Anuário Evangélico. Ano 45. 2016

Page 1

Anuário Evangélico 2016

Leia nesta edição: História da Comunidade de Domingos Martins no Espírito Santo



Anuário Evangélico 2016 Publicado sob a direção de Meinrad Piske


© 2015 Editora Otto Kuhr Caixa Postal 6390 89068-971 – Blumenau/SC Tel/fax: (47) 3337-1110 E-mail: grafica.ok@terra.com.br

Conselho editorial: P. em. Meinrad Piske (Diretor) P. em. Heinz Ehlert, Profa. Elfriede Rakko Ehlert, P. em. Friedrich Gierus, P. em. Irineu V. Wolf, Profa. em. Úrsula Axt Martinelli, P. em. Valdemar Lueckemeryer, P. em. Anildo Wilbert, Cat. em. Loni Wilbert, P. Dr. Osmar Zizemer (editor) Correspondência e artigos: P. Dr. Osmar Zizemer Caixa Postal 6390 89068-971 – Blumenau/SC Tel/fax: (47) 3337-1110 E-mail: cml@centrodeliteratura-ieclb.com.br

Produção editorial: Gráfica e Editora Otto Kuhr Ltda. Produção gráfica: Gráfica e Editora Otto Kuhr Ltda. Crédito das imagens: Gemeindebrief (Alemanha), divulgação internet e arquivos pessoais cedidos pelos autores.

Os artigos assinados são de responsabilidade de seus autores. Direitos reservados à Gráfica e Editora Otto Kuhr Ltda.


Prefácio Está aí em suas mãos, caro leitor, cara leitora, uma publicação muito especial, da qual a Editora Otto Kuhr, juntamente com a própria IECLB, se orgulha: A 45ª edição do Anuário Evangélico da IECLB. Trata-se, sem dúvida, da publicação periódica mais longeva de nossa igreja. E ela é mais longeva ainda se considerarmos que no fundo o Anuário Evangélico é o sucessor do Jahrweiser, que por muitos anos circulou por nossas comunidades que tem no Anuário a sua continuidade em língua portuguesa. Anuário Evangélico da IECLB, ano 2016. Pensado por muitas cabeças e concretizado por muitas mãos, esta publicação quer trazer a seus leitores e leitoras boa e edificante literatura e, como tal, quer acompanhá-los através do ano. Boa literatura, que pode ser lida do começo ao fim, num “upa”. Mas que pode ser parcelada, para ser deglutida e degustada aos poucos – alimento para a alma e o espírito durante o ano todo. Boa literatura, que traz aspectos para a edificação de sua espiritualidade pessoal e familiar, através das meditações mensais, da reflexão relacionada ao Tema/Lema do Ano da IECLB, da indicação de leitura bíblica diária, e outros assuntos pertinentes à fé e à teologia de nossa igreja. Boa literatura que traz assuntos concernentes ao mundo em que vivemos, como o tema da água, presente em diversos artigos nesta edição e enfocado sob diferentes ângulos.

••• 3 •••


Temas históricos também têm seu espaço. E novamente um histórico um pouco mais extenso de uma comunidade jubilar (Domingos Martins/ES, que reivindica ter a primeira igreja evangélica com torre construída no Brasil). Além disso, esta edição traz novamente textos de leitura mais leve, para distração e passatempo, e, porque não, um pouco de humor. Quero agradecer a todos os redatores e redatoras que nos presentearam com seus textos e aos membros do Conselho Editorial, que nos ajudaram na compilação de assuntos. Desejo aos leitores e leitoras uma caminhada abençoada através do ano de 2016, e que nela o Anuário Evangélico lhe seja uma agradável e enriquecedora companhia.

P. Dr. Osmar Zizemer Editor

••• 4 •••


O significado das nomencla tur as nomenclatur turas Advento – Vinda, chegada do Senhor. Natal – Nascimento de Jesus Cristo. Epifania – “Aparição” de Deus em seu Filho Jesus Cristo. Septuagesimae – 70 dias (faltam até Páscoa). Sexagesimae – 60 dias (faltam até Páscoa). Estomihi – (Latim: Esto mihi in Deum...) Salmo 31.3: “Sê para mim um forte rochedo”. Invocavit – (Latim: Invocavit me, et ego...) Salmo 91.15: “Ele me invocará e eu responderei...”. Reminiscere – (Latim: Reminiscere miserationum...) Salmo 25.6: “Lembra-te, Senhor, das tuas misericórdias”. Oculi – (Latim: Oculi semper ad Dominum...) Salmo 25.15: “Meus olhos estão sempre em Deus...”. Laetare – (Latim: Laetare cum Jerusalem...) Isaías 66.10: “Alegrai-vos com Jerusalém...”. Judica – (Latim: Judica me, Deus...) Salmo 43.1: “Julga-me, ó Deus...”. Domingo de Ramos/Palmarum – Veja João 12.13: “... A grande multidão... tomou ramos de palmeira e saiu ao seu encontro...”. Páscoa – Ressurreição de Cristo. Quasimodogeniti – 1 Pedro 2.2: “... desejai, como crianças recém-nascidas o leite não adulterado da palavra...”. Misericordias Domini – (Latim: Misericordia Domini plena est terra) Salmo 33.5: “A terra está cheia da misericórdia do Senhor”. Jubilate – (Latim: Jubilate Deo, omnis terra) Salmo 66.1: “Jubilai a Deus toda a terra...”. Cantate – (Latim: Cantate Domino canticum novum) Salmo 98.1: “Cantai ao Senhor um cântico novo”. Rogate – “Rogai, orai” Salmo 66.20: “Bendito seja Deus que não me rejeita a oração...”. Exaudi – (Latim: Exaudi, Domine, vocem meam...) Salmo 27.7: “Ouve, Senhor, a minha voz...”. Pentecostes – No 50º dia após a Páscoa, a descida do Espírito Santo. Aniversário da Igreja. Trindade – Domingo em que é celebrada a ação do Deus triúno – Pai, Filho e Espírito Santo. ••• 5 •••


Datas Festivas do Calendário Eclesiástico

••• 6 •••


2 0 1 5

••• 7 •••


2 0 1 6

••• 8 •••


2 0 1 7

••• 9 •••


Janeiro 1 Sex 2 Sáb 3 Dom

4 Seg 5 Ter 6 Qua 7 Qui 8 Sex 9 Sáb 10 Dom

11 Seg 12 Ter 13 Qua 14 Qui 15 Sex 16 Sáb 17 Dom

18 Seg 19 Ter 20 Qua 21 Qui 22 Sex 23 Sáb 24 Dom

25 Seg 26 Ter 27 Qua 28 Qui 29 Sex 30 Sáb 31 Dom

Nm 6.22-27 ANO NOVO – Dia Mundial da Paz Branco Js 24.1-26 Ef 1.3-14 2º DOMINGO APÓS NATAL Branco Cantem ao Senhor com alegria, povos de toda a terra! Louvem o Senhor com canções e gritos de alegria. Salmo 98.4 Gn 21.1-7 Gn 9.12-17 Jo 1.43-51 EPIFANIA DE NOSSO SENHOR Branco 1Jo 3.1-6 1890 – Declarada a plena liberdade religiosa no Brasil Nm 24.15-19 Ef 4.17-24 Is 43.1-7 1º DOMINGO APÓS EPIFANIA Branco BATISMO DO SENHOR Depois que Jesus foi batizado, ouviu-se uma voz dos céus: Tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo. Marcos 1.11 At 10.37-48 1Co 2.11-16 Rm 8.26-30 1635 – ✩ Philipp Jakob Spener, pai do pietismo luterano, † 05/02/1705 Ef 1.3-10 1875 – ✩ Albert Schweitzer, teólogo evangélico e médico, † 04/09/1965 Cl 2.1-7 Mt 6.6-13 1910 – Fundação da Obra Gustavo Adolfo (OGA) brasileira, em Hamburgo Velho, RS Jo 2.1-11 2º DOMINGO APÓS EPIFANIA Verde O Senhor me disse: Israel, você é o meu servo, e por meio de você serei glorificado. Isaías 49.3 1546 – Última pregação de Martim Lutero em Wittenberg (Rm 12.3) 2Co 3.9-18 Jo 1.43-51 Jo 3.31-36 1866 – ✩ Euclides da Cunha, escritor brasileiro († 15/08/1909) Ap 1.1-8 1800 – ✩ Theodor Fliedner, fundou a primeira Casa Matriz de Diaconisas 1Co 2.6-10 1532 – Fundação de São Vicente, primeira vila do Brasil-Português Nm 6.22-27 1637 – Chegada do conde João Maurício de Nassau-Siegen, governador do Brasil-Holandês, a Recife, PE 1Co 12.12-31 3º DOMINGO APÓS EPIFANIA (Septuagesimae) Verde Percorria Jesus toda a Galileia, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando toda sorte de doenças e enfermidades entre o povo. Mateus 4.23 Lc 19.1-10 1554 – Fundação pelos jesuítas do núcleo de São Paulo Dt 7.6-12 1654 – Fim do Brasil-Holandês: capitulação dos holandeses Rm 4.1-8 1Co 3.1-8 1808 – Abertura dos portos brasileiros aos navios das nações amigas Ml 3.13-18 1499 – ✩ Catarina von Bora, esposa de Martim Lutero († 20/12/1552) 1Co 1.26-31 1990 – 8ª Assembléia Geral da FLM, em Curitiba, PR Lc 4.21-30 4º DOMINGO APÓS EPIFANIA (Sexagesimae) Verde Jesus leu no livro do profeta Isaías: O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos. Lucas 4.18 1531 – Chegada de Martim Afonso de Souza a Pernambuco Fases da Lua:

= Crescente

= Cheia

••• 10 •••

= Minguante

= Nova


Lema do mês

O Espírito que Deus nos deu não nos torna medrosos; pelo contrário, o Espírito nos enche de poder e de amor e nos torna prudentes. (2 Timóteo 1.7)

Porque Deus não nos tem dado espírito de covardia, mas de poder, de amor e moderação (2 Timóteo 1.7). Eu gostaria de traduzir este versículo-lema da seguinte forma: “Porque Deus não nos tem dado o espírito de temor, mas de fortaleza, de amor e de prudência, sensatez, cautela, moderação, bom senso!” Por que não coloquei apenas uma palavra, um conceito que traduzisse o que o Apóstolo Paulo diz na sua 2ª Carta a Timóteo com um só termo, a saber, a palavra grega “sóphronismus”? A Bíblia não é apenas difícil de ser traduzida. Ela também é difícil de ser vivida. Não é por acaso que ela é a Palavra de Deus! E como tal, ela quer transformar a nossa vida, através da mudança de todo o nosso ser. E isso não se dá apenas de forma conceitual ou teórica, mas por meio de nossas atitudes diárias. Lutero traduz o termo de Paulo como “prudência”. É interessante notar que o Apóstolo se encontra na prisão e escreve ao discípulo de Cristo, Timóteo, conclamando-o a não temer, a continuar firme na fé, dando testemunho, sem ter vergonha do Evangelho. Aliás, esse é um dos temas principais da carta: não se envergonhar de dar testemunho de Cristo. A gente fica imaginando que a notícia da prisão de Paulo deixou os cristãos temerosos. Paulo não foi o primeiro a ser perseguido pela fé em Jesus Cristo. Também não foi o último. Imaginem: os próximos podem ser eles! O próprio Timóteo pode ser aquele a ser preso a seguir! Nesse contexto, Paulo, de próprio punho, diz a Timóteo que não deve temer! Não pelas próprias forças. Pois nós tememos, sim, pela nossa vida, pela vida das pessoas queridas. Enfim, nós teríamos muito medo quando a questão do envolvimento com a fé poderia acarretar a própria morte, o martírio! Paulo diz que a força, o poder e o amor são dádivas de

Deus! Nada se deve temer, nem a morte! Na história cristã, muitos mártires são nomeados. Penso naqueles e naquelas, entretanto, que não eram tão famosos e nem foram tema nos jornais e noticiários da época. Mulheres e homens que pagaram com a vida o preço da fidelidade a Jesus Cristo. Que não temeram. Que amaram. Que tentaram, quem sabe, agir com prudência, mas fortalecidos pelo espírito divino tiveram coragem de ser “confessores” do Amor de Deus em Jesus Cristo. E que por isso acabaram sendo vítimas da violência que, quase sempre, é covarde e quer calar as pessoas que lutam por um mundo melhor, por uma vida mais digna. E é justamente por isso que o termo “prudência” vem depois do “não temor”, “da força, do poder maravilhoso” de dar testemunho por “amor”! Em primeiro lugar está o espírito de Deus que nos dá fortaleza e o dom de amar além do próprio ego. Pois entregar a própria vida pela causa do amor é o ato de amor por excelência! Apenas por último vem a “prudência”. Às vezes - como no caso de Paulo, de Perpétua, de Felicitas (mulheres mártires do século II depois de Cristo), de Bonhoeffer, de Dom Romero e de tantos outros a quem a história não prestou o devido reconhecimento - ter prudência não pode estar antes da força e da atitude de confessar Deus no e para o mundo justamente na denúncia daquilo e daqueles que estão negando Deus. Não é por acaso que Lutero, ao falar dos sinais fundamentais da Igreja de Jesus Cristo nesse mundo, cita ao lado da “diaconia” (= serviço), da “koinonia” (= comunhão), da “leitourgia” (= culto), justamente a “martyria” (= testemunho)! Não temamos, pois, mesmo com temor e tremor, pois a nossa Força vem de Deus que nos faz amar e ter coragem além dos limites! P. Dr. Leandro Otto Hofstätter Assistente teológico no Sínodo Norte Catarinense em Joinville/SC

Oração Senhor dá-nos a força do teu Espírito Santo para, com amor testemunharmos a Cristo através de todo o nosso ser Igreja, pelo serviço, pela comunhão, pelo culto. E concedenos que o façamos com prudência, sensatez, cautela, moderação, bom senso! Amém.

••• 11 •••


Fevereiro 1 Seg 2 Ter 3 Qua 4 Qui 5 Sex 6 Sáb 7 Dom

8 Seg 9 Ter 10 Qua 11 Qui 12 Sex 13 Sáb 14 Dom

15 Seg 16 Ter 17 Qua 18 Qui 19 Sex 20 Sáb 21 Dom

22 Seg 23 Ter 24 Qua 25 Qui 26 Sex 27 Sáb 28 Dom

29 Seg

Dt 32.44-47 Mq 3.1-4 APRESENTAÇÃO DE JESUS NO TEMPLO Lc 6.43-49 1931 – Fundação da Federação das Igrejas Evangélicas no Brasil 1Ts 1.2-10 2Tm 3.10-17 Mt 13.31-35 Lc 9.28-43 ÚLTIMO DOMINGO APÓS EPIFANIA (Estomihi) Branco TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR O salmista canta ao Ungido: Tu és o mais formoso dos humanos; nos teus lábios se extravasou a graça; por isso, Deus te abençoou para sempre. Salmo 45.2 Lc 13.31-35 Lc 5.33-39 1558 – Execução dos primeiros evangélicos no Brasil, na baía de Guanabara Mt 6.16-21 QUARTA-FEIRA DE CINZAS Violeta ou Preto ou Vermelho Cl 3.5-11 1868 – Fundação do Sínodo Teuto-Evangélico da Província do Rio Grande do Sul, em São Leopoldo, RS (extinto em 1875) Rm 7.14-25a Dn 5.1-30 Dt 26.1-11 1º DOMINGO NA QUARESMA (Invocavit) Violeta Jesus respondeu ao tentador: Está escrito: Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus. Mateus 4.4 2Ts 3.1-5 Dia Mundial contra a Lepra Jó 1.1-22 1497 – ✩ Filipe Melanchthon, colaborador de Martim Lutero em Wittenberg († 19/04/1560) Dt 8.11-18 Tg 4.1-10 1546 – † Martim Lutero, reformador alemão, em Eisleben (✩ 10/11/1483) Hb 2.11-18 Rm 6.12-18 Lc 13.31-35 2º DOMINGO NA QUARESMA (Reminiscere) Violeta Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. João 3.16 Gn 37.3-36 1956 – Criação da Fundação Diacônica Luterana, em Lagoa Serra Pelada, ES Jó 2.1-10 Jo 16.29-33 1Jo 1.8-2.2-6 1778 – ✩ José de San Martin, general argentino, libertador latino americano († 17/08/1850) 2Co 13.3-9 Gl 2.16-21 1Co 10.1-13 3º DOMINGO NA QUARESMA (Oculi) Violeta Jesus Cristo a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até a morte e morte de cruz. Filipenses 2.8 1997 – Reestruturação da IECLB, extinção dos DE’s e das RE’s; criação dos Sínodos Lc 14.25-35

••• 12 •••


Lema do mês

Quando estiverem orando, perdoem os que os ofenderam, para que o Pai de vocês, que está no céu, perdoe as ofensas de vocês. (Marcos 11.25)

Muitos de nós estão voltando das férias ao trabalho. Tivemos o tempo de descansar, passear, rever pessoas amigas, dedicar um tempo maior à família e, sem ser narcisista, a nós mesmos. Dentro do tempo que Deus nos dá, tivemos um tempo precioso para sair da rotina e celebrar o calor da vida. Outros ainda estão curtindo ou se preparando para desfrutar este tempo especial. Quando ainda estamos respirando ares novos de um novo ano, o lema bíblico lembra que nos diferentes tempos da vida precisamos parar, silenciar, juntar as mãos, fechar os olhos, reclinar a cabeça, inclinar o coração e depositar nossa vida nas mãos de Deus em oração: “Quando estiverdes orando, se tendes alguma coisa contra alguém, perdoai, para que vosso Pai celestial vos perdoe as vossas ofensas.” - Mc 11.25. Perdoai! É este o ensino e exemplo de Cristo Jesus. Talvez seja o mais difícil de todos os seus ensinamentos. Nossa tendência é agarrar-nos à ofensa e guardar ressentimentos; ou, nos afastar para sempre da pessoa que nos causou sofrimento. A dificuldade de pedir e dar perdão se reflete em todas

as dimensões da vida. Em nível comunitário, por exemplo, a maior parte de conflitos e cisões acontece não por questões teológicas, mas por questões relacionais. Ausência de perdão é ausência de vida. Vida e perdão andam de mãos dadas. E a nossa recusa em perdoar revela que ainda não compreendemos o nível do perdão que recebemos de Deus! Perdoar não significa fazer de conta que nada aconteceu. A partir do perdão podemos lembrar, mas decidimos não permitir que a lembrança nos machuque. O ato de perdoar não exime a pessoa do erro, mas liberta quem perdoa. Ao perdoar, a pessoa se livra do peso da mágoa, do sofrimento e do ressentimento. O perdão possibilita deixar as dores para trás e continuar a viver. Quando decidimos não perdoar, ficamos presos no passado. A falta de perdão é notória e perceptível no rosto, nas palavras e atitudes. As pessoas percebem, mesmo que não possam identificar o fato, e não se sentem confortáveis em nossa companhia. Ao decidirmos perdoar, não somos os únicos beneficiados; beneficiamos também os que estão a nossa volta. Por isso, “Perdoai”! P. Décio Weber Pastor Vice-Sinodal do Sínodo CentroCampanha-Sul e ministro na Paróquia Evangélica Martin Luther de Vera Cruz/RS

Oração Deus amado e misericordioso! Qual pai e mãe tu vens ao nosso encontro e convives conosco. Tu és colo e abraço solidário. Na cruz, em Cristo Jesus, abraças todas as pessoas. Fortalece-nos na fé para que o abraçar faça parte do nosso ser e que, através dele, vivenciemos o perdão. Amém.

••• 13 •••


Março 1 Ter 2 Qua 3 Qui 4 Sex 5 Sáb 6 Dom

7 Seg 8 Ter 9 Qua 10 Qui 11 Sex 12 Sáb 13 Dom

14 Seg 15 Ter 16 Qua 17 Qui 18 Sex 19 Sáb 20 Dom

21 Seg 22 Ter 23 Qua 24 Qui 25 Sex 26 Sáb 27 Dom

28 Seg 29 Ter 30 Qua 31 Qui

Jó 7.11-21 Mt 13.44-46 Mt 19.16-26 Mt 10.34-39 Dia Mundial de Oração – DMO Gl 6.11-18 Lc 15.1-32 4º DOMINGO NA QUARESMA (Laetare) Violeta Assim como Moisés, no deserto, levantou a serpente numa estaca, assim também o Filho do Homem tem de ser levantado, para que todos os que crerem nele tenham a vida eterna. João 3.14-15 Jo 6.26-35 Jó 9.14-35 Dia Internacional da Mulher Jo 15.9-17 2Co 4.11-18 1557 – Primeira pregação evangélica (calvinista) no Brasil, na baía de Guanabara (Sl 27.4) Jo 16.16-23a Jo 14.15-21 1607 – ✩ Paul Gerhardt, teólogo luterano e poeta alemão († 27/05/1676) Is 43.16-21 5º DOMINGO NA QUARESMA (Judica) Violeta Jesus Cristo diz: O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida para salvar muita gente. Marcos 10.45 1630 – Proibição do tráfico de escravos africanos no Brasil Ef 2.11-16 1965 – Consagração do primeiro diácono na IECLB, em Lagoa Serra Pelada, ES Jó 19.21-27 1937 – Abertura do Ginásio (hoje Colégio) Sinodal, em São Leopoldo, RS Hb 9.11-15 1969 – Inauguração do Instituto Concórdia, da IELB, em São Leopoldo, RS Jr 15.15-21 Hb 10.1-18 Lc 18.31-43 Dia da Escola Lc 19.28-40 DOMINGO DE RAMOS – PAIXÃO Violeta ou vermelho Lc 22.54-62 Jesus respondeu aos discípulos: É chegada a hora de ser glorificado o Filho do Homem. João 12.23 Início do OUTONO Mt26.6-13 1557 – Primeira celebração evangélica (calvinista) da Santa Ceia no Brasil, na baía de Guanabara Jó 38.1-11 Lc 22.1-6 Êx 12.1-14 QUINTA-FEIRA SANTA Branco Sl 22 SEXTA-FEIRA SANTA Preto, Vermelho ou ausência de cor Is 7.10-14 ANUNCIAÇÃO DO NASCIMENTO DE JESUS Branco 1824 – Promulgação da 1ª Constituição do Brasil, por D. Pedro I Mt 27.57-66 SÁBADO DA PAIXÃO – VIGÍLICA PASCAL Violeta ou Preto 1946 – Abertura da Escola de Teologia em São Leopoldo, RS Lc 24.1-12 DOMINGO DA PÁSCOA Branco ou Dourado Sabemos que Cristo foi ressuscitado e nunca mais morrerá, pois a morte não tem mais poder sobre ele. Romanos 6.9 Ap 14.1-5 1823 – ✩ Dr. Hermann Borchard, fundador do Sínodo Teuto-Evangélico da Província do Rio Grande do Sul († 03/08/1891) 1Co 15.20-28 1549 – Chegada dos primeiros missionários jesuítas ao Brasil, chefiados pelo padre Manuel da Nóbrega 1Co 15.35-49 1Co 15.50-57 1492 – Expulsão dos judeus da Espanha

••• 14 •••


Lema do mês

Jesus Cristo diz: Assim como o meu Pai me ama, eu amo vocês; portanto, continuem unidos comigo por meio do meu amor por vocês. (João 15.9)

O lema bíblico deste mês está inserido no contexto da videira e do agricultor. Cristo é a videira verdadeira, Deus o agricultor e nós os ramos. Jesus convida a que permaneçamos no seu amor. O amor de Deus é o fio vermelho que perpassa a Bíblia. Para o evangelista João, o amor necessariamente cria novas relações, porque a justificação não se dá pela lei, mas pela graça. Esta novidade só é assimilada quando compreendemos que está baseado em um novo princípio: o amor. As pessoas não mais são escravas de leis, mas libertas e amigas de Jesus (João 15.16). O convite de permanecer no amor de Deus torna-se concreto e visível quando produz frutos deste compromisso. A fé comprometida tem por alvo de sua prática o irmão e a irmã. Para permanecer em Cristo é necessário submeter-se ao mandamento do amor. Permanecer neste amor é resistir a uma realidade adversa e contrária ao novo mandamento: “amem uns aos outros assim como eu vos tenho amado”. Permanecer fiel a este amor é um testemunho para uma sociedade onde tudo é passageiro, subsituível e descartável. A fidelidade ao amor de Deus é visível quando nos encontramos e temos comunhão integral com as pessoas que ele colocou em nosso caminho. Pessoas cristãs verdadeiras fazem uma análise realis-

ta de sua situação diante de Deus. O primeiro passo é o reconhecimento de que são pessoas pecadoras, carentes do perdão e da graça. Facilmente constatamos que nem sempre permanecemos no amor de Deus. Diante de situações de injustiça e perseguições facilmente nos calamos e não damos um testemunho evangélico corajoso. Percebemos que há um descompasso entre o crer e o viver a fé por meio do amor. O convite é para teorizarmos menos e vivermos a fé confessada em nossas relações diárias. A permanência no amor de Deus também nos convoca a participarmos dos movimentos que acontecem fora dos muros da nossa comunidade. Permanecer no amor de Deus não significa uma edificação própria e íntima somente. Mas caracteriza-se no dar frutos também fora dos limites da comunidade local e institucional. Deus é a fonte do amor. Assim como os ramos não podem produzir frutos se não estiverem ligados à videira, assim nós não produziremos frutos do amor desconectados de Deus, que é a fonte do amor. A permanência requer responsabilidade e compromisso com o que cremos. A pessoa cristã zela pela coerência e o compromisso com a vida de fé. Quem permanece em Deus tem em seu horizonte o amor encarnado neste mundo e a responsabilidade de construí-lo sob este novo mandamento. P. Sin. Jair Luiz Holzschuh Pastor Sinodal do Sínodo Uruguai, com sede em Chapecó/SC

Oração Bondoso Deus! Obrigado por continuares apostando no ser humano, mesmo quando falhamos. Faze nascer em nosso coração o amor comprometido com a transformação das realidades que não edificam o teu Reino neste mundo. Aqui estamos. Envia-nos, orientados pela força do teu Espírito Santo. Por Cristo. Amém.

••• 15 •••


Abril 1 Sex 2 Sáb 3 Dom

4 Seg 5 Ter 6 Qua 7 Qui 8 Sex 9 Sáb 10 Dom

11 Seg 12 Ter 13 Qua 14 Qui 15 Sex 16 Sáb 17 Dom

18 Seg 19 Ter 20 Qua 21 Qui 22 Sex 23 Sáb 24 Dom

25 Seg 26 Ter 27 Qua 28 Qui 29 Sex 30 Sáb

1Co 5.6b-8 1985 – Lançado o primeiro número do jornal O CAMINHO 2Tm 2.8-13 At 5.27-32 2º DOMINGO DA PÁSCOA (Quasimodogeniti) Branco ou Dourado Jesus disse para Tomé: Você creu porque me viu? Felizes são os que não viram, mas assim mesmo creram! João 20.29 Gn 32.22-32 1968 – † Martin Luther King (assassinado), pastor batista, líder do movimento negro dos EUA (✩ 15/01/1929) Jó 42.7-17 Is 66.6-13 Jo 17.9-19 1831 – Abdicação de D. Pedro I, primeiro imperador do Brasil 1Pe 2.1-10 At 8.26-39 1945 – † Dietrich Bonhoeffer, teólogo alemão, mártir do nazismo (✩ 04/02/1906) Jo 21.1-19 3º DOMINGO DA PÁSCOA (Misericordias Domini) Branco ou Dourado Os discípulos de Emaús disseram um ao outro: Porventura, não nos ardia o coração, quando ele, pelo caminho, nos falava, quando nos expunha as Escrituras? Lucas 24.32 Jo 10.1-10 Mt 10.1-7 Jo 17.20-26 1598 – Edito de Nantes; tolerância para os protestantes na França (revogado em 1685) Ef 4.8-16 Mt 26.30-35 Jo 14.1-6 Sl 23 4º DOMINGO DA PÁSCOA (Jubilate) Branco ou Dourado Jesus Cristo diz: Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem a mim. João 10.14 Rm 1.18-25 2Co 5.11-18 Dia dos Povos Indígenas Jo 8.31-36 1529 – 2ª Dieta de Espira: protestos dos príncipes evangélicos alemães contra a restrição da liberdade de religião (“protestantes”) Rm 8.7-11 1792 – † Tiradentes, Joaquim José da Silva Xavier, enforcado 1960 – Inauguração de Brasília como nova capital do Brasil Jo 19.1-7 1500 – Chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil (descobrimento do Brasil) Ap 22.1-5 Dia Mundial do Livro Jo 13.31-35 5º DOMINGO DA PÁSCOA (Cantate) Branco ou Dourado Jesus Cristo diz: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim. João 14.6 Pv 8.23-32 1Sm 16.14-23 1500 – Primeira missa no Brasil Rm 15.14-21 1Co 14.6-19 Ap 5.6-14 João 6.60-69

••• 16 •••


Lema do mês

Vocês são a raça escolhida, os sacerdotes do Rei, a nação completamente dedicada a Deus, o povo que pertence a ele. Vocês foram escolhidos para anunciar os atos poderosos de Deus, que os chamou da escuridão para a sua maravilhosa luz. (1 Pedro 2.9)

SEM INTERMEDIÁRIOS - Temos muito presente em nossa cultura a pessoa do intermediário, que faz com que as coisas aconteçam. O intermediário é o elo que liga uma coisa a outra, mas em geral não sem tirar vantagem pessoal nesta intermediação. O mesmo ocorria no tempo do Antigo Testamento e no tempo em que Jesus viveu aqui na terra. A intermediação entre as pessoas e Deus era feita pelos sacerdotes no templo. Os mestres da lei nas sinagogas e casas de oração cuidavam para que a lei fosse corretamente ensinada. Eles, sacerdotes e escribas, se julgavam os únicos com acesso direto a Deus. Jesus veio e trouxe um novo jeito de chegar a Deus. Ele mostrou que toda pessoa pode chegar a Deus, livremente, sem intermediários. Os integrantes do sacerdócio real ou geral estão convocados para trazer sacrifícios espirituais e proclamar as virtudes de Deus. Orar, louvar, agradecer, proclamar o Evangelho e servir no mundo e na comunidade é incumbência para toda a comunidade. Jesus arrancou o seu povo das trevas e o levou para a sua maravilhosa luz. Aqui não há conquista, nem

méritos pessoais. Ocorre a dádiva de Deus em Jesus Cristo. Se somos alcançados por esta dádiva, como sacerdotes e sacerdotisas de Deus, somos chamados a levar e colocar sinais de acolhida humilde, de solidariedade constante para com aqueles e aquelas que são vítimas das dores causadas pela injustiça, pelo ódio, pelo egoísmo, pelo sentimento de impotência diante da fragilidade da vida. A comunidade é sacerdócio real e santo. Isto significa que ela tem acesso a Deus, sem mediadores humanos – nem de santos. Pois em Cristo Deus mesmo veio aos seres humanos. Os sacrifícios espirituais da comunidade consistem nas orações, no louvor a Deus, no anúncio dos seus feitos maravilhosos. A comunidade realiza o seu culto publicamente, desafiando assim o mundo. Ela só pode testemunhar o que nela foi feito: Ela foi conduzida das trevas para a luz, foi escolhida para ser povo da propriedade de Deus. Ela experimentou a grandiosa misericórdia divina. A comunidade e seus membros receberam distinção e qualificação sobremaneira honrosas. Assim, eventuais mediadores humanos são rejeitados, pois em Cristo, Deus mesmo veio a nós. Amém. P. Fábio Steinert Pastor Vice-Sinodal do Sínodo Sul-Rio-Grandense e ministro na Paróquia Evang. Emanuel de Cerrito Alegre- Pelotas/RS

Oração Senhor, nós te somos gratos, pois podemos chegar à tua presença, sem intermediários e podemos colocar diante de ti nossos medos, nossas dúvidas, nossos projetos de vida; também nosso louvor e agradecimento. Auxilia-nos a buscarmos sempre a Ti em oração e aumenta-nos a fé. Em nome de teu Filho Jesus Cristo. Amém!

••• 17 •••


Maio 1 Dom

Gn 2.7-17

2 Seg 3 Ter

Mc 1.32-39 Lc 18.1-8

4 Qua 5 Qui

Mc 9.14-29 Mt 28.16-20 ASCENSÃO DO SENHOR Branco ou Dourado 1865 – ✩ Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, sertanista e geógrafo brasileiro († 19/01/1958) Jo 18.33-38 Ap 4.1-11 Lc 1.46-55 7º DOMINGO DA PÁSCOA (Exaudi) Branco ou Dourado Jesus Cristo diz: Não os deixarei órfãos, voltarei para vocês. João 14.18 DIA DAS MÃES 1945 – Fim da 2ª Guerra Mundial na Europa Ez 11.14-20 1Jo 4.1-6 1886 – ✩ Karl Barth, teólogo evangélico suíço († 10/12/1969) Is 32.11-18 At 1.12-26 Ef 1.15-23 1888 – Abolição da escravatura no Brasil Jo 16.5-15 1950 – 1º Concílio Geral da Federação Sinodal, em São Leopoldo, RS At 2.1-21 DOMINGO DE PENTECOSTES Vermelho Jesus Cristo diz: Quando o Espírito Santo descer sobre vocês, vocês receberão poder e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria e até nos lugares mais distantes da terra. Atos 1.8 1Co 12.4-11 Segunda-feira de Pentecostes At 4.23-31 1939 – Fundação da Casa Matriz de Diaconisas, em São Leopoldo, RS At 8.9-25 At 11.1-18 At 11.19-26 1886 – Fundação do Sínodo Riograndense, em São Leopoldo, RS At 18.1-11 Rm 5.1-5 1º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Branco ou Dourado TRINDADE Os serafins diziam em voz alta uns para os outros: Santo, santo, santo é o Senhor Todo-Poderoso; a sua presença gloriosa enche o mundo inteiro! Isaías 6.3 Êx 3.13-20 Is 43.8-13 At 17.16-34 1700 – ✩ Nikolaus Ludwig, Conde de Zinzendorf, fundador da Igreja Evangélica dos Irmãos Herrnhut, Alemanha († 09/05/1760) Ef 4.1-7 CORPUS CHRISTI 2Pe 1.16-21 Jo 14.7-14 Lc 7.1-10 2º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Lâmpada para os meus pés é a tua palavra, e luz para os meus caminhos. Salmo 119.105 At 4.1-21 2Co 1.23-2.4

6 Sex 7 Sáb 8 Dom

9 Seg 10 Ter 11 Qua 12 Qui 13 Sex 14 Sáb 15 Dom

16 Seg 17 Ter 18 Qua 19 Qui 20 Sex 21 Sáb 22 Dom

23 Seg 24 Ter 25 Qua 26 Qui 27 Sex 28 Sáb 29 Dom

30 Seg 31 Ter

6º DOMINGO DA PÁSCOA (Rogate) Branco ou Dourado Jesus Cristo diz: Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada. João 14.23 Dia do Trabalho 1824 – Fundação da primeira comunidade evangélica pertencente à IECLB, em Nova Friburgo, RJ

••• 18 •••


Lema do mês

Será que vocês não sabem que o corpo de vocês é o templo do Espírito Santo, que vive em vocês e lhes foi dado por Deus? Vocês não pertencem a vocês mesmos, mas a Deus. (1 Coríntios 6.19)

SOMOS SANTUÁRIOS DE DEUS - A Igreja de Domingos Martins/ES, onde exerço o pastorado, está celebrando 150 anos de existência no dia 21 de maio de 2016. Nós, como luteranos, prezamos e cuidamos do templo, pois é o lugar comum de encontro entre Deus e a comunidade. É ali que somos alimentados e fortalecidos espiritualmente por meio da Sua Palavra e Seus Sacramentos. E para este encontro mantemos o templo em bom estado de conservação, limpo e bem arrumado. Ora, o apóstolo Paulo afirma que, como servos de Deus, somos chamados a cuidar bem do nosso corpo, pois ele é o santuário do Espírito Santo. Daí também se depreende que é desejo do nosso criador que desfrutemos de boa saúde física, mental e espiritual, para que o Espírito Santo tenha um santuário digno. Para buscar tal boa saúde, porém, não podemos concordar com exageros cometidos pela sociedade pós-moderna que cultua o "corpo" em busca de um ideal de beleza imposto pela mídia. É óbvio que devemos cuidar do corpo. Todavia, a sociedade moderna, influenciada pelos meios de comunicação, vem cometendo excessos nessa área. O que se vê por aí é um verdadeiro "culto à boa forma física", onde os padrões estéticos ditados pela mídia são cada vez mais altos e inatingíveis. E isto leva milhares de pessoas às academias de ginásticas e às clínicas de cirurgias plásticas. Muitos deixam de comer ou se submetem às dietas da moda, sem orientação médica, não ajudando, mas sim prejudicando a sua saúde. Nós fomos criados para a glória de Deus (Isaías 43.7). Portanto, toda nossa essência deve ser conservada

pura, santa e agradável a Deus (Romanos 12.1,2). Controlar o estresse, fazer uma caminhada, manter uma dieta equilibrada é essencial para a saúde física e mental de qualquer ser humano. Muitas pessoas se descuidam da saúde física em razão de estarem sobrecarregadas com diversas atividades e compromissos. O resultado disso é o número cada vez maior de pessoas com problemas cardiovasculares e outros, provenientes dessa correria frenética a que muitos se submetem. Cuidar do corpo é questão de bom senso. Cuidar do corpo é recomendação bíblica. Porém cultuálo é idolatria. Como cristãos devemos buscar o equilíbrio para a saúde mental e física através de uma boa alimentação, conjugada com exercícios físicos e bons hábitos. O apóstolo Paulo diz que o nosso corpo é santuário de Deus. O cuidado com o nosso corpo implica em reconhecer que o mesmo pertence ao Senhor, e, portanto, deve ser santo e agradável a Deus (Romanos 12.1; 1 Coríntios 6.20). Quando recebemos a Jesus Cristo como Salvador, mediante a fé, nosso corpo, torna-se santuário ou morada do Espírito Santo. Temos então a responsabilidade de mantermos esse santuário sempre arrumado, limpo e santo. Fomos feitos à imagem do nosso criador. Por isso o nosso corpo pertence a Deus. Nosso corpo não nos pertence, pois fomos comprados por bom preço (1 Coríntios 6.19,20). Nosso corpo é propriedade do Senhor, por isso devemos cuidar do mesmo objetivando a glória de seu criador: "Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus." (1 Coríntios 10.31). Amém. P. Valdeci Foester Pastor em Domingos Martins/ES

Oração Querido e Bondoso Deus! Nós te louvamos por podermos te servir com nosso corpo, que tu escolheste como santuário e morada. Permite Senhor, que sempre possamos mostrar através de nosso corpo, nossas atitudes e ações que somos tuas filhas e filhos amados. Concede-nos fé e ânimo para te servir com nossos corpos e mentes, hoje e sempre. Amém.

••• 19 •••


Junho 1 Qua 2 Qui 3 Sex 4 Sáb 5 Dom

6 Seg 7 Ter 8 Qua 9 Qui 10 Sex 11 Sáb 12 Dom 13 Seg 14 Ter 15 Qua 16 Qui 17 Sex 18 Sáb 19 Dom

20 Seg 21 Ter 22 Qua 23 Qui 24 Sex 25 Sáb 26 Dom

27 Seg 28 Ter 29 Qua 30 Qui

Ez 3.22-27 Jo 21.15-19 Jr 20.7-11 Jn 1.1-16 Gl 1.11-24

3º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos seres humanos as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação. 2 Coríntios 5.19 Dia Mundial do Meio Ambiente

Pv 9.1-10 Êx 2.11-25 Jo 4.5-18 Mt 15.29-39 Jo 6.37-46 1888 – 1º número do “Sonntagsblatt” (Folha Dominical) do Sínodo Riograndese Jn 2.1-10 1948 – Criação da Sociedade Bíblica do Brasil 2Sm 11.26- 4º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde 12.10,13-15 Vistam-se de justiça os teus sacerdotes, e exultem os teus fiéis. Salmo 132.9 Lc 7.36-50 1525 – Casamento de Martim Lutero e Catarina von Bora Jz 10.6-16 1910 – Conferência Missionária Mundial em Edimburgo, na Escócia Mq 7.7-20 Mt 18.15-20 Gl 3.6-14 1703 – ✩ John Wesley, pai do metodismo († 02/03/1791) Jn 3.1-10 Lc 8.26-39 5º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Para mostrar que vocês são seus filhos, Deus enviou o Espírito do seu Filho ao nosso coração, o Espírito que exclama: Aba, Pai! Gálatas 4.6 1934 – Constituição da Confederação Evangélica do Brasil (CEB) Gl 6.1-5 Início do INVERNO 2Co 2.5-11 Mc 11.20-26 1Co 12.19-26 Lc 1.57-80 João Batista, profeta Branco 1904 – Fundação da Igreja Luterana do Brasil (IELB) Mt 10.26-33 1827 – Fundação da Comunidade Protestante Teuto-Francesa do Rio de Janeiro, hoje pertencente à IECLB Gl 5.1,13-25 6º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde O Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, conceda a vocês o espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele. Efésios 1.17 Dt 26.1-11 AÇÃO DE GRAÇAS PELA COLHEITA 1945 – Criação da ONU em São Francisco, EUA Gl 1.13-24 Rm 9.14-26 1912 – Fundação do Sínodo das Comunidades Teuto-Evangélicas (Sínodo Evangélico) do Brasil Central no Rio de Janeiro Ez 2.2-8a At 15.4-12 1947 – Assembleia Constituinte da Federação Luterana Mundial em Lund, na Suécia

••• 20 •••


Lema do mês

O Senhor é o meu forte defensor; foi ele quem me salvou. (Êxodo 15.2 )

Este versículo aparece três vezes no Antigo Testamento. Em Êxodo 15.2 ele foi cantado por Moisés em seu cântico de vitória sobre o exército do Faraó afogado no mar. No Salmo 118.14 ele é cantado por Davi quando este passa por provações. Também o encontramos em Isaias 12.2 onde o profeta o canta para louvar pela restauração de Israel. Podemos dizer que este versículo foi um provérbio e canto comum para o povo do Antigo Testamento. Eles o cantavam quando passavam pelas provações. Para nós ele também pode servir como canto ou louvor comum toda vez que formos libertados de aflições e sofrimentos. Cantando este estribilho, podemos renovar a nossa confiança em Deus e fortalecer-nos para continuar a caminhada na nossa missão como povo do Senhor. Quando alguém passa por um período excepcional de provação, em muitos momentos, pode ser tomado pelo pensamento de que não há motivo para louvor e gratidão. Mas num tal caso, não deveríamos nos fixar somente nas dificuldades. Devemos, isto sim, voltar

os nossos pensamentos a Deus e entregar tudo aos seus cuidados. Lembremo-nos das muitas bênçãos que, apesar de tudo, continuamos a receber. O hino 460 do HPD nos ajuda muito a refletir sobre isso. Na estrofe um e dois cantamos: “Se da vida as ondas agitadas são: Se, desanimado, julgas tudo em vão, conta as muitas bênçãos, conta cada vez, e hás de ver, surpreso, quanto Deus já fez. Tens acaso mágoas, duro é o teu lidar? É pesada a cruz que tens de suportar? Conta as muitas bênçãos, não duvidarás, e, cantando, alegre os dias passarás.” Mesmo em meio às dificuldades que passamos nesta vida não percamos a esperança e a alegria de louvar a Deus. Espantemos os nossos males, cantando ao Senhor. Louvemo-lo pela dádiva de Cristo, no qual todos nós temos redenção, perdão dos pecados e bemaventurança eterna. Concentremo-nos nas promessas e nos feitos de Deus. Animemo-nos, na certeza de que “todas as coisas trabalham juntas para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles a quem ele chamou de acordo com o seu plano” (Romanos 8.28). P. Dimuht Marize Bauchspiess Pastora Sinodal do Sínodo da Amazônia, com sede em Cacoal/RO

Oração Louvamos-te Senhor, pelos caminhos maravilhosos nos quais conduziste e abençoaste o teu povo no passado. No espírito de Moisés, de Davi, dos profetas, de João Batista e de tantas as outras testemunhas, queremos também nós, colocar-nos à disposição, para anunciar com alegria os teus grandes feitos. Em nome de Jesus. Amém.

••• 21 •••


Julho 1 Sex 2 Sáb 3 Dom

4 Seg 5 Ter 6 Qua 7 Qui 8 Sex 9 Sáb 10 Dom

11 Seg 12 Ter 13 Qua 14 Qui 15 Sex 16 Sáb 17 Dom

18 Seg 19 Ter 20 Qua 21 Qui 22 Sex 23 Sáb 24 Dom

25 Seg 26 Ter 27 Qua 28 Qui 29 Sex 30 Sáb 31 Dom

2Co 12.1-10 1921 – Fundação do Instituto Pré-Teológico do Sínodo Riograndense, em Cachoeira do Sul, RS Fp 3.12-16 Lc 10.1-20 7º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde A semente que caiu na boa terra são os que, tendo ouvido de bom e reto coração, retêm a palavra; estes frutificam com perseverança. Lucas 8.15 Êx 14.15-22 1776 – Independência dos Estados Unidos da América (EUA) At 2.32-40 At 16.22-34 Mt 18.1-6 1Co 12.12-18 Ap 3.1-6 Dt 30.9-14 8º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Se guardares o mandamento que hoje te ordeno, que ames o Senhor, teu Deus, andes nos seus caminhos, e guardes os seus mandamentos, e os seus estatutos, e os seus juízos, então, viverás e te multiplicarás, e o Senhor, teu Deus, te abençoará. Deuteronômio 30.16 1509 – ✩ João Calvino, reformador de Genebra (Suíça), líder do ramo calvinista do protestantismo († 27/05/1564) Jo 6.47-56 Mt 22.1-14 At 10.21-36 1553 – Chegada do jesuíta José de Anchieta ao Brasil 1Co 10.16-17 Lc 22.14-20 Ap 19.4-9 1054 – Cisão da Igreja Ocidental (Roma) e Oriental (Constantinopla) Lc 10.38-42 9º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Deus diz: A palavra que sair da minha boca não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a designei. Isaías 55.11 Mt 7.7-12 Lc 6.27-35 Mt 5.33-37 1873 – ✩ Alberto Santos Dumont, pioneiro da aviação († 23/07/1932) 1Co 12.27-13.3 1Pe 3.8-17 Fp 2.12-18 Cl 2.6-19 10º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Simão Pedro respondeu a Jesus: Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna. João 6.68 1Rs 3.16-28 1824 – Chegada dos primeiros imigrantes alemães em São Leopoldo, RS Dia do Colono e do Motorista Ef 5.15-20 1Co 10.23-31 1Co 9.16-23 Jr 1.11-19 Lc 12.42-48 Lc 12.13-21 11º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Jesus diz: Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada. João 14.23

••• 22 •••


Lema do mês

Deus respondeu: Eu farei com que todo o meu brilho passe diante de você e direi qual é o meu nome sagrado. Eu sou o Senhor e terei compaixão de quem eu quiser e terei misericórdia de quem eu desejar. (Êxodo 33.19)

Muitos são nossos desejos. Desejamos coisas para nós, para nossa família, para as pessoas que amamos. Desejamos coisas até mesmo para nosso próximo. Às vezes desejamos até demais. E desejamos tantas coisas para nós mesmos! Mas se recebemos o que pedimos nem sempre nos lembramos de onde elas vêm de quem as recebemos. Mas se nossos pedidos demoram em ser atendidos, se não recebemos o que queremos, logo sabemos em quem descarregar nossa frustração. E muitas vezes acabamos culpando Deus quando as coisas dão errado. Tem sido assim durante a história entre Deus e seu povo. Moisés desejava ver a glória de Deus, ou seja, a realidade interior que faz de Deus quem ele é. Mas Deus não atende por completo o seu pedido. Assim Deus também não atende todos os nossos anseios e pedidos. Diante de muitas situações de sofrimento e dor, especialmente quando vemos familiares sofrendo, por vezes nos perguntamos: “Por que Deus permite isso?" Revolta e até mesmo dúvidas quanto à existência e presença de Deus nos sobrevêm. Esse conflito nos ameaça e nos amedronta. Mas quan-

do conseguimos enxergar que mesmo no sofrimento a mão de Deus está presente e nos sustenta, conseguimos dizer: "Deus sabe o que faz, e por que o faz!" E nessa oração é possível encontrar novamente a confiança em Deus. É questão de crer ou não crer. Não cabe a ninguém o direito de dizer onde e quando Deus está agindo. Deus tem a soberana liberdade de manifestar-se a quem bem quiser e da forma que quiser. A vontade de Deus não está condicionada a cerimônias, a ritos ou preces a ele dirigidas. A manifestação da bondade e misericórdia de Deus independe da ação humana. Ela depende tão somente de Deus mesmo. Podemos compreender Deus apenas em parte através de suas ações na história e através das características associadas ao seu nome. Vemos Deus tão somente por intermédio de sua Palavra e dos Sacramentos. Por isso Deus pode ter compaixão de quem ele quiser e ter misericórdia de quem ele desejar. Enquanto estamos a caminho, aguardando o dia em que o Reino de Deus se torne realidade, Deus está conosco. Ainda que não possa ser totalmente compreendido, Ele é nosso consolo e nossa força. É muito importante que podemos saber-nos amparados e guiados por Deus, consolados e fortificados com sua presença. Pa. Ma. Tânia Cristina Weimer Pastora Sinodal do Sínodo Nordeste Gaúcho, com sede em Estância Velha/RS

Oração Deus de amor e de graça! Ensina-nos o caminho para a vida, onde podemos confiar no teu amor e na tua misericórdia. Não precisamos conhecer tua face para experimentar a tua bondade. Mas deixe que sigamos confiantes em tua presença no nosso ir e vir, em nosso pensar e agir, em nosso ouvir e falar. Tu és o nosso Deus. De Ti precisamos sempre. Amém.

••• 23 •••


Agosto 1 Seg 2 Ter 3 Qua 4 Qui 5 Sex 6 Sáb 7 Dom

8 Seg 9 Ter 10 Qua 11 Qui 12 Sex 13 Sáb 14 Dom

15 Seg 16 Ter 17 Qua 18 Qui 19 Sex 20 Sáb 21 Dom

22 Seg 23 Ter 24 Qua 25 Qui 26 Sex 27 Sáb 28 Dom

29 Seg 30 Ter 31 Qua

Rm 11.1-12 Lm 1.1-11 Jo 4.19-26 1927 – 1ª Conferência Mundial de Fé e Ordem, em Lausanne, Suíça Rm 11.25-32 Lm 5.1-22 1872 – ✩ Osvaldo Gonçalves Cruz, cientista e médico-sanitarista brasileiro († 12/02/1917) Dt 4.27-40 1911 – Fundação da Associação de Comunidades Evangélicas Alemãs de Santa Catarina, em Blumenau Gn 15.1-6 12º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde A fé é a certeza de que vamos receber as coisas que esperamos e a prova de que existem coisas que não podemos ver. Hebreus 11.1 Mt 23.1-12 1Sm 17.38-51 Jo 8.3-11 1Pe 5.1-5 Lc 22.54-62 Is 26.1-6 Lc 12.49-56 13º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Deus nos deixou a promessa de que podemos receber o descanso de que ele falou. Hebreus 4.1 DIA DOS PAIS Mt 7.24-29 1899 – Fundação da OASE em Rio Claro, SP Mc 3.1-12 At 9.31-35 Tg 5.13-16 Mt 12.15-21 1925 – 1ª Conferência Universal Cristã de Vida e Obra em Estocolmo, na Suécia Is 57.15-19 Hb 12.18-29 14º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Jesus acabou com o poder da morte e, por meio do evangelho, revelou a vida que dura para sempre. 2 Timóteo 1.10 Semana Nacional da Pessoa com Deficiência – 21 a 28 de agosto Mt 12.1-8 1948 – Assembléia Constituinte do Conselho Mundial de Igrejas, em Amsterdã, na Holanda Am 5.4-15 Dt 24.10-22 At 4.32-37 Tg 2.5-13 Jd 1-2,20-25 Lc 14.1-14 15º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Ó Senhor, eu sou teu, e por isso as tuas palavras encheram o meu coração de alegria e de felicidade. Jeremias 15.16 Dt 26.1-11 Gl 5.22-26 Fm 1-16-22

••• 24 •••


Lema do mês

Tenham sal em vocês mesmos e vivam em paz uns com os outros. (Marcos 9.50)

“Se não for do meu jeito, não participo”. É assim na brincadeira de crianças, é assim nas amizades, é assim na família, é assim nas instituições humanas, e muitas vezes é assim também na igreja. Assim é hoje. Mas também sempre foi assim, desde Adão e Eva. O exclusivismo, a arrogância e a busca por ser o centro das atenções são inatos a todos nós. Faz parte do “pecado original”. Como se diz por aí: “Só Jesus na causa!” Para esse nosso jeito inato de ser, Jesus vem dar uma palavra muito especial: “Tende sal em vós mesmos e paz uns com os outros” (Marcos 9.50). Temos aqui duas lições preciosas no contexto do ensino de Jesus sobre as implicações do discipulado e as características do reinado de Deus (Marcos 8.22 a 10.52): 1. “Tende sal em vós mesmos”. Dentre outras funções, desde a antiguidade, o sal serve para dar sabor. Quem gosta de cozinhar sabe que uma pitada a mais ou a menos de sal pode fazer a comida perder todo o sabor. É deste sal que dá sabor que presumidamente Jesus também fala em Marcos 9.50. No entanto, diferente de Mateus 5.13, aqui Jesus fala que os discípulos são chamados não a ser sal, mas a ter sal. Qual é o sal

de Jesus que somos chamados a ter em nós mesmos? Resposta: O sal da cura (Marcos 8.22-26; 9.14-28; 10.46-52); o sal da confissão de fé, da conformidade e da renúncia (8.27-38; 10.17-31); o sal do entendimento e da compreensão (9.30-32; 10.2-10); o sal da humildade e do acolhimento (9.33-37; 10.1315,35-45); o sal da tolerância e do serviço (9.38-41); o sal do arrependimento e do bom exemplo (9.42-48). 2.“e paz uns com os outros”. Quem busca temperar a sua vida pessoal com o “sal de Jesus”, bem como busca ter paz com os outros está a caminho do verdadeiro discipulado. Os/as discípulos/as de Jesus não têm autorização para promover inimizades, discórdias e intrigas por conta do seu jeito inato de ser. Na verdade, a ausência de paz na comunhão é sintoma de que por perto tem gente sem o “sal de Jesus”. Nesse caso, há necessidade de arrependimento, confissão de pecados, Ceia do Senhor. Portanto, quando você, no ambiente familiar, comunitário e social, perceber que a atmosfera está para “se não for do meu jeito, não participo", ore a Deus pedindo que dê do seu sal e de sua paz para você e para quem estiver consigo. P. Elisandro Rheinheimer Pastor Vice-Sinodal do Sínodo Mato Grosso e ministro na Paróquia em Tangará da Serra/MT

Oração Senhor ajuda-me para que eu possa ser alguém a temperar a minha vida pessoal com o teu sal. E que assim eu e meus irmãos e irmãs aprendamos a ser agentes da paz. Em nome de Jesus. Amém!

••• 25 •••


Setembro 1 Qui 2 Sex 3 Sáb 4 Dom

5 Seg 6 Ter 7 Qua 8 Qui 9 Sex 10 Sáb 11 Dom

12 Seg 13 Ter 14 Qua 15 Qui 16 Sex 17 Sáb 18 Dom

19 Seg 20 Ter 21 Qua 22 Qui 23 Sex 24 Sáb 25 Dom

26 Seg 27 Ter 28 Qua 29 Qui 30 Sex

1Cr 29.9-18 1939 – Início da 2ª Guerra Mundial na Europa Jo 13.31-35 1850 – Início da colonização em Blumenau, SC 2Ts 2.13-17 Dt 30.15-20 16º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Alegrem-se sempre no Senhor; outra vez digo: alegrem-se. Filipenses 4.4 1850 – Abolição do tráfico de escravos africanos no Brasil Fp 4.8-14 1Tm 6.3-11 Lc 20.19-26 DIA DA PÁTRIA – 1822 – Independência do Brasil Verde Lc 10.38-42 Dia Mundial da Alfabetização 1Co 7.17-24 Mc 12.41-44 Dia da Imprensa Lc 15.1-10 17º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Tudo o que está nas Escrituras foi escrito para nos ensinar, a fim de que tenhamos esperança por meio da paciência e da coragem que as Escrituras nos dão. Romanos 15.4 Rm 6.18-23 1990 – Fundação da Comunhão Martim Lutero em Joinville, SC Is 38.9-20 At 9.36-42 Fp 1.19-26 Ap 2.8-11 Rm 4.18-25 1Tm 2.1-7 18º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde O apóstolo Paulo diz: Eu trago vocês no coração, seja nas minhas algemas, seja na defesa e confirmação do evangelho, pois todos vocês são participantes da graça comigo. Filipenses 1.7 Hb 11.1-10 Tg 1.1-13 Lc 7.1-10 Dia da Árvore At 5.34-42 Início da PRIMAVERA Hb 12.1-3 Mt 14.22-33 Fp 2.10-11 19º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai. Filipenses 2.10-11 Mt 6.1-4 Mc 3.31-35 Dia do Ancião Ct 8.4-7 Ap 12.7-12 ARCANJO MIGUEL E TODOS OS ANJOS Branco Gn 16.6b-14

••• 26 •••


Lema do mês

Deus diz: Eu sempre os amei e continuo a mostrar que o meu amor por vocês é eterno. (Jeremias 31.3)

O profeta anuncia esperança, denuncia injustiças, aponta erros e chama ao arrependimento. O texto em destaque é proferido pelo profeta Jeremias que fala de esperança a partir do exílio. O exílio aconteceu porque o povo não ouviu a denúncia e rompeu a aliança com Deus, conforme Jeremias 31.1-9. Trata-se de um cântico que fala do retorno do povo de Israel de seu exílio na Babilônia. Faz o povo recordar a história, pensar e refletir. Fala da realidade no exílio, promete que ninguém será deixado para trás. Todos voltarão para casa em pé de igualdade e guiados por Deus. Este canto serve para levantar o moral e mostrar que Deus não abandonou o seu povo. Por isto ele afirma: serei o Deus de todos (v.1); O povo... logrou graça no deserto (v.2); Ainda te edificarei e serás edificada (v.4); ainda plantareis vinhas nos montes... e gozarão dos frutos (v.5); proclamai e cantai louvores e dizei (v.7); guiá-los-ei aos ribeiros das águas, por caminho reto em que não tropeçarão (v.9). São palavras dirigidas ao povo exilado, que vivia em sofrimento. Em nosso país acontece algo semelhante. Existe um exílio interno: miséria, violência, desemprego, sistema de saúde deficiente, falta de consciência política e falta de ética. Estamos nesta situação porque se insiste em

dar prioridade aos benefícios pessoais, à ganância de poucos em detrimento do bem-estar maior de muitos. É necessário que estejamos dispostos a permitir que Deus faça uma nova aliança conosco. A libertação necessita de arrependimento e precisa contar com a participação de todos. O exílio foi para o povo de Israel tempo de avaliar o seu passado. Se quisermos ter concretizadas profecias como a de Jeremias, temos que passar por este processo. Somente então conseguiremos escutar as profecias que falam de esperança. Somos como o povo de Israel antes do exílio: Não ouvimos os profetas, não damos atenção aos ensinamentos da Sagrada Escritura. Por isso, se não mudarmos de rumo, corremos o risco de afundar até a total escravidão. Se não houver uma volta ao projeto de Deus seremos escravos da ganância, da falta de solidariedade, da autossuficiência. Jeremias quer levantar o moral e dar esperança. Isto vale para nós hoje. O texto mostra que Deus não abandonou o seu povo. É preciso ouvir a palavra do Senhor e anunciá-la, por meio do exemplo e modo de vida. É preciso lembrar que o profeta diz: “Com amor eterno eu te amei; por isso, com benignidade te atraí.” (Jeremias 31.3). P. Odair Braun Pastor Sinodal do Sínodo Paranapanema, com sede em Curitiba/PR

Oração Senhor, nós te damos graças por este dia e pela palavra que lança luz sobre o caminho. Concede-nos olhos claros, ouvidos atentos e coração disposto a ouvir e acolher a tua palavra, Senhor. Amém.

••• 27 •••


Outubro 1 Sáb 2 Dom

3 Seg 4 Ter 5 Qua 6 Qui 7 Sex 8 Sáb 9 Dom

10 Seg 11 Ter 12 Qua 13 Qui 14 Sex 15 Sáb 16 Dom

17 Seg 18 Ter 19 Qua 20 Qui 21 Sex 22 Sáb 23 Dom

24 Seg 25 Ter 26 Qua 27 Qui 28 Sex 29 Sáb 30 Dom

31 Seg

Ap 14.6-16

1921 – Reunião de constituição do Conselho Missionário Internacional em Lake Mohonk, EUA Hb 1.1-4; 20º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde 2.1-4 Ó Deus, eu falarei a respeito de ti aos meus irmãos e te louvarei na reunião do povo. Hebreus 2.12 Êx 15.22-27 1226 – † Francisco de Assis, fundador da Ordem dos Frades Menores (franciscanos) (✩ 1181/1182) Lc 5.12-16 1959 – Inauguração do prédio principal da Faculdade de Teologia da IECLB, em São Leopoldo, RS Lc 13.10-17 Mt 8.14-17 Jr 17.13-17 At 14.8-18 Lc 17.11-19 21º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Naquele dia, todos dirão: Ele é o nosso Deus. Nós pusemos a nossa esperança nele, e ele nos salvou. Isaías 25.9 1905 – Fundação do Sínodo Evangélico Luterano de SC, PR e Outros Estados da América do Sul, em Estrada da Ilha, SC 2Ts 3.6-13 Rm 13.1-7 1962 – Concílio Vaticano II, da Igreja Católica Romana, em Roma Ef 5.25-32 Dia da Criança – Dia de Nª Srª Aparecida (feriado nacional) 1Co 14.26-33 Jo 18.28-32 Pv 3.1-8 2Tm 3.14-4.5 22º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Segundo o seu querer, Deus nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como que primícias das suas criaturas. Tiago 1.18 Rm 12.17-21 2Co 10.1-6 Gn 13.5-18 Lv 19.1-18 1962 – Assembleia Constituinte do Sín. Evang. Luterano Unido (SELU) 1997 – Inauguração da Gráfica e Editora Otto Kuhr, em Blumenau, SC Lc 22.49-53 2Tm 2.1-6 Jr 14.7-22 23º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde O Senhor me livrará de todo mal e me levará em segurança para o seu reino celestial. A ele seja dada a glória para todo o sempre! Amém! 2 Timóteo 4.18 Os 12.1-7 Rm 3.9b-20 1968 – Reestruturação da IECLB, fusão dos 3 Sínodos, criação da RE IV Gn 33.1-111 1949 – Constituição da IECLB Ap 3.14-22 1916 – ✩ Karl Gottschald, 3º Pastor Presidente da IECLB († 02/08/1993) 1Jo 3.19-24 Is 1.18-27 Dia Nacional do Livro e da Leitura Lc 19.1-10 24º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Irmãos, orem por nós, para que a palavra do Senhor se propague e seja glorificada, como também está acontecendo entre vocês. 2 Tessalonicenses 3.1 Is 45.19-25 DIA DA REFORMA Vermelho 1517 – Lançamento das 95 Teses de Martim Lutero

••• 28 •••


Lema do mês

Onde o Espírito do Senhor está presente, aí existe liberdade. (2 Coríntios 3.17)

Ao deparar-me com esta palavra bíblica da carta de Paulo aos Coríntios - justamente no mês em que lembramos e celebramos a Reforma - não pude deixar de pensar na vida de Lutero. Estamos nos aproximando do Jubileu dos 500 anos. Podemos nos perguntar pelo legado que nos foi concedido e como refletimos hoje sobre liberdade. Por isso, veio na minha lembrança da palavra “eleutheria”, que significa liberdade e nos permite olhar desta perspectiva para o sobrenome do reformador (Luther). De fato, Lutero em seu tempo, buscou ser libertador. E se isto foi possível, certamente, foi por ele se deixar conduzir pelo Espírito do Senhor. A ação sempre parte de Deus que nos liberta das mais diversas maneiras de escravidão. Somente por nossas próprias forças jamais teremos condições de encontrar a liberdade. No Antigo Testamento, a aliança de Deus com o povo de Israel se tornou evidente através das leis, que não permitem sentir liberdade. Em Jesus, a nova aliança se torna visível pela vida compartilhada, que se doa integralmente e desta forma vence a morte. Quando experimentamos que o Espírito de Deus dá vida, nossa reposta será viver unido com Cristo. No

entanto, a comunhão com Deus também implica em vivência comunitária. Ali onde o povo de Deus está reunido, ali fortalecemos a nossa relação com Deus. Irmãos e irmãs na fé nos ajudam a perceber a presença do Espírito do Senhor nas mais diversas situações que vivemos e enfrentamos. Quanto mais próximo o nosso relacionamento com Deus, mais visível se torna a glória de Deus. Portanto, daremos um bom e autêntico testemunho a partir das nossas ações. Não quaisquer ações, mas atitudes que ajudem a transformar a realidade que nos cerca. Nossa liberdade fará diferença, sempre que for usada para promover e lutar pela vida digna para nosso semelhante e pelo cuidado com toda a rica criação de Deus. Pensando para nossos dias, parece-me que cabe discernimento para perceber o que está nos aprisionando. Afinal, de forma muito sutil, nossa liberdade cristã pode ficar comprometida. Por um lado, sabemos que Cristo liberta. Por outro, nossa vocação cristã é colocar-nos a serviço de Cristo. Perceber este equilíbrio é fundamental para que possamos viver a partir da fé e dar um bom testemunho nesta sociedade, onde parece haver tanto relativismo. P. Ricardo Cassen Pastor Sinodal do Sínodo Planalto RioGrandense, com sede em Carazinho/RS

Oração Querido e amado Deus, ajuda-nos a fazer bom uso da liberdade concedida por ti, nos empenhando para estarmos ao lado de pessoas que desejam viver sob a tua orientação e que buscam refletir o amor que experimentamos na tua grande família. Que teu Santo Espírito nos fortaleça na promessa de vida eterna, para que tenhamos ânimo para colocarmos sinais do teu Reino neste mundo. Por Cristo Jesus concedemos coragem para nos comprometermos com a vida plena. Amém.

••• 29 •••


Novembro 1 Ter 2 Qua 3 Qui 4 Sex 5 Sáb 6 Dom

7 Seg 8 Ter 9 Qua 10 Qui 11 Sex 12 Sáb 13 Dom

14 Seg 15 Ter 16 Qua 17 Qui 18 Sex 19 Sáb 20 Dom

21 Seg 22 Ter 23 Qua 24 Qui 25 Sex 26 Sáb 27 Dom

28 Seg 29 Ter 30 Qua

Lc 6.20-23 DIA DE TODOS OS SANTOS Branco Jo 11.1-21 DIA DE FINADOS Branco Mt 21.12-27 1887 – ✩ Dr. Hermann Dohms, 1º Pastor Presidente da Federação Sinodal († 04/12/1956) 1Co 3.16-23 2Pe 3.13-18 2Ts 2.1-17 25º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Fiquem vigiando, pois vocês não sabem em que dia vai chegar o seu Senhor. Mateus 24.42 1Pe 4.7-11 Jr 18.1-10 Hb 13.1-9a 1Jo 2.18-29 1483 – ✩ Martim Lutero, reformador († 16/02/1546) 2Co 6.1-10 1982 – Assembleia Constitutiva do Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI), em Huampaní, Lima, Peru Mc 13.1-8 Lc 21.5-19 26º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Aquele que dá testemunho de tudo isso diz: Certamente venho logo! Amém! Vem, Senhor Jesus! Apocalipse 22.20 354 – ✩ Aurélio Agostinho, teólogo da Igreja Antiga Ocidental (latina), bispo († 28/08/430) Mt 7.21-27 Jo 3.17-21 1889 – Proclamação da República do Brasil Mt 7.28-29 Lc 15.1-10 Hb 13.17-21 1982 – Constituição do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), em Porto Alegre, RS Ap 20.11-15 Lc 23.33-43 DOMINGO CRISTO REI Branco ou Dourado Jesus Cristo diz: Eu sou o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim. Apocalipse 22.13 Hb 12.18-25 1Pe 1.13-21 1Co 3.9-15 1Ts 5.9-15 Hb 13.10-16 1843 – ✩ Dr. Wilhelm Rotermund, fundador do Sínodo Riograndense († 05/04/1925) Ap 21.10-27 Mt 24.36-44 1º DOMINGO DE ADVENTO Violeta ou Azul Mostra-nos, Senhor, a tua misericórdia e concede-nos a tua salvação. Salmo 85.7 1Pe 1.8-13 Hb 10.32-39 Cl 1.9-14 1991 – Abertura do Centro de Literatura Evangelística da IECLB, em Blumenau, SC

••• 30 •••


Lema do mês

Assim temos mais confiança ainda na mensagem anunciada pelos profetas. Vocês fazem bem em prestar atenção nessa mensagem. Pois ela é como uma luz que brilha em lugar escuro, até que o dia amanheça e a luz da estrela da manhã brilhe no coração de vocês. (2 Pedro 1.19)

O Apóstolo Pedro afirma que estava ao lado de Jesus no monte da transfiguração quando Deus o glorificou. E por isso tem ainda mais confiança em tudo o que foi anunciado pelos profetas. Ele não apenas ouviu, mas experimentou um pouco do que foi anunciado. Na sua convicção há dúvida que Jesus é o Messias, o enviado de Deus para instaurar um novo tempo. Pedro se apodera de sua experiência para admoestar a comunidade a confiar na palavra que está sendo anunciada, pois esta é como uma lanterna no meio da escuridão, ou como afirma o salmista, é lâmpada para guiar os meus passos, é luz para iluminar o meu caminho (Salmo 119.105). Palavras de orientação são vitais em nossa caminhada. Nos momentos de angústias e de incertezas, quão bem fazem palavras que nos sustentam e nos ajudam a seguir. No entanto vivemos num mundo onde muitas palavras são ditas. Não era diferente na vida das primeiras comunidades cristãs. E a pergunta que surge é: Em quem confiar? No contexto da carta de Pedro a discussão girava em torno da volta de Cristo. Hoje as temáticas são outras, mas a pergunta pela verdade se faz presente.

Ao longo da historia Deus chamou e capacitou pessoas para anunciar a sua mensagem. Profetas, profetisas, pessoas simples do povo foram e continuam sendo escolhidas para tal tarefa. Hoje muitas pessoas em diferentes situações falam de Deus e da sua vontade. E por vezes esse anúncio é muito diferente. Assim como as primeiras comunidades, também nós ficamos confusos com tudo o que é dito, às vezes de forma contraditória. Em quem confiar? Como discernir o que é Palavra do Evangelho e o que são palavras vãs? A chave do discernimento é o Evangelho de Jesus Cristo. Segundo Lutero o critério para o discernimento é a pergunta se a mensagem anunciada promove a Cristo. Por isso é necessário muita atenção às mensagem que buscam benefícios pessoais ou visam extorquir dinheiro de seus fieis em nome de Cristo. Cristo veio para trazer vida abundante a todas as pessoas. E através da sua palavra Ele nos guia e nos orienta no caminho da verdade, da vida e da justiça. Que Deus nos conceda sabedoria para discernirmos a voz do Bom Pastor que é a luz que brilha em nossa vida. Pa. Sandra Helena Fanzlau A autora é ministra da IECLB na Paróquia Evangélica de Marechal Cândido Rondon/PR

Oração Querido e amado Deus, envia-nos teu Santo Espírito, o espirito do discernimento da verdade que nos conduz por veredas seguras. Afasta-nos de falsas palavras que nos levam para o vale da sombra da morte. Derrama sobre nós o entendimento e a força para anunciarmos com clareza o teu Evangelho. Evangelho que edifica e proporciona vida abundante para todas as pessoas. Amém.

••• 31 •••


Dezembro 1 Qui 2 Sex 3 Sáb 4 Dom

5 Seg 6 Ter 7 Qua 8 Qui 9 Sex 10 Sáb 11 Dom

12 Seg 13 Ter 14 Qua 15 Qui 16 Sex 17 Sáb 18 Dom

19 Seg 20 Ter 21 Qua 22 Qui 23 Sex 24 Sáb 25 Dom

26 Seg 27 Ter 28 Qua 29 Qui 30 Sex 31 Sáb

1Ts 5.1-8 Ez 37.24-28 Hc 2.1-4 Is 11.1-10 2º DOMINGO DE ADVENTO Violeta ou Azul O profeta Isaías diz: Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas. E toda a humanidade verá a salvação de Deus. Lucas 3.4,6 Is 25.1-8 Is 26.7-15 Ap 2.1-7 2Co 5.1-10 Zc 1.14-17 1Ts 4.13-18 1948 – Declaração Universal dos Direitos Humanos, da ONU Dia Universal dos Direitos Humanos Mt 11.2-11 3º DOMINGO DE ADVENTO Violeta ou Azul João Batista é aquele a respeito de quem as Escrituras Sagradas dizem: Aqui está o meu mensageiro, disse Deus. Eu o enviarei adiante de você para preparar o seu caminho. Mateus 11.10 DIA DA BÍBLIA Os 14.1-9 Mt 3.7-12 Is 45.1-8 Mt 11.7-15 Is 44.21-27 1815 – Elevação do Brasil à categoria de Reino, unido a Portugal e Algarves Lc 1.26-38 Rm 1.1-7 4º DOMINGO DE ADVENTO Violeta ou Azul O profeta Isaías diz: Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e ele será chamado pelo nome de Emanuel, que significa Deus conosco. Mateus 1.23 1865 – † Francisco Manoel da Silva, compositor do Hino Nacional Brasileiro (1831) (✩ 1795) Is 11.10-13 Is 42.5-9 Ap 3.7-12 Início do VERÃO Ap 22.16-21 Is 7.10-14 Gl 4.4-7 VIGÍLIA DE NATAL – NOITE DE NATAL Branco Is 9.2-7 NATAL – DIA DE NATAL Branco O profeta Isaías diz: Um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz. Isaías 9.6 Jo 8.12-16 Jo 21.20-24 Mt 2.13-18 1Jo 4.11-16a Is 63.7-14 Mt 25.31-46 Véspera de Ano Novo Branco

••• 32 •••


Lema do mês

Eu espero pelo Senhor mais do que os vigias esperam o amanhecer. (Salmo 130.6)

A fé e a esperança são o motor da vida. Elas nos dão forças quando não as temos mais, nos fazem erguer a cabeça quando algo nos quer empurrar para baixo. A fé e a esperança dão o sentido para a vida mesmo quando enfrentamos decepções, dificuldades, problemas e até mesmo a morte. Elas são o clarão adiante de nós, no meio das mais densas trevas. Elas nos indicam que há algo muito melhor nos aguardando ali adiante. Quem já passou uma noite em claro sabe como é longa e demorada a madrugada. À medida que as trevas avançam, as companhias podem diminuir. Vão ficando apenas os mais próximos e fiéis amigos. O silêncio vai aumentando. Momento propício para conversas profundas, reflexões sobre a vida e o seu sentido. Noite em claro, no meio das trevas. Tempo de espera. Quantas vezes se olha para o horizonte na esperança de vislumbrar o clarear do dia e o fim das trevas. Sabese que a escuridão não permanecerá para sempre e não terá a última palavra. E com que alívio e alegria se recebe a claridade que aos poucos espanta a escuridão da noite. O alvorecer da manhã clareia e termina com o poder da noite que oculta e impede de enxergar adiante.

Os problemas e as dificuldades são os vales escuros das sombras da morte (Salmo 23). Como ansiamos pelo fim dessas situações e desejamos estar novamente em pastos verdejantes e águas tranquilas! Nesses momentos, pedimos e aguardamos a intervenção de Deus para trazer luz e esperança. Só o fato de saber que a escuridão não dura para sempre nos motiva a resistir, a lutar e ir adiante. Isso acontece através da fé e da esperança. O tempo de Advento é tempo de espera, mas também é tempo especial de conscientizar-se que Deus vem para estar próximo de nós. Deus prometeu e virá ao encontro do seu povo. O que ele promete não falha. Nós, de nossa parte, não temos poder de trazer o alvorecer. Isso está longe de nós. Mas nós temos a possibilidade de permanecer firmes, vigilantes e confiantes. O que nós não podemos, Deus pode. Por Jesus Cristo, Deus faz a luz brilhar nesse mundo de trevas e aflições. Ele revelou esperança e sentido de vida. Nem sempre as coisas acontecem como nós imaginamos ou no tempo que nós gostaríamos, mas sim dentro da vontade de Deus e no tempo de Deus. Por isso também nós ansiamos diariamente pelo agir de Deus em nossas vidas. P. Sigfrid Baade Pastor Vice-Sinodal do Sínodo Vale do Itajaí, com sede em Blumenau/SC

Oração Senhor dá-nos certeza que tu continuas vindo e agindo em favor do teu povo. Dá que em meio às trevas vislumbremos a tua luz que fortalece a fé e esperança. Que a fé e esperança nos mantenham tementes a Ti e nos consolem nos vales escuros. Vem Senhor Jesus. Amém.

••• 33 •••


Temas da IE CLB IECLB 1976 - Comunidade Consciente e Atuante 1977 - Nova comunhão em Cristo, como vivê-la? 1978 - Cristo, o caminho 1979 - A importância da família cristã para a criança 1980 - Cristo, o Mediador 1981 - Homem e Mulher unidos na Missão 1982 - Terra de Deus - Terra para Todos 1983 - Eu sou o Senhor teu Deus 1984 - Jesus Cristo - Esperança para o mundo 1985 - Educação - Compromisso com a verdade e a vida 1986 - Por Jesus Cristo, Paz com Justiça 1987 | 1988 - ... e serei minhas testemunhas 1989 | 1990 - O pão nosso de cada dia 1991 | 1992 - Comunidade de Jesus Cristo - A Serviço da Vida 1993 | 1994 - Permanecem a fé, a esperança e o amor 1995 | 1996 - Somos Igreja. Que Igreja somos? 1997 | 1998 - Aqui você tem lugar 1999 - É tempo de lançar 2000 - Dignidade Humana e Paz - um novo milênio sem exclusão 2001 - Ide, fazei discípulos... 2002 - Mãos à obra 2003 - Nosso mundo tem salvação 2004 - Pelos caminhos da esperança 2005 | 2006 - Deus, em tua graça, transforma o mundo 2007 | 2008 - No poder do Espírito, proclamamos a reconciliação 2009 | 2010 - Missão de Deus - Nossa Paixão 2011 - Paz na Criação de Deus - Esperança e Compromisso 2012 - Comunidade jovem - Igreja viva 2013 - Ser, participar, testemunhar - Eu vivo comunidade 2014 - viDas em comunhão 2015 - Igreja da Palavra - Chamad@s para comunicar 2016 - Pela graça de Deus, livres para cuidar Fonte: www.luteranos.com.br/conteudo/relacao-de-temas-do-ano

••• 34 •••


Tema e LLema ema da IE CLB par a o ano de 2016 IECLB para

••• 35 •••


TEMA DO ANO de 2016 P. Inácio Lemke

Pela graça de Deus, livres para cuidar. A salvação não está à venda. As pessoas não estão à venda. A natureza não está à venda. Lema: Buscai o bem e não o mal. (Amós 5.14a) Estamos nos aproximando da celebração dos 500 Anos da Reforma. Jubileu que será celebrado pelas Igrejas Luteranas espalhadas pelos cinco continentes, e congregadas na Federação Luterana Mundial – FLM. O tema deste ano é um convite da FLM sugerido para milhões de pessoas que se congregam em milhares de comunidades cristãs, para refletir sobre a graça e a liberdade oferecida por Deus. Na leitura profunda da Palavra o reformador Martin Lutero descobre e anuncia que é por graça que Deus nos libertou. É difícil entender o gesto de amor de Deus em relação a sua criação, mesmo quando os homens matam o Filho de Deus com morte de cruz. Esta nova leitura, descoberta há 500 anos na Europa, nos compromete com a graça e a cruz, tornando-nos pessoas livres para agir e para sermos cooperadores entre irmãos e irmãs nos diferentes espaços sociais deste planeta Terra.

Esta nova forma de leitura do Evangelho redescoberta por Lutero, onde fé e vida são experimentadas pelas pessoas e comunidades, fez com que na época a ele e seus seguidores fosse impingida a denominação pejorativa de Protestantes. Este designação depois é assumida pelos seguidores da Reforma como designação de honra. Na preparação deste grande evento de celebração de caminhada de 500 Anos de Igrejas Luteranas cabe-nos também resgatar o jeito protestante de ser Igreja no contexto global. Na atual conjuntura mundial se faz necessário que as comunidades sejam espaços onde pessoas se sintam acolhidas e encorajadas a dizer NÃO para tudo aquilo que não condiz com o amor e salvação oferecidos por graça. É consolador saber que a salvação não está à venda. Ela não pode ser comprada, pois Cristo já a pagou por nós. Assim, não precisamos corromper ninguém e nem sermos corrompidos. Pela graça somos livres para cuidar da criação, para resgatar a liberdade onde ela é surrupiada e, onde, por exemplo, pessoas são vendidas ou escravizadas. É importante tomar ciência de que não é somente em outros continentes que pessoas são vendidas ou escravizadas. A Comissão Pastoral da

••• 36 •••


Terra (CPT – órgão pastoral ligado à Igreja Católica = ICAR) elabora um relatório anual sobre trabalhadores em situação de escravidão no Brasil. Este relatório apresenta casos de escravidão em quase todos os estados de federação. 500 Anos. Quem caminha conosco e como vamos celebrar? Nunca experimentamos como hoje, tamanha migração pelo planeta. São milhares e milhares de pessoas em migração, seja por perseguições em regiões de conflitos, por catástrofes climáticas e consequente fome e sede, por questões econômicas ou até mesmo por intolerância religiosa. São pessoas que procuram por segurança e acolhimento, que clamam por cuidado.

A história de muitas famílias luteranas espalhadas mundo a fora também é marcada pela migração. Em muitos casos, são conhecidas as histórias de barganhas realizadas entre interesses econômicos e de ocupação de territórios alheios. Não foi diferente na vinda de famílias luteranas ao Brasil. Saíram, em geral, de grande pobreza na Europa, para iniciar uma nova vida sob muita penúria aqui na nova terra, em nosso país. É oportuno que troquemos experiências sobre nossa história, para não repeti-la doravante, seja em relação aos novos imigrantes que estão chegando em grande número, seja em relação à natureza que nos é confiada. Pois somos pessoas livres, livres para cuidar. E para isso nos fortalece o Lema: Buscai o bem e não o mal. (Amós 5.14a). O autor é Pastor 2º Vice-Presidente da IECLB e Pastor Sinodal do Sínodo Norte Catarinense, com sede em Joinville/SC

••• 37 •••


Datas Comemorativas em 2016 P. Ms. Osmar Luiz Witt

1516 => 500 anos Comentário de Martim Lutero sobre a Carta aos Gálatas

fendem que o mercado se auto regula, resultando em progresso econômico e maior igualdade social.

No próximo ano, a cristandade celebrará os 500 anos do início do movimento de Reforma da Igreja. No caminho para lá vamos sendo lembrados e lembradas de eventos que contribuíram para que os anseios de reforma fossem sendo postos em prática. No ano de 1516, o professor das Sagradas Escrituras na Universidade de Wittenberg, Dr. Martim Lutero, apresentou aos seus estudantes uma Preleção sobre a Epístola aos Gálatas. Esta carta do apóstolo Paulo apresenta argumentos para a tese que sustenta a liberdade da pessoa cristã, um dos pilares do movimento da Reforma: "Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão." (Gálatas 5.1).

1916 => 100 anos Conferência do Panamá

1776 => 250 anos Liberalismo econômico de Adam Smith Há 250 anos, o economista e filósofo Adam Smith lançou a obra "Uma investigação sobre a natureza e causas da riqueza das nações". O livro tornou-se um clássico do liberalismo econômico, que propugna uma economia de mercado livre das regulações estatais. Os liberais de-

As conferências missionárias no início do século XX ajudaram a criar as condições para uma maior proximidade e diálogo entre as diversas igrejas cristãs. No esforço por divulgar o Evangelho de Jesus Cristo elas deram início a programas de maior cooperação. Um marco importante do movimento ecumênico moderno foi a realização, em 1910, da Conferência Missionária Mundial que se realizou em Edimburgo, na Escócia. Conferência esta que esteve sob a presidência de John Mott. Os resultados dessa conferência indicavam que os esforços missionários protestantes deveriam ser dirigidos para outros continentes, posto que a América Latina era considerada cristã. Este entendimento não foi bem recebido pelas igrejas que entendiam ser a América Latina um continente não evangelizado. No período pós-Edimburgo teve início uma articulação dos organismos missionários, sobretudo das igrejas norte-americanas, que resultou na realização de uma conferência missionária no Panamá. A abertura do Congresso do Panamá se deu em 10 de fevereiro de 1916, e nele estiveram presentes 235

••• 38 •••


delegados de 44 sociedades missionárias norte-americanas, uma canadense e cinco britânicas. Os delegados latino-americanos foram em número de 27. Somando-se delegados e visitantes o Congresso reuniu 481 pessoas. 1966 => 50 anos Ato Instituicional número 3 O regime militar foi implantado no Brasil em 1964 e durou até 1985. Em 05 de fevereiro de 1966, foi decretado pela ditadura militar o Ato Institucional número 3, segundo o qual as eleições para governadores e vice-governadores seriam indiretas e os prefeitos das capitais seriam nomeados. Naquele mesmo ano, em 03 de outubro, o General Artur da Costa e Silva, candidato da Aliança Renovadora Nacional (ARENA), foi eleito pelo Congresso Nacional, em eleição indireta, para o cargo de Presidente da República do Brasil. 1991 => 25 anos Um mundo em transformação Por razões geopolíticas e econômicas, o Iraque de Sadam Hussein invadiu o Kuweit, em agosto de 1990, dando origem à Guerra do Golfo. As forças norte-americanas, inglesas, francesas, egípcias e sírias ajudaram a formar a coalizão da Organização

das Nações Unidas, que estabeleceram sua base na Arábia Saudita. Em 1991, o Iraque foi derrotado militarmente por essa coalizão da ONU, liderada pelos Estados Unidos. No mesmo ano, a Letônia e a Estônia proclamaram-se independentes da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). O Presidente Gorbatchov renunciou ao seu cargo e, dois dias depois, o Parlamento russo dissolveu a URSS. No Brasil, começava o programa de privatizações com a venda da Usiminas, empresa de mineração. Os acontecimentos que se sucediam eram indicativos do alinhamento ao ideário neoliberal comandado pelos Estados Unidos e pela Grã Bretanha. 2006 => 10 anos Primeira mulher Presidente do Chile A socialista Michelle Bachelet foi eleita, com 54% dos votos, como a primeira mulher a ocupar a Presidência do Chile, e a sexta a ocupar a chefia de Estado em um país latino-americano. Sua vitória, há dez anos, fazia parte do avanço do pensamento político considerado de esquerda na América do Sul. Além do Chile, outros sete países também elegeram candidatos e candidatas partidários de ideários socialistas. O autor é Professor de História da Igreja na Faculdades EST e Capelão da Casa Matriz de Diaconisas em São Leopoldo/RS

••• 39 •••


O Brasil na II Guerra Mundial Almiro Wilbert

Reflexões a partir do Monumento Votivo de Pistóia, Itália Entre setembro e outubro de 2014, em viagem realizada pela a Europa incluindo parte da região italiana que foi palco da campanha da nossa Força Expedicionária Brasileira (FEB) - e em função dos anunciados eventos celebrativos ao redor do mundo em 2015 enfocando o término da II Guerra Mundial há 70 anos, procurei conhecer um pouco mais da participação brasileira deste grande e violento marco da civilização recente. A Europa e a Ásia foram os principais palcos de luta desta grande guerra. Ela envolveu países de todos os continentes, deixou destroçados inúmeros povos, levou à morte cerca de 2% da população mundial e colocou em frentes opostas, entre 1939 e 1945, um grupo de países conhecido como Aliados – integrado pela França, Inglaterra (Reino Unido), União Soviética, Estados Unidos e China entre outros - e um grupo de países do chamado Eixo – integrado principalmente por Alemanha, Itália e Japão. O Brasil, que através do então governo Vargas se manteve inicialmente neutro neste conflito, alinhou-se com o grupo dos Aliados ao declarar guerra à Alemanha nazista e à Itália fascista em agosto de 1942. O motivo desencadeante foi que, depois de

uma série de ataques esporádicos a navios mercantes brasileiros ao redor do mundo desde 1941, houve um recrudescimento destes ataques junto à costa brasileira a partir de fevereiro de 1942. Mas ainda restam dúvidas pontuais se de fato os torpedos que atingiram nossos navios vieram exclusivamente de submarinos alemães ou italianos. Argumentos para esta dúvida levantada pela análise de alguns historiadores são: a.) Havia um manifestado interesse estratégico do governo norte-americano em instalar bases aeronavais em Fernando de Noronha e na costa norte e nordeste brasileira para apoiar o campo da guerra no norte da África no início de 1942; b.) Os EEUU financiaram diferentes projetos brasileiros, inclusive a construção da Companhia Siderúrgica Nacional; c.) Falta uma identificação clara da origem de alguns destes ataques aos navios brasileiros; d.) Demora de quase um ano entre a declaração de guerra pelo Brasil e a efetiva formação da nossa FEB (março de 1943); e.) Passou-se mais de um ano entre a formação da FEB e seu deslocamento para os campos de ação na Itália (julho de 1944). A FEB - uma corporação militar subordinada às Forças Armadas do Brasil, composta prioritariamente por uma Divisão de Infantaria e sob comando do Exército Brasileiro e por

••• 40 •••


Gruta de Lourdes construída pelos pracinhas da FEB em seu acampamento de Staffoli e onde a população da região participava de orações de final de dia (o “terço”) um Grupo de Aviação de Caça da Força Aérea Brasileira, o “Senta Pua” teve um efetivo total de 27.500 pessoas, das quais 25.334 chegaram a ser deslocadas para a Itália em cinco escalões marítimos e poucos por via aérea. Com o lema “A cobra está fumando” - como resposta aos céticos da época que diziam que seria mais fácil uma cobra fumar cachimbo do que o Brasil participar da guerra na Europa - a FEB esteve em continuada ação durante 239 dias entre setem-

bro de 1944 e maio de 1945. Este período incluiu a passagem do rigoroso inverno europeu. A FEB participou de vários e importantes combates nas regiões acidentadas da Cordilheira dos Apeninos e sob intensas nevascas. Tais condições eram totalmente estranhas aos nossos pracinhas oriundos de clima tropical a subtropical e de relevo menos acidentado. Nestas ações, lutando contra divisões alemãs e italianas, a FEB teve importantes participações e vitórias

••• 41 •••


em Massarosa, Camaiore (18.09.1944), Monte Prano (26.09.1944), Monte Acuto, San Quirico d'Orcia, Gallicano, Barga, Monte Castello (21.02.1945), La Serra, Castelnuovo (05.03.1945), Soprassasso, Montese (14.04.1945), Paravento, Zocca (20.04.1945), Marano sul Panaro, Collecchio (26.04.1945) e Fornovo di Taro (28.04.1945). No total houve um saldo final de 450 soldados e 13 oficiais do Exército e 8 oficiais pilotos da

FAB mortos, 2.064 feridos, 35 feitos prisioneiros e 23 desaparecidos, incluídos 10 enterrados como desconhecidos. Ao longo de toda sua campanha a FEB fez 20.573 prisioneiros, sendo 2 generais, 892 oficiais e 19.679 soldados inimigos, a maior parte destes (14.779) capturada em Fornovo quando, em 29 de abril de 1945 a 148ª divisão alemã rendeu-se inteira à Divisão da FEB - incluindo o seu

Monumento Votivo Militar Brasileiro em Pistóia, Itália, no local do original Cemitério Militar Brasileiro que abrigou os corpos dos nossos pracinhas tombados na Itália antes do seu traslado em 1960 para junto do Monumento Nacional aos Mortos da Segunda Guerra Mundial (Monumento aos Pracinhas) no Parque Brigadeiro Eduardo Gomes – Parque (Aterro) do Flamengo, no Rio de Janeiro, Brasil ••• 42 •••


Lápides com os nomes dos pracinhas tombados nos campos da Itália durante a II Guerra Mundial e que passaram pelo Cemitério Militar Brasileiro de Pistóia antes do seu traslado em definitivo em 1960 para o Monumento Nacional aos Mortos da Segunda Guerra Mundial (Monumento aos Pracinhas) no Parque Brigadeiro Eduardo Gomes – Parque (Aterro) do Flamengo, no Rio de Janeiro, Brasil comando - com deposição imediata de todo armamento segundo condições exigidas pelo comandante da FEB, o então Coronel Mascarenhas. Este fato aconteceu poucos dias antes da formal rendição de todas as forças alemãs no dia 2 de maio de 1945. Capturou, ainda, 1.500 viaturas, 80 canhões e 4.000 cavalos. Todos estes feitos, embora com memória física preservada nos documentos e objetos em acervos milita-

res e da própria FEB em seu Museu, têm poucos e pontuais registros no consciente coletivo do povo brasileiro. Até por isso poucos percebem a dimensão e a importância da participação dos militares brasileiros na II Guerra Mundial. No caminho de Lucca para Pistóia, passando por Carrara e Massa, tive contato informal com as pessoas, observei diversas bandeiras brasileiras hasteadas em casas particulares

••• 43 •••


e estabelecimentos comerciais, muitos com referências ao Brasil ou com situações ou locais brasileiros nos seus nomes de fantasia. Percebi assim o quanto - várias gerações já passadas – as pessoas continuam expressando carinho, admiração e respeito ao Brasil e à sua gente por aquilo que seus antepassados viveram e receberam dos nossos pracinhas. É preciso lembrar que a FEB encontrou uma Itália arrasada e um povo acuado e desesperançoso, castigado pelos anos de guerra. No rastro do movimento de tropas e da própria guerrilha interna ficavam as propriedades saqueadas e destruídas e as pessoas sem recursos e sem dignidade. Em meio a esta gente, o pracinha brasileiro soube ser um Bom Samaritano, que dividia sua ração, seu remédio, seu agasalho, seu

acampamento e sua oração (o sagrado terço) de todo final da tarde. Também contou muito para esta percepção e afinidade pessoal a integração multiracial do nosso contingente, que dava abertura para que todos os necessitados fossem se achegando e sendo igualmente bem recebidos e tratados. Os feitos militares são admiráveis e indispensáveis em situações como aquelas da II Guerra Mundial. Mas é o ser irmão presente na hora da necessidade que cria as marcas mais profundas. E isto deveria ser ressaltado e sublinhado, para servir de exemplo e estímulo a todas as gerações que seguem, como mandato instituído por Deus, construindo sinais de novos tempos de paz, justiça, dignidade e fraternidade entre e para todos. O autor é engenheiro aposentado, presidente do Conselho da Igreja da IECLB, residente no Rio de Janeiro/RJ

É melhor acender uma vela do que lamentar a escuridão. Provérbio chinês

••• 44 •••


Lutero no mosteiro P. em. Dr. Martin N. Dreher

No mosteiro de Erfurt, Martin Luder viu-se inserido em organização hierárquica. Acima de todos estava o prior, auxiliado na administração por outros monges. Havia uma aristocracia, os padres ordenados e estudados, e os frades comuns que haviam prestado os votos, mas não tinham formação. Estes exerciam as funções de porteiro, cantor, enfermeiro, lavadeiro.

durante as 24 horas do dia, havia oração no coro e canto responsivo dos salmos. Tudo iniciava às duas horas da manhã. A primeira refeição era tomada ao meio dia. A cela monástica não podia receber visita, era pequena, sem aquecimento. A porta da cela não podia ser chaveada e tinha abertura que possibilitava observação. A cama era um saco de palha com cobertor de lã.

Lutero nada mais era que um novato para o qual se olhava com certo desprezo, pois vinha do mundo acadêmico. Seria soberbo? Passou por um período de observação. O pai estava furioso com sua decisão e degradou o filho. Desde que o filho se tornara mestre passara a tratá-lo por “senhor”, agora voltou ao “tu”. A mãe mandou dizer que não pretendia mais receber notícias do filho. Só após a morte de dois filhos, vitimados pela peste, os pais resolveram concordar com a decisão de Martin.

O silêncio dominava. A comunicação com os irmãos era feita através de sinais. No coro se orava e falava sobre culpa. Às sextas-feiras acontecia o “capítulo da culpa” que iniciava quando o prior proferia a frase: “Queremos tratar da culpa”. Os irmãos se estiravam no chão e o prior perguntava: “O que dizeis?” Resposta: “Nossa culpa”. Eles se erguiam e confessavam um após o outro sua culpa que envolvia descumprimento da Regra e da Constituição da Ordem. Os demais pecados ficavam reservados para o confessionário. As culpas eram: ter chegado atrasado, adormecer no coro. Mais graves eram: mentira, quebra de silêncio, olhar para mulher. Gravíssimos: impropérios, desobediência ao prior, bebedeira. Pecados ultragraves eram: quebra do sigilo confessional e pecados da carne. As penas impostas: tomar refeição sentado no chão, recitar salmos, ser chicoteado. Nesse capítulo da culpa exercitava-se a

Vindo do alegre, colorido e divertido mundo dos estudantes universitários, Luder ingressou em um mundo preto e branco. Antes tinha companheiros alegres. Agora, disciplina. Estava proibido de rir. Nada de movimentos bruscos. O silêncio era virtude. O olhar tinha que ficar voltado para o chão; as mãos eram enfiadas nas mangas do hábito. Nas refeições não se conversava, só se ouvia a leitura de textos piedosos. Sete vezes,

••• 45 •••


comunhão. Acusavam-se, observavam, controlavam e denunciavam. Não se mencionava nome. Dizia-se: “Um irmão fez isso ou aquilo”. Esperava-se que a pessoa então se acusasse e confessasse. A confissão era sacramento e era feita frente ao prior ou seu representante. Lutero manteve a prática da confissão até o final dos seus dias, mas não considerava mais o sacerdote como mediador entre Deus e o ser humano. Mediador era Jesus Cristo. Uma das partes de seus catecismos (1529) está dedicada à Confissão. Ao entrar no mosteiro, Luder se encontrava na condição de “postulante”. Os postulantes eram mandados às aldeias para mendigar. O ato era mais um gesto tradicional de ordem mendicante do que necessidade. A ordem não dependia da mendicância. Aparentemente o “Mestre” Martin foi bastante posto à prova; não desistiu e após dois meses foi declarado “noviço”. Após um ano passou a ser “irmão”, prestando voto solene: obediência, pobreza, castidade perpétuas. O silêncio e a disciplina fizeram bem ao jovem rebelde. Mas, constantemente confessava culpa e buscava encontrar pecados em sua pessoa. Esse tipo de monge não era raridade e os velhos e experientes sabiam como lidar com ele. Seu mestre de noviços chegou a lhe dizer: “Palhaço, Deus não está brabo contigo – tu é que estás brabo com Deus!” Ele

sabia que Luder era “irmão difícil”, mas tinha a esperança de que daí ainda sairia coisa boa, caso fosse bem encaminhado. O problema é que Luder não queria ser encaminhado, queria ele próprio chegar até Deus. A sorte de Luder foi encontrar no padre Staupitz um “pai” espiritual. Não sabemos quais eram os pecados que Luder procurou encontrar em sua pessoa. Fato é que Staupitz certa vez lhe disse: “Deves fazer uma lista, na qual constem pecados de verdade, caso queiras que Cristo te ajude! Não deves te ocupar com besteiras e pecados de boneca e fazer de cada peido um pecado.” Homem experiente, Staupitz pode ter se impressionado com os escrúpulos do jovem monge, na época com olhos

••• 46 •••


fundos e os ossos da maçã do rosto saltados. No entanto, não desistiu dele, antes nele investiu, tendo descoberto suas potencialidades. Martin Luder era pessoa confusa. Mais tarde ele culpou a igreja por sua confusão. Em suas conversas à mesa com alunos e colegas mais jovens falou sobre os suplícios aos quais os monges eram submetidos no mosteiro e sobre como tudo era transformado em pecado, devendo, inclusive, ser questionado por Jesus no juízo final por haver posto a mão de forma inadequada no cálice. Enquanto seus colegas não se preocupavam com estas questiúnculas, o juízo final era para Luder algo muito mais grave: era ser confrontado com a ira de Deus, com um Cristo raivoso, juiz que só condenava. Logo após ser considerado “irmão”, Martin recebeu a instrução de se preparar para a ordenação sacerdotal. Foi ordenado subdiácono, diácono e sacerdote. Expediu convites para a “primícia”. O pai veio e mostrou a situação econômica em que se encontrava na companhia de vinte cavaleiros. Doou para a cozinha do mosteiro a soma de 20 florins. A doação possibilitou o preparo de almoço festivo invejável. Durante o mesmo, o filho procurou justificar ante o pai a decisão pela vida religiosa. O pai, que voltou a tratá-lo por “senhor”, perguntou-lhe, se não havia lembrado o quarto mandamento do decálogo. O filho buscou se justificar, dizendo que poderia servir melhor aos pais e

amigos com oração e devoção do que atuando na vida secular. O pai só disse: “Que bom seria, se assim fosse!” O velho só se reconciliou de verdade com o filho, quando do nascimento do primeiro neto, em 1526, que recebeu o nome “Hans”. Luder levou a regra de sua ordem mais a sério que seus confrades. Disso resultou o louvor de seus superiores que o consideraram um segundo Paulo. E, acertaram. De fato, o apóstolo Paulo tornou-se a grande autoridade para Martin. Passou a lêlo intensivamente. Seus superiores deram-lhe uma Bíblia latina, encadernada em couro vermelho, na tradução de São Jerônimo. Essa dação representou um privilégio. A maioria absoluta dos irmãos nem sequer via a Bíblia e só tomava conhecimento de seu conteúdo através de leituras de trechos selecionados. Luder leu o texto latino. Leu-o tantas vezes que o podia citar de memória. No momento interessava-lhe o texto “claro”, a “verdade nua”. A “clareza da escritura” veio a se transformar em bandeira de Lutero. “Escura” era a tradição que só sabia afirmar que apenas “estudiosos” eram capazes de entender a Bíblia e interpretá-la. Sua leitura logo passou a chamar a atenção. Seu preceptor tirou-lhe a Bíblia encadernada em couro vermelho, argumentando que deveria ler os antigos mestres que já haviam

••• 47 •••


destilado o suco da verdade da Bíblia. “A Bíblia só provocava rebeliões.” A expressão é verdadeira. Valia para o passado e era antevisão do

futuro. O trato da Bíblia até hoje divide opiniões. Qual é a base da fé: A Bíblia, a Tradição ou Revelações proféticas? O autor é Pastor emérito da IECLB e Professor de História da Igreja, residente em São Leopoldo/RS

••• 48 •••


Sola Fide – Somente por FÉ – P. em. Nelso Weingärtner

A pequena palavra Fé é uma palavra poderosa. Ela é carregada de dinamite e rompe corações e mentes endurecidos. Fé não é algo que nasce de maneira natural em nós mesmos. Nós não temos a capacidade de criar aquela Fé que é poder e transforma vidas e realidades. Sim, Fé também não é algo que nasce de uma decisão ou de um esforço nosso. Por isso o reformador Martim Lutero escreve na explicação do 3º Artigo do Credo Apostólico: “Creio que, por minha própria inteligência ou capacidade, não posso crer em Jesus Cristo, meu Senhor, nem chegar a ele. Mas o Espírito Santo me chamou pelo Evangelho, iluminou com seus dons, santificou e conservou na verdadeira Fé”. Isto significa: Fé é um presente de Deus que transforma nossa vida. Ela nos torna criativos, combativos e firmes no testemunho de que Jesus Cristo não veio ao mundo para julgálo, mas para salvá-lo. No Novo Testamento lemos na Primeira carta de João: “Todo aquele que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa Fé. Quem é que vence o mundo, senão aquele que Crê ser Jesus o Filho de Deus?” (1 João 5,4-5).

Pessoas que se colocam sob a pregação do Evangelho experimentam o milagre do nascimento da Fé. Veja Romanos 10,17: “A Fé vem pela pregação, e a pregação pela palavra de Cristo”. Para ilustrar o poder da palavra de Cristo que gera a Fé e transforma pessoas, vou contar uma história: - Numa pequena Comunidade, numa região montanhosa de lindas paisagens, realizou-se uma Semana de Evangelização. O pregador era um pastor agraciado por Deus com o dão da palavra. Toda noite, de domingo a domingo, cada vez mais pessoas vinham ouvir as pregações e voltavam para casa abençoadas e renovadas. Terminada a evangelização, o pregador ainda permaneceu por alguns dias na região para descansar e apreciar as lindas paisagens. Seguindo por um riacho ele viu uma senhora, já bastante idosa, lavando roupa perto de uma cachoeira. Ela colocava as roupas sujas numa peneira e, com uma vara, empurrava a peneira através de uma pequena lagoa até à queda d’água da cachoeira. O pastor aproximou-se dela e disse: - Parabéns pela sua bonita máquina de lavar roupa. Nunca tinha visto uma dessas! Assim que a vovó reconheceu o gran-

••• 49 •••


de pregador, foi cumprimentá-lo com alegria. Seus olhos brilhavam. Ela repetiu várias vezes o quanto fora abençoada nesta semana de evangelização. E olhava para o pastor com verdadeira admiração, quase devoção. Um pouco desconfiado de tanto entusiasmo, o pastor perguntou:

a vovó pegou sua mão e o puxou para perto da cachoeira e lhe disse:

- Oma, se a senhora foi tão abençoada, conte-me o que foi que mexeu tanto com a senhora nas minhas pregações!

- Assim como essa peneira é minha memória... Não fica nada dentro. Mas quando eu escuto a palavra de Deus, minha Fé é alimentada e eu me sinto limpa e abençoada!

Sorrindo ela respondeu: - Não me lembro de mais nada. O pastor olhou bem sério para ela e disse: - Mas então a senhora mentiu quando disse que foi muito abençoada. Nesse momento o rosto da vovó também ficou sério, e zangada ela disse: - Pastor, não ouse dizer outra vez que eu menti quando disse que fui muito abençoada. Porque de Bênção eu entendo! - E, após um pequeno silêncio ela explicou: - Eu sou velha e minha memória está fraca. Já não lembro mais à tarde o que me contaram de manhã.

- Veja essa peneira com a roupa! A água que cai do alto da cachoeira não permanece na peneira, mas ela leva consigo toda a sujeira da roupa... E, com lágrimas nos olhos, ela continuou:

O pastor abraçou a vovó; pediu perdão por suas palavras injustas e em casa escreveu em seu diário: - Esta vovó entende mais do que eu da palavra de Deus e da Bênção que renova a nossa fé e nos torna agradáveis a Deus. Sim, essa vovó entendeu a mensagem central da Bíblia que Martim Lutero resumiu em quatro pequenas frases em latim: Solus Christus - Sola Gratia - Sola Fide - Sola Scriptura. Isto é: Salvação nós recebemos somente por Jesus Cristo – somente por graça, e esta somente podemos apreender mediante a fé. E isto nos é testemunhado somente pela Sagrada Escritura.

O pastor ficou sem palavras quando O autor é Pastor emérito da IECLB e reside em Timbó/SC

O texto acima, que faz parte da Série: Fundamentos da Teologia Luterana também pode ser solicitado em forma de Folheto Evangelístico por E-mail: folhetos@centrodeliteratura-ieclb.com.br ••• 50 •••


Fé cristã e pluralismo religioso – onde está a verdade? P. Dr. Dr. Gottfried Brakemeier

“... ninguém pode chegar até o Pai a não ser por mim” (João 14.6). Assim falou Jesus. Portanto, ele é o único caminho que leva a Deus, o único Senhor a quem devemos seguir (1 Coríntios 8.6), o único que faz a ponte entre Deus e o ser humano (1 Timóteo 2.5). Por isto mesmo vale que “a salvação só pode ser conseguida por meio dele” (Atos 4.12). Assim confessa a comunidade cristã, muito de acordo com as palavras do próprio Jesus.

vos. Daí porque deveria ser abandonado. Os tais “donos da verdade” se tornaram suspeitos. Costumam perseguir os dissidentes e tiranizar seus semelhantes. Seria preferível, pois, conceder a todos o direito de crer a seu modo e de optar por uma religião de sua escolha. A convivência pacífica de povos e pessoas teria por condição a renúncia à exclusividade dos credos. O fanatismo religioso é um dos maiores flagelos da humanidade.

No século XXI cresce o desconforto com tal afirmação. Há por demais credos em competição no mercado. E todos prometem salvação. Os meios de comunicação propagam grande variedade de propostas. Está difícil orientar-se nesse labirinto. Como sustentar que a salvação se prende somente ao nome de Jesus? A maioria das pessoas não compartilha esta convicção, aliás, nunca compartilhou. A ideia de um “mundo cristão” sempre foi ficção. Não será arrogante, pois, declarar que o ser humano tem em Jesus Cristo o único acesso a Deus? Não existem outros caminhos ao lado dele?

Isto também e especialmente hoje. Quem achou que as guerras religiosas fossem coisa do passado, viu-se enganado. Diariamente se ouve de violência praticada em nome da religião. São verdadeiras barbáries que enchem as manchetes. Seja anotado serem os cristãos e as cristãs os grupos atualmente mais visados. Sofrem perseguição, são assassinados ou forçados a emigrar. Violência em nome da fé seja por muçulmanos, hindus e mesmo por cristãos parece ter readquirido legitimidade. E o mundo afunda cada vez mais em medo, vingança e destruição.

Para muita gente a ideia de uma variedade de opções é simpática. O exclusivismo religioso está na raiz de fatais conflitos entre pessoas e po-

Uma sociedade responsável não pode conformar-se com o massacre religioso. Deve reagir, às vezes até mesmo com contra violência. Para combater o terrorismo não se pode

••• 51 •••


abrir mão da força policial. E, no entanto, esta não deve ser a única nem a primeira iniciativa. Mais importante é desagravar a raiva que produz a violência. De acordo com Jesus o assassinato inicia com o ódio (conf. Mateus 5.22). Todo aquele que odeia é um assassino em potencial. Por isto mesmo o primeiro passo para a paz consiste na superação deste mal. É preciso achar meios para o entendimento mútuo, para a remoção de barreiras, para a reconciliação. Trata-se de uma tarefa gigante, embora inadiável. Entrementes os conflitos, tanto nacionais quanto internacionais, se tornaram ameaça mortal à espécie humana. Como poderemos viver em paz uns com os outros? Um dos principais pré-requisitos certamente é o empenho por justiça. Desigualdade social é um barril de pólvora capaz de explodir a cada momento. Basta uma só faísca. Convém, pois, zelar por um estado que garante a todos os membros seus legítimos direitos. Entre esses cabe destacar o direito à liberdade religiosa como bem o estabelece a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Tutela em assuntos de fé pode ser altamente brutal. Causa revolta, oprime as pessoas, gera inimizades. Então, resulta daí o imperativo de renunciar ao exclusivismo dos credos? Não! Convicções religiosas necessitam de certeza. Quem deixa as pessoas na dúvida, perdeu a credibilidade. O indiferentismo acaba com a fé. Como pessoa cristã afir-

mo com plena convicção ser Jesus Cristo a revelação de Deus por excelência. Esta é a verdade que eu confesso. E tenho bons motivos para isto. Pois não creio em qualquer Deus, e, sim, naquele que “amou ao mundo tanto que por ele deu a vida de seu único filho” (João 3.16). Creio em Deus assim como Jesus o pregou, como Jesus o mostrou, como Jesus o viveu. A este Deus eu dirijo minha oração, invocando-o “Pai Nosso”. Ele me carrega com o seu amor, com a sua bondade, com a sua graça. Ele me salva de inferno, dor e morte. Quem poderia levar-me a este Deus senão unicamente Jesus Cristo? Sei que outros pregam outras vias. Não duvido de sua sinceridade. Mas permito-me perguntar: Que Deus é este, ao qual prometem levar? E qual é o tipo de salvação que oferecem? Também na religião nem tudo o que brilha é ouro. O que acontece é às vezes revoltante. Existem “apóstolos” que exploram a fé do povo com falsas promessas. Transformam religião em dúbio negócio. Religião pode ser abusada para exercer poder, para a promoção pessoal, para criar dependências. Ela pode ser manipulada. Por isto exige o exame crítico, o teste de seu discurso e de sua prática, a cuidadosa avaliação de sua proposta. Qual é o Deus a que nos pretende levar? É sobre isto que devemos falar. Uma sociedade plural como a do mundo globalizado exige o entendimento sobre que importa crer. O diálogo

••• 52 •••


inter-religioso é uma das grandes urgências da atualidade. Pois fé é poderosa. Pode construir, mas também causar terríveis estragos. As pessoas sempre vão agir de acordo com as suas convicções. É esta a razão porque não se pode deixar a fé ao acaso. Devemos prestação de contas do nosso credo. Seja sublinhado que nesse tocante se proíbe qualquer tipo de violência. É o argumen-

to que deve vencer, não a coação, a ameaça ou a força bruta. O diálogo aproxima as pessoas e favorece a comunhão que existe a despeito das diferenças. Queremos viver em paz. Queremos um mundo sustentável. Queremos salvação para nós e para os outros. Consequentemente devemos nos unir, estudar as condições e ver os meios para alcançar este objetivo. O autor é Pastor e Professor de Teologia emérito da IECLB e reside em Nova Petrópolis/RS

••• 53 •••


TOLERÂNCIA: Por uma cultura do diálogo P. em. Anildo Wilbert

Quase que diariamente ouvimos e assistimos a notícias de atos de violência, agressões e assassinatos mundo afora, supostamente em nome da fé. Ouvimos de perseguições a judeus, a cristãos e a islâmicos. E isto em lugares distintos e com um grau de violência menor ou maior. Enfim, existe intolerância religiosa que leva a atos de agressão contra diversos grupos religiosos. Qual é o nosso posicionamento diante disso? O que pensar e o que fazer? Será que não corremos o risco de “ficar cada um na sua“, não nos envolver, ficar indiferentes diante deste quadro? Uma Experiência em Florianópolis Em novembro de 2014 ocorreu em Florianópolis uma experiência marcante de ecumenismo entre credos diferentes: islâmico, cristão e judeu. Foi uma iniciativa da Faculdade Católica de Santa Catarina (FACASC), através do Núcleo de Ecumenismo e Diálogo Inter-religioso, tendo como fio condutor a ideia que a Igreja precisa sair de si, caminhar com outros, sejam eles cristãos ou não. E que os demais percebam que a Igreja Cristã quer ser uma parceira de caminhada. Isto se efetivou

através de palestras, de depoimentos, de diálogo e de uma celebração conjunta. Islamismo: O Islã e seu papel em promover a paz O Sheik Amim Alharam da Comunidade Islâmica de Florianópolis, natural da Síria, com curso superior de teologia islâmica, compartilhou os princípios desta religião para uma cultura de paz, baseados no Corão (Alcarão): - Benevolência e equidade para todos e com todos; - Proibição da agressão, exceto na situação de defesa da vida, honra, pátria, fé e patrimônio; - Garantir a liberdade de fé e religião; reconhecer a diversidade e condutas pessoais, sendo isso algo inerente à natureza e à vida humana; - Proibição da discussão inútil com seguidores das outras religiões, e de ofensas contra seus credos, símbolos e/ou líderes religiosos. Ele igualmente compartilhou o decálogo islâmico: 1º - Não associar nada a Deus e não adorar senão a Ele; 2º - Ter benevolência para com os pais; 3º – Não matar os filhos por receio de pobre-

••• 54 •••


za; 4º – Evitar qualquer tipo de obscenidade ou torpeza; 5º – Não cometer homicídio ou agressão à vida humana ou animal; 6º – Não escamotear os bens dos órfãos; 7º – Ser honesto nas transações comerciais; 8º – Agir sempre com justiça e equidade, mesmo em detrimento de parentes; 9º – Cumprir o compromisso e os acordos com Deus, em primeiro lugar, e com os homens; 10º Seguir a senda reta e o caminho de Deus, traçado por Seus Profetas e Mensageiros. Cristianismo: Tolerância e busca da verdade O Padre José Artulino Besen da Arquidiocese de Florianópolis, membro da Academia Catarinense de Letras e Professor Pesquisador da FACASC, compartilhou: “Temos como evidente que uma religião, livremente assumida, é consequência da busca da verdade, do sentido para a vida. Mas, podemos estabelecer uma diferenciação entre a posse da verdade e a busca da verdade. A posse da verdade é a convicção de quem a reduz a um conceito, a uma dedução da lógica. Possuir a verdade identificando-a com Deus é negar o próprio Deus, que a tudo transcende e a tudo inclui. Quando se identifica Deus com um conjunto de teologias e atitudes morais, a verdade é negada em sua natureza, e Deus é negado em sua verdade e se mergu-

lha na idolatria: Eu conheço, Deus é meu! A grande fonte da intolerância é o considerar-se ‘possuidor da verdade’, possuidor do Deus único e verdadeiro. Porque a pessoa com esse pensamento se colocará em oposição aos outros e, tendo poder, procurará reduzi-los à sua verdade. O possuidor da verdade se considera também dono das normas de comportamento e passa a ser intolerante. O melhor caminho, o mais humilde caminho humano é ‘buscar a verdade’. Quanto mais ela for buscada, mais será conhecida e amada e mais faltará para encontrá-la. Pois a verdade é infinita. Mas, pode-se perguntar, não é possível conhecer a Deus? Ele não nos deixou um critério para saber que estamos sendo verdadeiros ao procurá-lo? As três religiões monoteístas – islamismo, cristianismo e judaísmo – receberam este sinal: Um rosto, o rosto humano criado à imagem e semelhança do rosto de Deus. Cada rosto humano, de todo ser humano, tem vestígios reveladores de Deus, vestígios da verdade”. A partir da referência da imagem de Deus, nas grandes religiões monoteístas, que creem em Deus como Pai, não há espaço para a intolerância. Há isto sim, um campo de missão para a pluralidade religiosa. E a missão, por sua vez, é um cami-

••• 55 •••


nho de misericórdia, de partilha, na perspectiva de um encontro, pois anuncia Deus que vem ao nosso encontro. Judaísmo: Vida e morte na construção da tolerância religiosa A professora Ethel Scliar Cabral, conselheira no Conselho Municipal de Promoção de Igualdade Racial e na Associação Israelita Catarinense, falou em nome da comunidade judaica. Iniciou sua palestra, convidando para uma reflexão sobre a raiz da intolerância com a história: O homem e o cachorro: - Um homem caminha por um parque e vê outro, em uma árvore, ao lado de um cão. Então lhe pergunta: Seu cachorro morde? E ele responde: Não, não morde! Então, lá vai nosso bom amigo e se aproxima do cão. Este avança e morde seu calcanhar! O homem fica furioso e já vai partir para a briga, dizendo: Você me disse que o seu cachorro não morde! O outro responde: Verdade! Meu cachorro não morde. Mas esse cachorro não é meu! Ethel concluiu: Perceba que a briga, a intolerância, começa no momento em que não entendemos o outro: estamos falando de coisas diferentes! Então, para construir a tolerância é importante certificar-se de que os dois lados estão falando sobre o mesmo assunto. A seguir apontou para Sara, esposa de Abraão que tem muito a nos en-

sinar sobre a questão da tolerância. Quando Sara faleceu, Abraão vai em busca de um local para sepultá-la. Ele é estrangeiro e forasteiro entre os canaanitas. Pede a eles um local para enterrá-la. Os canaanitas lhe dizem que ele pode escolher. Abraão escolhe uma gruta na terra em Hebrom. Os donos da terra no primeiro momento não cobram, mas Abraão insiste em pagá-la. E o príncipe Efron dá o preço: 400 ciclos de prata. É um valor muito alto. Ethel apontou com esta história para outro aspecto da intolerância: primeiramente as pessoas mostraramse tolerantes (pode ficar, de graça, com a terra), mas, no fundo, quer cobrar, e cobra. Ela afirmou: “A intolerância tem um preço e é fundamentado na dissimulação. É a falsa tolerância”. Percebemos, assim, que a intolerância está fundamentada na falta de uma linguagem comum e na falsa tolerância, na dissimulação. À luz da vida de Abraão, Rebeca e Isaque, a palestrante mencionou que para construir pontes e promover a tolerância, não podemos desistir, interromper o processo que está em andamento. Na experiência em questão, os camelos a que Rebeca deu água, decidiram quando parar de beber. Rebeca por sua vez vai ao encontro de Isaque, sem conhecê-lo, para ser sua esposa. A palestrante concluiu que, mesmo quando não entendemos ou dominamos tudo, é preciso aceitar para além do enten-

••• 56 •••


dimento, com o coração aberto, alma leve e uma boa dose de confiança no Deus de Abraão e de Isaque, que continua presente em nossos relacionamentos. A fé cristã e a paz Certamente Jesus Cristo continua a nos dizer, sempre de novo: Bemaventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus (Mateus 5.9). E nós queremos ser pessoas que promovem a paz, pela graça de Deus. Por isso importa que tenhamos ouvidos e mentes abertas para outras recomendações de Jesus, tais como: “amar os inimigos” (Mateus 5.44), “amar a Deus de todo o coração e ao próximo como a nós mesmos” (Lucas 19.27). A observância e estudo dos 10 mandamentos continuam válidos para a prática e a vivência da paz, do diálogo e da tolerância.

tória bíblica de Caim e Abel (Gênesis 4). Em especial pelo fato que Caim matou seu irmão Abel. Certamente ninguém de nós quer ser um Caim, nem um Abel. Cada um quer isto sim, continuar a viver como irmão e irmã de sangue, de fé e com todos. E isto depende também de cada um de nós! Importa buscar diariamente junto ao Deus único: no Corão (pelos islâmicos), na Bíblia Sagrada (pelos cristãos) e na Torá (pelos judeus) a verdade. Buscar ao próprio Deus e seus ensinamentos, para construir uma vida em que reine a tolerância e criar uma cultura do diálogo. Desejo muito que cada vez mais passos concretos sejam dados na perspectiva do diálogo, testemunho, em encontros, na convivência e amizade de pessoas de religiões diferentes e que aprendamos a ser misericordiosos com todos.

No contexto da paz lembramos a hisO autor é pastor emérito da IECLB e diretor do Jornal O Caminho, residente em Florianópolis/SC

••• 57 •••


Sola Scriptura – Somente da Escritura – P. Dr. Dr. Gottfried Brakemeier

A Reforma do século XVI foi um movimento de resgate da autoridade da Sagrada Escritura. Como professor na área do Antigo e do Novo Testamento Lutero percebeu o quanto a igreja de seu tempo havia se afastado do evangelho. Basta lembrar a prática das indulgências, a natureza meritória das boas obras, o celibato obrigatório do clero. Tudo isto não tem base bíblica. O ser humano é salvo pela graça, não por dinheiro ou esforço próprio, nem por mediação da igreja ou de algum santo. A graça de Deus é gratuita. Assim ensina a Bíblia. Os abusos provocaram o protesto de Lutero. Foi condenado como herege. Seu pedido por argumentos bíblicos que comprovassem seus erros ficou sem resposta. A igreja da época se fechou à reforma. Negou a Lutero o direito de desafiar a tradição eclesial. A autoridade do papa seria superior à de um pequeno monge, mesmo que este fosse doutor em teologia. Lutero não se convenceu. Sustentou que também o magistério da igreja deve submeter-se ao testemunho bíblico. Discurso e prática da igreja têm aí o critério normativo. O que conflita com este critério deve ser abolido, corrigido, reformado. Somente a Escritura deverá ditar as regras a prevalecer em fé e conduta.

Mesmo assim, Lutero não era “literalista”. Não atribuía a todas as passagens bíblicas a mesma validade, o mesmo peso. Ele, por exemplo, tinha um juízo negativo sobre a carta de Tiago, na qual via muita lei e pouco evangelho. A Escritura não deixa de ser palavra de pessoas muito humanas, filhos e filhas de seu tempo, capazes de errar. Ela é um livro plural, no qual se fazem ouvir vozes muito diferentes. O que une esta pluralidade é Jesus Cristo. É nele que a Escritura tem seu referencial, o ponto de convergência, seu centro. No entender de Lutero a interpretação da Bíblia deve ser “evangélica”. Ela deve buscar Jesus Cristo no depoimento dos autores, o espírito por detrás da letra, o evangelho em cada um dos textos. Assim como o próprio Jesus Cristo, assim também a Bíblia é humana e divina ao mesmo tempo. Ela é palavra de Deus por anunciar salvação e vida a quem crê. A Bíblia tem o amor de Deus, sua santa vontade, sua graça e misericórdia por conteúdo. Mas ela o apresenta em embalagem humana, em línguas entrementes extintas, em discurso de gente da época. É preciso distinguir entre o lado humano e divino da Bíblia. Aplica-se também a ela a imagem do tesouro guardado em vasos de barro (2

••• 58 •••


Coríntios 4.7). Ela contém um tesouro, sim. Mas este não deve ser confundido com a forma da sua apresentação. O que de fato vale é o que Deus disse e fez, não o invólucro de que o seu testemunho se reveste. Será difícil descobrir este tesouro? A interpretação da Bíblia evidentemente exige trabalho. Existem até mesmo passagens difíceis de entender. Lutero jamais o negou. E, no entanto, nas coisas que tocam a salvação do ser humano ela é clara como o sol. Deus criou céus e terra, enviou Jesus Cristo para a salvação dos seres humanos, perdoa-lhes os pecados e os aceita como filhos e filhas. Quem fosse tão obstinado a ponto de não entender? De acordo com Lutero a Bíblia não necessita de um magistério alheio para ser entendida. Ela se interpreta a si mesma. Para tanto, porém, importa que seja

lida na íntegra. Proíbe-se tirar partes daqui e de lá para formar um juízo de fragmentos. Isto acaba em interpretação superficial e até mesmo interesseira. Acima de tudo, porém, importa perguntar por aquele centro que é Jesus Cristo. Ele é o critério de interpretação autêntica, seu Espírito orientador. A igreja cristã está construída sobre o fundamento dos profetas e apóstolos (Efésios 2.20). Quem busca informação sobre Jesus Cristo e a história que o precedeu, deve recorrer à Bíblia. Não há alternativa. Ela é palavra apostólica que aponta para Jesus Cristo, o verbo feito carne (João 1.14). As confissões e a doutrina da igreja têm aí sua base, sem exceção alguma. Quem alega possuir outras fontes corre o risco de desviar da verdade. Lutero, pois, tem toda razão ao insistir na “sola scriptura”. O autor é pastor emérito da IECLB e Professor de Teologia, residente em Nova Petrópolis/RS

O texto acima, que faz parte da Série: Fundamentos da Teologia Luterana também pode ser solicitado em forma de Folheto Evangelístico por E-mail: folhetos@centrodeliteratura-ieclb.com.br ••• 59 •••


Regras para a vida Tradução e adaptação: P. Dr. Osmar Zizemer

Experiências de um homem idoso – para a sua própria geração 1. Tenha clareza de que as pessoas mais jovens - sejam elas parentes ou outras pessoas queridas de ambos os sexos - têm o direito de trilhar os seus próprios caminhos, de seguir os seus próprios princípios, de ter as suas próprias ideias e desejos (e não os seus!). Elas têm o direito de fazer as suas próprias experiências e de serem felizes do seu jeito. 2. Você não deve procurar impor-lhes o seu gosto, nem o seu exemplo, nem a sua sabedoria adquirida com os anos, nem o seu amor, nem mesmo os seus atos de benevolência. 3. Não se incomode nem se entristeça se você sentir que pessoas mais jovens muitas vezes têm somente pouco tempo - ou nenhum tempo – para você. Saiba que você, por mais seguro que você esteja em suas posições em relação a elas, e por mais bem que as queira, às vezes as incomoda e aborrece. É por isso que então não dão importância a seus conselhos. 4. De modo algum as abandone! Pelo contrário, dê-lhes liberdade e acompanhe-as com alegre tranquilidade. Confie em Deus e espere o melhor delas. Ame-as sempre, e ore por elas em todas as situações. Karl Barth, ANNO DOMINI, Das christliche Jarbuch 1997, Hamburg, página 115

••• 60 •••


Uma lição de vida Uma senhora idosa, elegante, bem vestida e penteada, estava de mudança para uma casa de repouso. Pois o marido, com quem vivera 65 anos, havia falecido e ela ficara só… Depois de esperar pacientemente por duas horas na sala de visitas, ela ainda deu um lindo sorriso quando uma atendente veio dizer que seu quarto estava pronto. A caminho de sua “nova morada”, a atendente ia descrevendo o minúsculo quartinho, inclusive as cortinas de chintz florido que enfeitavam a janela. - Ah, eu adoro essas cortinas – disse a idosa com o entusiasmo de uma garotinha que acabou de ganhar um cachorrinho. - Mas a senhora ainda nem viu seu quarto…

- Nem preciso ver – respondeu ela. – Felicidade é algo que você decide por princípio. E eu já decidi que vou adorar! É uma decisão que tomo todo dia quando acordo. Sabe, eu tenho duas escolhas: Posso passar o dia inteiro na cama contando as dificuldades que tenho em certas partes do meu corpo que não funcionam bem… ou posso levantar-me da cama agradecendo pelas outras partes que ainda me obedecem. Cada dia é um presente. E, enquanto meus olhos abrirem vou focalizá-los no novo dia e também nas boas lembranças que eu guardei para esta época da vida. A velhice é como uma conta bancária: Você só retira daquilo que você guardou. Portanto, eu lhe aconselho depositar um monte de alegria e felicidade na sua Conta de Lembranças. E como você vê, eu

••• 61 •••


ainda continuo depositando. Agora, se me permite, gostaria de lhe dar uma receita: 1 - Jogue fora todos os números não essenciais para sua sobrevivência. 2 - Continue aprendendo. Aprenda mais sobre computador, artesanato, jardinagem, qualquer coisa. Não deixe seu cérebro desocupado. 3 - Curta as coisas simples. 4 - Ria sempre, muito e alto. Ria até perder o fôlego.

que você gosta: pode ser a família, animais, lembranças, música, plantas, um hobby, o que for. Seu lar é o seu refúgio. 7 - Aproveite sua saúde. Se for boa, preserve-a. Se está instável, melhore-a. Se está abaixo desse nível, peça ajuda. 8 - Em todas as oportunidades diga a quem você ama que você realmente o/a ama. E lembre-se sempre:

5 - Lágrimas acontecem. Aguente, sofra e siga em frente. A única pessoa que acompanha você durante toda a vida é VOCÊ mesma. Esteja VIVA, enquanto você viver.

A vida não é medida pelo número de vezes que você respirou, mas pelos momentos em que você perdeu o fôlego… de tanto rir… de surpresa… de êxtase… de felicidade!

6 - Esteja sempre rodeada daquilo de

Simples assim!!! Autor desconhecido, extraído da Internet

••• 62 •••


Água: nosso pão de cada dia P. Dr. Flávio Schmitt

Água é vida! Esta expressão já foi dita infinitas vezes. De fato, sem a presença da água não há vida. Vida e água, água e vida são duas realidades que dependem uma da outra. Ainda assim, os sinais mostram que temos grandes dificuldades para levar a sério o quanto a vida depende da água. Diferentes tradições religiosas têm na água um símbolo para expressar suas verdades mais profundas. Muito já se escreveu sobre a água. Especialmente nos últimos anos, têm sido realizadas as mais diversas pesquisas sobre a água. Temos muito conhecimento sobre a água, seja na sua condição física, química ou biológica. A partir das últimas déca-

das do século passado a água também passou a fazer parte da agenda de organismos internacionais, governos, entidades de proteção ambiental e profissionais de diferentes áreas. Na escola aprendemos que 80% de nosso organismo é composto por água. Também há quem diga que a ingestão regular de água contribui significativamente para a conservação de nossa saúde. Como solvente natural, a água auxilia na prevenção de doenças e na proteção do organismo contra o envelhecimento. Também sabemos que 70% da superfície da terra está coberta de água. Porém, menos de 3% de todo este volume corresponde à água

••• 63 •••


doce. Além da pequena porcentagem de água doce, a maior parte desta água está concentrada em geleiras, tanto nos polos como em forma de neve nas montanhas. Esta reserva de água está distribuída entre aquíferos (29,7%), calotas polares (68,9%), rios e lagos (0,5%) e em forma de nuvens e vapor (0,9%). Já os 97,5% de água salgada disponível no planeta está nos oceanos. Ao falar da água na teologia, seja na tradição judaica ou cristã, não podemos abrir mão da situação da água em nosso tempo. Mais do que um símbolo religioso, este bem tão precioso e caro à existência da vida, cada vez mais tem se tornado um produto de comercialização. Na origem de boa parte das questões e polêmicas acerca da água levantadas nas últimas décadas, está em jogo a privatização deste recurso natural e os interesses relacionados com sua comercialização. Na Bíblia, a água está presente do Gênesis ao Apocalipse. A história do povo de Deus não pode ser contada sem a água, seja pela sua presença, seja pela sua ausência. O próprio relato da criação começa com a água (Gênesis). Uma das primeiras obras de Deus é criar as águas. Depois, separar as águas de cima e de baixo (Gênesis 1.4). Alguns capítulos adiante o Gênesis nos fala do dilúvio (Gênesis 6). As águas destruidoras presentes nas inundações devastadoras também são conhecidas no texto sagrado. Também existe a

água que causa a morte (Êxodo 15). Porém, a abundância de água não é expressão da realidade da Palestina. Pelo contrário, a terra de Jesus se caracteriza justamente pela escassez de água. Disso dão conta vários relatos, tanto do Antigo quanto do Novo Testamento. Fontes e poços são sinais de alívio da sede e de esperança de vida. Também na Escritura, a água é motivo de conflito. A história do povo de Deus no Antigo Testamento reflete vários conflitos e situações tensas relacionadas com a água. O palco das narrativas é uma faixa de terra de clima subtropical marcado por uma estação de chuva e outra de seca, onde água chega a ser questão de vida e de morte (Gênesis 41.52 até 42.3). Considerado pela teologia como evento fundante, o Êxodo tem na água seu símbolo maior. A passagem pela água é expressão da mais profunda liberdade alcançada pelo ser humano na ação de Deus (Êxodo 14). Também o milagre da água que brota da pedra no deserto (Êxodo 17.6) está relacionado com a provisão divina. Assim como na busca por liberdade o povo precisa superar a ameaça da água, ao reconstruir a vida na terra prometida. A presença de fontes de água torna-se fundamental para o estabelecimento do assentamento (Juízes 7; 1 Samuel 24). No contexto de escassez e falta de água, o povo de Deus do passado nos

••• 64 •••


ensina ao menos duas coisas: 1.) Na prevenção da falta e no suprimento da água reside a possibilidade de vida plena e até da própria sobrevivência.

sede. E a água que eu lhe der se tornará nele uma fonte de água que jorra para a vida eterna” (João 4.13-14).

2.) O povo de Deus aprendeu a ver na água um sinal da benção de Deus. Como o bem mais precioso era o líquido cristalino que vem das fontes e poços, a expressão "fonte da água viva" (Salmo 36.10; Jeremias 2.13) chega a ser empregada para falar do próprio Deus.

O simbolismo da água presente nas palavras de Jesus aponta para o novo, para a purificação e para restauração. Na boca de Jesus água passa a ser fonte de vida. A água viva e corrente é usada para significar o Espírito, para a vida segundo a vontade de Deus. Por isso também o Batismo ocupa lugar de destaque na vida de Jesus e de seus seguidores.

Na prática de Jesus a água ocupa um lugar especial. Em torno da água são testemunhadas várias situações. Junto às águas do lago Jesus convida discípulos a segui-lo. Jesus transforma água em vinho, anda sobre as águas e, com água, lava os pés de seus discípulos. Além do uso da água como sinal da presença ao Reino de Deus, Jesus também falou da água.

O Batismo na água e no Espírito Santo significa a derrota de todo pecado e mal, e novo nascimento, verdadeira vida e vitória pela ressurreição de Cristo. O lavar regenerador no Espírito Santo concede vida e salvação. É a benção em sua plenitude. A água que purifica e faz renascer. Água que sacia toda a sede, especialmente a sede de vida.

No relato de João, Jesus mesmo se apresenta como a água da vida eterna. No encontro de Jesus com a samaritana junto ao posto de Jacó, Jesus nos fala da água que redime e faz criaturas novas. “Todo aquele que bebe desta água terá sede de novo. Mas quem beber da água que eu lhe darei, esse nunca mais terá

Seja como elemento essencial à nossa vida e saúde, seja como sinal de benção ou como expressão de nosso lavar regenerador diário, a água precisa ter em nós, cristãos batizados, sua maior atalaia, vigia e defensor incansável. Água limpa, pura e cristalina é certamente o bem material e simbólico mais precioso à vida. O autor é Pastor da IECLB e professor de Novo Testamento, atuando na Faculdades EST em São Leopoldo/RS

••• 65 •••


Água: Dádiva Preciosa P. Vitorino Reetz

Nos tempos atuais um dos temas centrais de debate é falar sobre a água. A falta de água foi um assunto muito usado nos debates políticos nas últimas eleições. Houve muitas acusações entre os candidatos aos governos nos municípios, estados e país culpando-se mutuamente pela situação crítica da escassez de água nas grandes cidades do país e pela falta de planejamento e prevenção. Isso mostra que nada tem atraído mais atenção do que falar desse grave problema que atinge grande parte das regiões de nosso país. Há poucos anos a falta de água era assunto restrito à região do nordeste. Essa realidade vem mudando radicalmente nos últimos anos, pois muitas regiões estão passando dificuldades pelas longas estiagens que vem ocorrendo cada vez com mais frequência. O estado de São Paulo, por exemplo, vem enfrentando a pior crise hídrica de sua história. A situação é crítica devido ao baixo reservatório e o alto consumo de água pela população e pela baixa perspectiva de chuvas esperadas para a maior parte do ano. No estado do Espirito Santo a situação também é preocupante. É muito comum o estado passar em grande parte do ano cada vez mais longos tempos sem chuvas, o que está gerando grandes secas.

Mas em dezembro de 2013, o estado passou pelas maiores enchentes dos últimos 70 anos. A enchente causou muita destruição, perda de casas, bens materiais e grandes prejuízos na agricultura. Já no ano de 2014, o estado enfrentou a maior seca dos últimos quarenta anos. Ou seja, em menos de um ano aconteceram os dois extremos, o que mostra um desiquilíbrio da natureza. Na estiagem de 2014, em muitas cidades, houve racionamento de água. No interior, muitas nascentes e córregos secaram. O volume de água nos rios maiores baixou muito. A seca causou grandes prejuízos para os agricultores e pecuaristas. As famílias luteranas do Espírito Santo, na sua maioria, vivem da agricultura. Basicamente, vivem da produção de café, hortaliças, fruticultura e pecuária. Nosso estado é um grande produtor de café. E a sua produção consome grande quantidade de água para a irrigação das lavouras. Muitos agricultores ficaram sem água para irrigar as lavouras. Muitas famílias se endividaram com financiamentos em bancos para fazer investimentos na agricultura. Além de tudo isso, a falta de água vem causando divergências entre a população, de forma especial, entre vizinhos agricultores. Há acusações de que alguns consomem muita água nas irrigações, enquanto falta

••• 66 •••


para outros. Isso está gerando desentendimento e grande desânimo das famílias em continuar na agricultura. São muitas as famílias que migram para as cidades em busca de uma vida melhor. Tudo isso gera grandes preocupações para as autoridades civis, bem como, para toda a população. Neste cenário crítico da falta desse bem precioso que é a água, percebese também a irresponsabilidade de toda a população. Pois é comum o desperdício de água, seja no uso pessoal, seja na irrigação inadequada na agricultura. As cidades continuam poluindo os rios despejando ali o esgoto sem tratamento. A população joga lixo nos córregos e rios. As nascentes e os leitos dos rios ainda continuam, na sua maioria, desprotegidas. O uso errado de agrotóxicos continua poluindo os rios. Outro fator em nosso estado que prejudica os rios é a extração de pedras, que vem causando o assoreamento dos cursos d’água. Enfim, são muitas as irresponsabilidades para com a água. Às vezes, temos a impressão de que só aprendemos a valorizar algo, quando o estamos perdendo. Deus criou a terra e todos os seres vivos e deixou o ser humano para cuidar de toda a criação (Gênesis 1). Assim sendo, é fundamental uma reflexão bem profunda sobre o cuidado que devemos ter com esse bem precioso que é a água. Essa atribuição precisa partir de todas as instituições, como:

famílias, igrejas, escolas e governantes. Elas precisam criar mecanismos de educação, para que a sociedade como um todo se conscientize da necessidade do cuidado para com o uso responsável da água nas cidades e na roça. É preciso ter clareza de que a água pode, sim, vir a faltar, como já se está percebendo em muitos lugares. Por isso é preciso colocar em prática a tarefa que recebemos de Deus, ou seja: cuidar de sua criação! Já se veem sinais de que parte da sociedade está se esforçando para mudar esse cenário preocupante. Por exemplo: muitos agricultores estão cercando as nascentes e arborizando em sua volta. Nas escolas está-se intensificando a conscientização da necessidade de poupar e cuidar da água nas questões básica do dia a dia. É preciso que todos nós façamos a nossa parte para que tenhamos em abundância a água, que o Criador nos confiou, para dela nos alimentar e nos purificar.

••• 67 •••

O autor é Pastor da IECLB na Paróquia de Baixo Guandu/ES


As águas de março – águas em excesso P. Jorge Klein

As “águas de março” lembra o título de um filme. Na área pastoral de Porto Velho/RO lembra enchente, e das grandes. E é em março que ela se avoluma, muitas vezes impedindo celebrações de Páscoa na área pastoral. O pastorado de Porto Velho abrange uma área geográfica mais ou menos do tamanho da Alemanha e Portugal juntos. Atendemos o norte da Rondônia, sul do Amazonas e todo o estado do Acre. Fazemos divisa com a Bolívia e o Peru. Em sua área estão duas capitais: Porto Velho/RO e Rio Branco/AC. Além disso, há quatro pontos de pregação no interior: Boca do Acre (sul do Amazonas); Nova Mamoré, na região de Guajará-Mirim (divisa com a Bolívia) e mais dois pontos que ficam no próprio município de Porto Velho. Aliás, o município de Porto Velho abrange uma área geográfica do tamanho do estado de Alagoas. Dentro desse universo ocorreram duas cheias seguidas: 2014 e 2015. O estado do Acre foi atingido duas vezes. Em 2014, ele ficou isolado do resto do país por via terrestre. O valor das passagens aéreas foi às nuvens. Mas com a graça de Deus, nossos membros naquela região não ficaram sem assistência religiosa e apoio solidário. O P. João Bolla, capelão militar baseado em Rio Bran-

co, assumiu o atendimento pastoral. A segunda cheia alcançou o Acre em 2015, causando grandes transtornos. Quem conhece o Rio Acre - um pouco mais que um arroio durante a seca - não consegue imaginar o mundão de água em que ele se transforma. Pela posição geográfica, o Rio Acre recebe as águas que vem das montanhas da Bolívia e parte do Peru. O estado do Acre é banhado pelo Rio Iaco, que por sua vez desemboca no Rio Purus. Já Porto Velho sofre com as águas que vem da encosta leste da Cordilheira dos Andes e deságuam no Rio Bene, na Bolívia, afluente do Rio Madeira. Acolhe as águas que vem do Peru. O ponto de chegada de todas estas águas é o Rio Amazonas. A enchente de 2014 foi muito danosa ao Acre. Não havia como abastecer o mercado local por terra. O Acre consome em torno de 400 toneladas/mês de produtos de primeira e segunda necessidade. Mas tem uma produção própria de apenas 150 toneladas. Em torno de 250 toneladas precisam vir de fora de alguma forma. Como abastecer? Alguns produtos vieram do Peru. Mas existem barreiras comerciais que entravam a livre circulação de produtos. Para abastecer o mercado várias medidas tiveram que ser tomadas: Fazer atravessar duas ou mais carretas com ali-

••• 68 •••


mentos por dia, puxadas por grandes máquinas moto-niveladoras; transportar alimentos por avião ou ainda levar alimentos por grandes barcaças de Manaus a Cruzeiro do Sul/AC, via rios Amazonas, Solimões e Juruá. E de Cruzeiro do Sul os produtos ainda tinham uma longa estrada de 600 km em péssimas condições para chegar à capital Rio Branco. Segundo o meteorologista Ricardo Dala Rosa, do Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam), as chuvas nos países vizinhos, em especial na Colômbia, no Peru e na Bolívia, estão influenciando no aumento do nível dos rios na Amazônia brasileira. "O que tem provocado a elevação dos níveis dos rios aqui são as chuvas que estão caindo principalmente na encosta leste dos Andes", disse. De acordo com o meteorologista, o inverno amazônico agrava a situação. "Quando há superávit de chuva na estação seca isso não é muito preocupante. Mas, quando ele se prolonga também na estação chuvosa, isso significa que há grandes volumes de água caindo nessa região. E essa água vai, via de regra, ganhar os cursos de água e elevar os níveis dos rios." Alguns comentários ajudam a compreender o que significa uma cheia em nossa região. Em geral somos uma região muito plana. Dois ou três metros de água acima do nível médio já significam alagamento. Ou alagação, como se diz aqui. O Rio Acre neste ano alcançou 18 metros acima

do nível e o Rio Madeira 20 metros acima do nível. Chamou a atenção a capacidade da natureza em mostrar ao ser humano o que ele não deve fazer. Se a engenharia tivesse usado o nível, muitos trechos da rodovia BR 364 não teriam sido alagados. Após três meses de cheia, a água mostrou a altura que o leito da rodovia deveria ter. As cheias também mostraram a insensibilidade humana. Na região de Guajará-Mirim o botijão de gás chegou a R$ 90,00. Os flagelados resistiam em sair de perto de seus bens. Os depósitos oficiais não são seguros. As pessoas levavam tudo para os abrigos. Mesmo sob cuidado, muitos eletrodomésticos sumiam. As providências prometidas pelas autoridades são muito morosas. Em 2015 tivemos a segunda cheia. Mas os problemas da cheia anterior ainda persistem. O custo de vida subiu muito. Muitos flagelados e pescadores receberam ajuda financeira e alimentação. Mas o grosso da população teve que se virar cada um a seu jeito. Isto significa que a população nos últimos dois anos empobreceu. O

••• 69 •••


rendimento não é compatível com os gastos. Não é possível manter o mesmo padrão. Economistas acreditam que a região levará mais de 20 anos para chegar ao patamar em que já estava. Em outras palavras: são vinte anos sem desenvolvimento social-econômico. Para completar, ainda estão em pleno andamento as demissões em massa em razão do fim das grandes obras do PAC: As hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau; a Ponte sobre o Rio Madeira, ligando a Rondônia a Humaitá/AM e início da rodovia Transamazônica, além dos vários viadutos em construção na capital Porto Velho. A hidrelétrica Santo Antônio chegou a ter mais de 30 mil pessoas no seu canteiro de obras no auge da construção; a Hidrelétrica Jirau em torno de 25 mil operários. Nestes últimos anos Porto Velho explodiu geograficamente. O templo da Comunidade Evangélica de Confissão Luterana está localizado no bairro mais violento da capital. Houve, inclusive, toque de recolher. As atividades religiosas noturnas foram suspensas. Além disso, os haitianos descobriram o Brasil. Chegam pela Bolívia até Rio Branco. Lá são alojados pelo governo acreano. É comum encontrá-los nas estações rodoviárias de Rio Branco e Porto Velho tomando rumo de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. São pessoas que vem com uma mão na frente e outra atrás, ali-

mentados pela coragem e pela fé. Em Porto Velho fundaram a Igreja Presbiteriana Haitiana. Fala-se ali o dialeto deles, francês e um pouco de português. Muitos haitianos falam quatro línguas: crioulo, francês, espanhol e inglês. Em si, este é o contexto onde se pratica Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil. É apenas uma das realidades do Sínodo da Amazônia. Aqui somos uma igreja pequena, diante das outras igrejas da Reforma. Somos um grão de areia diante do contexto das igrejas pentecostais e neopentecostais. Mas somos a IECLB. O conjunto dos membros tenta representá-la da melhor forma possível, sem medir esforços, nem se retraindo. Na verdade ainda temos poucos modelos para a forma de ser igreja em grandes aglomerados populacionais. Mas temos uma herança com um DNA reforçado: Herdamos de nossos antepassados a garra de sermos luteranos. Este diferencial aqui é fundamental. Muitas pessoas ficam anos sem igreja, até encontrarem a sua Igreja Evangélica de Confissão Luterana. Muitos fazem centenas de quilômetros para participarem dos cultos. E eles vêm ao culto também para buscar novidades. É comum ouvi-los comentando assuntos trazidos ao culto um ou dois meses antes.

••• 70 •••

O autor é pastor da IECLB, e atua na Paróquia com sede em Porto Velho/RO


Águas de destruição – águas de salvação P. Dr. Carlos A. Dreher

“No princípio, criou Deus os céus e a terra. A terra, porém, estava sem forma e vazia, e o Espírito de Deus pairava por sobre as águas.” (Gênesis 1.1-2). Assim o texto bíblico nos fala sobre o início da criação. A terra, sem forma e vazia, na verdade era um caos, uma confusão, que precisava ser posta em ordem. O que se pode perceber do que está escrito, é que este caos era uma profunda escuridão e uma enorme confusão de águas. Sobre estas águas pairava o Espírito de Deus. As águas são o caos, especialmente para um povo que não aprendeu a navegar. O mar assusta. Uma tempestade em meio às águas põe todas as pessoas a bordo em perigo. Na

história de Jonas, é preciso encontrar o culpado e lançá-lo ao mar, para que as ondas se aplaquem (Jonas 1). Do ventre do peixe, Jonas diz em sua oração: “Tu me lançaste no profundo, no coração dos mares, e a corrente das águas me cercou; todas as tuas ondas e as tuas vagas passaram por cima de mim.” (Jonas 2.3; cf. Salmo 42.7). É por isto que as duas primeiras grandes obras de Deus em sua criação são a luz - no primeiro dia, fazendo a separação entre luz e trevas, dia e noite - e a criação de um firmamento para separar as águas debaixo do firmamento e as águas sobre o firmamento (Gênesis 1.2-8). O caos está dominado. É este mesmo caos que se abate so-

••• 71 •••


bre o mundo, quando Deus, cansado dos desmandos humanos, deixa que se abram as comportas do firmamento que fizera para separar as águas de cima e as águas de baixo. As águas de cima se confundem com as de baixo, e o caos se reinstaura no dilúvio (Gênesis 6-9; cf. especialmente Gênesis 7.11). Mas Deus se arrepende de querer permitir que o caos das águas se reinstaure e salva a humanidade, salvando-a e colocando o arco-íris no céu, como sinal de que não mais irá destruir toda a carne pelo dilúvio (Gênesis 9.8-17). É interessante observar aqui que também outros povos conhecem a tradição de um dilúvio. Assim, em grande parte semelhante ao relato bíblico, conhecemos a Epopeia de Gilgamesh, da Mesopotâmia, na qual também é narrado a respeito de um dilúvio e da salvação do herói em um pequeno barco. Da Índia sabemos de um dilúvio, cuja narrativa inicia com o deus Vishnu assumindo a forma de um grande peixe para avisar um pescador sobre a catástrofe que se aproxima. Da Grécia conhecemos o “Mito de Deucalião e Pirra”, um casal salvo do dilúvio, navegando em uma canoa até as águas baixarem. Não por último, nossos indígenas contam o “Mito da Terra sem Males”, segundo o qual houve um enorme estrondo no oeste, após o qual a terra baixou no leste, permitindo que a água do mar inundasse toda a terra. Apenas um casal foi salvo por Tupã, que o

levou para a Terra sem Males quando as águas já atingiam o topo de um coqueiro sobre o qual o homem e a mulher se abrigavam. Voltemos, porém, à Bíblia. Há uma clara relação entre Gênesis 1 e Gênesis 6-9. Em Gênesis 1, Deus divide o caos, fazendo a separação entre as águas através do firmamento. Em Gênesis 6-9, Ele permite que as águas se reúnam, e o caos volte a reinar. De uma forma um tanto distinta, mas na mesma direção, aponta a passagem pelo Mar dos Juncos, após a saída do Egito (Êxodo 14.15-41). Também aqui, por ordem de Deus, Moisés, por assim dizer, “separa” as águas do mar, dividindo-as. Intenção é que os hebreus saídos da escravidão, mas agora perseguidos pelo exército egípcio, possam escapar, atravessando o mar a pés enxutos. Aqui, a separação das águas é benéfica, sim, salvífica, para os hebreus. Para os egípcios, contudo, ela representa uma armadilha inescapável! Como em boa parte já prenunciava a narrativa do dilúvio, a confusão das águas pode tornar-se uma arma poderosíssima contra os inimigos de Deus e de seu povo. Assim canta Miriam: “Cantai ao Senhor, porque gloriosamente triunfou; e precipitou no mar o cavalo e o seu cavaleiro” (Êxodo 15.21). Assim também ocorre no Cântico de Débora, em Juízes 5, um cântico certamente mais antigo que sua versão

••• 72 •••


em prosa no capítulo 4. Ali é descrita uma batalha desigual entre os poderosos exércitos das cidades-estado da Planície de Jezreel, equipados com seus carros de guerra altamente eficientes nas áreas planas da Palestina, e os camponeses das antigas tribos de Israel, fracamente armados. Tudo parece perdido para os camponeses. Contudo, “as estrelas pelejam desde o céu”! (Juízes 5.20) Uma copiosa chuva de verão se abate sobre o campo de batalha. O pequeno ribeiro Quisom, normalmente um leito seco de rio que só tem água na estação das chuvas, se transforma em torrente avassaladora contra os inimigos do povo de Deus e os destroça. A força das águas, mais uma vez, é força de destruição, porém, apenas para os inimigos de Deus e de seu povo. Para os seus, a água representa salvação. Certamente terá sido assim que o Apóstolo Paulo compreendeu o Batismo, ao afirmar: “Porventura, ignorais que todos nós que fomos batizados em Cristo Jesus fomos batizados na sua morte? Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo, para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim andemos nós em novidade de vida.” (Romanos 6.3-4). A palavra “batizar” significa, em sua origem, “submergir”, quem sabe,

“afogar”. Mergulhava-se a pessoa totalmente na água. Afogava-se o velho ser humano, marcado pelo pecado. Este parece ser o significado dado por Paulo. Batizados em Cristo, morremos e somos sepultados com ele. Ressuscitados como ele, podemos andar em novidade de vida. Independente de, no Batismo, sermos afogados, enquanto velhos seres humanos pecaminosos, ou de sermos lavados de todo o pecado, também aqui a água tem poder de destruição. Destrói o pecado, afoga o velho pecador. Tem, porém, também o poder de salvação: Emerge uma pessoa nova, santificada por Deus em Jesus Cristo. Lava, remove a sujeira e deixa limpa a pessoa que estava suja, impura. Assim é a água na Bíblia: é poder de destruição, provoca o dilúvio, destrói os inimigos de Deus e do seu povo, aniquila o pecado, afoga o pecador. São as águas do caos! É, porém, também poder de salvação. Salva os tementes a Deus, salva o seu povo, e, a partir da morte e da ressurreição de Jesus Cristo, lava o pecado, afoga o pecador e faz renascer uma pessoa justificada, limpa, lavada, por aquele que é a fonte de água viva (João 4). O autor é Pastor da IECLB e professor de Antigo Testamento, residente em São Leopoldo/RS

••• 73 •••


O Mar P. em. Lothar Carlos Hoch

Tens origem em tempos imemoriais Quando o Espírito de Deus Pairava sobre as águas matinais. És a fonte da vida De todas as espécies: dos vegetais, Inclusive a do homem e a dos animais. Em teu seio abismal Tu as nutres e sustentas Com generosidade maternal. E diante da imensidão do firmamento, Com a cumplicidade do tempo, Determinas o curso do vento. Em tua dimensão gigante Tanto podes um transatlântico carregar Quanto, num instante, tragar. Não obstante, é tamanha a sensibilidade tua Que te rendes lânguido Ao encanto poético da lua. O autor é Pastor emérito e Professor de Teologia da IECLB e reside em São Leopoldo/RS

••• 74 •••


Você beberia a água que usou? Eng. Ivonir Martinelli

Antes de fazer apologia a qualquer iniciativa dos seres humanos em reutilizar as águas servidas, seria preciso analisar quanto estamos longe de sermos ambientalmente corretos e/ou sustentáveis. Citando apenas uma das últimas constatações dessa desordem na exploração de recursos naturais, vemos a formação de verdadeiras ilhas de plásticos no mar, provocando danos ainda pouco pesquisados na biodiversidade marinha. Dentro desse contexto ambiental adverso, na busca de minimizar as consequências da aplicação desordenada dos recursos hídricos naturais, a proposição de analisar o universo possível de reutilização de águas servidas dirige a pesquisa para uma iniciativa limitada, diversificada e conflituosa, mas imprescindível.

ressa apenas a economia de água, mas também o faturamento mensal. E este depende dos volumes gastos pelos consumidores e não da redução do seu consumo. Essa equação é particularmente conflituosa para cidades de farta e abundante malha hídrica. No entanto, em muitas cidades e países, onde a escassez de água é uma realidade permanente, a necessidade de reutilização das águas servidas independe do raciocínio puramente financeiro. As águas precisam ser tratadas, mesmo que parcialmente, para aplicação, por exemplo, na agricultura, preservando-se sempre a indispensável segurança dos alimentos em seus aspectos sanitários.

Diversificada, pelas alternativas de reuso de águas para fins industriais, domésticos, na agricultura e até de consumo humano.

Designam-se de águas servidas, as que foram usadas nas atividades humanas e podem ser classificadas como águas negras e águas cinza. As águas negras são provenientes do vaso sanitário e da pia de cozinha, ou seja, águas ricas em matéria orgânica e bactérias com potencial patogênico. Água cinza é qualquer água residual, ou seja, não industrial, a partir de processos domésticos como tomar banho, lavar louça e roupa.

E conflituosa, pelo jogo de interesses no reuso das águas servidas. O exemplo mais significativo é de que na equação financeira dos órgãos de gestão do saneamento (SAMAEs, SAEs, SEMASAs e outros) não inte-

Tratar águas servidas a partir do esgoto e torná-las potáveis demanda gastos muito elevados. Pois sua composição inclui matéria orgânica e mineral, em solução e em suspensão, assim como alta quantidade de bac-

Limitada, considerando-se o amplo espectro de necessidades de atuação do homem na recuperação ambiental.

••• 75 •••


térias e outros organismos patogênicos, isto é que podem causar doenças, e não patogênicos. Outros produtos podem estar indevidamente lançados na rede de esgotos, como materiais relacionados a crianças, objetos de higiene pessoal, ou ainda produtos tóxicos de origem industrial, etc. Estudos recentes mostram a presença de contraceptivos e de medicamentos (analgésicos e antibióticos) em níveis muito elevados e de difícil remoção nos esgotos. A isso se somam os resíduos de cigarros contendo arsênio, chumbo, benzeno e formaldeído. Existem vários benefícios no uso de águas servidas tratadas. Usar água servida tratada preserva os mananciais de água doce, de alta qualidade e alto custo, para o consumo humano e protege essas mesmas fontes, o meio ambiente e a saúde pública. Além disso, essas águas recuperadas realimentam as fontes de água doce por meio da recarga dos aquíferos e lençóis d'água. Se manejadas adequadamente elas representam um recurso superior à água doce limpa, quando se trata de irrigação na agricultura. Sua disponibilidade é permanente e seu conteúdo em nitrogênio, fósforo e outros compostos orgânicos reduz a necessidade de aplicação de fertilizantes. O bloqueio cultural contra o reuso das águas servidas tem origem, muitas vezes, no mau cheiro advindo das instalações do sistema de esgotos. Esses gases mal cheirosos são prin-

À esquerda água do reator de ETE e à direita o efluente final tratado cipalmente o gás sulfídrico que é o principal responsável pelo cheiro característico de esgoto e o gás metano, perigoso, podendo ser explosivo. Cabe aqui um esclarecimento sobre as alternativas de processos de desinfecção (redução/eliminação de patógenos) empregados na etapa final do tratamento do esgoto em ETE – Estação de Tratamento de Esgoto. A colocação de cloro, ou cloração é um procedimento de baixo custo e de elevado grau de eficiência, embora com riscos de surgimento de organoclorados; a ozonização é um processo bastante dispendioso e a radiação ultravioleta (UV) é aplicável em situações especiais. Tive a oportunidade de participar da elaboração e execução de um projeto de reuso de águas servidas indus-

••• 76 •••


triais ainda no ano de 1992, para uma grande indústria com sede na cidade de São Paulo, e percebo que nesse sentido muito pouco se avançou até a data de hoje no Brasil. Poucos sabem que a forma de abastecimento de água potável em naves espaciais é o reuso das águas, inclusive da própria urina. Isso comprova que tecnicamente existe solução completa, embora cara, certamente. E isso mostra até que ponto podemos chegar nesse processo. Quando nos propomos a reutilizar nossas águas servidas estamos ab-

sorvendo os ensinamentos da natureza que ao evaporar suas águas mantém estáveis outros parâmetros fundamentais da vida no planeta como a umidade do ar e das superfícies vivas para, ao final do processo, fazer retornar a chuva. Aliás, as estimativas de tempo para a evaporação das águas na terra chegam a milhões de anos, deixando a certeza de estarmos hoje consumindo parte das mesmas águas consumidas pelos dinossauros. Fica então o desafio: MANTER ESSA CONTINUIDADE DA VIDA. O autor é Engenheiro e reside em Blumenau/SC

••• 77 •••


Palavras cruzadas: TEMA DO ANO Colaboração: P. em. Irineu Wolf – Solução na página 197

••• 78 •••


Rapunzel (Raponço) Elfriede Rakko Ehlert

Era uma vez um casal que, apesar de muito desejar, por muito tempo infelizmente não tinha filhos. Mas finalmente a mulher ficou grávida. Durante a gravidez ela sempre olhava para um jardim maravilhoso, cheio de plantas e flores, entre elas um pé de raponço que ela queria, porque queria, para preparar uma salada. Enquanto não se realizava este desejo ficou pálida e enfraquecida. É que esta planta se achava no jardim de uma feiticeira. O coitado de seu marido foi obrigado a entrar clandestinamente naquele jardim e trazer uns pés de raponço para satisfazer o desejo de sua mulher grávida. Certa vez ele foi apanhado pela feiticeira, que ficou enraivecida. No desespero o homem lhe prometeu tudo, até

a criança que iria nascer. E quando a mulher deu à luz, logo apareceu a feiticeira para cobrar a promessa. Em troca a feiticeira prometeu cuidar da criança como uma verdadeira mãe e lhe deu o nome de “Rapunzel”. Não havia criança mais bela no mundo. Mas quando Rapunzel completou 12 anos, a feiticeira a trancou dentro de uma torre numa selva. Nesta torre só havia uma janelinha, sem escada nem porta. Quando a feiticeira queria visitála, só chamava: “Rapunzel, Rapunzel, faça seu cabelo baixar”. É que a menina/moça tinha longos cabelos dourados, que brilhavam como ouro. Ela os enlaçou em tranças e as descia pela janelinha e por elas a madrinha/

••• 79 •••


feiticeira podia subir. Aconteceu que, anos mais tarde, o filho do rei passou por esta selva e viu a torre. De lá saía um cântico, numa melodia suave. Era a Rapunzel que, em sua solidão, cantava doces melodias. O príncipe não conseguia esquecê-las e voltou lá todos os dias. Queria muito subir até a moça. Um dia ouviu a feiticeira chamar: ”Rapunzel, Rapunzel, faça o seu cabelo baixar!” E logo ela subiu pelas tranças de Rapunzel. O príncipe pensou consigo: “Se este é o segredo, vou tentar fazer o mesmo”. No outro dia, ao escurecer, tentou a sua sorte e - eis que conseguiu! Rapunzel ficou muito assustada. Mas o rapaz, muito gentil, a acalmou, dizendo que ouvira seu belo cântico, que não conseguira mais esquecer. Perguntou, se ela o aceitaria como seu esposo. E ela concordou. Fizeram planos de Rapunzel tecer uma corda comprida pela qual pudesse descer para juntos empreenderem a fuga. Mas a felicidade durou pouco, pois um dia, quando a feiticeira voltou, Rapunzel se descuidou e em sua ingenuidade falou: ”Por que a senhora é tão mais pesada que o príncipe”? Pronto! A feiticeira ficou possessa e gritou: “Eu pensei que tivesse salvado você do mundo, mas você me enganou”! Na sua ira pegou uma tesoura e cortou os lindos cabelos da menina que caíram no chão. Rapunzel, por castigo, foi levada a uma região

desértica e ali ficou abandonada, em desespero. Quando o príncipe veio para visitar a sua bem-amada, quem deixou os cabelos cair, foi a feiticeira. O príncipe, subiu, encontrou a feiticeira que o enfrentou com xingamentos. Ele, assustado e desesperado, pulou da torre, caiu entre os espinhos, machucou os olhos a ponto de ficar cego. Durante anos vagou pela selva, mas um dia chegou ao deserto, onde Rapunzel vivia. Ela havia dado à luz gêmeos, um menino e uma menina. O cego ouviu um lindo cântico, reconhecendo a voz de Rapunzel. Esta, ao avistá-lo, correu ao seu encontro e caiu em seus braços. Chorando, duas lágrimas caíram nos olhos do príncipe. E ele tornou a ver. Logo levou a mãe e os gêmeos para o seu reino onde viveram felizes para sempre... Escolhi este conto, talvez pouco conhecido, para uma análise. O começo e o final parecem um pouco estranhos, mas continuo afirmando que contos de fadas, são um “poço de sabedoria”. Revelam realidades que até hoje são realidades. O casal: Quantos casais desejam desesperadamente ter filhos e estão prontos a qualquer sacrifício para têlos. Muitas vezes a mulher se culpa, quando filhos não vêm. Também o desejo da mulher grávida não nos é estranho. E não é assim que o futuro pai procura satisfazer os desejos

••• 80 •••


dela? Por amor? Talvez ele soubesse que não podia gerar filhos. Estranho que esses pais, no conto, desaparecem do mapa. A feiticeira: Será que ela tinha o mesmo desejo de querer uma filha? E uma que era tão bela? A pergunta fica: O que teria acontecido a ela para se tornar feiticeira, já que tinha tanto afeto a Rapunzel. De que ela queria preservar a menina? Talvez ela tivesse tido experiências amargas na vida? Talvez sofreu traição e queria preservar a Rapunzel disso? E a ira tomou conta dela, quando viu os seus planos fracassar? O príncipe e a Rapunzel: Pela voz da menina ele foi seduzido. A voz revela muito do ser humano – e quando acompanhado de um belo rosto, nas-

ce o amor. Estranho que ele não tinha o poder de libertar a sua bemamada. Mas é conto de fadas! Rapunzel: Uma moça ingênua, isolada do mundo, entrega-se completamente, de corpo e alma a uma nova realidade e experiência – o amor ao príncipe. Deve ser uma mulher de fibra. Antes “protegida” pela madrinha feiticeira (única pessoa com a qual esteve relacionada), depois jogada na vida com dois bebês. Se isto não mostra a mulher capaz de se adaptar e lutar?! O final feliz, embora um pouco fantástico, nos lembra das lágrimas derramadas por mulheres, lágrimas como importante ingrediente da vida, lágrimas que aliviam. Viveram alegres e felizes no seu reino - mulher assim merece o final feliz. A autora é professora e artista plástica, residente em Curitiba/PR

HUMOR João: - Constatei que beber umas e outras faz bem para a minha beleza! Antônio: - Como assim? João: - É que sempre que volto para casa um pouco tarde, minha mulher diz: “Bonito, hein!”

••• 81 •••


Uma secretária ideal Tradução: P. Dr. Osmar Zizemer

Observação do tradutor: A presente história ainda é do tempo em que se usavam máquinas de escrever, e a comunicação entre pessoas e firmas ocorria via cartas ou ofícios. Hoje se usa o computador e a comunicação ocorre, em geral, por meios eletrônicos. Mas, vá lá. Mutatis mutandis, esta história poderia ocorrer em nossos dias. A senhora Carla Lohmann, há anos atrás, tirou o primeiro lugar num concurso de datilografia (hoje seria um concurso de digitação!). O Dr. Marques, dono da conhecida firma de produtos têxteis Dr. Marques & Cia., a contratou imediatamente. Dona Carla e seu chefe, Dr. Marques, estão muito bem sintonizados entre si no trabalho. “E agora ainda a carta à CRUZ & Filho em São João do Meriti!” - inicia Dr. Marques, e começa a ditar a carta, enquanto anda pela sala:

- Para nós é completamente incompreensível que os senhores venham reclamar da mercadoria que lhes fornecemos. Especialmente porque os senhores ainda não saldaram a nossa remessa anterior. Suas reclamações são – como, aliás, não o poderíamos esperar de modo diferente – improcedentes e simplesmente maldosas. Sua intenção é tão somente adiar o pagamento! Mas isso desta vez não vai lhes dar certo. Com firmas do seu jaez não mais queremos ter nada a ver. Nós nos negamos a receber a devolução da mercadoria que lhes fornecemos em

••• 82 •••


perfeitas condições. Atenciosamente... Dr. Marques tem um problema de asma. E as pequenas pausas que precisa fazer para tomar fôlego permitem que Dona Carla acompanhe o seu ditado. “Pronto, Da. Carla! Agora leia mais uma vez a carta pra mim!” Dona Carla lê: - Estimados Senhores! Nós agradecemos sinceramente por sua correspondência do dia 18 do corrente mês. Totalmente surpresos, não conseguimos compreender que parte da mercadoria que lhes fornecemos em nossa última remessa apresente defeito. Naturalmente aceitamos a devolução do

material, de cujas falhas os senhores reclamam, e o substituiremos prontamente. Aproveitamos esta ocasião para, respeitosamente, lhes chamar a atenção para o fato de que a fatura anterior ainda se encontra em aberto. Ficaremos gratos por pronta liquidação da mesma. Atenciosamente... Dona Carla mal acabara a leitura, quando Dr. Marques diz o seu costumeiro “Está bem, Da. Carla; dá cá!” E assina a carta. Enquanto Dona Carla prepara o envelope, ele passa novamente os olhos no documento. Então diz: “Está bem, mas aqui a senhora esqueceu uma vírgula...”. Erwin Kreker – ANNO DOMINI, Das Christliche Jahrbuch 1993, Hamburg, página 40

HUMOR O professor de ética inicia a aula: - Hoje vamos tratar do tema: Mentira! Quem de vocês já leu o meu livro sobre este tema? Uma porção de estudantes levanta a mão! - Ah sim. Aí já temos um bom ponto de partida. Acontece que meu livro ainda nem foi publicado!

••• 83 •••


A missão de Deus e a IECLB – Uma paixão? P. Dr. Roberto E. Zwetsch

A palavra paixão é muito conhecida no cotidiano das pessoas aqui no Brasil. Normalmente ela está associada a relações emocionais fortes. Alguém se diz apaixonada por outra pessoa, mas também por um clube de futebol, por uma profissão, por ídolo da música ou do cinema, eventualmente, por algum escritor ou escritora. Seria um uso comum da palavra, ainda que revele muito sobre quem somos e por quem nos apaixonamos. Na juventude, esta experiência está bem presente e aparece muito cedo na relação com colegas de escola, de vizinhança, nos grupos de amizade e mesmo na comunidade de fé. Apaixonar-se é algo importante. Traz calor à vida. Dá cor ao cotidiano que, com frequência, parece monótono e sem grandes atrativos. Mas, que tal associarmos a palavra paixão à teologia, à caminhada da igreja cristã, à comunidade de fé, à missão? Será que estaríamos extrapolando e nos valendo de uma palavra que se apresenta nesse lugar um tanto fora de contexto? Desde 2008, a IECLB – Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil - arriscou se valer desta palavra carregada de emoção, de um conteúdo que move corações e mentes,

para descrever a missão de Deus. O documento lançado naquele ano e que é divulgado desde então em todas as comunidades da igreja, de norte a sul do país, foi intitulado Missão de Deus – Nossa paixão. Ele expõe – de forma didática – o Plano de Ação Missionária da IECLB - PAMI. Este plano é fruto de um longo processo de reflexão e prática missionária que retomou o primeiro PAMI, do ano 2000, cujo tema foi Recriar e criar comunidades juntos. Naquele ano, pela primeira vez na história da IECLB, elaborou-se um plano com uma concepção e metas missionárias bem claras. O segundo PAMI, sua atualização, foi coordenado pelo saudoso Pastor Homero Severo Pinto, então VicePastor Presidente da IECLB e que dedicou boa parte de sua vida à missão. Não por acaso, sua morte precoce se deve a uma enfermidade contraída depois de visita pastoral ao trabalho missionário que a IECLB desenvolvia em parceria com a Igreja Luterana de Moçambique! No contexto da ação missionária da IECLB será sempre importante manter viva a memória do Pastor Homero e igualmente da Irmã Doraci Edinger, que atuou por seis anos naquele país e acabou dando a sua vida pela causa missionária junto ao povo de

••• 84 •••


Moçambique. Fazendo memória dessas duas pessoas que se dedicaram ao ministério missionário e por ele entregaram seus dons e suas vidas, fica mais compreensível assumir que a missão de Deus tem algo a ver com paixão, com esta experiência tão humana e, aqui, também divina, de se apaixonar e dar a vida. O documento de 2008 começa afirmando que o amor de Deus pelo mundo, por nós, seu povo, é amor apaixonado. Deus ama com paixão! Deus ama sua humanidade de forma compassiva, misericordiosa, libertadora. É nesse contexto de amor e misericórdia que começamos a entender a missão de Deus. Missão é uma palavra que vem do latim e significa “envio”. Quando Deus cria o mundo ele nos faz seus “missionários” ou enviados para cuidar deste mundo. Quando ele nos envia Jesus, nos convida a caminhar com ele para que o mundo creia e seja redimido de suas misérias e maus caminhos. Nesse contexto da missão de Deus, vem a pergunta certeira: Que paixão é essa que nos une à missão de Deus, que nos envolve e arrebata e que nos leva a anunciar a salvação que Deus ofertou a todas as pessoas? (PAMI, 2008, p. 5). É disso que se trata, portanto, na missão. Somos um povo chamado para participar da missão de Deus nesse mundo. Haveria honra maior do que esta? Sermos representantes

de Deus, da ação salvadora e libertadora de Deus neste mundo, no meio de nossa gente? Em nosso cotidiano de dúvidas, inseguranças e algumas alegrias? Entretanto, é para isto que existimos e fomos chamados. Alguém escreveu certa vez que Deus não age sozinho. Ele ama trabalhar em equipe. Jesus é nosso maior exemplo! Ele chama gente como nós, pessoas pecadoras, falhas e nem sempre fieis ao seu amor maior, para colaborar com ele na sua missão (1 Coríntios 3.9). Como cooperadoras e cooperadores do Deus de Jesus Cristo, algo que começa no batismo e se confirma a cada dia com o chamamento para a ação, somos integrados numa rede de serviço (diaconia) que tem em vista a salvação, a saúde integral e a alegria das pessoas. A missão para a qual somos chamados é abrangente. Ultrapassa barreiras de classe social, de sexo, de religião, de culturas, de etnia. Aqui se coloca um desafio enorme para nós membros da IECLB, homens e mulheres, jovens e pessoas de mais idade. Temos uma história que nos dá certo orgulho como Igreja Evangélica de Confissão Luterana. Mas esta mesma história nos aponta resistências, preconceitos, preocupações exageradas conosco mesmos e, em certo sentido, grande dificuldade de nos abrir para quem é de fora, que vem de outra tradição, de outra cultura, de outro meio social. Caso queiramos verdadeiramente ser igreja no Bra-

••• 85 •••


sil, está mais do que na hora de arregaçarmos as mangas, de abrir corações e espírito para o nosso povo sofrido e aprender a caminhar com ele. Muitas pessoas estão sedentas por apoio verdadeiro, por comunhão, por uma palavra firme, evangélica, que liberte das amarras que as prendem a si mesmas e a projetos de vida mesquinhos. Aliás, também nós precisamos libertar-nos das mesquinharias que nos separam das pessoas, para aprendermos o que vem a ser amar ao próximo como a nós mesmos, como fez o estranho

samaritano da parábola de Jesus ao socorrer o assaltado à beira da estrada, sem perguntar por sua origem ou religião (Lucas 10,25ss). Vale a pena abrir mão de privilégios e certezas que, por vezes, mais enganam que libertam. Nessa caminhada, aprenderemos com as pessoas delas mesmas e do evangelho. O Evangelho é o poder de Deus que transforma, salva e aponta caminhos de esperança. Quem está disposto a arriscar sua vida por este tesouro? Eis o desafio que Deus nos coloca e para o qual ele nos capacita com seu Espírito e a dádiva de sua misericórdia. O autor é Pastor da IECLB e Professor de Teologia Prática na Faculdades EST em São Leopoldo/RS

••• 86 •••


A comunidade de Balsas Uma comunidade que nasceu a partir da Diaconia P. Nicolau N. de Paiva

A Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) chegou à cidade de Balsas, no Maranhão, em meados de junho de 1983. No período inicial desta comunidade o Sr. Elmogêneo Sulzbach passou cerca de dois anos oficiando os cultos enquanto ela ainda não contava com um Ministro. Os cultos reuniam cerca de 20 pessoas oriundas do Rio Grande do Sul. Isso aconteceu após o Sr. Elmogêneo ter sido eleito como presidente do presbitério, juntamente com uma diretoria formada por ele e o Sr. Luiz Schwingel, no papel de tesoureiro. A ata dessa assembleia, datada de 23/12/1983, é o primeiro registro das atividades da Comunidade Evangélica de Confissão Luterana de Balsas (CECLB). Em breve, a comunidade já contava com o auxílio de Vilmar Abentroth, então estudante da Escola Superior de Teologia, que residia em Recife e que vinha a Balsas uma vez a cada trimestre, trazendo materiais devocionais da IECLB. A comunidade também era assistida pelo então Pastor Fredrich Gehring, que se alternava com o estagiário. A partir de 1987, a comunidade passou a ser atendida também pelo Pastor Dieterico Krause, cujo pastorado era itinerante por estas regiões.

Ainda em 1987, a diaconisa Ir. Gerda Nied assumiu a comunidade de Balsas, agregando aos cultos comunitários um trabalho de cunho diaconal, com ações em várias áreas, tais como: Palestras sobre temáticas referentes à saúde; aulas de crochê; implantação de uma horta comunitária no Setor Industrial e outra no bairro São Félix, através do Projeto “Fundo de Quintal”. O Projeto “Fundo de Quintal” foi o que ganhou maior amplitude. Algumas famílias já desejavam uma área maior para o plantio de alimentos para subsistência. E uma doação que Ir. Gerda recebeu da Alemanha possibilitou a aquisição de uma área de terra com 17 lotes, resultando no Assentamento Canto Alegre, na Zona Rural do Município de Balsas/ MA. Assim, formou-se a Associação de Pequenos/as Agricultores e Agricultoras “Fundo de Quintal”, Assentamento Canto Alegre. A Ir. Gerda expandiu o Projeto “Fundo de Quintal” para a localidade Sonhen, município de Sambaíba, vizinho a Balsas. No período entre 1989 e 1995, a Ir. Gerda compartilhou o trabalho pastoral com a diácona Ingrid Vogt. A partir de junho de 1995, o trabalho foi assumido por um casal - a Pas-

••• 87 •••


tora Ester Delene Wilke e o Pastor Martin Bueno François, que permaneceram até o final de 1999. Em janeiro de 2000, assumiu o Pastor Hildo Bauer, que permaneceu até 2003, ano em que foi substituído pelo Pastor Stefan Krambeck. Este permaneceu até o final de janeiro de 2007. No começo de fevereiro de 2007, o trabalho diaconal ganhou novo impulso a partir do trabalho da Diácona Carla Abeling, que se manteve até 2010. Ela motivou a instalação de uma creche no Centro Comunitário Luterano, no Bairro São Felix, onde também realizava cultos e escola dominical. No começo de 2011, o pastorado ficou sob os cuidados da

Pastora Bárbara Kugel, período em que foi implantada uma turma de Educação de Jovens e Adultas (EJA) no horário noturno, no Centro Comunitário Luterano do Bairro São Felix. E também foi realizado um curso de artesanato com “fuxicos”. Em fevereiro de 2014, o Pastor Nicolau de Paiva assumiu os trabalhos na comunidade da IECLB em Balsas. Neste pastorado, destaca-se a implantação de cultos mensais no Assentamento “Canto Alegre” e no Bairro São Félix, somando-se aos cultos dominicais no Setor Industrial; visitação às famílias, com prioridade a pessoas idosas ou doentes; manu-

••• 88 •••


tenção dos estudos bíblicos nas residências; ampliação do trabalho com crianças, adolescentes e jovens, inclusive com a formação de um grupo de Juventude Evangélica (JE); fortalecimento do trabalho sob a perspectiva de gênero, com a formação do Fórum de Reflexão da Mulher Luterana, LELUT, Grupo de Mulheres “Arte e Vida” e manutenção dos Grupos OASE e Grupo Ecumênico de Mulheres “Amizade”; realização de ações ecumênicas com repercussão na mídia municipal; elaboração de boletins para a CECLB; consolidação da doação de um terreno pelo Assentamento “Canto Alegre” para a construção de um centro de retiros e formação lideranças; participação de membros da CECLB nas atividades realizadas em âmbito sinodal e nacional. Essas ações seguem as diretrizes previstas no Planejamento Estra-

tégico da CECLB. O trabalho com essa comunidade ganha novo impulso a cada novo pastorado, contando com o empenho de integrantes da OASE de Balsas na efetivação de cursos, engajamento de voluntárias que atuam no trabalho diaconal e apoio do presbitério às ações comunitárias. Olhar para esse histórico mostra que os investimentos feitos em tantas áreas no trabalho diaconal geraram frutos que permanecem há décadas e isso mostra o potencial promissor existente na Comunidade Evangélica de Confissão Luterana de Balsas. Hoje nossa comunidade é composta por 48 famílias, somando um total de 144 membros batizados. A grande maioria veio para nossa comunidade por transferência de outras comunidades da IECLB ou por profissão de fé. O autor é pastor na Comunidade Evangélica de Confissão Luterana de Balsas/MA

Assim como se modificam os dias que Deus nos manda do céu, assim também se modificam os corações das pessoas que habitam na terra. Cícero

••• 89 •••


A Diaconia como forma de Serviço Cristão na Comunidade DiáconaValmi Ione Becker

- Uma Comunidade Cristã pratica Diaconia. - O que é Diaconia? - Diaconia é a fé dos cristãos e cristãs em movimento, em ação. - O que isso quer dizer? - Ora, isso significa que uma Comunidade Cristã precisa estar atenta às necessidades das pessoas que dela participam. Aqui quero compartilhar algumas boas experiências de Diaconia que tenho visto nascer, crescer e se desenvolver nas comunidades por onde passei. Certa vez um grupo de mães, cujos filhos nasceram com deficiência, sentiram a necessidade de se encontrar periodicamente. Elas precisavam trocar ideias a respeito das angusti-

as, das alegrias, das expectativas e dos medos que faziam casa nos seus corações. Mais do que isso... Elas também precisavam celebrar e fomentar a espiritualidade, orar em conjunto. Foi a partir destas necessidades que nasceu o referido Grupo de Mães. Hoje essas mulheres se visitam, se telefonam, fazem passeios em conjunto e se apoiam mutuamente. Pode-se afirmar que esse Grupo hoje é o espaço onde elas têm a possibilidade de contar suas histórias umas às outras. Conheço muito bem uma das participantes. Ela tem dois filhos com deficiência. Seu testemunho é muito claro: - Nesse grupo de pessoas eu sou ouvida e compreendida na minha dor, na minha dificuldade. Penso que tais grupos deveriam ser multiplicados em todas as comunidades cristãs.

••• 90 •••


Sim, porque o acolhimento das pessoas em sofrimento é um serviço cristão valioso e importante. Noutro dia, recebi o telefonema de uma senhora que sofre do Mal de Parkinson. Ela confidenciou que, a partir da sua fé, foi despertada para criar um grupo de pessoas que sofrem da mesma doença em sua comunidade. Disse-me que esta ideia foi criando raízes no seu coração depois de se dar conta de que várias pessoas à sua volta sofriam do mesmo mal. - Como você pensa fazer isso? – perguntei. Sua resposta foi direta: - Penso em organizar um grupo com o intuito que os participantes se ajudem a partir do convívio, da troca de informações e da reflexão na Palavra de Deus. Logo apoiei aquela ideia. Não demorou nem duas semanas e conseguimos agendar uma data para iniciarmos os encontros do referido grupo. No dia marcado a sala estava organizada para receber as pessoas. E não é que elas vieram! Todas as pessoas entraram na sala mostrando alegria, apesar de suas limitações. Confesso que naquele momento eu senti orgulho da Diaconia, dessa Diaconia que promove espaços para pessoas em sofrimento. Que coisa maravilhosa! Aquela senhora tinha descoberto que viver a fé é colocála em movimento; é agir indo ao en-

contro das pessoas. Compartilho a existência de mais um grupo promotor de vida. Esse grupo foi batizado com o nome de “Grupo de Apoio às Cuidadoras e Cuidadores” e já existe há dois anos. As pessoas que participam do mesmo são cuidadoras de mães, de pais, de esposas, de maridos e de parentes acometidos do Mal de Alzheimer e do Mal de Parkinson, entre outras doenças terminais. Registro aqui o depoimento de uma senhora que é cuidadora de seu marido que sofre com a Demência de Levi e Mal de Alzheimer: - Participo, semanalmente, deste grupo. Ele me ajuda a sair da depressão, da tristeza, do desespero e, em última análise, promove a comunhão com Deus e com as pessoas. Depois dos nossos encontros eu sempre volto para casa mais animada e estimulada para continuar cuidando do meu querido. Outra participante do mesmo grupo se saiu assim: - Tais grupos deveriam ser verdade em todas as comunidades! Você deve estar se perguntando pelo por que dessa reação tão positiva. É fácil de responder: Muitas vezes é assim que as pessoas, mesmo participando de outros grupos como OASE ou Coral, se sentem abandonadas, marginalizadas e esquecidas

••• 91 •••


pela sua comunidade. Foi o caso desta senhora, após o diagnóstico da doença terminal de seu marido. Hoje ela participa de um grupo coordenado por pessoas engajadas na Diaconia. É a gente querida que, hoje, exerce cuidado para com ela.

à Igreja e percebeu que a mesma estava lotada, sem mais espaço nos bancos. A família se entreolhou e deu meia-volta, encaminhando-se à saída do templo. Nesse instante uma das pessoas encarregadas pelo acolhimento foi ao seu encontro e disse:

Algo semelhante vale para o bem receber, para o bem acolher na comunidade. Faz grande diferença acolher bem as pessoas que visitam ou que vêm conhecer a nossa comunidade. Acompanhem o meu raciocínio! É quarta-feira e decidimos ir fazer compras. Ali está uma casa comercial com suas portas abertas. Se, ao entrarmos, formos bem atendidas/os, é provável que retornemos ao local numa próxima vez para nossas compras. As pessoas não esquecem se são bem ou mal atendidas, bem ou mal acolhidas. Podem escrever: Uma Comunidade Diaconal acolhe bem todas as pessoas. Isto vale tanto para a recepção nos Cultos como nos mais diversos Grupos existentes na Paróquia. Acolher bem é uma regra básica do ser cristão. Conto um exemplo:

- Por favor, esperem um pouquinho. Estamos providenciando algumas cadeiras que vamos colocar nas laterais do templo. Só mais um minutinho e vocês poderão se acomodar!

Certa família foi participar de um Culto de Natal em uma comunidade que não era a sua. A família chegou

Foi a partir desta palavra boa e, ao mesmo tempo, acompanhada de um sorriso, que a família visitante se acomodou para então poder celebrar o Natal ao lado de muitas irmãs e muitos irmãos da outra localidade. Isso mesmo! A família visitante foi tão bem recebida que, mais tarde, filiouse à comunidade receptiva e acolhedora. A Diaconia é um pilar vital da nossa IECLB. Ela age de acordo com o contexto no qual as comunidades, paróquias e instituições se encontram. Ela vai ao encontro das necessidades das pessoas, assim como Jesus Cristo foi. Ele, o Filho de Deus, é o nosso Diácono Maior e é Nele que o servir cristão está fundamentado. A autora é Diácona da IECLB e exerce seu ministério no Departamento de Diaconia do Sínodo Norte Catarinense

••• 92 •••


Recanto do Sossego O lar de idosos que completa 80 anos P. em. Meinrad Piske

O Lar Recanto do Sossego é um dos quinze lares de idosos da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil. Neste ano ele completa 80 anos. Foi fundado no dia 1º de fevereiro de 1936 em Nova Breslau (Presidente Getúlio/SC) e transferido em 1942 para Trombudo Central/SC. Foi o Pastor Eugen Beutler, vindo dos Estados Unidos para atender a comunidade batista em Nova Breslau que acolheu em sua casa e no convívio familiar pessoas idosas que não tinham aonde ir e morar. Sem familiares e parentes, estes idosos dependiam da boa vontade de estranhos. Como o número de pessoas que o procuravam se tornou grande demais para caber em sua casa, ele construiu, ao lado de sua casa, um lar para acolher pessoas idosas que não tinham casa e família que delas cuidava. Junto ao lar construiu uma igreja. O dia da fundação foi 1º de fevereiro de 1936. Pouco tempo depois de inaugurar o lar de idosos o Pastor Beutler faleceu. Sua esposa colocou o asilo à venda, pois não tinha condições financeiras para administrá-lo. Em 1939 o Sínodo Evangélico de Santa Catarina e Paraná resolveu adquirir o asilo e transferi-lo para um lugar de clima mais ameno. Formou-se um grupo de pessoas que se empe-

nhou na busca de fundos. Destacaram-se neste grupo Hermann Müller Hering, tesoureiro do Sínodo e presidente da Comunidade Evangélica de Blumenau e Elsbeth Köhler, presidente da Sociedade Evangélica de Senhoras e da Liga Evangélica de Auxílio Feminino, que reunia todos os grupos de senhoras, mais tarde denominados OASE. O Sínodo, por intermédio de seu presidente P. Wilhelm Scherer colocou à disposição duas glebas de terra localizadas em Trombudo Central/SC e o Pastor Richard Laun que adquirira conhecimentos básicos de administração de instituições sociais se prontificou a coordenar a transferência, a instalação e a administração do Asilo. Coube ao P. Heinz Müller coordenar todo o andamento no asilo adquirido com todos os seus ocupantes enquanto a comissão sinodal tinha a tarefa de visitar as Comunidades buscando os recursos. Conseguiram levantar o dinheiro necessário para a compra do asilo e sua transferência. Mais importante ainda foi que conseguiram motivar as Comunidades que se comprometeram com a obra. Um exemplo disto está registrado no relatório de 1943 do Sínodo sobre o “Asilo de Velhos”: “O que de mais novo se encontra é uma instalação de luz elétri-

••• 93 •••


ca, instalada em 1943, que provê o Asilo com boa luz. A instalação de luz (com dínamo) que também veio a favorecer alguns vizinhos, em primeira linha foi possibilitada por um donativo maior de dinheiro que uma senhora de Blumenau ofereceu ao nosso Asilo.” A construção que foi iniciada em 1940 foi inaugurada em fevereiro de 1942. Esta inauguração foi muito movimentada. As 18 pessoas idosas que moravam no Lar em Presidente Getúlio/SC foram levadas para Trombudo Central/SC. Inicialmente foram levadas até Ibirama, onde tomaram o trem que as levaria até Barra do Trombudo. De lá viajaram num ônibus até a localidade de Braço do Trombudo onde foram recebidas festivamente e com muito carinho pelos moradores locais. Mais importante que a arrecadação de fundos para a sua construção e instalação foi a atitude carinhosa das Comunidades pelo “nosso asilo”. Junto com a construção do Hospital Sinodal em Blumenau/SC, a instalação do asilo em Trombudo Central/

SC consolidou a união entre as comunidades. Fez com que o caminhar juntos, que a palavra Sínodo significa, se tornou realidade. Muitos filhos, netos e bisnetos lembram até hoje desta geração que cuidou para que as pessoas idosas pudessem viver numa casa. Foram muitos os que lá residiram. Mais de 1.600 pessoas. No começo a instituição era conhecida como Asilo de Trombudo. E nos anos 70 ela passou a se chamar “Recanto do Sossego”. Deveríamos citar mais de 1.600 nomes, se pretendêssemos contar toda esta história de oito décadas. Porque quem de fato escreveu ou fez esta história foram as pessoas que lá encontraram seu último lar. Entre os muitos colaboradores devem ser lembrados, além dos já citados, Praeses Hermann Stoer e Alfredo Barg. Ambos, cada um a seu tempo, ocuparam a presidência da diretoria do Asilo por 24 anos. Também os Pastores Joerg Michel, Ingobert Niewöhner e Guido Leonhard dirigiram o asilo, procuran-

••• 94 •••


do sempre criar um ambiente familiar entre os idosos. Atualmente o Lar é dirigido pelo P. em. Ingo Piske na qualidade de Presidente do Conselho Curador e P. João Bartsch como secretário executivo. Ambos estão empenhados não só na administração, mas também na reforma tanto administrativa e estrutural e igualmente na reforma do prédio. A cozinha e o refeitório foram reformados e adaptados às exigências legais. Também foi construída uma nova ala residencial com 802 metros quadrados. Mas o projeto ainda não está concluído, está em execução. O P. em. Ingo Piske assim se expressou sobre o Recanto do Sossego: “A preocupação pautada no propósito

de cuidar de pessoas idosas existiu desde o início da instituição. Moveu pessoas de diferentes idades, profissões e regiões a sonharem com melhores acomodações no Lar”. O secretário executivo P. João Bartsch descreveu a situação assim: “Maravilhoso é saber que a direção do Lar não está sozinha nesta obra. Como revela sua história, surgiu em tempos de guerra para ser um braço de apoio no segmento da terceira idade e assim tem permanecido ao longo dos anos”. O Lar se define desta forma: “Recanto do Sossego: Um bom lugar para viver. Desde 1936 cuidando de vidas.” O autor é Pastor emérito da IECLB e reside em Brusque/SC

HUMOR Mamãe estava lavando a louça. Sua filha, de seus 5 anos, a observava. Então a menina percebeu uns quantos fios de cabelos brancos entre os cabelos negros da mãe. - Mamãe, por que a senhora tem tantos cabelos brancos? – ela pergunta. - Sabe filha, cada vez que você se comporta mal e faz a mamãe ficar triste e chorar, eu ganho mais alguns fios de cabelos brancos. A menina fica pensativa, e depois de alguns instantes pergunta: - E por que os cabelos da vovó estão todos brancos? Familienkalender 2015, pág. 53

••• 95 •••


Palavras cruzadas: LEMA DO ANO Colaboração: P. em. Irineu Wolf – Solução na página 198

••• 96 •••


Não há mais lugar para o vovô Tradução: P. Dr. Osmar Zizemer

- Eu conheço um menino de cabelos castanhos, que não gosta de espinafre! – diz o vovô. Oliver larga a colher no prato, e diz: - Eu conheço um homem que parece um leão e ronca como um leão! O vovô ri, pega o prato de Oliver e põe o espinafre de lado. Feliz, Oliver desce da cadeira. Ambos vão para o quarto de Oliver. Sobre um estrado está montada a pista do trenzinho elétrico. Há trilhos com desvios, um túnel e uma ponte. Na estação ferroviária há duas locomotivas: uma vermelha e outra azul.

- Eu pego a locomotiva azul! – diz Oliver. E o avô assume a locomotiva vermelha. Assim os dois brincam uma hora inteira. - Quando é que você vai fazer as suas tarefas para a escola? – pergunta o avô. Oliver toma um lugar à mesa e pega o seu material escolar. Feitas as tarefas, o menino as mostra ao avô, e este lhe dá um elogio. Em seguida os dois vão passear no parque da cidade. Por ali há muitas crianças que se divertem, correm, brincam, andam de bicicleta...

••• 97 •••


Também Oliver se diverte bastante. Por fim os dois ainda dão comida para as aves, e então voltam para casa. Desde quando Oliver se lembra de seu avô, este sempre esteve com ele. Os seus pais passam o dia todo na firma; eles não têm tempo para o filho. Num certo domingo o avô leva Oliver junto para um bairro da cidade que lhe é desconhecido. - Você gosta daqui? – ele pergunta ao neto.

Oliver fica muito feliz com a notícia, e diz: - Quem sabe, será um irmãozinho. Ele então vai poder brincar com o trenzinho elétrico com a gente. Mamãe ainda precisou lhe explicar muitas coisas, até que Oliver entendeu tudo. Em seguida ele vai para o quarto do avô, como sempre. - Já faz tempo que eu sei disso! - diz o avô. Oliver se sente ofendido. Mas o avô tenta aclamá-lo:

Oliver observa tudo. Há bastante espaço, gramados ao redor das casas de um só andar, muitas árvores, caminhos, bancos para descansar... Alguns homens e mulheres idosos passeiam por ali...

- Mas eu precisava saber disso o mais cedo possível. O seu irmão ou irmã vai precisar do meu quarto. E eu vou me mudar para aquele residencial de idosos, aonde nós fomos hoje. Você então terá o seu irmãozinho para brincar com você.

- Onde fica a pracinha de brinquedos? – pergunta Oliver.

Oliver arregala os seus olhos, e diz:

- Aqui eles não precisam de pracinha de brinquedos. Aqui só moram pessoas idosas. É um residencial de idosos – explica o vovô. - E você gosta deste lugar? – interroga Oliver. - Até gosto. Acho bem legal. Mas me faltam as crianças! – responde o avô. À noite a mãe vem para o quarto de Oliver. Ela senta na cama do filho, lhe faz um carinho e diz: - Oliver, ainda antes do Natal você vai ganhar um irmãozinho ou uma irmãzinha. O que é que você preferiria: Um menino ou uma menina?

- Mas para tão longe! E é isso mesmo que você quer? - Querer eu não queria. Mas a criança que vem aí precisa de um espaço! E eu posso vir visitar você seguidamente! – promete o avô. Oliver sai correndo para o seu quarto, pula na cama, se enfia em baixo da coberta e desata em choro! Agora ele não quer mais ganhar um irmãozinho! No dia seguinte ele não consegue se concentrar na escola. Até recebe uma reprimenda da professora. Na hora do almoço ele não tem fome. Faz mal feitas as suas tarefas de escola, e também não tem vontade de

••• 98 •••


brincar com o trenzinho. À tarde vovô precisa sair. - Só vou demorar umas duas horas! – ele avisa ao neto. Oliver fica sozinho. Ele vai para o seu quarto – e fica parado diante do trenzinho. E então, de repente, lhe vem uma ideia! Ele busca um alicate e uma chave de fendas na caixa de ferramentas de seu pai. As duas locomotivas ele acomoda em cima de uma mesa. Os vagões ele põe em cima da cômoda; o túnel, a ponte e o prédio da estação ferroviária vão em cima do armário. Em seguida ele desparafusa os trilhos e tudo o mais e coloca tudo numa caixa. O estrado, sobre o qual tudo estava montado, ele empurra para debaixo de sua cama. Em seguida guarda novamente a chave de fenda e o alicate de seu pai. Vovô volta para casa. E então os dois assistem a um programa de TV. Os pais voltam para o jantar. Em seguida Oliver escova seus dentes e vai

para seu quarto. Sua mãe entra para lhe dizer boa-noite. Ela vê o espaço do trenzinho vazio e pergunta admirada: - Oliver, onde está o teu trenzinho elétrico? O menino responde: - Agora aqui tem lugar suficiente para uma caminha! E o vovô não precisa ir embora de nossa casa. Mamãe chama o pai e o avô. Eles ficam admirados com o que veem. O pai diz: - Oliver, sobre isso ainda precisamos conversar. Com os olhos rasos de lágrimas Oliver retruca: - Se o vovô tem de sair daqui, eu não quero irmãozinho, não quero Natal, e não quero mais nada! Os pais e o avô se retiram do quarto. Oliver os ouve conversar lá fora. Depois de uma boa hora de choro, por fim, ele adormece. Elfriede Becker, ANNO DOMINI, Das Christliche Jahrbuch 1993, Hamburg, pág. 42-43

Somente com os netos chegamos ao ponto de compreender mais ou menos os nossos filhos. Erich Kästner

••• 99 •••


Paradoxos de nosso tempo George Carlin – cômico e escritor

O paradoxo de nosso tempo é que hoje temos edifícios maiores, mas somos menores de caráter; temos ruas mais largas, mas campos de visão mais estreitos. Nós gastamos mais, mas temos menos; compramos mais, mas desfrutamos menos. Temos casas maiores, e famílias menores; temos mais conforto e menos tempo. Temos mais formação acadêmica, mas menos virtudes; mais saber, mas menos capacidade de discernimento; temos mais especialistas, mas também temos mais problemas; temos uma medicina melhor, mas menos bem-estar. Nós bebemos demais, fumamos demais, desperdiçamos demais, rimos

de menos, temos pressa demais, nos irritamos demais, permanecemos acordados por tempo demais, nos acordamos cansados, lemos pouco, assistimos TV demais, e só raramente oramos! Multiplicamos as nossas posses, mas diminuímos os nossos valores. Nós falamos demais, não amamos o suficiente, e odiamos vezes demais. Aprendemos a ganhar o sustento para nossa vida, mas não a vivê-la. Acrescentamos anos à nossa vida, mas não vida aos nossos anos. Conseguimos ir à lua e voltar, mas temos dificuldades em atravessar a rua para conhecer um vizinho novo. Conquistamos o espaço sideral, mas não o nosso mundo interior.

••• 100 •••


Realizamos grandes feitos, mas não necessariamente coisas melhores. Procuramos purificar o ar, mas envenenamos a nossa alma. Dominamos a tecnologia atômica, mas não os nossos preconceitos. Escrevemos mais, mas aprendemos menos; planejamos mais, mas usufruímos menos. Aprendemos a nos apressar, mas não a esperar.

descartável, de relações de uma noite, de corpos com sobrepeso, de comprimidos que podem tudo, que nos reanimam, nos acalmam e até nos matam. São tempos em que se expõem muitas coisas, mas se retêm poucas coisas.

Construímos computadores capazes de receber e divulgar cada vez mais informações, mas nos comunicamos cada vez menos.

Lembrem-se de dedicar tempo às pessoas que lhes são caras, porque elas não estarão aqui para sempre. Lembrem-se de abraçar as pessoas que lhes são próximas, porque este é o único tesouro que se pode dar com o coração - sem que custe um só centavo.

Vivemos em tempo de Fastfood, e de digestão lenta; de homens de estatura alta, mas de pequeno caráter; de grandes lucros na economia e de relações humanas superficiais.

Lembrem-se de dizer a seus familiares e amigos: “Eu te amo”, mas que seja com sinceridade. Um beijo e um abraço podem sarar feridas se forem sinceros e dados de alma.

Hoje acontecem poucos casamentos, mas muitos divórcios; existem casas luxuosas, mas famílias desfeitas.

Dediquem tempo para amar e para conversar, e compartilhem suas ideias preferidas. Mas nunca esqueçam: A vida não se mede pela quantidade de vezes que respiramos, e sim, pelos momentos extraordinários que passamos uns com os outros.

São tempos de viagens rápidas, de fraldas descartáveis, de moral

Extraído de Familienkalender 2015, página 47s – traduzido por P. Dr. Osmar Zizemer

Precisamos de muitos anos para compreender quão preciosos podem ser momentos. Ernst Ferstl

••• 101 •••


Missão da IECLB entre “brasiguaios” Relato de um pastor pioneiro P. Dr. Uwe Wegner

Em junho de 1971, recém-formado na Faculdade de Teologia em São Leopoldo, fui designado para atender a comunidade de Foz do Iguaçu/ PR, outras 5 comunidades do lado brasileiro nas imediações de Foz do Iguaçu, e aproximadamente 13 comunidades de luteranos que haviam emigrado para o Paraguai. Tratavase de um trabalho pioneiro do outro lado da fronteira brasileira e as comunidades haviam se formado nos lados esquerdo e direito da rodovia que ligava a ponte internacional a Assunção, capital do Paraguai. Foi um trabalho que recordo com alegria e gratidão. Ele durou de 1971 até dezembro de 1976. Minha tarefa nas comunidades formadas por brasileiros que recém tinham ido colonizar as novas glebas abertas no Paraguai era, de forma genérica, prestar a continuidade da assistência religiosa àquelas famílias, e, de maneira mais específica, organizá-las e animá-las para uma vida em comunidades que testemunham a Jesus Cristo em palavras e ações. Dificuldades Uma dificuldade permanente era a locomoção. Praticamente nenhuma comunidade ficava a menos de 50

km de Foz do Iguaçu. As estradas eram todas de barro vermelho e chão batido. Quem trabalhou no oeste do Paraná por aquela época sabe o que isso significava quando chovia. Os carros ficavam praticamente ingovernáveis. Outro problema eram as cancelas. No Paraguai, quando chovia, as estradas eram fechadas com cancelas. Você não podia entrar, e, às vezes, também não conseguia mais voltar, pois tudo era muito escorregadio. Eu tinha uma Rural Willys, com tração nas 4 rodas. Isso ajudava. Mas até hoje não entendo como por vezes não acabei indo barranco abaixo. Para as comunidades era muito frustrante quando tinha culto marcado, mas o pastor não chegava impedido pelas chuvas e cancelas. Mas, com o passar do tempo fiquei mais prevenido e esperto: quando pressentia a vinda da chuva, às vezes me largava às pressas ou mesmo meio dia antes para aquelas comunidades, e assim evitava os problemas e a frustação dos membros. Quem não gostava disso era “a patroa”. Às vezes sentia certa dificuldade de harmonizar ideias diferentes que os membros de comunidades do Brasil queriam implantar ali nas suas comunidades do Paraguai. É que em algumas comunidades tinha gente vinda

••• 102 •••


de diversos lugares. Muitas vezes tive que ouvir frases como: - “É, mas lá em Mal. Cândido Rondon ou Toledo, ou Cascavel ou São Miguel do Oeste, ou Santa Helena, etc. nós fazíamos de outra forma!” E aí, como proceder? Era preciso negociar. Na grande maioria das vezes todos cediam um pouco e a gente conseguia o entendimento. Outras dificuldades que poderiam ser mencionadas são: - era difícil encontrar material adequado e simples para os diferentes cursos que realizávamos lá no Paraguai (veja abaixo); - para o trabalho com os jovens a maior dificuldade era a da língua. Eles tinham aula em espanhol, falavam com seus colegas paraguaios em espanhol, e a gente não possuía essa fluidez na língua do Paraguai. Lembro que nos últimos dois anos as professoras me perguntaram se não havia material em espanhol para as aulas do Ensino Confirmatório. O trabalho com jovens foi o que mais saiu prejudicado no tempo do meu pastorado ali. Haveria ainda outras dificuldades a mencionar. Mas, nenhuma delas comparável com as grandes dificuldades que testemunha um apóstolo Paulo em seu trabalho missionário (1 Coríntios 4.9-13). Simplicidade As comunidades recém-formadas no Paraguai eram extremamente sim-

ples. Não havia igreja ou capelas. Os cultos eram realizados na cozinha ou ao lado das casas, geralmente debaixo de alguma árvore. Aquilo me lembrava sempre da situação itinerante de Jesus: “Quando entrardes nalguma casa, permanecei aí até vos retirardes do lugar” (Marcos 6.10). O culto era realizado com a presença e agradável companhia de galinhas, porcos, cachorros, gatos, etc. Às vezes os cachorros não gostavam de mim e latiam alto. Aquilo quase sempre me fazia rir e a comunidade geralmente acabava rindo junto. Uma vez, estávamos debaixo de uma linda árvore de sombra no verão, e no meio da liturgia notei que um guri queria me dizer alguma coisa. Parei a liturgia e perguntei: “O que foi?” Ele: “Pastor, tem uma cobra ali no galho”! Esta simplicidade também se refletia nos cânticos e hinos. As letras e melodias geralmente eram escolhidas de cancioneiros populares para que o pessoal conseguisse acompanhar. Mesmo assim, nunca mais presenciei tantas vozes diferentes cantando uma mesma canção num culto! Foi em meio àquelas comunidades que também aprendi que a linguagem da fé precisa ser simples, para que todas as pessoas possam entendê-la. Já Jesus havia alertado: “Sede simples como as pombas” (Mateus 10.16). Também o apóstolo Paulo dissera: “Meus irmãos, quando fui anunciar a vocês o testemunho de Deus, não usei muitas pala-

••• 103 •••


vras nem grande sabedoria” (1 Coríntios 2.1). Para mim como recém-saído da faculdade, “falar simples” foi difícil no início. Mas, cedo aprendi que era essa a única maneira de fazer o evangelho chegar de forma compreensível naquelas comunidades. Também as casas onde se pernoitava por vezes eram bem rústicas. Algumas ainda nem tinham ripas, chamadas de mata-juntas, o que fazia com que se passasse muito frio ali nas noites de inverno. Outras tinham o paiol de milho encostado nos quartos. Nas madrugadas seguidamente ouviam-se os ratos revirando o milho. Numa certa noite os ratos passaram por cima de mim e da minha esposa. Aquilo para “alguém” foi demais... Surpresas O que mais me surpreendeu naquele trabalho no Paraguai foi a participação dos membros em cursos de liderança, ensino confirmatório, culto infantil e enterro. Nos meses de julho e de janeiro ou fevereiro eu realizava esses cursos, e era sempre grande o interesse e o número de participantes. Desta maneira, em praticamente todas as comunidades, sempre havia pessoas que ministravam culto infantil, ensino confirmatório e outras que estavam preparadas para realizar enterros, caso acontecesse falecimento em dias de chuva. Essa experiência ensinou-me a jamais desprezar qualquer

pessoa pela sua aparência ou condição social, e a procurar, como pastor, despertar e fomentar em cada qual o uso dos dons que Deus lhes tinha concedido, como ensina o apóstolo Paulo em 1 Coríntios 12. Pessoas que, à primeira vista, pareciam não servir para esses trabalhos, acabavam realizando excelentes reuniões de ensino confirmatório e encontros de culto infantil. Esta experiência me lembrava muito daquilo que tinha acontecido com o próprio Jesus: Também ele não escolheu pessoas renomadas e afamadas para serem seus apóstolos, mas simples pescadores, dizendo-lhes: “Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens” (Marcos 1.17). De forma bem semelhante também afirma o apóstolo em 1 Coríntios 1.27-28 que Deus escolheu as coisas fracas e humildes do mundo para construir seu reino. Outra surpresa foi o grau de participação dos membros nos cultos. Vinham praticamente todas as famílias, a não ser que havia alguém doente. Isso sempre era muito gratificante. Desafios Meu propósito era alternar constantemente o lugar dos pernoites, para não ficar sempre na casa de uma só e mesma família, mas variar. Assim todos os membros podiam se sentir valorizados por igual. Isso nem sempre foi possível, mas me possibilitou conhecer melhor as diferentes dores

••• 104 •••


e alegrias vividas pelas diferentes pessoas. Dessa maneira também as orações e as prédicas ficavam mais atualizadas e concretas nos cultos. Não posso escrever sobre este trabalho sem um profundo sentimento de gratidão a Deus. Gratidão por ele ter protegido minha família, que precisava ficar quase todos os finais de semana sozinha em Foz do Iguaçu; por não ter sido mordido por cobras

e por não ter caído nenhum galho ou árvore em cima de minha cabeça ou carro; por não ter sofrido acidente de carro em função de derrapagens; pelo valioso trabalho de colaboração prestado por membros e diretorias; pela compreensão apresentada para esse trabalho pelas comunidades que eram atendidas do lado brasileiro. O autor é pastor emérito e professor de teologia da IECLB e reside em Ibirama/SC

••• 105 •••


A química nossa de cada dia Profa. Úrsula Axt Martinelli

A imagem da Química, em determinadas circunstâncias, está ligada a produtos perigosos, agressores da natureza, geralmente mal cheirosos e até venenosos. Somente o envolvimento direto ou a curiosidade podem esclarecer esse mito e quiçá nos convencer da afirmação aparentemente pretenciosa, mas verdadeira que diz: “Química é tudo o que nos rodeia”. Tentaremos, com uma breve abordagem sobre acidez e basicidade, mostrar o quanto especificamente esse assunto nos acompanha em nosso dia a dia e também na história. Luiz F. Saffraider em “A Saga dos Alemães do Volga” conta que em 1877, quando imigrantes teuto-russos colonizaram a região de Ponta Grossa no Paraná, vieram com a intenção de plantar trigo tal como o faziam nos férteis solos da Rússia. Infelizmente as sementes não vingaram, porque

o solo era ácido. (O pH do solo para o plantio do trigo deve ser de 6,5 a 7,8). Os descendentes desses imigrantes conseguiram cultivar trigo naquelas terras apenas na metade do século XX, com o uso do calcário como corretivo da acidez do solo. Uma pequena explicação sobre os termos pH, acidez e basicidade, pode iniciar pela apresentação da escala do pH que vai de 0 a 14, sendo que 7 corresponde a um pH neutro; abaixo desse valor é a medida para ácidos e acima é a medida para bases. No exemplo do trigo citado acima, o calcário de características básicas serve para levar o pH do solo ácido às condições de plantio. Outro ponto merecedor de destaque da acidez no meio ambiente é o fenômeno da formação de chuva ácida. Ela destrói as florestas porque acidifica o solo; escurece edificações

••• 106 •••


de arenito e calcário degradando monumentos históricos; lava o calcário do solo, e por isso algumas aves produzem ovos com casca tão fina a ponto de prejudicar a reprodução. A água da chuva nos locais próximos às chaminés de indústrias pode atingir pH 3. O efluente industrial, para ser tolerado pelo meio ambiente, deve apresentar pH de 5 a 9. Por isso, a água de tingimento de fibras sintéticas, com pH da ordem de 3,5, e as águas residuais de terceirização e de alvejamento da fibra de algodão que atingem um pH de 10,5, devem ser tratadas antes de seu lançamento nos rios. Os produtos de limpeza doméstica geralmente são produtos perigosos, merecedores de atenção quanto ao manuseio e a quantidade empregada, pois acabam na composição do esgoto. A maioria deles tem pH básico. O sabão com pH 7,5 é o mais fraco, seguido dos limpadores contendo cloro com pH 10, os limpadores de forno com pH 11 e os desentupidores, que são os mais básicos, com pH 13. Como acontece no meio ambiente, nosso organismo também reage às diferentes condições de pH. A pele protege o corpo com seu “manto” levemente ácido que nos defende de

doenças. O pH dos produtos de higiene sempre deveria estar próximo ao da pele. Os alimentos são digeridos no estômago pelo ácido clorídrico presente no suco gástrico e quando alguma disfunção altera a quantidade de ácido, o que sentimos é azia e mal estar. Pessoas com dieta restrita à acidez se dão conta do quanto os alimentos tem características ácidas. Existem exceções, como os “Brezel” ou os palitos salgados tratados com hidróxido de sódio. O pH das frutas varia de 4 a 6. O sabor do queijo depende entre outros fatores, da variação do pH durante a maturação. A mordida ruidosa numa salsicha crocante - “Wiener Würstchen”- só acontece se a carne de porco tiver pH 6. Para completar o cardápio com vinho, é bom saber que o pH dessa bebida normalmente é 4 e se aberto, após três dias passa a pH 3, e daí por diante vai se transformando em vinagre. E para terminar não poderia deixar de citar o caso de defesa vegetal e animal: A urtiga e a formiga liberam uma solução de ácido fórmico com pH 2. Quem já não sentiu na pele o efeito dessa defesa? Ainda bem que nesse caso a química não se repete no dia a dia. A autora é professora universitária emérita e reside em Blumenau/SC

••• 107 •••


Medicina fetal: o feto como paciente Dr. Juliano Pereira

"Doutor, ele/a é perfeito/a?" Essas quase sempre são as primeiras palavras que um ser humano ouve de sua mãe quando nasce. A preocupação com a saúde do seu descendente é algo tão natural no mundo animal que nos causaria espanto se uma mulher não a tivesse com o seu recém-nascido. Porém, diferentemente das outras espécies, onde o genitor somente terá a ideia da saúde do seu filho após o nascimento, na espécie humana a evolução dos meios de diagnóstico e o acompanhamento pré-natal conseguiram nos antecipar a surpresa. Se por um lado se perdeu um pouco daquele romantismo de saber o sexo do bebê somente na hora do seu nascimento, por outro lado houve avanços inquestionáveis no tratamento de doenças maternas e fetais já no período da gestação. A parte da obstetrícia que estuda o feto como paciente é chamada de Medicina Fetal. Sua evolução proporcionou que, além do diagnóstico intrauterino, tratamentos pudessem ser estabelecidos para fetos com problemas, para que estes consigam chegar em condições de sobreviver durante a gestação e após o seu nascimento. Achados através da ultrassonografia norteiam a gravidez na necessidade de procedimentos invasivos para tratamento ou na detecção de anorma-

lidades cromossômicas e genéticas. Algumas destas últimas inclusive podem ser reconhecidas com a coleta e análise de sangue da mãe, sem precisar de nenhuma intervenção no ventre materno. Síndrome de Down: Das anormalidades cromossômicas, a Síndrome de Down é a mais conhecida. Em países com legislação que permite o abortamento, políticas públicas incentivam meios diagnósticos de maneira precoce na gestação para esta e outras síndromes. Claro que a decisão do que fazer com o resultado do exame que constata tal síndrome no feto sempre é e deve ser do casal e não do estado. Já nos países onde o abortamento não é permitido para casos como esse, como é o caso do Brasil, o médico consegue preparar o casal para um filho especial que está chegando. Também é nestes países onde se consegue encontrar o maior número de casos de malformações em geral para estudo, já que as gravidezes em geral prosseguem até o fim, a não ser que ocorra aborto espontâneo. Estudos com ratos com síndrome muito semelhante à Síndrome de Down dos humanos já estão sendo realizados, com resultados muito animadores, melhorando o desenvolvimento neuro-psicomotor dos roedores acometidos. Espera-se que em 2 ou 3 anos se iniciem os estu-

••• 108 •••


dos com seres humanos e que estes incluam tratamento já intraútero nas mães que sabidamente carregam bebês com esta síndrome. Outros problemas tratáveis pela Medicina Fetal: a) Drenagem da Urina Fetal: O líquido amniótico presente na bolsa é constituído na sua maior parte por urina fetal. Esse líquido é aspirado pelo bebê e é fundamental para o seu desenvolvimento pulmonar. Fetos com problemas com a drenagem da urina para dentro da bolsa amniótica por obstrução da via de saída da bexiga podem ser tratados com o uso de um dreno artificial que permita sua passagem para que o bebê consiga seu desenvolvimento pulmonar normal. Sem o diagnóstico e o tratamento desta condição, esses bebês podem ir a óbito logo após o seu nascimento. b) Hérnia de Diafragma: O músculo diafragma serve de barreira entre os órgãos do tórax e do abdome. Fetos com hérnia de diafragma não conseguem expandir seus pulmões intraútero devido à compressão externa dos órgãos abdominais. Assim, faz-se necessária a expansão pulmonar com a colocação de um balão na entrada dos pulmões para que ocorra o seu desenvolvimento. E um novo procedimento será necessário, próximo do final da gestação para a retirada deste balão. Essas crianças, dessa forma, terão uma chance de encarar a cirurgia reparadora do defeito congênito.

c) Desequilíbrio na circulação sanguínea de gêmeos univitelinos: Em gestações de gêmeos que dividem a mesma placenta, em alguns casos, ocorre um desequilíbrio nas comunicações entre as circulações sanguíneas que vão para um e outro feto. Assim, podemos ter fetos com uma diferença de peso exorbitante, ocasionada pela transferência do sangue do menor para o maior. Ambos correm um sério risco de óbito intraútero. A medicina fetal consegue reconhecer essa condição precocemente na gestação e, quando necessário, a interrupção dessas comunicações com o uso de laser intraútero pode amenizar ou resolver o problema, possibilitando que os bebês atinjam a época de nascer. d) Defeito no fechamento da coluna: Fetos com a coluna com defeito de fechamento também começam a passar por cirurgia dentro do útero. Essas crianças, operadas antes do nascimento, têm qualidade de vida superior àquelas operadas no pós-parto. Buscando o "Sim, ele/a é perfeito/a" como resposta do médico à pergunta feita pela mãe no início da vida do bebê, esses são somente alguns exemplos de como a Medicina Fetal pode melhorar a vida dos indivíduos antes mesmo de podermos tocá-los fisicamente. O autor é médico ginecologista e obstetra (CRM 8703/SC), com especialização em Medicina Fetal e reside e atua em Rio do Sul/SC

••• 109 •••


Em boa companhia Katiane de Oliveira Rossi Stassun

Há algumas noites atrás, tive um sonho peculiar. Sonhei com a casa antiga em que morei há cerca de 10 anos. Eu abria suas janelas enormes, o vento entrava e eu estava em uma incansável faxina. Pouco antes de eu me acordar, uma doce melodia tocou em meus ouvidos. “O que não deve ser lembrado como carona pro amanhã, isto deve estar no abrigo!” Acordei-me com esta frase ecoando em minha alma e só parou quando eu a escrevi. No primeiro momento, não me fez tanto sentido. Apenas que em resumo isto: Eu deveria esquecer o que me fez mal. Porém, no âmago do meu ser, sei que é mais do que isto. Talvez um dia eu descubra.

Resolvi contar sobre este sonho seguindo a voz que vem do meu coração. Até porque, o fato que vou relatar através das nuances da minha emoção está relacionado a esta casa em particular. Morávamos nesta casa antiga com cerca de 100 anos, meus pais, três irmãs menores e eu. Para ir trabalhar, eu acordava às 03h30 da madrugada, andava a pé e “sozinha” por 800 metros morro abaixo, passando por uma estrada deserta rodeada por mata virgem e por um cemitério até chegar a uma igreja. Ali esperava pelo ônibus. Meu medo de fazer este trajeto “sozinha” era grande. Eu ti-

••• 110 •••


nha muita fé em Deus. Mas, mesmo assim, levava firme em minha mão uma tesoura sempre bem afiada que utilizava em meu trabalho. Descia o morro orando para que nunca precisasse utilizar este recurso. Toda noite ao me deitar, avistava em frente à janela de meu quarto uma pequena coruja. Esta me acordava com o seu piar muitas vezes pela madrugada. Era como se eu não precisasse de relógio. Aliás, lembro-me de poucas vezes acordar com o som do despertador. O belo animalzinho descia o morro comigo. Acompanhava-me voando de galho em galho, de poste em poste no trajeto até à igreja onde eu aguardava o ônibus. Ainda me vejo sentada na calçada daquela igreja, no escuro, a esperar. E a linda corujinha com seus grandes olhos a piscar sempre por perto, como se quisesse conversar. Quando eu contava isto para a as pessoas, elas ficavam horrorizadas. Diziam para eu espantar a coruja e até ensinavam algumas simpatias

com o intuito de afastá-la de mim. A maioria das pessoas dizia que uma coruja não era bom presságio. Bem... Nunca senti vontade de afastá-la de mim. Pelo contrário, sua presença fazia-me lembrar de que eu não estava sozinha naquela escuridão. Que alguém zelava por mim. E quanto aos supostos maus presságios... Nada de mal nos aconteceu. Muito pelo contrário, a vida de minha família só melhorou e melhora a cada dia mais. Dizem que coruja dá azar ou coisa parecida. O que a meu ver é sinal de preconceito. Para mim, é uma ave criada e abençoada por Deus como todos os outros animais. Apesar de ser a coruja um animal selvagem, parecia se sentir muito bem com a minha presença. E eu também me sentia muito bem com a sua companhia. Jamais me esquecerei daqueles grandes olhinhos, daquele cantarolar me acordando na hora certa e daquela presença tão singular. Companhia preciosa, ar de mistério, repleta de vida! Revelando a beleza da criação divina! A autora é especialista em neuropsicopedagogia e reside em Massaranduba/SC

A tarefa de um verdadeiro amigo é estar a seu lado quando você não tem razão; quando você tem razão, todos estão ao seu lado. Mark Twain

••• 111 •••


Sobre amigas... Edeltraud Neubauer Moser

“O amigo ama sempre e na desgraça se torna um irmão” (Provérbios 17.17). A amizade é uma grande graça que recebemos sem o nosso mérito. Ter amigas e ser amiga é, sem dúvida, um dom de Deus. No decorrer de nossa vida conquistamos diversas amizades. Às vezes, infelizmente, as perdemos ou quase as esquecemos. Uma amiga é como uma irmã que escolhemos. Vou contar-lhes alguns exemplos da experiência de minha vida. A primeira amiga que tive, chamavase Carolina, a ‘Lila’. Morávamos em uma chácara. Ela era a sétima filha de nossa vizinha, Da. Sofia. Ela era

uma senhora muito brava, que criou os sete filhos sem o marido, mas com amor e severidade. A irmã de “Lila”, Margarida, foi minha pajem, e às vezes trazia a irmãzinha e brincávamos. Lila foi minha amiga a vida toda, na igreja, na juventude, nos ‘bailinhos’, etc... Foi por intermédio do marido dela, o Jango, que conheci meu marido. Mais tarde eles tiveram um armazém, bem pertinho da casa da minha mãe em Castro/PR. E a gente se via com freqüência. Mesmo quando nos mudamos de minha cidadenatal eu a visitava. Ela era uma pessoa muito batalhadora. Para ajudar nas despesas da casa, abatia e vendia frangos. E mais tarde vendeu roupas e chegou a ter uma loja na cida-

••• 112 •••


de junto com as filhas. Lembro-me bem da última vez que a vi. Já viúva, tinha os cinco filhos casados, e havia construído uma linda casa, onde a visitei. Um dia, dando uma ‘chegadinha’ na loja das filhas, soube do seu falecimento. Fiquei muito triste. Lembro-me da sua risada, sua coragem. Ela nunca reclamava de nada. Minha segunda amiga, a Leni, foi minha colega de escola por oito anos. Todos os dias eu chegava a sua casa e dali íamos e voltávamos juntas do colégio. Ela era um amor de pessoa. Inteligente, alegre, muito criativa. Foi por intermédio dela que consegui minha primeira escola para lecionar na Colônia Iapó. Leni casou, teve quatro filhos. Eu também casei. Mais tarde me mudei de Castro/PR e nos víamos poucas vezes. Um dia, soube de um terrível acidente que matou Leni junto com seu marido. Como fiquei abalada e triste... Hoje me lembro de minha querida amiga com saudades. Outra amiga que quero citar é a querida Maia. Nós nos conhecemos quando eu era ainda mocinha. Na verdade, ela era amiga de minha mãe e nós a ajudamos em um período difícil de sua vida. Morava em uma chácara chamada: ‘Casa Branca’. O marido a havia abandonado, deixando-a lá sozinha com um bebê no colo, a pequena ‘Trudi’. Maia trabalhava muito na chácara, vendia lenha na cidade, em uma carroça com o velho cavalo ‘Pepo’. Lá, aprendi a me virar

na cozinha e a cuidar da pequena Trudi até altas horas da noite. Pois Maia gostava muito de conversar e tinha muitos conhecidos – e assim muitas vezes voltava tarde. Também aprendi a não ter medo! Mais tarde, ela arranjou outro marido e foi morar em Florianópolis-SC. Lá ela tinha uma fabriqueta de objetos de cera. Eu e minha filha a visitamos inúmeras vezes. Visitas que ela nos devolvia em Castro. Maia era de origem alemã, arquiteta muito inteligente, mas simples e trabalhadora. Para mim ela foi como uma segunda mãe. Pois aprendi com ela a arte de viver, ser corajosa, alegre e disposta. Mais tarde, Maia e Trudi moraram em Caiobá, na ‘Prainha’. Ali, tinham uma linda casa, estilo alemão. E, claro, nós passávamos lá nas férias com as filhas e os seus namorados. Era uma delícia. Bons tempos! A última vez que vi minha querida amiga foi na Alemanha. Ela morava com o irmão e a cunhada, em um apartamento anexo a um lar de idosos, na cidade de Garmisch-Partenkirchen. Conheci esta linda região por onde passeamos todos os dias com o carro de seu irmão. Uma maravilha! Mesmo depois do falecimento do irmão, Maia ficou morando na Alemanha por causa de sua pensão. Mas ainda guardo inúmeras cartas dela, muitas lembranças e saudades. Ela infelizmente já nos deixou... Morei um tempo em Arapoti, norte velho do Paraná e lecionei na Colônia Holandesa. Lá conheci minha

••• 113 •••


amiga Tereza e sua família. Eu morava com minha filha no centro da cidade e Lia era muito amiga de Hilda, filha de Tereza. Mas eu não conhecia os pais da Hilda, só de nome. Certo dia, Hilda veio pedir que minha filha Lia fosse dormir na casa dela, pois os seus pais iriam viajar. Eu fui até a casa deles, para conhecer os seus pais. Gostei tanto deles que até hoje somos amigos. Depois, Hilda casou, Lia casou, mas nossa amizade continua firme e forte. Eu, nessa época, morava sozinha. Mas Tereza fazia questão que todos os dias eu fosse jantar na casa deles. Penso que estas belas amizades são uma bênção de Deus. Agora, pouco nos vemos, mas Tereza e família moram sempre no meu coração. Quero registrar ainda que numa certa época de minha vida eu estava começando a me sentir solitária e deprimida. Já não trabalhava fora, as filhas estavam casadas, os netos já grandinhos. O que fazer então? Sabem que achei uma ótima solução?! Passei a frequentar as reuniões da OASE (Ordem Auxiliadora de Senhoras Evangélicas) de nossa Igreja. Aqui se ri, conversa, estuda, aprende, ora, troca experiências e, por que não, toma um gostoso café. Nunca mais pensei em solidão. Nos

dias seguintes à reunião curto as lembranças, os abraços amigos, os hinos que cantamos e as orações que fazemos juntas. No grupo todas somos amigas. Se uma sofre, todas sentem, tentam ajudar e consolar. Curtimos os aniversários, e as alegrias umas das outras. Dentre todas sempre temos uma amiga especial, talvez secreta, mas que muito admiramos. Ela é culta, prendada, alegre e me honra com sua amizade. Todas, a meu ver, são mulheres de muito valor, muita energia, muito encanto. Para descrevê-las corretamente, faltariam palavras e adjetivos... Para finalizar, quero citar algumas frases que me parecem significativas: - Um verdadeiro amigo é aquele que fecha os olhos para ver o coração. (Saint-Exupéry). - A amizade é como a natureza, grande principalmente nas coisas pequenas. (J.C.Machado). - Onde se semeia amor, cresce alegria. (Shakespeare). - Verdadeiro amigo é aquele que vem, quando o resto do mundo está indo embora. (Walter Winchel). A autora é professora aposentada, reside em Curitiba/PR, e é integrante da OASE Rebeca, da Comunidade Martin Luther

••• 114 •••


PPH - o quê? Junior Felipe de Godoy

Quem diria que um rapaz magrelo, nascido nas curvas de Trombudo Central/SC, que viveu até seus seis anos em um lar para idosos (onde seus pais trabalhavam) nas dependências do Asilo de Velhos de Braço do Trombudo – Recanto do Sossego - e ainda depois criado por 10 anos em meio às planícies de Nova Mutum/MT, poderia fazer alguma diferença na grande IECLB?! Pois é exatamente isso que está acontecendo. Meu nome é Junior, o básico da minha história está nas palavras anteriores. Além disso, resta acrescentar que tenho 23 anos e me formei no ano de 2014 no Bacharelado em Teologia pela Faculdade Luterana de Teologia – FLT (São Bento do Sul/SC). Desde a época de Ensino Confirmatório fui desafiado a servir na IECLB. Inicialmente como orientador de Culto Infantil, participante e responsável por alguns estudos na Juventude Evangélica local, auxiliar na realização de cultos e pregações. Nesse meio tempo também era estudante do Ensino Médio. Não só nas horas vagas. Fui desafiado, desde cedo a ver a IECLB como o meu lar e me ver como uma engrenagem que movimenta o todo que ela é. O que me acompanhou nos quatro anos e meio de faculdade e que me acompanha até hoje.

Hoje realizo meu Período Prático de Habilitação ao Ministério (PPHM) na Paróquia Luterana Cristo Salvador, em Curitiba/PR sob a orientação do P. Alfredo J. Hagsma e da Pa. Vera R. Waskow. Muitos me perguntam: “PPH o quê?”. Eu costumo dizer que é o período no qual Deus tem usado a mim e toda a Paróquia que me recebe para aperfeiçoar o dom e o chamado que Ele mesmo colocou em meu coração. Chamado esse para proclamar as boas novas do seu Reino. Neste período de aperfeiçoamento tenho vivido experiências mil. Afinal, a Paróquia na qual estou atuando possui uma diversidade de oportunidades de atuação. Costuma-se brincar que ela vai de crianças até velhinhos, literalmente! Tal diversidade me permite atuar com todas as faixas etárias, vislumbrando as possibilidades para cada uma delas. Existem aqueles trabalhos que me chamam mais atenção. Contudo, tenho colocado meu coração e tudo de mim em cada uma das atividades. Afinal, estou convicto de que chamado por Deus para falar e viver o seu Reino onde quer que eu esteja e com quem quer que eu esteja. Hoje eu compreendo melhor as palavras do 20º CONGRENAJE (Congresso Nacional da Juventude Evangélica), realizado em 2010 na cidade

••• 115 •••


de Maripá/PR. Palavras que diziam: “Juventudes, pelo que bate o nosso coração?”. Cada vez mais posso afirmar que meu coração bate quando estou junto das crianças no trabalho diaconal da Paróquia, no abraço amigo de cada pessoa que passa pela minha vida nesse tempo tão especial de PPHM, nas brincadeiras e no convívio com os jovens e adolescentes e pela grande família que encontrei nessa Paróquia. Enfim, meu coração bate pelo serviço na nossa IECLB, pelo ministério na nossa IECLB. Nesse período os desafios também são muitos. Trata-se de 17 meses de aprendizado mútuo. Aprendizado que faz com que o candidato ao ministério se abra para novas realidades e cresça. Aprendizado que começa desde o momento no qual você faz sua inscrição para o Exame de Admissão ao Período Prático, que o acompanha por todo o processo do mesmo e que, certamente o acompanhará por todo o resto da vida. Afinal, a vida na verdade é um constante aprender e reinventar. Também é preciso mencionar que nem tudo neste período prático são rosas. Pois, quem não encontra os espinhos também não encontra as ro-

sas! Porém, quando esses espinhos aparecem, eu sou animado a vislumbrar o Deus que está comigo e que me anima para servi-lo na nossa IECLB. Quando os espinhos aparecem eu sou capacitado pelo próprio Deus para não desanimar, mas vislumbrar as rosas que ainda estão por vir, ou que já vieram. Hoje, quando me perguntam qual o meu sentimento no que diz respeito a esse período que vivo, eu encontro as palavras certas em 1 Coríntios 15.58: “Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é vão no Senhor”. Esse “PPH o quê?” me possibilita exercer a oportunidade de ser firme e constante na obra daquele que me chamou e que me capacita dia após dia. Trabalho para o qual ele me chamou e vocacionou. Além do mais, o que mais eu poderia responder ao chamado de Deus, se não “eu quero te servir”? “PPH o quê?”: Período Prático de Habilitação ao Ministério. Ou em outras palavras: Período para o qual Deus tem preparado uma caminhada de crescimento e de descobertas. O autor é bacharel em teologia pela Faculdade Luterana de Teologia (FLT) e faz o seu PPHM em Curitiba/PR na Paróquia Luterana Cristo Salvador

••• 116 •••


Secretaria da Habilitação ao Ministério Cat. Dra. Haidi Drebes

A Secretaria da Habilitação ao Ministério cuida da preparação e ingresso de pessoas vocacionadas no quadro de ministros e ministras com ordenação na IECLB. Mais especificamente isto envolve desde a apresentação do processo aos interessados e a sua inscrição, Exame de Admissão, Designação, Período Prático (PPHM ou PPAM) numa das comunidades da IECLB, Exame Pró-Ministério, Envio, Colóquio com a Presidência e Ordenação ao Ministério. Atualmente a IECLB oferece duas modalidades de ingresso no Ministério com Ordenação: o período prático de habilitação ao ministério (PPHM) e o período prático de adaptação ao ministério (PPAM), ambos com duração de dezessete meses. O PPHM é a modalidade através da qual a igreja habilita bacharéis em Teologia, egressos de centros de formação conveniados com a IECLB. O PPAM é a modalidade através da qual a igreja prepara pessoas ordenadas em igrejas parceiras e que pretendem assumir o ministério na IECLB. O PPAM também pode ser recomendado para o caso de ministros e ministras ordenados na IECLB, que tem formação em mais uma ênfase ministerial e desejam o seu reconhecimento para atuação ministerial. O processo de ingresso através das

modalidades acima mencionadas diz respeito aos quatro ministérios específicos e Ordenados da IECLB que são: o Catequético, o Diaconal, o Missionário e o Pastoral. Todo o trabalho da Secretaria é realizado em parceria com Pastores e Pastoras Sinodais, Ministros e Ministras e comunidades envolvidas. Após a inscrição, os candidatos e candidatas ao Período Prático passam por avaliações médicas, psicológicas e de conteúdo teológico. As avaliações médicas e psicológicas são realizadas por profissionais indicados pela Igreja. A avaliação de conteúdo teológico, por ocasião do Exame de Admissão e Pró Ministério, é realizada por uma comissão nomeada pelo Conselho da Igreja. Esta comissão é composta por Pastores e Pastoras Sinodais, Ministros e Ministras, lideranças de comunidade e pessoas da área da educação. Estas avaliações têm como objetivo dar indicativos para a designação, escolha do campo e mentor ou mentora para um acompanhamento mais efetivo durante o Período Prático. Nos dezessete meses de período prático o/a mentor/a e a comunidade tem um papel fundamental no acompanhamento a estas pessoas. É um período intenso de convívio, de perceber habilidades, lacunas e de auxiliar no melhor preparo do candidato ou da candidata para o minis-

••• 117 •••


tério. É oportunidade da comunidade junto com ministro ou ministra local, na condição de mentor ou mentora serem protagonistas na qualificação de pessoas para exercerem o ministério ordenado na IECLB. Através da comunidade e seus representantes a direção da Igreja conhece, orienta, avalia e confirma o chamado de pessoas que serão seus futuros ministros e ministras. O Período Prático é um tempo dedicado à formação, ao testemunho e atuação em tarefas ligadas ao ministério mediante o acompanhamento de um ministro ou ministra experiente. Para que todo este processo seja conduzido de forma qualificada e que candidatos e candidatas ao Ministério possam se desenvolver a contento para depois servir da melhor forma as comunidades e paróquias da IECLB, tem-se investido neste período, que acima de tudo é de formação. O empenho no sentido de comprometer e capacitar as pessoas envolvidas perpassa várias instâncias como: pastores e pastoras sinodais, integrantes da Comissão de Exame, Ministros mentores e Ministras mentoras, candidatos e candidatas. O retorno que temos recebido de

ministros e ministras que exercem a função de mentores e mentoras é de que estes momentos de formação e acompanhamento, além de qualificar a pessoa para a função específica de mentor/a, preparam também para melhor servir a comunidade. As comunidades, por sua vez, também se sentem valorizadas e reconhecidas pela oportunidade de contribuir com a formação de novos ministros e ministras. Uma vez concluído o Período Prático a pessoa é enviada pela Comissão de Designação e Envio a um Campo de Atuação Ministerial e, se aceita pela Comunidade para a qual foi enviada, é Ordenada pela Presidência. A partir deste momento está habilitada para o exercício do ministério pastoral, diaconal, catequético ou missionário, conforme a sua opção. Candidatos e candidatas expressam gratidão pelo processo e acompanhamento, ainda que em alguns momentos possam ter passado por dificuldades para dar conta dos desafios propostos. O nosso objetivo é que toda essa atenção na forma como o processo é conduzido pelas instâncias envolvidas, se reflita na qualificação do cuidado com as comunidades, ministros e ministras e membros de toda a Igreja. A autora é Catequista da IECLB e exerce seu ministério como Secretária da Habilitação ao Ministério

••• 118 •••


Pomeranos capixabas, os pioneiros da IECLB em Rondônia P. em. Geraldo Schach

A exemplo da Reforma Luterana a partir de 1517 na Alemanha, a história da IECLB em Rondônia também começou com um Martim. Em meados da década de 1960, Martim, um filho de São Gabriel da Palha/ES, viajou três mil quilômetros até Rondônia para trabalhar como empregado numa serraria. Acreditou na promessa de granjear fortuna no novo eldorado da Amazônia. Mas “como nem tudo o que brilha é ouro”, o ditado popular mais uma vez mostrou-se verdadeiro. Submetido a condições adversas e degradantes no trabalho da exploração da madeira, padecendo a saudade e a solidão no isolamento da mata, e impedido de retornar à terra natal, tudo parecia perdido para o primeiro pomerano na terra do Marechal Cândido Rondon. Enquanto isso, no leste do Brasil, no distante Espírito Santo, um pai com o coração aflito, tomado pela sauda-

de e sem notícias do paradeiro do filho, pôs-se a caminho, viajando dias e noites em direção à Amazônia Ocidental. Depois de muita andança e procura, aconteceu o tão esperado reencontro entre abraços e lágrimas de emoção e de alegria. Agora Martim só queria abandonar essa vida do “inferno verde” e retornar à terra natal. Pedro, o pai, encantado com as terras devolutas e a mata virgem, não se cansava de admirar o porte avantajado das árvores, a caça abundante, a fartura da pesca e os rios de águas límpidas e tranquilas. E dizia: Filho, aqui é o lugar do nosso futuro! Neste cenário, o sonho de um futuro promissor deu origem a um novo processo migratório do povo pomerano no Brasil. O regresso de Martim e do pai Pedro Hollander a São Gabriel da Palha foi festejado por vizinhos e familiares. Noites e noites de histórias fantásticas, contadas por Martim, despertaram em muitos o desejo de conhecer as terras de Rondônia. Aos poucos o sonho começou a tomar forma. Pequenos e empobrecidos agricultores reuniram-se para planejar a sua mudança à Rondônia. Estavam cansados de trabalhar como arrendatários em terras alheias. As perspecti-

••• 119 •••


vas de conseguirem adquirir um pedaço de chão próprio eram mínimas no estado do Espírito Santo. Então juntaram a fé e a coragem, na certeza de que a sofrida experiência do Martim na selva do norte era o sinal de Deus que lhes apontava o caminho para a nova terra de um futuro melhor. Não demorou e as primeiras famílias pomeranas da IECLB, os Braun e os Hollander, com seus filhos solteiros e casados, com noras, genros e netos, em torno de trinta pessoas, lotaram dois caminhões pau-de-arara e empreenderam a aventura da grande viagem de suas vidas. Saíram de São Gabriel da Palha rumo ao centro-norte do país. Foram detidos em vários postos por agentes de controle sanitário e pela polícia rodoviária. Multados e advertidos para não prosseguirem, fingiram retornar, mas depois de alguns quilômetros achavam atalhos e retornavam por novos caminhos. Não iriam desistir facilmente da luta para concretizar o seu sonho. Foram novamente barrados: Passageiros não podem viajar em carrocerias de caminhões! Concordaram seguir em ônibus de linha, mas logo ali adiante, pela escassez de recursos, reembarcavam nos seus paus-de-arara e teimosamente seguiam em frente. Detidos noutra barreira e já sem dinheiro para pagar propina, improvisaram nova artimanha. Durante a noite, a criançada com diarreia “perfumou” os arredores do posto de controle,

de modo que na manhã seguinte todos foram liberados para seguir viagem imediatamente. E assim, depois de onze dias de estrada, findou-se a longa jornada. Descapitalizados e exaustos, mas gratos a Deus, os migrantes pomeranos capixabas, os pioneiros luteranos em Rondônia, finalmente alcançaram o seu alvo, acampando debaixo da ponte às margens do Rio Melgaço em Pimenta Bueno. Certamente o primeiro banho neste rio não só os purificou de muitos tipos de sujeira, mas coroou a vitória da persistência de homens e mulheres

que, movidos pela fé, não mediram esforços na luta por uma vida digna para seus filhos. Neste mesmo ano de 1969, outras famílias luteranas do Espírito Santo migraram para a Rondônia, de sorte que, em julho de 1970, fundaram a Comunidade Evangélica de Confissão Luterana em Pimenta Bueno e construíram a sua capela de madeira. Mesmo sem pastor residente, cerca de vinte famílias celebravam os cultos dominicais e os encontros comunitários a cada 14 dias.

••• 120 •••


Sacerdócio Real Assim a IECLB na Rondônia nasceu e deu os seus primeiros passos na mais genuína prática do sacerdócio geral dos crentes. A pregação do evangelho nos cultos estava aos cuidados do membro Martim Discher, natural de Domingos Martins/ES. Aqui tudo lembrava Lutero! Os hinos e a liturgia contavam com o acompanhamento musical de um harmônio tocado pela jovem Flozina. O coral a quatro vozes, composto de doze pessoas, era regido pela Sra. Suzana. O culto infantil acontecia regularmente. Os doentes eram lembrados em oração e visitados pelos demais membros do pequeno rebanho. Além disso, a direção nacional da Igreja em Porto Alegre/RS recebia cartas com insistentes pedidos pelo envio de um pastor para a Rondônia. Foi assim que encontrei esta laboriosa comunidade, sacerdócio real, povo de Deus, em junho de 1972, no pequeno vilarejo de Pimenta Bueno à beira do rio Melgaço em Rondônia. Em poucos dias percebi que, dependendo da minha postura na função de pastor, ali eu poderia atrapalhar mais do que ajudar. Comecei a acompanhar a lida diária das pessoas. Senti-me como um peixe fora d’água. Fui

confrontado com a realidade de pessoas, culturas e lugares que destoam, em muito, do nosso dia a dia, em grande parte do Brasil. Aos poucos, aprendi que a vida é feita de muito suor e fé em Deus. Levou tempo até eu me tornar uma ovelha do rebanho onde a humildade e a fé cristã transformam a Palavra em vivência diária. Hoje posso dizer que Deus usou este humilde povo da mata para me evangelizar. Graças a Deus, a semente lançada pelos pioneiros luteranos em Rondônia resultou na formação do Sínodo da Amazônia, contando hoje com mais de uma centena de comunidades e pontos de pregação nos estados de Rondônia, Acre, Roraima e Amazonas. E os sinais do Reino continuam acontecendo em muitos lugares onde tantos Martins e Suzanas vivem suas vidas em amor e fidelidade ao Senhor Jesus Cristo. Ainda hoje Deus continua nos convidando para testemunhar a fé cristã. Frágeis vasos de barro, como você e eu, somos instrumentos Seus, para conduzir o tesouro do evangelho. Ele cumpre a sua promessa: “A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza” (2 Coríntios 12.9). O autor é pastor emérito da IECLB e reside em Itapema/SC

••• 121 •••


Um velho e querido amigo do peito Cat. Maria Dirlane Witt

Há 79 anos nasceu um velho conhecido de muita gente na nossa igreja: o periódico O Amigo das Crianças. Este material acompanhou a infância de muitas crianças, com histórias bíblicas e histórias sobre a vida. Em setembro de 1930, o Sínodo Riograndense criou um jornal infantil em língua alemã chamado “Evangelischer Kinderfreund für Brasilien”. Este jornal infantil circulou em toda a Igreja até o ano de 1964. Neste meio tempo, no ano de 1938, nasceu O Amigo das Crianças também em português, produzido pelo antigo Centro de Impressos, a atual Editora Sinodal, em São Leopoldo. A partir de 1971, o Departamento de Catequese da IECLB assumiu a tarefa de elaborar O Amigo das Crianças. Naquela época, o Departamento de Catequese estava sediado Ivoti/RS. Muitos estudantes catequistas da Escola Normal Evangélica, hoje Instituto de Educação Ivoti, colaboraram na elaboração de textos para este jornal infantil. Tinha-se já então uma proposta de

interatividade com as crianças. Em 1976, nasceu o “Cantinho do Leitor” e em 1995 surgiu o “Troque-Toque”, espaços reservados para as crianças enviarem desenhos, poesias, endereços para novas amizades. Hoje, no formato de revista, o espaço se chama “Tudo de Bom”. No ano de 1983, foi criado um Conselho de Redação, um grupo para auxiliar a pensar este pequeno jornal. Hoje, há a Equipe Editorial da revista, formada por jornalistas, pedagogas, diáconas, teólogas e teólogos. Desde 2006, o jornal O Amigo das Crianças se transformou em revista bimensal de 20 páginas, coloridas, coordenada pela Coordenação de Educação Cristã da Secretaria de Formação da IECLB e publicada pela Editora Sinodal. Atualmente, sua proposta está orientada pelo Plano de Educação Cristã Contínua da IECLB (PECC). Nela, a criança encontra histórias bíblicas, atividades interativas e criativas, brincadeiras e temas da fé cristã, como Batismo, Ceia do Senhor, Mandamentos, Cre-

••• 122 •••


do Apostólico, Diaconia, entre outros. Também temos feito algumas parcerias. Uma delas é com a Obra Gustavo Adolfo (OGA). Para marcar bem a época de Advento e Natal, a revista presenteia cada criança leitora com um criativo Calendário de Advento. Com ele, a criança e sua família podem acompanhar a chegada do Natal. Mas este Calendário de Advento também pode ser adquirido de forma avulsa, alcançando também as crianças não assinantes da revista. Parte da venda de cada exemplar avulso contribui para os trabalhos da Obra Gustavo Adolfo junto às comunidades e paróquias necessitadas. Esta é uma forma concreta da criança viver solidariamente o tempo de Advento e Natal.

soras, professores, orientadoras e orientadores comunitários em seu trabalho com as crianças. Ela também se encontra no portal da IECLB no seguinte endereço: www.lutera nos.com.br/textos/propostametodologica-para-uso-da-revistao-amigo-das-criancas. No ano de 2017, juntamente com os festejos dos 500 anos da Reforma, o nosso velho “amigo do peito” completará 80 anos de existência. A data é motivo de muita alegria e gratidão pela bela caminhada do periódico. A revista O Amigo das Crianças foi e deseja continuar sendo, com a ajuda do bom Deus, um veículo para promover a missão de Deus entre as crianças da nossa querida IECLB.

Além disso, a cada nova edição, há a oferta, via on-line, de uma proposta metodológica para subsidiar profes-

A autora é Catequista e trabalha na Coordenação de Educação Cristã – Secretaria de Formação da IECLB em Porto Alegre/RS

HUMOR Uma menina conversava com sua professora. A professora lhe explicou que uma baleia não pode engolir uma pessoa, porque a sua garganta é muito estreita, mesmo sendo a baleia um animal enorme. Porém a menina discordou, dizendo que a bíblia nos conta que Jonas foi engolido por uma baleia. Mas a professora insistiu que não é possível que uma baleia engula uma pessoa, por causa da sua garganta estreita! A menina retrucou: - Quando eu morrer e for para o céu, eu vou perguntar ao Jonas! A professora, com certo sarcasmo, observou: - E se Jonas foi para o inferno? Ao que a menina retruca: - Ah, então a senhora pergunta a ele...

••• 123 •••


Apicultura - um trabalho encantador P. em. Valdemar Lückemeyer

“No dia em que acabarem as abelhas, logo, logo não haverá mais vida no planeta terra” - afirmou alguém com muito conhecimento na área! Sim, elas, as abelhas, são úteis, são necessárias, até imprescindíveis para a vida no e do planeta terra. Sem abelhas não há polinização, não há renovação de sementes, de matas, de plantas, de frutas. Eis a importância deste pequeno animal ou também pequeno inseto. E ele está sofrendo uma série de agressões. Em muitos lugares já não há mais espaço e condições de vida para a abelha! As razões para isso são muitas, algumas ainda desconhecidas. Por que “desaparecem” enxames inteiros? Que fe-

nômeno é este que atingiu primeiramente apiários na Inglaterra, nos Estudos Unidos, no Canadá e recentemente também está surgindo em outros países, inclusive aqui no Brasil? E não é o fato de que o enxame morre. Não, ele desaparece! Este fenômeno, denominado de “Desordem de Colapso de Colônia” – DCC (Colony Collapse Disorder) é o abandono repentino e massivo de colmeias. Ainda não se sabem as causas da DCC, mas as maiores desconfianças incidem sobre uma nova doença que acomete as abelhas e sobre o envenenamento das mesmas por defensivos agrícolas.

••• 124 •••


Entre as várias causas possíveis pelo desaparecimento de abelhas provocadas pelo homem estão: a aplicação indiscriminada de pesticidas - e o Brasil é o campeão mundial de consumo de agrotóxicos, realidade que disparou depois do plantio de transgênicos -, o desmatamento e as queimadas. Em todos os casos, com a sobrevivência das abelhas também está em jogo a nossa sobrevivência, a saúde e a vida de todo o planeta terra. Isto, e muito mais se descobre com a prática da apicultura. Criar abelhas e cuidar de abelhas por hobby ou como atividade profissional para obter mel, própolis, pólen, geleia real, cera, etc. é uma atividade milenar e gratificante. Ela faz bem para o corpo, para a mente e ensina muito, além de ser uma ótima fonte de alimento, que é o mel. É bem verdade que no alto do verão, justamente na época da maior necessidade de acompanhamento às abelhas e também da colheita do mel, o trabalho é cansativo e fisicamente desgastante devido à necessidade de uma boa proteção ao corpo, isto é: roupas adequadas, macacão, luvas e botas. Isto, lógico, para quem trabalha com abelhas com ferrão. Pois também há as abelhas sem ferrão. As duas espécies produzem mel, umas mais, outras menos. Entre as abelhas com ferrão, a espécie mais conhecida é a denominada Apis mellifera, a nossa abelha comum. Ela ocupa a maior parte dos apiários, e também mora

em árvores velhas, em tocos e também procura morada em nossas casas nas cidades. Elas vêm para a cidade porque há pastagem/comida (muitas flores ornamentais e árvores frutíferas) e também para se refugiar dos defensivos agrícolas. Das abelhas sem ferrão a mais conhecida é a Abelha Mirim, ou melhor, o Jataí, que pode ser alojada em qualquer canto do pátio e no fundo do terreno. Mas há muitas outras variedades de abelhas com ferrão como também sem ferrão. A abelha é um inseto muito disciplinado e trabalhador. Vive num sistema de extraordinária organização social. Cada uma tem a sua tarefa específica, sempre em benefício de todas. “Só a sua vida, sua organização social, sua divisão de trabalhos seriam suficientes para impressionar um criador ou outra pessoa.” Toda a colmeia é composta por uma rainha, zangões e abelhas operárias. Cada enxame tem uma única rainha, que se alimenta apenas de geleia real. Ela põe até três mil ovos por dia para a renovação do enxame, e vive em torno de cinco anos. Os zangões, que vivem entre 80 e 90 dias, tem uma única função: fecundar uma rainha, ou melhor, uma princesa, que depois de fecundada por vários zangões, torna-se rainha. Após a cópula, que acontece durante um voo nupcial, o zangão morre e a rainha, agora fecundada, volta para a colmeia de onde não mais sairá, exceto para uma nova enxameação. E temos

••• 125 •••


a abelha operária, que vive apenas 40 a 50 dias. Durante a sua curta vida a abelha operária tem trabalhos bem específicos e variados. Depois de adulta, 21 dias após a rainha ter colocado o ovo, nascida a larva, que se transforma em pupa, a recém-adulta tem a sua primeira tarefa, a saber: cuidar da limpeza da colmeia e ajudar na limpeza das abelhas recémnascidas. Depois, do 5º ao 10º dia, ela desenvolve suas glândulas e mandíbulas e cuida das crias novas e trata a rainha com geleia real. Do 11º ao 20º dia produz cera, constrói os alvéolos e os favos, e ajuda as campeiras na elaboração do mel. Do 20º ao 22º dia cuida da defesa da colmeia. E a partir daí realiza as atividades fora da colmeia coletando néctar, pólen, resinas e água sendo denominada, então, de campeira.

ameaçadas e para isso usam seu ferrão. Este contém uma toxina (a apitoxina), um veneno que pode ser letal quando aplicado em grandes porções ou também em pessoas muito alérgicas. Por outro lado, a apitoxina também pode ser usada, na dose certa, como remédio popular para tratamento de algumas doenças, especialmente o reumatismo.

Quem pouco ou quase nada sabe a respeito de abelhas, sabe ao menos que elas produzem mel e dão ferroadas bem doloridas. Sim, elas (a Apis mellifera) se defendem quando atacadas, quando se sentem

Apicultura – uma atividade que ensina muito e é gratificante. Por que não procurar uma associação de apicultores, participar de algumas reuniões e seminários, que seja apenas por curiosidade? É um mundo cativante!

Mas o mel, este sim, é o BOM das abelhas! Durante muitos séculos este foi o único produto doce usado na alimentação humana. Ele contém proteínas e diversos sais minerais e vitaminas essenciais à nossa saúde. Tem alto potencial energético e propriedades medicinais extraordinárias! É saboroso, muito, muito saboroso – uns mais, outros um pouco menos. E isto está relacionado diretamente com a florada predominante.

O autor é pastor emérito da IECLB, é apicultor, residente em Carazinho/RS

••• 126 •••


Paranoia legiferante - A questão da maioridade penal – Rodrigo Fernando Novelli e Bruno Louis Pabst Wanke

A insegurança é o assunto da vez e a culpa, quase que exclusivamente, hoje é atribuída aos menores que praticam atos equiparados a crimes, fato este que fundamenta a discussão da redução da maioridade penal. Uma vez descoberto o “real problema” da (in)segurança pública, o legislador busca solucioná-lo, como num passe de mágica, mediante a responsabilização penal de pessoas menores de 18 anos. Com a redução da maioridade penal, o legislador atropela direitos e garantias fundamentais, expondo à insegurança de um sistema carcerário falido e medieval, pessoas sem o desenvolvimento mental completo. No cenário internacional, 92% dos países adotam a política de responsabilização criminal a partir dos 18 anos de idade. É importante ressaltar que no Brasil, caso o adolescente pratique um ato análogo ao crime (ato infracional) sofrerá as medidas previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente. Todavia, qual a intenção do legislador em reascender a discussão da redução da maioridade penal nesse momento? Trata-se de uma medida, infelizmente usada como regra, que tenta resolver todos os problemas da sociedade mediante a elaboração

de uma lei, figurando essa conduta como uma verdadeira paranoia legiferante. Na atual conjuntura, a redução da maioridade penal possui a única função de trazer uma resposta paliativa para a sociedade. Não duvido que daqui a alguns anos estaremos discutindo, novamente, a redução da maioridade penal (para 14 anos, 12 anos, 10 anos...). Há argumentos populares como de que se o jovem de 16 anos possui capacidade para votar, poderia então ele responder igualmente pelos crimes praticados, motivando assim o apoio à redução da maioridade penal. Tal pressuposto possui certa razão num primeiro momento. Mas, se analisado sob a ótica da legislação brasileira, percebe-se um grande sofisma sobre a presente “lógica” abarcada. A Constituição Federal de 1988 logrou em seu artigo 228 a inimputabilidade aos menores de 18 anos. Estes, conforme a norma constitucional, ficarão sujeitos à legislação especial, no presente caso o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), prevendo assim uma responsabilização penal diferenciada. Assim, temos que, o jovem menor de 18 anos que cometer um ato

••• 127 •••


tipificado como crime, será responsabilizado com base no ECA, ou seja, será sim ele responsabilizado, apenas responderá fora do sistema do Direito Penal. Segundo o ECA, adolescente é aquela pessoa entre doze e dezoito anos de idade. Portanto, todo adolescente entre os 12 e 18 anos de idade que cometer a prática de um crime ou uma contravenção penal será responsabilizado por este sistema especial, incluindo aí os adolescentes que já possuem o direito constitucional ao voto facultativo. O que não pode ser confundido é inimputabilidade com impunidade. Esta confusão é usada como argumento para defender a redução da maioridade penal. O adolescente é, sim, responsável pelos seus atos. A ausência de políticas públicas adequadas, bem como a inércia do Estado em colocar em prática o Estatuto da Criança e do Adolescente – e este hoje possui apenas 20% de reincidência contra 70% do sistema penal - não pode novamente ser compeli-

do a população. Esta ao fim, por um sentimento de indignação, julga a punição aos adolescentes menores de 18 anos como a única forma de solução para a violência que assola a sociedade. Desde que o Código Penal entrou em vigor na década de 40, o legislador brasileiro já alterou a lei penal 136 vezes, com a finalidade de combater a impunidade, sem cumprir o efeito desejado. Por isso é importante o questionamento feito pelo jurista Luiz Flávio Gomes à Comissão responsável pela análise da redução da maioridade penal: O atual governo será conhecido por fazer a 137ª alteração na lei penal sem qualquer efeito prático, ou ele cumprirá o Estatuto da Criança e Adolescente integralmente? A nossa impressão é a de que não possuímos legitimidade para discutir a redução da idade penal até que o Estado dê efetividade aos direitos sociais do cidadão (educação, saúde, moradia...).

Rodrigo Fernando Novelli, Mestre em Ciência Jurídica, Advogado, Coordenador da Comissão de Segurança Pública da OAB/Blumenau, Professor de Direito Penal e Processo Penal da FURB e do Morgado Concursos. Bruno Louis Pabst Wanke, estudante do 10º semestre do Curso de Direito da FURB de Blumenau

••• 128 •••


Quem é perfeito? P. em. Friedrich Gierus

Quando comecei a refletir sobre este tema, lembrei-me do versículo bíblico: “Tudo posso naquele que me fortalece” (Filipenses 10.13). Esta palavra do apóstolo Paulo me deixou intrigado: Como é que o apóstolo entende a palavra “tudo”? Será que tudo mesmo? Daí, abri a passagem bíblica e, ao tomar conhecimento do contexto no qual o apóstolo fez esta colocação, recebi a resposta. Pois ele explica: “Aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez”. E então vem a frase: “Tudo posso naquele que me fortalece!”

Quer dizer, tudo o que o apóstolo aguenta, conquista e alcança não é resultado de sua saúde, de sua paciência ou de sua inteligência, mas sim é dom de Deus. É Deus que está ao seu lado, é Deus que o fortalece, é Deus que o consola. Disso o apóstolo Paulo tem certeza. É sua fé, é sua confiança total em Deus que o capacita para enfrentar qualquer situação. Nestes termos, ele pode afirmar: Tudo posso! O que isto significa para nós hoje? Com certeza não é assim que podemos fazer tudo o que imaginamos e então Jesus nos abençoa em nossas ações. Jesus não apoia besteiras. Mas ele marca presença em nossas vidas quando queremos ser luz do mundo e sal da terra, quando

••• 129 •••


estamos dispostos a servir, cada um conforme o dom que recebeu e a amar o nosso próximo como a nós mesmos! Mesmo assim, podem surgir dúvidas quanto à presença de Deus em nossas vidas! Por exemplo, quando recebemos o diagnóstico do nosso médico que temos um câncer e precisamos nos submeter a uma cirurgia complicada, ou quando perdemos o nosso emprego e não sabemos como sustentar a nossa família, ou quando nasce o nosso primeiro filho e esta criança nasce com uma deficiência grave! Em tais situações podemos perder a nossa certeza de que Deus está presente em nossas vidas e perguntamos: Por que eu? Por que nós? Sim, até somos capazes de perder a nossa fé. Pois – assim pensamos - Deus não pode destruir a nossa felicidade desta forma. Ou como devemos interpretar o acidente automobilístico, em que perdemos alguém da nossa família ou perdemos extremidades do nosso corpo, tendo que enfrentar, a partir dali, uma vida complicada passando a ser uma pessoa portadora de deficiência? Aí logo surge a pergunta: Por quê? E em seguida, começa a busca pelo culpado. Fui eu? Foi a outra pessoa? - Nem tão raras vezes empurramos a culpa sobre Deus, e nós caímos numa vida extremamente infeliz. Por outro lado aqui e lá também existem pessoas que continuam confiando em Deus, ainda que não enten-

dam como por que determinado acontecimento sucedeu! Ilustra isto muito bem um episódio que alguém me contou: Uma criança de seus 10 anos fez a sua primeira viagem aérea. Ao lado dela viajava uma senhora de idade. Esta ficou muito nervosa na hora da decolagem do avião. E quando, agora já no ar, o avião enfrentou uma turbulência ela ficou apavorada e tremia toda. Muito preocupada, ela olhou para o menino a seu lado que nem dava bola para os solavancos da turbulência. Ele simplesmente continuou brincando com suas peças de lego. A senhora perguntou: - Você não tem medo, não? - Não! - disse a criança. - Pois meu pai é o piloto. É esta confiança que deveria ser a característica da nossa fé. Deus não faz nada errado. Eu posso confiar nele, ainda que o avião da minha vida treme ou enfrenta fortes tempestades! Esta confiança também foi a base da fé do apóstolo Paulo que escrevia aos Efésios. Tudo posso naquele que me fortalece! Quero terminar esta pequena reflexão com uma história que li na internet: Um grupo de sapinhos organizou uma competição. O objetivo era alcançar o topo de uma torre muito alta. Uma multidão se juntou em volta da torre para assistir à “corrida”. A competição começou. Ninguém naquela multidão da assistência toda realmente

••• 130 •••


acreditava que sapinhos tão pequenos pudessem chegar ao topo da torre. Uma turma dizia: - Ah, é difícil DEMAIS! Eles NUNCA vão chegar lá em cima! Outros diziam: - Eles não têm nenhuma chance de sucesso. A torre é muito alta! Os sapinhos tentaram subir, mas começaram a cair. Um por um. Só alguns poucos continuaram subindo mais e mais alto. A multidão continuava a gritar: - É muito difícil! Ninguém vai conseguir chegar ao topo! Aos poucos, todos os sapinhos se cansaram e desistiram. Mas UM continuou subindo, subindo, subindo... Esse não desistia! No final, depois de um grande esforço, ele foi o único a atingir o topo! Foi o vencedor! Naturalmente, os outros sapinhos queriam saber como ele conseguiu. E um dos

sapinhos perguntou ao campeão como ele conseguiu forças para atingir o objetivo? Ele não sabia como conseguiu. Mas, o que de fato ajudou foi: O sapinho campeão era SURDO! Esta pequena história tem uma mensagem clara: Não somos felizes porque deixamos que o negativismo ao nosso redor destrua os nossos sonhos, as nossas aspirações, a nossa fé. Feliz o sapinho que era surdo! O mesmo chegou lá aonde queria chegar. Nestes termos, o sapinho era perfeito ainda que portador de deficiência. Para todos nós é esta a verdade: A vida de qualquer pessoa, seja portadora de deficiência ou não, pode ser perfeita na medida em que segura a mão de Deus e confia nele em todas as circunstâncias da sua vida. Pois então poderá experimentar o que o apóstolo Paulo disse: Tudo posso naquele que me fortalece! O autor é Pastor emérito da IECLB e reside em Blumenau/SC

Constatou-se que 92 % dos brasileiros são fracos em matemática. E os outros 16 % são mais fracos ainda!

••• 131 •••


Com deficiência... Cristian Bode

Sandra dá uma cortada, a bolinha de ping-pong bate forte na mesa adversária. Indefensável! Vitória! Sandra conseguiu! – Ela venceu e passou para a final do torneio. Uma medalha já está garantida! Sandra tem 11 anos, e é cadeirante desde seu nascimento. Neste torneio Sandra é a única Pessoa com Deficiência. Ela mostrou aos participantes “normais” do que é capaz! Todos os presentes no ginásio de esportes ficaram muitíssimo impressionados com o resultado que ela conseguiu. Cheia de autoconfiança Sandra diz:

“Eles ficaram de olhos arregalados, vendo que eu, em minha cadeira de rodas, consigo jogar tão bem!”. O que de fato significa Com deficiência? Definições usuais falam de Deficiência como sendo uma lesão irrecuperável ou uma redução de função permanente, ou um desvio da norma. Definições mais recentes incluem na definição também um prejuízo na vida social e/ou profissional. Porém a divisão entre Pessoas com Deficiência e Pessoas sem Deficiência ou Normais é uma invenção humana. Uma norma sempre é uma definição

••• 132 •••


estabelecida por seres humanos. Somente uma comparação entre seres humanos possibilita uma divisão em grupos. Quem pode afirmar de si mesmo que é normal? Ser normal é uma questão de perspectiva individual. Richard von Weizsäcker disse: Cada pessoa é diferente, isto é normal! Do ponto de vista da antropologia cristã deve-se acrescentar: Cada pessoa é uma criatura singular de Deus. Cada ser humano tem possibilidades e limites. O ser humano é talentoso e limitado ao mesmo tempo. A multiformidade dos seres humanos é um milagre da criação. E o valor e a dignidade do ser humano não dependem de suas capacidades, suas qualidades ou suas realizações. Valor e Dignidade nos são outorgados por Deus.

A proporção e os limites dos dons variam muito de pessoa para pessoa. Isto já as histórias bíblicas nos mostram. Temos como um exemplo Moisés, o líder do povo de Israel. Na fuga do Egito e na peregrinação pelo deserto rumo à Terra Prometida ele demonstra suas qualidades de liderança. No diálogo com Deus ele, no entanto, admite abertamente: Ó Senhor, eu nunca tive facilidade para falar, nem antes nem agora... Quando começo a falar, eu sempre me atrapalho (Êxodo 4.10). O super-homem e o sabe-tudo não existem. Todos os seres humanos têm alguma Deficiência. E bem aventurado é aquele que sabe lidar respeitosamente com as possibilidades e com os limites de seu próximo, mesmo quando estes limites são especialmente visíveis. Tradução: P. Dr. Osmar Zizemer – Artigo publicado em alemão no jornal O CAMINHO, edição de agosto 2015, página 8

HUMOR Na aula de biologia a professora falou longa e detalhadamente sobre a girafa. Para terminar, ela pergunta: - Alguém de vocês pode se imaginar algo pior do que uma girafa com dor de garganta? Silêncio. De repente Pedrinho aponta o dedo no fundo da sala: - Uma centopeia com calos secos em todos os pés, professora!

••• 133 •••


O verdadeiro brilho Nos jogos paraolímpicos disputados nos Estados Unidos há alguns anos a final dos 400 metros masculino comoveu profundamente os poucos expectadores. Oito atletas com deficiência (com necessidades especiais) dão a largada. Eles não correm com elegância. Mas correm do jeito que podem cada qual com outro tipo de deficiência. Não é um visual atrativo. Algumas pessoas da plateia até desviam o olhar, penalizadas. Mas, de repente, todos voltam o olhar com atenção! Pouco antes da linha de chegada o atleta que vinha liderando a prova tropeça e cai. Mas o corredor que vinha em segundo lugar não passa simplesmente correndo para garantir a sua vitória. Ele para junto ao colega caído, o levanta com esforço, o segura por baixo dos braços e vai levando-o consigo. Os dois, manquitolando, prosseguem na corrida. Quando os demais competidores os alcançam, também eles se jun-

tam à dupla, tomam aquele que havia caído em seu meio. E assim, todos juntos correm para a linha de chegada! As comunidades cristãs são – ou pelo menos deveriam ser – semelhantes e agir de modo semelhante! Muita coisa nelas não corre de modo elegante e garboso. Antes tem aparência deficiente, e está cheia de dificuldades. Mas o verdadeiro brilho e a beleza da comunidade cristã não estão na nossa aptidão, na nossa elegância, na nossa competência, na nossa superforma ou na nossa esperteza. O verdadeiro brilho dela está no fato de que reerguemos os caídos, aceitamos as pessoas com deficiências, carregamos os fracos, nos ajudamos mutuamente e nos amamos. Na comunidade de Jesus Cristo não importa que alguém seja o melhor e o mais brilhante vencedor. Mas sim, importa que todos, também os fracos e pequenos, cheguem juntos à meta (confira João 13.34s). Texto anônimo, extraído de Familienkalender 2015, página 23 – Traduzido e adaptado por P. Dr. Osmar Zizemer

••• 134 •••


Membro ativo do “Sacerdócio Geral” P. em. Heinz Ehlert

Eu o conheci inicialmente como um profissional qualquer. Era marceneiro. Tinha sua marcenaria na rua principal da vila, sede da paróquia, onde iniciei o meu primeiro pastorado. Lá podia ser encontrado todos os dias úteis em plena atividade. Além de dois filhos tinha vários empregados.

programa de iniciativa da MEUC (Missão Evangélica União Cristã - um trabalho independente dentro da Igreja). Leigos preparados e orientados com material realizavam estudos bíblicos semanais em suas próprias ou diferentes casas. O Sr. Paul Siegle era um desses líderes leigos.

Ali, a qualquer hora, estava pronto a atender, se precisasse tratar de algum assunto a respeito da vida e missão na comunidade de fé – nossa Paróquia de Ibirama e Nova Bremen, como era denominada na época. Eu não podia imaginar que isto aconteceria tão frequentemente.

Nunca me arrependi deste envolvimento, embora na ampla paróquia com nove comunidades e mais 3 pontos de pregação e, além disso, mais 6 locais de estudos bíblicos em casas, realizados pelo pastor, tivesse serviço mais do que suficiente.

Logo nas primeiras semanas de minha atividade em Ibirama recebi a visita do Sr. Paul Siegle. Veio comunicar que na casa dele eram realizados, todo sábado, estudos bíblicos e que eu era convidado a participar. À pergunta, quem dirigia o estudo, a resposta foi: “Bem, eu sou encarregado, mas peço que o pastor nos dirija no estudo. Pode ser?” Sábado à noite, em dia cheio de atividades na paróquia e ainda véspera de Domingo, com 2-3 cultos, não seria muito fácil, mas aceitei. Não podia imaginar que isto se transformaria num compromisso permanente para todo tempo que atuei naquela paróquia. Devo mencionar aqui que, como descobri, este estudo fazia parte de um

O Sr. Paul Siegle tornar-se-ia um colaborador indispensável, a minha “mão direita”, no serviço pastoral. Logo no primeiro mês de minha atuação um ex-pastor da paróquia anunciou a sua visita, não só ao jovem pastor, mas, principalmente à comunidade e a antigos amigos. Pediu para ser hospedado onde? Na hospitaleira casa Siegle. Pediu também para participar dos cultos (prédica) no domingo seguinte. Assim foi programado. De manhã, na Comunidade sede e, à tarde, na filial Rafael Alto. Isto implicava numa pequena viagem de ca. 15 km. Para garantir a segurança do transporte com o velho Jeep, veículo para os serviços da paróquia, convidei um mecânico, meu instrutor de direção, embora já me considerasse motorista capaz,

••• 135 •••


mesmo que fazia pouco tempo que aprendera a dirigir. Na hora marcada, quem não apareceu foi meu instrutor. E agora? Perguntado, se me julgava capaz de dar conta do recado (de dirigir), afirmei com firmeza: “Sim...!” Além do pastor visitante, o Sr. Siegle fazia parte da comitiva. Ele encorajou o jovem, recém-formado motorista. “Não tem perigo, vai dar certo”. E lá fomos nós. Tudo foi bem até justamente à entrada do templo de Rafael Alto. Aí o Jeep empacou. Não tinha mais embreagem. Arrebentara, como se verificou depois. Conseguimos descobrir – numa tarde de Domingo! - um mecânico ali mesmo, que providenciou o conserto, enquanto realizávamos o culto. A igreja lotada, comunidade atenta, tudo em língua alemã. Terminado o culto e as conversas do pastor que se despedia, o mecânico amigo, apresentou o nosso veículo, pronto para a partida. Embarcaram, um pouco desconfiados, como me parecia. A certa altura do percurso, já perto de Neu-Berlin (Bela Vista), um barulho muito estranho na área do motor. Parei o carro. Fomos olhar. O Sr. Siegle era o que mais entendia. Recomendou desligar o motor e tirar o cabo da bateria e religar. Deu certo (ninguém soube, por que!). O carro andou e chegamos ao destino. Na noite daquele Domingo ainda estava marcado estudo bíblico – na

casa Siegle, sob a direção do pastor visitante. No final ainda uma conversa informal com os participantes. Naturalmente veio à baila a nossa viagem a Rafael Alto. A certa altura o visitante confessou com respeito ao transporte: “Eu tive medo!” Não falou de que. Alguém deve me ter falado que o Sr. Siegle já tinha realizado sepultamentos na ausência do pastor. Às vezes era bem difícil, numa emergência dessas, chamar o pastor da paróquia vizinha para realizar o ofício. Dali para frente havia, com a anuência do presbitério, um acordo, um tipo de instituição: Nas ausências do pastor, o Sr. Siegle ficava de sobreaviso, para, em caso de algum sepultamento, ser chamado a assumir o serviço. Certo dia o pastor (no caso eu) resolveu cair doente (com doença de criança): caxumba! Devia ficar de cama por bom período. Era época de Advento. Muitos eventos marcados na agenda. E agora? Claro! Recorrer ao Sr. Siegle. O único que tinha prática e era reconhecido pela Comunidade. Desincumbiu-se da tarefa com toda sua modéstia e naturalidade. Assumiu também várias funções no presbitério da Comunidade e Paróquia. Por fim tornou-se Presidente da Paróquia, mas então eu já tinha me transferido para outro campo de trabalho (Curitiba). Durante sua gestão foi construída a nova casa pastoral. Paul Siegle foi um exemplo de um

••• 136 •••


membro ativo do “Sacerdócio Geral de todos os crentes”. Dados biográficos Paul Gottlob Siegle nasceu no dia 24 de março de 1904 em Geradstetten, Remshalden, Wuertemberg, Alemanha. Foi escolarizado em sua cidade natal e aprendeu o ofício de marceneiro, coroado com a “Meisterprüfung” (prova final como mestre do ofício). Seu pai se chamava Friedrich Siegle e sua mãe já era falecida, quando ele resolveu emigrar para o Brasil, em 1924 motivado pelas grandes dificuldades socioeconômicas da Alemanha após a primeira guerra mundial. Inicialmente fixou residência em Blumenau/SC, mas a convite de amigos transferiu-se para Ibirama/SC, um núcleo de colonização da Sociedade Colonizadora Hanseática de Hamburgo, que na época ainda se chamava Hamônia. Aqui se estabeleceu com sua oficina e veio a constituir família. Em 30 de dezembro de 1925 contraiu matrimônio com Alwine nasc. Hoeltgebaum. O casal teve 5 filhos e 5 filhas, sendo que duas meninas faleceram como crianças. Paul Siegle faleceu em 31 de janeiro de 1969, em Ibirama/SC. Pode-se imaginar que na sua família, de tradição genuinamente cristã, de cunho pietista, era cultivada uma espiritualidade alegre e aberta, sem falsas restrições. Neste sentido o

casal Siegle educou seus filhos. Não admira que os filhos, diante do exemplo dos pais, assumiram com naturalidade, de acordo com seus dons, funções de liderança na Igreja. O filho mais velho, Paulo, tornou-se presidente do grupo de Juventude Evangélica e mais tarde presidente da Comunidade Evangélica de Curitiba. A filha Ruth já era coordenadora da Escola Dominical para crianças na Comunidade de Ibirama, quando iniciei ali meu trabalho pastoral. Mais tarde o filho Eugen também foi professor neste ministério. Ainda um fato digno de nota, merece ser mencionado. Quando, no final 1954, tirei férias e fiz uma viagem ao Paraguai, onde iriamos noivar-nos convidei meu amigo, o estudante de teologia Alfonso Thiel, com anuência da autoridade sinodal, para me substituir. E não é que o meu amigo se enamorou da Ruth Siegle? Casaram. Ao lado de seu marido Ruth se envolveu nos serviços das respectivas comunidades, inclusive dirigindo corais da Igreja. E para o seu casamento o então já pastor Thiel convidou seu amigo, também pastor, Oscar Hennig. Este conheceu a outra filha dos Siegle, Elisabeth. Tornaram-se namorados e casaram. Elisabeth também assumiu a direção de corais de Igreja em Pomerode/SC para o que foi contratada depois que seu esposo, o P.

••• 137 •••


Hennig faleceu prematuramente. O filho mais novo da família, Manfredo, foi meu confirmando. Conhecendo seus dotes e vocação, pude encaminhá-lo para o antigo Instituto Pré-Teológico, em São Leopoldo, seguindo depois seu estudo da Teologia. Foi pastor em diferentes paróquias de nossa Igreja e, por fim, Pastor Sinodal do Sínodo Norte Catarinense. Mas a história ainda não termina aí: O estudante de teologia (hoje pastor emérito) Romeu Hoepfner, veio estagiar em Ibirama. Ali a filha caçu-

la da família Siegle, Miriam, exercia a função de Diretora do “Jardim de Infância Monteiro Lobato”, vinculado à Comunidade Evangélica Luterana. E não deu outra: ficaram namorados e casaram. Certamente foi uma grande alegria para o casal Paul e Alwine Siegle acompanhar os filhos, tão diretamente envolvidos na Igreja e servindo à causa de nosso Senhor Jesus Cristo, que no exercício dedicado do “Sacerdócio Geral” de todos os batizados lhes era tão caro. O autor é pastor emérito da IECLB e reside em Curitiba

HUMOR O sacristão de uma pequena capela do interior vai para a cidade, onde – entre outras coisas – deveria encomendar novos paramentos para o altar da igrejinha. Chegando lá ele constata, apavorado, que se esqueceu de trazer o bilhete com as medidas dos paramentos e a palavra bíblica a constar neles. Imediatamente ele manda um SMS – e recebe a seguinte resposta: “Um menino vos nasceu! – 1,30 m de comprimento por 0,80 m de largura!” Familienkalender 2015, pág. 58

••• 138 •••


Reencontro com a Criméia Elfriede Rakko Ehlert

Criméia – nome em destaque na mídia por causa do conflito entre Ucrânia e Rússia. E eu com isso? Nasci na Ucrânia. Tenho lembranças como flashes, lembranças de criança. Criméia, terra de sonhos. Um tio meu morava lá. A tia, esposa dele, era a irmã mais velha de minha mãe. Muito bem casada com um vinicultor e comerciante de vinhos, de descendência francesa. Lá a gente passava dias de férias, numa paisagem paradisíaca, com dois primos super bem educados e bonitos que davam atenção para a priminha pequeninha, ou seja, para mim. Uma vida em abundância, um sonho – que infelizmente acabou muito em breve. Tio e tia foram desterrados pelas autoridades comunistas para a Sibéria. Os primos desapareceram como tantos outros. Guerra, caos, refugiados, destituídos de qualquer direito, totalmente excluídos. Nós escapamos, por milagre, do destino de também ser mandados para a Sibéria. Chegamos sãos e salvos à Alemanha, migrando, depois para o Paraguai e, mais tarde para o Brasil. Lembranças da Criméia? Longe, longe... Em 1999 meu marido e eu estivemos na Alemanha. Ali “nos encontrou” um folheto de propaganda, com o título “Descobrir a Criméia”, que não nos soltou mais. Lembrando a história e as reminiscências de

infância, resolvemos contar nossos “Deutsche Mark” ( moeda alemã na época) e nos inscrever para numa viagem de grupo de sete dias à Criméia. A Criméia foi um antigo pomo de discórdia entre Turquia e Rússia, pois dali, pelo Mar Negro, se tem o acesso ao Mar Mediterrâneo. Não vou me alongar sobre dados geográficos e políticos, mas apenas refrescar a minha memória. De Frankfurt o vôo charter nos levou até o aeroporto de Simforopol na Criméia. Já noite escura se processou o traslado em ônibus até Alta, acompanhados por uma guia turística que falava fluentemente o alemão. Fomos instalados num hotel de luxo, construído entre 1975-85. Na época muito frequentado pelos chefes comunistas, agora (1999) quase abandonado. Maravilhosa vista para o Mar Negro. Mesmo com toda essa beleza fiquei deprimida. E por quê? Em toda parte saltava à vista pobreza e abandono. No dia seguinte assistimos a uma missa da Igreja Ortodoxa na maior catedral de Yalta. Uma celebração comovente. Muitas mulheres de idade avançada, mas também jovens em procissão, beijando a imagem do Santo ou da Santa. Um coral – faltam-me palavras para descrevê-lo! Lágrimas corriam dos meus olhos.

••• 139 •••


Tanta fé e entrega depois de tanto sofrimento. Falamos com a guia a respeito. Observação dela: “Outros povos receberam de Deus diferentes dons, aos russos foi conferido o dom de sofrer”! Palácios, diferentes construções, verdadeiros monumentos, todos carregados de história que a Rússia viveu. O Palácio Liwadja foi residência de verão dos czares. Residência de verão também de Nicolau II, o último czar, que foi obrigado a abdicar do trono russo em 1917 em virtude da revolução bolchevique (comunista), sendo fuzilado em 1918 em Sverdlowsk juntamente com a esposa (uma princesa alemã) e quatro filhos. Este mesmo palácio foi cenário da famosa “Conferência de Yalta”, quando em fevereiro de 1945 os três chefes das superpotências aliadas, Stalin, Roosevelt e Churchill decidiram sobre a sorte da Alemanha (nazista), quando a guerra terminasse. Nos passeios pela cidade podia-se observar a miséria reinante: velhos e jovens mendigando pelas ruas. Outros, sentados à beira da rua, pondo à venda objetos e pertences como sapatos, roupas usadas de dias melhores. - Essas observações se referem a 1999. Ignoro a situação de hoje. Yalta já sempre foi local de sanatórios, por conta do clima ameno e da flora riquíssima. Visitamos o Jardim Botânico, onde mais de 800 cientistas fazem experiências. Nunca vimos tantos tipos diferentes de árvores e

plantas. Diz-se que são mais de 12.000 espécies. Vimos construções lindas, antigos sanatórios para tratamentos custeados pelo Estado. Hoje vazias e abandonadas. Fascinante também o próprio Mar Negro, com suas margens de pedregulho. Para entrar no mar, tive que adquirir uma sapatilha, pois as pedras machucavam o pé. Mas fui compensada pela água límpida, sem ondas, convidando para nadar. Para mim sempre um fascínio. Por razões políticas esse Mar Negro sempre foi objeto de cobiça para as nações adjacentes. Os turcos até hoje muito interessados na região favorecem a imigração. A nossa guia explicou que as casas mais bonitas e espaçosas pertencem a turcos que, além disso, têm muitos filhos que assim perseguem o objetivo de alcançar uma proporção maior na população. Nos anos de 1854/55 travou-se uma guerra pelo domínio da Criméia e do Mar Negro entre ingleses e franceses dum lado e a Rússia do outro, que heroicamente se defendeu e afinal saiu vencedora, conseguindo um tratado de paz. Famosa é a enorme pintura panorâmica sobre a mais sangrenta batalha desta guerra. Muito realista, é de tirar o fôlego. Hoje também o Mar Negro tem significado estratégico para a Rússia, pois ali se acha ancorada a famosa “Frota do Mar Negro”. A Criméia continua famosa por seus

••• 140 •••


vinhos, mormente o champanhe da Criméia que de tão sensível não tolera transporte para exportação ao exterior. Claro que tivemos que participar de uma “degustação de vinhos”. O programa da excursão permitiu estabelecer, por conta própria, contato com líderes da pequena Igreja Evangélica Luterana em Yalta. Antes de viajar havíamos conseguido o endereço. Sim, existe uma pequena congregação que foi reunida depois da queda do comunismo. O pregador, senhor Schmidt, foi engenheiro civil e fez um preparo rápido com pastores vindos da Alemanha para a sua função. A Igreja Luterana da Baviera dá apoio. Periodicamente vem um pastor da Alemanha, que realiza batismos, confirmações e ministra a Santa Ceia. O pregador também se comunicava em alemão, mas a presbítera que o acompanhava só falava russo. Um episódio para nós significativo e o mais emocionante foi o encontro com uma prima minha. Através de correspondência, mantida por meu pai em russo, ela recebera a informação da nossa visita. Assim, num determinado momento de nossa excursão, apareceu de surpresa uma senhora vestida de vermelho, o rosto todo suado, carregando uma bolsa pesada. Quem era? Uma prima, filha do irmão mais velho de minha mãe, que , em 1937, foi fuzilado junto com outro tio, pelos comunistas. O contato com essa prima Antonina,

de cuja existência antes nem sabíamos, se estabelecera pela correspondência de meu pai com o filho dela, artista de teatro em São Petersburgo. Conversamos com Antonina, tendo como intérprete nossa guia, pois ela não falava uma palavra em alemão. Ela mostrou fotos da família: minha avó materna, três tias, dois primos e, vejam só, de uma menina a qual declarou não saber quem era. Era eu!... Só tivemos meia hora para conversar. Deu para narrar alguns detalhes do drama da família. Quando meu tio foi assassinado, a esposa dele se encontrava grávida de sete meses – da Antonina. Na ocasião já divorciada por precaução! Assim foi poupada de também ser levada, junto com o bebê para a Sibéria. Com tal medida ela e o bebê sobreviveram à fúria da perseguição de 1937! Ela nos contou como foi dura para ela a sua infância e adolescência e como era dura a vida ainda até aquele momento. Eles têm uma porção de terra à disposição, onde plantam batatas e repolho para o ano todo. Impressionaram-me as mãos dela, ásperas, marcadas por trabalho pesado. Comovente: Trazia duas garrafas de vinho da Criméia para nos presentear. Veio de ônibus para nos encontrar, toda suada pelo calor e por carregar no sol aquela bolsa. Convidou-nos para visitá-la e conhecer seu marido. Tivemos que declinar diante das circunstâncias (excursão, tempo limitado). Nunca mais a

••• 141 •••


gente se encontrou. Mas foi o ponto alto do meu reencontro com a Criméia.

mãe cantava “Kalinka, Kalinka...” Fui até convidada por um dos dançarinos a entrar na dança - e dancei...

A noite de despedida foi especial. Um grupo folclórico, especialmente convidado, fez uma apresentação com cantos, música e dança. Lembranças intensas de quando minha

Assim, lembranças, sonhos e emoções e realizações se misturaram. Hoje só algumas lembranças ficaram. E estas também já se dissipam no horizonte... A autora é professora emérita e artista plástica, residente em Curitiba/PR

HUMOR O professor de ética inicia a aula: - Hoje vamos tratar do tema: Mentira! Quem de vocês já leu o meu livro sobre este tema? Uma porção de estudantes levanta a mão! - Ah sim. Aí já temos um bom ponto de partida. Acontece que meu livro ainda nem foi publicado!

••• 142 •••


Xanthippe Elvira Horstmeyer

Eles moravam numa casa enorme. No jardim Bertha cultivava semprevivas, amores-perfeitos, gérberas, zínias e duas alas de rosas. Mas ainda tinha tempo para algo pouco comum entre suas amigas: Bertha lia muito. Não que as amigas não lessem. Havia quem tinha assinatura do jornal Der Urwaldsbote e outra que tinha um livro intitulado Winnetou. E até havia uma moça que colecionava os livros de M. Delly. Mas Bertha era diferente: Ela tinha uma biblioteca. Uma enorme estante de livros ocupava o corredor de sua casa. Os primeiros vieram da Alemanha, trazidos por seu pai. Logo que chegou à colônia de imigrantes, porém, ele compreendeu que aqui não lhe sobraria tempo nem energia para ler.

rádio, sintonizando a Deutsche Welle, que transmitia notícias da guerra na Europa. Ao término do noticiário balançava a cabeça e, compenetrado, dizia: ja, ja, ja. Aos amigos contava “as últimas” sobre a guerra, encerrando seus relatos sempre com o mesmo ja, ja, ja. E logo mudava de assunto. Pois o que de fato movia Hermann eram os negócios com madeira: a derrubada das florestas, o corte dos troncos na serraria, a venda e o transporte do produto. Quando Hermann anunciou que obtivera uma concessão para derrubar uma floresta de pinheiros na serra do Perimbó, Bertha entrou em desespero. Sua bela casa, os canteiros floridos, os vasos de violetas no peitoril da janela, tudo ficaria para trás!

Ainda menina, Bertha descobriu o baú de livros de seu pai. Já antes de se casar com Hermann, que depois seria um homem rico, conseguira um bom número de livros. Enviava pedidos aos parentes na Alemanha, que, solícitos, mandavam mais do que ela pedia. Todo navio que atracava nos portos de Santa Catarina com levas de imigrantes também trazia um pacote de livros para Bertha.

Tudo não! - decidiu. E comunicou ao marido que não iria para lá sem a sua biblioteca. Cultivar um jardim no Perimbó? Não! Ela queria dedicar-se às leituras. Discussões, lágrimas e caras feias duraram alguns dias. Por fim Hermann se deu por vencido: ja, ja, ja! Pois ele tinha pressa. Já não pensava em outra coisa senão naqueles pinheiros majestosos. Até já ouvia os gigantes tombando, e o zunido das serras.

Hermann não tinha interesse pelos livros. Mas encarava com certa benevolência o gosto de sua esposa. Após o Abendbrot, ele colava o ouvido ao

Desde a mudança dos tios para o Perimbó, Carla passava alguns meses do ano na casa deles. Em julho, o pai a colocou na cabine de um caminhão

••• 143 •••


da firma que voltava vazio para o planalto. Durante a viagem pela estrada sinuosa Carla ia pensando nas coisas boas que a aguardavam na casa dos tios. A despensa de tia Bertha: grandes vidros de conserva, cheios de biscoitos de diversos sabores. Carla recitou para o motorista as palavras que representavam o que de mais gostoso havia no mundo: Spekulatius, Pfeffernüsse, Zimtsterne... Depois pensou nas crianças que conhecera no ano anterior e com quem voltaria a brincar. Sentiu um gosto amargo quando se lembrou de Írio, um garoto atrevido que não perdia oportunidade para passar a mão embaixo da saia das meninas. Certa vez Írio conseguira encurralá-la no paiol. O fedelho se aproximou sorrateiro, olhar malicioso, e já estava pronto para o ataque, quando o zunido das serras parou. Seu Honório ouviu os gritos da menina e veio acudir. Mas Irio já sumira no matagal...

do padre, a pessoa mais influente do lugar. Sua habilidade em ministrar a matéria a um grupo de alunos de cada vez foi adquirida em anos de prática. Carla guardou na lembrança, sobretudo, o método infalível de dona Glória para conter a indisciplina. Se, enquanto ensinava uma das séries, as outras começassem a bagunçar, ela parava tudo: “Agora vamos estudar números. Contem de um até cem: Um, dois, três...” Os alunos se aquietavam, recitavam juntos os números, e quem passasse pela escola ouvia: ...oitenta e cinco oitenta e seis...

No alto da serra ficava a vila, de poucas casas. Uma era ocupada pelo gerente – seu Germano, como tio Hermann era conhecido aqui. Nas demais moravam os empregados da serraria. No ponto mais elevado avistava-se a igreja e, perto dali, a escola, de madeira enegrecida pelo tempo. A serraria, pilhas de toras, tábuas arrumadas em blocos, montes de serragem e caminhões esperando para carregar completavam a paisagem. No ar, sempre presente, o aroma acre da madeira.

O empregado mais eficiente da serraria era Honório, marido de Mariquinha. Írio, o filho mais velho do casal, era o flagelo das meninas. A família atraía atenção na pequena comunidade. Principalmente Mariquinha, mulher faladeira, briguenta e curiosa da vida alheia. Não tinha grande gosto pelos afazeres domésticos. Como na vila a vida fosse bem monótona, andava longas distâncias até as fazendas dos arredores para bisbilhotar a vida das pessoas. Também costumava ir à igreja da cidade para assistir aos casamentos. Voltava cheia de novidades para contar. De manhãzinha, começava a ronda pelas casas. Entrava sem cerimônia e, matraqueando sem parar, descrevia com minúcias os vestidos das noivas. Depois desfiava episódios corriqueiros, casos escabrosos e até segredos de alcova.

A professora era dona Glória. Depois

Honório era um homem preocupado

••• 144 •••


com o futuro da humanidade. Ultimamente andava angustiado. Dizia que os troncos dos pinheiros libertavam os espíritos das árvores mortas e que estes lhe transmitiam mensagens sobre o fim do mundo. Cada pinheiro, ao cair na terra úmida, emitia um som exclusivo que só ele, Honório, sabia interpretar. Depois o espírito se recolhia em luto eterno ao fundo da terra. Movido por uma das mensagens, Honório embrenhou-se na mata para contar às árvores que ainda restavam e calcular o tempo para o evento fatídico. Pois os espíritos dos pinheiros lhe haviam segredado que o fim do mundo coincidiria com a queda da última árvore. A certa altura, porém, perdeu-se na contagem e voltou para casa, exausto. Certo dia, Honório foi à casa do patrão para ouvir os relatos de Hermann sobre a guerra na Europa. Para interessar seu Germano pelo que mais o angustiava, relacionou a guerra com as mensagens dos espíritos das árvores. Queria convencer o patrão a parar com os desmatamentos, pois só isso poderia salvar a terra. Os espíritos das árvores, dizia, profetizavam chuvas torrenciais, inundações catastróficas, deslizamentos de terra, mortes e desgraças tão terríveis quanto às da guerra. Hermann ouviu cabisbaixo e, por fim, coçando a cabeça, ponderou: ja, ja, ja. Honório se desgostava com o comportamento da esposa. Em sua opi-

nião, obrigação de mulher era cuidar dos filhos, arrumar a casa e cozinhar para a família. Às vezes, mesmo sendo homem calmo, perdia a paciência com ela. Então os vizinhos podiam ouvir o bate-boca do casal. Uma dessas brigas tornou-se memorável e ainda eram contadas pelos mais velhos décadas depois: Mariquinha seguiu Honório pátio afora e despejou todo o conteúdo do penico na cabeça do marido! Bertha mantinha uma distância respeitosa dos vizinhos e empregava diversas estratégias para se esquivar da Mariquinha. A mais comum era trancar as portas, retirar-se para o quarto com um de seus livros e fazer de conta que não estava. Certa tarde, Carla ajudava tia Bertha a arrumar os livros. Nesse dia, Mariquinha encontrou a porta aberta, entrou de supetão e só foi embora horas depois, meio rouca de tanto falar. Bertha ouviu calada. Mas Carla percebeu que o palavrório da vizinha exasperara sua tia. De fato, quando a fofoqueira foi embora, Bertha extravasou: Die Mariquinha ist eine Xanthippe. Eine Xanthippe! A menina quis perguntar à tia o significado de Xanthippe, mas sentiu que o momento não era oportuno. Saiu para dar uma volta. No pátio da escola, as crianças brincavam. Írio estava lá. E Carla vislumbrou uma oportunidade de atazanar o moleque odioso. Foi andando em direção à escola, enquanto preparava men-

••• 145 •••


talmente uma tradução para a estranha palavra. - Ô Írio, minha tia disse que tua mãe é uma Xantipa! Ouviu? Tua mãe é uma Xantipa. O rosto de Írio se contraiu em choro. Lágrimas rolaram-lhe pela face e, de repente, abrindo o berreiro, correu para a casa da professora. Carla alegrou-se com o efeito de sua investida. Voltou saltitando para casa. Logo os meninos vieram trazer um recado: dona Glória queria falar com Carla. Írio soluçava sem parar. As crianças formavam um círculo em torno dele e da professora. - Carla - dona Glória quis saber - o que foi que você disse ao Írio? O chorão se adiantou: - Ela disse... ela disse... que minha mãe é uma Xantipa. - Quem disse foi minha tia! - corrigiu Carla. Dona Glória a admoestou: - Olha

aqui, menina, chamar as pessoas com nomes feios é pecado. Não se lembra do que o padre disse? Carla retrucou: - Professora, o que é Xantipa? Dona Glória gaguejou: - Xantipa é... Xantipa é... hm, hm... Olha aqui, menina, você ainda é muito pequena para compreender essas coisas. Vai entender quando for adulta. Agora não se esqueça: falar nomes feios é pecado. Carla voltou para a casa dos pais. No Natal, os tios também voltaram para a cidade, após o fechamento definitivo da serraria. Hermann contou aos amigos que o campo desmatado logo se tornaria uma fazenda de criação de gado. Mais uma. Os empregados da serraria permaneceram no lugar, esperando encontrar trabalho na fazenda. Só Honório, não suportando a zombaria dos vizinhos sobre sua mania de pressagiar catástrofes, mudou-se para bem longe com a família. A autora é professora aposentada e reside em Curitiba

••• 146 •••


Os Haroldos... nos tempos modernos... Haroldo tirou o papel de seu bolso, conferiu a anotação e perguntou à balconista:

– Ah, tá bom. Vou querer um pen drive então.

– Moça, vocês têm pen drive?

– Hein?

– Temos, sim.

– De quantos gigas o senhor quer o seu pen drive?

– O que é pen drive? Pode me esclarecer? Meu filho me pediu para comprar um. – Bom, pen drive é um aparelho em que o senhor pode salvar tudo o que tem no computador. – Ah, como um disquete... – Não. No pen drive o senhor pode salvar textos, imagens e filmes. O disquete, que nem existe mais, só salvava texto.

– De quantos gigas, senhor?

– O que é gigas? – É o tamanho do pen. – Ah, tá, eu queria um pequeno, que dê para levar no bolso, sem fazer muito volume. – Todos são pequenos, senhor. O tamanho, aí, é a quantidade de coisas que ele pode arquivar. – Ah, tá. E quantos tamanhos têm?

••• 147 •••


– Hummmm, meu filho não falou de quantos gigas queria.

computador funcionava com aqueles disquetes do tipo bolacha, grandões e quadrados. Era bem mais simples, não acha?

– Neste caso, o melhor é levar o maior.

– Os de hoje nem têm mais entrada para disquete. Ou é CD ou pen drive.

– Sim, eu acho que sim. Quanto custa?

– Que coisa! Bem, não sei o que fazer. Acho melhor perguntar ao meu filho.

– Tem de dois, de quatro, de oito e até dez gigas.

– Bem, o de dez gigas é o mais caro. A sua entrada é USB? – Como? – É que para acoplar o pen drive no computador, tem que ter uma entrada compatível. – USB não é a potência do ar condicionado? – Não, aquilo é BTU. – Ah é, isso mesmo. Confundi as iniciais. Bom, sei lá se a minha entrada é USB. – USB é assim ó, com dentinhos que se encaixam nos buraquinhos do computador. O outro tipo é este, o P 2, mais tradicional. Aí o senhor só tem que enfiar o pino no buraco redondo. – Hmmmm..., enfiar o pino no buraquinho, né? – Hehehe. O seu computador é novo ou velho? Se for novo é USB, se for velho é P 2. – Acho que o meu tem uns dois anos. O anterior ainda era com disquete. Lembra-se do disquete? Quadradinho, preto, fácil de carregar, quase não tinha peso. O meu primeiro

– Quem sabe o senhor liga para ele? – Bem que eu gostaria, mas meu celular é novo, tem tanta coisa nele que ainda nem aprendi a discar. – Deixa-me ver. Poxa, um Smartphone, este é bom mesmo! Tem Bluetooth, woofle, brufle, trifle, banda larga, teclado touchpad, câmera fotográfica, filmadora, rádio AM/FM, dá pra mandar e receber E-mail, torpedo direcional, micro-ondas e conexão wireless. – Micro-ondas? Dá para cozinhar nele? – Não senhor! Assim o senhor me faz rir! É que ele funciona no sub-padrão, por isso é muito mais rápido. – E Bluetooth? Estou emocionado. Não entendo como os celulares anteriores não possuíam Bluetooth. – O senhor sabe para que serve? – É claro que não. – É para comunicar um celular com outro, sem fio. – Que maravilha! Essa é uma grande novidade! Mas os celulares já não se comunicam com os outros sem usar fio? Nunca precisei de fio para ligar

••• 148 •••


para outro celular. Fio em celular, que eu saiba, é apenas para carregar a bateria... – Não. Já vi que o senhor não entende nada, mesmo. Com o Bluetooth o senhor passa os dados do seu celular para outro, sem usar fio. Lista de telefones, por exemplo. – Ah, e antes precisava fio?

– Oi filhão, é o pai. Sim. Filho me diz, você quer o pen drive é de quantos... Como é mesmo o nome? Ah, obrigado, quantos gigas?... Quatro gigas está bom? Ótimo. E tem outra coisa... o que era mesmo? Nossa conexão é USB? É? Que loucura. Então tá, filho, papai está comprando o seu pen drive. De noite eu levo para casa. – Que idade tem seu filho?

– Não, tinha que trocar o chip. – Hein? Ah, sim, o chip. E hoje não precisa mais chip...

– Vai fazer dez em março. – Que gracinha...

– Precisa, sim, mas o Bluetooth é bem melhor.

– É isto moça, vou levar um de quatro gigas, com conexão USB.

– Legal esse negócio do chip. O meu celular tem chip?

– Certo, senhor! Quer para presente?

– Momentinho... Deixa-me ver... Sim, tem chip. – E faço o quê com o chip? – Se o senhor quiser trocar de operadora. Portabilidade, o senhor sabe. – Sei, sim, portabilidade, não é? Claro que sei. Não ia saber uma coisa dessas, tão simples? Imagino, então que para ligar tudo isso no meu celular, depois de fazer um curso de dois meses, eu só preciso clicar em uns duzentos botões... – Nãão! É tudo muito simples, o senhor logo aprende. Quer ligar para o seu filho? Anote aqui o número dele. Isto. Agora é só teclar, um momentinho, e apertar no botão verde... pronto, está chamando. Haroldo segura o celular com a ponta dos dedos, temendo ser levado pelos ares, para outro planeta:

Mais tarde, no escritório, Haroldo examinou o pen drive, um minúsculo objeto, menor do que um isqueiro, capaz de gravar filmes? Onde iremos parar? Olha, com receio, para o celular sobre a mesa: Máquina infernal! - pensa. Tudo o que ele quer é um telefone, para discar e receber chamadas. E tem, nas mãos, um equipamento sofisticado, tão complexo que ninguém que não seja especialista ou tenha mais de quarenta, saberá compreender. Em casa, ele entrega o pen drive ao filho e pede para ver como funciona. O garoto insere o aparelho e na tela abre-se uma janela. Em seguida, com o mouse, abre uma página da internet, em inglês. Seleciona umas palavras e um roque pauleira infernal invade o quarto e os ouvidos de Haroldo. Outro clique e, quando a

••• 149 •••


música termina, o garoto diz: – Pronto pai, baixei a música. Agora eu levo o pen drive para qualquer lugar e onde tiver uma entrada USB eu posso ouvir a música. No meu celular, por exemplo. – Teu celular tem entrada USB? – É lógico. O teu também tem. – É? Quer dizer que eu posso gravar músicas num pen drive e ouvir pelo celular? – Se o senhor não quiser baixar direto da internet... Naquela noite, antes de dormir, Haroldo deu um beijo em Clarinha e disse: – Você sabe querida, que eu tenho Bluetooth? – Como é que é? – Bluetooth. Não vai me dizer que não sabe o que é? – Não enche Haroldo! Deixa-me dormir. – Meu bem, lembra como era boa a vida, quando telefone era telefone, gravador era gravador, toca-discos tocava discos e a gente só tinha que apertar um botão, para as coisas funcionarem?

– Claro que lembro Haroldo. Hoje é bem melhor, não é? Várias coisas numa só. Até Bluetooth você tem. – E conexão USB também. – Que ótimo, Haroldo, meus parabéns. – Clarinha, com tanta tecnologia a gente envelhece cada vez mais rápido. Fico doente de pensar em quanta coisa existe, por aí, que nunca vou usar. – Ué? Por quê? – Porque eu recém tinha aprendido a usar computador e celular e tudo o que sei já está superado. – Por falar nisso temos que trocar nossa televisão. – Ué? A nossa estragou? – Não. Mas a nossa não tem HD, tecla SAP, slow motion e reset. – Tudo isso? – Tudo! Boa noite, Haroldo, vamos dormir. Quando estava quase pegando no sono, o filho entra no quarto e diz: – Pai compra um Playstation vinte e sete para mim? Extraído da Internet Observação do editor: Frequentemente sinto-me como o Haroldo. E você, leitor(a)?

••• 150 •••


O Testemunho Musical dos Coros de Metais da IECLB P. em. Johann Friedrich Genthner

Nossa Igreja tem uma rica história. Ela é uma Igreja da imigração e reúne, por isso, várias tradições luteranas em seu convívio. Ela também se abriu para a cultura brasileira e, portanto, reúne em seus cultos pessoas de várias procedências étnicas. Nós nos alegramos por um convívio luterano tão diversificado. Desde o começo, em 1824, quando os primeiros imigrantes alemães vieram da Europa ao Brasil, também os instrumentos musicais acompanharam a vida comunitária. Eu quero destacar os grupos de metais ou coros de trombones (Posaunenchöre). Em praticamente todos os estados brasileiros, onde se formaram comunidades evangélicoluteranas, também se formaram coros de trombones – em uns mais e outros menos - que acompanhavam os cultos dominicais, as festas e as comemorações e casamentos. O Espírito Santo é o estado que hoje conta com o maior número de coros de trombones. Em cada região surgiram líderes para coordenar o trabalho com os músicos amadores. Eles intensificaram os conhecimentos musicais e motivaram pessoas a participar na vida comunitária com seu instrumento. Algumas comunidades tiveram o cos-

tume de elas mesmas oferecerem os instrumentos aos jovens que se dispunham a aprender a tocar e a participar do coro de metais. Isso facilitava em muito a aprendizagem, pois adquirir um instrumento próprio para muitos jovens interessados era dispendioso demais. Por volta de 1985 formou-se uma aproximação de todos os coros de trombones na Igreja. Essa iniciativa recebeu o nome de Obra Missionária Acordai (OMA). Na escolha desta designação pensava-se na letra do hino 305 de nosso hinário: “Acordai! A sentinela a vinda do Senhor revela: Acorda povo de Jesus!”. Foi formada uma coordenação nacional para se dedicar ao fortalecimento dos grupos, oferecendo encontros para favorecer amizades entre os trombonistas, providenciando literatura musical para diversificar e animar a participação na Igreja. Essa caminhada com os trombonistas foi maravilhosa, pois, mesmo dos lugares mais retirados e distantes o pessoal veio a participar com seu instrumento. Quantos obstáculos foram vencidos para criar uma grande família de trombonistas! No ano de 1990 os coros de metais se encontraram em Curitiba/PR pela primeira vez num Encontro Nacional.

••• 151 •••


O motivo que levou a tal evento nacional foi a 8ª Assembleia Geral da Federação Luterana Mundial que ali se realizou. Como evento paralelo e integrante dessa Assembleia a IECLB preparou um grande Dia da Igreja com a participação de corais e delegações de comunidades. Nele os coros de trombones estiveram presentes com 280 participantes. Os trombonistas foram hospedados no Convento Sagrados Corações em São José dos Pinhais. Lá tiveram lugar para ensaiar, descansar e realizar reuniões. Os trombonistas presentes aprovaram o projeto de criar a Obra Missionária Acordai. E a partir dali esse trabalho está se desenvolvendo com o apoio de um Conselho Nacional e Coordenadores Regionais. Inicialmente a Obra Missionária Acordai esteve ligada diretamente à Secretaria Geral da IECLB. Depois, num processo de reestruturação, passou para o teto jurídico da Comunhão Martim Lutero, tornando-se um núcleo da mesma. Em 2015, a Obra Missionária Acordai realizou o VII Encontro Nacional de

Trombonistas em Santa Maria de Jetibá/ES. Os encontros realizados até agora foram os seguintes: 1º encontro, em Curitiba/PR; 2º encontro, em Santa Maria de Jetibá/ES; 3º encontro, em Timbó/ SC; 4º encontro, em Domingos Martins/ES; 5º encontro, em Schroeder/SC; 6º encontro, em Quinze de Novembro/RS, e o 7º encontro, novamente em Santa Maria de Jetibá/ES. O caro leitor e cara leitora estão convidados a acessar o site da IECLB em www.luteranos.com.br para conferir a atividades dessa obra e dos coros de trombones congregados à mesma. Finalizando a nossa história dos coros de metais na IECLB queremos sublinhar que esse trabalho é um trabalho de músicos amadores, que voluntariamente se engajam para apoiar o testemunho da Boa Nova proclamado pela IECLB. E logo podemos dizer: Quem tem o seu instrumento musical permanece fiel a sua Igreja, cresce musicalmente e amadurece espiritualmente e tem o apoio de um grande círculo de amigos cristãos. O autor é pastor emérito da IECLB, grande líder e incentivador da OMA, reside em Curitiba/PR

••• 152 •••


500 concertos de Coros de Metais rumo a 2017: Histórico e experiências Marcos Luis Petri

Nestes anos que antecedem o jubileu dos 500 anos do início da Reforma Luterana no mundo, e quase 200 anos da presença luterana em terras brasileiras, estamos vivenciando muitos eventos que vão sendo organizados para lembrar e destacar a importância que a fé conforme a confissão de Martim Lutero teve e tem para o desenvolvimento espiritual da humanidade, e para nós, até nossos dias. A partir de 1824, com a chegada de mais e mais famílias alemãs ao Brasil para a colonização destas terras, além de sua vontade de trabalhar e progredir, de recomeçar suas vidas em um espaço de paz, sem guerras e aflições, elas trouxeram muita fé em nosso Senhor Jesus Cristo. E além da Bíblia Sagrada em suas parcas bagagens, trouxeram seus hinários e também os seus instrumentos musicais para, conforme sua educação religiosa, louvar a Deus. Como em regiões da Alemanha, como a Pomerânia e outras, a tradição de acompanhar os cultos luteranos com instrumentos de metais era comum, quando os pomeranos imigraram no Brasil em várias regiões, trouxeram também seus instrumentos de metais e continuaram esta belíssima tradição em terras brasileiras.

Nos anos 80 do século passado a IECLB sentiu que, em nível nacional, esta tradição aos poucos estava se perdendo. E com isso estava-se perdendo muito da própria missão espiritual, deixando-se de criar novas lideranças, que muitas vezes - através da participação em grupos de metais - se formavam dentro das comunidades. No intuito de fortalecer a musicalidade de nossa igreja e ao mesmo tempo fazer missão, sob coordenação do P. Johann Friedrich Genthner - então coordenador do Conselho Nacional de Música da IECLB -, criou-se a Obra Missionária de Metais Acordai (OMA). Esta veio "acordar" os integrantes dos coros de metais de nossas comunidades e ao mesmo tempo fazer missão entre os mesmos, para assim sempre criarmos novos e jovens trombonistas e lideranças, conseguindo desta forma, continuar esta nossa história. Dentro deste contexto, na última reunião nacional do Conselho da Obra Missionária de Metais Acordai juntamente com a Comunhão Martinho Lutero - que dá foro jurídico à nossa instituição - resolveu-se criar um marco para também comemorarmos os 500 anos da Reforma Luterana. Através de uma ideia

••• 153 •••


lançada pelo P. Norival Müller, e desenvolvida e moldada por todo o conselho, foi criado o projeto: 500 Concertos rumo aos 500 anos da Reforma de Lutero. Este projeto quer envolver todos os grupos de metais da IECLB. Eles, durante o período que antecede 2017, irão promover concertos, eventos e também irão participar de celebrações comemorativas dos 500 anos da Reforma Luterana. Deverão constar dos programas de concerto pelo menos dois hinos de Martim Lutero. E deverá ser feito o registro fotográfico do evento. Nele se fará a entrega e explanação de material de Literatura Evangelística referentes a Martim Lutero e aos fundamentos da teologia e fé luterana ao público presente. Dentro do subnúcleo da OMA no

Sínodo Planalto Rio-grandense aderiram a este projeto os Grupos de Metais da Paróquia de Quinze de Novembro/RS e da Comunidade de Ijuí/RS. O Coro de Trombones Professor Erwin Müller Klein, da Paróquia Evangélica de Quinze de Novembro, foi reestruturado no ano de 2005, e fez sua primeira apresentação em Culto de Ação de Graças (Erntedank Gottesdienst), em junho daquele ano. Mas no passado, quando da atuação do P. Hermann Mühlhäusser em nossa paróquia por volta dos anos 60 e 70, já havíamos tido um trabalho com metais em nossa paróquia. Nosso coro de trombones tem participado regularmente de celebrações nas três comunidades que integram a paróquia. Ele também atua em diversas celebrações em comunidades do Sínodo Planalto Rio-

Registro de um dos concertos do Coro de Trombones da Paróquia Evangélica de Quinze de Novembro ••• 154 •••


grandense que conhecem nosso trabalho e o valorizam. Temos notado que as pessoas recebem com alegria nossos concertos e entendem a nossa mensagem. É muito interessante quando participamos na Comunidade de Passo Fundo, por exemplo, onde os jovens participantes na celebração, despertam a curiosidade de conhecer o trabalho da obra e também ficam contentes quando lhes é explicado o intuito do projeto da Obra e ao mesmo tempo, nós trombonistas estarmos completando a missão distribuindo os folhetos. É muito gratificante numa celebração/concerto como essa ver também a emoção de fiéis com bastante idade, ao ouvir dos metais um “Deus é Castelo Forte e Bom” - hino esse que sempre representou nossa fé luterana ao longo da história - por

mais longínquas que pudessem estar localizadas. Com esse espírito missionário estamos interagindo com comunidades do nosso Sínodo que nunca tiveram em seu seio um grupo de metais, nem ao menos escutaram tocar, ou ouviram falar em “Posaunenchor” (Coro de Trombones). Como exemplo cito o fato que marcamos nosso encontro sinodal de trombonistas para os dias 10,11 e 12 de julho de 2015 na Paróquia Evangélica de Novo Xingú, situada num extremo do sínodo e sem histórico de trabalhos de metais em sua trajetória. Esta paróquia ficou muito contente em receber os trombonistas e já faz planos e acena com a possibilidade de estudar uma maneira de criar um grupo de metais e apoiar nossa missão. O autor é regente de Corais, dirigente de Coros de Metais no Sínodo Planalto Rio-Grandense e Presidente do Conselho da OMA, residente em Quinze de Novembro/RS

••• 155 •••


Apicultura e a imigração alemã no Brasil – O Futuro das Abelhas Silvia Zamith

Com o início da imigração alemã no Brasil, vários imigrantes que já eram apicultores na sua terra de origem trouxeram as primeiras abelhas Apis para o Brasil. Entre eles Frederico Hannemann, que se tornou um dos maiores apicultores do país, sendo o inventor da tela excluidora, equipamento até hoje utilizado na apicultura. Em 1895, chega Emilio Schenck, considerado o pai da apicultura brasileira. Ele escreveu livros e artigos de jornais sobre apicultura. Organizou várias exposições nacionais, inclusive a do Centenário da Independência do Brasil, foi professor de apicultura do ministério da agricultura (1990 a 1940) e fundou a primeira associação de apicultores do Brasil. Considerado o maior especialista em

Um cesto antigo para alojar colmeias (Museu Itinerante do Mel em Mafra-SC, da família Sommer)

genética de abelhas do mundo, o professor Warwick Kerr, em busca do melhoramento genético das abelhas europeias no Brasil - a pedido do governo brasileiro - em 1956 importou abelhas da África. E hoje o Brasil, graças a esta ação, possui a abelha mais produtiva do mundo. Em 1924, Frederick Sommer veio da Alemanha para o Brasil com sua família. Para poder se estabelecer, começou uma pequena criação de abelhas em Mafra/SC. Boa parte do mel extraído era enviado para a Alemanha, onde era vendido por seus irmãos que continuaram naquele país. E com isso Sommer se sustentou pelo resto de sua vida. Seus filhos deram continuidade ao que ele havia começado. Entre eles o Dr. Paulo Sommer, hoje com mais de 80 anos, uma referência mundial em apicultura. Sua empresa, sediada em Curitiba, possui apiários instalados em locais de floresta nativa onde não há qualquer tipo de contaminação. Graças ao trabalho desses pioneiros, o Brasil já conquistou dois prêmios de melhor mel do mundo (1979 - Atenas e 2013 - Kiev), melhor cera (2013 Kiev), melhor fumigador (1979 - Atenas) e melhor equipamento de inseminação artificial (1979 - Atenas). Lembrar essa contribuição é impor-

••• 156 •••


tantíssimo. Porque hoje a população de abelhas registra um expressivo declínio em vários países, inclusive no Brasil. Em agosto de 2013, a revista Time trazia na capa um alerta para o risco de desaparecimento das abelhas melíferas, com a chamada “O mundo sem abelhas”. A situação coloca em risco a própria produção de alimentos para os seres humanos, já que as abelhas desempenham papel fundamental na polinização das plantas. O uso de pesticidas por fazendeiros em cultivos e colmeias pode embaralhar os circuitos cerebrais das abelhas. De acordo com um artigo publicado na revista científica Nature Communications, a utilização desses produtos químicos afetaria a memória e a capacidade de navegação das abelhas. A associação entre o desaparecimento de abelhas e o uso de agrotóxicos levou o IBAMA a restringir a aplicação de quatro tipos de princípios ativos de inseticidas. O agrônomo Quimet Toldrá, em entrevista à Radioagência NP, destacou a importância das abelhas para a produtividade de certas culturas agrícolas: “A abelha europeia, em nível mundial, é responsável por aproximadamente 75% da produção de frutas. No caso das maçãs, por exemplo, calcu-

Conjunto de centrífuga, balde e peneira antigos (Museu Itinerante do Mel em Mafra-SC, da família Sommer) la-se que 90% da produção depende da polinização pelas abelhas. Em outros cultivos, como o café, 60% se deve às abelhas. A quantidade de agrotóxicos que está se jogando vai ter efeitos na biodiversidade. São efeitos às vezes indiretos. Ou seja, vai se rompendo a cadeia de reprodução das plantas, de diferentes espécies vegetais.” Créditos: www.clickriomafra.com.br e www.revistapesquisa.fapesp.br A autora é Bióloga e reside em Curitiba

••• 157 •••


Aluno Judeu em Escola Católica Um pai judeu, com a melhor das intenções, enviou seu filho para o colégio mais caro da Comunidade Judaica. Apesar das posses do pai, Samuel não ligava para as aulas. Notas do primeiro mês: * Matemática: 2 * Geografia: 3 * História: 3 * Literatura: 2 * Comportamento: 0

O pai, surpreso, perguntou-lhe: - Samuel, o que aconteceu para você ir tão bem na escola? Como é que se deu este milagre?

Estas espantosas classificações repetiam-se mês a mês, até que o pai se cansou. Chamou o filho para uma “conversa”: - Samuel ouça bem o que vou lhe dizer: Se no próximo mês as suas notas e o seu comportamento não melhorarem, vou colocar você para estudar num colégio católico! No mês seguinte as notas do Samuel, como sempre, foram uma tragédia. E então o pai cumpriu com a sua palavra. Através de um rabino próximo da sua família, entrou em contato com o bispo. E este lhe recomendou um bom colégio franciscano para o qual Samuel foi enviado. Notas do primeiro mês: * Matemática: 8 * Geografia: 7 * História: 7 * Literatura: 8 * Comportamento: 8

Notas do segundo mês: * Matemática: 10 * Geografia: 8 * História: 9 * Literatura: 10 * Comportamento: 10

Respondeu Samuel: - Não sei papai! Não sei mesmo! Mas assim que cheguei ao colégio apresentaram-me todos os colegas e todos os professores. E mais tarde fomos obrigados a ir a uma igreja, lá dentro do próprio colégio. Quando entrei, vi um homem crucificado, com pregos nas mãos e nos pés, com rosto de ter sofrido muito e todo ensanguentado!... Fiquei muito impressionado! Aí perguntei: Quem é ele? E um aluno do último ano me respondeu: - Ele era um judeu, como você. Então, pensei: “Aqui não tem jeito! Tenho mesmo que estudar, porque os padres não estão para brincadeira!”. Extraído da Internet, autor desconhecido

••• 158 •••


O novo Templo evangélico de Palmitos P. em. Hartmut Schiemann

Já antes de eu assumir o meu pastorado em Palmitos estava em construção, no “morro dos Evangélicos”, a nova igreja em lugar da capela coberta com tabuinhas. Não recordo quem projetou a nova igreja. Mas lembro de que a cada ano a diretoria e pastor percorriam todas as comunidades da paróquia para angariar fundos para a construção, já que era a igreja da sede. No nosso Jeep baixávamos a tampa traseira e ali amarrávamos uma gaiola grande onde prendíamos as aves doadas, que deveriam ser recheadas e assadas para o dia da quermesse. Mas o mais bonito era quando recebíamos outros animais em doação. Na época criavam-se porcos vermelhos, da raça Duroc. Ao visitarmos um membro, ele inscrevia numa lista o que queria doar. Se a doação era um porco vivo, um terneiro ou uma ovelha, nós buscávamos o animal no dia anterior à festa. Para serem leiloados entre as pessoas durante a mesma, os animais eram trancados em pequenos cercados – com plaquinhas com o nome dos doadores - no pátio da igreja. O pátio às vezes parecia um pequeno parque de exposições – e os frequentadores podiam ler nas plaquinhas o nome de cada doador. De certa forma favorecíamos assim os membros doadores e era uma “propaganda” egoísta, mas a gente gostava de ler o seu próprio

nome no cercado dos perus, gansos, cabritos, etc. E esta técnica nos ajudava a motivar os doadores. À noitinha, quando a festa terminava, os novos donos dos animais leiloados ou vendidos davam um jeito de levá-los para casa, às vezes mesmo segurando-os no colo sobre a sela em cima da sua montaria. Recordo de um membro, velho amigo e um verdadeiro original palmitense, que na hora do meio dia, quando o comércio da cidade costumava fechar, costumava passar na casa do pastor: Felipe Buss. Visitando seu Felipe, lhe perguntamos se não queria doar um porco para a festa de inauguração da igreja. Olhando sério, ele disse: - Eu agora não tenho nenhum porco doente! Nós nos entreolhamos, assustados, sem saber o que dizer! Então Felipe riu, divertido, com a nossa cara. Era só uma piada! Mas esta sua frase ficou bem conhecida e famosa para unhas de fome e avarentos da paróquia. Felipe escolheu um leitão Duroc bem bonito, que nós o levamos logo no Jeep, antes que ele se arrependesse depois. Além disso, ele ainda doou ananases para as cucas das mulheres e farinha da própria produção. Ponto culminante da festa de inau-

••• 159 •••


guração da nova igreja foi o fato de que pela primeira vez na história da comunidade veio o “Praeses” (Pastor Presidente), o nosso “Bispo Evangélico”. Uma grande comitiva de evangélicos foi esperá-lo na Barca do Rio Uruguai. Entre eles estava meu amigo Felipe Buss. Os nossos carros estavam enfileirados ao lado da estrada. O mais bonito, que iria levar o “bispo”, na frente. A comitiva parada em fila para saudar e dar as boas vindas ao “Praeses”. A barca chegou, atracou e dela desceu o carro da nossa autoridade máxima. Toda a cidade de Palmitos sabia que ele iria dedicar – com a presença de muitos pastores da região de talar – a nova igreja e pregar neste culto inaugural. O “Praeses” foi cumprimentando um a um da comitiva de recepção, quando ouvi o Felipe dizer em voz alta: - Xi, mas esse homenzinho não representa nada! O “Praeses” deve ter ouvido o comentário, mas fez de conta que não. O que eu não sabia, é que os integrantes da comitiva haviam comprado todos os foguetes que encontraram no comércio de Palmitos. Quando chegamos à entrada da cidade começou um enorme foguetório, que não queria mais terminar. – Dias depois um membro me disse, cheio de orgulho: - Mas nós mostramos aos católicos como se recebe condignamente um bispo!

Não lembro mais o que nosso visitante fez depois da festa, se pernoitou em nossa casa – como as visitas por parte da igreja sempre o faziam – nem como foi a sua volta para São Leopoldo. Só sei que eu estava muito feliz com a nova igreja e com o bom lucro da festa. Durante o citado foguetório e enquanto levávamos o “Praeses” até à nova igreja, lembrei-me de outra recepção muito conhecida em todo o Sínodo Riograndense. O “Praeses” Dohms – que ganhou de uma Paróquia dos Estados Unidos um carro novo - o famoso Oldsmobil – viajava em caravana, junto com o Presidente Wischmann do Departamento do Exterior da Igreja da Alemanha, pelo vale do Alto Taquari em visita às comunidades. Na chegada deles, os sinos tocavam. O arauto de Dohms – o pastor Hoehn – que ia na frente para deixar tudo certo e bonitinho, chegou a Teutônia, onde encontrou o pastor Lecke encostado ao muro da igreja, de roupa simples, e lhe disse: - Irmão Lecke! Os sinos, os sinos! Eles estão chegando! Manda tocar os sinos! Mas Lecke, de braços cruzados, esperando pelos visitantes, respondeu: - Na nossa paróquia os sinos só tocam em honra a Deus! O autor é pastor emérito da IECLB e mora em Santa Cruz do Sul/RS

••• 160 •••


O Pastor que sabia pedir P. em. Meinrad Piske

Há mais de cinquenta anos o Pastor E. L., que veio da Alemanha para o Brasil, residia e atuava numa Paróquia na área rural. Ele tinha fama de saber mendigar. Pedia, tanto dos membros de sua Paróquia como de outras pessoas. Pedia desde balas e chocolates até objetos grandes. Tudo isto para fazer frente a um dos grandes problemas de sua Paróquia: A permanente crise financeira. Não havia dinheiro para a manutenção da igreja e da casa pastoral. Não poucas vezes ele não recebia sua subsistência mensal porque não tinha dinheiro no caixa. Estava vazio. Ele não tinha carro. Visitava as suas comunidades com a carroça puxada por dois cavalos. Em toda a região, ele era o único Pastor que não tinha carro de serviço. Era a época em que sinônimo de carro de Pastor era o Jeep Willys, e carro de luxo era o Fusca da Volkswagen. Estradas asfaltadas e ruas pavimentadas não existiam na sua Paróquia. Arrecadava-se o dinheiro necessário para a manutenção da Paróquia por meio de contribuições fixadas em Assembleia Anual. Mas isto não significava que o dinheiro de fato entrava. Colheitas frustradas ou doenças dos animais domésticos e aves deixavam o agricultor sem produto para vender. E com isto faltava o dinheiro na Paróquia. Naquela época 90% dos pastores atuantes em nossa igreja eram

alemães. Mas eles não ganhavam a sua subsistência de suas igrejas de origem. Cada Pastor, esta era a regra, tinha de lutar para que entrasse o dinheiro para a manutenção e conservação dos bens das Comunidades e da Paróquia bem como para o seu próprio sustento. O Pastor E. L., que morava a uma distância de mais de 100 km de vilas e cidades um pouco maiores, incentivou a realização de festas e promoções. Prendas para a rifa, para a rodada-fortuna nas mais variadas formas e doações livres dos membros faziam com que houvesse entrada de dinheiro. Os prêmios mais disputados eram tecidos, toalhas e utensílios para o lar. Estes prêmios o Pastor pedia em lojas e indústrias. E ganhava. Com o correr do tempo ele desenvolveu a arte de pedir colaboração e dinheiro para a igreja. Tornou-se conhecido em todas as localidades da região. Não só pedia; ele também recebia. As arrecadações vinham. Além de sua persistência e capacidade para convencer alguém, ele era um tipo simpático e com bom humor conquistava as pessoas. Numa determinada cidade dois amigos, um deles madeireiro e carpinteiro e o outro diretor de uma fábrica de produtos têxteis, conversavam sobre o Pastor que sabia pedir como

••• 161 •••


ninguém. E ele vinha todos os anos. O marceneiro resolveu fazer uma brincadeira com o Pastor. Confidenciou isto ao amigo, mas não contou o que pretendia fazer. Alguns dias depois de sua vinda e da coleta de prendas e ofertas realizada pelo Pastor, os dois amigos se reencontraram e um perguntou ao outro como se saíra diante do pedido do Pastor. O madeireiro disse: - Comigo o nosso amigo entrou numa fria! Acredito que ele ainda está pensando no que fazer com a escada de 8 metros que eu lhe dei. Ele ficou meio sem jeito, mas forçou um sorriso, agradeceu e disse que a escada seria buscada. Ele entrou numa fria.

- Eu sei, eu conheço a história, disse o amigo. - Mas quem te contou? - Ninguém menos e nem mais que o próprio Pastor E. L. Ele me falou da escada que recebeu de ti. E apelou para mim que a transportasse até sua casa, argumentando que tu doaste um grande e valioso presente: a escada. - Mas o que aconteceu então? - Ora, ele me convenceu e não saiu lá de casa antes de obter a promessa de que eu transportaria a escada até sua casa com meu caminhão. Assim as duas “esmolas” – a escada e seu transporte – foram recebidas, para satisfação do Pastor E.L. O autor é Pastor emérito da IECLB e reside em Brusque/SC

HUMOR Eduardo pede a seu amigo: - Felipe, você pode me emprestar mil Reais? Felipe: - Não posso. Eu só tenho setecentos. Eduardo: - Não faz mal! Você fica me devendo trezentos!

••• 162 •••


Homens Invisíveis P. Dr. Oneide Bobsin

Anos atrás, um professor da Universidade de São Paulo se vestiu como se fosse um gari, e passou a recolher lixo no compus. O objetivo da pesquisa era conhecer os hábitos alimentares e a forma como os recolhedores de lixo viam o mundo e as pessoas em sua volta. Vestido como se fosse um deles, o professor passava por seus estudantes e colegas, e ninguém o reconhecia. Teve a percepção de que havia se tornado uma pessoa invisível, mesmo que esbarrasse conscientemente em seus colegas. Almoçava com os garis e ouvia as suas histórias. Era visto apenas como mais um colega novo, situação esta que lhe permitia uma pesquisa participante. Percebeu que alguns garis faziam de lata de conserva ou de sardinha um objeto para aquecer o que traziam de casa ou recolhiam no lixo e falavam do que jogamos fora. Lixo e homens se confundiam; também somos o nosso contexto de trabalho. Assim como aquele professor/gari se tornou invisível para os seus colegas e estudantes, algo semelhante pode acontecer em muitas situações. Por exemplo, quase a metade das pessoas do Rio Grande do Sul é negra ou parda, mas o turista que nos visita talvez fique com a impressão de que nós somos o Estado da federação que mais se assemelha à população branca da Europa. Negros e pardos tornam-se invisíveis. Mais do que nossos olhos físicos, nossa visão de

mundo nos ensina a ver algumas coisas e deixar de ver outras. Nossos olhares são interesseiros. Vemos o que nos convém. No entanto, quando as árvores de nossas ruas se tornam como pinheiros de Natal, carregadas de sacos de lixo, os gari, invisíveis, tornam-se visíveis. Então lembramo-nos deles. Eles se fazem presentes pela sua ausência. Entre os muitos milagres de Jesus Cristo estava a cura da cegueira. Mas qual é a cegueira maior? A física, a ideológica ou a fisiológica? Mesmo não sendo possível separá-las, acredito que a recuperação da visão permitiu aos curados deixar de ser invisíveis, ignorados pela sociedade da época. Nossa sociedade precisa: Tornar visível o que nossos preconceitos tornam invisível. Como disse o teólogo protestante Dietrich Bohnhoeffer, que se opôs ao regime nazista e a Hitler, pagando tal ousadia com a própria morte – executado por enforcamento: “Precisamos olhar o mundo a partir dos de baixo, das pessoas oprimidas e excluídas”. Então, talvez, não tenhamos um Natal estranho, fora de época. Acho que a sociedade deveria pagar a um gari um salário como o de um deputado. O autor é pastor da IECLB, doutor em Ciências Sociais, e professor na Faculdades EST em São Leopoldo/RS

••• 163 •••


Minha terra tinha palmeiras Lauro Eduardo Bacca

Certa vez fui palestrar sobre meio ambiente em Indaial. Como um mimo de retribuição pela atividade voluntária, ganhei de presente uma muda de indaiá, espécie de palmeira de enormes folhas que, até que a planta fique mais velha, partem quase que direto do chão para o alto, abrindo um portentoso leque. Onde ocorrem muitos indaiás forma-se um indaial, resultando daí o nome da vizinha cidade. Plantei a muda em nossa propriedade, em local bem escolhido, de forma a permitir que a emblemática

palmeira pudesse crescer livremente e sem problemas. Poucos meses depois, um susto: encontrei minha infante decepada, dela só restando pouco mais que um pequeno toco. Umas duas vacas do vizinho acharam uma falha na cerca, vindo se regalar no nosso lado. Por sorte, a devorado-ra do meu indaiá devia ter dentes bem afiados e cortou as folhas, sem arrancar a mudinha pela raiz, como costuma acontecer. E a sobrevivente agora já é uma majestosa palmeira a embelezar e valorizar o terreno, à espera dos primeiros fru-

••• 164 •••


tos que certamente farão a alegria alimentar de muitas espécies da fauna, tanto de aves quanto de mamíferos. Cabeças de gado, assim como cachorros, gatos e outros animais domésticos, não combinam com preservação. Onde tem gado solto, a vegetação arbórea dificilmente se regenera. As vacas, seus maridos touros e seus eunucoides bois pisoteiam tudo e adoram comer mudinhas que, frágeis, são arrancadas pela raiz. Floresta onde entra gado é floresta congelada no tempo, não evolui e tende a desaparecer. Quando do desmatamento feito para formação de pastagens, foi costume em muitos lugares poupar-se do abate os coqueiros ou palmeiras jerivá, que partilham com as indaiás, palmiteiros, etc., a família das Arecáceas, resultando daí paisagens mais encantadoras, as pradarias com seus coqueiros destacando-se aqui e acolá, geralmente em grupos, a dar um toque todo especial de harmonia ao ambiente.

No entanto não será preciso ser adivinho para prever que este bucolismo em nossa região está com seus dias contados. O leitor atento à paisagem já deve ter percebido, por exemplo, no trajeto de Blumenau ao litoral, a ausência de coqueiros jovens na maioria das pastagens. Verá também ali ao lado, o gado pastando. Os coqueiros estão produzindo frutos que caem e geram milhares de mudas que não vingam, comidas com raiz e tudo pelo gado, um assassino inocente e involuntário. Uma pena, pois, com a morte do último jerivá adulto, nossa paisagem perderá um singular toque de beleza e nossa fauna uma importante fonte de alimento. Será que não tem jeito de se reverter isso? O autor é ecólogo e ambientalista, residente em Blumenau/SC Artigo publicado originalmente no Jornal de Santa Catarina em 25/02/2015

Algumas pessoas usam a sua inteligência para complicar; outras a usam para simplificar. Erich Kästner

••• 165 •••


Curiosidades sobre a crucificação Extraído da Internet

A morte por crucificação foi inventada pelos persas entre 539 e 533 a.C. Os romanos, porém, a popularizaram. Ela era utilizada para punir escravos rebeldes, criminosos violentos e subversivos políticos. As pessoas crucificadas não eram enterradas. Seus corpos eram deixados expostos, para serem consumidos pelos abutres. Jesus Cristo foi uma exceção. Seu sepultamento ocorreu graças à influência de José de Arimateia, um rico judeu simpatizante que negociou com Pilatos, o governador. Em 70 a.C., Spartacus e outros seis mil rebeldes foram crucificados juntos pelo governo romano. Outro caso de crucificação em massa ocorreu durante a Guerra da Judeia, em 66 d.C. Para conter o avanço de uma rebelião no local, o governador romano da Judeia, Floro, mandou para a cruz 3.600 pessoas. Depois da vitória, Roma seguiu enviando 500 judeus por dia para a crucificação. Só interrompeu a carnificina depois que a madeira acabou. Morrer na cruz pode demorar até três dias. Normalmente, o condenado era torturado antes. O Evangelho diz que Jesus levou 6 horas para ex-

pirar. Ele foi crucificado às 9h00 e morreu às 15h00. Segundo a Bíblia, Jesus suou sangue quando foi crucificado. Esse fenômeno, chamado hematidrose, é raro, mas pode acontecer em situações de extrema fraqueza física aliada a um grave abatimento moral (como, por exemplo, o medo exagerado). O percurso que Jesus percorreu com parte da cruz (de cerca de 50 kg) em suas costas foi de, aproximadamente, 600 metros. O apóstolo Pedro também foi crucificado. Porém, ele pediu que fosse pendurado de cabeça para baixo na cruz, pois não se considerava digno de morrer da mesma forma que Jesus Cristo, seu Senhor, foi morto. A prática da crucificação foi extinta em 313 d.C., pelo imperador Constantino, quando este tornou o Cristianismo uma religião tolerada pelo Estado romano. A cruz se tornou símbolo cristão na Idade Média. O método da crucificação ainda hoje é usado em alguns países. No Sudão, cerca de 90 pessoas são crucificadas todos os anos. Leia mais: http://paroquia-do-abcd. webnode.com/news/curiosidadessobre-a-crucificacao/

••• 166 •••


A Corrupção! P. Renato Luiz Becker

Depois de uma gripe prostrante, depois do Mensalão, depois do Petrolão e depois do Fifão, confesso que não resisti. Eis aqui uma pequena visão de como a Bíblia vê a corrupção.

quenas ou grandes, pobres ou ricas. Vai daí que toda a humanidade deveria combatê-la com toda a energia disponível. A corrupção, esse vírus que sempre existiu, é o mais duro de ser combatido.

Certa vez o filósofo, escritor e matemático, Georg Christoph Lichtenberg escreveu que “estranhava o fato das pessoas exalarem felicidade enquanto lutavam por sua fé, mas não demonstrarem a mínima vontade de viver de acordo com as suas máximas”. Hummm...

A palavra “corrupção” vem do Latim: “corruptus”. Antigamente esta palavra era usada como sinônimo de “pecado”. Na verdade, a luta contra essa “doença global” que ataca o corpo da sociedade é uma das tarefas mais importantes das Igrejas, e isso em qualquer país.

A corrupção é uma doença que ataca todas as nações, sejam elas pe-

Em Êxodo 23.8 se lê: “Não aceite dinheiro para torcer a justiça, pois esse

••• 167 •••


dinheiro faz com que as pessoas fiquem cegas e não vejam o que é direito, prejudicando assim a causa daqueles que são inocentes.” Aqui, no antigo Livro da Lei de Israel, se lê este recado, que resume o Mandamento de Deus. Aqui neste versículo bíblico se pede que os denunciantes, que as testemunhas e que os juízes não sejam corruptos. Na jurisprudência se faz distinção entre aquilo que é “presente” e o que é “suborno” (sachod). Está proibida a corrupção passiva e também a ativa. No Antigo Testamento a palavra hebraica mais importante para “corrupção” é “sochad”. Existem outras como “baetza” (lucro indevido) e “kopaer”. Espera-se que denunciantes, testemunhas e juízes não caiam nesta tentação. Quando se quebra a verdade acontece a corrupção (Êxodo 18,21). Ela, a corrupção, é como um ferimento grave e purulento na relação da mulher e do homem com Deus. Aos olhos do profeta “sochad” significa a quebra do bem maior da comunidade e também o afastamento de Deus. O profeta Samuel, no seu discurso de despedida, deixou claro que não tocou a mão em dinheiro corrupto (1 Samuel 12.3). Já seus filhos não agiram assim e se deixaram corromper (1 Samuel 8.3). A vontade de lucrar mais e mais é a mãe da corrupção. O profeta Isaías (Isaías 56.9-12) chama a atenção das lideranças comunitárias que elas só têm interesse de “buscar os seus in-

teresses escusos”. Deus põe a mão na moleira do povo de Israel por causa da sua culpa quando o assunto é lucrar, lucrar, lucrar... (Isaías 57.17). Eis aqui a escada da corrupção: Ela começa nas pessoas mais poderosas, envolve as mais medianas e, por fim, infecciona todo o povo. Pelo fato do povo de Israel ter reconhecido o mal que a corrupção pode causar, foi que os seus líderes alertaram os povos vizinhos. Sim, Israel os chama a ajudar no enfrentamento desses novos desafios que se mostram. Essa importante informação já precisa acontecer na educação das crianças. Os sábios israelenses aprenderam dos egípcios que a “corrupção dos juízes espezinha” os pobres. Tais atitudes implodem a sociedade. Por isso, leia-se Provérbios 29.12: “Quando um governador dá atenção a mentiras, todos os seus auxiliares acabam se tornando maus.” O justo juiz, por outro lado, é abençoado (Provérbios 29.14). As mais importantes virtudes comunitárias são generosidade, tolerância e humildade. (Provérbios 25.21) Onde estes valores são vividos dentro da sociedade, morre a corrupção. O “corrupto” passa a ser escanteado (Provérbios 11.30). Na Lei do Antigo Testamento (Thora) está escrito que “um homem justo é o exemplo para os jovens” (Provérbios 12.1). Quem quiser encontrar o caminho reto na vida, precisa ter olhos de águia e uma consciência clara e crítica.

••• 168 •••


A corrupção sempre acontece entre duas ou mais pessoas. Em termos éticos daria para se dizer que a corrupção é um pecado social. Sigilo, fraude e engano é sua marca registrada. No geral, as pessoas corruptas têm muito poder. Poder para influenciar as decisões, poder para inventar novas leis, poder para legalizar suas ações corruptas. Esta é a forma mais antiga e mais avançada da justificação. Não “justificação somente pela graça”, mas pelo seu próprio poder! Os sinais da corrupção são iguais em todo o mundo. Ela existe nos setores abertos e privados, em países pobre e ricos. Ela inclui suborno, extorsão, influência indevida, nepotismo, fraude e fundos escusos para os processos de certos membros do governo que precisam de ajuda financeira. O Antigo Conselho dos Anciãos de Israel foi um símbolo bíblico de resistência contra a corrupção. Também havia um e outro ancião corrupto. (Isaías 1.21-26). Em Jeremias 22.13-16 observamos o resultado disso. Corrupção é roubo. O “rei”, na concepção de Deus, pratica a justiça (Salmo 15.5). A causa da corrupção é o “desejo” (hamad) (Êxodo 20.17). Tanto o desejo sexual como o desejo ganancioso material têm a mesma raiz. As pessoas corruptas sempre têm consigo uma coleção de armadilhas prontas para o uso (Jeremias 5.26).

Os corruptos fazem seus negócios no escuro. Eles meditam o mal nos seus leitos. Na sua luxúria eles saqueiam os campos e as casas. Eles também praticam a violência contra o homem e sua casa, contra os proprietários e suas posses (Miqueias 2.1-2; 3.1-4). Os corruptos corrompem o que é bom (Gênesis 1.31). Ideias obtusas comandam suas vidas. A corrupção é uma ação contagiosa que afeta o habitat dos povos. Uma vez que o coração humano está caído, a criação tende a cair também. A pessoa sem Deus está contaminada pelo pecado e daí que ela só se alimenta do pão da impiedade; que ela só mata sua sede com o vinho da violência (Provérbios 4.17). As consequências da corrupção são sentidas até na cadeia alimentar: “Eles vão comer o pão em luto e beber a água com horror... As cidades habitadas serão devastadas, e a terra se tornará em desolação" (Ezequiel 12.19-20). Resumindo: A corrupção é o pior pecado que pode existir! Levemos em conta o texto de Êxodo 23.8 “Não aceite dinheiro para torcer a justiça, pois esse dinheiro faz com que as pessoas fiquem cegas e não vejam o que é direito, prejudicando assim a causa daqueles que são inocentes.” O autor é Pastor da IECLB e atua na Paróquia de Itoupava Central em Blumenau/SC

••• 169 •••


O malabarismo da nossa vida P. Ronei Odair Ponath

Aprendi, com o passar dos anos, que para realizar um bom trabalho na comunidade é preciso ter comprometimento. Na correria do dia-a-dia, ser um Pastor envolvido com a atividade pastoral representa muitos desafios. E o maior deles hoje aqui em Blumenau é ver as pessoas deixando a Igreja e os trabalhos da comunidade em segundo plano. Pois estes exigem de nós tempo e compromisso. Por este motivo, outro desafio é vencer o desânimo que, infelizmente, em alguns momentos toma conta de nosso trabalho. Comparando a realidade das Paróquias do Sínodo Espírito Santo a Belém, de onde vim, com a das Paróquias do Sínodo Vale do Itajaí, vejo que são muitas as dificuldades que cercam o nosso atual cotidiano, principalmente em uma cidade grande como Blumenau. O mundo capitalista se tornou muito atrativo através dos meios de comunicação, Shopping Centers, praias, dentre outros atrativos. Vivemos um tempo em que o trabalho escraviza o ser humano. A falta de tempo, o cansaço após o dia de trabalho, as baladas, as ofertas de lazer e o comodismo impedem crianças, jovens, adultos e idosos de viverem em comunidade. Há também ofertas milagrosas de outras igrejas e seitas religiosas que, infelizmente, seduzem nossos mem-

bros - principalmente os que passam por problemas familiares, de saúde, psicológicos e financeiros - a buscarem a cura e um resultado urgente e imediato para as suas dificuldades e sofrimentos. Por outro lado, percebo que muitas pessoas amam a sua comunidade, dedicam-se, comprometem-se e a servem com seriedade e comunhão. A união e a amizade são características muito fortes, que permitem sermos uma comunidade alegre e acolhedora em Blumenau. Enfim, nos meus 12 anos de Ministério Pastoral aprendi a acordar para a realidade sempre que for necessário e a aproveitar cada instante de felicidade. Sempre procuramos abrir nossas janelas para a prática do bem e a não ter medo do futuro. A vida ensinou a mim e minha família, e continua nos ensinando, a aproveitar o presente como uma dádiva que recebemos de Deus. Em alguns momentos palavras perdem o sentido diante das saudades que sentimos dos familiares e amigos que deixamos para trás. Mas agora queremos fazer mais histórias maravilhosas e intensas como as que foram nas Paróquias anteriores em Santa Maria de Jetibá/ES e Itaguaçu/ES. Esta não é a última vez que vamos conviver com as pessoas de uma nova comunidade. Mas é o

••• 170 •••


início de uma vida onde estamos novamente conquistando novos amigos. Até aqui eu e minha família viajamos juntos. Não faltaram os grandes obstáculos. Frequentes estão sendo as pontes que nos ajudam a atravessar os abismos. As subidas e descidas foram uma realidade sempre presente em nosso trabalho. Juntos, percorremos retas e nos apoiamos nas curvas. Sempre queremos agradecer aqueles que, mesmo de fora, mas sempre presentes, nos querem bem, orando por nós e nos apoiando nos bons e nos maus momentos. Gosto de lembrar-me dos momentos vividos, do trabalho dividido. Gosto de imaginar a vida pastoral como um jogo, onde estamos fazendo malabarismos com cinco bolas no ar. Estas bolas são: o Trabalho - a Família - a Saúde - os Amigos e a Vida Espiritual. Nós teremos que mantê-las todas no ar. Logo iremos perceber que o trabalho é como uma bola de borracha. Se soltarmos, ela rebate e volta. As outras quatro bolas, a saber: Família, Saúde, Amigos e Vida Espiritual, são frágeis como vidro. Se nós soltarmos qualquer uma destas, elas ficarão totalmente marcadas com arranhões, ou mesmo quebradas. Vale dizer, nunca mais será a mesma. Te-

mos que apreciar e nos esforçar para conseguir cuidar da mais valiosa. Portanto, trabalhamos eficientemente, quando necessário. Gastamos mais tempo com nossa família e nossos amigos; cuidamos sempre bem da nossa saúde para que, a cada dia, cresça mais a fé em Deus, que é o essencial em nossa vida. Shakespeare dizia: “Sempre me sinto feliz, sabes por quê? Porque não espero nada de ninguém. Esperar sempre dói. Os problemas não são eternos, sempre têm solução. O único que não se resolve é a morte. A vida é curta, por isso, ame-a! Viva intensamente e recorde: Antes de falar... Escute! Antes de escrever... Pense! Antes de criticar... Examine! Antes de ferir... Sinta! Antes de orar... Perdoe! Antes de se render ao fracasso... Tente de novo! Antes de morrer... Viva!” Que Deus ilumine esse nosso novo caminho na certeza das amizades que continuaremos a fazer. As lembranças de vários momentos que vivemos e continuamos vivendo jamais serão esquecidas e ficarão plantadas em nossos corações. “Este é o nosso serviço: ajudar as pessoas para que se alegrem em Deus” (Helmut Gollwitzer). O autor é Pastor da IECLB e atua na Paróquia Blumenau Velha Central em Blumenau/SC

••• 171 •••


Sou professora de artes. E daí? Luciane da Costa Leite

É Natal. Vou descendo pela rua.

jados ao bel prazer dos governos.

Trago comigo ração: Donatella e Pitocco, um casal de cães, e outros dos arredores não ficarão com fome nas férias.

Vinculo às Artes Visuais as demais linguagens artísticas, não só por exigência curricular, mas pelo diálogo que podemos fazer. Por exemplo, nesta semana o tema a ser trabalhado nos 4º anos era a Renascença. Foi um dos períodos artísticos em que Leonardo Da Vinci, Sandro Botticelli, Giotto, entre outros, foram os artistas que despontaram e conquistaram grande renome. Foi uma época em que as artes floresceram, em que surgiu a perspectiva, o uso da tela e do cavalete.

Enquanto desço, ressoam pequenas vozes de janelas e portões a me chamar: - Professora Lu! Professora, Lu! - Mãe, a Professora Lu! “Professora Lu”. É assim que sou conhecida entre os alunos para os quais leciono Arte numa escola de médio porte, com mais de 400 alunos. Tenho a todos eles como responsabilidade em dois turnos. Da Licenciatura em Artes Visuais ficou a profunda vontade de ver os pequenos, desde as primeiras linhas do 1º ano aos seis anos de idade até o 5º ano, adquirir o gosto pelo desenho, pela pintura, pela música. Que vejam os artistas e suas obras; ouçam sinfonias: Beethoven, Richard Strauss, Grieg, e o Blues’ de Marsallis. Que dancem, riam com o cinema de Chaplin. Vejam George Valentim, “O Artista”, e se encantem com a chegada do som ao cinema. Viajamos pela História que não pode ser refutada. Está ali, registrada pelas mãos humanas desde a Arte Rupestre até o ‘grafitti’ de nossos tempos. Pois, há quem não creia nos relatos históricos, taxando-os de for-

Abordei a obra “O nascimento de Vênus” para uma releitura com ênfase na concha. Ao realizar a conversação numa das quatro turmas, mencionamos que da concha sai a perola que é branca como a mulher retratada pelo artista, uma deusa, que também faz analogia com a pureza. Na aula anterior havíamos tratado sobre os possíveis significados das cores. Então um aluno ergueu a mão e perguntou: - Professora Lu, posso falar? Eu acho que o artista pintou a mulher toda branca, e quis dizer que ela é uma joia rara, como a pérola, que sai da ostra. Se se trabalha o quadro “Os Girassóis” de Vincent Van Gogh, uso um conteúdo recorrente: cores quentes! Alia-se a percepção sonora, com

••• 172 •••


Vivaldi e suas “Quatro Estações”. E é possível que alguém dance ao escutar “As Quatro Estações” ou se torne um regente, de repente. E vemos, então, uma dramatização, o teatro. Nesta semana ouviu de um aluno que há dois atrás estava no 2º ano, quando mencionei , “Os Girassóis” de Vincent Van Gogh: - Ah, professora, eu sei: Cores quentes! Mas, nem tudo é céu no ensino de artes, como ocorre em qualquer área de trabalho. Há falta de materiais, ou, mesmo quando estes existem, não se dispõe de um local adequado para manuseá-los. Não há uma sala

de aula específica para pintar com os alunos, com uma torneira onde pudéssemos lavar os pincéis, usarmos o giz de cera, carvão, pastel oleoso. Sem nos preocuparmos com os responsáveis pela limpeza que certamente se desagradarão de nosso trabalho - por mais que no tempo exíguo tentemos tirar o excesso de tinta deixado nas carteiras, ou, caído pelo chão. As marcas do material usado sobre as fórmicas verdes claras ficarão. Quanto à falta material, por vezes eu mesma os adquiro, pela alegria de ver os alunos manusearem um nanquim, um papel “canson”, um giz pastel (que eles adoram) que ficou

Primeiro Nascimento de Vênus, Sandro Botticelli, 1432. Técnica: têmpera sobre tela. Dimensões: 172,5 cm × 278,5 cm. Localização: Galleria degli Uffizi, Florença ••• 173 •••


dos tempos da faculdade, minhas bisnagas de aquarela... Ou, minha irmã - que trabalha em outro município - me doa o que sobra. Neste ano até giz pastel ela me deu.

nas escolas. Em sua maioria os professores são formados em Pedagogia. (Em minha escola sou a única licenciada em Artes Visuais, e isso, se não for a única em todo município).

Outra coisa que entristece é que não existe nota para Artes no sistema denominado SERE, quando se trata de Educação Básica - 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental. Assim, os alunos maiores e alguns indisciplinados se negam a realizar as produções. Pois, não veem notas de Artes em seus boletins. É como se o trabalho docente do professor de Artes, Ensino Religioso e Educação Física não existisse. Isso ocorre, pois, não há concursos específicos para essas áreas. E, são poucos os formados nas respectivas disciplinas que atuam

Todavia, ainda assim, é uma dádiva divina. E eu, mesmo antes de formada, já comecei com o Ensino de Arte, em meados do ano 2000. Ano após ano sinto a mão de Deus dirigindo esse meu experimentar como professora. E, rogo a Ele, para que me aperfeiçoe cada vez mais como docente e pessoa cristã. Pois - parafraseando Paulo Freire - somos seres inacabados. E, na práxis pedagógica e na fé cristã devemos orar para que Deus trabalhe em nós como ourives, a fim de chegarmos à estatura de ‘varã@ perfeit@ ‘. A autora é Professora de Artes Visuais e vive e vive em Curitiba/PR

Nunca se pode ultrapassar alguém, seguindo os seus rastros! Anônimo

••• 174 •••


Lembranças Tradução e adaptação: P. Dr. Osmar Zizemer

Eles estavam juntos, num mesmo galpão: um cavalo, um boi, um carro de corrida e um burrinho. “Uma coisa eu digo a vocês” – iniciou o cavalo – “meu passado deixará vocês pálidos de inveja! Uma linha dos meus ancestrais provém das famosas éguas do profeta. Outra linha provém da famosa linhagem dos Cavalos Lipizzanos (famosos cavalos adestrados da Áustria/Hungria), e por fim eu tenho nas veias sangue da cavalaria de Napoleão Bonaparte!” “Quando eu ainda era touro” – começou o boi – “eu tinha orgulho de terem me fundido como Bezerro de Ouro. Quando fui feito boi, liguei minha tradição à Revolução dos Núbios.”

“Eu participei em grandes corridas” – falou o carro – “nas pistas de Nürburgring, de Monza e outras em todo o mundo. Certa vez o grande Juan Manuel Fangio me dirigiu. Vocês conseguem imaginar isto?”. E assim eles continuaram a se gabar de seus ancestrais e de sua história, embora o cavalo estivesse manco de uma pata, o boi estivesse cego de um olho, e o carro de corridas nem mais tivesse motor. “E o que você nos conta de sua história, burrinho?” – perguntou o cavalo. “Nada de especial” – disse em voz baixa, quase sussurrando, o burrinho. “Mas um de meus antepassados carregou o Menino Jesus!”

“Típico boi!” – relinchou o cavalo. Peter Spangenberg, ANNO DOMINI, Das Christliche Jahrbuch 1997, Hamburg, página 177

HUMOR O diretor do Zoológico está possesso: - Roque, seu irresponsável! Você deixou a jaula dos leões mal fechada ontem à noite! O funcionário relapso tenta se desculpar: - Mas isso não é um grande problema, senhor diretor. Quem iria roubar um leão?! Familienkalender 2915, pág. 37

••• 175 •••


Não temas... Amanda Piske Fertig

Não temas! para Maria o anjo disse, e anunciou: Deus confiou a ti o Filho dele, que será Jesus. E nessas palavras ela acreditou. O anjo foi até José desconfiado e com ele falou: O menino será filho de Deus. E em Maria José de novo confiou. Não devemos temer quando Jesus em nossos corações entrar. Pois quando ele vier, nossa vida vai mais do que melhorar. Algo aconteceu, algo acontecerá nesta noite de Natal: Jesus em nossos corações novamente entrará. A autora criou este texto no Natal de 2014, com 8 anos de idade, reside em Joinville/SC

••• 176 •••


E tudo começou a fazer sentido Tradução: P. Dr. Osmar Zizemer

Certo dia, antes do início da primavera, estava eu só, passeando numa floresta. E escutava o sussurro do vento nas árvores. Meus pensamentos se voltaram para a minha inquietação de espírito e de alma que eu vinha sentindo nos últimos três anos, para a minha procura por Deus, para a minha constante oscilação entre a felicidade e o desespero. E de repente eu compreendi que eu somente vivia de verdade se eu cria em Deus. Só em pensar Nele já faziam levantarem-se em mim as alegres ondas

da vida. Tudo ao meu redor adquiria nova vida; tudo começava a fazer sentido. Mas quando eu deixava de crer em Deus, a vida estancava. “O que é que eu ainda continuo a procurar?” – disse uma voz dentro de mim. “Pois é Ele, sem o qual não se pode viver! Conhecer Deus e viver é uma coisa só. Deus é a própria vida...”. Desde então esta luz nunca mais me abandonou. Leo Tolstoi, ANNO DOMINI. Das christliche Jahrbuch 1997, Hamburg, página 67

HUMOR O septuagenário se gaba aos seus amigos no banco a praça: - O segredo de minha saúde e vitalidade é o alho. Eu mesmo o cultivo na minha horta e como alguns dentes todos os dias! Observação de um dos amigos: - É! Já faz tempo que nós cheiramos este teu segredo! Familienkalender 2015, pág. 56

••• 177 •••


Foi uma noite encantadora... Tradução: P. Dr. Osmar Zizemer

Oh, como é bom não ter nenhum convite para o jantar! Perambular à noite tranquilamente pelas ruas do comércio, comer um joelho de porco em algum restaurante e, no máximo, trocar ideias com um desconhecido sobre o preço do café! Mas, um convite para o jantar? Não. Para tanto a vida é breve demais! Tomemos como exemplo o convite da família Burmeesters. Foi há três semanas. Pessoas fascinantes. Bom nível intelectual, com abertura para as coisas do mundo, interessados em música de câmara. Nada contra os Burmeesters. E nós sabíamos quem mais estava convidado: O dono de uma editora, senhor Thorn e esposa. Portanto, pessoas nossas conhecidas. Chegamos pontualmente. O Martini era seco. O senhor Thorn contou algumas anedotas, não tão velhas que já tivessem barba, nem tão novas. Bem oportunas. Liselotte, minha mulher, me olhava como se quisesse dizer: “O que é que você tem contra convites para um jantar?” Sim! E então, de repente, a porta se abriu... Entrou um cachorro enorme. Ele teve que se agachar para passar pela porta, de tão grande que era. Um DOG DINAMARQUÊS, como fomos informados. Liselotte pensou: “Os amigos de meus amigos são também meus amigos!” - e tentou acariciar o animal. Ele deu o bote para abocanhar a mão dela! Por sorte não acertou a denta-

da! - “Cuidado!” advertiu o dono da casa. – “Esse cachorro está adestrado para o dono! Só não tentem acariciálo. Há alguns dias ele quase arrancou o dedo do Dr. Riemer.” Nisso a senhora Thorn deve ter feito um movimento meio brusco com o braço – e o DOG atravessou a sala num salto, pulando em cima da senhora Thorn e do sofá, de modo que ambos se estatelaram no chão. O casal Burmeesters veio imediatamente em socorro da pobre. Puxaram o seu amado “bichinho” para o meio da sala, e brigaram amorosamente com ele! Em seguida o nosso hospedeiro amarrou o seu querido animal com uma corrente de aço, de mais ou menos 1,20 m de comprimento. Todos nós respiramos cuidadosamente, aliviados... Então foi anunciado que o jantar estava servido. Seguimos para a sala de jantar, a uma distância segura atrás do cachorro, que o seu dono levava pela corrente. A sopa ocorreu tranquila, porque o senhor Burmeesters não se serviu dela. Isto mudou, quando vieram as costeletas com couve-flor ao molho holandês. Não é possível comer costeletas enquanto se segura um DOG DINAMARQUÊS pela corrente. O senhor Burmeesters disse: “Não tenham medo. O animal está meio sonolento, e logo estará deitado no assoalho, enrolado para dormir. Só uma coisa: Não façam movimentos bruscos!”

••• 178 •••


Nós começamos a comer, tão silenciosos como camundongos! Mal ousávamos mastigar, e mantínhamos os cotovelos colados ao corpo. Mas o cão não estava com sono! Ele começou a cheirar em cada um de nós pelas costas, bem devagar e detalhadamente... Por fim ele ficou parado ao meu lado, e colocou o seu focinho úmido dentro do meu prato com couve-flor. Os Burmeesters deram uma risadinha constrangida, e a dona da casa pediu um novo prato para mim. Eu perguntei onde poderia lavar as minhas mãos. Quando, alguns minutos depois eu quis voltar para a sala de jantar, ouvi um rosnar em frente à porta do lavabo. Um rosnar forte e ameaçador! Parecia que se anunciava um terremoto. Portanto, permaneci no lavabo, e fiquei a olhar os artigos de toalete dos Burmeesters. Após uns 10 minutos girei cuidadosamente o trinco da porta – e ouvi novo rosnar! Mais ameaçador que da primeira vez! O que fazer? Permaneci no lavatório. Passei um pente no cabelo. Experimentei como eu ficaria com o cabelo repartido à esquerda, repartido à direita... Passei um pouco de brilhantina no cabelo... Depois de meia hora o senhor Burmeesters bateu na porta e perguntou se eu estava passando mal. “Não, não” – respondi – “estou bem, mas o seu cachorro não me deixa sair!” O senhor Burmeesters deu uma boa risada e disse: “Dessa porta o nosso cachorro cuida de modo especial. Por causa de ladrões. Ladrões preferem os

lavatórios para entrar nas casas. Ninguém sabe por quê. Mas é assim. Vem César!” Mas César não saiu dali de jeito nenhum! Também vieram a senhora Burmeesters, e Liselotte, e o casal Thorn. “Coitado!” disse a senhora Thorn! Nesse meio tempo nosso hospedeiro disse que chamaria o adestrador de cães! Algum tempo passado, ele bateu novamente na porta e me informou que o adestrador não viria, pois tinha baixado hospital. Se ele bateu novamente, não sei. Eu sei que saí pela janela – um pouco estreita e alta – e dali saltei para o jardim. Ao aterrissar destronquei meu pé esquerdo, e saí mancando rumo à nossa casa, até que encontrei um taxi. Dinheiro eu tinha comigo. Se eu soubesse antes o que iria acontecer, teria vestido meu casaco antes de ir ao lavatório. Assim tive de ficar ali, sentado no muro de nossa casa, passando frio. Peguei uma gripe daquelas. Quando minha esposa finalmente chegou, trazendo meu chapéu, meu casaco e o guarda-chuva, ela me olhou preocupada e admirada, perguntou: “Ué, desde quando você reparte o seu cabelo ao meio?” Como eu já disse: Convites para um jantar são uma coisa terrível. E eu ainda continuo mancando...

••• 179 •••

Erich Kästner, ANNO DOMINI. Das christliche Jahrbuch 1997, Hamburg, páginas 84-86


Receitas Colaboração: Marlene Zizemer Gaede

Bolachas da Oma Erna Ingredientes: - 6 ovos - 3 xícaras de açúcar branco orgânico - 1/2 xícara de banha - 1/2 xícara de nata - 2/3 xícara de polvilho - 2 colheres de sopa de sal amoníaco - 1 xícara de leite - 1 colher de chá de baunilha - Farinha branca até dar ponto (se possível orgânica) Modo de fazer: Misture tudo. O sal amoníaco deve ser dissolvido com 2 ou 3 colheres de suco de limão. Se quiser pode colocar 1 xícara de fibra de trigo. Amassar tudo muito bem até dar o ponto de abrir com o rolo. Com as forminhas, fazer as bolachas. Assar no forno médio. Depois de assada pode confeitar com merengue e açúcar colorido. Outra opção é fazer as bolachas de açúcar e canela (antes de assar). Passar leite sobre as bolachas e por cima açúcar com canela moída.

Pão de mel sueco 1800 Ingredientes: - 1/2 kg amêndoas ou castanhas moídas - 1/2 kg de mel - 1/2 kg açúcar mascavo ou melado - 1/2 copo de cachaça de boa qualidade - 1/2 kg farinha branca (orgânica) - 100 g frutas secas picadas - 1/2 colher de chá de noz moscada moída - 1/2 colher de chá de canela moída - 1/2 colher de chá de cravo moído Modo de fazer: Misturar tudo muito bem, guardar por 8 dias. Amassar muito bem mais uma colher de chá de fermento em pó e uma de bicarbonato de sódio. Espalhar numa forma forrada com papel manteiga - com as mãos úmidas. Assar no forno por 1h e 1/2 em temperatura média. Depois de assa-

••• 180 •••


do e frio, cortar em quadradinhos de 5 x 5 cm. Guardar em recipiente fechado. Se quiser pode banhar em chocolate meio amargo.

Tratamento do limão Este tratamento é depurativo e aumenta a imunidade, devendo ser feito diariamente, por um mês, em jejum. - 1ª semana - suco de 1 limão em 1 copo de água morna - 2ª semana- suco de 2 limões em 1 copo de água morna - 3ª semana - suco de 3 limões em 1 copo de água morna - 4ª semana - suco de 4 limões em 1 copo de água morna

Shampoo ou sabonete líquido - 1 sabonete infantil ou sabonete medicinal - 1/2 litro de água Ralar o sabonete, misturar na água e levar ao fogo numa panela (mexendo sempre) até dissolver. - 6 folhas de babosa - 1/2 litro de água Bater no liquidificador, coar e misturar com o sabonete derretido. Aquecer bem, mas não deixar ferver. Quando estiver frio, misturar 50 gotas de tintura de própolis. Observação: Se tiver problema de caspa ou queda der cabelo, coloque o shampoo na cabeça e deixe agir por 15 minutos antes de lavar. Depois usar o creme de sua preferência.

••• 181 •••


ERRATA – Um século da Igreja da Cruz – Profa. Mônica Brandt, com participação da Pa. Ms. Ana Isa dos Reis

Na edição de 2015 do Anuário Evangélico, no capítulo iniciado na página 183, sobre o Centenário da Igreja da Cruz, da Comunidade Evangélica de Ijuí (RS), foi omitido, involuntariamente, o nome do Pastor Rolf Droste na lista de pastores e colaboradores que atuaram nesta Comunidade através dos tempos, conforme relação apresentada na página 193 daquela edição. Com a intenção de corrigir tal lapso, publicamos abaixo a lista completa, corrigida com a devida inclusão do nome do Pastor Rolf Droste com o respectivo período de atuação nesta Comunidade. Pela falha involuntária, pedimos desculpas aos nossos leitores. PASTORES E COLABORADORES NA COMUNIDADE EVANGÉLICA IJUÍ ATRAVÉS DOS TEMPOS Pastorado em Comunidade /Paróquia: 1895 - 1899 - Gerhard Dedecke 1899 - Paul Schenke 1903 - 1912 - Herman Rosenfeld 1912 - 1913 - Hans Henn 1913 - 1915 - Karl Gottschald 1915 - 1926 - Gustav Halle 1927 - 1939 - Franz Kreutler 1939 - 1941 - Ottfried Scheele 1942 - 1963 - Ernst Helmuth Jost 1949 - 1957 - Rodolfo Schneider 1957 - 1959 - Rolf Droste 1959 - 1963 - Martin Kirsch 1963 - 1966 - Fritz Hirning 1963 - 1967 - Adelário Müller 1966 - 1971 - Fritz Dietrich Otto

1968 - 1978 - Herbert Wille 1968 - 1974 - Reynoldo Frenzel 1972 - 1974 - Walter Altmann 1974 - 1979 - Bruno Janssen 1974 - 1979 - Sílvio Meinke 1978 - 1986 - Hans Strunck 1978 - 1987 - Rudi Wehrmann 1981 - 1986 - Omar Kaste 1986 - 1992 - Darci Hugo Brandt 1987 - 1989 - Walter Ernesto Ludwig 1993 - 2002 - Alvori Ahlert 1997 - 2007 - Euclésio Rambo 2002 - 2012 - Gilmar do Nascimento Desde 2006 - Ana Isa dos Reis Desde 2012 - Adi Pfeifer

••• 182 •••


História da Comunidade Evangélica de Confissão Luterana em Domingos Martins/ES P. Valdeci Foester

A história da Comunidade Evangélica de Confissão Luterana em Domingos Martins/ES está estreitamente ligada à chegada dos primeiros imigrantes alemães a Vitória/ES no dia 21 de dezembro de 1846. Permaneceram alguns dias em Vitória e, então, seguiram para a colônia de Santa Isabel, precisamente na Serra da Boa Vista, onde se radicaram a 27 de janeiro de 1847. Eram 39 famílias, das quais 16 famílias pertenciam a Igreja Evangélica Luterana e as demais à Igreja Católica, que viajaram para a Serra da Boa Vista. Os homens seguiram a pé e as mulheres e crianças em canoas pelo Braço Sul do Rio Jucu. Em Boa Vista foram erguidas a primeira capela e a primeira casa pastoral. Mas neste local permaneceram por pouco tempo. Diante de divergências religiosas entre católicos e luteranos, os colonos luteranos resolveram subir mais um pouco serra acima e fixaram-se no local por eles denominado “Campinho Berg” (Montanha do Campinho). Neste lugar ergueram a sua Igreja, no centro do atual cemitério. E a partir daí construíram suas casas e montaram uma pequena vila. As famílias protestantes passaram

seus primeiros anos aqui sem assistência espiritual. Os que tinham recursos foram até o Rio de Janeiro, onde a embaixada da Alemanha mantinha uma Comunidade Protestante, para batizar os filhos ou celebrar o casamento religioso. A primeira visita de um pastor protestante ao Vale do Jucu ocorreu em novembro de 1856 na pessoa do Pastor Eugen Schmidt, do Rio de Janeiro. Durante sua visita de três ou quatro dias, celebrou vários cultos e fez 37 batismos e sete casamentos. O primeiro pastor residente em Boa Vista, Julius Koenig, chegou em janeiro de 1858. Mas faleceu seis meses depois em circunstâncias misteriosas, assim como seu sucessor, Konstantin Held. Seus nomes constam na lápide do antigo cemitério na Serra da Boa Vista em Santa Isabel. Após vacância de quase um ano, a comunidade acolheu o P. Heinrich Eger (novembro de 1860 a maio de 1866). Nesse período a sede da Paróquia foi transferida de Boa Vista para “Campinho Berg”. Ali foram construídas a nova Casa Paroquial e também a Igreja. Segundo o Jornal da Victória, nº 212, de 06 de junho de 1866, o templo protestante de Domingos Martins foi inaugurado

••• 183 •••


Igreja do Campinho sem torre em 20 de maio de 1866, provavelmente um Domingo de Pentecostes. Um dos destaques históricos da Igreja Luterana em Domingos Martins foi a construção da torre que ocorreu numa época em que isto não era permitido em templos não católicos, conforme Art. 5º da Constituição Imperial: “A Religião Catholica Apostólica Romana continuará a ser a Religião do Império. Todas as outras Religiões serão permitidas com seu culto doméstico ou particular em casas para isso destinadas, sem forma exterior de Templo.” O sétimo pastor a

atuar na região, Wilhelm August Pagenkopf (1880-1887) foi quem liderou a construção desta torre juntamente com o Sr. Johann Nikolaus Velten. Assim em 30 de janeiro de 1887, com grande festejo, foi inaugurada a torre da igreja. Acreditase que a igreja de Domingos Martins seja o mais antigo templo protestante, ornado com torre no Brasil. Entre os dez pastores que, até 1936 sucederam o Pastor Pagenkopf, distinguiram-se especialmente os pastores Eduard Ferdinand Graetsch, pela influência espiritual que exer-

••• 184 •••


Igreja do Campinho antiga: pessoas e arquitetura ceu na Paróquia, e Karl Bielefeld pelo trabalho edificante e pela conservação da herança da Igreja Protestante. No período de sua atuação realizaram-se melhorias na igreja Luterana de Domingos Martins e no seu entorno: - Construiu-se o anexo, onde hoje fica o altar da Igreja; - foi cercado dignamente o cemitério junto à Igreja; - foi erguido o monumento à imigração alemã na Serra da Boa Vista em Santa Isabel; - em 31 de janeiro de 1937 foi realizada a inauguração do Relógio da Torre, obra-prima do Sr. Johann R. Schorling. Durante a segunda guerra, o Pastor Bielefeld teve que ficar afastado de suas funções pastorais, assumindo

os trabalhos eclesiásticos alguns leigos, especialmente o Sr. Theodoro Schwambach. Este foi, logo a seguir, encarregado pelo Sínodo Evangélico do Brasil Central para o exercício das funções pastorais nas Paróquias de Domingos Martins, Califórnia e Rio Ponte. Em 1895, a colônia foi invadida pela febre amarela, que ceifou a vida de vários colonos. Diante disso reuniram-se os católicos e luteranos e fizeram um Dia de Penitência para interceder pelo fim da doença. As últimas mortes ocorreram no dia 20 de janeiro de 1895. Em agradecimento pela graça obtida, este dia foi consagrado nesta Paróquia e até hoje é

••• 185 •••


celebrado um culto de agradecimento nesta data.

mentos de uma quinta voz (Oberstimme) para vários hinos.

Entre 1951 a 1963 atuou na Paróquia o P. Siegmund Wanke. Ele trouxe para esta comunidade o Ginásio do CNEC em 1953 - atual Escola Municipal “Mariano Ferreira de Nazaré” - e apoiou a criação do Grupo de Metais – hoje conhecido como Grupo Cultural Martinense. P. Wanke também elaborou o Prontuário do Culto Evangélico-Luterano (Agenda Litúrgica) em 1955, que é usado até hoje nas comunidades capixabas. Além disso, regeu o coral da comunidade de Domingos Martins por 12 anos, executando peças de Bach, Heinrich Schütz e Praetorius. Compôs muitos arranjos para o coro, e acompanha-

O primeiro pastor brasileiro nato em nossa comunidade foi Herman A. Bertlein. Ele deixou a Paróquia alguns meses antes da celebração do centenário da Igreja de Campinho (1966). Festejou esta data magna, com uma grande festa, seu sucessor P. Karl Ernst G. Schneider. O Pastor Schneider chegou em 12.02.66 e agregou à Paróquia as comunidades de Alto Biriricas, Marechal Floriano, Ponto Alto e Aracê. Ele foi o propulsor da construção do Hospital Dr. Arthur Gerhardt (FHASDOMAR) - com verbas provenientes da Igreja Evangélica da Ale-

Igreja do Campinho antiga: torre com relógio, pessoas e arquitetura ••• 186 •••


Versículo bíblico no frontal da igreja de Campinho manha e ajuda local. O Pastor Schneider foi o último pastor oriundo da Alemanha a atuar em Domingos Martins. Ele faleceu em 13.09.85 e está sepultado no cemitério da Comunidade. O P. Lorival Reblin atuou na paróquia de 1985 a 1994. Durante seu pastorado criou trabalhos como: grupos de estudos bíblicos; grupos de apoio a pessoas com deficiência; trabalho na área do Culto Infantil; o Café dos Idosos, acompanhado de uma meditação e louvor. Juntamente com as lideranças idealizou os festejos da “Campinho Sommerfest Festival da Imigração Alemã”. O P. Lorival afastou-se de suas atividades na paróquia em fevereiro de 1994

por motivos de saúde, vindo a falecer em setembro de 1996. Em 01 de janeiro de 1987 o Conselho Paroquial decidiu criar um segundo Campo Ministerial – com sede em Marechal Floriano - para o qual foi contratado o P. Vitório Krauser. Em 06 de janeiro de 1989 Marechal Floriano tornou-se paróquia autônoma, permanecendo ali o pastor Vitório como pároco. De 1994 até 2009 o P. Valdir Weber foi pastor em Domingos Martins. Destacaram-se em sua atuação com os trabalhos na área da música, da liturgia, os encontros de Quaresma, da Reforma e de Advento e formação de lideranças. Após a transferên-

••• 187 •••


Isabel, uma cruz de branco reluzente, erguida em 1937 sob a orientação do P. Karl Bielefeld - então pastor em Domingos Martins - em memória ao primeiro grupo de imigrantes alemães. Em três das quatro faces do pedestal da cruz podem-se ler as seguintes inscrições: 1) EM COMEMORAÇÃO AOS PRIMEIROS IMIGRANTES ALEMÃES NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO – ANO 1846 – OS GRATOS DESCENDENTES – 25. JUL. 1937 - SCHORLING.

Interior do templo (Campinho antigo) cia do P. Valdir, a direção da IECLB enviou o P. Valdeci Foester para dar continuidade aos trabalhos. Ele foi homologado como pároco pelo Conselho Paroquial em 04 de janeiro de 2010 e sua instalação ocorreu no dia 13 de maio de 2010 - dia da Ascensão de Cristo - em culto festivo, com participação de membros, ministros e ministras do Sínodo Espírito Santo a Belém (SESB) e da União Paroquial Jucu.

2) NESTE LOCAL INSTALARAM-SE OS PRIMEIROS IMIGRANTES ALEMÃES, SENDO UM RAPAZ E 38 FAMÍLIAS. CHEGADA EM VITÓRIA: 21.12.1846. CHEGADA NESTE LOCAL: 27.01.1847.

DOMINGOS MARTINS – a mais antiga comunidade evangélicoluterana no ES Quem trafega pela BR 262, no sentido de Vitória a Domingos Martins, pode avistar no vale, à sua direita, logo após a entrada para Biriricas e poucos quilômetros antes de Santa

Marco da colonização na Serra da Boa Vista, local da primeira igreja de Domingos Martins

••• 188 •••


3) OS MARTINENSES SAÚDAM OS 140 ANOS DA IMIGRAÇÃO ALEMÃ – 31-01-1987. “OS ANTEPASSADOS SÃO O TRONCO. CULTIVANDO-O COM DEVOÇÃO, VIÇOSOS SE TORNAM OS GALHOS E BONS FRUTOS SE PRODUZEM”. Mais abaixo, encontra-se no mesmo vale uma segunda cruz, erguida num cemitério desativado. Esta cruz exibe as seguintes informações: AQUI DESCANSAM E ESPERAM A RESSURREIÇÃO OS PRIMEIROS PASTORES EVANGÉLICOS: KÖNIG, FALECIDO EM 1858 – HELD, FALECIDO EM 1859 E 52 PARENTES DOS PRIMEIROS IMIGRANTES: BINNER, VELTEN, HAND, WERFELI, MEES, TRARBACH, BOSSE, MILDENBURGER, DOHM, BAUTZ, KLIPPEL, SCHUHMACHER, LITTIG, HERTEL, BARDES, BUNGENSTAB, MÖBIUS, JÄHRING, SCHNEIDER, KÖHLER, ENGELHARDT, DAMM. – “SÊ FIEL ATÉ A MORTE” AP 2.10. – SCHORLING. Primeiros imigrantes vieram do HUNSRÜCK O primeiro grupo de imigrantes alemães que se fixou no Espírito Santo veio do Hunsrück, região à esquerda do Rio Reno na Alemanha, e aportou no Rio de Janeiro. Em sua chegada ainda não havia um lugar reservado eles. Somente após algum tempo de espera o governo imperial decidiu que eles deveriam fixar-se neste local, no estado do Espírito Santo. As 36 famílias foram então embarcadas

para lá num navio costeiro, chegando a Vitória no dia 21 de dezembro de 1846. Formavam o grupo 23 famílias católicas e 16 famílias evangélicas. Estava-lhes destinada a Colônia de Santa Isabel. No arquivo público do estado do Espírito Santo, Livro nº 163, sob o título Matrícula dos colonos de Santa Izabel, estão registrados os seguintes imigrantes católicos (com a indicação de sua idade): Mathias Marx Schmidt (43), Bernardo Stein (45), Nicolau Stein (41), Estevan Degen (33), Mathias Wastião (41), Thomas Stein (42), Mathias José Marx (37), Mathias Marx 2º (37), Mathias Gills (35), Peter Joseph Schneider (65), Francisco Ignacio Wassen (40), Jacob Wahler (36), João Nicolaus Effgen (31), José Ludwig (23), Peter Trarbach (32), João Chall (25), João Christ (25), Frederico Morser (29), Mathias Bohn (27), Maria Christ (50), Daniel Flotinger (24), Antônio Schmidt (34) e Peter Rhein (34). E como imigrantes evangélicos estão registrados: Mathias Schneider (32), Miguel Schneider (38), Jacob Gerhardt (33), Heinrich Marx (52), Daniel Trarbach (65), Carlos Trarbach (28), Jacob Velten (39), Nicolau Mildenberger (27), Adam Waiandt (37), Adam Faller (53), Elizabeth Trenkbluth (30), Adam Stumm (37), e Dorothea Franz (24). A esse primeiro grupo de imigrantes evangélicos ainda devem ser acrescentados João Jacob Feiper (37), Adam Hand (30) e Nicolau Feiper (32), que por algum motivo chegaram a Vitória como retardatários em outro navio no dia 13

••• 189 •••


de março. Não há mais como identificar qual deles era o jovem solteiro, citado na inscrição da cruz em Biriricas. Lista dos Pastores da Paróquia de Domingos Martins desde 1858 até 2015 1. Julius Koenig (1-7/1858) 2. Constantin Held (8-12/1859) 3. Heinrich Eger (1860-1867) 4. Otto Fliege (1867-1869) 5. Michael Mehl (1871-1878) 6. Johannes Schaeffer (1878-1879) 7. Wilhelm August Pagenkopf (18801887) 8. E. Bloehbaum (1887-1893) 9. Marx Urban (1893-1898) 10 Georg Manteufel (1898-1906) 11. Hugo Haedrich (1906-1912) 12. Wilhelm Schmidt (1912-1920) 13. Gustav Heidenreich 14. Waldemar Ideler (1921) 15. Eduard Ferdinand Gräetsch (1922-1931) 16. Wilhelm Kuester (1932-1935) 17. Karl Bielefeld (1936-1942) 18. Theodoro Schwambach (leigo em funções pastorais) 19. Wilhelm Schützer 20. Walter Adler 21. Karl Bielefeld (1947-1951) 22. Siegmund Wanke (1951-1963) 23. Hermann Berthlein (1963-1965) 24. Karl Ernst G. Schneider (19661984) 25. Lorival Reblin (1985-1994) 26. Vitório Krauser (1987-1989) 27. Valdir Weber (1994-12/2009) 28. Valdeci Foester (01/02/2010 em

diante) Também serviram aqui como estagiários, estudantes de teologia e ministros colaboradores: Raul Pedrinho Hoppe, Leonardo Barth, Flávio Kirst, Louis Marcelo Illenser, Irléci Klitzke Thomas, Wolfgang Gums, Nivaldo Geick Völz, Lisa Leper, Diego Pagung Freisleben, Patrícia Bauer, Gizele Zimmermann, Joel Sandro Fredrerico. Também a eles nossos sinceros agradecimentos. Datas Históricas 27 de janeiro de 1847 – Chegada das 16 famílias evangélicas luteranas a Serra da Boa Vista, Santa Isabel. Novembro de 1856 – Primeira visita de um Pastor à Comunidade de Domingos Martins vindo do Rio de Janeiro. 20 de maio de 1866 – Inauguração do templo da Comunidade Evangélica Luterana de Domingos Martins. 30 de janeiro de 1887 – Inauguração da Torre da Igreja de Domingos Martins (Primeira Igreja Evangélica com torre no Brasil). 31/01/1921 – Inauguração da atual Casa Paroquial de Domingos Martins, construída pelo Sr. Augusto Schwambach e inaugurada pelo pastor Gustav Heidenreich. 31 de janeiro de 1937 – Inauguração do Relógio da Torre da Igreja de Domingos Martins. 05/12/1937- Inauguração do templo da comunidade de Alto Biriricas: P.

••• 190 •••


Karl Bielefeld 28/01/1962 – Inauguração do templo da comunidade de São Bento do Chapéu: P. Siegmund Wanke. 1951 – 1963 - Fundação do Ginásio CNEC: P. Siegmund Wanke. 1973 - Construção do Hospital Dr. Arthur Gerardt: - P. Karl Ernst G. Schneider 23 de agosto de 1998 - Jucu: Fundação da Comunidade: – P. Valdir Weber 17 de agosto de 2004 - Chapéu: Fundação da Comunidade: – P. Valdir Weber 26 de outubro de 2008 – Lançamento da Pedra Fundamental da Comunidade de Jucu: – P. Valdir Weber. 15 de agosto de 2010 – Lançamento Pedra Fundamental em Chapéu: – P. Valdeci Foester e P. Valdir Weber. 19 de maio de 2013 – Inauguração do Centro Comunitário em Domingos Martins: – P. Valdeci Foester e P. Sinodal Joaninho Borchardt. A Comunidade na atualidade Nossa paróquia tem uma longa caminhada, nem sempre muito fácil. Os primeiros imigrantes enfrentaram muitos desafios. Mas não desanimaram diante das dificuldades. Atualmente, a Paróquia é constituída por cinco Comunidades: Domingos Martins, Alto Biriricas, Chapéu, Jucu e São Bento do Chapéu. O total de membros da paróquia é de 1907 pes-

soas. A comunidade de Domingos Martins tem atualmente 1510 pessoas batizadas. Nossa Comunidade é bem viva, e conta com muitas atividades. Além de dois cultos semanais, tem atividades com crianças; com adolescentes; com jovens; com senhoras evangélicas (OASE); com casais; formação de lideranças; formação na área da música; formação bíblica; grupos de canto e liturgia; encontros de quaresma, da Reforma e de Advento; Tríduo Pascal; Caminhada de Lanternas no Advento; Cantatas Natalinas; encontros de Presbíteros e Diretoria. Grupo Cultural Martinense O Grupo Cultural Martinense iniciou suas atividades em 24 de junho de 1957, por ocasião da Festa da Colheita da Comunidade Evangélica de Confissão Luterana em Domingos Martins. Idealizador do grupo foi Guilherme José Brickwedde. Após alguns ensaios, o grupo – então composto também por Dr. Arthur Schneider, Waldemiro A. Hülle, Augusto Faller, Osvaldo Faller, Galdino Waiandt, Edmundo Littig, Roberto Schneider e José Guilherme Kuster – se apresentou pela primeira vez no Culto de Ação de Graças pela Colheita em Domingos Martins. Os primeiros hinos tocados foram: Nun danket alle Gott (Dai Graças ao Senhor); Lobe den Herren den mächtigen König de Ehren (Alma bendize...) e Großer Gott wir loben dich

••• 191 •••


Igreja da Comunidade Evangélica de Confissão Luterana em Domingos Martins na atualiadade

Na página seguinte: Em cima: Centro comunitário e casa paroquial Logo para os 150 anos da igreja de Domingos Martins

Embaixo: Altar ornamentado para a festa da colheita em 2015

••• 192 •••


••• 193 •••


Fundação Hospitalar e de Assistência Social

(Ó Senhor dos altos céus). Grande apoiador para o surgimento do grupo foi o P. Siegmund Wanke – então pastor da comunidade – além de membros do presbitério e amigos da comunidade. Ninguém na época poderia imaginar que assim surgia uma tradição que passaria dos 50 anos de existência e que aquela Banda de Música se apresentaria em tantos eventos e festas em tantos lugares e chegaria inclusive a gravar um CD. Logo novos músicos ingressaram na banda, e a mesma passou também a tocar músicas folclóricas. Além de atuar nos cultos da comunidade, ela passou a ser solicitada para atuar em casamentos e festas em geral. Assim já chegou a se apresentar em mais de 500 festas e eventos em 70 localidades diferentes. Desde sua fundação, a nossa Banda de Música participou em todas as edições de nossa Festa da Colheita, agradecendo sempre a Deus por estas graças alcançadas. Nossos músicos são praticamente todos amadores e com limitações nesta área. Nosso maestro Willy adapta arranjos de outros autores para a condição de nossos integrantes, e também já compôs diversas músicas sacras e populares, como o hino do Município de Domingos Martins e o hino do Centenário da Igreja da Comunidade Evangélica Luterana de nosso Município.

A Fundação Hospitalar e de Assistência Social de Domingos Martins – FHASDOMAR – foi fundada no dia 31 de janeiro de 1970 com o objetivo de melhorar o atendimento médico e social em Domingos Martins e regiões vizinhas. Para a concretização do projeto contou com o apoio financeiro da organização alemã não governamental EZE, por intermédio da secretaria Geral da Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil (IECLB) em Porto Alegre/RS. A comunidade da IECLB de Domingos Martins, apoiada pelo P. Karl Ernst G. Schneider foi a idealizadora da proposta da construção do Hospital e Maternidade Dr. Arthur Gerhardt e a implementou com o apoio das igrejas Católica Apostólica Romana de Domingos Martins e da Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB). O projeto arquitetônico foi desenvolvido pela arquiteta alemã Dra. Ilze Bohnsack. O projeto foi encaminhado pela Paróquia Evangélica de Confissão Luterana em Domingos Martins, por intermédio da IECLB para a Evangelische Zentralstelle für Entwicklungshilfe im Ausland (EZE) na Alemanha, onde foi aprovado sob as seguintes condições: 1) A comunidade ficaria responsável pela contra partida de 20% do valor total para a execução do projeto. A paróquia doou uma quantia em dinheiro e também doou o terreno onde o hospital seria construído. 2) Que

••• 194 •••


uma pessoa de confiança da comunidade fosse enviada para fazer o curso e estágio em administração hospitalar na Alemanha. Foi enviado o Sr. Valdemar Holz, membro da comunidade, para fazer o curso na Instituição das Diaconisas Evangélicas Luteranas de Neuendettelsau (Evangelische Luterische Diakonissenanstalt Neuendettelsau), mantenedora de um hospital de referência. Ali fez o curso e estágio por um ano e meio, entre 1971 e 1973. O cargo de Diretor Coordenador era exclusivo da Paróquia Evangélica de Confissão Luterana em Domingos Martins, criado e instituído por ocasião da ela-

boração e aprovação do primeiro Estatuto da FHASDOMAR, que no seu artigo 24, parágrafo único dizia: “O cargo de Diretor Coordenador será sempre privativo do pároco ou pastor da Paróquia Evangélica de Confissão Luterana em Domingos Martins”. Hoje esse artigo foi alterado, cabendo ao pároco local ocupar o cargo de Diretor da Assistência Social na Diretoria Executiva da FHASDOMAR e Capelão Hospitalar Voluntário. Uma das importantes ações desenvolvidas na área da Assistência Social é a formação e acompanhamento de pessoas voluntárias das diversas

Hospital de Domingos Martins ••• 195 •••


instituições religiosas na área de capelania hospitalar. A Fundação Hospitalar e de Assistência Social de Domingos Martins, tem por finalidade a assistência social e hospitalar de interesse das coletividades dos municípios de Domingos Martins, Marechal Floriano e circunvizinhos. Uma vertente da Fundação é o Hospital e Maternidade Dr. Arthur Gerhardt. Campanha Nacional de Escolas da Comunidade (CNEC) Até o início dos anos 1950, Domingos Martins só tinha o grupo escolar, equivalente ao ensino fundamental. As famílias com melhores condições financeiras enviavam os filhos para dar continuidade aos estudos em Vitória. O P. Siegmund Wanke se uniu a um grupo de lideranças interessadas em viabilizar o projeto de fundar um ginásio, que começou a funcionar em 1953: o advogado Artur Schneider, o promotor Augusto Calmon Nogueira da Gama, o juiz José Paulino Alves e a educadora Paulina Targueta. “Eles começaram as negociações junto a entidades em Brasília para

trazer o sistema educacional da rede de escolas Campanha Nacional de Escolas da Comunidade (CNEC) para Campinho”, lembra Elvira Schneider, então secretária na Paróquia e, depois, foi secretária do CNEC de 1961 a 1987. Enquanto a estrutura do colégio era construída, as aulas começaram em salas emprestadas durante quatro anos, e a secretaria funcionava na casa pastoral. Durante oito anos, contou Gertraude Wanke - aluna numa das primeiras turmas - o pastor Wanke ainda acumulou as funções de diretor do CNEC e professor de matemática, latim e canto orfeônico. “Era uma obstinação. A remuneração era muito pouca. Ele via sua atuação mais como uma coisa humanitária, pelo prazer de ver as pessoas aprendendo e a cidade a ter progresso”, diz Gertraude sobre o pai – que também foi responsável pela construção do Centro de Formação Martim Lutero, em Bento Ferreira, Vitória. Hoje a escola se municipalizou e passou a se chamar: “Escola Municipal Mariano Ferreira de Nazaré”.

Fontes: – Arquivos da Paróquia Evangélica de Confissão Luterana em Domingos Martins. – Relato do Sr. Valdemar Holz sobre a Fhasdomar. – Site da Fhasdomar. – Relatório da Banda Cultural Martinense. – Joanna Ferrari: Livro Comemorativo aos 150 anos da Igreja Evangélica de Confissão Luterana em Domingos Martins. ••• 196 •••


Palavras cruzadas: TEMA DO ANO SOLUÇÃO da página 78

••• 197 •••


Palavras cruzadas: LEMA DO ANO SOLUÇÃO da página 96

••• 198 •••


Sumário Prefácio .................................................................................................................... 3 O significado das nomenclaturas ........................................................................... 5 Meditações mensais de Janeiro a Dezembro ................................................ 10 a 32 Temas da IECLB ....................................................................................................... 34 Tema e Lema da IECLB para o ano de 2016 ............................................................ 35 Tema do Ano de 2016 ............................................................................................. 36 Datas Comemorativas em 2016 ............................................................................. 38 O Brasil na II Guerra Mundial ............................................................................... 40 Lutero no mosteiro ................................................................................................. 45 Sola Fide – Somente por FÉ – .................................................................................. 49 Fé cristã e pluralismo religioso – onde está a verdade? ...................................... 51 TOLERÂNCIA: Por uma cultura do diálogo ............................................................. 54 Sola Scriptura – Somente da Escritura – ................................................................ 58 Regras para a vida ................................................................................................. 60 Uma lição de vida .................................................................................................. 61 Água: nosso pão de cada dia ................................................................................. 63 Água: Dádiva Preciosa ........................................................................................... 66 As águas de março – águas em excesso ................................................................ 68 Águas de destruição – águas de salvação ............................................................. 71 O Mar ...................................................................................................................... 74 Você beberia a água que usou? ............................................................................. 75 Palavras cruzadas: TEMA DO ANO ......................................................................... 78 Rapunzel (Raponço) ............................................................................................... 79 Uma secretária ideal .............................................................................................. 82 A missão de Deus e a IECLB – Uma paixão? ........................................................... 84 A comunidade de Balsas ........................................................................................ 87 A Diaconia como forma de Serviço Cristão na Comunidade ................................ 90 Recanto do Sossego ................................................................................................ 93 Palavras cruzadas: LEMA DO ANO ......................................................................... 96 Não há mais lugar para o vovô ............................................................................. 97 Paradoxos de nosso tempo .................................................................................. 100 Missão da IECLB entre “brasiguaios” .................................................................. 102 A química nossa de cada dia ............................................................................... 106 Medicina fetal: o feto como paciente .................................................................. 108 Em boa companhia ............................................................................................... 110 Sobre amigas... ..................................................................................................... 112 PPH - o quê? .......................................................................................................... 115 Secretaria da Habilitação ao Ministério ............................................................ 117

••• 199 •••


Pomeranos capixabas, os pioneiros da IECLB em Rondônia .............................. 119 Um velho e querido amigo do peito ..................................................................... 122 Apicultura - um trabalho encantador ................................................................. 124 Paranoia legiferante ............................................................................................ 127 Quem é perfeito? .................................................................................................. 129 Com deficiência... ................................................................................................. 132 O verdadeiro brilho ............................................................................................. 134 Membro ativo do “Sacerdócio Geral” .................................................................. 135 Reencontro com a Criméia ................................................................................... 139 Xanthippe ............................................................................................................. 143 Os Haroldos... nos tempos modernos... ............................................................... 147 O Testemunho Musical dos Coros de Metais da IECLB ....................................... 151 500 concertos de Coros de Metais rumo a 2017: Histórico e experiências ....... 153 Apicultura e a imigração alemã no Brasil .......................................................... 156 Aluno Judeu em Escola Católica .......................................................................... 158 O novo Templo evangélico de Palmitos ............................................................... 159 O Pastor que sabia pedir ..................................................................................... 161 Homens Invisíveis ................................................................................................ 163 Minha terra tinha palmeiras ............................................................................... 164 Curiosidades sobre a crucificação ..................................................................... 166 A Corrupção! ........................................................................................................ 167 O malabarismo da nossa vida ............................................................................ 170 Sou professora de artes. E daí? ............................................................................ 172 Lembranças .......................................................................................................... 175 Não temas... .......................................................................................................... 176 E tudo começou a fazer sentido ........................................................................... 177 Foi uma noite encantadora... ............................................................................... 178 Receitas ................................................................................................................ 180 Errata – Um século da Igreja da Cruz – ................................................................ 182 História da Comunidade Evangélica de Confissão Luterana em Domingos Martins/ES ..................................................................................... 183 Palavras cruzadas: TEMA DO ANO (solução) ...................................................... 197 Palavras cruzadas: LEMA DO ANO (solução) ...................................................... 198

••• 200 •••




Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.