Dia Nacional da Diaconia. Ano 15, 8 de maio de 2011

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Dia Nacional da Diaconia 8 de maio de 2011



Dia Nacional da Diaconia 8 de maio Paz na criação de Deus Esperança e Compromisso Glória a Deus e paz na terra Lucas 2.14

Caderno de Subsídios

2011


Publicação coordenada pela Coordenação de Diaconia da Secretaria da Ação Comunitária da Secretaria Geral da IECLB. Caixa Postal 2873 90001-970 Porto Alegre/RS Fone: (51) 3284 5400 E-mail: secretariageral@ieclb.org.br www.luteranos.com.br Colaboradores: Jaime Ruthmann, Marcia Blasi, Marilu Menezes, Méris Gutjahr, Ruthild Brakemeier, Sissi Georg. Coordenação: Leila Schwingel Diagramação e criação da contracapa: Cláudio Kupka Impressão: Editora Sinodal Permitido reprodução parcial ou total desde que indicada a fonte.


Apresentação

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o dia 8 de maio de 2011, 3º domingo de Páscoa, celebramos na Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil - IECLB, o Dia Nacional da Diaconia, instituído em 1997. O Dia Nacional da Diaconia tem por objetivo promover a reflexão sobre diaconia nas nossas comunidades e também nas organizações confessionalmente vinculadas à IECLB. Compreendemos que diaconia é a resposta de fé em Jesus Cristo na forma de serviço em favor da humanidade e da criação. O caderno de subsídios que está em suas mãos tem como pano de fundo o tema da IECLB para 2011, “Paz na criação de Deus: Esperança e Compromisso” e o lema: “Glória a Deus e paz na terra” (Lucas 2.14). Como nos anos anteriores, estamos disponibilizando uma proposta de liturgia com a sugestão de que seja usada no 3° domingo de Páscoa ou ainda nos cultos que acontecem durante a semana posterior. Também colocamos à disposição subsídios para a mensagem e três estudos que podem ser utilizados para reflexão em grupos. Através dos estudos propostos queremos refletir junto com as nossas comunidades sobre temáticas que, muitas vezes, nos tiram a paz e a esperança. Continuamos disponibilizando mensalmente, a cada dia 26 (www.luteranos.com.br), uma liturgia para o dia mundial de oração pela diaconia e um relato de cuidado diaconal. Desejamos que estes materiais auxiliem na reflexão, mas também motivem ações em favor do nosso próximo e da nossa próxima. Caminhar com pessoas nas suas tribulações pode ser uma forma concreta de assumir a tarefa diaconal que a comunidade de Jesus Cristo afirma e assume. Nestor Paulo Friedrich Pastor Presidente


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Culto Eucarístico 08 de maio 2011 - 3° Domingo da Páscoa Celebração do Dia Nacional da Diaconia

LITURGIA DE ENTRADA Prelúdio Acolhida L Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos e filhas de Deus. Damos as boas-vindas a todas as pessoas presentes neste culto! Esse domingo faz parte do ciclo da páscoa! Estamos no terceiro domingo da páscoa! Além disso, em toda IECLB, celebramos hoje o Dia Nacional da Diaconia. É o dia em que em todas as comunidades da nossa igreja refletimos e nos referimos ao imperativo deixado por Jesus de servirmos ao próximo, acolhendo-o, promovendo vida e cidadania para todos e todas. Temos ainda uma festividade do calendário civil que reúne as famílias, que é o dia das mães, e igualmente isso será hoje aqui lembrado. Portanto, sintam-se todas e todos cordialmente acolhidas e acolhidos. Canto Bendirei ao Senhor - 263 HPD1 Saudação Trinitária L A graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito sejam com vocês. C E também com você. Litania da Paz L (convida que a litania seja lida pausadamente de modo que, após cada fala, se espere uns segundos para que haja tempo para refletir). L Paz: sentimento e atitude de quem experimenta Deus! C Paz: promessa do próprio Cristo, que disse: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou! Não vo-la dou como a dá o mundo.” L Paz: presente divino para cada ser que respira! C Paz: anseio permanente da humanidade que corre, se agita, busca, luta, compete, acerta e erra. L Paz: sentimento e atitude que apazigua nossas guerras mais


profundas, desarma nossos argumentos e preconceitos, e ridiculariza nossa intolerância. C A paz pode ser nossa companheira de todas as horas e em todas as situações, mesmo quando o mar ao redor de nós está revolto e enfurecido, L mesmo quando há ventos fortes, sombras e o caminho não está claro, C mesmo em tempos de solidão, de incompreensão, de doação desvalorizada. L Paz: antes de anunciá-la aos outros, ela necessita invadir nossa vida, nossas relações, nosso cotidiano, nossas decisões. A paz necessita ser vivenciada, alcançar as entranhas de cada ser! C Ó Senhor, Senhor nosso, necessitamos essa paz! Ó Deus da Vida, pedimos esta paz em nós, entre nós e através de nós. T Amém. Kyrie Eleison L Trazemos a Deus o clamor pelas pessoas que sofrem. Jovem1 (trazendo uma página de jornal) J1 Clamemos pelas famílias que em países como (citar países que estão nessa situação e que são destacados na mídia nos últimos dias antes o culto) ... e que sofrem com as guerras e a falta de paz. Oremos ao Senhor! (coloca a folha do jornal sobre a mesa do Senhor) C Tem, Senhor, piedade; Tem, Senhor piedade; tem, Senhor piedade. *Enquanto a comunidade entoa o Kyrie, outra pessoa vem, acende uma vela no círio pascal e a coloca sobre a folha de jornal que representa esse clamor). Jovem 2 (traz outra folha de jornal) J2 Clamemos por toda criação de Deus, por todo ser vivente, quer seja animal, quer seja vegetal, que sofre e geme pelas consequências da ganância humana, do descuido, da irresponsabilidade e da falta de respeito para com a criação. Oremos ao Senhor. C Tem, Senhor, piedade; Tem, Senhor piedade; tem, Senhor piedade.* L Deus, que é qual mãe e qual pai, receba esses clamores e intervenha em favor dessas causas, socorrendo quem sofre. Por Jesus Cristo, C Amém. Oração do Dia L Assim como estamos, oremos: Deus de amor e Rei da Paz! Teu desejo foi expresso pelos anjos naquela noite nos campos de Belém: “paz na terra entre as pessoas”. Tu, ó Deus, conheces nosso coração inquieto, ansioso, ambicioso, e que nem sempre busca a paz na fonte certa. Concede que nos esvaziemos para preencher-nos da paz prometida e presenteada 6


por teu Filho, o Príncipe da Paz. Por Jesus Cristo que, contigo e com o Espírito Santo, vive e reina, de eternidade a eternidade. C Amém. Amém. Amém. Amém.:/ LITURGIA DA PALAVRA Leituras Bíblicas: L Preparemo-nos para ouvir a palavra de Deus, cantando: C A Palavra do Senhor não voltará vazia, amém, amém! E se nós nos calássemos as pedras clamariam, amém, amém! Primeira Leitura L Atos 2.14a,36-41 C A Palavra do Senhor não voltará vazia, amém, amém! E se nós nos calássemos as pedras clamariam, amém, amém! Salmo do Domingo L Salmo 116.1-4,12-19 C Tomarei o cálice da salvação e invocarei o nome do Senhor (anexo) (a antífona será entoada antes da recitação do Salmo, ao final, bem como algumas vezes durante a leitura. Isso necessita ser ensaiado com a equipe de canto e o recitador do Salmo.) Segunda Leitura L 1 Pedro 1.17-23 C A Palavra do Senhor não voltará vazia, amém, amém! E se nós nos calássemos as pedras clamariam, amém, amém! Aclamação do Evangelho L Convido que nos coloquemos em pé para aclamarmos o Evangelho. Os discípulos de Emaús disseram um ao outro: “Porventura, não nos ardia o coração quando ele, no caminho, nos falava, quando nos expunha as Escrituras?” Aleluia! C Aleluia, aleluia; aleluia, aleluia Aleluia, aleluia o Senhor ressuscitou! O Senhor ressuscitou, cantemos com alegria, Demos graças ao Senhor, aleluia! Leitura do Evangelho L Lucas, 24.13-35. (lê os versículos; ou o texto poderá ser dramatizado). ... ao final: Palavra do Senhor! C Louvado sejas, Cristo! Mensagem Confissão de fé 7


Recolhimento das ofertas L Caminhar com pessoas na tribulação de suas vidas é uma das tarefas diaconais que Jesus Cristo afirma e assume. Há muita gente esperando por acompanhamento. Há muita gente esperando por alguém que caminhe junto. A Irmandade Evangélica Luterana agradece pela oferta em favor da Casa Matriz de Diaconisas no ano de 2010. Diversos cursos, atualizações e projetos puderam acontecer a partir da ajuda que a Irmandade recebeu. Jesus Cristo desafia, convidando: “assim como eu vos fiz, façais vós também”. A Irmandade deseja levar a sério este imperativo, exercitando a prática do amor, da solidariedade e da diaconia, pois estes são elementos imprescindíveis na missão. Mas, necessitam de ajuda financeira para serem realizados. Nos anos de 2011 e 2012, a Irmandade gostaria de continuar dando sua contribuição à missão e testemunho da IECLB nas comunidades, instituições e sociedade. Canto Diaconia (durante o hino haverá o recolhimento das ofertas) Oração Geral da Igreja L (Agradecimentos) Dadivoso Deus! Há tanto para agradecer! Agradecemos pela vida que renovas nesta manhã. Pelas nossas famílias, mesmo aquelas na forma de república de estudantes, ou de colegas de trabalho. Agradecemos pelo mundo que criaste com beleza, variedade e harmonia! C Agradecemos-te, Deus da Vida! L Agradecemos pelo milagre da maternidade e da paternidade! Pelos fundamentos que recebemos de nosso lar. Pelo amor que une e reúne pessoas e gerações, também de outras origens e culturas, tornando-as família! C Agradecemos-te, Deus da Vida! L Agradecemos-te também por todas as pessoas que realizam atividades diaconais nas nossas comunidades e organizações. Reconhecemos que esse serviço é fruto do teu amor por nós. Também rendemos graças pelos dons que tu deste a cada um e a cada uma de nós. E, ao agradecer por esses dons, também pedimos que tu nos auxilies a desenvolvê-los para colocá-los a serviço do teu reino. C Agradecemos-te, Deus da Vida! L (Intercessões) Deus de misericórdia e amor! Rogamos por tua igreja e pelo diálogo inter-religioso! Amplia nossos horizontes e instaura a paz entre as religiões e os povos. Rogamos por todos aqueles que têm responsabilidade política, econômica, social e pastoral em nosso país, nos nossos estados e municípios, a fim de que essas pessoas mantenham-se focadas e atuando em favor do bem comum. 8


C Ouve-nos, Deus da Vida! L Rogamos pelos mais necessitados em nossa sociedade: pelas famílias que estão abaixo da linha da pobreza em nosso país e no mundo; as que convivem com alguma enfermidade; pelas pessoas que sofrem violência e discriminação; pelos enlutados e também pelas famílias vitimas das catástrofes naturais que tem assolado o nosso planeta. C Ouve-nos, Deus da Vida! L Rogamos, ó Deus, pelas mulheres que têm filhos e filhas, pelas que não podem ser mães e pelas que não querem ser mães. Lembramos, em especial, as mulheres que perderam seus filhos e filhas. Esteja, Senhor, com todas as mulheres, as mães e lhes estenda a tua mão protetora, abençoando-as e orientando-as na sua tarefa de cuidar de vidas. C Ouve-nos, Deus da Vida! L Rogamos pelas pessoas que hoje sentem mais uma vez a saudade de suas mães já falecidas, pelos órfãos; rogamos pelas crianças e adolescentes que estão em lares e abrigos esperando adoção. Ó Deus, tem misericórdia. Move nosso coração e nossos braços em favor de pessoas cuja carga é bem mais pesada que a nossa. Que teu olhar amoroso vele e abençoe também as pessoas que estão reunidas em culto neste dia, e ajuda-nos a sermos promotores e promotoras da paz - shalom, a paz – bem estar completo, ali onde estivermos. Por Cristo, teu amado Filho, nosso Salvador, C Amém. LITURGIA DA CEIA Preparo da Mesa e Ofertório (enquanto são trazidas as ofertas e os elementos da Ceia até a mesa, a comunidade entoa:) Canto Obrigado, Pai celeste - 286 HPD1 Oração de ação de graças L O Senhor esteja com vocês. C E também com você. L Vamos elevar os nossos corações a Deus. C Ao Senhor os elevamos. L Demos graças ao Senhor, nosso Deus. C Isso é digno e justo. (Prefácio) L Sim, é verdadeiramente digno e justo que te glorifiquemos e te rendamos graças, sempre e em qualquer contexto. Tua criação é 9


perfeita e ela nos alegra e nos faz perceber quão grande és, bom Criador. (Anamnese) L Deus, Rei da Paz, te damos graças que enviaste teu amado Filho, o Príncipe da Paz, a fim de refazer teu plano de paz na tua criação. Jesus nasceu na humildade, cresceu e serviu-te, sendo recebido pelas pessoas simples e de coração aberto, e ele aceitou assumir o caminho do Calvário em obediência a ti, bondoso Deus, e por amor a todos nós. Mas Jesus não permaneceu morto. Ele ressuscitou e ascendeu para junto de ti, donde o esperamos voltar. (Narrativa da instituição) L Estamos mais uma vez diante da tua mesa, ó Deus, para celebrar o memorial que teu filho Jesus deixou para suas comunidades de seguidores e seguidoras; pois na noite em que Jesus foi entregue, ele tomou o pão, deu graças, o partiu e o deu aos seus discípulos, dizendo: Tomai, comei; isto é o meu corpo que é partido por vós; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente, depois de cear, Jesus tomou o cálice, dizendo: este cálice é a nova aliança no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que beberdes, em memória de mim. E nós, ó Deus, faremos esta refeição até que voltes, conforme prometeste. (Epiclese) L Para nossa comunhão de mesa, responde quando a ti pedimos: C Vem, Espírito Santo, vem, vem nos congregar (2x) De todas as línguas vem nos reunir, na unidade vem nos reunir. Vem, Espírito Santo, vem, vem nos congregar. (Mementos) L Lembra-te, Senhor, de todas as pessoas que se envolveram na causa da paz, muitas das quais não vivem mais. Reúne-nos com essas pessoas no banquete por ti prometido. (Doxologia) C Por Cristo, com Cristo e em Cristo, seja a ti, Pai todo-poderoso, na unidade do Espírito Santo, toda a honra e toda glória, agora e para sempre. Amém, amém, amém. Pai-nosso A paz L A paz, que Cristo nos presenteou, quer crescer e florir entre nós. Reconhecemos que atrapalhamos essa semente. Nossa boca fala palavras duras e amargas, muitas vezes, sem dó e quase sem arrepender-se. Nossas mãos se fecham para nosso semelhante. Não cooperam, mesmo vendo sobrecarregados os que mais amamos, ou ainda, fecham-se e machucam mortalmente outras vidas. Nosso olhar, ao invés de ser um brilho de luz sobre a vida do outro, sombreia e 10


ameaça a liberdade e espalha rancor e ódio. Por tudo isso, necessitamos reconciliar-nos uns com os outros e, assim, reconciliar-nos com Deus. A paz entre nós, pessoas, necessita da intervenção divina! Saudemo-nos, por isso, dando-nos as mãos num aperto de mão, ou num abraço, uns aos outros, desejando-nos a paz de Cristo. Fração L (elevando o cálice com fruto da videira) O cálice pelo qual damos graças é a comunhão do sangue de Cristo. L (elevando o pão e partindo-o) O pão pelo qual damos graças é a comunhão do corpo de Cristo. C Nós, embora muitos, somos um só corpo. Comunhão L A paz é iniciativa do próprio Deus para conosco. Nessa ceia, experimentemos e celebremos o Deus da paz entre nós através do corpo e sangue de Seu Filho Jesus Cristo. Venham, pois tudo já está preparado. LITURGIA DE DESPEDIDA Avisos Comunitários C Paz, paz de Cristo - 368 HPD2 Bênção L Que a bênção de Deus Pai, Filho (+) e Espírito Santo, venha sobre vós e permaneça convosco, agora e para sempre. C Amém Envio L Vão! Sejam promotores e promotoras da paz de Cristo! E assim, sirvam ao Príncipe da Paz com alegria! C Demos graças a Deus Liturgia moldada pela Diácona Dra. Sissi Georg Coordenadora da Comunhão Diaconal São Leopoldo- RS

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Subsídio bíblico para a mensagem No caminho de Emaús - Lucas 24.13-35

Considerações sobre o texto Três dias depois da morte de Jesus, duas pessoas caminham por uma estrada. Partiram de Jerusalém e estão a caminho de Emaús. Uma dessas pessoas é Cléopas (v.18); a outra não se sabe. Pode ser um casal. O evangelho de João 19.25 nos dá uma pista: aos pés de Jesus na cruz estava sua mãe, a irmã dela, Maria Madalena e Maria, mulher de Cléopas. Talvez neste caminho andem Cléopas e sua esposa Maria. O nome dela não é citado no relato. Ela não fala. Ela não opina. Ela não reparte sua dor. Não parece ter uma posição de igualdade com Cléopas. Estas pessoas, Cléopas e Maria, caminham sem esperança. Corpos curvados, cansados, desamparados. A dor dos acontecimentos em Jerusalém pesa nos seus ombros. As mulheres que tinham ido ao túmulo pela manhã do terceiro dia contaram que ele estava vivo, mas isto deveria ser só conversa de mulher, boato tolo. Afinal, tinham visto Jesus morto. O sonho tinha acabado. De repente, no meio do caminho, um homem se junta ao casal. Tristeza, medo, saudade, incerteza, falta de esperança impede-lhes que reconheçam o amigo amado. A completa falta de esperança no futuro as impede de enxergar, de perceber. Jesus reconhece a dor dessas pessoas e caminha com elas. Ele não julga nem condena. Ele pergunta. Quer saber o que estão sentindo. Ouve quando abrem o seu coração e as ajuda a relembrar tudo o que tinha ensinado. Jesus quer ouvir como experimentaram o que aconteceu e entender por que há tanta dificuldade em acreditar no inimaginável, naquilo que as mulheres anunciaram. Os ouvidos e mente até pensam no que foi dito, mas o coração não consegue acreditar. Somente o relembrar não permitiu que o conhecessem. Foi no partir do pão que os olhos dessas pessoas foram abertos. “O aproximar-se, o caminhar junto um pedaço de caminho, a escuta atenta, antes e depois de perguntar, a própria pergunta, que busca conhecer o saber alheio, tudo isso vai estabelecendo um clima de confiança, um


colocar-se em pé de igualdade, um falar com, que já não é mais apenas um falar a alguém. Nada começa com ensinar. Tudo começa com aprender. Jesus não vem ao encontro daquele casal de discípulos para explicar nada. Vem para conhecer em que pé se encontram. Vem para saber porque seus olhos estão impedidos de ver. Vem buscá-los ali onde estão. Para, só depois, partir, com eles, de onde eles estão, em direção a um momento novo.” (Carlos A. Dreher. O caminho de Emaús. Leitura bíblica e educação popular. Serie “A Palavra na vida”, n 71/72, 1993, p.15) Jesus também não fica só no ouvir e perguntar. Chega um momento em que é preciso clarear as coisas. Relembrar a experiência de como Deus age no mundo não pode ficar para depois. Compreensões errôneas precisam ser clareadas. Interpretações precisam ser desafiadas. Jesus não faz uma chuva de versículos bíblicos, mas relembra a história de Deus com o seu povo no passar dos anos, de Moisés aos profetas. Mas há algo mais, quando Cléopas e Maria reconhecem Jesus, após o partir do pão, ele não permanece. Ele vai embora, desaparece. Sua missão está cumprida. Agora quem precisa continuar na missão de anunciar o ressuscitado são seus seguidores e seguidoras. Diaconia Caminhar com pessoas na tribulação de suas vidas é uma das muitas tarefas diaconais que a comunidade de Jesus Cristo afirma e assume. Essa tarefa é árdua e exige uma enorme paciência revolucionária. Muitas vezes temos pressa. Há muita gente esperando por acompanhamento. Há gente esperando por alguém que caminhe junto. Por outro lado, temos uma dificuldade enorme de “entrar na casa ou ficar com a pessoa.” Caminhar com alguém significa caminhar no passo da outra pessoa, no seu ritmo. É permitir que descanse quando se sente cansada. É ajudar a carregar a carga por um determinado trecho. Mas principalmente, caminhar com alguém é reconhecer que a caminhada pertence à outra pessoa. Somos testemunhas do seu processo, do seu esforço e da sua dor. A outra pessoa precisa ter a certeza de que confiamos nela e de que mesmo quando ela sentir-se totalmente sem esperança, nós continuamos confiando que Deus a está carregando no seu colo e acalentando com muito amor. Mas o acompanhar também tem limites. Isso fica bem claro quando Jesus assume uma postura de ajudar aquelas pessoas no caminho a enxergarem e reconhecerem o que aconteceu. Há momentos em que pessoas precisam ser confrontadas com as consequências de seus atos. Há momentos em que outras pessoas precisam tomar decisões por quem já não tem mais esperança, como no caso de pessoas com tendências ao suicídio, ou que anunciam o desejo de tirar a vida de um cônjuge ou alguém que lhe feriu muito. Este não é o caso do relato bíblico, mas são situações que encontramos em nosso tempo e serviço diaconal. 14


Também é preciso ter claro que, assim como no texto, pode acontecer que apesar de toda nossa boa vontade, nossa companhia, nosso comprometimento, há pessoas que querem seguir seu próprio caminho, pessoas que não estão abertas para experimentar algo novo, que não querem comprometer-se com aquilo que abrir os olhos significa. Estas também nós entregamos a Deus. Há algo mais que chama atenção no texto: a sabedoria de confiar na capacidade da pessoa em continuar caminhando sozinha. A exemplo do “desaparecer” de Cristo, chega uma hora que também precisamos seguir outros caminhos. Isto é difícil, pois gostamos quando alguém depende de nós. Isso nos torna importantes. Este sentimento, mesmo que bastante humano e normal, precisa ser constantemente identificado e combatido no trabalho diaconal. Dia das Mães O que é ser mãe se não um caminhar ao lado de pessoas que nascem, se descobrem gente e aos poucos vão escapando da nossa mão? Ser mãe é assumir a tarefa de permitir que uma nova pessoa viva, cresça, descubra suas habilidades, suas fraquezas. Ser mãe é acompanhar e também saber “desaparecer” para que os filhos e filhas aprendam a viver e assumir responsabilidades. Ser mãe não é ser a “Rainha do Lar”, nem a heroína que tudo suporta, tudo resolve, tudo doa. Mãe não é aquela dos comerciais de TV, sempre sorrindo, sempre linda e arrumada. Mãe é gente. Gente que cansa, que sofre, que perde a paciência. Gente que precisa de alguém que assuma com ela, de igual para igual, as tarefas da casa e os cuidados com as crianças. No dia dedicado às mães é importante não cair no sentimentalismo barato e que diminui a mãe como mulher e pessoa. Ser mãe é, com certeza, algo maravilhoso na vida das mulheres que escolheram ser mães e quiseram ser mães. Mas ser mãe não é tudo. A maioria das mulheres continua tendo sonhos que vão além do trocar fraldas e cozinhar. A maioria das mulheres deseja ter um grupo de companheiras com as quais possa conversar, trocar ideias e trocar experiências. É preciso lembrar também que nem todas as mulheres conseguem ser mães, querem ser mães ou tem a possibilidade de ser mães. Mas isso não as diminui como pessoas nem como testemunhas de Cristo. Lembrá-las nesse dia também é tarefa diaconal. Entrelaçando datas, temas e histórias de vida O que diaconia tem a ver com o dia das mães? Tem tudo a ver. Ser mãe é um trabalho diaconal. Acompanhar nossos filhos e filhas no seu processo de conhecimento e reconhecimento do mundo não é tarefa fácil. Nosso impulso é sempre dizer o que tem que ser feito, como devem agir e também como e em que acreditar. 15


É difícil caminhar ao lado. É difícil ouvir as dores e queixas sem julgar ou repreender. Afinal, somos pessoas mais vividas e não queremos que sofram. No texto que estamos estudando Jesus nos ensina algo chave: Jesus não tirou as pessoas de sua dor, não fez promessas nem pediu que pensassem no lado bom da coisa. Jesus também não empurrou a responsabilidade para Deus como tanto ouvimos em casos de tragédias: foi Deus que quis assim. Jesus ouviu, relembrou as escrituras, mas não repreendeu as pessoas por seus sentimentos. Por outro lado, Jesus não fugiu de sua responsabilidade. Jesus recontou a história de Deus com seu povo, e quando nada mais lhe restava, partiu o pão, na esperança de que ali o reconhecessem. Para nós mães, isso também é um lembrete e ensinamento. Não basta somente apontar todos os erros ou relembrar sempre de novo atitudes irresponsáveis. Mais do que isso, importa repartir momentos importantes: refeições conjuntas, cheiro de pão fresco na casa. Para nós, da geração cujas mães trabalhavam somente em casa, há alguns cheiros que nos remetem de volta à infância, à cozinha da mãe: pão de milho, massa caseira, bolacha de mel, café fresquinho. Esses cheiros e comidas não precisam de legendas, nem lembretes, falam por si só e nos remetem a lembranças boas. Hoje, com mães e pais assumindo duplas e triplas jornadas de trabalho, as possibilidades de preparar uma refeição em família são mais raras, mas não impossíveis. Neste dia também há um chamado a todas e todos nós: ainda temos escolhas. Podemos caminhar sozinhas e sozinhos ou permitir que outras pessoas caminhem conosco. Podemos convidar pessoas a partilhar nossa vida, com suas dores e alegrias, ou podemos fechar a porta. Podemos repartir o pão, ouvir as histórias dos nossos filhos e filhas, dos nossos irmãos e irmãs, nossas mães e pais, vizinhos e vizinhas, companheiras e companheiros, ou podemos comer nosso pão na solidão. Podemos experimentar a presença de Cristo no meio de nós ou empurrá-lo para longe. Nós temos escolhas. Nem sempre são fáceis. Mas não são impossíveis. Pastora Ms. Marcia Blasi São Leopoldo-RS Bibliografia DREHER, Carlos A. A caminho de Emaús: Leitura Bíblica e Educação Popular. Belo Horizonte: CEBI, 1993, (A Palavra na Vida 71-72). WEIMER, Tânia Cristina. Auxílio Homilético Lucas 24.13-41. Proclamar Libertação 32, São Leopoldo: EST/Sinodal, 2007, p. 137-143.Diaconisa Ruthild Brakemeier

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Fundamentação bíblica e prática sobre Diaconia

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uem está diante do Cristo está ao lado do irmão.” Este é o pensamento que o teólogo Wilhelm Brandt persegue com toda a ênfase em sua dissertação sobre o serviço de Jesus e suas conseqüências para o cristão. Ele afirma que os discípulos de Jesus estão inseridos em dois relacionamentos inseparáveis: estão voltados para o Senhor que veio para servir (Mc 10.45) e, em decorrência, são chamados a posicionar-se também em serviço ao lado dos seus semelhantes Aspectos práticos Antes de entrar com mais detalhes na reflexão bíblica, consideremos 1 alguns aspectos práticos a partir de uma pequena estória. Quatro irmãos brincam perto de um açude. De repente, o mais novo cai na água. Ele está em perigo de se afogar. Os irmãos conseguem salvá-lo. Ao chegarem em casa, o pai pergunta ao filho mais velho: “O que você fez para salvá-lo?” O menino diz: “Eu me deitei no barranco, espichei-me o quanto pude e assim consegui puxá-lo para fora.” O pai perguntou ao segundo filho: “O que você fez?” Ele respondeu: “Eu segurei meu irmão quando se deitou no barranco.” “E você, o que fez?” perguntou o pai ao terceiro. Este disse: “Eu gritei!” Conclusões desta estória para situações do nosso dia-a-dia, que exigem ações diaconais: 1. Os irmãos perceberam que um deles tinha caído no açude. Em meio às brincadeiras, não tinham perdido de vista o irmão. No mundo em que vivemos, as muitas atividades podem nos absorver ao ponto de não percebermos o sofrimento de pessoas ao nosso lado. 1

Hermann SCHOENAUER, Predigt beim 115. Jahresfest (Auszüge), in: Blätter aus dem DIAK, Evangelisches Diakoniewerk Schwäbisch Hall e.V. Ausgabe 2, 98. Jahrgang, 2001, p.5


2. Os irmãos reagiram, fazendo o que lhes foi possível, para socorrer o irmão. Não ficaram olhando para ver se, talvez, pudesse sair sozinho. 3. Cada qual fez a sua parte. Diaconia é, muitas vezes, trabalho de equipe. O irmão mais velho representa as pessoas que agem espontaneamente e lutam na linha de frente. Estão diretamente envolvidas com quem precisa de ajuda: em instituições, projetos diaconais, junto a membros da família ou vizinhos. O segundo irmão representa as pessoas que fortalecem outros que estão na linha de frente. Elas oram em favor das ações, fazem doações, formam redes de apoio e atuam na prevenção dos males. O terceiro irmão representa as pessoas que levantam a voz em favor de quem está na iminência de 'se afogar'. Elas apontam para deficiências no convívio humano, apresentam propostas de mudança, chamam à atenção para a importância do socorro, conclamam pessoas para ajudar e dirigem as ações. Os três meninos da estória agiram de diferentes maneiras, mas a motivação 2 foi a mesma: o amor ao seu irmão. Desta motivação tratará o texto a seguir. A diaconia de Jesus Quando Jesus anunciou: “Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus” (Mc 1.15) ele se referia a uma nova realidade, prestes a chegar. Este reino é comparado a uma festa de casamento (Mt 22 e 25), mas também ao retorno de um filho perdido à casa paterna (Lc 15) ou a grandes valores que vale adquirir. Brandt diz: “Nos traços que constituem o conteúdo do senhorio de Deus espelha-se a natureza do próprio Deus. (...) Sua determinação é salvar, socorrer, resgatar e estabelecer comunhão3.” O reino de Deus se manifestou em Jesus Cristo. Ele não falava nem agia por conta própria, mas em obediência completa a Deus. É por isso que podemos reconhecer nas palavras e ações de Jesus a vontade de Deus (cf Jo 14.10). O agir de Jesus é fortemente movido pela compaixão. Jesus se compadeceu das multidões (Mt 9.36), dos famintos, cegos, doentes, excluídos, angustiados, fracos, pecadores. Vemos em Jesus o Deus da misericórdia, já testemunhado no Antigo Testamento (Cf: Is.54.7; Sl 103). Esta compaixão de Deus provém do seu grande amor, que culminou no sacrifício do seu próprio Filho em favor da humanidade pecadora. 2 3

A argumentação bíblica a seguir, está baseada no artigo de Wilhelm Brandt, citado acima. Op. cit. p. 12.

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As ações curativas de Jesus mostram que ele levava bem a sério a aflição corporal das pessoas. Não se constata nenhuma divisão do ser humano em corpo e alma, concepção influenciada pelo filósofo Platão e amplamente aceita pela teologia mais tarde. No entanto, o que também importa destacar na diaconia de Jesus é sua postura de Servo. “Jesus foi Rei, integralmente voltado para Deus, mas 4 também o Servo, integralmente voltado para o semelhante .” Ele usou a palavra “diaconein” no sentido de “servir à mesa”, deixando claro que ele quem serve (Lc 22.27). A diaconia de quem crê em Jesus Quando Jesus vocacionou os doze discípulos, falou-lhes do seu propósito: fazê-los “pescadores de homens” (Mt 4.19; Mc 1.17; 3.14; Lc 5.10). Seguir a Jesus significava, portanto, assumir a incumbência de um serviço. Para Pedro isto ficou muito claro no diálogo com Jesus, o ressurreto: “Tu me amas?” Então “pastoreia as minhas ovelhas.” (Jo 21.15 ss). Brandt explica: Dessa maneira, a vida e atuação dos discípulos são inseridas em dois relacionamentos. (...) O fato de serem chamados para estar com Jesus também implica imediatamente que eles precisam se empenhar em prol das pessoas. (...) Esses dois relacionamentos estão lado a lado de forma 5 inseparável. O que valeu para os Doze, também vale para todos que se aproximam do Senhor, para viverem de sua graça e misericórdia. O parâmetro para a sentença do Filho do homem, quando vier para julgar as nações (Mt 25.31 ss) é a ação de amor praticada ou negada “aos pequeninos irmãos de Jesus”. Também aqui, como em muitos outros textos dos evangelhos e das cartas do Novo Testamento, se percebe esta conexão inseparável do estar diante do Senhor e, ao mesmo tempo, ao lado do semelhante, em atitude de amor e solidariedade. Diaconisa Ms. Ruthild Brakemeier São Leopoldo-RS

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Op. cit. p. 23. Op. cit. p. 29.

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Diaconia e superação da violência doméstica

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omos filhos e filhas de Deus, que é pai e mãe! Assim somos todos e todas nós!

Mas como estamos vivendo a dádiva da vida na Criação de Deus? Que amor e cuidado dispensamos à sua Criação, e, sobretudo, àqueles e àquelas que vivem junto de nós, em nossas casas, em nossas vidas? Neste ano de 2011, enquanto Igreja, testemunhamos a Paz na Criação de Deus. Uma Criação que está sendo exigida para além de sua capacidade de prover, e por isso sofre e adoece. E assim em dor e sofrimento vivem também muitas mulheres, homens, crianças e jovens. Que busquemos a paz para nós mesmos, para as pessoas que amamos, para que em conjunto possamos assumir o compromisso de cuidar da Criação de Deus! Vivemos um tempo de outros modelos e estilos de vida e isto inclui os próprios modelos familiares. Os encontros e desencontros que a vida nos reserva, somados às mudanças que os tempos pós-modernos nos entregam, fazem surgir novos modelos de relações e de famílias. O modelo pai-mãe-filhos-filhas transmuta para modelos diversos como pai, filhos e filhas, mãe, filhos e filhas, pai-novo companheiro, filhas e filhos, mãe- nova companheira, filhas e filhos, enfim, muitas são variáveis. Nestes novos contextos importam a alegria e o respeito ao se viver junto. Com isso afirmamos que a razão para a violência que permeia nossa sociedade, nossas famílias, nossas escolas não está na mudança de modelos familiares. A razão para a violência está em nós, filhos e filhas de Deus. Na nossa intolerância às contrariedades, nas nossas histórias de vida, nos nossos jeitos de ser e estar no mundo. Para superarmos a violência que permeia nossa sociedade precisamos nos dedicar a erradicar a violência que permeia nossos cotidianos familiares.


Violência na Criação! A violência doméstica é assim chamada por sua ocorrência se dar no ambiente do lar envolvendo não só pais-mães-filhos-filhas, mas também outros membros, sem função parental, que convivem no espaço doméstico. Trata-se da violência que ocorre quando uma criança se vê fragilizada diante da agressão sexual, física, psicológica e da negligência praticada por quem deveria lhe cuidar e educar. Trata-se da violência sofrida pela mulher quando agredida por seu esposo, companheiro, namorado. No âmbito da violência infanto-juvenil o dado mais alarmante dá conta de que a maior parte dos casos de violência contra crianças e adolescentes são praticados justamente pelos pais ou companheiros/as dos pais. Pesquisa desenvolvida pelo Departamento de Psicologia da Universidade de São Paulo evidencia que o número de casos de violência contra crianças é maior do que os dados estatísticos divulgados pelos órgãos oficiais e que diferentemente do que se costuma pensar a violência está presente em todas as classes sociais. O estudo revela ainda que as cidades pequenas são as que apresentam os índices mais altos de casos de violência infantojuvenil. Mesmo quando não são vítimas diretas da violência, as crianças se vêem envolvidas em situação de extremo sofrimento. Relatório de 2006 das Nações Unidas estima que de 133 a 275 milhões de crianças em todo o mundo testemunham violência doméstica anualmente, e que a freqüente exposição de crianças a violência em seus lares, geralmente brigas entre pais ou entre uma mãe e seu parceiro, pode afetar severamente o bemestar e o desenvolvimento pessoal de uma criança e sua interação social na infância e na fase adulta. Além disso, a violência entre parceiros íntimos também aumenta o risco de ocorrerem atos de violência contra crianças na família. Claudia Guerra, professora universitária, ao compilar dados sobre a violência familiar nos apresenta a seguinte situação: Ÿo número de mulheres vítimas de violência doméstica e sexual, no Planeta Terra, é maior do que o número de vítimas em todos os conflitos armados; Ÿa violência doméstica é a maior causa de ferimentos femininos em todo o mundo e a principal causa de morte de mulheres entre 14 e 44 anos; Ÿo risco de uma mulher ser agredida em sua própria casa pelo pai de seus 22


filhos, ex-marido ou atual companheiro é nove vezes maior que sofrer algum ataque violento na rua ou no local de trabalho; Ÿde 10% a 34% das mulheres do mundo já foram agredidas por seus parceiros; Ÿ30% das primeiras experiências sexuais das mulheres são forçadas; Ÿ52% das mulheres são alvo de assédio sexual. No Brasil, uma mulher é espancada a cada 15 segundos, sendo que a crença de que a violência é temporária e conseqüência de uma fase difícil impede que denúncias sejam feitas. Em muitos contextos as mulheres também deixam de denunciar por receio de possíveis dificuldades econômicas na ausência do companheiro, por vergonha, por pena do agressor, pela assim chamada dependência emocional do agressor, por falta de apoio, por receio de ficar sozinha, por sentimento de culpa, por descrença no sistema que deve atendê-la e protegê-la, por medo de vir a ser condenada pela comunidade onde convive. Muitas mulheres ainda deixam de delatar a violência por desconhecimento de seus direitos ou pela inexistência dos aparelhos do Estado que devem, de acordo com a Lei Maria Penha (Lei Federal n°11.340 de 07/08/2006), ser colocados em funcionamento: programas de proteção, delegacias especializadas, abrigos, entre outros. Diaconia no contexto da superação da violência – a história da Nem Tão Doce Lar Dar-nos conta desta situação de violência familiar e contribuirmos para sua superação é uma das missões que Deus nos coloca para que consigamos cuidar de sua Criação. Quantos e quantas de nós já ouvimos histórias de violência envolvendo membros de nossas famílias, de nossos amigos e amigas, colegas, vizinhos? Quantos de nós conseguimos agir? Quantos de nós soubemos a quem recorrer? Kjell Nordstokke, pastor e teólogo norueguês que atuou no Brasil, afirma que a ação diaconal envolve uma intervenção consciente para transformar uma situação de sofrimento ou injustiça e que esta intervenção, por sua vez, implica no desenvolvimento e aplicação de métodos que possibilitem a transformação intencionada. Neste sentido, a Fundação Luterana de Diaconia - FLD acolheu, em 2006, a oferta feita por Pão para o Mundo para trazer ao Brasil a intervenção Rua das Rosas. Esta intervenção foi montada em parceria com a IECLB e demais parceiros na assembleia do Conselho Mundial de Igrejas, realizado em 23


Porto Alegre em fevereiro de 2006. Em seguida, e graças ao trabalho e engajamento de organismos luteranos, ecumênicos e da sociedade civil, esta intervenção foi abrasileirada passando a se chamar Nem Tão Doce Lar. Ao levar para comunidades, escolas, eventos, uma exposição que consiste na reprodução de uma casa, com seus móveis e utensílios, e na aplicação de objetos usados em episódios agressivos e violentos somados a pequenos cartazes com dados e histórias sobre a violência, a FLD contribui para que mais e mais homens e mulheres se abram para o necessário debate, reconhecimento e busca por superar a violência. A intenção é que após visitar a casa, consigamos nos sentir acolhidos/as para o diálogo, tanto para compartilhar nossas histórias, como para ouvir, mas, sobretudo, para nos informarmos sobre as leis de proteção, sobre os serviços que devem ser disponibilizados pelo poder público e pelas possibilidades de superação que são de responsabilidade de todos nós. Para que assim, em nossas comunidades, consigamos contribuir para o surgimento de elos entre os diferentes organismos que lidam com as questões da violência, contribuindo para a formação de uma rede de proteção, e também para que possamos defender e promover direitos para todos os filhos e filhas de Deus. E assim como a Nem Tão Doce Lar, há muitas iniciativas diaconais no âmbito da IECLB que são desenvolvidas no sentido de cuidar de quem sofre violência. No entanto, diante de um quadro ainda não completamente revelado, em que pese o fato de que grande parte da violência fica presa sob a lei do silêncio, é preciso que, enquanto comunidade cristã, aprofundemos nossa diaconia a serviço da Paz na Criação. Através do exemplo de Jesus que ensinava, pregava e curava percorrendo povoados e cidades (Mt 9.35-38), somos convidados a ver e agir. Somos chamados a viver a dimensão comunitária de nossa fé, no sentido de proteger e cuidar, mas também de denunciar a violência e anunciar, junto com leis e informações, as palavras de conforto e entendimento que encontramos no Evangelho. Por Jesus somos chamados a acolher e a sermos comunidades cristãs terapêuticas. Como Igreja de Cristo também nos é pertinente e urgente a reflexão, discussão e engajamento no enfrentamento das questões que envolvem a violência. Mas não é necessário fazermos tudo, de forma isolada. Podemos buscar por espaços de atendimento já ofertados para que assim, após 24


acolhermos em nossos braços aqueles que anseiam por um espaço de escuta, possamos encaminhá-los para os serviços específicos. Enquanto Igreja importa acolher, ouvir, cuidar de quem sofre, mas também denunciar todas as formas de violência contra a Criação de Deus. Que Deus esteja conosco em nossos esforços pela Paz na Criação! Dinâmica dos nós A comunidade é um espaço de compartilhar, para desfazer os nós que nos amarram e que nos apertam a alma. Mas não é fácil! E talvez a maior dificuldade em se desatar os nós reside justamente no fato de que para fazê-lo é preciso atravessar toda a corda pelo elo, revivendo cada uma das experiências e sensações experimentadas. A dinâmica, a seguir, quer proporcionar um momento de partilha de dores, angústias e libertação de sentimentos que pesam em nossas vidas. E ainda mostrar que a comunidade de fé pode ser um espaço terapêutico, em que prevalece a partilha, o consolo, a denúncia, o cuidado e a restauração de vida. Materiais: ŸPedaços de barbantes de uns 30 cm para cada participante da dinâmica. ŸMúsica meditativa para o momento em que as pessoas estiverem fazendo os nós. ŸAparelho de som ŸLenços de papel ŸImagens que ajudem a suscitar a discussão e a reflexão Orientação Colocar uma música de fundo. O(a) coordenador(a) distribui os pedaços de barbante para cada participante e convida para que faça um nó relativo a cada momento que recorde ter vivido uma situação de violência. É importante que o(a) coordenador(a) ressalte os vários tipos de violência (física, sexual, psicológica, moral e patrimonial). Este momento pode ser feito em silêncio ou em diálogo com a pessoa ao lado. Enquanto as pessoas fazem os seus nós é necessário deixar um tempo para que elas possam pensar em suas vidas. Depois de algum tempo pode-se lançar algumas perguntas que auxiliem a aprofundar a reflexão. A seguir, abre-se espaço para que os(as) participantes que se sentirem à 25


vontade possam começar a desatar alguns nós, ao passo que compartilham sentimentos, lembranças, histórias. Assim, constitui-se um espaço terapêutico, de acolhimento e compartilhamento de dores. Após os relatos, o(a) coordenador(a) realiza a leitura e a reflexão de um texto bíblico que acolha as dores das pessoas, como Isaías 25.8 ou Mateus 11.28-30. Em seguida, o grupo é convidado a pensar como a comunidade pode se envolver na superação da violência e no acolhimento daquelas e daqueles que sofrem. Alguns exemplos: Ÿ Criar espaços na Igreja para falar sobre experiências de violência doméstica. Ÿ Organizar tempos e espaços de oração pelas pessoas vivendo em situação de violência. ŸParticipar/organizar encontros, cursos, eventos sobre o tema. Capacitarse enquanto comunidade! Marilu Menezes Assessora de Projetos da FLD

Jaime José Ruthmann Assistente de projetos da FLD Porto Alegre-RS

Bibliografia NORDSTOKKE, Kjell. Profissionalidade diaconal: a sua razão e lógica. In: BEULKE, Gisela(org.). Diaconia: Um chamado para servir. Sinodal: São Leopoldo, 1997. D'URSO, Luís Flávio Borges de. O tempo passa, a violência contra a mulher persiste. Disponível em http://www.oabsp.org.br/palavra_presidente/2010/140/ Acessado em 08/12/2010. GUERRA, Cláudia. Violência conjugal e intrafamiliar – alguns dados de mundo, Brasil, Minas Gerais e uberlância. Disponível em http://www.cfemea.org.br/pdf/violenciaconjugal_claudiaguerra.pdf Acessado em 03/12/2010. http://diganaoaerotizacaoinfantil.wordpress.com/2007/08/16/violenciacontra-crianca-e-maior-que-estatisticas/ ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Relatório do especialista Paulo Sérgio Pinheiro para o Estudo das Nações Unidas sobre a Violência. Nova Iorque, 2002. Disponível em http://www.unicef.org/brazil/pt/Estudo_PSP_Portugues.pdf Acessado em 08/12/2010. 26


Dependência química: construindo comunidade que acolhem e cuidam

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dependência química é um dos problemas mais complexos na atualidade pela dificuldade de compreensão das causas, de tratamento que sejam eficazes e pelo impacto quase irreversível causado na estrutura familiar e na sociedade. Ninguém inicia o uso de drogas sendo dependente. Mas isso se dá de forma 1 progressiva e, muitas vezes, fatal. Inicia-se o uso de substâncias psicoativas por curiosidade, por revolta, buscar algum tipo de alívio, seja para preocupações, problemas ou por dificuldade de enfrentar as adversidades com as quais precisa lidar. Quando se fala do uso de substâncias psicoativas devemos levar em consideração que cada substância possui propriedades farmacológicas e circunstâncias sociais próprias, e essas particularidades é que vão definir o perfil do dependente químico. Cada usuário irá se identificar com um tipo de droga e seus efeitos, e até mesmo com locais e grupos de uso. O álcool, por exemplo, surge como a solução para muitas dificuldades e resolução de problemas. Ele está intimamente ligado à ideia de relaxar, após um dia cansativo de trabalho. E isso não apenas aparece na mídia, mas é fato em muitas famílias. Em muitas famílias, o álcool é utilizado como principal recurso na mediação de conflitos ou interação social. Quando uma família entende o processo de recuperação dela e de seu dependente ela tende a criar mecanismos para fortalecer suas relações ajudando desta forma o dependente. Para isso a família também necessita de apoio, informação e diálogo. Quando os vínculos sociais e familiares são desfeitos, podem acontecer emoções negativas, causando, muitas vezes, rompimento e esvaziamento de vínculos e, em consequência, a 1

Termo usado para definir drogas as quais engloba todas as substâncias que quando usadas alteram o estado de funcionamento do organismo.


insignificância da própria vida. A família saudável não é isenta de problemas, mas tem potencial para encontrar alternativas na solução de conflitos, conseguindo reduzir os efeitos destrutivos e potencializar seus ganhos. Qualquer pessoa que tenha convivido com um dependente de álcool ou drogas sabe, por experiência própria, como essa convivência é capaz de causar grande sofrimento. E esse convívio atinge uma dimensão tão patológica quanto o dos dependentes químicos. Para tanto, os grupos, sejam terapêuticos, de convívio ou de igrejas são fundamentais, tanto no tratamento dos dependentes em recuperação, quanto no tratamento da família. Muitas vezes a Igreja não se envolve nos problemas relacionados à dependência química. Segundo Evans2 existe uma idéia de que problemas com álcool e com drogas estejam fora e não dentro das comunidades da igreja. A negação é implacável. Para ela a Igreja e seus líderes estão claramente entre os afligidos, quando não entre os dependentes. “Uma das tragédias da Igreja contemporânea é o mito de que, se sua vida está realmente arruinada, é melhor que você se mantenha longe da Igreja, porque ela é para as pessoas “boas”. A infelicidade é que frequentemente os cristãos desenvolvem uma atitude de julgamento em relação às outras pessoas, provocando nelas uma terrível sensação de culpa. A igreja muitas vezes se omite do seu papel acolhedor e não dá a devida importância a sua função de ser terapêutica. Justamente por poder tratar do problema com imparcialidade e sob todos os aspectos, quer dizer, ver o ser humano como um ser integral, amado por Deus é que ela tem grande possibilidade, não apenas de ajudar o dependente, mas também de acolher e orientar a família com o problema da dependência. Só a igreja pode ter aceitação incondicional a partir do exemplo de amor e do evangelho de Jesus Cristo. O amor a Deus e de Deus possibilita o amor ao próximo. Isso deve se refletir na ação diaconal e acolhedora da igreja. Por outro lado, na maioria das vezes, a atuação da igreja frente à questão da dependência química fica limitada pela falta de conhecimento, em todos os sentidos. Conhecimento este sobre os aspectos pertinentes à dependência e sua consequências, seja no indivíduo, seja na sua família. Essa falta de conhecimento se reflete também nos membros, que têm 2

EVANS, Abigail Rian. O Ministério Terapêutico da Igreja: Programas práticos para Ministérios da Saúde. São Paulo: Edições Loyola. 2002. p. 190

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medo de se envolver ou de falar de seu problema, ou mesmo de ajudar outros pelo preconceito que ainda existe. A igreja é em primeira instância, espaço de perdão que possibilita a cura, principalmente das relações, seja familiares e sociais ela deve assumir essa tarefa perante a sociedade oferecendo esse seu dom a serviço do ser humano e do Reino de Deus. É da igreja, da família e da sociedade, a tarefa de colaborar na manutenção da sobriedade, bem como entender a dimensão do problema da dependência química e promover a prevenção proporcionando participação em grupos e um ambiente acolhedor. A dependência química não é um problema isolado, mas um problema social e de saúde pública. Portanto, responsabilidade de todos. Que possamos ser uma igreja diaconal, que cuida, acolhe, partilha e caminha junto, como o fez e nos ensinou o próprio Cristo, conforme podemos ler em Lc 24.13-27. Que possamos aprender a sermos transparentes e acolhedores para sermos capaz de estender a mão para curarmos uns aos outros, e vivermos em comunhão com o nosso Deus. Diácona Ms. Méris Gutjahr Balneário Piçarras - SC

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Antífona do Salmo 116.13 Mário Guilherme Rupf


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Ore pela Diaconia Dia 26 de cada mês é o dia de interceder pela ação diaconal no mundo.

Mensalmente será publicado no portal www.luteranos.com.br um relato de experiência de cuidado e uma proposta litúrgica de intercessão. Faça parte desta corrente de oração!


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