Anuário Evangélico 2006
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Anuário Evangélico 2006 Publicado sob a direção de Meinrad Piske Redação de Guilherme Theodoro Fredrich
© 2005 Editora Otto Kuhr Caixa Postal 6390 89068-970 – Blumenau/SC Tel/fax: (47) 3337-1110 E-mail: grafica.ok@terra.com.br
Conselho editorial: P. Heinz Ehlert e esposa Elfriede, P. Meinrad Piske (Diretor), P. Nelso Weingärtner, Pa. Elaine B. Fucks, Armando Maurmann e esposa Vânia, P. Dr. Osmar Zizemer, P. Nilton Giese, Prof. Dr. Nelson Hein, P. Friedrich Gierus, Anamaria Kovács, P. Guilherme Th. Fredrich (Redator) Correspondência e artigos: Guilherme Theodoro Fredrich Caixa Postal 6390 89068-970 – Blumenau/SC Tel/fax: (47) 3337-1110 E-mail: guilherme.lml@terra.com.br
Foto da capa: Walter Berner Revisão: Angela Maria Oliveira Fredrich
Produção editorial: Gráfica e Editora Otto Kuhr Ltda. Produção gráfica: Gráfica e Editora Otto Kuhr Ltda. Impressão: Nova Letra Gráfica e Editora
ISBN 85-87524-27-5
Os artigos assinados são de responsabilidade de seus autores.
Anuário Mutirão de Amizade!
A vida cristã alimenta-se da oração, do estudo da palavra de Deus, da amizade e da comunhão na vida de fé. É na vida em comunidade, no compartilhar das experiências, que celebramos, nos fortalecemos, nos instruímos e nos corrigimos mutuamente. Com alegria e gratidão apresentamos mais um Anuário Evangélico, resultado de um verdadeiro mutirão de esforços e vontades por partilhar, celebrar, fortalecer... O apoio do Conselho Editorial foi muito importante para realizar este trabalho de coordenar esta 35ª edição do Anuário Evangélico (e a minha primeira como redator). Porém, o Anuário ressurge a cada ano não apenas graças ao trabalho e dedicação do Conselho Editorial mas sim porque muitas pessoas amigas aceitam o convite para compartilhar suas experiências, sua fé, sua compreensão da vida, seus sonhos... Como palavra de gratidão transcrevo parte de uma crônica* de Vinícius de Moraes: “Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos. Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles... A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar. Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos... E às vezes, quando os procuro, noto que eles não tem noção de como me são necessários...”.
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São estes amigos que realizaram este trabalho em mutirão e cooperação fraterna. Grupo de amigos que sonha, a partir das matérias publicadas no Anuário, em encurtar distâncias, aproximar pessoas e realidades. Queremos, com este “almanaque de fé” proporcionar uma experiência especial: Vejam as imagens, mergulhem nas idéias contidas nos textos, percebam os desafios propostos, tenham contato com outros ambientes (do Norte ao Sul), através desta troca de vivências e de experiências da vida pessoal, da vida na igreja, do compromisso com o mundo... Creio que não bastam idéias e sentimentos de unidade, mas que é preciso abrir-se para relações de unidade, e essas somente são possíveis quando partilhamos nosso jeito de ser. Nossa intenção com o Anuário Evangélico é a de fornecer pequenas contribuições que ajudem a traduzir o que é a vida da nossa gente em nossas comunidades, como experimentam e confessam a fé que lhes dá sustentação e sem a qual a vida se esvazia da razão de ser. E trazemos uma gama variada de artigos porque, afinal de contas, a vida é feita de histórias diversas, de poesia, de fé, de frustrações, de obstáculos superados, de humor... Procuramos unir, colocar em sintonia, cabeças e corações da nossa gente, aproveitando os "talentos" de cada um na certeza de que, quando estamos envolvidos numa ação comum, nos tornamos uma bênção. Que este mutirão de amizade possa ser uma benção também para você. P. Guilherme Th. Fredrich Redator
* (texto completo na página 39 do Anuário)
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Janeiro 1 Dom
Prédica: Jo 14.22-27
2 Seg 3 Ter 4 Qua 5 Qui 6 Sex 7 Sáb 8 Dom
Jo 1.19-28 Jo 1.29-34 Jo 1.35-42 Jo 1.43-51 Ef 3.2-12 Jo 2.13-25 Prédica: At 10.34-38
9 Seg 10 Ter 11 Qua 12 Qui 13 Sex 14 Sáb 15 Dom
Jo 3.1-13 Jo 3.14-21 Jo 3.22-30 Jo 3.31-36 Js 1.1-18 Js 2.1-24 Prédica: 1 Sm 3.1-10
16 Seg
Js 3.1-17
17 Ter 18 Qua 19 Qui 20 Sex 21 Sáb 22 Dom
Js 6.1-23 Js 7.1-26 Js 8.1-29 Js 8.30-35 Js 9.1-27 Prédica: Jn 3.1-5 (6-9),10
23 Seg
Js 10.1-15
24 Ter 25 Qua 26 Qui 27 Sex 28 Sáb 29 Dom
Js 11.1-15 Js 20.1-9 Js 22.1-20 Js 22.21-34 Js 23.1-16 Prédica: Dt 18.15-20
30 Seg 31 Ter
Js 24.1-15 Js 24.16-28
1º DOMINGO APÓS O NATAL Cor litúrgica: Branco ANO NOVO – Dia Mundial da Paz Tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai. Colossenses 3.17
Epifania 1890 – Declarada a plena liberdade religiosa no Brasil 1º DOMINGO APÓS EPIFANIA Verde Todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Romanos 8.14
1635 – ✩ Philipp Jakob Spener, pai do pietismo luterano, † 05/02/1705 1875 – ✩ Albert Schweitzer, teólogo evangélico e médico, † 04/09/1965 2º DOMINGO APÓS EPIFANIA Verde A lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo. João 1.17 1910 – Fundação da Obra Gustavo Adolfo (OGA) brasileira, em Hamburgo Velho, RS 1546 – Última pregação de Martim Lutero em Wittenberg (Rm 12.3) 1866 – ✩ Euclides da Cunha, escritor brasileiro (assassinado 15/08/1909) 1800 – ✩ Theodor Fliedner, fundou a primeira Casa Matriz de Diaconisas 3º DOMINGO APÓS EPIFANIA Verde Muitos virão do Oriente e do Ocidente, do Norte e do Sul e tomarão lugares à mesa no reino de Deus. Lucas 13.29 1532 – Fundação de São Vicente, primeira vila do Brasil-Português 1637 – Chegada do conde João Maurício de Nassau-Siegen, governador do Brasil-Holandês, a Recife, PE 1554 – Fundação pelos jesuítas do núcleo de São Paulo 1654 – Fim do Brasil-Holandês: capitulação dos holandeses 1808 – Abertura dos portos brasileiros aos navios das nações amigas 4º DOMINGO APÓS EPIFANIA Verde Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais o vosso coração, como foi na provocação. Hebreus 3.15 1499 – ✩ Catarina von Bora, esposa de Martim Lutero († 20/12/1552) 1990 – 8ª Assembléia Geral da FLM, em Curitiba, PR 1531 – Chegada de Martim Afonso de Souza a Pernambuco
Jo = João • Ef = Efésios • At = Atos • Js = Josué • 1 Sm = 1 Samuel • Jn = Jonas • Dt = Deuteronômio Fases da Lua:
= Crescente
= Cheia
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= Minguante
= Nova
Lema do mês
Jesus Cristo diz: Quem crê no Filho tem a vida eterna. João 3.36
É a misericórdia do Senhor que reúne o seu povo. Ou seja, é o Senhor que nos chama e nos congrega. O lema deste mês parece fora dos padrões da sociedade moderna, intelectual e tecnologicamente avançada. É uma frase que nos conduz na contramão da história e do conhecimento humano. Hoje somos desafiados a confiarmos cada vez mais na capacidade e poder da tecnologia. A autoconfiança em si próprio, no próprio ser humano e na sua capacidade, coloca-o perigosamente próximo à adoração de si próprio. O centro passa a ser o próprio ser humano. O “auto-amor”, passa a ser visto como a resposta e a realização da felicidade. Para ser feliz tenho que realizar todas as minhas vontades. Eu tenho o direito de ser feliz. Portanto, posso satisfazer todos os meus desejos. Não há mais limites morais, éticos ou religiosos. Tudo é possível e permitido em nome da minha felicidade. Eu passo a ser o critério e o parâmetro dos valores. Creio em mim, portanto sou feliz. Primeiro grande sintoma de perigo é quando o ser humano não tem mais tempo para aquele que o criou do nada. Aquele que lhe deu tudo. Aquele que lhe deu o mundo para que fique responsável como o “bom jardineiro”.
Sim, é sinal de alerta e de perigo. O ser humano está buscando ser o centro. Ele quer ser adorado, servido, aplaudido, considerado inteligente, poderoso, forte, bonito, ser... e mais ser. Quem tem estes sentimentos em si terá tempo e olhos para olhar o criador e a sua criação? Dificilmente. Olhar para o Criador significa mudar radicalmente a sua vida. É poder e saber parar. É ter uma outra forma de encarar a vida, por conseguinte, as relações com a criação de Deus. A promessa do texto de João desestabiliza a organização e os valores que o mundo coloca como verdades. A salvação não vem através dos meus dotes, valores, status, poder, riqueza, inteligência, etc. A salvação nos é presenteada em Jesus Cristo. Ninguém a pode conquistar. Ela não se pode alcançar, muito menos comprar, com promessas, pactos, alianças, e outras bobagens mais. A salvação foi presenteada em Jesus Cristo. O Evangelho de João diz: Quem crê no Filho tem a vida eterna. Verdadeira revolução diante dos nossos olhos e conceitos. Somos chamados a tomar esta verdade como a única promessa que realmente importa, a única coisa que tem valor. Crer no Filho nos leva a uma postura ativa e transformadora. Pastor Sinodal Lauri Roberto Becker Sínodo Mato Grosso
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Fevereiro 1 Qua 2 Qui 3 Sex 4 Sáb 5 Dom
6 Seg 7 Ter 8 Qua 9 Qui 10 Sex 11 Sáb 12 Dom
13 Seg 14 Ter 15 Qua 16 Qui 17 Sex 18 Sáb 19 Dom
20 Seg 21 Ter 22 Qua 23 Qui 24 Sex 25 Sáb 26 Dom
27 Seg 28 Ter
Js 24.29-33 Jz 1.1-3,17-21 Apresentação de Nosso Senhor Jz 1.27-2.5 1931 – Fundação da Federação das Igrejas Evangélicas no Brasil Jz 2.6-23 Prédica: 5º DOMINGO APÓS EPIFANIA Verde Jó 7.1-7 O Senhor manifestará os desígnios dos corações; e, então, cada um receberá o seu louvor da parte de Deus. 1 Coríntios 4.5b Jz 4.1-24 Jz 5.1-31 Jz 6.1-10 Jz 6.11-24 1558 – Execução dos primeiros evangélicos no Brasil, na baía de Guanabara Jz 6.25-32 Jz 6.33-40 1868 – Fundação do Sínodo Teuto-Evangélico da Província do Rio Grande do Sul, em São Leopoldo, RS (extinto em 1875) Prédica: 6º DOMINGO APÓS EPIFANIA Verde 2 Rs 5.1-14 Não lançamos as nossas súplicas perante a tua face fiados em nossas justiças, mas em tuas muitas misericórdias. Daniel 9.18 Jz 7.1-15 Jz 7.16-8.3 Jz 8.22-35 Dia Mundial contra a Lepra Jz 9.1-6 1497 – ✩ Filipe Melanchthon, colaborador de Martim Lutero em Wittenberg († 19/04/1560) Jz 9.7-21 Jz 9.50-57 1546 – † Martim Lutero, reformador alemão, em Eisleben (✩ 10/11/1483) Prédica: 7º DOMINGO APÓS EPIFANIA Verde Is 43.18-25 Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais o vosso coração. Hebreus 3.15 Jz 10.17-11.11 Jz 11.12-27 Jz 11.28-40 1956 – Criação da Fundação Diacônica Luterana, em Lagoa Serra Pelada, ES Jz 13.1-25 Jz 14.1-20 Jz 15.1-16.3 1778 – ✩ José de San Martin, general argentino, libertador latinoamericano († 17/08/1850) Prédica: ÚLTIMO DOMINGO APÓS EPIFANIA Verde 2 Co 3.12-4.2 Eis que as trevas cobrem a terra, e a escuridão, os povos; mas sobre ti aparece resplendente o Senhor, e a sua glória se vê sobre ti. Isaías 60.2 Jz 16.4-22 Jz 16.23-31 1997 – Reestruturação da IECLB, extinção dos DE’s e das RE’s; criação dos Sínodos Js = Josué • Jz = Juízes • 2 Rs = 2 Reis • Is = Isaías • 2 Co = 2 Coríntios
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Lema do mês
Os que amam o Senhor brilham como o sol quando se levanta no seu esplendor. Juízes 5.31
O lema deste mês é de autoria de Débora. O versículo 31 faz parte de um capítulo comumente conhecido como “o cântico de Débora”. Débora pertencia à categoria dos grandes juízes, que foram instituídos pelas tribos de Israel. Sua tarefa era: servir o povo como guia do próprio Deus e não permitir que outros deuses fossem adorados senão Deus; fazer repartição igualitária de terras, não aceitar exploração, zelar pela fraternidade e justiça entre as tribos, fazer valer o direito à vida. O contexto maior do capítulo 5 aponta para uma batalha entre israelitas e cananeus. Os israelitas são camponeses que viviam em sua maioria nas montanhas e que ameaçados vão lutar por seus direitos, por sua liberdade e sobrevivência contra o feudalismo cananeu, contra o poder dominante e opressor. Em nenhum momento o alvo da guerra é a derrocada dos burgos. Débora e Baraque não visavam a conquista, mas a sobrevivência do campesinato na planície. Em jogo estavam os direitos à vida e à liberdade, bem como a passagem pelas estradas da planície e o acesso a algumas áreas agricultáveis, particularmente junto aos ribeiros. Pois bem, a partir dessa visão contextual aprendemos com o texto
bíblico que: Deus não tolera a injustiça; em Deus há liberdade, não há escravidão. Deus vive inconformado com a opressão seja política, religiosa ou econômica; o direito à vida e sua dignidade, presentes de Deus, devem ser respeitados; a infidelidade a Deus leva à desgraça, arrependimento, por outro lado, leva à sua graça; a “fé que atua pelo amor” (Lutero) não deixa o crente batizado quieto, indiferente à realidade; quem oprime o povo é adversário de Deus; o desejo ardente pelo poder, a opressão, a corrupção, a competividade sem limites levam o ser humano à escuridão e ao afastamento de Deus; a fé em Deus, dos que o amam, leva à clareza, ao brilho como do sol. Em outras palavras, Deus abre boca, olhos e ouvidos, afastando-os da escuridão da injustiça e lançando-os para o sol da justiça. Cabe-nos rogar a Deus que Ele nos livre da escuridão opressora, dominadora e corrupta. Isto na família, na comunidade, na sociedade. E que, por outro lado, Ele nos agracie com a sua sabedoria e fé, de maneira que a nossa vida seja como o sol quando se levanta na sua força e ilumina os céus cinzentos e as terras escuras deste mundo que clama por justiça. “Que Deus, em sua graça, transforme o mundo”. Pastor Alberi Neumann, Vila Velha-ES Sínodo Espírito Santo a Belém
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Março 1 Qua 2 Qui 3 Sex 4 Sáb 5 Dom
Jo 11.1-10 Jo 11.11-19 Jo 11.20-27 Jo 11.28-44 Prédica: Mc 1.12-15
Cinzas Dia Mundial de Oração – DMO 1º DOMINGO DA QUARESMA Violeta Para isto se manifestou o Filho de Deus: para destruir as obras do diabo. 1 João 3.8
6 Seg 7 Ter 8 Qua 9 Qui 10 Sex
Jo 11.45-57 Jo 12.1-11 Jo 12.12-19 Jo 12.20-26 Jo 12.27-33
11 Sáb 12 Dom
Jo 12.34-36 Prédica: Mc 8.31-38
13 Seg 14 Ter
Jo 12.37-43 Jo 12.44-50
15 Qua 16 Qui 17 Sex 18 Sáb 19 Dom
Jo 13.1-11 Jo 13.12-20 Jo 13.21-30 Jo 13.31-35 Prédica: Jo 2.13-22
20 Seg 21 Ter
Jo 13.36-38 Jo 14.1-7
22 Qua 23 Qui 24 Sex 25 Sáb
Jo 14.8-14 Jo 14.15-21 Jo 14-22-26 Jo 14.27-31
26 Dom
Prédica: Jo 3.14-21
27 Seg 28 Ter
Jo 15.1-8 Jo 15.9-17
29 Qua
Jo 15.18-25
30 Qui 31 Sex
Jo 15.26-16.4a Jo 16.4b-11 1492 – Expulsão dos judeus da Espanha
1557 – Primeira pregação evangélica (calvinista) no Brasil, na baía de Guanabara (Sl 27.4) 2º DOMINGO DA QUARESMA Violeta Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores. Romanos 5.8 1607 – ✩ Paul Gerhardt, teólogo luterano e poeta alemão († 27/05/1676) 1630 – Proibição do tráfico de escravos africanos no Brasil 1965 – Consagração do primeiro diácono na IECLB, em Lagoa Serra Pelada, ES 1937 – Abertura do Ginásio (hoje Colégio) Sinodal, em São Leopoldo, RS 1969 – Inauguração do Instituto Concórdia, da IELB, em São Leopoldo, RS
3º DOMINGO DA QUARESMA Violeta Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para trás é apto para o reino de Deus. Lucas 9.62 Dia da Escola 1557 – Primeira celebração evangélica (calvinista) da Santa Ceia no Brasil, na baía de Guanabara
Anunciação de Nosso Senhor 1824 – Promulgação da 1ª Constituição do Brasil, por D. Pedro I 4º DOMINGO DA QUARESMA Violeta Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, produz muito fruto. Jo 12.24 1946 – Abertura da Escola de Teologia em São Leopoldo, RS 1823 – ✩ Dr. Hermann Borchard, fundador do Sínodo Teuto-Evangélico da Província do Rio Grande do Sul († 03/08/1891) 1549 – Chegada dos primeiros missionários jesuítas ao Brasil, chefiados pelo padre Manuel da Nóbrega
Jo = João • Mc = Marcos
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Lema do mês
Sim, Senhor, eu tenho crido que tu és o Cristo, o Filho de Deus que devia vir ao mundo. João 11.27
Uma mulher chamada Marta expressa a sua dor pela morte de seu irmão Lázaro. Conversa com Jesus, amigo da família. Lamenta a sua ausência por ocasião da doença. Jesus o poderia ter socorrido. Apesar da frustração ela não perde a esperança. Jesus vem ao encontro da dor desta família. Torna-se solidário. Ele se comove e num gesto de profunda afeição e amor diz que Lázaro ressuscitará. E diz mais: que ele, Jesus, é a ressurreição e a vida; que quem crer nele, ainda que morra, viverá. Pergunta a Marta: Você crê nisto? Em meio à crise e o sofrimento ela pronuncia uma confissão de fé belíssima e de muita profundidade: Eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus que deveria vir ao mundo. Sua convicção e confiança não são abaladas pela experiência da morte em sua família.
A morte é uma experiência dolorosa para todas as pessoas. Ela provoca tristeza e comoção. Ela representa uma ruptura nas relações humanas. Ela nos lembra a nossa transitoriedade e todos os nossos limites. Nos faz perguntar pelo sentido de nossa vida. Como seguidores e seguidoras de Jesus Cristo, fazemos nossas as palavras de Marta. Mesmo atingidos pela frustração e pelo desespero não tiramos os olhos de Jesus Cristo. Ele é o Senhor sobre a vida e a morte. Ele é a ressurreição e a vida. Diante dele a morte não prevalece. Ele a derrota e a supera. Como comunidade cristã seguimos nos passos de Jesus e proclamamos essa mensagem de vida. Promovemos a esperança mediante a solidariedade a todas as pessoas sofridas e sem alento. Cheios de confiança cantamos: “Jesus Cristo é a vida; é a vida do mundo!” Pastor Sinodal Rolf Schünemann Sínodo Sudeste
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Abril 1 Sáb 2 Dom
Jo 16.12-15 Prédica: Jo 12.20-33
3 Seg 4 Ter
Jo 16.16-24 Jo 16.25-33
5 Qua 6 Qui 7 Sex 8 Sáb 9 Dom
Jo 17.1-5 Jo 17.6-13 Jo 17.14-19 Jo 17.20-26 Prédica: Zc 9.9-10
10 Seg 11 Ter 12 Qua 13 Qui 14 Sex 15 Sáb 16 Dom
Jo 18.1-11 Jo 18.12-27 Jo 18.28-40 Prédica: 1Co 10.16-17 (18-21) Prédica: Jo 19.16-30 Jo 19.31-42 Prédica: Is 25.6-9
17 Seg 18 Ter 19 Qua 20 Qui
1 Co 5.6-8 Jo 20.19-23 Jo 20.24-31 Jo 21.1-14
21 Sex
Jo 21.15-19
22 Sáb 23 Dom
Jo 21.20-25 Prédica: Jo 20.19-31
24 Seg 25 Ter 26 Qua 27 Qui 28 Sex 29 Sáb 30 Dom
1 Jo 1.1-4 1 Jo 1.5-10 1 Jo 2.1-6 1 Jo 2.7-11 1 Jo 2.12-17 1 Jo 2.18-29 Prédica: Lc 24.36-49
1985 – Lançado o primeiro número do jornal O CAMINHO 5º DOMINGO DA QUARESMA Violeta Tal como o Filho do homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos. Mateus 20.28 1968 – † Martin Luther King (assassinado), pastor batista, líder do movimento negro dos EUA (✩ 15/01/1929) 1831 – Abdicação de D. Pedro I, primeiro imperador do Brasil DOMINGO DA PAIXÃO – DOMINGO DE RAMOS Violeta Importa que o Filho do homem seja levantado, para que todo o que nele crê tenha a vida eterna. João 3.14,15 1945 – † Dietrich Bonhoeffer, teólogo alemão, mártir do nazismo (✩ 04/02/1906)
QUINTA-FEIRA DA PAIXÃO – QUINTA-FEIRA SANTA 1598 – Edito de Nantes; tolerância para os protestantes na França (revogado em 1685) SEXTA-FEIRA DA PAIXÃO – SEXTA-FEIRA SANTA VIGÍLIA PASCAL DOMINGO DA PÁSCOA Branco Eu sou aquele que vive; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da morte e do inferno. Apocalipse 1.18
Dia dos Povos Indígenas 1529 – 2ª Dieta de Espira: protestos dos príncipes evangélicos alemães contra a restrição da liberdade de religião (“protestantes”) 1792 – † Tiradentes, Joaquim José da Silva Xavier, enforcado 1960 – Inauguração de Brasília como nova capital do Brasil 1500 – Chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil (descobrimento do Brasil) 2º DOMINGO DA PÁSCOA Branco Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua muita misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos. 1 Pedro 1.3 Dia Mundial do Livro
1500 – Primeira missa no Brasil
3º DOMINGO DA PÁSCOA Branco Cristo diz: Eu sou o bom pastor. As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna. João 10.11,27-28
Jo = João • Zc = Zacarias • 1 Co = 1 Coríntios • Is = Isaías • Lc = Lucas
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Lema do mês
Jesus Cristo é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro. 1 João 2.2
O que devo fazer para ser perdoado depois de tudo que já fiz de errado? Como posso obter o perdão de Deus? Ao longo da história da humanidade, essas e outras perguntas semelhantes têm acompanhado as pessoas em seus dramas de consciência. No desejo de encontrarem a paz para suas mentes atribuladas pelo pecado e erros cometidos, buscam os mais diferentes caminhos em busca da paz. Outras, por desconhecerem um caminho que lhes devolva a paz e a serenidade, trilham o caminho da angústia e de uma vida marcada pela intranqüilidade. O caminho pelo qual recebemos o perdão de todos os pecados é oferecido graciosamente por Deus. Deus enviou a Cristo com a clara intenção de promover um perdão que atinja toda a humanidade. Portanto, não é um perdão seletivo em que apenas alguns são merecedores dessa graça. Ele é ofertado a todas as pessoas, independentemente de raça, cor ou de sexo. Esse foi o jeito pelo qual Deus veio até nós para transmitir o seu amor e a sua graça. O apóstolo Paulo, na carta aos Romanos assim registrou o alcance deste amor ao dizer: pois nada pode nos separar do amor de Deus (Rm 8.39). Ao longo da história humana há regis-
tros que nos dão conta de que na busca pelo perdão, pessoas se valiam, por exemplo, de sacrifícios de animais. Essa prática era muito comum, por exemplo, pela religião judaica na época em que Jesus vivia na Palestina. No entanto, essa tendência humana que faz com que as pessoas sintam a necessidade de conquistar o perdão, seja por meio de sacrifícios ou favores, ainda hoje está muito presente em nosso meio. Com a chegada de Cristo até nós, Deus, por amor e graça, brinda-nos com um caminho totalmente novo e revolucionário no tocante ao perdão dos pecados. Deus nos dá Cristo para ser aquele sobre o qual podemos lançar todos nossos pecados. E isso é gratuito. É dom de Deus. Não tem preço a ser pago. Não precisa de sacrifícios humanos para conquistá-lo. É graça. De graça. Assim é que se manifesta o amor de Deus. Cristo é o rosto do perdão de Deus de modo visível. A partir de Jesus, ninguém mais precisa pagar pelo perdão, nem tentar conquistá-lo pelas próprias forças, porque Deus, em seu amor, veio até nós, estendeu sua mão generosa em nossa direção e concedeu-nos sua preciosa graça. Pastor Sinodal Homero Severo Pinto Sínodo Nordeste Gaúcho
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Maio 1 Seg 2 Ter 3 Qua
1 Jo 3.1-10 1 Jo 3.11-18 1 Jo 3.19-24
4 Qui 5 Sex
1 Jo 4.1-6 1 Jo 4.7-16a
6 Sáb 7 Dom
1 Jo 4.16b-21 Prédica: 4º DOMINGO DA PÁSCOA Branco Jo 10.11-18 Se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas. 2 Coríntios 5.17 1 Jo 5.1-5 1945 – Fim da 2ª Guerra Mundial na Europa 1 Jo 5.6-12 1 Jo 5.13-21 1886 – ✩ Karl Barth, teólogo evangélico suíço († 10/12/1969) 2 Jo 1-6 2 Jo 7-13 3 Jo 1-15 1888 – Abolição da escravatura no Brasil Prédica: 5º DOMINGO DA PÁSCOA Branco Jo 15.1-8 Cantai ao Senhor um cântico novo, porque ele tem feito maravilhas. Salmo 98.1 1950 – 1º Concílio Geral da Federação Sinodal, em São Leopoldo, RS Dia das Mães Jn 1.1-16 Jn 1.17-2.10 Jn 3.1-10 1939 – Fundação da Casa Matriz de Diaconisas, em São Leopoldo, RS Jn 4.1-1 Gl 1.1-9 Gl 1.10-24 1886 – Fundação do Sínodo Riograndense, em São Leopoldo, RS Prédica: 6º DOMINGO DA PÁSCOA Branco Jo 15.9-17 Bendito seja Deus, que não me rejeita a oração, nem aparta de mim a sua graça. Salmo 66.20 Gl 2.1-10 Gl 2.11-21 Gl 3.1-14 Sl 110 Ascensão de Nosso Senhor 1700 – ✩ Nikolaus Ludwig, Conde de Zinzendorf, fundador da Igreja Evangélica dos Irmãos Herrnhut, Alemanha († 09/05/1760) Gl 3.15-18 Gl 3.19-29 Prédica: 7º DOMINGO DA PÁSCOA Branco Jo 17.(9-10) Jesus Cristo diz: Eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim 11-19 mesmo. João 12.32 Gl 4.1-7 1537 – Declarada a liberdade dos indígenas americanos pelo Papa Paulo III Gl 4.8-20 1909 – ✩ Dr. Ernesto Th. Schlieper, 2º Pastor Presidente da IECLB († 31/10/1969) Gl 4.21-31
8 Seg 9 Ter 10 Qua 11 Qui 12 Sex 13 Sáb 14 Dom
15 Seg 16 Ter 17 Qua 18 Qui 19 Sex 20 Sáb 21 Dom
22 Seg 23 Ter 24 Qua 25 Qui 26 Sex 27 Sáb 28 Dom
29 Seg 30 Ter 31 Qua
Dia do Trabalho 1824 – Fundação da primeira comunidade evangélica pertencente à IECLB, em Nova Friburgo, RJ 1865 – ✩ Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, sertanista e geógrafo brasileiro († 19/01/1958)
Jo = João • 1 Jo = 1 João • 2 Jo = 2 João • 3 Jo = 3 João • Jn = Jonas • Gl = Gálatas • Sl = Salmos
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Lema do mês
Todos vós sois filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus. Gálatas 3.26
Também sou filho de Deus. Assim muitos falam quando se sentem excluídos. Não por menos Paulo escreveu estas palavras para a Igreja da Galácia: “Pois todos vós sois filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus”. Aquela comunidade apregoava que a condição para ser cristão era ser ou tornar-se judeu. Isto significava adotar ritos judaicos, inclusive o da circuncisão, que deixava no corpo dos homens a marca da sua crença. Aqueles judeus cristãos queriam que as leis judaicas fossem observadas também no cristianismo. Paulo, judeu, conhecedor profundo do judaísmo, recebeu a graça da compreensão que o libertou do legalismo judaico. Deus é pai de Jesus. Jesus chamava Deus de Pai. Mediante Cristo, Deus Pai não mais está longe e distante. Deus Filho vem e está no meio de nós, de corpo e alma, palpável, próximo, compreensível. Cristo permite uma nova forma de compreender Deus, dando oportunidade para que todas as raças e nações tenham acesso ao Pai. Pela fé nos tornamos filhos de um mesmo Pai. É a fé que permite acontecer esta irmandade. Deus nos liga uns aos outros por meio de Cristo. Nós nos
identificamos por professarmos os mesmos princípios. Adoramos o mesmo Pai. Cada filho é diferente. Os gostos são distintos, mas o Pai é o mesmo. A figura do Pai reúne a família e promove nela a fraternidade. Temos uma atitude de respeito com os irmãos. Ninguém é mais filho do que o outro. Todos estamos na condição de filhos. Na Igreja pessoas desconhecidas são reunidas por um propósito comum: a fé cristã. Encontram-se distintas histórias. Um professor universitário tem comunhão e aprende com um servente de pedreiro. Uma viúva pobre conhece o pensamento de um executivo. No cristianismo é possível uma fraterna e sincera amizade. Todos contribuem com seus dons. Muita coisa se pode sozinho, menos ser cristão. Desta fé brota a comunidade cristã, na certeza de que somos Filhos de Deus. Na Santa Ceia celebramos a condição de sermos filhos de Deus. Por nós Jesus ora no Evangelho de João 17 dizendo: “que eles sejam um assim como eu sou um com o Pai”. Queremos honrar o nosso Pai vivendo o seu pedido. Mediante a fé em Jesus Cristo entregamos a nossa vida a Deus e Ele nos torna filhos Seus. Vice-Pastor Sinodal Kurt Rieck Sínodo Rio dos Sinos
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Junho 1 Qui 2 Sex 3 Sáb 4 Dom
Gl 5.1-15 Gl 5.16-26 Gl 6.1-18 Prédica: At 2.1-21
5 Seg
Sl 144
6 Ter 7 Qua 8 Qui 9 Sex 10 Sáb
Ct 2.1-7 Ct 2.8-17 Ct 4.9-5.1 Ct 5.2-6.3 Ct 8.1-7
11 Dom
Prédica: 1 Jo 4.11-16
12 Seg 13 Ter 14 Qua 15 Qui 16 Sex 17 Sáb 18 Dom
Ef 1.1-10 Ef 1.11-14 Ef 1.15-23 Ef 2.1-10 Ef 2.11-18 Ef 2.19-22 Prédica: 2 Co 4.5-12
19 Seg 20 Ter 21 Qua 22 Qui 23 Sex 24 Sáb
Ef 3.1-13 Ef 3.14-21 Ef 4.1-6 Ef 4.7-13 Ef 4.14-16 Lc 1.57-66
25 Dom
26 Seg 27 Ter 28 Qua 29 Qui 30 Sex
DOMINGO DE PENTECOSTES Vermelho Não por força nem por poder, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos. Zacarias 4.6 Segunda-feira de Pentecostes Dia Mundial do Meio Ambiente
1888 – 1º número do “Sonntagsblatt” (Folha Dominical) do Sínodo Riograndese 1º DOMINGO APÓS PENTECOSTES – TRINDADE Branco Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória. Isaías 6.3 1948 – Criação da Sociedade Bíblica do Brasil 1525 – Casamento de Martim Lutero e Catarina von Bora 1910 – Conferência Missionáia Mundial em Edimburgo, na Escócia 1703 – ✩ John Wesley, pai do metodismo († 02/03/1791) 2º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Jesus Cristo diz: Quem vos der ouvidos ouve-me a mim; e quem vos rejeitar a mim me rejeita. Lucas 10.16 1934 – Constituição da Confederação Evangélica do Brasil (CEB)
Dia de São João Batista 1904 – Fundação da Igreja Luterana do Brasil (IELB) Prédica: 3º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde 2 Co 4.13-18 Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Mateus 11.28 1827 – Fundação da Comunidade Protestante Teuto-Francesa do Rio de Janeiro, hoje pertencente à IECLB Ef 4.25-32 1945 – Criação da ONU em São Francisco, EUA Ef 5.1-14 Ef 5.15-20 1912 – Fundação do Sínodo das Comunidades Teuto-Evangélicas (Sínodo Evangélico) do Brasil Central no Rio de Janeiro Ef 5.21-33 Ef 6.1-4 1947 – Assembléia Constituinte da Federação Luterana Mundial em Lund, na Suécia Gl = Gálatas • At = Atos • Sl = Salmos • Ct = Cânticos • 1 Jo = 1 João • Ef = Efésios • 2 Co = 2 Coríntios • Lc = Lucas
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Lema do mês
Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão. Gálatas 5.1
Liberdade! Este é o sonho de muita gente! Do latim “libertate”. É a faculdade de cada um decidir ou agir segundo a sua própria determinação, dentro de uma sociedade organizada, conforme as normas definidas. É a ausência de toda a forma de opressão ilegítima e imoral. A comunidade dos Gálatas tinha dificuldade com relação a esta liberdade e carregava consigo a idéia de que a circuncisão era indispensável para a salvação. Paulo ensina que Cristo morreu por todos nós para nos libertar da lei, do pecado e da morte, alcançando-nos a vida plena. Ser livre e poder decidir pelo seu futuro, pelos seus sonhos, tem sido um dos caminhos mais buscados pelo ser humano. No entanto, nesta busca, ele vai se aprisionando e se tornando escravo de um sistema cada vez mais complexo e difícil. Vivemos numa sociedade marcada por interesses que prendem o ser humano, através do consumo e da dependência de meios eletrônicos. Deus nos aceitou em Cristo, na graça, por meio do poder do Espírito Santo que age na fé e se expressa em amor. Fez isso para nos libertar deste jugo. A obediência a Deus, em Cristo, é espontânea e alegre. A pessoa crê em Deus, com e por convicção e não por obriga-
ção. E contra isto não há lei que condene (At 5.22). Crer por convicção se traduz em ações que fortalecem, alegram e libertam a pessoa na comunhão com Deus e os irmãos/as. Crer por obrigação (lei = tenho que) se traduz em fadiga, cansaço e escravidão. A religiosidade sob a fé como obrigação, está sob a lei e esquece o Evangelho da graça e do amor de Deus. Ela gera vaidade e orgulho nos “fortes” que a cumprem, e gera inveja e constrangimento nos “fracos” que não a podem cumprir. Uma vida de fé libertada, sob o Espírito de Cristo, não dá lugar a vanglória, nem à inveja. Quem é glorificado é o próprio Deus. Muitas discussões e desavenças em nossas comunidades têm origem neste tipo de escravidão. Ali se discute os assuntos com enfado e tristeza, como obrigação e não com liberdade, convicção e alegria de servir e amar. A liberdade cristã é um processo que se atualiza diante dos desafios do dia a dia e se revela na vida em amor. Pois é pelo ato de amar que o ser humano penetra na realidade da vida plena, se sente livre, experimenta e testemunha a liberdade para a qual Cristo nos libertou. Pastor Sinodal Jorge Antônio Signorini Sínodo Sul Riograndense
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Julho 1 Sáb
Ef 6.5-9
2 Dom
Prédica: 2 Co 5.6-10 Ef 6.10-17 Ef 6.18-24 1776 – Independência dos Estados Unidos da América (EUA) Rt 1.1-22 Rt 2.1-23 Rt 3.1-18 Rt 4.1-22 Prédica: 5º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde 2 Co 5.14-17 Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Mateus 11.28 Jo 4.1-14 1509 – ✩ João Calvino, reformador de Genebra (Suíça), líder do ramo calvinista do protestantismo († 27/05/1564) Jo 4.15-26 Jo 4.27-38 Jo 4.39-42 1553 – Chegada do jesuíta José de Anchieta ao Brasil Jo 4.43-54 Jo 5.1-9a Prédica: 6º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde 2 Co 8.1-9, Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é 13-14 dom de Deus. Efésios 2.8 1054 – Cisão da Igreja Ocidental (Roma) e Oriental (Constantinopla) Jo 5.9b-18 Jo 5.19-30 Jo 5.31-40 Jo 5.41-47 1873 – ✩ Alberto Santos Dumont, pioneiro da aviação († 23/07/1932) Jo 6.1-15 Jo 6.16-21 Prédica: 7º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde 2 Co 12.7-10 Mas agora, assim diz o Senhor, que te criou, ó Jacó, e que te formou, ó Israel: Não temas, porque eu te remi; chamei-te pelo teu nome, tu és meu. Isaías 43.1 Jo 6.22-40 Jo 6.41-51 1824 – Chegada dos primeiros imigrantes alemães em São Leopoldo, RS Dia do Colono e do Motorista Jo 6.52-59 Jo 6.60-65 Jo 6.66-71 Jo 7.1-13 Prédica: 8º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Mc 6.6b-13 Já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus. Efésios 2.19 Jo 7.14-24
3 Seg 4 Ter 5 Qua 6 Qui 7 Sex 8 Sáb 9 Dom
10 Seg 11 Ter 12 Qua 13 Qui 14 Sex 15 Sáb 16 Dom
17 Seg 18 Ter 19 Qua 20 Qui 21 Sex 22 Sáb 23 Dom
24 Seg 25 Ter 26 Qua 27 Qui 28 Sex 29 Sáb 30 Dom
31 Seg
1921 – Fundação do Instituto Pré-Teológico do Sínodo Riograndense, em Cachoeira do Sul, RS 4º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o perdido. Lucas 19.10
Ef = Efésios • 2 Co = 2 Coríntios • Rt = Rute • Jo = João • Mc = Marcos
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Lema do mês
Jesus Cristo diz: O que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora. João 6.37
O texto acima nos afirma a esperança de vida. É a ação de Jesus. É um convite e ao mesmo tempo uma afirmação de Jesus - venha e te cuidarei. O autor do texto quer enfatizar enormemente o contexto dos fatos. A humildade da vida de Jesus nos questiona em muitas formas concretas de vida no nosso dia-a-dia. Temos medo de sair de nossos templos sacrais, e por outro lado dificuldades em ver a necessidade de nosso próximo. Esta necessidade poderá ser um aprendizado permanente de renovação e enriquecimento de nossa fé. Temos medo de mudanças em nossas tradições de celebrações, de incluir crianças na comunhão com Cristo, não queremos dialogar com os jovens, mas excluí-los, etc. Experimentar o diferente, eis a receita da vida. A gente começa a conhecer o outro quando existe a convivência. Uma experiência muito pessoal, após conviver durante por 10 dias junto ao povo Deni no médio Rio Juruá no Amazonas: A convivência faz a gente mudar os horizontes e ver as dimensões da abundância da graça de Deus. A aceitação do convite de Jesus é graça para a salvação eterna. O convite é sem preço. Sem condicionamentos. Sem pré-elaboração de compensação.
É esta graça de Deus que faz a gente caminhar, se aproximar, aprender, obedecer. Esta comunhão com Jesus faz a gente suportar as desgraças desta vida passageira e liberta das trevas do “último dia”. O que vem a mim, - pressupõe uma caminhada, é um deslocar-se de posição. É empenho, dedicação. Sim, é busca de construir e transformar. A escritora brasileira, Cora Coralina, goiana, que escreveu seu primeiro livro aos 75 anos de idade, diz: “O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada; caminhando e semeando, no fim terás o que colher”. Nunca é tarde para começar a caminhada. Nunca será tarde para se encontrar na partilha do pão de Jesus com seu próximo. Nunca será tarde para experimentar a transformação da vida. Sim, colher os frutos de dias vivenciados, cheios de esperança e paz. Vir a Jesus é se encontrar na comunhão com as pessoas que sonham e clamam por um mundo mais justo e fraterno. Importa semear, caminhar, e fazer em grupo, como Jesus, os seus discípulos e o povo fizeram. Jesus faz o oferecimento de sua gratidão e vida, não perca esta oferta. Pastor Sinodal Elio Scheffler Sínodo da Amazônia
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Agosto 1 Ter 2 Qua 3 Qui 4 Sex 5 Sáb
Jo 7.25-30 Jo 7.31-39 Jo 7.40-52 Jo 8.1-11 Jo 8.12-20
6 Dom
Prédica: Mc 6.30-34
7 Seg 8 Ter 9 Qua 10 Qui 11 Sex 12 Sáb 13 Dom
Jo 8.21-30 Jo 8.31-36 Jo 8.37-45 Jo 8.46-59 Jo 9.1-12 Jo 9.13-23 Prédica: Jo 6.1-15
14 Seg 15 Ter 16 Qua 17 Qui 18 Sex 19 Sáb
Jo 9.24-34 Jo 9.35-41 Jo 10.1-10 Jo 10.11-21 Jo 10.22-30 Jo 10.31-42
20 Dom
Prédica: Jo 6.(22-23) 24-35 1 Cr 10.1-14 1 Cr 11.1-9 1948 – Assembléia Constituinte do Conselho Mundial de Igrejas, em Amsterdã, na Holanda 1 Cr 13.1-14 1 Cr 14.1-17 1 Cr 15.1-16,25-29 1 Cr 16.1-22 Prédica: 12º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Jo 6.41-51 Deus resiste aos soberbos, contudo, aos humildes concede a sua graça. 1 Pedro 5.5 1 Cr 16.23-43 1 Cr 17.1-14 1 Cr 17.15-27 1 Cr 18.1-17
21 Seg 22 Ter 23 Qua 24 Qui 25 Sex 26 Sáb 27 Dom
28 Seg 29 Ter 30 Qua 31 Qui
1927 – 1ª Conferência Mundial de Fé e Ordem, em Lausanne, Suíça 1872 – ✩ Osvaldo Gonçalves Cruz, cientista e médico-sanitarista brasileiro († 12/02/1917) 9º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Andai como filhos da luz, porque o fruto da luz consiste em toda bondade, e justiça e verdade. Efésios 5.8,9 1911 – Fundação da Associação de Comunidades Evangélicas Alemãs de Santa Catarina, em Blumenau
10º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Àquele a quem muito foi dado, muito lhe será exigido; àquele a quem muito se confia, muito mais lhe pedirão. Lucas 12.48 Dia dos Pais 1899 – Fundação da OASE em Rio Claro, SP
1925 – 1ª Conferência Universal Cristã de Vida e Obra em Estocolmo, na Suécia 11º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Feliz a nação cujo Deus é o Senhor, e o povo que ele escolheu para sua herança. Salmo 33.12
Jo = João • Mc = Marcos • 1 Cr = 1 Crônicas
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Lema do mês
Jesus Cristo diz: Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância. João 10.10
Normalmente, quando perguntamos a alguém a respeito da vida, ouve-se a expressão: “vou levando a vida, assim como Deus quer!” Poderíamos imaginar que tudo está maravilhoso, repleto de bênçãos para testemunhar, pois Deus deseja tudo de bom para todos. Jesus afirmou: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10.10). Olhando, porém, para a expressão de rosto das pessoas, nota-se que há uma tristeza interior por trás destas palavras. A resposta é vaga, decorada, jogada ao vento, repetida sem reflexão. Ela não expressa o acolhimento do projeto de Deus e a realização de sua vontade na vida humana. Jesus, ao afirmar que tinha vindo ao mundo proporcionar a todos vida em abundância, não estava lançando mais um chavão popular ou um vício de linguagem. Ele estava falando sério. A vida, presenteada por Deus, é para ser vivida em toda a sua plenitude. Foi por isso que Jesus se fez gente e veio habitar entre nós. Deus quer o melhor para cada um. Deus deseja que “todos os homens sejam salvos” (2 Tim 2.4a); que todos sejam absolutamente felizes, todos os dias, sempre. Jesus veio trazer uma nova qualidade de vida, que precisa ser acolhida e assumida através da fé. O Senhor não nos obriga a isso, mas coloca à disposição. Se que-
remos viver em plenitude, precisamos assumir, com muita clareza e coragem, o projeto de vida de Deus. Para entrar nesse projeto é necessário saber o que se deseja realizar com a vida. É preciso achar um grande sentido para viver, um grande sentido para lutar, para vencer os obstáculos, para superar as dificuldades e responder aos desafios inesperados. Num projeto de vida é necessário se ter uma meta. Quem não sabe para onde vai, enrosca-se em qualquer graveto no meio da estrada. Como posso ser vitorioso e caminhar seguro se não sei nem o que eu quero? Depois de definir a meta, é necessário ter coragem para se desinstalar, apostando no novo. Paulo afirma: “as coisas antigas já passaram, eis que se fizeram novas” (2 Co 5.17). Na vida abundante que Jesus veio trazer não há lugar para o comodismo, mas caminhar é preciso. Somos chamados a investir naquilo que realmente contribui e encaminha para a meta escolhida. Jesus veio ensinar que é possível viver em abundância, aqui e agora. Isso não é fruto do acaso, nem golpe de sorte. Para viver em plenitude é preciso mudar o jeito de pensar a vida. É ser um eterno aprendiz. Pastor Sinodal Renato Augusto Kühne Sínodo Brasil Central
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Setembro 1 Sex 2 Sáb 3 Dom
4 Seg 5 Ter 6 Qua 7 Qui 8 Sex 9 Sáb 10 Dom
11 Seg 12 Ter 13 Qua 14 Qui 15 Sex 16 Sáb 17 Dom
18 Seg 19 Ter 20 Qua 21 Qui 22 Sex 23 Sáb 24 Dom
25 Seg 26 Ter 27 Qua 28 Qui 29 Sex 30 Sáb
1 Cr 19.1-15 1 Cr 19.16-20.8 Prédica: Jo 6.51-58
1939 – Início da 2ª Guerra Mundial na Europa 1850 – Início da colonização em Blumenau, SC 13º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Não esmagará a cana quebrada, nem apagará a torcida que fumega. Isaías 42.3 1 Cr 21.1-14 1850 – Abolição do tráfico de escravos africanos no Brasil 1 Cr 21.15-22.1 1 Cr 22.2-19 1 Cr 28.1-13 1822 – Independência do Brasil 1 Cr 29.1-22 Dia Mundial da Alfabetização 2 Cr 1.1-17 Prédica: 14º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Jo 6.60-69 Jesus Cristo diz: Em verdade vos afirmo que, sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes. Mateus 25.40 Dia da Imprensa 2 Cr 2.1-18 2 Cr 3.1-17 1990 – Fundação da Comunhão Martim Lutero em Joinville, SC 2 Cr 5.1-14 2 Cr 6.1-21 2 Cr 6.22-42 2 Cr 7.1-10 Prédica: 15º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Mc 7.1-8, Bendize, ó minha alma, ao Senhor e não te esqueças de nem um só de 14-15,21-23 seus benefícios. Salmo 103.2 2 Cr 7.11-22 2 Cr 9.1-12 2 Cr 10.1-19 2 Cr 12.1-16 Dia da Árvore 2 Cr 18.1-27 2 Cr 18.28-19.3 Prédica: 16º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Is 35.3-7 Lançai sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós. 1 Pedro 5.7 2 Cr 20.1-26 2 Cr 26.1-23 2 Cr 28.1-15 Dia do Ancião 2 Cr 28.16-27 Lc 10.17-20 Dia de São Miguel e Todos os Anjos 2 Cr 34.8-21 1 Cr = 1 Crônicas • 2 Cr = 2 Crônicas • Jo = João • Mc = Marcos • Is = Isaías • Lc = Lucas
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Lema do mês
Tu, nosso Deus, és bom e verdadeiro; paciente, governas o universo com misericórdia. Sabedoria 15.1 (Bíblia de Jerusalém)
O pai está profundamente abatido com o falecimento do filho amado. A dor é demais. Seu luto o induz a uma homenagem em memória: uma escultura do filho talhada em madeira. Em pouco tempo a imagem passa de memória para alvo de adoração e oferendas. A tradição criou raízes; reis tiranos espalharam suas imagens entre o povo para marcar presença, autoridade e motivo de adoração. Este teria sido o início da idolatria nos seres humanos. “A adoração a divindades sem nome (identidade) é o princípio, a causa e o fim de toda a tragédia” (Sb 14.27), é um dos temas do Livro da Sabedoria, escrito entre os anos 20 e 50 antes de Cristo. É um dos Livros Apócrifos que não constam em todas as Bíblias. Por isso eis um pequeno resumo do conteúdo: a diferença e o contraste entre o que confia em Deus e o que deposita sua confiança em ídolos (tais como fenômenos da natureza imagens feitas por mãos humanas, pedras, ouro ou prata, pessoas divinizadas...). A idolatria é mostrada como perdição e tragédia, por exemplo: “ao orar pela vida de sua mulher e seus filhos, ele invoca o que não tem vida; por proteção na viagem ele invoca a entidade incapaz de usar os próprios pés; pelo sucesso e obra de suas mãos, ele invoca entidades cujas mãos são inoperantes; para
enfrentar as ondas selvagens do mar ele invoca a proteção do ídolo feito de madeira, que é mais frágil do que a madeira do barco que o carrega”. O povo brasileiro é profundamente sensível e carregado de espiritualidade. É a busca por Deus... que nem sempre leva para Deus. Os caminhos da piedade criados e enveredados pelo próprio ser humano correm o sério risco de desvios perigosos. E o risco da idolatria é o pior, e o mais presente. “Naquilo que prendes o teu coração, isto é o teu Deus” (Lutero). A qual Deus, afinal, entrego a minha vida! Experimentar Deus na vida é a melhor sabedoria. Crer é doar seu coração a Deus, esperar tudo dele, confiar nele acima de todas as coisas. A experiência salvífica do povo de Israel, as bases da comunidade primitiva, a perseverança dos reformadores, enfim, a ação transformadora do Cristo ressurreto e vivo tem-nos testemunhado e comovido o suficiente que “Nosso Deus é bom e verdadeiro; presente e governa o universo com misericórdia”. É maravilhosa a experiência daquele que ora: “Deus, venho ao teu encontro e tu me encontras de verdade. Minha vida e do meu povo pertence a ti. Quero perder-me em ti, Deus Eterno! Amém”. Pastor Sinodal Waldir Nilo Trebien Sínodo Centro-Campanha Sul
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Outubro 1 Dom
Prédica: Is 50.4-10
2 Seg 3 Ter
2 Cr 34.22-33 2 Cr 35.1-19 1226 – † Francisco de Assis, fundador da Ordem dos Frades Menores (franciscanos) (✩ 1181/1182) 2 Cr 35.20-27 1959 – Inauguração do prédio principal da Faculdade de Teologia da IECLB, em São Leopoldo, RS 2 Cr 36.1-10 2 Cr 36.11-21 2 Cr 36.22-23 Prédica: 18º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Jr 11.18-20 Esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé. 1 João 5.4 Et 1.1-22 1905 – Fundação do Sínodo Evangélico Luterano de SC, PR e outros estados, em Estrada da Ilha, SC Et 2.1-18 Et 2.19-3.6 1962 – Concílio Vaticano II, da Igreja Católica Romana, em Roma Et 3.7-15 Dia da Criança e Dia de Nª Srª Aparecida (feriado nacional) Et 4.1-17 Et 5.1-14 Prédica: 19º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Ne 11.4-6, Temos, da parte dele, este mandamento: que aquele que ama a Deus ame 10-11,16, também a seu irmão. 1 João 4.21 24-29 Et 6.1-13 Et 6.14-7.10 Et 8.1-17 Et 9.1-19 Et 9.20-28 1962 – Assembléia Constituinte do Sín. Evang. Luterano Unido (SELU) 1997 – Inauguração da Gráfica e Editora Otto Kuhr, em Blumenau, SC Et 9.29-10.3 Prédica: 20º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Hb 2.9-11 Cura-me, Senhor, e serei curado; salva-me, e serei salvo; porque tu és o meu louvor. Jeremias 17.14 Ap 1.1-8 Ap 1.9-20 Ap 12.1-6 1968 – Reestruturação da IECLB, fusão dos 3 Sínodos, criação da RE IV Ap 12.7-12 1949 – Constituição da IECLB Ap 12.13-18 1916 – ✩ Karl Gottschald, 3º Pastor Presidente da IECLB († 02/08/1993) Ap 13.1-10 Prédica: 21º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Hb 3.1-6 Ele te declarou, ó homem, o que é bom e que é o que o Senhor pede de ti: que pratiques a justiça, e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus. Miquéias 6.8 Dia Nacional do Livro e da Leitura Ap 13.11-18 Jo 8.31-36 DIA DA REFORMA • 1517 – Lançamento das 95 Teses de Martim Lutero
4 Qua 5 Qui 6 Sex 7 Sáb 8 Dom 9 Seg 10 Ter 11 Qua 12 Qui 13 Sex 14 Sáb 15 Dom
16 Seg 17 Ter 18 Qua 19 Qui 20 Sex 21 Sáb 22 Dom
23 Seg 24 Ter 25 Qua 26 Qui 27 Sex 28 Sáb 29 Dom
30 Seg 31 Ter
17º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde A graça nos foi manifestada, agora, pelo aparecimento de nosso Salvador Cristo Jesus, o qual não só destruiu a morte, como trouxe à luz a vida e a imortalidade, mediante o evangelho. 2 Timóteo 1.10 1921 – Reunião de constituição do Conselho Missionário Internacional em Lake Mohonk, EUA
Is = Isaías • 2 Cr = 2 Crônicas • Jr = Jeremias • Et = Ester • Ne = Neemias • Hb = Hebreus • Ap = Apocalipse • Jo = João
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Lema do mês
Tu visitas a terra e a regas; tu a enriqueces copiosamente. Salmo 65.9
O que mais aproxima de Deus: a fartura ou a necessidade? Por falta de umidade, algumas sementes não germinaram. Outras, teimosamente, conseguiram dar origem a uma pequena planta. A terra ansiava por chuva, mas esta não vinha ou vinha minguada. As plantas se mostraram resistentes, mas murchavam sob o sol escaldante do meio dia. Somente com o frescor da noite encontravam breve recuperação. Com o passar das semanas, no entanto, foram atrofiando em tamanho, na coloração e na produção de vagens e espigas. Os poços, as nascentes e os mananciais de água secaram ou diminuíram drasticamente. Este foi o cenário da seca que atingiu o sul e parte do centro-oeste do país em fins de 2004 e início de 2005. A conseqüência: preocupação, dívidas e, também, desespero. Como sempre, também neste caso, os mais fracos foram os mais atingidos em suas necessidades básicas. Foram os que mais sofreram e ainda sofrem. Teria Deus se esquecido de regar a terra? Nos Salmos 65 e 95 o salmista rende graças a Deus pelo seu cuidado com a terra. São palavras que expressam profunda gratidão pelas chuvas que permitiram que as plantas produzissem os seus frutos e que os rebanhos encon-
trassem pastagem à vontade. O salmista experimentava tempos de fartura e não de necessidade. Como dizem por aí, é fácil agradecer quando nada falta! Será?! Os anos que antecederam a grande seca foram, no geral, de fartura. Não poucos se esqueceram que dificuldades fazem parte da vida. Não poucos ficaram embriagados pelos sonhos de ampliar os horizontes da produção em grande escala. A lição contida no Salmo é a de aprendermos a expressar gratidão a Deus em tempos de fartura. Porque, olhando para Deus, não esquecemos da nossa condição de criatura. Porque, olhando para Deus, não esquecemos de amar o próximo e praticar a solidariedade. Porque, olhando para Deus, não fazemos dívidas contando com aquilo que é incerto. Porque, olhando para Deus, aprendemos a cuidar da criação. Porque, olhando para Deus, nos preparamos melhor para tempos difíceis. Porque, olhando para Deus, entendemos que as dificuldades podem nos aproximar dele e nos tornar mais humildes. Se agradecemos a Deus na fartura, também experimentamos o seu cuidado quando a necessidade sobrevêm. Que Deus nos ajude a perceber que ele ainda hoje visita a terra e a abençoa. Pastor Sinodal Nilo O. Christmann Sínodo Rio Paraná
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Novembro 1 Qua 2 Qui 3 Sex
Dt 33.1-3 Jo 5.24-29 Ap 15.1-4
4 Sáb 5 Dom
Ap 15.5-8 Prédica: Hb 4.9-16
6 Seg 7 Ter 8 Qua 9 Qui 10 Sex 11 Sáb 12 Dom
13 Seg 14 Ter 15 Qua 16 Qui 17 Sex 18 Sáb 19 Dom
20 Seg 21 Ter 22 Qua 23 Qui 24 Sex 25 Sáb 26 Dom
27 Seg 28 Ter 29 Qua 30 Qui
Dia de Todos os Santos Dia de Finados 1887 – ✩ Dr. Hermann Dohms, 1º Pastor Presidente da Federação Sinodal († 04/12/1956) 22º DOMINGO APÓS PENTECOSTES Verde Eu te ouvi no tempo da oportunidade e te socorri no dia da salvação. 2 Coríntios 6.2
Ap 16.1-9 Ap 16.10-16 Ap 16.17-2 Ap 17.1-6 Ap 17.7-14 1483 – ✩ Martim Lutero, reformador († 16/02/1546) Ap 17.15-18 1982 – Assembléia Constitutiva do Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI), em Huampaní, Lima, Peru Prédica: ANTEPENÚLTIMO DOMINGO DO ANO ECLESIÁSTICO Verde 1 Rs 17.8-16 Eis, agora, o tempo sobremodo oportuno, eis, agora, o dia da salvação. 2 Coríntios 6.2 Ap 18.1-24 354 – ✩ Aurélio Agostinho, teólogo da Igreja Antiga Ocidental (latina), bispo († 28/08/430) Ap 19.1-10 Ap 19.11-21 1889 – Proclamação da República do Brasil Ap 20.1-10 Ap 20.11-15 Ap 21.1-8 1982 – Constituição do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), em Porto Alegre, RS Prédica: PENÚLTIMO DOMINGO DO ANO ECLESIÁSTICO Verde Dn 12.1-3 Importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o bem ou o mal que tiver feito por meio do corpo. 2 Coríntios 5.10 Ap 21.9-14 Ap 21.15-21 Ap 21.22-27 Ap 22.1-5 Ap 22.6-15 Ap 22.16-21 1843 – ✩ Dr. Wilherlm Rotermund, fundador do Sínodo Riograndense († 05/04/1925) Prédica: ÚLTIMO DOMINGO DO ANO ECLESIÁSTICO Verde Jo 18.33-37 Àquele que está sentado no trono e ao Cordeiro seja o louvor, e a honra, e a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Apocalipse 5.13 Is 1.1-9 Is 1.10-20 Is 2.1-5 Is 3.1-15 1991 – Abertura do Centro de Literatura Evangelística da IECLB, em Blumenau, SC Dt = Deuteronômio • Jo = João • Ap = Apocalipse • Hb = Hebreus • 1 Rs = 1 Reis • Dn = Daniel • Is = Isaías
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Lema do mês
Deus diz: Eis que faço novas todas as coisas. Apocalipse 21.5
Fazer coisas novas! Como é difícil! Lembro-me do tempo de adolescente. A professora mandava desenhar. Era um desastre. Eu não conseguia fazer a cópia de um desenho que estava diante de mim. Pior ainda era eu criar algo novo. Certamente a maioria das pessoas tem dificuldade em criar algo novo. Mesmo assim, há muitas pessoas que receberam os dons para criar algo novo. Até freqüentam cursos técnicos ou faculdades para se aperfeiçoarem. E aí ficamos admirados com as coisas bonitas que são feitas pelas mãos destas pessoas. Deus, como Criador e Mantenedor do Universo, afirma que fará novas todas as coisas, tanto na criação como nas criaturas. Como no primeiro parágra-
fo, acreditamos ser difícil. Até existem pessoas que afirmam que o Universo é tão perfeito, que nada melhor pode ser criado. Entretanto, conforme o segundo parágrafo, coisas novas podem ser criadas. Assim, como filhos e filhas de Deus, caminhamos neste mundo na certeza da fé, que Deus, como sendo o “Grande Arquiteto do Universo” conforme os primeiros capítulos de Gênesis, criará coisas novas. Diante delas vamos ficar super admirados de tão grandiosas que serão. Portanto, importa vivermos nossa vida de fé, deixando o caminho aberto para que o Deus Criador, Salvador e Santificador possa “fazer novas todas as coisas”. Pastor Sinodal Werner Brunken Sínodo Paranapanema
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Dezembro 1 Sex 2 Sáb 3 Dom 4 Seg 5 Ter 6 Qua 7 Qui 8 Sex 9 Sáb 10 Dom
Is 4.2-6 Is 5.1-7 Prédica: 1 Ts 3.9-13 Is 5.8-24 Is 6.1-13 Is 7.1-9 Is 7.10-17 Is 8.1-15 Is 8.23-9.6 Prédica: Lc 3.1-6
11 Seg 12 Ter 13 Qua 14 Qui 15 Sex 16 Sáb
Is 11.1-10 Is 12.1-6 Is 24.1-23 Is 25.1-9 Is 26.1-6 Is 26.7-19
17 Dom
Prédica: Sf 3.14-18a
18 Seg
Is 28.14-22
19 Ter 20 Qua 21 Qui 22 Sex 23 Sáb 24 Dom
Is 29.17-24 Is 32.1-20 Is 33.17-24 Is 35.1-10 Mt 1.1-17 Prédica: Lc 1.39-55
25 Seg 26 Ter 27 Qua 28 Qui 29 Sex 30 Sáb 31 Dom
Prédica: Mt 1.18-25 Prédica: Tt 3.4-7 At 6.8-7.2a, 51-60 Mt 3.1-12 Mt 3.13-17 Mt 4.1-11 Mt 4.12-17 Prédica: Lc 2.41-52
1º DOMINGO DE ADVENTO Eis aí te vem o teu Rei, justo e salvador.
Violeta Zacarias 9.9
2º DOMINGO DE ADVENTO Violeta Exultai e erguei a vossa cabeça; porque a vossa redenção se aproxima. Lucas 21.28 Dia da Bíblia 1948 – Declaração Universal dos Direitos Humanos, da ONU Dia Universal dos Direitos Humanos
1815 – Elevação do Brasil à categoria de Reino, unido a Portugal e Algarves 3º DOMINGO DE ADVENTO Violeta Preparai o caminho do Senhor. Eis que o Senhor Deus virá com poder. Isaías 40.3,10 1865 – † Francisco Manoel da Silva, compositor do Hino Nacional Brasileiro (1831) (✩ 1795)
4º DOMINGO DE ADVENTO Violeta Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez digo: alegrai-vos. Perto está o Senhor. Filipenses 4.4,5 VIGÍLIA DE NATAL Branco NATAL
Branco
Mártir Estêvão
1º DOMINGO APÓS NATAL – São Silvestre O Verbo se fez carne e habitou entre nós. E vimos a sua glória.
Branco João 1.14
Is = Isaías • 1 Ts = 1 Tessalonicenses • Lc = Lucas • Sf = Sofonias • Mt = Mateus • Tt = Tito • At = Atos
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Lema do mês
Vós, com alegria, tirareis água das fontes da salvação. Isaías 12.3
Nada mais comum para sobreviver do que recorrer à água. Em regiões áridas ou extremamente quentes, água limpa e de boa qualidade pode ser uma raridade. O tempo do Advento de Cristo inspira à busca das “águas da fonte da salvação”. O homem de Deus usa o símbolo dos mananciais das águas em meio a uma terra de pouca água. Fontes comuns ou poços privativos serviam de refúgio tanto a animais como a pessoas. De olhos abertos nesse mundo de Deus, descobriremos facetas da desumanidade. No mundo dos homens prevalece a lei da produtividade, da eficácia e do merecimento próprio. Existem inúmeras vidas humanas que se transformaram em deserto, sem chance, vazias de esperança e de conteúdo. O tempo do Advento nos traz uma excelente notícia. É Palavra que vem de fora, não é fruto da inspiração humana. É animador ouvir sobre portas que se abrem, quando tantas outras se fecham. É ótimo ser confrontado com o anúncio da esperança em meio às experiências do desespero. Advento é como o oásis fortalecedor que surpreende na paisagem árida do deserto. Toda a agitação face ao Natal-consumo tende a desviar “das águas da fonte
da salvação”. O estresse da vida moderna desafia a parar; o descanso junto às águas refrescantes traz sossego e sensação de bem estar. A vida verde no oásis, as plantas e as flores coloridas contrastam com a sequidão do deserto. Tolo é quem monta acampamento, em meio à areia do deserto. A situação do deserto precisa ser superada. As palavras do Salmo 23 são confortadoras: “O Senhor me faz repousar em pastos verdejantes. Levame para junto das águas de descanso”. Advento é ser levado ao oásis do silêncio, lugar de esperança, por causa de Jesus Cristo. Ele é a “fonte das águas da salvação”. Quando a escuridão envolve todo o nosso ser, Deus dá liberdade para pedir: Vem, Senhor, tem misericórdia de nós! Ainda que frustrados face às oportunidades perdidas, não desistimos. Esperamos orando: Vem, Senhor, tem compaixão de nós! O manancial das águas da salvação, Jesus Cristo, dá forças para encarar a desesperança e o medo. Então, o tempo do Advento e do Natal não mais se resume a datas especiais, em calendários, mas é presente que mexe com a nossa própria vida e também com a existência do próximo! Pastor Sinodal Manfredo Siegle Sínodo Norte Catarinense
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A importância de trabalhar o Tema do Ano Dizem que a voz do povo é a voz de Deus e talvez este ditado popular seja um bom gancho para explicar a importância do Tema do Ano, instituído por nossa Igreja para promover a unidade e a identidade da IECLB em todo o território nacional, nos mais variados grupos: crianças, jovens, mulheres, homens, ou... Escola Dominical, JE, OASE, Fórum de Reflexão da Mulher Luterana, Legião e outras tantas siglas representativas que vivenciamos no dia-a-dia. Com o Tema do Ano um mesmo assunto está sendo discutido em diferentes contextos, mas marcando uma caminhada conjunta e, justamente por sua abrangência nacional, apoiando-nos nesta caminhada. Ele não foi instituído para ser mais uma atividade em nossas agendas e mentes lotadas, mas para somar – para ser um pano de fundo para o trabalho das questões cotidianas e mesmo para os desafios dos grupos.
Em 2006 o tema que nos une é “Deus, em tua graça, transforma o mundo” – ele expressa nosso desejo de mudança em nossas vidas, em nossas igrejas, em nossa sociedade, em nossa terra e em nosso mundo. Certamente as necessidades de transformação das comunidades de Boa Vista, RR, no extremo norte, são diferentes das de Santa Vitória do Palmar, RS, no extremo sul. E as diferenças não são apenas geográficas, há também o contraste entre a realidade rural e urbana, como Funil, MG e São Paulo, capital. Mas é justamente aí, nestas diferenças que está um grande impulso: a diversidade nos traz representatividade e nos desafia a alimentar constantemente o que temos em comum e que nos aproxima: nossa fé em Deus. A fé que nos faz agir e ao mesmo tempo ser agentes da transformação. Ninguém muda o mundo sozinho/a – mas a transformação começa em nossas vidas. Uma
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sagem comum de mais de 3 mil comunidades e pontos de pregação, e outras tantas instituições e trabalhos que têm um vínculo confessional com a IECLB. Somos quase um milhão de membros em todo país e somente juntos – e cientes desta representatividade – poderemos dar nosso testemunho público, acompanhado de passos concretos.
voz isolada, pode ter alguma potência, mas, quando é voz de muitos, ganha força, talvez uma força divina, como sugere o ditado. Afinal, é através desta comunhão que nos unimos e que é possível superar as distâncias e diferenças, que é possível exercer e sentir a solidariedade nos momentos em que nossa fé é colocada à prova. O Tema do Ano quer ser a men-
Em 2006, o novo lema proposto é “Sirvam uns aos outros, cada qual conforme o dom que recebeu” – um convite à ação diaconal, à comunhão, ao partilhar. E você? Quer aceitar este convite? Quer participar do Tema do Ano? Conhecer os subsídios para reflexão, os testemunhos, enviar relatos? Então escreva um e-mail para temadoano@ieclb.org.br e ficaremos em contato! Algumas datas para trabalhar o Tema do Ano 26/03 ..................... Lançamento da Campanha 2006 16 a 22/04 ............. Semana dos Povos Indígenas 21/04 ..................... Dia Nacional da Juventude Evangélica 30/04 ..................... Dia Nacional da Diaconia 21 a 28/08 ............. Semana Nacional da Pessoa com Deficiência 17 a 24/09 ............. Semana Nacional da OASE Subsídios para o trabalho Este ano estão sendo oferecidos cadernos de estudos bíblicos, técnicas, além dos tradicionais materiais de divulgação do Tema, como banners, adesivos, calendários de bolso entre outros. Informações podem ser obtidas através do e-mail: temadoano@ieclb.org.br ou do site de nossa igreja: www.ieclb.org.br
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Temas da IECLB 1976 – Comunidade Consciente e Atuante 1977 – Nova comunhão em Cristo, como vivê-la? 1978 – Cristo, o caminho 1979 – A importância da família cristã para a criança 1980 – Cristo, o Mediador 1981 – Homem e Mulher unidos na Missão 1982 – Terra de Deus – Terra para todos 1983 – Eu sou o Senhor teu Deus 1984 – Jesus Cristo – Esperança para o mundo 1985 – Educação – Compromisso com a verdade e a vida 1986 Por Jesus Cristo, Paz com Justiça 1987 1988 ... E sereis minhas testemunhas 1989 1990 O pão nosso de cada dia 1991 1992 Comunidade de Jesus Cristo – A Serviço da Vida 1993 1994 Permanecem a fé, a esperança e o amor 1995 1996 Somos Igreja. Que Igreja somos? 1997 1998 – Aqui você tem lugar 1999 – É tempo de lançar 2000 – Dignidade Humana e Paz – um novo milênio sem exclusão 2001 – Ide, fazei discípulos... 2002 – Mãos à obra 2003 – Nosso mundo tem salvação 2004 – Pelos caminhos da esperança 2005 Deus, em tua graça, transforma o mundo 2006
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Quantas línguas fala a IECLB? – Reflexão à luz de Pentecostes – Dra. Taís Kind
história pessoal e única de cada um de seus ouvintes. Alicerçada na ação comunicadora de Deus em Pentecostes, a IECLB prega a vontade de Deus fundamentada na redescoberta do Reformador Martim Lutero: “O justo viverá por fé” (Rm 1.17). Ensinando a boa nova da justificação por graça, mediante a fé no único Senhor e Salvador, Jesus Cristo. Esta comunicação tem conseqüências práticas para vida pessoal de seus membros e os conscientiza para a transformação do mundo em que vivem. Em outras palavras, ela os liberta, potencializa e envia como embaixadores de Cristo para dentro de um mundo carente de Evangelho. A IECLB integra um Brasil pluriétnico e tem como grande desafio ao fazer missão, empenhar-se por formas
Quando falamos em línguas, lembramos de Pentecostes, dia em que comemoramos uma das grandes festas da comunicação do amor de Deus. Conforme narram as Sagradas Escrituras, no dia de Pentecostes encontravam-se em Jerusalém “homens piedosos de todas as nações debaixo do céu” (Atos 2.5) e todos, simultaneamente, puderam compreender a mensagem anunciada cada um em sua própria língua. Por intermédio dos discípulos de Jesus, o Espírito Santo a transmitiu de forma individual e personalizada. Ou seja, “na língua materna”, a língua particular de cada um dos presentes. Este fato singular constitui o milagre experimentado naquele dia. Em Pentecostes, portanto, aprendemos, que Deus ao se comunicar conosco, faz uso da “língua materna”, valorizando a biografia, a
Gemeindebrief
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Gemeindebrief
contextualizadas de comunicação. Como sabemos, as comunidades da IECLB por muito tempo se compreenderam como Igrejas Evangélicas Alemãs, conseqüentemente, se preocuparam com a divulgação do Evangelho, somente entre os imigrantes alemães e seus descendentes. Mas já neste particular não se pode falar simplesmente do alemão, mas sim de uma língua de muitos matizes como por exemplo, o Pomerano, o Hunsrück, o Schwäbisch, só para citar alguns dialetos. Contudo, é importante ressaltar que, embora minoritários, outros contingentes étnicos já participam da IECLB. O leque étnico abrange em maior ou menor número, africanos, europeus e asiáticos e povos indígenas. Portanto, a questão que se coloca não é “Quantas línguas fala a IECLB?”, mas “Qual é a língua oficial da IECLB?”
À luz de Pentecostes essa língua transcende todas as barreiras étnicas e sociais. Ela pode ser compreendida por pessoas “de todas as nações debaixo do céu.” Porque o Espírito Santo nos ensina a comunicar o amor incondicional de Deus à pessoa humana. Como Igreja inserida na realidade brasileira, a IECLB é confrontada não só com as condições subumanas em que a grande maioria do povo se encontra, mas também, com a multiplicação dos movimentos religiosos, com os efeitos do secularismo, respectivamente com um mundo dominado pela ciência e pela técnica. Por isso a língua do seu discurso precisa adequar-se à realidade das comunidades em questão sem, contudo, perder de vista a identidade luterana. A autora é pastora da IECLB 38
Amigos Vinícius de Morais
Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos. Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles. A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade. E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências... A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar. Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos. Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure. E às vezes, quando os procuro, noto que eles não têm noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida. Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado. Se todos eles morrerem, eu desabo! Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles. E me envergonho, porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem-estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo. Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles. Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer... Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos! A gente não faz amigos, reconhece-os. 39
Retrato de uma madona atual Eloi Zanetti
Eu havia trabalhado a manhã inteira em um seminário de empresários em um hotel de luxo. Como sempre, nestes ambientes, reina uma certa fartura. O coffee break fora abastado com pãezinhos especiais, doces, brioches e uma infinidade de sucos. No intervalo do almoço, sem fome, desci à rua e me dirigi a um shopping que fica perto do hotel. Precisava comprar um presente para um amigo cuja festa de aniversário iria acontecer logo mais à noite. Caminhava tranqüilo, descuidado, quando fui surpreendido por uma cena forte, carregada de amargura e pungente tristeza. Mas, ao mesmo tempo que me chocava, mostrava um belíssimo momento de carinho entre um pai e o seu filho: quase na esquina, sentados na calçada, um homem e um rapaz. O homem se encostava ao muro e fazia dele o seu espaldar. Era um catador de papel, um senhor com barbas já meio grisalhas, rosto anguloso, magro, sulcado pelo sofrimento dos anos, estampando uma vida percorrida na carência. Mas, carregava em seus gestos suaves e carinhosos o comportamento sereno das pessoas que aprendem a sofrer resignadas. Ele se sentara no chão forrado com folhas de jornais, fazendo destas uma espécie de toalha de mesa. E, espalhadas na sua frente, havia restos de comida, algumas soltas, outras em latas. Ao seu lado, rente ao seu esquálido corpo apoiava-se o rapaz, que deveria ter uns 15 anos e apresentava sérias deficiências mentais e
motoras. O garoto esperava que o pai colocasse o alimento na sua boca. Com extrema paciência o velho enchia os dedos da mão com comida e levava-os até ele que se erguia com dificuldade, esticando a cabeça e o rosto para cima, com a boca aberta esperando a porção. Um desamparado filhote de pássaro esperando a alimentação que chegava. Naquela hora o movimento de passantes era grande e os que percebiam o que ocorria entre os dois viravam os rostos envergonhados e constrangidos com a situação. A cena exerceu uma forte atração em mim. Parei e fingi estar falando ao celular para poder olhar melhor aquele instante de profundo e insólito carinho paterno. Um pedaço da crueldade da vida real, dolorido retrato do nosso descaso e da nossa incompetência secular em não saber administrar um país onde sobram recursos naturais e faltam recursos humanos do bom senso, da boa vontade e da honestidade de propósitos. Onde os programas sociais de governo e das empresas são meros programas de mídia e de show para eleitores. A cena era como se fosse a famosa foto de Eugene Smith “A Madona de
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Minamata” - Japão, onde uma mãe banha o rapaz Tomoko, vitima de graves defeitos de nascença provocados pela poluição industrial. Mas a minha madona, naquele momento, era um quadro real composto por um pai carinhoso, um rústico catador de papel, trabalhador da nossa miséria, vindo sei lá de onde, que com
paciência, atenção e carinho alimentava o seu filho com o pouco que conseguira, sobras de lixo ou oferecimento de alguém. Vi também, logo em seguida, na mesma rua, um pouco mais adiante, na fila de um restaurante da moda, famílias abastadas reclamando da fila que se formava.
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Curriculum vitae Redação feita por um candidato num processo de seleção. Não se sabe se ele foi aprovado, mas seu texto está fazendo sucesso e ele com certeza será sempre lembrado pela sua criatividade, sua poesia e, acima de tudo, pela sua alma. Vale a pena ler. Eu já dei risada até a barriga doer, já nadei até perder o fôlego, já chorei até dormir e acordei com o rosto desfigurado. Já fiz cosquinha na minha irmã só pra ela parar de chorar, já me queimei brincando com vela. Eu já fiz bola de chiclete e melequei todo o rosto. Já conversei com o espelho, e até já brinquei de ser bruxo. Já quis ser astronauta, violonista, mágico, caçador e trapezista. Já me escondi atrás da cortina e esqueci os pés pra fora. Já passei trote por telefone, já tomei banho de chuva e acabei me viciando. Já roubei beijo. Já fiz confissões antes de dormir num quarto escuro pro melhor amigo. Já confundi sentimentos: peguei atalho errado e continuo andando pelo desconhecido. Já raspei o fundo da panela de arroz carreteiro, já me cortei fazendo a barba apressado. Já chorei ouvindo música no ônibus.
Já tentei esquecer algumas pessoas, mas descobri que essas são as mais difíceis de se esquecer. Já subi escondido no telhado pra tentar pegar estrelas, já subi em árvore pra roubar fruta, já caí da escada de bunda. Conheci a morte de perto, e agora anseio por viver cada dia. Já fiz juras eternas, já escrevi no muro da escola, já chorei sentado no chão do banheiro. Já fugi de casa pra sempre, e voltei no outro instante. Já saí pra caminhar sem rumo, sem nada na cabeça, ouvindo estrelas. Já fiquei sozinho no meio de mil pessoas sentindo falta de uma só. Já vi pôr-do-sol cor-de-rosa e alaranjado, já me joguei na piscina sem vontade de voltar, já bebi uísque até sentir dormentes os meus lábios, já olhei a cidade de cima e mesmo assim não encontrei meu lugar. Já senti medo do escuro, já tremi de nervoso, já quase morri de amor, mas renasci novamente pra ver o sorriso de
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Foram tantas coisas feitas, momentos fotografados pelas lentes da emoção, guardados num baú chamado coração. E agora um formulário me interroga, me encosta na parede e grita: “Qual sua experiência?” Essa pergunta ecoa no meu cérebro: “Experiência... experiência...” Será que ser “plantador de sorrisos” é uma boa experiência? Não!!! Talvez eles não saibam ainda colher sonhos!
alguém especial. Já acordei no meio da noite e fiquei com medo de levantar. Já apostei em correr descalço na rua, já gritei de felicidade, já roubei rosas num enorme jardim. Já me apaixonei e achei que era para sempre, mas sempre era um “para sempre” pela metade. Já deitei na grama de madrugada e vi a Lua virar Sol. Já chorei por ver amigos partindo, mas descobri que logo chegam novos, e a vida é mesmo um ir e vir sem razão.
Fonte: www.paralerepensar.com.br/ curriculum_vitae.htm Fotografias: Gemeindebrief
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Morar na rua – viver da esperança A esperança como princípio no trabalho com moradores de rua Vera Cristina Weissheimer
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onde moravam antes de vir parar nas ruas da capital paulista. Data de nascimento? Quanto tempo de São Paulo? Quanto tempo de rua? E, de albergue? Essas e outras perguntas vão apresentando quem vem pela primeira vez. Qual o seu nome? - pergunto para o terceiro novato da tarde. “Não sei, não, dona! Não tenho nome”. O grupo, em seguida, intervém: “Deixa disso, Fernando! Diz logo o teu nome”. “Sou o que sou. Esse é o meu nome, não é assim que Deus se apresenta para Moisés?”, diz ele, referindo-se à passagem em que Deus se apresenta na sarça ardente a Moisés. Continua: “Eu também não preciso de nome, põe aí qualquer coisa.” Depois desconversa e diz: “Vim de Palmeira dos Índios, das Alagoas, fica perto de Jacaré dos Homens.” Joseli Israel Lourenço pede para ser chamado somente por Israel. “Se isso é nome de homem!”, diz, referindo-se indignado ao seu primeiro nome. Ele continua: “Nasci nas montanhas das Gerais. Sou das terras de Drummond e Fernando Sabino. Sou mineiro e a poesia não nos falta.” Levanta da cadeira e começa teatralmente a declamar Olavo Bilac: Ora, direis, Ouvir estrelas... Decerto perdeste o senso... Israel me encara e continua: “Você quer saber se tenho alguma esperança? Eu ainda quero viver, ainda lembro das poesias que aprendi, então acho que ain
esperança é um pão duro que precisa ser amassado em nossas mãos. Pablo Neruda
Paulo Hebmüller
Há momentos em que a esperança surge como que revelando um lampejo de lucidez entre os moradores de rua que fazem parte de um grupo de conversa na Igreja Martin Luther, localizada no Centro da cidade de São Paulo. Dos mais de 200 que passam por lá toda sexta-feira à tarde para um café, um culto e trabalho com artesanato, em torno de 20 participam também do grupo que eles mesmos passaram a chamar de “Grupo de conversa que faz bem”. Mais uma sexta. O grupo começa. Ao centro, uma mesa com duas jarras de água, copos plásticos e duas bandejas com bolachas de água e sal. Cada um se apresenta. Contam em que cidade nasceu,
Pastora Vera no culto semanal com moradores de rua 44
Cecília Bastos – Jornal da USP
a vida e a morte, com a taxa de potássio muito baixa. A fila para hemodiálise é grande e as máquinas são poucas. Uma semana depois ele já estava com aparência bem melhor. Havia sido atendido na emergência de outro hospital e fizera as duas hemodiálises da semana. “A minha esperança é conseguir logo um rim. A esperança é o meu motor. Senão, teria ficado em Uruguaiana, esperando pela morte. Falar aqui me faz bem, e me dá esperança. Estar na igreja me alivia.” Levanta, vai até a mesa, serve-se de água, ergue o copo plástico e brinda: “Não tá morto quem luta e quem peleia!” O trabalho com os moradores de rua existe desde meados de 1999 e já passou por várias fases, desde a fase em que apareciam de 20 a 30 pessoas até a fase da “explosão”, quando chegavam a mais de 300. A igreja fica numa região do chamado Centro Velho e é vizinha da
Grupo de conversa
Cristina Arena
da tenho esperança que algo de bom possa acontecer. Que alguma coisa eu possa fazer.” “Seu” Elias - com cara, jeito e nome de profeta bíblico, barba comprida, alto e sempre de paletó mal-ajambrado - pede licença para falar enquanto arruma os inúmeros sacos que carrega. “Suicídio é falta de esperança. Jesus não tinha onde reclinar a cabeça, nem por isso se matou. Sem esperança a gente não vive, morre em vida.” Luís Gutérres veio de Uruguaiana, Rio Grande do Sul, para tentar entrar na lista de transplante renal. “Já conhecia São Paulo, mas desta vez”, diz resignado, “vim para viver ou morrer”. Na capital gaúcha a fila dos transplantes é muito demorada, a espera pode chegar a dez anos, enquanto que em São Paulo a média de espera é de três anos. Morre mais gente na cidade, e por isso há mais transplantes. Uma estatística cruel. Quando veio pela primeira vez no grupo, Luís estava há três dias sem fazer hemodiálise e, por isso, visivelmente abalado. Contou que foi na emergência de um hospital e ouviu do médico que só poderia ser atendido caso chegasse entre
Morador de rua orando na igreja 45
Cecília Bastos – Jornal da USP
famosa Cracolândia. Um dos freqüenta-dores mais antigos e assíduos das sextas-feiras é Antônio Leite, 52 anos, que começou as faculdades de Ciências Sociais e de Jornalismo, mas abandonou-as. “Consigo encontrar alguma esperança dentro de mim quando não bebo pinga. Nos dias que bebo, me afogo e junto se vão as esperanças.” Antônio lê muito nas bibliotecas públicas e com facilidade cita Marx, Hegel ou filósofos gregos. Está escrevendo uma peça de teatro e guarda outros manuscritos na secretaria da comunidade. “Esperança é uma injeção de ânimo e coragem. O sonho é meu; e no sonho a mulher que não me quer é minha, toda minha. O sonho é meu. Nem Freud pode impedir isso”. E dá risada de sua fala. A esperança é também um grito pela vida. A esperança é o mais importante antídoto para suportar a rua, mesmo nos casos, como o de Antônio, em que a rua é uma escolha. Saber que alguém está disposto a abrir a igreja, a sentar numa roda e a ouvi-los ajuda a lhes devolver parte da dignidade para que se sintam gente. Não podemos deixar que esses homens e mulheres se tornem invisíveis porque nossos olhos não querem enxergar vidas tão desgraçadas. A esperança que outros encontram
Antônio Leite, 52 anos, morador de rua em São Paulo que já freqüentou duas faculdades: “Esperança é uma injeção de ânimo e coragem.” em nós nos levanta e nos põe de pé e resgata também a esperança que trazemos em nossa alma. A autora é pastora na Paróquia Centro de São Paulo, Mestra em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo
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sperança é acessar no presente as trilhas para o futuro. Ernst Bloch 46
Escola Superior de Teologia da IECLB – 60 anos de História e Compromisso – Osmar Witt
A Escola Superior de Teologia, nasceu modesta, em 1946, com o nome de Escola de Teologia. Em 1958, recebeu o nome de Faculdade de Teologia, o qual manteve até 1984, quando o Concílio Geral da IECLB, reunido em Marechal Cândido Rondon/PR, aprovou uma nova estrutura que lhe deu o nome que tem hoje e ampliou o seu raio de atuação. A partir de 1985, a Escola Superior de Teologia foi incumbida da formação de pastores/as, de catequistas, de diáconos/as, de leigos/as e de docentes e pesquisadores. Hoje, a EST também abrange o campo da Música, da Musicoterapia e da Enfermagem. Em sua trajetória sexagenária, a EST cresceu e qualificou-se a ponto de o seu curso de Bacharelado em Teologia ter sido o primeiro no Brasil a obter a autorização oficial do Ministério da Educação e Cultura, em 1999. É oportuno, pois, recordar que esse reconhecimento é fruto de uma longa trajetória histórica e do trabalho de pessoas que souberam sonhar mantendo os pés no chão. riais e humanos, protelou a realização deste anseio por muito tempo. Em meados do século XX, tendo em vista que a Igreja Evangélica na Alemanha não podia mais continuar auxiliando as comunidades no Brasil, em razão das dificuldades criadas pelas circunstâncias da Segunda Guerra (1939-1945), abraçou-se uma nova proposta: “Ser Igreja de Jesus Cristo no Brasil com todas as conseqüências que daí resultarem para a pregação do Evangelho neste país e a co-responsabilidade para a formação da vida política, cultural e econômica de seu povo.” Este foi o desafio assumido pela geração de lideranças evangélicas que viveram aquela época. O que para nós talvez pareça algo evidente, significou uma importante reorientação teológica para os sínodos e as comunidades que os compunham. Foi preciso elaborar planos para “andar com as próprias pernas”. Fez parte desses planos a criação de uma
A história da formação de comunidades evangélico-luteranas em solo brasileiro confunde-se com a chegada das primeiras levas de imigrantes europeus, a partir de 1824. Boa parte dessas comunidades não podia contar com os serviços de obreiros regularmente formados. Sabia-se, porém, que a “ambientação cultural do cristianismo evangélico” dependeria de uma formação teológica que pudesse ser realizada aqui mesmo, no Brasil, tal como era vislumbrada pelo P. Rotermund, São Leopoldo, em 1877: “Uma coisa é certa: a fim de que nossas comunidades fiquem mais vigorosas, é necessário que seus ministros [pastores] e mestres [professores] sejam formados em seu próprio meio. E por mais distante no futuro que esteja a realização plena desse objetivo, deve-se visá-lo já agora com clareza e trabalhar para atingi-lo.” A precariedade de recursos, mate-
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Escola de Teologia que pudesse formar os quadros de obreiros de que as comunidades tinham necessidade. Em 26 de março de 1946, em São Leopoldo, teve início a Escola de Teologia. Ela representou um fator fundamental de aproximação entre as comunidades. Pastores formados nessa escola puderam, com base numa formação comum, contribuir para o fortalecimento dos elos entre as comunidades espalhadas por todo o país. Seu primeiro diretor foi o P. Dr. Hermann Dohms, que na ocasião assim se expressou quanto ao compromisso da formação teológica pretendida: “Inauguramos este curso sob o nome de uma Escola de Teologia, à qual pertencemos, como professores e estudantes, sem aspirações de maior publicidade. (...) O que temos, temos pela fé, isto é: Pelo atrevimento de, no meio das pequenas cousas deste mundo, na privação e no pecado, nos confiarmos Àquele que é total, integral e perfeito na sua santidade e no seu amor, perfeito também na sua manifestação criadora de fé. O que não promana da fé, é pecado, diz o apóstolo. E o que nasce dessa fé livre de ilusões, é a vitória que vence o mundo.
(...) Destarte o estudo de Teologia sempre abrangerá os dois pólos: Será percepção de Deus e percepção do mundo ao mesmo tempo. Onde o mundo nos aparece na sua realidade, onde não o enchemos mais, ingenuamente, com nossos próprios ideais, deuses feitos por nós, que em verdade são ídolos, ali ele, no seu abandono, clama pela realidade de Deus. (...) Se é que aqui deverá crescer uma Escola de Teologia, então uma cousa é certa: Somente poderá crescer em um tal estudo de teologia que tem por base e fim a fé que de nenhum modo se fia em qualquer cousa deste mundo, mas se baseia exclusivamente em Deus. Isto porém quer dizer: estudar Teologia para nós deve significar aprender a ver a Deus e o mundo com os olhos insubornáveis da verdade que soberanamente reina na Bíblia.” Essa perspectiva aponta os desafios que nascem do Evangelho de Jesus Cristo, considerando o contexto em que somos chamados a viver e praticar a fé, valorizando a abertura ecumênica e o diálogo com outros saberes. É nessa dinâmica de serviço ao Evangelho no mundo que a EST constrói sua identidade. O autor é pastor da IECLB
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O amor na velhice Olympia Salete Rodrigues
este artigo por dois motivos: o primeiro por pensar exatamente como ela ao entregar o amor ao amado. O amor tem que ser entregue SEMPRE, mesmo que não seja aceito. Porque o amor só se torna concreto se chega às mãos do ser amado. E, se não entregamos o amor que sentimos, esse amor fica maculado e se deforma, pois foi sonegado, o que, em matéria de amor, é crime sem perdão. O segundo motivo de minha escolha é colocar para todos que me lêem, reflexões sobre o amor na velhice, um direito de todos nem sempre respeitado. Uso sempre a palavra velho (ou velha)... Não gosto, quem me lê já sabe, de idoso ou terceira idade... Ai, isso até me dói..., pela tentativa de falsidade que encerra. A palavra velho implica numa carga de sabedoria e experiência que nos dá a vida à medida que vivemos. E dessa carga também quero falar. Eu, pessoalmente, recebo uma série de observações que poderiam até parecer desagradáveis e indelicadas. Só que não as sinto assim porque as acolho com serenidade. Por falar eu de amor, e por amar de verdade, muita gente entende que sou atrevida, ridícula, inconseqüente etc... etc... etc... E, o estranho disso é que não ouço tais críticas de pessoas jovens, mas de pessoas que estão caminhando para o auge da maturidade cronológica e atribuem a mim os fantasmas da própria velhice que se aproxima. Os jovens, em geral, admiram minha coragem de amar e declarar meu amor. Para eles, quase sem
NÃO SEI... Não sei... se a vida é curta... Não sei... Não sei... se a vida é curta ou longa demais para nós. Mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas. Muitas vezes basta ser: colo que acolhe, braço que envolve, palavra que conforta, silêncio que respeita, alegria que contagia, lágrima que corre, olhar que sacia, amor que promove. E isso não é coisa de outro mundo: é o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela não seja nem curta, nem longa demais, mas que seja intensa, verdadeira e pura... enquanto durar. Poema de Cora Coralina Cora Coralina é aquela mulher que se descobriu poeta já bem velhinha, depois de uma vida de luta, inclusive com um casamento desastroso que ela carregou corajosamente. Foi por isso que ela, só após a morte do marido, conseguiu se ver em sua enorme e verdadeira dimensão, como mulher e como poeta. Escolhi este poema para ilustrar
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pre, a idade fica em segundo plano, não influi na relação ou no diálogo. Mais ainda, eles até se declaram egoístas, querendo aprender e sorver a sabedoria do velho com quem se relacionam como amores ou como amigos. Daí eu concluir que aqueles que tentam anular o direito de amar dos velhos, estão apenas refletindo neles seus próprios medos, sua incapacidade de amadurecer o amor na medida em que amadurecem em idade. É simples encarar a equação. Ninguém, em seu perfeito juízo, negaria ao velho os direitos todos que a vida lhe dá: comer, dormir, divertir-se, trabalhar, enfim, exercer plena e conscientemente a vida que pulsa. Por que negar-lhes o direito ao amor e ao sexo? Se isso fosse normal, certamente esses desejos legítimos e saudáveis se arrefeceriam com o passar do tempo. Se não arrefecem é porque a natureza sábia reconhece sua validade. E, pelo que constatamos, a libido não tem mesmo idade... Ela pede e grita no velho como pedia e gritava no jovem que ele foi. E como aceitar uma restrição que venha de fora? Como ceder à pressão e se enclausurar, renunciar a viver esse lado exultante do eu? Pensemos um pouco em nossos antepassados: pais, avós, familiares que
se entregaram a um marasmo na velhice por não terem força para lutar contra preconceitos terríveis e tão propalados que eles próprios os assumiam. O homem era até mais prejudicado, pois vivia perseguido pela “fatalidade” da impotência “obrigatória” depois de certa idade. E a grande maioria ficava impotente mesmo, pelo poder da sugestão. Os progressos da medicina vieram em seu socorro e hoje o problema, se aparece, é contornável. As mulheres não eram estigmatizadas por essa terrível previsão, mas o eram pelos preconceitos e se fechavam em conchas a partir de certa idade, acreditavam que a menopausa as tornaria menos fêmeas e menos desejáveis. E está fechado o círculo: casais velhos, frustrados e infelizes, apenas sentados indefesos na sala de espera da morte. E assim vimos ou temos notícias de tantos entes queridos que definharam depois de nos darem a vida, a educação, a sua sabedoria, para que seguíssemos felizes os nossos caminhos. E eu pergunto: isso é justo? Convoco os ainda jovens para que abram suas mentes e preparem seu futuro de velhos. Só assim chegarão à velhice com a dignidade e a sabedoria que torna os velhos realistas, felizes e seguros. Seus preconceitos de hoje, se existem, os
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tornarão certamente velhos amarg o s , vítimas de si mesmos, das crenças errôneas que acumularam e deixaram que se cristalizassem. Convoco os velhos como eu, ou mais velhos que eu, para exercerem seus direitos, esclarecer aos jovens suas posições e mostrar-lhes as verdades que viveram e que os tornaram melhores. Entreguemos o amor ao ser amado, sem vergonha e sem medo, e vivamos esse amor intensa e completamente, na alma e no corpo. Se disserem que idade não é documento..., mostremos que é sim, documento importante porque repleto de experiência e de aprendizagens muitas vezes à custa de sofrimento. Somos todos lindos, independente de aparência física, porque é linda nossa alma e
linda a nossa coragem de amar! Portanto, não nos enterremos antes da hora. Vivamos, vivamos! No momento certo, outros nos enterrarão, gratos pelas lições que lhes deixamos. Cora Coralina escreveu esse poema quando era muito mais velha que eu. Tinha o rosto enrugado, o corpo alquebrado e maltratado pela vida, mas tinha a alma lisa e pura, apesar das pauladas que certamente levou, e tinha, ao escrever, a certeza de sua grandeza como ser humano, um coração que pulsava no ritmo da própria idade. Por isso admitia que o amado a aceitasse ou não, interessava apenas torná-lo feliz por saber-se amado. Que o verdadeiro amor só quer dar! E termino louvando essa brasileira que soube morrer amando. Exatamente como eu quero morrer, orgulhosa e valente... A autora é poetisa e escritora
Se... Se chover, seja feliz com a chuva que molha os campos, varre as ruas e limpa o ar. Se fizer sol, aproveite o calor. Se houver flores em seu jardim, aproveite o perfume. Se tudo estiver seco, aproveite para colocar as mãos na terra, plantar sementes e aguardar a floração. Hoje não arrume desculpas. Seja feliz de qualquer jeito. Repartir nossas alegrias é como espalhar perfume sobre os outros, sempre algumas gotas acabam caindo sobre nós.
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Mulher no pastorado na IECLB Rita Marta Panke
Feliz a pessoa que confia em Deus e vive sua vida crendo nas palavras de Jesus Cristo: “Eis que estou convosco todos os dias até o fim dos séculos”. Palavras animadoras para enfrentar com mais leveza os desafios da vida no seu dia-a-dia. Para mim, o ano de 1970 foi um ano de conversas, perguntas, reflexão e decisão, sobre a continuidade dos estudos, após conclusão do segundo grau. Um dos cursos sugeridos foi teologia, pois tive um intenso envolvimento na liderança no trabalho com crianças e jovens na Comunidade Evangélica de Rio Pardinho. Mas, logo veio a pergunta: mulher pode estudar teologia e ser pastora? A dúvida referente ao estudo foi esclarecida através da correspondência com o Reitor da Faculdade de Teologia de São Leopoldo, na época. Sua resposta foi positiva e com o convite para realizar o exame de seleção. Já em dezembro participei do exame junto com os demais candidatos. Na entrevista fui informada que na igreja até então não se podia dar a garantia de trabalho pastoral para uma pastora. Esta notícia não abalou minha vontade em estudar teologia, pois tinha como objetivo me preparar para ser uma trabalhadora qualificada na seara do Senhor, independente do vínculo profissional com a instituição. Em 1971 iniciei meu estudo de teologia. Éramos somente três mulheres naquele ano. Durante os anos de estudo, muitos questionamentos referente ao trabalho pastoral feminino foram levantados, o que exigiu perseverança, estudo e clareza de objetivos para continuar e ir até o fim.
O trabalho pastoral assumido durante as férias em Paróquias do Espírito Santo, Ijuí e São Borja foi animador, pois o trabalho foi gratificante e bem aceito pala maioria dos membros. Em 1976, com a conclusão do curso, surge o desafio de encontrar uma paróquia. Muitas paróquias vagas e com isto surge a possibilidade de assumir o trabalho pastoral na Paróquia Evangélica de Candelária. Um grande desafio para a Paróquia e também para mim recém-formada, pois até então o trabalho pastoral feminino não tinha história. Tudo era curiosidade. Muitas perguntas estavam no ar. Será que uma mulher tem condições de atender os membros nos lugares de difícil acesso? Os encontros à noite como ficam? O pneu do carro, quando vazio, ela troca? Estas perguntas e outras mais foram respondidas no decorrer dos dez anos de atividades na paróquia. Foi um tempo de grande aprendizado. O sacerdócio geral de todos os crentes se tornou real, homens e mulheres unidos na missão. Um novo desafio de mudança surge com o convite de assumir o trabalho de Orientação Regional da OASE na Região Eclesiástica IV da IECLB. Foram quatro anos de rica experiência em relações humanas junto às mulheres. A volta ao trabalho pastoral numa outra paróquia foi um novo desafio, pois
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se concretizou num contexto de comunidades livres no extremo sul do Brasil, onde era desconhecido o trabalho pastoral feminino pela maioria das pessoas. Encerrei minhas atividades pastorais como pastora ativa da IECLB, na Paróquia Evangélica de Rio Pequeno, dia 31 de dezembro de 1999. A Palavra de Deus semeada caiu em muita terra fértil e frutificou, mas também caiu em terra rochosa, onde brotou, mas logo a planta secou. Um tempo gostoso, onde os laços de amizade se intensificaram durante as visitas às famílias em
momentos de alegria, de dificuldades e de sofrimento. Hoje o trabalho feminino já tem uma história de trinta anos. Com o auxílio de Deus e a aceitação dos membros das paróquias onde atuei foi possível abrir estradas, superando pedras e buracos. A autora é pastora emérita da IECLB e reside em Santa Cruz do Sul, RS. Atualmente exerce atividades na área turística, atuando como guia bilíngüe
Idade de ser Feliz Existe somente uma idade para a gente ser feliz, somente uma época na vida de cada pessoa em que é possível sonhar e fazer planos e ter energia bastante para realizá-los a despeito de todas as dificuldades e obstáculos. Uma só idade para a gente se encantar com a vida e viver apaixonadamente e desfrutar tudo com toda intensidade sem medo nem culpa de sentir prazer. Fase dourada em que a gente pode criar e recriar a vida à nossa própria imagem e semelhança e vestir-se com todas as cores e experimentar todos os sabores e entregar-se a todos os amores sem preconceito nem pudor. Tempo de entusiasmo e coragem em que todo desafio é mais um convite à luta que a gente enfrenta com toda disposição de tentar algo NOVO, de NOVO e de NOVO, e quantas vezes for preciso. Essa idade tão fugaz na vida da gente chama-se PRESENTE e tem a duração do instante que passa.
Mário Quintana
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A arte sacra no contexto luterano Walter Berner
As artes (visual; musical; corporal) enquanto “Sacra”, são meios eficazes para transmitir a Palavra de Deus. É importante saber que as manifestações através destes meios para venerar ídolos, imagens ou pessoas, (Ex 20.4; Lv 26.1-2) certamente é idolatria, e provoca a ira de Deus (Dt 27.15). Mas o ser humano sempre se comunicou por símbolos, antes mesmo do alfabeto, a mais de 35.000 anos. Vamos caminhar na história, anterior à Reforma, quando nos anos de 1055 se constituem a Igreja Romana (Ocidente), e a Igreja Ortodoxa (Oriente). É aí que se dá menos atenção à “arte Sacra”,
Walter Berner
e cresce em preferência a “arte religiosa”, prevalecendo a qualidade do artista e o preço da obra, em detrimento da espiritualidade. Acontecem as suntuosas arrecadações para financiar as monumentais obras das Igrejas e das Cortes, e daí, duas linguagens: A arte Sacra que vem de antes da Idade Média, registrando fatos bíblicos, em que o artista os interpretava à luz da Mensagem, para louvor a Deus. A arte Religiosa, intensificada na Renascença e nos anos seguintes, onde os artistas produziam para atender às cláusulas de contrato. Como disse C. Pastro, artista
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Walter Berner
(sacro) da atualidade: “De alguma forma o homem construía o seu céu”. A arte Sacra, como meio que contribui para as pessoas conhecerem mais facilmente a Palavra, inclui a conscientização de que se está a serviço do Criador, e não da criatura. Não para discutir conceitos de idolatria, mas utilizar-se um importante veículo a seu dispor para o acervo eclesial, o litúrgico, e para a doutrina. Lutero diz: “Ah, que aprouvesse a Deus que eu pudesse convencer os senhores e os ricos a pintar no interior e no exterior das casas a Bíblia inteira! Isto seria uma obra cristã... As imagens são uma pregação para os olhos” ({WA 18, 83} M. Lienhard, pág.128). Os portais na Comunidade Luterana em Petrópolis/RJ, de C. Oswald, são belos (Paulo com a Bíblia e Moisés com a Tábua, na página anterior), tal como o vitral de Judith Creutzberg (o Cordeiro, nesta página). Quanto se pode contar com estas obras... O Dr. Cury, no livro “Mestre da Vida”, comenta: “Sinto-me limitado para descrever a grandeza e os mistérios que cercam a mente de Jesus Cristo. De cada frase que proferiu poderíamos escrever um livro. De cada silêncio, uma poesia... Sinceramente, os recursos lingüísticos para descrevê-lo são restritos”. Sem dúvida. Principalmente se for desejado “universalizar” a Palavra de Cristo. A criatividade do artista, inspirada na Palavra, ultrapassa qualquer discurso, em qualquer idioma, e permite ao espectador o devaneio da imaginação.
A Dra. Sissi Rieff, diácona luterana, escrevendo sobre a Páscoa, diz: “...Símbolos genuinamente cristãos, que manifestam a essência do cristianismo, podem ser recuperados e moldados...a Páscoa cristã é uma mina preciosa, na qual ainda temos muito a garimpar” (JOREV 679 - 2005). Toda a Bíblia é esta “mina” que está aí para ser “garimpada” e mostrada também artisticamente. Em 2Tm 3.16, Paulo nos dá pista para a essência da Palavra, devidamente “inspirada por Deus”. Que as artes sejam um destes veículos para a evangelização e educação cristã. Deus nos ilumine! Amém. O autor é artista plástico e reside em Petrópolis, RJ 55
O jovem na Igreja Katilene Willms e Rodrigo Labes
Gemeindebrief
Na sociedade atual o jovem busca seu espaço a partir de uma identidade própria, diferente do que seus pais e avós fizeram. A restrição a qual as gerações anteriores foram submetidas já não é uma realidade presente. Os meios de comunicação, em constante crescimento, jorram informações que chegam aos nossos ouvidos adquirindo diversas formas. Muitas dessas informações assumem um caráter construtivo. Entretanto não podemos negar que outras tantas são desnecessárias à formação do indivíduo. Cabe aos jovens e às pessoas diretamente ligadas à formação do seu caráter, distinguir quais dessas informações contribuíram para o desenvolvimento de um cidadão crítico. Com esta gama de informações abre-se um leque de opções. Estas opções oferecidas variam entre: opções atraentes aos olhos do corpo, e opções atraentes aos olhos da alma. A partir de então fazer com que o jovem se sinta bem na igreja, sem ferir sua imagem acaba se tornando uma tarefa muito difícil, e que na maioria das vezes antes de ser concretizada acaba sendo esquecida. É necessário que o jovem possa ter uma participação ativa na vida das comunidades. E para tal não basta somente incentivar os filhos a irem a um grupo de jovens, participar em corais, bandas ou qualquer outro setor. O papel dos pais ou dos mais velhos, como modelo de caminho a ser seguido, é fundamental para que o jovem sinta necessidade de conhecer a instituição religiosa e se torne comprometido com a igreja.
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O jovem, muitas vezes também procura seu espaço dentro da igreja, porém, se seus pais não têm uma vivência já caminhada dentro da igreja ou não participam do cotidiano que seus filhos levam dentro da igreja, o mundo irá oferecer muitos caminhos alternativos onde ele terá o espaço que procura. O jovem na sua maneira de ser, costuma ser muito dinâmico. Se hoje ele pensa de um jeito, amanhã já mudou radicalmente suas idéias. Dentro da igreja um grupo de jovens é capaz de encontrar maneiras de resolver um problema de diversas formas, desde uma maneira tradicional até uma totalmente radical. O grande desafio do jovem dentro da igreja é encontrar espaço para poder expor suas idéias e assim contribuir para a edificação da igreja como um todo. O jovem precisa saber e sentir que é útil e que ele também pode fazer muitas coisas para melhorar a vivência dentro da comunidade a qual pertence. Em essência é necessário que ele saiba que tem espaço e respeito, para que se sinta chamado a fazer parte desta grande família de Deus. Com toda certeza se trabalharmos com o dinamismo que os jovens possuem e a experiência dos mais velhos, construiremos uma comunidade muito mais forte. A partir do momento em que encontramos sintonia entre jovens e adultos, o trabalho passa a ter respeito mútuo. As pessoas trabalhando por um objetivo comum, tornam a vida em comunidade muito mais grandiosa em seus feitos. Os jovens Katilene e Rodrigro são participantes da diretoria da JE da Comunidade Martin Luther (Paróquia Blumenau) e estudantes da Furb
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Primeiro Internato e primeiro Grupo de Jovens da IECLB? Nelso Weingärtner
Na história das Comunidades da IECLB encontram-se escondidas verdadeiras pérolas. Citamos, como exemplo, dois tópicos da história da Comunidade Evangélica de Santa Isabel, o primeiro núcleo de evangélico-luteranos em Santa Catarina. O Instituto de Confirmandos
Por ocasião da celebração do Centenário da Imigração Alemã em Santa Catarina, em 1929, foi editado um livro memorial (Gedenkbuch), no qual consta: “Quem hoje passa pela região, que foi abrangida pelo Instituto de Confirmandos de Santa Isabel, nota logo quem freqüentou o Instituto: suas casas são mais conservadas e melhor instaladas, suas casas de comércio e suas colônias mostram que eles têm uma visão mais ampla que os outros. Aqueles que no passado freqüentaram o Instituto de Confirmandos de Santa Isabel hoje são os líderes espirituais e empresariais das respectivas regiões”. Será que esse internato foi o primeiro da IECLB?
De 1865 até 1910 existiu, na Comunidade Evangélica de Santa Isabel, um Instituto de Confirmandos (Konfirmandenanstalt). Esse Instituto recebia, em regime de internato, anualmente, quarenta jovens - rapazes e meninas - na faixa etária de 14/15 anos. Os confirmandos vinham de todo o Sul de Santa Catarina, desde Florianópolis até Araranguá e serra acima, até Lajes. Os jovens confirmandos ficavam durante um ano no Instituto. O dia iniciava com uma devocional. Depois do café da manhã, a metade do grupo seguia para a sala de aula, onde era alfabetizada e recebia doutrina cristã. A outra metade do grupo seguia para o turno de trabalho: tratar a criação (gado, porcos, galinhas, patos) e, depois, trabalhar na lavoura. No período da tarde, trocava-se o turno. O Instituto era mantido principalmente através da produção na lavoura e da criação, que estavam ao encargo dos jovens. Após terem freqüentado o Instituto durante um ano, os jovens eram confirmados. No dia da confirmação acontecia uma grande Festa de Missão (Missionsfest), com palestras e muito canto. Para esta festa afluía toda a população da região, e o resultado da festa era revertido ao Instituto.
Grupo de Jovens, fundado em 1878 Na década de 1870 acontecia na região de Santa Isabel um grande avivamento espiritual. Desde a fundação da localidade, em 1847, até início da década de 1860, não havia nenhum pastor ou professor na região. Quase todas as pessoas, com menos de 20/25 anos, não sabiam ler e escrever, e também eram semi-analfabetas no que tange à fé cristã. A partir de 1861, lá chegaram pastores, enviados pela Missão da Basiléia, na Suíça, que desenvolveram um grandioso 58
trabalho educacional e missionário. Através do Instituto de Confirmandos, eles formaram e moldaram muitos jovens. Na região abrangida pelo Instituto, fixaram-se, entre 1847 e 1867, 179 famílias de imigrantes evangélicos, que vieram de 45 localidades de 18 países ou estados semi-independentes da Alemanha. Os imigrantes eram naturais da Baviera, Brandenburgo, Dinamarca, Hessen, Hamburgo, Holanda, Luxemburgo, Mecklenburgo, Noruega, Oldenburg, Palatinado (Pfalz), Pomerânia, Rudolstadt/ Schwarzburg, Saxônia, SchleswigHolstein, Silésia e Vestfália. Observem a mistura de nações e tradições. Entre esses imigrantes encontravam-se pessoas mais idosas que, na Europa, ainda haviam participado de grupos pietistas de avivamento espiritual e se distinguiam dos outros pelo seu estilo de vida. Muitos desses imigrantes "pietistas" haviam-se estabelecido em “Michelsbach” (Ribeirão do Miguel), distante 10 quilômetros de Santa Isabel. Para esse grupo, o pastor de Santa Isabel, em rodízio com um professor do Instituto, introduziu Estudos Bíblicos, que eram freqüentados por todos os moradores. Em 1878, lá em Michelsbach, foi fundado um “Jünglingsverein” (grupo de jovens) que se reunia aos domingos para cantar e estudar a Bíblia. Os jovens eram preparados e treinados para viverem “vida nova em Cristo”. Com esse serviço iniciou-se um grande avivamento espiritual em toda a região. Infelizmente, todo esse movimento descambou, após algum tempo, para um fanatismo religioso que condenava tudo que tinha algo de mundano em si.
Um grupo de “verdadeiramente convertidos” formou uma comunidade à parte, na qual só eram admitidos os que se abstinham de todos os divertimentos, como dançar, jogar cartas, ingerir bebida alcoólica e outras coisas, que faziam parte da vida social da região. Não demorou e formaram-se duas frentes, que se combatiam mutuamente. O grupo dos “convertidos” foi apelidado de “Bibelhengste” - baguais da Bíblia, e sobre sua conduta foram espalhados os mais diversos e desencontrados boatos. A rivalidade tornou-se tão acirrada que aconteceram atos violentos: plantações foram destruídas e aconteceram incêndios em paióis e casas. O Governo da Província teve que mandar tropas para evitar que na região acontecesse um movimento semelhante ao episódio dos Mucker, em Ferrabrás, no Rio Grande do Sul. O pastor, que iniciou este trabalho, foi o pastor Distegen Flury, auxiliado pelo professor Wilhelm Hausmann. O pastor Flury, que desenvolvera um bom trabalho na Comunidade, ficou doente e regressou para a Alemanha - morreu de febre amarela no Rio de Janeiro, quando retornava. O professor Hausmann também abandonou a região e, após algum tempo, os ânimos se acalmaram. Nos anos seguintes, todos se reuniram novamente numa só comunidade. Vestígios positivos deste “Jünglingsverein”, possivelmente o primeiro grupo de jovens da IECLB, ainda transparecem hoje na localidade de Rio Miguel. O autor é pastor emérito da IECLB e reside em Timbó, SC
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Datas Comemorativas Dados compilados por Osmar Luiz Witt
• 10 anos: No dia 8 de janeiro de 1996 faleceu, aos 79 anos, vítima de câncer, François Mitterand, fundador do Partido Socialista Francês e presidente da França de 1981 a 1995. Ele foi um dos destacados estadistas do século XX.
logia, que ajudou a fundar em 1946. Também assumiu a Presidência do então Sínodo Rio-Grandense, e posteriormente da Federação Sinodal, criada em 1949, congregando quatro Sínodos evangélicoluterano, dando origem a IECLB.
• 25 anos: Em 17 de setembro de 1971, a repressão militar matou o guerrilheiro Carlos Lamarca no interior da Bahia. Lamarca nasceu em 1937, no Rio de Janeiro. Estudou na Academia Militar das Agulhas Negras, em Resende (RJ). Em 1969 abandonou o quartel de Quintaúna (SP), vinculando-se à organização clandestina Vanguarda Popular Revolucionária. Como guerrilheiro participou de várias ações e criou um foco guerrilheiro no Vale do Ribeira, no sul de São Paulo. Em dezembro de 1970, comandou o seqüestro do embaixador suíço no Brasil. Tendo fugido para a zona do agreste baiano, foi encontrado e morto a tiros.
• 60 anos: Em 26 de março de 1946, teve início a Escola de Teologia, em São Leopoldo. A necessidade da formação de pastores saídos do seio das comunidades evangélicas no Brasil, bem como as dificuldades resultantes dos desdobramentos da Segunda Guerra, fizeram com que o tema da formação teológica autóctone ganhasse relevância. Desde o inicio, embora sendo uma instituição do Sínodo Rio-Grandense, a Escola de Teologia recebeu estudantes de todos os Sínodos. A Federação Sinodal assumiu a Escola de Teologia e, desde então, ela tem representado um importante fator de aproximação e unidade entre as Comunidades em diferentes regiões do país. Em 1958, ela recebeu o nome de Faculdade de Teologia e, no Concílio Geral da IECLB, de 1984, em Mal.Cândido Rondon, PR, foi transformada na Escola Superior de Teologia, abrigando cursos de graduação, pós-graduação e extensão.
• 50 anos: Aos 4 de dezembro de 1956, faleceu, em São Leopoldo, o P. Hermann Gottlieb Dohms. Ele nasceu em Sapiranga, RS, onde seu pai, Paul Dohms, exercia o pastorado. Estudou na Alemanha e regressou ao Brasil em 1914, tornando-se pastor da Comunidade Evangélica de Cachoeira do Sul. Nesta cidade, em 1921, fundou o Instituto Pré-Teológico (Proseminar), o qual foi transferido para São Leopoldo, em 1927. Também foi o primeiro Diretor da Escola de Teo-
• 100 anos: Há um século, em 26 de outubro de 1906, Alberto Santos Dumont voou em Paris com o 14-Bis. Percorreu 220 metros, em 21 segundos, numa altitude máxima de 8 metros. Alberto Santos Dumont era mineiro, ten
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do nascido em 20 de julho de 1873, mas passou a maior parte de sua vida na França, para onde foi em 1891. Suas criações aeronáuticas ainda incluem o balão dirigível com o qual contornou a Torre Eiffel, em 1901, e o avião Demoiselle, construído em 1907. Também foi o inventor do relógio de pulso. Regressou ao Brasil em 1928, onde se suicidou em 23 de julho de 1932. desgostoso em ver a utilização bélica de seu invento.
franceses e índios”. De outra parte, os gastos com a guerra serviam como pretexto para aumentar a taxação britânica sobre suas colônias. Além da taxação, os ingleses pretendiam restringir as transações comerciais de suas colônias. Disso resultou maior revolta contra os ingleses, preparando o terreno para a luta pela independência dos Estados Unidos. • 500 anos: Em 1506, o pintor italiano Leonardo da Vinci terminou a mais famosa de suas obras, a Mona Lisa. Pintor, escultor, arquiteto, engenheiro, cientista, inventor e escritor, Leonardo nasceu aos 15/04/1452, em Vinci, perto de Florença. Entre 1482 e 1499 viveu em Milão, onde pintou o afresco A Última Ceia. Nesse período, estudou perspectiva, ótica , proporções e anatomia. Em seus estudos científicos antecipou muitas descobertas e invenções modernas. Outra vez em Florença, pintou o quadro que neste ano completa cinco séculos. Ao lado de Michelangelo é considerado o maior nome do Renascimento. Faleceu em 02/05/1519.
• 250 anos: Em 1756 tinha início a Guerra dos Sete Anos entre Inglaterra e França. O conflito durou até 1763 e sua origem estava na rivalidade econômica entre franceses e ingleses em seus territórios coloniais dos Estados Unidos e na Índia. A ocupação dos estados franceses da Terranova e Nova Escócia por colonos britânicos levou à reação das tropas francesas, que se aliaram a tribos indígenas e atacaram as 13 colônias inglesas na região. O conflito também se estendeu para o território europeu. A Inglaterra saiu vencedora do conflito, chamado pelos norte-americanos de “a guerra contra
Se eu a coloco abaixo de todos os livros, ela é a que mantém todos eles, se eu a coloco no meio dos outros livros, ela é o coração desses livros, e se eu a coloco em cima dos outros livros, ela é a cabeça e autoridade de todos os livros em minha biblioteca. Rui Barbosa, sobre a Bíblia 61
A Igreja na Copa do Mundo – A fé em Campo – Hans-Georg Ulrichs
É difícil de acreditar, mas, em matéria de futebol, a Alemanha ainda é um país “emergente” – pelo menos, se levarmos a matéria a sério. No entanto, a Alemanha foi quatro vezes campeã mundial (se contarmos, orgulhosamente, o título feminino de 2003), portanto, apenas uma vez a menos que o Brasil, mas três vezes mais que a Inglaterra. Mesmo assim, em ambos os países citados, há uma cultura futebolística muito mais intensa e uma preocupação muito maior com esse esporte. Não é de admirar, também, que na Alemanha se publiquem e se leiam livros sobre o futebol brasileiro. Jogadores como Ailton, Bordon, Lucio, Marcelinho e Zé Roberto são ídolos para os torcedores alemães, que os consideram símbolos do Futebol-Arte, e esperam que eles sejam convocados para a Seleção. Todos os grandes clubes têm brasileiros em seus times, e, quando alguém joga muito bem, e com elegância, recebe logo um apelido, como “o brasileiro do Breisgau”, embora a maioria desses jogadores de Freiburg venha de países do Leste europeu. Na Alemanha, os jogadores brasileiros são considerados muito religiosos, graças a sua ostensiva devoção. Por muito tempo, a Igreja Evangélica Alemã teve dificuldades com o futebol, por motivos “morais” e sociológicos: os torcedores são sempre passivos (em vez de, como bons alemães, praticarem ginástica!); perdem dinheiro em apostas e são originários, geralmente, das camadas inferiores da população. Mesmo a famosa vitória alemã do Campeonato Mundial de 1954 foi praticamente ignorada pela Igreja Evangélica. Mais tarde, nos anos 60, houve uma primeira aproximação, através dos “pastores desportistas”; os anos 70 foram o tempo da “solidariedade crítica” (uma expressão em moda na época) entre a Igreja e o esporte, e, finalmente, nos anos 80, intelectuais e religiosos chegaram à conclusão de que o futebol é um evento sensacional. Depois do terceiro Campeonato Mundial, na Itália, em 1990, falar de futebol positiva e entusiasticamente na Igreja Alemã já não era mais tabu. Depois de prolongados debates sobre a ética esportiva e a Igreja, e tentativas de encontrar, no esporte, sobretudo no futebol, traços semelhantes à religião, o futebol e todas as suas modalidades foram aceitas e dignificadas sob o conceito de cultura.
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A partir do verão de 2000, não por último pelo importante engajamento do “kaiser” (rei) Franz Beckenbauer, que tornou a Alemanha sede do Campeonato Mundial em 2006, muitas forças sociais começaram imediatamente com os preparativos. De acordo com um slogan, “o mundo será hóspede entre amigos” durante aquelas quatro semanas. Também as igrejas estão dispostas a ajudar. Já que o futebol ganhou um significado tão importante e porque o evento, mundialmente noticiado, vai acontecer no próprio país, a Igreja Evangélica na Alemanha (EKD), com a qual colaboram todas as igrejas territoriais na Alemanha, nomeou um encarregado para marcar presença em nome da Igreja Evangélica no Campeonato Mundial de Futebol-2006. Faz parte de suas tarefas elaborar um farto material de consulta para as cerca de 17.000 comunidades, com planos de cultos, devocionais, textos religiosos, aulas de religião e sugestões para a cooperação local com as agremiações esportivas. Importa destacar aquilo que define a Igreja: vivemos com e diante de Deus; ou, de modo mais concreto: se nós não orarmos pelo Campeonato Mundial e não louvarmos a Deus pelos jogos, ninguém mais o fará. Além disso, o responsável deverá representar a Igreja diante de um público que se interessa cada vez mais pelo Campeonato, na mídia, nas ligas esportivas e na política. Nas doze localidades dos jogos e nos locais de hospedagem das equipes, também serão oferecidos serviços de apoio espiritual, tanto para os jogadores quanto para os torcedores. O encontro da Juventude Católica Mundial, em Colônia, em 2005, teve por lema “hóspedes são uma bênção” – e entre os milhões de hóspedes havia também inúmeros brasileiros. Mesmo quando muitos alemães acreditam que sua equipe vá tornar-se campeã mundial, existe espaço para o entusiasmo por outros times. No topo, naturalmente, encontra-se o Brasil. Para os seus fãs, perder para a equipe brasileira – como aconteceu na final de 2002 – não é nenhuma vergonha, pelo contrário, amar o Brasil e o seu futebol é questão de honra. Por isso, os hóspedes brasileiros que aqui chegarem no verão de 2006 serão considerados uma bênção toda especial. Bem-vindo à Alemanha, Brasil! O autor é Pastor em Karlsruhe. Responsável da Igreja Evangélica na Alemanha (EKD) no Campeonato Mundial de Futebol – wm-beauftragter@ekd.de Tradução: Anamaria Kovács
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Praeses Stoer faz 100 anos Nelso Weingärtner
Pessoas especiais deixam marcas por onde elas passam e continuam “vivas” em nossa memória, ainda por muitos anos, depois de sua morte. Uma dessas pessoas é Praeses Stoer. Hermann Stoer nasceu em 7 de janeiro de 1906 em Neubekum na Vesfália, Alemanha. Estudou Teologia no seminário teológico de Ilsenburg e, depois de formado, foi enviado pela Igreja Evangélica da Alemanha ao Brasil, em 1929. Seu primeiro campo de trabalho foi na região de Ituporanga, onde assumiu serviços de substituição pastoral. De 1930-1936 ele atuou na paróquia de Santa Isabel, que na época englobava todo o Sul de Santa Catarina, com 22 comunidades. Para visitar essas comunidades ele se deslocava em lombo de cavalo. Quando se dirigia para a região de Tubarão e Araranguá ficava fora de casa por muitos dias. Além do serviço pastoral, o pastor Stoer implantou dezenas de escolas comunitárias nesta vasta região. Fundou uma Associação de Escolas Coloniais (Kolonieschulen Verband). Periodicamente ele reunia os professores em cursos preparatórios, visto que muitos deles eram pessoas de pouca instrução, mas tinham muita vontade de aprender, para ensinar melhor. Em Santa Isabel implantou uma escola comunitária com internato, que infelizmente teve que encerrar as atividades na fase da nacionalização. Se da pequena Comunidade de Santa Isabel saíram quatro pastores, certamente foi
mérito dos serviços do pastor Stoer. Em 1937 ele assumiu a Paróquia de Rio do Sul. Com muita sabedoria e persistência enfrentou as dificuldades do período da Segunda Guerra Mundial. Foi preso e passou meses num campo de concentração em Florianópolis. Depois da Guerra ele atendeu, periodicamente, todo o Alto Vale do Itajaí com serviços pastorais, por causa da grande falta de pastores. Merece menção especial a sua dedicação em favor do ensino escolar. Graças ao seu incansável empenho, em 1951 foi reaberta a escola da comunidade evangélica, que fora fechada pelo governo em 1938. Da pequena Escola Evangélica Ruy Barbosa desenvolveu-se o Colégio Sinodal Ruy Barbosa de Rio do Sul, que hoje tem como diretor um neto de Praeses Stoer e é referência regional de ensino. Em julho de 1954 o Pastor Hermann Stoer foi eleito como Praeses (Presidente) do Sínodo Evangélico de Santa Catarina e Paraná. Esta função ele exerceu até 1962 em tempo parcial, ao lado dos serviços pastorais na Comunidade Evangélica de Rio do Sul. O ano de 1962 é um marco importante na história da IECLB em Santa Catarina. Nesse ano aconteceu a fusão do Sínodo Evangélico de Santa Catarina e Paraná (fundado em 1911) com o Sínodo Evangélico Luterano de Santa Catarina, Paraná e de outros Estados (fundado em 1905). Com esta fusão encerrou-se um período de meio século de conflitos entre comunidades que tinham (praticamente) a mesma base de fé. 64
Após a fusão dos Sínodos e, um breve período de transição, o P. Hermann Stoer foi eleito mais uma vez para a função de Praeses do Sínodo Evangélico Luterano Unido. Esta função ele exerceu até 1968, quando os três Sínodos, então existentes, se integraram na nova Estrutura da IECLB. Na nova estrutura da Igreja, o P. Stoer foi eleito como primeiro Pastor Regional da 2a Região Eclesiástica. Permaneceu nesta função até sua aposentadoria em 1971. Sendo pastor regional, nas comunidades e entre os pastores, ele continuava a ser o PRÄSES STOER até sua aposentadoria em 1971. Os serviços de Praeses Stoer, que merecem ser lembrados, são inúmeros. Destacamos mais alguns: Ele escreveu Crônicas das Comunidades de Santa Isabel e Rio do Sul, que resgataram a história dessas comunidades. Escreveu inúmeros artigos para jornais e foi, durante muitos anos, o redator do Jornal Sinodal O Mensageiro do Evangelho. Praeses Stoer soube ser pastor dos pastores como Praeses e como Pastor Regional e era respeitado e benquisto nas comunidades como Autoridade Eclesiástica. Nos 17 anos, em que presidiu as Comunidades Evangélicas em Santa
Catarina e no Paraná, ele encaminhou muitos jovens para o Instituto Pré Teológico e a Faculdade de Teologia. Graças à sua dedicação e ao seu empenho em conseguir os recursos para as bolsas de estudo, muitos jovens, filhos de agricultores e operários, tornaram-se pastores. Em 1975 Praeses Stoer foi condecorado pelo Governo da República Federal da Alemanha com a comenda: “VERDIENSTKREUZ 1. KLASSE”. Essa comenda, que é uma das mais altas condecorações da Alemanha, lhe foi outorgada pelo então Presidente Scheel da República Federal da Alemanha, por seus méritos especiais. Em Santa Catarina e no Paraná ainda vivem muitas pessoas, que guardam grata memória dos serviços do Praeses Stoer e que tiveram nele alguém que ajudou a moldá-los e que soube animar e encorajar em momentos de dificuldade e crise. Praeses Stoer faleceu em Rio do Sul, no dia 30 de Setembro de 1989. Em sua homenagem e memória foi criada a Fundação Praeses Stoer, que engloba o Lar e o Centro de Estudos em Rodeio Doze e também o jornal O Caminho. O autor é pastor emérito da IECLB e reside em Timbó, SC
Lembrai-vos dos vossos guias, os quais vos pregaram a palavra de Deus; e, considerai atentamente o fim da sua vida, imitai a fé que tiveram. Hebreus 13.7 65
Transgênicos: Avanço tecnológico ou risco desnecessário? Martin Gierus
O código genético existe em todos os seres vivos. Em seres humanos este define, por exemplo, a cor dos olhos, se os cabelos de alguém são lisos, crespos, loiros, ou castanhos. Na agricultura, o ser humano desde o início de sua história sempre influenciou consciente ou inconscientemente a seleção de plantas ou animais mais produtivos, mais adaptados ou mais resistentes a doenças, que ele precisava para viver. Afinal, o que são os organismos geneticamente modificados? De antemão algumas definições necessárias: Uma espécie de planta ou animal é formada pela seleção natural de genes em milhões de anos de evolução. Quando falamos de raças ou variedades, estamos falando de um grupo de genes selecionados da população de genes existentes. Quando usamos cruzamentos entre indivíduos de uma espécie, estamos apenas refazendo algumas combinações que já eram possíveis na população genética original ou seja, combinações genéticas que já existiam na natureza. Contudo, a transferência de genes que resultam em organismos geneticamente modificados é uma técnica nova. Ela implica em pegar genes com características desejáveis de uma espécie e transferi-la para outra espécie. Isto é extremamente incomum e pouco provável de ocorrer na natureza. Desta forma a técnica de transferência do código genético possibilitou romper a barreira natural interespécies de uma forma antes nun-
ca conhecida na natureza! Por exemplo, os genes de bactérias estão sendo transferidos para plantas e para animais domésticos, tornando-os geneticamente modificados. As plantas geneticamente modificadas são plantas como outra qualquer da mesma espécie. A diferença está na composição dos genes, que contém então os genes de outra espécie. Este também está presente no pólen! Enquanto muitos vislumbram as vantagens da transferência genética interespécies, este pólen cumpre seu papel na natureza. Ele fecunda outras plantas da mesma espécie e assim através da semente cria uma nova planta que passa a ter o código genético modificado. Para garantir uma grande propagação de pólens, a natureza conta com uma grande ajuda. Os insetos e o vento levam o pólen de uma flor para outra e o ciclo da vida 66
sideradas ervas daninhas podem ter uma composição genética muito semelhante ou mesmo igual, como o arroz vermelho nas plantações de arroz. Se contaminado, o arroz vermelho poderia passar a expressar características até então inexistentes na natureza! E o arroz não é a única planta com variedade transgênica. Já existem transgênicos do milho, soja, algodão, tomate, maçã, tabaco, cana-deaçúcar. E a lista provavelmente deve aumentar em pouco tempo. Ficam as perguntas: como medir e como julgar organismos geneticamente modificados sob o ponto de vista de impacto ambiental? Qual o benefício de organismos geneticamente modificados em relação a culturas convencionais? Há um aumento na eficiência econômica, na eficiência agronômica de organismos geneticamente modificados em comparação a plantas normais a longo prazo? Como garantir que organismos geneticamente modificados não venham a contaminar organismos livres destes genes? Na minha opinião: - a transferência genética não é a única solução para os problemas na agropecuária; - a transferência genética não vai acabar com a fome no mundo, como alguns argumentam. Na verdade a distribuição dos alimentos produzidos sempre foi o maior problema; - as conseqüências negativas do uso de organismos geneticamente modificados como técnica de seleção dos melhores indivíduos são, no momento, inestimáveis. Sendo assim, será muito difícil destruir organismos geneticamente modificados indesejáveis;
Gemeindebrief
recomeça pelas novas sementes produzidas. O pólen de plantas geneticamente modificadas não faz diferente! Mas quem garante que os insetos somente irão visitar flores de plantas que não foram geneticamente modificadas? Quem garante que o vento vai levar o pólen de plantas geneticamente modificadas somente para plantas também geneticamente modificadas? Não há garantias. Este é o grande problema da tecnologia de transferência genética! Ninguém sabe quais as conseqüências que os genes transferidos de insetos ou bactérias para plantas ou animais irão causar à natureza. Ninguém sabe! Nunca houve na natureza um evento com potencial de atingir proporções globais como este: genes de uma espécie estão presentes em outra espécie. Com isto estão abertas as possibilidades de que genes de plantas geneticamente modificadas venham a fecundar indivíduos livres de genes transferidos! Espécies con-
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- quanto tempo será necessário para saber qual o impacto ambiental de seres que jamais existiram antes na história do planeta terra?
Em resumo, o uso irresponsável de organismos geneticamente modificados traz consigo conseqüências, das quais no momento temos pouco conhecimento. Agora, é uma técnica disponível atualmente. Por isso é necessário que pesquisas amplas sejam realizadas para conhecer os potenciais da técnica. O objetivo é que se tenham informações suficientes para definir pela liberação do uso a campo de variedades geneticamente modificadas ou mesmo pela proibição do uso. É necessário que se definam as condições para a co-existência de plantas convencionais e de plantas geneticamente modificadas, o que no momento ainda está precário. Afinal, imaginação e fantasia para os que trabalham e criam organismos geneticamente modificados não falta. E, para todos os que optarem por se alimentar de produtos livres de transgênicos, uma garantia precisa existir.
Aqui dois exemplos com milho e o impacto no ambiente: 1. Um dos primeiros milhos transgênicos, resistente às lagartas, provocou a quase extinção de uma espécie de borboleta que não se nutria do milho. O que ocorreu? O pólen do milho transgênico foi levado pelo vento e caía nas folhas das plantas que essa outra lagarta consumia, e causava sua morte. 2. Um produtor de milho ecológico dos EUA perdeu toda sua lavoura de milho, e muitos anos de trabalho de seleção de sementes de um milho adaptado às condições de produção agroecológicas. O que ocorreu? O pólen do milho transgênico das lavouras de seus vizinhos fecundou seu milho. Esse produtor, além de perder seu rótulo de produtor orgânico, teve que pagar royalties para a empresa detentora da patente do milho transgênico.
O autor é Zootecnista e pesquisador. Atualmente atua na Alemanha
Um estagiário estava saindo do escritório quando ele vê o presidente da empresa com um documento na mão em frente a máquina de “picotar” papéis. “Por favor”, diz o presidente, “isto é muito importante pra mim e minha secretária já saiu. Você sabe como funciona esta máquina?” “Lógico!”, responde o estagiário. Imediatamente tira o papel das mãos do presidente, liga a máquina, enfia o documento e aperta um botão. “Excelente meu rapaz! Muito obrigado... Eu preciso de 2 cópias. Onde sai?” – Executar não é tudo. Pense, pergunte, analise – 68
Alimento modificado sob suspeita Fiquei surpreso com o número de diferenças significativas que foram encontradas nos organismos submetidos à experiência” observou ao jornal Michael Antoniu, especialista em genética molecular do hospital da centenária Escola de Medicina de Guy, na Inglaterra. A Monsanto se apressou em tentar minimizar o teor do documento divulgado. De acordo com a multinacional dos alimentos, as anomalias verificadas são “insignificantes” e refletem “variações normais entre ratos”. Fontes do governo britânico, no entanto, revelaram que alguns ministros estariam preocupados com as descobertas da pesquisa e se preparavam para notificar a empresa pedindo mais informações sobre o caso. As revelações surgem em meio a um intenso debate em torno da liberação ou não de alimentos geneticamente modificados para venda ao público no continente europeu. Em votação realizada na semana passada, a União Européia não chegou a acordo sobre a questão, apesar do voto de 10 países, incluindo a GrãBretanha, terem sido favoráveis à comercialização. Para os ambientalistas britânicos o conteúdo do relatório da Monsanto reforça os resultados apresentados por uma pesquisa realizada há sete anos que apontava danos à saúde de ratos alimentados com batatas transgênicas. A pesquisa, conduzida pelo cientista Arpad Pusztai, foi interrompida depois de ser condenada pela comunidade científica britânica.
Estudo divulgado por jornal britânico aponta alterações no sangue e rins de ratos alimentados com milho manipulado. LONDRES – Ativistas de movimentos ecológicos de todo o mundo ganharam importante reforço para seus argumentos contrários à manipulação genética de alimentos. O jornal britânico The Independent publicou reportagem baseada em dados retirados de um relatório secreto de 1.139 páginas, segundo o qual ratos alimentados com milho geneticamente modificado apresentaram diminuição no tamanho dos rins e modificações na composição do sangue. O relatório, produzido pela Monsanto, uma das líderes mundiais em pesquisa e produção de alimentos geneticamente modificados, diz ainda que as cobaias alimentadas com milho produzido através de métodos convencionais não apresentaram os mesmos sintomas. Especialistas ouvidos pelo jornal britânico disseram que as alterações sanguíneas apresentadas pelos roedores submetidos à dieta rica em milho transgênico podem significar que houve danos ao sistema imunológico ou algum desequilíbrio orgânico como, por exemplo, o surgimento de um tumor. “Os resultados são muito preocupantes do ponto de vista médico.
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Pusztai relatou ter descoberto uma “longa lista de diferenças relevantes” entre ratos alimentados com batata transgênica e aqueles que receberam apenas batata convencional o que, segundo o cientista, indicaria que a ingestão continuada e em larga escala de alimentos geneticamente modificados poderia, também, causar danos ainda desconhecidos à saúde de seres humanos. Neste estudo recente da Monsanto os ratos que apresentaram variações no sangue e no tamanho dos rins receberam o milho chamado de MON 863, manipulado geneticamente pela empresa para se tornar resistente às chamadas “lagartas do milho”, que atacam a raiz das plantas,
causando enormes danos às plantações. Apesar dos dados preocupantes revelados pela reportagem do The Independent – jornal que é abertamente contrário aos transgênicos – a Monsanto se recusou a revelar a íntegra do relatório, alegando que ele “contém segredos industriais que poderiam ser comercialmente utilizados por concorrentes”. Um porta-voz da empresa disse ainda que “pesquisas em torno do MON 863 não são novas” e que esta variação já teria sido “aprovada como sendo tão segura quanto o milho convencional por nove diferentes autoridades globais desde 2003”. Fonte: http://jbonline.terra.com.br
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Lyon, um cachorro amigo muito especial Nelso Weingärtner
Meus pais moravam em Santa Isabel, perto da estrada das tropas, que vinha de Lajes e seguia para Florianópolis. Nossa casa ficava no alto dum morro, com uma linda vista para a Serra do Tabuleiro. Os primeiros vizinhos moravam a mais ou menos um quilômetro, e a escola e a igreja ficavam a três ou quatro quilômetros distantes de nós. Era a Páscoa de 1937. Todos levantaram bem cedo. Ainda no escuro, trataram a criação e se prepararam para ir ao culto. Em nossa casa moravam os avós maternos, meus pais e meus dois irmãos. Quando passaram os vizinhos do Ribeirão das Embiras, todos seguiram juntos, a pé, em direção à igreja. Após curta caminhada, minha mãe, que me carregava sob o seu coração, disse que ela não se sentia muito bem e que voltaria para casa. Mas insistiu que todos fossem ao culto. Perto da igreja havia um grande cocho, feito dum tronco de árvore, para o qual uma calha, feita de palmito, levava a água. Lá, todos lavavam os pés e calçavam os sapatos que haviam trazido num “Quersack” (tipo de sacola que se carre-
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gava nas costas). Lá no cocho, meu pai encontrou a sua mãe e lhe contou que a esposa voltara para casa, porque não estava se sentindo bem. A Omama recomendou que ele voltasse para casa e ficasse com a esposa. Quando meu pai chegou em casa, as contrações, que indicavam a proximidade do parto, já se repetiam. Pegou um cavalo e foi buscar a parteira, que morava em Teresópolis, distante quinze quilômetros. Passou pela igreja e avisou as duas Omas, que logo foram para a nossa casa. Quando elas chegaram, eu já as cumprimentei! Minha mãe teve o parto sem qualquer assistência. Ela mesma cortou o cordão umbilical, deu-me o primeiro banho e me vestiu. O pessoal, que voltava do culto, admirava um menino de cabelos negros brilhantes. De repente, Nilvo, meu irmão, que já tinha sete anos, entrou correndo na casa com um cachorrinho preto, que nascera mais ou menos na mesma hora que eu, e disse: “Olhem como ele é parecido com o neném. Um é tão preto como o outro. Eu acho que eles são irmãos gêmeos!” Assim iniciou a minha história
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com o Lyon, um cachorro amigo muito especial. A mãe de Lyon pertencera a um tropeiro. Ela era enorme, duma raça que os tropeiros criavam para ajudar a reunir e prender o gado. Na semana da Páscoa, um tropeiro pediu a meu pai que ele tomasse conta da cadela que estava para dar cria nesses dias. Lyon teve dois irmãos e uma irmã. Lyon cresceu bem mais rápido do que eu. Mas, desde pequeno, ele tinha um carinho todo especial por mim. Várias vezes ele foi flagrado dormindo comigo no berço. Quando minha mãe ia com meu pai para a roça, na época de capinar o milho, ela me deitava numa gamela debaixo duma árvore, e Lyon ficava ao meu lado como anjo da guarda. No dia do nosso aniversário, ganhávamos presentes: Lyon, uma lingüiça, e eu, um saquinho com doces de polvilho. Esses presentes nós compartilhávamos quando ninguém nos observava. Nas costas do Lyon eu aprendi a montar. Quando Lyon e eu tínhamos seis ou sete anos, meu pai fez arreios para Lyon (como aqueles que cavalos usam para puxar a carroça) e nos ensinou a buscar lenha. Íamos até a roça, onde as árvores para lenha estavam empilhadas. Amarrávamos um tronco nos arreios e Lyon trabalhava como um cavalo. Após algumas “puxadas”, Lyon não queria mais ser um cavalo. Deitava-se no chão, e não havia quem o convencesse a continuar o serviço. Após alguns dias, tive uma inspiração. O Lyon gostava muito de lingüiça. Fui com ele para roça, amarrei o tronco de árvore nos arreios e ofereci um pedaço de lingüiça ao meu amigo. Ele gostou, e puxou a lenha por um certo
trecho. Então, ficou parado. Mais um pedaço de lingüiça, e ele puxou por mais um trecho. Assim, de parada em parada, chegamos em casa com a lenha. Repetimos isso nos dias seguintes. A lenha no pátio da casa aumentava, e a lingüiça na “Räucherkammer” (no defumador) diminuía! Meus irmãos gostavam de brincar comigo, de fazer lutas e, no final, faziam cócegas. Quando eu ficava angustiado, gritava: “Lyon, hellaf mich!” (Lyon, me ajuda!). Meu amigo se aproximava, mostrava os dentes e rosnava assustadoramente. E, imediatamente, meus irmãos me soltavam! Aos onze anos de idade, deixei Santa Isabel e fui embora com meu tio Lindolfo, que era pastor em Timbó e, depois, Ituporanga, para continuar meus estudos (em Santa Isabel só havia escola isolada até o terceiro ano). Foi um tempo muito difícil. Quase morri de saudades de minha família e do Lyon, mas não podia admiti-lo para não ser considerado molenga. Depois de dez meses voltei, pela primeira vez, para casa. Por Santa Isabel não passava ônibus e eu vim de carona, em cima de um caminhão carregado de tábuas. O caminhão parou no caminho que levava para a nossa casa. Com a mala nos ombros, desci o caminho que levava para a nossa casa. De repente, ouvi um barulho atrás de mim. O Lyon pulou nas minhas costas, mordiame e lambia-me, e soltava latidos de alegria e carinho. Logo, meus pais e irmãos vieram atrás. Eles estavam trabalhando numa roça no alto do morro, ouviram um caminhão parar, e viram o Lyon apontar as orelhas e sair em disparada.
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Sabiam que eu havia voltado! Passamos juntos três meses maravilhosos. Quando ia visitar meus tios (na região viviam sete deles, e eu ficava uma noite na casa de cada um), Lyon me acompanhava. Em princípios de 1950, quando Lyon e eu tínhamos doze anos, acompanhei o tio Lindolfo para Panambi. O tio fora chamado para assumir a direção do Ginásio Evangélico de Panambi, e eu o acompanhei para continuar meus estudos. Fiquei lá por dois anos, sem voltar para casa, por causa da longa distância: na época, três dias de viagem! Quando voltei, em dezembro de 1951, soube que o Lyon se exilara na casa do Onkel Willy, o último tio que visitáramos juntos dois anos antes. Meus pais contaram que Lyon me procurara durante meses na casa de todos os tios onde
estivera comigo, e que há um ano se encontrava na casa do Onkel Willy. Eles o levaram para casa, mas ele sempre retornava para lá. Soube ainda que agora Lyon estava cego e surdo, mas era tratado com muito carinho pelo Onkel Willy. Logo fui procurar meu amigão. Quando me aproximei da casa, o Lyon começou a latir, ou melhor, a gritar e a chorar de alegria e de dor. Como ele estava cego e surdo e muito enfraquecido, deve ter-me reconhecido pelo faro. Ele queria vir ao meu encontro, mas caía e corria contra a cerca, e só sossegou quando me sentei ao seu lado no chão e o abracei. Foi um dos encontros mais emocionantes da minha vida! Dois dias depois deste encontro, Lyon morreu. Requiescat in pace! Jamais esquecerei este amigo muito especial. O autor é pastor emérito da IECLB e reside em Timbó, SC
Passeando pela fazenda, o menino da cidade encontrou um monte de caixinhas de leite jogadas em um terreno. Voltou correndo para perto da mãe gritando: – Mãe, vem ver! Encontrei um ninho de vaca!
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Diaconia em Serra Pelada 50 anos de dádivas e de serviço Orlando Stelter
ciativa local transformou-se em “Diakonisches Brüderhaus” (Irmandade de Diáconos) e, com o regresso do casal Schmidt à Alemanha em 1970 foi integrado na IECLB como Fundação Diacônica Luterana (FDL). Na reformulação de seu estatuto em 1979 a FDL adotou o nome que atualmente mantém. O trabalho da ADL, desde a Escola Bíblica que formou líderes diaconais comunitários em nível ginasial, até o período auge de suas atividades na formação de obreiros/as em nível médio, deixou marcas profundas na história da diaconia da IECLB. Certamente a consciência diaconal das comunidades, a organização dos obreiros diaconais e a estruturação diaconal da IECLB têm uma significativa parte de suas raízes em Serra Pelada. Na data de 14/03/1965 a diaconia
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O dia 22 de fevereiro de 2006 é festivo para a Associação Diacônica Luterana - ADL, localizada em Serra Pelada. Os habitantes da localidade, por volta de 5.000, falam carinhosamente em “Lagoa” para se referir a este distrito de Afonso Cláudio - ES, distante 180 km de Vitória. A importância histórica faz esta data ser festiva para toda a IECLB. A ADL festeja 50 anos de fundação. Em 1956 o pastor Arthur G. Schmidt e sua esposa Käthe Scheuchl Schmidt, professora de ensino religioso, deram início à “Bibelschule” / Escola Bíblica Evangélico-Luterana do Espírito Santo. Schmidt também estudou diaconia em Rummelsberg, Alemanha. Em sua fase inicial a “Bibelschule” funcionou na casa pastoral e o celeiro foi adaptado para internato. Chegou a ter o seu curso ginasial próprio entre 1966 a 1972. A obra de ini-
Sede da Associação Dicônica Luterana. 74
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Alunos na horta. Agropecuária com ênfase em agroecologia, agricultura familiar e orgânica. Os alunos retornaram a ADL. O seu diretor, P. Siegmund Berger, define a intenção do curso, dizendo que os jovens “entendam de Bíblia, diaconia e música”, além de um embasamento profissional qualificado. O embasamento teórico sai dos livros, da reflexão, mas a prática é desenvolvida a partir de exercícios. AADL é uma oficina de diaconia. Pessoas de “Lagoa” e região são acolhidas para conhecerem a agroecologia, indústria caseira como panificação, geléias e material de limpeza, música, artes, dança sênior, trabalho com crianças, com a participação de alunos. Diaconia é o servir cristão que vê oportunidades e desafios nas comunidades e na sociedade em geral como líder comunitário ou obreiro, deixando marcas diferenciadas de um serviço impulsionado pela fé, em obediência ao convite de Jesus Cristo: “Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também (João 13.15)”.
masculina teve um impulso importante com a investidura do “primeiro diácono brasileiro” (Schmidt), Inácio Felberg, depois de completar o seu estudo em Rummeslberg. Felberg aposentouse como pastor em Serra Pelada e faleceu 18/03/1999. O ex-aluno da segunda turma da Escola Bíblica, Mathias Nickel, 63 anos, disse: “Capturo cobras a 45 anos para a Caixa de Cobras de Jequitibá e as encaminho ao Butantã em troca de soro antiofídico”. A ex-aluna Regina Krauser, diácona, é diretora do Ancionato Bethesda onde trabalha desde 1974. A criação da Comunhão Diaconal em 1976, com doze diáconos/as ordenados/as entre as quarenta pessoas presentes, favoreceu a abertura de campos de trabalho em comunidades, projetos ou setores de trabalho social, geriátrico, de saúde ou educação. Com a transferência da formação diaconal para a Escola Superior de Teologia, em 1999, em nível superior, surgiu um novo e difícil período para a ADL. As suas raízes, no entanto, eram profundas e não demorou em surgir um novo caminho. Em 2005 iniciou o curso de Técnico em
O autor é pastor emérito da IECLB e reside em Ivoti, RS
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Palavras cruzadas Colaboração: P. Irineu Valmor Wolf
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HORIZONTAIS 1. Uma das Marias que testemunhou a ressurreição de Jesus. 8. Registro de uma assembléia. 9. O sucessor do rei Abias em Judá (1 Reis 15). 10. Cidade da decepção para Paulo e Martim Luther. 11. Não havia como Saul em Israel (1 Samuel 9.2). 14. A 1ª, 4ª e 2ª letras do nome da cidade e do apelido de Saulo (Atos 9.11). 15. Quem escreveu: “Eu o menor dos apóstolos”? ( 1 Coríntios 15.9) 16. A pessoa sem amor é como o barulho do bronze (1 Coríntios 13). 17. O primeiro homicida (Gênesis 4). 19. Antes de Cristo (Abreviatura). 20. Cidade visitada por Paulo na segunda viagem missionária (Atos 16). 23. Expressão ao telefone. 24. Um dos 12, que como Pedro, Tiago e João, eram pescadores (Lucas 6). 25. Enxerga. 26. Irmão de Moisés (Êxodo 5). 29. Cidade onde Jesus curou o paralítico (Marcos 2). 33. Queimei como a sarça ( Êxodo 3.2). 34. A maior sempre é devida a Deus (1 Crônicas 29.11). 35. O governador que entregou Jesus ao povo, depois lavou as mãos (Mateus 27). 37. Assim saí do ventre de minha mãe (Jó 1.21). 38. Ondas médias (abreviatura). 39. Devia pregar em Nínive, mas fugiu para Tarsis. 40. Moça formosa escolhida pelo rei Assuero para ser rainha (Éster 2).
VERTICAIS 1. A irmã que não teve tempo para ouvir Jesus (Lucas 10). 2. Livro no qual está registrada a formação das primeiras comunidades cristãs. 3. Cidade onde aconteceu a conversão de Saulo (Atos 9). 4. Sexta nota musical . 5. Cria e Mantém a Igreja (3ª pessoa da Trindade) - Abreviatura 6. Rei de Babilônia, quando Jeconias, rei de Judá foi exilado (Éster 2.6). 7. Forma a base da corrente. 12. Pronome pessoal feminino. 13. A avó de Timóteo (2 Timóteo 1.5). 15. Cidade portuária onde Paulo tomou o navio para Tiro. 18. Forma átona do pronome “EU”. 19. Flor do campo de folhas aromáticas usadas como medicamento.
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21. Rio Grande do Norte (sigla). 22. O que respiramos. 23. As iniciais de “amor verdadeiro”. 26. Tornais a faca afiada. 27. A primeira e a última letras de “amor”. 28. Aldeia para onde dois discípulos retornaram depois da ressurreição (Lucas 24). 30. Associação Diacônica Luterana. 31. Ana Néri (Mãe da Enfermagem). 32. Onde são depositados ou registrados os votos nas eleições. 33. Depois de. 34. Nem ontem, nem amanhã. 36. A letra da tomada.
DESAFIO Reunindo as letras correspondentes aos números menores colocados no canto inferior direito dos quadrados, você formará um importante propósito manifestado por Josué, diante da aliança que Deus propôs fazer com seu povo (Josué 24.14-25). Qual é este propósito?
Solução na página 139
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Sobre Pegadas na areia Euclécio Schieck
Q
uase todo mundo já leu, ao menos uma vez, o poema Pegadas na areia. Em ver sos singelos, ele é uma mensagem que tem confortado e inspirado milhões de pessoas há exatos 40 anos. O relato é simples. Uma pessoa observa a trajetória de sua vida na forma de pegadas deixadas na areia. Ao lado das suas, há outro par de pegadas deixadas por Jesus Cristo, numa metáfora de que o Senhor sempre caminha ao lado daqueles que Nele confiam. Em dado momento, contudo, o peregrino percebe que há apenas um par de pegadas marcadas no solo - justamente nos momentos mais difíceis de sua vida. Então, indaga ao Mestre porque o deixara sozinho nas horas de aflição. Jesus, então, responde ao seu interlocutor que só havia um rastro porque ele estava carregando-o nos próprios braços. Este poema já foi reproduzido de todas as formas, em quadros, cartões, marcadores de livros, bibelôs, camisetas e uma infinidade de produtos. Normalmente considerado anônimo, o que poucos sabem é que o autor, ou melhor, autora de Pegadas na areia tem nome e sobrenome. Trata-se da canadense Margaret Fishback Powers, que, além de ser uma cristã convicta, mantém um trabalho internacional voltado à evangelização de crianças. “Muita gente pensa que Pegadas na areia é fruto apenas de minha criatividade.
Porém, para mim, ele foi uma experiência bem real, composto em um momento de grandes expectativas e poucas certezas em minha vida”, diz a autora. Sua proximidade com a fé e as letras vêm de longe. Desde a adolescência, quando era missionária batista e dava aulas para crianças em Quebec, em seu país, ela demonstrava talento especial para escrever. A história do poema começou quando Margaret foi para um retiro de jovens da igreja, auxiliando o então namorado Paul, um dos responsáveis pelo evento. “Era o dia de Ação de Graças de 1964 e, ao chegarmos, fui dar uma volta na praia com ele”, recorda. O compromisso era recente - estavam juntos havia apenas seis semanas - e Paul acabara de pedi-la em casamento. Entretanto, o jovem casal tinha poucas esperanças de futuro. “Éramos muito diferentes um do outro. Paul tinha um passado marcado por violência e drogas. Não tínhamos perspectivas profissionais ou financeiras pela frente e nem mesmo se nossas famílias e a igreja iriam nos apoiar”, conta Margaret. De volta do passeio, os dois notaram que as ondas apagaram algumas pegadas, deixando apenas um par visível. “Talvez isso seja um prenúncio de que nossos sonhos serão levados água abaixo”, sugeriu ela. “Não!”, protestou Paul, para, então, tomá-la em seus braços e concluir: “Teremos turbulências, mas seremos um só na caminhada. E o Senhor nos tomará assim, em seus braços, se confiarmos e tivermos fé Nele”.
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Aquelas palavras românticas ficaram marcadas no íntimo da jovem. Naquela noite, ela não conseguiu dormir e orou bastante. No dia seguinte, apresentou ao namorado não apenas sua certeza em Deus do casamento e futuro dos dois, mas o poema que, anos depois, tanto sucesso faria, com o título Eu tive um sonho. Margaret não podia mesmo ter a menor noção da proporção que tomariam os versos simples que acabara de escrever. Anos depois, já casada, ela reencontraria sua obra de forma completamente inesperada. Seu marido sofreu um acidente e recuperava-se no hospital. “Eu estava na UTI, e uma enfermeira, querendo me consolar, segurou minha mão e começou a recitar o poema”, conta Paul Powers, hoje um respeitado pastor batista em Vancouver, no Canadá. E as surpresas não pararam. Tempos depois, qual não foi o susto de Margaret ao se deparar na rua com um imenso outdoor que estampava os versos? “Voltei correndo para casa, toda eufórica”, lembra. A partir dali, a luta foi para provar que o poema, já então conhecido como Pegadas na areia, não era anônimo. “Tínhamos mais de 200 testemunhas que o ouviram e receberam uma cópia naquele retiro. Além disso, ainda o havia escrito na abertura de nosso álbum de casamento, em 1965”, explica Margaret. Tendo sua autoria reconhecida, ela tornou-se uma celebridade. Margaret não arrisca dizer em quantos lugares o poema já chegou. Mas certamente são muitos. Apenas o livro que conta sua história, e que agora chega ao Brasil já foi publicado em outros 20 países. “É o agir de Deus”, sim-
plifica a autora, uma simpática senhora que prefere não revelar a idade. Ela já escreveu dez livros e compôs outros 16 mil poemas, a maioria com temática cristã. O talento literário da poetisa também é instrumento de ação social. O casal criou e dirige a Little people Ministry Association, ministério interdenominacional que promove assistência a crianças de todo o mundo. “Agora estamos treinando jovens que trabalharão na evangelização infantil em países como Tailândia, Costa Rica, Japão e no Caribe”, diz Paul Powers. Naturalmente, a autora tem recebido, ao longo desses anos, inúmeros relatos de gente que associa Pegadas na areia a alguma situação de suas vidas. Geral
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mente, são pessoas que encontraram no poema alento em situações de dor, doença ou morte. Um dos casos que mais a emocionou foi o de um soldado americano na primeira Guerra do Golfo, entre 1990 e 1991. “Li num jornal que um fuzileiro sobreviveu inexplicavelmente ao atravessar um campo minado”. O curioso é que
o recruta passou pelo terreno sem saber dos artefatos enterrados, que só foram descobertos pelos rastreadores depois. Algumas minas estavam exatamente ao lado de suas pegadas. “Muita gente disse que foi pura sorte, mas o rapaz fez questão de mencionar o poema e dizer que foi Cristo que o carregou nos braços ali”; comenta Margaret. Fonte: www.jesussite.com.br.
Uma noite eu tive um sonho – PEGADAS NA AREIA – Sonhei que estava andando na praia com o Senhor e, através do céu, passavam-se cenas de minha vida. Para cada cena que se passava, percebi que eram deixados dois pares de pegadas na areia; um era meu e o outro, do Senhor. Quando a última cena de minha vida passou diante de nós, olhei para trás, para as pegadas na areia, e notei que muitas vezes, no caminho de minha vida, havia apenas um par de pegadas na areia. Notei também que isso aconteceu nos momentos mais difíceis e angustiosos do meu viver. Isso entristeceu-me deveras, e perguntei, então, ao Senhor: “Senhor, tu me disseste que, uma vez que eu resolvera te seguir, tu andarias sempre comigo em todo o caminho, mas notei que, durante as maiores tribulações de meu viver, havia na areia dos caminhos da vida apenas um par de pegadas. Não compreendo por que, nas horas em que mais necessitava de ti, tu me deixaste”. O Senhor me respondeu: “Meu precioso filho. Eu te amo e jamais te deixaria nas horas de tua prova e de teu sofrimento: Quando viste na areia apenas um par de pegadas, foi exatamente aí que eu, nos braços, te carreguei”.
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Ser ou não ser de ninguém? Arnaldo Jabor
Na hora de cantar todo mundo enche o peito nas boates, nos bares, levanta os braços, sorri e dispara: “eu sou de ninguém, eu sou de todo mundo e todo mundo é meu também”. No entanto, passado o efeito do uísque com energético e dos beijos descompromissados, os adeptos da geração “tribalista” se dirigem aos consultórios terapêuticos, ou alugam os ouvidos do amigo mais próximo e reclamam de solidão, ausência de interesse das pessoas, descaso e rejeição. A maioria não quer ser de ninguém, mas quer que alguém seja seu. Beijar na boca é bom? Claro que é! Se manter sem compromisso, viver rodeado de amigos em baladas animadíssimas é legal? Evidente que sim. Mas por que reclamam depois? Será que os grupos tribalistas se esqueceram da velha lição ensinada no colégio, onde “toda ação tem uma reação”? Agir como tribalista tem conseqüências, boas e ruins, como tudo na vida...
Não dá, infelizmente, para ficar somente com a cereja do bolo - beijar de língua, namorar e não ser de ninguém. Para comer a cereja é preciso comer o bolo todo e nele, os ingredientes vão além do descompromisso, como: não receber o famoso telefonema no dia seguinte, não saber se está namorando mesmo depois de sair um mês com a mesma pessoa, não se importar se o outro estiver beijando outra, etc, etc, etc. Embora já saibam namorar, “os tribalistas” não namoram. Ficar, também é coisa do passado. A palavra de ordem hoje é “namorix”. A pessoa pode ter um, dois e até três namorix ao mesmo tempo. Dificilmente está apaixonada por seus namorix, mas gosta da companhia do outro e de manter a ilusão de que não está sozinho. Nessa nova modalidade de relacionamento, ninguém pode se queixar de nada. Caso uma das partes se ausente durante uma semana, a outra deve fingir
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que nada aconteceu, afinal, não estão namorando. Aliás, quando foi que se estabeleceu que namoro é sinônimo de cobrança? A nova geração prega liberdade, mas acaba tendo visões unilaterais. Assim como só deseja “a cereja do bolo tribal”, enxerga somente o lado negativo das relações mais sólidas. Desconhece a delícia de assistir a um filme debaixo das cobertas num dia chuvoso comendo pipoca com chocolate quente, o prazer de dormir junto abraçado, roçando os pés sob as cobertas e a troca de cumplicidade, carinho e amor. Namorar é algo que vai muito além das cobranças. É cuidar do outro e ser cuidado por ele, é telefonar só para dizer bom dia, ter uma boa companhia para ir ao cinema de mãos dadas, transar por amor, ter alguém para fazer e receber cafuné, um colo para chorar, uma mão para enxugar lágrimas, enfim, é ter “alguém para amar”. Já dizia o poeta que “amar se aprende amando” e se seguirmos seu raciocínio, esbarraremos na lição que nos foi passada nas décadas passadas: relação é sinônimo de desilusão. O número avassalador de divórcios nos últimos tempos, só veio a confirmar essa tese e aqueles que se divorciaram (pais e mães dos adeptos do tribalismo), vendem na maioria das vezes a idéia de que casar é um péssimo negócio e que uma relação sólida é sinônimo de frustrações futuras.
Talvez seja por isso que pronunciar a palavra “namoro” traga tanto medo e rejeição. No entanto, vivemos em uma época muito diferente daquela em que nossos pais viveram. Hoje podemos optar com maior liberdade e não somos mais obrigados a “comer sal junto até morrer”. Não se trata de responsabilizar pais e mães, ou atribuir um significado latente aos acontecimentos vividos e assimilados na infância, pois somos responsáveis por nossas escolhas, assim como o que fazemos com as lições que nos chegam. A questão não é causal, mas quem sabe correlacional. Podemos aprender a amar se relacionando, trocando experiências, afetos, conflitos e sensações. Não precisamos amar sob os conceitos que nos foram passados. Somos livres para optarmos! E ser livre não é beijar na boca e não ser de ninguém. É ter coragem, ser autêntico e se permitir viver um sentimento... É arriscar, pagar para ver e correr atrás da felicidade. É doar e receber, é estar disponível de alma, para que as surpresas da vida possam aparecer. É compartilhar momentos de alegria e buscar tirar proveito até mesmo das coisas ruins. Ser de todo mundo e não ser de ninguém é o mesmo que não ter ninguém também... É não ser livre para trocar e crescer... É estar fadado ao fracasso emocional e à tão temida solidão. O autor é jornalista Fonte: www.paralerepensar. com.br/a_jabor_serounaoser.htm
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Reconciliação Ivo Krueger
Ouvindo ou lendo a expressão Reconciliação logo imaginamos uma situação de desavenças, conflitos, brigas, mal-estar que busca ser superada. Diante do tema proposto recorri ao meu velho “Dicionário Aurélio” no qual encontrei preciosidades sobre os termos Conciliar e Reconciliar: Harmonizar, pôr de acordo, congraçar, combinar, granjear, captar, atrair, conseguir, aliar, unir, conseguir, estar em comum acordo. Estabelecer a paz entre, tornar amigos (pessoas que se malquistaram) restituir à graça de Deus. Preciosidades que caíram em desuso. Sinto as pessoas cada vez mais distantes de Deus e, por conseqüência também distantes umas das outras. Percebo cada vez mais um individualismo, um “cada um por si” que me assusta. Ninguém mais tem tempo para coisas realmente importantes e que possam, de fato, fazer diferença em sua vida. Perdemse valores importantes, o que certamente está a se refletir em todos os âmbitos da vida, seja na sociedade, igreja, família, bem como na vida do casal! Homem e mulher, que num determinado momento de sua vida se recebe-
ram, mutuamente, como um presente de Deus, para ser amado e alvo de toda a atenção, carinho e amor, simplesmente se tornam distantes, estranhos, incompatíveis porque não investem mais em si e assim esfriam a sua relação. Não harmonizam mais! A vida agitada não lhes deixa mais tempo; não dá para parar! Os compromissos financeiros que assumem são cada vez maiores e acabam sufocando o casal e a família. Não estão mais com as rédeas nas mãos pois se tornam dependentes das circunstâncias. Leitor e leitora, se você está muito atarefado, não encontra mais tempo nem para si muito menos para a sua família; se você vive sob pressão e estressado, então tome uma decisão corajosa – pare! Você tem tempo; administre-o você mesmo! Não deixe o barco correr por conta, assuma o comando, o leme! Mas não o faça sozinho, busque a sua esposa, seu esposo e vivam esta coisa bonita, abençoada por Deus, que é o vosso matrimônio. Harmonizem! A Igreja há muito vem realizando um trabalho dentro das comunidades – o REENCONTRO: comigo, contigo e com Deus. Busca-se oferecer aos casais
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a oportunidade de sair da rotina, encurtar distâncias, harmonizar, oferecer o s meios para que o casal tempere a sua vida matrimonial. Não é só o trabalho que resulta em salário e ganho o que importa para o casal. É, muito antes, a qualidade de vida que temos em nosso lar. Que no uso do tempo não se esqueçam de priorizar a sua vida como casal e como família, pois é desta distribuição
responsável do tempo que vai depender a união, a paz, a capacidade e a vontade de perdoar. Você, marido e esposa, têm todo o potencial para fazer a vida ter graça! Desejo que Deus devolva a vocês a coragem de investir tempo e atenção naquilo que é comum a ambos. Que Deus vos dê a disposição de olharem, não apenas um para o outro e sim olharem e caminharem, de mãos dadas, na mesma direção! O autor é pastor da IECLB
Algumas das melhores coisas da Vida Se apaixonar. Rir até sentir o rosto doer. Um banho quente. Um supermercado sem filas. Um olhar especial. Receber cartões. Dirigir numa estrada bonita. Escutar sua música preferida. Uma boa conversa. A praia. Achar uma nota de R$ 50,00 na sua roupa do inverno passado. Rir sem absolutamente razão nenhuma. Ter alguém pra te dizer que você é bonito (a). Os amigos. Alguém brincar com o seu cabelo. Bons sonhos. Viagens com os amigos. Dançar. Beijar na boca. Ir à um bom show. Encontrar com um velho amigo e descobrir que existem coisas que nunca mudam. Descobrir que o amor é eterno e incondicional. Abraçar a pessoa que você ama. Ver o nascer do sol. Levantar todo dia e agradecer a Deus por outro lindo dia. Continue você... Faça a sua própria lista! Seja Feliz!
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Lições de Sabedoria Horst Baumgarten
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abedoria é mais do que o E nem tudo está resolvido. Como acúmulo de conhecimentos. Se- afirmamos acima, cada dia é novo dia, guramente quanto mais conhe- cada decisão é nova decisão. O caminho cimento se tem mais preparado se está da fé é diário. para decisões a serem tomadas. Todo Na literatura encontramos várias acontecimento ou decisão a ser tomada é referências sobre sabedoria que podem um fato novo. Vem recheados de novas ser estímulo para quem a procura. situações e novos componentes. O sim- Pitágoras comentando sobre o constranples deslocamento de um lugar a outro gimento causado por erros de amigos, diz: não é igual ao de ontem. “Escreve na areia as faltas de teu amiDiante do que é novo trazemos, go”. H. Jackson Brown Jr. acerta quando sim, uma bagagem de conhecimento que escreve: “Elogie em público, critique em favorece uma decisão. Mas garantia de particular”. Pitágoras acha um indicativo que nosso ato terá sucesso, não temos. para o recomeço com amigos que nos fe1 Reis 3.9 reriram. H. J. Brown lata o pedido do rei Jr. estimula para que Salomão a Deus pessoas divergentes, Não basta conquistar para seu reinado. dialoguem. Pede: “dá, pois, ao Clarice Lisa sabedoria, teu servo coração pector, ao mencioé preciso usá-la compreensivo para nar a necessidade de julgar o teu povo, mudanças, sugere: – Cícero – para que prudente“Mude, mas comece mente discirna entre devagar, porque a o bem e o mal...”. Nesta passagem e em direção é mais importante que a velocioutras, sabedoria significa: “juízo, sen- dade”. Já o mensageiro de Deus, necessatez, senso; ajuizado, prudente, sábio, sitando de apoio, lamenta: “Necessito sensato”. Atribui-se ao mesmo rei muito de orações, mas só me dirigem paSalomão a palavra constante em Provér- lavras de louvor” (Georges Bermanos). bios 1.7: “O temor do SENHOR é o princípio do saber, mas os loucos desprezam a Por fim, duas afirmações sobre a sabedoria e o ensino”. paz: a primeira do reformador Martim Cristãos unem sabedoria a uma ín- Lutero: “Pela paz nunca se paga muito tima ligação com Deus e sua Palavra. caro, pois ela traz, a quem a compra, Nesta, buscam orientação para suas vi- grandes benefícios”. A segunda de Albert das e decisões. Toda ação ou até a omis- Einstein: “O mundo precisa de paz e boa são deve estar pautada na ética e no que vontade e essas coisas não se compram é lícito. com dinheiro”.
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E para aqueles que desanimam pela falta de paz em nosso mundo, lembro um dito oriental que diz: “o inteligente se irrita, o sábio ri”. Resta-nos ser inteligentes, e procurar a cada novo começo a sabedoria junto a Palavra de Deus.
Ah sim! Aos pessimistas, Artur da Távola lembra: “Nada está perdido, estamos em plena transformação”. O autor é pastor da IECLB e diretor do Lar Rodeio 12, em Rodeio, SC
Mas, se alguém tem falta de sabedoria, peça a Deus, e ele a dará, porque é generoso e dá com bondade a todos. Tiago 1.5
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Teologia da prosperidade Fernando Oshige
O desencanto dos partidos políticos, o desaparecimento das utopias, a hegemonia de um só modelo econômico e a situação de pobreza são fatores que influenciaram a que muitos crentes evangélicos optassem, sedutoramente, na América Latina, pela teologia da prosperidade, disse o pastor peruano Martín Ocaña. Segundo Ocaña, professor no Seminário Batista do Sul do Peru, no contexto da crise econômica, política e social que a América Latina vive, a teologia da prosperidade oferece a superação da pobreza de modo imediato e individualista, enquanto a teologia da libertação concebe tal superação como fruto da luta contra a injustiça social e a exclusão, num projeto de longo prazo. As pessoas querem sair da pobreza sem se importarem, muitas vezes, com a forma como isso acontece e a teologia da prosperidade aproveita-se desse anseio legítimo e orienta as pessoas segundo sua perspectiva, explicou o teólogo. Ele foi expositor da jornada inaugural do IV Curso Regional “Cidadania e economia solidária”, convocada pela Rede de Centros Leigos do Cone Sul. A chamada teologia da prosperidade, surgida nos anos 30 do século passa-
Gemeindebrief
do, foi promovida por ministérios evangélicos dos Estados Unidos. Ela soube introduzir-se no atual panorama social e político sem nenhum tipo de problema, afirmou Ocaña. É que sua ênfase na prosperidade material e o desfrute da parte terrena fizeram do cristianismo - pelo menos no que essa teologia propugna uma religião inofensiva ao sistema. A teologia da prosperidade ensina que a prosperidade material é a evidência maior da bênção de Deus. Mas tal prosperidade não é para todos, mas para aqueles que são fiéis a Deus e guardam suas leis espirituais. Ela ensina que a prosperidade material é dada aos cristãos para que ela seja desfrutada já agora, pois é preciso acostumar-se cá na terra a um estilo de vida que no céu será ainda maior e eterno. Diante do avanço crescente de setores da teologia da prosperidade Ocaña lamentou que os líderes das igrejas protestantes e evangélicas histórias (que nasceram e foram influenciadas pela Reforma protestante do século XVI) não reajam, mas antes consideram tal teologia “inofensiva”. “Eu recomendaria a esses líderes que se informem e façam um trabalho de campo sobre o tema ou pelo menos que 88
assistam Enlace TV (canal com sede em São José, Costa Rica), que transmite mensagens antibíblicas e até heréticas, via satélite, 24 horas do dia, e que são consumidas por muitos fiéis de suas igrejas”, alertou o palestrante. Ocaña é autor do livro “Los banqueros de Dios”. Ele entende que é uma exigência urgente articular uma teologia alternativa à prosperidade, com fun-
damento sólido nas Sagradas Escrituras e com ênfase no bem-estar humano. O bem-estar humano é um conceito integral, mais profundo que a prosperidade material, pois implica justiça social, a satisfação das necessidades humanas, saúde, trabalho, enquanto que a teologia da prosperidade reduz tudo ao econômico, embora os seus apologistas o neguem, afirmou o teólogo peruano. Fonte: ALC
HumoR Diálogo entre o Homem e Deus: Homem: - Deus, dize, é verdade que, para Ti, mil anos são só um instante? Deus: - Sim, é verdade. Homem: - Então, um milhão de reais são só um centavo! Deus: - Bem observado. Homem: - Tu bem que poderias arranjar-me um centavo... Deus: - Perfeitamente. Espera só um instante!
Depois de ter sido preso por dirigir bêbado, o juiz resolve dar uma chance ao réu de escolher a pena. - O senhor escolhe: trinta dias de cadeia ou trezentos reais! - Ah, pode me dar os trezentos reais, que eu aceito meritíssimo!
Aquele advogado era ateu, mas, no leito de morte, pede uma bíblia e começa a ler avidamente. Todos se surpreendem com a conversão do homem e perguntam o motivo. O moribundo responde: - Estou procurando brechas na lei!
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Os “nômades da Fé” Crentes decepcionados são os novos peregrinos da religião O “nômade da fé”, descreveu RoO pastor Paulo Romeiro, da Igreja Cristã da Trindade, em São Paulo, iden- meiro na entrevista à Eclésia, busca restifica um novo tipo de cristão evangélico postas imediatas aos problemas, “uma que, juntos, são os peregrinos da religião vez que vivemos na era da velocidade. e constituem o movimento dos sem-igre- Se as respostas não chegam rápido, o ja. Esse novo tipo de crente é o decepci- sujeito procura uma nova igreja”. E o que essas pessoas que são atraonado. “Trata-se de uma pessoa atraída ídas às igrejas neopentecostais buscam? à igreja com a promessa de ficar rica, Que fiquem ricas, sejam curadas de todo ser curada e resolver todos os seus pro- tipo de doença e que todos os seus problemas. No entanto, depois de algum tem- blemas sejam resolvidos, desde a falta de po, ela vê aquelas esperanças frustra- dinheiro até a falta de emprego. Essas são promessas da teodas”, definiu Rologia da prosperimeiro em entrevisO neopentecostalismo dade, que propõe ta para o repórter é vigoroso na sua banir a pobreza, a Carlos Fernandes, ação evangelizadora, doença. da revista Eclésia. O problema Ao decepcina capacidade de agrupar não está na prospeonar-se numa igrepessoas, mas frágil na sua ridade, mas na teja, o crente vai em ação disciplinadora. ologia, assinalou busca de outra. Nas Romeiro. Para a grandes cidades, detecta Romeiro, há um contingente sig- teologia da prosperidade, o crente “deve nificativo de evangélicos que circulam, morar em mansão, ter carrões, muito diconstantemente, de igreja em igreja, cons- nheiro e nunca ficar doente. Quando isso tituindo o fenômeno que os sociólogos não acontece, é porque ele está sem fé, em pecado ou debaixo do poder de Satachamam de “trânsito religioso”. A tese de Romeiro está descrita em nás”, explicou o pastor da Igreja da Trintrabalho de doutorado em teologia. A tese dade. Romeiro mudou a lógica no argufoi transformada em livro e deverá ser lançado em breve sob o título “Decepci- mento: “Ora, se formos avaliar a vida onados com a graça - Esperanças e frus- espiritual de uma pessoa pela casa onde trações no Brasil neopentecostal”, pela mora ou pelo saldo bancário, temos que concluir que muitos jogadores de fute editora Mundo Cristão.
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do com a mensagem e a falta de ética de alguns segmentos neopentecostais, creio que haverá uma volta à Bíblia por parte de muitos. Por isso, as igrejas cristãs devem estar preparadas para receber e ajudar tais pessoas”, recomendou. Na entrevista, Romeiro também questionou o fato de mais e mais pessoas se converterem e a situação da nação brasileira ficar cada vez pior, basta analisar os casos de violência, o tráfico de drogas, que estão “fora do controle das autoridades”. Que Evangelho é esse que não afeta a sociedade para melhor nem transforma pecadores em santos? - pergunta. O neopentecostalismo, definiu, é “vigoroso na sua ação evangelizadora, na capacidade de agrupar pessoas, mas frágil na sua ação disciplinadora”.
bol e artistas têm uma comunhão com Deus fora do comum. E isso não é verdade”. Hoje em dia, analisou o pastor, as pessoas na igreja funcionam na base da emoção, e não pela reflexão. A teologia da prosperidade e todo esse clima de emoção têm forte apoio na mídia, um instrumento que as igrejas neopentecostais sabem trabalhar muito bem. “Creio que o fator principal que garante a sobrevivência do movimento neopentecostal é o seu investimento pesado na mídia e o seu sucesso em colocar a igreja no mercado e as políticas do mercado na igreja”, avaliou Romeiro na entrevista à Eclésia. Isso ainda vai durar algum tempo, representando crescimento dos principais grupos neopentecostais no Brasil. Mas não têm mais o mesmo ímpeto que tinha no passado. Romeiro entende que, “na medida em que os adeptos vão se decepcionan-
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Fonte: Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC)
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Escola - missão da Igreja? Heinz Ehlert
Foi nos anos noventa do Século XIX. A Companhia Colonizadora Hanseática de Hamburgo, Alemanha, recebeu a concessão de colonizar uma área no alto Vale do Itajaí (Norte), em Santa Catarina. Surgiu a Colônia Hansa Hamonia, cuja sede muito mais tarde foi chamada de Ibirama. Entre os primeiros imigrantes provenientes da Alemanha encontrava-se um homem que desejava ser um simples colono como os demais. Mas logo chamou a atenção pela sua cultura: Dr. Paul Aldinger. Um dos anseios que os colonos logo apresentaram ao Diretor da colônia foi: precisamos de escola e professor para instruir os nossos filhos. Propuseram o Dr. Aldinger para ser o professor, porque descobriram que ele tinha formação teológica e pedagógica. O Diretor, em nome da Companhia, prometeu ajudar. O Dr. Aldinger aceitou o desafio e foi contratado pela Companhia: como professor e pastor! Pois os colonos queriam também um pregador e “cura de almas”. Eles, em mutirão, levantaram um prédio (no estilo enxaimel) que servia de escola durante a semana e de igreja no fim de semana. Nascia mais uma escola comunitária como em tantas outras colônias “alemãs” e evangélicas do sul do Brasil. No caso de Ibirama formou-se mais tarde uma sociedade escolar para manter a escola, construindo um prédio bem maior no centro da vila. Mas a grande maioria dos sócios eram membros da
Comunidade Evangélica. O número de alunos e professores cresceu ao longo dos anos, mas o espírito e a filosofia da escola continuou o mesmo até os anos trinta do Século XX. Uma história muito parecida com a de Ibirama (quanto à criação de uma escola comunitária), aconteceu em Curitiba, PR. Só que aqui os imigrantes não puderam contar com o apoio de uma entidade como a Companhia Colonizadora Hanseática. Mas o primeiro pastor também foi o primeiro mestre escola. Os professores para as centenas de escolas comunitárias que surgiram nas colônias alemãs, no início vieram da Alemanha. Mas logo se criaram institutos de formação de professores por iniciativa dos sínodos eclesiais respectivos no Rio Grande do Sul (São Leopoldo) e Santa Catarina (Blumenau e, mais tarde, Timbó). No primeiro governo de Getúlio Vargas (Estado Novo) foi decretada a nacionalização do ensino, seguindo-se ainda a perseguição por causa da língua alemã. As escolas particulares (comunitárias) em Ibirama e Curitiba tiveram que fechar as suas portas, a exemplo do que aconteceu com inúmeras outras em todo Brasil. Só no âmbito do ex-Sínodo Riograndense havia mais de 500 escolas comunitárias. Um ensino de qualidade, pelo esforço e sacrifício dos pais e da Igreja Luterana, foi destruído por medidas ditatoriais de uma política de ensino (dita nacionalista) de uma visão muito curta. 92
Muitas destas escolas foram recriadas depois da Segunda Guerra Mundial, vinculadas a uma comunidade eclesial. A grande maioria hoje se acha filiada à Rede Sinodal de Educação, vinculada à Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), que mantém o Departamento de Educação para orientar e apoiá-las. Este departamento também formulou uma Política Educacional que deve nortear todo o empenho da Igreja, seus Sínodos, Paróquias e Comunidades no campo da educação. Com isso se evidencia que também hoje a IECLB considera a educação geral e a manutenção de escolas particulares comunitárias, nos diferentes níveis de ensino, como parte da missão da Igreja – ao lado da formação de obreiros e da educação cristã específica de seus membros. Mas sempre de novo surge nas comunidades, entre seus líderes a pergunta: Por que uma Comunidade ou Paróquia deve, ainda hoje, criar ou manter uma escola particular, confessional? Ainda mais se existem outras boas escolas particulares ou públicas (do governo) no local? Vamos olhar algumas razões: Desde o início na Igreja Cristã foi acentuada a necessidade do ensino e, por conseguinte de professores. Podemos ver isto nos escritos do Novo Testamento (por exemplo: Mateus 28.19-20; Romanos 12.7; I Coríntios 12.28; I Timóteo 2.6). Para poder ler, era preciso alfabetizar. Trata-se, realmente de ensino, no sentido amplo, e não só de instrução na fé. A educação geral e até universitária foi um tema destacado na época da
Reforma Protestante. O próprio Lutero exige, num de seus escritos, de prefeitos, vereadores e magistrados que criem e mantenham escolas. Nelas naturalmente se incluía a educação cristã, baseada na Bíblia e de acordo com a compreensão luterana. Responsabilidade por uma educação cristã e um ensino de qualidade tornou-se uma tradição na Igreja Luterana, em todo mundo. Mas pode permanecer a pergunta: Será que para isso precisamos manter uma escola própria? E qual seria a alternativa? Deixar para o governo? Poderia ser mais cômodo, mas não melhor. Pois, sem dúvida numa escola nossa temos mais garantia de seguir os princípios éticos cristãos para a educação de nossos próprios filhos e netos como também de ajudar na educação de cidadãos dignos e responsáveis. Isso não será possível sem esforço e sacrifício. Mas não vale a pena, quando se trata do mais precioso dom de Deus: nossos filhos, as crianças e jovens de nossa sociedade? Uma comunidade responsável não pode se acomodar com respeito à educação – como hoje infelizmente acontece muito. Governos muitas vezes cometeram sérios abusos com a educação escolar. Basta lembrar o tempo da ditadura militar no País e o seu ensino obrigatório de “moral e cívica”. A escola particular é também uma alternativa e até um corretivo para as escolas públicas. A escola confessional é, neste sentido, um instrumento de missão da Igreja. O autor é pastor emérito da IECLB e reside em Curitiba, PR
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Diálogo inter-religioso – que é isto? Dr. Gottfried Brakemeier
No mundo de hoje, globalizado, cresce a cada dia o número de credos. Ao lado das religiões tradicionais, a exemplo de Islamismo, Hinduísmo, Budismo, ou das de origem indígena e africana, surgiram e surgem novos movimentos religiosos como o Espiritismo, a Umbanda, Seicho-No-Iê, Nova Era, além dos inúmeros grupos de natureza pentecostal. Ninguém está em condições de fazer um levantamento exato das religiões existentes no Brasil ou no mundo. A sociedade moderna, democrática, obriga a conviver com o diferente. Ela avizinha e até mistura as religiões, tornou-se “pluri-religiosa”.
vamos dizer que todas as religiões, ainda que de modos diferentes, conduzem ao mesmo Deus? É a variante relativista. Diz que tudo é igual. Cada qual deve ter o direito de optar pela oferta que lhe apetece. É uma proposta perigosa também. Pois religião define comportamentos. Serão realmente indiferentes os valores com que nos comprometemos e os princípios a prevalecer na sociedade? Relativismo acaba em grande confusão. O diálogo inter-religioso quer evitar ambos os inconvenientes. Não pode ser relativista. Todo diálogo exige uma posição. Não podemos renunciar às nossas convicções cristãs. Não há outro salvador senão Jesus Cristo. O diálogo interreligioso não anula a necessidade da missão. Não podemos ficar devendo o testemunho do evangelho a ninguém. Mas estamos proibidos de fazê-lo por violência ou coação de qualquer tipo. Não foi este o jeito de Jesus. Ele não ameaçou os incrédulos com o inferno de fogo. Testemunho é convite para abraçar a fé, é de
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Como fazer frente a esta situação? Deveremos combater o diferente, demonizar as outras religiões, tentar reprimi-las? É a proposta da intolerância. Ela não é democrática, nem prudente, nem evangélica. É perigosa. Vai desencadear novas guerras religiosas, mais violentas do que tudo o que houve no passado. O caminho não é este. Ou então,
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monstração do amor que Deus nos tem, é prestação de contas da esperança que há em nós. Missão cristã, entendida corretamente não tem nada de violento. Quer construir comunhão.
Em vez de diálogo ouve-se falar também em ecumenismo inter-religioso. É a mesma coisa em termos diferentes. Claro, o ecumenismo com outras religiões tem outra natureza do que aquele entre as Igrejas cristãs. Não devemos confundir. Mas considerando que todas as pessoas são criaturas divinas, que Deus destinou seu amor a todo o mundo e que vivemos todos no mesmo planeta, a palavra macro-ecumenismo é altamente significativa. Não podemos desconsiderar as diferenças nem deixar de examinar a qualidade das propostas. Também no mundo das religiões nem tudo o que brilha é ouro. E no entanto, devemos achar uma forma de convivência pacífica, quem sabe até de intercâmbio frutífero, de irmãos e irmãs criadas à imagem de Deus. Porventura, podemos negar-nos de sã consciência a tão importante tarefa?
Isto também para além das fronteiras confessionais. Se não for possível termos comunhão em Cristo, vamos construí-la pelo menos em cima de causas tão necessárias como a paz. É exatamente isto o que pretende o diálogo inter-religioso. Busca o acerto com pessoas de outros credos em questões vitais de convivência social. Queremos paz, justiça, respeito à dignidade humana, preservação do meio ambiente. Sem isto, nosso planeta não tem futuro. Para assegurá-lo precisamos da cooperação de todos. Então, vamos sentar e falar a respeito.
O autor é pastor emérito da IECLB
Um grama de testemunho vale mais que uma tonelada de propaganda. William W. Ayer
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O Pinheiro de Natal e outras Árvores Bíblicas Theodor Glaser
na qual Cristo morreu - esta, sim, a boa árvore, que dá frutos agora e para sempre. Dessas três árvores: a do início, a do meio e a do final, prega o pinheiro natalino. A árvore no meio do Paraíso simbolizava o próprio Deus. Tudo deveria girar em torno Dele. Adão e Eva, cujos nomes estão arrolados no calendário dos santos, no dia 24 de dezembro, perderam este centro, porque esse era o lugar que queriam para eles mesmos. Foi assim que perderam Deus e o Paraíso. Seus portões fecharam-se como as portas da sala na véspera de Natal, antes da distribuição dos presentes. Mas Deus deixa-se encontrar novamente, na criança da manjedoura. O menino Jesus deve ser o centro, e não só na Noite Santa. De repente, tudo se encaixa novamente. A árvore do Paraíso torna-se acessível outra vez. E é o pinheiro de Natal que garante essa aproximação. Por isso, cantamos “Rejubila, cristandade, no Senhor!”
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No terceiro dia da criação, Deus disse: “que a terra produza todo tipo de vegetais, isto é, plantas que dêem sementes e árvores que dêem frutas.” Hoje, muitas árvores estão doentes. Florestas inteiras estão ameaçadas de extinção. Por enquanto, ainda não precisamos renunciar ao pinheiro de Natal, mas ele quer nos lembrar que somos responsáveis - não apenas por árvores e florestas, mas por todo o meio ambiente, pela boa criação de Deus. Salvem as florestas! - assim também clama o pinheirinho. Sua história é bem recente. Ele foi descoberto em Estrasburgo, em 1539. Há cerca de duzentos anos, tem seu domicílio na Alemanha. Suas raízes, no entanto, são muito mais profundas, no mundo da Bíblia. Nela aparece, bem no início, a Árvore da Vida, a árvore do conhecimento do bem e do mal, plantada no meio do Jardim do Éden. Por outro lado, na última página da Bíblia, no fim da História e no centro da Jerusalém celeste, cresce a Árvore da Vida, que dá frutos doze vezes por ano e serve à saúde das pessoas. No meio dos tempos, porém, está um outro madeiro: a cruz toscamente construída,
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Também os enfeites que colocamos na árvore de Natal falam dessa alegria. Segundo uma velha tradição, as maçãs presas aos galhos devem ter um lado pálido, simbolizando a morte, e um lado vermelho, significando a renovação da vida. O fruto proibido, colhido pelos pais da humanidade, voltou à árvore. A transgressão foi perdoada. As bolas douradas e tudo mais que brilha e reluz fala do ouro trazido pelos magos do Oriente. Velas milagrosas espalham luz como o perfu-
me do incenso, e o marzipã, feito originalmente com a seiva da mirra, também está presente na árvore de Natal. Com sua luz, as velas espantam a escuridão do medo, da miséria e da morte. A ponta do pinheiro, enfeitada por uma estrela ou um anjo, aponta para o céu, para o Paraíso, o eterno mundo de Deus. Pelo menos um pouco do céu na terra deve acontecer, não só em família, não só no Natal, mas todos os dias do ano, por toda a vida. Fonte: Gemeindebrief Traduzido por: Anamaria Kovács
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Perdida em meio à guerra... Karin Ruppelt
O ano é o de 1945. Guerra e mortes são o cenário. Bischofswerda se tornara zona de combate, e a população deveria abandonar a cidade. A retirada começou em 20/04/1945. Na Rua Dr. Beck se encontrava um caminhão, já parcialmente ocupado com retirantes. Foi nele que também nós (minha mãe, a vovó, minha irmã Eva Maria, com 10 anos de idade, o pequenino Henner - meu irmãozinho de apenas um ano e meio de idade - e eu, Karin, na época com seis anos de idade) conseguimos um lugar.
com sua velha mãe (cujo nome já não lembro mais). Os três tinham vindo de Berlim. Dos outros, que juntos formavam este nosso grupo de retirantes, eu não mais me recordo. Quando minha irmã e eu começamos a sentir sede, a nossa mãe nos dava uma garrafa térmica com um líquido muito gostoso. Evi e eu nos tornamos muito alegres e um tanto ridículas. Nossa mãe havia levado uma garrafa térmica com vinho e outra com café e leite, e nos entregou a garrafa errada.
Ainda pertenciam a este grupo nossa empregada Gretel Rother, e a sua mãe, que era diabética. Também a “tia” Lilo Haufe, que era a esposa do nosso prefeito de Bischofswerda, viajou conosco.
Finalmente chegamos a Reichenberg, na Checoslováquia. Saltamos do caminhão no Marktplatz (Praça Central). Era cerca de 11 horas da noite. Mamãe e tia Lilo nos deixaram inicialmente debaixo do arco da entrada da cidade, e depois foram procurar um abrigo. Nesse ínterim chegou um homem e nos perguntou o que estávamos fazendo debaixo do arco de entrada. Quando soube da nossa situação ele foi até a casa mais próxima e lá perguntou por um pernoite. Quando mamãe e tia Lilo retornaram (sem
Nos instalamos no caminhão. Evi (Eva Maria) e eu estávamos juntas, agachadas, como fazíamos sempre, quando brincávamos. Na frente do veículo estava sentada uma Sra. Faul, (este nome eu achava muito engraçado pois Faul significa podre, em alemão). Ela estava com o seu filho, Hänschen, de 5 anos, e junto
Elevo os olhos para os montes: de onde me virá o socorro? O meu socorro vem do SENHOR, que fez o céu e a terra. Ele não permitirá que os teus pés vacilem; não dormitará aquele que te guarda... Salmo 121.1-3
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terem conseguido lugar), o simpático homem disse que uma senhorita, chamada Ida von Manger, estaria disposta a receber e abrigar uma parte do grupo. Outra parte, ficaria junto a uma outra família, no mesmo prédio, um andar acima.
jogavam todos nas valas. Então os russos intervieram, dando aos alemães um prazo de 48 horas para deixarem o país. Enquanto isto os alto-falantes sempre anunciavam que os alemães deveriam deixar imediatamente o país.
A moradia da Srta. von Manger era muito pequena. A vovó dormiu na cama, a Srta. von Manger no sofá, e nós no tapete. No dia seguinte nossa mãe conseguiu um lugar numa pensão.
No dia seguinte, a nossa mãe foi à cidade para comprar mantimentos. De repente veio Gretel, pegou a Evi e a mim. Saímos, ambas com as nossas mochilas com alguma roupa e os nossos ursinhos nos braços. Gretel nos levou a um local onde estavam estacionados vários ônibus, esperando para levar os alemães para fora da Checoslováquia. Gretel nos disse que deveríamos guardar lugar nestes carros para o nosso grupo. De súbito chegaram alguns homens e disseram a Evi e a mim para entrar, pois os ônibus iriam partir. Evi protestou, pois a nossa mãe, a nossa avó e nosso irmão pequeno ainda não haviam chegado. Alguém falou:
Mais tarde conseguimos abrigo na casa do Sr. Fleischer, cuja família foi evacuada da região do rio Reno. A Srta. von Manger trabalhava com o Sr. Fleischer e falou com ele sobre nós. O Sr. Fleischer também empregava alemães na sua empresa. Para que os alemães pudessem ir ao trabalho eles recebiam dos checos um cartão específico. O Sr. Fleischer também conseguiu tal documento para a minha mãe e para a tia Lilo para que elas pudessem ir às compras. Depois veio uma ordem dos checos para que todos os alemães usassem, como identificação, uma tarja branca. Logo os alemães foram proibidos de sair de casa.
– Uma senhora idosa, uma mãe e um garoto pequeno? Eles já estão no ônibus! Então nós entramos no mesmo. Logo Evi protestou novamente: – Estas não são nossa mãe, avó e nosso irmão!
Nesta época o meu primeiro dente de leite começou a bambear, e foi retirado pela tia Lilo. Na hora do noticiário, no rádio, nós crianças tínhamos de sair da sala, mas Evi escutava encostada na porta, e um dia ela me disse ter ouvido que os checos iriam fuzilar todos os alemães que se encontrassem na Checoslováquia. Naturalmente ficamos com medo. Os checos mandavam os alemães escavarem longas valas, fuzilavam primeiro as crianças, depois os adultos e
O comandante do grupo nos disse, então, que iria com Evi para a cidade para buscar o restante do grupo. Novamente Evi protestou, dizendo que ela não iria sem mim, sua irmãzinha. Mas o comandante pacientemente explicou, que no carro não haveria lugar para todos, na hora de trazê-los. Ele também deu ordens de que a caravana somente deveria partir após a sua volta. 99
Nós esperamos e esperamos... De repente a caravana se pôs em movimento e eu me encontrei, sozinha, no meio de pessoas desconhecidas. Entre pessoas desconhecidas? Não, não foi bem assim... Lá estava a senhora Faul, com sua mãe e seu filho. Ela tinha viajado conosco de Bischofswerda para Reichenberg e, desde a noite de nossa chegada em Reichenberg, não a havia mais visto. Sorte? Acaso? Diz o salmista: “não dormitará aquele que te guarda!”. Esta senhora então cuidou de mim. Vocês conseguem imaginar? Numa guerra, em pleno processo de desocupação, ninguém sabendo o que o próximo momento nos iria trazer, se amanhã teríamos o que comer... E aí chega uma pessoa estranha, que já tem de cuidar do filho e de sua velha mãe, e aceita cuidar de uma criança perdida... Na realidade todos no ônibus cuidaram um pouco de mim. Primeiro eu me sentia abandonada, intimidada, o que certamente nunca irei esquecer. Eu não chorava quando me sentia observada. No entanto, várias vezes, eu puxava o cobertor por cima da minha cabeça e chorava. Depois o ônibus foi trocado por um caminhão. A bagagem teve que ser reduzida. A Sra. Faul entregou a minha mochila. Eu fiquei só com um vestidinho branco, todo bordado. Também pude ficar com o ursinho, que era o meu consolo. No caminhão se dormia, cada um sentado em cima da sua bagagem, pois assentos não existiam. Uma vez eu tive
fome. No caminhão estava um saco grande de batatas... Olhei para os lados, para ver se ninguém olhava... e retirei uma batata do saco. Descasquei a mesma com as unhas. Se realmente ninguém percebeu nada eu não sei. Sei que ninguém nada falou... A consciência pesada, que eu tinha naquele momento, até hoje não esqueci... Em certo momento da viagem, nós paramos num campo aberto, aonde pastavam alguns animais. As vacas eram enormes e a gente tinha que passar por elas para ir aos sanitários. O sanitário era uma vala, com um caibro sobre qual a gente tinha que se sentar. Meu medo sempre era dobrado: das vacas e de cair dentro da vala (pois alguém havia uma vez caído nela)... Enquanto estivéssemos ali as mulheres poderiam, durante o dia, ir até a aldeia próxima e cozinhar nas casas camponesas. A aldeia Mies era tão pequena que a mesma não tinha nome de ruas mas somente número de casas. Então a Sra. Faul foi até a aldeia para cozinhar. Naquela casa, junto ao fogão, já se encontrava uma outra senhora. Logo ambas começaram a conversar. Aquela senhora tinha vindo dos arredores de Dresden. Tinha três filhos: um menino de cinco anos, uma menina de quatro anos e outro menino de três anos. A Sra. Faul comentou então, que ela também tinha um menino de cinco anos e que, ainda, estava cuidando de uma criança de seis anos, que havia se perdido durante a evacuação. Ela disse:
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– Coitada desta criança, os seus pa
rentes certamente foram mortos. Deste caldeirão do inferno ninguém sairá vivo!
Sra. Belletz, teve pena de mim e deixou que eu dormisse numa cama grande, junto da sua filha Adele.
A senhora então comentou:
Numa tarde a tia Ursel falou: – Nós vamos para casa. Temos que andar muito. Você quer ir conosco, ou quer ficar aqui, até que tua mamãe venha te buscar?
– Isto é muito triste, coitada da criança.. E perguntou: – De onde ela é? – De Bischosfswerda, – respondeu a Sra. Faul. – Ah, ali eu tenho conhecidos, uma grande amiga mora ali, – disse a senhora, perguntando ainda: – Como é que ela se chama? – Karin Pruggmayer, – disse a Sra. Faul. Então, completamente surpresa, aquela senhora disse: – Mas esta é a minha afilhada! Sorte? Acaso? Diz o salmista “não dormitará aquele que te guarda!” Tia Ursel (este era o nome daquela senhora), acompanhada da Sra. Faul, foi logo para o acampamento. E, então, me levou com ela. Agora eu já não estava mais com estranhos. Estava com a minha madrinha, com uma irmã da mesma e os três filhos da tia. Eu não conhecia tia Ursel muito bem pois, por não morar na nossa cidade, ela raramente vinha até a nossa casa. Mas ela era uma pessoa que tinha uma ligação com a minha mãe, o que era um consolo. A tia Ursel e familiares já estavam há alguns dias na aldeia, num celeiro de camponeses, cujo marido fora convocado para a guerra. A dona da propriedade,
A minha experiência de andar de um lado para o outro, não era boa e nesta família de camponeses eu estava passando bem. Decidi que eu iria ficar e esperar por minha mãe. Porém, quando na manhã seguinte eu olhei pela janela, e vi o pequeno Rainer em seu carrinho, se afastando pela estrada, eu entrei em pânico. Abri a janela com violência e gritei: – Esperem por mim, eu vou junto! Me vesti rapidamente e corri para baixo. A minha pressa era tanta, que esqueci do meu ursinho e também de uma boneca. Ficaram em Mies, sobre a mesa da cozinha. Novamente eu estava numa caravana de retirantes com meu vestido branco de verão, que a minha mãe havia bordado com muitas florzinhas coloridas. Desta vez não seguíamos de ônibus ou caminhão, mas a pé. Só o pequeno Rainer ia sentado em seu carrinho. Era uma grande caravana de camponeses, com carroças puxadas por cavalos. Por vezes permitiam que as crianças, por pequenos percursos, subissem nas carroças. Mas apenas quando as pernas não queriam mais nos carregar. Em todo o percurso eu sempre estava atenta, com os olhos fixos na tia Ursel. Não queria me perder novamente...
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Depois de muito andar, chegamos em Dresden. Novamente o meu sentimento era de medo. As casas estavam destruídas pelos bombardeios. Não tinham mais paredes, nem janelas. As pontes não mais existiam. Em seu lugar havia apenas algumas tábuas para se poder chegar ao outro lado. Num subúrbio de Dresden ainda trafegava um bonde, nós o tomamos, para primeiramente ir para a casa da mãe da tia Ursel. No bonde uma senhora falou para mim: – Me diga, você não é a pequena Pruggmayer? Tua mãe está quase louca de preocupação por você! – Era uma funcionária do colégio onde meu pai foi diretor... Sorte? Acaso? ... não dormitará aquele que te guarda! Esta funcionária iria voltar para Bischofswerda. Tia Ursel deu a ela um bilhete para minha mãe onde estava escrito: – Eu estou de volta com quatro filhos. O quarto filho é teu! Em 8 de maio houve um cessarfogo. A guerra tinha terminado. À tarde quando a minha mãe quis me buscar na casa da tia Ursel, ela foi desaconselhada de andar através da floresta pra Langebrück. Mas quem consegue segu-
rar uma mãe, que está prestes a poder ter novamente em seus braços aquela sua filha perdida? Me recordo ainda muito bem, como se fosse ontem... Eu estava sentada na banheira, sendo esfregada, e de repente chegou a minha mãe... Eu estava tão feliz, mas tão feliz, que eu tinha que chorar (de felicidade, de saudades, de alívio...) Após seis semanas eu tinha a minha mãe de volta! Alguns anos atrás a Evi me perguntou se eu já a havia perdoado, por ela ter me deixado sozinha. Eu nunca responsabilizei alguém pelo acontecido.. Leio sempre um cartão escrito pela tia Ursel e enviado por ela por ocasião de meu casamento: “Tudo de bom para o futuro. Tomara que vocês não tenham que passar por períodos, que nós vivemos, quando eu te encontrei como pequena menina no acampamento. Muitas vezes eu pensei, como foi bom que você seguiu conosco depois de sair da casa da Sra. Belletz. Quem sabe, quando você teria voltado para casa. Você realmente teve um bom anjo da guarda.” Esta é a certeza que me faz afirmar: “... não dormitará aquele que te guarda!” (Sl 121.3). Karin Ruppelt, nascida em 21 julho de 1938, em Bischofswerda, Saxônia, veio para o Brasil em abril de 1963. Atualmente reside em Nova Friburgo, RJ
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Catástrofes são fenômenos naturais ou apontam para o fim do mundo? Friedrich Gierus
placas tectônicas diferentes, e elas estão todas se movendo. Isto pode ocorrer a qualquer momento e em qualquer lugar do mundo, porém, com mais freqüência no Oceano Pacífico. Por quê? Sumatra, no noroeste da Indonésia, fica na junção das placas tectônicas. A placa que fica sob o Oceano Índico está se movendo mais ou menos para o nordeste, o que faz com que ela colida com a Sumatra. E, na medida em que a colisão ocorre, a placa do Oceano Índico é pressionada sob Sumatra e, com a pressão, ela se rompe. E é isso o que causa o tremor. O abalo sísmico em 2004 foi um dos mais fortes já registrados. Houve uma ruptura ao longo da fissura de cerca de 1.000 km de comprimento, e isso gerou
Divulgação
Sempre que recebemos a notícia de uma catástrofe que ultrapassa nossa imaginação ficamos assustados. Assim, a notícia do maremoto (tsunami) no Oceano Pacífico, que ocorreu em 26 de dezembro de 2004 e que causou a morte de 285 mil seres humanos, devastando milhares de quilômetros quadrados de terra, deixou muitas pessoas em pânico. Logo se levantou a pergunta pela causa. Será que foi um fenômeno normal, provocado por um ajuste das placas tectônicas da crosta terrestre? Será que o tsunami teve algo a ver com a poluição e a devastação da terra? Será que Deus queria colocar um sinal de advertência? Os cientistas afirmam que os tsunamis são fenômenos “normais”. A superfície da Terra é formada por várias
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um deslocamento vertical de cerca de dez metros. O deslocamento no leito marinho foi a causa do enorme tsunami. Outro tsunami arrasou vilas inteiras ao longo de Sanriku, Japão, em 1896. Uma onda com uma altura de mais de sete andares afogou 26.000 pessoas. Mais de 30.000 pessoas morreram em Java durante o tsunami causado por uma erupção vulcânica em 1883. Existem também muitas descrições antigas de ondas catastróficas em torno do Mar Mediterrâneo. Sabe-se que entre 1650 e 1.600 a.C. ocorreu uma violenta erupção vulcânica na ilha grega de Santorini. Este fenômeno devastador levou à formação de um tsunami cuja altura máxima teria oscilado entre 100 e 150 metros. Como resultado deste tsunami, a costa norte da ilha de Creta foi devastada. Esta onda certamente eliminou a grande maioria da população que habitava ao longo da zona norte da ilha. Voltamos para o tsunami de dezembro de 2004 que ceifou quase 300.000 vidas humanas. A explicação dos cientistas nos faz entender de que forma e freqüência podem surgir tais catástrofes. Enquanto não somos atingidos, nos contentamos com estas explicações. Lamentamos pelas vítimas e ajudamos, na medida do possível, nas campanhas para amenizar o sofrimento dos sobreviventes. No entanto, além das vozes da ciência, ouvem-se também as vozes de teólogos que levantam a pergunta: Será que as catástrofes são uma forma de Deus anunciar o fim do mundo? A Bíblia tem
passagens onde são anunciadas catástrofes como sinais do fim dos tempos. Assim lemos em Lucas 21.10-11: Levantarse-á nação contra nação, e reino, contra reino; haverá grandes terremotos, epidemias e fome em vários lugares, cousas espantosas e também grandes sinais do céu. Mas Jesus adverte para que não se faça cálculos ou se interprete os sinais de forma errada. Pois terremotos, epidemias, fome e guerras são como ondas que vêm e vão. No entanto, o fim dos tempos, isto é, o fim do mundo, não pode ser ligado deliberadamente a um tsunami ou outro fenômeno catastrófico qualquer. Um dia o nosso planeta será destruído ou sofrerá mudanças radicais no clima que impedirá qualquer forma de vida! Isto sim, deveras acontecerá, assim como a vida de cada um de nós está sujeita à morte. Este fato provoca medo em nós. E onde o ser humano sente medo, ele, por natureza, procura proteger-se e tomar providências para enfrentar o perigo. Um dos procedimentos na precaução é fazer cálculos para saber quando a ameaça se tornará um perigo imediato. Isto, porém, Jesus não admite. Ele deixa bem claro: Mas a respeito daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, senão o Pai (Mateus 24.36). Jesus não quer que sucumbamos no medo, tampouco deseja que nos entreguemos à apatia. Em função de uma falsa profecia ou uma piedade erroneamente conduzida muitas pessoas já foram motivadas a vender tudo que tinham para aguardar a volta de Jesus. Nestes termos também já ocorreram suicídios coletivos, em função da proximidade do fim dos tempos.
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Não, Jesus não pregou este tipo de piedade. Ao contrário, ele nos encoraja para assumirmos a nossa vida e a nossa responsabilidade pela vida. Pois disse: No mundo passais por aflições, mas tendo bom ânimo, eu venci o mundo! (João 16.33). Por isto também nos prometeu: Eis que estou convosco todos os dias até a consumação do século (Mateus 28.20) e afirmou: Passará o céu e a terra, porém, as minhas palavras não passarão (Mateus 24.35). Suas palavras ensinam o amor, a aceitação mútua, o respeito pela vida, o perdão, o cuidado especial pelos “pequeninos” e marginalizados, a justiça e a paz. Colocar sua palavra em prática na vida pessoal, no dia-a-dia, na economia, na política, no convívio em família,
na vizinhança, nos negócios, na vida profissional significa cuidar da vida, cuidar da natureza, da flora e da fauna, da atmosfera, da água... É cuidar de todo meio ambiente. Enfim, colocar a palavra de Cristo em prática significa sustentar a vida que Deus nos confiou e vivê-la aqui e agora com responsabilidade perante o Criador. Quanto ao futuro, coloquemos a nossa angústia e o nosso medo nas mãos de Deus. Pois, no fim, no fim mesmo, é o Deus vivo, o Criador de todo universo, a nossa única esperança. Pois Deus, em seu Filho nos deu a perspectiva da vida eterna.
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O autor é pastor emérito da IECLB e Secretário Executivo da Comunhão Martim Lutero
Das loucas escolhas de Deus – ou – O Sul é o Norte Oneide Bobsin
“Deus escolheu o que é loucura no mundo para confundir os sábios; e, o que é fraqueza no mundo, o escolheu para confundir o que é forte.” 1 Co 1.27 Se considerarmos como Ocidente a Europa, a América do Norte e a antiga União Soviética, como propõe Peter Brierley, o cristianismo ocidental está em franco decrescimento. Os dados levantados por ele mostram que esses três continentes tinham 51% dos cristãos do mundo, em 1980. Treze anos depois, reduziu-se para 42%. E o decrescimento continua. Segundo Brierley, o cristianismo está em franca expansão no Sul, mundo dos pobres. No continente africano, o seu crescimento entre 1980 e 1993 foi de 72%. E a estimativa de crescimento entre 1993 a 2006 é de 71%. Mais expressivo ainda é o crescimento dos que adotam Jesus Cristo como Senhor na parte leste da Ásia. Entre 1980 e 1993, os cristãos cresceram 500%, passando de 20 milhões para 120 milhões. E continuará crescendo até 2006 num ritmo menos intenso: 42%. Na extinta
URSS, está havendo um crescimento expressivo. Como podemos observar, o cristianismo está crescendo no Sul e reduzindo no Norte, onde se situa o centro das decisões políticas, financeiras, econômicas e militares de um pequeno grupo de países do Ocidente. Porém, o centro de articulação das grandes tradições cristãs permanece na Europa: Conselho Mundial de Igrejas, Federação Luterana Mundial, Vaticano, entre outros. As grandes tendências de crescimento e estagnação do cristianismo mostram uma inversão do sentido nos projetos missionários. Conforme a edição de 1993 do Operation World, um sexto dos missionários Gemeindebrief cristãos espalhados pelo globo terrestre vem do ocidente. É o Sul pobre que evangeliza o mundo. Nessa perspectiva, há novos traçados na geografia da fé cristã em nosso planeta. Alguns dados da Declaração dos participantes da Conferência do Conselho Mundial de Igrejas, ocorrida recentemente em Atenas, mais do que corroboram os dados acima, reconhecem que o cristianismo vive um momento particular.
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Segundo dados da Enciclopédia Britânica, de 2004, dos 2 bilhões de cristãos, 1,246 bilhão vive na Oceania, Ásia e América Latina, ao passo que 821 milhões na Europa e na América do Norte. Outra vez os dados nos indicam que o Sul é o Norte. Como o caminho da missão e da evangelização vai de baixo para cima, podemos fazer algumas ponderações de caráter bastante subjetivo, embora os dados não mintam. A primeira delas referese à eleição de mais um papa europeu. Não estaria a Cúria Romana em descompasso com a situação do catolicismo, que dá sinais de senilidade na Europa e de vitalidade no hemisfério Sul? A mesma pergunta pode ser feita para outras organizações internacionais, como o Conselho Mundial de Igrejas. Também elas situam-se num espaço geográfico onde o cristianismo institucional está em visível decréscimo e sem capacidade de articulação de sentido para uma população que passa a ser alvo de mis-
sões cristãs do hemisfério Sul e de práticas religiosas orientais, de inspiração hinduísta/budista. Há templos pentecostais e neopentecostais instalando-se no mundo europeu. Além disso, deveríamos falar da expansão muçulmana no Velho Mundo. Se as igrejas do velho continente vendem ou não templos para outras religiões é assunto para outro momento. Nossas ponderações poderiam ir mais longe. Como o espaço não permite isto, pergunto pelas implicações do fenômeno em análise para os centros de reflexão teológicas ocidentais e ocidentalizadas, como o são os do hemisfério Sul: os teólogos e as teólogas do mundo rico são capazes de olhar o novo norte, que é o Sul? Não penso em pessoas, mas no paradigma da teologia. “Deus escolheu o que é loucura no mundo para confundir os sábios; e, o que é fraqueza no mundo, o escolheu para confundir o que é forte” (1 Co 1.27). Também no apóstolo Paulo o Sul é o Norte. O autor é Pastor da IECLB e professor de Ciências das Religiões da Escola Superior de Teologia de São Leopoldo, RS
Um menino explica um lance do jogo para o amigo: - Você precisava ver o goleiro. Na hora de cobrar o pênalti o goleiro olhou pra mim e falou. Se chutar no canto direito... eu pego. Se chutar no canto esquerdo... eu pego e se chutar no meio eu também pego. - E você o que fez? - Enganei ele...chutei pra fora! 107
O Caminho para o hábito da leitura Nelso Weingärtner
Na história das comunidades luteranas a comunicação através de jornais tem uma longa história. Em 1862, foi editado em Joinville Die Koloniezeitung (Jornal da Colônia), que era lido nas comunidades formadas por imigrantes alemães em todo o Estado. Em 1881 e 1883 foram lançados em Blumenau Die Blumenauer Zeitung (Jornal de Blumenau) e Der Immigrant (O Imigrante). Esses três jornais eram seculares, mas traziam notícias e informes das comunidades evangélicas. O primeiro jornal de Igreja em Blumenau foi publicado em junho de 1893, pela Conferência Pastoral de Santa Catarina, com o título Der Urwaldsbote (Mensageiro da Selva). No ano de 1895, foi lançado um segundo jornal eclesiástico em Brusque, com o nome de Sonntagsblatt für die Evangelischen Gemeiden in Santa Catarina (Folha Dominical para as Comunidades Evangélicas de Santa Catarina). Em junho de 1905 foi lançado, em Joinville, o jornal Evangelischlutherisches Gemeindeblatt e, em janeiro de 1908 em Blumenau saiu Der Christenbote, que substituiu o Sonntagsblatt. Com o lançamento desses dois jornais, iniciou um longo período de controvérsias entre as comunidades evangé-
licas de Santa Catarina que formaram dois sínodos no Estado, o Sínodo Luterano e o Sínodo Evangélico. Os dois jornais foram lidos nas comunidades até 1962, ano em que os dois sínodos fundiram-se num só corpo eclesiástico, com o nome de Sínodo Evangélico Luterano Unido. Também os jornais se uniram num único periódico, sob a rubrica A voz do Evangelho. Em 1968, os sínodos então existentes como pessoas jurídicas independentes se dissolveram e constituíram a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil. No ano seguinte, todos os jornais sinodais em circulação foram encerrados e lançado o Jornal Evangélico, de circulação nacional e com a missão de suprir as necessidades de comunicação das comunidades, no estilo “Brasil grande e centralizado”, como sonhava o governo militar da época! Aos poucos, ficou patente que esta centralização, que ignorava a história e as necessidades regionais, estava fadada ao fracasso. Na comunicação escrita e radiofônica foram investidos milhares de dólares provindos de entidades doadoras do exterior, sem consultar os anseios e as necessidades regionais. Em meados de 1980 o descontentamento com os meios de comunicação quase gerou uma grave
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crise institucional na IECLB. Na época, na 2ª Região Eclesiástica havia menos de dois mil assinantes do Jornal Evangélico. O descontentamento com os programas das rádios União, da Fundação Isaec de Comunicação, crescia. O sonho de uma grande rede de rádios, fortes e dispostas a agradar uma audiência pouco interessada nas questões da Igreja, as distanciava cada vez mais das comunidades e da própria IECLB. No mesmo pacote, a Isaec era proprietária do melhor e maior estúdio de gravação do Sul do Brasil, cuja administração vinha sendo criticada. Neste caldo explosivo e polêmico, foi crescendo a idéia de voltar a investir
em comunicação regional. O campo estava pronto para que brotasse a semente do jornal O Caminho, que também gerou polêmica e desconfianças. Imaginouse, por exemplo, que ele poderia vir a ser o estopim de um cisma (divisão) na IECLB. A grande conquista do Caminho nestas duas décadas, no entanto, foi reconquistar 30 mil luteranos ao círculo de leitores de jornais eclesiásticos, numa região em que a tradição da leitura de publicações como o Christenbote e o Sonntagsblatt era um hábito de décadas.
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O autor é pastor emérito da IECLB e reside em Timbó, SC
A importância da criatividade na OASE Gudrun Braun
OASE é um setor de trabalho Por isso, devemos cuidar para que esta da IECLB com 106 anos de fonte, da qual tiramos a força para o noshistória. Quem diria! Falar da so trabalho, nunca seja lacrada. OASE não é difícil, pois é ação, é realiNós, na OASE, temos o nosso trazação, é renovação, criando, muitas ve- balho bem fundamentado no tripé: Cozes, um belo trabalho que parte de quase munhão - Testemunho - Serviço. Com nada, contando “apenas” com muito amor base nestes objetivos procuramos ser crie dedicação. Criar significa fazer do nada ativas e construímos o nosso trabalho. A alguma coisa. No caso da OASE, procu- fonte que nos abastece não seca jamais: ramos criar sempre algo bonito e agradá- Jesus Cristo. OASE significa amor, munvel, realizando com carinho e dedicação do de doações e acolhida. Andamos peas tarefas a nós confiadas. los caminhos da esperança. Mesmo na Quem bebeu uma vez desta água, “tempestade”, quando o barco está afunchamada OASE, dando, permanenunca mais deixacemos firmes na rá de beber. Muifé, na esperança e tas vezes costumano amor, sempre O LEMA DA OASE mos dizer que este fazendo uso da COMUNHÃO “vício” passa de criatividade para TESTEMUNHO geração a geração! manter o grupo SERVIÇO A OASE é como motivado. aquele poço, que Li que um sempre teve água grupo de OASE transparente e reassumiu a limpeza frescante. Enquanto outros poços iam se- do cemitério. Isto não é apenas trabalho. cando, aquele poço continuava contendo É recordação, comunhão, reflexão, escreesta água deliciosa. Mas..., com a chega- ver história. – A OASE vai à TV, uma da dos tempos modernos, o poço foi fe- grande chance para divulgarmos a nossa chado e lacrado. Anos se passaram. Um fé e testemunhar como, em fé e oração, a dia, um curioso quis saber do poço, abriu- mulher cristã é forte e capaz de agir. – A o e... que susto! O poço havia secado! OASE vai à Câmara de Vereadores, está Mas, por que o poço secou? Um poço que no jornal, no rádio, marcando presença. é alimentado por centenas de ribeirinhos, – A OASE ajuda a recuperar vidas de que fazem reserva de água debaixo da presidiárias, ao ensinar trabalhos manuterra, não pode secar. Porém, quando dei- ais, transmitindo e vivenciando o amor xamos de buscar água, as pequenas aber- de Deus. – A OASE atua na Capelania turas destes ribeirinhos passam a secar. hospitalar, em oração e conforto na dor.
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– A OASE leva alegria às Creches, Orfanatos e Ancionatos. – A OASE canta e leva uma mensagem na época de Advento, no aniversário, ou simplesmente faz uma surpresa para doentes e pessoas que não podem mais sair de casa. – A OASE assume a limpeza da casa de uma pessoa que está impedida de fazer isto. – A OASE integra os idosos em seu trabalho para que eles não precisem procurar a felicidade e alegria em outros locais. – A OASE, em muitos lugares, oferece reuniões especialmente para a 3ª idade, não isolando, mas integrando! Alguns bons exemplos são a dança sênior, programas ao ar livre, passeios e no final, porque não, um gostoso café ou lanche. – A OASE é refúgio, a OASE alegra, abraça, chora, interage e apóia. Quem ainda não participa da OASE, deveria “criar coragem” para entrar nesta roda, criar raízes e dizer:
“Senhor, eu estou aqui, quero colaborar e servir”. O trabalho da OASE não é limitado a este ou aquele fim, mas a OASE está sempre pronta para ocupar e se adaptar aos espaços dentro da realidade que a cerca. Por isso a criatividade é necessária no serviço e na comunhão. Devemos ser flexíveis! Precisamos inovar. Quem participa? A OASE não faz qualquer espécie de discriminação. Não há limite de idade: moças, senhoritas, senhoras, mulheres, avós, bisavós, todas tem vez, todas tem uma tarefa a cumprir, seja no aprender, ensinar, ouvir, transmitir e executar. O que mais queremos no trabalho da OASE é encontrar a felicidade do outro e esta não tem idade, limites e nem fronteiras. Por isso, devemos fazer as pequenas coisas como se fossem grandes, para fazer as grandes como se fossem pequenas.
OS OBJETIVOS DA OASE I __ II __ III __ IV __ V __ VI __ VII __ VIII __ IX __
X __
Proporcionar um crescimento e fortalecimento da fé em Jesus Cristo. Enfatizar o estudo da doutrina da nossa Igreja. Proporcionar um ambiente de acolhimento mútuo. Levar a mulher a valorizar-se a si mesma, aceitando-se como um ser feito a imagem e semelhança de Deus. Apoiar a mulher, ajudando-a a encontrar soluções para seus problemas. Incentivar o desenvolvimento dos dons pessoais. Integrar a mulher na Igreja, acentuando a sua participação e capacidade de decisão. Encorajar a mulher a testemunhar a sua fé. Oferecer à mulher condições para perceber a realidade que a cerca e incentivá-la para uma ação responsável no presente, visando também as novas gerações. Preparar a mulher para um trabalho diaconal.
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Até quando
cado com sérias seqüelas. Chegou, em seguida, a mãe do rapaz, mulher ainda bastante jovem, e o levou embora, já que o mesmo se negava a continuar os exercícios. Pensei comigo: ter que ver e lidar com pessoas com deficiência, dia após dia é, no mínimo, um ato heróico. Muito mais heróico do que apontar uma arma para um inimigo... Merecem toda minha admiração as pessoas que assim cuidam dos doentes e têm paciência. Mas terão tal cuidado e paciência até quando?
?
Elfriede Rakko Ehlert
Tenho que fazer fisioterapia por causa de um problema no ombro. De repente ouço ali um grito estridente. Olho em redor e vejo uma pessoa deitada numa dessas “camas” de fisioterapia. No primeiro momento não dá para reconhecer se é homem ou mulher. Momentos depois a pessoa se levanta. Vejo um rosto lindo: um rapaz de seus 18 ou 19 anos. Com toda paciência a fisioterapeuta o anima a fazer os exercícios. Tentou conduzi-lo. Este, muito irritado, continuava soltando aqueles gritos e murmúrios inarticulados. Explicaram-me depois que o rapaz havia sofrido um acidente de moto e fi-
Conversamos, num restaurante, com a dona que também é cozinheira. Lembramo-nos como começaram, só ela e as duas filhas. Agora o lugar é muito bem frequentado. Perguntei: – “Sempre firme?” – “Não estou mais tão firme, não. Sofro de artrose. Tenho medo de operar a bacia e colocar platina”, responde ela. Quase não agüenta mais ficar tanto tempo no fogão, preparando toda aquela comida, exposta à constante mudança de temperatura. Normalmente não dispõe de outros colaboradores, senão a filha. Vai suportar? Até quando? Uma jovem mãe está aí, lidando com a filhinha que grita, esperneia, fazendo escândalo no meio da rua. A mãe aparentemente sem coragem de dar um basta. Alega, como desculpa, que a criança está muito mimada. E está mesmo! Até quando ela vai continuar com esta atitude de deixar passar tudo, fazer todas
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as vontades da criança, sem saber que assim prejudica principalmente a filha que não aprende a reconhecer limites (ou só os conhecerá mais tarde a duras penas)? Até quando? Uma banca de bananas e outros produtos da colônia, à beira da BR: Lá está a dona e vendedora. Sempre abrindo seu coração enquanto atende, porque sofre de tantas doenças; é diabética, vários órgãos com problemas. O marido e filhos têm outra ocupação. Ela está sozinha com toda a responsabilidade e ainda doente. Até quando vai poder cumprir com sua tarefa? Até quando?
Cumprir com nossas tarefas - nem sempre é fácil e prazeroso. Nem sempre temos saúde, paciência e disposição de assumir e executar o que está diante de nós. Então, quem sabe, precisamos de alguém que nos escute com atenção. Parece que depois de um desabafo as coisas se tornam mais leves. É bom que este “até quando?” não se torne uma lamúria sem fim, mas cheguemos a dizer: “Até onde Deus me der forças eu vou cumprir as minhas tarefas com paciência e alegria.”
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A autora é professora aposentada e reside em Curitiba, PR
Dá-me tua palavra, meu Senhor, eu quero ser teu mensageiro! Algo da vida e do testemunho do Pastor Wilhelm Christian Fugmann Albrecht Baeske
O pastor Wilhelm Christian Fugmann nasceu no dia 31 de março de 1886, em Wieseth, Alemanha. Faleceu no dia 27 de março de 1954, durante uma viagem de recém-aposentado. Seu túmulo encontra-se na cidade de Ponta Grossa, PR, onde serviu como pároco durante 44 anos consecutivos. I A família de Fugmann na Alemanha pertencia àquelas comunidades e pessoas que foram alcançadas pelo testemunho vivencial do pastor Wilhelm Löhe (1808-1872) em Neuendettelsau, Baviera. Löhe empenhava-se pela pregação pura da palavra de Deus e pela ministração dos sacramentos conforme o Evangelho. Entendia que o serviço do pastor consiste em edificar a comunidade local na vivência da fé. Animava para a confissão e absolvição dos pecados em particular; a comunhão regular no Sacramento do Altar; a responsabilidade mútua integral nas comunidades eclesiais; a disciplina fraternal nas mesmas; a conscientização evangélica luterana dos membros e sua capacitação tanto para avaliar mensagem e ações dos obreiros e da Igreja oficial quanto para comunicar “a boa doutrina” (1 Tm 4.6), “a palavra da verdade” (2 Tm 2.15) a outra gente. Löhe insistia para que os membros se reu-
nissem, também, fora dos cultos em círculos de família e vizinhança, a fim de estudar a Bíblia e o Catecismo Menor de Lutero, de orar e interceder. Seu coração batia pela Igreja Evangélica Luterana. Ele a confessava como verdadeiramente apostólica e, assim, como centro aglutinador das denominações cristãs. A vida inteira lutou, mediante fala e escrita, pela reconstituição e preservação da identidade da Igreja Evangélica Luterana em seu tempo. Ele o fez sem medo e ódio, com clarividência teológica e sacrifícios pessoais. Uma de suas frases marcantes era: “Nós estamos acostumados a estar em tempestades”. Löhe trabalhava localmente e agia globalmente. Apoiado por pastores, presbíteros e membros de comunidades de perto e de longe, organizou uma casa matriz de diaconisas e um seminário de pastores para emigrantes alemães na América do Norte. Ambas as instituições se desenvolveram bastante. A segunda virou Seminário Evangélico Luterano para Missão e Diáspora. Foi sustentado por paróquias e um número considerável de indivíduos despertados de diferentes regiões, não só da Alemanha. Este povo se sentia responsável pela ajuda a evangélicos luteranos dispersos no além-mar e pela missão entre não-cristãos. No decorrer dos anos, se formaram aí pastores
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para diversos países, inclusive para o Brasil, bem como missionários para a Austrália e Nova Guiné (hoje Papua Nova Guiné). II Wilhelm Christian Fugmann entrou no Seminário Evangélico Luterano para Missão e Diáspora em 1905, concluindo sua formação quatro anos depois. Já a partir de 1902 vivia em Neuendettelsau, aprendendo a profissão de padeiro - tradição de sua família - na padaria pertencente à Casa Matriz de Diaconisas. Ao lado da atividade profissional, aprendia estenografia e a tocar harmônio e trombone; tomava aulas particulares de latim. Entranhava-se, espontaneamente, na “história bíblica”, de que gostava desde a confirmação. O que assimilava em suas
leituras, passava, em seguida, para moças interessadas, empregadas na Casa Matriz, algumas delas se tornando aspirantes a diaconisa. Terminada a aprendizagem para o ofício de padeiro, Fugmann mudou-se das dependências da Casa Matriz para o Seminário. Tomava este passo em confiança a Jesus Cristo, no que foi apoiado decididamente pelos pais piedosos. O seminarista encarava o regime fechado de convivência e estudo, com horários rígidos e proibição de namoro, como auxílio para o aproveitamento adequado de breves quatro anos, que durava seu curso teológico. A insistência para uma conduta ética da vida, aí experimentada, o marcou. Além desta característica, o testemunho vivencial de Wilhelm Löhe se
O casal Fugmann em 1945 115
manifestava ainda em devocionais da comunhão da casa de formação, matutinas e vespertinas; tempo diário reservado à meditação pessoal da Bíblia; participação nas atividades da comunidade onde Löhe pastoreava; visitas regulares, nos fins de semana, a paróquias vizinhas, ligadas ao Seminário. Eis o exercício da piedade que contribuía em muito para a formação dos seminaristas. Especialmente, o engajamento teológico-eclesial de Löhe influenciava o direcionamento dos estudos no sentido de que se realizassem sob enfoque confessional. Tal abordagem se distinguia por apresentação, comparação e avaliação das doutrinas centrais das Igrejas Evangélica Luterana, Reformada/ Presbiteriana e Católica Romana. O critério era o testemunho bíblico, expresso pelo Livro de Concórdia (o conjunto dos escritos confessionais evangélicos luteranos). O que contradizia a ele, era rejeitado. Combatia-se a mistura doutrinal de aspectos evangélicos luteranos com reformados/presbiterianos, praticada na Igreja da União, com sede em Berlim e comunidades filiadas a ela, na época, entre outros, no Brasil. Fugmann ouvia prédicas e lia publicações do segundo sucessor de Löhe, na Casa Matriz de Diaconisas, Hermann Bezzel (1861-1917). Este ressaltava “a humildade ou a condescendência de Deus”. Inspirando-se em Fp 2.5-11, fez do trecho o fio de meada de toda uma teologia, capaz de contribuir para o testemunho cristão onde quer que seja. A formação teológica, eclesial e pastoral de Wilhelm Christian Fugmann era curta, mas intensiva. Acontecia em
pequenos grupos de estudantes e em permanente contato direto com os professores, através de inserção em comunidades vivas. Logo, foi muito além de um “arroz com feijão” para funções pastorais longe da pátria; por exemplo, o seminarista lia dramaturgos clássicos gregos no original. III Em agosto de 1909, Fugmann foi chamado pelo Sínodo Evangélico Luterano de Santa Catarina, Paraná e outros estados da América do Sul e enviado para Ponta Grossa. Inicialmente, auxiliava o pastor pioneiro e presidente do Sínodo Otto Kuhr (sen.), que residia na cidade. Em seguida eleito pároco, serviu todo tempo de sua vida ativa na abrangência da paróquia e do Sínodo. Em outubro de 1910, chegou ao país sua noiva, Magdalena Raschke; eles casaram e constituíram numerosa família, radicada toda ela no Brasil. O casal perdeu o primeiro filho com um ano e sete meses. Ainda antes da Primeira Guerra Mundial, Fugmann recebeu convite para assumir serviço pastoral na Alemanha. Rejeitou a oferta por achar “não poder abandonar a comunidade”. Só em 1934 foi paga à família uma única viagem para a terra natal do casal. A atuação de Wilhelm Christian Fugmann no Brasil merece muito mais do que gratas lembranças em forma de artigos iguais a este. Para a presente oportunidade sejam destacados: seu empenho pela escola comunitária em Ponta Grossa, que ganhou elogios de órgãos fiscais estaduais; sua preocupação para com o assentamento e o acompanhamento de alemães provindos da então União Sovi
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ética no segundo decênio do século passado; sua insistência de que a comunidade se mantivesse “fiel ao Senhor e à palavra dele” nas famílias e no convívio cotidiano em ambiente ecumênico e social; seu alerta incansável dirigido à comunidade de fazer tudo para que as gerações vindouras ficassem “junto à querida Igreja Evangélica Luterana”; sua opção pelo vernáculo no trabalho eclesial, já no início dos anos de 30, antes de muita gente, inclusive, no próprio Sínodo; sua clareza quanto ao enraizamento de uma igreja evangélica luterana, a saber: não em
sua origem étnica (no caso, a alemã), mas na confessionalidade documentada no Livro de Concórdia; sua obstinação em defender, literalmente até sua morte, a posição confessional incólume do Sínodo, que via ameaçada pela processo de unificação dos antigos sínodos, começado após a Segunda Grande Guerra. Fugmann experimentava que manter a identidade confessional em terras brasileiras era particularmente doloroso porque envolvia conflitos com companheiros da mesma orientação e rupturas com colegas vizinhos no pastorado.
Trechos escolhidos do testemunho de Wilhelm Christian Fugmann Olhando para trás, digo: “Senhor, teus caminhos são maravilhosos” e olhando para o futuro: “Senhor, permite que seja firme meu passo conforme tua palavra”. O trabalho [na Igreja] inicia com oração. Por isso orem por todos os santos - santificados e purificados pelo sangue de Jesus Cristo no Santo Batismo - aos quais pertencem nossos irmãos na fé no distante Brasil. Orem pela querida Igreja Evangélica Luterana em todos os países para que cresça e aumente, para que sejam congregados, ao redor da Palavra da Vida, todos os familiares da fé evangélica ainda dispersos. A Palavra de Deus é uma dádiva de Deus, que necessita ser rogada [dele]. No Brasil, será minha tarefa proclamar o salvador dos pecadores. Faço votos que vocês, minha comunidade de origem, estejam me apoiando com sua intercessão para que me seja dada, sempre de novo, a força para abrir alegremente minha boca e comunicar o Evangelho aos que dele se afastaram. Além de mim, seriam necessários mais três obreiros no Brasil, porém faltam verbas e pessoas. Por isso contribuam financeiramente e roguem por trabalhadores na vinha do Senhor; entrem também vocês nela. Pais, animem seus filhos [neste sentido]. Pedindo assim, parto. A bênção daqueles aos quais ajudam, virá sobre vocês. Da alocução de despedida na comunidade de origem, 08/08/1909. Texto-base Ef 6.18-19. Tradução do original alemão: A. Baeske
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Oração Dá-me tua Palavra! Eu quero ser teu mensageiro! Não ardam minhas próprias chamas, seja fogo sagrado, aceso por teu Espírito.
Eu quero ser teu mensageiro, encandescido por tua Palavra; não apenas ferramenta morta, renascido para um novo ser próprio por ti, meu amparo.
Eu quero ser teu mensageiro, Senhor, de tua santa mensagem, destinada a teu povo e a mim, aos quais redimiste! Dá-me tua palavra, meu Senhor, eu quero ser teu mensageiro. Texto alemão em forma poética, de 1925. Tradução literal: A. Baeske
A SANTA CEIA Com a instituição da Santa Ceia, o Senhor não deu a seus discípulos um problema para cismar, mas, sim, um socorro para a vida e serviço. Que significa isso com o corpo e com o sangue? - Onde está presente o corpo e o sangue [do Senhor, conforme as palavras da instituição], está ele mesmo presente pessoalmente. Ele quer ser ligado a eles [seus discípulos] como o foi quando estava junto deles na mesa [durante sua despedida]. Aqueles que recebem esta ceia são vivificados pela comunhão profunda e misteriosa [com Jesus Cristo]. Como entender isso? Não é de entender, deve ser tomado [aceito e crido] simplesmente. Luther sabia e ensinou que este mistério da Santa Ceia é inexplicável. Ele não explica, mas toma simplesmente as santas palavras [da instituição], dizendo-nos quais são as partes principais neste Sacramento: Dado e derramado por vós para remissão dos pecados. Lemos por isso a 5ª Parte de nosso Catecismo, onde achamos tudo o que é necessário saber e crer. E participando na Santa Ceia queremos crer firmemente: Dado e derramado por mim, para a remissão de meus pecados. Assim é, e assim seja conosco. De uma conferência intitulada “A Santa Ceia” no vernáculo, 03/04/1946.
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A igreja tem sua origem de cima. É dotada com ricos bens. Não há necessidade de [ela] pedir socorro dos engenhosos, dos superiores deste mundo, mas deve lembrar-se, sempre de novo, daquilo que já tem. Temos a Sagrada Escritura, o testemunho infalível de Deus de nossa salvação por nosso Senhor Cristo. Temos os Santos Sacramentos clara e puramente, o Santo Batismo e a Santa Ceia, a mais íntima comunhão com nosso Salvador, que entra em nós, dando-nos seu santo corpo e seu santo sangue para nos assegurar que ele morreu por nós. Esta riqueza acompanhou a igreja desde o princípio, nunca diminuiu, mas com o fiel uso aumenta sua graça entre os homens. Guardar [os ricos bens] com toda fidelidade, isso é nossa tarefa. E também as confissões da Reforma, desde o catecismo até o livro de Concórdia de 1580, as riquezas de hinos e orações de nossa igreja luterana. Vivemos em dias de perseguição aos cristãos e também aqui no Brasil devemos observar os sinais do tempo. Falsos profetas e falsas doutrinas, espírito sectário levantam-se, usando a palavra de Deus para destruir o reino de Deus. Por que castiga Deus as igrejas? Devemos buscar a culpa em nós! Observamos nossas comunidades, que são partes da igreja. Não domina nas comunidades um espírito mundano e superficial? Aí devemos buscar a causa do castigo e do juízo de Deus, confessando: Minha culpa, minha máxima culpa. Devemos confessar isso todos, os pastores e as comunidades, quando queremos achar novamente a graça e a misericórdia de Deus em Cristo Jesus. A igreja vive sempre em baixo da cruz e não esqueçamos que atrás da cruz está a luz eterna. Nós não podemos salvar a igreja de seus inimigos, mas temos ricos bens para entrar na luta ao lado de nosso Senhor. Deixamos guiar-nos por seu Espírito, guardamos o que temos, fazemos nossos deveres: pregar o Evangelho em todo mundo, ajudamos com nossos auxílios e ofertas a nossa igreja em suas lutas, entramos com fé firme e forte e viva nas linhas dos lutadores pelo seu reino. E quando lutamos juntos, pastores e comunidades, guardando o que temos, receberemos a graça e misericórdia de nosso Deus e Pai. Da prédica na assembléia sinodal no vernáculo, Jaraguá do Sul, SC, 1950. Texto-base Ap 3.7-11.
O autor é pastor emérito da IECLB e reside em São Leopoldo, RS
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Assembléia do Conselho Mundial de Igrejas – Desafio e chances para a IECLB – Harald Malschitzky
Inicialmente acho que vale a pena lembrar alguns fatos da relação de nossa igreja com o Conselho Mundial de Igrejas. A IECLB participa como membro do Conselho Mundial de Igrejas desde a sua fundação, em 1948. De lá para cá sempre tivemos leigos e pastores/as atuando em alguma área, departamento ou comissão deste organismo. Isso para uma igreja relativamente pequena não é pouca coisa. Para organizar a grande assembléia de Porto Alegre estamos muito envolvidos: Um dos nossos pastores é responsável último pela comissão ecumênica que está detalhando o evento e seu funcionamento, e o Departamento de Juventude da IECLB ajuda a planejar o grande encontro de jovens que acontece paralelamente à Assembléia Geral. Só por estes fatos se percebe que nossa igreja está muito envolvida com o CMI e com a Assembléia Geral de Porto Alegre. Por outro lado se sabe que muita coisa desta “atividade ecumênica” não chega às comunidades. Isso vale também para eventuais propostas e sugestões que possam vir da assembléia. Importante é lembrar que nem o Conselho Mundial de Igrejas e nem a Federação Luterana Mundial podem determinar o que as igrejas devem fazer. Suas decisões são avaliadas pelas direções das respectivas igrejas e podem até ser ignoradas. Diante desta realidade, quais podem ser alguns desafios para a IECLB,
que somos todos nós? Parece-me que um dos desafios primeiros é acompanhar, ainda que de longe, o que está acontecendo na assembléia em Porto Alegre. A internet, ao lado de rádio e TV, nos põe a par dos acontecimentos e dos documentos elaborados, além de outro material, em tempo mínimo. Sabe-se que a maioria dos nossos membros não está conectada à internet, mas em grupos e também nos cultos sempre será possível lembrar alguma coisa que algumas pessoas “recolhem”, por exemplo, da página da IECLB. Sobretudo, vamos incluir o movimento ecumênico nas intercessões. E por que não organizar um programa ecumênico no qual se trocam informações e impressões sobre o que está acontecendo em Porto Alegre? Junto com nossa Escola Superior de Teologia, haverá, por exemplo, um encontro de teólogos. Em muitos lugares existem atividades ecumênicas durante o ano inteiro; agora elas podem ser centradas no que acontece na assembléia. E não vamos esquecer que, em decorrência da assembléia, teremos visitantes em muitos de nossos cultos, pois caravanas costumam ir para mais longe do que o lugar do encontro. É bom lembrar que uma assembléia deste porte mostra também quais são as igrejas que participam. Muitas vezes não o sabemos. Além disso, costumam se mostrar também as dificuldades que existem por este mundo afora no relaciona
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mento ecumênico. Infelizmente ainda existem muitas barreiras. Por outro lado, também esta assembléia será uma grande festa com gente de todo mundo, com tradições e línguas estranhas. Será, sem dúvida, sinal de que é possível conviver e partilhar vivências, experiências e jeitos de ser igreja. Uma das grandes chances de um acontecimento destes, é nós nos vermos com outros olhos, pois em espaço pequeno e tempo curto, somos confrontados com uma infinidade de igrejas e suas tra-
dições, dando-nos conta daquilo que há para adiante de nossas próprias paredes. Ao mesmo tempo, vamos ver os outros com outros olhos e nos sentir felizes em constatar, de forma concreta, que o Cristo é crido e pregado ao redor do mundo. E tomara que isso nos leve a uma profunda gratidão pela igreja à qual pertencemos, apesar de seus defeitos e fraquezas.
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O autor é pastor da IECLB e atual Secretário Executivo do Serviço de Projetos de Desenvolvimento em Educação - PRÓ-EDUC
Do hieróglifo ao satélite A leitura ainda tem lugar? Toda vez que um novo meio de comunicação é inventado, intelectuais do mundo inteiro entram em pânico. Anunciam a decadência dos meios tradicionais, e principalmente, da imprensa. Assim aconteceu quando surgiram o rádio, as histórias em quadrinhos, o cinema, a televisão, o vídeo-cassete, o computador... Bem no início da história da Humanidade, como todos os animais, usávamos o nosso corpo para nos comunicar: atitudes, gestos, sons, e, mais tarde, palavras faladas. Ainda usamos tudo isso; antes de aprender a falar, toda criança entende uma cara zangada, o dedo apontando alguma coisa, uma gargalhada... A preocupação em deixar informações para as gerações futuras levou à invenção da escrita. Só assim pode haver progresso numa civilização - se toda geração tivesse que começar do zero, ainda estaríamos na Idade da Pedra. A palavra escrita tem, no máximo, entre cinco e seis mil anos. Inicialmente, não se usou tinta nem papel, mas tabuinhas de argila gravadas. Bibliotecas inteiras foram assim preservadas para a posteridade. No mundo ocidental, os egípcios deram um passo importante com a invenção do papiro, mais leve, bem mais fácil de manusear e de produzir que as tabuinhas de argila. No Oriente, os chineses foram mais longe e inventaram o papel e a tinta nanquim, ainda hoje usada, assim como os primeiros tipos mó-
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Anamaria Kovács
veis, aperfeiçoados no século XVI por Gutenberg. Este foi o ponto crucial no desenvolvimento e na disseminação da palavra escrita. Impulsionado pelo progresso tecnológico e pelo espírito da Reforma Protestante, o hábito de ler a Bíblia espalhou-se com relativa rapidez por toda a Europa. Depois dela, vieram os jornais, e, finalmente, os livros, como os conhecemos hoje. O livro reinou, juntamente com os jornais e as revistas, que nasceram ao longo do século XIX, até que a eletricidade deu nova feição e novo im
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pulso à transmissão das informações. Que revolução! Nem o cinema, popular já no início do século passado, representou uma ameaça tão formidável à imprensa escrita quanto a televisão, esta sim, um fator importante no afastamento de jovens e adultos dos livros. No entanto, o que se observa é uma espécie de simbiose: séries televisivas e novelas são extraídas de obras da literatura, cuja vendagem sempre aumenta quando a televisão apresenta sua versão. Toda vez que surge uma novidade, teme-se o fim de hábitos e costumes arraigados, a derrocada de um mundo que conhecemos e ao qual estamos acostumados, como um calçado velho. A velocidade com que ocorrem essas mudanças atualmente é, na verdade, o principal fator desse medo ao novo. Mal nos acostumamos ao CD, lá vem o CD regravável;
mal aceitamos os videogames, aparece a realidade virtual. São novas opções que surgem, cada uma com suas vantagens e desvantagens. Passado o fascínio da novidade, cada um desses novos meios encontra o seu nicho, o seu público - que é flutuante, pois o jovem apaixonado pela internet pode transferir seu entusiasmo, mais tarde, para os livros. Basta que, na infância, tenha tido contato com a palavra escrita, através de pais sensíveis e inteligentes, que lhe tenham contado histórias, lido livros para ele e com ele; desnecessário é acentuar o papel dos professores nesse contexto. Portanto, em vez de temer as novidades, é mais razoável analisá-las com espírito crítico. Este, é claro, só pode ser adquirido através de leitura, muita leitura...
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A autora é jornalista e reside em Blumenau, SC
O Rebanho e as Idéias Nelson Hein
Olhando para o meu rebanho e vendo as minhas idéias, ou olhando para as minhas idéias e vendo o meu rebanho. E sorrindo vagamente como quem não compreende o que se diz e quer fingir que compreende. Fernando Pessoa O Guardador de Rebanhos A arte de fazer graça é uma das qualidades naturais mais lindas nas crianças. Seja com uma simples lata, um graveto ou uma bola, as crianças conseguem extrair delas alegria. Dizemos que são coisas de crianças. Crianças adoram palhaços, malabaristas e qualquer outra atração que as entretenha. Na adolescência fomos lembrados pelas nossas mães a não nos comportarmos como crianças. Pedido feito, pedido atendido. Conforme crescemos deixamos o lado lúdico e engraçado para trás. Isto também é uma qualidade natural. O apóstolo Paulo afirma na sua primeira carta aos Coríntios que “quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, pensava como menino, quando cheguei a ser homem, desisti das cousas próprias de menino” (1Co 13.11). Mas será que tudo muda assim tão rapidamente? Onde ficaram as gracinhas? Onde foram parar os largos sorrisos e gargalhadas da infância? Não falo de zombaria, falo de alegria. Claro que há entre nós pessoas mais
e outras menos extrovertidas, mas isto não reflete diretamente o seu grau de humor. Falo do humor refinado, leve, às vezes cortante e sempre surpreendente. Lembro-me de meu avô, pessoa pouco extrovertida, mas de um senso de humor muito aguçado. Contei-lhe certa vez de uma viagem que havia feito à Brasília e que lá o relevo era surpreendentemente plano. Falava a ele com entusiasmo de como se podia enxergar longe, muito longe. Ele me ouvia com as pernas cruzadas de uma maneira que jamais consegui imitar. Com seu pezinho sujo da lida de campo, seu cachimbo no canto da boca me ouvia e ao final comentou: - “eu sei por que lá é assim”. Perplexo diante dele, eu o fitei de uma forma interrogativa, pois sabia que sequer ele viajara para o Centro-Oeste do país. Minha perplexidade me fez perguntar: - “por que!?” e ele completou: - “quando Deus fez o mundo, ele veio trazendo barro, caminhão por caminhão, caminhões grandes e depois ele passou o trator aplainando tudo. Lá ele deixou tudo plano e por aqui ficaram os montes de barro. Vai ver que ele esqueceu de passar o trator por aqui”. Retribuí com uma sonora gargalhada. Ele não estava zombando, ele estava sim me mostrando como a sua mente era organizada. O poeta e filósofo inglês Samuel Taylor Coleridge (1772-1834) destacou certa vez que “mente nenhuma é de fato bem organizada se for deficiente em senso de humor”. Este filósofo não foi o único a constatar isto. O filósofo alemão
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para exercitar o senso de humor e reduzir nossa rabugice. Sorrindo mais, gracejando mais, rindo de nós e dos outros, fazendo graça, reunindo rebanhos ao nosso redor. Rebanhos dispostos a ouvir e serem ouvidos enquanto organizam suas idéias.
Friedrich Wilhelm Nietsche (18441900) já assegurava que “em cada grande homem existe uma criança. E esta criança quer brincar”. Brincar não é simplesmente fazer gracinhas bobas, comentários inúteis, debochar vergonhosamente. O humor e o seu senso educam. Já perceberam como as pessoas prestam atenção às piadas? Vejam como os chistes contados durante uma discussão séria, com ritmo e tempo, com ganchos no assunto tratado, causam um efeito psicológico coletivo e marcante. Ele reorganiza, reencaminha a conversa. O ato de se manter alegre não é um exercício fácil para os dias de hoje. Muitos afazeres e o stress diário muitas vezes impedem que sejamos bemhumorados. Tomara que tenhamos no futuro academias, como as de ginástica,
O autor é professor de matemática na Furb, em Blumenau/SC
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P.S. – Lembrei-me de uma piadinha que vai de brinde a um amigo, pastor emérito e careca: O pastor careca entra na farmácia e pede: – Me vê um vidro de loção pra cabelo! E o farmacêutico: – Grande ou pequeno? O pastor responde: – Pequeno... é que eu não fico bem de cabelo comprido.
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Só nos primeiros 3 meses Elfriede Rakko Ehlert
É raro alguém se abrir assim espontaneamente. Talvez o anonimato de um hospital é mais propício, ou um ônibus, onde a gente supõe que nunca mais vai encontrar a pessoa para a qual revelou a mágoa de uma vida inteira. Aconteceu comigo. Estive, há alguns meses, deitada num leito hospitalar, recém-operada. Uma funcionária limpava o assoalho e tudo mais. Neste momento entrou meu marido e me deu um beijo. A funcionária parou com seus afazeres, olhou para nós dois e observou: - “Só nos primeiros 3 meses de casamento meu marido me dava beijos. Agora sou casada há vinte anos, temos três filhos, mas nada de carícias ou mostrar carinho por parte dele. Às vezes eu tento, mas ele não corresponde. Também quase cansei.” Tive muito o que pensar depois dessa. Dar carinho, sentir a pele e a proximidade do(a) parcei-ro(a) faz parte de um convívio íntimo, de uma ligação estreita entre o casal - não só na hora do sexo. Sei que geralmente a mulher sente mais necessidade de tais demonstrações de amor. Elas que não se acanhem de pedir ou até exigir isto de seus parceiros, via de regra não verbalmente, mas com a linguagem do corpo. Muitas vezes pessoas de mais idade
acham que tudo para eles “já era”. Eu acho que não! Quantas vezes ouvi jovens falando com admiração e respeito de casais idosos que ainda demonstram afeto um pelo outro. Até chegam a dizer que uma velhice assim eles também gostariam de ter. Uma coisa, porém, posso afirmar: Isso não cai do céu. Tem que ser trabalhado, cultivado. Vale lembrar o que diz o Catecismo Menor na explicação ao sexto mandamento: “Devemos temer e amar para que vivamos uma vida casta e decente em palavras e ações e cada um ame e honre o seu cônjuge”. Por exemplo tem que se criar uma “rotina”(!) de carinhos. Sim, escolhi de propósito esta palavra “rotina” que no mais tem uma conotação tão horrível no contexto de um casamento! Mas eu acredito em rotinas boas, como costumes bons. Beijar ao outro cada dia, de manhã, na despedida ou na volta para casa, é uma rotina ótima. E se você ainda não a tiver, pode começar já. Lembro-me de amigos nossos que nunca vi trocar carinhos. Hoje são separados. Carinho deveria fazer parte de nossa “rotina diária” - não só nos primeiros 3 meses.
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A autora é professora aposentada e reside em Curitiba, PR
Quem faz a diferença? “Quando os ventos da mudança sopram... ...algumas pessoas levantam barreiras... ...outras constroem moinhos de vento.” 1. Diga o nome das cinco pessoas mais ricas do mundo. 2. Diga o nome dos cinco últimos ganhadores do Prêmio Nobel, aquele, dado para personalidades que se destacaram na ciência, economia, nos assuntos da paz. 3. Agora diga o nome das cinco últimas miss universo. Lembrou? 4. Dê agora o nome de dez ganhadores de medalha de ouro nas últimas olimpíadas. 5. E para terminar, os últimos doze ganhadores do Oscar. E então? Como foi? Lembrou de algum? Difícil não? E olha que são pessoas famosas, não são anônimas não! Mas o aplauso morre, prêmios envelhecem, grandes acontecimentos são esquecidos. Agora, tente esse outro teste: 1. Escreva o nome dos professores que você mais gostava. 2. Lembre de três amigos que ajudaram você em momentos difíceis. 3. Pense em cinco pessoas que lhe ensinaram alguma coisa valiosa. 4. Pense nas pessoas que fizeram você se sentir amado(a) e especial. 5. Pense em cinco pessoas com quem você gosta de estar. Mais fácil esse teste não? Moral da história: “As pessoas que fazem diferença na sua vida não são as que têm mais credenciais, dinheiro ou prêmios... São as que se importam com você!”
O
homem não morre quando deixa de viver, mas sim quando deixa de amar. Charles Chaplin 127
Anúncio e Denúncia – O Profeta Amós –
E
Fonte: Gemeindebrief
les interpretam sonhos, entram em transe, possuem o sexto sentido ou a inspiração divina. São iluminados e estimulados por Deus. Ao vislumbrarem o futuro e contarem o que vai acontecer, eles denunciam os males contemporâneos. Eles são os profetas. Amós de Tecoa, que vive em mais ou menos 750 aC, é um deles. Suas profecias são curtas e grossas, e logo vão concretizar-se. Só que ninguém lhe dá ouvidos. Ele é culto, versado em História e Política. Rico ele é, também, pois possui rebanhos e campos de amoreiras. O que é que leva um membro da elite a tornar-se profeta e estragar tudo isso? Amós conta que Deus o arrebatou de seus rebanhos e o incumbiu de anunciar ao povo de Israel o seu juízo. Isso o diferencia dos “profetas profissionais” de seu tempo, que viviam de prever o futuro e adoravam ser subornados por patrocinadores reais. Amós era insubornável e não reserva gentilezas para ninguém. O homem de Judá vai para o Norte de Israel, para Samaria e Bet-El. À primeira vista, nada, naquela região, indica um destino sombrio. O reino vive em paz e prosperidade, o comércio e a economia em geral florescem, sacrifícios opulentos são oferecidos nos santuários. Os ricos ignoram generosamente a corrupção e a injustiça social. Amós, não. “O rugir de leões e a fúria do trovão ecoam do Monte Sião em Jerusalém até aqui”, diz ele, e a ira de Deus é tão grande que “resseca até mesmo a floresta no cume do Monte Carmelo.” Nas ruas, Amós encontra pessoas paupérrimas, enquanto os ricos “se refestelam em camas acolchoadas, adornadas com marfim,” comem “a carne tenra de cordeiros e vitelas cevadas” e bebem vinho “aos baldes”, como o profeta constata, furioso. Em cinco visões, ele testemunha derrotas e destruição que cairão sobre Israel, porque o povo se afastou de Deus. Os ricos não gostam do que ouvem. Todos concordam que esse homem, que aparece cheio de indignação, paixão e rigor, é um estragaprazeres. Ele lastima tanto a perda de antigos rituais quanto a dos meios de sobrevivência dos pequenos camponeses. Ele chateia. Portanto, fora com ele! Amós é expulso de Israel. Porém, suas profecias cumprem-se. Em menos de 25 anos, a fortuna de Israel acabou, a terra foi destruída pelas tropas assírias. Na descrição desta série de catástrofes, Amós coloca um padrão para muitos profetas futuros. Ele mesmo é um dos mais irados, que mal deixam uma luzinha de esperança para a humanidade. Traduzido e adaptado por Anamaria Kovács
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Alice Tibiriçá O anjo das pessoas portadoras de hanseníase Colaboração Renate Gierus
Alice de Toledo Ribas nasceu no dia 09 de janeiro de 1886 em Ouro Preto/MG. Algumas palavras de Alice ilustram sua infância em Ouro Preto: “De minha infância, tenho a recordação de alucinantes dores de dente, que resultaram em cárie no maxilar inferior. [...] Gostava da companhia de outras meninas, para brinquedos pouco demorados. [...] Já sabia ler e escrever, quando fui para lá [escola primária]. [...] Não gostava mesmo da escola, quase sem ar e repleta de alunas.”1 Em 1898, Alice foi morar com sua família no Rio de Janeiro. Aos treze anos, ela perde a mãe, Maria Augusta Ribas, por quem tinha uma grande ternura, e o pai, o general José Florêncio de Toledo Ribas, que lutou na Guerra do Paraguai (1864-1870). Foi morar com as tias na capital paulista e, em 1912, casa-se com João Tibiriçá Neto. Agora Alice é Alice Tibiriçá. Sempre teve a postura de uma pessoa lutadora e atuante, enfrentando os problemas para resolvê-los. Ela faleceu em 08 de junho de 1950, vítima de câncer. Pela profissão de engenheiro de seu marido, Alice e João foram morar um período em São Luís, no Maranhão. Lá aconteceu um fato que marcou a vida de
Alice. Seguidamente passavam pessoas leprosas por seu bairro, mendigando. As esmolas eram atiradas a elas de longe. O medo de contágio era muito grande. Isto deixou Alice impressionada e ali decidiu que lutaria em favor dessas pessoas doentes, bem como da prevenção em relação às pessoas saudáveis. Em 1925, Alice organizou uma quermesse em favor delas. Já vivia novamente em São Paulo, com a família. Alice teve um filho, Jorge, e uma filha, Maria Augusta. Em 26.02.1926, ela criou a Sociedade de Assistência às Crianças Lázaras. Depois de um tempo, viu a necessidade de ampliar as atribuições desta sociedade e a entidade foi registrada com o nome de Sociedade de Assistência aos Lázaros e Defesa contra a Lepra, da qual foi presidente. Alice se tornava conhecida pela cidade, pelo estado e pelo país, por sua atuação junto às pessoas com hanseníase. O trabalho aumentava e, com isso, a necessidade de descentralizar a Sociedade de Assistência, para que esta também pudesse servir no interior do estado. Através de palestras, campanhas, quermesses, através de viagens e textos em jornais, Alice criava uma consciência nacional de combate a esta doença.
1 Esta biografia está baseada no livro: MIRANDA, Maria Augusta Tibiriçá. Alice Tibiriçá – Lutas e ideais. Rio de Janeiro: PLG-Comunicação, 1980. A autora do mesmo é filha de Alice Tibiriçá. Também foi pesquisado o Dicionário Mulheres do Brasil, de Jorge Zahar Editor, 2000.
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Também em nível nacional conseguiu oficializar o Dia das Mães. Nos Estados Unidos, este dia já era lembrado desde 1906. No Brasil, a Associação Cristã de Moços (ACM), de Porto Alegre/RS, teve a incumbência de introduzir tal comemoração, o que ocorreu em maio de 1918. A oradora daquela solenidade fora Júlia Lopes de Almeida, importante escritora da época. Em 1931, Alice Tibiriçá fora convidada pela ACM de São Paulo a fazer uma palestra referente ao tema das mães e, nesta ocasião, prometeu que se esforçaria para que a data se oficializasse em todo o país. Naquele mesmo ano, Alice participava do II Congresso Internacional Feminista, no Rio de Janeiro/RJ, presidido por Berta Lutz. Neste congresso, redigiu uma moção e a apresentou a Getúlio Vargas, “pedindo-lhe instituir o ‘DIA DAS MÃES’ no 2º domingo do mês de maio”. Com o apoio de várias entidades e pessoas e com uma nova petição ao
governo, os jornais publicaram, a 06 de maio de 1932, a assinatura do decreto, oficializando o Dia das Mães. Alice Tibiriçá lutou muito em favor dos direitos da mulher, do voto feminino; participou de Congressos Feministas e defendeu uma educação especializada da mulher. Elaborou palestras, deu entrevistas. Somente no ano de 1949 criase a Federação de Mulheres do Brasil, da qual Alice foi presidente até a sua morte. Esta entidade centralizava as organizações de mulheres que existiam por todo o país. Em um artigo de jornal escreve, ainda em março de 1931: “Toda nação se compõe de homens idôneos e inidôneos, assim como de mulheres idôneas e inidôneas. Representá-la pelos homens idôneos e pelas mulheres idôneas não será melhor do que fazê-lo pelos homens idôneos e inidôneos?”
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A autora é pastora da IECLB e reside m São Leopoldo, RS
Dia das Mães, uma festa recente Gemeindebrief
cancioneiros e livros escolares. Sua crescente comercialização, porém, levou a críticas , e muitas mulheres, no início dos anos 70, reivindicavam “direitos em vez de rosas.” Na Inglaterra, o “Mothering Day” pertence a uma tradição muito mais antiga. Era festejado no quarto domingo da Quaresma e, ao longo do tempo, recebeu um duplo significado, referindo-se à “Santa Madre Igreja”, e ao mesmo tempo, continuando a tradição de antigas festas populares de família. Com exceção do Brasil, que segue a tradição norte-americana, os demais países da América Latina homenageiam as mães no dia 27 de maio, cada um à sua maneira. Assim, na Bolívia, por exemplo, os filhos reúnem seus amigos e fazem serenatas para suas mães, à meia-noite do dia 26, e, no dia 27, que é feriado, acontece um almoço festivo – preparado, é claro, pela homenageada...
Divulgação
O segundo domingo de maio, quando se homenageiam as mães, foi “inventado” pela norte-americana Ann Jarvis, que desejava perpetuar a memória de sua genitora, falecida em 1905. Em 1914, o então presidente americano Wilson instituiu o primeiro Dia das Mães, através do “Mother’s Day Bill”, aprovado pelo Congresso como feriado oficial. Após a Primeira Guerra Mundial, na Alemanha, a data adquiriu grande impacto emocional, pois lembrava os sacrifícios e obras das “mães de guerra.” Em 1933, quando o Dia das Mães se tornou feriado oficial, os novos detentores do poder logo se aproveitaram para incorporá-lo à ideologia nacional-socialista da “mãe heróica.” Compuseram-se hinos e canções bombásticas, em que se exaltava a disposição das mães ao sacrifício e ao sofrimento pelo povo e pela pátria. Depois de 1945, essa linha de pensamento desapareceu gradativamente dos
Traduzido por Anamaria Kovács 131
A Comunidade de Manaus que eu conheci Armando Maurmann
Em 1991 discutia-se sobre a Eco e que via na nossa escola “uma oportuni92 a ser realizada no Rio de Janeiro quan- dade para alfabetizar seus filhos”. Mas do surgiu-nos a oportunidade de traba- importante era observar que essa solidalhar em Manaus, em plena floresta Ama- riedade era recíproca. Nos churrascos os zônica. Família reunida, valeu a vontade moradores compareciam e prestigiavam, da maioria e lá fomos nós de mala e cuia. juntamente com professores e funcionáNa chegada o impacto da diferença cli- rios” da ULBRA, a ponto de termos mais mática entre Florianópolis e a alta tem- de cem pessoas reunidas num ambiente peratura e da umidade do ar do clima fraterno. manauara. Lembro-me do tempo em que por A adaptação foi fácil um bom período ficamos sem pastor e as e como tem acontecido atividades eram divididas entre os memconosco, fomos em bros, sempre com busca da “nossa” perseverança e acreigreja. Encontraditando em dias memos um belo prélhores. No culto de e o Senhor dio multifuncional, despedida várias não edificar a casa, localizado mais na crianças foram periferia da cidade. batizadas, num moem vão trabalham Escola para as crimento comovente os que a edificam. anças do bairro duentre a tristeza da Salmo 127.1a rante a semana, saída de nosso igreja aos dominorientador espiritugos para os cultos al e o ministrar do e local de encontro nos concorridos chur- sacramento do batismo para aquelas quarascos organizados para angariar fundos, se quarenta crianças. tudo dentro de um vasto terreno com um Com a chegada do novo pastor, o belo pé de cupuaçu e um parquinho com ensino confirmatório passou a ser minisbrinquedos para as crianças. Os cultos trado na casa do mesmo, por ter ela uma eram freqüentados por poucas pessoas, localização mais central. Era também lá mas o calor humano era contagiante. que o grupo de jovens passou a se reunir. Luteranos mesmo, não havia mais de oito Após a aula o momento de descontração, famílias, mas todos com o espírito de fa- tomar banho de piscina, jogar conversa zer acontecer a obra do reino de Deus fora, criando assim o ambiente de naquela cidade. Uma vontade nos anima- fraternidade necessário para que se faça va cada vez mais à solidariedade com a a obra do Senhor. população que morava nas proximidades Naquele período fomos abençoa
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dos. A IECLB aprovou projeto para a contratação de uma pessoa para lecionar na escola, dando novo impulso junto às crianças do bairro e passamos a contar também com o apoio voluntário de uma missionária. Hoje a Comunidade de Manaus cresceu e ao acompanharmos pela internet e por relatos podemos perceber que muitos dos sonhos de outrora foram realizados. A casa pastoral está junto à Igreja, o prédio da escola está pronto e leva o nome daquele que sem dúvida foi um dos maiores esteios daquela comunidade, o Sr. Norberto Arnold, a quem tive a alegria e o privilégio de conhecer e de trabalhar
na obra do Senhor. Ficamos em Manaus durante três anos, convivendo e aprendendo com aquelas pessoas que hoje fazem parte de nossas recordações. Foi um período ricamente abençoado. Ao recordarmos aqueles tempos podemos observar as maravilhas que Deus processa em nossas vidas quando observamos o crescimento e o desenvolvimento de nossas comunidades. O autor é membro da comunidade em Florianópolis e presidente do Conselho de Comunicação da IECLB
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uando à noite não consegue dormir, pare de contar ovelhas e converse com o pastor. Lorice Daccache
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Drogas que destroem Vidas Vidas que são uma Droga Clovis Horst Lindner
Gemeindebrief
Diante dos repórteres, um pai chora ao falar do filho preso, acusado de estar envolvido com o tráfico de drogas Esta não é uma imagem rara. Ela se repete todos os dias, nos quatro cantos do mundo. Pais, professores e amigos se desesperam a cada revelação de dependência de drogas, álcool (a droga aceita e a mais maldita de todas) e outros comportamentos qualificados como “desvios”. A humanidade perdeu muitos jovens talentosos para as drogas. Cazuza, ele próprio uma vítima delas, cantou: “meus heróis morreram de overdose”. A canção de Cazuza também revela o principal motivo da maioria das dependências: falta sentido na vida das pessoas. “Ideologia! Eu quero uma pra viver!”, é seu grito desesperado. Por falta de sentido, nos tornamos dependentes de elementos químicos, manias, costumes ou atitudes que têm efeito passageiro. É efêmera a felicidade que produzem. Depois dela vem um imenso vazio e a sensação de necessitar uma nova dose, ainda maior, para fazer retornar a sensação de prazer que se experimentou. Este princípio é sempre o mesmo, tanto faz qual é a dependência que nos prende. A dependência das drogas é a mais conhecida; mesmo assim esse conhecimento não evita que as pessoas continuem experimentando, sempre acreditando poder “largar a hora que quiser”. Mas, também nos tornamos completa
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mente dependentes da internet, de jogos eletrônicos (a ponto de matar a família do melhor amigo porque as regras do jogo de computador o exigem), de comida, de álcool e cigarro, ou mesmo do incontrolável desejo de consumir coisas novas. Se o princípio é o mesmo, também a razão que o provoca é sempre a mesma. Falta sentido na vida das pessoas. O desejo pela sensação de prazer e felicidade é a busca por preencher o vazio que está na alma. Cada vez mais pessoas passam toda a sua vida correndo atrás do prazer momentâneo e um número cada vez maior delas cai no buraco sem fim da depressão, tornando-se dependente de antidepressivos. Essa corrida maluca começa já na infância, quando a criança se atira no chão do supermercado e faz o maior escândalo com o intuito de arrancar dos pais a satisfação do seu desejo de consumo. Na adolescência, passa pela troca de celular três vezes ao ano, pelos modismos passageiros, pelos costumes tribais que mudam a cada estação do ano e pelo individualismo crescente e alienante. Quer solo mais fértil para plantar o desejo pelas fortes emoções de um cigarro de maconha ou de uma carreira de cocaína? O que nos preenche realmente? Nossa independência está no sentido de vida. Quem não se detém para responder à pergunta mais importante da sua existência, é sério candidato a campeão da corrida maluca. Para que eu estou neste mundo? Qual é minha missão? Qual é o sentido da minha vida? Em primeiro lugar, devemos nos deixar preencher da vida que vem de Cris-
Quem não vive para servir, não serve para viver.
to: “Vim para que tenham vida, e vida em abundância”. Ele nos enche o copo até transbordar, justamente para que possamos passar vida adiante, sem medo de que fiquemos no prejuízo. E, passar vida adiante não é outra coisa do que servir. Este é o sentido da nossa vida. Servir. Quem não vive para servir, não serve para viver. Frase batida, mas cheia de razão. Quem coloca sua vida a serviço, a preenche de sentido. Em segundo lugar, é preciso que paremos de vez em quando para avaliar nosso grau de dependência. Tenho insistido em que a Quaresma (40 dias antes da Páscoa) e o Advento (quatro semanas antes do Natal) são os períodos ideais para abrir mão de alguma dependência. Isto nos ajuda, porque é uma forma de autodisciplina que enriquece e fortifica o espírito. Faça a experiência. Na próxima quaresma deixe de fumar, de beber cerveja ou de comer chocolate e transforme esta economia financeira e de energia em alguma espécie de serviço voluntário. Você vai entender o que estou querendo dizer.
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Frase batida, mas cheia de razão.
O autor é pastor da IECLB e profissional de comunicação
RONDÔNIA: 35 anos de história, de desafios e de missão Elio Scheffler
É em Pimenta Bueno, nas barrancas do rio Melgaço, que temos o marco histórico da presença luterana em Rondônia. Em 23 de julho de 1970 foi quando o P. Joachim Maruhn, enviado pela IECLB, celebrou o primeiro culto oficial nesta terra ávida de esperança. As famílias Discher, Häese, Trespadini, Holander, Braun e Simoura, constam na Ata de fundação deste dia histórico, onde a primeira Comunidade luterana da IECLB foi criada em solos da Rondônia. Já a primeira paróquia da IECLB em Rondônia, a Paróquia Evangélica de Pimenta Bueno, foi fundada a 29 de abril de 1973. Ali houve a construção da primeira casa pastoral, sendo que a partir dali o pastor atendia a todos os pontos de encontro comunitário no ainda então Território Federal de Rondônia. A partir de 1976, é criada a Paróquia de Cacoal, cuja abrangência era desde a localidade denominada Riozinho até Porto Velho (norte de Rondônia). Já a Paróquia de Pimenta Bueno abrangia de Espigão do Oeste a Vilhena (sul de Rondônia). Desde o começo dos anos setenta, a migração para Rondônia havia se intensificado. Também houve um deslocamento da migração para fora do eixo da BR 364, ligação terrestre entre Cuiabá/ MT e Porto Velho/RO. Novos pontos de encontro comunitário foram sendo abertos. O povoado de Espigão do Oeste foi
se desenvolvendo e crescendo a 30 quilômetros da BR 364. Assim, a “Comunidade Evangélica Espigão do Oeste” foi fundada a 14 de junho de 1972. Essa foi uma das primeiras atividades do primeiro pastor da IECLB residente em Rondônia, Pastor Geraldo Schach. Conforme a ata de fundação dessa Comunidade, o Pastor Schach em sua apresentação diz: “Vim, porque senti que vocês precisavam de ajuda aqui nas selvas. Vim para dar cumprimento à ordem de Cristo: 'Ide e fazei discípulos de todas as nações...', conforme Mt 28. Em nome dele estamos aqui reunidos. Demo-nos as mãos como irmãos na fé para podermos trabalhar unidos em prol do crescimento do Reino de Deus”. Em Espigão do Oeste, a casa do Sr. Valdemiro Brandt era quem hospedava as primeiras famílias. Mais tarde os encontros aconteciam na casa do Sr. Emílio Bonne, até que a primeira igreja foi construída, e onde cada vez mais famílias chegavam na esperança de conseguir um pedaço de terra. Pastores vinham visitar os membros, saindo do Espírito Santo vindo para a “terra prometida” (Rondônia). “O primeiro Pastor residente em Pimenta Bueno e que atendia até Cacoal, Espigão do Oeste, era um catequista em funções pastorais, o qual deveria dar conta de tudo e de todos. Ele era a pessoa de refe
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rência para chorar as saudades, encontrar ânimo quando a malária matava ou derrubava as pessoas. Ou quando o desejo de voltar era enorme, mas os recursos não existentes para tal. O povo acolhia seu pastor com muito carinho.” Sim, era ele, o Pastor Geraldo Schach e sua esposa que aceitaram este desafio da IECLB de acompanhar seus membros (citação do próprio P. Geraldo). O Pastor Arteno Spellmeier vinha de Porto Alegre, RS, visitar os mesmos e sonhar junto na dedicação de edificar comunidades luteranas e encontrar o específico missionário nesta nova terra, para todos desconhecida. Mais tarde veio residir mais perto, na cidade de Cuiabá, MT. As enormes dificuldades enfrentadas para conseguirem as primeiras plantas, o confronto de culturas, o clima úmido, a certeza de que encontrariam a sua casa - oikos, fez com que centenas de paus-de-arara (caminhões carregados de tudo e todos) viessem em colunas do estado do Espírito Santo, alguns da região sul, para Rondônia. A cidade de Espigão do Oeste foi construída em cima de uma aldeia Indígena Suruí. Estes povos sumiram da região, sendo expulsos para dar lugar aos capixabas, gaúchos, catarinenses que vinham e viam a riqueza nos enormes mognos e cerejeiras, a riqueza à flor da terra. Assim se procedeu. Pensava-se que aquela vastidão de capital nunca acabaria. Pois em suas regiões de origem, a terra já estava devastada e seca, ou ocupada por monocultura do boi, celulose, soja, café... Neste breve tempo dos 35 anos não há mais madeira. Tudo devastado e agora os bois avançando. Mesmo assim,
muitas pessoas persistem no cultivo da terra para produzir alimentos tradicionais que aqui se adaptaram ao clima e solo (inhame, cará, mandioca, mamão, banana, café, etc). Inúmeras famílias já estão sobrando nesta região, e, estão re-migrando para as fronteiras da devastação brasileira, Buritis, Colniza, Conselvan, Apuí,... Parece um ciclo interminável de migrações em busca de terras, mas por outro lado é uma cultura de constantes migrações. A vida vale pouco para muitas pessoas, ou faz parte de uma cultura, nenhum pesquisador ainda conseguiu entender esta cultura popular de re-migrantes na Amazônia. A Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil - IECLB, fica muito orgulhosa por solidariamente acompanhar e junto lutar com o este povo sofrido, membros luteranos, bem como das mais diferentes confissões religiosas. Porém, ao lado do sofrimento, da angústia, e desespero, vivenciamos também a alegria e uma disposição, força e esperança de obreiros e obreiras, tanto na tarefa de constituição de paróquias, trabalho missionários, bem como na defesa dos direitos indígenas, assim como projetos de desenvolvimento. A missão da IECLB para a Amazônia era a busca de acompanhar não só “os seus”, mas o povo migrante, formando novas comunidades incrustadas na realidade local. Para tanto formou diversas equipes de trabalho, em diferentes lugares, tendo como principal motivação, evangélica e bíblica, a salvação integral das pessoas. As equipes eram formadas por uma enfermeira ou médico (saúde), técnico
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agrícola (agricultura) e pastor ou pastora para acompanhar espiritualmente e dar assistência pastoral às pessoas, anunciando o Evangelho da vida e da paz (Mt 28.18s). A construção do Centro Evangélico Itaporanga em Espigão do Oeste que acolhia os COR (Curso de Orientadores Rurais), a aquisição de uma fazenda para a implantação de uma escola agrícola, o projeto vacas na Paróquia de Colorado do Oeste, o Projeto de Agricultura em Ariquemes, Rolim de Moura, foram ini-
ciativas de envolvimento das pessoas na condução de sua história, com apoio total de sua Igreja. Muitas parcerias ecumênicas foram sendo construídas. Destacamos a ação e participação desde o início junto a Pastoral da Terra - CPT, trabalho que prevalecendo até hoje. A releitura histórica é importante para o aprendizado futuro. Esta re-leitura faz parte da missão da Igreja até hoje. Que Deus nos mantenha em continuidade de nossa história e cada vez mais fiéis ao serviço a Ele. Que possamos continuar caminhando e colhendo mais vida e paz. O autor é Pastor Sinodal do Sínodo da Amazônia (www.luteranosnaamazonia.com.br)
Algo para se pensar Nelson Mandela Nosso maior medo não é o de sermos inadequados. Nosso maior medo é o de sermos poderosos além da medida. É nossa luz, não nossa escuridão, o que mais nos apavora. Perguntamos a nós mesmos: Quem sou eu para ser brilhante, esplêndido, talentoso e fabuloso? Na verdade, por que você não seria? Você é um filho de Deus. Bancar o pequeno não serve ao mundo. Nada nos esclarece no sentido de nos diminuirmos, para que outras pessoas não se sintam inseguras em torno de nós. Nascemos para tornar manifesta a glória de Deus que está dentro de nós. Ele não está em alguns de nós: está em todos nós. E quando deixamos nossa própria luz brilhar, inconscientemente damos a outras pessoas permissão para fazer o mesmo. Quando nos libertamos de nosso próprio medo, nossa presença automaticamente liberta outros. Extraído do Discurso de Posse de 1994
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Palavras cruzadas – SOLUÇÃO
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Desafio – SOLUÇÃO Eu e a minha casa serviremos ao Senhor. 139
Índice Anuário – Mutirão de Amizade! ................................................................ 5 A importância de trabalhar o Tema do Ano .............................................. 34 Temas da IECLB ................................................................................... 36 Quantas línguas fala a IECLB? – Reflexão à luz de Pentecostes .................. 37 Amigos ................................................................................................ 39 Retrato de uma madona atual ................................................................ 40 Curriculum vitae ................................................................................... 42 Morar na rua – viver da esperança .......................................................... 44 Escola Superior de Teologia da IECLB ..................................................... 47 O amor na velhice ................................................................................ 49 Mulher no pastorado na IECLB ............................................................... 52 A arte sacra no contexto luterano ........................................................... 54 O jovem na Igreja ................................................................................. 56 Primeiro Internato e primeiro Grupo de Jovens da IECLB? ......................... 58 Datas Comemorativas ........................................................................... 60 A Igreja na Copa do Mundo – A fé em Campo ......................................... 62 Praeses Stoer faz 100 anos .................................................................... 64 Transgênicos: Avanço tecnológico ou risco desnecessário? ......................... 66 Alimento modificado sob suspeita ........................................................... 69 Lyon, um cachorro amigo muito especial ................................................. 71 Diaconia em Serra Pelada ...................................................................... 74 50 anos de dádivas e de serviço ............................................................. 74 Palavras cruzadas ................................................................................. 76 Sobre Pegadas na areia ......................................................................... 79 Ser ou não ser de ninguém? ................................................................... 82 Reconciliação ....................................................................................... 84 Lições de Sabedoria .............................................................................. 86 Teologia da prosperidade ....................................................................... 88 Os “nômades da Fé” ............................................................................. 90 Escola - missão da Igreja? ..................................................................... 92 Diálogo inter-religioso – que é isto? ......................................................... 94 O Pinheiro de Natal e outras Árvores Bíblicas .......................................... 96 Perdida em meio à guerra... ................................................................... 98 Catástrofes ......................................................................................... 103 Das loucas escolhas de Deus – ou – O Sul é o Norte .............................. 106
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O Caminho para o hábito da leitura ...................................................... 108 A importância da criatividade na OASE ................................................. 110 Até quando? ...................................................................................... 112 Dá-me tua palavra, meu Senhor, eu quero ser teu mensageiro! ................ 114 Assembléia do Conselho Mundial de Igrejas ........................................... 120 Do hieróglifo ao satélite ....................................................................... 122 A leitura ainda tem lugar? .................................................................... 122 O Rebanho e as Idéias ........................................................................ 124 Só nos primeiros 3 meses .................................................................... 126 Quem faz a diferença? ......................................................................... 127 Anúncio e Denúncia – O Profeta Amós .................................................. 128 Alice Tibiriçá ...................................................................................... 129 Dia das Mães, uma festa recente .......................................................... 131 A Comunidade de Manaus que eu conheci ............................................ 132 Drogas que destroem Vidas – Vidas que são uma Droga .......................... 134 Rondônia: 35 anos de história, de desafios e de missão .......................... 136 Palavras cruzadas – SOLUÇÃO ............................................................. 139
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Anotações
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ISBN 85-87524-27-5