Dia Nacional da Diaconia 19 de abril de 2015 SubSídioS para culto e reflexão
1- Proposta de Liturgia LITURGIA DE ABERTURA Ambiente Recortar em folhas de papel pardo ou jornal formatos de pés de diversos tamanhos. Escrever neles palavras que retratem a situação do casal de discípulos de Emaús: luto, medo, tristeza, dor, frustração, dúvida, escuridão etc. Espalhar esses recortes ao longo da entrada do templo, no corredor central, no lado direito, com os pés direcionados para o altar, indicando a chegada; no lado esquerdo do corredor, espalhar recortes de pés, direcionados para fora, indicando a saída, com outras palavras: consolo, proximidade, alegria, sentido, clareza, serviço, amor, ouvir, estar junto, comunhão etc. Acolhida A boa ACOLHIDA faz parte de um culto. Considerando a temática deste culto, seja dada atenção especial a este momento. Sugestões: que as crianças sejam convidadas para permanecerem, durante todo o culto, junto à comunidade reunida; que as pessoas com dificuldade auditiva sejam convidadas para sentar nos primeiros bancos; que as pessoas visitantes sejam apresentadas e saudadas; que as pessoas com deficiência visual possam compreender o espaço litúrgico com a descrição dos elementos presentes na celebração, a exemplo: recortes de papel em formato de pés espalhados no corredor (acrescente outras formas de acolhida). L
Assim como todos os anos, hoje celebramos o Dia Nacional da Diaconia. O que significa a palavra Diaconia? É um termo que vem do grego e quer dizer serviço, e que pode ser entendido como cuidado. Este nome é, em primeiro lugar, associado a Jesus, aquele que serve e cuida! Ser cristão, ser cristã, é ser diácono, diácona, ou seja, é ser como um Cristo para a outra pessoa. Este é o assunto que hoje queremos meditar, à luz do texto bíblico que acompanha o Tema do Ano da nossa igreja. Vamos recordar? O tema é: Igreja da Palavra: Chamad@s a comunicar; e o lema é: “Então, Jesus perguntou: sobre o que vocês estão conversando pelo caminho?”.
Saudação L A graça de nosso Senhor, Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito sejam com vocês. C
E também com você!
Confissão de pecados L Conforme o calendário litúrgico, estamos vivendo o tempo pascal. Há poucos dias celebramos o Domingo da Páscoa, a ressurreição de Jesus. Na vida da comunidade cristã, o testemunho da 1
ressurreição foi e é fundamental para o sustento da fé e o fortalecimento da igreja. Como diz o apóstolo Paulo, se não cremos na ressurreição, é vã a nossa fé. Mesmo vivendo nessa fé, muitas vezes, vacilamos, entramos em crise, duvidamos da presença de Deus ao nosso lado e também fraquejamos no serviço de amor e cuidado. Por isso, confessemos a Deus os nossos pecados: L
Quando o caminho se torna longo e pesado; quando a escuridão preenche a nossa vida; quando nossos olhos mal enxergam à nossa volta; quando a tristeza toma conta do nosso ser; quando nossos sonhos fracassam, perguntamos: Onde estás, ó Deus? Por que não nos responde? Ó Deus, assim, muitas vezes, nos sentimos. Por isso, confessamos: diante das dificuldades, te culpamos de ausência; por nossas próprias forças e convicções não conseguimos enxergar a tua presença ao nosso lado, nossa fé é cheia de dúvidas. Tem compaixão de nós, perdoa-nos e dá-nos corações fortalecidos e uma vida cheia do Espírito Santo que renova e vivifica. Amém.
Canto: Ouve, Senhor, eu estou clamando (HPD 341). Kyrie L Como no caminho de Emaús, em nossos caminhos vemos pessoas tristes; Como no caminho de Emaús, em nossos caminhos vemos pessoas enlutadas; Como no caminho de Emaús, em nossos caminhos vemos pessoas com medo; Como no caminho de Emaús, em nossos caminhos vemos pessoas sem esperança; Pelas pessoas que encontramos sofrendo nos caminhos desta vida, clamemos a Deus por sua misericórdia. Canto: Pelas dores deste mundo, ó Senhor. Gloria in excelsis L Como no caminho de Emaús, Jesus se aproxima, Jesus caminha junto, Jesus ouve, Jesus orienta e dá sentido à vida. Glória a Deus que enviou o seu Filho a nós! Canto: Glória, glória, glória a Deus nas alturas. Oração do dia L Ó Jesus, nosso Redentor, tu que silenciosamente te aproximas de nós e caminha conosco! Graças te damos, pois, mesmo sem o percebermos, estás ao nosso lado, mexes conosco e fazes nosso coração arder. Te pedimos: Vem a nós, dá-nos a tua Palavra que confere sentido à vida; reparte conosco o pão, o alimento que sustenta o nosso caminhar e nos anima a repartir a vida desinteressadamente, com quem encontramos pelo caminho. Pelo Espírito Santo que nos une a ti, amém.
LITURGIA DA PALAVRA Primeira leitura 2
(livre escolha) Evangelho L Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo, segundo Lucas, no capítulo 24, versículos 13-35. Aleluia! Aleluia Aleluia, aleluia. Leitura do Evangelho L
Palavra do Senhor.
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Demos graças a Deus!
Pregação (Durante a pregação, acompanhadas e orientadas por pessoas adultas, as crianças podem ser convidadas a fazer recortes de uma folha de jornal ou papel pardo do contorno de seus pés, e escrever em cima deles alguma palavra que lhes ocorrer sobre o tema do culto. Para tanto, é preciso providenciar o material adequado). Confissão de fé Recolhimento das ofertas Canto: Parceria no caminhar. Letra: http://www.luteranos.com.br/conteudo/parceria-no-caminhar. Áudio: (http://www.luteranos.com.br/midia/audios/1/parceria-no-caminhar-2/1532). 1. Deus não é um ser indiferente, Ele comunica-se co’a gente, quer saber sempre como estamos nós. Foi assim que procedeu Jesus, quando lá no caminho de Emaús viu caminhantes aflitos e sós. Companhia na solidão, ombro amigo para chorar, forte apoio na aflição, parceria no caminhar. 2. Aconteceu que Jesus se aproximou, com paciência seus lamentos escutou Enquanto ali estavam caminhando. Em respeito à sua dor silenciou. E mais tarde, solidário, perguntou: sobre o que vocês estão conversando? Passos firmes pra aproximar, paciência para ouvir, humildade pra silenciar, gentileza no acolher. 3. O assunto da conversa era Jesus, sua história que culmina lá na cruz, Que deixou o grupo desolado. Mas no gesto de partir o pão. Acontece comunicação pois reconhecem o ressuscitado. Atenção: um outro olhar, fogo ardendo no coração, pão na mesa pra partilhar, muita sede de comunhão. 3
4. Este encontro os constrange a caminhar. Vida nova ao mundo todo anunciar, Eis aí o caminho da missão. A Palavra nos coloca em movimento Assim também, o Santo Sacramento, gerando sempre viDas em comunhão. Vem conosco caminhar, celebrar a comunhão, a igreja edificar, praticar a compaixão. Oração Geral da Igreja (Convidar a comunidade a manifestar seus motivos de oração e inclui-los ao final das petições que seguem) L
A Jesus, o Filho de Deus, que caminha conosco, ouve o que nos preocupa e conhece as nossas angústias, entregamo-nos em oração:
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Olha, Senhor Jesus, para as pessoas que exercem cargos de liderança no nosso Estado, município, país e no mundo. Que seus cargos sejam exercidos com competência, ética e dignidade. Neste dia 19 de abril, lembramos e pedimos pelos povos indígenas, e por todas as pessoas que vivem tempos de aflição por causa dos projetos de demarcação e desapropriação de terras. Ó Jesus, dá que a dignidade humana, conferida por Deus a todas as criaturas, seja universalmente reconhecida, e cada pessoa, indistintamente de sua cor, religião, gênero ou cultura, seja respeitada. Acompanha a tua igreja e as pessoas que nela atuam. Que o teu Santo Espírito fortaleça e guie as suas lideranças e o testemunho de cada pessoa batizada. Olha e cuida do teu povo, caminha ao seu lado, toma sua mão e ensina-o a ser como um Cristo para a outra pessoa.
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(motivos locais de intercessão) LITURGIA DA CEIA
Preparo da mesa (preparar conforme o costume da comunidade local) Oração do ofertório L Amado Deus, tu que nos recebes à mesa e repartes conosco o pão da vida. A ti chegamos, às vezes como pessoas cansadas e desanimadas, outras vezes, felizes e carregadas de sonhos. Em tua mesa há lugar para quem chega e nela Cristo nos dá o alimento de que necessitamos para a nossa vida, para continuar caminhando. Aqui estamos, de mãos abertas. Recebe-nos, amado Deus, e usa este pão e este fruto da videira em benefício da nossa vida e da nossa salvação. Amém. L
A paz seja com vocês!
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E também com você.
Oração Eucarística L Oremos a oração de mesa da Ceia do Senhor: Deus caminhante, que se aproxima do seu povo 4
e o acompanha no dia e na noite, nas dúvidas e incertezas, no cansaço e na dor! Nós te damos graças, pois, em todas as situações, tu és nossa força, nosso alívio, nossa companhia. Por tudo isso, és Santo, e, por isso, a ti louvamos e, ao teu nome, exaltamos, cantando a tua santidade: Canto: Santo, santo, santo. L
Nós te louvamos e te agradecemos, por Jesus Cristo, teu Filho, pelo testemunho de amor, de diaconia, pela postura de sensibilidade na aproximação com o teu povo, no caminhar com ele, no ouvir, no revelar a sua palavra e no gesto de partir o pão. Graças damos a ele, Jesus, pois vem a nós nesta mesa. Assim o cremos, pois ele, na noite em que foi traído, nos deixou este mandato com uma promessa: Ele tomou o pão e, tendo dado graças o partiu e o deu aos seus discípulos, dizendo: tomai e comei, isto é o meu corpo que é dado por vós. Fazei isto em memória de mim. Depois de cear, tomou também o cálice, rendeu graças e o deu aos seus discípulos, dizendo: bebei dele todos, porque este cálice é a nova aliança no meu sangue, derramado em favor de vós, para a remissão dos pecados. Fazei isto todas as vezes que o beberdes em memória de mim.
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Crendo nestas palavras, pedimos: envia o teu Santo Espírito, aquele que reúne, une e transforma. Faze com que nos tornemos um só corpo com Cristo, em Cristo, por Cristo. E, nesta força, possamos ser como um Cristo para a outra pessoa, que serve sem exigências ou trocas.
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E porque somos Corpo de Cristo, oramos a uma só voz: Pai nosso...
Fração L O pão que partimos é a comunhão no corpo de Cristo; L
O cálice pelo qual demos graças é a comunhão no sangue de Cristo.
Canto: Nós, embora muitos, somos um só corpo! Comunhão Oração pós-comunhão L Porque Deus se aproxima de nós, partilha o pão, restaura a vida, agradeçamos, cantando: Canto: Graças, Senhor! Graças, Senhor! Por tua bondade, teu poder, teu amor: Graças, Senhor.
LITURGIA DE DESPEDIDA Avisos Bênção L Que a bênção do Filho de Deus, o ressuscitado, aquele que se aproxima de nós e caminha conosco, seja com você, hoje e em todas as horas da sua vida. (+) Amém. 5
Envio L Viemos a este encontro, Deus se aproximou de nós e agora segue conosco para casa, para o nosso dia a dia. Peço que as crianças saiam à frente e coloquem os recortes de pés que fizeram, com nomes que escreveram sobre eles, e os coloquem no chão da saída do templo para que possamos ver. Que nós possamos ser, no dia-a-dia, como um Cristo para a outra pessoa. Vão e sirvam com alegria! Canto final
Por Cat. Erli Mansk – Coordenadora de Liturgia da IECLB.
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Dia Nacional da Diaconia 19 de abril de 2015 SubSídioS para culto e reflexão
2 - Subsídio para a pregação Ser como um Cristo para a outra pessoa é o nosso jeito de ser 1. Compartilho desse auxílio homilético com alegria. Abstenho-me do detalhamento de uma exegese mais aprofundada. Há riquíssimas informações nos PLs 6, 21, 27, 32 e 38. Nestes, acentua-se, como premissa teológica, a ressurreição de Jesus e o partir do pão na perspectiva do sacramento. Acolho este fundamento e o pressuponho. Neste texto, somos desafiados a perceber os desdobramentos deste fundamento teológico, sobretudo na perspectiva da Diaconia. O que significa este fundamento teológico da ressurreição e sacramento para a vida da pessoa e comunidade cristã? O que significa viver a vida como pessoa e como comunidade, tendo a fé na ressurreição como fundamento, como um modo de vida? O texto é a narrativa de um fato da época. Fato que ilumina e inspira a diaconia em nosso tempo. Reconto o texto em quatro momentos: Fato 1: os discípulos no caminho: após os eventos da festa da páscoa, em Jerusalém, dois discípulos (Cleopas e, possivelmente, sua esposa, tios de Jesus) retornam para uma vila chamada Emaús, distante cerca de 11 km de Jerusalém. Caminham entristecidos, com dor, enlutados. Desanimados. A esperança depositada em Jesus e no movimento iniciado ruiu. Decidem retornar para a vila de Emaús e “tocar a vida”. A dor, o luto e a desesperança dos discípulos são compreensíveis. Sentimentos que não são novidade para nós. Quando olhamos ao nosso redor, vemos muitas pessoas desesperançadas. As causas são diversas. Mas todas andam cabisbaixas, entristecidas, em luto, sem esperança de vida, sozinhas... Vemos também muitas pessoas rejeitadas e excluídas. No contexto urbano, as pessoas em situação de rua são talvez a face mais visível da rejeição e exclusão. Perambulam pela cidade e não têm um paradeiro. Há também pessoas ativas, participantes, dedicadas e até líderes da comunidade/sociedade e também não entendem os fatos que acontecem ao seu redor. Veem, mas não enxergam. Expressam igualmente dores, mágoas, raivas com o governo, com a sociedade, com a violência... Mas, não raro, são agentes de sustentação do sistema que criticam. Como diz o ditado popular: fazem a roda, que os atropela, girar. Fato 2: o jeito de Jesus: Jesus se aproxima, mas não é reconhecido por eles. Mesmo assim, caminha junto. Pergunta sobre o que conversam. Ouve com atenção as dúvidas que perpassam a vida dos dois. Ouve suas inconformidades. Percebe a dificuldade de compreender os fatos. E, depois de ouvir, fala. Faz memória da história de Deus com seu povo. Reconta os fatos com os olhos de Deus. Pelo 1
diálogo, as dúvidas dos discípulos são ressignificadas. É um diálogo proveitoso. Esclarecedor. Que faz entender. Ao mesmo tempo, consola e conforta. Dá um mínimo de sentido mesmo ao mais doloroso dos acontecimentos: a prisão, julgamento, condenação e morte de Jesus. Aqui se inicia a ação diaconal: na sensibilidade de Jesus e no seu empenho para com quem está triste. Jesus não só percebe a tristeza dos discípulos como se dispõe a caminhar com eles os mais de 11 km entre Jerusalém e Emaús. Creio que este não era o caminho de Jesus, mas o fez por considerar que os dois precisavam de companhia. Eis uma postura diaconal: caminhar o caminho que não é meu. Caminhar o caminho que é o caminho do outro, que é o caminho da outra. Caminhar o caminho do outro porque ele precisa da tua companhia. Caminhar o caminho da outra porque ela precisa da tua companhia. O que Jesus ganha com isso? Nada. A sociedade em que vivemos é regida pelo capitalismo. Nele, tudo que faço precisa gerar um saldo: ou de dinheiro, ou de prestígio, ou ainda um crédito – você fica me devendo um favor. Tudo tem uma utilidade. Quem pensa com o pressuposto das regras do capitalismo não consegue ver o cristianismo. Está como que sem possibilidade de ver. O cristianismo e a diaconia não conhecem esta visão utilitarista. O cristianismo conhece a postura amorosa, desinteressada, como a das mulheres que vão ao túmulo de Jesus limpar-lhe o corpo no domingo pela manhã (Lucas 24.1). O que um corpo morto pode ainda oferecer de retorno? Kierkegaard afirma que temos certeza de que a ação amorosa é desinteressada quando eliminamos toda possibilidade de retribuição (veja KIERKEGAARD, 1962, p. 320 apud WESTHELLE, 2008, p. 132.). O cristianismo e a diaconia conhecem esta postura desinteressada, movida por puro amor. Amor que dignifica. Amor que age por gratidão. Esse é o amor bonito. Por isso divino. Amor que é ressurreição: que confere dignidade, autonomia, vida. Que não pede nada em troca. É amor que caminha junto por causa da necessidade da outra pessoa. Fato 3: a partilha do pão: constrangido a ficar, Jesus entra na casa deles. Acolheu e agora é acolhido. À mesa acontece a segunda partilha: a do pão. Pelo caminho, a vida foi compartilhada. Agora, é o pão. A partilha do pão é precedida por um gesto muitas vezes feito por Jesus: um gesto de ação de graças. O gesto faz reconhecer. Faz ver. O gesto dá sentido e significado à Palavra ouvida pelo caminho. Materializa o discurso. O gesto dá sentido à história vivida em Jerusalém. É o gesto da nova esperança. A conversa pelo caminho fez arder o coração, mas o gesto da partilha e da comunhão faz reconhecer o Cristo. Eis uma postura diaconal: falar do amor de Deus é essencial, mas colocá-lo em prática é indispensável. Ouvir da solidariedade é bom, experimentá-la é melhor ainda; ouvir da acolhida é bom, ser acolhido, é melhor ainda; ouvir do cuidado é bom, experimentá-lo é melhor ainda; falar de alimento diante da fome é bom, mas alimentar-se de fato é cuidar da vida. Na opinião de Lutero, isto é dever da pessoa cristã. Deus, por misericórdia – não por mérito – ajuda, salva e liberta a todas as pessoas. Tendo sido ajudado, me “porei à disposição de meu próximo como um Cristo, (...) nada me propondo a fazer nesta vida a não ser o que vejo ser necessário, vantajoso e salutar a meu próximo” (Obras Selecionadas, v. 2 – Das Boas Obras, p. 453, 1520). 2
Fato 4: contar adiante: uma vez reconhecido na acolhida, no diálogo fraterno e na partilha do pão, Jesus pode se retirar. Os discípulos, agora empoderados, precisam contar adiante o que viram e ouviram. Voltam para Jerusalém, para o centro dos acontecimentos. É ali que a novidade precisa ser contada. Os discípulos experimentaram diaconia. A dor, a desesperança, a tristeza, o luto... Foram ressignificados. A comunhão e a partilha, experimentadas. Agora é hora de praticar diaconia. Imagino que pensaram assim: há amigos nossos, há amigas nossas, com as mesmas dores, lamúrias, dúvidas e incertezas que nós tínhamos. Fomos consolados, agora é hora de consolar. Fomos ajudados, agora é hora de ajudar. Precisamos voltar a Jerusalém e contar o que vimos e ouvimos. Caminhar junto, mesmo que não seja o meu caminho; ouvir atentamente a angústia do outro, da outra; dialogar de forma a elucidar os fatos; praticar partilha e comunhão. Esta é uma proposta que dá sentido à vida de forma diferente do que o mercado/capitalismo busca dar sentido à vida. No Evangelho, o sentido da vida está no “ser”. A diaconia contribui neste vir a ser, pois a ação diaconal se materializa no cuidado à outra pessoa pelo fato dela ser a outra. A comunidade diaconal é instrumento que irradia o amor fraternal. Já o mercado nos induz ao “ter” e nos diz quem somos se temos e consumimos bens e serviços. São perspectivas absolutamente diferentes. A missão da Igreja é apontar para a proposta que comunica a postura e o cuidado diaconal. Assim, entendo a apresentação do tema do ano pela Igreja: “Em 2015, a IECLB destaca a Comunidade como espaço no qual acontece o amor fraterno, instância que irradia e torna-se instrumento de Deus no contexto em que está inserida”. Entendo o caminhar junto e a partilha como um modo de ser da comunidade e da pessoa cristã. É da sua natureza. Por isso, valorize os pequenos e os grandes gestos diaconais dos quais tens conhecimento na comunidade. Anime outras tantas pessoas mais. A pregação não pode ser encerrada sem convidar as pessoas e a comunidade a este gesto concreto. Cito alguns exemplos de ações diaconais praticadas na comunidade em Campinas/SP, que podem ajudar na reflexão: - internos da comunidade: grupo de visitação (a doentes, pessoas enlutadas, desempregadas, idosas etc.); doação de cestas básicas, fraldas geriátricas e brinquedos conforme necessidade; nas salas, onde aos domingos as crianças do culto infantil se reúnem, durante a semana, duplas psicossociais (assistente social e psicóloga) de uma ONG chamada CRAMI (Centro Regional de Atenção aos Maus-tratos na Infância) realizam acompanhamento a crianças vítimas de violência, sobretudo abuso sexual, cometido principalmente por pessoa próxima; OASE realiza chás mensais e, no final do ano, efetua doações para entidades de assistência social (em 2014, foram doados R$ 6.400,00 para oito entidades); - externos e institucionais: abrir as portas do templo e oferecer espaço para diálogo, oração e prática da acolhida a quem quiser entrar – a experiência feita no advento de 2014 foi encantadora e será continuada em 2015; acompanhamento regular a famílias não membro com alimento, remédio, oração e encaminhamentos diversos, conforme a vida os exige; parceria com entidades da sociedade civil organizada: ABBA – Associação Beneficente Boa Amizade –, que cuida de crianças em situação de vulnerabilidade social no contraturno escolar; Casa Santa Clara (Cáritas), que acolhe mulheres em situação de rua grávidas ou com crianças pequenas; participação na CEPIR (Coordenadoria Especial de 3
Promoção da Igualdade Racial, órgão da Secretaria Municipal de Cidadania Assistenciada e Inclusão Social da Prefeitura de Campinas/SP), especialmente na perspectiva do Diálogo inter-religioso. Podemos, agora, concluir que Diaconia é um serviço de cuidado com a vida, impulsionado pela fé. Sobretudo, é um serviço para com a vida daquela pessoa que não reúne as condições necessárias para cuidar de sua própria vida – não importa se essa incapacidade é momentânea ou continuada –, ou é sistematicamente estigmatizada na sociedade. É, portanto, uma ação transformadora da condição que está dada. O critério para a realização desse serviço é a necessidade da outra pessoa – não se ela é, ou não, membro da comunidade. A comunidade diaconal declara, portanto, que não concorda com interpretações casuísticas, de destino ou “Deus quis assim”, mas age no sentido de tornar concreta a misericórdia de Deus entre nós. Ela se compreende como um Cristo para com o outro, para com a outra. E este é seu modo de ser: como um Cristo para o outro, como um Cristo para a outra.
P. Marcos Jair Ebeling Atua na Comunidade Evangélica de Confissão Luterana em Campinas/SP
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Dia Nacional da Diaconia 19 de abril de 2015 SubSídioS para culto e reflexão
3 - Estudo para aprofundamento Chamad@s para Comunicar e Exercer Diaconia Transformadora
O Objetivo da Diaconia Transformadora Imaginemos uma “sociedade diaconal” que atingiu as seguintes características: o bem-estar da população e o respeito ao meio ambiente é uma realidade. As pessoas vivem na íntegra os ensinamentos de Jesus. Estão conscientes do sentido de estar no mundo. Amam a Deus sobre tudo (Lc 10.27). É tanto amor que ele se estende ao próximo e é sentido por todas as pessoas. Elas se ouvem mutuamente, dialogam, são solidárias e vivem em paz. Cultivam a amizade na diversidade. As pessoas em cargos de lideranças governam para o bem de toda a população. As leis são totalmente justas, todos as seguem com boa vontade. De tempos em tempos, representantes dessa sociedade são enviados para outras sociedades. Eles vão com a missão de aprender a língua, conhecer novas descobertas e contribuir com sua experiência. Ao voltarem, os aspectos mais importantes dessa experiência são introduzidos em sua própria cultura. Entendem que as relações entre pessoas e nações devem ser de cooperação e solidariedade, pois todas as pessoas do mundo são filhos e filhas de Deus. Nesta concepção, vivem em harmonia entre si e com outras sociedades. Nada lhes falta, pois aprenderam a buscar primeiro o Reino de Deus e tudo o mais lhes é acrescentado (Mt 6.33).
Ações Transformadoras por meio do Caminho Comunitário e Institucional Embora uma “sociedade diaconal” seja ainda uma visão e não uma realidade, estamos a caminho para vir a ser. Se ainda estamos distantes, é porque há muitas coisas profundamente erradas conosco e com nossa sociedade. Contudo, várias ações diaconais transformaram realidades no passado, transformam no presente e transformarão no futuro. Há experiências, mesmo que sejam em nível micro, de altruísmo e de relações de cooperação. Diaconia transformadora também consiste em reconhecer o que está bom e intervir apenas no que ainda precisa mudar. Esta atitude passa pelo reconhecimento de ações diaconais feitas por nossos irmãos e irmãs no passado. Há, na IECLB, várias instituições diaconais que já contribuíram e estão contribuindo para essa transformação. Há muitos anos trabalho em uma dessas instituições, criada em 1970, na Paróquia do ABCD, Santo André/SP. Junto à comunidade local e uma equipe multiprofissional, criamos um espaço educacional e terapêutico com as seguintes abordagens: Terapia Familiar, Psicopedagogia, Psicoterapia, 1
Terapia Somática, Fitoterapia, Acupuntura e Quiropraxia. Nele exercitamos o ouvir atencioso, respeitoso e qualificado, além de intervir em situações de sofrimento que pedem mudanças. Este é apenas um exemplo. Há muitas outras instituições diaconais e inúmeras iniciativas de diaconia comunitária igualmente importantes para nossa sociedade. O texto de Lucas 24.13-35, que inclui o lema do ano de 2015, é um dos textos que apresenta uma metodologia diaconal. Neste texto, quem está em ação é o Jesus ressurreto. Ele se aproxima, pergunta, ouve, caminha com os discípulos e repete verdades já anteriormente ensinadas. Embora os discípulos estivessem aflitos e achassem que tudo estava perdido, reconheceram a Jesus na ação de partir o pão. Perceberam que Ele havia vencido e triunfado sobre o sofrimento, a morte e o mal. O texto nos ensina que Ele vive e caminha conosco quer o percebamos ou não, e que quase todas as injustiças e sofrimentos são vencíveis, desde que enfrentadas a partir da comunhão com Ele. O hino 107 do HPD nos lembra que “só com Jesus em comunhão constante podemos sempre triunfar”. Portanto, é a comunhão com Ele que nos capacita para exercer e comunicar, de forma coerente e autêntica, diaconia transformadora.
Exemplos de ações Transformadoras Deixar Jesus se aproximar, andar conosco pelo caminho da vida e ficar em comunhão com Ele também nos leva à percepção do meio ambiente interno. Os discípulos perceberam que seus corações ardiam enquanto o ouviam pelo caminho. E nós? O que percebemos em Sua companhia quando ouvimos a palavra, oramos e meditamos? Não é ela reveladora da verdade sobre nosso interior? Durante anos eu achava que a sociedade e outras pessoas tinham que mudar, menos eu. Esse tipo de pensamento ainda é comum. Em geral, somos mais tolerantes com os nossos próprios erros do que com os erros dos outros. Na instituição diaconal em que trabalho, famílias costumam trazer as pessoas consideradas “problemáticas”, geralmente crianças e adolescentes, para terapia. Aos poucos, percebem que elas próprias necessitam de autotransformação. Certa vez, pai e filho em conflito foram atendidos separadamente por algum tempo. No final do processo terapêutico, o pai veio agradecer pela mudança do filho. Porém, sem um saber do outro, o filho também agradeceu pela mudança do pai. Isso demonstra como é difícil olhar para dentro de si e reconhecer a necessidade de mudanças internas, as quais se refletirão no ambiente externo. “Devemos ser a mudança que queremos no mundo” (Gandhi). Porém, o que é necessário para nos tornarmos a mudança que queremos no mundo? A instituição que atuo também está atenta para o ambiente externo, para o contexto no qual estamos inseridos. Dispomo-nos a caminhar com as pessoas, ouvir suas histórias, conhecer suas dores, alegrias, para compreender quais são as causas do sofrimento, da injustiça, da dor. O entendimento da realidade social é necessário para pensar ações diaconais que gerem transformação social, econômica e política. Para promover estas transformações, não estamos sozinhos, pois há parceria com outras instituições e grupos que têm o mesmo objetivo: proporcionar vida digna para todas as pessoas. 2
A instituição também busca exercer a dimensão política da diaconia por meio da participação nos conselhos de direitos do município de Santo André/SP. Junto a representantes de outros setores da sociedade, pensamos e articulamos ações de prevenção à violência, de acesso à educação, à saúde, ao saneamento básico. Nestes espaços, a partir do Evangelho, a nossa participação também questiona leis e estruturas que oportunizem e favoreçam a discriminação e a exclusão. Quais as parcerias e redes de apoio que vocês têm para promover a diaconia transformadora? A Diaconia de Jesus é tão profundamente transformadora, que se, adotada por cada pessoa, por cada família, por comunidades, por instituições, por micro e macro ambientes, pode criar relações sociais totalmente novas, um paraíso terrestre, uma verdadeira “sociedade diaconal”.
Diác. Irma Schrammel Atua no Centro Social Heliodor Hesse em Santo André/SP
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