A Liturgia dos nossos
Cultos
2
A Liturgia dos nossos Cultos 1ª edição, Caderno “Expressões Litúrgicas” - Número 4, FEVEREIRO, 2017
Diagramação: Pastor Celio Raul Meier Revisão Gramatical: Gilberto Bachmann
Coordenação: P. Odair Airton Braun
SÍNODO PARANAPANEMA – IECLB Rua Trajano Reis,282, Bairro São Francisco, Curitiba/PR CEP: 80510-220 Telefone: 41-3257-5571 E-mail: sinodo@sinodoparanapanema.com.br
SINODO PARANAPANEMA
–
EXPRESSÕES LITÚRGICAS Nr4
3
Apresentação Mais um número do Expressões Litúrgicas chega a sua mão. Trata-se de uma iniciativa do Sínodo Paranapanema e que visa abordar de modo simples e objetivo aspectos relacionados ao dia a dia da vida comunitária de nossas paróquias e comunidades. Nesta edição se apresenta a compilação de textos publicados no Boletim Informativo Eletrônico do sínodo ao longo do ano de 2016. O tema foi trabalho a partir de textos elaborados pelo Pastor Leandro Luis da Silva e pelo Pastor Luiz Temóteo Schwanz, atuantes na Comunidade da Cruz em Curitiba e Assis /SP respectivamente. A intenção com a elaboração destes textos é deixar o significado de cada momento do ano litúrgico explicado de modo breve e simples, visando facilitar o entendimento por parte dos membros e das comunidades. Por fim, desejamos que por meio destas iniciativas os temas litúrgicos sejam compreendidos e integrados em nosso dia a dia de vida comunitária, para que nos inspirem, orientem e animem, concretizando o que Lutero afirmou no Hino 155 do HPD na primeira estrofe: Cristãos, alegres jubilai, Felizes, exultando; com fé e com fervor cantai, a Deus glorificando. O que por nós fez o Senhor, por divino excelso amor, custou-lhe a própria vida.
Abençoada caminhada a todos. Curitiba, fevereiro de 2017. P. Odair A. Braun; Pastor Sinodal; Sínodo Paranapanema
SINODO PARANAPANEMA
–
EXPRESSÕES LITÚRGICAS Nr4
4 4.2 – Tempo de Epifania – Deus que se revela em Jesus Cristo! .... 16 4.3 - Quarta-feira de cinzas ........................................................... 17
SUMÁRIO
4.5 – Domingo da Paixão ou Domingo de Ramos (Palmarum) ......18
Sumário .................................................................................................. 4
4.6 – Páscoa: O centro da fé cristã ................................................ 19
1 – O QUE É LITURGIA? .......................................................................... 5
4.7 – Ciclo da Páscoa .................................................................... 20
2 – O QUE ACONTECE NO CULTO? ........................................................ 5
4.8 – Ascensão do Senhor, nossa missão e liturgia ........................21
3 – O CULTO E A LITURGIA PARTE POR PARTE ...................................... 7
4.9 – Pentecostes (1) .................................................................... 22
3.1 - Liturgia de Entrada ...................................................................... 7
4.10 – Pentecostes (2) ...................................................................23
3.2 - Liturgia da Palavra ...................................................................... 8
4.11 - Trindade ...............................................................................23
3.2.1 – A Palavra de Deus é o centro do nosso culto. ....................... 8
4.12 – Tempo comum ....................................................................25
3.2.2 – Confissão de Fé e a Oração Geral da Igreja / Oração de Intercessão...................................................................................... 9
5 – LUTERANISMO E LITURGIA ....................................................... 26
3.3 - Santa Ceia ................................................................................. 10 3.3.1 – A Santa Ceia é instituição de Jesus Cristo, é a ceia do Senhor. .......................................................................................................11 3.3.2 – A Ceia é a comunhão dos que creem em Cristo. ..................11 3.3.3 – A Santa Ceia do Senhor é oferta do perdão. ........................11 3.3.4 - Ofertas em dinheiro .............................................................11 3.3.5 – Oração Eucarística ............................................................. 12 3.3.6 – Anamnese, Epiclese, Mementos, Doxologia .......................13 3.3.7 – Elementos finais da Liturgia Eucarística. .............................13 3.4 - Liturgia de saída ........................................................................ 14 4 – CALENDÁRIO LITÚRGICO: ............................................................. 16 4.1 – Advento .................................................................................... 16
SINODO PARANAPANEMA
–
EXPRESSÕES LITÚRGICAS Nr4
5 1 – O QUE É LITURGIA?
2 – O QUE ACONTECE NO CULTO?
Atos 2.42-43a “E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações, em cada alma havia temor...”
Em primeiro lugar no culto é Deus quem nos serve com sua Palavra (Pregação) e Sacramentos (Batismo e Santa Ceia). Na Etimologia da palavra “culto”, em Alemão, podemos observar isto com mais precisão com o termo “Gottesdienst”, ou seja, serviço de Deus para nós.
Para pensarmos em Liturgia é preciso pensar no Culto. “ Culto é o encontro da comunidade com Deus”. A Liturgia é o modo como este encontro se dá! Ou seja, é o conjunto de elementos e formas através das quais se realiza o encontro com Deus na comunidade.
Deus nos serve em uma comunhão de pessoas, num encontro de vidas que pulsam com suas alegrias e suas dores:
“Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles” Mt 18.20.
Não podemos nos esquecer de que é Deus que nos serve em Culto, por isso a importância da liturgia que busca compreender, envolver e fortalecer os laços de comunhão entre as pessoas e Deus. É ela, a liturgia, que fortalece a adoração (louvor), a oração, a comunhão da Palavra, a intercessão e a bênção.
Isto sinaliza a comunidade reunida em nome de Deus que é por excelência sinal da presença de Deus entre nós. É ali no meio das pessoas que Deus as está servindo.
Liturgia são elementos usados para propiciar e intensificar nossa relação com Deus, com o Sagrado! É a forma harmoniosa e estética do culto. É ferramenta para nossa intimidade e comunhão com Deus e os irmãos e irmãs no culto. Ela não deve ser engessada ou rígida, mas deve ser organizada e sensível à ação do Espírito Santo de Deus que dirige a igreja e a comunhão cristã.
O culto também tem um caráter anamnético (que reativa a memória). Nele se dá a recapitulação da história da salvação. Na medida em que atualizamos o passado, antecipamos o futuro e glorificamos o presente. Ou seja, não meramente ritualizamos mas rememoramos e reatualizamos a história da Salvação.
A liturgia é uma forma de celebração e para tanto precisa ser moldada a cada culto ou evento de cunho religioso.
Ao mesmo tempo em que nos lembramos dos fatos da história de Deus com seu povo, como Páscoa, Natal, Pentecostes, estes eventos acontecem de forma ritualizada e real em nossos cultos por causa da presença de Deus em nosso meio. O mesmo acontece na Ceia do Senhor que possui sua memória (anamnese), “Fazei-o em memória de mim” (1 Co 11.24c-25c) e também se dá a presença real do Cristo para nós sob o pão e o fruto da videira.
Todas as igrejas fazem sua liturgia. Porém nem todas estudam a melhor forma de realizá-la. A liturgia deve ter um início, meio e fim, seguindo uma lógica de acordo com a temática do culto que será realizado. Não podemos esquecer que Liturgia é vida celebrativa de Deus com o Seu povo e do povo para com o Seu Deus: “Tudo, porém, seja feito com decência e ordem”. (1ª Coríntios 14.40). SINODO PARANAPANEMA
Em resumo, celebramos o culto porque Deus se coloca à disposição –
EXPRESSÕES LITÚRGICAS Nr4
6 para encontrar-se com a comunidade reunida, no meio dela (Mt.18.20); e celebramos o culto porque ele é memória a ser reatualizada através de ritos; porque Deus quer que sua comunidade se encontre com Ele (1 Co 11. 24-25).
SINODO PARANAPANEMA
–
EXPRESSÕES LITÚRGICAS Nr4
7 serenidade de um culto a Deus. Usa-se o versículo lema da semana, ou outro se o culto for temático. É momento ideal para saudar pessoas visitantes e para dizer o que acontecerá no culto.
3 – O CULTO E A LITURGIA PARTE POR PARTE É muito importante destacar que o culto é uma ferramenta para a ação de Deus, pois é Ele que vem nos servir em culto. Assim, ministros e ministras, comunidade reunida, se torna um todo na proclamação do evangelho, na diaconia e no consolo às pessoas em necessidades. O culto é um tempo para a meditação na Palavra de Deus, mas também para a ação em direção ao outro e a outra.
3.1.3 – Saudação apostólica ou trinitária: é imprescindível e mais formal. Informa que este culto não é realizado em nosso nome, mas sim no nome do trino Deus, Pai criador, filho salvador e Espírito Santo consolador. A comunidade pode também usar de saudações apostólicas que encontramos na Palavra de Deus, especialmente nas cartas do apóstolo Paulo. 3.1.4 – Confissão de Pecados e Absolvição/Anúncio da Graça: A comunidade cristã reconhece-se como falha e pecadora. O pecado é algo intrínseco à nossa condição de seres humanos. Por isso, a cada culto luterano é feita a confissão de pecados, momento no qual tomamos consciência de que somos falhos, que erramos e que somos pecadores.
A Liturgia está dividida em quatro partes: 1. Liturgia de Entrada, 2. Liturgia da Palavra, 3. Liturgia da Ceia do Senhor ou Eucarística, e 4. Liturgia de Saída.
Na confissão de pecados, também dizemos o quanto somos dependentes de Deus. Esta confissão é postura humilde. Não podemos separar a absolvição da confissão:
Por isso vamos passar o culto parte por parte.
3.1 - Liturgia de Entrada
• A absolvição é a graça de Deus anunciada e proclamada para os que sinceramente se arrependem. • A absolvição é proclamada após a confissão com palavras de graça e perdão ou versículos bíblicos.
A Liturgia de Entrada diz sobre a atmosfera que o culto vai se dar. É uma forma de introduzir o tema do culto, bem como esclarecer em nome de quem e com que objetivo a comunidade se reúne. A abertura do culto deve despertar nas pessoas uma expectativa e uma disposição conjunta para celebrar. Para isso alguns elementos são importantes:
3.1.5 – Kyrie Eleison: Kyrie Eleison é uma expressão grega que significa “Senhor tem compaixão / misericórdia”, fundamentado nas Sagradas Escrituras em Marcos 10.47 e Mateus 20.31, quando Jesus cura os cegos que clamam por compaixão.
3.1.1 – Prelúdio ou sinos: ao mesmo tempo que chama e congrega a comunidade, é também um momento para meditar e colocar-se na presença de Deus. Pode ser através de música instrumental de órgão, piano ou violão. O sino traz uma função comunicativa, pois anuncia que o culto se aproxima ou se inicia.
Neste sentido a comunidade cristã não se fecha em si mesma. Em seus cultos clama pelas dores do mundo e pelas pessoas que sofrem. A oração do Kyrie pode ser cantada. Se formulada, ela segue uma estrutura clássica que é orar pela criação inteira, pelas famílias e pelo
3.1.2 – Acolhida: sua função é despertar nas pessoas a vontade de estar em culto. Pode ser mais informal, porém não deixa de ser parte da SINODO PARANAPANEMA
–
EXPRESSÕES LITÚRGICAS Nr4
8 testemunho do povo de Deus ou por outro motivo que exija clamor. Importante não confundir esta oração como extensão de confissão de pecados ou como oração geral da Igreja.
Salmo 37.5 A pregação da palavra de Deus é central em nosso culto e merece toda nossa atenção. Ela é um dos núcleos mais importantes para a nossa celebração. No livro de Culto da nossa IECLB lemos: “A pregação da Palavra (que pode ser multiforme) é imprescindível no culto da comunidade; é elemento central do culto luterano. ” (Livro de Culto da IECLB, pág. I.43).
3.1.6 – Glória in Excelsis: No culto Deus está no meio da comunidade, através da Palavra e dos Sacramentos. Essa presença é reconhecida com alegria e fé fervorosas. E isso se traduz em expressão de louvor a Deus e glorificação do seu nome. A comunidade dispõe aqui de um momento especial para expressar o louvor.
Três elementos são imprescindíveis na Liturgia da Palavra que são: • As Leituras bíblicas, • A pregação da Palavra de Deus e • A oração de Intercessão.
Como em Lucas 2.14 os anjos cantaram aos pastores “Glória a Deus nas maiores alturas e paz na terra entre as pessoas a quem Ele quer bem”, assim, nós também o fazemos em nossos cultos para a honra e a glória de Deus. Esta parte tem breve formulação conforme tema do culto e depois canta se um hino doxológico!
Porém há outros elementos úteis para que os elementos centrais sejam enriquecidos e entendidos pelas pessoas em culto a Deus.
3.1.7 – Oração da coleta / Oração do dia: Esta oração assume a função de recolher o que a comunidade expressou até esse momento do culto. E recolhe ainda elementos que estão por vir na celebração do dia (enlutados, confirmação, batismo). Nela agradecemos pelo dia, mencionamos o escopo (a mensagem central da prédica do dia), e isto é apresentado para Deus, com o pedido de que sua Palavra ilumine e oriente nesse contexto.
É importante lembrar que a IECLB segue o Lecionário Ecumênico. Este lecionário fornece uma ordem de leituras bíblicas previstas para cada domingo ou dia festivo. “São essas leituras, principalmente a leitura do Evangelho, que vai marcar o próprio de cada domingo ou dia festivo dentro do ano eclesiástico. ” (Série Colmeia, fascículo 02, p. 23). Há, porém, liberdade para que cada comunidade, especialmente cada pregador ou pregadora, que queira usar outros textos para momentos específicos ou temas que se acham necessários para o desenvolvimento e a missão das nossas comunidades, mas deveriam ser exceções.
3.2 - Liturgia da Palavra Chegamos ao ponto central no nosso conhecimento do que é e para que serve a Liturgia. Chegamos na Liturgia da Palavra.
Normalmente são utilizadas três leituras sendo: • Uma do antigo testamento (AT), • Uma das epístolas (EP), • E um dos evangelhos (EV).
3.2.1 – A Palavra de Deus é o centro do nosso culto. É pela Palavra que somos animados e animadas, desafiados e desafiadas, consolados e consoladas por nosso Deus. Já dizia o Salmista “Lâmpada para os meus pés é a tua Palavra e luz para os meus caminhos...” SINODO PARANAPANEMA
É muito bonito e pedagógico quando são solicitadas pessoas da –
EXPRESSÕES LITÚRGICAS Nr4
9 comunidade para fazerem as leituras dos textos. Cada vez mais vemos pessoas deixando de levar as suas próprias bíblias aos cultos e tendo uma grande dificuldade de encontrar textos bíblicos quando em necessidade. Nada contra o fato de termos bíblias disponíveis em nossas comunidades, mas elas deveriam ser usadas por visitantes. Deveríamos encorajar nossos membros a trazerem e usarem as suas próprias bíblias em culto.
• Salvação e • Santificação. Nesta oração a comunidade confessa publicamente sua fé ao mundo. O momento de confissão de fé, após a prédica, pode ser feita de variadas formas: • Podemos cantá-la (por ex. HPD 88, Nós cremos todos num só Deus), • Podemos usar confissões de fé contemporâneas (Confissão de fé Jovem, etc.).
A interpretação, a mensagem, normalmente se dá em forma de prédica. Esta deve se orientar pelo culto como um todo. Ou seja, o culto desde o seu início está preparando as pessoas para ouvirem esta mensagem e responderem em testemunho de vida a partir dela. Esta interpretação dos textos como um todo ou somente o evangelho é imprescindível para um culto na IECLB.
“Antes, santificai a Cristo, como Senhor em vosso coração, estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós” 1 Pedro 3.15
A forma como se expressa esta interpretação pode ser criativa. Pode ser em forma de diálogo, ou com o auxílio de um teatro, ou jogral, ou através de testemunhos, porém sempre é bom usar o bom senso para que não se perca a essência que é a pregação clara do evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo.
Oração Geral da Igreja ou Oração de Intercessão: Nesta oração são colocados motivos cotidianos da comunidade diante de Deus. Geralmente primeiro vêm os agradecimentos por diversos motivos: nascimento de uma criança, pelo casamento e bênção matrimonial, pela colheita, pelo emprego, pela recuperação da saúde, etc.
3.2.2 – Confissão de Fé e a Oração Geral da Igreja / Oração de Intercessão Destacamos agora dois pontos que compõem a Liturgia da Palavra, a saber: • Confissão de Fé e • Oração Geral da Igreja ou Oração de Intercessão.
Na mesma oração também são lembradas as intercessões que são colocadas em frases curtas e intercaladas com um canto ou não. Podem ser lidos nomes e motivos que previamente estão descritos em um caderno ou mesmo colocados de forma espontânea pela comunidade.
A Confissão de Fé: Esta oração é feita em resposta à palavra lida e pregada. Nela lembramos a história de fé de Deus com seu povo, desde a Criação até aos nossos dias. Isto, conforme os três artigos explicados por Lutero de forma trinitária:
No Kyrie Eleison, na liturgia de entrada as dores do mundo são apresentadas, enquanto que na Oração Geral da Igreja, após ouvir a
• Criação, SINODO PARANAPANEMA
–
EXPRESSÕES LITÚRGICAS Nr4
10 Palavra de Deus, a comunidade pede de forma bem clara para que Deus aja, venha, faça, transforme, carregue e motive.
propósito poimênico de ajudar as pessoas enlutadas a trabalharem seu luto. A ênfase dada na mensagem é a esperança cristã na ressurreição.
A Oração Geral da Igreja também possui uma estrutura clássica: 1. interceder e orar pelos governantes civis, 2. pelo clero (lideranças religiosas) e
3.3 - Santa Ceia
3. pelas pessoas em necessidades: enfermos, enlutados, pelas viúvas e pelos órfãos.
Iniciamos uma parte importante da nossa liturgia, que é a Santa Ceia do Senhor. A Santa Ceia é um dos sacramentos da Igreja Luterana e tem um significado especial para todas as pessoas batizadas em o nome do Senhor Jesus.
“Antes de tudo, pois exorto-vos que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de graças, em favor de todas as pessoas, em favor de reis e de todos os que se acham investidos de autoridade, para que vivamos vida tranquila e mansa, com toda piedade e respeito” 1 Timóteo 2. 1-2
Todos nós deveríamos fazer uma reflexão sincera sobre o significado da Santa Ceia para nossa vida. Ela é uma oportunidade de estarmos em intimidade com o Senhor Jesus. É também uma ação terapêutica pois, sendo alimentados na fé, somos também animados e animadas a viver o sacerdócio geral de todos os crentes sendo fortalecidos e fortalecidas para enfrentar as dificuldades do dia-a-dia de nossas vidas.
Observações: 1. Cabe destacar que em nossas majoritariamente o Credo Apostólico.
celebrações
usamos A Santa Ceia do Senhor é um ato de proximidade com Deus e com irmãos e irmãs na fé.
2. Convém considerar que, na sua origem, na Igreja cristã primitiva, a confissão de fé para o culto dominical é o Credo NicenoConstantinopolitano, enquanto o Credo Apostólico é próprio para os cultos de Batismo[1].
Os Evangelhos de Mateus (26.26ss), Marcos (14.22ss) e Lucas (22.14ss) narram a instituição da Ceia pelo senhor Jesus. Também o apóstolo Paulo fala sobre esta instituição e explica o seu significado em 1ª Coríntios 11.23ss. Lendo com atenção estes textos podemos tirar algumas conclusões muito importantes. Destaca-se alguns aspectos:
3. No caso de Oração memorial, esta vem após a confissão de fé e avisos. É o momento em que as pessoas enlutadas recebem o abraço expresso de Deus e da Comunidade. Neste momento cantase um hino alusivo ao tema luto, morte e ressurreição, leem-se os dados biográficos da pessoa falecida e dirige-se, à luz das Sagradas Escrituras, uma palavra especificamente aos familiares. Com o SINODO PARANAPANEMA
–
EXPRESSÕES LITÚRGICAS Nr4
11 3.3.1 – A Santa Ceia é instituição de Jesus Cristo, é a ceia do Senhor.
perdão dos pecados, vida e salvação. Pois onde há perdão dos pecados, também há vida e salvação” (Catecismo Menor).
Lutero nos lembra que isso é o mais importante. Sabermos que a Ceia é uma ordenança dada aos seus discípulos e discípulas pelo próprio Jesus Cristo. Ela não é invenção humana, não foi criada pela Igreja, mas foi instituída pelo próprio Filho de Deus. Olhando os textos dos evangelhos fica claro que é Jesus quem toma a iniciativa para esta celebração. Enquanto ele come a ceia da Páscoa com os discípulos, Jesus institui a Santa Ceia.
Por isso ninguém precisa sentir-se puro e sem pecado para participar da ceia. Pelo contrário, a ceia existe para cristãos que sentem seu pecado e sua culpa, que confessam a necessidade de um encontro com Cristo. Que precisam do perdão e do consolo que vem de Deus. A Santa Ceia do Senhor é dada aos que nada têm, mas reconhecem que são indignos diante do Senhor (Mt 8.8). É muito importante participar da Ceia do Senhor. Ela é uma pregação viva do que Jesus Cristo fez por nós. Morreu na cruz para nos salvar. A ceia do Senhor é a ceia da memória, da lembrança, dessa ação de Deus através de Cristo. Participar da ceia significa anunciar a sua morte e proclamar a esperança de sua volta (1 Co 11.26).
Jesus age: toma o pão, abençoa, reparte, dá-o aos discípulos. Jesus é quem pega o cálice, dá graças e entrega-o aos discípulos. Jesus fala: Isto é o meu corpo. Isto é o sangue da nova aliança. Comam e bebam em memória de mim. Também o apóstolo Paulo lembra que a Santa Ceia foi instituída, ordenada pelo próprio Cristo. 3.3.2 – A Ceia é a comunhão dos que creem em Cristo. A Santa Ceia do Senhor é uma ação de Cristo em nosso favor e não o contrário. Na Ceia Cristo está presente. Ele se encontra com os seus e se dá novamente por nós. Ele vem ao nosso encontro e nos serve! O cálice é a comunhão do sangue de Cristo; o pão é a comunhão de Seu corpo. Na Santa Ceia temos, pois, comunhão com o próprio Cristo. Esta comunhão não é criada por nós mesmos, pelo nosso culto, pela beleza de nossa celebração. Esta comunhão nos é dada porque tem sua base e sua origem na morte e na ressurreição de Cristo.
3.3.4 - Ofertas em dinheiro As ofertas em dinheiro são uma das respostas mais concretas que a comunidade cristã pode testemunhar. As ofertas traduzem a gratidão da comunidade a Deus, seu compromisso e sua solidariedade com pessoas que estão em necessidade (2 Co 8.9). As ofertas, recolhidas e levadas ao altar, no momento do ofertório têm o seu significado especial, de que estamos dando um pouco para Deus, do muito que Ele nos tem dado. Por isso, é importante que o recolhimento das ofertas seja dentro do momento do culto. Não é interessante recolher as ofertas no fim do culto com um gazofilácio parado à porta da igreja. Nas celebrações eucarísticas, o gesto de levar o pão, o fruto da videira e as ofertas em dinheiro ao altar denotam a nossa gratidão e doação. Isto, em resposta ao Deus que se doa verdadeiramente a nós através do seu corpo e sangue no momento da Ceia.
3.3.3 – A Santa Ceia do Senhor é oferta do perdão. Na ceia, Jesus Cristo assume nossos pecados, nossas fraquezas, nossas falhas e omissões e em troca nos dá o seu perdão e a promessa de nova vida. Este é outro aspecto destacado pelo reformador Lutero. Citando as palavras de Cristo: “Dado e derramado em favor de vocês para remissão de pecados”, Lutero diz: “Por estas palavras nos são dados no sacramento, SINODO PARANAPANEMA
–
EXPRESSÕES LITÚRGICAS Nr4
12 3.3.5 – Oração Eucarística
A mesa de nosso Senhor Jesus Cristo é preparada ao levarmos estes elementos no momento do ofertório. Ao lado do pão, fruto da videira e dinheiro, também podem ser levados elementos específicos conforme celebração.
Precisamos sempre lembrar que o centro da Liturgia Eucarística é uma refeição, e a Oração Eucarística é a oração de mesa dessa refeição. (Série Colmeia Fascículo 02, p. 50). Por isso, as palavras da Oração Eucarística são uma oração dirigida a Deus pela Comunidade.
Em dia de ação de graças ou festa da colheita é o momento de ofertarmos produtos da colheita, ou algo pelo que se queira agradecer, como por exemplo, num culto de uma comunidade acadêmica ou Capelania escolar, de os alunos levarem algum trabalho ou teste como agradecimento do semestre.
Normalmente essa oração segue um padrão básico apesar de haverem modelos diversos de oração para isso. Este padrão básico segue o seguinte modelo, registrada na “Tradição Apostólica” de Hipólito:
Todos estes sinais, de levar os elementos da Ceia até ao altar, com outros que sejam expressivos, são gestos de agradecimento como nos diz a Palavra de Deus “Tudo vem de Ti Senhor e do que é Teu, To damos” (1 Crônicas 29.14b).
3.3.5.1 – Diálogo: esta prática vem das formas judaicas de ação de graças. Elas podem variar de acordo com a tradição, porém, ela mantém um conteúdo básico comum em três segmentos, cada qual com uma palavra da pessoa celebrante e uma resposta da Comunidade. O primeiro segmento é uma saudação mútua. O celebrante diz: “O Senhor esteja sempre com vocês! ”; E a Comunidade responde; “E também com você! ”
A Oração do Ofertório é uma ação de graças pelo pão e pelo vinho/suco de uva (fruto da videira), trazidos à mesa. Da mesma forma, esta oração também agradece pelos demais frutos do trabalho humano que serão partilhados com pessoas em necessidade. Através desta oração a comunidade entrega os frutos do seu trabalho nas mãos de Deus, assim, por sua vez as pessoas beneficiadas receberão estas dádivas das mãos de Deus e não de indivíduos ou grupos.
No segundo segmento o celebrante convida a comunidade a “elevar os corações, seus pensamentos a Deus! ”; e a Comunidade confirma que assim o fará. No terceiro segmento o celebrante chega ao centro da questão quando clama a Comunidade a render graças a Deus! E a comunidade responde afirmativamente. Lembra-se que a Eucaristia não está sob o poder do oficiante ou da Comunidade, mas de Deus. Ambos, oficiante e comunidade, dependem da ação de Deus na Eucaristia.
Conforme Livro de Culto da IECLB, página 40, vejamos um exemplo de Oração do ofertório:
“Deus, fonte da vida, o que trazemos, recebemos de ti. Abençoa estas dádivas e derrama sobre nós o espírito da tua inesgotável generosidade, de sorte que sempre estejamos dispostos a repartir o que recebemos com pessoas que necessitam do teu amor. Glória seja a ti, por Jesus Cristo, nosso Senhor. Amém! ”
SINODO PARANAPANEMA
3.3.5.2 – Prefácio ou Ações de Graça: tem a ideia de “proclamação”, uma explosão ou um exagero de gratidão a Deus em louvor a Ele. A Comunidade dá graças pelas grandes obras e maravilhas de Deus em toda a história da salvação e este é o tema central ao dar graças. A comunidade proclama a fé na continuidade da ação de Deus passado, presente e futuro.
–
EXPRESSÕES LITÚRGICAS Nr4
13 3.3.5.3 – Santo, Santo, Santo: ou Sanctus, tem como base a declaração dos serafins em Isaías 6.3 e foi incorporado na traição judaica e posteriormente na comunidade cristã dizendo assim que a comunidade quer saudar o Cristo que está prestes a se tornar presente e a dar-se aos seus na Santa Ceia.
3.3.6.3 - Mementos ou Dípticos: Estas palavras nos fazem lembrar de todas as pessoas que nos antecederam na morte. Memento significa: trazer à memória, e por isso, esta oração geralmente inicia com “lembra-te”. Na Santa Ceia esta parte da oração tem sua dimensão escatológica / transcendente. Significa que as pessoas falecidas esperam em Deus até o dia da ressurreição, porém, mesmo que falecidas são pessoas batizadas que fazem parte do Corpo de Cristo.
3.3.5.4 – Narrativa da Instituição: tem a função de dar base ao que está acontecendo, ou seja, de rememorar, e recontar o que o próprio Jesus instituiu na sua última ceia com os discípulos antes da Sua morte e ressurreição. Foi nesta narrativa que os discípulos receberam orientação para continuar esta prática “em memória de mim! ”; disse Jesus. Mostra que não fazemos por nossa própria vontade, mas em cumprimento a uma ordem de Jesus. Por isso a autoridade da celebração Eucarística vem do próprio Deus em Cristo Jesus.
Os mementos têm também sua função poimênica / de cuidado, especialmente para com pessoas enlutadas. Nesta parte da oração, a Ceia é celebrada com todas as pessoas que já partiram e que viveram unidas a Cristo (João 15). Ao mesmo tempo, testifica a esperança cristã na ressurreição.
Temos mais alguns elementos que fazem parte da Oração Eucarística, a saber:
Neste sentido, na oração eucarística quando se faz uso dos mementos, expressamos a convicção cristã de que “nem morte, nem vida...nada poderá nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus” Romanos 8.38-39.
3.3.6.1 - Anamnese: é uma palavra de origem grega que significa recordação. A Anamnese nos lembra do ato salvífico da ação de Deus em Jesus Cristo pela sua morte, ressurreição e ascensão. Por isso, esta oração nos faz lembrar momentos da vida e do ministério de Jesus Cristo e esta vem antes das Palavras da Instituição da Ceia do Senhor.
3.3.6.4 - Doxologia: É uma formula de louvor e glorificação que tem por objetivo render glórias a Deus. Ela fica ao final da Oração Eucarística como a entonação de um grande hino de louvor pelos feitos de Deus por nós na história da fé e também no momento da comunhão real com Cristo e com os irmãos e irmãs.
3.3.6 – Anamnese, Epiclese, Mementos, Doxologia
3.3.6.2 - Epiclese: significa invocar o Espírito de Deus. E como luteranos, lembremos que os elementos não são apenas pão e vinho, mas unidos à Palavra de Deus através da ação do Espírito Santo são Sacramento. Isso não acontece pela dignidade da pessoa que pronuncia suas palavras, nem pelos gestos que realiza. Nesta oração pede-se que o próprio Deus, igualmente através da invocação e da ação do Espírito Santo, atue, de sorte que a comunidade seja transformada em um só corpo, que experimenta e irradia comunhão (Epiclese de comunhão), verdadeira pelo verdadeiro sangue e corpo de Cristo. SINODO PARANAPANEMA
3.3.7 – Elementos finais da Liturgia Eucarística. 3.3.7.1 - Pai-Nosso: no culto normal, sem a comunhão da ceia, ela é colocada logo após a oração de intercessão. Aqui ela se encontra vinculada à Liturgia Eucarística por fazer parte da liturgia antiga como expressão da Comunidade, “corpo de pessoas constituídas como filhos e filhas do único e mesmo Deus, que articula o pedido de perdão que conduz à reconciliação; que pede pelo pão diário para todas as pessoas, –
EXPRESSÕES LITÚRGICAS Nr4
14 desafio constante para que a justiça de Deus seja feita, a comunidade ora a oração do Senhor” (livro de culto, II.71).
distribuído em seguida. É um gesto dirigido à comunidade. O cálice também é elevado diante da comunidade. Estes gestos também marcam a ação de Jesus em sua última ceia, quando Ele oferece seu corpo e sangue em favor de nós e de toda a humanidade. As palavras que acompanham esta elevação dos elementos se encontra em 1ª Coríntios 10.16. A comunidade reafirma sua unidade apesar da sua diversidade em 1ª Coríntios 10.17!
Esta oração pode ser feita de mãos dadas fortalecendo a unidade do corpo da Igreja/ comunidade. 3.3.7.2 - Gesto da Paz: acredito que este seja um momento essencial para a comunhão na comunidade de irmãos e irmãs. É o momento propício para aprofundar ou reestabelecer vínculos. É momento apropriado também para manifestar a reconciliação ou, para uma busca pela unidade dentro da comunidade que nem sempre é tão facilmente evidenciada.
3.3.7.4 - Agnus Dei, ou Cordeiro de Deus: este cântico foi incorporado à liturgia por volta do ano 700 d.C. e remonta ao texto de João 1.29. Para Lutero este hino “se presta de modo excelente para o sacramento, porque canta e louva expressamente a Cristo por ter carregado nosso pecado, e com palavras belas e sucintas promove a memória de Cristo de forma vigorosa e muito linda” (Livro de Culto II p. 73).
Sabemos que temos muitas diferenças de jeitos e culturas. O gesto da paz é uma oportunidade para exercitar a unidade, de ser trabalhada de forma terapêutica entre os irmãos e irmãs na fé. A base é o que o próprio Jesus fez, nos reconciliando com Deus por meio da sua morte e ressurreição. No sacrifício de Jesus está o anseio pela paz! Nas bemaventuranças Jesus disse que os “pacificadores” seriam chamados de filhos e filhas de Deus em Mateus 5.9.
3.3.7.5 - Comunhão: Na comunhão a comunidade experimenta o que ela ouviu e expressou. É o Cristo quem convida e nos serve na Ceia. Na distribuição deveria se evitar formas individualizantes. Podemos aproveitar esta oportunidade para estimular atitudes que fortaleçam a comunhão e a intimidade entre os irmãos e irmãs. Cada comunidade encontrará a forma mais adequada nesta partilha de acordo com a cultura de cada região.
O Novo Testamento menciona seguidamente o gesto da paz como a saudação entre as pessoas cristãs, assim como menciona o ósculo santo (beijo na face, como é costume ainda hoje entre povos de cultura oriental). Este gesto também era praticado na esfera profana como em Lucas 7.45. O gesto da Paz era muito recomendado entre os cristãos como em Romanos 16.16, 2ª Coríntios 13.12, 1ª Pedro 5.14.
Aqui a comunidade pode cantar hinos específicos de louvor ou que tratem do assunto da Santa Ceia. 3.3.7.6 - Oração pós-comunhão: esta oração pode ser formulada com o objetivo de agradecer a Deus pela comunhão experimentada e pela fé alimentada por meio da Santa Ceia.
O que nos une, o que faz de nós irmãos e irmãs, apesar de nossas diferenças e possíveis desavenças, é o fato de sermos todos e todas agraciados com o mesmo benefício (Série Colmeia, fascículo 2, p. 71). Um elemento que deveria ser mais trabalhado em nossas comunidades e igreja é o rito da reconciliação como aparece em Mateus 5.23-24 e Tiago 5.16!
3.4 - Liturgia de saída A Liturgia de saída indica que o culto está se encaminhando para o final e ao mesmo tempo, esta, nos prepara e envia para o “culto do dia a dia”, onde a vida das pessoas pulsa, na família, no trabalho e em
3.3.7.3 - Fração: neste momento o pão é partido, para que possa ser SINODO PARANAPANEMA
–
EXPRESSÕES LITÚRGICAS Nr4
15 sociedade. 3.4.1 - AVISOS GERAIS – A liturgia de saída é bem enxuta. Ela começa com os avisos gerais ou comunitários (reuniões, eventos, tarefas, próximas atividades, convites, etc.). Esta parte em tese, não deveria se delongar por demais. 3.4.2 - HINO FINAL – Nesta parte do culto deve-se zelar pela escolha de um hino final adequado que remeta ao cuidado, bênção, despedida e envio. 3.4.3 - BÊNÇÃO – Através da bênção é afiançado para a comunidade para que ela saia e volte animada ao mundo pela confiança na presença de Deus. A bênção se dá de diversas formas no culto: textos bíblicos, bênçãos elaboradas de acordo com o tema do culto, cantadas e acompanhadas por gestos. Abençoada, a Comunidade é enviada e vai: “Ide em paz e servi ao Senhor com alegria”; com coração agradecido: “Demos graças a Deus” para o culto do dia a dia, ou seja, para viver a vida servindo ao Senhor. Podemos dizer que é no envio que começa o culto propriamente dito, lá onde as pessoas estão no dia a dia e servem a Deus em palavras e ações sendo sal e luz neste mundo (Mateus 5.13-16).
SINODO PARANAPANEMA
–
EXPRESSÕES LITÚRGICAS Nr4
16 4 – CALENDÁRIO LITÚRGICO:
4.2 – Tempo de Epifania – Deus que se revela em Jesus Cristo!
4.1 – Advento
A Epifania, cujo termo significa “revelação”, tem como tema dominante a manifestação de Deus em Jesus Cristo.
O ano cristão litúrgico inicia com o Advento, no assim chamado ciclo do natal (Advento, Natal e Epifania).
No calendário da Igreja Antiga os principais momentos da epifania eram: • O nascimento de Jesus, • O Batismo de Jesus, • E o seu primeiro milagre.
Advento é uma palavra que vem do latim Adventus: "chegada", do verbo Advenire: "chegar à". É o primeiro tempo do Ano litúrgico. Paralelamente à Quaresma o Advento surge como tempo de preparação para a vinda do Salvador. Ele tem caráter de penitência, pois lembra que o Filho de Deus veio em pobreza e humildade (e foi morto na cruz para salvar o mundo).
No decorrer do século IV estes temas foram desmembrados com o ciclo do Natal. O ciclo do Natal recebeu um perfil próprio incorporando temas da Epifania. Vale ressaltar que os temas da epifania vão além dos relacionados no ciclo do Natal. Eles querem demonstrar a manifestação de Deus em Jesus através de suas obras, sinais e ensinamentos.
Advento inicia quatro semanas antes do Natal. Enquanto se prepara, a comunidade cristã reflete sobre a vinda do Salvador. É uma época de agradecimento pela dádiva de Deus a nós, em Cristo, e, ao mesmo tempo, é expectativa pelo que há de vir, ou seja, a segunda vinda do Senhor. Simbolicamente nos quatro domingos que antecedem ao Natal, são acesas velas que estão na coroa de Advento. Esta coroa é feita com ramos verdes que expressam a esperança em Cristo e as quatro velas são respectivamente acendidas. Quando acendemos a quarta vela, estamos perto do Natal!
O objetivo então da Epifania é revelar quem é Jesus! Veja João 2.11 Muitas igrejas ainda usam o termo “teofania” para falar deste tempo litúrgico, especialmente em algumas igrejas ortodoxas orientais. Mas o objetivo é semelhante pois quer revelar Deus ao ser humano por meio de Jesus Cristo.
No Advento usamos de praxe a cor Violeta, pois é a cor associada à penitência; de espera; tristeza; e saudade. Sinaliza que algo está por vir. Chama para a meditação e a oração. Também é usada a cor Azul, que é uma cor litúrgica muito antiga. Foi também a cor da diaconia. O azul é uma cor muito próxima ao violeta.
A proposta de termos uma época distinta do Natal para a manifestação de Jesus o mundo é que, segundo Crisóstomo (pai da igreja Antiga), em uma mensagem a sua comunidade de Antioquia, no Natal do ano de 386), foi no seu Batismo que Jesus foi revelado à todas as pessoas, pois até este dia Ele era desconhecido das multidões1.
A tradição de substituir gradativamente o violeta pelo azul no Advento surgiu da reflexão de que o tempo de Advento se caracteriza menos pela penitência e mais pela expectativa. 1
A Epifania torna-se muito importante no calendário litúrgico porque testemunha o “objetivo” da encarnação de Jesus: a
WHITE, James F., em "Introdução ao Culto Cristão". 3ª. Ed. Revisada. P. 48
SINODO PARANAPANEMA
–
EXPRESSÕES LITÚRGICAS Nr4
17 manifestação de Deus em Jesus Cristo iniciando com o seu nascimento e o começo do seu ministério (no batismo onde foi proclamado como “Filho amado” de Deus).
P. DR. Carlos Artur Dreher escreve: “A Igreja assumiu essa tradição. A partir do século VII, já se conhece a Quarta-Feira de Cinzas como o início da Quaresma, o período de jejum que antecede a Páscoa. É tempo de penitência, em preparação à festa da Ressurreição. ”
O tempo da Epifania começa com o Batismo de Jesus, quando sua filiação é declarada e dá-se início ao seu ministério. Os domingos após a epifania continuam com leituras sobre os sinais e ensinamentos pelos quais Jesus torna-se conhecido pelas multidões.
Na Igreja Antiga usava-se a “imposição de cinzas na fronte de todos os cristãos, prática que remonta pelo menos a fins do séc. XI.” 2 Estas cinzas eram usadas dos ramos incinerados do domingo de ramos do ano anterior. O uso das cinzas na Bíblia expressa jejum, penitência, luto, tristeza (1 Sm 4.12; 2 Sm 1.2; Jó 16.15; Mq 1.10, Is 58.5; Jr 6.26).
O tempo da Epifania termina com a Transfiguração de Jesus onde Ele é mais uma vez proclamado de “Filho amado”. (Idem, pág. 55)
Esse elemento natural lembra a fragilidade humana: “somos pó e ao pó voltaremos” (Gn 3.19). Dessa fragilidade também faz parte o pecado; por isso, as cinzas representam o arrependimento, a conversão.
“Cristo, d’alma a luz radiosa, com amor vem afastar esta noite tenebrosa que nos quer fazer tombar. Quando o teu amor nos guia, é segura a nossa via” (HPD nº 39 – Johann Rist)
O uso das cinzas também expressa o caminho para a ressurreição, para a nova vida. Indica começo. “Das cinzas, Deus extrai vida. ” (ALDAZÁBAL).
4.3 - Quarta-feira de cinzas
As cinzas, como elemento litúrgico, são utilizadas, em geral, na celebração do início da Quaresma, na Quarta-Feira de Cinzas, lembrando-nos que o tempo que antecede a Páscoa é, por excelência, um tempo para as pessoas cristãs refletirem sobre a condição humana de pecado e de necessidade da graça de Deus3.
O carnaval, em sua origem sugere um “adeus à carne” (carnis levale). Era um período de jejum sem comer carne na quaresma até o fim deste tempo litúrgico. Depois deste, vem a Quarta-Feira de cinzas, onde iniciase o ciclo da páscoa.
Labor litúrgico atual: Na IECLB, com o resgate litúrgico, nos cultos de Quarta-Feira de Cinzas, as igrejas luteranas têm retomado o uso litúrgico das cinzas. É um recurso de sentido e significado com embasamento teológico e bíblico, não apenas considerando a Igreja Antiga. Portanto, não é mérito desta ou daquela igreja, mas tem seus fundamentos na Palavra de Deus e é re-significada para os nossos dias
Este dia, como é conhecido se dá pela lembrança de que “do pó viemos e ao pó tornaremos” (Gn 3.19b). Cinzas, neste contexto, significam a transitoriedade humana e a purificação penitencial. No Antigo Testamento as cinzas eram sinal de arrependimento e penitência (Jn 3.5-8; Jó 1.20; 2.8). 2 3
WHITE, James F., em "Introdução ao Culto Cristão". 3ª. Ed. Revisada. p. 38. Fonte: A Linguagem dos Símbolos no Culto Cristão. IN: LUTERANOS.COM.BR
SINODO PARANAPANEMA
–
EXPRESSÕES LITÚRGICAS Nr4
18 para sinalizar o início de um novo ciclo de fé, o ciclo pascal que começa com a quaresma.
A cor usada neste período é a roxa, que simboliza a seriedade e disposição para o arrependimento (H. Baungart). É comum em algumas comunidades não cantar o “Aleluia” neste tempo, pois Aleluia é um canto de louvor e a igreja deixa de entoar este cântico neste período para cantar a plenos pulmões na Páscoa, pois a celebração pascal é a vitória de Deus sobre a morte. É o canto da reconciliação de Deus com os seres humanos. Assim o Aleluia ganha sentido e força litúrgica.
4.4 – Quaresma A Palavra “quaresma” deriva do latim “quadragésima” representando assim 40 dias que antecedem a Páscoa. É o período litúrgico que prepara o indivíduo para a celebração maior da fé cristã que é a Páscoa, ressurreição do Senhor Jesus! Tem a duração de 40 dias sem contar os domingos e inicia-se na Quarta-Feira de Cinzas (assunto abordado no boletim anterior) e, termina na Quinta-Feira Santa, que celebra a última ceia de Jesus com seus discípulos e abre as celebrações do Tríduo Pascal.
As origens da celebração da Quaresma remontam tempos antigos de preparação de catecúmenos ao Batismo e a prática de penitências nos primeiros séculos. Mas já no século IV temos a nomeação deste tempo como “quarentena penitencial”. Além disso, nos séculos II e III já costumava-se fazer alguns dias de jejum como forma de preparação para a Páscoa.
O número 40 na Bíblia tem grande força simbólica, pois indica um tempo de caminhada, de purificação, preparação e renovação espiritual, como por exemplo: 1. Os 40 anos que o povo de Deus peregrinou no deserto assim como os 40 dias que Moisés passou no Monte Sinai (Ex 24.18) 2. A duração do dilúvio também representou 40 dias e noites conforme Gênesis 7.12 3. Os 40 dias e noites em que Elias, profeta, foi sustentado por Deus com o pão no Monte Horebe, para prepará-lo em seu ministério, conforme 1 Reis 19.8. 4. Os 40 dias em que o profeta Jonas pregou “arrependimento” aos moradores de Nínive, conforme Jonas 3 e 4 5. A experiência do próprio Jesus que passou 40 dias no deserto sendo tentado a fim de ser preparado para seu ministério, conforme os relatos dos evangelhos Mateus 4.1-11, Marcos 1.12-13, Lucas 4.1-13.
O tempo de Quaresma é uma oportunidade de renovação e perdão! Tempo de avaliar nossas consciências e aprofundar nossas relações com Deus e com nosso próximo. É tempo de ler a Palavra de Deus e em especial os textos que falam do amor de Deus, sofrimentos de Jesus e do compromisso humano com a vinda do Reino de Deus. Ler Lucas 6.36-37 que resume muito bem o tempo quaresmal! Meditar nos sofrimentos de Jesus é a ponte para olharmos os sofrimentos e cruzes do povo de Deus.
4.5 – Domingo da Paixão ou Domingo de Ramos (Palmarum) O Domingo de Ramos é uma festa móvel cristã celebrada no domingo antes da Páscoa, abrindo, assim a Semana Santa. A festa comemora a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, um evento da vida de Jesus mencionado nos quatro evangelhos canônicos (Marcos 11:1ss, Mateus 21:1-11, Lucas 19:28-44 e João 12:12-19).
A quaresma se caracteriza por um tempo de penitencia e exame de consciência, é assim um tempo de reflexão e renovação espirituais. SINODO PARANAPANEMA
A entrada de Jesus em Jerusalém é promessa veterotestamentária –
EXPRESSÕES LITÚRGICAS Nr4
19 que se cumpre na profecia de Zacarias 9.9. Na liturgia, este dia é denominado de "Domingo de Ramos ou Domingo da Paixão do Senhor”.
Para falar de Páscoa devemos voltar às origens.
Em muitas denominações cristãs, o Domingo de Ramos é conhecido pela distribuição de folhas de palmeiras para os fiéis reunidos na igreja. Em lugares onde é difícil consegui-las, por causa do clima, ramos de diversas árvores são utilizados.
Conforme as Sagradas Escrituras, a primeira Páscoa, instituída, encontramos no cap.12 de Êxodo, vinculada até mesmo com as dez pragas do Egito, especialmente a décima (morte dos primogênitos). Cada família, sacrificaria um cordeiro, macho e sem defeito, comeria a sua carne assada. O sangue seria usado para marcar as ombreiras das portas para identificar as famílias do povo de Deus. De forma que quando o Senhor passasse, ele não visitaria as casas marcadas com o sangue. As casas que não estavam marcadas seriam punidas com a morte dos primogênitos (Êx. 12.22-23). Este é um Rito Antropopaico com a finalidade de livrar os seus da morte.
Lembramos que nós, luteranos, usamos ramos de palmeiras ou outras plantas para ornamentar nosso espaço celebrativo. Nós não abençoamos os ramos, estes, porém, querem ser um recurso visual que traz à memória este evento da vida de Cristo, na qual, o Salvador inicia a sua caminhada em Jerusalém, rumo ao calvário, à cruz e à paixão para a consumação do ato salvífico de Deus em Cristo Jesus. Neste domingo geralmente é lido o salmo 118 que nos lembra:
Mais tarde, a imolação do cordeiro, os pães asmos e as ervas amargas foram vinculadas com a libertação dos judeus da Escravidão do Egito, para a Terra Prometida. Em Êx. 12.8 menciona-se que naquela noite, da fuga, comerão carne assada, pães sem fermento e ervas amargas. Os pães sem fermento lembram a pressa da fuga e as ervas a mão opressora do Egito e a amargura da Escravidão. Pessach, significa passagem e no Antigo Testamento denota a passagem da libertação da Escravidão para a liberdade.
a) do messias que vem para redimir e b) o gesto litúrgico de adornar o altar com ramos “26 Bendito o que vem em nome do SENHOR. A vós outros da Casa do SENHOR, nós vos abençoamos. 27 O SENHOR é Deus, ele é a nossa luz; adornai a festa com ramos até às pontas do altar. ” Neste domingo podemos usar a cor roxa que remete à penitência, à expectativa ou a cor vermelha que nos remete ao martírio de Cristo para salvar a humanidade.
Pessach ou Páscoa é uma grande festa judaica. Jesus, o Deus encarnado nesta cultura, quando celebrou a Páscoa dos judeus, instituiu a Santa Ceia como Nova Aliança (Mc 14.22-26). O Evento Salvífico aconteceu quando os judeus celebravam a páscoa. Cristo foi crucificado e ao terceiro dia ressuscitou. Deus, em Jesus Cristo realizou a vitória sobre o mal, o pecado e a morte. Por isso que para nós pessoas cristãs a Páscoa também é pessach (passagem), da morte para a vida, passagem do pecado para a graça em Cristo Jesus mediante a fé (Rm 1.16-17). No evento Salvífico, como luteranos, lembramos da teologia da cruz. Não existe Páscoa sem Sexta-Feira da Paixão, eis o paradoxo da vida cristã entre sofrimento e alegria que cotidianamente vivemos
4.6 – Páscoa: O centro da fé cristã •A vida comunitária é paradoxal! •em uma comunidade cristã batizamos e sepultamos pessoas. •uma vida que chega e outra que se vai, fazem parte da dinâmica dialética da comunidade cristã.
SINODO PARANAPANEMA
–
EXPRESSÕES LITÚRGICAS Nr4
20 no labor comunitário.
• 2.º Domingo da Páscoa - Misericórdia Domini: (significa: misericórdia do Senhor — “a terra está cheia da bondade do Senhor” (SaImo 89.2). Baseado no evangelho do dia (João 10.11-16), o nome “Domingo do Bom Pastor” também é usado neste culto)
O auge da fé cristã não são a prosperidade, as curas, a expulsão de maus espíritos, carismas. Mas, isto sim, a ressurreição. Cristo foi ressuscitado por Deus Pai (Mc.16) O apóstolo Paulo nos exorta “ E, se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã a nossa fé” (1 Co 15.14). Toda a fé cristã culmina na Páscoa cristã. Cristo venceu a morte e para isso, como Lutero nos lembra, não usou ouro nem prata, mas sim seu santo e precioso sangue.
• 3.º Domingo da Páscoa – Jubilate: (jubilai — “aclamai (jubilai) a Deus, toda a terra” (SaImo 66.1). O evangelho desse e dos três domingos seguintes apresenta trechos do “sermão de despedida” como legado de Jesus Cristo o Ressurreto)
A Páscoa como centro da festa cristã tem seu destaque litúrgico. Na madrugada das celebrações do tríduo pascal a celebração pode começar em um cemitério: “Porque procurais entre os mortos, aquele que vive? ” Lucas 24.5. Geralmente neste dia são realizados batismos, rememorações do batismo, celebração da Ceia do Senhor. Que a mensagem da Páscoa, de que Cristo Nosso Senhor ressuscitou, desperte e ressuscite em nós, as esperanças estarrecidas!
• 4.º Domingo da Páscoa – Cantate:(em port.: cantai — “Cantai ao Senhor um cântico novo” (SaImo 98.1). Frequentemente, esse domingo é dedicado à música sacra)
4.7 – Ciclo da Páscoa
Há também neste período que antecede o Pentecostes o evento da Ascensão do Senhor.
• 5.º Domingo da Páscoa – Rogate: (rogai — “Bendito seja Deus, que não me rejeita a oração...” (SaImo 66.20.) • 6.º Domingo da Páscoa – Exaudi: (escuta-me — “Senhor, escuta minha voz” (SaImo 27.7). Inicia a Semana Mundial de Oração pela Unidade da Igreja”, que culmina na celebração de Pentecostes.
Como já vimos anteriormente o Ciclo da Páscoa não termina com o Culto de Páscoa ou Culto da Ressurreição de Jesus. Ele ainda tem a sua caminhada até o Pentecostes. Neste período temos os domingos marcados por nomes que identificam o propósito litúrgico de cada culto, que são:
No início esta celebração era atrelada ao Pentecostes, (1ª Coríntios 15.3-8) mais tarde, a partir do século IV ela foi designada para ser celebrada no quadragésimo dia após a Páscoa conforme Atos 1.3. Pentecostes foi colocado como celebração que conta 50 dias após a Ressurreição de Jesus.
• 1.º Domingo da Páscoa: Quasimodogeniti: (Esta palavra se origina de uma antiga antífona latina: “Quasi modo geniti infantes, Halleluja, rationabile, sine dolo lac concupiscite." (1ª Pedro 2.2) Em Português: "Desejai ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuíno leite espiritual!" Esse domingo nos lembra do novo nascimento que experimentamos pela “água e pelo espírito”. Ou seja, ele nos lembra do começo de uma nova vida em Jesus Cristo, depois do nosso nascimento físico diz o Pastor Renato Luiz Becker) SINODO PARANAPANEMA
No Brasil, a Ascensão do Senhor é o domingo que celebra a subida de Jesus ao céu, quarenta dias após a Sua ressurreição (At 1,1-3). A celebração se dá entre os domingos Rogate e Exaudi. A data certa da solenidade seria na quinta-feira precedente, mas, como no Brasil não é feriado, transferiu-se então tal comemoração para o domingo seguinte, ocupando, pois, tal solenidade o lugar do 7.º Domingo da Páscoa. O texto lembra uma palavra de Jesus em João 12.32 que diz: –
EXPRESSÕES LITÚRGICAS Nr4
21 “... e quando eu for levantado da Terra, atrairei todas as pessoas para mim...”
Samaria, e até os confins da terra” At 1.8b; “’Vai’, disse o Ressuscitado, por último, a Paulo, porque é para os gentios, para longe, que eu quero enviar-te” At 22.21
O tema faz-nos lembrar de um hino de nosso querido Pastor Lindolfo Weingärtner com música do recente falecido Pastor Frank Graf que diz:
Neste sentido, estes textos Bíblicos são lidos ou prega-se sobre eles em cultos, nos quais, lembramos a Ascensão do Senhor Jesus. Relevante para nossa fé é que, enquanto Cristo está à direita do Pai, nós não devemos ficar parados de braços cruzados apenas olhando para o céu. Mas como testemunhas, desde Jerusalém até nossos dias em nossa localidade somos conclamados e conclamadas para uma fé que é ativa no amor (diakonia). A fé recebe, o amor dá; a fé leva a pessoa a Deus, o amor a aproxima das demais (Martinho Lutero).
• creio que dia virá, dia de luz e de glória: morte e inferno serão tragados por tua vitória. • creio que quando acordar, ainda estarei contigo: portanto ao adormecer, em ti Senhor, me abrigo. • enquanto a noite durar, serei tranquilo e confiado: sei que por ânsia e temor jamais eu serei perturbado. • quando meus olhos abrir rompe-se o véu tenebroso: tudo terei, meu Senhor, teu rosto verei, jubiloso!
Em aspectos celebrativos, (leitourgia) em nossos cultos, rememoramos a Parousia, (Segunda vinda de Cristo), que está interligada com a Ascensão. Cristo subiu aos Céus e pouco falamos da sua segunda vinda, de forma sutil quem sabe, lembramos no Advento. Importante, salientar que ritos antigos, lembram que anunciamos a vinda de Cristo, não apenas a primeira, mas também a Segunda. Destacamos, que em nossa Liturgia Eucarística, oficial na IECLB, nos lembra que estamos reunidos e reunidas em comunhão (koinonia), com irmãos e irmãs “até que Ele venha”. Neste sentido, percebemos em cultos e celebrações a sua dimensão escatológica. Enquanto isso, temos que dar o nosso testemunho (martyria), em Palavra e Ação, pois “Varões galileus, por que estais olhando para as alturas? Esse Jesus que dentre vós foi assunto aos céus virá de modo como o vistes subir. ” At.1.11. Entre a Ascensão do Senhor e o Seu Advento, nós somos suas testemunhas, que devem atuar pela fé que é ativa no amor!
4.8 – Ascensão do Senhor, nossa missão e liturgia Ascensão é uma importante data para a Igreja Cristã e nos impulsiona na missão de Deus e em nossas celebrações. Lembramos que nosso Senhor Jesus Cristo ascendeu aos Céus para junto de Deus Pai e de lá intercede por nós (Rm 8.34). Só podemos falar de Ascensão se falamos também de Ressurreição. Após a Páscoa, Cristo apareceu para as mulheres e aos discípulos, inclusive caminha ao lado deles conforme nos relata o Evangelista Lucas (Lucas 24.13ss). O Ressuscitado encarrega sua comunidade discipular (composta por homens e mulheres), para o testemunho concreto, uma missão. A de anunciar o Evangelho e que Cristo (Ele) vive. Também o anúncio começa para que Paulo dê testemunho também aos judeus, como bem podemos observar nas cartas paulinas. Este envio não se limita somente aos judeus, é universal: “Toda a autoridade sobre o céu e a terra me foi dada. Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos” (Mt 28.18b19a); “ Sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e SINODO PARANAPANEMA
–
EXPRESSÕES LITÚRGICAS Nr4
22 Pentecostes é histórica e simbolicamente ligado ao festival judaico da colheita no Antigo Testamento. O termo se torna muito importante para nós, pois Pentecostes celebra para os cristãos a chegada do Espírito Santo, após a ressurreição de Jesus. Podemos afirmar que o Pentecostes é o empoderamento de Deus dado aos discípulos e discípulas para a evangelização e a missão de Deus. Pois a partir do evento de Pentecostes que encontramos no livro de Atos no capítulo 2, os discípulos saem para pregar a Palavra de Deus nas mais diversas línguas e oportunidades. Por esta razão o dia de Pentecostes é, às vezes, considerado o dia do nascimento da igreja. A igreja de Jesus Cristo toma forma no dia de Pentecostes. A Boa-Nova se manifestou na língua Natal de cada povo que estava em Jerusalém por ocasião da Festa da Colheita e chegou até nós.
4.9 – Pentecostes (1) “Pentecostes é como o amor, algo que não se tem nunca. É evento de graça. Aparece quando quer, só nos resta ficar à sua espera.!4
Pentecostes é uma das celebrações mais importantes do calendário cristão, e também o era no calendário judaico, e especialmente da igreja. É a celebração que marca a descida do Espírito Santo sobre os discípulos, e por que não mencionar discípulas de Jesus. O Pentecostes é celebrado 50 dias depois do domingo de Páscoa.
No dia de Pentecostes e em todos os dias a partir deste evento especial, o Espírito Santo comunica à Igreja de Jesus Cristo que todos somos bem-vindos e que ninguém precisa deixar seu povo, sua língua, sua cultura para ser inserido e aceito no corpo de Cristo. O Espírito Santo revelou que não há discriminação e diferenciação entre os membros do Corpo de Cristo que é a Igreja.
O dia de Pentecostes ocorre no sétimo dia depois do dia da Ascensão de Jesus. Isto porque ele ficou quarenta dias após a ressurreição dando os últimos ensinamentos a seus discípulos, somando aos três dias em que ficou na sepultura somam quarenta e três dias, para os cinquenta dias que se completam da Páscoa até o último dia da grande festa de Pentecostes, sobram sete dias; e foram estes os dias em que os discípulos permaneceram no cenáculo até a descida do Espírito Santo no dia de Pentecostes.
Pentecostes é o poder de Deus que move a igreja para o serviço de amor e solidariedade. O Espírito Santo nos santifica e nos conduz a Deus!
A Festa de Pentecostes já existia antes de Jesus. As razões deste novo nome são várias: nos últimos trezentos anos do período do Antigo Testamento, os gregos assumiram o controle do mundo, impondo sua língua, e sua cultura, que se tornou muito popular entre os judeus. Os nomes hebraicos perderam as suas atualidades e foram substituídos por nomes gregos, assim a o nome Pentecostes, cujo significado é cinquenta dias depois (da Páscoa) foi ganhando popularidade.
4
Pentecostes é a Festa da alegria!5
5
Rubem Alves, Série Culto Arte
SINODO PARANAPANEMA
–
Pa Luceny Laurett, Boa Vista – RR
EXPRESSÕES LITÚRGICAS Nr4
23 Cristã. Pentecostes acontece em resposta à promessa de Jesus de que nunca estaríamos sós (“e eis que estou convosco até o fim dos tempos” Mt. 28. 20b, e “Não vos deixarei órfãos, voltarei para vós outros”. Jo 14.18.
“Santo Espírito, Santo Espírito, desce sobre nós. Santo Espírito, Santo Espírito, não nos deixes a sós.
É importante entender aspectos do batismo cristão no contexto de Pentecostes. No batismo de Jesus, quando João o Batista diz que ele batizará em água e virá outro que batizará no Espírito Santo, refere-se ao evento de Pentecostes com o derramamento do Espírito Santo (Mc 1.8, At 1.5). Isto traz consequências teológicas para nosso jeito de ser Igreja hoje e entendermos que nosso batismo acontece de forma plena: Palavra de Deus, unida ao elemento água e recebimento do Espírito Santo!
Temos leis e tradições, discutimos mil questões, programamos mil ações. Mas se agimos sem amor, nossa fé não tem vigor, somos mornos, sem ardor.
Frio é nosso coração, fria é nossa comunhão, não amamos nosso irmão. Teu Espírito, Jesus, venha a ser a nossa luz, bússola que nos conduz, A levar paz ao irmão, a partir com ele o pão e viver o teu perdão, A buscar justiça e amor, a seguir com fé e ardor em teu reino, ó Salvador. ”6
No calendário litúrgico cristão, o Pentecostes também é celebrado e rememorado 50 dias após a ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo. Costumamos denominá-la de o início da Igreja cristã, pois é amparada pelo Espírito Santo que nos reúne, santifica e congrega. Nesta época usa-se a cor litúrgica vermelha que é festiva e lembra “as línguas como que de fogo”. Pentecostes é festa! É Igreja viva e que pulsa com a diversidade de dons concedidos pelo Espírito Santo desde o primeiro Pentecostes, quando todas e todos estavam reunidas e reunidos em Jerusalém até os nossos dias.
4.10 – Pentecostes (2) Originalmente é uma festa dos israelitas comemorada cinquenta dias depois da Páscoa (pessach), no dia 6 de Sivã. No Antigo Testamento conhecida como Pentecostes (Lv 23.16), Festa das semanas (Dt. 16 9-12), Festa das primícias (Nm 28.26) e da Sega (Êx 23.16).
4.11 - Trindade
Conforme o relato nas Sagradas Escrituras em Atos dos Apóstolos capítulo 2, no dia de Pentecostes, o Espírito Santo de Deus é derramado sobre os que estavam reunidos em Jerusalém. Com o envio do Espírito Santo de Deus houve fenômenos de xenoglossia e glossolalia, onde pessoas de diferentes países e localidades compreendiam a mensagem de pentecostes, que hoje, nós consideramos o “aniversário” da Igreja 6
Objetos e analogias nos ajudam nesta reflexão: • MAÇÃ • VELA ACESA • ÁGUA
Lindolfo Weingärtner
SINODO PARANAPANEMA
–
EXPRESSÕES LITÚRGICAS Nr4
24 MAÇÃ
A primeira vez que aparece o termo Trinitas, é com Tertuliano, o qual também o cunhou.
A maçã, por exemplo, quando cortada ao meio não deixa de ser uma maçã. Do ponto de vista da biologia nós temos e podemos visualizar isto. Em uma maçã cortada temos o epicarpo (casca) mesocarpo (polpa da maçã) e o endocarpo (parte central com as sementes). Aqui nós temos uma maçã, mas que podemos visualizar de três formas distintas. Temos a casca, a polpa (a carne da fruta) e as sementes, que formam uma maçã.
Outras informações interessantes acerca da Trindade: • Una persona, sed, tres personae: Uma pessoa, são três pessoas. O Pai, O Filho e o Espírito Santo. Que são da mesma essência (Homoousius), que são da mesma ousia (de uma só substância). Mas o que isto significa para nós, para nossa realidade? Deus, sendo um, se manifesta de três formas diferentes. UM que são três. A trindade é uma verdadeira comunhão.
VELA ACESA Outro símbolo, que nos ajuda a “ilustrar” a Trindade, é a vela acesa. A base e a sustentação da vela, nos remete ao Deus Criador e mantenedor da vida e de toda a Criação. O pavio ou torcida, quando a vela está acesa vai queimando, vai se doando. Ele nos remete a Jesus Cristo que se doou e se doa por nós a cada dia pela sua misericordiosa graça. Temos ainda a chama, por isso usamos, para ilustrar a vela acesa. A chama nos lembra o Espírito Santo de Deus, o consolador e vivificador, que nos reúne e congrega! Que consola os corações enlutados e entristecidos. Aqui temos uma vela, mas que tem “três manifestações”. Algo único, mas que é três.
O próprio Deus não é uma ilha, não está isolado. Mas é um DeusComunhão! Deus é Comunhão e não solidão. Segundo Leonardo Boff, não devemos entender a trindade como três coisas diferentes e no sentido de somatória matemática 1 mais 1 mais 1 igual a 3. Mas a trindade deve ser entendida no sentido das relações humanas. Como Santo Agostinho ensina, cada pessoa é única e por isso não deveria se falar em três pessoas da trindade. Únicos não se somam, porque não são números. Se nós dissermos um, em termos de número, não há como parar, segue o dois, o três, o quatro, etc. Por isso na trindade não falamos num sentido de matemática de somar ou subtrair, ou até hierárquico. Mas quando falamos da trindade, falamos de relações interpessoais. Nossas relações não se somam, elas se entrelaçam se incluem, e assim constituem uma unidade. Assim, pai, mãe, filhos, avós, primos formam uma família. 7” .
ÁGUA Outro símbolo que temos e que pode ser usado como metáfora comparada ao trino Deus, é a água. A água é um elemento da natureza, que possui estados diferentes: Líquido, sólido e gasoso. Podemos, inclusive, encontrá-la na natureza em diferentes estados de forma simultânea. É um elemento que tem três manifestações.
Neste sentido, a trindade tem implicações nas relações humanas. A trindade tem implicações bíblico-teológicas. Nas sagradas escrituras de forma clara e também com finalidades litúrgicas encontramos a
7
BOFF, Leonardo, in: No princípio está a comunhão dos Três e não a solidão do Uno, 22/10/2012 - https://leonardoboff.wordpress.com/2012/10/22/no-principio-esta-acomunhao-dos-tres-e-nao-a-solidao-do-uno/
SINODO PARANAPANEMA
–
EXPRESSÕES LITÚRGICAS Nr4
25 fórmula Trinitária em Mateus 28.19 vinculado ao Sacramento do batismo e em 2 Coríntios 13.13 como formulação cúltica e de bênção.
o dia-a-dia das comunidades cristãs como tempo de salvação, segundo o que o próprio Jesus nos diz: ”Estarei com vocês todos os dias” (Mateus 28.20).
Curiosidade:
Deus se revela a nós nos acontecimentos do dia-a-dia, nas nossas vivências e cansaços, na convivência com outras pessoas, no trabalho... Deus está conosco sempre e assim prova Sua fidelidade e cuidado para cada um e cada uma de nós. Por isso também nós buscamos, no cotidiano da vida, o mistério do Senhor acontecendo entre experiências de morte e ressurreição.
O antigo manual de cores litúrgicas traz para o domingo da trindade a cor VERDE, predominante no tempo Comum. Hoje, com o resgate litúrgico, renovação e atualização traz a cor BRANCA. Isto porque em todas as festas de Cristo (Natal, Páscoa e Cristo Rei), é a cor branca, e como Cristo está contemplado na Santíssima Trindade, mudou-se da cor verde para a cor Branca no domingo da trindade.
A vida cotidiana é lida à luz das experiências vividas por Jesus. Nesse longo período do ano litúrgico, buscamos trazer a experiência da vida na ressurreição para cada semana. A partir da vida de Jesus Cristo, aprendemos dele, o que significa e implica ser discípulo e discípula. Com as mensagens aprendemos o que significa caminhar como verdadeiros seguidores e seguidoras, como povo que coloca n’Ele suas esperanças, seus medos, seus anseios, suas lutas e vitórias.
4.12 – Tempo comum Ao longo do ano, pessoas, famílias e grupos de comunidade vivem momentos especiais marcados por acontecimentos importantes na vida. Mas essas mesmas pessoas também vivem do cotidiano, do trabalho diário em casa ou fora dela. Nos domingos e festas nossos alimentos são especiais, mas também no dia-a-dia do arroz e feijão também se vive – e isso na maior parte do ano.
Somos convidados e convidadas a cada domingo a aderir profundamente ao seu seguimento, com suas implicações para a diaconia, o acolhimento e a mudança de comportamento.
Algo semelhante acontece com o Ano Litúrgico sendo 34 ou 33 semanas do ano que são em torno de 52 duas constituem o Tempo Comum.
O Tempo Comum poderia ser denominado como um apelo à santidade e à prática da fé e do discipulado cristão!
O Tempo Comum ocupa a maior parte do nosso calendário litúrgico. O fato de ser denominado “Tempo Comum” não significa que seja menos importante ou uma rotina sem experiências novas.
Cada domingo é uma visita de Deus para nos renovar, para libertar o seu povo, para nos unir mais a Ele e entre nós. A cor litúrgica é o Verde, cor da esperança!
Na experiência das primeiras comunidades existia apenas a sucessão de domingos e semanas, ao longo do ano, tendo o domingo como dia maior, que congregava os irmãos e irmãs em torno da Palavra e da Ceia. Quando, mais tarde, foram organizados o ciclo da Páscoa e o do Natal, foi para celebrar com mais intensidade, num tempo determinado, o que já fazia parte do cotidiano das comunidades. O Tempo Comum nos reconcilia com o normal e nos ajuda a descobrir SINODO PARANAPANEMA
–
EXPRESSÕES LITÚRGICAS Nr4
26 faziam parte do movimento iconoclasta, e por isso apenas o Púlpito era espaço valorizado. Enquanto que para Lutero, no espaço litúrgico permaneceram as imagens, vitrais, vestes litúrgicas e símbolos como cruz, velas e flores. “Imagens, sinos, estola, decorações da igreja, altar, velas e coisas semelhantes considero livres... pois não sou partidário dos iconoclastas”8.
5 – LUTERANISMO E LITURGIA Estamos comemorando 499 anos da Reforma Protestante! “Ecclesia Reformata et semper Reformanda est” – Igreja reformada i. é., A Igreja está em constante reforma! Como Igreja de Jesus Cristo e herdeira da reforma do séc. XVI, passamos por mudanças, porém, que permanecem fiéis às Escrituras.
Hoje na IECLB temos diferentes formas de celebrar e moldar a liturgia, sendo que seu cerne permanece ileso: O Evangelho!
Mudanças na liturgia ou ordem de culto aconteceram ao longo da História da Igreja, buscando sempre ser o mais fidedigno possível ao princípio Somente a Escritura.
Somos uma Igreja litúrgica e que nos últimos anos com o resgate de muitos elementos trancafiados no baú da história são trazidos à tona no espírito de estar em constante reforma! Isto, dependendo de como a moldamos e fazemos uso dela em seu conjunto e em sintonia com a Palavra!
Desde as antigas tradições e orientações de formas de culto, podemos ver que há muita dinamicidade. O Culto cristão é composto de duas partes principais:
Que possamos, com o resgate litúrgico, colaborar para com a missão de Deus. Ainda hoje celebramos cultos da Palavra e buscamos seguir e resgatar a unidade de que todo culto seja eucarístico, resgatando a unidade bíblica das celebrações dos primeiros cristãos (1 CO 11.17ss.)
• A Palavra e a • Santa Ceia! Em muitos casos celebra-se apenas culto da Palavra. Segundo Kirst, “As origens deste desvio devem ser buscadas num passado muito distante. Por volta do ano 800 d. C., na região da atual Alemanha, passou a ser dar um valor grande à pregação. ”[1] Com a Ascensão da Reforma o Culto Cristão foi ficando cada vez mais “enxuto”. Lutero e Calvino não adotaram o culto da pregação como culto regular, mas mantiveram o culto completo com a Liturgia da Palavra (pregação) e da Liturgia Eucarística (Comunhão).
A cor litúrgica da Reforma é o Vermelho.
O reformador suíço Zwínglio, foi quem introduziu e expandiu o culto da Palavra em forma de culto principal. A partir de lá, influenciada pelo humanismo, esta prática veio instalar-se em muitas tradições cristãs após a Reforma até os dias de hoje. Devemos lembrar que Zwínglio e outros 8
KIRST, Nelson. A liturgia toda: parte por parte. Série Colmeia, fascículo 2, p. 36. [2] LUTERO, Martinho. Obras Selecionadas: Debates e controvérsias, II. Lv 4. 1993, p.374.
SINODO PARANAPANEMA
–
EXPRESSÕES LITÚRGICAS Nr4