Anuário Evangélico 2017
Leia nesta edição: História da Comunidade Evangélica de Blumenau Centro
Anuário Evangélico 2017 Publicado sob a direção de Meinrad Piske
© 2016 Editora Otto Kuhr Caixa Postal 6390 89068-971 – Blumenau/SC Tel/fax: (47) 3337-1110 E-mail: grafica.ok@terra.com.br
Conselho editorial: P. em. Meinrad Piske (Diretor) P. em. Heinz Ehlert, Profa. Elfriede Rakko Ehlert, P. em. Friedrich Gierus, P. em. Irineu V. Wolf, Profa. em. Úrsula Axt Martinelli, P. em. Valdemar Lueckemeryer, P. em. Anildo Wilbert, Cat. em. Loni Wilbert, P. Roni Roberto Balz P. Dr. Osmar Zizemer (editor) Correspondência e artigos: P. Dr. Osmar Zizemer Caixa Postal 6390 89068-971 – Blumenau/SC Tel/fax: (47) 3337-1110 E-mail: cml@centrodeliteratura-ieclb.com.br
Foto da capa: Igreja do Espírito Santo (CEB) em Blumenau, SC – P. Milton Jandrey 26° 55’ 29” S – 49° 3’ 20” O Produção editorial: Gráfica e Editora Otto Kuhr Ltda. Produção gráfica: Gráfica e Editora Otto Kuhr Ltda. Crédito das imagens: Gemeindebrief (Alemanha), divulgação internet e arquivos pessoais cedidos pelos autores.
Os artigos assinados são de responsabilidade de seus autores. Direitos reservados à Gráfica e Editora Otto Kuhr Ltda.
Prefácio O Conselho Editorial tem o grande prazer de colocar em suas mãos o Anuário Evangélico na sua 46ª edição. Uma das publicações de vida mais longa em circulação na IECLB, a presente edição é muito especial. Pois ela coincide com o ano em que as igrejas luteranas de todo o mundo comemoram e celebram os 500 anos da Reforma, iniciada por Martim Lutero em 31 de outubro de 1517 com a publicação das suas 95 teses. E é por isso que você encontrará, nesta edição, uma série de artigos que querem trazer assuntos ligados à Reforma Luterana, à sua historia, à sua teologia e que foram importantes para a História da Igreja, mais para perto de você. Desta forma o Anuário Evangélico quer contribuir com os festejos dos 500 anos da Reforma. O Conselho Editorial, porém, quis manter as características desta publicação que já se tornaram históricas, não procurando agrupar os artigos por temas ou capítulos, mas sim, deixando-os distribuídos por todo o seu espaço. Desse modo os leitores e leitoras são estimulados a sempre de novo tomar o seu Anuário na mão para a leitura de um ou outro artigo, deixando-o ser um amigo querido que os acompanhe ao longo de todo o ano de jubileu da Reforma. O Anuário Evangélico é um gênero de literatura que quer convidar para a leitura, para a boa leitura – visando informar, edificar, trazer impulsos para a vida de fé e entreter de modo sadio. Por isso, a variedade de assuntos que traz em suas páginas.
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Dentre eles também merece destaque especial o histórico da Comunidade Evangélica em Blumenau – Paróquia Blumenau-Centro, comunidade jubilar, que assim torna a sua história conhecida em toda a área de circulação do nosso Anuário Evangélico. Também esta edição do Anuário Evangélico é um produto de muitas mãos, cabeças e computadores. Agradecemos de coração a toda as pessoas que se dispuseram a colaborar com artigos, e aos que concordaram em ajudar a patrocinar esta edição para que o mesmo possa chegar aos seus leitores a um preço razoável. Desejamos a nossos leitores e leitoras uma agradável leitura, e os desafiamos a nos deixar sentir “ecos de sua leitura”. Um abençoado ano de 2017.
Pelo Conselho Editorial,
P. Dr. Osmar Zizemer Editor
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O significado das nomencla tur as nomenclatur turas Advento – Vinda, chegada do Senhor. Natal – Nascimento de Jesus Cristo. Epifania – “Aparição” de Deus em seu Filho Jesus Cristo. Septuagesimae – 70 dias (faltam até Páscoa). Sexagesimae – 60 dias (faltam até Páscoa). Estomihi – (Latim: Esto mihi in Deum...) Salmo 31.3: “Sê para mim um forte rochedo”. Invocavit – (Latim: Invocavit me, et ego...) Salmo 91.15: “Ele me invocará e eu responderei...”. Reminiscere – (Latim: Reminiscere miserationum...) Salmo 25.6: “Lembra-te, Senhor, das tuas misericórdias”. Oculi – (Latim: Oculi semper ad Dominum...) Salmo 25.15: “Meus olhos estão sempre em Deus...”. Laetare – (Latim: Laetare cum Jerusalem...) Isaías 66.10: “Alegrai-vos com Jerusalém...”. Judica – (Latim: Judica me, Deus...) Salmo 43.1: “Julga-me, ó Deus...”. Domingo de Ramos/Palmarum – Veja João 12.13: “... A grande multidão... tomou ramos de palmeira e saiu ao seu encontro...”. Páscoa – Ressurreição de Cristo. Quasimodogeniti – 1 Pedro 2.2: “... desejai, como crianças recém-nascidas o leite não adulterado da palavra...”. Misericordias Domini – (Latim: Misericordia Domini plena est terra) Salmo 33.5: “A terra está cheia da misericórdia do Senhor”. Jubilate – (Latim: Jubilate Deo, omnis terra) Salmo 66.1: “Jubilai a Deus toda a terra...”. Cantate – (Latim: Cantate Domino canticum novum) Salmo 98.1: “Cantai ao Senhor um cântico novo”. Rogate – “Rogai, orai” Salmo 66.20: “Bendito seja Deus que não me rejeita a oração...”. Exaudi – (Latim: Exaudi, Domine, vocem meam...) Salmo 27.7: “Ouve, Senhor, a minha voz...”. Pentecostes – No 50º dia após a Páscoa, a descida do Espírito Santo. Aniversário da Igreja. Trindade – Domingo em que é celebrada a ação do Deus triúno – Pai, Filho e Espírito Santo. ••• 5 •••
Datas Festivas do Calendário Eclesiástico
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Janeiro 1 Dom
Mt 2.13-23
2 Seg 3 Ter 4 Qua 5 Qui 6 Sex 7 Sáb 8 Dom
Lc 2.15-21 Js 24.1-26 Êx 2.1-10 Gn 21.1-7 Gn 9.12-17 Ef 3.1-12 1Jo 3.1-6 Is 42.1-9
9 Seg 10 Ter 11 Qua 12 Qui 13 Sex 14 Sáb 15 Dom
16 Seg 17 Ter 18 Qua 19 Qui 20 Sex 21 Sáb 22 Dom
23 Seg 24 Ter 25 Qua 26 Qui 27 Sex 28 Sáb 29 Dom
30 Seg 31 Ter
1º DOMINGO APÓS NATAL Branco Que a paz que Cristo dá dirija vocês nas suas decisões, pois foi para essa paz que Deus os chamou a fim de formarem um só corpo. E sejam agradecidos. Colossenses 3.15 ANO NOVO – NOME DE JESUS – Dia Mundial da Paz Branco
EPIFANIA DE NOSSO SENHOR Branco 1890 – Declarada a plena liberdade religiosa no Brasil 1º DOMINGO APÓS EPIFANIA – BATISMO DO SENHOR Branco Depois que Jesus foi batizado, ouviu-se uma voz dos céus: Tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo. Marcos 1.11
At 10.37-48 1Co 2.11-16 Rm 8.26-30 Ef 1.3-10 Cl 2.1-7 1635 – ✩ Philipp Jakob Spener, pai do pietismo luterano, † 05/02/1705 Mt 6.6-13 1875 – ✩ Albert Schweitzer, teólogo evangélico e médico, † 04/09/1965 Jo 1.29-42 2º DOMINGO APÓS EPIFANIA Verde O Senhor me disse: Israel, você é o meu servo, e por meio de você serei glorificado. Isaías 49.3 Dt 4.5-13 1910 – Fundação Obra Gustavo Adolfo (OGA) brasileira, Hamburgo Velho, RS Rm 9.31-10.8 1546 – Última pregação de Martim Lutero em Wittenberg (Rm 12.3) Gl 5.1-6 At 15.22-31 Jr 14.1-9 1866 – ✩ Euclides da Cunha, escritor brasileiro († 15/08/1909) Dt 33.1-26 1800 – ✩ Theodor Fliedner, fundou a primeira Casa Matriz de Diaconisas 1Co 1.10-18 3º DOMINGO APÓS EPIFANIA Verde Percorria Jesus toda a Galileia, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando toda sorte de doenças e enfermidades entre o povo. Mateus 4.23 1532 – Fundação de São Vicente, primeira vila do Brasil-Português At 16.9-15 1637 – Chegada do conde João Maurício de Nassau-Siegen, governador do Brasil-Holandês, a Recife, PE Rm 15.7-13 Rt 1.1-21 1554 – Fundação pelos jesuítas do núcleo de São Paulo At 13.42-52 1654 – Fim do Brasil-Holandês: capitulação dos holandeses Cl 1.24-29 Ap 15.1-4 1808 – Abertura dos portos brasileiros aos navios das nações amigas Mq 6.1-8 4º DOMINGO APÓS EPIFANIA Verde Jesus leu no livro do profeta Isaías: O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos. Lucas 4.18 1499 – ✩ Catarina von Bora, esposa de Martim Lutero († 20/12/1552) Mt 21.18-22 1990 – 8ª Assembleia Geral da FLM, em Curitiba, PR Mt 8.28-34 1531 – Chegada de Martim Afonso de Souza a Pernambuco Fases da Lua:
= Crescente
= Cheia
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= Minguante
= Nova
Lema do mês
Mestre, já que o senhor está mandando jogar as redes, eu vou obedecer. (Lucas 5.5)
Pedro, Tiago e João eram pescadores. E, após uma noite de trabalho, nada pescaram. Eles estavam lavando as redes quando Jesus pediu para subir no barco a fim de ensinar as multidões. Depois de alimentar seus ouvintes espiritualmente, Jesus pede que os três levem o barco até um local de águas profundas e lancem novamente suas redes. O pedido de Jesus surpreende os pescadores experientes, mas, mesmo assim, Pedro responde “já que o Senhor está mandando jogar as redes, eu vou obedecer”. Cumprindo a ordem, os três encheram dois barcos com peixes. Isso foi algo novo, um milagre que fez com que Pedro ficasse de joelhos diante de Jesus e confessasse sua condição de pecador. Diante disso, Jesus transforma a sua vida, fazendo-o seu discípulo, um pescador de pessoas para o Reino de Deus. O que você faria se, após uma noite de pescaria frustrada, alguém que não é do ramo o mandasse pescar novamente? Se você, no exercício da sua profissão, tivesse tido uma semana difícil e uma pessoa de outra área dissesse para você fazer tudo de novo, o que você faria? Muitos talvez responderiam: - “Está querendo ensinar o padre rezar a missa!?” Pedro age diferente. Ele reconhece Jesus como um mestre. Ele, com fé e esperança, obedece à ordem de Jesus e lança as suas redes novamente. Ele cumpre o que o Senhor manda; e o resultado é uma pesca maravilhosa. Há pelo menos duas formas de viver a vida e cumprir as tarefas. Uma delas, é seguindo a própria consciência, os próprios conhecimentos e experiências, os próprios conceitos e noções do que é certo ou errado. Outra é agir seguindo a palavra de Deus, seus ensinamentos e obedecendo aos seus mandamentos. Como você tem agido em sua vida? O que determina as suas decisões? Aquilo que você considera correto ou bom para si mesmo? Você chega a pensar o que Deus diz a respeito do assunto? Os três pescadores não têm dúvidas. Eles
agem com fé e com esperança. Eles obedecem o que Jesus lhes manda fazer. Eles lançam suas redes, mesmo diante da frustração de uma noite mal sucedida. O mundo atual tem marcas. Uma delas é o individualismo, ou seja, um tempo no qual cada pessoa busca e se ocupa com os seus próprios interesses e prazeres. As pessoas não buscam Deus. As pessoas buscam Deus para satisfazer as suas próprias necessidades. O bem comum e, sobretudo, os mandamentos de Deus sequer são conhecidos pela maior parte dos cristãos, quanto mais obedecidos. De modo geral, cada pessoa forma a sua própria consciência, seu próprio modo de agir e obedece somente parcialmente, de acordo com as suas prioridades individuais, o que lhe é ensinado. No entanto, a experiência de Pedro, Tiago e João mostra que agir obedecendo à ordem de Jesus traz algo novo para a vida: Não apenas dois barcos cheios de peixes, mas uma nova vida. Uma nova missão. A partir do momento que Pedro obedece a Jesus, sua vida não está mais voltada para as suas necessidades, mas para as pessoas e para o mundo. Obedecendo a Jesus ele se torna um pescador de pessoas para o amor de Deus e seu Reino. O mandamento de Jesus é bom. É para a nossa liberdade, e nos dá sentido à vida. Nos dá, assim como para os discípulos, uma nova perspectiva, uma vida menos voltada para nós mesmos, mas para o próximo e para Deus. Uma vida em favor da vida. Também nós somos chamados a obedecer os mandamentos do Senhor. Quaisquer que sejam as redes que temos em nossas mãos. Lancemo-las, obedecendo, com fé e esperança, ao Senhor. Por isso, olhemos com carinho para os 10 mandamentos, para o duplo mandamento do amor a Deus e ao próximo, para a palavra de Deus como um todo. Antes de tomarmos decisões, perguntemos a Deus pela sua vontade, pelo que diz a sua palavra. Deixemos que a paz de Cristo nos dirija em todas as nossas decisões (Colossenses 3.15). P. Sin. Gilciney Tetzner Sínodo Vale do Taquari
Oração
Querido Deus. Graças te rendemos por tua palavra, por teus mandamentos, por teu cuidado, pela missão que confias ao teu povo. Ajuda-nos, Senhor, a seguir teus ensinamentos e a obedecer à tua santa vontade. Em nome de Jesus Cristo. Amém.
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Fevereiro 1 Qua 2 Qui 3 Sex 4 Sáb 5 Dom
6 Seg 7 Ter 8 Qua 9 Qui 10 Sex 11 Sáb 12 Dom
13 Seg 14 Ter 15 Qua 16 Qui 17 Sex 18 Sáb 19 Dom
20 Seg 21 Ter 22 Qua 23 Qui 24 Sex 25 Sáb 26 Dom
27 Seg 28 Ter
Os 2.18-23 Na 1.2-6 Cl 2.8-15 Is 51.1-6 Mt 5.13-20
APRESENTAÇÃO DE JESUS NO TEMPLO 1931 – Fundação da Federação das Igrejas Evangélicas no Brasil 5º DOMINGO APÓS EPIFANIA Verde Jesus Cristo diz: Eu sou a luz do mundo; quem me segue nunca andará na escuridão, mas terá a luz da vida. João 8.12
2Co 3.9-18 Jo 1.43-51 Jo 3.31-36 Ap 1.1-8 1558 – Execução dos primeiros evangélicos no Brasil, na baía de Guanabara 1Co 2.6-10 Nm 6.22-27 1868 – Fundação do Sínodo Teuto-Evangélico da Província do Rio Grande do Sul, em São Leopoldo, RS (extinto em 1875) 1Co 3.1-9 6º DOMINGO APÓS EPIFANIA (Septuagesimae) Verde Simão Pedro respondeu a Jesus: Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna. João 6.68 Lc 19.1-10 Dt 7.6-12 Rm 4.1-8 Dia Mundial contra a Lepra 1Co 3.1-8 1497 – ✩ Filipe Melanchthon, colaborador de Martim Lutero em Wittenberg († 19/04/1560) Ml 3.13-18 1Co 1.26-31 1546 – † Martim Lutero, reformador alemão, em Eisleben (✩ 10/11/1483) Mt 5.38-48 7º DOMINGO APÓS EPIFANIA (Sexagesimae) Verde Jesus pede a Deus em oração: Santifica meus discípulos na verdade; a tua palavra é a verdade. João 17.17 Dt 32.44-47 Ez 33.30-33 Lc 6.43-49 1956 – Criação da Fundação Diacônica Luterana, em Lagoa Serra Pelada, ES 1Ts 1.2-10 2Tm 3.10-17 Mt 13.31-35 1778 – ✩ José de San Martin, general argentino, libertador latino americano († 17/08/1850) Êx 24.12-18 ÚLTIMO DOMINGO APÓS EPIFANIA (Estomihi) Branco TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR O salmista canta ao Ungido: Tu és o mais formoso dos humanos; nos teus lábios se extravasou a graça; por isso, Deus te abençoou para sempre. Salmo 45.2 Lc 13.31-35 Lc 5.33-39 1997 – Reestruturação da IECLB, extinção dos DE’s e das RE’s; criação dos Sínodos
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Lema do mês
Quando entrarem numa casa, façam primeiro esta saudação: “Que a paz esteja nesta casa!” (Lucas 10.5)
O lema bíblico deste mês está inserido no contexto do envio dos setenta. Jesus incumbe seus seguidores e seguidoras de anunciar em palavras e atitudes o Reino de Deus. E esta tarefa não está restrita somente aos primeiros apóstolos. Mas Jesus também os inclui no número dos setenta. Desde o batismo, quando de nossa filiação divina, também nós somos pessoas incumbidas da mesma tarefa dos setenta, que é a de participar da própria missão de Deus. A fé é que nos possibilita participar da missão de Deus com nosso servir e testemunhar. Precisamos assumir e viver a nossa fé cristã de identidade Evangélica Luterana com seriedade e responsabilidade. E neste assumir e testemunhar no nosso tempo, hoje, onde cada qual de nós está, num primeiro momento, precisamos apenas dizer: Que a paz esteja nesta casa! Paz seja contigo! Vivemos num mundo onde há necessidade de paz; de paz que vem de Deus. Pois, a paz que o mundo oferece não tem consistência. Ela está integrada no sistema de valores e poderes existentes. Sistema este baseado na corrida desenfreada do ser humano por autoafirmação, por sucesso, pelo seu – e somente seu – prazer imediato. O individualismo rege tudo e todos. Em meio a esta realidade, como pessoas seguidoras de Cristo, somos motivadas e impulsionadas pelo Espírito de Deus a anunciar e viver a paz que vem Dele. Paz que é sinal da presença de Deus, porque o nosso Deus é um Deus da paz (Juízes 6.24; Romanos 15.33). E para isto, em primeiro lugar, precisamos do Espírito de Deus, do sopro da vida, para poder acreditar na paz e resistir a toda e qualquer atitude que leva à violência,
à discriminação e à indiferença para com a pessoa próxima de nós e para com toda a criação de Deus. Um dos frutos do Espírito é a paz. Paz que significa integridade da pessoa diante de Deus e das outras pessoas. Significa uma vida plena, feliz, íntegra, abundante (João 10.10). E cabe a cada um e cada uma de nós confiar que o Espírito Santo nos capacita a lutar, trabalhar e perseverar para que um dia a paz de Deus triunfe. Nesse dia “amor e verdade se encontram, justiça e paz se abraçam” (Salmo 85.11). Confiar e assumir esta tarefa a nós confiada pelo próprio Cristo é um desafio diário! Fácil? Não! Não é fácil. Mas experimentemos! Sirvamos, assumamos nossa tarefa e nos dediquemos à busca da paz verdadeira e que, assim, com ânimo, possamos, sempre de novo, dizer: Que a paz esteja nesta casa! A paz seja contigo! Espírito Santo, missão e paz são inseparáveis. Pois construir a paz é a missão dos discípulos e discípulas de Jesus (Lucas 10.5; Mateus 10.13). O Reino de Deus, pregado e realizado por Jesus e continuado pelas comunidades animadas pelo Espírito, manifesta-se na paz, como bem lembramos em nossa liturgia no culto: “Glória a Deus nas maiores alturas e paz na terra entre as pessoas a quem Ele quer bem” (Lucas 2.14). Fica o conselho de Jesus a cada um e cada uma de nós: Ao entrar numa casa, ao encontrar uma pessoa faça a saudação: “Que a paz esteja nesta casa!” “Paz seja contigo!” Ao desejarmos a paz, desejamos o amor de Deus, amor incondicional que acolhe, aceita, compreende, consola, fortalece. Paz que dá esperança, que envolve. Por isso, que a paz esteja na tua casa e contigo! Pa. Márcia Helena Hülle Blumenau Centro/SC
Oração Deus da graça e do amor! Dá-nos que teu Santo Espírito nos impulsione e capacite a sermos instrumentos de tua paz no mundo em que vivemos. Que a paz que vem Ti se faça presente nas casas e vidas de todas as pessoas. Paz que é amor, aceitação, justiça e verdade. Auxilia-nos nesta tarefa! Em nome de Jesus Cristo, nosso Senhor da paz. Amém.
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Março 1 Qua 2 Qui 3 Sex 4 Sáb 5 Dom
6 Seg 7 Ter 8 Qua 9 Qui 10 Sex 11 Sáb 12 Dom
13 Seg 14 Ter 15 Qua 16 Qui 17 Sex 18 Sáb 19 Dom
20 Seg 21 Ter 22 Qua 23 Qui 24 Sex 25 Sáb 26 Dom
27 Seg 28 Ter 29 Qua 30 Qui 31 Sex
Jl 2.1-17 QUARTA-FEIRA DE CINZAS Violeta ou Preto ou Vermelho Cl 3.5-11 Rm 7.14-25a Dia Mundial de Oração – DMO Zc 7.2-13 Rm 5.12-19 1º DOMINGO NA QUARESMA (Invocavit) Violeta Jesus respondeu ao tentador: Está escrito: Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus. Mateus 4.4 2Ts 3.1-5 Jó 1.1-22 Dt 8.11-18 Dia Internacional da Mulher Tg 4.1-10 Hb 2.11-18 1557 – Primeira pregação evangélica (calvinista) no Brasil, na baía de Guanabara (Sl 27.4) Rm 6.12-18 Jo 3.1-17 2º DOMINGO NA QUARESMA (Reminiscere) Violeta Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. João 3.16 1607 – ✩ Paul Gerhardt, teólogo luterano e poeta alemão († 27/05/1676) Gn 37.3-36 1630 – Proibição do tráfico de escravos africanos no Brasil Jó 2.1-10 1965 – Consagração do primeiro diácono na IECLB, em Lagoa Serra Pelada, ES Jo 16.29-33 1937 – Abertura do Ginásio (hoje Colégio) Sinodal, em São Leopoldo, RS 1Jo 1.8-2.2-6 1969 – Inauguração do Instituto Concórdia, da IELB, em São Leopoldo, RS 2Co 13.3-9 Gl 2.16-21 Jo 4.5-42 3º DOMINGO NA QUARESMA (Oculi) Violeta Jesus Cristo a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até a morte e morte de cruz. Filipenses 2.8 Dia da Escola Lc 14.25-35 Início do OUTONO Jó 7.11-21 1557 – Primeira celebração evangélica (calvinista) da Santa Ceia no Brasil, na baía de Guanabara Mt 13.44-46 Mt 19.16-26 Mt 10.34-39 Gl 6.11-18 ANUNCIAÇÃO DO NASCIMENTO DE JESUS Branco 1824 – Promulgação da 1ª Constituição do Brasil, por D. Pedro I Ef 5.8-14 4º DOMINGO NA QUARESMA (Laetare) Violeta Assim como Moisés, no deserto, levantou a serpente numa estaca, assim também o Filho do Homem tem de ser levantado, para que todos os que crerem nele tenham a vida eterna. João 3.14-15 1946 – Abertura da Escola de Teologia em São Leopoldo, RS Jo 6.26-35 Jó 9.14-35 1823 – ✩ Dr. Hermann Borchard, fundador do Sínodo Teuto-Evangélico da Província do Rio Grande do Sul († 03/08/1891) Jo 15.9-17 1549 – Chegada dos primeiros missionários jesuítas ao Brasil, chefiados pelo padre Manuel da Nóbrega 2Co 4.11-18 Jo 16.16-23a 1492 – Expulsão dos judeus da Espanha
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Lema do mês
Fiquem de pé na presença das pessoas idosas e as tratem com todo o respeito; e honrem a mim, o Deus de vocês. Eu sou o Senhor. (Levítico 19.32)
O respeito – e, mais: a reverência – diante de pessoas idosas é assunto pouco tematizado em nossa sociedade. Talvez porque vivemos na sociedade moderna, que privilegia preferencialmente jovens e adultos na sua fase mais produtiva. A família de fé é chamada a refletir sobre como nos relacionamos com pessoas idosas, da família ou não. Num encontro de diáconos que integram uma comunhão diaconal irmã, escolhi uma oficina sobre “Pessoas com dívidas e Diaconia”. Fiquei surpresa com as inúmeras situações de vulnerabilidade a que estão expostos idosos, cujos parcos bens são alvo de furtos de filhos e netos. Num grande círculo, 10 a 15% dos temas levantados refletiam essa realidade: avós roubados continuamente por netos ou filhos e filhas. Netos, por quererem participar de festas, comprar roupas de marca, ou para custear sua dependência química. Filhos ou noras e genros, que retiram sorrateiramente cédulas da bolsa da aposentada assim que esta se distrai. Não raro, em lares geriátricos também desaparecem livros, fotos, joias ou outros souvenires dos hóspedes idosos. E o que dizer de faxineiras, diaristas ou funcionários que furtam objetos das casas de seus patrões, mais ainda, se forem pessoas com certa idade? Onde estão as notícias sobre esses delitos? Quais jornais e em que outros meios de comunicação isso é tornado notícia? Na mesma oficina em que participei, verificamos que os idosos estão, muitas vezes, conscientes de que estão sendo roubados, enganados. Mas se for por algum familiar, não denunciam. Preferem ficar reféns de netos que mexem em suas bolsas, ou de filhos que lhes
repassam apenas parte das aposentadorias resgatadas nos bancos, do que expor seus amados à denúncia. Há muitas maneiras de desonrar os idosos, além de subtrair-lhes bens e recursos materiais: Não levar em consideração suas dores, febres, choros e queixas; ficar indiferente a pedidos expressos por eles; queimar, quebrar, doar pertences sem a autorização dos idosos; desdenhar pertences, menosprezar suas relíquias e seus tesouros e ridicularizar seus gostos e preferências musicais, por exemplo; ofendê-los por coisas que ele não pode mudar em seu corpo envelhecido e marcado pela vida; rata-los esperando em vão; perturbar seu descanso com notícias ruins depois das 18h00 ou quando não as suportarão; destinar-lhe alimentos, vestes e presentes de qualidade inferior; negar-lhe exames médicos e tratamentos por considerá-los velhos demais, entre outros. Todas essas ações denotam falta de amor e falta de respeito. O Deus dos judeus e nosso Deus nos faz uma advertência. As pessoas devem ser respeitadas e reverenciadas, sobretudo quando elas estiverem “calvas e grisalhas”, quando repassaram a outras gerações o bem maior – a vida, e já comemoraram muitos outonos em suas vidas! Pôr-se de pé diante deles é a postura de quem reconhece sua importância na sociedade, em nossas comunidades e em nossas famílias. Levantar-se é a atitude de prontidão em prestar atenção, em ouvir suas palavras, seus conselhos, as sínteses que fazem a partir de suas vivências, e para colocar-se ao seu lado em suas necessidades. Isso é bem diferente do que maltratá-los, ignorá-los, zombar deles ou tratá-los maldosamente. Levantar-se é, sobretudo, dar-lhes do nosso tempo e de nosso afeto. Diác. Dra. Sissi Georg Tapejara/RS
Oração Dadivoso Deus! A vida é um presente! E viver com pessoas que passam pelas diferentes estações de suas vidas enriquece nossa existência. Concede que saibamos respeitar, valorizar e tratar com dignidade as pessoas que, ontem, construíram as estradas e pontes por onde hoje passamos. Por Jesus, teu amado Filho. Amém.
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Abril 1 Sáb 2 Dom
Jo 14.15-21 Jo 11.1-45
3 Seg 4 Ter
Ef 2.11-16 Jó 19.21-27
5 Qua 6 Qui 7 Sex 8 Sáb 9 Dom
Hb 9.11-15 Jr 15.15-21 Hb 10.1-18 1831 – Abdicação de D. Pedro I, primeiro imperador do Brasil Lc 18.31-43 Sl 118.1-29 DOMINGO DE RAMOS – PAIXÃO Violeta ou vermelho Mt 27.11-26 Jesus respondeu aos discípulos: É chegada a hora de ser glorificado o Filho do Homem. João 12.23 1945 – † Dietrich Bonhoeffer, teólogo alemão, mártir do nazismo (✩ 04/02/1906) Mt 26.6-13 Jó 38.1-11; 42.1-6 Lc 22.1-6 Mt 26.36-56 QUINTA-FEIRA SANTA Branco 1598 – Edito de Nantes; tolerância para os protestantes na França (revogado em 1685) 2Co 5.14-21 SEXTA-FEIRA SANTA Preto, Vermelho ou ausência de cor Jo 19.38-42 SÁBADO DA PAIXÃO – VIGÍLICA PASCAL Violeta ou Preto Mt 28.1-10 DOMINGO DA PÁSCOA Branco ou Dourado Sabemos que Cristo foi ressuscitado e nunca mais morrerá, pois a morte não tem mais poder sobre ele. Romanos 6.9 Lc 24.36-45 Jo 20.1-10 Jo 20.11-18 Dia dos Povos Indígenas Jo 21.1-14 1529 – 2ª Dieta de Espira: protestos dos príncipes evangélicos alemães contra a restrição da liberdade de religião (“protestantes”) Lc 24.36-47 1792 – † Tiradentes, Joaquim José da Silva Xavier, enforcado 1960 – Inauguração de Brasília como nova capital do Brasil Lc 24.1-12 1500 – Chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil (descobrimento do Brasil) At 2.14-32 2º DOMINGO DA PÁSCOA (Quasimodogeniti) Branco ou Dourado Jesus disse para Tomé: Você creu porque me viu? Felizes são os que não viram, mas assim mesmo creram! João 20.29 Dia Mundial do Livro Gn 32.22-32 Jó 42.7-17 Is 66.6-13 1500 – Primeira missa no Brasil Jo 17.9-19 1Pe 2.1-10 At 8.26-39 1Pe 1.17-23 3º DOMINGO DA PÁSCOA (Misericordias Domini) Branco ou Dourado Os discípulos de Emaús disseram um ao outro: Porventura, não nos ardia o coração, quando ele, pelo caminho, nos falava, quando nos expunha as Escrituras? Lucas 24.32
10 Seg 11 Ter 12 Qua 13 Qui 14 Sex 15 Sáb 16 Dom
17 Seg 18 Ter 19 Qua 20 Qui 21 Sex 22 Sáb 23 Dom
24 Seg 25 Ter 26 Qua 27 Qui 28 Sex 29 Sáb 30 Dom
1985 – Lançado o primeiro número do jornal O CAMINHO 5º DOMINGO NA QUARESMA (Judica) Violeta Jesus Cristo diz: O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida para salvar muita gente. Marcos 10.45 1968 – † Martin Luther King (assassinado), pastor batista, líder do movimento negro dos EUA (✩ 15/01/1929)
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Lema do mês
Por que é que vocês estão procurando entre os mortos quem está vivo? Ele não está aqui, mas foi ressuscitado. (Lucas 24.5-6)
Buscar! É algo da natureza humana. Buscamos sustento, sucesso, fama, riquezas e tantas outras coisas mais. Buscamos coisas que nos agradam e satisfazem os nossos desejos. E, normalmente, buscamos as coisas para nós mesmos.
lembradas. E é isto que esses homens fazem: - Ele não está aqui, no túmulo. A morte não conseguiu conter o Poder de Deus. Vocês se lembram que Jesus disse que seria entregue nas mãos de pecadores, que seria crucificado e que ressuscitaria no terceiro dia?
Também as mulheres, neste texto, Maria Madalena, Joana, Maria mãe de Tiago e as que estavam com elas, buscavam cumprir a LEI, a saber: dar um sepultamento digno e embalsamar o corpo de Jesus.
Ao lembrarem essas coisas àquelas mulheres, esses homens testemunham a “Boa Nova da Páscoa”: ELE RESSUSCITOU! Esse é o Poder de Deus! Não o Poder que vence a Cruz; mas o poder que vence a morte por meio da Cruz!
Primeiro dia da semana, ainda escuro, elas se colocam a caminho, sem saber se iriam conseguir remover a pedra que fechava o sepulcro, sem saber se iriam conseguir realizar o serviço que tanto almejavam. Essas mulheres vão apenas na esperança e na boa vontade de cumprir a LEI, fazer o serviço em honra a Jesus. Ao chegarem ao sepulcro se depararam com uma grande surpresa. Ficam perplexas por não encontrarem o corpo do Senhor Jesus. Como assim? Onde está Jesus? Onde está o corpo do nosso amado mestre? Ali dois homens de vestes resplandecentes perguntam: “Por que buscais entre os mortos ao que vive?”. Com essa pergunta eles já apontam para a resposta. “As coisas antigas já passaram, eis que se fizeram novas”. Eles atestam: Vocês até estão procurando a pessoa certa, Jesus. Sim! Mas buscam no lugar errado. O túmulo é o lugar para os mortos, para coisas que produzem a morte: o velho, as tradições inúteis, o egoísmo, a vaidade, o orgulho, os desejos humanos. Essas coisas ficaram para trás. Foram superadas pelo que vive! Mas as mulheres ainda não enxergavam o “Novo”. Pois a tristeza pela morte de Jesus ainda lhes ofuscava a visão. A dor provocada pela crucificação ainda está presente. Elas não têm forças. Estão de luto e não conseguem lembrar-se da Promessa de Jesus. Precisam ser
Ao vencer a morte, agora são colocadas situações de vida; de vida eterna. Deste modo é testemunhada a Vontade de Deus, “o qual quer que todas as pessoas sejam salvas e venham a conhecer plenamente a Verdade”. Esta vida não é encontrada quando buscamos as coisas que a nossa natureza humana deseja, mas sim, quando buscamos ao que vive no lugar certo. Buscar a Deus nas coisas do alto, “no Amor, na Alegria, na Paz, na Longanimidade, na Benignidade, na Bondade, na Fidelidade, na Mansidão, no Domínio Próprio. Contra essas coisas não há ‘Lei’.” Aqui a Ressurreição vence a morte, o Amor vence o ódio, a Alegria vence a tristeza, a Paz vence a guerra, a Longanimidade vence as contrariedades, a Benignidade vence a grosseria, a Bondade vence o mal, a Fidelidade vence a traição, a Mansidão vence o orgulho, o Domínio Próprio vive conforme a Vontade de Deus: Vida em Jesus Cristo! Assim como essas mulheres, ao serem lembradas das Palavras de Jesus, que Ele Ressuscitou, foram e testemunharam a Ressurreição adiante, para os onze; assim também nós somos chamados e chamados a irmos e testemunharmos a Boa Nova da Páscoa: ELE RESSUSCITOU! P. Clodoaldo Kamke Timbó/SC
Oração Querido e Bondoso Deus! Derrama teu Santo Espírito, o Espírito que vivifica. Enxuga as lágrimas de nossos olhos para que possamos enxergar a vida que tu queres para todos nós. Capacita-nos para testemunharmos a Ressurreição de Jesus Cristo a todas as pessoas e, assim, vivermos segundo a tua Santa e Misericordiosa Vontade. Por Jesus Cristo, teu Filho Amado, nosso Senhor e Salvador. Amém.
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Maio 1 Seg 2 Ter 3 Qua 4 Qui 5 Sex 6 Sáb 7 Dom
8 Seg 9 Ter 10 Qua 11 Qui 12 Sex 13 Sáb 14 Dom
15 Seg 16 Ter 17 Qua 18 Qui 19 Sex 20 Sáb 21 Dom
22 Seg 23 Ter 24 Qua 25 Qui 26 Sex 27 Sáb 28 Dom 29 Seg 30 Ter 31 Qua
Jo 10.1-10 Dia do Trabalho Mt 9.35-10.1-7 Jo 17.20-26 1824 – Fundação da primeira comunidade evangélica pertencente à IECLB, em Nova Friburgo, RJ Ef 4.8-16 Mt 26.30-35 1865 – ✩ Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, sertanista e geógrafo brasileiro († 19/01/1958) Jo 14.1-6 Jo 10.1-10 4º DOMINGO DA PÁSCOA (Jubilate) Branco ou Dourado Jesus Cristo diz: Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem a mim. João 10.14 Gn 1.6-8 1945 – Fim da 2ª Guerra Mundial na Europa Gn 1.9-13 Gn 1.14-19 1886 – ✩ Karl Barth, teólogo evangélico suíço († 10/12/1969) Gn 1.20-23 Gn 1.24-31 Gn 2.1-3 1888 – Abolição da escravatura no Brasil Sl 31.1-16 5º DOMINGO DA PÁSCOA (Cantate) Branco ou Dourado Jesus Cristo diz: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim. João 14.6 DIA DAS MÃES 1950 – 1º Concílio Geral da Federação Sinodal, em São Leopoldo, RS Êx 15.1-21 1Sm 16.14-23 Rm 15.14-21 1939 – Fundação da Casa Matriz de Diaconisas, em São Leopoldo, RS 1Co 14.6-19 Ap 5.6-14 Jo 6.6069 1886 – Fundação do Sínodo Riograndense, em São Leopoldo, RS Jo 14.15-21 6º DOMINGO DA PÁSCOA (Rogate) Branco ou Dourado Jesus Cristo diz: Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada. João 14.23 Mc 1.32-39 Lc 18.1-8 Mc 9.14-29 Ef 1.15-23 ASCENSÃO DO SENHOR Branco ou Dourado 1700 – ✩ Nikolaus Ludwig, Conde de Zinzendorf, fundador da Igreja Evangélica dos Irmãos Herrnhut, Alemanha († 09/05/1760) Jo 18.33-38 Ap 4.1-11 Jo 17.1-11 7º DOMINGO DA PÁSCOA (Exaudi) Branco ou Dourado Jesus Cristo diz: Não os deixarei órfãos, voltarei para vocês. João 14.18 Ez 11.14-20 1537 – Declarada a liberdade dos indígenas americanos pelo Papa Paulo III 1Jo 4.1-6 1909 – ✩ Dr. Ernesto T. Schlieper, 2º Pastor Presidente da IECLB († 31/ 10/1969) Is 32.11-18
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Lema do mês
Que as suas conversas sejam sempre agradáveis e de bom gosto! (Colossenses 4.6)
Ao ler o versículo acima, fiquei pensando: O que podemos entender por uma conversa agradável e de bom gosto? E mais, quantas conversas eu já tive e que nem sempre foram conversas tão agradáveis! Por isto, para uma melhor compreensão do versículo, precisamos perceber o contexto em que o mesmo foi escrito. A Igreja de Colossos era formada, basicamente, por gentios. A fé dos novos convertidos estava sendo distorcida por misteriosas e místicas religiões gregas e ameaçada por leis e costumes judaicos. Neste cenário, o apostolo Paulo, quando já estava na prisão, escreve uma carta à Comunidade dos Colossenses para alertá-los dos perigos da vida cristã e da facilidade com que as pessoas podiam se desviar do caminho da fé. Paulo alerta sobre os valores do Evangelho. Em Cristo, as pessoas encontram nova vida, novos preceitos e valores. Por isto elas devem buscar “as coisas lá do alto, onde Cristo vive assentado à direita de Deus” (Colossenses 3.1). Para perceber as “coisas lá do alto”, a pessoa cristã deve fazer uso da oração. Através da oração, a pessoa se mantém vigilante em todas as provações e oportunidades. Paulo convida as pessoas cristãs de Colossos, para que façam uso da conversa com sabedoria, apontando para a fonte da vida, ou seja, para Jesus Cristo. É interessante observar que, na tradução de João Ferreira de Almeida, o versículo é traduzido com a associação ao sal: “A vossa palavra seja agradável, temperada com sal”. Pensando no sal, lembramosnos das palavras de Jesus quando afirmou: “Vocês são o sal da terra...” (Mateus 5.13). O sal ressalta o
sabor, e preserva ou retarda a decomposição, somente quando estiver puro. O sal em si não perde sua salinidade, mas pode perder sua eficiência quando diluído. Paulo não queria uma comunidade fechada. Por isto, chama aos fiéis para que interajam com as pessoas do mundo, com sabedoria, moderando seu discurso e temperando-o com sal. Paulo sabe que as palavras tanto podem contribuir para o crescimento e fortalecimento de uma comunidade, como também, podem servir para a discórdia, desavença, e até mesmo, para a destruição. Por isto, o uso de palavras agradáveis e de bom gosto quer motivar as comunidades na missão de propagar o Evangelho e apontar para a vida que encontramos em Cristo. “Cristo é a verdadeira vida” (Colossenses 3.4) e nele está a salvação. O Reformador Martim Lutero argumentou que, “na sua essência, as pessoas só precisam conhecer três coisas para serem salvas. Primeiro, precisam saber o que devem e o que não devem fazer. Segundo, após perceberem que sozinhas não são capazes de fazer o bem ou de deixar de fazer o mal, elas precisam saber onde encontrar a força para isso. Por último, elas precisam querer essa força e saber como consegui-la. É como estar doente: Para começar, é preciso saber qual a enfermidade e o que se pode ou não fazer; a seguir, é preciso saber onde encontrar o remédio certo; finalmente, o doente deve querer este remédio e obtê-lo ou ter alguém que o traga a ele.” (Livro: Somente a fé. Um ano com Lutero, p. 320). Que através de nossas palavras, as pessoas sintam o amor e a graça de Deus e assim encontrem o caminho da salvação. Pa. Sin. Roili Borchardt Sínodo Sul-Rio-Grandense
Oração Bondoso Deus, graças te rendemos por cada dia. Graças pelas conversas que fortalecem a fé e nos conduzem no caminho da fé, da esperança e do amor. Afasta-nos daquilo que nos distancia do teu caminho. Dá-nos sabedoria e discernimento para anunciarmos e vivermos com clareza o teu Evangelho. Amém!
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Junho 1 Qui 2 Sex 3 Sáb 4 Dom
5 Seg 6 Ter 7 Qua 8 Qui 9 Sex 10 Sáb 11 Dom
12 Seg 13 Ter 14 Qua 15 Qui 16 Sex 17 Sáb 18 Dom
19 Seg 20 Ter 21 Qua 22 Qui 23 Sex 24 Sáb 25 Dom
26 Seg 27 Ter 28 Qua 29 Qui 30 Sex
At 1.12-26 Ef 1.15-23 Jo 16.5-15 Nm 11.24-30 DOMINGO DE PENTECOSTES Vermelho Jesus Cristo diz: Quando o Espírito Santo descer sobre vocês, vocês receberão poder e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria e até nos lugares mais distantes da terra. Atos 1.8 1Co 12.4-11 Segunda-feira de Pentecostes Dia Mundial do Meio Ambiente 1Co 14.1-40 Ef 3.11-13 2Co 3.2-9 Gl 3.1-5 At 18.1-11 1888 – 1º número do “Sonntagsblatt” (Folha Dominical) do Sínodo Riograndese Mt 28.16-20 1º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Branco ou Dourado TRINDADE Os serafins diziam em voz alta uns para os outros: Santo, santo, santo é o Senhor Todo-Poderoso; a sua presença gloriosa enche o mundo inteiro! Isaías 6.3 1948 – Criação da Sociedade Bíblica do Brasil Êx 3.13-20 Is 43.8-13 1525 – Casamento de Martim Lutero e Catarina von Bora At 17.16-34 1910 – Conferência Missionária Mundial em Edimburgo, na Escócia Ef 4.1-7 CORPUS CHRISTI 2Pe 1.16-21 Jo 14.7-14 1703 – ✩ John Wesley, pai do metodismo († 02/03/1791) Rm 5.1-8 2º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Vistam-se de justiça os teus sacerdotes, e exultem os teus fiéis. Salmo 132.9 At 4.1-21 1934 – Constituição da Confederação Evangélica do Brasil (CEB) 2Co 1.23-2.4 Ez 3.22-27 Início do INVERNO Jo 21.15-19 Jr 20.7-11 Lc 1.57-80 João Batista, profeta Branco 1904 – Fundação da Igreja Luterana do Brasil (IELB) Mt 10.24-39 3º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Para mostrar que vocês são seus filhos, Deus enviou o Espírito do seu Filho ao nosso coração, o Espírito que exclama: Aba, Pai. Gálatas 4.6 Dt 26.1-11 AÇÃO DE GRAÇAS PELA COLHEITA 1827 – Fundação da Comunidade Protestante Teuto-Francesa do Rio de Janeiro, hoje pertencente à IECLB Pv 9.1-10 1945 – Criação da ONU em São Francisco, EUA Êx 2.11-25 Jo 4.5-18 1912 – Fundação do Sínodo das Comunidades Teuto-Evangélicas (Sínodo Evangélico) do Brasil Central no Rio de Janeiro Mt 15.29-39 Jo 6.37-46 1947 – Assembleia Constituinte da Federação Luterana Mundial em Lund, na Suécia
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Lema do mês
Nós devemos obedecer a Deus e não às pessoas. (Atos 5.29)
“O que vão pensar de mim? Onde fica a minha imagem?” Esta é uma das preocupações que acompanha boa parte dos seres humanos. Por isso, diante de uma ação desqualificada de um filho, por exemplo, o pai e a mãe têm uma grande preocupação com a imagem da família e, no fundo, de si mesmos. O livro de Atos dos Apóstolos traz esta problemática à tona em Atos 5.29b. Vejamos o contexto em que essa frase foi pronunciada. Pedro e os demais discípulos estavam ensinando o Evangelho nas ruas e casas. Como consequência disto, o povo ia ao encontro deles na busca de orientação, cura, esperança, ânimo e consolo. Os discípulos tinham uma boa aceitação junto às pessoas mais simples. Pedro alertava para o fato de que tudo que se ensinava e fazia era em nome de Jesus de Nazaré, o Cristo, e não em promoção própria. As autoridades religiosas, porém, viam nos discípulos uma ameaça. Com a atenção do povo voltada aos sinais de uma religiosidade popular, a religião do templo era enfraquecida. As autoridades do templo tinham sua influência e seu poder diminuídos. Por isso, mandaram prender Pedro e João. Diante do Conselho Superior, os discípulos foram interrogados. As autoridades estavam voltadas a prestígio, poder e fama delas mesmas. Os discípulos lembraram-nas que o poder libertador que apresentavam vinha de Cristo, que fora morto por causa das lideranças religiosas, mas que fora ressuscitado pelo poder de Deus. Diante da pressão popular, os dois discípulos foram libertos, com a proibição de não mais falar em nome de Jesus. Nada adiantou! Os discípulos continuaram a testemunhar Jesus e agir em seu nome. Diante disto, as autoridades religiosas prenderam os apóstolos mais uma vez. Na mesma noite, foram libertos da prisão pelo poder de Deus. Nem mesmo os guardas puderam entender o que houve. E lá estavam os discípulos, novamente reunidos com o povo, ensinando o Evangelho, curando, consolando, orientando e fortalecendo a fé das pessoas. A palavra de ordem recebida era clara: “Nós ordenamos que vocês
não ensinassem nada a respeito daquele homem (Jesus). E o que foi que vocês fizeram? Espalharam esse ensinamento por toda a cidade de Jerusalém e ainda querem nos culpar pela morte dele!” (Atos 5.28) É como se dissessem: O que vão dizer de nós?! O que importa é a própria imagem, com uma falsa ordem social e religiosa. Diante de um novo interrogatório, Pedro e os demais discípulos afirmaram: “É preciso obedecer mais a Deus do que a pessoas.”, ou, conforme a tradução da Bíblia na Linguagem de hoje: “Nós devemos obedecer a Deus e não às pessoas.” Eles agiam em nome de Cristo, com o poder que o Espírito Santo lhes concedia. Suas palavras e ações tinham um propósito bem claro: trazer vida digna para todos. Parece-me que a realidade das autoridades religiosas de Jerusalém, denunciada no texto bíblico, acompanha os seres humanos de todos os tempos. A imagem, o nome, a fama, o poder levam muitas pessoas a agir em benefício próprio, sem se preocupar com a vontade de Deus. Mesmo que o nome de Deus seja usado, muitas vezes têm o objetivo de fortalecer uma convicção própria ou de um grupo. As comunidades religiosas não estão imunes a isto. Quantas ações são promovidas com a expectativa de corresponder aos anseios pessoais. Ao mesmo tempo, profecias são desencorajadas com o intuito de manter a imagem de uma Comunidade sem problemas. Neste caso, importa mais é ressaltar o tapete do que limpar a sujeira embaixo dele. Os discípulos não negaram a autoridade das pessoas e de instituições, mas ressaltaram a soberania da vontade de Deus. Toda ação comunitária, eclesial, familiar ou pessoal precisa passar pelo crivo: “É preciso obedecer mais a Deus do que a pessoas.” Caso contrário, é apenas poder humano, limitado e parcial. O que Pedro e os demais apóstolos anunciam é que o poder de Deus está acima de nossas vontades, nossos medos ou expectativas. P. Robson Luís Neu Dois Irmãos/RS
Oração Deus, fonte eterna de amor, ajuda-nos a anunciar o teu Reino tal qual tua vontade, em palavras e ações. Que assim a tua Igreja seja instrumento de vida digna. Amém.
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Julho 1 Sáb 2 Dom
3 Seg 4 Ter 5 Qua 6 Qui 7 Sex 8 Sáb 9 Dom
10 Seg 11 Ter 12 Qua 13 Qui 14 Sex 15 Sáb 16 Dom
17 Seg 18 Ter 19 Qua 20 Qui 21 Sex 22 Sáb 23 Dom
24 Seg 25 Ter 26 Qua 27 Qui 28 Sex 29 Sáb 30 Dom
31 Seg
Jn 2.1-10
1921 – Fundação do Instituto Pré-Teológico do Sínodo Riograndense, em Cachoeira do Sul, RS Mt 10.40-42 4º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde O Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, conceda a vocês o espírito de sabedoria e de renovação no pleno conhecimento dele. Efésios 1.17 Lc 7.36-50 Jz 10.6-16 1776 – Independência dos Estados Unidos da América (EUA) Mq 7.7-20 Mt 18.15-20 Gl 3.6-14 Jn 3.1-10 Zc 9.9-12 5º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde A semente que caiu na boa terra são os que, tendo ouvido de bom e reto coração, retêm a palavra; estes frutificaram com perseverança. Lucas 8.15 Gl 6.1-5 1509 – ✩ João Calvino, reformador de Genebra (Suíça), líder do ramo calvinista do protestantismo († 27/05/1564) 2Co 2.5-11 Mc 11.20-26 1Co 12.19-26 1553 – Chegada do jesuíta José de Anchieta ao Brasil Fp 2.1-5 Jn 4.1-11 Mt 13.1-23 6º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Se guardares o mandamento que hoje te ordeno, que ames o Senhor, teu Deus, andes nos seus caminhos, e guardes os seus mandamentos, e os seus estatutos, e os seus juízos, então, viverás e te multiplicarás, e o Senhor, teu Deus, te abençoará. Deuteronômio 30.16 1054 – Cisão da Igreja Ocidental (Roma) e Oriental (Constantinopla) Gl 1.13-24 Rm 9.14-26 Ez 2.3-8a At 15.4-12 1873 – ✩ Alberto Santos Dumont, pioneiro da aviação († 23/07/1932) 2Co 12.1-10 Fp 3.12-16 Rm 8.12-25 7º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Deus diz: A palavra que sair da minha boca não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a designei. Isaías 55.11 Êx 14.15-22 At 2.32-40 1824 – Chegada dos primeiros imigrantes alemães em São Leopoldo, RS Dia do Colono e do Motorista At 16.23-34 Mt 18.1-6 1Co 12.12-18 Ap 3.1-6 Mt 13.31-52 8º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Simão Pedro respondeu a Jesus: Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna. João 6.68 Jo 6.47-56
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Lema do mês
O que eu peço a Deus é que o amor de vocês cresça cada vez mais e que tenham sabedoria e um entendimento completo. (Filipenses 1.9)
Os acontecimentos do cotidiano normalmente inspiram o conteúdo dos pedidos que fazemos a Deus em nossas orações. As orações falam das coisas de que nosso coração está cheio. Em meio a um turbilhão de emoções e situações, curvamos suavemente a cabeça, nossas mãos se unem num abraço apertado e carinhoso e o coração, ora batendo agitadamente, ora batendo suave e compassadamente, dita o ritmo das palavras que se elevam aos céus. Orar, conversar com Deus, faz parte dos caminhos missionários do Apóstolo Paulo. Provavelmente ele escreveu a carta aos Filipenses durante o tempo em que estava encarcerado em Roma, em torno de 61 a 62 d. C. Paulo está abatido com a situação (Filipenses 4.12). Contudo, os grilhões da prisão não conseguem abafar a alegria e a gratidão que pulsavam em seu coração ao se lembrar dos irmãos e irmãs Filipenses. É de se imaginar, que quando se tem a liberdade suprimida injustamente, tendemos a clamar por justiça e implorar pela revisão da pena a nosso favor, pedindo pela própria liberdade. Paulo, no entanto, não pede por si mesmo, mas ora em favor dos destinatários da carta, dizendo: “O que eu peço a Deus é que o amor de vocês cresça cada vez mais e que tenham sabedoria e um entendimento completo.” (Filipenses 1.9). Destoando de outras cartas, onde reiteradas vezes o apóstolo exorta a comunidade pelas mais diversas situações, aqui as palavras de Paulo são leves e afetuosas. Há um carinho especial e um sentimento de gratidão por parte dele para com esta comunidade. Paulo, estando preso, é lembrado por ela e recebe ajuda dela, que quer amenizar as dificuldades e o sofrimento que ele enfrenta.
O apóstolo agradece pelo auxílio financeiro que lhe foi enviado pelos filipenses através de Epafrodito (Filipenses 4.18). Tal preocupação é evidência do forte apreço da comunidade para com ele. Paulo escreve aos filipenses, externando gratidão e convidando-os a glorificarem a Cristo através de uma postura íntegra. Em suas palavras transparece o exemplo de amor do próprio Jesus, que abdica de interesses próprios em prol do próximo. E o que Paulo pede é que haja entre eles um amor latente, sabedoria e entendimento completo. Talvez mais do que no tempo de Paulo, hoje é difícil entender e experimentar o genuíno amor de Deus, num mundo cada vez mais individualista e secularizado. Ao orar Paulo deseja que à comunidade de Filipos tenha sabedoria e entendimento completo e assim possam compreender que a graça divina também é derramada aqueles que, a seu exemplo, sofrem a agonia da perseguição e da prisão. Seu pedido para crescer no amor aponta para uma nova ordem nas relações humanas. Um dos pilares que fomenta as relações humanas e dignifica os indivíduos ao seu real valor é experimentar o amor que vem de Deus em sua total plenitude. Conforme a primeira carta da João: “Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor procede de Deus; e todo aquele que ama é nascido de Deus, e conhece a Deus.”. (I João 4.7). Paulo absorveu por completo este amor. Seu coração está cheio de alegria, gratidão e confiança. Ao orar, expõe seus sentimentos não permitindo que sejam contagiados pela dor da prisão. Sim, Paulo fala aos filipenses com amor, gratidão e alegria, superando o abatimento e a dor da prisão. P. Célio N. Seidel Irati/PR
Oração Bondoso Pai Celestial! Dá que nossas mãos se estendam para amparar os fracos; que nossos braços se abram para acolher os refugiados; que nossos lábios professem palavras de amor e esperança, semeando mais afeto e respeito neste mundo sofrido. E que assim, guiados pelo teu Espírito Santo, cresça também em nós o amor, a sabedoria e o entendimento completo. Em nome de Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador. Amém.
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Agosto 1 Ter 2 Qua 3 Qui 4 Sex 5 Sáb 6 Dom
7 Seg 8 Ter 9 Qua 10 Qui 11 Sex 12 Sáb 13 Dom
14 Seg 15 Ter 16 Qua 17 Qui 18 Sex 19 Sáb 20 Dom
21 Seg 22 Ter 23 Qua 24 Qui 25 Sex 26 Sáb 27 Dom
28 Seg 29 Ter 30 Qua 31 Qui
Mt 22.1-14 At 10.21-36 1Co 10.16-17 1927 – 1ª Conferência Mundial de Fé e Ordem, em Lausanne, Suíça Lc 22.14-20 Ap 19.4-9 1872 – ✩ Osvaldo Gonçalves Cruz, cientista e médico-sanitarista brasileiro († 12/02/1917) Is 55.1-5 9º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Jesus diz: Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada. João 14.23 1911 – Fundação da Associação de Comunidades Evangélicas Alemãs de Santa Catarina, em Blumenau Mt 7.7-12 Lc 6.27-35 Mt 5.33-37 1Co 12.27-13.3 1Pe 3.8-17 Fp 2.12-18 Mt 14.22-33 10º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde A fé é a certeza de que vamos receber as coisas que esperamos e a prova de que existem coisas que não podemos ver. Hebreus 11.1 DIA DOS PAIS 1Rs 3.16-28 Ef 5.15-20 1899 – Fundação da OASE em Rio Claro, SP 1Co 10.23-31 1Co 9.16-23 Jr 1.11-19 Lc 12.42-48 1925 – 1ª Conferência Universal Cristã de Vida e Obra em Estocolmo, na Suécia Rm 11.1-2a, 11º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde 29-32 Deus nos deixou a promessa de que podemos receber o descanso de que ele falou. Hebreus 4.1 Rm 11.1-12 Semana Nacional da Pessoa com Deficiência – 21 a 28 de agosto Lm 1.1-11 1948 – Assembléia Constituinte do Conselho Mundial de Igrejas, em Amsterdã, na Holanda Jo 4.19-26 Rm 11.25-32 Lm 5.1-22 Dt 4.27-40 Mt 16.13-20 12º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Jesus acabou com o poder da morte e, por meio do evangelho, revelou a vida que dura para sempre. 2 Timóteo 1.10 Mt 23.1-12 1Sm 17.38-51 Jo 8.3-11 1Pe 5.1-5
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Lema do mês
Até hoje Deus tem me ajudado, e por isso estou aqui trazendo a sua mensagem a todos, tanto aos humildes como aos importantes. (Atos 26.22)
Devo confessar que, assim que vi este versículo lema para este mês logo gostei muito dele e pensei: Não é difícil dizer algo sobre a ajuda de Deus em nossa vida. Certamente em sua vida você já experimentou essa presença de Deus e até sentiu ela bem forte em inúmeras situações. Faça uma pausa nesta leitura desta meditação e busque na memória os momentos onde nosso Deus ajudou e tem ajudado você. O capítulo 26 do livro de Atos dos Apóstolos, de onde o versículo 22 foi retirado, relata o momento onde Paulo, preso, está diante do rei Agripa, se defendendo das acusações levantadas contra ele. Num resumo de sua vida, Paulo conclui dizendo: Até hoje Deus tem me ajudado, e por isso estou aqui trazendo a sua mensagem a todos, tanto aos humildes como aos importantes. Mesmo preso, Paulo testemunha que Deus o tem ajudado e o está ajudando. Não é difícil falar da ajuda de Deus quando estamos bem. Quando as coisas não vão bem, esse exercício pode ser mais difícil. Lembrar-nos do cuidado de Deus também quando estamos em dificuldades é, contudo, um desafio espiritual necessário, para que tenhamos uma saúde (no sentido amplo) equilibrada e saudável. Nesta pequena pérola bíblica é possível perceber em Paulo um sentimento de profunda gratidão: “... e por isso estou aqui trazendo a sua mensagem”. No olhar para sua vida, Paulo sente-se movido para anunciar o
Evangelho a todas as pessoas. Por experimentar o amor e o cuidado de Deus, o apóstolo quer que também mais pessoas experimentem este amor em suas vidas. Belo isto! Paulo não é egoísta e individualista. O que anuncia Paulo? Qual é a mensagem que ele prega? O Evangelho de Jesus Cristo, o ressuscitado, que veio para salvar a todos (Atos 26.23). Paulo fala da salvação que é estendida a todas as pessoas, judeus e gentios, humildes e importantes, homens e mulheres. Não há mérito algum em ser judeu ou importante, gentio ou humilde, quando o tema é a salvação. Todas as pessoas precisam ouvir igualmente o Evangelho e por ele ser alcançadas. Do ouvir do Evangelho nasce a fé. E a fé nos leva a reconhecer o cuidado de Deus. Deste reconhecer vem a gratidão que nos leva a servir a Cristo Jesus. E este servir é feito com amor. E quando o amor está presente, as formas como servimos são tão variadas quanto as diferentes partes do nosso corpo. Quando o amor está presente, as possibilidades e os jeitos são inúmeros, e eles contagiam, se propagam. Graça de Deus! Necessitamos todos e todas do Evangelho de Cristo. Nele encontramos palavras de consolo, cuidado, ânimo, compreensão, admoestação, arrependimento, perdão e salvação. Esta Palavra é fonte de amor que nos convida amorosamente a reconhecer: “Até hoje Deus tem me ajudado” e a servi-Lo ali onde Deus nos colocar. Pa. Rosângela C. Fenner Radons Jaraguá do Sul/SC
Oração Senhor nosso Deus e Pai! Obrigado por teu cuidado com teus filhos e filhas. Obrigado por tua ajuda a cada um e cada uma de nós. Faze com que reconheçamos a tua presença em nossas vidas nos bons e nos maus momentos. E dá que te sejamos gratos e nos ponhamos a teu serviço. Amém.
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Setembro 1 Sex 2 Sáb 3 Dom
4 Seg 5 Ter 6 Qua 7 Qui 8 Sex 9 Sáb 10 Dom
11 Seg 12 Ter 13 Qua 14 Qui 15 Sex 16 Sáb 17 Dom
18 Seg 19 Ter 20 Qua 21 Qui 22 Sex 23 Sáb 24 Dom
25 Seg 26 Ter 27 Qua 28 Qui 29 Sex 30 Sáb
Lc 22.54-62 1939 – Início da 2ª Guerra Mundial na Europa Is 26.1-6 1850 – Início da colonização em Blumenau, SC Jr 15.15-21 13º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Ó Senhor, eu sou teu, e por isso as tuas palavras encheram o meu coração de alegria e de felicidade. Jeremias 15.16 Mt 9.27-34 1850 – Abolição do tráfico de escravos africanos no Brasil Mc 3.1-12 At 9.31-35 1Pe 2.13-17 DIA DA PÁTRIA – 1822 – Independência do Brasil Verde Mt 12.15-21 Dia Mundial da Alfabetização Is 57.15-19 Mt 18.15-20 14º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Alegrem-se sempre no Senhor; outra vez digo: alegrem-se. Filipenses 4.4 Dia da Imprensa Mt 12.1-8 Am 5.4-15 1990 – Fundação da Comunhão Martim Lutero em Joinville, SC Dt 24.10-22 At 4.32-37 Tg 2.5-13 Jd 1-2,20-25 Rm 14.1-12 15º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Tudo o que está nas Escrituras foi escrito para nos ensinar, a fim de que tenhamos esperança por meio da paciência e da coragem que as Escrituras nos dão. Romanos 15.4 Dt 26.1-11 Gl 5.22-26 Fm 1-22 1Cr 29.9-18 Dia da Árvore Jo 13.31-35 Início da PRIMAVERA 2Ts 2.13-17 Mt 20.1-16 16º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde O apóstolo Paulo diz: Eu trago vocês no coração, seja nas minhas algemas, seja na defesa e confirmação do evangelho, pois todos são participantes da graça comigo. Filipenses 1.7 Fp 4.8-14 1Tm 6.3-11 Ec 4.4-12 Dia do Ancião Lc 10.38-42 Lc 10.17-20 ARCANJO MIGUEL E TODOS OS ANJOS Branco Gn 16.6b-14
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Lema do mês
Os que agora são os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos. (Lucas 13.30)
Esta palavra de Jesus não serve de pretexto para o aluno continuar sendo preguiçoso, o atleta pouco esforçado, o funcionário negligente..., achando dela poder concluir: Jesus garante que a vitória espera por mim! Também não serve de desestímulo para o aluno estudioso, para o atleta aplicado, para o funcionário diligente..., dela deduzindo: Jesus afirma que a derrota espera por mim! Esta palavra é conclusão de mais um ensinamento de Jesus, conforme relata Lucas 13.22-30. Jesus ensina aí aos seus ouvintes acerca de quem se sentará à mesa no Reino de Deus, de quem será salvo. Com seu ensino, o Mestre alerta que haverá surpresa no tocante à salvação. Surpresa, que consiste numa inversão da ordem aceita até então quanto a quem será primeiro e quem será último na eternidade junto ao Pai celeste! Para o Mestre está claro que não existe algo como predestinação, como passaporte vitalício para o Reino de Deus ou como cadeira de ouro comprada de Deus lá no céu. As pessoas conterrâneas de Jesus, por serem parte integrante de Israel, do povo escolhido por Deus, acreditavam ter um lugar garantido neste reino. Já os contemporâneos de Martim Lutero compravam a referida “cadeira no céu” por meio de indulgências. A ideia de se poder ser proprietário antecipado da salvação, de garantir o devido lugar no Reino de Deus, de se transformar num deus por meio de méritos e esforços próprios parece ser imortal. É, porém, veneno mortal! É o pecado principal, pois decorre da desobediência à vontade de Deus e do entregar-se à tentação da autossuficiência, poder tão presente na vida da criatura humana. Esta tentação da autossuficiência já aflora no relato da Bíblia sobre Eva e Adão. Em Gênesis 3.5, a cobra diz a Eva: “... quando comerem a fruta dessa árvore, os seus olhos se abrirão, e vocês serão como Deus, conhecendo
o bem e o mal!” Eva e Adão cederam à tentação. E deu no que deu! E “a cobra” não se deu por satisfeita com sua primeira vitória contra Deus. Tentou derrotar também Jesus, conforme Mateus 4.1-11. Depois de quarenta dias e quarenta noites sofrendo fome (de tudo e de todos!), ele recebe a oferta tentadora: Farei de você o Rei do Pão, do Espetáculo, do Universo... – basta você me adorar! Só que Jesus não abre mão da obediência exclusiva a Deus, e reage: “Vá embora, Satanás! As Escrituras Sagradas afirmam: Adore o Senhor, seu Deus, e sirva somente a ele.” Com isso, Jesus se torna vencedor sobre “a cobra” tentadora. E torna-se, assim, no novo caminho para se chegar a Deus, de tal forma que declara em João 14.6: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém pode chegar até o Pai senão por mim.” E em João 10.9, que se relaciona com Lucas 13.24 e 25 (versículos anteriores ao lema deste mês), afirma de forma não menos categórica: “Eu sou a porta. Quem entrar por mim será salvo.” E eis que aí aparece a surpresa no ensino sobre os primeiros e os últimos a serem salvos. Surpresa que se chama evangelho, boa-nova, e que se dirige à totalidade das pessoas, tanto às que se sabem como às que não se consideram pecadoras. Para contar entre os primeiros, hoje e sempre, basta isso: abandonar a tentação da autossuficiência e atirar-se de corpo e alma nos braços do crucificado e ressurreto, trilhar no único Caminho para a salvação. Pois não existem salvos do lado de cá da Porta. Salvos são somente os que se deixam convencer, que acreditam, pois, na verdade de que junto à mesa do Reino de Deus só se chega por meio do perdão conquistado por Jesus na cruz. Por isso, é vital para nós partilharmos diariamente com Jesus também desta sua oração: P. em. Hugo S. Westphal Blumenau/SC
Oração Pai, “não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal. Pois teu é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém.”
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Outubro 1 Dom
Ez 18.1-32
2 Seg 3 Ter
Rm 6.18-23 Is 38.9-20
4 Qua
At 9.36-42
5 Qui 6 Sex 7 Sáb 8 Dom
Fp 1.19-26 Ap 2.8-11 Rm 4.18-25 Mt 21.33-46 18º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Ó Deus, eu falarei a respeito de ti aos meus irmãos e te louvarei na reunião do povo. Hebreus 2.12 Hb 11.1-10 1905 – Fundação do Sínodo Evangélico Luterano de SC, PR e Outros Estados da América do Sul, em Estrada da Ilha, SC Tg 1.1-13 Lc 7.1-10 1962 – Concílio Vaticano II, da Igreja Católica Romana, em Roma At 5.34-42 Dia da Criança – Dia de Nª Srª Aparecida (feriado nacional) Hb 12.1-3 Mt 14.22-33 Fp 4.1-9 19º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Naquele dia, todos dirão: Ele é o nosso Deus. Nós pusemos a nossa esperança nele, e ele nos salvou. Isaías 25.9 Mt 6.1-4 Mc 3.31-35 Ct 8.4-7 Gl 5.13-18 Rm 15.1-6 1962 – Assembleia Constituinte do Sín. Evang. Luterano Unido (SELU) 1997 – Inauguração da Gráfica e Editora Otto Kuhr, em Blumenau, SC Mt 5.17-24 Mt 22.15-22 20º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Segundo o seu querer, Deus nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como que primícias das suas criaturas. Tiago 1.18 Êx 15.22-27 Lc 5.12-16 Lc 13.10-17 1968 – Reestruturação da IECLB, fusão dos 3 Sínodos, criação da RE IV Mt 8.14-17 1949 – Constituição da IECLB Jr 17.13-17 1916 – ✩ Karl Gottschald, 3º Pastor Presidente da IECLB († 02/08/1993) At 14.8-18 Lv 19.1-18 21º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde O Senhor me livrará de todo mal e me levará em segurança para o seu Reino celestial. A ele seja dada a glória para todo o sempre! Amém! 2 Timóteo 4.18 Dia Nacional do Livro e da Leitura 2Ts 3.6-13 Mt 5.1-10 DIA DA REFORMA Vermelho 1517 – Lançamento das 95 Teses de Martim Lutero
9 Seg 10 Ter 11 Qua 12 Qui 13 Sex 14 Sáb 15 Dom
16 Seg 17 Ter 18 Qua 19 Qui 20 Sex 21 Sáb 22 Dom
23 Seg 24 Ter 25 Qua 26 Qui 27 Sex 28 Sáb 29 Dom
30 Seg 31 Ter
17º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai. Filipenses 2.10-11 1921 – Reunião de constituição do Conselho Missionário Internacional em Lake Mohonk, EUA 1226 – † Francisco de Assis, fundador da Ordem dos Frades Menores (franciscanos) (✩ 1181/1182) 1959 – Inauguração do prédio principal da Faculdade de Teologia da IECLB, em São Leopoldo, RS
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Lema do mês
Os anjos de Deus se alegrarão por causa de um pecador que se arrepende dos seus pecados. (Lucas 15.10)
Neste mês em que comemoramos os 500 anos da Reforma Protestante, este versículo cai como uma luva para esta data tão especial e cheia de significado. Pecado - arrependimento - absolvição são três palavras que estão intimamente ligadas à vida de um cristão convicto. O pecado faz parte da vida do cristão, porém ao se arrepender, e por meio da misericórdia e graça de Deus, tem a chance de recomeçar, de fazer diferente, ser absolvido por Deus. Quando alguém se arrepende de seus pecados e confessa sua culpa, seu erro, sua falha, sua transgressão; quando pede desculpas de coração, quando dá o braço a torcer, quando engole o seu orgulho, sua arrogância estará dando um testemunho claro para Deus: Aqui estou eu, arrependido. Faz da minha vida um vaso nas mãos do oleiro. Quebra e transforma, para que a Tua vontade se cumpra em mim!
concedido pela igreja mediante pagamento (indulgência) prometia a elas a absolvição e o perdão dos pecados. Isso foi um grande empecilho para o verdadeiro arrependimento dos pecadores. Para resumir: o arrependimento não fazia parte do processo. E sem arrependimento não há reflexão, nem transformação de vida da pessoa cristã. Porque esta transformação não acontece num passe de mágica ou com uma carta de perdão comprada (indulgência). Ela acontece antes nos altos e baixos da vida, num constante reconhecer-se pecador, arrepender-se dos seus erros e receber a palavra de graça (absolvição/perdão).
Mostrar para as pessoas a importância do arrependimento era um grande desafio do Reformador Martim Lutero. Ele dizia que a vida do cristão é sinônimo de arrependimento diário. Não é por acaso que ele inicia o seu protesto (95 teses) dizendo na 1ª tese: “Quando nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo diz: Arrependeivos, (Mateus 4.17), certamente quer que toda a vida dos seus crentes na terra seja contínuo arrependimento”. Todo o cristão é simultaneamente justo e pecador! Somos sempre pecadores por nossos méritos, ações e forças; justos pela justiça de Deus, que nos dá os méritos de Cristo, O Justo.
Assim é na vida do Cristão: Pecamos diariamente, mas não servimos ao pecado. O arrependimento nos leva a mudar de vida. Jesus nos leva à mudança de vida e um sinal disso é o arrependimento. Em Cristo temos livre acesso (porta aberta) para uma confissão de pecados onde o ser humano pode buscar a cura da culpa que faz adoecer o coração e o espírito, e a liberdade de tudo o que aprisiona.
Ouvindo as pessoas no confessionário, Lutero chegou à conclusão de que esse processo pecado - arrependimento - absolvição estava sendo quebrado. Pois as pessoas sabiam que erravam, mas um documento,
Pecamos todos os dias em nossa vida, mas o arrependimento sincero nos leva a pensar e refletir, assim como Jesus fez com a mulher adúltera e todos aqueles que estavam com pedras nas mãos, quando pensaram sobre o assunto, entenderam seus erros (João 8).
Que tal meditarmos sobre este tema em nossa vida e em nossas comunidades? Jesus nos ajudará bastante a entendermos o caminho para uma vida de arrependimento, não livre dos pecados, mas livre do tormento da culpa pelo arrependimento e misericórdia de Deus. Os anjos de Deus se alegrarão por causa de um pecador que se arrepende. P. Valmiré Martin Littig Paróquia dos Chapadões/MT
Oração Deus de graça e misericórdia. Tu nos conheces profundamente, sabes de nossos erros e falhas. Carecemos de tua mão bondosa para nos guiar. Ilumina nossas mentes para o caminho do arrependimento. Amolece o nosso coração através da tua Palavra, para que sempre de novo possamos encontrar o verdadeiro sentido da vida. Concede-nos fé e ânimo para uma vida em arrependimento. Por Cristo Jesus. Amém.
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Novembro 1 Qua 2 Qui 3 Sex 4 Sáb 5 Dom
6 Seg 7 Ter 8 Qua 9 Qui 10 Sex 11 Sáb 12 Dom
13 Seg 14 Ter 15 Qua 16 Qui 17 Sex 18 Sáb 19 Dom
20 Seg 21 Ter 22 Qua 23 Qui 24 Sex 25 Sáb 26 Dom
27 Seg 28 Ter 29 Qua 30 Qui
Mt 5.1-12 DIA DE TODOS OS SANTOS Branco 1Co 15.12-20 DIA DE FINADOS Branco Jo 18.28-32 1887 – ✩ Dr. Hermann Dohms, 1º Pastor Presidente da Federação Sinodal († 04/12/1956) Pv 3.1-8 Mt 23.1-12 22º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Irmãos, orem por nós, para que a palavra do Senhor se propague e seja glorificada, como também está acontecendo entre vocês. 2 Tessalonicenses 3.1 Rm 12.17-21 2Co 10.1-6 Gn 13.5-18 Lv 19.1-18 Lc 22.49-53 1483 – ✩ Martim Lutero, reformador († 18/02/1546) 2Tm 2.1-6 1982 – Assembleia Constitutiva do Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI), em Huampaní, Lima, Peru Am 5.18-24 23º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Fiquem vigiando, pois vocês não sabem em que dia vai chegar o seu Senhor. Mateus 24.42 1Pe 4.7-11 354 – ✩ Aurélio Agostinho, teólogo da Igreja Antiga Ocidental (latina), bispo († 28/08/430) Jr 18.1-10 Hb13.1-9b 1889 – Proclamação da República do Brasil 1Jo 2.18-29 2Co 6.1-10 Mc 13.1-8 1982 – Constituição do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), em Porto Alegre, RS Mt 25.14-30 24º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Aquele que dá testemunho de tudo isso diz: Certamente venho logo! Amém! Vem, Senhor Jesus! Apocalipse 22.20 Mt 7.21-29 Jo 3.17-21 Mt 12.33-37 Lc 15.1-10 Hb 13.17-21 Ap 20.11-15 1843 – ✩ Dr. Wilhelm Rotermund, fundador do Sínodo Riograndense († 05/04/1925) Ez 34.11-24 DOMINGO CRISTO REI Branco ou Dourado Jesus Cristo diz: Eu sou o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim. Apocalipse 22.13 Hb 12.18-25 1Pe 1.13-21 1Co 3.9-15 1Ts 5.9-15 1991 – Abertura do Centro de Literatura Evangelística da IECLB, em Blumenau, SC
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Lema do mês
Deus diz: Viverei ali com eles e serei o Deus deles, e eles serão o meu povo. (Ezequiel 37.27)
Na explicação do primeiro mandamento no Catecismo maior, Lutero explica que “ter um Deus não significa outra coisa senão crer e confiar nele do fundo do coração”. Pouco antes ele afirma ainda que “Deus representa aquilo do qual se deve esperar todo bem, dele se socorrendo em todos os apertos”. O povo de Israel vivia tempo complicado da sua história. Enfrentavam a miséria e o sofrimento do cativeiro babilônico. Nesse período doloroso experimentaram não apenas o distanciamento de sua terra, mas também uma situação de desesperança e desfalecimento da fé ao descobrirem que o maior símbolo da presença de Deus, o Templo de Jerusalém, havia sido destruído. Junto com a liderança de Israel que foi conduzida ao cativeiro estava Ezequiel. O profeta Ezequiel viveu junto com seu povo a miséria da escravidão na Babilônia. Em meio ao sofrimento dessa escravidão, ele anunciou os juízos e a salvação que Deus tem guardado para seu povo. E é nesse momento de ausência de fé e esperança que o anúncio do profeta se faz importante. A presença e o anúncio de Ezequiel mostram o amor de Deus e a sua fidelidade, que extrapolam as fronteiras de Israel. Mostra que mesmo em face da dor do afastamento da sua terra, de seus costumes, Deus continua cuidando de seu povo. Foi nesta situação que os cativos puderam perceber o que Lutero escreveu muito anos depois. De Deus se pode esperar todo o bem, e quando se está em aperto, em situação de escravidão, perigo e até morte, ele ainda socorre o seu povo. Isso é noticia de salvação, isso é evangelho, é boa nova. O profeta Ezequiel anuncia ao povo as palavras que o próprio Deus profere. Ele anuncia o retorno do exílio, a
volta do povo para Israel. Deus diz: Viverei ali com eles e serei o Deus deles, e eles serão o meu povo (Ezequiel 37.27). Deus fará com que o povo todo viva junto de novo. E não apenas isso. Deus mostra que quer um relacionamento próximo com esse povo. Deus viverá com esse povo que espera o retorno. Mais do que apenas viver junto, Deus quer relacionamento, Deus lhe oferece pertencimento, “eu serei o Deus deles e eles serão o meu povo”. Embora ainda exista escravidão, a maior parte da humanidade vive de forma, tecnicamente, livre. Contudo, isso não significa que não existam sofrimentos, dores, angústias, preocupações, vazios de sentido e medos afetando os seres humanos. Existem muitas crises e tensões que afetam diretamente a vida pessoal, familiar, espiritual e social das pessoas. O ser humano, mesmo estando em uma espécie de liberdade, encontra-se cativo. Está escravizado pela violência, pelo ódio, pela polarização, pelas crises sociais. Está preso ao seu egoísmo e egocentrismo, ao não ver tudo e todos que estão a sua volta. Está cativo na sua própria solidão, mesmo em meio à multidão. A oferta que Deus faz através de Ezequiel ao povo escravo, oferecendo companhia, encontro com as suas raízes e pertencimento também é feita ao ser humano nesses dias conturbados em que vive o mundo. Ainda hoje se pode esperar de Deus todo o bem. Ainda hoje podemos contar com o socorro de Deus nos momentos de aperto. Que possamos nós, seres humanos crer nesse Deus que quer nos libertar, viver conosco, e se relacionar com cada um e cada uma de nós. E lembremo-nos de Lutero e de sua explicação: “ter um Deus não significa outra coisa senão crer e confiar nele do fundo do coração”. P. Ricardo Brosowski Vilhena/RO
Oração Deus Libertador, faz-nos entender tua mensagem. Segura nossas mãos para que caminhemos no caminho que já trilhaste pra nós em Jesus Cristo. Fortalece nossos passos. Se cairmos, ajuda-nos a levantar e se permanecermos caídos, dá-nos a tua companhia. Amém.
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Dezembro 1 Sex 2 Sáb 3 Dom
4 Seg 5 Ter 6 Qua 7 Qui 8 Sex 9 Sáb 10 Dom
11 Seg 12 Ter 13 Qua 14 Qui 15 Sex 16 Sáb 17 Dom
18 Seg 19 Ter 20 Qua 21 Qui 22 Sex 23 Sáb 24 Dom
25 Seg 26 Ter 27 Qua 28 Qui 29 Sex 30 Sáb 31 Dom
Hb 13.10-16 Ap 21.10-27 Mc 13.24-37 1º DOMINGO DE ADVENTO Violeta ou Azul Mostra-nos, Senhor, a tua misericórdia e concede-nos a tua salvação. Salmo 85.7 1Pe 1.8-13 Hb 10.32-39 Cl 1.9-14 1Ts 5.1-8 Ez 37.24-28 Hb 2.1-4 Is 40.1-11 2º DOMINGO DE ADVENTO – DIA DA BÍBLIA Violeta ou Azul O profeta Isaías diz: Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas. E toda a humanidade verá a salvação de Deus. Lucas 3.4,6 1948 – Declaração Universal dos Direitos Humanos, da ONU Dia Universal dos Direitos Humanos Is 25.1-8 Is 26.7-15 Ap 2.1-7 2Co 5.1-10 Zc 2.10-13 1Ts 4.13-18 1815 – Elevação do Brasil à categoria de Reino, unido a Portugal e Algarves Jo 1.6-28 3º DOMINGO DE ADVENTO Violeta ou Azul João Batista é aquele a respeito de quem as Escrituras Sagradas dizem: Aqui está o meu mensageiro, disse Deus. Eu o enviarei adiante de você para preparar o seu caminho. Mateus 11.10 2Co 1.18-22 1865 – † Francisco Manoel da Silva, compositor do Hino Nacional Brasileiro (1831) (✩ 1795) Is 11.10-13 Is 42.5-9 Ap 3.7-12 Início do VERÃO Ap 22.16-21 Is 7.10-14 Lc 1.47-55 4º DOMINGO DE ADVENTO Violeta ou Azul O profeta Isaías diz: Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e ele será chamado pelo nome de Emanuel, que significa Deus conosco. Mateus 1.23 Rm 1.1-7 VIGÍLIA DE NATAL – NOITE DE NATAL Branco Lc 2.1-20 NATAL – DIA DE NATAL Branco Ap 7.9-17 Jo 21.20-24 Mt 2.13-18 1Jo 4.11-16a Is 63.7-14 Gl 4.4-7 1º DOMINGO APÓS NATAL Branco Que a paz que Cristo dá dirija vocês nas suas decisões, pois foi para essa paz que Deus os chamou a fim de formarem um só corpo. E sejam agradecidos. Colossenses 3.15 Êx 13.20-22 Véspera de Ano Novo Branco
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Lema do mês
O nosso Deus é misericordioso e bondoso. Ele fará brilhar sobre nós a sua luz e do céu iluminará todos os que vivem na escuridão da sombra da morte, para guiar os nossos passos no caminho da paz. (Lucas 1.78-79)
Ao celebrarmos 500 anos da Reforma em 31 de outubro passado, ouvimos muitas prédicas, reflexões e comentários sobre a misericórdia e a bondade de Deus. Agora estamos em dezembro, mas ainda respiramos o ar das comemorações do jubileu da Reforma. E o lema bíblico proposto para este mês aborda justamente a centralidade da Reforma, porque Martim Lutero buscava um Deus misericordioso, cheio de bondade. No seu tempo, a Igreja anunciava um Deus juiz, severo. E isso incomodava Lutero por demais. Tanto que desafiou a Igreja de sua época a uma volta à sua origem evangélica. A partir de uma interpretação bíblica que centrou a vida cristã na graça de Deus e na fé das pessoas, Lutero redescobriu o Deus misericordioso. A Reforma apresenta assim, outra resposta teológica para a pergunta a respeito da salvação. Se a Igreja de seu tempo propagava que a salvação era a partir das boas obras e da compra de indulgências, agora, a partir do Evangelho de que o justo vive pela fé, a centralidade da salvação está na misericórdia e na bondade de Deus. Ou seja, na sua graça. Na verdade, a igreja cristã necessariamente precisa estar sempre em Reforma. E “estar em reforma” significa estar atento aos desafios contemporâneos. Lamentavelmente, hoje, em algumas situações em nosso país, donos de igrejas e líderes religiosos amontoam tesouros e impérios às custas de fiéis, quando negociam a salvação. É por isso que, ao celebrarmos os 500 anos, resgatamos novamente os pilares fundamentais deste movimento, onde se sublinha que a salvação não está à venda. Ela não pode ser comercializada. O movimento da Reforma redescobre e evidencia que nosso Deus não é o Deus da cobrança, mas da graça, e nos faz recordar que não somos salvos por obras meritórias, mas sim por causa de sua graça. Aí está ancorada a sua misericórdia e a sua bondade.
No lema deste mês o Evangelho de Lucas aponta justamente para este Deus misericordioso. No Natal, este Deus cheio de bondade se revela como luz para este mundo. Jesus, Deus encarnado, é luz em meio à escuridão. Ele diz: “Eu sou a luz do mundo” (João 8.12). Por isto entendemos perfeitamente quando se diz que o Natal é luz. Daqui a alguns dias nós vamos novamente celebrálo. Vamos receber aquele que veio para nos salvar, o Deus Emanuel, o Deus conosco. Em comunidade e em família já estamos jubilando e cantando Noite Feliz. Isto porque nossa fé se abre para acolher Jesus, o DeusMenino. Em Jesus, Deus fez brilhar sobre nós a sua luz. Também nós, a partir do Batismo, somos envolvidos por esta luz. A partir desta graça nós também irradiamos luz para o mundo e as pessoas. Como cristãos somos extensão desta luz. Por isto, com os pés firmes neste chão, a partir do convite de Jesus, somos chamados a brilhar. Jesus diz: “... assim também a luz de vocês deve brilhar...” (Mateus 5.16). Não por algum mérito nosso, mas porque o próprio Cristo nos envia para que nossa luz brilhe. Apesar de nossas fraquezas, Jesus confia a nós este bem sublime. Certamente, quem caminha na luz de Cristo tem seus passos regidos pela misericórdia e pela bondade de Deus. Envolvidos pela luz de Cristo nossa luz brilhará neste mundo em favor de nosso próximo. Afinal, a luz está aí para guiar os nossos passos no caminho da paz, onde reinam a misericórdia e a bondade de Deus. Que neste Natal possamos cantar novamente: “Bondade e misericórdia certamente me seguirão. Todos os dias da minha vida, todos os dias da minha vida; habitarei na casa do Senhor para todo o sempre. Aleluia! “Bondade e misericórdia certamente me seguirão” (HPD I – hino 232). Amém. P. em. Lourival Ernesto Felhberg Baixo Guandu - ES
Oração Deus da misericórdia e da bondade. Em meio à escuridão, tu és a luz que veio para iluminar o mundo. Para este tempo de Natal, nós te pedimos: Ilumina nossos caminhos a trilhar. Guia nossos passos para caminharmos na tua paz. Em nome de Cristo Jesus. Amém.
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Temas da IE CLB IECLB 1976 - Comunidade Consciente e Atuante 1977 - Nova comunhão em Cristo, como vivê-la? 1978 - Cristo, o caminho 1979 - A importância da família cristã para a criança 1980 - Cristo, o Mediador 1981 - Homem e Mulher unidos na Missão 1982 - Terra de Deus - Terra para Todos 1983 - Eu sou o Senhor teu Deus 1984 - Jesus Cristo - Esperança para o mundo 1985 - Educação - Compromisso com a verdade e a vida 1986 - Por Jesus Cristo, Paz com Justiça 1987 | 1988 - ... e serei minhas testemunhas 1989 | 1990 - O pão nosso de cada dia 1991 | 1992 - Comunidade de Jesus Cristo - A Serviço da Vida 1993 | 1994 - Permanecem a fé, a esperança e o amor 1995 | 1996 - Somos Igreja. Que Igreja somos? 1997 | 1998 - Aqui você tem lugar 1999 - É tempo de lançar 2000 - Dignidade Humana e Paz - um novo milênio sem exclusão 2001 - Ide, fazei discípulos... 2002 - Mãos à obra 2003 - Nosso mundo tem salvação 2004 - Pelos caminhos da esperança 2005 | 2006 - Deus, em tua graça, transforma o mundo 2007 | 2008 - No poder do Espírito, proclamamos a reconciliação 2009 | 2010 - Missão de Deus - Nossa Paixão 2011 - Paz na Criação de Deus - Esperança e Compromisso 2012 - Comunidade jovem - Igreja viva 2013 - Ser, participar, testemunhar - Eu vivo comunidade 2014 - viDas em comunhão 2015 - Igreja da Palavra - Chamad@s para comunicar 2016 - Pela graça de Deus, livres para cuidar 2017 - Alegres, jubilai! Igreja sempre em Reforma: agora são outros 500 Fonte: www.luteranos.com.br/conteudo/relacao-de-temas-do-ano
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Tema e LLema ema da IE CLB par a o ano de 2017 IECLB para
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TEMA DO ANO de 2017 Pa. Sílvia Beatrice Genz
Alegres, jubilai. Igreja sempre em Reforma: agora são outros 500. Lema: Nele vivemos, nos movemos e existimos. (Atos 17.28a) Com o Tema do Ano, neste ano de 2017, queremos reafirmar nossa herança e nossa história, como IECLB hoje inserida na história do Brasil. Registramos nosso testemunho como igreja de COMUNIDADES e suas pessoas, marcando presença há mais de 190 anos no Brasil. Somos de Confissão Luterana. Pois, Lutero, o reformador e sua teologia, sua busca na Sagrada Escritura nos orientam para viver nossa fé evangélica hoje, neste país onde nossos antepassados foram proibidos de expressá-la publicamente até o ano de 1889. O Movimento da Reforma envolveu muitas pessoas... Muitos homens e mulheres como Lutero, Melanchton, Catarina von Bora, Catarina Schutz Zell e muitas outras pessoas. A história nos lembra das grandes mudanças que a partir de 1517 aconteceram no mundo religioso. Entre elas, mudanças que provocaram homens e mulheres a assumirem o sacerdócio geral de todos crentes, independentemente da profissão que
exerciam. Esse era e é o chamado, oriundo do batismo. Hoje ainda queremos afirmar: Igreja sempre em Reforma! Isso significa que somos pessoas movidas por um sentimento que nos anima a não pararmos de avaliar nosso jeito de ser igreja e suas relações com membros e também fora dela, como igreja comprometida com o Reino de Deus. A Palavra de Deus nunca passará, mas o jeito de ser igreja, fiel à Palavra de Deus, pode movimentar muitas pessoas e rumar para novos jeitos, humanos, sem exclusão, com abertura para o servir e testemunhar na sociedade para o bem da vida da criação de Deus. Muitas vezes, nós, como Igreja de Confissão Luterana no Brasil, dizemos: “Somos poucos!”. Essa expressão mostra desânimo, mas deveria nos colocar mais ainda em movimento, como lideranças, ministros e ministras para fortalecer nosso testemunho evangélico luterano, pois não temos nosso crescimento numérico com falsas promessas, mas queremos convidar e aumentar sim o número de pessoas a experimentarem o jeito bom de viver a fé como fé evangélica, de confissão luterana, na nossa IECLB. Não somos uma igreja sem problemas, mas confiamos em Deus criador, como lemos em Gênesis 1.27
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que Deus criou homem e mulher à sua imagem e semelhança. Este versículo me abriu a possibilidade (e abre a você que está lendo este artigo) de pensar Deus a partir de mim mesma, como filha (criatura) de Deus feita à Sua imagem, e a partir da minha experiência de vida e fé para servir como cristã hoje. Como mulher não preciso me esconder, nem me calar. Como ministra, feliz em ser IECLB, posso servir. E o faço com intensidade, nas limitações que tenho. Vejo que as mulheres das comunidades participam e vivem as mudanças que aconteceram e acontecem nesta igreja SEMPER REFORMANDA.
conclui seu pedido “... esperando em Deus que no futuro as mulheres não serão tão desprezadas como no passado... em todo o mundo”.
Não posso deixar de me alegrar com o grande encontro nacional de mulheres programado para os dias 17 a 19 de março em Foz do Iguaçu: Mulheres Luteranas Celebrando os 500 Anos da Reforma.
O Lema que acompanha o Tema vem de Atos 17.28a: Nele vivemos, nos movemos e existimos. Palavras do Apóstolo Paulo que nos confirmam: tudo existe em Deus.
Novos tempos, agora são “outros 500”, mas desejados há 500 anos como nos conta um trecho de uma carta escrita por uma reformadora, chamada Marie Dentiéri. Ela tinha conhecimento de grego... Era pregadora... Ela escreveu para a rainha Marguerite de Navarra em: “Defesa das Mulheres”. Na carta ela fez um apelo à rainha para que intercedesse junto ao seu irmão, o rei da França, em favor da eliminação da divisão entre homens e mulheres que fazia com que as mulheres fossem desprezadas e suas revelações permanecessem escondidas. Marie
Alegres, jubilai!
Agora são outros 500... Queremos unir os nossos sonhos e lutas com os sonhos e lutas das mulheres e homens que fizeram parte da Reforma e hoje fazem parte da igreja sempre em Reforma. Agora são outros 500, em meio ao pluralismo religioso ficar firmes na fé e na paz em Jesus Cristo como exemplo; firmes, sem excluir, sem guerra, mas com firmeza e respeito aos povos e suas diferentes culturas.
Assim fala o hino composto por Lutero (HPD I 155.1). Quero convidar Homens e Mulheres a jubilarmos com alegria pela bela caminhada realizada como IECLB, tempos de renovação e cada vez mais participação na Missão de Deus nossa Paixão. Não posso deixar de constatar que os temas do ano da IECLB, parte da nossa história há mais de 40 anos, foram sempre impulso para reflexão, diálogo e às vezes questionamentos levando a ações com mudanças. Penso, por exemplo, no Tema de 1981: Homens e Mulheres Unidos na Mis-
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são. Este tema foi impulso para encorajar mulheres a participarem mais ativamente na vida da comunidade. Naquele tempo poucas mulheres faziam parte do presbitério de sua comunidade. Com grande sabedoria nossa igreja animou e encorajou mulheres e homens a viver a fé e a responsabilidade de conduzir a vida da comunidade em cargos de liderança. Alegres, jubilai! No Ano do jubileu, o Tema do Ano nos convida para festejar e celebrar, destacando com a alegria que podemos continuar lendo a Bíblia, sem restrição, para afirmarmos publica-
mente: “O justo viverá por fé.” (Romanos 1.17). Alegres, jubilai! A educação cristã não está restrita a teólogos, alcança crianças, adolescentes, jovens, adultos da meia idade até os mais idosos. Alegres, jubilai! Como IECLB, hoje planejamos (PAMI) e nos envolvemos na Missão com nosso tempo e dinheiro (VAI e VEM). Alegres, jubilai, cantando, orando, testemunhando e anunciando Jesus Cristo, Salvador. “Nele vivemos, nos movemos e existimos” (Atos 17.28a) - palavras do Apóstolo Paulo que nos confirmam: tudo existe em Deus. A autora é Pastora 1ª Vice-Presidente da IECLB e exerce o seu pastorado na Com. Ev. de Conf. Luterana em Baixa Picada 48 - Lindolfo Collor/RS
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Datas Comemorativas em 2017 P. Ms. Osmar Luiz Witt
500 anos 1517 – A Reforma Luterana
80 anos 1937 – O Estado Novo
Em 31 de outubro de 1517, o monge e doutor em Teologia Martim Lutero, publicou 95 Teses. Nelas acentuou que o perdão divino não pode ser negociado. "O verdadeiro tesouro da Igreja é o evangelho da graça", escreveu ele na tese 62. Confiar inteiramente na graça de Deus, revelada em Jesus Cristo, liberta as pessoas para serem autenticamente humanas. Confiar em Deus e amar a pessoa ao nosso lado é o resumo do Evangelho. A Igreja, comunidade de pessoas santificadas por Deus, torna-se espaço de confissão e de comunhão, a serviço da missão de Deus no mundo. Nela, o poder será exercido como serviço e não como dominação.
Golpes de Estado figuram com frequência na história do Brasil. Em 10 de novembro de 1937, a pretexto de combater grupos comunistas, o Presidente Getúlio Vargas instalou um regime ditatorial, protelando as eleições e alçando-se à liderança política, alinhado aos regimes similares na Europa. No Estado Novo promoveu uma campanha de nacionalização, por meio da qual buscou uma uniformização da cultura nacional. Dos métodos para tanto fizeram parte maior investimento na criação de uma rede de escolas públicas e a perseguição de grupos que pretendiam preservar a pluralidade cultural trazida ao Brasil pelas populações de imigrantes. O Estado Novo se manteve até 1945, quando o Presidente Vargas foi deposto por um novo golpe.
100 anos 1917 – A Revolução na Rússia Também conhecida como Revolução Bolchevique, ou Revolução de Outubro, ocorreu, há 100 anos, a primeira revolução proletária socialista, que derrubou o czarismo na Rússia. Dela resultou, em 1922, a formação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). No período de vigência da "guerra fria", pós-Segunda Guerra (1939-1945), vigorou uma divisão do mundo em áreas de influência capitalista e comunista.
70 anos 1947 – Federação Luterana Mundial (FLM) Há 70 anos, foi fundada em Lund, no sul da Suécia, a Federação Luterana Mundial, que representa mais de 72 milhões de cristãos em 98 países. A Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) integra a Federação Luterana Mundial desde 1950, ano em que a 1ª Assembleia Ordinária da Federação Sinodal (que
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deu origem à IECLB), reunida em São Leopoldo, RS, decidiu pelo encaminhamento da solicitação de filiação. Desde então a FLM tem sido uma importante parceria no mundo ecumênico, da qual a IECLB tem se beneficiado, mas na qual também tem podido servir e dar sua contribuição ao luteranismo mundial. "A Federação coopera em áreas de interesse comum tais como o ecumenismo e as relações inter-religiosas, teologia, assistência humanitária, direitos humanos, comunicação, e as várias faces da missão e o desenvolvimento. Sua sede encontra-se em Genebra, Suíça."
50 anos 1967 – Tropicalismo no Brasil Há 50 anos, no festival de Música Popular Brasileira da TV Record, Gilberto Gil e Caetano Veloso lançavam o tropicalismo com “Domingo no parque” e “Alegria, alegria”. Surgido como movimento musical, ampliou sua influência no campo das artes, para o teatro e a escultura. O movimento, sem negar suas raízes nacionais, abriu-se para influências e estilos que, até então, eram postos na conta de estrangeirismos. O disco Tropicália ou Panis et Circensis, de 1968, revela algo dessa mescla entre o tradicional e o novo. Em certo sentido, o tropicalismo serviu para trazer a Bossa Nova para mais perto de um público mais amplo.
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25 anos 1992 – ECO-92
10 anos 2007 – Visita do Papa Bento XVI
Há 25 anos, o Rio de Janeiro sediou a ECO-92, Conferência das Nações Unidas sobre o meio ambiente. Desde então, e já desde muito antes, inúmeras vozes de cientistas, ambientalistas, organizações não governamentais e igrejas tem alertado para os riscos da progressiva destruição ambiental, resultado do modelo econômico altamente predador dos recursos naturais. A preocupação com o aquecimento global continua na ordem do dia. É absolutamente urgente, que nos demos conta de que não podemos continuar operando num sistema que é contra a natureza. O modelo atual nos conduz no rumo do caos. Diminuir emissões, frear o consumismo e buscar novas formas de sustentabilidade econômica - não é pequeno o desafio dessa geração!
Em 9 de maio de 2007 teve início uma visita de quatro dias do Papa Bento XVI, antecessor do Papa Francisco, às cidades de São Paulo e Aparecida, no Brasil. Nesta viagem o Papa presidiu a 5ª Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe. No terceiro dia de sua viagem, Bento XVI canonizou o Frei Galvão, tornando-se este o primeiro santo nascido no Brasil. O autor é Pastor da IECLB, responsável pelo Arquivo Histórico da mesma e professor de História Eclesiástica na Faculdades EST em São Leopoldo/RS
Deus não está amarrado a nenhum lugar, e de lugar nenhum se acha excluído. Ele está em todos os lugares, e ao mesmo tempo não se encontra em lugar nenhum onde possa ser fixado e compreendido. Mesmo assim está presente em toda parte, pois ele cria, produz e mantém todas as coisas. – Martim Lutero –
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Pelos 500 anos da Reforma Protestante P. em. Dr. Lothar C. Hoch
Nascido filho de mineiro rude, Martim Lutero teve mãe piedosa, Abençoada com a virtude De possuir uma alma carinhosa. Ainda jovem Lutero ingressou Num convento medieval. E como monge se empenhou A discernir entre o bem o mal. Ao retornar a seu berço natal, Pôs-se com paciência a escutar As dores dos fiéis em geral Que os estavam a atormentar. Vendo o pesado sofrimento Que a Igreja lhes imputava, Afixou 95 teses pra discernimento Na porta da igreja onde atuava. A mensagem da graça divina Como um fogo se espalhou. E de uma forma genuína O coração dos fiéis tocou. Enquanto o tempo se escoa, A mensagem da Reforma Em muitos corações ecoa, E a vida dos fiéis transforma. Cabe a nós, nos tempos atuais, Mesmo tendo afazeres demais, Perscrutar nosso coração Se é sincero o nosso amor cristão. O autor é Pastor e Professor emérito de teologia da IECLB e reside em Palhoça/SC ••• 42 •••
A compreensão luterana de igreja P. em. Dr. Dr. h. c. Gottfried Brakemeier
“Quem quiser encontrar Cristo, deve encontrar primeiro a igreja.” São palavras de Martim Lutero. É verdade que ele não gostava do termo. Seria por demais ambíguo. “Igreja” poderia ser confundida com uma construção, um templo, com uma instituição eclesiástica ou uma associação religiosa. Certamente igreja também é isto. Mas seu sentido ultrapassa estes significados. No entender do reformador ela é antes de tudo o povo de Deus, o rebanho dos e das que ouvem a voz de seu pastor, a comunhão dos santos. Isto é confirmado pelo credo apostólico e acima de tudo pela Bíblia. Igreja é uma realidade dinâmica, um corpo vivo, uma congregação de pessoas. Nós confessamos: “Creio na santa igreja cristã, a comunhão dos santos...”. Apesar da polivalência do termo não há como dele abrir mão. Damos graças a Deus pelo privilégio de sermos membros da igreja de Jesus Cristo. Em coerência com isto Lutero teve a igreja em alto apreço, com o que deu um exemplo a ser imitado por todos os “luteranos” e cristãos. Claro, a igreja tem defeitos. Lutero sentiu isto na própria carne. A igreja o fez sofrer. Ela o perseguiu, ela o excomungou e jamais o reabilitou. Apesar disso o reformador sempre amou a sua igreja. Falou dela como humilde serva, encarregada de divulgar a palavra do evangelho e de reu-
nir os fiéis em comunidade. Menosprezo à igreja não encontra respaldo em Lutero. É verdade que ela é constituída por pessoas humanas, falhas, hipócritas. Assim o constata o art. 8 da Confissão de Augsburgo. A igreja perfeita não passa de uma ilusão que não cabe na “comunhão dos pecadores”. E é bom que assim seja. Pois quem arriscaria solicitar filiação a um grupo capaz de orgulhar-se de absoluta integridade moral? Nem eu nem você conseguiríamos cumprir o rigor das exigências de tal elite. Nesse sentido a igreja nada possui de excepcional. Mesmo assim ela é santa. Os termos do credo apostólico são absolutamente procedentes. Pois a igreja é propriedade de Deus, constituída pela sua Palavra, convocada para ser sal da terra e luz do mundo. Lutero dizia ser ela “criatura do evangelho”. Quando os primeiros imigrantes evangélicos chegaram ao Brasil queriam viver também aqui a sua fé. Fundaram comunidades. Mas não o fizeram por inspiração própria, e, sim, porque se sabiam chamados por Deus. No início da igreja sempre está a ação do Espírito Santo. Assim Lutero o expôs magistralmente no Catecismo Menor, na explicação do terceiro artigo da fé. Não podemos crer em Deus por própria inteligência ou capacidade. Nem religiosidade, nem obras de caridade estão na
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raiz da igreja. Ela se alicerça muito antes no chamado de Deus em Cristo. Igreja não se faz por resolução humana, e, sim, em atendimento à voz do Bom Pastor. Por isto é fundamental o anúncio do evangelho e a celebração dos sacramentos. É o que nunca pode faltar. São estes os sinais pelos quais a igreja se identifica. O Papa, os bispos, as estruturas hierárquicas, ou então as grandiosas demonstrações carismáticas, tudo isso passa a ser secundário. A base da igreja, sua origem, sua dinâmica está no evangelho. Para Lutero não há dúvida que Deus vai despertar fé, enquanto a palavra de Deus for pregada devidamente e os sacramentos forem ministrados conforme a sua ordem. Aliás, o termo “pregação” não permite ser interpretado em sentido puramente verbal. Ele sempre inclui uma dimensão prática. Assim o vemos no próprio Jesus. Ele pregou também com as mãos. Pois o amor pode ser argumento mais convincente do que a palavra falada. Uma igreja que fica em débito com a diaconia prejudica o testemunho. É na conjugação de palavra e ação que cabe à igreja motivar as pessoas a abraçar a fé e a juntar-se em comunidade. Embora a igreja resulte de um chamado divino, ela não deixa de ser uma organização humana. Como tal necessita de uma constituição, de um regimento interno e de outros documentos normativos. Ela precisa de regras, de distribuição de servi-
ços, deve articular-se como instituição. E, no entanto, não existe um só modelo estrutural de igreja. Nisto igreja luterana se distingue da igreja católica. Para esta não pode haver igreja sem bispos, sem Papa, sem hierarquia. Lutero pensa de modo diferente. Ele quer uma organização eclesiástica flexível, funcional, capaz de se adaptar a novas circunstâncias. Jamais se conformou com uma igreja infalível, incapaz de reformarse, comandada exclusivamente pelo clero. Também o membro leigo deve ter vez e voz na igreja. Enquanto na igreja católica a estrutura é “episcopal”, na igreja luterana ela tem natureza “sinodal”. Isto significa que a autoridade máxima é o sínodo, a assembleia, o concílio, composto por representantes das comunidades e do ministério ordenado. Liderança, pois, deve ser exercida em parceria entre delegados das comunidades e de pessoas oficialmente encarregadas de um ministério. Isto pode ser mais trabalhoso do que reservar as decisões a uma só autoridade. Mas envolve o povo de Deus em seu todo. Deste povo fazem parte também as mulheres, razão pela qual a maioria das igrejas luteranas já não considera a ordenação um privilégio masculino. É verdade que existem passagens bíblicas que parecem proibir a pregação às mulheres. E, no entanto, um estudo aprofundado mostra ter havido também na primeira cristandade mulheres que se destacaram na missão. As
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passagens negativas devem ser lidas no contexto do evangelho em seu todo. Eis porque a IECLB afirma ser a inclusão de mulheres no ministério uma exigência autenticamente apostólica, muito de acordo com os propósitos do próprio Jesus. Da cooperação feminina no ministério tem resultado muita bênção para o povo de Deus. Ela tem aprovação apostólica. Isto é importante. Pois a igreja, além de ser santa, está construída sobre o fundamento dos profetas e apóstolos (Efésios 2.20). Ela se orienta na pregação que as primeiras testemunhas legaram à posteridade. E apóstolos eram não apenas os doze. Houve outros, entre eles em lugar de destaque o apóstolo Paulo e pelo que tudo indica também mulheres, a exemplo de Maria Madalena (João 20.1s). Mas isto é outra história. No fundo o testemunho apostólico é o Novo Testamento. Lutero quis que a igreja o reconhecesse como norma
da fé. Atribuiu-lhe absoluta prioridade em assuntos de doutrina e conduta. Também os evangelistas são apóstolos, e os redatores das cartas também. A IECLB confessa ser parte da igreja apostólica de Jesus Cristo em todo o mundo. E esta igreja é universal. Não existem duas igrejas de Cristo, mas uma única só. A expressão universal caiu em descrédito devido a seu abuso pela “Igreja universal do reino de Deus”. Esta não é igreja verdadeira, nem mesmo universal. Ela é antes uma empresa que transformou a fé em negócio. Ora, a graça de Deus é gratuita. Ninguém o enfatizou tanto como Lutero. E esta graça se destina a todo mundo (1 Timóteo 2.4). Cabe às igrejas acolher o mandato de anunciá-lo em mutirão ecumênico. Nesses termos a IECLB se junta àquela uma igreja de Jesus Cristo, enviada até os confins da terra (Mateus 28.18s). O autor é Pastor e Professor de teologia emérito e ex Pastor Presidente da IECLB – residente em Nova Petrópolis/RS
– HUMOR – Um psicólogo comenta com seu colega: – Tenho um caso muito interessante de esquizofrenia. O paciente não só está convencido de ter dentro de si duas pessoas. Ele também paga as consultas pelas duas pessoas!
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Da Liberdade Cristã P. Dr. Leandro O. Hofstätter
No ano de 1520 Lutero publica um artigo (em alemão e em latim) intitulado “Acerca da liberdade da pessoa cristã”. Neste texto, Lutero desenvolve a tese de que em uma mesma pessoa existem duas realidades que, apesar de não a dividirem, fazem diferença na sua vida: a pessoa espiritual e a pessoa corporal. E isso não quer dizer uma separação entre corpo e alma, mas sim precisamente: A PESSOA DIANTE DE DEUS E A PESSOA DIANTE DO MUNDO E DE SI MESMA. E é justamente a pessoa diante de Deus – coram Deo em latim – que vai definir como esta pessoa se encontra diante do mundo, dos outros e de si mesma. Ora, o contexto de Lutero era marcado por uma Igreja Romana avarenta, que pensava e vivia mais diante do mundo do que diante de Deus.
Por isso, as suas ações quase nada tinham nada a ver com a pregação do Evangelho, mas muito mais em arrecadar fundos que dessem mais dinheiro e, assim, mais poder ao clero da época. Para conseguir seu objetivo, usavam o medo do purgatório como método pedagógico e a morte na fogueira como punição. De repente, um monge lá do interior da Alemanha ousa dizer o seguinte, depois de ler criteriosamente as escrituras: • O cristão é SENHOR sobre tudo e não deve se sujeitar a ninguém – pela FÉ. • O cristão é SERVO de todos e a tudo deve se sujeitar – pelo AMOR. Imaginem vocês como foi bombástica essa expressão dentro de uma
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Igreja medieval que pregava que os cristãos deveriam pagar por cadeiras no céu; deveriam pagar para fazer peregrinações; pagar para ver as relíquias dos santos e dos apóstolos; pagar para receber os sacramentos! Uma Igreja que pregava que era através daquilo que o cristão fizesse para a igreja que ele seria ou não salvo. Se ele não fizesse o que a Igreja dizia ele iria para o purgatório ou para o inferno. E Lutero ousou dizer: • Quem não tem fé, mesmo tendo tudo em relação ao mundo, não tem nada. • Quem tem fé, mesmo não tendo nada em relação ao mundo, tem tudo. Não vale: se eu orar mais e de um jeito determinado, Deus vai me amar mais; se eu for à Igreja várias vezes, Ele vai me aceitar; se eu der muito dinheiro para a igreja, eu serei parte do seu povo; se eu fizer isto ou aquilo, eu serei aceito! Não há esse “SE” em relação a Deus! Diante de Deus, não há barganha, não há comércio! Até pode haver, e há em relação ao mundo e às pessoas. Pois nós fazemos as coisas e, mesmo quando não exigimos, esperamos, sim, algo em troca. Sejamos sinceros: as relações humanas são determinadas por contratos e interesses, na sua grande maioria, materiais e econômicos. Amamos, mas só se a outra pessoa nos amar; ajudamos, mas só se os outros também nos ajudarem; fazemos um favor, mas esperamos outro em troca e assim por diante. Contra
esse tipo de expectativa Lutero ousou afirmar, após ler o verdadeiro Evangelho de Jesus Cristo: Com Deus, isso não funciona! É somente pela fé que a pessoa é livre. Pois houve a troca maravilhosa: Cristo assumiu os meus pecados e me deu a sua santidade. E isto me dá a liberdade. E esta liberdade transforma a pessoa, realizando a obra de Deus nela. A partir de então sua relação com o mundo, com os outros e consigo mesma passa por uma “metanoia” (mudança, transformação que leva uma vida toda!), e tudo é visto pelos olhos de Deus, tudo mesmo: alegrias, sofrimentos, até mesmo as coisas que a pessoa não entende. Ela não precisa mais garantir nada, tudo já está garantido pela fé em Cristo. Assim, diante do mundo eu sou livre para trabalhar e cuidar da natureza; diante do próximo eu sou devedor por amor, pois recebi de Deus o dom de amar e por isso eu vou amá-lo e ajudá-lo no que for preciso; diante de mim mesmo, não preciso mais provar que sou bom, merecedor, pois Deus me mostrou o pecado e a minha vontade que nem sempre quer o bem para o mundo, para com os outros e para comigo mesmo. Por isso tenho humildade para me agarrar a Cristo que me livrou do mundo, dos outros e de mim mesmo, fazendo com que a tentação de sempre provar que eu sou merecedor perecesse com o velho homem afogado no Batismo. O pecado é muito maior do que nós imaginávamos, pois ele tem relação comigo, com os ou-
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tros, com a natureza e com Deus. Mas a graça também superabundou. Não consigo me salvar sozinho. Preciso de Deus, preciso dos outros, de mim mesmo, da natureza. Se algo nessas relações não vai bem, não haverá salvação! Por que será que esta liberdade é tão difícil de ser entendida, quanto mais vivida? Por que os membros da Igreja da época de Lutero lutavam por reconhecimento, por poder? Por que tinham o prazer em ver os outros caírem, aos quais na verdade deviam amor, e ainda ficavam contentes com a sua desgraça? Por que tinham este tipo de atitude, justamente dentro da igreja? Qualquer semelhança com a igreja de hoje é mera coincidência! Para ser mais exato: essas perguntas servem para a gente aqui e agora também! Portanto, a liberdade para a qual Cristo nos libertou é interpretada por Lutero da seguinte forma: Liberdade do pecado: as obras ou qualquer barganha não salvam. Cristo salva! Liberdade verdadeira gera uma servidão: quem é liberto do pecado é servo do bem e do amor! Essa é a inevitável consequência da liberdade cristã! Mas este ser servo por amor é um prazer. Quem ama verdadeiramente sente e sabe isso. Não há necessidade de explicação! Liberdade das estruturas: sejam elas da igreja ou da sociedade. Não são elas que determinam salvação
ou perdição. Deus é Senhor do mundo. Não são elas que salvam, mas o Deus que desceu aos pecadores em Jesus. A cada vez que as estruturas (Igreja ou Sociedade) se rebelarem contra Deus, querendo tomar o Seu lugar, REFORMA nelas! Pois elas devem servir ao ser humano para que ele possa servir aos demais. Elas devem se prostrar perante a Palavra e a Ela responder. Fiquemos, pois, com Deus e com os seres humanos em suas cruzes e alegrias e digamos um estrondoso NÃO às estruturas que nos escravizam! E é aqui que começa o nosso problema. A gente achou que era fácil! Mas não é! O nosso problema é algo bem prático. Envolve decisão, tanto tua como minha: Liberdade Cristã traz em si consequências bem concretas: Oração e ação! Estamos dispostos a encará-las de verdade? O autor é pastor da IECLB, assistente teológico do Sínodo Norte Catarinense e atua no pastorado escolar em Joinville/SC Observação do Editor: O texto acima foi editado como Folheto Evangelístico e faz parte da Série “Fundamentos da Teologia Luterana”. Ele pode ser solicitado pelo E-mail: folhetos@centrode literatura-ieclb.com.br.
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Um ganso para a ceia de Natal. Um acontecimento real Num certo bairro de Viena viviam duas senhoras, Agathe e Emma. Naquele tempo era difícil conseguir uma ave para o assado da ceia festiva do Natal. Mas, para uma das duas senhoras ofereceu-se a oportunidade de – em troca de roupas usadas – conseguir um ganso magro, mas vivo e bem saudável.
estavam dispostas a repartir com alguém o ganso que engordavam para o assado de Natal. Até o dia 24 de dezembro elas não receberam mais visitas em sua casa.
As duas senhoras imediatamente começaram a alimentar e cuidar do ganso. Emma e Agate viviam no segundo andar de uma casa de aluguel. E ninguém dos condôminos ficou sabendo que as duas senhoras estavam acostumando mal e criando a sua “penosa” dentro de casa. Pois existiam invejosos... Além disso, elas não
– Você tem que matá-lo! – disse Agathe, pegou uma bolsa de compras e saiu rápido de casa.
Na véspera do Natal o ganso passeava despreocupado e orgulhoso pela cozinha. Nenhuma das duas senhoras estava disposta a matar o animal.
O que Emma poderia fazer? Chamar alguém para lhe matar o ganso? Não! Porque neste caso teriam de repartir o assado festivo com alguém. Não havia outro jeito. Emma foi às
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“vias de fato”, enquanto soluçava de cortar o coração! Após algum tempo Agathe voltou com suas compras. O ganso estava deitado sobre a mesa da cozinha, e seu longo pescoço balançava tristemente da beira da mesa. Mas não se via sangue em lugar nenhum. Enquanto isso as duas mulheres caíram uma nos braços da outra e desataram num choro desesperado. Depois de alguns minutos Agate perguntou: – Como é que você fez isto? Emma gaguejou: - Com, com... Veronal. Eu lhe dei um dos teus comprimidos para dormir. Agora ele está morto. Mas você tem de depená-lo, Agathe! Agathe tomou coragem, e começou a depenar a ave, ainda quente. Ela foi arrancando pena após pena e ia colocando-as numa sacola de papel que Emma segurava, enquanto grossas
lágrimas lhe corriam pelas faces. Tirar-lhe as vísceras Agate não conseguiu mais! E já era bem tarde. Na manhã de Natal Agate e Emma foram despertadas de repente. Num salto elas estavam sentadas na cama. Com olhos arregalados olhavam para a porta da cozinha que havia ficado entreaberta: Por ela foi entrando o ganso depenado, grasnando suavemente e tremendo de frio... É a pura verdade. No dia de Natal eu visitei as duas senhoras. E na sala veio a meu encontro uma ave, grasnando alegremente, que eu só reconheci como sendo um ganso pela forma de sua cabeça. O bicho estava enfiado num pulôver de lã, que as duas senhoras haviam tricotado às pressas! O ganso ainda viveu mais sete anos, até morrer de morte natural. De um assado de ganso para o Natal as duas senhoras não quiseram mais nem ouvir falar! Autor desconhecido, extraído de BRASIL-POST conforme Familien Kalender 2002, pág 120 . Tradução: P. Dr. Osmar Zizemer
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O dia da Mulher P. em. Mozart Noronha
Dia gerado na luta Por maior dignidade, Mulher sinal de labuta Por direito à igualdade.
Reivindicavam nos pleitos: Menos horas de trabalho, Tarefas bem mais salubres E no inverno agasalhos.
Era o século dezenove, Lá nos Estados Unidos, Onde esse episódio ocorre Numa fábrica de tecidos.
E também nos pagamentos Melhor remuneração, Mas tiveram como aumento Uma pior repressão.
Eram mulheres valentes Lutando por seus direitos, Por salários condizentes, Por garantia e respeito.
Foi endurecido o jogo: Cento e trinta faleceram E os que mandam atear fogo, Entre as sombras se esconderam.
Lado a lado com os maridos Todas elas exploradas, Na obra os mesmos perigos, No bolso um menor salário.
Mil novecentos e dez, No Reino da Dinamarca Mulheres tiveram vez, De registrar sua marca.
Vítimas de insalubridade, Gerando muita riqueza, Enriquecendo a cidade E vivendo na pobreza.
Tornaram em memorial, Dia internacional Em homenagem à mulher. P. em. Mozart Noronha Em: O cordel pede passagem, São Leopoldo – OIKOS, 2015, páginas 82-83
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Katharina von Bora Profa. Pa. Dra. Claudete Beise Ulrich
Uma mulher ousada e empoderada: Sua importância para a reforma protestante
fez os seus votos como freira. Assumiu viver em castidade, em pobreza e em obediência. Ela viveu cerca de 13 a 14 anos neste convento.
Catharina von Bora nasceu no dia 29 de janeiro de 1499, como filha de um casal nobre empobrecido, na pequena aldeia de Lippendorf, na região da Saxônia. A mãe de Catharina faleceu quando ela era ainda pequena. O seu pai casou-se novamente. Catharina foi, então, levada pelo pai, com apenas seis anos, para o convento beneditino em Brehna, para que ali recebesse uma boa educação.
Um acontecimento que mudou a vida de Catharina, e também de outras mulheres que viviam nos conventos, foi a leitura dos textos de Martim Lutero. Marcou, sobretudo que a justificação é por graça e fé, não mais sendo necessárias as obras e os sacrifícios para alcançar a salvação. Inspiradas pelas ideias reformatórias de que a salvação, portanto, também podia ser obtida fora do
Este convento, possivelmente, tornou-se muito caro para o pai. Pois aos seus dez anos de idade, em 1509, transferiu Catharina para o convento da ordem Sistersinianas Trono de Maria, em Nimbschen. Neste mesmo período, havia sido eleita a madre superiora deste convento, uma parenta por parte da mãe de Catharina. Além disso, uma tia de Catharina, Magdalena von Bora, vivia neste convento há muitos anos. Provavelmente, estas relações de parentesco também tiveram influência na decisão do pai na escolha deste convento. No convento em Nimbschen, Catharina aprendeu a ler, a escrever, um pouco de latim (a língua acadêmica deste período histórico), a decorar salmos e recitá-los, a fazer trabalhos manuais e adquiriu conhecimentos na área administrativa e no uso de ervas medicinais. Em 1515 Catharina ••• 52 •••
convento, doze freiras fugiram do convento de Nimbschen, numa sexta-feira santa, dia 05 de abril de 1523. Um comerciante de Torgau, Leonard Koppe, escondeu as doze freiras entre os barris de peixes e assim as levou para fora do mosteiro. Passando pela cidade de Grimma, as levou até Torgau, a qual ficava cerca de 50 km de Nimbschen. Em Torgau foram bem recebidas pela população da cidade. Das doze exfreiras, três voltaram para as casas de suas famílias e nove seguiram viagem para Wittenberg, a cerca de 50 km de Torgau, onde foram acolhidas pelos reformadores, entre eles Martim Lutero e Filipe Melanchthon. Estes procuraram por famílias que pudessem acolher as moças, agora libertas do cativeiro do convento. Depois de algum tempo, as ex-freiras casaram-se e tiveram filhos e filhas. Catharina von Bora foi encaminhada para casa do grande pintor e farmacêutico Lucas Cranach e sua esposa Barbara Cranach. Ela trabalhou e viveu junto com os Cranach, por dois anos, tornando-se uma grande amiga de Barbara Cranach. Provavelmente, aprendeu muito com esta família nobre da cidade de Wittenberg. É interessante perceber que, inclusive, o quadro que conhecemos de Catharina foi pintado por Lucas Cranach. O primeiro amor de Katharina foi Hieronymus Baumgärtner, ex-estudante da Universidade de Wittenberg.
Ele era filho de uma família nobre da cidade de Nürnberg. No entanto, os pais de Hieronymus não consentiram que seu filho casasse com uma freira foragida. Casar com uma ex-freira era considerado algo muito negativo e além do mais poderia significar também a pena de morte. O movimento da Reforma estava em processo e nem todos os lugares já haviam aderido à nova fé. Muitas cidades e reinos permaneciam muito fiéis a Roma. O reformador Martim Lutero sentiuse responsável pelas freiras fugidas. Ele procurou também um esposo para Catharina: o pastor e professor Kaspar Glatz. Catharina, categoricamente, respondeu a Lutero que não se casaria com o professor Kaspar, mas sim, estava disposta a ser casar com ele. Lutero aceitou o pedido de Catharina. No dia 13 de junho de 1525, Catharina e Lutero se casaram, numa terça-feira, dia reservado para os casamentos. Estiveram presentes: o casal Lucas e Barbara Cranach, o pastor da igreja da cidade Justus Jonas, o jurista Johann Apel e Johannes Bugenhagen, que oficializou a cerimônia, sendo ele pastor de Wittenberg. Após o casamento, o casal mudou-se para o antigo convento dos monges agostinianos, o Schwarzes Kloster (convento negro). Catharina von Bora deu à luz a seis crianças: João (1526), Elizabeth (1527), Magdalena (1528), Martin (1531), Paul (1533) e Margarete (1534). Um grande sofrimento para
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o casal foi o falecimento prematuro das filhas Elisabeth e Magdalena. Elizabeth faleceu ainda bebê e Magdalena aos 12 anos de idade. O casal viveu no Schwarzes Kloster durante 20 anos com filhos, filhas, familiares, estudantes, convidados, visitas, pessoas foragidas e também pessoas que trabalhavam com a família. Catharina foi uma mulher empoderada e ousada do seu tempo. Pode-se perceber isto também através das cartas do esposo Martim Lutero dirigidas a ela. Nelas Lutero se refere à Catharina, como: Minha querida Käthe, Minha simpática, querida Käthe Luther, fazedora de cerveja, juíza no mercado de porcos, Minha simpática querido senhor Catharina Luther (mesmo com uma linguagem não inclusiva, Lutero coloca Catharina em igualdade com os homens), Doutora, pregadora de Wittenberg, Doutora Luther, Minha querida dona-de-casa Catharina Luther, Doutora, Mercadora de porcos de Wittenberg, Minha graciosa senhora, em mãos e pés, Santa mulher preocupada, Senhor Catharina Luther, Doutora, mulher de Zülsdorf, de Wittenberg, Minha estrela da manhã de Wittenberg, Minha graciosa, querida dona-de-casa, A luterana! Portanto, é possível perceber que Catharina rompeu com muitas fronteiras do seu tempo. Enumero alguns destes rompimentos: 1) um dos seus primeiros atos foi um ato de rebeldia. Ela fugiu do convento, en-
frentou todos os perigos que isto significou inclusive a morte. Com isto assumiu que a salvação pode ser vivida fora dos muros do convento. A salvação é por graça é fé. Princípio fundamental da reforma luterana; 2) escolheu com quem queria casar e casou-se com o reformador Martim Lutero; 3) participou das conversas à mesa e discussões teológicas com estudantes e reformadores. Lutero a chamou de doutora; 4) rompeu com o mundo privado. Ela foi chamada pelo esposo de juíza, mercadora no mercado de porcos. Isto significa que ela é que estava negociando no mercado. O mercado era parte do mundo público, onde quem negociava eram os homens; 5) além do mais, Catharina é considerada a primeira administradora, empreendedora rural, pois ser Hausfrau (dona de casa) tinha outro significado daquele que conhecemos hoje. Dona de casa aqui significa ser a administradora de todos os bens da família Luther, inclusive da produção intelectual do esposo, pois era ela quem negociava com os editores dos escritos de Lutero. O Schwarzes Kloster abrigava estudantes de várias regiões da Europa, sendo uma espécie de pensionato. Além do mais, a família Luther recebia muitos hóspedes internacionais que vinham discutir questões relativas à teologia e ao movimento da Reforma que estava em curso. Catharina contribuiu de forma efetiva para a prosperidade da família Luther. Ela comprou terras em
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Züllsdorf, coordenava uma fábrica de cerveja e alugou um açude para a criação de peixes. Com seus conhecimentos medicinais, cuidou da saúde de Lutero, que sofria de dores renais. Além da sua capacidade administrativa, Catharina foi uma grande parceira do seu esposo e reformador Lutero. Provavelmente, participou de muitas discussões e conversas teológicas que aconteceram ao redor da mesa em sua casa com estudantes e reformadores (Tischreden). Numa conversa à mesa, Lutero disse: “(...) Ela me foi dada por Deus, assim como eu fui dado a ela”. Lutero faleceu no dia 18 de fevereiro de 1546 e ele a tinha colocado como sua única herdeira e responsável pelas crianças em seu testamento. No entanto, este desejo de Lutero não condizia com as leis da época. Pois uma viúva necessitava de um tutor. O testamento de Lutero foi contestado e assim Catharina perdeu o direito sobre muitos dos bens da família. Uma grande peste se abateu sobre a cidade de Wittenberg e, em 1552 Catharina von Bora retirou-se com sua filha Margarete para a cidade de Torgau. Em viagem em direção à Torgau, ela sofreu um acidente, em consequência do qual veio falecer em 20 de dezembro de 1552, sendo sepultada na Igreja de Maria, em Torgau. Catharina von Bora foi uma mulher empoderada, forte, corajosa, ousada
da Reforma Luterana. Ela rompeu com os padrões femininos da sua época, quebrando paradigmas. Este jeito atuante de ser mulher luterana ficou esquecido, silenciado e tornado invisível na história da igreja e da humanidade. A Reforma não teria acontecido sem a presença, testemunho e participação ativa das mulheres. Necessitamos revisitar a história, com novos olhares e novas perguntas, descobrindo novas perspectivas para a participação plena das mulheres na liderança da Igreja e da sociedade. Somos Igreja sempre em Reforma. Portanto, necessitamos empoderar as mulheres para que elas possam desenvolver capacidades, competências e habilidades em todas as áreas do conhecimento humano. As mulheres podem e devem estar à frente de todas as atividades humanas, inclusive, na liderança das comunidades luteranas. A partir de nossa atuação que busca a igualdade e o respeito mútuo, poderemos testemunhar publicamente que em Cristo não há diferença entre homens e mulheres. Que Catharina von Bora seja uma inspiração para uma Igreja em constante processo reformatório. A autora é Pastora Ordenada da IECLB e atualmente leciona teologia na Faculdade Unida em Vitória/ES Para aprofundar: DALFERTH, Heloisa Gralow. Katharina von Bora: Uma biografia. Blumenau: Otto Kuhr, 2014.
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A Bela Adormecida Elfriede Rakko Ehlert
Era uma vez, em tempos antigos, um rei e uma rainha que queriam muito ter uma filha – e nada. Um dia um sapo falou com a rainha, prometendo-lhe uma filha. E assim aconteceu. Nasceu-lhes uma linda menina. Fora de si de tanta alegria, o rei fez uma grande festa, convidando também mulheres sábias que havia em seu reino. Em si eram 13 as mulheres sábias, mas como havia só 12 pratos de ouro, uma ficou de fora. As sábias presentearam a criança com dádivas milagrosas. Onze delas já haviam falado, quando entrou a “treze”. Esta, cheia de ódio, prometeu que a criança morreria ao completar 15 anos, ferindo-se com um fuso (instrumento de fazer fios). Falou, e foi embora. Então a “doze”, com o desejo de amenizar a maldição, substituiu esta maldição por um sono de 100 anos. Como evitar a desgraça da maldição que pairava sobre a filha amada? O rei mandou queimar todos os fusos em seu reino. Foram-se cumprindo todas as promessas feitas a respeito da menina. Mas um dia, quando os pais estavam ausentes, a menina, curiosa, resolveu explorar o castelo. E assim também descobriu uma torre. Nela morava uma velha que vivia a fiar com um fuso. E esta, a pedido da jovem princesa, tão ansiosa por descobrir o des-
conhecido, entregou-lhe o fuso. Claro, que ela se feriu com o fuso e a maldição pegou. No mesmo instante caiu sobre uma cama, e ali adormeceu. Mas não só ela adormeceu. Qualquer movimento no castelo cessou. As pessoas, os cachorros, as moscas, tudo parado. Mais nenhum vento. Até o fogo se apagou. O chefe de cozinha ensaiou um tabefe no aprendiz: ficou com a mão estendida, no meio do caminho. Caiu e adormeceu também. Então ao redor do castelo cresceu um enorme espinheiro, escondendo tudo. Ficou esquecido. Mas espalhou-se, naquela região, uma história de que atrás do mato espinhento haveria um castelo com uma bela princesa, adormecida. Muitos jovens príncipes desafiados pela história tentaram penetrar com seu cavalo através daquele espinheiro. Mas não conseguiam. Presos nos espinhos encontravam a morte dolorida e triste. Passaram-se muitos e muitos anos. E um dia um belo príncipe, chegando a estas bandas, ouviu um velho contando a história que já o avô dele havia narrado: Atrás do mato espinhento de roseiras haveria um castelo com uma bela princesa que dormia, já fazia muitos e muitos anos. Ele também não se esqueceu de mencionar o destino dos infelizes
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jovens que, tentando penetrar através do mato de espinhos, haviam fracassado, sofrendo triste fim.
do príncipe foi celebrado em grande pompa. E viveram felizes por toda vida.
O jovem príncipe, cheio de coragem e orgulho disse:
E nós com este conto de fadas?
– Eu não conheço medo. Vou enfrentar tudo, pois quero ver a bela adormecida! E assim desprezou as insistentes advertências do velho e foi em frente. Aconteceu que nesta justa hora os fatídicos cem anos haviam terminado. Quando o jovem príncipe se aproximou do espinheiro, ali se abriu um lindo jardim de flores, cercando um castelo. Entrando no castelo, encontrou todo mundo em profundo sono, inclusive a corte real. Tudo num completo e estranho silêncio. Indo adiante, chegou finalmente àquela torre, onde estava a princesa adormecida. Ela era tão bela, que o príncipe não conseguia tirar os olhos dela. Ele inclinou-se sobre ela e deulhe um beijo. No mesmo instante a princesa abriu os olhos, e, acordada, o mirou com simpatia. Passado o primeiro espanto, caíram na realidade. Resolveram descer para os cômodos do castelo, onde os outros estavam. Agora o silêncio acabara. Todos acordados, o rei e a rainha, e todos os demais. Foram recebidos com alegria e júbilo. O casamento da bela adormecida e
Criança muito desejada, esperada até com ansiedade, nem rei, nem outro ser humano, por poderoso que seja, pode exigir ou prover. Depois aquela festa! Uma euforia sem limites, uma alegria só! Todas desejam o melhor para a recém-nascida. Mas, às vezes, se esquecem de coisas mínimas que depois podem virar tragédia. Momentos de desatenção em relação a alertas dados (veja no conto os 15 anos). Alguém é esquecido ou preterido, gerando ódio e vingança. O fato de não ser incluído até hoje pode trazer mal estar e brigas na família, num grupo humano ou sociedade. A maldição, no conto, foi amenizada (morte substituída por sono). Ameaçados de perigos e morte, recebemos muitas novas chances, sem nosso mérito. O rei tomou medidas drásticas para proteger a filha, mas que se mostram ineficazes em caso de desatenção. Isto mostra como também hoje queremos (com razão) fazer de tudo para proteger nossos filhos a nós confiados de todos os perigos. Mas nós temos limites. Quinze anos – data muito festejada em nossa sociedade. Por quê? Aos quinze a criança realmente está en-
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trando numa nova fase da vida. Merece atenção. No conto a jovem princesa aproveita a ausência (e desatenção) dos pais para desvendar o desconhecido. Atreve-se a subir naquela torre. Tem coragem para novas conquistas. Até agora tão protegida, quer aventurar-se nos segredos. Assim os jovens de todos os tempos, entrando no mundo dos adultos, podem expor-se a perigos e se machucar. Mas ninguém pode evitar o destino. A princesa do conto cai no sono de cem anos e com ela gerações. Títulos como “Guerra dos Cem Anos” ou “Cem anos de solidão” (Gabriel Garcia Marques) nos vêm à mente.
No conto tudo para. Mas então também nada se produz. – E os espinheiros tomam conta. Qual é a nossa relação com o tempo que passa? Um sono? Ou uma aceleração tremenda? Neste tempo de não produção um jovem se atreve a penetrar nos espinheiros. Coragem e vontade de vencer o motivam. E quando vê a linda moça, não consegue resistir: beijo e casamento. Hoje às vezes já parece um ato de coragem “amarrar-se” (no casamento) diante de tantos que fracassam. Os contos de fadas pintam outro quadro. Só um sonho? Vamos descobrir como este sonho pode tornar-se realidade! A autora é professora aposentada e artista plástica, residente em Curitiba/PR
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Migração – fenômeno antigo e atual Prof. em. Arnildo L. Rockenbach
Migrar significa mudar periodicamente, ou passar de uma região para outra ou de um país para outro. Migração é essa mudança, essa passagem de um espaço para outro, por parte de pessoas, grupos ou, até, povos inteiros. Este texto se atém, basicamente, à passagem de uma região para outra, tendo como espaço municípios da região Noroeste do estado do RS, além de rápido histórico.
que outros no decorrer da história. Exemplo muito conhecido é o do povo Hebreu, cujas andanças são comentadas na Bíblia. Ali consta que um grupo de pessoas, lideradas por Abraão, teria partido da Caldéia, região baixa da Mesopotâmia, atual Iraque, e ter-se-ia estabelecido em terra distante. Dessa terra teria migrado para o Egito e dali, novamente, para a Palestina, à beira do mar Mediterrâneo.
A abordagem do tema é pertinente pelo fato de, atualmente, a atenção do mundo estar voltada para grandes ondas migratórias, envolvendo milhares de pessoas que deixam seus países ou como refugiados de guerras ou como retirantes em busca de condições de vida que estejam além da pobreza e da miséria a que estão submetidas por projetos desumanos de dominação e de exploração.
Também muito comentada na história é a migração de povos saídos de terras nórdicas que migraram para regiões da Europa, fato conhecido como a invasão dos bárbaros no império romano. Conhecida, ainda, é a migração de terras da Ásia, especialmente da Mongólia, para a atual Turquia.
O espaço em foco - municípios do noroeste do Rio Grande do Sul - também sofre as consequências de projetos similares em implantação no país e que atingem negativamente o minifúndio e a agricultura familiar da região. O fenômeno da migração de povos inteiros ou grupos populacionais no planeta é antigo e vem ocorrendo no decorrer da história da humanidade. Há exemplos de migração de grupos mais conhecidos e comentados do
Mais recentemente, após as grandes navegações e a “descoberta” do continente americano, muitas centenas de milhares de pessoas deixaram suas terras, na Europa e passaram a ocupar novos espações em terras americanas. Falando no Brasil, temos levas de migrantes saídos de Portugal para povoar as terras “descobertas” por Cabral. Essas levas de migrantes portugueses foram seguidas, especialmente no século XIX, por grupos de outros países da Europa. Muito conhecidas são as levas de alemães, italianos, russos e tantos outros, que vieram ao Rio Gran-
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de do Sul e outros estados. Tratouse de um programa oficial de ocupação do solo nos estados do sul do Brasil por um lado e por outro, como consequência da situação política e econômica precária e instável em que se encontravam as populações nos países europeus. Vindos ao sul do Brasil, esses grupos se organizaram em comunidades agrícolas, aglutinados em torno de igreja, escola, clube e cooperativa, basicamente. Estas entidades eram fruto de valores dos quais os imigrantes vinham imbuídos, fruto de longas tradições cultivadas nas terras de origem e que no espaço novo, desconhecido e agreste, constituíam força aglutinadora e propulsora do progresso. Os valores éticos e morais, representados pelo elemento religioso, encontravam guarida na fé e nas práticas cristãs, tanto católicas quanto protestantes. No Brasil Império a religião oficial era a religião Católica Apostólica Romana, cuja prática era a única permitida. Isto acarretou sérias dificuldades para os fiéis adeptos do protestantismo. Por muitos anos, até a proclamação da República, em 1889, essas comunidades preservaram sua fé e suas práticas cristãs quase que na clandestinidade. Com a liberdade religiosa instaurada com a implantação da República, as comunidades evangélicas também puderam se estabelecer e organizar-se livremente. Floresceram principalmente entre as populações imigrantes de origem germânica.
Uma grande onda migratória, no Rio Grande do Sul, ocorreu em fins do século XIX e, principalmente, início do século XX. Esta ocorreu, partindo das regiões ocupadas inicialmente (as chamadas colônias velhas) para as regiões da mata, situadas a noroeste e norte do estado, na bacia do Rio Uruguai. A migração para essas regiões foi fomentada pelo Governo do Estado e por entidades de iniciativa privada. Entre estas chama atenção pela organização e pelo sucesso alcançado, a Associação denominada Volksverein, isto é, Associação União Popular. A entidade foi organizada sob a iniciativa e liderança do Padre Jesuíta Theodor Amstad, seus colegas Padres Max von Lassberg e João Rick e os Pastores Wilhelm e Theodor Hunsche, Emil Ganz das igrejas evangélicas. Esses sacerdotes católicos e pastores, diante das dificuldades econômicas, escassez de terras cultiváveis e falta de perspectivas para os agricultores jovens, filhos das numerosas famílias, auxiliaram os colonos a se organizarem para nova migração, desta vez, para as florestas do noroeste e norte do estado. Notória é a colonização liderada pelo Padre Max von Lassberg, católico e pelo engenheiro e agrimensor Carlos Culmey, protestante. Os dois líderes, de confissões religiosas diversas, acompanharam a ocupação das regiões de Serro Azul e Santo Cristo, no noroeste do Estado, seguindo depois para Santa Catarina, região de Itapiranga e para a Argentina, região de Porto
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Rico. Lassberg e Culmey tinham o cuidado para orientar a organização das comunidades, de modo que os adeptos de uma confissão religiosa se estabelecessem numa mesma localidade (linha, ou secção). Assim surgiram inúmeras comunidades tipicamente católicas e outras tipicamente evangélicas, cada uma com sua igreja, escola, clube e, geralmente, cooperativa, etc. Entre os pastores da IECLB que ajudaram na organização das comunidades nestas novas áreas de colonização podem-se citar o P. Arnold, o P. Hufnagel, o P. Egon Koch e o P. Emílio Westphal. Essas levas de migrantes, no afã de ocupar e cultivar as terras cobertas de florestas, só podiam contar com as forças e iniciativa próprias. Nenhum órgão governamental se fazia presente nem para crédito fundiário, nem para prestação de serviços essenciais, como educação, saúde, etc. Daí a importância dos valores do associativismo e do agir coletivo, fomentando a cooperação e a solidariedade, sob a inspiração da fé e das práticas religiosas. Os usos e costumes, a valorização das tradições dos antepassados eram outros tantos elementos culturais que mantinham os migrantes unidos em suas comunidades e proporcionavam condições morais, éticas, econômicas e artístico-culturais, para o desenvolvimento das comunidades do migrante e a constituição de nova sociedade. Uma nova onda de migração vem
ocorrendo nos últimos quinze ou vinte anos nas regiões do minifúndio agrícola no regime da agricultura familiar, do noroeste do estado do Rio Grande do Sul para regiões mais industrializadas. Lançando um olhar superficial sobre municípios desmembrados do antigo município de Santa Rosa, por exemplo, é possível constatar o fenômeno da migração em termos bem acentuados. Este fenômeno, juntamente com a redução da taxa de natalidade, faz com que na maioria dos municípios o crescimento populacional está estagnado ou vem diminuindo durante esse período. Um levantamento por amostragem indica uma queda em torno de 4% entre os anos 2.000 e 2015. Em termos do número de jovens a redução é mais acentuada e em termos de crianças, maior ainda, com redução acima de 40%. O fato fez com que mais de 50% das escolas de Ensino Fundamental, no interior dos municípios, fossem desativadas durante este período. As poucas crianças que restam nas comunidades são transportadas para escolas nas sedes municipais. As comunidades estão esvaziadas, com pouca vida social. Propriamente não há comércio nem atividade industrial. Atividades de lazer e diversão, atividades esportivas, etc. são mínimas, praticamente inexistentes em muitas localidades. As igrejas continuam em termos de estrutura física e organização formal, mas com atividades mínimas e frequentadas por reduzido número
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de fieis filiadas, em sua maioria pessoas idosas. As terras, na sua maior parte, foram concentradas em mãos de poucos proprietários que a exploram com tecnologia e maquinário agrícolas. A produção se baseia no trinômio: soja, trigo e milho, acompanhado pela produção de leite e criação do gado leiteiro e, em menor escala, gado de corte, além do suíno, integrado com frigoríficos. Todos os migrantes correm sérios riscos quanto a ter sucesso ou fracassar na sua busca de melhores condições de vida. Necessitam, por isso, de orientação e acompanhamento. É necessário que mantenham, como uma árvore, enraizamento e abertu-
ra. Como a árvore se enraíza profundamente no solo para sugar a seiva vital, a pessoa que migra precisa voltar-se para suas raízes familiares e de ancestrais e buscar valores éticos, morais e culturais que embasam a vida humana com dignidade. Ao mesmo tempo o migrante necessita, como a árvore que cresce para o alto e se abre à luz e ao calor do sol e aos gases da atmosfera, abrir-se para o novo, para o desconhecido: para novas tecnologias, novos afazeres, novos relacionamentos, novas tradições, novos costumes, etc. Enraizamento e abertura com profunda fé, muita esperança e total confiança em Deus. O autor é mestre em Educação nas Ciências; professor aposentado de História da Educação na UNIJUÍ, residente em Santa Rosa/RS
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A contribuição de Lutero para a Teologia P. em. Dr. Walter Altmann
Um dramático momento histórico Em abril de 1521 houve um acontecimento dramático que deixou marcas profundas na história. Processado por heresia, Lutero teve que comparecer na chamada Dieta de Worms, assembleia imperial, presidida pelo Imperador Carlos V. A exigência feita a Lutero foi que ele se retratasse de todos os seus escritos e prometesse fidelidade à hierarquia da Igreja, em última instância ao Papa em Roma. Caso contrário, haveria de ser condenado, o que poderia significar a pena de morte. Corria risco de vida por sua teologia. Lutero recusou-se a se retratar. Por quê? Ele se propôs debater a questão teologicamente, à base da Escritura e que lhe fossem mostrados e demonstrados os erros de que era
acusado. Esse pedido dele não foi aceito. Ele deveria simplesmente se submeter à autoridade hierárquica da Igreja e se retratar. Pressionado, Lutero declarou que não podia se voltar contra sua consciência. A não ser que fosse convencido por argumentos baseados na Bíblia, não poderia se retratar. E implorou que Deus o ajudasse. Por ter-se negado à retratação, Lutero foi então condenado e a partir desse momento até o fim de sua vida poderia ser morto a qualquer momento, o que só não ocorreu, porque o Imperador manteve a palavra empenhada de salvo-conduto a Worms. Assim, Lutero pôde retornar ao território em que os sucessivos príncipes-eleitores o protegeram. A princípio teve que ficar
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confinado no Castelo de Wartburgo, para sua proteção. Mas a condenação era uma ameaça permanente. Por isso, até sua morte Lutero nunca pôde abandonar Wittenberg e o território correspondente. Simplesmente não podia arriscar-se a ir a outros territórios alemães. Não havia na época um país alemão unificado, mas muitos territórios e cidades alemãs separados, com autoridades diferentes. A importância fundamental da Bíblia Quando da Dieta de Worms já havia ocorrido três anos e meio antes, em 31 de outubro de 1517, por parte de Lutero a famosa afixação de suas 95 Teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg. Nelas Lutero combateu o comércio de indulgências e afirmou que toda a nossa vida deve ser de arrependimento e que Deus concede o perdão gratuitamente. As teses tiveram imediata e larga repercussão, e a data é considerada o Dia da Reforma. Assim, neste ano de 2017 comemoramos os 500 anos da Reforma. Lutero chegou a essa posição que desencadeou a Reforma, a partir do estudo da Bíblia. Em 1505 ele entrara no convento da ordem agostiniana na cidade de Erfurt. Além da formação espiritual como monge, teve também formação teológica e, aluno brilhante, em 1512 se tornou professor de Bíblia na Universidade de Wittenberg. Em determi-
nado momento, com o estudo da Bíblia ocorreu uma profunda transformação de sua própria vida. Em Romanos 1.17, o apóstolo Paulo afirma que “a justiça de Deus se revela no Evangelho”. Lutero a princípio se irrita enormemente com essa afirmação de Paulo, porque entendia que a justiça de Deus traria condenação a ele por seus pecados. E isso não podia ser evangelho, uma boa-nova. Mas, depois de muito refletir, dia e noite, como disse, Lutero se dá conta de que logo a seguir, o apóstolo Paulo afirma que “o justo viverá por fé”. Ou seja: o resultado da justiça de Deus não é condenação, mas vida. Isso, sim, é boa-nova, evangelho. Mais ainda: isso acontece através da fé. É algo por pura graça de Deus, acolhida na fé. Somente por graça; somente pela fé. A partir daí Lutero foi fazendo descoberta após descoberta na Bíblia. E ela foi, portanto, reconhecida, como a instância da Palavra de Deus que tudo decide e determina. Ela está acima de qualquer autoridade da Igreja. Todas as autoridades podem errar, e de fato erram. Ou seja: Lutero descobriu e sustentou por toda sua vida que a Bíblia, e somente ela, é Palavra de Deus suficientemente clara e completa para nosso conhecimento acerca da salvação. As dúvidas que temos e os conflitos que surgem devem ser resolvidos à base dela. Surgiu assim o princípio do “somente pela Escritura”. Assim, quando em Worms, Lutero demanda que lhe demonstrem os erros de que é
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acusado, com base na Escritura. Assim, também toda teologia deverá estar baseada na Escritura. O sacerdócio geral das pessoas que creem e a Bíblia Segundo Lutero, o conhecimento da Bíblia não deveria ficar restrito a especialistas, pastores e pastoras, teólogos e teólogas. Como a boa-nova da Bíblia diz respeito a todas as pessoas, sem distinção, todas elas devem ter acesso à Bíblia. Para que isso pudesse se tornar realidade, Lutero se empenhou em dois sentidos. Primeiramente, todas as pessoas deveriam saber ler. Na época quase toda a população era analfabeta. O estudo se dava nos conventos e nas famílias nobres que tinham recursos para pagar um professor particular a seus filhos. Lutero se empenhou, então, a que as autoridades instituíssem e mantivessem escolas em todas as cidades, onde meninos e também meninas, algo revolucionário na época, pudessem estudar. Também exortou os pais a que enviassem seus filhos e filhas às escolas. Assim, todas as pessoas poderiam também ler a Bíblia e ter um bom discernimento da Palavra de Deus. Ao longo da história, as igrejas luteranas sempre se empenharam a que houvesse uma escola ao lado da igreja. Em segundo lugar, para que isso fosse eficaz, era necessário ter a Bíblia disponível em língua alemã, e numa boa tradução. Na época, a igreja usava a chamada Vulgata, a Bíblia em
latim que o povo simples não podia entender. Por isso, Lutero, uma pessoa obviamente muito ocupada, se dedicou também à tradução da Bíblia para o alemão, o que começou em 1522 quando confinado no Castelo de Wartburgo e terminou com a publicação integral da Bíblia em alemão, em 1534. Ao traduzir a Bíblia, também se empenhou que fosse um alemão compreensível, fluente e como o povo fala. Colocou como princípio que, para traduzir bem, não basta conhecer as línguas originais, hebraico e grego, mas é preciso dar à atenção ao modo de falar da mulher com as crianças e das pessoas que se encontram na feira. Assim elas iriam entender bem a Bíblia e sua mensagem. Elas se tornariam, poderíamos dizer, pequenos, mas autênticos teólogos e teólogas. A Palavra de Deus deve ser pregada Mesmo valorizando dessa forma a Bíblia, Lutero jamais caiu numa forma de fundamentalismo ou literalismo na compreensão da Escritura. Legalismos não eram com ele. Fundamental era que a Palavra de Deus, com sua boa-nova, fosse proclamada e pregada, não meramente repetida. O decisivo é o que ele designou de “viva voz do Evangelho”. Com muita ênfase, Lutero pôde dizer que a Palavra de Deus precisava ser gritada aos quatro ventos, para que ela ressoasse pelo mundo inteiro e todas as pessoas pudessem ouvir e aceitar a boa-nova para suas vidas.
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Esta é, precisamente, a “viva voz do Evangelho”: uma pregação que anuncia o amor de Deus a nós, a salvação em Cristo, o chamado à fé, a exortação a boas obras. A arte de quem prega deve consistir em transmitir essa mensagem ao coração e à mente das pessoas. Existe a situação particular em que se encontra cada pessoa que participa do culto. A pregação estará baseada num texto bíblico. Será que a Palavra de Deus falará a essas pessoas reunidas? A seu coração? Em última instância dependerá do Espírito Santo, que, segunda a própria Escritura, sopra onde e quando quer. Mas também dependerá muito do conhecimento que quem prega tem da situação em que vivem as pessoas, a condição em que vivem, seus problemas e seus anseios, a realidade da comunidade, da cidade, do país e, mesmo, do mundo atual. No entanto, como podemos saber se a palavra proclamada é, de fato, Palavra de Deus? Pois a pregação também é empreendimento humano e como tal pode ser contaminado pelas falhas de quem prega. É, então, necessário em primeiro lugar que a pregação mantenha rigidamente a referência à Bíblia. Ela serve como norma, com a qual podemos sempre de novo medir se a pregação está transmitindo fielmente a palavra de Deus. Como instância máxima, ela é única. Para permanentemente tentar discernir se a pregação é condizente com a Escritura, também necessitamos a Teologia.
O papel das Confissões Também os livros da Bíblia foram redigidos por autores humanos, em determinada época e em situações específicas. Logo, ela precisa ser interpretada para outros tempos e situações. Como vimos, é o que quem prega se esforça por fazer em cada pregação. Em determinadas ocasiões da história a Igreja como um todo formula, normalmente de forma resumida, essa interpretação para seu tempo, muitas vezes em situações de controvérsia ou conflito. Trata-se, podemos dizer, de uma teologia coletiva. Surgem, então, as confissões que a igreja reconhece como interpretação autêntica. É o caso de confissões da Igreja Antiga. Dentre elas destaco o Credo Apostólico, que as comunidades confessam de viva voz nos cultos. As igrejas luteranas também formularam e adotaram algumas confissões próprias. Entre elas, também há escritos de Lutero, em especial o Catecismo Menor, muito presente no ensino confirmatório. As confissões passam a ser, então, uma norma secundária, mais importante do que qualquer pregação individual ou elaboração teológica atual, mas sempre inferior à Bíblia. Ainda assim, a teologia será importante como instrumento de verificação das confissões à luz da Escritura. A Importância da Teologia Passando a falar da teologia, ela é o esforço sistemático de atualizar a
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Palavra de Deus para os tempos de hoje. Ela também procura conferir se a pregação está de acordo com a Escritura. Ela faz isso em duas direções. Em uma delas, a teologia examina qual é a mensagem da Bíblia ou de um texto bíblico em particular. Não é simplesmente uma repetição do texto da Bíblia, pois a teologia tenta distinguir o que na Bíblia é invólucro humano da Palavra de Deus, o que é reflexo da época de então, mas hoje alterado. Nem todas as passagens da Bíblia são de igual valor. Lutero distinguiu muito entre diferentes escritos bíblicos e passagens diversas. É certo, não descartou nenhuma, mas reconheceu algumas como mais centrais do que outras. Muito importante, por exemplo, lhe foi a passagem de Romanos mencionada acima. Lutero também forneceu um critério para discernimento. Decisivo é “aquilo que promove Cristo” e sua obra de salvação. Todos os textos bíblicos devem ser interpretados a partir dessa chave de compreensão. Cada texto devia ser lido e compreendido a partir desse centro da Escritura. Na outra direção, a teologia tenta discernir as características de nosso tempo, nas mais diversas áreas, na cultura, na sociedade, na política. E aí tenta combinar as coisas. Devemos entender que os tempos mudam, o conhecimento humano aumenta para áreas desconhecidas nos tempos bíblicos, a ciência e a tecnologia avançam. Como preservar o espírito da mensagem bíblica, mesmo em tem-
pos e situações diferentes e, mesmo, novas? Veja-se o exemplo da guerra. Hoje uma guerra nuclear poderia destruir e aniquilar toda a humanidade, o mundo inteiro. No espírito da paz de Cristo, nosso compromisso com a paz mundial deve ser então muito mais intenso do que ocorria nos tempos bíblicos, em que uma guerra causava muita morte, mas não ameaçava a humanidade inteira. Conclusão Segundo Lutero fazer teologia é uma tarefa permanente. Ele disse certa vez que nunca teria entendido integralmente um único versículo da Escritura. Sempre haveria mais por descobrir. Também disse que ninguém poderia se arrogar ter compreendido todo o alcance da mensagem bíblica, a não ser que tivesse dirigido a vida da igreja por cem anos, junto com os profetas e os apóstolos. Isto é, toda nossa vida será insuficiente para darmos por encerrado o empreendimento teológico de transpor a mensagem bíblica para nossos dias. Ainda assim, podemos ser confiantes e ficar alegres. Pelo Espírito Santo, a própria Bíblia nos revelará sua mensagem divina. Por isso podemos e devemos perseverar na sua leitura e no seu estudo. Assim, Lutero colocou parâmetros para o fazer teológico e ainda nos serve de inspiração nesse fazer. O autor é Pastor e Professor de teologia emérito e ex Pastor Presidente da IECLB – reside em São Leopoldo/RS
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Lutero e a Reforma na visão atual da ICAR – Convergências e Divergências Frei Luiz Carlos Susin
Quem chega pela avenida central à pequena e bela cidade de Rolante/ RS, ao pé da serra gaúcha, se depara logo com duas torres bem alinhadas e tão parecidas que à primeira vista parecem ser de uma única igreja no centro da cidade. Mas não são. Chegando mais perto se verifica que são duas igrejas, a meia quadra uma da outra. A primeira é da comunidade luterana e logo adiante está a da comunidade católica. Hoje também as comunidades, e não só as torres, são mais parecidas: Há momentos partilhados de culto e de festa, de alegrias e tristezas, de palestras, casamentos e batizados, que acontecem em conjunto, alternando os espaços. São comunidades mais irmãs do que foram no passado por longo tempo. Isso é fruto de um bom caminho em que o ano de 2017 pode ser um passo a mais. Entre 1917 e 2017 abriuse um caminho ecumênico com passos importantes. E chegamos a este novo centenário de modo bem diferente do último. É bastante conhecido o caminho ecumênico das Igrejas que constituíram, em 1948, o Conselho Mundial de Igrejas. Para a Igreja Católica Romana (ICAR) isso foi uma provocação saudável, e teve seu marco ecumênico no Concílio Vaticano II (1962-1965). Desde então, a ICAR
criou um Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos e começou a participar da Comissão de Fé e Ordem do Conselho Mundial de Igrejas. Esta comissão trata de questões teológicas e doutrinais que dizem respeito à compreensão da fé cristã e suas expressões na busca de “convergência da fé”, ou seja, de concórdia. Um dos frutos desta caminhada, por exemplo, é o Documento de Lima, de 1982, com o tema “Batismo, Eucaristia e Ministérios”. Criaram-se também diálogos bilaterais entre as diversas Igrejas, sendo a comissão de diálogo entre a Federação Luterana Mundial e a ICAR uma das mais frutuosas. Basta lembrar aqui o documento de Augsburg, de 1999, a “Declaração conjunta sobre a Justificação”. É que a compreensão conjunta da Justificação por graça e fé, assim como a reta celebração do sacramento, com a consequente compreensão dos ministros do culto e do sacramento, são elementos essenciais na busca de uma compreensão comum. O que permitiu à ICAR uma abertura ao diálogo ecumênico que, através de níveis progressivos de consensos, ou ao menos de mútuo esclarecimento sobre o que ainda divergem, foi a compreensão da “hierarquia das verdades”. O Concílio Vaticano II, em
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1965, no documento “Reintegração da Unidade”, aceita a hierarquia das verdades. Não no sentido de que há doutrinas que são mais verdadeiras e outras que seriam “meias verdades”. Mas no sentido de que há verdades que são mais importantes, mais centrais, e mesmo absolutamente necessárias. E há verdades que são derivadas, de importância menos central, que dependem inclusive de interpretações culturais. Um bom exemplo é o que se professa no “Creio” (Credo): Ali está um eixo central e necessário que interpreta a Sagrada Escritura e resume a fé cristã, a profissão de fé para nos reconhecermos como cristãos. O que não está no Credo não tem a mesma importância. A compreensão da hierarquia nas verdades doutrinais permitiu tanto a busca do consenso naquilo que é mais importante, como também progresso no esclarecimento mútuo e respeito naquilo que é mais estranho a cada uma das tradições. Aprendemos, assim, a dialogar e a nos esclarecer. Por exemplo, sobre batismo, eucaristia e ministérios, conforme o Documento de Lima: há um consenso total na compreensão do sacramento fundamental da fé cristã, o batismo; há um consenso básico em torno da eucaristia, memória e presença de Cristo - embora na forma e nas consequências haja divergências que cada Confissão expôs em respeitoso diálogo; já sobre os ministérios, crescem as divergências de concepção teológica, embora também
nesses haja um acordo básico sobre as suas finalidades: a evangelização com a Palavra de Deus, a presidência do Culto, o governo e animação da Comunidade. Na Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação há um impressionante consenso e uma escuta e acolhida mútua das diferentes compreensões quanto a detalhes, de tal forma que se pode afirmar com alegria que a questão teológica fundamental, pedra principal de tropeço no caminho da comunhão das Igrejas, está retirada! Em 1999 não se celebrou suficientemente nem amplamente este consenso, e agora, em 2017, no aniversário das 95 teses de Lutero, temos uma boa ocasião para retomar. Neste ano temos um novo documento muito promissor, elaborado pela comissão luterano-católica romana para a comemoração conjunta da Reforma. Ambas as comunidades – luterana e católica - podem ler e aprofundar juntas, pois foi escrito para isso. Finalmente estamos juntos a contar e compreender a biografia de Martim Lutero, o drama histórico protagonizado por ele na busca de uma reforma da Igreja, sua luta contra os abusos da época, a dureza e a resistência das autoridades no contexto histórico da época de Lutero. Por um lado, é lamentável que tenham se passado 500 anos para esta compreensão. Mas por outro lado sabemos que a história não é feita de hipóteses – “ah se...” - mas é feita de fatos, às vezes tão duros, que só 500 anos de tantos desgastes e
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sofrimentos, injustiças e incompreensões, possibilitaram que agora, finalmente, concordemos nos diversos aspectos importantes e também dolorosos que envolveram a apaixonada busca de reforma da Igreja por parte de Lutero e alguns contemporâneos. Hoje compreendemos que a “reforma” é um princípio importante na identidade da Igreja de Cristo: para ser fiel a Cristo é necessária contínua “reforma”, a conversão às fontes e aos sinais dos novos tempos. Na ICAR o Concílio Vaticano II indicou claramente este princípio, e em 2017, por feliz coincidência, celebramos também 50 anos do começo das conversações bilaterais, que se deram a partir de 1967. Foi o papa Bento XVI, provindo da Baviera, famosa por sua imagem católica conservadora, quem fez o juízo sobre a disputa entre progressistas e conservadores a respeito do Concílio: É “reforma” da Igreja! Pois para que a Igreja seja continuamente fiel precisa de contínua reforma, e acontecimentos importantes são reformadores: volta às fontes do evangelho e abertura aos novos sinais de Deus nos tempos. Pois bem, é com este olhar de “reforma”, com
a preocupação de volta às fontes do evangelho e da Bíblia em geral, com a preocupação de corresponder aos sinais de Deus hoje que a ICAR tem condições de compreender melhor Lutero. As pesquisas históricas de ambas as partes ao longo do último século permitiram, de fato, uma leitura mais justa de Lutero também aos olhos dos católicos. Além do documento já citado, “Do conflito à comunhão”, podemos hoje ler boas biografias de Lutero e ler textos dele mesmo, suas meditações, poemas, etc. e reconhecer seu gênio religioso. O melhor reconhecimento de nossa parte é nos reunirmos em torno da fonte: ouvir a Palavra de Deus, orar juntos, e testemunhar juntos toda ação compassiva por justiça e paz ao nosso redor. A assinatura da Declaração Conjunta sobre a Justificação já significou, por parte da ICAR, a superação da excomunhão de Lutero. Mas isso não basta. É necessário caminharmos para a comunhão, abrindo-nos a uma hospitalidade eucarística e ao sonho da “intercomunhão”, não odiando, mas aprendendo de nossas diferenças. O autor é frade franciscano capuchinho, padre católico, doutor em teologia, professor na PUC e na Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana, em Porto Alegre/RS. É Secretário Geral do Fórum ecumênico de teologia que acompanha o Fórum Social Mundial
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Uma experiência com a noz pecã Ivo Boutin
Quando consultado se poderia escrever um artigo sobre a cultura da Noz Pecã para a edição do Anuário Evangélico, inicialmente fiquei pensando se seria a pessoa indicada, tendo em vista que não sou um expert no assunto. Sou, sim, um produtor rural que está engajado na área de fruticultura em Porto Amazonas-PR por mais de trinta anos. E neste longo tempo ganhei muita experiência pelos muitos erros e acertos que geralmente acontecem em qualquer ramo quando se inicia. A Pecã é uma árvore originária do sul
dos Estados Unidos. Mas é cultivada em muitos países como México, Brasil, África do Sul, Austrália, China e talvez em outros de que não tenho conhecimento. Tem-se conhecimento que a Pecã foi trazida ao Brasil por americanos no início do século passado. Mas a cultura não se desenvolveu por razões desconhecidas, possivelmente por falta de adaptação ao clima. Atualmente a pecã está sendo largamente cultivada no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no Paraná em menor escala. É uma árvore adaptada ao clima
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temperado, com invernos frios. Pois o frio exerce fator fundamental para a dormência da árvore e a derrubada das folhas. O tempo de dormência da planta é de suma importância; pois quando chegar a primavera a árvore desperta com brotação uniforme e boa floração. Estes são alguns aspectos preliminares. Mas de que maneira eu me envolvi no cultivo da Nogueira Pecã? Tudo aconteceu por um acaso. Tenho uma área rural com produção de frutíferas. E em certa ocasião ganhei de presente de um amigo algumas mudas de Pecã. Eu as plantei sem nenhum cuidado especial, e as plantas se desenvolveram até atingir mais de 20 metros de altura. Depois de mais de 12 a 15 anos, fiz as primeiras observações interessantes. Foi quando ocorreu a primeira frutificação muito pequena. Tudo era desconhecido para mim, mas pude sentir o potencial econômico da Pecã. Mas tudo estava para se fazer. E para desenvolver um projeto economicamente viável teria que buscar informações. Foi difícil, na época, encontrar literatura sobre o assunto. E as informações que desejava eram insuficientes, como, variedades produtivas e muitos dados técnicos sobre implantação do pomar na fase inicial para evitar ao máximo os erros. Mesmo sabendo das dificuldades e desafios, resolvi estabelecer um pomar de seis hectares com 600 árvores, e numa segunda fase, outros seis hectares,
totalizando 1.300 árvores. Com espaçamento de 10 metros por planta e aproximadamente 12 metros entre as linhas. Na fase inicial, o importante será conseguir mudas de boa qualidade e enxertadas para um bom começo e para iniciar a produção após 4 ou 5 anos. Nos primeiros anos as árvores produzem pequenas quantidades e vão aumentando com o passar do tempo. As primeiras árvores que recebi de presente não eram enxertadas e a frutificação só iniciou após 12 anos ou mais, quando as árvores já estavam bem desenvolvidas. São diversas as variedades da Noz Pecã. Mas as mais cultivadas e conhecidas são: Barton, Mahan, Moneymaker. Quando se implanta um pomar é de suma importância que pelo menos duas ou mais variedades estejam plantadas próximas umas das outras, para que a polinização das espécies venha a ocorrer para uma boa frutificação ou pegamento. Se assim não for, pode-se reduzir em muito a produção. O cruzamento do pólen ocorre por insetos e pelo próprio vento. Após a frutificação, quando as nozes estiverem com um desenvolvimento de 10 a 15 milímetros, é importante fazer pulverizações com tratamento químico contra fungos que causam a antracnose. Pois esta é uma doença fatal e compromete a produção. Deve-se repetir a pulveri-
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zação por mais duas ou três vezes durante todo o ciclo. A adubação química também é muito importante, com nitrogênio e potássio além de uma boa dose de fósforo. O calcário também é fundamental, para deixar o solo com ph 6 e absorção dos nutrientes, além de alguns micronutrientes como o Zinco e Boro que são elementos indispensáveis para uma boa formação dos frutos. A adubação orgânica é de grande importância porque melhora muito a textura do solo e a conservação da umidade. A maturação da Pecã ocorre em abril/maio. Uma árvore adulta e de grande porte, como constatei no Rio Grande do Sul, pode produzir em torno de 80 kg de nozes. Mas a produção média por hectare deve ser em torno de 1.800 kg. Para agilizar a colheita das nozes, dispõe-se de um equipamento mecânico, adaptável em trator que faz a árvore vibrar por alguns segundos, causando a queda dos frutos, todos ao mesmo tempo. Durante todos os anos de manejo do pomar encontrei muitas situações de dificuldade que surgiram como, por exemplo, conseguir plantas saudáveis e produtivas. No Brasil, em passado não muito distante não tínhamos muitas informações científicas sobre a matéria. Tive que recorrer a informações de outros produtores de Pecã. Procurei obter informações de fontes dos Estados Unidos. Mas de lá nunca obtive respostas. Mas
consegui um livro bem interessante da África do Sul. Eu, porém tinha vontade de ir adiante. Então localizei na Austrália uma Cooperativa de produtores de Pecã. E através dela consegui estabelecer contato com um produtor que muito me ajudou e obtive muitas informações interessantes, que, se já as tivesse tido quando do estabelecimento do meu pomar, teria evitado alguns erros básicos. - Quando a noz Pecã no meu pomar já atingira um bom grau de crescimento, mas ainda estava imatura, começou atrair bandos de papagaios e maitacas, que causavam enorme dano pela destruição dos frutos. Resolvi comentar este quadro para o meu contato da Austrália. Para minha surpresa ele disse que essa situação também ocorre com os produtores australianos, e que de início eles atiravam com armas de fogo para afugentar ou matar as aves. Mas o resultado era pequeno. Atualmente eles estão utilizando um drone que circula sobre a área do pomar emitindo um som de uma ave predadora; e isso trouxe bom resultado. Assim a tecnologia moderna encontra cada vez mais soluções para muitas situações. A comercialização da Pecã é relativamente fácil e tem uma enorme demanda tanto no mercado nacional como para exportação. A China absorve tudo o que se produz e é o principal mercado da Austrália. O preço em natura no mercado nacional gira em torno de 3 a 4 dólares por quilo
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para o produtor. Descascadas tem uma queda de 50% no peso, o preço, porém pode atingi 10 a 12 dólares por quilo. Mas podem-se desenvolver muitos outros subprodutos a partir da Pecã, o que agrega muito valor comercial. Há inúmeras utilizações e benefícios medicinais da Noz Pecã, além de seu valor nutricional. Aqui cito apenas alguns: 1 - Do total de gorduras encontradas na noz pecã, 87% são as famosas gorduras boas (mono e poliinsaturada). Elas auxiliam no equilíbrio de gorduras no sangue, protegendo o coração; 2 - É fonte de minerais, como o magnésio e o fósforo. Os dois são importantes para a saúde dos ossos e dentes. Já o zinco, também presente, é essencial para o sistema de defesa do corpo. 3 - Por ser rica em antioxidantes (entre eles o selênio), pode auxiliar na prevenção do envelhecimento precoce das células, além de fortalecer as defesas, prevenindo gripes e resfriados.
A árvore da Pecã adulta atinge 30 metros ou mais de altura e sua longevidade é de mais de 100 anos. A madeira é de grande valor comercial e o tronco atinge grande dimensão. Trata-se de uma madeira de coloração clara, leve e firme que não sofre rachaduras, ótima para fabricação de móveis. Nos Estados Unidos é largamente explorada comercialmente para os mais diversos fins e também utilizada para fabricação de coronhas de armas esportivas, pela durabilidade, resistência e uma aparência vistosa. Esta é a minha experiência de um par de anos com o cultivo da Pecã. Mas reconheço que ainda há muito a aprender e melhorar. Quem quiser implantar um pomar de Pecã, encontrará informações prévias importantes e necessárias no livro O CULTIVO DA NOGUEIRA PECÃ, de Diniz Fronza, Tales Poleto e Jonas Janer Hanemann, editado na Universidade Federal de Santa Maria/RS, Colégio Politécnico da UFSM, núcleo de fruticultura irrigada, em 2013. O autor é empresário, da Boutin Fruticultura, com sede em Porto Amazonas/PR
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A música como destino Elfriede Rakko Ehlert
Como é que nasce uma amizade duradoura? Às vezes é simples. As pessoas se encontram, descobrem que têm os mesmos interesses ou tendências e pronto! Eu encontrei a Inge assim (mais tarde conhecida como “Tante Inge”- a Ingeburg Burghard Hasenack), quando éramos alunas no Instituto PréTeológico (1952-53). Ela sabia tocar violão e cantava soprano; eu contralto. Daí começamos a fazer serenatas no “Spiegelberg” em São Leopoldo. Às vezes para mães de bebês recémnascidos ou simplesmente a pessoas que apreciavam isto. Naquela época eu ainda não podia imaginar as potencialidades musicais da Inge. Pesquisando um pouco mais agora, de onde poderia ter vin-
do este dom? Um parente era cantor em Bayreuth nas óperas de Wagner, de sobrenome Windgassen, o mesmo da mãe de Inge. Onde havia canto, lá estava Inge. Ela até conta que já assobiava, quando nenê. Foi presenteada com um violão e uma flauta. Claro que teve que experimentar estes instrumentos. Conta ela também, que na época da Segunda Guerra Mundial, e no pósguerra na Alemanha, ela queria, porque queria uma gaita. Aconteceu, então, que na aldeia onde ela morava com sua família apareceu um homem vagando, querendo trocar sua gaita por um quilo de manteiga, coisa que ninguém tinha em quantidade. Lá foi Inge, correndo de casa em casa, pedindo por uma colher do pre-
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cioso material. Conseguiu juntar o quilo, mas aí o homem já havia sumido. Alguém lhe indicou a direção que ele podia ter tomado. Correu, correu e ainda o alcançou. A troca foi feita. E Inge tinha mais um instrumento para aprender. Após seu casamento com o P. Johannes Hasenack foi preciso enfrentar a mudança para a longínqua Gleba Arinos no Mato Grosso. Ninguém mais segurou a Inge: Coral Infantil, Coral de Jovens e Adultos. Dizse que até os índios tinham que cantar. Todos cantaram com ela. De volta a São Leopoldo (aliás, um solo super-fértil para a música) a Inge descobriu a vocação de reger uma orquestra no Colégio Sinodal em instrumentos Orff. O conjunto “Sonoridad” ficou famoso não só no Brasil, mas no além-mar. Foi fundado em 1963 e não parou mais. Fizeram quatro excursões artísticas com inúmeras apresentações na Alemanha, por exemplo em Berlin, em Bayreuth, em Wittenberg e outras localidades. Quando a Tante Inge, agora já não mais tão nova, começa a falar em dores e doença, o remédio é tocar no nome Sonoridad. Daí seus olhos começam a brilhar e esquecidas são as dores. Como fiel companheiro, compreensivo e calmo o esposo “Hans” sempre incentivou a dedicação da Inge. É importante descobrir os dons em cada pessoa, desenvolvê-los e
vivenciá-los, seguindo o exemplo dela. O que meninas de dez anos costumam fazer, para preencher seu dia? Talvez ainda brincar com bonecas? Simulando o papel de mãe. Ou pular corda, ou, hoje em dia, mexer no tablet? Mas algumas décadas atrás havia uma menina especial. O pai dela, um pastor luterano, insistiu para que ela aprendesse a tocar harmônio. Então com seus dez anos iniciou o estudo deste instrumento. É sabido que aprender a tocar tal instrumento de teclado, exige muita concentração e esforço. Logo foi incumbida de acompanhar o canto na igreja. Os leitores e leitoras podem imaginar o nervoso que lhe deu e a tremedeira. Por sorte a sua querida mãezinha ficava ao seu lado para dar apoio e acalmá-la. Entrou para o grupo da Juventude Evangélica. Lá chamou a atenção de um moço que pretendia estudar teologia e tornar-se pastor. Será que agora o destino estava traçado? Por enquanto assumiu tarefas como professora, descobrindo e desenvolvendo a musicalidade de outros. Até os baixinhos do Culto Infantil já aprendiam a cantar a diversas vozes com ela. Chegou o dia de seu casamento, justamente com aquele moço da Juventude. Ele, estudante na Faculdade de
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Teologia, ela professora de Jardim de Infância. Claro, cultivando música.
que Pauline Roeder Siqueira é uma pessoa ainda nova.
Com o marido formado pastor, foram para as Comunidades. Que dúvida: Acompanhar o canto na Igreja. Em caso de necessidade, reger o coral. Mas não fizera curso para isso!
É muito legal também contar algo dela sob o mesmo título das presentes histórias.
Apareceu uma oportunidade quando o então Diretor de Música Sacra da IECLB, P. Frank Graf, organizou um curso de regência. Agora sim, podia ser regente. Um novo desafio: Tocar órgão. Pedalar no harmônio até que era fácil. Puxar corretamente os registros de um órgão era bem mais complicado. Lá foi ela a São Bento estudar órgão com o Prof. Schürle, aliás, construtor deste instrumento. E o que lhe causava frustração? Quando um coral desafinava ou errava numa apresentação. Desistir? Nem pensar! Vamos ensaiar mais, também adequando as músicas aos coralistas. Assim a Da. Inge Brunken foi de Comunidade em Comunidade, sempre disposta a colaborar. A música foi, pois, seu destino acompanhando-a a vida toda. Não é maravilhoso isto? Tomara que tais talentos continuem servindo em nossas Comunidades. “Gente estou grávida!” foi a comunicação da regente Pauline ao seu Coral Martin Luther. Os olhos brilhantes, tendo ao seu lado o feliz marido, Alysson. Daí já dá para deduzir
Já a bisavó dela se dedicava ao canto e o avô tocava acordeão e piano. Mas nunca exerceram qualquer pressão, incentivando-a a profissionalizar-se no campo da música. Os pais, sim, queriam aulas de música para a menina de sete anos. A rigorosa disciplina assustou um pouco, pois não era bem a praia dela. Mas com a mãe ao seu lado, incentivando-a, com um pouco de demora, descobriu o valor da disciplina. Aos doze anos ficou fascinada pelo canto através do Karaokê. Acertava tudo. Ganhava notas boas. Com o descobrimento de sua voz, foram achados caminhos para aperfeiçoá-la com aulas de canto no Mozart Som, depois aos seus dezessete anos no Conservatório de Música Popular. Por ocasião do vestibular estava claro na escolha quanto à área: Nada de ser professora. Tentou engenharia ambiental e, depois, geologia. Mas confirmou-se a sua vocação para a música, ingressando na Faculdade de Artes do Paraná (FAP). Fez vários cursos de regência, muito incentivada pelo maestro Martinho Lutero Kleemann, então regente do Coral Martin Luther, do qual veio a tornarse sucessora. O amor caiu para um entusiasta da
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música: Alysson Siqueira. O casal se empenha muito pelo Coral. Embora a jovem regente, agora na gravidez, não dê mais tantos pulinhos ao reger, não parou, nem desanimou nenhum pouco. Ela nota qualquer desafinação, mas com muito tato e paciência não se cansa de continuar. Seu entusiasmo e atitude positiva encantam e motivam. Hoje ela rege seis corais, inclusive de adolescentes
e de pessoas da terceira idade ou em empresas. Todos os interessados são um constante desafio, pois quem vem cantar, é aceito. O teste é só para definir em que naipe colocar: baixo, tenor, soprano ou contralto. Como é bom termos tantos talentos, também jovens, empenhados no cultivo da boa música, também na Igreja, que não mostram cansaço, mas muita dedicação e paciência. A autora é professora aposentada e artista plástica – entusiasta da boa música. Vive em Curitiba/PR
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Três “martelinhos” e uma nota de cem Jeremias Reising
O homem que entrou num bar na periferia da cidade não havia feito a barba e em geral também tinha um aspecto descuidado. Na cabeça tinha um chapéu velho, cuja cor original só se podia adivinhar. O casaco já tinha diversos remendos, e aquilo que ele trazia nos pés, só com muito boa vontade ainda podia ser chamado de “sapatos”. O desconhecido deu uma olhada ao seu redor, disse “bom dia” e sentouse numa mesa que estava livre. O dono do bar veio, com cara de poucos amigos, de detrás do balcão até à mesa. Lamentavelmente ele não tinha um motivo para mandar o “freguês” embora; mas era o que gostaria de fazer. Ele perguntou mal humorado: – Em que posso lhe servir? – Uma dose de cachaça, por favor. Mas da boa. – Já imaginava! – resmungou o dono do bar, e lhe trouxe a dose solicitada. O freguês tomou a dose numa só talagada, e passou o copo para o dono do bar, dizendo:
O freguês pouco apresentável colocou a mão no bolso de seu casaco e puxou uma nota de R$ 100,00 e a deu ao homem do bar. – Lamento não ter em menor! – disse o freguês. Hesitando o homem pegou a nota e disse: – Preciso ver se consigo trocar! – e sumiu na cozinha, de onde telefonou para a polícia. Em poucos minutos o guarda chegou. – O senhor pode se identificar, por favor?! – disse o guarda ao homem mal arrumado. – Naturalmente! – disse este e lhe apresentou sua Carteira de Identidade. O guarda verificou o RG e decidiu: – Ainda assim, o senhor tem de me acompanhar até à Delegacia. E a nota de R$ 100,00 também está apreendida. – Mas ela é autêntica! – Veremos!
– Mais uma da mesma!
Chegados à delegacia o guarda abriu o interrogatório:
Depois de ter tomado a segunda, e mais uma terceira dose, ele disse:
– Então, de onde é que o senhor tem tanto dinheiro?
– Quanto é?
O outro sorriu e disse:
– Oito e vinte e cinco! – disse o dono do bar.
– Do meu banco, claro!
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– O Senhor tem conta no banco? – O senhor guarda pode telefonar para o banco! Aqui está o número do telefone. Peça para falar com o chefe dos caixas, o senhor Joaquim Silva. Ele pode confirmar o que eu digo. Ele me conhece. O guarda achou isto uma boa ideia, e foi telefonar na sala ao lado. Quando voltou à sala do interrogatório, estava um pouco pálido. – O Senhor – o senhor pode ir! – disse ele meio sem jeito. O Senhor está liberado! E eu lhe peço sinceras desculpas, senhor Müller-Vargas! O chefe dos caixas confirmou que o senhor
é um dos melhores clientes do banco de nossa cidade! Eu estou destruído. Desculpe-me, por favor. Mas, diga-me: Por que o senhor vai, em tais trajes, a um barzinho de periferia, tomar três “martelinhos” e tenta pagar a conta com uma nota de R$ 100,00 reais? O advogado Müller-Vargas se levantou rindo, e explicou: – Para ganhar uma aposta! Meu cunhado é gerente do banco. E ele não quis acreditar, que eu poderia ser preso por causa de uma nota de R$ 100,00, sem que eu tivesse cometido algum delito! Familiankalender 2002, pág. 100101 - Trad. P. Dr. Osmar Zizemer
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A música como pregação – comunicação do Evangelho Dra. Soraya Heinrich Eberle
Deus é cheio de graça, benevolência e amor, dons que está disposto a conceder a seus filhos e suas filhas. Música nasce desse mesmo amor e graça, tendo como principal função o louvor e a proclamação doxológica – assim o compreendia Lutero. A palavra pregada e proclamada pelos profetas, no Antigo Testamento, continua sendo pregada de várias maneiras; sendo a música uma delas. A música possui em si um caráter comunicativo forte, justamente por ir além da palavra: tanto no potencial de expressão que possibilita à comunidade e a cada pessoa, como na capacidade de atingir o ser humano aonde as palavras não chegam. Ela constitui uma relevante forma de linguagem não verbal. Falar e cantar são indistintos para Lutero. Nos hinos, potencializamos a ação da Palavra, porque a aliamos à música. Dessa forma, ao cantarmos, como comunidade reunida, estamos proclamando a Palavra de Deus que está no hino ao mesmo tempo em que a ouvimos e recebemos. Para Lutero, a música é denominada de viva vox evangelii – a voz viva do evangelho. Assim sendo, o texto é fundamental. Mas a música a ele aliada o é da mesma forma. A relação entre música e teologia en-
contra-se justamente na Palavra, onde ambas se unem para proclamar os feitos de Deus a todo o mundo. O canto pode ser considerado a plenitude da Palavra. A música comunitária sempre se apresenta como canto (voz) e pressupõe a presença de um texto. O culto cristão tem na Palavra a sua centralidade: a própria revelação se apoia na palavra de Deus, e é a fonte de todas as ações de graças, louvor, súplicas. Todos os hinos são um eco da própria revelação de Deus. A importância da palavra no âmbito da fé não é assunto novo. O legado visível de Deus para seu povo é a Palavra escrita, e a própria revelação de Deus conosco acontece pela Palavra: o Verbo encarnado (logos). Lidar com palavras no culto, na prédica, na liturgia ou na música, sempre envolve Palavra de Deus e palavra-resposta humana. Para Souza, “o papel de quem prega a partir do texto bíblico é transformar tinta novamente em sangue”, entendendo que na Bíblia há vida (sangue) transformada em tinta. Por isso mesmo é que se reveste de especial importância o como se transmite essa mensagem, de forma a facilitar a comunicação.
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A música no culto precisa estar livre de interpretações particulares, pois está fundada sobre o logos. Não há espaço para aquilo que edifica somente a um indivíduo, embora cada pessoa possa ser tocada de forma diferenciada. Por isso, o uso da música para conduzir a Palavra necessita de zelo. E isso envolve conhecimento e coerência. Quais os aspectos a observar para a escolha e composição do repertório, a partir da perspectiva aqui exposta? Quando se usa o critério “beleza”, pensa-se em subjetividade, como se não fosse possível objetividade na avaliação de uma obra musical. No entanto, é possível estabelecer parâmetros objetivos para avaliação de uma obra artística. Uma boa composição faz convergirem texto, elementos musicais e Evangelho. O viver estético está ligado ao nosso cotidiano, mas também é um exercício de esperança, a qual, por sua vez, se traduz em imaginação que leva à ação. Está ligada à percepção do momento histórico e ao refazer da história. Assim, a música precisa ser bela, porque contextualizada e porque portadora da esperança da transformação. Precisa ser (cri)ativa, música de qualidade, bem escrita. De que forma a melodia “carrega” o texto? As questões musicais ajudam a dizer e sublinham aquela palavra contida no texto, ou dificultam sua transmissão?
Podemos pensar aqui nos erros de prosódia (deslocamento das sílabas tônicas das palavras, quando não condizem com o tempo forte da música) tão comuns, que tantas vezes atrapalham a compreensão do texto. Questões musicais podem dificultar muito a transmissão da mensagem, se a música não “combina” com a temática, ou se seguem as simples fórmulas composicionais do mercado. Meio e conteúdo estão entrelaçados na música. A coerência entre ambos acontece naturalmente. Conforme Souza, na música, “o meio (o ritmo, a melodia) é seu próprio conteúdo. E a letra precisa estar de acordo com a melodia e demais elementos musicais. Boa música é naturalmente coerente. Como veículo de transmissão de uma mensagem, ela não se contradiz”. Do repertório que se vai utilizar no culto também se requer exatidão e clareza teológica. No tempo da Reforma, a memorização da música foi importante para a assimilação do conteúdo teológico. Por isso, era necessária clareza no texto, de forma que o povo pudesse entender e apreender. Citando novamente Souza: “Ao lado da prédica estava a música no movimento da Reforma. Há hinos que contam toda a história da salvação em Jesus Cristo, compostos num tempo em que as pessoas não tinham os textos bíblicos para ler e não guardavam tudo o que ouviam na pregação. A música foi usada para
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a transmissão de conteúdos teológicos importantes para o movimento reformatório. Lutero pregou com todos os meios que estavam à sua disposição”. A tendência contemporânea é uma unilateralidade das temáticas de louvor e adoração, e uma tendência à teologia da experiência, particular, privada. Sendo a música linguagem e viva voz do Evangelho, é necessário refletir também sobre as consequências da alteração radical da linguagem musical, para uma comunidade de fé, quando feita de forma abrupta. As consequências para a comunicação do evangelho seriam as mesmas de uma pregação em idioma estrangeiro. À semelhança dos símbolos, que precisam ser compreendidos por toda a comunidade a fim de justificar seu uso, também a linguagem musical o deve ser. Pois, do contrário, a comunicação não se estabelece e a função deixa de existir. Não é qualquer repertório que é adequado para o uso no culto. Pois a música sacra evangélica moderna emerge de uma mescla de tendências teológicas, onde nem sempre é possível perceber, num primeiro momento, quais as teologias escondidas. Por isso, não podemos abrir mão da possibilidade de análise e diálogo teológico dos textos, através dos quais a comunidade aprende e apreende uma determinada teologia, um determinado jeito de ser igreja.
A linguagem usada é extremamente importante. Nossos hinos tão queridos, e geralmente de uma riqueza teológica imensa, são um dos grandes tesouros evangélico-luteranos. Mas toda música acontece dentro de um contexto social. E em nossa época, torna-se mais complexa a tarefa de fazer-se entendido, em nossa forma de culto. G. Brakemeier salienta que o luteranismo exige grande conhecimento teológico das pessoas; e não somente dos ministros, mas da comunidade também. O que fazer? Correr o risco de perder a identidade musical, importando modelos de outras tradições, por vezes mais simplórios? O que há na nossa identidade que possa servir para a contemporaneidade? Há uma estética – ligada à palavra – que privilegia a audição. G. Brakemeier, ao se referir à Igreja da Palavra, diz: “Também a estética luterana passa tradicionalmente pelos ouvidos. O Luteranismo destacou-se na música sacra e no canto comunitário, que são, muito à sua maneira, portadores do evangelho”. Ou seja, música sacra tem algo para ser ouvido, que é o evangelho. Há uma teologia que pode se fazer audível. Precisamos é buscar caminhos para dizer e cantar esta mesma Teologia, numa linguagem entendível e adequada para a contemporaneidade. Música precisa conduzir para a liberdade, e não para a manipulação. Não é ético usar a música como meio de
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manipulação, humilhação, domínio sobre outras pessoas. Como voz do Evangelho, tanto a prédica quanto a música precisam ajudar as pessoas a caminhar e refletir a caminho da liberdade e da autonomia co-dependente. Nesse sentido, para que a música seja a proclamação da Palavra, há que ser profética para ser coerente. Ação e reflexão andam juntas no caminho para a liberdade, que é liberdade da ação massiva, mas também da ação individualista; daquela que nos torna indistintos dos outros, mas também daquela que nos enclausura em nós mesmos. E é
liberdade para conhecer, compreender e decidir. Para manter a coerência com os passos do Reformador, a música da Igreja precisa conhecer e dar a conhecer seu passado, e fazer-se entender no contexto atual. De tudo que há disponível, extrair o que ajuda na transmissão da teologia que prezamos. Porque a música precisa apontar para além de si, para além dos musicistas, para além da cultura: ela aponta para a glória de Deus. É ambicioso como fato, mas necessário como visão. A autora é Coordenadora de Música da IECLB
– HUMOR – O chefe de um grande escritório dá instruções a seu novo funcionário sobre a forma de proceder no seu local de trabalho: – Olha, quando eu necessitar de você não quero ter de chamá-lo. Basta eu lhe acenar com o dedo, que você deve vir até mim em questão de segundos. O novato responde: – Certo chefe! Eu também não sou amigo de muitas palavras. Quando eu sacudir a cabeça negativamente, eu não venho.
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A vida Mario Quintana
Quando se vê, já são seis horas! Quando se vê, já é sexta-feira... Quando se vê, já terminou o ano... Quando se vê, passaram-se 50 anos! Agora, é tarde demais para ser reprovado... Se me fosse dado, um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio. Seguiria sempre em frente e iria jogando, pelo caminho, a casca dourada e inútil das horas... Dessa forma eu digo: Não deixe de fazer algo que gosta devido à falta de tempo, a única falta que terá, será desse tempo que infelizmente não voltará mais.
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Um artífice diferente – madeira sua paixão Elfriede Rakko Ehlert e Heinz Ehlert
Nasce no meio da mata uma árvore. Leva centenas de anos para desenvolver-se aquela árvore frondosa, conquistando seu espaço, abrigando pássaros e muitos animais silvestres e fornecendo a eles e aos seres humanos o indispensável oxigênio. Descobriram-na como madeira nobre, própria para fabricar móveis. Fascina pelas suas veias e cores discretas. Aconteceu assim com WALTER ZWIENER. Natural de Cândido de Abreu/PR, filho de imigrantes alemães, veio aos quatro anos com os pais para Ponta Grossa e mais tarde a Curitiba/PR. Seu pai já trabalhava como artífice em madeira, mas não estava muito a fim de ensinar seu ofício ao filho, - como, por exemplo, fazer uma canoa - que o mesmo tanto queria. Só quando o menino quebrou um formão, começou a instruílo. Walter tinha um olho aguçado para observar e imitar tudo que se podia fazer da madeira. Chegou a ser empregado na famosa fábrica de pianos Essenfelder em Curitiba. Conta que tinha “cabeça dura”, isto é, era ambicioso a ponto de querer competir com profissionais mais antigos. Quando chegou o seu tempo, foi incorporado ao exército e, segundo
ele, de lá não saiu mais. Serviu durante 30 anos. Para onde quer que fosse enviado, logo era encarregado da marcenaria. Não só para fabricar móveis, mas especialmente como instrutor dos recrutas aprendizes. Também declara que foi autodidata. Tudo que via em revistas ou pôde observar em vitrines de móveis sofisticados (coloniais, tipo Luiz XV), imitava com perfeição. No exército foi escalando os degraus da hierarquia militar e, em 1962, recebeu ordem de participar de um curso de “Manutenção de material bélico” Entrementes havia casado com a senhorita ANNI OELKE, que doravante o acompanhava, para onde era mandado pelo exército. Certo dia um senhor, Samuel Pfeiffer, conheceu os móveis que Walter fabricava. Encantou-se com a perfeição dos mesmos e o convidou para confeccionar coronhas para espingardas. Oportunidade em que se tornou expert na confecção destes artefatos, de modo que muitos clubes de “Caça e Tiro” então passaram a requisitar exclusivamente as suas coronhas, ”porque acertavam o alvo”. Com o trabalho exaustivo dormia
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pouco, pois também não queria ser passível de crítica, queria ser perfeito, tanto na produção de móveis como, principalmente, de coronhas. Empreendeu viagens para a Alemanha, Áustria, Suíça, Itália, para conhecer o modo de fabricação de lá, sempre em busca de melhoramento daquilo que fazia. Esses fabricantes europeus, aliás, mantinham um controle super-rígido, para não sofrer imitação dos seus produtos (de exportação). Sentiu-se pequeninho em comparação com os sistemas automatizados deles. Mas foi admirado - sendo autodidata – o fato de ter desenvolvido manualmente tanta arte em madeira. Todas estas visitas lhe deram certeza que estava no trabalho certo e que devia continuar (até hoje) a confeccionar coronhas. Veio a tornar-se conhecido em todo Brasil. Walter Zwiener, um brasileiro, autodidata que com sua persistência e capacidade se tornou alguém. Quem
conheceu sua produção não quer outra arma para uso nos clubes de “Caça e Tiro”. Dos inúmeros aprendizes que treinou, só tem notícia de um que abriu uma grande fábrica de móveis, em Juiz de Fora. O casal Walter e Anni Zwiener, sua fiel companheira, tem um filho e três filhas. Hoje não fabrica mais móveis, pois, o pó lhe estragou os pulmões. Mas Clubes como o Santa Mônica de Curitiba e o Paranaense, insistem em adquirir coronhas da marca Walter Zwiener. A matéria prima ele busca em fábricas de móveis de Guarapuava. São restos de madeira de lei (imbuia) que não servem para móveis, mas se prestam para as coronhas. Dedica-se a isto, hoje, como lazer. Encontramos a sua oficina enfeitada com objetos da fabricação artesanal (por exemplo tacos de bilhar) para deleite de eventuais compradores e visitantes interessados. Elfriede é professora aposentada e artista plástica, e Heinz é Pastor emérito da IECLB, ambos residentes em Curitiba/PR
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O auto de Natal diferente P. em. Helmar Reinhard Roelke
Durante todo o pastorado trabalhei em comunidades com forte influência pomerana. Sabia de meu pai, que também fora pastor no Estado do Espírito Santo, que uma das tradições muito caras a este povo era a “Wihnachtsschaul” (Weihnachtsschule). A palavra Auto de Natal não consegue traduzir exatamente, o que significava esta tradição. Tudo se resumia em uma representação dos acontecimentos que culminavam com o nascimento de Jesus na estrebaria. A apresentação geralmente era programada para uma noite, um ou dois dias antes do Natal. A apresentação era carinhosamente preparada, geralmente pelo grupo de jovens. Os ensaios já iniciavam dois a três meses antes do Natal, para que tudo transcorresse confor-
me o figurino. Tratava-se realmente de uma “Wihnachtsschaul”, uma "escola de natal”, onde se ensinava ou aprendia de geração em geração a história de Natal. Era também após a apresentação do nascimento de Jesus que as crianças vinham para frente da comunidade reunida e recitavam um versículo bíblico. Este era ensinado e ensaiado, geralmente, pelas mães para que na noite tudo transcorresse sem sustos ou esquecimento. Em seguida todas as crianças recebiam um pacotinho, contendo guloseimas. O momento era festivo, pois os versículos bíblicos eram recitados pelas crianças em frente do altar, ao lado da árvore de natal, ricamente enfeitada e com muitas luzes. Enfim, era um grande e marcante acontecimento para as crianças. Muitas de-
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las, de famílias pobres ou bem humildes, nunca recebiam tantas guloseimas de uma só vez durante o ano todo. Este era então o dia de serem contempladas com um pacotinho, por vezes bastante modesto, mas enchido por membros da comunidade com muito carinho e preocupação para que todos contivessem as mesmas guloseimas. Se no dia a dia se vivia uma comunidade que separava os membros entre proprietários e meeiros, aqui se exercitava a partilha justa. Além do motivo de se praticar partilha, eu gostava desta tradição. Pois a vinda de Jesus era coroada para as crianças da comunidade, indistintamente, com o recebimento de algo doce, palpável, sensível. Não era um Jesus que nascera azedo ou longe da percepção humana. Eu enxergava nisto uma simbologia muito forte. O gosto doce das guloseimas daquela noite deveria ser sentido, experimentado e exercitado durante a vida toda através dos jeitos e vivência de Jesus. Achava também a tradição de decorar um versículo bíblico para aquela noite muito interessante, pois colocava as crianças diante da comunidade para serem vistas por ela. Por outro lado, era uma maneira de as crianças também perderem o medo de se colocarem diante de outras pessoas. Em comunidades menores, onde não havia jovens suficientes, também adultos e crianças participavam do “teatro”. Falava-se em teatro, pois
todas as falas eram decoradas pelos participantes, com os devidos personagens vestidos como se imaginava que fossem na época de Jesus. Não podiam faltar José e Maria, os anjos, os pastores, a manjedoura com a criança, as ovelhas, a pensão e a estrebaria. Enfim, Lucas 2.1-20 era esmiuçado em todos os detalhes e lembrado pelos atores para o resto da vida. Com toda esta carga histórica tão importante para os pomeranos, assumi a minha primeira Paróquia em agosto de 1972. Eram oito comunidades, duas delas bem distantes da sede. Nos primeiros cultos já fui alertado pelos presbitérios sobre a “Wihnachtsschaul”, para que não fosse esquecida na programação. Mas, sobretudo, que eu providenciasse uma peça de “teatro” para ser encenada. Consegui com um colega um texto que me parecia apropriado. Toda a peça foi datilografada em matriz e no mimeógrafo a álcool foram feitas as cópias para todas as comunidades. Após os cultos do mês de outubro reuni-me com os jovens interessados em participar para detalhar a peça, bem como definir quem assumiria qual personagem. Os papéis dos pastores, José e Maria eram sempre bem disputados. Combinou-se também como deveriam ser as roupas para caracterizar os personagens. Igualmente, o que poderia ser construído e montado, fiel a Lucas 2, para recriar de forma mais real
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possível todos os acontecimentos em torno do nascimento de Jesus. A necessidade de construir ou caracterizar a pensão para realçar que não havia lugar para Maria e José em Belém, estava claro. Mas também exigia incluir a manjedoura. Onde, como e em que lugar? Naturalmente era necessário construir uma estrebaria.
“tronqueiras”, que permitiam a passagem de um carro. A tronqueira consistia de dois postes, um fixo no chão e o outro removível com os arames. Portanto, não eram porteiras ou cancelas que podiam ser facilmente abertas e novamente fechadas. Era sempre uma dificuldade passar de um pasto para o outro. Mas, enfim, encurtava o caminho.
Como era impraticável acompanhar em tantas comunidades todos os ensaios, foram combinadas algumas datas em que eu estaria presente, para acompanhar e orientar os ensaios. Porém, entre uma data e outra, o grupo teria que ensaiar sem a minha presença.
Fui alertado por colonos que em um destes pastos havia um touro que, ao ver um carro, corria atrás. Só não me avisaram, que quando o carro parava, ele também parava satisfeito com a sua corrida. Não fazia mal a ninguém. Assim, quando fiz aquele trajeto pela primeira vez, ele fez a sua corrida atrás do carro da paróquia. Quando cheguei na tronqueira, fiquei sem ação. O que fazer? Sair do carro poderia significar perigo. Fiquei imóvel, vendo o touro pelo retrovisor. Assim fiquei até que se aproximou um vaqueiro. Este explicou que o touro era manso, apenas vivia o prazer em apostar corrida com carros.
Assim também se fez com a comunidade de São João Pequeno. O grupo decorou as falas e ensaiou. Finalmente estava chegando o mês de dezembro e agora valia dar os últimos retoques. O grupo, bem criativo, combinou que a apresentação seria fora do templo, para dar mais veracidade e realidade à história. Além do mais, também era difícil montar uma estrebaria dentro da Igreja para acolher José e Maria, a criancinha na manjedoura, os pastores, os anjos e as ovelhas... A estrada que conduzia para esta comunidade tinha duas peculiaridades. A primeira passava por um atalho por uma fazenda para encurtar o caminho. O fazendeiro dividira os pastos com arame farpado. Para passar de um para o outro pasto, foram instaladas o que se denominava de
A segunda peculiaridade desta estrada era que ela seguia um longo vale, com entradas laterais, adentrando pequenos vales. Assim, de longe já se via o templo no morro, mas a estrada insistia em sumir através de curvas nos vales laterais. De repente se avistava de novo o templo, cada vez mais próximo. Fui de vale em vale lateral, de curva em curva, vendo o templo cada vez se aproximando mais e mais.
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De mais longe já se avistava a estrebaria ao lado do templo. Era uma construção de bambu, coberta com folhas de coqueiro, construída com muita habilidade e esmero. Também era suficientemente grande, para poder acolher todos os personagens ao final da apresentação. Na última curva, antes de chegar ao templo, observei que ao lado da estrebaria estavam postados todos os personagens, já vestindo as roupas combinadas. Mas dentre os personagens também avistei um grupo vestido com roupas pretas. Quem seria? Que personagens vestiriam preto? Qual não foi a surpresa quando saí do carro e me aproximei dos integrantes. Eram os pastores que estavam vestidos de preto. Uma costureira muito criativa costurou para cada pastor uma veste talar, observando os mínimos detalhes do meu próprio talar. Não faltaram nem as preguinhas nas costas. Até aqui tudo bem. Percebi que falhei na hora de explicar como os pastores deveriam se apresentar. Portanto, poderíamos deixar como estava. Mas havia um detalhe: os talares também eram ornamentados com um peitilho, pintado com tinta branca sobre o tecido preto. E agora? Foi o primeiro aprendizado no pastorado: Na vida enfrentamos situações em que se faz necessário tomar decisões rápidas, mas que com carinho, consideração, cuidado e amor podem ser vencidas. Conseguimos conversar sobre quem eram os pastores no campo em torno de
Belém e o que são os pastores hoje. Qual o sentido do talar na IECLB. Depois, na volta para casa, senti que na verdade fui eu que assisti a uma “Wihnachtsschaul”, uma escola, uma aula. A primeira lição foi sobre o que significa ser pastor. Os talares confeccionados para os pastores daquela comunidade alertavam que eu deveria levar muito a sério, em qualquer situação, as ovelhas a mim confiadas. Também nas muitas estrebarias da vida, único lugar de acolhimento para muitas ovelhas que encontraria nos quarenta anos no meu pastorado. A segunda lição. Aprendi do jeito daquele grupo interpretar os pastores em torno de Belém com aquela vestimenta, que na nossa Igreja todos devem vestir os seus “talares”, pois, pelo Batismo foram compromissados a integrar-se e agir no Corpo de Cristo. No fundo aquele ensaio de “Wihnachtsschaul” indicava que no meu pastorado eu deveria animar e encantar os membros para abraçarem com convicção o Sacerdócio Geral de todos os crentes, tão caro e tão negligenciado na IECLB. Um acontecimento a princípio pitoresco tornou-se uma verdadeira “Wihnachtsschaul”, uma escola para mim. Nunca mais esqueci a simbologia que os talares dos pastores daquela comunidade carregavam. O autor é Pastor emérito da IECLB, residente em Vitória/ES
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Ave, Maria, cheia de graça... e de susto! P. Dr. Carlos A. Dreher
Ave, Maria, cheia de graça... Sinto-me estranho, Maria, como evangélico luterano, saudando-te assim. Acho que sou mais evangélico do que luterano (gostaria de ser bem mais luterano), o que me leva a ter mais papas na língua para saudar-te assim. Sim, aprendi com Lutero a ver-te à luz do Magnificat e, assim, como aquela que disse: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim conforme a sua vontade”. Ah, a bela serva! A boa serva, como toda a mulher deveria ser... Antes que me batam, Maria, preciso dizer que não te vejo assim, tão cheia de graça. Vejo-te, antes, muito mais cheia de susto. E antes que ainda outros me batam Maria, fico a pensar em teu primeiro susto: Viste um anjo! Nunca vi um anjo, Maria, desses com asas e vestes brancas refulgentes. E, se visse um deles, tenho certeza que me assustaria do mesmo modo que se visse um fantasma. Viste o anjo e ficaste firme no vigor de teus doze ou treze anos. E o segundo susto, Maria? O anjo te comunica que ficarás grávida! E tu, que nada sabes sobre essas coisas que não contavam para crianças antigamente, ouves que “descerá sobre ti o Espírito Santo... e a sombra do Altíssimo te envolverá”! Que tamanho tem o Espírito Santo? Que aparência tem? E essa sombra
do Altíssimo? Como será isso? A mim me soa como violência. E sinto uma ternura muito grande por ti, Maria, cheia de susto. E o terceiro susto, Maria? Um desses senhores do mundo, como sempre existiram, mete-se a besta e resolve fazer uma contagem da população que controla; fazer um recenseamento. Baixa um decreto, e tu e José são obrigados a viajar até Belém, apenas para alistar-se. De Nazaré a Belém, pelos meus cálculos (eu não consigo confiar nos dados da internet), são uns bons 200 km de curvas, subidas e descidas. Se em tempos de sol, abaixo de 35 a 40 graus de calor durante o dia. Se em tempos de chuva..., não quero nem pensar! Tu, no lombo daquele burrinho, José a pé! E tu grávida, Maria, já nos últimos dias! Quantos dias de viagem terão sido, Maria, cheia de susto? Imaginei que, com o burrico, o calor ou a chuva, somados às condições da estrada, vocês não teriam feito mais do que 25 km por dia. Terão sido, então, na melhor das hipóteses, oito dias! Acho incrível que não tenhas dado à luz teu menino em meio ao caminho. Tenho certeza de que tu, cheia de sustos, Maria, deves ter implorado a cada dia pela graça do Senhor. O último susto, Maria: não havia lugar! Tiveste que dar à luz teu filho
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em uma estrebaria! Por isso, não sei, Maria, como te devo saudar: Ave, Maria, cheia de graça? Ou: Ave, Maria, cheia de susto? De qualquer modo, Maria, quero te dizer nestes dias que ainda faltam na estrada até Belém: Ave, Maria, cheia
de graça! O Senhor é contigo! Bendita és tu entre as mulheres! Bendito é o fruto de teu ventre, Jesus! O autor é Pastor emérito da IECLB e professor de Antigo Testamento – reside em Novo Hamburgo/RS
– HUMOR – Durante um voo, a 13.000 metros de altura em voo de cruzeiro a aeromoça se aproxima de um passageiro, um religioso: – Reverendo, posso lhe oferecer uma bebida: um Conhaque, um Whisky ou um Licor? – Muito obrigado, filha! – diz o sacerdote. – Melhor não, assim tão perto do “Chefe”!...
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Aventuras de um casal pastoral no primeiro campo ministerial P. em. Ari Henrique Bencke
Em meados de 1972, aconteceu minha formatura na então Faculdade de Teologia da IECLB. Fui enviado como pastor a uma cidade que, infelizmente então não encontramos no mapa. Mas ela existia! Pois era sede de Paróquia da nossa igreja! Fiéis à Palavra de Eclesiastes 4.9-11: “Melhor serem dois do que um...”, casamos em 29 de julho. E eis que já bem no começo de agosto, o competente Pastor Regional estava nos esperando para a instalação em nosso primeiro campo de trabalho. Ele, porém, esperou em vão, pois o casal ainda não havia chegado. Convém mencionar que naquele tempo os meios de comunicação não eram os de hoje!
garrafas vazias. Resolvida esta questão, nada melhor do que um bom banho após esta viagem exaustiva. Desloquei-me ao banheiro, minúsculo. Chuveiro e vaso sanitário ocupavam o mesmo recinto. Um detalhe: O vaso estava “lotado” até a borda. Bem, pensei eu, pra que existe esta cordinha que libera a água? Puxei a cordinha. Porém o “produto” do vaso não foi despachado, mas transbordou e se espalhou pelo local, de modo que eu tive que deixar o espaço na ponta dos pés para não ser demasiadamente contaminado.
Juntamos os nossos pertences e nos pusemos a caminho rumo à cidade desconhecida. Fomos de ônibus. A viagem foi longa e chegamos no início da noite. Procuramos uma lanchonete para comer algo. As pessoas nos dirigiam um olhar desconfiado, pois éramos completamente estranhos. Após o lanche dirigimo-nos ao único hotel da cidade.
Dormimos bem. Nada como um novo dia. Levantamos bem. Dirigimo-nos à oficina mecânica que pertencia a membros que seriam nosso contato. Fomos recebidos com alegria e conduzidos à Casa Pastoral. Um dos filhos dos donos da oficina prontamente se dispôs a nos mostrar a Paróquia com suas Comunidades – isto de Jeep em estrada de chão! Retornamos ao anoitecer, tentando colocar nossos ossos em seu devido lugar!
Encontramos o quarto. Na cama, travesseiros com penas por dentro e cabelos por fora. O resto da roupa de cama também não muito asseado. Debaixo da cama, uma porção de
Iniciamos o trabalho com empolgação, pois tudo era novidade. E eis a primeira visita ao ponto de pregação mais distante – cerca de 200 km da sede. Estrada de chão em terra roxa,
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com chuva e consequente barro, lisa como sabão. Um imprevisto: Uma roda do Jeep caiu. Um ônibus parou e o motorista de pronto mostrou boa vontade para ajudar. Mas, no que pôs os pés no chão se estirou no barral. Tudo resolvido, seguimos a viagem. Naquela altura, já encharcados de chuva e barro. Mas chegamos ao destino. Casa de um membro, onde se realizavam os Cultos. A família era muito querida. O Culto bem frequentado. E depois de todas as peripécias do dia, nada melhor do que nos recolhermos para descansar. No entanto, nosso sossego foi interrompido por uma voz grossa de um homem bêbado no portão da casa de madeira: “Vem pra fora velho, eu quero te matar!” e apontava o revólver em todas as direções. Isto se repetiu por várias vezes. Aprendemos que em todas as situações de crise há um ensinamento: Minha esposa descobriu com este episódio que as rótulas dos seus joelhos eram soltas, pois pulavam para cima e para baixo! Sobrevivemos. Não foi disparado nenhum tiro. E no outro dia tomamos conhecimento que o dito homem era o genro do dono da casa. Este mesmo senhor, dono da casa, nos contou um fato muito interessante: Ele estava muito doente e “chegou a falecer” – conforme suas palavras –, indo por um túnel em direção a uma luz muito forte, sentindo-se extremamente bem. De repente uma força o puxava de volta à vida. E quando abriu os olhos, viu sua es-
posa à beira da cama clamando a Deus pela sua vida. Uma experiência de morte e ressurreição. O trabalho seguia seu ritmo, praticamente restrito a Cultos, OASE e sepultamentos nas 23 Comunidades e Pontos de Pregação da Paróquia. Em dias de sol chegava-se aos Cultos coberto de poeira vermelha em que apenas o branco do olho era branco. A veste litúrgica tinha um objetivo duplo “Cobria a iniquidade do pastor” e também o pó vermelho! Em dias de chuva, barro liso. Estavase indo em uma direção e de repente o veículo fazia meia volta, tomando a direção oposta, ou “beijava” um barranco. Isto sem falar das balsas, embarradas e lisas, a serem atravessadas em dias de enchente! Num belo dia de sol, domingo: Culto e almoço em uma das Comunidades do interior. Cardápio: Churrasco, pão, vinho e gasosa! As senhoras da comunidade, com muita gentileza, se dirigiram à minha esposa com as seguintes palavras: “Já que a patroa do padre (sic!) não come carne (é vegetariana), preparamos uma gostosa galinha recheada para ela!” E agora? Viajando para uma Reunião Distrital de pastores, paramos em uma casa comercial à beira da estrada e a minha esposa perguntou: – Onde fica a toalete? – O que? – O WC?
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– Ah, terminou ontem. Mas volte na semana que vem. Então já vamos ter de novo em estoque! Passamos um tempo relativamente curto naquela região. Mas ele nos trouxe muitas experiências. E também foi neste período, um tanto difícil, que se criaram laços amizade
com o povo de lá que perduram até o dia de hoje! Tudo isto aconteceu no século passado, e mais, no milênio passado! Hoje a realidade daquela região é bem diferente. Mas as Comunidades, as OASE’s continuam seu trabalho. Deus seja louvado! O autor é Pastor emérito da IECLB e reside em Joinville/SC
– HUMOR – A jovem esposa está ensaiando os primeiros passos na arte de “pilotar forno e fogão”. Para aquele domingo ela comete uma “ousadia”: Prepara o seu primeiro marreco assado! Ao servi-lo, assim bonito, bem tostadinho por fora, o marido pergunta: – Querida, com que fizeste o recheio? – Recheio? Mas ele nem estava vazio! – responde ela, surpresa!
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Um Luder se transforma em Lutero P. em. Dr. Martin N. Dreher
“Luder” pode ser um palavrão. Pode designar cadáver, esqueleto de animal morto, engodo, ladrão, maroto, tratante, vagabundo(a). Pois, era esse o sobrenome do reformador Martim Lutero quando se inscreveu na Universidade de Erfurt. No livro de matrículas seu nome foi inscrito como Martinus Luder ex Mansfeld (Martinus Luder, natural de Mansfeld). Seu pai, Hans, proprietário de mina de cobre em Mansfeld, decidira que o filho estudaria Direito para vir a ser “grande senhor”, pessoa importante. No meio do estudo Martim viu-se envolvido em uma tempestade. Um raio abriu um carvalho de alto a baixo. Desesperado, pediu socorro a Santa Ana e prometeu tornar-se monge. Largou tudo e ingressou na ordem dos Agostinianos Eremitas. O que o impeliu para o mosteiro foi o medo da morte. O pai foi mais crítico e afirmou ter sido um “fantasma”. A realidade da morte estava muito presente. A expectativa de vida era muito baixa. Os turcos avançavam sobre a Europa, provocando mortes e disseminando a peste. Por outro lado, a morte provocava medo de Deus. Como subsistir diante de Deus, caso morresse amanhã? Isso era terrível, pois Deus era imaginado e pregado como juiz implacável frente ao qual ninguém conseguia sobreviver. São Jerônimo ensinara
que as pessoas do sexo masculino poderiam ter cem por cento de certeza de salvação, caso ingressassem em mosteiro. Mulheres que fizessem o mesmo poderiam ter noventa por cento da mesma certeza, pois a menstruação as tornava impuras. Pessoas casadas só poderiam alcançar sessenta por cento de certeza. As observações de São Jerônimo não ajudaram a Martin Luder. Ele também não obteve auxílio e tranquilidade a partir de carta de crédito oferecida pela Igreja da época: As indulgências. Estas ofereciam, em troca de dinheiro, perdão das penas
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impostas pelos confessores nos confessionários. O perdão valia para quem adquirisse tal carta, mas também podia ser adquirida para familiares já falecidos. A discussão sobre o valor de tais cartas de crédito, aliás, foi o estopim para aquilo que designamos de Reforma religiosa do século XVI. No mosteiro agostiniano o aspirante Luder se esmerou ao máximo para ser agradável a Deus. Sua seriedade levou a que fosse admitido como membro pleno e ordenado sacerdote. No dia da ordenação pensou em fugir de diante do altar, junto ao qual deveria consagrar os elementos da eucaristia. O medo de Deus persistia. Apesar desses medos, seus superiores verificaram que se tratava de monge com futuro. Por isso, decidiram que ele deveria continuar seus estudos. Foi encaminhado para a Universidade de Wittenberg, onde passou a lecionar filosofia. E foi decidido que ele deveria fazer seu doutorado em Bíblia. Obediente, lecionou filosofia e, depois, Bíblia. Nesta última função permaneceu até o final de sua vida. O estudo da Bíblia fez dele o Reformador e mudou seu sobrenome. Mesmo como professor de Bíblia, Luder continuava a ter medo de Deus. Em Wittenberg havia uma escultura de Jesus, que estava sentado sobre o arco-íris, com uma espada de dois gumes na boca e olhos dos quais saíam raios. Era totalmente juiz. Como
sobreviver ante tal imagem do divino. Como e onde encontrar um Deus misericordioso? Sua pergunta era pergunta de multidões que eram exploradas pela instituição eclesiástica. O papa Leão X havia ordenado a demolição da Basílica de São Pedro e dera início à construção de nova basílica; maravilha que pode ser apreciada até hoje em Roma. Construções demandam dinheiro. Para tanto, o papa ordenou a venda de nova indulgência. Os monges dominicanos foram encarregados de sua divulgação. O recém-instalado arcebispo Alberto de Mainz, superior de Luder, aproveitou-se da situação e também divulgou a indulgência, pois tinha dívidas junto à casa bancária. Metade do dinheiro arrecadado com a venda ia para o banco; outra metade seguia para Roma. O
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abuso era evidente. Foi, por isso, que o professor Martin Luder redigiu 95 teses sobre a virtude e o valor das indulgências, depois de ter ouvido no confessionário da boca de agricultor que não precisava cumprir as penas que o padre lhe impunha. Vendera sua junto de bois e comprara indulgências para os próximos dez anos! Luder estava convicto de que a vida do cristão deve ser contínuo arrependimento. Arrependimento não pode ser comprado com dinheiro. As teses foram afixadas na porta da igreja do castelo de Wittenberg em 31 de outubro de 1517. Estudantes logo as traduziram do latim para o alemão e foi um Deus nos acuda. Pois quase ninguém mais comprava indulgências. Consequência: Luder foi acusado de suspeita de heresia, pois se indispunha com o papa. As teses, contudo, ainda não respondem àquela inquietação que ia dentro de Luder: como conseguir um Deus misericordioso. Professores de Luder ensinavam que em questão de salvação, de Deus misericordioso, a pessoa podia fazer o que já estava nela: Podia ela mesma fazer sua salvação. A experiência de Luder, contudo, era a de que quanto mais tentasse fazer sua salvação através de muitos atos, menos certeza tinha. Não sabemos a data, mas deve ter sido pouco tempo depois daquele 31 de outubro de 1517 que fez descoberta revolucionária que sempre de novo deve ser feita por toda a pessoa cristã.
Ao expor a alunos a carta do apóstolo Paulo aos Romanos, tropeçou sobre versículo de Romanos 1.17: “A justiça de Deus se revela no Evangelho”. O Deus justo sempre se lhe apresentava naquele Cristo acima descrito. Justiça significava castigo para os maus; recompensa para os bons. Ele, no entanto, não conseguia ser “bom” diante de Deus; não conseguia fazer o suficiente para ser agradável a Deus. Como soubesse do significado da palavra “Evangelho”, o desespero ante Deus só aumentava. Evangelho, como é sabido, significa “boa notícia”. Que “boa notícia”, que “Evangelho” é esse que diz que Deus é juiz que castiga, diante do qual ninguém consegue sobreviver!? A tranquilidade só veio, assim Luder, quando Deus lhe permitiu que continuasse a leitura do versículo de Romanos 1,17: “A justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé.” Fé é confiança. Confiança naquilo que encontramos no evangelho de Jesus Cristo. No evangelho de Jesus Cristo aprendemos que seu Pai é um Deus que nos acolhe e aceita incondicionalmente, assim como somos. Essa é a boa notícia. Jesus faz o contrário do propalado pelo Salmo 1,1: Ele aceita o pecador, o escarnecedor. Essa aceitação transforma, liberta. Tal aceitação tornou mulheres e crianças, pescadores, publicanos e pecadores notórios em discípulos de Jesus. Igreja é comunhão de pecadores aceitos incondicionalmente, perdoados, libertos de todos os medos,
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mas principalmente do medo de Deus. Deus é amor incondicional. Amor não se compra, não é objeto de “transa”ção. Em 1529, Luther vai expressar essa certeza nas palavras “Devemos temer e amar a Deus e confiar nele sobre todas as coisas”. “Temor” não é medo, é reverência ante o Deus que nos aceita assim como somos, pois nele e em sua promessa de aceitação podemos confiar.
Luder estava liberto de seus temores. Em Gálatas 5,1 pôde, então, ler: “Para a liberdade foi que Cristo vos libertou”. No grego de Paulo, liberdade é ELEUTHERIA. Desde 1518, em suas cartas Martim Lutero vai assinar Martinus Eleutherius, ou simplesmente: Martin Luther. Quem diz lut(h)erano diz: liberdade. Em 1520 ele escreveu o livrinho: Da Liberdade Cristã. O autor é historiador e pastor emérito da IECLB, e reside em São Leopoldo/RS
Se queremos pessoas excelentes e hábeis tanto para o governo secular como para o espiritual, então não poupemos empenho, faina e gastos na tarefa de ensinar e educar nossos filhos e filhas, a fim de que possam prestar serviços a Deus e ao mundo. – Martim Lutero –
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Um orçamento de Comunidade P. em. Dr. Osmar Zizemer
Eu era estudante de teologia e acabara de passar pelo “exame intermediário”. Fui solicitado a, durante as férias de janeiro-fevereiro, atender com serviços pastorais uma Paróquia que estava há meio ano sem pastor. Foi um desafio e tanto!
Aberta a assembleia, o presidente da comunidade fez um relato dos principais assuntos da assembleia paroquial do sábado anterior, bem como do novo orçamento aprovado.
Entre outras coisas, chegou a hora da realização da Assembleia Geral Ordinária da Paróquia. A diretoria da Paróquia organizou tudo. Pois eu era totalmente inexperiente neste campo e nunca havia participado de uma Assembleia Geral, nem mesmo de minha paróquia de origem. Tudo correu bem. Apresentado o balanço do exercício findo, também foi apresentado o orçamento paroquial para o ano em curso, e estabelecido o valor da contribuição, sendo tudo devidamente posto em votação e aprovado e registrado em ata.
Qual nada. O presidente disse:
No domingo seguinte havia culto em uma das menores comunidades da paróquia, composta exclusivamente de famílias de pequenos agricultores – umas vinte famílias ao todo. Ao lado de seu trabalho na roça, elas também ganhavam parte de seu sustento no garimpo de pedras semipreciosas. Vida dura! Para o horário após o culto estava convocada a Assembleia Geral Ordinária da Comunidade. Praticamente todos estavam presentes. Imaginei antecipadamente a “choradeira” na hora de deliberar sobre a contribuição.
Pensei: – É agora que começam as lamentações! – Eu pensei o seguinte: Todos nós somos pequenos agricultores e temos nosso pedacinho de chão. Então eu sugiro que cada uma de nossas famílias plante dois quilos de feijão como sua contribuição para a igreja. Se a colheita for boa, vai dar para saldar a nossa contribuição para o caixa da paróquia – e ainda sobrará um pouco para o caixa da nossa comunidade. Se a safra não for boa – e todos nós sabemos como dependemos do tempo! – então a gente ainda pode plantar mais um quilo ou um quilo e meio na “safrinha”. Eu creio que Deus vai nos ajudar. O que vocês acham? Houve um breve zum-zum-zum entre os presentes. Colocada em votação, a proposta foi aprovada por unanimidade! O autor é pastor emérito da IECLB e reside em Blumenau/SC Observação: No Rio Grande do Sul planta-se a safra do feijão na 2ª metade de agosto, e colhe-se em dezembro. Já a “safrinha” do feijão é plantada em janeiro e colhida em início de maio.
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A venda da vaca... Alfred Becker
Havia em nossa colônia certo colono – cabelos avermelhados, e um pouco acima do peso ideal – que era conhecido por sua esperteza e suas habilidades nos negócios. Ele estava à espera de um negociante de gado, que queria comprar dele algumas vacas leiteiras. Alto, magro e de cabelos grisalhos, este negociante tinha a má fama de, em negociação, baixar tanto o preço do gado que comprava que quem negociasse com ele quase ia à ruína. – O senhor aceita uma xícara de chá? – perguntou a dona da casa ao recém-chegado comprador. Ele levantou a mão e meneou a cabeça negativamente. – Não, obrigado! Prefiro ir logo ao que interessa!
Como a esposa do colono em questão conhecia as manias do negociante de gado de visitas anteriores, ela nem havia preparado chá com antecedência. Porém os bons modos recomendavam que ela ao menos lhe perguntasse. – Está bem! – disse o colono. – Então vamos até o curral dar uma olhada nas vacas. – Sim! – murmurou o comprador, mal movendo os seus finos lábios, e já foi indo na frente. E quando este já havia saído pela porta da casa rumo ao curral, a mulher do colono cochichou para o marido: – Não se deixe engambelar por este sujeito! Você bem sabe como a gente tem de tomar cuidado com ele para não ser passado para trás!
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O colono piscou para sua mulher e disse: – Não se preocupe! – e seguiu com o negociante rumo ao curral. Lá chegando, o colono observou, perguntando: – Está tudo em ordem? Mas o comerciante se absteve de fazer qualquer comentário. Ele, sobretudo, não queria dizer nada de positivo, porque isso poderia lhe estragar os preços. O colono afagou a cabeça de um de seus animais, e disse: – Essa aqui é a minha Mimosa... O senhor pode escolher entre todas as vacas do meu plantel! Podemos falar sobre cada uma delas, mas não sobre a Mimosa!
em seu rosto. Não se podia ver como e em quanto ele em verdade avaliava o que via. Durante um longo tempo os homens foram negociando, pechinchando pra cá, regateando pra lá. O comprador era um negociador duro. Mas também o colono sabia o que estava fazendo. E assim a negociação foi se estendendo. No meio tempo o comprador sempre de novo olhava em direção à Mimosa – essa vaca tão elogiada e com qualidades especiais. Olhares que – contra as atitudes usuais dele – deixavam transparecer algo como cobiça, ou, no mínimo, curiosidade. Por fim os dois chegaram a bom termo na sua negociação. A venda foi fechada com um aperto de mão. – O senhor me arruina! – disse o comprador.
O comerciante franziu a testa: – Por que não? – Porque esta é uma vaca muito especial... – Já parece ser um pouco mais velha! – Sim. Mas ela ainda dá mais leite do que... Mas deixa pra lá! Não adianta do mesmo! Falemos das outras vacas! E o colono fez um largo gesto com o braço sobre o restante do plantel de suas vacas leiteiras. O comerciante caminhou por entre as vacas, as examinou detidamente, pediu uma ou outra informação do dono, verificou os registros atualizados das mesmas. Tudo isso sem deixar reconhecer a mínima expressão
– Pelo contrário – disse o colono sorrindo – o senhor é que me leva à bancarrota! Por fim o comerciante apontou para Mimosa – que pacificamente ruminava sua última refeição – e disse: – Quanto o senhor quer por aquela ali? – Ela não está à venda, eu já lhe disse. - Não existe nada que não se possa vender ou comprar; que não tenha preço! – É, mas uma vaca como esta, que só aparece a cada duzentos anos, a gente não vende! Ela não tem preço!
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– Mas, faça o seu preço!
por ela. Vamos fechar o negócio?
– Esqueça! O senhor já me esvaziou a metade do meu curral. Isto não lhe basta?
O colono hesitou, pigarreou, suspirou profundamente, e quando o comerciante aumentou ainda um pouco mais a sua oferta, finalmente fechou negócio com um aperto de mão.
Ambos saíram do curral. – Aceita um chá agora? – perguntou o colono. O comerciante ainda estava preso com seus pensamentos na Mimosa, essa vaca única e com qualidades tão especiais! Não se conteve, e fez uma oferta por ela. Uma oferta bem acima dos padrões. – Então, a Mimosa ainda não está à venda? – Eu não consigo me desfazer dela... – Vamos lá! Mais do que o que eu lhe ofereci o senhor nunca conseguirá
O comerciante também agora não aceitou a xícara de chá oferecida. Foi embora. Mas quem aceitou uma xícara de chá foi o colono! – Bah! – disse ele à sua mulher, assim que estavam a sós, enquanto mexia o chá com a colher, – que trabalhão duro! Eu já tinha perdido as esperanças de conseguir empurrar essa vaca velha para alguém! E ainda mais por esse preço! Der Kuhhandel , in: Familien Kalender 2003, pág. 112 – Trad. P. Dr. Osmar Zizemer
– HUMOR– Dona Amélia vai ao pet shop para comprar uma vasilha para água para o seu cachorro. O vendedor lhe pergunta: – A senhora quer um pote em que está escrito: “Para meu cão”? – Não precisa! – diz ela. – Meu marido não bebe água, e meu cachorro não sabe ler!
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A contribuição está cara... P. em. Anildo Wilbert
No ano de 1972 iniciei o trabalho pastoral na Paróquia de São Miguel do Oeste/SC. Período de grande aprendizagem. Uma delas foi a questão da elaboração do orçamento paroquial e a fixação da contribuição dos membros numa assembleia geral ordinária, no final de cada ano. A assembleia iniciava pela manhã com os relatórios das atividades realizadas no decorrer do ano, salientando em especial alegrias e dificuldades vividas. Após, apresentava-se o anteprojeto do orçamento paroquial, para o ano seguinte. No almoço acontecia um gostoso churrasco e um breve intervalo. Então, retornava-se à plenária para discutir e definir o orçamento e a contribuição dos membros para com a sua igreja no ano seguinte; e para fixar as datas de suas respectivas festas. As comunidades (11 na época) normalmente realizavam uma festa anual para promover melhorias em suas comunidades. Numa destas comunidades era costume que alguém se oferecia - ou era indicado - para engordar um animal para o churrasco da festa anual do ano seguinte. Aconteceu que nesta comunidade, após o Culto Festivo, diversos membros, juntamente com o pastor, estavam sentados perto da churrasqueira, enquanto a carne assava. A conversa corria solta. Num certo momento o Sr. Willy disse:
“Pfarrer, das Pfarrergehalt ist zu teuer” (Pastor, a contribuição para a igreja é muito cara). E também admitiu que ele normalmente ia uma ou duas vezes por ano ao culto. Então, se fosse duas vezes, cada culto custaria a metade de sua contribuição. Ao ouvir atentamente e olhando para ele, percebi que estava falando sério. Não era brincadeira! Foi então que eu disse: – Sr. Willy, se o irmão participar mais vezes, então, cada culto torna-se mais barato! Ele franziu a testa, ficou pensativo e sério e daqui a pouco disse: – É, o Pastor tem razão! O diálogo continuou, no grupo, em torno da contribuição para com a Paróquia. A contribuição destina-se para a manutenção da Paróquia, isto é, para que haja comunidade(s) a serviço da missão local e na Igreja (IECLB) toda. Outro assunto enfocado foi o sentido do culto! Por que ir ao culto? Foi ficando claro que Deus nos quer servir com a Palavra Sagrada. Mencionou-se a palavra “Gottesdienst” (culto) que na tradução literal quer dizer “serviço de Deus”. Sim, Deus nos quer servir com a Sua Palavra, para nos orientar, consolar, animar, admoestar, para que ela seja a luz para
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os nossos caminhos. Enquanto o diálogo continuava animadamente, eis que uma voz se fez soar: – O churrasco está pronto! O que fez com que cada família buscasse o seu espeto, escolhido ao chegar para o culto. O fraterno diálogo no dia da festa, junto à churrasqueira foi marcante
pelas mudanças que ocorreram no que diz respeito à fidelidade da contribuição e da participação nos cultos pelos membros. Pois nos cultos que se seguiram os participantes do debate, faziam-se presentes. Em especial o senhor Willy, que muitas vezes já estava a esperar junto à porta da igreja para cumprimentar o pastor, com um largo sorriso no rosto. O autor é Pastor emérito da IECLB e reside em Florianópolis/SC
– HUMOR – Na Pastoral Carcerária... O pastor da Pastoral Carcerária dirige-se ao assaltante que está prestes a ganhar a liberdade: – Olha meu filho! Também depois, quando estiveres lá fora, vou estar à sua disposição. Posso estar a seu lado, dando apoio e aconselhando... Ao que o ainda preso retruca: – Sua oferta me honra, Pastor. Mas deixe isso pra lá. Porque praticar assaltos não é tão fácil como o senhor imagina!
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Centro de Eventos Rodeio 12 – história e missão P. Guilherme Lieven
O Centro de Eventos Rodeio 12, uma associação cultural e educacional, por 31 anos reuniu uma bonita história de ações comunitária, educacional e de serviços. Sempre participou da missão de Deus, com a vocação de servir às comunidades cristãs e à sociedade civil. Ofereceu espaços para formação, reuniões, encontros, retiros, descanso, confraternizações e celebrações. São 25.000 m² de área verde, numa região - o Vale do Itajaí - com volumosa presença de comunidades da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil. Está situado no Bioma da Mata Atlântica, numa área privilegiada pela natureza, com montanhas, rios e vales, próximo a cidade de Timbó (6 km), com sede em Rodeio 12, município de Rodeio, SC.
Em julho de 1985 sua história oficial teve início. Ano em que foi concluída a construção da cozinha, do refeitório, da casa do zelador e a reforma de uma casa velha para o alojamento de pessoas. Mas, conta-se que muito tempo antes as lideranças das comunidades, dos distritos eclesiásticos e da II Região Eclesiástica da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil sonhavam em edificar, na região, espaços apropriados para realizar retiros e encontros de formação. Em 1978, o então Distrito Eclesiástico Médio Vale do Itajaí comprou em Rodeio 12, um terreno com 5.000 m². A partir de 1982, a campanha para construir o atual Centro de Eventos Rodeio 12 foi articulada e liderada pelo P. Regional Meinrad Piske da então II Re-
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gião Eclesiástica da IECLB. E a necessidade comunitária sonhada tomou forma. Já completou 31 anos de serviços às comunidades cristãs e à sociedade civil. Os recursos para as construções e implantação do projeto foram reunidos graças a parcerias e decisões corajosas do Conselho Regional da II Região Eclesiástica daquela época. Um terreno no Balneário de Cabeçudas foi vendido. O Distrito Norte de Blumenau vendeu seu terreno previsto para a construção de uma casa de retiros. A Juventude Evangélica autorizou a venda de lotes na Praia da Armação. Os confirmandos e confirmandas das comunidades realizaram campanhas de doação e ofertas. Doações de indústrias e de particulares também foram reunidas. Quando ainda faltaram recursos foi encaminhado pedido de auxílio à Igreja Evangélica Luterana na Baviera, Alemanha, com apoio do Pastor Hans-Günther Herrlinger, então secretário para assuntos da América Latina daquela Igreja. Com motivação e gratidão, em 1987 foi inaugurado o segundo alojamento. Em 1989 foi inaugurada a residência de-
signada ao diretor. A conclusão do prédio com auditório e as salas de reuniões, biblioteca, escritórios administrativos e de recepção, foi celebrada em 4 de outubro de 1991. Nesse mesmo período também foi possível mobiliar adequadamente as instalações. Em 1998, foi construído o terceiro alojamento, capacitando, a partir de então, a hospedagem confortável para 114 pessoas. As obras não pararam. Faltava uma capela. A pedra fundamental da capela foi lançada pelo P. Sinodal do Sínodo Vale do Itajaí, Nelso Weingärtner, no dia 26 de agosto de 2000. A celebração contou com a presença de muitos membros das comunidades, de autoridades públicas, civis e eclesiásticas. Mais de 800 pessoas, oriundas de várias regiões, presenciaram a inauguração da capela, denominada “Doze Apóstolos”, que aconteceu no dia 30 de maio de 2002. Esta etapa concluiu o projeto que totalizou 3.475 m² de construção, sete prédios, numa área de 25 mil m². A capela, com a sua arquitetura ímpar, aconchegante e bela, ainda hoje, é a princesa do espaço. Ela também abriga as celebrações, cerimônias matrimoniais e atividades
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do Ponto de Pregação da Comunidade Unidos em Cristo da Paróquia de Timbó. A partir de 1999 o projeto passou a ser gestado pela Fundação Praeses Stoer, instituída para responder a algumas demandas do sonho inicial, tais como: arquivo histórico, biblioteca, projetos sociais em convênio com o poder público. Naquela época o P. Meinrad Piske foi diretor de gestão deste Centro. Com o tempo, a proposta e objetivos da Fundação perdeu força e foi se esvaziando. Então nasceu, em 2009, a Associação Cultural e Educacional Centro de Eventos Rodeio 12, atual gestora e mantenedora do espaço. A nova iniciativa institucional visa dar continuidade ao projeto e sua missão, e garantir a sua sustentabilidade civil, social e fiscal. É uma entidade civil, que responde pela gestão do espaço e logística para fins culturais e educacionais. Uma Associação ligada à Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil – IECLB. Possui uma identidade da fé cristã comunitária. Facilita a comunhão, parcerias culturais e a promoção de ati-
vidades nas áreas da formação, atualização, planejamento e edificação pessoal com a dimensão comunitária. Assume o compromisso e missão de interagir com todas as pessoas, comunidades cristãs e com a sociedade civil. Está comprometida com os valores do evangelho e da justiça social. Não faz acepção de pessoas. Reconhece e respeita as diferenças, a pluralidade e a diversidade social, cultural e religiosa. Compromete-se com a defesa dos direitos e da preservação dos valores fundamentais que contribuem para a paz na sociedade e a vida do planeta. Destaca-se também a decisão da Diretoria Executiva da Associação de assinar o convenio ambiental “Galo Verde” em setembro de 2015. Este convênio propõe harmonizar as atividades do CE Rodeio 12 com os ideais da sustentabilidade. Propõe planejar e realizar ações que fomentam a preservação ambiental, a redução de uso dos recursos da criação de Deus, a Educação Ambiental dos colaboradores e usuários e a busca de parcerias nas igrejas e na sociedade civil, para fortalecer a consciência e o compromisso ambiental.
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ve e trabalha para atender os grupos de pessoas que buscam espaço, alimentação, hospedagem e conforto para se encontrar, formar e prepararse para a vida de fé e os desafios do quotidiano.
Esse maravilhoso e abençoado projeto, desde 1985 até meados de 2016, acolheu e serviu mais de 130 mil pessoas. Ainda hoje, a sua sustentabilidade envolve ativamente as paróquias, comunidades e sínodos. Recebe doações de sócios, dos grupos de OASE, da LELUT e de outros setores da igreja e da sociedade civil. Também, e especialmente, administra os recursos do aluguel de salas, dormitórios e serviços de refeições. Atualmente uma pequena equipe cuida, coordena, ser-
Esse projeto e espaço são um daqueles talentos que Deus, com graça e bondade, depositou nas mãos de lideranças e membros da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil. Pelo amor e graça de Deus ainda não foi enterrado. E pela ação do Espírito Santo escapou de avaliações negativas e foi conduzido com persistência e esperança, através de decisões proativas. E, assim, esse talento continua sendo multiplicado para servir na missão de Deus. O autor é Pastor e Diretor de Gestão do Centro de Eventos Rodeio 12
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Comunicação midiatizada Denise Bichling
O tema comunicação é um dos mais discutidos na atualidade, dada a sua importância e grande representação. Vivemos na era da comunicação. A informação está cada vez mais acessível a todos. Em tempo real, é possível dividir o acontecimento com o mundo. No dia a dia, a comunicação está presente o tempo inteiro. Com o avanço da internet e das redes sociais, as barreiras foram quebradas e as distâncias aproximadas. Ensinamos e aprendemos o tempo todo. O pensador Paulo Freire, em seu livro “Extensão e Comunicação”, afirma: Não há aquele que sabe mais e outro que sabe menos, mas há o que sabe uma coisa e outro que sabe outra coisa. Comunicação implica necessariamente o diálogo, a aceitação do outro e a participação do outro. Não se pode negar que a tecnologia e seus recursos facilitam a vida de todos, proporcionando um maior contato com informações de todo o tipo. A internet mostra-se como uma ferramenta eficaz de aprendizado e entretenimento. Respeitar ideias Quem sabe este é um dos grandes desafios dos tempos modernos. Exemplos não faltam de xingamentos, ameaças e brigas diante de opiniões contrárias, principalmente
quando direcionamos o olhar para política, futebol e igreja. A comunicação midiática, que deveria apenas apresentar os fatos e deixar que cada um desenvolva suas ideias e opiniões, muitas vezes aproveita sua força para manipular e direcionar os acontecimentos conforme seus interesses. O verdadeiro papel dos veículos de comunicação é levantar dados e informações, para que as pessoas possam julgar com critérios e fundamentos. Formar valores Independente das nossas experiências e da idade que temos, precisamos entender que exemplos são feitos de pequenas e grandes atitudes. Que antes de cobrar mudanças dos outros, é necessário direcionar o olhar para dentro de si, e ver como estamos construindo a nossa própria vida. E comunicação também é isso, ou seja, comunicar é fazer perguntas para que as pessoas comecem a refletir. O poder da comunicação é muito expressivo. Saber se comunicar bem, é um dos requisitos mais básicos para se firmar na sociedade. Nós temos hoje, através das redes sociais, por exemplo, diferentes maneiras de passar mensagens. Os jovens poderiam aproveitar muito mais as tecnologias empregadas na
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comunicação para ver, ouvir, falar mais, ampliar a discussão, argumentar, aprender e ensinar. Mas não é isso que vemos. A banalização do ser humano está cada vez mais evidente. As imagens compartilhadas nas redes sociais chegam a assustar tamanha falta de noção de tanta exposição. O que fazemos e registramos em tempo real pode trazer consequências para o futuro. Mas essa observação nem de longe é tida como fator de preocupação para a juventude.
ga-se a um self-service generalizado, que segue a velocidade da moda e da busca por status. Trata-se de um controle que não ocorre a partir da mecanicidade e totalitarismo, e sim funcionando à base da sedução sem deixar o jovem imune a tal contexto.
Atualmente, uma grande parcela da sociedade brasileira encontra-se desorientada. Estamos vivendo uma sociedade cada vez mais midiatizada, com valores distorcidos e o reinado do consumo como elemento diferenciador e fundamental das relações sociais. Com a futilidade ganhando espaço cada vez maior, presenciamos cada vez mais o enfraquecimento da fase de construção de caráter de crianças e adolescentes.
Apesar de a sociedade atual respirar o crescimento tecnológico, como internet, satélites, informatização; a tecnologia não pode ser vista como a grande mediadora entre pessoas e o mundo conforme Martín-Barbero (2009) em “Dos meios às mediações”. Para o autor, a tecnologia pode ser encarada como a mediadora da transformação da sociedade em mercado, através dos mediadores socioculturais primeiros, como Escola, Família e Igreja, e não a partir da manipulação da audiência pelos veículos de comunicação.
A influência da mídia através da televisão ainda é a mais forte, apesar de a internet já ter avançado bastante. A população vê as pessoas famosas e quer imitá-las, pois, em sua compreensão elas são um modelo de beleza e felicidade. Lipovetsky (2005) afirma que, ao transformar a vida da classe média, o consumismo que teve seu início na Segunda Guerra Mundial instaura uma revolução que busca absorver o indivíduo na realização de si mesmo, sufocandoo com imagens, informações e a cultura do bem-estar. Para isso, entre-
É por isso que artistas sempre são utilizados em peças publicitárias, e também nas novelas através de merchandising, para dar credibilidade ao produto e incentivar ainda mais o consumidor a comprar tal produto.
E por falar em veículos de comunicação, gostaria de direcionar o olhar para o bom e velho rádio. Este sem dúvidas segue firme e forte. São mais de 3.209 emissoras somente FM em todo o País, além de outras 1.781 emissoras de Ondas Médias e mais 4.631 rádios comunitárias. Na Internet, o rádio aproveitou a tecnologia e se digitalizou. As novas mídias podem ter deixado o velho e
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antigo rádio de pilha no passado, mas a comunicação por voz continua fortemente presente, agora online na Internet. E com isso, o ouvinte pode simplesmente baixar o link deste programa na hora que quiser. Lançado oficialmente em 1922, com uma transmissão do presidente Epitácio Pessoa, o rádio no Brasil completa quase um século. As radio novelas, os programas famosos da Era do Rádio, como Emilinha Borba, Carmem Miranda e Grande Otelo ficaram na lembrança dos mais antigos. O rádio perdeu para a televisão o posto de veículo de massa por excelência, mas ele continua sendo um bom companheiro. Segundo dados do Ibope Media de 2014, o brasileiro ouve rádio cerca de 3 horas e 50 minutos por dia, até mesmo quando assiste televisão. A sociedade passa a ser cada vez mais mediada pelos meios de comunicação. Mas segundo Lipovetsky (2005, p. 235) a mídia não asfixia o
sentido da comunicação, não põe fim à sociabilidade, mas reproduz de outra maneira ocorrências de troca social. Instituem-na essencialmente sob uma forma menos ritualizada e mais livre. As pessoas se comunicam de maneira mais estilhaçada, mais informal, mais descontínua, de acordo com os gostos de autonomia e de rapidez dos sujeitos. O futuro do Brasil está nas mãos de jovens que podem fazer muito pelo nosso país. Precisamos contar com pessoas que ficam indignadas com as injustiças, que buscam o crescimento social, pessoal e profissional, que contem e valorizem a base familiar, que dão importância ao conhecimento, que buscam informações sobre política, que estejam abertas para debates, para pesquisas e tenham sede por conhecimento. Esses são os jovens que podem mudar a realidade do nosso país, cada um fazendo a sua parte, de olho no processo coletivo. A autora é jornalista, trabalhando em rádio e TV em Blumenau/SC
Literatura recomendada para aprofundamento: FREIRE, Paulo. Extensão ou comunicação? Tradução de Tossica Darcy de Oliveira. 8ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983. LIPOVETSKY, Gilles. A Era do Vazio: Ensaio sobre o Individualismo Contemporâneo. Lisboa: Relógio D'Água, 2005. MARTÍN-BARBERO, Jesus. Dos meios às mediações: comunicação, cultura e hegemonia. Tradução de Ronald Poito e Sérgio Alcides. 6ª ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2009.
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Um industrial inovador P. em. Heinz Ehlert, baseado no relato manuscrito de Irma Luiza Menze Petroll
Indo-se de Porto Alegre em direção ao interior, chega-se a São Leopoldo, situada junto ao Rio dos Sinos. Ali pode-se encontrar, na entrada desta cidade industrial, um complexo de edificações identificadas, em letras garrafais, com o nome “Irmãos Petroll”. Trata-se de uma indústria metalúrgica que fabrica, entre outros, aberturas de metal, inicialmente de ferro e alumínio. Os proprietários eram Roland Petroll e seu irmão mais velho, Helmut. Roland foi um destes empreendedores que sempre buscou a inovação. Foi um dos pioneiros do Brasil na fabricação de janelas, portas e persianas em PVC.
onde seu pai Eugen havia sido contratado para construir um engenho de fabricação de farinha de mandioca. Conta-se que nesta localidade um dia sobreveio um violento temporal. Parte da moradia dos Petroll ruiu. E Roland ficou soterrado pelos escombros. Quando os pais chegaram, só ouviram uns gemidos surdos. Encontraram Roland desacordado com um profundo corte na cabeça. Às pressas os cavalos foram atrelados à charrete e o ferido foi levado ao hospital, onde permaneceu internado por vários dias. A escola ficava longe, e os irmãos Petroll tiveram que fazer o trajeto até lá a cavalo.
Além do ramo industrial, Roland também tinha interesse pela agricultura e pecuária. Tanto é que veio a adquirir e desenvolver uma fazenda perto de Paracatu/MG, para criar gado e dedicar-se à agroindústria.
Como menino Roland já demonstrou espírito empreendedor. Seu primeiro negócio foi a venda de lírios do campo na época de finados. Também inventou de comercializar melancias, colhidas no quintal da família.
Já o seu pai e os antepassados da família Petroll eram empreendedores. O pai Eugen emigrou antes da Segunda Guerra Mundial com sua esposa Wilhelmine e os primeiros filhos da Alemanha para o Brasil. Fixaram-se inicialmente em Sapiranga/ RS, onde Roland nasceu a 08 de maio de 1931.
Em 1942 a família mudou-se outra vez para Sapiranga, passando a cultivar em sua roça, entre outros, mandioca para fabricação de farinha. Mas o pai conseguiu um emprego em São Leopoldo na fábrica de alumínio Carlos A. Meyer.
Quando Roland tinha três anos, a família mudou-se para uma região nova, chamada São Pedro do Sul,
Em São Leopoldo já existia o Instituto Pré-Teológico, um ginásio “humanístico” (ensino das línguas clássicas), situado no Morro do Espelho. Roland foi matriculado ali em
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1944. Mais tarde ele cursou o “técnico em contabilidade” na Escola Técnica de Contabilidade (hoje Escola Professor Gustavo Schreiber). Em 1949 o pai de Roland fundou uma firma com o nome “Irmãos Petroll” para a fabricação de janelas basculantes de ferro e alumínio. Menze (Imis) Aos sábados à tarde os jovens do grupo de Juventude Evangélica de São Leopoldo se encontravam para jogar vôlei, ensaiar teatro, etc. Importante era esse etc. Fazia parte deste grupo também a jovem Irma Luiza Menze, (a Imis). E foi numa excursão do grupo de teatro que Imis ofereceu uma maçã ao Roland. Este, num impulso, segurou-lhe a mão...
segurou... segurou... (“Ai que assédio!”). Parecia irresistível! Tornaramse namorados! Casaram em 1956, em São Leopoldo. O casal foi abençoado com dois filhos, Roberto – que seguiu a profissão do pai – e Rovena Betina que é zootecnista e hoje administra a fazenda do grupo em Paracatu/MG. Os filhos deram seis netos ao casal, e estes, por sua vez, já os presentearam com três bisnetos. Juntos, comemoraram as suas Bodas de Ouro no seio da família e em um grande círculo de amigos, numa bonita festa em Nova Petrópolis. Roland Petroll veio a falecer no dia 07 de novembro de 2015, em São Leopoldo/RS. O autor é Pastor emérito da IECLB e reside em Curitiba/PR
– HUMOR – – Estás vendo aquele helicóptero lá em cima? Faz uns cinco minutos que ele está ali, parado no ar, sem sair do lugar! – É mesmo! Será que acabou o combustível?!
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A Reforma e a Arte Profa. Luciane C. Leite
Pela proximidade das celebrações alusivas aos 500 anos da Reforma Protestante é bastante pertinente relembrar de suas implicações para além da vida religiosa, econômica, política e social dos europeus daqueles dias. Diz-se que nas primeiras décadas do século XVI a Arte vivia uma crise. Rupturas, quebras de paradigmas, não é novidade para o universo pictórico desde muitos séculos atrás. Porém, os artistas daquele século viviam um dilema. Não encontravam o caminho para uma nova maneira de pintar de tal modo que surpreendessem o público. Chegavam até a se indagar se ainda haveria a Pintura conhecida até então, uma das artes mais prestigiadas. Questionavam se ela passaria para a posteridade.
E, isso piorou à medida que a denominada Reforma Protestante se alastrou pelos países setentrionais: Alemanha, Holanda e Inglaterra. De um lado estava a rigorosidade, a severidade dos calvinistas que julgavam a toda e qualquer imagem como um sinal de idolatria. Pleiteavam: não mais esculturas, figuras de santos. Até mesmo a música era vista sob o prisma de idolatria papista. As casas não deveriam ter tais objetos pinturas - símbolos do luxo de Roma. Como viveriam então, os artistas, cuja renda e sobrevivência vinha dos retábulos? Só lhes restara pintar retratos, ilustrar livros, o que não lhes garantiria uma vida digna. De outro lado temos, em contrapartida, o reformador Martim Lutero (1483-1546). Defensor da Música, como maravilhosa dádiva de Deus. E, que qualificava a Reforma como “filha da imprensa”. Lutero defendia o uso da imprensa, do saber, da comunicação em massa e da Arte expressa através da Pintura. No livro “Conversas com Lutero” de (LENZ, 2006, p. 130), o autor, através de uma entrevista fictícia com o reformador – usando como respostas trechos de textos escritos por Lutero – traz uma menção à Arte:
Autorretrato de Lucas Cranach
Repórter: – Seus livros contêm ilustrações?
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“Sermão de Martinho Lutero” detalhe de um retábulo (1547) de Lucas Cranach, o Velho (1472-1553), na Igreja Santa Maria em Wittenberg
Lutero: – Sim. Alguns deles contêm gravuras e caricaturas de artistas famosos. Entre eles, cito Lucas Cranach, meu amigo particular, residente em Wittenberg, nascido onze anos antes de mim.
toda sua complexidade. Ele utilizouse de sua Arte para propagar, para divulgar o Evangelho. Ele tenta persuadir os que entrassem em contato com sua obra, a se "interessar" e seguir a fé protestante.
Lucas Cranach foi um pintor e gravador de origem germânica, nascido em 1472 e falecido em 1553. Durante a maior parte de sua carreira, ficou mais conhecido por seus retratos, tanto de príncipes alemães como dos líderes da Reforma Protestante, cuja causa abraçou com entusiasmo, tornando-se amigo próximo de Martim Lutero. Seus temas eram religiosos - tradição católica - e depois buscou novas formas de transferir para a arte o referencial religioso luterano. Também ficou conhecido por pintar nus inspirados na mitologia e na religião.
É de fato admirável, que - em meio a tanto iconoclasmo - Cranach usasse imagens, confrontando as ideias de outros reformadores.
As pinturas de Lucas Cranach possuem uma simplicidade impactante e resumem de forma singular a fé em
Suas obras cumpriram o papel para que foram criadas dentro do imagético sacro de Cranach. Elas eram admiradas, enquanto que a maior parte das imagens enfrentavam críticas maciças. A iconoclastia era contra a não distinção entre adorar uma imagem e o aprender com elas. Através das imagens sacras podemos aprender de Deus, das histórias bíblicas e de Suas mensagens endereçadas ao ser humano. Nesse sentido, Cranach e Lutero sou-
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beram muito bem fazer uso dos instrumentos de que dispunham. Eles usaram os novos meios daque-
la época – como a imprensa – para propagar os ideais salvíficos do Evangelho de Jesus Cristo. A autora é profa. de Artes em Escola Municipal em Curitiba/PR
– HUMOR – A mãe tenta ensinar “bons modos” ao seu pirralho: – Filho, quando o Juquinha jogou pedras em você, você não deveria ter jogado pedras nele também! Você deveria ter vindo para junto de mim, sua mãe. Carlinhos responde: – Mas mãe, você é muito ruim de pontaria, e não acerta ninguém!
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Os Iconoclastas e Lutero Elfriede Rakko Ehlert
O termo “iconoclasta” provém do grego: “eikon” (imagem) + “kláein” (quebrar/destruir). Iconoclastas, portanto, são destruidores de imagens. Vou ocupar-me primeiramente com o “eikon”, a imagem. Como os gregos e os romanos, em sua cultura e religião, enfeitavam os seus templos (pagãos) com esculturas e imagens de suas divindades e ídolos, os primeiros cristãos queriam distanciar-se dessa prática. A teologia cristã via com preocupação, quando também em templos cristãos apareceram imagens. O primeiro mandamento “... não farás para ti imagem de escultura...”, válido já no judaísmo, devia prevalecer também na Igreja Cristã. Tal proibição, mais tarde, também entrou na doutrina do Islamismo. Só Deus é criador e não o ser humano. Por isso não se poderiam retratar animais e muito menos pessoas. Daí os seus artistas criaram os chamados “arabescos” (motivos de plantas e flores) e sua arte também se desenvolveu em produzir tapetes – tapetes de oração, pois tinham que ajoelhar-se diversas vezes ao dia para adorar Allá. Mas também houve diferenças de doutrina e regras quanto a isso em diferentes épocas da história no Islamismo. Na Igreja Cristã foram-se multiplicando, durante séculos, as represen-
tações de Cristo, em pinturas, em esculturas, etc.. Isto foi tolerado, alegando-se que Deus se tornou em Cristo pessoa humana e nosso irmão. Não a imagem como tal é venerada, mas a pessoa que ela representa, ou seja, o próprio Cristo que é nosso Salvador, orientador e nosso advogado junto ao Pai. O papa Gregório magno, (de 590 a 604) defendeu as pinturas e a arte nas igrejas, argumentando que elas são uma ajuda para os iletrados que não sabiam ler as Escrituras. Especialmente – elas as pinturas e a arte – poderiam levar à meditação e serlhes apoio para a memória. O imperador Carlos Magno (pelo ano de 790) recomendou especialmente o uso da cruz como símbolo na apresentação de histórias bíblicas, como meio didático de ensino. Do século X ao século XV da era cristã floresceu até demais a arte sacra. Houve abusos na ostentação, quando as igrejas mostravam mais e mais a riqueza de seus construtores, tornando-se as mesmas verdadeiros templos de exuberância artística, demonstrando a opulência de uma camada da sociedade, enquanto a outra sofria precariedade, pobreza, trabalho pesado e abandono. Exemplos disso também temos no Brasil (Bahia, Minas Gerais). Verdade é que a arte florescia: Alta-
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res, pinturas em paredes (afrescos), esculturas, relevos levavam os fiéis quase a um êxtase. Prevalecia o pensamento de que os fiéis deviam experimentar a fé com todos os sentidos: ver, ouvir, cheirar (incenso) e, literalmente, saborear.
Mais uma vez podemos apontar para um paralelo com os nossos dias, quando islamitas (especialmente aqueles conhecidos como Estado Islâmico) fanatizados destroem heranças culturais milenares da humanidade em suas regiões.
Permito-me uma pequena digressão: Quando hoje passo por uma das igrejas modernas, percebo ali também esta necessidade das pessoas de se entregar a um ambiente de fervor da fé, para esquecer a dura realidade da vida. Levantam as mãos, ao ritmo acelerado das músicas em alto volume, querendo expelir demônios, chegando próximo ao êxtase.
Mas como este quadro foi influenciado pelos acontecimentos da Reforma da Igreja?
Mas voltando ao século XV, cumpre observar que diante da mencionada opulência ostensiva, dos exageros, houve um grande “basta”, uma ruptura na época de Reforma. Toda a revolta do povo contra as injustiças sofridas, também se dirigiu contra aquela ostentação na arte sacra. É que os nobres e ricos doavam o dinheiro para as artes com o fim de perpetuar o seu nome nas igrejas, pouco se importando com aqueles que trabalhavam para eles de sol a sol. Com a Reforma chegou uma nova era. Panfletos, uma espécie de precursores de nossos jornais, começaram a circular, desafiando as pessoas a reagir, instigando-as e fanatizando-as ao ponto de se tornarem iconoclastas. E isto levou as pessoas a destruir, lamentavelmente, valiosas obras de arte.
Lutero, depois de proscrito (declarado livre como pássaro) pelo imperador na Dieta de Worms (1521), e protegido por seu príncipe Frederico o sábio, encontrou refúgio no castelo, chamado Wartburg. Ali começou a traduzir a Bíblia para a língua do povo (alemão). Dada a invenção da imprensa por Johannes Gutenberg, esta tradução genial seria amplamente divulgada, tornando-se até hoje um enriquecimento para toda a cristandade. Neste tempo turbulento de revolta social, quando massas de gente, instigada por líderes religiosos invadiram templos e catedrais, destruindo imagens, inclusive na cidade de Wittenberg, Lutero não pôde se calar. Embora compreendesse a revolta contra a elite religiosa, não podia tolerar tal destruição. Não se deixou intimidar: Saindo do refúgio seguro de Wartburg, retornou a Wittenberg. E, ali, mediante as suas célebres “pregações de Invocavit” conseguiu, em uma semana, acalmar os espíritos e demover o povo de continuar com a iconoclastia. Neste aspecto Lutero foi um reformador diferente em relação
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a imagens nas igrejas, ao contrário de Zwinglio, Calvino e Menno Simons. Em seus escritos Lutero se dirigia, em especial, contra a crença que através de doações de imagens as pessoas pudessem ser agradáveis a Deus ou alcançar a salvação. Ele acentua que Deus não espera de nós igrejas superornamentadas, mas somente a fé em Jesus Cristo. Em 1525 escreveu: “... imagens servem para ser olhadas como um testemunho e para apoio de memória”, bem no espírito do mencionado Papa Gregório. Lutero, portanto compreende imagens sacras como um recurso didático. Finalmente ainda algo pessoal: Eu
produzi painéis artísticos para diversas igrejas e outros ambientes com figuras de cerâmica. Inicialmente eu tinha certo receio de retratar personagens de cenas bíblicas, como, por exemplo, o próprio Senhor Jesus. Refleti bastante sobre isso. Mas agora estou convencida de que retratar histórias bíblicas é como tentar contar um pouco das maravilhas de Deus e testemunhar a minha fé. E com este testemunho tenho o intuito de também alcançar outras pessoas. Eu compreendo a arte, como um meio de missão. A autora é professora emérita e artista plástica – reside em Curitiba
Nota do Editor – A artista plástica Elfriede Rakko Ehlert criou os seguintes painéis de cerâmica com os temas: 1. A saga da imigração alemã: Prédio da então Universidade Luterana Livre - Curitiba/ PR 2. Parábolas: O Filho Pródigo e O Bom Samaritano: Capela 12 Apóstolos – Centro de Eventos Rodeio 12 – Rodeio/SC 3. Jesus e a família/crianças: Jardim de Infância da Comunidade de Itoupava Seca – Blumenau/SC 4. A parábola do Semador e Jesus e as crianças: Igreja Deus é Castelo Forte – Paróquia Evangélica de Confissão Luterana em Itoupava Rega – Blumenau/SC 5. A multiplicação dos pães: Lar de Idosos Ebenezer em Campo Comprido – Curitiba/ PR 6. Lamento sob a Cruz e a Missão do Crucificado: Igreja da Comunidade Evangélica de Braço do Trombudo/SC 7. Jesus, o Bom Pastor: Igreja da Comunidade Evangélica Luterana de Taquaras – Ibirama/SC 8. A História de Deus com os homens: Igreja da Comunidade Martin Luther da Paróquia Cristo Salvador – Curitiba/PR 9. Consolação: Comunidade Luterana da Consolação junto ao Cemitério Luterano – Curitiba/PR
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Receitas boas da Marlene Colaboração: Marlene Zizemer Gaede
Panetone Salgado Ingredientes para a massa: – 3 ovos. – 1 colher de açúcar. – 150 gramas de manteiga ou margarina. – 1 xícara de leite. – 1 colher de fermento p/ pão. – 1 colherinha de sal (ou quanto preferir). – 4 xícaras de farinha de trigo (pode ser meio integral). Misturar e amassar bem; deixar crescer, enquanto prepara o recheio. Ingredientes para o recheio: – 1/2 kg de calabresa picadinha. – 150 gramas de bacom picadinho (fritar antes para tirar a gordura). – 1 cebola picada. – 1 dente de alho grande picado. – 1/2 xícara de azeitonas picadas. – 1 xícara de pimentão picado (3 cores). – 3 colheres de salsa e cebolinha picadas. Modo de fazer: Misture tudo na massa. Coloque na forma desejada e deixe crescer. Asse em forno pré-aquecido.
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Stollen alemão Ingredientes: – 1/2 kg de farinha de trigo. – 6 colheres de açúcar. – 1 colher de fermento de pão. – 200 ml de leite morno. Misturar e deixar crescer. Acrescentar: – 100 gramas de manteiga mole (temperatura ambiente). – 5 colheres de rum ou cachaça. – 1 colher de suco de limão. – 1 colherzinha de raspa de casca de limão. – 200 gramas de uvas passas. – 200 gramas de castanha picadinhas. – 1 xícara de cereja picadinha. – 200 gramas de damasco picadas. Modo de fazer: Amassar muito bem. Se a massa ficar mole demais, acrescente um pouco de farinha. A massa deve ficar mais ou menos firme. Colocar na forma e deixar crescer. Assar em forno pré-aquecido. Ao retirar do forno, passar manteiga derretida e polvilhar com açúcar confeiteiro. A colaboradora trabalha com programas de saúde e medicina natural e reside em Itati/RS
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“Onde existe fé, também existe o riso!” P. Clovis H. Lindner
Há um fascinante parentesco entre o humor e a fé cristã. O reformador Martim Lutero era um homem com um humor espetacular, que tinha muita presença de espírito e era capaz de rir de si mesmo. Tanto é que a frase que dá o título a este artigo vem de suas famosas conversas à mesa (Tischreden). É o que escreve a pastora e atriz Gisela Matthiae, num iluminado artigo sobre fé e humor. Bem no espírito de Lutero, “onde existe fé, também existe o riso”. Isso fica evidente, por exemplo, em encontros de igreja, conferências de ministros e ministras, e até em assembleias sinodais. Em todos estes lugares, embora reúnam gente “de fé”, o riso anda solto e não é difícil ouvir boas gargalhadas. Lutero adorava fazer piada sobre a morte e o inferno, por exemplo. Dizia que o diabo é uma espécie de monstro, que fica no inferno engolindo pecadores. “Até Cristo foi engolido por ele, embora ele tivesse um gosto um pouco diferente dos outros e arrumasse uma bela dor de barriga para o pobre diabo, fazendo com que ele o vomitasse de volta; e não somente a Cristo, mas todos os outros pecadores junto com ele” brincava o reformador. “Segundo essa saudável interpretação, o inferno deve ser um lugar vazio”, brinca o pastor Mozart Noronha. Nem todo o mundo vê as coisas da
fé desta maneira. Há muita gente que, quando vai à igreja, fala da fé, ora ou lê a Bíblia, mais parecendo uma criança no recreio da escola reclamando que lhe roubaram o lanche. “É um tipo de comportamento que remonta à Idade Média, quando nos mosteiros o riso era considerado um ato pecaminoso, por ser incontrolável e contagioso. Por isso, rir era algo que só era permitido no carnaval ou em apresentações de palhaços e comédias”, escreve a pastora Matthiae, que também atua como palhaça. Já para Lutero, que experimentou a contrição de um mosteiro na própria pele, o riso não era mais um sinal de pecado, mas a expressão da superação do pecado através da fé. Assim, o riso é bem-vindo também fora dos lugares específicos que a ele reservamos – inclusive na igreja! Deus engraçado Um cristão pode rir porque ele sabe que, em Cristo, Deus se tornou tão humano que vira motivo de piada. O próprio apóstolo Paulo diz que a nossa fé é loucura para o mundo. Eu interpretaria a sua afirmação como “a nossa fé é uma piada para o mundo”. E de fato era. No tempo de Paulo muitos faziam piada dos estúpidos que acreditavam num Deus que faz o seu filho vir ao mundo no meio de
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animais, envolto em fraldas e, depois de deixá-lo crescer em meio a muita polêmica e confusão, o faz morrer pendurado numa cruz, como um fracassado. Pode-se ficar chateado com isso ou, simplesmente, manter o espírito aberto, permitindo que se aborde a questão da fé a partir de diferentes perspectivas. Assim, o bom humor permite que se cresça com tais abordagens. Espirituoso O bom humor é eclético. Ele abre a perspectiva e permite diferentes abordagens sobre uma situação. Pressupõe a capacidade de olhar-se no espelho e achar a si mesmo engraçado, uma vez que “outra perspectiva permite também outra interpretação em relação à mesma situa-
ção”, ensina a pastora Matthiae. Pessoas com humor se caracterizam por permitir diferentes perspectivas e até pela disposição de colocar suas teses favoritas em debate. Elas “cultivam abertura em relação a diferentes interpretações, mostrando-se curiosas e interessadas; levando a situação do mundo a sério, mas sem exagerar nesta seriedade”, acrescenta. Quem leva tudo muito a sério, tornase amargurado, cheio de razão e de difícil trato. Pessoas bem-humoradas mantêm uma saudável distância de si mesmas e do mundo, sem se tornarem alienadas, pontua. “Nesse sentido, humor não é só piada, mas uma postura séria e que deve ser levada a sério, de tolerância, diálogo, liberdade interior para consigo mesmo e para com os outros”, conclui Matthiae. Tanto a fé quanto o humor sabem
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dos dramas da vida, que ora são grandes, ora menores, e que até podem chegar à morte. Mas tanto a fé quanto o humor sabem que a vida é maravilhosa e a fé cristã a considera mais especial ainda por conta do Deus que se torna gente em Jesus Cristo. Isso é motivo de bom humor, que só pode complementar a fé. “Uma fé cheia de humor ou um humor crente considera Deus superlativo”, reflete a pastora.
falta de respeito. A irreverência é uma maneira interessante de refletir sobre as coisas da fé e até de fazer teologia. Teólogos como Karl Barth sabiam disso e faziam uso do recurso do humor em suas pregações e até em seus livros. Presença de espírito ajuda a aguçar a capacidade de meditação e torna o cristão ágil no raciocínio e na vivência espiritual. A fé fala de coisas alegres e o humor expressa isso.
Assim, preencher a sua vida de fé com elementos engraçados, espirituosos e repletos de alegria não é
O autor é Pastor da IECLB e reside em Blumenau/SC
Publicado originalmente no jornal O Caminho, maio/2014 Observação do Redator: Um dos grandes teólogos da IECLB – Gottfried Brakemeier – quando pastor na “Igreja do Relógio” em São Leopoldo, muitas vezes iniciava suas pregações com a frase: “Existe uma piada que diz assim...” E lá vinha uma tirada de humor para captar a atenção e ilustrar a Palavra que viria a seguir.
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Ao invés do pão, o veneno nosso de cada dia! Engª. Agrª. Ingrid Margarete Geisel
Por onde começar para tratar de um tema importantíssimo como a nossa alimentação e saúde? Com certeza, a grande maioria não sabe o que está consumindo e também não tem muito tempo para pensar. Temos pressa e muitas atividades. Alguns institutos, em seus relatórios, já afirmam que estamos nascendo “pré-poluídos”. A nossa alimentação não é saudável. Estamos consumindo muitos produtos químicos junto com os alimentos, presentes nas hortaliças, frutas, carnes, água. E isto sem falar nos alimentos processados e industrializados, energéticos, refrigerantes, sal e açúcar refinados. Cito alguns exemplos do que pode ser encontrado nos alimentos que estamos consumindo: agrotóxicos, antibióticos, hormônios, corantes, acidulantes, conservantes, gorduras trans, adoçantes, etc.
Nestes tempos de net, internet e de muitas informações precisamos cultivar o silêncio, o diálogo, o contato com o outro, para além destas modernidades. Então pergunto: Como estamos cuidando dos nossos pensamentos, da nossa saúde mental? O que estamos lendo, pensando? Quais os programas na televisão e músicas selecionados? É preciso cuidar do nosso bem estar em todos os sentidos: físico, mental e espiritual. Por outro lado, tem uma discussão que é anterior ao nosso consumo e bem estar. Trata-se da questão dos agrotóxicos, da terra e do capital. Ainda estamos ocupando o primeiro lugar na lista de países que mais utilizam agrotóxicos. O Brasil está na liderança desde 2008. Temos uma economia que prioriza o agronegócio, as monoculturas e uso de muito agrotóxico.
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No final de 2013 a revista científica Interdisciplinary Toxicology do Instituto de Farmacologia Experimental da Academia Eslovaca de Ciências publicou um artigo intitulado “Glifosato, Caminhos para Doenças Modernas II: Doença Celíaca e Intolerância ao Glúten”, uma doença autoimune, desencadeada pela ingestão de glúten. O uso do glifosato, o ingrediente ativo do herbicida Roundup, na agricultura aumentou exponencialmente em função da difusão das lavouras transgênicas e hoje é o veneno mais utilizado no mundo. E os autores deste artigo afirmam e fundamentam que é alarmante a incidência da doença celíaca em todo o mundo, principalmente em função do uso dos herbicidas e o aumento da exposição da população ao glifosato através dos resíduos presentes nos alimentos. O glifosato é usado no milho e na soja. Todos os refrigerantes e doces que são adoçados com xarope de milho e todos os chips e os cereais que contém soja possuem pequenas quantidades de glifosato, assim como a carne bovina e de aves, alimentadas com milho ou soja transgênica. A vida no planeta está comprometida e o perigo está em todo lugar. Está no campo quando o agrotóxico é aplicado nas plantações, contaminando o agricultor e sua família, os vizinhos, a água, o solo, o ar e o alimento. Depois chega à mesa do con-
sumidor; é o veneno disfarçado de alimento. Existe um grande número de agrotóxicos que são aplicados. E eles interagem entre si, potencializando o risco à saúde e ao meio ambiente, provocando intoxicações agudas, distúrbios crônicos, efeitos neurológicos, teratogênicos, genotóxicos alguns tipos de câncer. Tudo isto já está comprovado e indiscutível do ponto de vista técnico científico. Os impactos à saúde pública são amplos. Desde 2011 a “Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida” tem por objetivo sensibilizar a população brasileira para os riscos que os agrotóxicos representam e divulgar outro modelo de produção de alimentos baseado na Agroecologia. Outro problema, além dos agrotóxicos, é o uso do aspartame que está presente em diversos produtos: adoçantes, gomas de mascar, refrigerantes. Seu uso já é proibido em vários países, pois provoca doenças degenerativas do sistema nervoso. Os conservantes encontrados nos embutidos como salames, presuntos e salsichas são responsáveis por vários tipos de câncer de estômago. Os defumados e o churrasco são alguns dos alimentos mais tóxicos e cancerígenos que consumimos. Quando o carvão é queimado ele libera hidrocarbonetos, entre os quais o benzopireno, substância al-
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tamente cancerígena. Não precisamos parar de comer estes produtos, mas diminuir a quantidade e a frequência. Os corantes amarelos, presentes em todos os alimentos industrializados devem ser evitados, pois tem causado reações alérgicas como asma, bronquite, rinite, náusea, urticária, eczema, dor de cabeça, hiperatividade e outros distúrbios. No Brasil a água potável pode conter 22 tipos de agrotóxicos, 13 de metais pesados, 13 de solventes e seis de desinfetantes. Até 1977 a água própria para consumo humano não podia conter resíduos de mais de 12 agrotóxicos e dez metais pesados. Em 1990 e 2004 foram feitas duas atualizações. O sistema de tratamen-
to da água para consumo é antigo e muitos produtos químicos ficam dissolvidos na água, causando diarreias, efeitos neurológicos, cancerígenos, endocrinológicos, psiquiátricos. A dioxina é uma das substâncias mais estudadas no planeta. Sintetizada pelo ser humano e de maior toxicidade, pode ser encontrada tanto no ambiente como nos alimentos, e causa uma série de doenças, como o câncer, deformidades de nascimento, diabetes, endometriose e anormalidades no sistema imunológico e interfere no processo de desenvolvimento e aprendizado. Ela está presente nos incineradores do lixo doméstico e hospitalar, nas queimadas e nos processos industriais que utilizam cloro para produzir re-
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sina plástica polivinil cloreto (PVC), agrotóxicos e fábricas de celulose que usam o cloro para clarear a polpa para produzir o papel branco. Quando a contaminação com a dioxina pode ocorrer? Quando ingerimos alimentos que tiveram contato direto com embalagens que possuem dioxinas, por exemplo, pratos de papel e caixas de comida feitas de papel branqueado, os filtros de café e absorventes internos. O ar que respiramos também não é puro. A fumaça de uma queimada, o que significa? A fumaça é composta por gases e material particulado. Mais de 70 produtos químicos já foram identificados na fumaça resultante das queimadas de vegetação. E os gases tóxicos presentes são aldeídos, dióxido de enxofre, monóxido de carbono. Muitos destes produtos têm ação cancerígena. Assim toda a queima de lixo, libera também dioxinas. E quando colocamos repelentes para os pernilongos, a contaminação é causada pelo inseticida vaporizado eletricamente formulado à base de piretróide. Ele é neurotóxico, causando problemas no sistema nervoso, além de desencadear processos alérgicos.
Muitas são as informações. Quantas conseguimos colocar em prática? Pequenas ações podem fazer a diferença. Quem está ganhando e quem está perdendo com a alimentação que vai à nossa mesa todos os dias? Não podemos perder a esperança, e deixar de lutar por outro modelo de desenvolvimento, por outra agricultura, por uma alimentação saudável, que permite uma vivência em harmonia com a mãe terra, com a natureza, usufruindo de todos os benefícios desta parceria. Os alimentos são uma dádiva. E comer é um ato político. O Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia (CAPA) lançou em 2016 a Campanha “Comida Boa na Mesa”, tentando sensibilizar e chamar a atenção para uma alimentação saudável. Comida boa tem poder e traz felicidade, é cultura que alimenta, é identidade de um povo, traz saúde... Todas as pessoas são chamadas a cuidar da produção de alimentos, da cadeia produtiva, da sustentabilidade do planeta, colocando em prática o tema do ano da IECLB de 2016: “Pela Graça de Deus, livres para cuidar”, também do corpo, da alimentação e do próximo. A autora é Engenheira Agrônoma e Coordenadora Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia (CAPA), em Erexim/RS
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Ensino Religioso Escolar em escola pública P. em. Raul Wagner
Certa vez lancei perguntas à Comunidade sobre sua responsabilidade na educação das crianças batizadas. Também no contexto da responsabilidade dos pais e padrinhos por ocasião do compromisso assumido no batismo de seus filhos e afilhados. Resumidamente todos responderam que têm assumido esta educação. A Comunidade ao afirmar que mantém o trabalho do Culto Infantil investindo em coordenadoras e materiais. Os pais por enviarem seus filhos ao Culto Infantil e ao Ensino Confirmatório. Bem, os padrinhos foram muito vagos. Somente alguns conversam com seus afilhados e afilhadas sobre a importância da vida com Deus. A Constituição da IECLB, no Capítu-
lo I, Artigo 11, inciso IV descreve como uma das incumbências da COMUNIDADE: assistir as novas gerações, em especial quanto ao ensino e à formação evangélico-luterana dos batizados. Portanto, é tarefa da Comunidade ensinar e formar seus batizados. E sendo tarefa da Comunidade ela precisa também ser assumida pela Paróquia e por sua vez pelo Sínodo e por toda a IECLB. Há muito tempo pessoas tem-se preocupado com o ensino dos seus membros e de forma que este ensino aconteça de maneira responsável e abrangente, isto é, abrangendo todas as fases da vida. Mas porque, como Igreja, devemos nos ocupar com a educação?
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A resposta está em Mateus 28.19-20 quando Jesus comissiona os discípulos, dos quais somos os herdeiros: “Ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as cousas que vos tenho ordenado”. Lembro também que o povo de Deus sabia da importância da educação de suas crianças quando lemos em Provérbios 21.6: “Ensina a criança no caminho em que deve andar, e ainda quando for velho não se desviará dele”. As primeiras pessoas responsáveis pela educação são os pais, depois a Comunidade e, por fim, a escola. Se os pais cumprirem de fato com a sua responsabilidade, a Comunidade firmará esta educação e lhe dará aprofundamento. A escola ampliará esta educação de modo que a base recebida em casa e firmada na Comunidade se solidificará e potencializará para toda boa obra. Reconhecendo sua responsabilidade, a Igreja assumiu o compromisso com a educação que vai além dos muros de suas comunidades, fomentando a criação e manutenção de escolas luteranas. Nestas escolas as crianças aprendiam a ler, escrever, fazer contas, e eram-lhes ministradas aulas de desenho, educação física e canto. E o ensino religioso tinha uma importância especial nestes educandários. Falar sobre as escolas luteranas é falar sobre uma das prioridades da igreja luterana em toda sua história
e em todo mundo. A prioridade do movimento da Reforma foi dar a possibilidade aos cristãos de lerem a Bíblia na sua própria língua. Para ler e estudar a Bíblia era necessário que os cristãos dominassem a leitura e tivessem um mínimo de conhecimentos gerais. Estes só poderiam ser adquiridos na escola. Martim Lutero entendia ser a educação dever do estado com o incentivo e apoio dos pais, inclusive financeiro. Entendia que o ensinar e o aprender fazem parte da natureza humana e, portanto, são um direito natural do ser humano. Ele tinha clareza de que a educação recebida ajudaria as pessoas a se prepararem para a vida, para saberem agir como povo, de forma consciente e responsável, para não se deixarem levar por qualquer outra pessoa. Esta postura de Lutero perpassa a Igreja Luterana em todo seu desenvolvimento. Vai criando a cultura da importância de se manter escolas e nelas as crianças. Lutero não batalhou apenas pelo ensino fundamental, o fez também pelo ensino superior. A IECLB, como herdeira da Reforma, não pode negligenciar esta cultura trazida pelos imigrantes alemães que a formaram. A IECLB afirma em sua política educacional que em Lutero encontramos uma base doutrinária fundamental para a educação em sua concepção do “sacerdócio geral todos os crentes”. Já que as pessoas batizadas são “sacerdotes”, igualmente vocacionadas e,
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portanto capacitadas pelo Espírito Santo concedido no batismo e atuante na vida para a vivência e a prática da fé, todas elas devem ter acesso aos meios do conhecimento da fé e do amor. Portanto, o processo educativo deve ser universal por definição, isto é: Todas as pessoas devem ter igualmente acesso à educação, sem exceção, já que o evangelho não faz qualquer espécie de distinção. Todo processo educativo na Igreja deve estar contido na observância do duplo mandamento do amor: O amor de Deus e o amor ao próximo (Mateus 22.34-40; I João 4.20). Inversamente a prática da justiça e da misericórdia deve dar forma e conteúdo ao processo educativo, que não pode deixar de ser amplamente libertador. Sem essa prática, toda e qualquer educação se perverte em instrumento de obtenção ou manutenção de privilégios, discriminações e dominações. Do ponto de vista evangélico, a Igreja entende que a educação tem, assim, um objetivo tríplice: “a) o entendimento da fé; b) a promoção do ser humano e c) o serviço ao mundo”. A partir deste objetivo tríplice, a Igreja também se entende responsável pelo ensino religioso na escola pública. O ensino religioso nas escolas públicas, desde a época da proclamação da República, sempre fez parte do ensino como disciplina facultativa, deixando de ser apenas ensino católico. No decorrer dos anos cresceu
a necessidade de solidificar este ensino, que em vários estados já era ministrado de forma ecumênica. E nele a IECLB participou de forma ativa no CIER em Santa Catarina e na ASSINTEC no Paraná. O FONAPER foi instalado em 29/06/ 1995, em Florianópolis, com o objetivo de garantir o Ensino Religioso na escola pública como disciplina presente na grade curricular tendo como objetivo valorizar o pluralismo e a diversidade cultural presente na sociedade brasileira, facilitar a compreensão das formas que exprimem o Transcendente na superação da finitude humana e que determina subjacentemente, o processo histórico da humanidade. O FONAPER foi constituído por representantes das igrejas cristãs, e de diferentes religiões presentes no cenário brasileiro, que aceitaram o desafio de empenhar-se a partir desse objetivo. Reuniram professores de ensino religioso, secretárias estaduais de educação e representantes religiosos para discutir a importância do ensino religioso e para discussão e encaminhamento no Congresso Nacional de alteração do art. 33 da Constituição Brasileira que oferecia um ensino religioso confessional sem ônus para o Estado. Em 22 de julho de 1997 foi sancionada pela presidência da República a lei nº 9.475/97 que afirma que o art. 33 da Constituição da República passa a ter a seguinte redação: Art. 33 – O ensino religioso, de matrí-
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cula facultativa, é parte integrante da formação básica do cidadão, constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurando o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo. § 1º - Os sistemas de ensino regulamentarão os procedimentos para a definição dos conteúdos do ensino religioso e estabelecerão as normas para a habilitação e admissão dos professores. § 2º - Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituída pelas diferentes denominações religiosas, para a definição dos conteúdos do ensino religioso. Assim, o ensino religioso na escola pública é assegurado como elemento normal do sistema escolar. Não
deve ser entendido como ensino de uma religião ou das diversas religiões presentes na escola, mas uma disciplina centrada na antropologia religiosa respondendo o porquê da necessidade intrínseca da transcendência presente no ser humano. É de suma importância que os sínodos assumam o compromisso de assessorar os professores de educação religiosa, hoje habilitados em cursos de graduação específica. Pois assim estarão ajudando na educação das crianças de sua área que frequentam a escola e estarão auxiliando suas comunidades a cumprirem o Art. 11 item VI da Constituição da IECLB, e as famílias a verem a importância de sua responsabilidade na educação de seus filhos e da juventude em geral. O autor é Pastor emérito da IECLB e reside em Bombinhas/SC
– HUMOR – Aula de Ensino Religioso. A professora passou a Parábola do Filho Pródigo. Ao fim, ela tenta recapitular o conteúdo com os alunos, e pergunta: – Todos se alegraram com a volta do Filho Pródigo. Apenas um não se alegrou. Quem foi? – O bezerro gordo! – responde Joãozinho!
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Oração de um professor Prof. Ervino L. Werlang
Senhor Jesus, quando viveste na Palestina e ali ensinaste, chamavam-te de Mestre. Faze com que eu nunca me esqueça, de que eu trabalho com o maior bem deste mundo, com o espírito e os corações das crianças! Elas recebem de mim impressões que o tempo jamais apagará. Dá-me paciência com aqueles e aquelas que aprendem devagar, que resistem. Quando preciso impor disciplina, dá que eu o faça de modo incisivo e amoroso ao mesmo tempo. Defende-me de usar o sarcasmo ou
a severidade que machucam. Dá que eu as incentive e não as desestimule quando crianças dão o melhor de si, e quando também este “melhor” não for muito bom. Ajuda-me para que eu ensine as crianças a pensar com autonomia e não apenas encha a sua cabeça com conhecimentos. Com todas as preocupações e decepções em minha profissão, Senhor, deixa-me estar consciente de que o futuro de nosso país e do mundo está em minhas mãos. Em nome de Deus, nosso Pai eu o peço. Amém. Familienkalender 2010, pág. 19 Trad. P. Dr. Osmar Zizemer
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Os povos indígenas no Brasil e o século XXI Janaina Hübner e Jasom de Oliveira
Para os povos indígenas no Brasil o século XXI é tempo de avanços e desafios. Por um lado, eles estão cada vez mais conquistando os seus espaços para que possam ser protagonistas de suas histórias e de seus anseios. Por outro lado, no que diz respeito à forma como a sociedade não indígena os vê, conhece e com eles convive, há uma estagnação, um atraso de mais de 500 anos. Os povos indígenas no Brasil vivem uma situação de discriminação constante. Isto se deve a vários fatores ou equívocos sobre a forma como a
sociedade não indígena os compreende. A falta de conhecimento e a invisibilidade das culturas indígenas no Brasil fazem com que elas vivenciem uma situação de preconceito, como se fossem estrangeiras em sua própria terra. Para falar do presente é necessário compreender a história. Antes de explicar estes equívocos, vamos fazer um exercício mental de nos colocar no lugar do outro. Imagine que você vive tranquilo com sua família em um mesmo espaço há tanto tempo que parece que ali mesmo os seus
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antepassados foram criados por Deus. Você conhece cada árvore, cada pedra, cada rio e cada animal e há uma bela história para cada um deles. Você não conhece outra forma de viver a não ser colher o que a natureza lhe oferece como frutas, raízes e ervas, e caçar e pescar, entre outras maravilhas que este lugar lhe oferece para a sua sobrevivência. Inesperadamente chega outro povo de muito longe, que vive de outra forma e fala uma língua que você não entende. Este povo vai ocupando o seu território e não permite que você caminhe ou colete alimentos onde você sempre coletou. Mas você se impõe e vai assim mesmo. O outro povo, recém-chegado, tem armas potentes e desconhecidas e mata seus irmãos e irmãs, seus filhos e filhas. Os que não são imediatamente mortos pelas armas começam a morrer de fome e de doenças. Você fica vagueando pela sua terra, à procura de um espaço seguro, onde possa alimentar sua família e viver do seu jeito. Mas é tratado como um ser inferior, como um pedinte, um preguiçoso. A alternativa para você nesta situação seria aceitar ser empregado daqueles que ocuparam a sua terra, trabalhar muito e receber pouco. Afinal, segundo aquele povo, você não tem capacidade nem formação para receber o mesmo salário que alguém daquele povo. Você deve abandonar os seus costumes, seus valores, sua língua, suas narrativas, sua religião e assumir os costumes daquele povo estrangeiro. Se você
começar a ficar deprimido, talvez se entregando ao álcool e quiser morrer, ninguém vai se importar. Você será chamado de bêbado que não presta. Nesta triste e breve narrativa, que não chega nem perto de todos os tipos de humilhação que os povos indígenas sofreram ao longo da história do Brasil, já é possível sentir-se indignado/a. Como você se sentiria se tivesse vivenciado este processo? Como diferentes povos que passaram por este processo são encarados no século XXI? Um dos equívocos que gera o preconceito contra os povos indígenas é o fato de encarar suas culturas como uma só, como se todos os povos fossem iguais e falassem a mesma língua. Há no Brasil 305 povos indígenas com 274 idiomas indígenas diferentes, segundo o Censo Demográfico de 2010. Cada um destes povos possui uma cultura com suas ciências, sua arte, sua religião, sua medicina e sua arquitetura, todas diferentes entre si, com jeitos diversos de ser e de encarar o mundo. Apesar de muitos povos e culturas terem sido extintos no Brasil, ainda há uma diversidade enorme de culturas indígenas. Outro erro é considerar os conhecimentos indígenas como atrasados ou primitivos. As artes indígenas, como a literatura oral repleta de narrativas ricas em detalhes e rimas, assim como os ensinamentos de com-
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portamento ético para a boa convivência coletiva se perpetuam de geração a geração. Muitas ervas medicinais de conhecimento indígena foram utilizadas por farmacêuticos para serem transformadas em remédios importantes que utilizamos hoje. Os conhecimentos geológicos e geográficos dos povos indígenas foram ignorados pelos imigrantes europeus, que construíram cidades em locais de alagamento constante e de desmoronamentos, e que por isso sofrem com tragédias até hoje. Outro grande equívoco e, talvez, o que cause mais estragos, é o de que as culturas indígenas são imutáveis. Toda a cultura é dinâmica e não para no tempo. Toda a cultura se transforma com o passar do tempo nas diferentes gerações pelas experiências, pelos acontecimentos históricos e pelos contatos com outras culturas. Assim como as culturas de outros povos em outros continentes e países se modificaram, as culturas indígenas também se modificam. Os alemães não usam suas roupas de Oktoberfest no dia a dia. Também não usam somente carros da Volkswagen, e nem por isso deixam de ser alemães. Atualmente as pessoas, independente da cultura local a que pertencem, usam tecnologias que foram desenvolvidas por outras culturas, buscando melhor qualidade de vida. Os povos indígenas também têm o direito de utilizar recursos tecnológicos que não pertencem a sua cultura. Ninguém deixa de ser
o que é por morar numa casa, usar celular, computador e internet. Estas são ferramentas que podem ajudar a viver melhor e até mesmo a resgatar e divulgar a própria cultura. Estes equívocos, porém, são utilizados para deslegitimar as causas e os direitos dos povos indígenas aos seus territórios e aos seus modos de viver. Os povos indígenas são tratados e julgados a partir dos “óculos” das culturas não indígenas, no momento de dizer que não plantam e não colhem, levam suas crianças para vender artesanato, não seguem uma rotina de trabalho “adequada”, não utilizam suas terras como “deveriam”. Quando utilizam ferramentas tecnológicas, são julgados como se não fossem mais indígenas e, portanto, não precisariam de suas terras, de educação escolar indígena diferenciada e nem de políticas públicas de acesso e permanência no ensino superior. Diante deste cenário os povos indígenas vivem em luta constante para manter os direitos conquistados com a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Lutam para se tornarem mais visíveis para a sociedade não indígena, de forma a serem valorizados e respeitados em seus conhecimentos tradicionais, em seus jeitos de ser e que seus direitos sejam efetivados. E neste aspecto, de seu acesso e protagonismo nas e a partir das políticas públicas, há conquistas. A partir da política de cotas para in-
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dígenas nas universidades, muitos jovens indígenas estão buscando formação no ensino superior para sistematizar, registrar e socializar seus conhecimentos. A formação universitária também contribui para melhorar a qualidade de vida das comunidades e defender seus direitos. Há escolas indígenas com professores indígenas. O atendimento à saúde conta com técnicos em enfermagem, enfermeiros e médicos indígenas. A formação em direito também vem sendo amplamente procurada, assim como a formação na área ambiental, entre outras. O processo da busca pela autonomia, da autogestão e autodeterminação
dos diferentes povos, a partir de seu modo de ser é constante, apesar da falta de compreensão da sociedade não indígena. O Brasil é um país pluricultural. E esta é uma característica que o enriquece. Mas falta apenas o seu próprio povo reconhecer e valorizar isso suficientemente. O ser humano nunca foi igual e nunca será. É tempo de superar o atraso dos preconceitos, de construir a reconciliação entre os diferentes, de lutar para que todos e todas tenham uma vida digna e de valorizar o que realmente tem valor: A vida com sua diversidade de conhecimentos, de religiões, de valores, de narrativas e de jeitos de ser. Os autores trabalham na Pastoral de Convivência na Aldeia Indígena Xokleng de José Boiteux/SC
– HUMOR – Jovem pai, ainda nervoso, sai da maternidade, e na rua encontra o Pastor de sua comunidade: – Senhor Pastor! Acabei de ficar pai de trigêmeos! – conta, emocionado. O Pastor já não ouve bem, e pede: – Você pode repetir? – Está doido, Pastor! Como é que eu iria sustentar seis crianças?!
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Vivências... no pastorado . em. Valdemar Lueckemeyer
“E é das mordedeiras!” Sepultamento. Familiares, parentes e amigos reunidos ali, entre as sepulturas, todos ouvindo em silêncio a meditação e a mensagem do pastor. Este nem percebeu o que estava acontecendo, apenas viu alguém dar ligeiramente alguns passos para o lado e dizer: - E é das mordedeiras! - Mas o que aconteceu? - perguntou alguém ao lado, quando viu que mais gente atordoada estava coçando os pés, abaixando as meias, esfregando as pernas e se distanciando do lugar. O que aconteceu: Alguém não tinha percebido que estava parado em cima de um pequeno formigueiro, daquelas pretinhas, brabas, muito doloridas quando mordem. E era das “mordedeiras”! Você é o... o... Muitos anos depois da saída daquela comunidade, o pastor volta para uma visita, num domingo em que a comunidade estava em festa. Encontros, reencontros, abraços, alegria geral. Até que veio aquele momento em que o pastor não sabia mais o
que fazer, o que dizer de constrangimento. Ao cumprimentar um e outro, ainda se lembrava dos nomes de muitos deles (embora isto fosse justamente o seu grande “fraco”). Mas quando chegou para cumprimentar o..., o..., ..., sim, quem era ele? - Sim, eu me lembro do senhor, mas não me lembro do seu nome no momento! - Ah não, pastor, não vai dizer que não se lembra de mim! - Lembro-me sim, mas não do seu nome! - Mas o pastor está brincando comigo. Como não vai se lembrar de mim?! Os segundos estavam passando, todos começaram a olhar um para o outro e o pastor ali, sem jeito, com sorriso amarelo e não sabendo mais o que dizer. Foi salvo por um dos cumprimentados: - Claro que o senhor se lembra dele, pastor! Ele é da família...” e veio o nome! Lição: Cumprimentar todos pelo nome ou não mencionar nome nenhum! O autor é Pastor emérito da IECLB e reside em Carazinho/RS
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Luteranismo no Brasil P. em. Heinz Ehlert
No estudo da Faculdade de Teologia
Na roça e na escola Era sempre bem-vinda a pausa no trabalho da roça de manhã. Pois era a hora de uma merenda, um pequeno descanso e ainda uma oportunidade para conversar ou ouvir um história que o pai contava tão bem. Numa ocasião dessas ouvi pela primeira vez o nome Lutero. Meu pai contava aquela história dramática, quando Lutero foi intimado a comparecer à Dieta de Worms para defender a sua doutrina perante o imperador e as autoridades do império e da igreja. Como ele ficou firme e não revogou nada. Foi proscrito e teve que fugir, sendo acolhido por ordem do príncipe Frederico, o sábio, no Castelo de Wartburg. Lá traduziu o Novo Testamento (do original grego) para a língua do povo (alemão). Aprendi que pertencíamos à Igreja Evangélica Luterana. Lembrome que senti orgulho, um menino de 10 anos, de fazer parte de uma Igreja que se originou deste homem corajoso que foi Lutero. No ensino confirmatório, ministrado em Pomerode por um tio meu, que era professor, os conhecimentos a respeito disso foram ampliados. Mas foram ampliados muito mais, depois, pelas aulas de história da Igreja no Instituto Pré-teológico de São Leopoldo.
Pelo estudo na Faculdade de Teologia – após a conclusão do ensino médio -, houve oportunidade de inteirar-me cada vez mais da história do movimento da Reforma da Igreja, no século XVI e do papel deste monge e professor universitário, em Wittenberg, Dr. Martim Lutero, que resultou na formação da Igreja Evangélica Luterana. Como nossos antepassados luteranos emigraram para o Brasil, constituindo Comunidades Evangélico-luteranas que se uniriam em Sínodos (4) que em 1968 vieram a formar a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil. Como estudantes de teologia também descobrimos a existência de outra Igreja Luterana, no nosso país, denominada Igreja Luterana Missouri (Hoje Igreja Evangélica Luterana do Brasil- IELB). Esta Igreja também tinha, em São Leopoldo, uma congregação. Decidimos conhecê-la. Encontrado o templo, assistimos ao culto. Surpresa: Era quase igual ao nosso. Até os hinos nos eram familiares (traduzidos do alemão!). Era evidente que se tratava da mesma tradição de fé. Ao longo do meu ministério na IECLB ainda teria muitos encontros com esta Igreja.
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A CIL e seu papel na aproximação entre as duas Igrejas luteranas
tual aprovação, aos órgãos diretivos competentes de ambas as Igrejas.
Membros, lideranças e autoridades dessas duas Igrejas (a IECLB e a IELB) se deram conta que sua atuação no testemunho, numa mesma área geográfica, poderia ser mais eficiente, se não houvesse competição, mas cooperação.
O Convênio de Cooperação e a CID
Foi, então, de comum acordo, constituída uma comissão: a CIL (Comissão Inter luterana de Literatura), formada por três pastores de cada Igreja. Como diz o nome, esta comissão teria a tarefa de produzir literatura em conjunto e divulgar a literatura da outra Igreja. O principal fruto foi a edição de um devocionário para o uso caseiro de seus membros: Castelo Forte, (hoje sobejamente conhecido), elaborado, em partes iguais, por pastores da IECLB e da IELB, edição conjunta da Editora Sinodal - IECLB e da Editora Concórdia - IELB. Outra tarefa que a CIL assumiu foi a tradução e edição de obras de Lutero, especialmente importantes para a formação dos novos pastores (Faculdades de Teologia - IECLB e no Seminário Concórdia e curso de Teologia da ULBRA- IELB). Com o tempo, foi constatado que a cooperação entre as duas Igrejas Luteranas, poderia tornar-se ainda mais intenso e efetivo, se planejado e regulado de maneira mais formal. Foi então elaborado um documento e submetido para discussão e even-
Concluída a fase do estudo e discussão exaustiva do documento pelas instâncias das duas Igrejas, realizouse, nos idos de 1996, pelos órgãos competentes a aprovação e posterior assinatura do Convênio de Cooperação entre a IECLB e IELB. Neste documento se destaca que o Convênio “visa a comunhão de púlpito e altar” das duas Igrejas, ou seja, comunhão (não uma união) plena. A seguir foi criada uma Comissão Interluterana de Diálogo (CID) para ajudar na implementação do Convênio. Sua tarefa principal seria a de assessorar as presidências na consecução dos objetivos do convênio. A exemplo da CIL, a CID foi composta, em partes iguais, por três membros efetivos e respectivos suplentes, pastores de ambas as Igrejas. Fiz parte desta comissão durante muitos anos. A CID exerceu as suas funções em grande harmonia. Planejaram e organizaram eventos e celebrações conjuntas. Mas, especialmente importante e digno de nota é a organização de três Conferências Nacionais Interluteranas. Foram convocadas, de comum acordo, pelos Presidentes das duas Igrejas, sendo compostas por representantes de cada Igreja, leigos, pastores, funcionários, professores de teologia e membros
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dos órgãos diretivos (autoridades). Documentários, como fruto de seu trabalho, foram publicados pelas suas editoras, tendo havido também ampla divulgação pelos órgãos de imprensa (Jornais da IECLB) e pelo “Mensageiro Luterano” da IELB. Especialmente na 1ª Conferência Nacional Interluterana, realizada no Centro de Eventos Rodeio 12, foram traçadas metas concretas para futuras ações de cooperação. Foram trabalhadas em grupos diferentes áreas de atuação: Educação (escolas), Serviço Social (incluindo hospitais), Vida Comunitária, Formação (de obreiros), Liturgia e Música, Responsabilidade Pública. Muitas delas puderam ser realizadas ao longo dos anos com empenho das presidências e com apoio da CID. Entre elas podemos citar o estudo das comissões teológicas sobre Santa Ceia, que ocasionou a emissão conjunta de uma carta pastoral dos Presidentes, permitindo, em circunstâncias especiais, a “hospitalidade eucarística” recíproca (participação na Santa Ceia) de membros da outra Igreja. Outras áreas: Conferências regionais entre pastores, Conferências regionais Inter luteranas (pastores e leigos), palestras em Câmeras de Vereadores, divulgando a doutrina e a
atuação da Igreja Luterana, empenho para denominar ruas e bosques com o nome Martim Lutero, instituir o Dia da Reforma (31 de outubro, ou Dia dos Luteranos) como data comemorativa oficial do Município, e outros. Sempre conscientes que “não somos deste mundo”, mas estamos inseridos neste mundo e devemos a ele o testemunho coerente e exemplo de observância de uma ética cristã, pautada na Bíblia e de acordo com os princípios da doutrina luterana. Há ainda pontos de divergência entre as Igrejas luteranas que exigem mais estudos, como por exemplo, a questão do ministério feminino, da plena comunhão de púlpito, etc. Mas elas não impedem ações conjuntas. Muito mais importante é ser “Igreja séria” e reconhecer o momento oportuno de mostrar unidade e cooperação diante do quadro religioso pluralista (sempre novas “igrejas” em cada esquina), em nosso País. Olhando para a comemoração dos 500 anos de Reforma Luterana, podemos apontar desafios múltiplos, não só de celebrações, mas de ações que dão forma concreta ao testemunho luterano conjunto de que o “justo viverá por fé”, verdade evangélica redescoberta por Martim Lutero. O autor é Pastor emérito da IECLB e ex-membro da CID, residente em Curitiba/PR
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Godofredo Boll - Uma breve biografia P. em. Harald Malschitzky
Conheci o Pastor Godofredo Boll no Congresso da Juventude Evangélica que aconteceu em Brusque - SC, em julho de 1955. Três jovens pastores participaram: Lindolfo Weingärtner, Heinz Ehlert e Godofredo Boll. Foi um congresso marcante pelo número de participantes, mas mais ainda por ter sido o primeiro congresso entre jovens do Sínodo Evangélico de Santa Catarina e do Sínodo Evangélico Luterano de Santa Catarina, Paraná e outros Estados, que, a rigor, eram igrejas independentes desde a sua origem. Godofredo Boll impressionou porque tinha um jeito diferente dos (poucos) pastores que eu, jovem de 15 anos, conhecia. Ele se relacionava com naturalidade com os jovens e falava a língua da gente. Com isso ele também derrubou preconceitos que a gente tinha em relação a pastores, rompendo a (suposta ou verdadeira) barreira entre leigos e clero. Naquele momento ninguém ousaria imaginar que os caminhos do Pastor Boll e os meus se cruzariam muitas e muitas vezes: Na Associação Cristã de Acadêmicos (ACA), em Porto Alegre, em congressos de juventude, em encontros ecumênicos, em concílios de nossa igreja. Nossos caminhos seriam entrelaçados por uma década quando trabalhei em Porto Alegre. Boll, já aposentado, era presença marcante na comunidade e no
mundo ecumênico. Coube a ele me levar ao Serviço Interconfessional de Aconselhamento e à Instituição de Empresários Católicos (ADCE). Mesmo já doente, ainda aceitava pregar em cultos dominicais. Foi um tempo de contatos constantes. Coube a mim acompanhar Boll quando a doença o foi debilitando, até o seu falecimento e sepultamento. Godofredo Boll nasceu no dia 13 de fevereiro de 1923, em Ijuí - RS, filho de Henrique e Maria Boll. Casou-se, como ele mesmo escreve, com a paroquiana Ruth Wollheim. Desse matrimônio nasceram seus quatro filhos: Matias, Ana, Marcus e André. Ruth faleceu em l989. Casou-se em segundas núpcias com Márcia Preusser em 1992. Esta o acompanhou até a sua morte em 13 de fevereiro de 2001. Estudou no Instituto Pré-Teológico, curso concluído em 1941. Com a proibição do uso da língua alemã em nosso país e a consequente proibição de atuar ou até prisão de pastores alemães de nossa igreja, jovens aspirantes ao estudo de teologia, entre eles Godofredo Boll, foram enviados às comunidades. Ele tinha 18(!) anos. Ele foi enviado a Crissiumal/RS. Terminada a guerra, tornou-se necessário criar um curso de teologia em nosso país, pois o estudo na Alemanha – como sempre fora – estava inviabilizado. Boll foi
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um dos primeiros estudantes do curso de teologia evangélica em nosso país. Seu estudo durou de 1946 a 1949. Realizou seu exame de conclusão no início de 1950. Foi ordenado no mesmo ano na Igreja de Cristo, em São Leopoldo/RS. Quando já no pastorado, teve a possibilidade de estudar por um período nos Estados Unidos. Além disso, a diretoria da Comunidade Evangélica de Porto Alegre (CEPA) concordara que cursasse Letras na Universidade Federal do RS, curso que beneficiaria o seu trabalho com jovens e com estudantes universitários. Trabalhou interinamente e por curto tempo em Crissiumal/RS, Bela Vista/SC e Iraí/RS. Em 1954 ele foi chamado para trabalhar na Comunidade Evangélica de Porto Alegre (CEPA), onde ele permaneceu na ativa por 40 anos, e como voluntário muito presente até o final de sua vida. Inicialmente ele trabalhou na Paróquia Matriz, ao lado do Pastor Karl E. Gottschald. Sua tarefa específica eram os confirmandos - na época em grande número –, os jovens e as aulas de ensino evangélico no Colégio Farroupilha, que fazia parte da Associação Alemã de Apoio Mútuo. Em 1957 viria um novo desafio: Reunir os membros da Comunidade na Zona Sul de Porto Alegre e começar da estaca zero! Espaço físico, igreja, moradia de pastor, juntar as pessoas nos diversos grupos e atividades – tudo estava por fazer. Aquele pe-
queno e acanhado início está lá, uma comunidade ativa e presente no Bairro Tristeza (que de tristeza não tem nada!). Nos anos 1959/60 foi iniciado um trabalho novo na IECLB, o da academia evangélica, com uma das ênfases nos estudantes universitários. Porto Alegre já tinha três casas do estudante vinculadas à CEPA. Junto a estas iniciou a ACA (Associação Cristã de Acadêmicos). Religião e política eram os assuntos centrais do momento, e pela casa passaram palestrantes de renome. “Nossos estudantes” se filiaram ao Movimento Estudantil Cristão e tinham apoio da Federação Luterana Mundial. Em 1960, Boll foi convidado a assumir o pastorado de estudantes. Segundo ele mesmo escreveu, foi um tempo muito dinâmico e, ao mesmo tempo, tenso. Muitos pastores e também membros das comunidades olhavam o movimento e envolvimento de forma crítica, e até de rejeição. A ditadura militar de 1964 desarticulou – como se sabe – os movimentos estudantis e com isso também este trabalho. O novo desafio foi reunir os evangélicos no Bairro Alto Petrópolis e participar das atividades do centro social que já existia, provocando os membros a abrirem os olhos para os mais necessitados. Assim, em 1968, Boll assumiu a tarefa no Bairro Três Figueiras. Segundo ele os objetivos iniciais só se concretizaram em parte. De qualquer forma, a comunidade está lá, e nas suas dependências
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funciona uma casa de passagem que recebe doentes em tratamento mais prolongados, ou familiares de enfermos de todos os cantos do país. A assistência social se estendeu e envolveu também as outras comunidades em Porto Alegre.
regulares de dirigentes cristãos da Igreja Católica (ADCE). A presença da IECLB continua. Da mesma forma sempre contribuiu nos diálogos ecumênicos tanto em Porto Alegre quanto em nível nacional e internacional.
Em 1976, Godofredo Boll retornou à Paróquia Matriz, agora com mais obreiros/as e um desenvolvido trabalho de leigos nos mais diversos setores da comunidade. Até hoje a Paróquia Matriz é grande, atuando em muitas frentes, também em duas creches destinadas a crianças sem recursos. Não é preciso dizer que junto vêm também os problemas.
Já como aposentado Boll se empenhou pela criação de um grupo de dirigentes cristãos luteranos (GEELPA), que funciona na Paróquia Matriz.
Oito anos mais tarde, em 1987 Boll passou a dedicar-se integralmente ao trabalho ecumênico, sendo nomeado Secretário Executivo do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC) até 1991.
Iniciei esta minibiografia com uma observação muito pessoal e tomo a liberdade de fazê-lo mais uma vez. O que cativava em Boll eram, entre outros, seu jeito de se relacionar com as pessoas, sua postura nada clerical, sua irreverência - por vezes até cáustica-, seu bom humor, sua curiosidade teológica. Para evitar mal-entendidos: Era possível bater de frente com Boll e ter longas discussões. Mais difícil era levar as broncas para o terreno pessoal. Pessoalmente sou muito grato pela convivência que pude ter com Godofredo Boll, também como um de seus sucessores na Paróquia Matriz em Porto Alegre/RS.
Sua compreensão ecumênica da fé e seu envolvimento com projetos ecumênicos já era anterior e continuaria depois de sua aposentação. Foi um dos idealizadores do Serviço Interconfessional de Aconselhamento (SICA), que existe até hoje e que, de forma voluntária, gratuita e anônima presta aconselhamento e encaminhamento a pessoas em crise que o buscam. Foi figura presente nos encontros
Enquanto sua saúde o permitiu, assumia cultos ou só a pregação e a coordenação de um ou outro programa de grupos. Estava presente na “sua” Paróquia Matriz.
O autor é Pastor emérito da IECLB e reside em São Leopoldo/RS
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Lutero Pa. Louraini Christmann (Lola)
Lutero Severo consigo Austero demais E quanto mais Se cobrava Quanto mais se carregava De culpa Mais se torturava Na desculpa De ter que se salvar Se safar do pecado E o pecado Vinha dobrado
A nossa fé É que conta! Proclamava! E é! É por fé. É preciso nos dar conta Que na cruz Jesus fez tudo Sobretudo Por quem mais necessita Acredita! É por fé
Mas Lutero Tão severo Tão austero consigo Conseguiu também (ainda bem!) Ver adiante Mesmo diante Da rigidez da lei Da estupidez do “Salve-se quem puder” “Salve-se quem pagar”
Não é no “salve-se quem puder” Não é no “salve-se quem pagar”
Lutero conseguiu ver além E descobriu bem certo O que é que traz A salvação Pra perto de nós Seres humanos Tão humanos!
Só Deus pode Só Jesus paga Com a morte de cruz E só o Santo Espírito Capacita Pra levar uma vida Absolvida Salva Na graça do nosso Trino Deus! Poesia extraída do livro: Celebrando em Poesia, pág. 114. A autora é Pastora da IECLB em atividade voluntária, residente em Horizontina/RS
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Martim Lutero e sua família Profa. em. Úrsula Axt Martinelli
Às margens do rio Elba, próxima das fortificações da cidade de Wittenberg, ficava a casa de Martim Lutero e sua família. A edificação originalmente abrigava monges agostinianos. Lá, Martim Lutero viveu como monge a partir de 1508, sendo naturalmente celibatário. No outono de 1524 ele substituiu o capuz de monge pelo traje de doutor em teologia. No decorrer da Reforma o mosteiro foi desativado como tal. Monges e padres, influenciados pelas publicações de Lutero, passaram
a contrariar a lei do celibato implantada no século XI pelo Papa Gregório VII e resolveram se casar. Para Lutero, essa lei prescindia de fundamentação bíblica e colocava o clero em posição de superioridade perante o povo. Apesar de aconselhar seus colegas a constituírem família, Lutero não se incluía nesse projeto. Numa carta de novembro de 1524, escreveu. “(...) não sou feito de madeira nem de pedra, mas meu espírito não se orienta para o casamento enquanto espero
Pintura de Gustav Adolph Spangenberg: Lutero com sua família, tendo ao fundo Felipe Melanchton
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diariamente a morte e o suplício devido aos heréticos”. Como foi excomungado pelo Papa ele era livre e descompromissado, mas sofria constantes perseguições por causa de sua doutrina reformadora. Além do mais considerava a sua idade de 42 anos avançada demais para constituir uma família. Mas, contrariando as expectativas, no verão de 1525, noivou e casou-se com Catarina von Bora, de 26 anos, uma das doze freiras da ordem Sistersinianas Trono de Maria, que também assumiram as ideias pregadas por Lutero, fugindo do mosteiro. Ela não era dona de atrativos especiais, mas se destacava como mulher forte, corajosa, franca e fiel. Aos 42 anos Lutero teve que adaptar-se à vida a dois. Lutero considerava a sexualidade parte da natureza humana idealizada por Deus. Fundamentava-se nas Escrituras Sagradas para afirmar que muitos problemas que acompanhavam a vida de freiras e monges provinham do celibato. Via no casamento uma saída para combater a perversão sexual em determinados ambientes. Para ele a harmonia da vida a dois garante a continuidade à geração, o compartilhamento e a vida sexual amorosa, como expressão de amor à (ao) companheira (o). O casamento, afirma em 1532, é a base da economia, da política e da religião. Da união do casal acontecida em 13 de junho de 1525 nasceram seis filhos: João (1526 – 1575), Isabel (1527
– 1528), Madalena (1529 – 1542), Martim (1531 – 1565), Paulo (1533 – 1593) e Margarida (1534 – 1570). Como todo pai, Lutero planejava o futuro dos filhos idealizando suas profissões; João deveria ser teólogo, Martim advogado e o robusto Paulo, guerreiro. Mas os filhos escolheram caminhos diferentes. João estudou jurisprudência e foi conselheiro da Chancelaria de Weimar, Martim estudou teologia, mas não exerceu o pastorado. Paulo foi médico renomado e Margarida tornou-se a ancestral de todos os descendentes de Martim Lutero e sua esposa Catarina von Bora que ainda hoje vivem. A título de curiosidade: Estes descendentes fundaram uma associação dos “Lutheriden”, isto é, descendente de Martim Lutero, cuja sede se encontra em Zeitz, próximo a Lepzig e está ativa até hoje. Às harmonias do casamento também se somaram dores enormes, com perdas prematuras de duas filhas. A pequena Isabel partiu aos oito meses de vida. E quando Madalena, segundo palavras de Lutero, “se foi para o Salvador, através da morte para a vida” ele teria dito ainda que, apesar das palavras de conforto ditas pela própria menina, não houve como evitar manifestações de pranto e lamentos por parte dele e de Catarina. Lutero tinha na família o ancoradouro onde encontrava paz em meio às lutas enfrentadas como Reformador da Igreja. Sentia-se feliz com seus fi-
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lhos e agradecia a Deus por lhe permitir exercer a sua vocação de pai. Catarina representava para ele o tesouro mais precioso que a santa dádiva do matrimônio poderia oferecer.
transmitiu seus conhecimentos de medicina caseira à Catarina. Com tanto trabalho a ajuda era necessária e sempre havia alguém que se dispunha e de forma abnegada se doava.
O Reformador acompanhava o desenvolvimento dos filhos. Sabia identificar-se com eles pela fantasia infantil repleta de imagens construtivas. Pela manhã recitava os dez mandamentos, a confissão de fé, o Pai Nosso e um salmo. Exercia sua autoridade quando a situação assim o exigia, mas sem apelar a palavras duras. Sofrera com a severidade excessiva dos próprios pais. Não queria repetir em seus filhos o erro por eles cometido.
Os professores de Wittenberg costumavam receber seus estudantes para as refeições. À mesa da família de Lutero, portanto, sentavam-se estudantes, teólogos, viajantes, refugiados, pessoas humildes ou de destaque. Com os filhos e hóspedes tocava e cantava hinos religiosos e cantos populares. Dizia que a música acalmava o espírito, e as relações familiares e de amizade curavam a melancolia.
A partir de fevereiro de 1532 o príncipe eleitor João Frederico concedeu a posse das instalações do convento a Lutero e sua esposa Catarina. A situação financeira precária no início da vida do casal foi aos poucos sendo amenizada pelo salário que Lutero recebia como professor na Universidade de Wittenberg, por donativos do eleitor João Frederico (carne de caça, peixe, vinho, cereais, sebo para velas, lenha para queimar) e pela pensão anual concedida pelo rei da Dinamarca. Catarina e Martim Lutero acolheram em sua família duas sobrinhas órfãs e uma jovem parente. Hospedavam sobrinhos que vinham estudar. Madalena von Bora, tia de Catarina, que havia sido freira, também integrava a família, ajudando nos cuidados com as crianças. Foi ela quem
Organizar uma casa com tanta vida, frequentada por crianças, amigos, estudantes e hóspedes era tarefa cumprida com muito empenho e eficiência por Catarina. Consciente de sua capacidade de ajudar o próximo ela sabia interpretar o sofrimento dos doentes a quem ela assistia. As instalações do convento sofreram adaptações às novas necessidades. A reforma incluiu a construção da cervejaria, do poço, das estrebarias e do chiqueiro. Empregados foram contratados. Nessas atividades Lutero contou com a participação de Catarina que passou a ser a administradora do mosteiro - Schwarzes Kloster. A vida na casa de Lutero em Wittenberg consolidou-se como modelo para as casas pastorais luteranas. Hospitalidade, apoio aos
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necessitados, formação e música, oração e leitura bíblica eram prioridade e fundamento dessas casas comunitárias. Segundo a orientação luterana, a fa-
mília está acima das autoridades. Não existe maior e mais nobre poder sobre a terra do que o amor pelos filhos. E o parentesco espiritual entre familiares cristãos os une para sempre. A autora é professora universitária aposentada, residente em Blumenau/SC
– HUMOR – Certo dia visitei um senhor muito religioso, internado num hospital. Tinha sérios problemas cardíacos. Eu lhe perguntei como se sentia. – Não me sinto nada bem. Mas com certeza estou melhorando! – respondeu-me. Supus que a sua resposta tinha a ver com sua fé, e que esperava auxílio divino. Por isso lhe perguntei em que se baseava a sua esperança. Ele respondeu: – Sabe, na semana passada, quando eu apertava o botão da campainha do meu leito, apareciam, em questão de segundos, duas ou três enfermeiras. Agora elas demoram e primeiro terminam de tomar o seu café. Portanto, devo estar melhor...
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Porquê gosto de ser LUTERANA... Nilcéia Medina Wassen
Desde meu batismo (aos três meses de idade) até os 22 anos, fui católica praticante. Eu fui anjinho em procissão, coroinha (auxiliava o padre na missa), participava em grupos de jovens, fazia leitura nas missas e até cantava em coral. Aos 22 anos, por ocasião do casamento, decidi fazer minha profissão de fé na Igreja Luterana, por entender que ao formar uma família, ela deveria ser por inteira em tudo, e não começar com divisões, e principalmente, porque não tinha que renunciar e negar o batismo que tive quando pequena e que Deus e meus
pais me ofereceram. Não tive dúvidas. Para mim este passo era simples: eu só estava trocando o caminho, mas o destino final era um Deus único, que sempre me acompanhou e que continuaria comigo. Sempre tive a certeza de que Deus estava comigo. Aos 20 anos, quando perdi meu pai, pude sentir claramente que não estava sozinha. E aos 25 anos, ao perder minha mãe, sendo eu filha única, já estava com nova família constituída e sabia que Deus tinha me dado outra família para que não me sentisse órfã. Não senti grandes diferenças em
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professar a Fé na Igreja Luterana, pois logo me inscrevi para participar de um retiro, juntamente com meu marido. Também comecei a participar da OASE, fui convidada a auxiliar na semana Bíblica de férias, e a partir daí entrei na Equipe do Culto Infantil, onde colaborei por quase 20 anos. Quase que automaticamente comecei a participar do presbitério da Comunidade, e aí deixei as atividades do Culto Infantil. Hoje sou presidente da Paróquia, canto no coral e participo do mesmo grupo de Convivência – o grupo Jerusalém – há mais de 25 anos. Gosto muito de ser luterana. Sempre me senti acolhida, desde que fiquei noiva e comecei a frequentar os cultos. Na igreja Luterana aprendi que não temos necessidade de intermediários entre nós e Deus, que podemos nos dirigir ao Filho e ao Pai diretamente, sem intercessores/as. Aprendi que Deus me aceita como sou, pecadora, que Ele me ama independente dos meus erros. Compreendi que, pelas bênçãos recebidas diariamente, a minha gratidão precisa ser infinitamente retribuída em forma de testemunho, de ações, de participação ativa na Igreja. E aprendi também que por Graça Deus me
ama e me permite participar do seu reino aqui, enquanto aguardo a vida Eterna. Nos cultos com Santa Ceia, é Deus quem nos convida, e por isso não há acepção de pessoas, nem credos. Todos são convidados a participar, e isso é Maravilhoso. A comunidade Luterana onde participo é uma grande família. Ali tenho amigos que considero irmãos, que se preocupam comigo, com minha família, que frequentam a minha casa. E tenho amigos que encontro nos cultos, nas atividades da igreja, os “irmãos na fé”, e vivemos em comunhão, unidos pela fé no mesmo Deus. Participamos juntos da Ceia do Senhor e juntos louvamos a Deus, oramos, e cuidamos uns dos outros. Nos eventos comunitários, o trabalho é grande, mas a gratidão é maior por ver a comunidade viva, participativa, em um espaço onde todos podem congraçar em torno da mesa, realmente como uma só família. Pois em Cristo somos um só corpo. A vida em Comunidade me anima e fortalece para testemunhar o amor de Deus fora dos muros da Igreja, no trabalho, em atividades de lazer. E sintome feliz e abençoada por fazer parte de tão acolhedora comunidade, parte integrante da grande IECLB. A autora é Secretária Executiva no Sínodo Paranapanema e Presidente da Paróquia Cristo Salvador em Curitiba/PR
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O azeite de oliva e seus benefícios Marlene Zizemer Gaede
Sabe-se que o azeite de oliva é usado há muito tempo. A notícia que se tem é que já era usado há cinco mil anos, na região da Ásia e do Mediterrâneo. A palavra azeite deriva do vocabulário árabe, que significa sumo de azeitona. Com o decorrer do tempo o uso do azeite de oliva se espalhou pelo mundo todo. No início, seu uso era somente na culinária. Mais tarde se descobriu o valor medicinal do azeite de oliva, no alivio de dores, tratamento de feridas, problemas digestivos e circulatórios; e também como hidratante da pele e cabelos. O consumo diário do azeite de oliva beneficia muito a saúde, prevenindo e também auxiliando no tratamento de muitos males e doenças. Ele é um potente desintoxicante, elimina ¨sujeiras¨ no sangue como: colesterol ruim, ácido úrico, triglicerídeos, glicose etc. Beneficia o bom funcionamento da vesícula, do fígado e do intestino. Fazendo esta limpeza, ele auxilia o corpo a aumentar a imunidade, tornando-o mais resistente a doenças.
A descoberta mais recente é o valor do azeite de oliva na prevenção e tratamento da osteoporose. Ele contém agentes anti-inflamatórios. Levando em conta suas propriedades desintoxicantes e anti-inflamatórias, auxilia na prevenção de infartos, derrames e embolias; na prevenção da formação de tumores e no equilíbrio da pressão arterial. Como podemos usar o azeite de oliva? Em primeiro lugar, alguns cuidados ao comprar: • Deve ser Azeite de Oliva Extra virgem; • Acidez no máximo até 0,5%; • Embalagem de vidro escuro. Consumir 2 a 3 Colheres de sopa ao dia (pode ser na salada ou comida); mas deve ser acrescentado ao prato na hora de comer. Como hidratante pode ser passado na pele e cabelo. Em caso de dor, passar no local três vezes ao dia. Lembre-se: Tratamentos naturais devem ser feitos com persistência e longo tempo. A colaboradora trabalha com projetos de saúde e medicina natural e reside em Itati/RS
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Como surgiu o Natal? Matthias Mägde
Todo o pai que crê em Jesus Cristo tenta fazer com que o evangelho seja tão gostoso quanto possível para seus filhos. A gente deseja que também eles reconheçam e vivam o valor da mensagem bíblica. Certo dia um de meus colegas foi confrontado com uma pergunta que o surpreendeu deveras. Foi seu filho mais moço, de sete anos, que lhe fez a pergunta. Sua inteligência ágil que despertava procurava entender Deus e o mundo. Meu colega tinha acabado de colocar a árvore de Natal na sala, quando Sebastian lhe perguntou: – Papai, como foi que surgiu o Natal? Num primeiro momento o pai não sabia ao certo como responder. O que deveria dizer ao filho? Como poderia esclarecer para ele o evangelho do Natal? - Após um momento de reflexão, surgiu em sua mente uma resposta, para a qual ambos se sentaram diante da árvore de Natal ainda sem enfeites. – Sabe Sebastian – iniciou o pai – entender o Natal não é tão simples. Vou tentar explicá-lo contando uma história. Eu não sei, se ela aconteceu exatamente assim. Mas creio que através dela poderás compreender por que existe o Natal. – Natal em si começou com o fato de que Deus-Pai tinha um plano! Ele viu
a situação sem saída em que se encontravam as suas criaturas – os seres humanos. O pecado cada vez mais ia tomando conta e as forças do mal pareciam multiplicar-se cada vez mais. Por causa disso o Criador já havia se preocupado muito. Finalmente ele tinha arquitetado um plano. E por isso ele convocou uma reunião de todo o mundo celestial. Eu imagino que num certo momento as “trombetas celestes” tocaram, chamando para a reunião de todos. E quando o salão nobre do trono de Deus estava cheio, o Senhor Supremo perguntou a todo o auditório celeste: – Eu tenho um plano para ajudar os pobres habitantes da terra. Por isso agora eu pergunto a vocês: Quem de vocês eu posso enviar para a terra? Quem vai assumir esta tarefa? Quem de vocês gostaria de cumprir este plano para mim? Entre as incontáveis hostes de anjos e seres celestes espalhou-se um cochicho entusiasmado. E não havia nenhum ser ali, que não gostaria de responder: – Sim, eu quero fazê-lo! E assim todos levantaram os seus dedos e a uma só voz exclamaram: – Senhor aqui estou! Envia a mim. O Todo Poderoso ficou tocado com a boa vontade dos seus súditos. Mas,
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então ele começou a descrever em que implicaria tal envio. Ele disse a seus amados habitantes celestes: – Bem, para cumprir esta tarefa, aquele que for enviado não poderá manter a sua aparência celeste a que está acostumado! Com isto parte dos anjos ficaram preocupados. Aqui e ali um dedo foi baixando e a animação foi desaparecendo do rosto de alguns. O que significaria perder a sua aparência celestial? Mas isto ainda não era tudo. O Paidos-Pais explicou que isto significava que quem fosse enviado, deveria nascer como um bebezinho – no corpo limitado de um ser humano. Nesse momento mais outros anjos reconsideraram a sua disposição de aceitar esta missão. E quanto mais eles foram se dando conta das dificuldades de tal missão, foram baixando seus dedos, que há pouco ainda haviam apontado com entusiasmo. Mas o assunto ainda não parou por aí. Novamente se ouviu a voz amorosa, mas ainda assim preocupada, do Papai do Céu: – Quem for cumprir o meu plano, deverá renunciar a todos os privilégios de que goza aqui comigo. Ele perderá as suas forças ilimitadas, sua postura digna, e até a sua satisfação constante! Entrementes também o último dedo havia sido baixado, e uma profunda preocupação se mostrava no rosto
dos habitantes celestes. Pois eles sabiam muito bem que as palavras de Deus eram muito sérias. Aqui se exigia algo extremamente difícil. Certamente não seria um “café pequeno”. Passaram-se alguns instantes, e entre o mundo angelical levantou-se a pergunta: – Sim, quem poderá cumprir estas exigências? Quem de nós é capaz de se despir de tudo que é celeste e trocá-lo por uma existência num mundo humano apavorante? Sim, como se poderá cumprir este plano de Deus sem as capacidades celestes a que estamos acostumados? Nesse momento o mais querido do céu pôs-se diante do Pai e, com alegria resoluta declarou: – Pai, envia a mim! Eu quero fazer isto; quero cumprir o teu plano! Todos os olhos puderam perceber um leve sorriso no rosto do Pai. Mas este sorriso desfez-se depressa, quando ele disse a seu Filho, com voz severa: – Mas isto ainda não é tudo. Não basta que tenhas de deixar o céu para nascer numa estrebaria. Também terás de sofrer pela humanidade! Também a expressão do rosto do Filho mudou. Seu alegre entusiasmo queria se anuviar. Poderia ele compreender o que era sofrer? Mesmo assim ele permaneceu firme em sua decisão: – Pai, envia a mim. Eu quero fazê-lo! Em vez de um alegre júbilo do públi-
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co celeste, fez-se um silêncio constrangedor, que aumentou a tensão reinante no momento. Em meio ao silêncio manifestou-se o pensamento: Será que o favorito dos céus de fato poderia consegui-lo? Com maior seriedade ainda o silêncio foi rompido pelas palavras de Deus: – Meu querido Filho, isto tudo não é o pior. O mais difícil ainda vem. Por um breve tempo terás que tomar sobre ti o peso do pecado de toda a humanidade. Terás que suportar algo, que para um ser humano é insuportável. E justamente neste momento terei de te deixar completamente só! Porque aí surgirá uma separação entre ti e mim! Quando o Filho de Deus ouviu isto, ele prendeu a respiração. – “Como poderia ser isto?” Nunca até então o Jesus Celeste estivera separado do Pai. A comunhão com ELE era o sentido, o conteúdo e a alegria de sua vida até agora. Sim, o Pai lhe era mais importante que o próprio céu! Como ele poderia existir um só minuto sem a comunhão com ELE? - Após alguns minutos de profundo silêncio de novo veio a conhecida resposta, agora com maior firmeza ainda: – Por favor, Pai, envia a mim! Eu quero fazê-lo!
Deus-Pai conhecia seu amado Filho. Sabia que iria conseguir! Ainda assim lhe perguntou uma última vez: – Meu Filho, eu não estou certo de que consegues entender o que de fato terás de enfrentar. De onde tirarás as forças para realizar esta mais difícil de todas as tarefas, justamente quando estarás bem sozinho, abandonado por mim, sofrendo numa cruz? Neste momento jorrou dos lábios de Jesus: – Pai, é o meu amor incondicional para com esta pobre gente, que tu colocaste dentro de mim. Eu não tenho outra saída. Eu preciso tomar sobre mim a culpa dos seres humanos sobre mim, para livrá-los do mal! Pois eu os amo tanto, tanto. Quando eu terminei de contar ao meu filho esta história de minha fantasia, grossas lágrimas surgiram em seus olhos de criança. E meu caçula respondeu para si mesmo uma nova pergunta de sua inteligência adulta. Ele me perguntou: “Jesus também ama tanto a mim?” Naquela vez eu lhe dei como resposta um abraço bem, bem forte. E eu penso que a própria vida deu a resposta a Sebastian, pois hoje ele é cristão convicto. E assim o que eu desejava para ele se tornou realidade. Da internet: Fisch und Fleisch Tradução: P. Dr. Osmar Zizemer
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Palavras cruzadas: TEMA E LEMA DO ANO Colaboração: P. em. Irineu Wolf – Solução na página 227
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Os Catecismos de Martim Lutero – História, teologia, atualidade Prof. Dr. Claus Schwambach
Durante sua vida, Lutero se empenhou com especial veemência para que os ensinamentos centrais da Bíblia chegassem realmente às pessoas de seu tempo. O Catecismo Menor e o Catecismo Maior, ambos escritos em 1529, são um exemplo supremo disso. Na abordagem que segue, pretendemos responder algumas das principais questões históricas e teológicas em torno dos Catecismos de Lutero, e apontar para as implicações para hoje. De onde vem a inspiração para escrever Catecismos? Já cedo Lutero preocupou-se em transmitir à sua geração os principais ensinamentos da Bíblia. Isso ele fez primeiramente na forma de pregações e sermões. Na medida em que constatava a miséria espiritual, o desleixo de pais e pastores no ensino das crianças e dos jovens, o amplo desconhecimento dos assuntos principais da fé em seus conterrâneos, Lutero intensificou seus esforços catequéticos. Um impulso decisivo para a elaboração de um Catecismo foram suas constatações no contexto das chamadas “visitações”, uma espécie de inspeção pastoral nas comunidades da Saxônia entre 1528 e 1529. Lutero viu que seus grandes ensinos e escritos, bem
como as principais convicções da fé reformatória, não eram assimilados e compreendidos nas bases, principalmente entre as famílias e pastores pouco formados. É para fazer frente a essas demandas que Lutero escreveu em 1529 o Catecismo Maior e o Catecismo Menor. Lutero não inventou os Catecismos. Ele conectou com a tradição catequética existente desde a igreja antiga. “Catecismo” servia na igreja antiga, inicialmente, para descrever o ensino oral na preparação de catecúmenos para o batismo cristão. Mais tarde, Catecismos eram textos escritos sobre os assuntos principais da fé. Lutero, obviamente, elaborou seus próprios Catecismos de forma inovadora e contextual, coerente com as descobertas que ele vinha fazendo em seus estudos e pesquisas na Bíblia. Ele deu início, assim, à tradição dos catecismos protestantes! Sua inspiração é também bíblica, sendo que ele menciona o texto central da tradição catequética do antigo Israel: “Em Deuteronômio 6[7.8], ele [Deus] ordena severamente que levemos em consideração seus mandamentos o tempo todo, em todas as situações: sentados, andando, parados, ao nos deitarmos, ao nos levantarmos, e que os tenhamos nas mãos e diante dos olhos como lem-
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brete constante” 1. Lutero entende que para que a reforma da igreja realmente dê certo, é preciso que os principais ensinos sejam absorvidos nas famílias e nas comunidades locais – é lá (em nível micro) que a catequese precisa ocorrer, para que o evangelho inunde a vida da igreja como um todo (em nível macro). Atualizando esse aspecto para nossos dias: Para que nossa igreja redescubra o evangelho sempre de novo, e permaneça nos trilhos da reforma protestante, é imprescindível que a igreja tenha uma viva tradição e prática catequética, que permita que a fé seja corretamente ensinada, disseminada, absorvida e perpetuada principalmente nas famílias e nas comunidades – nas bases. Quais foram as intenções de Lutero ao escrever os Catecismos? Lutero quis que os Catecismos fossem “uma prédica de crianças e uma Bíblia para os leigos” 2. As pessoas – crianças, jovens, adultos, empregados nas famílias – devem saber o que é essencial para sua salvação: “O presente sermão destina-se à instrução de crianças e pessoas simples. Por esse motivo, desde a Antiguidade, recebe o nome grego de ‘catecismo’, isto é, instrução para crianças. Todo cristão precisa conhecê-lo. Quem o ignorar não pode ser considerado cristão, nem ser admitido a qualquer sacramento...” 3. O Livro de Concórdia (1580), mais tarde, afirmará que
os Catecismos de Lutero contêm “tudo o que a Sagrada Escritura trata mais desenvolvidamente e que o cristão tem de saber para sua salvação” 4. Atualizando: Mesmo que nossas perguntas e preocupações nesse início de séc. 21 não sejam mais exatamente as de Lutero, é inegável que todos estamos em busca de uma vida bem sucedida, temos sede de sentido na vida, lutamos com a percepção de um grande vazio existencial. Os Catecismos podem nos auxiliar a redescobrir em Deus e no evangelho de Jesus Cristo a fonte última do sentido da vida e da felicidade, tanto nessa vida, como após a morte. É disso que eles tratam! Essa é sua intenção maior. Quem são os responsáveis pelo ensino dos Catecismos? Nos Catecismos, Lutero coloca a responsabilidade sobre muitas pessoas: pais e mães devem ensinar seus filhos, filhas e empregados; pastores tem o dever de pregar e ensinar o catecismo nas comunidades; nas escolas, os pedagogos e professores são responsáveis pela catequese cristã; os Príncipes e todos os cristãos que exercem cargos públicos devem supervisionar e cobrar o ensino catequético nas famílias, nas igrejas e nas escolas. Lhes compete uma função de vigilância pastoral e pública do ensino5. O ensino catequético é fundamento da fé da pessoa, elo de união e comunhão de comunidades, e elemento estruturante da atuação e da ética de cristãos na
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sociedade. Mas para que isso ocorra, é necessário que todos esses agentes do ensino ocupem seus espaços. Isso continua sendo tremendamente atual, não podendo haver “terceirizações”: Sem a perpetuação dos ensinamentos catequéticos da fé nas famílias pelos pais e mães, nas comunidades pelos pastores e nas escolas pelos professores, e sem a supervisão vigilante e crítica das lideranças das igrejas e de pessoas atuantes na política e na educação pública que lutem pela manutenção de espaços de ensino confessional cristão em estados laicos, o legado da fé cristã e protestante não chegará efetivamente às novas gerações. Quais são os métodos de aprendizado do Catecismo? Lutero sugere três grandes passos para que os ensinos dos Catecismos transformem o coração da existência da pessoa, e assim, a pessoa inteira dentro da rede de seus relacionamentos. O primeiro passo é impregnar e memorizar (ruminar) o texto através de sua leitura, constante repetição. Isso é algo que a pessoa faz sozinha, mas também em pergunta e resposta junto com outras pessoas (na família, na igreja e na escola). A ideia de Lutero é que o texto memorizado seja tão interiorizado a ponto de se tornar num meditar e orar deste perante Deus. O segundo passo, uma vez interiorizado o texto, é que a pessoa aprenda o sentido ou significado dele, ou seja,
uma interpretação elementar. “Que significa isso?” Ou: “Como isso acontece conosco/entre nós?” – São perguntas didáticas feitas para auxiliar nesse processo de entender o significado do texto para a vida. O terceiro passo – para o qual, em especial, o Catecismo Maior ajuda – é a aplicação para a vida pessoal, comunitária e social. São mencionados exemplos de como aplicar o ensino e de aprender a pensar a vida social e familiar toda como algo que se vive perante Deus6. Lutero concebeu os Catecismos como formação espiritual do caráter das pessoas, e algo a ser exercitado diariamente – o lidar com eles é como que um “exercício espiritual” numa perspectiva protestante. Se pensarmos no relativismo de verdades e normas, na superficialidade de valores, na dispersão interior gerada pelo excesso de informações, e na fragmentação psíquica das pessoas diante do relativismo e do pluralismo de nossa sociedade hedonista e de consumo pós-moderna, pode-se afirmar que a redescoberta dos Catecismos como formação espiritual do caráter é, hoje, de um valor incalculável. Qual é a lógica que marca a construção dos conteúdos dos Catecismos? Diferente do que a tradição catequética anterior a ele, para Lutero, a sequência dos temas dos Catecismos não é aleatória, mas intencional: Mandamentos, depois o Credo, e por fim, o Pai Nosso. Mais tarde ele acres-
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centou trechos sobre o batismo e a santa ceia, sobre a oração e a confissão de pecados, e Salmos. As três partes principais resumem tudo o que deve ser pregado e ensinado a partir das Escrituras e que um cristão deve saber: O Decálogo (10 Mandamentos) mostra a cada pessoa o que ela deve fazer ou deixar de fazer, e lhe ensina a reconhecer seus pecados e sua incapacidade de cumprir a vontade de Deus. O Credo lhe ensina sobre onde a pessoa encontra ajuda, graça e misericórdia para sua vida e seus pecados, a saber, numa relação de temor e confiança no Deus que a criou, em Cristo que a redimiu e no Espírito Santo que a santifica. O Pai Nosso lhe ensina como orar e a perceber o que é essencial na relação com Deus e o que é essencial para a vida no mundo. No Decálogo a palavra de Deus encontra a pessoa como “lei” e Deus como senhor e juiz. No Credo e no Pai Nosso a palavra de Deus a encontra como “evangelho” e orientação para
viver a partir da graça. Assim, a pessoa é convidada a experimentar existencialmente o que aconteceu na história da salvação7. Resumindo e atualizando: Quem lê os Catecismos de Lutero, ontem e hoje no século 21, é colocado sob a palavra e a ação do Deus triúno em seu juízo e sua graça, em suas exigências (lei) e em sua misericórdia (evangelho), e é convidado a estruturar o todo de sua vida pessoal, seus relacionamentos familiares e interpessoais, sua inserção e comunhão na comunidade cristã, e a totalidade da sua atuação na sociedade, na economia e na vida pública e política a partir de um relacionamento vivo e transformador de temor a Deus e de confiança nEle. Que esse texto sirva de MOTIVAÇÃO para que VOCÊ LEIA OS CATECISMOS e deles tire grande proveito! O autor é teólogo e professor de teologia na Faculdade Luterana de Teologia – FLT, em São Bento do Sul/SC
Referências consultadas: 1 LUTHER, Catecismo Maior, p. 20. 2 WA 30 I,27,26. 3 LUTHER. Martin. CATECISMO MAIOR do Dr. Martinho Lutero. Trad. Walter O. Schlupp. São Leopoldo: Sinodal; Porto Alegre: Concórdia, 2012, p. 22 (Prefácio de M. Luther). 4 LIVRO DE CONCÓRDIA. As Confissões da Igreja Evangélica Luterana. 4. Ed. São Leopoldo: Sinodal & Porto Alegre: Concórdia, 1993, p. 500 (Fórmula de Concórdia, Epítome, Prefácio). 5 Cf. PETERS, 1990, p. 24ss. 6 PETERS, 1990, p. 29ss. 7 PETERS, 1990, p. 38ss.
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Receitas de Medicina Caseira Marlene Zizemer Gaede
Almofada de Bem-estar Uso é indicado em casos de: Dor de cabeça; sinusite; dor de ouvido; cólicas; enjoo; torcicolo; dores em geral. Costure um saquinho de 20 cm x 15 cm com três camadas de tecido de algodão branco ou cru, deixando um dos lados com uma pequena abertura. Coloque dentro do saquinho: Gengibre em pó (2 colheres); cravo da índia moído (1 colher); canela moída (2 colheres); erva doce moída (3 colheres); endro moído (3 colheres); flores de marcela secas (1 punhado); flores de camomila secas (1 punhado); 1/2 kg de semente de linhaça (inteiras). Costurar, para fechar o saquinho. Modo de usar: Aquecer a almofadinha no micro-ondas ou com o ferro de passar roupa, colocar sobre o local desejado. Podendo reaquecer quantas vezes desejar, recolocando no local. Ressaca • A primeira recomendação: EQUILÍBRIO. Não se trata de uma cura, mas pode tornar sua manhã menos penosa, caso tenha ultrapassado um pouco a medida durante a festa. 1) Antes da Festa: - Ingerir 2 comprimidos de carvão vegetal. - Comer antes de beber (amido e gordura). - Tomar muita água, intercalando com a bebida. - Tomar 50 mg de vitamina B antes de ingerir bebidas alcoólicas. 2) Após a Festa: - Ao chegar em casa, tomar chá de gengibre adoçado com mel. - Antes de deitar para dormir, tomar um caldo de legumes. - Tomar 500 ml de bebida isotônica e 2 comprimidos de carvão vegetal. 3) Tomar o café da manhã. 4) Durante a manhã, tomar a receita a seguir (repetir se necessário): - 250 ml de água. - 1 colher de mel. - 1 colherinha de bicarbonato de sódio. - 1 pitada de sal. - 100 ml de suco de limão siciliano. A colaboradora trabalha com programas de saúde e medicina natural e reside em Itati/RS
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Reestruturação da IECLB – por quê? P. em. Dr. Gerd Uwe Kliewer
Estrutura Antiga A primeira Constituição da IECLB aprovada em 1968 estruturou a Igreja em quatro níveis: 1. A Comunidade ou Paróquia (várias comunidades atendidas por um ou mais pastores). A Comunidade/ Paróquia era responsável pela manutenção da igreja, casa pastoral etc. e a subsistência do Pastor. 2. O Distrito Eclesiástico, que reunia paróquias de áreas com alguma afinidade geográfica e cultural, sob a direção de um Pastor Distrital, eleito pelo Concílio Distrital, sem remuneração. Conforme a Constituição, o Distrito era o braço estendido das comunidades para dentro da Direção da Igreja. 3. A Região Eclesiástica, que aglomerava Distritos Eclesiásticos sob a supervisão de um Pastor Regional, eleito por um Concílio Regional. A Região Eclesiástica não tinha orçamento próprio; o Pastor Regional e as atividades Regionais eram mantidos pelo orçamento Central da Igreja. Conforme a Constituição, ela era o braço estendido da Direção da Igreja para dentro das comunidades. 4. A Direção da Igreja, encabeçada por um Pastor Presidente, com o Concílio Geral como órgão legislativo e eletivo do P. Presidente e do Conselho Diretor. O Concílio era composto por delegados dos Distri-
tos Eclesiásticos – leigos e pastores. O Conselho Diretor, como órgão deliberativo no intervalo entre as reuniões do Concílio, era composto pelo Pastor Presidente, pelos conselheiros eleitos no Concílio Geral e pelos Pastores Regionais. Ele tinha como seu órgão executivo a Secretaria Geral, sob a chefia de um Secretário Geral, nomeado pelo Conselho Diretor. Os recursos financeiros eram levantados através de contribuições dos membros das comunidades. A prática geral era que os órgãos deliberativos da Comunidade/Paróquia fixavam um valor anual com que cada família devia contribuir e que incluía a parcela a ser repassada à Direção Central. A família era considerada membro da comunidade, e o chefe da família era responsável pelo pagamento da “cota” de sua família. Quais os problemas? Já na década seguinte à aprovação da primeira constituição começou-se a falar, nos diversos Concílios, da necessidade de mudar a estrutura definida pela Constituição. Quais eram os problemas? Dizia-se que: - a Direção da Igreja estava muito longe das comunidades; que esta não tinha conhecimento da base da Igreja, nem consciência das dificuldades do trabalho pastoral na base.
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- a estrutura da Igreja era grande e cara demais, e a manutenção desta estrutura - que abarcava também a aposentadoria dos pastores - um peso exagerado para as paróquias, cujos membros não entendiam a necessidade de pagar por esta estrutura. - muitos pastores não se empenhavam em explicar a importância da estrutura e em motivar a contribuição para ela, acusando-a de ser o motivo da contribuição alta. - a estrutura era centralizadora e burocrática e os processos decisórios concentrados na cúpula. - a Igreja era pastorcêntrica, valorizando pouco os leigos e outros obreiros; os próprios pastores, porém, sentiam-se desprotegidos. Estes questionamentos surgiam do meio da Igreja, principalmente dos pastores e de lideranças leigas. Os integrantes da estrutura, porém, também tinham motivos para queixar-se: - A Secretaria Geral e o Conselho Diretor queixavam-se que os pastores jogavam todos os problemas para a Direção da Igreja resolver, tanto os seus pessoais quanto os das comunidades. - Os Pastores Distritais reclamavam que, sendo pastores de paróquia, não tinham como cumprir também as tarefas exigidas do cargo de Pastor Distrital. Ficou sempre mais difícil encontrar pastores dispostos a assumir este cargo. - Com as decisões concentradas no
Conselho Diretor, este se queixava da imensa agenda a ser vencida nas quatro reuniões anuais e da falta de tempo para analisar os assuntos a fundo. Os conselheiros, como líderes espirituais de uma igreja engajada e vibrante, viam-se mais como bombeiros, tentando apagar incêndios que surgiam aqui e acolá. - A Direção da Igreja sentia que a falta de liderança espiritual forte favorecia a influência de movimentos de reavivamento de fora e propiciava o surgimento de linhas teológicas na Igreja que ameaçavam a unidade. - A cobrança de cotas por membro fomentava a tentação das comunidades de “sonegarem membros”, isto é, de informarem um número menor de “cotas”, de maneira que a Igreja tinha muita dificuldade de saber o número total de membros. Havia um sentimento generalizado que para colocar a manutenção da Igreja e sua estrutura numa base mais segura seria necessária uma reformulação do sistema de arrecadação de recursos. A reforma da estrutura e da constituição A partir dos anos oitenta a reestruturação era tema de discussão e análise nas reuniões de Concílios e Conselhos. O Conselho Diretor encarregou uma comissão de trabalhar o tema e pensar numa proposta. Esta apresentou um relatório ao Concílio
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de Três de Maio em 1990 com ideias preliminares, que foram bem acolhidas. Foi formada nova comissão encarregada de pensar a estrutura de baixo para cima e elaborar propostas concretas até o próximo Concílio Geral a ser realizado em Pelotas em 1992. Pouco a pouco foram definidos os contornos da estrutura: a) manteve-se na base as comunidades e paróquias conforme se desenvolveram historicamente; b) os Distritos e as Regiões seriam abolidas e substituídas por um aglomerado de comunidades de tamanho suficientemente grande que pudesse suportar um pequeno aparelho administrativo; c) e a Direção Central permaneceria com as mesmas instâncias da estrutura antiga. Definiu-se também que: a.) Modificar a estrutura implicaria em substituir a Constituição da IECLB e b.) Seria necessário mudar o sistema de levantamento e aplicação dos recursos financeiros. Até o Concílio Geral de 1994 a proposta da nova estrutura foi elaborada e apresentada ao Concílio, que a aprovou. Era um Concílio de eleições, e o novo Pastor Presidente, P. Huberto Kirchheim, e o seu Conselho Diretor foram incumbidos de finalizar a proposta e levá-la ao próximo Concílio. Uma Comissão Constituinte foi encarregada pelo Concílio a reformular a Constituição e detalhar a nova estrutura. Nos Concílios de Toledo (15 a 20 de outubro de 1996) e de Ivoti (28 de fevereiro a 02 de março de 1997) a nova Constitui-
ção e documentos correlatos foram discutidos e aprovados. A estrutura da Igreja foi organizada em três níveis: 1. A Comunidade/ Paróquia, como a organização base. 2. O Sínodo, como a organização intermediária de liderança e supervisão. 3. A Igreja (IECLB) como a administração central responsável pela unidade da igreja, na administração e na doutrina, pela formação dos obreiros e pelo estímulo e a supervisão das atividades eclesiásticas. O levantamento de recursos financeiros foi modificado. O Concílio decidiu estimular a contribuição proporcional voluntária responsável dos membros, ”conforme a sua prosperidade” (1 Coríntios 16,2) em lugar da cobrança de uma taxa fixa por membro. Cada comunidade repassaria, no fim do mês, o dízimo (10%) da sua receita de contribuições, de festas e doações ao Sínodo, para a manutenção deste e da Direção da Igreja. Esta receberia proporção definida pelo Concílio dos recursos arrecadados pelo Sínodo. Portanto, além da administração central, também os Sínodos têm agora orçamento próprio e capacidade de desenvolver trabalhos e projetos. Os Sínodos também elegem os Pastores Sinodais e os membros do Conselho, que também integram o Concílio, e mais dois membros leigos do Concílio. O Concílio elege o P. Presidente e 1º e 2º Vice-presidentes, que fazem parte do Concílio. Na
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composição dos órgãos decisórios da Administração Central, dois terços são leigos e um terço ministros ordenados. A relação dos três níveis de organização não é de subordinação, mas de serviço mútuo, coordenação e supervisão. Procura-se seguir a orientação de Jesus que “quem quiser tornarse grande entre vós, este vos sirva” (Mateus 20,26). Cada Comunidade, Paróquia e Sínodo tem estatuto próprio, aprovado pela Direção da Igreja. Nem na Constituição da Igreja, nem no estatuto padrão da comunidade em algum lugar aparece a palavra “mandar” no sentido de ter poder de mando. As pessoas na Igreja servem voluntariamente, e há as que foram escolhidas para liderar. Aliás, também na primeira Constituição da IECLB a palavra “mandar” não foi usada. Quem manda na Igreja é Deus pela sua Palavra e seu Espírito.
arcabouço que precisava ser preenchido de vida eclesiástica. Os idealizadores e defensores da nova estrutura imaginavam que ela daria ampla liberdade às comunidades, seus líderes e obreiros ordenados a desenvolver a vivência da fé cristã de orientação luterana no seu ambiente geográfico e cultural, respondendo aos desafios que a sociedade brasileira coloca. Até que ponto isto aconteceu? Claro, primeiro houve um período de adaptação dos regulamentos da igreja, de implantação e organização dos Sínodos e de adequação das entidades e instituições à nova estrutura. Mas o Concílio de 1998 já se reuniu sob as novas regras. Como as Comunidades/Paróquias, os Sínodos e a própria Direção da Igreja aproveitaram as possibilidades que a nova estrutura oferecia?
Paralelamente à reforma da constituição, da estrutura e da arrecadação foi encaminhada também a questão da previdência social dos obreiros pela criação da Luterprev para a aposentadoria complementar e, mais tarde, da Associação de Mútua de Auxílio (AMA) para o seguro saúde dos mesmos. Tiraram-se assim essas questões da administração e responsabilidade direta da Direção da Igreja.
Até hoje, quase 20 anos após a sua aprovação pelo Concílio, não foi feito um estudo independente dos efeitos desta reforma na vida da Igreja. Seria uma boa ideia, por exemplo, reunir as lideranças envolvidas naquele tempo e fazer uma análise. O autor deste artigo, um dos idealizadores e defensores da nova estrutura, tenderá a ver os resultados positivamente. Mesmo assim, arrisca algumas observações:
A título de avaliação
- Os membros leigos ocuparam os espaços previstos, e dominam não somente a administração das comunidades e paróquias, mas participam com maior peso das instâncias supe-
Os concílios de Toledo e de Ivoti entregaram, com a nova Constituição, às comunidades da IECLB um
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riores. Nos sínodos isso é perceptível, em alguns mais, em outros menos. Há sínodos, onde a administração está realmente na mão dos leigos, liberando o Pastor Sinodal para as suas atribuições específicas. No Concílio e no Conselho da Igreja a voz dos leigos é muito mais ouvida. Não creio que o critério de ser pastorcêntrica ainda se aplica à IECLB. - Os Sínodos conseguem mobilizar e motivar os membros muito melhor que os Distritos e as Regiões Eclesiásticas. Estabelecem metas e programas adequados à sua área e envolvem mais pessoas nas atividades supra paroquiais. Promovem encontros de grupos de interesses específicos, dias de Igreja sinodais, incentivando o intercâmbio entre as comunidades. - O recolhimento do dízimo das comunidades para a manutenção da superestrutura da igreja mostrou-se eficiente para suprir as necessidades financeiras desta, e também conseguiu desopilar a tentação das comunidades de sonegar membros. A IECLB tem hoje informações mais exatas sobre o número dos seus membros. A promoção da contribuição proporcional responsável voluntária teve êxito apenas parcial. O sistema do “Pfarrergehalt” (contribuição fixa por membro) resiste em muitas comunidades. O resultado é que hoje a média de contribuição por membro varia muito de um sínodo para outro e também de uma comunidade para outra. - Dá para dizer também que na nova
estrutura a cúpula da Igreja – Presidência, Conselho da Igreja e Secretaria Geral – foi libertada de ter que tratar de muitos pormenores relativos à vida e problemas dos obreiros e das comunidades, podendo dedicar-se mais às suas tarefas de liderar e motivar, incentivar e supervisionar a tarefa da Igreja na pregação e concretização do Evangelho de Jesus Cristo. Isto se manifesta p. ex., na eficiência com que é divulgado o Tema do Ano que cada vez mais consegue motivar as atividades das comunidades e instituições da Igreja. Observação final Muitos membros e obreiros se empenharam em planejar e concretizar a reestruturação da IECLB. Não dá para mencionar todos. Mas quero destacar um: O Dr. Milton Laske, liderança leiga que, como assessor jurídico, acompanhou todo o processo de elaboração da Constituição, contribuindo com os seus conhecimentos jurídicos, cuidando para que fossem respeitadas as leis brasileiras e que o processo de votação seguisse o rito correto. Posteriormente ainda acompanhou a reformulação e adaptação dos documentos normativos complementares. Deixou a sua marca na nova estrutura. A Igreja lhe deve gratidão. O autor é Pastor emérito da IECLB, foi professor na Faculdade de Teologia e Secretário Geral da IECLB – reside em Pirabeiraba , Joinville/SC
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No tempo dos velhos Jeep Willys... P. em. Dr. Osmar Zizemer
Início dos anos 70 do século passado. Boa parte das paróquias de nossa igreja, no interior do Rio Grande do Sul, possuía um Jeep Willys como carro de serviço dos seus pastores. Nem sempre em boas condições mecânicas... Certa vez, durante as férias de verão, assumi a substituição simultânea dos pastores em duas paróquias vizinhas. Cada qual delas tinha um Jeep como carro de serviço pastoral... naquelas condições... Um deles tinha um problema, cuja solução o melhor mecânico (seria mais um mexânico?) da cidade ainda não havia descoberto: Andava-se um trecho, ele esquentava e apagava. E não havia jeito de fazê-lo pegar novamente. Pronto – o jeito era esperar uma hora, até a bobina esfriar. Aí se dava a partida e continuava-se a viagem. Certo domingo tinha dois cultos marcados para o período da tarde em comunidades bem no interior. Peguei o “melhor” dos Jeeps à disposição e parti para o trabalho. Percorridos uns 10 km, numa estrada bem estreita, descida forte, meu Jeep começou a andar meio de lado: Tinha quebrado o Pino de Centro do molamento traseiro. Assim não daria para continuar a viagem... Procurei um local menos estreito da estra-
da, dei a volta com muito cuidado, e voltei rumo à cidade, bem devagar. A comunidade para a qual estava marcado o primeiro culto da tarde teve de ficar sem celebração neste dia. Mas ainda havia o segundo culto marcado – para as 16h30. E havia o Jeep com o problema do esquentamento da bobina. Dava para tentar com este. Coloquei minha pasta com os livros e o talar nele, e dei a partida. Andei uns 7 ou 8 km, e o “danado do Jeep” parou. Nada de pegar... O jeito foi esperar um bom tempo. De repente o motor roncou de novo... Após mais uns 5 km, mais uma parada de meia hora. Mais uma arrancada... Finalmente cheguei àquela igrejinha... Mas o relógio já marcava 17h45. Não havia mais ninguém no pátio da capela. A vizinha, que cuidava da igrejinha, explicou: – Pastor, o pessoal estava aqui lhe esperando. Mas já foram embora. Eles têm de tratar as vacas e tirar leite... Que solução? Voltar para casa, com algumas paradas no caminho para “esfriar a bobina”. Assim, andei em dois Jeeps durante toda a tarde de domingo – calor de janeiro! –, e não consegui chegar para celebrar nenhum dos dois cultos marcados para aquele dia... O autor é pastor emérito da IECLB e reside em Blumenau/SC
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Lutero e a escola P. Ildemar Kanitz
Um estudante dedicado “Como adolescente, em Erfurt, vi a Bíblia na Biblioteca da Universidade e li uma passagem de Samuel. Mas a sineta chamou-me de volta à preleção. Eu tinha uma enorme vontade de ler todo aquele livro. Só que naquele tempo não surgia nenhuma oportunidade.” (Martin Luther – Conversas à mesa – 1540). Nascido em 1483, já bem cedo Lutero teve uma boa base educacional e uma formação bem abrangente. A partir dos cinco anos frequentou a escola, aprendeu latim, conheceu os fundamentos da fé cristã e os fundamentos científicos. Em 1505 tornou-se Mestre nas Artes. Sempre foi muito dedicado aos estudos e elogiado pelos professores. A curiosidade e a vontade de aprender, de saber as coisas, de questionar, tudo isso ajudou muito na formação de Lutero. Os frutos desta dedicação toda como estudante nós percebemos até hoje. Toda a dedicação aos estudos levou Lutero a produzir muitas reflexões e textos escritos que influenciaram em muito o pensamento cristão. Quão importante é a escola As escolas então eram para poucos, de má qualidade e abandonadas pelas autoridades, além de desacredi-
tadas pelas famílias. Lutero via a necessidade de investimento pesado na educação. Para cada moeda investida em guerra, deveriam ser investidas cem para a educação. Para um bom desenvolvimento da sociedade as autoridades deveriam criar e manter escolas públicas para todos. Os pais deveriam enviar seus filhos à escola para que aprendessem a ler e escrever, matemática, artes, línguas, história, sobre as Escrituras Sagradas e também que aprendessem alguma profissão. Lutero, numa visão bastante avançada para seu tempo, também defendia a necessidade de novos métodos de ensino para que as crianças aprendessem com mais prazer e significado. Algo que em nossos dias ainda é um grande desafio. De bons cidadãos é que a sociedade precisava e a escola deveria contribuir para formar boas pessoas para viverem uma vida cristã responsável, com ética e a partir do que Deus quer para a humanidade. Um bom cidadão deveria ser um bom servo de Deus. Surgiam, na época, novas profissões na sociedade e as pessoas precisavam ser preparadas para isso. Segundo Lutero, “o melhor e mais rico progresso para uma cidade é quando possui muitos homens bem instruídos, muitos cidadãos ajuizados, honestos e bem educados”. Nenhum esforço deveria ser poupado para a instala-
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ção de escolas, bibliotecas e livrarias. Só assim o país poderia crescer e ter pessoas de bem. Luteranos no Brasil Os imigrantes alemães, que chegaram ao Brasil a partir de 1824, já estavam acostumados a ter na Europa um sistema educacional bastante satisfatório. Muitos vieram ao menos com a educação básica feita. Aqui sentiram uma necessidade muito grande de ter, em suas comunidades, escolas para seus filhos. (Dois fatores principais levaram os luteranos a investir em escolas em suas comunidades: a.) As crianças deveriam ter a capacidade de ler, escrever e fazer contas. Assim poderiam também exercer a correta interpretação das Escrituras. b.) Educação era parte de sua identidade como luteranos. Era importante ter uma formação, ao menos razoável, para não ser enganado e nem depender das outras pessoas. Apesar de muitas dificuldades, os imigrantes criaram e sustentaram escolas comunitárias por muitos anos. Escolas públicas praticamente não existiam. Na maioria dos lugares ao lado da igreja construía-se uma escola. E em muitas comunidades as escolas surgiram antes mesmo do templo. Normalmente a pessoa da localidade que tinha mais instrução, ou a letra mais bonita, se tornava o professor na escola da comunidade. Ou então quem não tinha força para trabalhar na roça. Em algumas comu-
nidades essa também era tarefa dos pastores. Segundo o pastor e historiador Martin Norberto Dreher, até o início do século passado existiam aproximadamente 1.500 escolas vinculas à IECLB. Não há registros sobre este número. A grande maioria delas foi confiscada pelo governo na Era Vargas e foram transformadas em escolas públicas. Hoje existem 79 unidades escolares da IECLB, que formam a Rede Sinodal de Educação. Educação luterana hoje Mesmo vivendo 500 anos depois, também percebemos hoje muitos dos desafios que Lutero enfrentou. Apesar de a educação estar universalizada, e este era um sonho de Lutero, a qualidade e a metodologia ainda deixam a desejar. O modelo ainda é de decorar e reproduzir conteúdos, apesar de avanços já feitos. Por vários motivos muitos jovens estão fora da escola, especialmente no ensino médio, pois já não veem sentido em estudar. Esta realidade é um tanto diferente quando se fala em escolas da IECLB (Rede Sinodal de Educação). A seguir listo algumas características e desafios das nossas escolas: - Formar o aluno para ser protagonista e fazer a diferença no mundo. Ser sal e luz e testemunhas do amor de Deus no mundo; - Estudos da Arte, especialmente música e teatro, é uma caracterís-
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tica das nossas escolas. Assim como também a prática desportiva é bastante valorizada; - Educação de pessoas com atitude, amorosidade, comprometimento com a vida, liberdade e responsabilidade. E não uma educação utilitarista; - Desenvolver no jovem uma visão de mundo e de sociedade, das relações interpessoais e da relação do ser humano com o planeta a partir da perspectiva do Reino de Deus; - Formação para a cidadania, com referenciais éticos a partir da fé cristã, para uma vida saudável e solidária; - Formação de boas lideranças, com senso de ética e justiça, capazes de realizar grandes mudanças na sociedade e buscar solução para grandes conflitos existentes; - Formação para vocação e desenvolvimento de dons e talentos das pessoas; - Formação com qualidade, com metodologias inovadoras, para que os alunos aprendam com mais prazer e brincando;
- Desenvolver o espírito livre e o senso crítico, característica dos protestantes, com capacidade de boa argumentação para defender ponto de vista e/ou contrapor outros; - Educar para descobrir a cada dia o sentido da vida e o crescimento espiritual; - Ter um olhar especial para cada aluno, entender seu contexto, como alguém amado e aceito por Deus assim como é, mas também como alguém que pode se desenvolver a cada dia mais; - Educar para a autonomia. Tarefa nada fácil, mas muito desafiadora; - Estimular o aluno e despertar para a curiosidade e a vontade de aprender, de saber as coisas e de questionar. Ser escola evangélico-luterana é contextualizar para nossos dias os princípios do Evangelho para a prática de sala de aula. Esse é o nosso testemunho que fazemos com alegria, alimentando a esperança por um mundo melhor para viver. O autor é Pastor da IECLB e Diretor do Colégio Evangélico Martin Luther de Marechal Cândido Rondon/PR
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Manteiga, margarina ou banha de porco? O que escolher? Profa. Dra. Maria Eliana Madalozzo Schieferdecker
O que devemos escolher para fazer parte da nossa alimentação do diaa-dia? Manteiga, margarina ou banha de porco? Qual a diferença entre cada um desses alimentos? Para responder a estas perguntas é preciso conhecer os diversos tipos de gorduras e como elas são formadas. Fazem parte das gorduras, os ácidos graxos que são divididos em saturados e insaturados conforme sua estrutura química, além do colesterol. Ácidos graxos Os ácidos graxos insaturados são ainda divididos em monoinsaturado e poli-insaturado. Ainda tem as gorduras trans que são ácidos graxos insaturados, produzidos a partir da fermentação de bactérias em ruminantes. Também são encontrados, em quantidades insignificantes, na carne e no leite. Mas as gorduras trans são, basicamente, produzidas a partir de gorduras vegetais para uso na indústria alimentícia. Gorduras trans estão presentes em diversos produtos industrializados como, por exemplo, nos biscoitos incluindo os de amido de milho e de polvilho -, em sorvetes cremosos e tortas. Podem ser encontrados tam-
bém em diversos produtos de panificação, como pão francês, folhados, pão de batata e pão de queijo. As gorduras trans tendem a aumentar significativamente o colesterol total e o colesterol ruim – LDL e consequentemente a diminuição do colesterol bom – HDL no sangue. E isto é prejudicial à saúde, aumentando o risco cardiovascular. Por isso as Agências Reguladoras da Saúde e sociedades científicas que elaboram Diretrizes Nutricionais recomendam a redução do consumo dessas gorduras pela população. A gordura saturada se encontra no leite e seus derivados, na gordura animal e na gordura de cacau. Ela tende a aumentar a concentração de colesterol no sangue, aumentando assim as chances de doenças. Os ácidos graxos monoinsaturados mais comuns são encontrados na natureza e estão em maior concentração no azeite de oliva. Alimentos com proporção alta da gordura saturada são os produtos com gordura animal, como creme, queijo, manteiga, sebo, banha e carnes gordas. Alguns produtos vegetais contêm bastante gordura saturada, como óleo de coco. Muitos alimentos preparados indus-
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trialmente também contêm níveis elevados de gordura saturada: pizza, salsicha, sobremesas a base de leite. Colesterol O colesterol alimentar só está presente nas gorduras de origem animal; não existe colesterol em nenhum produto de origem vegetal. Suas principais fontes alimentares são gema de ovo, leite e derivados, camarão, carne bovina, pele de aves e vísceras. A maior parte do colesterol presente no corpo é sintetizada pelo próprio organismo, sendo apenas uma pequena parte adquirida pela dieta. Existem estudos que indicam que, aproximadamente, 56% do colesterol da dieta são absorvidos pelo organismo. É importante ressaltar que o colesterol alimentar é um composto importante para o organismo, na produção de hormônios sexuais, da vitamina D e de sucos digestivos, além de desempenhar papel importante nos tecidos nervosos e originar sais biliares. As recomendações nutricionais indicam que a ingestão de 25 a 35% das calorias totais de um indivíduo devem ser provindas de gordura. E desse percentual tem as quantidades previstas para os ácidos graxos saturado (10%), monoinsaturados (15%), poli-insaturados (5 a 10%), trans (menor que 1%) das calorias totais. A quantidade de colesterol consumido deve ser menor que 300mg/dia.
Banha A banha, ou gordura de porco, é um produto de origem animal. Ela é usada como gordura para cozinhar. E, no passado, também foi usada como manteiga para passar-se no pão. Hoje seu uso na cozinha diminuiu, dada a crença de que ela poderia causar problemas cardiovasculares pela presença de gordura saturada. Entretanto, segundo novos estudos realizados, parece que a gordura saturada, ingerida com moderação, não faz mal para o coração, e sim que os responsáveis por doenças coronarianas são principalmente produtos industrializados com outros componentes. Por ser de origem animal a banha de porco é rica em gordura saturada e colesterol, porém é livre de gordura trans. Porém a maioria das banhas hoje comercializadas não são mais puras, mas tem algum acréscimo de outros ingredientes. Manteiga De acordo com a Portaria n° 146, do Ministério da Agricultura, do Abastecimento e da Reforma Agrária “com o nome de manteiga entendese o produto gorduroso obtido exclusivamente pela bateção e malaxagem, com ou sem modificação biológica do creme pasteurizado derivado exclusivamente do leite de vaca.” A manteiga é um produto de origem animal, proveniente do leite, constituída de 80% de gordu-
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ra e o restante de água e resíduos de lactose. A manteiga por ser de origem animal é rica em gordura saturada e colesterol. Margarina A margarina é um produto de origem vegetal e foi criada no século XX com o objetivo de fazer um produto parecido com a manteiga, porém que fosse mais barato para a população menos favorecida. Foi o químico Paul Sabatier quem teve a ideia de hidrogenar os azeites/óleos líquidos para transformálos em sólidos para que tivessem maior estabilidade e maior facilidade de manejo doméstico. Nos dias atuais existem vários tipos de margarinas, tradicionais, lights, adicionada de leite, fibras e vitaminas, adicionadas de manteiga, entre outras. Todas as margarinas são hidrogenadas, porém elas diferem no tipo de hidrogenação, o que irá determinar a quantidade de gordura trans e gordura saturada, monoin-saturada e poliinsaturada que elas contêm. As margarinas são basicamente
constituídas de gordura (80%), sólidos de leite desnatado, água, corante, sal e suplementos vitamínicos (vitamina A e D). A hidrogenação tem como objetivo melhorar as qualidades organolépticas (cor, brilho, luz, textura, odor e sabor) dos óleos para que se pareça com a manteiga. Na hidrogenação são aplicados átomos de hidrogênio nas moléculas de ácidos graxos na presença de calor, fazendo com que ocorra saturação dos ácidos graxos insaturados e produzindo as gorduras trans. Então o que escolher: Manteiga, margarina ou banha de porco? Pode-se dizer que não existe uma resposta correta para essa pergunta. Vai depender do caso, de cada indivíduo. Observa-se que nenhum alimento deve ser banido da dieta normal. Porém, deve-se levar em consideração se há necessidade de algum dos produtos serem ingeridos com maior moderação. A composição da dieta irá variar de acordo com os objetivos de cada indivíduo, se há presença de doenças, fatores socioeconômicos e culturais. A autora é nutricionista, professora na Universidade Federal do Paraná, em Curitiba/PR
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Lutero, a Política, e nós... Pa. Sissi Blind
Lutero é um expoente de pensamento sócio religioso de seu tempo e pode ser considerado um homem à frente de seu tempo. Ele foi uma tremenda força individual na Reforma, assim como um poderoso moldador da opinião pública e defensor da liberdade cristã. Num tempo de restrições, proibições e submissões, Lutero, como Reforma-dor, é um personagem de imprescindível significado e força de mudanças para o século XVI. Com boa formação familiar e incentivado pelos pais a buscar boa formação acadêmica ele constrói ímpar capacidade de entendimento de fé e de vida. Sua percepção, decorrente de ímpar capacidade mental e coragem, o faz um pensador revolucionário. Sua fé e entendimento bíblico o impulsionam na busca por mudanças do poder eclesial. O poder de então estava concentrado nas mãos de uma instituição forte e tradicional, a Igreja. O monopólio de poder concentrado na Igreja da época passa a ser contraposto por um homem da própria Igreja. Como monge, Lutero fazia parte do corpo da Igreja. Como homem da igreja, crítico, propõe reformas que terão como consequência total desentendimento com a sua instituição, surgindo uma nova Igreja, chamada de protestantismo. Esta reforma religiosa extrapola os
limites da religião/igreja. Seus pensamentos se expandem e constroem consequências para a vida social de sua época. Ao reordenar questões da essência eclesiástica, acontecem reordenamentos nas relações sociais. Portanto, ao propor a reforma religiosa, Lutero acaba por reorganizar os elementos que ordenavam a vida da sociedade, até então governada pelo monopólio eclesial. Dentre as grandes obras de Lutero em sua luta e protesto contra a Igreja, quero destacar a obra intitulada “Da Liberdade Cristã”. Ele não só escreve sobre a liberdade do Cristão, mas a aplica em sua própria experiência. Neste escrito Lutero afirma, não só sua vontade de recriar as estruturas de poder da Igreja, mas de transformar as mentes das pessoas pelo novo conceito de salvação. A justificação pela fé faz parte do novo processo de entendimento de salvação, à luz do evangelho. Na obra citada, está presente a centelha da semente da liberdade religiosa. Os enunciados tratam da liberdade da pessoa em detrimento da soberania clerical. É a pessoa que tem a soberania da salvação e não mais uma instituição ou um clérigo investido em um manto. Acaba o poder de jurisdição assumido pela Igreja. Também no âmbito do Estado, esse poder eclesial é questionado pelo Reformador.
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A Reforma tem característica especificamente religiosa, mas como a Igreja se constituía no poder social, esta tem implicações sociais claras e diretas. A percepção de Lutero dos problemas da Igreja, na época, o transformam num revolucionário das ideias sócio religiosas do seu contexto. Do movimento da Reforma nascem mudanças, enraizadas em seus contextos. Morre a subordinação cega aos dogmas eclesiásticos e nascem indivíduos livres para exercerem sua cidadania e sua fé. Para Lutero o Estado não está sujei-
zem parte de um contexto e de uma história. Lutero fez sua parte de forma comprometida, em seu contexto. Teve seus problemas decorrentes de sua posição e atuação, mas nos deixou um legado de exemplo e ideais que são fortes e permanecerão presentes na história da humanidade. Sua descoberta de fé revolucionou a vida eclesial da época e influenciou a sociedade e suas estruturas políticas. As proposições de fé e política são distintas, mas não podem ser separadas. Está claro que todos os seto-
Do movimento da Reforma nascem mudanças, enraizadas em seus contextos. Morre a subordinação cega aos dogmas eclesiásticos e nascem indivíduos livres para exercerem sua cidadania e sua fé. to à tutela da Igreja. O estado tem responsabilidade própria, mas cada pessoas é conclamada a exercer seu poder de cidadã. A contribuição de Lutero foi claramente cidadã, no contexto medieval. Forjou mudanças conceituais, que refletiram na vida das pessoas. Portanto, quando olhamos para essa história, nos advém um sentimento de comprometimento muito efetivo com as situações que se espraiam em nossa vida. Somos pessoas que fa-
res da nossa existência são permeados por proposições políticas. Assim sendo, certamente se nos espelharmos nas ações de Lutero, temos o exemplo de um homem que contribuiu para mudanças importantes de seu tempo, a partir da fé. Ele nos ensina, portanto, que nossa participação deve ser efetiva e comprometida no contexto em que vivemos. Lutero, pela sua fé, refutou e lutou contra as questões que considerou erradas. Portanto, nosso compromisso de cris-
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tãos também consiste em analisar e nos manifestar em nossa sociedade. As funções de Igreja e Estado não podem ser confundidas, mas também não podem ser separadas. Lutero nos ensina que a vida de cidadão e de cristão acontecem na mesma esfera. Cabe a cada um de nós participarmos efetivamente da vida social, a partir de nossa liberdade cristã e nos dispor a mudar e a combater estruturas que não respeitam os valores cristãos de justiça. Reformas sociopolíticas são necessárias em nosso tempo. Estruturas que não condizem com a necessida-
de e a construção da vida digna devem ser revisadas. Eis uma grande tarefa para cristãos luteranos que trazem em sua marca um exemplo de participação e luta tão valioso. Política é parte intrínseca de nossa experiência social. Pessoas de bem, pessoas de fé têm muito a contribuir para construirmos a reforma política e social necessária em nosso contexto. Lutero arriscou sua própria vida defendendo seus ideais. O que nós estamos fazendo? É tempo de rever nossas posturas luteranas. Estão faltando pessoas de bem na construção de uma boa política. A autora é pastora licenciada da IECLB em exercício de mandato de Prefeita em São Cristóvão do Sul/SC
– HUMOR – Minha irmãzinha, que há pouco aprendera a ler, certo dia foi com tia Carla e comigo para o zoológico. Na jaula dos leopardos havia uma tabuleta em que dizia: “Tinta fresca.” A menina leu aquilo, e, pensativa, comentou: – E eu sempre pensei que aquelas pintas eram naturais!
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Encontro Nacional de Ministras da IECLB Pa. Ester Delene Wilke
A história da IECLB, como igreja que ordena mulheres ao ministério, despertou nas ministras um forte desejo de celebração da caminhada. E foi esse um dos motivos que levou as mesmas a realizar o seu primeiro encontro, em nível nacional, em 2012. Foi uma data marcante e histórica, justamente por completarmos, como igreja, os 30 anos de ordenação da primeira mulher ao ministério. Daí surgiu o tema: “Mulheres no Ministério - Celebrando os 30 anos de Ordenação na IECLB” e o lema bíblico, “Onde for pregado o Evangelho, será contado o que ela fez, para a sua memória” (Marcos 14.9). Foi uma ocasião não só para festejar, mas também de fazer um resgate da história. Foi uma oportunidade ímpar de ouvir os relatos da caminhada das representantes dos diferentes ministérios (Catequético, Missionário, Diaconal e Pastoral). Diferentes gerações dos anos 70, 80, 90 e 2000 compartilharam sobre os desafios do ministério em cada época. Ouvir a respeito de histórias, sabores e dissabores na experiência ministerial foi muito importante. De vários desdobramentos do primeiro encontro, surtiu o segundo encontro de ministras da IECLB. Desde então já foi sendo gestado o segundo encontro. Uma equipe de preparação havia sido escolhida para dar continuidade ao anseio das mi-
nistras. Aconteceram reuniões virtuais e presenciais para sonhar e planejar. Então aconteceu o 2º ENCONTRO NACIONAL DE MINISTRAS DA IECLB. Foi no mês de novembro de 2015, nos dias 17 a 19, em Florianópolis SC. O tema que perpassou o encontro foi: “De Eva à Maria: A construção do feminino”. Estiveram reunidas ministras de várias comunidades e Paróquias da nossa Igreja. Todos os Sínodos estiveram representados. O encontro promoveu a comunhão, a partilha e o fortalecimento da caminhada ministerial na IECLB. O encontro contou com a palavra de saudação do P. Marcos Bechert, Secretário do Ministério com Ordenação, que trouxe pessoalmente a saudação do P. Presidente Nestor Paulo Friedrich. Também a Pa. Silvia B. Genz, primeira vice-presidente da IECLB, marcou presença. Suas palavras transmitiram força e coragem para seguir testemunhando o Evangelho, enfrentando e resistindo a todos os males. Vários momentos foram marcantes e significativamente celebrados. Como Eva e Maria, várias mulheres da bíblia foram trazidas à memoria, por seus exemplos que marcaram a história. A partir destas, as ministras tiveram a oportunidade de perceber
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que as colegas também nos marcaram e inspiraram na caminhada. O tema do encontro foi desenvolvido pela Pastora e Professora Dra. Ivone Richter Reimer, a partir do texto de Gn 1.26-5.1. Através do estudo exegético ela aprofundou o relato bíblico e apontou desafios para uma releitura e reconstrução do feminino nos relatos da criação. No final, as ministras receberam como desafio constante e importante: Reafirmar em todos os lugares possíveis a igualdade na diferença. A partir da narrativa bíblica e da história de cada uma e de todas, não entrar na “trama” da hostilidade, mas juntar forças e dons em torno daquilo que nos une. O que se quer é reafirmar “o valor do ser humano como imagem e semelhança de Deus e sua relação de interação e interdependência com a natureza. Passo a passo, buscamos a equidade entre os gêneros, valorizando a igualdade na diferença como resposta da fé em Cristo. Nesse sentido, nos comprometemos a desconstruir imagens que reforçam a relação desigual e injusta entre homens e mulheres. Visamos à construção de novas metáforas e imagens simbólicas focadas na espiritualidade do cuidado mútuo e na relação de interdependência dos seres humanos com a natureza. Nesta perspectiva, é importante que apoiemos a organização e participação no encontro nacional “Mulheres Luteranas Celebrando os 500 anos
da Reforma”, que acontecerá nos dias 17 a 19 de março de 2017, em Foz do Iguaçu/PR” (Mensagem do Encontro de Ministras). A oportunidade foi marcada por uma intensa partilha de experiências a partir da pergunta motivadora: “O que estamos conversando pelo caminho?”. Por um lado a partilha possibilitou avaliar o que aconteceu desde o primeiro encontro de ministras até o segundo encontro e, por outro lado, sonhar e pensar propostas voltadas às comemorações dos 500 anos da Reforma. O desejo de continuidade dos encontros nacionais foi unânime. Uma comissão, formada pela Diác. Ângela Lenke, Pa. Regene Lamb, Pa. ViceSinodal Ana Isa dos Reis e Cat. Rosilene Schultz foi eleita para pensar e organizar o 3º Encontro Nacional de Ministras a realizar-se em 2018. Promover um encontro de ministras da IECLB em nível nacional fortalece a caminhada e os vínculos se firmam. As ministras querem a partilha, a comunhão, a reflexão e o cuidado umas com as outras. Fonte: http://www.luteranos.com.br A autora é Pastora e atua na Paróquia Evangélica de Confissão Lutera-na de Nova Santa Rosa/PR . Foi integrante da equipe de preparação do 2º Encontro Nacional de Ministras da IECLB
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Ser ou não ser madrinha... P. em. Anildo Wilbert
Na década de 1980 quando atuei na Paróquia de Carazinho/RS, uma pergunta em torno da reflexão do aceitar ou não ser madrinha de batismo, foi marcante para mim. Ao chegar a uma das comunidades era o segundo culto no domingo pela manhã - uma vovó estava parada junto à porta da igreja. Ao cumprimentá-la, ela disse: – Pastor, preciso conversar com o senhor, depois do culto. Durante o culto os meus olhos voltaram-se para aquela vovó. Ela estava preocupada, nervosa. Parecia que tinha algo grave a decidir. Após o culto ela me disse: – Fui convidada para ser madrinha de uma criança que vai nascer no mês que vem. Eu penso não aceitar, pois já estou com 70 anos. E quando esta criança precisar da gente, para acompanhála nos seus passos na fé, não vou mais estar viva! Mas, como posso dizer isto a este casal? Não gostaria que ficassem magoados, tristes comigo. Sou muito amiga deles. A futura mamãe é como se fosse minha filha. O que devo fazer? Conversamos sobre o significado do batismo e da tarefa do ser madrinha/ padrinho. Relembrei que o batismo acontece em nome do Trino Deus, isto é: Deus Pai, Deus Filho, Deus Espírito Santo. No batismo é oferecida a graça de Deus, fazendo-nos
seus filhos e suas filhas. O batismo nos motiva a viver em comunidade, pois “todos nós fomos batizados em um corpo”, sendo corpo de Cristo (1 Coríntios 12.12-31). De forma especial somos chamados por Deus: “Chamei-te pelo teu nome, tu és meu” (Isaías 43.1). E ser madrinha/padrinho é de suma importância. É um ato de grande responsabilidade, pois a tarefa é acompanhar mais de perto, junto com os pais, o crescimento total da criança, em especial nos passos da fé. Isto para que a criança batizada possa, conforme Lutero, receber e compreender o seu Batismo como algo que Deus fez para sua salvação. Neste sentido os pais, padrinhos e comunidade são instrumentos de Deus para facilitar a resposta da criança, passando a viver como filha/o de Deus. Surpreendeu-me a reflexão desta vovó, sua maturidade, sua visão de responsabilidade no acompanhamento da educação nos passos da fé. Depois de ouvir suas ponderações, eu disse a ela: – Que tal a senhora fazer uma visita ao casal e dizer tudo isso a eles, numa conversa amiga e gentil! A senhora sabe fazer isto. Vai dar certo! Ela assim o fez! Num diálogo franco, aberto com muito amor. Tudo se resolveu! O casal então pediu: Nós, e a
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neném, podemos chamá-la de vovó Selma, mesmo não sendo vovó dela? E ela, muita grata, concordou. E a criança, ao aprender a falar, a chamava de Vó Selma. Aliás, aos poucos todos assim a chamavam carinhosamente, não só os membros da comunidade, mas tam-
bém os moradores da localidade. Tudo isso pelo seu jeito marcante de ser a partir de sua fé, comunhão e testemunho cristão. Tal influência esteve e certamente continua a estar presente na sua própria família, pois três netos da Vovó Selma hoje são pastores na IECLB. O autor é Pastor emérito da IECLB e reside em Florianópolis/SC
– HUMOR – Uma jovem mulher convertera-se à fé cristã, e queria receber o Santo Batismo. Ela perguntou ao Pastor: – O que é que eu devo vestir para esta ocasião? O pastor, que nunca tivera a oportunidade de realizar o batismo de uma pessoa adulta, lhe respondeu: – Não sei ao certo! Todos que eu batizei até agora usavam fraldas!
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Como o Papa acabou com o caos do Ano Novo Klaus Merhof
Somente durante nove anos Inocêncio XII foi Papa em Roma, de 1691 até 1700. E já durante o seu primeiro ano de papado ele encaminhou uma série de reformas. Dentre estas, estava uma questão importante referente ao calendário: Ele determinou que o Ano Novo sempre deveria iniciar no dia 1º de Janeiro. Já para os romanos isto era assim, e também para o Papa Gregório XIII (papa de 1572-1585) com seu famoso “Calendário Gregoriano” o ano iniciava com o dia 1º de janeiro. Mas nem de longe todos os povos respeitavam isto. Conforme crônicas da época, na Idade Média estavam em uso diversos dias de Ano Novo. Alguns celebravam o ano novo no dia 25 de dezembro, coincidindo com o nascimento de Jesus Cristo. Na França foi costume até meados do século XVI, iniciar o novo ano no dia da Páscoa. Neste caso o dia de Ano Novo migrava pelo calendário, como as festas móveis cristãs hoje (Quaresma; Semana Santa; Páscoa; Ascenção; Pentecostes). Em outras paragens comemorava-se o Ano Novo no dia 06 de janeiro, ou no dia 21 de março - no início da primavera (no hemisfério norte). Também o dia 25 de março – dia do anúncio da concepção de Maria – estava entre as datas de início de novo ano.
Inocêncio XII queria por um fim a este caos. Que ele conseguiu se impor no decorrer do tempo, podemos ver ao observar a prática de hoje referente ao Ano Novo num mundo em grande parte secularizado e moderno: Na economia, no tráfego e nas ciências o dia 1º de janeiro é aceito internacionalmente como o início do novo ano, e assim no dia anterior os fogos de Ano Novo correm ao redor do globo. Mas ainda hoje há outros dias em que se comemora o início de um novo ano – apesar de Inocêncio XII – mesmo entre a cristandade. Na Inglaterra até meados do século XVIII se comemorava o início do novo ano no dia 26 de março. Segundo tradições antigas ainda hoje o Ano Eclesiástico inicia no 1º Domingo de Advento, também entre os protestantes. Cristãos Sírio-Ortodoxos o celebram no dia 1º de outubro. Outras culturas e religiões têm a datação do início de ano bem distinta, com data móvel para o início do ano (calendários lunissolares), e até outras contagens de tempo. Pois, para elas não há motivos para aterse a decretos papais! Assim, no dia 21 de setembro de 2017 transcorre o início do ano judaico de 5.778, e no dia 22 de setem-
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bro o ano islâmico de 1.439; valendo lembrar que os dias do calendário judeu e muçulmano iniciam no crepúsculo do dia anterior. E no dia 28 de fevereiro de 2017 os chineses comemoram o seu Ano Novo – conforme o calendário tradicional chinês tem início, então, o ano do galo. Calendários e seus cálculos mundialmente fazem parte dos mistérios mais complicados que existem. Já desde os tempos primitivos estudiosos matutavam sobre a forma como os diferentes tempos de translação da Lua em torno da Terra e da Terra em torno do Sol poderiam ser usados para estabelecer um calendário. Também a sequência de dia e noite – portanto o movimento de rotação da Terra – tinha de ser levado em conta. A explicação para os anos bissextos – 2016 foi um ano bissexto – a astronomia fornece. A terra percorre anualmente 940 milhões de quilômetros em seu movimento em torno do sol. Para tanto ela leva cerca de 365,24 dias. Um ano normal tem 365 dias. Os restantes 0,24 dias, em quatro anos, somam-se a quase um dia inteiro. Por isso a cada quatro anos há um ano bissexto, com 366 dias. As imprecisões que ainda restam são corrigidas com procedimentos sofisticados. A regra para inclusão de um ano bissexto diz: Todos os anos divisíveis por quatro são anos bissextos, com exceção dos anos centenários – a não ser que sejam divisíveis por 400 (es-
tes são bissextos). Assim o ano de 1900 não foi ano bissexto, já o ano de 2000 foi bissexto. O ano de 2400 também será ano bissexto; já os nos de 2100, 2200 e 2300 não o serão. Esse modo muito preciso de contagem de tempo, conforme os especialistas faz com que o Calendário Gregoriano se mantém preciso por, pelo menos, 3.000 anos. Ainda assim há diferenças mínimas em relação ao ano solar – portanto em relação ao movimento de translação da Terra em torno do Sol. Essas diferenças são corrigidas com auxílio de “segundos-bissextos”. O Papa Inocêncio XII por suposto não sabia de nada disso no detalhe. Mas cabe-lhe a honra de o dia 1º de janeiro ser aceito pela maioria dos povos como dia de Ano Novo. Com isto ele não só corroborou o Papa Gregório XIII, mas também os Cônsules Romanos, que já no ano de 153 antes de Cristo haviam fixado o dia 1º de Janeiro como dia de Ano Novo. Antes disso, para os romanos o ano novo começava em 1º de março. Testemunha disso, ainda hoje, são os nomes dos meses de setembro a dezembro, contados a partir de março (setembro, em latim “septimus” = sétimo; dezembro, em latim = “decimus” = décimo). A contagem dos meses mudou, mas as suas designações permaneceram. Publicado em: Evangelischer Pressedienst – Traduzido por P. Dr. Osmar Zizemer, adaptado e atualizado por Carlos Meneghetti
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Presença Luterana na Namíbia – perspectivas históricas e atuais Pa. Dra. Elaine Gleci Neuenfeldt
A Federação Luterana Mundial – uma comunhão mundial, com sede em Genebra – Suíça, que reúne 145 igrejas luteranas ao redor do mundo, realizará, em maio de 2017, sua 12a Assembleia em Windhoek, capital da Namíbia. Onde fica a Namíbia? Fica no sudoeste da África, fazendo divisa com Angola, Zâmbia, Botsuana, África do Sul e ainda com o oceano Atlântico. O país tem uma população de 1,8 milhões de habitantes, num território de 824.295 quilômetros quadrados. Grande parte do território é coberto por dois desertos: O Namib e o Kalahari. A língua oficial é o inglês, mas o vernáculo africâner (que usa o dutch, holandês) também é usado. Em alguma medida também ainda se fala o alemão. As línguas indígenas Damara-Nama, Herero, Kavango, Owambo, Lozi, San e Tswana também ainda estão presentes. Namíbia foi o nome adotado pela população do país, durante o período de libertação da ocupação da África do Sul, que começou em 1915 e durou até 1990. Algumas pinceladas históricas Os primeiros esforços missionários nesta região, empreendidos pelas sociedades missionárias europeias,
datam do século 19: Sociedade Missionária de Londres (1806), Sociedade Missionária Wesleyana e Metodista (1821), Sociedade Missionária da Renânia (Alemanha) – especialmente junto ao povo Herero no norte do país (1821) – e Sociedade Missionária Finlandesa (1870). Há registros de que a primeira pessoa da tribo Herero batizada foi uma mulher, Johanna Maria Gertze, ou Verieta Kazahendike conforme seu nome herero. Mas, a tarefa missionária só veio a ter êxito com o estabelecimento de colônias de artesãos e trabalhadores cristãos, que se misturaram no contexto tribal indígena. Esta mistura teve sucesso na conversão de indígenas motivada pela prática de fé comunitária dos colonos europeus cristãos. Este modelo foi adotado especialmente pela Sociedade Missionária da Renânia (Alemanha), após muitas tentativas frustradas de missão através do envio de pastores que tinham a tarefa de evangelizar e batizar as pessoas indígenas. É interessante notar que historiadores modernos afirmam que este modelo de missão – que estabelece colônias de famílias trabalhadoras, com criação de uma infraestrutura colonial, com escolas, estradas, com o envolvimento político dos missio-
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nários, visando mapear a realidade do país – foi responsável pela posterior intervenção política europeia. Em 1890, a Alemanha estabeleceu um regime de protetorado na Namíbia (como já tinha feito em parte da Tanzânia, Togo, Camarões e Burundi). Este novo modelo de colonização se dá sob a base do trabalho missionário de cristianização das tribos indígenas. Nas palavras de um dos próprios missionários (Leutwein, 1896): “Sem o trabalho pioneiro dos missionários, a ocupação da terra teria sido uma ilusão só no papel”.
ridades coloniais alemãs confinaram os que sobreviveram em campos de trabalhos para prisioneiros de guerra. Com isso foi praticamente extinto o grupo indígena Herero na Namíbia.
A partir de 1897, sob a reivindicação de missionários, as autoridades coloniais começam a política de controle intenso em relação aos indígenas, limitando cada tribo a um delimitado espaço de terra, sob vigilância das autoridades alemãs. Ao mesmo tempo em que se acentuavam as políticas coloniais de limitação de território – terra é possibilidade de criação de gado, sustento da vida tribal nesta época – se organiza a resistência indígena a esta política, tanto da tribo Herero (norte) quanto dos Namas.
Um segundo momento marcante na história do povo da Namíbia é o período da ocupação pela África do Sul e o movimento de libertação do Apartheid, regime este formalmente imposto pela África do Sul a partir de 1948.
Como repressão à resistência, o governo colonial alemão promove um verdadeiro massacre do grupo Herero. De um total de 80.000 hereros existentes nesta época, cerca de 60.000 foram mortos. Outras estatísticas apontam que cerca de 85% deste povo foi massacrado. Após subjugar violentamente toda resistência Nama e Herero, as auto-
Após esta tragédia, a ação da Sociedade Missionária da Renânia passa a atuar na direção de “dar um sentido de comunidade” aos remanescentes que sobreviveram ao massacre. A maioria deles então se converte ao cristianismo pregado pelos missionários e estes com rapidez decretam o fim das práticas religiosas tribais.
Para entender o que significou este período de ocupação e a incansável luta de libertação do povo da Namíbia transcrevo as palavras de meu colega de trabalho na sede da FLM Ralston Daffenbaugh, hoje responsável pelo programa de Direitos Humanos, e que teve uma atuação importante neste período como advogado assessor das Igrejas Luteranas na Namíbia: “Sob a ocupação da África do Sul, um sistema opressivo, discriminatório racial de apartheid foi imposto sobre Namíbia. Imagine um país onde: – os brancos colonizadores e ocupantes ilegítimos das terras e dos recur-
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sos – representando menos de 1 de cada 10 habitantes – tinham o privilégio e as oportunidades, e onde o negro africano era discriminado e mantido dominado; – poucas pessoas negras (ou os assim chamados “de cor” – people of color) não tinham chance de ir à escola e obter educação qualificada, muito menos faculdade ou estudos profissionais; – milhares de homens vindos da região norte do país foram forçados a migrar para o sul, para trabalhar nas minas e fazendas, e proibidos de viver com suas famílias; – 9 de cada 10 pessoas são negras, mas não tinham o direito de votar ou ser votados, para pensar o futuro político de sua nação. – as pessoas negras tinham que levar um passe, para passar nos pontos de controle, não podendo viajar livres, ou viver onde quisessem sem uma permissão oficial; onde os brancos colonizadores procuravam dividir as pessoas por sua pertença tribal, étnica, e de língua, não permitindo qualquer organização comunitária...”. Um movimento político pacífico para a libertação da Namíbia começou a partir de 1950. A SWAPO, por seu nome em inglês, South West Africa People’s Organization. O movimento, duramente reprimido pela África do Sul, lutou em guerrilha de independência a partir de 1966. Líderes das Igrejas da Namíbia lançaram uma Carta Aberta em 30 de
junho de 1971, em que denunciavam a África do Sul de não reconhecer a grave violação de direitos humanos da população negra que estava acontecendo na Namíbia, como já fora decretado pelo Conselho de Segurança da ONU. Esta declaração pública marca a posição das igrejas cristãs, entre estas, a liderança luterana, como do Bispo Zephania Kameeta. “Nosso povo não está livre, e pelo jeito como é tratado, não se sente seguro.” Elas instaram o governo da África do Sul a procurar uma solução pacífica para os problemas da terra, e a respeitar os Direitos Humanos, bem como a independência e autodeterminação do país. A Federação Luterana Mundial, bem como as Igrejas Luteranas dos Estados Unidos, da Alemanha, da Finlândia e Noruega, entre outras, tiveram papel fundamental na solidariedade com as Igrejas na Namíbia. As Igrejas Luteranas na Namíbia Namíbia é o país com a mais alta presença cristã percentual no mundo, e onde mais da metade da população cristã é luterana. Também estão representadas outras igrejas cristãs, como a igreja Católica Romana, a Anglicana, a Reformada Holandesa, as Africanas metodistas, episcopais e pentecostais. Igreja Evangélica Luterana na Namíbia – Igreja Evangélica Luterana Alemã: Com aproximadamente cinco mil membros, esta igreja é a menor das três igrejas lutera-
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nas membros da FLM, e formou-se a partir da missão alemã da Renânia. A ELCIN (sigla em Inglês) forma pregadores e leitores leigos, além de oferecer cursos de formação para pessoas leigas. O trabalho desta igreja envolve a juventude, a publicação de uma revista em que temas como a questão da linguagem e a distribuição da terra são tratados. Seu trabalho diaconal apoia um lar para pessoas idosas e um projeto que se dedica a pessoas com deficiência mental. Igreja Evangélica Luterana na Namíbia (Evangelical Lutheran Church in Namibia – ELCIN): É a maior igreja luterana da Namíbia, com 772.400 membros – cerca de um terço da população. A maioria de suas paróquias se localiza em áreas rurais. Esta igreja tem várias instituições e centros diaconais, mantendo duas escolas secundárias, um trabalho na área da saúde, um Instituto de formação pastoral e um centro de reabilitação. O Seminário Teológico Luterano Unido Paulinium, que é o único centro de formação teológico
que forma homens e mulheres para a tarefa do ministério pastoral, pertence à ELCIN e à ELCRN. Igreja Evangélica Luterana na República da Namíbia (Evangelical Lutheran Church in the Republic of Namibia – ELCRN): A ELCRN oferece serviços comunitários pastorais e sociais em quatro áreas. Ela tem seu trabalho missionário dirigido em cinco áreas rurais, regiões mineiras e cidades. O trabalho missionário na área da educação cristã se manifesta na manutenção de creches, escolas dominicais, bem como grupos de jovens, mulheres e homens. A igreja ainda desenvolve um programa de prevenção e combate à AIDS/HIV, um trabalho de desenvolvimento social, serviço diaconal em prisões e hospitais, albergues em áreas rurais, ancionatos e refeitórios públicos. Seus 420.000 membros, distribuemse em 55 paróquias, nas regiões centro e sul da Namíbia. Junto com seu corpo pastoral e funcionários da sede central, esta igreja emprega 188 pessoas trabalhadoras em seus albergues e creches. A autora é pastora da IECLB e atua na Secretaria das Mulheres na Igreja e na Sociedade da Federação Luterana Mundial em Genebra/Suíça
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Eles só realizaram grandes coisas em idade avançada O simples fato de alguém – conforme o calendário – ter alcançado idade avançada, não deveria levá-lo a desistir de todos os seus planos para o futuro. Muitas pessoas famosas realizaram coisas importantes quando já estavam em idade bem avançada. Isto pode ser um estímulo para que também nós empreendamos esforços e permaneçamos jovens e criativos também na idade cronológica avançada. Sabemos da história que muitas obras grandiosas na área das artes ou da ciência só se tornaram possíveis em idade avançada de seus criadores. • MICHELANÂNGELO tinha 70 anos quando concluiu a cúpula da Catedral de São Pedro em Roma. • VERDI, HAYDIN e HÄNDEL compuseram muitas de suas peças musicais imortais depois dos 70 anos. • DANIEL DAFOE – após haver tentado diversas profissões – começou a escrever “Robinson Crusoé” aos 59 anos.
• EINSTEIN e SCHWEITZER permaneceram criativos até à velhice. • FRANÇOIS MAURIAC explicou o surgimento de seu último romance da seguinte forma: “No meu 80º aniversário eu disse a mim mesmo: Por que é que eu não deveria escrever mais um romance, já que eu penso estar ainda longe da morte?” E ele escreveu a sua última obra, uma obra de mestre: “O Jovem Alain”. Ela foi publicada em 1969, quando o autor já tinha completado 83 anos. E este romance se tornou um Best-Seller na França. • Na área da política podemos apontar homens como CHURCHILL, GHANDI, GLADSTONE, DE GAULE e ADENAUER, que – apesar de suas idades avançadas – deram contribuições decisivas para a estruturação de seus países. KONRAD ADENAUER tornou-se chanceler da Alemanha em 1949, com a idade de 73 anos. Toda a sua influência e suas ações na política fizeram dele um dos políticos de maior sucesso no período pósguerra. Famíliakalender 2003, página 14 – Tradução: P. Dr. Osmar Zizemer
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Breve cronologia da Época da Reforma P. em. Meinrad Piske
1483 – Lutero nasceu em Eisleben, no dia 10 de novembro. 1492 – Descobrimento da América (chegada de Colombo às Américas). 1500 – Descobrimento do Brasil (chegada de Cabral ao Brasil). 1501 – Lutero inicia seus estudos na Universidade de Erfurt. 1502 – Frederico o Sábio funda a Universidade de Wittenberg. 1505 – Lutero ingressa no monastério agostiniano em Erfurt. 1508 – Lutero é transferido pela sua Ordem para Wittenberg. 1512 – Lutero se torna Doutor e Professor de interpretação bíblica. 1513 – 1518 – Lutero leciona sobre os Salmos e as cartas aos Romanos, aos Gálatas e aos Hebreus. 1517 – Motivado pela indulgência, Lutero publica, no dia 31 de outubro, as 95 teses na porta da igreja do castelo em Wittenberg. 1518 – Debate sobre as indulgências em Heidelberg; Lutero se apresenta ao Cardeal Caetano. 1519 – Debate em Leipzig entre Lutero e Johannes Eck. É editado o seu Comentário sobre a carta aos Gálatas. 1520 - Lutero edita os três importantes livros da Reforma: “À nobreza cristã da Alemanha”, “Do cativeiro babilônico”, “Da liberdade cristã” Lutero é ameaçado de ser excomungado. 1521 – Lutero defende diante do imperador Carlos V e de toda a assembléia imperial, reunida em Worms, as suas publicações. O imperador assina o édito de Worms que condena Lutero. Lutero é levado ao castelo de Wartburg onde permanece por um ano. Lá traduz o Novo Testamento para a língua alemã. 1522 – Lutero volta do castelo de Wartburg para Wittenberg, onde tinham acontecido reformas nos cultos e atos de violência praticados - especialmente contra imagens - por entusiastas. 1523 – Assembleia do Império em Nürnberg tenta restaurar a unidade da igreja. 1524 – Entusiastas são questionados. Neste mesmo ano Lutero publica a convocação dos líderes das cidades para a criação e manutenção de escolas.
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1525 – Estoura a Guerra dos camponeses. Lutero se posiciona contra este movimento; Lutero casa com Catarina von Bora. 1526 – 1ª Assembleia Imperial de Espira (Speyer), uma tentativa de restaurar a unidade da Igreja. 1527 – Controvérsia entre Lutero e Zwinglio, da Suíça, acerca da Santa Ceia (“é o corpo e sangue de Cristo” ou: “simboliza o corpo e sangue de Cristo”). 1526 - 1530 – Visitação às comunidades e escolas. 1529 – 2ª Assembleia Imperial em Espira (Speyer), que decide dificultar a existência dos Evangélicos. 5 Duques e 14 cidades protestam contra esta resolução. Esse protesto é a origem do termo protestante para descrever aqueles que adotaram posições da Reforma. Neste ano, Lutero publicou seus dois catecismos, o Catecismo Maior e o Catecismo Menor. 1530 – Assembleia Imperial em Augsburgo. Nela os que adotaram a Reforma apresentaram seu posicionamento, a Confissão de Augsburgo. Lutero estava no castelo de Coburg não podendo ir a Augsburgo porque estava excomungado e banido. A CONFISSÃO DE AUGSBURGO tornou-se, juntamente com o Catecismo Menor, confissão de fé dos luteranos. 1531 – Morre Ulrico Zwinglio, o reformador da Suíça, na batalha de Kappel. 1532 – Acordo de Nürnberg que estabeleceu o “cessar armas” entre os que adotaram a Reforma e os que a rejeitaram. 1533 – A Pomerânia e Würtenberg adotam a Reforma. 1534 – Término da tradução de toda a Bíblia para a língua alemã. 1535 – O movimento batista (“reino dos rebatizados”) termina com sua derrota em Münster. 1545 – Início do Concílio de Trento estabelecendo o programa da Contra Reforma. São rejeitadas as doutrinas protestantes. 1536 – João Calvino, reformador em Genebra, edita o “Instituto da religião cristã”. 1537 – Lutero publica os “Artigos de Esmalcalda”. 1546 – Martim Lutero falece no dia 18 de fevereiro em Eisleben. O autor é Pastor emérito da IECLB e reside em Brusque/SC ••• 191 •••
As 95 teses P. em. Dr. Lindolfo Weingaertner
O calendário marcava o dia 31 de outubro de 1517, véspera do feriado de Todos os Santos. Na entrada da imponente igreja do Paço, na cidade de Wittenberg, situada bem no centro da Alemanha, um homem de estatura média, vestindo trajes de monge, fixava algumas folhas de papel na tábua do portal destinada a anúncios acadêmicos. Os transeuntes não pareciam ligar muito para a atitude do monge; alguns o conheciam, sabendo que se tratava do professor e padre Martim Lutero, docente de Estudos da Bíblia na Universidade recentemente fundada em Wittenberg: Devia ser coisa de padre ou de professor. Os que estavam mais por dentro, talvez tenham entendido logo que o professor estava fixando naquela tábua uma série de teses teológicas, desafiando os colegas professores e os estudantes a discutirem com ele as colocações feitas nas teses, numa data previamente marcada. Sabia-se que elaborar teses e defendê-las em ambiente acadêmico era direito e dever de cada professor da universidade. Era o que realmente estava acontecendo: O professor Martim Lutero acabara de expor ao público 95 teses sobre uma prática comum na igreja de então: A prática da concessão de indulgências, isto é, do perdão de punições da igreja. Alguns
meses antes, Lutero havia mandado cartas a dois bispos, chamando sua atenção aos abusos relacionados com aquela prática. Como os bispos nem haviam respondido suas cartas, ele resolveu vir a público. Aquele ato nada extraordinário viria a desencadear uma avalanche sem precedentes na história espiritual, cultural, social e política da Europa, como também em grande parte do mundo restante. Abalaria a Igreja Católica Apostólica Romana, desencadeando o movimento da Reforma. As teses sem demora foram copiadas por leitores entusiasmados, e logo passaram a ser impressas e multiplicadas pelas máquinas que Johannes Gutenberg havia inventado setenta anos antes. No decorrer de dois meses, a Alemanha foi inundada por milhares e milhares de exemplares daquele escrito evidentemente revolucionário. Parece uma coisa improvável: Uma série de teses acadêmicas, no decorrer de algumas semanas se transformam em assunto de conversa tanto do povo nas ruas como também dos nobres nos palácios e dos teólogos nos templos e nos mosteiros. Na Idade Média a vida e a unidade da Igreja eram baseadas mais em poder temporal, bem como em rígidas tradições do que no evangelho de Jesus Cristo. Até um cego podia
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ver que a igreja andava mal, que ela se tinha afastado mais e mais da simplicidade e da clareza do evangelho. A Bíblia ainda vinha sendo estudada pelos teólogos e pelos monges. Mas o povo simples só conhecia histórias de santos, leis de jejum, regras de penitência, missas de defuntos – e vinha sendo mantido na submissão total pelos padres e bispos que, em nome do papa, ditavam o que era certo e errado. Indulgência significa perdão, remissão de pena. No começo, a prática das indulgências tinha sido pedagógica. Quem tinha cometido um pecado, depois de confessá-lo ao padre, submetia-se a uma punição por parte da igreja: Era-lhe imposto fazer uma peregrinação a Roma, ou a Santiago de Campostella, por exemplo, ou o padre o mandava praticar alguma obra de caridade. Para simplificar este tipo de penitência, o papa tinha baixado uma lei que permitia permutar atos de penitência com o pagamento em dinheiro, que a igreja passaria a usar na prática de obras caridosas. Com o tempo, esta prática foi degenerando mais e mais. Já não havia mais o propósito pedagógico, mas o que importava era o dinheiro arrecadado. A “venda” de indulgências mais e mais foi se transformando em escandalosa negociata. O papa Leão X, no tempo da publicação das teses de Lutero, estava construindo a igreja de São Pedro, em Roma, edifício majestoso que vinha sendo enfeitado
por artistas geniais como Raffael e Michelangelo. Esta construção consumia rios de dinheiro, e o meio mais fácil de arrecadar as somas necessárias era recorrer à venda de indulgências. Assim, pregadores inescrupulosos percorriam o país à cata de dinheiro. Chegavam a afirmar “Tão logo o dinheiro retine no fundo da caixa, a alma penada, em cujo benefício é pago, salta do purgatório para o céu.” (tese 27) Com pouco dinheiro podia-se comprar indulgências por um ano, por mais dinheiro por cem anos e mais. O povo foi levado a não mais perguntar pelo perdão dos pecados, mas pela anulação da punição dos pecados, tanto a punição terrena como a do além. Martim Lutero por toda sua vida seria um homem de fala direta. Tanto em suas prédicas como em seus livros ele costumava entrar no assunto de forma direta, sem rodeios floridos. Coloca no começo e no fim a parte mais importante do que tem a dizer. Assim, as duas primeiras e as duas últimas teses nos podem servir de balizas firmemente fincadas no chão em que ele argumenta. Vamos citar estas importantíssimas teses palavra por palavra: Tese 1: Quando nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo diz: Arrependeivos (Mateus 4.17), ele queria que a vida inteira dos crentes fosse arrependimento. Tese 2: Esta palavra não pode ser entendida a partir da penitência sa-
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cramental, quer dizer, a partir da confissão e da penitência administradas pelo ministério eclesiástico. Tese 94: Deve-se admoestar os cristãos a seguirem com alegria sua cabeça Jesus Cristo, através de punição, morte e inferno. Tese 95: e assim confiantemente desejarem antes entrar no céu através de muito sofrimento do que através de uma pretensa paz. Quem encosta seus ouvidos nestas quatro teses profundas e claras, não escuta só a opinião bem formulada do teólogo Martim Lutero. Ele escuta o coração latejante do seguidor de Jesus Cristo. Este seguidor de Jesus, com clareza cristalina, afirma uma coisa revolucionária: Afirma que não entende Jesus Cristo a partir da igreja, mas que entende a igreja a partir de Jesus, nosso Senhor e Salvador. Não entende a palavra dele a partir de uma prática observada na igreja, mas quer submeter esta prática observada na igreja, mas quer submeter esta prática ao que Jesus Cristo falou. Baseado neste critério simples e claro, Lutero ultimamente viria a ser o Reformador da igreja. Entendemos que as quatro teses citadas contêm explosivo de alta potência. Talvez agora comecemos a
entender, por que as 95 sentenças do professor Martinus em poucas semanas virariam conversa de rua no país inteiro. Lutero havia tocado num nervo que estava à flor da pele de milhares de cristãos. Lutero abordou diversos temas nas 95 teses: o arrependimento (teses 39 e 40); o perdão dos pecados (teses 6, 36, 37); a prática das indulgências (teses 51, 75, 76, 77, 78); indulgências e purgatório (teses 11, 27, 32, 35); indulgências oferecidas a moribundos (teses 8, 10, 13); indulgências e amor cristão (teses 43, 44, 45, 46); dinheiro - o falso tesouro (teses 84, 86); o verdadeiro tesouro da igreja (teses 56, 57, 58, 59, 60, 62, 65, 66). A tese 62 é a estaca central, plantada bem na linha das balizas iniciais e finais: “O verdadeiro tesouro da igreja é o santíssimo evangelho da glória e da graça de Deus”. Trechos selecionados do escrito “O verdadeiro Tesouro da Igreja” do Pastor emérito da IECLB, Dr. Lindolfo Weingärtner que reside em Brusque/ SC. Este documento foi impresso pela Gráfica e Editora Otto Kuhr Ltda. e é distribuído por IECLB - Literatura Evangelística. Ele pode ser solicitado por E-mail: folhetos@centrodeliteraturaieclb.com.br O texto acima foi preparado por: Meinrad Piske – Pastor emérito da IECLB, residente em Brusque/SC
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A condição humana Lothar Carlos Hoch
A maldade da humanidade resulta da impossibilidade de lidarmos com a vaidade. Por não suportarmos a igualdade e a vivência em fraternidade apostamos na superioridade. Esta, usemos de sinceridade, é fruto da incapacidade de suportarmos a verdade... ... sobre a nossa humana condição! O autor é Pastor e professor emérito de teologia da IECLB, residente em Palhoça/SC
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Afinal, para que servem os Zoológicos? Sílvia Zamith
Hoje em dia, cada vez mais de nós vivemos em cidades e perdemos toda e qualquer ligação real com animais e plantas selvagens (David Attenborough, 2004). Atualmente a existência de zoológicos está sendo questionada por “ambientalistas” radicais que são ideologicamente contra animais fora de seu ambiente natural. Muitas pessoas que se preocupam com a conservação da natureza e com o bemestar animal querem saber se devem ou não apoiar os zoos. Por que é que os zoos e aquários existem? Qual é a sua relevância num mundo que se depara com desafios sem precedentes, já que as necessidades dos seres humanos e dos animais e plantas parecem competir? Como é que zoológicos e aquários poderiam influenciar na conservação do meio selvagem? Não faz muito tempo, os zoológicos
eram conhecidos como locais para a exibição de animais exóticos. Mas, nas últimas décadas, deixaram de ser apenas locais de diversão, para se tornarem centros de educação ambiental e pesquisa. Atualmente, os zoológicos são bastante conhecidos e respeitados por seu papel na conservação de muitas espécies, principalmente das espécies ameaçadas de extinção. Os zoológicos são instrumentos fundamentais para o ensino científico e para a educação ambiental, especialmente de crianças. Infelizmente a maioria dos zoos não foi concebida ou não explora devidamente esse tema. Mas muitos zoos no mundo têm essa preocupação. Esses zoos dispõem de capacidades técnicas e de profissionais dedicados para operar no espectro total das atividades de conservação, desde a reprodução de espécies ameaçadas, à educação e
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formação do público, advogando apoio à causa da conservação das espécies, populações e seus habitats.
Algumas dicas para aproveitar bem com os seus filhos o passeio ao zoológico:
Muitos zoos e aquários contam com profissionais responsáveis pelo desenvolvimento e acompanhamento das atividades educativas e procuram desenvolver instalações inovadoras de forma a inspirar e entusiasmar o público visitante, melhorando de forma contínua o bem-estar dos seus animais.
Não trate os animais como artistas de circo: os bichos não estão no zoológico para fazer piruetas. O contato ajuda a criar empatia com os animais. Estimule o respeito a todos os seres vivos, inclusive daqueles que muitas vezes geram nojo ou medo, como cobras, sapos, aranhas, insetos e morcegos. É importante explicar aos seus filhos que todos os animais têm uma função especial na natureza.
Em uma visita ao zoológico, você vai observar que até os recintos têm mudado. A tendência é que jaulas, viveiros e tanques percam as grades, ganhem mais isolamento acústico e espaço, além de tentarem reproduzir o hábitat natural do animal. Tudo isso para aumentar o bem-estar do animal e sensibilizar o visitante sobre comportamento e meio ambiente. Apesar das mudanças, a maior parte do público espontâneo - aquele que vem sem o acompanhamento de educadores - continua visitando os zoológicos mais por lazer do que pelo aprendizado. Como pai ou mãe, você pode procurar participar das atividades educativas oferecidas pelos funcionários do zoo, estimular seus filhos a lerem as placas informativas e discutir questões como a grande diversidade de animais no planeta e o respeito aos recursos naturais.
Visite os animais brasileiros: a fauna brasileira é uma das maiores e mais ricas do planeta. Nosso país tem diversos biomas e por isso há tantos animais diferentes. Arara-azul, tamanduá-bandeira, cachorro-vinagre, onça-pintada são alguns animais que podem ser encontrados nos zoológicos, sendo que alguns deles estão em processo de extinção. É legal aproximar as crianças dessas questões que envolvem o meio ambiente onde vivem. Conheça também os animais de outras partes do mundo: girafas, rinocerontes, elefantes... Os grandes mamíferos africanos aparecem com frequência na televisão e no cinema, habitam o imaginário das crianças e encantam por seu enorme porte. No zoológico, seu filho poderá conhecêlos de perto. A autora é bióloga, residente em Curitiba/PR
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Amor à criação, uma tarefa para a igreja? P. Clovis Horst Lindner
Os cristãos professam, no Primeiro Artigo do Credo Apostólico, que Deus criou todas as coisas. A fé em Deus como o Criador de tudo que existe, foi mudando a postura do ser humano diante da obra criadora de Deus ao longo do tempo. No passado, numa visão antropocêntrica da criação, a espécie humana era vista como a coroação da Criação e que as demais criaturas estavam aí em função da humanidade, servindo para seu deleite e desfrute. Hoje, por causa da destruição ambiental, a fé na dadivosa mão criadora de Deus nos compromete como cuidadores e cuidadoras da sua obra. Deus criou todas as coisas, mas a responsabilidade é nossa. Somos chamados e chamadas a cuidar do legado criador de Deus. Foi para isso que surgiu o Galo Verde, um programa das igrejas em todo o mundo que se preocupa em fazer gestão ambiental. O principal objetivo do Programa Ambiental Galo Verde é envolver as igrejas cristãs ecumenicamente nessa responsabilidade. A igreja cristã não pode somente ficar no discurso preservacionista, exigindo que a sociedade cuide dos recursos naturais e proteja o meio ambiente. Também a igreja, como parte deste mundo, deixa sua pegada ambiental com seus prédios, ins-
tituições e atividades. Consumimos e desperdiçamos água e energia elétrica, o cuidado com os resíduos sólidos em nossas instalações e eventos ainda é muito pequeno, e por aí vai. Por isso, além de falar, devemos dar o exemplo e corrigir nossa postura. A busca pela redução do impacto ambiental das atividades da igreja na criação de Deus é o principal objetivo do Galo Verde. Como começou O Galo Verde no Brasil é inspirado no movimento Der Grüne Hahn, surgido na Alemanha há duas décadas. O movimento alemão é ecumênico e é parecido com os processos reguladores ambientais em empresas, como a ISO 14.000. Diversas comunidades protestantes e católicas e suas instituições participam e se adaptam às leis ambientais estabelecidas naquele país. No Brasil, a caminhada é recente. Iniciou com uma reunião em outubro de 2012. Naquele encontro, foi lançado o Programa Ambiental Galo Verde (PAGV) por pastores luteranos (IECLB) e ambientalistas, como o professor Nelcio Lindner. Também participou o pastor Hans Zeller – coordenador do programa Mission EineWelt com sede em Neuendettelsau/Alemanha - que faz a ligação com o Der Grüne Hahn daquele país.
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O que está sendo feito Hoje o PAGV reúne um grupo de pessoas envolvidas com a causa ambiental e com a reflexão do cuidado com a Criação de Deus nas igrejas. Alguns passos importantes já foram dados em algumas paróquias, e especialmente na obra da construção da sede sinodal do Sínodo Vale do Itajaí, que foi projetada com cuidado ambiental desde a preparação do terreno para o canteiro de obras. No Centro de Eventos Rodeio 12 foi implantado um programa ambiental de gestão de água, energia e bosques, além de destinação de resíduos, compostagem e de cursos sobre cuidados ambientais para colaboradores da casa e para os moradores do entorno.
Um momento muito especial foi o Congresso Nacional da Juventude Evangélica em Timbó/SC, no final de julho de 2016. O Congrenaje foi o primeiro evento da IECLB que compensou o CO2 emitido para reunir 1.500 jovens de todo o Brasil durante uma semana. Ou seja, os jovens deram uma lição muito rica de como um evento desse porte pode receber o selo de “emissão zero”. O Projeto Carbono Social em Rede, da ONG Vianei de Lages/SC, fez os cálculos de que os jovens reunidos emitiriam 62 toneladas de CO2 nas viagens e durante o encontro. Para compensar essas emissões, seria necessária a adoção de 62 mudas de árvores nativas. Uma campanha de adoção foi pro-
Ato da entrega do Certificado do Galo Verde no Congresso Nacional da Juventude Evangélica – CONGRENAJE
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movida durante o encontro, que arrecadou R$ 1.640,00. Isso não representou o total planejado, mas 65% do objetivo foi atingido, permitindo a adoção de 41 mudas. O dinheiro foi entregue no final do Congrenaje ao Vianei, que organizou o plantio por famílias indígenas Laklãnõ-Xokleng. Além disso, o consumo de água e energia do encontro foi monitorado, os resíduos foram separados em recicláveis, compostáveis e rejeitos e houve um intenso programa de educação ambiental durante todo o congresso. O significado do galo Na tradição cristã o galo tem um papel importante. Todos nós conhecemos a história da negação de Pedro, que aparece em todos os evangelhos. É uma história que anima a estar desperto e vigilante, para que não neguemos a causa de Cristo. Também negamos a causa de Cristo quando não nos ocupamos do cuidado com o que Deus nos presenteou na sua criação. Por isso, o símbolo do Galo Verde. Ele está vigilante em relação à sustentabilidade ambiental. Essa vigilância não se estende somente da Igreja em direção à sociedade, mas mantém um olhar atento também para dentro da instituição eclesiástica, propondo que a Igreja cuide mais da criação em seus prédios, em seus eventos e atividades. O Galo Verde quer apaixonar comuni-
dades cristãs, de modo ecumênico, a reduzir a pegada ambiental que deixamos com nossas atividades, também como igreja. Estratégias As comunidades e instituições eclesiais que decidem participar fazem um levantamento do impacto ambiental de suas atividades e, com esses dados em mãos, elaboram um projeto de redução da pegada ambiental. O processo é auditado por técnicos, que usam uma tabela de procedimentos para pontuar a caminhada. Ao final, com o projeto implantado, a entidade recebe um selo do Galo Verde, que classifica seu detentor como um amigo da Criação de Deus. O processo é auditado periodicamente. Comece desafiando algumas pessoas da sua comunidade, a dar o primeiro passo. Crie um grupo que investiga o tamanho da “pegada ambiental” deixada por sua comunidade e desenvolva um projeto para melhorar tal pegada. Nós, do Programa Ambiental Galo Verde, vamos ajudar nessa tarefa. Mais informações você pode obter no site do Galo Verde: www.galoverde.org.br. Também tem informações no Facebook, em facebook.com/programagaloverde/. O autor é coordenador do Programa Ambiental Galo Verde no Sínodo Vale do Itajaí, da IECLB e reside em Blumenau/SC
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Conflito ambiental urbano Eng. Ivonir Martinelli
“A humanidade está em constante movimento, avançando no sentido de compreender sua consciência e instituir formas de vida que correspondam a essa consciência instável. E por isso, em cada período da vida a humanidade passa, por um lado, pelo processo de compreensão de sua consciência e, por outro, pelo de realização na vida daquilo que é compreendido pela consciência”. O texto acima de Liev Tolstoi, registrado em uma carta para um propagandista alemão das ideias de Henry George, se referia à mudança do conceito do uso da terra e da abolição da escravidão, no final do século XVIII. Parafraseando Tolstoi, identifica-se, na análise do que seja o “Conflito
Ambiental Urbano” que a sociedade já assimilou, a primeira etapa de compreender sua consciência relacionando os aspectos sociais com o meio ambiente. No entanto, na segunda etapa, que é a hora de colocar em prática os ditames da consciência, surgem os conflitos. Talvez o ponto de partida para o entendimento prático do conflito esteja na caracterização da configuração “cidade” como o universo do espaço urbano resultante da atuação de seus cidadãos e dos diferentes projetos em curso, movidos pela coordenação das forças vivas da sociedade: associações de moradores, de representantes sociais, de sindicatos de profissionais e outros. Na atuação desses diferentes grupos manifes-
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tam-se as contradições e os conflitos pelo direito à cidade e aos seus recursos ambientais. A necessidade de ordenamento do conflito urbano impõe a intervenção do Estado e consequentemente, do direito institucional, nos seus mais diversos matizes, porquanto o universo conflituoso envolve diretamente sua população nos conceitos de vida (moradia, transporte, saneamento, educação e outros) que vão além da demarcação física formal. A tentativa de solução desse conflito ambiental urbano vem sendo acompanhada de uma inovação: o conceito de justiça ambiental, de aplicação discutível, mas de amplitude quase ilimitada. Essa reflexão de identificar como se estabelecem as relações políticas, econômicas, sociais e ambientais, além dos limites puramente físicos, indica que as diretrizes, normas e procedimentos foram geralmente conduzidos sob a égide do elitismo econômico, legalizando interesses de diferentes grupos sociais e por esse caminho priorizando a universalização dos serviços públicos. Assim, tomando para si a função de ordenar o uso do solo, o legislador instituiu e continua instituindo instrumentos políticos, jurídicos e técnicos mediante os quais desenhará a fragmentação do espaço urbano, segregando grupos sociais e valorizando determinadas áreas em detrimento de outras. Portanto, a sobrevalorização de partes da cida-
de nada mais é do que a consagração jurídica do jogo de interesses com o avanço e predomínio de formas capitalistas de se apropriar de recursos ambientais de propriedade comum. Desse modo o poder dominante segmenta a cidade em primeiro, segundo ou até em terceiro nível e impõe a todos os ocupantes, indistintamente, encargos socioambientais, impostos ou tributos, de forma que a gestão pública administre os parcos recursos de serviços públicos privilegiando determinados segmentos sociais. Investimentos dirigidos para a valorização de áreas privilegiadas ocorrem toda vez que a cidade muda o Plano Diretor Urbano, alterando, por exemplo, os níveis de verticalização. Nesses casos serão exigidos do poder público, provavelmente, recursos não inclusos nas dotações orçamentárias previamente aprovadas pelos órgãos competentes. Reportando-nos aos arranha-céus que desordenadamente se destacam em diversos pontos do espaço urbano perguntamo-nos: Como ousa o poder público particularizar para poucos o benefício da luz, do sol, dos ventos em detrimento de parcelas significativas de população vizinha a determinado prédio, por exemplo? É preciso que a justiça ambiental seja fortalecida na direção do respeito ao direito ambiental. Torna-se cada vez mais imperiosa a necessidade de que o desenvolvi-
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mento urbano promovido pelo planejamento do estado político deva ser submetido a parâmetros universais de sobrevivência humana, caracterizados também pela redução de conflitos. No entanto, há uma profusão de leis e diretrizes que inviabilizam chegar hoje a um acordo sobre a legislação ambiental. O Código Florestal, por exemplo, determina que as áreas de preservação permanente (APPs) em margens de cursos d’água e encostas e topos de morros tenham 30 metros de faixa de proteção, enquanto a Lei de Parcelamento do Solo Urbano determina que tenham 15 metros. A legislação ambiental, composta por leis federais, estaduais, Resolução Conama (Conselho Nacional de Meio Ambiente), lei orgânica do município e plano diretor do município, apresenta textos contraditórios, de abrangência sobreposta, o que evidencia a insegurança jurídica da questão ambiental. Lançando um olhar mais crítico sobre o conceito de sustentabilidade, percebe-se o quanto é ainda tratado de forma superficial, nunca mensurado e extremamente conflitante com os rumos de produção industrial, por mais louváveis que sejam as medidas mitigadoras ou compensatórias impostas às indústrias nas diversas instâncias de licenciamento ambiental.
de” pode ser citada a inadiável regularização fundiária dos “sem terras” frente aos direitos instituídos de propriedade privada; ou ainda as conflitantes atribuições do Ministério de Minas e Energia frente ao Ministério do Meio Ambiente quando da aprovação de projetos de geração de energia. Contextualizando o conceito de Tolstoi, citado no início deste texto, podemos reconhecer quão difícil é o processo de realização da consciência ambiental. Temos dificuldade em abrir mão dos confortos pessoais em benefício do meio ambiente. Os consumos excessivos de energia elétrica (de geração nunca ecológica), de água potável, de papel, de plásticos e de outros subprodutos estão na contramão da consciência ambiental. Além disso, o descarte de roupas, de aparelhos eletrodomésticos, de eletrônicos e de automóveis, etc., caracterizam nossa submissão à tirania do “obsoletismo programado”, citando “in memoriam” nosso ilustre e polêmico ambientalista José Antônio Kroeff Lutzenberger. Dele tive a honra de ouvir pessoalmente a expressão como um dos conceitos norteadores do consumismo atual. Ao encerrar esta breve análise dos conflitos urbanos com o meio ambiente podemos apenas dizer que são conflitos humanos, vivos e vividos.
Como exemplos da fragilidade e de conflito do conceito “sustentabilida••• 203 •••
O autor é Engenheiro, trabalha e reside em Blumenau/SC
Palavras cruzadas: GRAÇA, FÉ, ESCRITURA, CRISTO Colaboração: P. em. Irineu Wolf – Solução na página 228
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Conservem-se caladas as mulheres nas igrejas? P. em. Friedrich Gierus
Foi no dia 02 de fevereiro que abri a minha agenda Vade-mécum Luterano e li que era o Dia da Apresentação de Jesus no Templo. Em nossa Igreja Evangélica de Confissão Luterana este dia não tem peso comemorativo no calendário litúrgico. E a maioria dos membros provavelmente nem saberiam explicar o que significa a “apresentação de Jesus no templo”. No entanto, na Igreja Ortodoxa e na Igreja Católica Apostólica Romana o dia da Apresentação do Senhor é comemorado com destaque. Isto, porque coincide com a purificação da mãe de Jesus no templo. No Novo Testamento, o evangelista Lucas fala sobre esta tradição, escrevendo: “Passados os dias da purificação, Maria e José levaram Jesus a Jerusalém para o apresentarem ao Senhor, conforme o que está escrito na lei do Senhor: Todo primogênito ao Senhor será consagrado; e para oferecer um sacrifício (com a finalidade de resgatá-lo), segundo o que está escrito na referida lei: Um par de rolas ou dois pombinhos.” (Lucas 2.22-24). Além da apresentação de Jesus, aconteceu também a purificação da sua mãe Maria. Pois a mulher que deu à luz um filho estava submetida a um isolamento durante 40 dias para se “purificar” - em obediência ao que está escrito em Levítico, ca-
pítulo 12: “Se uma mulher conceber e tiver um menino, será imunda sete dias; como nos dias da sua menstruação, será imunda. E, no oitavo dia, se circuncidará ao menino a carne do seu prepúcio. Depois ficará ela trinta e três dias a purificar-se do seu sangue; nenhuma cousa santa tocará, nem entrará no santuário até que se cumpram os dias da sua purificação.... E, cumpridos os dias da sua purificação por filho, trará ao sacerdote um cordeiro de um ano por holocausto, e um pombinho ou uma rola, por oferta pelo pecado, à porta da tenda da congregação; o sacerdote o oferecerá perante o Senhor, e, pela mulher, fará expiação; e ela será purificada do fluxo do seu sangue.”. A apresentação de Jesus no templo e o ato litúrgico da purificação de sua mãe Maria, portanto, eram dois elementos litúrgicos que aconteciam simultaneamente. E o evangelista Lucas faz questão de mencionar a presença de Simeão, “um homem justo e piedoso que esperava a consolação de Israel... Este tomou Jesus nos braços e louvou a Deus dizendo: Agora, Senhor, podes despedir em paz o teu servo, segundo a tua palavra; porque os meus olhos já viram a tua salvação a qual preparaste diante de todos os povos: luz para revelação aos gentios”. (Lucas 2.25-31).
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A partir desta passagem no Evangelho de Lucas surgiu a tradição de abençoar e acender velas e, em procissões, dar testemunho de que Jesus é a luz do mundo ou, como disse Simeão “luz para revelação aos gentios”. E a purificação de Maria, que ocorreu no mesmo dia, recebeu interpretações teológicas que, no decorrer da história eclesiástica, levaram à consolidação da fé de que Maria, mãe de Jesus, também é consequentemente mãe de Deus. Daí a Igreja Católica também desenvolveu os dogmas da Igreja Católica Apostólica Romana da Imaculada Conceição, da Virgindade Perpétua e da Assunção da Virgem Maria, dogmas que a Igreja Luterana não compartilha por falta de embasamento bíblico. Por isto, o dia 02 de fevereiro, na Igreja Católica Romana e na Igreja Ortodoxa é uma data muito importante no seu calendário litúrgico. Levando em consideração que no século IV a festa do Natal, quer dizer, a comemoração do nascimento de Jesus, foi fixada para o dia 25 de dezembro, e, sendo que sua apresentação no templo ocorreu 40 dias depois, chegamos ao dia 02 de fevereiro como Dia da Apresentação de Jesus no Templo. Voltando para o tempo da purificação da mulher após o parto, observamos na lei do Antigo Testamento (Levítico 12) que o prazo da purificação após o nascimento de um menino é de quarenta dias. No entanto,
o tempo da purificação após o nascimento de uma menina é de oitenta dias: Quer dizer, a mulher que acaba de dar à luz uma menina era obrigada a ficar isolada em casa durante 80 dias. “A sua imundícia é transmitida a todos os objetos ou pessoas que ela tocar: Toda cama sobre que se deitar... e toda coisa sobre que se assentar será imunda, conforme a impureza da sua menstruação... Quem tocar estas será imundo.” (Levítico 15.2630). E toda vez que passaram os dias de sua menstruação, a mulher tinha que se submeter ao rito da expiação no templo. Fica evidente que as mulheres, apenas levando em consideração a sua menstruação mensal, ficavam muito tempo isoladas. E isto ainda se acentuava no ano em que davam à luz um menino ou menina. E, se a mulher quisesse participar dos eventos religiosos, também lá no templo ou nas sinagogas ela era isolada, ou melhor, segregada, tendo que ficar em espaço separado. Enquanto o espaço para os homens estava bem no centro. É obvio que, a partir do seu isolamento, a mulher não tinha como participar de viva voz do culto. Esta segregação, este isolamento da mulher na vida social e na vida religiosa também foi praticado nas primeiras comunidades cristãs de procedência judaica. O apostolo Paulo ainda orientou a comunidade de Corinto: “Conservem-se as mulheres caladas nas igrejas, porque não lhes é permitido falar; mas estejam submis-
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sas como também a lei o determina. Se, porém querem aprender alguma coisa, interroguem, em casa, a seu próprio marido; porque para a mulher é vergonhoso falar na igreja.” (1 Coríntios 14.34-35).
estivesse falando com uma mulher.” (João 4.27). Quem conhece os Evangelhos sabe que há mais exemplos onde Jesus trata das mulheres como pessoas com a mesma dignidade como a dos homens.
Por outro lado, o apóstolo Paulo afirma que: “Todos vós sois filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus... dessarte, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vos sois um em Cristo Jesus.” (Gálatas 3.26-28). Quer dizer, já nas primeiras comunidades cristãs começou a acontecer uma mudança no conceito do papel da mulher na família e na igreja. Esta mudança recebeu seus estímulos a partir da postura do próprio Jesus Cristo. Ele tratava as mulheres com dignidade, dando a elas o mesmo valor social como aos homens. Por exemplo, ele não se sentiu imundo, depois de uma mulher que já sofria 12 anos de uma hemorragia lhe tocou na orla da veste: “... porque dizia consigo mesma: Se eu apenas lhe tocar a veste, ficarei curada. E Jesus, voltando-se e vendoa, disse, tem bom ânimo, filha, a tua fé te salvou.” (Mateus 9.21-22). O outro exemplo em que podemos ver que Jesus não se preocupava com as determinações da lei do Antigo Testamento, é que ele conversou em público com uma mulher da Samaria, e os discípulos “se admiraram de que
Infelizmente esta valorização diminuiu no decorrer da história da Igreja e as mulheres nas comunidades e nos cultos foram tratadas de acordo com o conceito que o apóstolo Paulo formulou na carta aos Coríntios 14.34-35. Isto começou a mudar a partir da Reforma de Martim Lutero. Ele, ao se casar com a ex-freira, a Catarina von Bora, e considerar ela como parceira à sua altura na caminhada matrimonial deu início a um novo conceito de família e nela a um novo conceito da mulher. Na Igreja Evangélica de Confissão Luterana, mulheres podem estudar teologia e exercer os ministérios pastoral, diaconal, catequético ou missionário com os mesmos direitos e responsabilidades dos homens diante da sociedade, na Igreja e diante de Deus. Este direito não é uma conquista, mas sim um conceito que o próprio Senhor da Igreja, Jesus Cristo, implantou. Por isto a nossa Igreja conseguiu trabalhar durante o ano de 2016 sob o tema “Pela graça de Deus, livres para cuidar”. E quem melhor sabe cuidar, senão as mulheres? O autor é Pastor emérito da IECLB e reside em Blumenau/SC
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De um caderno de redação... H. Orths
Minha mãe não tem vida fácil! Nós somos quatro filhos lá em casa. Às vezes ela diz: “Eu não aguento mais!” Mas eu acho que é só um modo de falar!... Ter quatro filhos é bem legal, e em geral nós nos entendemos bem. Mas vez ou outra lá em casa também surgem brigas e gritaria. Às vezes mamãe está diante de nós com a cabeça vermelha de raiva, e nos passa aquela carraspana... Papai e mamãe de vez em quando também discutem entre si. Isto até me chama a atenção. Mamãe então fica com uma expressão diferente no rosto, sai da sala, e bate a porta! No mais minha mãe é muito legal. Eu a amo muito. Ela simplesmente sabe tudo. Em geral nós temos o nosso pai só para nós apenas aos domingos. Por isso mamãe quase sempre tem de se virar sozinha conosco. Mas ela sabe a resposta certa para todas as perguntas. Eu acho que ela deve ter es-
tudado muitos livros e também ter sido ótima na escola. Mamãe sabe cozinhar muito bem – especialmente sopa de feijão com toucinho ou salsichas. Muitas das nossas roupas ela mesma costura – especialmente vestidos e saias para as nossas irmãs. São sempre modelinhos muito chiques! E ela sabe jogar futebol conosco, os rapazes, como um verdadeiro homem. Também foi ela que nos ensinou a nadar quando ainda éramos pequenos. Eu penso que, de modo geral, nós vivemos uma boa vida em família, mesmo que nem sempre tudo é como talvez fosse ideal. Mas onde já existe uma família ideal? Este é apenas um rápido relato sobre minha mãe. Talvez existam crianças que têm mães melhores e mais “queridas”. Mas para mim, minha mãe é a melhor mãe do mundo. Eu não gostaria de ter nenhuma outra pessoa como mãe. Familienkalender 2003, página 9 Tradução P. Dr. Osmar Zizemer
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A denúncia P. em. Hartmut Schiemann
Pessoas de Santa Cruz do Sul denunciaram um caso de maus tratos com uma velha mãe. Disseram que a idosa estava com a bacia quebrada, presa à cama, e que a comida era colocada num prato de manhã cedo sobre o peito da enferma. No braço, preso com esparadrapo, estava uma mangueira que ia do braço até um balde com água debaixo da cama. Querendo beber, ela somente precisava levar o braço com a mangueira à boca e chupar a água do balde. Afirmaram que a filha só olhava pela velha à noite e o genro somente nos fins de semana! Eu fiquei como uma
chaleira no fogão, cozinhando e fervendo de raiva. Onde ela morava eles sabiam, mas não queriam dizer. E eu parti para verificar e resolver isto com severidade. Descobri que a idosa morava atrás do cemitério. Fui para lá. Encontrei a casa. Toquei a campainha. Mas ninguém atendeu. Quando bati na porta, vi que ela estava aberta. Dizendo “Com licença!” e “Ô da casa” entrei. E aí ouvi a voz fraca da velha. Estava em seu quarto, na cama. Até aqui tudo se confirmava. Vi o prato de massa com mo-
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lho no peito dela e no seu braço o esparadrapo que segurava a mangueira. Pensei comigo: – É tudo verdade o que falaram. Quanta crueldade! Quando perguntei por que estava presa à cama ela confirmou o acidente: Uma queda, e a quebra da bacia.
das crianças, que aparentemente nada fazia para aliviar o sofrimento da sogra e da esposa. Com raiva eu perguntei: – Mas a senhora não é casada? Onde está o herói de seu marido? Ela deu um suspiro profundo e respondeu:
Perguntei pela filha e disse que eu queria falar com ela. Seria uma baita prédica de moral. Ela disse que somente às 19:00 horas sua filha adotiva viria do serviço para casa com as duas crianças. Ela saia de manhã para o seu trabalho e apenas voltava à noite.
– Pastor, ele é motorista de um caminhão baú. Ele vai cada segundafeira para as bandas de São Paulo. E volta somente na sexta-feira à noite. Então, antes de ele tomar o seu banho, ele coloca a mãe numa cadeira e carrega ela para o chuveiro e então eu dou o banho à minha mãe.
Resolvi esperar. Às 19:00 horas a filha chegou. Professora de dois turnos, exausta e cansada, com os seus dois filhos penduradas nela que ela havia buscado numa creche. As crianças estavam igualmente cansadas, choramingavam e rançavam com a mãe. Elas queriam comer, tomar banho e olhar TV. A idosa observava tudo da cama e deve ter pensado:
Eu pensei comigo, já sem fúria:
– O que ele vai dizer e fazer agora, este nobre Senhor Pastor? A minha raiva tinha se evaporado, ficou apenas a pena e compaixão com os quatro. Mas então me lembrei do genro, pai
– Que vida eles levam! Se as pessoas que denunciaram a mim este caso, não o teriam feito, a velha iria sofrer dia após dia. Mas o que eu, o que a minha comunidade, poderia fazer? Resolvi no mesmo dia telefonar ao meu amigo, diretor do Asilo Pella e Betânia em Taquari/RS: – Tu tens uma cama livre para uma idosa? Sim, ele tinha! No dia seguinte uma ambulância a levou para lá. Uma semana mais tarde ela faleceu. De que? De saudade? O autor é Pastor emérito da IECLB e reside em Santa Cruz do Sul/RS
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Nossos sonhos nos buscam Katiane de Oliveira Rossi Stassun
Lá estava eu, uma mulher de 22 anos, levando uma vida de muito trabalho. Havia acabado de concretizar um dos sonhos que sonhava desde a mais tenra infância: comprar um terreno na área urbana para meus pais. Trabalhava muito então em prol de minha própria casa. Eu era costureira de uma grande empresa. Ofício este, que aprendi com muita dificuldade, mas, com perfeição. O trabalho se tornou para mim, fácil de fazer, porém extremamente mecânico aumentando a cada dia o profundo vazio existente em meu ser, que pedia algo diferente. Eu sempre sonhara em desenvolver trabalhos no campo social. Mas, estava conformada com a profissão que eu exercia. Foi no dia 24 de janeiro de 2005 que meus conceitos de vida tomaram um rumo atípico. Fomos ao hospital na cidade vizinha visitar minha irmã que estava internada. Ao chegarmos lá, ela já ganhara alta há algumas horas. Retornamos então, para nossa cidade, meu namorado e eu, de moto. No caminho de volta, em uma curva, um carro atravessou a nossa frente. Com chuva torrencial e devido à rapidez do acontecimento, não conseguimos frear. Meu namorado foi lançado contra o carro e eu, voei sobre a pista contrária caindo de costas no chão. Não perdi a consciência, mas não conseguia me mexer. A dor e a emoção do susto eram fortes. Não
demorou para que eu ouvisse gritos de pessoas pedindo para parar. Era um veículo que vinha em alta velocidade e, devido à curva, não conseguia me ver ao chão. Ainda atordoada, não consegui pensar em nada. O veículo conseguiu parar bem próximo a mim e eu senti neste momento minha vida sendo poupada pela segunda vez em 3 minutos. Logo, aproximaram-se as pessoas, trazendo guarda-chuva e pedindo-me que eu ficasse calma. Eu apenas gritava de dor e ouvia meu namorado gritar por mim querendo saber como eu estava. Fomos levados rapidamente ao hospital, onde permaneci por muitas horas no corredor, longe do meu namorado que foi levado ao quarto por ter plano de saúde. Um médico dirigiu-se a mim dizendo que eu estava imobilizada por causa do risco de ficar paralítica. Eu, em estado de choque, nada conseguia dizer ou pedir. Após certo tempo surgiu uma enfermeira que me deu algumas informações que eu queria saber. Parecia que ela estava a adivinhar meus pensamentos. Disse as horas, como estava meu namorado, que eu seria transferida para outro hospital e que tudo ficaria bem. Estas palavras foram como um bálsamo, aliviando a dor da minha alma. Quatro horas depois, fui transferida para outro hospital em que fiquei internada uma semana. Não perdi os movimen-
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tos das pernas por pouco. O pior havia passado. Foram oito meses em casa me recuperando. Muitas angústias nos acometeram ainda. Muitos fatos marcantes, que dariam um livro. O fato que importa para as reflexões do momento, é que este acidente mudou a nossa vida. Primeiramente para pior. Mas, poderia ter sido bem pior. Hoje vejo que a mudança, na verdade, foi para muito melhor. Pelo fato de eu não poder mais costurar, devido a fortes dores na coluna, paramos por um tempo as obras de construção da nossa casa. Ingressei na faculdade de Pedagogia. Aluna dedicada, logo passei em um concurso público. Mas recusei assumir, pois, ainda não me sentia preparada. A empresa em que eu trabalhara fechou, o que para mim foi um grande bem. Comecei a lecionar em 2008, antes da minha formatura. Simplesmente, me encontrei nesta profissão. Amo ensinar e percebo que o bem social que eu sempre quis fazer, posso fazê-lo com toda a dedicação na profissão que hoje exerço. Atualmente, posso concluir que por algum motivo que não me cabe questionar, Deus mudou o rumo da minha caminhada nesta vida. Conhecendo-me, posso afirmar que jamais seria pedagoga se não tivesse sofrido aquele acidente. A partir desta situação, tenho refletido através das observações da minha vida, que: tudo o que nos acontece, mesmo nos parecendo ruim, é para um propósi-
to maior. A nós cabe ter fé e resignação diante daquilo que não podemos mudar. Caso alguém me dissesse isto naquela época, certamente eu não concordaria. Até hoje, para mim, é dolorido recordar de tudo o que aconteceu. Foram muitas situações que não pude detalhar aqui. Mas, hoje consigo agradecer a Deus pela vida e entender que tudo foi necessário. Eu era acomodada, não gostava de mudanças, tinha medo delas. Sinto como se meus sonhos tivessem vindo até mim, em busca de realização. Hoje, o que mais faço, é mudar. Estou sempre em busca de novos desafios. Assim, construo mais, edifico mais, vivo e contribuo mais. Pois, para mim, não se trata somente de ter os bens materiais que quero para viver. Trata-se também de poder deixar uma marca positiva neste mundo. Dar o melhor de mim para promover desenvolvimento social. Acredito que devo construir uma base forte através de cada criança que me é confiada. Reconheço-me como alguém sem medo do novo, de desafios, nem de correr certos riscos. Eles me deixam mais forte, mais capacitada para a construção do bem na Terra. A autora é Pedagoga, com habilitação em Educação Especial. Especialista em Neuropsicopedagogia. Membro da Academia de Letras do Brasil – SC Seccional de Massaranduba
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Soneto de fidelidade Vinicius de Moraes
De tudo ao meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento. Quero vivê-lo em cada vão momento E em seu louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento E assim, quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angústia de quem vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama Eu possa me dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure.
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– 2017 – Um ano de Graças e Testemunhos de Fé P. Milton Jandrey e Anamaria Kovács
As datas significativas a serem lembradas com gratidão neste ano fazem parte de uma longa lista, a começar pela celebração dos 500 anos da Reforma Luterana, em 31 de outubro. No entanto, esta, a mais importante, traz consigo outras lembranças: faz 160 anos que a Comunidade Evangélica Blumenau Centro foi fundada; há 140 anos, sua igreja foi dedicada; há 110 anos surgia o grupo de mulheres da Sociedade Evangélica de Senhoras de Blumenau e, mais recentemente, há 60
anos, foi fundada a Associação Caritativa. Jubileus são motivos de celebração e festejo, mas, acima de tudo, de gratidão, por ter Deus, por meio de seu Santo Espírito, conduzindo sua igreja até o presente, através do engajamento e da vivência de tantas pessoas de várias gerações, comprometidas com o testemunho da fé cristã de identidade evangélica luterana, agindo por meio do amor. Não cansaremos o leitor e a leitora
Foto aérea com vista da igreja e ao fundo cemitério (Arquivo da Paróquia)
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com os pormenores destes jubileus, que já foram registrados por pessoas competentes. A indicação bibliográfica ao final deste artigo auxiliará na busca por informações mais detalhadas sobre cada evento e instituição. Trazemos aqui, em forma de flashes, o resumo histórico de cada um dos jubileus a serem celebrados neste ano na comunidade. A Comunidade Evangélica Blumenau Centro (1857 – 2017) foi fundada em 9 de agosto de 1857, quando o primeiro pastor, Rudolph Oswald Hesse, celebrou o primeiro culto, no galpão dos imigrantes. Muito antes, contudo, em novembro de 1828, chegaram em Santa Catarina as primeiras famílias de imigrantes alemães, que no ano seguinte foram instaladas em São Pedro de Alcântara e circunvizinhanças. Efetivamente, onde hoje é Blumenau, os primeiros 17 imigrantes chegaram a partir de setembro de 1850. Todos eles, inclusive seu líder e autor do projeto de colonização, Dr. Hermann Bruno Otto Blumenau, eram evangélicos luteranos. Era o Dr. Blumenau quem dirigia os cultos todos os domingos, celebrando a fé e alimentando-a com a leitura de trechos da Bíblia e pregações. O professor Ferdinand Ostermann, que chegou à colônia em 1852, foi incumbido de pastorear a comunidade, provisoriamente. Porém, à medida que a comunidade crescia, tornava-se cada vez mais necessária a presença de um pastor em tempo integral. A vinda do primeiro pastor só
foi possível depois da assinatura de um convênio entre o Dr. Blumenau e o Governo Imperial do Brasil, cuja religião oficial era a Católica Romana. A partir deste convênio, assinado em 1855 e valeu até 1884, o pagamento do pastor para a colônia foi assumido pelo Império nos mesmos moldes da remuneração dos vigários católicos. O mesmo acordo incluía a construção, pelo Estado, de duas igrejas, uma católica e outra protestante. O pastor Rudolph Oswald Hesse e sua esposa Wanda vieram de Wreschen (hoje Polônia), onde ele atuava, em 29 de julho de 1857. Foi recebido com alegria pelos 699 moradores evangélicos da colônia Blumenau (onde viviam 743 pessoas). No barracão enfeitado com folhas de palmitos, foi celebrado o primeiro culto, durante o qual batizaram-se mais de 50 crianças e se compartilhou novamente a Santa Ceia, marcando, assim, onde a Igreja de Cristo se faz visível, a saber, onde o Evangelho é pregado e os sacramentos administrados (Confissão de Augsburgo, Art. VII). Naquele mesmo ano, em terras doadas pelo Dr. Blumenau, ergueu-se uma igreja provisória – uma casinha de madeira - e reservou-se uma área para o cemitério evangélico, hoje um patrimônio histórico da cidade, pois nele encontram-se os túmulos do próprio P. Hesse, do naturalista Fritz Müller, do arquiteto idealizador da igreja do Espírito Santo, Heinrich Krohberger e outros.
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Uma das dificuldades iniciais encontradas pelo P. Hesse foi a diferença entre os hinários de seus paroquianos, que vinham de igrejas territoriais diversas, já que a Alemanha, na época, não era um país unificado. Em aviso à comunidade, ele pediu que todos trouxessem os hinários que tinham, e que ele escolheria apenas hinos conhecidos, que constassem em todos os hinários. Meses depois, chegaram Bíblias, que podiam ser adquiridas na casa do Dr. Blumenau. Portanto, mesmo antes da chegada do pastor, a vida religiosa dos primeiros imigrantes foi mantida e fortalecida por iniciativas de crentes leigos, e a devoção pessoal, assim como a vida comunitária, foram sustentadas pelos hinos e pela palavra de Deus: duas características da Reforma Luterana: somente a Escritura e o canto comunitário. Com a vinda de mais e mais imigrantes, outros povoados foram surgindo e o pastor Hesse passou a celebrar cultos nas Itoupavas, em Badenfurt, Pomerode, Indaial e Timbó, viajando a cavalo. Entre 1860 e 1864 ele atuou também em Brusque, até a chegada do pastor Johann Anton Heinrich Sandreczki. O Governo Imperial relutava em cumprir sua promessa de construir uma igreja protestante, por isso, foram necessários vários relatórios do Dr. Blumenau ao Imperador Pedro II para que, em 10 de novembro de 1865, - coincidentemente dia do aniversário de Martim Lutero - fosse
promulgado um decreto ordenando a construção dos dois templos, católico e protestante, em Blumenau. A Igreja do Espírito Santo (18772017) teve o arquiteto Heinrich Krohberger como responsável pelo projeto e sua construção, o qual usou de toda a sua criatividade para atender às necessidades da comunidade e ao mesmo tempo respeitar as restrições oficiais, que proibiam templos não católicos de ter características de igreja, como torres e sinos. A pedra fundamental foi lançada em 23 de setembro de 1868; na véspera, o sr. Victor Gärtner (sobrinho do Dr. Blumenau) plantou ali as duas palmeiras, que saúdam fieis e visitantes até os dias atuais. Segundo a arquiteta Rosália Wal, a igreja do Espírito Santo é uma construção que pode ser classificada como Arquitetura Religiosa Eclética, pois apresenta influências do revivalismo europeu de base Neogótica. “A igreja utiliza-se do número áurico em suas proporções: a largura interna do octógono da nave é o resultado da multiplicação do número áurico por si mesmo, em seis vezes; o peitoril das janelas corresponde à medida áurica; a altura externa das paredes é o resultado da multiplicação do número de prata (a raiz quadrada do número áurico) por si mesmo, em seis vezes, e assim por diante.” Nas primeiras décadas do século XX, com a liberação para a construção das torres nas igrejas luteranas, a
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partir da Proclamação da República em 15 de novembro de 1889, a Igreja do Espírito Santo recebeu algumas melhorias, tais como: a construção da torre sineira sobre o hall de entrada; a colocação de três vitrais vindos da Alemanha; e a construção do muro frontal em alvenaria de pedras, com a melhoria do acesso para a igreja e a construção da escadaria na esquina do terreno, já que o acesso principal era pela Rua das Palmeiras, que era uma das principais ruas no centro da antiga colônia. A igreja atual tem cinco vitrais representando cenas da vida de Jesus. Os
três menores (nascimento, crucificação e ressurreição), mais antigos, procedem de Zittau, cidade da Alemanha localizada no Distrito de Görlitz. Na segunda metade do séc. XX, os outros dois grandes vitrais, (Ascensão e Pentecostes) que ladeiam os três menores, posicionados aos fundos, no altar, vieram de um importante atelier de São Paulo: a Casa Conrado. Todas essas características fazem da Igreja do Espírito Santo um monumento histórico digno de ser visitado, não só para participar dos cultos ali realizados, mas também para ad-
Igreja do Espírito Santo – Projeto original, sem torre (Arquivo da Paróquia)
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Entrada da Igreja do Espírito Santo (Luiz Ricado Dalmarco) mirar a beleza dos vitrais e a harmonia de suas proporções. Ao mesmo tempo em que se edificava o templo, o pastor Hesse lembrou a comunidade da necessidade de se ter um sino (mesmo sem a torre), e, em 1870, iniciou-se a coleta de donativos para a sua aquisição. No culto do dia 8 de fevereiro de
1874, o primeiro sino chegou, vindo da Alemanha, e foi instalado numa “casa do sino”, junto ao cemitério. Em 2 de abril do mesmo ano, uma Quinta-feira Santa, dia de lembrar e celebrar a instituição da Santa Ceia do Senhor Jesus Cristo, ele tocou pela primeira vez, acompanhando a entrada dos confirmandos.
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Depois de nove anos de construção, interrompidos várias vezes, a Igreja do Espírito Santo foi inaugurada em 23 de setembro de 1877 pelo pastor Hesse, que, em sua reflexão, disse: “Depois de muitos e muitos anos, pois durante 20 anos utilizamos ora uma, ora outra casa para os nossos cultos, abrem-se as portas deste templo, que nos quer servir e abriga a nós e a nossos irmãos dos mais longínquos recantos, que aqui nos reunimos para ouvir a palavra de Deus”. A comunidade reunida para ouvir a Palavra de Deus canta hinos de louvor a Deus, acompanhada pelos sons majestosos do órgão. O instrumento que atualmente se encontra no mezanino foi fabricado por Guilherme Berner, do Rio de Janeiro, em 1933, e após passar por um restau-
ro, foi reinaugurado em 05 de abril de 2009. Desde então, não só as vozes da comunidade e os sons do órgão, mas também outros instrumentos musicais e a atuação dos vários coros, que na igreja se apresentam, continuam a tradição iniciada por Martim Lutero, que deu à música uma importância central no culto a Deus. O primeiro restauro da igreja aconteceu entre os anos 1927-1930, sob a coordenação do arquiteto Franz von Knoblauch. Sobre o pórtico de entrada foi edificada a torre, onde os atuais três sinos (o segundo e o terceiro adquiridos em 1927 e 1933, respectivamente) têm o seu campanário. Um novo relógio foi instalado. Todos vieram de Bochum, na Alemanha; o primeiro, de 1873, não apresenta versículo, mas os outros dois
Antiga casa pastoral, hoje secretaria e escritórios pastorais (P. Milton Jandrey)
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têm gravadas as seguintes palavras bíblicas – “Ó terra, terra, terra, escutai a palavra de Deus”; e “Glória a Deus nas maiores alturas”. O pastor Hesse trabalhou na Comunidade Evangélica de Blumenau até sua morte, em 1879, quando foi sucedido pelo pastor Heinrich Sandreczki, que atuava em Brusque desde 1865 e passou a trabalhar também em Blumenau e região, até 1889. Depois dele, veio o pastor Hermann Faulhaber, que percebeu logo a necessidade de criar um elo entre as paróquias e comunidades evangélicas. Assim, em 1893 foi adquirida a tipografia do jornal “Immigrant”, onde passou a ser impresso o jornal “Der Urwaldsbote” (O Mensageiro da Selva), que foi o primeiro, em Santa Catarina, de orientação e direção evangélica. Atualmente, na área da comunicação social, a Comunidade Evangélica Blumenau Centro instituiu, em 1999, a Fundação Luterana de Comunicação, como mantenedora da Rádio União FM 96,5, de Blumenau, assumida naquela oportunidade da Fundação ISAEC de Comunicação. Embora tendo que se manter comercialmente, a Rádio União transmite programação religiosa evangélica luterana, tendo, por exemplo, o programa “Um Olhar para o Vale”, e, aos domingos, cultos em alemão e português. Também no campo da educação, o pastor Faulhaber foi um pioneiro, dedicando-se à recuperação da esco-
la da comunidade e criando a “Nova Escola”, de nível tão elevado que, ao se formarem no secundário, seus alunos ingressavam facilmente nos cursos superiores do Rio de Janeiro e São Paulo. Em 1906, o pastor Faulhaber regressou à Alemanha, sendo sucedido pelo pastor Walter Mummelthey,
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que trabalhou em Blumenau por dez anos. Sua grande capacidade de organização levou à criação, em 1907, da Sociedade Evangélica de Senhoras; além do Sínodo Evangélico de Santa Catarina e Paraná, em 1911; e do Hospital Santa Catarina, em 1916.
Santa Catarina, Nereu Ramos, fechou por decreto 589 escolas particulares no Estado, inclusive a Nova Escola, que permanecera funcionando. Ela foi então encampada pelo Governo do Estado e hoje é a Escola de Educação Básica Pedro II.
No ano seguinte, em que as comunidades de Blumenau festejavam o jubileu de 400 anos da Reforma Luterana, o Brasil entrou na Primeira Guerra Mundial, contra a Alemanha. Em consequência disso, as escolas comunitárias, que usavam o alemão no ensino, ou tinham como nome “Deutsche Schule” ou “Deutsch-Evangelische Schule”, foram fechadas. Durante a Segunda Guerra Mundial, o interventor de
Após a guerra, a Comunidade Evangélica Blumenau Centro fundou, em março de 1953, a Escola Barão do Rio Branco, que passou a oferecer também o Ensino Médio, em 1976. E não parou por aí: em 2005, foi criada a Barão Idiomas, com cursos de Alemão, Inglês e Espanhol, abertos aos estudantes e à comunidade, e, desde 2010, existe a Barão Arte e Cultura, com o objetivo de promover e ampliar o repertório cultural e o de-
Escola Barão do Rio Branco (Arquivo da Escola)
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senvolvimento da sensibilidade estética e da produção cultural através da música, dança, teatro e artes visuais. A pastoral escolar é exercida desde 2015 pelo P. Gilson Ricardo Hoepfner. A Sociedade Evangélica de Senhoras de Blumenau – SESB (19072017) foi fundada em 2 de setembro de 1907, por Mildred Burrows e seu esposo, o pastor Mummelthey e um grupo de quinze senhoras, com o objetivo de prestar assistência social, amparando parturientes e recémnascidos. Neste ano, portanto, a SESB festeja 110 anos. A necessidade da ajuda de parteiras e visitadoras trouxe a Blumenau as duas primeiras irmãs, em 1909, vindas do “Zehlendorfer Diakonieve-
rein”. A primeira maternidade foi construída na Alameda Rio Branco, onde também moravam as irmãs. Elas enfrentaram condições precárias de atendimento, viajando por horas a cavalo para chegar às casas das parturientes, já que a casa onde moravam comportava apenas duas futuras mães. Com a doação de dois terrenos, por Johanna Hering e Elsbeth Holetz, e a colaboração da comunidade, foi possível construir o “Johannastift”, inaugurado em setembro de 1923 e ampliado em 1940, após uma reforma. Mesmo assim, a maternidade continuava pequena demais para a crescente demanda, levando a Sociedade Evangélica de Senhoras de Blumenau a construir um novo pré-
Antiga maternidade – Johannastift (P. Milton Jandrey)
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dio, no bairro Jardim Blumenau, que recebeu o nome de Maternidade Elsbeth Koehler, onde hoje abriga o Lar e Residencial de Idosos Elsbeth Koehler. A casa antiga, na Alameda Rio Branco esquina com a Rua 7 de Setembro, reformada, abriga atualmente a Casa do Comércio, sede das entidades empresariais do comércio, como CDL e Sindilojas, e constitui um marco da arquitetura de meados do século passado. A instituição da SESB rendeu muitos frutos: grupos de senhoras de outras comunidades evangélicas de Santa Catarina e de outros Estados começaram a organizar-se, reunir-se em congressos e, em 1984, realizou-se o primeiro congresso nacional, no qual foi formado o Conselho Nacional da Ordem Auxiliadora de Senhoras Evangélicas – OASE – da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil. Ainda hoje existem grupos de senhoras com nomes diferentes, além da SESB e da OASE, como a Associação das Damas de Caridade de Brusque e a Associação Caritativa de Blumenau, que comemora este ano seus 60 anos de fundação, todas com o mesmo objetivo: auxiliar as pessoas carentes, dentro e fora da comunidade. Entre as preocupações sociais do pastor Mummelthey incluía-se também o destino das pessoas idosas, o que levou à compra de um terreno, em 1914, pela Comunidade para a construção de um ancionato, mas o projeto acabou adiado e substituído
pela construção do Hospital Santa Catarina, inaugurado em junho de 1920. A falta de dinheiro não permitiu a continuação das obras, que incluiriam a maternidade, o lar de idosos e a moradia das diaconisas. Somente muitos anos depois, em 1942, após uma série de negociações entre o Sínodo, a Liga dos Grupos de Senhoras e a SESB, ambas lideradas por Elsbeth Koehler, foi inaugurado em Braço do Trombudo um ancionato que acolheu os idosos internados em Presidente Getúlio, assim como os de Blumenau. Durante 40 anos, a instituição foi auxiliada pela Sociedade Evangélica de Senhoras de Blumenau, até que a Maternidade Elsbeth Koehler foi transformada em lar para pessoas idosas, em 1982; desde então, é a SESB que administra o Lar e Residencial Elsbeth Koehler, tendo a Diácona Hildegard Amábile Mathies como diretora e o pastor Nilson Hermes Mathies atuando na Pastoral. A Associação Caritativa Evangélica Luterana de Blumenau – ACELB (1957-2017) foi fundada por um grupo de senhoras lideradas por Hilde Kieckbusch, a fim de ajudar pessoas em dificuldades com roupas, alimentos, remédios e apoio moral e espiritual. O grupo reunia-se numa sala da Escola Barão, e, mais tarde, no Centro Comunitário. Angariavam roupas usadas, que reformavam, e visitavam doentes no Hospital Santa Catarina e em suas casas, levando a Palavra de Deus e sua solidariedade. Orga-
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1925 pelo pastor Ewald Schroeder e ampliado pelos seus sucessores. Na comunidade, há diversos grupos que se dedicam à formação e ao acompanhamento das pessoas em diferentes fases da vida.
Logo da Caritativa nizavam também uma festa de Natal para os idosos da comunidade. Mais tarde, passaram também a confeccionar trabalhos manuais em crochê, tricô e bordados, que eram vendidos em um bazar, tradição que mantêm até hoje. Reúnem-se todas as terças-feiras na comunidade para organizar esse bazar, e, com os recursos obtidos, conseguem alimentos, cadeiras de rodas e andadores, continuando a tradição dos últimos 60 anos, buscando “fazer o bem sem perguntar a quem”. 160 anos - a comunidade hoje O culto é o centro da comunidade. Nele, os membros do Corpo de Cristo se reúnem, vivem comunhão, são fortalecidos em sua fé e enviados a participar na missão de Deus neste mundo. Semanalmente, há pelo menos três cultos. Entretanto, para o aprofundamento da fé, a comunidade tem uma longa tradição com o trabalho em grupos, iniciado já em
Crianças são atendidas pelo Missão Criança e encontram-se no Culto Infantil, cantam no Coral Infanto-Juvenil Estrela Guia, aprendem sobre os fundamentos da fé luterana no Ensino Confirmatório, e, depois de confirmados, participam da Juventude Evangélica. Os adultos participam de estudos sobre a Bíblia, na Comunidade e no Lar Elsbeth Koehler. Casais são convidados a fazer parte do grupo específico dedicado a zelar pelo amor, dialogar sobre os desafios do relacionamento e da época atual à luz da palavra bíblica. Mulheres se reúnem no grupo de OASE Estrelas da Fé, na Associação Caritativa, na SESB e ainda no grupo Noa. A Pastoral da Pessoa Idosa possui três grupos: o Girassol, em língua portuguesa; o Gute Freunde, para os falantes do alemão; e o grupo de Dança Sênior. A Diaconia, isto é, o serviço em amor, fruto da fé, perpassa muitos dos grupos da comunidade, porém há um grupo que se propõe a articular esses diversos trabalhos. Também no âmbito da Diaconia, há o Grupo de Apoio às Pessoas com Deficiência e seus familiares; e ainda o Grupo de Apoio em caso de Enchente, uma realidade que acompanha a história
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Púlpito da Igreja do Espírito Santo (Luiz Ricado Dalmarco)
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da própria cidade de Blumenau. Desde 2015, há na Comunidade Evangélica Blumenau Centro três pastorados, sendo que a pastora Márcia Helena Hülle, primeira pastora a atuar na comunidade, acompanha o mais recente grupo da comunidade, que é o da Visitação. Visitar e acompanhar pessoas em momentos de fragilidade e dificuldade, por doença, solidão, desamparo e idade avançada faz parte de ser um Cristo para a outra pessoa. Dentro do mesmo espírito, existe ainda o Grupo Terapêutico, orienta-
do por pastor e psicólogo, com a colaboração de todas as pessoas presentes, para compartilhar e amenizar os males e aflições da vida. Na tradição luterana, a música não pode faltar. Assim, o Coro do Espírito Santo, que existe desde os primórdios da comunidade, participa ativamente dos cultos e celebrações. E assim a Comunidade Evangélica de Confissão Luterana em Blumenau Centro celebra 160 anos de vivência e testemunho de fé em Cristo Jesus. Cristãos alegres jubilai! Agora são outros 500!
Fontes consultadas: Arquivos da Comunidade Evangélica e Paróquia Blumenau Centro. Igreja Evangélica Luterana do Espírito Santo – 120 Anos – Jornal de Santa Catarina suplemento especial – set. 1997. PISKE, Meinrad. Centenário da Igreja de Blumenau Centro. In: Anuário Evangélico 1997. São Leopoldo, RS: Editora Sinodal, 1996. PISKE, Meinrad [Org. ]. Centenário Sociedade Evangélica de Senhoras de Blumenau: 1907-2007. Blumenau, SC: Editora Otto Kuhr, 2007. WEINGÄRTNER, Nelso. 150 Anos de Presença Luterana no Vale do Itajaí. Blumenau, SC: Editora Otto Kuhr, 2000.
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Palavras cruzadas: TEMA E LEMA DO ANO SOLUÇÃO da página 158
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Palavras cruzadas: GRAÇA, FÉ, ESCRITURA, CRISTO SOLUÇÃO da página 204
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Sumário Prefácio .................................................................................................................... 3 O significado das nomenclaturas ........................................................................... 5 Meditações mensais de Janeiro a Dezembro ................................................ 10 a 32 Temas da IECLB ....................................................................................................... 34 Tema e Lema da IECLB para o ano de 2017 ............................................................ 35 Tema do Ano de 2017 ............................................................................................. 36 Datas Comemorativas em 2017 ............................................................................. 39 Pelos 500 anos da Reforma Protestante ............................................................... 42 A compreensão luterana de igreja ......................................................................... 43 Da Liberdade Cristã ................................................................................................ 46 Um ganso para a ceia de Natal. Um acontecimento real ...................................... 49 O dia da Mulher ..................................................................................................... 51 Katharina von Bora ................................................................................................ 52 A Bela Adormecida ................................................................................................. 56 Migração – fenômeno antigo e atual ..................................................................... 59 A contribuição de Lutero para a Teologia ............................................................. 63 Lutero e a Reforma na visão atual da ICAR – Convergências e Divergências ....... 68 Uma experiência com a noz pecã .......................................................................... 71 A música como destino .......................................................................................... 75 Três “martelinhos” e uma nota de cem .................................................................. 79 A música como pregação – comunicação do Evangelho ...................................... 81 A vida ...................................................................................................................... 85 Um artífice diferente – madeira sua paixão .......................................................... 86 O auto de Natal diferente ....................................................................................... 88 Ave, Maria, cheia de graça... e de susto! ............................................................... 92 Aventuras de um casal pastoral no primeiro campo ministerial ........................ 94 Um Luder se transforma em Lutero ........................................................................ 97 Um orçamento de Comunidade ............................................................................ 101 A venda da vaca... ................................................................................................. 102 A contribuição está cara... ................................................................................... 105 Centro de Eventos Rodeio 12 – história e missão ............................................... 107 Comunicação midiatizada ................................................................................... 111 Um industrial inovador ....................................................................................... 114 A Reforma e a Arte ................................................................................................ 116 Os Iconoclastas e Lutero ...................................................................................... 119 Receitas boas da Marlene ................................................................................... 122 “Onde existe fé, também existe o riso!” ............................................................... 124 Ao invés do pão, o veneno nosso de cada dia! ................................................... 127
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Ensino Religioso Escolar em escola pública ....................................................... 131 Oração de um professor ...................................................................................... 135 Os povos indígenas no Brasil e o século XXI ...................................................... 136 Vivências... no pastorado .................................................................................... 140 Luteranismo no Brasil .......................................................................................... 141 Godofredo Boll - Uma breve biografia ................................................................. 144 Lutero .................................................................................................................... 147 Martim Lutero e sua família ................................................................................ 148 Porquê gosto de ser LUTERANA... .......................................................................... 152 O azeite de oliva e seus benefícios ...................................................................... 154 Como surgiu o Natal? ........................................................................................... 155 Palavras cruzadas: TEMA E LEMA DO ANO .......................................................... 158 Os Catecismos de Martim Lutero – História, teologia, atualidade .................... 159 Receitas de Medicina Caseira ............................................................................. 163 Reestruturação da IECLB – por quê? .................................................................... 164 No tempo dos velhos Jeep Willys... ...................................................................... 169 Lutero e a escola .................................................................................................. 170 Manteiga, margarina ou banha de porco? O que escolher? .............................. 173 Lutero, a Política, e nós... ..................................................................................... 176 Encontro Nacional de Ministras da IECLB ........................................................... 179 Ser ou não ser madrinha... ................................................................................... 181 Como o Papa acabou com o caos do Ano Novo .................................................. 183 Presença Luterana na Namíbia – perspectivas históricas e atuais .................... 185 Eles só realizaram grandes coisas em idade avançada ..................................... 189 Breve cronologia da Época da Reforma .............................................................. 190 As 95 teses ............................................................................................................ 192 A condição humana ............................................................................................. 195 Afinal, para que servem os Zoológicos? .............................................................. 196 Amor à criação, uma tarefa para a igreja? ......................................................... 198 Conflito ambiental urbano .................................................................................. 201 Palavras cruzadas: GRAÇA, FÉ, ESCRITURA, CRISTO ............................................. 204 Conservem-se caladas as mulheres nas igrejas? ............................................... 205 De um caderno de redação... ................................................................................ 208 A denúncia ............................................................................................................ 209 Nossos sonhos nos buscam ................................................................................ 211 Soneto de fidelidade ............................................................................................ 213 2017 – Um ano de Graças e Testemunhos de Fé .................................................. 214 Palavras cruzadas: TEMA E LEMA DO ANO (solução) .......................................... 227 Palavras cruzadas: GRAÇA, FÉ, ESCRITURA, CRISTO (solução) ............................ 228
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