Anuário Evangélico Luterano 2019

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Anuário Evangélico Luterano O Livro da Família

2019 Publicado sob a direção de Meinrad Piske


© 2018 Editora Otto Kuhr Caixa Postal 6390 89068-971 – Blumenau/SC Tel/fax: (47) 3337-1110 E-mail: grafica.ok@terra.com.br

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Produção editorial: Gráfica e Editora Otto Kuhr Ltda. Produção gráfica: Gráfica e Editora Otto Kuhr Ltda. Capa: Mythos Comunicação | www.mythos.art.br Crédito das imagens: Gemeindebrief (Alemanha), divulgação internet e arquivos pessoais cedidos pelos autores.

Os artigos assinados são de responsabilidade de seus autores. Direitos reservados à Gráfica e Editora Otto Kuhr Ltda.


Prefácio 120 anos é a marca histórica a ser celebrada em 2019: 120 anos do maior grupo organizado de mulheres da América Latina, a OASE – Ordem Auxiliadora de Senhoras Evangélicas; e 120 anos da Comunidade de Rio Cerro – Jaraguá do Sul/SC que você poderá conhecer nesta edição do Anuário Evangélico Luterano. Quanto testemunho de fé, de luta, de coragem destas pessoas envolvidas em favor do Reino de Deus! Neste sentido, a 48ª edição do Anuário Evangélico Luterano – o Livro da Família – traz em destaque especial estes dois artigos históricos. Mas ele vem recheado, como sempre, de muitos outros excelentes artigos e curiosidades que podem auxiliar no fortalecimento da fé cristã, da responsabilidade social e da formação em conhecimentos gerais. Novidade nesta edição são dois teatros e várias pequenas meditações sobre fatos da vida. Cada vez mais, o Anuário Evangélico Luterano representa a rica diversidade teológica da IECLB, reunindo colaborações de lideranças de todos os jeitos de vivenciar a fé em Cristo, que compartilham suas esperanças, saberes, olhares, experiências de vida e de fé. Assim, este material torna-se fruto de um belíssimo trabalho em mutirão, promovendo a boa leitura para a família brasileira. Trata-se de um excelente material para presentear amigos e amigas, lideranças na Igreja, pessoas que exercem trabalhos de formação de opinião nas comunidades e na sociedade.

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Nossa gratidão a todos os colaboradores, sejam autores, patrocinadores, colaboradores, que fazem chegar esta bela obra de arte, cultura e fé nas mãos de tanta gente com sede de uma boa palavra. Desejamos a você, nossa leitora e leitor, um abençoado ano de 2019, recheado de bons momentos de leitura, principalmente a partir do Anuário Evangélico Luterano – O Livro da Família.

Com carinho, pelo Conselho Editorial,

P. Roni Roberto Balz Editor

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O significado das nomencla tur as nomenclatur turas Advento – Vinda, chegada do Senhor. Natal – Nascimento de Jesus Cristo. Epifania – “Aparição” de Deus em seu Filho Jesus Cristo. Septuagesimae – 70 dias (faltam até Páscoa). Sexagesimae – 60 dias (faltam até Páscoa). Estomihi – (Latim: Esto mihi in Deum...) Salmo 31.3: “Sê para mim um forte rochedo”. Invocavit – (Latim: Invocavit me, et ego...) Salmo 91.15: “Ele me invocará e eu responderei...”. Reminiscere – (Latim: Reminiscere miserationum...) Salmo 25.6: “Lembra-te, Senhor, das tuas misericórdias”. Oculi – (Latim: Oculi semper ad Dominum...) Salmo 25.15: “Meus olhos estão sempre em Deus...”. Laetare – (Latim: Laetare cum Jerusalem...) Isaías 66.10: “Alegrai-vos com Jerusalém...”. Judica – (Latim: Judica me, Deus...) Salmo 43.1: “Julga-me, ó Deus...”. Domingo de Ramos/Palmarum – Veja João 12.13: “... A grande multidão... tomou ramos de palmeira e saiu ao seu encontro...”. Páscoa – Ressurreição de Cristo. Quasimodogeniti – 1 Pedro 2.2: “... desejai, como crianças recém-nascidas o leite não adulterado da palavra...”. Misericordias Domini – (Latim: Misericordia Domini plena est terra) Salmo 33.5: “A terra está cheia da misericórdia do Senhor”. Jubilate – (Latim: Jubilate Deo, omnis terra) Salmo 66.1: “Jubilai a Deus toda a terra...”. Cantate – (Latim: Cantate Domino canticum novum) Salmo 98.1: “Cantai ao Senhor um cântico novo”. Rogate – “Rogai, orai” Salmo 66.20: “Bendito seja Deus que não me rejeita a oração...”. Exaudi – (Latim: Exaudi, Domine, vocem meam...) Salmo 27.7: “Ouve, Senhor, a minha voz...”. Pentecostes – No 50º dia após a Páscoa, a descida do Espírito Santo. Aniversário da Igreja. Trindade – Domingo em que é celebrada a ação do Deus triúno – Pai, Filho e Espírito Santo. ••• 5 •••


Datas Festivas do Calendário Eclesiástico

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Janeiro 1 Ter 2 Qua 3 Qui 4 Sex 5 Sáb 6 Dom

7 Seg 8 Ter 9 Qua 10 Qui 11 Sex 12 Sáb 13 Dom

14 Seg 15 Ter 16 Qua 17 Qui 18 Sex 19 Sáb 20 Dom

21 Seg 22 Ter 23 Qua 24 Qui 25 Sex 26 Sáb 27 Dom

28 Seg 29 Ter 30 Qua 31 Qui

Fp 2.5-11 Js 24.1-26 Êx 2.1-10 Gn 21.1-7 Gn 9.12-17 Is 49.1-7

ANO NOVO – NOME DE JESUS – Dia Mundial da Paz

Branco

EPIFANIA DE NOSSO SENHOR Branco Em Jerusalém, os magos perguntavam: Onde está o recém-nascido Rei dos judeus? Porque vimos a sua estrela no Oriente e viemos para adorá-lo. Mateus 2.2 1890 – Declarada a plena liberdade religiosa no Brasil

1Jo 3.1-6 Nm 24.15-19 Ef 4.17-24 1Jo 1.5-7 Is 66.18-23 Zc 8.20-23 Lc 3.15-22 1º DOMINGO APÓS EPIFANIA – BATISMO DO SENHOR Branco Depois que Jesus foi batizado, ouviu-se uma voz dos céus: Tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo. Marcos 1.11 1635 – ✩ Philipp Jakob Spener, pai do pietismo luterano, † 05/02/1705 At 10.37-48 1875 – ✩ Albert Schweitzer, teólogo evangélico e médico, † 04/09/1965 1Co 2.11-16 Rm 8.26-30 1910 – Fundação Obra Gustavo Adolfo (OGA) brasileira, Hamburgo Velho, RS Ef 1.3-10 1546 – Última pregação de Martim Lutero em Wittenberg (Rm 12.3) Cl 2.1-7 Mt 6.6-13 1Co 12.1-11 2º DOMINGO APÓS EPIFANIA Verde O Senhor me disse: Israel, você é o meu servo, e por meio de você serei glorificado. Isaías 49.3 1866 – ✩ Euclides da Cunha, escritor brasileiro († 15/08/1909) Dt 4.5-13 1800 – ✩ Theodor Fliedner, fundou a primeira Casa Matriz de Diaconisas Rm 9.31-10.8 1532 – Fundação de São Vicente, primeira vila do Brasil-Português Gl 5.1-6 1637 – Chegada do conde João Maurício de Nassau-Siegen, governador do Brasil-Holandês, a Recife, PE At 15.22-31 Jr 14.1-9 1554 – Fundação pelos jesuítas do núcleo de São Paulo Dt 33.1-16 1654 – Fim do Brasil-Holandês: capitulação dos holandeses Lc 4.14-21 3º DOMINGO APÓS EPIFANIA Verde Percorria Jesus toda a Galileia, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando toda sorte de doenças e enfermidades entre o povo. Mateus 4.23 At 16.9-15 1808 – Abertura dos portos brasileiros aos navios das nações amigas Rm 15.7-13 1499 – ✩ Catarina von Bora, esposa de Martim Lutero († 20/12/1552) Rt 1.1-21 1990 – 8ª Assembleia Geral da FLM, em Curitiba, PR At 13.42-52 1531 – Chegada de Martim Afonso de Souza a Pernambuco Fases da Lua:

= Crescente

= Cheia

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= Minguante

= Nova


Lema do mês

Deus diz: Vou colocar o meu arco nas nuvens. O arco-íris será o sinal da aliança que estou fazendo com o mundo. (Gênesis 9.13)

Que maravilhosa graça Deus concede a nós. Sua promessa vem com cores enfeitando o céu. Quantas vezes vemos as crianças maravilhadas com as cores do arco-íris? Até mesmo nós certamente já passamos por essa experiência! Arrisco dizer que até hoje, muitos de nós ainda ficam felizes ao ver suas cores no céu. Ele não está lá por acaso. O arco-íris quer nos lembrar da aliança que Deus fez com a humanidade e toda criatura viva da terra. E que aliança foi essa? Após observar que a humanidade havia se corrompido, praticando todo tipo de maldade, Deus ficou triste. Sua ira destruiu toda a criação, exceto Noé, sua família e os animais que foram preservados na Arca. Assim que tudo fora afogado no dilúvio, Deus baixou as águas e fez uma promessa a Noé e sua família, assegurando que nunca mais destruiria os seres viventes desta forma. E o arco-íris é este símbolo da aliança.

Queremos com esta palavra lembrar que quando Deus faz uma aliança conosco, Ele a cumpre, apesar de nosso pecado e ações de desconfiança e desamor. Assim, o arco-íris lembra o juízo de Deus, sua promessa, mas também a esperança por novos tempos. A mensagem de cada arco-íris nos ensina que Deus é fiel à sua promessa de enviar um Salvador. Assim como o arco-íris continua a aparecer no céu, Cristo veio até nós, reafirmando a cada dia sua fidelidade e misericórdia. Portanto, nunca duvidemos das promessas de Deus, porque Ele as cumpre sempre, sem falhas. Por isso, somos felizes e podemos jubilar e dar glória a Deus diariamente, a partir da promessa de que um dia retornará até nós trazendo a plenitude de seu Reino. Isto certamente é verdade. P. Paulo Roberto Franke Videira – SC

Oração Amado Pai, criador e mantenedor da vida. Rendemos-te graças por Tua fidelidade e pelo cumprimento de Tuas promessas. Que o maravilhoso arco-íris, com suas lindas cores nos faça sempre lembrar que Tu és Deus e que por isso podemos crer e esperar pela Tua vinda, a fim de que possamos viver na plenitude do teu Reino. Amém.

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Fevereiro 1 Sex 2 Sáb 3 Dom

4 Seg 5 Ter 6 Qua 7 Qui 8 Sex 9 Sáb 10 Dom

11 Seg 12 Ter 13 Qua 14 Qui 15 Sex 16 Sáb 17 Dom

18 Seg 19 Ter 20 Qua 21 Qui 22 Sex 23 Sáb 24 Dom

25 Seg 26 Ter 27 Qua 28 Qui

Cl 1.24-29 Mq 3.1-4 Jr 1.4-10

APRESENTAÇÃO DE JESUS NO TEMPLO 4º DOMINGO APÓS EPIFANIA Verde Jesus leu no livro do profeta Isaías: O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos. Lucas 4.18 1931 – Fundação da Federação das Igrejas Evangélicas no Brasil

Mt 21.18-22 Mt 8.28-34 Os 2.19-23 Na 1.2-6 Cl 2.8-15 Is 51.1-6 1558 – Execução dos primeiros evangélicos no Brasil, na baía de Guanabara Lc 5.1-11 5º DOMINGO APÓS EPIFANIA (Último Domingo após Epifania) Verde Jesus Cristo diz: Eu sou a luz do mundo; quem me segue nunca andará na escuridão, mas terá a luz da vida. João 8.12 2Co 3.9-18 1868 – Fundação do Sínodo Teuto-Evangélico da Província do Rio Grande do Sul, em São Leopoldo, RS (extinto em 1875) Jo 1.43-51 Jo 3.31-36 Ap 1.1-8 1Co 2.6-10 Dia Mundial contra a Lepra Nm 6.22-27 1497 – ✩ Filipe Melanchthon, colaborador de Martim Lutero em Wittenberg († 19/04/1560) 1Co 15.12-20 6º DOMINGO APÓS EPIFANIA (Septuagesimae) Verde Simão Pedro respondeu a Jesus: Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna. João 6.68 Lc 19.1-10 1546 – † Martim Lutero, reformador alemão, em Eisleben (✩ 10/11/1483) Dt 7.6-12 Rm 4.1-8 1Co 3.1-8 Ml 3.13-18 1956 – Criação da Fundação Diacônica Luterana, em Lagoa Serra Pelada, ES 1Co 1.26-31 Lc 6.27-38 7º DOMINGO APÓS EPIFANIA (Sexagesimae) Verde Jesus pede a Deus em oração: Santifica meus discípulos na verdade; a tua palavra é a verdade. João 17.17 Dt 32.44-47 1778 – ✩ José de San Martin, general argentino, libertador latino americano († 17/08/1850) Ez 33.30-33 Lc 6.43-49 1Ts 1.2-10 1997 – Reestruturação da IECLB, extinção dos DE’s e das RE’s; criação dos Sínodos

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Lema do mês

Eu penso que o que sofremos durante a nossa vida não pode ser comparado, de modo nenhum, com a glória que nos será revelada no futuro. (Romanos 8.18)

No início do capitulo 8, é mencionado que não há mais condenação para os que já estão em Cristo. Isso é verdade! Já fomos libertos do pecado e da morte e temos comunhão com Deus por meio de Cristo. Mas também é verdade que somos co-herdeiros com Cristo em seus sofrimentos (2 Co 4.10-11) e muito mais na sua glória! Os sofrimentos são passageiros, mas a glória é eterna. O versículo acima não sustenta que por haver nova vida em Cristo os sofrimentos deixam de existir. Ao contrário, eles estão presentes, pois nesta vida o cristão ainda não está glorificado. Versículos como esse falam diretamente para dentro da vida cotidiana, mas que apontam para uma realidade futura. Cito outros versículos para entender de forma mais clara o texto em questão. Romanos 5.1-5 enfatiza a realidade da justificação por meio da fé em Cristo. A partir dela temos paz com Deus na vida presente. No entanto, Paulo ressalta os sofrimentos como realidade bem presente na vida dos cristãos. Pois é justamente nos sofrimentos e

nas tribulações da vida que encontramos paciência, adquirimos experiência e somos renovados na esperança da glória de Deus. Outro texto é de 1 Pedro 1.6-7. Ele destaca que se a nossa vida está resolvida com Deus em Cristo, também enfrentaremos tribulações, problemas e sofrimentos com o objetivo de comprovar se a nossa fé é genuína ou não. Pois, para entrar no Reino de Deus se passa por muitas tribulações (At 14.22). Nesse sentido, precisamos viver a vida sob duas perspectivas: primeira - por meio da fé podemos nos agarrar às promessas de Deus que ainda se cumprirão; segunda - a partir dos olhos da fé é necessário perceber a realidade concreta da vida cotidiana e de todos os “males” que passamos dia após dia tendo a certeza de que as promessas de Deus superam os sofrimentos presentes. É dever do cristão viver a vida sob esses dois aspectos. Por isso, é importante o discernimento espiritual para entender a realidade presente e perseverar nas promessas de Deus! P. Luciano Daniel Deckmann Ribeirão Preto – SP

Oração Querido Deus, há sofrimento entre nós. Temos a sensação de que o inverno chegou em nossa vida com todo o seu rigor, ocultando o sol e o seu calor. Aguardamos ansiosos pela mudança de estação! Por isso, a ti oramos e a ti confiamos nossas vidas. Inclinate sobre nós e envolve-nos em teu abraço amoroso. Ampara os doentes, fortalece os que cuidam, acompanha-nos em nossos temores, assiste-nos em nossa dor, orientanos por tua palavra. Como tu conduziste Cristo no sofrimento para a plenitude de vida, da morte para a ressurreição, assim também aconteça conosco conforme a tua vontade. Amém (“Martim Lutero”).

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Março 1 Sex 2 Sáb 3 Dom

4 Seg 5 Ter 6 Qua 7 Qui 8 Sex 9 Sáb 10 Dom

11 Seg 12 Ter 13 Qua 14 Qui 15 Sex 16 Sáb 17 Dom

18 Seg 19 Ter 20 Qua 21 Qui 22 Sex 23 Sáb 24 Dom

25 Seg 26 Ter 27 Qua 28 Qui 29 Sex 30 Sáb 31 Dom

2Tm 3.10-17 Dia Mundial de Oração – DMO Mt 13.31-35 Êx 34.29-35 ÚLTIMO DOMINGO APÓS EPIFANIA (Estomihi) Branco TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR O salmista canta ao Ungido: Tu és o mais formoso dos humanos; nos teus lábios se extravasou a graça; por isso, Deus te abençoou para sempre. Salmo 45.2 Lc 13.31-35 Lc 5.33-39 Sl 51.1-17 QUARTA-FEIRA DE CINZAS Violeta ou Preto ou Vermelho Cl 3.5-11 Rm 7.14-25a Dia Internacional da Mulher Zc 7.2-13 Lc 4.1-13 1º DOMINGO NA QUARESMA (Invocavit) Violeta Jesus respondeu ao tentador: Está escrito: Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus. Mateus 4.4 1557 – Primeira pregação evangélica (calvinista) no Brasil, na baía de Guanabara (Sl 27.4) 2Ts 3.1-5 Jó 1.1-22 1607 – ✩ Paul Gerhardt, teólogo luterano e poeta alemão († 27/05/1676) Dt 8.11-18 1630 – Proibição do tráfico de escravos africanos no Brasil Tg 4.1-10 1965 – Consagração do primeiro diácono na IECLB, em Lagoa Serra Pelada, ES Hb 2.11-18 1937 – Abertura do Ginásio (hoje Colégio) Sinodal, em São Leopoldo, RS Rm 6.12-18 1969 – Inauguração do Instituto Concórdia, da IELB, em São Leopoldo, RS Fp 3.17, 4.1 2º DOMINGO NA QUARESMA (Reminiscere) Violeta Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. João 3.16 Gn 37.3-36 Jó 2.1-10 Dia da Escola Jo 16.29-33 Início do OUTONO 1Jo 1.8–2.6 1557 – Primeira celebração evangélica (calvinista) da Santa Ceia no Brasil, na baía de Guanabara 2Co 13.3-9 Gl 2.16-21 Lc 13.1-9 3º DOMINGO NA QUARESMA (Oculi) Violeta Jesus Cristo a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até a morte e morte de cruz. Filipenses 2.8 Is 7.10-14 ANUNCIAÇÃO DO NASCIMENTO DE JESUS Branco Jó 7.11-21 1946 – Abertura da Escola de Teologia em São Leopoldo, RS Mt 13.44-46 Mt 19.16-26 1823 – ✩ Dr. Hermann Borchard, fundador do Sínodo Teuto-Evangélico da Província do Rio Grande do Sul († 03/08/1891) Mt 10.34-39 1549 – Chegada dos primeiros missionários jesuítas ao Brasil, chefiados pelo padre Manuel da Nóbrega Gl 6.11-18 Js 5.9-12 4º DOMINGO NA QUARESMA (Laetare) Violeta Assim como Moisés, no deserto, levantou a serpente numa estaca, assim também o Filho do Homem tem de ser levantado, para que todos os que crerem nele tenham a vida eterna. João 3.14-15

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Lema do mês

Dediquem-se completamente ao Senhor e adorem somente a ele. (1 Samuel 7.3)

O lema bíblico deste mês nos desafia a pensar sobre a fidelidade de um povo, escolhido por Deus, e a fidelidade do próprio Deus. O livro, cujo autor é desconhecido, deve ter sido escrito antes da morte de Salomão, ocorrida perto do fim do século X a.C., visto que 1 Samuel 27.6 tem conhecimento da monarquia davídica. Nele está relatada a história de Israel a partir da época da conquista de Canaã até o Exílio, períodos de vitórias, sucesso, declínio e queda. O autor enfatiza a mão e o propósito divino em todos esses acontecimentos. Descreve a instituição da monarquia que, mesmo tendo fracassado, lançou importantes alicerces para a esperança messiânica. Sobre os dois primeiros reis de Israel, Saul e Davi, comenta suas notáveis realizações como líderes de um povo escolhido. Samuel é o último dos juízes e o primeiro dos profetas clássicos. Este menino que de assistente de sacerdote, passa a ser o porta voz de notícias chocantes para Israel, traz uma mensagem edificadora para o povo. A sua mensagem é um

chamado ao arrependimento, à fé. O povo, infiel, estava deixando de seguir e servir o Deus verdadeiro. O Deus que caminhou com eles pelo deserto, protegendo e guiando, e os libertou da escravidão do Egito. O Deus que jamais os abandonou mesmo que tivessem se afastado da Sua presença. A fidelidade é uma característica de Deus. Ele não desiste do povo que escolheu. Ele cumpre as suas promessas. Isso fica claro ao enviar seu filho Jesus Cristo. De seus filhos e filhas espera fidelidade a Ele! O convite, Samuel faz também a nós: “se vocês querem com todo coração voltar a Deus, dediquem-se completamente ao Senhor e adorem somente a ele.” Fidelidade e dedicação andam de mãos dadas. A quem temos servido, dedicado nosso tempo e dons? Colocamos outros “deuses” como essenciais ou temos nos dedicado e sido fiéis ao Deus que cria, sustenta e mantém a vida? Que a sua Palavra continue a nos conduzir ao Cristo que nos aproxima de Deus. Pa. Gislaini Rodrigues Endlich Jaraguá do Sul – SC

Oração Senhor, nosso Deus, fiel e justo desde o princípio, graças por teu amor e por teu cuidado para com o teu povo. Graças por nos buscares e nos acolheres em Jesus Cristo. Dá-nos uma fé firme e uma esperança inabalável. Ensina-nos a respeitar, honrar e viver a tua Palavra em nossos dias e vidas. Por Jesus Cristo é que oramos. Amém.

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Abril 1 Seg 2 Ter 3 Qua 4 Qui 5 Sex 6 Sáb 7 Dom

8 Seg 9 Ter 10 Qua 11 Qui 12 Sex 13 Sáb 14 Dom

15 Seg 16 Ter 17 Qua 18 Qui 19 Sex 20 Sáb

21 Dom

22 Seg 23 Ter 24 Qua 25 Qui 26 Sex 27 Sáb 28 Dom

29 Seg 30 Ter

Jo 6.26-35 1985 – Lançado o primeiro número do jornal O CAMINHO Jó 9.14-35 Jo 15.9-17 2Co 4.11-18 1968 – † Martin Luther King (assassinado), pastor batista, líder do movimento negro dos EUA (✩ 15/01/1929) Jo 16.16-23a Jo 14.15-21 Jo 12.1-8 5º DOMINGO NA QUARESMA (Judica) Violeta Jesus Cristo diz: O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida para salvar muita gente. Marcos 10.45 1831 – Abdicação de D. Pedro I, primeiro imperador do Brasil Ef 2.11-16 Jó 19.21-27 1945 – † Dietrich Bonhoeffer, teólogo alemão, mártir do nazismo (✩ 04/02/1906) Hb 9.11-15 Jr 15.15-21 Hb 10.1-18 Lc 18.31-43 1598 – Edito de Nantes; tolerância para os protestantes na França (revogado em 1685) Lc 19.28-40 DOMINGO DE RAMOS – PAIXÃO Violeta ou vermelho Lc 22.54-62 Jesus respondeu aos discípulos: É chegada a hora de ser glorificado o Filho do Homem. João 12.23 Mt 26.6-13 Jó 38.1-11; 42.1-6 Lc 22.1-6 1Co 11.23-26 QUINTA-FEIRA DA PAIXÃO Branco Lc 23.33-49 SEXTA-FEIRA DA PAIXÃO Preto, Vermelho ou ausência de cor Dia dos Povos Indígenas Jo 19.38-42 SÁBADO DA PAIXÃO – VIGÍLICA PASCAL Violeta ou Preto 1529 – 2ª Dieta de Espira: protestos dos príncipes evangélicos alemães contra a restrição da liberdade de religião (“protestantes”) At 10.34-43 DOMINGO DA PÁSCOA Branco ou Dourado Sabemos que Cristo foi ressuscitado e nunca mais morrerá, pois a morte não tem mais poder sobre ele. Romanos 6.9 1792 – † Tiradentes, Joaquim José da Silva Xavier, enforcado 1960 – Inauguração de Brasília como nova capital do Brasil Is 25.6-9 1500 – Chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil (descobrimento do Brasil) Jo 20.1-10 Dia Mundial do Livro Jo 20.11-18 Jo 21.1-14 Lc 24.36-47 1500 – Primeira missa no Brasil Lc 24.1-12 Jo 20.26-31 2º DOMINGO DA PÁSCOA (Quasimodogeniti) Branco ou Dourado Jesus disse para Tomé: Você creu porque me viu? Felizes são os que não viram, mas assim mesmo creram! João 20.29 Gn 32.22-32 Jó 42.7-17

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Lema do mês

Jesus Cristo diz: Lembrem disto: eu estou com vocês todos os dias, até o fim dos tempos. (Mateus 28.20)

Quando se promete algo a alguém você gera uma expectativa, cria um anseio. Provoca sentimentos, pois nesta promessa a pessoa aguarda eufórica pelo seu cumprimento. Ao passo que a promessa é descumprida, aquela euforia se transforma em sentimento de decepção, desgosto, descrédito a quem fez a promessa. Certamente sentimentos como estes já nos deixaram “frustrados” em algum momento de nossa vida. Interessante que esses sentimentos são causados geralmente por pessoas mais próximas a nós, pessoas amigas ou conhecidas, com certa proximidade a ponto de nos deixar frustrados e tristes diante da quebra de expectativas que depositamos nelas. Diferente de toda esta experiência de frustração e desconfiança nas relações, Jesus Cristo prometeu estar conosco sempre, em todas as situações até o fim dos tempos. Mas por que com ele seria diferente? Sua promessa é confiável, pois nem mesmo diante de sua morte, abandonou sua missão para salvar a humanidade. Foi até as últimas consequências para confirmar seu amor por nós e sua lealdade ao Pai. Todos os dias

sinais de sua presença amorosa em nossa vida se renovam e confirmam sua misericórdia por nós. Lutero nos chama a atenção dizendo que “vivemos rodeados das bênçãos de Deus, e não nos damos conta disso”. Com Jesus, portanto, não ficaremos frustrados, como por vezes ficamos e também somos suscetíveis a deixarmos outras pessoas desanimadas, desacreditadas com eventual descumprimento de algo por nós prometido. Jesus é o amigo que pergunta: Andas triste e carregado de pesares e temor? Ele se preocupa com a gente e oferece consolo e paz ao nosso coração. Sim, ele é verdadeiro amigo! Disso prova nos mostrou,... derramou precioso sangue para as manchas nos lavar; gozo em vida e no futuro já podemos alcançar! (HPD 1, 206). Assim, Jesus Cristo prometeu estar conosco. Portanto, apesar de toda frustração e sofrimento, não estamos sozinhos, Jesus conosco está. Seu Reino é nossa herança. Isto nos fortalece e encoraja a seguir em frente, em confiança e luta diária por justiça, verdade, respeito, amor e paz. P. Evandro Elias Palmitos – SC

Oração Deus bendito, Pai de nosso Senhor Cristo. Graças por mais um ano sentir teu amor, tua misericórdia e companhia. Tua promessa, dada a cada um, cada uma de nós nos deixa completamente satisfeitos, visto que ela será cumprida. Dá-nos esta confiança e esperança. Agradecemos-te pela nossa vida e por todas as bênçãos recebidas. Por Jesus Cristo. Amém.

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Maio 1 Qua 2 Qui 3 Sex

Is 66.6-13 Jo 17.9-19 1Pe 2.1-10

4 Sáb 5 Dom

At 8.26-39 Ap 5.11-14

6 Seg 7 Ter 8 Qua 9 Qui 10 Sex 11 Sáb 12 Dom

13 Seg 14 Ter 15 Qua 16 Qui 17 Sex 18 Sáb 19 Dom

20 Seg 21 Ter 22 Qua 23 Qui 24 Sex 25 Sáb 26 Dom

27 Seg 28 Ter 29 Qua 30 Qui 31 Sex

Dia do Trabalho 1824 – Fundação da primeira comunidade evangélica pertencente à IECLB, em Nova Friburgo, RJ 3º DOMINGO DA PÁSCOA (Misericordias Domini) Branco ou Dourado Os discípulos de Emaús disseram um ao outro: Porventura, não nos ardia o coração, quando ele, pelo caminho, nos falava, quando nos expunha as Escrituras? Lucas 24.32 1865 – ✩ Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, sertanista e geógrafo brasileiro († 19/01/1958)

Jo 10.1-10 Mt 10.1-7 Jo 17.20-26 1945 – Fim da 2ª Guerra Mundial na Europa Ef 4.8-16 Mt 26.30-35 1886 – ✩ Karl Barth, teólogo evangélico suíço († 10/12/1969) Jo 14.1-6 Jo 10.22-30 4º DOMINGO DA PÁSCOA (Jubilate) Branco ou Dourado Jesus Cristo diz: Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem a mim. João 10.14 DIA DAS MÃES Gn 1.6-8 1888 – Abolição da escravatura no Brasil Gn 1.9-13 1950 – 1º Concílio Geral da Federação Sinodal, em São Leopoldo, RS Gn 1.14-19 Gn 1.20-23 Gn 1.24-31 1939 – Fundação da Casa Matriz de Diaconisas, em São Leopoldo, RS Gn 2.1-3 At 11.1-18 5º DOMINGO DA PÁSCOA (Cantate) Branco ou Dourado Jesus Cristo diz: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim. João 14.6 Êx 15.1-21 1886 – Fundação do Sínodo Riograndense, em São Leopoldo, RS 1Sm 16.14-23 Rm 15.14-21 1Co 14.6-19 Ap 5.6-14 Jo 6.60-69 1700 – ✩ Nikolaus Ludwig, Conde de Zinzendorf, fundador da Igreja Evangélica dos Irmãos Herrnhut, Alemanha († 09/05/1760) Jo 14.23-29 6º DOMINGO DA PÁSCOA (Rogate) Branco ou Dourado Jesus Cristo diz: Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada. João 14.23 Mc 1.32-39 Lc 18.1-8 Mc 9.14-29 1537 – Declarada a liberdade dos indígenas americanos pelo Papa Paulo III Ap 1.4-8 ASCENSÃO DO SENHOR Branco ou Dourado 1909 – ✩ Dr. Ernesto T. Schlieper, 2º Pastor Presidente da IECLB († 31/ 10/1969) Jo 18.33-38

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Lema do mês

Não há ninguém igual a ti; somente tu és Deus; não existe outro. (2 Samuel 7.22)

Assim, semanalmente, confessamos a nossa fé com as palavras do Credo Apostólico: “Creio em Deus Pai, todo poderoso, Criador do céu e da terra”. Por meio dele, damos testemunho de nossa fé para o mundo e reconhecemos uma força maior do que nós mesmos, para a qual podemos direcionar nosso clamor e louvor. O versículo em Samuel é uma clara confissão de fé, entre tantas outras encontradas na Bíblia. De maneira simples e objetiva, o rei Davi agradecido por tudo o que Deus fez em sua vida, confessa: Somente tu és Deus, não existe outro. Pode ser visto como uma resposta ao Primeiro mandamento, onde Deus deixa claro que Ele é o Senhor, único, em quem devemos confiar. (Êxodo 20.2-3). Mas que implicações temos em nossa vida quando reafirmarmos esta confissão de fé? Segundo o reformador Martinho Lutero, na explicação do primeiro artigo do Credo Apostólico, crer em Deus é confessar que Ele criou a nós e a tudo que existe, que Ele nos mantém, nos dá tudo o que

precisamos para viver diariamente, sem o merecermos, mas por graça e amor. Confessar nossa fé no único Deus, Pai e Criador, revelado em Jesus Cristo, é depositar o sentido de nossa vida nas mãos daquele que realmente se importa conosco, e que jamais nos abandona. Este Deus é amor, razão de nossa esperança. Por tudo isso devo dar-lhe graças e louvor, servi-lo e obedecer-lhe, diz Lutero. Por causa do teu amor ó Deus, nós podemos amar, respeitar as pessoas e toda a tua criação; por causa da tua compaixão, misericórdia e cuidado dispensados diariamente para conosco, afirmarmos: não há ninguém igual; somente tu és Deus; não existe outro com tamanho amor, graça e compaixão. Que nossa desconfiança seja vencida pelo seu amor, para que nossos lábios confessem: Jesus Cristo é o Senhor, outro não há, Senhor meu, Deus meu! Que Deus nos auxilie e nos capacite diariamente a confiar nele acima de tudo. Amém. P. Vagno Samora Paranho Quatro Pontes – PR

Oração Querido e amado Deus! Confio em ti. Tu tens feito maravilhas desde a criação do mundo. Convidaste-me para servir e amar, confiar e esperar. Somente em ti posso me alegrar e experimentar o teu amor, porquanto, tu és o meu Deus, o Deus que liberta, que caminha comigo e que me guarda. Senhor, que tu me dês sabedoria e discernimento para viver e confessar que tu és o único Deus. Amém.

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Junho 1 Sáb 2 Dom 3 Seg 4 Ter 5 Qua 6 Qui 7 Sex 8 Sáb 9 Dom

10 Seg 11 Ter 12 Qua 13 Qui 14 Sex 15 Sáb 16 Dom

17 Seg 18 Ter 19 Qua 20 Qui 21 Sex 22 Sáb 23 Dom

24 Seg 25 Ter 26 Qua 27 Qui 28 Sex 29 Sáb 30 Dom

Ap 4.1-11 Jo 17-20-26 7º DOMINGO DA PÁSCOA (Exaudi) Branco ou Dourado Jesus Cristo diz: Não os deixarei órfãos, voltarei para vocês. João 14.18 Ez 11.14-20 1Jo 4.1-6 Is 32.11-18 Dia Mundial do Meio Ambiente At 1.12-26 Ef 1.15-23 Jo 16.5-15 Rm 8.14-17 DOMINGO DE PENTECOSTES Vermelho Jesus Cristo diz: Quando o Espírito Santo descer sobre vocês, vocês receberão poder e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria e até nos lugares mais distantes da terra. Atos 1.8 Mt 16.13-19 Segunda-feira de Pentecostes 1888 – 1º número do “Sonntagsblatt” (Folha Dominical) do Sínodo Riograndese 1Co 14.1-40 1948 – Criação da Sociedade Bíblica do Brasil Ef 3.11-14 2Co 3.2-9 1525 – Casamento de Martim Lutero e Catarina von Bora Gl 3.1-5 1910 – Conferência Missionária Mundial em Edimburgo, na Escócia At 18.1-11 Jo 16.12-15 1º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Branco ou Dourado TRINDADE Os serafins diziam em voz alta uns para os outros: Santo, santo, santo é o Senhor Todo-Poderoso; a sua presença gloriosa enche o mundo inteiro! Isaías 6.3 Êx 3.13-20 1703 – ✩ John Wesley, pai do metodismo († 02/03/1791) Is 43.8-13 At 17.16-34 1934 – Constituição da Confederação Evangélica do Brasil (CEB) Ef 4.1-7 CORPUS CHRISTI 2Pe 1.16-21 Início do INVERNO Jo 14.7-14 Is 65.1-9 2º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Para mostrar que vocês são seus filhos, Deus enviou o Espírito do seu Filho ao nosso coração, o Espírito que exclama: Aba, Pai. Gálatas 4.6 Lc 1.57-80 João Batista, profeta Branco 1904 – Fundação da Igreja Luterana do Brasil (IELB) Mt 10.26-33 1827 – Fundação da Comunidade Protestante Teuto-Francesa do Rio de Janeiro, hoje pertencente à IECLB Jo 1.19-28 1945 – Criação da ONU em São Francisco, EUA Lc 3.10-18 At 13.15-25 1912 – Fundação do Sínodo das Comunidades Teuto-Evangélicas (Sínodo Evangélico) do Brasil Central no Rio de Janeiro Ef 2.19-22 Lc 9.51-62 3º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde O Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, conceda a vocês o espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele. Efésios 1.17 Dt 26.1-11 AÇÃO DE GRAÇAS PELA COLHEITA 1947 – Assembleia Constituinte da Federação Luterana Mundial em Lund, na Suécia

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Lema do mês

As palavras bondosas são como o mel: doces para o paladar e boas para a saúde. (Provérbios 16.24)

O sociólogo polonês, Zygmund Bauman, expõe seu pensamento em inúmeros livros e escritos nos quais reflete, entre outros temas, sobre a “liquidez” das relações humanas na pósmodernidade. “Amor líquido e Vida líquida” são dois exemplos de seus escritos. Não sou um leitor assíduo de seus textos, mas o alerta que ele faz é muito válido. Pessoas estão adoecendo, isoladas, sozinhas. As relações e interações sociais estão se tornando, realmente “líquidas” e estão cada vez mais frágeis. O que vale, em muitos casos, é o imediatismo “barato”, que satisfaz e gera prazer momentâneo, e a solidez dos relacionamentos vem perdendo força. Após esta breve, e até simplista, análise da conjuntura das relações humanas, leia atentamente o lema deste mês e responda: quantos proble-

mas você já resolveu através da gritaria? Dificilmente resolvemos algum dilema, algum problema, fazendo uso de palavras grosseiras, xingamentos. Já o contrário, sem dúvida, é verdadeiro: quantas vezes a calma e a educação, o respeito e as boas palavras, “palavras repletas de bondade” não lhe ajudaram e lhe abriram portas? Sonhamos com relações mais sólidas, concretas e duradouras? Se este for nosso desejo, as “boas palavras”, precisam estar presentes em nossa vida assim como o mel está presente na vida das abelhas, ou seja, sempre. Tenho certeza de que, além de agradável aos ouvidos, as “boas palavras” mantém e restituem nossa saúde física, espiritual e mental. Que o bom Deus, a Palavra Encarnada, vos abençoe, hoje e sempre. P. Sérgio Sarter Guaramirim – SC

Oração Querido e amado Deus, queremos muito que os nossos dias sejam repletos de boas palavras, bons pensamentos, boas atitudes. Porém, sabemos que a realidade, a correria e as dificuldades tendem a nos sufocar e, por vezes, nos desviar deste objetivo. Por isso pedimos-te, querido Deus, que as tuas “boas palavras” nunca nos faltem e que elas sempre encontrem ouvidos atentos, corações agradecidos e pessoas dispostas a cumprir o que elas nos pedem, ensinam e esperam. Por tua graça e amor, isto nós te pedimos, hoje e sempre. Amém.

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Julho 1 Seg

Pv 9.1-10

2 Ter 3 Qua 4 Qui 5 Sex 6 Sáb 7 Dom

Êx 2.11-25 Jo 4.5-18 Mt 15.29-39 1776 – Independência dos Estados Unidos da América (EUA) Jo 6.37-46 Jn 2.1-10 Gl 6.1-16 4º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde A semente que caiu na boa terra são os que, tendo ouvido de bom e reto coração, retêm a palavra; estes frutificam com perseverança. Lucas 8.15 Lc 7.36-50 Jz 10.6-16 Mq 7.7-20 1509 – ✩ João Calvino, reformador de Genebra (Suíça), líder do ramo calvinista do protestantismo († 27/05/1564) Mt 18.15-20 Gl 3.6-14 Jn 3.1-10 1553 – Chegada do jesuíta José de Anchieta ao Brasil Lc 10.25-37 5º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Se guardares o mandamento que hoje te ordeno, que ames o Senhor, teu Deus, andes nos seus caminhos, e guardes os seus mandamentos, e os seus estatutos, e os seus juízos, então viverás e te multiplicarás, e o Senhor, teu Deus, te abençoará. Deuteronômio 30.16 Gl 6.1-5 2Co 2.5-11 1054 – Cisão da Igreja Ocidental (Roma) e Oriental (Constantinopla) Mc 11.20-26 1Co 12.19-26 Fp 2.1-5 Jn 4.1-11 1873 – ✩ Alberto Santos Dumont, pioneiro da aviação († 23/07/1932) Gn 18.1-10a 6º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Deus diz: A palavra que sair da minha boca não voltará vazia para mim, mas fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a designei. Isaías 55.11 Gl 1.13-24 Rm 9.14-26 Ez 2.3-8a At 15.4-12 1824 – Chegada dos primeiros imigrantes alemães em São Leopoldo, RS Dia do Colono e do Motorista 2Co 12.1-10 Fp 3.12-16 Lc 11.1-13 7º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Simão Pedro respondeu a Jesus: Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna! João 6.685 Êx 14.15-22 At 2.32-40 At 16.23-34

8 Seg 9 Ter 10 Qua 11 Qui 12 Sex 13 Sáb 14 Dom

15 Seg 16 Ter 17 Qua 18 Qui 19 Sex 20 Sáb 21 Dom

22 Seg 23 Ter 24 Qua 25 Qui 26 Sex 27 Sáb 28 Dom

29 Seg 30 Ter 31 Qua

1921 – Fundação do Instituto Pré-Teológico do Sínodo Riograndense, em Cachoeira do Sul, RS

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Lema do mês

Cada um esteja pronto para ouvir, mas demore para falar e ficar com raiva. (Tiago 1.19)

A fé cristã testemunhada nas Escrituras, necessariamente vincula-se ao cotidiano. Ela quer ser “luz para o caminho”, sabedoria para a vida. Quer auxiliar, por exemplo, com toda a dinâmica de relacionamentos interpessoais experenciados ou que ainda serão vivenciados por nós. Seja no âmbito da comunidade, no contexto familiar, no trabalho, no congresso nacional, em qualquer ocasião, haverá comunicação, debate, escuta de opiniões, e até confrontos com realidades que podem, inclusive, desequilibrar a estrutura emocional de uma pessoa. Por acaso não é assim, especialmente nas redes sociais? Alguém emite opinião controversa, em seguida desmorona-se enxurradas de comentários, a réplica e a tréplica surgem em tom raivoso, e o palco para a cisão de amizades foi armado. Temos visto isso acontecer com frequência! O que dizer, então, quando cônjuges, integrantes de uma família, ou até mesmo irmãos e irmãs na fé tem dificuldades em exercitar a capacidade da escuta atenciosa, da ponderação nas pala-

vras, do respeito mútuo. Há grande chance de dissolução familiar, divisão de grupos e comunidades. A história comprova! O lema bíblico deste mês é incisivo, cortante. Evidencia aquilo que está latente na humanidade, isto é, a impulsividade, a proeminência pela força, a tendência para o descontrole, a imaturidade... Alguns provérbios reforçam esse diagnóstico, e ao mesmo tempo motivam para o equilíbrio no sentir, falar e agir: Quanto mais você fala, mais perto está de pecar; se você é sábio, controle a sua língua (Pv 10.19); As palavras do sábio tornam o conhecimento atraente, mas o tolo só diz bobagens (Pv 15.2); Quem controla as suas palavras é sábio, e quem mantém a calma mostra que é inteligente (Pv 17.27). Acolhamos mansamente a Palavra de Deus, deixemos que ela nos conscientize em sabedoria. Caminhemos com Jesus e aprendamos seu jeito justo de lidar com as pessoas e situações do cotidiano. Miss. Felipe Milani Valinhos – SP

Oração Estou pronto, Senhor, para ouvir-te falar, faz-me entender teu querer, faz-me servir-te melhor. Enche meus dias de amor, transborde em graça o meu viver, dá paz ao meu coração, dirige o meu caminhar. Fala Senhor, fala comigo, Senhor. Fala Senhor, todo o meu ser te ouvirá. Amém! (LCI 165)

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Agosto 1 Qui 2 Sex 3 Sáb 4 Dom

5 Seg 6 Ter 7 Qua 8 Qui 9 Sex 10 Sáb 11 Dom

12 Seg 13 Ter 14 Qua 15 Qui 16 Sex 17 Sáb 18 Dom

19 Seg 20 Ter 21 Qua 22 Qui 23 Sex 24 Sáb 25 Dom

26 Seg 27 Ter 28 Qua 29 Qui 30 Sex 31 Sáb

Mt 18.1-6 1Co 12.12-18 Ap 3.1-6 1927 – 1ª Conferência Mundial de Fé e Ordem, em Lausanne, Suíça Cl 3.1-11 8º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Jesus diz: Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada. João 14.23 Jo 6.47-56 1872 – ✩ Osvaldo Gonçalves Cruz, cientista e médico-sanitarista brasileiro († 12/02/1917) Mt 22.1-14 1911 – Fundação da Associação de Comunidades Evangélicas Alemãs de Santa Catarina, em Blumenau At 10.21-36 1Co 10.16-17 Lc 22.14-20 Ap 19.4-9 Lc 12.32-40 9º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde A fé é a certeza de que vamos receber as coisas que esperamos e a prova de que existem coisas que não podemos ver. Hebreus 11.1 DIA DOS PAIS Mt 7.7-12 Lc 6.27-35 Mt 5.33-37 Mt 9.27-34 1899 – Fundação da OASE em Rio Claro, SP 1Pe 3.8-17 Fp 2.12-18 Jr 23.23-29 10º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Deus nos deixou a promessa de que podemos receber o descanso de que ele falou. Hebreus 4.1 1Rs 3.16-28 1925 – 1ª Conferência Universal Cristã de Vida e Obra em Estocolmo, na Suécia Ef 5.15-20 1Co 10.23-31 Semana Nacional da Pessoa com Deficiência – 21 a 28 de agosto 1Co 9.16-23 1948 – Assembléia Constituinte do Conselho Mundial de Igrejas, em Amsterdã, na Holanda Jr 1.11-19 Lc 12.42-48 Lc 13.10-17 11º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Jesus acabou com o poder da morte e, por meio do evangelho, revelou a vida que dura para sempre. 2 Timóteo 1.10 Rm 11.1-12 Lm 1.1-11 Jo 4.19-26 Rm 11.25-32 Lm 5.1-22 Dt 4.27-40

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Lema do mês

Vão e anunciem isto: “O Reino do Céu está perto”. (Mateus 10.7)

Esta Palavra Bíblica é uma ordem que Jesus deixou aos seus discípulos e, consequentemente, para todos os cristãos. Ela nos fala da nossa missão, da nossa tarefa de: “ir e anunciar o Reino do Céu.” Com Jesus, o Reino do Céu já pode ser experimentado na terra. Mesmo assim, esperamos o dia em que o Reino do Céu virá definitivamente. Esta é a nossa esperança cristã, conforme palavras de 2 Pedro 3.13: “Nós, porém, segundo a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita a justiça.” No fim dos tempos, quando Jesus voltar, Deus reinará para sempre sobre tudo e sobre todos. Mas, nós já podemos experimentar o Reino do Céu hoje por que Deus já reina na nossa vida. E em meio a este mundo em que o mal reina, através da corrupção, da violência, da injustiça, do egoísmo, nós pessoas cristãs somos convidadas a ser proclamadores do Reino. Pessoas que vivem sob o domínio, sob o Reinado de Deus, são capacitadas para pequenos gestos, capazes de grandes transformações. Ao usar a expressão: “o Reino do Céu está próximo”, Jesus espera que os discípulos conduzam as pessoas de uma vida sem sentido para uma vida com sentido, em arrependimento, perdão,

esperança, crendo nas suas promessas de salvação. Preparar o caminho para o Reino de Deus, trabalhar por uma vida em comunhão, amar e viver com coerência são consequências do discipulado cristão. Como estamos nos engajando nessa tarefa de ir e anunciar que o Reino do Céu está próximo? Penso que muitas vezes temos esquecido a nossa tarefa de ir e anunciar. Falamos muito sobre o que se refere ao financeiro e esquecemos de ser uma igreja acolhedora, missionária e atrativa. Ter Igrejas bonitas, fazer churrascos, bazares e promoções é só parte do mandado. Antes vem a tarefa de promover o Evangelho de Jesus Cristo, enfatizando o arrependimento, perdão, reconciliação e comunhão. Às vezes o nosso ser justo, ser honesto, nosso perdoar e calar quando nos dirigem palavras de violência, o ajudar uma pessoa necessitada, parecem sinais insignificantes em meio a este mundo onde prevalece a lei do mais esperto, do tirar vantagem em tudo. E a gente chega até a se questionar se vale à pena, se faz diferença sermos e agirmos assim. E Jesus nos responde e diz: Vão e anunciem isto: “O Reino do Céu está perto”. Que possamos com palavras e ações ir e anunciar o Reino do Céu. Pa. Fabiane Schmidt Pedro Osório – RS

Oração Querido e amado Deus! Pedimos que Tu sopres sobre nós o Teu Espírito Santo para nos fortalecer e encorajar a assumir a missão que nos deixaste. Abençoe a cada um/uma de nós para que possamos agir de forma coerente com o Evangelho. Em nome de Jesus Cristo. Amém.

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Setembro 1 Dom

Hb 13.1-16

2 Seg 3 Ter 4 Qua 5 Qui 6 Sex 7 Sáb 8 Dom

Mt 23.1-12 1Sm 17.38-51 Jo 8.3-11 1850 – Abolição do tráfico de escravos africanos no Brasil 1Pe 5.1-5 Lc 22.54-62 Is 26.1-6 DIA DA PÁTRIA – 1822 – Independência do Brasil Verde Lc 14.25-33 13º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Alegrem-se sempre no Senhor; outra vez digo: alegrem-se. Filipenses 4.4 Dia Mundial da Alfabetização Mt 9.27-34 Mc 3.1-12 Dia da Imprensa At 9.31-35 Tg 5.13-16 1990 – Fundação da Comunhão Martim Lutero em Joinville, SC Mt 12.15-21 Is 57.15-19 Êx 32.7-14 14º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Tudo o que está nas Escrituras foi escrito para nos ensinar, a fim de que tenhamos esperança por meio da paciência e da coragem que as Escrituras nos dão. Romanos 15.4 Mt 12.1-8 Am 5.4-15 Dt 24.10-22 At 4.32-37 Tg 2.5-13 Jd 1-2,50-25 Dia da Árvore Lc 16.1-13 15º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde O apóstolo Paulo diz: Eu trago vocês no coração, seja nas minhas algemas, seja na defesa e confirmação do evangelho, pois todos vocês são participantes da graça comigo. Filipenses 1.7 Dt 26.1-11 Início da PRIMAVERA Gl 5.22-26 Fm 1-22 1Cr 29.9-18 Jo 13.31-35 Dia do Ancião 2Ts 2.13-17 1Tm 6.6-19 16º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai. Filipenses 2.10-11 ARCANJO MIGUEL E TODOS OS ANJOS Branco Gn 16.6b-14

9 Seg 10 Ter 11 Qua 12 Qui 13 Sex 14 Sáb 15 Dom

16 Seg 17 Ter 18 Qua 19 Qui 20 Sex 21 Sáb 22 Dom

23 Seg 24 Ter 25 Qua 26 Qui 27 Sex 28 Sáb 29 Dom

30 Seg

12º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Ó Senhor, eu sou teu, e por isso as tuas palavras encheram o meu coração de alegria e de felicidade. Jeremias 15.16 1939 – Início da 2ª Guerra Mundial na Europa 1850 – Início da colonização em Blumenau, SC

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Lema do mês

O que adianta alguém ganhar o mundo inteiro, mas perder a vida verdadeira? Pois não há nada que poderá pagar para ter de volta essa vida. (Mateus 16.26)

Passamos boa parte da nossa vida correndo atrás de realizações. Buscamos sucesso nas diferentes esferas de nossa vida. Almejamos construir uma família, ter um bom emprego que nos garanta uma vida confortável. Correndo, trabalhando, estudando para que quando a velhice chegar poder desfrutar as coisas boas da vida. No entanto, em nossa corrida para alcançar nossos objetivos nos esquecemos de viver em sua totalidade. Focamos tanto no trabalho que não nos damos conta que a vida é pra ser vivida integralmente. Não dedicamos tempo suficiente e com qualidade para cuidar de nossa saúde, de nossa família e das relações. Em sua trajetória Jesus ensina os discípulos o caminho para o Reino de Deus. Ele não apenas fala, mas também vive de acordo com o que prega. Os mandamentos e o conteúdo do Evangelho são para nós como uma bússola que nos aproxima de Deus. O lema do mês lembra que de nada adianta termos o mundo, bens materiais, sucesso profissio-

nal se nos afastamos de Deus. De nada vale ter tudo o que os olhos podem ver e as mãos pegar, mas petrificado por um coração frio, onde o amor de Deus não encontra espaço. Só há vida verdadeira quando estamos dispostos a seguir a Cristo. Jesus diz que não há preço que se possa pagar para ter a vida verdadeira de volta. Por isso, enquanto é tempo, somos chamados a deixar Ele ocupar espaço em nossa vida, em nossa família, em nosso trabalho. Por sua morte e ressurreição Jesus nos oferece vida abundante, vida verdadeira que só Deus Pai pode dar. E vida abundante acontece onde há arrependimento e perdão, reconciliação e comunhão, diálogo e respeito. Estes são frutos da infinita misericórdia de Deus, onde se pode experimentar a sua graça. Seguir a Cristo exige comprometimento. Ser cristão é uma opção de vida que transparece em nossa forma de viver. Nosso falar e agir deve deixar transparecer nossa fé. Sejamos éticos em nossas atitudes, coerentes com o Evangelho. Pa. Dra. Elisa Fenner Schröder Webber Esteio – RS

Oração Deus amor, fonte de vida, somos teus filhos e filhas. Ensina-nos a viver a vida de acordo com a tua vontade. Que aceitemos o chamado que Tu nos faz de sermos testemunhas da Boa Nova. Que saibamos valorizar aquilo que é importante na vida. Que em nossas relações transpareça o amor que de Ti recebemos. Por Cristo. Amém.

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Outubro 1 Ter 2 Qua 3 Qui 4 Sex 5 Sáb 6 Dom

7 Seg 8 Ter 9 Qua 10 Qui 11 Sex 12 Sáb 13 Dom

14 Seg 15 Ter 16 Qua 17 Qui 18 Sex 19 Sáb 20 Dom

21 Seg 22 Ter 23 Qua 24 Qui 25 Sex 26 Sáb 27 Dom

28 Seg 29 Ter 30 Qua 31 Qui

Êx 23.20-27 1921 – Reunião de constituição do Conselho Missionário Internacional em Lake Mohonk, EUA Mt 18.10-14 At 12.1-11 1226 – † Francisco de Assis, fundador da Ordem dos Frades Menores (franciscanos) (✩ 1181/1182) At 27.16-25 1959 – Inauguração do prédio principal da Faculdade de Teologia da IECLB, em São Leopoldo, RS Ap 22.6-10 Lc 17.5-10 17º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Ó Deus, eu falarei a respeito de ti aos meus irmãos e te louvarei na reunião do povo. Hebreus 2.12 Rm 6.18-23 Is 38.9-20 At 9.36-42 1905 – Fundação do Sínodo Evangélico Luterano de SC, PR e Outros Estados da América do Sul, em Estrada da Ilha, SC Fp 1.19-26 Ap 2.8-11 1962 – Concílio Vaticano II, da Igreja Católica Romana, em Roma Rm 4.18-25 Dia da Criança – Dia de Nª Srª Aparecida 2Rs 5.1-3, 18º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde 7-15c Naquele dia, todos dirão: Ele é o nosso Deus. Nós pusemos a nossa esperança nele, e ele nos salvou. Isaías 25.9 Hb 11.1-10 Tg 1.1-13 Lc 7.1-10 At 5.34-42 Hb 12.1-3 Mt 14.22-33 Lc 18.1-8 19º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Segundo o seu querer, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como que primícias das suas criaturas. Tiago 1.18 1962 – Assembleia Constituinte do Sín. Evang. Luterano Unido (SELU) 1997 – Inauguração da Gráfica e Editora Otto Kuhr, em Blumenau, SC Mt 6.1-4 Mc 3.31-35 Ct 8.4-7 Gl 5.13-18 Rm 15.1-6 1968 – Reestruturação da IECLB, fusão dos 3 Sínodos, criação da RE IV Mt 5.17-24 1949 – Constituição da IECLB 2Tm 4.6-18 20º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde O Senhor me livrará de todo mal e me levará em segurança para o seu reino celestial. A ele seja dada a glória para todo o sempre! Amém! 2 Timóteo 4.18 1916 – ✩ Karl Gottschald, 3º Pastor Presidente da IECLB († 02/08/1993) Êx 15.22-27 Lc 5.12-16 Dia Nacional do Livro e da Leitura Lc 13.10-17 Mt 10.26-33 DIA DA REFORMA Vermelho 1517 – Lançamento das 95 Teses de Martim Lutero

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Lema do mês

Regula tua esmola segundo a abundância de teus bens: se tens muito, dá mais; se tens pouco, dá menos, mas não tenhas receio de dar esmola. (Tobias 4.8 – Bíblia de Jerusalém)

Talvez o leitor tenha estranhado o versículo em destaque, já que o livro de Tobias não se encontra em nossas Bíblias, pois é considerado deuterocanônico. Assim como os outros livros deuterocanônicos, o livro de Tobias não foi incluído na Bíblia Hebraica, e por isso também não foi incluído no Cânon Evangélico, mas apesar de não estarem presentes, tanto o livro de Tobias, quanto os outros livros sempre fizeram parte da literatura hebraica, sendo estudados nas sinagogas, tendo um estimado valor dentro do judaísmo. Este é um livro de sabedoria, assim como Provérbios e Jó, e conta a história de uma família justa e temente a Deus, que passa por dificuldades e sofrimentos, mas que permanece fiel aos ensinamentos divinos. O livro foi escrito em uma época muito semelhante à nossa, de grande diversidade e pluralidade, onde outros povos influenciavam a cultura e a religião judaica, o que muitas vezes confundia e desviava os mais novos. Por isso, no capítulo 4

deste livro, encontramos orientações de um pai para seu filho, para que permanecesse no temor do Senhor. Este texto é muito semelhante a alguns textos de Provérbios, como “quando lhe for possível, não deixe de fazer o bem a quem dele precisa” (Provérbios 3.27), e também de Tiago, no Novo Testamento, que nos diz: “A religião que Deus, o nosso Pai, aceita como pura e imaculada é esta: cuidar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades e não se deixar corromper pelo mundo” (Tiago 1.27). É interessante perceber como Deus quer que o seu povo cuide daqueles que estão ao seu redor, à margem. Deus ama a todas as pessoas, e quer usar os seus seguidores como instrumento para levar paz, consolo, conforto e a Palavra do próprio Deus adiante. Devemos ouvir estes conselhos e refletir se não temos deixado que o individualismo nos cegue para o que acontece ao nosso redor. P. Maurício R Nagel Colinas - RS

Oração Amado Deus, clamamos pela tua sabedoria, para que a cada novo dia o Senhor oriente nossas ações, e que não nos deixe corromper pelo mundo, mas que busquemos sempre na tua Palavra, a luz para nos guiar e orientar. Que teu Santo Espírito habite em nós e nos transforme conforme o teu querer. Amém.

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Novembro 1 Sex 2 Sáb 3 Dom

4 Seg 5 Ter 6 Qua 7 Qui 8 Sex 9 Sáb 10 Dom

11 Seg 12 Ter 13 Qua 14 Qui 15 Sex 16 Sáb 17 Dom

18 Seg 19 Ter 20 Qua 21 Qui 22 Sex 23 Sáb 24 Dom

25 Seg 26 Ter 27 Qua 28 Qui 29 Sex 30 Sáb

Lc 6.20-23 Jo 11.1-21 Is 1.10-18

DIA DE TODOS OS SANTOS Branco DIA DE FINADOS Branco 21º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Irmãos, orem por nós, para que a palavra do Senhor se propague e seja glorificada, como está acontecendo entre vocês. 2 Tessalonicenses 3.1 1887 – ✩ Dr. Hermann Dohms, 1º Pastor Presidente da Federação Sinodal († 04/12/1956)

2Ts 3.6-13 Rm 13.1-7 Ef 5.25-32 1Co 14.26-33 Jo 18.28-32 Pv 3.1-8 Lc 20.27-38 22º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Fiquem vigiando, pois vocês não sabem em que dia vai chegar o seu Senhor. Mateus 24.42 1483 – ✩ Martim Lutero, reformador († 18/02/1546) 1Pe 4.7-11 1982 – Assembleia Constitutiva do Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI), em Huampaní, Lima, Peru Jr 18.1-10 Hb 13.1-9b 354 – ✩ Aurélio Agostinho, teólogo da Igreja Antiga Ocidental (latina), bispo († 28/08/430) 1Jo 2.18-29 2Co 6.1-10 1889 – Proclamação da República do Brasil Mc 13.1-8 2Ts 3.6-13 23º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Aquele que dá testemunho de tudo isso diz: Certamente venho logo! Amém! Vem, Senhor Jesus! Apocalipse 22.20 Mt 7.21-29 1982 – Constituição do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), em Porto Alegre, RS Jo 3.17-21 Rm 2.1-11 Lc 15.1-10 Hb 13.17-21 Ap 20.11-15 Lc 23.33-43 DOMINGO DE CRISTO REI Branco ou Dourado ÚLTIMO DOMINGO DO ANO ECLESIÁSTICO Jesus Cristo diz: Eu sou o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim. Apocalipse 22.13 Hb 12.18-25 1843 – ✩ Dr. Wilhelm Rotermund, fundador do Sínodo Riograndense († 05/04/1925) 1Pe 1.13-21 1Co 3.9-15 1Ts 5.9-15 Hb 13.10-16 Ap 21.10-27 1991 – Abertura do Centro de Literatura Evangelística da IECLB, em Blumenau, SC

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Lema do mês

Pois eu sei que o meu defensor vive. (Jó 19.25)

Como lidamos com o sofrimento? Que espaços temos em comunidades para o lamento? Como reagimos ao sofrimento das pessoas que partilham suas dores e angústias? Essas e outras perguntas surgem ao meditar sobre a perícope de Jó 19.25. É um texto veterotestamentário sapiencial que aponta para a esperança e a certeza da intervenção de Deus em meio ao sofrimento. O sofrimento de Jó é, na verdade, apenas um tema transversal que auxilia na reflexão sobre a discussão de quem é Deus. Mesmo que Jó seja o personagem central do livro, Deus é o protagonista principal. É sobre Deus e seu agir que todo o drama de Jó e toda a trama do livro giram. Jó experimenta uma situação existencial degradante: perde seus filhos, é abandonado pela esposa, amigos e familiares. Diante dessa situação de abandono, Jó clama aos seus amigos por compaixão, mostrando assim o seu desespero e indignação em meio ao sofrimento. O texto revela que apesar de tanta dor e decepção, principal-

mente com Deus, Jó não abre mão de estar diante de Deus. A atitude de Jó de saber, pela fé, que seu defensor vive é o que lhe dá esperança, consolo e o mantém firme na fé. Agostinho de Hipona, ao interpretar o livro de Jó afirma: “Jó foge de Deus para o colo de Deus”. Com essa frase quer ilustrar o fato de não termos outro que nos console diante do sofrimento. A verdadeira esperança está no redentor, nosso defensor Jesus Cristo, que vive e voltará. Estamos no final do ano eclesiástico que possamos esperançar, visitar, consolar, cuidar e interceder por aqueles e aquelas que sofrem e precisam de consolo. Que possamos anunciar no novo ano eclesiástico, no advento, que no menino nascido em Belém, Deus veio habitar entre nós. Jesus morreu e ressuscitou dos mortos para nos salvar do poder da morte. Essa intervenção de Deus acontece na pessoa de Jesus Cristo, o nosso defensor, autor e consumador da fé, o princípio e o fim, aquele com quem terminamos e iniciamos o ano da igreja. Pa. Patrícia Hoffmann Espigão do Oeste – RO

Oração Deus de amor e cuidado! Rendemos graças porque ao longo da história sempre de novo Tu te voltas para o teu povo com misericórdia e compaixão. Perdoa-nos quando nos desviamos de ti. Enche nosso coração de amor, para nunca nos afastar de ti e sempre andar nos teus caminhos. Em nome de Jesus. Amém.

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Dezembro 1 Dom

2 Seg 3 Ter 4 Qua 5 Qui 6 Sex 7 Sáb 8 Dom

9 Seg 10 Ter 11 Qua 12 Qui 13 Sex 14 Sáb 15 Dom

16 Seg 17 Ter 18 Qua 19 Qui 20 Sex 21 Sáb 22 Dom

23 Seg 24 Ter 25 Qua 26 Qui 27 Sex 28 Sáb 29 Dom

30 Seg 31 Ter

Mt 24.36-44 1º DOMINGO DE ADVENTO Violeta ou Azul Mostra-nos, Senhor, a tua misericórdia e concede-nos a tua salvação. Salmo 85.7 1Pe 1.8-13 Hb 10.32-39 Cl 1.9-14 1Ts 5.1-8 Ez 37.24-28 Hb 2.1-4 Rm 15.4-13 2º DOMINGO DE ADVENTO – DIA DA BÍBLIA Violeta ou Azul O profeta Isaías diz: Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas. E toda a humanidade verá a salvação de Deus. Lucas 3.4,6 Is 25.1-8 Is 26.7-15 1948 – Declaração Universal dos Direitos Humanos, da ONU Dia Universal dos Direitos Humanos Ap 2.1-7 2Co 5.1-10 Zc 2.14-17 1Ts 4.13-18 Mt 11.2-11 3º DOMINGO DE ADVENTO Violeta ou Azul João Batista é aquele a respeito de quem as Escrituras Sagradas dizem: Aqui está o meu mensageiro, disse Deus. Eu o enviarei adiante de você para preparar o seu caminho. Mateus 11.10 Os 14.1-9 1815 – Elevação do Brasil à categoria de Reino, unido a Portugal e Algarves Lc 1.26-38 2Co 1.18-22 1865 – † Francisco Manoel da Silva, compositor do Hino Nacional Brasileiro (1831) (✩ 1795) Is 11.10-13 Is 42.5-9 Ap 3.7-12 Is 7.10-16 4º DOMINGO DE ADVENTO Violeta ou Azul O profeta Isaías diz: Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e ele será chamado pelo nome de Emanuel, que significa Deus conosco. Mateus 1.23 Início do VERÃO Mt 1.18-25 Lc 7.10-14 VIGÍLIA DE NATAL – NOITE DE NATAL Branco Tt 2.11-14 NATAL – DIA DE NATAL Branco Mt 1.18-25 Jo 21.20-24 Mt 2.13-18 Mt 2.13-23 1º DOMINGO APÓS NATAL Branco Que a paz que Cristo dá dirija vocês nas suas decisões, pois foi para essa paz que Deus os chamou a fim de formarem um só corpo. E sejam agradecidos. Colossenses 3.15 Is 63.7-14 Ec 3.1-13 Véspera de Ano Novo Branco

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Lema do mês

Se o caminho em que andam é escuro, sem nenhum raio de luz, confiem no Senhor, ponham a sua esperança no seu Deus. (Isaías 50.10)

Onde buscar esperança em meio à escuridão? Quando Jesus fala no Evangelho de João que Ele é a luz do mundo e compromete seus discípulos a também serem luz do mundo (Cf. Mateus 5.14), Jesus pressupõe algo! Pressupõe que o mundo é escuro e, por isso, necessita de luz, pois a vida se desenvolve onde há luz. Ao lermos o texto de Isaías nos damos conta de que o caminho em que andamos é realmente escuro. Pois, por causa do pecado, o mundo experimenta sofrimento, tristeza e dor, clamando incessantemente pela misericórdia de Deus, ou deveria fazê-lo. Esta é a realidade em que vivemos, pois as perdas em nossa vida são inegociáveis, elas virão mais cedo ou mais tarde. Diante das perdas da vida, para onde corremos? Em quem depositamos a nossa confiança? Onde buscamos esperança? O povo de Israel muitas vezes não buscou o seu Senhor em suas aflições, pois se achou capaz de dar conta do “recado” sozinho. Várias e várias vezes eles fizeram seus próprios caminhos e decidiram “construir suas próprias lanternas, lamparinas” ou algo que desse uma luz. Mas, em todas as situações, o povo fracassou em seu pecado. Pois não per-

cebiam que somente Deus pode guiar na direção certa e iluminar o caminhar neste mundo, nos dando esperança e motivação para viver mesmo em meio ao sofrimento e às perdas que passamos em nossa vida. É muito comum acharmos que nos bastamos, que somos a própria fonte de luz ou que tudo depende de nós: o problema a ser resolvido, a comunidade a ser edificada, o luto a ser superado, os traumas a serem vencidos, etc. Penso que muitas vezes nos vemos como o superman ou a superwoman que Jesus não pediu para sermos. Deus nos chama a colocarmos a nossa esperança Nele somente, pois Ele não virou as costas para nós e muito menos fecha os seus ouvidos para as nossas orações. Busquemos ao Senhor, revelado em Jesus Cristo por excelência, e deixemos sua luz mostrar o caminho pelo qual devemos andar. Que a partir de Cristo possamos ser luz neste mundo, levando a paz, a justiça, a dignidade, a tolerância e o amor. Assim, entreguemos nossos temores e limitações a Deus, e Ele nos acompanhará com a sua luz renovando nossa esperança por tempos melhores. Pa. Sabrina Krüger Nova Santa Rosa – PR

Oração Senhor, ajuda-nos a vivermos em Ti. Ajuda-nos a buscarmos esperança somente em Ti. Faze-nos reconhecer quem somos e reconhecer quem de fato Tu és. Amém!

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Temas da IE CLB IECLB 1976 - Comunidade Consciente e Atuante 1977 - Nova comunhão em Cristo, como vivê-la? 1978 - Cristo, o caminho 1979 - A importância da família cristã para a criança 1980 - Cristo, o Mediador 1981 - Homem e Mulher unidos na Missão 1982 - Terra de Deus - Terra para Todos 1983 - Eu sou o Senhor teu Deus 1984 - Jesus Cristo - Esperança para o mundo 1985 - Educação - Compromisso com a verdade e a vida 1986 - Por Jesus Cristo, Paz com Justiça 1987 | 1988 - ... e serei minhas testemunhas 1989 | 1990 - O pão nosso de cada dia 1991 | 1992 - Comunidade de Jesus Cristo - A Serviço da Vida 1993 | 1994 - Permanecem a fé, a esperança e o amor 1995 | 1996 - Somos Igreja. Que Igreja somos? 1997 | 1998 - Aqui você tem lugar 1999 - É tempo de lançar 2000 - Dignidade Humana e Paz - um novo milênio sem exclusão 2001 - Ide, fazei discípulos... 2002 - Mãos à obra 2003 - Nosso mundo tem salvação 2004 - Pelos caminhos da esperança 2005 | 2006 - Deus, em tua graça, transforma o mundo 2007 | 2008 - No poder do Espírito, proclamamos a reconciliação 2009 | 2010 - Missão de Deus - Nossa Paixão 2011 - Paz na Criação de Deus - Esperança e Compromisso 2012 - Comunidade jovem - Igreja viva 2013 - Ser, participar, testemunhar - Eu vivo comunidade 2014 - viDas em comunhão 2015 - Igreja da Palavra - Chamad@s para comunicar 2016 - Pela graça de Deus, livres para cuidar 2017 - Alegres, jubilai! Igreja sempre em Reforma: agora são outros 500 2018 | 2019 - Igreja – Economia – Política Fonte: www.luteranos.com.br/conteudo/relacao-de-temas-do-ano

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Tema e LLema ema da IE CLB par a o ano de 2019 IECLB para

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TEMA DO ANO DE 2019 Secretaria Geral da IECLB

IGREJA ECONOMIA POLÍTICA Lema: Deixo com vocês a paz, a minha paz lhes dou. (João 14.27a) Martim Lutero definiu Igreja, Economia e Política como as três ordens da Criação de Deus. Para Lutero, todo ser humano está inserido nas três ordens. Mesmo que uma pessoa queira se retrair da dinâmica de uma delas, o que nelas acontece vai refletir em sua vida. O Tema do Ano da IECLB em 2018 nos deu a oportunidade de compreender a concepção luterana das ordens da Criação. Ao manter o Tema em 2019, queremos identificar e indicar ações para o melhoramento do mundo através das três ordens. A manutenção do Tema está sob a luz de um novo Lema bíblico: “Deixo com vocês a paz, a minha paz lhes dou” (João 14.27a). O Lema sublinha que uma tarefa fundamental de governantes e pessoas cidadãs é promover a paz e o bem-estar de todas as pessoas. Para isso, é preciso compreender o que é paz. A paz bíblica (shalom) é bem abrangente. Ela pode ser resumida

assim: é felicidade, o mútuo entendimento, o bem-estar espiritual, físico, social, econômico e político das pessoas, das famílias ou grupos com quem elas se relacionam, das cidades em que moram, dos povos aos quais pertencem. Paz é felicidade, saúde, bom entendimento e bemestar em todos os sentidos. Para a Bíblia, a paz é uma dádiva de Deus, que nos cabe cultivar. Jesus tinha em mente esse sentido abrangente de paz quando disse que deixaria shalom (paz) para as pessoas que o seguiam (João 14.27-31). Talvez a maior contribuição de Jesus para a prática da paz nas diferentes dimensões dos relacionamentos humanos é sua insistência no perdão sem limites: perdoar não apenas sete vezes, mas setenta vezes sete (Mateus 18.22). A paz de Jesus incluía uma prática decidida de não violência e não armamentista. Ele pede para orar pelas pessoas que nos perseguem ou caluniam (Mateus 5.44; Lucas 6.28), para não revidar o mal com o mal (Mateus 5.38). A paz também precisa ser buscada nas relações políticas e econômicas. Políticas e modelos econômicos são determinantes para que a paz vingue ou mingue. Entre outros males, a poluição, o desmatamento e o uso indiscriminado de agrotóxicos causam graves problemas ambientais. Igreja, Economia e Política são

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corresponsáveis pelo cuidado ou pela depredação da Criação de Deus. A IECLB quer contribuir com iniciativas de gestão ambiental responsável e de preservação da Criação divina. O Programa Ambiental Galo Verde é um exemplo. Ele tem como lema: “A Criação é de Deus; a responsabilidade é nossa!” Ao implantar um programa de gestão ambiental, Comunidades e instituições demonstram que a fé é vivida com responsabilidade (mais informações em: www.galover de.org.br). Há quatro décadas, a IECLB criou o CAPA – Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia (www.capa.org. br) e apoia iniciativas no âmbito da agroecologia. A agroecologia é um “projeto de sociedade transformadora de vidas, que viabiliza relações sociais justas, harmonia com a natureza e oferta de alimentos saudáveis para todos os seres”. Este também é um jeito de regar a semente da paz

semeada por Jesus! O CAPA desenvolveu o projeto Comida boa na mesa (www.comidaboanamesa. com.br), que traz uma reflexão permanente sobre o acesso à alimentação saudável. O cuidado com a vida humana deixa muito a desejar por parte do Estado brasileiro. Diante desse quadro, a IECLB não se omite. Há muitos projetos de cuidado de pessoas lá “onde a vida dói”, não importando se a compaixão alcança membros ou pessoas que nem integram a IECLB (www.luteranos.com.br/organiza cao/ missao-diaconia). Temos consciência de que as ações diaconais da Igreja não são suficientes para suprir as necessidades e carências, mas temos a alegre convicção de que nossas ações diaconais demonstram que, da solidariedade no sofrimento humano, brota a paz semeada por Jesus. Presidência da IECLB

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Datas Comemorativas em 2019 P. Me. Osmar Luiz Witt

500 anos 1519 na Reforma luterana A Reforma luterana, cujos 500 anos foram festejados em 2017, teve um evento desencadeador com a divulgação das 95 Teses, em 31/10/1517. A história deste movimento de reforma da Igreja cristã, também registrou importantes acontecimentos nos anos seguintes do século XVI. Assim, em 1519, há 500 anos, aconteceu uma Disputa teológica, na cidade de Leipzig, na Alemanha, entre Martim Lutero e o teólogo Johann Eck (1486-1543). Neste confronto Lutero defendeu ensinamentos de John Huss (condenado como herege pelo Concílio de Constança), sustentou que o Papado não se fundamentava em direito divino e que os Concílios também eram passíveis de erro. Com isso, colocou-se em oposição aos ensinamentos da Igreja da época. Além disso, em 1519, subiu ao trono do Sacro Império Romano Germânico, na sucessão ao Imperador Maximiliano I, o rei de Espanha, com o título de Carlos V. Diante deste Imperador, Lutero teria de defender seus escritos, na Dieta de Worms, em 1521. Para além dos círculos da Reforma luterana, em 1519 também teve início a Reforma na Suíça, sob a liderança de Ulrich Zwínglio. Assim como Lutero, ele divulgou 67 Teses, nas

quais denunciou a prática da venda de cartas de indulgência e a infalibilidade papal. 250 anos 1769 – Alexander von Humboldt Em 14/09/1769, nasceu Friedrich Wilhelm Heinrich Alexander von Humboldt. De família pertencente à nobreza alemã, empregou seus recursos em viagens de pesquisas científicas. Deu importante contribuição ao desenvolvimentos das ciências naturais e humanas. Foi geógrafo, naturalista, explorador e historiador. Suas viagens o levaram a lugares vários e distantes. Percorreu vários países das Américas, onde fez análises geológicas. Após haver percorrido aproximadamente 65 mil quilômetros e de haver recolhido mais de sessenta mil espécies de plantas, retornou para a Europa com o material que subsidiou suas pesquisas. Ele faleceu aos 90 anos de idade, em 6/05/1859. 100 anos 1919 - Conferência de Paz Há um século, em 18/01/1919, foi aberta a Conferência de Paz de Paris, contando com a presença de 70 delegados de 25 países. Politicamente decisiva, contudo, foi a participação dos Estados Unidos, do Reino Unido, da França e da Itália. O resul-

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tado desta Conferência traduziu-se no Tratado de Versalhes, assinado em 28/06/1919, que definia os termos da paz e as reparações devidas pelos derrotados na Primeira Guerra Mundial (1914-1918). A Conferência encerrou em 10/01/ 1920 e a aplicação do Tratado gerou dificuldades econômicas e oposição na Alemanha. 50 anos 1969 - o mundo em transformações Há 50 anos, a humanidade experimentava profundas transformações. Conviviam grandes e decisivos avanços científicos com os conflitos resultantes das desigualdades sociais entre os povos. A guerra fria, como foi chamada a permanente tensão e disputa de espaços de influência pelas duas potências mundiais (os Estados Unidos e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), deixava suas marcas, entre outras áreas, na corrida espacial. Assim, em 20 de julho, o astronauta norte-americano, Neil Armstrong, comandante da missão Apolo 11, foi o primeiro homem a pisar no solo da Lua. Enquanto isso, em solo norte-americano, entre 15

e 17 de agosto, acontecia o Festival de Woodstock, um festival de rock and roll, expressão musical de uma geração de jovens inconformados com as políticas belicistas postas em prática pelas nações poderosas. O grito de "paz e amor" ecoou mundo afora e ganhou o coração da juventude. No Brasil, a oposição ao regime militar, no governo desde o golpe de 1964, levou ao sequestro do embaixador dos Estados Unidos, Charles Burke Elbrick. O regime fechou-se em leis ditatoriais e, em 18/ 09 foi assinado decreto-lei estabelecendo uma nova Lei de Segurança Nacional. 25 anos 1994 - Personalidades Em 1/05/1994, um acidente automobilístico ocorrido no Grande Prêmio de Ímola, na Itália, tirou a vida de um grande ídolo nacional brasileiro, o piloto de Fórmula 1, Ayrton Senna. O esporte nacional perdeu uma de suas figuras mais carismáticas. De outra parte, dois meses depois, nos Estados Unidos, a seleção brasileira de futebol ganhava a Copa do Mundo e se tornava a primeira seleção tetracampeã.

Não julgue cada dia pelo que você está colhendo, mas pelas sementes que você está plantando. Robert Louis Stevenson

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Outra perda significativa, em especial para o mundo das artes, foi a morte do maestro Antônio Carlos Jobim. 10 anos 2009 - Presidente Obama Há dez anos, em 20/01, Barack Hussein Obama, tomou posse como 44º Presidente dos Estados Unidos da América. Ele foi o primeiro negro a entrar na Casa Branca como Presidente. Diferentemente de seu

antecessor, George Walker Bush, o governo de Obama adotou medidas para limitar a presença americana em territórios estrangeiros, ainda que enfrentando críticas da oposição republicana. Foi re-eleito para um segundo mandato, após o qual os democratas tiveram de dar lugar a um novo governo republicano de perfil conservador. O autor é Pastor da IECLB em São Leopoldo/RS e responsável pelo Arquivo Histórico da mesma

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120 anos da Comunidade Cristo Bom Pastor Rio Cerro – Jaraguá do Sul – SC Ao completar 120 anos (1899-2019), queremos compartilhar com você, parte dessa história que muito nos alegra e nos faz olhar para cada atividade com respeito e gratidão. O relato a seguir, toma como base o texto escrito pelo P. em. Egberto Schwanz, publicado no livro “Presença e atuação da Igreja Evangélica de Confissão Luterana em Jaraguá do Sul”, editora Metrópole, Porto Alegre, 2008, p. 147-178. A Paróquia Evangélica Luterana de Rio Cerro, após desmembramento em 1995, a partir da Paróquia Barra do Rio Cerro, foi instalada em 1996 e é composta pela Comunidade Cristo Bom Pastor, sediada ao pé da serra em Rio Cerro II, onde se encontra a Igreja Cristo Bom Pastor, e um ponto de pregação no Rio Cerro I. A antiga “Comunidade do Rio Serro”, contudo, surgiu já em 1899, tendo evoluído e crescido ao longo dos anos. Era atendida, até a formação da paróquia em 1996, por diferentes pastores provenientes de distintas localidades, tais como Badenfurt, Pomerode, Timbó, Barra do Rio Cerro e Jaraguá do Sul. Com o decorrer dos tempos, no desenvolvimento de suas atividades, também foram sendo criados grupos de atuação em várias áreas, como o

Culto Infantil, Ordem Auxiliadora de Senhoras Evangélicas, Juventude, Coral, Grupo de Terceira Idade; todos que até hoje se mantém com expressiva quantidade de integrantes, no intuito de, em confraternização, praticar o sacerdócio real de todos e vivenciar a sua fé. Olhar para o presente No relatório de avaliação do CAM (Campo de Atividade Ministerial), elaborado em 2017, lê-se Rio Cerro I e Rio Cerro II, área rural e de abrangência da Paróquia Evangélica Luterana de Rio Cerro. Localizada ao longo da Rodovia SC 110, tem seu início no Bairro Barra do Rio Cerro e termina ao pé da Serra (divisa entre Jaraguá do Sul e Pomerode - SC). Atualmente, a Paróquia compreende 2002 membros batizados. Destes, conforme o SAFIG (Programa de informatização de dados cadastrais) tem: - 427 membros de zero a 19 anos; - 1.282 membros de 19 aos 65 anos; - 293 são membros com mais de 65 anos. A maioria dos membros trabalha em indústrias da região (Incatex, Nanete, Malwee, Weg), bem como no comércio do bairro Barra do Rio

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Culto festivo na Igreja de Rio Cerro II no ano de 1960.

Igreja antiga e escola. ••• 42 •••


Igreja atual.

Vista aérea da igreja atual. ••• 43 •••


Cerro e centro da cidade. É importante ressaltar que os diferentes turnos de trabalho dificultam a vida familiar e também a participação na vida da comunidade de fé. Como os bairros Rio Cerro I e Rio Cerro II não possuem uma Creche, as crianças precisam SER cuidadas em casa de familiares até os 13 anos. Esses cuidados impossibilitam muitas mães de assumir um emprego formal. A maioria dos membros tem moradia própria, muitas vezes na propriedade rural dos pais. As tradições ligadas às Sociedades Alvorada e Aliança (Festas de Rei, Rainha, Winterfest e Kolonistenfest) ocupam 19 finais de semana durante o ano. Como os moradores são sócios das duas Sociedades e participam ativamente de suas programações, o planejamento paroquial leva em consideração estas datas das Sociedades, buscando harmonizar com as programações festivas da Paróquia, pois são as mesmas pessoas que se envolvem tanto no fazer voluntário, quanto na participação. No passado, como em muitas outras comunidades da IECLB, o Rio Cerro II possuía ao lado da Igreja uma Escola Evangélica, a qual foi fechada na 2ª Guerra Mundial. Olhar para o começo “Na última década do séc. XIX, imigrantes alemães provenientes da Pomerânia, atravessaram a serra,

descobrindo o vale fértil do Rio Cerro, e resolveram colonizar esta área sul de Jaraguá do Sul. Inicialmente, permaneciam aqui durante a semana, retornando nos fins de semana ao Rio do Testo - Pomerode, onde haviam começado a edificar seus lares em sua nova pátria. Entre seus poucos pertences, estava a Bíblia, o Hinário e o Catecismo, fazendo parte de sua escassa bagagem material, ao lado, naturalmente, de uma rica bagagem imaterial, tais como sua cultura e tradições. O governo imperial havia garantido aos imigrantes: liberdade religiosa (embora não reconhecesse outro culto que não o católico) e cultural; poderiam continuar com sua língua e costumes, mas, para tanto, teriam que providenciar professores. Dessa forma, surgiram as escolas comunitárias, que também atendiam às suas necessidades religiosas. Naquele tempo, o bairro Rio do Testo - Pomerode integrava a Comunidade Evangélica de Badenfurt Blumenau. Assim, os imigrantes de lá, que viviam em Rio Cerro, solicitaram ao pastor Heinrich Runte, de Badenfurt, que viesse atendê-los no outro lado da serra, porque, entrementes, já eram de doze a quinze famílias. Em consequência surgiu a “Comunidade do Rio Serro” (denominação anterior), no dia 09 de maio de 1899, com culto celebrado pelo referido pastor Heinrich Runte. Posteriormente, por ocasião do desmembramento das comunidades

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de Badenfurt e Rio do Testo – Pomerode, no ano de 1909, Rio Cerro permaneceu com Pomerode que, em 1910, foi assumida pelo pastor Bürger e, em 1911, aderiu ao Evangelischer Gemeindeverband de Santa Catarina. No dia 28 de abril de 1912 foi lançada a pedra fundamental da igreja/escola. Nesta época, a Comunidade do Rio Cerro já contava com 56 famílias membro. Onze meses depois, no dia 30 de março de 1913, essa igreja-escola pôde ser festivamente inaugurada, cabendo ao pastor Bürger, de Pomerode, a liturgia; ao pastor Krause, de Timbó, a pregação; e ao pastor Mummelthey, de Blumenau, que presidia a Conferência dos Pastores, a solenidade de inauguração. Graças a uma doação da Obra Gustavo Adolfo – OGA de Leipzig e da Igreja Evangélica de Berlim na Alemanha, a 25 de outubro de 1914 puderam ser inaugurados/dedicados festivamente os sinos que ainda hoje anunciam e conclamam os membros para as diferentes celebrações. A partir de 1931 esta Comunidade passou a ser atendida pelos pastores de Jaraguá do Sul. Assim escreve o Pastor Ferdinando Schluenzen: “Jaraguá foi enriquecida com 100 famílias-membro com a vinda de Rio Cerro”. Este crescimento fez com que a Comunidade iniciasse a construção da igreja de alvenaria que ainda hoje atende às necessidades de seus membros no Rio Cerro.

Igreja Cristo Bom Pastor A fundação da antiga Comunidade Rio do Serro foi em 09 de maio de 1899. O lançamento da pedra fundamental da igreja-escola foi em 28 de abril de 1912. A inauguração da antiga igreja-escola foi em 30 de março de 1913. A inauguração dos sinos foi em 25 de outubro de 1914. A inauguração da nova edificação da igreja foi em 06 de novembro de 1932. A primeira diretoria da Paróquia foi eleita em 11 de dezembro de 1995. De 1931 a 1966 a Comunidade Cristo Bom Pastor integrava a Comunidade Evangélica Luterana de Jaraguá do Sul (centro), passando em 1967 à Paróquia Barra do Rio Cerro até 1996, quando se tornou Paróquia autônoma. O Ponto de Pregação fica distante aproximadamente 5 km em direção ao centro da cidade. Centro Comunitário do Rio Cerro I A fundação ocorreu em 31 de agosto de 1902, pelo Pastor Ferdinand Schluenzen. A doação do terreno foi feita pela Família de Edgar Bruch em 1997. O lançamento da pedra fundamental aconteceu em 07 de março de 1999.

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O primeiro Culto campal no terreno foi celebrado em 05 de março de 2000. Em 04 de março de 2001 foi então feita a inauguração do Centro Comunitário. Até à doação do terreno, as atividades do Ponto de Pregação Rio Cerro I, aconteciam na Escola Ricieri Marcatto e em casas de membros.

1966 - 1975: P. Hans Spring, da Barra do Rio Cerro. 1976 - 1986: P. Gerhard Briese, da Barra do Rio Cerro. 1986 – 1996: P. Jörg Michel, da Barra do Rio Cerro. 1996 - 2008: P. Egberto Schwanz. 2008 - 2012: P. Otto Porzel Filho. 2012 - .........: P. Bernt Emmel. Atividades desenvolvidas, a vida que pulsa na Paróquia

Atendimento pastoral Cada membro lembra-se de alguma passagem em sua vida, marcada pela presença dos obreiros. Nesta história de 120 anos, estiveram atuando em Rio Cerro 16 obreiros. Destes, apenas os três últimos residiram na casa pastoral desta Paróquia: 1899 - 1910: P. Heinrich Runte, de Badenfurt. 1910 - 1914: P. Johannes Bürger, de Pomerode. 1914 - 1916: P. Heinrich Radlach, de Badenfurt. 1917 - 1920: P. Liebholt, de Pomerode. 1920 - 1923: P. Wilhelm Lange, de Pomerode. 1923 - 1926: P. Adolf Langbein, de Pomerode. 1926 - 1931: P. Rudolf Friedendorff, de Pomerode. 1931 - 1935: P. Ferdinand Schluenzen, de Jaraguá do Sul. 1935 - 1954: P. Hermann Waidner, de Jaraguá do Sul. 1955 - 1966: P. Karl Gehring, de Jaraguá do Sul.

O bom funcionamento de todas as atividades descritas a seguir, devese à compreensão e vivência do sacerdócio geral de todos os crentes, aqui visualizado no trabalho voluntário em todos os âmbitos. Ao descentralizar, dando espaço à participação, os membros da Paróquia fazem do viver comunidade algo muito especial, que enriquece o testemunho. À semelhança de todas as paróquias/comunidades da IECLB, o centro da vida comunitária encontra-se no Culto da Palavra, dos Sacramentos, do Louvor e Adoração a Deus. Este Culto acontece na Igreja em Rio Cerro II e no Centro Evangélico de múltiplo uso em Rio Cerro I. Existe uma Equipe de Liturgia que auxilia especialmente nas celebrações do Tríduo Pascal e na Eucaristia. Além dos cultos dominicais, outros acontecem nos sábados à noite. Entre os cultos temáticos destacamos: Tríduo Pascal, Meditações de Paixão e Advento, Ação de Graças, Jubileu

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Vista geral do interior da igreja atual (acima) e do altar (abaixo).

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Púlpito da Igreja de Rio Cerro com paramento para o Tempo de Pentecostes. ••• 48 •••


de Aniversário de Casamento, Jubileu de Confirmação, 1º e 5º Aniversário de Batismo, Reforma, Pessoas Portadoras de Deficiência e Cuidadoras, Finados com Mementos e Eucaristia. Uma característica da Paróquia são os cultos em idioma alemão. Atualmente, 38% destes ainda são celebrados na língua de seus antepassados. Disponibilizam-se hinários e a participação é significativa. No Ponto de Pregação, os cultos em língua alemã tem uma média de 18 participantes, e na Igreja a média é de 35 participantes. Porém, vale ressaltar que o Grupo de Idosos participa de quatro cultos anuais temáticos (Páscoa, Dia das Mães, Dia dos Pais, Advento) todos em idioma alemão, com a participação de 150 pessoas em cada. Além destes quatro cultos, o Grupo de Idosos, que se reúne quinzenalmente, espera que o obreiro/ministro lhes traga uma meditação e hinos em alemão. Ou seja, o idioma alemão é fundamental para o trabalho ministerial nesta Paróquia, sendo utilizado nas visitações, nos encontros de OASE, nos Estudos Bíblicos, nos velórios, nas bodas. Com o objetivo de incluir, atualmente, o P. Bernt Emmel costuma fazer uma tradução simultânea dos conteúdos, seja alemão-português ou vice-versa, o que vem a facilitar muito a compreensão e não exclui aqueles que ainda hoje tem no idioma alemão, aquela mensagem que “vai ao

coração”. Segundo P. Emmel: “Sintome chamado por Deus para trazer mensagens de fácil compreensão e contextualizadas!”. Grupos Entre os vários grupos que se reúnem no âmbito da Paróquia, destacamos alguns dados significativos: 01. Culto Infantil: Com reuniões quinzenais, os/as orientadores/ as voluntários/as (07) reúnem aproximadamente 140 crianças, com idades entre 04 a 12 anos. 02. Pastoral do Batismo: É um grupo formado por mulheres do Grupo de OASE Rosa, que visita e busca integrar na vida da comunidade as famílias com filhos até cinco anos de idade. Escolhem a madrinha ou padrinho anônimo de oração e ajudam no preparo dos cultos de 1º e 5º aniversário de batismo. 03. Ensino Confirmatório. 04. Juventude Evangélica Rio Cerro: O grupo da JERC reúne em média 50 jovens. Nele surgiu a Banda da JERC que participa em cultos e programações comunitárias, valorizando os dons musicais. Os jovens participam de atividades como o Acampa de Carnaval e Congrenaje. 05. Coral Infanto Juvenil: que completou 10 anos de existência em 2018. 06. Coral Adulto. (ambos estão sob a coordenação do Regente Wanderli Siewerdt ).

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07. OASEs: Grupo Amor Perfeito (em língua alemã ) com 64 participantes; Grupo Rosa com 60 participantes; Grupo Vergissmeinnicht (Miosótis) com 50 participantes. 08. Equipe de Liturgia. 09. Artesanato “Costurando Cuidados”. 10. Dança Sênior da terceira idade. 11. Estudo Bíblico. 12. Idosos. 13. Voluntários. 14. Visitação. 15. Acompanhamento a Enlutados (O Luto e a Vida). 16. Violeiros. 17. Presbitério. O trabalho voluntário é uma carac-

terística das mais preciosas desta Paróquia. A justificativa da “gratidão pelas bênçãos recebidas” é o que move os membros para este trabalho. Com ele, podemos organizar grandes eventos e mesmo nos pequenos encontros sempre encontramos “alguém” disposto a ajudar. Remunerados são apenas o ministro pastor, a secretária executiva, o zelador, o professor de violão e o regente do coral.

Planejamento e execução de metas A estrutura física da Paróquia (igreja, centro comunitário de múltiplo uso em Rio Cerro I, capela mortuária,

Grupo de jovens Juventude Evangélica de Rio Cerro – JERC ••• 50 •••


salão paroquial, cozinha, churrasqueira, copa, cancha de bolão rústico, casa pastoral, cemitério, jardins, campo de futebol, salas de reunião para grupos, banheiros, escritórios) demanda uma série de reformas e adequações permanentemente. De 2012 a 2018, executou-se a reforma da casa pastoral (parte elétrica, substituição do telhado, pintura), adequação dos banheiros no salão paroquial aberto (com instalação do banheiro multifamiliar adaptado às Pessoas com Deficiência, reforma do telhado sobre a copa e cancha de bolão rústico, reforma da igreja, com restauro do mezanino, de todos os bancos, do forro, da estrutura de sustentação do telhado, pintura, instalação elétrica adequada ao projeto dos bombeiros, construção da rampa de acesso da igreja ao salão comunitário e ao salão aberto, troca do forro no salão e pintura, instalação de água quente para lavar louça na cozinha, instalação do hidrante, entrada trifásica, instalação do pararaios na igreja, aquisição de máquinas e equipamentos (forno a gás, panelas, fogão industrial, misturador de massa para cuca, freezer, balcão refrigerado para bolos, cadeiras para o Ponto de Pregação e Cadeiras para a Capela, máquina de cortar grama à gasolina, roçadeira à gasolina), reforma do telhado e instalação de aparelhos de ar condicionado no Ponto de Pregação.

atenção e estamos instalando todo o sistema de iluminação, de proteção contra o fogo, saídas de emergência, etc. Somos gratos a todos/as que contribuem financeiramente para com a Paróquia, bem como ofertam nos Cultos de Ação de Graças e também aqueles que assumem, de acordo com os seus dons e tempo, tarefas de manutenção deste grande patrimônio material. Levantamento de Recursos e Administração transparente À semelhança de outras Paróquias, os membros passam à condição de contribuintes a partir dos 19 anos. A inadimplência nas contribuições é enfrentada pelo Presbitério através de um programa de visitação aos membros, o que gera bons resultados. As programações festivas mais significativas são a Churrascada no 1º final de semana em março no Ponto de Pregação e a Festa Anual da Paróquia realizada no 2º final de semana de setembro. Conforme determinação da IECLB faz-se o repasse do dízimo sobre todas as entradas financeiras, bem como se procura informar os membros a respeito dos investimentos, tanto nas reuniões ordinárias do presbitério, das assembleias anuais e também no quadro de avisos.

O projeto de adequação às normas dos Bombeiros tem merecido muita

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Plano de Ação Missionária da IECLB (PAMI) e novos grupos •

Realizar o PAMI;

Envolver cada vez mais as lideranças de grupos nas reuniões do presbitério;

Fortalecer visitação;

Fazer seminários de capacitação dos delegados e conselho paroquial (sábados 08-12h);

Criar um novo grupo para o Encontro de Enlutados;

as

equipes

de

Retomar o Projeto Memória;

Dialogar com mulheres "economicamente ativas" sobre a possibilidade que se criar um grupo de OASE noturna;

Formar um grupo de casais para oferecer o programa "encontro de casais" na Paróquia;

Estudar a possibilidade de se criar um grupo da Legião Evangélica – LELUT.

Palavras “cantadas” Segundo P. Emmel: “- Um dos hinos mais entoados na Paróquia, expressa, a nosso ver, o porquê de experimentarmos tanta alegria em podermos, cada um, cada uma, fazer parte deste testemunho que completa 120 anos”: “Até aqui me trouxe Deus, guiou-me com bondade. Ele amparou os passos meus em graça e fieldade. Até aqui me protegeu, perdão e paz me concedeu, conforto e alegria” (Livro de Canto N° 470). E foi nos grupos de Estudo Bíblico e OASE que “me ensinaram” este hino que ajuda a olhar para trás e anima a olhar para frente: “Conta as bênçãos. (Livro de Canto 626).

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Celebrai com júbilo: 120 anos de OASE no Brasil “Celebrai com júbilo ao Senhor, Servi ao Senhor com alegria!” Através destas palavras que vamos iniciar contando um pouco da história da OASE no Brasil. A pergunta que normalmente ouvimos é como iniciou a OASE. É difícil responder com exatidão, pois se pegarmos o exemplo da formação de um rio, vemos que o mesmo se forma através de seus afluentes, suas nascentes, mesmo estas tendo suas origens em águas subterrâneas. A história da OASE nos remete ao ano de 1888, quando por iniciativa da Imperatriz Augusta Victoria, foi fundada, na Alemanha, a Sociedade Auxiliadora de Igreja Evangélica, com a finalidade de prestar auxílio financeiro à Igreja, diante das inúmeras necessidades. Desde o princípio, mulheres estiveram engajadas neste auxílio, providenciando a instalação de diaconisas nas comunidades. Em 1899, formaram-se oficialmente as primeiras sociedades chamadas “Evangelische Frauenhilfe” - Auxílio de Mulheres Evangélicas. Os grandes problemas sociais enfrentados pela Europa no século XIX, fez com que muitas pessoas migras-

sem para outros países, inclusive para o Brasil. Dentre estes, havia muitas mulheres que sentindo a necessidade de melhores condições de saúde, de vida e começaram a se organizar, pois as mesmas já atuavam de forma semelhante em seu país de origem, a Alemanha. Com a chegada dos imigrantes alemães ao Brasil, a partir de 1824, muitos destes trazendo a vivência evangélica como expressão de fé, quase tudo precisava ser construído, como escolas, igrejas, casas, hospitais, pois geralmente fundavam novos povoados em meio à mata. A confissão oficial do Império era a católica, portanto, eram tolerados, mas não tinham os mesmos direitos. Somente com a proclamação da República, em 1889, veio a liberdade religiosa, permitindo a construção das primeiras igrejas evangélicas com torres. A este fato remonta a história da OASE no Brasil. Foi no dia 15 de agosto de 1899, na cidade de Rio Claro – SP, atualmente Sínodo Sudeste, que surgiu a primeira “Frauenverein” - Sociedade de Senhoras. Seu objetivo principal foi ajudar na criação de um fundo em fa-

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vor da construção de uma torre para a igreja e na aquisição de sinos. Em 1907, surge um grupo de senhoras em Blumenau (SC), com o objetivo de dedicar-se de maneira especial a parturientes e à assistência a doentes. O grupo nasceu da iniciativa do P. Walter Mummelthey e de sua esposa Mildred Burrow Mummelthey, uma ex-enfermeira que serviu oito anos na Cruz Vermelha, e contou com a colaboração e dedicação toda especial da Sra. Elsbeth Koehler. Mildred fundou um curso para o ensino de tratamento de doentes, e que começou a ser frequentado por grande número de senhoras e moças das mais importantes famílias. Este grupo de OASE iniciou com o trabalho de uma enfermeira e uma parteira e, posteriormente, manteve por muitos anos uma maternidade. Atualmente, ele mantém um ancionato. Em 08 de dezembro de 1907, nasce também a OASE em Brusque-SC que, além de seus encontros de estudo bíblicos, criou um hospital e maternidade, mantido por elas até recentemente. Em 1909, foi fundada a OASE em Timbó-SC, a qual também construiu um hospital, Hospital da OASE, sendo mantido por elas até hoje. Com determinação, mulheres iam abraçando a intensa luta pelo pão diário que era acompanhada por doenças e outras dificuldades. Uniram-se a fim de desenvolver programas de auxílio e cuidado. No ano de 1910, o Superintendente

Geral, Dr. Zoellner e o P. Cremer, enviados ao Brasil pela Frauenhilfe da Alemanha, compartilharam sobre o trabalho das diaconisas e da Frauenhilfe além-mar, entusiasmando as senhoras por essas instituições e despertando alegria e ânimo em seguir o exemplo. A partir desta visita, vários grupos de sociedades de senhoras evangélicas foram fundados em diversos Estados do nosso País. Em 1916, era fundada a OASE em Joinville, que logo iniciou com 80 participantes, sendo sua primeira Presidente, a Senhora Helene Lepper. Suas finalidades foram: a construção de um jardim de infância e mais tarde de um hospital, que em homenagem à 1ª. Presidente recebeu o nome de Helenen-Stift, atualmente Hospital Dona Helena. Devido a grande preocupação, não só financeira, mas principalmente diaconal em relação aos doentes e gestantes das comunidades evangélicas, mulheres alemãs eram preparadas para atuar na área da enfermagem. As mesmas foram muito bem recebidas aqui pelos imigrantes, principalmente pelas mulheres. Em 1913, acontece a chegada das primeiras diaconisas da Alemanha, desenvolvendo trabalhos em Blumenau, Rio de Janeiro, Florianópolis, Porto Alegre e Rio Grande. Mais tarde, em 1939, os grupos de Senhoras Evangélicas do Sínodo Rio Grandense decidiram fundar, em São Leopoldo, a Casa

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Tradicional Café Colonial da OASE em Marcelino Ramos/RS, em julho 2016.

Encontro de OASE do setor norte do Sínodo MT em Santarém/ PA, no dia 17/11/2018.

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Matriz de Diaconisas para formação de obreiras diaconais de tempo integral. Assim escreveu um Pastor em 1928: “Não é possível imaginar a vida da Igreja Evangélica sem a mulher.”.

ça, luz, alegria, paz e justiça”. O atual distintivo foi introduzido na OASE em 1949.

Os grupos que concordaram com esta orientação, nos anos 30, se uniram em Ligas, surgindo quatro “sínodos”, com estatutos próprios. Mais tarde, estes estatutos foram substituídos por um regimento. Entre 20 a 23 de março de 1984, com a realização do I Congresso Geral Constituinte da OASE, foi então aprovado o texto de um regimento interno único.

Em 1954, pelo Sínodo Riograndense, é contratada a primeira Orientadora Nacional da OASE, de tempo integral, Sra. Dorotea Seydel, a qual veio da Alemanha. Esta teve atuação e contatos com os grupos de outros Sínodos, incentivando o desenvolvimento do trabalho da OASE no Brasil e a prática do estudo bíblico nos grupos. Com atuação da primeira Orientadora, surgiu o primeiro Roteiro de Trabalho, posteriormente Roteiro da OASE, editado e distribuído a partir de 1954. Este, refletia sobre o lema do ano de 1955, ou seja, de Mateus 9.37b, 38. Neste primeiro exemplar, havia lemas e hinos para todos os meses, passagens bíblicas previstas para os estudos bíblicos e temas para cada mês daquele ano. Para o mês de dezembro de 1954, consta como lema: O que Deus tem preparado para nós? Na certeza de que, “só o amor dá o melhor”, celebra-se 65 anos de Roteiro da OASE, em 2019. À Dorotea também são creditados a adesão ao movimento do Dia Mundial de Oração – DMO no ano de 1955.

No ano de 1940, tornou-se necessário o uso da língua portuguesa, quando a denominação Evangelische Frauenhilfe foi traduzida para Ordem Auxiliadora de Senhoras Evangélicas – OASE, e assumiram como lema: “Perseverantes na confissão de fé, Jesus Cristo é a nossa esperan-

Grupos de OASE foram surgindo Brasil afora, respondendo às necessidades das Comunidades, no campo da educação (jardim de infância) e da saúde (hospital e maternidade), outros reconheceram como sua tarefa, auxiliar na construção de igrejas e salões paroquiais, contribuindo para

Em 1930, surgiu o 1° Periódico com o nome: Mensageiro para o Mundo da Mulher Evangélica no Brasil. Através dele procurava-se compartilhar conteúdos de fé e de vivência cristã com as mulheres evangélicas das diversas comunidades. Foi acentuado também que o objetivo de todo o trabalho das mulheres é edificação da comunidade cristã. Por isso, não pode haver reunião sem meditação bíblica, canto e oração. Estava claro que somente o Espírito de Jesus Cristo, o Espírito do amor, pronto a servir, leva a uma ação alegre, com investimento de tempo e sacrifícios.

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um maior convívio entre os membros da comunidade. Outros ainda se preocuparam com a visitação a doentes e idosos. Com a fusão dos diferentes Sínodos (1968), formando a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, também a OASE reorganizou-se em cinco Regiões, tendo cada Região sua Diretoria, eleita nos Congressos Regionais que se realizavam a cada dois anos. Ainda em 1966, foi contratada a Sra. Anna Lange para exercer o cargo de Orientadora, no que seria a Região II. Seu trabalho foi de formação e estruturação de todo o trabalho da OASE na Região II e com grande influência nas demais regiões eclesiásticas. Exerceu esta atividade por 20 anos. A partir de 1972, as Presidentes e Orientadoras Regionais começaram a reunir-se anualmente para trocar ideias, experiências, planejar em conjunto as edições do Roteiro de Trabalho da OASE, organizar seminários de âmbito nacional e tomar decisões referentes aos assuntos de comum interesse. Em 1978, formouse o Conselho Nacional da OASE composto por dois membros de cada Região Eclesiástica da IECLB. Entre os dias 20 a 23 de março de 1984, realizou-se em Balneário Camboriú-SC, o Congresso Geral Constituinte da OASE. Neste, foi aprovado o texto do Regimento Interno único, orientando todo o tra-

balho da OASE e também a publicação anual do Informativo Nacional do Conselho Nacional da OASE. Em 1985, foi lançado o livro: OASE: Por quê? Como? Guia da Comunhão e Serviço, onde é resgatada a história da OASE, bem como orientações práticas sobre o funcionamento dos grupos. No dia 01 de outubro de 1987, o primeiro programa radiofônico de responsabilidade da OASE, sob o título Conversando com Você, foi ao ar. O programa radiofônico “Conversando com você” é transmitido, atualmente, por 14 emissoras no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Um pequeno passo que resultou em uma longa caminhada. Ainda em 1987, surge a ideia de fixar no mês de setembro a Semana Nacional da OASE com o objetivo de divulgar o trabalho da OASE, sob um tema especial com reflexões e atividades. Neste ano, ainda, criou-se mais um logotipo da OASE: A Cruz de Cristo, sete mulheres de mãos dadas, a linha curva na base das figuras, IECLB e as palavras que resumem o seu objetivo: COMUNHÃO TESTEMUNHO – SERVIÇO. Voltando ao dia 23 de julho de 1970, iniciou a presença Luterana na Amazônia em Pimenta Bueno-RO, quando foi realizada a primeira celebração. Assim, por causa da migração de famílias evangélicas luteranas para o centro-oeste e norte brasileiro, pessoas de várias Regiões Eclesiásticas visitaram, principalmente, co-

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munidades no Mato Grosso e Rondônia, com intenção de conhecer as novas realidades, explicar o funcionamento da OASE e dar orientação onde fosse necessário. Várias visitas, seminários de liderança foram realizados, resultando na filiação à OASE nacional. Em 1988 Curitiba-PR, aconteceu o segundo Congresso Geral da OASE. A OASE teve participação significativa, em 1990, na 8ª Assembleia Geral da Federação Luterana Mundial, em Curitiba-PR. Foram oportunizados e estabelecidos laços com delegadas estrangeiras, ocasionando posteriormente intercâmbio de visitas com igrejas de vários países. Em 1991, acontece o 1º Seminário Latino-Americano de Mulheres em Curitiba. Em 1995, mais uma vez foi reforçado o desejo de anos anteriores de que houvesse maior representatividade de mulheres nos órgãos diretivos de comunidades, paróquias, distritos, regiões e no Conselho Diretor da IECLB. Em 1996, realizou-se o 3º Congresso Geral da OASE, em Curitiba, onde foi reafirmado o hino da OASE: “Jesus Cristo é Rei e Senhor.” (LCI 519). Neste, foi assumida uma Campanha Nacional da OASE para a publicação de um livro sobre os cem anos da presença da OASE no Brasil, e solicitou-se a todos os grupos que enviassem relatórios com o histórico, fatos pitorescos, fotos e tudo o que envolvesse os grupos de OASE em sua caminhada de ação.

Em 1997, realizou-se a primeira pesquisa nacional com levantamento de dados sobre o perfil da mulher da OASE para a edição do livro do centenário da OASE e de um vídeo institucional. Em 1998, no Concílio Geral da IECLB, aprovou-se a solicitação da OASE de que ela seja nominalmente mencionada no Regimento Interno entre os convidados do Pastor-Presidente, com direito a voto nos Concílios Gerais da Igreja. O mesmo foi solicitado aos Conselhos e Assembleias Sinodais. Em reunião do Conselho Nacional da OASE foi sugerido e aprovado o Salmo 100, como o Salmo da OASE a partir do centenário. Em dezembro de 1998 foi lançado um jornal próprio: OASE EM FOCO. Em oito páginas, a proposta é melhorar a comunicação entre as mulheres para além das fronteiras sinodais. A OASE também está presente nas redes virtuais. Neste ano, ainda, foi aprovado o novo Regimento da OASE, no Congresso Geral Extraordinário em Curitiba. Aproximadamente duas mil pessoas participaram no ano 1999, na cidade de Rio Claro – SP, o marco da realização das festividades do centenário da OASE no Brasil. Para esse evento foi editado e publicado o livro Retalhos no tempo. Foi publicado também o livro: “OASE – Festa dos 100 Anos” e um vídeo com os destaques desse acontecimento histórico. De acordo com relatos no livro “OASE, festa dos 100 anos”, a emoção do-

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Os sinos tocam no centenário da OASE. minou toda a celebração do centenário. A surpresa do som dos sinos na abertura do culto lembrando que ainda hoje, como há cem anos, eles continuam badalando para lembrar e motivar a participação na vida da igreja de Jesus Cristo. Conta-se que foi uma emoção muito grande quando dois mil pequenos sinos, distribuídos às presentes, badalaram juntos e pessoas se abraçando e chorando unidas no mesmo amor foram recebidas e envolvidas pelo carinho da

comunidade de Rio Claro-SP. Ali, comparou-se a OASE a um pé de bambu, o qual por mais forte que seja o vento, o mesmo enverga, mas dificilmente quebra..., assim são os grupos da OASE. A partir da reestruturação da IECLB, em 1998, o Conselho Nacional da OASE está composto pela Diretoria da CNO (presidente, secretária e tesoureira) e pelas presidentes sinodais da OASE. Desde então, a

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partir de 2001, anualmente são realizados Seminários de Lideranças, a nível nacional, para as diretorias sinodais da OASE. O Roteiro da OASE em língua alemã, Arbeitshilfe, deixou de ser impresso no ano de 2002. Houve uma tiragem expressiva, em 2004, do Roteiro da OASE, quando da comemoração da sua 50ª edição, sob o título: “50 Anos semeando esperança”. Por solicitação da IECLB e em conformidade ao novo Código Civil, no ano de 2005, a OASE organizou-se como pessoa jurídica. Em assembleia extraordinária em 14 de setembro de 2005, foi fundada a Associação Nacional dos Grupos da Ordem Auxiliadora de Senhoras Evangélicas – OASE. Em 2006, os grupos de OASE fizeram a adequação na administração e foram criadas as Associações Sinodais da OASE. Aconteceu no dia 23 de setembro de 2009, no Lar Vila Elsa, em São Bento do Sul-SC, durante o Seminário de Lideranças, uma singela comemoração aos 110 anos da OASE, onde foram convidadas as presidentes do Conselho Nacional da OASE. Naquela ocasião, foi lançado o livro Mulheres que ?zeram diferença. Por solicitação do Gustav Adolf Werk, de Leipzig, Alemanha, em 2011, foi publicado o livro anual dessa entidade, “Die Evangelische Diaspora”, um extenso artigo sobre o trabalho da OASE: “Ordem Auxiliadora de Senhoras Evangélicas – OASE in Brasilien und die Situation der

Frauen” (OASE no Brasil e a situação das mulheres). A partir de 2013, a Associação de Grupos da OASE, conta com duas orientadoras teológicas, a diácona Telma Merinha Kramer e a pastora Márcia Helena Hülle, as quais foram instaladas no seminário e assembleia em Curitiba – PR. Atualmente, exerce esta função a diácona Telma Merinha Kramer e a pastora Louvani Kuhn Hirt. A partir do relato histórico até aqui, o importante é que as mulheres foram e continuam sendo chamadas a servir a Deus, inclusive, através do ministério ordenado, caminhando junto com as mulheres nas reflexões teológicas. Dezessete Sínodos já estavam articulados nacionalmente como OASE. Faltava o Sínodo da Amazônia, onde o trabalho dos grupos de mulheres das Comunidades e Paróquias só possuía atuação local, sem vínculo com a OASE nacional. Então, no ano de 2012, a P. Cirlene Dreissig, ministra na Paróquia de Espigão do Oeste, entrou em contato com a sra. Rejane Hagemann, vice presidente da Coordenação Nacional da OASE, convidando a OASE Nacional para assessorar o encontro de mulheres e OASE daquele ano com palestra e oficina de artesanato. Levado o convite à presidente, sra. Elsa Janssen, que em diálogo com a diretoria da Coordenação Nacional da OASE, aceitou-se o desafio do Sínodo da Amazônia para assessorar e explicar acerca do funcionamento da OASE.

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OASE promove caminhada contra violência às mulheres, em Venâncio Aires/ RS, abril de 2015. No ano seguinte, 2013, no encontro sinodal já foi escolhida a sra. Elenir Butzke como coordenadora, a qual começou a participar dos encontros nacionais, representando as mulheres do Sínodo Amazônia. Uma colaboração muito importante, a partir de 2013, foi a experiência da diácona Telma Merinha Kramer, como orientadora teológica nacional, a qual atuou nesta região, facilitando os contatos e motivação para este processo junto aos grupos. Assim, entre os dias 25 a 27 de setembro de 2015, em Espigão do Oeste-RO, foi realizado o Encontro Sinodal de Mulheres e OASE no Sínodo da Amazônia, com representantes da diretoria nacional da OASE

e representantes da OASE sinodal Vale do Taquari-RS. Nesta oportunidade, estes grupos de mulheres de Comunidades e Paróquias organizaram-se em OASE sinodal. Considerando a dispersão das mulheres e as grandes distâncias, este foi um momento de comunhão, testemunho e serviço marcante para todas, de pertencimento a uma organização maior. Entre os dias 20 a 22 de maio de 2016, em Alta Floresta D’Oeste-RO, aconteceu o Seminário Sinodal de Lideranças e Capacitação da OASE. Esteve presente a diretoria da Associação dos Grupos da OASE Nacional e orientadoras teológicas para dirimir dúvidas referente à estruturação

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e administração de grupos a nível paroquial e sinodal. Com alegria, a OASE tornou-se realidade nos 18 Sínodos da IECLB. Em 2016, houve a adequação do Estatuto e do Regimento Interno da OASE e a elaboração do PAMI - Plano de ação missionaria da IECLB- da OASE Nacional Com o passar dos anos, a organização nacional da OASE foi crescendo, e em virtude disso em vários grupos Brasil afora, ouviu-se um clamor por parte das mulheres desejando um encontro nacional de mulheres da

OASE para que todas pudessem participar e partilhar vivências, fortalecer vínculos, fortalecer a fé e dar testemunho da grandeza e importância que é o trabalho da OASE em todo o Brasil. A partir deste clamor, a diretoria da OASE nacional começou, em 2013, a dialogar sobre a realização do mesmo dando início ao que se chamou de "costurando um sonho". Em novembro de 2014, tendo em vistas as celebrações dos 500 anos da Reforma Luterana, a diretoria nacional da OASE optou por realizar o encontro "Mulheres Luteranas celebrando os 500 anos da Reforma",

De 25 a 27 de setembro de 2015, em Espigão d’Oeste/RO, foi realizado o Encontro Sinodal de Mulheres e OASE no Sínodo da Amazônia.

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alusivo às comemorações dos 500 anos da Reforma no ano de 2017. Nesse sentido, a direção da OASE Nacional convida a Pa. Rosangela Stange, coordenadora da Coordenação de Gênero, Geração e Etnias da IECLB, e expõe sua ideia sobre o encontro e a partir daí deu-se início ao planejamento de um encontro nacional das mulheres da OASE. Definido o desejo de realizar um encontro nacional, a diretoria nacional da OASE fez contato com as presidentes sinodais, e estas abraçaram junto este sonho, mobilizando e incentivando as mulheres dos grupos Brasil afora. Articulou-se então junto à presidência da IECLB, o encontro dos pastores e pastoras sinodais para acontecer no mesmo local, às vésperas do encontro de mulheres. Assim, em virtude dos 500 anos da Reforma Luterana, mais de duas mil mulheres, principalmente da OASE, reuniram-se em Foz do Iguaçu-PR, entre os dias 17 a 19 de março de 2017, para celebrar a vida, a fé e a esperança que nasce do Evangelho de Jesus Cristo. Foram dias inesquecíveis...., reunir tantas mulheres de diferentes lugares do país e do exterior. Diga-se de passagem, que foi o maior evento já realizado pela IECLB, o que alegra muito, tamanha articulação, organização e movimentação realizada pelas mulheres. Vale ressaltar, neste evento, o apoio e presença expressiva das ministras da IECLB, Fórum da mulher luterana, da Juventude Evangélica, da Secretaria da Ação Comunitária da Secretaria

Geral e da presidência da igreja, em especial do P. Dr. Nestor Paulo Friedrich. E neste ano, 2019, outro grande movimento de mulheres está sendo organizado: a celebração nacional da OASE pelos seus 120 anos de atuação na IECLB e na sociedade. Será entre os dias 5 a 7 de abril, em Blumenau-SC. Assim escreve a presidente nacional da OASE, sra. Wilhelmina Kieckbusch, na carta convite: “É preciso CELEBRAR, tamanha nossa alegria e gratidão por este testemunho e herança que geram comunhão e vida. Já estamos festejando a preparação desta grande celebração. Celebrar com júbilo é reconhecer a misericórdia e a graça do Deus ressuscitado em nossa história. Preparem-se e venham celebrar com júbilo o agir do Deus amoroso em nossa vida, em nossos grupos de OASE e nossa Igreja. Venham compartilhar gratidão e compromisso mediante a nossa fé, quando juntas confessamos cantando: Nós aos pés de Cristo, confessaremos isto: Jesus Cristo é Rei e Senhor, seu é o Reino e o louvor, é Senhor potente hoje e eternamente.”. Lembramos ainda das ex-presidentes nacionais da OASE: Sra. Lilian Lengler de Estrela – RS; Sra. Dagmar Triska de Florianópolis – SC; Sra. Irmgard Lautert de Condor – RS; Sra. Gudrun Braun do Rio de Janeiro- RJ; Sra. Elfride Gabel de Blumenau – SC; Sra. Ani Cheila Kummer de Dom Pedrito – RS; Sra. Elsa Eneli Muller Janssen de Florianópolis – SC; Rejane Beatriz

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Encontro Nacional de mulheres em Foz do Iguaçu/PR, em março de 2017.

A diretoria nacional da OASE, na Faculdade Est, visitando a estátua de Catarina von Bora em maio 2018, doada pelas senhoras da OASE como marco pelos 500 anos da Reforma Luterana.

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As presidentes sinodais da OASE e a Diretoria Nacional da OASE convidam a todas para o Encontro Nacional da OASE, nos dias 5 a 7 de abril de 2019, no Parque Vila Germânica, em Blumenau/SC. Johann Hagemann de Estrela – RS. Atualmente, exerce a função de presidente a sra. Wilhelmina Kieckbusch de Blumenau – SC. Parabéns a todas as mulheres que fazem parte desta história. Afinal, são muitas Marta’s, Maria’s, Lídia’s, Rute’s, Sara’s e tantas outras que es-

creveram e escrevem a história da OASE na IECLB e na sociedade brasileira ao longo destes 120 anos... "Pois só o amor dá o melhor", como dito pelo Pastor Ernst Dietschi quando da comemoração do jubileu de prata, em 1937, da OASE de Estrela/RS. Responsáveis pela elaboração do texto: Diác. Telma Merinha Kramer, Rejane Beatriz Johann Hagemann e P. Roni Roberto Balz

FONTES CONSULTADAS •

IECLB - Portal Luteranos: www.luteranos.com.br/organizacao/oase.

IECLB - Portal Luteranos: www. luteranos.com.br/conteudo_organiza cao/amazonia/seminario-sinodal-de-liderancas-e-capacitacao-da-oase.

Retalhos no Tempo: 100 Anos da OASE. 1899-1999. Ed. Sinodal.

OASE: Por quê? Como? Para quê? Guia de Comunhão, Testemunho e Serviço. Editora Sinodal/Ordem Auxiliadora de Senhoras Evangélicas.

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A espiritualidade do homem – como a vive? P. Ms. Carlos Romeu Dege

Certo dia me encontrei com um senhor que, depois de um culto, havia se queixado de sua saúde. Perguntei-lhe como estava, se havia consultado um médico. Disse-me que havia consultado, mas que ainda não se sentia muito bem. Perguntei se o médico havia receitado algum remédio. Ele me respondeu: - Sim! Estou com a receita no bolso, só não tive tempo de ir comprar o remédio. Achei aquilo triste e engraçado ao mesmo tempo. Ri com meu amigo e lhe disse: - Achas que tendo a receita no bolso isso vai te ajudar? Tens de ir atrás da medicação e tomá-la. Penso que, infelizmente, isto também acontece muito na vida espiritual das pessoas. Tantas pessoas que não se sentem bem. Tantas pessoas que se sentem sozinhas. Querem e precisam de ajuda. O grande “médico”, nosso Deus, nos deu a receita nas Sagradas Escrituras. Muitos andam com esta receita debaixo do braço. Outros a guardam em casa nas estantes, como enfeite. Não se dão conta de que se não buscarem os “remédios/ensinamentos” desta receita e não a tomarem, como prescrito, continuarão a sofrer. Viver a espiritualidade é tomar este remédio com disciplina, no “horário pres-

crito”. É abster-se de algo que possa tirar o efeito deste remédio. É tomar os cuidados receitados pelo médico. Viver a espiritualidade é seguir a “receita” que o apóstolo Paulo passou a Timóteo, em 1 Timóteo 4.7-8: Para progredir na vida cristã, faça sempre exercícios espirituais. Pois os exercícios físicos têm alguma utilidade, mas o exercício espiritual tem valor para tudo porque o seu resultado é a vida, tanto agora como no futuro. Paulo “receita” que o exercício espiritual é o remédio para os males. É na prática da oração, do estudo da Palavra de Deus, que a verdadeira vida prevalece. E, conforme Paulo, esta vida não se refere somente ao hoje, às dificuldades pontuais, imediatas, mas, na certeza de uma vida eterna. O exercício espiritual nos fortalece na esperança, nos fortalece integralmente para lutarmos contra todas as doenças, tanto do corpo, como da mente, do espírito. Seguindo esta “receita” Paulo nos mostra o que alcançamos. Em 2 Coríntios 4.16 ele diz: Por isso nunca ficamos desanimados. Mesmo que o nosso corpo vá se gastando, o nosso espírito vai se renovando dia a dia. É seguindo estes ensinamentos que a LELUT – Legião Evangélica Luterana – motiva, especialmente os

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homens, a viverem a espiritualidade, a fé em primeiro lugar na sua vida. Assim como vários grupos em nossa IECLB buscam incentivar um público específico (crianças, jovens, casais, mulheres) a exercitar a sua fé, assim a LELUT se preocupa com a espiritualidade do homem luterano. A LELUT tem sua base na Palavra de Deus, contida nas Sagradas Escrituras. É ali que está a “receita”. E esta receita nos mostra que a partir dos exercícios espirituais encontramos paz, esperança, motivação para agir e servir pelo bem individual e coletivo. É no estudo da Palavra que temos a orientação do nosso verdadeiro objetivo como homens cristãos. É na busca da espiritualidade, que significa guiar-se e agir pela Palavra de Deus, que a LELUT anuncia em seu estatuto no Capítulo 1, Artigo 2º: A finalidade da associação será o exercício, entre homens, da diaconia na cultura, educação, ciências, saúde, assistência social e, principalmente ser um braço auxiliar nos projetos missionários da IECLB. Parágrafo único. A LELUT tem como objetivo auxiliar a comunidade onde tiver núcleo organizado, a promover o espiritual, o social e o material junto aos homens membros da Comunidade... Ou seja, a partir do cuidado com a espiritualidade, as transformações acontecem. A espiritualidade é algo que se busca na caminhada conjunta. Individualmente enfraquecemos, desistimos. Juntos buscamos a orientação de Deus e, com disciplina e compro-

metimento, a seguimos na busca do que o apóstolo Paulo diz aos Romanos no capítulo 12.2: Não vivam como vivem as pessoas deste mundo, mas deixem que Deus os transforme por meio de uma completa mudança da mente de vocês. Assim vocês conhecerão a vontade de Deus, isto é, aquilo que é bom, perfeito e agradável a ele. É no cuidado e na prática da nossa espiritualidade cristã que muitas “doenças” serão vencidas. Por isso, não viva com a receita no bolso, mas a coloque no seu coração, na sua mente. Caminhe junto em oração e no estudo da Palavra em um núcleo da LELUT. Que caminhando juntos possamos viver o que diz o Art. 8º da constituição da LELUT: O Núcleo é um grupo formado por homens, que se congregam em comunhão de fé, através da solidariedade, caridade e serviço ao próximo. Que o cuidado da nossa espiritualidade nos leve a viver o serviço cristão em nossa família, em nossas comunidades, em nossa sociedade. Não basta saber qual é a vontade de Deus. Necessitamos que esta vontade de Deus guie as nossas ações. Com isto se concretizará o desejo do apóstolo Paulo à comunidade de Filipos e às nossas comunidades quando escreve aos Filipenses no capítulo 1, versículo 27: Agora, o mais importante é que vocês vivam de acordo com o evangelho de Cristo. Desse modo, tanto se eu puder ir visitar vocês como se não puder, eu saberei

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que vocês continuam firmes e unidos. E saberei também que vocês, por meio da fé que se baseia no evangelho, estão lutando juntos, com um só desejo. Que, guiados por Deus, caminhando firmes e unidos como irmãos em Je-

sus Cristo, possamos fazer valer o tema da LELUT para o biênio 2018/ 2019: LELUT - testemunhando em palavras e ações, a ética cristã na sociedade. Portanto, não fique com a receita no bolso, busque vivê-la dia a dia cuidando da tua fé. O autor é Pastor da IECLB na Paróquia de Igrejinha/RS e é Orientador Espiritual da Legião Evangélica Luterana – LELUT

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A Experiência da Oração Pa. em. Iára Müller

Aprendi a orar ainda no berço, ouvindo minha mãe orar com minha irmã maior. Primeiro aprendi Ich bin klein (Sou ainda pequenina), depois veio a oração para meu anjo da guarda, ensinada na escola, depois vieram as orações por saúde, pela família e pelo mundo no culto infantil e o Pai Nosso no culto “com os grandes”. A vida seguia para a adolescência e para a vida adulta e as orações se modificavam conforme as fases. Desde que me lembro sempre orei por pessoas em sofrimento e necessidade. Enfim, não posso imaginar minha vida sem oração. Vivemos num ambiente onde a oração não é uma prática estranha. Vemos a prática da oração no culto, em casamentos, nos enterros, antes das refeições. Vemos oração na TV e nas redes sociais, muitas vezes só indicada pelo símbolo de duas mãos postas. No entanto, todos/as nós ainda queremos saber mais sobre oração. Com certeza a oração é mais praticada na hora do aperto, do medo, do sofrimento, do desespero, da solidão indesejada, da morte, por todos/as que crêem. Nessas horas somos experts em oração, não temos dúvida de que sabemos orar e o fazemos automaticamente. No entanto a oração como atividade constante na nossa vida parece ser uma tarefa que nos exige demais. “Esqueci, peguei no sono antes, não tive

tempo”: são nossas desculpas. Lutero orou assim: “Senhor de minhas horas e de meus anos, Tu me deste muito tempo. Ele está atrás de mim e diante de mim. Ele foi meu e se tornará meu e eu o recebi de Ti. Eu te agradeço por toda batida do relógio e por toda manhã que vejo. Eu te peço que me seja permitido deixar um pouco deste tempo livre de ordem e dever, um pouco, para o silêncio, um pouco para o folguedo, um pouco para as pessoas em torno de minha vida, que precisam de um consolador.” A oração faz parte da vida cristã. Jesus nos ensinou a orar, pois a sua vida de oração era intensa. Os Evangelistas contam que Jesus orava na solidão de dia e de noite. Ele orava por ocasiões importantes como seu batismo, quando tentado no deserto, antes da escolha dos seus doze discípulos, antes de ensinar os seus discípulos a orar o Pai Nosso, na sua transfiguração e na cruz. Ele orava por seus discípulos e por aqueles que haveriam de segui-los. As orações de Jesus demonstram um hábito forte seu e uma intimidade constante com o seu Pai. Pelo seu exemplo, bem como pelo seu ensinamento, Jesus inculcou aos seus discípulos e a nós a necessidade de orar. Ele nos deixou pelo menos dois modelos de oração de que poderíamos

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usufruir. O modelo de oração individual, para a prática de nossa fé pessoal: “E, quando orardes, não sereis como os hipócritas; porque gostam de orar em pé nas sinagogas e nos cantos das praças, para serem vistos. Em verdade vos digo que eles já receberam a recompensa. Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto, e fechada a porta orarás ao teu Pai que está em secreto, e teu Pai que vê em secreto, te recompensará. E orando, não useis de vãs repetições, como os gentios, porque presumem que pelo seu muito falar será ouvidos. Não vos assemelheis, pois, a eles; porque Deus, o vosso Pai, sabe o de que tendes necessidade, antes que lho peçais.” (Mateus 6.5-8) E o modelo de oração comunitária para fazermos com nossos irmãos e irmãs na fé: Jesus ensinou o Pai Nosso, que por isso é todo no plural e também pediu: “orai pelos que vos caluniam” (Lucas 6.28b), pois quando temos sentimentos de raiva por alguém, orar é ainda mais difícil. No entanto, quero também ressaltar que podemos orar com amargura e com lágrimas como Ana o fez em

1 Samuel 1.10: “levantou-se Ana e, com amargura de alma, orou ao Senhor, e chorou abundantemente.” Mas, afinal o que é orar? Empresto aqui as palavras do casal Ulanov: “Orar, é uma resposta radical para a vida. Uma interação que é uma resposta porque Deus inicia e sustenta o processo. A nós cabe nos abrirmos para que Deus nos toque numa relação profunda que afeta tudo. Orar não significa pensar sobre Deus em contraste a não pensar em outras coisas. Significa, antes, viver na presença de Deus. Não é possível remover Deus da vida diária. Orar é uma resposta dentro de um relacionamento.” (Primary Speech - A Psycology of Prayer de Ann e Barry Ulanov). Segundo H. Sanson: “A oração não é eficaz porque consegue mudar o mundo, ou mesmo Deus, mas porque consegue mudar a nós mesmos. A oração permite que o acontecimento que considerávamos um mal, não se torne uma infelicidade. A oração converte aquele que pede, adapta-o a uma situação que antes lhe parecia prejudicial e insuportável. A ora-

Nada é impossível para aquele que tem fé e que não faculta a Deus milagres que estão no poder de suas próprias mãos realizarem.

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ção obtém mais do que pede, pois tanto muda aquele que ora quanto, através dele, muda o significado da situação em que se encontra engajado.” Oração é contato, é encontro, é interação, é uma forma de relacionamento começado por Deus. E esse encontro nos transforma. Não nos transforma naquilo que talvez quiséssemos, nem transforma a realidade como a desejávamos, mas nos transforma. Como podemos orar? Nos momentos difíceis parece que a oração vem automaticamente a nós. Mergulhe nela! Mas para as outras horas do seu viver sugiro que você escolha um lugar, pode ser na cozinha, no quarto, na sala, onde você não será interrompida/o. Além disso, planeje um momento do seu dia para orar. Um momento de estar só, de silêncio. Com o tempo, sua família vai se acostumar com isso e não mais interromper. Tente aquietar-se. E lá, nesse local e nesse momento do dia, você pode ter uma conversa amorosa com Deus. Pode pedir ou agradecer. Ou simplesmente você pode colocar-se uns instantes passivamente diante de Deus dizendo: Aqui estou meu Deus, diante de ti, como sou. Sem nada pedir. E você perceberá, no momento em que se aquietar, que sua mente tresloucada correrá por todos os assuntos possíveis: a fulana está doente, tenho que ir ao banco, o preço da soja, a seca, a notícia do rádio. Con-

vido você a deixar tudo isso uns instantes para lá e voltar a ficar tranquila/o. Feche os olhos, preste atenção na sua respiração e pense numa senha que possa repetir mentalmente para os outros assuntos não tomarem conta do seu pensamento. Escolha uma senha. Algo como: Eis-me aqui Senhor! Ou seu versículo predileto. E repita essa senha, pensando nela. A senha serve para nos concentrar. Portanto, escolha algo que você goste de repetir e que lhe traga paz e confiança. Faça isso por vários dias (cinco ou dez minutos por dia) e perceberá o descanso e, ao mesmo tempo, o vigor que provém dessa prática. E não por último, é sabido que a oração praticada no dia a dia nos ajuda a nos conhecermos melhor. Quando nos aquietamos para orar, uma torrente de pensamentos nos invade, dificultando ficarmos em oração. É importante conversar com alguém de confiança, sobre esses pensamentos que sempre voltam, pois vai nos ajudar a entender quais são nossos impulsos mais íntimos. Santo Agostinho escreve: “Mas tu, Senhor, fizeste-me voltar a mim mesmo, eu que havia virado as costas a mim porque não me queria ver, e me puseste face a face comigo mesmo para que eu visse a minha fealdade, minhas deformidades, visse como estou cheio de sujeiras e de manchas e de úlceras. E eu vi e me espantei, e não soube fugir de mim mesmo.” (Confissões de Santo Agostinho).

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No constante hábito da oração nos damos conta dos nossos erros, da nossa pequenez, de nossas fragilidades, bem como da nossa prontidão para amar e de nossos dons que vão se revelando no nosso interior. A oração nos faz perceber que somos imperfeitas/os e, ao mesmo tempo, nos faz ver que somos filhos e filhas de Deus e por isso, perfeitos pela graça

de Deus que nos criou para Ele. E assim, vamos diminuindo a diferença entre quem somos e quem Deus deseja que nos tornemos. Oremos como Lutero: “Senhor Jesus Cristo, ensina-nos a orar. Ajuda-nos para que nossa oração se faça poder, que o poder se faça alegria e que a alegria venha a ser a riqueza de nossa vida. Dá que, ao gastarmos tal riqueza, vençamos todas as contrariedades. Amém.” A autora é Pastora emérita da IECLB e reside em Pelotas/RS

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A experiência de um policial na atualidade Joni Roberto Timm

Quais são os desafios de hoje? Limites? Alegrias? Medos? Como relacionar a fé com o trabalho realizado pela polícia? Apesar de estar aposentado a quase sete anos da função policial, procuro estar atualizado com o que acontece no mundo da atividade da segurança pública, por esta razão aceitei em escrever algo nesse sentido. Quais são os desafios de um policial na atualidade? Bem, antes de tudo ele é um servidor público que está sujeito a normas de condutas severas previstos em estatutos e leis específicas. De acordo com a instituição policial que o acolher e o capacitar depois de submetido a um concurso público, ele poderá trabalhar fardado ou descaracterizado, poderá enfrentar longas rotinas e deve encarar qualquer missão em nome da profissão, e especialmente não parar de estudar nunca, procurar sempre se aperfeiçoar. Não é tarefa fácil ser policial, o mais comum é ele ter de enfrentar a dura realidade das ruas, no combate à criminalidade, sem saber se a missão vai ser concluída com sucesso ou não. Por vezes, a missão foge do planejado e o policial tem que pensar rápido, com coerência, com mais energia para salvar não só a sua vida,

como também de toda a equipe e os demais inocentes que estão no entorno da situação. Ser policial requer, antes de qualquer coisa gostar da profissão, tendo que enfrentar a incerteza das ruas, sem saber se vai voltar para casa no final da jornada. Lembro-me ainda de quando “novato” num plantão de sábado, após uma senhora passar na delegacia e denunciar seu companheiro de maus tratos, agressão, etc., foi-nos determinado que conduzíssemos esse cidadão até a presença da autoridade policial. Quando chegamos a casa desse casal, falamos ao cidadão que nos acompanhasse, e ele disse: “ok, vou com vocês, só me deixe calçar os sapatos”. Achei suspeito aquele pedido naquele momento, de pronto reagi não o permitindo que pegasse seus calçados e o algemamos. Em seguida olhei sob a cama onde estariam os calçados, achamos uma arma de fogo totalmente municiada encoberta por um cobertor. Fico pensando o que teria acontecido a mim e ao meu colega de equipe se simplesmente tivéssemos deixado esse cidadão “pegar os calçados”? O policial trabalha numa sociedade cada vez mais exigente face ao avanço da criminalidade (cito, por exemplo, a intervenção federal no Rio de

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Janeiro que visa justamente conter a violência e a criminalidade desenfreada), da velocidade da informação e do avanço tecnológico. Em contrapartida salvo exceções, ele dispõe para trabalhar de veículos sucateados, falta de combustível, armamento ultrapassado, tecnologia aquém do esperado e salários defasados. Na minha época inicial na carreira policial, fotografar custava caro, tinha o custo do filme e da revelação. Foi obtida uma câmera filmadora, mas era muito grande, era muito difícil com aquele equipamento fazer um serviço de investigação velado. Lembro-me que para localizar endereços só dispunha do mapa da cidade encartado dentro de listas telefônicas. Hoje dispomos de equipamentos de GPS, de sofisticados aparelhos telefônicos, câmaras fotográficas minúsculas e muito precisas, usam-se aviões e helicópteros, até de aeromodelos “drones” é possível dispor, ficou tudo melhor. Alegrias Nunca esqueço que certa vez o policiamento ostensivo trouxe para a delegacia um cidadão que queria se matar jogando-se do alto de um barranco numa pedreira abandonada. Nesse caso, ele não cometeu crime algum, só o esperamos se “acalmar” um pouco, logo seria liberado. Pois bem, eu estava saindo de plantão, cansado da jornada de 24 horas, não tinha obrigação, mas comecei a con-

versar com esse “suicida”. Ele não parou de falar, contou tudo que o afligia, sofrimentos, tribulações, etc., ao final me agradeceu por tê-lo escutado, disse que estava bem melhor e que não queria mais morrer. Não me custou dedicar esse tempo ao próximo. Numa outra ocasião, num plantão de domingo, compareceu uma senhora humilde vítima de maus tratos, agressões, etc. A atendi o melhor que pude, aconselhei-a, encaminheia para fazer os exames de lesão corporal. Meses depois, qual foi a minha surpresa quando soube que na minha ficha funcional foi anotado um elogio feito e encaminhado por um jornalista que era familiar desta senhora, agradecido que estava pelo atendimento dispensado a ela. Medos Enumero como desafio nesta profissão o policial ter de enfrentar todos os dias o estresse, o risco da morte e a falta de reconhecimento de seu trabalho. Em muitos casos, necessita andar armado mesmo fora do horário de serviço para proteger a si mesmo e a sua família. Limite Cabe ao policial dar o melhor de si para ao final da jornada retornar à sua casa com a sensação do dever cumprido. Lembro-me quando de minha formação policial, me deu uma dúvida se eu estava fazendo a

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opção certa para a minha vida. Falei com um irmão de fé de minha igreja, expus meus receios e ele disse, “uma das coisas mais graves que pode acontecer, é você chegar até a matar ou ferir alguém numa legítima ação policial, isso faz parte, mas não se corrompa de forma nenhuma”. O policial deve ser arrojado, usar de astúcia, mas nunca ser desonesto. Em resumo, com falhas e erros, enquanto fui policial ativo tentei viver e testemunhar como o que Cristo ensinou contido no livro de Lucas 3.14: “... a ninguém maltrateis, não deis testemunhos falsos e contentai-vos com o vosso soldo”. Ainda, é sabido que a Bíblia ensina

que Deus estabeleceu autoridade para que aqueles que combatem aos que andam contra a lei, prejudicando a sociedade de alguma forma para que sejam punidos: ”visto que a autoridade é ministro de Deus para teu bem. Entretanto, se fizeres o mal, teme; porque não é sem motivo que ela traz a espada; pois é ministro de Deus, vingador, para castigar o que pratica o mal” (Romanos 13.4). Esse texto deixa bem claro que a ação punitiva da autoridade, de acordo com as leis e dentro de suas funções, é respaldada por Deus para que haja castigo para o que pratica maldades e para proteger as pessoas de bem. Servidor por 26 anos como Investigador Policial Civil na Polícia Civil do Paraná. Atualmente está aposentado e reside em Curitiba/PR

HUMOR Na delegacia, o delegado pergunta: – O senhor sabe tocar bateria? – Não, senhor. – Então por que roubou a bateria do seu vizinho? – Porque ele também não sabe, doutor!

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A importância das abelhas sem ferrão Dra. Tatiana Guterres Kaehler

Os meliponíneos, também conhecidos como abelhas sem ferrão ou abelhas nativas, caracterizam-se pela presença de ferrão atrofiado e hábitos sociais, além de serem pouco agressivas. Estas abelhas são encontradas em todo o Brasil, sendo que só no Rio Grande do Sul existem 24 espécies descritas. As abelhas sem ferrão constroem seus ninhos em diferentes locais como ocos pré-existentes de árvores, fendas em rochas e muros, cavidades do solo, entre outros. Elas utilizam diferentes materiais para construção de seus ninhos como cera e cerume (cera com adição de própolis), geoprópolis, (barro com adição de resina), o qual é importante para impermeabilização, restos vegetais e até fezes secas de outros animais. Além disso, o formato da entrada do ninho é diferente para cada espécie e auxilia na identificação das abelhas.

adaptada a ambientes urbanos e rurais, sendo uma das mais criadas, pois se adapta bem às caixas e requer pouco espaço. É uma abelha pequena, com aproximadamente 5 mm e coloração amarela ouro. A entrada do ninho é semelhante a um cano pequeno rendado, o qual é fechado durante a noite ou na presença de invasores. Esta espécie possui operárias soldados, as quais possuem pernas mais robustas e protegem a entrada do ninho. A Mandaçaia é uma das abelhas nativas mais bonitas. Ela mede em mé-

Dentre as espécies, podemos destacar a Jataí, a qual é uma espécie bem dia 10 mm de comprimento, possui coloração preta e seu abdômen tem 4 listras amarelas. Uma colmeia dessas abelhas pode produzir uma média de 1,5 litros de mel por ano, cujo sabor provém das floradas visitadas por elas. A Mirim droryana (Plebeia droryana) é uma espécie de abelhas mansas, sendo que seus ninhos são encontrados em diversos locais e se adaptam

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em caixas. São abelhas diminutas, com 3 mm de comprimento. A entrada do ninho é feita com própolis e não é fechada a noite. Esta é uma das espécies que realiza a diapausa no inverno, que é a suspensão da construção de favos de cria até a temperatura estar adequada novamente. As Iratim ou abelhas limão são conhecidas como pilhadoras, pois sa-

queiam colônias de abelhas de outras espécies. Seu ninho é construído com material roubado, elas atacam ninhos e pegam mel, pólen e cera, pois não possuem hábito de visitar flores. Se uma colônia atacada estiver com população fraca podem acabar morrendo. Essa espécie exala um cheiro de limão marcante, o que pode ser um sinal de ataque.

A criação de abelhas nativas é chamada de meliponicultura e no Brasil foi inicialmente desenvolvida pelos índios. Por isso esses insetos também são chamados de “abelhas indígenas”. A meliponicultura está presente em diversas regiões do país e há interesse comercial na sua produção de mel, própolis, geoprópolis e pólen. O mel das abelhas nativas possui aroma e sabor de características únicas, dependendo da espécie, além de ter acidez mais ou menos acentuada com toques florais diferentes conforme a época do ano. Além dessas peculiaridades no mel, os meliponíneos possuem menor tamanho corporal e menor número de indivíduos por colmeia se comparadas à abelha melífera e, consequentemente, produzem menor quantidade de mel. Para se ter sucesso em sua criação é necessário atender às demandas de cada espécie. Entre essas necessidades podemos citar: A disposição adequada das caixas em locais com sombra e protegidas da chuva, manter próximo às colmeias plantas que forneçam recursos alimentares (pólen e néctar), como hortaliças, pitangueiras, goiabeiras, laranjeiras, entre outras. Jamais se deve criar abelhas sem ferrão provenientes de outras regiões, pois elas podem trazer doenças e os indivíduos são adaptados ao clima e às plantas de cada localidade. Deve-se ter cuidado com inimigos naturais como os forídeos, que são pequenas moscas que colocam ovos dentro das colmeias geran-

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do larvas. A presença de formigas também prejudica as abelhas, principalmente se suas populações estão fracas, pois elas consomem as crias, mel e pólen, causando desgaste e mortalidade nas operárias adultas na tentativa de defender a colônia. Além da importância comercial, as abelhas sem ferrão são responsáveis pela polinização de diversas plantas nativas e culturas agrícolas como morango e canola. Estima-se que 90% das árvores brasileiras são dependentes da polinização por abelhas. Diferentes pesquisas científicas demonstraram que a presença das abelhas aumenta a produtividade e qualidade de frutos e sementes produzidos pelas culturas agrícolas, sendo que a presença de mata nativa no entorno das lavouras colabora para esse aumento. No Brasil, estima-se que o valor estimado dos serviços de polinização prestados por elas seja de 12 bilhões de dólares, correspondendo a 30% do valor de produção total das culturas agrícolas que são dependentes de agentes polinizadores.

Infelizmente o cultivo em larga escala, juntamente com o desmatamento, a fragmentação e queimadas, resultaram na diminuição de habitat para estes insetos. Além disso, o uso intensivo de agrotóxicos prejudica direta ou indiretamente as suas populações. A diminuição dos meliponíneos implica diretamente na perda da diversidade de espécies e consequentemente na extinção de espécies vegetais nativas que são importantes para o ecossistema, causando desequilíbrio nos habitats. A criação de meliponíneos no meio rural e urbano colabora para a conservação das espécies e multiplicação de suas populações. Além disso, coopera para a preservação do meio ambiente e estimula a compreensão a respeito da importância das abelhas na produção de alimentos. Por terem ferrão atrofiado e serem pouco agressivas, o seu manejo é fácil, podendo ser colocadas em jardins urbanos e escolas, promovendo assim a educação ambiental com as crianças e adolescentes, além de produzirem seu próprio mel para consumo. Além da educação ambiental, as pesquisas científicas, políticas públicas e a divulgação das informações promovem uma ampliação no conhecimento sobre estas abelhas, buscando alternativas para sua preservação e diminuição da degradação dos biomas. Apesar dos avanços científicos, ainda é necessário desenvolver técnicas para a criação de abelhas sem ferrão

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em larga escala para que se possa atender à demanda de polinização de plantas nativas, culturas agrícolas e produtos provenientes das colmeias. Juntamente com o investimento em pesquisas sobre as diferentes espécies, é necessário que haja maior divulgação a respeito da importância dos meliponíneos e das

consequências geradas pelas ações antrópicas, seja no meio rural, ou seja, no meio urbano. Além disso, o investimento na educação ambiental permite alcançar um maior número de pessoas que promovam a conscientização sobre esta temática. Proteger e preservar as abelhas é garantir o futuro das próximas gerações e do meio ambiente.

A autora é doutora e mestre em Zoologia e graduada em Ciências Biológicas pela PUC-RS. Atualmente trabalha em empresa própria com consultoria agrícola e é colaboradora do laboratório de abelhas sem ferrão da PUC-RS. Sua linha de pesquisa principal é sobre o forrageio e comportamento de abelhas sem ferrão. Seu e-mail de contato é tatigk@gmail.com.

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A relação entre avós e netos Profa. Úrsula Axt Martinelli

Uma canção de ninar pode simbolicamente significar a apresentação dos avós à criança recém nascida. O embevecimento parece ser aquele de quando se cantava essa mesma canção para os filhos. Mas as sensações na maturidade estão mais conscientes do momento presente. Quando se é jovem, amor e ternura se confundem com a ansiedade pelas tarefas a cumprir, e a consciência fica dividida. Os bebês crescem... acompanhados pelos avós nas brincadeiras de montar, de encaixar, de desmontar, e nas

manifestações de alegria pelo feito. Os avós marcam sua presença velando o sono e amenizando dores do corpo e dos pequenos corações. Ao som de canções infantis persiste o olhar do amigo incondicional, simplesmente porque esses bebês são seus netos. O tempo passa... e a criança desenvolve sua capacidade de interação. Sente a unidade familiar, essa pequena célula protetora, onde os avós contam histórias que a transportam ao universo das gerações anteriores. Este pequeno trecho de caminho em

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comum é uma oportunidade única de vivenciar experiências com pessoas de longas distâncias já percorridas. É hora das primeiras pedaladas... ainda no triciclo, às vezes empurrado. Os avós brincam de roda e de bola, leem contos e relatam histórias verdadeiras e inventadas a ouvidos atentos ao tesouro de palavras até em desuso; ensinam canções do nosso rico folclore e também do folclore de outras terras. O inconsciente trabalha, grava. Eles também estão aí para enxugar as lágrimas pelo machucado, pela contrariedade, porque nem tudo é um mar de rosas. Dito isso, vale lembrar que não existe mais a versão clássica de avós. A participação do quotidiano como babás, conselheiros e ouvintes confiáveis são aspectos a serem considerados na educação dos netos. Em muitos casos os avós contribuem até mesmo financeiramente para a vida dos netos. A nova configuração familiar passou a ser mais horizontal (avós) do que vertical (irmãos, primos) exigindo mudança de postura dos pais e dos avós. Se esta mudança não acontecer naturalmente, podem surgir conflitos. Cabe aos avós um papel muito sutil: estar presente sem disputar a função dos pais, mas preenchendo lacunas. Ao chegar a hora de tirar as rodinhas da bicicleta ... se acerca o tempo da independência, de aprender a ler e escrever, o tempo de descobertas conscientes. Os avós continuam dis-

poníveis com sua experiência, mas mantendo a devida distância. Eles podem ter facilidade no encaminhamento dos netos, no aprendizado de uma nova língua e na leitura. Podem ainda apresentar-lhes os segredos desse mundo mágico em que vivemos, explorando a natureza com passeios e jogos ao ar livre, conhecendo a terra abençoada onde se planta e se colhe o alimento. São todos eventos que vão se encaixando como peças de um quebra cabeça na consciência da criança, moldando o ser humano para que possa dar continuidade ao que aprendeu. A orientação do filósofo Emmanuel Kant sobre a educação dos filhos poderia ser indicada da mesma forma aos netos. “Quando criamos nossos filhos, temos de nos lembrar de que eles serão os guardiões do futuro. Ao aprimorar sua educação, nós aprimoramos o futuro da humanidade, o futuro deste mundo”. E a vida continua... com passagens por vezes difíceis. A separação dos pais por exemplo, não deveria ser empecilho no relacionamento avósnetos, pois os avós podem contribuir muito na continuidade da rotina de vida dos netos dentro da normalidade. Nesses momentos a criança ou o adolescente necessitam de referência confiável e disponível, de “salvadores silenciosos” que representam o refúgio no qual possam dizer “aqui eu me sinto em casa e sempre sou bem-vindo”. Com o passar da idade tudo muda...

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muda para os netos e para os avós. O prazer da convivência continua, mas dentro da individualidade de cada um a vida toma rumos distintos. Surgem particularidades que nem sempre significam consenso. E desentendimentos são inevitáveis sobretudo no caso de gerações que vivem sob o mesmo teto. Na busca de soluções equilibradas deve predominar o bom senso, dentro das particularidades de cada família. Quando a saudade aperta... a distância física pode ser compensada com visitas ou no caso de netos maiores, pelas formas de comunicação atuais, beneficiando as gerações envolvidas. Rituais familiares também reforçam laços porque quebram a rotina diária e abrem oportunidades não só para conversas, mas também para conflitos, o que deve ser considerado natural. E numa sociedade em constante transformação, os rituais garantem a continuidade da herança cultural familiar da qual fazem parte a culinária e as tradições de festas. Os rituais religiosos nem sempre são transmitidos pelos pais, o que não significa ausência de sentimento religioso. Avós, por serem vetores da história familiar, podem intermediar valores sociais e religiosos. Com o consentimento dos pais, os avós podem introduzir os netos ao ensino

religioso e torná-los sensíveis ao sentimento da espiritualidade com o conhecimento do Deus protetor e bondoso que auxilia o ser humano na busca do sentido da vida. Mais tarde terão segurança suficiente para fazer sua própria avaliação sobre as religiões. Os avós não existem mais... a criança nutre sentimentos de orfandade, de saudade e de tristeza ao ver outras crianças acompanhadas dos avós. Existem idosos que também sentem a tristeza da orfandade de netos. Com a prática de brincadeiras, cantoria e conversas, cria-se espontaneamente a afinidade entre crianças e idosos, mesmo estranhos entre si, compensando a ausência de avós ou de netos. Ao se tornarem adultos... os netos entendem seu relacionamento com os avós, antes de mais nada como uma ligação sentimental forte com base na história familiar aceitando com naturalidade o processo de envelhecimento e de finitude do ser humano. Seja criança, adolescente, ou jovem adulto é esta a oportunidade de, pela primeira vez na vida talvez, vivenciar a experiência de servir ao próximo. A elaboração desse texto se baseou na leitura de trabalhos de autoria de psicólogos e pedagogos, e na experiência da autora como avó. A autora é professora universitária emérita e reside em Blumenau/SC

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A Tua presença Larissa Gebien

Ó Deus, muito obrigada pelo privilégio da Tua Presença, Pois ela faz toda a diferença. Me perdoa pelas vezes em que, Não valorizo devidamente o Teu amor, E acabo não tirando tempo para me concentrar em Ti, óh Senhor, Para ficar atenta ao que queres me dizer, E também desabafar Contigo, Tudo o que se passa em meu ser. Independente de qual seja, Fisicamente a nossa situação, O importante é estarmos, Contigo, em comunhão, Pois a Tua presença, como nosso Pai, Por mais silenciosa que seja, Nos revigora e nos sustenta. Deus, ajuda-nos sempre de novo a lembrar, De que conosco Tu estás, Para que vivamos na consciência da Tua presença, Em fé e obediência. A autora é pessoa com deficiência visual, estudante de teologia e reside em Blumenau/SC

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A vivência em um Modelo Econômico Prof. Dr. Gilmar Mantovani Maroso

Refletir sobre o modelo econômico pressupõe entender as formas como a sociedade está organizada para produzir, consumir e distribuir os bens e serviços produzidos por ela. Portanto, o modelo econômico geralmente condiciona a forma de pensar e agir das pessoas, o que facilita o entendimento do por que faltam às pessoas a solidariedade e fraternidade em muitos momentos da sua vida. À medida que o ser humano expande seu horizonte geográfico relacionando-se com outras sociedades e ou começa a viver em sociedades mais complexas, historicamente o modelo econômico evolui e se aprimora. Na Antiguidade, o modelo econômico caracterizava-se pelas relações de trocas, o escambro, onde a moeda eram os próprios bens. Pois o objetivo era sanar uma necessidade pontual, não se almejava a acumulação de riqueza. Porém, os gregos já cunhavam moedas no século VIII e VII antes de Cristo. O que facilitou aos Romanos as práticas de comércio, com o propósito de acumular riqueza não para o bem-estar da sociedade, mas para viabilizar o poder, o domínio sobre os demais povos. Pelas relações de força, o domínio de um povo sobre os demais provoca as relações socioeconômicas de Servidão, base econômica para o Modelo

Feudal, o que poderia ser considerado um aprimoramento das relações de produção do modelo escravista. Porém, cabe destacar que esses modelos conviverem simultaneamente em diferentes lugares pelo mundo. A superação desse modelo acontece pela possibilidade da prática do comércio, pela organização das feiras e surgimento das cidades. Nesse contexto, um novo modelo econômico toma forma: o conhecido Mercantilismo, que floresceu e consolidou-se na Europa entre os anos de 1450 a 1750. Do ponto de vista religioso, é importante entender que a Igreja Católica na época condenava a usura, baseada nos estudos de Aristóteles – considerado o pai da economia - que via a imoralidade das trocas, pois geralmente elas não representavam o mesmo valor, portanto denunciava a exploração. Nesse contexto, a igreja cristã se colocava moralmente contra a cobrança de juros, a obtenção de lucros e a acumulação de riqueza. Com as práticas comerciais, os mercadores ampliam seus horizontes geográficos, além do Mar Mediterrâneo, isso possibilita novas relações e contatos entre os povos, novas culturas. O somatório da nova realidade contribui para o período Renascentista, muito fértil para toda a humanidade. Com o Renasci-

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mento, instaura-se o método de análise racional, que induz as novas formas de interpretar a realidade. Isso nos leva ao aprimoramento de técnicas e uso do conhecimento científico. Como resultado disso, podemos destacar a prensa de Gutemberg (1450). No campo das ideias e da fé, tivemos o advento da Reforma, seja com Calvino (1509) na Inglaterra e Lutero (1518) na Alemanha. Ambos deram ênfase ao indivíduo, a fé em si, diferente da fé no outro. À medida que a igreja mostra o potencial do indivíduo, provoca um novo modelo econômico, que vai ser pautado na propriedade privada, na possibilidade de acumulação de riqueza, através do trabalho, característica típica do Modelo Econômico Capitalista.

tendo como base os processos invocativos em diferentes segmentos produtivos. Cabe ressaltar que o Capitalismo tem uma dinâmica econômica pautada na acumulação de capital, desenvolvimento de fatores de produção: mão-de-obra, capital (crédito) tecnologia (conhecimento aplicado) e infraestrutura (energia, transporte, telecomunicação).

Simultaneamente aos movimentos renascentistas, tivemos o advento do Estado Moderno (Séc. XVI), mesmo nascendo monárquico: França, Inglaterra, Espanha e Portugal, etc..., ocupa lugar dos pequenos Feudos. O Estado financia e impulsiona o uso de novas técnicas produtivas, amplia novos mercados além da fronteira, deslocando o eixo econômico do mar Mediterrâneo para o Atlântico.

O modelo econômico baseado na Indústria ofertou ao mundo uma gama de produtos nunca vistos nas sociedades modernas. Isso provocou, e ainda provoca nas pessoas, a busca incessante por mercadorias que, somadas a técnicas de marketing, criam todos os dias necessidades, muitas delas questionáveis, mas que sedimentam a sociedade de consumo. Como fazer frente a um consumismo desenfreado, criando um modelo em que, muitas vezes, compra-se um bem que não precisa, com o dinheiro que não se tem! Como uma grande parte dos indivíduos, são assalariados e não possuem renda suficiente para as compras da suposta modernidade, busca no setor financeiro o crédito necessário para viabilizar sua demanda.

Nesse contexto, o Capitalismo Comercial produz a acumulação de riqueza necessária para o financiamento de uma nova fase do Modelo Capitalista de Produção que se estabeleceu por volta de 1750, na Inglaterra, a partir da Revolução Industrial. Esse modelo se expande para França, Alemanha e Estados Unidos,

Aqui reside o atual modelo econômico em que estamos vivendo, a ascensão e consolidação do Capitalismo Financeiro. Precisamos entender que esse modelo está centrado nas atividades que produzem renda e lucros. Isso ajuda a entender porque o Brasil pratica a segunda maior taxa de juros reais do mundo. Esse mode-

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lo, além de não privilegiar a produção de bens que melhoram a vida das pessoas, gera concentração de renda apenas aos donos do capital. Sabemos que o mal do século vai ser a falta de emprego e a grande concentração da riqueza. A prova disso, segundo Revista Forbes in Veja (31/ 01/2018), é que as 42 pessoas mais ricas do mundo possuem riqueza equivalentes a 3,7 bilhões de pessoas, ou seja, 49 % da população mundial. Esses “donos do mundo” possuem um patrimônio de 1,46 trilhões de dólares. Os donos do mundo também são brasileiros, os 5 mais ricos do Brasil possuem patrimônio que equivale a 103 milhões de brasileiros (49,6 %), ou seja, US$ 85 bilhões. Já nos EUA, os 3 mais ricos acumulam, US$ 234 bilhões, o que equivale a 160 milhões de americanos. Portanto, o modelo econômico capitalista, independente da etapa em que se encontra, Comercial, Industrial ou Financeiro, sua coexistência tem como característica principal a acumulação e concentração de capital. O que muda apenas é o ator: o mercador, o industrial, o banqueiro e mais recente com adventos das novas mídias e da inteligência artifi-

cial, serão os donos do Facebook, da Google, do Uber, etc... Amanhã talvez sejam os donos dos Robôs. Aí se inicia uma nova saga do modelo econômico capitalista na sua nova fase, o fim do emprego e do salário e o ressurgimento de um novo escravismo. Devemos estar preparados para novas lutas por liberdade! Não do escravismo sobre a exploração dos homens pelos homens, mas pela libertação de uma sociedade governada pelo desejo do consumo e pelo medo da máquina, a serviço dos novos donos do poder. Para fazer frente a tudo isso, só com muita educação e cultura, para que possamos avançar para uma nova fase do modelo econômico, baseado no compartilhamento dos usos de bens e serviços. Uma economia compartilhada pressupõe pessoas que acreditam em pessoas, pessoas com mais fé nos valores humanitários, assim estaremos exercendo os ensinamentos de Cristo: mais amor, mais fraternidade e solidariedade entre os povos, assim estaremos amenizando o capitalismo concentrador e excludente, para uma economia mais compartilhada e inclusiva. O autor é Diretor Geral da Ulbra em Carazinho/RS

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Ajuda... Ajudas... Diácona em. Valmi Ione Becker

É um dever cristão ajudar as pessoas necessitadas. Cabe às pessoas cristãs não desviar o olhar das pessoas que precisam ser ajudadas. Se alguém de nós percebe uma pessoa sentindo frio, não pense muito, mas resolva o problema com a doação de um agasalho. Claro que nem toda a ajuda ou jeito de ajudar tem sentido. Quem presta ajuda precisa ter um objetivo em mente: possibilitar à pessoa que está sendo ajudada a lidar com seus próprios problemas. Nos últimos anos foi assim que essa máxima se estabeleceu em muitas áreas, não só na área que diz respeito à questão do desenvolvimento. Outro dia assisti a um filme de Bernd e Heidi Umbreit. O casal que dirigiu este filme intitulou-o “Die unverwüstlichen vier” (O quarteto indestrutível). Nele se reflete a vida de um garoto de 16 anos, chamado Christian que, num dia mormacento, experimentou uma mudança na sua vida. O que aconteceu? Ora, ele mergulhou num lago e acabou quebrando a quinta vértebra da sua coluna. O resultado? Ele ficou paraplégico. Christian conviveu com sua dor na companhia de dois amigos que estavam na mesma situação: Jürgen e Jens. Foi nesse convívio que lhes surgiu uma ideia extraordinária: Viajar 1.100 quilômetros numa bicicleta

com pedais manuais, da cidade de Allgäu até o Mar Báltico, e isso em 72 horas. Qual era o objetivo desses jovens? Simplesmente mostrar à sociedade que ainda havia esperança, mesmo para pessoas paraplégicas. Eles também fariam essa viagem com o propósito de arrecadar fundos para uma pesquisa referente ao tratamento da medula espinhal. O problema é que nem tudo foi conforme o planejado. Num dado momento da sua história Christian diz: - Eu sou muito grato à minha mãe. Ela não fez todas as coisas para mim, mas me ajudou em todas elas. Ela teve muita paciência comigo. No começo eu precisava de uma hora inteira para me vestir. Hoje eu posso fazê-lo em 20 minutos. No momento, Christian é capaz de lidar com suas dores sem qualquer ajuda. Dá para se falar no sucesso desse moço que se tornou um exemplo para o fato de que a ajuda que ajuda a se ajudar vale mais do que simplesmente se atirar num programa de ajuda integral. Muitas vezes é assim que a paciência e a espera fazem mais sentido, quando se articula o seguimento da vida. Parar e se retirar para refletir pode, muitas vezes, ser uma ajuda valiosa, especialmente se esta atitude for combinada com empatia, com a atenção e com a confiança em al-

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guém. É óbvio que também há pessoas que acham complicado buscar ajuda nas outras pessoas. Essas pessoas que tem dificuldade em pedir ajuda geralmente tem perfil teimoso. De certa forma eu fico abalada quando alguém me conta que perdeu sua parceira, seu parceiro, sua filha ou seu filho por causa de suicídio. Outro dia ouvi de uma pessoa amiga: - Minha filha sempre dizia estar bem, que estava se virando! Nós não tínhamos ideia daquilo que ela estava passando, enquanto vivenciava o fim de suas forças. Por que ela não nos contou sobre os seus problemas? É certo que meu esposo e eu tentaríamos ajudá-la a superar sua crise! Que coisa! Na vida é assim que muitas pessoas, especialmente os homens, acham extremamente difícil abrir-se e dizer: - Preciso de ajuda! Algumas pessoas até precisam ser encorajadas a se abrir e a confiar em amigas e amigos, ministras e ministros eclesiásticos ou psicólogas e psicólogos. Creio que a ajuda, a autoajuda e o ato de se deixar ajudar combinam entre si. Desejo a todas e a todos que desenvolvam o sentimento certo para os detalhes da vida que ainda vem. Repensando tudo o que escrevi, sob um aspecto mais teológico, ainda preciso explicitar que Deus nos ajuda, quando experimentamos alegria e tristeza, fadiga e fragilidade. Aliás, Jesus é a “ajuda” em Pessoa. A qua-

lidade da sua ajuda é facilmente percebida nos Evangelhos. É possível afirmar que o ato de “ajudar-se uns aos outros como Cristo nos ajudou” pode ser considerado a vivência do “Reino de Deus” entre nós. Jesus ajuda as pessoas com o intuito de reuni-las numa única grande família, onde todas são filhas e todos são filhos do Deus Criador. Tenho para mim que a vivência na Comunidade Cristã implica num constante ajudar-se, com vistas a amor recíproco. Isso não é mero altruísmo, mas sim sinal da conversão do coração, da mudança do estado de espírito. Sim, a ajuda fraterna é modelada pelo Evangelho de Jesus Cristo e pela graça de Deus em nós. O Reino de Deus acontece quando nos abrimos às outras pessoas, não só às suas necessidades. Aqui, abrir o coração, não significa só dar ajuda; mas tratar a outra pessoa como a si mesma e, nela, servir ao Senhor de todo o coração. Tudo começa com a atenção, o diálogo, o respeito e a delicadeza que se dá às pessoas. Foi exatamente isso que a mãe do Christian fez. O Reino de Deus acontece quando acolhemos bem as pessoas, sob a motivação do Evangelho. Caso contrário, esse ato será apenas social. Vai daí que a ajuda cristã implica na disponibilização para que a outra pessoa possa ser recebida como um ser único. Essa atitude de ajuda requer tempo, para a pessoa poder exprimir-se, sentir-se à vontade, por

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para fora seus problemas e suas dores que, por vezes, são profundas e ocultas. Acolhimento cristão é solidariedade, comunhão e partilha nas alegrias e nas tristezas e isso, sem qualquer sentimento de superioridade ou relação paternalista. Vai daí a ajuda e os apoios se estendem em diversas direções: À pessoa que vive do nosso lado e à que não pensa e experimenta a nossa vivência; à pessoa que não é da nossa crença e nem tampouco do nosso partido; à pessoa que não é da nossa etnia e também não comunga da nossa formação; à pessoa indiferente e marginalizada; à pessoa que é excluída e com a qual não temos nenhuma relação. A Igreja Cristã é habitada pelo Espírito de Jesus que é comunhão. Ela, por natureza e vocação, é o lugar do acolhimento cristão. Pessoas e Comunidades acolhedoras são os novos “poços de Jacó” que saciam se-

des; abrigam de calores abrasadores; doam perspectivas de vida verdadeira. É nestes poços que muitas pessoas encontrarão remédio para suas solidões. O ato de servir e de ajudar é um elemento constitutivo e básico da Igreja que revela o coração de Cristo cheio de ternura, misericórdia e esperança. A ajuda deve dar uma alma e um pouco de coração, de afeto e calor humano às relações, à vida e às estruturas de cada Comunidade. Sim, nós podemos promover o Reino de Deus com ações de amor que se refletem nas nossas ajudas. A Comunidade é a presença viva e visível da Igreja de Jesus. Ela não pode ser percebida como uma estação de serviços religiosos, mas como a casa das pessoas onde se explicitam as experiências significativas do Evangelho. Enfim, prestar ajuda significa dar testemunho de uma Igreja que se interessa mais pelas pessoas do que pelas estruturas. A autora é Diácona emérita da IECLB e reside em Florianópolis/SC

HUMOR Duas amigas se encontraram na rua e uma delas foi logo dizento: – Maria, finalmente consegui tirar o vício do meu marido de roer unhas. – Que ótimo! E como você fez isso? – Foi fácil! Escondi a dentadura dele!

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Palavras cruzadas 1 - Títulos e Temas P. em. Irineu Wolf

Solução na página 214

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Albrecht Dürer e seu quadrado mágico P. em. Dr. Osmar Zizemer

Albrecht Dürer, pintor, gravador, ilustrador, matemático e teórico da arte, foi contemporâneo do Reformador Martim Lutero.

Sua obra mais conhecida entre nós provavelmente é “Mãos que Oram”, de 1514.

Nasceu em 21/05/1471 e faleceu em 06/04/1528 na cidade de Nürenberg, Alemanha.

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Outra entre suas muitas obras de arte chama-se MELANCOLIA, também de 1514. Nesta obra o autor colocou, na “parede do fundo”, seu famoso QUADRADO MÁGICO. O curioso neste quadrado é que a soma de suas fileiras de números, tanto na horizontal quanto na vertical e nas diagonais, sempre têm como resultado o número 34. Além disso, os quatro cantos, assim como as quatro casas centrais e as quatro intermediárias nas laterais, também somam 34. Confira!

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Alimentação consciente e saudável Susan Tribess

De que forma isto está fazendo ou não a cabeça das pessoas nos dias de hoje... A preocupação com uma alimentação saudável, com a forma física e a prevenção de doenças através da alimentação vem crescendo nos últimos anos, trazendo consigo vários pontos positivos para nossa saúde como um todo. Mas junto com isso também trouxe algumas alterações relacionadas ao comportamento alimentar. O excesso de fontes de informação e o excesso de informações (por vezes desencontradas) tem gerado confusão entre as pessoas. Somado a isso, vemos um crescente e excessivo culto ao corpo perfeito. E isto tem gerado muitas alterações no comportamento alimentar. Além de tudo isso ainda tem as alterações relacionadas ao nosso estilo de vida. Temos cada vez mais tarefas e cada vez menos tempo para prestar atenção ao tempo e como usufruímos desse precioso passar dos minutos. A alimentação consciente vai muito além da escolha do alimento certo e da quantidade consumida. A alimentação consciente engloba as atitudes, os sentimentos, as sensações, ou seja, o relacionamento emocional que desenvolvemos com a comida. Se isso não estiver bem alinhado, a orientação correta de nada adianta. Andamos tão atarefados e cheios de

preocupações, por vezes até neuras relacionadas a comida, que alimentar-se virou uma atitude automática ou uma atitude acompanhada de culpas e punições. Acabamos nem prestando atenção e nem apreciando o que comemos e o quanto comemos. Então precisamos desligar o piloto automático, afastar as neuras e de fato apreciar aquele momento e aquele alimento, prestar atenção no sabor, nas texturas e sensações que temos com aquele ato de amor conosco mesmos. Praticar “alimentação consciente”, que nada mais é do que levar a técnica da meditação (plena atenção) para as refeições, pode ser uma das alternativas no meio de tantos problemas que começaram a surgir na relação que as pessoas desenvolveram com a comida. Mas “alimentação consciente” não chega a ser uma meditação. É um exercício que você pode aplicar em várias áreas da sua vida, inclusive na alimentação. O significado disso é: estar focado no momento presente, no que você se propõe, sem julgamentos e sem distrações que tirem o foco da sua atividade. Na alimentação, para a “plena atenção” ser aplicada é importante que você se concentre no momento da refeição, que não haja distrações e que você possa perceber as cores presentes no seu prato, o cheiro e o sabor dos alimentos. Além de

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perceber a quantidade e a qualidade da comida que colocou no prato. É importante comer sem televisão, computador ou celular por perto e que a refeição dure pelo menos 20 minutos para que você mastigue mais lentamente e, então, possa sentir a saciedade. Se possível faça todas as refeições colocando o alimento em um prato e se sentando à mesa. Tente fazer uma boa apresentação do alimento no prato, para que seja atrativo visualmente. Quando você para, observa e entende o motivo de comer naquele momento, consegue detectar se a sua fome é física ou emocional. Fazendo esse exercício todos os dias, em pelo menos uma refeição, conseguirá diminuir esses “ataques” de compulsão, de devorar algum alimento em minutos, sem ao menos sentir o sabor do que está comendo. Porém sempre preste muita atenção também nas escolhas que faz. Tenha uma alimentação saudável pautada em: alimentos limpos, comida de verdade, alimentos diversificados, alimentos cheios de nutrientes e sempre aliando isso ao comer consciente. 1. Diminua a exposição tóxica e evite doenças. Coma comida de verdade, desembalando menos, preferindo os orgânicos e cuidando do seu intestino. 2. Cuide do seu intestino, ele é a chave do sucesso para uma boa nutrição e uma vida saudável e de boa qualidade. Para isso, evite os industrializados. Consuma bacté-

rias benéficas através de lactobacillus em cápsulas (kefir ou kombucha). Tenha uma alimentação rica em fibra e beba sempre muita água. 3. Evite os carboidratos ruins como as farinhas refinadas e açúcares. Eles são o mal do século, pois aumentam sua quantidade de gordura corporal, fazendo você engordar e aumentam o risco das doenças que mais matam, como as doenças do coração, o diabetes e uma série de outras doenças graves. 4. Não tenha fobia das gorduras boas, consuma mais gorduras saudáveis e menos carboidratos ruins (como farinhas, açúcares, massa, panifícios, guloseimas etc.). As gorduras boas como as vindas do abacate, castanhas, coco, etc. são anti-inflamatórias e essências para o corpo. 5. É importante termos a consciência de que precisamos ingerir as frutas na sua forma integral e não o sumo. Por isso evite o consumo de sucos coados. Eles tem alta concentração de frutose sem as fibras, o que torna esse líquido uma forma de carboidrato e glicose que podem ser perigosos se forem ingeridos com frequência. 6. Você já sabe que não precisamos ter fobia de todos os tipos de gordura. Agora, você precisa fugir da gordura trans e dos óleo

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DCV, etc. Consuma alimentos ricos em magnésio, folhas verdes escuras, brócolis, brotos, chá verde, lentilha, limão, frutas em geral, etc. E evite os alimentos acidificantes: refrigerantes, açúcar refinado, farinha refinada, excesso de carne, sal em excesso, embutidos e excesso de leite e derivados.

vegetais (industrializados) como soja, canola, milho. Essas formas de gordura causam inflamação das células e aumentam colesterol ruim (DCV, DM) e fatores oxidativos e pro inflamatórios – esses fatores estão ligados a uma série de doenças. 7. Consuma alimentos anti-inflamatórios e antioxidantes – eles são essenciais para um bom funcionamento do corpo, previnem uma série de doenças e fornecem muitos nutrientes essenciais. Ex.: açafrão, gengibre, alho, cebola, frutas vermelhas, canela, folhas verdes escuras, vegetais e verduras no geral, sementes como linhaça, chia, peixes e castanhas (ricas em Ômega três) e aveia, etc. 8. Tenha uma alimentação alcalinizante e evite uma série de doenças como: osteoporose, câncer,

9. Evite tomar líquidos durante as refeições, para não diluir os sucos digestivos, isso altera todo o sistema digestivo e absorção dos nutrientes; 10.Varie o cardápio evitando a monotonia nutricional. Tenha 5 porções diárias de saladas com cores variadas todos os dias e 3 porções de frutas várias, abrangendo e ingerindo uma série de vitaminas e minerais necessários. A autora é nutricionista e atua em Blumenau, atendendo nos seguintes contatos: (47) 9196-7815 e 3329-2601

HUMOR Durante férias no interior, um homem decide tirar a tarde para pescar. Perto do lago, encontra um morador da região e pergunta: – É permitido pescar aqui? Não é crime? – Crime? Se você pescar alguma coisa nesse lago será um milagre!

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As redes sociais e as Fake News P. Clovis Horst Lindner

Já faz algum tempo que eu construí um nicho nas chamadas redes sociais. Eu o considero importante. Penso que posso ser uma espécie de profeta ali, ao divulgar uma boa mensagem todos os dias ou conscientizar os internautas com informações que constroem consciência cidadã. Tenho uma coleção enorme de coisas que postei e pretendo publicar um livro com isso uma hora dessas. Sei que também tenho causado algumas polêmicas nesse processo, mas aceito este ônus. Não há como ser profético sem gerar controvérsia. Na minha visão, importante é o debate, desde que ele ocorra dentro das regras do respeito (o que, confesso, nem sempre é o caso). Mas, eu estou quase perdendo as esperanças. Comunicar nas redes sociais tornou-se uma aventura em mar bravio. Aparece de tudo ali. Podemos ser surpreendidos por pequenos peixes, que não assustam ninguém. Mas, também é cada vez mais comum topar com tubarões e muitos monstros marinhos da comunicação. Notícias falsas, boatos e muita inverdade são espalhadas incansavelmente, não raro com a intenção de “fazer justiça” ou coisa parecida. Entretanto, sua disseminação causa dor e sofrimento a pessoas que, na maioria das vezes, nem conhecemos.

Para evitar entrar nessa corrente da difamação, basta checar a origem e a veracidade da notícia que se pretende compartilhar. O problema é que isso dá trabalho e tem cada vez mais gente que se esquiva disso. Sua opinião é construída na base do copiar e colar, com uma overdose de empolgação e uma falta crônica de cuidado. O que antigamente era chamado de mentira, fofoca, difamação ou coisa do gênero, hoje recebe o pomposo nome de Fake News. Nada de espetacular nessa designação, já que sua transliteração significa nada mais do que “notícia falsa”. Ou seja, mentira, fofoca, difamação ou coisa do gênero. Dizem que a invenção das Fake News nem é recente. Na opinião do Papa Francisco, a primeira Fake News da história foi a informação que a serpente deu a Eva no paraíso, para convencê-la a comer da fruta da árvore do bem e do mal: “Vocês não morrerão coisa nenhuma! Deus disse isso porque sabe que, quando vocês comerem a fruta dessa árvore, os seus olhos se abrirão, e vocês serão como Deus, conhecendo o bem e o mal” (Gênesis 3.4). Desde aquele dia, informações falsas fazem a cabeça de muita gente. Ainda hoje, multidões acreditam que muitas notícias das redes sociais são

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informações confiáveis, não checam a origem, nem a veracidade, acreditam piamente e... perdem o paraíso! Não é à toa que uma das marcas mais conhecidas e cobiçadas desse mundo virtual é a maçã mordida da Apple. A diferença é que hoje a geração dessas notícias falsas está nas mãos de robôs, programados para postar notícias cuja única intenção é prejudicar alguém e fazer a opinião pública acreditar que realmente é assim. A honra de pessoas é seu maior patrimônio. Essas notícias querem desonrar, enxovalhar, destruir a reputação de pessoas, instituições, entidades e movimentos. Elas servem também para atingir fins escusos no mundo comercial, político ou econômico. Esses robôs, que nada mais são do que programas de computador, se encarregam de espalhar as notícias que são criadas por interesses diversos e contaminam os meios de comunicação e as redes sociais. Eles chegam até você por conta da sua “pegada eletrônica”. As informações que você coloca nas redes sociais são os passos que desenham esta pegada. Algumas dessas pegadas você deixa, participando de brincadeiras como responder a perguntas aparentemente inocentes, do tipo “em quantos lugares você já morou ao longo da vida?”. Com base nas respostas das pessoas, esses robôs vão juntando informações de perfis semelhantes, que colocam você numa bolha. Uma vez

na bolha, ela é bombardeada com Fake News, de modo geral, replicando exatamente o que você pensa sobre a vida e o mundo. No meio de tudo isso, é curioso ver o Tribunal Superior Eleitoral baixar um conjunto de normas que pretende “dominar” as Fake News, especialmente em eleições. Talvez eles não tenham se dado conta de que esses robôs são muito mais ligeiros e espertos do que os humanos e que é praticamente impossível dominar suas ações ou seguir seus rastros. É mais provável que a boa intenção do TSE acabe resvalando no lodaçal da censura e atinja, por exemplo, blogueiros bem-intencionados que combatem as perigosas intenções duvidosas das megarredes de informação, cujo objetivo principal é dominar a opinião pública para obter lucros. O melhor remédio para combater a mentira é o jornalismo investigativo. Precisamos parar de replicar notícias prontas. O segredo da verdade jornalística é o bom testemunho e o relato fidedigno dos acontecimentos. Ou seja, você só devia contar aos outros o que você viu com os seus próprios olhos. Na média, o Brasil é um país de tolos, ou seja, de gente que nem percebe que está sendo usada para fins escusos. Assim, somos o paraíso das notícias falsas nas redes sociais. Essa praga cresce por aqui como em nenhum outro lugar no mundo. Os europeus são muito mais cuidadosos. A notícia de que Mark Zuckerberg, o

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dono do Facebook, foi convocado pelo congresso americano para dar explicações sobre o roubo de dados de usuários da rede fez muitos alemães encerrar sua conta no Facebook. “Não quero ver minha privacidade invadida e meus dados usados para fins escusos”, era o principal argumento para sair fora. De qualquer modo, tudo aquilo que as redes sociais prometiam de avanços na comunicação do século 21 foi amplamente superado por conta dos abusos (ab = mau + uso, ou seja “fazer mau uso”). Por ora – isto é, no kairós (tempo) em que escrevo este artigo –, ainda continuo nas redes

sociais. Mas, sinceramente, me sinto cada vez menos à vontade. Jesus dizia que não devemos “atirar as pérolas aos porcos”. Isto também vale para nossa tarefa profética. A continuar tão dominadas pelas Fake News, as redes sociais vão se tornando um ambiente tóxico para a prática da profecia no sentido do anúncio e da denúncia. Por isso, pode ser que quando você estiver lendo este artigo eu nem esteja mais nas redes sociais. Ou, o que é mais provável, é que o Facebook tenha seguido o mesmo destino do falecido Orkut. Vai saber. O autor é pastor da IECLB e comunicador, reside em Blumenau/SC

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Assim convivem as igrejas em Dona Irma, interior de SC Alexander Lenard

Deus tem duas moradias por aqui: a evangélica e a católica. Externamente ambas são tão semelhantes como se fossem préfabricadas ou como em pinturas a óleo com o título “A aldeia”. No seu interior, porém, o visitante sente uma diferença na emoção, no sentimento. Na igreja evangélica mora o Deus que é “Castelo Forte”, e o Senhor Jesus Cristo, que é vencedor mesmo que o mundo estivesse cheio de demônios. Na igreja católica domina a Magna Mater, a Mãe e Virgem, que põe as questões das pessoas em dia junto ao Pai Celeste - este inacessível e por vezes irado - e o Santo Antônio, que tem em seus braços a mesma criança nua que a Mãe dela. A história da era moderna é construída por guerras, levadas a efeito por causa de tais diferenças. Por aqui, porém, em tempos de seca as pessoas pedem por chuva em ambas as igrejas, e em tempos de enchentes, rezam por dias de sol nas duas. Com o mesmo Pai Nosso sobe ao céu o mesmo pedido por bons preços para o leite e para a mandioca. Portanto, não há motivo para brigas e disputas. Aliás, no fundo de ambas as igrejas há um galpão semiaberto, com um balanço, uma roda-da-fortuna e um forno/fogão a lenha. Pois há plena igualdade e uni-

dade entre ambas no evento mais importante do ano eclesiástico: a festa da igreja. Para a festa da igreja cada um/família doa com alegria uma galinha ou um pato (este ato não se chama de sacrifício, mas o sentimento com que se faz esta doação é antigo e santo). Quem consome linguiças, repolho e batatinhas, ou café e bolo durante a festa sabe que ele o faz “ad maiorem Gloriam Dei” (Para a maior Glória de Deus). As alegrias terrestres e celestes estão tão unidas como em poucas outras oportunidades. Há danças ao som da música de clarinetes e trombones. Desta vez a cachaça não é consumida em grande quantidade, como por viciados, mas sim com moderação piedosa. Pois com o lucro obtido na festa compram-se os sinos e fazem-se os púlpitos. É uma festa bonita, na qual as pessoas esquecem que existem opiniões divergentes sobre o caminho mais seguro para ir para o céu. O dia 25 de Julho é o Dia do Colono por aqui,... – Esta data é dividida fraternalmente entre as duas comunidades. Se num ano as galinhas são assadas em espetos luteranos, no ano seguinte elas são assadas na grelha papal. Die Kuh auf dem Bast, págs. 125-127 – Tradução: P. em. Dr. Osmar Zizemer

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“Até que a morte nos separe!” P. Adelmo Oscar Struecker

Temos trabalhado com casais e vemos quantos problemas estes homens enfrentam com estas mulheres. Quantos problemas estas mulheres enfrentam com estes homens.

Mas as perguntas são: 1) O que são famílias fortes que sobrevivem até que a morte os separe? 2) O que é uma família de verdade? 3) O que é uma família à prova de bala?

Vamos olhar para Jó, o da Bíblia. Leia Jó 1.1-5-12. Se olharmos com atenção para a estrutura dessa família, vemos um homem que tinha um posicionamento claro diante de Deus: um homem íntegro, reto, temente a Deus e que se desviava do mal.

Forte é quando sobrevêm as adversidades. No momento dos problemas sabemos quem é quem. Essa família sobrevive às perdas mais difíceis. Eles conseguem superar as crises mais complicadas da vida.

Eles são uma grande família: 10 filhos (7 homens e 3 mulheres). Família de 12 pessoas. Também é uma família bem rica conforme o versículo 3 (... este homem era o maior de todos no Oriente).

Vamos observar o que aconteceu: 1) Todos os bens se foram de uma só vez; 2) Passam por grande crise financeira; 3) Perderam os 10 filhos de uma só vez (Imagina o pai e mãe no velório dos 10 filhos). Não dá nem para chorar cada caixão individualmente, certamente, um

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caminhão de pipa foi usado pra carregar todas as lágrimas. A casa literalmente caiu. Isso que chamo de crise. Não bastasse isso, o marido ficou doente, ficou ferido da planta dos pés até à cabeça por uma doença, pelo corpo todo. Isso é uma crise muitíssimo forte mesmo na área da saúde física. Consequentemente, também iniciou uma crise na vida sexual do casal, afinal o esposo está muito enfermo. Imagino que ela não olharia para ele e dissesse: como você está sexy hoje. Ele está assim todo machucadinho, coitadinho do Jó. Crises financeiras, perderam 10 filhos, sem encontros amorosos e a esposa olha para ele e diz: “por que tu não morre!” (Jó2.9). Olha quanta consideração? Quem tem uma esposa assim não precisa de um inimigo, já dorme com ele. E ele não deixou barato: “... você é doida, maluca!” (Jó 2.10). Sabe amados, dinheiro se foi, filhos morreram, sem sexo, conheço muitas esposas que nessas horas rapam fora. E o mais incrível, perderam tudo, mas a doida ficou. Não acredito nisso. O que você falaria para a esposa que te mandou morrer quando mais precisavas dela? Provável resposta: - Nunca me esquecerei disso. Quando mais precisava, você me mandou embora, você não tem sentimentos, você não tem coração e se tiver é de pedra! Mas, e se não fosse o “se” ..., a doença passou, Jó ficou cheirosinho de novo, fizeram amorzinho novamen-

te e geraram outros 10 filhos (Jó 42.13), tudo isso com a mesma mulher, com essa doida mesmo. A mulher de Jó era legal, bonitona também (... “naquela terra não se achavam mulheres tão formosas como as filhas de Jó” (42.15). Jó não trocou uma de 40 por duas de20. Ele não a trocou em meio à crise. Esse é o casamento à prova de bala, foguetes, rojões, raios e trovoadas. Esse casamento sobreviveu a todas as crises, esse está pronto “até que a morte o separe”. É esse casamento que somos chamados a viver. Não podemos estar juntos apenas pelo dinheiro, por causa dos bens, do sexo, mas por que Deus é o PILAR do nosso relacionamento. Ele que sustenta, Ele amparou a Jó e a sua casa. Sabe, montar uma família não é nada fácil. Escolher alguém pra viver com você “até que a morte os separe” é um trampo complicado. É a decisão mais importante da sua vida. Vamos aos fatos: vocês vão diante do altar da Igreja primeiro e dizem um ao outro, é isso que queremos: “até que a morte nos separe”? O que isso implica? – É muito tempo mesmo; - É quase uma eternidade; - É muito tempo Pastor; - Você vai ficar igual à sogra? – Não posso mais olhar para as outras? Depois de respondido tudo isso, vai para o altar e diga “sim”. Ex. Um dia veio um noivo para mim e disse que não falei toda a verdade, deveria perguntar assim: Na saúde e na doença; na riqueza e na

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pobreza; com cabelo e sem cabelo; com celulite e sem celulite; com 38 e com 59 anos; com potência e sem potência; com barriga e sem barriga; com dente e sem dente; com TPM e sem TPM (Tensão pré menstrual vira Tempo pra Matar). Se o Pastor tivesse perguntado tudo isso eu ia pensar um pouco mais. É muita coisa pastor, é muita pergunta, não sei se estou preparado!

a mãe dela já sinalizou isso, pois a fruta nunca cai longe do pé. Casou com ele e nem notou que ele poderia produzir uma enorme barriga, mas estava apaixonada que nem pensou nos quilinhos a mais. Quando casamos, casamos também com os quilinhos, casamos com a celulite ou mesmo que na hora mais triste da vida ela te chama e diz “... vai morrer”.

Amados, escolher alguém e viver “até que a morte os separe” é complicado mesmo. Às vezes casamos apenas por paixão. É um sentimento meio burro, meio asno, cega as pessoas, por que só vê virtudes e não os defeitos. Veja o que acontece.

Festas de casamento sempre começam muito bem: festa, bolo, comida, fotos, beijos, abraços, começa a mil por hora. Conforme o casamento vai terminando, ele mostra o que vai ser: todo mundo vai embora; sobra no final uma mulher com maquiagem borrada; sandália na mão; o camarada sem gravata; terno que nunca usou, todo torto, reco meio aberto; olho fundo, cansado e louco para dormir. E vocês se olham: “até que a morte nos separe”.

Só um exemplo: Namorado deita no colo da moça com a cabeça e você dizia: mãe, coisa fofa esse ronco dele, você não acha? Esse ronquinho é fantástico. Aí você casa com ele e ele ronca e você diz: homem de Deus, pára com isso, estou tentando dormir. Outro exemplo: vocês estão namorando e você notava que ele tinha muito chulé, mas você estava apaixonado, cego, e aí não se aborrece com essas coisas. Aí vocês casam. Com o tempo você não suporta esse fedor dentro de casa, mas quando vocês namoravam já tinha um gambá amarrado no seu pé. Você estava apaixonada, você não via nada. Casou com ele “até que a morte o separe”. É assim, apaixonados, cegos, casou com ela e nem notou que tinha uma tendência de engordar, mas

Sabem amados, se Deus não estiver nessa causa isso não vai durar.Coloque isso na sua cabeça. Colocar um homem e uma mulher debaixo do mesmo teto só pode ser idéia de Deus. É terrível isso. Pensamos tão diferente. Meninas são educadas de um jeito, os meninos de outro jeito. Ele ganhava carrinho e bola de presente quando criança, ela brincava de bonecas. Isso era no dia das crianças, na Páscoa, no Natal. Então se você casou com ele, ele pode cuidar mais do carro do que de você ou te trocar por um jogo de futebol, afinal de contas a bola chegou

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antes. Ela brincava de bonecas, e precisava de muitas roupas, trocava toda hora, agora no casamento ela precisa de um sapato que combina com o brinco ou com a fivela do cabelo. Aí casam e estão debaixo do mesmo teto, “até que a morte nos separe”. E os problemas surgem, as acusações surgem. Afinal, casamento não vem pronto, nem mesmo o de Jó, mas o casamento sempre será o que nós fizermos dele. Então na comunicação, a atenção é fundamental. Olhar nos olhos quando se fala, escutar com o coração. Não dá para dialogar com acusações. Casamento também não é arroz quente que quando queima na boca, se cospe fora. “Até que a morte nos separe”. Somos

muito diferentes, mas como seria chato casar com um clone. É algo fantástico o casamento. Casais enfrentam crises. Homens fazem sexo quando estão estressados, às vezes, estão estressados todos os dias. As mulheres na TPM onde aparecem 300 sintomas. Ela fica uma bomba relógio. E como sou casado com uma mulher linda, aprendi com meu irmão militar uma linguagem policial: “vamos se evadir do local”. E depois de três dias apareço. Coisa linda esse negócio chamado casamento. Então casamos, aí aparece o sogro, a sogra (com o mundo moderno ela vive até os 100 anos), cunhadinhos, etc. É difícil viver a dois, mas é maravilhoso, é família, é fantástico. Ainda acredito no “até que a morte nos separe”. Amém. O autor é Pastor da IECLB em Rio do Sul/SC

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Autoestima e Egocentrismo P. em. Friedrich Gierus

A nossa vida começa no paraíso. Somos protegidos, amados e bem cuidados: no ventre da nossa mãe. Ao nascermos, somos empurrados para fora deste paraíso. Enfrentamos um mundo cheio de perigos, de doença e de morte. No início da nossa existência somos muito limitados e incapazes de cuidar de nós mesmos. Somos dependentes dos cuidados dos nossos pais. À medida que crescemos, enfrentamos muitos obstáculos, dificuldades, limitações. Mas também experimentamos amor, compreensão, alimentação e proteção. Dependendo do contexto social em que crescemos, somos preparados, bem ou mal, para assumir a nossa própria vida. Para encaminhá-la e vivê-la, necessitamos da orientação dos nossos pais, de professores, de amigos/ amigas, enfim de pessoas que nos querem bem.

as situações de sua vida. Isto quer dizer: Não sou qualquer um. Sou filho de Deus! Pois ele afirmou no meu batismo: Tu és meu. A palavra de Deus me dignifica. Sou alguém. Sou único. Isto dispensa qualquer necessidade de me produzir ou provar ao mundo que sou alguém. A partir da fé em Deus surge autoconfiança e autoestima. A partir dali não é importante ser vitorioso, sempre. O que importa é saber-se carregado por Deus, na vida e na morte. Como afirmei acima: Ao nascermos somos recebidos pelo amor dos pais e pelo carinho dos irmãos. Ao crescermos, descobrimos que não estamos sozinhos nesse mundo. Temos a nossa mãe, o nosso pai, talvez

Precisamos de um chão firme para poder mover qualquer coisa ao nosso redor ou perseguir alvos e construir nosso futuro. Este chão firme é a fé em Deus que estende sua mão dizendo: Não temas! Estou contigo em todas

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irmãos/irmãs e somos desafiados a encontrar o nosso espaço nesta comunhão. Descobrimos que nem sempre é fácil de conviver em paz, e observamos que nem todos em nossa família nos amam como a nossa mãe, por exemplo. Aliás, observamos que há brigas e desentendimentos, até entre os pais. Egocentrismo Logo descobrimos também que as brigas e os desentendimentos surgem porque as pessoas são diferentes e nem sempre estão de acordo com o que os outros pensam, sentem ou fazem. Descobrimos, também, que as pessoas defendem seus próprios interesses, mostram suas qualidades para justificar sua posição. Assim vai se revelando o egocentrismo. Tudo está sendo avaliado, se serve ou não para mim – e na medida do possível: somente para mim. Ao formular esta frase lembrei-me da campanha eleitoral do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que várias vezes afirmou: America first! (América em primeiro lugar!). Não é isto que domina a nossa sociedade? Não é em função desta concepção de vida que surgem as brigas e as guerras? Nisto descobrimos que, se todos pensassem cada um só em si, cada um querendo ser o mais forte, o mais importante, o mais inteligente, não haverá paz nem na comunhão nas famílias, entre vizinhos ou no mundo. Quer dizer, somos obrigados a encontrar um jeito de viver

em paz. A pergunta é: como? Autoestima Jesus veio a este mundo para dar uma resposta através de sua vida e morte na cruz. Ele orientou os seus discípulos: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento e amarás o teu próximo como a ti mesmo (Mateus 22, 37-39). Portanto, a chave para vivermos em paz, para respeitar-nos mutuamente, para vivermos em comunhão é o amor – sim, o mesmo amor que sentimos por nós mesmos. Assim como nós queremos ser amados, respeitados e honrados, Deus quer que o pratiquemos em relação ao nosso próximo. Quer dizer, Deus não espera e não exige de nós que desprezemos tudo que temos e somos. Pelo contrário, podemos valorizar os nossos dons, as nossas capacidades. Podemos e devemos cuidar da nossa autoestima. Não precisamos esconder o que nos qualifica. Mas Deus quer que coloquemos isto também ao serviço do amor ao próximo. Nestes termos devemos também entender as palavras: Sirvam uns aos outros cada qual conforme o dom que recebeu (1 Pedro 4.10). No mesmo sentido Jesus exorta: Novo mandamento vos dou: amem uns aos outros. Assim como eu os amei, amem também uns aos outros (João 13.34). O autor é Pastor emérito da IECLB e reside em Blumenau/SC

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Carta de alguns Confirmandos para a nossa Igreja P. Leandro Luís da Silva

O que pensa um adolescente que se prepara para confirmar a sua fé? Este foi o desafio dado aos confirmandos da Comunidade Luterana da Cruz de Curitiba-PR. Sob as perguntas: De que forma a igreja é importante na minha vida? O que falta na minha comunidade? O que eu espero da igreja? Surgiram as seguintes respostas: “A Igreja é importante para nos fazer ter fé e crer em algo; é importante para nos ensinar a viver em comunhão, ser solidários e ajudar outras pessoas. Também nos ensina a Palavra de Deus e a viver de acordo com a mesma. O que eu espero da igreja? Um lugar onde somos todos iguais e com o mesmo propósito de louvar a Deus. Uma igreja que incentive os jovens e os inclua em suas atividades, que trate de assuntos modernos.” “A igreja é importante para mim, pois nela tenho várias amizades que fui construindo com o tempo, e também, construo uma relação duradoura e verdadeira com Deus. Ela é sim, importante, pois sem ela eu, provavelmente, aceitaria as tentações que a sociedade nos oferece. Com a igreja sigo firme a minha vida com Deus. Sinto que falta unidade nos grupos da minha

igreja, falta também, motivação para os jovens. Um ponto bom na nossa igreja é a liberdade de falar sobre todos os assuntos que você quiser. Algo que pode ser melhorado é incentivar os jovens a participarem mais dos grupos.” “A igreja é importante para mim porque ela é a casa de Deus. Onde podemos aprender mais sobre Deus e onde podemos viver em comunidade. É ter uma vida baseada na fé”. “Igreja para mim é o local onde nos reunimos com Deus, Jesus e o Espírito Santo e também com nossos irmãos e irmãs da comunidade. É importante porque nos ajuda a interagir com o Senhor e nossos irmãos. É o lugar onde nos é ensinada a Palavra de Deus e suas leis. Um mundo sem igreja não seria um mundo bom, pois não iríamos ter a chance de aprendermos sobre a grandeza de nosso Senhor, viveríamos sempre com o peso de nossos pecados. Em minha vida a igreja é importante, pois ela me ajuda a conversar e ter uma melhor relação com Deus.” “A igreja é importante porque é um lugar onde conhecemos mais sobre a Palavra de Deus. É onde podemos ter paz, refletir e nos arrepender

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de nossos pecados. Na igreja somos acolhidos, assim formando uma família para ouvir, louvar e agradecer a Deus. A comunidade deveria refletir em como criar grupos de discussão sobre temas que são importantes para a comunidade; em como atrair mais jovens e mantê-los atuantes; como arrecadar recursos financeiros para a comunidade, e como ampliar a atuação da nossa comunidade e assim, se tornar uma referência na sociedade.” “Eu vejo a igreja como lugar religioso onde praticamos a nossa fé em oração e confissão. Acho importante que temos um dia dedicado para ir à igreja. Na igreja vão as pesso-

as que praticam a sua fé. Muitas pessoas não ficam na igreja por não se sentirem acolhidas por ela. Para isso acontecer, os cristãos que vão à igreja, devem ser acolhedores. As pessoas precisam ser envolvidas na comunidade, como no culto infantil, ensino confirmatório, grupo de casais, OASE... A igreja auxilia na vida religiosa delas. Se a igreja não existisse, o mundo seria um caos, poucas pessoas iriam acreditar em Deus, iríamos viver com muitos pecados, medos e angústias, não teríamos ninguém para agradecer pela criação e pelo que temos e ganhamos de Deus.” “Porque a igreja é importante? Porque estar na igreja é uma for-

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ma de conversar com Deus, orar pelo bem das pessoas, pedir perdão pelos nossos pecados, agradecer, conhecer a Palavra, viver em comunhão, ajudar o próximo. A igreja é importante, pois é a casa de Deus e devemos respeitá-la. Na igreja é preciso ter fé, pois todos querem um mundo melhor. Devemos ir à igreja e chamar as pessoas para entrarem nessa caminhada de fé. A igreja precisa da participação, o que é muito bom, pois quanto mais pessoas estão reunidas na presença de Deus, mais o evangelho se espalha pelo mundo.” “A igreja é importante porque é nela que aprendemos e estudamos a Palavra de Deus, louvamos, criamos laços de amizade, oramos e passamos por momentos muito importantes e inesquecíveis, como o batismo, a confirmação, a Páscoa, o Natal, etc. A igreja é como se fosse a nossa segunda casa, onde entramos em comunhão, encontramos nossa família e amigos e passamos por momentos felizes ou até tristes. Estudamos a Palavra e aprendemos a viver para Deus seguindo seus caminhos e obedecendo (ou tentando) seus mandamentos. Uma coisa que sinto falta e que pode ser melhorado é o grupo de jovens. Em nossa comunidade pouquíssimos jovens participam e estão presentes na comunidade. Já pude ter experiência em uma outra comunidade, de

outra denominação evangélica que tinha um grupo de quase 100 jovens. Acho isso muito legal e faz falta ter aquela alegria e disposição por parte dos jovens da nossa comunidade.” O que podemos perceber nestas declarações? Pensando que são jovens de 13 e 14 anos de idade e que participam ativamente da Comunidade de fé. Este grupo, em especial, é fruto de um intenso trabalho de culto infantil, ou seja, são adolescentes que já tinham um bom conteúdo bíblico e de participação de cultos juntamente com seus familiares. Isto trouxe maior profundidade na discussão e participação dos adolescentes nos temas propostos nas aulas de Ensino Confirmatório, o que me deixou muito feliz! Este grupo, em suas declarações mostrou a importância de se conhecer a Palavra de Deus, de estar em comunhão com as pessoas, de serem incentivadas a dar testemunho para os que não participam da comunidade. Mostraram também preocupação com a continuidade de sua participação na igreja a partir do trabalho com jovens. Uma preocupação é o número pequeno de jovens no grupo, o que poderia ser um incentivo para não participar. São jovens que olham para a frente. Pensam em como a comunidade pode ser mais atrativa, seja nos cultos, como nos grupos. Pensam em como a igreja pode ser mais inclusiva, pois falam dos cultos mais aco-

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lhedores e incentivadores. Pensam numa comunidade mais missionária quando olham para a possibilidade de testemunhar e incentivar uma maior participação das pessoas na comunidade. Ou seja, temos um grupo de adolescentes que sabem o que é ser igreja e conseguem pensar a partir dela. As declarações dadas pelos adolescentes, jovens, trazem alguns desafios para nossa comunidade e para todas as comunidades da IECLB. Como motivar e envolver os jovens no trabalho da igreja? Como nos tornar comunidades mais desafiadoras, para com o ministério de jovens e adolescentes? Como podemos acolher melhor as pessoas que se ache-

gam em nossas comunidades, especialmente para que possam se engajar nos nossos tantos grupos e ministérios? Como tornar o grupo de jovens mais dinâmico, acolhedor e desafiador para os jovens de hoje? São muitos os desafios e cabe a cada comunidade dedicar tempo, recursos e planejamento para que o trabalho com nossos adolescentes, confirmandos e jovens seja motivador e direcionado para a realidade dos nossos jovens, sejam eles de áreas urbanas nas grandes cidades, ou nas cidades menores e até nos meios rurais de nosso país. Confesso que ainda estou buscando respostas para este desafio. Vamos buscar respostas e caminhos juntos? O autor deste artigo, junto com seu grupo de confirmandos, é pastor da IECLB e atua na Comunidade Luterana da Cruz de Curitiba/PR

HUMOR O menino segurava o rabo do gato, e o gato fazia a maior algazarra, sem conseguir se soltar. A mãe do menino, incomodada, diz: – Pare de puxar o rabo do gato! O menino, sem se abalar, retruca: – Eu não estou puxando, mãe! Só estou segurando. Quem está puxando é ele!

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Carta de um Diretor de Colégio aos pais de alunos! Extraído da Internet

Estimado pai, estimada mãe! Em breve iniciarão os exames finais de seus filhos e filhas. E eu sei que vocês desejam muitíssimo que eles tirem boas notas. Mas, por favor, não se esqueçam de uma coisa muito importante: No meio de todos os alunos que estarão ali sentados, fazendo as suas provas finais, há um artista, que simplesmente não quer entender a Matemática. Tem um visionário que não dá importância à História Geral ou à Literatura Inglesa. Há um músico, para quem a nota em Química não tem a mínima importância. Há um atleta, cuja forma física é mais importante que as fórmulas da Física. Se seu filho ou sua filha tirar boas notas, muito bem. Isto é sensacional. Mas, se este não for o caso, por favor, não lhe tire a sua autoconfiança, ou a sua dignidade. Diga-lhes: “OK, é apenas um exame escolar!” Seu filho ou filha está destinado/a para algo muito, muito maior nesta vida. Diga-lhe que você o/a ama, não importam as notas que tirar, e que você não o/a condenará. Faça isto, por favor. E quando você o fizer, olhe para seu filho ou sua filha, e verá como conquistará o mundo. Uma prova de exame em que vão mal ou uma nota baixa jamais vai destruir os sonhos e os talentos dele/a. E, por favor, lembrem-se disso: Não são apenas médicos ou engenheiros que são as pessoas mais felizes da face da terra! Com saudações muito cordiais O Diretor Tradução: P. em. Dr. Osmar Zizemer

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Conto de Natal: A importância de cada um Anamaria Kovács

Era véspera de Natal. Estava tudo muito quieto, e a lua cheia brilhava no céu sem nuvens. Na sala de estar da casa, o pinheiro refletia os raios prateados; cada enfeite, cada pequena lâmpada reluzia. De repente, a estrela dourada no alto do pinheiro brilhou mais forte, espalhando sua luz por toda a árvore. – Como estás linda! – exclamou admirado o pequeno limpador de chaminés, pendurado logo abaixo dela. – Preciso mostrar a todos o caminho para Belém! – respondeu a estrela. – Nós também fazemos isso! – disse

uma das pequenas lâmpadas piscapisca. – Sim, mas eu brilho aqui em cima há muitos anos. Vocês chegaram há pouco tempo. Antigamente, eram as velas que iluminavam a noite de Natal. Mas aconteceram muitos acidentes, os pinheiros pegavam fogo com facilidade. Por isso, as pessoas trocaram as velas por vocês – explicou a estrela. Um sininho prateado tilintou suavemente. – Eu também estou aqui há muito tempo! Lembro às pessoas a alegria

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pelo nascimento de Jesus! Também conheci as velas de parafina e as bolas de vidro. Tenho saudade delas. Eram tão bonitas...

numa casa onde você não esteve, vou sair dali todo sujo!

– Sininho, nós podemos não ser tão bonitas quanto elas, mas temos o mesmo sentido: também representamos as boas ações das pessoas! – reclamou uma linda bola vermelha.

– Noite Feliz... – começaram a cantar todos os anjinhos espalhados pelos ramos da árvore. O maior de todos, vestido com uma linda roupa branca bordada com pérolas e fios dourados, fora colocado perto do presépio, ao pé do pinheirinho.

– Isso mesmo! – apoiou uma bola dourada – Representamos o amor, a paciência, a fé, a alegria... E não quebramos quando nos deixam cair no chão! O pequeno limpador de chaminés ficou triste. “Todos têm uma mensagem para os homens, menos eu... O que é que eu represento? Em certos países, nem existem chaminés para limpar...” A estrela percebeu a frustração do limpador de chaminés. Envolveu-o carinhosamente em sua luz dourada e disse: – Antigamente, as pessoas acreditavam que você, ao limpar a sujeira da chaminé, levava embora todas as coisas ruins da casa. Diziam que você trazia boa sorte. É somente uma tradição, mas você pode se orgulhar dela. Vocês, limpadores de chaminés, são importantes! – Obrigado... – murmurou o limpador. – Ho, ho, ho! – ecoou a voz grave do Papai Noel, lá de trás da árvore – Veja, limpador de chaminés, como você é importante: se eu entrar

– É verdade! – concordou o limpador, mais animado.

– Eu represento Gabriel – informou ele – O anjo que anunciou a Maria que ela seria a mãe do Menino Jesus. Ele também contou a boa nova aos pastores nos campos. – Você é muito bonito... e importante, também – observou o limpador de chaminés. – Os anjos são os mensageiros de Deus – explicou Gabriel. – Por isso, as pessoas colocam figuras de anjos na árvore de Natal. Então uma voz suave e profunda ecoou pela sala. – E eu, que trago todos vocês sobre os meus galhos? Era o pinheiro quem falava. A Estrela sabia a resposta: – Você, meu amigo, representa a fidelidade de Deus; quer dizer que Ele nunca se esquece de seus filhos e filhas, que está sempre ao lado deles... Você foi escolhido há muitos anos, por Martinho Lutero, que morava na Alemanha. Ele percebeu que só você continua com suas folhas verdes du-

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rante o inverno, que lá é muito frio. As outras árvores perdem suas folhas, mas mesmo quando a neve cai e cobre tudo com seu manto gelado, você continua verdinho. Assim, mesmo quando alguém passa por momentos muito difíceis na vida – como uma espécie de inverno – Deus continua ao seu lado. Ele é fiel, e é isso que você representa.

Nesse instante, ouviu-se um ruído atrás da porta fechada da sala. Alguém ia entrar! A estrela apagou a sua luz; todos os enfeites ficaram quietinhos. Mas o limpador de chaminés, acariciado pelos raios do luar, continuou brilhando na escuridão... A autora é professora aposentada e reside em Blumenau/SC

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Culto com o MST P. em. Wilfrid Buchweitz

Um dos acontecimentos que me marcaram profundamente nos mais de 40 anos em que estive presente na Igreja de Cristo foi um culto com o MST – Movimento dos Agricultores Sem Terra. Os agricultores estavam em uma de suas marchas do interior do estado para Porto Alegre/RS. Em dado momento dirigiram um pedido à Comunidade Evangélica de São Leopoldo/RS: Que na passagem por São Leopoldo pudessem celebrar um culto na Igreja de Cristo. Na época eu era pastor na Comunidade e o professor Arnildo Hoppen era presidente. Levamos o assunto ao presbitério. A discussão foi tensa. A Comunidade nunca trabalhou seriamente as questões sociais. Reivindicações e lutas da parte pobre da sociedade por mais justiça nunca foram muito bem entendidas e por isso em

muitos casos foram vistas como desordeiras e anarquistas e ameaçadoras da ordem estabelecida pela parte economicamente mais bem situada. E o MST, com acertos e erros, era a manifestação mais radical da população marginalizada. A reflexão no presbitério ia caminhando. Aí num determinado momento o Presidente, professor Hoppen perguntou: será que a gente pode negar se alguém pede um culto? Pode-se negar o culto para alguém? Apoiei a pergunta do Presidente. E o presbitério conseguiu caminhar, mesmo com muita resistência e dificuldade, para a decisão, acho que unânime, de abrir a Igreja de Cristo para um culto com o MST. Infelizmente a Comunidade não conseguiu ter a experiência de se reunir e discutir a questão como o fez o

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presbitério. Não teria havido tempo. Por isso, muitos membros tiveram enorme dificuldade com a decisão do presbitério. E houve gente muito revoltada. Mas, às vezes, o presbitério precisa perguntar mais pela vontade de Deus do que pela vontade das pessoas. E neste caso, eu confio que o presbitério decidiu pela vontade de Deus, decidiu obediente e corajosamente. No dia combinado, a Comunidade abriu as portas da igreja e os agricultores e membros da Comunidade entraram. Culto sempre é público

para quem quer participar. A igreja ficou lotada como talvez nunca tenha estado lotada em sua história. Lembro-me de alguém manifestando preocupação pela parte alta da igreja, que ela pudesse não suportar tanto peso. A Comunidade deu as boas vindas, cantou, pregou a Palavra de Deus, orou e abençoou. Os agricultores participaram, agradeceram e partiram. Eu creio, realmente creio, que nossa igreja foi verdadeira Igreja de Cristo e nós fomos verdadeira comunidade de Jesus Cristo. O autor é pastor emérito da IECLB e reside em Porto Alegre/RS

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Declaração conjunta – Confessamos juntos P. em. Meinrad Piske

31 de outubro é celebrado como o Dia da Reforma Protestante. O dia em que as 95 teses foram publicadas no ano de 1517, em Augsburgo – Alemanha. Anos depois, em 1530, nesta mesma cidade, o imperador Carlos V reuniu a dieta (assembleia) para unificar todo o império, porém sete duques e Margraves e mais dois burgomestres (prefeitos) apresentaram sua confissão de fé que reafirmava e apresentava os princípios da Reforma. Assim como o dia 31 de outubro tem valor simbólico como marco inicial que dá o fundamento para a Reforma da Igreja, o dia 25 de junho de 1530 representa a continuidade deste movimento, onde foi realizada a confissão de fé para a consolidação da redescoberta do Evangelho. Enquanto as 95 teses tem como tema especial as indulgências, a Confissão de Augsburgo apresenta a doutrina central da fé em seus 28 artigos. Na conclusão foi afirmado que este documento é a “declaração de nossa confissão e da doutrina dos nossos”. Quinhentos anos depois foi assinado e publicado - dia 31 de outubro de 1999, na cidade de Augsburgo - o documento “Declaração conjunta sobre a doutrina da justificação pela fé”. Este documento é o resultado de

estudos da “Comissão Católica Luterana I” e foi reconhecido e assinado pelas mais altas autoridades da Igreja Católica Romana e da Federação Luterana Mundial. O histórico resume o que a doutrina da justificação significou e significa até hoje para as igrejas. Depois afirma categoricamente: “Fomos levados a essas novas percepções por nossa maneira conjunta de escutar a palavra de Deus nas Escrituras Sagradas”. Com isto, fica claro que o documento elaborado pela comissão católico-luterana não é fruto de negociações, mas de estudo bíblico em conjunto. A afirmação confessada em conjunto foi formulada assim no Artigo 15, que se tornou o eixo central de todo documento. Este “confessamos juntos” é afirmado desta forma: “CONFESSAMOS JUNTOS: Somente por graça, na fé na obra salvífica de Cristo, e não por causa de nosso mérito somos aceitos por Deus e recebemos o Espírito Santo, que nos renova os corações e nos capacita e chama para boas obras.” As igrejas da Reforma consideram a doutrina da justificação “o primeiro e principal artigo” e, simultaneamente, “regente e juiz sobre todas as

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partes da doutrina cristã”. Mas nem todas as igrejas cristãs reconhecem a doutrina da justificação como sendo o artigo tão importante que com ele a Igreja permanece em pé ou cai. Ao longo dos 20 anos, desde que foi assinada e oficialmente reconhecida pela Comunhão das Igrejas Metodistas, Comunhão das Igrejas Anglicanas e Aliança Mundial das Igrejas Reformadas (Presbiterianas), as grandes igrejas cristãs acolheram esta declaração.

Meyer que estava sendo cumprimentado pelo grande trabalho na elaboração da Declaração Conjunta. Também me senti solidário com o professor Harding Meyer quando juntos olhamos para o P. Kirchheim que estava assinando o documento, na qualidade de Vice Presidente da FLM.

Algumas igrejas não acolheram, nem assinaram esta declaração, tanto igrejas luteranas, quanto reformadas, metodistas e anglicanas, bem como as Igrejas Ortodoxas, Batistas e Pentecostais.

Ele escreveu: “Pessoalmente sou grato pelo privilégio que tive em poder participar das celebrações. Augsburgo se destaca como encruzilhada histórica. Pois ali, em 1530, evangélicos e católicos partiram em rumos diferentes. Agora voltaram para esta encruzilhada para celebrar um consenso sobre o ponto mais central da fé: a justificação por graça e fé.”

Eu compartilhei com o então Pastor Presidente da IECLB, P. Huberto Kirchheim, a alegria e o orgulho pela importância de nosso professor na Faculdade de Teologia Harding

Este foi um passo, um grande passo, rumo à unidade. Muitos outros passos estão sendo dados. São passos guiados pelo Espirito Santo e orientados pela Palavra de Deus. O autor é Pastor emérito da IECLB e reside em Brusque/SC

HUMOR O pai pergunta para a filha: – Você já trocou a água do aquário do peixe? – Não, pai. Ele ainda nem terminou de tomar a que eu coloquei no mês passado.

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Depressão, só acontece com as outras pessoas? Pa. Psic. Elke Doehl e P. Claudir Burmann

Quantas vezes ouvimos alguém dizer: “Sempre achei que a depressão era coisa de quem não tem nada para fazer! Até que um dia me vi cercada por ela e compreendi que eu tinha muito para fazer e não conseguia dar conta das minhas coisas”. “Que coisa, tenho tudo que preciso para viver, e até muito mais que precisava e não consigo sair da minha depressão. O que me falta? Por que isso aconteceu comigo?” “Estou com vergonha de vir aqui conversar, pois todas as vezes tenho falado das mesmas coisas. Não consigo avançar”. “Tenho duvidado da presença de Deus. Penso que ele me abandonou na minha depressão. Acho que ele se cansou de me ouvir clamar”.

Queremos dedicar esse espaço às pessoas e famílias que passam por tempos conturbados de estar, passar ou acompanhar alguma pessoa com depressão. Uma situação assim acaba afetando todas as pessoas que fazem parte do círculo de convívio, principalmente as mais próximas. Depressão e o meio em que vivemos Sabemos que somos moldados não apenas por aquilo que herdamos biologicamente, mas também pelo meio em que vivemos. Mas pouco refletimos sobre a influência do ambiente em que vivemos em relação à depressão. Entretanto, em nosso meio, na família, sociedade e comunidade, surgem as pessoas em que a depressão se manifesta. E elas so-

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frem por serem ridicularizadas. Não é difícil encontrar alguém que ainda pensa e diz que depressão é frescura, ou que a pessoa só precisa sair um pouco mais de casa ou ter mais força de vontade. Geralmente, quando a depressão se manifesta, centra-se atenção especial na pessoa depressiva. Não se leva em conta o meio em que essa depressão acontece. Talvez até mesmo para se eximir de alguma parcela de responsabilidade. Reflita: Não é assim que muitas vezes a depressão surge em meio a alguma situação traumática e de desavença? Outras vezes, numa inconformidade ao estilo de vida, em relação a alguma doença grave, alguma perda significativa, algum trabalho realizado sob pressão por produtividade? Será que a sociedade que prioriza o ter e não o ser não tem nada a ver com a depressão? A reflexão e tratamento da depressão precisa levar em conta todas essas questões. Pois ninguém vive isolado. No Brasil, conforme dados atualizados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a depressão afetou 11,5 milhões de brasileiras e brasileiros entre os anos de 2005 a 2015. Apenas a metade dessas pessoas buscam tratamento adequado. Estima-se que a depressão será a segunda maior preocupação em termos de saúde pública do planeta. Por isso, mais uma vez, é importante reforçar que não se pode apenas tratar a pessoa, mas também o meio

onde a depressão ocorre. Aí se perceberá que é fundamental um novo estilo de vida para uma vida e relacionamentos mais sadios. É claro que muitas e muitas vezes é possível ver familiares e a comunidade expressar solidariedade e cuidado em relação a pessoas com depressão. Mas muitas vezes é assim desde que não confronte ou exija alguma mudança de relacionamento com essa pessoa. Contudo, dessa maneira não se leva em conta as circunstâncias que de fato podem ter sido causadoras da depressão. Levar em conta tais razões significa mudar, renunciar, perdoar, reconciliar, aceitar. E quem está disposto a isso? Mais fácil é dizer: a doença não é minha; é sua! Será? A doença não é minha!? Será que realmente é assim? Sim, em grande parte tem sido esse o pensamento. Em grupos de reflexão sobre temas afins geralmente se constata que grande parte das pessoas em sua casa tem alguma medicação antidepressiva. Mas isso pouco se comenta, pouco se partilha. Até mesmo porque se espera que essa “caixa” seja a solução do problema. É claro que muitas vezes ajuda. Mas outras vezes leva as pessoas com depressão a se isolarem ainda mais. Afinal, assumir publicamente a doença leva as pessoas a pensar em seu íntimo: “O que os outros vão dizer se eu falar o que se passa comigo?”

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cos. Esses são alguns sinais que se pode estar observando. Afinal, a doença não é apenas da outra pessoa. Enquanto o olhar para a depressão não mudar, continuar-se-á adoecendo cada vez mais. Busca por alternativas

A postura de acolhimento a quem sofre depressão ainda é precária. É fundamental compreender que a questão afeta toda a família, a sociedade, a comunidade. Onde há algum transtorno mental, psicológico e comportamental o conjunto de membros é afetado. É importante compreender que qualquer pessoa pode ser afetada pela depressão, direta ou indiretamente. Geralmente, há cinco características bem comuns às quais é necessário estar atento para ajudar alguém a ser encaminhado para a busca por ajuda. São sinais e características presentes na pessoa por mais de um mês, apresentando três ou mais sinais ao mesmo tempo. São sinais como: sonolência, desânimo, humor azedo, medo e dores pelo corpo – somatização de sofrimentos psíqui-

Interessante é perceber que em nosso tempo, embora as pessoas busquem pela plena felicidade, parece que muitas andam mais infelizes, vazias e sem sentido para a vida. Sim, o sentido para a vida parece vazio. Será que isto é reflexo dos contextos por demais competitivos, em que se exige além das capacidades ou forças, além do que se poderia dar? O que você acha? Além disso, o quanto se é exigente consigo mesmo em relação às amizades e à família? É claro que isso é importante. Mas isso pode sobrecarregar a si. Ao mesmo tempo pode sobrecarregar nossas filhas, nossos filhos – crianças, adolescentes, jovens – ou também a esposa, o marido. É bastante comum encontrar adolescentes e jovens, esposas e maridos com depressão. Alternativas são necessárias. Fique atento e ajude a encontrar. “Ajudem uns aos outros e assim vocês estarão obedecendo à lei de Cristo” (Gálatas 6.2).

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Os autores são pastores da IECLB e atuam na Paróquia de Massaranduba/SC


Derramar o Coração P. em. Wilfrid Buchweitz

Será que a gente já parou para pensar nisso? Derramar o coração?... Derramar um copo, tudo bem. Derramar um balde, também. Mas, derramar o coração? O versículo 8 do Salmo 62 nos convida para isso. “Derramai perante ele o vosso coração”. Derramar diante de Deus o meu coração.Vamos imaginar isso de forma bem plástica: Eu pego meu coração com as duas mãos e o viro de cabeça para baixo e derramo tudo que ali há de difícil, amargo, sofrido, pesado. Derramo tudo diante de Deus. Tudo. Tudo mesmo. Deixo o coração bastante tempo virado de cabeça para baixo, até que tudo, as últimas gotas do sofrimento, da amargura, do medo, da desesperança, da decepção, do desânimo tenham caído nas mãos de Deus. É claro que derramar o coração acontece de maneira diferente do que derramar um copo ou um balde. Mas o sentido é o mesmo. Se o seu coração estiver cheio de algum tipo de sofrimento, coloque isso para fora. É isso que o versículo 8 do Salmo 62 quer dizer. Vamos ler o versículo todo: “Confiai nele, ó povo, em todo o tempo; derramai perante ele o vosso coração; Deus é o nosso refúgio”.

Pode derramar seu coração diante de Deus. Pode confiar em Deus. Deve confiar em Deus. Ele é nosso refúgio. Eu posso correr para os braços dele. Posso e devo derramar tudo. E o versículo é um convite diário para a vida inteira. É um bom tempo para treinar e aprender a derramar o coração diante de Deus. E bem aí talvez esteja um segredo: nós não aprendemos a derramar o coração diante de Deus. Não estamos treinados para derramar o coração diante de Deus. Não costumamos derramar o coração diante de Deus. Não tomamos tempo para derramar até as últimas gotas do que deveria ser derramado de nosso coração. Não pedimos ajuda a outras pessoas para derramar nosso coração. E por isso tantas vezes nosso coração está cheio de coisas que não precisariam e não deveriam estar ali. Carregamos conosco pela vida afora sofrimentos, pesos enormes que nos cansam, que poderíamos derramar nas mãos de Deus. Pode confiar em Deus. Não precisa ter medo de Deus. Não precisa ter vergonha. Não precisa ter constrangimento. Deus é nosso refúgio. Podemos nos jogar nos braços dele. O autor é pastor emérito da IECLB e reside em Porto Alegre/RS

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Desenvolvimento Eng. Ivonir A. Martinelli

O fascínio da sociedade atual pelo “desenvolvimento”, por mais conflituosa que seja sua vinculação com a busca de realizações ou de espiritualidade, traz consigo o deslumbramento de uma evolução sem limites. Ao tentar entender esse conflito da evolução humana, percebe-se a atuação da mente como um poderoso centro neurológico, psíquico, inteligente capaz de gerar raciocínios, equações, proposições, conflitos, guerras, e também filosofias de paz de espírito e de pensamentos místicos, centralizando em si toda a atuação do ser humano. Se pudéssemos regredir no tempo e encontrar o ser humano de duzentos mil anos atrás ou mais, e fazê-lo sob a ótica da mente, encontraríamos o “homo sapiens” atual, capaz de gerar desenvolvimento e sob essa mesma ótica certamente poderíamos perscrutar a evolução mística, intelectual e material da humanidade. Mesmo nos períodos e nas circunstâncias consideradas regressivas, podemos identificar sempre sinais de crescimento. A humanidade nunca será a mesma após suas loucuras, catástrofes ou deslumbrantes exercícios de inteligência, pois o desenrolar da história não se repete como um círculo vicioso, mas se renova como uma espiral virtuosa em ascen-

são constante. Assim, com o otimismo obstinado pelo ser humano em constante evolução, podemos ter convicção de que cabe a essa mente humana o discernimento de viver sua vida com a clareza de um contínuo avanço em meio a percalços, muitas vezes ininteligíveis, de aparente regressão. Em meio às dificuldades da conflituosa existência humana haverá sempre momentos de serenidade para identificar a evolução, por vezes silenciosa, do pensamento humano no caminho do desenvolvimento positivo. Sem ter a pretensão de esclarecer o salto da inteligência humana nitidamente distanciada dos outros seres vivos na face da terra, nem esclarecer a possível interferência divina ou a geração espontânea da espiritualidade humana, podemos refletir a respeito do conteúdo da frase a seguir: “Não creio, no sentido filosófico do termo, na liberdade do homem. Todos agem não apenas sob um constrangimento exterior, mas também de acordo com uma necessidade interior”. (Albert Einstein). Nela, o autor vê claramente os dois universos de atuação do ser humano: o mundo exterior e o mundo interior. Assim, analisando-se a liberdade, embora limitada, de atuação do homem, foi preservado o enten-

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dimento de que há uma necessidade interior (mente humana) a coordenar a ação. Sem a percepção de filósofo ou teólogo, vejo apenas que estes dois universos – interior e exterior – sempre foram motivo de inquietudes, porquanto os registros do pensamento humano sempre mereceram inscrições físicas e religiosas desde os tempos chamados bíblicos aos atuais. Como exemplo de pensadores do desenvolvimento humano destacam-se certamente os primeiros usuários das letras e dos números, os astrônomos do antigo Egito, os filósofos e os matemáticos da antiga Grécia, os legisladores da antiga Roma e inumeráveis outros destaques da ciência até as luzes dos nossos dias. E aqui, talvez, poderíamos caracterizar o que chamamos de desenvolvimento externo, material, palpável, da ciência, voltado para um mundo físico. No entanto, registramos apenas de que esse é consequência do que se passa no nosso universo interior. Em outros termos, o mundo material também é realização da necessidade interior, espontânea ou criada. De forma análoga e simultânea podemos identificar o desenvolvimento da mente humana nos seus aspectos internos pela obstinada busca em associar-se a um ser superior à sua condição. Essa busca parece

acompanhar o ser humano desde seus primórdios como indicam os registros rudimentares expressos sob diversas formas de inscrições rupestres identificadas através das pesquisas históricas. Nessa busca incessante de realização da mente surgiram expoentes extraordinários do pensamento humano como os filósofos ou, de outro patamar, os grandes líderes religiosos, como Moisés, Buda ou Maomé. Destaque especial aqui tem Jesus Cristo, ele a maior expressão religiosa como revelação da divindade manifestada aos humanos. Como profissional da área de engenharia, entendo que o desenvolvimento externo é uma busca de imitação da natureza. A ideia de casa, moradia, como abrigo para nossas necessidades surgiu do uso de cavernas naturais pelos nossos antepassados. Pela análise da conformação dessas cavernas e da física dos materiais (rochas e suas formas) nossa mente criou modelos matemáticos aproximados do que a natureza lhes deu para sua sobrevivência. Assim, com base na física dos recursos naturais e nos modelos matemáticos desses recursos, o ser humano adotou a representação gráfica dos fenômenos observados como o instrumento de comunicação entre as pessoas. Em outros termos, a mente humana, através da física, da matemática e do desenho estruturou o desenvolvimento da engenharia. Deste modo, mais uma vez podemos

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identificar a atuação do ser humano movido pela propulsão de sua mente (desenvolvimento interior) na busca de satisfazer suas necessidades (desenvolvimento externo). Neste ponto vemos dificuldade de interpretar na mente humana a proposta de dominação como resultado do desenvolvimento interior. E ainda maior é a dificuldade de entender a subordinação desse desenvolvimento à primazia de tecnologias e patologias de destruição, talvez resultado de mentes humanas doentias. Por mais simplória que possa ser a conclusão deste breve texto, da análise da história humana surgem indicativos de que a humanidade parece haver invertido a hierarquia

de valores de sua própria existência, priorizando o desenvolvimento exterior (que é um produto da mente humana) em detrimento da essência da alma, da qual faz parte a sua própria mente. E nesse caminho a evolução humana não sinaliza outra direção porquanto o ser humano atual não irá mudar seu interior nem as forças externas se mostram capazes de frear sua busca de realizações por mais destrutivas que elas possam ser para toda a humanidade. Apesar dessa avaliação pouco animadora, há sempre uma luz no túnel do tempo e essa luz é a presença de atitudes voltadas para o interior do ser humano, na sua essência que é seu sentimento da divindade. O autor é engenheiro e reside e atua profissionalmente em Blumenau/SC

HUMOR O garoto de 7 anos diz para o irmão de 6 anos: – Edu, pergunte para a mamãe se a gente pode jogar bola no quintal. – Ah, melhor perguntar você, que a conhece há mais tempo.

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Dia das mães (Uma peça de teatro) P. Roni Roberto Balz e OASE de Querência/MT

Personagens: médico, enfermeira, chefe de hospital, velhinho, rapaz exagerado, mulher simples, senhora elegante, homem, mulher grávida.

Médico: Como vai? Estou louco para começar a trabalhar, quero logo começar a atender essas pessoas que me parecem ser muito boas.

Materiais necessários: escrivaninha, mesa, cadeiras, serrote, martelo, prego grande, desentupidor de pia, alicate ou torquês, agulha de costurar saco, bomba de encher pneus de bicicleta, rolo de papel higiênico, medidor de pressão, colher de pau, espanador, escova de banho, lápis grande, receituário.

(Se despede da chefe do hospital e vai sentar-se atrás da escrivaninha e pede para a enfermeira chamar o primeiro paciente) Médico: Bom dia, o que estamos sentindo hoje? Velhinho: Hã?! (O velhinho sempre corta a fala do médico)

Cenário: Todas as cenas utilizam um único cenário. Um consultório médico, com equipamentos cirúrgicos estereotipados. A primeira cena se inicia com a secretária arrumando a sala, limpando com um espanador.

Enfermeira: Hoje estou tão nervosa! É meu primeiro dia com o doutor Hanz Franz Fridolf. Nem sei se vou compreendê-lo, dizem que ele é bastante estranho, veio direto da Alemanha para cá. (Entra a chefe do hospital com o novo médico) Chefe: Bom dia, Anacleta, este é o doutor Hanz Franz Fridolf e vai ser seu chefe de agora em diante. Vê se faz as coisas direito para não ter reclamações. ••• 126 •••


Médico: Como está... Velhinho: Muita dor nas costas, de vez em quando eu sinto dor nas “ripas” parece que vou desmontar.

do dores nas costas. Ou seja, cada doença dos pacientes vai ser transmitida ao médico conforme forem sendo consultados)

Médico: Deve ser...

Médico: Passe...

Velhinho: Coluuuuuna eu sei, já faz 70 anos que eu estou desse jeito.

Velhinho: ...bem, você também.

(O médico pega os aparelhos e começa a consultar) Médico: Mas o senhor... Velhinho: Se tá dizendo que eu estou muito novo pra sentir estas dores tem toda a razão, no mês que vem vou fazer 93 anos. (Médico volta para a escrivaninha) Médico: Vou lhe receitar.... Velhinho: Dorflex, eu sei. Já faz 15 anos que tomo esse remédio, todos os médicos que vou me receitam esse remédio. Médico: Então eu poderia.... Velhinho: Me dar outro, mas não precisa não, este é o melhor. Médico: O senhor tem que tomar... Velhinho: Eu sei, duas vezes por dia, enquanto estiver sentindo dores. Médico: Então, senhor Gerôncio... Velhinho: Passe muito bem, no mês que vem eu volto para a reconsulta. Médico: Então eu vou... Velhinho: Me acompanhar até a porta. Muito obrigado. (O médico acompanha o velhinho, dando demonstrações de estar sentin-

(O médico se questiona por causa da dor que está sentindo) Médico: Ai, que dor nas costas. Estranho, não tinha sentido isso antes. (Olha para a enfermeira) Por favor, mande entrar o próximo. (Entra uma senhora elegantemente vestida, mas antes de sentar na cadeira, sai correndo para o banheiro. Ouve-se o som de uma descarga e gemidos de dor de barriga) Médico: Bom dia, o que a senhora está sentindo? Senhora: Muita dor de barriiiiiiga! (E sai correndo novamente para o banheiro, dá descarga e volta) Médico: Bem, não precisa me falar o que está sentindo. Vou lhe pedir um exame de fezes e lhe receitar uns 3 rolos de papel higiênico. Quero dizer, muito chá de pitanga. Senhora: Muito obrigada. (Sai esfregando a barriga com as mãos) Médico: Volte amanhã para mostrar os exames. (Começa a sentir as dores) – Anacleta, traz um rolo de papel higiênico, quero dizer mande o próximo paciente entrar. (Entra a mulher simples, se coçando e o médico a olha, levanta da escrivaninha começa a esfregar a barriga e cor-

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re para o banheiro. Volta) Médico: Um momento, por favor. (Arruma os papéis na escrivaninha e começa a se coçar) Muito bem. Como a senhora se chama? Mulher: Das Dores. Médico: Das Dores quem devia se chamar era eu. Mulher: Não entendi. Médico: Deixa pra lá. Desde quando está com sarna? Quero dizer, com estes sintomas? Mulher: Desde o primeiro dia que eu entrei na Mercedes do meu marido. Médico: Então, esta alergia deve ser de um produto que estava dentro do carro! Mulher: Engraçado doutor, no início da consulta o senhor disse que era sarna, agora está falando em alergia. Por quê? Médico: Quem? Eu não! É que sarna é doença que dá em pobre, em rico dá alergia. Mas é só tomar banho com Matacura, quero dizer, sabonete antialérgico, que vai melhorar. Caso esta alergia persista, volte aqui ou troque de carro. (A mulher sai, o médico não consegue parar de se coçar) Enfermeira: O senhor está com umas atitudes muito estranhas, o que está acontecendo? Médico: Não sei, ta tudo tão esquisito. Deixa pra lá, mande o próximo entrar.

(Entra o rapaz, com o pé todo enfaixado, exageradamente) Médico: Bom dia, como está? Rapaz: Não sei. Médico: O que você está sentindo? Rapaz: Tenho vergonha de contar! Médico: Como posso te ajudar, se não me contares o que houve? Rapaz: Está bem! Sabe doutor, ontem a noite eu estava vindo lá do bairro..., caminhando pensativo, pois tinha muito trabalho pra fazer. Quando de repente... O senhor não acredita no que aconteceu! Médico: Mas o que foi que aconteceu? Rapaz: Acho que pisei num prego. Tipo prego de caibro. Deve ser muito grande, considerando a dor que sinto. Médico: Vamos dar uma olhada então. Senta aí, já vamos resolver. (O médico pega uma torquês e ajudado pela enfermeira, tira um preguinho muito pequeno, quase invisível, do pé do rapaz e mostra para a plateia) Médico: Olha só, o tamanho do prego que este rapaz pisou! Quase não dá para ver. Imagina o barulho que ia fazer se pisasse realmente num prego maior? (Faz o curativo e acompanha o rapaz até a porta, ora sentindo dor nas costas, se coçando, com dor na barriga e arrastando o pé. Resolve ligar para sua mãe e fala todo atrapalhado)

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Médico: Alô mãe!... Eu estava precisando falar com a senhora... Estão acontecendo coisas tão estranhas comigo. Passei a sentir os sintomas que meus pacientes sentem... hã?... Não sei o que fazer. É para eu ficar calmo? Mas eu só fico calmo quando estou perto de você... Você vai vir me visitar, então está bem... Vou te esperar. Um abraço. (Desliga o telefone) Enfermeira, mande entrar o próximo paciente. (Entra um homem com um braço enrolado) Médico: O que houve? Homem: Eu estava vindo lá perto do cemitério e de repente mordi um cachorro. Não, quero dizer, um cachorro me mordeu!

vo, instantaneamente o paciente fica bom, porém as dores da mordida do cachorro aparecem no braço do médico) Homem: Nossa doutor, o senhor é mesmo muito bom. Não estou sentindo mais nada. Tchau. (O homem sai e o médico começa a reclamar de tanta dor no braço. Se acalma e pede para a enfermeira mandar entrar o próximo paciente. Então entra uma mulher grávida sentindo as dores do parto. O médico fica apavorado, se olha todo; e lembra que absorveu todas as dores dos pacientes durante o dia todo, e conclui que parir um filho, seria demais para ele)

Médico: Deixa-me ver. Vamos fazer um curativo e o senhor passa no posto para fazer uma antitetânica e vacinar contra a raiva.

Médico: Posso sentir todos os tipos de dores. Cabeça, braço, barriga, pé, sarna, e tantas outras, mas fazer nascer um filho, não é para mim. Dores de parto eu não aguento! Isso só uma mãe é capaz de suportar.

(A enfermeira ajuda a fazer o curati-

(Sai correndo para fora da sala)

FIM

Gerar um filho e dar à luz é dom de Deus e apenas possível às mulheres. Parabéns às mães que se doam, sofrem, cuidam, amam, se sacrificam para que seus filhos tenham vida e bem estar. Certamente por isso o amor de mãe seja o que mais se aproxima do amor de Deus, que é perfeito e incondicional, pois gera e protege a vida. Abençoado Dia das Mães!

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E se o Papai Noel deixasse de vir? Pa. Mirian Ratz

Todos os anos, quando o tempo de Advento de aproxima, vamos preparando nossa casa, nossas comunidades para o esperado Natal. De uma forma ou outra somos envolvidos – e por que não dizer induzidos – a entrarmos no clima, com os doces, as luzes e os enfeites natalinos. As propagandas comerciais em torno do Natal querem alcançar sempre mais consumidores e há um risco de que o personagem principal desta história perca seu lugar para as figuras comerciais. E a gente nem precisa ir muito longe: pergunte às crianças em sua família de quem elas mais lembram no Natal e não se assuste se a maioria delas responder: Papai Noel!

O tempo de Natal enche-nos de alegrias e renova as nossas esperanças. E, dentre todos os símbolos natalinos: árvores, presentes, velas, sinos, guirlandas, o Papai Noel, que traz os presentes para as crianças (e adultos) acaba por tomar conta dos cenários e imaginação. Com todo respeito aos símbolos e imagens natalinas aos quais a época nos remete, o conhecido e bom velhinho de barba branca e roupas vermelhas sempre desafiou minha compreensão, especialmente a sua inserção dentro das comemorações natalinas em nossas Comunidades Luteranas. Verdade seja dita: muitas vezes acabamos sendo contagiados por este personagem que toma espaço não ape-

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nas no comércio e nos enfeites em nossos lares, mas também na vivência das nossas Comunidades Cristãs. Mas afinal, qual é o problema com o Papai Noel? Mesmo conhecendo a origem atribuída a ele no Natal, e a significativa troca de presentes, onde demonstramos a nossa alegria, não queremos que o velhinho que traz os presentes torne-se o personagem principal de nossas comemorações Natalinas. Pense um pouquinho nas últimas celebrações que você participou: cantamos, preparamos encenação, vivenciamos momentos lindos como comunidades de fé neste tempo “jubiloso, venturoso, tempo Santo de Natal”. As celebrações falam do amor de Deus para com este mundo e o maior presente que recebemos: Cristo Jesus. Trazemos à lembrança que Jesus, nascido humilde em Belém, é Deus conosco presente em nossas vidas e depois de um culto maravilhoso, paramos tudo para que entre o Papai Noel, desejando Feliz Natal e entregando presentes às crianças. Certa vez encontrei um relato sobre como um grupo de pessoas lembrava-se da presença de Cristo como verdadeiro presente à humanidade. Os presentes não eram trazidos pelo Papai Noel e, sim deixados às portas das casas pelos magos do Oriente, que estavam em busca do menino nascido em Belém. No lugar de

sapatinhos nas janelas, as crianças deixavam capim e água fresca para que os camelos pudessem se alimentar. Enquanto o Papai Noel deixava o presente aos comportados e comportadas, os magos agradeciam a gentileza oferecida com presentes, assim como também ofertaram presentes valiosos ao menino Jesus. Na oportunidade, a ideia me encantou. Que oportunidade maravilhosa para resgatar os personagens bíblicos e sua presença na vida das crianças. Anos depois me tornei mãe. Em nossa casa até hoje os presentes: símbolos da alegria e do nascimento de Jesus são deixados pelos magos que estão em busca de Belém. Como ministra, tive momentos diferentes nas comunidades com a presença do Papi Noel nas celebrações de Natal. No início, ele adentrava à Igreja com o saco cheio de doces e

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presentes, fazendo a alegria da criançada e talvez ofuscando o personagem principal da nossa alegria. Depois, ele vinha somente no momento da confraternização. Então, a partir de nossa reflexão e conversas com as lideranças perguntamos: e se o Papai Noel deixasse de vir? E foi assim que em dezembro de 2017, durante a preparação para as atividades de Natal na Comunidade Evangélica de Confissão Luterana

Trindade, em Timbó – SC, com apoio de jovens, improviso e criatividade, os magos do oriente interromperam o final do culto para conversar com as crianças sobre o maior presente que a humanidade recebe: Jesus e sobre a alegria de trocar presentes no Natal, simbolizando a presença de Jesus que nos enche de esperança. E assim, cada criança recebeu um presente, para lembrar a data festiva. O Papai Noel não apareceu e não sentimos a sua falta. A autora é pastora da IECLB em Timbó/SC

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Ele curou muitos doentes P. em. Valmor Weingartner

“À tarde, ao cair do sol, trouxeram a Jesus todos os enfermos e endemoninhados. Toda a cidade estava reunida à porta. E ele curou muitos doentes de toda sorte de enfermidades; também expeliu muitos demônios, não lhes permitindo que falassem, porque sabiam quem ele era” (Marcos 1.32-34). “E ele curou muitos doentes”. Acontecimento surpreendente. Alguém poderia dizer: “Jesus tu precisas entrar em nossos hospitais”. Milhares de pessoas estão hospitalizadas mundo afora, esperando cura. As curas são acontecimentos próprios do Reino de Deus. Esta é a grande verdade e a boa notícia. ACONTECIMENTOS DO REINO DE DEUS. Jesus é o Reino de Deus em pessoa. Uma das primeiras manifestações, junto a pessoas que o procuravam, foi perceber este poder sagrado de cura. Jesus via as pessoas como doentes. O mundo, um grande hospital. Todos somos pacientes e cuidados por Ele. Muitas pessoas saem das sombras para onde foram condenadas, e procuram a proximidade de Jesus e sua presença. Ele cura todas as enfermidades e expulsa demônios. “Toda a cidade estava reunida à porta”. As curas anunciam a chegada do Reino de Deus. Quando o Deus vivo vem à sua criação, os poderes que atormentam e destroem a vida se reti-

ram. O corpo, a alma e o espírito são curados. “O Reino do Deus vivo afasta os bacilos da morte e espalha o germe da vida.” (Jürgen Molltmann). Cura é também recuperação da saúde física. O Espírito vivifica o que está doente e o que precisa morrer. Esta verdade não é somente sobrenatural, mas real. Quando Deus vem à sua criação é normal que doentes sejam curados. Como todas as doenças, sobretudo as mais graves, são sintomas da morte, assim como as curas são sintomas de ressurreição. A doença, a dor, a morte são as penúltimas coisas. Contudo, Reino de Deus, ressurreição são as últimas coisas. Só na ressurreição se cumpre integralmente o que Jesus fez aos doentes. Em cada doença grave lutamos com a morte. Em cada cura vivenciamos algo da ressurreição. “Luta com a morte” e “Sinais da ressurreição”: Estas duas realidades estão diuturnamente presentes em todos os hospitais. Elas estão em todos os lugares, em todas as conversas, em todos os setores. São como o pó, que não pede licença. A dor é ainda o sentimento mais intenso, mais forte. A dor física, psíquica, a dor da alma, a dor social. A dor da finitude. É cruel percebermos, que pouco a pouco a vida vai embo-

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ra. Tudo o que acumulamos e adquirimos, num piscar de olho, some. Toda a sabedoria que a vida nos deu, as suas emoções, os relacionamentos, as experiências, as palavras, os gestos, as lágrimas, os sorrisos... Não podemos esquecer: estas são as penúltimas coisas. Como lidar com tudo isso? O que a dor nos ensina? Qual é o seu sentido? Onde Deus está? Por que seu silêncio? Por que o seu silêncio na sexta-feira santa? No sábado de aleluia? E os sinais da ressurreição! Ainda tão frágeis. Os sinais da ressurreição irrompem definitivamente no domingo da Páscoa. Páscoa: Deus rompe o silêncio. É Reino de Deus. É o Reino de Deus que já veio e ainda vem plenamente. Que já veio e ainda é promessa. O Já e o ainda Não. Já temos ressurreição e ainda não temos. Ainda experimentamos a morte, mas aguardamos, “Venha o teu Reino”.

O apóstolo Paulo lembra: “Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam” (1 Coríntios 2.9). Desta dinâmica, deste paradoxo, vive a fé cristã. Vivem o hospital e o mundo! Desta verdade nasce a confiança cristã. Confiança: Uma criança sobe numa árvore. No alto, é tomada pelo medo. Pede socorro. Chama o pai. O pai corre em auxílio. Ele diz: Pula filho, eu te seguro. O filho se solta; é abraçado e seguro pelo pai. Confiança: pular nos braços do pai. Eu sei, ele me segura. É pular no escuro, ele me ampara. Isto se chama cura, ressurreição. É o já e o ainda não. É a doença e a cura. “Toda a cidade estava reunida à porta. E ele curou muitos doentes”. Glória a Deus. O autor é pastor emérito da IECLB e Capelão Hospitalar no Hospital Santa Catarina, em Blumenau/SC

HUMOR Dois amigos conversam sobre jogos de azar. Um deles pergunta: – Por que você sempre ganha jogando cartas e sempre perde nas corridas de cavalos? E o outro responde: – Você já tentou esconder um cavalo na manga?

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Espiritualidade sim, Igreja não? Frei Luiz Carlos Susin

A tendência é mundial, especialmente nos países da Europa e das Américas, onde o cristianismo é mais presente, mas o Brasil é um caso bem típico, revelado pelas estatísticas do IBGE e pela observação nas próprias comunidades: há uma crescente população que aprecia a espiritualidade, que diz possuir uma religiosidade, que expressa sua religiosidade em ocasiões especiais, contudo não se sente mais ligada a nenhuma Igreja e a nenhuma religião. Inclusive os países que se caracterizavam por uma forma determinada de cristianismo – Espanha “católica”, Dinamarca “protestante”, Inglaterra “anglicana”, etc. – hoje estão atravessados por um pluralismo crescente de diferentes formas de religião. Há uma “desterritorialização” e uma presença cada vez mais plural de ofertas religiosas. Entre duas tendências extremas, a da secularização sem nenhuma referência religiosa, e o fundamentalismo que se poderia chamar de fanatismo e que volta com defeitos do passado, há esse outro fenômeno: simpatia pelo cultivo espiritual, mas fora das instituições tradicionais como as igrejas e as religiões. Na Igreja Católica já se conhecia antes o fenômeno sociológico do católico “não praticante”. Ou que só aparecia na Igreja nos grandes ritos “de passagem”: para 1) Batis-

mos; 2) Casamentos; 3) Exéquias; e 4) Primeira comunhão, talvez. São os católicos “das quatro estações da vida”. A novidade é que cada vez mais este tipo de católico não praticante ou puramente cultural se declara “sem religião”. Entre protestantes, segundo estatísticas, a porcentagem daqueles que realmente frequentam continua sendo mais alta. Mas assim como tem aumentado um novo modelo de evangélicos “pentecostais” (que centram sua prática na experiência pessoal do Espírito: o batismo no Espírito e o “falar em línguas”) e “pós-pentecostais” (que centram sua prática na busca de bem estar e prosperidade), na verdade tem aumentado também os evangélicos “desigrejados”. Segundo um estudo da Faculdade Evangélica das Assembleias de Deus do Rio de Janeiro (FEACAD), “há muito crente insatisfeito” que migra de uma denominação para outra, até que, sem deixar de se considerar evangélico, já não se liga a Igreja nenhuma. Como entender tanta turbulência? É necessário um olhar mais longo. Palavras que descrevem o nosso tempo: a mudança de época Há um consenso indiscutível de que estamos numa época de mudanças tão profundas que até se inverteu: estamos numa mudança de época.

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Em relação aos séculos de modernidade crescente, há quem diga que estamos em uma pós-modernidade “líquida” (Bauman), ou uma hipermodernidade exasperada, consumista de tecnologia (Lipovetski), etc. Mas há também quem veja a crise mais profundamente: os 2.500 anos de racionalidade e instituições greco-romanas estão decadentes, sem legitimidade diante da ferocidade do mercado global. Por isso, não só as tradições, a cultura, as instituições como a família, a escola, a ciência, o Estado, as Igrejas, mas até a ecologia estão em dissolução. Onde tudo começou? Nas atuais guerras pelo petróleo? Na devastação da Segunda Grande Guerra? Alguns retrocedem até o começo do mercantilismo e colonialismo mundial há 500 anos. Como compreender o papel da religião e das Igrejas nessa história? Um dos valores mais importantes destes séculos de modernidade foi a “autonomia” dos indivíduos, a conquista da maioridade, da escolha do cônjuge, com aumento de educação e profissão que dão emancipação. Nesse sentido a pertença às instituições, e de modo especial à Igreja, não podem mais ser uma submissão infantil. Pelo contrário, houve muita contestação de aspectos históricos das Igrejas e das religiões em geral que precisam ser superados. O risco é “jogar fora a criança junto com a água da bacia”. Mas a pergunta mais radical é: precisamos ainda de Igrejas, de religiões?

Religião e cultura Um grande teólogo luterano, Paul Tillich, aprofundou a relação íntima que existe entre religião e cultura. A graça e a fé são puramente espirituais, mas se expressam necessariamente de forma cultural – o “culto” é o ponto alto da “cultura”. E toda cultura ganha profundidade e alicerce naquilo que é sagrado e torna sagradas as instituições, a arte, tudo o que é humano. Por isso, é santa a palavra da Bíblia, o hino de louvor, a água do batismo: elementos culturais santificados pela graça recebida na fé. O budismo tibetano, que tem um belo mosteiro nas montanhas do município de Três Coroas-RS, expressa ali a sua experiência religiosa na arquitetura e na pintura colorida do Tibet, nos cantos e murmúrios estranhos ao ouvido ocidental. Parece o Tibet no sul do Brasil. Os cultos africanos não podem ser realizados sem o tambor, o atabaque, nem na África, nem no Brasil. Pois o culto toma e expressa o que há de melhor nas culturas. É como alma e corpo: a graça e a fé são a alma, mas a palavra, o ritual, o mandamento, a doutrina, a instituição, formam o corpo. E este corpo religioso pode sofrer transformações, crises mais ou menos profundas, renovações, reformas. A mudança de época em que estamos metidos, no entanto, afeta tudo, como já dissemos: a cultura, as instituições e, sobretudo, as religi-

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ões. Muito da prática religiosa fica reduzida a um folclore e até turismo, mas sem mais real profundidade religiosa. Para onde vamos? Volta à fonte e diálogo de convicções A atual globalização possibilitou um grande pluralismo religioso por quase toda parte. As religiões estão mais próximas umas das outras, e obrigam a tomar uma decisão crucial: ou desencadeamos uma hostilidade e um espírito de guerra à religião do outro ou aprofundamos um espírito de hospitalidade e de diálogo, que é o que o evangelho ensina e Jesus praticou. Até a religião aparentemente insignificante ou exótica, por carregar uma experiência sagrada, tem energia atômica para plantar e arrancar, construir e destruir. O diálogo entre religiões não é fácil porque a religião é naturalmente sustentada por convicções, e não se pode passar por cima de convicções. Mas as convicções podem ser melhoradas, aprofundadas, até corrigidas, justamente no diálogo. Quem não consegue dialogar tem convicções infantis.

Como dialogar? Há um provérbio africano que avisa: “Quando tu não sabes para onde ir, lembra-te de onde vieste”. Em toda crise profunda, para poder dialogar e dar novos passos, é importante “voltar à fonte”. É importante “beber do próprio poço”, das origens e do que a própria história tem de melhor. Mas é no diálogo com o diferente que a gente compreende melhor a própria fonte. Nesse sentido, diante da necessidade de diálogo com as outras religiões, os cristãos de todas as Igrejas e denominações estão todos do mesmo lado, e o ecumenismo poderá ser mais fácil. Mas hoje precisamos abrir com urgência para um “ecumenismo planetário!”. Contentar-se, porém, com uma espiritualidade reduzida a vagos sentimentos, sem se expressar no corpo de uma comunidade de partilha e de pertença, acaba evaporando até a espiritualidade, fica-se no vazio espiritual. Há quem chegue a este vazio e se torne então um “buscador espiritual”. Hoje há muitos. O autor é frade franciscano capuchinho, padre católico, doutor em teologia, professor na PUC e na Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana, em Porto Alegre/RS. É Secretário Geral do Fórum ecumênico de teologia que acompanha o Fórum Social Mundial

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Igreja luterana da Bolívia Pa. Dra. Elaine Gleci Neuenfeldt

A Igreja Evangélica Luterana Boliviana é fruto da obra missionária da Liga de Oração em Missão Mundial (LOMM), com sede em Mineápolis, nos Estados Unidos. Inicia seu ministério aproximadamente no ano de 1938 e, dois anos depois, se consolida como Igreja Evangélica Luterana na Bolívia, no estado de La Paz. Até o ano de 1956 foi administrada por missionários; em 1957, graças a uma participação ativa e compromisso de uma liderança nacional, foi eleito o primeiro presidente boliviano, Cupertino Jimenez. Os anos 60 são de muitos desafios, desacordos e até divisões na igreja; a partir de 1972, a IELB torna-se uma instituição nacional, reconhecida pelo governo, dirigida e administrada por pastores e pastoras nacionais, que tem como visão uma prática e solidariedade ecumênica. Nesta caminhada ecumênica, a IELB forma parte de plataformas nacionais ou regionais (Associação Nacional de Evangélicos da Bolívia – ANDEB e Conselho Latino Americano de Igrejas – CLAI) e internacionais (Federação Luterana Mundial e Conselho Mundial de Igrejas). A intervenção nas comunidades se dá de uma forma integral, com trabalhos sociais em áreas empobrecidas (rurais e urbanas), com programas de saúde, educação, agropecuária, água potável

e criação de fundos rotativos de iniciativas produtivas para mulheres. A IELB tem como proposta de atuação pastoral, o enfoque de trabalho nas áreas mais empobrecidas do país, nas diferentes zonas geográficas, como vales, altiplano ou trópicos, inserindo-se na diversidade cultural e plurilíngue. Sua membresia é, em sua maioria, da área rural (aproximadamente 70%), sendo também encontrada nas cidades. É uma igreja plurilíngue, onde se fala aymara, quéchua, guarani e espanhol. A população indígena da Bolívia sofre sistemática marginalização e é somente com a eleição do primeiro presidente da nação, com raízes indígenas que o país tem visto sinais de esperança de novas políticas de autonomia e participação de comunidades indígenas na vida do país. A realidade complexa do país com as forças das grandes corporações e poderes transnacionais especialmente em áreas de extração de minerais, petróleo e gás, colocam grandes desafios para a promoção de políticas de autonomia e participação indígenas. Atualmente a IELB conta com mais de 110 comunidades, dividida em 11 distritos (como sínodos), 26 pastores, 2 pastoras, e mais de 100 pessoas leigas e evangelistas (em voluntariado) comprometidos e

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comprometidas com a missão da igreja. Possui uma membresia em torno de 22.000 pessoas. A visão da IELB diz que esta é uma igreja que vive e proclama o Evangelho de nosso senhor Jesus Cristo, com comunidades fiéis, servidoras, abertas e sustentadas na graça e no amor de Deus; é sua missão anunciar o Evangelho às pessoas necessitadas e trabalhar pela justiça e dignidade, afirmando o amor incondicional de Deus pelos seres humanos e pela criação. A IELB tem comunidades nos departamentos de: La Paz, Cochabamba, Santa Cruz, Pando, Tarija e Beni.

A IELB é conhecida socialmente por sua vocação e prática evangélica como sua missão, caracterizando-se por ser uma comunidade de testemunho, que celebra, que nutre, que é mensageira, cuidadora e de serviço. Fazem parte desta missão, trabalhos na área de formação e reflexão teológica, educação bíblica com crianças, pastoral da mulher e da juventude, bem como, determinar mecanismos para assegurar a sustentabilidade, para o desenvolvimento das comunidades e apoiar a produção agroecológica, e apoiar ações comunitárias na área da saúde, educação e direitos.

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Conhecendo o projeto CATARINAS DE BOLIVIA As Catarinas nasceram no mês de setembro de 2015; o grupo iniciou suas atividades, com o nome aymara KATARINAN LLIJU LLIJUNAKAPA que significa em castelhano “LA LUZ RESPLANDECIENTE DE CATARINA VON BORA”. Já no ano de 2011, o grupo trabalhava com a coordenação de mulheres luteranas na congregação “El Sinai” e, posteriormente, com a congregação “La Paz”. O grupo faz parte da coordenação de mulheres da Igreja Luterana Boliviana. Quem somos e o que fazemos? As Catarinas são mulheres luteranas, migrantes de diferentes comunidades (áreas rurais) do Departamento de “La Paz”. Mulheres de fala quechua e aymará. A maioria das mulheres se dedica ao trabalho informal como, por exemplo: comércio, tecelagem e trabalho doméstico. A maioria conta com ingressos econômicos muito limitado e insuficientes. “Como mulheres, vemos múltiplas necessidades de trabalho, capacitação, unidade para fortalecer-nos mutuamente, lutar juntas contra a desigualdade e superar as

dificuldades trabalhando, refletindo sobre a nossa situação de mulheres no espaço da casa, na comunidade, país e no mundo. Vemos que, para a sociedade, as mulheres são vulneráveis, vítimas de violência e discriminação.”. “Durante estes anos, realizamos diferentes atividades e trabalhos artesanais, como cursos e seminários de capacitação em temas como gênero, liderança, diaconia, etc.”. Sonhos e projetos Nossos propósitos são: ser um grupo de mulheres, sólido e unido; projetar-nos em trabalhos de missão da igreja e lideranças. Através de nossos trabalhos ter ingressos próprios e adequados, valorizando nossa mão de obra. Sonhamos também em ter um espaço próprio de trabalho onde podemos nos reunir e conversar sobre temáticas que são relevantes para nossa formação e nosso ser, como mulheres. O texto sobre a IELB em geral foi produzido a partir da apresentação feita pelo Pastor presidente da IELB Emilio Aysla na reunião de lideranças latino americanas, organizada pela FLM, em Buenos Aires, Argentina, em maio de 2018. O texto sobre as Catarinas foi produzido a partir de informações compartilhadas por Rita Flores Ramos, uma das líderes do grupo.

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Igreja missionária ou missional? Missão cristã nos dias de hoje! P. em. Arno Paganelli

O que entendemos por missão? Como acontece na prática? Qual a motivação? Ao longo das últimas décadas, o tema missão sempre de novo entrou em destaque na IECLB. Temas e lemas do ano, concílios, seminários, consultas e publicações abordaram o assunto. Falar em missão não é necessariamente sinônimo de obediência à ordem de Jesus de pregar o Evangelho a todas as pessoas, ou sinal de saúde espiritual da igreja. Existem muitas falsas definições e pseudo motivações para tanto: Modismo, movimentar e agitar a comunidade, aumentar o número de membros visando melhorar a arrecadação financeira, estimular a criação de novos campos ministeriais para garantir colocação aos ministros recém-formados, imitar outras confissões religiosas, evitar o fechamento de comunidades e paróquias, evitar que as seitas atraiam os membros, etc. Num passado mais recente e na atualidade, o assunto missão vem recebendo uma atenção especial e está sendo tratado com relevância. Desta vez a abordagem está sendo feita em forma de pergunta: A IGREJA DEVE SER MISSIONÁRIA OU MISSIONAL? Esta indagação nos remete de

imediato a outra: Qual a diferença? Segundo os estudiosos e articuladores do assunto, igreja missionária é aquela que promove e desenvolve atividades e projetos missionários, enquanto a igreja missional tem na missão a sua essência. Em outras palavras, igreja missionária faz missão, igreja missional é missão. Teoricamente esta definição e diferença estão evidentes e claras, mas como se manifesta e se aplica na realidade contextual da IECLB? Além do mais, convém perguntar se todas as comunidades e paróquias da nossa igreja são missionais ou pelo menos missionárias? Juan Carlos Ortiz afirma num de seus livros que “muitos cristãos acham que a função da igreja e dos pastores é entreter os seus membros até que o Senhor os chame à eternidade”. São ritos, celebrações, ofícios, eventos e programas sem nenhum propósito, realizados por mero costume ou tradição. Neste contexto, Robert E. Coleman afirma no seu livro O Plano Mestre de Evangelismo que “pelo simples fato de que estamos atarefados a fazer algo, ainda que sejamos habilidosos nisso, não significa, necessariamente, que estamos conseguindo realizar alguma coisa”.

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Para que essa reflexão não fique limitada e restrita ao aspecto teórico, mas proporcione e possibilite um real proveito para a IECLB como um todo, é necessário definir e aprofundar algumas questões básicas diretamente relacionadas à missão. O pressuposto para a igreja ser missional é conhecer realmente a Deus e a sua vontade, reconhecer a realidade do ser humano que vive afastado de Deus e conhecer a tarefa que o Senhor deu aos cristãos. Onde estes três pressupostos estiverem devidamente claros e assumidos a missão acontece naturalmente. Iniciemos refletindo sobre o conceito de Deus. O mercado religioso cresceu vertiginosamente nos últimos anos. E por incrível que pareça, o analfabetismo bíblico vem crescendo na mesma proporção, e com isso cresce também o número de pessoas que tem um pseudo conceito de Deus que pouco ou nada tem em comum com o Deus único, que se revelou em Jesus Cristo. Vejamos o que diz a Bíblia: Em 1 João 4.16, nos é dito que Deus é amor. Em 1 Timóteo 2.4 está escrito que Ele quer que todos sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade. Para manifestar o seu amor e concretizar a sua obra salvadora e soberana vontade, enfrentou a morte na cruz. Em resumo, a Bíblia nada mais é senão o grande resumo da missão de Deus, cujo centro é Jesus Cristo e sua obra redentora. O Antigo Testamento aponta para Ele e o

Novo Testamento testifica dEle. Esta descrição da identidade de Deus e da sua obra, embora muito resumida, evidencia um Deus missional que quer alcançar a todos com seu amor e sua salvação. Deus tem somente um filho, e fez deste um missionário. A partir dessa verdade, não é nada difícil concluir que a sua vontade para com a igreja é que ela seja igualmente missional. Reflitamos agora sobre a igreja e sua tarefa nesse mundo. Em 1 Pedro 2.910 está escrito: “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de PROCLAMARDES AS VIRTUDES DAQUELE QUE VOS CHAMOU DAS TREVAS PARA A SUA MARAVILHOSA LUZ; vós, sim, que, antes, não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus, que não tínheis alcançado misericórdia, mas, agora alcançaste misericórdia.” A partir deste texto, concluímos que a comunidade missional é formada por pessoas evangelizadas, vocacionadas para proclamar as virtudes de Deus. Contudo, para testemunharem a sua fé, é indispensável que tenham sido edificadas e capacitadas para tanto. A evangelização, edificação e capacitação resultam no trinômio da pregação e do ensino da PALAVRA, na vivência em comunhão e no desempenho do serviço. Segundo o padrão bíblico, a igreja é a única cooperativa ou associação cujo objetivo é beneficiar aqueles que ainda

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não são cooperados ou associados, isto é, membros. Infelizmente há muitos cristãos que são da opinião que a ordem de pregar o Evangelho a todos (Mateus 28.19-20 e Marcos 16.15), foi entre outras, uma última ideia que Jesus teve no fim da sua jornada terrena. Como se estivesse ocupado com mil coisas e no fim ainda dissesse: Ah! Tem mais uma coisinha... Antes que eu esqueça, falem também aos outros do meu amor. A verdade é que a vida de Jesus é a revelação mais genuína do ser missional de Deus. Assim, em 1 Coríntios 9.19ss, Paulo afirma ter clareza quanto ao alvo e propósito do seu trabalho. Fez-se tudo para com todos para por todos os meios levar pelo menos alguns à fé. E em Colossenses 4.5 ele exorta a igreja local dizendo: “Portai-vos com sabedoria para com os que são de fora; aproveitai a oportunidade”. A igreja justifica a sua existência e a sua razão de ser, na medida em que corresponde a sua vocação de ser missional, porque a missão da igreja é a missão. Quando ela negligencia o seu propósito e a sua vocação, a grande comissão de fazer discípulos se torna a grande omissão. Consequentemente, no lugar de membros, surgem sócios; a comunhão vira confusão; no lugar de convertidos surgem convencidos; no lugar de colaboradores, consumidores; no lugar de discípulos, clientes. O povo brasileiro gosta de siglas, nesse artigo está sendo criado mais

um, diretamente relacionado à essência da igreja: PIT: a igreja precisa ser PARTICIPATIVA, INTEGRADORA E TERAPEUTICA. Pessoas bem intencionadas, perguntam com frequência: O que a nossa igreja precisa fazer para crescer? Ou, por que a nossa igreja não cresce? Geralmente são esperadas e também dadas respostas que remetem a métodos, estratégias e fórmulas. De fato, há somente uma resposta a esta indagação: Se não há crescimento, é porque não há missão, porque o trabalho de Deus feito segundo a vontade de Deus sempre tem a benção de Deus. Num corpo saudável e sadio, o crescimento ocorre naturalmente. Ou seja, para ser missional, a igreja precisa conhecer a Deus e a vontade soberana dEle, a razão da sua existência e a realidade do mundo no qual está inserida. Enfoquemos agora este terceiro e último aspecto: Pesquisas e estatísticas constatam e comprovam que cristãos recém convertidos levam bem mais pessoas à fé do que crentes veteranos. Não é difícil entender e explicar este fato. O recém convertido, vivendo plenamente a novidade de vida, conhece muito bem a diferença entre a de outrora e a que experimenta agora. O veterano na fé, pelo contrário, já não se lembra de como era vazia a sua vida sem Deus. E, além disso, já não tem nenhum vínculo com descrentes. Também nesta área, a igreja tem a aprender com Jesus. Em Mateus 9.35ss

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está escrito que Ele percorria as cidades e povoados “e vendo as multidões, compadeceu-se delas porque estavam aflitas e exaustas como ovelhas sem pastor”. Em Efésios 2.12 o apóstolo Paulo afirma que as pessoas sem Cristo não têm esperança. Nesse contexto, é necessário que façamos um diagnóstico da realidade que nos cerca hoje. O que caracteriza a sociedade humana do século XXI é: temores, incertezas, frustrações, fracassos, insegurança, massificação, solidão, competição, perda de identidade, etc... Em síntese, um verdadeiro caos: Inversão de quase todos os valores éticos e morais, corrupção institucionalizada, economia decadente, crise no mercado de trabalho, desemprego em alta, desníveis sociais cada vez maiores, urbanização desordenada, desagregação da família, paternidade e maternidade irresponsáveis. Neste contexto, é relativamente fácil entender porque tantos se refugiam nas drogas, no sincretismo religioso, buscando experiências sobrenaturais e extrassensoriais, etc... Infelizmente, muitos dos que se dizem cristãos vivem como se estivessem anestesiados ou adormecidos como descreve Paulo em Efésios 5.14ss, não enxergando essa terrível realidade. Há, no entanto, pessoas, organizações e instituições que reconhecem, analisam, interpretam e inclusive tem explicações para esta situação. Não que isto não fosse importante; mas para a igreja, foi dada

a tarefa de transformá-la, sendo luz e sal. À medida que as pessoas vão reconhecendo sua situação miserável por seguir caminhos que não são os de Deus, e, por outro lado, descobrem uma vida de bem aventurança aos que desfrutam da graça e do amor na presença de Deus, envolver-se na missão é uma consequência natural e inteligente. Porque Jesus Cristo é e tem tudo o que o ser humano tanto almeja e precisa. A busca por esperança se sustenta no Evangelho. O sentido da vida advém da aceitação do amor de Deus. A solução para a solidão e massificação, a pessoa terá na comunhão da família de fé. Assim, uma igreja que vive o trinômio: palavra, comunhão e serviço - tem em Deus o suprimento para todas as necessidades e angústias. De coração, almejo, com esta reflexão, trazer ideias e propostas concretas e praticáveis nas comunidades e paróquias da IECLB visando promover a atitude missional em nossa igreja. Olhando as diferentes comunidades cristãs mais de perto, constato quatro grupos distintos: O primeiro não consegue manter o número de seus membros. Há um constante decréscimo. O segundo, mantém com sacrifício e esforço o quadro de seus membros estável. O terceiro experimenta um pequeno crescimento mediante o acolhimento e a integração de migrantes que são da mesma confissão. Há ainda um quarto grupo, onde experimen-

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tam um contínuo e constante crescimento decorrente da sua consciência e atuação missional, ultrapassando as diferentes fronteiras e barreiras, alcançando e integrando pessoas de fora. Diante disso, o que deve ser feito para que as comunidades do primeiro, segundo e terceiro grupo passem a integrar o quarto? Onde e como começar? O ponto de partida não pode ser outro senão a Palavra de Deus. Ministros, presbíteros, e líderes de pequenos grupos devem enfocar continuamente no seu planejamento e nas suas abordagens a identidade de Deus como sendo o missionário por excelência. Da mesma forma devem destacar a tarefa primordial da igreja e dos cristãos, que é testemunhar o amor de Deus revelado na obra redentora de Jesus, que veio para buscar e salvar o perdido (Lucas 19.10). As comunidades e seus membros precisam ser despertados e educados para a missão, que é a maneira bíblica de ser cristão e igreja de Jesus Cristo. As pregações, reflexões e estudos sobre o assunto terão como resultado convicção, motivação, disposição e definição quanto à missão. Também aqui a PALAVRA não voltará vazia. A convicção nasce do reconhecimento da vontade soberana do Senhor de que todos sejam salvos e que o Evangelho seja pregado a toda criatura. A motivação surge quando o cristão e a igreja olham o mundo a partir dos olhos de

Jesus. A disposição e envolvimento são consequência da obediência ao Senhor (IDE E PREGAI O EVANGELHO) e decorre do amor que se tem para com o próximo e o mundo que nos cerca. O alicerce e o elemento norteador para a convicção, motivação e disposição é a definição que se tem de missão: SER MISSIONÁRIO, É TRANSPOR BARREIRAS. Pela Bíblia descobre-se que Deus é o missionário por excelência. Através da sua revelação em Jesus, Deus transpôs todas as suas barreiras: Do divino para o humano; do celeste para o terreno, do santo para o pecaminoso; do sagrado para o profano; do eterno para o temporário. Tudo isso com um único propósito, buscar e salvar o perdido. A igreja de Jesus Cristo tem esta mesma missão: TRANSPOR BARREIRAS COM O PRÓPOSITO DE LEVAR O EVANGELHO DE JESUS CRISTO PARA ONDE AS PESSOAS VIVEM E CONVIVEM; CAMINHAR COM ELAS PARA QUE CREIAM E APRENDAM A ARTICULAR E TESTEMUNHAR A FÉ NO SEU CONTEXTO DE VIDA. As barreiras a serem vencidas pela comunidade local podem ser as mais diversas: étnicas, sociais, culturais, geográficas, de idioma, etc... Lembra: a igreja não só deve fazer missão, mas ser missional, ou seja, sua essência deve ser a missão. Mas nesse contexto, repito: na prática a teoria é outra. Dificilmente uma comunidade ou uma igreja se torna missional sem passar pelo estágio de

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simplesmente fazer missão. Deixo, por fim, ainda algumas orientações simples, facilmente praticáveis e que podem ser o ponto de partida, o fermento na massa, para que a comunidade avance dos grupos 1, 2 e 3 para o grupo 4 ou do estágio missionário para o estágio missional: Primeiro: Que a missão tenha primazia na vida de oração da comunidade e de seus membros. Segundo: Que os ministros, os presbíteros e os colaboradores que lideram os diferentes ministérios da comunidade, abordem constantemente o tema missão com referências e definições claras, biblicamente alicerçadas, sobre Deus, sua vontade, sobre a igreja e a sua razão de ser em contraposição ao caos reinante no mundo.

Terceiro: Que cada comunidade e paróquia criem e tenham um conselho de missão que reflita e motive continuamente os diferentes setores ao engajamento missional. Quarto: Que os ministros, o presbitério, os líderes comunitários e o conselho de missão identifiquem grupos não alcançados com o Evangelho, transpondo a barreira existente com o propósito de levar o Evangelho aos mesmos. Quinto: Que os alcançados por estas experiências de transposição de barreiras sejam inseridos na igreja ou na comunidade através de pequenos grupos. Sexto: Que os evangelizados sejam alimentados e acompanhados, visando o seu crescimento na fé e o seu comprometimento com a missão. O autor é pastor emérito da IECLB e reside em Itapema/SC

HUMOR Durante as filmagens, o diretor do filme explica a cena para o ator: – Você precisa correr bastante, pois um tigre irá persegui-lo e não deve alcançá-lo. Você entendeu? – Eu, sim! Mas você já explicou isso ao tigre?

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JOHANNES GUTENBERG: O Homem do Milênio P. em. Dr. Osmar Zizemer

Quando nos anos 70 do século passado fomos, minha esposa e eu, para a cidade de Mainz (Mogúncia), na Alemanha, onde eu iniciaria meus estudos de pós-graduação, topamos logo com um nome importante para a cidade: JOHANNES GUTENBERG. Ele empresta seu nome à Universidade: Johannes Gutenberg Universität. Há na cidade um Teatro que lhe levava o nome, e em cujo pátio de entrada há uma estátua em sua homenagem. Existe uma praça com seu nome – Gutenberg-Platz, além de um museu dedicado a ele.

tos em número ilimitado e de imprimir livros mecanicamente, havia uma enorme potência espiritual. Por isso uma equipe de pesquisadores americanos elegeu este filho de Mainz, JOHANNES GUTENBERG, como o homem do século. E o fez com a seguinte justificativa: “Sem Gutenberg, Cristóvão Colombo (eleito em 2º lugar) não teria encontrado o caminho marítimo, o gênio poético de Shakespeare (5º colocado) não teria se difundido, e as 95 Teses de Martim Lutero (3º colocado) não teriam tido o efeito que tiveram”.

Confesso que inicialmente fiquei surpreso. Pois, das aulas de história eu me lembrava vagamente do nome deste cidadão – mas nem de longe me dava conta da importância deste homem na história. E você, estimado leitor ou leitora, tem noção do peso histórico deste filho de MAINZ? Traduzo a seguir um texto de Christian Feldmann, que encontrei na revista GEMEINDEBRIEF de 2/2018, página 44 sob o título: “Der Mann des Jahrtausends – Johannes Gutenberg” (O homem do milênio – Johannes Gutenberg). Sua invenção da técnica de impressão de livros com letras móveis foi uma revolução cultural: Na possibilidade assim conquistada de multiplicar tex-

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JOHANNES GUTENBERG nasceu em uma família de patrícios de Mainz em torno de 1.400 dC. E aqui e na cidade de Estrasburgo durante décadas ele fez pesquisas difíceis para tornar mais simples a xilogravura e a impressão de livros – que, aliás, já havia sido descoberta. Até então somente existiam letras de madeira ou de metal em palavras inteiras. E isto dificultava ao extremo a composição de uma página a ser impressa. Então Gutenberg teve a genial ideia de fundir apenas as 26 letras do alfabeto em grande número e em largura distinta, para que as linhas impressas tivessem o mesmo comprimento. Com estas peças individuais então foi possível compor qualquer palavra e qualquer texto com facilidade.

rimentos e testes, para ajustar as formas de fundição das letras com exatidão e encontrar a cor de impressão ideal. Tudo isto em grande segredo, porque ilusionistas (Schwarzkünstler) viviam perigosamente, e copistas profissionais – que viviam de copiar textos manualmente – temiam pelo seu futuro. Em 1455 Gutenberg finalmente tornou pública a sua obra-prima: Ele publicou a Bíblia, provavelmente em 200 exemplares, com 1.282 páginas, impressa em papel feito a mão.

Esta descoberta, aparentemente tão simples, exigiu dele milhares de expe-

A partir de então a Bíblia, tratados teológicos e panfletos políticos se tornam acessíveis a todos que sabem ler.

Até então somente príncipes e bispos podiam ser proprietários de tal obraprima, na qual um grande número de monges havia trabalhado, copiando e desenhando, por um ano inteiro, e que custava tanto como uma casa na c idade.

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E pressuposto para tal é uma formação ampla e uma sociedade crítica.

na e os livros. Outros irão fazer o grande negócio com a Bíblia.

Gutenberg, porém, está falido. Ainda antes de ele concluir a impressão da Bíblia, o seu financiador exige a devolução de todo o seu capital investido e em seguida manda confiscar a ofici-

Cansado, quase cego, e relegado ao esquecimento, Gutenberg morre em Mainz, sua cidade natal, em 03 de fevereiro de 1468. O autor é pastor emérito da IECLB e reside em Blumenau/SC

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Martim Lutero e a Reforma: o que estava em jogo? P. Dr. Wilhelm Wachholz

O dia 31 de outubro de 1517 evoca a memória da Reforma da Igreja promovida por Martim Lutero. Naquele dia, Lutero teria afixado 95 teses na porta da igreja do castelo de Wittenberg. Atualmente, existem debates se Lutero realmente teria afixado as teses na porta da igreja do castelo ou somente as enviado por correio ao arcebispo Alberico, da Mogúncia. Lutero enviara as 95 teses ao arcebispo Alberico, que era superior de João Tetzel. Tetzel era um conhecido vendedor de cartas de indulgências. Antes de visitar uma cidade, emissários de Tetzel faziam grande propaganda de sua vinda. A entrada de Tetzel nas cidades era pomposa, acompanhada ao som de trompetes, bandeiras e símbolos papais. Em suas pregações nas praças das cidades descrevia com detalhes purgatório, inferno e todos os tormentos da morte. Depois de descrever todos os tormentos infernais, despertava o desejo pelo céu de seus ouvintes, através da venda de cartas de indulgências. Tetzel tinha até uma tabela de preços que variava de acordo com as possibilidades financeiras de cada pessoa. Ele não tinha permissão do príncipe Frederico, o Sábio, da Saxônia, para vender cartas de indulgências em Wittenberg, cidade de

Lutero. Sua pregação, contudo, atraía as pessoas da cidade, que atravessavam o rio para comprá-las. Lutero já criticara a prática e abuso da venda de indulgências pelo menos desde 1514. Chegou até mesmo a criticar a coleção de relíquias de seu próprio príncipe Frederico. O comércio de indulgências tornara-se uma espécie de “bingo do século XVI”. A prática fomentava uma verdadeira “matemática monetária da salvação”. Especialmente desde os séculos XII em diante, o dinheiro foi se tornando cada vez mais o meio das transações comerciais. A Igreja foi se adaptando ao sistema monetário. Se antes dinheiro era mais comumente considerado “coisa suja”, agora passa a ser aceito pela Igreja. A venda de indulgências por dinheiro foi se tornando fonte de recursos para a igreja, financiando construções, por exemplo, de novas catedrais. Recursos que eram investidos em diaconia, passaram a ser destinados para a “salvação do eu”. De alguma forma, o comércio de indulgências da época de Lutero lembra nosso Brasil do século XXI, com a construção de modernas “catedrais da fé”, com base na venda de “cartas da prosperidade”. Uma diferen-

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ça talvez esteja no fato de que no século XXI a ênfase não está mais na “salvação do eu no céu”, mas a “salvação do eu na terra”. Na época de Lutero, Deus era apresentado como um juiz severo e castigador, diante do qual era necessário “merecer a graça”. Deus precisava ser acalmado em sua ira. Um dos meios mais seguros para a “salvação do eu” seria o ingresso na vida monástica. Lutero havia sido profundamente impactado pelo monástico. Quando em 1505 já havia iniciado seus estudos no curso de Direito na cidade de Erfurt, no mês de junho daquele ano, foi visitar seus pais em Mansfeld. Na viagem de retorno, no dia 2 de julho, um raio quase o atingiu quando atravessava o bosque de Stottenheim, destroçando um carvalho. Assustado, se perguntou: “Eu, Martim Lutero, como serei salvo?” Influenciado pela vida monástica de seus professores durante o período que esteve em Magdeburgo, decidiu ingressar no monastério. A vida monástica seria o caminho mais seguro para apaziguar a ira de Deus e “merecer a salvação”. O pensamento escolástico medieval pregava que “o semelhante somente é reconhecido pelo semelhante.” Na prática isso significava que Deus somente reconheceria e salvaria quem lhe fosse semelhante. Deus é justo, logo o ser humano teria que ser justo para merecer a salvação. Mas como ter segurança da salvação diante deste Deus justo? “Faça o

melhor que puderes para merecer a salvação”, era a resposta. A ética monástica, isto é, mosteiro, celibato, castidade eram considerados os meios mais seguros para agradar a Deus e merecer a salvação. A figura da escada pela qual o ser humano sobe ao céu ilustra bem como a salvação era compreendida. A salvação era como um longo subir a escada ao céu. Adoração a santos, veneração de relíquias, indulgências e peregrinações eram “degraus” a serem subidos. Quanto mais piedosa fosse a pessoa e quanto mais obras realizasse, mais se “aproximaria de Deus”, subindo a “escada da salvação”. Pecados eram considerados “escorregões”. A penitência, que ocorria através de peregrinações, compra de indulgências, veneração a relíquias e santos, era considerada “remédio” para quem “escorregasse” degraus abaixo e precisava recomeçar a subida em direção ao céu, em direção a Deus. As angústias de Lutero têm suas raízes ligadas a este modelo de piedade monástica. “Como serei salvo?” - A Igreja da época pregava que o ser humano encontraria a segurança da salvação, fazendo todo o bem que estivesse ao seu alcance realizar. Denominou-se isso de “teologia do contrato”. Um contrato é firmando entre duas partes, duas pessoas. Contrato tem a linguagem do “se (...) então”. Ou seja, se uma cláusula não é cumprida, então há ruptura do contrato. Inversamente, se o contra-

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to é observado, então ele se efetiva. Na época de Lutero esta linguagem de contrato era aplicada para descrever a relação do ser humano com Deus: se o ser humano é piedoso e se esforça para agradar a Deus, então seria recompensado pela salvação. Nisso repousava a certeza e segurança da salvação. A redescoberta evangélica de Lutero ocorre a partir da reinterpretação de Romanos 1.17 – “o justo viverá pela fé”. Lutero redescobre que a “justiça de Deus” precisa ser distinguida da justiça humana. A justiça humana quer agradar a Deus e merecer a salvação. Mas a “justiça de Deus” é justiça presenteada, pela qual Deus torna as pessoas justas. Em outras palavras, pela fé, a pessoa é unida em Deus, de forma a se tornar uma com Deus. Por esta união, Deus justifica a pessoa, ou seja, a torna justa, para viver a justiça de Deus no mundo. A justificação, então, é obra de Deus que transforma a pessoa. Por isso, não são as nossas obras de justiça que nos tornam aceitáveis perante Deus. Pelo contrário, porque fomos aceitos por Deus, fazemos obras,

pelas quais testemunhamos que já fomos salvos por graça, de graça. A redescoberta da salvação por graça é tremendamente atual para nossa sociedade do século XXI. Lutero denunciou a preocupação da economia da salvação. A sociedade moderna está envolta na preocupação da salvação da economia. Nesta lógica, pessoas e toda a criação são reduzidas a objetos e não mais considerados graça e providência de Deus para a vida. Lutero inverteu a lógica do mérito. Ele substitui a imagem da escada pela cruz. Não é o ser humano com seus méritos e justiça que constrói sua salvação diante de Deus, mas é Deus que, em Jesus Cristo, vem ao ser humano e o liberta e justifica por graça, mediante a fé. Liberta, a pessoa testemunha da sua salvação através do amor. A partir da fé, Deus vocaciona a pessoa para ser cooperadora no mundo. Pela fé e feito pessoa justa, a pessoa olha na direção para onde Deus olha: o mundo. E na direção do mundo, olha e age a partir do amor de Jesus Cristo. O autor é Reitor e professor da Faculdades EST, Diretor da ESEP e Pastor da IECLB

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Palavras cruzadas 2 - Títulos e Temas P. em. Irineu Wolf

Solução na página 214

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Mein Gotteshaus Irma Roessler Menze

Der schönste Ort auf Erden, das ist mein Gotteshaus, in gut und bösen Tagen geh ich dort ein und aus. Das erste Mal, da kam ich auf meiner Eltern Arm, die Taufe zu empfangen, ich war ganz klein und arm. Dann eilten rasch die Zeiten, wie war es wunderbar, als Du zum zweiten Mal mich riefst, Herrr , zum Altar Vergerbung zu erlangen von meiner Sündenlast. Du hast mich eingeladen , ich kam als Dein Gast. Und dann, nach vielen Jahren, den Myrtenkranz im Haar, am Arme des Geliebten kam ich vor Deinen Altar Wir brauchten Deinen Segen für unser künftig Leben, Doch mehr noch als wir baten hast Du uns , Herr , gegeben. Hast brave Kinder, Enkel beschert uns im Lauf der Zeit. Lass uns noch lang beisammen, bewahre uns vor Leid. Noch einmal läuten die Glocken ....für mich... zum letzten Gang. Nimmst Du mich in die Arme, so ist mir garnicht bang. Dann schau ich aus lichten Höhen herab aufs Gotteshaus, Herr, segne alle Menschen, die dort gehen ein und aus.

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Tradução: MINHA CASA DE DEUS (A Igreja de Cristo em São Leopoldo) O mais belo local sobre a terra é minha casa de Deus. Em tempos bons e difíceis de lá entrei e saí. A primeira vez nos braços de meus pais, para receber o batismo, quando pequena e pobre. Daí o tempo foi rápido e ao mesmo tempo maravilhoso Quando me chamaste a segunda vez, Senhor, ao altar. Lá recebi o perdão do meu pecado. Tu me convidaste e eu vim. E depois de alguns anos, com a coroa de mirta em meu cabelo, no braço de meu amado, estive diante do altar, para pedir a bênção para nossa vida futura. Mas muito mais do que pedimos, tu nos deste, Senhor; Nos destes belos filhos, netos nos deste depois, permite que fiquemos juntos ainda por um longo tempo, Guarda-nos de sofrimento. Mais uma vez os sinos badalam... será para mim... para meu último caminho? E então verei das alturas minha casa de Deus. Senhor, abençoa a todos que lá entram e saem.

Poesia publicada em 2011 no opúsculo IGREJA DE CRISTO, Um Templo Centenário, sob organização de Dr. Martin N. Dreher, Editora Wilhelm Rotermund em SãoLeopoldo/RS. Irmgard Roessler Menze foi esposa de um importante colaborador.

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Minha fé pode dificultar minha carreira, meu emprego, meu trabalho? Mário Hildebrandt

De que forma nossa fé interfere e influencia nossa carreira profissional? Estamos todos - e quando digo todos falo também de mim mesmo cansados de ouvir falar dos escândalos na política brasileira e do quanto tudo isso causa repulsa na sociedade. Porque a ilegalidade parece ter se tornado a conseqüência direta da forma como a política é conduzida no nosso país. Há, sim, pessoas em cargos políticos que perderam completamente seus parâmetros éticos. Mas também há pessoas de boa índole, querendo e buscando construir uma sociedade melhor para todos. Os escândalos e o vir à tona de todos os milhões tirados indevidamente dos cofres públicos, e a impunidade de quem já se provou culpado, muitas vezes ajudam a destruir o orgulho que deveríamos sentir de nossos representantes e acaba-se colocando todos “numa mesma vala comum”. E esse é o maior desafio: distinguir e separar os bons e os ruins. Tanto a política quanto a ética são temas de longas discussões há décadas e continuam a pairar sobre as rodas de conversa por motivos claros: não há como pensar a vida social sem valores morais, assim como também não se pode conceber uma

sociedade sem organização política. E para o cristão, nesse caso eu mesmo, envolvido por escolha nessa vida pública, como se comportar num cenário destes? Falar de religião é falar de ligação. É religar e restabelecer essa ligação com Deus e com nosso Eu mais íntimo. E o cristão, abraçando os ensinamentos e a fé, que mantém no coração e na mente a esperança de que é possível sim, viver numa sociedade mais justa e menos desigual. E este tem sido o norteamento de minha missão. Um sentimento que anima, alimenta e move meu trabalho diário, para que possamos construir cidades, estados e o nosso país melhor! Os ensinamentos de Deus nos ensinam a reconhecer e a respeitar as regras políticas a partir do que ouvimos e aprendemos com sua Palavra, porque fortalece essa norma coletiva quanto ao caráter individual na condução de nossas cidades. “Todos devem sujeitar-se às autoridades governamentais, pois não há autoridade que não venha de Deus; as autoridades que existem foram por Ele estabelecidas. Portanto, aquele que se rebela contra a autoridade está se colocando contra o que Deus instituiu, e aqueles que assim procedem

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trazem condenação sobre si mesmos” (Romanos 13.1-2). Como Cristão é preciso estar ciente de que, mesmo na política, temos que falar a verdade e apontar as injustiças sociais, agir com probidade, atuar com justiça e integridade. A Bíblia apresenta uma série de registros com pessoas que defenderam sua fé em Deus e que tiveram destaque em posições políticas (José, Ester e Mardoqueu, Davi, Daniel e seus amigos são alguns exemplos) e é na Palavra de Deus que procuro me inspirar diariamente. “Quando o justo governa, o povo se alegra; mas quando o ímpio domina, o povo geme” (Provérbios 29.2). O Cristão é, por excelência, o detentor de uma determinação e conquista de uma conduta humana pautada na ética, pois este é, primeiramente, o conteúdo de seu testemunho de fé na vida. Por isso, precisa sim, ser exemplo de integridade, pedindo inspiração divina para que suas ações sejam de fortalecimento, de correção, de sabedoria e discernimento. Como Cristãos, temos valores e princípios dos quais não podemos e não devemos abrir mão. Esses valores estão pautados na Palavra de Deus e conforme testemunhado nas Sagradas Escrituras. Cabe a nós, como cristãos, viver a fé e, como nosso Senhor Jesus Cristo nos ensinou, estender as mãos e apresentar o caminho correto, bem como ser sal e luz

em nossa caminhada diária. Quando em 1990 eu deixei meus pais e minha família em Taió e cheguei a Blumenau para estudar, assumir o cargo de Prefeito daquela que hoje é a terceira maior cidade do Estado de Santa Catarina não estava em meus planos. E também não estava em meus planos trabalhar com a recuperação de dependentes químicos (álcool e drogas). Mas Deus é quem sabe quais são os planos e foi Ele quem me guiou até aqui. Minha vida pública é resultado do que Deus quis para mim. E meu trabalho será sempre guiado por Seus passos. Sou resultado daquilo que Deus quis pra mim e resultado daquilo que construí com sua inspiração! São 13 anos de caminhada pública, dividindo e somando fé e política numa mesma direção. Já enfrentei leões e pulei barreiras, sempre guiado por Deus! Já fui taxado de “fundamentalista” por não abrir mão de minhas convicções e da minha fé, mas nunca perdi o respeito para com meu próximo, pois assim Jesus nos ensinou. Política e Religião precisam andar juntas! A política é necessária para nossa vida porque é uma prova autêntica do direito à cidadania. Quanto à religião, ela se expressa de diferentes formas. Porque o seguidor de Cristo não apenas carrega uma bandeira ou um “carimbo de identificação” de igreja, mas é um exemplo de postura concreta, humana, acompanhada de uma exigência moral fun-

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damental e necessária para o encontro, a comunhão e a transformação do outro. “Tratem a todos com o devido respeito: amem os irmãos, temam a Deus e honrem o rei” (1 Pedro 2,17). Para mim, a dimensão da fé é o desafio de trabalhar pelo próximo, e pensar no melhor para uma comunidade significa a própria prática do evangelho. Porque construir o político a partir da ética cristã fundamenta-se no alcance da fé, carregado numa consciência de respeito, de diálogo, sem compromissos superficiais e oportunistas. O cristão pode, sim, vivenciar sua indignação com o cenário político atual, mesmo estando dentro dele. E isso é possível com atitudes construtivas para que seu testemunho se dê através de ações que pensem na cidade como um todo, e que traga o cidadão sempre como prioridade, assim como nos ensinou Jesus Cristo. A mistura da política e da fé significou, para mim, o empenho em busca da verdade, o desafio da procura do melhor caminho, e o trabalhar sempre pelo próximo e em prol da sociedade. Creio que na política somos agentes de intervenção, transformando a vida humana, intervindo na história da sociedade, visando o bem

estar e a transformação social. Creio e procuro viver na coragem de afirmar um comportamento político de coerência com meus fundamentos de fé cristã. Na fidelidade à própria identidade, de presença e ação no mundo, de vivência e expressão da fé em Cristo mesmo diante, por vezes, da indefinida moralidade social. Por isso deixo aqui o meu convite a cada cristão a continuar com seu pensamento crítico, analisando, debatendo os fatos, conhecendo as propostas e decisões políticas e, principalmente, orando por aqueles que se encontram em posição de liderança. “Antes de tudo, recomendo que se façam súplicas, orações, intercessões e ação de graças por todos os homens; pelos reis e por todos os que exercem autoridade, para que tenhamos uma vida tranqüila e pacífica, com toda a piedade e dignidade” (Timóteo 2.1-2). Se puder fazer um pedido, peço que orem por mim, por minha família, pela minha tarefa de ser Prefeito de Blumenau; orem também pelos nossos líderes, pela nossa cidade, pelo nosso estado e pela nossa nação. “O que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons” (Martin Luther King). O autor atualmente é Prefeito do Município de Blumenau/SC

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Missão e migração da IECLB para o Norte do Brasil P. Teobaldo Witter

Foram eles sós, para um lugar solitário, para repousar um pouco à parte, num lugar deserto. Muitos, porém, os viram partir e, reconhecendo-os, correram para lá, a pé, de todas as cidades, e chegaram antes deles. Ao desembarcar, viu Jesus uma grande multidão e compadeceu-se deles, porque eram como ovelhas sem pastor. E passou a ensinar-lhes muitas coisas. Marcos 6.32-34 Foram dias como muitos, na floresta e nas casas das famílias migrantes. A Floresta estava linda. A maior parte dela ainda estava em pé. As altas castanheiras da região de Cláudia e Itaúba pairavam num misto de proteção sobre as outras árvores, como a choca protege seus pintinhos. Ao toque da brisa e do vento de agosto, abanam para os viajantes. As estradas todas de chão batido. Os ipês floridos de diversas cores brilhavam nas montanhas da região de Colíder, Alta Floresta e Terra Nova. Iniciamos mais uma viagem missionária. O presbítero Otto Baum e eu fomos até Primavera, entre Sinop e Itaúba. À noite, celebramos culto, na casa da família Heller. Pernoitamos na casa de membros da igreja. Na sexta, viajamos até a Nona Agrovila, em Terra Nova. O culto estava agendado para às 14h. Foi na escola de madeira que o pessoal mesmo construiu. Tudo organizado, a comunidade já está sentada, com

o altar, uma mesa improvisada, tudo preparado. Ainda, recebo na porta uma e outra pessoa que vem chegando. Vejo um adolescente que vem correndo pela trilha debaixo, chorando. Quase perdendo o fôlego, num falar quebrado, diz que sua mãe está bem amarela. Ela está sendo carregada pela trilha do mato, numa rede. Deve ser levada ao posto da SUCAM. Otto, meu colega de viagem, e Érico, uma das lideranças, se aproximam para pedir informações ao adolescente. A mãe está com suspeita de malária. Os carregadores estavam levando a mãe do menino pela trilha do mato, até a saída, no travessão. De lá até o posto da SUCAM são, ainda, 60 km de estrada de chão. A estrada está, precariamente, transitável, porque é tempo de seca. Na chuvarada, só a pé ou a cavalo para o deslocamento. Mesmo assim, para transitar pelo travessão, somente de trator, carroça de tração animal ou de Toyota com

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tração nas 4 rodas. Então, o Toyota pick-up traçado da igreja era o único veículo viável e disponível para buscar a Maria Conceição, a mulher doente. Otto e Érico vão buscar a mãe doente no mato para levá-la ao primeiro socorro. E nós, a comunidade, continua em culto. Após culto, tem reunião da comunidade toda, depois tem reunião das mulheres, ensino confirmatório, monitores do trabalho com jovens e confirmandos. Quando Otto e Érico voltam, fizemos, ainda, uma breve reunião com as lideranças. Nesta reunião, os dois relatam que a mulher doente está sendo medicada, no posto da SUCAM. A reunião com as lideranças foi de planejamento, sempre levando em conta a vida missionária da IECLB e a sociedade. Ainda naquela sexta à noite, celebramos culto e reunião de planejamento missionário na casa da família Zache, na Quinta Agrovila. Ali pernoitamos. No sábado, seguimos viagem, com culto na sede de Terra Nova do Norte, depois na Agrovila Guarita e, à noite, em Colíder, na casa da família Schulz, onde pernoitamos. No domingo fomos para Alta Floresta, com culto na casa dos Sabin, onde almoçamos. À tarde, culto na Quarta Leste, na casa dos Telles. E, à noite, culto na escola em Paranaíta. Pernoitamos na casa dos Brauwers. Na segunda de manhã, foi um longo diálogo com os Brauwers e visitação, na comunidade. À noite, fomos para

Alta Floresta para planejamento missionário com lideranças da região. Na terça-feira, foi dia de visitação em Alta Floresta. E a noite, foi de canto e estudo bíblico na casa dos Höring, onde pernoitamos. No dia seguinte, continuamos a viagem de regresso para casa. Passamos na sede de Terra Nova do Norte. Fizemos contatos diversos na administração da cooperativa, no posto da SUCAM e no alojamento para cuidados de pessoas doentes. Encontramos a Maria Conceição, a mulher com malária da Nova Agrovila. Estava com aparência de quem vem recuperando a saúde. À noite, foi um encontro da comunidade da Primeira Agrovila, com cantos, estudo bíblico, planejamento missionário e orações, na casa do Érico, onde pernoitamos. Na quinta-feira, voltamos para casa, em Sinop. Na bagagem levamos nossas roupas, bíblias, hinários, catecismos, jornal evangélico, folhetos evangelísticos e outros materiais de leitura. Mas também roupas e algum recurso que outras comunidades haviam doado para distribuir aos que estavam chegando, não conheciam as matas, nem o solo e estava sujeitas a doenças que não conheciam, como a malária, por exemplo. E nós fomos muito alimentados pela fé, pelo amor, pela esperança dos pequenos grupos ou pequenas comunidades que estavam na busca de serem fieis, do seu jeito, na edificação da Igreja de Jesus Cristo, neste lugar.

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Nesta semana, percorremos 1.100 (mil e cem quilômetros) de estradas de chão. Visitamos dez locais de assentamento e de formação de vilas. O objetivo principal foi de contatos e encontros com as pessoas migrantes, na tentativa de edificar comunidades missionárias que vivem a comunhão e solidariedade. Esta viagem missionária foi realizada em agosto de 1979. O relato desta viagem missionária faz pensar sobre como a igreja esteve junto aos migrantes e como acompanhou a mobilidade humana, desde a década 1972. No Concílio que se realizou naquele ano, em Panambi, RS, a IECLB aprovou o projeto e o programa de missão junto ao povo migrante, tanto rural, quanto urbano. O projeto urbano teve mais dificuldade de decolar. Mas a migração campo-campo teve mais presença da IECLB. Em termos de IECLB na área do Sínodo Mato Grosso, já em 1955, migrantes do Sul do Brasil se instalaram na Gleba Arinos, em Porto dos Gaúchos. Edificaram comunidade e construíram capela, inaugurada em 16 de novembro de 1958, há 61 anos. Inicialmente, contou com a presença do Pastor Hasenack. Mas na maior parte dos seus anos de vida, a comunidade tocou por contra própria seus cultos e ofícios. Em inícios da década de 1970, a vinda de novas levas de migrantes faz renascer velhas esperanças e traz consigo a instalação do trabalho pastoral da

IECLB em diversos pontos do Mato Grosso, Goiás, Pará, Rondônia, Acre, Amazônia, Roraima, Mato Grosso do Sul e Tocantins. O Concílio da Igreja, em 1972, havia definido, de forma geral, os termos teológicos e práticos em “acompanhar migrantes, ser igreja de Jesus para todas as pessoas e ser sal da terra e luz do mundo”. Isso significa relacionar fé e vida, envolver-se em questões agrárias e políticas, de saúde, de educação, de direitos humanos, de comunhão, de justiça humana e justiça divina. A decisão conciliar da IECLB estava fundamentada na Palavra de Deus e comprometida com o Evangelho anunciado e vivido por Jesus Cristo. No seu Concílio de outubro de 1972, em Panambi, a IECLB decidiu: 1) Acompanhar membros migrantes; 2) Ser Igreja de Jesus Cristo para todas as pessoas e as pessoas como todo, integralmente; 3) Reconhecer membros para serem “sal da terra” e “luz do mundo”. Estes pontos sempre foram considerados nos trabalhos e nos encontros de planejamento e nas ações missionárias. Cultos e ofícios eclesiásticos sempre foram valorizados. Mas teve integrante a mais. Assumimos, em conjunto com membros dos núcleos comunitários, a tarefa de acompanhar as pessoas, motivar membros a uma mais ampla divulgação e convivência do Evangelho no seu meio ambiente. Isto significa que devemos ter amizade com todas as pessoas, sem olhar para a

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sua origem étnica ou social. Foi realizada formação bíblica, comunitária e acompanhamento na prática do sacerdócio geral. Por isso, Teologia e Pedagogia andaram juntas, mas sempre tiveram a dimensão da liberdade e da autonomia. Em analogia a Pedagogia, se a Teologia não for libertadora, o sonho de oprimidos é serem cristãos opressores. A pregação deve mudar mentalidade, mudar jeitos de pensar, de ver, de ouvir, de sentir, de falar e viver em comunidade, de trabalhar, jeito ético de ganhar dinheiro. O sacerdócio bíblico universal educa comunidades de comunhão dos santos e para a justiça. As comunidades tiveram, no início, um forte envolvimento diaconal e educacional. Muito se fez nas áreas da saúde, da educação, da agricultura, dos direitos humanos. A Comunidade da IECLB, em Canarana (MT), também, se envolveu com diversas iniciativas. Por exemplo, bem no início da colonização, a comunidade organizou um pequeno ambulatório de enfermagem para atender os casos de emergência, pois, não havia SUS, nem qualquer outro posto ou hospital, numa área de 300 km. A partir de 1979, com o projeto de agricultura alternativa, em que foram feitas as primeiras experiências em agroecologia, bem como a escola família agrícola. No Novo Maringá, região muito pobre, a comunidade criou o “projeto vacas” para providenciar leite para as crianças

empobrecidas. Em Rurópolis, na Transamazônica, organizou uma cooperativa de processamento de leite-queijo para que o povo da agricultura pudesse ter um rendimento. Sinop organizou uma caixa comunitária para dar um suporte inicial aos menos favorecidos, economicamente. São Jorge, em Tangará da Serra, construiu uma farinheira comunitária. Paranaíta criou uma cooperativa de pequenos produtores luteranos para possibilitar rendimento sem agressão ambiental e com recuperação de áreas degradadas pelos garimpos e desmatamentos. Cuiabá organizou projetos ecumênicos, de movimento social e de direitos humanos. Vila Rica criou um caixa com o projeto vacas, e Gaúcha do Norte plantou uma roça comunitária de seringueiras. Todas as paróquias têm, desde a sua origem, o princípio do amor e da solidariedade de socorrer uns aos outros, em caso de necessidade humana. Os cursos de teologia, de exegese e de hermenêutica populares são realidades na maioria das paróquias. Com o objetivo de formar melhor a comunidade para a prática do sacerdócio cristão foi construída a Casa de Retiros, em Chapada dos Guimarães. E ela tem servido muito para este fim. Voltando ao ensino de Jesus, percebemos o seu jeito de conhecer e de ensinar. Jesus muda a sua agenda definida com os apóstolos para ensinar a multidão que padece como

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ovelhas sem pastor. Ensinou-os sobre Deus, o Reino e o Governo de Deus. Ensinou sobre fome, medo, doença. (Mateus 6.35-56). Estes são os temas presentes no ensino de Jesus no encontro com as ovelhas sem pastor. E ajudou a pensar na vida para libertar as pessoas dos seus jogos impostos por pessoas, por elas mesmas e por estruturas de morte. Como aquela viagem missionária do relato, no início do texto, muitas outras foram realizadas por ministros, ministras e lideranças que se entenderam chamadas por Deus para realizar a sua missão na migração. Aos poucos, as comunidades foram se organizando. Muitas deram certo, outras não. Destas dez vilas visitadas, conforme o relato no início do

texto, em sete há comunidades constituídas, hoje. O principal motivo para a não edificação de comunidade nas outras três localidades foi a migração interna. Mas, ao longo dos anos, outras comunidades nasceram em locais em que, na época, havia florestas. Hoje tem vilas, aldeias, cidades e igrejas. Também, aqui, na missão e migração da IECLB para o norte podemos dizer que a fé foi o fundamento para edificar comunidades. Muitas vezes constatamos, como Atos dos Apóstolos, “E permaneceram no ensino dos apóstolos, na comunhão, no partir do pão e nas orações [...] louvavam a Deus e contavam com a simpatia do todo povo” (Atos 2.42s). Chapada dos Guimarães, MT

HUMOR O jovem procura o pastor e pergunta: – Pastor, dançar é pecado? E o pastor responde: - Mas é claro que é! – Por quê?, pergunta o jovem. – Ora, responde o pastor, porque entre o casal que dança está o diabo! – Bem, disse o rapaz, então comigo e a minha namorada isto não é problema! – Vocês não dançam? perguntou o pastor. – Não, não... respondeu o rapaz. É que quando dançamos, dançamos tão agarradinho, que não deixamos espaço pro diabo ficar no meio de nós!!!

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Nascer de novo? P. em. Wilfrid Buchweitz

Nascer de novo? Como nascer de novo? Pode-se nascer duas vezes? Pois é. No domingo passado fui ao culto e o pastor leu uma história do evangelho de João, capítulo 3, os versículos 1 a 17. Ali fala que um líder judeu, de nome Nicodemos foi falar com Jesus e lhe fez várias perguntas. Jesus lhe disse que não adiantaria ele responder, que Nicodemos não iria entender a não ser que ele nascesse de novo. Como posso voltar para a barriga da minha mãe e nascer mais uma vez? – reagiu Nicodemos. Não, disse Jesus, da tua mãe tu só podes nascer uma vez e tu vais ser filho dela a vida inteira. Mas, além disso, tu podes nascer do Espírito de Deus, do Espírito Santo, e aí tu podes entender as coisas de Deus. Nascendo de tua mãe tu vais entender a vida do jeito que as pessoas entendem e vais vivê-la do jeito das pessoas. Mas se tu nasceres do Espírito Santo tu podes viver a vida do jeito que Deus te orienta e te ajuda. E tu vais entender a vida do jeito que Deus entende a vida. E aí vai uma grande diferença. Entender e viver a vida do jeito humano é uma coisa. Entender e viver a vida do jeito de Deus é muito diferente. A mesma vida vivida de um jeito é muito diferente da vida vivida de outro jeito.

O entendimento da vida de um jeito é muito diferente da vida entendida de outro jeito. Mas, Nicodemos, isso tu não vais entender, por isso nem adianta eu te responder. Isso Jesus não disse, mas poderia ter pensado. Como é então nascer do Espírito Santo? Jesus na realidade fala em nascer da água e do Espírito. Jesus quer dizer que o Espírito Santo está no Batismo e na Palavra de Deus. Tem que escutar o que Deus diz pelo Batismo e por sua Palavra. Ali Ele diz que ama o mundo e ama especialmente as pessoas. O amor de Deus não tem limites. Deus chega ao ponto de dar seu único Filho pelo mundo. Deus quer salvar o mundo, não quer condenar o mundo. Se, Nicodemos, tu escutares esta Palavra, esta mensagem, tu vais me entender e vais me dar razão e tua maneira de entender e viver a vida vai mudar radicalmente. Vai ser como se tu tivesses nascido de novo. Nesse sentido dá para nascer duas vezes. É preciso nascer duas vezes. Nasce da tua querida mãe e nasce do querido Espírito de Deus. E tua vida vai ter duas dimensões importantes, a dimensão humana e a dimensão espiritual. E aí tua vida vai ganhar o verdadeiro sentido para ti mesmo, para tua família e para o reino de Deus. O autor é pastor emérito da IECLB e reside em Porto Alegre/RS

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Numa audiência diante do Juiz Extraído da Internet

Advogados jamais deveriam fazer uma pergunta a uma testemunha – especialmente sendo ela uma senhora idosa – sem estar preparados para ouvir uma resposta inesperada! Em uma audiência judicial – numa pequena cidade ao sul dos Estados Unidos – o advogado de acusação chamou a primeira testemunha para o seu depoimento. Era uma senhora de certa idade, tipo vovó. O advogado se aproximou da testemunha e perguntou: – Sra. Jones, a senhora me conhece? – Sim, – respondeu ela – eu o conheço, Dr. Williams. Eu o conheço desde menino. E, para ser sincera, estou muito decepcionada com o senhor. O senhor mente. O senhor trai sua esposa. O senhor manipula as pessoas e fala mal delas pelas costas. O senhor pensa que é um homem importante. Mas, na verdade, mal tem inteligência suficiente para mover algumas folhas de papel. Sim, eu conheço o senhor!

Ela respondeu: – Sim, eu conheço o Dr. Bradley desde quando ainda era bem jovem. Ele é preguiçoso, se faz de santinho, mas tem um sério problema com o álcool. Ele é incapaz de tratar normalmente com as pessoas, e seu escritório de advocacia é o pior de toda a região. Ah, e não esquecendo: Ele trai sua esposa com três outras mulheres. E uma delas é a esposa do senhor! Sim, eu o conheço. Neste momento o juiz chama os dois advogados até sua mesa e lhes diz em voz baixa: – Se algum de vocês dois idiotas agora perguntar à testemunha se ela me conhece, eu mando vocês para a cadeira elétrica!

O advogado ficou sem palavras e sem saber o que fazer. Deu alguns passos pela sala de audiências, e então perguntou à testemunha: – Sra. Jones, a senhora conhece o advogado da defesa?

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O Mistério da Religião – existe explicação? P. Dr. Dr. H. C. Gottfried Brakemeier

Houve épocas em que se prognosticava o fim da religião. Seria uma das espécies em extinção no planeta. Identificava-se religião com superstição, crendice, fantasia. A mentalidade científica dos tempos modernos iria desmascarar sua natureza fictícia. Foi um equívoco. Verdade é que cresce também no Brasil o contingente de pessoas que se declaram “sem religião”. Existem apóstolos do ateísmo engajados em caravanas propagandísticas para demover as pessoas do suposto engano da fé. E, no entanto, a religião dá vigorosos sinais de vida. Isto não só na América Latina. É esta a realidade também na África, na Ásia e até mesmo na Europa, apesar do avanço do secularismo. O povo é religioso. Invoca os santos, acompanha com entusiasmo as procissões e as novenas, enche os santuários em busca de socorro para as crises da vida. A que se deve a fascinação da religião? Falta até hoje uma definição consensual. Religião tem muitas faces. Não cabe num só denominador. Ao lado da religiosidade oficial brota outra, quase selvagem com fortes traços individuais. Religião é sempre um fenômeno plural. Não há somente uma. Todas, porém, se caracterizam

por devoção e culto. Adoram algo sagrado e seguem determinados padrões de conduta. Fala-se também em mística. Existe algo que transcende o mundo visível e que exerce influxo sobre a vida. O anjo da guarda é símbolo disto. O ser humano controla sua sorte somente em parte. Depende em boa medida da ação de poderes superiores. Religião procura impedir prejuízos causados por tais forças e assegurar o benefício para as pessoas. Tem promessa de bênção para quem observa determinadas regras. Daí porque a religião não morre. Ela atende anseios que são da sua exclusiva competência. Opõe-se ao mundo frio da ciência que tenta substituir o crer pelo saber. Isto não funciona. Sem horizonte transcendente o ser humano é como órfão no espaço. Será o acaso que comanda a vida? Religião não se conforma com isto. Procura assegurar afetividade, proteção, cura para os males deste mundo. Oferece sentido quando a vida parece absurda e vã. Quem tem fé achou uma âncora que segura nas tempestades do cotidiano. Confirma-se assim o que a Bíblia diz sobre o poder da fé. Ela é capaz de transportar montanhas (Mateus 17.20). Não há adversidades que lhe resis-

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tem (1 João 5.4). Religião ajuda na solução de cruciais incógnitas da existência humana. É força que anima a viver.

sedutores e charlatães. Eis porque religião enfrenta suspeitas por parte de muitos contemporâneos hoje. Como reagir?

Costuma-se dizer que religião é assunto privado. E, com efeito, todos devem ter o direito de viver o seu credo. Em concordância com isto o Brasil garante liberdade religiosa a seus cidadãos. É este um dos elementos fundamentais do regime democrático. Eles merecem o decidido apoio, também e justamente por parte da pessoa cristã.

Também o cristianismo é uma religião. Possui um credo, segue ritos, celebra culto. O evangelho busca a fé das pessoas. Mas já não mantém nenhum monopólio. No mundo globalizado cresce a disputa desse mercado. Multiplica-se a diversidade. O próprio cristianismo está dividido, apresentando-se em grande variedade de denominações, igrejas, movimentos, entre elas a confissão luterana. Os grupos que mais crescem são de natureza pentecostal, conhecidos como “evangélicos”. Ademais atuam agentes não cristãos a exemplo de budistas, muçulmanos, espíritas. Cabe menção, enfim, à religiosidade afro-brasileira, bem como aos restos das religiões indígenas que sobraram após a invasão dos conquistadores. O quadro religioso no País exibe-se confuso e conflitivo. A fé cristã, e com ela a confissão luterana, se vê jogada em feroz concorrência dos credos, cada qual com o propósito de ganhar adeptos e membresia.

É terrível ter que aguentar uma tirania dos crentes. Isto, porém, não significa que se deva permitir às religiões o arbítrio. Também a fé precisa responsabilizar-se perante Deus e a sociedade. Com muito acerto o Brasil exige das religiões atuantes em seu território o respeito aos princípios de sua Constituição. Pois, religião pode perverter-se ou ser abusada. É fenômeno ambíguo, capaz de ser instrumentalizado tanto para o bem quanto para o mal. Isto porque ela possui um componente altamente emocional. Fervor religioso pode fugir do controle e acabar em brutal perseguição dos dissidentes. Torna-se cego e perde os escrúpulos para, por sua vez, praticar violência e crime. Pode narcotizar as pessoas e roubar-lhes o bom senso. O saldo de vítimas da obsessão religiosa apavora quem se ocupa com a matéria. Todo fanatismo possui uma veia assassina. É suscetível de manipulação por parte de

Seria irresponsável permanecer indiferente frente a esta realidade. Fé é assunto por demais importante para ser deixado ao bel-prazer de cada qual. Pois fé determina a conduta. Enquanto livres, as pessoas costumam obedecer às suas convicções. Por isto mesmo, embora seja assunto privado, fé sempre terá relevân-

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cia pública. O descaso é fatal. Importa ocupar-se com o que as pessoas creem e submeter os credos apregoados pelas religiões a exame crítico. É sabido que também no mundo das religiões nem tudo o que brilha é ouro. Mais esta vez importa separar a palha do trigo. Isto significa que, a sociedade necessita de critérios orientadores para distinguir entre o que importa crer e o que não.

3. Juízo. Jesus foi pessoa de extremo bom senso. Soube argumentar. Jamais “perdeu a cabeça”. É no que lhe deve seguir a igreja. Está comprometida com uma fé consciente, sóbria, capaz do exame cuidadoso das coisas. Por isto mesmo opõe-se às formas de uma religiosidade delirante, mágica, tributária do ocultismo que obstrui a mente.

Para tanto permito-me esboçar quatro princípios, todos eles embasados na Bíblia e inspirados na confessionalidade luterana. Agrupam-se em torno de quatro termos chave. São eles:

4. Liberdade. O evangelho liberta. Emancipa as pessoas de tutela alheia e rompe os laços que as prendem ao pecado, dor e morte. Implica em novidade de relações humanas, inclusive de estruturas sociais. Condena opressão e insiste no respeito à dignidade das pessoas. Ao mesmo tempo impõe responsabilidade. A liberdade “de” precisa ser complementada pela liberdade “para”. Ainda não é livre quem não sabe assumir compromissos e servir.

1. Gratuidade. A graça de Deus é gratuita. Ela não está à venda. Assim como Lutero deflagrou a Reforma com o protesto contra as indulgências, assim cabe hoje reprovar toda a prática que transforma religião em negócio. 2. Amor. No amor a Deus e ao próximo consiste o supremo mandamento cristão. Religião que o desconsidera ou até prega o ódio, trai o evangelho. Sem misericórdia a mais calorosa religiosidade se desqualifica.

O assunto não está esgotado. Necessita de aprofundamento. Não afirmamos que em outras religiões tudo seja trevas. Com muitas delas há o que aprender. E, no entanto, recomenda-se cautela na avaliação das propostas para o que os princípios acima pretendem ser auxílio. O autor é pastor emérito da IECLB e reside em Nova Petrópolis/RS

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O trabalho como caminho digno diante de Deus Burghard Klemz

“No suor do rosto comerás o teu pão...” (Gênesis 3.19). Sendo o alimento essencial para a vida, o trabalho tornou-se a principal atividade da humanidade, e sua divisão e relações entre as pessoas, um dos assuntos mais discutidos e comentados desde a sua expulsão do paraíso. Geração após geração teve que se adaptar às circunstâncias na luta pelo alimento diário, sua segurança e preservação da espécie. Os desafios e adversidades naturais levaram as pessoas a reconhecer a sua vulnerabilidade e a percepção de que uma ação conjunta e ordenada, era a forma de aliviar os esforços diários e mitigar os riscos aos quais estavam expostos. Assim, passaram a viver em grupos e organizar suas atividades de forma racional. A caça, inicialmente individual passou a ser uma atividade coletiva. A lança, arma primitiva, substituída pelo arco e flecha. Animais selvagens foram domesticados. E, no correr da história surgiram os artesãos produzindo ferramentas e armas cada vez mais aperfeiçoadas; os rebanhos, seus donos e os pastores responsáveis pela guarda e pastoreio. Provavelmente, neste processo, surgiram também os primeiros empregados e o inicio das relações entre empregado e empre-

gador. Toda esta evolução tornou a ação do ser humano e o trabalho mais eficientes, aumentando sua segurança e produtividade. A Reforma e a influência da educação “Ao lado de cada Igreja, uma escola”. Quando Martim Lutero afirmou ser impossível conhecer e adorar o Criador e sua grande obra, senão pela leitura e conhecimento das Sagradas Escrituras e, ao determinar que para cada Igreja deveria funcionar uma escola, criou o divisor de águas entre o mundo que emergia da ignorância do conhecimento e outro que continuaria atrelado a velhos paradigmas de obediência e segregações. O acesso à educação e ao conhecimento, bem como a descoberta da imprensa por Gutemberg, auxiliou na formação de trabalhadores e empreendedores qualificados, competentes e eficientes e, consequentemente, aumentou a produtividade, o desenvolvimento e a renda. Trabalho: O futuro e seus desafios Assistimos em nossos dias transformações fantásticas, conseqüência dos avanços da tecnologia da infor-

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mação e do domínio da inteligência artificial. Ao mesmo tempo em que se observam mudanças profundas nas relações entre as pessoas, os robôs, cada vez mais “inteligentes”, substituem a mão de obra humana nas mais diversas funções e principalmente nos processos de produção. Por serem mais eficientes, em função de não adoecerem, dificilmente cometem erros e operam o tempo todo, acabam gerando mais renda e menos custo, o que deveria vir ao encontro do “bem-estar” ou “vida digna” das pessoas, mas nem sempre é assim. Certo é que novas profissões e oportunidades de trabalho surgirão neste contexto, mas também um contingente enorme de pessoas ficará excluído e sem acesso ao mercado de trabalho. A pergunta que surge é acerca da sustentabilidade social, diante desta ociosidade laboral que vem crescendo, além do número crescente de pessoas da terceira idade beneficiadas pelos avanços da medicina. A questão social não se resume a produção de riqueza e geração novas formas de trabalho, mas sobre a distribuição desta renda, para que não haja desperdício e acúmulo por parte de poucos, e morte por fome por parte de muitos. Observador Nascido em Hansa Hamonia, hoje Ibirama/SC, em 1940, sou filho de Francisco e Paula Klemz, neto de

Johann e Bertha Klemz (Warnov/SC), casado com Ingeborg Siegrid Woerfel, neta do Pastor Otto Kuhr. Tenho quatro filhos, e ora estou chegando perto dos 80 anos de vida e 60 anos de atividade profissional, formado em economia pela UFPR e em Administração e Gestão do Ensino Superior pela FESP e em Gestão e Governança pelo IBGC. Hoje, olhando para o retrovisor da vida, a jornada se assemelha a um filme que parece ter começado ontem: oitavo filho de 10. Infância própria de menino filho de agricultores: cama cedo e o acordar ao “primeiro” canto do galo. Na época, ainda não havia energia elétrica. Desde pequeno, a jornada iniciava de madrugada, não antes de toda a família estar reunida em torno da mesa, preces de agradecimento, leitura da Bíblia e entoação de um cântico. Lembro bem da velha Bíblia em letra gótica e das capas surradas dos batidos hinários. Tudo naturalmente em alemão, pois o português era totalmente desconhecido na região. Assim, o aprendizado da nova língua foi o primeiro grande desafio para o então exame de admissão ao curso ginasial, nesta altura já morando em Blumenau na casa do P. Duebers. Saíra de casa aos 11 anos e lembro bem como sofria de saudade do lar paterno. Concluído o segundo grau e o serviço militar com a formação de Sargento do Exército em Porto Alegre/RS, e aprovado para o ingresso no ensi-

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no superior, iniciei minha vida profissional como bancário e representante comercial. O domínio da língua alemã, o razoável conhecimento na língua inglesa, a formação superior, bem como a ordem e disciplina apreendida desde a primeira infância, abriram-me as portas para uma vida profissional de sucesso, que desde simples funcionário me levou a funções executivas e gestor de instituições financeiras multinacionais, instituições de ensino, saúde e sociais, a empreendedor e empresário e, com toda a experiência acumulada, a consultor, conselheiro independente e à presidência de Conselhos de Administração do Instituto Brasileiro de Governança Coorporativa. Grandes alterações aconteceram neste período: A migração do campo para os centros urbanos, as profundas mudanças nos meios de comunicações e locomoção, a modernização dos processos industriais e na prestação de serviços, que nos tempos recentes são potencializados pela Tecnologia da Informação. Eventos e processos que eliminaram profissões, formas de trabalho e desafiaram costumes e culturas, obrigando, tanto o trabalhador como o empreendedor, o empresário e o gestor, a reciclagens e permanentes adaptações. Participante e observador de todo este processo, concluo que o ser humano está permanentemente ansioso por substituir sua situação menos satisfatória por outra que lhe dê

mais satisfação, independente da situação em que se encontra e do trabalho que exerce e, neste sentido age e enfrenta os desafios que se colocam em seu caminho. Observo que seu sucesso ou insucesso nesta permanente busca, depende de sua formação e suas atitudes perante os normais desafios do dia a dia, e de seus relacionamentos no trabalho e no convívio com o próximo, ao optar pelo diálogo ou pelo confronto. Entendo que a necessidade de desenvolvimento é uma exigência permanente, a partir de regras claras e procedimentos transparentes, bem como a prática de diálogo ao invés do confronto resultam em relações harmoniosas, trazendo o prazer no trabalho e consequentemente o sucesso para ambas as partes. Onde, porém estas condições são omissas, a opção geralmente leva ao confronto entre os interesses e objetivos da empresa e do empregado, situação em que o trabalho reafirma a sensação de castigo e, em consequência, muitos empreendimentos e os empregos deixam de existir. Observando a situação atual do mundo ocidental, percebo que onde os princípios e fundamentos trazidos pela Reforma Protestante foram incorporados na rotina e prática, não só nas respectivas constituições dos países, mas também na educação e nos instrumentos normativos das sociedades, conhecidos como “A ÉTICA PROTESTANTE”, resulta-

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ram no mundo desenvolvido, enquanto que as sociedades humanas que não foram envolvidas nestas transformações, permanecem na luta pelo seu desenvolvimento até nossos dias. Ao chegar mais próximo ao final da jornada, vem a pergunta: que fiz e que deixei de fazer, como cidadão e

como luterano, para meu País, minha Igreja e para meu próximo? Apesar das falhas, sem diminuir o sucesso de muitas ações, carrego comigo acima de tudo a gratidão a Deus pelas oportunidades que tive e soube aproveitar para dar glória ao Seu Nome. O autor é economista e reside em Curitiba/PR

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Para que servem as abelhas? Eng. Agrônoma Rita Miriam Surita

Atualmente existe uma crença exagerada nas chamadas novas tecnologias científicas. Porém algumas delas, como a nanotecnologia e a transgenia - baseadas em manipulação genética - ainda são consideradas inseguras. Mas propaga-se que estas tecnologias são necessárias para a produção de alimentos em larga escala para uma população mundial crescente. Por outro lado, a natureza com sua riqueza em relações e diversidade, que tem mantido a vida no planeta, vai ficando relegada a um segundo plano. Exemplo disso são os animais que têm papéis importantes para o equilíbrio da natureza, para a manutenção da vida e a produção de alimentos. São eles, os animais, que dispersam sementes e assim plantam árvores, controlam populações de outras espécies e ainda produzem re-

médios para a cura de muitas doenças. A função deles é primordial para a existência da vida. Por isso, é tarefa de todos conhecerem essas espécies para valorizá-las e preservá-las. As plantas, ao se reproduzirem, formam flores que atraem diversos animais através de suas variadas cores, formas e tamanhos. O vento, a chuva e a gravidade ajudam na fecundação das plantas. Mas cerca de 80% das plantas com flores dependem de sua polinização pelos animais: Pelas abelhas, borboletas, pássaros, morcegos e tantos outros pequenos animais. Para esta tarefa nenhum deles é tão eficiente como as abelhas, sejam as abelhas melíferas (europeia e africana) ou as nativas brasileiras, sem ferrão. O mais importante da polinização realizada pelas abelhas nativas é a promoção da biodiversidade brasileira.

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A polinização tem um enorme significado ecológico, além de constituir uma das etapas fundamentais na reprodução das plantas e manutenção da vida. A polinização é o transporte de pólen de uma flor para a outra. É através da polinização que as flores são fecundadas, começando o desenvolvimento de frutos e sementes. “Se as abelhas desaparecerem da face da terra, a humanidade terá apenas mais quatro anos de existência. Sem abelhas não há polinização, não há reprodução da flora, sem flora não há animais, sem animais não haverá raça humana”. Esta afirmação de Albert Einstein demonstra a importância que têm as abelhas. O tamanho destes insetos é pequeno, mas o seu trabalho para a manutenção da vida na terra é enorme. Além da fertilização das plantas, as abelhas também fornecem alimento e remédios. Mais que um alimento saudável e um poderoso bactericida, o mel de abelhas é resultado de um trabalho coletivo; um exemplo de organização e cooperação bem sucedida. Sem as abelhas, não perderíamos somente o mel e os produtos agrícolas. A produção de animais para consumo sofreria grandes perdas, já que estes animais são herbívoros. A vida selvagem de uma forma geral também sofreria sem elas: a vegetação seria drasticamente reduzida e, assim, a vida em geral.

Mas, apesar de toda sua importância, as abelhas infelizmente não estão salvas das ações predatórias do ser humano. Muitas delas estão desaparecendo e regiões inteiras já não possuem mais abelhas. Acredita-se que as principais causas na redução de populações de abelhas e o desaparecimento de muitas espécies, sejam as mudanças climáticas, a grande quantidade de agrotóxico utilizado na agricultura, a urbanização e o desmatamento. A combinação que embasa a agricultura convencional intensiva (agrotóxicos e fertilizantes químicos) é um ciclo perigoso para a biodiversidade e para a própria agricultura. Hoje, dois bilhões de pessoas dependem diretamente da agricultura em pequenas propriedades. O conceito que deve ser fortalecido no cenário agrícola mundial é o da produção ecológica. Em todo o Brasil, existem mais de 300 espécies de abelhas sem ferrão – que são as principais responsáveis pela polinização em massa de frutos e árvores, mas um quarto das espécies já está sob ameaça de extinção. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura/ FAO, relata que as abelhas são responsáveis por pelo menos um terço da produção mundial de alimentos e o impacto de seu desparecimento seria muito maior que apenas o colapso econômico mundial. A Plataforma de Biodiversidade e Ecossistemas é uma iniciativa internacional que reúne 124 representan-

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tes de países membros da ONU em prol da adoção de boas práticas na agricultura mundial. O problema do desaparecimento de abelhas foi considerado como prioritário para a Plataforma e resultou na definição de diretrizes para auxiliar os governantes mundiais na elaboração de políticas públicas voltadas à preservação dos polinizadores em nível global. Estas diretrizes valem também para o Brasil. São formas de reverter ou, pelo menos, atenuar as perdas. Entre essas diretrizes, destacam-se: a) o manejo inteligente da paisagem com a adoção de cultivos heterogêneos e conectados; b) a diversificação de cultivos; c) a conservação do solo e redução na aplicação de agrotóxicos; d) o uso de práticas agroecológicas amigáveis ao meio ambiente; e e) apoio à agricultura familiar e agroecológica que produz alimentos preservando o ambiente. Você gosta de morango, de abobrinha, de pepino, de melancia e de maracujá? Se a resposta é sim, então você gosta do que as abelhas fazem e dos resultados do seu trabalho incessante. Esses e muitos outros vegetais não existiriam ou seriam muito diferentes sem a polinização fei-

ta por esses insetos. Que tal fazer alguma coisa bem prática para ajudar na mudança dessa situação de perdas das abelhas? Alguma vez já pensou em criar abelhas nativas? Só uma caixinha, bem pequena no jardim, no beiral da casa já é uma contribuição significativa, além de ser bonito e educativo: as crianças se encantam com o vai e vem no seu trabalho junto às flores. As abelhas nativas, diferentes das apis melíferas, não oferecem riscos à população. São as chamadas de abelhas sem ferrão. Elas podem ser criadas em ambientes rurais e urbanos e algumas espécies ainda rendem um mel saboroso e medicinal. Também chamadas de meliponídeos, as abelhas sem ferrão formam colônias perenes habitadas tanto por algumas dezenas quanto por vários milhares de indivíduos. Há centenas de espécies de abelhas sem ferrão em regiões tropicais e subtropicais do mundo. Possuem grande diversidade de formas, cores e tamanhos, com exemplares medindo de 0,2 centímetros de comprimento até próximo de 2 centímetros. Procure informações sobre as espécies existentes em sua região e comece sua própria criação. A autora é engenheira agrônoma e Coordenadora do Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia – CAPA Pelotas

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Por onde for, floresça! Christian Krambeck

Imagem da Feirinha da Servidão de Blumenau, 2018. Um dos eventos e iniciativas que estão devolvendo a esperança para as pessoas e contribuindo na construção coletiva e pedagógica sobre o que são cidades para as pessoas no século XXI. Contemporâneo designa quem partilha ou partilhou o mesmo tempo, o mesmo período1. Somos contemporâneos, irmãos vivendo um período tenso e intenso, de rápidas e profundas transformações, para o bem e para o mal. A cidade é o mais espetacular e complexo artefato já inventado pelo homem, evoluiu desde os últimos 10 mil anos e abriga hoje quase 60% da população mundial, enquanto os demais 40% estão dispersos pelo mundo rural e natural, concentrados na nobre tarefa de 1

alimentar a si próprios e os 4,5 bilhões de pessoas moradoras de áreas urbanas. Sendo contemporâneos, além de padecer dos mesmos males e de celebrar as mesmas graças, temos enorme dificuldade de olhar em perspectiva para nós mesmos, analisar o momento histórico presente e ter clareza do que acontece no mundo e no Brasil. Mas precisamos construir estratégias para fazê-lo, para o bem da humanidade precisamos criar pontos de ruptura, quebrar vários paradigmas

Significados, site de consulta acessado em 07 de maio de 2018.

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e desconstruir o atual modelo de cidades: focado no consumo, no consumismo, no individualismo, no produtivismo, no funcionalismo do deus carro, no lucro, na exploração do ser humano, dos recursos naturais e almas. Neste momento quando alguns poderosos querem manter tudo como está, temos que buscar inspiração, exemplo e ânimo para essa jornada, talvez como em 1517, quando Lutero enfrentou estes poderosos, oposição e incompreensão para lançar uma importante e necessária reforma da igreja. Talvez ainda com o amoroso Papa Francisco, que lança uma luz sobre toda a humanidade a partir de três pilares fundamentais para a vida urbana saudável, feliz e baseada no amor: convivência ecumênica e de igualdade entre todas as religiões e credos; o olhar para os pobres, fracos e excluídos da sociedade; e a defesa e proteção de nossa “casa comum”, através de uma encíclica de 2015, na qual o papa critica o consumismo e desenvolvimento irresponsável e faz um apelo à mudança e à unificação global das ações para combater a degradação ambiental e as alterações climáticas. “Gerir áreas urbanas tem-se tornado um dos desafios mais importantes do Século XXI. O nosso sucesso ou fracasso na construção sustentável das cidades vai ser o principal factor de sucesso da agenda da ONU pós 2015”, afirmou John Wilmoth, diretor da Divisão da população das Na-

ções Unidas do Departamento dos Assuntos Econômicos e Sociais (ONU, 2014). E o principal motivo para essa dificuldade são os interesses econômicos de uma minoria, minoria essa beneficiária de uma enorme concentração de renda e desigualdades crescentes em todo o mundo, principalmente nas cidades, com quase 1 bilhão de pessoas morando em favelas. "As desigualdades foram criadas pela sociedade, e por nós devem ser resolvidas" (OXFAM, 2018). Tal cenário não é natural, não é saudável, e como tal não pode ser aceito por nenhum cristão em qualquer parte do mundo, precisamos nos unir na fé e no amor próprio, lembrandose da caminhada de Jesus e de suas ideias e pregações, as inovações que ele propôs há dois mil anos. Amor, perdão, amizade, tolerância, paciência, humildade… inclusive diante das flores, das pedras, dos rios, dos animaizinhos, dos insetos e deste “novo” ambiente que nos acolhe, que são as cidades do século XXI. Na era da 4ª revolução industrial, a revolução digital, a “tecnologia permite maior eficiência, desejada pela maioria das pessoas. No entanto, elas também não querem ser mera parte de um processo, mas de algo maior que elas mesmas. Karl Marx expressou uma preocupação de que o processo de especialização reduziria o sentimento de propósito que todos nós buscamos no trabalho…” (SCHWAB, 2016, p. 55).

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Diante de graves ameaças num cenário pessimista, mas realista, onde a tecnologia e a internet ameaçam ceifar 7 milhões de empregos nos próximos 5 anos2, onde a riqueza dos 62 maiores bilionários se iguala à de metade da população, sendo que “a riqueza dos 62 mais ricos aumentou 44% desde 2010, enquanto a riqueza dos 3,5 bilhões mais pobres caiu 41%, segundo a Oxfam.” Veja, 2016. Os dados abaixo fazem parte do relatório da Oxfam “Recompensem o trabalho, não a riqueza”: -

De toda a riqueza gerada no mundo em 2017, 82% foi parar nas mãos do 1% mais rico do planeta.

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Enquanto isso, a metade mais pobre da população global – 3,7 bilhões de pessoas – não ficou com nada.

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Nove entre cada 10 bilionários no mundo são homens.

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O Brasil tem hoje cinco bilionários com patrimônio equivalente ao da metade mais pobre da população brasileira.

Em perspectiva é possível concluir que não haverá solução para as cidades do século XXI, e principalmente para as 5 bilhões de pessoas que nela estarão morando em breve, sem questionarmos o modelo econômico vigente e resolver definitiva e

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completamente as desigualdades crescentes em todo o mundo. Precisamos descobrir uma forma de buscar uma nova era para a humanidade nas cidades para as pessoas no século XXI, inclusivas, democráticas, sustentáveis, participativas, sensíveis e fraternas… em linguagem simples e apontando para um horizonte de referência: O Brasil de 2030 começa em 2018. Ou seja, já. Além da inspiração de Jesus, Lutero, Papa Francisco, tivemos algumas iniciativas positivas por parte das pessoas, entre elas a mais importante conferência global sobre as cidades, o HABITAT III, 2016, que aconteceu na cidade de Quito e propõe, entre suas principais disposições: a igualdade de oportunidades para todos; o fim da discriminação; a importância das cidades mais limpas; a redução das emissões de carbono; o respeito pleno aos direitos de refugiados e migrantes; a implementação de melhores iniciativas verdes e de conectividade, entre outras. – A maioria dos problemas que os seres humanos e a Terra têm se devem a nossas cidades e aos assentamentos humanos – resumiu o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, na abertura do evento. – Está claro que transformar nosso mundo significa transformar nossas cidades. Isso quer dizer melhor

‘Quarta revolução industrial’ acabará com 7 milhões de empregos até 2020. https:// veja.abril.com.br/economia/quarta-revolucao-industrial-acabara-com-7-milhoes-deempregos-ate-2020/

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governança urbana, planejamento e desenho. E também investir em moradias adequadas e acessíveis, infraestrutura de qualidade e serviços básicos. As transformações acontecem a partir de você, da sua família, no seu bairro, sua cidade, a partir da esperança e vontade de fazer parte de “algo”, da fé nas pessoas, no outro e

na sociedade, esse é o primeiro passo a ser dado por todos nós, cidadãos, fiéis, cristãos, pastoras e pastores, padres, políticos, empresários. Se não começarmos agora, colheremos as flores cada vez mais tarde e nada melhor para nos animar que o cheiro da terra molhada após uma chuva abençoada, o cheiro das flores na primavera que chega para todos… O autor é Arquiteto e Urbanista, empresário e professor de arquitetura e urbanismo FURB

REFERÊNCIAS HABITAT III: países adotam nova agenda para urbanização sustentável. https:// nacoesunidas.org/habitat-iii-paises-adotam-nova-agenda-para-urbanizacao-sustentavel. Acessado em 15 de abril de 2018. LAUDATO SI. Encíclica Papal lançada em 2015, acessada em http://w2.vatican.va/content/ francesco/pt/encyclicals/documents/papa-francesco_20150524_enciclica-laudato-si.html. Acessada em 05/05/2018. ONU 2014. Relatório da ONU mostra população mundial cada vez mais urbanizada, mais de metade vive em zonas urbanizadas ao que se podem juntar 2,5 mil milhões em 2050 https:// www.unric.org/pt/actualidade/31537-relatorio-da-onu-mostra-populacao-mundial-cada-vezmais-urbanizada-mais-de-metade-vive-em-zonas-urbanizadas-ao-que-se-podem-juntar-25-milmilhoes-em-2050. Acessado em 15 de abril de 2018. OXFAM. Entrevista com diretora executiva Katia Maia na Conferência Internacional sobre Desigualdades Rurais. Link: https://www.oxfam.org.br/noticias/as-desigualdades-foram-criadas-pela-sociedade-e-por-nos-devem-ser-resolvidas. Acessado em 07/08/2018. SCHWAB, Klaus. A Quarta Revolução Industrial. Tradução Daniel Moreira Miranda. - São Paulo: Edipro, 2016. SIGNIFICADOS. Site de consulta sobre significados em geral. Link https://www.significa dos.com.br/contemporaneo/ Acessado em 07/05/2018. VEJA. Revista semanal brasileira. Link: https://veja.abril.com.br/economia/riqueza-dos-62maiores-bilionarios-se-iguala-a-de-metade-da-populacao-mundial. Acessado em 05/05/2018.

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Preconceito e racismo, como lidamos com isso? P. em. Wilfrid Buchweitz

Ele é branco. Tem cabelos loiros. Olhos azuis. O sobrenome é alemão. Num encontro por acaso contou que de repente ficara doente e o médico decidiu interná-lo no hospital. Colocaram-no num quarto com duas camas, junto com outro paciente que já estava ali há alguns dias, negro, bem negro, e tinha nome luso. Disse que não conseguiu evitar um susto. Nunca tinha se considerado racista. Nunca tinha sentido desprezo contra pessoas negras. Mas agora, ficar no mesmo quarto, não sabia por quanto tempo, ao lado de uma pessoa negra! E quando chegavam os familiares, uma, três, cinco pessoas negras, de repente o preconceito contra a cor negra ameaçava ganhar força.

Teve que travar uma acirrada luta interior para manter a cabeça lúcida. Com pessoas negras, mais ou menos longe, ele achava que nunca tinha tido problemas. Mas esta proximidade inesperada mudara as coisas. Mas aos poucos a boa educação, a fé, um “bom dia” de manhã, um “boa noite”, foram ganhando espaço e aos poucos a conversa começou a ficar mais livre. E logo um gesto de ajuda mútua facilitava a vida para os dois lados. Um amor ao próximo mais forte que o preconceito começou a ganhar liberdade crescente. E quando, alguns dias depois, os dois ganharam alta do hospital e puderam voltar para casa, eles não estavam curados apenas no aspecto físico. O interior deles, a alma deles, ti-

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nha ganhado muito maior maturidade. Na verdade os dois tinham passado por uma profunda experiência: o amadurecimento. De longe nós dizemos com muita facilidade que não temos preconceito, mas de perto e lá no fundo as coisas não são tão simples assim. Às vezes, só uma experiência concreta, às vezes até traumática, nos concede a oportunidade de ganhar maior pureza de sentimentos e ação. Não faz muito tempo nós festejamos o nascimento do Filho de Deus. Ele nos dá a visão, e a capacidade de agir de acordo, de que perante Deus to-

das as pessoas tem valor igual. O apóstolo Paulo diz em Gálatas, capítulo 3, versículo 4, que quem foi batizado e está revestido de Cristo não faz e não tem diferença de valor entre judeu, grego, escravo, liberto, homem, mulher. Se nós atualizarmos isso para nossos dias e nossa sociedade, especialmente também para nossas igrejas cristãs, vão acontecer coisas tão ou mais bonitas como aquela daquele quarto de hospital. Brancos e negros, e outros grupos diferentes, vão aprender a conversar, a conviver e a se ajudar uns e umas a outros e outras. O autor é pastor emérito da IECLB e reside em Porto Alegre/RS

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Pronto para... Pronta para... Elfriede Rakko Ehlert

Estou sentada aqui meditando e avaliando o título que eu mesma sugeri (não especialmente para mim) para um artigo a ser publicado neste periódico em 2019. Claro que vêm à mente situações onde somos desafiados para um “pronto para...”. Podemos, por exemplo, referir-nos à terra. Ela foi trabalhada para o plantio. Agora está pronta para receber uma chuva e logo sementes para o cultivo. As frutas no tempo certo estão prontas para a colheita. Depois de um planejamento estamos prontos para uma viagem. Jovens, depois do devido preparo, estão prontos para enfrentar um exame de vestibular. Outros, para namorar. Interessante que na nossa língua prima, o espanhol, “pronto” significa rápido, logo (embora também disposto). Não quero sugerir que se use naquele sentido. Nada mais valioso numa Comunidade ou sociedade do que poder contar com pessoas que estão prontas para assumir tarefas. Pois isto sempre implica em dar algo de si (tempo, esforço). Ou em renúncia: renunciar à acomodação. Em lugar disso aceita desafios. O dicionário explica “desafio” como “provocação”. Você que participa dos cultos em sua

comunidade, não quer deixar desafiar-se para assumir um cargo na Diretoria? Suas ideias poderiam enriquecer o convívio. Alguém poderia objetar: “Mas eu não estou preparado”. Ok. Esse “pronto” não precisa ser o momento seguinte. Busque o preparo! Quero chamar a atenção para um profeta do Antigo Testamento: Isaías. Teve uma visão (cap. 6) e diante disso grita: “Ai de mim! Estou perdido porque sou homem de lábios impuros, habito no meio de um povo de impuros lábios...”. A essa confissão, segue um ato de purificação. Só depois disso ressoa a voz: “A quem enviarei?” E a resposta: “Eis-me aqui, envia-me a mim!” Está pronto para - uma missão impossível: Anunciar a Palavra a um povo que não estava nem aí para ouvir. Mas Isaías não desistiu - convicto que o Deus que o chamou também lhe dará forças para continuar. Nós também somos chamados para ser voz de Deus em nossos dias. Pelo batismo fazemos parte do grande número de discípulos e discípulas. Somos, sempre de novo, purificados - prontos para? Estão pedindo para alguém visitar idosos na Comunidade. Eles ficam tão contentes, quando alguém e, neste caso, alguém da Igreja, se lembra deles. Eles têm tanto para con-

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tar! Que tal você se prontificar? “Eisme aqui”! Quem sabe a sua Comunidade possui um grupo chamado "Diaconia"assistência a pessoas necessitadas. Precisam de gente. Aconteceu comigo: Havíamos viajado. Ao voltarmos, soubemos que uma vizinha havia falecido. Nós sequer soubemos que estava doente. Ouve-se a reclamação: “Estive doente e ninguém me visitou!” Mas como, se não há comunicação? Então vamos nos comunicar! Você mora na cidade? No seu bairro existe uma “Associação de Bairro”? Será que não precisam de mais alguém? Na praia em muitas casas vimos uma placa com os dizeres: “Estamos de

olho”. Um grupo de vizinhos se organizou para ajuda mútua de vigilância. Quando observam algo suspeito na casa do vizinho, logo comunicam, alarmando. Pronto para entrar no grupo? Não podia servir de exemplo para formar um grupo de solidariedade, não só para espantar algum ladrão, mas também atenção para o estado geral, a situação do vizinho, se precisa de alguma coisa. Prontos para providenciar ajuda? Finalizo sugerindo para os que se prontificam: “Abre nossos olhos, que veem o irmão...” (Hino 564 do Livro de Canto). Senhor, faze-nos entender o teu propósito conosco para que estejamos prontos para... A autora é professora aposentada e artista plástica, reside em Curitiba/PR

HUMOR O menino chega para a mãe: – Mamãe, você iria preferir que eu quebrasse a perna ou o vaso da sala? – Ora, meu filho, é claro que o vaso da sala! – Ah, mamãe, então pode ficar contente!

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Receitas saudáveis Maria Ledi Bobsin e Marlene Zizemer Gaede

Pão sem glúten Ingredientes: 1 xícara de polvilho doce ou azedo. 1 kg de farinha de arroz. ½ xícara de sementes de linhaça, trituradas. 1 colher de chá de sal. 1 colher de sopa de fermento para pão. Água morna. Modo de fazer: Junte o polvilho e a linhaça e escalde até obter um creme firme. Deixe esfriar. Junte o sal, o fermento e a farinha de arroz. Adicione água morna e amasse até obter massa média (não muito dura, nem muito mole). Coloque na forma, deixe crescer. Asse. Variação 1: use aipim cozido e esmagado em substituição ao polvilho. Não precisa escaldar. Variação 2: Use farinha de milho nesta mesma receita, meio a meio com a farinha de arroz. O restante tudo igual, escaldando a farinha de milho com a linhaça.

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Suco Verde Ingredientes: 1 Limão. 2 folhas de couve rasgadas ou outras folhas comestíveis. 1 litro de água. Açúcar mascavo a gosto. Gelo. Modo de fazer: coloque todos os ingredientes no liquidificados e bata. Peneire se quiser e sirva gelado. Pode-se usar casca de abacaxi, laranja, acerola ou morango no lugar de limão. A couve pode ser substituída por alface, folhas de beterraba, folhas de rabanete, folhas de repolho, folhas de couveflor, dente de leão, caruru e beldroega. BENEFÍCIOS DO SUCO VERDE: A clorofila fornece ferro aos órgãos, neutraliza toxinas ingeridas, limpa os tecidos intestinais, regula a menstruação, equilibra o açúcar no sangue, purifica o sangue, cicatriza feridas (também úlceras), elimina mau hálito, odor na axila, ajuda a melhorar amígdalas inflamadas, melhora hemorroidas, elimina mucosidades catarrais, limpa dentes e gengivas, reduz a dos causada por inflamações, melhora a produção de leite materno, melhora varizes, reequilibra o peso corporal. Alimentação Consciente Oikos Editora, págs. 119 e 145

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Recomeçar... Lori Tischer

Recomeçar uma vida após o término de um casamento de muitos anos, sem perspectivas de como me manter financeiramente foi um grande desafio. Inicialmente comecei a fazer doces, pães e salgados para amigos até receber um convite que iria mudar a minha vida. Certo dia, recebi o convite da Elfriede Ehlert para assumir o Café do Instituto Goethe, que na época estava precisando de uma pessoa para administrar. Fiquei com muitas dúvidas e receio, pois tinha um filho pequeno, mas com o incentivo dos meus filhos mais velhos, que se dispuseram a me apoiar no que fosse necessário, acabei aceitando o convite. No início foi muito difícil, nunca havia trabalhado fora de casa e estava com a autoestima baixa devido à separação, mas aceitando o desafio, sendo colocada à prova e contando com a ajuda de meus filhos e amigos, pude descobrir todo potencial e força que havia dentro de mim. Passei a vender no Café as tortas e doces que sempre fiz com muito carinho para minha família e percebi o quanto eram saborosas no momen-

to em que passaram a receber muitos elogios dos fregueses. Além dos elogios, graças ao Café, consegui me manter financeiramente, possibilitando reorganizar minha vida. Assim se passaram 22 anos de muito trabalho, com uma boa convivência com funcionários e alunos; muitas histórias compartilhadas e muitas amizades. Sempre aberta a escutar as aflições e alegrias, frustrações e conquistas durante as “conversas de balcão”, regadas a um bom café e um torta de maçã. Ao longo destes anos, recuperei minha autoestima e percebi dons que até aquele momento eu não valorizava e ou simplesmente desconhecia. Hoje tenho todos os meus filhos formados, trabalhando e independentes, o que me faz ter certeza de que toda dedicação no trabalho valeu a pena. Quando reflito sobre todos estes anos que se passaram, tenho convicção que fé, amigos e família são fundamentais em nossa vida e que em momentos de grandes dificuldades Deus nos permite descobrir um enorme potencial que nos incentiva e dá forças para continuar.

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RESPEITO – Ponte que une pessoas e as leva a Deus! P. Roni Roberto Balz

Como cuidamos de nossa história? Enquanto escrevo, ainda “vejo” a fumaça do Museu Nacional no Rio de Janeiro. Boa parte da história do Brasil foi queimada no trágico incêndio ocorrido em setembro de 2018. Em julho tive a oportunidade de conhecer a Alemanha, em busca de parcerias para com a Associação Criança em primeiro Lugar – ACPL e Missão com Folhetos Evangelísticos.

Entre as muitas experiências preciosas que trago comigo, a que mais me marcou foi a compreensão que se tem com a palavra RESPEITO. Explico: Visitei muitas igrejas. Entre elas a Catedral St. Marien und Jakobus - de Heilslbronn, do ano de 1132. Há quase 500 anos é Luterana. Nesta, há 27 altares, onde foram preservadas todas as imagens de santos, do período em que era uma igreja católica. Questionei o pastor local, dizendo que me era estranho ver estes elementos numa igreja luterana, ao que me respondeu: “A história não nos pertence, ela é de Deus. Nós não podemos apagar, nem mudar a história. Devemos respeitar a soberania de Deus sobre a história”. Então ele me levou ao púlpito central e me disse que mostraria algo que poderia ser mais escandaloso para mim. Ao erguer o paramento, lá estava, em auto relevo, a águia, símbolo de Hitler e apologia ao nazismo. Também insisti que tal símbolo deveria ser retirado, pois reafirma um período sombrio da história, ao que ele me lembrou: “A his-

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tória pertence a Deus. Se andamos por caminhos errados no passado, não nos cabe tentar apagar, mas RESPEITAR e nos lembrar para não voltar aos mesmos erros”. Realmente algo que me fez pensar, quando olho para nosso jeito brasileiro de lidar com a história. Geralmente quando ela não reafirma nossa ideologia, tratamos logo de apagá-la, por nos sentirmos incomodados. Olhando assim, certamente eu também já tenha desrespeitado a história de Deus, mas o que temos visto no Brasil, vai muito além. Muitos estão perdendo, quando já não perderam, a noção do que é RESPEITO. Parece que o diferente tornouse um inimigo que precisa ser combatido, destruído. Muitos querem impor sua história, desfazendo bonitos trabalhos realizados por anos, por que não conseguem lidar com a palavra RESPEITO. Lembro de um dito de infância: Quem quer respeito, precisa primeiro aprender a respeitar. Respeito é muito mais do que ignorar, mas é ouvir e aprender com o diferente sem agredir ou diminuir. É saber e reconhecer que há diferenças, e que estas, permitem um horizonte maior. Quantas substituições de ministros, presbíteros, lideranças políticas acontecem onde o trabalho anterior é destruído, para se começar tudo “novo”, com a sensação de que agora está vindo o certo. Quem não respeita a história e tenta apagá-la, achando que o seu jeito

é o único certo, perdeu-se na vaidade e egocentrismo, e dá passos perigosos para extremismos que fomentam a violência, a divisão e o desrespeito, valores contrários ao Evangelho de Jesus Cristo. Nossa missão é testemunhar o amor de Deus e a sua paz com justiça, respeitando seu senhorio sobre a história. Somos testemunhas de Cristo, falamos do que vimos e ouvimos, e não promotores da morte, impulsionados pelo ódio e extremismo surdo que se fecha ao diálogo. Só conseguiremos evoluir quando dialogarmos com RESPEITO, caso contrário, estaremos “involuindo”. Concorda comigo? O autor é pastor da IECLB e Diretor do Centro de Literatura Evangelística (Missão com Folhetos

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Sacrifícios sem graça P. Dr. Oneide Bobsin

Sacrifício nosso de cada dia A palavra “sacrifício” faz parte das nossas conversas do cotidiano. E têm muitos sentidos, uns distintos dos outros. Uma família pode decidir em tempos de dificuldades que vai deixar de lado planos de viagens e investir mais recursos na educação de filhos e filhos. Quando construímos a nossa casa há dez anos, deixamos de investir num carro novo para fazer captação de água da chuva, aliviando, assim, o nosso moribundo Rio dos Sinos. Assim, no âmbito da família, abrimos mão de certos projetos em detrimento de outros. Fizemos este sacrifício.

Também em nossa vida comunitária de fé precisamos fazer escolhas. Como é fraca a contribuição da maioria dos membros, as lideranças comunitárias precisam fazer opções. Se não quiser dispensar o ministro ou a ministra, é preciso, talvez, protelar a construção de um novo centro comunitário ou a reforma do templo. Agora se a maioria dos membros sacrificasse consumos desnecessários, a contribuição para a Igreja seria mais significativa e projetos de missão não seriam sacrificados. Na economia e na política, ordens da criação de Deus segundo Lutero, os sacrifícios passam a ser mais trágicos. Seguidamente governantes alegam que a população precisa fazer um sacrifício temporário até que a economia se fortaleça e venha a favorecer a todos. Já conhecemos esta forma enganosa de política. Uma maioria passa pelo sacrifício. O topo do funcionalismo público e do mundo empresarial está dispensado do sacrifício. Outro exemplo: apoiamos a construção de grandes hidrelétricas invadindo florestas de povos indígenas. Sacrificamos povos e florestas quando temos outras opções como fontes de energias renováveis. Famosos economistas que assessoram a governança global dizem que é preciso sacrificar uma parte da população pobre para que o mundo permaneça como está. Os portugue-

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ses e os espanhóis sacrificaram milhões de negros e índios para enriquecer a Europa e, assim, dar impulso à industrialização. Sacrifícios nas Religiões Começo este ponto arriscando dizer que sem sacrifícios quase todas as religiões caem por terra. No Hinduísmo, com forte presença entre o povo da Índia e adjacências, um ser primordial foi sacrificado. Na medida em que seu corpo se desfazia pelo fogo, o mundo ia surgindo. De suas partes desintegradas surgiram os rios, os animais, as pessoas, enfim, todos os seres que conhecemos. Na grande parte da nossa Bíblia, o Antigo Testamento, há relatos de sacrifícios. Sobre isto falaremos adiante. No Islamismo, a religião que mais cresce no mundo, também se pratica o sacrifício de animais. Em outras religiões e culturas dependentes da agricultura se sacrificavam seres humanos para alcançar altos níveis de produtividade. Em cultos de matriz africana há a prática do sacrifício de animais. Grande parte do animal sacrificado é compartilhada pelos participantes do culto, numa refeição comunitária. Também a nossa fé se sustenta no sacrifício de Cristo, único e que não se repete. (Hebreu 9.26-28). Sacrifício do Dinheiro Nos sacrifícios religiosos geralmente se oferece um animal, o qual, pelo ritual, deixa o mundo comum e en-

tra na esfera do sagrado. Assim, sacrifício quer dizer “fazer sagrado”. O animal ou a vítima entra nos espaços das divindades. É consagrada. Nos últimos cinquenta anos novas instituições religiosas apareceram no Brasil. Hoje elas estão em programas de televisão que custam muito caro. Para pagar estes espaços e fazer as produções, é necessário muito dinheiro. De onde vem este dinheiro? Dos fiéis. E como se arrecada tal dinheiro grosso? A meu ver, não se trata de doações espontâneas, como em muitas Igrejas. Se na história de Abraão e Isaac, o filho é substituído por um animal através da providência de Deus, nas novas igrejas da prosperidade os animais são substituídos pelo dinheiro. Só prospera na vida quem não é avarento, diz um destes líderes. Outro diz que Deus não olha o coração dos fiéis, mas o bolso. Sobre o altar havia uma rede de pesca. Diz o pastor que hoje você vai sair pescando o que deseja para a sua vida. Então, venha até aqui e coloque 100 reais. Quanto mais colocar, mais você pescará na vida. Enfim, é preciso sacrificar aquilo que é mais importante. Não sacrifique batata para ganhar dinheiro; sacrifique dinheiro. O sucesso financeiro desta pregação reside, a meu ver, no sacrifício do dinheiro. O dinheiro doado é consagrado. Ele sai do mundo do mercado e do bolso do fiel e vai para a esfera sagrada. Tal rito de sacralização do dinheiro impossibilita a percep-

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ção de um toma lá, dá cá, entre o fiel e o seu Deus. Além do mais, você pode exigir de Deus, pois foi ele quem prometeu prosperidade. Exija de seu Deus; cobre dele. Em outras palavras, a igreja só anuncia. Se você nada conseguir, é falta de sacrifício. O mesmo procedimento ritual vale para os problemas de casamento, da vida profissional e outras dimensões da vida. Para pedir bênção a oração é um caminho longo; faça um caminho mais curto, sacrifica o que tens de mais importante, o dinheiro. Segue uma imagem para plastificar o que estamos falando.

rasgado de alto abaixo na hora da morte de Jesus. Não há mais espaço sagrado e profano. Em Jesus na cruz, Deus é quem se sacrifica por nós. O Deus crucificado é o Deus que se sacrifica por nós. A não ser o louvor, nada temos a oferecer a Deus e a sacrificar. Enfim, não produzimos a santificação com o nosso esforço; logo, não nos consagramos, mas pela fé em Deus somos santificados, para nos dar às pessoas e ao meio ambiente sacrificados pela acumulação do capital. Inspiração final

Uma troca singular Como podemos deduzir, a relação entre o fiel e seu Deus está marcada por uma troca. É o fiel que induz a divindade a lhe retribuir com bênçãos multiplicadas. Desta forma, o ponto de partida da transação ou do acordo é o ser humano. Isto está bem expresso na frase dos pastores da prosperidade: Eu determino a Deus. É a minha vontade que conta, e não a vontade de Deus. No sacrifício de Abraão (Gênesis 22) e o de Jesus não há troca. Em Abraão há obediência, bem como na morte de Jesus na cruz. (Lucas 23.45-46). Abraão estava entregando o seu filho, que de Deus tinha recebido pela promessa. Jesus também entrega o seu espírito, o qual de Deus tinha recebido. Consequentemente, não precisamos fazer sacrifício para agradar a Deus. O véu do santuário foi

A reflexão foi inspirada em Um Sermão Sobre a Indulgência e Graça, de Martin Lutero, publicado em Pelo Evangelho de Cristo, Editoras Sinodal e Concórdia, do qual destaco uma frase, a qual nos ajuda a distinguir a indulgência enquanto compra do perdão no purgatório e o dinheiro sacrificado nas igrejas da prosperidade, onde não se quer comprar o céu, mas o mundo presente. Vamos, pois, ao Lutero: Mas se chegar o momento em que, em sua cidade, não há mais ninguém que necessite de ajuda (“...), então deve ofertar, se quiser às igrejas altares, ornamentos, cálice, em sua cidade.” Não procure sua alma no bolso, continua o reformador. O autor é pastor da IECLB, doutor em Ciências Sociais, e professor na Faculdades EST em São Leopoldo/RS

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TEATRO O Anúncio do Nascimento de Jesus, GRAVANDO! Texto: Sandra Schöenardie de Oliveira e Pa. Gabrielly Ramlow Allende Organização: Pa. Gabrielly Ramlow Allende

Informações sobre a peça: A apresentação consiste num ensaio para uma peça teatral. Tem um diretor que dirige os atores e os enche de críticas. O cenário acontece próximo a um presépio (esse presépio pode ser vivo envolvendo as crianças, coro/coral ou mais pessoas da comunidade – José, Maria, o Menino Jesus, os bichos do presépio, um pastor de ovelhas). A cena é o momento em que o anjo dá a notícia aos três reis magos sobre o nascimento. José e Maria estão ao lado com Jesus e o pastor. A peça inicia com o diretor convocando seu ajudante, o Severino, e os atores para suas posições. Para cada cena existe uma música tema que deveria estar gravada de forma sequenciada para facilitar a pessoa que cuidará das músicas. Personagens principais: Rei 1, Rei 2, Rei 3, Anjo, Severino, Diretor/a. Figurinos e objetos dos personagens: Severino: uniforme de segurança e uma claquete usada em gravações; Diretor/a: roupa normal, um colete (amarelo/mostarda) e uma cadeira na qual atrás vai escrito “DIRETOR”; Reis: roupa de rei mago com coroas; Anjo: vestes brancas, asas e auréolas.

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DIRETOR: Vamos começar pessoal. Cada um no seu lugar. Caprichem, pois a data está se aproximando e temos muito a ensaiar. Se ajeitem, vamos lá, cada um na sua posição. Ânimo! Vamos começar na fala do anjo. Quero o coral bem afinado. Pode começar no três. SEVERINO!!!! (grita o diretor) SEVERINO: Já vai... cara, crachá, cara crachá... (ele sai dizendo e olhando para os atores) Pois não chefe? DIRETOR: SEVERINO, começamos os comandos de cena. (Severino com a claquete em mãos, posicionando na frente dos atores e de frente ao público, diz:) SEVERINO: Cena 1, o “Anúncio do Nascimento de Jesus”, gravando! CENA 1 (de forma normal, com som natalino ao fundo) ANJO: Não tenham medo! Pois eu tenho algo para lhes dizer, que dará muita alegria! Nasceu o Senhor Jesus. O Salvador por quem vocês tanto esperavam. Ele nasceu em Belém. Vão depressa para lá! Vocês encontrarão a criança envolta em panos e deitada numa manjedoura. Sigam a estrela. REI 1: Vamos agora para Belém. Vamos ver o que aconteceu! REI 2: Nasceu o Salvador. Vamos levar presentes. REI 3: Glória a Deus nas maiores alturas. E paz na Terra entre os homens a quem Ele quer bem! DIRETOR: Para, para, para! Não é isso que eu quero. Quero mais emoção, mais drama, que comova às pessoas. Estão me entendendo? Comoção! Vamos tentar de novo. Severino!!! SEVERINO: Cena 2, “O Anúncio do Nascimento de Jesus”, 1, 2, 3, gravando!

CENA 2 (aos prantos, com som triste) ANJO: Não tenham medo! Pois eu tenho algo para lhes dizer, que dará muita alegria! Nasceu o Senhor Jesus. O Salvador por quem vocês tanto esperavam. Ele nasceu em Belém. Vão depressa para lá! Vocês encontrarão a criança envolta em panos e deitada numa manjedoura. Sigam a estrela. REI 1: Numa manjedoura? Minha nossa, coitadinho... igual bicho! (chora)

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REI 2: Nasceu o Salvador. Vamos levar presentes. Que tristezaaaaaa! REI 3: Glória a Deus nas maiores alturas. E paz na Terra entre os homens, a quem Ele quer bem! (chora) DIRETOR: Chega! Mas o que é isso? Uma novela mexicana por acaso? Quero um drama, mas não rios de lágrimas. Talvez, tente uma coisa mais atual, não tão formal, no ritmo dos dias de hoje... Confio em vocês. Vamos tentar de novo. Severino!!! Severino: Cena 3, “O Anúncio do Nascimento de Jesus”, gravando! CENA 3 (no fundo música do filme “Tropa de Elite”) ANJO: Ei pessoal, eu estava mesmo passando por aqui, mas eu não tenho muito tempo, tô muito atrasado, mas resolvi dar um toque para vocês. Tô sabendo que o menino Jesus nasceu em Belém. Vocês deveriam ir até lá e conferir essa fofoca! Não quero dizer nada, mas sigam aquela estrela! REI 1: Tudo bem, assim que a gente arrumar um tempinho, não é pessoal? (Cantando o funk do filme Tropa de Elite) REI 2: (Tira o fone de ouvido e o capuz da cabeça) Nasceu? Nasceu quem? Onde? REI 3: Mas tu não entendeu? Pede pra sair! Pede pra sair! DIRETOR: Stop! Para! Chega! Vocês estão me enlouquecendo!? Não foi isso que eu imaginei. Vou explicar de novo, mais uma vez. Eu quero uma peça feliz. É isso, feliz, muito feliz. Afinal todos ficaram felizes. E não fujam do texto original. Alegria, ok?! Severino, Severino... Se-ve-ri-no!!! SEVERINO: Chamou chefe? DIRETOR: Mas, onde é que você estava? SEVERINO: Cuidando da portaria. DIRETOR: Mas Severino é pra você ficar aqui. Vamos lá! SEVERINO: Cena 4, “O Anúncio do Nascimento de Jesus”, gravando!

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CENA 4 (Aos risos e gargalhadas, o anjo entra em cena) ANJO: Não tenham medo, kkkk! Pois eu tenho algo para lhes dizer que vocês vão se “pocar” de tanto rir de alegria! Nasceu o Senhor Jesus. O Salvador por quem vocês tanto esperavam (risos). REI 1: kkkkkkk, Vamos até Belém. Vamos ver o que aconteceu! REI 2: Ah minha nossa, que notícia alegre, kkkk... Nasceu o Salvador. Vamos levar presentes! REI 3: Glória a Deus nas maiores alturas do céu. E paz na Terra entre homens, a quem Ele quer bem! Kkkk DIRETOR: Mas a que ponto chegamos! Fracamente! Vocês estão ironizando algo sagrado. Bom, vamos tentar de novo e colocar um ponto de suspense nessa história. Afinal, essa notícia era um pouco perigosa para a época! Entenderam, SUSPENSE! Severino!!! SEVERINO: Entenderam (dando ordens aos atores)?!!??! Suspense! DIRETOR: Mas, o que é isto Severino? Quem manda aqui sou eu! SEVERINO: Claro chefe! Cena 5 “O Anúncio do Nascimento de Jesus”, gravando!

CENA 5 (Ao som da música do filme Missão impossível, sussurrando, com olhares de medo, se escondendo e “pisando em ovos”) ANJO: Ei, psiu... Não tenham medo! Pois eu tenho algo para lhes dizer, que lhes dará muita alegria! Chega aí, mais perto... Nasceu o Senhor Jesus! O salvador por que vocês tanto esperavam. Ele nasceu em Belém, mas cuidem isso é sigiloso e perigoso. Vão depressa para lá, mas tenham cuidado. A pista que deixo a vocês é que vocês encontrarão uma criança envolta em panos e deitada numa manjedoura. Xixixi... Sigam ela (apontando para a estrela da Cena)! (o Anjo sai da cena com muito cuidado) REI 1: Venham aqui vocês dois. E então, vamos até Belém? Vamos ver o que aconteceu lá? REI 2: Nasceu o Salvador. Vamos levar presentes! REI 1: Cuida... Não fala isso assim, de qualquer jeito. Pode ser que alguém ouça e conte a Herodes! ••• 195 •••


REI 3: Glória a Deus nas maiores alturas. E paz na terra entre os homens, a quem Ele quer bem! (O REI 1 e o REI 2 batem no REI 3 por falar mais alto) DIRETOR: Paaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaara! Gente! Não sei como explicar. Eu quero um jeito diferente para falarmos de algo que todo ano falamos. Já sei, vamos dar um toque do sul nessa história. Vamos para o jeito gaúcho! É isso... Despertem o gaúcho que há em vocês! Severino? (ao som de músicas gaúchas entra o Severino dançando e falando) SEVERINO: Cena 6 “O Anúncio do Nascimento de Jesus” gravando!

CENA 6 (os Reis tomando chimarrão) ANJO: Mas bah, tchê! Eu trouxe uma nova tri legal. O guri nasceu. O guri que vocês tanto esperavam. REI 1: CAPAZ!? REI 2: E onde está este guri? ANJO: Está lá em Belém. Está enrolado nuns trapos velhos e deitado numa manjedoura. REI 3: Numa manjedoura? Mas que barbaridade tchê! DIRETOR: Desisto. Estão todos demitidos. Acabou! (o diretor joga a pasta no chão e vai saindo) SEVERINO: Espera chefe! Senta aí e me dê 1 minuto (chamando os atores num cochicho). Pronto diretor. Solta o som aí... Cena 7 “O Anúncio do Nascimento de Jesus” gravando!

CENA 7 ANJO: Não tenham medo! Pois eu tenho algo para lhes dizer, que lhes dará muito alegria! Nasceu o Senhor Jesus. O salvador por quem vocês tanto esperavam. Ele nasceu em Belém. E nasceu para todos. REI 1: Nasceu para os que choram! REI 2: Nasceu para os ocupados!

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REI 3: Nasceu para os felizes. REI 1: Nasceu para os que têm medo! REI 2: Nasceu para os gaúchos, os catarinas, os capixabas, os cariocas, os paulistas, para todos os brasileiros. REI 3: Afinal, nasceu para toda a humanidade, para todo o mundo. Glória a Deus pelo nosso Salvador! DIRETOR: (levanta da cadeira e batendo palmas diz:) Perfeito!!! Vocês conseguiram expressar o verdadeiro sentido do Natal! Parabéns!!! Sugestão: todos envolvidos no teatro poderiam cantar a canção natalina Proclamaram Anjos Mil (315 HPDII)

– FIM –

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Teologia, culto e cinema P. Dr. Júlio Cézar Adam

Em apenas duas semanas, apenas no Brasil, mais de 10 milhões de pessoas haviam assistido o filme da Marvel “Vingadores: guerra infinita” (Joe Russo e Antony Russo, USA, 2018). Enquanto isso, a participação de pessoas na igreja, em especial no culto, havia diminuído. Haveria alguma relação entre a participação nos cultos e a ida ao cinema ou o assistir de filmes em casa, na TV e no Netflix? Há algo semelhante entre o que comunicamos no culto e o que o cinema, os filmes, comunicam? Há algo religioso no cinema? Ao que tudo indica, resguardada todas as especificidades, há, sim, várias relações, de modo que o cinema tem se tornado objeto de estudo da Teologia, em especial da Teologia Prática. Desde uma perspectiva do comportamento humano, podemos dizer que cinema e culto são eventos semelhantes. Ambos reúnem pessoas por um determinado tempo e em um determinado espaço com o objetivo de assistir (contemplar) e vivenciar (ritualizar) uma experiência, que está relacionada a um conteúdo, uma narrativa e uma sequência de atos específicos, relacionados à vida daquelas pessoas que fazem parte do evento, de modo que o crítico de cinema Georg Seesslen chega a profetizar que a religião do futuro será o cinema e será produzida em Hollywood.1

Nessa relação, pelo menos duas perspectivas podem ser consideradas: primeiro, é inegável que há uma estreita relação entre o cinema e a teologia e, de modo especial, com a Teologia Prática e o culto cristão e a pregação, considerando este como uma produção artística e cultural, como ação simbólica humana. Arte e cultura sempre compuseram a liturgia do culto, como a música, pinturas, esculturas, a arquitetura, textos e oratória e todos os elementos oriundos da cultura local. A segunda perspectiva tem a ver com o comportamento humano, simplesmente. Pesquisas, principalmente no contexto europeu, analisam a adesão do público a ambos os eventos e percebem uma mudança marcante. 2 Questões morais e existenciais, p. ex., antes abordadas na Igreja e pela Teologia, são hoje abordadas nos filmes. O culto como espaço de encontro da comunidade perde espaço para o cinema e para os filmes, como espaços de congregação e comunhão. Em que medida há uma relação entre a diminuição do público no culto e um aumento do público no cinema, não podemos dizer, sem pesquisas adequadas. Se pensamos, porém, a partir das imbricações entre culto e cinema, principalmente se consideramos o culto e o cinema como ação simbólica e espaços de construção

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de sentido, uma relação fica mais evidente. Em um estudo alemão, 70 por cento das pessoas que vão ao cinema têm entre 14 e 19 anos de idade. Entre os motivos estão, em primeiro lugar, a vontade de ver um filme, em segundo lugar, o desejo por diversão e entretenimento, e, em terceiro lugar (com em torno de 30 por cento dos questionados), o principal motivo é estar junto com amigos.3 Motivos semelhantes levaram pessoas ao culto, por gerações. Apenas combater o cinema, como em determinados situações a Igreja tem feito, parece causar pouca mudança nesse cenário. Por isso, o mais eficaz seria a Teologia se ocupar com o cinema, como uma forma de entender as pessoas e a cultura de hoje. Segundo Santos, “o cinema deveria interessar à teologia por uma razão muito simples: não houve, desde o último século, outra maneira mais eficaz de produzir e contar histórias como o cinema”.4 O autor fala ainda de pelo menos duas eficácias do cinema do ponto de vista teológico. A primeira eficácia tem clara relação ao mito, ao conteúdo e às linguagens que compõem o cinema: “[...] pelas histórias que conta. Os temas recorrentes; os gêneros que se difundem; personagens e artistas que se tornam ícones; mitologias que são inventadas ou reavivadas”.5 A segunda eficácia está relacionada à dinâmica que ocorre no cinema, ao rito: “[...] o cinema revela algo próprio do nosso tempo

pela mediação que exerce entre sujeito e objeto do olhar.”6 Ambas as eficácias estão profundamente relacionadas a anseios e necessidades do nosso tempo, encontrar um conteúdo para entender a vida e ritualizar, expressar o sentido da existência através de algo feito em conjunto. Fica muito evidente, portanto, que a adesão ao cinema tem relação direta com as temáticas tratadas nos filmes e o quanto estas temáticas estão diretamente relacionadas à vida concreta das pessoas do nosso tempo. S. Kracauers fala do cinema como espelho da sociedade: “Os temas dos filmes das últimas década espelham os temas e os problemas do seu tempo: amor, natureza, autenticidade, identidade e violência.”7 Interessante que todas as temáticas fizeram e fazem parte da liturgia do culto cristão. Mais que isto. Assim como a liturgia condensa a história de Deus, o cinema parece condensar a vida, como obra de arte, possibilitando um olhar profundo da realidade e de si mesmo, uma troca de olhares (Santos). Por isso, o cinema ganha espaço na teologia, na liturgia e na igreja como um todo. Há algo teológico no cinema. “Os filmes são uma expressão condensada das realidades humanas, e toda a vida tem espaço diante de Deus.”8 Com base no exposto até aqui, podemos dizer, seguindo o pensamento de Herrmann, que na relação entre cinema, teologia e religião, te-

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mos pelo menos três entrelaçamentos possíveis. 1) Os filmes abordam temas, motivos e tradições religiosas; 2) Filmes e o cinema assumem estruturas e funções religiosas, como o aspecto simbólico, as perguntas existenciais pelo sentido da vida, p. ex.; 3) Filmes e o cinema têm em si um caráter religioso,9 como se pode evidenciar no depoimento do escritor americano John Updike: De qualquer forma, o filme fez mais pela minha vida espiritual que a igreja. Minha ideia de fama, sucesso e beleza vieram todos da tela. Enquanto a religião cristã em toda parte está em declínio e perde mais e mais influência, o filme preenche esse vácuo e nos abaste-

ce com mitos e imagens condutoras. O cinema foi para mim durante uma certa fase da minha vida um substituto da religião.10 Para a Teologia e a Igreja fica a tarefa de analisar teologicamente os filmes que o povo tem visto; criar grupos de reflexão sobre os filmes nas comunidades de fé; buscar incorporar a arte cinematográfica nos cultos, na liturgia e na pregação; e, talvez o desafio maior, de forma amadora ou profissional proclamar o Evangelho através do cinema. O autor é pastor da IECLB e professor adjunto de Teologia Prática, na Faculdades EST, em São Leopoldo/RS

REFERÊNCIAS 1

SEESSLEN, Georg. Global Dream Play. Hollywood am Beginn des nächsten Jahrhunderts, epd-film 2000, Heft 1, p. 22.

2

HERRMANN. Jörg. “Film”, in: FECHTNER; K., FERMOR G.; POHL-PATALONG, U.; SCHROETER-WITTKE, H. (Eds.), Handbuch Religion und Populäre Kultur. Stuttgart: Kohlhammer, 2005. p. 67s.

3

HERRMANN, 2005, p. 67s.

4

SANTOS, Joe Marçal Gonçalves dos. Cinema e teologia: por que tratar de cinema numa teologia da cidade? In: ZWETSCH, Roberto E. (Org.). Cenários urbanos: realidade e esperança. Desafios às comunidades cristãs. São Leopoldo: Sinodal, EST, 2014. p. 242.

5

SANTOS, 2014, p. 248.

6

SANTOS, 2014, p. 249.

7

HERRMANN, 2005, p. 67.

8

KIRSNER, Inge; GEHRING, Hans-Ulrich. Filmgottesdien: Theorie und Modelle. Jena: Paideia, 2014. p. 13.

9

HERRMANN, 2005, p. 68-70.

10 HERRMANN, Jörg. Sinnmaschine Kino: Sinndeutung und Religion im populären Film. 2. Ed. Gütersloh: Kaiser/Gütersloher Verlaghaus, 2001. p. 10.

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Traição P. em. Friedrich Gierus

Eu tinha dez anos. Isto era o ano de 1951. Sentíamos ainda as consequências de uma guerra global perdida. Faltava tudo. E para nós, refugiados da guerra, sobretudo, faltava comida. Passamos muita fome. A minha família morava de aluguel no segundo andar de uma casa, um pouco isolada, no fim de uma rua de uma aldeia, bem no interior da Baviera/ Alemanha. No terreno anexo tinha uma área com muitas árvores frutíferas. Era início de verão, e uma árvore bem pertinho do nosso pátio já produzia maçãs, as primeiras de sua categoria. Como eu gostaria de saborear uma destas frutas! Um fim de semana, a minha mãe recebia visita de uma amiga que veio com seu filho, um menino na minha idade. Logo mostrei para ele tudo ao redor da casa onde morávamos. É óbvio que também chamei a atenção para aquela árvore de maçã que parecia-nos convidar a saborear suas frutas. A fome estava grande e as maçãs brilhavam ao sol. Sem pensar muito, resolvemos pular a cerca e sentamos debaixo da macieira, equipados com uma vara comprida. Bastavam só algumas batidas nos galhos e já caíam algumas maçãs diretamente lá onde estávamos sentados. Assim, saboreando as frutas quase não percebemos que o proprietário do pomar estava chegando. Armado com um pedaço de pau gritava: “Sai-

am do meu pomar! Quem lhes permitiu entrar aqui! Ladrões miseráveis!” É óbvio que corremos para salvar a nossa pele. Nem sei como conseguimos pular a cerca de volta. Em todos os casos nos escondemos no galpão que ficava ao fundo da casa onde eu morava. Meu amigo achou seu esconderijo, nem me lembro mais onde. Eu, em todos os casos, me escondi debaixo de uma carroça, bem no fundo. Daí entrou o colono com o pedaço de madeira na mão berrando: “Onde vocês se esconderam ladrões sem vergonhas?” Silêncio. Segurei a respiração. De repente meu “amigo” saiu do seu esconderijo dizendo que fui eu que o levou para o pomar e apontou para a carroça revelando o meu esconderijo. O colono logo se aproximou da carroça e deu algumas batidas no escuro debaixo da carroça e eu gritei alto, chorando muito. Nisto o colono se satisfez e se ausentou. No entanto, eu não sofri nada, pois as batidas acertaram tudo menos as minhas pernas. Assim me salvei. O susto foi muito grande, maior ainda foi a minha decepção em relação ao meu “amigo”, que me traiu para salvar a sua pele. Entrementes, o colono foi falar com a minha mãe dizendo que ela devia educar seu filho melhor, pois é um ladrão sem vergonha, blá, blá, blá...

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Quando voltei do galpão encontrei a minha mãe tão nervosa que, sem falar muito, pegou o seu chinelo e me deu aquela surra – na presença do meu “amigo” e de sua mãe – para mostrar que eu mereço esta surra. E mereci mesmo. Mas é interessante, essa surra não me doeu tanto quanto a atitude do “amigo” que me traiu. Estou escrevendo esta história uma semana após a Páscoa de 2018. De novo refletimos sobre a morte e ressureição de Jesus, Filho de Deus. No culto da Sexta-feira Santa foi lido o texto que relata como Jesus foi traído por um dos seus discípulos, Judas. Não conhecemos os verdadeiros motivos desta traição de Judas. Será que realmente foi apenas para ganhar dinheiro como conta o Evangelho de Mateus? De repente, o dinheiro nem foi tanto o motivo para trair Jesus. De repente Judas foi um discípulo muito fiel de Jesus que acreditava nas promessas do seu mestre anunciando o Reino de Deus. Quem sabe talvez quisesse, com sua traição, obrigar Jesus para não se

entregar às autoridades e consequentemente morrer na cruz. Talvez Judas, traindo Jesus, queria forçar o seu mestre a demonstrar seu poder, revelando sua onipotência para acabar com toda a falsidade dos fariseus e livrar Israel politicamente da opressão dos Romanos? E Judas não foi o único entre os discípulos que não queria que Jesus fosse ao caminho do sofrimento e da cruz. Também Pedro disse certa vez a Jesus para não ir a Jerusalém a fim de ser morto (Mateus 16.21-23). Seja como for, traindo alguém sempre é uma atitude para tirar vantagem para si ou para alcançar objetivos do seu interesse. E nisto reside um dos grandes males em nossa sociedade. Mas Jesus, através de sua atitude de ir pelo caminho da humildade e do sofrimento, morrendo na cruz, transmitiu a mensagem de que traição jamais pode ser um instrumento para abrir caminhos da justiça, da paz e do amor. Por isto morreu na cruz e ressuscitou, dando esperança para toda a humanidade, promovendo o caminho da confiança e fidelidade. O autor é pastor emérito da IECLB e reside em Blumenau/SC

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Um pouco da história da Igreja Menonita P. Arnold Friesen

Contar a história da Igreja Menonita é uma honra para mim. É verdade, a Igreja Menonita não está entre as maiores denominações. Mas é uma denominação que tem participação no plano de Deus em propagar o evangelho pelo mundo, levando o amor de Deus às pessoas em todos os cantos da terra. Hoje, a Igreja Menonita está na América, na Europa, na Ásia e na África. A Índia concentra o maior número de Igrejas Irmãos Menonitas. Reforma na Alemanha Na Alemanha, Deus começou um novo capítulo na história da Igreja quando o padre católico Martim Lutero divulgou suas 95 teses na porta de Wittenberg, em 31 de outubro de 1517. Assim foi desencadeado o importante movimento da Reforma, cujos 500 anos da Reforma Protestante, a igreja celebrou recentemente em todo mundo. Anabatismo na Suíça Enquanto que a Reforma de Lutero se desenrolou na Alemanha, a história Menonita teve sua origem na Suíça com os “anabatistas”. Ali começou a borbulhar um movimento conhecido por “Anabatismo”, liderado por pessoas como Georg Blaurock, Conrad Grebel e Félix Manz. Eles an-

siavam por uma reforma profunda. Queriam uma igreja desvinculada do Estado. Entenderam pela Escritura de que deveriam batizar as pessoas, quando estas se convertiam ao Evangelho de Jesus Cristo. Assim rebatizavam as pessoas que haviam sido batizadas na Igreja Católica nos primeiros dias de vida, mediante a confissão de sua fé em Jesus. Desta prática surgiu o nome “anabatismo” (rebatismo). Fundaram a primeira igreja em 21 de janeiro de 1525, próximo de Zurique. Por causa de suas convicções de fé foram duramente perseguidos, encarcerados e até queimados como tochas vivas. Menonitas na Holanda Desta forma os anabatistas optaram por fugir das represálias e perseguições religiosas e foram se espalhando até os Países Baixos, na Holanda. Menno Simons, um padre da cidade de Witmarsum, na Holanda, vendo o testemunho corajoso dos anabatistas, começou a pesquisar e estudar as suas convicções de fé e acabou por converter-se ao evangelho de Cristo Jesus no ano de 1536. A partir de então usou o seu dom de ensino e o seu conhecimento bíblico para dar assistência pastoral a este grupo de pessoas, que com o tempo foram chamados de “menonitas”.

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Menonitas na Rússia Em sua maioria, os menonitas eram camponeses que necessitavam terras amplas para manter as suas famílias com muitos filhos. Quanto aos ensinamentos bíblicos, davam grande importância ao Sermão do Monte de Jesus. Assim, evitavam toda forma de juramento e recusavam o uso de armas, pois discípulos de Jesus deveriam amar os inimigos. Pelos motivos acima, começou um movimento de migração para a Prússia e a Rússia. Ali lhes foi prometido liberdade de fé e isenção do serviço militar. Viram estas promessas como sinais da graciosa Mão Divina para um tempo de paz. Na Rússia, os Menonitas se tornaram muito prósperos, dando importante contribuição na produção agrícola, na fabricação de implementos agrícolas e na educação. No auge da prosperidade material, no entanto, o fervor espiritual dos menonitas quase se perdeu. Por volta de 1860, Deus permitiu que o pastor evangélico Eduardo Wuest, da Alemanha, viesse trabalhar entre os Menonitas e por meio de estudos bíblicos, houve um retorno à Palavra de Deus e aconteceram dias de reavivamento espiritual. Os dias favoráveis na Rússia, no entanto, estavam se findando com a chegada da primeira guerra mundial (1914), quando os alemães residentes na Rússia foram convocados para servirem no exército russo. E no

ano de 1917 aconteceu a “Revolução de Outubro”, quando os bolchevistas planejaram um golpe para tomar à força o poder e instituir o comunismo. Isso trouxe muitas incertezas para os menonitas. Esta hostilidade se acentuou cada vez mais. As suas fazendas começaram a ser saqueadas e as propriedades incendiadas. Pessoas eram mortas. Mais tarde, pessoas em posição de liderança nas colônias, nas igrejas e nas escolas foram enviadas a campos de trabalhos forçados na Sibéria, onde muitos morreram. A situação ficou tão difícil, que milhares de pessoas tentaram emigrar da Rússia. Em 25 de novembro de 1929, pela graça de Deus, aproximadamente 1.300 pessoas conseguiram o visto de emigração. Chegando à Alemanha, foram encaminhadas para o Brasil. Outras 200 pessoas, correndo risco de morte, conseguiram fugir para a China. Todos deixaram bens materiais para trás e vieram apenas com o que podiam carregar em suas malas. Menonitas no Brasil Assim, estas famílias chegaram ao Brasil e se fixaram num lugar chamado de Alto Rio Kraul, hoje município de Witmarsum, Santa Catarina. Durante cerca de 20 anos colonizaram aquela região, transformando a região numa linda zona colonial, com igrejas, escolas, serrarias, indústrias de óleos vegetais, um hospital e uma cooperativa.

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Devido às dificuldades e baixos resultados financeiros no vale do rio Kraul, mais uma vez decidiram procurar novas terras. Assim se fixaram em novas áreas rurais em Colônia Nova (RS), Curitiba (PR), Colônia Witmarsum (PR), onde se firmaram. Outros se fixaram em cidades como Blumenau e São Paulo. Até hoje, parte dos descendentes dos imigrantes menonitas obtêm o seu sustento do agronegócio, inclusive em regiões mais centrais do Brasil, como Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins e Bahia. Mas a grande maioria dos filhos, netos e bisnetos dos imigrantes menonitas vive em grandes cidades, como Curitiba, São Paulo, e muitas outras, atuando nas mais diversas profissões, alguns, empresários. Legado Espiritual E quanto ao legado espiritual dos menonitas? Onde quer que os menonitas tenham se firmado, pode se observar a sua preocupação em fundar e manter igrejas, investir em educação (escolas) e manter associações envolvidas em trabalhos sociais.

mam diversas convenções atuantes no Brasil. Cada uma delas empenhada em levar adiante o legado espiritual. Alguns tópicos da fé dos Menonitas no Brasil são: – Cremos que existe um só Deus, que se manifesta como Pai, Filho e Espírito Santo. – Cremos na Bíblia como única autoridade de fé e conduta. – Cremos em Jesus Cristo como o único mediador entre Deus e os homens. – Cremos na necessidade da conversão e batismo voluntário. – Cremos na volta eminente de Cristo para buscar o Seu povo. É um privilégio e uma graça de Deus fazer parte da Igreja de Jesus, que um dia se ajuntará com pessoas de todas as nações, tribos, povos e línguas para adorar o Cordeiro de Deus, Jesus Cristo (Apocalipse 7.9). Que a Igreja Menonita, juntamente com a toda Igreja de Jesus seja um testemunho que glorifica a Deus por meio de um viver marcado pelo amor a Deus e pelo amor ao próximo, até que ELE venha! Glórias a Deus.

Atualmente as Igrejas Menonitas forO autor é pastor da Igreja Menonita em Blumenau/SC

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Uma história... que parece pouco verdadeira Alexander Lenard

O húngaro Alexander Lenard viveu e atuou como médico, escritor e tradutor no interior de Santa Catarina, em Dona Emma (Dona Irma), local em que passou os últimos anos de sua vida, onde faleceu e está sepultado. Entre muitas outras publicações, também escreveu o livro: Die Kuh auf dem Bast (Stuttgart 1963), que tenho em 2ª edição. É um livro autobiográfico, mas no qual o autor descreve memórias e vivências de médico e de contato com as pessoas de suas relações em Dona Emma (ou Dona Irma, como ele denomina a localidade em seu livro). Numa das passagens de seu livro apaixonante, Lenard nos conta uma história deliciosa, que ele ouviu de um velho “Hunsrücker” (descendente ou imigrante da Região do Hunsrück – próximo ao Rio Reno na Alemanha). Ele diz: Eu guardei esta história muito bem em minha memória (contada pelo velho “Hunsrücker”, que o autor classifica de Aufschneider, isto é, alguém que gosta de exagerar em suas narrativas). E se algum dia eu voltar à Europa, vou contá-la como se o fato tivesse acontecido comigo mesmo. Se a gente repete tal história sempre de novo, e em momentos

próprios assegura “tão certo como eu vivo”, aos poucos a gente se convence, de que tudo aconteceu exatamente assim, e não de modo diferente... Uma bronquite foi a oportunidade bem vinda para o velho Hunsrücker me contar esta história: O que vou lhe contar aconteceu mais ou menos trinta anos atrás - tão certo como eu vivo! Foi no tempo em que começamos por aqui. Naquela época, se alguém queria comprar uma vaca ou um cavalo, não podia simplesmente ir até no vizinho. Era preciso ir até Lajes, na região dos campos. Lá já se havia acabado com os pinheirais há tempo. Tudo era campo aberto, com gado... Às vezes duas mil cabeças numa única fazenda. E na volta era preciso vir tangendo os animais comprados, pois não havia estradas. Onde começava a mata, era necessário seguir pelas picadas! E perigoso também era. Num dos canos da bota se levava o dinheiro, no outro o revólver... E para maior segurança, mais outro na cintura. Não era brincadeira, não - tão certo como eu vivo! Eu saí em direção a Lajes logo depois do Natal, no maior calor, porque então os dias eram mais longos. Eu já tinha passado metade da jornada,

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sempre pelo meio de capoeirão e de mato. De repente fico com sede e – puxa vida! – minha reserva de água acabou. Meu cantil está seco! E estou numa região em que, com sorte, se vê um casebre a cada duas horas! Mas hoje estou com sorte. Logo adiante vejo um casebre. Um verdadeiro rancho em que os caboclos em geral moram. Você sabe o que eles costumam dizer? – Se trabalho fosse coisa boa, os ricos teriam ficado com ele para si! Eles, os caboclos, trabalham pouco e bebem muito. – Mas não faz mal, penso comigo! E bato palmas na frente do rancho. (Aqui preciso explicar que nossa expressão “eu bati à porta” no Brasil perde o seu sentido. Mesmo que a habitação por acaso tem porta, a pessoa que vive lá dentro da mesma descende de uma gente, cuja vida não se desenrola atrás de portas. Nem o índio, nem o negro que se deixou trazer para cá há 150 ou 100 anos – muito a contragosto por sinal! – para esta eterna terra do futuro – eu dizia, nem o índio nem o negro conheciam esta complicada instalação técnica, para a qual se necessitam tábuas serradas, dobradiças e maçanetas. Quando se chega a uma casa e se quer entrar – e isto ainda hoje também pode acontecer em um palacete em São Paulo – é costume bater palmas, até que aparece alguém para atender.) – Ei! – digo bem alto. Vocês podem me fazer um favor? Vocês podem me

dar um pouco de água, por favor?! Fico esperando, e não vem nenhuma resposta. Repito em voz mais alta o meu pedido. – Espere um pouco! – alguém responde. Uma velha com voz esganiçada. – Espere um pouco! O Chico vai lhe trazer água! E de fato, do rancho saiu um macaco, com um porongo com água. O macaco veio vindo em minha direção, a passo lento, trazendo-me a água. E eu, como manda a boa educação, digo: – Obrigado, excelência! – e bebo a água. Não é em todo o rancho, que se recebe água de poço tão limpa e pura. Muitos pegam a água para cozinhar no riacho em que os porcos se banham, e para matar a sede, tomam cachaça. Devolvo o porongo ao macaco, agradecendo novamente: – Muito obrigado! Obrigado! Nisso me vem à ideia: Será que essa gente teria algo para eu comer? Se a gente está a caminho numa longa cavalgada, por muitos dias só se tem pão de milho e queijo. De repente eles têm um prato de feijão preto a troco de dinheiro! Nisso, chamo de novo: – Ei! Vocês têm algo para comer? Eu tenho dinheiro. Posso pagar! A velha com a sua voz esganiçada responde: – Não! Eu não posso lhe dar nada! Eu pergunto: – Vocês mesmo não tem nada para eu comer?

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A velha responde: – Não tem ninguém em casa! Penso: – Mas que bobalhona! Ela não consegue inventar outra desculpa melhor do que dizer “Não há ninguém em casa”!? – Eu quero pagar! Também pode ser um pedaço de charque! – digo. – Não tem ninguém em casa! – retruca ela de novo. Ah, mas isso é demais para mim! Eu apeio do cavalo, e vou até junto do rancho – o macaco todo nervoso ao meu lado!

E digo: – Com licença! – e olho para dentro pela abertura da janela. E – tão certo como eu vivo! – de fato não havia ninguém em casa! Mesmo eu achei isto meio estranho, e eu perguntei ao meu velho Hunsrücker: – Quem é que falou contigo? Onde estava aquela velhinha? Meu amigo já esperava por minha pergunta. Eu mal a tinha feito, ele já me respondeu triunfante: – Foi o papagaio que disse tudo isso! – Tão certo como eu vivo! De fato não havia outra viva alma em casa!

Extraído de “Die Kuh auf dem Bast”. Tradução e adaptação: P. em. Dr. Osmar Zizemer

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Vencer ou desistir, eis a questão... Elfriede Rakko Ehlert

Há 400 anos começou, na Europa, a Guerra dos Trinta Anos, quando cristãos com diferentes opiniões sobre a Palavra de Deus se combateram ferozmente. Isto me envergonha até hoje. Mas afinal o que eu tenho com isto? Todos nós estamos numa luta, querendo ou não admitir isto. Em cada luta se quer vencer. Ninguém gosta de admitir ou aceitar uma derrota. E por que não? Mexe muito com o nosso “ego”. Por exemplo: Você se empenhou muito por uma causa na sociedade ou na sua comunidade de fé. E, de repente, parece que não precisam mais de você. Convidam outra pessoa para tomar o seu lugar. Mexe com você e desanima. Felizmente não pelo resto de sua vida, pois somos capazes, mesmo sofrendo, de superar isto. Como? Lembrar-se da nossa capacidade, e testando-a, voltar-nos para outra atividade, em outro setor. Falei com a nossa querida Célia, diarista de longa data e amiga. Perguntei, se ela desiste facilmente. A resposta veio imediata: “Eu não, eu não desisto”. Ela tem um filho que já se envolveu com drogas. E sempre corre risco de retornar. Atualmente, está “limpo”. Muitos se alegram com ela e quase se esquecem de agradecer a Deus. Desistir nunca! Vencer? Importante é lutar! Lutar, lutar... E ficar de olhos

abertos, onde podemos servir e contribuir com os nossos dons. Esses dons que Deus nos confiou. Já ouvi gente falando: “Eu não tenho dons!” Ai, ai, ai! Que ingratidão. “Dá-nos olhos claros que veem o irmão!” Enxergar o que o outro precisa. Acho difícil, às vezes, vencer minha preguiça, minha comodidade. Estou numa boa em casa, levantar? Ir ao culto? Ou participar numa atividade na igreja que exige um esforço meu? “Deus que me perdoe, hoje não estou afim!” Tá bom, Deus às vezes tem que fazer vista grossa até com aqueles que, sendo seus filhos, vivem de outra forma. Mas é tão bom abrigar-se em sua misericórdia e ter certeza que estamos bem abrigados. Espantar as nossas dúvidas, inclusive as nossas dúvidas para com ele. E lutar por ele e com ele, trazendo calor humano para dentro de nossa sociedade tão violenta e briguenta. Acho que todos nós falhamos, quando provocamos aquelas briguinhas ou até brigas, seja na família, com vizinhos e assim vai. VENCER SEJA O NOSSO LEMA E NÃO DESISTIR! Na luta contra o mal, em nós mesmos e ao nosso redor. Que vença o bem que tanto queremos e almejamos aos outros. Desistir nesta luta - nunca! A autora é professora aposentada e artista plástica, reside em Curitiba/PR

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Você aprecia o kiwi? Então conheça um pouco de sua história Ivo Boutin

A história do kiwi como uma fruta conhecida é recente. Mas antes disso acontecer e por muitos anos, ela percorreu um caminho longo e complexo com muitas pesquisas científicas até se tornar uma fruta mundialmente apreciada. Os primeiros registros que temos sobre esta fruta são datados de 1904. Sua origem é da China. Ela é do gênero Actinidea Deliciosa. Há diversas variedades dela, e é na sua origem conhecida como uma espécie de groselha. Tudo teve início quando um grupo de viveiristas (produtores de mudas de plantas frutíferas) da Nova Zelândia foi à China em visita no início do século 20, e Izabel Franzier trouxe sementes de kiwi, uma fruta ainda totalmente desconhecida na

Nova Zelândia. Lá as sementes foram cultivadas, sendo que os primeiros frutos surgiram em 1910. Era então uma fruta completamente desconhecida, sendo chamada como uma fruta muito suculenta. Passaram-se os anos. E com certeza foi um trabalho contínuo de pesquisa e investimento para desenvolver uma fruta com boas características de aceitação pelo mercado consumidor que na realidade ainda estava para se desenvolver. Um comentário à parte: A Nova Zelândia, este pequeno país, localizado lá no distante Oceano Pacífico, é um país muito desenvolvido, e possui um grande centro de pesquisa científica na área da fruticultura. Entre outras, é responsável pelo lançamento de seis novas variedades de

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maçãs no mercado mundial, incluindo a conhecida maçã Gala, nas últimas décadas. Ao passo que os Estados Unidos e Europa não têm registro de uma nova variedade sequer. Mas voltando ao assunto em pauta, os anos foram passando, porém foi só em 1935 que a fruta - até então ainda desconhecida - foi oficialmente reconhecida como uma nova variedade de fruta de valor comercial. Contudo, ela ainda estava sem nome. Foi quando então a batizaram com o nome de “KIWI”, que por sinal é também o nome símbolo da Nova Zelândia. Naquele país existe uma ave que é tida como pré-histórica. Ela não voa, tem hábitos noturnos, bota um ovo com peso de 1kg. Os nativos da ilha a chamam pelo nome de Kiwi.

inicial estava dado e foi se abrindo um novo horizonte. Mas ainda havia um longo caminho a percorrer na sua divulgação pelos mercados consumidores. Sabe-se que alguns fatores tem muita influência na promoção das frutas e podemos destacar a boa aparência, aroma, qualidade, etc. Quanto ao kiwi é na realidade uma fruta pouco atraente, sem aroma, tem um formato oval achatado, a polpa é de cor esverdeada, a casca é ligeiramente peluda. Mas é importante fonte de vitaminas como a C; também contém fósforo e potássio como os principais elementos. Além disso, contém pectina, um tipo de fibra para controlar os níveis de colesterol. Na internet pode-se encontrar até mais informações. Com o passar dos anos o consumo do kiwi foi crescendo e outros países, como Estados Unidos e Europa também passaram a produzir o kiwi. Hoje a Itália está em primeiro lugar no mundo. Aqui no Brasil o kiwi encontrou seu espaço nos estados do sul.

Com o passar dos anos e com a evolução da qualidade da fruta os produtores conseguiram realizar exportações de pequenos volumes de kiwi para a Inglaterra e posteriormente para a Califórnia. Assim, o pontapé

A ciência não para de evoluir e com o passar dos anos surgiram novas variedades através de cruzamentos das espécies. E a Nova Zelândia lançou uma em especial com uma polpa de tonalidade amarelada, adocicada, que se distingue das demais, dando um impulso enorme no mercado consumidor. Sem comentários, o kiwi é hoje de grande importância econômica nos países produtores.

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Alguns aspectos do manejo e cultivo do kiwi Num certo sentido, a planta do kiwi na forma adulta tem semelhança a um pé de uva ou maracujá. Tanto uma quanto a outra crescem até a

Os tratos culturais do kiwi são bem menores que outras culturas como a maçã e a ameixa. Ela não é tão sensível a muitas doenças fúngicas e, outra grande vantagem, não é atacada pela mosca ou bicho da fruta, inseto que causa enorme prejuízo.

altura de dois ou mais metros aproximadamente. Depois é conduzida em um tipo de caramanchão que abrange uma boa superfície, os frutos ficam suspensos na sua parte inferior, facilitando a colheita.

Em princípio, o cultivo do kiwi não teria sido viável aqui no Brasil, pois a planta requer um clima com muitas horas de baixas temperaturas para despertar na primavera com uma boa florada e claro, boa frutificação. Nosso clima não costuma ter invernos frios o suficiente com muitas horas em baixas temperaturas, exceto alguns poucos pontos na Serra Catarinense. Este fator todo, porém, foi superado graças a um cientista israelense que em seus muitos experimentos, acidentalmente pulverizou uma macieira com

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um produto químico trocado. O engano não pode mais ser corrigido. Para sua surpresa, posteriormente aquela planta despertou, floresceu e frutificou, o que foi um grande impacto tecnológico. Esse fato revolucionou a fruticultura de clima temperado. Onde antes seria impossível produzir economicamente certas frutas como a maçã e o kiwi agora se tornou viável. Também a fruticultura no Nordeste brasileiro foi beneficiada. Atualmente é um grande cen-

tro produtor de uvas, e o atual estágio de desenvolvimento jamais teria alcançado sem este grande avanço científico. Hoje o kiwi é uma fruta que está consolidada em muitos países com grande importância econômica, empregando direta e indiretamente muitíssima gente. Mas talvez poucos têm conhecimento de quanto trabalho, pesquisa e ciência estão por trás de todo esse progresso que foi alcançado ao longo dos anos. O autor é empresário, da Boutin Fruticultura, com sede em Porto Amazonas/PR

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Palavras cruzadas: Soluções SOLUÇÃO da página 91

SOLUÇÃO da página 153

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Sumário Prefácio ............................................................................................... 3 O significado das nomenclaturas ............................................................ 5 Meditações mensais de Janeiro a Dezembro .................................. 10 a 32 Temas da IECLB ................................................................................. 34 Tema e Lema da IECLB para o ano de 2019 ......................................... 35 TEMA DO ANO DE 2019 .................................................................... 36 Secretaria Geral da IECLB

Datas Comemorativas em 2019 ........................................................... 38 P. Me. Osmar Luiz Witt

120 anos da Comunidade Cristo Bom Pastor Rio Cerro – Jaraguá do Sul – SC ...................................................... 41 Celebrai com júbilo: 120 anos de OASE no Brasil .................................. 53 A espiritualidade do homem – como a vive? .......................................... 67 P. Ms. Carlos Romeu Dege

A Experiência da Oração ..................................................................... 70 Pa. em. Iára Müller

A experiência de um policial na atualidade ............................................ 74 Joni Roberto Timm

A importância das abelhas sem ferrão ................................................... 77 Dra. Tatiana Guterres Kaehler

A relação entre avós e netos ................................................................ 81 Profa. Úrsula Axt Martinelli

A Tua presença .................................................................................. 84 Larissa Gebien

A vivência em um Modelo Econômico ................................................... 85 Prof. Dr. Gilmar Mantovani Maroso

Ajuda... Ajudas... ................................................................................ 88 Diácona em. Valmi Ione Becker

Palavras cruzadas 1 - Títulos e Temas .................................................. 91 P. em. Irineu Wolf

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Albrecht Dürer e seu quadrado mágico .................................................. 92 P. em. Dr. Osmar Zizemer

Alimentação consciente e saudável ....................................................... 94 Susan Tribess

As redes sociais e as Fake News ........................................................... 97 P. Clovis Horst Lindner

Assim convivem as igrejas em Dona Irma, interior de SC ...................... 100 Alexander Lenard

“Até que a morte nos separe!” ............................................................ 101 P. Adelmo Oscar Struecker

Autoestima e Egocentrismo ................................................................ 105 P. em. Friedrich Gierus

Carta de alguns Confirmandos para a nossa Igreja ............................... 107 P. Leandro Luís da Silva

Carta de um Diretor de Colégio aos pais de alunos! .............................. 111 Extraído da Internet

Conto de Natal: A importância de cada um .......................................... 112 Anamaria Kovács

Culto com o MST .............................................................................. 115 P. em. Wilfrid Buchweitz

Declaração conjunta – Confessamos juntos ......................................... 117 P. em. Meinrad Piske

Depressão, só acontece com as outras pessoas? .................................. 119 Pa. Psic. Elke Doehl e P. Claudir Burmann

Derramar o Coração .......................................................................... 122 P. em. Wilfrid Buchweitz

Desenvolvimento .............................................................................. 123 Eng. Ivonir A. Martinelli

Dia das mães (Uma peça de teatro) .................................................... 126 P. Roni Roberto Balz e OASE de Querência/MT

E se o Papai Noel deixasse de vir? ...................................................... 130 Pa. Mirian Ratz

Ele curou muitos doentes .................................................................. 133 P. em. Valmor Weingartner

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Espiritualidade sim, Igreja não? .......................................................... 135 Frei Luiz Carlos Susin

Igreja luterana da Bolívia ................................................................... 138 Pa. Dra. Elaine Gleci Neuenfeldt

Igreja missionária ou missional? Missão cristã nos dias de hoje! ............ 141 P. em. Arno Paganelli

JOHANNES GUTENBERG: O Homem do Milênio ................................. 147 P. em. Dr. Osmar Zizemer

Martim Lutero e a Reforma: o que estava em jogo? .............................. 150 P. Dr. Wilhelm Wachholz

Palavras cruzadas 2 - Títulos e Temas ................................................ 153 P. em. Irineu Wolf

Mein Gotteshaus .............................................................................. 154 Irma Roessler Menze

Minha fé pode dificultar minha carreira, meu emprego, meu trabalho? ... 156 Mário Hildebrandt

Missão e migração da IECLB para o Norte do Brasil ............................. 159 P. Teobaldo Witter

Nascer de novo? ............................................................................... 164 P. em. Wilfrid Buchweitz

Numa audiência diante do Juiz .......................................................... 165 Extraído da Internet

O Mistério da Religião – existe explicação? .......................................... 166 P. Dr. Dr. H. C. Gottfried Brakemeier

O trabalho como caminho digno diante de Deus ................................... 169 Burghard Klemz

Para que servem as abelhas? ............................................................. 173 Eng. Agrônoma Rita Miriam Surita

Por onde for, floresça! ....................................................................... 176 Christian Krambeck

Preconceito e racismo, como lidamos com isso? ................................... 180 P. em. Wilfrid Buchweitz

Pronto para... Pronta para... .............................................................. 182 Elfriede Rakko Ehlert

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Receitas saudáveis ........................................................................... 184 Maria Ledi Bobsin e Marlene Zizemer Gaede

Recomeçar... .................................................................................... 186 Lori Tischer

RESPEITO – Ponte que une pessoas e as leva a Deus! ......................... 187 P. Roni Roberto Balz

Sacrifícios sem graça ........................................................................ 189 P. Dr. Oneide Bobsin

TEATRO: O Anúncio do Nascimento de Jesus, GRAVANDO! .................. 192 Sandra Schöenardie de Oliveira e Pa. Gabrielly Ramlow Allende

Teologia, culto e cinema .................................................................... 198 P. Dr. Júlio Cézar Adam

Traição ............................................................................................ 201 P. em. Friedrich Gierus

Um pouco da história da Igreja Menonita ............................................ 203 P. Arnold Friesen

Uma história... que parece pouco verdadeira ....................................... 206 Alexander Lenard

Vencer ou desistir, eis a questão... ...................................................... 209 Elfriede Rakko Ehlert

Você aprecia o kiwi? Então conheça um pouco de sua história ............... 210 Ivo Boutin

Palavras cruzadas: Soluções .............................................................. 214

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ANOTAÇÕES

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ANOTAÇÕES

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