Anuário Evangélico Luterano O Livro da Família
2018 Juntas em DIACONIA TRANSFORMADORA
Anuário Evangélico Luterano O Livro da Família
2018 Publicado sob a direção de Meinrad Piske
© 2017 Editora Otto Kuhr Caixa Postal 6390 89068-971 – Blumenau/SC Tel/fax: (47) 3337-1110 E-mail: grafica.ok@terra.com.br
Conselho editorial: P. em. Meinrad Piske (Diretor) P. em. Heinz Ehlert, Profa. Elfriede Rakko Ehlert, P. em. Friedrich Gierus, P. em. Irineu V. Wolf, Profa. em. Úrsula Axt Martinelli, P. em. Valdemar Lueckemeryer, P. em. Anildo Wilbert, Cat. em. Loni Wilbert, P. em. Dr. Osmar Zizemer P. Roni Roberto Balz (editor) Correspondência e artigos: P. Roni Roberto Balz Caixa Postal 6390 89068-971 – Blumenau/SC Tel/fax: (47) 3337-1110 E-mail: cml@centrodeliteratura-ieclb.com.br
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Prefácio Há 47 anos o Anuário Evangélico tem sido o livro da família evangélica de confissão luterana. Trago com carinho em minhas lembranças de infância, meu avô reunindo a família aos domingos para compartilhar trechos deste precioso periódico. Eram tempos onde a informação não era tão acessível como hoje. Logo, o Anuário Evangélico, pela sua diversidade de textos, permitia que nós viajássemos a tantos lugares e épocas diferentes. E assim, este livro da família perdura por quase cinco décadas, trazendo informação, formação, curiosidades e impulsos para a vida de fé de seus leitores. Dentro desta perspectiva da família, nesta 47ª edição, este recebe um acréscimo ao seu nome, passando a ser Anuário Evangélico Luterano – O livro da família. Por conter uma variedade de assuntos tão grande, como meditações, orações, estudos, reflexões, história, fábulas, fatos de vida, palavras cruzadas, receitas culinárias, atividades infantis, humor e muito mais, o Anuário Evangélico Luterano é carinhosamente publicado e destinado para toda a família, desde crianças até idosos, homens e mulheres. É uma publicação pensada por muita gente querida, que quer oferecer leitura agradável, edificante, transformadora que promove o espírito comunitário, coletivo, cooperativo e sustentável para dentro de uma sociedade cada vez mais individualista, consumista, ansiosa, competitiva e fragmentada. Promover valores cristãos, com vistas ao fortalecimento de
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vínculos familiares e modos de vida sustentáveis é nossa intenção com a publicação deste precioso material. Merece um destaque especial o artigo institucional da Fundação Luterana de Diaconia – FLD. A FLD, criada pela IECLB, é uma organização diaconal que atua em todo o país, por meio do seu Programa de Pequenos Projetos e de iniciativas próprias, promovendo transformação social em defesa da “vida abundante para todos e todas” (João 10.10). Somos imensamente gratos a todas as pessoas que colaboraram na construção deste precioso material literário, bem como aos patrocinadores que tornaram este material mais acessível. Desejamos a você, nosso leitor e leitora, uma prazerosa leitura e votos de um abençoado ano de 2018.
Com carinho, pelo Conselho Editorial,
P. Roni Roberto Balz Editor
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O significado das nomencla tur as nomenclatur turas Advento – Vinda, chegada do Senhor. Natal – Nascimento de Jesus Cristo. Epifania – “Aparição” de Deus em seu Filho Jesus Cristo. Septuagesimae – 70 dias (faltam até Páscoa). Sexagesimae – 60 dias (faltam até Páscoa). Estomihi – (Latim: Esto mihi in Deum...) Salmo 31.3: “Sê para mim um forte rochedo”. Invocavit – (Latim: Invocavit me, et ego...) Salmo 91.15: “Ele me invocará e eu responderei...”. Reminiscere – (Latim: Reminiscere miserationum...) Salmo 25.6: “Lembra-te, Senhor, das tuas misericórdias”. Oculi – (Latim: Oculi semper ad Dominum...) Salmo 25.15: “Meus olhos estão sempre em Deus...”. Laetare – (Latim: Laetare cum Jerusalem...) Isaías 66.10: “Alegrai-vos com Jerusalém...”. Judica – (Latim: Judica me, Deus...) Salmo 43.1: “Julga-me, ó Deus...”. Domingo de Ramos/Palmarum – Veja João 12.13: “... A grande multidão... tomou ramos de palmeira e saiu ao seu encontro...”. Páscoa – Ressurreição de Cristo. Quasimodogeniti – 1 Pedro 2.2: “... desejai, como crianças recém-nascidas o leite não adulterado da palavra...”. Misericordias Domini – (Latim: Misericordia Domini plena est terra) Salmo 33.5: “A terra está cheia da misericórdia do Senhor”. Jubilate – (Latim: Jubilate Deo, omnis terra) Salmo 66.1: “Jubilai a Deus toda a terra...”. Cantate – (Latim: Cantate Domino canticum novum) Salmo 98.1: “Cantai ao Senhor um cântico novo”. Rogate – “Rogai, orai” Salmo 66.20: “Bendito seja Deus que não me rejeita a oração...”. Exaudi – (Latim: Exaudi, Domine, vocem meam...) Salmo 27.7: “Ouve, Senhor, a minha voz...”. Pentecostes – No 50º dia após a Páscoa, a descida do Espírito Santo. Aniversário da Igreja. Trindade – Domingo em que é celebrada a ação do Deus triúno – Pai, Filho e Espírito Santo. ••• 5 •••
Datas Festivas do Calendário Eclesiástico
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Janeiro 1 Seg 2 Ter 3 Qua 4 Qui 5 Sex 6 Sáb 7 Dom
8 Seg 9 Ter 10 Qua 11 Qui 12 Sex 13 Sáb 14 Dom
15 Seg 16 Ter 17 Qua 18 Qui 19 Sex 20 Sáb 21 Dom
22 Seg 23 Ter 24 Qua 25 Qui 26 Sex 27 Sáb 28 Dom
29 Seg 30 Ter 31 Qua
Lc 2.15-21 Js 24.1-26 Êx 2.1-10 Gn 21.1-7 Gn 9.12-17 Cl 1.24-27 Mc 1.4-11
ANO NOVO – NOME DE JESUS – Dia Mundial da Paz
Branco
EPIFANIA DE NOSSO SENHOR Branco 1º DOMINGO APÓS EPIFANIA – BATISMO DO SENHOR Branco Depois que Jesus foi batizado, ouviu-se uma voz dos céus: Tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo. Marcos 1.11 1890 – Declarada a plena liberdade religiosa no Brasil
At 10.37-48 1Co 2.11-16 Rm 8.26-30 Ef 1.3-10 Cl 2.1-7 Mt 6.6-13 1635 – ✩ Philipp Jakob Spener, pai do pietismo luterano, † 05/02/1705 1Sm 3.1-20 2º DOMINGO APÓS EPIFANIA Verde O Senhor me disse: Israel, você é o meu servo, e por meio de você serei glorificado. Isaías 49.3 1875 – ✩ Albert Schweitzer, teólogo evangélico e médico, † 04/09/1965 Dt 4.5-13 Rm 9.31|10.8 1910 – Fundação Obra Gustavo Adolfo (OGA) brasileira, Hamburgo Velho, RS Gl 5.1-6 1546 – Última pregação de Martim Lutero em Wittenberg (Rm 12.3) At 15.22-31 Jr 14.1-9 Dt 33.1-16 1866 – ✩ Euclides da Cunha, escritor brasileiro († 15/08/1909) Mc 1.14-20 3º DOMINGO APÓS EPIFANIA (Último Domingo após Epifania) Verde Percorria Jesus toda a Galileia, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando toda sorte de doenças e enfermidades entre o povo. Mateus 4.23 1800 – ✩ Theodor Fliedner, fundou a primeira Casa Matriz de Diaconisas 2Co 3.9-18 1532 – Fundação de São Vicente, primeira vila do Brasil-Português Jo 1.43-51 1637 – Chegada do conde João Maurício de Nassau-Siegen, governador do Brasil-Holandês, a Recife, PE Jo 3.31-36 Ap 1.1-8 1554 – Fundação pelos jesuítas do núcleo de São Paulo 1Co 2.6-10 1654 – Fim do Brasil-Holandês: capitulação dos holandeses Nm 6.22-27 1Co 8.1-13 4º DOMINGO APÓS EPIFANIA (Septuagesimae) Verde Jesus leu no livro do profeta Isaías: O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos. Lucas 4.18 1808 – Abertura dos portos brasileiros aos navios das nações amigas Lc 19.1-10 1499 – ✩ Catarina von Bora, esposa de Martim Lutero († 20/12/1552) Dt 7.6-12 1990 – 8ª Assembleia Geral da FLM, em Curitiba, PR Rm 4.1-8 1531 – Chegada de Martim Afonso de Souza a Pernambuco Fases da Lua:
= Crescente
= Cheia
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= Minguante
= Nova
Lema do mês
O sétimo dia da semana é o dia de descanso, dedicado a mim, o seu Deus. Não faça nenhum trabalho nesse dia, nem você, nem os seus filhos, nem as suas filhas, nem os seus escravos, nem as suas escravas, nem os seus animais, nem os estrangeiros que vivem na terra de você. (Deuteronômio 5.14)
Com esta ordem, Deus presenteia as pessoas que o seguem e temem. Muitos mandamentos vêm carregados com proibições que alertam para as coisas que não devem ser feitas, pois, acabam nos afastando de Deus. Neste mês, temos um lema bíblico que também está contemplado como mandamento. Porém, esta palavra é um convite para fazer algo muito importante visando o estreitamento de nossa relação com Deus. Muitas pessoas neste período do verão estão descansando depois de um período de trabalho intenso. Isso é merecido, é justo e é prazeroso. Renovam-se as forças para o trabalho durante o resto do ano. Um mandamento que visa proporcionar regularmente tempo para repouso e para a meditação na Palavra. Que bom! Isso na verdade é um privilégio que nos é concedido pelo próprio Deus. É um presente dele para cada pessoa que o segue. É uma possibilidade de podermos contemplar tudo aquilo que realizamos ao longo da semana de trabalho. E, é um convite para a gratidão, pois, Ele nos tem concedido nossos dons e habilidades que garantem nosso sustento.
Lutero nos lembra, que o sétimo dia pertence a Deus, e Ele o concede a nós como presente para que possamos descansar nele. Por vezes, as pessoas são levadas a não parar e produzir cada vez mais. E isso é escravidão! A observância desta palavra bíblica é um convite para viver a vida de forma comprometida com o nosso trabalho e com aquilo que nos sustenta. Porém, que isso seja feito de forma prudente e responsável. Cada pessoa precisa de repouso, de convivência com família, comunidade e precisa de comunhão com Deus. Descansar e dedicar-se a Deus é uma possibilidade para que tudo isso possa acontecer. Portanto, que possamos nos colocar sob a orientação do Espírito de Deus quando nos dedicamos ao nosso trabalho. Que tenhamos a certeza de que a nossa disposição, dons e vocação são presentes de Deus para serem administrados de forma comprometida e responsável ao longo de toda vida. Tenha um bom descanso na presença e sob a bênção de Deus. P. Alex Valmor Stahlhöfer Pa. Janaína Wiegand Stahlhöfer Canguçu/RS
Oração Amado Senhor, agradecemos-te pela vida e por podermos mantê-la com aquilo que colocas à nossa disposição em cada amanhecer. Mantenha-nos na fé de que estás sempre conosco, fortalecendo-nos quando trabalhamos e quando descansamos. Abençoa e guarda-nos, em nome de Cristo nosso Senhor e Salvador. Amém.
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Fevereiro 1 Qui 2 Sex 3 Sáb 4 Dom
5 Seg 6 Ter 7 Qua 8 Qui 9 Sex 10 Sáb 11 Dom
12 Seg 13 Ter 14 Qua 15 Qui 16 Sex 17 Sáb 18 Dom
19 Seg 20 Ter 21 Qua 22 Qui 23 Sex 24 Sáb 25 Dom
26 Seg 27 Ter 28 Qua
1Co 3.1-8 Ml 3.13-18 APRESENTAÇÃO DE JESUS NO TEMPLO 1Co 1.26-31 1931 – Fundação da Federação das Igrejas Evangélicas no Brasil Is 40.21-31 5º DOMINGO APÓS EPIFANIA (Sexagesimae) Verde Jesus Cristo diz: Eu sou a luz do mundo; quem me segue nunca andará na escuridão, mas terá a luz da vida. João 8.12 Dt 32.44-47 Ez 33.30-33 Lc 6.43-49 1Ts 1.2-10 2Tm 3.10-17 1558 – Execução dos primeiros evangélicos no Brasil, na baía de Guanabara Mt 13.31-35 Mc 9.2-9 ÚLTIMO DOMINGO APÓS EPIFANIA (Estomihi) Branco TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR O salmista canta ao Ungido: Tu és o mais formoso dos humanos; nos teus lábios se extravasou a graça; por isso, Deus te abençoou para sempre. Salmo 45.2 1868 – Fundação do Sínodo Teuto-Evangélico da Província do Rio Grande do Sul, em São Leopoldo, RS (extinto em 1875) Lc 13.31-35 Lc 5.33-39 Jl 2.1-17 QUARTA-FEIRA DE CINZAS Violeta ou Preto ou Vermelho Cl 3.5-11 Dia Mundial contra a Lepra Rm 7.14-25a 1497 – ✩ Filipe Melanchthon, colaborador de Martim Lutero em Wittenberg († 19/04/1560) Zc 7.1-13 1Pe 3.18-22 1º DOMINGO NA QUARESMA (Invocavit) Violeta Jesus respondeu ao tentador: Está escrito: Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus. Mateus 4.4 1546 – † Martim Lutero, reformador alemão, em Eisleben (✩ 10/11/1483) 2Ts 3.1-5 Jó 1.1-22 Dt 8.11-18 Tg 4.1-10 1956 – Criação da Fundação Diacônica Luterana, em Lagoa Serra Pelada, ES Hb 2.11-18 Rm 6.12-18 Mc 8.31-38 2º DOMINGO NA QUARESMA (Reminiscere) Violeta Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. João 3.16 1778 – ✩ José de San Martin, general argentino, libertador latino americano († 17/08/1850) Gn 37.3-36 Jó 2.1-10 Jo 16.29-33 1997 – Reestruturação da IECLB, extinção dos DE’s e das RE’s; criação dos Sínodos
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Lema do mês
Os mandamentos estão aqui com vocês; vocês os guardam no coração e podem recitá-los e por isso devem cumpri-los. (Deuteronômio 30.14)
Deus renova a aliança e chama o povo de Israel ao comprometimento e a fidelidade. Esta é a tônica de nossa palavra bíblica deste mês. Os mandamentos falam de nossa relação com Deus e com o próximo. Os mandamentos são balizas para um bom convívio. São espelhos éticos. Lutero nos diz: “As obras boas e piedosas jamais tornam a pessoa boa e justa, mas a pessoa boa e justa realiza obras boas e piedosas. Uma árvore que produz bons frutos é saudável, não por causa dos frutos, mas os frutos é que são bons por causa da árvore.” Portanto, libertos pela graça realizamos boas obras, motivados pela fé. Os mandamentos apontam para a dimensão ética da fé. Neles, há parâmetros para todas as relações e dimensões. No Brasil, a ética foi e é pauta. Nos últimos anos, muito se ouviu e se falou sobre o assunto. Mas, sem avanços! Poderíamos dizer: as regras, as leis estão aí. Orientações não nos faltam. Por que tão poucos as cumprem? Em nosso país, há uma crise ética profun-
da. Como nação, precisamos assumi-la, encarála para vencê-la. Normalmente nos espelhamos nas pessoas que são líderes, na expectativa de darem bons exemplos. Lideranças que não dão bons exemplos ‘inspiram o povo a fazer o mesmo’. Servem como espelho. Filho não deveria ver o pai roubando, sonegando, burlando a lei. Da mesma forma, o povo deveria ver outra postura da atual de suas lideranças políticas, do judiciário, empresariais, religiosas, imprensa, artistas e outras. Mandamentos são para recitar, carregar no coração e cumpri-los, ou seja, tê-los presente em nossa vida. O apóstolo Paulo nos diz: “A lei inteira se resume em um mandamento só: ame aos outros como você ama a você mesmo” (Gl 5.14). Somos conhecedores dos mandamentos... mas, não deixamos que eles inundem nossa mente e coração. Para que nossa vida floresça e frutifique em boas obras, a partir do amor de Deus, precisamos acolhê-los e cumpri-los. P. Vernei Hengen Marechal C. Rondon/PR
Oração Senhor Deus, desobedeci a teu mandamento. Não tive paciência quando tudo parecia estar contra mim. Não sou misericordioso, nem bondoso. Não ajudo o meu próximo. No entanto, querido Deus, enche-me completamente com tua graça. Dá-me teu Santo Espírito, para que obedeça a ti e possa agir, pelo menos um pouco, segundo a tua vontade. Amém. (Lutero)
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Março 1 Qui 2 Sex 3 Sáb 4 Dom
5 Seg 6 Ter 7 Qua 8 Qui 9 Sex 10 Sáb 11 Dom
12 Seg 13 Ter 14 Qua 15 Qui 16 Sex 17 Sáb 18 Dom
19 Seg 20 Ter 21 Qua 22 Qui 23 Sex 24 Sáb 25 Dom
26 Seg 27 Ter 28 Qua 29 Qui 30 Sex 31 Sáb
1Jo 1.8 - 2.2-6 2Co 13.3-9 Dia Mundial de Oração – DMO Gl 2.16-21 Êx 20.1-17 3º DOMINGO NA QUARESMA (Oculi) Violeta Jesus Cristo a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até a morte e morte de cruz. Filipenses 2.8 Lucas 14.25-35 Jó 7.11-21 Mt 13.44-46 Mt 19.16-26 Dia Internacional da Mulher Mt 10.34-39 Gl 6.11-18 1557 – Primeira pregação evangélica (calvinista) no Brasil, na baía de Guanabara (Sl 27.4) Jo 3.14-21 4º DOMINGO NA QUARESMA (Laetare) Violeta Assim como Moisés, no deserto, levantou a serpente numa estaca, assim também o Filho do Homem tem de ser levantado, para que todos os que crerem nele tenham a vida eterna. João 3.14-15 Jo 6.26-35 1607 – ✩ Paul Gerhardt, teólogo luterano e poeta alemão († 27/05/1676) Jó 9.14-35 1630 – Proibição do tráfico de escravos africanos no Brasil Jo 15.9-17 1965 – Consagração do primeiro diácono na IECLB, em Lagoa Serra Pelada, ES 2Co 4.11-18 1937 – Abertura do Ginásio (hoje Colégio) Sinodal, em São Leopoldo, RS Jo 16.16-23a 1969 – Inauguração do Instituto Concórdia, da IELB, em São Leopoldo, RS Jo 14.15-21 Hb 5.5-10 5º DOMINGO NA QUARESMA (Judica) Violeta Jesus Cristo diz: O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida para salvar muita gente. Marcos 10.45 Ef 2.11-16 Dia da Escola Jó 19.21-27 Início do OUTONO Hb 9.11-15 1557 – Primeira celebração evangélica (calvinista) da Santa Ceia no Brasil, na baía de Guanabara Jr 15.15-21 Hb 10.1-18 Lc 18.31-43 Jo 12.12-16 DOMINGO DE RAMOS – PAIXÃO Violeta ou vermelho Mc 14.1-9 Jesus respondeu aos discípulos: É chegada a hora de ser glorificado o Filho do Homem. João 12.23 Is 7.10-14 ANUNCIAÇÃO DO NASCIMENTO DE JESUS Branco 1824 – Promulgação da 1ª Constituição do Brasil, por D. Pedro I Mt 26.6-13 1946 – Abertura da Escola de Teologia em São Leopoldo, RS Jó 38.1-11; 42.1-6 Lc 22.1-6 1823 – ✩ Dr. Hermann Borchard, fundador do Sínodo Teuto-Evangélico da Província do Rio Grande do Sul († 03/08/1891) Sl 116.1-19 QUINTA-FEIRA DA PAIXÃO Branco 1549 – Chegada dos primeiros missionários jesuítas ao Brasil, chefiados pelo padre Manuel da Nóbrega Hb 10.16-25 SEXTA-FEIRA DA PAIXÃO Preto, Vermelho ou ausência de cor Jo 19.38-42 SÁBADO DA PAIXÃO – VIGÍLICA PASCAL Violeta ou Preto 1492 – Expulsão dos judeus da Espanha
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Lema do mês
Jesus Cristo disse: – Tudo está completado! (João 19.30)
O livro de Gênesis nos diz que no início não existia a morte. Ela somente apareceu depois. Ela foi consequência da escolha do ser humano. Ela foi a consequência de comer do fruto da árvore que estava no centro do jardim. (Gn 2.17). Ao escolher desobedecer a Deus, o ser humano perde a vida eterna e surge a morte. Ao retirar Deus de sua vida – isso a Bíblia chama de pecado - surge a morte. A morte é consequência do pecado. O Novo Testamento ensina que a única pessoa que não pecou foi Jesus (1 Pe 2.22). Portanto, sem pecado, Jesus é imortal. Jesus somente morreu porque ele foi assassinado. Mas, mesmo tendo sido assassinado e estando morto, a morte não conseguiu segurá-lo, porque Jesus não tinha pecado. A novidade da ressurreição de Jesus é a vitória sobre a morte. Jesus foi o primogênito – o primeiro a ressuscitar – e sua ressurreição é a antecipação da ressurreição de todos os mortos (1 Co 6.14).
Certa vez uma senhora idosa e muito doente me chamou para pedir algumas coisas que ela gostaria de ter no seu sepultamento. Falou do hino que ela gostava, da passagem bíblica que marcou a sua vida e também pediu-me que antes de fechar o caixão, lhe colocasse uma colher de sobremesa nas mãos. Achei estranho aquele pedido. Perguntei por que ela queria ser enterrada com uma colher de sobremesa? Ela então explicou: Nas vezes que fui a um restaurante com meu esposo, os pratos e os talheres já estavam bem arrumados em cima da mesa. Na hora do jantar, o garçom trazia o prato principal. Todos comiam. Depois o garçom recolhia o prato principal com os talheres. Parecia que o jantar já havia terminado. Mas aí víamos a colher de sobremesa sobre a mesa. Era sinal que algo especial ainda estava por vir. Gostaria que colocassem uma colher de sobremesa em minhas mãos, antes de fechar o caixão, e assim as pessoas soubessem: Uma parte de minha vida terminou, mas eu sei que algo especial ainda está por vir. P. Nilton Giese Belo Horizonte/MG
Oração Deus de toda fortaleza, – Que a ousadia do teu Espírito nos transforme, – que a bondade de teu Espírito nos guie, – que os dons de teu Espírito nos fortaleçam e nos enviem para o mundo com o propósito de servir. Isso te pedimos em nome de Jesus, nosso Senhor. Amém.
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Abril 1 Dom
Mc 16.1-8
2 Seg 3 Ter 4 Qua
1Co 15.50-58 Jo 20.1-10 Jo 20.11-18 1968 – † Martin Luther King (assassinado), pastor batista, líder do movimento negro dos EUA (✩ 15/01/1929) Jo 21.1-14 Lc 24.36-47 Lc 24.1-12 1831 – Abdicação de D. Pedro I, primeiro imperador do Brasil At 4.32-35 2º DOMINGO DA PÁSCOA (Quasimodogeniti) Branco ou Dourado Jesus disse para Tomé: Você creu porque me viu? Felizes são os que não viram, mas assim mesmo creram! João 20.29 Gn 32.22-32 1945 – † Dietrich Bonhoeffer, teólogo alemão, mártir do nazismo (✩ 04/02/1906) Jó 42.7-17 Is 66.6-13 Jo 17.9-19 1Pe 2.1-10 1598 – Edito de Nantes; tolerância para os protestantes na França (revogado em 1685) At 8.26-39 Lc 24.36b-48 3º DOMINGO DA PÁSCOA (Misericordias Domini) Branco ou Dourado Os discípulos de Emaús disseram um ao outro: Porventura, não nos ardia o coração, quando ele, pelo caminho, nos falava, quando nos expunha as Escrituras? Lucas 24.32 Jo 10.1-10 Mt 9.35 Jo 17.20-26 Ef 4.8-16 Dia dos Povos Indígenas Mt 26.30-35 1529 – 2ª Dieta de Espira: protestos dos príncipes evangélicos alemães contra a restrição da liberdade de religião (“protestantes”) Jo 14.1-6 1792 – † Tiradentes, Joaquim José da Silva Xavier, enforcado 1960 – Inauguração de Brasília como nova capital do Brasil 1Jo 3.16-24 4º DOMINGO DA PÁSCOA (Jubilate) Branco ou Dourado Jesus Cristo diz: Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem a mim. João 10.14 1500 – Chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil (descobrimento do Brasil) Gn 1.6-8 Dia Mundial do Livro Gn 1.9-13 Gn 1.14-19 Gn 1.20-23 1500 – Primeira missa no Brasil Gn 1.24-31 Gn 2.1-3 Jo 15.1-8 5º DOMINGO DA PÁSCOA (Cantate) Branco ou Dourado Jesus Cristo diz: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim. João 14.6 Êx 15.1-21
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9 Seg 10 Ter 11 Qua 12 Qui 13 Sex 14 Sáb 15 Dom
16 Seg 17 Ter 18 Qua 19 Qui 20 Sex 21 Sáb 22 Dom
23 Seg 24 Ter 25 Qua 26 Qui 27 Sex 28 Sáb 29 Dom
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DOMINGO DA PÁSCOA Branco ou Dourado Sabemos que Cristo foi ressuscitado e nunca mais morrerá, pois a morte não tem mais poder sobre ele. Romanos 6.9 1985 – Lançado o primeiro número do jornal O CAMINHO
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Lema do mês
Jesus Cristo diz: – Que a paz esteja com vocês! Assim como o Pai me enviou, eu também envio vocês. (João 20.21)
Você já se sentiu desorientado? Sem saber como seguir? Confuso e sem rumo? Muitas de nossas desilusões são consequências da nossa opção em seguir pela vida longe do Caminho de Deus. O sofrimento e a dor vêm para todos, porém para aqueles que buscam se abrigar em Deus, estes encontram forças para enfrentar e seguir em frente. Assim como diz Jesus: No mundo vocês passarão por muitos sofrimentos, mas tenham coragem, eu venci o mundo! João 16.33. Ninguém gosta de sofrer, porém se enfrentado com fé e esperança, sem entrar em pânico, vai descobrir que o sofrimento pode ser uma ótima oportunidade de crescer e amadurecer no caminho do discipulado de Jesus Cristo. Mas para isso, é preciso deixar o orgulho de lado! É aquele momento em que se precisa escolher entre o desejo de aprender e a teimosia! Por isso, quando se sentir desorientado e sozinho, abra os olhos, pois Deus pode estar lhe dando uma grande oportunidade de amadurecimento na fé. E assim, por amor a você, Deus prometeu estar contigo em todo o tempo e todo lugar até o fim dos tempos. Mateus 28.20. Ser enviado por Deus para ser mensageiro da paz não é algo que se faz por força própria, nem por mérito humano,
mas pelo agir de Deus, pela ação do Espírito Santo. Não é motivo para sentir vergonha, pois todos precisam de um guia para aprender a seguir corretamente pela vida. Por isso, quando você se sentir desorientado volte-se para Deus. Ele é o melhor guia que você pode escolher. Pois, junto dEle e de Sua comunidade, sentirás alegria, ânimo, consolo, paz, esperança. Ele é o melhor caminho para seguir adiante. Na comunidade, o Espírito de Deus lhe dá dons e uma Família de Fé, para que assim, você reencontre sua humanidade e sentido para sua existência. Pois, por meio dela, Jesus Cristo caminha com seus discípulos/as e os envia ao mundo para continuar semeando sua mensagem de amor e paz. E quando envia, lhes dá a direção; e no caminhar transforma suas vidas! Pois Ele te aceita como você é, mas também te incentiva a crescer, a amadurecer e a descobrir o que você tem de melhor para servir aos outros! Como disse Paul Tournier: “Existem duas coisas que não podemos fazer sozinhos: uma é casar e a outra é ser cristão.” Acredite! Deus também está esperando por você para que você diga como Isaías: Senhor, eis-me aqui, envia-me a mim! P. Cláudio Rieper Sorriso/MT
Oração Senhor, nosso Deus! Obrigado porque nos chamaste para fazermos parte dos que deixam sinais visíveis do Teu Amor neste mundo. Sabemos que muitas vezes nos desviamos do Teu caminho. Por isso, quando ficarmos desorientados, ajuda-nos a voltar para Ti e dizer: Senhor, eis-me aqui, envia-me também a mim! Por Jesus Cristo. Amém.
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Maio 1 Ter 2 Qua 3 Qui 4 Sex 5 Sáb 6 Dom
7 Seg 8 Ter 9 Qua 10 Qui 11 Sex 12 Sáb 13 Dom
14 Seg 15 Ter 16 Qua 17 Qui 18 Sex 19 Sáb 20 Dom
21 Seg 22 Ter 23 Qua 24 Qui 25 Sex 26 Sáb 27 Dom
28 Seg 29 Ter 30 Qua 31 Qui
1Sm 16.14-23 Dia do Trabalho Rm 15.14-21 1Co 14.6-19 1824 – Fundação da primeira comunidade evangélica pertencente à IECLB, em Nova Friburgo, RJ Ap 5.6-14 Jo 6.60-69 1865 – ✩ Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, sertanista e geógrafo brasileiro († 19/01/1958) At 10.44-48 6º DOMINGO DA PÁSCOA (Rogate) Branco ou Dourado Jesus Cristo diz: Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada. João 14.23 Mc 1.32-39 Lc 18.1-8 1945 – Fim da 2ª Guerra Mundial na Europa Mc 9.14-29 Jo 14.1-12 ASCENSÃO DO SENHOR Branco ou Dourado 1886 – ✩ Karl Barth, teólogo evangélico suíço († 10/12/1969) Jo 18.33-38 Ap 4.1-11 1Jo 5.9-13 7º DOMINGO DA PÁSCOA (Exaudi) Branco ou Dourado Jesus Cristo diz: Não os deixarei órfãos, voltarei para vocês. João 14.18 1888 – Abolição da escravatura no Brasil DIA DAS MÃES Ez 11.14-20 1950 – 1º Concílio Geral da Federação Sinodal, em São Leopoldo, RS 1Jo 4.1-6 Is 32.11-18 At 1.12-26 1939 – Fundação da Casa Matriz de Diaconisas, em São Leopoldo, RS Ef 1.15-23 Jo 16.5-15 Jo 15.26-27 DOMINGO DE PENTECOSTES Vermelho Jesus Cristo diz: Quando o Espírito Santo descer sobre vocês, vocês receberão poder e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria e até nos lugares mais distantes da terra. Atos 1.8 1886 – Fundação do Sínodo Riograndense, em São Leopoldo, RS 1Co 12.4-11 Segunda-feira de Pentecostes 1Co 14.1-40 Ef 3.11-14 2Cor 3.2-9 Gl 3.1-5 1700 – ✩ Nikolaus Ludwig, Conde de Zinzendorf, fundador da Igreja Evangélica dos Irmãos Herrnhut, Alemanha († 09/05/1760) At 18.1-11 Is 6.1-8 1º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Branco ou Dourado TRINDADE Os serafins diziam em voz alta uns para os outros: Santo, santo, santo é o Senhor Todo-Poderoso; a sua presença gloriosa enche o mundo inteiro! Isaías 6.3 Êx 3.13-20 Is 43.8-13 1537 – Declarada a liberdade dos indígenas americanos pelo Papa Paulo III At 17.16-34 1909 – ✩ Dr. Ernesto T. Schlieper, 2º Pastor Presidente da IECLB († 31/ 10/1969) Ef 4.1-7 CORPUS CHRISTI
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Lema do mês
A fé é a certeza de que vamos receber as coisas que esperamos e a prova de que existem coisas que não podemos ver. (Hebreus 11.1)
Um lema maravilhoso. Eleva a essência do ser humano. Ele acende uma luz que ilumina o caminho da nossa vida. A palavra fé significa “confiança”, crer “verdadeiramente”, assumir, abraçar incondicionalmente sem pedir ou depender de provas. A fé sempre espera por algo melhor! Quem tem fé, sempre tem esperança. Seja pela colheita, pelo bom emprego, pela formatura ou pela chegada do ônibus com a guia de turismo para levar ao lindo lugar combinado. Ter fé é saber que o agente de viagem da nossa vida, é Deus. Ele nos oferece gratuitamente a melhor rota para que cheguemos ao melhor destino. É só confiar nele e desfrutar a viagem. Fé gera ação. Ouvi dois amigos falar: Um disse que viajou com uma delegação da sua Igreja para fazer missão na África do Sul, prestando serviço gratuito. Ao que o outro respondeu: “Belo testemunho de fé!” Eu não posso fazer algo assim, mas procuro fazer o que está ao meu alcance. Por exemplo: palestras gratuitas sobre saúde em escolas. Há três anos, após uma palestra na escola de um bairro vizinho, fiquei surpreso, que
tão perto de mim, há tamanha pobreza. Alunos faltam na aula por que não tem calçados, roupas, agasalho, mochila e nem alimento básico suficiente. Crianças de 10 a 12 anos tomam conta dos irmãos menores; muitas vezes sem água e luz, desligadas por falta de pagamento. Os pais saem para o trabalho no escuro e voltam no escuro. Desafiado pela fé que me move, decidi apadrinhar os mais sofridos, para poderem estudar. Através da escola procuro suprir regularmente as necessidades destes pequenos irmãos. Gostaria de amá-los como Jesus ama. É pouco, mas estou feliz com o resultado. Hoje não faltam mais nas aulas. Tem gente que Deus coloca na nossa vida para nos dar paz. Para nos guiar ao caminho do bem. Gente que nos abraça, nos beija e anima. Com fé em Deus não há trevas que prevaleçam ou turbulências capazes de nos afastarem do caminho certo. Pois, como já disse Madre Teresa de Calcutá: “A força mais potente do universo é a fé”. P. em. Gastão Breunig Dois Irmãos/RS
Oração Oração: Ó querido Deus, use a nós como Teus instrumentos para transformar o choro em sorriso, a dor em força, a fraqueza em fé, as derrotas em sucesso e os sonhos em realidade. Reforça em nós o amor, a compreensão, a confiança nas pessoas que estão pertos ou mesmo longe de nós. Em nome de Jesus. Amém.
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Junho 1 Sex 2 Sáb 3 Dom
4 Seg 5 Ter 6 Qua 7 Qui 8 Sex 9 Sáb 10 Dom
11 Seg 12 Ter 13 Qua 14 Qui 15 Sex 16 Sáb 17 Dom
18 Seg 19 Ter 20 Qua 21 Qui 22 Sex 23 Sáb 24 Dom
25 Seg 26 Ter 27 Qua 28 Qui 29 Sex 30 Sáb
2Pe 1.16-21 Jo 14.7-14 Mc 2.23|3.6 2º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Lâmpada para os meus pés é a tua palavra, e luz para os meus caminhos. Salmo 119.105 At 4.1-21 2Co 1.23|2.4 Dia Mundial do Meio Ambiente Ez 3.22-27 Jo 21.15-19 Jr 20.7-11 Jn 1.1-16 2Co 4.13|5.1 3º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação. 2 Coríntios 5.19 1888 – 1º número do “Sonntagsblatt” (Folha Dominical) do Sínodo Riograndese Pv 9.1-10 1948 – Criação da Sociedade Bíblica do Brasil Êx 2.11-25 Jo 4.5-18 1525 – Casamento de Martim Lutero e Catarina von Bora Mt 15.29-39 1910 – Conferência Missionária Mundial em Edimburgo, na Escócia Jo 6.37-46 Jn 2.1-10 Mc 4.26-34 4º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Vistam-se de justiça os teus sacerdotes, e exultem os teus fiéis. Salmo 132.9 1703 – ✩ John Wesley, pai do metodismo († 02/03/1791) Lc 7.36-50 Jz 10.6-16 1934 – Constituição da Confederação Evangélica do Brasil (CEB) Mq 7.7-20 Mt 18.15-20 Início do INVERNO Gl 3.6-14 Jn 3.1-10 Jó 38.1-11 5º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Para mostrar que vocês são seus filhos, Deus enviou o Espírito do seu Filho ao nosso coração, o Espírito que exclama: Aba, Pai. Gálatas 4.6 Lc 1.57-80 João Batista, profeta Branco Dt 26.1-11 AÇÃO DE GRAÇAS PELA COLHEITA 1904 – Fundação da Igreja Luterana do Brasil (IELB) Mt 10.26-33 1827 – Fundação da Comunidade Protestante Teuto-Francesa do Rio de Janeiro, hoje pertencente à IECLB Jo 1.19-28 1945 – Criação da ONU em São Francisco, EUA Lc 3.10-18 At 13.15-25 1912 – Fundação do Sínodo das Comunidades Teuto-Evangélicas (Sínodo Evangélico) do Brasil Central no Rio de Janeiro Jo 6.37-46 Lc 7.24-30 1947 – Assembleia Constituinte da Federação Luterana Mundial em Lund, na Suécia
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Lema do mês
Não deixem de receber bem aqueles que vêm à casa de vocês; pois alguns que foram hospitaleiros receberam anjos, sem saber. (Hebreus 13.2)
Uma das tenras lembranças que temos da infância são as visitas do guarda da extinta SUCAM. O guarda sempre chegava por volta do meio dia, fazia a entrevista e permanecia para o almoço. Enquanto partilhávamos dos alimentos, fluía um diálogo fraterno e muito agradável. Hospitalidade não é apenas receber bem as pessoas. Trata-se de receber e cuidar com amor, bondade e afeição a pessoa que pertence a um lugar diferente do nosso, de modo que ela se sinta em casa em nosso meio. Pode ser, por exemplo, um forasteiro, estrangeiro ou um viajante. Ser hospitaleiro é receber e cuidar em amor! Nos tempos bíblicos os hebreus moravam em tendas. Não havia muitos hotéis ou pousadas. Isso fazia com que a hospitalidade fosse muito necessária. Às pessoas que acolhiam, cabia a tarefa de lavar os pés do hóspede, oferecer-lhe janta e local para o descanso. Aos poucos, a hospitalidade tornou-se uma marca das comunidades cristãs primitivas. Buscava-se acolher uns aos outros como Cristo acolheu (Rm 15.7). Hoje vivemos num mundo em que a hospitalidade não é mais uma marca preponderante. Te-
mos facilidade para acolher nossos familiares e amigos, porém não os forasteiros, mendigos ou migrantes. Geralmente, as pessoas dão alguns trocados àquele que pede, não por hospitalidade, mas para que ele vá embora o mais rápido possível. Nosso País, a exemplo dos países europeus, tem dificuldades em praticar a hospitalidade com os migrantes que vêm de outras partes do mundo em busca de paz e sustento para a sua família. Nossas comunidades, embora tenham o firme desejo de serem acolhedoras, têm dificuldades em ser verdadeiramente hospitaleiras, ou seja, em receber bem e cuidar com amor aqueles que vêm ao seu encontro. Precisamos reaprender a prática da hospitalidade. Ela é uma característica do amor entre irmãos e irmãs na fé. Que Deus nos ensine a recebermos de bom grado as pessoas que vêm ao nosso encontro. Que ele nos capacite para edificarmos comunidades que praticam a hospitalidade e nos mova para recebermos uns aos outros em amor. Amém. P. Sin. Gilciney Tetzner Pa. Ângela Ulrich Teutônia/RS
Oração Querido Deus! Tu que nos dás a vida e com muito amor também todo o cuidado que precisamos a cada dia. Ensina-nos e capacita-nos para sermos hospitaleiros e a cuidarmos uns dos outros com muito afeto e carinho de modo que não falte a ninguém o pão de cada dia. Em nome de Jesus Cristo. Amém.
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Julho 1 Dom
Mc 5.21-43
2 Seg 3 Ter 4 Qua 5 Qui 6 Sex 7 Sáb 8 Dom
Gl 1.13-24 Rm 9.14-26 Ez 2.3-8a 1776 – Independência dos Estados Unidos da América (EUA) At 15.4-12 2Co 12.1-10 Fp 3.12-16 2Co 12.2-10 7º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde A semente que caiu na boa terra são os que, tendo ouvido de bom e reto coração, retêm a palavra; estes frutificam com perseverança. Lucas 8.15 Êx 14.15-22 At 2.32-40 1509 – ✩ João Calvino, reformador de Genebra (Suíça), líder do ramo calvinista do protestantismo († 27/05/1564) At 16.23-34 Mt 18.1-6 1Co 12.12-18 1553 – Chegada do jesuíta José de Anchieta ao Brasil Ap 3.1-6 Mc 6.14-29 8º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Se guardares o mandamento que hoje te ordeno, que ames o Senhor, teu Deus, andes nos seus caminhos, e guardes os seus mandamentos, e os seus estatutos, e os seus juízos, então, viverás e te multiplicarás, e o Senhor, teu Deus, te abençoará. Deuteronômio 30.16 Jo 6.47-56 1054 – Cisão da Igreja Ocidental (Roma) e Oriental (Constantinopla) Mt 22.1-14 At 10.21-36 1Co 10.16-17 Lc 22.14-20 1873 – ✩ Alberto Santos Dumont, pioneiro da aviação († 23/07/1932) Ap 19.4-9 Jr 23.1-6 9º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Deus diz: A palavra que sair da minha boca não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a designei. Isaías 55.11 Mt 7.7-12 Lc 6.27-36 Mt 5.33-37 1824 – Chegada dos primeiros imigrantes alemães em São Leopoldo, RS Dia do Colono e do Motorista 1Co 12.27|13.3 1Pe 3.8-17 Fp 2.12-18 Jo 6.1-21 10º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Simão Pedro respondeu a Jesus: Senhor, para quem iremos? Tu tens as ´ palavras da vida eterna. João 6.68 1Rs 3.16-28 Ef 5.15-20
9 Seg 10 Ter 11 Qua 12 Qui 13 Sex 14 Sáb 15 Dom
16 Seg 17 Ter 18 Qua 19 Qui 20 Sex 21 Sáb 22 Dom
23 Seg 24 Ter 25 Qua 26 Qui 27 Sex 28 Sáb 29 Dom
30 Seg 31 Ter
6º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde O Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, conceda a vocês o espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele. Efésios 1.17 1921 – Fundação do Instituto Pré-Teológico do Sínodo Riograndense, em Cachoeira do Sul, RS
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Lema do mês
Preparem os campos para a lavoura, semeiem a justiça e colham as bênçãos que o amor produzirá. Pois já é tempo de vocês se voltarem para mim, o Senhor, e eu farei chover sobre vocês a chuva da salvação. (Oseias 10.12)
São inúmeros os textos bíblicos que falam do preparo da terra, de plantação, de colheita. De frutos e bênçãos. Que saudade do tempo que mais mãos preparavam o solo, espalhavam sementes e colhiam frutos maduros, fresquinhos, sem agrotóxicos. Tempo em que a mesa de nossa casa esbanjava o colorido dos alimentos colhidos. Os cestos cheios da abundância que a terra devolvia pelo amor e pelo cuidado. Não que hoje o amor e o cuidado não estejam no preparo dos campos e na semeadura. Mas, estão diferentes. Não há muita comunicação com a terra. Não precisamos nos sujar ou mesmo tocar a terra para prepará-la. As máquinas cumprem a função de 100 mãos. Não é preciso igualmente tantas mãos. Ao nos afastarmos do contato com a terra, menos sabemos dela. É só perguntar hoje para uma criança se ela já viu um pé de milho e quantas espigas podemos colher dele! Quantas saberão responder? O texto do profeta Oséias está usando a terra e a semeadura como metáfora. Ele fala para prepa-
rar os campos. Podemos entender os campos como os nossos corações ou o local onde vivemos: a sociedade, o nosso contexto. As sementes são a justiça, a sabedoria, a verdade e a paz. O Senhor diz que onde estas sementes forem plantadas ali haverá uma boa colheita. Colheremos bênçãos. E estas bênçãos são produzidas pelo amor. Amor de quem as planta e amor de Deus que fará chover sobre tudo, a salvação. É bom conhecer a terra. O chão que nos dá o sustento de nossos pés e também de nossos corpos. É preciso saber preparar a terra. Saber semear para poder colher. Assim também é preciso saber preparar os corações para plantar a justiça e o amor de Deus. A palavra de Deus é semente que requer corações que acolham. Assim como a terra deseja a proximidade e o contato de nossas mãos, assim a palavra de Deus deseja estar bem perto, dentro de nossos corações. A colheita é certa para quem semeia, seja a terra, seja o coração. E doces bênçãos colheremos de Deus. Diác. Nádia Mara Dal Castel de Oliveira Joinville/SC
Oração Senhor, que nossa gratidão seja doce. Que nossos gestos e palavras sejam doces, alegres e agradáveis a Ti. Graças meu Deus e meu Senhor pela vida e pela terra: bênçãos que enchem nossa casa de alegria. Toma Senhor minha vida e coração, pois são Teus. Amém!
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Agosto 1 Qua 2 Qui 3 Sex 4 Sáb 5 Dom
6 Seg 7 Ter 8 Qua 9 Qui 10 Sex 11 Sáb 12 Dom
13 Seg 14 Ter 15 Qua 16 Qui 17 Sex 18 Sáb 19 Dom
20 Seg 21 Ter 22 Qua 23 Qui 24 Sex 25 Sáb 26 Dom
27 Seg 28 Ter 29 Qua 30 Qui 31 Sex
1Co 10.23-31 1Co 9.16-23 Jr 1.11-19 1927 – 1ª Conferência Mundial de Fé e Ordem, em Lausanne, Suíça Lc 12.42-48 Ef 4.1-16 11º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Jesus diz: Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada. João 14.23 1872 – ✩ Osvaldo Gonçalves Cruz, cientista e médico-sanitarista brasileiro († 12/02/1917) Rm 11.1-12 1911 – Fundação da Associação de Comunidades Evangélicas Alemãs de Santa Catarina, em Blumenau Lm 1.1-11 Jo 4.19-26 Rm 11.25-32 Lm 5.1-22 Dt 4.27-40 Jo 6.35,41-51 12º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde A fé é a certeza de que vamos receber as coisas que esperamos e a prova de que existem coisas que não podemos ver. Hebreus 11.1 DIA DOS PAIS Mt 23.1-12 1Sm 17.38-51 Jo 8.3-11 1899 – Fundação da OASE em Rio Claro, SP 1Pe 5.1-5 Lc 22.54-62 Is 26.1-6 Pv 9.1-6 13º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Deus nos deixou a promessa de que podemos receber o descanso de que ele falou. Hebreus 4.1 1925 – 1ª Conferência Universal Cristã de Vida e Obra em Estocolmo, na Suécia Mt 9.27-34 Mc 3.1-12 Semana Nacional da Pessoa com Deficiência – 21 a 28 de agosto At 9.31-35 1948 – Assembléia Constituinte do Conselho Mundial de Igrejas, em Amsterdã, na Holanda Tg 5.13-16 Mt 12.15-21 Is 57.15-19 Jo 6.56-69 14º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Jesus acabou com o poder da morte e, por meio do evangelho, revelou a vida que dura para sempre. 2 Timóteo 1.10 Mt 12.1-8 Am 5.4-15 Dt 24.10-22 At 4.32-37 Tg 2.5-13
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Lema do mês
Deus é amor. Aquele que vive no amor vive unido com Deus, e Deus vive unido com ele. (1 João 4.16)
Amor! É provavelmente a palavra mais bonita e mais difícil que existe. É aquela que todos sabemos o que quer dizer, mas que todos temos dificuldades em explicar. O amor tem sido o assunto principal de livros, filmes e novelas. Os poetas gostam de cantar sobre ele e os corações apaixonados suspiram diante desta palavra. O apóstolo Paulo, nos apresenta um amor diferente de tudo o que costumamos ver e ouvir. Mostra-nos que o amor não é só uma palavra, mas sim, que a sua fonte máxima é o próprio Deus: Deus é amor. Deus nos amou e continua nos amando de tal maneira que enviou ao mundo o seu filho, para sermos salvos do pecado e termos a esperança da vida eterna. É uma ação de Deus em nosso favor, que foge da nossa compreensão. Só quem ama de verdade é capaz de um gesto assim. Abrir mão do seu bem maior em favor do outro. Só quem ama de verdade é capaz de doar-se a alguém sem querer nada em troca. E Deus doou o que lhe é mais querido e amado: o seu filho Jesus. Sobre uma história de amor que vem da Índia, conta-se que certo dia o rei perguntou para seu servo: Por que você se tornou cristão? O servo respondeu: Por que Deus através de Jesus Cristo veio a nós, simples seres humanos para nos
salvar. O rei então interferiu dizendo: Que Deus é esse que tem de vir pessoalmente para que a sua vontade seja feita? Eu como rei, quando quero que minha vontade seja feita, apenas preciso dar uma ordem aos empregados. Esse Deus não tem poder para mandar aos outros fazerem a sua vontade? O servo ficou pensativo e pediu um prazo para responder a esta pergunta. Durante a noite, o servo fez um boneco parecido com o filho do rei e o vestiu com roupas iguais às que o filho do rei usava. No dia seguinte, o rei com sua corte, foi passear de barco no lago, quando alguém jogou o boneco na água. O rei pensando em tratar-se de seu filho pulou na água para salvá-lo. O servo então perguntou ao rei: Majestade, porque o senhor não mandou um empregado pular na água? O rei respondeu: Foi o coração de pai que me fez agir assim. O servo então conclui: Será que o amor de Deus por nós deveria ser menor do que aquele que nós, seres humanos, temos por nossos filhos? Assim é o amor de Deus: Em Cristo, Ele se atira no mar do pecado que nos afoga, pois, deseja nos salvar. Deus faz isso porque nos ama muito. Ao tomarmos consciência dessa maravilhosa ação de Deus em nosso favor somos convidados a permanecer neste amor. Amém. Pa. Ivanda Keller Schreiber Santa Maria de Jetibá/ES
Oração Ó Pai Amado, Deus Criador de tudo e de todos. Deus de Amor e Justiça. Obrigado pelo teu imenso amor que revelaste na cruz para nossa salvação. Permita que o teu amor difunde entre nós a prática da justiça, da liberdade, da igualdade, da paz, da verdade e da salvação. Isto te pedimos, em nome de nosso Senhor e Salvador. Amém.
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Setembro 1 Sáb 2 Dom
3 Seg 4 Ter 5 Qua 6 Qui 7 Sex 8 Sáb 9 Dom
10 Seg 11 Ter 12 Qua 13 Qui 14 Sex 15 Sáb 16 Dom
17 Seg 18 Ter 19 Qua 20 Qui 21 Sex 22 Sáb 23 Dom
24 Seg 25 Ter 26 Qua 27 Qui 28 Sex 29 Sáb 30 Dom
Jd 1.2,20-25 1939 – Início da 2ª Guerra Mundial na Europa Tg 1.17-27 15º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Ó Senhor, eu sou teu, e por isso as tuas palavras encheram o meu coração de alegria e de felicidade. Jeremias 15.16 1850 – Início da colonização em Blumenau, SC Dt 26.1-11 Gl 5.22-26 1850 – Abolição do tráfico de escravos africanos no Brasil Fm 1-22 1Cr 29.9-18 Jo 13.31-35 DIA DA PÁTRIA – 1822 – Independência do Brasil Verde 2Ts 2.13-17 Dia Mundial da Alfabetização Mc 7.24-37 16º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Alegrem-se sempre no Senhor; outra vez digo: alegrem-se. Filipenses 4.4 Fp 4.8-14 Dia da Imprensa 1Tm 6.3-11a Ec 4.4-12 1990 – Fundação da Comunhão Martim Lutero em Joinville, SC Lc 10.38-42 1Co 7.17-24 Mc 12.41-44 Is 50.4-9a 17º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Tudo o que está nas Escrituras foi escrito para nos ensinar, a fim de que tenhamos esperança por meio da paciência e da coragem que as Escrituras nos dão. Romanos 15.4 Rm 6.18-23 Is 38.9-20 At 9.36-42 Fp 1.19-26 Ap 2.8-11 Dia da Árvore Rm 4.18-25 Início da PRIMAVERA Mc 9.30-37 18º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde O apóstolo Paulo diz: Eu trago vocês no coração, seja nas minhas algemas, seja na defesa e confirmação do evangelho, pois todos vocês são participantes da graça comigo. Filipenses 1.7 Hb 11.1-10 Tg 1.1-13 Lc 7.1-10 At 5.34-42 Dia do Ancião Hb 12.1-3 Ap 12.7-12 ARCANJO MIGUEL E TODOS OS ANJOS Branco Tg 5.13-20 19º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai. Filipenses 2.10-11
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Lema do mês
Deus marcou o tempo certo para cada coisa. Ele nos deu o desejo de entender as coisas que já aconteceram e as que ainda vão acontecer, porém não nos deixa compreender completamente o que ele faz. (Eclesiastes 3.11)
Já não lhe ocorreu um sentimento de desânimo, de desistir de tudo, pois nada dá certo, nada está bom? Pois bem, esta é, muitas vezes, a primeira impressão a respeito do livro de Eclesiastes. Tudo é relativo e até negativo. Contudo, deixando de lado a primeira impressão e se aprofundando no texto, podemos encontrar algo maravilhoso, ou seja, palavras de profundas verdades. O texto faz parte da conhecida poesia: “há tempo para tudo”. Sabemos disso, mas como ser humano, não nos conformamos. Nossa intenção é saber de tudo, compreender tudo. Pois, o passado é a escola aberta para vermos o que aconteceu e, a partir dele, agirmos em coerência para com o futuro. É bom procurar entender a época e a situação em que viveu o autor do livro de Eclesiastes. Entre 250 e 200 anos antes do nascimento de Jesus e, nesta época, a Palestina encontra-se mais uma vez dominada, depois dos persas, dos babilônios, dos assírios, agora pelos gregos. Ou seja, experimentar liberdade é algo distante. Com toda a dominação e o sofrimento que isto traz, parece que somente o desânimo e a falta de
esperança fazem parte do viver daquelas pessoas e do próprio autor. Parece não haver perspectivas de sair dessa situação. No que crer, então? Olhando para o tempo de hoje, também para nós é difícil aceitar que certas coisas aconteceram assim como Deus as propôs. Pensamos que temos o livre-arbítrio, para fazer o que bem queremos, mas, tudo também traz suas consequências. Sou uma pessoa livre para fazer escolhas, mas nem tudo me convém, conforme Paulo. Por que existe algo maior do que minha vontade: Eu faço parte do querer de Deus. Nossa visão é incompleta, imperfeita, mas nos foi dado um “fio vermelho” que perpassa toda a história do ser humano com Deus. Chama-se amor encarnado, Jesus Cristo! Os tempos vêm de Deus, as pessoas sentem e conhecem suas mudanças, mas não podem interferir. Deus deu às pessoas a consciência de sua ação, mas não em toda sua extensão. Por isso, não aceitamos de braços cruzados, mas sim agindo e vivendo com muita vontade, confiança e alegria. Pa. Marli Daltein Schmidt P. John Espig Horizontina/RS
Oração De bons poderes sinto-me cercado, bem protegido e, de fato, consolado; Assim desejo eu passar os dias e ter convosco um ano de alegrias. De bons poderes vemo-nos cercados, de pensamentos para o bem voltados. Deus está presente noite e dia, assim é certa hoje sua alegria. Amém. (Dietrich Bonhoeffer, ‘De bons Poderes’)
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Outubro 1 Seg
Mt 6.1-4
2 Ter 3 Qua
Mc 3.31-35 Ct 8.4-7
4 Qui
Gl 5.13-18
5 Sex 6 Sáb 7 Dom
Ap 2.8-11 Mt 5.17-24 Mc 10.2-12
8 Seg 9 Ter
Êx 15.22-27 Lc 5.12-16 1905 – Fundação do Sínodo Evangélico Luterano de SC, PR e Outros Estados da América do Sul, em Estrada da Ilha, SC Lc 13.10-17 Mt 8.14-17 1962 – Concílio Vaticano II, da Igreja Católica Romana, em Roma Jr 17.13-17 Dia da Criança – Dia de Nª Srª Aparecida (feriado nacional) At 14.8-18 Am 5.6-15 21º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Naquele dia, todos dirão: Ele é o nosso Deus. Nós pusemos a nossa esperança nele, e ele nos salvou. Isaías 25.9 2Ts 3.6-13 Rm 13.1-7 Ef 5.25-32 1Co 14.26-33 Jo 18.28-32 Pv 3.1-8 1962 – Assembleia Constituinte do Sín. Evang. Luterano Unido (SELU) 1997 – Inauguração da Gráfica e Editora Otto Kuhr, em Blumenau, SC Mc 10.35-45 22º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Segundo o seu querer, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como que primícias das suas criaturas. Tiago 1.18 Rm 12.17-21 2Co 10.1-6 Gn 13.5-18 Lv 19.1-18 1968 – Reestruturação da IECLB, fusão dos 3 Sínodos, criação da RE IV Lc 22.49-53 1949 – Constituição da IECLB 2Tm 2.1-6 1916 – ✩ Karl Gottschald, 3º Pastor Presidente da IECLB († 02/08/1993) Hb 7.23-28 23º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde O Senhor me livrará de todo mal e me levará em segurança para o seu reino celestial. A ele seja dada a glória para todo o sempre! Amém! 2 Timóteo 4.18 Os 12.1-7 Dia Nacional do Livro e da Leitura Rm 3.9b-20 Jo 8.31-36 DIA DA REFORMA Vermelho 1517 – Lançamento das 95 Teses de Martim Lutero
10 Qua 11 Qui 12 Sex 13 Sáb 14 Dom
15 Seg 16 Ter 17 Qua 18 Qui 19 Sex 20 Sáb 21 Dom
22 Seg 23 Ter 24 Qua 25 Qui 26 Sex 27 Sáb 28 Dom
29 Seg 30 Ter 31 Qua
1921 – Reunião de constituição do Conselho Missionário Internacional em Lake Mohonk, EUA 1226 – † Francisco de Assis, fundador da Ordem dos Frades Menores (franciscanos) (✩ 1181/1182) 1959 – Inauguração do prédio principal da Faculdade de Teologia da IECLB, em São Leopoldo, RS
20º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Ó Deus, eu falarei a respeito de ti aos meus irmãos e te louvarei na reunião do povo. Hebreus 2.12
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Lema do mês
Ó Senhor, tu sabes o que eu desejo, pois ouves todos os meus gemidos. (Salmo 38.9)
O salmista começa com o relato dos seus profundos sofrimentos (v. 2-9). Ele considera a sua doença como consequência dos seus pecados. E nos versículos seguintes, ele se queixa que as pessoas com quem se relaciona, seus amigos e companheiros, se afastam dele, inclusive os seus parentes. E estes até procuram fazer maldades contra ele. Por isso, mesmo sabendo da sua própria culpa e reconhecendo ela perante Deus, ele pede por amparo e proteção por parte de Deus. Todos nós já passamos por situações de desespero. Desespero por causa de doença e dores, desespero também por causa de abandono. Pode ser que até nos perguntamos: Em que erramos para chegar nesta situação? O que deveríamos ter feito de diferente? O que deveríamos ter evitado? Muitas situações de sofrimento em nossa vida têm algo a ver com o nosso comportamento, com a nossa alimentação e com a nossa maneira de viver. No entanto, nem sempre temos condição de enxergar tudo isso, por não termos
a coragem de reconhecer os nossos erros. Desejamos sair desta situação difícil, desejamos acabar com a dor que sentimos. Queremos viver bem. Queremos viver em paz. Por isso também desejamos que os nossos amigos e familiares nos apoiem nesta procura pela paz. E para conseguir essa paz para viver, procuramos o auxílio de Deus. Deus que sabe das nossas necessidades. Deus que sabe como atender os nossos desejos. Deus que está disposto a ouvir os nossos gemidos, porque perante Ele, nada é oculto. Podemos esperar que Deus atenda a nossa oração, o nosso pedido em sua misericórdia. Deus não nos desampara e não se afasta de nós. Por isso podemos também nós, como o salmista fez, nos dirigir a Deus em oração. Podemos se for o caso, lamentar e gemer o nosso sofrimento, a nossa dor. E buscar forças para superar o nosso sofrimento e sermos solidários com o sofrimento alheio. P. Martin Hiltel (in memoriam) Monte Mor/SP
Oração Senhor, aqui estamos com as nossas preocupações e as nossas alegrias. Muitas vezes consideramos a nossa situação difícil. Julgamos os problemas, que enfrentamos, sem solução. Enxergamos somente os problemas e não as soluções. Mas nós não precisamos vencer todos os problemas. Pois podemos confiar em teu auxílio, em tua orientação para vivermos em paz conosco mesmo e com os outros. Dá-nos para isso a tua bênção. Amém.
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Novembro 1 Qui 2 Sex 3 Sáb 4 Dom
5 Seg 6 Ter 7 Qua 8 Qui 9 Sex 10 Sáb 11 Dom
12 Seg 13 Ter 14 Qua 15 Qui 16 Sex 17 Sáb 18 Dom
19 Seg 20 Ter 21 Qua 22 Qui 23 Sex 24 Sáb 25 Dom
26 Seg 27 Ter 28 Qua 29 Qui 30 Sex
Is 25.6-9 DIA DE TODOS OS SANTOS Branco 1Ts 4.13-18 DIA DE FINADOS Branco Is 1.18-27 1887 – ✩ Dr. Hermann Dohms, 1º Pastor Presidente da Federação Sinodal († 04/12/1956) Mc 12.28-34 24º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Irmãos, orem por nós para que a palavra do Senhor se propague e seja glorificada, como também está acontecendo entre vocês. 2 Tessalonicenses 3.1 1Pe 2.11-17 At 17.1-10 Ap 13.1-10 Mt 21.12-27 1Co 3.16-23 2Pe 3.13-18 1483 – ✩ Martim Lutero, reformador († 18/02/1546) 1Rs 17.8-16 25º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Fiquem vigiando, pois vocês não sabem em que dia vai chegar o seu Senhor. Mateus 24.42 1982 – Assembleia Constitutiva do Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI), em Huampaní, Lima, Peru 1Pe 4.7-11 Jr 18.1-10 354 – ✩ Aurélio Agostinho, teólogo da Igreja Antiga Ocidental (latina), bispo († 28/08/430) Hb 13.1-9b 1Jo 2.18-29 1889 – Proclamação da República do Brasil 2Co 6.1-10 Mc 13.1-8 Mc 13.1-8 26º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Aquele que dá testemunho de tudo isso diz: Certamente venho logo! Amém! Vem, Senhor Jesus! Apocalipse 22.20 1982 – Constituição do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), em Porto Alegre, RS Mt 7.21-29 Jo 3.17-21 Ap 3.14-22 Lc 15.1-10 Hb 13.17-21 Ap 20.11-15 Ap 1.4b-8 DOMINGO CRISTO REI Branco ou Dourado Jesus Cristo diz: Eu sou o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim. Apocalipse 22.13 1843 – ✩ Dr. Wilhelm Rotermund, fundador do Sínodo Riograndense († 05/04/1925) Hb 12.18-25 1Pe 1.13-21 1Co 3.9-15 1Ts 5.9-15 Hb 13.10-16 1991 – Abertura do Centro de Literatura Evangelística da IECLB, em Blumenau, SC
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Lema do mês
E vi a Cidade Santa, a nova Jerusalém, que descia do céu. Ela vinha de Deus, enfeitada e preparada, vestida como uma noiva que vai se encontrar com o noivo. (Apocalipse 21.2)
Imaginem vocês que estão de mudança para uma nova cidade e começam a procurar uma residência. Ligam o computador e começam a procurar nos sites de aluguel de imóveis. São dias e noites afora procurando o lar ideal. Uns são grandes demais, outros, muito pequenos. Uns são muito antigos e, outros, exibem um luxo que não condiz com seu estilo de vida. Até que, quase sem esperanças, encontram um que parece perfeito. É maravilhoso, já está todo decorado, cercado de um ambiente cheio de paz. Vocês gostam do que vêem nas fotos. Tudo parece perfeito! Finalmente! Até que enfim! Mas... e o preço? Aflição. Preocupação. Será que conseguirei pagar? Será que haverá muitas exigências? O preço é justo! Nem barato, nem caro. Você pega o telefone e manda um whatsapp querendo confirmar o quanto antes o aluguel. Quer logo assinar o contrato e se mudar. Fica ansioso! Que expectativa! Quando finalmente consegue o retorno, descobre que este lar, na verdade, ainda não está pronto para morar. Está em preparação, quase pronto, mas você ainda não pode se mudar. Pre-
cisa continuar aguardando. O dono do imóvel só diz: “Calma, em breve você pode carregar a sua mudança. Confie em mim”. Você fica agradecido por ter sido escolhido pelo dono do imóvel. Que expectativa não? Que “frio na barriga” esta espera, justamente para não perder a nova morada tão sonhada. Você fica atento a qualquer sinal que o dono do imóvel possa dar. Fica prestativo, atencioso, animado. É assim com a Nova Jerusalém prometida por Deus em Apocalipse. O Lema do mês de novembro fala a respeito de uma cidade Santa que vem do Céu. É uma cidade linda, maravilhosa, cheia de paz, perfeita e temerosa a Deus. Tal qual estaríamos empolgados e ansiosos para morar nesta residência fictícia, muito maior é a expectativa do cristão que aguarda a Nova Jerusalém. Está sendo preparada, está sendo enfeitada para nos receber. Enquanto não podemos nos mudar, que aguardemos com temor e tremor, com paciência e persistência, o grande dia. Que vivamos nesta expectativa divina, agradecidos por termos sido aceitos, por intermédio de nosso “corretor”, Jesus Cristo, para ocupar a vaga nesta morada celestial. P. Luiz Gustavo Allende Pa. Gabrielly Ramlow Allende Blumenau/SC
Oração Deus querido. Obrigado pelo cuidado que tens conosco, bem como pelo preparo de um lugar para cada um de nós perto de ti. Fortalece o nosso pensar e o nosso agir, para que possamos viver em perfeita comunhão contigo e com todos aqueles que aguardam a Nova Jerusalém com expectativa e alegria. Amém.
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Dezembro 1 Sáb 2 Dom
3 Seg 4 Ter 5 Qua 6 Qui 7 Sex 8 Sáb 9 Dom
10 Seg 11 Ter 12 Qua 13 Qui 14 Sex 15 Sáb 16 Dom
17 Seg 18 Ter 19 Qua 20 Qui 21 Sex 22 Sáb 23 Dom
24 Seg 25 Ter 26 Qua 27 Qui 28 Sex 29 Sáb 30 Dom
31 Seg
Ap 21.10-27 Jr 33.14-16 1º DOMINGO DE ADVENTO Violeta ou Azul Mostra-nos, Senhor, a tua misericórdia e concede-nos a tua salvação. Salmo 85.7 1Pe 1.8-13 Hb 10.32-39 Cl 1.9-14 1Ts 5.1-8 Ez 37.24-28 Hb 2.1-4 Lc 3.1-6 2º DOMINGO DE ADVENTO – DIA DA BÍBLIA Violeta ou Azul O profeta Isaías diz: Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas. E toda a humanidade verá a salvação de Deus. Lucas 3.4,6 Is 25.1-8 1948 – Declaração Universal dos Direitos Humanos, da ONU Dia Universal dos Direitos Humanos Is 26.7-15 Ap 2.1-7 2Co 5.1-10 Zc 2.14-17 1Ts 4.13-18 Fp 4.4-7 3º DOMINGO DE ADVENTO Violeta ou Azul João Batista é aquele a respeito de quem as Escrituras Sagradas dizem: Aqui está o meu mensageiro, disse Deus. Eu o enviarei adiante de você para preparar o seu caminho. Mateus 11.10 1815 – Elevação do Brasil à categoria de Reino, unido a Portugal e Algarves Lc 1.26-38 2Co 1.18-22 1865 – † Francisco Manoel da Silva, compositor do Hino Nacional Brasileiro (1831) (✩ 1795) Is 11.10-13 Is 42.5-9 Ap 3.7-12 Início do VERÃO Ap 22.16-21 Lc 1.39-55 4º DOMINGO DE ADVENTO Violeta ou Azul O profeta Isaías diz: Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e ele será chamado pelo nome de Emanuel, que significa Deus conosco. Mateus 1.23 Is 11.1-9 VIGÍLIA DE NATAL – NOITE DE NATAL Branco Jo 1.1-14 NATAL – DIA DE NATAL Branco Ap 7.9-17 Jo 21.20-24 Mt 2.13-18 1Jo 4.11-16a Cl 3.12-17 1º DOMINGO APÓS NATAL Branco Que a paz que Cristo dá dirija vocês nas suas decisões, pois foi para essa paz que Deus os chamou a fim de formarem um só corpo. E sejam agradecidos. Colossenses 3.15 Mt 18.1-5 Véspera de Ano Novo Branco
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Lema do mês
Quando viram a estrela, eles ficaram muito alegres e felizes. (Mateus 2.10)
Este lema bíblico tem tudo a ver com a época em que vivemos. Quando inicia o mês de dezembro, então parece que nosso coração bate mais forte, pois neste mês celebramos o nascimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Por outro lado, existe muito exagero na área comercial. Muito antes da data de Natal, a propaganda está a mil. O interesse é vender muitos presentes. Parece que a alegria do Natal está concentrada nos presentes. Quanto mais presentes eu vou receber ou doar maior será a alegria. Será isto mesmo? Parece que o nascimento de nosso Salvador não tem nada a ver com a alegria. Muitas vezes nem se fala do nascimento de Jesus e do seu significado para nossa vida. O enfoque está no Natal de presentes. Até parece que sem presentes não há Natal. O lema bíblico para este mês, baseado no Evangelho de Mateus, contraria esta ideia. Vejamos: quando os reis magos foram até a capital Jerusa-
lém viram uma estrela brilhar e a seguiram. Quando chegaram à capital, tinham certeza que o Rei dos Judeus iria nascer lá. No entanto ficaram sabendo que Jesus iria nascer na insignificante cidade de Belém. Quando foram até Belém viram novamente a estrela brilhar e ficaram muito alegres, felizes, seguindo a estrela e quando chegaram a Belém encontraram o menino Jesus. Então se ajoelharam diante dele e o adoraram e lhe ofereceram presentes: ouro, incenso e mirra. Na atualidade, as pessoas anseiam e desejam muito por alegria e felicidade, no entanto, a procuram no lugar errado, pois só Deus nos pode conceder uma vida feliz e com sentido. E é Ele que quer ser uma luz em nosso caminho. Por isto, o lema bíblico nos convida a seguir esta luz. Jesus diz: “Eu sou a luz do mundo, quem me segue não andará na escuridão, mas terá a luz da vida.” (João 8.12). P. Erno Feiden Panambi/RS
Oração Deus bondoso e misericordioso. Nós vivemos num mundo onde há tanta escuridão, mas tu queres iluminar nossa vida para andamos pelo caminho da felicidade e para sermos luz, também, para outras pessoas. Obrigado Senhor, que podemos confiar nosso caminho e vida sob teu cuidado. Amém.
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Temas da IE CLB IECLB 1976 - Comunidade Consciente e Atuante 1977 - Nova comunhão em Cristo, como vivê-la? 1978 - Cristo, o caminho 1979 - A importância da família cristã para a criança 1980 - Cristo, o Mediador 1981 - Homem e Mulher unidos na Missão 1982 - Terra de Deus - Terra para Todos 1983 - Eu sou o Senhor teu Deus 1984 - Jesus Cristo - Esperança para o mundo 1985 - Educação - Compromisso com a verdade e a vida 1986 - Por Jesus Cristo, Paz com Justiça 1987 | 1988 - ... e serei minhas testemunhas 1989 | 1990 - O pão nosso de cada dia 1991 | 1992 - Comunidade de Jesus Cristo - A Serviço da Vida 1993 | 1994 - Permanecem a fé, a esperança e o amor 1995 | 1996 - Somos Igreja. Que Igreja somos? 1997 | 1998 - Aqui você tem lugar 1999 - É tempo de lançar 2000 - Dignidade Humana e Paz - um novo milênio sem exclusão 2001 - Ide, fazei discípulos... 2002 - Mãos à obra 2003 - Nosso mundo tem salvação 2004 - Pelos caminhos da esperança 2005 | 2006 - Deus, em tua graça, transforma o mundo 2007 | 2008 - No poder do Espírito, proclamamos a reconciliação 2009 | 2010 - Missão de Deus - Nossa Paixão 2011 - Paz na Criação de Deus - Esperança e Compromisso 2012 - Comunidade jovem - Igreja viva 2013 - Ser, participar, testemunhar - Eu vivo comunidade 2014 - viDas em comunhão 2015 - Igreja da Palavra - Chamad@s para comunicar 2016 - Pela graça de Deus, livres para cuidar 2017 - Alegres, jubilai! Igreja sempre em Reforma: agora são outros 500 2018 - Igreja – Economia – Política Fonte: www.luteranos.com.br/conteudo/relacao-de-temas-do-ano
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Tema e LLema ema da IE CLB par a o ano de 2018 IECLB para
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TEMA DO ANO DE 2018 Secretaria Geral da IECLB
IGREJA ECONOMIA POLÍTICA Lema: Eu sou o SENHOR, teu Deus. (Êxodo 20.2a) Explicação da arte do Cartaz do Tema do Ano 2018 O Lema bíblico dá apoio ao Tema do Ano da IECLB, iluminando a reflexão e o testemunho cristão. Nas primeiras campanhas do Tema do Ano, o Lema não aparecia no cartaz de divulgação. Com o tempo, o Lema passou a figurar, sendo posicionado logo abaixo do Tema, na lateral do cartaz ou, até mesmo, na base deste. Em 2018, inovamos! De que forma? Colocamos, acima de todos os elementos da arte, o Lema do Ano: “Eu sou o SENHOR, teu Deus”. Esta passagem de Êxodo 20.2a, que chama a atenção para o Primeiro Mandamento, está na parte superior para indicar que Deus está acima de todas as coisas e é dele que procede toda a criação e toda a vida. No centro do cartaz há uma imagem com elementos que representam as três ordens da criação: Igreja, Economia e Política. Como primeira ordem da criação temos a Igreja, represen-
tada graficamente pela Bíblia. A Palavra de Deus remete à função fundamental da Igreja, que é ensinar. O singelo ramo de trigo faz alusão à Economia, segunda ordem da criação. Economia tem a função básica de sustento da vida. A Política, terceira ordem da criação, é apresentada por mãos dadas, sugerindo aliança e conciliação para promoção e defesa da vida. Os três elementos são distintos, porém estão unidos. Todos eles se encontram, se tocam, se entrelaçam, indicando que o ser humano participa das três ordens. Os diferentes tons da mesma cor também demonstram a inter-relação e a nossa participação nas três ordens. Abaixo da representação gráfica são destacadas as três palavras que formam o Tema do Ano da IECLB para 2018: Igreja, Economia, Política. A disposição das palavras segue a compreensão de Lutero: a Igreja é a ordem primordial, da qual procedem as outras duas. Em torno da imagem, uma linha marca a mudança de perspectiva proposta por Lutero. Na Idade Média, os termos Igreja, Economia e Política correspondiam a funções definidas por uma organização social de classes separadas e desiguais. Lutero, por seu lado, entendia que Igreja, Economia e Política não formam categorias isoladas nem sobrepostas.
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Para o reformador, Deus age mediante as três ordens e todas as pessoas se colocam a serviço de Deus para o melhoramento do mundo nas três ordens. Esta linha que separa a parte superior da parte inferior da arte do cartaz também remete ao pecado, que cor-
rompeu a natureza humana. Com isto, também as ordens da criação estão corrompidas. Mesmo assim, todas elas permanecem sob a promessa de Deus e continuam sendo os âmbitos nos quais Deus atua e nos chama a cooperar para o bem do mundo.
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Datas Comemorativas em 2018 P. Ms. Osmar Luiz Witt
500 anos 1518 – Debate de Heidelberg Em 2017, celebrou-se mundialmente o quinto centenário do movimento de Reforma da Igreja. A data é uma referência ao acontecimento desencadeador do processo, a divulgação das 95 Teses, ocorrida em 31 de outubro de 1517, as quais questionaram práticas da Igreja daquela época. O movimento, contudo, foi mais amplo e teve vários momentos significativos. Em 26 de abril de 1518, foram apresentadas outras teses, vinte e oito ao todo, e que foram preparadas pelo teólogo Martim Lutero para serem debatidas em Heidelberg, na Alemanha. O debate de teses (Disputatio) era parte do exercício acadêmico. Nelas combateu-se a influência da filosofia aristotélica na teologia cristã e acentuou-se algo que para Lutero era fundamental: a clara distinção entre uma teologia da glória e uma teologia da cruz. Teses 19 e 20: “Não se pode designar condignamente de teólogo quem enxerga as coisas invisíveis de Deus compreendendo-as por meio daquelas que estão feitas; mas sim quem compreende as coisas visíveis e posteriores de Deus enxergando-as pelos sofrimentos e pela cruz.” Tese 21: “O teólogo da glória afirma ser bom o que é mau, e mau o que é bom; o teólogo da cruz diz as coisas como elas são.”
250 anos 1768 – Nascimento de Friedrich Daniel Ernst Schleiermacher Schleirmacher, teólogo e filósofo alemão, nasceu em Breslau, em 21 de novembro de 1768. Ele foi pregador e professor de teologia na Universidade de Berlim desde 1810. O pensamento deste teólogo reformado que transitou em espaços luteranos foi marcadamente influenciado pelas filosofias de Platão e Kant. Sua ênfase estava na concepção de que a religiosidade humana se fundamenta no sentimento, que é pessoal e que expressa a dependência do ser humano limitado em relação a Deus, que é ilimitado. Não os dogmas, mas as experiências de Deus são determinantes. 100 anos 1918 – Fim da Primeira Grande Guerra Terminada a Primeira Guerra Mundial, há cem anos, com a derrota da Alemanha e a assinatura do Tratado de Versalhes, que definia pesados encargos para os derrotados, era muito difícil para a Igreja Evangélica na Alemanha continuar apoiando regularmente as comunidades evangélicas luteranas no Brasil. No âmbito do então Sínodo Rio-grandense teve início uma mobilização no sentido de buscar caminhos que pudes-
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sem viabilizar a formação de seus quadros de liderança. A formação de professores para as escolas comunitárias já se iniciara em 1909. A formação de pastores ainda dependia inteiramente de apoio de além-mar. Então, sob a liderança do P. Hermann Dohms, começou-se a executar um projeto de construção de Igreja para o qual haveriam de contribuir os filhos das próprias comunidades, já familiarizados com a realidade brasileira. Uma Assembleia Sinodal de 1919 encarregou o P. Dohms de viabilizar um projeto que visasse a formação teológica no Brasil. O passo da formação em nível superior haveria de esperar ainda até 1946, mas, em 1921, teve início uma formação pré-teológica, que possibilitava aos concluintes ingressarem nas universidades alemãs. Assim teve início o Instituto Pré-Teológico, primeiro em Cachoeira do Sul e, depois, em São Leopoldo, onde o projeto mencionado teria continuidade nas instituições abrigadas no complexo Morro do Espelho.
(1912). Esta Federação Sinodal foi a origem da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil - IECLB, assim denominada desde 1954. O primeiro Concílio que reuniu a representação de toda a igreja foi em 1950, em São Leopoldo, RS. Um Concílio Extraordinário, em 1968, aprovou uma restruturação, na qual deixaram de existir os quatro Sínodos, e a IECLB foi organizada em quatro Regiões Eclesiásticas - que, com o decorrer do tempo foram sendo ampliadas até se tornarem oito. As Regiões Eclesiásticas eram subdivididas em Distritos Eclesiásticos que, por sua vez, eram formados pelas Paróquias de uma determinada área geográfica. Esta estrutura mantevese até 1997, quando um Concílio Extraordinário em Ivoti/RS aprovou uma nova restruração, que passou a vigorar plenamente em 1998, e que substituiu as Regiões e os Distritos Eclesiásticos, então existentes, por 18 novos Sínodos, que abrangem todo o território nacional.
50 anos 1968 – Restruturação da IECLB
25 anos 1993 – Falecimento do ator Grande Otelo
Em 1949, no período pós Segunda Guerra, foi criada a Federação Sinodal, formada por quatro Sínodos: Sínodo Rio-grandense (1886), Sínodo Evangélico Luterano de Santa Catarina, Paraná e outros Estados (1905), Sínodo Evangélico de Santa Catarina e Paraná (1911), e Sínodo Evangélico Brasil Central
Em 26 de novembro de 1993, faleceu o ator, comediante, cantor, produtor e compositor brasileiro Sebastião Bernardes de Souza Prata, conhecido pelo pseudônimo de Grande Otelo. Ele nasceu em 18 de outubro de 1915, em Uberlândia, MG, e participou de muitos filmes do cinema nacional nas décadas de 1940 e
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de 1950. Famosas foram suas parcerias com Oscarito no cinema e suas participações em programas de televisão. Por sua participação em Macunaíma, filme de 1969, recebeu vários prêmios de melhor ator, tais como: o Troféu Candango do Festival de Brasília e a Coruja de Ouro do Instituto Nacional de Cinema. Em reconhecimento de sua obra também foi premiado no Festival de Gramado com o Troféu Oscarito, em 1990. 10 anos 2008 – Renúncia de Fidel Castro No mesmo ano em que haveria uma agudização da crise financeira inter-
nacional, com fortes reflexos nas economias capitalistas centrais, na Ilha de Cuba chegava ao fim a presidência de um homem que empenhou sua vida na luta pelo socialismo. Fidel Castro, impossibilitado pela saúde fragilizada desde 2006, renunciou à Presidência e ao comando das forças armadas de Cuba, em 19 de fevereiro de 2008. Em seu lugar foi empossado seu irmão Raúl Castro, em 24 de fevereiro do mesmo ano. O autor é Pastor da IECLB em São Leopoldo/RS e responsável pelo Arquivo Histórico da mesma
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A consciência ambiental está aumentando? Andreas Grauer
Nos dias de hoje se observa que há a preocupação com o meio ambiente vem crescendo no nosso dia a dia. Exemplo disso é a separação de lixo e sua destinação em aterros sanitários ao invés de lixões. Outro exemplo, antes era necessário desmatar uma propriedade para não perder o título, hoje existe a reserva legal, ou seja, uma área que tem que ser preservada. Na área de veículos leves e caminhões tem limites de emissão de gases, partículas e ruído. O mesmo ocorre para empreendimentos industriais. Ao mesmo tempo, impactos ambientais são constantemente monitorados pelas autoridades. Existe hoje uma rede de monitoramento de qualidade do ar em operação no Brasil. Tudo isso são fatos que não existiam há uns 20 anos. Podemos dizer seguramente que a preocupação ambiental tem se transformado em ações e leis antes inexistentes. Querendo entender um pouco melhor esta preocupação ambiental percebe-se que tem um argumento econômico por detrás. Inúmeros estudos já comprovaram que a poluição ambiental é um mau negócio para a sociedade. Pois, se despejarmos o lixo em qualquer lugar com a consequente poluição hídrica, haverá um custo alto para obter água boa
para a população e agricultura que será maior do que se “economizou” pelo descarte barato no lixão. Também se poluirmos o ar, o custo para cuidar das doenças respiratórias será maior do que os investimentos necessários para controlar as emissões. É isso que os estudos sobre o custo da poluição dizem. Em consequência disso, temos hoje uma política ambiental que trouxe essas regras de cuidado ambiental. Aqui surgem algumas perguntas: seria o cuidado com o meio ambiente uma questão meramente econômica? Levar a discussão para o meio econômico tem uma série de vantagens. Em primeiro lugar, o fato que ninguém gosta de fazer um mau negócio. Dessa maneira fica fácil convencer um gestor de cuidar do meio ambiente, mesmo se aquela pessoa não tenha um ideal ambientalista, senão simplesmente por convencimento financeiro de evitar um mau negócio. O poder econômico em questões ambientais não pode ser superestimado. Exemplo disso, quando numa visita à Alemanha, observa-se muitas casas com placas fotovoltaicas nos telhados. Estas instalações que são símbolos de cuidado com o meio ambiente existem porque a população alemã é muito mais consciente ambientalmente do
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que a população brasileira, uma vez que se vê aqui poucas placas fotovoltaicas instaladas? Ou a explicação é outra: as instalações existem porque há um incentivo do Estado alemão que faz com que elas sejam um bom investimento? Bom mesmo é quando “se une o útil ao agradável”, ou seja, quando a consciência ecológica encontra eco e satisfação junto ao Estado que facilita com subsídios, aos empresários e consumidores. Por outro lado, pode ser um perigo pensar que todos os problemas ambientais podem ser abordados pelo lado econômico. Na verdade, os casos onde o cuidado ambiental tem um saldo financeiro positivo são os mais fáceis. Mas e os outros casos onde não há a perspectiva de um ganho econômico? Então nestes casos não haverá cuidado ambiental? Existem impactos que podem ser quantificados em dinheiro e outros onde sabemos afirmar apenas que há impacto, sem poder expressar sua dimensão em dinheiro. Infelizmente podemos constatar que na maioria dos impactos ambientais não há como atribuir um valor financeiro. Por exemplo, se temos uma cidade com ar poluído podemos contabilizar os dias de trabalho perdidos e o custo de tratamento médico. Esta parte pode ser contabilizada. Já os anos de vida perdidos por causa da poluição? Qual será o seu valor? Qual o preço pela perda de qualidade de vida? E o custo pelo sumiço de pás-
saros sensíveis que fogem da poluição sonora e atmosférica da cidade? Na maioria das vezes quando não há um argumento econômico forte, nossa gestão ambiental enfraquece, como acontece em questões ambientais mais complexas, citando a questão do aquecimento global. Do ponto de vista da humanidade, o aquecimento global é um mau negócio. Mas do ponto de vista de um país individual ele pode ser benéfico. Lugares frios podem “ganhar” com o aquecimento porque aumenta a área agricultável e o tipo de plantas cultivadas. Já naqueles países baixos que serão inundados pelo aumento do nível do mar, a avaliação dos efeitos do aquecimento obviamente será outra. Aqui entra uma segunda motivação ambiental relevante que poderia ser chamada de amor ambiental que existe por idealismo, simplesmente porque independente de qualquer aspecto financeiro é um prazer viver num ambiente limpo e equilibrado. E tem muita gente que pratica o amor ambiental nas mais diversas formas, cuidando de animais, árvores ou de recursos naturais. Mas este amor ambiental requer mais apoio pelas autoridades governamentais. Porque, por exemplo, uma bicicleta é taxada com mais impostos do que um carro? O incentivo oficial faz a diferença no desenvolvimento da consciência ambiental. Com incentivo, ela vai poder crescer e ser incorporada na consciência
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geral. Sem apoio oficial, a iniciativa ambiental parece uma decisão particular sem importância, como no caso do cinto de segurança. Ele existia durante muitos anos de forma voluntária. Cada um podia usar ou não conforme sua convicção. Foram poucos motoristas que o usavam. A partir do momento que seu uso ficou obrigatório houve uma valorização dele. Ficou oficializado que seu uso é benéfico. Em consequência hoje a maioria dos motoristas o usam porque são convencidos da proteção
que oferece. O incentivo oficial para o uso do cinto de segurança fez com que seu uso fosse absorvido pela consciência geral da população. Da mesma maneira vejo que podemos avançar na consciência ambiental. Há aqueles que já se interessam por assuntos ambientais. Nos demais há ainda um grande potencial de consciência ambiental ociosa que aguarda incentivos dos gestores ambientais para despertar e se tornar um hábito saudável em benefício de todos. Consultor ambiental em Curitiba/PR
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A Diferença entre a Força e a Coragem Rosangela Aliberti
É preciso ter força para ser firme, mas é preciso coragem para ser gentil. É preciso ter força para se defender, mas é preciso coragem para baixar a guarda. É preciso ter força para ganhar uma guerra, mas é preciso coragem para se render. É preciso ter força para estar certo, mas é preciso coragem para ter dúvida. É preciso ter força para manter-se em forma, mas é preciso coragem para ficar de pé. É preciso ter força para sentir a dor de um amigo, mas é preciso coragem para sentir as próprias dores. É preciso ter força para esconder os próprios males, mas é preciso coragem para demonstrá-los. É preciso ter força para suportar o abuso, mas é preciso coragem para fazê-lo parar. É preciso ter força para ficar sozinho, mas é preciso coragem para pedir apoio. É preciso ter força para amar, mas é preciso coragem para ser amado. É preciso ter força para sobreviver, mas é preciso coragem para viver. Colaboração: Loni D. Wilbert Florianópolis – SC
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A família Camponesa Capixaba: Um modo de viver e de produzir! P. Ronei Odair Ponath
“...Você pode ser um governo, um engenheiro, um advogado, pode ser um motorista ou um cobrador, mas seu alimento vem das mãos do agricultor... Olhe até mesmo a galinha que come o milho e o gado que come a palma, que come o capim, mas foi nós quem plantou, por isso eu digo: toda nação depende do agricultor” (José Santana). A agricultura camponesa capixaba é formada por três povos: pelos indígenas, pelos negros e pelos imigrantes europeus. Há um destaque especial entre os imigrantes europeus para os italianos e pomeranos. Povos estes, que ao longo da história foram se misturando e criando uma diversidade cultural riquíssima. Entretanto, apesar da diversidade, há alguns elementos que perpassam todos os demais, como: a ligação com a terra numa relação de respeito e integração; a ligação com o território, conhecendo seu entorno e a vizinhança; observação da natureza e o conhecimento do clima e mudanças no tempo. Na verdade, esses povos fazem parte da natureza, prezando pelo trabalho familiar e cultivando valores humanistas, em geral entre os camponeses. Entre eles há uma relação de cooperação, de respeito e de solidariedade nos momentos de mais necessidades e dificuldades. A racionalidade camponesa é diferen-
te da racionalidade capitalista, pois estão mais preocupados em melhorias de qualidade de vida e não de acumular. Culturalmente, gostam de festas, comemorações em família e na comunidade. Fazem muitas comidas típicas e tem muitos saberes populares. Produzem uma diversidade de alimentos, ou seja, a agricultura camponesa tem um modo de vida e um modo de ser camponês, de ser verdadeiramente um agricultor e uma agricultora. Atualmente no mundo, eles são a metade da população, mais de 3,5 bilhões (FAO); no Brasil são mais de 40 milhões de pessoas (IBGE) e no Espírito Santo são 583.480 (IBGE), e produzem 70% da produção de alimentos. Embora resistindo para seguir com seu modo de vida, preservando seus elementos culturais e a natureza, a agricultura camponesa capixaba tem tido um conjunto de dificuldades colocadas a partir do desenvolvimento do atual modelo de sociedade capitalista, que no campo se apresenta como agronegócio, que busca inviabilizar o modo de vida camponês; o processo cada vez mais forte de concentração das terras; a produção a partir das monoculturas como: eucalipto, cana, mamão, café e pimenta – para exportação; as tecnologias disponíveis baseada em alto
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consumo de venenos, 1 adubos e água; os espaços de comercialização, que é totalmente controlado pelas grandes indústrias e redes de supermercados; a legislação sanitária, que padroniza a produção dos grandes e dos pequenos; e a extração do granito – mais de 70% do granito exportado no Brasil é do Espírito Santo; entre outros fatores, tem muita influência na vida dos camponeses e camponesas capixabas. Associado a isso, há por parte do Estado um direcionamento nas políticas públicas e nos recursos públicos, priorizando o agronegócio e a grande agricultura, fechando, assim, escolas no campo;2 não investindo nas escolas famílias da pedagogia da alternância; não investindo nas infraestruturas porto/aeroportos/ estradas; direcionando os créditos e as pesquisas cientificas, e dando isenção fiscal nas exportações. Sem contar, nesse contexto, a função da grande mídia na consciência das pessoas. Ela faz o jogo das elites e pregam todo o tempo valores que destroem a unidade das famílias, pregando o individualismo, o consumo desnecessário, o ter e não o ser, a discórdia, o desrespeito dos filhos com os pais e o egoísmo.
As consequências são milhares de problemas para os camponeses e camponesas, como: as doenças, dando um destaque para o câncer nos últimos anos; a desunião entre as famílias, principalmente entre os casais; a violência; a falta de acesso à saúde; o acesso à uma tecnologia de comunicação que nem sempre é usada a serviço do bem – televisão/ redes sociais/internet; necessidade de comprar cada vez mais; mais trabalho, tirando o tempo da própria família e das visitas na vizinhança; entre outros. Então vemos acontecer a intensificação desses problemas, que são resultantes de um sistema social, e não uma questão de “ruindade” do ser humano e nem uma questão moral. As pessoas são ideologicamente empurradas, ensinadas a viver e a pensar que o “ter é mais importante que o ser”, daí cada vez plantar mais, produzir mais, desmatar mais, envenenar mais, para ter mais posses, um pedaço a mais de terra, uma lavoura maior, um carro para cada filho, etc., e é preciso também plantar sempre mais para continuar a vida igual ou melhorar um pouco, ao passo que a produção colhida não aumenta o
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Desde 2008 o Brasil é o campeão no ranking de uso de agrotóxicos. A média por habitantes em consumo é de 5 litros (Anvisa), esse número tem aumentado, já há dados apontando 7 litros. As culturas que mais utilizam em quantidades são a soja, milho, cana de açúcar e algodão. De acordo com estudos do INCA há uma ligação direta entre o aumento de câncer no país e uso dos venenos.
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No Espírito Santo foram fechadas entre 2007 a 2015, 97 escolas estaduais e 447 escolas municipais. Foram no total 544 escolas fechadas no campo nos últimos anos de acordo com dados do fórum de educação no Campo/ES.
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preço na mesma proporção do que outras coisas necessárias compradas no comércio. Precisamos quebrar essa engrenagem que nos leva ao abismo, seguir e retomar os princípios cristãos, como a solidariedade e o valor da vida de qualidade. É necessário não se calar diante de um sistema social e produtivo que tem explorado, tirado do campo e levado até a morte inúmeros camponeses e camponesas. Produção de alimentos saudáveis, cuidado com a natureza e ar puro não pode ser responsabilidade só da agricultura camponesa, pois desses elementos vitais dependem a humanidade. Importante ressaltar que como resistência e alternativa a esse modelo de produção já tem muitas famílias fazendo a transição para agroecologia, e é fundamental o esforço da construção de um projeto estratégico da agricultura camponesa para a sociedade que o MPA – Movimento dos Pequenos Agricultores tem impulsionado e chamado de “Plano Camponês” a partir da produção de alimentos saudáveis em equilíbrio com a natureza, da soberania e da vida de qualidade.
Nesse contexto, a Igreja tem tido um papel importante na vivência das famílias, proporcionando além da fé, o espaço de cultura, de lazer, de integração e de solidariedade. Muitas comunidades estão ajudando a construir perspectivas diferenciadas de vida, ajudando as pessoas a entender melhor o mundo; entender que a vida do ser humano e a natureza se completam. Assim como nós, os movimentos sociais e camponeses, nesses 500 anos da Reforma, nos alegramos com o fortalecimento dos princípios e valores cristãos, que protestam a favor dos mais empobrecidos e a favor da terra, cumprindo sua função social, inspirados em Martim Lutero, defendendo uma leitura bíblica enraizada na realidade, uma Bíblia traduzida na língua do povo. Texto de autoria da Direção Estadual do MPA/ES - Movimento dos Pequenos Agricultores do Espírito Santo, revisado e adaptado por Ronei Odair Ponath, Pastor da IECLB na Paróquia Evangélica de Confissão Luterana em Baixo Guandu/ES
Produção de famílias camponesas do Espírito Santo em transição para agroecologia
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A Guerra dos Trinta Anos P. em. Meinrad Piske
Há 400 anos, 100 anos após a publicação das 95 teses em Wittenberg, começou a guerra entre católicos e protestantes que durou 30 anos. Iniciou na cidade de Praga em maio de 1618, sendo encerrada com o acordo de paz assinado em outubro de 1648. Além de longa, a guerra foi muito cruel. A publicação das 95 teses de Lutero no dia 31 de outubro de 1517 foi bem recebida pelo povo que aguardava a reforma de toda a Igreja. Outros começaram a temer pela unidade do império diante da ameaça do poderoso exército turco que se preparava para invadir a Europa a partir da Hungria e da Áustria. O recém-eleito Imperador Carlos V, do império alemão, convocou uma assembleia imperial para a cidade de Worms. Lutero foi intimado a comparecer. Diante da pergunta pela retratação daquilo que publicara em seus livros e escritos, ele respondeu que “a minha convicção vem das Escrituras a que me reporto, e minha consciência está presa à palavra de Deus – nada consigo nem quero retratar, porque é difícil, maléfico e perigoso agir contra a consciência”. Foi um dia histórico. Lutero teve a coragem de afirmar que sua consciência lhe valia mais do que concílios e autoridades. Lutero foi levado ao Castelo de Wartburg onde permaneceu por um
ano. Neste tempo traduziu para a língua alemã o Novo Testamento. Os anos seguintes foram marcados pela revolta dos colonos e a exigência dos entusiastas que exigiam a reforma radical da igreja e da sociedade em geral. No ano de 1529, Lutero publicou o Catecismo Menor e o Catecismo Maior e foi realizado o diálogo entre Lutero e Zwinglio (o reformador da Suíça) sobre as diferenças entre eles com destaque para a compreensão da Santa Ceia. Em 14 pontos houve acordo. O único ponto que permaneceu sem acordo foi a compreensão da Santa Ceia. Neste mesmo ano aconteceu a assembléia imperial em Espira na qual a maioria católica impôs a proibição de implantação da doutrina luterana. A minoria luterana protestou contra esta decisão e com este protesto surgiu o nome Protestante. Muito importante foi a Assembleia Imperial realizada em Augsburgo no ano de 1530. Foi a tentativa de unir os diferentes ducados e governantes e restaurar a unidade da igreja, especialmente por que o exército turco derrotou o exército da Hungria e estava diante das portas de Viena (Áustria). O imperador necessitava da união de todos para poder defender o império contra os turcos. Os príncipes luteranos exigiram do imperador que fossem ouvidos pela Assembleia. Apresentaram o docu-
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mento que descreve em 28 artigos a doutrina propagada e que até hoje é um dos documentos que contém a doutrina luterana: a Confissão de Augsburgo. Encontros aconteceram nos anos seguintes até a assim chamada “paz religiosa de Augsburgo” assinada no ano de 1555. Esta paz, no entanto, foi apenas um “longo cessar fogo de 63 anos”. Foi a época de grande crescimento dos luteranos. Territórios e cidades aderiram ao luteranismo em grande número. O clima que reinava entre católicos e luteranos era de franca hostilidade. A rivalidade fazia com que florescesse o temor de uma eminente guerra. No dia 4 de maio de 1608 alguns duques protestantes organizaram a “União” para se defenderem mutuamente de uma possível guerra. Diante disto, os católicos fundaram a “Liga” no dia 10 de julho de 1609. Assim, passaram a existir duas forças políticas antagônicas no “Santo império romano da nação alemã”, cada uma aguardando que a outra iniciasse as hostilidades. Foi no ano de 1618, no dia 23 de maio, que teve início a longa e cruel guerra entre católicos e protestantes. Foi em Praga, na Boêmia, que um grupo de protestantes foi o autor da defenestração. Atiraram, pela janela, os representantes do Imperador que pretendiam anular alguns pontos da “Carta da Majestade”, assinada pelo imperador em 1609 que concedia liberdade religiosa à Boêmia,
cuja população era majoritariamente protestante. Na visão católica este ato, denominado “defenestração de Praga”, foi considerado ofensa grave ao imperador (especialmente porque aqueles que foram atirados de uma alta janela caíram num monte de esterco) e na visão protestante foi um gesto de afirmação da liberdade. Com este ato começou a longa guerra religiosa que iria durar 30 anos. O imperador Fernando organizou um exército para castigar a Boêmia, devido a ofensa realizada. A força militar da Boêmia foi derrotada em novembro de 1620 na batalha do Monte Branco, perto de Praga. Seu rei teve de fugir. O castigo que a Boêmia sofreu foi a anulação da “Carta da Majestade”, e juntamente com a Morávia e Áustria, a Contra-Reforma liderada pelos jesuítas confiscou as propriedades dos protestantes. Assim, a “União” foi dissolvida. No mesmo ano tropas espanholas invadiram o Palatinado e juntamente com as forças militares da “Liga”, o país foi conquistado e imposto o
A Defenestração de Praga
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catolicismo. O exército da Dinamarca, com pequeno auxílio da Inglaterra e dos Países Baixos enfrentou o exército do imperador Fernando, e foi derrotado. Em seguida, o Noroeste da Alemanha foi invadido e derrotado. A situação indicava que tanto a Alemanha, quanto outros países luteranos estavam sendo eliminados e com isto o movimento da Reforma seria anulado. Nesta situação, o rei da Suécia, Gustavo Adolfo, que historiadores descrevem como sendo “um extraordinário líder político e, além disto, um protestante convicto que conseguiu impor boa disciplina e piedoso entusiasmo entre seus soldados” veio socorrer “os parentes na fé”, salvando assim o protestantismo. Ao embarcar para a Alemanha, ele reuniu o parlamento e disse: “Deus, o Todo Poderoso, diante de cujos olhos estou aqui, é minha testemunha de que não entro neste empreendimento por vontade própria ou por alegria pela guerra... acima de tudo os nossos
parentes na fé devem ser libertados da opressão do Papa e que nós, assim esperamos, com a ajuda de Deus fazemos o que é possível.” Ele desembarcou com um exército relativamente pequeno de 13.000 soldados e em pouco tempo expulsou da Pomerânia o exército do Império. Ele conseguiu fazer tratados de cooperação com a França – embora a população fosse majoritariamente católica – e com os demais países para formar um grande exército. Duas batalhas foram decisivas para a sobrevivência do protestantismo alemão: a batalha de Breitenfeld em 1631 e de Lützen em 1632. O exército sob o comando do rei Gustavo Adolfo venceu ambas, mas o rei morreu durante a batalha de Lützen no dia 6 de novembro de 1632. Com sua morte, aliada à batalha de Nördlingen, em 1634, onde o exército sueco foi derrotado, fez com que fosse restabelecido certo equilíbrio entre católicos e protestantes.
Celebração da Paz de Münster
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Depois da batalha de Nördlingen, a guerra continuou. De um lado estavam os suecos, alemães protestantes e ainda a França e do outro, representando a casa real de Habsburgo, os soldados da Áustria, Espanha e dos países onde predominava o catolicismo. Mas a maior área estava dividida em Norte e Sul, sendo que o norte era protestante e o sul católico. As duas batalhas, em Breitenfeld e Nördlingen, mostraram que os católicos não conseguiriam conquistar o norte protestante e que os protestantes não conseguiriam conquistar o Sul católico da Alemanha. Mesmo assim, a guerra continuou até 1648. Com o decorrer dos anos esta guerra causou um grande mal para a Alemanha que no início tinha uma população de 16 milhões, e no final contava com menos de seis mi-
lhões. Demorou mais de um século, após a guerra, para que a Alemanha conseguisse se recuperar, pois sofreu muito com a falta de alimentos e as doenças que atingiram a população. Em homenagem ao rei Gustavo Adolfo, da Suécia, foi criada, no dia 6 de novembro de 1832, a “Associação Gustavo Adolfo - OGA” com a finalidade de ajudar as Comunidades pequenas e, financeiramente, fracas. São centenas de Comunidades da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil que já receberam auxílios por ocasião da edificação de igrejas, casas pastorais, centros evangélicos, compra de veículos. A IECLB tem ligação fraterna com o Gustav Adolf Verein (OGA da Alemanha) e, no Brasil, está organizada para coletar doações e distribuí-las para quem mais necessita de ajuda. O autor é Pastor emérito da IECLB e reside em Brusque/SC
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Humor Causo mineiro Sapassado, era sessetembro, taveu na cuzinha tomando uma pincumel e cuzinhando um kidicarne cumastumate pra fazer uma macarronada cum galinhassada. Quascai de susto quanduvi um barui vinde denduforno parecenum tidiguerra. A receita mandopô midipipoca denda galinha prassá. O forno isquentô, o mistorô e o fiofó da galinhispludiu! Nossinhora! Fiquei branco quinein um lidileite. Foi um trem doidimais! Quascaí dendapia! Fiquei sensabê doncovim, oncotô, proncovô. Ópcevê quilocura! Grazadeus ninguém semaxucô! - Quem entendeu esta mensagem é um verdadeiro mineiro
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A morte na empresa Certa vez uma empresa estava em situação muito difícil. As vendas iam mal, os trabalhadores estavam desmotivados, os balanços há meses não saíam do vermelho. Era preciso fazer algo para reverter o caos, mas ninguém queria assumir nada. Pelo contrário, o pessoal apenas reclamava que as coisas andavam ruins e que não havia perspectivas de progresso na empresa. Eles achavam que alguém devia tomar a iniciativa de reverter aquele processo. Um dia, quando os funcionários chegaram para trabalhar, encontraram na portaria um cartaz enorme no qual estava escrito: Faleceu ontem a pessoa que impedia o seu crescimento e o da empresa. Você está convidado para o velório na quadra de esportes. No início, todos se entristeceram com a morte de alguém, mas depois de algum tempo, ficaram curiosos para saber quem estava bloqueando o crescimento da empresa. A agitação na quadra de esportes era tão grande que foi preciso chamar os
seguranças para organizar a fila do velório. Conforme as pessoas iam se aproximando do caixão, a excitação aumentava e todos se perguntavam: – Quem será que estava atrapalhando meu progresso? Ainda bem que esse infeliz morreu! Um a um, os funcionários, agitados, aproximavam-se do caixão, olhavam o defunto e engoliam em seco. Ficavam no mais absoluto silêncio, como se tivessem sido atingidos no fundo da alma, e saíam cabisbaixos. Pois bem! Certamente você já adivinhou que no visor do caixão havia um espelho. Só existe uma pessoa capaz de limitar seu crescimento: você mesmo! É muito fácil culpar os outros pelos problemas, mas você já parou prá pensar se você mesmo poderia ter feito algo para mudar a situação? Você é o único responsável por sua vida. Ela foi entregue a você por Deus, e você terá que prestar contas do que fez com ela no final da sua existência. Autor desconhecido
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Agricultura familiar e agroecologia: não são o problema, mas a solução! Gernote Kirinus
O pequeno agricultor orgânico ou agroecológico não é o problema. Ele é a solução. Houve tempos em que o homem do campo comparecia ao armazém da vila só para comprar fósforo, querosene, sal, fumo de corda, pinga e tecido para costurar sua própria roupa. O agricultor também deixava com o comerciante parte do dinheiro da venda de seus produtos em forma de empréstimo; o comerciante usava este dinheiro como capital de giro a juros bem mais suaves do que pagaria para o banco. E, digamos de passagem, hoje tanto o comerciante quanto o agricultor estão enterrados em dívidas com os bancos – enquanto a fome impera nas grandes plantações. A produção era diversificada. Os agricultores produziam pequenos animais para o abate e animais de porte maior para o trabalho e fornecimento de leite. Tinham por tradição manter um pomar, uma horta e uma reserva florestal perto do riacho ou nascente para que o gado tivesse sombra e água fresca. Quando se abatia um porco, por exemplo, só se perdia o grito e o pelo do animal. Chegava-se ao capricho de desossar e colocar os ossos junto ao fogo, dentro do fogão à lenha – esse material, depois de queimado,
virava farinha de osso para alimentar os animais. As cascas dos ovos de galinha também eram torradas no forno e transformadas em cálcio para o trato da terra e dos animais. Já os resíduos não aproveitáveis para consumo humano ou animal viravam alimento para as minhocas, que renovavam o solo. A propriedade produzia cana de açúcar, milho, feijão, batatinha, arroz, mandioca, trigo e outras variedades. O desperdício chegava a quase zero – e isso permitia uma maximização da economia agrícola. Mas para que tal diversidade fosse possível apenas com a mão de obra familiar, sem mecanização, a extensão de área cultivada não podia ser muito grande. O número de filhos sempre era expressivo, pois eles tornavam-se mão de obra quando crescidos. Os mais velhos saíam da família para constituir nova família; e logo vinham os mais jovens para substituir a mão de obra carente. Infelizmente, as políticas públicas foram totalmente orientadas para as necessidades urbanas, em detrimento das demandas do campo. O mundo rural, assim, foi abandonado à sua própria sorte. Diante deste absurdo político da administração pública das últimas décadas, o agricultor foi desamparado – e iludido a viver na
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cidade. Pensou nos seus quatro ou cinco filhos ganhando, junto com a mulher e ele próprio, um salário mínimo cada um. E, somando tudo, pensou que ficaria rico em pouco tempo. Ou que, ao menos, seus rendimentos seriam maiores do que eram no campo. Ao migrar para a cidade em busca do paraíso urbano, porém, muitos agricultores viram suas famílias destroçadas pelas drogas e choraram a dura sorte com saudade do tempo quando eram felizes e não sabiam. Outros procuram abrigar suas esperanças de retorno, aguardando pela encantada reforma agrária debaixo da lona preta dos acampamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Mas, nessa breve história, três perguntas precisam ser feitas: (1) Será que a volta a este sistema de agricultura familiar é viável? (2) Esse retorno não seria um retrocesso, tendo em vista o crescimento populacional que exige cada vez maior produtividade com tecnologia moderna e avançada? (3) E será que querer voltar à agricultura familiar é um saudosismo romântico? A resposta para todas elas é sim e não. Analisemos cada uma dessas questões: Será que a volta a este sistema de agricultura familiar é viável? Sim, a viabilidade da agricultura familiar passa pela produção com orientação agroecológica, que por sua
vez demandará uma reforma agrária para disponibilizar terras aos que querem voltar para a agricultura de base familiar. Não, se continuarmos atrasando o processo da reforma agrária e não investirmos na vocação orgânica ou agroecológica do que ainda resta de agricultura familiar. E, é claro, não avançaremos se não adotarmos políticas orientadas a estancar a migração do campo para cidade. Esse retorno não seria um retrocesso, tendo em vista o crescimento populacional que exige cada vez maior produtividade com tecnologia moderna e avançada? Sim, é evidente que o crescimento demográfico exige cada vez maior produção de alimentos. É exatamente por isso que não se explica a expulsão do homem do campo para dar lugar à expansão da grande lavoura modernizada – uma vez que é a agricultura familiar que abastece a cidade. Que bom seria se houvesse uma produção programada a partir de um planejamento social considerando o crescimento demográfico; e não apenas a expansão do capital pelas vias do agronegócio. Não, porque quem produz e abastece as cidades não é o agronegócio, fruto da expansão do capitalismo ao campo, da revolução verde, da modernização da agricultura baseada na vocação agroexportadora. É nes-
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se contexto que se aplicam as técnicas agrícolas modernas – com o intuito de produzir cada vez mais em cada vez menos tempo, degradando solo e natureza e sem abastecer a população urbana nacional com alimentos de boa qualidade nutricional e ambiental. Quem realmente atende à demanda do crescimento demográfico é a agricultura familiar. Afinal, é ela que produz alimentos para consumo interno e que está cada vez mais pressionada a deixar o espaço para a grande lavoura agroexportadora. Outro absurdo é pensar que o crescimento demográfico é responsável pela concentração urbana. A maior responsabilidade da concentração urbana recai sobre a migração do campo para a cidade. Se toda esta gente – que muitas vezes foi literalmente expulsa do campo ou migrou alimentando a ilusão de que ganharia mais diante do parco rendimento da sua lavoura – tivesse ficado no campo, não teríamos a explosão demográfica urbana. Teríamos um crescimento populacional equilibrado no campo e na cidade. Tradicionalmente, o camponês saía em busca de terras para seus filhos em novas fronteiras agrícolas, para que não precisasse se aventurar na cidade em busca de emprego. E, pior, esta gente que foi desestimulada em sua atividade agrícola hoje faz falta no campo – e passou a consumir em vez de produzir alimentos.
E será que querer voltar à agricultura familiar é um saudosismo romântico? Sim, quem não sente saudade dos bons tempos? O romantismo conta com o sentimento humano e tanto provoca a saudade como curte a saudade daquilo que deu certo e que fez bem. Não, não é tanto o saudosismo romântico dos tempos passados que nos move a querer recuperar o tempo perdido, recuperar o que foi destruído. Sabemos que nunca será igual. Mas sabemos também que se não voltarmos à agricultura familiar e, agora mais do que nunca, sob a orientação agroecológica, não conseguiremos evitar o colapso do inchaço urbano cada vez menos sustentável. É improdutivo pensar em sustentabilidade urbana sem uma reforma no campo. Afinal, o sustento da cidade se encontra no campo. Se enfraquecermos ou eliminarmos a pequena agricultura familiar orgânica, a cidade morre de fome ou envenenada pelo agrotóxico da produção em grande escala. Isto é tão simples e lógico – que até uma mosca sabe distinguir a margarina da manteiga natural fazendo seu pouso no alimento natural e saudável. Já quanto ao crescimento demográfico, até os ratos em sua tradição de vida nos dão de dez a zero. Normalmente, o chefe ou cacique da população dos ratos possui de dez a doze
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fêmeas e ele só emprenha todas elas se souber que existe alimento suficiente para toda população que será gerada. Se perceber que existe pouco alimento disponível, ele limita-se a reproduzir apenas com duas de suas fêmeas.
E o que dizer de nós, que não nos orientamos por um planejamento familiar consistente e tampouco por um planejamento agrícola racional? Nosso planejamento se aplica para a expansão do capital, mas não para a sustentação da família humana. O autor é teólogo e filósofo, pósgraduado em antropologia filosófica e sociologia política. Atualmente trabalha como pesquisador do Centro Paranaense de Referência em Agroecologia (CPRA) na área da ética e epistemologia
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Cantate Domino Barbara Friedburg - 1965 - 1971 P. em. Carlos F. R. Dreher
Reminiscências Pessoais
coros, nos lugares em que atuei.
Quando Barbara Friedburg chegou a São Leopoldo, em janeiro de 1965, sem demora cativou os estudantes do Morro do Espelho. Alguns de nós cantávamos no grupo “Os Nove do Sul” (pequeno coro da Faculdade de Teologia), no “Coral de Bolso” e no Coro da Igreja de Cristo (Igreja do Relógio) em São Leopoldo. Com a influência de Barbara, vários destes colegas tornaram-se regentes de coro. Cito apenas alguns, que chegaram a se destacar: Frank Graf, Gustavo Krieger e Paulo Schneider, que regeu o coro da Igreja de Cristo. Eu fui seu sucessor. Segui regendo
Alguns eventos das iniciativas de Barbara, de que participei, permanecem vivos na memória: o Coro do Morro do Espelho, que mais tarde Nelson Kirst denominou “Coral do Morro”; “Singwoche” (Semana de Canto), no Lar da Juventude, em Gramado, janeiro de 1970; Curso de Regência, em Panambi, 22-25 de setembro 1970; Encontro de Canto do Distrito Sinodal Santa Rosa, em Três Passos, 27 de setembro 1970. O ponto alto do convívio de Barbara conosco foi a participação do Coro do Morro do Espelho na Inauguração da Igreja da Reconci-
Barbara Friedburg, na Casa Matriz, confeccionando instrumentos de percussão
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liação, à Rua Senhor dos Passos, 17 de julho 1970. O coro foi reforçado com cantores e instrumentistas convidados. P. Karl Heinz Budde e eu tocamos trompete. A IECLB instituiu o Departamento de Música Sacra Formada em Música Sacra na Alemanha, Barbara Friedburg atuou por 13 anos em Buenos Aires como organista e “Kantor” (Diretora de Música Sacra). Em decorrência de uma visita à IECLB, em 1963, em companhia do Kantor Meyer, decidiu trabalhar no Brasil. Em 1964, a IECLB instituiu o Departamento de Música Sacra. Barbara foi designada a criar o Departamento e dirigi-lo. A Folha Do-
Cancioneiro Louvai Cantando, cuja primeira edição ocorreu no ano de 1968, e folha de canto coral. Frank Graf e eu estivemos na comissão de seleção dos cantos do cancioneiro e o P. Bruno Gottwald ajudou escrevendo algumas partituras. Todas as partituras das 126 canções deste cancioneiro foram escritas a mão por Barbara!
minical de 14 de março de 1965 publicou uma entrevista, na qual ela informou que o seu objetivo principal seria de estimular os ministros eclesiásticos (Pastores, Catequistas, Diaconisas, Professores e seus respectivos cônjuges), a fomentar/dirigir o canto coral e o canto comunitário. Além disto, haveria de promover cursos e encontros de música em toda a área de presença da Igreja, no País. Dona Barbara iniciou sua atividade nas instituições de formação no Morro do Espelho e em Ivoti. Lecionou música e hinologia no Instituto PréTeológico, na Casa Matriz de Diaconisas e na Faculdade de Teologia, em São Leopoldo; igualmente no Departamento de Catequese e na Escola Normal Evangélica, em Ivoti (hoje Instituto Superior de Educação Ivoti). Entre 1968 e 70 também lecionou no Curso Intensivo de Formação de Pastores (vocações tardias). Naturalmente toda esta atividade repercutiu para muito mais longe, lá onde os seus alunos foram atuar. Passou a realizar inúmeros Cursos, Dias de Música e Semanas Musicais, no âmbito dos Distritos Sinodais e Regiões Eclesiásticas. Com carinho especial preparava e realizava Retiros de Crianças em Gramado. Além disto, ela recuperou a memória e o trabalho de Max Maschler (professor de música no Sínodo Riograndense nas décadas de 1940 e 50), publicando e ensaiando seus arranjos de canções gaúchas e nacionais. Com a ajuda de Ingo Schreiner
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produziu o cancioneiro Louvai Cantando, para estimular o canto na Juventude Evangélica e nas escolas de 1º e 2º grau. O P. Bruno Gottwald também ajudou escrevendo partituras para o Cancioneiro Louvai Cantando. Dá pra imaginar? Uma mulher abraçou todo o território nacional durante 7 anos, deixando um efeito multiplicativo da música na IECLB, cuja força ainda hoje pode ser sentida. Um dado significativo está no título “Cantate Domino”. Barbara criou a folha para coro “Cantate Domino”, que continuou sendo editada por Frank Graf e outros até os nossos dias! Detalhes Contratuais No Atestado de Conclusão da atividade de Barbara Friedburg, de 21 de setembro de 1971, assinado pelo Secretário Geral da IECLB, P. Rodolfo Schneider, e pelo Presidente da Comissão de Música da IECLB, Hans Günther Naumann, estão relacionadas todas as tarefas assumidas por ela. Documento extenso, que reproduz praticamente o contrato inicial de sua atividade. Aqui cito apenas alguns detalhes: Afirma-se que “ela se desincumbiu de todas as suas tarefas de lecionar Musicologia, Hinologia, Canto, Regência Coral, Ensino de vários instrumentos, Liturgia e Música no Culto, nas instituições de formação de obreiros da IECLB” (seguem as instituições já mencionadas acima). São citados os
Barbara Friedburg, em março de 2014, na Alemanha Encontros de Coros, Seminários de Regentes, Semanas e Dias de Música nos Distritos e Regiões Eclesiásticas da IECLB. Além disto, a elaboração e edição de arranjos de música folclórica e sacra. Mais: a gravação de fitas com hinos cantados por coros, para serem usados em programas radiofônicos. O Atestado exprime um louvor especial: “Todas as pessoas gostavam de cantar e tocar instrumentos sob a regência de Barbara...”. No final, atesta o pesar da Direção da Igreja por ela não ver possibilidade de prolongar sua permanência no Brasil. Resultado Muitas instituições da IECLB, que existem hoje (ou existiram), na área de música e comunicação, emanam
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também da atuação criativa de Barbara Friedburg: - O Departamento de Música da IECLB, desenvolvido por Frank Graf em Blumenau, depois de haver estudado Música Sacra na Alemanha, por recomendação do Concílio Regional da RE II, em Londrina 1973. - A edição de partituras musicais, intituladas “CANTATE DOMINO”, iniciadas por Barbara. - O Departamento de Audiovisual da IECLB, criado por Hilmar Kannenberg em 1971, continuando a produção de fitas de canto/música, iniciada por Barbara, para os programas de rádio de muitas Comunidades da IECLB. - A criação do CEM – Centro de Elaboração de Material (direção do P.
João Artur Müller da Silva e apoio do Secretário de Comunicação, Silvio Schneider), que assumiu a produção de programas radiofônicos, gravados no estúdio da FIC. - A criação da FIC – Fundação ISAEC de Comunicação, por Hilmar Kannenberg, como “upgrade” do Departamento de Audiovisual, com extensão às emissoras de Rádio a fim de divulgar a IECLB. Conclusão pessoal Agradeço à Barbara Friedburg por tudo o que me deu nos anos 60 e 70, para minha atuação pastoral e musical, direção coral, gravação para rádio e TV. Atual endereço de nossa professora: Ahornstrasse 28, 75217 BIRKENFELD – Alemanha. O autor é Pastor Emérito da IECLB e reside em Porto Alegre/RS
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“Cheguei, sou gay!”1 Pa. Cristina Scherer
A Igreja Evangélica de Confissão luterana no Brasil – IECLB aborda temas que carecem de reflexão e posição em sua caminhada cristã à luz da Palavra de Deus. Um deles é sobre a acolhida das pessoas
Como pessoas criadas à imagem e semelhança de Deus e membros de uma comunidade cristã, somos desafiadas a acolhermos uns ao outros, umas às outras, como o próprio Cristo nos acolheu (Conforme Romanos 15.7). Como Igreja que deseja dar um testemunho evangélico no mundo, que se ocupa em acolher, cuidar, pregar, ensinar, servir e amar, somos admoestados/as pelos temas que estão dentro de lares de pessoas cristãs, entre eles a convivência e acolhida para com as pessoas homoafetivas. Diante destas situações, surgem as perguntas: o que fazer? Como agir? O que a Bíblia nos ensina?
homoafetivas nas comunidades cristãs. No site oficial da Igreja, Portal Luteranos2 , encontramos disponível a reflexão aberta da Igreja sobre o tema em três momentos: Carta pastoral da presidência da IECLB em 1999, sob o tema: Homossexualidade; em 2001, no Posicionamento do Conselho da Igreja sob o tema: Ministério Eclesiástico e Homossexualidade, e a Carta Pastoral da Presidência da Igreja, em 2011, sob o tema: Sexualidade humana – homoafetividade.
Num encontro de formação, onde tive a oportunidade de participar, sobre a Pastoral do Batismo, com o tema: Batismo em famílias com dinâmicas diferentes, surgiu o questionamento se, como Igreja, vamos batizar crianças de pais e mães divorciados/as. O tema foi sendo estendido e alguém perguntou: E se forem pais e mães homossexuais, as crianças serão batizadas? Houve um diálogo bonito acerca da graça e do amor de Deus e a posição foi unânime sobre a acolhida das famílias e
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Frase disponível em:<https://noticias.bol.uol.com.br/fotos/entretenimento/2013/07/17/ confira-momentos-e-fatos-historicos-da-causa-gay-no-brasil-e-no-mundo.htm# fotoNav=11>
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<http://www.luteranos.com.br>
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das crianças, deixando claro que o sacramento do batismo é um sinal da graça de Deus que não pode ser negado a ninguém. Como houve esta abertura para o tema da homossexualidade, durante o intervalo, uma senhora procurou duas ministras presentes no encontro dizendo que estava vivenciando esta situação em sua casa: seu filho era homossexual. Ela estava bem emocionada e disse que amava seu filho e queria o seu bem! O dilema e drama dela era que o pai não aceitava seu próprio filho como homossexual dentro de seu próprio lar. Ela pediu ajuda e orientação quanto ao como proceder. Essa situação me fez pensar em quantas famílias cristãs, entre elas, também luteranas, vivenciam experiências semelhantes a esta? E mais: terão os familiares ouvidos atentos para os anseios, dúvidas, certezas ou incertezas em suas comunidades de fé quanto ao tema da homoafetividade? Com facilidade as pessoas cristãs condenam, julgam, menosprezam, não ouvem! É a Igreja promotora de amor ou de ódio através do anúncio da Palavra de Deus em seu contexto? Estão tendo as pessoas homoafetivas acolhida em suas famílias e comunidades? A Bíblia, testemunho concreto do amor de Deus em Jesus Cristo é usada para promover a inclusão de todas as pessoas, inclusive as homoafetivas, na famí-
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lia de fé ou é usada como instrumento de ódio e morte? Martim Lutero nos lembra de que o critério para lermos a Bíblia é fazer a pergunta: o que promove a Cristo? A inclusão, amor, respeito e acolhida promovem a Jesus Cristo em nosso meio como ele mesmo acolheu as pessoas em seu tempo. O arcebispo anglicano e Prêmio Nobel da Paz em 1984, Desmund Tutu, da África do Sul, afirma: “O Jesus que adoro provavelmente não colabora com os que vilipendiam e perseguem uma minoria já oprimida. Todo ser humano é precioso. Somos todos parte da família de Deus. Mas no mundo inteiro, lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros são perseguidos. Nós os tratamos como párias e os fazemos duvidar que também sejam filhos de Deus. Uma blasfêmia: nós os culpamos pelo que são.” 3 Recentemente tive a oportunidade de ver o filme “Orações Para Bobby” (2010). Bobby sonhava em ser escritor. Em suas palavras escritas, deixa questionamentos a Deus e registra seus sentimentos em um diário. Ele revela como a religiosidade vivenciada numa igreja que o condenava ao inferno e a falta de apoio da família foi crucial em sua decisão de acabar com a própria vida. Mais uma história que ainda hoje se repete. Pela falta de acolhida, amor, aceitação e in-
Menezes, Cynara. Ser Gay é Pecado? Publicado em 11/11/2011, disponível em: <https:// www.cartacapital.com.br/sociedade/ser-gay-e-pecado>
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clusão pessoas homoafetivas tiram suas próprias vidas dominadas pelo medo, angústia, dor, solidão, desespero e morte. No filme a mãe de Bobby, Mary Griffith, presbiteriana, se arrepende de tentar curar o filho homossexual de 20 anos que se mata depois de não aguentar tamanha pressão. Antes de tomar tal decisão, Bobby passa por quatro anos sofrendo pressão de sua família para deixar sua homossexualidade. Sua mãe, religiosa fervorosa, não admitia a homossexualidade do filho, ao qual denominava de doença ou aberração, e contra qual usava constantemente a Bíblia e a Igreja para respaldar seus preconceitos. Quantos mortos já pesam contra nós? O relato de Mary ao sofrer com a perda precoce de seu filho é comovente e arrepiante. Ela afirma: “Homossexualidade é um pecado. Homossexuais estão condenados a passar a eternidade no inferno. Se quisessem mudar, poderiam ser curados de seus hábitos malignos. Se desviassem da tentação, poderiam ser normais de novo. Se eles ao menos tentassem e tentassem de novo em caso de falha. Isso foi o que eu disse ao meu filho, Bobby, quando descobri que ele era gay. Quando ele me disse que era homossexual, meu mundo caiu. Eu fiz tudo que pude para curá-lo de sua doença. Há
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oito meses, meu filho pulou de uma ponte e se matou. Eu me arrependo amargamente de minha falta de conhecimento sobre gays e lésbicas. Percebo que tudo o que me ensinaram e disseram era odioso e desumano. Se eu tivesse investigado além do que me disseram, se eu tivesse simplesmente ouvido meu filho quando ele abriu o coração para mim... eu não estaria aqui hoje, com vocês, plenamente arrependida. Eu acredito que Deus foi presenteado com o espírito gentil e amável do Bobby. Perante Deus, gentileza e amor é tudo. Eu não sabia que, cada vez que eu repetia condenação eterna aos gays... cada vez que eu me referia ao Bobby como doente e pervertido e perigoso às nossas crianças... sua autoestima e seu valor próprio estavam sendo destruídos. E finalmente seu espírito se quebrou além de qualquer conserto. Não era desejo de Deus que o Bobby debruçasse sobre o corrimão de um viaduto e pulasse diretamente no caminho de um caminhão de dezoito rodas que o matou instantaneamente. A morte do Bobby foi resultado direto da ignorância e do medo de seus pais quanto à palavra ‘gay’ ”.4 Atualmente os pais de Bobby vivem em Walnut Creek, Califórnia, EUA. Mary é uma ativista no movimento da PFLAG - Pais, Família e Amigos de Lésbicas e Gays, associação que aparece no filme. Ela desafia a igreja e as pessoas cristãs e as conclama à
Resenha do filme “Orações para Bobby” disponível em: <http://revistaladoa.com.br/2012/ 10/noticias/historia-real-por-tras-oracoes-para-bobby>
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Fonte: http://diversidadecatolica.blogspot.com.br/ 2012/11/carta-de-uma-mae-ao-cardeal-catolicode.html
acolhida, ao cuidado, ao amor às pessoas homossexuais, aprendizado que teve após o suicídio de seu filho. As pessoas querem ser amadas e valorizadas. Jesus Cristo apontou o maior mandamento como sendo o do amor. (Mateus 22. 37-40). O verdadeiro amor cuida das pessoas, as inclui no convívio familiar e comunitário, aceita as pessoas como imagem e semelhança de Deus (Gênesis 1.26), valoriza vidas e dons. Como é difícil amar a exemplo do amor de Deus.
inclusiva possam ajudar tantas famílias que sofrem com o dilema da condenação e julgamento de pessoas homoafetivas em lares e comunidades cristãs. Oremos para que Deus transforme os corações raivosos em corações de paz e amor e que, assim como Mary foi transformada - ainda que tarde demais, pessoas hoje sejam tocadas para amar, acolher e conviver, assim como Deus ama e acolhe todas as pessoas em Jesus Cristo por graça e fé. Talvez a reflexão por meio da arte transmitida em filmes, poesias, canções nos desafie a encarnar a palavra de Deus em nosso cotidiano de vida e fé: “E a gente vive junto, E a gente se dá bem Não desejamos mal a quase ninguém E a gente vai à luta E conhece a dor Consideramos justa toda forma de amor!” 5
Acredito que a Palavra de Deus e o testemunho de uma Igreja acolhedora, aberta, amorosa, terapêutica e
A autora é Pastora da IECLB em São Francisco do Sul/SC
Para aprofundar a reflexão veja: Vídeo: Vivendo no armário: Gays não assumidos. Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=JfLFn345Cm0 Artigo: Ser gay é pecado? Cynara Menezes, publicado em 14/11/2011. Disponível em: https:/ /www.cartacapital.com.br/sociedade/ser-gay-e-pecado
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Lulu Santos: Música: Toda forma de amor.
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Convivendo em família com povos indígenas da Venezuela Oscar Noya Alarcón
Dentro da linha de pesquisa do Projeto Microbioma, juntamente com outros pesquisadores venezuelanos e estrangeiros, de diferentes Universidades e Instituições de importante rigor científico, em outubro de 2015, a família Noya Giusti, integrada por meus filhos menores, Simón e Yann (sete e três anos de idade, respectivamente), minha esposa, Tatiana Giusti Ehlert, e eu, Oscar Noya Alarcón (ambos médicos cirurgiões especialistas na área de parasitologia), embarcamos numa expedição experimental para conviver durante 15 dias, na verde e virgem selva amazônica venezuelana, em povoados indígenas isolados e pouco trans-culturizados das etnias
Yekwana e Sanöma/Yanomami. O Projeto de Microbioma se baseia na pesquisa da diversidade e quantidade de organismos que convivem no corpo humano de maneira natural, já que, para cada célula humana em nosso corpo, há até dez células alheias ao organismo, como vírus, fungos, parasitas e bactérias, que representam o que se chama de microbioma, os quais têm, em muitos casos, um papel importante nos mecanismos de regulagem dos processos metabólicos normais dos seres humanos. Devido aos processos de industrialização, globalização e transculturização, aos avanços na saúde
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mente.
e higiene de desenvolvimento e do consumo de antibióticos, de produtos de limpeza, como sabonetes e produtos de higiene bucal, e os de conservantes de alimentos, a diversidade e quantidade deste microbioma presentes na população humana têm sido diminuídos ao longo dos anos, afetando os processos metabólicos, que vêm desencadeando mudanças e aumento de enfermidades metabólicas como a diabetes, hipertensão arterial, obesidade, entre outras. Devido à pouca exposição das comunidades indígenas amazônicas, isoladas de antibióticos e produtos de limpeza, a diversidade e quantidade de micróbios que eles ainda mantêm é muito elevada (não significa estar sujo) e representa uma amostra de vital importância, que nos ensina como era a humanidade há centenas de anos, sendo esta uma das razões pela qual os indígenas, pouco transculturizados e com pouco acesso a mencionados produtos, tenham baixa prevalência destas enfermidades metabólicas mencionadas anterior-
A intenção desta faceta do Projeto foi a de expor toda nossa família Noya Giusti, uma família nativa venezuelana e os demais cinco pesquisadores, a hábitos alimentares e sociais ocidentais, à comida típica indígena e à ausência de sabonete e outros produtos de higiene pessoal por duas semanas, para avaliar como é a recuperação dessa flora bacteriana que é abundante nas comunidades indígenas. Depois de muitos meses de preparação para esta saída de campo e após haver solicitado a autorização no colégio das crianças para faltar às aulas, por estarem presentes nesse experimento, em outubro de 2015, três “teco-tecos”, de seis lugares cada um, nos levaram desde o aeroporto de Caracas até o sul da Venezuela. Voamos duas horas até a comunidade Caicara del Orinoco, no meio do país para abastecer novamente o combustível das aeronaves e prosseguir o voo, por outras duas horas, até Kanadakuni, povoado indígena Yekwana, que serviria de
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como motö, em idioma Yekwana, que, para nossos filos, era estranho e algo relativamente asqueroso, mas divertido. Tomávamos também a água das mesmas fontes das quais os índios consumiam.
base para nossas operações do projeto. Uma vez tendo chegado e sendo bem recebidos pela comunidade que já estava avisada de nossa visita, iniciamos o trabalho, prestando atenção na saúde dos indígenas e tomando amostras dos microrganismos presentes nos indígenas (mucosa oral, mucosa nasal, pele e amostras de fezes) e tomando amostras de nós mesmos, dia após dia, para ver como era a integração de todos esses microrganismos em nossos corpos. De tal maneira que, comíamos tudo o que nos ofereciam: tudo o que cultivaram nessa época, como banana da terra e outras variedades, aipim, casabe, (tipo de bolacha preparada pelos indígenas com mandioca amarga ralada), ocumo, (tubérculo parecido ao aipim), abóbora, abacaxi, picantes de pimenta, assim como diferentes tipos de carnes de animais de caça, como, por exemplo, de porco do mato, anta, lapa (tipo de preá), peixes dos rios da região e até longos vermes de terra, conhecidos
Todos fomos nos acostumando rapidamente aos banhos, estritamente com água, e à dieta indígena sem nenhum contratempo. Mudaram os aspectos de nossas fezes (consumimos abundantes fibras) e começaram a aparecer alguns odores em nossos corpos, próprios da ausência de produtos de higiene aos quais estávamos acostumados. Depois de passar cinco dias em Kanadakuni, tínhamos que ir a outras comunidades Sanöma/Yanomami para continuar com o Projeto. Isso exigiu que nos trasladássemos por seis horas, via fluvial, até um “porto” de rio, aonde se iniciava o caminho pela selva e montanhas até as comunidades de Mosenahaña e Chajuraña. Assim que chegamos ao dito porto, os experts marinheiros/ navegantes Yekwanas armaram um acampamento provisório e monta-
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mos nossas redes, em que passamos uma típica noite de frio em meio à selva cheia de ruídos e sonhos… No dia seguinte, nos levantamos cedo e iniciamos uma longa caminhada, que às vezes se converteu num pesadelo para alguns, por não ter algum tipo de comida de reposição, como chocolates, ou tomar chá frio... Só podíamos consumir a típica comida indígena, que esse dia não nos satisfez. Todos carregaram suas mochilas, inclusive Simón que foi um valente caminhante de selva, suportando as mais de seis horas de caminhada contínua. Yann, nosso menor, seguiu sempre em meus ombros por toda essa viagem caminhante. Ao chegar à comunidade Sanöma/ Yanomami, a recepção foi de MUITA alegria de ambas as partes. Nós, por havermos cumprido nosso objetivo de chegar a este ninho humano e de poder compartilhar com esses indígenas, e eles, pela visita incomum de pessoas não indígenas. Depois de haver trabalhado nesta comunidade, empreendemos a vol-
ta com um pernoite em plena selva, aonde a abundante chuva amazônica penetrou os tetos de lona e molhou a maioria das redes, mosquiteiros e roupas, fazendo com que, seguir dormindo fosse insuportável. Na manhã seguinte, prosseguimos nosso caminho até o porto do rio Chajura e, após seis horas de navegação, chegamos à comunidade de Kanadakuni para ficarmos alguns dias, aonde seguiríamos compartilhando jogos, histórias, comida, companhia e escrevendo experiências de vida para a boa recordação de haver convivido, em família, e em harmonia com esses povos primeiros e em equilíbrio com a natureza. O autor é médico cirurgião, especialista em parasitologia, em Curitiba/PR
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Palavras cruzadas 1 P. em. Irineu Wolf
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Solução na página 199
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CULTO INFANTIL: Um testemunho Roland Ehlert
Meu nome é Roland Ehlert. Nasci em 13 de maio de 1934. Caçula de uma família de oito filhos (três meninos e cinco meninas). Quando nasci, meu pai Hermann era o Presidente da Paróquia Evangélica de Pomerode. Com quatro anos, o pai já nos ensinava orações e hinos. Contava-nos histórias da Bíblia. Não havia culto infantil. Mas algo parecido acontecia na escola. Tivemos uma grande crise nas nossas Igrejas em Santa Catarina, também em Pomerode, por causa da 2ª Guerra Mundial, quando a língua alemã foi proibida. Porém, era a língua que os membros e filhos sabiam falar. Até então em todas as escolas só se lecionava o alemão. A maioria dos pastores eram alemães. Muitos foram presos, deixando as paróquias e comunidades sem assistência. Tudo o que havia sido orga-
nizado e preparado até o momento, parou. Também o Culto Infantil, Ensino Religioso e Confirmatório, que era ministrado por professores e exprofessores. Entrei na doutrina bem cedo, acompanhando um irmão dois anos mais velho. O professor, por coincidência, era meu tio, João Ehlert. Com ele, aprendemos a cantar hinos do nosso hinário. Contava histórias da Bíblia que dava gosto de ouvir. O tio João tinha formação para professor. Um dia nos convidou para o Culto Infantil. Era uma novidade. Foi um sucesso, pelo menos para mim. Era diferente do que na doutrina. No culto infantil cantávamos, orávamos. Oramos também o Pai Nosso em conjunto. Mas, o melhor de tudo foi o momento da contação da História Bíblica.
Culto Iinfantil (1958) Testo Salto, Blumenau/SC
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Culto Infantil (2007) Ribeirão Herdt, Pomerode/SC Após a 2ª Guerra Mundial, os Pastores presos foram libertos. Pomerode estava sem Pastor, foi eleito o Pastor Gustav Schuttkus. Com este, frequentei os últimos meses do ensino confirmatório. Era alemão, mas lecionava tudo em Português. Encantava-me quando contava as histórias do Antigo Testamento. Usava gravuras. Eram histórias de José, Moisés, do Povo de Israel no Egito, depois no deserto. Após a guerra e falta de Pastor, este reorganizou e retomou as atividades da sua Paróquia e comunidade. Depois da minha confirmação, o Pastor Schuttkus me convidou para auxiliar no Culto Infantil. Participei dos encontros semanais para preparar a reunião dominical junto com os demais orientadores. Iniciei como ouvinte. Mas com 15 anos, num encontro de domingo, o Pastor sentou-se no banco e disse “Roland, chegou a tua vez”. Estava preparado, mesmo assim nervoso. Contei a história, assistido pelo Pastor. Fui elogiado pelo mesmo. Os demais alunos também apreciaram. O Pastor se aposentou, regressando para a Alemanha. Em 1954 foi eleito o Pastor Liesenberg. Fazia tudo em
alemão. Culto em português apenas uma vez por mês no centro. Neste tempo, uma vez por semana, ocorria a preparação do Culto Infantil. Fiquei impressionado, pois durante a preparação, entre outros, ele narrava a história para nós, em alemão. Participavam também orientadores das comunidades filiais. Tinha culto infantil em algumas casas e escolas. Enfatizou que o melhor do culto infantil é uma história bem contada. Valia tudo, mudar a voz, imitar personagens ou fazer sinais e outros. O Pastor Liesenberg em combinação com a diretoria, determinou que o Culto Infantil faria parte da doutrina. Os alunos da doutrina (atualmente ensino confirmatório) obrigatoriamente deveriam frequentar o culto infantil. Várias faltas no culto infantil sem justificativa por escrito e assinado pelos pais, implicaria em não ser confirmado. Por volta de 1954, a Igreja do Centro era bem frequentada pelas crianças de 6 a 14 anos. Todas ainda falavam e entendiam a língua alemã, por isso, o culto infantil era dirigido em alemão. Eu também substituía o Pastor, em
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Culto Infantil (2007) Ribeirão Herdt, Pomerode/SC sepultamentos, culto a adultos, santa ceia de idosos ou doentes, batismo de emergência. Já tinha me preparado durante anos, apesar de minha profissão ser lavrador. Trabalhava na roça com o pai e um irmão. Em fevereiro de 1958, recebi um chamado para iniciar o trabalho de culto infantil em Testo Salto, Blumenau. Foi a Companhia Têxtil Karsten que doou um terreno e construiu um espaço grande, casa comunitária para funcionamento do Jardim de Infância, prioritariamente culto infantil. Fui convidado pela dona da empresa, Olga Karsten, acompanhada pelo seu marido João Karsten, diretor da Cia. Karsten, que vieram à minha casa e pediram-me pessoalmente que desse início a esse trabalho e assumisse o culto infantil, solicitando de antemão que não dissesse “não”. Reforçou que a Firma Karsten construiu a casa comunitária e que as freiras católicas de Testo Salto estavam mantendo uma espécie de culto infantil. Sua preocupação era com as crianças da igreja evangélica que estavam participando deste culto infantil. Afirmei então que estava ocupado com muitas atividades: dirigia
um grupo de jovens, cantava no coral, era clarinetista numa orquestra, era orientador de culto infantil e muitas vezes substituía o pastor. Mas considerando seu relato, não negaria seu pedido. Combinamos a data do primeiro encontro. Ela ficou responsável pela divulgação. Convidou todas as crianças do bairro, como também pessoas para assistir e que eventualmente depois pudessem continuar esse trabalho. De fato, foi um sucesso. Muitas crianças vieram, até mães e avós. Uma senhora e uma menina recém-confirmada estavam lá e se prontificaram para assistir e aprender. Os encontros eram aos domingos, a cada 14 dias. Fiz esse trabalho por três anos, depois Rita Beims e o noivo Manfred Bublitz assumiram o culto infantil. No ano de 1960, fiquei afastado das atividades voltadas ao culto infantil, por causa da doença e morte de meu pai. Em 1978, assumi o culto infantil em Ribeirão Herdt, Pomerode. Formei uma equipe de ex-alunas como orientadoras. Usamos materiais de apoio, como o manual para o culto infantil, do Rio Grande do Sul, mais tarde de Joinville/SC “Crescendo com Jesus”. Nessa comunidade fi-
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quei à frente do culto infantil por 30 anos, de 1978 até 2008. Estas atividades continuam até hoje. No mesmo local, fundou-se uma comunidade e foi construída uma linda igreja. Seguem alguns testemunhos e depoimentos de ex-alunos do culto infantil, muito gratificantes. Ex.: Um vizinho meu contou que seu filho caçula falou da Bíblia, de Abraão, de Isaque, Jacó, dos evangelhos. O pai perguntou de onde ele sabia tudo isso, e respondeu que o tio Ehlert contou e ensinou no culto infantil. Anos depois, encontrei o mesmo rapaz, já casado, e entre outros assuntos, falamos de igreja e religião. Aproximou-se de mim e disse que o que ficou de religião para ele, foram as coisas que aprendeu e nunca vai esquecer do culto infantil onde participou ainda depois de ser confirmado. Uma ex-aluna, atendente de farmácia, me perguntou se ainda a conhecia. Disse que fui seu professor. Respondi que lembrava dela, do Ribeirão Herdt. Aproveitei e perguntei se ainda se lembrava de algumas histórias que contei. Respondeu “tempo bom, eu gostava, ah essas coisas estão guardadas em mim para sempre!”. Uma garota, no cartório de imóveis me atendeu e disse, “fui sua aluna, o senhor sempre contava as histórias de um jeito que não dava pra faltar, eu estava curiosa pra saber a continuação”. Assim existem inúmeros depoimentos. Várias meninas que me auxiliaram e aprenderam comigo no Ribeirão Herdt, continuam a frente do culto infantil em outros lugares.
E o Culto Infantil, como deveria ser? Atualmente também mostram filmes e outros. Mas afirmo que uma história bem contada ainda é a melhor forma. Vejo que atualmente a frequência é baixa. Um motivo são famílias com menos filhos, porém também é que muitas crianças dos nossos membros não frequentam o Culto infantil. O segredo para aumentar a frequência do Culto infantil ainda é o CONVITE PERMANENTE! Onde? Nos cultos dos adultos, nos estudos bíblicos, nas reuniões da OASE, nos encontros de casais, explicando a necessidade e o valor do culto infantil. Na comunidade de Ribeirão Herdt, fizemos o seguinte: buscávamos através de pesquisa junto à Paróquia, descobrir a quantidade de crianças em idade para culto infantil e que não vinham, seus endereços. Mandávamos figurinhas com convite junto com aquelas que participavam, divulgávamos a data, atraindoas assim para o próximo encontro. Deu resultado. Para mim, o Culto Infantil, em continuidade ao batismo, é o fundamento sobre o qual se edifica a Igreja, cujos tijolos são seres vivos. Assim, teremos a Igreja da qual Jesus fala, porque a construção de um templo vazio não agrada a Jesus.
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O autor reside em Testo Central Alto, Pomerode/SC e atuou por mais de 40 anos como orientador de Culto Infantil
Curiosidades sobre o Brasil República P. Roni Roberto Balz
9 Moedas em circulação
13 Presidentes que não concluíram o mandato
Réis: até 1941 Cruzeiro: 1942
Deodoro: 1891
Cruzeiro Novo: 1967
Afonso Penha: 1909
Cruzeiro: 1970
Rodrigues Alves: 1918
Cruzado: 1986
Washington Luís: 1930
Cruzado Novo: 1989
Júlio Prestes: 1930
Cruzeiro: 1990
Getúlio Vargas: 1945 e 1954
Cruzeiro Real: 1993
Carlos Luz: 1955
Real: 1994
Jânio Quadros: 1961 João Goulart: 1964
6 Constituições Federais
Costa e Silva: 1969
1891 – 1934 – 1937 – 1946 – 1967 – 1988
Tancredo Neves: 1985 Fernando Collor de Mello: 1992
6 vezes o Congresso foi fechado
Dilma Rouseff: 2016
1891 - 1930 ~ 34 - 1937 ~ 46 – 1966 – 1968 ~ 69 – 1977
31 Presidentes não eleitos diretamente (também considerando posse de interinos)
6 Golpes de Estado
Deodoro: 1889*
1889 – 1891 – 1930 – 1937 – 1945 – 1964
Floriano Peixoto: 1891*
1 Plebiscito ignorado
Campos Sales: 1898*
Prudente: 1894* Rodrigues Alves: 1902*
Venda de armas: 2005
Afonso Penha: 1906* Nilo Peçanha: 1909* Fonseca: 1910* Venceslau: 1914*
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Rodrigues Alves: 1918*
João Goulart: 1961
Delfim Moreira: 1918*
Castelo Branco: 1964
Epitácio: 1919*
Costa e Silva: 1967
Arthur: 1922*
Médici: 1969
Washington Luis: 1926*
Geisel: 1974
Júlio Prestes: 1930*
Figueiredo: 1979
Vargas: 1930
Tancredo Neves: 1985
José Linhares: 1945
José Sarney: 1985
Café Filho: 1954
Itamar Franco: 1992
Carlos Luz: 1955
Michel Temer: 2016
Nereu Ramos: 1955
*Presidentes do Período da República Velha marcado pelas fraudes eleitorais e o coronelismo.
Ranieri Mazilli: 1961
O autor é Pastor da IECLB e diretor do Centro de Literatura Evangelística da IECLB, em Blumenau/SC
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Dados da Federação Luterana Mundial (FLM) – Uma Comunhão de Igrejas P. em. Dr. Osmar Zizemer
Sob este título está, desde 1990, a FLM e sua atividade. Hoje composta por 145 igrejas-membro de todo o mundo, ela conta com um total de pouco mais de 74 milhões de membros no mundo inteiro. Isto significa que desde 2013 houve um crescimento de 2,1 milhões de membros. Uma análise da estatística de membros mostrou que, pela primeira vez na história, as duas maiores igrejas filiadas à FLM em termos de membros se encontram na África, a saber, na Etiópia e na Tanzânia. A Igreja Evangélica Etíope MEKANE YESUS, com quase 7,9 milhões de membros, e com um crescimento de 24% desde 2013 é atualmente a maior igreja-membro da FLM. Em seguida vêm a Igreja Evangélica-Luterana da Tanzânia, com 6,5 milhões de membros e um crescimento de 12% no período; e a Igreja Sueca, com 6,3 milhões de membros – o que representa um leve decréscimo em relação a anos anteriores. Em especial, registrou-se na África um crescimento de 11% no número de membros das igrejas filiadas à Federação Luterana Mundial, somando um total de 23 milhões de luteranos e luteranas neste continente. Já as 54 igrejas asiáticas, filiadas à FLM, registraram um crescimento de 10 %, de modo que a região da Ásia
conta hoje com 11,8 milhões de membros luteranos. As duas igrejas-membro da América do Norte registraram um decréscimo médio de 4,9 %, contando agora com um total de 3,9 milhões de membros. Já as 41 igrejas-membro da Europa igualmente registraram um decréscimo médio de 3,8 %, somando agora um total de 34,7 milhões de fiéis. Nas igrejas da América Latina (inclusive o Brasil) e do Caribe conta-se um total de 784.215 membros filiados. O Secretário Geral da FLM – Pastor Dr. h. c. Martin Junge – afirmou que tanto o crescimento como o decréscimo em número de membros traz consigo tarefas e desafios diferentes para as respectivas igrejas. Ele sublinhou que a Federação Luterana Mundial é um lugar de reflexão e aprendizado mútuos das igrejas, bem como de apoio mútuo e de consolo na missão! “Diante dos 500 anos da Reforma nós nos alegramos com o poder da Palavra de Deus e de sua mensagem da Salvação por Graça, mediante a Fé. Alegranos que esta mensagem está sendo ouvida e recebida por cada vez mais pessoas” – disse o secretário. O autor é pastor emérito da IECLB e reside em Blumenau/SC Baseado em Lutherischer Dienst, 2016, caderno 4, pág. 11.
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Dinheiro na mão é vendaval P. Sigolf Greuel
Uma reflexão sobre o dinheiro e a fé cristã Na Bíblia, encontramos 38 parábolas contadas por Jesus. Dentre elas, 16 tratam a respeito de como lidar com dinheiro, riquezas ou posses. Estimase que há algo em torno de 2.350 versículos na Bíblia que, de algum modo, abordam questões relacionadas a dinheiro, bens materiais e riquezas. Talvez chame nossa atenção a comparação de que há cerca de 500
versículos sobre oração e menos do que isso sobre fé. Como podemos perceber, a Bíblia trata do tema de forma generosa, ainda que, no contexto das igrejas, quanto no assim chamado mercado religioso, o assunto seja considerado espinhoso. O simples fato de que a Bíblia trata do tema de um modo
tão intensivo deveria, no mínimo, despertar nossa curiosidade. O grande número de passagens bíblicas que se ocupam com a temática parece indicar que a espiritualidade cristã tem algo a dizer a respeito. A experiência da vida parece nos mostrar que o dinheiro parece ter, ao mesmo tempo, uma face sombria e uma face luminosa. Ao mesmo que com ele compramos muitas coisas boas, ele parece ser gerador de crises e sofrimentos. Com ele adquirimos “qualida-
de de vida” e, ao mesmo tempo, ele coloca abismos entre seres humanos e seus semelhantes. Enganamo-nos se pensamos que tão somente a falta de dinheiro gera crises. O escritor e jornalista Luís Fernando Veríssimo retrata essa realidade quando afirma que toda riqueza se transformou em riqueza apenas pela riqueza e o dinheiro, tendo perdido
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sua qualidade de narrativa, passou a falar só com ele mesmo. O próprio dinheiro, em si mesmo, é um gerador de crises. O dinheiro não é uma força neutra. De acordo com o próprio Jesus ele é um poder, chamado por ele de Mamon, ou seja, dinheiro transformado em deus (Mateus 6.24). Ao mesmo tempo em que ele nos ajuda a alcançar muitos de nossos sonhos, ele se transforma num pesadelo quando esperamos dele mais do que ele pode dar. O problema está no que fazemos com ele e o que deixamos ele fazer conosco. E o cenário que permite o dinheiro “tomar de assalto o nosso coração”, tem a ver com um dos ídolos de nossa cultura, o consumismo. Consumismo é comprar o que você não precisa, com o dinheiro que você não tem, para impressionar pessoas que você não conhece, a fim de tentar ser uma pessoa que você não é. Interessante, não é? E o consumismo remete a causas muito profundas. Segundo o escritor Érico Veríssimo, o objetivo do consumidor não é possuir coisas, mas consumir cada vez mais e mais a fim de que com isso compense o seu vácuo interior, a sua passividade, a sua solidão, o seu tédio e a sua ansiedade. O romancista russo Dostoiévsky caracteriza esse vazio interior do ser humano e esta profunda solidão existencial como sendo a ausência de Deus, fruto da desconexão do ser humano com relação ao Criador. Para ele, existe no interior do ser hu-
mano um vazio do tamanho de Deus. Este vazio existencial é terreno fértil para o florescimento dos ídolos de nossa cultura contemporânea (consumismo, individualismo e hedonismo) e que acabam por escravizar o ser humano até as dimensões mais profundas de sua humanidade. Esse ser humano transforma o dinheiro em um deus, e passa a viver em função dele e a buscar nele o sentido da vida. Neste cenário, importa ter, e o outro ser humano passa ser encarado como um mero objeto de gozo e usufruto, o que explica a estridente explosão da violência na atualidade. Escravizado pelo amor ao dinheiro e possuído pela ganância, o ser humano tem os seus sentimentos e o seu prazer escravizados patologicamente pelo poder, gerando uma realidade de sofrimento. Ao filósofo grego Aristóteles atribui-se a frase: As pessoas dividem-se entre aquelas que poupam como se vivessem para sempre e aquelas que gastam como se fossem morrer amanhã. Quem ama ao dinheiro, coloca-se a si mesmo numa busca insaciável para ter sempre mais. Os afetos são relegados a um plano secundário. Uma “mão fechada” pode estar revelando um “coração fechado” para o próximo e uma vida fechada para qualquer movimento de transformação da sociedade. Inseridos nesta realidade corremos o risco de ver nosso caráter moldado por este espírito. A espiritualidade cristã aponta uma saída para este dilema. O Criador
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entrou na história e se tornou gente em Jesus Cristo. Assumiu a condição humana, morreu na cruz e ressuscitou para nos reconectar com Deus. Reconciliados com Deus cria-se um novo cenário, no qual o dinheiro é destronado de sua condição de deus e colocado na condição de uma criatura que serve. Aliás, o dinheiro é um “excelente servo”, mas um “péssimo patrão”. Para que isso aconteça no dia a dia de nossa caminhada, a Bíblia tem muitas e excelentes palavras de orientação. Destaco três delas: •
Quem ama o dinheiro jamais terá o suficiente; quem ama as riquezas jamais ficará satisfeito com os seus rendimentos (Eclesiastes 5.10).
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Não digam, pois, em seu coração: A minha capacidade e a força das
minhas mãos ajuntaram para mim toda esta riqueza […] mas lembrem-se do Senhor, do seu Deus, pois é ele que lhes dá a capacidade de produzir riqueza (Deuteronômio 8.17-18a). •
Honre a Deus com todos os seus recursos (Provérbios 3.9a).
Numa profunda e saudável relação com o Criador acabamos descobrindo que importa muito mais ser do que ter e de que o que enriquece nossa existência não são nossas posses materiais, ainda que elas possam comprar muitas coisas boas e úteis para nós. Como, aliás, bem escreveu o poeta Carlos Drumond de Andrade: O cofre do banco contém apenas dinheiro; frustra-se quem pensa que lá encontrará riqueza.
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O autor é Pastor da IECLB e reside em Florianópolis/SC
Ecumenismo P. em. Meinrad Piske
Certo dia, ao parar num posto de combustíveis para abastecer o carro, entrei em conversa com o proprietário do mesmo. Ele quis saber de mim sobre o meu trabalho. O que eu fazia. Eu lhe disse que sou Pastor da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil. Fez diversas perguntas sobre o que quer dizer confissão luterana, sobre ser evangélico. Também lhe fiz perguntas e fiquei sabendo que era católico e conhecia pouco de sua igreja e de outras também. Enumerei algumas diferenças que separam uma igreja da outra. Para encerrar nossa conversa, ele disse: “- É tudo a mesma coisa! Igreja é como a gasolina que a gente vende, apenas o nome muda.” Será que o homem do posto tem alguma razão com a sua afirmação? Ou ele tem visão curta quando afirma: “É tudo a mesma coisa.” Existem aqueles que pensam e afirmam que não tem diferenças entre as diversas igrejas, que “é tudo a mesma coisa”. No outro extremo estão os que não admitem outra visão e se entendem como os únicos que estão certos e corretos. Pensam ser os donos da verdade.
guerra dos trinta anos em 1648, iniciou uma nova etapa na história da Igreja. Este começo pode ser descrito como o tempo da desconfiança mútua. Católicos, ortodoxos, anglicanos e protestantes viviam separados por muito tempo. E este modelo de separação das igrejas foi trazido a nós pelos imigrantes que entendiam que cada um deveria viver em comunhão com as famílias que eram “da mesma religião”, isto é: católicos se entendem com católicos e os outros se entendem com os outros. A partir do século XVII – tempo em que surgiu tanto o movimento evangelical ou pietista, como também o movimento racionalista - começou lentamente a aproximação das diferentes igrejas. Mas foi no começo do século XX que houve o despertamento para a busca da unidade. Determinantes foram as passagens da Bíblia como, por exemplo, a prece de Jesus “que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu
É dentro deste contexto que nos últimos 100 anos, as igrejas cristãs tem experimentado algo novo: o ecumenismo. É a aproximação, por meio do diálogo, entre diversas tradições e costumes. Com o término da
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em ti, também sejam eles” (João 17.21) e a afirmação da carta aos Efésios (4.5) “há um só Senhor, uma só fé, um só batismo”. Este movimento recebeu o nome de “movimento ecumênico” e é a característica da maioria das igrejas cristãs. Assim como acontece com outros conceitos, também o termo ecumenismo foi interpretado de diversas formas. A Constituição da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil estabelece, no Art. 5º - §2º, “A natureza ecumênica da IECLB pelo vínculo de fé com as igrejas no mundo que confessam Jesus Cristo como único Senhor e Salvador”. Num artigo escrito pelo primeiro Secretário Geral do Conselho Mundial de Igrejas, Vissert Hooft, encontra-se a definição da palavra ecumenismo. No seu artigo “História e sentido da palavra ecumênico”, ele enumera sete explicações, a saber, ecumenismo é: 1 – pertencente a toda a terra; 2 – pertencente ao Império Romano; 3 – pertencente à Igreja como um todo; 4 – aquilo que tem validade a nível universal; 5 – o que é relativo à missão a nível universal; 6 – o relacionamento de duas ou mais igrejas (ou de cristãos de diversas confissões religiosas) tendo em vista a sua unidade; 7 – o posicionamento espiritual no
qual o saber da unidade cristã e a vontade para vivê-la é expressa. A IECLB está ligada a diversas entidades e igrejas e a palavra Ecumenis-mo em seu sentido histórico como Vissert Hooft enumerou e explicou contém o que une igrejas e ensinamentos eclesiásticos. Assim, a IECLB é membro do Conselho Mundial de Igrejas, da Federação Luterana Mundial, do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs, do Conselho Latino Americano de Igrejas, da Sociedade Bíblica do Brasil, da Coordenadoria Ecumênica de Serviços, da Diaconia, da Associação de Apoio à Criança e ao Adolescente e da Associação Pró-Capelania Militar Evangélica. Tem acordos com a Igreja Evangélica da Alemanha, a Igreja Evangélica Luterana da Baviera, Igreja da Noruega, Igreja Evangélica Luterana na América, Igreja Evangélica Luterana do Japão, Igreja Evangélica Luterana em Moçambique e com a Comunhão de Igrejas Luteranas da América Central. Ser evangélico, luterano, católico, ortodoxo ou pentecostal “Não é tudo a mesma coisa”. Cada uma destas confissões tem sua característica própria. Uma visão sobre o futuro das igrejas cristãs o teólogo Gunter Wenz formulou da seguinte forma: “A época confessionalista passou; o futuro da cristandade pertence ao ecumenismo e à progressiva concretização da unidade eclesial”. O autor é pastor emérito da IECLB e reside em Brusque/SC
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Espiritualidade da Pessoa Jovem P. Valdir Gromann
“Não deixe que ninguém o despreze por você ser jovem. Mas, para os que crêem, seja um exemplo na maneira de falar, na maneira de agir, no amor, na fé e na pureza” (1 Timóteo 4.12). Vivemos em comunidades de fé que manifestam constantemente a preocupação com o futuro da Igreja. As estatísticas preocupam. Nota-se o grande aumento do número de pessoas com idade avançada e a diminuição de crianças e jovens. Diante disso, surge a pergunta: o que pode ser feito? Fica evidente o fato de que é preciso ter uma nova atitude, que algo mais deve ser feito, que não se pode confiar apenas no acaso e que é necessária uma mudança na nossa forma de viver a fé. O papel da for-
mação e da vivência da fé não está sendo mais assumido pela estrutura familiar e a Igreja precisa se adaptar para assumir mais essa função. Como Igreja é preciso dar para o jovem justamente o que ele mais precisa: a presença cuidadora e amorosa de Deus em sua vida. Para tanto, torna se desafiante à criação e a consolidação de espaços que promovam a vivência da espiritualidade. Quando se fala em espiritualidade, torna-se importante esclarecer o termo, visto que pode ter visões bem diferenciadas. Por exemplo: para o filosofo Mário Sérgio Cortella, a espiritualidade está ligada ao sentido da própria existência. Na visão do teólogo Leonardo Boff, a espiritualidade liga o ser humano a Deus e à
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sua criação. Lutero conecta a espiritualidade com a doutrina da justificação por graça e fé, na qual ela se torna fundamental para a salvação do ser humano. A espiritualidade é a prática de vivenciar a fé, no caso da pessoa cristã, em Jesus Cristo, o Deus que se faz presente no cotidiano. É a espiritualidade que dá sentido à vida, tornando-a mais prazerosa e compartilhada. A espiritualidade faz com que o ser humano não resuma a sua fé e sua existência somente para a vida terrena, mas para a esperança gloriosa do Reino de Deus. Como diz o Apóstolo Paulo: “Se a nossa esperança em Cristo só vale para esta vida, nós somos as pessoas mais infelizes deste mundo” (1 Coríntios 15.19). Percebe-se que as novas gerações procuram viver sua espiritualidade, mas, muitas vezes, não conseguem alimentá-la com o conteúdo que as Igrejas oferecem. Isso faz com que os jovens valorizem mais os pensamentos filosóficos do que a doutrina cristã. Cabe à Igreja criar mecanismos que permitam a boa vivência da espiritualidade no seio da Comunidade, a fim de que a sede de conhecimento seja saciada com a fonte da água viva que é Jesus Cristo. Para compreender melhor a forma de vivência de espiritualidade dos jovens apliquei uma pequena pesquisa, em um Acampamento de Jovens no período do Carnaval, para que estes pudessem expressar suas experiências, seus conceitos e suas
expectativas de viverem a fé em Comunidade. Quando perguntados sobre a forma de viver e alimentar a espiritualidade, as pessoas jovens destacaram dois aspectos: a) A espiritualidade pessoal, focada na leitura da Bíblia e de devocionários, na prática da diaconia e na oração diária. b) A vivência comunitária da espiritualidade, especialmente nos espaços celebrativos e grupos de convivência, mais especificamente, Encontros e Retiros de jovens. Esses aspectos possibilitam um constante crescimento pessoal que leva cada pessoa ao crescimento na fé em Deus a partir de Jesus Cristo. As pessoas entrevistadas afirmaram que testemunham sua espiritualidade nas redes sociais, nos locais de trabalho, nas salas de aula, no serviço ao próximo e na convivência familiar. Destacam que é muito importante participar das atividades da Igreja, não só nas específicas para o público jovem, mas também nos espaços celebrativos com público de diferentes gerações. O Jovem procura ser protagonista dentro das comunidades de fé ocupando espaços de louvor, formação, gestão e serviço. Também gostam de estar inseridos em segmentos organizados da sociedade como clubes, associações e organizações não governamentais. Além disso, afirmam que testemunham a fé com posturas críticas e éticas no contexto em que vivem e convivem.
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Sobre o que afasta a pessoa jovem da vivência comunitária, evidenciouse que fatores internos, como a postura de lideranças que descriminam e impossibilitam o protagonismo juvenil, a falta de programas contextualizados, a grande valorização da tradição patriarcal, a falta de bom testemunho de lideranças e a desmotivação da própria família. Os fatores externos que mais afastam são as inúmeras opções de lazer, o individualismo, a pressão dos estudos e a necessidade de se afirmarem profissionalmente numa sociedade extremamente competitiva. Por outro lado, o que mais integra o jovem na comunidade é o encontro de uma Igreja aberta e acolhedora, os espaços de comunhão, o bom exemplo da família, as programações específicas para o público jovem, a criação de espaços de com-
partilhamento, a valorização de cada pessoa, a busca por conhecimento e a possibilidade de colocar em prática o protagonismo juvenil. Diante disso, surge o desafio da corresponsabilidade de interagir junto às nossas comunidades de fé a fim de criar meios e espaços para que a pessoa jovem tenha oportunidade de comunhão e espiritualidade. Dessa forma, sonhamos em ser uma Igreja contextualizada que vive alegremente o presente e semeia para um futuro promissor, no qual a presença de Deus seja mais constante na vida das pessoas. Para tanto, cada pessoa precisa ser o bom perfume de Cristo testemunhando e se empenhando na missão de Deus, motivando a leitura da Bíblia, a prática da oração e a vivência fraterna na comunhão de irmãos e irmãs em Cristo Jesus. O autor é Pastor da IECLB em Maripá/PR
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Estar presente para o outro de mãos vazias! Mas sempre estendidas... P. Dr. Daniel Hopfner
Atuo no serviço pastoral ecumênico do Hospital Moinhos de Vento (HMV), localizado em Porto AlegreRS, há aproximadamente 13 anos. Esta casa de acolhida e de cuidado completou recentemente 90 anos e tem como propósito “Cuidar de Vidas”. Neste espaço, desejo, prezado leitor e prezada leitora, compartilhar em breves linhas alguns sentimentos que tangenciam a minha caminhada ministerial e existencial. Ingressei no Serviço Pastoral deste Hospital como estagiário da então Escola Superior de Teologia, atualmente Faculdades EST, localizada em São Leopoldo/RS. Lembro-me que no meu primeiro dia de estágio fora acolhido com carinho, cordialidade e simpatia pelo pastor e amigo Ivo Lichtenfels – na época ele coordenava o Serviço Pastoral da instituição e após 33 anos de atuação neste Hospital ele se aposentou no final de 2014 –, assim como, fora carinhosamente acolhido pelas irmãs que atuavam e atuam na Pastoral. Jamais tinha visitado uma pessoa enferma internada num hospital. Portanto, estava literalmente nervoso e ansioso. Hoje em dia, costumo brincar ao afirmar que o meu estágio ainda não acabou, afinal, após 13 anos atuando na área da capelania
hospitalar, os aprendizados permanecem diários e constantes. Neste momento, lembro-me com carinho do meu orientador de doutorado – pastor e professor Lothar Hoch – que certa vez me disse: “Daniel, na Igreja de Jesus Cristo ninguém é dono da verdade!”. Aprendi e aprendo diariamente que a atitude de ir ao encontro de uma pessoa enferma compreende um ato marcado sempre pela humildade. Jamais pela imposição de determinadas verdades ou ideias. Jesus Cristo fora ao encontro das pessoas “cansadas e sobrecarregadas” de forma empática, compassiva e sensível. Não impôs, mas propôs! Com o passar dos dias, das semanas, dos meses e dos anos aprendi e aprendo que não temos respostas para tudo e todos. Aliás, sabemos muito pouco! Tenho poucas respostas, mas muitas perguntas. Não sei você, caro leitor e cara leitora? Todo caso, a vida humana – a jornada e a existência humana – é prenha de mistérios. E, como certa vez afirmou Leonardo Boff: “Um mistério a gente não desvenda, a gente degusta!”. Sim! Degustar a vida! Também a do outro que estamos visitando no seu leito hospitalar. Como? Quem sabe, acolhendo e cuidando do outro, bem como, deixando o outro ser outro.
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Afinal, nada mais desumano do que tratar pessoas diferentes de forma igual. Em outros termos, se para a sra. Maria a oração do pastor é terapêutica, para o jovem João – que está internado devido a um linfoma – ela é indesejável. Isto, todavia, não significa que a visita pastoral para o João seja dispensável. Certa vez, ao visitar uma pessoa ela me disse: “Pastor, a sua visita é bem-vinda, mas desde que não falemos de Deus”. Visitei o presente paciente inúmeras vezes, conversamos sobre muitos assuntos, entretanto, jamais religiosos. No dia da alta fui me despedir dele e ouvi dele a seguinte colocação: “Você sempre entrou no meu quarto de mãos vazias e me respeitou. Obrigado por isto! Tuas visitas foram muito importantes para mim!”.
Estar presente para o outro de mãos vazias! Mas sempre estendidas...
Estar presente para o outro de mãos vazias! Mas sempre estendidas...
Claro, lembrei-me de imediato do Salmo 23: “O Senhor é o meu pastor, nada me faltará... [também não me faltarão dores, sofrimentos e lágrimas] Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo... [o Emanuel, o Deus-Conosco na dor e na alegria contigo e comigo permanecerá] o teu bordão e o teu cajado me consolam... [também através dos anjos que Ele coloca em nosso caminho e na nossa caminhada existencial] Bondade e misericórdia certamente me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na Casa do Senhor para todo o sempre” [a dor, o sofrimento e a morte já não permanecem o nosso ponto final, pois,
No início de minha caminhada no HMV achava que tinha que ter na manga meditações e respostas prontas para tudo e todos. Frustrei-me inúmeras vezes, pois as respostas que eu achava que tinha não eram as respostas que o paciente buscava ou ansiava. Costumo brincar ao dizer que precisei fazer um doutorado na área da capela hospitalar para aprender a silenciar e a ficar quieto diante da pessoa enferma. Afinal, o que dizer diante de uma mãe em tratamento quimioterápico segurando em seu colo o seu jovem filho, este que acabara de receber um diagnóstico de leucemia?
Que linda a imagem de uma mão vazia, mas estendida! Numa viagem recente para Israel e à Jordânia chocou-me enxergar filas e mais filas de refugiados sírios em busca de uma mão vazia, mas estendida. Pessoas em busca de um novo lar, de um novo céu e de uma nova terra. Nesta mesma viagem, mais precisamente no monte Nebo, onde Moisés avista a Terra Prometida e, em seguida, morre, havia um jovem pastor de ovelhas. Não tinha cajado. Usava roupas muito simples e sujas. Entretanto, vigiava, guiava, sentia afeto e providenciava sustento e vida para o seu humilde rebanho de ovelhas. Ou seja, preenchia as quatro características bíblias de um Bom Pastor.
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mais fundo do que nas mãos de Deus nós não podemos estar ou cair. E estas mãos a nós sempre estão direcionadas e estendidas]. Estar presente para o outro de mãos vazias! Mas sempre estendidas... São Francisco de Assis certa vez disse: “Pregue o Evangelho em todo tempo. Se necessário, use palavras”. Preguemos o Evangelho em todo tempo, lugar e condição. Mas saibamos fazê-lo com humildade e sensibilidade, respeitando a condição bi-
ográfica e existencial das pessoas com as quais vivemos e convivemos, e, se necessário, usemos nossas bocas, sempre cientes, entretanto, de que mãos vazias, mas sempre estendidas são o advento de um novo céu e uma nova terra. Em outras palavras, são o início e o fim de toda e qualquer atitude que busque estar junto e cuidar do “cansado e sobrecarregado”. Que linda tarefa e vocação nós recebemos em nosso Batismo. Graças a Deus! O autor é Pastor capelão e coordenador do Serviço Pastoral do Hospital Moinhos de Vento em Porto Alegre/RS
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Estou doente! Crises de fé e fé como última esperança Vera Cristina Weissheimer
“Há um vazio no ser humano onde somente cabe Deus” (Agostinho).
mos dizer com os discípulos de Jesus: “Aumenta nossa pequena fé”.
O médico Bert Keizer começa o seu livro, Dançando com a morte, com o seguinte diálogo:
“Não desanimes ante uma batalha perdida. Resta-nos sempre a força da oração de onde nascem a esperança e um espírito de resoluta resistência”; aconselhava Martim Lutero. Crer é continuar enxergando caminhos e saídas, quando o mundo parece querer apequenar o horizonte. Crer é ter evidências sem evidências, Jesus andou sobre as águas. Deus falou com Moisés através de um arbusto em chamas. Abriu no Mar Vermelho uma passagem para que o povo pudesse passar. Fez seu filho nascer de uma mulher. Não buscamos comprovação para esses eventos, simplesmente cremos que são relatos de pessoas de uma fé tamanha que é capaz de transcender séculos e chegar até nós. E mais uma vez fazemos coro com Chicó, personagem de “O Auto da Compadecida”: “só sei que foi assim”. Para Gottfried Brakemeier, os milagres exigem um outro tipo de olhar que “proíbe confundir tais testemunhos de fé com depoimentos objetivos e científicos. Cabe buscar o sentido profundo por trás das narrativas e saber distinguir entre linguagem histórica e religiosa”. Ver ou não ver um milagre é também uma perspectiva. Para o físico Albert Einstein “há duas
– Doutor, por que estou doente? – A válvula do seu coração tem um vazamento. – É, mas por quê eu? – Espere, vou chamar o vigário. Há perguntas para as quais a medicina não tem resposta. Há perguntas para as quais ninguém tem resposta. Assim é a vida. O vigário também não terá as respostas, mas ele terá palavras de conforto. Porque, quando a ciência não tem mais o que dizer, a fé tem palavras que podem consolar, erguer e recolocar alguém na caminhada novamente. O físico Albert Einstein escreveu que “a ciência sem religião é paralítica, a religião sem a ciência é cega”. Não é bom que uma prevaleça sobre a outra. Quando isso acontece, nascem os fundamentalismos seja de um lado quanto de outro. Quando não sabemos mais nada, mas ainda somos capazes de crer, podemos, ainda assim, dizer: “vamos orar”, e colocar em oração nosso não saber, nossa falta, nossa fragilidade. Quando nos faltar a fé, então pode-
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formas para viver sua vida: uma é acreditar que não existe milagre. A outra é acreditar que todas as coisas são um milagre”. Hermann Hesse, filho de casal de missionários protestantes vivendo na Índia, descreve assim sua compreensão de fé, em sua obra “Minha Fé”: A fé, como eu a entendo, não é fácil de traduzir em palavras. Talvez possa ser assim expressa: Creio que, apesar do seu absurdo patente, a vida ainda assim tem um sentido; eu me resigno a não poder perceber este sentido com a razão, mas estou pronto a servi-lo, mesmo que para tal tenha que me sacrificar. A voz desse sentido, ouçoa em mim mesmo, nos instantes em que estou completa e verdadeiramente vivo e alerta. O que a vida exige de mim nesses instantes, quero tentar realizar, mesmo indo contra os padrões vigentes e as leis comuns. Ninguém pode ter essa crença sob imposição, nem se forçar a ela. Só se pode vivê-la. “Estou me sentindo no colo de Deus. Que sensação estranha! Será que vou morrer?”, disse-me um homem alto e forte, debilitado por tumores renais que o deixam pequeno em sua cama. Há realidades que simplesmente estão fechadas à pesquisa científica, escreve Brakemeier, que vai citando Adolf von Harnack para dizer: “A ciência pura é algo maravilhoso, e ai de quem a despreza. Mas, assim, como dois ou três mil anos atrás, também hoje não consegue respon-
der às perguntas pelo devir, pelo futuro e pela razão das coisas”. O marido de uma paciente pára em frente à minha sala e diz: “Me disseram que não há mais nada o que fazer. Mas eu sei que tem. Você pode orar comigo e minha esposa?” Ele sabia que não poderia trazer sua esposa de volta de sua vida entorpecida pela morfina. Mas sentia que podia fazer algo por ela e, por si mesmo: orar. Quando ela faleceu, o encontrei deitado na cama, ao lado da esposa, abraçando-a num longo abraço de despedida. Amar a Deus com todo o coração, com toda a alma e com todas as forças (Marcos 12.28), foi o cartão que me entregou antes de deixar o hospital com o corpo da esposa. Se Deus é em nossas vidas um instrumento moralizador, ou um objeto ao qual recorremos em emergências, então, corremos o risco de esperimentar profunda solidão. Se, ao contrário, ele se traduz em vida transformada e em amor que liberta, então estamos diante do Deus vivo. Marx e Freud concordaram e difundiram a ideia de Deus como uma compensação para nossas incompletudes. Sim – não lhes tiro a razão – há vazios onde somente Deus é capaz de entrar e caber. Há quem tente desmerecer a fé e a religião citando conhecida frase de Karl Marx: “religião é ópio do povo”. Esquecem-se, no entanto, de citar a frase toda: “A religião é o suspiro da criatura atormentada pela desventu-
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ra, é o coração de um mundo sem coração, como é o espírito de uma época sem espírito”. A fé que anestesia, não convoca para a vida. Uma fé saudável é a que tem lugar justamente para nosso suspiro de dor, e na dor mais profunda nos faz saber que é preciso passar por aquilo; não há como outra pessoa viver em nosso lugar o que nos é destinado a viver. Há dores que precisam ser vividas – mesmo que quase nos enlouqueçam – mas só assim conseguiremos ir adiante. Ernst Käsemann escreveu que “a teologia cristã rechaça a ilusão. Nem merece ser designada de teologia
cristã quando não persegue essa intenção. Pois o lugar do Evangelho é a realidade humana”. Sendo assim, a fé cristã que não convoca para a vida não é uma fé saudável. Uma fé saudável é a que tem lugar justamente para nosso suspiro de dor, e na dor mais profunda nos faz saber que é preciso passar por aquilo para nos curarmos da dor. Se não mexer com nossa inteireza então não é uma fé verdadeira. Fé é um jeito de ajuntar cacos e fazer um mosaico, diz Rubem Alves. Também é suspiro profundo de quem precisa “puxar ar” para conseguir novo fôlego.
Que a tristeza se desfie em versos de poesia. Que a desesperança esperanceie. Que a dúvida seja impulso para o atrevimento de crer. Que a loucura necessária não seja temida. É preciso de sandice para atrever-se nas coisas da fé. Lá onde os absurdos fazem sentido, e, apesar de todos os pesares, que possamos sentir, de todos os nãos que possamos ouvir, de todos os contrários que possamos enfrentar e dos vazios em que podemos cair, que a fé, ainda assim, seja nossa força de vislumbrar possíveis nos impossíveis. Trechos do Livro “Quando a vida dói”, com poesia inédita de Vera Cristina Weissheimer.
A autora é Pastora da IECLB e reside em Florianópolis/SC
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Família e Pós Modernidade X Violência e Uso de Drogas Marciano Tribess
Há alguns anos, quando ministrei num retiro para adolescentes, fui surpreendido com uma pergunta do nosso filho caçula, que com oito anos na época, me acompanhava na ocasião, em que falava sobre um determinado filme que havia assistido no vídeo cassete. Ele interrompeu a minha fala e me perguntou: pai, o que é um vídeo cassete? Foi então que percebi que podemos falar uma “língua” diferente da dos nossos filhos, ou netos. Meus filhos são da geração Y, chamados assim porque nasceram entre 1990 e 1999, época que os computadores começam a fazer parte dos eletrônicos de uma casa. Já os nascidos pós anos 2000, são conhecidos como geração Z, ou seja, sãos os jovens de hoje, e a principal característica desta geração é ser intimamente ligada à tecnologia, também conhecidos como nativos digitais. Vivemos em um tempo em que as últimas gerações de famílias, foram e são construídas por conceitos pósmodernos, que são inconstantes, facilmente alteráveis, ou seja, o que é hoje, pode não ser mais amanhã, dáse um ‘PLAY AGAIN (restart) no jogo e o personagem que acabou de ser morto, que é o próprio jovem, volta à vida. Pensamento este que Zygmunt Baumann teorizou no livro: “Modernidade Líquida”. Estas gera-
ções passaram a ser alimentadas pelos sistemas midiáticos: rádio, televisão, internet e pelas ideologias dos que manipulam estes mecanismos de comunicação. Assim, interferindo diretamente na instituição família, nas funções maternas e paternas, abalando todo o sistema familiar, que há milhares de anos, sem muitas mudanças de uma geração para outra, mediavam costumes e tradições passadas de uma geração a outra. Este tempo moderno, proporcionou para a família um deslocamento histórico, no qual o humano não consegue se encontrar. Aquele humano que historicamente tinha objetivos claros como: brincar, crescer, trabalhar, casar, ter filhos, fazer parte de uma comunidade religiosa; neste novo mundo passa a ser questionado. Portanto, o que antes era certo, agora é substituído pela dúvida, por diversas possibilidades além daquela anteriormente instituída. Podem existir e coexistir diversas opções, as quais podem ser adquiridas instantaneamente após a “compra”. Ou seja, a regra é, tem que ter dinheiro, ou melhor, “cartão de crédito”, para comprar e participar dos momentos de prazer e de alegria, tendo total liberdade e possibilidade de usufruir desta maneira como melhor lhe con-
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vêm. Isto exige do ser humano moderno constantemente novas compras, criando um ciclo permanente de sucessivas tentativas de comprar o sentido da vida. Assim um emaranhado de ideias são propostas diariamente à família contemporânea, criando um conflito existencial, como se suas vidas fossem uma arte feita de diversos fragmentos de “imagens” modernas. A partir desta análise da família contemporânea se percebe a importância da mesma ser liberta da “psicose” moderna que a tem afastado da realidade, onde ela passa a viver, ou a existir a partir de ideias impostas pelo sistema tecnológico e mercadológico, que a transforma num consumidor em potencial. Na qual a família necessita como na forma de uma dependência: consumir, consumir e consumir, gerando um “mal estar”. O qual, numa tentativa frustrada busca-se amenizar esta carência, com mais consumo de medicamento, alimento, aparelhos de segurança eletrônica, planos de saúde, planos funerários, seguro do carro, da casa, etc. E quando não se tem dinheiro, para manter tudo isso que é apresentado no mundo moderno como bem estar (vida plena), facilmente se abre portas para novas tentativas de amenizar a dor do “não ter”, do “não ser”, e isso pode se dar, através do alívio ilusório do álcool, das drogas (ou até mesmo da criminalidade, violência), que na verdade se apresentam como alternati-
vas ainda que ilusórias para “ser” e “ter”. Havia uma época que os jovens gastavam a sua energia intrínseca estimulada pelo hormônio masculino, testosterona, ou feminino, estrogênio, com atividades as quais eram repassadas pelo pai, mãe, tio ou tia, avô, avó. Os meninos e meninas andavam de bicicleta, jogavam bola, caçavam com bodoque, arapuca, pescavam, desciam ladeiras com carrinho de rolimã, subiam em pés de goiaba, ameixa, tangerina, jabuticaba, manga, araçá, e mesmo os que moravam na cidade não viam a hora de ir para a casa da vó ou tia do interior para poder brincar livremente. Nos tempos modernos todas estas atividades foram substituídas pelos jogos virtuais, nos quais o jovem está sentado diante de um ou mais monitores e movendo pouquíssimos músculos do corpo. E devido a toda aquela energia que continua sendo gerada, sem ser consumida, temos um enorme número de crianças sendo diagnosticadas com TDAH - Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Bem! A pergunta deve ser: o que fazer Marciano? Isto não é fácil de ser respondido, para ser sincero não sei se há uma resposta, mas me arrisco algumas observações. Sou um estudioso da Pedagogia, Teologia e Psicanálise. Acredito que precisamos ensinar os adultos a adaptar seus ouvidos para escutarem o que as crianças estão dizendo em silêncio.
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Quando gritam, quebram, batem se cortam estão antes de tudo chamando a atenção, e talvez estejam gritando: por favor, me amem, mas, não amar com presentes, viagens, shopping centers, vídeo games, celulares etc. Percebo que os jovens estão precisando simplesmente do olhar da mãe e do pai. Parece muito simples, mas, neste olhar existe um profundo mistério, chamado relacionamento familiar, e que tem poder de curar, de prevenir e de instruir. E lógico que estou falando de um olhar que vai além de simplesmente ver pessoas. Estou falando de enxergar a pessoa, seus desejos, angústias, alegrias, medos, sonhos, a tal ponto que ele sabe que é vista e amada, não porque isso lhe é dito com palavras produzidas com os sons que saem da
boca do pai e da mãe, mas porque este amor está intrínseco em todos os atos, até mesmo, na bronca e no cantinho da disciplina. Mas talvez você que está lendo, pode estar pensando: este é o mundo perfeito Marciano, na vida real não é assim, temos crianças sem pais, ou de pais separados, ou, ou, ou. Entenda! Todas as pessoas precisam ser amadas, todas as crianças precisam ser amadas, e se isso não pode ser feito pelo pai e mãe por inúmeras situações, elas podem ser amadas por mim e por você. Jesus resumiu todo um aprendizado bíblico em dois mandamentos: “Ama a Deus acima de todas as coisas e ao teu Próximo como a ti mesmo”. A violência nada mais é do que a ausência de amor. O autor é Professor, Pedagogo, Especialista em Dependência Química e Mestre em Teologia , reside em Blumenau/SC
Referências: BAUMAN, Zigmund. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Editora, Zahar, 2001. NOUWEN, Henri J. M. O sofrimento que cura: por meio de nossos próprios ferimentos, podemos nos tornar fonte de vida para o outro. São Paulo: Editora, Paulinas, 2001. BÍBLIA de Estudo Despertar. Nova Tradução na Linguagem de Hoje. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2005.
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Fé: de criança a cristão adulto – Uma história real Gilberto Raul Zwetsch
Quanto tempo dura a fé? A partir de que momento e idade alguém consegue professar a sua fé? Martim Lutero já dizia: “Um dia pode ser longo demais para o tamanho da sua fé”. Isto porque a fé não é obra humana, mas é graça de Deus, que nasce e cresce nos corações daqueles que ouvem a Palavra de Deus e nela confiam. Com isso podemos ver o quanto a Igreja é fundamental, por meio de sua pregação, para despertar a fé desde a infância tenra e alimentá-la até o fim de seus dias. Sempre que posso, falo, com alegria, que nasci dentro de uma igreja luterana. Por uma razão muito simples. Minha família participava ativamente da vida comunitária. Meu vovô Ervino, pai de minha mãe é nosso maior exemplo. Com ele convivemos mais do que com o avô paterno, vovô Carlos, que também era luterano e participava da comunidade em Campo Bom/RS, onde morava. Morávamos em Canoas/RS e o vovô Ervino foi um dos idealizadores e contribuintes que ajudou na construção da igreja que lá está até os dias de hoje. Fez parte do presbitério. Minha vovó Elsa participava da OASE. E com esta maneira de viver, meu pai quando começou a namorar minha mãe, noivar e casar, foi conduzido pelo seu sogro para o seio da
igreja. Minha mãe Iracy, conta até hoje, que minha vovó Elsa, fazia questão dela participar da OASE, mesmo que tivesse a casa e cinco filhos para cuidar. Segundo minha vó, a OASE é um ambiente onde minha mãe iria receber ajuda quando precisasse, além de receber os ensinamentos cristãos. Então, como ficar fora deste ambiente com todos estes exemplos de vida comunitária, de participação ativa na igreja? Impossível. Ou seja, quando eu nasci, este era o terreno fértil onde minha vida de fé teve início e foi cultivada, firmando-se cada vez mais no Senhor, nosso Deus e Pai. Na sequencia de nossa vida familiar, meu pai sempre buscando novos horizontes e por melhores condições de vida à sua família, mudava de cidade, tanto que nos denominamos de nômades. Assim, saímos de Canoas/RS para Caxias do Sul/RS, depois para Curitiba/PR, após para Joinville/ SC. Voltou para Osório/RS, onde se aposentou, e retornou para Joinville/SC, até seu falecimento. Em todos estes lugares, o primeiro contato sempre foi procurar a igreja luterana, inscrever-se como membro contribuinte e participar ativamente da vida comunitária: cultos, coral, OASE e presbitério. E para nós, filhos
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e filhas, coube participar na Escola Dominical (Culto Infantil), na Juventude Evangélica. Como consequência desta vivência cristã, meu irmão mais velho, Roberto, tornou-se teólogo e minha irmã Liane, Catequista. E onde eu estou inserido na história desta família e de nossa igreja luterana? Como disse no início, me criei dentro da igreja, com todos estes exemplos de vida cristã. Minha vida na igreja iniciou na Escola Dominical, na Doutrina com o P. Heinz Ehlert e na Juventude Evangélica, onde fui líder por muito tempo. Em nosso grupo de jovens conheci minha esposa Márcia. Temos uma filha - Pollyana, um filho - Marcello, um genro – Diogo e duas netas, as gêmeas Laura e Marina. No tempo da Juventude Evangélica (JE), tive o privilégio de participar de muitos cursos que a igreja oferecia. Tínhamos o Pastor Martin Hiltel como responsável pela JE à nível nacional. Na maioria das vezes, eram cursos de liderança. Com estes cursos pude em minha vida particular e profissional utilizar os conceitos de liderança baseados e firmados na fé cristã. E pude vivenciar de perto esta possibilidade de trabalhar e liderar pessoas na vida profissional, baseado na fé. Trabalhei com meu pai, e até hoje quando encontro seus exfuncionários, ele é lembrado como um homem correto, justo, humilde e de muita fé. Meu pai não escondia sua fé, muito pelo contrário, procu-
rava vivenciá-la no local de trabalho. São frutos que nunca se acabam, pois as pessoas reconhecem e por isso procuram agir de igual forma. E eu estou neste mesmo caminho. Não consigo me esconder daquilo que tenho total segurança. Afirmar que creio em Deus e que ele dirige a minha vida, com todos os pecados e defeitos, inerentes a cada um de nós. Na JE, fui convidado pelo Catequista Ivan Renner a fazer um programa de rádio em seu lugar, pois ele tinha retiro com os jovens e não poderia estar na rádio. Em virtude de que nunca neguei experiências novas, novos desafios, aceitei de imediato, sem saber sequer o endereço da rádio, muito menos o que era um microfone. Esta experiência de um dia na rádio, se tornou um trabalho voluntário há mais de quarenta anos. Fiz os programas vinculados a CEJ-UP e em Julho de 2007 iniciei o Programa Castelo Forte, por mim criado. Este programa vai ao ar todos os sábados às 14 horas na Rádio Arca da Aliança AM/1480, em Joinville/SC, simultaneamente para a mesma rádio em Blumenau/SC – AM/1260. Tenho no programa a parceria e o apoio do P. Jerry Fischer, que está em todos os programas com a Reflexão do Dia. Participo, desde que cheguei a Joinville, da Paróquia Cristo Bom Pastor. Integro o presbitério e já atuei como presidente. Participei como Secretário e Presidente da Comunidade Evangélica de Joinville – União Paroquial (CEJ-UP). Minha
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esposa foi presidente da OASE na paróquia e no Núcleo JoinvilleSínodo Norte Catarinense. Este relato é a história de uma vida. E toda esta história, de quem é o mérito? A quem devemos dar o crédito? Eu não tenho dúvida. Com todos os exemplos aqui descritos, com toda esta vivência, só pode ser a mão de Deus. É ele que nos conduz. Somos instrumentos de Deus neste mundo, pois aqui somos passageiros. Recebemos tudo de Deus, de forma graciosa e esta é uma forma de testemunhar este grande amor e cuidado de Deus. Podemos e devemos dizer: - Me leve aonde desejares, pois estou aqui para te servir! No Evangelho de Mateus 19.13-15 é contada a história de Jesus e as crianças. No versículo 14, Jesus disse: “Deixem que as crianças venham a mim e não as proíbam, porque o Reino do céu é dos que são como estas
crianças”. Ou seja, que sejamos como as crianças que aceitam Jesus como seu Senhor e Salvador, pela fé, tornando-se dependentes do seu amor. Voltando à pergunta inicial: É possível a fé ser duradoura, desde a infância até a vida adulta? Creio que sim, apesar de a criança não ter todo o entendimento e a dimensão do que é ter fé, pois a cada dia, Deus vai alimentando-a através da oração, da leitura da Bíblia, das devoções diárias, da vida comunitária, cultos e grupos de atividades. E para dar continuidade a esta história, me alegro que meu genro faz parte do presbitério e minhas netas estão no Culto Infantil. E assim o ciclo vai se renovando sempre de novo. Que Deus me oriente e me guarde na minha pequena fé, para que possa continuar a ser Seu instrumento na família, na comunidade e na sociedade. Que assim seja. O autor é presbítero da IECLB em Joinville/SC
Para meditar! Todas as manhãs, na África, a gazela acorda e sabe que terá que correr mais do que o leão, para não ser alcançada e morta. Todas as manhãs, na África, o leão acorda e sabe que terá de correr mais rápido do que a gazela, para não morrer de fome. Portanto, não importa se você é o leão ou a gazela, quando o sol nascer é melhor começar a correr!
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Ficar velho é obrigatório, crescer é opcional Autor desconhecido
No primeiro dia de aula nosso professor se apresentou aos alunos, e nos desafiou a que nos apresentássemos a alguém que não conhecêssemos ainda. Eu fiquei em pé para olhar ao redor quando uma mão suave tocou meu ombro. Olhei para trás e vi uma pequena senhora, velhinha e enrugada, sorrindo radiante para mim, com um sorriso que iluminava todo o seu ser. Ela disse: – Hei, bonitão. Meu nome é Rosa. Eu tenho oitenta e sete anos de idade. Posso te dar um abraço? Eu ri, e respondi entusiasticamente: – É claro que pode! – e ela me deu um gigantesco apertão. – Por que você está na faculdade em tão tenra e inocente idade? – perguntei. Ela respondeu brincalhona: – Estou aqui para encontrar um marido rico, casar, ter um casal de filhos, e então me aposentar e viajar. – Está brincando – eu disse. Eu estava curioso em saber o que a havia motivado a entrar neste desafio com a sua idade, e ela disse: – Eu sempre sonhei em ter um estudo universitário, e agora estou tendo um! Após a aula nós caminhamos para o prédio da união dos estudantes, e
dividimos um "milk-shake" de chocolate. Tornamo-nos amigos instantaneamente. Todos os dias nos próximos três meses nós teríamos aula juntos e falaríamos sem parar. Eu ficava sempre extasiado ouvindo aquela "máquina do tempo" compartilhar sua experiência e sabedoria comigo. No decurso de um ano, Rosa tornouse um ícone no campus universitário, e fazia amigos facilmente, onde quer que fosse. Ela adorava vestir-se bem, e revelava-se na atenção que lhe davam os outros estudantes. Ela estava curtindo a vida! No fim do semestre nós convidamos Rosa para falar no nosso banquete de futebol. Jamais me esquecerei do que ela nos ensinou. Ela foi apresentada e se aproximou do pódio. Quando ela começou a ler a sua fala preparada, deixou cair três das cinco folhas no chão. Frustrada e um pouco embaraçada, ela pegou o microfone e disse simplesmente: – Desculpe-me, eu estou tão nervo-
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sa! Parei de beber por causa da Quaresma, e este uísque está me matando! Eu nunca conseguirei colocar meus papéis em ordem de novo, então me deixe apenas falar para vocês sobre aquilo que eu sei.
habilidade. A ideia é crescer através de sempre encontrar oportunidade na novidade. Isto não precisa nenhum talento ou habilidade. A ideia é crescer sempre encontrando a oportunidade de mudar.
Enquanto nós ríamos, ela limpou sua garganta e começou:
– Não tenha remorsos. Os velhos geralmente não se arrependem daquilo que fizeram, mas sim por aquelas coisas que deixaram de fazer. As únicas pessoas que têm medo da morte são aquelas que têm remorsos.
– Nós não paramos de amar porque ficamos velhos; nós nos tornamos velhos porque paramos de amar. Existem somente quatro segredos para continuarmos jovens, felizes e conseguindo sucesso. Você precisa rir e encontrar humor em cada dia. Você precisa ter um sonho. Quando você perde seus sonhos, você morre. Nós temos tantas pessoas caminhando por aí que estão mortas e nem desconfiam! Há uma enorme diferença entre ficar velho e crescer. – Se você tem dezenove anos de idade e fica deitado na cama por um ano inteiro, sem fazer nada de produtivo, você ficará com vinte anos. Se eu tenho oitenta e sete anos e ficar na cama por um ano e não fizer coisa alguma, eu ficarei com oitenta e oito anos. – Qualquer um consegue ficar mais velho. Isso não exige talento nem
Ela concluiu seu discurso cantando corajosamente "A Rosa". Ela desafiou a cada um de nós a estudar poesia e vivê-la em nossa vida diária. No fim do ano Rosa terminou o último ano da faculdade que começou há todos aqueles anos atrás. Uma semana depois da formatura, Rosa morreu tranquilamente em seu sono. Mais de dois mil alunos da faculdade foram ao seu funeral, em tributo à maravilhosa mulher que ensinou, através de exemplo, que nunca é tarde demais para ser tudo aquilo que você pode provavelmente ser. Colaboração de Loni D. Wilbert, Catequista emérita da IECLB em Florianópolis/SC
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Flashes Elfriede Rakko Ehlert
À margem da rua Quase não falo. Tenho um aspecto que não chama muita atenção. Moro numa rua tranquila. As pessoas que passam, às vezes olham e abanam para mim. Será que acham que sou um bobo preguiçoso? Será que sou isso mesmo? Talvez também olhassem para um monte de lixo, telhas quebradas, pedaços de tábua, enfim aqueles cacarecos que alguém deveria retirar. Um dia desses, decidi: vou separar tudo bonitinho. Assim eu fiz. Um monte para galhos, outro, para tijolos e telhas, e assim vai. Levei alguns dias e que milagre: uma caçamba levou tudo. Sobrou um belo espaço, mais ou menos plano. Tive uma ideia: plantar grama. Preparei a terra, arranjei mudas, daquela grama antiga, não a coreana, que depois toma conta de tudo. Foram algumas manhãs e tardes de trabalho. O sol ardendo na minha cabeça e também nas plantinhas. Mas graças a Deus: antes da grama secar completamente, choveu. Fui perguntado pelos transeuntes, se também plantaria flores. Disse que não, a grama basta. Admirei a minha obra. Um casal passou outra manhã e também gostou do resultado do meu trabalho. Tive outra ideia: vou pintar o portão para não enferrujar mais do que já está. Até no domingo pintei. Logo ficará pronto.
Sou uma pessoa que parece um pouco bobinha. Será que não é só um preconceito a respeito de mim? A minha tarefa constante é agora tirar as ervas daninhas. E vou dar conta! Conversando com o ninho Fazendo a nossa caminhada matinal, veja o que está no meio do caminho! Um ninho, bem conservado, intacto. Ninguém pisou nele. Caiu. Já havia concluído a sua tarefa. Fiquei conversando com este ninho. Ele falou o seguinte: eu caí, porque uma tempestade me derrubou. Ainda bem que já estava vazio. Lembrome muito bem, como fui construído. Um pássaro sobrevoou a árvore, observando todo o ambiente até escolher um lugar bem tranquilo e seguro. Daí ele começou a trazer galho após galho, adaptando um ao outro. Eu ia me sentido cada vez mais importante. Como vai continuar? Para eu ficar cada vez mais fofo, o pássaro trouxe só coisas macias. Até algodão achou. O que vai acontecer agora? Uma fêmea, acredito, sentou e botou ovos. Agora sabia da minha utilidade: abrigar ovinhos. Mas ainda não era o fim. Depois de a fêmea sentar por longo tempo, saíram filhotes. O pai pássaro também teve participação na construção e agora na alimentação.
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Não sou muito bom em calcular o tempo, mas um dia os filhotes aprenderam a voar. Foram embora e eu fiquei abandonado. Cumpri a minha missão. Agora sei para que serve um ninho. O lugar tem que ser bem escolhido, os filhotes protegidos até que conseguem se virar sozinhos na vida. E a libelinha? “Moro num dos lugares mais frios do Brasil, a uma altitude de 1.822 metros. Felizmente era verão e muitos turistas de todo o Brasil vinham lá em cima. Apanhei uma libélula – que bom que tinha bastante água, onde as libélulas brincam. O que vou fazer com ela? O que eu vou fazer com o bichinho – vou levar para os filhotes ou vou para um lugar sossegado para saboreá-la? Mas tanto carro, tanta gente por aqui! Vou achar um lugarzinho para degustar a minha comida. Sabe o que? Vou voar bem longe nesta paisagem paradisíaca, chamada ‘Morro da Igreja’. E a coitada da observadora humana nunca soube o destino daquela libélula – quer dizer: ser comida num lugarzinho em paz.”
Uns morrem para que outros tenham o que comer. Sou um galho seco Sou um galho seco. Não sirvo mais para nada. Mas o que é servir? Já fui um galho verde, ligado a um tronco, onde os pássaros se abrigavam, namoravam, construíram seus ninhos, criaram passarinhos, cantando e encantando. Sou galho, continuo galho. Ninguém vai tomar o meu lugar, nem tomá-lo de mim. Os galhos mais novos têm todo meu respeito, pois fazem parte de uma natureza maravilhosa de revezamento do eterno vaivém. Amarelo, rosa e roxo. Os pássaros me acham até procurando pequenos bichos que se instalaram no musgo cinza ou de um verde lindo e intenso, guardando a umidade da noite para os bichinhos deliciarem, quando o sol sai ardendo. Galho seco, sim, mas inútil nunca! Bichos, galhos, pedras – até humanos! Todos têm seu valor, embora os humanos se considerarem superiores. Tomara, então, que assumam maior responsabilidade! A autora é professora emérita e artista plástica, reside em Curitiba/PR
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Palavras cruzadas 2 P. em. Irineu Wolf
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História da maçã através dos tempos Ivo Boutin
A história da maçã é muito bonita e interessante e vem acompanhando as gerações desde os tempos mais antigos. Tem-se registro que a maçã esteve presente no antigo Egito, Israel e o imperador Alexandre o Grande também a conhecia segundo o registro dos estudiosos. Mas o que realmente sabemos de concreto sobre a maçã é que é uma fruta que tem sua origem na Ásia Central. Na sua forma nativa é uma fruta de pequeno porte, não muito maior do que uma batatinha, e dizem que esta fruta ainda existe em sua forma original na região citada. Com o passar do tempo a maçã original foi passando por um processo de melhoramento genético atingindo novas características e qualidades
que fazem dela uma das frutas mais bonitas, saborosas e também consumidas, qualificando-a como uma fruta de preferência mundial. No Brasil está em terceiro lugar na preferência do consumidor, sendo liderado pela banana. Também num conceito errôneo, dizem vulgarmente que a maçã foi a fruta que Adão e Eva comeram no Paraíso de Deus, mas é uma interpretação errônea. A Bíblia não cita a maçã, mas em Gênesis 3.3 cita o fruto da árvore que fica no meio do jardim, e esta má interpretação surge por causa do nome científico da maçã Malus domestica, interpretado como alguma condição de maldade ou mal, daí a razão deste fato mal interpretado. A maçã é da família das
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ceiro ano a árvore produzia poucas frutas, por razões de manejo e falta de conhecimento técnico.
Rosáceas, riquíssima principalmente em vitaminas B1-B2, que combatem e previnem uma série de doenças. Nos Estados Unidos há um ditado muito popular que diz “Coma uma maçã por dia e deixe o seu médico distante” (em inglês, rimando: “Eat an Apple a Day and keep your doctor away”). O clima é fator essencial para o cultivo da maçã, pois é uma fruta de clima temperado e invernos frios. Todas as frutas de clima temperado como mação, pêssego, ameixa, etc, necessitam a dormência da planta no inverno e o frio com temperatura abaixo de 7 graus e um total de horas de frio podendo variar entre 100 horas até 1.500 horas dependendo de cada planta e variedade, isso é um processo bem complexo e tem que ser bem estudado e orientado quando da implantação de um pomar. A maçã chegou ao Brasil pelos europeus no passado e foi cultivada abertamente sem qualquer orientação técnica, tudo a nível rudimentar. A produção acontecia principalmente nos primeiros anos, mas logo no ter-
Tem-se registro que houve uma primeira tentativa de se estabelecer um pomar de maçã no Brasil no início do século passado no Estado de São Paulo e em Minas Gerais, nas regiões mais frias, mas tudo sem sucesso. Por longos e longos anos o Brasil dependia inteiramente da maçã importada, principalmente, argentina, para atender nosso mercado consumidor e foi assim até na década de 1960 e início de 1970 quando foram dados os primeiros passos para o plantio da maçã em escala comercial no Brasil. Para ser bem objetivo isso aconteceu por iniciativa de pessoas determinadas que tiveram visão empresarial. Na década de 1960 ocorreu grande e radical mudança com o início da pomicultura (produção de maçã) em escala comercial no sul do país e nas regiões de clima favorável. Por louvada iniciativa dos irmãos Frey, radicados em Fraiburgo, Santa Catarina, que motivou um grupo de técnicos franceses ao Brasil para desenvolver projeto pioneiro de frutas de clima temperado, e direcionado principalmente ao cultivo de maçã. Os técnicos eram originários da Argélia que estava sob o domínio da França e trabalhavam naquele país na área de fruticultura. Com a independência política da Argélia, vieram muitas mudanças de ordem social, mesmo para os próprios franceses que já estavam se radicando no país
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há várias gerações, especialmente aos proprietários rurais, daí a necessidade de buscar novas oportunidades. No Brasil entre os diversos profissionais que chegaram, tive a oportunidade de conhecer o Sr. Rogeau Beau, grande conhecedor e estudioso da pomicultura, que me contou suas experiências aqui na implantação dos pomares. Por exemplo, foram feitos inúmeros campos experimentais com dezenas de variedades de macieiras, sem ter certeza de qualquer resultado, isso é, encontrar uma variedade adaptável à região. Mas quem busca acha, e depois de muita persistência foi encontrada a “Gala” uma fruta de origem da Nova Zelândia que atende as principais exigências tanto para o produtor
como para o consumidor. Tem boa adaptação ao nosso clima, é produtiva, bonita de cor vermelha e muito saborosa e com ótima aceitação. A segunda variedade que também é bem qualificada em nosso mercado é a maçã “Fuji” de origem japonesa, mas a sua introdução e desenvolvimento foi através de um projeto à parte por iniciativa de um agrônomo japonês, cientista PHD – Dr. Kenshi Ushirogawa e a Estação Experimental de São Joaquim, Santa Catarina. Foi trabalho magnífico que envolveu muita pesquisa e que culminou com sucesso e consolidou essa variedade no mercado nacional. Hoje tanto a Gala como a Fuji são duas variedades que lideram em aceitação pelos consumidores.
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De importador o Brasil é atualmente grande exportador de maçã, principalmente para o mercado europeu e o volume exportado vem em ritmo crescente. O índice de consumo anual no Brasil é de aproximadamente 5 kg per capita ao passo que nos países desenvolvidos é em média 25 kg, mas atinge até 40 kg, como a Áustria e Suíça, por isso, ainda temos muito a crescer à medida que a renda da população aumente.
se consolidando no Brasil com o domínio da tecnologia, as práticas culturais e formação técnicas, a cultura foi crescendo e abrindo muitas frentes em muitas regiões. Isto trouxe um enorme progresso e desenvolvimento econômico, exemplo disto temos: Fraiburgo, São Joaquim, Vacaria como as principais, fora inúmeras cidades menores na região Sul onde o clima é favorável a cultura da maçã.
Atualmente a atividade envolve muitos milhares de pessoas direta e indiretamente que é uma parcela ponderável da economia.
Para finalizar pensemos um pouco de como uma iniciativa simples e responsável como a dos irmãos Frey lá no passado distante trouxe tanto progresso e desenvolvimento ao país e seus benefícios à população.
Existe uma entidade chamada Associação Brasileira dos Produtores de Maçã, sediada em Lages, SC que atende os interesses ou representa os produtores de maçã junto às autoridades federais. À medida que a cultura da maçã foi
É um exemplo a ser seguido, nosso país é muito grande, temos tantas frentes e oportunidades, temos que ficar atentos pelas oportunidades que surgem para agir. O autor é empresário, da Boutin Fruticultura, com sede em Porto Amazonas/PR
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História para crianças P. em. Heinz Ehlert
Um menino da roça e suas experiências
zer coisas melhor. Ler, pensou consigo o Harold.
Era uma vez um menino chamado Harold. Harold, um menino da roça, gostava de brincar com os meninos da vizinhança aos domingos. Isso, porque a irmã e o irmão mais velho lhe sugeriram que um menino da sua idade (tinha, então seus oito anos) deveria ter amigos e brincar com eles. Ele preferia ficar em casa e ler. Tinha tantos livros interessantes do avô: calendários, contos etc.
Dia desses o pai chegou em casa dizendo: – Um amigo nosso ofereceu um filhote de cachorro. A cachorra deu cria e agora estão na idade de desmamar. Não podem ficar com todos, por isso querem doar um.
Os amigos lhe mostraram o que é caçar. Armados de “funda” (estilingue) iam atrás dos passarinhos. Harold também conseguiu fabricar uma com ajuda do irmão mais velho. Custou, mas deu. Alvo fácil seriam os bandos de passarinhos que atacavam os pés de tangerina. Mas não era bom atirador. Servia mais para espantar. Dia desses o seu pai descobriu que o menino andava “armado”. Logo lhe passou um “sermão”. Explicou: – Os passarinhos são muito úteis. Eles comem as larvas e bichinhos que estragam as frutas. Os passarinhos são nossos amigos, não se deve matá-los. – Mas são tantos e comem muitas frutas, Harold retrucou. – Mas já diminuíram muito. E só por causa do gosto de caçar muitas espécies já foram extintas. Tem caçadores demais. A gurizada podia fa-
– Você quer um? Perguntou o pai ao Harold. – Só para mim? Ah, eu quero muito. – Mas não é só ter para brincar. Deve cuidar dele, dar comida e educar para ser útil. – Eu cuido, sim, prometeu. Sei como se faz para ensinar. Os cachorros grandes também vão ajudar. Que festa foi quando o cachorrinho chegou! Era de cor bege com algumas manchas brancas. Uma carinha inocente. Logo quis lamber o rosto, quando colocado nos braços do Harold. Este até tinha escolhido um nome para ele: chamar-se-ia “Lucky”. Logo trouxe uma tijelinha com leite e o Lucky se lançou sobre a tigela com muito apetite. Depois o soltou diante dos cachorros grandes, o Mópi e o Hector. Coitado, ficou com medo e se encolheu todo. Os dois o cheiraram curiosos, mas logo se desinteressaram. O pequeno, porém, ficou muito interessado e logo quis começar a brincar. Mas os grandes se retiraram indig-
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nados. O que fazer com um “projeto” de cachorro? Não era com eles. Harold teve pena dele e o acolheu nos braços. Certo dia, o pai chegou com essa notícia, na mesa do jantar: – Prestem bem atenção! Sua mãe e eu já decidimos. Vamos nos mudar daqui para a cidade. Já está tudo organizado. No primeiro tempo vamos para uma moradia alugada. Também já consegui emprego numa firma de construção. Sempre gostei de trabalhar com isso. O trabalho na roça não rende mais. E vocês crianças, vão ter uma escola melhor. Já encaminhei tudo, transferência, matrícula, tudo. A escola fica bem pertinho de casa. Não precisam nem de ônibus. Os filhos estavam perplexos. Só se entreolharam incrédulos. – Mas o senhor nunca nos falou antes, disse o Carlos, o irmão mais velho. – E todos os nossos bichos. O que vai ser deles? Perguntou a Célia, a irmã. – Mas o Lucky vai junto, né? Perguntou o Harold. – Não se preocupem. Os bichos vão ser vendidos. Em parte já negociei com os vizinhos. Os cachorros, vamos levar. E do Lucky você tem que cuidar. Não se lembra? Foi uma mudança pra valer. Em todos os sentidos. Os filhos ficaram apreensivos, cada qual com seu próprio medo, especialmente porque a mãe enxugou furtivamente uma lá-
grima, como a Célia havia observado. Também ainda demorou até chegarem ao novo ambiente. Era tudo diferente. Tanta coisa nova para aprender e se acostumar. Lá na escola, o Harold foi muito bem recebido pela professora. Parecia bem simpática. Apresentou-o à classe e pediu que o acolhessem como amigo e o ajudassem a se integrar. – Ele vem da roça e precisa muito de vocês para se acostumar aqui. Conto com a compreensão de vocês! – Então é um “caipira” – cochichou um deles aos colegas. Pronto! Logo tinham um apelido para ele. E Harold escutou preocupado. Será que isso poderia acabar bem? No recreio foi aquela algazarra. Todos correndo para o grande pátio ou para o galpão coberto. Logo alguns meninos se aproximaram do novo, do Harold, perguntando: – Você joga futebol, caipira? Precisamos de alguém no nosso time. Harold não gostou do “caipira”, mas ficou satisfeito com a pergunta. – Claro, gosto muito. E lá foi ele. Lá na escola da roça ele era considerado “craque”. Ia mostrar o que sabia. A experiência do primeiro dia foi muito positiva. Isso iria ajudá-lo muito a se acostumar ao novo ambiente. O autor é Pastor Emérito da IECLB e reside em Curitiba/PR
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Histórias de vida – Testemunhos de fé P. em. Friedrich Gierus
Como descobri que os “Grandes” também não dizem sempre a verdade Aconteceu no mês de agosto de 1945. Uma semana depois do nascimento da minha irmã. Eu estava fora de casa brincando com um pedaço de pau que na minha imaginação era um caminhão. Estava muito concentrado, pois o “caminhão” carregava muita lenha. De repente, pertinho de mim, dois sapatos de um soldado americano. Não vi ele se aproximar, nem escutei seus passos. Eu me assustei muito, fiquei totalmente estarrecido. O soldado era um negro. Que horror! Pois, como crianças, no fim da Segunda Guerra, fomos instruídos de que os americanos são nossos inimigos e é melhor não procurar a amizade deles. Mas não só isso. Fomos convencidos de que os soldados negros são mais perigosos ainda. Eles devoram crianças! O leitor pode imaginar o tamanho do susto que levei quando o soldado negro não somente se aproximou de mim, mas se ajoelhou e deu aquele sorriso, mostrando seus dentes brancos. Mas este sorriso não tinha a caraterística de maldade, nem de inimigo. Continuando sorrindo, este soldado americano passou sua mão na mochila, tirou de lá uma baita barra de chocolate e me ofereceu. Eu não entendi mais o mundo. Como
poderiam os negros serem os mais perigosos? Este não! Sem hesitar tirei este chocolate da mão do soldado e corri, corri, corri para dentro da casa para entregar este presente à minha mãe que ainda estava acamada em função do parto recente de sua filha, minha irmã. Passaram dias nos quais tinha que pensar sempre naquele soldado negro bondoso e conclui: nem tudo o que os grandes dizem sempre é verdade. Pois este negro – ainda soldado inimigo – me ajudou e ajudou a minha mãe que chorou ao receber este chocolate. Aprendi que a gente não pode avaliar as pessoas pela cor, raça ou pelo sexo, mas sim, pelas atitudes. A certeza da fé Medo faz parte da nossa vida como qualquer outro sentimento. Desde criança, somos desafiados a vencer o medo. A forma de conseguir isto varia de pessoa para pessoa, depende das experiências que passamos na infância, mas depende também muito da educação e da orientação que recebemos dos pais, na escola e de forma especial na Igreja. Eu pessoalmente nasci no meio da Segunda Guerra Mundial. Voltando em pensamentos, sinto hoje ainda o medo que tomou conta da gente quando caíram as bombas dos aviões que cru-
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zaram o céu. E explosões de perto e de longe não nos deixaram sossegados. Nunca sabíamos o que iria acontecer no próximo dia. E eu, sob hipótese nenhuma, queria ficar sozinho, pois desconfiava da escuridão, das pessoas estranhas e dos soldados americanos que ocuparam a cidade onde morávamos. Mas a fome nos encorajou a sair para as ruas para pedir esmola ou um pedaço de pão. Quando tinha oito anos, a vida na Alemanha pós-guerra começou a normalizar-se. Frequentei uma escola há 4 km de casa onde os meus pais conseguiram alugar dois quartos numa aldeia. Sempre fomos um grupinho de crianças que de manhã se reuniam para ir juntos para a escola. Um dia desses, a minha mãe me pediu para sair mais cedo para levar um recado a alguém pertinho da escola. Lá fui eu, sozinho. Houve uma neblina intensa. Quase não deu para enxergar o caminho. Medo? Não! Mas no meio do caminho um cachorro pertinho de mim latia, latia, uma vez mais perto, uma vez mais longe, não, foram dois cachorros! Daí tomou conta de mim um grande medo, pois pensava que iam me atacar. Do meu pai aprendi que a gente deve pedir por Deus em qualquer situação de medo, pois ele sempre está ao nosso lado. Assim é que pedi de voz tremula: Deus, por favor, me ajude, estou com muito medo! Repeti isto muitas vezes, mas os cachorros continuaram me cercando. Daí, de repente o sol brilhou vencendo a ne-
blina. Eu acreditava que Deus me deu este sinal – e fiquei muito calmo. Sabia-me protegido. Continuei a minha caminhada. Quando então ficou bem claro e a neblina sumiu podia ver os dois cachorros que estavam caçando uma lebre. Nem estavam interessados em mim. Talvez você risse ao ler esta história. Mas acredite: é muito importante, saber que Deus sempre está pertinho de nós e que nunca estamos sozinhos. Essa certeza na fé transmite tranquilidade em situações de crise, de doença, de problemas e na hora da morte. Isto também ilustra a seguinte história da minha vida. Vencendo o inimigo Quando tinha cinco anos, a minha mãe me levava ao Jardim de Infância e também me buscava, na maioria das vezes. Às vezes, também ia acompanhado pelo irmão mais velho. Outras vezes, fui junto com os pais de outras crianças. Gostei muito de ir para o Jardim. Gostei dos brinquedos, das brincadeiras, das demais crianças e também da professora. Um dia chegou um novo aluno. Maior que eu. Ele logo assumiu o papel de líder. Até hoje não sei por que este guri não gostou de mim. Talvez porque não falei bem o alemão, pois era criança de uma família que tinha fugido da guerra em 1940 como outras famílias alemãs na Ucrânia para salvar suas vidas. Um dia desses avisei a minha mãe
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que não gostava mais de ir para o Jardim de Infância. É porque tinha aquele rapaz que sempre depois das aulas me incomodava, me deu uns tapas e não me deixou em paz. Ele era maior que eu e eu não queria me submeter todos os santos dias a estas hostilidades. Aí a minha mãe resolveu que o meu irmão mais velho sempre deveria me buscar lá no Jardim para impedir assim essas agressões. E a professora também foi informada sobre o assunto. Ai sim, fui de novo para o Jardim e o meu irmão sempre me esperava na saída quando terminavam as aulas. Um dia ele não estava me esperando na saída do pátio. É lógico que o “meu inimigo” logo notou isto e começou a provocar-me. Neste instante vislumbrei o meu irmão que ainda estava longe, mas estava se aproximando. Isto me deu ânimo, me deu força, me deu coragem e eu enfrentei o meu inimigo dando-lhe uma surra que eu mesmo me surpreendi, pois não acreditava ter tanta força. A partir deste dia, este rapaz me deixou em paz e nunca mais me agrediu. Interpretando este acontecimento mais tarde cheguei à conclusão que
eu não teria a coragem de enfrentar o rapaz se não tivesse tido a certeza de que meu irmão mais forte estava próximo, aliás, um detalhe que o meu opositor não viu. Assim, venci pela certeza de que meu irmão estava próximo e que não iria permitir que eu levasse uma surra. Não é esta a situação que todos nós enfrentamos de uma ou de outra forma na vida? Temos que enfrentar muitos “inimigos”: doenças, problemas, conflitos, solidão, dificuldades de todas as variações na vida e, no fim, a própria morte. De que forma enfrentamos todas estas situações? Precisamos aprender a nos agarrar na fé em Deus, o qual, em Jesus Cristo, veio para marcar presença em nossas vidas. Para isto morreu na cruz e ressuscitou. Isto não quer dizer que não precisamos lutar para vencer as dificuldades da vida, mas vendo Jesus como irmão mais forte estando pertinho da gente, desenvolvemos muitas forças e a tranquilidade necessário para enfrentar todas as situações da nossa vida. É por isso que Jesus disse: “Eis que estou convosco todos os dias!” (Mateus 28.20). O autor é Pastor Emérito da IECLB e reside em Blumenau/SC
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Igreja Inclusiva P. Werner Kiefer
Ação Confirmandos A igreja na cidade apresenta muitas possibilidades missionárias. Estamos acostumados a ouvir sobre as dificuldades com a violência, com trânsito congestionado. Este quadro social da metrópole é desafiador. Ora, as dificuldades por si só não podem ter a última palavra. Então, como tornar estas dificuldades num caminho no qual se possa celebrar a presença do Reino de Deus?! Este caminho se faz caminhando. Há um objetivo pela frente: queremos ser Igreja na cidade! Deus ama este lugar. Eis o grande desafio: como podemos reunir pessoas diante do medo de sair de casa? Vejamos: As nossas comunidades realizam constantemente almoços, jantas, cafés. Ao mesmo tempo, temos diversos grupos em andamento. Que tal unir estas duas atividades num mesmo espaço, onde a Palavra de Deus esteja conjugada com o par-
tilhar do pão, da comunhão de mesa? Esta prática já estava no bojo do surgimento da comunidade cristã. A missão de Deus sempre considera o contexto, pois ela se desenvolve no mundo. Sabemos da existência de um desejo presente em nossas vidas. Há um desejo por pertencer, estar conectado. Creio que a Comunidade Matriz (Porto Alegre/RS) compreendeu este desejo a partir da prática do Ensino Confirmatório. Esta prática com adolescentes de 11-12 anos nos leva ao envolvimento de toda a família. Toda família irá interagir com os temas da fé cristã. O Ensino Confirmatório considera a complexidade social da cidade, proporciona espaço onde os vínculos de pertencimento são construídos. Toda família terá uma experiência de Igreja a partir de um contexto que preza pelo convívio. Fazemos então o relato de uma experiência que está se solidificando em nossa caminhada, localizada no centro da capital dos gaúchos. Adolescentes se reúnem semanalmente na Paróquia Matriz por vários meses. Para que estes adolescentes possam se encontrar, os pais/ mães precisam levá-los à igreja e, depois, também buscá-los. Isto demanda um bom tempo. Então, neste contexto surgiu a pergunta: A Igreja também poderia oferecer uma atividade paralela aos pais/mães? Isto
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facilitaria a vida da família. Convidamos, então para que a família toda ficasse conosco até o término da atividade do Ensino Confirmatório. O Ensino Confirmatório acontece todas as quintas-feiras a partir das 19h. Toda família é convidada a participar. A comunidade acolhe, oferecendo uma refeição. Para tanto, providenciamos um grupo de cozinheiras e um cardápio. Quanto ao investimento, apostamos nas ofertas depositadas livremente no gazofilácio (caixa de ofertas). Não se faz um controle individual dos participantes. O que sabemos que as despesas foram supridas pelas ofertas, inclusive, com sobras. Este momento da janta é muito especial. A família senta-se junto com outras famílias. A maioria, até então, ainda não se conhecia. A comunhão de mesa acaba acontecendo de forma muito espontânea. Os vínculos são construídos a partir das necessidades comuns. Neste espaço do partilhar do pão, percebemos que é gostoso estarmos juntos. A comunidade é um estar junto com pessoas com as quais formamos vínculos. Deus se revela neste espaço porque, na sua essência, fé é algo relacional.
Após a janta, os adolescentes seguem para o Ensino Confirmatório. As crianças dirigem-se para o espaço de música e de contação de histórias bíblicas. Outro grupo segue para o ensaio da Banda que se apresenta nos cultos dominicais. Os demais, pais e mães de confirmandos, bem como demais pessoas da comunidade, se dirigem para as palestras onde vários temas da fé cristã são abordados. Estas palestras são dinâmicas, envolvendo participação. Muito importante ouvir as perguntas dos participantes, compreensões da sua fé. Ouvir, acolher e dialogar são verbos que nos acompanham nesta dinâmica missionária. Nossa organização Temos três semestres, onde os conteúdos estão divididos em três blocos: Trilha8: Curso concebido como uma viagem à “história da Fé”. Encontros no Caminho: Estudo de textos básicos da Sagrada Escritura. Passos luteranos: Temas ligados com a prática da vida da Igreja (História da comunidade, da IECLB, Sacramentos, Culto, Reforma, etc.) Procuramos finalizar este programa sempre às 21h. As consequências desta ação missionária: -
Valorização da família ; formação de vínculos; retorno de muitas pessoas à vida comunitária; formação de lideranças, presbíte-
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uma dúvida. Gerando certo desconforto e insegurança. Ledo engano.
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ros envolvidos com os temas da Igreja; crescimento do grupo de jovens; experiência edificante de Igreja a partir de relacionamentos, acolhimento.
Ouçamos um testemunho da senhora Irmgard Neumann sobre esta prática comunitária. Reconforto do lar: Tomamos decisões a todo o momento em nossas vidas. É a partir delas que decidimos o que melhor nos cabe e com certeza somos imensamente felizes quando acertamos quanto às mesmas. Após estarmos afastados e distantes da nossa igreja por algum tempo, frequentando o culto eventualmente, meu marido e eu, decidimos que nosso filho iria realizar o ensino confirmatório. Para nossa surpresa, o pacote seria completo. Os pais também estavam convidados a participar de um grupo de estudos e reflexão. E eu pensei porque precisamos participar se o foco não é exatamente esse? A partir desse convite a certeza de mandar nosso filho ao ensino confirmatório se tornou
Chegamos tímidos, receosos, observei poucos rostos conhecidos. Porém, a acolhida com um sorriso no rosto das pessoas que ali se encontravam e que nos receberam me remeteu a boa sensação do filho pródigo (Lucas 15), de estar chegando à casa dos meus pais que tão pouco consigo visitar e meu coração acalorou. Desse momento em diante tive certeza que estava no lugar certo. Ao longo do curso Trilha8, em nossos encontros de todas as quintas feiras, minhas incertezas e inseguranças deram lugar a novas amizades, jantares simples, mas maravilhosamente preparados. Tudo isso regado de muitos ensinamentos e reflexões. Quando me dei conta eu já estava solicitando folgas no meu trabalho para poder estar presente e não perder a próxima palestra, a próximo debate, a próxima discussão sobre o tema proposto e claro também o próximo jantar. Quem diria. Discussões dentro do carro sobre os temas abordados, as trocas de ensinamentos entre mim e meu marido do grupo Trilha8 e do meu filho do ensino confirmatório começaram
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a virar rotina. De repente o caminho de volta para casa ficou tão curto. Porque será? E pensam que acabavam ali? Claro que não. Continuava até a hora de dormirmos, gerando mais reflexões. Hoje ao final desse semestre as quintas à noite para mim são sinônimas de acolhimento, paz de espírito, amizades sinceras e renovação da fé.
Comecei a perceber e hoje digo que é o meu dia de terapia. É nos encontros que me desligo do resto do mundo, dos problemas, das coisas que ficaram por resolver, da correria do dia a dia. Um dia reservado para olhar para dentro de mim, tranquilizar minha mente, refletir, compartilhar ideias. Realizar trocas de experiências, ouvir e ser ouvida, aprender enquanto grupo, igreja e sociedade e com isso poder aprender em como se tornar um ser humano melhor. Portanto, posso dizer, com toda convicção, fazer escolhas certas, nos traz benefícios como pessoa e família em primeiro lugar. E que escolha acertada que fizemos, hein!?! O autor é Pastor da IECLB em Porto Alegre/RS
Tloca Letlas De aorcdo com uma pqsieusa de uma uinrvesriddae ignlsea, não ipomtra em qaul odrem as lrteas de uma plravaa etãso, a única csioa iprotamtne é que a piremria e útmlia lrteas etejasm no lgaur crteo. O rseto pdoe ser uma ttaol bçguana que vcoê pdoe anida ler sem pobrlmea. Itso é poqrue nós não lmeos cdaa lrtea isladoa, mas a plravaa cmoo um tdoo.
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Informação: quem faz a minha cabeça? P. Dr. Emilio Voigt
Era uma tarde de outono de 1980 quando Maria pegou a bicicleta para ir até a casa da sua amiga Isabel. João estava sentado no ônibus, indo para a biblioteca pública. Ana já estava lá, folheando um grosso livro. Em casa, Pedro pensava: como farei isto? Do outro lado da cidade, Joana procurava por um livro de enciclopédia na estante. Será que alguém tinha escondido justamente o primeiro volume? Todas estas pessoas tinham algo em comum. Eram alunas da mesma turma e procuravam fazer a tarefa escolar, que consistia em uma pesquisa sobre átomos. Se fosse hoje, é possível que nenhuma dessas pessoas precisasse sair de casa ou abrir qualquer livro para fazer a tarefa. Bastaria acessar a internet para encontrar uma infinidade de informações a respeito. As possibilidades de informação e conhecimento aumentaram muito nos últimos tempos. A primeira enciclopédia moderna foi editada na França e era composta por 35 volumes, contendo em torno de 70.000 artigos e verbetes. Foi um trabalho de quase 30 anos, entre 1750 e 1780. Ali deveria estar reunido o conhecimento acumulado nas ciências naturais e humanas. Atualmente há bilhões de páginas na internet oferecendo informação e conhecimento. Também a quantidade de livros e revistas é gigantesca. Não seria exagero
dizer que vivemos a era do excesso de informações. Ter acesso amplo e rápido ao conhecimento é um grande benefício. Consegui a informação sobre a enciclopédia francesa sentado tranquilamente em frente ao computador. Poderia ter feito esta pesquisa através do celular, quem sabe enquanto estivesse no ônibus a caminho do trabalho ou voltando para casa. Antigamente, a fonte de conhecimento estava centralizada na escola, na biblioteca ou na igreja. Hoje, a informação está a um clique de distância. Nem é preciso pegar o ônibus para ir à biblioteca. Mas, com tanta informação acessível, há o risco de confusão ou de desinformação. Informações falsas podem induzir a erro ou produzir imagem deturpada das coisas. Elas têm também o poder de destruir. Com as novas tecnologias, qualquer pessoa pode produzir e divulgar informações. Nem sempre é fácil perceber o que é correto e aquilo que é enganação. Postar, compartilhar e comentar nas redes sociais são formas de gerar informações. Que informações estamos gerando? Que informações estamos compartilhando? Que informações estão fazendo a nossa cabeça? Notícias falsas correspondem a uma grande parcela dos conteúdos divulgados em redes como Facebook e Whatsapp. A criação de informação
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falsa geralmente tem a intenção de obter vantagens indevidas ou prejudicar alguém. Compartilhar conteúdo falso ou maldoso significa concordar com este engano. É lamentável que muitas pessoas não se preocupem com a veracidade das informações que assumem e passam adiante. A verdade deixou de ser um compromisso. Não é à toa que, em 2016, a Universidade de Oxford escolheu o termo “pós-verdade” como a palavra do ano. Esse termo é usado para indicar que as emoções e as crenças pessoais têm mais importância do que a análise dos fatos. Aliás, para muitas pessoas, os fatos nem interessam. Como podemos compreender isto? Vamos pensar na seguinte situação: Maria acessou uma notícia com acusações a uma personalidade política. Como ela não gostava desta pessoa, compartilhou imediatamente, dizendo que isto confirmava o que ela sempre disse. Isabel passou adiante a publicação de Maria, confiando na opinião da amiga. João viu que Maria e Isabel haviam publicado, concordou e foi logo curtindo. Ana tinha simpatia pela pessoa acusada e achou que a notícia era falsa, mas não fez nada. Pedro também não gostou e comentou, na postagem da Isabel, que aquilo era calúnia. Joana entrou na conversa, criticando o comentário de Maria. Novamente estas pessoas tinham algo em comum: todas agiram com base em suas convicções. Gostaram ou criticaram porque a notícia estava a favor ou con-
tra suas próprias crenças. Pode ser que a notícia correspondesse aos fatos. Pode ser que não. Seria preciso checar as fontes, analisar a partir de diferentes perspectivas. Mas num contexto onde tudo tem que ser imediato, a análise criteriosa acaba sendo ignorada. Afinal, por que gastar tempo verificando a veracidade da informação? Além disso, há uma tendência natural de aceitar informações que confirmem a nossa maneira de pensar, e de rejeitar aquelas que nos contradizem. Por isto a pós-verdade é tão atraente e tão perigosa. O profeta Isaías daria uma verdadeira bronca nas notícias falsas: “Os vossos lábios falam mentiras, e a vossa língua profere maldade. Ninguém há que clame pela justiça, ninguém que compareça em juízo pela verdade; confiam no que é nulo e andam falando mentiras.” (Isaías 59.4). Não podemos nos conformar com a mentira, a injustiça, a calúnia, a pós-verdade. O compromisso com a justiça e a verdade faz parte da vivência e do testemunho de fé. Por isto é necessário muito cuidado ao compartilhar textos, imagens, áudios, vídeos, links. É possível comprovar as informações? É a versão adequada ao fato? O conteúdo é apropriado? Qual é a sua utilidade? Informar é dar forma, formar, instruir. A informação reproduz convicções e cria convicções. É formadora de opinião. Grandes meios de comunicação fazem de tudo para aparentar isenção, mas defendem disfarça-
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damente convicções e interesses de certos grupos. Muitas páginas na internet são cuidadosamente elaboradas para transmitir seriedade, porém nem sempre aquilo que é bonito e parece sério tem interesse na verdade. Muitas vezes, uma notícia está baseada em fatos reais, porém apresenta uma versão distorcida. Que critérios podemos usar para discernir? Também nós somos pessoas formadoras de opinião. Que opinião queremos formar? Que testemunho damos quando criamos ou compartilhamos informações? A questão crucial não está nas convicções, mas em seu fundamento. Como pessoas cristãs de Confissão Luterana, temos o Evangelho de Jesus Cristo como base. Tudo aquilo que estimula intolerância, discrimi-
nação, ódio, injustiça, mentira, está em oposição ao Evangelho. Com base no Evangelho precisamos avaliar as informações que nos chegam e não repassar informações falsas, com conteúdo impróprio, que agridem e discriminam. O Evangelho nos compromete com a honestidade, motiva o diálogo e desperta o amor fraterno. O amor fraterno “não se alegra com a injustiça, mas regozijase com a verdade.” (1 Co 13.6). Podemos ter esperança de dias melhores porque confiamos que ações e informações fundamentadas no Evangelho podem gerar transformações. Que essa esperança nos mova à ação! O autor é Coordenador do Núcleo de Produção e Assessoria da IECLB
Pesquisa que não deu certo! A ONU resolveu fazer uma grande pesquisa mundial. A pergunta era: "Por favor, diga honestamente, qual sua opinião sobre a escassez de alimentos no resto do mundo". O resultado foi desastroso, um fracasso total: - Os europeus não entenderam o que é "escassez"; - Os africanos não sabiam o que era "alimentos"; - Os argentinos não sabiam o significado de "por favor"; - Os norte-americanos perguntaram o que significava "resto do mundo"; - Os cubanos estranharam e pediram maiores explicações sobre "opinião"; - E o Congresso brasileiro ainda está debatendo o que é "honestamente".
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Instituto Ivoti: Da Educação Infantil à Pós-Graduação Vanessa Pustai
Integrante da Rede Sinodal de Educação, o Instituto Ivoti é referência em formação de professores, líderes e pessoas comprometidas com a realidade, sempre valorizando o ser humano em sua integridade. Como referência na formação docente, prepara profissionais engajados na melhoria da qualidade do ensino e capazes de desenvolver seus projetos pedagógicos de forma autônoma. Articulando tradição e modernidade, a instituição oportuniza a formação da educação básica – Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio, Curso Normal e Técnico – ao ensino superior. O processo de formação humana inicia na Educação Infantil, onde são proporcionadas atividades que ajudam as crianças no seu desenvolvimento físico, psicológico, cognitivo, afetivo, social e ético. A instituição possui um espaço especialmente projetado para este nível de ensino, além de profissionais qualificados. Após a conclusão do Ensino Fundamental, os estudantes podem optar pelo Ensino Médio regular ou pelo Curso Normal em nível Médio – Formação de Professores. Para ampliar as possibilidades de atuação dos estudantes, além da formação básica, a instituição oferece cursos profissionalizantes nas áreas da Co-
municação Visual e Informática. As disciplinas são ministradas por um corpo docente qualificado, através de um currículo bem elaborado e contando com a estrutura adequada para a aprendizagem. A instituição tornou-se pioneira na área de Cursos Técnicos na região. Os cursos são oferecidos no período da tarde e da noite. A instituição oferece também diversos Cursos Complementares: esportes, música coral e instrumental, robótica, teatro, idiomas, práticas comunitárias, dança e educação financeira. A instituição destaca-se na música, atividade que oportuniza a participação em apresentações e em viagens nacionais e internacionais. Estudantes como Daniela Nair Ferreyra, oriunda da Argentina, optam pelo Instituto Ivoti em busca de boa formação geral e para aprofundar seus conhecimentos na música. O Instituto Ivoti é referência no ensino de Língua Alemã, possibilitando aos alunos o estudo do idioma e a realização de provas de proficiência organizadas pelo governo alemão. Na língua inglesa a avaliação externa se dá em parceria com a Cambridge University. Intercâmbios permitem vivenciar a cultura dos países dos respectivos idiomas.
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Formação de professores em nível superior Preparar professores para atuar com competência e responsabilidade é um grande desafio às instituições de formação docente. Essa habilitação em nível superior ocorre, no Instituto Ivoti, no mesmo campus da educação básica. Essa peculiaridade oportuniza ao futuro professor vivenciar o cotidiano de uma escola, excelente base para a prática de ensino. Ser professor é desenvolver sua atividade profissional dentro de, no mínimo, duas dimensões: a prática e a filosófica. Na dimensão prática, ser professor é ter conhecimentos sobre determinada área e poder transformar esse saber ao nível de entendi-
mento do aprendiz, ajudando-o a construir/ampliar seu conhecimento. Na dimensão filosófica, ser professor é poder andar por caminhos desconhecidos, sentindo-se amparado pelo conhecimento e pelo sonho de contribuir para a construção de um mundo melhor. Ao articular essas duas dimensões, o professor tem a tarefa de estabelecer uma saudável relação interpessoal com seu aprendiz, para que ambos cresçam por meio do diálogo, da interação e da convivência. O Instituto Ivoti tem seu reconhecimento no Ensino Superior atestado pelo Ministério da Educação (MEC) que constantemente avalia os cursos oferecidos. Assim como o curso de Pedagogia, o Curso de Letras Língua
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Alemã recebeu o conceito máximo no segundo semestre de 2017, mostrando a competência e a qualificação do ensino superior oferecido no Instituto. A formação acadêmica inicial pode ser continuada por meio de cursos de extensão e de pós-graduação no próprio Instituto ou, conforme necessidade, em outros locais. Moradia escolar Desde a fundação do Instituto Ivoti (1909) a Moradia Escolar (internato) é oportunizada a estudantes de todos os lugares. Ela atende alunos a partir do 8° ano do Ensino Fundamental. Divididos em Moradias Masculina e Feminina, alunas e alunos aprendem a conviver e a respeitar o espaço do colega, gerando maior maturidade e independência. Os alunos vêm de diferentes partes do Brasil e também de outros países. Essa mescla de culturas oportuniza aos estudantes uma vivência muito rica e amizades que ficam para a vida. “Aqui temos contato com pessoas de outras culturas, que vêm de outros estados ou até de outros países. Isso é algo que não teríamos se não morássemos aqui e as amizades que se formam são únicas”, disse a estudante do 3° ano do Ensino Médio e integrante da Moradia há 4 anos, Roberta Barth. Preservando a individualidade de cada integrante da Moradia, o Instituto Ivoti também incentiva a convi-
vência, oportunizando momentos de integração entre os moradores nos diversos espaços e programações oferecidas. Momentos de estudo também podem ser realizados em grupo, através de trabalhos com colegas ou do auxílio em alguma matéria específica (monitoria). “No estudo eu melhorei muito, como preciso me organizar nos horários e tenho que estudar no tempo definido, acabei ficando mais organizado em tudo”, avaliou Natanael Milech, aluno do Instituto Ivoti e há 4 anos na Moradia Escolar. A organização dos espaços da Moradia é realizada pelos próprios alunos, como parte de sua formação, orientados por professores responsáveis. A organização permite o desenvolvimento de um ambiente que constrói e agrega saberes, valores e conscientiza em relação ao uso e preservação dos ambientes. No campus, os alunos têm à disposição um pátio amplo, ideal para caminhar e conversar com os colegas. Para a prática de esportes há quadras e um ginásio, num ambiente tranquilo e seguro. Os quartos, com infraestrutura adequada, são organizados conforme nível de ensino e idade. Além da modalidade de Moradia para a Educação Básica, estudantes do Ensino Superior também são bem-vindos e têm um espaço próprio onde podem usufruir dos benefícios de morarem junto ao local de seus estudos. Para viver essa oportunidade, alunos
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da educação básica devem inscreverse no processo de admissão que inicia em agosto. O agendamento deve ser feito pelo telefone (51) 35638600 ou pelo e-mail lavinha.rohr@ institutoivoti.com.br.
O Instituto Ivoti localiza-se em Ivoti, Rio Grande do Sul, cidade com pouco mais de 20 mil habitantes, integrante da Rota Romântica, próxima a Porto Alegre, capital do Estado. A autora é responsável pelo Departamento de Comunicação do Instituto Ivoti
Uma receita gostosa Ingredientes: – Família (é aqui que tudo começa) – Amigos (nunca deixe faltar) – Raiva (se existir que seja pouca) – Desespero (prá que?) – Paciência (a maior possível) – Lágrimas (enxugue todas) – Sorrisos (os mais variados) – Paz (em grande quantidade) – Perdão (à vontade) – Desafetos (se possível nenhum) – Esperança (não perca jamais) – Amor (pode abusar) – Carinho (essencial) Modo de preparar: Reúna a sua família e os seus amigos. Esqueça os momentos de raiva e desespero passados. Se precisar use toda a sua paciência. Enxugue as lágrimas e as substitua por sorrisos. Junte a paz e o perdão e ofereça a seus desafetos. Deixe a esperança crescer no seu coração. Nem sempre os ingredientes da vida são gostosos, portanto saiba misturar todos os temperos que ela oferece, e faça dela um prato de raro sabor. Deste modo, prepare sua melhor receita de vida e nunca economize o amor e o "como vale a pena viver".
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Intercâmbio Jovem: Brasil – Suécia Jenny Eriksson
“Eu preciso de você, você precisa de mim, nós precisamos de Cristo até o fim.” Esta música marcou minha experiência de intercâmbio no Brasil. Meu nome é Jenny Eriksson, sou da Suécia e em 2015 tive a oportunidade de fazer parte do programa Juventude na Igreja Mundial. Um programa de intercâmbio com jovens entre a IECLB e a Igreja Luterana da Suécia. Uma oportunidade que me deu uma visão maior da igreja luterana e do mundo. Grande parte da experiência depende das expectativas que tinha antes. Eu nunca tinha ido para o Brasil, ou para a América do Sul. Antes de ir, eu associava o Brasil com samba, futebol, carne e carnaval. Pensei em Cristo Redentor e Copacabana. Antes da viagem, em geral, eu estava preparada para problemas de linguagem, incertezas e nem sempre me sentir segura. Eu estava preparada para a saudade que sentiria de casa. Antes da viagem tivemos duas reuniões com o departamento internacional da Igreja Sueca, incluindo um intensivo de português de cinco dias. Em 30 de agosto lá estava eu com três outras pessoas jovens suecas saindo de Estocolmo para Porto Alegre. O tempo de intercâmbio foi de três meses, e o objetivo do projeto foi compartilhar a fé, a vida e o modo
de viver. Um intercâmbio cultural. Após seminário de acolhida no Brasil, nosso grupo foi dividido em pares e tivemos a oportunidade de viver em comunidades da IECLB em contextos diferentes. Minha primeira família anfitriã, Schieferdecker, vive em Curitiba (PR). Minha irmã anfitriã, Ana Carolina, participou do intercâmbio, indo para Suécia em 2014. Mas eu não a conheci. Minha companheira de viagem, Judit, viveu com outra família, Oliveira-Weber, na mesma comunidade, a Comunidade Bom Pastor. A língua foi um pouco problemática no começo, e fiquei surpresa que eu provavelmente teria menos problemas se eu soubesse alemão do inglês. Mas eu pedi para ser corrigida, a fim de aprender Português. Na Suécia, aprendemos sueco e inglês e podemos escolher uma terceira língua. Escolhi o espanhol e aprendi por cinco anos, isto me ajudou no intercâmbio. Além das atividades na igreja, eu também fiz amigos, fui para universidades e locais de trabalho dos pais anfitriões, fui para aulas de alemão e para a casa de verão da família. *** Na Suécia, a Igreja Sueca é a maior igreja, com o maior número de membros. Foi interessante para eu visitar a IECLB que, é uma igreja menor,
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uma igreja protestante entre outras. Senti que Lutero é parte central na IECLB e um fator bem importante na identidade da igreja. Que Lutero é um ícone que faz a IECLB ser uma igreja única entre as outras igrejas evangélicas no Brasil. Um exemplo é o ensino confirmatório: na Suécia o ensino confirmatório é de um ano, e durante meu ano, não falamos nada sobre as teses que Lutero pregou em Wittenberg. Isso não significa que as teses não sejam importantes para a Igreja Sueca, mas sinto que elas têm um papel central diferente entre as duas igrejas. As atividades das comunidades eram várias. Além do ensino confirmatório, coros, grupos de mulheres, um grupo de homens, um círculo de costura, uma banda que tocou samba... Também participei de vários cultos, cinco casamentos e dois funerais, reuniões de projetos. Foi muito interessante. Na metade do intercâmbio, junto com o grupo de suecos nos encon-
Judit (segunda da esquerda para direita) e eu (última à direita) em visita a projetos da IECLB.
tramos no Rio de Janeiro por uma semana. Tivemos a oportunidade de refletir sobre nossas diferentes experiências no programa até então. Quando cheguei em Domingos Martins (ES), para encontrar minha segunda família, a família Foester, havia dois corações vermelhos na porta que minha irmã fez. “Vara välkomna Jenny” (em sueco), e significa “Bem vinda Jenny”, eles disseram. Antes de chegar, só troquei dois ou três e-mails com a família, não nos conhecíamos. Mas como somos membros da mesma igreja mundial, eu fui bem-vinda em sua casa. Ainda tenho os corações de papel vermelho guardados. Isso foi em 2015. Um ano tempestuoso na Europa. Em contraste com os corações vermelhos na porta que encontrei, lia as notícias suecas e o que meus amigos escreviam nas redes sociais: refugiados na Europa, pessoas inocentes fugindo para salvar suas vidas. Pessoas que viajam para países novos. Como eu. Eu estava viajando, mas em outras condições. Elas não foram bem-vindas com corações na porta.
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Visitei partes do sul e também partes do norte do Estado do Espirito Santo. Vi plantações de café e de banana. Fui convidada para a casa de paroquianos para o almoço e outras aventuras, como alpinismo e passeios a cavalo. Fiz amigos e eu tive a oportunidade de cantar em alguns cultos da igreja. No fim da segunda parte, fui para Vitória e fiquei na família do Pastor Sinodal Joaninho Borchardt. Embora o tempo tenha sido curto, eu tive tempo para fazer muitas atividades com a família. Eu fiz pãezinhos suecos de canela e visitei o Grupo do Mel. Antes de voltar para a Suécia, aconteceu em Curitiba, o Seminário de avaliação do intercâmbio junto com o grupo de jovens da IECLB que havia ido para a Suécia no primeiro semestre de 2015. Durante toda a viagem, nos Sínodos por onde passei, conheci uma igreja acolhedora. E pude ver a minha própria igreja em uma nova luz. Eu ainda sinto muita gratidão pela oportunidade de conhecer a IECLB. Pude mostrar uma parte desta gratidão quando minha família, em 2016,
pôde receber duas jovens da IECLB durante seis semanas: Thais Alessandra e Débora Grenzel. Juntas, visitamos igrejas suecas que são muito antigas, escolas e elas também puderam fazer algumas apresentações sobre o Brasil. Visitamos meus parentes, membros da paróquia e elas fizeram parte das atividades da paróquia. Depois de voltar para casa, depois de meus três meses no Brasil, eu passei a perceber que mesmo aqui sou uma parte da Igreja Mundial. Não é necessário viajar para o outro lado do mundo para entender que somos milhões, que todo domingo vamos para a igreja, oramos, lemos textos e encontramos amigos e vizinhos. Falamos línguas diferentes, mas temos o mesmo Jesus no coração. Três meses é um período adequado para aprender e muita coisa pode acontecer. Em termos de minhas expectativas, eu tive a oportunidade de ir para um jogo de futebol, tocar em uma escola de samba e comi bastante carne. Eu achava que iria sentir saudade de casa, mas não aconteceu. Eu me senti em casa o tempo todo. Västmanland, Suécia, maio de 2017
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Liturgia como meio de unidade na Igreja P. Dr. Júlio Cézar Adam
Quando vamos ao culto principal da comunidade, como sabemos que estamos participando de um culto evangélico, um culto da IECLB? Faço esta pergunta, porque aqui e ali se ouve membros da igreja que não se sentem identificados com o culto onde participam. “Não reconheço mais minha igreja a partir da liturgia”, dizem. O que, afinal, caracteriza um culto da IECLB? É necessário que haja uniformidade no culto da igreja? Para responder a estas perguntas, convido você leitor/a para tomar um barco comigo e navegar no rio do culto cristão, remando rio acima, à procura daquilo que caracteriza o culto da IECLB. Vemos que a IECLB não forma um rio separado, mas seu culto faz parte do grande rio do culto cristão. Olhando especificamente para o culto da IECLB, surpreende sua diversidade litúrgica: cultos que utilizam a antiga liturgia prussiana ou o prontuário; cultos sem uma ordem litúrgica fixa e sem os clássicos elementos litúrgicos; cultos livres, com um momento de louvor no início do culto, seguido de pregação, compromisso e oração; cultos que seguem partes ou integralmente a liturgia do Livro de Culto.1 Na maioria dos cultos, a Eucaristia ou Ceia do Senhor acontece apenas uma vez por mês, mesmo que a recomendação do Livro de Culto seja que ela ocorra
semanalmente. Quanto aos textos bíblicos lidos, segue-se ou não o lecionário da igreja,2 havendo igualmente uma liberdade na escolha da base bíblica para a pregação. Quanto às vestes e aos símbolos, também há muitas diferenças: uso e não uso de veste litúrgica, de paramentos, de velas, do círio pascal, entre outros símbolos. Quanto à música, também há uma diversidade de hinários, cancioneiros e cânticos, de instrumentos musicais e do uso de diferentes recursos tecnológico-midiáticos. Estas diferenças estão relacionadas, muitas vezes, a opções pessoais, geralmente do/a ministro, em conexão ou não com movimentos e linhas teológicas da igreja. Subindo mais um pouco no rio, chegamos em um porto importante para o culto da IECLB: O Livro de Culto. Este recurso litúrgico é resultado de um processo de mais de vinte anos de pesquisa, reflexão e experimentação sobre liturgia e culto, uma renovação litúrgica. 3 O livro foi implementado por incumbência do Concílio Geral da Igreja, em 2000, e trata-se, portanto, da liturgia oficial da igreja. A construção do livro levou em consideração as tradições litúrgicas que já faziam parte da história litúrgica da IECLB, a confessionalidade luterana, mas também contribuições ecumênicas a partir das principais tradições litúrgicas do
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grande rio do culto cristão, seguindo a autêntica tradição luterana de conservar a tradição, mas também inová-la criticamente.4 Além disso, outro elemento importante nesta proposta, é a preocupação por uma liturgia mais contextual, inculturada e mais participativa.5 Levando em conta todas estas diferentes fontes, esta liturgia é a primeira proposta de culto construída de fato em terras brasileiras.
entendermos nosso culto e a necessidade ou não de unidade litúrgica. Descobrimos que Lutero, mesmo tendo proposto ordens litúrgicas, estava muito mais preocupado em conservar a missa, fazendo as mudanças litúrgicas necessárias e oferecendo princípios para a confecção e validade de ordens litúrgicas, sendo que a doutrina da justificação funcionava como base principal.
Subindo um pouco mais acima no rio do culto, nos encontramos com uma grande diversidade litúrgica nas origens da IECLB. Segundo os relatos, sabemos que as pessoas imigrantes trouxeram na bagagem suas Bíblias, hinários e pequenas ordens de culto, de acordo com a região e a igreja da qual provinham na Europa. Mais tarde, as diferentes igrejas passaram a enviar pastores para as novas comunidades, os quais também traziam para o Brasil as liturgias usadas em suas igrejas e tradições, como a Liturgia Prussiana e a Liturgia Bávara.6 Percebemos, então, que desde o início há uma diversidade de propostas e ordens litúrgicas nas comunidades e sínodos que constituíram a igreja.7 Outras propostas litúrgicas, como as formas litúrgicas mais livres dos movimentos evangelicais e pietistas, também marcaram a liturgia e a música da IECLB.
Quais seriam estes princípios? (1) a liberdade evangélica (“não façam da ordem litúrgica uma lei compulsória, nem comprometam ou prendam a consciência de ninguém”), que encontra seu limite (2) no amor (“nos casos, portanto, em que as pessoas se escandalizam ou ficam confusas com toda a diversidade de práticas, temos efetivamente o dever de restringir a liberdade”). Acrescenta-se a estes (3) a unidade (“mas seria muito recomendável que em cada região o culto fosse celebrado de modo uniforme, e que os lugarejos e as aldeias circunvizinhos procedessem da mesma forma como a cidade mais próxima”) e (4) ordem (“é algo exterior”, “nenhuma ordem vale ou vigora por si mesma, (...) mas a vida, o mérito, a força e a virtude de todas as ordens está no uso adequado”)8. Liberdade, amor, unidade e ordem são, pois, princípios para o culto evangélico.
Agora vamos navegar por mais tempo e chegar num grande porto, 500 anos atrás: a Reforma. Aqui temos elementos muito importantes para
E a viagem rio acima não para na Alemanha de 1517. A caminhada de renovação litúrgica, da qual falamos no início, nos leva a continuar rio acima,
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a remar por mais mil e quinhentos anos de trajetória no grande rio do culto cristão, chegando até as vertentes principais do culto, o culto das primeiras comunidades e o culto do tempo neotestamentário.9 Na nascente, descobrimos que o autêntico culto cristão nasce em Jesus Cristo. Sua vida, morte e ressurreição é a base de toda a liturgia. Se a liturgia é um grande rio, certamente Jesus Cristo é a água que nele corre. Respondendo às questões acima, o culto da IECLB, como parte do rio do culto cristão, se caracteriza desde sempre pela diversidade e pela unidade. Livre dos apelos e modismos consumistas dos nossos tempos, deve ser um culto que toma por base a ampla e rica tradição litúrgica da Igreja, sem medo de ser ecumênico e contextual; deve zelar pela clareza da palavra e pela participação ativa da comunidade; considerar a liberdade evangélica como critério para pensar sua forma, desde que, por amor, não fira a fé e a sensibilidade
de pessoas e da comunidade; e preservar a ordem litúrgica com vistas à unidade da Igreja. Quanto à unidade litúrgica, podemos dizer o seguinte: a) Independente da linha teológica ou da espiritualidade, o culto da IECLB tem um conjunto de elementos e formas herdadas da longa, vasta e rica tradição cristã, que o caracterizam e auxiliam a comunidade no encontro com Deus. A manutenção crítica da tradição não é um mero capricho ou gosto de alguém ou de um grupo, mas depreende-se da compreensão de que a liturgia da Igreja foi sendo moldada ao longo dos séculos como expressão da fé criada e mantida pelo Espírito. b) Pelo princípio sinodal da IECLB, comunidades se dispõem a caminharem juntas como igreja, o que as compromete com uma liturgia que crie identidade, ordem e unidade; c) A liturgia do culto da comunidade não é decisão apenas do ministro/a, mas de toda a comunidade, a qual ele pertence. Des-
De tanto ver triunfar as NULIDADES, de tanto ver prosperar a DESONRA, de tanto ver crescer a INJUSTIÇA, de tanto ver agigantar-se o poder nas mãos DOS MAUS, o homem chega a RIR-SE da honra, DESANIMAR-SE da justiça, e TER VERGONHA de ser honesto ! Rui Barbosa
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sa forma nenhum membro deveria sentir-se estranho no seu próprio culto. d) A diversidade e a liberdade litúrgica são marcas fundamentais não só da Reforma, mas da tradição litúrgica como um todo. A diversidade e a variedade de formas enriquecem o culto e a vida espiritual, reflete os diferentes dons e a dinâmica do Espírito; Por isso, e) Em uma igreja como a IECLB, o culto vai ser expressão de diferentes espiritualidades, seja evangelical, tradicional, sócio-política, jovem, contemporânea,
etc. Mesmo assim, a unidade da igreja deve ser perceptível no e através do culto, nos diferentes contextos, através dos elementos e formas da ordem litúrgica, dos textos lidos e pregados, dos espaços, vestes e símbolos, dos hinos e cânticos. O princípio de moldar liturgia do Livro de Culto me parece uma boa base para a reflexão, crítica, aprofundamento, práxis litúrgica e a busca desta necessária unidade litúrgica e eclesiástica. O autor é Pastor da IECLB e professor adjunto de Teologia Prática, na Faculdades EST, em São Leopoldo/RS
1
Liturgia oficial da IECLB desde 2003. IECLB. Livro de Culto. São Leopoldo: Sinodal, 2003.
2
IECLB. Lecionário comum revisado da IECLB. São Leopoldo: Oikos, 2007.
3
KIRST, Nelson. Renovação litúrgica: experiências recentes na Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil. Tear – Liturgia em Revista, São Leopoldo, n. 24, p. 5-16, dezembro de 2007.
4
Sobre a marca da conservação e da crítica na tradição litúrgica luterana, ver LATHROP, Gordon W. Culto no contexto luterano. In: SCHMIDT-LAUBER, Hans-Christoph. A Eucaristia. In: SCHMIDT-LAUBER, H.-C. et al. (Orgs.) Manual de Ciência Litúrgica. Vol.1. São Leopoldo: EST/Sinodal, 2011. p. 220-233.
5
Exemplos: FLM. O culto luterano: material de estudo. São Leopoldo: Sinodal, 1982; STAUFFER, Anita. S (Org.). Diálogo entre culto y cultura. Genebra: FLM, 1994.
6
IECLB, 2003, p. 16-22.
7
ADAM, Júlio Cézar. Liturgia com os pés: estudo sobre a função social do culto cristão. São Leopoldo: Sinodal/EST, 2012. P. 294-296.
8
SCHMIDT-LAUBER, Hans-Christoph. A Eucaristia. In: SCHMIDT-LAUBER, H.-C. et al. (Orgs.) Manual de Ciência Litúrgica. Vol.2. São Leopoldo: EST/Sinodal, 2013. p. 41.
9
KIRST, Nelson. Liturgia. In: SCHNEIDER-HARPPRECHT, Christoph. (Org.). Teologia prática no contexto da América Latina. São Leopoldo: Sinodal/ASTE, 1998, p. 119-141.
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Minha mãe trabalha fora – e gosta muito que seja assim! Janaína Raquel Zizemer Pereira
Nas redes sociais atualmente não há um dia sequer que não se verifiquem textos sobre maternidade. Sobre o quão maravilhosa pode ser essa experiência. Sobre como os filhos transformam as vidas das famílias. Como podemos fazer dessa uma viagem inesquecível que deixará a nossa vida plena e feliz. As recémmães, ou mesmo mulheres que ainda não o são, se veem bombardeadas de informações, fotos, vídeos, relatos de como a vida fica colorida quando se tem um filho. E muitas vezes isso gera um sentimento muito ruim, muito frustrante, naquele momento em que aprendendo a lidar com choros, noites mal dormidas, muitas de nós não estão exatamente vivenciando um período de felicidade e plenitude. Além disso, fica a cobrança – e como vai ser quando eu voltar ao trabalho? Vou dar conta? Meu filho ficará bem? Será que na minha ausência eu não serei substituída? Costumo afirmar que a atual geração de mulheres em idade fértil não foi educada para ser mãe e formar uma família. Fomos ensinadas desde cedo a pensarmos em nossa carreira, nossa independência, nossa formação... e muitas de nós já tivemos o exemplo de nossas mães, já cumpridoras de dupla jornada. Como
elas deram conta? Como conseguiram conciliar carreira e família? A melhor resposta para esta pergunta é – simplesmente fizeram. Quanto maior é o teor “científico” da maternidade, quanto mais queremos nos preparar para ela, mais tenso o processo se torna. Quando éramos pequenos, aqueles que tinham uma mãe sem emprego formal muitas vezes a viam ocupando-se o tempo todo dos afazeres domésticos, sem nunca tirar um tempo para brincar com os filhos. “Criança brinca com criança” – ouvíamos. Já aquelas que trabalhavam fora de casa quase sempre delegavam o cuidado dos filhos a outras pessoas – avós, babás, irmãos mais velhos – e quando chegavam em casa, tarefas domésticas as esperavam. E quantas de nós se sentiram menos amadas por isso? Quantas de nós hoje adultas são traumatizadas emocionalmente por essas experiências? Posso afirmar com certeza que não é o que aconteceu com a maioria. Claro que ter um filho exige um preparo, um tempo, uma entrega que nos fazem questionar a nossa capacidade em muitas ocasiões. Se há possibilidade de abrir mão de parte do tempo e da carreira para priorizar o tempo com os filhos, faça sem medo. Este período é tão curto que
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quando se vê aqueles pequenos nem querem mais que a mãe fique orbitando em torno deles o dia todo, para saber se comeram ou fizeram as tarefas. Uma mãe que é profissional é um exemplo e um estímulo para que os filhos também valorizem
o tempo com ela. Sim, em alguns momentos a mãe é insubstituível – mas se ela está verdadeiramente presente no dia-a-dia da criança, mesmo que à distância, e dispõe de tempo de qualidade com seus filhos, conciliar trabalho e maternidade é possível e muito saudável. A autora é Médica Pediatra, mãe de dois filhos – 5 e 2 anos – , reside e trabalha em Rio do Sul/SC
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Missão... Ide... ou Indo??? P. Gilberto C. Weber
Um rapaz muito tímido participou de um retiro de jovens e tomou a decisão de ser um cristão autêntico. Porém, não conseguia falar da sua fé para ninguém. Sentia medo e vergonha. Numa conversa com o pastor, recebeu a orientação de que, no caso dele, talvez fosse possível ser cristão “sem falar de Cristo”. Mas que deveria falar com Deus sobre isso. Então ao chegar em casa, foi para o quarto orar. Ao descer para a janta, sentindo uma profunda paz comentou com sua família. “Vocês não vão acreditar, mas seguir a Cristo é tão maravilhoso que eu não preciso nem falar dEle para ninguém”. Os familiares começaram a rir, pois ele não percebeu que já estava falando de Cristo. Há muitos textos que desafiam os cristãos para a evangelização. Livros, tratados missiológicos, estratégias, modelos, iniciativas, etc. Mas se olharmos para as Escrituras, para Jesus, para os apóstolos, percebemos que a missão acontece de maneira natural. Meu professor de grego na Escola Superior de Teologia insistia em dizer que Mateus 28.19 deveria ser traduzido: “indo, portanto, fazei discípulos de todas as nações...”. Esta pequena mudança no verbo “ir” apazigua o coração do cristão. Não precisamos arrumar uma missão em algum lugar especial neste planeta, mas todos os espaços tornam-se oportunidades para o tes-
temunho. Indo para o trabalho, indo para a escola, indo viajar, indo a negócios, indo jantar,... com as pessoas que eu encontrar no caminho, posso dar testemunho com palavras e ações. Creio que nós luteranos precisamos ouvir as palavras de Cristo: “Por que sois tímidos, homens de pequena fé...” (Mateus 8.26). Temos uma boa teologia, mas deixamo-la presa em nossas comunidades e compartilhamos muito pouco este tesouro do viver pela fé e pela graça de Deus. Por isso, gostaria de deixar algumas ideias, experiências, para que, a partir de nossa personalidade e de nossos dons, possamos espalhar a boa notícia do Evangelho. 1 – Ministério da Hospitalidade: Estar atento aos visitantes na Igreja, bem como novos moradores da cidade (bairro). Visitá-los levando um bolo, algumas flores e se dispondo a ajudar em qualquer necessidade. 2 – Ministério com folhetos: Levar sempre no bolso ou no carro folhetos evangelísticos. Aproveitar as rotinas do dia a dia para deixar uma mensagem (frentista do posto, caixa do banco, mercado, cabeleireiro, açougueiro, garçom, cobrador de ônibus, carteiro, etc.). 3 – Ministério de visitas aos doentes: Visitar os doentes nos hospitais, ou em seus lares, preocupando-se
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com ele, entregando uma mensagem, orando pelos enfermos, etc. 4 – Ministério com idosos: Cultivar amizade com pessoas idosas, oferecendo companhia, diversão (jogos, brincadeiras) e em meio às conversas aproveitar para dar testemunho, ler a Bíblia e orar. 5 – Ministério com crianças: Promover atrações com esportes, brinquedos, piqueniques, com o objetivo de ganhar a simpatia das crianças. Ex. Escolinhas de futebol onde as crianças se reúnem no ginásio, alguém conta uma história bíblica e um professor de educação física desenvolve o treinamento. É possível parcerias com prefeituras e outras entidades, sem querer ser proselitista, mas compartilhar os valores da fé e do amor. 6 – Ministério de Música: Oferecer aulas de música (violão, bateria, piano, etc...) e, prepará-los para apresentar um hino na igreja, num recital, etc. 7- Ministério de Apoio a estudantes: Pessoas com a missão de tornar a educação possível a estudantes, principalmente para aqueles que estão longe de casa. Ser uma família espiritual que se importa com eles. Oferecer aulas de reforço escolar na Igreja. 8 – Ministério de visitas às Pessoas enlutadas: Ser um visitador e apoiador daqueles que perderam alguém querido. Levar o conforto da amizade.
9 – Ministério com alcoólatras e pessoas em recuperação: Criar espaços na Igreja onde se torna possível desenvolver atividades com pessoas que estão tentando largar os vícios. Pequenos grupos de comunhão, coral de ex-alcoólatras, encontro de famílias com problemas de dependência química, etc. 10 – Ministério de Teatros: Organizar grupos de teatros com mensagens especiais para famílias, jovens e crianças. Existem inúmeras oportunidades de apresentar teatros em escolas, asilos, clubes de mães, etc. Treinar palhaços para apresentarem peças e esquetes engraçadas, mas que tenham ensinamentos significativos para a fé. 11 - Ministério de apoio a famílias que possuem pessoas com deficiência: Geralmente famílias com pessoas com deficiências ficam isoladas e vivem em função delas. Oferecer ajuda e até se propor a cuidar delas para que a família possa sair, participar de um retiro, etc. 12 – Ministério de doação de alimentos: promover arrecadação de alimentos para famílias carentes. Oferecer refeições semanais para famílias carentes em bairros pobres, sendo antes acompanhado de meditações e hinos de louvor. 13 - Ministério de Aconselhamento: Oferecer espaço para aconselhamento sem custos. Estabelecer uma rede de contato com pastores, advogados e psicólogos cristãos ligados
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à igreja, com o objetivo de ajudar pessoas a resolver seus problemas. 14 – Ministério com singulares: Fomentar grupos com solteiros, divorciados, viúvos, pais e mães solteiras, promovendo novas amizades e novos horizontes. 15 – Ministério com esportes: Organizar eventos esportivos onde possa haver espaços para reflexão. Por exemplo: Futebol que começa com leitura bíblica e oração. Caminhadas aonde um grupo vai caminhando e, em pontos estratégicos, alguém traz uma meditação, desenvolvendo simultaneamente o aspecto físico e espiritual. 16 - Café com atrações: Em alguns países, cristãos estão inaugurando cafeterias (lanchonetes) onde é possível fazer uma refeição ou lanche, ouvindo hinos de adoração, mensagens e breves testemunhos. Dispõem de uma estante de livretos para as mais diversas situações. Também jantares e almoços que a comunidade geralmente promove para arrecadar fundos podem ser transformados em locais de testemunho. Uma senhora que frequentava os chás da OASE de Porto Alegre comentou: “Eu tomo chá em muitos lugares, mas aqui é o único lugar em que eu tomo chá e ouço uma Palavra de fé.” 17 – Ministério de Acampamentos: Organizar equipes que desenvolvam acampamentos de férias com atividades lúdicas e espirituais, etc. Nas
cidades grandes, muitos pais não sabem o que fazer com os filhos nas férias. 18 – Pequenos grupos: Organizar pequenos grupos por proximidade, onde as pessoas cantam, meditam, oram, dialogam e comem juntos um lanche. Excelente para criar vínculos de comunhão. 19 – Discipulado: É o método de evangelismo onde você desafia uma pessoa a tirar uma hora por semana para estudar a Bíblia com ela por um período de no mínimo um ano. Isto demanda intimidade, o discipulador se torna o pastor e conselheiro daquela pessoa. Significa tirar tempo para pescar, passear, visitar e andar ao lado numa relação de pai e filho, mestre e discípulo. O objetivo é apresentar Jesus com o estudo da Palavra e com o testemunho de vida. 20 – Ministério de dar Presentes: É uma forma de você fazer chegar até a casa das pessoas a Palavra de Deus. Por isso é importante presentear os amigos, parentes em seus aniversários com materiais evangélicos. Hoje existem bons devocionários, livros e cd´s que podem fazer parte da cesta de natal de muitas empresas. Já pensou substituir a champanhe, ou o vinho por uma Bíblia, um Castelo Forte ou um cd com hinos? Há ainda muitas outras possibilidades, mas gostaria que você não esperasse que a sua comunidade diga o que fazer. Você possui dons que vão lhe ajudar a levar a mensagem
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do evangelho adiante. Enquanto você não colocar em prática estes dons, tenho certeza de que estará deixando de experimentar a alegria de trazer alguém para o convívio da fé cristã. Teria muitos exemplos de pessoas que estavam para se suicidar, mas com um pequeno ato de bondade foram convidadas a se en-
volverem na comunidade e ali encontraram o sentido para suas vidas. Então, indo pelo caminho..., façamos como o Apóstolo Paulo: “Fiz-me tudo para com todos, com o fim de todos os modos, salvar alguns” (1 Coríntios 9.22). Que Deus nos ajude! O autor é Pastor da IECLB em Luzerna/SC
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Mulheres celebrando os 500 anos da Reforma! Pa. Márcia Helena Hülle
Um sonho que se tornou realidade! A Diretoria Nacional da Ordem Auxiliadora de Senhoras Evangélicas (OASE) iniciou a sonhar em 2015 com um encontro nacional de mulheres no ano que comemoramos o jubileu dos 500 anos da Reforma Luterana. E como diz uma frase bem conhecida: “Um sonho sonhado sozinho é só um sonho. Um sonho sonhado junto é realidade”. Assim, com a iniciativa da OASE, com apoio da Presidência da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), em parceria com a Secretaria da Ação Comunitária (Coordenação de Gênero, Gerações e Etnias), com as ministras, com o Fórum de Reflexão da Mulher Luterana e a Juventude Evangélica o sonho se realizou no Encontro Nacional de Mulheres Luteranas, entre
os dias 17 a 19 de março de 2017 em Foz do Iguaçu – PR. Foram mais de 2.100 mulheres reunidas com o objetivo de celebrar a liderança e a participação das mulheres desde o Movimento da Reforma até os dias atuais; refletir sobre a presença, as oportunidades e os desafios enfrentados pelas mulheres em cargos de liderança na Igreja e na Sociedade, e empoderar mulheres para assumirem cargos de liderança. No ano dos 500 anos da Reforma, mulheres luteranas de todo o Brasil e representações das Igrejas Luteranas parceiras da América Latina, irmanadas na fé que leva à comunhão e ao testemunho, vivenciaram um momento significativo e marcante em nossa história, como IECLB. Este encontro proporcionou movimentação, articulação e, por muitas mulheres, a superação de limites para virem à Foz do Iguaçu. Maravilhoso foi perceber que na IECLB há uma diversidade não só cultural, de espiritualidade, de jeitos de celebrar, de organização, mas também de movimentos de mulheres. Movidas pela fé participaram e, nas diferenças, vivenciaram e celebraram com alegria e júbilo o encontro e a comunhão. No culto de abertura, oportunidade na qual foi feito o lançamento do gibi
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“Catarina Von Bora – A Reforma em quadrinhos”, o presidente da IECLB, pastor Dr. Nestor Paulo Friedrich, fez em sua prédica a seguinte pergunta: “Quem, em um país com as dimensões do Brasil, distâncias enormes, teria fôlego, energia e garra para realizar o único evento nacional alusivo aos 500 anos da Reforma neste ano de 2017 no contexto da IECLB? Resposta: As Mulheres! Este Encontro Nacional não se resume a este final de semana, mas a muito mais. Houve um “antes”, está havendo um “durante” e haverá o “depois”! Por quê? Porque... Nele vivemos, nos movemos e existimos (Atos 17.28a) e, agora são outros 500!”. Sim! Agora são outros 500! O tema do encontro nos motivou a deixarnos inspirar pela liderança e pela participação de mulheres no movimento da Reforma, pelas personagens bíblicas e lideranças da Igreja do passado e presente, a nos movermos cada vez mais pela vida digna e justa para todas as pessoas, em especial para as mulheres. Mulheres luteranas celebrando os 500 anos da reforma foi um encontro para impulsionar, renovar o protagonismo feminino na IECLB, como também valorizar e reforçar a sua participação e movimentação dentro da Igreja. Fomos motivadas a continuar a celebrar a participação das mulheres na Igreja e na Sociedade e reafirmar nosso compromisso com o Reino de Deus. E participação é mais que presença. Participação envolve o ter
voz, participar das decisões, enfrentar desafios, ser uma agente de transformação, estar nos espaços decisórios, buscar capacitação. E para isso, é preciso se movimentar, compartilhar, se unir, se comprometer. Fazer força em conjunto para que mudanças aconteçam. Isto é Reforma. E entender a Reforma é entender a Igreja sempre em movimento. Fica deste evento que a Igreja de Jesus Cristo seja espaço onde a justiça de gênero aconteça, pois esta possibilita a reflexão sobre a construção de relações justas e equilibradas (equitativas) entre homens e mulheres, visando a superação de todas as formas de violência e opressão. E para isso acontecer é necessário se movimentar. Colocar-se no Movimento da Reforma rumo aos outros 500 anos. Um desafio? Sim! Mas possível! Quando com sabedo-
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ria e coragem, cristãs e cristãos, se comprometem em conjunto na construção de um mundo onde a justiça e o amor sejam marcas e realidades concretas.
No culto de encerramento, a 1ª vicepresidente da IECLB, pastora Silvia Beatrice Genz, pronunciou as seguintes palavras de envio: “Consoladas e animadas, sigamos mulheres, irmãs amadas, e homens, irmãos amados! Pela Graça de Deus, continuemos a nossa história: de engajamento, de participação, de solidariedade, de construção comunitária, de visitação, de encontros e reencontros, de reflexão, de memórias, de partilhas, de conhecimentos, de descobertas e redescobertas, de graça e fé. Sigamos unidas! Sigamos unidos! Deus, em Jesus Cristo, com a força e a sabedoria do Espírito Santo, segue conosco.” Que assim seja! A autora é Pastora da IECLB em Blumenau/SC
Livre sua mente das preocupações Não atormentes a ti mesmo em teus pensamentos. Quem de vocês, por mais que se preocupe, pode acrescentar uma hora que seja à sua vida? Portanto, não se preocupem com o amanhã, pois o amanhã trará as suas próprias preocupações. Basta a cada dia o seu próprio mal. Jesus Cristo
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“Noites estreladas” Luciane Leite
O Expressionismo, movimento artístico que tinha a emoção como uma das suas características mais marcantes e que embora, tenha se iniciado na Alemanha, no século XX, tem em Van Gogh um dos precursores, podese dizer que aplica-se não só às Artes Visuais.
dem, tais como as fulgurosas estrelas da Noite Estrelada de Van Gogh. Luzes resplandecentes, Estrelas que da Palavra de Deus emergem, para que sintamo-nos fortalecidos.
Quando o medo, a dor da alma, a doença, toda sorte de incertezas nos acometem, bem podemos comparalas a noites escuras, sem luz. Todavia, através da fé, as luzes se acen-
“Mesmo que eu dissesse que as trevas me encobrirão, e que a luz se tornará noite ao meu redor, verei que nem as trevas são escuras para ti. A
“O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã” (Salmos 30.5).
A Noite estrelada, de Vincent van Gogh, 1889
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noite brilhará como o dia, pois para ti as trevas são luz” (Salmos 139.11-12). Se eu cogitar: “As trevas, ao menos, haverão de me envolver, e a luz ao meu redor se tornará em noite” (Bíblia King James Atualizada). “És tu, Iaweh, minha lâmpada. Iaweh, ilumina minha treva (...)” (2 Samuel 22.29). Se na hora da adversidade conseguíssemos buscar essas Luzes, nos desesperaríamos menos. Eu esbravejaria menos; não me irritaria tanto; aceitaria ao fato de que Deus é o Senhor absoluto da minha vida. E, todo o temor quanto ao futuro sucumbiria. Deus é Senhor sempre! Muitas vezes não aceitamos que coisas ruins tenham que acontecer para que reconheçamos Sua presença. Como no belo hino, “Mais perto quero estar, meu Deus de Ti, Inda que seja a dor que me una a Ti.” É preciso que a noite nos sobrevenha, para que vejamos a Luz do céu. Para que os céus se abram em nosso favor! Para que haja uma Noite Estrelada de Van Gogh! Quem conhece a vida do artista sabe, quantas dores ele passou em sua alma, para que tudo se transformasse nas mais belas telas que conhecemos hoje. No último mês passei por momentos que me levaram a esta reflexão. Primeiro, uma queimadura durante a retirada de uma pinta no meu queixo, que me fez voltar mais vezes ao consultório de um médico, que me
ensinou combinar a sua profissão com a Arte, a sensibilidade. Não se abrasar com a ira: ela pode voltar para você mesmo inadvertidamente, através de uma luz sem manutenção. Num segundo momento, após minutos sentar-me sobre a perna esquerda, ao redigir meu planejamento, fui levantar-me. E, não pude conter-me em pé. Uma dor extrema me acometeu. Perdi o equilíbrio e caí, apoiando-me sobre o punho esquerdo já fraturado anos atrás. Foram minutos de dor física e na alma. Orando comigo mesma e sentindo todas as dores que queria depositar nas mãos dEle. Tantas vezes silenciadas. Senti saudades de minha mãe, falta de sua presença. Ainda que cotidianamente eu tenha o cuidado e apreço de muitas mães, pessoas amadas que zelam por mim. Senti falta dela, como uma criança há muito desejosa do colo e afagos maternais. Minha irmã e cunhado levaram-me ao hospital de fraturas mais próximo, para onde fomos encaminhados. E, lá, louvores a Deus se ouviam ao longe. Eu ouvia uma flauta transversa, som de violão e vozes. Disse para minha irmã: – Entendeu por que está aqui comigo? De repente, eles adentraram nosso ambiente. Foi como a Shekinah que os israelitas vivenciavam no passado do templo. A glória de Deus se ma-
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nifestou sobre nós. Eu e minha irmã cantamos, louvamos, oramos juntas, coisa que há muito tempo não tínhamos mais a oportunidade de fazer. Pessoas ali foram alcançadas. Até a rouxidão do meu punho diminuiu. Minha pressão arterial estava altíssima e eu mal podia andar. O quadro parecia o pior possível. Após o resultado das radiografias, soubemos que não havia nenhuma fratura.
No dia seguinte, eu andava sem mancar, a pressão arterial havia se normalizado, minha mão estava apenas dolorida, sem inchaço. Foi preciso cair. Foi necessária a noite. Para que as luzes de Deus pudessem ser vistas, embora elas estejam acesas a todo tempo. A autora trabalha com Artes Visuais em Curitiba/PR
Não leve a vida muito a sério. Não tem problema não saber todas as respostas. Aprender a não levar a vida tão a sério é um dos maiores presentes que você pode se dar e compartilhar com os outros. Quando conseguir, você não se preocupará mais com as pequenas coisas – nem com as grandes. Richard Carlson
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O Ganso de Ouro Elfriede Rakko Ehlert
Era uma vez um homem que tinha três filhos: os dois primeiros, considerados inteligentes, eram os preferidos. O terceiro, simplesinho, era chamado de “bobinho”. Os dois primeiros foram à floresta para cortar árvores. Bem equipados e abastecidos com panquecas e vinho, não quiseram repartir com um homúnculo cinzento que apareceu de repente no meio do caminho, pedindo por um pouco de comida. Mas o castigo foi imediato: Logo se machucaram com as suas ferramentas. O bobinho também se apresentou, querendo cortar árvores. Contudo, enquanto o pai zombava dele, a mãe lhe empacotou um lanche de casca de pão queimado e uma garrafa de cerveja azeda, incentivando-o à missão. Chegando à floresta, lhe apareceu o mesmo homúnculo, pedindo comida. O bobinho falou: ”Não tenho muito a oferecer, mas se você quiser isto aqui...” Eis que no mesmo instante o pobre lanche se transformou em panqueca e vinho. E os dois comeram em harmonia. O homúnculo de repente falou: “Vejo que você tem bom coração, quero oferecer-lhe felicidade”. Indicou-lhe, então, uma velha árvore para cortar. Ao derrubá-la, o bobinho achou ali um ganso de penas de ouro puro. Pegou o ganso e levou-o consigo. Procurou uma pousada para
pernoite. As 3 filhas do dono logo cravaram os olhos no ganso de ouro. A 1ª e a 2ª tentaram arrancar-lhe uma pena da asa. Mas que susto: ficaram coladas. Veio então a 3ª filha, querendo ajudar. As duas gritaram: “Não, não!” Mas ela pensou: - o que vocês podem, eu quero também. Ficou colada. Na manhã seguinte, o bobinho pegou seu ganso com as meninas coladas nele e foi adiante. No caminho encontraram um cura (clérigo), que logo xingou: “- Que vergonha , vocês garotas horrorosas, correr atrás do moço!” Agarrou a mão da última – e claro , ficou preso também. Logo, mais adiante, apareceu o sacristão que passou a gritar: “- Ai, reverendo, para onde nessa pressa? Não se esqueça de que hoje ainda temos um batismo!” Pegando no braço do cura, também ficou preso. Passando dois camponeses, o cura gritou: ”- Socorro, socorro: Livrem-nos!” Na tentativa de puxar, ficaram presos. Chegaram então a uma cidade, onde reinava um rei que tinha um grande problema com sua linda filha: Exageradamente séria, nunca ria. E ninguém, por mais que se tentasse, conseguia arrancar-lhe um sorriso sequer. Então o rei baixou um decreto: - O primeiro cavaleiro que fizer a minha filha rir, a receberá por esposa. E foi lá que chegou o bobinho com o
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seu ganso e ridículo cortejo. Foi conduzido à corte. Quando a princesa viu aquilo, caiu numa gargalhada sem parar.
a morte do rei o bobinho reinou em seu lugar. E viveu feliz com sua esposa...
Agora o bobinho esperava o cumprimento da promessa do rei. Mas este não queria dar a sua linda filha como esposa a um bobinho. Inventou tarefas a cumprir, vejam só: trazer um sujeito capaz de beber uma adega de vinho.
Contos de fadas contém sabedoria do povo.
Neste momento o nosso bobinho – bem esperto – lembrou-se do seu amigo homúnculo. Voltou àquela selva, onde encontrara o ganso de ouro. Achou lá um homem de cara triste. Perguntado pelo motivo, explicou: “- Tenho uma sede de morrer. Água não adianta, já tomei um barril de vinho, mas nada!” Levado à presença do rei, bebeu todo o vinho da adega. E agora? O rei inventou outra: trazer-lhe alguém que comesse um monte de pães. Lógico: o bobinho foi buscar com seu amigo alguém totalmente esfomeado. Foram à presença do rei que entrementes juntara um monte de pães. O sujeito comeu o dia inteiro e lá se foi o monte. Cadê a noiva? Ainda nada. O rei, irredutível, exige então trazer um barco a vela. A saída? Voltou ao seu amigo homúnculo, que falou: “- Pelo seu bom coração, dei um jeito nas duas tarefas, vou trazer o veleiro”. E assim se fez. Finalmente houve o casamento com grande pompa. Após
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Três filhos: Dois inteligentes – e preferidos. Vão ao mato e se machucam. A psicologia ensina que se deve tratar todos os filhos de maneira igual, mas nunca a serem egoístas que não querem repartir nada com ninguém. Mas como fica a afirmação que os filhos devem firmar-se para vencer na vida? Os dois filhos egoístas e arrogantes fracassaram. O mais novo, o bobinho, o que nos ensina? Ele aprendeu a ser humilde, prestar atenção aos que lhe pedem algo. Reparte o pouco que tem com o pedinte: o homúnculo. Verdade que nem sempre os tais bobinhos são recompensados com um ganso de penas de ouro. Aliás: o ouro fascina e nos prende como aconteceu às três filhas da pousada, ao cura, ao sacristão, aos camponeses sem condições de se livrar do fascínio do ouro – símbolo de riqueza e posses. Outra simbologia: uma princesa. Cresceu na abundância. Motivo para rir à vontade? Não. Só consegue ficar séria e triste. Imagino que sofria de uma doença moderna: Depressão! A infeliz não conseguia rir, apesar de toda a exuberância que a rodeava... E vejam só: o bobinho com o ganso e a penca presa a ela, a fez rir. Às vezes são essas pequenas coisas
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que nos libertam. Então chegamos ao vinho e ao pão no conto. Estranha essa exigência do rei! Difícil de interpretar. Talvez mostre como governantes exigem demais, só para se mostrar soberanos. E quando é para valer, se esquecem de suas promessas. E o bobinho? Só pelo gesto de saber
repartir, impressionou. Revelou seu bom coração. Sem nome, para ser merecedor de casar com uma princesa e tornar-se rei. Devido a sua humildade e bom coração tinha vocação para ser bom governante. Tomara que não caia na tentação de ser ditador, pois o poder corrompe. Que continue íntegro para ser feliz. A autora é professora emérita e artista plástica, reside em Curitiba/PR
Eu levo ou deixo Diz a lenda que Rui Barbosa, ao chegar em casa um certo dia, ouviu um barulho estranho vindo do seu quintal. Chegando lá, constatou um ladrão tentando levar seus patos de criação. Aproximou-se vagarosamente do indivíduo e, surpreendendo-o ao tentar pular o muro com seus amados patos, disse-lhe: "Oh, bucéfalo anácrono! Não o interpelo pelo valor intrínseco dos bípedes palmípedes, mas sim pelo ato vil e sorrateiro de profanares o recôndito da minha habitação, levando meus ovíparos à sorrelfa e à socapa. Se fazes isso por necessidade, transijo; mas se é para zombares da minha elevada prosopopéia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com minha bengala fosfórica bem no alto da tua sinagoga, e o farei com tal ímpeto que te reduzirei à quinquagésima potência que o vulgo denomina nada." E o ladrão, confuso, diz: "Dotô, eu levo ou deixo os pato?"
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O Jovem e seu trabalho Juliana Monte Serrat Prevedello
Quando somos jovens, na hora de escolhermos uma profissão, levamos em consideração: o que aprendemos na escola, os exemplos familiares, as observações das atividades que mais gostamos dentro da comunidade, e outras informações do meio social. Em geral, a orientação vocacional mostra áreas onde temos habilidades e afinidades, mas não indica profissões específicas. Isso, porque atualmente muitas profissões integram diversas áreas, ou seja, são interdisciplinares. E ainda, outro aspecto importante a considerar, é a capacidade de relacionamento entre profissões na formação de equipes multiprofissionais. Nas últimas décadas houve rápidas mudanças nas habilidades necessárias para as diversas profissões, principalmente naquelas mais influenciadas pela tecnologia. O ambiente de trabalho, muitas vezes, depende de atualizações constantes, vindas através dos diversos meios de comunicação como: Rádio, Jornal, TV, Sites da internet, Pessoal e outros. Os jovens têm dedicado mais tempo para a escolha do que irão encarar como carreira nas suas vidas, além de
conhecer, procuram testar e tentar as diferentes oportunidades. Minha história como exemplo No meu segundo grau, final dos anos 90, optei por fazer Magistério, pois achei que iria ser professora de 1ª a 4ª série a vida toda. Quando cheguei no terceiro ano do curso, vi que não tinha o dom para esta profissão. Nas férias daquele ano (2000), tive a oportunidade de conversar com uma prima dermatologista que me estimulou a conhecer cursos de limpeza de pele. Desde então, busquei cursos Técnicos e Tecnológicos nas áreas de estética e terapêutica facial e corporal. Atualmente, com 12 anos de profissão, trabalho com estética e massoterapia com ênfase em: Drenagem Linfática; Pré e Pós Operatório; massagem para gestantes e idosos; massagem Modeladora e Relaxante. Meu avô Paulo de Tarso Monte Serrat dizia: “Faça como profissão algo que lhe dê prazer, assim você estará sempre de férias”. Hoje sei que realmente amo e curto muito minha profissão. A autora trabalha com cuidados corporais nas áreas de massoterapia e estética em Curitiba/PR
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O Natal de Nicolau Anamaria Kovács
Nicolau aproximou-se de Pedro, o guardião dos portões, e resmungou: – Preciso ir à Terra... Pedro ergueu as grossas sobrancelhas brancas: – Por quê? – Tenho ouvido uns comentários... Você sabe, tenho um nome a zelar. Se a situação for mesmo tão grave quanto parece, será preciso fazer alguma coisa. Tenho que ver por mim mesmo. É dezembro por lá, não é? Pedro olhou para um calendário luminoso suspenso entre as estrelas. Havia nele duas listas. Sobre uma delas, o título: “Planetas”; sobre a outra, a palavra “Tempo”. Ele correu o dedo pela primeira lista, até encontrar “Terra”, depois procurou do outro lado, e confirmou: – Sim, é dezembro. Com um suspiro, Nicolau despediuse e desapareceu. *** A multidão parecia um rio agitado. Jogou Nicolau para um lado, depois para o outro. Desequilibrado, ele bateu com força num barrigão balofo, vestido de vermelho berrante. O dono do barrigão berrou: – Não enxerga, velhote? Sai pra lá! O empurrão do sujeito atirou Nicolau contra o umbral de uma por-
ta, onde ele ficou estatelado, com a cabeça a rodopiar. Enquanto isso, empunhando um microfone, o barrigão clamava: – Venham, criancinhas! Esta é a loja do Papai Noel! Aqui temos tudo que vocês querem, a preços camaradas! Ho, ho, ho! Venham, mamães e papais! Aqui protegemos o seu bolso! Venham para a loja do Papai Noel! Nicolau observou uma mulher com dois garotos pela mão, atrapalhada com várias sacolas cheias de pacotes. O menino maior apontava para um brinquedo dentro da loja: – Olha lá, mamãe! É o boneco do Batman! É esse que eu quero! Eles entraram, e Nicolau seguiu-os. Precisava saber se o Natal mudara de fato, ou se tudo não passava de fofoca. O menino menor arrastava os pés. Estava a ponto de chorar de cansaço, mas a mãe não lhe deu atenção. Perguntava a um vendedor o preço do boneco. Ao receber a resposta, balançou a cabeça e deu meiavolta. O garoto mais velho perguntou: – Mãe! Você não vai comprar o Batman pra mim? – Não, Marcos, ele é caro demais! Você já tem um jogo e uma prancha de surfe, e eu ainda tenho que comprar a bola do seu irmão. O menino ficou parado, cabisbaixo,
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por uns instantes. Logo em seguida, porém, ergueu a cabeça, os olhos novamente brilhantes, e disse: – Já sei! Vou pedir ao Papai Noel! Ele está ali fora, vamos falar com ele! Arrastou a mãe para a entrada da loja, postou-se diante do barrigão balofo e puxou-o pela manga do paletó vermelho. O homem parou de berrar ao microfone e encarou o garoto, mal-humorado. – Que é, moleque? – Eu queria fazer um pedido, Papai Noel. – Na nossa loja atendemos a todos os pedidos. É só entrar e conversar com os vendedores! – É que eu queria um boneco do Batman, mas a mamãe ainda precisa comprar a bola do Serginho... Aí eu pensei que o senhor podia trazer o Batman pra mim... – Olha, eu infelizmente não posso fazer isso. Mas a sua mãezinha pode conversar com o Senhor Mário, gerente da nossa loja, e abrir um crediário... Viu, madame? Temos ótimas condições de pagamento, é só conversar... A mãe dos meninos nem esperou o fim da frase. Virou-lhe as costas e levou os filhos e as compras para longe dali, sob os protestos das crianças. Nicolau, penalizado, lançou um longo olhar para o céu. Lá adiante, mãe, embrulhos e filhos entraram num táxi. Marcos soluçava. De repente,
Serginho disse: – Ei, o que é isso aqui, embaixo do assento? – E puxou para fora uma caixa transparente. Era um boneco do Batman, esquecido ali por algum passageiro distraído... Enquanto isso, pensativo e triste, Nicolau começou a caminhar pela calçada, desviando-se dos apressados. “Então os boatos que ouvi são verdadeiros... Está tudo diferente... Transformaram-me nesse personagem esquisito... Mudaram até o meu nome, a minha roupa... Em vez da generosidade e da caridade, passei a simbolizar o comércio...” Enquanto ruminava esses pensamentos, ele afastou-se da rua principal. *** Avistou uma pracinha simpática, com alguns bancos colocados debaixo de árvores antigas e frondosas. Resolveu descansar um pouco ali. Acabara de sentar-se, quando Jaqueline e Cristina, garotas de uns doze anos, se aproximaram e sentaram no banco ao lado. Estavam entretidas numa conversa animada. Jaqueline dizia: – A árvore de Natal lá de casa vai ser toda cor-de-rosa – é a cor da moda para este ano! A minha mãe viu, numa revista, um modelo com bolas em tons de rosa, salpicadas de dourado e prateado, presas com laços de fita branca com bordas douradas. Vai ficar bárbaro! – É, vai mesmo – comentou Cristina – Lá em casa não armamos pinheiros
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no Natal, mas a minha irmãzona, que é decoradora, bolou um arranjo incrível para a sala. Dentro de um vidro grandão, ela colocou coisas naturais, tipo galhos secos, sementes, pinhas, misturadas com bolas douradas e vermelhas. Ficou bem legal! Na semana que vem é que a casa vai ficar animada: vêm meus tios, meus primos, vovô e vovó!
e deixou a praça, onde os passarinhos cantavam nas árvores e as meninas tagarelavam alegremente no seu banco.
“Que bom – pensou Nicolau – o Natal é uma festa da família...” Mas a menina ainda falava:
– Toque a campainha...
– ... Pena que vovô vive reclamando de tudo e brigando com papai. E vovó não fica atrás: está sempre implicando comigo: é a saia que é curta demais, a cor do cabelo que não tem nada a ver, o esmalte das unhas... – Ih, cara, até parece a minha família! – exclamou Jaqueline – É só crítica o tempo todo. E quando junta a turma toda, aí então, caem todos em cima de mim e do meu irmão. Um saco! E no dia 25 vem todo mundo lá em casa. Essa é a parte mais chata do Natal. – Em compensação – disse Cristina – eles trazem presentes pra gente, e ainda tem a ceia, os docinhos, as frutas cristalizadas... Mmmm... “Que pena – pensou Nicolau – a meninada só pensa no que pode ver, tocar, degustar... Alegram-se com os presentes, a decoração, a ceia, mas esquecem o mais importante: o nascimento do Menino Jesus!” Cada vez mais deprimido, o bispo levantou-se
*** Andou a esmo por uns quarteirões, e encontrou-se de repente diante da porta de uma casa. Uma voz conhecida sussurrou-lhe no coração: Um menino abriu a porta e olhou para Nicolau, como só os meninos inteligentes olham para alguém. Observou seu chapéu, a longa veste roxa, a cruz peitoral, de ouro e pedras preciosas, a barba grisalha, e concluiu: – Você é o Papai Noel! Surpreso, Nicolau perguntou: – Como?! Quem disse isso a você? – Não sei... Uma vozinha aqui dentro – respondeu o garoto, apontando para a sua cabeça. E, puxando Nicolau pela mão – Entre! – Gabriel! Quem está aí? – gritou uma mulher, de dentro da casa. – É o Papai Noel! – respondeu o menino. A mãe de Gabriel apareceu à porta da cozinha, enxugando as mãos numa toalha. Ficou parada, fixando o estranho, pensando mil coisas, entre a dúvida, o medo, a curiosidade. – Desculpe, senhora. Gabriel me fez entrar – disse Nicolau, com uma leve reverência.
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– Sou bispo da cidade de Mira, na Ásia Menor. Meu nome é...
– Oh, não... Eu nasci muitos séculos depois Dele. Não assisti ao Seu nascimento, mas servi-O por toda a minha vida.
– Nicolau! – interrompeu Gabriel, todo contente.
– Mas você é o símbolo do Natal – insistiu o garoto.
– Menino! Que impertinência! – ralhou a mãe. – O senhor não quer sentar? Quer tomar um suco de fruta?
– Eu?! Mas que absurdo! – revoltouse o bispo. – Venha cá, Gabriel. Vamos conversar sobre o Natal.
– Por favor, não se incomode – disse Nicolau – Eu...
Sentaram-se no sofá da sala de estar. A mãe de Gabriel serviu chá com biscoitos de Natal, ainda um pouco preocupada com a identidade do estranho. Nicolau contou, então, por que os cristãos fazem uma festa tão bonita no aniversário de Jesus Cristo. O menino arregalou os olhos.
– Oh... eu... o senhor é... um sacerdote?
– Quer ver o nosso presépio? Eu mesmo fiz – interrompeu novamente Gabriel, para desespero de sua mãe. Nicolau, que amava as crianças, divertia-se. – Sim, quero ver o presépio. Na verdade, acho que foi para isso que vim aqui... Gabriel levou-o para a sala de jantar. A um canto, estava armado um pinheiro de Natal, enfeitado com bolas coloridas, laços, anjinhos dourados e muitas luzes, que o menino acendeu. Ao lado do pinheiro, sobre uma mesinha, o presépio: figuras de cartolina, desenhadas e recortadas por Gabriel, representavam Maria e José, o Menino na manjedoura, os reis ajoelhados e uns bichos estranhos, parecendo cavalos com duas corcovas. Uma caixa de papelão, pintada e decorada, era o estábulo, e sobre ela Gabriel prendera uma linda estrela de papel dourado. – Ainda falta você! – disse ele para Nicolau.
– Mas... E os presentes? – Eles querem dizer que Deus nos ama tanto, que nos deu o maior presente de todos, o seu Filho. – E você? – Eu sou apenas um servo de Deus. Quando eu vivia em Mira, havia na cidade muitas crianças pobres, que passavam fome e frio. Eu procurava ajudar a elas, dando o que podia a seus pais – dinheiro, roupas, calçados... Sempre amei as crianças, e doía-me o coração quando sofriam. – Mas é você que distribui os presentes, não é? E mora no Pólo Norte, e tem um trenó puxado por renas, e uma delas tem o nariz... – Não, Gabriel, nada disso é verdade. É só uma história muito bonita, uma fantasia. E não tem nada a ver comigo. Sinto muito.
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O menino ficou quieto. Sua mãe olhava para ele, esperando uma tempestade. Mas ela não veio... Gabriel disse:
do no Pólo Norte e distribuindo brinquedos para as crianças, de mentirinha. Ele só não pode ser o símbolo do Natal!
– Eu gosto mais de saber que você dava presentes para as crianças de Mira. Sabe, hoje, o Papai Noel só traz presentes para quem pode comprálos. E ninguém se lembra de que o Menino Jesus também é um presente.
– Isso mesmo! – exclamou Nicolau, entusiasmado – E é preciso lembrar também aos pais e mães das crianças que todos os enfeites, os presentes, as comidas típicas, as roupas novas, tudo isso é para comemorar o aniversário de Jesus. É por isso que essa é uma festa especial, diferente de todas as outras.
Nicolau ficou emocionado. Finalmente, alguém entendia o seu problema! Gabriel continuou: – Sabe de uma coisa? Eu acho que a gente precisa contar a verdade para todas as crianças! – Gabriel, você não pode fazer isso! – disse sua mãe – É tão bonito esse sonho, essa fantasia... E você quer destruí-la? – Não vou destruir a fantasia! Vou consertar uma coisa que está errada. O Papai Noel pode continuar vendendo brinquedos e roupas e carros e perfumes... Pode continuar moran-
– Vou colocar tudo isso no meu blog – disse Gabriel – Assim, todos os meus amigos da Internet vão saber, e passar adiante pros amigos deles! Num instante, a mensagem vai dar a volta ao mundo! – Viva a tecnologia! – disse Nicolau, e abraçou o menino com ternura. – Agora, preciso voltar para casa. Confio em você e nos seus amiguinhos internautas. Deus abençoe a todos! Feliz Natal! E desapareceu. A autora é professora e jornalista aposentada e reside em Blumenau/SC
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Palavra não foi feita para dividir ninguém P.Claudio S. Schefer
A preocupação com a solidez e durabilidade do matrimônio é algo que acompanha a ação evangelizadora da igreja cristã desde seu surgimento. Os evangelhos e as cartas apostólicas revelam a preocupação com relação ao bom relacionamento matrimonial e a estabilidade da família. Não é de hoje que em nossas comunidades nos preocupamos com este tema e investimos em programas para casais. Em cada época a igreja encontra seu jeito de lidar com esta questão que valoriza o casamento e a família. Nossos ministros são desafiados pela realidade por qual passa nossa
sociedade pós-moderna, que rapidamente substitui itens de consumo por novas ofertas, novas tecnologias, fragilizando relacionamentos e a convivência matrimonial, familiar e comunitária. A conhecida canção de Irene Gomes – Palavra não foi feita para dividir ninguém –, aponta para a função da palavra que é ser PONTE aonde o amor vai e vem. Talvez em meio a todas as mídias e redes sociais que usamos diariamente, devêssemos reaprender a DIALOGAR, a voltarmos a conversar, construindo pontes entre o casal, entre os membros da família e os membros da comunidade de fé.
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As paróquias que estão investindo em retiros e encontros com casais são testemunhas do reavivamento em suas comunidades, bem como o despertamento para novas lideranças e uma reaproximação da família da sua igreja. Certamente o investimento com as nossas crianças e jovens não pode ser ignorado ou deixado de lado quando desejamos que nossas comunidades continuem fortes e animadas. No entanto, a curto e médio prazo, nossas comunidades precisam voltar sua atenção para o matrimônio. Casais felizes formam famílias felizes! Famílias felizes formam comunidades felizes! Essa felicidade não se encontra em tecnologias novas, nem em recursos econômicos elevados. A felicidade do casal e da família é fruto da sua
comunhão com Deus, fruto da palavra de Deus semeada e germinada nos corações de pais, mães e filhos. A graça de Deus revelada em Cristo Jesus nos salva por completo. Precisamos sempre de novo entender que a alegria de ser salvo não é uma alegria adiada para o pós-morte. Salvação em Cristo Jesus tem a ver com nosso matrimônio, nossa família, nosso trabalho, nossa comunhão na igreja com as demais famílias e pessoas aqui e agora e eternamente. Desejamos que em cada paróquia nossas palavras sejam fortalecidas e temperadas pela palavra de Deus e que no coração de todos haja o desejo expresso no cântico de Kurt Rommel: “Quero uma ponte construir para ao irmão poder chegar, ao seu encontro quero ir, e o primeiro passo dar”. O autor é Pastor da IECLB em Brusque/SC
Irritado com as pessoas que amarravam seus animais em frente à prefeitura, o prefeito mandou colocar na parede o seguinte cartaz: “De hoje em diante, fica proibido amarrar os burros aqui fora para não incomodar os que estão lá dentro”.
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Personagens da Reforma P. em Dr. Osmar Zizemer
No ano de 2017 festejaram-se no mundo protestante os 500 anos do início da Reforma Luterana da Igreja. Durante estes festejos, Martim Lutero e Katharina von Bora, sua esposa, foram personagens bastante citados e homenageados. Porém sabemos que esta grande obra não foi realizada apenas por Lutero. Muitas outras pessoas também foram protagonistas junto com ele e em torno dele. Para também tornar algumas destas pessoas importantes na história da Reforma mais conhecidas, o Anuário Evangélico traz apresenta estas pequenas biografias dos mesmos. Martim Lutero Martim Lutero nasceu em 10 de Novembro de 1483 em Eisleben, na Alemanha. Como oitavo de uma família de nove filhos, era filho de Hans Luther e sua esposa Margarethe – dono de uma mina de cobre e vereador. Cresceu em situação de prosperidade modesta. Em 1505, Martim ingressou na ordem dos monges Agostinianos-Eremitas em Erfurt. Foi ordenado sacerdote e estudou Teologia. Conquistou o título de Doutor no ano de 1512 em Wittenberg, onde atuou como Professor de Teologia até sua morte. Desde 1515, o monge dominicano Johannes Tetzel comercializava as assim chamadas Indulgências de São Pedro na Alemanha. Com os lucros desta venda deveria ser financiada a construção da Catedral de São Pedro em Roma. Como cura d’almas e professor acadêmico, Lutero se sentiu obrigado a agir. Assim, ele começou a criticar as pregações e as práticas comerciais de Tetzel. Em 31 de outubro de 1517 ele publicou as suas
famosas 95 Teses, contra o abuso com as Indulgências. Esta data simboliza até hoje o início da Reforma. Ao lado da Reforma no âmbito da Igreja, da Escola e da Sociedade, a tradução da Bíblia é considerada como a obra principal deste Reformador alemão. Michael Achhammer Katharina von Bora Katharina von Bora nasceu em 29 de janeiro de 1499 em Lippendorf, na Alemanha, como filha de um nobre empobrecido da Saxônia. Já aos seis anos de idade ela entrou para a escola-mosteiro das monjas beneditinas em Brehna. Desde 1509, ela viveu no mosteiro Marienthron das irmãs cistercienses em Nimbschen. Instigada pelas publicações de Martim Lutero ela abandonou o mosteiro em 1523 e passou a viver em Wittenberg, na casa do pintor Lucas Cranach. Após rejeitar com auto confiança o pedido de casamento do professor Caspar Glatz, de Wittenberg, ela se
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casou com Martim Lutero em 13 de junho de 1525. Após o casamento, o casal passou a residir nas dependências do ex Mosteiro Negro em Wittenberg. Lá viveram com os seus seis filhos, parentes, estudantes, hóspedes e empregados. Katharina era uma mulher hábil na administração dos negócios e contribuiu decisivamente para o bem-estar social da família. Ao lado da administração de seu lar, ela administrou uma propriedade rural, mantinha uma cervejaria e ainda arrendou um braço do rio Elba para a criação de peixes. Como mulher de personalidade forte, Katharina não foi apenas esposa de Martim Lutero, mas também uma parceira muito importante. Lutero determinou em seu testamento Katharina como sua herdeira universal e tutora dos filhos. Esta última vontade de Lutero era contrária à legislação da época, conforme a qual devia ser instituído um tutor para a esposa sobrevivente. O testamento foi contestado e a família perdeu importantes fontes de rendimento. Katharina von Bora faleceu em 20 de dezembro de 1552 em consequência de um acidente e foi sepultada na igreja de Santa Maria, em Torgau. Michael Achhammer Philipp Melanchton: O professor reformatório da Alemanha Ele é conhecido, ao lado de Martim Lutero, como o mais importante
Reformador da Alemanha. Em 16 de fevereiro de 1497 ele nasceu como Philipp Schwarzerdt, em Bretten, na região de Kraichgau (Alemanha). Seu mentor Johannes Reuchlin honra seu talentoso aluno com o nome humanista de Melanchton, traduzindo o seu nome de família para o grego, quando este tinha 12 anos. Melachton tem 21 anos, quando o príncipe eleitor as Saxônia, Frederico o Sábio, o chama para ser professor de grego na Universidade de Wittenberg. Logo na preleção inaugural ele fala de uma reforma universitária, e desafia os estudantes entusiasmados: “Tenha a coragem de te servir de tua própria inteligência!” Ao lado de sua atividade docente ele estuda teologia junto a Martim Lutero, e ensina grego clássico a ele. Entre os dois se desenvolve uma amizade para a vida inteira, e Melanchton confessa: “Eu preferiria morrer a estar separado deste homem.” Já em 1519 ele participa da “Disputa de Leipzig”, quando Lutero teve de defender a sua teologia diante da Igreja. Durante a disputa com o Dr. Johannes Eck (1486-1543), ele escreve pequenos bilhetes a Lutero com passagens bíblicas que põem a primazia do papa em questão. Lutero o elogia, dizendo: “Esse pequeno grego me supera também na Teologia.” Depois da morte de Lutero em 1546, Melanchton se torna o porta-voz da Reforma na Alemanha. Ainda em seu tempo de vida seu empenho cons-
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tante pela melhoria do serviço de instrução pública lhe trás o título de honra: “Praeceptor Germaniae” (professor da Alemanha). Ele vem a falecer em 19 de abril de 1560 em Wittenberg, na Melanchtonhaus, onde viveu com sua família desde 1536. Seu túmulo está na Igreja do Castelo em Wittenberg, ao lado de seu ex-mestre Martim Lutero. Reinhard Ellsel
Bora e realizou o batismo dos filhos deles. Ele participou, junto com os outros Reformadores, da tradução da bíblia, e mais tarde fez a versão da mesma para o “baixo-alemão” (= Pomerano). Por causa de seus escritos e de suas viagens, recebeu o codinome de Reformador do Norte e/ou Reformador da Pomerânia. Johannes Bugenhagen faleceu em 20 de abril de 1558, e foi sepultado na Igreja do Centro de Wittenberg.
Johannes Bugenhagen
Michael Achhammer
Johannes Bugenhagen nasceu em 24 de junho de 1485 em Wollin, na Pomerânia. Em 1509 foi ordenado sacerdote, e tornou-se vigário na Igreja de Santa Maria em Treptow – Pomerânia. Como docente da escola de monges do mosteiro Belbuck, ocupou-se das ideias do Humanismo e da Reforma. Influenciado por sua correspondência com Martim Lutero, Bugenhagen decidiu viajar a Wittenberg no ano de 1521. Ali ele iniciou o estudo da Teologia, e em 1523 foi chamado para ser o primeiro pastor evangélico da Igreja do Centro de Wittenberg. Neste momento ele já estava casado há um ano com sua esposa Valpurga. Sua vocação para ser pastor da Igreja no centro de Wittenberg assim foi um sinal claro contra o celibato. Rapidamente tornou-se confidente de Lutero. Como pastor da Igreja do Centro ele também celebrou o casamento de Lutero com Katharina von
Jan Hus Jan Hus nasceu no ano de 1371, como filho de uma família pobre na Boêmia. Estudou filosofia e teologia na capital Praga. Esta, como aliás toda a Boêmia no século 14, era dominada por um clero politicamente influente. Hus compreendia como cabeça da Igreja somente Cristo; e como seu verdadeiro fundamento a Bíblia. A igreja, que a seus olhos era pecadora, havia perdido sua reivindicação de representar Cristo na terra pelo seu comércio de indulgências e sua imoralidade. Hus queria possibilitar aos crentes uma maior participação: a comunhão também no cálice, e o direito de pregar também deveria ser estendido aos leigos. Outra inovação decisiva: Hus pregava na língua Tscheca. O papa respondeu às sugestões de reforma de Hus, em 1410, com sua excomunhão. Em 1414 ele foi acusa-
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do de heresia diante do Tribunal de Inquisição do papa. Ele não se deixou levar a revogar as suas doutrinas, e em 06 de julho de 1415 foi queimado vivo do lado de fora dos portões da cidade de Constança.
os Religiosos de Marburg. A tentativa de firmar a Reforma em nível europeu através de um pacto entre estes dois influentes Reformadores fracassou por causa da assim chamada Controvérsia Eucarística.
O teólogo da Boêmia, Comenius chamou Hus de “O ponto de partida da Reforma”. Com isso, iniciou a tradição tcheca de antepor à Reforma luterana a “primeira” reforma de Hus. Porém, Lutero se ocupou explicitamente com Hus somente algum tempo após ter publicado as suas 95 Teses. Foi quando constatou: “Nós todos somos Hussitas, porém inconscientemente”. A partir daí Lutero mandou divulgar os escritos de Hus, e via a si mesmo como seu sucessor.
Em 1529 Zwingli começou a impor mais radicalmente, em Zurique, as mudanças planejadas. Com uma decisão da Câmara da cidade os cidadãos passaram a ser obrigados a frequentar os cultos. Adversários foram expulsos da cidade, anabatistas foram executados e cidades fiéis a Roma foram ameaçadas com guerra. Uma paz com as cinco localidades da Suíça, fiéis a Roma, foi pretensamente selada durante uma sopa de leite conjunta, porém de curta duração. Em 1531 Zwingli impeliu a aliança das localidades reformadas à guerra contra os fiéis a Roma. No dia 11 de outubro de 1531, 500 combatentes de Zurique perderam a vida, entre eles também Ulrich Zwingli. Ele morreu, como Pregador de Campanha, com a espada na mão.
Michael Achhammer Ulrich Zwingli Ulrich Zwingli, nascido a 01 de janeiro de 1484 em Wilhaus (Suíça) foi chamado em 1519 como pároco na catedral de Zurique. Animado pelo sucesso dos reformadores em Wittenberg, Zwingli passou a criticar publicamente a Igreja Católica Romana, o dízimo para a igreja e a proibição do casamento para sacerdotes. Causou grande alvoroço a sua permissão de comer linguiça durante o tempo de quaresma em 1522, apesar de que era proibido o consumo de carne no Tempo da paixão. Em 1529, Zwingli se encontrou com Martim Lutero durante os Colóqui-
Michael Achhammer Johannes Calvin Johannes Calvin ou João Calvino nasceu em Noion/Picardie-França como Jean Cauvin. Estudou direito em Orleans e Bourges, e em 1533 recebeu o título de doutor em direito. No mesmo ano redigiu um discurso humanístico-anticlerical para um amigo. Este discurso lhe trouxe a acusação de heresia, e o obrigou a
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fugir da França. Calvino foi para Basileia, na Suíça e em 1535 iniciou o estudo de Teologia. Já um ano mais tarde ele publicou sua obra principal, a saber, a Institutio Christianae Religionis ( Instrução na Religião Cristã), na qual resumiu sua teologia protestante. Em 1541, o Conselho da cidade de Genebra aprovou a nova ordem eclesiástica de Calvino. Esta continha, além da proclamação da Palavra de Deus, uma rígida disciplina da igreja e a luta contra a decadência moral. Calvino empenhou-se pelo cuidado aos pobres e defendeu os protestantes perseguidos na França. Ele mesmo se dizia aluno e concluente da Reforma de Lutero. Calvino influenciou, através de seus escritos, outros reformadores europeus, como por exemplo, o escocês John Knox. João Calvino morreu no dia 27 de maio de 1564 em Genebra, na Suíça. Ao lado de Martim Lutero ele é o Reformador de maior influência. Já enquanto Calvino era vivo suas aspirações e reformas foram designadas como calvinistas. Hoje, o calvinismo é uma das correntes da fé evangélica mais presentes mundo afora. Michael Achhammer Thomas Müntzer Thomas Müntzer nasceu pelo ano de 1489 em Stolberg (região do Harz), na Alemanha. Ele recebeu uma formação humanista e foi ordenado sacerdote. Ainda antes de Martim
Lutero ele se distanciou da igreja católica. Assim saudou a Reforma iniciada por Lutero que se expandia, e casou com a ex freira Ottilie von Gersen. Lutero recomendou Müntzer em 1520 a um pastorado em Zwickau. As concepções de Müntzer eram radicalmente diferentes das de Lutero. Ele estava convicto de que a confiança na salvação presenteada por Cristo ainda não era fé verdadeira – esta deveria surgir num processo de sofrimento interior, no qual o ser humano verdadeiramente compreende a Paixão de Cristo. Os trabalhadores agrícolas revoltosos que desde junho de 1524 se rebelaram no sul da Alemanha, e cujo movimento também se refletia na Turíngia chamaram a atenção de Müntzer. Ele viajou através das regiões rebeladas e firmou ainda mais a sua opinião que pastores e príncipes mantinham as pessoas simples longe da fé, mas que os trabalhadores agrícolas seriam o instrumento para a purgação apocalíptica necessária segundo sua convicção. Por isso, uniu-se aos sublevados. Na batalha decisiva eles, os trabalhadores agrícolas não tiveram a mínima chance contra as tropas dos príncipes e suas armas de fogo. Müntzer foi preso. Ele interpretou a derrota como um castigo de Deus, porque os revoltosos haviam lutado por vantagem própria e não pelo Reino de Deus. Mas, mesmo sob tortura, ele não renunciou às suas doutrinas, e
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em consequência foi executado. Michael Achhammer Frederico, o Sábio Ele salvou a Reforma Em 17 de janeiro de 1463 Frederico III nasceu no castelo Hartenfels, em Torgau, Alemanha. Quando ele tinha 22 anos a esfera de governo de seu pai – Ernesto da Saxônia (1441-1486) – foi subdividida em duas partes: o Ducado da Saxônia e a Saxônia eleitora (Kursachsen). Um ano mais tarde Frederico, que estava firmemente arraigado no catolicismo, assumiu a sucessão de seu pai. No ano de 1507 o imperador Maximiliano I o nomeou para o influente cargo de “Governador Geral do Império Alemão”. Frederico era considerado incorruptível, justo e confiável. Diplomaticamente hábil, não costumava atropelar os assuntos. Muitas vezes ele dizia: “É bom fazer acordos, mas ai de quem os cumpre.” Também era respeitado como conhecedor das artes, e patrocinava o pintor Albrecht Dürer. Nomeou Lucas Cranach, o Velho, como pintor oficial de sua corte. Em 1502 o príncipe eleitor da Saxônia havia fundado uma univer-
sidade própria em Wittenberg. Em 1508 ele convocou Martim Lutero de Erfurt para Wittenberg. No dia 31 de outubro de 1517 o então já doutor em teologia pregou 95 Teses em latim na porta da Igreja do Castelo em Wittenberg como protesto contra o comércio de Indulgências. Com isto, ele deu o ponta pé inicial para uma ampla reforma da Igreja. Mas a estrutura de poder do papa em 1518 abriu um processo por heresia contra Lutero, o “filho da maldade”. Lutero foi convocado para Roma. Mas ele recorreu, através de seu amigo Georg Spalatin, ao príncipe eleitor, solicitando que o processo se realizasse em terra alemã. Frederico, o Sábio, fez com que Lutero ganhasse tempo para desenvolver as suas intenções reformatórias. Ele conseguiu que a Lutero fosse concedido salvo-conduto para a Dieta de Worms. Após a proscrição deste, o príncipe mandou levá-lo em prisão preventiva para o Castelo de Wartburg. No dia 05 de maio de 1525 Frederico faleceu em Lochau. Somente quando já estava em seu leito de morte ele pediu a Santa Ceia segundo o rito protestante. Isto é interpretado como sua confissão tardia à fé evangélica. Reinhard Ellsel Tradução: P. em. Dr. Osmar Zizemer
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Poesias P. em. Dr. Lothar Carlos Hoch
A música A música inspira o compositor E renova os laços de amor A música fortalece o atleta
A ciranda da vida
E dá asas ao espírito do poeta
“Ciranda cirandinha” a vida começa
A música a alma enternece
bem miudinha
E faz sonhar quem se entristece
não mais q’uma promessa
A música é arte sublime
“vamos todos cirandar”
Que de todos os males redime
aos pouquinhos inda pequeninhos
A música eleva o espírito a Deus
aprendemos a nos virar
E alegra o coração dos seus “vamos dar a meia volta” viver em comunhão lidar com a revolta uma grande lição “volta e meia vamos dar” aprender a amar com calma amadurecer em sabedoria envelhecer.
O autor é Pastor Emérito da IECLB e reside na Praia da Pinheira/SC
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Política: E eu com isso? P. Jairo Rivelino Ebeling
Hoje em dia é muito comum ouvirmos expressões como: “não gosto de política”, “prefiro não me envolver com essas questões”, “todos os políticos são corruptos”, “sempre que um político aparece na televisão eu troco de canal”, “política envolve mentiras e desvio de verba”. Não raras vezes, quando se fala de política, geralmente se pensa nela como uma coisa ruim e distante, como se fosse assunto apenas para os especialistas ou políticos. Ou então até mesmo, pensamos que a política só se restringe ao voto. Mas será que é isso mesmo? Afinal, o que você tem a ver com a política? As afirmações que descrevi acima são um retrato dos nossos tempos. O bombardeio de informações negativas sobre política é tão grande que as pessoas estão cansadas. Os escândalos, a corrupção e o jogo de interesses daqueles que deveriam ser os representantes do povo, contribuem para que a política seja cada vez mais desacreditada. Na origem da palavra “política”, está o termo “pólis”, que significa cidade. Desta forma, a política é necessária na organização e administração de uma cidade ou nação. Política não está relacionada apenas com partidos ou com ideologias, mas se presta para assegurar a paz, o direito, a justiça social e o bem comum. Devemos ressaltar que devido ao pecado
(Gênesis 3), o ser humano se tornou corrupto, individualista, egoísta, e, assim, a política também foi desvirtuada do seu propósito original. O ser humano busca o poder pelo poder, não importam os meios, abrindo mão de valores morais e éticos. Entretanto, do ponto de vista bíblico, o poder nos é concedido com o objetivo de servir uns aos outros. “Não é assim entre vós; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva”. (Mateus 20.26). O que dizem a Bíblia e o Reformador Martim Lutero sobre a Política e as consequências para o ser humano A Bíblia é instrumento importante para despertar o povo para estudar, instruir-se e assim nortear as suas condutas e atitudes. A Palavra de Deus ensina que as autoridades políticas são constituídas por Ele e respondem diante Dele pelo exercício do poder (Romanos 13). Os governantes são vistos como servos de Deus neste mundo, para através da política e do exercício do poder promover o bem comum, proteger os bons e punir os maus. Desta forma, deverão responder diante de Deus pela corrupção na política, pela insensibilidade e pelo egoísmo. A visão do cargo político como sendo uma delegação divina desperta no
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povo o devido respeito pelas autoridades, mas, ao mesmo tempo, produz nestas autoridades o senso crítico do dever. Quando uma autoridade fere os princípios éticos, devemos resistir pelos meios corretos. A mobilização, a denúncia, a fiscalização, bem como a organização em torno de propostas concretas são instrumentos a disposição para exercer a política conforme a vontade de Deus. Resistir à corrupção é dever de todos. As autoridades têm o dever de não roubar e não deixar roubar. A nossa tarefa é “ser sal e luz” em meio ao mundo marcado pelo pecado. Olhando para os tempos da Reforma Protestante, percebe-se que o tema já fazia parte das manifestações do reformador Martim Lutero. Em 1520, Martim Lutero escreveu um livro intitulado: À nobreza cristã da Nação Alemã que trata do melhoramento do estado cristão. Foi a primeira grande manifestação política do reformador. Nesta obra, Lutero apela aos governantes da época para se empenharem por mudanças estruturais na Igreja e na sociedade. É impressionante observar como Lutero ousa ser concreto em suas propostas: orienta que muitos tributos não deveriam ser cobrados do povo; enfatiza que é preciso achar uma solução para acabar com a pobreza; e também defende uma reforma no ensino, desde a criança até o adulto. Estas são algumas considerações dirigidas por Lutero ao poder público.
Lutero defende que não há um setor sequer de nossa vida que esteja isento de aspectos políticos. A política permeia tudo. A necessidade de interessar-se pela política decorre do fato de Deus ser Senhor não só da Igreja. Ele é Senhor de todo o mundo. Perante ele são responsáveis todas as autoridades políticas deste mundo, sejam elas cristãs ou não cristãs. Deus exige a justiça, o esforço pelo bem-estar, pela paz e pela preservação da criação. Estes são os valores éticos que a Igreja deve lembrar às autoridades políticas. Entendo que o caminho para a ética na política não é necessariamente converter todos ao cristianismo, e nem colocar em cargos políticos quem se professa cristão, mas contribuir para que os princípios cristãos, mencionados acima, sejam reconhecidos e exercidos por todos. Ao cumprir estes mandamentos eu estou me engajando na política e nas decisões da minha comunidade. Contudo, justiça social, valores éticos e democracia não conseguem prosperar em nossa sociedade, se não tivermos uma mudança de comportamento individual (Romanos 12.2). O nosso envolvimento passa pela mudança de postura que deve começar por cada um de nós. Só assim entenderemos que a política é o ingrediente principal do nosso convívio diário. Para refletir e praticar: 1. O que dizer do cidadão que se diz indignado com a corrupção dos políticos, e, no entanto, em suas
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ações particulares age dentro da mesma lógica, por exemplo, furar fila em banco? Não será este também um meio de corrupção e falta de ética?
confiança ou eletivo, a fim de receber facilidades e benefícios? 3. Quais as consequências de vender ou condicionar o voto em época de eleições?
2. O que dizer sobre o pagamento de propina ao servidor público, seja ele concursado, em cargo de
4. Como posso participar nas decisões políticas da minha comunidade e bairro? O autor é Prefeito da cidade de Cunha Porã/SC
Doe mais e espere menos As mãos que ajudam são mais sagradas do que os lábios que rezam. As pessoas boas merecem nosso amor, as pessoas ruins precisam dele. Madre Teresa de Calcutá
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Quais são os nossos valores hoje? Anamaria Kovács
Vamos por partes, porque o assunto é complicado; em primeiro lugar, é preciso definir o que é “valor”. No dicionário, a explicação é longa e abrange muitos assuntos, desde as artes até a filosofia, passando pela economia e a psicologia. Assim, partiremos da definição dada pela Dra. Izabel Ribeiro, idealizadora e coordenadora do Projeto Teófilo Otoni Capital Mundial dos Valores Humanos: “Os valores humanos são fundamentos morais e espirituais da consciência humana. Todos os seres humanos podem e devem tomar conhecimento dos valores a eles inerentes. A causa dos conflitos que afligem a humanidade está na negação dos valores como suporte e inspiração social. Não é possível encontrar o propósito da vida sem esses valores que estão registrados em nosso ser profundo, ainda que adormecidos na mente e latentes na consciência. Os valores são a reserva moral e espiritual reconhecida da condição humana.” De onde vêm esses fundamentos morais e espirituais? Essa é fácil – eles são transmitidos de uma geração para outra, através do exemplo e do diálogo entre pais e filhos, professores e alunos, mentores espirituais e seus discípulos. Através desses exemplos de vida e de relatos ou leituras, os mais jovens vão tomando conhecimento do que é certo e
do que é errado, do lícito ou ilícito em sua vida particular e na convivência em sociedade. Continua a Dra. Izabel Ribeiro, no site do Projeto que coordena: “A vivência dos valores alicerça o caráter, e reflete-se na conduta como uma conquista espiritual da personalidade.” Trocando em miúdos: valores como honestidade, solidariedade e honradez, por exemplo, fortalecem o caráter da pessoa, tornando-a capaz de enfrentar riscos e desafios em sua vida, e proporcionam a satisfação íntima de estar fazendo a coisa certa, mesmo em situações difíceis. Segundo a Dra. Izabel Ribeiro, “no dinamismo histórico, os valores permaneceram inalteráveis, como herança divina em cada um de nós, apontando sempre na direção da evolução pelo autoconhecimento.” Ou seja, durante muitos séculos, e em todas as partes do mundo, os valores fundamentais permaneceram os mesmos, não importando a época ou a cultura dos diferentes povos da Terra. Pode-se argumentar que os valores mudam ao longo da História e em diferentes partes do globo. Essa é uma visão superficial do problema. Confundem-se costumes e tradições com valores, assim como se confundem hábitos alimentares ou roupas
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típicas com valores fundamentais, como o bem comum ou o respeito à Natureza. Valores ignorados Atualmente, “vivemos tempos críticos, violentos e desesperados; isso acontece devido ao fato de grande parte da humanidade ter esquecido seus valores e tê-los considerado até ultrapassados e desinteressantes”, afirma a Dra. Izabel. Um triste exemplo dessa situação está aqui, bem pertinho de nós, quando vemos cidadãos “de bem” saqueando lojas ou mercadorias caídas de caminhões acidentados nas estradas. De acordo com a mídia, durante a greve dos policiais do Estado do Espírito Santo, em fevereiro de 2017, alguns saqueadores de lojas acabaram se arrependendo e devolveram os bens roubados, enfrentando, assim, o processo criminal por roubo. Eles podem ter sido influenciados por vários fatores, mas sua atitude demonstra que, ao caírem em si, perceberam que infringiam um valor fundamental, o da honestidade. O ganho fácil através da apropriação indébita foi uma tentação irresistível. Da mesma forma, principalmente os jovens buscam a fama instantânea através das redes sociais, contabilizando febrilmente seus “seguidores” e vendo nisso uma forma de autoafirmação e de poder. Daí para formas mais doentias dessa afirmação, como o “cyberbullying”, a distância é pequena.
Vivemos atualmente um tempo de desamor, engano e medo, que deterioram nossos relacionamentos pessoais e com o próprio planeta, devido a essa inversão da escala de valores. O fenômeno é recente. Ao longo do século passado, a sociedade foi levada por caminhos de dor, através de ideologias que inverteram a escala de valores e estabeleceram tensões que geraram perplexidade, individualismo e desânimo. A economia e a tecnologia levaram a melhor sobre os valores fundamentais, como o amor ao próximo, a defesa dos mais fracos, o cuidado com a Natureza, o respeito aos direitos humanos. Segundo a Dra. Izabel Ribeiro, “a constatação da ineficácia das coisas materiais, da fama e do poder econômico como portadores da felicidade, trouxe à tona a auto-indagação e a necessidade de mudanças. Pouco a pouco percebemos que a felicidade é uma conquista da alma e portanto independe de circunstâncias ou satisfação de desejos.” E ela continua: “estamos numa encruzilhada: ou aceitamos a renovação pessoal e social pelo reconhecimento dos valores (...) ou nos agarramos a convicções preconceituosas, arcaicas e individualistas, fugindo do compromisso histórico.” Em resumo, está nas mãos de pais, mestres e líderes religiosos o redirecionamento da escala de valores no coração das crianças e dos jovens, e a conscientização dos adul-
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tos de que é preciso retornar a essa escala esquecida, em que o espiritual é mais importante que o material, o bem-estar do próximo depende de cada um de nós, o preconceito deve ser substituído pelo conhecimento, o respeito à dignidade do ser huma-
no e do animal é importante, os elementos da Natureza devem ser protegidos e não explorados a ponto de se degradarem e morrerem. Trata-se de uma questão de sobrevivência, da coletividade e de todos os elementos da Criação. A autora é professora e jornalista aposentada e reside em Blumenau/SC
Fonte: www.projetovaloreshumanos.com.br - Copyright 2011 Projeto Valores Humanos – produzido por Rota das Pedras. Citações: Dra. Izabel Cristina Ribeiro de Carvalho “Valores Humanos, a revolução necessária – um manual de vida” (esgotado).
Ria se puder! No escritório, o sujeito cochicha com o amigo : - Jeremias, você é capaz de guardar um segredo ? - Claro ! Amigos são pra essas coisas ! Pode falar... - Cara, é que eu tô precisando de mil reais emprestados... - Pode ficar tranquilo! Vou fingir que nem ouvi!
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Receitas da Maria e da Marlene “Cueca Virada” ou “Orelha de Gato” Ingredientes: – 6 ovos – 1 ½ xícara de nata – 1 xícara de açúcar – 2 colheres de sopa de fermento em pó – ½ xícara de flocos de aveia – 3 colheres de sopa de gergelim – 4 colheres de sopa de linhaça moída – 1 colher de chá de baunilha – 1 colher de chá de sal – Farinha de trigo branca e integral (meio a meio) até dar ponto de abrir com o rolo. Modo de fazer: Misture tudo, amasse bem em ponto macio de abrir com o rolo. Corte em forma de retângulos (12 cm x 5 cm). Faça um corte no meio (4 cm) e puxe uma das partes por esse corte. Como já tem gordura, é melhor assada. Polvilhe com açúcar e canela.
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Cuca da Oma Erna Ingredientes: – 2 colheres de sopa de fermento para pão – 3 colheres de sopa de açúcar – 3 colheres de sopa de farinha de trigo – 1 ½ xícaras de água morna Misture bem e deixe crescer. Acrescentar: – 2 xícaras de açúcar – 4 ovos – 2 colheres de sopa de banha – 2 colheres de sopa de manteiga – 1 ½ xícara de leite – 1 pacote de açúcar de baunilha – 1 colher de chá de sal – Farinha para dar ponto (em torno de 6 xícaras) Modo de fazer: Misture o fermento crescido com o restante dos ingredientes. Pode fazer a massa macia. Se quiser enrolar com recheio, fazê-la mais firme. Deixar crescer um pouco. Unte uma forma retangular grande ou três formas médias e coloque a massa. Deixe crescer. Ao dobrar de volume, pincele com ovo batido e depois coloque a farofa da cuca. Farofa da cuca da Oma Erna – 1 xícara de açúcar – 1 colher de sopa de banha – 1 pitada de sal – 1 colher de chá de canela em pó e/ou casca ralada de um limão ou baunilha – 2 colheres de sopa de manteiga – 5 a 6 colheres de farinha de trigo Modo de fazer: amasse tudo junto com os dedos até formar uma farofa.
Fonte: Livro Alimentação Consciente, páginas 80 e 128, de Maria Ledi Bobsin e Marlene Zizemer Gaede
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Um austríaco no Brasil Josef Kässmayer
Certo dia recebi um convite, a empresa alemã Delden-Gronau, para trabalhar no Brasil. Como eu estava divorciado (o matrimônio havia durado sete anos, mas foi um fiasco, um verdadeiro inferno) então eu aceitei imediatamente o convite. Foi uma decisão muito difícil. Nesta pequena cidade onde eu morava, conhecia cada um e cada uma. Logo depois do divórcio senti saudades de quando me confessava (conversava) com um padre e procurei por um. Ao terminar minhas confissões, ele me disse: “Die Sünden kann ich Dir verzeihen, aber eine Hostie werde ich nicht verabreichen” (Os pecados podem ser perdoados, mas a hóstia sagrada eu não posso lhe entregar). Naquele
momento eu me senti expulso por Deus. Senti-me uma pessoa marcada nesta pequena cidade católica. A empresa Delden-Gronau do Brasil fica em Curitiba/PR, e o diretor-presidente, sr. Alexander Popovic compreendeu minha aflição. Ele era iugoslavo e fugiu devido à situação política da época. Recebeu-me calorosamente e, depois de uma conversa de 40 minutos e da verificação dos documentos, e certificados, fizemos um acordo verbal. Tornei-me responsável pelo estoque da fábrica e pela compra dos materais. Como primeira impressão, ao almoçar na cantina com os outros funcionários, logo percebi que a maioria era menonita. Nunca ouvira falar desse grupo religioso. Mas comecei a admirar e a respeitar essas pessoas. Muitas vezes foi difícil de entendê-las. Elas falavam Platt Deutsch, um dialeto alemão. Observei que, antes de almoçar, eles abaixavam a cabeça, uniam as mãos e oravam em silêncio. Isso me tocou profundamente. Também conheci o sr. Albrecht Bodendörfer, mestre responsável pela composição das tintas para os tecidos. Albrecht era membro da Paróquia São Mateus e até hoje é meu amigo íntimo. Isso já faz 40 anos. Mensalmente, nos reunimos em minha casa para tomarmos café e conversarmos sobre os velhos tempos.
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Voltando à história, um dia o porteiro da empresa comunicou-me, via interfone, que duas senhoras queriam falar com algum responsável. “Deixe-as passar”, eu disse. As senhoras se apresentaram como membros da Igreja Luterana Cristo Redentor e explicaram que estavam preparando uma feira da igreja. Pediram ajuda da nossa empresa. Uma vez que éramos uma empresa alemã, elas esperavam certo apoio. Eu deixei claro a elas que eu não tinha autorização para liberar doações, mas que falaria com meu diretor-financeiro sobre o assunto. Pedi para me telefonarem em dois dias. Falando com meu diretor (Sr. Köhler) ele disse: “Josef, dinheiro nós não temos, mas olhe no seu estoque, pois talvez você tenha alguns restos de fazenda”. Pedi ao meu ajudante para se-
parar alguns metros de tecido para entregar às senhoras. Exatamente em dois dias elas ligaram e eu as convidei para virem. Elas ficaram muito felizes, pois era exatamente o que precisavam e queriam. Convidei-as para um cafezinho e pedi para me contar mais sobre a Igreja Luterana. Elas me perguntaram se eu também era luterano. Respondi que era católico. Continuei: “Eu tenho uma namorada – naquela época já conhecia a Zilda –, ela também é católica, mas quer se casar perante Deus e, como eu sou divorciado, eu não posso me casar novamente na igreja católica. Então uma das senhoras falou: “Espere, acho que eu tenho uma solução. Telefonarei em breve para o senhor”. Passou-se mais de uma semana (quase 10 dias) e, de fato, recebi um telefonema daquela senhora, dizendo: “Vou lhe passar um número de telefone. Ligue para cá e fale com Pastor Sílvio Schneider para marcar um encontro”. Fiquei muito surpreso e comentei naquele dia mesmo com a Zilda. Ela concordou em marcar uma entrevista com P. Sílvio. O P. Sílvio nos informou que um casamento podia ser realizado na Igreja Luterana, mas nós precisávamos nos converter àquela religião. Zilda e eu participamos, a partir daí, de vários cultos da Igreja Luterana, até que a Zilda disse, alegremente: “Não tem nada diferente nessa religião. Eles rezam o Pai Nosso, o Credo, há a Santa Ceia”. Então, fizemos um curso de orientação com P. Sílvio e logo casa-
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mos na Igreja Luterana, na Av. Trajano Reis. Nunca me esquecerei do P. Sílvo. Ele celebrou nosso casamento em dois idiomas: português e alemão. A igreja estava cheia, quase 200 pessoas. A duração da cerimônia foi para Zilda longa e exaustiva demais, mas o pastor foi muito atencioso. Ele pediu uma cadeira e Zilda ficou sentada durante toda a cerimônia. Acho que ela foi a única noiva que se casou sentada. Meus amigos brincaram depois: “Josef, a Zilda não quis se casar, ela queria fugir, mas você e o pastor não a deixaram sair, prenderam-na na cadeira!”. Quero aproveitar o fato para mencionar uma história que tem, em certos aspectos, certa semelhança com o meu casamento. O mais famoso austríaco, Johann Strauss Filho (o Rei das Valsas), quis se casar com Adele Strauss, que tinha o mesmo sobrenome devido ao seu casamento anterior. Adele era uma famosa cantora de ópera, viúva, católica e amava muito Johann Strauss. E era correspondida da mesma forma pelo Rei das Valsas. Como Johann já era divorciado, ele não podia mais se casar na igreja católica. Amigos de Johann Strauss quiseram lhe ajudar e contataram o príncipe Ernst II, da casa Sachsen-Coburg. O príncipe era um grande admirador de Johann Strauss. Também apaixonado por música, chegou a fazer algumas composições particulares. Sabendo da situação, ofereceu imediatamente
seu apoio. Para se casar com Adele, Johann Strauss precisou tornar-se cidadão da Alemanha e membro da Igreja Evangélica Luterana. Johann Strauss registrou-se em 1885 como residente em Gotha e, em 1886, decidiu ser membro da Igreja Evangélica Luterana. Conseguir se casar com Adele, seu grande amor. Johann Strauss Filho faleceu 1899 como cidadão alemão e de confissão evangélica AB (sigla que, em português, seria CA: Confissão de Augsburgo). Muito rapidamente conseguimos, Zilda e eu, integrar-nos na comunidade luterana. Zilda toca piano e foi bem recebida para tocar nos cultos. Também participávamos do coral da igreja. “A cornucópia de benção de Deus derramou-se sobre nós.” Dessa união, nasceram dois filhos, Stephan e Karin. Stephan foi batizado na igreja na Av. Trajano Reis e Karin na comunidade Bom Pastor (P. Weckerling). Stephan, hoje aos 39 anos, é Major da Aeronáutica. Karin formou-se em Direito, com estágio de um ano na famosa Universidade de Tübingen, e trabalha como consultora legislativa no Senado Federal. Ela é casada com o Eng. Frederico Paegle. Casaram-se na Christus Kirche (templo evangélico luterano). O P. Werner Brunken realizou a cerimônia. A grande alegria que eles proporcionaram à Zilda e a mim foi nos tornar orgulhosos avós da pequena Anna, atualmente com três anos. Neste momento, preciso narrar um acontecimento muito triste. Nesses
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40 anos de convívio com a comunidade luterana, aconteceram muitas alegrias, mas também muitos fatos tristes. Muitos amigos se despediram para tomar morada no Reino de Deus. O P. Jandir pediu para nós, homens do grupo Filadélfia, para sermos os responsáveis em colocar naquele ano a Árvore de Natal na igreja. A árvore precisava ser cortada na casa de um membro e ser transportada para a igreja. A árvore media 4 m de altura. O chefe do grupo era Jessé Peagle, um engenheiro, homem forte e experiente nesse tipo de operação. Não foi fácil, mas conseguimos, graças às orientações do Jessé. Colocamos a árvore na igreja e as mulheres tinham a obrigação de decorála. Eu entalhei um presépio estilo “alpes”, que todo ano seria colocado debaixo da Árvore de Natal. Depois de o trabalho ter sido feito, eu convidei o Jessé para tomar um chope. Naquele momento, conversamos muito e aproximamo-nos como irmãos em Cristo. Jessé disse: “Josef, depois do Natal ficaremos na nossa chácara perto de Brusque. Vá com a Zilda nos visitar!”. “Com muito prazer!”, eu respondi. No primeiro mês daquele ano veio a notícia de que Jessé morrera. Isso foi um grande choque para mim, e é ainda mais lamentável porque Jessé nunca chegou a ver que o seu filho caçula é hoje meu genro. Sobre a comunidade, nosso primeiro pastor foi o P. Heinz Ehlert, com
sua aparência imponente e com uma voz que sempre chamou minha atenção aos seus sermões. Depois veio o P. Werner Brunken, principal responsável pela educação religiosa dos nossos filhos. Igualmente inesquecível nas reuniões de casais, que eram muito produtivas e com um final sempre alegre, com redução da tensão. Os melhores momentos de alegria e de produtividade foram com o casal Jandir e Adriane Dalferth Sossmeier. Fui convidado a traduzir artigos de revistas evangélicas da Alemanha e aprendi muito com esses serviços. E, pelo P. Nilton Giese, uma personalidade honesta e consciente em termos de amor para com o próximo, tenho grande respeito. Visitei-o em Quito e travamos muitas conversas valiosas e edificantes. Hoje, próximo de completar 84 anos, eu vivo muito solitário. Tenho problemas de visão, mas sofro mais com a audição. Tenho muita dificuldade em acompanhar os sermões nos cultos. Os pastores Vera e Alfredo são pessoas muito gentis e atenciosas. Mas a idade tem seu preço. Em compensação, eu estou lendo muito (com a ajuda de uma lupa). Todo dia no café da manhã eu leio o Castelo Forte, alguns trechos da Bíblia, as senhas diárias (tenho uma joia datada de 1942 da irmandade alemã de Herrnhut: Losungen, em alemão). Estudo com grande fervor a vida de Martin Luther, impressionado com a coragem com que lutou para difundir a Palavra de Deus. Mais tarde,
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Lutero também precisou impor rigidamente mais ordem e disciplina dentre seus seguidores (a exemplo do Dr. Karlstadt). Sem dúvida alguma, o grande legado de Lutero foi a tradução de Bíblia (Novo Testamento) do grego para o alemão, no castelo de Wartburg, onde o príncipe Frederico da Saxônia (O Sábio) fez
para ele um esconderijo. Ler, jogar uma partida de xadrez e ouvir as notícias, são pequenas alegrias da minha vida atualmente. A grande alegria é que, aqui no Brasil, eu encontrei Jesus e uma mulher muito querida, a Zilda. Desde nosso namoro até hoje já se passaram 40 anos. O autor é membro da IECLB e reside em Curitiba/PR
Ninguém, além de você, está no controle de sua felicidade. Portanto, ajuste as velas e corrija o rumo. Marcio Kühne
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Um belo conto médico Alexander Lenard
Eis que recentemente aparece o Teobaldo – o Teobaldo da “Tifa” (Estrada do interior) Feijão. Ele vem a passo tão lento e seguro, como se seu único propósito fosse uma conversa sobre o tempo. Sem dúvida, uma bela chuva viria bem pro milho. E claro, quando se quer que isso chegue aos ouvidos de São Pedro, precisa ser falado. – Dia! – foi a saudação recíproca. Então me calo. Pois bem sei que não se deve quebrar o silêncio quando alguém está absorto em pensamento. – O senhor..., diz Teobaldo – o senhor entende algo de cobreiros?
manecer no tema. – Um cobreiro desses é muito incômodo! – diz ele. – É! E ele comicha! – concordei eu. – E também dói. Especialmente de noite! – diz Teobaldo. – E daí não dá nem para dormir! – concluo eu. Ato contínuo, ambos espiamos pela janela para ver se surge algum sinal de chuva. Nesse meio tempo meu amigo decide desembuchar seu segredo, pois a estas alturas ele já não espera que eu revele o meu: a indicação de um remédio.
Se eu ainda fosse um principiante sem experiência, eu diria: – Sim! – ou falaria qualquer coisa sobre afecções da pele em geral, exógenas, endógenas, eczemas alérgicos... Mas só falei isto:
– Pois eu tenho um cobreiro! – diz ele um tanto constrangido.
– Sim, cobreiros! Isto é como nos cachorros. Há cachorros brancos e pretos, pequenos e grandes, bravos e mansos... ou não? Se o senhor se limita a me dizer que tem um cachorro, continuo sem saber...
– Particularmente de noite! – confirmo eu, imperturbado.
– Meu cão é branco e marrom! – diz Teobaldo, para deixar ao menos este ponto esclarecido. Depois ambos calamos por mais um breve instante. – O escrivão aí em frente tem um Dackel! – observei então, só para per-
– Isso é muito desagradável! – digo eu, para alternar a conversa. – Ele comicha! – diz ele.
Teobaldo suspira fundo, pensa e fala em tom conciliador. – Eu poderia até lhe mostrar esse cobreiro. Afinal... mostrar não custa nada. Fiquei tentado a responder que até uma olhada tem seu preço, mas isso soaria mal. Por isso, eu disse: – Venha, mostre-me essa coisa. Ele ergue um cano da calça: – Eis ele aí.
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O diagnóstico se confirma. Trata-se de uma ulceração, uma antiga, úmida, inflamada e decadente ulceração sob um emaranhado de varizes. Agora entendo por que Teobaldo finalmente apareceu. Mas, se eu agora perguntasse há quanto tempo ele já padece disso, ele diria – evasivo: Um par de dias! E se eu indagasse sobre tudo que já foi passado na ferida a resposta seria: Nada, nada mesmo! Por isso, franzo minha testa e digo: – Ferida antiga. Essa o senhor já tem há tempo. Uns seis meses, diria. Então experimento enrugar a testa ainda mais e digo em tom severo, como se estivesse fazendo uma leitura do local afetado: – E o senhor botou aí uma porção de coisas! Ele não procura negar.
confessar. – Tinta de escrever! – diz ele em voz baixa. Agora eu reajo com espanto. Tinta, o sangue azul da literatura é um líquido excepcionalmente raro no vale de Dona Irma. Leite, cachaça, vinho, isso sim... mas tinta? – Como o senhor conseguiu tinta? – Minha pequena, a Leni, vai à escola, na terceira série. A professora a convenceu a comprar a tinta. Ela tem oito anos. De fato, Teobaldo é um colecionador de filhas, e todas são moças belas e bem dispostas. Então pergunto: – Quantas meninas o senhor tem afinal, quatro? – Cinco, são cinco! – Mas que bonito isso!
– O senhor mandou benzer!... digo com convicção. – A mulher disse que mal não faria. – Ajudar também não ajudou. – Não. Depois apliquei folhas de repolho para refrescar. – Sim, repolho branco! – confirmo eu. – E o que mais?
– Bonito até que é! – concorda ele. – Mas, preocupações também se têm. Ele se alegra visivelmente diante da interrupção do meu interrogatório. – A mais velha tem 21, é casada e já tem dois filhos. A Maria tem 19, e também já está noiva. E depois vêm as gêmeas... – Exato. Essas duas que não consigo diferenciar! Que idade elas têm?
– Pomada. – Que pomada? – Essa que se usa para escovar os dentes. As pessoas disseram que ela é boa para furúnculos. – E depois? – pergunto sem rodeios. Teobaldo já entendeu que precisa
– Dezesseis, agora em setembro. Os vizinhos já as conhecem há 16 anos e mesmo assim não as distinguem. No escuro às vezes nem eu as diferencio... E são unidas, essas duas. Sempre mão em mão. Dormem na
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mesma cama. O que uma sabe, a outra sabe. E ai se uma ganha uma fatia de bolo maior! – Não vai ser fácil para o senhor achar gêmeos para elas casarem. – Não, não vai ser. Por que tantas moças gêmeas? Isso deve ter um motivo! Os dois pares de gêmeas em Inhambu, as ruivas lá do alto da serra. Moças, só moças. – Talvez dê certo com irmãos... Afinal seu vizinho tem uma dúzia, quem sabe aí...
– Sente-se aqui e escute. Superstição existe em todo lugar. Aqui não é pior do que lá de onde eu venho. O senhor sabe o que as pessoas aconselham lá? Para cobreiro mande providenciar, em dia de Lua-cheia, uma jarra de água de poço. À meia-noite, é claro. E a água deve ser trazida por uma jovem imaculada, e ela não pode pronunciar uma palavra sequer durante a tarefa. Dessa água aplicam-se então nove pingos, durante três noites seguidas, sobre o local afetado! Imagine uma coisa dessas! – À meia-noite? – admira-se Teobaldo.
– Sim, esse tem rapazes! *** – O que mais o senhor botou depois da tinta? – pergunto repentinamente, adotando de novo um tom inquisitivo. – Depois?... Sim, depois segui o conselho do barbeiro: passar a cinza de um pano vermelho... Desta vez eu fico deveras brabo. O barbeiro dera a mesma receita para uma criança com pneumonia: Ministrar em colheradas!... E eu passei horas de angústia, até pô-la fora de perigo... – O pano vermelho! Mas se o barbeiro nem sabe ler! – As pessoas dizem que ele entende de doenças. – Teobaldo, o senhor não se envergonha? O senhor dá ouvidos a todas as velhinhas da Tifa Feijão? Ele cala e eu amenizo a fala. Desta vez uso tom de médico:
– Bem, já chega. Preste atenção. O senhor já sofreu o bastante. O senhor entende que desse jeito não adianta. Não! O senhor precisa de um tratamento científico. Isso de esfregar coisa em cima não faz sentido. Primeiro nós devemos curar as varizes, vendar com gaze, tratar! – Quanto isso custa?– pergunta Teobaldo, para chegar ao cerne do problema. – Uns dois Contos, calculo eu. – Dois contos? E eu recebo um e meio por mês pelo transporte do leite! Ele tem razão. Os preços dos medicamentos não têm comparação com a renda desse colono. Ele se mantém, porque recebe soro da manteiga para seus porcos. Sua mulher e as cinco filhas capinam na roça; ele tem pombas, ovelhas, vacas e perus. Mas o dinheiro, essas notas azuis impressas em Londres, com a imagem do
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imperador deposto, de antigos ditadores, de um navegador barbudo, raramente chega a suas mãos.
– Mas o senhor não falou que na Luacheia uma jarra com água...
– Dois contos?
– Tão logo coloquei as primeiras sete (sic) gotas, parou de coçar. Na segunda aplicação parou de doer e eu já nem queria mais continuar. Mas aí minha mulher falou: – Bota em cima, afinal não custa dinheiro! E eu disse: – Tens razão mulher, deve-se proceder como disse o doutor! E eu pinguei direitinho, e a coisa sumiu.
– Dois. – Mas o senhor não pode mesmo me dar uma pomada? – Entenda de uma vez! Não tem jeito! Isso não vai sarar enquanto o senhor tiver essas varizes. Nós primeiro temos de colocar a circulação sanguínea em ordem! Teobaldo desenrola e baixa o cano da calça e se levanta. – Vou falar sobre isso com minha mulher – suspira ele. *** Pois anteontem o Teobaldo reapareceu. Trouxe um belo quarto de terneiro e o coloca sobre o banco. – Dia! – diz ele. – Bonito tempo, não? – Dia! – digo eu. – Muito bonito. Eu sinto que ele se decidiu pelo tratamento e traz um adiantamento. Da minha parte nenhuma objeção à “Schnitzel” de vitelo. – Ontem estava bastante fresco! – digo, como se eu mesmo fosse transportador de leite ou membro do parlamento britânico, e aguardo que ele vá ao assunto. – Eu queria lhe agradecer! – diz Teobaldo. – Eu lhe estou muito grato. A receita ajudou. – Mas se eu não lhe dei nenhuma! Eu tinha dito...
– Eu falei...
Ele ergueu o cano da calça. A ferida sumira. Estava tudo liso e bonito. – Na última visita eu não paguei nada. Mas eu nunca fiquei devendo nada a ninguém. Nós carneamos um belo terneiro. Este é o quarto traseiro. Eu me dou por vencido... – Obrigado! Na soleira da porta Teobaldo ainda olha para mim uma última vez. – A água – diz ele – essa foi a Leni que buscou! *** Notas do tradutor: 1) Tifa deriva de Tiefe, uma designação local para vale secundário, segundo Alexander Lenard. Outras tifas citadas por ele têm nomes como Pato, Lena, Anna... 2) Em seu livro “Die Kuh auf dem Bast”, de onde este conto foi retirado, Alexander Lenard faz outras re-
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ferências a personagens com os quais presumivelmente conviveu nas décadas 1950-60, tais como o barbeiro e a benzedeira, descrevendo-os sempre do ponto de vista de um observador estrangeiro, que é ele. 3) No mesmo livro, o autor relata que em 1952, um ano após sua chegada ao País, morou em São Paulo, onde um “bondoso colega” o acolheu como assistente para traduções e tratamento de varizes. 4) Dados biográficos do autor encontram-se no livro “Kaleidoskop” de Carlos H. Hunsche (1983) ou na revista teuto-argentina “Südamerika”, Buenos Aires, jan-mar 1968, pp. 14445, ou no “Serra-Post Kalender”, Ijuí, 1973, pp. 93-98. São textos redigidos em alemão. Em português há dados na Internet.
5) Segundo consta em sua biografia, Alexander Lenard não era pessoa crente. Contudo, encomendou para si um sepultamento cristão com missa na igreja católica de Dona Emma (Dona Irma, neste conto) acompanhada da execução da Missa em Simenor de Johann Sebastian Bach, de quem era, além de estudioso, intérprete. Seu entusiasmo pela música de Bach era tanto que costumava pregar: “A música começa e termina com Bach.” Sem chance para uma doce e saudosa melodia magiar. Texto extraído do livro “Die Kuh auf dem Bast” de Alexander Lenard (* Budapest 9/3/1910 – † Dona Emma 13/4/1972) Tradução: Rolando Axt, professor emérito do Instituto de Física da UFRGS de Porto Alegre/RS
Nota de falecimento Vítima de colapso financeiro, faleceu neste estabelecimento, o ilustre DR. FIADO, deixando viúva DONA CONTA e os seguintes filhos: CANO, PINDURA e DEPOIS EU PAGO. A família inconsolável pede encarecidamente que não mandem flores e sim o dinheiro.
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Uma instituição sempre à frente do seu tempo Prof. Dr. Wilhelm Wachholz
A Faculdades EST, vinculada à Rede Sinodal de Educação e à Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), é uma instituição cujas raízes remetem à Reforma Luterana. Sua trajetória iniciou em 1946, quando foi fundada a Escola de Teologia. Com o passar dos anos, a partir do enfoque na missão de promover o Ensino, a Pesquisa e a Extensão, novos cursos passaram a ser ofertados e o reconhecimento acadêmico em âmbito internacional da instituição foi ampliado. Atualmente, além do curso de graduação em Teologia – primeiro no Brasil a receber autorização oficial de funcionamento pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) – a Faculdades EST oferece o único bacharelado em Musicoterapia dos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, além da Licenciatura em Música. A instituição atua também na área da Educação Profissional, com a oferta de Cursos Técnicos em Enfermagem e Música. Desafiada a fomentar a pesquisa em nível de Pós-Graduação, a Faculdades EST criou o Programa de PósGraduação, com cursos de Mestrado Acadêmico e Doutorado e, posteriormente, o Mestrado Profissional em Teologia. O PPG da EST é distinguido, desde 2001, como programa
de excelência internacional na avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Uma das características da Faculdades EST é que ela busca se reinventar, sempre visando à construção coletiva do conhecimento. Em 2017, ano que celebrou os 500 Anos da Reforma Luterana, a instituição também iniciou uma nova etapa. No dia 23 de junho, ela recebeu a autorização oficial do MEC, através da portaria n° 764, para ofertar cursos de Graduação e Pós-Graduação Lato Sensu na modalidade EAD. Agora, a Faculdades EST poderá ir muito além do Morro do Espelho, em São Leopoldo. Em 2018 iniciam as inscrições para cinco diferentes cursos de especialização a distância, dentro das principais áreas de conhecimento abordadas pela instituição, como: Ensino Religioso, Bíblia, Docência no Ensino Superior e Profissional, Aconselhamento Pastoral e Musicopedagogia. Além disso, juntamente com a portaria que autoriza o Lato Sensu EAD, a Faculdades EST está também autorizada a oferecer cursos de graduação a distância, um projeto que rompe as fronteiras físicas, expandindo o conhecimento e a tradição da instituição que é referência no
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ensino de Teologia em âmbito mundial. Com essas novidades, é natural também que a instituição esteja cada vez mais presente nos meios digitais.
vos com discentes, docentes e comunidade externa, compartilhando em tempo real as principais atividades ocorridas no Morro do Espelho.
Atualmente, a Faculdades EST faz questão de estar presente também na internet através de plataformas digitais como o Youtube (Faculdades EST), o Facebook (/faculdadesest), o Instagram (@faculdadesest) e o Twitter (/Faculdades_EST). Através desses canais, a instituição se propõe a estreitar os laços comunicati-
Assim, ao comemorar 72 anos de existência, em 26 de março de 2018, a Faculdades EST vislumbra novos caminhos e se reposiciona como instituição protagonista em sua área. Abrir novos horizontes faz parte também da perspectiva inclusiva que é marca da instituição. O autor é Reitor da Faculdades EST
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Uma jovem líder nos espaços de decisão da Igreja Luterana Martha Regina Maas
Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, uma igreja histórica, composta por muitas tradições das quais nos orgulhamos, mas também por muita vontade de ser um espaço mais aberto e sempre em constante Reforma, num mundo que clama pela proclamação do Evangelho de maneira contextualizada. Aqui, a juventude é convidada a ser protagonista. Aqui, as mulheres são chamadas para construírem seus espaços de empoderamento e fazer suas vozes serem ouvidas. Nesta Igreja, queremos sempre mais e mais promover um espaço justo, diverso e inclusivo. Recebi o desafio, enquanto jovem, leiga e mulher, refletir sobre quais as contribuições e desafios que experimento e sinto como liderança dentro da IECLB? Entendo que, a partir do chamado enfatizado por Lutero, para o sacerdócio de todos e de todas aquelas e aqueles que creem, todas e todos temos a contribuir para a construção de uma igreja de Cristo sempre viva. E é assim que começo a minha história... Sabemos que espaços de decisão são espaços de poder. E, historicamente, esses espaços foram sempre ocupados por pessoas adultas e, majoritariamente, por homens. Assim, no atual contexto brasileiro e mundial
de crise de representatividade que temos, podemos perguntar: Qual é a importância de termos pessoas jovens e mulheres participando do espaço vivo que são as diretorias, conselhos e assembleias da Igreja? Se olharmos para a atual composição do Concílio da IECLB, por exemplo, ainda encontramos um cenário com pouca representatividade da diversidade que é a nossa Igreja. Nesse sentido, no ano de 2014, o Conselho Nacional da Juventude Evangélica da IECLB deu um importante passo rumo à redução dessa desigualdade que vivemos: a partir de uma moção discutida e aprovada em 14 Assembleias Sinodais, chegou-se ao Concílio daquele ano, em Chapecó/ SC, com o objetivo de aumentar a participação jovem nas delegações. Após diversas discussões, os Sínodos que enviam um maior número de delegados se comprometeram a eleger também, pelo menos, um membro jovem entre a sua delegação. E o meu Sínodo, o Vale do Itajaí, é um deles. Mas a história de quem faz parte de espaços tão sérios de trocas, discussões e decisões nunca começa neste momento. Sou líder voluntária em minha Comunidade, em Blumenau/ SC, desde os meus 15 anos de idade. Desde então, os caminhos trilhados foram muitos: líder nas instâncias
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sinodais, nacionais, bem como a participação em diversas comissões e representações em nome da IECLB. Assim, com muita dedicação, paixão e vontade de fazer acontecer, fui construindo um caminho de alegrias e conquistas nos espaços institucionais na IECLB. Acredito que a conquista por cargos de decisão é uma consequência de algo que se faz com amor e alegria, e não um fim que se busca ao iniciar um processo de dedicação a algo pelo qual se acredita. Assim, como em tantos outros espaços da sociedade, a sede por poder não deve ser o próprio fim de um trabalho voluntário que se faz por causa maior, que é a construção de um mundo mais justo e solidário. Ao mesmo tempo, esses espaços não são fáceis de acessar e exigem que estejamos dispostos a nos doar e, principalmente, a fazermos uso das oportunidades de expressarmos nossas ideias e pontos de vista. Grandes conquistas sempre são acompanhadas de grandes responsabilidades e, nos espaços de liderança da IECLB, a realidade não é diferente. Tempo de dedicação, fins de semana, viagens e muitas leituras são exigidas. Da mesma forma, a oportunidade de dialogar, conhecer e aprender com tantas pessoas de contextos tão diferentes é magnífico. Paciência e vontade de compreender são requeridas na mesma proporção em que o amor ao próximo e a alegria de ouvi-la/lo nos traz frutos tão significativos e importantes
para a vida da Igreja. No ano de 2017, mais especificamente no mês de maio, participei como delegada da 12ª. Assembleia da Federação Luterana Mundial, uma comunhão de igrejas luteranas, em nível mundial, que representa mais de 75 milhões de pessoas ao redor do globo. Naquele espaço, representei a IECLB e pude me deparar com os desafios e esperanças que tantas outras igrejas-irmãs enfrentam ao redor do planeta. Foi um espaço de muito diálogo, de muito debate e de muitos frutos que impactam a vida de toda a comunidade luterana. Para sermos participantes ativas em espaços assim, precisamos estar sempre atentas, cumprindo as exigências e fazendo nosso papel de ouvir, compreender e agir. Afinal, o espaço está ali para ser ocupado, mas ele nunca será convidativo se não agirmos para que isso aconteça. Como jovem e mulher, o esforço para ouvirem nossa voz é sempre uma luta para a qual devemos estar dispostas. Assim, posso afirmar que somos parte de uma igreja disposta à transformação! É uma alegria poder construir, em conjunto com tantas outras mãos, o presente e o futuro da IECLB. Acreditando no chamado que temos para agir com nossos dons, dentro e fora da Igreja, continuaremos a sonhar e a realizar esse espaço plural do qual o mundo tanto precisa. A autora posui Mestrado em Educação e é professora em Blumenau/SC
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Vou buscar a Justiça de meus direitos! Rafael Luciano Santos
O conflito faz parte da natureza humana. Nossos lares, ruas, ofícios, escolas e todos os demais espaços de convivência humana estão preenchidos por essa porção inerente de nossa criação. Possuímos conflitos internos, externos e externados que movimentam a nós e a todos os atingidos, tornando cada vez mais comum a busca de um intermediador que apazigue essa fração óbvia do comportamento humano. Um milenar ditado jurídico resume tal lógica ao lançar que “onde há sociedade há direito”, revelando a tendência humana não só ao conflito, mas também à busca por sua solução definitiva, na árdua tarefa de equilibrar o existir e o coexistir, para alcançarmos a tão desejada Paz. Essa dualidade entre conflito e solução definitiva passa pelo que cada um entende como Verdade, e como ela se revela para a busca de uma noção de Justiça que satisfaça os conflitantes. Passando evolutivamente da lei do mais forte, da Lei de Talião, do olho por olho e dente por dente, pelas ordenações eclesiásticas, justiça do rei, até chegarmos à Justiça moderna, onde o Estado assume para si o poder de julgar e intermediar conflitos, através de um terceiro isento e não participante da relação conflituosa. Os estudos bíblicos contribuíram
para a evolução do conceito de Justiça, numa nova forma de entendêla como parte da Verdade, não sendo mais vista como aquilo que um dos lados entende ser o certo, mas como algo fora, dentro de si mesmo e do outro que se revelam numa unidade. Justiça passa a ser aquilo que apazigua todos os lados, usando a verdade de cada um para formar uma Verdade Única, que seja satisfatória para todos os envolvidos, pois apenas quando todos estão satisfeitos com a solução do conflito existe a pacificação social. E tudo isso só pôde existir com o conceito de perdão tão enfaticamente defendido por Jesus Cristo. Perdoar, doar um pouco de si ao outro, fez crescer o conceito de Justiça. Transformou um sentimento em verbo, em ação. Os conflitantes não mais necessitariam considerar a sua verdade como a única existente. Agora eles podem abrir mão da verdade interna e no descontentamento com a vitória da verdade do outro para estabelecer uma Verdade Única, íntima, inabalável: a vitória do Amor que devemos ter uns pelos outros. Quando oferecemos a outra face paramos de enxergar apenas metade do problema, começamos a ver o outro lado de uma mesma história,
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compreendemos o próximo, coexistimos. Apesar disso tudo, ainda insistimos em transferir essa responsabilidade interna, íntima, cristã, para um terceiro que não nos conhece, não estava presente aos fatos, não sabia de nossas intenções e que, mesmo assim, terá o poder de julgar se estávamos ou não ao lado da verdade. O que deveria ser exercitado pelos próprios conflitantes, com meios recíprocos de se alcançar uma só Verdade, passou a ser distribuído para outrem, terceirizando a nossa capacidade de compreender os fatos e ao outro, sem pensarmos no perdão, na coexistência e na tão almejada Paz. A paz passou a ser individualizada, refletindo apenas a consciência de deitar a cabeça no travesseiro e pensar que fizemos o que foi possível para vencer. Entretanto, alcançar a Justiça não tem nada a ver com uma vitória individual em um plano coletivo, mas sim a vitória do coletivo sobre o individual. Antes de tudo, precisamos vencer a nós mesmos, cortando as arestas de nosso próprio direito para que ele não fira o outro e muito menos a nós mesmos, para só então buscarmos trazer a situação à normalidade. A tarefa de buscar em nós mesmos a Justiça de nossos direitos é árdua, difícil, desafiante e muito recompensadora. E muito mais comum do que se imagina. Nos escritórios de advocacia, salas
de audiência e julgamentos cotidianos é muito comum ouvir de uma das partes que ela não faz questão de ganhar tudo o que está pedindo na ação, mas apenas aquilo que ela acha que verdadeiramente tem direito. Por vezes ouve-se até mesmo que o indivíduo não quer ganhar nada, somente dar uma lição na outra parte para que ela não repita o comportamento. Atitudes que demonstram que a vitória individual nunca vencerá o perdão, que no fundo todos queremos o mesmo: perdoar e sermos perdoados. Perdoar é ação, é verbo que se faz presente, é investigar dentro de si e do outro se aquilo que lhe foi retirado era tão importante assim para que você não mais queira coexistir com outro. Razão primeira de nossa existência terrena. Ativar o perdão passa de uma atitude interna, de mero pensamento, para uma ação, um gesto pensado, um ato de arrependimento por ter pecado ou de amor por ter julgado sem ter tido a oportunidade de amar o próximo. Amar o próximo, aliás, obriga-nos a tornar todos os seres humanos próximos. Aproximar-se do amor. Amar tanto o próximo que ele passa a ser você mesmo. Até o dia que perceberemos que não há distinção entre amar o outro e amar a si mesmo, pois todos carregamos dentro de nós um pouco da Verdade Única que nos foi compartilhada. Nesse contexto, a Justiça ainda exis-
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te dentro de cada um de nós e sempre merece ser compartilhada. Basta pensar em como a evolução histórica nos mostrou que o modo de julgar se adaptou à nossa própria parcela evolutiva. Hoje seria impensável crucificar bandidos em praça pública, atirar pedras em adúlteras até a morte, abandonar enfermos e anciões nas vielas das cidades, açoitar seres humanos, escravizar povos ou mesmo matar todos os bebês por acreditar que um deles comandaria o novo mundo. Desse caldo do que se entendia como Justiça veio o maior exemplo de Amor conhecido e que evolutivamente foi mudando paulatinamente tudo isso.
Hoje somos seres que sabemos que possuímos direitos, não somos mais escravos tratados como objetos e, por isso, exageramos e entramos em tantos atritos e repetimos tão bravamente que buscaremos nossos direitos na Justiça a todo e qualquer novo conflito. Parecendo estarmos todos passando uma fase de adaptação para o conceito de Justiça que nos foi repassada há mais de dois mil anos e que gradativamente vai ganhando Vida. Por isso, na próxima briga com os vizinhos, os parentes, os amigos, os chefes ou os desconhecidos, repitam consigo mesmo: - Vou buscar a Justiça de meus direitos! O autor é advogado, reside e advoga em Campo Grande/MS
Não peça a Deus para guiar seus passos se você não está disposto a mover seus pés. Marcio Kühne
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FLD – COMIN – CAPA: Três instituições, juntas em Diaconia Transformadora “Deus acredita na mudança, mas não em qualquer mudança. Ela há de ser profunda, verdadeira, honesta, transparente, boa e justa nos espaços em que acontece, nas relações que atinge e restabelece. Pois é disto que se trata: um mundo de novas relações entre homens e mulheres, entre crianças e pessoas adultas, entre equipes, governanças e instituições, entre Deus e suas criaturas, entre todas as criaturas”. Trecho da prédica da pastora Renate Gierus, no culto de abertura da 18ª Assembleia da FLD, Porto Alegre (RS), em março de 2017, quando foi aprovada a incorporação do Conselho de Missão entre Povos Indígenas (COMIN) e do Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia (CAPA) à Fundação Luterana de Diaconia (FLD). Em 2018, depois de um longo processo de preparação coletiva, o COMIN e o CAPA passam a fazer parte da FLD. COMIN, CAPA e FLD são atuações diaconais transformadoras que a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) promove na busca pela superação de todas as formas de violência, dominação e exploração da natureza em sua diversidade. Juntas, terão diante de si um desafio significativo em termos de sustentabilidade institucional. Juntas, estarão fortalecidas para atuar nos territórios e também em âmbito nacional na afirmação de direitos e da democracia. FLD – Fundação Luterana de Diaconia www.fld.com.br A FLD, criada pela IECLB, é uma organização diaconal que atua em todo o país, por meio do seu Programa de Pequenos Projetos e de iniciativas próprias – como a exposição Nem tão Doce Lar, a Rede de Diaconia, a Rede de Comércio Justo e Solidário, a Educação para a Solidariedade, o projeto Mulher Catadora é Mulher que Luta e o projeto Pampa e Ajuda Humanitária –, articula e participa de espaços de incidência pública e do
movimento ecumênico, nos âmbitos nacional, regional e internacional. Diaconia Transformadora é o que mobiliza e movimenta o seu trabalho, promovendo a reflexão e a elaboração de estratégias para transformar realidades de sofrimento e desigualdades. Da mesma forma, a Política de Justiça de Gênero dá testemunho do compromisso público da FLD, construindo relações justas, marcadas pela reflexão política,
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A catadora Vera Lúcia Flores da Rosa é uma das lideranças que participam do projeto Mulher Catadora é Mulher que Luta.
diaconal e teológica feminista. Surgiu do protagonismo de um coletivo de mulheres ligadas à FLD, à Secretaria Geral da IECLB, ao COMIN, ao CAPA e ao Programa de Gênero e Religião das Faculdades EST. Por meio dela, a FLD declara seu compromisso público com a construção de relações com justiça, marcadas pela reflexão política, diaconal e teológica feminista, para construir e refletir, em bases contínuas, o apoio a organizações e movimentos sociais, a atuação junto a comunidades, paróquias e sínodos da IECLB, a incidência no movimento ecumênico nacional e internacional, bem como junto a esferas governamentais.
As ações da FLD se dão junto a grupos de mulheres, povos indígenas, comunidades quilombolas, agricultoras e agricultores familiares, famílias assentadas da reforma agrária, camponesas e camponeses, pescadoras e pescadores artesanais e demais comunidades e povos tradicionais, catadoras e catadores de materiais recicláveis, juventude rural e urbana, crianças e adolescentes, comunidade LGBT e comunidades religiosas. O Programa de Pequenos Projetos, originário do Serviço de Projetos de Desenvolvimento da IECLB, tem editais anuais, em cinco áreas temáticas: Diaconia, Direitos, Justiça Econômica, Justiça Socioambien-
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tal e Ajuda Humanitária. Uma comissão externa – a Comissão de Avaliação de Projetos – é quem seleciona as iniciativas encaminhadas por grupos, associações, cooperativas e movimentos. De 2000 a 2017, a FLD, por meio do PPP, apoiou 492 projetos em todo o país. É importante dizer que o programa vai muito além do apoio financeiro, pois prevê o acompanhamento dos grupos apoiados. O objetivo é promover a reflexão sobre temas como viabilidade e sustentabilidade, que possam fortalecer a execução do projeto e os próprios grupos. A FLD também tem criado e executado iniciativas, como a exposição Nem tão Doce Lar, metodologia diaconal de enfrentamento da violência doméstica e de gênero, que
busca envolver de forma conjunta a sociedade, igrejas e órgãos públicos, na criação e fortalecimento de redes de apoio. Até o primeiro semestre de 2017, haviam sido realizadas 70 exposições em 55 cidades, com mais de 6.500 visitas registradas. Foram envolvidas diretamente 80 organizações, entre instituições governamentais e da sociedade civil, no trabalho de montagem da exposição, e 1.500 pessoas passaram pela capacitação para o acolhimento das pessoas visitantes. Comunidades luteranas têm demonstrado crescente interesse na Nem tão Doce Lar e buscado realizar parcerias locais, para viabilizar a realização das oficinas de capacitação de acolhedoras e acolhedores e as próprias exposições.
A “Nem Tão Doce Lar” é uma metodologia diaconal de superação da violência doméstica e familiar.
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A “Rede de Comércio Justo e Solidário” propõe outra forma de pensar o consumo. Outra iniciativa é a Rede de Diaconia, proposta de articulação das instituições diaconais vinculadas à IECLB, com foco no fortalecimento da sua atuação, formação, gestão democrática, incidência pública e sustentabilidade. É coordenada pela FLD em parceria com a Secretaria Geral da Igreja. Sua criação, em 2013, se deu a partir da percepção de um profundo isolamento entre as instituições diaconais de confessionalidade luterana. Em 2016, a Rede de Diaconia já havia alcançado todo o território nacional, passando a ser composta por quatro articulações regionais – Rio Grande do Sul, Santa Catarina/Paraná, Sudeste e Norte/ Nordeste/Centro-Oeste. A Rede de Comércio Justo e Solidário reúne grupos da Economia Solidária, comprometidos com comércio
justo, justiça de gênero, promoção do associativismo e da solidariedade. A rede é voltada para as comunidades, instituições e sínodos da IECLB e promove atividades de comercialização, formação e incidência, buscando alertar e superar o consumismo que desumaniza as relações entre as pessoas e a natureza. Inúmeras feiras já foram promovidas em eventos sinodais, como os Dias da Igreja, seminários, encontros da juventude, além de oficinas em escolas e comunidades. Nesse mesmo sentido, a iniciativa de Educação para Solidariedade busca aproximar projetos sociais e comunidades escolares a partir da criação de espaços de diálogos e construção coletiva de saberes. A proposta é interdisciplinar, inter-religiosa e intercultural.
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Ao longo dos últimos anos, a FLD tem sido parceira do Movimento Nacional de Catadoras e Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR) na execução de projetos que buscam a melhoria das condições de trabalho para a realização da reciclagem popular e a afirmação de direitos. Atualmente, está em execução o projeto Mulher Catadora é Mulher que Luta, que combina qualificação da prestação de serviços na área da reciclagem com gestão democrática e relações de cooperação e solidariedade, sustentadas na justiça de gênero. Um dos grandes desafios tem sido incidir na implementação da Coleta Seletiva Solidária. A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) prevê a contratação prioritária de empreendimentos de catadoras e catadores para realizar a coleta, mas a maioria dos municípios ainda opta pela prestação de serviço apenas por empresas privadas. A FLD atua no debate sobre mudanças climáticas através da realização do Projeto Pampa. Este está voltado à valorização e estímulo de práticas junto a agricultoras e agricultores familiares e comunidades quilombolas da fronteira oeste do RS, no Bioma Pampa, que coopera no enfrentamento dos efeitos das mudanças climáticas, com a implantação de unidades demonstrativas de armazenamento de água, agroecologia e manejo sustentável do campo nativo. Por meio do projeto, a FLD
acompanha o Comitê dos Povos e Comunidades Tradicionais do Pampa, formado por oito identidades – benzedeiras e benzedores, comunidades quilombolas, pecuaristas familiares, pescadoras e pescadores artesanais, povo cigano, povo pomerano, povos indígenas e povo de terreiro – que têm seu modo de vida e territórios tradicionais ameaçados pelo atual modelo de desenvolvimento, responsável por mudanças no clima. A atuação da FLD na área de Ajuda Humanitária resultou de demandas vindas de comunidades luteranas afetadas e do vínculo com a Aliança ACT (Action by Churches Together), associação global de igrejas e organizações baseadas na fé, que atua em Ajuda Humanitária, Desenvolvimento e Incidência. Com ênfase na formação em Apoio Psicossocial de Base Comunitária, o trabalho acontece em parceria com sínodos e comunidades da IECLB, organizações ecumênicas e igrejas ligadas ao Fórum Ecumênico ACT Brasil, que representa a aliança no país. A publicação Mecanismo de Atuação em Emergências é resultado concreto do Seminário de Capacitação em Emergências, promovido pela FLD, em novembro de 2011, com a presença de representações de comunidades luteranas que já haviam respondido localmente a situações de emergência, pastores sinodais e a Presidência da Igreja. O objetivo da publicação é o desencadeamento,
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em âmbito comunitário, paroquial e sinodal, de um processo mais aprofundado de apropriação sobre membras e membros de uma igreja cristã podem assumir com maior preparação e compromisso a tarefa de cuidar da Criação. O fortalecimento do protagonismo da sociedade civil e o exercício do controle social são importantes garantidores da democracia e exigem comprometida participação em espaços de incidência, como conselhos e fóruns locais, regionais e nacionais. A FLD é uma das 12 organizações da sociedade civil que integra o Conselho Estadual de Direitos Humanos do RS, na sua segunda gestão; tem assento no Fórum Estadual de Economia Solidária do RS e no Conselho Estadual de Economia Solidária RS; representa o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs no Brasil (CONIC) no Conselho Nacional de Economia Solidária; integra o FE ACT Brasil, com outras organizações e igrejas, com foco na incidência pública, com destaque a ações articuladas sobre fluxo migratório e refúgio, justiça de gênero, defesa do Estado Laico, defesa da democracia e enfretamento de intolerâncias e xenofobias; e tem assento no Conselho da Aliança ACT, representando a região da América do Sul, no período de 2014 a 2018. Sustentabilidade político-institucional e mobilização de recursos são
áreas de desafio permanente para organizações da sociedade civil que trabalham com temas importantes no campo dos Direitos e Diaconia. É preciso destacar a significativa participação das comunidades da IECLB, através das parcerias em projetos e ofertas paroquiais, sinodais e a oferta nacional, que colaboram para o conjunto das atividades realizadas e representam reconhecimento da diaconia transformadora como um instrumento de mudança e presença pública da IECLB como uma voz e uma ação promotoras de justiça. Ofertas individuais também têm sido importantes para o fortalecimento do PPP. A agência alemã Pão para o Mundo (PPM) é a grande parceira da FLD, apoiando o Programa de Pequenos Projetos, o Projeto Pampa e, junto com a Federação Luterana Mundial, a Rede de Diaconia. Outras agências da cooperação internacional tiveram e têm destaque na vida da FLD: o serviço de Apoio da Igreja Norueguesa (AIN), a Igreja Evangélica Luterana na América (ELCA) e, mais recentemente, a União Europeia. Em termos de recursos públicos, a FLD tem ampliado processos coletivos de aprendizagem para resposta a editais, gestão de projetos, visão estratégica em comunicação e monitoramento.
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COMIN – Conselho de Missão entre Povos Indígenas www.comin.org.br “Todos os dias, quando meu avô conta histórias, as crianças gostam de escutar. Não são só as crianças: as pessoas adultas também ficam em círculo, em roda do fogo. As crianças escutam para ter sabedoria. Quando elas forem adultas ou maiores, elas contam novamente as histórias para suas crianças e, quando elas tiverem seus filhos, contarão as histórias para elas também”. O depoimento acima foi obtido junto a crianças do povo Mbya Guarani e publicado no Caderno da Semana dos Povos Indígenas, organizado anualmente pelo COMIN.
O texto está na edição intitulada Sobre Crianças Indígenas (disponível para download no site www.comin. org.br), que traz informações sobre a vida, cultura e sabedoria das crianças dos povos Mbya Guarani, Kaiowá Guarani, Kaingang, Laklãnõ Xokleng, Karo Arara, Apurinã, Jamamadi e Ikólóéh Gavião. O caderno é trabalhado em escolas, museus, universidades, comunidades eclesiásticas e indígenas, promovendo a discussão e o diálogo sobre outras formas de viver, relacionando-as com histórias de vida das pessoas e as das suas comunidades. O
Foto do Caderno da Semana dos Povos Indígenas 2017, organizado pelo COMIN, com informações sobre a vida, cultura e sabedoria das crianças dos povos Mbya Guarani, Kaiowá Guarani, Kaingang, Laklãnõ Xokleng, Karo Arara, Apurinã, Jamamadi e Ikólóéh Gavião.
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Assembleia dos povos indígenas Puruborá e Migueleno, no estado de Rondônia, assessorada pelo COMIN e pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI). tema muda a cada ano, mas as publicações são sempre produzidas pelas comunidades indígenas, com assessoras e assessores do COMIN e uma equipe pedagógica. As comunidades indígenas também usufruem da publicação. Sentem-se partícipes na sua construção e fortalecidas na sua identidade cultural e no seu modo de vida. O material fala sobre elas para outras pessoas, impulsionando a autoestima e diálogos interculturais. O material da Semana dos Povos In-
dígenas é uma das muitas ações promovidas pelo COMIN. Criada pela IECLB, atua junto a comunidades e povos indígenas, em diferentes campos de trabalho: com o povo Kaingang, no Rio Grande do Sul; Guarani, no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina; Laklãnõ Xokleng, em Santa Catarina; Apurinã, no Acre e no sul do Amazonas; Karo Arara e Gavião Ikólóéhj, na Rondônia. Sua equipe é composta de professoras e professores, educadoras e educadores, linguistas, assistentes sociais e ministras e ministro da IECLB.
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Para cumprir sua missão e visão, o COMIN se organiza em quatro eixos de ação, concebidos como espaços de Atuação junto a Povos Indígenas, à IECLB, à Sociedade em Geral, e, ainda, de Sustentabilidade Institucional, estabelecidos no Plano Estratégico 2014-2020. Além disso, identifica áreas temáticas de atuação: Direitos Humanos, Sustentabilidade Socioambiental e Diálogo Intercultural e Inter-religioso. As três áreas temáticas abrangem a atuação que a organização historicamente tem desenvolvido junto aos povos indígenas e à sociedade. Esta definição visa fortalecer a unidade da atuação interdisciplinar da organização. A legitimidade do direito à vida, expressa pelas diferentes matrizes culturais, prevalece sobre toda e qualquer perspectiva legal. Assim, o COMIN busca a promoção dos Direitos Humanos, especificamente os direitos dos povos indígenas, valorizando e revitalizando práticas de alimentação e medicina tradicionais, a língua materna, apoiando o direito à saúde e à educação diferenciadas, como também contribuindo no direito à terra e territorialidade, sua demarcação e proteção.
O reconhecimento da biodiversidade só tem sentido quando uma diversidade social dialoga com o seu meio, estabelecendo uma relação de interdependência. Para o COMIN, a Sustentabilidade Socioambiental busca valorizar, revitalizar e adequar formas tradicionais de exercer a territorialidade indígena e de apoiar iniciativas de sustentabilidade dos povos indígenas e da proteção do meio ambiente. Esta área temática se apoia no reconhecimento à organização cultural, aos saberes tradicionais, à participação indígena e à importância de incidir em políticas públicas com justiça socioambiental. O protagonismo indígena e seu reconhecimento enquanto sujeitos de uma sociedade pluriétnica e multicultural, essenciais para as áreas temáticas anteriores, também são premissas para a promoção do diálogo. O Diálogo Intercultural e Interreligioso, tematizado no COMIN, visa a criação de espaços de inter-relações e convivência digna entre os povos indígenas e os diversos setores da sociedade, sejam formais e/ ou informais. O encontro entre diferentes fortalece a identidade cultural e religiosa tanto dos povos indígenas, como dos demais coletivos sociais.
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CAPA – Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia www.capa.org.br Quando a semente é lançada Ao solo e vai brotar Todo o ambiente se arranja: terra, água e ar A natureza, matriz, faz esta rede nutriz Virar colheita em fruto, folha, rama e raiz Quando a colheita se esparrama Feira é comunhão Tudo se ajeita com a força que há em cada mão A ecologia que faz a agricultura capaz Congrega gente que coopera no plantio da paz E toda a gente soberana Vai se alimentar Com segurança, num comércio justo e popular O campo vai renascer, e a cidade vai ter Comida boa com saúde, força e prazer Comida boa é vida plena E celebração Cada pessoa cai na dança com a sua ação E a beleza motriz que esta ciranda prediz É uma mesa colorida, farta e feliz. Edson Ponick O texto acima é a letra da ciranda agroecológica, que foi criada especialmente para a campanha do CAPA Comida boa na Mesa, que também é trilha sonora para o vídeo que divulga a proposta.
mércio justo e solidário e a importância das organizações técnicas de apoio (o vídeo e os outros materiais da campanha são de livre uso e estão disponíveis no endereço comida boanamesa.com.br).
A campanha Comida boa na Mesa é uma iniciativa do CAPA, como um espaço para a articulação de ações de incidência pública, promovendo a reflexão permanente sobre o acesso à alimentação saudável, o papel da agricultura familiar na produção de alimentos, o papel das feiras e cooperativas na promoção do co-
Criado em 1978, pela IECLB, a proposta do CAPA já se fundamentava na disseminação de práticas alternativas, econômica e ecologicamente sustentáveis, questionando o modelo de desenvolvimento e o papel da extensão oficial. A principal oposição era relacionada a pacotes de modernização – a chamada revolução ver-
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O casal Schlabitz, parceiro do CAPA, adotou a agroecologia como modo de vida. de –, e havia sinais concretos da capacidade multiplicadora da sua proposta, uma vez que havia conquistado outras forças para a luta por uma agricultura biológica e natural. Atualmente, o CAPA atua nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, por meio de cinco núcleos, localizados em Erexim, Pelotas, Santa Cruz do Sul, Marechal Cândido Rondon e Verê. Um dos seus objetivos é fortalecer a conversão agroecológica, que envolve processos de mudança, planejados e discutidos com as comunidades, de sistemas de produção convencionais para sistemas que funcionam de forma harmônica e integrada com o meio ambiente, buscando a preservação da biodiversidade. O público do CAPA foi ampliado, in-
cluindo comunidades quilombolas e indígenas. Além disso, foi integrando, como itens fundamentais para a manutenção da vida e para a construção de independência e de autonomia, questões como diversidade cultural, étnica e religiosa. As atividades do CAPA incluem a promoção do debate sobre oportunidades para agricultoras e agricultores familiares, novas exigências impostas para a agricultura familiar e os impactos no contexto das mudanças climáticas. Ainda, busca identificar, junto com coletivos de agricultoras e agricultores, parcerias para a implantação de projetos. Muitas ações do CAPA e de agricultoras e agricultores familiares contaram com o apoio e interagiram com políticas públicas, como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e o Progra-
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ma de Aquisição de Alimentos (PAA). Em 2017, o trabalho de agricultoras e agricultores e do CAPA ilustrou a campanha Não basta saciar a fome (Satt ist nicht genug), da agência de cooperação alemã Pão para o Mundo (PPM). O lançamento da iniciativa aconteceu em novembro de 2016, na Alemanha, durante a celebração do primeiro domingo de Advento – que marcou a abertura do ano litúrgico referente aos 500 anos da Reforma de Lutero – e foi transmitida ao vivo para todo o país. Muitas são as ações que estão contribuindo para a promoção da sobera-
nia e segurança alimentar através da agroecologia: a produção de alimentos saudáveis, livres de agrotóxicos; o resgate, uso e conservação das sementes crioulas; o uso sustentável da água; a diversificação de cultivos; a valorização da produção para o autoconsumo; o resgate de práticas e culturas alimentares; a valorização e preservação da biodiversidade. É bom lembrar, no entanto, que ter acesso a alimentos saudáveis, sem veneno, é um direito a ser garantido por meio de ações conjuntas: devem envolver o poder público, as organizações e todas e todos nós.
Seu José Farias, do Quilombo do Algodão, em Pelotas (RS), trocando ideias com técnico do CAPA.
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Sumário Prefácio .............................................................................................................. 3 O significado das nomenclaturas ......................................................................... 5 Meditações mensais de Janeiro a Dezembro .............................................. 10 a 32 Temas da IECLB ................................................................................................. 34 Tema e Lema da IECLB para o ano de 2018 ........................................................ 35 TEMA DO ANO DE 2018 .................................................................................... 36 Secretaria Geral da IECLB
Datas Comemorativas em 2017 ........................................................................ 38 P. Ms. Osmar Luiz Witt
A consciência ambiental está aumentando? ...................................................... 41 Andreas Grauer
A Diferença entre a Força e a Coragem ............................................................. 44 Rosangela Aliberti
A família Camponesa Capixaba: Um modo de viver e de produzir! .................... 45 P. Ronei Odair Ponath
A Guerra dos Trinta Anos .................................................................................. 48 P. em. Meinrad Piske
Humor ............................................................................................................. 53 A morte na empresa ........................................................................................ 54 Agricultura familiar e agroecologia: não são o problema, mas a solução! ............ 55 Gernote Kirinus
Cantate Domino: Barbara Friedburg - 1965 - 1971 ............................................ 59 P. em. Carlos F. R. Dreher
“Cheguei, sou gay!” .......................................................................................... 63 Pa. Cristina Scherer
Convivendo em família com povos indígenas da Venezuela ............................... 67 Oscar Noya Alarcón
Palavras cruzadas 1 ........................................................................................... 71 P. em. Irineu Wolf
CULTO INFANTIL: Um testemunho .................................................................... 72 Roland Ehlert
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Curiosidades sobre o Brasil República ................................................................ 76 P. Roni Roberto Balz
Dados da Federação Luterana Mundial (FLM) – Uma Comunhão de Igrejas ........ 78 P. em. Dr. Osmar Zizemer
Dinheiro na mão é vendaval ............................................................................. 79 P. Sigolf Greuel
Ecumenismo ..................................................................................................... 82 P. em. Meinrad Piske
Espiritualidade da Pessoa Jovem ....................................................................... 84 P. Valdir Gromann
Estar presente para o outro de mãos vazias! Mas sempre estendidas... ............. 87 P. Dr. Daniel Hopfner
Estou doente! Crises de fé e fé como última esperança .................................... 90 Vera Cristina Weissheimer
Família e Pós Modernidade X Violência e Uso de Drogas ................................... 93 Marciano Tribess
Fé: de criança a cristão adulto – Uma história real ............................................. 96 Gilberto Raul Zwetsch
Ficar velho é obrigatório, crescer é opcional ...................................................... 99 Flashes ........................................................................................................... 101 Elfriede Rakko Ehlert
Palavras cruzadas 2 ......................................................................................... 103 P. em. Irineu Wolf
História da maçã através dos tempos .............................................................. 104 Ivo Boutin
História para crianças ...................................................................................... 108 P. em. Heinz Ehlert
Histórias de vida – Testemunhos de fé ............................................................ 110 P. em. Friedrich Gierus
Igreja Inclusiva ................................................................................................ 113 P. Werner Kiefer
Informação: quem faz a minha cabeça? ........................................................... 117 P. Dr. Emilio Voigt
Instituto Ivoti: Da Educação Infantil à Pós-Graduação ....................................... 120 Vanessa Pustai
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Intercâmbio Jovem: Brasil – Suécia ................................................................. 124 Jenny Eriksson
Liturgia como meio de unidade na Igreja ........................................................ 127 P. Dr. Júlio Cézar Adam
Minha mãe trabalha fora – e gosta muito que seja assim! ................................ 131 Janaína Raquel Zizemer Pereira
Missão... Ide... ou Indo??? .............................................................................. 133 P. Gilberto C. Weber
Mulheres celebrando os 500 anos da Reforma! ............................................... 137 Pa. Márcia Helena Hülle
“Noites estreladas” ........................................................................................ 140 Luciane Leite
O Ganso de Ouro ............................................................................................ 143 Elfriede Rakko Ehlert
O Jovem e seu trabalho .................................................................................. 147 Juliana Monte Serrat Prevedello
O Natal de Nicolau .......................................................................................... 148 Anamaria Kovács
Palavra não foi feita para dividir ninguém ....................................................... 153 P.Claudio S. Schefer
Personagens da Reforma ................................................................................ 155 P. em Dr. Osmar Zizemer
Poesias ........................................................................................................... 161 P. em. Dr. Lothar Carlos Hoch
Política: E eu com isso? ................................................................................... 162 P. Jairo Rivelino Ebeling
Quais são os nossos valores hoje? ................................................................... 165 Anamaria Kovács
Receitas da Maria e da Marlene ...................................................................... 168 Um austríaco no Brasil .................................................................................... 170 Josef Kässmayer
Um belo conto médico ................................................................................... 175 Alexander Lenard
Uma instituição sempre à frente do seu tempo .............................................. 180 Prof. Dr. Wilhelm Wachholz
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Uma jovem líder nos espaços de decisão da Igreja Luterana ............................ 182 Martha Regina Maas
Vou buscar a Justiça de meus direitos! ............................................................ 184 Rafael Luciano Santos
FLD – COMIN – CAPA: Três instituições, juntas em Diaconia Transformadora .... 187 Palavras cruzadas 1: Solução ........................................................................... 199 Palavras cruzadas 2: Solução ........................................................................... 200
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