Anuário Evangélico Luterano 2021 - O Livro da Família

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2021

Anuário Evangélico Luterano O Livro da Família

Leia nesta edição: Centenário da Comunidade de CARAZINHO/RS





Anuário Evangélico Luterano O Livro da Família

2021 Publicado sob a direção de Meinrad Piske


© 2020 Editora Otto Kuhr Caixa Postal 6390 89068-971 – Blumenau/SC Tel.: (47) 3337-1110 E-mail: grafica.ok@terra.com.br

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Produção editorial: Gráfica e Editora Otto Kuhr Ltda. Produção gráfica: Gráfica e Editora Otto Kuhr Ltda. Capa: Gráfica e Editora Otto Kuhr Ltda. Crédito das imagens: Gemeindebrief (Alemanha), divulgação internet e arquivos pessoais cedidos pelos autores.

Os artigos assinados são de responsabilidade de seus autores. Direitos reservados à Gráfica e Editora Otto Kuhr Ltda.


Prefácio Alegres, jubilosos e exultantes, proclamamos: “até aqui nos trouxe Deus” (1 Samuel 7.12) – palavra bíblica, habitualmente, presente em eventos jubilares. Tudo é graça. Ele nos conduz e ampara permanentemente. O Anuário Evangélico Luterano, nesta edição, completa 50 anos de precioso serviço cristão. Congrega e conecta ministros e ministras, comunidades, paróquias, leitores e leitoras de todo o Brasil. Por tudo, louvamos a ti, Trino Deus. Expressiva e ilustrativa capa do primeiro Anuário Evangélico, que chegou às mãos de seus leitores e leitoras e talvez, a você. A foto da escultura de barro ilustra o êxodo rural em paralelo à foto da Igreja Luterana São Paulo Centro, ao lado do imponente Edifício Wilton Paes de Almeida, que apresenta o mundo urbano, sonho de muitos trabalhadores no mundo rural. Lamentavelmente, em 2018, este prédio de 24 andares desabou, em incêndio, destruindo boa parte da igreja, que está sendo restaurada. Muita água passou pelo rio do tempo e o valoroso Anuário navegou e chegou até aqui. Quando o centenário for celebrado, outros possam entoar hinos de louvor e gratidão ao Senhor e nosso Deus pela longevidade dessa singular ferramenta de evangelização. O Anuário Evangélico Luterano é um excelente material que visa formar, propor reflexão, informar, entreter dentro de princípios cristãos. Oferece meditações, pesquisas, testemunhos de fé, teatros, poesias, contos, receitas gastronômicas, palavras cruzadas, humor e artigos diversos.

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Nesta edição, há um destaque especial ao centenário da Comunidade Evangélica de Carazinho, – RS e um pouco da história dos 170 anos da Comunidade Evangélica de Joinville, SC. A fé cristã é alimentada pela Palavra de Deus e pelos Sacramentos, mas é na comunidade e a partir dela que colhemos saborosos e deliciosos frutos como, por exemplo, o trabalho voluntário de muitas mãos perfumadas que se abrem em doação e amor ao próximo. É a fé em ação. Este Anuário, outra vez, é o produto de muitos que compartilham, graciosamente, suas experiências e conhecimentos. Esta rica diversidade é como a beleza de um jardim com muitas e variadas flores e coloridas ervas que fascinam, seduzem e encantam. Consequentemente, a cada edição, cresce o número de leitores e leitoras. Se você aprecia o Anuário, ajude a divulgá-lo. Como sugestão, presenteie alguém com este livro no início do Ano Novo, na certeza de que há mais alegria em dar do que em receber. Gratidão aos autores e autoras dos artigos, gentilmente, cedidos e publicados. Gratidão aos anunciantes que ampliam o alcance do Anuário, aumentando sua tiragem e o tornam mais acessível aos leitores. Gratidão à equipe de redação que pensou temas e buscou pessoas competentes para organizar esta edição. Louvor, honra e glória ao nosso bondoso Deus, pelo conjunto de dons concedidos, ano a ano, capacitando tantas pessoas com sabedoria, criatividade e amor, permitindo que este periódico celebre 50 anos. Desejamos a vocês, queridos leitor e leitora, um abençoado ano de 2021. Que cada página deste Anuário aumente o brilho de seus olhos, lance luz em sua mente, aqueça seu coração e que suas mãos sejam a extensão das mãos de Jesus que continuam a curar, buscar, dialogar, perdoar, abençoar, doar, afagar, abraçar, reerguer, acolher, conduzir e amparar, indistintamente, a quantos, conhecidos ou estranhos, como necessitados, cruzarem pelo seu caminho, reavivando a chama da esperança cristã no aqui e agora. Pelo Conselho Editorial,

P. Roni Roberto Balz Editor ••• 4 •••


O significado das nomencla tur as nomenclatur turas Advento – Vinda, chegada do Senhor. Natal – Nascimento de Jesus Cristo. Epifania – “Aparição” de Deus em seu Filho Jesus Cristo. Septuagesimae – 70 dias (faltam até Páscoa). Sexagesimae – 60 dias (faltam até Páscoa). Estomihi – (Latim: Esto mihi in Deum...) Salmo 31.3: “Sê para mim um forte rochedo”. Invocavit – (Latim: Invocavit me, et ego...) Salmo 91.15: “Ele me invocará e eu responderei...”. Reminiscere – (Latim: Reminiscere miserationum...) Salmo 25.6: “Lembra-te, Senhor, das tuas misericórdias”. Oculi – (Latim: Oculi semper ad Dominum...) Salmo 25.15: “Meus olhos estão sempre em Deus...”. Laetare – (Latim: Laetare cum Jerusalem...) Isaías 66.10: “Alegrai-vos com Jerusalém...”. Judica – (Latim: Judica me, Deus...) Salmo 43.1: “Julga-me, ó Deus...”. Domingo de Ramos/Palmarum – Veja João 12.13: “... A grande multidão... tomou ramos de palmeira e saiu ao seu encontro...”. Páscoa – Ressurreição de Cristo. Quasimodogeniti – 1 Pedro 2.2: “... desejai, como crianças recém-nascidas o leite não adulterado da palavra...”. Misericordias Domini – (Latim: Misericordia Domini plena est terra) Salmo 33.5: “A terra está cheia da misericórdia do Senhor”. Jubilate – (Latim: Jubilate Deo, omnis terra) Salmo 66.1: “Jubilai a Deus toda a terra...”. Cantate – (Latim: Cantate Domino canticum novum) Salmo 98.1: “Cantai ao Senhor um cântico novo”. Rogate – “Rogai, orai” Salmo 66.20: “Bendito seja Deus que não me rejeita a oração...”. Exaudi – (Latim: Exaudi, Domine, vocem meam...) Salmo 27.7: “Ouve, Senhor, a minha voz...”. Pentecostes – No 50º dia após a Páscoa, a descida do Espírito Santo. Aniversário da Igreja. Trindade – Domingo em que é celebrada a ação do Deus triúno – Pai, Filho e Espírito Santo. ••• 5 •••


Datas Festivas do Calendário Eclesiástico

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Janeiro 1 Sex 2 Sáb 3 Dom

4 Seg 5 Ter 6 Qua 7 Qui 8 Sex 9 Sáb 10 Dom

11 Seg 12 Ter 13 Qua 14 Qui 15 Sex 16 Sáb 17 Dom

18 Seg 19 Ter 20 Qua 21 Qui 22 Sex 23 Sáb 24 Dom

25 Seg 26 Ter 27 Qua 28 Qui 29 Sex 30 Sáb 31 Dom

Fp 2.5-11 Js 24.1-26 Jo 1.1-18

ANO NOVO – NOME DE JESUS – Dia Mundial da Paz

Branco

2º DOMINGO APÓS NATAL Branco Cantem ao Senhor com alegria, povos de toda a terra! Louvem o Senhor com canções e gritos de alegria. Salmo 98.4

Gn 21.1-7 Gn 9.12-17 Mt 12.14-21 EPIFANIA DE NOSSO SENHOR Branco 1Jo 3.1-6 1890 – Declarada a plena liberdade religiosa no Brasil Nm 24.15-19 Ef 4.17-24 Gn 1.1-5 1º DOMINGO APÓS EPIFANIA – BATISMO DO SENHOR Branco Depois que Jesus foi batizado, ouviu-se uma voz dos céus: Tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo. Marcos 1.11 At 10.37-48 1Co 2.11-16 Rm 8.26-30 1635 – ✩ Philipp Jakob Spener, pai do pietismo luterano, † 05/02/1705 Ef 1.3-10 1875 – ✩ Albert Schweitzer, teólogo evangélico e médico, † 04/09/1965 Cl 2.1-7 Mt 6.6-13 1910 – Fundação Obra Gustavo Adolfo (OGA) brasileira, Hamburgo Velho, RS Jo 1.43-51 2º DOMINGO APÓS EPIFANIA Verde O Senhor me disse: Israel, você é o meu servo, e por meio de você serei glorificado. Isaías 49.3 1546 – Última pregação de Martim Lutero em Wittenberg (Rm 12.3) Dt 4.5-13 Rm 9.31-10.8 Gl 5.1-6 1866 – ✩ Euclides da Cunha, escritor brasileiro († 15/08/1909) At 15.22-31 1800 – ✩ Theodor Fliedner, fundou a primeira Casa Matriz de Diaconisas Jr 14.1-9 1532 – Fundação de São Vicente, primeira vila do Brasil-Português Dt 33.1-16 1637 – Chegada do conde João Maurício de Nassau-Siegen, governador do Brasil-Holandês, a Recife, PE 1Co 7.29-31 3º DOMINGO APÓS EPIFANIA (Último Domingo após Epifania) Verde Percorria Jesus toda a Galileia, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando toda sorte de doenças e enfermidades entre o povo. Mateus 4.23 At 16.9-15 1554 – Fundação pelos jesuítas do núcleo de São Paulo Rm 15.7-13 1654 – Fim do Brasil-Holandês: capitulação dos holandeses Rt 1.1-21 At 13.42-52 1808 – Abertura dos portos brasileiros aos navios das nações amigas Cl 1.24-29 1499 – ✩ Catarina von Bora, esposa de Martim Lutero († 20/12/1552) Ap 15.1-4 1990 – 8ª Assembleia Geral da FLM, em Curitiba, PR Mc 1.21-28 4º DOMINGO APÓS EPIFANIA (Septuagesimae) Verde Jesus leu no livro do profeta Isaías: O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos. Lucas 4.18 1531 – Chegada de Martim Afonso de Souza a Pernambuco Fases da Lua:

= Crescente

= Cheia

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= Minguante

= Nova


Lema do mês

Há muitas pessoas que oram assim: “Dá-nos mais bênçãos, ó Senhor Deus, e olha para nós com bondade!”. (Salmo 4.6)

O Salmo 4 é um salmo de súplica. É uma oração em que o salmista, em confiança, pede que Deus tenha misericórdia e ouça a sua oração. O salmista constata a existência de pessoas poderosas que o insultam, que amam o que não tem valor e que andam atrás de falsidades. Recorre à esperança de que Deus tem um cuidado especial com aquelas pessoas que Lhe são fiéis. Conclama a não agirmos por raiva para não pecarmos e “colocarmos a cabeça no travesseiro” para examinar a nossa consciência. Chama a que prestemos sacrifícios de justiça às pessoas que necessitam, e que confiemos em Deus. No versículo da nossa reflexão, o salmista aponta para o tipo de oração daquelas pessoas más e poderosas. Elas dizem “Dá-nos mais bênçãos, ó Senhor Deus, e olha para nós com bondade!” Se lermos o contexto, veremos que elas pensam somente em si e não “oferecem sacrifícios como o Senhor exige”. Querem que Deus seja bondoso com elas, enquanto elas praticam a injustiça com as outras. O salmista chama atenção à hipocrisia da oração das pessoas poderosas, aquelas que

nos insultam, amam o que não tem valor e seguem a mentira. Temos vivido em tempos de notícias falsas. Enquanto escrevo, estamos no meio da pandemia da Covi19. E vejo que há aquelas pessoas que nos guiam por caminhos de falsidade, que amam o que não tem valor e que insultam as pessoas pobres e fragilizadas. Certamente colocam o dinheiro acima da vida de milhares de pessoas e, para convencerem o povo, divulgam falsidades e operam apenas pela sua própria vaidade. Certamente, elas oram a seu deus com as mesmas palavras: “Dá-nos mais bênçãos”. Como se não bastasse sua posição de poder em uma sociedade tão desigual, querem mais ainda pra si e abandonam na exclusão a maioria das pessoas. No entanto, o Salmista ora em confiança! Sabe que Deus coloca muito mais alegria em seu coração, o que vale mais do que toda fartura na mesa daqueles que são iníquos. Que nós possamos também, como o salmista, nos deitar na cama em paz, confiantes que o Senhor Deus, em sua bondade, nos faz viver em segurança. P. Dr. Felipe Gustavo Koch Buttelli Goiânia – GO

Oração Misericordioso Deus. Concede aos nossos corações a tua verdadeira riqueza. Libertanos da ambição de encontrarmos nas riquezas deste mundo o nosso consolo. Ajudanos a praticarmos a tua justiça. Dá-nos a alegria de vivermos em paz e confiantes no teu amor. Em nome do amor de teu filho Jesus. Amém.

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Fevereiro 1 Seg 2 Ter 3 Qua 4 Qui 5 Sex 6 Sáb 7 Dom

8 Seg 9 Ter 10 Qua 11 Qui 12 Sex 13 Sáb 14 Dom

15 Seg 16 Ter 17 Qua 18 Qui 19 Sex 20 Sáb 21 Dom

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2Co 3.9-18 Mq 3.1-4 APRESENTAÇÃO DE JESUS NO TEMPLO Jo 3.31-36 1931 – Fundação da Federação das Igrejas Evangélicas no Brasil Ap 1.1-8 1Co 2.6-10 Nm 6.22-27 Is 40.21-31 5º DOMINGO APÓS EPIFANIA (Sexagesimae) Verde Jesus Cristo diz: Eu sou a luz do mundo; quem me segue nunca andará na escuridão, mas terá a luz da vida. João 8.12 Dt 32.44-47 Ez 33.30-33 1558 – Execução dos primeiros evangélicos no Brasil, na baía de Guanabara Lc 6.43-49 1Ts 1.2-10 1868 – Fundação do Sínodo Teuto-Evangélico da Província do Rio Grande do Sul, em São Leopoldo, RS (extinto em 1875) 2Tm 3.10-17 Mt 13.31-35 Mc 9.2-9 ÚLTIMO DOMINGO APÓS EPIFANIA (Estomihi) Branco TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR O salmista canta ao Ungido: Tu és o mais formoso dos humanos; nos teus lábios se extravasou a graça; por isso, Deus te abençoou para sempre. Salmo 45.2 Lc 13.31-35 Dia Mundial contra a Lepra Lc 5.33-39 1497 – ✩ Filipe Melanchthon, colaborador de Martim Lutero em Wittenberg († 19/04/1560) Mt 6.16-21 QUARTA-FEIRA DE CINZAS Violeta ou Preto ou Vermelho Cl 3.5-11 1546 – † Martim Lutero, reformador alemão, em Eisleben (✩ 10/11/1483) Rm 7.14-25a Zc 7.2-13 1Pe 3.18-22 1º DOMINGO NA QUARESMA (Invocavit) Violeta Jesus respondeu ao tentador: Está escrito: Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus. Mateus 4.4 2Ts 3.1-5 1956 – Criação da Fundação Diacônica Luterana, em Lagoa Serra Pelada, ES Jó 1.1-22 Dt 8.11-18 Tg 4.1-10 1778 – ✩ José de San Martin, general argentino, libertador latino americano († 17/08/1850) Hb 2.11-18 Rm 6.12-18 Mc 8.31-38 2º DOMINGO NA QUARESMA (Reminiscere) Violeta Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. João 3.16 1997 – Reestruturação da IECLB, extinção dos DE’s e das RE’s; criação dos Sínodos

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Lema do mês

Fiquem alegres porque o nome de cada um de vocês está escrito no céu. (Lucas 10.20)

O Evangelho de Lucas é escrito e composto de tal maneira que se assemelha a um relatório. Sua autoria é atribuída a Lucas, discípulo de Jesus e companheiro de ministério do Apóstolo Paulo. Médico, considerando a realidade da profissão ao seu tempo e contexto. Seu evangelho é a primeira parte do seu escrito que, por sua vez, conclui-se com o livro de Atos; que apresenta a narrativa a partir da ressurreição de Jesus até a propagação da Igreja primitiva. Lucas reúne o seu relato das histórias e experiências que experimentou ao lado do Mestre e Senhor Jesus Cristo; examina os fatos ocorridos, busca organizar seu relatório dentro de uma perspectiva cronológica e por fim, temos seu evangelho o qual nos apresenta, com poder e paixão, boas e significativas notícias para todas as pessoas, especialmente as pobres e marginalizadas. No versículo que nos conduz em nossa meditação, temos assegurada a verdade da vida em

Jesus Cristo. O texto é a continuidade da reflexão sobre o quão difícil é seguir Jesus, anunciar o reino de Deus e viver as perspectivas do seu ensino que exigem transformação de vida, especialmente com as pessoas que encontramos pelo caminho e caminhar da vida. A pessoa próxima, que Jesus nos apresenta, é aquela excluída, desconsiderada, menos favorecida ou esquecida pelas estatísticas de nosso município, comunidade ou família. A estas pessoas, a nossa vida, nos vem o escrito sagrado, pelo testemunho do evangelista e nos apresenta a verdade e a salvação, por graça e fé. A grande Graça nos é apresentada de graça. Sob essa verdade transformadora, devemos caminhar e testemunhar o que nós cremos, como cremos e porque nós cremos! A mensagem do Reio de Amor e Justiça precisa promover VIDA DIGNA a todas as pessoas, a começar por nós, aqui e agora! Catequista Edir Spredemann São Borja – RS

Oração Deus de amor e misericórdia, em teu imenso e grandioso amor experimentos acolhida, vida eterna e salvação. Ensina-nos a confiar e viver sob tal perspectiva. Ensina-nos a caminhar de encontro às pessoas excluídas e marginalizadas que encontramos pelo nosso caminho e, que em nossas ações, sob a base da nossa fé, desvestida de interesses pessoais, possamos promover vida digna, respeito, acolhida e paz, em cada encontro. Faze-nos testemunhas do reino, do teu amor, do teu ensino, através da nossa forma de viver, em Cristo Jesus. Amém!

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Março 1 Seg 2 Ter 3 Qua 4 Qui 5 Sex 6 Sáb 7 Dom

8 Seg 9 Ter 10 Qua 11 Qui 12 Sex 13 Sáb 14 Dom

15 Seg 16 Ter 17 Qua 18 Qui 19 Sex 20 Sáb 21 Dom

22 Seg 23 Ter 24 Qua 25 Qui 26 Sex 27 Sáb 28 Dom

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Gn 37.3-36 Jó 2.1-10 Jo 16.29-33 1Jo 1.8, 2.2-6 2Co 13.3-9 Dia Mundial de Oração – DMO Gl 2.16-21 Êx 20.1-17 3º DOMINGO NA QUARESMA (Oculi) Violeta Jesus Cristo a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até a morte e morte de cruz. Filipenses 2.8 Lc 14.25-35 Dia Internacional da Mulher Jó 7.11-21 Mt 13.44-46 1557 – Primeira pregação evangélica (calvinista) no Brasil, na baía de Guanabara (Sl 27.4) Mt 19.16-26 Mt 10.34-39 1607 – ✩ Paul Gerhardt, teólogo luterano e poeta alemão († 27/05/1676) Gl 6.11-18 1630 – Proibição do tráfico de escravos africanos no Brasil Jo 3.14-21 4º DOMINGO NA QUARESMA (Laetare) Violeta Assim como Moisés, no deserto, levantou a serpente numa estaca, assim também o Filho do Homem tem de ser levantado, para que todos os que crerem nele tenham a vida eterna. João 3.14-15 1965 – Consagração do primeiro diácono na IECLB, em Lagoa Serra Pelada, ES Jo 6.26-35 1937 – Abertura do Ginásio (hoje Colégio) Sinodal, em São Leopoldo, RS Jó 9.14-35 1969 – Inauguração do Instituto Concórdia, da IELB, em São Leopoldo, RS Jo 15.9-17 2Co 4.11-18 Jo 16.16-23a Dia da Escola Jo 14.15-21 Início do OUTONO Hb 5.5-10 5º DOMINGO NA QUARESMA (Judica) Violeta Jesus Cristo diz: O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida para salvar muita gente. Marcos 10.45 1557 – Primeira celebração evangélica (calvinista) da Santa Ceia no Brasil, na baía de Guanabara Ef 2.11-16 Jó 19.21-27 Hb 9.11-15 Jr 15.15-21 ANUNCIAÇÃO DO NASCIMENTO DE JESUS Branco 1824 – Promulgação da 1ª Constituição do Brasil, por D. Pedro I Hb 10.1-18 1946 – Abertura da Escola de Teologia em São Leopoldo, RS Lc 18.31-43 Jo 12.12-16 DOMINGO DE RAMOS – PAIXÃO Violeta ou vermelho Is 42.1-9 Jesus respondeu aos discípulos: É chegada a hora de ser glorificado o Filho do Homem. João 12.23 1823 – ✩ Dr. Hermann Borchard, fundador do Sínodo Teuto-Evangélico da Província do Rio Grande do Sul († 03/08/1891) Mt 26.6-13 1549 – Chegada dos primeiros missionários jesuítas ao Brasil, chefiados pelo padre Manuel da Nóbrega Jó 38.1-11 Lc 22.1-6 1492 – Expulsão dos judeus da Espanha

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Lema do mês

Jesus respondeu: Eu afirmo a vocês que, se eles se calarem, as pedras gritarão! (Lucas 19.40)

Não se cale! Este versículo conclui o conhecido relato da entrada de Jesus em Jerusalém, montado num jumentinho. A cena poderia ser motivo de chacota e humilhação, mas não é isso o que acontece: as pessoas se aproximam, estendem suas roupas, o louvam e o aclamam como rei. Vendo isto alguns fariseus pedem a Jesus que mande as pessoas calarem a boca, afinal de contas, eles são os dirigentes do povo, ao que Jesus responde com o versículo acima. A resposta de Jesus nos faz refletir para dentro do contexto onde vivemos e perceber que o poder e a vontade divina não podem e nem devem ser contidas, pois é a vontade de Deus caso contrário, até aquelas que não falam (pedras), gritarão. Você já precisou gritar ou teve que se calar diante de alguma situação? Por vivermos em um mundo repleto de injustiças, pessoas cristãs e tementes a Deus não devem se calar frente aos clamores deste mundo; frente à fome, à dor, à violência, à desigualdade, à opressão, ao sofrimento de toda criação divina.

Muitas são as vozes que gritam e ecoam pelo mundo abafando a voz do Evangelho, não deixando que chegue a todas as pessoas. O poder da força e imposição traz morte e destruição. Por sua vez, o poder da humildade, do serviço e amor ao próximo, traz vida e salvação. Não se cale! Não tenha medo, vergonha ou temor de falar e viver o Evangelho em seus dias. Não, não há como ficar quieto diante de Jesus e da sua vontade para todas as pessoas. Ele é o Filho de Deus e suas palavras são amor e vida. Ele conhece nossos pecados e, mesmo assim, nos ama ao ponto de entregar a sua vida por nós. Que as palavras dos nossos lábios testemunhem com alegria ao mundo o que Ele tem feito por toda a humanidade. Não se cale! Que a vontade divina se torne realidade também pelas nossas palavras e exemplos, animados e fortalecidos pela humildade daquele que chega montado num jumentinho. P. Jefferson Schmidt Irati – PR

Oração Amado Deus, muitas vezes me calei diante de injustiças, porque tive medo. Perdoe-me. Envia sobre mim, todos os dias, o teu Espírito Santo que dá coragem para testemunhar o Evangelho em palavras e ações até às últimas consequências. Em nome de Jesus. Amém.

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Abril 1 Qui 2 Sex 3 Sáb 4 Dom

5 Seg 6 Ter 7 Qua 8 Qui 9 Sex 10 Sáb 11 Dom

12 Seg 13 Ter 14 Qua 15 Qui 16 Sex 17 Sáb 18 Dom

19 Seg 20 Ter 21 Qua 22 Qui 23 Sex 24 Sáb 25 Dom

26 Seg 27 Ter 28 Qua 29 Qui 30 Sex

Mc 14.12-26 QUINTA-FEIRA DA PAIXÃO Branco 1985 – Lançado o primeiro número do jornal O CAMINHO Hb 10.16-25 SEXTA-FEIRA DA PAIXÃO Preto, Vermelho ou ausência de cor Sl 31.1-16 SÁBADO DA PAIXÃO – VIGÍLICA PASCAL Violeta ou Preto Mc 16.1-8 DOMINGO DA PÁSCOA – RESSURREIÇÃO DO SENHOR Branco ou Dourado Sabemos que Cristo foi ressuscitado e nunca mais morrerá, pois a morte não tem mais poder sobre ele. Romanos 6.9 1968 – † Martin Luther King (assassinado), pastor batista, líder do movimento negro dos EUA (✩ 15/01/1929) Ap 5.6-14 Jo 20.1-10 Jo 20.11-18 1831 – Abdicação de D. Pedro I, primeiro imperador do Brasil Jo 21.1-14 Lc 24.36-47 1945 – † Dietrich Bonhoeffer, teólogo alemão, mártir do nazismo (✩ 04/02/1906) Lc 24.1-12 At 4.32-35 2º DOMINGO DA PÁSCOA (Quasimodogeniti) Branco ou Dourado Jesus disse para Tomé: Você creu porque me viu? Felizes são os que não viram, mas assim mesmo creram! João 20.29 Gn 32.22b-32 Jó 42.7-17 1598 – Edito de Nantes; tolerância para os protestantes na França (revogado em 1685) Is 66.6-13 Jo 17.9-19 1Pe 2.1-10 At 8.26-39 Lc 24.36b-48 3º DOMINGO DA PÁSCOA (Misericordias Domini) Branco ou Dourado Os discípulos de Emaús disseram um ao outro: Porventura, não nos ardia o coração, quando ele, pelo caminho, nos falava, quando nos expunha as Escrituras? Lucas 24.32 Jo 10.1-10 Dia dos Povos Indígenas Mt 10.1-7 1529 – 2ª Dieta de Espira: protestos dos príncipes evangélicos alemães contra a restrição da liberdade de religião (“protestantes”) Jo 17.20-26 1792 – † Tiradentes, Joaquim José da Silva Xavier, enforcado 1960 – Inauguração de Brasília como nova capital do Brasil Ef 4.8-16 1500 – Chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil (descobrimento do Brasil) Mt 26.30-35 Dia Mundial do Livro Jo 14.1-6 1Jo 3.16-24 4º DOMINGO DA PÁSCOA (Jubilate) Branco ou Dourado Jesus Cristo diz: Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem a mim. João 10.14 Gn 1.6-8 1500 – Primeira missa no Brasil Gn 1.9-13 Gn 1.14-19 Gn 1.20-23 Gn 1.24-31

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Lema do mês

Cristo, o primeiro Filho, é a revelação visível do Deus invisível; ele é superior a todas as coisas criadas. (Colossenses 1.15)

Jesus é o Filho de Deus. Jesus é o próprio Deus. Mas como pode ser isso? Essa pergunta já não é mais novidade. Por anos, a Igreja de Jesus Cristo no mundo tenta explicar tamanho mistério. Houve muito labor teológico envolvido e ainda há, pois as gerações mudam, mas essa pergunta não! No fundo, queremos entender a Deus e todo o mistério que O cerca. Queremos que Deus caiba na nossa razão, só que Ele é muito maior do que nossas mentes criadas podem compreender. É evidente, porém, que Deus quer que usemos nossas mentes para nos ocuparmos com Ele. É legítimo o labor que busca, pesquisa, estuda e

procura aprender cada vez mais da Palavra do Senhor. O problema surge quando nossa fé depende do resultado desse esforço. Nem sempre vamos conseguir explicar tudo, e nem precisamos, porque ter fé não significa ter todas as respostas; significa não precisar delas! O Apóstolo Paulo afirma que “Cristo, o primeiro Filho, é a revelação visível do Deus invisível”. Em outras palavras, ele está nos dizendo que tudo o que precisamos saber sobre Deus encontramos em Cristo e que não vamos desvendar mais de Deus do que o próprio Cristo, porque Ele é superior a todas as coisas criadas. Pa. Manuela Letícia Marezani Schwingel Ji-Paraná – RO

Oração Pai de amor, graças te rendemos por teres vindo a este mundo e te revelado a nós de maneira tão extraordinária em Jesus Cristo. Permita que possamos te reconhecer na face do teu Filho e segui-Lo na certeza de que Ele é o único caminho para chegar a ti. Amém.

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Maio 1 Sáb 2 Dom

Gn 2.1-3 Jo 15.1-8

3 Seg

Êx 15.1-21

4 Ter 5 Qua

1Sm 16.14-23 Rm 15.14-21 1865 – ✩ Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, sertanista e geógrafo brasileiro († 19/01/1958) 1Co 14.6-19 Ap 5.6-14 Jo 6.60-69 1945 – Fim da 2ª Guerra Mundial na Europa At 10.44-48 6º DOMINGO DA PÁSCOA (Rogate) Branco ou Dourado Jesus Cristo diz: Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada. João 14.23 DIA DAS MÃES Mc 1.32-39 1886 – ✩ Karl Barth, teólogo evangélico suíço († 10/12/1969) Lc 18.1-8 Mc 9.14-29 At 1.1-11 ASCENSÃO DO SENHOR Branco ou Dourado 1888 – Abolição da escravatura no Brasil Jo 18.33-38 1950 – 1º Concílio Geral da Federação Sinodal, em São Leopoldo, RS Ap 4.1-11 1 Jo 5.9-13 7º DOMINGO DA PÁSCOA (Exaudi) Branco ou Dourado Jesus Cristo diz: Não os deixarei órfãos, voltarei para vocês. João 14.18 Ez 11.14-20 1939 – Fundação da Casa Matriz de Diaconisas, em São Leopoldo, RS 1Jo 4.1-6 Is 32.11-18 At 1.12-26 1886 – Fundação do Sínodo Riograndense, em São Leopoldo, RS Ef 1.15-23 Jo 16.5-15 Jo 15.26-27; DOMINGO DE PENTECOSTES Vermelho 16.4-15 Jesus Cristo diz: Quando o Espírito Santo descer sobre vocês, vocês receberão poder e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria e até nos lugares mais distantes da terra. Atos 1.8 1Co 12.4-11 Segunda-feira de Pentecostes 1Co 14.1-40 1700 – ✩ Nikolaus Ludwig, Conde de Zinzendorf, fundador da Igreja Evangélica dos Irmãos Herrnhut, Alemanha († 09/05/1760) Ef 1.11-14 2Co 3.2-9 Gl 3.1-5 At 18.1-11 1537 – Declarada a liberdade dos indígenas americanos pelo Papa Paulo III Is 6.1-8 1º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Branco ou Dourado TRINDADE Os serafins diziam em voz alta uns para os outros: Santo, santo, santo é o Senhor Todo-Poderoso; a sua presença gloriosa enche o mundo inteiro! Isaías 6.3 1909 – ✩ Dr. Ernesto T. Schlieper, 2º Pastor Presidente da IECLB († 31/ 10/1969) Êx 3.13-20

6 Qui 7 Sex 8 Sáb 9 Dom

10 Seg 11 Ter 12 Qua 13 Qui 14 Sex 15 Sáb 16 Dom 17 Seg 18 Ter 19 Qua 20 Qui 21 Sex 22 Sáb 23 Dom

24 Seg 25 Ter 26 Qua 27 Qui 28 Sex 29 Sáb 30 Dom

31 Seg

Dia do Trabalho 5º DOMINGO DA PÁSCOA (Cantate) Branco ou Dourado Jesus Cristo diz: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim. João 14.6 1824 – Fundação da primeira comunidade evangélica pertencente à IECLB, em Nova Friburgo, RJ

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Lema do mês

Fale a favor daqueles que não podem se defender. Proteja os direitos de todos os desamparados. (Provérbios 31.8)

O versículo em questão faz parte de muitos conselhos que uma mãe dá para seu filho, que é um grande e poderoso Rei. A mãe de Lemuel quis lhe aconselhar a ser um rei bom, que governasse em prol de todas as pessoas. E para isso, lhe ensinou sobre a Palavra de Deus. No mês de maio celebramos o dia das mães. Ensinamentos e conselhos de mãe são muito valiosos! Eles são para a vida toda. Quem nunca ouviu de sua mãe – Leva o casaco! Ou – Leva um guarda-chuva! E seguindo estes conselhos não passaram frio, ou não se molharam. Parece que mãe tem uma bola de cristal, como pode ela saber de quase tudo? Mas, não! Mãe não tem uma bola de cristal, ela apenas fala aquilo que está em seu coração. Conselho de mãe é um aviso de Deus. Nem sempre ela acerta, porque mãe é ser humano. Por isso, ela por vezes, também erra, mas mãe não precisa ser perfeita e nem sempre estar cer-

ta. Ela é suficientemente boa. Mãe nos apoia, nos ajuda, nos auxilia, nos mostra o caminho, nos dá broncas, puxões de orelha, cuida, protege, aconselha... Mãe nos fala e apresenta sobre o amor de Deus. Assim como a mãe de Lemuel lhe falou sobre os ensinamentos de Deus. Ela queria que ele governasse seu Reino tendo como princípios os ensinamentos de Deus. No v.8, ela lhe ensina que deve proteger e falar em favor dos que não podem. Conselho este, que Jesus também nos deu e nos ensinou. Grande parte de sua obra missionária é dedicada a ajudar e defender pessoas excluídas e vulneráveis. A Palavra de Deus também nos inclui neste imperativo, para que oremos e pratiquemos ações e atitudes justas em prol das pessoas, principalmente, necessitadas. Lutar e buscar por vida digna a toda a criação de Deus é tarefa de todas as pessoas cristãs. Pa. Camila Laís Karsten Primavera do Leste – MT

Oração Bondoso Deus, te somos pessoas gratas por nossas mães. Gratas pela vida que concedeste a elas e por tudo o que elas fizeram e fazem em favor de seus filho e filhas. Que possamos seguir seus conselhos e ser pessoas boas em nosso mundo. Que nunca nos esqueçamos de lutar e buscar por vida digna a todas as pessoas e tua criação. Em nome de Cristo Jesus. Amém.

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Junho 1 Ter 2 Qua 3 Qui 4 Sex 5 Sáb 6 Dom

7 Seg 8 Ter 9 Qua 10 Qui 11 Sex 12 Sáb 13 Dom

14 Seg 15 Ter 16 Qua 17 Qui 18 Sex 19 Sáb 20 Dom

21 Seg 22 Ter 23 Qua 24 Qui 25 Sex 26 Sáb 27 Dom

28 Seg 29 Ter 30 Qua

Is 43.8-13 At 17.16-34 Ef 4.1-7 CORPUS CHRISTI 2Pe 1.16-21 Jo 14.7-14 Dia Mundial do Meio Ambiente Mc 3.20-35 2º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos seres humanos as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação. 2 Coríntios 5.19 At 4.1-21 2Co 1.23, 2.4 Ez 3.22-27 Jo 21.15-19 DIA DO PASTOR E DA PASTORA 1888 – 1º número do “Sonntagsblatt” (Folha Dominical) do Sínodo Riograndese Jr 20.7-11 1948 – Criação da Sociedade Bíblica do Brasil Jn 1.1-16 Mc 4.26-34 3º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Vistam-se de justiça os teus sacerdotes, e exultem os teus fiéis. Salmo 132.9 1525 – Casamento de Martim Lutero e Catarina von Bora Pv 9.1-10 1910 – Conferência Missionária Mundial em Edimburgo, na Escócia Êx 2.11-25 Jo 4.5-18 Mt 15.29-39 1703 – ✩ John Wesley, pai do metodismo († 02/03/1791) Jo 6.37-46 Jn 2.1-10 1934 – Constituição da Confederação Evangélica do Brasil (CEB) 2Co 6.1-13 4º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Para mostrar que vocês são seus filhos, Deus enviou o Espírito do seu Filho ao nosso coração, o Espírito que exclama: Aba, Pai! Gálatas 4.6 Lc 7.36-50 Início do INVERNO Jz 10.6-16 Mq 7.7-20 Lc 1.57-80 João Batista, profeta Branco 1904 – Fundação da Igreja Luterana do Brasil (IELB) Mt 10.26-33 1827 – Fundação da Comunidade Protestante Teuto-Francesa do Rio de Janeiro, hoje pertencente à IECLB Jo 1.19-28 1945 – Criação da ONU em São Francisco, EUA Mc 5.21-43 5º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde O Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, conceda a vocês o espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento dele. Efésios 1.17 Sl 145.15 AÇÃO DE GRAÇAS PELA COLHEITA Gl 6.1-5 1912 – Fundação do Sínodo das Comunidades Teuto-Evangélicas (Sínodo Evangélico) do Brasil Central no Rio de Janeiro 2Co 2.5-11 Mc 11.20-26 1947 – Assembleia Constituinte da Federação Luterana Mundial em Lund, na Suécia

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Lema do mês

Nós devemos obedecer a Deus e não às pessoas. (Atos 5.29)

Obediência a Deus: um testemunho de fé. Este lema nos coloca diante da questão da obediência. Obedecer para algumas pessoas é como um fardo, algo negativo e até punitivo, antônimo de liberdade. Pessoas cristãs têm como princípio de vida a vontade de Deus, expressa de forma resumida nos dez mandamentos (Êx 20). Ele ama a sua Criação, por isso dá os mandamentos para proteger e orientar a convivência humana. Portanto, obedecer a Deus não é um fardo para a pessoa cristã, mas expressão do amor e da confiança Nele. Os apóstolos, por ensinarem a respeito de Deus, contra a vontade das autoridades da época, foram presos. Neste contexto, são questionados a quem querem obedecer. Como testemunho de fé responderam: “devemos obedecer a Deus e não às pessoas”. Assim, o que aqui está em questão aqui é o poder das autoridades. Lutero discorre sobre o assunto em vários escritos, dentre eles: Da autoridade secular. Ele ensina que as autoridades são instituídas por Deus para zelar e proteger as pessoas e a essas devemos nos sub-

meter. Mas, também diz que sua legitimidade se dá somente enquanto estiverem em consonância com a vontade de Deus. Sendo assim, a desobediência, em certos casos, é, de fato, obediência a Deus, porque o mandamento divino é superior a qualquer autoridade humana. Obedecer a Deus não é tarefa fácil. Não basta só cumprir o que diz o mandamento (não matar, por exemplo), mas ir além (promover a vida). Diante disto precisamos confessar: nós somos desobedientes. Deus sabe disso e por isso enviou seu Filho Jesus para que, por meio de sua obediência, oferecesse aos pecadores desobedientes perdão, vida nova e salvação. “Em obediência à vontade do nosso Deus e Pai, Cristo se entregou para ser morto a fim de tirar os nossos pecados e assim nos livrar deste mundo mau” (Gl 1.4). Que Deus nos ajude a discernir a sua vontade, e que nos conceda coragem de desobedecer ao que não estiver de acordo com ela. Que Ele nos dê forças para sermos obedientes por amor a Ele e às pessoas. Pa. Roana Clara Gums São José dos Pinhais – PR

Oração Deus amoroso, lembra-nos sempre que Tua vontade é boa e santa e de que sabes o que é melhor para nós. Que nossas ações tenham como princípio a obediência a Ti e como finalidade o servir ao próximo e à próxima em amor. Que nossa obediência seja testemunho de fé e amor. Amém.

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Julho 1 Qui 2 Sex 3 Sáb 4 Dom

5 Seg 6 Ter 7 Qua 8 Qui 9 Sex 10 Sáb 11 Dom

12 Seg 13 Ter 14 Qua 15 Qui 16 Sex 17 Sáb 18 Dom

19 Seg 20 Ter 21 Qua 22 Qui 23 Sex 24 Sáb 25 Dom

26 Seg 27 Ter 28 Qua 29 Qui 30 Sex 31 Sáb

1Co 12.19-26 1921 – Fundação do Instituto Pré-Teológico do Sínodo Riograndense, em Cachoeira do Sul, RS Fp 2.1-5 Jn 4.1-11 Ez 2.1-5 6º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde A semente que caiu na boa terra são os que, tendo ouvido de bom e reto coração, retêm a palavra; estes frutificam com perseverança. Lucas 8.15 1776 – Independência dos Estados Unidos da América (EUA) Gl 1.13-24 Rm 9.14-26 Ez 2.3-8a At 15.4-12 2Co 12.1-10 Fp 3.12-16 1509 – ✩ João Calvino, reformador de Genebra (Suíça), líder do ramo calvinista do protestantismo († 27/05/1564) Mc 6.14-29 7º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Se guardares o mandamento que hoje te ordeno, que ames o Senhor, teu Deus, andes nos seus caminhos, e guardes os seus mandamentos, e os seus estatutos, e os seus juízos, então, viverás e te multiplicarás, e o Senhor, teu Deus, te abençoará. Deuteronômio 30.16 Êx 14.15-22 At 2.32-40 1553 – Chegada do jesuíta José de Anchieta ao Brasil At 16.23-24 Mt 18.1-6 1Co 12.12-18 1054 – Cisão da Igreja Ocidental (Roma) e Oriental (Constantinopla) Ap 3.1-6 Ef 2.11-22 8º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde A palavra que sair da minha boca não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a designei. Isaías 55.11 Jo 6.47-56 Mt 22.1-14 1873 – ✩ Alberto Santos Dumont, pioneiro da aviação († 23/07/1932) At 10.21-36 1Co 10.16-17 Lc 22.14-20 Ap 19.4-9 Jo 6.1-21 9º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Simão Pedro respondeu a Jesus: Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna. João 6.68 1824 – Chegada dos primeiros imigrantes alemães em São Leopoldo, RS Dia do Colono e do Motorista Mt 7.7-12 Lc 6.27-35 Mt 5.33-37 1Co 12.27, 13.3 1Pe 3.8-17 Fp 2.12-18

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Lema do mês

Ele fez isso para que todos pudessem procurá-lo e talvez encontrá-lo, embora ele não esteja longe de cada um de nós. (Atos 17.27)

Este versículo faz parte do discurso do apóstolo Paulo em Atenas (Atos 17.22-31). Paulo se encontra em um ambiente totalmente pagão (com ensinamentos filosóficos e religiosos dominantes). Apesar disso, ele não atacou ou desaprovou publicamente as crenças daquele povo. Contudo, com cautela, sabedoria e iluminado pelo Espírito Santo fez um primoroso discurso, apontando na direção de que Deus deseja alcançar todas as pessoas com a sua Palavra que transforma e resgata vidas. Paulo apresenta o Deus da criação, que enviou seu Filho, Jesus para salvar o mundo. Para isso, é necessário o arrependimento e viver a partir do Evangelho. Deus está além das imagens e acepções humanas que buscam satisfazer suas necessidades. Isto não quer dizer que Deus está longe; mas ele não se deixa prender. Através de Cristo Jesus, Ele nos mostra a importância do amor, da reconciliação e que está ao lado de nossa fragilidade e miséria. Por isso, só há um

caminho: reconhecer nossa dependência em tão grande amor e testemunhá-lo aos outros. Assim, não é certo consumir a religião de forma eclética, seletiva, procurando atender apenas necessidades pessoais ou buscar serviços (sacramentos e ofícios). Muitas pessoas procuram a Igreja apenas para resolver seus problemas sentimentais e crises existenciais. Não que não possam procurar Deus nesta hora. Mas não só nesta hora. Jesus nos chama à missão de melhorar o mundo, combater o pecado, reestabelecer condições de paz, construir uma sociedade baseada na sabedoria, na colaboração e no amor. Portanto, agir assim é resposta de fé e gratidão a Deus. Como dizia Lutero: “Confio tão somente no Deus único, invisível, incompreensível, que fez os céus e a terra e que está acima de todas as criaturas.” Deus nos sustenta e nos serve. É Deus que dá e mantém a vida. É nesse Deus que “vivemos, nos movemos e existimos” (v.28). P. Hilquias Rossmann Cacoal – RO

Oração Pai querido não desista de nós, apesar de nossa desconfiança e orgulho. Faze com que te busquemos por meio do arrependimento e cheguemos ao verdadeiro conhecimento de tua Palavra. Ajuda-nos a ancorar a nossa esperança em ti e não nas nossas forças. Por Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador. Amém.

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Agosto 1 Dom

Êx 16.2-15

2 Seg 3 Ter 4 Qua 5 Qui

1Rs 3.16-28 Ef 5.15-20 1927 – 1ª Conferência Mundial de Fé e Ordem, em Lausanne, Suíça 1Co 10.23-31 1Co 9.16-23 1872 – ✩ Osvaldo Gonçalves Cruz, mais conhecido como Oswaldo Cruz, cientista e médico-sanitarista brasileiro († 11/02/1917) Jr 1.11-19 1911 – Fundação da Associação de Comunidades Evangélicas Alemãs de Santa Catarina, em Blumenau Lc 12.42-48 Jo 6.35-51 11º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde A fé é a certeza de que vamos receber as coisas que esperamos e a prova de que existem coisas que não podemos ver. Hebreus 11.1 DIA DOS PAIS Rm 11.1-12 Lm 1.1-11 Jo 4.19-26 Rm 11.25-32 Lm 5.1-22 Dt 4.27-40 Ef 5.15-20 12º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Deus nos deixou a promessa de que podemos receber o descanso de que ele falou. Hebreus 4.1 1899 – Fundação da OASE em Rio Claro, SP Mt 23.1-12 1Sm 17.38-51 Jo 8.3-11 1Pe 5.1-5 1925 – 1ª Conferência Universal Cristã de Vida e Obra em Estocolmo, na Suécia Lc 22.54-62 Is 26.1-6 Início da Semana Nacional da Pessoa com Deficiência – 21 a 28 de agosto Jo 6.56-69 13º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Jesus acabou com o poder da morte e, por meio do evangelho, revelou a vida que dura para sempre. 2 Timóteo 1.10 1948 – Assembleia Constituinte do Conselho Mundial de Igrejas, em Amsterdã, na Holanda Mt 9.27-34 Mc 3.1-12 At 9.31-35 Tg 5.13-16 Mt 12.15-21 Is 57.15-19 Dt 4.1-2,6-9 14º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Ó Senhor, eu sou teu, e por isso as tuas palavras encheram o meu coração de alegria e de felicidade. Jeremias 15.16 Mt 12.1-8 Am 5.4-15

6 Sex 7 Sáb 8 Dom

9 Seg 10 Ter 11 Qua 12 Qui 13 Sex 14 Sáb 15 Dom

16 Seg 17 Ter 18 Qua 19 Qui 20 Sex 21 Sáb 22 Dom

23 Seg 24 Ter 25 Qua 26 Qui 27 Sex 28 Sáb 29 Dom

30 Seg 31 Ter

10º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada. João 14.23

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Lema do mês

Ó Senhor, olha para o que está acontecendo com a gente. Escuta todas as coisas. (2 Reis 19.16)

Quando nós passamos por tempos de dor e sofrimento, naturalmente procuramos saídas ou alternativas para resolvermos as situações que nos são incômodas. No meio das lutas, em vários momentos, também questionamos se Deus nos ouve e se por um acaso, deixou de estar atento ao que enfrentamos. Primeiramente, a Bíblia sempre nos relata que sofrimentos e batalhas não são somente realidades para pessoas não cristãs. Caminhar com Deus não nos isola dos dilemas da vida, mas nos dá uma perspectiva diferente do que enfrentamos e como lidar com estas questões. Cristo em suas últimas orações clama: “Não rogo que os tires do mundo, mas que os protejas do Maligno” João 17.15. Olhando para 2 Reis 19.14-19, vemos Ezequias tendo um tempo de oração ao Senhor. Ezequias traz primeiramente uma certeza: Ele Reina e nos ouve. Por isso, podemos clamar a Ele: “Ó Senhor, olha para o que está acontecendo com a gente. Escuta todas as coisas” (v.16). Nosso clamor ao Senhor não é mera ação religiosa, mas é

um ato de confiança e submissão a Deus. Ele ouve, atenta e age diante do que sofremos. Uma pergunta que ecoa para nós: onde temos procurado respostas para nossa vida? Quais caminhos temos tomado para resolver nossas situações? O Senhor ainda é procurado como única alternativa ou somente uma dentre tantas opções? Ainda destaco a centralidade do versículo 19: (…) “Salva-nos para que todos saibam quem Deus é”. O Senhor vir em resgate nunca é um fim em si mesmo. Jesus não curava pessoas simplesmente por compaixão, mas era sempre com o objetivo de apontar para a realidade do Reino de Deus. Reino que vem em Jesus Cristo, se instaura na humanidade e nos dá uma nova perspectiva de vida. O clamor de Ezequias não é somente pelo povo, mas que o ato de resgate de Deus seja testemunho para todos os povos – que todos saibam que Deus é Senhor e Soberano. Em meio a tempos de sofrimento e instabilidade, clamamos pela intervenção do Senhor – para que todos saibam que Ele é Deus! P. Aislan Greuel Curitiba – PR

Oração Deus de Amor, Graça e Misericórdia. Obrigado porque Tu nos ouves. Obrigado porque mesmo em tempos de sofrimento, Tu continuas ao nosso lado. Só Tu sabes o que temos enfrentado, quais são nossas batalhas mais dolorosas. Nós clamamos a ti novamente: “Salva-nos!” - que diante da transformação que Tu geras, todos possam saber que Tu és Deus. Amém.

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Setembro 1 Qua 2 Qui 3 Sex 4 Sáb 5 Dom

Dt 24.10-22 At 4.32-37 Tg 2.5-13 Jd 1-2,20-25 Mc 7.24-37

6 Seg 7 Ter 8 Qua 9 Qui 10 Sex 11 Sáb 12 Dom

Dt 26.1-11 Jz 9.7-15 Fm 1-22 1Cr 29.9-18 Jo 13.31-35 2Ts 2.13-17 Tg 3.1-12

13 Seg 14 Ter 15 Qua 16 Qui 17 Sex 18 Sáb 19 Dom

Fp 4.8-14 1Tm 6.3-11a Ec 4.4-12 Lc 10.38-42 1Co 7.17-24 Mc 12.41-44 Mc 9.30-37 17º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde O apóstolo Paulo diz: Eu trago vocês no coração, seja nas minhas algemas, seja na defesa e confirmação do evangelho, pois todos vocês são participantes da graça comigo. Filipenses 1.7 Rm 6.18-23 Is 38.9-20 Dia da Árvore At 9.36-42 Início da PRIMAVERA Fp 1.19-26 Ap 2.8-11 Rm 4.18-25 Nm 11.4-29 18º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai. Filipenses 2.10-11 Hb 11.1-10 Dia do Ancião Tg 1.1-13 Lc 10.17-20 ARCANJO MIGUEL E TODOS OS ANJOS Branco Gn 16.6b-14

20 Seg 21 Ter 22 Qua 23 Qui 24 Sex 25 Sáb 26 Dom

27 Seg 28 Ter 29 Qua 30 Qui

1939 – Início da 2ª Guerra Mundial na Europa 1850 – Início da colonização em Blumenau, SC 1850 – Abolição do tráfico de escravos africanos no Brasil 15º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Alegrem-se sempre no Senhor; outra vez digo: alegrem-se. Filipenses 4.4 DIA DA PÁTRIA – 1822 – Independência do Brasil Dia Mundial da Alfabetização

Verde

Dia da Imprensa 16º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Tudo o que está nas Escrituras foi escrito para nos ensinar, a fim de que tenhamos esperança por meio da paciência e da coragem que as Escrituras nos dão. Romanos 15.4 1990 – Fundação da Comunhão Martim Lutero em Joinville, SC

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Lema do mês

Vocês semearam muitas sementes, mas colheram pouco; têm comida, mas não é suficiente para matar a fome; têm vinho, mas não dá para ficarem bêbados; têm roupas, porém elas não chegam para os proteger do frio; e o salário que o trabalhador recebe não dá para viver. (Ageu 1.6)

PARE E PENSE: Ageu é um daqueles livros difíceis de serem encontrados na Bíblia (são apenas 2 capítulos) e por isso é pouco lido! Entretanto, tem muito a falar para nós! O lema do mês, apesar de parecer uma constatação das dificuldades do povo, na verdade faz parte de uma acusação de Deus, e por isso, é necessário olhar o contexto maior! Quando o povo voltou do exílio babilônico, encontraram Jerusalém destruída pela guerra, e precisavam começar uma reconstrução total. Obviamente, iniciaram por suas casas, pelas plantações, precisavam garantir o seu sustento! Entretanto, após alguns anos, tudo estava mais ou menos ajeitado, entretanto, o templo, a casa de Deus, ainda estava em ruínas (vv. 2-4). Nesse processo de reconstrução, o Deus todo poderoso, que os tirou da escravidão, ficou em segundo plano! Então Deus age mais uma vez na história do seu povo, faz vir a seca, a inflação e a crise (vv. 6; 911), os convida a olharem o seu passado (vv. 5; 7) para exortar o povo, mostrar a eles que o principal ficou de lado, que suas prioridades estavam invertidas! Através de Ageu, Deus faz o

seu povo parar e pensar. E no momento em que escrevo esse texto, estamos vivendo um período difícil: pandemia da Covid19, isolamento, crises, estiagem (espero que para você tudo isso tenha ficado para trás), muito semelhante a Israel no período de Ageu. Não me atrevo a afirmar que isso é obra de Deus, mas talvez seja uma boa oportunidade para parar e pensar, para olhar o passado, para redefinir nossas prioridades! Fomos longe demais. Longe de Deus. Não só após a pandemia do Covid19, mas diversas e diversas vezes, como povo de Deus, precisaremos iniciar um movimento de reconstrução, e a pergunta é: quais são nossas prioridades? Valores? Possivelmente o nosso desejo é de que tudo sempre volte ao normal, mas talvez Deus esteja nos dando oportunidades para pensar em um novo normal, diferente do passado! Por isso, diante das crises, das dificuldades, dos sofrimentos, PARE e PENSE, olhe para a tua história, redefina tuas prioridades e se volte para Deus! P. Mateus Neuhaus Atalanta – SC

Oração Deus amado, tu sondas o nosso coração e nos conheces! Por isso pedimos o teu perdão por tantas vezes que te deixamos de lado! Clamamos pela tua orientação, para que sejamos cada vez mais parecidos contigo, verdadeiros discípulos, que seguem os teus passos em todo tempo e lugar. Em nome de Jesus Cristo. Amém.

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Outubro 1 Sex 2 Sáb 3 Dom

4 Seg 5 Ter 6 Qua 7 Qui 8 Sex 9 Sáb 10 Dom

11 Seg 12 Ter 13 Qua 14 Qui 15 Sex 16 Sáb 17 Dom

18 Seg 19 Ter 20 Qua 21 Qui 22 Sex 23 Sáb 24 Dom

25 Seg 26 Ter 27 Qua 28 Qui 29 Sex 30 Sáb 31 Dom

Êx 23.20-27 1921 – Reunião de constituição do Conselho Missionário Internacional em Lake Mohonk, EUA Mt 18.10-14 Mc 10.2-12 19º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Ó Deus, eu falarei a respeito de ti aos meus irmãos e te louvarei na reunião do povo. Hebreus 2.12 1226 – † Francisco de Assis, fundador da Ordem dos Frades Menores (franciscanos) (✩ 1181/1182) Mt 6.1-4 1959 – Inauguração do prédio principal da Faculdade de Teologia da IECLB, em São Leopoldo, RS Mc 3.30-34 Ct 8.4-7 Gl 5.13-18 Hb 12.1-17 Mt 5.17-24 1905 – Fundação do Sínodo Evangélico Luterano de SC, PR e Outros Estados da América do Sul, em Estrada da Ilha, SC Hb 4.12-16 20º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Naquele dia, todos dirão: Ele é o nosso Deus. Nós pusemos a nossa esperança nele, e ele nos salvou. Isaías 25.9 Êx 15.22-27 1962 – Concílio Vaticano II, da Igreja Católica Romana, em Roma Lc 5.12-16 Dia da Criança – Dia de Nª Srª Aparecida Lc 13.10-17 Mt 8.14-17 Jr 17.13-17 At 14.8-18 Mc 10.35-45 21º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Segundo o seu querer, Deus nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como que primícias das suas criaturas. Tiago 1.18 2Ts 3.6-13 Rm 13.1-7 Ef 5.25-32 1962 – Assembleia Constituinte do Sín. Evang. Luterano Unido (SELU) 1997 – Inauguração da Gráfica e Editora Otto Kuhr, em Blumenau, SC 1Co 14.26-33 Jo 18.28-32 Pv 3.1-8 Jr 31.7-9 22º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde O Senhor me livrará de todo mal e me levará em segurança para o seu reino celestial. A ele seja dada a glória para todo o sempre! Amém! 2 Timóteo 4.18 Rm 12.17-21 1968 – Reestruturação da IECLB, fusão dos 3 Sínodos, criação da RE IV 2Co 10.1-6 1949 – Constituição da IECLB Gn 13.5-18 1916 – ✩ Karl Gottschald, 3º Pastor Presidente da IECLB († 02/08/1993) Lv 19.1-18 Lc 22.49-53 Dia Nacional do Livro e da Leitura 2Tm 2.1-6 Dt 6.1-9 23º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Irmãos, orem por nós, para que a palavra do Senhor se propague e seja glorificada, como também está acontecendo entre vocês. 2 Tessalonicenses 3.1 Jo 8.31-36 DIA DA REFORMA Vermelho 1517 – Lançamento das 95 Teses de Martim Lutero

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Lema do mês

Pensemos uns nos outros a fim de ajudarmos todos a terem mais amor e a fazerem o bem. (Hebreus 10.24)

Você já ouviu o ditado: “uma mão lava a outra”? Quando alguém fala desta maneira, geralmente quer dizer que a retribuição virá na mesma medida que lhe foi feito. Em poucas palavras, ele expressa que um ajuda ao outro. Na carta aos Hebreus, o autor quer ensinar isso. Hebreus é um livro cheio de referências ao que o povo vivia no Antigo Testamento. Destaca o tempo onde o povo não tinha acesso à presença de Deus, onde apenas o sumo sacerdote tinha liberdade para chegar diante do Todo-Poderoso. O povo precisava oferecer sacrifícios de animais para obter o perdão. A circuncisão era o selo, nos homens, de pertencimento a este povo. O Novo Testamento transforma toda esta realidade. Hebreus mostra que Deus enviou Seu Filho como um cordeiro santo, como um sacrifício único. A partir de então, não foram mais necessários sacrifícios, mas o perdão estava sendo oferecido de graça, fruto do amor, porque Jesus pagou um alto preço. O que separava o ser humano de Deus também foi rompido. Agora não existe mais o véu que separa o ser humano da presença

gloriosa de Deus, mas todos se tornaram sacerdotes e podem se achegar em sua presença. A partir do batismo, Deus nos chama a sermos seus sacerdotes. Como sacerdotes e filhos de Deus cabe a nós cumprirmos a vontade do Nosso Criador e Pai. Deus nos criou para sermos amados e para amarmos, mas a realidade do pecado nos afasta deste amor e dos laços de confiança com Deus e com os que nos cercam. Mesmo assim, a realidade do amor prevalece sobre tudo o que há neste mundo e Deus quer que sejamos testemunhas disto. Lutero resgatou e promoveu o sacerdócio de todos os crentes. Que neste mês da Reforma lembremos que somos chamados para sermos sacerdotes vivos e atuantes, que servem ao Senhor por meio do cuidado aos que nos cercam. Deus nos dá o privilégio e a oportunidade de o servirmos, ajudando aos outros, perdoando-nos mutuamente, levando amor e ensinando sobre a fonte de todo o amor. Deus nos deu e dá tudo o que precisamos, já que uma mão lava a outra, que tal servir ao Senhor fazendo o bem e ensinando aos outros sobre como fazer este bem? Pa. Graziele Beatriz Schaefer Pelotas – RS

Oração Amado Senhor, somos gratos por teu amor e cuidado. Agradecemos por nos chamar a sermos teus sacerdotes. Ajuda-nos a servirmos da maneira que te agrada, a pensarmos nos nossos irmãos e irmãs e incentivar a todos a fazerem o bem. Continue nos guiando e orientando neste caminho de serviço e gratidão. Em nome de Jesus. Amém.

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Novembro 1 Seg 2 Ter 3 Qua 4 Qui 5 Sex 6 Sáb 7 Dom

8 Seg 9 Ter 10 Qua 11 Qui 12 Sex 13 Sáb 14 Dom

15 Seg 16 Ter 17 Qua 18 Qui 19 Sex 20 Sáb 21 Dom

22 Seg 23 Ter 24 Qua 25 Qui 26 Sex 27 Sáb 28 Dom

29 Seg 30 Ter

Is 25.6-9 DIA DE TODOS OS SANTOS Branco 1Ts 4.13-18 DIA DE FINADOS Branco Gn 33.1-11 1887 – ✩ Dr. Hermann Dohms, 1º Pastor Presidente da Federação Sinodal († 04/12/1956) Ap 3.14-22 1Jo 3.19-24 Is 1.18-27 Mc 12.38-44 24º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Fiquem vigiando, pois vocês não sabem em que dia vai chegar o seu Senhor. Mateus 24.42 1 Pe 4.7-11 Jr 18.1-10 Hb 13.1-9b 1483 – ✩ Martim Lutero, reformador († 18/02/1546) 1Jo 2.18-29 1982 – Assembleia Constitutiva do Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI), em Huampaní, Lima, Peru 2Co 6.1-10 Mc 13.1-8 354 – ✩ Aurélio Agostinho, teólogo da Igreja Antiga Ocidental (latina), bispo († 28/08/430) Dn 12.1-3 25º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Aquele que dá testemunho de tudo isso diz: Certamente venho logo! Amém! Vem, Senhor Jesus! Apocalipse 22.20 Mt 7.21-29 1889 – Proclamação da República do Brasil Jo 3.17-21 Is 1.10-18 Lc 15.1-10 1982 – Constituição do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), em Porto Alegre, RS Hb 13.17-21 Ap 20.11-15 Jo 18.33-37 DOMINGO DE CRISTO REI Branco ou Dourado ÚLTIMO DOMINGO DO ANO ECLESIÁSTICO Jesus Cristo diz: Eu sou o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim. Apocalipse 22.13 Hb 12.18-25 1Pe 1.13-21 1Co 3.9-15 1Ts 5.9-15 1843 – ✩ Dr. Wilhelm Rotermund, fundador do Sínodo Riograndense († 05/04/1925) Hb 13.10-16 Ap 21.10-27 1Ts 3.9-13 1º DOMINGO DE ADVENTO Violeta ou Azul Mostra-nos, Senhor, a tua misericórdia e concede-nos a tua salvação. Salmo 85.7 1Pe 1.8-13 Hb 10.32-39 1991 – Abertura do Centro de Literatura Evangelística da IECLB, em Blumenau, SC

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Lema do mês

Que o Senhor os faça compreender melhor o amor de Deus por vocês e a firmeza que ele, Cristo, dá! (2 Tessalonicenses 3.5)

No ano passado, nossas comunidades enfrentaram uma situação inédita, tendo suas atividades presenciais suspensas por conta de uma pandemia. Não tenho como prever o futuro, mas espero que, no momento em que o leitor ou a leitora encontre estas palavras, a pandemia e seus efeitos negativos na economia já tenham sido superados. Apesar do sofrimento gerado por esta situação, uma das ações da igreja não foi suspensa, e possivelmente foi até mesmo intensificada: a oração. Quando nos encontramos em situações assim, que foge ao nosso controle, somos relembrados de nossa dependência de Deus e de quão frágeis são os nossos planos. Somos lembrados de que pedir oração aos irmãos na fé não é um sinal de fraqueza, mas sim um sinal de vida da Igreja. O apóstolo Paulo em meio a suas dificuldades também contava com a oração das comunidades em seu favor. Do mesmo modo, intercedia intensamente a Deus para que guardasse e desse crescimento a elas. O versículo que é lema deste mês faz parte de uma dessas passagens onde o

apóstolo pede, em suas cartas, pela oração da comunidade, e expressa os seus anseios com relação às mesmas. É bonito observar que Paulo não pede apenas pela proteção e pelo bem estar físico das comunidades, mas também expressa o desejo de que as pessoas cresçam na compreensão do amor de Deus por elas e na firmeza que Cristo dá. Conhecer melhor o amor de Deus por nós é o que nos faz ter firmeza, ou seja, sermos constantes, persistentes na fé. Mas como crescer nesse conhecimento? Crescemos no conhecimento do amor de Deus quando damos ouvidos à sua Palavra e a praticamos. Nesta Palavra vamos descobrir o que Deus espera de nós, o quão falhos somos, e quão grande é o amor de Deus, a ponto de, em seu filho Jesus Cristo, tomar sobre si os nossos pecados e nos perdoar. E a partir disso, libertos da culpa e do medo, estamos livres para colocar nossa fé em prática por meio do serviço em amor às outras pessoas. Assim Deus nos dará a firmeza de que necessitamos para passarmos por qualquer situação! P. João Carlos de Souza Gaspar – SC

Oração SDeus de amor, agradecemos por nossas comunidades, seus membros e lideranças. Pedimos que teu Espírito Santo, por meio da Palavra, nos faça crescer no conhecimento e na firmeza da fé. Teu filho Jesus Cristo seja nossa luz em meio às trevas. Em nome dEle é que oramos. Amém.

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Dezembro 1 Qua 2 Qui 3 Sex 4 Sáb 5 Dom

6 Seg 7 Ter 8 Qua 9 Qui 10 Sex 11 Sáb 12 Dom

13 Seg 14 Ter 15 Qua 16 Qui 17 Sex 18 Sáb 19 Dom

20 Seg 21 Ter 22 Qua 23 Qui 24 Sex 25 Sáb 26 Dom

27 Seg 28 Ter 29 Qua 30 Qui 31 Sex

Cl 1.9-14 1Ts 5.1-8 Ez 37.24-28 Hc 2.1-4 Ml 3.1-4 2º DOMINGO DE ADVENTO Violeta ou Azul O profeta Isaías diz: Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas. E toda a humanidade verá a salvação de Deus. Lucas 3.4,6 Is 25.1-8 Is 26.7-15 Ap 2.1-7 2Co 5.1-10 Zc 2.10-13 1948 – Declaração Universal dos Direitos Humanos, da ONU Dia Universal dos Direitos Humanos 1Ts 4.13-18 Lc 3.7-18 3º DOMINGO DE ADVENTO – DIA DA BÍBLIA Violeta ou Azul João Batista é aquele a respeito de quem as Escrituras Sagradas dizem: Aqui está o meu mensageiro, disse Deus. Eu o enviarei adiante de você para preparar o seu caminho. Mateus 11.10 Os 14.1-9 Mt 3.7-12 Is 45.1-8 Mt 11.7-15 1815 – Elevação do Brasil à categoria de Reino, unido a Portugal e Algarves Lc 1.26-38 2Co 1.18-22 1865 – † Francisco Manoel da Silva, compositor do Hino Nacional Brasileiro (1831) (✩ 1795) Mq 5.2-5a 4º DOMINGO DE ADVENTO Violeta ou Azul O profeta Isaías diz: Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e ele será chamado pelo nome de Emanuel, que significa Deus conosco. Mateus 1.23 Is 42.5-9 Ap 3.7-12 Início do VERÃO Ap 22.16-21 Is 7.10-14 Is 11.1-9 VIGÍLIA DE NATAL – NOITE DE NATAL Branco Tt 3.4-7 NATAL – DIA DE NATAL Branco Lc 2.41-52 1º DOMINGO APÓS NATAL Branco Que a paz que Cristo dá dirija vocês nas suas decisões, pois foi para essa paz que Deus os chamou a fim de formarem um só corpo. E sejam agradecidos. Colossenses 3.15 Jo 21.20-24 Mt 2.13-18 1Jo 4.11-16a Is 63.7-14 Mt 18.1-5 Véspera de Ano Novo Branco

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Lema do mês

O Senhor Deus diz: Moradores de Jerusalém, cantem de alegria, pois eu virei morar com vocês! (Zacarias 2.10)

Um habitante ou um visitante? Chegamos ao fim de mais um ano. Dezembro nos convida a olhar para trás, para aquilo que passou, mas também nos convida a olhar para frente, traçar novos planos, sonhar com novas possibilidades. É também o mês que mais nos lembramos do menino Jesus que nasceu numa estrebaria, por falta de lugar, falta de hospedagem. Jesus nasce no lugar mais humilde e impróprio. Assim, somos convidados e convidadas a abrir o nosso coração, nossa casa para Jesus. Preparamos a casa, é hora da faxina! Passamos o mês limpando, esfregando, decorando com enfeites de Natal, comprando presentes, sem falar dos muitos encerramentos. E tudo está pronto para receber o menino Jesus. Abrimos a nossa casa... Deixamos Ele entrar, o hospedamos... Mas, estamos tão exaustos com a sua chegada que não vemos a hora do ano terminar e curtir as férias, viajar, ler um bom livro, passear, ou simplesmente acordar sem uma agenda lotada de compromissos. Ah! É verdade, onde ficou o nosso hóspede? Tudo passou tão rápido que mal sentimos a sua presença.

E é assim, de Natal em Natal, que hospedamos o Senhor na nossa casa como um visitante. Quando na verdade, sua chegada não é para fazer uma visita como um parente distante. Sua chegada é para ficar, é para habitar no meio de nós. Esse morador não exige grandes faxinas antes da sua chegada, pelo contrário, Ele nos ajuda a fazer as faxinas na nossa vida, nos quartos mais escuros do nosso coração, onde não deixamos ninguém entrar. Não se preocupe, Ele sabe que nós temos muitas coisas para limpar... O convite da sua chegada é para que nós cantemos de alegria. E é com alegria que devemos esperar essa chegada, o Senhor vem fazer a sua morada no nosso meio. O Senhor vem caminhar ao nosso lado. Não como um visitante, Ele vem para ficar e a sua presença entre nós traz alegria ao coração. Que neste fim de ano, apesar das agendas lotadas com encerramentos e festas não deixemos de perceber que o menino Jesus não é um mero visitante, mas Ele é o nosso Salvador. Ele deixou a sua glória para habitar entre nós. Por isso, alegre-se! Deus está contigo. Pa. Sara Pabst Martins Porto Alegre – RS

Oração Senhor nosso Deus, ao olharmos para trás vemos muito pelo que agradecer. Mais um ano cheio de bênçãos para contar chega ao fim. Dá que nos preparemos para as celebrações e festas de fim de ano de modo que não esqueçamos de que o Senhor não é apenas um visitante, mas fez sua morada em nosso meio. Por isso também somos gratos e gratas. Em nome de Jesus. Amém!

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50 anos do Anuário Evangélico Luterano – “O Livro da Família” Pa. Sílvia Beatrice Genz

Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e tudo o que há em mim bendiga ao seu santo nome. Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e não te esqueças de nem um só de seus benefícios Salmo103.1 e 2 Cinquenta anos é um marco especial e motivo para bendizer e render graças a Deus por esta publicação tão estimada. É momento de expressar gratidão às pessoas que tornaram o Anuário Evangélico um periódico da Igreja. Além de um excelente livro de leitura, o Anuário contribuiu para a missão da Igreja e para a solidificação do Prontuário com os endereços da IECLB. O Anuário Evangélico evoca muitas lembranças pessoais e comunitárias. Na minha casa, quando criança, este periódico só chegava após o ano terminar. Nossa família não conseguia comprá-lo e recebia o Anuário do ano anterior, como sobra da casa de parentes que o adquiriam todos os anos. Na minha atividade como pastora de comunidade, o final de ano era ocasião especial para divulgar o Anuário. Lembro que era comum ouvir frases, tais como: – Pastora, quero o Anuário, porque gosto das histórias em alemão.

– Eu quero, porque tem mensagens bonitas. – Quero para olhar as fases da lua e ter uma boa semeadura. – Eu gosto das orientações e ensinamentos. – Eu gosto de ler e partilhar as piadas. – Eu quero ver o endereço do nosso pastor (ministro ou ministra), em tempos passados, na nossa paróquia. Que lembranças o Anuário desperta em você? O Anuário sempre teve conteúdo voltado para a vida comunitária e familiar, por isso é adequado e especial o subtítulo “O Livro da Família”, acrescentado na 47ª edição, em 2018. Na mesma edição, foi acrescido o termo “Luterano”, demonstrando que é um anuário comprometido com a confessionalidade luterana vivida na IECLB.

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Parabenizo a Gráfica e Editora Otto Kuhr na pessoa do atual redator e editor, o Pastor Roni Roberto Balz. Agradeço a todas as pessoas que, durante os 50 anos, dedicaram tempo e cuidado para a produção, elaboração, publicação e comercialização do nosso “Anuário Evangélico Luterano – O Livro da Família”. Parabeni-

zo as pessoas que adquirem e leem o Anuário. Aliás, por que não adquirir o Anuário e presenteá-lo a alguém? Desejo que o Anuário continue fortalecendo a fé, proporcionando conhecimento, reflexão e alegria. Parabéns pelos 50 anos de serviço na Missão de Deus! A autora é Pastora Presidente da IECLB

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Lances da história do “Anuário Evangélico Luterano” P. em. Heinz Ehlert

Uma iniciativa inovadora: como tudo começou Muitos Anuários/calendários circulavam no âmbito da IECLB, todos eles em língua Alemã, por exemplo, “Lahrer Hinkender Bote” (ed. Na Alemanha), “Rotermund-Kalender”, “Serra-Post-Kalender”, “Jahrweiser”. Destes, este último era ligado à Igreja e, também, em parte, sob a responsabilidade dela (fundado pelo Sínodo Rio Grandense).Corria o ano de 1971. Um membro leigo da IECLB, em Curitiba, Emil Dietz, considerou que estaria muito na hora de se criar “um tal anuário”, em português, ligado à Igreja, já que uma expressiva parte do povo da Igreja não se comunicava mais na língua alemã. Ele era dono de uma empresa em Curitiba, com o nome “FACE”, atuante no mercado livreiro. Da ideia, foi para a iniciativa de se criar o Anuário, a exemplo do conhecido “Jahrweiser”, em língua portuguesa, com o mesmo caráter e vinculação à IECLB. Como primeiro passo, viajou à Sede da Igreja, em Porto Alegre, para expor o seu projeto à Presidência da Igreja, na pessoa do Pastor Presidente, Rev. Karl Gottschald. Foi muito bem acolhido e o Rev. Gottschald, em nome do então Conselho Diretor, “deu luz verde” ao plano, uma vez que o em-

presário Dietz se prontifi-cava a assumir, inicialmente, todo o ônus da implantação, não comprometendo compromisso financeiro da IECLB. Um plano corajoso O plano de Dietz incluía os custos de impressão, distribuição e comercialização do calendário nas comunidades e paróquias de toda a IECLB, sempre de acordo com a orientação da direção da Igreja quanto a preços de revenda do produto com ajuda dos pastores e presbíteros locais.Foi admirável a quantidade de exemplares para uma primeira edição de lançamento: 20.000 exemplares! Realmente, um investimento corajoso! Mas, para concretizar o plano, era, ainda, necessário conseguir um Diretor e um Redator/editor responsável. Para assumir a função de Diretor, chegaram ao meu nome, então, pastor na “Comunidade Evangélica de Curitiba” e, para a função de Redator/Editor ao nome do P. Friedrich Gierus, então, pároco na Paróquia de Indaial. Devia haver uma razão para tal escolha. No meu caso, era conhecido que já havia contribuído com artigos para o Jahrweiser, além de ter sido responsável pelo “Suplemento” para jovens da então “Folha Dominical” do Sínodo Riograndense.

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Quanto ao P. Gierus, ele se tornara conhecido como um dos redatores do órgão de imprensa do “Sínodo Evangélico Luterano Unido”, chamado “Mensageiro do Evangelho”. Como Diretor, me cabia a tarefa e a responsabilidade de providenciar e/ ou coordenar os conteúdos a publicar no respectivo ano. Para isso, reunimos um grupo de pessoas aptas, a título de uma reunião de planejamento, procedendo a uma “tempestade de ideias”, de assuntos os mais diversos, que pudessem interessar aos leitores. Caberia ao Redator escolhido convidar possíveis autores a escreverem sobre os assuntos propostos. Assim, aconteceu para a edição de lançamento e se tornou praxe e, até, regra nas edições dali para frente aos dias de hoje.A equipe, assim constituída, tomou o nome de “Conselho Editorial”, que deveria ter o aval da Presidência da IECLB. Quando, resolvi deixar a função de Diretor, indiquei como meu sucessor o P. Meinrad Piske que, realmente, assumiu a função, continuando até os dias atuais. Periódico de comprovado valor Cabe mencionar que a publicação e comercialização passaram, logo nos primeiros anos depois da implantação, para a Editora Sinodal, em São Leopoldo. Junto com o Anuário Evangélico, como livro de leitura, foi publicado, desde o início, sob a responsabilidade da Secretaria Geral, o Prontuário da IECLB. Houve um mo-

mento, quando a chefia desta Editora optou pela descontinuidade, não só da publicação e comercialização, mas do próprio periódico, alegando que seria como que substituído pela projetada revista que, depois, tomou o nome de “Novo Olhar”. Foi então que, como antigo e primeiro Diretor e membro do Conselho Editorial, tomei a iniciativa de me dirigir ao então Presidente do Conselho da Igreja, o Sr. Eichholz, visando a continuidade de nosso “Anuário Evangélico”. Foi proposto e aceito que a publicação, incluindo a produção e comer-cialização, fosse assumida pela Gráfica e Editora Otto Kuhr Ltda., em Blumenau/SC. Com a redação e edição foi encarregado, mais uma vez, o P. Gierus e, posteriormente, o P. Dr. Osmar Zizemer e, hoje, P. Roni R. Balz. Na 47ª edição, em 2018, foi acrescido ao nome “Anuário Evangélico” o termo “Luterano” para dar maior identidade confessional a partir do mundo evangélico. Também, se incluiu o subtítulo “O Livro da Família” como indicativo de ser uma leitura voltada para toda a família. O Anuário Evangélico Luterano pôde manter o seu lugar, como publicação e periódico singular na IECLB, mesmo na era digital. Fazemos votos que os nossos ministros e ministras (pastores/as, diáconos/as, catequistas e missionários/as), líderes e, igualmente, nossos leitores e leitoras continuem apoiando esta obra literária.

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hnzehlert@gmail.com


Anuário Evangélico Luterano: Sua linha teológica e eclesiológica P. em. Meinrad Piske

O Conselho Diretor da Igreja, de 1971, assumiu o Anuário Evangélico e nomeou o Conselho editorial do mesmo. Assim, foi lançado o primeiro número, em 1972, assumindo que a IECLB, através de suas comunidades, tem por fim e missão propagar o Evangelho de Jesus Cristo. O Anuário não substitui e não rivaliza com a Comunidade, com a Paróquia ou mesmo com o Sínodo em suas publicações. Sua tarefa é a de auxiliar as Comunidades e Paróquias no desempenho de sua missão assim como estabelece o Artigo sexto da Constituição que enumera sete objetivos fundamentais da IECLB, sendo o primeiro destes: Fortalecer e aprofundar a comunhão entre as comunidades. De certa forma, pode-se afirmar que, assim, com as diversas outras publicações em nível local ou regional, são instrumentos da Igreja com a finalidade de propagar o Evangelho de Jesus Cristo. Estas publicações não são a voz oficial da Igreja, pois esta voz oficial somente o Concílio ou, em situações especiais, a Presidência pode ser. Estas publicações comunicam o que está acontecendo nas Comunidades, Paróquias dos Sínodos, pretendendo estimular uns aos outros ou

alertar para eventuais erros. Diversas Comunidades e entidades publicaram sua história e a realidade de hoje ao longo dos anos. Fizeram isto e distribuíram entre seus membros o histórico e a realidade atual no Anuário. Isto acontece, especialmente, por ocasião de celebrações do cinquentenário, centenário e outras datas como, por exemplo, em 2019, pelos 120 anos da OASE na IECLB, da Comunidade de Rio Cerro e, em 2020, os 150 anos da Comunidade de Itajaí. Variedades no conceito de igreja se explicam pela história de cada uma. Em comum, todas as Comunidades têm uma visão e compreensão de igreja. Esta visão dificulta o convívio das comunidades mesmo sendo, geograficamente, vizinhas. O Anuário leva isto em conta respeitando os conceitos de igreja que existem. O que, no entanto, não pode ser ignorado é que a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil tem, como fundamento, o Evangelho de Jesus Cristo, pelo qual, na forma das Sagradas Escrituras do Antigo e do Novo Testamentos, confessa sua Fé no Senhor da una, santa, universal e apostólica Igreja. Foi o Pastor Dr. Ernesto Schlieper, quando Presidente da Federação Sinodal, que apon-

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tou, com insistência, que ainda não éramos igreja, que o nosso programa era a “Kirchwerdung”, estávamos a caminho de nos tornar igreja. Há cinquenta anos, quando o primeiro número do Anuário foi publicado, a língua mais usada nos cultos e demais ofícios eclesiásticos era a alemã. Aos poucos, o português, sem alarde, foi introduzido. Outro problema que existia era o financeiro. O pagamento da contribuição anual causou muito desentendimento. A contribuição era entendida como “ordenado do pastor” e isto

causava mal estar, tanto para os pastores, quanto para os membros da Comunidade. Este problema nós herdamos e, até hoje, não está, totalmente, resolvido. Todas estas questões têm, no Anuário, o seu espelho. Ele reflete muitos aspectos da vida das Comunidades. Teve sua linha no passado e continua tendo sua linha no presente. O programa do P. Dr. Ernesto Schlieper continua sendo atual, é a “Kirchwerdung”, a caminho de sermos igreja, igreja para propagar o Evangelho de Jesus Cristo. mepiske@gmail.com

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Temas da IE CLB IECLB 1976 - Comunidade Consciente e Atuante 1977 - Nova comunhão em Cristo, como vivê-la? 1978 - Cristo, o caminho 1979 - A importância da família cristã para a criança 1980 - Cristo, o Mediador 1981 - Homem e Mulher unidos na Missão 1982 - Terra de Deus - Terra para Todos 1983 - Eu sou o Senhor teu Deus 1984 - Jesus Cristo - Esperança para o mundo 1985 - Educação - Compromisso com a verdade e a vida 1986 - Por Jesus Cristo, Paz com Justiça 1987 | 1988 - ... e serei minhas testemunhas 1989 | 1990 - O pão nosso de cada dia 1991 | 1992 - Comunidade de Jesus Cristo - A Serviço da Vida 1993 | 1994 - Permanecem a fé, a esperança e o amor 1995 | 1996 - Somos Igreja. Que Igreja somos? 1997 | 1998 - Aqui você tem lugar 1999 - É tempo de lançar 2000 - Dignidade Humana e Paz - um novo milênio sem exclusão 2001 - Ide, fazei discípulos... 2002 - Mãos à obra 2003 - Nosso mundo tem salvação 2004 - Pelos caminhos da esperança 2005 | 2006 - Deus, em tua graça, transforma o mundo 2007 | 2008 - No poder do Espírito, proclamamos a reconciliação 2009 | 2010 - Missão de Deus - Nossa Paixão 2011 - Paz na Criação de Deus - Esperança e Compromisso 2012 - Comunidade jovem - Igreja viva 2013 - Ser, participar, testemunhar - Eu vivo comunidade 2014 - viDas em comunhão 2015 - Igreja da Palavra - Chamad@s para comunicar 2016 - Pela graça de Deus, livres para cuidar 2017 - Alegres, jubilai! Igreja sempre em Reforma: agora são outros 500 2018 | 2019 - Igreja – Economia – Política 2020 - Viver o Batismo 2021 - Viver o Batismo: dons a serviço Fonte: www.luteranos.com.br/conteudo/relacao-de-temas-do-ano

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Tema e LLema ema da IE CLB par a o ano de 2021 IECLB para

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TEMA DO ANO DE 2021 Secretaria Geral da IECLB

Viver o Batismo: dons a serviço Lema: Eis que faço novas todas as coisas (Apocalipse 21.5)

A IECLB nos leva a refletir, neste ano, sobre o tema “Viver o batismo – dons a serviço”. No Batismo, pela ação do Espírito Santo, recebemos dons, que precisam ser colocados a serviço da vida. Mas o que significa o batismo? O batismo é graça, por isso, considerado um presente. É uma bênção que Deus dá ao ser humano para viver bem. Quando se ganha um presente, geralmente se usa ele. Se é uma peça do vestuário, nós a vestimos, se é um brinquedo, com ele brincamos, se é um livro, lemos ele. E quanto ao batismo, não é diferente, Deus espera que o ser humano possa fazer uso dessa dádiva. O tema do ano, que traz a reflexão sobre os dons a partir do Batismo, vem acompanhado do lema bíblico: “Eis que faço novas todas as coisas” (Ap 21.5). Como humanidade, vivemos ao longo dos últimos tempos, a maior crise sanitária dos últimos cem anos: a Covid19. Esse

fato provocou, ou deveria provocar, uma grande reflexão sobre os caminhos e os rumos da humanidade. O atual modelo econômico, político e social não se sustenta mais e, pior, levou milhares de pessoas à ruína e à morte. Um novo mundo se faz necessário. A espiritualidade e a educação têm um papel muito importante nessa reconstrução, ou melhor, na construção de novos modelos. O lema bíblico, portanto, traz uma mensagem de esperança diante dos tempos difíceis aos quais estamos tendo que passar. No contexto da visão do “novo céu e da nova terra”, no qual se retrata a Nova Jerusalém, Deus faz a promessa de que ele fará novas todas as coisas. É um versículo que expressa a graça e a misericórdia de Deus: “Eis que faço” é carregado de graça, é expressão da bondade e do amor de Deus. Para compreender a profundidade teológica da graça de Deus, manifesta neste texto, é necessário fazer um paralelo com o que houve no Antigo Testamento. A partir de Gênesis 6, é descrito que, para fazer o novo, houve a destruição e a matança, no dilúvio. O novo foi construído a partir da destruição do velho. Diferentemente, neste texto de Apocalipse, a misericórdia, a graça e o perdão de Deus, revelados na cruz de Jesus Cristo, mostram um outro jeito de

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construir o novo: transformando o velho - a partir do velho, construir o novo. Isso é maravilhoso, é alentador e é cheio de esperança.

uma nova realidade – uma esperança futura que nos compromete com a vida, com a história, com o momento atual.

A Nova Jerusalém é o nosso ideal. Mas, enquanto esse ideal não está pleno, continuemos a apostar na espiritualidade e na educação, para que novos dons, habilidade e competências sejam descobertas, fortaleci-das e encorajadas a edificar um novo mundo pós pandemia, na esperança de chegar o dia no qual “não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor. As coisas velhas já passaram” (Ap 21.4).

A partir desta dinâmica interior, o Tema do Ano foi desdobrado em três subtemas interligados:

O Tema do Ano 2021 é dinâmico e propõe um movimento: No batismo, Deus nos vocaciona a viver com sentido. Para isto, nos presenteia com dons e capacidades que podemos colocar a serviço da promoção da vida. O Lema 2021 lembra que Cristo traz

a) Batismo: Deus nos vocaciona; b) Dons: Deus nos presenteia; c) Serviço: Deus nos compromete. A visão que o Tema e Lema de 2021 propõe à nossa Igreja, Sínodos, Paróquias e Comunidades é de uma igreja sacerdotal, que vive a graça do batismo e se compromete com o Reino de Deus no tempo presente – e, por isso, é acolhedora, inclusiva, missionária e, desta forma, relevante e atrativa em uma sociedade marcada pelo sofrimento, pela desesperança, pela violência e pela exclusão.

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Datas Comemorativas em 2021 P. Me. Alan Schulz

25 ANOS

Verão, e ganham a segunda medalha de ouro olímpica.

DIA NACIONAL DE DIACONIA

Em 31 de julho, o iatista brasileiro, Robert Scheidt, conquista a medalha de ouro olímpica na classe Laser do iatismo.

Em 1996, a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) instituiu o Dia Nacional de Diaconia, que é celebrado, anualmente, no domingo Misericordias Domini (a Misericórdia do Senhor). A finalidade desta data especial é promover a oração e a reflexão nas comunidades e instituições da IECLB sobre a diaconia, a partir do Tema do Ano. OUTRAS COMEMORAÇÕES Em 20 de janeiro de 1996, duas jovens, da cidade mineira de Varginha, relatam ter visto um ser extraterrestre e a suposta aparição da criatura causou repercussão nacional como o caso do E.T. de Varginha. Em 2 de março, os integrantes da banda Mamonas Assassinas morrem, quando o avião em que viajavam cai sobre a Serra da Cantareira, em São Paulo. Em 17 de abril, dezenove membros do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra são mortos pela Polícia Militar, durante o confronto no Pará, no chamado Massacre de Eldorado dos Carajás. Em 29 de julho, Torben Grael e Marcelo Ferreira vencem na classe Star do iatismo, nos Jogos Olímpicos de

Na madrugada de 11 de outubro, morria o cantor e compositor Renato Russo, líder da banda Legião Urbana, vítima de complicações da AIDS (era soropositivo desde 1989, mas jamais revelou, publicamente, sua doença), deixando um filho. Em 25 de novembro, Darci Alves Pereira, um dos assassinos do líder seringueiro Chico Mendes, é recapturado pela Polícia Federal em Guaíra, Paraná. 50 ANOS JORNAL EVANGÉLICO Em 1971, acontecia uma grande fusão de vários periódicos da IECLB. Para discutir este assunto, o então pastor presidente, Karl Gottschald, encarregou os responsáveis pelos diversos periódicos (que se reuniram nos dias 16/17 de setembro de 1970, em Indaial, SC) para elaborar um anteprojeto. Estiveram presentes, nesta reunião, os representantes dos seguintes periódicos: HEIMATBOTE, P. Jost Ohler; A CRUZ DO SUL, P. Ulrich Vesper; IGREJA EM NOSSOS

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DIAS, P. Egon Koch e a jornalista Eva Dürr; FOLHA DOMINICAL, P. Johannes Hasenack; PRESENÇA, Estudante de Teologia Martin Weingaertner; ESTUDOS TEOLÓGICOS, Estudante de Teologia Amoldo Maedche; VOZ DO EVANGELHO, P. Nelso Weingärtner e P. Friedrich Gierus. Assim, encaminhou-se a fusão dos jornais Folha Dominical (com 10.000 assinantes) e “Voz do Evangelho” (com 8.500 assinantes) para o JORNAL EVANGÉLICO, que começou a circular, sendo redigido pelo pastor Jost Ohler, a partir de 15 de novembro de 1971, com sede em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul (Fonte Portal Luteranos). JUBILEU ESPACIAL DA MISSÃO APOLLO 14 A Nasa (Agência Espacial Americana) lança a Apollo 14 no dia 31 de janeiro de 1971. O módulo Arantes pousou na cratera da superfície lunar no dia 5 de fevereiro. A Apollo 14 foi o terceiro pouso de uma nave na Lua e a missão do Programa Apollo que teve a tarefa de recomeçar as missões para o satélite, após os problemas ocorridos com a Apollo 13. Foi comandada por Alan Shepard, o primeiro norte-americano a ir ao espaço, dez anos depois de sua viagem pioneira do Projeto Mercury. A Apollo 14 visitou a região de Fra Mauro, um planalto lunar, objetivo da missão anterior abortada. A missão foi um sucesso e superou as dificuldades e tristezas do programa

com a Apollo 13. 100 ANOS MORRE A ÚLTIMA PRINCESA DO BRASIL Morre, no exílio em 14 de novembro de 1921, a Dona Isabel, Princesa Imperial e regente do Brasil (nascida em 29 de julho de 1846). Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bragança e Bourbon nasceu no Palácio São Cristóvão, Rio de Janeiro, no dia 29 de julho de 1846. Filha do Imperador D. Pedro II e da Imperatriz Tereza Cristina, com 4 anos, foi declarada princesa imperial e herdeira do trono, após a morte de seus irmãos Pedro e Afonso. Sua irmã mais nova, Princesa Leopoldina, foi sua grande companheira. A Princesa Isabel foi regente do Brasil Império e assinou a Lei do Ventre Livre, 1871 e a Lei Áurea, 1988, que acabou com a escravidão no Brasil. Isabel foi a última princesa do Império Brasileiro. Assumiu a regência por três vezes, quando o imperador D. Pedro II se ausentou do País. 150 ANOS Em 28 de setembro de 1871 a mesma Princesa Isabel, regente na Ausência de seu Pai, Dom Pedro II – Assinava a Lei do Ventre Livre. A Lei Barão de Rio Branco, ou Lei do Ventre Livre, estabelecia que toda criança negra era livre, mas deveria trabalhar pelo tempo que o senhor

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de escravos a sustentava, ou seja, o senhor a sustentava até os 9 anos. Então, trabalhava até os 18 anos. Nenhum escravo foi beneficiado por essa lei, pois antes, em 1888 – assinou a lei Áurea, que abolia a escravidão no Brasil. 200 ANOS REGÊNCIA DO BRASIL Entre os anos de 1821 e 1822, Dom Pedro I ocupou o cargo de príncipe regente do Brasil. Mesmo durando um breve período de tempo, o governo provisório de Dom Pedro foi marcado por um conjunto de transformações bastante intensas. Na época, seu pai, Dom João VI, havia deixado o governo em suas mãos para participar do processo de reforma política que tomava conta de Portugal, desde 1820. Aqui no Brasil, essa mesma notícia teve importantes consequências históricas. A chegada de Dom João VI ao Brasil, em 1808, mais do que marcar a transferência de uma Corte Real, transformou, radicalmente, a condição da economia brasileira que, agora, ficara desobrigada de manter negócios somente com Portugal. 500 ANOS EXCOMUNHÃO DE MARTIM LUTERO Em 1518, Roma havia aberto um processo por heresia contra Lutero. Dois anos mais tarde, o papa Leão X ameaça puni-lo caso não revogue suas

teses; em dezembro de 1520, ele queima a bula papal em protesto. Agora, Martinho Lutero rompera definitiva e irreversivelmente com Roma. Quando Leão X fica sabendo do escandaloso espetáculo de incineração, não hesita: em 3 de janeiro de 1521, lança sobre o reformador a maldição da excomunhão. O pregador das indulgências, Tetzel, pede a fogueira para Lutero. Entretanto, alguns príncipes colocam-se do lado do líder protestante. Eles creem que, através dele, será possível limitar o poder de Roma. E convencem o imperador a convidálo para ir à corte em Worms. Em abril de 1521, Lutero põe-se a caminho e, ao contrário do que desejaria a Igreja romana, é recebido com entusiasmo durante todo o trajeto. Ele prega em Erfurt, Gotha e Eisenach, antes de ser celebrado pelos habitantes de Worms. Na corte, o imperador insiste em que o teólogo retire as suas críticas, porém, este responde: "Através das passagens das Escrituras, estou preso às palavras de Deus. Portanto, não voltarei atrás, pois agir contra a consciência não é seguro nem saudável. Que Deus me ajude. Amém". Após deixar Worms, Martinho Lutero está protegido por um salvo-conduto que o resguarda de ser, imediatamente, preso. Porém, o imperador declara-o fora da lei e, portanto, exposto ao cárcere e à destruição de seus escritos. Durante a viagem de volta, o príncipe-eleitor da Saxônia,

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Frederico, o Sábio, manda sequestrálo, conferindo-lhe guarida no isolado castelo de Wartburg. Lá o ex-padre católico começa a traduzir a Bíblia para o alemão. A obra de Lutero não pode mais ser detida. Embora

nenhum dos príncipes em Worms saiba disso, começa a Reforma, a Idade Média chega ao fim, desponta a Idade Moderna. E, do protesto do reformador, nasce a Igreja Protestante. alanluterano@gmail.com

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A educação das crianças na modernidade Katiane de Oliveira Rossi Stassun

Sou professora há 12 anos, tenho e sempre tive, um amor imenso por meus alunos. Gosto de saber como estão, o que fazem da vida, se estão seguindo nos caminhos do bem. Recentemente, passei por uma situação inusitada que faço questão de relatar. Tal relato trará reflexões acerca dos costumes da modernidade e, ao mesmo tempo, será parte de um trabalho psicológico de crescimento espiritual, pois esta, também, é a função do ato de escrever. Um de meus ex-alunos, à beira da adolescência, foi extremamente grosseiro comigo. Eu, em minha im-

perfeição, havia tomado uma atitude precipitada. Ele estava por perto e respondeu-me de maneira tão indelicada, como eu jamais poderia prever. É alguém da minha convivência, estamos sempre juntos. Tentei conversar com ele, mas, ele não cedeu. Continuou respondendo com extrema grosseria. Nunca, em minha vida, eu havia me sentido tão desrespeitada, invadida, degradada. Posso enquadrar este momento, como um dos piores vivenciados por mim. A dor foi imensa. Durante alguns dias, não consegui tocar no assunto com ninguém, e chorava copiosamente. Fui ao atendimento com um psicólogo. A situação pode não parecer

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tão grave para quem lê este texto, mas, espero que através das minhas palavras eu consiga expressar um pouco da seriedade da situação à qual me refiro. Resolvi falar com sua mãe, pessoa íntegra, do bem, mas, com o hábito de superproteger o filho desde o nascimento. A mesma conversou com o menino e disse que eu deveria ir conversar com ele. Achei atípico, mas, tentei conversar com a criança por três vezes. Em uma delas, ele me ignorou e nas outras duas vezes, foi novamente grosseiro. Então, fui falar com seu pai e pude compreender a situação. O garoto estava dizendo para a família que eu o estava ignorando, que tentava falar comigo, mas eu fingia que não o via. Foram inúteis todas as tentativas de tentar resolver a situação através do pai. Após muita reflexão, lágrimas e oração, cheguei à conclusão que esta história não teria um fim amigável caso eu insistisse em retomá-la. Desisti então. Engoli minha dor, e segui a vida. Além de professora, sou Neuropsicopedagoga e atuo em uma clínica com Avaliação e Intervenção na Aprendizagem de crianças e adolescentes. Posso falar, com propriedade, que a sociedade moderna vem se desvirtuando a cada nova geração. Quanto mais se modernizam os aspectos econômicos, materiais e sociais, mais se deterioram os valores morais e éticos. As consequências destas transformações resultam em perturbações psicológicas em cada sujeito.

Eu poderia falar durante muito tempo sobre cada caso de impropriedade afetiva, de falhas predominantes na educação dos pequeninos que ocasionam consequências de difícil reparação no seu caráter, com o passar dos anos. De um modo geral, os pais querem se poupar, poupando os filhos nos momentos em que é necessária educação de valores. É mais fácil dar presentes, deixá-los entretidos nos jogos virtuais, na televisão, do que chamá-los para uma conversa séria e aplicar uma medida educativa, se necessário for. E tudo isto para quê? Para manter a “harmonia” no lar, para evitar “confusões”, para ser amiguinho do filho (a). O problema é que esta harmonia, citada acima, é falsa, é momentânea. E as confusões entendidas desta forma na fala dos pais, não são confusões, é trabalho. Sim, educar filhos dá trabalho, é cansativo, pois, são tendências presentes na personalidade de cada filho ou filha que precisam ser direcionadas pelos pais. É visível, para mim e para os colegas de profissão, que as crianças imploram por limites. Elas querem que alguém lhes mostre o caminho seguro a optar, elas querem direcionamento na vida. Eu poderia citar vários exemplos! Lembro-me do menino que estava contando para uma de minhas amigas, psicóloga, que a mãe o colocara de castigo por ter feito má criação. O castigo era ficar a semana inteira sem ver televisão. O pai, ao ficar sozinho com ele, ligava a televisão para não precisar “se incomo-

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dar” com o filho. O menino estava indignado! E não sabia como contar para a sua mãe. Pediu ajuda da psicóloga. Ao sair do atendimento, pegou na mão da psicóloga e a levou até o carro de sua mãe, para que ela o ajudasse a resolver esta situação. No entender do menino, ele deveria cumprir o castigo até o final, porque isto era o certo. É bem o que se passa em “Crime e Castigo”, romance de Fiodor Dostoiévski. Voltando à minha história, sigo a vida recalcando o sentimento frustrante em relação ao ex-aluno que faltou com o respeito comigo. Convivemos no dia a dia, pois, isso é necessário. Eu o vi crescer e sinto um amor imenso por ele. Talvez por isso, a dor também seja imensa. Se, algum dia, meu filho agir desta forma com alguém, quem quer que seja, eu o levarei até a pessoa ofendida e ele pedirá desculpas. O respeito com o próximo é o principal aprendizado que nossas crianças devem desenvolver. Não importa se concordamos ou não, com as atitudes e escolhas do outro. O respeito é a base para que a humanidade dê certo. Há alguns dias, retirei-me em meditação sob a laranjeira no quintal da minha casa. Peguei uma pedra na

mão, verifiquei que ela estava repleta de marcas. Estas marcas são ocasionadas pelas ações do tempo: erosões, quedas, chuva, sol forte, tempestades... Notei que todas as outras pedras próximas, também estavam marcadas, umas mais, outras, menos. Relacionei as pedras conosco, seres humanos. De certa forma é possível uma analogia. Todos nós temos dores, marcas deixadas pelas situações da vida. Estas marcas nos transformam, nunca mais seremos tal qual fomos antes do sofrimento que gerou tais marcas. Nossa visão de mundo se modifica, mas, assim como as pedras se transformam, todavia, não perdem sua essência de pedra, nós, não devemos perder nossa essência como seres humanos. O melhor que foi cultivado em nós: valores éticos e morais, amor ao próximo como a nós mesmos... Isto faz a nossa essência. A pedra vai diminuindo, com o tempo e se torna pó. Nós enxergamos pela janela da alma os anos passando e, um dia, nosso corpo material também virará pó. Analisemos, qual é o valor do legado para a Terra. Qual o valor dos bens materiais que compramos para nossos filhos? Ou, qual o valor da educação que passamos aos nossos filhos? A autora é Neuropsicopedagoga e Membro da ALB /SC - Academia de Letras do Brasil /SC, reside em Massaranduba/SC katneuropsico@gmail.com

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A mulher e o sistema prisional brasileiro Sheila Rubia Lindner

Todo homem é maior que seu erro. Do amor, ninguém foge. Mário Ottoboni Atualmente, o cenário brasileiro é de caos no sistema prisional, haja vista que os presídios possuem superlotação e a quantidade de mulheres, no meio, cresce cada dia mais, a cada mês a porcentagem de crescimento é de 10,7%, o que leva a mais de 40 mil mulheres brasileiras presas. De acordo com o Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN), em torno de 16 anos houve um aumento de 698% da população carcerária feminina brasileira, neste cenário a maioria das mulheres estão sendo privadas, totalmente, de sua liberdade, em sistema fechado, decorrentes do cometimento de crimes conside-

rados graves, levando o tráfico de drogas ao primeiro lugar. Trata-se de uma população extremamente fragilizada. Por sua vez, resta evidenciado que há pouco conhecimento no meio desta classe, sobretudo aos seus direitos, uma vez que são mulheres, independente da idade, que sofreram e sofrem com o passado de tortura, desprezo e abusos, inclusive sexuais. Em grande parte desse sistema, o gênero feminino sofre grandes preconceitos, haja vista a crescente demanda da população carcerária, levando o sistema a um colapso, onde as reclusas passam por situações extremamente desagradáveis e insalubres, muitas vezes não possuindo itens básicos para a higiene pessoal. As condições das penitenciárias bra-

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sileiras são relativamente precárias. Nelas, podem-se presenciar cenas com oito ou dez mulheres se acomodando num local onde deveriam estar apenas quatro. De acordo com a Constituição Federal, todos os cidadãos possuem garantias fundamentais, e nessas garantias, também, estão incluídos os direitos sociais. Direitos estes que pertencem, também, àquele que está em situação carcerária. É de suma importância que, mesmo dentro do cárcere, a mulher tenha os seus direitos mantidos, pois a Constituição é norma das normas, portanto nenhuma outra lei pode se opor, e ninguém pode “desobedecer” a nenhum de seus princípios, garantias e direitos fundamentais. A situação das mulheres encarceradas no Brasil, ainda é preocupante. Assim mesmo, muitas preferem estar no cárcere, a viver nas ruas, pois um grande mal ainda existe, que são as drogas. Em sua grande maioria, são adolescentes que perdem os pais, ou que sofrem agressões e maus tratos desde a infância, que precisam sustentar os irmãos, ou que não conseguem emprego e começam a se prostituir. A prostituição e o tráfico de drogas são o que mais chamam a atenção, num primeiro momento de dificuldade, mas são, também, grandes tentações ao consumo de drogas, bebidas alcoólicas, cigarros, etc. Outra situação, bastante recorrente, é a de que mulheres ou, até mesmo

adolescentes, passem grande parte de sua gravidez dentro de estabelecimentos carcerários. De acordo com uma reportagem, realizada pelo site “O Globo”, alguns pesquisadores visitaram vinte e sete unidades prisionais, uma por estado, para colher depoimentos de 241 mães e de mais 200 grávidas. Foi relatado o caso de uma mulher, já em trabalho de parto, que foi levada algemada para dar à luz. O que parece incomum aos olhos de boa parte do mundo, é de extrema usualidade entre o mundo das prisões femininas. O ex-presidente, Michel Temer, antes de deixar o posto, sancionou uma lei que veda o uso de algemas em presas grávidas ou em trabalho de parto. Lei que entrou em vigor no dia 12 de abril de 2017. A pesquisa foi realizada um pouco antes de a lei entrar em vigor, mas o uso de algemas não era a única dificuldade enfrentada por essas mulheres. Muitas não possuíram acesso aos exames rotineiros e ao pré-natal, e, ainda, sofrem diversos tipos de violência, inclusive física, o que acarreta numa série de problemas à mulher e ao feto. Muitos pesquisadores estudam os prós e contras de mulheres viverem no presídio. Por isso, enquanto os bebês estão dentro do ventre, a expectativa de seu nascimento é ainda maior, pois surgem diversos questionamentos, dentre eles, por quanto tempo a criança viverá em um presídio? Como será sua convivência com a população carcerária?

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Mas o que muitas pessoas não se dão conta é que uma criança, nascida na prisão, também precisa de cuidados maternos em seus primeiros dias de vida, necessitando-se manter uma conexão parental com sua genitora. Muitas das mulheres, que estão no cárcere e estão esperando um filho, não queriam estar passando por essa situação. Na maioria das vezes, os caminhos da vida e as escolhas foram feitas de forma equivocada, que as levaram ao presídio. Mas todas, sem exceção, sofrem com a perda dos filhos e com o abandono da família. É necessário, para não incorrermos em juízos carentes de amor, que nos coloquemos no lugar de uma mãe

encarcerada, que está pagando pelos seus erros e perderá o filho em poucos meses. Isto se chama empatia. Uma mulher não quer se sentir esquecida e, muito menos, invisível, mesmo que tenha praticado um ato ilícito, a partir do momento que se arrepende dos seus erros, quer reconstruir sua vida e reconquistar a dignidade e a visibilidade que lhe foram tomadas. É importante lembrar que a pessoa, que está dentro de uma instituição prisional, perdeu apenas o direito à liberdade. Os outros direitos devem ser garantidos e cabe a nós garantilos, enquanto Estado e enquanto sociedade. sheila.lindner@gmail.com A autora é Enfermeira e Dra. em Saúde Coletiva, professora adjunta da Universidade Federal de Santa Catarina e Coordenadora do Observatório da Seguridade Social e Sistemas de Justiça (OSJ).

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Acabou Elfriede R. Ehlert

Nem sei por onde começar ao escrever diante de um termo tão definitivo, “acabou”. Sensações e sentimentos, os mais variados, podem nos invadir e nos invadem ao meditar a respeito.

te, descobre uma grande coisa que o une: o amor. “O amor cobre multidão de pecados”.

Estamos, por exemplo, querendo construir a casa dos nossos sonhos. Anos e mais anos ou só meses e mais meses, ficamos em cima do projeto, analisando, tentando melhorar. Tais situações podem tomar nosso tempo. Temos que conviver com isso e claro, resolvê-las.

O que tem que acabar mesmo é nosso pessimismo em relação à nossa capacidade de transformar o mundo! Claro que não podemos nos considerar poderosos e onipotentes sobre todas as coisas, o que realmente não somos. Mas qual é o meu cantinho que posso transformar? Garanto que você já tem o seu e vai, com certeza, achar mais cantinhos. Mais do que isso ninguém espera de você. Só o seu cantinho, onde o amor e a compreensão prevalecem. Claro que não conseguimos nos lembrar a todo o momento do tipo: “cuidado com o meu cantinho”. Respeite o cantinho do outro. Será que acabaram nossos lamentos: “eu não valho nada, eu não consigo nada”? Levante a cabeça. O mundo ainda não acabou e o seu mundinho, o seu cantinho, também não. Deixe o calor de seu cantinho se espalhar, e garanto que se espalha, fazendo você e seus semelhantes mais felizes. Não deixe a sua felicidade acabar. Você é de grande valor para você mesmo/a e para os outros.

E se for um relacionamento que racha e começa a desmoronar? Será que podemos, também, repetir aquela costumeira frase: “foi bom enquanto durou?” De um relacionamento mais profundo se espera que dure e aguente! Até onde vai a força para aguentar? Aguentar o que? A mesmice do nosso dia a dia? O colega que sempre chega atrasado e não se toca? O/a cônjuge que sempre reclama de alguma coisa? Será que o tal do “pensamento positivo” já é capaz de resolver o nosso atrito, o nosso problema? Casamentos, muitas vezes, estão em perigo de desmoronar e, assim, acabar. O que vale mais, deixar acabar, ou lutar para transformar? Mas transformar a outra pessoa? Tarefa, quase sempre, impossível? Tenho um exemplo que vivenciei. Um casal estava em crise, quase se separando. De repen-

Acabar, acabar, acabar... Com os nossos rios? Com toda a natureza? Com artefatos históricos?

Acabou? Não! Não! Não! hnzehlert@gmail.com

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Acolher bem: um convite para ficar Grupo de Diaconia

“O meu antepassado foi um arameu que não tinha lugar certo onde morar” (Deuteronômio 26.5b). Assim começa uma das mais antigas confissões de fé que encontramos na Bíblia. Viver errante e sem lugar certo para ficar é uma das experiências mais marcantes do ser humano, desde a sua origem, no continente africano. Muitos personagens bíblicos vivenciaram a condição de errantes, a co-

meçar por Adão e Eva, expulsos do paraíso. A barca de Noé vagou sem rumo por muito tempo, até encontrar terra firme novamente. Abraão saiu da sua terra, do meio de seus parentes, em busca das bênçãos prometidas por Deus. Isaque, com seus filhos, Esaú e Jacó, não tiveram destino diferente. Perambulavam entre a Mesopotâmia e o Egito à procura de pastos verdes e água fresca para as suas ovelhas e cabras. Sociedades

Brechó da OASE.

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nômades e sedentárias se confrontaram inúmeras vezes. As secas frequentes na região forçavam a busca de alimentos em países vizinhos, com uma sólida produção de grãos, como é contado na história de José (Gênesis 37-50). A vida tribal e seminômade fez parte da gênese, do início, do povo de Israel. Toda essa experiência acumulada na vida errante serviu para formular uma regra básica. Em Deuteronômio 10.18b e 19 nós lemos: “Ele (Deus) ama os estrangeiros que vivem entre nós e lhes dá comida e roupa. Amem esses estrangeiros, pois vocês foram estrangeiros no Egito”. Não esqueçam o seu passado, pede Deus. A prática da hospitalidade figura entre os muitos gestos que podemos realizar “ao mais humil-

de dos meus irmãos”, disse Jesus. Ela é um critério de bondade e exaltação: “era estrangeiro e me receberam na sua casa” (Mateus 25.35). A hospitalidade tem importância decisiva na divulgação do evangelho de Jesus Cristo. De cidade em cidade, de casa em casa, os discípulos deveriam anunciar: “o Reino de Deus chegou até vocês”. Mas, no caso de não serem bem recebidos, deveriam anunciar: “até a poeira desta cidade que grudou nos nossos pés nós sacudimos contra vocês” (Lucas 10.811). O autor da carta aos Hebreus faz um pedido aos seus leitores, que ecoa até hoje: “Não deixem de receber bem aqueles que vêm à casa de vocês; pois alguns que foram hospitaleiros receberam anjos, sem saber” (13.2). Catástrofes naturais, guerras, misé-

Curso de português, em parceria com o SENAC.

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ria e perseguições políticas transformam milhares de pessoas em migrantes forçados, em busca de refúgio e de sobrevivência. Assim foi no passado e, assim continua no presente. O Brasil também tem sido o destino de novas massas de imigrantes, de perto e de longe. Hoje, é quase impossível um país viver sem hóspedes estrangeiros. Estamos nos interconectando. Isso não apenas pela internet e pelas redes sociais. Nas ruas e praças de nossas cidades, ouvimos várias línguas e encontramos pessoas de lugares distantes, com costumes e jeitos tão diferentes dos nossos.

sua sobrevivência. Os nossos antepassados, guardadas as devidas proporções, também tiveram as suas alegrias e enfrentaram muitas dificuldades como estrangeiros em terras brasileiras. Essa história deixou suas marcas e lições, até no modo de ser e viver Igreja na região. O aprendizado desse período foi legado aos descendentes que aqui permanecem como filhos da terra. Esse passado de imigração sensibiliza para a problemática e desafia para o apoio e integração dos estrangeiros de hoje. O conflito, no passado, era por terra. No presente, a busca é muito mais por emprego.

O Vale do Taquari (RS) já experimentou situação semelhante num passado não muito distante. Para essa região vieram imigrantes alemães e italianos em busca de terras para a

Não, essa história não foi esquecida, conforme o pedido por Deus. O chamado a ser hospitaleiro continua. Crianças estrangeiras necessitam de escolas. Elas querem estudar. O am-

Seminário Migrações, Comida Haitiana.

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biente escolar favorece a aprendizagem da língua portuguesa e dos demais elementos da cultura local. Seus pais, por outro lado, precisam de trabalho, que garanta o pão de cada dia para a família. Também o sistema de saúde precisa amparar e aprender a lidar com os novos imigrantes. A nossa cultura é enriquecida, pois temos a chance de conhecer outra dentro do nosso próprio país. A mútua aprendizagem, no entanto, exige de nós atitude de abertura para vencer preconceitos e discriminações. O desafio, pois, é receber bem. Desde 2015, através do seu Grupo de Diaconia, a Comunidade Evangélica de Confissão Luterana em Lajeado/ RS, tem promovido ações na direção da acolhida aos novos imigrantes que chegam à cidade e região. Temos tido apoio do Núcleo de Projetos da IECLB, do Conselho Nacional

de Igrejas Cristãs (CONIC), da Fundação Luterana de Diaconia (FLD), do Sínodo Vale do Taquari e de inúmeras parcerias locais. Haitianos e senegaleses são a maioria dos imigrantes por aqui. Também, temos venezuelanos, nigerianos e de Bangladesh. No início, realizamos um grande seminário regional, com mais de 200 pessoas, para abordar as razões dos novos processos migratórios e os desafios para os países que acolhem imigrantes. Na prática, oferecemos cursos de língua portuguesa, de garçom, de boas práticas de manipulação de alimentos e, pelo segundo ano consecutivo, de karatê para crianças imigrantes e brasileiras em situação de vulnerabilidade. Esse é um projeto de muitas mãos, que envolve escola, academia de karatê, CONIC e Comunidade, através dos grupos Ordem Auxiliadora de Senhoras Evan-

Karatê para crianças haitianas e brasileiras.

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gélicas (OASE) Priscila e Diaconia. O brechó da OASE Priscila, por exemplo, proporciona o acesso barato a vestuário, a móveis e a utensílios domésticos. Não há crédito na praça para os novos estrangeiros. Durante o ano de 2019, também, ajudamos na tradução juramentada de documentos pessoais, tão importantes para que possam matricular seus filhos nas escolas, procurar trabalho e regularização junto à polícia federal. Na bagagem, os imigrantes trazem a sua prática religiosa, como os nossos antepassados também o fizeram. Muitas delas ultrapassam as fronteiras do cristianismo. Portanto, somos desafiados ao diálogo inter-religioso. Estamos mais acostumados a conversar com pessoas que comungam da mesma fé cristã que nós, embora sejam de denominações diferentes (católicos, batistas, luteranos, metodistas, pentecostais etc.). Contudo, dialogar com pessoas de outra tradição religiosa, como a mu-

çulmana, budista, xintoísta, e indígena exige de nós um conhecimento, uma abertura e uma capacidade inclusiva maior. Com respeito, compreensão e solidariedade, é possível vencer as barreiras que nos separam de um convívio mais fraterno. Manter o diálogo entre as diversas religiões nos dá a chance de aprendermos e crescermos com a fé da outra pessoa. Certa vez, ao receber a visita de sua mãe e irmãos, Jesus aproveitou a ocasião e chamou a atenção das pessoas para a importância da vontade de Deus como elemento que abre fronteiras e nos aproxima uns dos outros. Ele se expressou assim: “pois quem faz a vontade do meu Pai, que está no céu, é meu irmão, minha irmã e minha mãe” (Mateus 12.50). Onde o amor ao próximo é praticado, especialmente aos mais necessitados, aí, encontramos nossos parentes na fé, não importando sangue, cultura ou religião. Comunidade Evangélica de Confissão Luterana de Lajeado, Grupo de Diaconia, Lajeado/RS

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Adoção – ato de amor! Débora Lümke

Não posso passar em casa nesse dia das mães, porque eu posso ser transmissora do Covid-19. Então, vamos fazer textão de dias das mães! Quero aproveitar essa data e falar, um pouco, sobre adoção. Da minha experiência como filha adotiva. Talvez, ajude um pouco a ampliar a perspectiva daqueles que cultivam essa ideia. Claro que não posso falar daquilo que meus pais viveram, em nome deles. Mas, posso passar um pouco do que vi e senti. Eu sou morena, de pele escura. Fui adotada por uma família de origem alemã. Minha oma/avó mal fala português, meus pais falam e o pai teve educação formal da língua portugue-

sa na faculdade de teologia para formação de pastor da Igreja Luterana. Uma das minhas primeiras palavras foi wasser (água). Aprendi primeiro o alemão em casa. Perdi muito depois de ir para escola. Quero dizer, com isso, que na adoção diferenças existem. Uma criança, que é adotada, não carrega a carga genética dos pais. Isso pode parecer irrelevante, falando assim, mas a vontade de procriação, por parte do ser humano, é fortemente induzida pela necessidade de proliferar os genes de origem. Isso, no dia a dia, se transforma num filho que tem os teus olhos, a tua aparência, o teu jeito de andar.

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Da mesma forma, vi num documentário que o cérebro de uma criança se forma até os dois anos de vida. É por isso que o ser humano nasce com parte do crânio aberto, completamente indefeso. Diferentemente de boa parte dos animais, que já saem andando, nadando, enfim, com a capacidade mínima de defesa. Isso porque nosso cérebro é desenvolvido com ajuda dos nossos pais. Então, se nesse período a criança não recebe os devidos cuidados pode se tornar um adulto com diversos problemas: psicológicos, de aprendizado etc. Portanto, quando se adota uma criança, as diferenças não são só físicas. Você está recebendo um bebê/criança que teve uma vivência que, na verdade, você desconhece. Eu fui adotada com dias de vida. Sempre soube que era adotiva. Hoje, sei que a rejeição que sofri foi em função das circunstâncias da minha família biológica. De qualquer forma, em mim, isso se traduziu numa dificuldade de acreditar em mim mesma. Tudo eu questiono, revejo diariamente, sou aberta para crenças, valores, ideias diferentes das minhas. Tenho, sim, muita capacidade de compaixão, mas emitir um parecer e segui-lo, acima de qualquer coisa, é algo perto do impossível pra mim. Essa insegurança no dia a dia complica muito a minha vida e dos que convivem comigo. Qualquer pessoa que lidar comigo vai ser questionada. Simplesmente, meu modo de ser faz parte do pacote. Se a pessoa não tiver, em si, algo remotamente pró-

ximo daquilo que meus pais possuem ela vai sair da minha vida. Bom, então, com essa criança meus pais adotivos tiveram que lidar. Com essa adulta, também. Eu questionei meus pais em muita coisa. Questionei o pai sobre religião. Questionei o amor deles por mim. Questionei os valores deles. E esse desafio foi suportado, por parte deles, com o que para mim é amor incondicional. Um amor que transpõe qualquer barreira, qualquer diferença, seja ela psicológica ou física. Penso que, com isso, eles também aprenderam algo. Quando completei 32 anos meus pais acharam, dentro deles, a força necessária para abrir a documentação do processo de adoção. Assim, consegui conhecer a minha família biológica. Consegui ouvir o lado deles da história. Posso dizer que, sim, essa foi uma tarefa que exigiu capacidade de perdão. Contudo, ao perdoar, ganhei mais do que perdi. Mais aprendizado. Mais família. Mais amor. Descobri, inclusive, que tenho uma irmã que viveu o mesmo que eu e que morava no bairro ao lado. Ela também estudava numa das escolas privadas da cidade, não a mesma, mas tínhamos amigos em comum. Aprendi que tive duas mães que me amaram muito. Amaram acima das convenções sociais. Duas leoas que fizeram o que era necessário. Abrir mão de um filho e criar um filho, que não possui a tua carga genética e possui uma personalidade difícil, exige amor. Acima das dificuldades, do

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trabalho que dá, do preconceito, das expectativas que se criam para um filho, do medo de perder, de alguém tomar de volta.

rente daquela de uma criança proveniente da própria família. Na minha opinião, adote caso o seu coração esteja disposto a encarar esse desafio.

Então o que eu posso dizer para quem quer adotar, a partir daquilo que eu acho e vivi é: não adote só porque os diversos procedimentos médicos e tentativas de ter o próprio filho falharam. A adoção exige a capacidade de aceitar que diferenças existem e trabalhar essas diferenças. E por trabalhar não quero dizer moldar o filho naquilo que você esperava como um biológico. Quero dizer cultivar, valorizar e transpor, de forma positiva, essas diferenças. Por mais que se queira o filho adotivo já possui uma história genética e de vivência dife-

Para as minhas mães eu só posso dizer obrigada pela força que vocês demonstraram em colocar o amor acima de tudo. A minha mãe biológica sabe e respeita o quanto eu amo a minha mãe adotiva. Porque ela foi a minha mãe. Eu vejo isso com muita admiração. E esse é mais um dos benefícios do perdão. Mãe, obrigada por tudo. Pai, obrigada por tudo também. Amo muito vocês.

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deboralumke@yahoo.com.br


Além de nossos horizontes pessoais e comunitários P. Luis Henrique Sievers

Em 2021, tem Campanha da Fraternidade Ecumênica (CFE). Ela está acontecendo pela quinta vez. As outras quatro foram: CFE 2000, com o tema “Dignidade humana e paz”, inspirada no lema “Novo milênio sem exclusões”; CFE 2005, com o tema “Solidariedade e paz”, baseada no lema “Felizes os que promovem a paz”; CFE 2010, com o tema “Economia e vida”, ancorada no lema “Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro”; e CFE 2016, com o tema “Casa comum, nossa responsabilidade”, alicerçada no lema “Quero ver o direito brotar como

fonte e correr a justiça qual riacho que não seca” (Amós 5.24). A CFE de 2021 tem como tema “Fraternidade e diálogo: compromisso de amor”. O seu lema é “Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade” (Efésios. 2.14). A campanha tem por objetivo promover um “diálogo amoroso” e um “testemunho da unidade na diversidade”, inspirados “no amor de Cristo”. Ela é um convite para “comunidades de fé e pessoas de boa vontade para pensar, avaliar e identificar caminhos para a superação das po-

Reunião da Campanha da Fraternidade Ecumênica – CFE 2021.

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larizações e das violências que marcam o mundo atual” (www.conic. org.br/portal/cf-ecumenica). Estamos acostumados com a Campanha da Fraternidade anual da Igreja Católica Apostólica Romana, coordenada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que acontece sempre, acentuadamente, no período da quaresma. A CFE, no entanto, ocorre normalmente de cinco em cinco anos e tem a coordenação do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), do qual também a IECLB é membro. Uma comissão é constituída para escolher o tema e o lema da campanha, bem como coordenar a mesma. O resultado financeiro da CFE é transformado em um Fundo Ecumênico Nacional de Solidariedade (FES), que financia projetos sociais ligados aos temas de cada campanha. Na última, por exemplo, foram aprovados 31 projetos em todo o Brasil. O tema e o lema da CFE de 2021 são desafiadores. É inegável que vivemos tempos de polarizações. Como se costuma dizer, “os nervos estão à flor da pele”. Temos cada vez mais dificuldades de ouvir os outros e isso em quase todos os setores da vida. É bom ter posicionamentos e saber argumentar. Também os cristãos precisam saber dar razão da sua esperança e fé quando são perguntados. A recomendação, porém, é que isso seja feito com educação e respeito (1 Pedro 3.15-16). A tolerância não é uma forma de convivência pas-

siva, que apenas aguarda o fracasso do outro. Assim não crescemos. Uma tolerância sadia precisa ser ativa, que faz do diálogo fraterno a sua principal ferramenta de respeito e convivência. Nós nos acostumamos a tratar o diferente como inimigo. Todos nós perdemos com isso. Afinal, a diversidade é nossa maior riqueza e beleza, desde a criação: “e Deus viu que tudo o que havia feito era muito bom” (Gênesis 1.31). Trabalhar pela unidade não significa apagar essa diversidade. Pelo contrário, é promover a aproximação respeitosa dos diferentes para o enriquecimento e crescimento mútuos. É descobrir pontos em comum e abraçar causas coletivas. Enfim, cooperar na promoção da vida: “sejam bons administradores dos diferentes dons que receberam de Deus. Que cada um use o seu próprio dom para o bem dos outros!” (1 Pedro 4.10). O desafio de usar o que temos e o que somos, que é dom de Deus para o bem dos outros, é uma tarefa inegável de toda pessoa que se declara cristã. Afinal, “até o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida para salvar muita gente” (Marcos 10.45). Para que isso aconteça de maneira apropriada e consequente, somos chamados a olhar por cima dos muros que construímos entre nós. O próximo também é a pessoa distante e diferente de mim e dos meus amados. Vida e fé têm muitas formas de se-

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rem vividas. Respeito e diálogo fraterno constroem a paz. A CFE de 2021 quer colaborar no fortalecimento e na celebração da convivência ecumênica e inter-religiosa. Para que isso aconteça, de fato, é necessária uma conversão para a cultura do amor e a rejeição do ódio. Essa mudança precisa transparecer em nossas atitudes diárias e no engajamento em ações concretas em prol do próximo e de toda criação. Toda criatura, pois, tem status de dignidade perante Deus. É preciso que também tenha diante de nós. A CFE quer nos ajudar na superação de conflitos e violência, promovendo a reconciliação através do diálogo amoroso, que inclui educação e apreço pelas diferenças. “Fraternidade” e “Ecumênica”. São duas palavras que merecem a nossa atenção. Separadamente, cada uma tem o que dizer. “Fraternidade” destaca os laços que nos vinculam uns aos outros, que vão muito além de irmandade, afeto e amizade. É uma espécie de afinidade e responsabilidade por aquilo que nos toca o coração. “Ecumênica” também é uma palavra cujo significado transcende o esforço por união entre igrejas cristãs de diferentes doutrinas. É uma preocupação e um engajamento em

questões que atingem a totalidade do ser humano e de toda a criação de Deus, nossa casa comum. Juntas, “fraternidade ecumênica”, elas significam um desafio coletivo de abraçar uma causa comum, que vai além do quintal da minha casa e além do horizonte da minha própria Igreja. É possível fazer uma unidade do que estava dividido? O lema da CFE afirma que sim. Segundo o apóstolo Paulo, Cristo mostrou o caminho da morte para a vida, para a paz com Deus e para a paz com o próximo. Ele é derrubador de muros da inimizade que separam as pessoas umas das outras e, assim, com Deus mesmo. Fez tudo isso com o “sacrifício do seu corpo” (Efésios 2.14). Paulo está convencido de que o acesso a essa nova vida, sem muros, implica em compromisso e serviço. Ele escreve: “rogovos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional” (Romanos 12.1). Por ser ecumênica, a Campanha da Fraternidade de 2021 é feita por muitas mãos, de vários tamanhos, cores e jeitos. É um mutirão da vida. Ali, onde muitas mãos trabalham juntas, o fardo fica leve e sustentável. luishenrique.sievers@yahoo.com

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Alguns flashes dos 70 anos de presidência da IECLB P. Rolf Schünemann

Uma visão panorâmica sobre a presidência da IECLB passa pela história de sua constituição ao longo de sete décadas, dos seus desafios internos e externos. Falar, portanto, do exercício de uma função supraparoquial, de abrangência nacional, significa reportar-se, primeiramente, à formação da Federação Sinodal, em 1949. A existência de uma organização de caráter nacional representa apenas um pouco mais de um terço do tempo da fundação das primeiras comunidades filiadas à Igreja. Tem-se, até 1949, ano da eleição do primeiro presidente, comunidades autônomas em sua maior parte do tempo – período pré-sinodal (1824-1886) - com uma experiência de caminhada sinodal prévia de seis décadas – período sinodal (1886-1949). Têm-se, ao longo do período, nove presidências que, escolhidas em concílios gerais, tiveram diante de si desafios muito diversos e ênfases distintas. Suas atribuições constitucionais também sofreram alterações ao longo do tempo. 1. Pastor Hermann Dohms (19491958) – Egresso do Sínodo Riograndense, deu prosseguimento ao processamento dos traumas advindos da II Guerra Mundial. Esteve à

frente nos primeiros passos da aproximação dos sínodos e na consolidação da primeira atuação intersinodal – a Faculdade de Teologia em São Leopoldo/RS. 2. Pastor Dr. Ernesto Theophilo Schlieper (1958 -1969) – Tendo integrado a estrutura da Federação Sinodal, procurou uma interlocução com a realidade brasileira e elaborou os primeiros referenciais para o envolvimento da Igreja na questão social brasileira, dando impulsos para a sua atuação diaconal. Manteve uma interlocução importante na área ecumênica, graças a relações cultivadas no período em que foi pastor no Rio de Janeiro, então capital do Brasil e sede da Confederação Evangélica do Brasil e Sociedade Bíblica do Brasil. 3. Pastor Karl Gottschald (19691978) – A sua gestão teve como principal desafio o acompanhamento da implantação da nova estrutura de igreja nacional surgida em 1968 com a extinção dos antigos sínodos. O período foi marcado pelo cancelamento da realização em Porto Alegre/RS da V Assembleia da Federação Luterana Mundial (1970). As tensões e conflitos daí decorrentes tinham como foco visões e compreensões distintas em relação ao regime militar brasileiro.

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4. Pastor Augusto Ernesto Kunert (1979-1986) – O acolhimento de demandas vindas das bases da Igreja e a abertura para o diálogo fez com que se inaugurasse uma nova fase em relação aos temas candentes da realidade brasileira. Sob a sua presidência estabelecem-se temas do ano e prioridades de atuação. 5. Pastor Dr. Gottfried Brakemeier (1987-1994) – O aprofundamento da temática da identidade luterana e a emissão de posicionamentos sobre diversos temas conjunturais são a tônica da sua gestão. Os tensionamentos teológicos se desdobram na criação de um novo centro de formação teológica. Foi eleito presidente da FLM durante a Assembleia em Curitiba/PR em 1990. 6. Pastor Huberto Kirchheim (19952002) – A gestão tem como expressão o debate e aprovação da reestruturação da Igreja com o reavivamento da estrutura sinodal. As reflexões em torno do tema da missão desembocam na aprovação, no ano 2000, do I Plano de Ação Missionária da IECLB (PAMI). 7. Pastor Dr. Walter Altmann (2003-2010) – Os tensionamentos teológico-pastorais requerem posicionamentos claros em relação à temática do batismo o que resulta na saída de pastores e membros em algumas comunidades. Sob sua gestão foi aprovado um plano de seguridade social para ministros e ministras. Foi eleito moderador do Conselho Mundial de Igrejas (CMI),

durante a Assembleia em 2006 em Porto Alegre/RS. 8. Pastor Dr. Nestor Paulo Friedrich (2011-2018) – Durante o seu mandato prosperou a iniciativa de envolver pastores e pastoras sinodais no estabelecimento de prioridades na gestão da Igreja. Neste sentido cunhou-se a expressão “Igreja do Cuidado” e um planejamento estratégico foi elaborado na sede da Igreja. 9. Pastora Silvia Beatrice Genz (a partir de 2019) – Como primeira pastora a assumir a presidência da IECLB, aprofundou a participação de pastores e pastoras sinodais no debate e na reflexão sobre a atuação da Igreja, marcada, sobretudo, pela emergência da COVID-19 e pelas demandas de ordem pastoral dela decorrentes. Todos os ocupantes da função presidencial possuem nacionalidade brasileira. Todos tiveram vínculos com as instituições de formação do Morro do Espelho, São Leopoldo/RS (Instituto Pré-Teológico e Colégio Sinodal). Três são filhos de pastores (Schlieper, Gottschald e Brakemeier). Todos têm uma certidão de batismo emitida pelo Sínodo Riograndense. Somente um presidente (Schlieper) teve uma experiência pastoral fora do âmbito do antigo Sínodo Riograndense. Duas pessoas estavam em funções pastorais comunitárias quando de sua eleição (Schlieper e Genz). Ao menos três tiveram fortes vínculos com a Faculdade de Teologia (Schlieper, Brake-

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meier e Altmann). Em sua maioria, ocuparam funções em organismos ecumênicos nacionais e internacionais. As gestões passam por momentos distintos do ponto de vista adminis-

trativo. De aparato ínfimo, nos inícios, a administração cresce em função das necessidades advindas do crescimento das atividades em setores cada vez mais diversificados e, também, do aumento de pessoas envolvidas em todas elas. rolfschu@luteranos.com.br

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Alzheimer: um caminho sem volta Angela Pinotti

Estava frio e anoitecendo, quando me deitei na cama para descansar um pouco da longa viagem. Um tempo depois, acordo sentindo meu estômago ansioso com aquele cheirinho que vinha da cozinha. Hum! Canja de galinha, pensei! Esse gesto de carinho, recebíamos de minha mãe desde tenra idade. Levantei-me e fui em direção à cozinha chamando por ela, quando me desperto desse sonho. Lembranças assim são comuns e me vêm à memória desde a morte da querida Helena, minha mãe, aos 87 anos, sendo mais uma das incontáveis vítimas da Doença de Alzheimer. Considerada a mais popular entre as demências, contudo uma das mais horrendas, com efeitos diretos sobre o paciente, mas não menos nefastos para os familiares. A doença é assim denominada por conta do médico neurologista alemão, Alois Alzheimer, que a descreveu em 1906. Um dos sintomas mais evidentes da doença é a perda das funções cognitivas (memória, orientação, atenção, linguagem), causada pela morte de células cerebrais (neurônios). Ou seja, a incapacidade de pensar, de reagir, de saber de si, de viver uma vida plena e independente. O Alzheimer é uma enfermidade incurável e progressiva, que se agrava ao longo do tempo (estima-se duran-

te 20 anos). Os primeiros sintomas aparecem como lapsos de memória, que são esquecimentos do presente, especialmente e, mais tarde, do passado e de toda a vida. Inicia com a primeira fase, chamada leve; a segunda, moderada e a última que encaminha para um estado terminal pela debilidade física e mental do paciente, fase grave. Na prática os sintomas se confundem e se misturam um pouco entre si. Quando diagnosticado, no início, é possível retardar o avanço do Alzheimer e ter mais controle sobre os sintomas, garantindo melhor qualidade de vida ao paciente e à família. Essa é uma doença cruel que acomete o ente querido e deixa desolados seus familiares. A vítima, aos poucos, acaba não se reconhecendo mais neste mundo e, portanto, nem se percebe como doente. No entanto, a família passa a ser o “paciente” ao se sentir incompetente na solução da doença e também inconformada por ver aquela pessoa, antes referência de um ser humano (no caso de minha mãe: determinação, alegria, amorosidade, poderia escrever pencas de virtudes e características do simbolismo dela para nós familiares), tendo sua alma lentamente apagada do corpo, chegando ao fim sem reconhecer mais o mundo ou a si mesma. Senti os efeitos do Alzheimer pro-

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fundamente como se fosse um apagão da história de vida dela, um rasgar de páginas desse livro, único e intrasferível, fazendo parecer que minha mãe nunca existiu. Sofremos dois anos sem saber exatamente o que estava acontecendo com ela. Ela parecia normal em 90 por cento do tempo, mas apresentava lapsos de memória com pequenos esquecimentos e também situações que demonstravam falta de localização geográfica. O diagnóstico de demência senil, atestado pelo neurologista, havia caducado. Outros comportamentos esquisitos se fizeram presentes, o que nos direcionou para nova avaliação médica. E, é assim mesmo que as coisas vão acontecendo nessa doença, apesar de ainda não haver exames específicos que detectem o Alzheimer. O diagnóstico é realizado no consultório do médico neurologista por meio de cruzamento de informações acerca do paciente, qual seu entendimento da realidade atual do mundo e das coisas à sua volta, das impressões do cuidador ou familiar sobre a pessoa acometida da doença. Alguns testes são realizados no consultório para aferição da capacidade cognitiva do mesmo. Ao receber o diagnóstico do Alzheimer, o paciente é o que menos sofrerá com os atributos e consequências provocadas pela doença. A bola é passada diretamente à família que deve, além de entender sobre a doença, planejar e orga-

nizar a vida da pessoa, buscando garantir-lhe atendimento de qualidade, tanto no estado que estiver consciente, quanto após a perda total da consciência, ou seja, até o fim de sua vida. É um compromisso dolorido, pois se fosse somente organizar a parte logística (cuidadora, alimentação, consultas, medicação, suporte de saúde, lazer etc.), mas soma-se a esse novo papel dos familiares, a dor de vê-la perdendo sua capacidade de pensar, de reagir, de ter algum vestígio na mente de lembranças de si ou do outro (é você não ser mais reconhecido por ela). O médico britânico, Richard Smith, escreveu em um artigo polêmico: é melhor morrer de câncer do que de morte súbita ou morte longa e lenta por demências, como Alzheimer. A explicação vem pela lógica da despedida. No câncer o paciente sabe que vai morrer, mas tem tempo de se despedir, de ainda realizar algum desejo. Para se proteger, os médicos indicam o protocolo para uma boa saúde: alimentar-se equilibradamente, fazer exercícios físicos, manter a estimulação mental por meio de leitura, aprendizagem de nova língua ou instrumento, mudança de rotina diária, manutenção da diabetes controlada. Embora cientistas, em todo o mundo, encontrem dificuldades para identificar maneiras confiáveis de

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prevenir e impedir o progresso do Alzheimer e, de mudar o estigma incurável dessa doença para culminar com a cura, devemos manter-nos confiantes, seguir as orientações médicas e envolver a pessoa com a energia do amor e do bem cuidar. A experiência que tivemos com essa doença de minha mãe marcou-nos de tal modo, pelo aspecto desumano, que senti necessidade de apresentá-la ao maior número de pessoas: àquelas famílias que não possuem pessoas com esta doença, àquelas que virão a ter pessoas doentes e àquelas que já vivem o problema. Ao saber do diagnóstico de Alzheimer, a primeira coisa a fazer é buscar conhecimento a respeito da doença. Alguns livros disponíveis no mercado ajudam neste processo. Muito embora apresentem protocolos, deixam um vazio no ar por não conseguirem dar a dimensão do problema na prática (através da leitura

não conseguimos sentir ou sequer imaginar, como vai se desenrolar e impactar na pessoa e na família). Diante disso, abri uma janela no meu estado de luto para compartilhar nossa experiência através de um relato fiel e dolorido do sofrimento, mas, também, da prática incondicional do amor. Como fruto desta vivência junto de minha mãe surgiu o livro “Helena – Amor além do Alzheimer”. Este livro mostra a história de uma mulher como tantas outras, que construiu sua família e criou seus filhos com muito trabalho e amor, mas que, porém, num determinado momento de sua vida, foi acometida pelo Alzheimer, e como foi vivenciado o desenrolar desse novo caminho ao longo de 10 anos. A narrativa é leve e fluente para contar sobre um retrato de vida com Alzheimer, e não um relatório da doença. Na verdade, o livro apresenta um caminho para lidar com o roteiro apresentado por essa doença. angelapinotti@hotmail.com

REFERÊNCIAS Associação Brasileira de Alzheimer. Institucional. São Paulo: ABRAZ, 2020. Acesso em 02 de maio de 2020. Disponível em: www.abraz.org.br. BREDESEN, Dale E. O fim do Alzheimer: o primeiro programa para prevenir e reverter o declínio cognitivo. Tradução Cássio de Arantes Leite. Rio de Janeiro: Objetiva, 2018. FREITAS, Elizabete Viana de. Tratado de geriatria e gerontogia. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006.

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Autossuficiência, para quê? Psic. Leila Klin e Pa. Claudia Pacheco

De acordo com o dicionário, uma pessoa autossuficiente é aquela que não precisa dos outros para garantir a própria sobrevivência. Partindo desse conceito, de modo geral, preparamos os nossos filhos e filhas para serem autossuficientes. Esperamos que, com o tempo, eles e elas não precisem de nós para caminhar, que, gradativamente, passem a fazer a própria comida ou lavar a própria roupa, que nos liberem de acompanhá-los na rotina de fazer temas de casa, ou se vestir e escovar os dentes. Queremos que eles e elas, uma vez na vida adulta, possam ter um trabalho que, com uma remuneração adequada, não dependam de nós para se manterem financeiramente. Na verdade, pessoas que não são autossuficientes costumam até mesmo gerar comentários nas rodas de conversa, com tom de crítica: “olha aquele menino, já tão grande e a mãe ainda precisa ajudá-lo a atravessar a rua!”. No dicionário, autossuficiência é sinônimo de independência.

Os ambientes de trabalho são, em regra, mais produtivos quando as pessoas conseguem desenvolver as suas atividades sem precisar de supervisão constante. Esse estímulo à autossuficiência, portanto, é importante e nos ajuda a crescer e amadurecer.

Do ponto de vista psicológico, a independência e a autonomia são aspectos associados à saúde mental. É bastante desejável, de fato, que as pessoas se “independizem”, que tenham consciência das suas responsabilidades e assumam os riscos das suas decisões. Os casamentos tendem a ser mais saudáveis quando um não depende estritamente do outro.

Tempos atrás uma senhora, diante do médico, ouviu que, para assegurar seu bem-estar no momento, não era relevante preocupar-se com a dependência de um ansiolítico porque na vida depende-se de muitas coisas, como por exemplo, pagar contas de água e de luz. Foi difícil para ela aceitar esta constatação, pois se considerava como uma pes-

Por outro lado, a expectativa de autossuficiência, muitas vezes, vem carregada de pressão, como se as pessoas precisarem umas das outras fosse um sinal de uma fragilidade indesejável. Na verdade, nenhuma pessoa é e nem deveria se sentir absolutamente autossuficiente sob pena de ter comprometido o seu equilíbrio. Vivemos em sociedade, somos naturalmente vulneráveis e é muito importante buscarmos nos outros a complementaridade. Pois, ao mesmo tempo em que autonomia e independência são indicativos de saúde mental, também o reconhecimento das próprias limitações é essencial para assegurar a harmonia na nossa vida.

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soa independente. Com o tempo, percebeu o quanto teria sido difícil assegurar sua saúde sem o apoio do médico, da medicação, de outros profissionais e de amigos e amigas. Ao aceitar sua fragilidade, abriramse caminhos que lhe mostraram a importância do equilíbrio na vida. Do ponto de vista bíblico-teológico, a fé cristã tem sua origem numa experiência de fragilidade e de busca de autonomia, na história da libertação de um povo que era escravo no Egito, o povo hebreu. Deus acolheu o clamor deste povo, se compadeceu e o atendeu em seu sofrimento. Deixou-se sensibilizar e decidiu sensibilizar e conscientizar pessoas para fazer a libertação. E mesmo sem precisar, sua intervenção se deu por meio de uma ação complementar com o ser humano. Ele chamou Moisés, expôs-lhe a situação da escravidão, e convocou-o para participar como guia na libertação (Êx 3). Moisés, por sua vez, também não atuou sozinho, mas em complementaridade com seu irmão Arão, pois não conseguia falar bem o suficiente para interagir com o rei e com o povo (Êx 4.10-15). A Bíblia ainda menciona a participação de Miriã, irmã de Moisés, que celebrou a libertação num cântico (Êx 15.20s). Os relatos bíblicos reforçam que a liberdade, a autonomia, a independência, ou seja, aquilo que constitui a dignidade de um indivíduo ou de um povo está no horizonte de Deus. Mostram-nos que o caminho para a

liberdade se faz em relações de parceria, de complementaridade, em modo horizontal, lado a lado. Por muito tempo, os prodígios e os sinais milagrosos nesta história nos chamaram mais atenção do que a percepção de como o povo assimilou a sua autonomia e a sua liberdade, com Deus ao lado. As pessoas optaram por confiar em Moisés, prepararam seus pertences e fizeram sua última refeição, em família, na terra da escravidão e, depois, marcharam rumo à terra prometida. Deus não necessita do ser humano, Ele é o que é (Êx 3.14). Mas, Deus não quer bastar-se em si mesmo, pois é Criador. Ele é amor em direção ao ser humano e a tudo o que criou. É relacional em si mesmo e nas suas ações e intervenções. É Criador, Pai e Mãe, e mais do que possamos compreender; é Filho, se faz humano e nosso irmão; é Espírito Santo, é força que atua, congrega, dá sabedoria e capacita. A fé nos dá autonomia, nos ensina a confiar e depender, nos faz “cair na real”. Ela nos dá a conhecer que, enquanto seres humanos, necessitamos uns dos outros para viver e preservar nossa liberdade. A fé não nos tira do sofrimento, mas nos ajuda a enfrentá-lo, a reconhecer nossos limites, nossas fragilidades, nominar nossos medos e erros, nos ensina a levantar, aceitar apoio e estabelecer parcerias com vistas à superação. Na fé cristã, a liberdade está no horizonte e se estabelece nas relações entre as pessoas e na relação delas com Deus. E encontramos isto testemu-

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nhado nos relatos bíblicos de como era a vida do povo de Israel e a vida das pessoas que integravam as primeiras comunidades cristãs. Segundo o apóstolo Paulo: “para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais de novo a jugo de escravidão” (Gálatas 5.1). Essa reflexão nos remete a avaliar se, ao insistirmos na autossuficiência, não estamos indo na direção contrária daquilo que Deus nos mostra. Na verdade, é exatamente ao assumir-

mos nossas fragilidades, que nos tornamos pessoas livres e autônomas, pois a partir daí, podemos buscar ajuda, compartilhando nossas ansiedades e medos. A percepção de autossuficiência, de fato, restringe nossa possibilidade de crescer. Se já nos sentimos tão fortes, o que ainda pode ser uma oportunidade de desenvolvimento? Criemos nossos filhos e filhas, portanto, para que sejam livres, o que implica em reconhecer suas potencialidades e, também, suas vulnerabilidades. leilaklin@yahoo.com.br claudiaspacheco@hotmail.com

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Câncer: do estigma à cronicidade, uma reflexão sob o prisma contemporâneo Luciano Alt

Tornaram-se comuns, em conversas de família e amigos, ambientes virtuais ou, até mesmo em consultas médicas, os questionamentos a respeito da sensação do aumento do número de casos de câncer nos últimos anos. Será que este aumento de casos da doença estariam relacionados a alguns hábitos, como consumo de alguns alimentos, qualidade de água ingerida, stress e consequências do estilo de vida atual? As respostas técnicas não são fáceis de demonstrar, mas indubitavelmente, o Câncer é doença multifatorial, ou seja, depende de combinações de prejuízos externos aos quais o organismo humano é submetido e do substrato constitucional deste organismo. Ou seja, o Câncer advém do desequilíbrio entre agressões externas e a capacidade de reação de cada indivíduo, com os meios biológicos que ele apresenta para o enfrentamento. É sabido também que, por muito tempo, em vários momentos da História e em diversas civilizações (das antigas às modernas), apenas a menção à palavra Câncer era um tabu (como se pronunciar a palavra pudesse atrair a doença). Assim, o Câncer alcançou uma conotação de algo muito pesado, mortal e estigmatizante, fazendo com que muitas pes-

soas com a doença não comentassem a respeito de estarem doentes. Além disso, estar com Câncer podia soar como um castigo divino, uma punição por algo errado cometido pela própria pessoa ou seus ascendentes, enfim, uma maldição (até familiar). Os diagnósticos de Câncer, desta forma, eram comunicados muito veladamente e, não raro, longe da própria pessoa doente. Aquela(s) pessoa(s) que recebia(m) a notícia, ocultava(m) a informação o quanto fosse possível e, quando indagada(s) sobre se poderia(m) responder que a doença de seu ente querido era “aquela doença” ou a “doença ruim”. Até era compreensível, pois não havia tratamento eficaz para o Câncer e, simplesmente, as pessoas eram diagnosticadas com doenças avançadas, sendo que elas seguiriam seu curso natural de evolução para o óbito inevitável. Sem tratamento, era possível ao médico estimar quanto tempo de sobrevida o paciente tinha, algo que hoje é muito difícil prever, sobretudo pela quantidade de intervenções terapêuticas feitas durante o curso da doença. No entanto, sobretudo nos últimos vinte anos, houve muitos progressos na área médica (cirúrgica, farmacológica, tecnológica), propici-

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ando uma melhor compreensão em relação ao Câncer, como ele surge, como evolui e como pode ser combatido. Assim, resumidamente, pode-se dizer que o Câncer é uma doença que se origina em nossas próprias células, sendo que as malignas surgem a partir de modificações no material genético (DNA) de células saudáveis, em sua maioria. O meio externo, alguns hábitos do indivíduo e a predisposição herdada desde a concepção são responsáveis por uma complexa interação, que pode culminar com o desenvolvimento do Câncer. As células de Câncer (malignas) têm características próprias, diferentes de células normais, como por exemplo, a capacidade de se dividir rapidamente, sem controle e sem ter a capacidade da morte celular programada, algo que é próprio de células saudáveis. Ou seja, uma célula como o glóbulo vermelho do sangue (hemácia), entre seu nascimento e sua destruição (morte celular programada) leva 120 dias. Uma célula maligna não tem este cronômetro, então, não sabe quando morrer e, assim, pode permanecer indefinidamente ativa em um indivíduo, até que muitas células malignas acabem esgotando os recursos da pessoa doente, até levála à morte. Tem-se aí a combinação perfeita para o avanço do Câncer: células que não morrem e tem capacidade de originar células-filhas muito rapidamente. Felizmente, com os recursos atuais, é possível promover a morte de células malignas por di-

versos meios, como a quimioterapia, a imunoterapia, a radioterapia, a cirurgia, dentre outros. Mas, por que, afinal, temos a impressão de que o número de pessoas com câncer está aumentando, sendo até normal vermos familiares e/ou amigos serem atingidos? Como dito antes, o Câncer é doença multifatorial, mas expõem-se, a seguir, algumas razões para este fenômeno, inclusive epidemiológico: 1. No passado, as doenças só eram diagnosticadas quando estavam muito avançadas, pois não havia recursos para triagem de doenças assintomáticas ou com poucos sintomas. Assim, muitos doentes só tinham o diagnóstico muito tarde, quase às vésperas da morte. 2. O arsenal diagnóstico e de triagem de Câncer permitiu diagnósticos mais precoces, fazendo com que pessoas sem, ou com poucos sintomas, pudessem ser diagnosticadas e, portanto, melhor tratadas desde o início da doença. Desta forma, aumentou-se a vigilância sobre estes doentes, olhandose com mais cuidado, inclusive, para o risco de volta da doença. Hoje, conquanto tenhamos muito mais diagnósticos de Câncer, a maioria faz diagnóstico cedo, permitindo melhor controle da doença e, inclusive, aumentando as chances de cura. E cada um que passou uma experiência com Câncer, mesmo curado, permanece na estatística matematicamente

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e na memória das pessoas que o cercam. 3. Qualquer diagnóstico de Câncer envolve muitos profissionais no cuidado ao paciente: médicos cirurgiões e clínicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos, nutricionistas, fonoaudiólogos, fazendo com que, muitos pacientes, até mesmo os curados, sejam acompanhados por muito tempo e em várias abordagens ao longo da vida. Estes seguem indo aos Serviços de Oncologia (locais de tratamento de Câncer em hospitais e clínicas). 4. O Câncer é um nome genérico dado a uma infinidade de doenças diferentes. Cada célula, cada tecido, cada órgão, cada sistema e cada indivíduo podem apresentar comportamentos diferentes, com doenças mais ou menos agressivas, sendo que cada uma requer combinações de modalidades terapêuticas diferentes (cirurgia, quimioterapia, radioterapia, braquiterapia, imunoterapia, hormonioterapia). 5. Cada vez mais, são maiores os números de sobreviventes ao Câncer, cada um com sua história de superação da doença. Curados ou não, as pessoas vivem por mais tempo, muitas vezes, em tratamento ativo, mas assumindo que, também o Câncer, pode ser encarado como doença crônica,

assim como Hipertensão Arterial Sistêmica e Diabetes Mellitus. Isto é, as pessoas que seguem se tratando, ainda apresentam a doença, mas seguem sua vida com limitações não incapacitantes ou sem nenhuma limitação. Devido a todos estes fatores, além de outros, não elencados de forma detalhada anteriormente, como dietas mais ricas em calorias vazias, gorduras saturadas, uso indiscriminado e contínuo de anticoncepcionais e terapias de reposição hormonal no período climatério/ menopausa, redução do número de filhos por mulher, período curto de amamentação, gravidezes mais tardias, obesidade, tabagismo, álcool, poluição ambiental estão todos envolvidos em conjunto com outros fatores do próprio indivíduo, podendo levá-lo a adoecer de Câncer. E como evitar o Câncer? É bastante difícil responder a esta complexa pergunta. No entanto, o que se pode controlar para correr-se menos riscos é seguir as orientações médicas. Estas podem permitir às pessoas fazerem os diagnósticos mais cedo e, desta forma, de exigirem-se tratamentos mais simples e rápidos, além de impedir que a doença se apodere do organismo, trazendo as consequências indesejáveis que foram descritas. O autor é médico em Carazinho/RS

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A História de uma Missão Comunidade Evangélica de Confissão Luterana de Carazinho Nossa história atravessou períodos conturbados: a pobreza da Europa que expulsou seus filhos do continente, guerras mundiais e lutas nacionais, nascimento e desenvolvimento da cidade e mudanças de comportamento decorrentes da comunicação em massa, sofrendo e provocando alterações. Carazinho, situado no Planalto Riograndense, entre as bacias hidrográficas do Jacuí e do Uruguai e assentado sobre o Aquífero Guarani, é

acessado pelas BR 285 e 386. Com população estimada em 61.949 e economia alicerçada na agricultura soja, trigo, milho, aveia e pecuária possui rede educacional municipal, estadual e privada destacada, escolas profissionais, dois campi universitários (Universidade Luterana do Brasil – ULBRA e Universidade de Passo Fundo - UPF) e escolas superiores em Ensino à Distância - EAD. Em 1899, chegaram os primeiros imigrantes alemães - Henrique Fass,

Templo da Comunidade de Carazinho e ao lado o Colégio Rui Barbosa.

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como Guilherme Schultz, radicado em São Bento (distrito de Carazinho), que cavalgava pela região “preservando o rebanho luterano”. Até 1917 a Igreja funcionava em núcleos familiares, com atendimento pelo pastor Theobaldo Dietschi de Não-Me-Toque, quando um grupo de 70 famílias fundou a Deutsche Evangelische Gemeinde e com ela também a escola, que iniciou suas atividades em 1919, num pavilhão de madeira que servia, aos domingos, para cultos.

agrimensor, João Felipe Scherer, fazendeiro e João Olívio Scherer. Na segunda década do século XX, Carazinho progredia aceleradamente com extração dos pinheiros abundantes na região. Em 1931, quando se emancipou, havia mais de 150 serrarias e a necessidade de mão-deobra especializada para a nascente indústria atraiu mais imigrantes alemães. A presença de luteranos, comprovada por documentos de batismo, confirmação e a vinda periódica do P. Peterson de Não-Me-Toque e, depois, o P. Jorge Algayer para atendimento religioso às famílias, data de 1904. Entre 1914 e 1920 mais de 100 famílias alemãs, católicas e protestantes, estavam radicadas no interior da localidade, na Colônia D. Júlia. Muitos povoados da região, também, eram atendidos por pastores itinerantes

O ano de 1921 marcou profundamente a história da Comunidade: constituiu-se a primeira diretoria, funcionamento do Coral e, também, realizado o primeiro sepultamento no cemitério localizado na Colônia Dona Julia. Em novembro de 1926 foi criado o Pastorado da Comunidade Evangélica Allemã de Carasinho, elevada à categoria de Paróquia, integrando, no decorrer dos próximos anos, oito comunidades: Carazinho, Igrejinha, Serra do Pontão, Saldanha Marinho, Coqueiros, Xadrez, Vila Seca e Santo Antônio. E várias décadas depois, surgiram, ainda, os pontos de pregação na Fazenda Coqueiros, Passo Real e Fazenda Annoni. Durante e após a I e II Guerras Mundiais, pela repressão aos estrangeiros ligados aos conflitos, especialmente os alemães, o Synodo Riograndense (1917) enviou circular advertindo pastores e professores para as determinações do governo. Até

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Pastores que serviram a Comunidade Evangélica de Confissão Luterana de Carazinho 1926 a 1931 – Jacob Kobelt 1931 a 1935 – Heinrich Boll 1936 – Walter Scholz 1936 a 1947 – Wilhelm Küster 1947 a 1957 – Osvaldo Atkinson 1957 a 1959 – Arthur Becker 1959 a 1966 – Germano Burger 1966 a 1973 – Heimberto Kunkel 1973 a 1981 – Osmar Armange 1974 a 1980 – Carlos Leonel Winter 1981 a 1986 – Anildo Wilbert 1982 a 1988 – Rolf Rieck 1987 a 1989 – Hardi Brandemburg 1989 a 1991 – Mario Francisco Tessmann 1990 a 1991 – Luiz Carlos de Oliveira 1991 a 1997 – Erni Drehmer 1998 a 2012 – Valdemar Lückemeyer 2004 – José Carlos Budke 2004 a 2005 – José Carlos Heinemann 2007 a 2012 – Luciano Miranda Martins 2012 em diante – Gilmar do Nascimento

1919 não havia escolas em Carazinho e as aulas eram ministradas em residências das famílias (Hausschulen). Nesse ano 35 filhos de membros da Comunidade iniciaram atividades na Deutsche Evangelische GemeindeSchule, depois, Communi-dade Escolar Allemã Evangélica e, logo a seguir, Collegio Brasileiro Alle-mão Evangélico, estudando língua alemã e fundamentos do luteranismo. Em 1921 o colégio foi oficializado como serviço da Comunidade, com supervisão

da diretoria que lutava contra a falta de recursos e docentes. A Casa/Escola servia para cultos e celebrações aos domingos.

Na repressão às organizações de origem alemã documentos foram eliminados e a escola foi fechada no início da década de 40, retornando em novembro de 1949 como Escola Sinodal Ruy Barbosa; em 2002, passou à atual denominação, Colégio Sinodal Rui Barbosa e, desde 1992, encontra-se sob a mantença da ISAEC. Não há registros que permitam saber quem se responsabilizava pelas aulas nos anos iniciais de funcionamento. São mencionados Harry Barão von Der Goltz e sua filha, Elza, M. Schaule, Hedvig Boll, Heinz Antônius, Maria Kasten e Gustav Worminghausen, firmando a hipótese de que, em sua maioria, eram ministradas pelos pastores. Hoje, aos 100 anos, o Colégio Sinodal Rui Barbosa, como escola evangélica-luterana, de caráter confessional e filantrópico, orientada pelos princípios luteranos, é uma instituição cuja marca está consolidada na comunidade local e regional, tendo o ser humano como sua maior riqueza. Alcançando resultados expressi-

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vos em processos seletivos internos e externos, intercâmbios internacionais, conta com seleto corpo docente e administrativo. Oferece todos os níveis da educação básica – a partir de 1 ano de idade, com matrícula inicial em 2020 de 844 alunos, atendidos por uma equipe de 98 colaboradores - professores, funcionários e estagiários. Destaca-se pelas atividades extracurriculares como esporte, música, teatro, dança, educação tecnológica (robótica) e línguas estrangeiras (alemão, espanhol e inglês), além de realizar eventos culturais com a maciça participação da comunidade escolar e local. Seu diretor é Adilson Leonhardt Franck e tem, na presidência do conselho escolar, a professora Anelise Erna

Lamb Scheibe. O ano de 1949, também, marcou a inauguração do novo templo da Comunidade, construção em estilo gótico e segunda igreja mais alta da cidade (34,36 m). Inicialmente, denominada Igreja Martin Luther e, depois, Igreja de Cristo, tem belíssimos vitrais e abriga cerca de 300 pessoas. A partir da segunda metade do século a Comunidade foi se estruturando e amadurecendo, pela ampliação dos grupos e número de membros. Entre os destaques podem ser citados: ampliação das áreas e dos prédios do Colégio, construção de centro social e esportivo, construção da casa paroquial e da secretaria da Comunidade, criação de um núcleo

Vista do interior do templo construído em 1949, destacando os vitrais.

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de pregação no Bairro Operária – o Núcleo Evangélico Martim Lutero, com sede própria e diversos departamentos ativos, de dois pontos de pregação nos bairros Sassi e Cantares, ampliação das áreas dos dois cemitérios e uma atuação na comunidade carazinhense, através de convênios e auxílios, tais como a Liga Feminina de Combate ao Câncer, creches, Hospital, APAE e outras entidades e um saudável ecumenismo com outras denominações religiosas cristãs. O novo milênio começa com a necessidade de adaptação à era da informática e da tecnologia. A comunidade instalou novo sistema de som no templo e adquiriu o seu primeiro computador e periféricos e data-

show para projeção da liturgia de cultos e celebrações. Foi melhorado o sistema de comunicação com a instalação de ramais telefônicos e telefonia celular. No ano de 2003 foi efetivada a informatização do cadastro, através do Sistema Administrativo e Financeiro para Igrejas – SAFIG. Também, em 2003, começam a serem realizados cultos regulares nos domingos à noite. O trabalho diferenciado, com as crianças nas atividades cúlticas, é uma tradição da Comunidade e decorre da própria missão da Igreja estabelecida por Jesus: “Deixai vir a mim os pequeninos e não os embaraceis, pois deles é o reino dos céus” (Mateus 19.14). Assim, o trabalho com as crianças, que remonta ao

Altar e vitrais do templo construído em 1949.

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Núcleo Evangélico Martim Lutero. início da Comunidade, se consolidou com a criação do Departamento de Culto Infantil e ganha, agora, novo realce com a Missão Criança, da Pastoral do Batismo. Ao longo dos anos, centenas de membros assumiram papel de liderança na diretoria, desde Felippe Scherer, o primeiro presidente, seguindo-se João Carlos Theodoro Diefenthäler, até o atual, Ricardo Mohr (2019 a 2020) e equipe. As diretorias dos diversos setores de trabalho são “forças vivas da Comunidade” pela dedicação e confluência de objetivos e ações. A OASE iniciou atividades em agosto de 1930, quando do 60º aniversário da Frau Pfarrer Hedwig Alvine Kreutzer e por sua iniciativa. Hoje, conta com dois grupos e deles participam 60 mulheres que têm, na presidência, Noeli Keller, do Centro, ori-

ginado da OASE Alemã que funcionou ate 2015 e Leda Kopper Zang do Núcleo Evangélico Martim Lutero. Dentre as muitas atividades desenvolvidas destacam-se celebrações, intercâmbios, estudos bíblicos, atividades assistenciais e de visitação, bazares, distribuição de ranchos, confecção de enxovais e cobertores para famílias carentes e eventos gastronômicos. Desses são notáveis o almoço de Ação de Graças, chás beneficentes e para os idosos, galeto com massa e outros, contando sempre com a participação dos demais setores da Comunidade. O Café Colonial é uma das tradições gastronômicas da cidade e é muito concorrido. Outro importante setor da Comunidade é a Legião Evangélica Luterana – LELUT. Fundada em 1957, é o núcleo mais antigo do Brasil e, atualmente, a Comunidade conta com

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dois grupos ativos – Centro e Nucleo Evangélico, sob a presidência de Flávio Kalkmann e Volmar Reinaldo Berwig, respectivamente. Muito do atual patrimônio da Comunidade é resultado de suas ações, doações e empréstimos de recursos próprios ou de suas empresas, além da liderança em festejos, na diretoria da Comunidade, da Paróquia e do Sínodo. Assim, o grupo do centro deu suporte à criação dos núcleos de Panambi, Não-MeToque e Brusque/SC, prestou auxílio a comunidades e outras campanhas. Na década de 70 foi criado o 2º pastorado da então grande Paróquia Evangélica de Carazinho. Em 1990 esta se dividiu em duas novas unidades: Paróquia Evangélica do Planalto Médio, composta por oito comunidades (Coqueiros do Sul, Xadrez, Santo Antônio do Planalto, Saldanha Marinho, Igrejinha, Serra do Pontão, Vila Seca e Pontão) e Comunidade Evangélica de Confissão Luterana de Carazinho, que abrange apenas a área da cidade. A Comunidade de Carazinho, por sua vez, criou o seu 2º pastorado (Campo de Atividade Ministerial) em 2004. A Comunidade conta, hoje, com cerca de 3.000 membros que se integram nas mais de 60 atividades dos diferentes grupos, sendo o voluntariado uma das características mais notáveis e que se consolidou no decorrer das décadas. Dentre os grupos destacam-se Coral da OASE, Grupo de Canto Vozes de Louvor, Encontro de Casais, Ensino Confirmatório, Grupo de Terceira Idade Bem-Me-Quer,

Grupos de Visitação Domiciliar e Hospitalar, Grupos de Estudos Bíblicos, Jornal “O Pescador”, Programa de Rádio “A Viva Voz do Evangelho”, em parceria com a Paróquia Evangélica Planalto Médio. Assim, relatar em um artigo a caminhada de 100 anos é tarefa difícil, pois muitos fatos e feitos importantes ficam omitidos, mas não ficam ocultos para Deus. De tudo que se fez e do que está para ser feito, temos que pedir força e inspiração para Aquele que é a razão do nosso fazer. A história da Comunidade Evangélica de Confissão Luterana de Carazinho merece, ainda, muitos estudos e publicações, pela magnitude do trabalho evangélico e suas realizações junto ao povo carazinhense e arredores. E isto não para vaidades e engrandecimento, mas por nossos filhos e pelas gerações que lhes sucederem. Somos gratos por ter tido essa oportunidade de aprendizado e por tudo o que isso significou, dando sentido à vida, por estar no mundo para alguma coisa, que não é estabelecida por nós, mas por Deus. Por isso, agradecemos a Ele por ter nos concedido tantas oportunidades e tê-las vivido em plenitude.

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Nelci Ehrhardt, Vice-presidente da Comunidade e membro do Conselho Escolar do Colégio P.em. Valdemar Lückemeyer Adilson Leonhardt Franck , Diretor do Colégio


Centenário de uma escola singular P. em. Carlos F. R. Dreher

Instituto Pré-Teológico (Evangelisches Proseminar) Em 1º de julho de 1921 iniciou o curso pré-teológico na casa pastoral da Comunidade Evangélica de Cachoeira do Sul-RS, tendo como primeiro aluno o professor Oswald Willi Seifert. Devido à falta de pastores, na época, este jovem professor servia como Diácono na comunidade de

Dona Otília-RS e a Diretoria do Sínodo Riograndense recomendou que ele fizesse o curso pré-teológico, visando sua ordenação futura ao ministério pastoral. O Pastor local, Dr. Hermann G. Dohms, era o diretor e sua esposa, Maria Dohms, foi professora. Em 1922, ingressaram no curso Karl Bernsmüller e Walter F. Henninger. Mais Willy Schaumlöffel como professor. Em 1923, ingressa-

Prédio do IPT.

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ram Ernesto Th. Schlieper, Luiz Conte, Oswald Atkinson e Rudolf Sänger. Schlieper foi, mais tarde, Pastor Presidente da IECLB e Sänger foi Diretor do Colégio Sinodal por décadas. Ano a ano vinham chegando sempre mais alunos, de modo que o Sínodo alugou uma casa de moradia para a família Dohms. A casa pastoral passou a servir como escola e internato. A comunidade contratou outro pastor e Dohms assumiu, exclusivamente, a escola que, em 1927, foi transferida para São Leopoldo. Com o nome de “Evangelisches Proseminar” ou Instituto Pré-Teológico = IPT, passou a ser um “ginásio humanístico”, ao estilo do “Humanistisches Gymnasium” na Alemanha. Nas décadas de 50 e 60, contava com, aproximadamente, 100 alunos em internato masculino e em torno de 20 moças em internato feminino, localizado em outro local. Também, havia diversos alunos de famílias residentes em São Leopoldo, mormente, filhos dos professores. Seu currículo continha as línguas: alemão, latim, grego e inglês, além do português. Acentuava-se muito a formação geral com as matérias de história e geografia. As matérias de matemática, geometria, biologia, química e física não tinham tanta carga horária, mas eram importantes para o desenvolvimento do pensamento lógico e crítico. Fazer música e teatro servia também para isto. Além disto, praticava-se muito es-

porte. As aulas de religião e a meditação diária, de início e fim do dia, davam sentido ao convívio. Muitos pedagogos e historiadores afirmaram que esta escola foi única no Brasil; foi exemplar. Alguns, ainda hoje, são de opinião que a escola não deveria ter sido fechada. Até 1977, quando o IPT terminou, 1502 alunos haviam sido matriculados nele. A partir daí, a Escola Evangélica Ivoti - RS (Lehrerseminar) assumiu a formação pré-teológica. Sempre que conto algo desta história, lembro de alguns detalhes curiosos: 1º - O IPT foi criado para preparar jovens que pudessem seguir estudando teologia, pois as comunidades evangélicas estavam crescendo e se multiplicando mui rapidamente e havia falta de pastores. Mas, aqui, não havia faculdade de teologia. Então, o jeito era preparar jovens e mandá-los para a Alemanha, até que fosse criada, aqui, uma faculdade de teologia. Qual a curiosidade disso? É que Deus escreve direito em linhas tortas: Na Alemanha, surgiu uma escola de teologia “underground” em 1935, na localidade de Finkenwalde. Iniciativa que fazia parte de um movimento de oposição à religião forjada por Hitler sob o nome “Deutsche Christen”. O nome deste movimento subversivo de Finkenwalde era “Bekennende Kirche” = Igreja Confessante. Nele, estiveram teólogos muito conhecidos até hoje: Dietrich Bonhoeffer, Karl Barth,

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Eberhard Bethge etc. E aqui, por causa da 2ª Guerra, alunos do IPT não podiam mais ir para a Alemanha. Então, o Pastor Dohms preparou os alunos mais velhos do IPT para poderem realizar cultos e serviços religiosos e os enviou às comunidades da fronteira com a Argentina para substituírem os pastores alemães, suspeitos de serem nazistas e, por isto, presos. Também foram presos pastores alemães em cidades maiores, por exemplo, o Pastor Wilhelm Pommer, de Hamburgo Velho/Novo HamburgoRS, que cito, aqui, por ter sido um dos primeiros pastores presos e levados à Colônia Penal Daltro Filho, em Charqueadas-RS, cerca de 50 km de Porto Alegre. Sua história de dois anos de reclusão está contada num livro escrito com seus apontamentos diários, encontrados em sua cader-

neta que sempre levava no bolso. (Quem deseja obter o livro, procure: kannenberg.hilmar@gmail.com). Finalmente, a partir dessa iniciativa de preparar alunos do IPT para pregar, terminada a Guerra, surgiu a Escola Superior de Teologia, em 1946, no chalé de madeira junto ao IPT. Conclusão até aqui: Por causa do pandemônio do Nazismo e da Guerra dos anos 39-45, surgiu lá uma escola de teologia libertadora, em Finkenwalde e, aqui, uma escola de teologia, em São Leopoldo, que continua libertadora de preconceitos. 2º detalhe curioso: Os últimos exalunos do IPT, que estudaram teologia na Alemanha, voltaram quando o Brasil foi cooptado pelos americanos a entrar na Guerra contra o Eixo. Eles tomaram o último voo da

Corpo Docente, 1945 Da esquerda, sentados: Dr. Fausel, P. Dohms, Dr. Fülling. Em pé: W. Fuchs, H. Höhn, W. Hinrichs, H. G. Naumann, U. Soth, R. Schreiner, M. Maschler.

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Lufthansa de Berlin a Barcelona em 1942. Foram a Lisboa e vieram, de navio, até o porto de Rio Grande. Estes recém-formados pastores eram, meu pai, Arno Dreher, Egon Koch, Berthold Weber e Carlito Gottschlad. Eles trouxeram consigo o espírito da BK – Bekennende Kirche = Igreja Confessante. Suponho que isto motivou a escolha do nome “Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil”, quando, em 1968, os Sínodos do Brasil (já unidos como Federação Sinodal) se unificaram definitivamente. Cada um destes exalunos do IPT fez algo significativo para a existência da IECLB e estiveram muito ativos no evento de 1968. Arno Dreher criou o Ginásio Pastor Dohms, hoje, Colégio Pastor Dohms, em Porto Alegre com extensão em outras localidades, como homenagem ao Pastor Dohms. Egon Koch foi Pároco da Igreja Central de Porto Alegre e dirigiu a construção do prédio-sede da IECLB e da Igreja Matriz de POA. Berthold Weber foi editor de obras pela Editora Sinodal e professor na EST. Carlito tornou-se Pastor Presidente da IECLB. 3º detalhe interessante é o fato de que o IPT não foi fechado quando o Brasil entrou na guerra contra Alemanha, Itália e Japão. Havia, no Brasil, um racismo anti-germânico e anti-evangélicos. Sob a ditadura de Getúlio Vargas, nessa época, centenas de escolas das comunidades evangélicas foram fechadas. Por que

Getúlio manteve o Instituto PréTeológico intocável? Justamente porque ele viu nascer esta escola diferente, durante a sua primeira ditadura (1930). O Dr. Wilhelm Rotermund e o P. Dr. Hermann G. Dohms tinham uma linha de diálogo com o Governador da época, Getúlio Vargas. Dohms e o Pastor Karl Gottschald (pai), da Igreja Matriz em POA, foram procurar o famoso arquiteto Theo Wiederspahn, em 1929, justamente na época em que a política estava efervescendo ante a eclosão do movimento revolucionário de 1930. Theo fizera importantes obras no centro histórico de Porto Alegre. Mas, por ser alemão, passou a ser perseguido. Fora desautorizado a assinar projetos e ficou recluso em seu sítio. Porém, os pastores conseguiram ajeitar as coisas junto às autoridades, para que este arquiteto alemão pudesse, novamente, arquitetar e construir prédios sob os auspícios da Igreja Evangélica. Wiederspahn projetou e acompanhou toda a construção do prédio do IPT e da moradia do Diretor em frente ao IPT. E Getúlio era informado deste progresso. Nossa escola começou a funcionar nesse prédio em 3 de março de 1931, lecionando em alemão, no início da primeira ditadura de Getúlio. Em 1935 foi construído o prédio do Colégio Sinodal, também projetado e executado por Theo Wiederspahn. E Getúlio continuou sendo informado sobre os progressos dos alemães no RS. A partir daí,

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Wiederspahn construiu muitas igrejas no âmbito do Sínodo Riograndense muito além da simpatia de Getúlio pelos alemães no RS. A última obra de Wiederspahn foi a Igreja de Cristo no Leprosário de Itapuã, em 1948, financiada por campanha da OASE de Porto Alegre. Ao se retirar, definitivamente, ele deixou um pré-projeto para o internato do Colégio Sinodal, mais tarde construído com alterações. Deixou, também, um desenho de prédio com visual frontal igual ao do IPT, que o Sínodo desejava construir ao lado direito do IPT, onde desejava localizar a Escola Normal Evangélica. Ou seja, teríamos, lado a lado, o “Proseminar” e o “Lehrerseminar”. Isto nunca foi executado. Hoje, nesse local está o prédio da Biblioteca das Faculdades EST, ostentando um design da fachada frontal superior similar ao do IPT. Tópicos Históricos 1 – Dos 1502 alunos do IPT apenas 11,9 % tornaram-se pastores ou diaconisas da IECLB. O que aconteceu com quase 90% de alunos que não seguiram serviço religioso? Aconteceu um milagre: Partiram para as universidades e outros caminhos de formação profissional, levando consigo o “espírito do Proseminar” e do Morro do Espelho, espírito humanístico! Muitos tornaram-se professores de nível médio e superior; muitos, músicos e regentes de orquestra e coro; muitos, reitores de faculdades e universidades; muitos, dire-

tores de empreendimentos e firmas familiares; muitos, médicos; alguns, vereadores e deputados; diretores de jornais, de rádio e de TV, alguns, escritores de livros e produtores de filmes; além de muitos Presidentes de Comunidades Evangélicas em todo o Brasil. Dos Pastores Presidentes da IECLB, só um não foi aluno do IPT, Walter Altmann, do Colégio Sinodal. Todos os demais Pastores Presidentes foram alunos do IPT: Ernesto Theodoro. Schlieper, Karl A. Gottschald, Augusto E. Kunert, Gottfried Brakemeier, Huberto Kirchheim, Nestor Paulo Friedrich, assim como a atual Pastora Presidente da IECLB, Silvia Berenice Genz. 2 – A ideia de educar jovens brasileiros para servirem como pastores já estava embutida na fundação do Sínodo Riograndense em 1886. O P. Dr. Wilhelm Rotermund, Presidente do Sínodo, herdou esta ideia do P. Dr. Hermann Borchard, pastor anterior da Comunidade de São Leopoldo. Nas reuniões seguintes do Sínodo esta ideia retornava como reinvindicação constantemente. Assim sendo, o Pastor Paul Dohms de Sapiranga, RS, mandou seu filho Hermann Gottlieb Dohms em 1897 para a Alemanha, com 10 anos de idade. Imaginem a determinação deste menino, de enfrentar tudo isto com fé e coragem, para tornar-se pastor evangélico-luterano brasileiro. Ele frequentou todos os cursos, desde Gymnasium pré-teológico,

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seminário de pregadores e Universidade. Foi professor na Alemanha e retornou, depois de 17 anos, ao Brasil. Em março de 1914, foi ordenado em Sapiranga, RS (sua cidade natal), e enviado a ser pastor em Cachoeira do Sul. Em 1919, a Assembleia do Sínodo decidiu que deveria ser iniciado um programa de formação teológica de jovens brasileiros. Então, em 1921, Dohms iniciou o “Proseminar” na casa pastoral de Cachoeira do Sul. Em 1927, foi transferido para São Leopoldo e alojado junto ao “Lehrerseminar”, Seminário Evangélico de Professores, mais tarde, denominado Escola Normal Evangélica (ENE). Em 1931, o IPT instalou-se no novo prédio no Morro do Espelho. 3 – Novo detalhe importante: Depois do ingresso do Brasil na Guerra contra o Eixo, em algum momento, do qual não tenho data precisa, o Seminário Evangélico de Professores, “Lehrerseminar”, esteve fechado e o IPT abrigou o Lehrerseminar. Alunos do IPT, que recebiam aulas adicionais, visando o magistério, saíam formados como professores para as escolas de comunidades do Sínodo. O

maior grupo de alunos enviados com esta tarefa foi o de 1948 e de 1949. Em fim de 1949, o Pastor Dohms convocou Hans Günther Naumann, ex-aluno do IPT e da Escola Superior de Teologia, formado em Pedagogia na UFRGS, incumbindo-o, sumariamente, a reiniciar a Escola Normal Evangélica. Naumann ficou estupefato e Dohms lhe disse: “Se você não assumir, não podemos realizar esta tarefa; não temos outro!” Naumann e sua jovem esposa, Ruth, dormiram a noite sobre isso e, no outro dia, responderam que sim. Ambos, ex-alunos do IPT, fizeram um excelente trabalho de reerguer esta ótima escola normal e, mais tarde, transferi-la para as novas dependências, em Ivoti, RS, onde continua até hoje como Instituto Evangélico de Ivoti e Instituto Superior de Educação Ivoti. Finalmente, é preciso citar que muitos ex-alunos do IPT foram lançados como flechas para o mundo. Criaram dezenas de escolas singulares pelo Brasil afora, implantando um sinal daquela escola humanista, que duraram 56 anos, sendo que esta escola foi ímpar. O autor é Presidente da Associação de Ex-Alunos do IPT carlosdreher25@gmail.com

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Círculos de construção de paz e mediação de conflitos Tânia Fröhlich Rodrigues e Alessandra Baum

Possivelmente, um dos maiores desafios da humanidade, no atual contexto de incertezas, é estimular uma nova cultura na busca de paz, consenso ou solução de conflitos. Seja qual for a natureza dos conflitos (diferença de interesses ou posições; familiares; consumo; violência ou outro), o fato é que a humanidade está percebendo a fragilidade e vulnerabilidade do indivíduo diante da intolerância, violência, dominação ou, até mesmo, de uma doença desconhecida. Diante disso, apresentamos um pouco do trabalho desenvolvido na cidade de Lajeado/RS, inclusive, na Comunidade Evangélica de Confissão Luterana de Lajeado, integrante da IECLB, com a utilização dos Círculos de Paz e da Mediação de Conflitos. A metodologia dos Círculos de Construção de Paz foi aperfeiçoada a partir da observação da rotina dos povos indígenas, que sentavam em círculos para celebrar e resolver problemas. De alguma forma este comportamento, também se apresentou em pequenas comunidades desde o princípio da construção da sociedade, onde as pessoas se sentavam em círculo para organizar as festas e quermesses; os vizinhos recebiam outros vizinhos e amigos para tomar um chimarrão; a família se reunia em

círculo próximo ao fogão à lenha para se aquecer. Esses momentos, onde as pessoas sentam em círculo, simbolizam o diálogo, o fortalecimento dos relacionamentos, a horizontalidade e a conexão. O círculo é vivo e são os participantes que o conduzem, pois, o facilitador apenas estimula para que a sabedoria coletiva seja compartilhada. A Mediação de Conflitos surge como uma ferramenta de diálogo, conduzido por um terceiro, imparcial, que busca trabalhar com os envolvidos entre outros aspectos a corresponsabilidade, a atitude colaborativa, o exercício da comunicação não violenta, a criatividade na resolução, a prospecção (futuro) e o foco na solução e não no problema. O mediador observa o interesse e os sentimentos dos envolvidos no conflito, trabalhando a partir do reconhecimento de que somos todos diferentes, mas, com certeza, poderemos compreender e respeitar uma solução que atenda a ambos, pois igualdade não é sinônimo de justiça. O trabalho é desenvolvido nas mais diversas áreas, sendo que surgiu a partir da implantação do CEJUSC, Centro Judiciário de Solução Consensual de Conflitos, no Fórum da Comarca de Lajeado (2015) e do

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Projeto Pacto Lajeado pela Paz, promovido pelo Poder Público Municipal (2019). São realizadas mediações cíveis, familiares, oficinas de parentalidade, em ambiente judicial e privado, círculos de construção da paz em escolas públicas e privadas, centros de referência à saúde e assistência social, comunidades em geral, associações de bairros, ambientes de trabalho, encontros familiares, celebrações, entre outros, tanto em ambientes públicos como privados. Os relatos dos participantes sempre são no sentido de ressignificação a partir da experiência dos círculos ou mediações: “por que não participei antes de liderar minha comunidade?”, “por que não existia antes do meu divórcio?”, “por que não conheci antes de iniciar minha família e ter meus filhos?”. O facilitador e o mediador explicam. AGORA você sabe, conhece ou compreende, e o que FARÁ a partir disso? A paz é uma construção diária de compartilhar aquilo que nós temos de melhor, um equilíbrio em nossas escolhas. Como instrutoras, facilitadoras de Círculo de Construção de Paz e mediadoras, percebemos a importância da escuta (ativa), pois cada partici-

pante tem o seu tempo para falar, sendo que o silêncio também é acolhido. Aprendemos a agradecer e dar significado às pequenas coisas que se tornam grandes momentos, a acalmar o coração e que tudo tem o seu tempo, deixando o mundo fluir e as coisas vão se organizar. Aprendemos que as emoções podem florescer e está tudo bem, acolhendo a humanidade de cada um. Aprendemos a importância de parar e refletir antes de agir, de ouvir para compreender e não responder. Aprendemos a (re)conhecer e a valorizar nossas origens e que não precisamos ter todas as respostas, pois a escuta, por si só, é libertadora. Por fim, ao longo das nossas jornadas, estudos, vivências e escutas, podemos observar que as ferramentas de pacificação referidas encontram-se em várias passagens bíblicas como em Mateus 5.9, Provérbios 18.13, 1 Timóteo 2.4-6 e Mateus 5.23-25, entre outras, revelando que nossas habilidades e competências para lidar com os conflitos podem ser desenvolvidas, sustentadas e fundamentadas a partir das mais variadas fontes, desde que sempre conduzidas com amor. taniass8958@hotmail.com baum.alessandra@gmail.com

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Coletânea de Bênçãos Enviadas por Pa. Rosangela Clarice Fenner Radons

1ª bênção O Senhor, o Pai de Jesus Cristo, o Deus dos pequenos, dos pobres e fracos, dos excluídos, Ele te abençoe, dando-te alegria e bem-aventurança, plenitude e salvação e te permita crescer como ser humano. Ele te proteja no medo, na necessidade e no perigo. O Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti, lá e quando estiveres nas trevas, na escuridão, para que, consolado, possas continuar teu caminho e não percas teu ponto de partida. O Senhor tenha misericórdia de ti, quando agires de forma injusta com teu próximo; quando carregarem culpa sobre ti. O Senhor te corrija, quando agires mal e te mostre, sempre, o que espera de ti. O Senhor levante o seu rosto sobre ti e conceda o que te faltar. O Senhor te dê atenção todas as vezes que tu lhe dirigires a palavra. O Senhor te dê a paz. Que a paz reine dentro e ao redor de ti. Assim te abençoe o nosso Deus, que é Pai, Filho e Espírito Santo. Amém.

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2ª bênção Que o Senhor te acompanhe ao partires deste lugar; Que vá à tua frente para iluminar teu caminho; Que caminhe ao teu lado para ser sempre teu amigo; Que vá atrás de ti para proteger-te de qualquer dano; Que seus braços carinhosos estejam debaixo de ti para te sustentar quando o caminho for difícil e estiveres muito cansado; Que esteja sobre ti para te cuidar, a ti e a todos os que amas. E, sobretudo, que Deus viva em teu coração para dar-te sua alegria e sua paz para sempre. Amém. 3ª bênção Dá-nos, Senhor, teus olhos que enxergam a verdade. Dá-nos, Senhor, tuas mãos que acalentam, seguram e sustentam. Dá-nos, Senhor, teus pés que não se cansam, apesar da ingratidão. Dá-nos, Senhor, o teu coração de amor sem limites. Dá-nos, Senhor, os teus sonhos de um mundo melhor, Dá-nos, Senhor, a tua clareza de lutarmos pela tua justiça. Dá-nos, Senhor, a tua humildade de servir a quem precisa. Dá-nos, Senhor, a identidade de teus filhos e filhas. Dá-nos, Senhor, a nova vida que teu filho nos alcançou. Permanecem, agora, todos na paz do Senhor e o sirvam com Alegria! 4ª bênção (antiga bênção irlandesa) Que a terra vá fazendo caminho diante dos teus passos; que o vento sopre sempre nos teus ombros; que o sol aqueça teu rosto; que a chuva caia suavemente sobre teus campos. E, até que voltemos a nos encontrar, Deus te guarde na palma de sua mão. Amém. ••• 96 •••


5ª bênção Que Deus te cuide com carinho, que te indique o melhor caminho, que te ensine sobre o verdadeiro amor, que te perdoe, quando preciso for. Que Deus te dê asas para voar, nos sonhos, te ajude a repousar mas, também, te mostre a realidade que terás que enfrentar sem nunca, por nada, recuar. Que Deus te mostre, com clareza, a grande e real beleza de um jardim florido, de um bom livro, de uma poesia que fale de saudade, de uma calma paisagem. Que Deus te faça ver que no sorriso de uma criança mora a esperança que tanto precisas pra viver. Que Deus faça de ti um ser sensível, que seja capaz de chorar sem jamais se envergonhar. Que Deus te ensine sobre a dignidade, sobre a força e a fraqueza, sobre a coragem e a honestidade. Que Deus te conceda amigos verdadeiros e que tu saibas cultivar cada amizade que em tua vida Ele plantar. Que Deus te eduque na fé, que te faça crer em Jesus, e que te permita aceitar que, por pior que seja a cruz que tenhas que carregar, com o peso que teve a Dele nunca será. Amém.

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6ª bênção Dios haga renacer en tu vida todo aquello que las angustias, los dolores, los miedos o los problemas van haciendo morir en ti y en muchas otras personas en este tiempo. Dios haga renacer, en cada uno de sus hijos y en cada una de sus hijas, deseos de paz, anhelos de verdadera justicia, ganas de construir un mundo nuevo, sueños de libertad y un firme compromiso en el anuncio de la VIDA, cuyo poder trasciende toda frontera, toda ambición, todo sufrimiento y todo poder, incluso el de la misma muerte. ¡Cristo resucitó! ¡Puedo renacer! ¡Podés renacer! ¡Podemos renacer! Amén. 7ª bênção Deus, fonte da vida, abençoe teu viver, Em todas as estações da vida Primavera, verão, outono, inverno Na alegria... na festa Na tristeza ... no luto Na saúde... na doença. Deus, fonte da vida, abençoe teu viver, Durante o dia... durante a noite... No brilho do sol No cair da chuva Na escuridão das trevas... no iluminar da lua e das estrelas... Deus, fonte da vida, abençoe teu viver, Nas horas de trabalho... Na produção... na criação Dando-te prazer e alegria naquilo que fazes. Deus, fonte da vida, abençoe teu viver, No descanso... no lazer.. Para que sejam curtidos, no tempo, como a graça na eternidade! Deus, fonte da vida, abençoe teu viver, Para que a tua vida seja plena, fonte de bênçãos, Jorrando águas vivas sobre o chão que vieres a pisar. Amém. rosangelafenner@gmail.com

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E os povos indígenas? Preconceito, luta e resistência Pa. Dra. Renate Gierus

Ao escrever este artigo, não é possível deixar de mencionar que estamos vivendo o período de isolamento social devido à pandemia do Covid-19. E é a partir deste contexto que quero trazer as reflexões que seguem. A pandemia trouxe à tona um cenário de extrema fragilidade no combate ao vírus. A falta de investimento na área da saúde, por parte do governo federal, e o corte de gastos promovido em outros setores de

políticas públicas sociais, já bem antes da pandemia, levou o povo brasileiro a uma série de fatalidades. Aliado a isso, um cenário de profunda desigualdade social também ficou evidenciado, expondo as pessoas que vivem nas periferias das cidades e na área rural ainda mais à fome, falta de água e saneamento básico, aumentando a pobreza e os riscos de ficarem doentes. Os direitos humanos foram – e são –, constantemente, violados e desrespeitados devido

Crianças na Terra Indígena Kandoia, em Faxinalzinho/RS. (Encontro de lideranças Kaigang. Foto: Daniela Silva Huberty)

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a essa desigualdade e fragilidade. Falta proteção aos povos indígenas, seja antes, durante ou após a pandemia. Esta proteção não se restringe a todo um cuidado com a saúde indígena, disponibilizando hospitais de campanha exclusivos para indígenas, alimentos em sacolas higienizadas ou a interrupção do acesso às comunidades. Também tem a ver com a demarcação e proteção de suas terras ancestrais. Os povos indígenas persistem nas mobilizações por seus direitos. São discriminados por isso, além de perseguidos e criminalizados. A pandemia lhes é semelhante a um genocídio, pelo alto número de invasões em suas terras, seja por madeireiros,

garimpeiros, missionários ou grileiros. Além de destruírem a floresta, as águas e poluírem o ar, estes são transmissores potenciais do vírus, com possibilidade de desencadear sucessivas mortes nas comunidades. Defendem a Mãe Terra como um ser vivo e como fonte de vida. No Brasil, há outras práticas de economia, de plantio, de convivência com os diferentes biomas, experiências cotidianas e busca constante dos povos indígenas, quilombolas, povo pomerano e demais povos e comunidades tradicionais. Estas práticas, no entanto, são invisibilizadas e não reconhecidas como potencial mudança de rumo que a crise humani-

Artesão na Terra Indígena Kandoia, em Faxinalzinho/RS. (Encontro de lideranças Kaigang. Foto: Daniela Silva Huberty)

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tária, provocada pela pandemia, sinaliza ser urgente. No contexto da pandemia e da pós-pandemia, é preciso mencionar toda a carga de preconceito, discriminação e racismo que os povos indígenas enfrentam diariamente. Na verdade, ela está mais acentuada e perceptível, pois não é algo novo para a realidade destes povos. O preconceito e o racismo se expressam de diversas formas. No caso da pandemia, pode-se falar de racismo institucional, quando a contagem de pessoas indígenas como casos confirmados ou óbitos é subnotificada,

pois somente se conta quem vive em aldeias, desconsiderando completamente as pessoas e famílias indígenas que vivem em contexto urbano. Essa atitude é completamente equivocada e remonta a ideias e imagens congeladas que temos dos povos indígenas. É como se alguém fosse indígena somente se morasse na floresta. É preciso desconstruir esta imagem, que nos é internalizada desde os tempos de escola, onde se ensina um indígena folclorizado, um indígena que está na nossa cabeça, mas que não é real. Como a imaginação não combina com a realidade, não a respeitamos, queremos nos

Crianças na Terra Indígena Kapyra/Kanakury, em Pauini/AM. (Oficina de cerâmica Apurinã. Foto: Ana Patrícia Chaves Ferreira)

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Em 2019, o COMIN publicou o material da Semana dos Povos Indígenas “Quebrando preconceitos, construindo respeito: luta e resistência dos povos indígenas no Brasil”. O material SPI é publicado, a cada ano, trazendo uma temática distinta. As publicações são impressas, mas também podem ser encontradas no site do COMIN (www.comin.org.br), com vários subsídios para o trabalho em escolas, com jovens, crianças e grupos. Convido-os para que vejam e utilizem este material.

to, discriminação e racismo, é importante que nosso olhar se dirija não somente ao redor, buscando identificar situações que desumanizam pessoas por serem diferentes no seu jeito de ser e modo de viver. Muito importante é que o nosso olhar se volte para dentro de nós mesmas e de nós mesmos. Nossas ações e nossos pensamentos podem ser racistas e preconceituosos, às vezes, até, sem nos darmos conta disso. Julgamos com muita rapidez e facilidade as outras pessoas, sem conhecê-las realmente.

Quando se reflete sobre preconcei-

Mas o que é preconceito? Preconcei-

afastar dela, ignorá-la, destruí-la.

Agricultora na Terra Indígena Kapyra/Kanakury, em Pauini/AM. (Oficina de cerâmica Apurinã. Foto: Ana Patrícia Chaves Ferreira)

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to é qualquer pensamento, sentimento ou ação, baseados em generalizações e pré-julgamentos, que nos fazem agir ou emitir opiniões sem nenhuma criticidade ou veracidade em relação aos fatos. Muitas das nossas verdades estão baseadas em notícias falsas. Preconceito é desprezar outros pontos de vista, prendendo-se às suas próprias ideias e verdades. Ele pode ser expressado através de piadas, perguntas ofensivas ou imagens distorcidas dos povos indígenas. Outra forma de preconceito e discriminação é relacionar povos indígenas a um lugar geográfico específico e a um jeito específico de ser e, se não estão nes-

ta conformidade, pensar e agir como se não fossem mais indígenas. O proselitismo, através de publicação de materiais com representações estereotipadas destes povos e comunidades tradicionais, bem como através do proselitismo religioso, também são formas de discriminação. É preciso superar o preconceito, diminuir as desigualdades que há entre as pessoas indígenas e as não indígenas, pois o preconceito dói. O preconceito mata por dentro, destrói toda uma cultura, todo um povo. Para romper com este ciclo de violências é preciso refletir sobre estas

Oficina de formação jurídica e política com os Mbya Guarani na Comunidade Indígena Campo Bonito - Ñhu Porã, em Torres/RS. (Foto: Daniela Silva Huberty)

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ideias preconcebidas e que se reproduzem tão facilmente na sociedade. São ideias equivocadas de um indígena que é preguiçoso ou sujo. Na verdade, não é nada disso. É um outro jeito de viver, de entender o que é trabalho, o que é descanso, o que é produzir e como produzir. Este outro jeito de se relacionar com a Terra é parte de um modo de vida que não conseguimos aceitar, porque nós mesmas e nós mesmos estamos por demais afastadas e afastados da natureza. Não nos percebemos como interconectadas e

interconectados a todos os seres vivos e os povos indígenas constantemente nos falam disso em suas lutas e resistências, ao morar nas cidades, ir para as universidades e escolher onde querem viver. Vigiemos nossas atitudes, nossa linguagem, nossas posturas. Novamente, é preciso olhar para si, para mudar nossos preconceitos, e olhar ao redor, para posicionar-nos frente a atitudes racistas que presenciarmos. É preciso perceber que a luta indígena traz benefícios para toda a sociedade.

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Como é o Reino dos Céus para você? Pa. Eliana Mutz

O Ensino Confirmatório é uma área de trabalho riquíssima dentro de nossa querida IECLB. Particularmente, tenho um carinho especial pelo Ensino Confirmatório. Os adolescentes chegam em nossas salas, às vezes rebeldes, outras, com pureza religiosa, também existem aqueles revoltados, às vezes com muito conhecimento bíblico e, outras, não sabem responder que os nomes do pai e da mãe de Jesus são José e Maria. Mas chegam dispostos e abertos, e devagarzinho vão se encantando pela história de salvação de Jesus Cristo. São muito abertos e sensíveis.

E nesse encanto, se deixam instruir do mais puro amor de Deus, ao ponto de dizer: “Este foi o ano mais feliz da minha vida” (Luana). No início das aulas do segundo ano, em 2019, pedi que cada um dos sete alunos descrevesse para mim como imaginava ser o Reino dos Céus. Imagens muito lindas apareceram. Gabriel disse que imaginava um gramado bem grande, com uma casinha e um banco e Deus e Jesus sentados neste banco. Perguntei, e você? Está lá também? Consegue se enxergar nesse gramado? Sentado no banco?... Não, ele disse, e abaixou a ca-

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beça. Isso me encheu de preocupação. E durante todo o ano, tivemos vários diálogos a respeito do mesmo assunto. Ele tinha tanta vontade de aprender, de entender! Fazia perguntas! Ele estava ávido. Queria muito saber das maravilhas de Deus. Nesta mesma turma, tínhamos uma aluna, a Luana, que é cega de nascença. Tanto quanto seu colega, Luana era muito interessada. Fazia perguntas. Queria saber muito mais de Jesus a quem ama profundamente. Mais ou menos em agosto, tivemos uma aula sobre como é Deus para nós. Com o que podemos comparar Deus. Ao amor de uma mãe! Com a fonte da água viva. Com o pão da vida. Com o bom pastor. No livro do Ensino Confirmatório tem as imagens para podermos ver.

Uma ovelha é parecida com um cachorro, só que é bem mais peluda e fofinha. Pode ser branca, preta, marrom ou duas cores destas juntas. Você sabe como são as cores? Não, ela disse. E fui me afundando na cadeira cada vez mais. (Sei que tentei explicar como poderia ser cor!) E continuei! A ovelha chega até a altura dos seus joelhos, ou um pouco mais. É querida e mansa. Obedece quem lhe cuida. De dia, fica solta no pasto. E, de noite, é guardada numa casinha que chamamos de curral. E ela faz béééééééééé, (emiti o som com a boca). Rimos muito. Sempre digo que Deus nos permite experimentar o céu aqui na terra. Ele nos deixa sentir como é puro, leve e lindo no Reino de Deus. Nesse dia,

E me dei conta de uma forma tão dura, de que Luana não via as imagens. E pensei: “Como ela pode saber que Jesus é o bom pastor das ovelhas? Será que ela sabe como é uma ovelha?” E perguntei para ela se sabia como era uma ovelha. Ela disse que não! Parei de falar por uns segundos. Respirei fundo e os colegas se aquietaram. Meus olhos se encheram de lágrimas, e os de seus colegas também. Como não tínhamos percebido o quão profundo é sua limitação ao não poder ver. Perguntei a ela se já tinha pegado um cachorro com as mãos. Sim, ela disse. Ele tinha pelos? Sim, ela disse, sorrindo. E completei:

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experimentamos, nós oito, o céu entre nós. Como se o tempo tivesse parado, e só vivêssemos aquele tempo tão bom e verdadeiro. Continuei a explicar que, no tempo de Jesus, existia a profissão de pastor de ovelhas, que eram as pessoas que cuidavam das ovelhas. E Jesus é comparado com o bom pastor que cuida de todos nós. E a aula foi longa e boa. Na minha ignorância, pensei: como será que a imagem que ela fez do Reino dos Céus se desenha em sua cabeça? Com pouco recurso de aprendizagem, de imagem, específicas para cegos que temos? Sim, sabemos que existe material, que é novo, na IECLB, para cegos. Mas nós não tínhamos este material. Luana tem aulas em braile e sabe ler em braile. Mas eu explicar o que é uma ovelha, e como são as cores, para daí explicar que Jesus é como o Bom Pastor das ovelhas, exigiu muito de mim. Senti-me pequena e despreparada. Mas Luana é inteligente. Percebeu meu desconforto e disse: agora eu sei como é uma ovelha! E tivemos uma aula incrível, sobre respeito ao próximo. Sobre valorizar o diferente. Sobre colocar-se no lugar do outro. E todos compreenderam a importância da humildade e o valor inestimável que temos para Jesus, o Bom Pastor. Que Ele nos ama e aceita como somos. E pude falar do sabor que tem o céu, o Reino de Deus. Que Deus nos permite experimentar o seu Reino aqui na terra, quando

coisas tão incríveis acontecem conosco, como foi essa aula. Quando foi chegando o fim do ano, solicitei, mais uma vez, que cada um falasse como imaginava ser o Reino dos Céus. As imagens que eles relataram foram as mesmas do início do ano, com a diferença de que Gabriel estava sentado junto com Jesus no banco no grande gramado. E que, enfim, Luana sabia que no Reino dos Céus ela tinha lugar, espaço e era respeitada e amada como ela é. Escrevo com lágrimas nos olhos, pois sei que se eles compreenderam isso, compreenderam também o restante. No culto de confirmação desta turma, tivemos uma igreja lotada de pessoas queridas. E no fim, Luana pediu a palavra. Ela disse: “Queria agradecer minha professora, Nedi, do primeiro ano da doutrina, com quem aprendi muito sobre Deus. E queria agradecer a pastora, por ter tido tanta paciência comigo. Tudo o que aprendi sobre Deus foi com ela. Meu muito obrigado”. Mais uma vez, em lágrimas, eu lhe disse: “Foi você quem nos ensinou a sermos mais humildes, a percebermos nossas limitações, a percebermos como ainda temos tanto que aprender. E que também temos nossa cegueira.” E, assim, nos abraçamos as três, num silêncio profundo dentro da igreja lotada. Assim é nosso Deus. Continua se revelando. E nos mostrando amor sem fim. Nós tínhamos mais uma turma de confirmandos, no total de 13 alunos;

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oito meninas e cinco meninos. Destes 13 alunos, todos são assíduos frequentadores dos cultos de nossas comunidades. E tenho para testemunhar que tudo o que fazemos com amor tem sabor, traz resultados, nos

move e encanta. “Portanto, agora existem essas três coisas: a fé, a esperança e o amor. Porém, a maior delas é o amor” (1 Coríntios 13.13). Fiquem na paz de Deus. elianamutz@hotmail.com

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Impressões de um reencontro Ursula Axt Martinelli

O azul do céu, o sol escaldante, o silêncio e a terra tinta de vermelho eram os mesmos da minha infância. A paisagem também não mudou muito, exceto um trecho de estrada asfaltada e a predominância da monocultura entrecortada por capões. Em meio ao verde da plantação perfilam as paredes de uma casa em ruínas que guardam a história da colonização dos alemães russos, em terras do interior de Ajuricaba, agora, modernas fontes de recurso do Estado do Rio Grande do Sul. Hoje os cultivos de soja e milho, no verão, e de trigo, no inverno, invadem a faixa de domínio da estrada. Tomaram o lugar da vegetação que florescia na primavera e no verão invadindo o ar com seu perfume silvestre que

atraía abelhas e outros insetos. Entre as coxilhas cultivadas crescem resquícios de floresta, remanescentes de prováveis desmatamentos. Nessas ilhas de sobrevivência, abelhas domésticas ou nativas garantem a polinização de árvores frutíferas. São pequenos ecossistemas que preservam espécies e animais silvestres e dão vida à água dos rios e ao solo. Neles, a mãe Natureza mantém vivo o elo entre os seres vivos. Antes da exploração desmedida do solo, do uso descontrolado dos defensivos agrícolas, antes da soja, da monocultura e dos transgênicos, a floresta abrigava animais selvagens. Graxaim, porco espinho, gambá, cutia, capivara, paca, gato do mato, veado campeiro, ... várias espécies de

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répteis, de insetos e de aves compunham um ambiente diversificado, por vezes, agressivo ao colonizador. Mas, com o passar, dos tempos o agricultor aprendeu a conviver nesse meio, tanto assim que espécies consideradas em extinção estão repovoando a mata restante. O sucesso da produtividade agrícola aconteceu, antes de mais nada, pela perseverança e determinação dos colonizadores e de seus descendentes e, depois, pelo apoio técnicocientífico de pesquisadores que orientam o agronegócio e a agricultura familiar sustentáveis. Infelizmente, no nosso clima tropical, onde pragas e doenças proliferam com facilidade, não se pode abrir mão do uso de agrotóxicos, quando se trata de produção em larga escala. Mas existem ações eficientes, merecedoras de especial atenção por parte de orientação técnica, que são o uso correto de venenos, a produção orgânica, a integração lavoura-pecuária e floresta/flores silvestres, além da prática da agricultura de baixo carbono. O nosso país tem vocação para ser o pretendido celeiro do mundo, mas falta respaldo governamental. Não falo, aqui, de financiamento ou de subsídio e, sim, de falta de infraestrutura para o escoamento da produção. O trabalho e a terra geram riquezas transportadas por estradas e ferrovias precárias até portos burocratizados. Assim, de grão em grão, parte da produção se perde por esses ralos. Por esses caminhos difíceis também

passa a produção de leite que, culturalmente, conserva a tradição dos primeiros colonizadores, acrescida de novas tecnologias e exigências estabelecidas pelos órgãos controla-dores, com alimentação padronizada, controle de doenças, instalações adequadas, procedimentos automatizados/informatizados e, finalmente, a destinação adequada dos rejeitos. Mas o esforço, empreendido por gerações, parece não sensibilizar as pessoas com poder de decisão sobre ações que viabilizem a permanência da população no campo. É necessário prover desenvolvimento humano e econômico para as novas gerações, criando perspectivas de trabalho que diminuam o êxodo rural e garantam a produção do alimento que põem em nossas mesas. Dessa breve análise, de simples observadora descendente de alemães da Rússia, vivo a experiência do reencontro com a infância. Continua na minha memória a imagem da igreja, ainda hoje, cercada pelo verde das árvores e plantações, símbolo vivo da história dos colonizadores alemães luteranos da Volínia, da longínqua atual Ucrânia. Essa mesma igreja segue acolhendo os descendentes dos “Wolhyniendeutsche” há mais de cem anos. Aqui, cultivam religião e tradições com a liberdade e alegria que nosso país lhes permite. A autora é professora aposentada uamart@gmail.com

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Diaconia em Farroupilha Pa. Paula Naegele

A Paróquia Evangélica de Confissão Luterana de Farroupilha é pequena, formada por três Comunidades (Farroupilha, Bento Gonçalves e Veranópolis). Conta com 658 pessoas batizadas, distribuídas em sete munícipios (conforme estatísticas 2019, base 2018). Somos uma Paróquia que, desde sua origem, tem-se mostrado muito ativa e solícita. Pela graça de Deus, creio que esta é a realidade de muitas Comunidades e Paróquias da IECLB. Vivemos e convivemos em comunidades formadas por pessoas que se

comprometem e têm um olhar especial, sensível, para aqueles e aquelas que necessitam de apoio. Arrisco-me a dizer que isso faz parte da nossa essência, como Igreja da Palavra. Seguimos as orientações, os ensinamentos de Jesus e, em nossa realidade, colocamos em prática tudo o que está ao nosso alcance. Assim, convivemos e atuamos aqui na Serra Gaúcha! Em meio a muitas denominações religiosas nos destacamos pelo servir e pelo acolhimento ao diferente, pelo vínculo forte no ecumenismo. Nossas famílias com-

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preendem e se envolvem, nesta realidade, com respeito e sensibilidade. Isso acontece, com muita tranquilidade, também no tempo do Ensino Confirmatório, onde estudamos e conhecemos as demais denominações. Em novembro de 2018, estudávamos a Reforma Luterana e a turma foi desafiada a criar ações que pudessem ser “reformadas” na nossa Paróquia. Em conjunto, chegamos à conclusão de que tínhamos muitos sonhos. Um deles, a conscientização das pessoas para o cuidado da natureza e da “nossa casa” – o mundo! Conversamos muito e criamos uma ação: A campanha das tampinhas! Pois, não tínhamos espaço para recolher ainda mais resíduos, que

poderiam ser reciclados e comercializados. O valor que seria arrecadado, sabíamos que não seria muito, mas seria um grande gesto, se nossas Comunidades se unissem nesta tarefa. E aconteceu! As famílias começaram a trazer tampas de todos os tamanhos e cores. Os pontos de recolhimento foram, e ainda são, as nossas Igrejas e, em Farroupilha, juntamos tudo para que sejam comercializadas! Até o segundo semestre de 2019, reciclamos mais de 400 kg de tampinhas. O valor arrecadado foi investido na reforma da “salinha”, da Comunidade de Farroupilha, onde os adolescentes fizeram uma nova pintura e reorganização do espaço, visto que é o lo-

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cal aonde todos os nossos grupos se reúnem. A campanha segue, pois sempre teremos algo para reciclar e também pessoas para conscientizar! Como pessoas cristãs, devemos nos comprometer em amor, cuidado e respeito por tudo o que Deus criou. O próximo projeto acontecerá na Comunidade de Bento Gonçalves. As tampinhas continuam sendo recolhidas e a arrecadação servirá para comprarmos um projetor, que auxiliará nas atividades e celebrações. Além da campanha das tampinhas, o grupo da Legião Evangélica Luterana (LELUT), na Comunidade, desenvolve e organiza o “meio frango dos luteranos”. O grupo prepara, com muito carinho, meios frangos, com um tempero excelente, no final do dia da sexta-feira. A carne fica marinando no tempero até a madrugada de sábado, quando o povo se reúne às quatro horas da manhã para continuar o trabalho: preparar o fogo, espetar e assar. Antes do meio dia, as filas de entrega se formam no Centro Comunitário Luterano. Isso significa que mais uma entidade está sendo beneficiada com este lindo trabalho, feito a muitas mãos. A Comunidade prepara os frangos, organiza os cartões e ajuda nas vendas. No início do ano, no primeiro encontro da LELUT, avaliamos as necessidades que são trazidas pelos grupos e entidades e, por votação, direcionamos o nosso auxílio. Dentre os grupos auxiliados, estão: APAE - As-

sociação de Pais e Amigos dos Excepcionais, AFADEV – Associação Farroupilhense de Deficientes Visuais, Hospital São Carlos/Farroupilha, AMAFA – Associação de Pais e Amigos dos Autistas, Fazenda Esperança (Centro de tratamento de dependência química) e pessoas que passam por dificuldade de saúde, que necessitam de apoio ao tratamento. Sabemos que estas atividades não solucionam todas as dificuldades que as pessoas e grupos de apoio passam! Sentimo-nos pequenos, pela demanda, mas grandes na compaixão e no cuidado. E pedimos a Deus que este trabalho siga acontecendo e envolvendo ainda mais pessoas. Promover a Diaconia em nossas comunidades é mudar a rotina, movimentar o povo! Um movimento especial de transformação, de atitude, de ação e, por que não, de pensamento. É a nossa fé ativa em amor e compromisso. É testemunho em meio a realidades carentes não só de finanças, mas de atenção, de entendimento e sensibilidade. Não só auxiliamos com o resultado financeiro das atividades promovidas, mas acompanhamos o trabalho desenvolvido. Partilhamos os sonhos, nos amparamos e somos companhia na caminhada! É como se estivéssemos fazendo parte da mesma espiral, em movimento, próximos/as uns dos outros/as, na realidade em que se encontram. Segundo Sr. Délcio Kellermann (atual presidente da Paróquia), “servir é

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ajudar o/a próximo/a, mesmo ele/ela não solicitando, ou até não sabendo de onde veio a ajuda. Ter a consciência de que alguém (Jesus Cristo) fez o impossível (por e para nós seres humanos) para ajudar o próximo e a nós mesmos, e deixou isto claro em tudo o que ensinou! É uma maneira de agradecer por tudo o que recebemos, sentirmo-nos úteis, colocar em prática o que aprendemos, envolvendo todos/as. Pois, todos/as são chamamos e podem, de alguma forma, ajudar alguém”. Acreditamos que assim, nossa fé é

ação, é vida, é amor e realidade. Nossa oração é para que Deus nos dê discernimento e motivação para seguirmos fazendo a nossa parte. E que mais pessoas se envolvam e se comprometam neste servir! Pois, “que formosos são sobre os pés do que anuncia as boas-novas, que faz ouvir a paz, que anuncia coisas boas” (Isaías 52.7a). Que muitas inciativas, simples como as nossas, sejam partilhadas pela nossa Igreja, pelo nosso País e mundo! E que seja, cada vez mais, perceptível o amor de Deus que nos movimenta e transforma. paulanaegele@gmail.com

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Do garoto que foi atrás de um jeito de perder o medo Irmela Brender

Era uma vez um garoto que tinha medo: da escuridão, dos automóveis, dos homens, de animais, do mesmo jeito como você e eu temos medo. Mas ele queria muito ser corajoso e, assim um dia desses se pôs a caminho para aprender como não ter mais medo nenhum. Primeiro, foi procurar um piloto no aeroporto. Esse conduziu o seu avião lá pelos ares, bem além dos mares. Um piloto desses, ponderava o garoto, decerto não tem medo! “Você tem medo?” perguntou o garoto ao piloto. Este fez que sim, com a cabeça. “Tenho medo que um motor poderá falhar e eu teria que fazer pouso de emergência. Tenho medo que com densa neblina poderia me espatifar numa montanha. Tenho medo que poderia contrair uma doença, e outras vezes eu, simplesmente, estou com medo e nem sei de que”. “E o que você faz para não ter mais medo?” perguntou o garoto. O piloto respondeu: “Eu voo tão bem quanto posso. Eu tomo tanto cuidado como é possível. E no mais eu simplesmente continuo”. Depois disso o garoto foi procurar um piloto de carros de corrida. Este corria em pistas onde muitos pilotos

já se haviam acidentado. “Você tem medo?” perguntou o garoto ao piloto e este sinalizou que sim. “Tenho medo que meu carro poderá, uma vez, capotar e ser destruído em chamas. Tenho medo de que um outro poderia colidir comigo e sairíamos os dois feridos para sempre. Tenho medo de que, um dia, serei velho demais e não possa mais vencer. E, às vezes e simplesmente, tenho medo e não sei de que”. “E o que você faz para não ter mais medo?” perguntou o garoto. O piloto respondeu: “Eu faço tudo da maneira que consigo e, no mais, continuo agindo”. Ato contínuo, o garoto foi a um domador num grande circo. O domador fazia pular leões e tigres por um aro incandescente. Um dos leões abriu a boca e o domador colocou a cabeça por entre os dentes enormes do animal. “Você tem medo?” perguntou o garoto ao domador e este fez que sim. “Tenho medo de que, um dia, um animal possa me atacar e machucar. Tenho medo de que os animais possam deixar de me obedecer e de que o público possa rir de mim e, às ve-

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zes, tenho, simplesmente, medo e não sei de que”. “E o que você faz para não ter mais medo?” O domador respondeu: “eu fico calmo, como possível e, no mais, simplesmente, continuo”.

Aí o garoto ficou refletindo o que o piloto, o piloto de corrida e o domador tinham falado e notou que as três respostas eram muito semelhantes e ele desistiu de continuar perguntando e fez tudo da maneira que podia e no mais, simplesmente, continuava. Traduzido do alemão por P. em. Heinz Ehlert

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Palavras cruzadas 1 P. em. Irineu Wolf

Solução na página 230

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Eis que num ano novo entramos... e a pandemia chegou! P. Afonso Adolfo Weimer

Vivemos novos tempos para nós! Outras gerações viveram tempos pandêmicos. Para nossa geração, porém, é tempo novo. Não é tempo somente diferente, mas novo na prática do nosso pacto civilizatório. Precisamos refletir sobre nosso papel humano neste mundo. E, mais ainda, é preciso refletir como pessoas cristãs agem neste mundo. O novo Coronavírus (COVID-19) era algo longe, fisicamente, no início de 2020. Mas já tinha reflexos entre nós. E, então, em meados do mês de março o cenário mudou! Qual a palavra que define este novo cenário? Muitas palavras surgiram neste tempo: isolamento, distanciamento, quarentena, reinventar-se, virtual, máscara, ansiedade, nervosismo, saúde versus economia, negacionismo, ciência e tantas outras. Estas palavras expressam conceitos e compreensões da realidade. Muitos dos nossos conceitos e preconceitos foram questionados. O questionamento veio através de duas perguntas e estas perguntas creio que são a principal palavra que define este novo cenário: o que é essencial e o que a pandemia nos ensina? Perguntamos e somos perguntados: o que é essencial na vida e como as pessoas sairão desta pandemia? Melhores ou piores?

O questionamento do que é essencial vem da realidade econômica e está posto quando é exigido o fechamento de atividades que aglomeram e fazem circular pessoas. Qual atividade econômica é essencial? No fundo, todos se reconhecem como “essenciais”! Ninguém quer ser “dispensável ou desnecessário”! Sem dúvidas, a pandemia trouxe uma desestabilização profissional, pois nos tirou da cena habitual de trabalho e colocou a muitos no “banco de reservas”. Surge uma crise narcísica. Tudo o que eu fazia e que era a razão do meu viver é posto em suspensão. “Afinal, não sou tão imprescindível assim?” (Reflexões do P. Dr.Victor Linn, Apontamentos para Mentoria em Situações Traumáticas, abril 2020). Sempre é necessário avaliar se o que eu faço é “essencial” na sociedade. As pessoas vivem sem minha atuação? Deus conhece os corações e sabe a quem servimos. Lucas 16.13-15 evidencia a quem devemos servir e que Deus nos conhece o coração. Com razão diz-se que tempos extremos mostram o caráter das pessoas. Nestes tempos de pandemia mais ainda se verá a quem as pessoas servem e a quem elas desprezam. O caráter das pessoas revela-se nestes tempos. A pandemia não nos tornará

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melhores ou piores, mas ajudará a evidenciar a quem servimos. Como pessoas cristãs, temos uma escolha feita a quem servimos, pois antes fomos escolhidos no batismo para dar frutos (João 15.16). Quero convidar você para um passeio mental. Vamos descobrir nosso essencial e a quem servimos. Se puderes fazer este passeio, física e presencialmente, será até melhor. Vai para a frente do templo da tua comunidade. Observe durante alguns minutos e reflita sobre três temas: 1) Há quantos anos existe a sua comunidade? 10, 30, 50, 100 anos? Quanta dor e esforço para construir tudo o que estás vendo. Lembra de quanto já foi construído e reconstruído, lembra das dificuldades. Responde: quem foi o protetor desta comunidade?

2) Em frente ao templo pensa sobre quantos batismos, confirmações, casamentos, sepultamentos e cultos aconteceram naquele lugar. Lembra do rosto de cada pessoa naqueles momentos tão importantes de sua vida. Não há como lembrar do rosto de cada um. Vê, então, como foi significativo e quantas vidas foram atingidas e transformadas. 3) Agora, responde: Qual foi a coisa mais valiosa desta comunidade? Ela serviu ao Evangelho de Jesus Cristo: “a vida estava nele e a vida era a luz dos homens” João 1.4. Toda a trajetória comunitária mostra o que foi essencial e a quem se serviu. Faze este passeio mental com a tua trajetória de vida e descobrirá o que é o essencial: “eu escolhi vocês para que deem fruto”.

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p.aaw@ibest.com.br


Envelhecer – morar bem e com dignidade! P. Nilson Hermes Mathies

Ainda existe muita resistência a lares ou instituições que acolhem pessoas idosas. Muitas pessoas não querem nem ouvir falar em casa de repouso ou ancionatos. Por causa das guerras e da industrialização, muitas pessoas idosas ficaram desamparadas e foram abandonadas. Nas comunidades cristãs surgiram instituições de apoio e acolhimento para estas pessoas e, também, para crianças. Locais que acolhem fazem parte da história da Igreja Cristã por mais de uma centena de anos. Para alguns idosos foi o único refúgio que restou. Por isso, antes de questionar ou criticar uma instituição que abriga idosos, é preciso lembrar que estes locais foram constituídos, em sua maioria, porque a família e a sociedade tiveram problemas em assumir o papel de honrar os idosos. A constituição de lares para idosos, nas comunidades cristãs, foi uma resposta diaconal ao Evangelho de Jesus Cristo. Ressalta-se que, em nenhum momento, estas instituições tiveram o objetivo de assumir o lugar da família. Pelo contrário, os lares foram criados para servir como apoio ou por ausência da família. O número de idosos assistidos nestas instituições não ultrapassa os 3% do total de idosos no Brasil. Hoje, pelo que expressa o Estatuto do Idoso, é

dever da família cuidar e amparar as pessoas com mais de 60 anos, em todas as circunstâncias e necessidades. Assim, não é dever nem objetivo da instituição, concorrer com a família, pelo contrário, ela quer ser uma alternativa, auxiliadora e companheira, no cuidado à pessoa idosa. Este conceito de um local que quer ajudar a família a cuidar do idoso ou ser uma moradia assistida, ainda tem um longo caminho a ser construído no Brasil. Enquanto nas pequenas e médias cidades a instituição, ainda, é vista como um tabu, nas grandes cidades começam a aparecer investimentos nacionais e empresas estrangeiras que sabem o potencial do Brasil, em um futuro próximo, também com perfil clínico. A longevidade e idosos em processo de demência são uma busca constante nas atuais instituições. Construtoras estão projetando moradias assistidas para idosos. São conglomerados verticais ou horizontais, para pessoas com total autonomia, mas que têm serviços essenciais à disposição, como alimentação, limpeza e lavação da roupa. Contudo, estas alternativas de moradia precisam prever a mudança imprevisível na dependência e saúde da pessoa com idade avançada. Cedo ou tarde ela necessitará de algum cuidado e ajuda. Esta alterna-

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tes que vão de 19 a 50m2. Ali residem idosos a partir de 60 anos, que administram sua própria vida, mas têm à disposição a lavação da roupa, limpeza, cuidados e assistência médica. O outro formato é, igualmente, com moradia individualizada e o mesmo atendimento, mas a conexão com a estrutura principal é direta, possibilitando o atendimento a maiores necessidades. A estrutura visa acompanhar o idoso na moradia de médio e longo prazos. O elo com a família continua sendo essencial. O lar não substitui a família, mas torna-se parceiro da família, para que os familiares possam manter os laços de carinho e afeto. tiva de moradia precisa considerar esta realidade para não se tornar uma frustração aos seus moradores. A pergunta que surge, diante destas perspectivas, é: deve a igreja oferecer alternativas de moradia, cuidado e amparo ao idoso ou somente a iniciativa privada deve assumir este papel? O Estado, dificilmente, terá capacidade de absorver mais este serviço, além do mais, o Estatuto do Idoso tem, como foco principal, que a pessoa seja amparada e cuidada pela família.

Atualmente, no Brasil, é perceptível uma mudança jamais vista no que se refere ao envelhecimento. O maior país da América Latina, diferente de

A Igreja Luterana tem algumas instituições conhecidas. Os lares de idosos têm objetivos e padrões parecidos de atendimento. Em Blumenau, o Lar Elsbeth Koehler oferece duas modalidades: o residencial, para pessoas com total autonomia, com suí-

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outros vizinhos, envelheceu rápido demais em poucos anos. Somado ao envelhecimento, o número menor de filhos, a urbanização, o trabalho de todos os membros da família, o déficit habitacional e as casas, cada vez menores, dificultam muito o atendimento de uma pessoa idosa em casa, principalmente quando são necessários cuidados especiais, auxílio na higiene, alimentação e locomoção. Contratar um ou mais cuidadores, de acordo com o que determina a lei, acaba sendo mais oneroso que o atendimento em uma instituição. Existe mais de um milhão de idosos com demência no país e, nos próximos anos, serão mais de cinco milhões. Nenhuma família nem

o Estado estão preparados ou planejando uma ação nacional para esta realidade. Se queremos envelhecer, e muitos vão envelhecer, é provável que muitos terão alguma manifestação de demência e de necessidade de cuidados. Os cálculos são de que 50% dos idosos, com mais de 85 anos, terão algum tipo de demência. Precisamos saber disto, para planejar como envelhecer e onde envelhecer. É preciso dialogar na família e, em conjunto, estabelecer caminhos para percorrer a velhice. Não é justo e muitas famílias nem terão condições de assumir todos os cuidados inerentes ao envelhecimento de um ente.

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Por isso, é importante traçar objetivos e possibilidades em conjunto. Não importa se é em casa ou numa instituição. O importante é criar condições para que tal aconteça.

ser um caminho de amadurecimento. Amadurecer significa trazer sabor à vida, comunhão na família e viver em paz com Deus. Mas isto não cai do céu.

Quando éramos crianças, nos perguntavam o que queríamos ser quando crescêssemos. Agora, precisamos responder como e onde queremos envelhecer. O envelhecimento deve

Cultive isto a cada dia, enquanto há tempo de agir, reagir e decidir. Envelhecer é amadurecer! Envelhecer não pode ser visto, apenas, como um direito, mas precisa também da nossa responsabilidade. sesb.pastoral@luteranos blumenau.com.br

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Espigão do Oeste – Rondônia, aí vamos nós! P. em. Irineu Wolf e Roseli Wolf

Se no início de 2019, alguém perguntasse se ainda queríamos conhecer o trabalho da Igreja, no Sínodo da Amazônia, teríamos agradecido e declinado de qualquer convite. Em agosto, o pedido da Pa. Sinodal fez com que revíssemos a nossa posição de privilegiados na condição de eméritos. Desafiados para um trabalho de substituição, por três meses, fizemos a nossa malinha e rumamos

ao encontro do desconhecido. Com alguns relatos assustadores, outros encorajadores, embarcamos sem ter noção do que, efetivamente, nos esperava. Confiamos na promessa de Deus de nunca abandonar os seus. Por entender que Ele capacita e acompanha os chamados, com tremor e temor, deixamos a zona de conforto e fomos conhecer e nos envolver com a realidade de vida e a

Capela Menino Jesus, Melgaço, Pimenta Bueno.

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caminhada da Igreja de Jesus Cristo, no longínquo noroeste brasileiro. Refletimos muito sobre perguntas próprias e questionamentos de familiares e amigos. Depois do tempo ativo, com a vida estruturada, podendo ocupar-se com projetos pessoais até então adiados, poder dar atenção aos netos e conviver um pouco mais com amigos e colegas de ministério, tempo para viajar... Esse deveria poder ser o momento e de nosso direito! Resolvemos, então, unir o útil ao agradável! Conhecer uma nova realidade, culturas diferentes, visitar e conviver com jovens ministros (as) e, ainda, servir à Igreja! Somos gratos a Deus por tornar possível esta experiência única em nossa vida e ministério. Também, agradecemos à IECLB\SÍNODO DA AMAZÔNIA, que nos confiou esta missão, e à Paróquia de Espigão do Oeste com as Comunidades que integram o CAM III, pela boa acolhida. Agradecemos às Pastoras e seus pares, que nos acolheram em sua casa e cuidaram de nós. Pelo companheirismo e verdadeiros anjos da guarda que foram. O ministério se torna mais leve, quando se pode atuar ao lado de ministras (os) comprometidos com a causa do Evangelho em fiel e confiada parceria. Foi igualmente importante o apoio incondicional da Pa. Sinodal. Foi gratificante o envolvimento com pessoas que amam a sua Igreja e das

Confirmação na Comunidade Novo Alvorecer, Espigão d'Oeste. lideranças que, igualmente, acolhem bem os ministros (as), com paciência e fiel apoio. É importante que eles sintam segurança da parte da comunidade e possam desenvolver, com alegria, os dons que receberam, sendo proativos em aplicar, com mestria, a sua formação acadêmica. Ministros (as) são particulares em seu jeito de ser e fazer. São homens e mulheres de Deus que precisam do respeito e apoio da comunidade, para que possam dar o seu melhor em favor da causa comum. Todos precisam de um tempo de adaptação aos costumes e ao jeito de ser das comunidades locais. Mas são eles os responsáveis pela teologia e a condução do rebanho do Senhor. Não

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devem ser atropelados, nem ignorados neste seu papel específico: A pura pregação do Evangelho e a reta administração dos Sacramentos. Ainda, assim, continuam humanos e falhos e precisam do carinho e cuidado de toda a Igreja. Desta forma, todos ajudam a firmar e prolongar o seu tempo de atuação no Sínodo. Lembramos fatos e episódios que tornaram a nossa estadia e atuação leve e prazerosa. A simplicidade na maneira de ser do povo, sem diminuir a seriedade com que vivem a sua espiritualidade. Às vezes, beirando um legalismo profano que alimenta muitos ressentimentos e juízos. Mas

com uma vontade incomum de querer fazer a coisa certa. Por um lado, assusta a necessidade que alguns têm em apontar e propalar os erros alheios. Por outra, nos encontros de famílias, especialmente nas reuniões dos jovens, em que cada um (a) traz a sua bíblia e todos participam ativamente da leitura e da reflexão, buscando a boa orientação, surpreende. Numa das primeiras visitas, falando sobre a atividade na terra e o envolvimento dos filhos na lida da roça, os pais lamentaram: “Os filhos mais jovens não quiseram ficar no sítio. Preferiram morar na rua”! Morar na rua? E como eles sobrevivem

Culto na comunidade Florescer, em Espigão d'Oeste.

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na rua, perguntamos. “Ah! Um tem comércio, o outro trabalha na serraria e o terceiro é pedreiro, disse o pai”! Ufa! O “Preiste”, agora, entendeu. Ou se mora no sítio ou na rua (cidade)! Como nas diferentes expressões, as particularidades na culinária e o jeito de viver em comunidade. Reconhecemos que estamos todos no mesmo barco, tendo sempre a Cristo como timoneiro e bom navegador! Um jovem ministro desabafa: “É difícil sobreviver por aqui! A IECLB tem um plano de ação, a gente tem um sonho de Igreja, nossa formação contempla mais o modelo sulista de or-

ganização eclesiástica e temos diante de nós o jeito de ser e viver dos capixabas”. Haja flexibilidade que comtemple tamanha diversidade! No norte, as distâncias dificultam uma maior proximidade e convívio entre os/as ministros (as). Mas o calor e a intensidade nos relacionamentos são sensíveis. Fazem valer cada momento nas poucas vezes em que se encontram. Não se discute tanto sobre as diferenças de pensamento e atuação, para se firmar diante das necessidades comuns e naquilo que os une: A mesma vontade de servir, o mesmo ministério desafiador.

Instalação da Diretoria na Comunidade Renascer, em Espigão d'Oeste.

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Isso me fez pensar nas dificuldades que, muitas vezes, temos em conviver com colegas e membros que vivem tão mais próximos. Corremos o risco de amargar o mesmo destino dos porcos-espinhos da era glacial, morrendo congelados pela dificuldade de nos reconhecermos iguais, e de estarmos juntos, por conta das “espetadas”, que distanciam e isolam! Roseli e eu completamos o período de atuação agraciados e felizes. Estamos certos de que Deus nos reservou este presente, nesta experiência marcante no final da nossa vida ministerial. Foram apenas 90 dias,

que transcorreram rapidamente, mas que nos deixaram a sensação de termos convivido bem mais tempo, pelo sentimento de pertença, apesar das diferenças. Os inúmeros cultos e alguns ofícios e as várias visitas e convívio com as famílias, nos deixaram muito próximos. Pudemos conhecer um pouco das suas dúvidas, medos, anseios, expectativas e esperanças. Isto nos deu a certeza de que fazemos parte do mesmo rebanho de fé, que deve obediência e recebe a orientação do Único e Supremo Pastor que é Cristo, o Senhor! Além do convívio fraterno com as ministras da Paróquia, tivemos a ale-

Reunião de jovens na Comunidade de Pimenta Bueno.

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Almoço ao ar livre. gria de visitar outros cinco colegas do Sínodo, onde também ouvimos das suas preocupações e esperanças. Pudemos manifestar nosso carinho e solidariedade e fazer as exortações que entendemos oportunas. Foi igualmente gratificante a nossa participação na Assembleia Sinodal, Conferência Ministerial e Atualização Teológica, em Cacoal. Não bastasse isso, ainda conhecemos a Paróquia do Vale do Juruena – MT, onde, numa semana, fizemos um giro de 2.114 km para a celebração de seis cultos. Uma maratona, mas o que nos marcou foi a gratidão daqueles irmãos (ãs) pelo cuidado do

Sínodo para com eles, com a possibilidade de cultos com Santa Ceia, no tempo de Advento. Vem-nos o pensamento de que todos os (as) ministros (as) deveriam poder conhecer a IECLB neste âmbito. Fica a certeza de que temos de deixar os julgamentos e juízos para Deus, unindo-nos e dando o nosso melhor em favor das suas filhas e dos filhos seus. Só assim, a vida e o convívio serão melhores, nosso trabalho não será em vão, nosso testemunho será confiável, e seremos Igreja que zela pela unidade comum - o bem de todos - servindo, com alegria, para louvor e honra do Senhor. wolfneu@gmail.com

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Espiritualidade no bem morrer Pa. e Psic. Elke Doehl

A realidade da pandemia COVID-19 impactou profundamente o relacionamento das pessoas entre si, nas famílias e Igreja. A capacidade rápida desse vírus infectar muitas pessoas, sem que os sistemas de saúde pudessem dar conta a contento da demanda, trouxe medo e certa consciência da fragilidade e impotência humanas. Novamente o conhecimento humano revelou deficiências e incapacidade diante de demandas que surgiram. A vida correu risco, enquanto a morte parecia alçar o voo da vitória. A morte minimizada Em meio a isso, ainda assim, uma das características do momento foi a de minimizar a presença visível da morte. De um lado, a morte é mencionada como inevitável e, até, provável. Se morrer um “x” número de pessoas, isso é muito pouco em meio ao total “y” do todo da população. Subdimensiona-se o impacto de uma vida e de uma morte, especialmente, em seu contexto familiar. De outro lado, em contraste, vive-se como se não se fosse morrer. De algum modo, atitudes que buscam se sobrepor a perigos e riscos indicam o sentimento de supremacia em relação a enfermidades e possibilidades de tragédia. Mas também a exploração da autoimagem ou as

selfies são exemplos do viver como se a morte não existisse. Tudo isso evidencia a realidade narcisista e individualista da sociedade contemporânea. A finitude, o que ela, de fato, representa, fica para uma reflexão posterior. Ou nem para depois – que nem se reflita acerca desse fato. A imagem exaltada Para promover a imagem de ser humano de vitalidade “infinita”, exaltam-se as academias para a prática de exercícios físicos, as clínicas de orientação nutricional no cuidado com a alimentação, as clínicas médicas com exames, as clínicas estéticas com cirurgias na tentativa de esconder traços de envelhecimento. Tudo conflui para promover a imagem do belo, do perfeito, do saudável. Evidentemente, há o lado positivo no cuidado proporcionado por essas práticas. A problemática surge ao se tentar maquiar o curso da vida, ocultando as consequências inerentes ao envelhecer. A promoção excessiva da imagem é chamada, na Psicologia, de narcisismo. O narcisismo, como amor excessivo à própria pessoa e, particularmente, ao próprio físico, cria, em grande parte, a ilusão de que o belo, o magnífico em sua própria vivência nunca acabará. Mas essa concepção narcisista é confrontada

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o tempo todo com situações de morte. Pessoas em idade precoce, na meia idade ou idade avançada, falecem e de diferentes modos. Há crianças que ficam enfermas, jovens que se acidentam ou se suicidam, pessoas em qualquer idade são atingidas por doenças. Enfim, há muitas outras circunstâncias que confrontam as pessoas com a realidade da morte. Pode-se afirmar que a beleza da vida, o tempo todo, contrasta com o “pavor da morte”. O fato é que a morte leva as pessoas a lidarem com a impotência humana e com sua própria impotência. A dificuldade na aceitação dessa impotência torna ainda mais dolorido o fato da inevitável finitude. Dor solitária Nesse contexto, há pessoas que sofrem sozinhas, tentando não demonstrar para a sociedade seus sentimentos. A dor de muitas pessoas é reduzida ao ambiente privado. Torná-la coletiva pode acabar com o prazer individual de outras pessoas. O luto pela morte de alguém incomoda e causa desconforto ao levar a pensar na própria transitoriedade. Em consequência dessa individualiza-ção do sofrimento, surgem pessoas mais deprimidas, com culpas, novos problemas de saúde, sem espaços adequados de acolhimento para a elaboração da boa morte. Como preencher o vazio que fica com o impacto da morte? Como enfrentar

o luto? O luto é o passo seguinte do fato inevitável da morte com sua carga da significação subjetiva que cada ser representa em seu contexto familiar ou além dele. Romper a valorização excessiva da imagem é uma possibilidade pouco plausível nessa era narcísica. Ajudar as pessoas a lidarem com a sua própria imagem, passageira e transitória, possibilita a compreensão da efemeridade da imagem das pessoas que falecem. A construção de maior proximidade entre a imagem atual, a finitude e os processos pelos quais a vida transcorre é necessária para manter o autocontrole das emoções e não criar falsos mecanismos de defesa. Mecanismos de defesa perante essas situações limítrofes podem bloquear a possibilidade do bem morrer. “Vida” a qualquer custo O que ocorre é uma obstinação pela vida a qualquer custo. Em muitas ocasiões, a morte parece estar associada ao fracasso da instituição hospitalar, da equipe de saúde e do próprio médico. Sentimentos como impotência, raiva, fragilidade e frustração são parte de quem passa por essa situação. Na hora de comunicar a morte, todos estes sentimentos parecem refletir a postura de tremendo fracasso ou derrota por parte da equipe que está postada para curar as pessoas. Fato é que se ficamos reféns do

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“querer curar” sem a opção do limite do possível, possivelmente haverá um sofrimento intenso, pois existem situações de não cura e que levarão à morte. É necessário aceitar a morte como processo da condição humana e ter consciência de seus impactos em quem fica. É claro que não se pode menosprezar o valor da vida e sua defesa. Ao mesmo tempo, o desejo da cura, a qualquer custo, pode, igualmente, gerar muita dor. O bem morrer Na doença e no processo de morrer de cada indivíduo, há uma série de fatores biológicos, psicológicos, sociais e espirituais que precisam ser levados em conta. Essa compreensão integra o entendimento do bem morrer. A vivência da espiritualidade cristã, no bem morrer, contribuirá para que a compreensão do cuidado possa se fazer equivalente ao de curar. A aceitação da inevitável finitude e a vivência da espiritualidade são elementos complementares e fundamentais no caminho do bem viver e do bem morrer. O nascimento de uma pessoa sempre é esperado, preparado e celebrado. Com preparo semelhante, precisaríamos acolher o bem morrer. Ambos os momentos são acontecimentos únicos na existência das pessoas e vivenciados com intensidade

por quem está mais próximo. São momentos íntimos que tocam e, por isso, despertam sentimentos profundos que oportunizam vivência espiritual. A espiritualidade, experimentada e vivida entre o nascer e o morrer, é um elemento chave para que, no bem morrer, a pessoa possa tê-la numa função fundamental nessa transição. O ser humano tem a necessidade constante de ressignificar sua existência, precisando admitir sua finitude e atribuindo um sentido de vida também a essa fase de seu viver e bem morrer. O movimento que conduz a espiritualidade no bem morrer é a relação consigo mesmo, com a vida, com o outro, com a sociedade, com o universo, com a natureza e com Deus. Nisso está presente a ideia do ser humano em sua integralidade. A espiritualidade cristã é fonte de bem-estar, tanto no viver como no morrer. Expressa-se pela compreensão, interação e estar com a outra pessoa até o momento final. É visível no cuidar, no tomar conta, no assistir, no escutar, no tocar de forma verdadeiramente humana. Assim, o bem morrer é uma etapa essencial e parte de um caminho a percorrer. Eis uma tarefa especial de carinho e cuidado! elke.68@hotmail.com

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Grupo terapêutico e o apoio a pessoas enlutadas no contexto da comunidade eclesial P. Cleber Fontinele Lima

A sociedade pós-moderna apresenta, como algumas de suas características, o individualismo e a subjetividade no comportamento do ser humano. No contexto da igreja percebem-se confissões que promovem o indivíduo em prejuízo do comunitário. Neste sentido, a experiência de grupos terapêuticos, no espaço comunitário, se torna importante à medida que possibilita cuidado, dignidade, coletividade, vivência, consolo e sentimento de pertença a pessoas membros de uma comunidade religiosa ou não. Desse modo, portanto, a comunidade de fé torna-se um espaço fértil para o surgimento de grupos terapêuticos a pessoas enlutadas que se encontram em crise e vulnerabilidade. Luto como Processo O luto, em consequência da morte de um ente querido, acontece como um processo na vida de uma pessoa. Por esse motivo, se destaca a necessidade que a pessoa enlutada tem de tomar decisões para enfrentar, corajosamente, as consequências decorrentes do luto. O médico e tanatólogo Evaldo D’Assumpção embasa esta ideia quando afirma

que “diante de uma grande perda, de um enorme sofrimento, todos podem escolher dois caminhos, duas atitudes: ou se tornar vítima, curvando-se diante dos infortúnios e lamentando, incessantemente, às desgraças que lhe sobrevêm, ou assumir o papel de sobrevivente, aquele que luta para vencer as adversidades, que reconhece a impermanência de todas as coisas e, por isso, recusa-se a ser vítima” (D’ASSUMPÇÃO, 2003). Ao optar por não ser vítima, a pessoa enlutada estará dando um significativo passo para a solução de seus sofrimentos. Esta atitude a colocará em processo de alcançar novas perspectivas na vida, apesar da dor decorrente da perda de alguém querido. No processo de luto, por estarem envolvidos alguns dos sentimentos mais profundos da pessoa humana, é que se deve, com muito amor, carinho e cuidado amparar quem se encontra neste estado. A pessoa enlutada precisa compreender que, se sozinha não consegue vencer o seu processo de luto, então, terá que buscar ajuda, sendo que uma das formas para se conseguir ajuda são os grupos de apoio dedicados às pessoas enlutadas.

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O Grupo Terapêutico como apoio a pessoas enlutadas Todo grupo terapêutico precisa ser um lugar onde pessoas possam encontrar ajuda para suas dores. O psicoterapeuta Jorge Ponciano Ribeiro reflete que “no grupo, cada um de seus membros tem a oportunidade rara de ver o mundo e a si mesmo com os olhos do outro, de se ouvir com os ouvidos do outro, de se tocar com as mãos do outro, de se amar com o coração do outro, de se descobrir imensamente limitado e potencialmente divino, sagrado, mulher e homem, de carne e osso” (RIBEIRO, 1994). Desse argumento aprende-se que: a) a compreensão e a certeza que o grupo terapêutico precisa ser um espaço importante, onde se pode compartilhar sentimentos, emoções e ideias sobre o luto; b) que o grupo terapêutico precisa ser um lugar onde a pessoa enlutada encontre suporte físico e espiritual para o enfrentamento de suas dores. O grupo terapêutico precisa ser um ambiente de encorajamento que auxilie quem sofre a continuar seguindo e vivendo sua vida, apesar da dor de sua perda. A Comunidade Eclesial como Espaço Terapêutico Desde seus primórdios, a Comunidade Cristã compreendeu-se como um lugar do cuidado, do consolo e da cura. O apóstolo Paulo, ao comparar a comunidade cristã a um corpo

(1 Coríntios 12), teve esta preocupação ao lembrar as pessoas de Corinto que “...se um membro sofre, todos sofrem com ele; e, se um deles é honrado, todos os outros se alegram com ele” (BÍBLIA, 2017). No âmago desta afirmação está o sentido terapêutico de toda a comunidade eclesial. O teólogo e pastor Lothar C. Hoch confirma esta função cuidadora da comunidade eclesial, quando afirma que “Ser comunidade terapêutica significa ser comunidade solidária em situações de crise pessoal, doença, perdas, dificuldade de relacionamento familiar ou nas crises características que acompanham o ciclo vital” (HOCH, 1998). O espaço da Comunidade Eclesial é, por excelência, um espaço terapêutico. Nele as pessoas enlutadas podem encontrar auxílio, conforto e cuidado. Criar e desenvolver grupos terapêuticos de apoio a pessoas enlutadas no espaço eclesial reforçará, ainda mais, esta função cuidadora da comunidade. O Grupo Terapêutico no Espaço da Comunidade Eclesial Howard Clinebell defende que “uma igreja, de quaisquer dimensões, poderá suprir as necessidades poimênicas de muitos de seus membros através de diversos pequenos grupos de compartilhamento. Cada membro de uma igreja deveria ter essa oportunidade de passar pela afetuosa e alentadora experiência que é pertencer (a um grupo, no caso)” (CLINEBELL, 2007).

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Nesta afirmativa podem-se verificar dois pontos importantes: a) o enfoque do grupo terapêutico como um instrumento único de ajuda e comunhão dentro do espaço da comunidade eclesial; b) o reforço da relevância da criação destes grupos no ambiente eclesial. Sabe-se que a comunidade eclesial é um local importante para a criação de grupos de ajuda a pessoas sofridas, frustradas e, até mesmo, desesperadas. Por isso, incentivar a cria-

ção deste tipo de grupo no ambiente eclesial ajudará as comunidades a serem mais missionárias e próximas de seus membros. Não há como negar a importância dos grupos terapêuticos no espaço da comunidade eclesial. No que diz respeito ao acompanhamento a pessoas enlutadas, estes grupos são de vital importância. Ajudarão pessoas a vencerem seus medos, depressões, angústias e desânimos. cleberlimapiaui@gmail.com

REFERÊNCIAS BÍBLIA. 1 Coríntios. Português. Bíblia Sagrada. Edição Revista e Atualizada no Brasil. 3ª ed. (Nova Almeida Atualizada). Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2017. CLINEBELL, Howard J. Aconselhamento Pastoral: modelo centrado em libertação e crescimento. 4. ed. São Leopoldo: Sinodal, 2007. D’ASSUMPÇÃO, Evaldo A. Grupo de suporte ao luto (GSul). São Paulo: Paulinas, 2003. HOCH, Lothar C. Comunidade terapêutica: em busca duma fundamentação eclesiológica do Aconselhamento Pastoral. In: SCHNEIDER-HARPPRECHT, Christoph; HOCH, Lothar Carlos. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ACONSELHAMENTO; ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ACONSELHAMENTO 2., 1997, Gramado, RS. Fundamentos teológicos do aconselhamento. São Leopoldo: Sinodal, 1998. RIBEIRO, J. P. Gestalt-terapia: o processo grupal: uma abordagem fenomenológica da teoria do campo e holística. São Paulo: Summus, 1994.

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Hospital e Maternidade Rio do Testo Equipe do Conselho Hospitalar

Na década de 1920, por iniciativa do casal Karl e Rosa Borck, foram dados os primeiros passos para a edificação do atual Hospital e Maternidade Rio do Testo, em Pomerode, com a abertura de uma maternidade. Com o passar dos anos e o consequente aumento da população, no entanto, logo surgiu a demanda por um hospital melhor estruturado que, atendesse, também, outras necessidades da população. Sendo assim, um grupo de moradores abraçou o projeto de ampliação da estrutura, fundando uma Associação Hospita-

lar, responsável pela captação de recursos e que foi, inicialmente, administrada pelos senhores Max Jacobsen, Augusto Guilherme Schwanke, Mário Jung e Lauro Harbs. Com o apoio do Estado de Santa Catarina, a Associação adquiriu o terreno e as instalações da proprietária, senhora Rosa Borck, que foram, então, reformadas, e a Maternidade passou a ser denominada de “Hospital Nossa Senhora da Glória”. A construção das novas instalações hospitalares iniciou em 1949, mas, por falta de recursos, precisou ser

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Alemanha. Somente em 1958 foi possível adquirir um terreno adjacente que dispunha de uma nascente d’água. No ano de 1957, foi construído um novo prédio, ampliando o número de leitos para internação. Também nesse período, o Hospital recebeu doações da Alemanha que possibilitaram a aquisição de uma geladeira industrial, de um aparelho de raio-x, de uma ambulância e de um gerador de energia.

O casal fundador, por ocasião de suas bodas de prata, em 1945. interrompida por alguns anos, até poderem ser retomadas, somente em 1954. Com a chegada do Pastor Edgar Liesenberg, no ano final de 1953, sugeriu-se que a Paróquia Evangélica de Confissão Luterana Rio do Testo assumisse a instituição, que estava passando por dificuldades financeiras. Com isso, a partir do dia 8 de fevereiro de 1956, ela passou a ser, oficialmente, denominada de “Hospital e Maternidade Rio do Testo”. O Hospital passou, nesta época, por tempos difíceis. Equipe médica e demais funcionários precisavam trabalhar com recursos limitados. A energia elétrica sofria muitas quedas, por esse motivo foi comprado um gerador com recursos vindos da

No ano de 1966, problemas administrativos causaram divergências entre a diretoria, Pastor e diaconisas. Nesta ocasião, as irmãs Frieda Klaus e Ilse Krieck abandonaram o Hospital. O Pastor Edgar Liesenberg enviou, então, uma carta à diaconisa Anita Güenther, solicitando seu retorno a Pomerode para assumir a direção do Hospital. Schwester Anita, como era conhecida, pensou bem antes de voltar. Disse ela: “Fiquei na dúvida, pois sabia que a Casa Matriz [de Diaconisas] jamais permitiria que outra irmã fosse enviada para o lugar onde duas já tiveram problemas. Eu me senti chamada a ajudar o hospital da minha terra natal. Pedi à direção da Casa Matriz para me liberar e recebi um ‘não’ como resposta”. Mas, esta resposta não impediu que ela ouvisse o chamado, mais forte, vindo do seu coração e que exigiu dela um grande sacrifício: Schwester Anita precisou renunciar à Irmandade para aceitar o convite do Hospital: “Pedi a Deus que me desse um sinal de que estava no caminho certo. Nesse momento, a enfermeira Sélia

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Gruhle disse que se eu voltasse a Pomerode, iria junto. Foi a resposta que Deus me deu. Foi uma decisão difícil, mas, às vezes, nos deparamos com situações em nossa vida em que temos que fazer escolhas”. Mas, antes de assumir a direção do Hospital, Schwester Anita ainda precisou substituir uma Irmã no Lar Elsbeth Keller, de Blumenau. Ali, ela permaneceu por um ano, aprendendo a dirigir uma instituição. Finalmente, no dia 30 de outubro de 1967, Schwester Anita retornou à sua terra natal para assumir a direção da instituição criada a partir da Maternidade Rosa Borck, onde ela havia vindo ao mundo, em 8 de julho de 1920, como a primeira criança nascida neste local. Schwester Anita conduziu o Hospital com muito zelo e carinho. Ao lado da enfermeira Sélia Gruhle, superou muitas dificuldades e desafios. Manteve, por um longo tempo, um inter-

nato de meninas, que recebiam uma formação básica para auxiliar nos trabalhos do Hospital. Um grande avanço foi a construção do centro cirúrgico, inaugurado em 1969. Novos equipamentos foram adquiridos e o pronto atendimento recebeu melhorias. Na década de 1980, foi instalada a ala pediátrica e foram construídos os consultórios médicos. Além de ser administradora do Hospital, Schwester Anita tinha um grande envolvimento com a comunidade local – na OASE, na Fundação Cultural, na Comunidade Evangélicoluterana, no Grupo Folclórico Pomerano – o que facilitava o seu trabalho, principalmente, quando havia a necessidade de buscar recursos financeiros para o Hospital. No ano de 1997, o Hospital recebeu a doação de um moderno equipamento de videolaparoscopia, do empresário Wander Weege. Em

A diaconisa Anita Güenther.

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A Maternidade, originalmente mantida pela Sra. Rosa Borck e edificada em 1920. 2001, foi construído um novo prédio, onde estão centralizados o setor administrativo, sala de reunião, necrotério e a capela. Em 2010, foram adquiridos um novo mamógrafo e um novo aparelho de raio-x com recursos do bazar da Receita Federal. Em 2009, o Hospital passou por várias reformas na cozinha e na lavanderia, que possui estação de tratamento de esgoto e possibilita o reaproveitamento da água para a jardinagem. Desta forma, com o crescimento da

estrutura física e a modernização dos equipamentos, o Hospital e Maternidade Rio do Testo passou a atender toda a região. A comemoração do centenário do Hospital traz à memória o importante serviço diaconal exercido pela comunidade pomerodense. Nessa instituição passaram milhares de pessoas para receber tratamento e cuidado, bem como muitos profissionais que os realizaram. Inúmeras pessoas ali trabalharam e continuam tra-

O Hospital e a Maternidade, em 1957.

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Vista aérea do Hospital com a Maternidade iniciada pela Sra. Rosa Bork, em 1957.

balhando nas mais diversas áreas em favor da vida. Gratidão especial merece a senhora Rosa Borck, o Pastor Edgar Liesenberg, a Schwester Anita Güenther, personalidades marcantes que não mediram esforços para que a saúde, em Pomerode, tivesse prioridade. Agradecemos, também, a toda equipe médica, profissionais de

todas as áreas do Hospital e Ministros/as que olharam e que olham com carinho e cuidado para o nosso HMRT. Acima de tudo, também, é tempo de agradecer a Deus por um século de história: “Até aqui nos ajudou o Senhor” (1 Samuel 7.12). Que o bom Deus continue nos abençoando no futuro. Amém! Equipe do Conselho Hospitalar (47) 3395-3800, Pomerode - SC

Vista aérea atual do Hospital e Maternidade Rio do Testo.

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Igreja em processo de desintegração? P. em. Friedrich Gierus

Para o ano passado, a IECLB escolheu o tema “Viver o Batismo”, acompanhado pelo Lema: “Eu escolhi vocês para que deem fruto” (João 15.16).

aceitação mútua, numa convivência em paz, em respeito mútuo, na solidariedade e no perdão, quer dizer, no exercício do sacerdócio.

O tema “Viver o Batismo” nos leva à pergunta: Como posso fazer isto na minha vida? O batismo nos coloca numa relação íntima com Deus. Recebo o Espírito Santo. Ele me conscientiza de que sou discípulo de Jesus e, ao mesmo tempo, sou filho ou filha do Trino Deus. E na medida em que estou crescendo, aprendo no culto infantil, no ensino confirmatório, nos cultos, estudos bíblicos e reuniões para as quais a minha comunidade convida, sou instrumento nas mãos de Deus que me capacita viver o batismo no dia a dia.

Lendo sobre a história da nossa Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) e seu desenvolvimento histórico a gente fica meio decepcionado. Se todos os seus membros vivessem sua fé de acordo com a orientação da Palavra de Deus, deveríamos registrar um crescimento correspondente. No entanto, as estatísticas nos contam outra história.

Primeiro, me conscientizo de que faço parte de uma comunhão de pessoas, de uma comunidade e assim também sou integrante da Igreja. E assim, cada um, individualmente, como toda a igreja, somos convidados e motivados a dar fruto do ensinamento de Jesus. Nós, então, somos testemunhas, somos sacerdotes que vivem o seu batismo no dia a dia. Quer dizer, praticamos o que Jesus disse para seus discípulos: Ide, fazei discípulos de todas as nações... (Mateus 28.19) e amai uns aos outros assim como eu vos amei! (João 113.34). Somente estas duas orientações que Jesus deu, deveriam ter o fruto do crescimento da Igreja na

Dados históricos publicados em jornais da Igreja No jornal “Voz do Evangelho”, de fevereiro de 1971, o Dr. Joachim Fischer escreve no seu artigo A presença Luterana no Brasil, página 3: “O protestantismo continua a representar minoria no Brasil. Seu ramo mais numeroso é constituído pelos diversos grupos pentecostais, em atuação desde 1910. Do grupo de denominações, do chamado protestantismo histórico, porém, a maior é a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil. De acordo com os últimos dados estatísticos publicados (1968) 644.000 pessoas estão a ela filiadas. Conta com 300 pastores que assistem 1.214 comunidades e atendem a 325 pontos de pregação”.

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No 2º Concílio da Região Eclesiástica IV, em julho de 1971, foram levantadas perguntas no que diz respeito ao número insuficiente de pastores, sabendo-se das necessidades do cuidado da Igreja junto aos membros que se transferem tanto para novas áreas de colonização, como para os centros urbanos. Nesta oportunidade, foi explicado que, até o ano de 1980, é prevista a saída de 158 pastores por motivos de aposentadoria, regresso à pátria e outros fatores. Por outro lado, prevê-se a formação em torno de 150 e a vinda de 40 pastores do exterior (Voz do Evangelho, outubro de 1971). O VIII Concílio Geral da IECLB, que aconteceu em Panambi, nos dias 19 a 22 de outubro de 1972, foi solicitado “ao Conselho Diretor que procure ampliar, com todos os meios ao seu alcance, o cuidado da Igreja junto aos membros que se transferem tanto para novas áreas de colonização, como para os centros urbanos e que esta ação da Igreja, porém, não se limite a arrebanhar e pastorear os membros, mas de motivá-los a uma mais ampla divulgação do Evangelho no seu meio ambiente”. O Concílio resolveu, ainda, “autorizar o Conselho Diretor que estude, coordene e promova a execução de um planejamento financeiro mais agressivo, com o objetivo de ampliar as bases econômicas próprias da IECLB”. Dados do Portal Luterano Na publicação de dados estatísticos

da nossa Igreja pelo Portal Luterano em 2020 consta: “Em geral, as estatísticas têm a fama de serem algo complicado, por isso, há certa aversão a elas. Mas a verdade é que elas nos permitem saber quem somos, quantos somos e onde estamos. E com esses dados sobre nós, podemos planejar as nossas ações missionárias em prol do futuro que desejamos. Em outras palavras, as estatísticas nos oferecem uma visão essencial para saber ‘onde’, ‘para quem’ e ‘para que’ direcionaremos os nossos esforços e recursos por meio das ações missionárias. As estatísticas da IECLB 2017, ano base 2016, apontaram que somos uma Igreja de 643.693 membros, que em sua grande maioria, residem em cidades de até 50 mil habitantes. Os dados estatísticos mostram, também, que avançamos no crescimento do envolvimento das lideranças no acompanhamento aos processos de decisão, com maior participação das mulheres. Temos uma grande riqueza teológica e um modelo eclesiológico participativo. Mas elas, também, apontam para áreas e públicos, dentro das comunidades, para as quais precisamos dar atenção, por exemplo, o sacerdócio geral, pela educação cristã contínua, e a juventude”. Assim, também, foram levantados os dados estatísticos com base no ano de 2018 e contou-se que “o Total de Pessoas Membros na IECLB é de 644.286 – de acordo com a comuni-

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Processo de individualização

cação da Secretaria Geral em abril de 2020.” - Quer dizer, desde 1971, praticamente, não houve crescimento algum, falando em número de membros. No entanto, o número de obreiros e ministros que trabalham na atualidade, nas comunidades e campos de missão, impressiona:

Eu, pessoalmente, analisando o trabalho da IECLB em todos os campos, acredito que estamos sofrendo um processo de individualização na sociedade em geral. Não tenho os dados do Brasil, mas na Alemanha cres-

Fica a pergunta: Por que a nossa Igreja não cresce, digamos, não consegue corresponder à expectativa de Jesus, quando falou: “Eu escolhi vocês para que deem fruto...?” Não é que a direção da Igreja, os Sínodos e Concílios da IECLB não se preocupem com esta orientação de Jesus. Sim, foram desenvolvidos programas específicos em busca de melhor atendimento aos membros da Igreja, acompanhá-los na migração, em seus campos de trabalho, nas fábricas, nas cadeias, levando em conta o número, cada vez mais crescente, de pessoas idosas, no trabalho da e com a OASE, da e com a Juventude. E, mesmo assim, não conseguimos registrar um crescimento em termos de estatística.

ce o número de indivíduos que vivem sozinhos. Em 2018, vivia 22,5 % da população em solidão por motivos diversos. No momento em que escrevo este artigo, passamos, aqui no Brasil, numa situação de emergência por causa do corona vírus. Isolados, forçosamente abandonados, apenas nos comunicando via whatsapp, facebook, e-mails etc. Fato é que a comunicação moderna é uma das razões porque as pessoas não saem mais de casa, se satisfazem em assistir TV e na comunicação virtual. Outra observação: As pessoas não estão mais inclinadas a assumir o compromisso oficial de permanecerem juntas no seu convívio em matrimônio. Não estão mais a fim de seguir a orientação de Jesus, quando disse: O que Deus uniu não o separe o ho-

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mem (Cf. Mateus 19.6). Um matrimônio não oficializado deixa a porta aberta para a separação a qualquer momento e por qualquer razão. Assim, surge a individualização, e crianças não sabem mais onde preferem ficar: com o pai ou com a mãe. Isso, também, é um dos motivos porque o culto infantil é menos frequentado. Às vezes, penso que as nossas comunidades tradicionais não conseguiram se desfazer da tradição e da caraterística dos clubes de tiro ao alvo, do bolão ou do futebol. A gente participa sem grandes compromissos, paga sua contribuição ou não. Mas, nas festas grandes, “todo mundo” participa, sem compromisso, talvez para encontrar um parente ou ganhar na rifa... Voltando para a palavra de Jesus, o tema da IECLB: “Eu escolhi vocês

para que deem fruto”. É óbvio que a direção da Igreja, escolhendo este lema, pretende conscientizar as comunidades para que seus membros reflitam sobre sua razão de fazer parte da Igreja e assumir atitudes que correspondam à Palavra de Deus. Ser cristão significa fazer parte do povo de Deus, dando testemunho do seu grande amor, demonstrado através de Jesus Cristo, morrendo em solidariedade com a humanidade na cruz e ressuscitando para uma viva esperança. Por esta razão uma igreja somente pode ser um corpo dedicado a dar testemunho deste amor de Deus. Se, ainda assim, surgem na IECLB grupos que difamam a Igreja declarando-se os únicos cristãos autênticos, não compreenderam porque Cristo morreu na cruz. f.gierus@terra.com.br

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Igreja Luterana em Rondônia: já faz 50 anos P. Claudir Burmann e Pa. e Psic. Elke Doehl

Relatos apontam que, no final da década de 1960, algumas pessoas luteranas do Espírito Santo rumaram ao Território Federal de Rondônia. Conta-se que foram dez dias de viagem, inclusive por caminhos em que não havia estrada. Mesmo assim, essas pessoas motivaram seus familiares e parentes a se arriscarem também, se estabelecendo no vilarejo chamado de Pimenta Bueno, no ano de 1969. A partir dali, adentraram florestas através de “picadas” e rios, especialmente pelo Rio Melgaço. E, apesar de todas as dificuldades, era a esperança de realização do sonho de alcançar uma vida melhor. Apesar dos meios de comunicação serem muito diferentes da atualidade, a notícia de que havia “terra boa e barata”, em Rondônia, se espalhou. E a ida para Rondônia se intensificou no começo dos anos 1970. Famílias carregavam apenas alguns poucos objetos pessoais para facilitar a mudança e migravam. “Paus-de-arara”, caminhões com a carroceria coberta com lona e adaptada para transportar pessoas, chegavam lotados de migrantes. Estava em curso um grande deslocamento de pessoas que impactava decisivamente o local de onde saíam e onde se estabeleciam.

Transformações na sociedade A constituição de Comunidades Luteranas em Rondônia é resultado de um grande movimento migratório. Desde a década de 1950, foi se intensificando a migração de pessoas das áreas rurais para áreas urbanas em todo Brasil. Ao mesmo tempo, ocorreu a migração de uma região para outra região do país. Pessoas e famílias do Rio Grande do Sul e de outras regiões migraram, especialmente, para regiões do Paraná. Posteriormente, gaúchos, catarinenses e paranaenses migraram para o centro-oeste, especialmente para o Estado do Mato Grosso. Outro movimento migratório se deu do Estado do Espírito Santo e de algumas regiões do Nordeste, em direção a Rondônia. De um lado, existiu interesse pela saída de levas populacionais de determinadas regiões. Foi crescendo a dificuldade de sobrevivência em pequenas propriedades, diante da subdivisão fundiária entre filhas e filhos herdeiros. As políticas governamentais não eram favoráveis à agricultura em pequenas propriedades. E havia dificuldade para acompanhar os processos de “modernização” e mecanização da agricultura.

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Por outro lado, houve interesse pela acolhida desses migrantes em outras regiões do Brasil. Consideravam-se determinadas regiões do país como “vazios demográficos”, não reconhecendo os direitos de povos indígenas e migrantes anteriores residentes naquelas regiões. O surgimento de Comunidades Luteranas, em Rondônia e outros locais da Amazônia, tem esse pano de fundo e integra essa história de deslocamentos sociais. Sempre houve migração Fato é que deslocamentos populacionais, na forma de migração, perpassam a história da humanidade. Em determinadas conjunturas e contextos, se intensificam. O próprio processo civilizatório é fruto do movimento permanente de pessoas em e entre espaços geográficos, ora conhecidos, ora absolutamente desconhecidos. Povos e civilizações sempre se expandiram a novos locais de vida através da dispersão migratória, ora de curta ou média distância, ora assumindo trajetória intercontinental, dependendo das condições e possibilidades de sobrevivência. A vinda de imigrantes ao Brasil, originando a Igreja Luterana, faz parte desse processo. As razões para a dispersão migratória incluem causas naturais, fora do controle humano, como também causas resultantes da ação humana. Dentre as causas naturais estão secas, enchentes, terremotos, vulcões, pestes, doenças. As causas motiva-

das pela própria ação humana abrangem empobrecimento de camadas populacionais pela exploração econômica entre classes sociais, descoberta de novas tecnologias, guerras, bem como a ambição pela expansão de novos territórios de domínio. Mas, há, também, anseios humanos de cunho subjetivo, inclusive relacionados a questões religiosas. Sabese, por exemplo, que no contexto europeu (Silésia) grupos de pessoas teriam emigrado para os Estados Unidos na década de 1830 com motivação religiosa por não concordarem com o processo de unificação da chamada Igreja Prussiana (Unierte Kirche), uma reestruturação eclesiástica na conjuntura da época. Seu desejo era por um lugar em que pudessem continuar a confessar livremente sua “fé evangélico-luterana”. A primeira comunidade luterana A 23 de julho de 1970, em Pimenta Bueno, foi fundada a primeira Comunidade Luterana em Rondônia. Conforme a Ata de Fundação, “sem prédio, sem patrimônio, sem pastor, e na mais genuína força do Santo Espírito de Deus, o sacerdócio real de todos os crentes reuniu uma dúzia [sic.] de famílias luteranas para fundar a primeira comunidade da IECLB em Pimenta Bueno. Martim Discher foi escolhido como o líder do grupo. Coube também a ele a tarefa da pregação da palavra nos cultos”. Na sequência, encaminharam correspondência à Presidência da Igreja,

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solicitando o reconhecimento da Comunidade, o que ocorreu em reunião do Conselho Diretor, nos dias 25 a 27 de setembro daquele ano. A criação da Comunidade foi fator decisivo para motivar o aumento da migração. Inicialmente, houve assistência de pastores e catequistas que atuavam no Espírito Santo. Entretanto, em outubro de 1972, no VIII Concílio Geral, a Igreja decide que devia acompanhar seus membros migrantes que iam para as cidades ou para regiões da Amazônia. Antes, já em julho de 1972, a Igreja enviara o primeiro Pastor a Rondônia para ali residir e dar assistência a todas as pessoas luteranas. Em pouco tempo, novas comunidades luteranas surgem em Espigão do Oeste e Cacoal. Com a intensificação da migração de luteranos para Rondônia, inúmeras outras comunidades se espalharam, levando a Igreja a investir, inclusive, em projetos sócio-diaconais a fim de suprir demandas a que o Estado não estava preparado para responder. Manter a identidade Na migração, ocorrem contatos com meios tanto naturais como sociais. Um grupo de pessoas pode se fechar em si na nova realidade em que se insere ou pode interagir com as pessoas do “novo mundo” e vice-versa. A formação de conjuntos de pessoas que possuem e aprofundam semelhanças é um dos resultados em movimentações migratórias, como meio de afirmação identitária e de

sobrevivência material e subjetiva. Uma série de representações simbólicas, como a ideia de “povo” em terra estranha com a manutenção do idioma de origem, hábitos e costumes, influi nessa afirmação de semelhanças entre si e diferenças em relação a outros no processo de construção das identidades. Assim, o cultivo da língua pomerana, o estilo de casas com suas cores características, culinária, o modo intenso de viver a fé cristã, dentre outros aspectos, tem sido parte das formas de manutenção de identidade, enquanto grupo social no novo contexto em Rondônia. Ocorre que, nos deslocamentos migratórios, o ser humano carrega consigo seu cabedal de valores, suas representações de mundo, um conjunto de capitais imateriais e intangíveis. É esse conjunto que lhe dá sustentação em ambientes nos quais as condições materiais e objetivas são desfavoráveis. Nesse sentido, a fé religiosa, de diferentes matizes, sempre desempenhou importante função para o reenraizamento dos conjuntos populacionais envolvidos nessas movimentações. Na organização de Comunidades Luteranas em Rondônia esse foi um fator fundamental para luteranos pomeranos enquanto grupo social. A migração continua A motivação da migração para a Amazônia e, especialmente, para Rondônia apresenta mais causas de

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iniciativa humana do que naturais. Interesses de cunho político e econômico foram preponderantes. Assim, não apenas migrantes capixabas, pomeranos e luteranos, foram atraídos para essa “nova terra”. “Sulistas” e muitos nordestinos foram atraídos pela possibilidade de uma área de terra para plantar, colher e “se dar bem”. Cada qual com suas formas culturais, contribuindo para a formação de jeitos próprios de vida. Apesar de resistências veladas, emergiu fluidez nos relacionamentos interculturais, resultando em

matrimônios entre quem é de “origem” com quem não o é. A partir da experiência de abrir caminhos, a migração continua. Apesar da legislação fundiária e ambiental ser mais rigorosa do que no século passado, muitas famílias continuam em busca de nova ou mais terra. Novos locais da Amazônia recebem famílias luteranas. Novas comunidades vão surgindo, após os 50 anos de presença luterana. E o Sínodo da Amazônia, com bravura, tenta dar o suporte que lhe é possível. Os autores residem em Joinville/SC pastorsinodal@terra.com.br

HUMOR O gerente chama o empregado recém-admitido à sua sala e inicia o diálogo: – Qual é o seu nome? – João - responde o empregado. – Olhe, – explica o gerente – eu não sei em que espelunca você trabalhou antes, mas aqui nós não chamamos as pessoas pelo primeiro nome. É muito familiar e pode levar à perda de autoridade. Eu só chamo meus empregados pelo sobrenome: Ribeiro, Matos, Souza... Só. E quero que o senhor me chame de Sr. Mendonça. Bem, agora quero saber: Qual é o seu nome? O empregado responde: – Meu nome é João Amorzinho. – Tá certo, João. Pode ir agora...

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Igreja pós-pandemia: Desafios e oportunidades Teólogo Henrique Luiz Arnold

A mudança de um século para outro sempre traz grandes implicações na dinâmica do mundo. Para a historiadora Lilia Schwarcz a pandemia da Covid-19 é o marco que registra o fim do século XX e a entrada no século XXI. Os futuros desdobramentos irão confirmar ou não essa hipótese. Já há sinais de mudanças. Talvez esse episódio possa ser dividido em a.c. e d.c. – antes e depois do coronavírus. Com a pandemia surge o desafio: suspender as celebrações e encontros presenciais! Repentinamente nos deparamos com muitas preocupações e perguntas. A principal delas é: “como será o cenário, quando voltar”? É complexo ter respostas e imaginar como vai ser o pós-

pandemia. Talvez, teremos um novo jeito de ser igreja e vivenciaremos uma “nova Reforma” na história do cristianismo. Desafios: Três paradigmas afetados A pandemia mostrou que temos, no mínimo, três paradigmas que foram um grande desafio no início e estão passando por uma “reforma”. Queremos refleti-los de maneira crítica e construtiva. 1) Templo como Igreja: É comum ouvir a expressão “Vou à igreja”. O templo, estrutura arquitetônica, tem sido sinônimo de igreja. Isso se tornou um paradigma cultural e modelador das nossas práticas pastorais e comunitárias. Com a impossibilidade da realização dos cultos instala-se uma crise. A pandemia nos confrontou com essa concepção de Templo como Igreja. Surge, então, o que poderia ser chamado de “virtualização do sagrado”. A igreja não é mais onde o pé físico toca, mas onde os dedos teclam num aparelho digital. O local de culto, a devoção e o ouvir a Palavra de Deus passa a ser de forma virtual, indo para além dos limites do templo. A crise nos lembra das palavras de Jesus: “Deus será adorado em espírito e em verdade”

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(Jo 4.19ss). Para o Apóstolo Paulo nós somos o templo do Espírito Santo (1Co 6.19-20). 2) “Sacralização” do Domingo: Com o isolamento social, experimentamos os dias da semana com pouca diferenciação entre eles, quase iguais, alterando, profundamente, o sentido de tempo. No cristianismo, o domingo manteve o aspecto do Shabbat (sábado) judaico. O final de semana, especialmente o domingo, concentra quase toda a prática pastoral, tornando-se como dia sagrado, assim como ocorreu com o conceito templo/igreja. A pandemia “tira o chão” da prática pastoral concentrada no domingo. Espiritualidade não é coisa de final de semana, especial-

mente no domingo. O desafio está imposto: superar a concepção de que o domingo é um dia sagrado por causa do culto. Não! Domingo é sagrado por causa da ressurreição de Jesus. E a espiritualidade é vivência diária da fé. 3) “Pastorcentrismo”: Esse termo tenta expressar as diversas funções que ministros e ministras acabam ocupando. Muitos, que resistiam ao uso da internet, das redes sociais e da transmissão virtual dos cultos, viram-se sem saída e tiveram que valer-se desses recursos, para continuar atendendo suas comunidades. A necessidade forçou a maioria. Talvez essa guinada tenha pesado para o “pastorcentrismo”.

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Logo, no início da pandemia, percebeu-se um grande esforço por parte de ministros e ministras da IECLB para estarem em contato com suas comunidades virtualmente. Surgiram vários vídeos, propostas de cultos online, mensagens em áudio, mandadas por WhatsApp, etc. Um esforço louvável por parte de quem teve que dar conta da demanda virtual sem uma formação específica para tal. O grande desafio, que esse cenário trouxe ao trabalho pastoral, é que o conteúdo, produzido e publicado virtualmente, precisa ser feito com certo grau de profissionalismo. Muitas pessoas leem, assistem e consomem nossos conteúdos sem se manifestar. As publicações na internet têm um alcance mundial e não podemos mensurar até onde o conteúdo que disponibilizamos irá chegar.

E a Igreja se fez bit: A pós-pandemia No decorrer da pandemia, pôde-se perceber o amadurecimento de diversas comunidades e paróquias em relação ao trabalho digital, bem como um maior número de ministros e ministras em busca de qualificação na área. Na IECLB a propagação da Palavra de Deus e o cuidado pastoral passaram a contar com o meio digital. Daí a afirmação: “E a Igreja se fez bit”. Mas por que, exatamente, nos lançamos no mundo digital com uma rapidez nunca vivida na história da nossa igreja? Um relatório de fevereiro de 2020, da We Are Social/Hootsuite, mostrou que, no Brasil, cerca de 150 milhões de pessoas (71%) está on-line. Em média, os brasileiros ficam conec-tados 9h17min, todos os dias! Desse tempo, 3h31min são dedicados às mídias sociais; 3h51min são utilizados para assistir a vídeos sob demanda (Netflix, Youtube, etc.); 1h41min consumindo streamings de música, como o Spotify; e, ainda, 1h14min, consumindo conteúdos em vídeo-games. Esses dados não podem ser ignorados. Possivelmente o cenário póspandemia nos levará a encararmos as novas tecnologias de maneira diferente, com menos estranheza e como ferramentas necessárias para o trabalho pastoral e o ser igreja. Será muito importante que as paróquias continuem a se preocupar em manter uma comunicação on-line eficiente.

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No período pós-pandemia, teremos uma oportunidade essencial para avaliar o que foi feito na comunicação digital das comunidades e paróquias. Daqui para frente, poderemos contar mais com a tecnologia. Olhar para a câmera, imaginando os membros das nossas comunidades do outro lado da tela, terá se tornado algo comum. É pouco provável que “igrejas virtuais” substituirão os cultos presenciais. O que aconteceu foi uma considerável expansão do alcance e, agora, pessoas que antes não participavam das atividades presencias por impossibilidades diversas, como distância, falta de tempo, idade avançada, motivos de saúde, entre outras, estão podendo ter acesso à sua “igreja virtual”. O cenário nos proporciona uma chance de expandirmos as fronteiras. Provavelmente, a grande tarefa póspandemia, nos meios digitais, será o planejamento guiado por duas perguntas: “O público é formado por

quem?” e “Onde está meu públicoalvo?” Respondidas as perguntas, precisaremos nos adequar à forma de linguagem, de acordo com o público escolhido, e identificar por onde as pessoas navegam. No mundo digital, as pessoas adultas e a terceira idade navegam, com facilidade e frequência, em redes como Facebook, Messenger e WhatsApp. Já os mais jovens frequentam o Instagram, TikTok etc. Os desafios estão ai. As oportunidades também! Já temos buscado alternativas nos meios digitais. Como dizia Lutero: “igreja sempre em reforma”. Esse é um momento oportuno para pensarmos possíveis diferentes formas de cuidado pastoral pós-pandemia. Certamente, podemos contar com a ajuda de Deus. É ele quem tem guiado sua igreja ao longo da história: “[...], pois é Deus quem efetua em vocês tanto o querer quanto o realizar, de acordo com a boa vontade dele” (Fp 2.13). henrique.luiz.arnold@gmail.com

REFERÊNCIAS BRANDALISE, Camila; ROVANI, Andressa. 100 dias que mudaram o mundo. UOL – Universa, 9 abril 2020. Disponível em: <https://www.uol.com.br/universa/reportagensespeciais/coronavirus-100-dias-que-mudaram-o-mundo/> Acesso em: 10. Jun. 2020. Digital in 2020. Global Digital Yearbook. Disponível em: <https://wearesocial.com/ digital-2020>. Acesso em: 10. Jun. 2020. LOPEZ, Neriel. Cristianismo pós-pandemia: impacto e oportunidades. São Paulo, SP: Editora Vida, 2020. SBARDELOTTO, Moisés. 'E o verbo se fez bit': a comunicação e a experiência religiosas na internet. Aparecida, SP: Santuário, 2012.

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Jaleco Branco ou Talar Preto? P. Dr. Deolindo Feltz

Meu sonho de criança era, algum dia, usar um jaleco branco com o nome no bolso. O sonho era um tanto desconecto, já que na cidade onde eu morava não havia hospital, posto de saúde, ou atendimento médico que pudesse inspirar algo nesse sentido. Concluí que ele poderia estar relacionado a dois outros contextos de saúde que eu frequentava: O Joaquim Dentista, onde tudo era arrancado, e a Odete da Farmácia, onde tudo era ajeitado. A psicologia diz que todo oprimido sonha, um dia, ser o opressor!

eram o suficiente.

Mais complicado do que reconhecer a inspiração para o meu sonho era torná-lo realidade. Nas proximidades de onde eu morava não havia contextos de formação que pudessem me oferecer a oportunidade de, algum dia, usar jaleco. E, mesmo que houvesse, os recursos familiares não

Mas, o jaleco branco me perseguia! Eu previa, na minha formação teológica, frequentar locais, vivenciar situações, conduzir momentos onde o talar falaria mais alto. Mas não! Era o jaleco que falava! No primeiro ano, me inscrevi para o pré-estágio numa casa transitória de crianças. Porém, a indicação do professor foi realizálo na enfermaria de uma instituição de longa permanência, junto a pacientes oncológicos, em fase final de vida.

O tempo foi passando e troquei de sonho. Da impossibilidade de usar um jaleco branco, comecei a pensar na possibilidade de usar um talar preto. Não só o dentista e a dona da farmácia, mas também o pastor da minha comunidade me despertou alguns sentimentos. Não me lembro se foi pela beleza dos cultos, ou pela tensão das aulas de Ensino Confirmatório. Enfim, aos 17 anos, fui “estudar para pastor” e, nos seis anos seguintes, fui preparado para usar um talar preto.

Mais adiante, nas aulas práticas de Clínica Pastoral, me inscrevi para ••• 154 •••


atuar numa ONG que cuidava de crianças pobres em São Leopoldo/RS. Uma vez que os contextos de atuação, para cada aluno, eram determinados por sorteio, acertei na loteria e fui encaminhado para realizar visitas no Hospital Centenário. No quarto ano, fui realizar o estágio prático numa paróquia com, aproximadamente, 10 mil membros. Era um contexto perfeito para realizar as mais diferentes atividades pastorais. No entanto, no primeiro encontro entre estagiário e mentor ficou acertado que a prioridade do estágio, coincidindo com a demanda da paróquia, seria o atendimento aos membros enfermos. Foram seis anos atuando em contexto de muito jaleco e pouco talar. Mas, as coisas não pararam por aí! Depois da faculdade foram várias as situações que indicavam a continuação da minha história com o jaleco. Cito a primeira e a derradeira. A primeira foi logo no PPHM. Fui enviado para uma cidade polo em cuidados de saúde, referência para tratamento e hospitalização de pessoas de uma extensa área geográfica, entre elas muitas famílias luteranas. Éramos a referência para atendimento pastoral destas famílias. Uma vez que minha casa era ao lado de um grande hospital e meu mentor tinha dificuldades com ambiente hospitalar, não foram poucas as visitas. A situação derradeira ocorreu em 2009, quando eu era pastor em Tangará da Serra/MT. No início da-

quele ano, encaminhei para a IECLB um projeto de estudos na Alemanha. O programa previa que todos os contatos - pessoas, instituições, locais eram de minha responsabilidade. Mas, havia um problema! Eu ainda não havia estudado alemão! Contando com tradução da internet, me inscrevi num curso de seis semanas intensivas, na cidade de Nürmberg. A “tradução real” do curso eu só descobri no primeiro dia de aula: visitação a enfermos, com aulas teóricas, de manhã, e inserções práticas no hospital, à tarde. Saí da Alemanha com uma certeza. Já que o contexto de jaleco sempre aparecia na minha história, quem sabe não estaria na hora de também vestir um. Escrevi um projeto de Capelania Hospitalar para o Sínodo Mato Grosso, para atender membros luteranos enfermos em Cuiabá/MT, e responsabilizar-se pelo serviço de assistência espiritual e religiosa do Hospital de Câncer de Mato Grosso. O projeto foi aprovado em 2010, começou em 2011, e já faz dez anos que uso talar preto e jaleco branco, com nome no bolso. Já se passaram 25 anos desde aquela experiência inicial na enfermaria de um asilo até hoje como Capelão Hospitalar de um Sínodo e de um Hospital. Mas, foi apenas recentemente que me dei conta de algo muito importante nessa trajetória: o jaleco nunca me perseguiu. Todas as situações em que ele apareceu na minha vida, mais que o talar, era uma forma de Deus me ajudar a não es-

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quecer do meu sonho de usar um jaleco, ao mesmo tempo em que me preparava, aos poucos, para vesti-lo algum dia. Ao longo dos anos e, ainda hoje, me pergunto se faz sentido talar e jaleco juntos. Onde Igreja e Instituições de Saúde combinam? Onde Saúde e Espiritualidade se encontram? Onde Medicina e Fé se reúnem para dar suporte? Onde o cuidado do corpo combina com o cuidado da alma? Onde o talar e o jaleco podem oferecer, juntos, o melhor caminho? Estas perguntas não são só minhas. Estudiosos e profissionais de várias áreas tem tentado respondê-las nos últimos 20 anos. Pesquisas são feitas, artigos são produzidos e eventos são organizados ao redor do mundo em busca das possibilidades de jaleco branco e talar preto ocuparem os dois lados de um mesmo leito. O que temos, até agora, com a longa história da humanidade, o resultado de pesquisas e os testemunhos de pacientes, familiares e profissionais é que a espiritualidade, a religiosidade, a fé e a esperança em Deus são elementos que aparecem com toda a força durante uma enfermidade e que, quando recebem o cuidado devido, se transformam na maior força para aceitá-la e enfrentá-la. Elas combinam perfeitamente e podem dividir os espaços ao redor do leito! E o que cabe ao talar preto no seu espaço? Fazer-se presente na vida das pessoas enfermas e de suas fa-

mílias, evitando que elas tenham que lidar com tudo isso sozinhas; fazerse presente de modo que elas percebam que, apesar da sua condição social, psíquica, física ou espiritual, elas são amadas e respeitadas pela sua comunidade; fazer-se presente e permitir que elas se sintam parte de um grande corpo, de uma comunidade; fazer-se presente e estender a elas aquilo que, antes da enfermidade, recebiam da comunidade; fazer-se presente e permitir que elas falem de seus medos, de seu sofrimento, de seu sonhos, de sua história, de suas dúvidas e de seu fim; fazer-se presente e ajudar a reorganizar/perdoar as relações fragilizadas consigo mesmo, com as pessoas e com Deus. Enfim, as possibilidades do talar preto ao lado do leito são muitas e podem ser percebidas se você se aproximar e se fizer presente. Lembrando sempre que, na enfermidade, toda a comunidade, simbolicamente, coloca o talar. Por último, gostaria de convidar nossas comunidades a considerar o lugar de jalecos em seu horizonte missionário. Além da enfermidade, outros dois momentos muito importantes da vida dos membros acontecem nesses lugares. O nascer e o morrer, a entrada e a saída. Não há dúvidas de que o talar preto precisa estar por perto para dizer: O Senhor guardará a tua entrada e a tua saída, desde agora e para sempre. Amém!

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capelania@hcancer.com.br


Mágoa ou ressentimento? Psic. Eliane Camila dos Santos

Não sendo possível esquecer o que nos machucou, é possível dar um novo significado para a dor. Vivemos em um mundo permeado por relações afetivas, de amizades, familiares, de trabalho e comunitárias. As nossas relações falam muito sobre nós, sobre quem somos e o lugar que ocupamos na vida e na sociedade. Nelas, projetamos nossas expectativas, anseios e investimos parte da nossa vida na manutenção de boas relações. Porém, nem tudo são flores e, eventualmente, quando algo não sai como o esperado, o outro pode vir a nos desagradar ou nos fazer algum mal, ferindo nossos sentimentos e quebrando a confiança, o que, por vezes, leva anos para ser construída, causando mal estar, dor e sofrimento. Tão logo esse sofrimento se transforma em mágoa, que pode se tornar em um ressentimento, um sentimento tão comum, mas pouco compreendido. De acordo com a obra Ressentimento (2011), da Psicanalista Maria Rita Kehl: “ressentimento é um termo que designa uma constelação de outros afetos negativos – raiva, inveja, ruminações vingativas, amargura. Acima de tudo, o ressentimento é uma queixa insistente, repetitiva, que não aceita nenhuma forma de desagravo. O que caracteriza o res-

sentimento é a persistência da mágoa, a repetição da queixa”. A mágoa é algo diferente do ressentimento, é algo que vivenciamos, nos entristecemos, mas em algum momento, passa, seja porque perdoamos, ou porque nos vingamos, deixando de ser importante. Ou seja, a mágoa tem seu tempo e em algum momento ela passa. Porém, o ressentimento é diferente. É como uma mágoa que não se supera, que a pessoa afetada não quer esquecer, permanecendo na lembrança e não sendo verbalizada ou tratada, sufocando-a no limite da dor. O ressentimento é alimentado pela pessoa que se sente vitimizada, injustiçada e, assim, preserva um vínculo negativo com alguém que não lhe reconheceu como importante ou que tenha ferido seus interesses. Apesar do mal estar que o ressentimento lhe traz, a pessoa ressentida relembra, inúmeras vezes, aquilo que lhe machucou, sendo que, no geral, queremos esquecer daquilo que nos fez sofrer e não manter, eternamente, uma dor que nos impede de seguir a vida. O prefixo “re”, de origem latina, já nos dá um indicativo do significado do termo ressentimento, ou seja, sentir de novo, apesar do tom pejorativo. Neste contexto, talvez seja importante, refletirmos sobre a função

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dessa mágoa em nossa vida, e qual o motivo de a mantermos viva? Segundo o filósofo alemão, Nietzsche: “O ressentimento é uma vingança imaginária e adiada”, ou seja, é como se a pessoa ressentida se voltasse o tempo todo para quem a feriu, alimentando a dor em tom acusatório e demonstrando um movimento vingativo embutido. Ressentir-se é atribuir ao outro a total responsabilidade pelo que nos fez sofrer e, deste modo, o ressentido se conduz a um beco sem saída: ao não assumir a responsabilidade sobre a própria situação, em busca, apenas, de uma vingança imaginária que, geralmente, é inconsciente. Diante disto, de que forma poderíamos não nos afetar pelo ressentimento? Uma das formas seria a própria defesa no momento em que a situação acontecer, e não estamos falando em agressividade, mas sim, de assumirmos uma posição ativa e não passiva diante da vida e do que nos acontece. O ressentimento é como uma submissão voluntária e, para não ser reconhecida por quem sente, se transforma em acusação permanente ao outro que a feriu, ou seja, ressentir-se, também, é uma forma de proteção. Não sendo possível uma reação ativa no acontecimento, será necessário em algum momento falar a respeito do que nos magoou, colocar

em palavras os sentimentos guardados e reavaliar a situação que ocorreu, para que seja possível uma auto avaliação e, assim, caso tenhamos alguma responsabilidade, assumir o que nos afetou. É importante lembrar que, ao nos relacionarmos com as pessoas, estamos sujeitos ao erro e corremos o risco de, também, sermos afetados ou magoados por estes com quem nos relacionamos, isso é relacionar-se, é viver num coletivo. Nossas demandas nem sempre serão atendidas, pois somos todos seres humanos, falhos e imperfeitos. Todos nós passamos por dores e prazeres, estamos em constante aprendizagem sobre a vida e cada um traz, em sua bagagem, sua própria história com experiências, vivências, ideias, pensamentos, opiniões, escolhas e lutas. O ressentimento é uma prisão que atormenta e impede uma vida plena e saudável psiquicamente. Segundo o Filósofo alemão Max Scheller “o ressentimento produz um envenenamento psicológico”, um perigo para a nossa saúde mental e emocional. Portanto, não sendo possível esquecer o que nos feriu, se pudermos nos acolher e acolher o outro que nos feriu, quem sabe, será possível dar um novo significado para a dor e conseguiremos alcançar um amadurecimento emocional e a capacidade de perdoar, pois o perdão liberta e nos permite recomeçar. psicologa@elianecamila.psc.br

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Mata, mata virgem e mato Elfriede Rakko Ehlert

Três historinhas a gente poderia tecer, vendo estas três palavras. Enfrentei, uma vez, um dos assaltantes na agência dos Correios de minha cidade. Haviam mandado todos os funcionários e clientes para uma salinha, fechada em seguida. Aparentemente, eu estava atrapalhando a ação deles. Apontando uma arma em minha direção, mandou-me ficar calma. Respondi: “Eu estou calma, mas parece que você está nervoso. Não tenho medo de morrer”! O assaltante empurrou o meu marido que caiu no chão. “Levanta-o, pois, na idade dele, não consegue levantar sozinho”, falei. De fato, ajudou de maneira bruta, mas não sem meter a mão num dos bolsos onde só havia um lenço. Depois, nos comandou, aos gritos, para a mesma salinha onde já se espremiam umas 20 pessoas, que aparentemente tremiam nas bases. Com voz abafada, pediam-nos que ficássemos quietos. Hoje, me admiro como não senti medo naquela ocasião. Talvez o assaltante não teria coragem de atirar para matar. Eram 11 horas da manhã. Quem sabe os tiros teriam chamado a atenção dos transeuntes ou, até, atraído a polícia... Será que existe uma ligação entre os termos “matar” e “mata virgem”? Conforme o dicionário, “mata virgem” é definida como “terreno, onde crescem árvores silvestres”. Em nosso país, encontramos, cada

vez menos, mata-virgem. “Virgem”, onde ainda ninguém pôs os pés ou explorou. Só podemos sonhar que, um dia, nós, humanos, não destruamos mais estas reservas de uma natureza ainda intocada e que, por isso, talvez, atraia a ganância das pessoas. E o “mato” que cresce no meio das hortaliças, que busca sufocá-las? Eliminá-las ou não? Quando é que nós somos obrigados a combater o “mato”? Uma vez Jesus, falando alegoricamente, observou: “Deixai crescer juntos até à colheita” (o trigo e o joio – “o mato” – conforme Mateus 13.24-46). Referia-se às pessoas, aos bons e aos maus, aos justos e injustos. Não dá vontade de fazer uma limpa, logo, separando os bons dos maus? Acredito que ninguém é totalmente ruim, assim como ninguém é inteiramente bom. Temos que dar chance. Quantas plantas medicinais já foram descobertas não pela destruição, mas deixando-as crescerem. Posteriormente, sua qualidade foi descoberta. Muitas vidas foram salvas com ajuda de plantas medicinais. Possuíam poderes, quase que, mágicos para curar doenças. Hoje, com tantas farmácias à nossa disposição, até esquecemo-nos da origem de nossos medicamentos. A natureza no-los forneceu e, ainda, fornece. hnzehlert@gmail.com

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Palavras cruzadas 2 P. em. Irineu Wolf

Solução na página 230

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Mundo virtual versus mundo real P. Rafael Coelho

Estamos perdendo a capacidade de pensar e amar, diante da liberdade de uso e expressão das redes virtuais? “A internet aproxima quem está longe e afasta quem está perto”. Uma das frases usadas que comprovam a realidade. A realidade virtual nos afasta de pessoas que estão ao nosso lado, pois esse encanto que a tela do smartphone provoca nos faz gastar horas a fio rolando a tela, lendo uma nova matéria, assistindo mais um vídeo, vendo mais um post e uma foto. Mas, também é verdade: ela aproxima quem está longe. Em tempos de pandemia e distanciamento social, que é exatamente o contexto no

qual escrevo esse texto, percebemos o quanto a Internet é uma ferramenta proveitosa que proporciona relacionamentos nesse mundo online. Reuniões, cultos, ligações em vídeo com família acontecem. Estamos experimentando muitas coisas boas por ver que a Internet pode aproximar aquelas pessoas que amamos. Até alguém falou: já imaginou o que seria enfrentar esse período de distanciamento social sem a Internet? Seria um sofrimento muito maior. Ao trazer a questão mundo virtual versus mundo real, e pensar sobre a nossa capacidade de amar e pensar, gostaria de propor uma reflexão sobre o nosso compromisso ao usar a realidade virtual. Assim, convido, também, a pensarmos sobre a liberdade que temos na rede social e

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quais são os limites dela. A liberdade cristã nos ensina que somos pessoas livres para servir – livres pela graça e escravas pelo amor. Também, leva a pensar nesse uso da liberdade cristã ao usar a rede social, compromisso de amor ao lidar com isso. Você já ouviu falar de BlackMirror? A série britânica (disponível na Netflix) traz uma leitura futurista (e perturbadora) do quanto o mundo avançado em tecnologia, diante de uma humanidade pecadora, pode trazer prejuízos. No sexto episódio da primeira temporada, chamado “Odiados pela nação”, a história gira em torno de mortes misteriosas que tinham em comum que as pessoas que eram assassinadas, eram sempre as que tinham a hashtag “#MorteA...” unidas ao seu nome, como as mais comentadas durante o dia. E, de fato, assim acontecia: a pessoa mais odiada nas redes sociais, diariamente, era morta ao final do dia. A mensagem que o episódio do BlackMirror quer deixar bem claro é que todos os que publicam uma hashtag são responsáveis pelos efeitos dela. Quando a polícia, pesquisando o crime, chegava a algumas das pessoas que publicaram a hashtag, elas escutavam da pessoa: “ah, mas não era nada demais, era só uma hashtag”. Essa análise nos faz perceber o quanto esse poder “inocente” nas palavras, que usamos nas redes sociais, pode ter um efeito devastador na vida de pessoas.

Quantas vezes você já abriu a sua rede social e viu ofensas gratuitas, diante da opinião diferente, acusações que ferem, palavras que machucam? Sendo redundante, precisamos lembrar: a realidade virtual é uma realidade. Existe apenas uma realidade e o virtual faz parte dela. O que falamos ali, também reflete o que temos no coração. A insensibilidade e o desamor, expressos no mundo virtual, refletem quem nós somos. Não é um mundo à parte do qual eu não sou responsável pelo que falo/ compartilho/publico ou que tem peso menor do que eu falo no “mundo real”. Martim Lutero, na explicação do oitavo mandamento no Catecismo Menor, ensina: Não dirás falso testemunho contra o teu próximo. O que significa isso? Devemos temer e amar a Deus e, portanto, não mentir com falsidade, trair, caluniar ou difamar o próximo; mas devemos desculpá-lo, falar bem dele e interpretar tudo da melhor maneira. Essa explicação é uma aula de reflexão para o que podemos aprender do nosso comportamento na rede social: não mentir, trair, caluniar (Fake News), difamar (ofensas na internet), mas desculpar, falar bem dele e interpretar tudo da melhor maneira (um exercício desafiador diante de redes sociais em que, naturalmente, percebemos exatamente o contrário). Sobre o que não fazer, falamos acima. Agora, o que fazer? Falar bem,

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desculpar, interpretar da melhor maneira. Quantos de nós somos capazes de abrir mão do nosso orgulho e das nossas defesas e argumentações em nome do amor e perdão que a fé em Jesus Cristo desperta e nos convida a viver assim? Por que é tão difícil lidar com as palavras também no mundo virtual? Jesus disse em Lucas 6.45 (NTLH): A pessoa boa tira o bem do depósito de coisas boas que tem no seu coração. E a pessoa má tira o mal do seu depósito de coisas más. Pois a boca fala do que o coração está cheio. O escritor Paul David Tripp nos ajuda na reflexão: “O problema das palavras não é problema de vocabulário. O problema das palavras não é problema de técnica. O problema de palavras é problema do coração”. Sim, essa é a realidade. O problema não é culpa da Fake News, do Facebook, dos grupos de Whatsapp, o problema não está na tela, mas está em quem está “atrás da tela”. Como diz o historiador Leandro Karnal: “A rede social é neutra, ela não é boa nem é má. Ela só é um ins-

trumento que reproduz o que alguém escreve, sente, digita. O ser humano é que é bom ou mau no uso da Internet”. É o problema da humanidade pecadora. É o problema do nosso coração. O mundo virtual e o real: o que a boca fala e o que o dedo digita são problemas do coração. Poderíamos parafrasear, “as nossas publicações falam do que o nosso coração está cheio”. Quem sabe uma rápida reflexão, trazendo à tona o que fazemos na rede social, já responderia à pergunta: do que o nosso coração está cheio? O Evangelho nos permite tirar coisas boas nessa lição: muitas pessoas se sentiram amadas, abraçadas, cuidadas, incentivadas através de uma mensagem, um vídeo, um culto online. Há várias maneiras! Escolha uma e, hoje mesmo, semeie algo bom na vida de alguém. O alcance é instantâneo e infinito. Possibilidades não faltam de transformar em bênção e instrumento de amor, agora mesmo, esse mundo virtual. Seja livre para servir e amar no seu falar, agir, compartilhar e postar. pr.rafaelcoelho@gmail.com Instagram: @rafael.jcoelho Facebook: rafael.jcoelho

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O clube dos 70 x 7 P. Adelmo Oscar Struecker

Em Mateus 18.21-22, encontramos uma preocupação do Apóstolo Pedro em relação ao número de vezes que uma pessoa precisa perdoar a outra pessoa. Vejamos o que diz: “Então, Pedro, aproximando-se, lhe perguntou: Senhor, até quantas vezes meu irmão pecará contra mim, que eu lhe perdoe? Até sete vezes? Respondeu-lhe Jesus: Não te digo que até sete vezes, mas até 70 x 7”. O Apóstolo quis ser generoso através dos números, pois as tradições dos rabinos falavam em perdoar até três vezes. A resposta de Jesus, no entanto, tomando-se em consideração o que Pedro disse, significa que o espírito de perdão vai muito além dos mesquinhos cálculos humanos sugeridos pelo Apóstolo. Prestemos bastante atenção ao que Jesus disse: “Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete”. Com estas palavras doces, generosas, suaves, Jesus Cristo formou um dos Clubes mais exclusivos do mundo – “O Clube dos Setenta x Sete”. É um clube famoso, raro também. Ao responder assim para Pedro, Jesus deseja que você perdoe seu irmão, seu par, sua esposa, seu filho, seu pai, seu empregado, seu patrão, seu vizinho, seu amigo, seu inimigo um número infinito de vezes, não somente quando isso lhe convém ou apenas 490 vezes. Às vezes, somos assim: perdoamos quan-

do isto nos ajuda, convém, quando há interesses não manifestos. Por exemplo, você conhece a história de um casamento que se desintegrou por causa de um sabonete? Pois é, o sabonete terminou na saboneteira e o marido achou que era tarefa dela repor o dito cujo. Ela, por sua vez, já que o banheiro é nosso, esperou que ele repusesse o sabonete. E a briga foi longe. Foram semanas e meses de discussão. E como o diabo anda em derredor procurando alguém pra devorar (1 Pe 5.8), o casamento terminou por causa do sabonete. A pergunta é: Como pode um sabonete acabar com um casamento? Porque nenhum dos parceiros foi capaz de dizer: “Chega. Isto não pode continuar. Sinto muito. Perdoe-me”. Amados. Para muitos o casamento virou um jogo de pingue-pongue. Fazer o outro errar. Quando o outro erra, eu ganho, eu vibro. Na verdade o casamento deveria ser um jogo de Frescobol, aquele jogo que jogamos na praia. Aí você vê maridos mergulhando na areia, esposas se espatifando nas águas para salvar uma bola mal colocada pelo companheiro. Seu casamento virou o quê? Pinguepongue ou Frescobol? Quando a palavra “perdão” é pronunciada, um verdadeiro milagre acontece. É um ato de sua própria

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vontade o que pode remover do seu coração o ressentimento e o desejo de punir a pessoa que o prejudicou ou enganou. Quando não perdoamos algo é como: tomar o veneno e querer que o outro morra. Esse veneno e raiva estão muito presentes quando surge um caso, nome moderno dado para o adultério. Hoje, temos até redes sociais especializadas feitas para trair. Por falar nisso: Você, marido sabe a senha do celular da esposa e vice versa? Se não sabem ou são proibidos de saber tem algo de errado no relacionamento. É melhor averiguar, porque depois que casamos não existe mais privacidade. Ele tem todo o direito de saber da sua vida e ela também. Quer ter privacidade, então, não case e, assim mesmo, sua privacidade pode ser invadida.

Jorge Maldonado, pastor, escritor e psicólogo, autoridade internacional em Terapia Familiar disse: “Uma das características mais importantes das FAMÍLIAS SAUDÁVEIS é a capacidade que seus membros possuem em se PERDOAREM MUTUAMENTE”. Desmond Tutu, Prêmio Nobel da Paz, Bispo Anglicano, da África do Sul, disse: “Sem perdão não há futuro. Sem perdão, o ressentimento cresce em nosso interior, transformando-se em hostilidade e raiva. O ódio consome nosso bem estar e, por isso, o perdão é um absoluto necessário para continuar a existência humana. O mundo estará à beira de um desastre se não perdoarmos, não aceitarmos o perdão e não nos reconciliarmos”. Mas os sentimentos de raiva e de

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ódio estão muito presentes nas famílias, onde o marido, por exemplo, durante anos, esteve no alcoolismo. Se ele procurou ajuda, precisa de compreensão e ajuda. Porém, esposa e filhos, normalmente não perdoam o passado de sofrimento, de angústia e dor. Querem, a todo custo, se vingar, fazendo o marido e o pai pagar pelos sofrimentos. O que ouço, muitas vezes, é isto: “Pastor, ele pensa que é tão fácil assim? Aprontou a vida toda e, agora, quer que nós perdoemos? Ele vai sofrer o mesmo que nós sofremos. Nós precisamos da vingança”. Amados. Nós, que vivemos em família e não podemos conviver bem sem o perdão. Viver juntos, debaixo do mesmo teto, esbarrando-nos uns nos outros, leva-nos, inevitavelmente, a pisar no pé de alguém ou ter seu pé pisado. Entretanto, o perdão é difícil para algumas pessoas. Em parte, motivado por causa de vários juízos falsos. Algumas das consequências da falta de perdão são: 1. Tendência ao distanciamento; 2. Aprofundamento das mágoas; 3. Raízes de amargura - (Hb 12.15); 4. Doenças Psicossomáticas. Algumas coisas que o perdão não é: O perdão não é justificar-se ou desculpar-se pelo pecado. Isto quer dizer que não se pressupõe mudança em sua atitude a respeito do certo e do errado. O perdão não requer que o pecado

seja esquecido. Eu ouço, às vezes, o seguinte: Quem perdoa e não esquece, não perdoou. Isto não é verdade. Há coisas, no passado da minha vida, que foram perdoadas, porém, não esquecidas. Deus tem este poder de perdoar e esquecer. Nós, infelizmente, não. Perdoar significa que, muito embora você se lembre da mágoa, você exclui a necessidade de punir a outra pessoa. O perdão não exige a negação de seu sofrimento, mágoa ou raiva. Dependendo do que aconteceu, pode levar tempo para que seus sentimentos de raiva, ódio, angústia, dor, sofrimento, vingança sejam superados. Perdoar é uma decisão. Às vezes, decidimos perdoar, mas os nossos sentimentos amargurados estão ainda bem presentes. O tempo nos ajuda a vencer estas agonias e dificuldades. De modo semelhante, perdão não significa abafar sua angústia. Qualquer mágoa traz consigo um sofrimento. Às vezes, pode demorar até que a ferida cicatrize, muito embora você tenha perdoado a pessoa que o ofendeu. Nós, humanos, não conseguimos jogar fora os nossos sentimentos como jogamos fora um saco de lixo. O perdão nem sempre significa uma reconciliação instantânea e plena. Mesmo quando você perdoa, pode passar algum tempo e esforço para que ambas as partes reconstruam a confiança. Dependendo das ofensas ou dos pecados envolvidos

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pode levar semanas ou meses até que um vá visitar o outro, por exemplo. Perdoar, também, não é fazer de conta que está tudo bem, mas o coração está fervendo de raiva. Outras vezes, já escutei isto: “Vamos fazer de conta que nada houve, está tudo bem e a vida segue”. Perdoar é olhar no olho do outro, arrepender-se, pedir o perdão e esperar que o outro esteja pronto e preparado a conceder o que está esperando, às vezes, já há muitos anos. Permita-me contar um exemplo: Um fazendeiro recebeu a visita de seu pastor. O reverendo, antes, tinha orado para que encontrasse as palavras certas para dizer àquele fazendeiro. Sua intenção era que o fazendeiro se reconciliasse com o seu vizinho, com quem não se dava há muitos anos por questões de divisas. Porém, toda exortação e toda eloquência do reverendo foram em vão. - Não, senhor pastor, disse o fazendeiro, faço tudo o que posso fazer de bom e estou sempre disponível para nossa igreja. Mas, fui ofendido de tal maneira, que é impossível fazer as pazes. O pastor então disse: – Estou vendo que nada posso fazer. Porém, antes de me despedir, será que podemos orar o Pai Nosso? – Pois não, senhor Pastor, respondeu o fazendeiro teimoso, pode orar e eu vou acompanhá-lo. E o pastor orou em voz alta a principal oração de todos os cristãos: “Pai Nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu

nome. Venha o teu reino. Seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dá hoje. E perdoa-nos as nossas dívidas. Amém”. O pastor levantou-se, despediu-se, pronto para ir embora. Contudo, o fazendeiro continuava a repetir, em seus pensamentos, o fim da oração do pastor: “... e perdoa-nos as nossas dívidas”, “... e perdoa-nos as nossas dívidas”. Meditando neste fim, disse consigo mesmo: Mas o “Pai Nosso” não termina assim. O pastor terminou na metade. A continuação deve ser: “Assim como nós também perdoamos aos nossos devedores...”. Neste momento ele ficou muito assustado. Pensou: Realmente, eu só posso orar o “Pai Nosso” até a primeira parte. Como estou de mal com meu vizinho e como não quero perdoar, como posso orar: “Assim como nós também perdoamos aos nossos devedores?”. Assustado, o fazendeiro correu atrás do pastor, pedindo que ele voltasse para casa para terminar a oração iniciada, pois estava disposto a estender a mão para o vizinho. Amados e amadas. Existem pessoas que oram o Pai Nosso sem se dar conta da profundidade e seriedade que estas palavras comunicam. Apesar de a oração comprometer com o perdão mútuo, cultivam o ódio e a amargura no coração. O orgulho as impede de viverem da graça do perdão. Isto é a teologia da cruz: onde o

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perdão recebido de Deus se encontra como perdão concedido ao próximo.

4.

Quem não perdoa adoece na alma, vai deformando-se e vai “apodrecendo” lentamente.

Uma pergunta sincera: Podes orar o Pai Nosso até o fim? Ou podes orar somente até a metade? Deus está pronto a te perdoar e te ajudar onde precisas perdoar e não consegues. Sabe, é triste ver uma pessoa que anda a vida toda amargurada, azeda, cheia de ódio por coisas pequenas e insignificantes, lá do passado, que não foram perdoadas. Se o teu coração está fechado para o próximo, as tuas orações e pedidos não chegam até Deus, mas ficam presas em teu orgulho e razão.

5.

A falta de perdão leva ao egoísmo e à hipocrisia.

6.

Perdoar mostra quem somos: pecadores.

7.

Perdoar é liberar o outro de uma culpa terrível.

8.

Perdoar é dar algo imerecido.

9.

Perdoar é sinal evidente de que Deus está no coração de quem perdoa.

Conclusão:

11. A única coisa mais difícil do que o pecado é não perdoar.

1.

Perdoar é dar outra chance para a pessoa.

2.

Perdoar é falar do Evangelho de Cristo.

3.

Perdão é manter saúde física e espiritual.

10. Não devemos carregar no coração o peso da mágoa.

12. O perdão é a faxina do coração, é a cura das memórias amargas. 13. O perdão zera as contas do passado e restaura relacionamentos. Pense nisto com carinho. facebook.com/ PastorAdelmoStruecker

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O legado espiritual dos alemães do Volga em minha vocação P. Cláudio Schefer

Com o manifesto da imperatriz russa, Catarina II, a Grande, em 22 de julho de 1763, colonos da Europa foram atraídos para a Rússia, ao receberem um lote de terra, isenção de impostos por vários anos e dispensa do serviço militar, além do direito de autonomia nos assuntos internos de suas comunidades, dinheiro para realocação e alguns empréstimos e benefícios para os ítens que produziam e vendiam. Mas, provavelmente, uma das razões mais importantes

pelas quais os estrangeiros decidiram se estabelecer no país foi porque eram livres para orar e construir suas próprias igrejas. Nos cinco primeiros anos após a assinatura do decreto, mais de 30 mil pessoas migraram para a Rússia, a maior parte delas a partir da Alemanha, sendo que 4.000 morreram na viagem e outros 3.000, nos primeiros duros anos. Elas se estabeleceram, especialmente, na área de São Petersburgo, no sul do país, nas regiões do Mar Negro e do rio Volga. Só na região do Volga surgiram mais de cem novas aldeias. Minha família, de sobrenome SCHEFER e Geier (lado paterno), FINK e Wilhelm (lado materno), é descendente de imigrantes alemães luteranos reformados que migraram do Palatinado alemão para a província de Saratov, no leste da Rússia, perto do rio Volga, perto da fronteira com o Cazaquistão, durante o reinado da imperatriz (czarina) Catharina II. Meus avós nasceram nas aldeias HUCK e HUSSENBACH no Estado de Saratov, Rússia.

P. Cláudio Schefer.

Com o advento do nacionalismo russo, no final do século XIX, os alemães do Volga perderam os privilégios concedidos no manifesto da Czarina Catarina II, como a isenção do servi-

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ço militar e pagamento de impostos, além da autonomia da administração da colônia. Como resultado, a maioria deles deixou a Rússia, após quase 150 anos em terras russas. Simplesmente, abandonaram terras, casas, escolas e igrejas em nome da liberdade. Alguns voltaram para a Alemanha, outros migraram para os Estados Unidos, Canadá, Argentina e, alguns, para o Brasil (1876 - Ponta Grossa/ PR). Os alemães do Volga, no Paraná, tiveram muitas dificuldades por conta das terras impróprias para o cultivo do trigo. Atualmente, as maiores concentrações dos descendentes dos alemães volguenses, no Paraná, se encontram em Imbituva e Palmeira. Meus avós, paternos e maternos, migraram para a Argentina, no início do século XX, entre os anos de 1905 e 1911. A política do governo argentino assentou os alemães em três partes do território: Alemães que vinham direto da Alemanha foram direcionados para a região da província de Córdoba, localizada na região conhecida como Pampa Argentino. Alemães católicos do Volga-Rússia, na província de Buenos Aires. Alemães protestantes do Volga-Rússia, preferencialmente, na província de Entre Rios. Nas extensas terras argentinas essas famílias dos alemães do Volga, se dedicaram à agricultura, tornando a Argentina autossuficiente em trigo e um grande exportador deste grão,

bem como de sua famosa “harina”. As comunidades protestantes, nas colônias dos alemães do Volga, especialmente na província de Entre Rios, reuniam famílias de várias tradições da vertente luterana. Havia famílias de tradição luterana e reformada. Em grande medida as famílias protestantes do Volga foram fortemente marcadas pelo movimento pietista ocorrido na Alemanha, a partir de 1650, sob a liderança do Pastor luterano Philip Jakob Spener. A Argentina abre suas fronteiras para os estrangeiros, especialmente europeus, de sorte que italianos, alemães, poloneses, húngaros, suíços e alemães do Volga-Rússia, entre outros, atravessaram o oceano em busca de uma vida melhor na América do Sul. Atribui-se ao político e diplomata argentino Juan Bautista Alberdi a frase que marcaria a história da Argentina a partir desses anos, 1860: “gobernar es poblar”. A escolha dos imigrantes recaiu sobre aqueles considerados honestos, inteligentes e civilizados. Assim, entre 1881 e 1895, o governo argentino pagou, aproximadamente, 136 mil passagens para imigrantes deixando portos europeus. O surgimento das igrejas protestantes na Argentina, especialmente luteranas, não foi nada fácil entre o final do século XIX e início do século XX. Especialmente, para os alemães que, por quase 150 anos, viveram na Rússia, isolados do resto da Europa, pois cristalizaram uma cultura religi-

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osa peculiar. Caracterizavam-se pela extrema ortodoxia luterana na disciplina e moral cristãs, com uma grande paixão pela música e canto. São conhecidos por seu temperamento forte, pela tenacidade de um espírito inabalável; eram e são, também, muito emotivos e teimosos, certamente, resultado de sua história marcada por muito sofrimento. Muitos não se adaptaram e se sentiam deslocados nas comunidades evangélicas luteranas existentes nas colônias alemãs em solo argentino. Assim, surgiram, no início do século XX, as comunidades evangélicas livres e independentes. Essas comunidades eram alimentadas, espiritualmente, por lideranças leigas, chamadas de Brüderälterste (presbítero ou ancião) que, aos domingos, reuniam as famílias para os encontros chamados de Versammlung (encontro), nos quais sempre alguém trazia uma palavra bíblica e sua interpretação permeada de muito canto comunitário. Um dos cantos mais conhecidos entre os protestantes do Volga era um antigo hino escrito por Henriette Marie Luise von Hayn (1724-1782): O, mein Jesu! Du bist´s wert, dass man Dich im Staube ehrt! A música é uma das marcas desse povo luterano do Volga. Em cada pequena comunidade, no interior da Argentina, contava-se com um grupo instrumental composto por violinos, violões e cítaras. Minha mãe, Ana Teresa, era uma excelente musicista de cítara e

tinha uma voz privilegiada para o canto. Vez por outra, passavam pastores/ missionários itinerantes que oficiavam os batismos e cultos com Santa Ceia. Um fato curioso era a forma de como celebravam a Santa Ceia, pois havia famílias de tradição luterana e outras de tradição reformada. No mesmo culto o pastor realizava a Santa Ceia com os luteranos, onde o altar recebia velas e cruz. E, em seguida, era celebrada com as famílias de tradição reformada, sem as velas e a cruz. Tudo isto para que houvesse paz e consciências tranquilas. As lideranças comunitárias entraram em contato com seus parentes que, em décadas anteriores haviam imigrado para os EUA, em busca de pastores de origem alemã e que conheciam o dialeto dos alemães do Volga (era o dialeto Hunsrück de 1760, que se cristalizou, sem sofrer mudanças em quase 150 anos). Assim, começaram a vir os primeiros pastores norte-americanos, descendentes dos alemães do Volga, que haviam encontrado seu lar espiritual na CONGREGATIONAL CHURCH OF AMERICA (Esta igreja se uniu com outras, recebendo a denominação UNITED CHURCH OF AMERICA) neste país. Assim, vieram vários pastores cujos sobrenomes eram todos alemães: Knerr, Schneider, Schaal, Schultz, entre outros. Surge, então, a Igreja Congregacional Evangélica na Argentina, funda-

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da em 24 de Junho de 1924, nas cidades de Concordia e Aldea San Antonio, na província de Entre Rios, tendo a cidade de Concordia como sua sede. O trabalho desses primeiros pastores frutificou a tal ponto que em 1937 já havia 35 congregações. Neste ano, 1937, nascem meus pais Emilio, em Nueva Viscaya, e Ana Teresa, em Los Charruas – Entre Rios – Argentina. No ano de 1951 ambos foram confirmados no mesmo dia, na mesma comunidade, onde já davam sinais de uma paixão recíproca. Meu pai, filho de agricultores, é o último filho de 11 irmãos e foi o único que recebeu a oportunidade de sair da colônia para continuar estudando, além da escolaridade básica nas escolas rurais. Em março de 1956, ingressou no INSTITUTO DE TEOLOGIA – Seminario para Predicadores em Concordia –, Entre Rios, Argentina, que desde 1940, vinha formando pastores para a Igreja Evangélica Congregacional na Argentina e Brasil, sob a direção de pastores da Congregational Church dos EUA. Hoje esta casa de formação se encontra na cidade de Urdinarrain – Entre Rios – Argentina, sob a denominação Instituto Superior Iglesia Evangélica Congregacional (ISIEC). No ano de 1960, meu pai realizou seu vicariato (Período Prático de Habilitação ao Pastorado) na paróquia de Aldea San António – Entre Rios – Argentina, colando o grau de Bacharel em Teologia no dia 25 de Novembro de 1960. Em seguida, re-

cebeu o seu primeiro envio para o Brasil pelo período de seis anos. Cumprido esse tempo, poderia, então, candidatar-se a uma vaga pastoral em alguma paróquia na Argentina. Porém, nunca mais voltou. Seu casamento com ANA TERESA FINK já estava agendado para o dia 23 de fevereiro de 1961. No mês seguinte, em março, o novel casal embarcou numa KOMBI VW, acompanhado do Pastor Valerius Schulz, alemão norte-americano e superintendente da Igreja Evangélica Congrega-cional no Brasil, para o seu primeiro campo ministerial na cidade de Três de Maio/RS – Brasil. O primeiro ano de atividade ministerial foi extremamente desafiador para este jovem casal vindo da Argentina, pois se deparou com um contexto cultural desconhecido, embora estivesse entre os alemães de origem do Hunsrück. A paróquia, que meu pai recebeu para pastorear, era 100% composta de ex-membros da Sinode Kirche, ou seja, da IECLB, que haviam se desentendido com seus pastores de origem alemã e pelo sistema financeiro (Beitrag) que não levava em conta a situação difícil dos pequenos agricultores, nivelando todos os membros sob o mesmo valor de contribuição. Isto fez surgir as comunidades livres (Freie Gemeinden) em vários municípios da região. Sua paróquia abrangia algumas comunidades nos municípios: Três de Maio, Independência, Horizontina e

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Dr. Maurício Cardoso. Além de algumas comunidades nos Municípios de Santa Rosa (bairro Cruzeiro) e Tuparendi. Nos primeiros anos, meu pai, P. Emilio Schefer, chegava até estas comunidades com a ajuda de um motociclo JAWA 250cc. Como, muitas vezes, furavam os pneus, optou por uma LAMBRETA, que tinha estepe, o que também foi muito desgastante. Só em 1965, adquiriu seu primeiro FUSCA 1200 – ano 1960. Minha mãe contava uma história que a fez querer voltar para sua terra logo no primeiro ano. Num domingo de manhã estava marcado culto com Santa Ceia numa pequena comunidade. Lá chegando, a maioria

dos homens fumava palheiro em frente à pequena capela. Anunciado que o culto iria iniciar, todos apagaram seus palheiros e os colocaram sob suas orelhas e, assim, se dirigiram ao altar para a Ceia do Senhor. Isto era escandaloso para os alemães do Volga. Minha mãe, de formação pietista ortodoxa, se chocou muito com aquela cena e chorou muito depois do culto e insistia em voltar para a sua terra. Foi em Três de Maio que nasceram seus três filhos: Cláudio, Rosália e Andreas. A nossa infância foi marcada pela intensa vida pastoral de nossos pais. Desde os primeiros anos meus pais fizeram muitas amizades em Três de Maio/RS e formaram um conjunto instrumental para cantar nos cultos e evangelizações. A maioria dessas pessoas eram da IECLB, entre as quais estava uma jovem moça de nome GISELA KUNTZ, que era balconista na loja GARRAFA, que veio a ser minha tia, pois casaria com o irmão de minha mãe, P. Samuel Fink, que, também, ficou no Brasil.

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Em 1972 meu pai se transferiu para Panambi/RS, pois o P. Erich Witzke havia falecido em consequência de um grave acidente. Assim, passei minha adolescência nesta cidade, até 1978 quando deixei o lar dos meus pais para seguir meus estudos em Ijuí/RS. Tive o privilégio, algo que custou muito sacrifício aos meus pais, de estudar nos colégios particulares, Educacional São Paulo (SETREM) em Três de Maio/RS e no Colégio Evangélico Panambi (CEP) na formação fundamental. Em Ijuí/RS, passei cinco anos no internato onde, simultaneamente, frequentei o Curso de Catequista no Seminário Congregacional sob a direção do P.Hartmut Hachtmann (atualmente FACTECON), e Ensino Médio no Colégio Estadual Rui Barbosa. Após a conclusão do Ensino Médio e Formação para Catequista, senti o chamado ao pastorado. Assim, continuei no Internato para cursar Teologia Pastoral no Seminário e LETRAS, na FIDENE (UNIJUÍ). Fiz meu Período Prático de Habilitação ao Pastorado em Santo Antônio do Sudoeste/PR, onde não existiam comunidades da IECLB, nem da IELB, sob a mentoria do P. Guilhermo Boos. Colei o Grau de Bacharel em Teologia no dia 1 de dezembro de 1985, recebendo o primeiro envio para a recém formada paróquia com sede em Cascavel/PR. Após 10 anos de ministério na Igreja Evangélica Congregacional no Brasil,

diante de drásticas mudanças ocorridas na mesma, trazendo um desgaste muito grande para a minha vida, quase desisti do ministério pastoral. Uma palavra mexeu muito com a decisão que tomei em conjunto com a minha esposa, Darli, foi a resposta recebida de um dos meus cunhados, a quem eu sondei sobre a possibilidade de trabalhar na sua empresa. Ele me disse, categoricamente, que não me daria esta oportunidade, pois eu deveria seguir a minha vocação e ele não desejava receber uma punição de Deus por ter-me afastado da missão que Deus me confiara. Foi por causa desta palavra, ainda que dita sem a pretensão de ser profética que, em 1995, procuramos a direção da IECLB em busca de uma oportunidade para dar continuidade ao ministério pastoral. A oportunidade foi-nos dada sob a direção do saudoso P. Humberto Kirchheim que solicitou-me, por escrito, um POSICIONAMENTO TEOLÓGICO e PRÁTICAS PASTORAIS que foi submetido, com um colóquio presencial na sede da IECLB em Porto Alegre, pela banca convocada pelo pastor presidente. Aprovado pela mesma recebi a oportunidade de passar um ano em São Leopoldo/RS, sob a mentoria do P. Dr. Martin Dreher, na paróquia do centro. E, desde 1997, estamos a serviço do Senhor na Paróquia Bom Pastor – Brusque/SC.

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A partir de 1996, meu pai e eu nos tornamos colegas ecumênicos. Certamente, o legado espiritual dos meus antepassados que deixaram a Alemanha, em 1763, para garantir sua sobrevivência na Rússia, às margens do rio Volga, e vendo sua liberdade ameaçada, em 1911, meus avós

foram para a Argentina e em nome da Missão de Deus, em 1961, meus pais vieram para o Brasil. Eu só posso fazer minhas as palavras do hino que meus antepassados, tantas vezes, cantaram: Digno és, ó meu Jesus, que te honre nosso ser! Que te honre sempre nosso ser. claudioschefer@ieclbrus.com.br

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O nosso fiel Roland! Rolando Ehlert

– O NOSSO FIEL ROLAND! Assim o Pastor local recepcionava Roland, quando o mesmo vinha para um encontro, evento, reunião, ensaio ou participação de grupos. Roland foi confirmado em 1948. O Pastor local convidou os ex-confirmados, de 1948 e de anos anteriores, para várias atividades que pretendia desenvolver na comunidade centro (Pomerode), aonde residia, mais especificamente, na casa paro-

quial. A esposa do Pastor, “Frau Pastor”, auxiliava nestes momentos. Dando início ao seu projeto, o Pastor convidou os recém-confirmados para um encontro de jovens, meninos e meninas. A data foi marcada e compareceram vários, um grupo consideravelmente grande, inclusive Roland. Essa reunião era dirigida, inicialmente, pelo Pastor e sua sra. esposa. Agenda desenvolvida: uma pequena devoção, oração e hinos. Eram lidas histórias e cantados hinos folclóricos. Realizavam-se, também, brincadeiras ao ar livre e jogos tais como “mico preto”, “trilha”, entre outros. Foi marcado o encontro seguinte. Mas nem a metade, em relação ao anterior, compareceu e, assim, sucessivamente. Sobrou apenas “Roland”, justificando a fala do pastor e sua esposa: “só nosso fiel Roland sobrou”. O Pastor era novo na comunidade. Veio em 1947. Queria reorganizar tudo, pois no decorrer da Segunda Guerra Mundial, praticamente em todo esse período não havia Pastor. Começou também com Culto Infantil. Foram convidados, pessoalmente, jovens, meninos e meninas, para comporem a equipe de “auxiliadores/as” e orientadores/as do Culto Infantil.

Roland Ehlert.

Foi definido o primeiro encontro de

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preparação para o próximo Culto Infantil (CI). Compareceram, principalmente, meninas, em torno de cinco, mas, é claro, o Roland não faltou. Para a segunda reunião de organização já faltaram algumas meninas. Roland, ainda muito novo, se preservava como ouvinte. Nunca faltou aos compromissos, tanto de preparação, como do Culto Infantil. As reuniões continuavam e quem permaneceu, único participante do planejamento para o próximo Culto Infantil, foi o Roland. O encontro acontecia na casa Pastoral. Quando Roland chegava, batia à porta. Era recebido pelo Pastor que lhe dava a mão puxandoo para dentro da casa, acolhendo-o e dizendo: “Entra, nosso fiel Roland”. Informava à esposa, Herta, em voz alta: “Herta, nosso fiel Roland chegou!”. Certa vez, num encontro do Culto Infantil, estavam presentes o Pastor, Roland e muitas crianças. De repente, o Pastor chamou Roland e anunciou para as crianças: – Crianças, hoje quem conta a história para vocês é o “nosso fiel Roland”. O Pastor sentouse junto às crianças e disse: – Roland, por favor, podes começar. Silêncio absoluto, Roland levantou, estava preparado, não costumava falar baixo e, em voz alta, contou a história bíblica. Finalizada a contação da história, o Pastor agradeceu, perguntando às crianças se haviam gostado da forma que Roland contou. Em coro, responderam: “simmmm”. Novo desafio. O Pastor perguntou

ao Roland se teria interesse em aprender a tocar flauta doce, notas musicais, partituras. Roland, entusiasmado, respondeu: – Com certeza. Para a primeira aula, novamente, foram convidados vários jovens (meninos e meninas). Compareceram meninas e Roland. Nessa aula, o Pastor apresentou as flautas de soprano, contralto (segunda voz), tenor, baixo e algumas notas musicais. Para a segunda aula reduziram-se os participantes: duas meninas e Roland. Terceira aula, conforme palavras do Pastor, “apenas nosso fiel Roland”. Seguindo os ensaios, formaram um quarteto assim constituído: soprano (menina auxiliar de serviços domésticos da Pastora), a sra. “Pastor” como contralto, Roland, tenor e o Sr. Pastor como baixo. Muitos ensaios foram realizados e se apresentavam em eventos na igreja centro e filiais da Paróquia. Houve troca de Pastor, mas Roland continuou auxiliando no Culto Infantil. Também, se tornou orientador de um grupo de jovens. Emergencialmente, ministrava sepultamentos e até cultos. Durante 40 anos de sua vida, atuou como professor e dirigente de encontros de Culto Infantil. Roland, no dia do seu batismo, 1º de julho de 1934, recebeu um Hinário e o Novo Testamento do Pastor, também Padrinho, o mesmo que o batizou. No Novo Testamento, registrou uma mensagemde Apocalipse 2.10:

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“Sê fiel até a morte e dar-te-ei a coroa da vida”. Roland sempre procurou, em sua vida, preservar a fidelidade.

• O segundo Pastor mencionado durante o relato era Edgar Liesenberg e sra. Gisela. Faleceram em Pomerode e também sepultados na mesma cidade.

OBSERVAÇÕES

• A história relatada aconteceu na Paróquia Evangélica de Rio do Testo, na comunidade centro e filiais em Pomerode – SC.

• O Pastor que batizou Roland foi Kurt Friege, alemão, e que voltou à sua Pátria. • O Pastor do relato era Pastor Gustav Schuttkus e sra. Herta. Eram alemães e voltaram à sua Pátria.

• O personagem Roland é o sr. Rolando Ehlert.

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O patinete Bernhard Schulz – Trad. e adapt. P. em. Dr. Osmar Zizemer

Maurício Isidoro de Matos, hoje, deve ter em torno de 50 anos. Ele é juiz numa cidadezinha do interior, cheia de mercadinhos, com dois postos de combustível, alguns barzinhos, três farmácias e duas sorveterias. Estas, no tempo de inverno, quando têm pouco movimento, também vendem artesanato e algumas quinquilharias trazidas de outro país. Durante algum tempo Maurício e eu fomos amigos. Lembro-me muito bem dele. Lembro-me até do jeito como ele se vestia e usava o seu cabelo. Hoje ele é juiz. E, quando está em serviço, veste sua toga e é uma autoridade respeitável e severa. Naquela vez, quando ainda éramos crianças, ele chegou a ser alvo de comentários de nossa localidade por causa de um roubo. Mas um roubo que, em verdade, nem fora um roubo. Aproximava-se o Natal, e Maurício desejava muito, muito ganhar um patinete como presente do Menino Jesus. (Obs.: Naquela época as crianças recebiam os presentes do Menino Jesus, do “Christkind”, e não do Papai Noel, do “Bom Velhinho”!). E durante todo o tempo de Advento Maurício dedicou-se a escrever bilhetes, nos quais punha o seu nome e endereço (Maurício Isidoro de Matos, Rua das Camélias, 518) e a seguinte frase: “Querido Menino Jesus,

eu quero muito, muito um patinete. Eu prometo ser sempre bem educado, estudioso, obediente e bonzinho!” Ele dobrava seus bilhetes cuidadosamente e os colocava nos mais diversos lugares: em frestas de muro, em potes de condimentos na cozinha, em livros de oração, em gavetas que quase nunca eram abertas... E ele acreditava piamente que estes bilhetes, misteriosamente, chegariam ao Menino Jesus. Quando o zelador da capela da localidade, poucos dias antes do Natal, começou a tirar a poeira das figuras do presépio e a levar ramos de pinheiro e musgo para a igrejinha, o nosso “escritor de bilhetes” conseguiu esgueirar-se para dentro da casa de Deus e esconder um de seus bilhetes na palha do presépio. Sua insistência foi premiada. Ele, de fato, encontrou um patinete embaixo da árvore de Natal. Nunca algum menino ficou mais feliz do que Maurício Isidoro, da Rua das Camélias, 518! Na manhã seguinte ele não largava o seu patinete! Ele andou, andou de patinete até ao meio-dia daquele primeiro dia de Natal, passando por quase todas as ruas da cidade. Então ele teve uma ideia: Foi até à igreja, entrou, foi até o presépio, pegou o Menino Jesus – a criança de cera – embrulhou-o num pano, e o levou

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junto em um passeio pelas ruas da cidade. Então o “roubo” foi descoberto. Uma senhora idosa, que queria rezar diante do presépio, viu que o Menino Jesus havia desaparecido. Não estava lá. Ela deu o alarme ao zelador. Este foi imediatamente até à casa do Pastor, e o Pastor foi dar queixa à polícia. O policial protocolou a denúncia: – Desde quando o Menino Jesus sumiu? Há testemunhas? Nome, profissão, idade? Qual é o valor estimado do objeto roubado? – Meus senhores, meus senhores –, o Pastor interrompeu o processo da tomada de protocolo, – o Menino Jesus não tem um valor estimado, e ele não é um objeto. Trata-se de ... No momento em que o Pastor queria começar a explicar às pessoas reunidas ali em torno do presépio o que é o Menino Jesus, a porta principal da capela se abriu, rangendo, e Mau-

rício Isidoro, da Rua das Camélias, 518, entrou com seu patinete trazendo um embrulho embaixo do braço. – O que é que você está trazendo aí neste embrulho? – perguntou o Pastor, surpreso. – Estou trazendo o Menino Jesus de volta –, respondeu Maurício. Ele me trouxe o meu patinete. E para agradecer-lhe, eu o levei para dar uma volta pela cidade. Eu queria que ele soubesse como é legal andar no meu patinete, e como eu estou feliz com meu presente. O pastor sorriu! Pois era um pastor sábio. O zelador recolocou o Menino Jesus cuidadosamente sobre a palha do presépio; o policial guardou o seu caderninho de protocolo e, ainda hoje, se conta a história do menino Maurício Isidoro, que fez um tour de patinete com o Menino Jesus pela cidade... O senhor juiz... osmar.zizemer@terra.com.br TRETROLLER; em Eilen wir zum Hause des Kindes, pág. 28ss.

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O real e o virtual na visão de um leigo Eng. Ivonir A. Martinelli

Quando a atual geração de idosos volta os olhos para sua infância, identifica grandes diferenças, mesmo sendo elas pequenas se comparadas às mudanças que marcaram a humanidade para sempre, como guerras ou revoluções. Acontecimentos como os primeiros momentos do pós-guerra, a revolução social dos jovens em 1968 a partir de Paris, a queda do muro de Berlim e da União Soviética, o ressurgimento do império chinês, o acelerado crescimento da população mundial, a degradação incontrolável do meio ambiente e outros se incorporaram à sua história de vida. Mas o evento da informática e suas consequências ainda não foram ab-

sorvidos pela falta de percepção do alcance dessa nova ciência. O idoso vive um mundo novo em ebulição e o que, um dia, parecia fantasia, hoje, se apresenta como realidade, ou seja, o que parecia real, hoje, é virtual porque as telas parecem transformar matéria em imagens. Para as novas gerações o desenvolvimento virtual, entendido como o universo sem matéria, é tão presente, é tão absorvedor de suas energias, que lhes parece real o turbilhão de ideias e imagens vividas nas telas de computador ou de celular. E parece, cada vez mais, perturbadora a incapacidade dos jovens de discernir essa diferença.

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Está em formação uma geração de soberbos, de segurança desmedida que lhe permite, desde jovem, a sonhada superioridade sobre as gerações mais velhas por saberem manusear ferramentas tão poderosas na interação social. A sabedoria dos velhos será desconsiderada ante a capacidade de uma criança em acessar conhecimentos, embora de forma inadequada e, por vezes, enganosa.

obscura desse atual ambiente das motivações midiáticas. Isso ocorre como resultado ou consequência da pluralidade de ideias, da relatividade das convicções e da vacância de princípios éticos e morais. Para administrar a profusão de notícias com que é bombardeada, a sociedade precisa repor a análise objetiva dos fatos, buscar discernimento do que ouve ou lê.

Outro aspecto relevante a ser considerado é no ensino à distância. A presença do virtual prevalece sobre o real em aulas sem professor ou aluno, análises e discussões sem a presença dos participantes, sem contestação e sem a profundidade da análise crítica de outros interlocutores.

Fazendo uma reflexão voltada para os jovens nos perguntamos: qual a contribuição do habitat real e do habitat virtual no desenvolvimento humano?

Por ser a fronteira, entre o real e o virtual, tão tênue que não permite demarcações, estabeleceu-se uma nova forma de relacionamento entre as pessoas nas redes sociais. Nelas os sentimentos e as emoções são reais, os participantes colocam a realidade do seu dia a dia e esperam reciprocidade para pensar e sentir a presença de outros, mas não conseguem dar vida às redes. Pode-se qualificar o REAL como algo mensurável, materializado no mundo exterior ao ser humano. Mas essa definição não é convincente, porquanto os conceitos de real e virtual são cada vez menos claros. O surgimento do fenômeno das comunicações denominado “fake news” (notícia falsa) mostra a face

A educação dos jovens amplia, cada vez mais, o uso e alcance de computador e celular. O mundo virtual supre um mundo de experiências, e é um determinante poderoso na formação da personalidade de muitas das novas vidas. A introdução da técnica computacional no ambiente familiar aconteceu na década de 70 com os jogos. O fator preponderante que cativou as pessoas foi a possibilidade de interagir com a tela, trazendo para dentro de casa ambientes atrativos, independentes das distâncias e de pessoas. E a evolução dessa técnica permitiu acesso simultâneo à internet e à interação virtual de diversas pessoas da mesma casa, dispensando a interação física dos familiares. Mas esse acesso, se descontrolado, certamente, será perturbador para a convivência humana.

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Nesse contexto, estudos avaliaram a interação dos jovens com esse novo ambiente e identificaram que vivências reais prazerosas, como brincadeiras ao ar livre, ativam uma maior área de sentidos do cérebro. Jovens e crianças, que crescem num mundo virtual descontrolado, não desenvolvem a percepção da realidade ambiental, pois a área de sentidos do cérebro é menos estimulada. Além disso, uma profusão de possíveis conflitos tende a emergir em função do mergulho da humanidade no universo virtual. A rapidez de obtenção de informações disponibilizadas nos inúmeros arquivos digitais abertos gera no jovem a avaliação de soluções rápidas para seus problemas, numa caracterização de soluções fáceis e imediatas. A dependência de conhecimento de outrem, a

ausência de análise e/ou discussão do tema, ou de outra opinião, se somam à superficialidade da informação, se sobrepondo ao conhecimento. Além disso, o direcionamento de pontos de vista conflituosos em meio a um universo de grande tolerância de princípios e a perda da privacidade de quem acessa qualquer arquivo digital são uma face oculta das soluções ou alternativas disponíveis. Em meio a essa onda avassaladora de inovações tecnológicas fica a convicção de que é preciso ter consciência da quase fusão da realidade com a virtualidade. Esse fenômeno é um processo irreversível do qual se pode e deve participar com a consciência dos riscos e dos benefícios para a humanidade. ivamart@gmail.com

HUMOR Joãozinho entra em casa esbaforido: – Mãe, mãe, me dá um real pra eu dar pro tio ali na rua! Orgulhosa, ela dá o dinheiro ao filho e pergunta: – Pra qual tio você vai dar o dinheiro, meu anjo? – Pra aquele ali que está gritando "Olha a pipoca quentinha!"

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OASE nos Bairros – Um jeito de ser Pastor Luis Henrique Sievers

Experiências também funcionam como sementes. Quando são compartilhadas, podem cair em solo fértil e continuar produzindo. Este texto não quer mais do que isso: ser uma partilha. E, quem sabe, O Agricultor (Deus) possa fazer com que ela inspire outros grupos de OASE, em outros campos do Senhor.

toques, de melhoramentos, para os quais a OASE se empenhou, especialmente as mulheres mais jovens. Levou muito tempo para reproduzir um pouco daquele ambiente aconchegante da velha sede do grupo. Além disso, a distância maior a percorrer trazia lá as suas dificuldades para as mais idosas.

Como é sabido, mudanças, em qualquer esfera da vida, desafiam nossas habilidades de adaptação. Não foi diferente com a OASE de Lajeado. O novo Centro Comunitário, inaugurado em 1988, grosso modo, estava pronto e já podia ser utilizado para as atividades e grupos da comunidade. Aquele ambiente, um tanto rústico e inacabado, necessitava de uns

Dez anos depois, em 1998, por sugestão do pastor da época, “foi criada esta possibilidade de reunir as senhoras mais velhas em seus respectivos bairros”, escreve Karin Collischonn, presente desde o início dos trabalhos e coordenadora do grupo denominado, então, de Centro Antigo. Algumas mulheres, mais jovens, se dispuseram a liderar os

Encontro de todos os grupos OASE nos Bairros.

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grupos, em dupla e/ou trio. No início, eram onze grupos. Há um caso em que a roda de chimarrão virou reunião da OASE nos Bairros. A maioria se reunia na quarta terçafeira do mês, como até hoje. Um grupo se reunia, até duas vezes ao mês, na segunda e quarta segundas-feiras do mês. Às vezes, por necessidade ou ocasião, as reuniões eram feitas em outros dias, como no sábado, por exemplo. O número de participantes girava entre sete e dez senhoras, sempre abertas para acolher amigas de outras confissões religiosas. Cada líder mantinha uma lista de nomes, com telefone, para contato direto. Também, não faltavam as datas de

aniversário, para que cada novo ano pudesse ser saudado com os parabéns e, eventualmente, com alguns comes e bebes. Um jeito de ser OASE que se manteve até hoje. Metodologicamente, ainda hoje é assim, o Ministro ou a Ministra, prepara um programa, contendo, normalmente, saudação, oração, sugestão de cantos, texto bíblico, mensagem, avisos e bênção. O tema, quase sempre, é tirado do próprio Roteiro da OASE. Uma semana antes do encontro previsto, é marcada uma reunião, com a equipe de lideranças, para a preparação e distribuição de cópias, de acordo com o número de participantes de cada grupo. Quem

OASE nos Bairros, Grupo Centro Antigo.

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não pode estar presente, pega as cópias na secretaria da comunidade. O encontro, propriamente dito, acontece em uma residência fixa ou em forma de rodízio, sempre de acordo com a disposição e a condição do grupo. Alguns grupos fazem, inclusive, questão de ter uma lista de presença. Como o material é distribuído para todas, ali onde é possível, as partes do roteiro podem ser compartilhadas, de forma que haja mais participação ativa. Em duas oportunidades foi possível reunir todos os grupos de OASE nos Bairros, para um encontro de integração e confraternização. Os encontros mensais, em uma atmosfera caseira e aconchegante, fortaleceram a amizade, a confiança e a solidariedade mútuas. A possibilidade de conversar sobre temas bíblicos, ligados à vida cotidiana, proporcionaram o fortalecimento, o cresci-

mento na fé e o testemunho pessoal e comunitário. Karin Collischonn escreve: “Como sempre, eram reuniões de pessoas idosas. Nas minhas listas há muitas baixas, mas eu agradeço muito a bênção de Deus sobre esse trabalho. Bênção essa, que sempre nos acrescentou novas amigas que se esforçam para participar e oferecem a sua casa para a reunião”. Entrementes, passaram-se 23 anos. Sete grupos continuam ativos. Alguns, bastante reduzidos em virtude dos falecimentos. A cidade e seus bairros cresceram. O papel dos avós também sofreu as suas transformações. Boa parte anda bastante ocupada com os seus netos e, ainda, preocupada com os seus filhos. No entanto, ainda há OASE nos Bairros, para o estudo de temas bíblicos e para compreender melhor as coisas da vida, especialmente das mulheres idosas. Nada melhor do que fazer isso em grupo. luishenrique.sievers@yahoo.com

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A Obra Bíblica no Brasil – Alguns destaques – Rev. Dr. Rudi Zimmer

Foi no começo do século XIX que a Obra Bíblica foi iniciada no Brasil, mas não pela Sociedade Bíblica do Brasil, pois ela ainda não existia. Foi a Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira (SBBE) que enviou a primeira carga de Novos Testamentos (12.000) ao Brasil, em 1809. E, depois, continuou a suprir Escrituras para o Brasil. Em 1856, inclusive, a SBBE estabeleceu a sua Agência aqui no Brasil. Mas, já em 1839, também a Sociedade Bíblica Americana (SBA) começou a providenciar Novos Testamentos para o Brasil, estabelecendo a sua Agência aqui, em 1854. Assim, estas duas SBs cuidavam do su-

primento de Escrituras para as Igrejas no Brasil até quase a metade do século XX. A Sociedade Bíblica do Brasil (SBB) foi fundada em 10 de junho de 1948, no Rio de Janeiro, por um grupo de líderes de várias igrejas cristãs brasileiras, com o apoio da SBBE e da SBA, escolhendo como lema: “Dar a Bíblia à Pátria”. Assim, a Sede Nacional da SBB, a partir de sua fundação, era localizada no Rio de Janeiro, permanecendo lá até 1975, quando foi movida para Brasília. No entanto, tendo em vista que a distribuição de Escrituras começou a crescer mais e mais e, sendo que praticamente to-

Estudando com a Bíblia.

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das as Escrituras eram importadas, a Sede Nacional foi transferida ao município de Barueri, São Paulo, em 1987, para estar mais perto dos portos em que as Escrituras eram desembarcadas. Como, no Brasil, a demanda de Bíblias crescia, a necessidade de importação de Bíblias crescia mais e mais. Além disso, com a grande instabilidade econômica que atingiu o Brasil, a importação passou a ser um alto risco. De modo que, como solução para esse grave problema, surgiu, em 1991, a ideia de a SBB estabelecer uma gráfica dedicada à produção de Bíblias e Novos Testamentos não

só para o Brasil, mas também para outras SBs. Assim, o projeto tornouse audacioso. Mesmo assim, os diretores e dirigentes da SBB se entusiasmaram com a ideia. No entanto, como a SBB não tinha os recursos para a implantação da gráfica, isso parecia um sonho impossível. Mas outras SBs também gostaram da ideia e ajudaram para que isso se realizasse, inclusive as Sociedades Bíblicas Unidas (SBU – a fraternidade mundial das SBs, fundada em 1946). Assim, a construção da Gráfica da Bíblia começou em 1993, sendo inaugurada em 2 de setembro de 1995. Logo que a Gráfica da Bíblia foi inau-

A Bíblia em Ações Humanitárias.

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gurada, ela passou a oferecer Bíblias e NTs de melhor qualidade e a preços menores. Isso deu um novo impulso à difusão das Sagradas Escrituras no Brasil. Em apenas cinco anos, no ano 2000, a distribuição da SBB triplicou, saltando para mais de 4 milhões de Bíblias e 300 mil NTs, alcançando, também, a autossufi-ciência financeira. Até hoje, o ano de maior distribuição de Bíblias foi 2013 com 7.910.360 Bíblias. De modo que, com esse crescimento contínuo, a SBB tornou-se, já em 2001, a maior distribuidora de Bíblias entre as quase 150 SBs da fraternidade mundial das SBU. Nesse desenvolvimento histórico da SBB até hoje, os coordenadores de seu trabalho, principalmente os membros de sua Assembleia Admi-

nistrativa e Diretoria, foram fundamentais em estabelecer a Identidade, a Missão, a Visão e os Valores da Sociedade Bíblica do Brasil, que são chaves para o seu trabalho, conforme apresentados a seguir. Identidade (O que é a SBB?): 1) A SBB é uma SB nacional, operando no Brasil desde 1948, para difundir as Escrituras Sagradas no país; 2) A SBB é uma organização interconfessional, fundada para levar a Bíblia e a sua mensagem a todas as pessoas, primordialmente através de todas as Igrejas cristãs e das entidades parceiras dessas Igrejas; 3) A SBB é uma organização que traduz, publica e distribui as Escrituras Sagradas no Brasil e, também, exporta para várias SBs no mundo; 4) A SBB é uma organização beneficente de assistência social. Missão (Para que a SBB existe?): A SBB tem como missão difundir a Bíblia e sua mensagem a todas as pessoas e grupos sociais, como instrumento de transformação espiritual e social, de fortalecimento de valores éticos e de incentivo ao desenvolvimento cultural. Essa missão é resumida pelo slogan: “Semeando a Palavra que transforma vidas”.

Salmos em Braile.

Visão (O que a SBB procura alcançar?): 1) Conseguir realizar a distribuição mais ampla, eficaz e significativa possível das Escrituras Sagradas no Brasil, (a) nas línguas e meios de comunicação que atendam às necessidades das pessoas, (b) em traduções que sejam fiéis aos textos

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originais das Escrituras, e (c) a preços que as pessoas possam pagar; 2) Ajudar as pessoas a interagirem com a Palavra de Deus, a fim de transformarem as suas vidas. Valores (Que orientam como a SBB realiza o seu trabalho!): 1) A SBB, assim como as SBs em todo o mundo, tem, como sua motivação, o cumprimento da Grande Comissão (Mt 28.18-20), baseada no amor de Deus ao mundo (João 3.16); 2) A SBB entende a sua tarefa como participação na missão de Deus – Pai, Filho e Espírito Santo –, conforme é testemunhada na Bíblia; 3) A SBB vê as Igrejas como os principais agentes da missão de Deus no mundo; 4) A SBB serve as Igrejas e as organizações parceiras dessas Igrejas, mas sem apoderar-se de sua missão; 5) A SBB afirma que as Escrituras Sagradas pertencem a todas as Igrejas, reconhecendo que a sua interpretação é da competência delas; 6) A SBB concentra-se em fazer com que a Bíblia seja acessível a todas as pessoas; 7) A SBB é parte da fraternidade de SBs nacionais, que formam as SBU e que procuram servir umas às outras e, juntas, servirem as Igrejas em todas as partes do mundo; 8) A SBB objetiva relacionamentos abertos com parceiros e outras SBs. Para terminar, é importante ressaltar alguns programas e ações que se tornaram fundamentais na execução da missão da SBB e, inclusive, se tornaram inspiração para muitas SBs no mundo. Uma é a ênfase dada à Ação

Social como uma estratégia de propagação da Palavra de Deus. Como há milhares de pessoas em situações em que, para alcançá-las, é melhor vincular as Escrituras com ação social, a SBB vinculou grande parte da realização de sua missão a programas sociais. Pois, como há pessoas extremamente carentes, outras, totalmente excluídas de direitos fundamentais, como o tratamento da saúde e a educação, a SBB criou programas para levar a Escritura para essas pessoas, junto com o atendimento às suas outras necessidades, seguindo o exemplo de Jesus. Jesus pregava a Palavra, sim, mas, também, curava, compartilhava pão e ensinava. Assim, a SBB procura fazer o mesmo. Os programas de Ação Social são: “Luz no Brasil” (na Amazônia, no Nordeste, no Sudeste e no Sul), “Estudando com a Bíblia” (apoio a crianças carentes nas escolas), “A Bíblia para Fortalecer a Família” (em situação de vulnerabilidade e riscos pessoais e sociais), “A Bíblia na Recuperação da Dependência Química” (dando apoio a comunidades terapêuticas), “A Bíblia para Pessoas com Deficiência” (visual e auditiva). Outro programa, com projeção mundial, foi a criação da “Academia de Liderança e Gestão”. Como, para estabelecer a Gráfica da Bíblia, a SBB recebeu ajuda das SBU, a SBB se ofereceu para estabelecer esta Academia, para ajudar a fraternidade das SBU a formar líderes para dirigir as SBs. Assim, em 2009, foi iniciada esta

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Academia com o objetivo de ensinar aos líderes das SBs as melhores práticas administrativas para o cumprimento eficaz de sua missão. Para isso, a Academia recebeu a supervisão das SBU. Desde a sua criação, em 2009, a Academia formou sete turmas de líderes, procedentes das Américas (Norte, Central e do Sul), da África, Europa, Oriente Médio, Ásia e Austrália, num total de quase 100, cuja maioria está, hoje, dirigindo uma SB. Durante sete anos de existência da Academia, ela cumpriu, com eficiência, sua missão de preparar líderes para as SBs. Infelizmente, depois de 2015, a SBB, devido aos problemas econômicos que o Brasil passou a sofrer, não tinha mais condições de manter a Academia, aqui, no Brasil. Finalmente, é importante destacar dois programas-chave de apoio à distribuição de Escrituras no Brasil. Um

é “Sócio Intercessor”, que envolve pessoas cristãs para orar pela causa da Bíblia. São mais de sete mil pessoas que fazem parte desse programa, orando, diariamente, a Deus pela expansão da distribuição de Escrituras. O outro é “Sócio Evangelizador”, que envolve cristãos na distribuição de Escrituras, especialmente Seleções Bíblicas. Há mais de 11 mil pessoas que fazem parte desse programa. E o seu apoio voluntário tem sido chave para a expansão da distribuição de Escrituras no Brasil. O ano em que estes voluntários distribuíram o maior número de Seleções Bíblicas no Brasil foi 2014. Neste ano, distribuíram 277.970.900 Seleções Bíblicas no Brasil. Portanto, muito mais que o total da população brasileira. Sem dúvida, Deus usa os voluntários desses dois programas para uma grande contribuição na realização da obra bíblica no Brasil. rudi.zimmer@uol.com.br

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Para pensar... talvez planejar... P. em. Dr. Osmar Zizemer

Um ditado alemão diz: “Wenn jemand eine Reise tut, dann kann er was erzählen!” (Se alguém realiza uma viagem, terá algo para contar). Em nossa viagem de família pela Alemanha em agosto de 2018, naturalmente, também visitamos muitas igrejas. Verdadeiros tesouros históricos. Obras de arte! Algumas que escaparam de incêndios, de guerras etc... Outras reconstruídas, com detalhes, após a guerra... Ainda, outras construídas em estilo moderno no pós-guerra... Ainda, outras em desvio de função, hoje, abrigando um café, uma livraria... Em diversas igrejas visitadas – tanto católicas como evangélicas - uma coisa chamou nossa atenção: Elas têm, em algum espaço, numa lateral, num nicho ou próximo à entrada principal, ou ainda numa saída secundária, uma espécie de mesa (ou altar). Sobre este local estão colocadas pequenas cruzes. Cruzes muito simples, com o registro do nome, da data de nascimento e da morte de uma pessoa daquela comunidade, falecida durante o ano em curso (em alguns casos a cruz está acompanhada de uma pequena fotografia da pessoa). Após um ano de sua morte, esta lembrança/memória é retirada dali pela família. Trata-se de um lugar de memória, de silêncio e de oração dos enlutados

(e da comunidade). Fiquei pensando com meus botões: Vivemos numa época em que, cada vez mais, as famílias estão aderindo à cremação de seus entes queridos – pelos mais diversos motivos e convicções. (E, muitas vezes, elas têm dificuldades em escolher um lugar apropriado, e de fácil acesso, para guardar/depositar as cinzas: Depositamos as mesmas junto a uma árvore? Espalhamos no mar ou numa mata? Guardamos num, assim chamado, “columbário”? Ou em casa mesmo, ou em algum lugar no jardim?). E as pessoas também não têm mais um lugar especial para viverem o seu luto, a sua lembrança, sua memória e oração. Às vezes, mesmo o cemitério – quando se sepulta em cemitério – é de difícil acesso. Não seria o caso de pensarmos em adotar algo semelhante também em nossas igrejas/comunidades? E, mesmo se não houver cremação e, sim sepultamento, será que um espaço assim em nossas igrejas para memória, silêncio e oração durante o ano de luto não seria uma ajuda para quem sofreu a perda de um ente querido? Penso que vale a pena refletir sobre esta possibilidade em nossas comunidades. osmar.zizemer@terra.com.br

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170 Anos da Comunidade Evangélica de Joinville – União Paroquial Diác. Angela Lenke

A Alemanha, no início do século 19, enfrentava guerras, lutas políticas e tinha um desenvolvimento de produção muito aquém do crescimento populacional. Já o Brasil tinha interesse em colonizar as áreas agrícolas. Em sua maioria luteranos, os imigrantes chegaram para colonizar os países livres da América. A princesa Dona Francisca, irmã de Dom Pedro II, recebeu, como dote de seu casamento com o francês FrançoisFerdinand Philipe, Príncipe de Joinville, as terras da província de Santa Catarina. Parte das terras foi negociada pelo casal e, através da Sociedade Colonizadora de Hamburgo, foi denominada Colônia Dona Francisca – somente em 1852, recebeu o nome de Joinville. Assim, a história de Joinville se confunde com a história da Comunidade Evangélica de Confissão Luterana em Joinville. No dia 09 de março de 1851 chegaram os primeiros imigrantes no barco Colon do Atlântico Norte. Entre os pertences estavam a Bíblia, o hinário e o catecismo. A terra estranha, o sol forte, as matas prometiam uma vida de luta. O ex-professor suíço, Carl Mörikofer, chegado entre os imigrantes no mesmo barco, foi contratado pela Colônia Dona Francisca para prestar assistência nos enterros, celebrar os cultos, casamentos

e batismos. A formação de comunidade eclesiástica esteve, desde o começo, nos planos para Colônia Dona Francisca. Assim, em dezembro de 1851, chegou o jovem pastor, doutor em filosofia, Jakob Daniel Hoffmann, acompanhado da esposa. Ele havia prometido pregar o evangelho e celebrar os sacramentos, mas nessa nova terra, o Brasil-Império, os que não eram católicos estavam impedidos de expressar, publicamente, sua fé, por isso, as celebrações aconteciam nas barracas e, depois, nas casas. O primeiro ofício do P. Hoffmann foi um casamento e o primeiro culto foi de natal em 25.12.1851 - anunciava o nascimento de Cristo e a esperança para os imigrantes. O P. Hoffmann assistiu a Colônia por um ano e meio, período no qual realizou 39 batismos, 34 confirmações de fé, 37 casamentos e 49 sepultamentos, e mudou-se para Petrópolis/RJ. Depois de um ano, chegou o pastor Hölzer e durante seu pastorado foi construída a primeira igreja evangélica em Joinville. Depois de longos anos, a Comunidade Evangélica de Joinville, atendida pelos pastores Karl Müller e Hans Müller, em 1937, decidiu construir mais dois templos: um no norte e

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outro no sul da cidade. Em 02 de fevereiro de 1941, inauguraram a Igreja Cristo Bom Pastor e em 1954, foi inaugurada a capela Martin Luther e já era lançada a Pedra Fundamental da Capela da Paróquia dos Apóstolos. Nos anos seguintes foram

construídas as outras paróquias, na presente ordem: Paróquia Cristo Redentor (1966), Paróquia São Mateus (12.03.1967), Paróquia São Marcos (1970), Paróquia São Lucas (24.08.1975), Missão Profipo (hoje, Paróquia Semeador) e Missão Boa

Igrejas da Comunidade Evangélica de Joinville – União Paroquial.

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Vista (hoje, Paróquia Cristo Libertador) ambas, em março de 1985, Paróquia Unida em Cristo (abril de 1966). Vale, ainda, dizer que, durante o século 19, em 1866, formou-se a Colônia e Comunidade Estrada Santa Catarina (hoje, chamada de Comunidade Martin Luther – Km 11) também, era atendida pela Comunidade Evangélica. Em 1932 ela passou a ser autônoma, sendo que, hoje, faz parte da CEJ-UP através da Paróquia São Lucas que a atende. Cada paróquia busca desenvolver trabalhos e projetos diversificados, como: Cultos (em mais de um horário semanal e em mais de um estilo), Grupos de Jovens, Grupos de OASE,

Grupos de Mulheres, Grupos de Música (coral, banda, grupo de louvor, instrumentos,...), Ensino Confirmatório, Culto Infantil, Grupos de Casais, Grupos de Pessoas Idosas, Grupos de Pessoas Enlutadas, Grupos de Artesanato, Grupos de Diaconia, LELUT (Legião Evangélica Luterana), Grupos de Singulares, Dança Sênior, Casamentos, Batismos, Sepultamentos, além de outros. Algumas paróquias possuem mais de uma comunidade, assim, cada paróquia é dirigida por uma diretoria e um conselho paroquial, sendo que a presidência da paróquia tem assento no Conselho Eclesiástico da CEJ-UP. Por sua vez, o Conselho Eclesiástico ele-

Casa de Oração - a primeira igreja ou capela protestante em Joinville.

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ge, a cada dois anos, uma diretoria para presidir a União Paroquial. Desse modo, cada paróquia possui autonomia em seus trabalhos e, ao mesmo tempo, é vinculada ao conjunto das 11 paróquias, especialmente importante para tomada de decisões em assuntos que lhes são comuns. A CEJ-UP, atualmente, é formada por 11 paróquias com 18 comunidades, somando um total de 17.721 pessoas. A mesma possui o Centro Assistencial Comunitário, como sede administrativa, o departamento de diaconia e demais serviços comunitários, onde também já funcionou a Livraria Sinodal. Além dos trabalhos

paroquiais, desenvolve o trabalho diaconal – ação social da igreja, sendo reconhecida como entidade de Utilidade pública Municipal e Estadual. O Departamento de Diaconia da CEJ-UP desenvolve as seguintes ações: Serviço de Assistência Social, Serviço de Capelania e Assistência na Maternidade Darcy Vargas, Serviço de Prevenção e Tratamento em Dependência Química (álcool e outras drogas) e Jogo Patológico, Serviço de Desenvolvimento de Comunidade (projetos com crianças e adolescentes), Serviço da Pessoa com Deficiência, Serviço de Assistência Espiritual Hospitalar (três hospitais),

Centro administrativo comunitário.

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Serviço à Pessoa Cuidadora, Formação Contínua de Lideranças Diaconais, Participação em Conselhos Municipais. Em fevereiro de 2016 a CEJ-UP criou o ILUOS - Instituto Luterano de Obras Sociais - que, com a ajuda de paróquias e vários setores da sociedade civil, mantém os projetos para crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social nos bairros Jardim Paraíso e Morro do Meio. Além das paróquias da CEJ-UP, encontramos, no município, outras paróquias de confissão luterana, algumas que já fizeram parte da CEJ-UP, vinculadas e pertencentes à Igreja

Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB): Paróquia Bom Jesus (bairro Vila Nova) e a União Paroquial Dona Francisca: Paróquia de Pirabeiraba, Paróquia de Rio Bonito, Paróquia de Rio da Prata, Paróquia Estrada da Ilha. Tanto a CEJ-UP quanto todas as paróquias de Joinville, Jaraguá do Sul, região do Contestado entre outros municípios estão dentro da região eclesiástica assim chamada Sínodo Norte Catarinense. O Sínodo Norte Catarinense, com a sede em Joinville, foi constituído no dia 18.10.1997. É composto por 40 paróquias e 115 comunidades, somando um total de 76 mil luteranos

Deutsche Schule - Bonja.

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A CEJ-UP, desde o começo, preocupou-se com as áreas da educação e saúde da população joinvillense. O Colégio Bom Jesus/IELUSC começou com a Deutsche Schule, ou Escola Alemã, fundada em 14 de agosto de 1866 pelos imigrantes, entre eles o Dr. Haltenhoff, Hermann Lepper, C. Anthony, Pastor Hölzer, Ottokar Doerffel e C. Lange. Começou a funcionar, em fevereiro de 1876, sob o lema de Goethe: “Não basta saber, é preciso aplicar; não basta saber, é preciso fazer”. Também, está vinculada à Comunidade Evangélica a fundação do Hospital Dona Helena em 12 de novembro de 1916 quando a imigrante de Saxônia, Helena Dorothea Trinks Lepper, reuniu um grupo de 80 mulheres na escola alemã, hoje, Colégio Bom Jesus, para fundar a Sociedade de Socorro das Senhoras Evangélicas de Joinville. A entidade começou a funcionar na rua Blumenau e foi o embrião do que, hoje, é o Hospital Dona Helena. No começo havia apenas um jardim de infância, cuja responsabilidade era das Senhoras Evangélicas, e o atendimento aos idosos, feito pelas irmãs diaconisas vindas da Alemanha para assistir o Brasil. Um menino doente, da Colônia, foi o primeiro paciente do Hospital Dona Helena e foi cuidado pelo médico Norberto Bachmann e pelas diaconisas. Depois, mais pacientes foram chegando e o hospital foi ampliando os trabalhos. São 104 anos de história do Hospital Dona Helena. Uma história de luta, de sonhos e determinação de gente

que crê no Filho de Deus que veio ao mundo, curou e ensinou a amar. Ainda vinculada à história da CEJ-UP está o Instituto Bethesda, formada pela Instituição de Longa Permanência Bethesda, Hospital Bethesda, o Centro de Educação Infantil Bethesda e a Associação Dança Sênior, localizados em Pirabeiraba – Joinville. A Instituição de Longa Permanência foi a primeira a ser idealizada em 1934, o hospital começou a ser construído em 1963, em 1975, foi inaugurado o Instituto Diaconal voltado à formação e treinamento para o cuidado com pessoas idosas (inativo nos últimos anos), em 1987, iniciaram-se as obras do Centro de Educação Infantil Bethesda e, em 1994, surgiu a Associação Dança Sênior como entidade dedicada à promoção da saúde e qualidade de vida da pessoa idosa através de exercícios físicos aliados à música e à dança. Celebramos os 170 anos da Comunidade Evangélica de Joinville – União Paroquial, com alegria e gratidão a Deus. No passado os imigrantes enfrentaram desafios em vir para uma nova terra e, aqui, implantaram seu jeito de ser igreja e de estabelecer valores éticos e sociais. Essa história continuou sendo marcada pela missão de constituir novas comunidades de confissão luterana em Joinville. O tempo trouxe novos desafios para a igreja numa sociedade em constante mudança. Assim, os 170 anos da CEJ-UP não apenas lembram o seu legado e a sua história, mas a impor-

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tância de ser igreja em constante reforma e missão. Se no começo a Comunidade Evangélica de Joinville estava num contexto rural de imigração, hoje ela é desafiada para anunciar o Evangelho em um contexto social urbano com seus contrastes.

Sua missão continua sendo a de anunciar o Evangelho de Jesus Cristo a todas as pessoas e de dar um testemunho ativo que vincule gerações, em torno do amor de Deus, dispostas a servir. angelalenke@yahoo.com.br

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Poder e podar Elfriede Rakko Ehlert

Como uma simples aplicação de uma vogal dá margem a inúmeros pensamentos a respeito de palavras quase idênticas! O termo “poder”, como substantivo ou como verbo, nos dá perspectivas sobre um monte de pensamentos e situações que aconteceram e continuam acontecendo ao redor do mundo. Já, quando crianças, nos surpreendem com os primeiros passinhos ou com as primeiras palavras. Que alegria! Que sensação! A criança já sabe, já consegue e se comunica! Já pode! Com o tempo, esta capacidade se desenvolve e se multiplica. Primeiro, estamos observando, incentivando com entusiasmo. De repente, vem um alerta.

Será que podemos admitir todas as travessuras e ficar na nossa do tipo “deixa – ela está testando a sua liberdade! Veja só o que ela já consegue! Ela pode”! Ela, então, vai ao fogão, por exemplo, querendo imitar os adultos. Mexe nos botões. De repente, começa a nossa poda. De repente? Não! Estamos vigilantes. Vem a nossa grande tesoura: “Não, não pode”! Existem as duas teorias na educação: deixar e não deixar. Não deixar significa “podar”. Uma árvore, quando nos incomoda, nos molesta – podamos. Lembro-me de um episódio com uma vizinha nossa. Não gostou de uma árvore na praia, bem frondosa, que ficava na

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divisa com o terreno dela. À sua sombra os carros estacionavam, “felizes”, pois no calor do dia, tinham uma sombrinha. A vizinha reclamou, reclamou tanto das folhas que caíam para o lado do terreno dela, que mandamos podar. Incômodo parece que é o próprio viver em comunidade. Quantos atritos e brigas surgem entre vizinhos. Infelizmente, ocorreram, até, nas nossas comunidades que se dizem cristãs. Não é necessário, nem possível, concordar com tudo o que está acontecendo. Mas, temos o poder e o “direito” de podar tudo o que nos incomoda? Pessoas extremamente inseguras, que sempre têm dúvida sobre o caminho a tomar, geralmente, foram muito “podadas” na infância. Isto é um alerta para nós, pais, avós e educadores. Deixa a tesoura de poda, às vezes, de lado. A criança, por si só, já vai descobrindo os prós e con-

tras de seu comportamento e caminho que lhe pareciam ideais, porque prometiam liberdade. Como na natureza, que possui épocas, quando convém podar árvores, assim, na educação e no convívio humano. Todos nós poderíamos contar longas histórias de luta e de sucesso. O nosso poder é limitado. No convívio com pessoas, notamos que a “igualdade” não existe. Assim, temos que tratar os nossos filhos de maneira diferente, pois, não são iguais. Temos que observar e respeitar particularidades. Não podar logo – que, às vezes, faz mais mal do que bem. Acho que temos um grande “poder”, como pessoas: a nossa mente. Vamos exercitá-la para enxergar e apreciar o bem nas pessoas e nas circunstâncias. Mais “poder” não é necessário. hnzehlert@gmail.com

HUMOR Joãozinho pergunta para sua mãe: – Mãe, você sabia que vermelho é cor do amor? – Sei sim. Por quê? – Te amo! Toma aqui meu boletim...

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Receitas Lasanha de couve Ingredientes: Tamanho médio (exemplo: 26 cm x 16 cm): - Folhas de couve (6 folhas grandes, melhor se forem um pouco rasgadas, para facilitar o corte da lasanha ao servir); - Queijo muçarela ou de sua preferência (melhor se for ralado) – 200 gr Requeijão; - Molho de frango ou carne moída (de acordo com sua preferência). Para o Molho: use cebola, alho, pimentão, tomate, carne moída ou de frango, e temperos conforme sua preferência. Modo de preparo: Em um recipiente, forma ou marinex, coloque uma pequena camada de requeijão no fundo. Disponha 2 folhas de couve, que cubram todo o fundo. Cubra com parte do molho de sua preferência e, depois, cubra com queijo muçarela (ou o seu preferido). Coloque 2 folhas de couve. Cubra com o restante do molho de sua preferência e cubra com queijo. Finalize com as outras duas folhas de couve, cubra com uma fina camada de requeijão e com queijo e salpique orégano, conforme seu gosto. Leve ao forno, pré-aquecido a 200 ºC, por, aproximadamente, 30 minutos. Pa. Ana Isa dos Reis Costella

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Refrigerante de Limão Ingredientes: - 1 litro de suco de limão; - 2 quilos de açúcar; - 18 litros de água. Modo de fazer: Ferva, por 5 minutos, estes ingredientes. Depois, deixe esfriar. Corte dois limões em rodelas, amarre-as dentro de um pano e coloque-as dentro do suco. Após 24 horas, coloque em embalagens pet (litros vazios de refrigerante). Não encha até a boca. Deixe uma folga para o gás que vai se formar. Feche bem as embalagens e deixe-as deitadas por 20 dias em um ambiente escuro. Depois é só servir. Irene Dal’Agnol Batistel

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Servir ao Senhor e à sua obra é motivo de alegria! P. Ernani M. Petry

Por amor a Jesus e com desejo de trabalhar para que a Igreja crescesse, fui estudar na Faculdade de Teologia, em São Leopoldo/RS. Certamente o desejo de todos que iam para lá era ser pastor, servir a Deus e fazer a IECLB crescer.

uma casa de retiros, com quadra de esportes e quadra de areia. A mudança de rumo surgiu da maturidade dos jovens em fazer a sua quadra num local onde poderíamos formar outro grupo de jovens, no bairro, e ajudar aquela comunidade a crescer. Com um dinheiro que o grupo tinha na poupança, iniciamos a construção, que serviu de local para o encontro dos jovens, grupos de estudos bíblicos, retiros e muitos dias de esporte, estudo da Palavra e comunhão. A comunidade luterana daquele bairro se alegrou com aquela casa que, até hoje, é usada por ela. A construção foi longa e sofrida, totalmente com ofertas de pessoas que apoiavam a ideia.

Em agosto de 1987, fui enviado pela IECLB, para a minha primeira Paróquia: Juiz de Fora/MG. Casado com a Lisianne, que tinha, na época, 18 anos. Cuidamos de três comunidades e um ponto de pregação a 60 km. Ali, encontramos um bom trabalho com jovens que foi crescendo dia a dia. Num certo momento, o grupo começou a falar na construção de uma quadra de esportes, na comunidade central. Aos poucos, ela foi sendo pensada para o bairro São Pedro, onde a comunidade tinha um terreno. Ali, acabamos construindo

Depois de quatro anos e meio, voltamos ao Rio Grande do Sul, já com uma filha, a Nathália, com cinco meses. Chegamos a Rosário do Sul, atendendo uma área enorme entre cinco municípios: de São Gabriel até Uruguaiana, 250 km, e de Rosário do Sul até Santa do Livramento, mais de 100 km. Eram distâncias longas e comunidades pequenas. Logo, tivemos nossa segunda filha, a Thaís. No segundo ano, alguns plantadores de arroz da Comunidade de Rosário do Sul cogitaram a ideia de construir um salão de festas. Eu sugeri a constru-

Meus pais eram assíduos frequentadores da Paróquia da Paz, em Porto Alegre/RS. Desde pequeno, acostumei-me com a ida aos cultos no domingo. Via meus pais participando de estudos bíblicos e meu pai realizando cultos leigos, com prédicas escritas numa pequena máquina de escrever. Minha infância foi boa, cercada de pessoas amáveis, participando do Culto Infantil, Ensino Confirma-tório, Grupo de Jovens e Cultos.

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ção de um ginásio de esportes para podermos começar um trabalho com os jovens da comunidade. Os arrozeiros doaram sacos de arroz suficientes para quase terminar a construção. O ginásio acabou atraindo a atenção da cidade, pois foi a primeira quadra de esportes com piso de parquet, coisa nova na cidade, enquanto os demais tinham apenas piso de concreto. Sugeri a possibilidade de alugarmos horários para a prática de esportes, e acabamos conseguindo 450m2 de parquet doados pelos empresários, na intenção de, futuramente, usarem o espaço. E assim, começamos a campanha e, em pouco tempo, tínhamos o nosso Ginásio de Esportes, e dezenas de empresas alugando horários, no período das 18h às 22h. Este dinheiro ajudou muito na situação financeira

da comunidade. O grupo de jovens cresceu muito. Surgiu, então, a ideia de vender espaços de publicidade nas paredes, com a finalidade de construir os vestiários. E assim, fui visitando empresários (pequenos e grandes) e, em alguns anos, tínhamos mais de 500 patrocinadores que, anualmente, renovavam o aluguel do seu espaço de publicidade, pois viam as benfeitorias: foram construídos os vestiários e a churrasqueira com área para confraternizações. Depois, fomos construindo salas de aula e cedendo ao município, que colocou, ali, algumas salas de pré-escola atendendo as crianças do bairro, a Pré-Escola Girassol. Cada patrocinador, anualmente, ajudava com 1/3 do salário mínimo por m². Faziam isto porque

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viam todo o prédio a serviço da comunidade e não só da Igreja. Nossa alegria era tanta que encaminhamos para o Guiness Book o pedido de sermos reconhecidos como o Ginásio de Esportes com mais propagandas do mundo. Nas paredes, nas colunas, no piso e, até, nos banheiros. Aos poucos, comecei a escrever uma coluna num jornal em Rosário do Sul. Amigo dos proprietários dos dois jornais da cidade, aprendi como funciona um jornal. Lembro-me quando compramos o primeiro computador, foi uma alegria. Eram poucos os computadores na cidade, pois ali ainda não tinha internet. Começamos um pequeno jornal, o ELO, que tinha a finalidade de difundir o Evangelho e a presença da comunidade luterana na cidade e este jornal foi crescendo. Era simples, pode-se dizer “feio”, mas as pessoas gostavam de ler. Quanto mais entravam patrocinadores, mais aumentava a tiragem. No jornal, publicava mensagens do Jornal Evangélico, do Jornal O Caminho, das reflexões que recebíamos da IECLB, resumo de prédicas, atividades da Igreja. Aos poucos, fui me envolvendo na vida da cidade. Fui convidado para participar do Conselho de Direitos da Criança e do Adolescente. Participava com alegria, dos encontros do conselho e de outras atividades. Fui eleito presidente do Conselho da Criança e, na minha gestão, criamos o Conselho Tutelar. O alvo sempre foi o de levar mais pessoas para Cristo e

ver a IECLB crescer a partir do nosso testemunho e de nossa teologia. Para ajudar financeiramente a OASE, escrevemos um livro de receitas enviadas pelas participantes. Foi um sucesso! Ajudou a divulgar a OASE e a Igreja na cidade. Nos anos seguintes, escrevemos mais dois. Em outro momento de dificuldade financeira, resolvemos fazer uma Ação entre Amigos tendo como prêmio o carro, em uso, da Paróquia. Não tínhamos como trocar o carro que estava já bem rodado! Foi um sucesso também. Com o apoio das comunidades e de muitos rosarienses, compramos um Gol 1.8 0 km. Anos depois, em Joinville, juntei os três livros num só e vendemos com a finalidade de comprar uma Kombi a fim de levar as senhoras da OASE para fazer visitas. Mas Deus nos abençoou tanto, que vendemos 9.000 livros e compramos um carro Spin, de sete lugares, com a ajuda da Paróquia, que acabou se tornando o carro paroquial. Depois de oito anos, sentimos que era hora de plantar em outro lugar. Aceitamos o convite e fomos para Tubarão/SC, numa Paróquia que estava ferida, devido a um cisma. Antes, era atendida por dois pastores, com cinco comunidades distantes e com famílias luteranas em 20 municípios, que precisavam ser acompanhadas. Os cultos, nas cinco cidades (Tubarão, Orleans, Braço do Norte, Criciúma e Araranguá), eram semanais e com a colaboração de leigos que pregavam e ajudavam nos estu-

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dos bíblicos. Nesta Paróquia, o carro rodava 60 mil quilômetros por ano. Além de alcançar os membros, espalhados, ainda havia a necessidade de anunciar o Evangelho para dentro destas cidades. A primeira ideia foi criar um boletim informativo, mantido com patrocínio, pois as comunidades enfrentavam dificuldades para se manterem. Aos poucos, o boletim foi crescendo e acabou tornando-se um pequeno jornal: O PESCADOR. Este jornal tinha o diferencial de ter mensagens cristãs, reflexões bíblicas e muitas histórias que, hoje, são comuns na

internet, mas naquele tempo, não. Junto com o jornal, fui gravando programas de rádio nas comunidades. Em duas cidades, me envolvi com a criação de rádios comunitárias e, ali, consegui um horário semanal de uma hora e, aos poucos, conseguimos espaços em outras emissoras de rádio. Gravávamos programas e enviávamos para as rádios, alterando o início e o fim para cada lugar, mas usando as mesmas músicas e as mensagens para todos eles. Em Braço do Norte, conseguimos que dois irmãos luteranos se envolvessem na criação e apresentação dos programas. O

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jornal O PESCADOR teve 91 edições. Ele teve uma edição histórica de 100 páginas, com 645 pontos de distribuição. Na verdade, a distribuição era feita nas comunidades da Paróquia e através dos patrocinadores, que recebiam 10 a 20 jornais e distribuíam para os seus clientes. A cada aumento na tiragem colocava fotos das pilhas dos jornais, o que impressionava os empresários que iam participando do nosso crescimento. Pessoas entravam nas lojas procurando o Jornal O PESCADOR. A metade do jornal era publicidade, mas, o jornal era grátis! E com muito conteúdo bom para ler! O impressionante é que tudo isto aconteceu antes do crescimento da internet! Os primeiros jornais eram muito difíceis de fazer, com computador lento, impressoras bem rudimentares, scanner manual... Era necessário digitar tudo! Mesmo assim, era uma grande alegria receber os pacotes de jornais e começar a distribuí-los entre os patrocinadores. Algumas pessoas se converteram lendo O PESCADOR e/ou ouvindo as mensagens de rádio. Eram muitas as cartinhas que recebíamos das pessoas que liam e ouviam. E, para muitos empresários e leitores dos jornais, pude falar de Jesus. Quando O Pescador alcançou 60, 70 ou 80 páginas, o trabalho se tornou muito difícil de fazer sozinho. Era preciso levantar às 5h e diagramar diversas páginas por dia para ter o jornal pronto no dia de mandar para a gráfica. Pois além

dele, tinha todas as outras atividades da Paróquia. Foi Deus quem sustentou. Hoje eu não teria condições físicas para fazer isso. Atualmente, estou morando em Joinville, onde trabalhei 10 anos na Paróquia Semeador e, agora, há três, na Paróquia São Lucas. Aqui, as paróquias são próximas, mas possuem grande volume de trabalho. Também, tenho a parceria de muitos colegas, pois somos 11 Paróquias luteranas, com cerca de 20.000 membros. Envolvi-me em muitos trabalhos pensando em ajudar minha Igreja a ser útil na obra do Senhor, tanto nas comunidades, quanto na vizinhança. Aqui, ajudo na equipe do jornal Joinville Luterano, mantido financeiramente pela Comunidade Evangélica de Joinville. Não preciso mais diagramar e nem correr atrás de patrocínio, o que é um grande alívio, mas, de vez em quando, sonho que estou vendendo publicidade e preocupado com o jornal que não está pronto. Acordo com saudades daqueles tempos, mas agradecendo que, hoje, os tempos são outros. Foram muitos anos de entrega, doação, empenho, em estradas ruins, sem internet, na tentativa de fazer o meu melhor para a obra do Senhor, cuidar do rebanho que me foi confiado e tentar ganhar alguns para Ele. Deus foi bondoso e meus presbíteros e membros, pacientes. Muitos entenderam minha vontade de levar a obra do Senhor a novos lugares.

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Alguns não entenderam. Para estes, peço perdão. Para os que me apoiaram, agradeço de coração. Um dia, vamos viver no Reino que está sendo preparado para nós, por graça de Deus, não por mérito. A honra é sem-

pre de Deus, mas a alegria é nossa, por termos sido chamados para servir o Senhor e à sua Igreja. Que o nosso alvo seja crescer em conhecimento para colocá-lo a serviço de nosso mestre e Senhor, Jesus. Amém. em.petry@yahoo.com.br

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Solidão e angústia P. em. Friedrich Gierus

Foi no dia 29 de maio de 1987 que mudei do Bairro Vila Itoupava para o Centro de Blumenau. Foi uma das mudanças mais tristes durante minha vida pastoral. Aconteceu que não consegui mais desenvolver as atividades como pastor devido a um problema sério nas minhas cordas vocais. Perdi a voz. Não consegui mais pregar, desenvolver minhas atividades junto aos jovens, à OASE, aos coros que dirigi e demais atividades pastorais. Motivo pelo qual a direção da Igreja cogitava a minha aposentadoria antecipada. Pedi para aguardar a minha volta da Alemanha, pois a partir de junho, tinha o direito de tirar férias na Alemanha, minha ter-

ra natal. Lá tive a oportunidade de um tratamento especializado. Consegui recuperar a voz, mas não mais como era antes. Por isso, recebi a tarefa de organizar a Livraria Martin Luther, a Gráfica e Editora Otto Kuhr, as bases necessárias para organizar a Missão de Folhetos, a Edição do Anuário Evangélico e a redação do jornal O CAMINHO. Antes de viajar para Alemanha em busca da recuperação da minha voz, eu passei uma semana na praia – sozinho. Senti a necessidade de refletir e de orar. Fiquei uma semana, caminhando diariamente ao longo da praia, pensando sobre a minha situ-

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ação em busca da razão de perder a minha voz. Falei com Deus perguntando: Por que meu Deus? Há tantas pessoas com voz perfeita falando besteira e eu, tendo uma mensagem de esperança e de amor, perco a minha voz. Fiquei muito angustiado, irritado e bravo com Deus. Chorei muito e me senti abandonado. A solidão tomou conta de mim. O que será da minha vida? Senti-me no “fim da picada”... até que me lembrei de uma palavra de Jesus que ele formulou no seu desespero na cruz: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? (Mateus 27.46). De repente não me senti mais abandonado, desesperado na solidão. Pois, em Jesus Cristo, Deus revelou seu amor para nós. O sentimento de abandono, que Jesus sentiu na cruz, é na verdade a mensagem de Deus:

Eu sei o que vocês sentem na solidão, no sofrimento na fraqueza, pois, em Jesus Cristo passei por tudo isto. Por isto saibam: quem crê em mim, pode ter a certeza de que eu estou ao lado dele. Pois assim como tirei Jesus da solidão e da morte na cruz ressuscitando-o, assim estou e estarei ao lado de vocês em todas as situações de suas vidas e de sua morte. Consolado e com a certeza no coração de que não estou sozinho, ainda que a solidão tome conta de mim, voltei para casa, sabendo que Deus sempre está ao meu lado. Isto Jesus ressurreto nos prometeu: “Eis que estou convosco todos os dias” (Mateus 28. 20) e “No mundo passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo” (João 16.33). f.gierus@terra.com.br

HUMOR Irritado com seus alunos, o professor lançou um desafio: – Aquele que se julgar burro, faça o favor de ficar de pé. Todo mundo continuou sentado. Alguns minutos depois, Joãozinho se levanta. – Quer dizer que você se julga burro? – perguntou o professor, indignado. E Joãozinho respondeu: – Bem, para dizer a verdade, não! Mas fiquei com pena de ver o senhor aí, em pé, sozinho!!!

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Solidariedade contagiante Irineu Costella e Ana Isa dos Reis Costella

Decidimos estacionar o carro a uns quatrocentos metros da gráfica. Assim, evitávamos um grande caminho a percorrer. Com o pacote do informativo Nossa Comunidade em mãos, acessamos a porta de saída. A chuva jorrava a cântaros transbordantes naquela tarde. Naturalmente, Ana e eu, nos olhamos interrogativamente, como se disséssemos um ao outro: que bom se o carro estivesse aqui, junto ao meio fio. E agora, o que fazemos? A chuva prometia prosseguir por longo tempo. Coloquei-me à disposição. “Você, amor, fica aqui e eu buscarei o automóvel”. Ela, com a expressão não verbal, resistiu à ideia, pois não

queria que eu levasse qualquer gota de chuva. Entendia que a chuva é preciosa para a área agrícola, não, todavia, em minhas costas. Com olhar de quem assegura que tudo sairá bem e que o final seria feliz, protegido com o desvia-chuva, pois o meu aparelho não guarda-chuva alguma, rumei para a rua, sorrindo e acenando para Ana. Ela sorriu também, aprovando, finalmente, minha decisão. Andei a passos largos até chegar à rua transversal. A chuva prosseguia intensamente. Não tinha condições de procurar a faixa de pedestres. Simplesmente, parei no passeio, olhando para os automóveis que seguiam em sentido único. Subitamen-

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te, um carro parou. Entendi e cruzei, acenando, agradecido, pelo gesto solidário. Prossegui caminhando. O calçado estava encharcado e boa parte das calças andava bem regada. A alegria tomou conta de mim pela sensibilidade daquele motorista. Já visualizava o carro estacionado em frente à loja. Sob a marquise havia um casal olhando para mim e sorrindo. Aproximei-me e soube que aguardava para entrar no carro, também estacionado ao lado do nosso “Madiba”. Munido do guarda-chuva, conduzi o senhor que, vi então, era com deficiência e, na segunda viagem, a senhora. Ambos sorriam no curto trajeto. Acomodados no carro, a senhora abriu a janela e disse: “Foi Deus quem enviou um anjo para nós”. E o esposo repetiu a frase. Ao chegar à esposa, Ana, sorrindo, me perguntou: “o que aconteceu que você está rindo tanto”? Relatei-lhe o episódio e isso me rendeu um beijo. O beijo teria vindo natural e graciosamente, como sempre acontece, mas eu entendi que o recebi, sobre-

tudo, pela atitude tomada. A solidariedade é contagiante. O bem chama o bem. O bem motiva a fazer o bem. Se você quer ser feliz, todos queremos, lógico, dê o primeiro passo e faça o outro feliz. Não procure a própria felicidade. Contribua para fazer o outro feliz e a sua felicidade será consequente. Não espere por momentos especiais para colaborar com os outros para que alcancem o máximo bem possível. Zele em todos os instantes, mesmo que sejam insignificantes. Torne-se disponível, atencioso, cordial, compreensivo. Enfim, faça ao outro o que gostaria que o outro lhe fizesse (cf. Mateus 7.12). O que eu e você podemos fazer, no dia a dia, para incentivarmos os outros a seguirem sendo solidários e, naturalmente, construirmos um mundo de bem-estar e felicidade para todos? irineu@ofmcaprs.org.br anaisadosreis@yahoo.com.br

HUMOR O Joãozinho arranja uma escapatória: – Professora, alguém pode ser castigado por uma coisa que não fez? – Não. – É que eu não fiz os trabalhos de casa.

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Teatro de Ação de Graças – 1 Rose Michelson Reichert

BOLO DE CENOURA Adaptação da história O BISCOITÃO, de Elvira Moraes Lustosa

Cenário: Uma mesa com cadeiras representando a cozinha, placas indicando PADARIA, MERCADO e CASA DO PEDRO. Personagens: Mãe, filhos(as) (dois ou três, depende do número de falas para cada um), padeiro, confeiteira, dono do mercado, caminhoneiro e agricultor. Sugestões: Todos já podem estar no cenário, distantes uns do outros, ou podem entrar conforme as crianças vão procurando.

agradecer pelo bolo de cenoura que a mamãe comprou, estava uma delícia. Sr. JOSÉ: Não agradeçam a mim, quem fez o bolo foi a confeiteira, agradeçam a ela. (Virando-se, chama:) - Sara, venha cá. (Sara aparece). BETO: Dona Sara, muito obrigado pelo bolo de cenoura, estava uma delícia. SARA: Não agradeçam a mim, só misturei os ingredientes que comprei no mercadinho da vila. JOÃO: Então, vamos lá! (As crianças se dirigem para o mercadinho.) CENA 3

CENA 1 (A mãe e os filhos, nesse exemplo, Beto, Ana e João, estão sentados à mesa com um bolo.) BETO: Mamãe, o bolo de cenoura estava uma delícia, muito obrigado! MAMÃE: Não agradeçam a mim, não fui eu que fiz. Comprei na padaria do seu José. Agradeça a ele. ANA: Ótima ideia! (Os filhos saem e vão à padaria.)

(No mercado, falam com o atendente.) BETO: Bom dia! Nós queremos agradecer pelo bolo de cenoura feito com os ingredientes comprados aqui, estava uma delícia. ATENDENTE: Não agradeçam a mim, só vendo os produtos. Agradeçam aos caminhoneiros que trazem as mercadorias. (As crianças andam e conversam entre si.)

CENA 2

ANA: Puxa, está difícil. Agora, como vamos achar um caminhoneiro?

JOÃO: Bom dia, seu José! Queremos

BETO: O pai do Pedro é caminhonei-

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ro, já vi ele parado no mercadinho.

(Acenam e se afastam.)

JOÃO: Tomara que ele esteja em casa!

BETO: Vamos para casa.

CENA 4 (Chegam à casa do Pedro e simulam bater na porta do caminhoneiro.) ANA: Bom dia! Nós queremos agradecer pelo bolo de cenoura. Foi feito com os ingredientes que o senhor levou para o mercado. CAMINHONEIRO: Não agradeçam a mim, eu só faço a entrega. Quem planta o trigo, a cana, a cenoura e tudo o mais são os agricultores.

ANA: Ué, por acaso, agora, é a mamãe, é semente, terra boa, chuva e sol? BETO: Claro que não, mas como vamos falar com a semente, a terra, a chuva e o sol? (Voltam para casa.) CENA 6 MAMÃE: Já voltaram, conseguiram agradecer pelo bolo?

(Saem andando e conversando.)

JOÃO: Quase, está só faltando agradecer à semente, à terra boa, ao sol e à chuva.

JOÃO: Nossa, quanta gente precisa para fazer um bolo de cenoura!

MAMÃE: E para quem vocês vão agradecer?

BETO: É verdade, mas agora que começamos, vamos até o final.

BETO: Vamos agradecer a Deus, porque foi ele que criou tudo.

(Encontram uma pessoa com enxada na mão.) CENA 5

MAMÃE: Isso mesmo, tudo vem de Deus. E não esqueçam de agradecer por todas as mãos que servem ao Senhor.

ANA: Bom dia! O senhor é agricultor?

ANA: Eu sabia que tinha o dedo de Deus nesse bolo de cenoura!

AGRICULTOR: Sim

TODOS: (Olhando para Ana) Por quê?

JOÃO: Nós queremos agradecer pelo bolo, que foi feito com trigo e cenoura que o senhor semeou. Estava uma delícia.

ANA: Porque estava uma delícia! E tudo o que Deus faz é bom demais!

AGRICULTOR: Não agradeçam a mim, eu apenas semeio a semente. Mas para que ela germine e cresça é necessário terra boa, chuva e sol.

(Pode terminar com a família, fazendo uma oração de agradecimento, ou convidar a comunidade para participar dessa oração.) rose.michelson@yahoo.com.br

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Teatro de Ação de Graças – 2 Rose Michelson Reichert

DORCAS E A ALEGRIA DE SERVIR

(Saem caminhando até a casa de Dorcas, que está sentada, costurando).

Cenário: Um lugar para o encontro das mulheres e a casa de Dorcas que pode ter uma máquina de costura antiga.

MULHER 1: Boa Tarde Dorcas! Quero lhe apresentar uma amiga, ela está precisando muito de ajuda. DORCAS: Boa tarde. Seja muito bem vinda, o que você precisa?

Personagens: Duas viúvas com vestes dos tempos bíblicos (uma com vestido mais velho, até rasgado) e Dorcas.

MULHER 2: Fiquei viúva, não tenho dinheiro nem para alimentar meus filhos, muito menos para adquirir roupas.

(As viúvas se encontram).

DORCAS: Vamos resolver esse problema, estava mesmo acabando de fazer um vestido. Já pode ficar com ele.

MULHER 1: Olá! Aconteceu alguma coisa? Você parece não estar muito bem. MULHER 2: Pois é, são tempos difíceis. Fiquei viúva e não tenho dinheiro para nada.

MULHER 2: Muito obrigada! (Diz com alegria, mas depois volta a ficar triste) Mas, não posso vestir roupas novas e ver meus filhos com fome.

MULHER 1: Sei muito bem como é isso, quando fiquei viúva, também, passei por maus momentos.

DORCAS: Também, vamos resolver isso, leve esses alimentos. (Estende um saco para a mulher)

MULHER 2: Não tenho nem como comprar comida e roupas.

MULHER 2: Nem sei como agradecer, a senhora é um anjo.

MULHER 1: Eu conheço alguém que pode te ajudar.

(A mulher vai saindo com o vestido e os alimentos, de repente, se volta).

MULHER 2: Quem é essa pessoa?

MULHER 2: Você ganha algo por tudo isso?

MULHER 1: É Dorcas, também conhecem ela como Tabita. Foi ela que me estendeu a mão quando precisei. Esse vestido foi ela que fez. MULHER 2: É lindo, você poderia me levar até ela?

DORCAS: Sim, uma imensa alegria em poder servir. MULHER 1: Dorcas, fale para ela sobre gratidão, gosto de ouvir você falar sobre isso.

MULHER 1: Agora mesmo. ••• 220 •••


DORCAS: Sempre digo que adoro costurar, então, uso esse dom para servir a Deus e demonstrar toda a minha gratidão a Ele. Tudo que sou e tenho, inclusive esse dom da costura, é dádiva de Deus e sou imensamente grata por tudo isso.

MULHER 1: Essa lição, já aprendi com Dorcas, estou sempre de olho para ver se alguém está precisando de ajuda. Não tenho dinheiro, mas tenho muita disposição. MULHER 2: Entendi, agora eu vou, porque preciso alimentar meus filhos.

MULHER 1: Agora eu também sou grata a Deus por ter conhecido Dorcas. Quero servir a Deus como ela, mas infelizmente não tenho o dom da costura, então, ajudo de outra forma.

DORCAS: E se tiver um vizinho com fome, alimente-o também. Quando acabar você pode buscar mais.

DORCAS: Cada um tem um dom que pode colocar à disposição de Deus como forma de gratidão. Recebemos muito, toda a criação é presente de Deus, então, devemos cuidar dela.

(As mulheres se despedem e saem).

MULHER 2: Com certeza, voltarei, não só para buscar comida, mas para ouvi-la e aprender mais com você. MULHER 2: Que mulher generosa e quanta sabedoria!

MULHER 2: Eu sou tão pobre, como posso servir a Deus?

MULHER 1: Sim, ainda, vamos ouvir muito sobre ela.

DORCAS: O cuidado com os filhos já é uma forma de servir, mas você pode estender esse cuidado para a comunidade em que você vive.

MULHER 2: Estava sentindo pena de mim mesma, agora, sei que Deus cuida de mim e sou muito grata por isso.

MULHER 2: Como assim? DORCAS: Fique sempre atenta, se alguém estiver acamado, cuide dessa pessoa, ajude a limpar sua casa, prepare seu alimento. Se você quiser, vai encontrar muitas formas de servir.

(Quando as duas mulheres saem, Dorcas levanta-se e olha para toda a comunidade por breves segundos e diz): DORCAS: E você já fez algo somente pela alegria de servir? Você já demonstrou sua gratidão para com Deus, hoje? rose.michelson@yahoo.com.br

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Trabalho voluntário = ajuda/amor ao próximo Liga Feminina de Combate ao Câncer

Trabalho voluntário é ajuda e amor ao próximo em palavras e atitudes. Em tempos de caos, em tempos de pandemia, em tempos de incerteza sobre o dia de amanhã, refletir sobre a relevância do trabalho voluntário, sobre suas influências em nossa sociedade e para os indivíduos que o praticam, é de extrema valia. Momentos como este em que vivemos, quando a maior recomendação é todos ficarmos reclusos em casa, fazem o despertar de uma preocu-

pação do indivíduo para com o outro, traduzindo a essência do voluntariado que é deixar de enxergar somente a sua importância individual e olhar para o outro, olhar para os demais que, por vezes, são aqueles que precisam ser enxergados com um olhar mais cuidadoso, de maior proteção. Há uma ideia, enraizada na sociedade, que considera o trabalho voluntário como algo de menor importância, algo temporário, um trabalho

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que deveria ser realizado nos momentos em que não há outras tarefas a serem realizadas, naqueles momentos de ócio. Mas, tal pensamento, a cada dia que passa, se mostra mais equivocado. O trabalho voluntário, como qualquer outro, é algo que deve ser levado a sério, porque, mais do que cumprir horários ou atividades a serem realizadas, o trabalho voluntário é doação de tempo, é doação de amor. E o mais importante de se ressaltar é que as pessoas só se conscientizam acerca da importância do trabalho voluntário, quando experimentam a sensação de estar participando disso. O trabalho voluntário é trabalho nobre, uma vez que quando o sujeito se junta a alguma causa para defendê-la e/ou auxiliá-la, sabe-se que não terá nenhum retorno material, mas, sim, recompensas imateriais, como o carinho que recebemos ao realizar um ato de cuidado, como no momento em que acompanhamos a trajetória de um paciente e, ao final, vem a vitória, com a recuperação da saúde. O trabalho que realizamos, dentro da Liga Feminina de Combate ao Câncer, é gratificante em vários sentidos. O objetivo principal da Liga sempre foi o auxílio, por parte de voluntárias e voluntários, às pacientes acometidas de uma doença tão angustiante. As pacientes da Liga Feminina são, por vezes, mães, filhas, avós, esposas, mas, fundamentalmente, são mulheres. Mulheres for-

tes, mulheres batalhadoras, que estão, incansavelmente, lutando contra uma doença extremamente preocupante e difícil. Mesmo assim, quando estamos ao lado delas, muitas conseguem nos passar uma energia boa, conseguem abrir um sorriso e fazer brincadeiras com a situação, sem perderem a fé e sem perderem a força que vem de dentro. É isso que nos motiva a continuar trabalhando por uma causa, geralmente, tão dolorosa. Os sonhos de quem trabalha na Liga Feminina são grandes, sonhos de que a doença consiga regredir todos os dias, sonhos de que consigamos levar mais alegria e amor às nossas pacientes, sonhos de que, cada vez mais, tenhamos novas voluntárias e voluntários comprometidos em auxiliar nosso trabalho. Hoje, a Liga Feminina de Combate ao Câncer continua engajada em poder trazer o melhor de cada uma das voluntárias para as nossas pacientes e, por mais que pequenos gestos pareçam insignificantes para quem os faz, para aqueles que os recebem, estes pequenos gestos podem mudar uma vida toda. É isso que faz o trabalho voluntário: dar maior humanidade, maior empatia, resiliência para quem o faz e maior amor e cuidados para quem o recebe. O trabalho realizado faz com que o voluntário consiga enxergar para além do próprio mundo, passando a enxergar o mundo lá fora, o que está acontecendo para além daquilo que sempre vivencia.

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O crescimento do trabalho voluntário é gigantesco para quem o realiza, como ser humano, a evolução como parte da sociedade, o amor que transborda, o vínculo que criamos com cada história que conhecemos ao longo dessa jornada. Ser voluntário é cultivar, espontaneamente, as tarefas do bem, com o compromisso de estar presente na vida dos pacientes, de dar a mão e a palavra, tão necessárias, quando não há mais esperança. Por isso, as voluntárias da Liga Feminina são tão importantes, pois fazem com que o trabalho continue apesar das adversidades, mantendo a parceria com toda a comunidade e trabalhando sério para ter a credibilidade necessária para manter a entidade funcionando, alcançando, a cada dia, seus objetivos de prevenir e auxiliar. E o trabalho é feito em pequenos gestos, em campanhas de prevenção onde, tentamos levar às mulheres todas as informações necessárias para prevenir a doença. O trabalho é feito no auxílio com remédios e na realização de exames em nossas pacientes, com a realização de visitações e reuniões com elas para que se sintam mais acolhidas. Mas não se trata somente destes trabalhos, o auxílio por parte das voluntárias se traduz, principalmente, em doar um pouco de seu

tempo para que, no meio de uma situação difícil pela qual as pacientes estão passando, estas consigam ver coisas boas, consigam ter boas conversas, carinhos e abraços. O mais importante de todo este trabalho é reconhecer que, por vezes, não serão só vitórias, não serão só alegrias e cuidados, por vezes, teremos derrotas, teremos tristezas e, mesmo nessas situações, precisamos seguir firmes em busca do que acreditamos, levar todo o nosso amor e cuidado às mulheres que tanto precisam. A luta é grande, é diária, é incansável, mas a retribuição pelo trabalho realizado é algo que não se compara, não se mede, não existe igual. Somos um grupo de voluntárias que está, constantemente, auxiliando, cada uma com o que pode, na luta das mulheres acometidas pelo câncer de mama. Assim, fica, aqui, a nossa reflexão sobre a importância do trabalho realizado e nosso incentivo para que você, interessada/o em conhecer mais sobre a Liga Feminina de Combate ao Câncer, entre em contato, para que juntas/os, possamos crescer e agregar humanidade em nossas vidas, continuando a dar de nosso tempo e prestar cuidado àquelas de que necessitam. Liga Feminina de Combate ao Câncer, Carazinho – RS

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Venham, vamos depressa à casa do Menino Você pergunta: Por que os três Magos ainda necessitam de uma estrela, já que a localidade de Belém lhes tinha sido indicada na cidade de Jerusalém? Eles a necessitam para que realmente encontrem o Menino. Pois não existiam outros indícios que o identificassem: Ele não possuía um esplêndido palácio, nem sua mãe era famosa e conhecida. Sigamos, pois, também nós, aos magos, e afastemonos, tanto quanto possível, da vida pagã, para que também nós contemplemos a Cristo. Também aqueles, os três Magos, não o teriam encontrado se não se tivessem afastado para tão longe de sua terra. Deixemos de lado as preocupações terrenas. Enquanto os Magos estavam na Pérsia, viram a estrela; mas quando haviam deixado a Pérsia, eis que viram o “Sol da Justiça”. Sim, se eles não tivessem tido coragem e partido de lá, eles não teriam chegado nem a ver a estrela. Por isso, também nós queremos nos levantar e nos pôr a caminho. Mesmo que todos tenham

medo, vamos, pelo menos nós, à casa do Menino! Mesmo que reis, povos e tiranos queiram obstruir nosso caminho, não vamos desistir do objetivo de nosso desejo. E, assim, iremos superar todas as barreiras que encontrarmos. Se os Magos percorreram um caminho tão longo para ver o Menino recém-nascido, que desculpa você tem para não querer andar umas poucas ruas para visitar um doente ou alguém que está preso? Pois nós já temos compaixão com os cansados, os presos, sim, mesmo com os inimigos. Mas você nem tem compaixão com seu benfeitor e Senhor. Aqueles trouxeram ouro. E você mal dá um pedaço de pão. Aqueles viram a estrela e se alegraram; mas você vê o próprio Cristo – pobre e nu – e isto não mexe com você. Quem de vocês - que já recebeu milhares de benefícios de Cristo - já realizou uma caminhada por causa Dele, como a realizaram aqueles pagãos, ou melhor: aqueles mais sábios de todos os sábios? Texto atribuído a João Crisóstomo (350-407 d. C.) – patriarca da igreja Oriental em Constantinopla. Extraído de: Eilen wir zum Hause des Kindes, pág. 31. Tradução: P. em. Dr.Osmar Zizemer

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Vivência na Alemanha: Tour na Frauenkirche! P. Luiz Temóteo Schwanz

Uma Igreja e muita história: Em um de meus sábados de folga, fui passear em Nuremberg (Nürnberg), segunda maior cidade do Estado da Baviera, na Alemanha. É uma cidade simpática e de aspecto medieval em seu centro antigo. Ao passar pelo mercado central, perto de uma igreja, vi uma placa que convidava para um Tour, dentro da igreja, a partir das 12h15min. Como ainda faltava um pouco, caminhei até dar o horário e poder entrar e participar do tour

dentro da igreja. Trata-se da Frauenkirche (Igreja das mulheres em tradução literal do alemão para o português ou Church of Our Lady, em inglês), umas das mais significativas igrejas de Nuremberg, que fica a leste do mercado central e principal desta cidade. A construção desta igreja foi motivada pelo Imperador Karl IV, entre os anos de 1352 até 1362, para ser sua Capela pessoal. Antes disto, nesta mesma localidade, situava-se uma sinagoga

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judaica, que fora destruída por volta do ano de 1349 devido às perseguições aos judeus. A pesquisa sugere que o arquiteto e mestre de obras teria sido Peter Parler, de Praga. A igreja das mulheres foi construída no estilo gótico sobre o que restara da antiga sinagoga. Esta igreja sofreu incêndios e várias reconstruções no decorrer de sua história. Como capela do imperador Carlos IV, a igreja era católica romana. Desde a Reforma protestante do séc. XVI em Nuremberg em 1525, esta igreja se tornou luterana e, portanto, uma igreja “da palavra”, na qual se realizavam, constantemente, prédicas. Quando se deu a queda de Nuremberg ante o reinado bávaro

em 1806, desenvolveu-se, novamente, uma comunidade católico romana. Em 1810 o templo foi adquirido e renovado até 1816, a mando de Lorenz Rotermundt. No período da segunda guerra mundial, a igreja foi atingida, ficando de pé apenas parte da nave e toda a entrada do templo, “o paraíso” em alemão. De 1989 até 1991 a igreja foi totalmente restaurada. Na oportunidade, no chão do espaço reservado aos coralistas, grafou-se uma estrela de David com o ano “1349” como memorial alusivo à perseguição ao assentamento judaico no mercado central, naquele ano. Ainda, quero destacar alguns elementos deste tour na “igreja das

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mulheres”. No interior dela há muita arte sacra, como pinturas, quadros e pequenas estátuas! Cada um destes elementos artísticos é cheio de história, sentido e significado! Podemos nos perguntar: como resistiram aos bombardeios da segunda guerra, por exemplo? Nesta época, foram levados para os porões da própria igreja e da casa, a fim de que fossem preservadas. Cada expressão de arte sacra é peculiar e transmite a fé. Tudo o que foi explicado sobre cada elemento daria para escrever livros, pois cada explicação é minuciosa e detalhada: época, significado histórico e teológico, social, cores etc. Importante é salientar que Nuremberg é conhecida como a cidade do

mais belo mercado de Natal (e Advento) da Alemanha, cuja cidade tem a tradição do Christ-kindelmarkt que acontece, todos os anos, no “coração da cidade de Nuremberg”. O evento começa na sexta-feira que precede o primeiro domingo de Advento e termina na véspera de Natal, dia 24. Literalmente Christkindlmarkt, numa tradução livre significa “mercado do menino Cristo”. Todos os anos há uma eleição para ver quem será “o menino Cristo/Jesus”). É interessante que “o menino Cristo” sempre é uma jovem moça vestida em tons de branco e dourado. Mencionei um pouco da história deste evento, pois ele tem, e muito, a ver com a igreja das mulheres. A abertura do merca-

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do de Advento e Natal se dá com um prólogo predefinido que a Christkind fala livremente da sacada da igreja das mulheres (Frauenkirche). Segundo o que ouvi no tour interno da igreja, há quem diga que esta tradição acontecia em outras cidades alemãs, mas, reza a lenda de que, na segunda guerra mundial, foi instituído para que acontecesse, apenas e oficialmente, em Nuremberg. Mas isto não pode, ainda, ser comprovado historicamente.

A Frauenkirche é, hoje, usada para as missas regulares e, também, aberta para dar belas aulas de história, ministradas pelos e pelas guias. Agradeço a oportunidade de poder compartilhar esta vivência e experiência in loco, ou seja, no lugar. Quem já teve ou quem, ainda, tiver a oportunidade de conhecer Nuremberg, a Frauenkirche é super recomendável. É uma igreja com várias histórias, de homens e mulheres, colecionadas ao longo do tempo.

Como falei no início, é uma igreja com muita(s) história(s)! Aliás, que se originou dos escombros de uma sinagoga, sendo usada como capela do Imperador Carlos IV, que era católico. Na Reforma Protestante, tornou-se luterana, voltando, depois, a ser católica romana, novamente. E, hoje, “é palco” de um dos maiores eventos do ciclo litúrgico do Natal de todo o mundo com a abertura do “Christkind”.

Mais informações podem ser obtidas nos sites: • www.frauenkirche-nuernberg.de • www.christkindlesmarkt.de O autor é pastor da IECLB e doutorando na Augustana Hochschule em Neuendettelsau. luizimmeister@gmail.com

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Palavras cruzadas: Soluções SOLUÇÃO da página 117

SOLUÇÃO da página 161

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Sumário Prefácio ............................................................................................... 3 O significado das nomenclaturas ............................................................ 5 Meditações mensais de Janeiro a Dezembro .................................. 10 a 32 50 anos do Anuário Evangélico Luterano – “O Livro da Família” .............. 34 Pa. Sílvia Beatrice Genz

Lances da história do “Anuário Evangélico Luterano” .............................. 36 P. em. Heinz Ehlert

Anuário Evangélico Luterano: Sua linha teológica e eclesiológica ............. 38 P. em. Meinrad Piske

Temas da IECLB ................................................................................. 40 Tema e Lema da IECLB para o ano de 2021 ......................................... 41 TEMA DO ANO DE 2021 .................................................................... 42 Secretaria Geral da IECLB

Datas Comemorativas em 2021 ........................................................... 44 P. Me. Alan Schulz

A educação das crianças na modernidade ............................................. 48 Katiane de Oliveira Rossi Stassun

A mulher e o sistema prisional brasileiro ............................................... 51 Sheila Rubia Lindner

Acabou .............................................................................................. 54 Elfriede R. Ehlert

Acolher bem: um convite para ficar ...................................................... 56 Grupo de Diaconia

Adoção – ato de amor! ........................................................................ 61 Débora Lümke

Além de nossos horizontes pessoais e comunitários ................................ 64 P. Luis Henrique Sievers

Alguns flashes dos 70 anos de presidência da IECLB ............................. 67 P. Rolf Schünemann

Alzheimer: um caminho sem volta ........................................................ 70 Angela Pinotti

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Autossuficiência, para quê? ................................................................. 73 Psic. Leila Klin e Pa. Claudia Pacheco

Câncer: do estigma à cronicidade, uma reflexão ... ................................. 76 Luciano Alt

A História de uma Missão: Comunidade Evangélica de Carazinho ............ 79 Centenário de uma escola singular ....................................................... 86 P. em. Carlos F. R. Dreher

Círculos de construção de paz e mediação de conflitos ............................ 93 Tânia Fröhlich Rodrigues e Alessandra Baum

Coletânea de Bênçãos ......................................................................... 95 Enviadas por Pa. Rosangela Clarice Fenner Radons

E os povos indígenas? Preconceito, luta e resistência .............................. 99 Pa. Dra. Renate Gierus

Como é o Reino dos Céus para você? .................................................. 105 Pa. Eliana Mutz

Impressões de um reencontro ............................................................ 109 Ursula Axt Martinelli

Diaconia em Farroupilha .................................................................... 111 Pa. Paula Naegele

Do garoto que foi atrás de um jeito de perder o medo ........................... 115 Irmela Brender

Palavras cruzadas 1 .......................................................................... 117 P. em. Irineu Wolf

Eis que num ano novo entramos... e a pandemia chegou! ..................... 118 P. Afonso Adolfo Weimer

Envelhecer – morar bem e com dignidade! .......................................... 120 P. Nilson Hermes Mathies

Espigão do Oeste – Rondônia, aí vamos nós! ....................................... 125 P. em. Irineu Wolf e Roseli Wolf

Espiritualidade no bem morrer ........................................................... 131 Pa. e Psic. Elke Doehl

Grupo terapêutico e o apoio a pessoas enlutadas ... .............................. 134 P. Cleber Fontinele Lima

Hospital e Maternidade Rio do Testo ................................................... 137 Equipe do Conselho Hospitalar

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Igreja em processo de desintegração? ................................................. 142 P. em. Friedrich Gierus

Igreja Luterana em Rondônia: já faz 50 anos ....................................... 146 P. Claudir Burmann e Pa. e Psic. Elke Doehl

Igreja pós-pandemia: Desafios e oportunidades .................................... 150 Teólogo Henrique Luiz Arnold

Jaleco Branco ou Talar Preto? ............................................................ 154 P. Dr. Deolindo Feltz

Mágoa ou ressentimento? .................................................................. 157 Psic. Eliane Camila dos Santos

Mata, mata virgem e mato ................................................................. 159 Elfriede Rakko Ehlert

Palavras cruzadas 2 .......................................................................... 161 P. em. Irineu Wolf

Mundo virtual versus mundo real ....................................................... 162 P. Rafael Coelho

O clube dos 70 x 7 ........................................................................... 165 P. Adelmo Oscar Struecker

O legado espiritual dos alemães do Volga em minha vocação ................. 170 P. Cláudio Schefer

O nosso fiel Roland! .......................................................................... 177 Rolando Ehlert

O patinete........................................................................................ 180 Bernhard Schulz – Trad. e adapt. P. em. Dr. Osmar Zizemer

O real e o virtual na visão de um leigo ................................................ 182 Eng. Ivonir A. Martinelli

OASE nos Bairros – Um jeito de ser .................................................... 185 Pastor Luis Henrique Sievers

A Obra Bíblica no Brasil – Alguns destaques – ..................................... 189 Rev. Dr. Rudi Zimmer

Para pensar... talvez planejar... .......................................................... 194 P. em. Dr. Osmar Zizemer

170 Anos da Comunidade Evangélica de Joinville – União Paroquial ...... 195 Diác. Angela Lenke

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Poder e podar .................................................................................. 202 Elfriede Rakko Ehlert

Receitas .......................................................................................... 204 Servir ao Senhor e à sua obra é motivo de alegria! ............................... 207 P. Ernani M. Petry

Solidão e angústia ............................................................................ 213 P. em. Friedrich Gierus

Solidariedade contagiante .................................................................. 215 Irineu Costella e Ana Isa dos Reis Costella

Teatro de Ação de Graças – 1............................................................. 217 Rose Michelson Reichert

Teatro de Ação de Graças – 2............................................................. 220 Rose Michelson Reichert

Trabalho voluntário = ajuda/amor ao próximo ...................................... 222 Liga Feminina de Combate ao Câncer

Venham, vamos depressa à casa do Menino ........................................ 225 Vivência na Alemanha: Tour na Frauenkirche! ...................................... 226 P. Luiz Temóteo Schwanz

Palavras cruzadas: Soluções .............................................................. 230

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