1-16 14º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde O apóstolo Paulo diz: Eu trago vocês no coração, seja nas minhas algemas, seja na defesa e confirmação do evangelho, pois todos vocês são participantes da graça comigo. Filipenses 1.7 Dt 15.1-11 Am 5.4-15 Dt 24.10-22 Dia da Árvore At 4.32-37 Mt 26.47-56 Jd 1, 2, 20-25 Fp 2.1-13 15º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai. Filipenses 2.10-11 2 Tm 1.1-7 Jo 9.24-41 Dia do Ancião Fm 1-22 Dn 1.1-3 Dia de São Miguel e Todos os Anjos Branco Mt 26.51-54
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8º mandamento
Não fale mentiras a respeito do próximo.
Os mandamentos são sinais, balizas, que Deus deu a seus filhos/as para ajudá-los a caminharem em e com segurança pela estrada da vida a fim de que a sua vontade possa tornar-se realidade entre eles, ou seja: para que tenham vida e vida com abundância. Por meio do 8º mandamento Deus quer nos ajudar a construir relações interpessoais, baseadas na confiança mútua e na verdade. Quer nos ajudar a encontrar e a viver em paz. Nós vivemos num tempo onde a palavra das pessoas vale muito pouco. É preciso assinar uma porção de documentos para tentar garantir qualquer negócio e mesmo assim... não garante muita coisa. Que saudades do tempo em que os acordos eram feitos verbalmente, garantidos pelo “fio do bigode”, ou seja: honrava-se a palavra empenhada e as pessoas viviam menos estressadas e mais confiantes, pois sabiam que se podia confiar... Nos tempos em que vivemos, constantemente vivenciamos que as palavras proferidas pelas pessoas não significam exatamente aquilo que elas dizem, pois são ditas com segundas e terceiras intenções e interpretações... Diferentes motivos levam
as pessoas a usar mal o dom da fala e com isto a desobedecer ao 8º mandamento. Entre tais motivos poderíamos lembrar: o medo – medo das consequências, medo de represálias, lei do silêncio (pois se abrires a boca para denunciar, então vai sobrar para ti...); ganância – querer ganhar e lucrar a qualquer custo, mesmo que para tanto tenha que enganar ao outro; ódio – mentir somente para atrapalhar a vida de alguém de quem não se gosta; amor: – mentir para encobrir erros e culpa de alguém que queremos bem... Não importa o motivo que nos leva a mentir, mas sempre que usamos esta artimanha para alcançar o nosso objetivo, estaremos ajudando a bagunçar a vida legal que Deus deseja para seus filhos/as que ele tanto ama. Pois estaremos prejudicando e até colocando em risco a dignidade de vida de um irmão. Por meio do 8º mandamento, Deus está te convidando para, por meio do dom da fala, ajudares a trazer paz para a sua criação, animando pessoas e mostrando que podem confiar em ti e nas tuas palavras... Seja um semeador de paz com tua vida. P. Sinodal Bruno Bublitz Restinga Seca/RS
Oração Bondoso Deus. Tu conheces a minha vida e também os meus medos e interesses... Usame como teu instrumento para trazer paz para este mundo... Que as minhas palavras sejam baseadas na verdade e motivadas pelo amor..., que possam ser qual bálsamo que ajuda a curar feridas e promover a vida. Amém.
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Outubro 1 Sáb 2 Dom
3 Seg 4 Ter 5 Qua 6 Qui 7 Sex 8 Sáb 9 Dom
10 Seg 11 Ter 12 Qua 13 Qui 14 Sex 15 Sáb 16 Dom
17 Seg 18 Ter 19 Qua 20 Qui 21 Sex 22 Sáb 23 Dom
24 Seg 25 Ter 26 Qua 27 Qui 28 Sex 29 Sáb 30 Dom
31 Seg
Ap 14.6-16
1921 – Reunião de constituição do Conselho Missionário Internacional em Lake Mohonk, EUA Mt 21.33-46 16º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Ó Deus, eu falarei a respeito de ti aos meus irmãos e te louvarei na reunião do povo. Hebreus 2.12 Fp 4.8-14 1226 – † Francisco de Assis, fundador da Ordem dos Frades Menores (franciscanos) (✩ 1181/1182) 1Tm 6.3-11a 1959 – Inauguração do prédio principal da Faculdade de Teologia da IECLB, em São Leopoldo, RS At 27.33-44 Lc 10.38-42 Lc 22.35-38 Lc 6.20-26 Is 25.1-9 17º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Naquele dia, todos dirão: Ele é o nosso Deus. Nós pusemos a nossa esperança nele, e ele nos salvou. Isaías 25.9 1905 – Fundação do Sínodo Evangélico Luterano de SC, PR e Outros Estados da América do Sul, em Estrada da Ilha, SC Rm 6.18-23 At 21.8-14 1962 – Concílio Vaticano II, da Igreja Católica Romana, em Roma Mc 5.21-43 Dia da Criança – Dia de Nª Srª Aparecida (feriado nacional) Fp 1.19-26 Jo 18.3-9 Mc 9.1-10 Mt 22.15-22 18º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Segundo o seu querer, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como que primícias das suas criaturas. Tiago 1.18 Mc 5.24-34 Tg 1.1-13 Lc 7.1-10 At 5.34-42 1962 – Assembléia Constituinte do Sín. Evang. Luterano Unido (SELU) 1997 – Inauguração da Gráfica e Editora Otto Kuhr, em Blumenau, SC Jo 19.28-30 Mt 14.22-33 1Ts 2.1-8 19º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde O Senhor me livrará de todo mal e me levará em segurança para o seu reino celestial. A ele seja dada a glória para todo o sempre! 2 Timóteo 4.18 1 Ts 4.9-12 1 Tm 1.1-11 1968 – Reestruturação da IECLB, fusão dos 3 Sínodos, criação da RE IV Ct 8.4-7 1949 – Constituição da IECLB At 6.1-7 1916 – ✩ Karl Gottschald, 3º Pastor Presidente da IECLB († 02/08/1993) Lc 23.32-34 Mt 5.17-24 Dia Nacional do Livro e da Leitura Mt 23.1-12 20º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Irmãos, orem por nós, para que a palavra do Senhor se propague e seja glorificada, como também está acontecendo entre vocês. 2 Tessalonicenses 3.1 Gl 5.1-11 DIA DA REFORMA Vermelho 1517 – Lançamento das 95 Teses de Martim Lutero
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9º mandamento
Não deseje possuir a casa de seu próximo.
O texto original deste mandamento usa uma palavra mais forte; fala da “cobiça” e da “casa”. A cobiça é um desejo veemente e desmedido de possuir bens de outra pessoa; é a ambição de querer possuir a qualquer custo o que pertence a outro. E é isso que o nono mandamento proíbe: o de não querer possuir bens alheios. E vai mais além: o de não querer possuir a “casa” do próximo. O que significa “casa” e para quem foi dirigido este mandamento?A compreensão de casa no Antigo Testamento é mais do que simplesmente a moradia. Entende-se por casa a moradia, a terra, os bens, os animais e as pessoas que fazem parte da família, inclusive os empregados. A casa é o conjunto das pessoas e dos bens que constituem uma família. Na época em que os mandamentos foram escritos havia grande desigualdade social. Os poderosos e ricos exploravam os desfavorecidos e pobres. Apropriar-se dos bens e da casa do próximo era considerado como direito dos reis da época. Em 1 Samuel 8.1117 está escrito quais são esses “direitos”: tomar os filhos para servir de combatentes na guerra e para cultivar a terra; tomar as filhas para serem cozinheiras e perfumistas; tomar o melhor das lavouras; tomar os empregados e empregadas; e tomar os animais. Todos se tornavam escravos do rei. O rei
Salomão acumulou grande riqueza, conforme relata o livro de 1 Reis 10.14-29; 11.1-8. Deus não estava nada satisfeito com essa prática. Por isso ele deu esse mandamento para que a casa do próximo fosse respeitada contra a cobiça e o roubo. Jesus relembra esse mandamento contra a cobiça quando fala dos valores da vida, citando o exemplo dos passarinhos e das flores (Mateus 6.25-34 e Lucas 12.22-34). De acordo com Erhard Gerstenberger “devemos temer e amar a Deus e, portanto, não seguir as diretrizes da nossa sociedade, de avançar por cima do nosso próximo, de acumular bens e poderes às suas custas, e priválo do sustento vital; mas devemos ajudar os oprimidos e explorados a receberem de volta os bens e oportunidades deles roubados, dando-lhes, assim, a chance de viverem dignamente”. A cobiça é algo muito atual. Vivemos num sistema capitalista. Há o incentivo ao consumo e à cobiça por acúmulo de riquezas. E quem mais sofre com isso são os economicamente menos favorecidos. Com o nono mandamento Deus mostra que o seu desejo é que todas as pessoas vivam com o mínimo de dignidade, respeito e paz. P. Sinodal Joaninho Borchardt Vitória/ES
Oração Bondoso Deus, nós te pedimos: Ajuda para que todas as pessoas tenham sempre o pão de cada dia na mesa. Mas que esse sustento venha do nosso próprio trabalho e suor. Livra-nos da inveja e da cobiça. Dá que pratiquemos a partilha e a justiça. Em nome de Jesus Cristo. Amém.
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Novembro 1 Ter 2 Qua 3 Qui
Ap 7.9-17 Is 35.1-10 Mc 6.7-13
4 Sex 5 Sáb 6 Dom
Mt 27.39-44 At 14.8-18 Am 5.18-24 21º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Fiquem vigiando, pois vocês não sabem em que dia vai chegar o seu Senhor. Mateus 24.42 Mc 4.1-12 Mc 13.9-20 Hb 13.1-9b 1Jo 2.18-29 1483 – ✩ Martim Lutero, reformador († 16/02/1546) Mt 26.36-41 1982 – Assembléia Constitutiva do Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI), em Huampaní, Lima, Peru Mc 13.30-37 1Ts 5.1-11 22º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Aquele que dá testemunho de tudo isso diz: Certamente venho logo! Amém! Vem, Senhor Jesus! Apocalipse 22.20 354 – ✩ Aurélio Agostinho, teólogo da Igreja Antiga Ocidental (latina), bispo († 28/08/430) Mt 7.21-29 Hb 10.26-31 1889 – Proclamação da República do Brasil Lc 13.1-9 2Ts 1.3-12 Mt 26.59-66 1982 – Constituição do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), em Porto Alegre, RS Ap 20.11-15 Ez 34.11-24 DOMINGO CRISTO REI Branco ou Dourado Jesus Cristo diz: Eu sou o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim. Apocalipse 22.13 Dt 34.1-8 1Pe 1.13-21 1Co 3.9-15 Cl 4.2-6 Mt 27.50-54 1843 – ✩ Dr. Wilherlm Rotermund, fundador do Sínodo Riograndense († 05/04/1925) Ap 21.10-27 Mc 13.24-27 1º DOMINGO DE ADVENTO Violeta ou Azul Mostra-nos, Senhor, a tua misericórdia e concede-nos a tua salvação. Salmo 85.7 1Pe 1.8-13 Hb 10.32-39 Cl 1.9-14 1991 – Abertura do Centro de Literatura Evangelística da IECLB, em Blumenau, SC
7 Seg 8 Ter 9 Qua 10 Qui 11 Sex 12 Sáb 13 Dom
14 Seg 15 Ter 16 Qua 17 Qui 18 Sex 19 Sáb 20 Dom
21 Seg 22 Ter 23 Qua 24 Qui 25 Sex 26 Sáb 27 Dom
28 Seg 29 Ter 30 Qua
Dia de Todos os Santos Branco Dia de Finados Branco 1887 – ✩ Dr. Hermann Dohms, 1º Pastor Presidente da Federação Sinodal († 04/12/1956)
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10º mandamento
Não cobice a esposa ou o marido do seu próximo, nem as pessoas que trabalham com eles nem coisa alguma que lhes pertença.
Deus se dá a conhecer a Abraão e com ele faz uma aliança. Promete bênçãos e fidelidade a Abraão, seus familiares e a toda sua descendência (Gênesis 12). Este povo se torna escravo de um governo tirano, o rei do Egito. Como Deus tinha assumido compromisso com o seu povo Ele intervém e ajuda, através de lideranças, o povo a sair da situação de escravidão (Êxodo 3). Antes de o povo entrar na terra prometida, Deus transmite por meio de Moisés orientações para que o povo tenha uma vida abençoada e feliz. Ele repassa para o povo Dez Mandamentos. O décimo mandamento diz respeito à cobiça. O texto cita pontualmente o que não deve ser cobiçado. No final diz que nada que pertença à outra pessoa, pode e deve ser cobiçado. Conforme o Dicionário da Bíblia de Almeida, da Sociedade Bíblica do Brasil, segunda edição, a palavra cobiçar é traduzida por desejo ardente de possuir. O que significa dizer que a pessoa que cobiça vai se empenhar e vai fazer todo o possível para ter aquilo que deseja. Esta atitude fará com que a pessoa lesada tenha grandes perdas e consequentemente uma vida de muito sofrimento. Cobiçar, na minha compreensão, não é apenas apossar-se daquilo que pertence a ou-
tra pessoa ou a qualquer criação de Deus. A pessoa que cobiça é, sobretudo, uma pessoa gananciosa e egoísta, que fará de tudo para realizar os seus desejos sem se importar com que quer que seja. O que importa é minha pessoa, é amar a mim mesmo sem amar o próximo. No meu entender Deus estava preocupado, se é que dá para falar que Deus também se preocupa, de que a vida deste povo na terra prometida se repetisse o que já aconteceu no tempo da escravidão. Ou seja, que houvesse dominação de uns sobre os outros. E Deus não quer, de jeito nenhum, que haja pessoas dominadas e dominadoras. Porque a cobiça, o desejo ardente de possuir, inevitavelmente fará com que pessoas tenham vida que não é digna. Como comunidade cristã devemos nos voltar sempre de novo à figura do corpo (1 Coríntios 12), por meio da qual o Apóstolo Paulo afirma e reafirma que cada um e cada uma de nós precisa se preocupar com as outras pessoas e em especial com os mais fracos. Certamente isso só é possível na medida em que houver comunhão com Deus. Que Deus nos dê força para viver segundo o hino 166 do HPD 1 e façamos dele a nossa. P. Sinodal Ervin Barg Chapecó/SC
Oração “Dá nos olhos claros que vêem o irmão, dá Senhor ouvidos que dão atenção. Nada nos pertence, tudo Deus quer dar, quer por nós em Cristo o mundo abençoar.” Amém.
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Dezembro 1 Qui 2 Sex 3 Sáb 4 Dom
5 Seg 6 Ter 7 Qua 8 Qui 9 Sex 10 Sáb 11 Dom
12 Seg 13 Ter 14 Qua 15 Qui 16 Sex 17 Sáb 18 Dom
19 Seg 20 Ter 21 Qua 22 Qui 23 Sex 24 Sáb 25 Dom
26 Seg 27 Ter 28 Qua 29 Qui 30 Sex 31 Sáb
1Ts 5.1-8 Mt 27.27-30 Mt 23.37-39 2Pe 3.8-15a 2º DOMINGO DE ADVENTO Violeta ou Azul O profeta Isaías diz: Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas. E toda carne verá a salvação de Deus. Lucas 3.4,6 Hb 6.9-12 Ap 2.12-17 Ap 2.1-7 2Co 5.1-10 Lc 22.66-71 1Ts 4.13-18 1948 – Declaração Universal dos Direitos Humanos, da ONU Dia Universal dos Direitos Humanos Jo 1.6-28 3º DOMINGO DE ADVENTO Violeta ou Azul João Batista é aquele a respeito de quem as Escrituras Sagradas dizem: Aqui está o meu mensageiro, disse Deus. Eu o enviarei adiante de você para preparar o seu caminho. Mateus 11.10 DIA DA BÍBLIA Mt 3.1-6 Mt 3.7-12 Mt 21.28-32 Mt 11.7-15 Jo 19.17-22 1815 – Elevação do Brasil à categoria de Reino, unido a Portugal e Algarves Lc 1.26-38 2Sm 7.1-16 4º DOMINGO DE ADVENTO Violeta ou Azul O profeta Isaías diz: Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e ele será chamado pelo nome de Emanuel, que significa Deus conosco. Mateus 1.23 1865 – † Francisco Manoel da Silva, compositor do Hino Nacional Brasileiro (1831) (✩ 1795) 2Co 1.18-22 Ap 5.1-5 Ap 3.7-12 Ap 22.16-21 Rm 15.8-13 Rm 1.1-7 VIGÍLIA DE NATAL – NOITE DE NATAL Branco Hb 1.1-12 NATAL – DIA DE NATAL Branco O profeta Isaías diz: Um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz. Isaías 9.6 Mt 3.11-17 2Jo 1.1-7 Mt 2.13-18 1Jo 4.11-16a Hb 1.5-14 Ap 3.7-13 Véspera de Ano Novo Branco
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Advento e Natal
O profeta Isaías diz: Um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz. Isaías 9.6
Lendo o Evangelho de Marcos em 13.3337, recebemos o convite de Jesus para ficarmos alerta, atentos. É assim que inicia o texto: Vigiem e fiquem alertas. Na época de Jesus, as pessoas tinham diferentes interpretações daquilo que ele dizia. Quanto a estas palavras descritas aqui neste texto, uns achavam que elas eram para logo. Criam que o mundo ia acabar e estas palavras precisavam ser ditas. Outros achavam que ia demorar ainda um tempo, e assim poderiam ir refletindo e acolhendo com calma as palavras de Jesus. E para nós hoje, nesta época de Advento, o que significa ficar alerta ou ficar vigiando? Uma coisa é certa: Ficar alerta e vigiar é o contrário de desinteressar-se e dormir. Nós pessoas cristãs necessitamos estar sempre alerta, sempre vigiando. Advento é um tempo dado de presente por Deus para nosso preparo. Tempo para organizar a nossa vida na perspectiva da volta de Cristo! Esse é o convite bem claro no nosso texto. E nós sabemos que falar da volta de Cristo é um assunto complicado e pode parecer até meio assustador. Ouvimos muita gente falar desse assunto. Alguns até falam como se tivessem a verdade nas mãos. Esses dias, uma pessoa me disse: “Olha pastor, não adianta fazer muita coisa. O mundo vai acabar em 2012.” O medo de que o mundo vai acabar, não deve
nos deixar tão preocupados. Nós não sabemos nem o dia, nem a hora. É somente Deus quem o sabe. Vamos deixar Deus cuidar disso para nós. Tenho um sentimento de que a época do Advento nos deixa mais sensíveis, mais atentos, mais dispostos a ouvir do que em outras épocas do ano. E é para essa nossa preparação, que o texto do Evangelho de Marcos nos fala. Se Jesus nos diz que tudo aquilo que é contrário ao Reino de Deus irá desmoronar, porque não começar a desmoronar em nossa vida, coisas que estão erradas e reconstruir nossas vidas de novo? Vamos refletir um pouquinho sobre quantas coisas boas nós deixamos de praticar. O convite de Jesus é um convite para vivermos o novo e diferente no meio deste mundo tão sofrido e tão carregado de injustiça. Um convite muito claro. Jesus nos convida para amar, ouvir, conversar, conviver, perdoar, consolar, ajudar, doar, olhar, amparar, celebrar e tudo o mais que favorece e promove uma vida mais digna e feliz. Vigiar e ficar alerta é isso! Que nestas quatro semanas do Advento que nos separam do Natal possamos estar de ouvidos e coração bem abertos para este chamado de preparação pessoal e comunitária. P. Sinodal Altemir Labes Estância Velha/RS
Oração “Jesus Cristo, minha vida seja só a ti rendida. Vem em mim morar, minha vida iluminar”. Amém.
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Temas da IECLB 1976 – Comunidade Consciente e Atuante 1977 – Nova comunhão em Cristo, como vivê-la? 1978 – Cristo, o caminho 1979 – A importância da família cristã para a criança 1980 – Cristo, o Mediador 1981 – Homem e Mulher unidos na Missão 1982 – Terra de Deus – Terra para todos 1983 – Eu sou o Senhor teu Deus 1984 – Jesus Cristo – Esperança para o mundo 1985 – Educação – Compromisso com a verdade e a vida 1986 – 1987 – Por Jesus Cristo, Paz com Justiça 1988 – 1989 – ... E sereis minhas testemunhas 1990 – 1991 – O pão nosso de cada dia 1992 – 1993 – Comunidade de Jesus Cristo – A Serviço da Vida 1994 – 1995 – Permanecem a fé, a esperança e o amor 1996 – 1997 – Somos Igreja. Que Igreja somos? 1998 – Aqui você tem lugar 1999 – É tempo de lançar 2000 – Dignidade Humana e Paz – um novo milênio sem exclusão 2001 – Ide, fazei discípulos... 2002 – Mãos à obra 2003 – Nosso mundo tem salvação 2004 – Pelos caminhos da esperança 2005 – 2006 – Deus, em tua graça, transforma o mundo 2007 – 2008 – No poder do Espírito, proclamamos a reconciliação 2009 – 2010 – Missão de Deus – Nossa Paixão 2011 – Paz na Criação de Deus – Esperança e Compromisso ••• 34 •••
Tema e lema da Igreja para o ano de 2011 P. em. Meinrad Piske
Tema: PAZ NA CRIAÇÃO DE DEUS - ESPERANÇA E COMPROMISSO Lema: GLÓRIA A DEUS E PAZ NA TERRA O tema e o lema da Igreja para o ano de 2011 realça o horizonte mais alto de nossa responsabilidade cristã, a saber: A própria criação de Deus e nosso cuidado com ela. É a primeira vez que a IECLB, nestes 35 anos em que lança temas para o ano, destaca claramente a ecologia, o meio ambiente, a criação de Deus. O lema é o tema central da Convocação Ecumênica Internacional para a Paz, a realizar-se em Kingston/Jamaica, de 17 a 25 de maio de 2011, diz o Pastor Presidente e continua: Trata-se de uma conferência importante que irá discutir a questão da paz, em conexão com o encerramento da Década de Superação da Violência, promovida pelo Conselho Mundial de Igrejas. No dia 22 de maio de 2011 todas as igrejas estarão convocadas a unirem-se em culto com as igrejas e pessoas delegadas reunidas em Jamaica. Mais uma vez a IECLB quer se unir às vozes de outras igrejas e juntar-se ao esforço delas. Para 2011 queremos refletir e propor ações em busca de uma paz solidária, justa e igualitária entre os seres humanos e destes para com toda a Criação de Deus. “Missão de Deus – Nossa paixão” é o guarda-chuva sob o qual se abrigam, se
(Lucas 2.14)
alimentam e se fundamentam todas as iniciativas e atividades. Este é o slogan do Plano de Ação Missionária – PAMI que por sua vez é o roteiro programático para toda a IECLB até o ano 2012. O tempo atual nos remete a uma grande necessidade de refletir sobre paz e falta de paz na Criação. Paz aqui é entendida não apenas como ausência de guerra ou violência (apesar de que estas sejam realidade constante no mundo atual), mas paz que implica em justiça, partilha, comunhão, bem estar e alegria de viver. Trata-se de uma paz que se traduz em respeito e compromisso. É importante que a igreja volte a refletir sobre a relação do ser humano com o restante da Criação, sobre a relação entre preservação da natureza e suas implicações para com a paz e os diretos humanos, sobre a relação entre Criação e economia, Criação e questões de gênero. Importante será para nós sabermos unir este canto dos anjos na noite de Natal: Glória a Deus nas alturas e paz na terra. O que significa isto, o que quer dizer? Que mensagem traz? Onde acontece a glória consequentemente brota a paz? Que assim seja. O autor é pastor emérito da IECLB e reside em Brusque/SC
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Palavras Cruzadas: Salmo 23 Colaboração: P. Irineu Wolf – Solução na página 171
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Datas Comemorativas P. Ms. Osmar Luiz Witt
500 anos No ano 1511, Erasmo de Roterdam (1469-1536), humanista e teólogo holandês, publicou em Paris o livro Elogio da loucura, uma obra de conteúdo satírico e irônico que pregava reformas nos costumes e na Igreja. Esta obra deu importante impulso para a crítica humanista à intolerância dogmática reinante, propondo moderação. Embora Erasmo seja também considerado um precursor da Reforma, de fato dela se afastou quando ficaram evidentes as diferenças de visões antropológicas entre ele e Lutero. De outra parte, o próprio reformador reconheceu que Erasmo, mais do que outros, ousou tratar da questão fundamental sobre o livre arbítrio humano em relação à graça da salvação. 100 anos As primeiras comunidades evangélicas luteranas que se constituíram no Brasil foram comunidades independentes. Gradativamente, porém, foram descobrindo os vínculos de fé em comum que as unia. A consciência de que a Igreja não está restrita às comunidades locais fez com que elas buscassem um caminho em conjunto, que é o significado da palavra “sínodo”. Há 100 anos, nos dias 5 e 6 de agosto de 1911, em Blumenau/SC, deuse fundação à Associação de Comunidades Evangélicas de Santa Catarina e Paraná. Seu primeiro Presidente foi o P. Walther Mummelthey. Este Sínodo,
junto com outros três que se constituíram em diferentes regiões do Brasil, formaram, em 1949, a Federação Sinodal, que, em 1952, acrescentou o nome de Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil. Os antigos Sínodos preservaram sua identidade jurídica até 1968, quando ocorreu uma reestruturação, a qual deu origem às Regiões Eclesiásticas. Essa estrutura manteve-se até 1998, quando, em nova reestruturação, outra vez de adotou a designação “Sínodo” para as dezoito unidades eclesiásticas que integram a IECLB. 90 anos Em 1º de junho de 1921, na casa pastoral de Cachoeira do Sul/RS, teve início, com apenas um aluno, um curso de preparação para o estudo da Teologia. O P. Hermann Dohms fizera a experiência de ter que sair menino da casa de sua família para estudar na Alemanha. O curso a que dava início visava abreviar o tempo no exterior para jovens que pretendessem atender a vocação ao pastorado. Com ele teve início o Instituto Pré-Teológico (IPT), também conhecido pelo termo alemão Proseminar. Em 1925, o curso foi transferido para São Leopoldo/RS, primeiramente, junto ao Seminário de Professores (Lehrerseminar) e, posteriormente, em 1930, em prédio próprio, onde, hoje, funciona a Faculdades EST. O IPT representou o primeiro passo na direção da formação teológica em terras brasileiras para a Igreja Evangélica de Confis
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são Luterana no Brasil. 65 anos Em 1946, junto ao Instituto Pré-Teológico em São Leopoldo/RS, teve início a Escola de Teologia, que hoje leva o nome de Faculdades EST. Naqueles tempos pós-Segunda Guerra, as comunidades evangélicas luteranas precisaram dar o importante passo de assumir, gradativamente, a formação teológica de seu quadro de ministros e ministras. Em vista da impossibilidade de um número regular de pastores vir da Alemanha para atuar com as comunidades no Brasil, já se tinha iniciado aqui um Curso Propedêutico (Básico), em 1940. Em 1942, este curso precisou ser interrompido e os estudantes foram enviados como “pastores substitutos” para estarem com várias comunidades que ficaram sem pastor. Terminado o conflito bélico mundial, o projeto foi retomado e ampliado. Por ocasião da 45ª Assembléia Sinodal, em Santa Cruz do Sul/RS, em 1946, no relatório do Presidente P. Dohms lê-se que em 1945 foi retomado o curso propedêutico. E, no ano seguinte, aos 26 de março de 1946, foi oficialmente aberta a Escola de Teologia, a qual veio a ser um centro de unidade para onde os diferentes Sínodos enviavam seus candidatos ao ministério eclesiástico. Três anos mais tarde, em 1949, os quatro Sínodos formaram a Federação Sinodal-IECLB. 50 anos Em 12 de abril de 1961, o astronauta russo Yuri Gagarin, tornou-se a primeira
pessoa a superar a barreira da atmosfera terrestre e a viajar pelo espaço sideral. Tripulando a nave Vostok I, afastou-se 327 quilômetros da Terra. Vislumbrando nosso planeta à distância ele fez a observação que entrou para a história: "A Terra é azul!". O programa espacial da exUnião Soviética concorria com o programa espacial dos EUA, cada qual buscando supremacia num contexto marcado pela “guerra fria”, isto é, num mundo onde comunistas e capitalistas desenvolveram uma política armamentista com o fim de exercer domínio. 25 anos Em 14 de abril de 1986 morreu, em Paris, Simone de Beauvoir (1908-1986). Ela foi escritora, filósofa existencialista e feminista. No período após a II Guerra, houve outra vez uma tentativa de restringir a atuação das mulheres na esfera doméstica. Contra essa ideologia expressouse Simone de Beauvoir, lançando o livro O segundo sexo, no qual denuncia os condicionamentos psicológicos e culturais a que as mulheres são submetidas em sua educação para assumirem papeis secundários em relação aos homens. O trabalho de Simone de Beauvoir representa um marco pioneiro que embasou as reflexões teóricas feministas nos anos 60 e 70. Betty Friedan nos EUA e Heleieth Saffioti, no Brasil, refletem seu legado. Depois dos anos 70 o feminismo incorporou outros temas além da superação das desigualdades de direitos. O movimento feminista se tornou abrangente e mostrou ao mundo novos temas e novas perspectivas.
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10 anos No dia 11 de setembro de 2001 ocorreu um ataque terrorista às torres gêmeas de 110 andares do World Trade Center, em Nova Iorque. Dois aviões Boeing 767, que decolaram do aeroporto da cidade, foram seqüestrados e lançados com seus tripulantes e passageiros sobre os dois edifícios localizados no “coração do centro financeiro” do mundo capitalista. Os edifícios não suportaram o impacto e os danos à estrutura resultaram no desabamento das torres, provocando a morte de mais de duas mil e quinhentas pessoas. A comoção foi mundial. Em resposta, o governo do Presidente Bush promoveu “ataques preventivos” contra países que
abrigam grupos terroristas. O atentado colheu vidas inocentes, tais como a maioria das que são sacrificadas em todo o mundo em guerras feitas em nome da paz. O atentado também mostrou a limitação de entidades internacionais, como a Organização das Nações Unidas, cujo objetivo é a busca da paz por vias diplomáticas. O terrorismo não é uma alternativa para a humanidade, assim como não é alternativa a preservação das desigualdades sociais, políticas e econômicas que estão na base de uma cultura da violência. A humanidade parece seguir acreditando no velho adágio: “se queres a paz, prepara-te para a guerra”. Se queremos a paz precisamos construir a paz, desenvolvendo uma cultura da paz. O autor é pastor da IECLB e Professor de Teologia na Faculdades EST em São Leopoldo/RS
Certo homem entra numa casa que vende animais e pede um canário bom de canto. “Leva este” - sugere o vendedor. “Mas este tem uma perna só, o coitadinho!”, revolta-se o freguês. “E daí”, responde o comerciante, “o senhor quer um cantor ou um dançarino?”
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Teses que abalaram o mundo P. em. Dr. Lindolfo Weingaertner
Em 31 de outubro de 2017 vai perfazer meio milênio desde que Martim Lutero fixou suas 95 teses na porta da igreja de do Castelo de Wittenberg. A redação deste Anuário resolveu publicar uma série de artigos, ao correr dos próximos anos, que deverão capacitar o leitor a entender melhor aquele ato histórico do Reformador. O primeiro artigo, publicado em 2010, teve por tema o Clero e os Leigos na igreja medieval. Na edição deste ano queremos ocupar-nos com a questão do exercício da autoridade na prática da igreja. 2. O exercício de autoridade na igreja medieval A igreja católica da Idade Média era intrinsecamente hierárquica, sim, ela era hierarquia, em sua própria natureza. O termo grego “hierarquia” significa “governo dos sacerdotes”. Hierarquia eclesiástica, assim, tem que ver com governar, com o manejo de autoridade, com o exercício de poder, tanto no dia-a-dia da igreja organizada, como também no dos fiéis individualmente. Deduz-se, então, que numa estrutura hierárquica os sacerdotes canalizam e exercem a autoridade em todos os sentidos. O modelo clássico de uma estrutura hierárquica é a pirâmide. A pirâmide é larga
na base, e ela se estreita em direção à ponta. O poder emana da ponta. A altura (e a largura) da pirâmide, no lugar onde alguém se acha integrado nas engrenagens do poder, define a extensão de sua autoridade: Quanto mais alta e estreita a pirâmide for, no lugar que ele ocupa, tanto mais poder ele tem.. A igreja, ao tempo de Lutero, ainda não havia promulgado o dogma de que “o papa, quando fala ‘ex cathedra’ (em sua função papal), é infalível”. Isto só ocorreria no Concílio Vaticano, em 1870. Mas na prática as coisas já funcionavam segundo o dito: “Roma locuta, causa
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finita” (Roma falou, assunto encerrado). Perguntamos: Como foi que surgiu aquela autoridade centralizada da Cúria Romana, especialmente do bispo de Roma, o papa? O bispo de Roma derivava o seu poder das palavras de Jesus dirigidas a Pedro (Mateus 16): “Tu és Pedro, e nesta pedra edificarei a minha igreja”. Nós entendemos que Jesus não fundou nenhuma organização hierárquica. A primeira comunidade de Jerusalém elegia os seus obreiros em reunião pública, e a autoridade emanava do próprio Jesus, que com seu espírito e com sua palavra pregada movia os corações e as mentes. O próprio Pedro, que foi o líder (o “bispo”) da comunidade de Jerusalém, escreveria em sua primeira epístola (2.4): “Chegaivos para ele, a pedra que vive, rejeitada pelos homens, mas para Deus eleita e preciosa”. Quer dizer, o próprio Pedro desfez o engano de que ele, Pedro, era a pedra fundamental, a autoridade suprema da igreja. Ele era apenas a primeira pedra da igreja que Cristo edificaria: “Eu construirei a minha igreja” diz Jesus (Mateus 16). A interpretação “pedrocêntrica” da passagem de Mateus 16 deu lugar a uma evolução funesta na igreja. O papado, baseado em tal interpretação, teve que lutar por seu lugar na ponta da pirâmide, para dentro e para fora da igreja: Para dentro, teve de organizar padres, bispos e cardeais duma forma que lhe permitisse um governo centralista, colocando cada um dos seus subordinados num ponto específico da pirâmide. Chegou a proibir-lhes o casamento, já que padres com família não se encaixavam tão bem na pirâmide que tinha sua ponta em Roma. Para fora, teve
de lutar com imperadores, com reis, com invasores e bandos violentos, na defesa de seu poder. O bispo de Roma veio a tornar-se dono de um estado profano, o território ao redor de Roma, que só lhe foi arrancado por Giusepe Garibaldi, em 1870, sobrando só um estado simbólico de poucos hectares de extensão, o atual estado do Vaticano. E Cristo havia dito: “O meu poder não é deste mundo”! Lutero combateria tal compreensão de autoridade no povo de Deus. Ele viu que a pirâmide não pode ser o modelo da estrutura da Igreja de Cristo. Jesus virara a pirâmide do poder de cima para baixo, dizendo “quem quiser ser o primeiro entre vós será vosso servo” (Mateus 20.27). Lutero entenderia a igreja não como organização hierárquica, mas como povo de Cristo. O evangelho, conforme Lutero, não era nenhum produto da igreja, a ser manejado por ela, mas ela própria era, como ele costumava dizer, “criatura do evangelho”. A palavra de Deus, o evangelho de Cristo era quem gerava a autoridade, era quem gerava a própria igreja. Isso quer dizer que para Lutero o exercício do poder na igreja não era nenhuma questão casual. Representava, antes, a questão básica na vida do povo de Cristo. “A mim foi dado todo o poder no céu e na terra”, disse Jesus, ao despedir-se de seus discípulos (Mateus 28.18b). Este poder é que a igreja prega. Ele não poderá ser obscurecido por nenhum poder humano. O autor é pastor e professor emérito de teologia da IECLB e escritor, e reside em Brusque/SC
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A Batata Inglesa P. Dr. Osmar Zizemer
Uma das coisas que mais me chateava, quando dos meus primeiros anos de escola, era quando meus coleguinhas quando queriam me ofender - me chamavam de “alemão-batata”. O que, afinal, a descendência alemã tinha – e tem a ver com a batata? Além disso, a “batata” era ou “batata doce” ou “batata inglesa” e não “batata alemã”! Esta “ofensa” me deixava muito chateado. Era uma espécie de bullying da época. Com quantos de vocês, meus leitores e leitoras, aconteceu algo semelhante? Em todos os casos, este “sofrimento” infanto-juvenil aguçou a minha curiosidade sobre esta planta. Por isto vamos fazer uma pequena excursão à história e ao uso da batata inglesa. Esta planta, que hoje é o terceiro ou o quarto alimento mais consumido no mundo, após o arroz, o trigo (e o milho, segundo alguns autores). A batata na verdade não tem nada de inglesa. Ela é sul-americana, originária da região dos Andes – atualmente Peru, Bolívia e Chile. Ali ela era cultivada e consumida pelos Incas desde tempos imemoráveis (alguns autores falam em 7.000 anos). Na língua quíchua ela era denominada “pappa” – nome que ela também conserva em alguns dialetos espanhóis modernos. Ali, nos Andes, soldados do conquistador espanhol Francisco Pizarro a encontraram no ano de 1536. E pelos espanhóis esta planta foi levada para a Europa, onde inicialmente foi usa-
da como planta medicinal para tratar lepra, tuberculose e sífilis. A partir da Espanha, onde também foi denominada “tartufo blanco” (de onde deriva o termo alemão “Kartoffel”), a batata foi disseminada por toda a Europa, sendo responsável pela primeira “revolução verde” neste continente. Ela passou a ser base da alimentação para o povo mais pobre, em substituição ao trigo. Especialmente na Irlanda a batata passou a ser importante, quando tropas invasoras inglesas incendiavam os trigais e dizimavam as criações de porcos, deixando o povo na miséria. Aí a batata resistia ao pisoteamento dos soldados inimigos e às geadas e à neve, guardada dentro da terra. Na Europa a batata tornou-se um alimento tão importante, que governantes baixaram leis obrigando os agricultores a seu cultivo. Assim, por exemplo, o rei Frederico Guilherme da Prússia ordenou que deveria ser amputado o nariz dos agricultores que não cultivassem batatas. E na história chegou a haver, de 1778 a 1780, uma guerra entre a Prússia e a Áustria que ficou conhecida como “Kartoffelkrieg” (guerra das batatas) porque a alimentação básica dos soldados beligerantes eram batatas. No século XVIII uma praga acometeu e destruiu as plantações de batatas na Irlanda, e trouxe uma grande fome sobre aquele país, levando milhões de pessoas à morte, e mais de um milhão e meio a
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emigrar para os Estados Unidos da América para fugir da fome. Para aumentar a produção deste precioso alimento – que contém, entre outros elementos, as Vitaminas B e C, Ferro e Zinco – foi sendo feita a hibridagem da batata, de modo que hoje existem mais ou menos 3.000 variedades, mas cujo DNA remonta àquelas batatas descobertas pelos espanhóis no sul do Peru. Pode-se dizer com certeza que esta descoberta foi mais importante para a humanidade do que o ouro, a prata e as pedras preciosas, que os conquistadores descobriram neste continente. Hoje se produzem, no mundo, cerca de 300 milhões de toneladas/ano de batatas. Os seus maiores produtores são: China, com 73 milhões de toneladas; Rússia, com 36 milhões de toneladas; Índia, com 25 milhões de toneladas; Ucrânia, com 19,5 milhões de toneladas, Estados Unidos com 19,1 milhões de toneladas, e em 6º lugar a Alemanha, com 11,2 milhões de toneladas/ano. Ao Brasil a cultura da batata somente chegou com a imigração. E por ligá-la aos imigrantes, especialmente aos alemães, é que talvez se explique por que os que já se encontravam por aqui antes de 1824 (índios, afro-descendentes e portugueses) criaram a expressão “alemão-batata”. No início ela era cultivada em solo brasileiro em pequena escala, apenas em hor-
tas familiares e era conhecida como “batatinha”. Diz a lenda, que ela passou a ser chamada entre nós de “batata inglesa”, porque, anos mais tarde, engenheiros ingleses que para cá vieram para construir ferrovias exigiram que ela fizesse parte de seu cardápio. No Brasil ainda se produz e se consome pouca batata. Enquanto na Europa o consumo médio é de 100 kg/pessoa/ano, no Brasil é de apenas 15 kg/pessoa/ano. Faltam investimentos na pesquisa de variedades adaptadas ao solo e clima brasileiros e resistentes às pragas daqui. Falta marketing que incentive a sua produção e consumo. Assim como já aconteceu na Europa e na Ásia, esta planta sul-americana poderia muito bem ajudar a debelar o problema da alimentação em nosso país. Como curiosidade, acrescento a prece cerimonial pela safra da “pappa”, usada no império inca nos tempos pré-colombianos. O Filho do Sol – chefe Inca - reunia os representantes das províncias em Cuzco e proferia a seguinte oração: “Ó Criador! Senhor dos confins do mundo, misericordioso, que dás vida às coisas e que neste mundo criaste os homens para que comessem e bebessem, multiplica os frutos da terra, as batatas e os demais alimentos que criaste; multiplica-os para que os homens não padeçam de fome nem de miséria, para que todos se criem não haja geada, nem granizo; guarda-os em paz e a salvo.” O autor é pastor da IECLB e Redator deste periódico – residente em Blumenau/SC
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A cultura do barulho P. em. Friedrich Gierus
Acabei de realizar a terceira celebração de bênção matrimonial. Seguiram os momentos das fotografias dos nubentes, das testemunhas, dos familiares, e depois, todos se dirigiram ao Clube da cidade para dar continuidade à festa. Também recebi um convite para marcar presença no jantar das famílias em festa. Aceitei e, junto com minha esposa, tomei lugar numa das mesas no salão. O ambiente na festa estava muito agradável. As pessoas se abraçavam, conversavam, jantavam. Nos fundos, uma música suave.
que música somente é bonita quando é bem alta…
Então veio o momento do início do baile. No palco, uma banda de seis músicos caprichou com a valsa nupcial. Bonito, mas muito barulhento. Quatro caixas de som reproduziram a música e inundaram o ambiente com um som exageradamente alto. Neste momento, acabou-se o ambiente agradável. A festa se resumia em música barulhenta e dança. Conversa, somente em voz alta e aos gritos. Neste momento, como na maioria das outras vezes, nos afastamos e fomos para casa. Pois, no dia seguinte, eu tinha a celebração dois ou três cultos pela frente. E isto não seria possível com a voz rouca, resultado da noite anterior com toda esta música barulhenta.
Mas os entendidos dizem que o ritmo de música alta tem efeito animador. Provoca sentimento de bem-estar. Música, neste sentido, se transforma num tipo de droga. A maioria das pessoas nem consegue ficar em casa sem o som ligado. Há pessoas que são completamente dependentes do som. Tem gente que precisa da TV ligada no dormitório. Caso contrário não consegue dormir.
Uma pena. Parece que as festas são consideradas mais bonitas onde há música ao vivo, amplificada mediante potentes caixas de som. Mas isto nãoacontece somente nos bailes, mas também nas festas de igreja. Não é suficiente uma banda tocar sua música. Não! Tem que ter pelo menos duas potentes caixas de som. Parece
Faz tempo que estou observando que o barulho parece fazer parte da nossa cultura. Ou será que é somente uma questão de idade? Os jovens – quem pode – têm um “som” instalado nos seus carros e andam pelas ruas com música bem alta. A gente já o escuta de longe: dum… dum… dum…Nem falo do barulho que se produz em restaurantes e danceterias com música ao vivo. Não consigo achar isto bonito e agradável.
Nestes dias li um artigo sobre a cultura do barulho na cidade de Belém do Pará onde se criou uma “Associação Amigos do Silêncio”, para enfrentar a cultura do barulho. Esta cidade é apontada por uma pesquisa do IBGE como “capital brasileira do barulho” se criou uma “cultura do barulho” que, segundo Rejane Bastos, vice-presidente da Associação Amigos do Silêncio, explica o motivo de a capital ser considerada barulhenta por seus próprios moradores. “Há caixas de som instaladas em postes,
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festas de aparelhagem onde caixas acústicas enormes ganham as ruas. Aqui, barulho é sinônimo de poder”, diz. Segundo ela, há 30 pessoas que possuem esses aparelhos e que mapearam a cidade. “E tem gente que não tem dinheiro para comer, mas tem um som em casa. Até os bares disputam para ver quem faz mais barulho.” Bastos conta que já teve um juiz que entrou atirando numa caixa de som porque não conseguia dormir. “Estamos à beira de uma guerra civil.” Para o advogado Jean Carlos Dias, presidente da Comissão de Combate à Poluição Sonora de OAB-PA, há três motivos para tanto barulho: o aspecto cultural, a falta de fiscalização e empresas lucrando
ilicitamente com o alto som nas ruas. Dias diz que o povo paraense é musical e sempre produziu ruído sem se preocupar com o vizinho... O problema é que o ritmo da música e o alto volume têm um efeito tipo droga. Para obter droga o dependente faz qualquer coisa, motivo pelo qual a cultura do barulho tem muitos adeptos e defensores e é um bom negócio. O outro lado da moeda é que este barulho também tem lá seus lados nocivos à nossa saúde. De acordo com a ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas, os índices de poluição sonora aceitáveis estão divididos de acordo com a zona e horário (ABNT, norma n.º 10.151).
Conforme as zonas os níveis de som máximos permitidos (medidos em Decibel) nos períodos diurnos e noturnos são os seguintes:
A exposição contínua a níveis de ruído superiores a 50 decibéis pode causar deficiência auditiva em algumas pessoas. Há variação considerável de indivíduo para indivíduo quanto à sensibilidade ao barulho. Entretanto, padrões têm sido esta-
belecidos que indicam o quanto de som, em média, uma pessoa pode tolerar até sofrer ao prejuízo em sua saúde. Muitos sons em nosso ambiente excedem estes padrões. E a exposição contínua a esses sons pode causar até a perda da audição.
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Veja a tabela de impacto de ruídos na saúde – volume/reação, efeitos negativos e exemplos de exposição:
Nesta altura me vem à lembrança a experiência que o profeta Elias teve ao aproximar-se do monte santo Horeb. A Bíblia relata: “No monte de Deus entrou numa caverna, onde passou a noite; disse-lhe Deus: Sai e põe-te neste monte perante o Senhor. Eis que passava o Senhor; e um
grande e forte vento fendia os montes e despedaçava as penhas diante do Senhor, porém o Senhor não estava no vento; depois do vento, um terremoto, mas o Senhor não estava no terremoto; depois do terremoto, um fogo, mas o Senhor não estava no fogo; e, depois do fogo, um ci
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cio tranqüilo e suave. Ouvindo-o Elias, envolveu o rosto no seu manto e, saindo, pôs-se à entrada da caverna. Eis que lhe veio uma voz…” (1 Reis 19.9 ss). Eu sempre entendi esta passagem bíblica como uma indicação de que Deus se encontra no silêncio. Não na agitação, não na força bruta, nem no fogo do entusiasmo, nem no barulho das massas, mas sim, no silêncio. Por isso Jesus, antes de iniciar sua missão, se retirou e ficando 40 dias no deserto. O mesmo ocorreu com o apóstolo Paulo que também se retirou, fican-
do em lugar ermo, para se preparar com vistas a sua tarefa missionária. Nestes termos, há uma tradição no cristianismo de que as igrejas estejam sempre abertas e sejam um lugar de silêncio. Um lugar do silêncio, da meditação, da oração, enfim, um lugar para encontrar Deus. Sinto falta disto no início do cultos em nossas comunidades: o silêncio. Precisamos dele como forma de descanso, de reflexão, de oração. O silencio é como uma fonte que fornece matéria prima para o equilíbrio da nossa alma. Somente então estaremos preparados para enfrentar o dia-a-dia com seus barulhos. O autor é pastor emérito da IECLB e reside em Blumenau/SC
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A formação contínua no Sínodo Vale do Taquari P. Ms. Leonídio Gaede
O Sínodo Vale do Taquari abrange parte da antiga RE IV. Nesta Região Eclesiástica se desenvolvia uma proposta de formação denominada “Ação com Leigos”. O Sínodo quis dar continuidade a esta proposta, firmando em seus documentos como prioridade: a formação. Fixada a sede sinodal em Teutônia/RS, transformou-se, com a devida adequação imobiliária, a sede da Liga dos Cantores do Vale do Taquari em uma Casa de Encontros do Sínodo. Em seguida contratou-se uma pessoa para coordenar a formação na área do Sínodo. O desafio da estruturação deste trabalho passou a enfocar, a partir de então, quatro áreas de atenção: 1) A estruturação e a garantia do próprio espaço de trabalho de um/a coordenador/a de formação. Este espaço de trabalho foi concebido como um CAM (Campo de Atividade Ministerial) missionário do Sínodo. Além de algumas reservas financeiras provindas de sobras de outros projetos e da verba de implantação do serviço de formação contínua, o Sínodo teve a oportunidade de acessar um recurso da Federação Luterana Mundial, do programa “Crescendo na Missão e na Unidade”. Assim foi possível manter este CAM por quatro anos. Após este período, em sua 13ª Assembleia Sinodal em 2007, o Sínodo resolveu incluir em seu orçamento as despesas da manutenção de um/a coordenador de formação contínua.
Isto representou um alívio - finalmente sabia-se de onde deveriam vir os recursos para manter a coordenação de formação – e requereu um grande esforço de adequação do orçamento do Sínodo, exigindo ênfase a esta área de atenção. 2) A atualização teológica permanente de Ministros e Ministras da Igreja. O Estatuto do Ministério com Ordenação (EMO) prevê que cada ministro ou ministra ordenado/a dedique no mínimo sete dias por ano à sua formação pessoal. Por isso o serviço de formação contínua do Sínodo Vale do Taquari estruturou a sua atividade destinada aos Ministros e Ministras com ordenação. Além das Conferências mensais, organiza um seminário anual de dois dias, e as Conferências de março a setembro dedicam um turno (9h12h) ao estudo de um tema. As temáticas destes programas são decididas antecipadamente na Conferência Ministerial de novembro de cada ano. Também acontecem celebrações específicas para a família ministerial no dia 10 de junho, no período do Advento e na Semana Santa. 3) A capacitação de presbíteros, diretorias e funcionários/as. Aos presbíteros estão dirigidos especificamente três eventos ao ano: a) Reunião das diretorias paroquiais. Estas têm, na ocasião, a possibilidade de falar de seus principais propósitos para o ano, de ouvir o que o Sínodo se propõe a realizar e, em conjunto, estabelecer objetivos e metas que
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reforcem a unidade da igreja na região; b) Reunião das diretorias das comunidades (numa noitada). O convite para esta atividade de formação é especialmente dirigido a quem foi eleito/a para a função recentemente, pois sabemos que muitas comunidades renovam pelo menos parte de sua direção nas assembleias da virada do ano. O encontro consta de uma palestra de motivação e um trabalho em grupos três salas diferentes, congregando separadamente presidentes, secretários/as e tesoureiros/as. O objetivo principal é sanar eventuais dúvidas referentes a cada função e expor o que, desde a perspectiva da igreja e da legislação do país, se espera de quem ocupa tal cargo; c) O terceiro evento é temático, isto é, a direção sinodal elege um assunto a ser estudado na ocasião, como um tema da área bíblica, confessionalidade luterana, movimentos religiosos etc. É importante ressaltar que este encontro se diferencia dos outros dois por oferecer a oportunidade do estudo de um tema a todo o presbitério. Como membros de nossa igreja e como líderes comunitários, convém que entremos em contato com os pensamentos que temos, como igreja, a respeito dos diversos assuntos. Esta terceira área de atenção do serviço de formação inclui também encontros periódicos de secretárias executivas de paróquias e comunidades e encontros semanais da equipe sinodal, composta pelo pastor sinodal, coordenador de formação, engenheiro agrônomo do CAPA, monitora do projeto Saúde Comunitária, secretárias executiva e adjunta do sínodo e auxiliar de serviços gerais.
4) A formação contínua dos membros de comunidades e participantes de grupos com atuação específica. A quarta área de atuação do Serviço de Formação Continuada de nosso Sínodo é dirigida, de forma geral, aos membros da Igreja, está organizada em uma proposta de eventos mais intensivos e uma de eventos mais extensivos. Oferecemos um Curso Básico em Teologia. Este se desenvolve em 16 etapas distribuídas num período de dois anos, tendo cada etapa 14 horas/aula (19h00 de sexta-feira até 16h00 de sábado). O currículo contempla as áreas da teologia bíblica, histórica e sistemática. Seu objetivo é “preparar pessoas para a vivência da fé cristã e para a atuação e o testemunho na comunidade eclesial e na sociedade, visando ao crescimento da igreja de Cristo na missão e na unidade, com base no conhecimento dos principais temas bíblicos, eclesiológicos e teológicos”. Cada edição do curso tem entre 20 e 30 participantes. Em Pentecostes de 2010, a segunda turma celebrou a sua conclusão. Oferecemos, também, eventos rápidos com o intuito de atingir maior número de pessoas com temas básicos. Como tais estão contados os seminários de um turno ou um dia, previstos no planejamento anual dos Setores de Trabalho em nível sinodal: que são os setores de Crianças, Jovens, Mulheres, Pessoas Idosas, Comunicação, Música, Liturgia, Diaconia, Ecumene, Agroecologia e Saúde Comunitária. O Conselho Sinodal aprova o orçamento para cada setor de trabalho, de acordo com o planejamento apresentado pela respectiva equipe coordenadora, e a Co
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ordenação de Formação é disponibilizada para promover a execução da atividade. É importante ressaltar que esta área de atuação conta com um bom grupo de pessoas voluntárias, dedicadas, sempre, à execução do evento planejado. Nesta proposta de formação extensiva estão contados também três eventos sinodais que reúnem entre 500 e 3.000 pessoas: o Dia Sinodal da OASE, o Dia Sinodal da Igreja e a Ação Sinodal Missão em Comunidade. Esta última consiste de pelo menos uma celebração em cada uma das 58 comunidades do Sínodo, sob um mesmo tema, num período de até duas semanas. Na ocasião, os/as Ministros/as, em uma semana, recebem a visita de colegas e, em outra, realizam visitas, ocorrendo assim um intercâmbio de pregadores/as e celebrantes. E, por fim, nessa mesma linha de tornar a proposta extensiva, a coordenação de formação do sínodo aceita convites para assessorar eventos de formação em nível de comunidade e paró-
quia e para intermediar a contratação de alguma assessoria externa. Seguindo esta proposta, a Casa Sinodal vem acolhendo todos os anos entre três e quatro mil pessoas para eventos de caráter formativo. Isto representa 10% dos membros das comunidades do Sínodo. Além disso, também outras entidades fazem uso da Casa Sinodal para a realização de eventos de natureza formativa. Como a Casa comporta apenas encontros com menos de 100 pessoas, os eventos sinodais de maior público são realizados em espaços disponibilizados pelas comunidades. Olhando para a movimentação que esta forma de organização do serviço de formação contínua traz ao Sínodo Vale do Taquari, bem como para a diversidade que ela representa, nos enche de sentido o verso “exortai-vos uns aos outros, e edificai-vos uns aos outros, como também o fazeis” (1 Tessalonicenses 5.11). O autor é pastor da IECLB, atua como Coordenador de Formação no Sínodo Vale todo Taquari e reside em Teutônia/RS
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A Lua que não dei Cecílio Elias Netto
Compreendo pais - e me encanto com eles - que desejariam dar o mundo de presente aos filhos. E, no entanto, abomino os que, a cada fim de semana, dão tudo o que filhos lhes pedem nos shoppings onde exercitam arremedos de paternidade.
Pois é a plenitude da felicidade um homem jovem poder carregar o filho como se acariciando as próprias entranhas. Minha filha era eu e eu era ela. Um pai é, sim, um pequeno Deus, o criador. E seu filho, a criatura bem amada.
E não há paradoxo nisso. Dar o mundo é sentir-se um pouco como Deus, que é essa a condição de um pai. Dar futilidades como barganha de amor é, penso eu, renunciar ao sagrado.
E foi então que conheci a impotência e os limites humanos. Pois a filhinha - a quem prometera o mundo - ergueu os bracinhos para o alto e começou a quase gritar, assanhada, deslumbrada: “Dá, dá, dá...”. Ela descobrira a Lua e a queria para si, como ursinho de pelúcia, uma luminosa bola de brincar.
Volto a narrar, por me parecer apropriado à croniqueta, o que me aconteceu ao ser pai pela primeira vez. Lá se vão, pois, 45 anos. Deslumbrado de paixão eu olhava a menina no berço, via-a sugando os seios da mãe, esperneando na banheira, dormindo como anjo de carne. E, então, eu me prometia, prometendo-lhe: “Darlhe-ei o mundo, meu amor!” E não lho dei. E foi o que me salvou do egoísmo, da tola pretensão e da estupidez de confundir valores materiais com valores morais e espirituais. Não dei o mundo à minha filha, mas ele quis a Lua. E não me esqueço de como ela pediu a Lua, há anos já tão distantes. Eu a carregava nos braços, pequenina e apenas balbuciante, andando na calçada de nosso quarteirão, em tempos mais amenos, quando as pessoas conversavam às portas das casas. Com ela junto ao peito, sentia-me o homem mais feliz do mundo, andando, cantarolando cantigas de ninar em plena calçada.
Diante da magia do céu enfeitado de estrelas e de luar, minha filha me pediu a Lua, e eu não lha pude dar. A certeza de meus limites permitiu, porém, criar um pacto entre pai e filhos: Se eles quisessem o impossível, fossem em busca dele! Eu lhes dera a vida, asas de voar, diretrizes, crença no amor e, portanto, estímulo aos grandes sonhos. E o sonho da primogênita começou a acontecer, num simbolismo que, ainda hoje, me amolece o coração. Pois, ainda adolescente, lá se foi ela embora, querendo estudar no Exterior. Vi-a embarcar, a alma sangrando-me de saudade, ouvi a voz profética de Khalil Gibran em sussurros de consolo: “Vossos filhos não são vossos filhos, mas são os filhos e filhas da ânsia de vida em si mesma. Eles vêm através de vós, mas não de vós.
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E, embora vivam convosco, não vos pertencem. (...) Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas.”
cem, filhos crescem, dão-nos netos e isso é a construção, o centro do mundo onde a obra da criação se renova sem nunca completar-se.
Foi o que vivi quando o avião decolou, minha criança a bordo.
De guerreiros que foram, pais se tornam pajés. E mães, curandeiras de alma e de corpo. É quando a tribo se fortalece com conselheiros, sábios que conhecem os mistérios da grande arquitetura familiar, com régua, esquadro, compasso e fio de prumo. E com palmatória moral para ensinar o óbvio: Se o dever premia, o erro cobra!
No céu, havia uma Lua enorme, imensa. A certeza da separação foi dilacerante. Minha filha fora buscar a Lua que eu não lhe dera. E eu precisava conviver com a coerência do que transmitira aos filhos: “O lar não é lugar de se ficar, mas para onde voltar.” Que os filhos sejam preparados para iremse, com a certeza de ter para onde voltar quando o cansaço, a derrota ou o desânimo inevitáveis lhe machucarem a alma. Ao ver o avião, como num filme de Spielberg, sombrear a Lua, levando-me a filha querida, o salgado das lágrimas se transformou em doçura de conforto com Khalil Gibran: Como pai, não dando o mundo nem a Lua aos filhos, me senti arqueiro e arco, arremessando a flecha viva em direção ao mistério. Ora, mesmo sendo avós, temos, sim e ainda, filhos a criar, pois família é uma tribo em construção permanente. Pais envelhe-
Escrevo, pois, de angústias, acho que de angústias de pajé, de índio velho. A nossa construção está ruindo, pois feita em areia movediça. É minúsculo o mundo que pais querem dar aos filhos: o dos shoppings. E não há mais crianças e adolescentes desejando a Lua como brinquedo ou como conquista. Sem sonhos, os tetos são baixos e o infinito pode ser comprado em lojas. Sem sonhos, não há necessidade de arqueiros arremessando flechas vivas. Na construção familiar, temos erguido paredes. Mas, dentro delas, haverá gente de verdade?! O autor é escritor e jornalista em Piracicaba/SP
A vida é o filme que você vê através de seus próprios olhos. Faz pouca diferença o que está acontecendo. É como você vê que conta. Denis Waitley ••• 52 •••
A mãozinha bonita... Nair Marlene Zizemer
Um dia nossa primeira filha, aos quatro anos de idade, estava diante de um dilema. Ainda a vejo na minha frente, com as duas mãozinhas espalmadas, observando e comparando uma com a outra. - Mãe, porque as pessoas sempre dizem: Eu quero a mãozinha bonita, se as minhas duas mãos são bonitas? Vocês já devem ter percebido que nossa filha pertence ao grupo dos canhotos. Como explicar para uma criança de quatro anos uma atitude preconceituosa e discriminatória que está enraizada cultural e socialmente e, por que não dizer, também do ponto de vista religioso desde os tempos mais remotos? Sentei com ela e fizemos uma combinação: Nós sabemos que as duas mãozinhas são bonitas. Algumas pessoas ainda não entenderam isso. Por isso vamos fazer um trato: A esquerda é a tua mão querida e a mão direita é a tua mão bonita. Quando vais cumprimentar alguém, usa a mão bonita. Assim os adultos não vão se atrapalhar mais! Contornamos um problema, mas tantos outros apareceram e aparecem na vida de qualquer canhoto: a escrita, dificuldades em abrir latas de conserva, aprender algo prático ensinado por um destro, como por exemplo, manusear uma agulha de crochê, usar a tesoura, tocar um instrumento de cordas, abrir e fechar torneiras, utilizar o mouse no computador... Eu entendia muito bem aquela situação porque também passei por situações se-
melhantes e até piores. Também sou canhota e não tenho lembranças muito prazerosas quanto ao encanto de aprender a escrever e descobrir o mundo da escrita. Primeiro tive que me “adestrar” e aprender a usar a mãozinha bonita. Confesso que não foi fácil. Hoje, felizmente, não existe mais o preconceito quanto ao uso da mão esquerda para escrever. No entanto, se ficarmos atentos veremos que a linguagem do nosso dia a dia ainda está cheia de observações, atitudes e expressões que continuam perpetuando o preconceito em relação ao canhoto. Começando pelos sinônimos usados no dicionário para definir a palavra “canhoto” : desajeitado, torto, sinistro, atravessado, pouco hábil... Já o destro, ao contrário, é considerado hábil, ágil, direito, jeitoso. Pensemos agora em expressões que fazem parte do cotidiano: “levantou com o pé esquerdo” ... “até parece que tem duas mãos esquerdas” ... “entra na casa com o pé direito que dá sorte”. Algumas superstições também confirmam este preconceito: Se a mão direita coçar vai ganhar dinheiro, se a esquerda coçar vai perder dinheiro! Lendo e pesquisando mais sobre o assunto, percebi que a influência religiosa no processo de discriminação dos canhotos foi fundamental. Nos países islâmicos e na Índia é proibido o uso da mão esquerda porque esta mão é considerada suja, impura. Nestas culturas a mão esquerda só pode ser usada para fazer a higiene pessoal depois de usar o banheiro. Só que,
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com o advento do papel higiênico, esta regra também poderia ser mudada! No islã a punição para um ladrão, quando confirmado o ato de roubar, é lhe decepar a mão direita. Usar a mão esquerda é considerada uma atitude desonrosa, assim se corta o mal pela raiz! Os muçulmanos acreditam que Alá fala às pessoas no ouvido direito, e o diabo no ouvido esquerdo. Entre os índios americanos, a mão direita representa a coragem e a virilidade, e a mão esquerda a morte. Na Idade Média eram atribuídas aos canhotos práticas de bruxaria e de ter pacto com o demônio. Também segundo a bíblia, Jesus está sentado à direita de Deus. Conforme Mateus 25.33, no texto que fala sobre o juízo final, as pessoas serão separadas em dois grupos por Jesus: Ele porá os bons à sua direita e os outros à sua esquerda. Tanto na Bíblia como no Alcorão, os favoritos de Deus e Alá, sempre ficam à sua direita e os malditos à sua esquerda.
Na política, também há os partidos “de direita” e “de esquerda”. E, para os da esquerda geralmente é dada uma conotação mais negativa. Já os partidos da direita, poder-se-ia dizer, em geral são os socialmente mais bem aceitos. Tudo isso são idéias e conceitos que se perpetuaram e dificilmente serão abandonadas. Mesmo tendo consciência que o ser destro ou canhoto não tem nada de anormal, culturalmente estas ideias e atitudes ainda estão presentes e enraizadas e dificilmente deixarão de existir! Segundo muitas pesquisas e estudos feitos, ainda não existe uma resposta definitiva quanto à causa que define a lateralidade de uma pessoa. Hoje, já não se considera mais um canhoto como sendo um anormal. Sabe-se que os nossos movimentos são condicionados e regulados por dois hemisférios do cérebro. Nas pessoas destras, o hemisfério esquerdo predomina; nos canhotos este predomínio acontece no hemisfério direito. Ser
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canhoto ou não, é determinado pelo cérebro e não pelas mãos. Daí porque é de alta importância respeitar o desenvolvimento da lateralidade de uma criança. Você que é destro, já se imaginou realizar todas as atividades que envolvem movimento com sua mão ou pé esquerdo? Ser canhoto, num mundo de destros, obrigatoriamente exige bastante criatividade no seu cotidiano. Pois, constantemente surgem situações adversas que precisam ser gerenciadas em seu mundo. E isto exige que a pessoa canhota desenvolva a capacidade de adaptar-se, de encontrar jeitos de resolver a situação. Ela constantemente precisa raciocinar e treinar muitos gestos e habilidades que também envolvem a mão direita, e que para um destro ocorrem “automaticamente”. Esse exercício vai ampliando no canhoto a capacidade de usar tanto um hemisfério do cérebro quanto o outro. Claro, o predomínio, no caso dos canhotos, será sempre do hemisfério direito. Mas a situação constante que se apresenta é: Se não dá com a mão esquerda, precisa-se encontrar um jeito de resolvê-la com a mão direita! Experimentem solicitar para um destro manusear e realizar alguma atividades como: manejar um lápis e escrever, usar uma tesoura para cortar, abrir uma lata de conserva, abrir e fechar uma torneira com a mão esquerda... Ele vai dizer que não dá. No entanto, do canhoto se espera que se adapte e aprenda. E... quase sempre ele aprende. Assim ele vai conquistando bastante agilidade e destreza com ambas as mãos. Mas a sua “mão bonita”, em secreto, sempre continuará sendo a esquerda!
Uma pesquisa realizada na Australian National University, publicada no Jornal NEUROPSYCOLOGY, parece confirmar definitivamente, que a lateralidade já é determinada na gestação. Outro aspecto interessante constatado é que o hemisfério esquerdo do cérebro abriga a capacidade de produzir a fala. Mas no caso dos canhotos, a linguagem pode ser processada em ambos os hemisférios, fato que dificilmente ocorre com um destro. Em testes realizados entre destros e canhotos, constatou-se uma maior agilidade e habilidade dos destros quando as questões envolviam apenas um hemisfério. Já os canhotos foram mais hábeis e rápidos em questões que propunham a utilização simultânea dos dois hemisférios. Segundo especialistas envolvidos nessas pesquisas, o fato dos canhotos conseguirem interagir com os dois hemisférios, os torna criativos e lhes dá maior facilidade em resolver questões difíceis do dia a dia. Esta aptidão em usar ambos os hemisférios pode se transformar numa vantagem e ajuda no caminho para a velhice, quando o processamento cerebral começa a diminuir. Com uma propensão maior em envolver ambos os hemisférios os canhotos poderiam, em tese, retardar o enfraquecimento mental por mais tempo. Porque, com essa habilidade de interação, um hemisfério pode apoiar as tarefas do outro e assim contribuir para uma velhice com uma boa saúde mental e melhor qualidade de vida. A sociedade moderna, que se diz tolerante e aberta à diversidade de raças, credos, opções sexuais, precisa aprender a ver e aceitar o canhoto como uma pessoa igual à maioria, com as mesmas capacidades
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de aprender e inventar coisas como os destros, só que com mãos opostas.
esta data foi escolhida como símbolo da união de todos os canhotos do mundo.
Se algum dia, uma criança lhe estender a sua mãozinha esquerda, não insista para que ela lhe dê a mãozinha bonita. Estenda-lhe a sua mão esquerda. Ela ficará feliz e você sentirá neste gesto o que os canhotos sentem sempre quando vão cumprimentar alguém.
• É bem alto o percentual de canhotos famosos na política, nos esportes como nas artes e outras profissões. Cito alguns, mas se tiver curiosidade, procure no Google sob canhotos famosos. Só para ter uma pequena amostra de canhotos famosos: Airton Senna (Piloto de Fórmula 1); Pelé, Romário, Roberto Carlos (futebol); Barack Obama é o sétimo presidente canhoto dos USA; Machado de Assis (escritor brasileiro); Albrecht Dürer, Michelangelo, Raphael, Picasso, Leonardo da Vinci (artistas); Ludwig van Beethoven (compositor e músico) Albert Einstein (físico); Dr. Albert Schweitzer, médico e missionário, entre muitos outros.
Você sabia que: • No nosso calendário há tantas datas e dias especiais. Os canhotos também têm o seu dia - apesar de pouco divulgado: O dia 13 de agosto é o Dia do Canhoto. Este dia foi escolhido pela Associação de Canhotos nos Estados Unidos na década de setenta. Mesmo sendo o dia 13 considerado o dia do azar e agosto o mês do mau agouro (outra superstição),
A autora é educadora e reside em Blumenau/SC
Fontes Holder, MK. Ph. D: Destreza e canhotismo, lateralização do cérebro Ao Avesso – o canto dos canhotos brasileiros na Internet Canhotos famosos – Kuriosa-mente HowStuffWorks – Os canhotos pensam mais rápido que os destros?
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A motor e a boi – ou o atoleiro fatal P. em. Heinz Ehlert
Vibrei, quando soube que uma das paróquias vagas no meu Sínodo (Sínodo Evangélico de Santa Catarina e Paraná) já possuía um veículo automotor para os serviços pastorais. Falaram que o veículo era um “Jeep” WILLYS o tipo de automóvel escolhido, quando as paróquias começaram a motorizar o transporte dos serviços pastorais. Considerado o melhor para enfrentar as estradas de chão com a tração nas quatro rodas. A modernidade havia chegado para substituir a montaria ou os veículos de tração animal. No caso tratava-se da Paróquia Evangélica de Ibirama e Nova Bremen, SC. Corria o ano de 1953 e eu então era estudante da Faculdade de Teologia (São Leopoldo/RS), no último semestre. Se aprovado no exame, deveria ser enviado a uma paróquia do meu Sínodo de origem. A minha torcida era que fosse justamente para aquela paróquia. E, de fato, em março de 1954 fui enviado e instalado como pastor em Ibirama. Ainda não sabia dirigir um automóvel, mas logo iniciei as aulas com um jovem mecânico. Consegui – que satisfação! – a minha carteira de motorista. Mas como poderia imaginar que aquele Jeep (talvez já do tempo da 2ª. Guerra mundial) me desse tanta dor de cabeça! Ele dava vários tipos de problema. Mas o “calcanhar de Aquiles” dele era o motor de arranque. Nas horas mais inoportunas entrava em greve. E eu, sempre com pressa, por exemplo, para realizar um sepultamento. Ainda bem que quase sem-
pre havia uma alma misericordiosa (ou várias) para empurrar o Jeep até o motor pegar. Sempre que tinha que sair de madrugada, eu já o deixava num declive. Quando o aborrecimento e a despesa foram demais, o presbitério resolveu trocar de veículo. Em lugar do Jeep veio um Ford 29! Era só para um tempo de transição, me disseram. Tempo este que acabaria se estendendo quatro anos. O meu Ford 29 era um veículo robusto e valente. Com pneus “cidade e campo” poderia enfrentar qualquer estrada de barro. E se necessário, dava para colocar corrente nas rodas traseiras. Não havia, por que se queixar. Num inverno choveu demais. As estradas do interior tornaram-se quase intransitáveis. Mas as comunidades não poderiam ficar abandonadas quanto aos serviços pastorais. Choveu durante mais de um mês. As estradas ficaram deploráveis: lamacentas, ensopadas e cheias de buracos deixados pelos caminhões que ousavam transitar por elas. Mas o Ford 29 não me deixava na mão. Até aquele domingo de manhã: O culto estava marcado para as 10h00 da manhã em Rio Wiegand. Era um percurso de 55 Km da sede. O jeito era levantar cedo. Às 5 horas da madrugada embarquei o meu Ford 29 e me mandei. O trecho até José Boiteux (cerca de 30 Km) foi muito bem. Dali em diante a estrada piorou. Mas nós vencemos também este trecho. Antes de chegar à Serra do Rio Lais, per
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cebi que devia ter um problema mais sério no caminho, pois lá havia bastante gente curiosa reunida. Um atoleiro? Um atoleiro! Era numa descida. Meti o pé no pedal de gás corajosamente para ter embalo. Mas o atoleiro era profundo e a lama pegajosa nos segurava. O carro parou. Não ia nem pra frente, nem para trás. Logo alguns homens e jovens acorreram para empurrar e ajudar o veículo a sair. Mas ele não se mexia do lugar. E agora? E o culto que eu devia celebrar estava marcado para as 10h00! Os homens tiveram uma ideia brilhante. Um trator? Não, um boi poderia ser a solução. Um boi? E de onde tirar um boi, num domingo de manhã? Tem aí um cidadão que possui um boi para puxar madeira. Se o “cura” quiser, eles vão falar com o dono do boi. Claro que ele queria. Não demorou mais de meia hora e lá estava ele com o boi já preparado. Foi atrelado ao carro. - E agora liga o motor, os homens empurram à voz do comando. O boi se lança pra frente e lá vai o Ford. Superamos o atoleiro! Podemos continuar a viagem. Ao chegar, toda a comunidade já está reunida. O culto transcorre normalmente. Mas eu tenho mais pressa do que de costume. À tarde estão me esperando em José Boiteux: Culto com batismo, às 15h00. Terei que rodar o mesmo caminho de volta. Não há possibilidade de desvio, não de carro. Como passar por aquele atoleiro, agora morro acima? Vamos lá! Ainda não são 14h00, e eu avisto o famigerado atoleiro. Outra vez pessoas olhando. Mais uma vez tomar um
bom embalo. E lá estamos nós no meio do barro, presos. As rodas não encontram chão firme. O motor geme. Não faltam tentativas de ajudar. Entrego o volante a um caminhoneiro, motorista experiente nestes pagos. Eu mesmo arregaço as calças e ensaio, de pé no chão, tentar com os demais mover o carro, o perito ao volante! Mas nada! Cadê o boi de hoje de manhã? Que gente prestativa! Alguém logo correu para chamar o dono. Ele traz o boi. Atrela ao carro. O comando é um grito. O boi se lança com toda a sua força. Mas o carro não se mexe. Nem numa segunda, nem numa terceira tentativa. Mas ficar aí? Só existe um boi por estas bandas? Alguém lembra: Um colono, algumas casas adiante, também tem um. O jeito é falar com ele e convencê-lo a ajudar com o seu boi em plena tarde de domingo. A demora não é pouca. Mas, graças a Deus, o colono nos atende. Alguns céticos cochicham:- Não vai dar certo, mas é nunca. Estes bois nunca puxaram juntos! Pacientemente atrelam um ao lado do outro. Os homens estão a postos no meio daquela lama. Isso se chama de solidariedade. O motor também ligado. O grito de comando ressoa. Um boi se lança pra frente, o outro não. E o carro fica no mesmo lugar. Mais uma vez. Alguém se coloca na frente dos bois para puxá-los ao mesmo tempo. Um dos donos tem um chicote. Ressoa o grito de comando. Os dois se lançam juntos. O motor ruge. E eis que vai pra frente. Devagar, mas vai. Estamos soltos! A
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união mais uma vez fez a força. Solidários e unidos conseguimos mais. Que mal faz que estamos cobertos de lama? Lá perto há água para se lavar. Entrementes dois ciclistas chegaram. São da comunidade de José Boiteux. Imaginaram que o pastor poderia estar atolado ali, naquele atoleiro fatal. Queriam ajudar também. Não foi mais preciso. Alivi-
ados eles montaram em suas bicicletas para voltar o mais depressa possível à igreja . O Ford logo os ultrapassou. Com algum atraso (cerca de uma hora) pudemos celebrar o culto. A comunidade esperou com paciência e cantou louvores alegremente.
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O autor é pastor emérito da IECLB e reside em Curitiba/PR
Análise e visão da IECLB por um obreiro jubilado P. em. Werner Brunken
Antes de ser Obreiro na Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) , estudei em São Leopoldo (RS) de março de 1956 até junho de 1964. A Igreja que eu conheci no Sul do Brasil era semelhante em todos os lugares. Havia tradições litúrgicas diferentes, mas todas baseadas nas tradições de suas igreja territoriais na Europa. Eu sentia-me em casa, pois havia a parte litúrgica com seu esquema claro (Louvor e adoração, confissão, absolvição, oração, leituras, pregação, Ceia do Senhor, oração, geral, Pai Nosso, bênção araônica). Não faltavam os Documentos Normativos: Bíblia, Hinário Oficial, Veste Talar, respeito pelo lugar Sagrado. Entrava-se na igreja em silêncio, concentração, oração, preparando-se para ouvir a Palavra de Deus e conviver com a Comunidade.
fé no dia a dia.
Dentro desta igreja assumi o pastorado em 1964 e vivi e desempenhei o meu Ministério com tremor e temor durante 42,5 anos. Atualmente como pastor jubilado ainda exerço atividades ministeriais, principalmente na celebração de Cultos. Realizo-os no mesmo esquema que conheci e sempre conforme os Documentos Normativos da IECLB, usando os Hinários (HPD- Hinos do Povo de Deus – 1 e 2), liturgias dentro do esqueleto estabelecido pela IECLB, veste talar e um bom preparo para transmitir a Palavra de Deus, a fim de que esta leve orientação, conforto e desafio para uma vivência de
Deixo bem claro que não me considero um obreiro bitolado. Sempre aproveitei hinos, que não constavam do HPD. Em cultos festivos usei formas litúrgicas diferentes, mas sempre dentro do esquema estabelecido pelos Documentos vigentes na IECLB. Em cultos muito movimentados com crianças, adolescentes e jovens até deixei de usar veste talar. Mas tais cultos diferentes foram exceções e não regra geral.
Faço questão de acentuar esta vivência, pois conheço comunidades ligadas à IECLB, que não seguem os Documentos Normativos. Não há liturgias conforme esqueleto proposto, nem são usados os dois Hinários HPD, nem veste talar, nem Catecismo Menor para o ensino do povo. Nos cultos destas comunidades não sinto mais a familiaridade com a IECLB. Não condeno tais formas de cultos com bandas e muita conversa. Mas sinto falta do “culto luterano”. Em algumas comunidades já são celebrados dois cultos dominicais: pela manhã o “culto luterano” e à noite “culto alternativo” conforme descrito. O que não consigo aceitar é termos comunidades luteranas sem observar e vivenciar o que estabelecem os Documentos Normativos.
Observando outras igrejas em nosso País, constatamos que elas têm seus esquemas de cultos bem definidos conforme esta
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belecido por regras aprovadas. E tais princípios são seguidos por seus obreiros e pelos membros das mesmas. Exemplos: Na Igreja Católica Romana existe o “Movimento Carismático” Trata-se da renovação espiritual. A Igreja aceita tal renovação, mas dentro dos Documentos da Igreja. Nenhum padre deixa de celebrar a Missa conforme estabelece a tradição histórica. Na Igreja Evangélica Luterana do Brasil os obreiros seguem os parâmetros estabelecidos pela Igreja. Também no mundo secular as pessoas precisam seguir os parâmetro de seus empregadores. Onde a tradição é costume usar terno com gravata, usa-se. Onde é costume usar uniforme, usa-se. Concluo que não existe em Igrejas e nem no mundo secular a liberdade de trabalhar e servir conforme passa pela cabeça das pessoas. Assim, sou a favor que na IECLB
se observe e viva mais o que estabelecem os Documentos Normativos aprovados em Concílios. Caso contrário, daqui a alguns anos não vamos mais ter uma IECLB em âmbito nacional. Quando da sua Ordenação na IECLB os obreiros prometem diante de Deus e da comunidade reunida, agir de acordo com os Documentos vigentes. E o que vemos são obreiros e comunidades criando jeitos seus e não da IECLB de celebrar. Se somos membros de uma mesma igreja, denominada Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, então vamos trabalhar para termos celebrações dentro do estabelecido pela IECLB. Para que isto aconteça a Constituição da IECLB estabelece claramente no seu Artigo 5º: “A IECLB tem como fundamento o Evangelho de Jesus Cristo, pelo qual, na forma das Sagradas Escrituras do Antigo e
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do Novo Testamentos, confessa sua fé no Senhor da uma, santa, universal e apostólica Igreja. Parágrafo 1º - Os credos da Igreja Antiga, a confissão de Augsburgo (Confessio Augustana) inalterada e o Catecismo Menor de Martim Lutero constituem expressão da fé confessada pela IECLB.” Vejo também com preocupação um outro aspecto de nossas celebrações: A falta de respeito para com o sagrado. Este respeito sinto bastante nas Igrejas Católica Romana e Ortodoxa. As pessoas passam diante de seus templos, fazendo suas reverências. Quando entram nas igrejas, o fazem em silêncio e concentração. É o respeito para com o lugar, no qual Deus quer falar e ter comunhão com as pessoas. Em muitas comunidades luteranas este respeito e preparo deixou de existir e deuse lugar para conversas, que atrapalham os que desejam concentrar-se e até os obreiros por vezes têm dificuldade de conseguir silêncio para iniciar o culto. O sagrado precisa ser respeitado. É importante termos pelo menos um lugar, no qual reina silêncio e no qual podemos concentra-nos em nosso falar com Deus e no ouvir da sua Palavra. Para as conversas há espaço antes ou após o culto, fora do templo. Outro assunto que me preocupa na IECLB é “seu discurso social”. Escrevese e fala-se muito no engajamento dos membros para que todas as pessoas te-
nham “vida digna”. Este esforço é louvável, mas constato que este discurso está na ordem do dia na sociedade em geral. Todos querem uma vida melhor. Mas sinto falta do diferente na Igreja. E este diferente é confrontar as pessoas com a Palavra de Deus. As pessoas precisam ser confrontadas mais com a Palavra de Deus. Faltam cultos evangelísticos, que chamam as pessoas para se arrependerem, confessarem seus pecados e aceitarem Jesus Cristo como seu Senhor e Salvador e diante do qual assumem o compromisso de viver em comunidade, expressando sua dependência deste Deus. Ao mesmo tempo vivendo como pessoas renovadas em Cristo, servirem com seus dons neste mundo em favor de todas as pessoas. Falta na IECLB mais compromisso com a propagação da Palavra de Deus. Vejo como exemplo bíblico o que aconteceu com Zaqueu conforme Lucas 19. Após ouvir a pregação de Jesus, arrependeu-se de seu caminho egoísta e do prejuízo que causou a outras pessoas. Só depois deste confronto, Zaqueu agiu em benefício das pessoas. Desejo uma IECLB mais uniforme em suas celebrações. Uma IECLB que divulgue a Palavra de Deus com mais convicção, afim de que pessoas sejam tocadas e transformadas para uma vivência comunitária fraterna. Uma IECLB, cujas pessoas vivendo uma nova realidade em Cristo, se engajem por uma sociedade mais fraterna e igualitária. O autor é pastor emérito da IECLB e reside em Curitiba/PR
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Asilo de Trombudo 1936 – 75 anos – 2011 P. em. Meinrad Piske
“Asilo de Velhos de Trombudo” ou simplesmente “Asilo de Trombudo”. Com estes nomes é conhecida a instituição que tem o nome oficial de “Asilo de Velhos de Braço do Trombudo – Recanto do Sossego”. Localizado na divisa dos municípios de Trombudo Central/SC e Braço do Trombudo/SC, este Lar que atualmente abriga 60 pessoas idosas, foi fundado em 1936 pelo Pastor Beutler da Igreja Batista de Nova Breslau, hoje Presidente Getúlio/SC. Poucos anos depois este Pastor faleceu. E sua esposa, diante das dificuldades financeiras, colocou o imóvel à venda para poder voltar aos Estados Unidos, de onde viera com seu marido.
O Presidente do Sínodo Evangélico de Santa Catarina, P. Scherer, o tesoureiro sinodal Hermann Mueller Hering e, principalmente, a Presidente da Liga Evangélica de Auxílio Feminino ( precursora da Associação dos grupos de OASE) Elsbeth Koehler assumiram a tarefa de arrecadar os fundos necessários para adquirir este Lar. Com isto um sonho antigo começava a tornar-se realidade: proporcionar às pessoas idosas que estavam sozinhas um Lar onde poderiam viver com dignidade. Eles conseguiram motivar os grupos de Senhoras e, por intermédio destes, as Comunidades e Paróquias que se entusiasmaram com o projeto. Teve lugar um
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grande mutirão para arrecadar o dinheiro necessário. Poucas vezes conseguiu-se a participação de tantas pessoas num projeto que ultrapassava os horizontes da Comunidade local. O entusiasmo foi contagiante. Resolveram transferir o ancionato para Trombudo Central/SC onde o Sínodo possuía uma vasta área de terras que colocou à disposição do Asilo. No ano de 1942 a obra estava concluída e pode ser inaugurada, recebendo os idosos que foram transferidos de Presidente Getúlio para sua nova moradia em Trombudo Central. Extraordinário foi o fato de as comunidades e grupos de Senhoras conseguirem edificar esta obra sem receber ajuda de órgãos governamentais e nem do exterior. Este movimento fortificou o sentimento de união das Comunidades e forjou o Sínodo. Até os dias de hoje, sente-se o carinho que existe para com este Lar de idosos. Os filhos, netos e bisnetos daqueles que arregaçaram as mangas na época da construção hoje ajudam voluntariamente para manter esta casa. O diretor de redação do jornal O Caminho, Pastor Clovis Horst Lindner, publicou na edição de outubro um breve comentário com o título “Um asilo pobre”.
Descreveu a situação precária em que esta casa se encontra: “O asilo ainda existe. E os seus problemas só fizeram crescer nas últimas décadas. A tal ponto que a Vigilância Sanitária deu um ultimato à mantenedora: ‘sem prédios mais seguros, a casa não pode receber mais novos internos’. A única saída para os velhos pobres que moram lá é a NOSSA SOLIDARIEDADE. E a nossa ajuda precisa ir muito além de roupas, sapatos e material de limpeza. Eles precisam de casa nova”. A casa nova está surgindo. Muitas pessoas que leram este artigo do Pastor Clovis se sensibilizaram e entenderam a situação precária. Começaram a ajudar. Parece que o mutirão contagiante da época da construção de sete décadas atrás voltou. Uma parte desta nova construção deve ser concluída. E assim, ao completar 75 anos, o novo “ASILO DE TROMBUDO” estará sendo inaugurado. O Pastor João Bartsch, da Paróquia de Braço do Trombudo, é o Presidente do Conselho do Lar e o P. em. Ingo Piske preside a comissão de construção e ampliação. O Lar de idosos é coordenado pela Diácona Vera Lúcia Nunes e dirigido administrativamente pela Secretária Executiva Marilene Roeder Schuldt. O autor é pastor emérito da IECLB e reside em Brusque/SC
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Aspectos da Missão Indígena no norte do país P. Walter Sass
Vivi sete anos com o povo indígena Kulina e estou há 11 anos com o povo Deni no Estado do Amazonas. Conviver com uma cultura bem diferente da própria é uma escola da vida. Aprendi muito mais do que pude ensinar. Os Kulina me convidaram para trabalhar com eles. Com eles vivia um casal, P. Roberto Zwetsch e Pª Lori Altmann. Eles queriam ser testemunhas cristãos de uma maneira diferente, não tanto pela doutrinação, mas pela convivência. Eu entrei no espírito desta nova maneira de missão entre indígenas. A convivência foi e é importante para conhecer a cultura, a religião, a língua e os costumes de um povo. A solidariedade foi e é necessária na luta pela terra e contra os preconceitos dos não-indígenas. Os indígenas não experimentaram a Boa Nova na sua história. Até a sua religiosidade própria foi lhes negada. Os Mitos dos povos indígenas presentes e levados a sério Eu percebi como os seus mitos estão vivos ainda hoje no dia-a-dia. Os velhos contam as histórias antigas: - Uma vez fui com o então estagiário, Rogério Link, para o roçado dos Deni. Os indígenas queriam apanhar folhas de vekhama, uma planta que asfixia os peixes. Ficamos curiosos e perguntamos:
“Como é que o povo Deni descobriu a planta vekhama, que faz com que os peixes fiquem tontos?” Os Deni contaram, ainda ali no roçado, a história da menina bonita Mahaniru que foi assassinada, mas do túmulo dela nasceu esta planta. Os Deni até hoje cantam para Mahaniru antes de uma pescaria. - Em outra ocasião recebi um consolo a respeito dos piuns. O professor Vamuna, da aldeia Morada Nova, contou a história de Shushuvaha Shushu, que fala do surgimento dos primeiros mosquitos. E conclui dizendo: “Antigamente tinha muito mais piuns e mosquitos, agora têm poucos, graças a um pajé de antigamente!” - Os Deni e outros povos indígenas contam a história de dois irmãos que recriaram o mundo depois de um dilúvio. (Nenhum povo vive mais no paraíso!). Os Deni os chamam Tamaku e Kira. Um deles, Tamaku, é muito ordeiro. Seu irmão, Kira, é brincalhão e atrapalhado. È a sabedoria da vida: dois lados, aparentemente opostos, se complementam. Isto cria uma abertura para o outro e ao mesmo tempo uma atitude de humildade frente à opinião e visão do outro. Nos mitos se reflete uma espiritualidade O bispo luterano da Nigéria Alex Malasusa fala sobre o diálogo entre as
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diferentes religiões: “Na Europa se quer entrar no diálogo antes de ter lido as Sagradas Escrituras do outro. Onde fica o fundamento comum? ” Os Deni não têm escrituras sagradas. Mas eles têm seus mitos e seus rituais religiosos. Por isso, antes de tudo, temos que conhecer a espiritualidade Deni. Com a ajuda dos anciãos e dos professores Deni elaboramos um livro de mitos Deni. Este livro conta como surgiram os povos, os animais, as plantas e como foi o dilúvio... Quando eu anotava com os Deni seus mitos, percebi algo bem especial nos mitos: No início do mundo todos os bichos, plantas, estrelas eram seres humanos. O homem não é o centro do mundo. Tudo e todos são interligados. Os indígenas vêem este mundo como uma “sociedade da vida”. - Um dia Tunavi Deni se sentou ao lado da minha rede e contou o mito do pajé, Kapihava que foi atrás de água. “Não existia água na terra. Depois de uma longa caminhada em direção ao sol, encontrou um sapo grande, turatura, que pediu ao pajé que ele o matasse para obter água. Ao matar o sapo, surgiram os primeiros rios, o Cuniuã e os outros rios.” Tunavi Deni contou a história de uma maneira surpreendente. Às vezes ele falava de Kapihava, outras vezes substituía o nome de Kapihava pelo nome de Jesus. Eu me lembrei de textos da Bíblia que falam do Deus trinitário já presente no meio deste mundo antes que o missionário tivesse chegado (João 8,58). Saravi Deni conta como cristãos não respeitaram a cultura indígena. Um pastor
chegou à sua aldeia e batizou sua aldeia inteira e proibiu comer quelônios, porcos do mato e peixes sem escamas. O povo não agüentou por muito tempo essas novas leis. A fome falou mais alto. Quando Saravi encontrou o mesmo pastor em Manaus e contou que eles não obedecem mais as novas leis, o pastor falou: “Então vocês vão para o inferno!” A resposta de Saravi foi: “Deus é maior. Foi Tamaku que criou tudo para nós comerem.” Depois de perceber que sua religiosidade foi valorizada por nós, missionários da IECLB, os Deni pediram Bíblias da IECLB. Acho que o caminho esteja certo: O Evangelho não foi imposto negando a religiosidade e cultura indígena. Os Deni a lêem e a comparam com os seus mitos e descobrem muitas semelhanças. O compartilhar dos alimentos, a busca de soluções durante conflitos, a valorização dos velhos e o carinho encontram-se nas palavras de Jesus. Os Deni vivem e, penso que já viviam segundo estes valores, mesmo antes de terem conhecido a Bíblia. Missão não só de anúncio da Palavra, mas também de ação A missão entre os Deni não podia ficar só nas palavras. Comecei a dar aulas na língua Deni. Elaboramos uma cartilha de alfabetização. Hoje já há professores Deni em todas as aldeias. Quando cheguei à aldeia, ninguém sabia ler nem escrever. Hoje 80% das aldeias sabem ler na sua língua. A terra estava invadida por seringueiros e pescadores que tiraram
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toneladas de peixes dos rios, de modo que passaram a ser escassos para os Deni. Os Deni, que tiveram o primeiro contato com seringueiros nos anos 40, sofreram muito. Muitos morreram e passaram fome. Eles viviam escravizados tirando borracha para os seringalistas. Apoiei os Deni na luta deles pela terra. Esta terra, que desde tempos imemoráveis pertenceu ao povo Deni. O líder Bahavi Deni escreveu em 1996 sobre a importância da terra e da mata: “É na mata, que está a nossa alimentação. Lá também há a carne de caça, as frutas e os peixes. O rio e os igarapés também ficam na mata. A mata é muito importante para proteger a terra. Ela também protege a água e os animais. Não queremos a retirada de madeira da nossa mata para não acabar com ela. Sem a mata, fica só uma terra pobre. Por isso que queremos a nossa terra demarcada.” Quando uma madeireira da Coreia do Sul invadiu a área Deni, o Greenpeace, o CIMI, COMIN e outras entidades se juntaram, reivindicando e pressionando e para que a FUNAI finalmente demarcasse em 2003 a terra Deni: A área demarcada é de 1 530 000 hectares para aproximadamente 1 200 indígenas Deni. Hoje há uma casa flutuante na boca do rio Xeruã, afluente do rio Juruá. Os Deni vigiam a sua área. Eles têm a consciência que a preservação da mata é
importante para a sobrevivência deles e também para o mundo inteiro. Em 2005 houve uma seca nunca vista na Amazônia. Parte da mata virgem perto dos roçados queimava. Saravi Deni, cacique da aldeia Morada Nova, fala sobre a responsabilidade de todos os povos a respeito das mudanças climáticas: “Nós temos que preservar a nossa mata. Na natureza podemos observar um pássaro chamado japiim. Ele tem como aliados os maribondos que fazem suas casas na mesma árvore. Os maribondos defendem os ovos e os filhotes dos japiins quando os tucanos querem se apropriar dos ovos. Todos nós vivemos na mesma árvore neste universo. Os não-indígenas são maribondos para nós quando eles defendem os nossos direitos. Nós somos maribondos para os não-indígenas pois estamos cuidando da mata para que ninguém a destrói.” Os Deni fundaram a sua própria associação com a assessoria do COMIN para assumir projetos como a revitalização e futura comercialização do peixe pirarucu. O jovem líder Deni Kapivahari resumiu: “Estamos nos preparando para assumir nossa associação sem precisar da ajuda direta do branco. Assim que isso acontecer o CIMI, COMIN e OPAN podem ir trabalhar com outros parentes que os precisam mais do que nós.” O autor é pastor na IECLB e atua na Missão Indígena em Caruari/AM
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Assembleias da Federação Luterana Mundial P. em. Meinrad Piske
A Federação Luterana Mundial (FLM) realizou nos dias 20 a 27 de Julho de 2010, em Stuttgart-Alemanha, a sua 11ª Assembleia com o tema “Dá-nos hoje o pão nosso de cada dia”. Fundada em Lund-Suécia no ano de 1947, a Federação hoje é constituída, inclusas as cinco igrejas admitidas nesta Assembleia, por 145 igrejas de 79 paises. Conta com 70 milhões de membros. A Assembleia é seu órgão soberano e é realizada, via de regra, de 6 em 6 anos. Já foram realizadas as seguintes Assembleias: 1ª – 1947 em Lund – Suécia 2ª – 1952 em Hanover – Alemanha 3ª – 1957 em Minneapolis – Estados Unidos 4ª – 1963 em Helsinki – Finlândia 5ª – 1970 em Evian – França 6ª – 1977 em Dar-es-Salam – Tanzânia 7ª – 1984 em Budapeste – Hungria 8ª –1990 em Curitiba – Brasil 9ª – 1997 em Hong Kong - China 10ª – 2003 em Winnepeg – Canadá 11ª – 2010 em Stuttgart – Alemanha Geraram grande polêmica a 5ª Assembleia em Evian no ano de 1970 e a 7ª em Budapeste no ano de 1984. A primeira foi transferida em cima da hora de Porto Alegre para Evian na França. O motivo alegado pela direção da Federação foi a posição da IECLB que, assim suspeitava-se, estaria apoiando o governo militar acusado e denunciado em todo o mundo como não respeitador dos diretos humanos. Isto gerou muita polêmica tanto no Brasil como no exterior. A Assembleia de 1984 em Budapeste suspendeu a filiação de duas igrejas luteranas da África do Sul acusadas de segregação racial, por não permitir a participação de
pessoas de cor nas suas celebrações da Santa Ceia. A Assembleia realizada em Stuttgart em 2010 teve a participação de aproximadamente 1.000 pessoas. Elegeu seu novo Presidente, o Bispo Dr. Munib A. Younan da Igreja Evangélica Luterana da Jordânia e na Terra Santa. Entre os 48 membros que formam o Conselho da Federação está o brasileiro Carlos Gilberto Bock. Entre os posicionamentos elaborados e aprovados pela Assembleia constam como prioridades ações em favor das pessoas deficientes, dos socialmente marginalizados, dos indígenas e dos jovens.
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As cinco igrejas que foram formalmente aceitas como novos membros efetivos da Federação são igrejas da Ásia: três de Mianmar, uma da Índia e outra do Nepal. São igrejas pequenas que foram agora acolhidas na comunhão maior com as outras igrejas luteranas que formam a Federação Luterana Mundial. Entre os temas que receberam atenção especial estão as seguintes recomendações: • o meio ambiente e as questões climáticas • uma nova arquitetura internacional de finanças diante da realidade de que 1 bilhão de pessoas não tem o suficiente para comer e 2 bilhões de pessoas não tem água suficiente e em boas condições • a inclusividade, em palavras e ações • o desarmamento nuclear em favor da luta contra a fome O Secretário Geral Dr. Ismael Noko, natural do Zimbábue, que deixou o cargo, apontou para os temas que estão em estudo e discussão nos dias atuais: o matrimonio, a família e a sexualidade. Destacou em seu relatório o relacionamento ecumênico das igrejas luteranas, dando destaque especial à assinatura da Declaração Conjunta sobre a doutrina da justificação pela fé em 1999. Igualmente comentou o ato de reconciliação da Federação com as igrejas menonitas que desde os tempos da Reforma foram discriminadas pelas igrejas luteranas. Apontou para a celebração dos 500 anos da Reforma que acontecerá no dia 31 de outubro de 2017, dia do jubileu da publi-
cação das 95 teses de Lutero. Ele afirmou: “Tenho a esperança de que encontraremos o caminho ecumênico correto para comemorar o dia e celebrar o que já temos com a superação das condenações do passado e a visibilidade da unidade que já alcançamos”. O novo Secretário Geral da Federação, P. Martin Junge do Chile, afirmou em sua apresentação: “Acredito que a pregação, a diaconia e a incumbência profética na sociedade devem andar juntas. Elas se influenciam mutuamente neste processo de mudanças. Aprendi a permanecer firme nos valores da justiça, da dignidade, da não-violência e da tolerabilidade.” No seu relatório, o Presidente da Federação Mark S. Hanson dos Estados Unidos que encerrou seu mandato nesta Assembleia destacou em seis itens a autocompreensão das igrejas luteranas: • elas são Evangélicas – crêem na boa nova de que Jesus Cristo liberta das amarras do pecado; • elas são sacramentais – concentramse nos sacramentos do Batismo e da Santa Ceia; • elas são contextuais – orientam sua tarefa e seu serviço para as situações específicas da sociedade; • elas vivem a comunhão – a comunhão com as demais igrejas e estão preocupadas com a comunhão de todas as pessoas; • elas são diacônicas – estão no serviço de uns para com os outros; • elas são ecumênicas – buscam a unidade da cristandade em todo o mundo.
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Será que a 12ª Assembleia será realizada em 2017? É o ano em que se comemorará o aniversário de 500 anos das 95 teses de Lutero. Muitos preparativos para celebrar condignamente este evento histórico já estão acontecendo. Inclusive o
Anuário Evangélico participa deste preparo publicando, em cada edição desde a edição de 2010 com planejamento até 2017 breves comentários sobre as “teses que abalaram o mundo”. O autor é pastor emérito da IECLB e reside em Brusque/SC
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Catecismo, pra que? P. em. Heinz Ehlert
Ele já tinha alcançado 95 anos, quando o conheci. Morava com a família da filha, na Estrada Sellin, em Ibirama/SC. Era imigrante da Alemanha e membro fundador da Comunidade Evangélica de Ibirama. Um dos poucos ainda vivos. O desejo dele era comemorar a data do aniversário natalício com a celebração da Santa Ceia em sua casa, já que não tinha mais condições de ir à igreja. As pernas não ajudavam mais. Mas a cabeça funcionava perfeitamente. Soube que ele achava que iria morrer logo (mas ainda alcançou os 96 anos). Chamaram, então, o pastor para a celebração. Encontrei um ancião bem desperto. Uma conversa animada sobre o início da cidade e da Comunidade Evangélica se desenvolveu. Na hora da celebração com a família, o Sr. Friedrich pediu para falar . Recitou de maneira pausada, com voz clara, embora um pouco trêmula, um hino: “Christus, der ist mein Leben” (hinário alemão nº 314 - Jesus é a minha vida). Todas as sete estrofes (a tradução só 4 estrofes - temos no hino nº 300 do HPD 1). Perguntado depois da celebração, quando e como aprendera o hino, respondeu: “Foi no ensino confirmatório. Tínhamos que decorar muitos hinos, palavras bíblicas e o Catecismo Menor já na escola e depois no ensino confirmatório”. E ele ainda os sabia aos 95 anos! Muito me impressionou e me convenceu de que estudar textos de cor tem um inestimável
valor. Eles podem acompanhar-nos e servir de edificação espiritual e orientação por uma vida inteira. Assim foi comigo. E assim procedi com os jovens a mim confiados no Ensino Confirmatório. Hoje muitos criticam este método como “decoreba” inútil que só chateia. Argumentam que o principal é que os adolescentes entendam e assimilem os conteúdos. Também concordo. Não basta decorar como papagaio. Mas há uma maneira melhor para fixar estes conteúdos do que memorizando textos tão concisos como os encontramos no Catecismo Menor, no Hinário e em palavras bíblicas? Muitas vezes, passamos a entender melhor muito mais tarde, numa outra situação, talvez até de crise, uma palavra ou um texto que decoramos como alunos adolescentes. Convém assinalar que a Constituição de nossa Igreja cita o Catecismo Menor de Martim Lutero entre os documentos que são sua base confessional. Afirmamos que o grande feito do Reformador Lutero no século XVI foi a “Redescoberta do Evangelho” na Sagrada Escritura. Por isso as organizações eclesiásticas (Igrejas) que surgiram a partir daí, foram chamadas de “evangélicas”. E evangelho significa “Boa Nova”, mensagem que traz alegria. Mas por que, então, ainda tanta ênfase sobre a lei, por exemplo, sobre os Dez Mandamentos? E Lutero colocou como primeiro “Hauptstück” (Primeira Parte Essencial)
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justamente os dez mandamentos! Os dez mandamentos não perderam a sua validade. O próprio Cristo os valorizou no “Sermão da Montanha” (veja Mateus 5.17-28) e em outros momentos (por exemplo, no diálogo com o jovem rico conforme Mateus 19 e Lucas 18). E sabem, por que temos tantos textos na Bíblia dos profetas e apóstolos? Porque era costume memorizar os seus ensinamentos! Eles não possuíam (nem precisavam) gravador ou computador. Digno de nota é que a explicação de Lutero a cada um dos mandamentos sempre inicia com as palavras: “Devemos temer e amar a Deus...” É por temor (respeito) e amor a Deus que devemos cumprir os mandamentos.
Hoje se ouvem muitas queixas (certamente justificadas) de que há completa falta de ética na política e nos negócios. Não seria pelo fato de que os mandamentos, o temor e o amor a Deus, não são mais observados? Tenho a convicção que a conduta dos nossos líderes e do nosso povo seria mais ética, se todos tivessem não só decorado, mas assimilado os conteúdos da doutrina cristã tão bem resumida no Catecismo Menor como supra-sumo das Sagradas Escrituras. Por isso pleiteio que se volte a memorizar, a entender e a relembrar sempre de novo, por toda a vida, o conteúdo do Catecismo Menor. O autor é pastor emérito da IECLB e reside em Curitiba/PR
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Como NÃO educar um filho Artigo da internet – autor desconhecido
1. Comece na infância a dar a seu filho tudo o que ele quiser. Assim, quando ele crescer, acreditará que o mundo tem obrigação de lhe dar tudo o que ele deseja. 2. Quando ele disser nomes feios, ache graça! Isso o fará considerar-se interessante. 3. Nunca lhe dê qualquer orientação religiosa. Espere até ele chegar aos 21 anos para que “decida por si mesmo”. 4. Apanhe e guarde tudo o que ele deixar jogado pela casa: livros, sapatos, roupas. Faça tudo para ele. Assim ele aprenderá a jogar sobre os outros toda a responsabilidade. 5. Discuta com frequência na presença dele. Assim não ficará muito chocado quando o lar de vocês se desfizer mais tarde. 6. Dê-lhe todo o dinheiro que ele quiser. 7. Satisfaça todos os seus desejos de comida, bebida e conforto. Negar pode acarretar “frustrações prejudiciais”. 8. Tome o partido dele contra vizinhos, professores e policiais. (Todos têm má vontade com seu filho!!). 9. Quando ele se meter em alguma encrenca séria, dê esta desculpa: “Nunca consegui dominá-lo”. E, finalmente... 10. Prepare-se para uma vida de desgosto.
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Comunicação ontem e hoje P. Clóvis H. Lindner
Um dos temas mais apaixonantes das relações humanas é o da comunicação. Já me flagrei diversas vezes tentando imaginar o longo caminho da humanidade entre os primeiros grunhidos do homem das cavernas, combinando a estratégia da caçada, e as mensagens que os cientistas enviaram rumo às estrelas, na esperança de resposta de algum canto do universo que nos dê a certeza de não estarmos sozinhos na imensidão. Entre um extremo e outro, estão a origem das línguas faladas no mundo e a comunicação instantânea na qual vivemos. Por certo, a trilha da comunicação não foi fácil para a humanidade. Para falar a verdade, a maioria dos grandes obstáculos para a comunicação ainda não foi removida. Isso porque, mesmo vivendo na era da informação e da aldeia global, a humanidade ainda não conseguiu construir a fraternidade e o entendimento entre todos. Apesar de já dispormos de ferramentas como o Google Translator, capaz de fazer a tradução instantânea de qualquer texto da internet (ainda sofrível, é verdade), o entendimento entre os povos não se resume a entender a língua do outro. Para compreender o semelhante, é preciso entender o seu modo de vida, a sua visão de mundo, a sua religião, as leis que regem a sua sociedade e mais uma infinidade de coisas que o tornam um sujeito único. Ainda assim, não compreenderei bem o outro sem a prática da aceitação. A ver-
dadeira comunicação só pode acontecer quando estivermos dispostos a abandonar os nossos preconceitos em relação ao diferente. Mais do que ter um bom dicionário, é preciso uma generosa dose de tolerância. Tudo começou em torno de uma fogueira Fiquei impressionado ao aprender, nas primeiras preleções na faculdade, que a história de Israel foi sendo montada em noites de contação de história ao redor de fogueiras ao longo de séculos e de gerações, antes de serem escritas para fazer parte da Torá (o Antigo Testamento). Lembrei-me das noites que eu passei à beira do fogão a lenha, com a minha família, ouvindo as histórias dos tempos dos meus avós. Era bem parecido com a tradição oral que construiu a história de Israel. A história dos povos foi sendo construída assim. A própria linguagem de cada povo foi sendo moldada ao redor da fogueira. Somente muito depois vieram os escritos, os documentos, os pergaminhos, as gramáticas, os escritores, os livros, as bibliotecas e os historiadores. Da comunicação manual à comunicação mecânica Com isso, a comunicação foi se sofisticando. Passou dos desenhos nas cavernas pré-históricas, para os hieróglifos e os diferentes alfabetos que
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foram fixando o conhecimento humano. No começo, caprichosos escribas foram registrando e multiplicando tudo. Depois, vieram os tipos móveis de Gutenberg e a tipografia, a máquina de escrever, a pintura e a fotografia. No século 20, a comunicação passou por tantas revoluções que já não é mais possível a uma única geração absorver tantas mudanças. O século passou da tipografia ao offsett e à impressão digital. Viu a fotografia em preto e branco transformar-se em cores, acabou com o filme e criou a imagem digital. Conheceu o cinema mudo e falado, o filme technicolor e digital, para chegar ao cinema em três dimensões. Viu também o surgimento do rádio e da televisão. Aprendeu a falar ao telefone com manivela, através da telefonista e via satélite. Hoje, o celular está na mão de milhões no mundo inteiro e em qualquer lugar. O século 20 matou lentamente a carta de papel e o telegrama. O rádio amador é uma paixão de senhoras idosas, e a leitura de um bom livro é coisa cada vez mais rara. Da comunicação mecânica à comunicação virtual Um dia, o jovem Bill Gates disse ao seu pai: “Vou largar a faculdade e fazer um software”. O pai, que nunca tinha ouvido falar disso, fez o filho prometer que, depois de fazer o tal software, iria terminar o curso na faculdade. Bill Gates desenvolveu os programas para o computador pessoal, abrindo as portas para a era da informática e da internet, interligando o mundo num clique.
Ah, sim, vinte anos depois, como um dos homens mais ricos do planeta, Bill Gates cumpriu a promessa e concluiu o curso de matemática em Harvard, dedicando o diploma ao pai. A sua ousadia de jovem contribuiu para uma revolução tão gigantesca na comunicação quanto a invenção de Gutenberg. Na era da internet, a comunicação tornou-se virtual e individualizada. É possível fazer um mapeamento da vida das pessoas com imagem e tudo, via satélite, pelo GPS, em qualquer lugar do planeta. O planeta inteiro está fotografado em detalhes via satélite e disponível no Google Earth. Da ambiguidade da comunicação moderna Entretanto, nossa moderna capacidade de comunicação tem servido muito mais para criar barreiras, aumentar as distâncias que nos separam e, até, para nos mandar mutuamente para o inferno. Na internet, pode-se levar uma pessoa ao sucesso ou ao fundo do poço em algumas horas. Quando a bispa alemã Margot Kässmann tomou uma taça de vinho a mais e dirigiu em seguida, ela não chegou a fechar o portão da garagem de casa sem ter um batalhão de repórteres em seu encalço, cobrando dela a sua atitude. Em poucos dias, o assédio foi tão gigantesco, que ela não teve outra saída senão renunciar ao posto de liderança da Igreja Evangélica da Alemanha. Em pouco mais de 24 horas, uma das pessoas mais respeitadas da Alemanha tinha toda a sua vida transformada num inferno por causa dos efeitos nocivos da comunicação.
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Como ela, há milhões de outros exemplos em todo o mundo. O que eu quero dizer com isso? Com toda a nossa tecnologia de comunicação, ainda estamos na idade das cavernas quando o assunto é o bom uso disso. A tecnologia, que nos aproximou tanto, contribui para nos dividir, separar e isolar cada vez mais. Na era da comunicação, somos milhões de pessoas-ilha, cada uma vivendo para si. O upgrade que falta A tragédia chega à tela da nossa TV digital no mesmo instante em que acontece, nos comove por alguns minutos, mas não nos torna solidários, agentes de transfor-
mação ou seres humanos melhores. Antes, tal agilidade da informação nos tem endurecido gradativamente, tirando a nossa sensibilidade. A comunicação precisa transformar os nossos corações. E este é o passo mais difícil, que nenhuma tecnologia disponível parece poder superar. Ele depende somente de nós mesmos. A chave para isso não é melhorar ainda mais nosso acesso à informação, mas dar um upgrade na nossa capacidade de ouvir, compreender e respeitar o outro como ele é. O autor é pastor da IECLB e redator do Jornal O CAMINHO dos Sínodos Vale do Itajaí e Norte Catarinense. Reside em Blumenau/SC
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Comunidade rompida – Comunidade em reconstrução P. Sinodal Enos Heidemann
“As horas correm, mas correm por fora. Sinto a vida fragmentada. Eternamente fragmentada. Em cada tempo uma parte, em cada parte uma história”. Em tempos de tantos fragmentos, corremos o risco de sentir que somos feitos de incontáveis pedacinhos de atividades fragmentadas: exercício, trabalho, conversas, diversão, sono. As peças são adicionadas, dia após dia, ano após ano, e tudo terminará com uma vida inteira dividida em milhões de fragmentos sem nenhuma conexão. A fragmentação pode perturbar nossa paz, criando tensão e ansiedade. No decorrer do tempo, os fragmentos se acumulam e começam a sufocar e fazer com que percamos a dimensão da inteireza da nossa vida e das relações que construímos no dia a dia. A Igreja é definida por características que, desde sua fundação, a distinguem dos demais grupos sociais. “Os que aceitavam a Palavra eram batizados, perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações. Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum” (Atos 2.42,44). A vivência da fé cristã é uma experiência pessoal e existencial. Ela sempre nos insere no contexto da comunhão da igreja de Cristo. Mas a Igreja não se encontra alheia aos contextos históricos, políticos e culturais das sociedades em que se in-
sere e nem isenta de assimilar e reproduzir na sua forma de ser, anomalias, em sentimentos e ações, que ferem e impedem a vida plena e abundante desejada e oferecida por Cristo Jesus. Em tempos de tantos fragmentos, corremos o risco de também fragmentar o que Deus nos deu para ser inteiro, comum, unido e pleno. Fragmentamos nosso amor, nosso tempo, nosso serviço, nossa comunhão, nossa vida. Está cada vez mais difícil viver juntos, andar, carregar, trabalhar e, até, morrer juntos. Reconhecemos e afirmamos que somos uma Igreja de Comunidades, que unidas formam Paróquias, Sínodos e, todos juntos, a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil. O Sínodo reúne Comunidades com o propósito de “caminhar juntas”, seguindo determinados objetivos e planos. Temos conosco o constante desafio de vivermos o que o Salmista testemunha no Salmo 55.14: “Juntos andávamos, juntos nos entretínhamos e íamos com a multidão à Casa de Deus”. Precisamos reconhecer, porém, que não há comunidade cristã que não experimente momentos de crise causada por divergências de ideias. Na Bíblia, encontramos relatos de discussões que aconteceram em comunidades da Igreja primitiva e as dividiram. A Igreja de Cristo sempre sofre quando as ideias, as posturas e as ações diver
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gentes fragmentam a comunhão. O apóstolo Paulo afirma, em Gálatas 5.20, ser obra da carne “discórdias, dissensões, facções”. Discórdia expressa desentendimento, desavença, desarmonia e indica fazer algo com propósitos egoístas, causando partidarismos. ‘’Eu sou de Paulo. Eu sou de Apolo’’ (1º Coríntios 1.10-17). Paulo sublinha as várias queixas entre irmãos, que ameaçam a unidade do Corpo de Cristo. As crises, pelas quais passa a Igreja de Cristo em todos os tempos, revelam nossa profunda humanidade que tentamos, tantas vezes, ocultar. Não somos tão fortes, seguros e determinados como aparentamos. Nossas relações não são tão honestas, espirituais e éticas como dizemos ser. As crises fazem emergir a hipocrisia, a vulnerabilidade e a fragilidade humanas. No âmbito do Sínodo Rio dos Sinos, nos anos 2005 e 2006, vivemos concretamente momentos de fragmentação e de profundas crises, quando houve uma série de cisões em oito Paróquias e Comunidades. Realidades e estratégias muito bem planejadas, até então ocultas ou toleradas, foram reveladas. Lideranças nascidas em nosso meio, formadas em nossas instituições, adeptas do dito movimento de renovação carismática jogaram membros contra a Direção da IECLB. Fizeram isso distorcendo verdades. Impuseram conceitos teológicos de outras tradições cristãs, desrespeitando assim o específico da confessionalidade luterana. Fomentaram, com isso, a desfiliação de membros da IECLB e criaram divisões nas famílias e nas comunidades. Pastores e líderes, que
para realizar projetos pessoais nefastos, adulteraram, na “calada da noite”, Estatutos de Comunidades para, em planejadas cisões e “desfiliações”, se apropriarem do patrimônio da nossa IECLB, do legado de antepassados que foi construído e mantido com muito esforço, e assim criarem suas Comunidades particulares. E pior, tudo isso, foi feito em nome de alegada revelação de Deus! Nesse processo todo, muitas pessoas ficaram machucadas, decepcionadas e entristecidas com a confusão, a desconfiança, a divisão, os partidarismos e as inverdades fomentadas e instaladas no meio de algumas Comunidades. Esse momento de crise, acima de tudo, revelou a hipocrisia, a incoerência entre o crer e viver, o falar e o agir. Revelou um jeito de ser Igreja, aparentemente avivada, mas que não queremos e não podemos ser por não produzir e nem trazer à luz os verdadeiros frutos do Espírito Santo de Deus. O “estrago foi grande”. Mas, olhando para trás, esses momentos de crise também trouxeram oportunidades para avaliar e repensar o jeito de ser Igreja e de testemunhar o Evangelho de Jesus Cristo em nosso tempo, para sermos Comunidades mais vivas, acolhedoras, solidárias e participativas. Nunca tínhamos experimentado no Sínodo tanta solidariedade entre as lideranças e suas Comunidades como nesse tempo pós crise. O “tsunami” passou! Nenhuma Comunidade deixou de existir. Todas elas estão sendo reconstruídas por pastores, pastoras e lideranças comprometidas com o ser Igreja de Confissão Luterana no seu contexto. Hoje, reina paz, alegria e compro
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misso nestas comunidades e nos encontros dos obreiros e obreiras. Quem permaneceu na IECLB deseja, sim, uma Igreja mais viva. Deseja, porém, um avivamento que seja obra da graça de Deus, fruto do agir do Espírito Santo e que nos faz olhar a nossa realidade e ali testemunhar o amor de Deus em palavra e ação através do amor ao próximo. Deseja um avivamento que considera o mundo e a história como palco da ação divina, que acontece nas contingências do nosso tempo, que está sob a soberania de Deus e não centrado em pessoas, líderes sem caráter e denominações ou grupos religiosos. Quer um avivamento que produz uma vida cristã autêntica em conformidade com os padrões bíblicos, que é ético, que leva a igreja a crescer em tudo em Cristo. Enfim, busca um avivamento que é bênção e não maldição, que tem no diálogo justo, sincero, honesto, leal e transparente a força da unidade, da comunhão, da compreensão, da mutualidade e do respeito à diversidade.
Hoje, especialmente nas Comunidades em reconstrução, é pregado o Evangelho que liberta para a vida digna e plena e zela-se para que não haja mais espaço para um suposto avivamento autossuficiente e autoglorificante, que divide, cria ressentimentos, marginalizações, divisões, discórdias e preconceitos. Essas Comunidades acolheram e guardam o bom conselho do Apóstolo Paulo em Romanos 16.17 e 18: “Meus irmãos, peço que tomem cuidado com as pessoas que provocam divisões, que atrapalham os outros na fé e que vão contra o ensinamento que vocês receberam. Afastem-se dessas pessoas porque os que fazem essas coisas não estão servindo a Cristo, o nosso Senhor, mas a si mesmos. Por meio de conversa macia e com bajulação, eles enganam o coração das pessoas simples”. Os fragmentos foram recolhidos e com eles se está fazendo a unidade da Igreja de Cristo na força do Espírito de Deus. Que o Senhor nos ilumine o caminho, para continuarmos nesta caminhada. O autor é pastor sinodal do Sínodo Vale do Sinos e reside em São Leopoldo/RS
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Convivendo com os índios... Elfriede Rakko Ehlert e P. em. Heinz Ehlert
Foi no ano de 1947. Há dois anos chegara ao final a 2ª Guerra Mundial, na qual aquele lunático austríaco (Adolf Hitler) conseguira envolver um povo inteiro: o povo alemão. Ele também conseguiu alterar fronteiras e destruir mundos. Com medo de permanecer na Europa, ameaçados por outra potência destruidora – a russa – grupos de Menonitas buscaram uma nova existência, um outro lugar para viver. Emigraram para o “Gran Chaco” no Paraguay. Lá, num quase deserto – não havia chovido há seis meses –, fixaram “residência”: Casas de tijolos de barro não queimado, telhados de palha, usando troncos toscos. Estes imigrantes fundaram a “Colônia Neuland”, vizinha às duas colônias de menonitas já existentes há menos de 20 anos: “Menno” e “Fernheim”. Foi ali que os imigrantes Menonitas conheceram gente “esquisita” (como achavam no início): os índios. Os homens vestiam somente uma proteção na virilha, as mulheres se vestiam da mesma forma (Também, por que vestir roupas num clima que chega a 40°C ?). Não era grande o seu número. Gente pacífica, muito curiosa. Com o tempo os europeus recémchegados, foram aprendendo mais sobre as duas tribos indígenas que viviam perto das aldeias recentemente fundadas da “Colônia Neuland”. Souberam, por exemplo, que estes índios só podiam criar um filho por casal por uma questão de sobrevivência, pois não havia alimentos para mais. Os outros recém-nascidos a
mãe era obrigada a matar, depois de ter dado à luz sozinha, sem assistência, em algum lugar no mato. Eram nômades. Onde encontrassem água, ali se instalavam. Alimentavam-se da caça, de gafanhotos e frutinhas de cacto. O mato não era floresta alta, mas antes um tipo de cerrado espinhento. Em sua religião estes índios criam em espíritos. Também temiam os espíritos dos mortos. Quando alguém morria, dançavam a noite inteira à luz de uma fogueira, cantando melodias monótonas para espantar a morte. Depois queimavam as malocas e a tribo migrava para outro lugar. Caminhavam em fila: Na frente ia o homem com uma arma, rodeado de cachorros magros, esqueléticos. Depois vinha a mulher, carregando todos os pertences nas costas e, em cima da carga, geralmente uma criança. Eles assustavam os colonos, quando, de repente, apareciam nas janelas dos casebres Menonitas. Vinham pedir algum alimento. Aos poucos tornaram-se úteis, aprendendo a executar serviços de roça, recebendo por isso em troca comida e soldo. Os brancos lhes ensinaram muitas coisas, querendo não raro transformá-los em “europeus” e logo também em cristãos. Criaram uma “Missão Indígena” (Chamada “Luz a los Índios”). Foi um processo muito lento. As colônias no Chaco Central experimentaram um relativo desenvolvimento gra
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ças à visão de futuro dos Menonitas. Fazia parte de sua tradição a atenção à educação, à saúde e, não por último, à sua fé cristã e à comunhão dela resultante. Reconheceram logo que sem isto não teriam condições de sobrevivência nesta terra inóspita. Construíram escolas e igrejas, cuidaram da formação de professores. Adotaram o sistema de cooperativa e uma administração bem estruturada. O progresso, mesmo que lento, foi percebido pelos habitantes indígenas. Por isso um número cada vez maior deles foi sendo atraído, assentando-se eles ao redor das aldeias dos Menonitas, e deixando sua vida de nômades. Aprenderam dos Menonitas que é pecado matar os recém-nascidos. Aí se multiplicaram ainda mais. Assim necessitavam de mais meios de sustento. Empregavamse em número cada vez maior com os brancos. Para um assentamento mais organizado também foram delimitadas áreas para a instalação de aldeias indígenas.
Estes se mostravam muito curiosos e ávidos para aprender. Mas necessitavam de ajuda para criar uma infraestrutura que possibilitasse a sobrevivência de todo este povo. Os Menonitas aprenderam a conviver com as diversas etnias indígenas (tribos) no Chaco Central. Hoje se distinguem 09 diferentes etnias, num contingente de aproximadamente 27.000 pessoas. Aconteceu um crescimento populacional fora do comum, também porque não mais matavam os recém-nascidos. No contexto, um fato curioso. Os índios se acostumaram a procurar assistência médica nos hospitais Menonitas, inclusive para partos. Aí certo dia falaram ao médico o seguinte: “Vocês nos ensinaram que matar crianças é pecado. Agora todo ano nasce uma criança. Não sabemos como sustentá-las. O que fazer?” Assim o médico começou a distribuir preservativos e a ensinar-lhes como usá-los.
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Diante do rápido crescimento da população indígena, pois, alguma medida devia ser tomada pelas colônias, visando o futuro. Em 1978 foi fundada a “ASCIM Asociación de Servicios de Cooperación Indígena Menonita”, uma organização de apoio aos povos indígenas , com o propósito de desenvolver sua subsistência e convivência cultural e espiritual. Prioridade teve a alfabetização e a profissionalização. Numa área de 170.000 hectares foi implantada agricultura e pecuária. A ASCIM proporciona assessoramento técnico. Com o intuito de alcançar autogestão indígena é oferecido treinamento e formação a jovens, sendo que hoje já 50% dos orientadores são índios, tanto como professores nas escolas, como nos treinamentos. Neste programa fez-se questão que fosse incluída também a “horta familiar”. Cada família tendo a sua própria horta. Ao cair da primeira chuva, depois da época de seca, obrigatoriamente cada família planta, por exemplo, batata-doce, abóbora, mandioca, amendoim... Em sistema de cooperativa se cultivam e comercializam, em escala maior, gêne-
ros como gergelim, algodão e mamona, além de fomentar a pecuária. Faz parte do programa também a assistência à saúde, oferecida a 24.000 indígenas. Este programa inclui a vacinação em massa contra as moléstias mais comuns (varíola, sarampo). Hoje a associação emprega, entre índios e brancos, mais de 300 colaboradores. O seu financiamento em sua maior parte é assumido pelas colônias dos Menonitas, com algum apoio do governo paraguaio e de ONGs. Foi um processo lento, possibilitando a convivência pacífica. É uma solução exemplar, que beneficia a todos: Indígenas, Paraguaios e Menonitas de origem europeia. Os brancos que inicialmente queriam transformar os índios, tirandolhes sua identidade, aprenderam a respeitar as diferenças. Os índios, por sua vez, aprenderam a utilizar meios de subsistência, o que, como nômades, lhes era impossível. Tiveram de tornar-se sedentários. Aprenderam a cultivar a terra e assim, em cooperação mútua, a adaptar-se à nova realidade, posta pela imigração destes europeus. Elfriede Rakko Ehlert é professora aposentada e artista plástica, viveu durante cinco anos em Neuland, Gran Chaco. Seu esposo Heinz é pastor emérito da IECLB. O casal reside em Curitiba/PR
Obs. da Redação: Menonitas são uma comunidade religiosa derivada dos anabatista, surgida na época da Reforma. Seu nome provém de um de seus primeiros, e talvez o mais conhecido líder, o exsacerdote católico holandês Menno Simons (1496-1561). Têm duas características doutrinais básicas: Defendem o batismo de adultos somente, e são pacifistas, negando-se a servir no exército.
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Crer sem pertencer P. Dr. Oneide Bobsin
Cresce o número de pessoas que continuam a crer em Deus e até participam da Igreja, mas de seu jeito individual. Em outras palavras: Crêem à sua maneira, mas não seguem os credos das Igrejas ou organizações religiosas. Os dados do censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2000 nos mostram que mais de 7% da população brasileira não se considerada vinculada a alguma organização religiosa. São mais de 12 milhões de pessoas. Outra pesquisa mostra que apenas 0,5% das pessoas que se dizem não pertencer a uma instituição religiosa também se declaram como sendo ateus. Logo, não pertencer a uma instituição religiosa não significa não crer em Deus. O depoimento que segue nos mostrará que os desgarrados das instituições religiosas circulam por vários espaços religiosos antes de romperem com uma pertença a uma igreja ou instituição religiosa não-cristã. Em outras palavras, migram por várias instituições religiosas e ao se desvincular, tendem a reunir de sua forma pessoal as diversas crenças. Em linguagem simples, vão misturando tudo. Outros se portam de modo diferente. Um vendedor de carros me disse que ele participou muitos anos de uma igreja evangélica pentecostal e que segue tudo o que aprendeu, mas não participa mais. Vejamos um exemplo: “Eu comecei na religião católica, depois eu fui espírita-umbandista, depois eu fui
protestante, depois eu fui kardecista, aí depois virei para a Igreja Protestante novamente, depois eu voltei para a religião espírita que é chamada espírita-moderna, depois eu fiquei um tempo na Seicho-NoIe e depois eu abandonei tudo”. O depoimento desta mulher casada, 50 anos de idade, se encontra no livro Mudanças de Religião no Brasil, organizado por Silvia Regina Alves Fernandes. O depoimento resume muito bem a condição religiosa das pessoas que se dizem desvinculadas de organizações religiosas. O fato de não pertencer mais a nenhuma organização religiosa acontece depois de uma migração por vários espaços, de onde buscam um sistema de crenças individual, que é denominado de “crer sem pertencer”. Outra pesquisadora expressa isto em inglês: Believing, without belonging. Uma pesquisa realizada pela Igreja Católica Apostólica Romana brasileira, nas maiores regiões metropolitanas, através do seu instituto de pesquisa, revela dados importantes e inquietantes. Nessas regiões apenas 2,9% dos entrevistados procura a religião porque acredita que ela contenha uma verdade de fé. Entre os católicos, mais de 15% não acredita na ressurreição e mais de 35% acredita na reencarnação. Logo, o centro da fé está em baixa. Já dizia o apóstolo Paulo que sem ressurreição nossa fé é vã. Aproximadamente 20% das pessoas católicas seguem as orientações dos horóscopos,
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45% participam de outros cultos e 31% fazem consultas a cartomantes. Mesmo assim, se dizem católicos. Quando se pergunta por questões éticoreligiosas o quadro fica ainda mais crítico. Nestes aspectos a Igreja é desobedecida drasticamente. Mais de 77% dos católicos contrariam a posição da hierarquia católica quanto ao planejamento familiar. 73,2% são a favor do sexo antes do casamento, 62,7% são a favor do segundo casamento e 60% admitem o divórcio. Então, crendo de seu jeito individual, o que as pessoas esperam da Igreja Católica? Segundo uma teóloga católica que interpreta estes dados, o cidadão urbano moderno não quer uma Igreja dogmática, que impõe normas e condutas, mas uma orientação de fé que dialoga com as pessoas nos diversos momentos da vida. Nas palavras dela, a Igreja precisa ser uma professora que orienta. Já o teólogo católico José Comblin vai em outra direção ao afirmar: Os católicos veneram o Papa, mas não lhe obedecem. Em razão de não existir pesquisa em nosso meio evangélico-luterano, vamos dar uma olhada para os dados da Suécia, oficialmente luterana, talvez como o catolicismo ainda o é aqui, pelo menos de fato e não de direito. Também lá, na Suécia, parece que a Igreja não regulamenta a vida das pessoas. Pois a participação efetiva na Igreja é inferior a 5%. Naquele país 9% se declaram praticantes e 26% se dizem não cristãos. Mas 63% se dizem cristãos, muitos certamente luteranos, à sua maneira.
Os dados do censo de 2000 nos mostram que há, no Brasil, 1.062.144 pessoas luteranas. Se somarmos os fiéis da IECLB e da IELB, certamente não alcançaremos a cifra de um milhão de pessoas. Isto pode significar que também há um percentual de luteranos que se dizem luteranos sem se vincularem às comunidades de fé. Mas há um outro dado, perceptível sem pesquisa, que deveria preocupar as lideranças da IECLB. Além do crescimento dos que creem sem pertencer, há os que pertencem sem participar. Imagino que nos centros urbanos estes representam a maioria dos fiéis da IECLB. Semelhante aos que creem sem se vincular, estes estão construindo sua identidade de fé sem participar da vida da comunidade. Certamente estão sendo influenciados por sistemas de crenças, onde o indivíduo está acima de tudo e de todos. Assim, chegamos ao ponto central do problema para as Igrejas comunitárias: O crescimento do individualismo na sociedade que por sua vez também se transforma no individualismo religioso; e isto fragiliza os laços de pertença e comunhão na igreja, na família, na escola e em outras tantas instituições. Portanto, quanto mais uma instituição se conformar com esta sociedade individualista, tanto mais ela jogará água no moinho do individualismo religioso. Sozinhos não podemos conter o rumo da sociedade. Mas não precisamos continuar dando tiros no próprio pé. Dar chutes nas sombras produzidas por paredões também não surte efeito. Muito menos criticar os “sem religião” ou os que perten
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cem sem participar é um caminho prudente. É necessário derrubar os paredões e construir pontes e laços de pertença que
fortalecem a memória das pessoas em comunidades. O autor é pastor da IECLB e professor de teologia, e atualmente é Reitor da Faculdades EST em São Leopoldo/RS
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Criança diz cada coisa... Textos extraídos da Internet
O médico e escritor Pedro Bloch (1914-2004) em seu livro DICIONÁRIO DO HUMOR INFANTIL, entre outras, traz as seguintes definições infantis, como resposta à sua pergunta “O que é?” ou “O que significa?”: • ALEGRIA: É uma boca cheia de risadas. • AMAR: É gastar todo o coração com uma pessoa só.
• CIGARRO: É chupeta de adulto. • HELICÓPTERO: É um carro com ventilador em cima.
• AMIGO: É você, na porta do gol, passar a bola pro outro.
• MÃE: É uma pessoa que gosta tanto da gente, que a gente nem tem tempo de dizer a ela que gosta dela muito mais.
• ARCO-ÍRIS: É uma ponte de vento colorido.
• PENSAMENTO: É um sonho sem cor.
• BOCA: É a garagem da língua.
• PRESENTE: É uma coisa que pai acha caro e avô acha barato.
• CHOCOLATE: É uma coisa que a gente nunca oferece aos amigos porque eles aceitam.
• STRIPTEASE: É mulher tirando a roupa toda, na frente de todo mundo, sem ser para tomar banho.
•••O••• Os alunos da professora de primeira série estavam examinando uma foto de família. Uma das crianças da foto tinha os cabelos de cor bem diferente das demais. Alguém logo sugeriu que esta criança tivesse sido adotada. Aí uma menina falou: – Sei tudo sobre adoção, porque eu fui adotada. Logo outro aluno lhe perguntou: – O que significa “ser adotado”? – Significa – disse a menina – que você cresceu no coração de sua mãe, e não na barriga! •••O•••
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Sempre que estou decepcionado com meu lugar na vida, eu penso no pequeno Jamie Scott. Jamie estava disputando um papel na peça de teatro da escola. Sua mãe me disse que tinha procurado preparar coraçãozinho, pois ela temia que seu filho não fosse o escolhido. No dia em que os papéis foram distribuídos, eu fui com ela para buscar seu filho na escola. Jamie correu para os braços da mãe, com os olhos brilhando de orgulho e emoção: – Adivinha o que, mãe! E disse aquelas palavras que continuariam a ser uma lição de vida para mim: – Eu fui escolhido para bater palmas e espalhar a alegria! •••O••• O que crianças italianas escrevem em redações nas escolas, nas aulas de catecismo e em cartinhas de Natal: • “Querido Menino Jesus, todos os meus colegas de escola escrevem para o Papai Noel, mas eu não confio naquele lá. Prefiro você.” (Sara)
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• “Querido Menino Jesus, obrigado pelo irmãozinho. Mas na verdade eu havia rezado pra ganhar um cachorrinho.” (Gianluca) • “Querido Menino Jesus, por que você não está inventando nenhum animal novo nos últimos tempos? A gente vê sempre os mesmos.” (Laura) • Querido Jesus, a girafa, você a queria assim mesmo ou foi um acidente?” (Francesca) • Querido Menino Jesus, por favor, ponha um pouco mais de férias entre o Natal e a Páscoa. No meio agora está sem nada.” (Marco) • Querido Menino Jesus, o padre Mário é seu amigo, ou você conhece ele só do trabalho?” (Antonio) • “Querido Menino Jesus, por gentileza, mande-me um cachorrinho. Eu nunca pedi nada antes, pode conferir.” (Bruno) • “Querido Menino Jesus, talvez Caim e Abel não se matassem, se tivessem um quarto cada um. Comigo e com meu irmão funciona.” (Lorenzo) • “Querido Menino Jesus, eu gosto muito do padre-nosso. Você escreveu tudo de uma vez só, ou você teve de ficar apagando? Qualquer coisa que eu escrevo eu tenho de refazer um monte de vezes.” (Franco) • “Querido Menino Jesus, nós estudamos na escola que Thomas Edison inventou a luz. Mas no catecismo dizem que foi você. Pra mim ele roubou a sua ideia.” (Daria) • “Querido Menino Jesus, em vez de fazer as pessoas morrerem e aí criar novas pessoas, por que você não fica com as que já tem?” (Marcello) • “Querido Menino Jesus, você é invisível mesmo, ou é só um truque?” (Giovanni)
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Desafios da IECLB hoje P. Dr. Nestor Paulo Friedrich
“Vocês luteranos são uma parada, tem cabeça grande e perna curta!” Não lembro mais em que reunião esta observação foi feita. Lembro, contudo, que “caiu na mesa” no contexto de uma discussão acerca da capacidade de implementar nossas boas ideias, de agir, de reagir, de mudar e reformar à luz dos desafios que o contexto, em que estamos inseridos enquanto igreja, nos coloca. Esta leitura de um irmão de uma outra igreja cristã sempre me acompanhou, incomodou, mas também desafiou. No meu entender dois desafios estão colocados hoje para a IECLB que, a meu ver, farão a diferença no futuro e terão impacto fundamental na sua ação missionária: (1) O desafio da implementação e consolidação da atual estrutura da IECLB aprovada no Concílio Geral Extraordinário em 1997 na cidade de Ivoti/ RS e, (2) o desafio de ampliar e consolidar a ação missionária da IECLB iniciada em 2000, isto é, o PAMI – Plano de Ação Missionária da IECLB. Este segundo desafio, agora numa nova fase, tem como objetivo fundamental fomentar uma cultura de planejamento missionário para a IECLB e promover a sua implantação nas comunidades e demais instâncias da Igreja. Ambos os desafios, dos quais, aqui quero destacar o primeiro, têm a ver com mudança cultural. E isto, por si só requer muita reflexão, análise, abertura para o novo e empenho continuado. Oscar Motomura, um especialista em gestão,
observa que quando uma instituição decide mudar ela precisa encarar alguns obstáculos que muitas vezes dificultam este processo. Eu destaco as seguintes: a) A cultura de críticas e diagnósticos, onde todos sabem onde estão os problemas de todos, onde há muitas críticas às áreas dos outros, muitos estudos e diagnósticos, algumas ideias para solução, pouquíssima ação, baixo envolvimento e comprometimento; b) A cultura de palpites e ideias sem embasamento, com muita gente palpitando sobre a área dos outros ou sobre o que resolveria todos os problemas da organização, com ideias jogadas ao ar sem considerar as consequências; c) A cultura de queixas e lamentações, tornando as pessoas insensíveis às oportunidades; d) A cultura do ceticismo e negativismo, definida pelas pessoas que não acreditam na possibilidade de se criar uma organização cada vez melhor, mas que buscam permanentemente evidências que mostrem o pior; e) A concepção de que, uma vez tomada, a decisão está automaticamente implantada. “Uma gestão que faz acontecer exige líderes que dêem o devido valor à implementação e invistam a devida energia (inclusive deles próprios), para assegurar que o resultado efetivamente apareça” (fonte: Gestão do Fazer Acontecer, em www.oscarmoto mura.com.br).
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Nas reflexões internas na Secretaria Geral da IECLB, as observações deste especialista ajudaram a entender, em parte, o porquê de algumas dificuldades que enfrentamos na implementação das propostas que são aprovadas. Eu tomo a liberdade de acrescentar mais dois obstáculos: f) A cultura do ideal, onde nada é bom o suficiente, onde as pessoas não se alegram com pequenas conquistas, nem com as próprias nem com a dos outros; g) A cultura de achar que a solução depende sempre e apenas dos outros. Penso que podemos aprender destas observações de Motomura. O desafio de superar alguns destes obstáculos, de construir o novo, é lento, exige cuidado pastoral, sensibilidade, clareza de relações, oração, muita dedicação, compromisso de todos, uma relação de confiança e respeito entre lideranças e ministros religiosos e, acima de tudo, muita vontade para mudar à luz da palavra de Deus. A disposição para ouvir e para aprender é igualmente fundamental. Em relação à atual estrutura da IECLB eu destacaria os seguintes desafios que ainda temos pela frente: 1. Necessidade de clarear os papéis. O bom desempenho da Secretaria Geral, por exemplo, depende da clareza das demais instâncias sobre seus próprios papéis, não só na dimensão administrativa, mas também pastoral, que se traduz numa relação de cumplicidade, tarefas definidas, complementaridade. Hoje percebo que a falta de clareza
sobre as diferentes responsabilidades e competências gera tensões e desgastes, faz sofrer comunidades e ministros religiosos, sofre o corpo todo. 2. A dinâmica implícita na descentralização da organização da IECLB ainda não foi suficientemente assimilada. O Concílio, ao aprovar a reestruturação, colocou a dimensão administrativa ao lado da dimensão pastoral, para que as duas, de forma integrada, articulem e conduzam a vida da Igreja, cada qual na sua especificidade. É assim na Comunidade, é assim na Paróquia, é assim no Sínodo e é assim nas instâncias da estrutura central da IECLB. Nessas esferas, a dimensão administrativa está representada por Presidentes e Secretários, a dimensão pastoral, pelos ministros e ministras religiosos. É nos Presbitérios e Conselhos, Assembleias e Concílios que essas dimensões (administrativa e pastoral) se encontram, interagem, se articulam, constroem propostas para definir os rumos da instituição com foco em sua missão. Diante do até aqui colocado, entendo que um desafio enorme neste processo de dinamização da missão da Igreja passa pela capacitação teológica e administrativa das lideranças que atuam na IECLB. As diferentes instâncias precisam envolver-se, interagir e articular muito mais, no sentido de impulsionar esforços numa mesma direção, mobilizando a todos. O desafio não é que as lideranças apenas “se preocupem com”, mas que se envolvam e participem no processo de mudança proposto pela reestruturação e também
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no PAMI. O atual modelo de estrutura da IECLB não é mecanicista. Ele pressupõe participação e um envolvimento apaixonado de todos com vistas à missão de
Deus. Na Secretaria Geral sintetizamos estes desafios numa missão: “cuidar bem do bem da IECLB”! O autor é Secretário Geral da IECLB e reside em Porto Alegre/RS
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Dr. Paul Aldinger: Agricultor, Pastor, Professor e Pesquisador P. em. Nelso Weingaertner
“Lembrem-se dos seus primeiros líderes espirituais, que anunciaram a mensagem de Deus a vocês. Pensem como eles viveram e morreram e imitem a fé que tiveram” (Hebreus 13.7). Um dos grandes líderes espirituais e culturais no Vale do Itajaí foi o Pastor Dr. Paul Aldinger. Ele nasceu em 23 de agosto de 1869 em Heutingsheim, filho de um alto funcionário do rei de Württemberg na Alemanha. Era formado em Teologia e doutorado em Filosofia e História. Depois de sua formatura em 1893, ele iniciou serviços pastorais e logo foi chamado como professor assistente num seminário teológico. Em 1899 ele passou a ocupar-se intensivamente com a sorte de emigrantes alemães. Viajou pelo leste europeu: Hungria, Rússia e outros paises e condados, para ver como viviam os alemães que emigraram para lá. Uma nova etapa em sua vida iniciou em 1901. Ele decidiu emigrar para o Brasil como agricultor. No dia 21 de junho de 1901 ele chegou, junto com outros imigrantes, na Colônia Hanseática de Hammonia (hoje Ibirama em SC). Logo adquiriu terras e, morando no galpão dos imigrantes, iniciou a derrubada de um trecho da mata virgem para lá instalar o seu “Palmenhof” (Fazenda das Palmeiras). Trouxe da Alemanha literatura sobre no-
vas tecnologias no cultivo da terra e as adaptou à realidade brasileira. Após pouco tempo seu “Palmenhof” tornou-se uma colônia modelo e inspirou os colonos da região. Mas o “colono Paul Aldinger” não se dedicou somente ao seu “Palmenhof”. Desde a sua chegada em Hammonia ele passou a reunir uma vez por mês os colonos no galpão dos imigrantes e com eles celebrava cultos, visto que em toda a região, cuja colonização iniciara três anos antes, não havia pastor. Logo também se empenhou na construção da primeira escola. Em novembro de 1902 os habitantes evangélicos se reuniram, formaram uma Comunidade e elegeram Paul Aldinger como seu pastor, que agora também celebrava batismos e casamentos, dava ensino confirmatório e realizava sepultamentos. Oficialmente, com Estatutos, a Comunidade Evangélica foi constituída em 22 de maio de 1904. De ano a ano vinham mais imigrantes e a área da colonização se expandia. O Pastor Dr. Paul Aldinger, continuava a morar e trabalhar no seu “Palmenhof”, mas já em 1904 tornou-se inspetor escolar e incentivou a criação de escolas nas novas áreas colonizadas. No mesmo ano foi o mentor da criação de uma cooperativa de crédito e de uma associação de agricultores e fundou o Jornal “Der Hansa Bote”, que circulou na região até a década de 1930.
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Monumento com busto do Pastor Dr. Paul Aldinger em Ibirama/SC Nos anos seguintes instituiu em seu “Palmenhof” cursos para formar professores para as escolas comunitárias da região e também fundou em sua propriedade uma estação agrícola experimental e lá realizou seminários nos quais preparava os colonos para uma agricultura mais racional. Ao lado de todas essas atividades, ele foi um incansável pesquisador da história de imigrantes alemães no Brasil. Escreveu dezenas de artigos em Jornais e anuários da época e um livro: “Deutsche Mitarbeit in Brasilien” (Colaboração alemã no Brasil). Nesse livro ele resgata a participação de alemães na história do Brasil desde o século XVI. Outro tópico de suas atividades, que merece menção, é seu empenho em favor dos índios, que haviam se refugiado para es-
sas bandas desde que suas terras de caça, pesca e coleta de frutas no litoral e baixo Vale do Itajaí haviam sido ocupadas por imigrantes. Em 1908 Aldinger participou de uma expedição ao interior daquela região na qual viviam os “índios botocudos”, que eram muito ariscos, mas periodicamente atacavam e matavam colonos da região. Passando por uma região com muitos pinheiros e frutas silvestres, ele reivindicou que esses extensos pinheirais e coqueirais, que forneciam alimento em abundância para os indígenas e que ficavam longe da civilização, fossem transformados em uma reserva para os índios. Ele era de opinião que os índios precisavam ser “aculturados” e deveriam aprender a cultivar suas terras para não depender mais exclusivamente da caça, pesca e coleta de frutas. Mas a “aculturação”, segundo seu entender, deveria acontecer em etapas, e que os índios precisavam de um “status especial” e ficar sob a tutela do Estado, para evitar que eles saíssem da reserva sem estar devidamente adaptados à nova realidade e se transformassem em vagabundos beberrões. O Pastor Dr. Paul Aldinger permaneceu em Ibirama até 1928. Em 1917 ele ainda foi o responsável pelo lançamento da Pedra Fundamental da bonita igreja Martin Luther de Ibirama e então solicitou ser dispensado dos serviços pastorais para dedicar-se às muitas outras tarefas que havia assumido. Em 1928 ele regressou para a Alemanha e assumiu a Paróquia de Kleinbottwar onde trabalhou até seu falecimento em 1944. No período sombrio, em que a Ale
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manha mergulhou no nazismo, o Pastor Dr. Paul Aldinger aderiu ao movimento da Igreja Confessante, que se opunha às ideologias e práticas do nazismo. Aos 75 anos celebrou seu último culto na véspera de natal de 1944 e pregou sobre o cântico de Simeão: “Agora, Senhor,
podes despedir em paz o teu servo, segundo a tua palavra; porque os meus olhos já viram a tua salvação, a qual preparaste diante de todos os povos” (Lucas 2.29-31). Seis dias depois ele faleceu inesperadamente com a idade de 75 anos.
Toda a sua vida fora dedicada a serviços comunitários, que de longe ultrapassavam os muros da igreja. Ele permaneceu solteiro e após sua morte foi encontrada uma poesia em sua escrivaninha: “Dass ich bisher nimmer noch erschlaffte Sondern bis zum heut’gen Tage schaffte, Selbst mit 75 es verkrafte – Wem ist es, nächst Gottes Hilf’ zu danken? Sind es nicht der Freunde Treugedanken, Die Gebete, die mich fromm umranken?! Drum hinweg mit allem Eigenruhme! Gib dich hin, gleich wie die Sonnenblume Deinem höchsten Herrn zum Eigentume”. “Que até aqui nunca perdi o vigor mas até hoje labuto com ardor mesmo aos 75 anos – a quem, além de Deus, o devo agradecer? Não são os fieis pensamentos dos amigos e as piedosas orações que me envolvem? Por isso, fique longe de mim toda presunção! Entrega e volve-te, como o girassol Inteiramente ao teu supremo Senhor”.
O autor é pastor emérito da IECLB e pesquisador da história das comunidades da antiga Região Eclesiástica II, e reside em Timbó/SC
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Educação Cristã no Sínodo Vale do Itajaí P. Dr. Emilio Voigt
“Formação - um caminho para a Missão” é o lema do Sínodo Vale do Itajaí. Com esse lema, o Sínodo manifesta sua disposição de orientar-se pela palavra de Deus e de inserir-se em sua missão. Entendese por formação a educação na fé. E educar na fé não é invenção humana, mas um mandamento divino. Observamos isto em Deuteronômio 6.6-7, que apresenta três indicações importantes: guardar os mandamentos no coração, repeti-los aos filhos e falar deles em todos os lugares. Na Bíblia, o coração é lugar de reflexão, entendimento, planejamento e decisão. Guardar uma palavra no coração significa refletir, aceitar e assumir essa palavra. A segunda indicação é a de repassar aos filhos e às filhas. O texto fala em repetir seguidamente. Essa repetição ajuda a “gravar” os mandamentos e a preservar a experiência com Deus. Por fim, a pessoa é chamada a falar dos mandamentos diariamente e em qualquer lugar. Em Mateus 28.19-20, Jesus também deixou um mandamento que envolve a educação na fé: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado” (Mateus 28.19-20). Testemunho e educação na fé são tarefas de cada pessoa que crê. Portanto, ensinar e investir na educação cristã são sinais de obediência e de fidelidade a Deus. A educação cristã é realizada na família e na comunidade e acontece ao longo de toda a vida. É um processo contínuo!
Desde julho de 2000, o Sínodo Vale do Itajaí dispõe de uma Assessoria de Formação. Esta assessoria não quer puxar para si a responsabilidade de cada pessoa, mas auxiliar no desempenho da tarefa de educar na fé. O trabalho da Assessoria de Formação está voltado principalmente para o desenvolvimento de materiais e para a realização de seminários e cursos. Através destas atividades, busca-se o aprofundamento na fé e a capacitação das pessoas para o serviço na comunidade e na sociedade. Pela formação cristã queremos edificar comunidades e resgatar a importância da igreja como referencial para as ações cotidianas. O trabalho de formação no Sínodo Vale do Itajaí é consequência do compromisso das igrejas de confissão luterana com a educação. Após traduzir a Bíblia para o alemão, Lutero insistiu que as autoridades promovessem a criação de escolas e o aprimoramento do ensino. O Catecismo Menor é um dos exemplos de como Lutero procurava promover a educação cristã entre as famílias. Também a IECLB, desde o seu surgimento, mostrouse preocupada com a formação e a capacitação de seus membros para a vivência da fé. Recentemente, no Concílio de 2008, foi debatido e aprovado o Plano de Educação Cristã Contínua (PECC). Este Plano traz orientações teológicas e pedagógicas para avaliação, planejamento e execução de ações de educação cristã em toda a IECLB. Esta deci
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são do Concílio evidencia a importância da formação para o fortalecimento da IECLB. Se uma igreja quiser ter futuro, precisa investir em formação no presente. Esta é a mensagem que vem do Concílio. O Plano de Educação Cristã Contínua (PECC) parte do pressuposto que a educação cristã deve ser contínua e perpassar todas as fases da vida. Educação cristã não pode ficar concentrada apenas no Culto Infantil ou no Ensino Confirmatório. Ela inicia com o batismo e termina somente com a morte.
Seguindo as propostas do PECC, o Sínodo Vale do Itajaí constituiu a Coordenação Sinodal de Educação Cristã Contínua. Esta coordenação, composta por representantes dos diversos setores de trabalho, é um espaço de reflexão e de planejamento de ações de educação cristã. A Coordenação Sinodal quer ajudar a tornar a educação cristã um processo integrado e contínuo. O Sínodo Vale do Itajaí possui uma grande oferta de cursos e seminários. Alguns foram elaborados no próprio sínodo; outros foram criados a partir de materiais existentes na IECLB, principalmente da Faculdades EST. Há também cursos que foram desenvolvidos na Alemanha, traduzidos e ajustados à nossa realidade. Alguns programas de formação acontecem em nível sinodal, outros em nível de setor geográfico, outros ainda em nível de paróquia e comunidade. Algumas das ofertas da Assessoria de Formação são: • Somos Luteranos. Oferece uma visão geral da história, da teologia, da organização e da vida da igreja luterana. • Círculos Bíblicos. Proporcionam espaço para aprofundamento na Palavra de Deus, através do estudo de livros da Bíblia. A primeira série de encontros trata do Evangelho de Marcos. • Não me desampares - Acompanhamento a pacientes terminais. O curso proporciona capacitação para o acompanhamento de pessoas com doenças graves e em fase terminal.
A educação cristã deve ser contínua e perpassar todas as fases da vida
• O luto e a vida. Visa a capacitar pessoas na tarefa de acompanhar enlutados.
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• Panorama da Bíblia. Oferece uma visão geral sobre o Antigo Testamento e o Novo Testamento. • Curso de Visitação. Tem como foco o planejamento de ações de visitação a pessoas idosas, doentes e a membros afastados. • Seminário de presbíteros. Nestes seminários são tratadas especialmente questões relacionadas ao exercício de liderança. • Seminário de Planejamento Estratégico. Auxilia comunidades e paróquias na realização do planejamento estratégico, de acordo com o PAMI. Além de cursos e seminários, a Assessoria de Formação está à disposição de grupos, comunidades e paróquias para palestras e atividades diversas na área de formação e edificação de comunidades. Deve-se ressaltar ainda que os setores de trabalho realizam várias atividades de capacitação, direcionadas para as neces-
sidades do setor. Da mesma forma, obreiras e obreiros desenvolvem atividades de formação em suas paróquias e comunidades. Com isso, o lema do sínodo (“Formação - um caminho para a Missão”) é assumido e praticado em conjunto. Um dos desafios que o trabalho de formação enfrenta é o da participação. A oferta de programas e cursos é grande, mas o número de pessoas que participa é limitado. Como alcançar mais pessoas e torná-las ativas na comunidade? A simples divulgação dos programas não é mais suficiente. É preciso motivação. Mas como motivar? Soluções mágicas certamente não existem. Isso, todavia, não é motivo para deixar de buscar respostas. Fica aqui um ponto de interrogação. Em todo caso, investir na educação cristã é sinal de fidelidade ao mandamento divino. Cabe a nós oferecer ações de educação, divulgar e motivar, mas também rogar a Deus que desperte pessoas para o trabalho e para a participação. O autor é pastor da IECLB, atua como Assessor de Formação do Sínodo Vale do Itajaí e reside em Blumenau/SC
Um garoto de 4 anos tinha um vizinho, cuja esposa havia falecido recentemente. Ao vê-lo chorar, o menino foi para o quintal dele, e simplesmente sentou-se em seu colo. Quando a mãe perguntou a ele o que havia dito ao velhinho, ele respondeu: – Nada. Eu só ajudei ele a chorar.
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Palavras Cruzadas: Salmo 1.1-2 Colaboração: P. Irineu Wolf – Solução na página 169
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Envolvido num acidente Fonte: Internet – Autor desconhecido
Foi um acidente violento. Meu carro chocou-se em cheio com o carro de uma mulher que vinha em direção contrária. Ambos os carros viraram sucata. Perda total. Surpreendente foi que nós, ambos os motoristas, saímos totalmente ilesos deste monte amassado de lata e ferros retorcidos. Eu mesmo estava começando a “soltar os cachorros” naquela mulher. Mas ela interrompeu a minha cascata de impropérios, dizendo: – Veja, nós dois estamos diante de nossos carros totalmente destruídos, sem ter sofrido nenhum arranhãozinho! Isto com certeza é um sinal de Deus. Foi sua vontade que nós dois nos encontrássemos aqui e vivêssemos em paz até o fim de nossos dias! – Nisto você tem razão! – resmunguei, enquanto mexia nos ferros retorcidos de nossos carros. De repente eu encontrei nos destroços, inteirinha, uma garrafa de vinho. – Mais um milagre! – exclamei. Deus por certo quer dizer com isto que devemos festejar o fato de termos sobrevivido ilesos ao nosso acidente! A mulher concordou. Ela pegou a garrafa, abriu e me alcançou. Sem pestanejar eu a peguei, a coloquei em minha boca, e tomei quase a metade da garrafa numa só talagada. Depois passei a garrafa à mulher. Ela pegou a garrafa, tampou-a com a rolha e a colocou de lado, sem tomar uma gota sequer. Sem entender esta atitude, eu lhe perguntei por que não tomara nenhum gole. – Agora não! – respondeu a mulher. A polícia de trânsito logo estará aqui... Depois eu também vou festejar...
Marcos traz um péssimo boletim para casa. O pai fica furioso: “Você poderia ser o melhor da classe, se não fosse tão preguiçoso!” “Pai”, pergunta Marcos, “por acaso o senhor recebe o maior salário lá na firma?”
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Fale, antes que seja tarde... Autor desconhecido – texto extraídoda Internet em alemão Tradução de: Anamaria Kovács
Certo dia, uma professora pediu aos seus alunos que escrevessem os nomes dos seus colegas de turma numa folha de papel e deixassem um espaço em branco ao lado deles. Em seguida, disse-lhes que pensassem no que poderiam dizer de mais simpático sobre cada um de seus colegas e o escrevessem ao lado dos seus nomes.
ra foi a última da fila e orou diante do caixão. Enquanto ela estava ali, um dos soldados que carregavam o caixão aproximou-se dela e perguntou:
A turma precisou do resto da aula para cumprir a tarefa, e, ao sair, entregaram seus papéis à professora. Durante o final de semana, ela copiou em folhas separadas o nome de cada aluno e acrescentou ao seu lado todas as observações carinhosas que os colegas escreveram sobre ele ou ela. Na segunda-feira, ela entregou a cada aluno a folha com sua lista.
– Mark falava muito na senhora – disse o rapaz.
Não demorou, e todos começaram a sorrir. “É mesmo?” – ouvia-se sussurrar... “Eu não sabia que significava alguma coisa para alguém!” – e: “Eu não sabia que gostavam tanto de mim” – eram os comentários. Depois disso, nunca mais as listas foram mencionadas. A professora nunca soube se os alunos as discutiram entre si ou com seus pais, mas isso não tinha importância. O exercício cumprira sua finalidade. Os alunos ficaram felizes consigo e uns com os outros. Anos mais tarde, um dos ex-alunos foi morto durante a guerra do Vietnam e a professora foi ao seu enterro. A igreja estava lotada de amigos. Um por um, eles desfilaram diante do caixão e lhe prestaram as últimas homenagens. A professo-
– A senhora foi a professora de matemática do Mark? – Sim – ela respondeu.
Após o enterro, a maioria dos antigos colegas de escola de Mark, assim como seus pais, ainda permaneciam reunidos, e todos pareciam ansiosos por falar com a professora. – Queremos lhe mostrar uma coisa – disse o pai do rapaz, e tirou sua carteira do bolso. – Isto foi encontrado junto ao corpo de Mark. Pensamos que a senhora o reconheceria. Ele tirou da carteira uma folha de papel muito desgastada, que fora colada, dobrada e desdobrada muitas vezes. A professora nem precisou olhar para saber do que se tratava: era uma das folhas nas quais seus alunos haviam escrito todas aquelas coisas boas sobre Mark. – Gostaríamos muito de agradecer à senhora pelo que fez – disse a mãe. – Como pode ver, esse gesto foi muito importante para Mark. Todos os ex-alunos reuniram-se em torno da professora. Charly sorriu timidamente e disse:
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– Eu também ainda tenho a minha lista. Ela está na primeira gaveta da minha escrivaninha. A esposa de Chuck disse: – Meu marido me pediu para colar a sua lista no nosso álbum de casamento. – Eu também ainda tenho a minha – disse Marylin – Ela está no meu diário. Então Vicky, outra ex-aluna, pegou sua agenda de bolso e mostrou sua lista velha e esfarrapada aos colegas. “Eu sempre a tenho comigo” – disse Vicky – e acrescentou: “Eu acho que todos nós
guardamos as nossas listas”. A professora ficou tão emocionada que precisou sentar-se e chorou. Ela chorou por Mark e por todos os amigos que nunca mais o veriam. No nosso convívio diário, muitas vezes esquecemos que toda vida termina um dia, e que nunca sabemos quando esse dia chegará. Por isso deveríamos dizer a todas as pessoas que amamos e com quem nos preocupamos, que elas são algo precioso e importante para nós. Diga isso a elas, antes que seja tarde. Anamaria Kovács é jornalista e professora universitária emérita e reside em Blumenau/SC
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Ficar ou não ficar – eis a questão Elfriede Rakko Ehlert
Os nossos jovens têm um conceito bem definido a respeito da palavra, de constante uso entre eles: “ficar”. Um deles me ensinou que não significa “namoro” e também não inclui obrigatoriamente sexo. Seria mais um aproximar-se, conhecerse melhor. Em todo caso menos que namorar, algo sem compromisso. Mas aos poucos e devagar – às vezes também com certa pressa – os corpos sentem a química, os cheiros combinam, chegam mais perto um do outro e até pensam num relacionamento mais estável. Nem sempre eles querem casar e constituir uma família tradicional. Outros já sonham com um casamento pomposo e romântico na igreja, como mandava o figurino de antigamente. Geralmente estes que seguem uma tradição, tomaram uma decisão muito séria. Não me atrevo a dizer que os outros não o tenham feito. Mas tal decisão para eles é algo definitivo: Nós queremos ficar juntos para o que der e vier para toda a vida! O que assusta e até apavora hoje em dia são as inúmeras separações de casais de diferentes idades. Dia desses alguém de uma cidade, que se orgulha de cultivar a tradição, lamentou a insensatez de muitos homens! Disse: Eles deixam suas esposas, caçam uma mais nova, que depois esbanja tudo que tinha conseguido juntar com ajuda da primeira esposa - simples e econômica, que contava cada centavo, antes de gastá-lo. Este cidadão soltou a língua e disse: “Se
o amor deles acabou, deveriam pelo menos conservar e usar a razão”. Eu me pergunto: Será que a razão resolveria? É verdade que a nossa memória armazena todas as influências e tendências que nos cercam. Assim também acontece com o que a mídia nos apresenta. Sem perceber, formamos os conceitos que orientam nosso caminho. Talvez então as novelas, por exemplo, nos induzem a não levar tão a sério a decisão de viver uma vida a dois, sem sequer pensar em trocar de par. A frase “foi bom, enquanto durou” trata uma separação de maneira muito leviana, como se também o casamento fizesse parte do descartável: Não agrada, não serve mais, a gente joga fora. Mas o dizer simplesmente adeus de duas pessoas que se amavam tanto e que tanto esperavam deste amor, será sempre algo traumático e doloroso. Numa canção a cantora Adriana expressa isto desta forma: “Você entrou no trem e eu na estação, vendo o céu fugir. Também não dava mais para tentar te convencer a não partir. E agora você partiu, para ver outras paisagens. E meu coração, embora finja fazer mil viagens, fica batendo parado naquela estação”. De uma maneira sutil, sem grande alarde, ela fala de um coração que para, quando o outro se vai. Por que a gente não consegue levar adiante um relacionamento? Por que a gente se machuca tanto, antes de dizer um “basta”?
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• No corre-corre de nossos dias, onde os dois parceiros têm sua profissão e com isso seu “stress” de cada dia, e os filhos, por vezes, ficam somente nas costas da mãe. Ela com isso se torna mais irritável e menos atraente, e a paciência e a compreensão desaparecem. Há falta de tempo para o diálogo. Mas, o que não falta é agressividade. • Nenhum dos dois quer falar muito sobre os verdadeiros motivos do desentendimento que leva ao rompimento. Geralmente as cabeças duras se batem e não cedem. E assim o príncipe encantado vira sapo e a bela princesa uma gata brava. E de repente gata e sapo se detestam. • Algo novo é que as mulheres passam a tomar a iniciativa em casos de infidelidade. Uma senhora se abriu e conversou sobre o seu drama. Quando descobriu que o marido a vinha traindo, finalmente se decidiu pela separação.
Ela que veio de “uma família de verdade”, como disse - com pai, mãe e irmãos - chorou durante cinco anos a sua sorte, por não poder dar uma família assim aos seus filhos. Mas conseguiu se reerguer e educá-los “praticamente sozinha”. Confirma: “Separação é horrível, um sofrimento só”. • Outra confessou que seu casamento terminou em separação depois de trinta anos. Ela, em determinada situação delicada de sua vida (os seus pais haviam se separado) buscou conforto num parceiro que parecia ideal: atencioso e gentil. Descobriu cedo que nele se escondia um ciúme doentio. Ele a obrigou a um isolamento, afastando-a da família, de amigos, seja do sexo feminino ou masculino. Não permitiu que continuasse os estudos, controlando tudo o que fazia. Assim ela ia perdendo a própria identidade. Os dois filhos sofriam junto. Daí veio a separação que, no caso, partiu dela. Du
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rante anos ainda sofreu a perseguição do seu ex-marido. • Há um fator que fomenta o troca-troca de parceiros: A emancipação da mulher. É o que se expressa na música popular caipira. Numa canção o homem se lamenta com as seguintes palavras: “Ela foi embora e nem me disse adeus”. A mulher não quer mais ser a submissa, que sofre e suporta. Então se rompem mais facilmente os laços matrimoniais. Mas, casamento sem suportar e sofrer não existe. Há também o fato de que a mulher jovem e bonita, toda produzida, sabe usar o seu corpo e seu charme para seduzir, não respeitando se o homem que visa é casado ou não. Se antes só o homem era caçador, agora também a mulher caça e seduz. E laços se rompem. • Há casos em que uma criança precisa de cuidados especiais, o que não permite uma vida “normal”. Um dos cônjuges não agüenta o dia a dia e foge. • Ou uma situação inesperada e difícil se cria por motivo de um acidente que incapacita um dos cônjuges. Então, nem todos são capazes de viver a vida em função do outro. Em relação a isso alguém falou: “Em si, por motivos religiosos, sou contra separação. Mas também sou contra ser infeliz”. • Problemas financeiros e distúrbios emocionais são mais uma razão para separações conforme um estudioso.
Ser mãe ou ser pai tem que ser “trabalhado”, não é? Assim também precisa ser trabalhado ser esposo e esposa. Isto é fácil dizer. Mas como concretizar? É um processo de constante adaptação ao jeito, ao amor, ao sentir do outro. Uma vez cabe a ele ceder ou dar apoio, outra vez a ela. Pois em todos nós parece estar escondido um pequeno ditador. Talvez achamos que no casamento daria para reinar e mandar, ser a ”rainha” ou o “rei” do lar. Não pode dar certo, quando se instala um puxa-puxa, para ver quem fica com a última palavra. Os dois têm que chegar a um equilíbrio negociado, senão “crash”: Quebra o acordo de amor e compreensão. E isto também não mudaria numa nova relação. Sofrer uma vida inteira sob o egoísmo desenfreado da/o outra/o, ninguém merece. Então pode chegar o momento do limite, quando é melhor separar. Com isto voltamos ao início da nossa reflexão: Ficar ou não ficar, eis a questão. Se for para o bem do “povo”, eu fico. No alemão o termo ficar (bleiben) tem uma conotação de permanecer, suportar, não mudar. Este não mudar, é importante. Não mudar de personalidade (você tem o direito ser quem você é), não mudar no seu ideal de ter um casamento harmonioso, não mudar também o seu carinho para com seu cônjuge. E sempre de novo voltar “ao primeiro amor”. Se a gente fica com uma pessoa, então que seja de corpo e alma, assumindo um amor pleno, sem restrições. A autora é professora aposentada e artista plástica e reside em Curitiba/PR
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Formação Teológica na IECLB P. Dr. Lothar Carlos Hoch
Dos Primórdios Ao falar dos primórdios da formação teológica é justo lembrar que, no dia 1º de julho de 1921 foi fundado, em Cachoeira do Sul/RS, o Instituto Pré-Teológico do Sínodo Riograndense. Este ato se constitui no marco inicial da trajetória da formação teológica na nossa igreja. Assim sendo, neste ano de 2011, comemoramos 90 anos de formação teológica na IECLB. No início do século XX crescia no seio do Sínodo Riograndense a consciência de que não se poderia continuar dependendo exclusivamente de pastores do exterior. As dificuldades do envio de pastores por parte da Igreja da Alemanha para o Brasil, decorrentes da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), viriam a reforçar esta percepção. Assim, já na Assembleia Sinodal de maio de 1919, realizada em Linha Brochier, Montenegro/RS, o Pastor Wilhelm Rotermund afirmava que “agora nós mesmos deveremos nos responsabilizar para que tenhamos líderes condutores na Igreja e na escola”.1 Em vista disso, a Assembleia incumbiu a Diretoria Sinodal a “preparar a fundação de um Escola de Teologia para a formação de pastores evangélicos para o Rio Grande do Sul”.2 Porém, coube ao Dr. Hermann G. Dohms, na época pastor em Cachoeira do Sul/RS, a iniciativa de viabilizar esta resolução. Na consciência de que, no curto prazo, não seria possível criar um Seminário para a formação de pastores
evangélico-luteranos aqui no Brasil - por falta de um quadro de professores qualificados para exercer a docência teológica e de uma biblioteca especializada -, Dohms decidiu iniciar com a criação de uma escola que pudesse preparar jovens de nossas comunidades, em nível de ensino médio, para o estudo da teologia nos moldes do que era oferecido na Alemanha. Em outras palavras, ele optou por trilhar um caminho cauteloso de construção paulatina de um projeto de formação teológica com elevados padrões acadêmicos. Segundo Dohms, para alcançar a intenção de “formar uma classe de pastores nacionais”, o Instituto Pré-Teológico (IPT) deveria “oferecer aos seus alunos uma formação humanística, com especial atenção para o posterior estudo da Teologia, ou seja, oportunizar especialmente o aprendizado das línguas antigas”.3 Após o início em Cachoeira do Sul, por um período transitório de quatro anos, o IPT funcionou no Seminário Evangélico de Professores, às margens do Rio dos Sinos, em São Leopoldo/RS. No dia 03 de março de 1931, tiveram início as aulas do IPT em sede própria, especialmente construída para tal finalidade, no Morro do Espelho4, onde a família Rotermund possuía uma chácara. Parte desta foi gentilmente cedida/vendida ao Sínodo Riograndense5 e, desta forma, o IPT, logo em seguida o Centro de Impressos (hoje Editora Sinodal) e, mais tarde, o Colégio Sinodal, a Casa Matriz de Diaconisas e a Escola de Teologia (hoje Faculdades
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EST) puderam ser edificados. Podem-se formar pastores no Brasil O início do curso de teologia na Escola de Teologia se deu em 26 de março de 1946, com 13 estudantes matriculados e “sob situações materiais muito modestas”.6 A intenção manifesta na oportunidade era a de “fazer dessa Escola um centro espiritual para a Igreja inteira”.7 Cabe observar que este propósito dos nossos pioneiros foi importante, na medida em que, ao conceberem a Escola de Teologia como “um centro espiritual para toda a Igreja”, contribuíram para a unificação dos diferentes sínodos existentes na época e de suas respectivas tradições teológicas e, dessa forma, para a construção da unidade da IECLB. Já em 1948 viria a se formar um primeiro grupo de seis estudantes, os quais foram imediatamente enviados para comunidades da IECLB, que se encontravam em grande dificuldade, devido à falta de pastores que resultou da impossibilidade da vinda de pastores alemães em consequência da Segunda Guerra Mundial. A primeira fase da Faculdade de Teologia se caracterizou pelo grande apoio que recebeu de lideranças e comunidades da IECLB e de Igrejas e instituições parceiras da Alemanha. Dessa forma puderam ser edificados os prédios para as salas de aula, o internato, a biblioteca, a capela e o refeitório. Inicialmente o corpo docente era constituído por pastores alemães e brasileiros que atuavam na IECLB. Mas, aos poucos, foram sendo incorporados
professores com formação acadêmica em nível de doutorado vindos da Alemanha. Os estudantes passaram a vir de diferentes regiões do Brasil e sínodos da IECLB. O acervo da biblioteca era constituído quase exclusivamente por livros publicados em língua alemã. Por conseguinte também a teologia e a liturgia estavam alinhadas com esta tradição. A formação de pastores se torna mais brasileira Na segunda fase da trajetória da Faculdade de Teologia se iniciou a busca por uma maior contextualização da teologia no cenário brasileiro. Esse processo se deu a partir do final dos anos sessenta e inícios da década dos setenta, quando a IECLB passou a incentivar a formação de docentes brasileiros no exterior, em nível de mestrado e principalmente de doutorado, para assumir o ensino e a pesquisa na Faculdade de Teologia. Aos poucos a biblioteca então vai incorporando em seu acervo um número crescente de obras oriundas do nosso contexto que contemplavam perguntas e desafios específicos da realidade latino-americana. Aprofunda-se o diálogo católico-luterano através de encontros regulares entre docentes e estudantes da Faculdade de Teologia e do Seminário Cristo-Rei, em São Leopoldo/RS. Começa a acontecer um intercâmbio de docentes e discentes com o ISEDET de Buenos Aires e se concretiza uma participação mais efetiva na ASTE (Associação de Seminários Teológicos Evangélicos).8
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EST oferece formação teológica com diversas terminalidades A terceira fase inicia na década de oitenta e é marcada pelo crescimento do número de alunos/as, por uma ampliação significativa do projeto de formação e por uma crescente abertura ecumênica tanto da teologia quanto da própria formação teológica. Em 1983, o número de estudantes da Faculdade de Teologia chegou a 269, considerados apenas os oriundos da própria IECLB9. As cadeiras docentes foram duplicadas em praticamente todas as áreas. Em 1984, foi criada a Escola Superior de Teologia (EST). Passaram a integrar a EST, além da já consolidada Faculdade de Teologia, o Instituto Ecumênico de Pós-Graduação e Pesquisa (IEPG) que passou a oferecer um programa de Mestrado em Teologia; o Instituto de Educação Cristã (IEC); o Instituto de Capacitação Teológica Especial (ICTE) destinado à formação de lideranças leigas. Foram criadas cátedras específicas de Ecumenismo, de Gênero, de Educação Cristã e de Ciências da Religião. As relações ecumênicas e o cultivo de relações com outros centros de formação teológica no Brasil e no exterior foram incrementados. Através do Programa de Intercâmbio, a EST passou a receber um número crescente de estudantes de outras denominações religiosas e, de outros países. EST se torna referência no Brasil e no exterior O crescimento da EST na década de noventa e sua ascensão, na virada do milê-
nio, como instituição de referência nacional no que diz respeito à pós-graduação em teologia, bem como a autorização, por parte do MEC10, do curso de teologia da EST como o primeiro Bacharelado em Teologia do Brasil, são prova do reconhecimento público de um trabalho dedicado e perseverante de muitas gerações. Retrospectiva e perspectiva Por isso, neste ano de 2011, quando a Faculdade de Teologia - hoje Faculdades EST - comemora 65 anos de existência, o sentimento mais forte da nossa comunidade acadêmica é de gratidão a Deus por ter abençoado esta casa de formação ao longo de todos esses anos. Igualmente de gratidão às comunidades da IECLB, às igrejas e aos organismos ecumênicos do exterior pelo apoio, pelas orações e por toda crítica construtiva. De uma igreja que dependia totalmente de pastores da Alemanha na década de 40 - graças ao investimento sistemático da IECLB na formação ao longo dos últimos 90 anos – somos hoje uma igreja em condições de atender às necessidades internas de obreiros e obreiras e ainda formar quadros docentes em teologia para outras igrejas do Brasil e do exterior. O fato de termos hoje três centros de formação de obreiros/as na IECLB, apesar de estar trazendo algumas dificuldades de ordem financeira para a EST, poderá se transformar numa bênção para a nossa igreja, na medida em que todos eles afinarem, de forma crescente e sistemática, o seu projeto de formação com a tradição evangélico-luterana, fundamentada
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nas Sagradas Escrituras, e visando à preservação da unidade da IECLB. Neste espírito, continua absolutamente atual a palavra de nosso Senhor Jesus Cristo que diz: “A seara é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai,
pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara” (Lucas 10.2). O autor é Pastor da IECLB e Professor de Teologia e atua na Faculdades EST em São Leopoldo/RS
REFERÊNCIAS 1
Osmar Witt, Breve História do IPT, in: Associação dos Ex-Alunos do IPT (Ed.). Instituto Pré-Teológico – Uma Escola Singular. São Leopoldo : Editora Sinodal (impressão), s.d. p.13.
2
Op.cit., p.17
3
Op.cit., p.20.
4
Op.cit., p.28.
5
Rolf Droste, O Morro do Espelho: um pouco de sua história e missão, in: : L.C.HOCH, M.J.STRÖHER, W.WACHHOLZ (Orgs.). Estações da Formação Teológica: 60 anos de história da EST. São Leopoldo : Sinodal/Faculdades EST, 2008, p.10.
6
Joachim Fischer, Breve História da Faculdade de Teologia, in: Lothar C.Hoch (Org.), Formação Teológica em Terra Brasileira. Faculdade de Teologia da IECLB (1946-1986). São Leopoldo : Sinodal, 1986. p.21.
7
J.Fischer, op.cit, p.22.
8
J. Fischer, op.cit., p.28.
9
J.Fischer, op.cit., p.29.
10 L.C.Hoch, Pronunciamento por ocasião da autorização da Teologia pelo MEC, in: L.C.HOCH, M.J.STRÖHER, W.WACHHOLZ (Orgs.), op.cit, p.71-74.
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Há 100 anos – 06/08/1911 – foi criada a Associação de Comunidades Evangélicas de Santa Catarina P. em. Nelso Weingärtner
Santa Catarina recebeu no século XIX milhares de imigrantes alemães evangélicos que se espalharam pelo Centro Sul Catarinense, pelo Vale do Itajaí e pelo Norte Catarinense. Toda a Região Centro Sul recebeu, durante décadas, atendimento espiritual pelo pastor de Santa Isabel. Todo o Vale do Itajaí foi atendido pelo pastor de Blumenau durante quase 30 anos. Semelhante também foi a situação no Norte Catarinense, que recebeu atendimento espiritual pelo pastor de Dona Francisca (Joinville). A partir desses três núcleos nasceram novas comunidades e novas paróquias, que se sentiam como filhas da matriz e eram tratadas como tais. Essa realidade histórica ajuda a explicar por que a criação de um Sínodo (ou Associação de Comunidades) levou tanto tempo para acontecer em Santa Catarina. Outro fator retardatário foi a origem dos pastores, que vieram de várias regiões e entidades da Alemanha: Evangelischer Oberkirchenrat de Berlim, Evangelische Gesellschaft in Barmen, Baseler Missionshaus, Deutsche Brüdersozietät, Lutherischer Gotteskasten Verein. Em 1890 e 1891 aconteceram várias reuniões de pastores que desejavam criar um Sínodo das Comunidades Evangélicas de Santa Catarina. Mas a maioria das comunidades, e também muitos dos pastores,
não mostraram interesse e disposição para tal empreendimento. Mas em 1893 acabou sendo criada uma Associação, denominada: “Conferência Pastoral Evangélica de Santa Catarina” que, mesmo ainda não tendo estatutos e apesar de não estar legalizada perante o Estado, assumiu importantes tarefas, como por exemplo, criou e manteve dois Jornais: O “Urwaldsbote”, lançado em junho de 1893 pelo Pastor Hermann Faulhaber de Blumenau e o “Sonntagsblatt für die Evangelischen Gemeinden in Santa Catarina”, lançado em 1895 pelo Pastor Wilhelm Lange de Brusque. Até fins de 1898 todos os pastores de Santa Catarina participavam desta Associação, que se entendia “como uma livre Associação de pastores ordenados de Santa Catarina que atuam na Igreja e nas Escolas e que tem como finalidade: mútua edificação e fortalecimento na fé e a procura de solução para assuntos problemáticos nos serviços e no convívio das comunidades”. Infelizmente em 1899 aconteceram desentendimentos com os pastores enviados pelo Lutherischer Gotteskasten Verein, que no ano seguinte formaram uma Associação à parte. Em 14 de agosto de 1907 a Associação: “Conferência Pastoral Evangélica de Santa Catarina” foi legalizada com Estatutos próprios perante os poderes constituídos. No parágrafo I dos estatutos é definida a
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finalidade da Associação: “A Conferência Pastoral Evangélica de Santa Catarina tem por finalidade: Fomentar a vida espiritual de seus membros, incentivar o aprofundamento na pesquisa teológica, dar apoio aos serviços pastorais, promover os interesses das comunidades na igreja e na escola, harmonizar eventuais con-
flitos, oferecer orientação fraterna e aconselhamento, cuidar da reputação dos líderes espirituais e preparar uma Associação Sinodal das Comunidades”. Assinaram esses regulamentos os pastores presentes no dia 14/08/1907 e que aparecem na foto:
Da esquerda para a direita: P. Albert Bornfleth, de São Bento; P. Heinrich Runte de Badenfurt; P. Alfred Rudolph, de Timbó; P. Carl Schwab, de Criciúma; Probst lic. Braunschweig, representante da Igreja na Alemanha; P. Walther Mummelthey, de Blumenau; P. Otto Schulz, de Florianópolis; P. Adolf Langbein, de Itoupava; P. Wilhelm Lange, de Brusque; P. Christian Zluhan, de Santa Isabel; P. Ernst von Gehlen, temporariamente em Badenfurt; P. Dr. Paul Aldinger, de Hansa Hammonia (Ibirama). Ferdinand Schröder, autor do livro: Brasilien und Wittenberg, escreve na página 346 desse livro, falando da Conferência Pastoral de Santa Catarina: “É in-
teressante observar como tarefas e necessidades comuns conduzem a Conferência Pastoral de SC a assumir cada vez mais a função de representantes das co
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munidades. Em princípio há uma grande diferença entre uma Associação de Comunidades e uma Conferência Pastoral, mas na prática essa diferença pode ser muito pequena”. O longo tempo de isolamento que nossas comunidades viveram nos três núcleos acima citados, tornou difícil o agrupamento dos mesmos num Sínodo. O despertar do interesse dos membros leigos de nossas comunidades para a criação dum Sínodo foi mérito da Conferência Pastoral. Dois anos após a oficialização da Conferência Pastoral Evangélica de Santa Catarina, em 26/08/1909, realizou-se em Blumenau uma reunião preliminar para a criação de uma “Associação de Comunidades Evangélicas em Santa Catarina”, com a presença de representantes leigos e pastores de 10 comunidades. Nesse encontro foram aceitas quatro teses que deveriam ser base para Associação a ser criada: 1) Nós precisamos de uma Associação de Comunidades que terá como tarefa: definir e fixar os limites entre comunidades e paróquias e que também terá a incumbência de mediar conflitos entre comunidades e paróquias. 2) Nós precisamos de uma Associação de Comunidades que assumirá a tarefa de mediar e resolver desentendimentos e problemas internos de nossas comunidades com seus membros. 3) Nós precisamos de uma Associação de Comunidades, que esteja em condições de assumir tarefas caritativas
que cabem aos cristãos, como por exemplo: criar asilos para idosos, orfanatos e outros. 4) Nós precisamos de uma Associação de Comunidades para assumir a tarefa de representar os interesses das comunidades evangélicas em público e diante dos poderes constituídos. A constituição da ASSOCIAÇÃO DE COMUNIDADES EVANGÉLICAS DE SANTA CATARINA Após dois anos de estudos e debates em conferências pastorais e em reuniões das comunidades, reuniram-se em Blumenau no dia 06 de agosto de 1911: 9 pastores e 17 representantes de comunidades para criar oficialmente a Associação de Comunidades Evangélicas de Santa Catarina. Estavam representadas as seguintes Comunidades: 1)
Santa Thereza: Pastor Fritz Liebhold, Friedrich Passig e Karl Tümmler.
2)
Santa Isabel/Theresópolis: Pastor Adolf Langbein, Gustav Starowsky e Karl Höller.
3)
Florianópolis: Pastor Ernst von Gehlen e Max Duckstein.
4)
Brusque: Pastor Gerold Hobus, Max Köhler e Karl Ristow.
5)
Blumenau: Pastor Walther Mummelthey, Karl Liesenberg e Hermann Müller.
6)
Itoupava: Pastor Felix Gabler, Friedrich Witte e Wilhelm Sievert.
7)
Pommerode: Wilhelm Porath e Albert Radünz.
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8)
Timbó: Pastor Gerhard Krause, Julius Thurow e Heinrich Hardt.
9)
São Bento: Pastor Albert Bornfleth e Rudolf Klaumann.
10) Orleans do Sul (Quadro Braço do Norte): confirmou adesão, mas não esteve presente porque o convite chegou com atraso: Pastor Carl Schwab. Badenfurt estava representada pelo Pastor Heinrich Radlach e pelos srs. Miehe de Badenfurt e Friedrich Kreitlow de Itoupavazinha. (Badenfurt só se filiou à Associação das Comunidades Evangélicas de Santa Catarina em 1920). Na abertura da Assembléia o Pastor Walther Mummelthey, na qualidade de Presidente da Conferência Pastoral, saudou a todos calorosamente e expressou sua alegria pelo fato, que após muitos debates e conflitos, enfim chegou o dia em que será constituída a tão sonhada Associação das Comunidades Evangélicas de Santa Catarina. Em rápidas palavras ele enfatizou que a meta e finalidade desta Associação é: Ser amigo e auxiliador das comunidades e
não uma organização que priva as comunidades de sua liberdade e independência. Rogou que o Espírito de Deus pairasse sobre esta Assembléia para que a partir da mesma possam nascer muitos frutos para a glória de Deus e o bem das comunidades. Na avaliação histórica houve vozes que afirmavam que a Associação de Comunidades Evangélicas de Santa Catarina, na verdade, não era um Sínodo. Essa afirmação não tem fundamento e desconhece a realidade. Aqui não se usou o termo grego “Sínodo” que significa “junto no caminho”, mas sim o termo “Associação de Comunidades”, que foi entendido por todos e experimentado como uma caminhada compartilhada. A primeira Diretoria da Associação de Comunidades ficou assim constituída: Presidente: Pastor Walther Mummelthey de Blumenau; Vice Presidente: Pastor Albert Bornfleth de São Bento; Secretário: Willi Leisner de Florianópolis; Tesoureiro: Hermann Müller de Blumenau. O autor é pastor emérito da IECLB e pesquisador da história das comunidades da antiga Região Eclesiástica II, e reside em Timbó/SC
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Humor inocente Uma mosca está sentada no chifre de um boi, que está puxando um arado. Chega uma segunda mosca e pergunta: - Que fazes aqui? Responde a primeira: - Não amola! Não vês que estamos arando a terra? •••O••• Enquanto os animais entravam na Arca de Noé, de repente a longa fila “engarrafou”. Aí o sapo pediu à girafa: “Verifica o que está acontecendo lá na frente.” A girafa esticou o seu longo pescoço, colocou-se na ponta dos pés, olhou, e suspirou: “Ih, isto vai demorar. A Centopéia está colocando os sapatos.” •••O••• Um homem vende o seu cachorro Pit Bull. O novo proprietário pergunta: “Esse cachorro gosta de crianças?” O homem responde: “Sim, muito! Mas eu sugiro comprar ração para cães. Fica bem mais em conta!” •••O••• Uma jiboia e um coelho vão almoçar num restaurante. O coelho pede cenouras e verduras frescas. Quando o garçom pergunta pelo desejo da jiboia, o coelho diz: “Você acha que eu a traria junto, se ela já não tivesse almoçado?” •••O••• O gato se deita no colo da garotinha e, enquanto ela o acaricia, ele começa a ronronar. Com uma carinha apavorada a menina grita: “Manhêêê, onde é que se desliga o motor dele?” •••O••• A mãe diz: “Pedrinho, agora você tem que se arrumar para ir para à escola. E não se esqueça de lavar as mãos!” E o pirralho pergunta: “Mas para que, mamãe? Eu quase nunca levanto a mão lá na escola!” •••O•••
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Durante a aula de religião a professora fala sobre o juízo final: “Haverá trovões, raios, todos os muros vão cair, haverá um dilúvio, os mortos sairão de suas sepulturas...” Aninha levanta a mão insistentemente. “Sim, Aninha, qual é a tua pergunta?” diz professora. “As aulas vão ser suspensas neste dia, professora”? •••O••• O pai de um aluno entra explodindo de raiva no gabinete do diretor da escola. “Como o senhor pode afirmar que meu filho colou nesta prova escrita? Ele diz que não colou. O Senhor não tem nenhuma prova de que ele está mentindo.” Calmamente o diretor diz: “O senhor pensa que não? O seu filho estava sentado ao lado da melhor aluna da classe, e respondeu as primeiras quatro questões igualzinho a ela.” “E daí? Ele estudou bastante!”, diz o pai convicto. “Pode ser”, diz o diretor. “Mas a quinta questão a garota respondeu assim: ‘Não sei’. E seu filho escreveu: ‘Eu também não’!” •••O•••
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O professor de português, desesperado: “Martim, a tua ortografia está cada vez pior! Quando tiveres dúvida sobre como se escreve corretamente uma palavra, olha no dicionário!” Martim: “Mas eu nunca tenho dúvidas!” •••O••• A professora desabafa: “Carlinhos, há mais de trinta anos eu sou professora. Qual é a frase, que você pensa, que mais vezes ouvi dos alunos neste tempo todo?” “Eu não sei.” “Certo!” •••O••• A professora diz: “Claudinha! Se tu tens oito maçãs e deres a metade para tua irmã, com quantas ficas?” “Com cinco, professora!” “Mas Cláudia, tu de certo ainda sabes dividir oito por dois!” “Eu sim, professora, mas minha irmãzinha não!” •••O••• A professora corrige a lição de casa. “Mas Sandra! Esta letra aqui no teu caderno é igualzinha à de teu pai!” “Pode ser, professora! É que eu emprestei a caneta dele!” •••O••• Aula de biologia. O professor pergunta: “Quem sabe me dizer como se chamam aqueles seres que conseguem viver tanto na água como na terra?” Silêncio na classe. De repente Lucinha levanta a mão: “Marinheiros, professor!” •••O••• “Vovó, brinca conosco! Nós estamos brincando de zoológico. Nós somos os ursos!” “E eu, quem devo ser?”, pergunta a vovó. “Você vai ser aquela senhora bondosa, que joga balas para os ursos!” •••O••• Joãozinho passeia pelo parque com sua mãe. Ela chama a atenção do filho: “Filho, olha só estes cisnes, que coisa linda! Tu também gostarias de ter um pescoço tão comprido?”
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Joãozinho olha demoradamente para os cisnes e responde: “Por um lado, não: teria muito pescoço para lavar! Mas, por outro lado, sim: Durante as provas na escola, ele seria bem útil...” •••O••• A amiga pergunta, cheia de curiosidade: “Então, minha amiga, é legal estar casada com um pintor moderno tão famoso?” “Até que é bem divertido: Ele pinta e eu cozinho. Depois tentamos adivinhar o que cada um fez!” •••O••• Duas amigas se reencontram após três anos. Uma delas comenta: “Nossa, quase não te reconheci. Ficaste bem mais velha!” A outra responde com veneno: “Bem, a ti somente consegui reconhecer por causa do vestido!” •••O••• “Onde estou?” pergunta o motorista acidentado quando recupera os sentidos após muitas horas. “No número 12”, responde a enfermeira. “Quarto ou cela?”
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Palavras Cruzadas: Salmo 1.3 Colaboração: P. Irineu Wolf – Solução na página 170
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IECLB: Igreja de imigrantes – Igreja de migrantes P. em. Arteno I. Spellmeier
O povo eleito do Antigo Testamento é o povo hebreu. Esta palavra que vem de “ibrim” (migrante, na língua hebraica), respectivamente de “abar” (passar de um lugar para o outro ou de uma situação para outra). O Antigo Testamento conta a história deste povo “migrante” que “passou de um lugar para o outro” em muitos sentidos: Formado por tribos nômades que inicialmente viviam em tendas, passou a viver em aldeias e cidades. Da organização tribal, em que o poder estava bem perto do povo, passou à sociedade de estado, em que o poder estava nas mãos do rei e de sua corte. De povo organizado em um país, às vezes livre, outras vezes dominado, passou a viver na dispersão, em muitos países... A cada novo “m’abar” (migração) era necessário atravessar fronteiras e superar barreiras. A cada “passagem de um lugar ao outro” os “ibrim” deparavam-se com novas realidades que os modificavam e as quais eles, por sua vez, também transformavam. Os hebreus entendiam que a cada “passagem de um lugar ao outro” era necessário dar um significado teológico correspondente, isto é, achar respostas para as perguntas: Deus está conosco? Estamos seguindo a vontade do Deus de nossos pais? Raramente, as respostas às perguntas eram unânimes. Quando os reis, por exemplo, achavam que estavam seguindo a vontade Deus, e sobrecarregavam o povo com impostos, os profetas os de-
nunciavam, mostrando que no passado Deus sempre esteve com os pobres e não com os opressores. As famílias evangélico-luteranas que a partir de 1824 vieram a dar em terras brasileiras foram migrantes como os “ibrim” do Antigo Testamento. E, como eles, depararam-se com uma realidade diferente da que conheciam. Através dela foram transformados e, através de sua cultura e seu trabalho, ajudaram também a mudar esta realidade e a moldá-la. Para que a sua fé fosse mais que uma simples transmissão de tradições e pudesse interagir com a nova realidade e transformá-la, tiverem que desenvolver um novo significado teológico para ela: Deus está conosco? Estamos obedecendo aos seus mandamentos e cumprindo a sua vontade? Qual é o papel que Deus tem previsto para nós e a nossa Igreja nesta nova pátria? Como aconteceu com o povo hebreu do Antigo Testamento também os migrantes evangélico-luteranos deram diversas e diferentes respostas às perguntas que sua fé formulava. Houve épocas em que as lideranças e os órgãos de decisão tiveram muita clareza sobre a procura dos significados teológicos e pastorais para a realidade que a Igreja estava vivendo. O início dos anos de 1970 foi uma destas épocas. O Concílio Geral de 1970 em Curitiba/PR decidiu posicionar-se diante
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da ditadura militar, definindo seu papel como sendo de vigilante e profeta e declarando que a Igreja é responsável pelo “homem todo e por todos os homens”. No Concílio Geral seguinte, em outubro de 1972, realizado em Panambi/RS, a IECLB decidiu, além de outras questões importantes, que a Igreja como um todo iria acompanhar os seus membros migrantes (“ibrim”), tanto as famílias que migravam rumo ao centro-oeste e norte do país em busca de terras para plantar, como as que iam rumo aos centros urbanos em busca de trabalho para o seu sustento. Os(as) conciliares decidiram também, nesta oportunidade, que este acompanhamento deveria estar orientado para “o homem todo e todos os homens” ou, na terminologia de hoje, para a pessoa toda, em todas as suas dimensões (espirituais, corporais, profissionais, políticas, educacionais, psíquicas) e para todas as pessoas, isto é para pessoas de todas as origens, todos os credos, todos os gêneros, todas as culturas, línguas e tradições, e orientar os membros luteranos para que se tornassem “sal da terra” e “luz do mundo” (Mateus 5.1314). O que se queria com esta decisão? Facilitar aos membros a compreensão da nova realidade e ajudar a encontrar resposta evangélica para a pergunta: Qual é o papel que Deus destinou às comunidades luteranas e aos seus membros dentro desta nova realidade? A história das comunidades da IECLB no centro-oeste e norte do Brasil, fundadas, via de regra, por membros migrantes, reflete esta decisão do Concílio de 1972 e
é um capítulo para si. A maior dificuldade para acompanhar os migrantes foi a integração das famílias evangélico-luteranas, expulsas pela mecanização e modernização da agricultura de suas terras, que migraram para os centros urbanos. Só uma pequena parte delas encontrou lugar nas comunidades da IECLB já estabelecidas nas cidades. As causas, para que isso ocorresse, foram muitas: 1. Faltou experiência missionária! A experiência acumulada com comunidades rurais relativamente homogêneas não nos ajudou em quase nada no mundo urbano, heterogêneo e complexo; 2. Faltou foco! Muitas vezes não sabíamos se queríamos ser comunidade de Jesus Cristo ou uma associação para cultivar costumes e interesses comuns; 3. Faltou compromisso evangélico! Muitas vezes não nos importávamos muito com as famílias empobrecidas e dispersas nos grandes centros urbanos, em especial, com as que foram parar em suas periferias. Esta postura está expressa na afirmação categórica de um colega: “Se forem membros fiéis, eles vão procurar sua comunidade e frequentar o culto no centro”; 4. Faltaram visão e estratégias missionárias! Em muitas cidades, passaram-se anos até que surgissem as primeiras comunidades filiais nos bairros, na periferia; 5. Faltou pessoal qualificado para esta missão específica da Igreja; 6. Os novos “ibrim” foram literalmente
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engolidos pela vida na cidade. Os valores e as formas de organização tradicionais perderam, em boa parte, o seu significado e, junto com eles, os significados teológicos de origem ficaram sem sentido. A resposta para a pergunta “Deus está conosco?” eles passam a procurar não mais na tradição de sua igreja e na igreja de seus pais, mas na fé das maiorias locais, católicas, evangélicas, sincretistas... Se estou interpretando corretamente o que vejo em muitas comunidades urbanas da IECLB, a falta de experiência, a falta de foco e de clareza, a ausência de visão e de estratégias missionárias aos poucos estão sendo superadas. Mas, será esta superação rápida e intensiva o suficiente para compensar, por exemplo, a “emigração” dos/as jovens batizados/as e confirmados/as, que não mais participam da vida comunitária, nem se filiam a qualquer comunidade luterana? São jovens que não permanecem na tradição dos pais, pois a origem confessional, étnica e cultural não tem mais qualquer importância para eles. Os “ibrim” do Antigo Testamento olhavam principalmente para a sua história com Deus, para a caminhada dada com ele e as suas promessas, quando, numa realidade modificada, tinham que dar novos significados teológicos e pastorais
à sua vivência: “Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirou da terra do Egito, da casa da servidão. Não terás outros deuses diante de mim.” – Êxodo 20.2-3. Nós, os “ibrim” da era pós-moderna, quando tentamos dar novos significados teológicos à nossa vida numa realidade modificada, voltamo-nos para o futuro, tendo o Reino de Deus e a ressurreição como horizonte: “... buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas cousas vos serão acrescentadas” – Mateus 6.33. No entanto, o olhar para trás, para a história de Deus com o seu povo como descrita na Bíblia, para a história de nosso grupo familiar e confessional como está em nossa memória, não perdeu a sua importância e o seu valor. Muito pelo contrário. Ele nos deve ser imprescindível. Pois, corremos o risco de nos tornarmos prisioneiros e prisioneiras de ideias e ideologias que nada tem a ver com Deus e o seu Reino, se apenas tentarmos vislumbrá-lo no horizonte, sem voltarmos os olhos para as suas manifestações e seu agir no passado. Se ficarmos presos ao passado, no entanto, Deus não nos poderá indicar nem o nosso lugar no mundo nem a sua tarefa para nós. O presente recebe a sua direção da caminhada que Deus já fez conosco e a força para avançar rumo à promessa do seu Reino. O autor é pastor emérito da IECLB; foi coordenador das “Novas Áreas” da IECLB – hoje Sínodos da Amazônia, Brasil Central e Mato Grosso - , e reside em São Leopoldo/RS
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Iglesia Luterana Costarricense – ILCO, uma igreja irmã da América Latina Pa. Dra. Renate Gierus
Em outubro de 2009 eu completei três anos de trabalho na Iglesia Luterana Costarricense - ILCO. Minha atividade principal como teóloga aqui é a formação bíblico-teológica para toda a igreja. Em 2008, esta pequena igreja completou 20 anos de existência. Agora já alcançou a maioridade, enfrentando desafios próprios a ela e vivendo na expectativa de novas experiências. Quero contar um pouco a história desta igreja irmã. Para isto, entrevistei uma de suas fundadoras, a Pa. Ana Langerak, que, depois de vários anos, voltou a atuar na ILCO e me contou o que segue. No dia 22 de agosto de 1988 foi aprovada a existência da igreja como uma entidade com pessoa jurídica. Na Costa Rica, fora a Igreja Católica, as outras igrejas somente são criadas e regidas por leis de associações, passando a existir através de uma assembleia. Em 1966, a comunidade luterana na Costa Rica era uma pequena congregação. Nesta época, o grupo era pastoreado pelo P. Tapani Ojasti, finlandês de nascimento, mas proveniente da Argentina. Esta comunidade havia surgido como resultado da obra missionária do Sínodo Missouri, dos Estados Unidos. Em toda a América Central, havia um programa de rádio cuja responsabilidade de transmissão era da missão de Missouri. Foi justamente através deste programa
que nasceu a comunidade luterana na Costa Rica. Pouco a pouco, ela foi crescendo. Sua ação centrava-se no trabalho comunitário, estudos bíblicos nas casas e em manter relações ecumênicas com outras igrejas do país. Com apoio financeiro dos Estados Unidos, esta comunidade conseguiu construir um salão, que também servia de templo. Nos anos 1970, o contexto social era um pouco pesado. Havia muita tensão social, muitas greves. O governo costarriquenho atraia pessoas que se expressavam de forma contestatória. Chegavam ao país as elites intelectuais da Nicarágua, Argentina, Chile e El Salvador. Já viviam aí também várias pessoas refugiadas de países com governos ditatoriais. De uma forma ou de outra, a presença destas pessoas trazia benefícios à Costa Rica. Mas a sua vinda também levava a conflitos (lugar para viver, documentação e emprego, para citar alguns exemplos). Nesta época, o P. Ojasti se retirou e a igreja passou a funcionar sob a responsabilidade de lideranças leigas. Através de Kenneth Mahler, um pastor luterano de Missouri, que mais tarde questionou a postura teológica deste Sínodo dos Estados Unidos, a comunidade recebeu um novo pastor argentino. A propriedade adquirida há anos foi vendida e este pastor abriu um Centro Comunitário no bairro em que vivia. Ali realizava os cultos e
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sua esposa trabalhava muito com crianças e jovens. No final de 1980, depois que também este pastor argentino se retirou da atividade, o grupo que ainda existia, incluindo aí a Pa. Ana Langerak., seguiu motivado a assumir uma igreja com identidade própria, mais local e nacional. Assim, não dependeriam tanto do envio de famílias missionárias do exterior.
vontade o P. Epperlein também passa a acompanhar a comunidade luterana nacional em formação. Uma primeira mudança concreta em direção a uma autonomia da ILCO ocorreu com a chegada de Pilar Cabrera, um estudante de teologia da Guatemala, que veio a Costa Rica estudar no então Seminário Bíblico Latino-americano, hoje Universidad Bíblica Latinoamericana -
A casa onde a Comunidade São Sebastião faz cultos e a comunidade reunida após o culto.
Neste momento, solicitaram apoio ao P. Ulrich Epperlein para a realização de cultos e outras atividades. Este pastoreava a Igreja Evangélica Luterana - Costa Rica, uma comunidade de fala alemã existente no país. Foram atendidos em sua solicitação. E com este gesto de abertura e boa
UBL. Ele já era ordenado pastor-diácono e trazia na sua bagagem uma liturgia popular, distinta da que a comunidade usava até então nos cultos. A partir daí começou uma mudança de mentalidade. Foi como o início do pro
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cesso de criação de uma identidade local. Como disse a Pa. Ana: “As sementes da mudança foram as ideias de independência e autonomia, e a liturgia, a terra fértil onde elas caíram e foram recebidas.” Pouco a pouco, a comunidade se via mais e mais como igreja centro-americana. Algum tempo depois, na comunidade alemã, foram ordenados Ana Langerak e Melvin Jiménez como primeiros pastores em nível nacional. O ato foi presidido pelo bispo luterano de El Salvador, Medardo Gómez. Mais tarde, para também criar independência quanto ao espaço físico, alugaram algumas salas junto com um grupo de ONG’s. Estas últimas ajudavam a bancar as despesas com o aluguel destas instalações. Foi neste novo espaço que começou o trabalho pastoral e diaconal, o atendimento a famílias de agricultores e indígenas. O nome da comunidade era San Pedro y San Pablo. Já desde estes inícios, ILCO foi criando a reputação de acompanhar os setores mais desfavorecidos da sociedade. Neste contexto se realizou a assembleia
de fundação, que criou a ILCO e que instituiu uma diretoria. Foi uma época linda, muito ecumênica, de uma grande mística. A igreja mantinha um albergue para pessoas indígenas que tinham que realizar trâmites em San Jose e que também vinham para a capital por questões médicas e de luta por terras. Este albergue funciona até hoje, com a mesma finalidade. Havia oportunidade para diálogos muito bonitos entre membros da igreja e pessoas das comunidades indígenas. Estas últimas perguntavam por questões religiosas, sentiam que os membros de ILCO os tratavam de maneira diferente das igrejas que conheciam. Quero concluir este pequeno relato histórico com palavras da Pa. Ana Langerak: “Sempre houve um grupo de pessoas que Deus não deixou desanimar. Essas pessoas sentiam que tinham uma missão, um papel a desempenhar, independente do tamanho que a igreja tinha no momento. Tinham a bênção da tradição luterana, não tendo que começar do nada, não tendo que criar igreja, pois esta já era uma igreja com herança e legado históricos.” A autora é pastora da IECLB, e atua como assessora teológica da ILCO, em San Jose/Costa Rica
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Igreja Cristã Luterana de Honduras P. em. Meinrad Piske
Uma igreja irmã em meio à crise institucional do país Honduras é um dos paises que formam a América Central. Sua área – muito montanhosa – é de 112.000 km2 e sua população é de 7.500.000 habitantes. Tanto sua área geográfica como a sua população são semelhantes ao Estado de Santa Catarina que tem 95.000 km2 de área e uma população de 6.000.000 de habitantes. Foi habitada, até ser conquistada pelos espanhóis em 1502, pelo povo Maia que tinha em Copan, no norte de Honduras, seu centro de cerimoniais. Neste país localiza-se a “Igreja Cristã Luterana de Honduras”, fundada no ano de 1960, completando, portanto, 50 anos. Ela é fruto do trabalho de missionários norte-americanos. Assim como em outros países centro americanos, a IECLB também está presente nesta igreja em Honduras onde atua atualmente a Pastora Dra. Rosane Pletsch e seu esposo P. Antonio Ottobelli da Luz. Com aproximadamente 2.000 membros, esta Igreja tem sua sede na capital Tegucigalpa e está organizada em nove comunidades localizadas em bairros da capital, em La Ceiba, em San Pedro Sula. Assim como o país, também a igreja é pobre. Recebe auxílio de igrejas irmãs dos Estados Unidos, da Alemanha e do Brasil. Esta igreja tem três ênfases em sua atuação: a educação cristã, o culto e a
diaconia. Com muito entusiasmo e dedicação o Culto Infantil – a “Escuela Dominical” – conta com a frequência e participação de muitas crianças e sua organização tanto em nível de comunidade como de igreja nacional é extraordinária. Uma grande dificuldade é que as comunidades estão localizadas muito distantes umas das outras. La Ceiba dista 500 km de Tegucigalpa. Somente o gasto com a viagens é enorme. A Pastora Dra. Rosane Pletsch relata a situação desta pequena igreja durante os tumultuados dias de junho e julho de 2009 quando o Presidente de Honduras foi deposto. Ela escreve naqueles dias de crise: “Na madrugada do dia 28 de junho de 2009, os militares invadem a casa do presidente da república de Honduras, o sequestram e o levam de avião, a um país vizinho, Costa Rica. Quando levantamos de manhã, percebemos que não havia luz, internet, telefone, nem acesso aos principais canais de rádio e de TV. Os vizinhos estavam nas ruas, ouvindo informações de seus pequenos radinhos ou fazendo chamadas por celular. No céu, muitos aviões de guerra. Muito silêncio, pois ninguém confiava em ninguém, considerando que teu ou tua companheiro/a de diálogo poderia ser, eventualmente, um militar ou integrante do grupo político e econômico que impetrou o golpe.
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Já na segunda-feira se obteve a informação que as escolas estavam fechadas, que o país estava em estado de sítio e havia toque de queda, o que significava que ninguém podia estar na rua, fora de sua casa. Passaram-se quatro meses nesta tensão extremada e houve tempos de toques de queda de 72 horas consecutivas. Nestes quatro meses, houve épocas de escassez de comida e água e, quem podia e tinha condições, estocava. As ruas, os prédios públicos, as ligações dos bairros para centros e dos diferentes estados do país com a capital Tegucigalpa, estavam todos tomados pelos militares, altamente armados. Cerca de 1 km de minha casa havia um grande tanque de guerra, com dezenas de militares armados com metralhadoras e outras armas de guerra. Centenas de milhares de pessoas tomavam as ruas e avenidas de Honduras para manifestar sua insatisfação com o golpe, formando a Frente Nacional de Resistência. Centenas foram e continuam sendo assassinados, pois os conflitos continuam. O motivo do golpe já é conhecido pelo mundo todo: Uma decisão do então presidente, de fazer uma consulta popular sobre uma reforma constitucional, um dos direitos fundamentais do povo, o direito de opinar. A Constituição hondurenha data de 1982 e é resultado de um governo militar. Embora jovem em sua existência, é velha no seu teor, desatualizada e antidemocrática. Este foi o estopim do golpe.
Quero deter-me no aspecto das igrejas. As igrejas grandes, majoritárias, desde as suas hierarquias, todas, indistintamente, participaram da elaboração estratégica e tática do golpe. A grande maioria posicionou-se publicamente a favor do golpe, ajudavam a camuflar o número de assassinatos, participavam das mesas de negociação e como forjar uma eleição. Sabe-se que estes falsos cristãos e cristãs receberam muito dinheiro, cargos políticos, proteção em outros países, em especial EUA, aposentadorias e outros benefícios, tudo isso envolvendo muito dinheiro. São verdadeiros lobos disfarçados de ovelhas. Algumas igrejas pequenas e alguns religiosos e religiosas individualmente se posicionaram a favor da democracia, contra a violação dos direitos humanos, ou seja, contra o golpe... A igreja luterana de Honduras foi uma das poucas que se posicionou, publicamente, contra o golpe e contra a violação dos direitos humanos. Em um de seus pronunciamentos assim se manifesta: ‘Que o testemunho cristão se guie não pelo poder e pela força, mas pelo amor e pelo respeito à vida e que nos unamos em súplica e em oração, a nosso bondoso Deus, para que a paz e a justiça andem de mãos juntas’. Tudo isto me faz pensar muito nas palavras de Jesus Cristo, quando esteve entre o povo, nos auspício do império romano com suas perseguições, assassinatos, regimes de escravidão e torturas. Jesus, comovido pelo sofrimento das pessoas, rodeado de gente em necessidade
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e amedrontadas, à procura de ajuda social e espiritual, sente compaixão. Ele descreve a situação deste povo como ‘estando como ovelhas sem pastor’. E lhes
falou, os ensinou e lhes providenciou comida e provavelmente água também (Marcos 6.30s). Assim sinto o povo hondurenho após o golpe”. Pa. Dra. Rosane Pletsch Tegucugalpa/HONDURAS
Conta uma testemunha ocular de Nova York: Num dia muito frio de dezembro, há alguns anos atrás, um rapazinho de mais ou menos 10 anos, descalço, estava em pé na frente de uma loja de calçados, olhando a vitrine e tremendo de frio. Uma senhora se aproximou do menino e disse: – Você está com pensamento tão distante, olhando essa vitrine! – Eu estava pedindo a Deus para me dar um par de sapatos – respondeu o menino... A senhora tomou-o pela mão, entrou na loja e pediu ao balconista para dar meia dúzia de pares de meias para o menino. Ela também perguntou, se poderia conseguir-lhe uma bacia com água quente e uma toalha. O balconista rapidamente a atendeu e ela levou o garoto para os fundos da loja e, tirando as luvas, se ajoelhou e lavou-lhe os pés e os secou com a toalha. Nesse meio tempo o vendedor havia trazido as meias. Calçando um par nos pés do menino, ela também lhe comprou um par de sapatos. Ela amarrou os outros pares de meias e lhas entregou. Deu um tapinha carinhoso em sua cabeça e disse: – Sem dúvida, vai ser mais confortável agora. E se virou para ir. Mas o garoto segurou-lhe a mão, olhou diretamente em seu rosto e, com lágrimas nos olhos, perguntou: – Você é a mulher de Deus?
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Lá no Morro do Chapéu P. Renato Luiz Becker
Corria o ano de 1987. Naquela época eu trabalhava como pastor em Cruz Alta (RS) Meu dia-a-dia estava sempre repleto de atividades. Meus filhos cresciam meninos. Minha esposa mostrava-se engajadíssima nas coisas da vida. Meu vigor aflorava em meio aos 33 anos de idade. Chamavam-me de criativo, comprometido com o novo. Naquela época nós, as ministras e ministros da IECLB, dávamos tudo de nós para momentos de comunhão. Lembro que eu amava por demais aqueles reencontros de três dias com meus amigos e colegas na Casa de Retiros, em Sapucaia do Sul. Sim, eu iria viajar em torno de 600 km com o ônibus da Ouro e Prata. Organizei minha saída da Comunidade Luterana. Comprei a passagem e, depois de despedir-me dos meus, embarquei à meia noite numa viagem que duraria seis horas. Dentro de mim estava tudo muito claro. Eu viajaria até Porto Alegre. Uma vez lá, viajaria de carona com ex-colegas da Paróquia Matriz, onde trabalhei como Pastor Auxiliar, no início dos anos 80. Bons sentimentos iam brincando dentro de mim quando nosso ônibus estacionou na rodoviária de São Leopoldo, à margem esquerda do Rio dos Sinos. O céu não estava mais escuro e sim muito azul. O sol começava a esquentar a manhã daquela primavera. De volta à BR 116 vi, pela janela do coletivo, a antiga fábrica de artefatos plásticos onde meu pai trabalhava em 1967. A vida tinha sido dura conosco naqueles
tempos. Estávamos sem dinheiro. Lembro que a minha primeira refeição do dia resumia-se a uma banana, uma xícara de café preto e um pão com melado. Meus pais viviam uma enorme crise matrimonial. Meus irmãos menores não percebiam o drama familiar. Eu estudava no Ginásio da Paz, pertinho da ponte do Rio Guaíba em Porto Alegre. A mensalidade do Colégio já estava atrasada mais de meio ano. O diretor da escola já tinha me chamado ao seu gabinete para uma conversa téti-a-téti. Meus sapatos estavam com a sola furada e minha mãe juntava todos os “troquinhos” para eu poder ir e vir, diariamente, nos velhos ônibus verdes da empresa Central. Confesso que me envergonhava diante dos meus colegas por causa da situação vivida. Meu professor de Português marcou-me muito naquela época. Ele parecia desconsiderar minha classe social. Convidava-me a participar das pequenas peças teatrais que ele mesmo escrevia. Levava-me a sério nas minhas dificuldades. Desafiava-me a ler os livros da biblioteca. Exaltava minhas virtudes diante da classe. Por tudo isso, acabei tomando-o como um modelo para mim. Nunca me esqueço de um passeio organizado por ele, ao Morro do Chapéu. Saímos da Escola bem cedinho, com destino à cidade de Esteio. De lá, a pé, nos deslocamos ao referido Morro. A cerração era fortíssima. Foi uma caminhada inesquecível. Ainda lembro o nome de alguns dos colegas. Agora, da minha viagem eu divisava o
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tal Morro. Vinte anos tinham se passado. Olhei para a minha mala e não titubeei. Iria repetir aquela caminhada. Assim, sem muito refletir, fiz sinal ao motorista de que iria descer. Desci numa das paradas de Sapucaia do Sul e, de mala em punho, saí cortando caminho por entre as vilas, os “pombais” da hora. Caminhei muito. Eu estava forte, suando. Sim, eu iria terminar aquela empreitada. Andei, andei, andei... Num dado momento comecei a me distanciar das casas populares. Sim, era aquele o caminho. Mas, que estranho! Não havia movimento na estrada que se mostrava abandonada, já há alguns anos. Aqui e ali cresciam arbustos no meio da mesma. Perguntei para um senhor que capinava seu pedaço de chão, sob o sol quente, logo ali próximo ao barranco. Ele me informou que o velho caminho estava impedido. Que logo ali à frente havia uma cerca de arame farpado. Que o atual dono não queria que invadissem suas terras. Que era melhor eu voltar.
Refleti um pouco sobre a informação, mas mesmo assim, teimoso, segui em frente. Tinha gastado muita energia para dar meia volta, sem mais nem menos. Com cuidado, atravessei a cerca com seus “espinhos de aço”. Caminhei por dentro do mato. Confesso que fiquei com medo de encontrar alguma cobra. A decisão de voltar ficava cada vez mais difícil. Lá ao longe eu conseguia ouvir o latido de alguns cães. Segui em frente, me esgueirando por entre a vegetação que tinha tomado conta daquele caminho que, outrora, eu tinha trilhado com meus colegas da escola. Naquelas alturas eu já não sentia mais prazer na minha aventura. Estava um pouco irritado comigo mesmo. Que bom! O dito morro parecia mais próximo. A vegetação foi escasseando e o caminho se redefinindo. Assim, fui percebendo que estava dentro de uma propriedade particular. Apressei o passo. Queria sair dali o mais rápido possível. De repente, um grito muito rouco e raivoso: - Alto lá!
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Virei-me para o sujeito que gritava e vi que empunhava um facão. Dei meia volta e fui ao seu encontro, sem largar da minha mala. Ele, com o enorme “três listras” em riste, me ouvia deixando escapar chispas de ódio dos seus olhos. Expliquei-lhe que era pastor da Igreja. Ele se fez de desentendido. Expliquei-lhe que eu, profissionalmente, desempenhava as mesmas funções que um padre da Igreja Católica. Mostrei-lhe minha Bíblia. Deixei claro que não carregava nenhuma arma. O fato é que eu estava com a adrenalina alteradíssima. Minha boca estava seca. Depois de muita conversa, pediu que seguisse em frente. Ficaria atrás de mim. Por uns quinze minutos, caminhamos em silêncio. Pela sombra que o homem projetava à minha frente, percebi que seu facão ainda permanecia em posição de ataque. Deduzi que aqueles poderiam ser meus últimos minutos de vida. E se o caminho que seguíamos não conduzisse para fora da propriedade? Comecei a pedir a ajuda de Deus, em silêncio. De repente, a rua. O caminho novo. Mas antes dele, um enorme portão fechado com cadeado. Para cuidar do dito cujo, uma pequena família que morava num casebre ao lado. O sujeito do facão explicou a situação ao porteiro e este, desconfiado, trocou algumas palavras com sua mulher. Depois disso, abriu o cadeado girando a chave sem tirar os olhos de mim. Saí procurando dar passos seguros. Enquanto me afastava, não ousei olhar para trás. Segui em frente. Eu queria chegar ao meu destino. O Morro parecia per-
to. Logo notei que havia perdido o meu melhor casaco. Que importava? Eu tinha tido a chance de uma nova vida. Comecei a caminhar ligeiro. Depois de uns quinhentos metros, corri até perder o fôlego. Nisto, ouvi o ronco do motor de um automóvel. Era um dos meus colegas que vinha motorizado ao mesmo encontro. Freou o carro e ofereceu-me carona. Perguntou-me pelo por que da minha palidez. Depois de me ouvir, deu meia volta no carro. Fomos reclamar o casaco perdido. Ao estacionarmos em frente ao portão, fomos atacados pelo sujeito que me acompanhara até o mesmo. Embarcamos no carro e fugimos em disparada. Contei a minha história num e noutros círculos. Fiquei sabendo que ali agora era um lugar muitíssimo perigoso. Que algumas quadrilhas da grande Porto Alegre usavam aquelas terras para desmanche de carros roubados. Que já haviam acontecido assassinatos e “queimas de arquivo” ali naquelas paragens. Que mais uma vez, Deus tinha cuidado de mim. Hoje, vinte e seis anos depois, fico a pensar: e se o sujeito tivesse “me apagado”? Só depois de quatro ou cinco dias é que a minha família iria perguntar por mim. Os colegas reunidos simplesmente imaginariam que eu tivesse desistido do encontro e não se dariam a maiores preocupações... Memórias que hoje, resolvi repartir no Anuário Evangélico. O autor é pastor da IECLB e atua na Paróquia São Mateus em Joinville/SC
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Memórias de uma fuga durante a guerra Elfriede Rakko Ehlert
Foi em setembro ou início de outubro de 1943 que começou a nossa peregrinação da Ucrânia para a “pátria” Alemanha. Naquele momento as tropas russas se aproximavam cada vez mais do “front” (durante a segunda guerra mundial). As tropas alemãs tiveram que recuar. Então todos os “alemães – russos” foram deslocados para o “Reich”, com o auxílio dos militares alemães. Se não concordassem, eles seriam deportados pelos russos para a Sibéria - para a morte certa. Carroça atrás de carroça se movimentava num longo “Treck” (caravana) em grande monotonia, que parecia não ter fim. Nossa família participava com duas carroças. Meus pais, meu irmãozinho e
eu íamos numa delas e meus avós e a tia Olga, noutra. Para uma criança é difícil gravar todas as etapas de uma tal “aventura” involuntária. Realmente são “flashes” que ficaram na memória, sem fixar detalhes, por exemplo, dias ou semanas. Nem meu pai, nem meu avô estavam habituados a lidar com cavalos. E naturalmente também não sabiam como alimentá-los corretamente. Numa das primeiras paradas o pessoal ficou em grandes galpões. Os cavalos, super cansados, ficaram lá fora. As nossas carroças não só estavam carregadas com frutas secas para nós, mas também com aveia e cere
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ais para os nossos fiéis puxadores. Querendo o melhor para eles, meu pai logo lhes deu comida e água à vontade. Suados, ofegantes e famintos como estavam, quase se jogaram em cima do trato. Ainda durante a noite e na manhã seguinte notou-se um comportamento estranho neles. Ficaram com a barriga estufada e morreram. Morreram três dos seis cavalos que tínhamos para as nossas duas carroças. Que desespero! Onde achar substituição, num lugar estranho? E pagar com que dinheiro? E tinha que ser rápido, pois a viagem tinha que continuar dentro do “Treck”, senão estaríamos perdidos. Não se poderia dispensar a orientação do chefe desta caravana. Meu pai e meu avô saíram à procura de outros cavalos para comprar. Mas a primeira tentativa foi em vão. Foram ainda a outros lugares. Finalmente retornaram com um cavalo velho, ossudo, quase sem músculos e carne. Mas era um cavalo, e assim pudemos acompanhar o “Treck”. Com tempo ameno, tudo bem. Mas em dias de chuva, estradas de lama... Nem mesmo as crianças se divertiam com uma viagem dessas. Piores foram as noites em barracos de madeira, quando atravessávamos o território da Polônia. Que alegria depois de carroças, carroças, carroças, finalmente poder dormir em cama beliche! Seria o máximo. Assim pensamos inicialmente! Mas que decepção! As camas estavam tão infestadas de percevejos famintos, que dormir – nem pensar! As mordidas ou picadas eram tão ardidas como eu nunca as havia sentido antes. Não podíamos acender a luz para não chamar a atenção
dos aviões inimigos. Mas tínhamos velas. Com elas eu queimava os tais bichinhos. O cheiro típico ainda hoje sinto no nariz. Piolhos e percevejos eram, desde então, os nossos fiéis acompanhantes. Tenho que dar parabéns à organização dos alemães. Havia postos - não posso dizer de saúde -, postos de higienização para nos livrar destas pragas. Separados em ala masculina e feminina, tínhamos que tirar a roupa e então eram dedetizados as roupas e todos os nossos pertences. Também este cheiro ainda está impregnado em meu nariz. Até as nossas passas, e outras frutas secas ficaram com gosto ruim. Mas eu as comia assim mesmo. E desta maneira fomos adiante, atravessando quase toda a Polônia. Eu gostava de ficar na carroça dos meus avós e da minha tia, pois o meu “Opa” contava histórias do Antigo Testamento. Parece que ele gostava da história de Abraão e Sara e a visita dos anjos. Eu ficava fascinada. Pareciam contos de fada. Anjos entrando e saindo! No leste europeu o inverno chega cedo. Ventos frios começaram a soprar. Muitos migrantes perderam seus cavalos. À margem da estrada jaziam os seus cadáveres. Pessoas adoeceram e tiveram que ficar para trás. Então recebemos a ordem de juntar os nossos trecos e embarcar num trem de carga; mais precisamente num trem de carregar gado. Cada qual procurou um cantinho protegido no vagão para sentar e dormir. Cada um vigiava o seu “terreno”, pois, para aqueles que haviam perdido tudo, o único bem agora era um lu
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garzinho num trem de transporte de gado. Os ventos uivavam e nenhuma coberta era suficiente para nos aquecer. Aí colocaram no meio do vagão um tipo de forninho para o aquecimento. Mas fazer fogo com que? Os homens tiveram que se revezar para “organizar” (este era o termo usado) carvão. Era expressamente proibido roubar carvão – tempo de guerra é tempo de escassez de tudo. Mas fazer o que? Pelo menos fomos poupados de morrer por congelamento! Uma vez por dia, numa parada do trem, ganhávamos uma sopa. Ralinha, com gosto horrível. Mas pelo menos era quentinha. No mais, era pão seco e nossas frutas secas: peras, maçãs, damascos, que meus avós haviam trazido. Depois de algum tempo no vagão de gado, aconteceu um milagre. O nosso “Treck” teve o privilégio de ser transfe-
rido para um trem de passageiros, que até poltronas tinha. E calefação! Agora eu não queria mais sair daquela fofura. Finalmente chegamos ao nosso destino: Burgstädt na Saxônia (Alemanha). Num grande salão de cinema foram alojadas aproximadamente 100 pessoas. Cada família (nós éramos quatro) ganhou beliches. Ó festa! Eu escolhi dormir lá em cima e pude olhar lá de cima o que acontecia em volta. Este foi o nosso primeiro lugar fixo, depois da longa peregrinação. Entrementes era quase Natal. Lembro-me de um passeio pela cidade à noite com meus pais e meu irmão: Um silêncio, uma limpeza depois do caos vivido durante três meses! Como era bom. E Burgstädt ainda não havia sido bombardeada pelos americanos e ingleses... A autora é professora aposentada e artista plástica. Nasceu na Ucrânia e hoje reside em Curitiba/PR
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Missão junto à criança P. Dr. Manfredo Carlos Wachs
Vivência da espiritualidade entre as gerações de fé Há inúmeras passagens bíblicas para basear a nossa reflexão sobre a importância do trabalho com crianças na IECLB e em todas as Igrejas Cristãs. Eu quero optar por um texto, sem, desconsiderar a importância dos demais. Entretanto, antes de apresentar e refletir sobre uma passagem bíblica, desejo apresentar um desafio. É na verdade uma provocação que quer produzir uma inquietação: Se as comunidades/paróquias não realizarem um forte investimento, um planejamento minucioso de longo prazo, uma precisa capacitação de pessoas e não estabelecerem a Missão junto à Criança como uma prioridade no trabalho comunitário, não haverá mais Igreja Luterana daqui a 50 anos. Cuidem para não me entenderem errado. Eu não penso que devemos investir no trabalho com as crianças para garantir o futuro da Igreja, e nem estou com receio ou angustiado que isto aconteça. O meu foco de desafio é bem outro. Eu estou apresentando este desafio, esta provocação, pois acredito, sim, estou convicto que o trabalho junto às crianças é um mandamento de Deus. Não entendo, contudo, o mandamento como uma lei que prescreve punição se não for cumprida, mas sim, como a expressão da vontade de Deus, como um mandato entregue por Deus a cada uma das pessoas adultas. Este mandato, esta delegação de autoridade não é
entregue somente aos pais e padrinhos a estes também e de modo especial -, mas a todas as pessoas da comunidade. Este mandato faz parte do nosso conceito luterano de sacerdócio geral de todos os crentes. Este mandato não deve ser compreendido como uma mera obediência à promessa realizada no dia do Batismo de alguma criança. O cumprimento deste mandato deve ser assumido como uma forma de testemunho de fé. Este mandato de Deus nos faz lembrar uma parte do versículo bíblico de Mateus 28.19-20, em que Jesus declara que recebeu a autoridade de Deus e, por isto, envia os discípulos e todas as pessoas cristãs para testemunharem os feitos de Deus e ensinarem o Evangelho. Assumir este mandato não deve ser considerado como uma tarefa que tem dia e hora para iniciar e terminar. Não é uma tarefa na qual se assina o livro-ponto de uma fábrica ou se protocola um documento num cartório. A realização da tarefa deste mandato pode ser compreendida como algo que faz naturalmente parte do dia a dia da pessoa, que integra o cotidiano do nosso viver. O cumprimento deste mandato é como se fluísse em nosso sangue, fizesse parte da nossa pele. Como algo que sempre estivesse conosco. Estivesse tão presente em nossa vida que a gente nem estranhasse a sua presença. A Missão junto à Criança deve ser compreendida como parte do nosso testemunho de fé, da vivência da nossa espiritualidade, como resposta à graça de
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Deus presenteada no Batismo, como um ato de gratidão por todas as bênçãos recebidas de Deus. O Salmista declara: O que ouvimos de nossos pais, nós contamos a vós outros (Salmo 44.1). A Missão junto à Criança é a expressão do nosso testemunho de fé de contarmos os feitos de Deus, as maravilhas das obras de Deus às gerações futuras. No meu entender, este é um dos centros da nossa tarefa educativa como comunidade, como família. Como comunidade cristã, nós precisamos encontrar e criar as mais variadas formas e mais adequados espaços para realizarmos a Missão junto às Crianças. O Culto Infantil, no seu surgimento, era o espaço e o lugar adequado para ensinar o Evangelho de forma acessível às crianças. Era a atividade comunitária que reunia as crianças. Nós podemos entender, portanto, o Culto Infantil como o lugar da vivência da fé, do cultivo da espiritualidade da criança através do canto, da oração, da dança litúrgica, da narração de histórias bíblicas e sua interpretação de forma criativa e interativa. Entretanto, atualmente, eu penso que não devemos mais compreender e nem restringir o Culto Infantil ao horário do culto dominical ou mesmo a um horário específico e restrito de sábado à tarde.
Eu quero compreender o Culto Infantil como todo e qualquer lugar onde o Evangelho de Jesus Cristo é ensinado através de histórias, músicas, orações e brincadeiras bíblicas. Seja debaixo de uma árvore. Seja ao lado da cama, antes dos filhos adormecerem. Seja no carro ou ônibus, numa oração de agradecimento a Deus depois de uma viagem nestas nossas estradas tão perigosas. Seja diante de um prato de comida, como gratidão pela refeição. A disponibilidade de inúmeros bons livros com histórias bíblicas para crianças tem permitido que familiares os adquiram para as crianças. Entretanto, estamos perdendo a riqueza de parar para contar e/ou ler uma história para as crianças. Eu acredito que para o cultivo da espiritualidade da criança, o mais importante não é a leitura de uma história em si, mas o tempo que dedicamos para ficar ao lado da criança ou, então para tomar a criança no colo e lhe contar uma história. Na dedicação deste tempo está a riqueza do nosso testemunho de fé para as gerações que nos sucedem. A criança percebe, quando nós temos tempo para ela, que ela é importante naquele instante, pois apesar das inúmeras atividades que o adulto tem, foi reservado um tempo para contar ou ler uma história bíblica. O autor é pastor da IECLB, diretor e professor do ISEI em Ivoti/RS, professor da Faculdades EST e reside em São Leopoldo/RS
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Missão Zero dando certo: O exemplo do Sertão Nordestino Miss. Airton Härter Palm
O objetivo da MISSÃO ZERO é alcançar pessoas com o Evangelho, envolvêlas com o amor de Deus e, a partir delas, formar Comunidades Luteranas em cidades onde, a princípio, não há trabalhos, nem membros da IECLB. Ela assume como lema o que lemos em Romanos 15.20: ...esforçando-me deste modo por pregar o evangelho, não onde Cristo já fora anunciado. Procura por um local de missão Em 1999 e 2000, após o contato com representantes do Sínodo Brasil Central e a ajuda da experiente agência missionária inter-denominacional e paraibana chamada JUVEP, a ideia de abrir uma nova frente de missão na região nordeste do país foi amadurecendo. A região escolhida foi o encontro dos estados de Pernambuco, Piauí, Ceará e Bahia, “o coração do nordeste”. A Missão Zero logo aprendeu a priorizar cidades ou bairros com baixo índice de evangélicos, ou então carentes de igrejas capazes de crescer significativa e relevantemente. Como resposta de oração, os projetos têm contemplado cidades que são base para uma posterior investida em outras localidades próximas, ainda mais carentes da presença de cristãos convictos. A atuação missionária começa Assim, depois de devidamente pesquisa-
do, planejamos e oramos pela instalação, em 2001, de um projeto em Araripina/PE. Araripina era uma cidade com mais de 70.000 habitantes, com menos de 2% de evangélicos. Em nossa primeira experiência de missão no sertão nordestino, mais de 100 pessoas provenientes de diferentes comunidades e lugares do Brasil, participaram do projeto missionário. Após um mês de intenso trabalho de evangelização de casa em casa e em praça pública, foi levantada ali uma igreja. Um saudável choque cultural Depois de alguns dias nesse novo chão, aconteceu o inevitável - e creio saudável - choque cultural. Muitas vezes fomos perguntados: Você fala nossa língua? Diante disso a gente se sente como estrangeiro. E isto muitas vezes é associado a explorador. Outros detalhes também chamaram a atenção em Araripina, como a carência de água, a falta de forro e de janelas nas casas. E isso sob um sol estorricante e um clima tipicamente semiárido. Em 2002, chegamos em Crato/CE, cidade com 104.377 habitantes. Causou-nos surpresa a quantidade de ônibus e caminhões, que vêm ao sul do Ceará, trazendo os “afilhados do PADIM CIÇO” em romaria para junto da estátua de 35 metros de altura do padre CÍCERO ROMÃO, excomungado pela igreja e ex-prefeito de
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Juazeiro do Norte. São romeiros de perto e de longe, que vêm para idolatrar o “cearense do século XX”. Então, a partir de Crato, começamos com estudos bíblicos num bairro de Juazeiro do Norte e em 2003, realizamos mais um projeto missionário, nesta cidade de aproximadamente 250.000 habitantes. A dura realidade deste celeiro de idolatria, que é Juazeiro do Norte, chocou e entristeceu os “evangelistas” que vieram de fora. É impossível permanecer indiferente ao que se vê e ouve por lá (Atos 17.16). Só aos poucos eles puderam entender o quanto a idolatria já é cultural. Então, em 2004, enveredamos para o Piauí. Este estado é um dos mais pobres do Brasil. O êxodo rural que tem acontecido faz com que Teresina seja uma das capitais que mais cresce no país. Em seus bairros, vivem muitas pessoas por domicílio. Dividir as casas para mais de uma família é a solução para desempregados e subempregados. As igrejas têm chegado tarde, e ainda existem grandes bairros onde não se encontra nem igreja Católica, nem Assembleia de Deus, ou qualquer outra igreja cristã. Em 2005 fomos a Ouricuri/PE; em 2006 a José de Freitas/PI; em 2008 a Petrolina/ PE e em 2009 a Juazeiro da Bahia. Em Crato surgiu uma segunda comunidade e em Teresina, em 2010, também. É algo indescritível, ver estas igrejas nascendo. Algumas dessas cidades, sem ou com pouca herança cristã, assustam quem nelas chega. São comuns as histórias de desmando e corrupção política. O resultado é que analfabetos e doentes em vários sentidos, proliferam. Os coronéis de
ontem mudaram de nome, mas eles estão por toda parte, solidificando a desigualdade social. A facilidade de matar ou morrer revela que ali a vida vele pouco. Numa das cidades ouve-se dizer que mais de 10% da população está direta ou indiretamente envolvida com drogas. Enfim, este é o campo de missão. Também na fase de consolidação de uma nova comunidade, a visita é parte fundamental. E aí temos visto de tudo. Nas casas, vemos gente passando fome e muitos analfabetos. Vemos ruas interrompidas pelos buracos e com a falta de saneamento básico, é como se um lixão invadisse a vila (às vezes isso é literal). Pior ainda, quando os traficantes assumem ou detêm o comando, ou quando o “domínio territorial” é das “forças espirituais do mal”. Seguindo o modelo de atuação de Jesus, estas novas comunidades querem e estão acolhendo com humildade e gratidão diferentes tipos de marginalizados da sociedade e das próprias igrejas estabelecidas, no esforço de ganhar pessoas para Jesus (1 Coríntios 9.22). Neste trabalho também temos visto conversões nas casas, em praças e templos. Tudo ainda é insipiente e tímido. É natural o envolvimento diaconal , que se concretiza em reforço escolar, na recuperação de dependentes químicos, na geração de renda, na construção de casas e também de cisternas , tudo de acordo com as possibilidades e necessidades e, visando claramente, construir comunidade evangélica. Como resultado desse empreendimento, existem muitos ricos testemunhos. Aliás, uma igreja sem pessoas e suas histórias
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com Deus não tem sentido, é muito pobre. Mas o Senhor está fazendo mais... Você vai concordar que é raro o que aconteceu no Crato e em Araripina, onde do “Zero” surgiram comunidades, que após 2 e 3 anos, respectivamente, construíram seus próprios templos. Entrementes também construíram as casas para seus obreiros. Tudo muito simples e bonito, bom e barato e por isso com uma impressionante participação financeira local. Isto vai a tal ponto que Araripina já atingiu sua autonomia financeira. Outras comunidades estão no mesmo caminho. Claro que a edificação de uma igreja só tem futuro se mais do que física, ela for espiritual. Pessoas se comprometem e assumem liderança Em toda a missionária do sertão nordestino, hoje já temos mais de 400 pessoas que são membros comprometidos. São ao todo nove comunidades e vários pontos de pregação iniciados, e normalmente dirigidos por lideranças autóctones. Aliás, além do evangelismo e da diaconia, a capacitação de lideranças tem sido enfatizada. Existe um programa de educação teológica para seus membros, o “ETD - Em Tempo de Discipulado”. Mais de 100 pessoas já estudaram sua série de 10 livros, em reuniões semanais. Outro espaço de capacitação é a Escola Bíblica. Em razão dela, cada estudante montou um projeto missionário local. Dez dos
estudantes optaram em continuar sua formação missionária para abraçar outros campos. A experiência da Escola Bíblica vai se repetir a partir de 2011. Enquanto isso, na ”retaguarda da missão” está ocorrendo uma grande mobilização. Gente mobilizando gente e comunidades para orar, para contribuir e também para ir. Iniciativas locais de evangelismo têm surgido, fruto da experiência que as pessoas trazem dos projetos missionários. Quando a igreja atende seu chamado e se deixa enviar, ela também é impactada e abençoada. A visão missionária é alargada e o coração é um pouco mais da outra cultura. Toda essa paixão de uma cultura diferente contribui para o enriquecimento da igreja. Estilos musicais, liturgias, estruturas precisariam ser repensados. Na verdade isso tudo nos desafia a sair dos nossos conceitos formatados e olhar para além de nós mesmos. Outras fronteiras, também internacionais, estão à frente. Agora estamos como MISSÃO ZERO, envolvidos no envio de dois missionários para o exterior. Os confins da terra clamam. Novos passos precisam ser dados. Novos temores, novas lutas e inseguranças. Novas oportunidades de experimentar a direção e o cuidado de Deus. Enfim, nós queremos continuar temendo e servindo fielmente ao Senhor, pois o mandato é claro e o clamor é grande. O autor foi missionário no Sertão Nordestino de 2001-2008. Desde 2009 é diretor executivo do Movimento Encontrão
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Nasce em Laguna uma Comunidade da IECLB P. Adelmo Oscar Struecker
“Portanto irmãos, rogo-lhes pelas misericórdias de Deus que se ofereçam em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus; este é o culto racional de vocês” (Romanos 12.1). “Daniel, contudo, decidiu não se tornar impuro...” (Daniel 1.8). Os versículos citados acima foram e continuam sendo desafiadores para todos aqueles que um dia já tiveram um encontro com Jesus. Pela misericórdia revelada por Jesus, somos convidados a de novo nos oferecermos a Deus, reconhecendo que para isso fomos criados. Assim como o profeta Daniel, que entregou sua vida em obediência a Deus. A IECLB, através da Missão Zero, e o Sínodo Centro-Sul-Catarinense realizou um Projeto Missionário nos dias 18 a 31 de julho de 2009 na cidade de Laguna/ SC. Nós estávamos convencidos: Deus tem um propósito com esta cidade. Ele ama os lagunenses e os quer ver integrando o Seu Reino. Laguna é uma cidade com 47.568 habitantes, próxima 30 km de Tubarão, 69 km de Criciúma e 110 km de Florianópolis. Famosa por suas belas praias, como o Balneário Mar Grosso e os Molhes da Barra. Laguna é também conhecida por sua relevância na história do Brasil. No centro da cidade há um marco lembrando o Tratado de Tordesilhas firmado entre Portugal e Espanha, pelo qual dividiam as ter-
ras descobertas e por serem descobertas e conquistadas. Além disso, Anita Garibaldi, uma das mulheres mais importantes da história do sul do Brasil, era natural de Laguna. Laguna tem um pequeno número de evangélicos e não tem nenhuma Igreja Luterana. Todas estas razões nos levaram a escolher esta cidade para receber a IECLB. O que fomos fazer lá? Fomos plantar uma igreja! De dia visitamos os lares e à noite celebraremos cultos evangelísticos na Tenda da Esperança, montada num terreno na cidade de Laguna. Cada participante do projeto pagou a sua própria inscrição. Todos ficaram alojados em uma escola, dormindo no chão, sobre colchões. Deus abençoou ricamente o nosso Projeto Missionário nesta cidade. Muitas pessoas ouviram o Evangelho e receberam a oportunidade de serem reconciliadas com o Pai através de Jesus Cristo. Somos imensamente gratos às Paróquias e aos Conselhos Paroquiais que liberaram e incentivaram os seus Obreiros, Estagiários e PPHMistas para participarem desta iniciativa missionária. Depois da saída dos vermelhinhos (assim eram conhecidos os participantes do projeto) os estudos e as visitas continuaram. A frequência nas programações tem nos
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alegrado muito, principalmente a frequência de crianças, adolescentes e jovens. Também estamos acompanhando e fazendo estudos com os casais.
Alguns dos integrantes do projeto, após a visitação, permaneceram em Laguna, ajudando a Igreja que está nascendo a dar seus primeiros passos.
Num dos primeiros cultos veio um homem chamado Israel, o qual chegou chorando dizendo que estava cansado da vida. Ele tinha sido muito rico; e não acreditava em Deus. Porém, perdeu tudo. E, ao passar em frente à igreja, viu o versículo citado acima. Entrou, e neste culto ele se converteu. E, no final, testemunhou que estava sentindo algo que nunca havia sentido antes. Então decidiu voltar para a família em sua cidade e recomeçar a vida.
Após meses de atividades, estamos acolhendo o primeiro grupo de membros. Além da programação regular, da qual faz parte o Culto Dominical, o Culto de Oração, o Trabalho com Crianças, Adolescentes e Jovens, muitas visitas e aconselhamentos tem sido feitos. Inúmeros Estudos Bíblicos em casas que se abrem para a proclamação do Evangelho. Os primeiros que foram acolhidos como membros da IECLB, fizeram o Curso de Profissão de Fé utilizando-se do material do Sínodo. Assim se forma uma Comunidade, uma Igreja. Somos gratos a Deus por esta iniciativa.
E de modo semelhante muitas outras mudanças de vida se repetem a cada semana. Percebemos, ao longo da caminhada, muita desconfiança em relação às Igrejas Evangélicas de um modo geral. Algumas delas deixaram um testemunho negativo na cidade.
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O autor é pastor em Rio do Sul/SC e Vice-Pastor Sinodal do Sínodo Sul-Catarinense
O lugar de Deus num mundo sem Graça P. Dr. Oneide Bobsin
“O homem é todo-poderoso, se sua vontade for bastante forte. Pode criar-se a si próprio. Pode escolher ser corajoso, ilustre, rico, influente ou não”. Esta frase tem mais de 500 anos. Foi dita por um filósofo que viveu o final de sua vida no período da infância e juventude de Lutero. Ele quis debater suas teses em Roma, mas o papa declarou suas ideias heréticas. Falsa ou verdadeira, a frase de Pico della Mirândola antecipou o que grande parte de nosso mundo viveu nos últimos quinhentos anos. A ideia de que os seres humanos criar-se-iam a si mesmos, sem nenhuma força divina, é chamada de modernidade. Acreditou-se que por meio das descobertas técnico-científicas e pela força da política e da economia não só se construiria um novo ser humano, forte, poderoso, ilustre, mas uma sociedade sem crenças, crendices, sem religião. E profundamente justa. Os que acreditaram em si e nas forças de suas obras e descobertas viram-se desamparados no século XX: o século de duas grandes guerras mundiais, da política do comunista Stalin que matou milhões de comunistas, do nazismo de Hitler e de tantas outras violências em massa. E por que não dizer que os seres humanos criaram um mundo de prazer que se sufoca nos gases que saem de nossos automóveis e aviões. Hoje, novas organizações religiosas, cujos programas varam as madrugadas das pessoas com preocupações e insôni-
as, convidam os que sofrem com doenças, problemas de relacionamento, falência de suas empresas, entre tanto outro sofrimento, a virem para os seus cultos. Elas prometem que ali os lideres religiosos vão determinar o que Deus vai fazer. Deus ou o Espírito Santo modificará as vidas sofridas, a partir de um comando do ser humano revestido de poder, daquelas pessoas que buscam desesperadamente parar de sofrer. “Deus virou um escravo das pessoas”, disse-nos um teólogo que está se confrontando com sua igreja que prega o sucesso como sinal de bênção. Ele quer fazer doutorado na Escola de Teologia de nossa Igreja a fim de contestar sua própria denominação religiosa. Em outras palavras, Deus faz o que os seres humanos desejam. Isto está sendo chamado de Teologia da Prosperidade. Quais os outros traços do rosto desta forma de enfrentar os problemas, usando Deus como um mandalete ou escravo? O alicerce desta religiosidade moderna e convidativa é o sacrifício. Agora não se sacrifica mais um cabrito ou outro animal, como no Antigo Testamento, ou como em outras formas de religião de nosso país. Para mover o coração de Deus a fim de que Ele faça o que eu desejo, o animal é substituído pelo dinheiro, o senhor de nosso mundo. Se você der uma grande quantia, o que equivale a um grande sacrifício, Deus dará em dobro ou muito mais. A bênção divina que você experimentará depende do seu sacrifício.
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Em outras palavras, faça-se a minha vontade, senhor! Concordo com aqueles que chamam isto de magia. O outro pilar da Teologia da Prosperidade relaciona-se à ideia de que o presente é o que interessa. O céu, o pós-morte ou a esperança da vinda do Reino de Deus, são desconsiderados. A conquista do presente é o que interessa. Alguém disse que o compromisso com o mundo, com o Aqui e Agora, é bastante sedutor. Lutero criticou as indulgências porque não se compra perdão dos pecados e vida eterna. Não são bens disponíveis em shopping ou no mercado. Com o dinheiro das indulgências a alma saltaria do purgatório para o céu. Assim João Tetzel, o vendedor de indulgências, alardeava. O papa teria o poder divino de definir o destino da alma. Hoje, o que importa é o presente. Não podemos esperar. Com o cartão de crédito compramos o prazer imediatamente e pagamos as prestações a prazo. Esta é a nova forma de dependência; é uma nova droga. Também nestas igrejas há cartões de crédito espirituais e a bênção conseguida tem prazo de validade. Tal mercado, tal religião. Num grande debate Lutero levantou muitas teses. Destaco um delas: Sem a Graça de Deus, a vontade se volta para a lei movida por vantagem própria. A atualidade desta frase de Lutero é impressio-
nante. Ela bate de frente com a Teologia da Prosperidade e nos conclama a anunciar e a viver, como herdeiros e herdeiras de Lutero, a Graça de Deus de forma radical. Certamente, foi e é a ausência do anúncio e da vivência radical da Graça de Deus que permite o surgimento de manifestações religiosas que se pautam pela negociata com Deus, como se tudo fosse marcado pelo toma lá, da cá. Viver da graça e sob a graça é revolucionário. Coloca a sociedade de pernas para o ar. O profeta Isaías teceu um belo texto que expressa a gratuidade da vida. Ele nos convida a viver dela: Ah! Todos que tendes sede vinde à água. Vós, os que não tendes dinheiro, vinde, comprai e comei; comprai e comei, sem dinheiro, e sem pagar, vinho e leite. Por que gastais dinheiro com aquilo que não é pão, e o produto do vosso trabalho com aquilo que não pode satisfazer? Ouvi-me com atenção e comei o que é bom; haveis de deleitar-vos com manjares revigorantes. Escutai-me e vinde a mim, ouvi-me e haveis de viver. Farei convosco uma aliança eterna, assegurando-vos as graças prometidas a Davi (Isaías 55.1-3). O autor é pastor da IECLB e professor de teologia e reitor na Faculdades EST em São Leopoldo/RS
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O rei que queria ver Deus León Tolstói
Havia certo rei, que já tinha vivido e visto muitas coisas. Aí ele, a todo o custo, também queria ver Deus. E como ele exercia seu poder de modo absolutista, ditatorial, ele deu uma ordem aos seus sacerdotes e sábios que lhe possibilitassem realizar este seu desejo. E para tanto lhes deu um certo prazo de tempo.
O pastor levou o rei a um lugar a céu aberto, e lhe mostrou o sol.
Naturalmente ninguém conseguiu atendêlo. E todos já estavam tristes por causa do castigo que o rei iria lhes aplicar. Aí apareceu, vindo do campo, um pastor de ovelhas, que tinha ouvido falar daquela ordem do rei. Ele lhe disse:
- Tu queres que eu fique cego?!
- Majestade, permita-me que eu cumpra o vosso desejo! - Está bem! - respondeu o rei, - mas lembra-te de que a tua cabeça estará em jogo!
- Olhe para ele! - disse o pastor. O rei ergueu os seus olhos e queria fitar o sol. Mas o seu brilho era forte demais, e por isso ele baixou a cabeça e fechou os olhos e disse ao pastor: - Mas majestade! - disse o pastor, - isto é apenas uma parte da criação, uma cópia pálida da grandeza de Deus, uma pequena centelha de uma fogueira de chamas. Como é que vossa majestade quer ver Deus com os seus olhos fracos e lacrimejantes? Procure a Ele com outros olhos. Esta ideia agradou ao rei. E ele disse ao pastor:
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- Reconheço o teu espírito, e vejo a grandeza de tua alma. Mas, responde-me agora: O que existia antes de Deus? Após refletir por algum tempo o pastor disse: - Majestade, não se aborreça com o meu pedido! Mas conte! O rei começou a contar: Um, dois, três... - Não, não assim! - interrompeu-o o pastor, - comece com aquilo que vem antes de um! - Como é que eu posso? Antes de “um” não há nada! – disse o monarca. - Muito sábio o seu argumento, Majestade! - disse o pastor. - Antes de Deus também não existia nada. Esta resposta agradou ao Rei mais ainda que a anterior. E então ele disse ao pastor de ovelhas: - Vou te recompensar regiamente! Mas
antes me responde à terceira pergunta: O que é que Deus faz? O pastor compreendeu que o coração do rei havia se comovido. - Bem, disse ele, - também esta pergunta eu quero responder à Vossa Majestade. Eu só lhe peço uma coisa antes: Vamos trocar as nossas vestes por um breve momento. E ambos trocaram as suas vestes. Aí o pastor disse: - É isto que Deus faz: Ele desceu de seu trono excelso e tornou-se um de nós. Ele dá a nós o que Ele tem, e aceita o que nós temos e somos. Obs. do Redator: León Tolstói foi um famoso escritor russo Extraído de: Familienkalender 2010, pág. 149 – traduzido por P. Dr. Osmar Zizemer
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OASE de Timbó – Mantenedora do Hospital e Maternidade OASE Teresinha Metzker
No ano de 1928 o Pastor Bergold iniciou, juntamente com sua esposa e as senhoras Maria Linder, Auguste Brandes, Gertrud Lorenz e Hildegard Herweg, as primeiras reuniões de OASE em Timbó/SC. Constavam elas de devocionais e cantos e visavam preparar as participantes e fortalecê-las para a vida diária na família e na comunidade. E o objetivo maior era despertá-las para o serviço social. Este grupo de senhoras reunia-se semanalmente para este momento de devoção. E logo elas foram desenvolvendo suas artes em trabalhos manuais e leituras e passaram a divulgar a palavra de Deus. Em 1931 estas mulheres perceberam a necessidade urgente de contratar uma parteira. Pois havia muitas mães com dificuldades com seus filhos após o seu nascimento. Com a intermediação do Pastor Bergold, veio da Alemanha a Diaconisa Schwester Ana, que prestou auxílio às mulheres, atendendo tanto as mães como seus filhos. Em 1932, ela deixou Timbó e foi substituída por Schwester Elsa, que aqui atuou durante 18 meses. Esta por sua vez foi substituída por Schwester Auguste. Essas diaconisas residiam na casa da Sra. Else Piske. Nesta época as mulheres da OASE começaram a construir uma Maternidade em Timbó. Em 12/09/1937 a mesma foi inaugrada com culto festivo. Neste mesmo ano veio para Timbó a Schwester Helene Suess, que permaneceu durante
30 anos nesta cidade, atendendo a todas as famílias do município e região, mães e filhos. Em 1967 Schwester Helene Suess foi honrada com o título de Cidadã Honorária de Timbó. Inestimável foi o auxílio que ela trouxe às mães de nossa comunidade, não apenas como parteira, mas também como testemunha de Jesus Cristo! Em 1963, as senhoras da OASE construíram um Jardim de Infância, que atendia 60 crianças. Em 03/1968 iniciou-se a construção de um Hospital, que foi inaugurado em 09/ 1968 com 8 leitos. O município de Timbó contava agora com Maternidade e Hospital. Mas necessitava de um médico. Através da presidente da OASE - na época a senhora Concórdia Lorenz - veio para Timbó o primeiro médico na pessoa do Dr. Romariz Vollmer Jacques, que até hoje ainda presta relevantes serviços à comunidade. O Hospital e Maternidade “OASE” atualmente é uma associação. Ele tem 68 leitos e nele atuam hoje 65 Médicos – sendo 43 do Corpo Clínico e 22 médicos convidados, atendendo 24 especialidades. Além disso, atuam ali 82 funcionários. O nosso Hospital constitui-se como uma entidade sem fins lucrativos, de caráter beneficente e assistencial, sendo declarado como de UTILIDADE PÚBLICA nos níveis Federal, Estadual e Municipal,
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além de possuir registros no CNAS (Conselho Nacional de Assistência Social), Certificado de Entidade de Fins Filantrópicos e Registro no CRM-SC (Conselho Regional de Medicina de SC), entre outros registros. A OASET (OASE Timbó) é fundadora e mantenedora deste hospital, e sua diretoria, junto com o Conselho Diretor do mesmo – eleito em Assembleia da Paróquia de Timbó – participa da sua administração. Hoje ele é o único hospital de nossa cidade. Somos referência para o CEMUR e municípios vizinhos como: Rodeio, Apiúna, Benedito Novo, Indaial, Pomerode, Rio dos Cedros, Ascurra e Doutor Pedrinho entre outros. As internações acontecem em 80% pelo SUS, e as demais por planos de saúde e particulares. As senhoras da OASE de Timbó com seus 16 grupos - sendo 4 noturnos e 12 diurnos - são incansáveis no servir. Para nós sempre fala forte o amor ao próximo. Efetuamos campanhas em prol de nosso hospital através da conta de energia elétrica, bazar de roupa usada (roupa que recebemos de toda comunidade de Timbó) e com o resultado da venda a preços simbólicos, compramos toda a roupa de cama para o Hospital, edredons, travesseiros, etc. Realizamos campanhas do quilo, nas quais alimentos não perecíveis são doados quando vamos às reuniões da OASE, levando sempre nossa colabora-
ção. Cafés beneficentes são realizados, com doação de doces e salgados pelas senhoras da OASE e profissionais médicos. Assim procuramos contribuir para a manutenção de nosso Hospital. A reciprocidade tem sido a característica maior na relação entre o povo Timboense, a OASE de Timbó (OASET) e o Hospital e Maternidade OASE nestes 77 anos. Sempre falou bem alto o espírito de servir e colaborar, o amor ao próximo. Mas nós não podemos cometer enganos, nem vender uma imagem autossuficiente. Não somos autossuficientes. Sempre necessitamos de auxílio de quem quer que seja. Estamos sempre prestando contas à Comunidade de nossos empreendimentos para manter a nossa credibilidade. E assim podemos dizer: “Obrigado a todos e obrigado a Deus nosso Pai que sempre nos renova, nos dá forças e ânimo para prosseguir”. A autora é presidente da OASET e faz parte da diretoria da Associação Sinodal da OASE – reside em Timbó/SC
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Obesidade Mental Anamaria Kovács
Entre as obsessões de homens e principalmente de mulheres, nos dias de hoje, destaca-se a preocupação, às vezes exagerada, com seu aspecto físico. Para ser considerado(a) bem sucedido(a) na vida, além de possuir bens materiais, como carro do ano – geralmente mais de um – casa própria, televisão LCD com HD, etc., é necessário também ter um corpo “malhado”, com músculos definidos, e, naturalmente, um rosto sem rugas. A beleza física é requisito essencial e inclui, portanto, a forma perfeita.
ceitos do que de proteínas; e mais intoxicada de lugares-comuns do que de hidratos de carbono.” As pessoas viciaram-se em estereótipos, em juízos apressados, em ensinamentos tacanhos e em condenações precipitadas. Todos têm opinião sobre tudo, mas não conhecem nada.
Muitos sacrifícios e dietas são feitas para se adquirir essa perfeição, o que é ótimo para a economia: vendem-se cosméticos, abrem-se academias de ginástica, inventam-se dietas e aparelhos que garantem sucesso em pouco tempo e com pouco esforço. Apesar disso, o número de pessoas com sobrepeso ou até obesidade mórbida aumenta cada vez mais, fruto da vida urbana e de alimentação errada e descontrolada.
Ele acusa jornalistas, romancistas, falsos filósofos, autores de telenovelas e mais uma infinidade de outros, chamados “profissionais da informação” pelo fornecimento dessa “alimentação” ao espírito do público. Critica o enredo de desenhos animados e videojogos pela exploração da violência e pobreza de conteúdo, assim como as telenovelas, onde a sexualidade e a promiscuidade são exibidas sem pudores. As principais vítimas dessa “dieta” mental são as crianças e adolescentes, cujas famílias não controlam o que assistem na TV e ainda lhes compram jogos sem se preocuparem com seu conteúdo.
Porém, para o prof. Andrew Oitke, catedrático de Antropologia em Harvard USA, pior do que a alimentação desregrada e a vida sedentária, é o abuso no campo da informação e do conhecimento. Seu livro “Obesidade Mental”, lançado em 2001, (sem tradução no Brasil), revolucionou os campos da educação, do jornalismo e das relações sociais em geral.
Muito se tem discutido sobre esse assunto, que encontra defensores de ambos os lados. Muitos acreditam que a exposição a esses temas não influencia as mentes em formação. No entanto, basta observar o aumento dos casos de violência nas escolas, em todo o mundo, assim como o despertar da sexualidade em crianças cada vez mais novas, para, ao menos, questionar essa certeza.
Segundo o prof. Oitke, “a nossa sociedade está mais sobrecarregada de precon-
Além de responsabilizar os pais por não orientarem nem controlarem o desenvol
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vimento intelectual e emocional de seus filhos, o autor de “Obesidade Mental” acusa os jornalistas por oferecerem somente o que há de mais abjeto na sociedade como matéria de informação para os adultos. A informação objetiva, segundo ele, cedeu lugar ao sensacionalismo puro e simples, com a exposição de “cadáveres de reputações, detritos de escândalos e de restos mortais das realizações humanas. A imprensa deixou há muito de informar, para apenas seduzir, agredir e manipular”. Para ele, a veiculação das notícias sobre a realidade cedeu lugar à ênfase do lado
polêmico e chocante. Um exemplo recente dessa afirmação, aqui no Brasil, pode ser observado no exagero com que foi noticiado o julgamento do casal Nardoni, acusado do assassinato da menina Isabella. A imprensa não se mostrou isenta, mas assumiu o lado da acusação, exibindo à exaustão a cena do crime, a prisão do casal, suas reações durante o julgamento, etc. Não satisfeita, ainda entrevistou promotor e advogado de defesa, juiz, jurados e familiares dos réus e da vítima. Só faltou, mesmo, a clássica pergunta: “Como se sentiu ao ouvir sua sentença?” Brasileiros de todo o país foram
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praticamente forçados a assistir aos noticiários, enquanto os meios impressos publicavam longas análises de especialistas de diversas áreas sobre detalhes jurídicos e psicológicos do caso: uma espécie de superalimentação nauseante, cujo único remédio é desligar a televisão, fechar a revista e o jornal e passar por alienado ou desinformado. Assim como este, centenas de outros assuntos são tratados dessa forma. O resultado dessa superrinformação sobre banalidades acaba levando, de acordo com o prof. Oitke, a uma falsa impressão do que seja relevante e a uma supervalorização do superficial. Assim, “todos sabem que Kennedy foi assassinado, mas não sabem quem foi Kennedy”, “todos conhecem que Pitágoras tem um teorema, mas ignoram o que é um cateto”. Podemos perceber esse fenômeno também nos programas televisivos de perguntas e respostas, de conteúdo banal e informação superficial, sem falar nas revistas especializadas em fofocas do meio artístico e social, a quem só interessa descobrir se determinado casal está junto ou separado e outros detalhes da vida íntima de seus personagens.
A consequência mais nociva desse conjunto de fenômenos, além da alienação da realidade e do desaparecimento do espírito crítico, é a inversão de valores da sociedade. Por serem tachados de “repressivos” e “controladores”, pais e mães partem para o extremo oposto, tentando ser simplesmente “amigos” de seus filhos e deixando de cumprir seu papel de orientadores e educadores. Sem controle, crianças e adolescentes tornam-se alvo fácil de todo tipo de influência – e nem é preciso entrar em detalhes para saber aonde isso está levando. Quanto aos adultos, a falta de discernimento acaba levando à adoção de certos valores só para não ser diferente da maioria. Assim perpetuam-se preconceitos, porque ninguém tem a iniciativa de formar um conceito próprio – basta repetir o que todos dizem. Esquecem-se tradições, porque não estão na moda. Abandona-se a religião, ou troca-se de denominação porque outros o fizeram, mas sem convicção própria. A cultura e a arte perdem o rumo. Em seu estudo, o prof. Oitke conclui que “o mundo não precisa de reformas, desenvolvimento, progressos. Precisa, sobretudo, de dieta mental”. A autora é jornalista e professora universitária emérita e reside em Blumenau/SC
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Projeto de saúde comunitária no Vale do Taquari Marlene Zizemer Gaede
O Sínodo Vale do Taquari, em parceria com o Centro de Aconselhamento do Pequeno Agricultor (CAPA) trabalha com um interessante Projeto de Saúde Comunitária. Para por este projeto em andamento e mantê-lo andando foram organizados os seguintes grupos de trabalho: • Grupos de Saúde, em cujas reuniões são divulgados e resgatados métodos de tratamentos alternativos de recuperação da saúde com chás, ervas medicinais, alimentação, etc. • Grupos de Produção, onde é ensinada e incentivada a produção ecológica de alimentos para consumo e comercialização; • Grupos de Consumo, onde se procura educar para o consumo consciente, procurando mostrar as vantagens do uso de produtos naturais e ecológicos; • Banca de Produtos, que oferecem e comercializam os produtos dos Grupos de Produção. Nos dias de hoje a discussão gira em torno do agro-business e da produção e industrialização de alimentos por um lado, e da preservação do meio ambiente e da agro-ecologia por outro lado. A argumentação em favor do agrobusiness e da produção de alimentos em escala industrial vem pelo viés da fome no mundo (e no país). E aí se fala na ex-
pansão da fronteira agrícola, na aplicação de novos métodos e técnicas, no uso de novos fertilizantes e produtos para o combate de pragas, etc., na potencialidade de o Brasil assumir o papel de “celeiro do mundo”... Já a argumentação em prol da agro-ecologia procura frear este desenvolvimento unilateral, apontando para reais e/ou potenciais perigos - e questões ainda não comprovadas cientificamente e levantando argumentos em favor de sua linha de atuação. Sabe-se que até o início do século XX conheciam-se cerca de 800 tipos de alimentos, que bastavam plenamente para a alimentação humana equilibrada. Hoje há quase 40.000 produtos alimentícios, e a cada dia a indústria lança novos produtos no mercado. E estes são em sua quase totalidade alimentos sintéticos, ou produtos naturais com aditivos químicos, acrescentados alegadamente para melhorar-lhe a qualidade ou o sabor. Tais aditivos são: corantes, aromatizantes, conservantes, estabilizantes, anti-oxidantes, edulcorantes, espessantes, etc. Eles normalmente vêm especificados nas etiquetas, em letrinha muito miúda... Boa parte destes aditivos químicos têm, comprovadamente, efeito cumulativo no corpo humano, ou ainda não têm comprovação de não serem nocivos à saúde. Segundo pesquisas mais recentes, muitas
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das “doenças modernas” bastante frequentes, como cânceres, arteriosclerose, diabetes, etc., têm sua causa principal em aditivos contidos em alimentos industrializados. Pelo menos existe a forte suspeita de que a presença de elementos sintéticos nos alimentos industrializados pode produzir os seguintes problemas de saúde: • • • •
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Anemia Desequilíbrios hormonais Anencefalia Distúrbios gastro-intestinais como gastrite, diarreia, síndrome de cólon irreversível, diverticulite Ansiedade e hiper-atividade Má formações de feto Deficiência imunológica Leucemia Deficiência mental em bebês Obesidade Descalcificação de ossos e dentes Reações alérgicas variadas
Tudo isto nos deveria levar ao uso preferencial de alimentos naturais, de produção orgânica – sem adubação química, sem agrotóxicos, sem hormônios de crescimento ou de engorda na produção animal, etc. Além disso é importante saber que os produtos ecológicos apresentam níveis bem mais elevados de nutrientes necessários ao corpo humano: • 60% mais Zinco – importante na cicatrização, calcificação óssea. Boas fontes: peixes, aves, fígado, cereais integrais, feijão, nozes, farelo. • 65% mais Cálcio – importante na formação dos dentes e ossos. Boas fon-
tes: gergelim, derivados de leite, girassol, caruru, sardinha, couve, farinha de mandioca, folhas de abóbora, farelos. • 73% mais Ferro – importante na formação da hemoglobina no sangue. Bos fontes: fígado, carnes, gema do ovo, leguminosas, grãos integrais, vegetais verde escuros. • 91% mais Fósforo – indispensável na formação de ossos e dentes; atua na absorção da glicose; ajuda no metabolismo das proteínas, lipídios e glicídeos. Boas fontes: carne bovina, peixes, aves, ovos, leite, nozes e cereais integrais. • 118% mais Magnésio – relaxante muscular, atua no metabolismos de componentes alimentares. Boas fontes: cereais integrais, queijos, nozes, carnes,leite, legumes, vegetais verdes. • 125% mais Potássio – atua na distribuição da água e na manutenção normal da musculatura. Boas fontes: frutas, vegetais, leite e cereais. • 29% menos Mercúrio e menos Nitrato. Maiores informações sobre o Projeto de Saúde Comunitária e contatos com o próprio Sínodo Vale do Taquari, ou diretamente com a coordenadora Marlene Zizemer Gaede por E-mail: maziga@ sinodotaquari.org. A autora é coordenadora do Projeto de Saúde Comunitária de que fala o artigo e também atua como orientadora de Jejuns de Desintoxicação. Reside em Teutônia/RS
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Receitas gostosas Receitas com aproveitamento da Laranja
1 – PÃEZINHOS RÁPIDOS DE LARANJA Ingredientes: - 1 colher de sopa de fermento em pó; - ½ colher de chá de sal; - 3 colheres de sopa de casca de laranja ralada; - ½ xícara de suco de laranja; - 3 colheres de sopa de açúcar; - 2 colheres de sopa de manteiga; - ½ xícara de farinha integral; - 1 ovo para pincelar - Farinha branca até dar o ponto de sovar. Modo de fazer: Junte as farinhas, o fermento em pó e o sal e coloque numa tigela; adicione a casca de laranja ralada e a manteiga; misture até obter uma farofa; faça um buraco no meio desta mistura e despeje o suco de laranja; sove bem a massa e coloque mais farinha se necessário; faça pequenas bolinhas ou corte a massa em rodelas com um copo de 5 cm de diâmetro e coloque numa assadeira, deixando um espaço de 2 cm entre uma e outra. Pincele ovo para dourar. 2 – ROSCAS DE LARANJA: Ingredientes: - 3 colheres de chá de fermento em pó; - 2 xícaras de açúcar mascavo; - 2 colheres de sopa de manteiga; - 3 xícaras de suco de laranja; - 3 ovos; - Farinha de trigo ou de milho até o ponto de massa de bolacha. Modo de fazer: Misture todos os ingredientes, por último a farinha. Faça as rosquinhas e coloque para assar.
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Receitas para colaborar com sua saúde
3 - SOCORRO PARA AS CÃIBRAS Ingredientes: - 1 xícara de Mel; - 1 litro de suco de laranja natural. Modo de fazer: Misturar ambos e tomar esta quantia durante o dia. Repetir por quatro vezes, uma vez por semana. Exemplo: toda a segunda-feira durante um mês. 4 – XAROPE DA VIDA Ingredientes: - ½ quilo de mel; - 5 cebolas médias; - 3 cabeças médias de alho. Modo de fazer: Bater tudo no liquidificador até virar um creme. Guardar num vidro com tampa bem fechada, na geladeira. Tomar 1 colher de sobremesa antes de cada refeição (3 x ao dia). É indicado como depurativo do sangue, para baixar o colesterol, triglicerídeos e ácido úrico. Contra gripes, tosses e inflamações em geral. Contribuição de Marlene Zizemer Gaede, Teutônia/RS
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SER LUTERANO: Uma questão de opção e decisão Armando Pedro Maurmann
Em muitos lares cristãos onde os noivos pertencem a denominações confessionais diferentes, principalmente os mais antigos, não existe a opção de “escolha”. Os filhos são batizados na denominação professada pelo marido. E naquela oportunidade pais e padrinhos prometem zelar para que o recém-nascido siga os ensinamentos que Deus, através de Jesus Cristo, nos deixou – de preferência na denominação professada pelo pai – e rogam bênçãos nessa caminhada. Comigo não foi diferente. Sou o filho mais velho de um lar com pai católico e mãe luterana. E, muito embora nossa família não frequentasse regularmente as atividades de nenhuma das duas igrejas,
frequentei as aulas de catecismo, participei da primeira Comunhão e mais tarde fui Crismado na igreja católica. Meu primeiro contato com a igreja luterana ocorreu durante o período escolar, quando cursei os antigos primário e ginasial no Colégio Evangélico Pastor Dohms na cidade de Porto Alegre/RS. O tempo passou, fiquei adulto e, por esses acasos do destino, ou por que não dizer que foi a mão poderosa de Deus agindo em minha vida, conheci uma jovem de família tradicionalmente luterana e muito ativa dentro desta igreja. Passei a frequentar regularmente os cultos dominicais, atividade que não fazia nem mesmo esporadicamente na igreja de que pro
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vinha. Aos poucos fui sendo atraído pelos ensinamentos com que ali era confrontado, e que passei a perceber que um conflito espiritual crescia em minha mente. Conversava com o Pastor Hartmut Schiemann, na época Pároco da Comunidade Evangélica de Estrela/RS. Ele me ouvia com paciência e atenção e transmitia informações sobre a confessionalidade luterana. Mas em nenhum momento insinuou ou forçou qualquer tipo de opção de minha parte. Aos poucos fui me sentindo envolvido nas atividades dominicais e acolhido pela própria comunidade de minha namorada, e os cultos cada vez se tornavam mais prazerosos. Noivamos e senti que necessitava tomar uma decisão que afetaria nosso futuro: Optar entre as duas igrejas, a em que fui batizado e nunca frequentei ou a que me aceitava e onde me sentia participante. Não queria para mim e minha noiva a constituição de um lar dividido no aspecto religioso. Pois lembrava como fora difícil para minha mãe, que se manteve luterana, tentar me auxiliar nas tarefas das aulas de
doutrina para a Primeira Comunhão. Os tempos eram diferentes. E, mesmo que possa parecer, eu não julgava esta decisão tão simples. Em nossa caminhada pela vida necessitamos tomar decisões. Decisões desde as mais simples como escolher uma roupa ou um itinerário, até as mais complexas e que irão definir o modo de viver, o trabalho, o relacionamento familiar e também a nossa opção religiosa. Após uma conversa com o pastor, finalmente tomei minha decisão e optei por um casamento na Igreja Luterana. Casamo-nos, e posso dizer com alegria que hoje somos uma família luterana de fato. Nossos quatro filhos foram batizados e confirmados nesta Igreja. E por todos os locais por onde passamos, e olha que foram vários, nossa adaptação sempre se fez através das comunidades e paróquias da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil. Por isso podemos dizer com alegria: A Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil é nossa igreja. O autor é membro da Comunidade Evangélica Luterana de Florianópolis
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Sinos – traços de sua história P. em. Nelso Weingärtner
A história dos sinos é muito antiga. Num museu de Berlim, na Alemanha, está preservado um sino do século nove antes de Cristo. Trata-se de um sino encontrado na Babilônia. Ele está adornado com figuras mitológicas. Pesquisadores afirmam que originalmente os sinos foram usados em cerimoniais que tinham por objetivo afastar tudo que pudesse fazer mal ao povo. Acreditava-se que o som dos sinos afastava maus espíritos. Mas os sinos também eram acionados para chamar a atenção dos deuses sobre as lavouras e pediam uma boa colheita. No cristianismo, os sinos começaram a ser usados na Itália a partir do século VI. E no decorrer dos séculos seguintes encontraram espaço em quase todas as igrejas e catedrais. No cristianismo os sinos foram introduzidos como um instrumento de som que tem a finalidade de anunciar o início e o fim das celebrações de cultos e outras cerimônias, como batismo, casamento, sepultamento e em atos
solenes como ordenações, coroações de reis e outros. No decorrer dos séculos, em algumas igrejas e catedrais, foram instalados vários sinos, de diferentes tamanhos e sons. Vejamos alguns exemplos da Alemanha: na catedral de Aachen, onde eram coroados os imperadores, há dez sinos. Na catedral de Erfurt foi instalado em 1497 um sino que mede 1,80 m de altura e 2,40 m de diâmetro e cujo martelo do badalo pesa 550 quilos. Na catedral de Colônia (Köln) foi instalado em 1876 um sino que tem 4,40 m de altura e 3,30 m de diâmetro e pesa 2.019 quilos. O maior sino foi instalado em Moscou em 1733. Ele tem uma altura de 6,57 m e um diâmetro de 5,65 m e o martelo do badalo pesa 2.100 quilos. No Brasil, até a proclamação da república em 1889, só as igrejas católicas podiam ter e usar sinos. Nossos ancestrais luteranos, que chega
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ram ao Brasil a partir de 1824, sentiram muita falta do badalar dos sinos. Por isso algumas comunidades evangélicas desrespeitaram a lei que proibia o uso de sinos por comunidades “não católicas”. Por se tratar de um dado histórico interessante, transcrevemos um tópico da “Crônica da Paróquia Evangélica de Santa Isabel, a mais antiga colonização teutoevangélica de Santa Catarina”, escrita em 1936 pelo Pastor Hermann Stoer, onde consta na página 21: “Uma festa singular, de grande alegria e júbilo, foi a consagração do primeiro sino da paróquia em 1881. O sino foi adquirido através da Cia. Möllmann de Florianópolis (Desterro, na época), que o adquiriu no Rio de Janeiro por Rs.113$250. O sino pesa 45,3 quilos e nele está gravado um brasão estatal. Provavelmente ele estava instalado, originalmente, em algum navio da marinha. Como a igreja Martin Luther não tinha torre, porque no Brasil Império só as igrejas católicas podiam ter torres, o sino foi pendurado numa armação de madeira ao lado da igreja. No dia 29 de maio de 1881, num culto de confirmação, o sino badalou pela primeira vez no vale, que já estava colonizado há 34 anos”. Assim que foi proclamada a república e decretada liberdade de culto para todos, nossas comunidades logo iniciaram a construção de torres em suas igrejas e
nelas instalaram sinos. Para nossos ancestrais o sino na torre da igreja tinha a tarefa de lembrar os membros da presença de Deus e chamá-los para a comunhão com Ele. Em muitas famílias era tradição largar todos os serviços e ficar em silêncio de oração enquanto os sinos badalavam de manhã, ao meio dia e à noite. Ouvi de pessoas que viveram no tempo em que ainda não havia poluição sonora e toda a família trabalhava na lavoura, que eles paravam de trabalhar quando ouviam o som do sino, tiravam o chapéu e ficavam em silêncio de oração enquanto o sino badalava. O sino também era um importante meio de comunicação: Quando irrompia um incêndio em alguma casa ou, quando tempestades com granizo ou ventanias destruíam moradias e as pessoas precisavam de ajuda, os sinos ficavam badalando por longo tempo e todos iam ver onde as pessoas precisavam de ajuda. Os sinos acompanhavam nossos ancestrais do nascimento até a morte. Em nossos dias os sinos só ainda têm uma função decorativa em algumas comunidades, e muitos só vêem neles “algo” que aumenta a poluição sonora. É uma pena! O autor é pastor emérito da IECLB e pesquisador da história das comunidades da antiga Região Eclesiástca II e reside em Timbó/SC
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Terremotos, tsunamis, mudanças climáticas – Sinais do fim do Mundo? P. em. Friedrich Gierus
Fazendo uma pesquisa na internet, verifiquei que o nosso planeta, nos últimos 10 anos, sofreu catástrofes assustadoras, provocando destruição, morte e flagelo: 26 de janeiro de 2001 - Um terremoto de magnitude 7,9 na escala Richter destrói boa parte do Estado de Gujarat, no noroeste da Índia, matando quase 20 mil pessoas e deixando mais de 1 milhão de desabrigados. 26 de dezembro de 2003 - Mais de 26 mil pessoas morrem após um terremoto no sul do Irã. A cidade histórica de Bam fica totalmente destruída. 26 de dezembro de 2004 - Um tremor de 9,2 graus na escala Richter, no Oceano Índico gera um tsunami que atinge vários países da Ásia, matando quase 300 mil pessoas. 8 de outubro de 2005 - Um tremor de magnitude 7,6 graus na escala Richter atinge o norte do Paquistão e a região da Caxemira na Índia, matando mais de 73 mil pessoas e deixando milhões de desabrigados. 15 de agosto de 2007 - Pelo menos 519 pessoas morrem na província de Ica, na costa do Peru. O epicentro do abalo sísmico de 7,9 graus na Escala Richter foi no fundo do Oceano Pacífico, a 145 km a sudeste de Lima. 12 de maio de 2008 - Um terremoto atinge a província de Sichuan, no sudoeste
da China. Apenas em um condado da província, até 87 mil pessoas morrem ou são dadas como desaparecidas. Outras 370 mil ficam feridas. O tremor chegou a 7,8 graus na Escala Richter e começou na capital da província, Chengdu. E quem não se lembra da enchente e dos deslizamentos de terras, em Santa Catarina, no mês de novembro do ano de 2008? Foram atingidas em torno de 60 cidades e mais de 1,5 milhão de pessoas, no estado de Santa Catarina. A catástrofe forçou 9.390 habitantes a sairem de suas casas, 5.617 ficaram desabrigados e 99 pessoas morreram. Um ano mais tarde, no início do mês de janeiro de 2010, assustou-nos a notícia das chuvas intensas e os deslizamentos de terras que deixaram, pelo menos, 30 mortos na região de Angra dos Reis no litoral do Rio de Janeiro. Logo em seguida a televisão transmitiu imagens da destruição que um terremoto provocou em Haiti. O tremor com 7.7 graus na escala Richter causou a morte de pelo menos 220 mil pessoas e praticamente destruiu a capital Porto Príncipe. Um mês mais tarde nos surpreendeu a notícia do terremoto no Chile, com 8.8 graus na escala Richter seguido de um tsunami, causando a morte de 799 pessoas. E as notícias, relatando catástrofes, inundações, deslizamentos de terra não pararam: “Chuva deixa família soterrada no Vale do Paraíba - Deslizamento mata três pes
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soas em Juiz de Fora - Defesa Civil teme novos deslizamentos em Duque de Caxias - Chuvas provocam estragos no interior de São Paulo” – e assim por diante. Praticamente todos os dias, a gente toma conhecimento, através dos meios de comunicação, de fenômenos naturais e de guerras que causam destruição, fome e morte. Diante destas ocorrências, muitas pessoas perguntam: - Será que estes são os sinais do fim dos tempos que a Bíblia menciona nos evangelhos de Mateus (24.1ss), Marcos (13.3ss), Lucas (21.7ss) e no Apocalipse (6.1ss)? É verdade, Jesus anuncia: E, certamente, ouvireis falar de guerras e rumores de guerras; vede, não vos assusteis, porque é necessário assim acontecer, mas ainda não é o fim. Porquanto, se levantará nação contra nação, reino contra reino, e haverá fomes e terremotos em vários lugares; porém tudo isto é o princípio das dores (Mateus 24.6-8). Estas palavras de Jesus foram objeto de reflexão, em todos os tempos. E sempre que aconteceram fenômenos como terremotos, tsunamis, enchentes, guerras que envolveram quase todos os povos da terra (1ª e 2ª Guerra Mundial) surgiram pregadores que se disseram autorizados par anunciar o fim do mundo. E também, sempre houve pessoas que acreditaram neles, aguardando, em determinados lugares, a volta de Cristo e o fim do mundo. Jesus alertou seus discípulos, dizendo: Levantar-se-ão muitos falsos profetas e enganarão a muitos, e afirmou: Passará o céu e a terra, porém a minhas palavras não passarão. Mas a respeito daquele dia e hora ninguém
sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, senão o Pai (Mateus 24.11e35-36). Neste contexto é bom lembrar outra palavra de Jesus, na oportunidade da sua ascensão, quando os discípulos o indagaram sobre a ação de Deus no futuro, ele respondeu: Não vos compete conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou pela sua exclusiva autoridade. Quer dizer, toda a tentativa humana de olhar atrás da cortina do futuro é vetada. Para nós cristãos é suficiente saber que tudo está nas mãos de Deus, a nossa vida, o destino da terra, do universo, o passado e o futuro. A nós cabe assumir as nossas responsabilidades em relação ao ambiente onde vivemos e no contexto onde somos inseridos, a partir da vontade de Jesus, que nos diz: Vós sois a luz do mundo e o sal da terra! (Mateus 5.13-13) e: Novo mandamento vos dou que vós ameis uns aos outros assim como eu vos amei (João 13.34). Não nos deve amedrontar o que possa vir no futuro! O que interessa é viver conscientemente hoje e aqui, conforme as palavras do apóstolo Paulo: Nós, na qualidade de cooperadores com Deus, também vos exortamos a que não recebais em vão a graça de Deus, porque ele diz: Eu te ouvi no tempo da oportunidade e te socorri no dia da salvação; eis agora, o tempo sobremodo oportuno, eis, agora, o dia da salvação. E, o próprio Jesus nos exorta: Não vos inquieteis com o dia de amanhã, pois o amanhã trará os seus cuidados (Mateus 6.34). Isto não quer dizer, que devemos ignorar completamente o dia de amanhã. Sim, planejar faz parte da nossa responsabilidade. Mas o planejamento para o dia de
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amanhã, não deve nos deixar cegos e desinteressados pelo que acontece hoje. Psicologicamente falando: O medo do amanhã é capaz de nos deixar sem ação hoje e cegos para as nossas responsabilidades a partir da nossa fé, aqui e agora. Sempre que há catástrofes, enchentes, terremotos e conflitos internacionais, surgem os tais “profetas” que Jesus mencionou, colocando medo no povo, para então lhes anunciar que eles estão sabendo o que há de vir, e que eles, somente eles, podem salvar, afirmando serem os legítimos representantes de Cristo ou o próprio Cristo. Nesta onda surgem muitas “igrejas” que oferecem a salvação diante da ameaça do fim do mundo. Elas se autodenominam entre outras: “Igreja das Sete Trombetas do Apocalipse”; “Igreja Barco da Salvação”; “Igreja Pentecostal Uma Porta para a Salvação”; “Igreja Cenáculo de Oração Jesus Está Voltando”; “Igreja Evangélica A Última Trombeta Soará”; “Igreja Atual dos Últimos Dias”; “Igreja Jesus Está Voltando, Prepara-te”; “Igreja Evangélica Pentecostal Sinal da Volta de Cris-
to”. Há centenas deste tipo de “igrejas” no Brasil. Todas elas se consideram as verdadeiras e legítimas, que sabem tudo sobre o fim do mundo. O pior é que as pessoas vão na onda deles e pagam o dízimo para livrar-se do medo. Sempre que a televisão dá notícia de um novo terremoto ou tsunami, surgem novas “igrejas” acelerando a indústria do medo. Cristo não veio ao mundo para meter medo em nossas vidas. Ao contrário, ele nos consola e anuncia: No mundo passais por aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo. (João 16.33) E ele disse para seus discípulos e para todos que nele crêem: Eis que estou convosco todos os dias até o fim do século (Mateus, 28.20). Portanto, medo de que? Nunca estamos a sós, nem na vida, nem nas turbulências de uma catástrofe, nem na própria morte. Com Martim Lutero podemos afirmar: “O verbo eterno vencerá as hostes da maldade. As armas, o Senhor nos dá: Espírito, Verdade. Se a morte eu sofrer, se os bens eu perder: Que tudo se vá! Jesus conosco está. Seu Reino é nossa herança” (HPD I n° 97). O autor é pastor emérito da IECLB e reside em Blumenau/SC
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Trânsito aventureiro Annelore Ehlert
A estrada estava em péssimo estado. Era um buraco atrás do outro, já não mais se enxergava a linha guia ao centro e os pequenos olhos de gato ao lado do asfalto, que mais pareciam elementos vazados. As placas de sinalização estavam corroídas pelo tempo ou esburacadas pelas balas perigosas e brincalhonas dos caminhoneiros. A esta hora da noite as poucas árvores, que ladeavam o caminho, mais pareciam figuras esqueléticas e fantasmagóricas com seus galhos desprovidos de folhas por causa da ação dos ventos. Minha viagem assim se transformava num itinerário aventureiro. Meus olhos já não mais queriam me obedecer, fatigados pelo dia atribulado que haviam acabado de ver...
Apesar dos bons conselhos, eu havia decidido me entregar aos braços de Morfeu em minha própria cama a 400 km dali. Mas a sorte não parecia estar ao meu lado. Pois, em meio à já conturbada viagem, meu carro decidiu contribuir aos “acidentes” geográficos e... parou. Ele não mais dava um som, chiado ou outro sinal de vida qualquer! A região era desolada. Mais desoladora minha situação... Lá estava eu, sozinha, no meio do nada, longe de tudo e de todos. Eu não sabia se deveria ficar mais irada com a situação ou comigo mesma por ter insistido em regressar para casa àquela hora da noite. Ao me debruçar sobre aquele emaranha
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do de peças recôncavas e de recônditos escondidos da parte dianteira do automóvel para ver se poderia encontrar o motivo da minha desgraça, ouço algo se mexendo atrás de mim e uma voz emaranhada que me pergunta: - Posso lhe ajudar? Meu ânimo voltou. Mas, ao me defrontar com a deplorável figura que a mim se havia dirigido, não tive certeza se a minha sorte iria mudar. Como é que uma pessoa completamente embriagada, mal podendo se manter em pé, com a espuma que lhe escapava da boca, me ajudaria? Obriguei-me a deixar de lado o meu desânimo, meu asco, meu desespero e lhe expliquei a situação. Ele se propôs a me ajudar! Ele iria até o mecânico mais próximo! Nada me poderia convencer de que “aquilo” jamais chegaria até a próxima árvore, quanto mais ao mecânico! Mas, era a única chance que eu tinha. Em duas horas ele estava de volta. Eu não
pude acreditar em meus ouvidos quando, após toda aquela eternidade, ouvi o motor do carro-guincho que se aproximava. Dentro dele estavam o mecânico e meu “salvador”. Isso me faz concluir que não se deve jamais prejulgar qualquer ser humano, qualquer que seja sua raça, crença ou situação. Devemos sempre nos lembrar de que, por mais velado, emaranhado, disfarçado que esteja, todos nós levamos dentro de nós certo grau de bondade que se revela de diferentes formas. Neste caso foi através da solidariedade de “um bêbado”, que me salvou de uma solitária noite ao léu.
Observação da Redação: Esta estória a autora escreveu em 1994. Em 2009 ela foi salva com vida, após haver despencado com o carro em um penhasco na Serra de Curitiba e estar desacordada. Quem a salvou foi alguém que, por acaso, divisou o carro acidentado.
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Uma fruta com diferentes nomes P. em. Meinrad Piske
Certo dia comprei frutas num supermercado. A moça do caixa não sabia o nome de determinada fruta. Tentei ajudar e disse tangerina. Mas a máquina dela não estava programada para tangerina. Fiz outra tentativa: bergamota. A máquina também não atendeu. Fiz uma terceira tentativa: laranja-cravo. Também não. Ela então chamou a gerente para ver se esta entendia. Entendia sim, apertou os botões que fizeram a máquina escrever: laranja tangerina. E eu pude pagar e levar a laranja-tangerina para casa. Esta é uma fruta cítrica com pouco ácido, muito apreciada no Sul e no Sudeste do Brasil e tem cinco ou mais nomes diferentes. A fruta é sempre a mesma, mas de lugar para lugar ou de região para região seu nome muda.
gaúchos que migraram para o Oeste de Santa Catarina e do Paraná. Existe uma tese que diz que os imigrantes que vieram da Turquia pensavam tratar-se de uma pera, a pera de Pérgamo, muito conhecida em toda a Turquia. Eu mesmo pude verificar isto quando vi, no mercado público da cidade de Constantinopla, frutas idênticas à tangerina ou bergamota que conhecia no Brasil. São muito parecidas. Sem saber falar a língua turca e sem poder me comunicar, resolvi arriscar e ao mesmo tempo testar a teoria da bergamota. Pedi, em português mesmo, ao vendedor que me vendesse alguma peras de Pérgamo. Ele entendeu e embrulhou as peras que são irmãs gêmeas – na aparência – das bergamotas. Tese comprovada?
No Rio Grande do Sul seu nome é bergamota e este nome acompanhou os
Em alguns lugares a bergamota virou vergamota. Por quê? Eu não sei.
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Em Santa Catarina, notadamente no vale do Itajaí e no Norte do Estado seu nome é tangerina. Este nome tem a ver com a sua origem que é Tânger, cidade do Marrocos. Em todos os casos é uma fruta que vem das terras em torno do Mar Mediterrâneo. Pode bem ser que as primeiras mudas desta árvore frutífera foram embarcadas em Tânger e, chegando aqui, foram descritas como sendo as frutas de Tânger e mais tarde tangerinas. Já no sul de Santa Catarina, na região de Criciúma a fruta é denominada laranjacravo. No Paraná, especialmente na área metropolitana de Curitiba, seu nome muda para mexerica e, em São Paulo, pode ser encontrada como mimosa. Alguns ainda entendem que seu nome verdadeiro é mandarina, por ser originária da China (lá se fala mandarim!). Ainda não consegui descobrir de onde vêm estes nomes, a mimosa, a mexerica e a laranja cravo. Ainda devo acrescentar: laranja-tangerina, quem deu este nome? Há quem conta que a partir do mês de julho de cada ano esta fruta faz algumas
viagens nas quais muda o seu nome. Sai do Rio Grande do Sul onde é colhida como bergamota e é levada com caminhões de carga para São Paulo onde é recebida e seu nome é trocado para mimosa. Lá inicia a distribuição que vai para Curitiba onde é comprada como sendo mexerica, já as que vão ao Oeste do Paraná, para Foz do Iguaçu ou Cascavel, recebem de volta seu antigo nome: são novamente o que eram na colheita, bergamotas. Aquelas que seguem para Joinville e Blumenau são descarregadas dos caminhões e vendidas e consumidas como tangerinas. Outras que seguem para Tubarão e Criciúma são lá recebidas como sendo laranja-cravo. Será que os diferentes nomes de uma mesma fruta não podem ser uma ilustração dos muitos nomes de Deus? Ele é sempre o mesmo, mas o nome é diferente? O nome pode ser JEOVÁ, JAVÉ, SENHOR, DEUS, ou, assim como Jesus ensinou: “Pai nosso que estás nos céus”? O autor é pastor emérito da IECLB e reside em Brusque/SC
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Vi vento em Curitiba P. Renato Luiz Becker
E viva 2011. Nestes dias, quando vocês lêem este texto, já se passou bem mais de um ano da 1ª Convenção Nacional de Obreiras e Obreiros da IECLB, ocorrida em Curitiba, nos dias 13 a 16 de outubro de 2009. Eu somo meu pensamento ao de muitos outros colegas. Este encontro serviu como uma espécie de “injeção de ânimo” para os 385 ministros e 140 ministras que estiveram na capital paranaense. O encontro reuniu obreiros dos quatro ministérios ordenados da IECLB: pastoral, diaconal, catequético e missionário, que atuam desde Roraima até o sul do Rio Grande do Sul. Se este evento fosse realizado nos dias de hoje, dois anos depois, ele, certamente seria chamado de 1ª Convenção Nacional de Ministras e Ministros da IECLB. Por quê? Ora, porque temos “ministérios” na IECLB. Num dado momento, um dos palestrantes argumentou ser biblicamente mais correta a expressão “ministro eclesiástico” e não “obreiro”; que o vocábulo “obreiro” se mostrava um tanto estranho para se referir a missionários, catequistas, diáconos e pastores. Todos aplaudimos esta proposta. Confesso pra vocês que, como pastor (obreiro ou ministro – como quiserem), nunca havia participado de um momento tão bonito. Tudo começou no dia 13 de outubro, bem cedo. Minha esposa e eu carregamos o porta-malas do nosso carro e aceleramos pela BR 101 rumo a Curitiba (PR). Investiríamos uns bons dias da nossa vida para participarmos
daquele momento sonhado, pensado, bem organizado por algumas lideranças da nossa Igreja. Confesso que viajei afoito. Nunca na história da nossa Instituição de cores luteranas (parafraseando o ex-presidente brasileiro) se reuniram tantas ministras e tantos ministros eclesiásticos para experimentar comunhão; para repartir sobre sua vida familiar e vocacional. Já na chegada fui sendo abraçado e também abraçando ex-colegas; gente querida que não via há muito tempo. Recebi sorrisos e até “acarinhamentos” de gente querida que nem conhecia. Percebi, num dado momento, que todos permitiam o “vazamento” de suas emoções. Aquela experiência nos fazia bem. As horas iam se passando e sempre de novo se plantavam e se colhiam boas palavras; sorrisos. Todos ousavam levar a palavra do outro a sério. Percebia-se um espírito de diálogo; de edificação no ar. Neste agrupamento de pessoas se alardeavam lembranças. No outro se apontavam perspectivas. Num terceiro grupo se apreendia conteúdos e o tempo foi passando “despacito” (sem pressa) como diria meu amigo uruguaio, o Cloves... Tudo estava muito bem organizado. As três principais palestras enfocariam os temas: Pessoa, Vocação e Família. Esses assuntos seriam desdobrados em 18 oficinas, sempre durante as tardes. Participei de duas delas. Ninguém faltava e todos discutiam, contribuíam com suas ex
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periências. Os reencontros com os colegas geravam perspectivas abertas de comunhão e fé. Simplesmente tudo contribuía para o fortalecimento da fraternidade, dos relacionamentos e do ânimo para continuarmos na caminhada. O grande número de colegas e as situações diversas que vivi naqueles dias me fizeram pensar, refletir, meditar, reavaliar, tomar posições, olhar para o horizonte, alegrar-me com o novo momento que se avizinhava e que, por tabela, marcaria minha vida. Eu não queria que aquilo tudo acabasse. Coisa boa se aqueles momentos pudessem ser esticados, assim como se estica um elástico. Nosso ex-professor, Gottfried Brakemeier, foi muito claro. Ainda o ouço “pipocando” suas palavras no auditório: “...a nossa fé precisa ser alimentada dia-a-dia com a oração e a meditação; o Espírito Santo nos presenteia com energia quando nos faz entender a Palavra de Deus; a nossa fé está em constante busca de entendimento para equipar-se para o teste-
munho; a leitura é necessária; a reflexão teológica sempre ainda é preciso; os investimentos na formação contínua, tanto individual como grupal não podem ser esquecidos porque a boa Teologia sempre tem sido um distintivo da Igreja Luterana...”. Sua voz soava dentro do silêncio quando explicitou que temos uma vocação ao ministério; que possuímos um dom e um mandato e que importa não desprezar o compromisso nele inerente. A pastora Anelise Lengler Abentroth reagiu às palavras do querido Pastor Doutor. Na sua reação ela enfatizou que temos a tendência de nos dirigirmos a Deus com expressões militares do tipo: Rei, Senhor, Juiz, Todo-poderoso, Fortaleza, Onipotente. A colega foi enfática quando sugeriu que tentássemos compreender “o Divino” como “amigo”, em vez de pai, como “fonte”, em vez de Senhor, como “construtor da paz” em vez de juiz, como “cidadão” em vez de rei. Suas palavras mexeram com todos. Vi e ouvi inquietudes no ar. Nós precisávamos daquela reflexão. Estávamos crescendo na fé.
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O nosso ex-professor, pastor emérito Wilfried Buchweitz nos brindou com reflexões em torno do Salmo 24. Aqui no chão somos “deuses de um Deus Maior”. Fomos comissionados para sermos representantes do Senhor na face da terra. Estamos sendo secundados pelo Espírito Santo a fazermos reformas constantes, a partir do nosso compromisso cristão. O pastor emérito Nelso Weingärtner mexeu com todos. Suas palavras eram proféticas. Exortou-nos a aplicarmos tempo na leitura, na meditação, na oração e no preparo de uma boa prédica para, só então, subirmos no púlpito como porta-vozes de Deus. Para ele, o ministro que precisa pregar e ensinar a palavra de Deus e não tem tempo para se preparar, torna-se superficial e, com o tempo, perde a sua auto-estima e autoconfiança, tornando-se um mero mestre de cerimônias. Ele desafiou todos os presentes a analisar porque há tanto descontentamento e frustração entre as ministras e os ministros da IECLB. Para ele somos luteranos e, portanto, temos o direito de protestar. As psicólogas Roseli Künrich de Oliveira e Dorothea Wulfhorst nos desafiaram a levantarmos nossas cabeças no meio do caos. Deus nos desafia a seguirmos na caminhada e, ao mesmo tempo, nos sustenta nos caminhos da vida. Aqui e ali, no intuito de acertar, acabamos errando, mas Deus caminha atrás, do lado, na frente e transforma em vida aquilo que para nós, muitas vezes, tem aspectos de morte.
quando, numa entrevista, se expressou com as seguintes palavras: “Os obreiros e obreiras tem importância fundamental nas cerca de 1800 comunidades espalhadas país afora. Mas ao mesmo tempo que atuam nos seus ministérios em seus locais, eles também permanecem sendo humanos, e carecem de perdão, de ânimo e de fortalecimento pessoal para poderem dar o testemunho do Evangelho, dizendo da razão da esperança que há em nós, dentro da igreja e para fora dos limites dela”. Quando já nos despedíamos, ainda conversei com nosso saudoso pastor vicepresidente, Homero Severo Pinto. Vi-o amadurecido. Suas falas e seus atos tinham um leve tom de campanha política para ser o futuro presidente da nossa Igreja. Ele também viu a realização daquela convenção como oportuna, necessária e animadora. Ela foi para ele um momento muito bonito que, pela repercussão havida entre os presentes, deveria ser repetida. No finalzinho de tudo, fui emocionado por uma das organizadoras do evento acontecido em Curitiba. No seu crachá se lia “Arlete Frizzo”. Ela, emocionada, de microfone em punho disse: “Nós somos suas ovelhas. Continuem trabalhando. Precisamos da palavra que vocês proferem. Carecemos do seu cuidado.” Confesso que me emocionei com aquela fala espontânea que, no momento, foi voz de Deus para mim. Hoje, em casa, escrevo animado por causa daquele chamado!
Creio que o nosso então Pastor Presidente Dr. Walter Altmann foi muito feliz
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O autor é pastor da IECLB e atua em Joinville/SC
VOCAÇÃO: Deixe-se encantar pela teologia P. Clovis Horst Lindner
“VOCÊ ALGUMA VEZ já pensou em estudar teologia e tornar-se pastor ou pastora?”. A pergunta faz parte da página inicial de um novo site lançado pela Igreja Territorial de Hessen e Nassau, na Alemanha, que usa a internet para despertar vocações para o estudo da teologia. “A igreja necessita de jovens engajados que desejam servir e moldar o seu futuro dentro dela e que sejam pastores e pastoras por pura paixão.” O convite é assinado pelo presidente da igreja, o pastor Dr. Volker Jung.
lo 21, em que o ser humano continua com muitas perguntas abertas sobre sua origem e seu destino, bem como sobre o sentido da sua vida. O pastor e a pastora são importantes interlocutores numa sociedade que busca esperança para o futuro, orientação para a ação e quer saber como lidar com a culpa e com Deus. “A teologia contribui para que a palavra de Deus continue despertando o interesse do ouvinte de modo especial também no século XXI”.
Em entrevista ao site, Jung descreve a diversidade como uma das principais características do estudo de teologia, que além de ocupar-se com a história e a atualidade dos textos bíblicos, também se envolve com filosofia e psicologia. “Em todos estes campos, o aspecto central é a vida humana, com seus altos e baixos”, diz Jung. Segundo ele, os pastores estão aí para as pessoas na comunidade. “Anunciam o evangelho, animam para a fé e acompanham na caminhada de fé”, completa. “São pessoas públicas que têm uma função orientadora”, classifica.
Diversidade profissional
A igreja necessita de jovens dinâmicos e dispostos a dedicar-se a uma profissão maravilhosa, que envolve o amor a Deus e às pessoas, a comunicação e a disposição para ouvir e aconselhar, resume Jung. O ministério pastoral é descrito no site como uma profissão importante no sécu-
O ministério pastoral está entre as profissões mais diversificadas, criativas e bonitas que existem, cuja essência é a comunicação, no diálogo com Deus e com as pessoas, nos mais diversos ambientes, campos temáticos e situações. Entre essas atividades estão a pregação, o convite à fé em Cristo e o acompanhamento dos fiéis, a edificação de comunidades e a gestão da vida eclesial nas mais diversas áreas. Tudo isso pode ser exercido em pastorados de comunidade, no interior ou na cidade, em escolas ou atividades de formação específica, em pastorados de atuação supra-paroquial nas áreas de aconselhamento, missão e outros. Também há a possibilidade de atuar em asilos, hospitais ou capelanias, ou em áreas específicas como a música ou a diaconia.
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Teologia no Brasil Também na IECLB, você pode habilitarse ao estudo de Teologia. A igreja tem três centros de formação de teólogos, com habilitações específicas. Em todos eles os cursos de Bacharelado em Teologia são reconhecidos pelo MEC. O mais antigo deles está em São Leopoldo (RS), no Morro do Espelho. Lá você pode cursar Bacharelado em Teologia e em Musicoterapia. Teologia prepara para os ministérios pastoral, catequético ou diaconal. Também oferece pós-graduação ou doutorado em Teologia. Mais informações pelo site www.est.edu.br, ou pelo telefone (51) 2111-1400. A Faculdade Luterana de Teologia-FLT, em Mato Preto, São Bento do Sul (SC), habilita ao Ministério Pastoral e ao Ministério Missionário. Mais informações pelo site www.flt.edu.br, ou pelo telefone (47) 3635-1108, ramal 231. A Faculdade de Teologia Evangélica em Curitiba-FATEV, em Curitiba (PR), ligada ao Movimento Encontrão, habilita ao Ministério Missionário, com ênfase em
missão urbana. Mais informações pelo site www.fatev.edu.br, ou pelo telefone (41) 3302-5101. Formação e habilitação As três faculdades formam bacharéis em Teologia. A habilitação aos ministérios dentro da IECLB tem regulamentação própria, que começa por um período prático de habilitação ao ministério-PPHM, com detalhamentos específicos para as atividades no ministério pastoral, catequético, diaconal ou missionário. Somente após a realização do PPHM – que tem duração média de um ano – o/a candidato/a habilita-se à ordenação como pastor/a, diácono/a, catequista ou missionário/a. Na IECLB a mulher atua em condições iguais a dos homens em qualquer dos ministérios. Seja você também um obreiro ou uma obreira nesta diversificada, bela e significativa profissão, que é o ministério na igreja de Cristo. Visite, também, o site: www.theologie studium-ekhn.de. O autor é pastor da IECLB e reside em Blumenau/SC
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Palavras Cruzadas: Salmo 1.1-2 Solução da página 98
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Palavras Cruzadas: Salmo 1.3 Solução da página 117
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Palavras Cruzadas: Salmo 23 Solução da página 36
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Índice Prefácio ................................................................................................. 3 Lemas dos Meses 2011 .......................................................................... 5 Meditações mensais de Janeiro a Dezembro .................................... 10 a 32 Temas da IECLB ................................................................................... 34 Tema e lema da Igreja para o ano de 2011 ............................................. 35 Palavras Cruzadas: Salmo 23 ................................................................. 36 Datas Comemorativas ........................................................................... 37 Teses que abalaram o mundo ................................................................. 40 A Batata Inglesa ................................................................................... 42 A cultura do barulho ............................................................................. 44 A formação contínua no Sínodo Vale do Taquari ....................................... 48 A Lua que não dei ................................................................................ 51 A mãozinha bonita... ............................................................................. 53 A motor e a boi – ou o atoleiro fatal ........................................................ 57 Análise e visão da IECLB por um obreiro jubilado ..................................... 60 Asilo de Trombudo: 1936 – 75 anos – 2011 ........................................... 63 Aspectos da Missão Indígena no norte do país ......................................... 65 Assembleias da Federação Luterana Mundial ........................................... 68 Catecismo, pra que? ............................................................................. 71 Como NÃO educar um filho ................................................................... 73 Comunicação ontem e hoje .................................................................... 74 Comunidade rompida – Comunidade em reconstrução .............................. 77 Convivendo com os índios... .................................................................. 80 Crer sem pertencer ............................................................................... 83 Criança diz cada coisa... ........................................................................ 86 Desafios da IECLB hoje ......................................................................... 89 Dr. Paul Aldinger: Agricultor, Pastor, Professor e Pesquisador ..................... 92 Educação Cristã no Sínodo Vale do Itajaí ................................................. 95 Palavras Cruzadas: Salmo 1.1-2............................................................. 98 Envolvido num acidente ........................................................................ 99 Fale, antes que seja tarde... ................................................................. 100 Ficar ou não ficar – eis a questão ......................................................... 102 Formação Teológica na IECLB .............................................................. 105 Há 100 anos – 06/08/1911 – foi criada a Associação de Comunidades Evangélicas de Santa Catarina ................................ 109 Humor inocente .................................................................................. 113 Palavras Cruzadas: Salmo 1.3 .............................................................. 117 IECLB: Igreja de imigrantes – Igreja de migrantes ................................... 118
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Iglesia Luterana Costarricense: Uma igreja irmã da América Latina .......... 121 Igreja Cristã Luterana de Honduras ....................................................... 124 Lá no Morro do Chapéu ....................................................................... 127 Memórias de uma fuga durante a guerra ............................................... 130 Missão junto à criança ........................................................................ 133 Missão Zero dando certo: O exemplo do Sertão Nordestino ...................... 135 Nasce em Laguna uma Comunidade da IECLB ....................................... 138 O lugar de Deus num mundo sem Graça ............................................... 140 O rei que queria ver Deus .................................................................... 142 OASE de Timbó – Mantenedora do Hospital e Maternidade OASE ............ 144 Obesidade Mental ............................................................................... 146 Projeto de saúde comunitária no Vale do Taquari .................................... 149 Receitas gostosas ............................................................................... 151 SER LUTERANO: Uma questão de opção e decisão ................................ 153 Sinos – traços de sua história ............................................................... 155 Terremotos, tsunamis, mudanças climáticas – Sinais do fim do Mundo? ... 157 Trânsito aventureiro ............................................................................ 160 Uma fruta com diferentes nomes .......................................................... 162 Vi vento em Curitiba ........................................................................... 164 VOCAÇÃO: Deixe-se encantar pela teologia ............................................ 167 Palavras Cruzadas: Salmo 1.1-2........................................................... 169 Palavras Cruzadas: Salmo 1.3 .............................................................. 170 Palavras Cruzadas: Salmo 23 ............................................................... 171
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ANOTAÇÕES
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ANOTAÇÕES
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