Jornal Evangélico Luterano Ano 46 nº 802 Janeiro/Fevereiro 2017

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Jornal Evangélico Luterano | Ano 46 | Jan-Fev 2017 | n o 802

Jorev Luterano sempre em Reforma! Agora são outros 500... Como uma sólida construção, continuamos com os nossos alicerces: somente Jesus Cristo, pela Escritura, pela fé e pela graça

Afinal, como aprendemos? O desafio de ensinar e gerar conhecimento

Criação e justiça climática... Qual é a nossa responsabilidade?

Lutero - Reforma: 500 anos Alegrias e desafios da vida em Comunidade

Educação Cristã Contínua

Diversidade

Unidade


Jorev Luterano - Jan/Fev 2017

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REDAÇÃO

Igreja sempre em Reforma Jorev sempre em Reforma Em tempos de tantas mudanças no mundo e, em especial, no âmbito da comunicação, como alcançar os diferentes públicos, estimular a reflexão, ser ferramenta de formação por meio da informação qualificada, instigar à ação missionária, estimular ao compartilhar de dons e convidar à participação na vida comunitária? De que maneira integrar lideranças e fortalecer Ministros e Ministras? Qual é o melhor formato para aproximar a nossa gente luterana, que vive realidades tão distintas nesse nosso imenso Brasil? Como dar a noção de Corpo, de que fazemos parte, todos

e todas, da Igreja de Jesus Cristo? Não temos as respostas... mas, justamente por isso, temos a consciência de estar ‘sempre em Reforma’! Buscamos acertar, pois a nossa causa é nobre. Na condição de jornal nacional da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), a nossa missão é ser recurso da IECLB para cumprir a Missão que Deus confiou a esta Igreja, ou seja: propagar o Evangelho de Jesus Cristo, estimular a vivência evangélica pessoal, familiar e comunitária, promover a paz, a justiça e o amor na sociedade e participar do testemunho do Evangelho no País e no mundo. Na busca por estas respostas, nada fáceis, e por atender tamanha demanda, o Jorev Luterano está ‘de cara nova’: um novo projeto conceitual e gráfico convida os nossos leitores e as nossas leitoras a virar a próxima página e conhecer tudo o que, com muita alegria e empenho, preparamos especialmente para este ano do Jubileu. Como uma sólida construção, continuamos com os nossos alicerces: somente Jesus Cristo pela Escritura, pela fé e pela graça. A partir desta base, o nosso objetivo continua sendo oferecer (in)formação confiável, positiva, relevante e que possibilite a consolidação de Comunidades de fé cada vez mais fortes e unidas, de forma que esta Igreja seja reconhecida por suas Comunidades atrativas, inclusivas e missionárias, que atuam em fidelidade ao Evangelho de Jesus Cristo, destacando-se pelo testemunho do amor de Deus, pelo serviço em favor da dignidade humana e pelo respeito à Criação. Que Deus nos guie nesta caminhada! Agora são outros 500!!

CAPA Castelo e Igreja de Wittenberg (patrimônio mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura - Unesco), na Alemanhã, onde Lutero divulgou as suas 95 Teses, desencadeando o movimento da Reforma.

Jornal Evangélico Luterano | Ano 46 | Jan-Fev 2017 | n o 802

Jorev Luterano sempre em Reforma! Agora são outros 500... Como uma sólida construção, continuamos com os nossos alicerces: somente Jesus Cristo, pela Escritura, pela fé e pela graça

SUMÁRIO 2

REDAÇÃO

CARTA À COMUNIDADE EXPLICAÇÃO DA CAPA EXPEDIENTE

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ENFOQUE

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PALAVRA

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PRESIDÊNCIA

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FORMAÇÃO

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DIVERSIDADE

Afinal, como aprendemos? O desafio de ensinar e gerar conhecimento

Criação e justiça climática... Qual é a nossa responsabilidade?

Lutero - Reforma: 500 anos Alegrias e desafios da vida em Comunidade

Educação Cristã Contínua

Diversidade

Unidade

JUBILEU DA REFORMA CHARGE OFERTAS NACIONAIS INDICADORES ECONÔMICOS GESTÃO MINISTERIAL COMPETÊNCIAS MINISTERIAIS TEMA DO ANO PALAVRA DA PRESIDÊNCIA RETROSPECTIVA AGENDA EDUCAÇÃO CRISTÃ CONTÍNUA PROPOSTA METODOLÓGICA FACULDADES EST CUIDADO COM A CRIAÇÃO PRONUNCIAMENTO

8-9 UNIDADE

LUTERO - REFORMA: 500 ANOS

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FÉ LUTERANA

COMUNIDADE É TESTEMUNHO

PERSPECTIVA

A CRISE SEMPRE EXISTIU NO BRASIL OS ‘DONOS DA VERDADE’

MISSÃO

PLANO DE AÇÃO MISSIONÁRIA DA IECLB PROJETOS MISSIONÁRIOS PLANEJAMENTO MISSIONÁRIO CAMPANHA DE MISSÃO VAI E VEM

GRATIDÃO

FÉ, GRATIDÃO E COMPROMISSO PUBLICAÇÕES

GESTÃO

GESTÃO ADMINISTRATIVA DOCUMENTOS NORMATIVOS GUIA PARA O PRESBITÉRIO

SÍNODOS

ALEGRES, JUBILAI!

MÚSICA

UMA CANÇÃO PARA A REFORMA

Hoje, tenho muito a fazer. Portanto, hoje, vou precisar orar muito. Martim Lutero EXPEDIENTE Pastor Presidente P. Dr. Nestor Friedrich Secretária Geral Diác. Ingrit Vogt Jornalista Letícia Montanet - Reg. Prof. 10925 Administrativo Elizangela Basile ISSN 2179-4898 Cartas - Sugestões de pauta - Artigos - Anúncios Rua Senhor dos Passos, 202/5º 90.020-180 - Porto Alegre/RS Fone (51) 3284.5400 E-mail jorev@ieclb.org.br Proibida a reprodução parcial ou integral do conteúdo desta edição sem a prévia e formal autorização da Redação do Jorev Luterano.

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Jorev Luterano - Jan/Fev 2017

ENFOQUE

Jubileu da Reforma No dia 31 de outubro de 2016, pessoas luteranas e católicas do mundo todo marcaram um feito que entrará para a história da Igreja Cristã. Na Catedral de Lund, na Suécia, celebraram um Culto Ecumênico com um grande desafio: pedir perdão pelos erros do passado e caminhar conjuntamente pelo bem da humanidade. Com a presença de representantes de diversas Igrejas, o Papa Francisco, o Presidente da Federação Luterana Mundial (FLM), Dr. Munib Younan, o Secretário Geral da FLM, Rev. Martin Junge, o Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, Cardeal Kurt Koch, e a Primaz da Igreja Luterana da Suécia, Arcebispa Antje Jackelen, estiveram lado a lado, no altar. Em sua homilia, o Rev. Junge salientou que as pedras que venhamos a ter em nossas mãos no futuro não sejam para ser arremessadas uns contra outros nem para construir muralhas que nos separem, mas para construir casas compartilhadas e a mesa na qual venhamos a celebrar em comum a Eucaristia: “Estamos aqui reunidos para redescobrir quem somos em Cristo”. O Papa Francisco clamou pelo dom da unidade, insistindo na necessidade de um testemunho comum para que o mundo creia. Francisco expressou

Reforma

gratidão à Reforma por ter trazido a Bíblia para o centro da vida da Igreja e exaltou a espiritualidade de Lutero, ao colocar a sua fé em um Deus misericordioso, que nos justifica por graça: “Com a comemoração comum da Reforma de 1517, temos uma nova oportunidade para acolher um percurso comum, que se foi configurando ao longo dos últimos 50 anos no diálogo ecumênico entre a FLM e a Igreja Católica. Peçamos ao Senhor que a sua Palavra nos mantenha unidos, porque ela é fonte de alimento e vida”. Durante o ato, o Papa Francisco e o Dr. Munib Younan assinaram uma declaração comum que lança um forte apelo a todas as Comunidades luteranas e católicas do mundo inteiro para que ‘sejam corajosas e criativas, alegres e cheias de esperança no seu compromisso de prosseguir na grande aventura que nos espera. [...] há de ser o dom divino da unidade entre nós a guiar a colaboração e a aprofundar a solidariedade’.

A Palavra de Deus é a relíquia das relíquias, a única, na verdade, que nós, pessoas cristãs, temos. Martim Lutero

OFERTAS NACIONAIS 1º DE JANEIRO 1º Domingo após Natal/Ano-Novo Fundo de Missão no Exterior Irmã Doraci Edinger A IECLB é parte da comunhão de Igrejas Luteranas de todo o mundo, da qual também participam as Igrejas de Angola e Moçambique, países africanos de Língua Portuguesa. Temos comunhão de altar e de púlpito. Como membros do mesmo Corpo, nos inteiramos das necessidades e desafios e desejamos nos apoiar mutuamente para melhor participar da Missão de Deus. 22 DE JANEIRO 3º Domingo após Epifania Trabalho Diaconal na IECLB Caminhar junto com pessoas em situações de sofrimento e injustiça exige preparo, sensibilidade e disponibilidade, que precisam ser aprendidos, exercitados e aperfeiçoados. Também o exercício da voz profética do Evangelho, denunciando as injustiças e contribuindo na construção de um mundo mais justo e igualitário para todas as pessoas, precisa ser fortalecido.

UPM Janeiro/2017

INDICADORES FINANCEIROS

4,2814

Índice Dezembro/2016 - 0,11% Acumulado 2016

8,11%

12 DE FEVEREIRO 6º Domingo após Epifania Fortalecimento da atuação da ADL Em 2016, a Associação Diacônica Luterana (ADL) comemorou 60 anos de fundação. Nesse tempo, essa casa tem sido um importante Centro de Formação de lideranças comunitárias da IECLB, buscando cativar adolescentes com a vivência e ensino da Música, da Diaconia e da Catequese. Muitos alunos e muitas alunas, após o período de quatro anos de formação na ADL, buscam o estudo da Teologia ou outra formação nas áreas humanas.

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PALAVRA GESTÃO MINISTERIAL

Paradoxos do Ministério Proximidade e distância P. Dr. Victor Linn | Pastor, Psicanalista e Coach “Ser Pastora ou Pastor é fazer da vocação uma profissão”, assim definiu o ex-Pastor Presidente da IECLB, Prof. P. Dr. Gottfried Brakemeier. Digo que o mesmo vale para todos os Ministérios com Ordenação. O fato de estarem enraizados na proximidade de experiências pessoais muito fortes de superação, afirmação da esperança e valorização da vida comunitária lhes dá um componente de paixão e engajamento. O que sustenta a opção profissional é o desejo de proporcionar o mesmo a outras pessoas. No Ministério, o trabalho geralmente acontece na proximidade de momentos delicados e cheios de significados para as pessoas. Cada palavra e cada gesto têm um peso especial. Essa relevância traz satisfação e alegria, realimentando o desejo. No entanto, essa mesma proximidade também traz desgates. Às vezes, as pessoas são difíceis. Expectativas e atribuições projetadas sobre o profissional são desconfortáveis ou incompatíveis com a própria concepção do que é o papel, a função da Ministra e do Ministro. Isso exige paciência e habilidades que custam esforço. Por vezes, isso sufoca, faz mal à saúde e influi negativamente na percepção da própria existência e do sentido do trabalho. A profissão perde o encanto. Assim como as demais profissões, o Ministério é um trabalho que necessita de pausas criativas, de suporte e de espaços para a reflexão. É necessário tomar distância para recuperar a energia e desenvolver novos recursos frente às dificuldades inerentes a esse trabalho, tão intenso e próximo da vida das pessoas.

COMPETÊNCIAS MINISTERIAIS

O que é competência? Cat. Dra. Haidi Drebes | Secretária da Habilitação ao Ministério Psic. Leila Klin | Psicóloga Organizacional Dizemos que competente é aquela pessoa que saber fazer, que tem domínio em relação a alguma determinada tarefa, que é ‘boa’ no que faz. No contexto do trabalho e na área da educação, há muito tempo se fala em Gestão por Competências. Isso significa ajudar as pessoas a serem ‘boas’ naquilo que fazem. Essa metodologia pressupõe que, para ser competente em determinada área, a pessoa precisa saber fazer, ter domínio de como fazer e querer fazer, ou seja, precisa ter Conhecimentos, Habilidades e Atitudes que, associados, vão resultar em Entrega ao ambiente, capaz de agregar valor e beneficiar o contexto. O Conhecimento diz respeito ao aprendizado formal, adquirido na escola, na troca com pessoas mais experientes e referenciais. A Habilidade relaciona-se à prática, ao exercício cotidiano, à experiência propriamente dita. A Atitude refere-se à disposição e à vontade para fazer, ao ânimo e à motivação, determinantes para superar os obstáculos. Quando qualquer um desses fatores não está presente, não é possível afirmar que a pessoa é competente.

Além disso, é importante considerar que as competências requeridas são diferentes para cada função que desempenhamos. As competências requeridas para o exercício do Ministério com Ordenação na IECLB, por exemplo, têm as suas particularidades. Para dar conta das responsabilidades previstas no Estatuto do Ministério com Ordenação (EMO), entendese que é importante desenvolver competências comportamentais e teológicas que, de fato, possam agregar valor e fazer diferença no contexto da Igreja. O Conhecimento, em regra, é adquirido nos Centros de Formação. A Atitude é um pressuposto para iniciar todo processo. A Habilidade, por sua vez, é desenvolvida a partir dos estágios de formação e intensificada durante o Período Prático de Habilitação ao Ministério (PPHM). Uma vez adquirida a competência, cabe efetuar a Entrega propriamente dita, ou seja, colocar os seus dons e as suas capacidades a serviço da Igreja. Na próxima edição, iniciaremos a abordagem de competências importantes para o exercício do Ministério na IECLB.

TEMA DO ANO

Reforma: agora são outros 500! P. Günter Bayerl Padilha | Ministro na Paróquia de Itapema/SC | Sínodo Vale do Itajaí O cenário em que as Comunidades da IECLB se movem está marcado pela pluralidade religiosa, o que exige clareza confessional e constantes reformas, para que o anúncio do Evangelho, as ações missionárias e diaconais aproximem Cristo dos corações quebrantados e dos ombros sobrecarregados. Assim, a Reforma iniciada por Lutero necessita de constante atualização, para que o testemunho cristão seja significativo nos contextos em que a vida e a dignidade estão ameaçadas. O Lema bíblico do Tema 2017 da IECLB: Nele vivemos, nos movemos e existimos (Atos 17.28a) é um convite para que cada Comunidade se alegre e faça da celebração dos 500 anos de Reforma uma preciosa oportunidade para dar continuidade ao que as 95 Teses desencadearam em Wittenberg, na Alemanha. Queremos continuar a nossa história como Igreja que se move constantemente para que Jesus Cristo, a graça, a fé e as Escrituras sejam a base da existência comunitária. É bom lembrar que os novos ares que a Reforma alastrou pelo mundo vieram da força do que foi anunciado naquela porta, na Igreja de Wittenberg. O próprio Jesus Cristo identificou-se como a Porta (João 10.9) pela qual seu rebanho se movia. A celebração dos 500 anos da Reforma é uma porta que se abre para que as Comunidades sejam mais acolhedoras, inclusivas, terapêuticas, alegres e missionárias. Os próximos 500 anos de Reforma dependem de como se testemunhará o Evangelho de Jesus Cristo ao mundo. O Corpo de Cristo, a Igreja, não pode perder de vista que é pelas portas dos templos que o mundo vem ter comunhão com Deus e com o próximo. As pessoas que celebram a vida na casa de Deus são portadoras da Boa Nova e, ao atravessarem as portas, levam ao mundo palavras e gestos de paz, amor, misericórdia e justiça. Pela Porta, Deus nos visita e, pelas portas, nos envia ao mundo com a sua missão de anunciarmos a sua mensagem de salvação. Portanto, Nele vivemos, nos movemos e existimos. Alegres, jubilai! Vamos celebrar os 500 anos da Reforma, porque agora são outros 500. Que Deus nos ajude nisto! Amém! Para maiores informações, acesse o Portal Luteranos


Jorev Luterano - Jan/Fev 2017

PRESIDÊNCIA

Igreja e Jorev sempre em Reforma! Comunicação: grande desafio dos nossos dias P. Dr. Nestor Friedrich | Pastor Presidente da IECLB

Este é um ano especial para todos e todas nós. Alegres, jubilai! Igreja sempre em Reforma: agora são outros 500 é o Tema da IECLB para 2017. É um convite para olharmos com gratidão para nosso passado, presente e também futuro. A palavra bíblica que acompanha o Tema do Ano é uma afirmação de fé, de convicção: Nele vivemos, nos movemos e existimos (Atos 17.28a). Neste contexto de celebrações, de alegrias e de gratidão está também o Jorev Luterano. Como vocês podem perceber nesta edição, a primeira de 2017, ele pas-

sou e ainda está passando por um processo de Reforma. Chamo atenção para a proposta gráfica e conceitual. Convido vocês, leitores e leitoras do Jorev, a nos ajudar neste processo de ‘Reforma’ do Jorev. Comunicação é um grande desafio em nossos dias! O Jorev, ao lado do Portal Luteranos e da página oficial da IECLB no Facebook, faz parte das ferramentas de comunicação que temos na IECLB. Há muitas outras no contexto de Comunidades, Paróquias e Sínodos. Todas são fundamentais para que a IECLB possa dar conta da Missão que

É a fé que nos comunica a graça justificadora. Nada nos une a Deus, senão a fé e nada dele nos pode separar, senão a falta de fé. Martim Lutero

Deus lhe confiou. Como dar conta? Esta tem sido a pergunta que me acompanha e desafia no sentido de buscar solução para vários temas fundamentais na IECLB. Destaco dois: Missão e Comunicação! Atualmente, estamos afogados em informação. A gente não dá conta do volume! Pior é quando estas informações não ajudam a construir sabedoria, reflexão, autocrítica e caminhos. Isto fica mais evidente em tempos de crise, quando temos verdadeiras guerras de informação e versões, como vivemos, hoje em dia, no Brasil. O Jorev quer ser um jornal que, pela informação qualificada, fomenta a paixão pela Missão que Deus confiou para a IECLB. O Jorev não quer ser sensacionalista! Não é esta a sua vocação. O Jorev quer convidar à reflexão, ao compartilhar de experiências, ao estudo de temas pertinentes à nossa confessionalidade e, principalmente, ao fortalecimento da Missão enquanto grande desafio da IECLB. Como dar conta deste desafio? Com a sua participação, com as suas propostas, com as suas sugestões, tendo você como divulgador do Jorev Luterano! Então, convido você a ler com carinho este primeiro Jorev de 2017 e, depois, compartilhar conosco a sua opinião. Afinal, somos Igreja sempre em Reforma e, com o Jorev, não poderia ser diferente!

AGENDA | JAN/FEV 15/1

150 anos de fundação da IECLB em Agudo Agudo/RS P. Nestor Friedrich

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140 anos da Comunidade em Nova Hartz Nova Hartz/RS P. Nestor Friedrich

RETROSPECTIVA

Direção compartilhada É necessário que definamos a tarefa de exercício de liderança, de função diretiva nas Comunidades e Paróquias. Não há diferença de qualidade entre a função diretiva e os demais ‘Ministérios’ específicos, tampouco há em relação ao Sacerdócio Geral. Lideranças leigas, Ministros e Ministras terão que se aperfeiçoar no exercício qualitativo de direção, de poder como serviço à Comunidade. Esta função será qualitativa se for com-

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partilhada e se ela, sobretudo, se fizer disponível para o crescimento das pessoas e da Comunidade. Com certeza, esta maneira de entender a função diretiva proporcionará melhor compreensão e maior agilidade das estruturas da Igreja, bem como aprimorará o relacionamento daquelas pessoas que a exercem. Posicionamento A IECLB às portas do novo Milênio (1999)

Ordenação Conjunta Jaraguá do Sul/SC Pa. Sílvia Genz P. Inácio Lemke

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Conferência de CILCA San José/Costa Rica P. Nestor Friedrich

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Ordenação Conjunta Porto Alegre/RS P. Nestor Friedrich Pa. Sílvia Genz

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Diretoria do Conselho da Igreja Porto Alegre/RS P. Nestor Friedrich

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FORMAÇÃO EDUCAÇÃO CRISTÃ CONTÍNUA

Como se aprende? O desafio de ensinar Cat. Daniela Hack | Coordenadora de Educação Cristã da IECLB Uma constatação comum é que estamos na ‘era da informação’, mas informação é diferente de conhecimento. Este requer a apropriação da informação, ou seja, um processo de aprendizagem. A propósito, como a gente aprende? Ao responder essa pergunta, encontraremos também indicativos para o desafio de como ensinar. Para aprender, usamos diferentes recursos, como a imaginação, a memória, a escrita, a imitação, o desenho e os sentidos. Logo, aprende-se de vários jeitos. Isso vale para todas as fases da vida. Áreas como a neurociência apontam para a plasticidade do cérebro também na vida adulta. Isso significa que, independente da idade, as pessoas podem e devem aprender. Ao aprender algo novo, especialmente algo diferente do nosso trabalho ou do que costumamos fazer, mantemos o cérebro ativo e a memória em funcionamento.

Aprender não é somar conteúdos e informações, mas integrá-los a experiências, gerando conhecimento. Nessa perspectiva, por exemplo, uma pessoa pode saber todos os Mandamentos ‘de cor’, o que é bom, mas isso não é suficiente para se afirmar que ela aprendeu os Mandamentos. Para isso, é preciso algo mais: a relação deles com a própria vida. Um jogo, um alimento, uma imagem, uma dinâmica ou experiência podem estimular tanto a aprendizagem quanto o ouvir e o ler: provar uma folha de almeirão para estudar os momentos ‘amargos’ ou difíceis pelos quais passou o povo de Israel no deserto, sentir diferentes aromas e relacioná-los com a fé e a vida cristã ou esculpir em uma barra de sabão um símbolo que represente a relação com Deus. A esses podem ser acrescentados outros exemplos que mostram como a aprendizagem é dinâmica e pode ser estimulada de diferentes formas.

Ao orientar a Educação Cristã desenvolvida em seu meio, a IECLB defende esse dinamismo no processo de aprendizagem. Nesse sentido, propõe alguns indicativos para orientar o ensino em grupos, como envolver todo o corpo, despertar a criatividade e valorizar a experiência de vida de cada pessoa. Essas orientações estão detalhadas no Plano de Educação Cristã Contínua (http:// www.luteranos.com.br/conteudo/planode-educacao-crista-continua-pecc-1) e presentes em materiais como Encontros Bíblicos com Crianças, Palavr@ção, Compartilha e Série Educação Cristã Contínua. Se quisermos encontrar um sinônimo para ser humano, este pode ser aprendiz, porque toda a vida é repleta de aprendizado, como andar de bicicleta, dirigir, cozinhar, escrever, escutar... A lista de aprendizagens não tem limite de tamanho. Então, o que você irá aprender de novo hoje, nesta semana, neste mês?

CRIANÇAS | PROPOSTA METODOLÓGICA

Um vaso novo

crianças entregam o objeto para a pessoa, desejando um ano de 2017 muito feliz.

Material necessário Massa de modelar, argila, jornal, tinta têmpera, cola, pincel e Revista O Amigo das Crianças nº 67

Sugestão 2 Após a narração, convide as crianças para fazer vasos de barro com a argila. Depois da atividade pronta, coloque os vasos no sol e deixe secar. Retome a atividade em outro dia e peça que as crianças pintem os vasos com a tinta têmpera, esperem secar e passem cola com o pincel para dar um efeito com brilho.

Conte para as crianças a história bíblica da página 13 da Revista nº 67 O Amigo das Crianças. Sugestão 1 Diga para as crianças: Assim como o oleiro transforma o barro em vaso, nós também podemos transformar o mundo em que vivemos por meio de pequenas ações. Depois, peça que as crianças criem um objeto com a massa de modelar que demonstre carinho por uma pessoa próxima. Após a confecção, as

www.est.edu.br

Teologia e direitos Entre os dias 29 de novembro de 1º de dezembro de 2016, a Faculdades EST, por meio do Programa de Gênero e Religião, esteve presente no Encontro Internacional de Teologia, Saúde Sexual e Direitos, na Pontifícia Universidade Javeriana de Bogotá, na Colômbia. O evento reuniu mais de 250 pessoas, entre elas,Docentes, Pesquisado-

Sugestão extraída da Proposta Metodológica para uso da Revista O Amigo das Crianças, nº 67. Leia a Proposta Metodológica completa e saiba como assinar a Revista O Amigo das Crianças no Portal Luteranos

ras e Pesquisadores, lideranças religiosas, representantes de coletivos e organizações da sociedade civil da Colômbia e também do Brasil, Argentina, Suécia e África do Sul. Financiado pela Igreja da Suécia, o projeto Teologia, Sexualidade, Saúde Reprodutiva e Direitos (TSSRD) é executado pelo Programa de Gênero e Religião com o desenvolvimento de duas pesquisas: A produção de conhecimento teológico sobre saúde e direitos no âmbito da sexualidade e da reprodução humana a partir do trabalho com grupos religiosos e organizações sociais, coordenada pelo Prof. Dr. André Musskopf, e Teologia, Sexualidade e Educação Cristã, coordenada pelo Cat. Prof. Dr. Remí Klein, este último envolvido com a produção de conhecimento teológico-pedagógico sobre saúde e direitos no âmbito da sexualidade no pro-

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cesso educativo-religioso, em especial na Educação Cristã, a partir de pesquisa participante, com cunho de pesquisa-formação, com grupo de lideranças da IECLB. O grupo foi integrado por Prof. André Musskopf, Coordenador do Projeto TSSRD, Pa. Dra. Marcia Blasi, representando a Presidência da IECLB, Cat. Dra. Laude Brandenburg, representando a Reitoria da EST, Cat. Mariane Noely Bail da Cruz e Raquel Wieland, que representaram a pesquisa coordenada pelo Prof. Remí Klein, Luciana Steffen e Sabrina Senger, representando a pesquisa coordenada pelo Prof. Musskopf, Pa. Resina Bohrz, representando o Grupo de Mulheres de Novo Hamburgo/RS, Télia Negrão, representando o Coletivo Feminino Plural e Rogério Aguiar, representando a Fundação Luterana de Diaconia (FLD).


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DIVERSIDADE

Justiça climática... e eu com isso? Consciência e ação ecológica são deveres nossos! P. Dr. Mauro Souza | Secretário da Ação Comunitária

Já não é mais possível defender que a preocupação com a natureza é um assunto exclusivo de ambientalistas. Todas e todos nós somos responsáveis nesta questão. Fazemos parte de uma grande cadeia ou rede interdependente, criada por Deus, que vem passando por processos evolutivos. Nesse sentido, temos evoluído em muitos aspectos. De vez em quando, no entanto, damos passos para trás. Ao invés de evoluir, nós regredimos. A cultura do ódio, a escalada assustadora de pensamentos fascistas e machistas, para citar alguns poucos, são exemplos claros de que ainda precisamos evoluir bastante. Não estão incorretas as pessoas que

defendem que nós precisamos de um reset – um começo novo, a partir do zero. À medida que foram desenvolvidas tecnologias para facilitar a vida de populações cada vez maiores, a espécie humana foi, ao mesmo tempo, aumentando o seu impacto na natureza. Quanto mais gente, mais produção, mais comércio, mais máquinas, mais lixo e mais poluição. Nunca antes houve tanta urgência em tomar medidas concretas para estancar o sangramento que a espécie humana tem proporcionado à natureza. Consciência e ação ecológica são deveres de toda a humanidade e das suas instituições, incluindo as Igrejas.

Na história recente da IECLB, tivemos vários episódios relacionados a desastres naturais. Podemos citar a tragédia do Vale do Itajaí, em 2008, como uma das mais emblemáticas. Muitas pessoas morreram. Lugares desapareceram. O Estado do Espírito Santo igualmente sofreu, primeiro, com enchentes (por exemplo, a de 2013), e mais ao norte, com a severa crise de falta de água, felizmente amenizada nestas últimas semanas. Em novembro de 2015, testemunhamos o desastre anunciado de Mariana/MG. Agora, enquanto escrevo, a cidade de Rolante foi inundada por água e lama que desceu na Serra Gaúcha depois de um forte temporal. Tudo parece tão distante e tão grande diante da nossa pequenez. Os sentimentos de impotência e de indiferença parecem nos dominar, mas é possível fazer uma parte. Assim como Jesus Cristo o fez, nós precisamos e podemos ser a mudança que almejamos. Podemos deixar o mundo um pouco melhor para as nossas filhas, os nossos filhos, netas e netos. O que fazer? Dar o primeiro passo! Desacelerar. Reciclar. Reutilizar. Comprar de forma consciente e da produção local. Exigir produtos sem agrotóxicos. Boicotar e negar-se a consumir produtos de grande impacto negativo na natureza. Andar de bicicleta. Fazer deslocamentos a pé. Estamos todas e todos conectados na grande cadeia da Criação de Deus. Só temos esta bola azul flutuante que chamamos Terra. É a nossa única e verdadeira casa.

PRONUNCIAMENTO

A fé é um contínuo e persistente olhar para Cristo. Martim Lutero

A fé jamais ficará ociosa Conforme o testemunho bíblico e o Reformador Martim Lutero, a fé jamais ficará ociosa. Por conseguinte, as pessoas cristãs de confissão luterana são chamadas a: • renegar a ideologia que dá suporte à acumulação e à concentração de riqueza em benefício de minorias e em detrimento do atendimento das necessidades básicas do ser humano e da manutenção da boa Criação de Deus;

• renegar a adoração do capital e da religião do consumo como definidora do sentido da vida; • renegar modelos econômicos que desconsideram a necessidade e a urgência de um desenvolvimento autossustentável que preserva a vida no planeta. Manifesto de Chapada dos Guimarães/MT (outubro/2000)

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UNIDADE

UNIDADE

Série Especial

Lutero - Reforma: 500 anos

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Vida em Comunidade

Este último ano foi marcado pela enorme força das Redes Sociais: o que era boato passou a ser chamado ‘pós-verdade’ - a banalização da mentira. Poucas pessoas se dão ao trabalho de conferir se as notícias são, de fato, reais ou falsas.

Uma Comunidade atual há 500 anos Duas revoluções na área da comunicação nos últimos cinco séculos reafirmam a importância do conteúdo e da forma das palavras, tornando Lutero ainda mais atual! Somos a Igreja da Palavra. Lutero ganhou fama após cravar 95 mensagens curtas na porta da Igreja de Wittenberg, na Alemanha. Um ato histórico, inaugurado por um grande comunicador e que estabeleceu uma marca. Do portal, as suas palavras terminaram impressas e se multiplicaram, aos milhares, graças à descoberta promovida por Gutenberg: uma revolução que juntava letras em pequenas peças de metal, formava palavras e as prensava sobre o papel. Lutero, diante das facilidades técnicas que surgiram em sua época, deu o melhor de si. Inspirado pela fé, juntou as palavras, as endereçou e de-

P. Me. Hermann Wille, Coordenador das atividades pastorais na Igreja da Paz e do Núcleo Comunitário PraXis, em Santo Amaro/SP

volveu ao povo. Ele apontou um caminho em tempos difíceis, algo que rende benefícios até hoje. No mundo atual, grande parte das pessoas não sabe que essas conquistas profundas tiveram a sua origem na Reforma Protestante. Lugar virtual Após 500 anos, ao celebrar o Jubileu da Reforma, temos uma nova revolução na área da comunicação. Os tipos de letras de Gutenberg se transformaram em impulsos digitais que juntam letras em uma velocidade impossível de imaginar. A palavra e a combinação entre uma e outra já não dependem apenas da capacidade humana. Há máquinas – os buscadores – que combinam bilhões de palavras e, com os seus ‘sistemas’, as devolvem aos usuários. Uma revolução fantástica, fascinante e, ao mesmo tempo, assustadora. A exemplo do que fez Lutero, devemos colocar as nossas capacidades e a nossa fé à disposição para que a ‘inundação digital’ não devaste o ser humano e os seus lugares de convivência. Esse último ano foi marcado pela enorme força das Redes Sociais: o que era boato passou a ser chamado ‘pósverdade’ – a banalização da mentira. Há uma multiplicação contagiosa de afirmações e julgamentos que, de tão grande, passou a ocupar espaço na nuvem e na cabeça de milhões de pessoas em tempo real. Poucas pessoas se dão ao tra-

balho de conferir se as notícias são de fato reais ou falsas. Esse enorme fluxo de informações aumenta medos e ódios, influencia decisões políticas, determina caminhos e demarca horizontes. Lugar da Palavra Palavra boa, para o ser humano, tem rosto. Palavra leal, a respeito de Deus, cabe em uma manjedoura. Hoje, a combinação das palavras, o poder de juntar informações virou um tipo de ‘deus nas nuvens’. Ser lembrado que a Palavra se tornou um ser humano e morou entre nós (João 1.14), aponta para o que foi vital no passado e continua como um desafio atual ainda maior. A comunicação que, de fato, considera Deus e os seres humanos não teme avanços, desde que as palavras sejam pronunciadas com os ‘pés no chão’, tenham endereço e um determinado contexto – a Comunidade. Nesse esforço de encontrar um rosto, lembramos de uma mulher, Sabine, com os seus 90 anos. Ao saber da visita das bisnetas, ligou para a neta, querendo saber quais os filmes, as músicas, os livros e as matérias escolares que mais as interessavam. ‘Quero ter assunto com as minhas meninas’, dizia ela. Mais do que a experiência dos longos anos, vale a atitude dessa mulher: curiosidade, esforço em encontrar conexão com as novas gerações. A bisavó saiu da sua zona de conforto

ao procurar se manter atualizada. Esse encontro, bisavó, netas e bisnetas, viabilizou um espaço no qual compartilharam histórias, risos e brincadeiras. O mesmo ocorreu na festa com amigas e amigos da Comunidade, ocasião em que a aniversariante disse os seguintes versos: Este é o meu lugar. Aqui posso falar e ouvir. Posso fazer perguntas a respeito de tudo e tentar dar respostas a elas. Posso forjar algo, juntamente com os outros, trazendo e contribuindo com ideias próprias. Também posso permanecer sentada, ouvindo e assimilando. Aqui encontro portas abertas e, se possível, posso abri-las aos outros. Encontro lugar para orar e restabelecer forças. Aqui me é permitido apreender e compartilhar as minhas experiências. Aqui é o meu lugar. Esta é a minha Comunidade! Lugar da novidade O que faz com que existam tais atitudes? O peso dos anos não a intimidou! Recordações provocam nostalgia, lembranças do que passou, se perdeu e não volta mais! O que fazer com o que parecia valer para sempre? Diante do que está à frente, esses sentimentos adquirem uma força que não deve ser subestimada. Manifestação do desejo de poder reviver algo, de fazer de novo, de fazer melhor? Se, por algum instante, a vida possa parecer impossível, sem isso ou aquilo, no momento seguinte tudo muda. Em meio a todas essas considerações, a bisavó observa as bisnetas. Não só olha, interage e realiza experiências novas. Mais... sentiu que, nesse espaço livre que se criou, Deus também está presente. Nada pode nos devolver ao passado. Não podemos começar de novo repetindo velhos hábitos. O passado sempre será insuficiente. Por mais que ele tenha sido vigoroso, corajoso e marcado época, falhas e precariedades também estiveram presentes. Não importa o acúmulo dos anos. Nascer de novo (João 3.1-8) é possível e necessário. No renascimento, reside a possibilidade de seguir em frente e ter relevância. O Espírito que Deus nos deu não nos faz tímidos; ao contrário, o seu

Espírito nos enche de poder, de amor e nos dá domínio... (2Timóteo 1.7), para não afundarmos no passado ou nos perdermos no futuro. Lugar ‘protestante’ Situações desconfortáveis e ameaçadoras causam recuos e atitudes defensivas, momentos em que se multiplicam respostas rápidas e superficiais. Nessas

Na Comunidade, há pequenos bancos em que Deus costuma ‘sentar para conversar’. Deus se relaciona conosco para nos devolver a dimensão do que é humano, a capacidade de amar a vida, tantas vezes tolhida, maltratada, desconsiderada.

situações não são as ideias, mas as atitudes afirmativas que nos levam adiante. A Comunidade é o lugar em que ‘treinamos’ essas atitudes! Ao nos exercitarmos, surge a solidariedade, o silêncio respeitoso e compreensivo, o não conformismo diante da injustiça e do mal feito. A prática diaconal fomenta um ambiente de resistência, no qual não desistimos de nós mesmos e dos outros. Nas brechas e nas bordas da prática comunitária, acontecem coisas inesperadas. Ao vivenciá-las, não seremos mais os mesmos. O espaço da Comunidade é uma escola de cidadania. Nela, desenvolve-

mos a reverente percepção do valor da vida e a necessidade de persistirmos na preservação do bem comum. Lugar de preservação Na Comunidade, ocorrem momentos inesquecíveis. Quem os vivencia, dirá a si mesmo e aos outros: ‘Foi bom estar lá. Foi muito bom ter tido a iniciativa. Foi uma experiência espontânea! Esse tipo de prontidão e disposição recebe o seu alimento pelas raízes mais profundas, fundamentais nas relações comunitárias, uma vez que promovem um lugar adequado à sustentabilidade da vida. A viabilização e a manutenção das relações comunitárias é um presente de Deus que nos desafia e surpreende. A Comunidade, na verdade, é uma área de preservação permanente. Lugar público Na Comunidade, há pequenos bancos em que Deus costuma ‘sentar para conversar’. A sua presença aponta para as possibilidades ainda adormecidas nas pessoas, para o que é possível fazer quando atuamos e celebramos juntos. Deus se relaciona conosco para nos devolver a dimensão do que é humano, a capacidade de amar a vida, tantas vezes tolhida, maltratada, desconsiderada. Deus não se faz presente na onda consumista, nas leis econômicas nem mesmo na alucinante lógica digital. Também não se manifesta na política e na religião, desde que não traiam a finalidade pública que lhes cabe. A fé cristã, marcada pela Reforma Protestante, aponta para a relevância das nossas Comunidades locais à medida que elas sejam mais acolhedoras diante da diversidade, sensíveis e alertas diante das tendências do momento, ativas entre aqueles que buscam transformar e organizar, de forma sustentável, a vida em sociedade. Diante dos enormes desafios do presente, da legitimidade necessária para os próximos 500 anos, ainda não temos respostas adequadas nem conseguimos avaliar o impacto das transformações pelas quais teremos que passar, mas o lugar onde Deus se dá a conhecer, este já conhecemos: a Comunidade!

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FÉ LUTERANA

A Comunidade que Deus sustenta P . Hardi Brandenburg | Ministro na Comunidade da Ascensão, em Novo Hamburgo/RS Uma das dimensões fundamentais da existência cristã é viver em Comunidade, dificuldade para muitos que se confessam cristãos. A fé cristã e o viver em Comunidade são inseparáveis! Arrisco a afirmar que a verdadeira fé cristã só é possível se estou vinculado às atividades da Comunidade. Como cristãos, a relação comunitária se dá de muitas formas. Cada seguidor de Cristo poderá priorizar o que for inerente ao seu dom e talento ou mesmo ao ‘seu gosto’. A ausência da vida comunitária é sinal da inexistência de fé verdadeira. Todos os que se dizem cristãos deveriam saber: o Culto é uma das participações mais importantes da vida comunitária, pois ali a Palavra e os Sacramentos podem ser acolhidos e compartilhados, como também os hinos de louvor, que animam para a caminhada a cada novo dia. Se afirmarmos que Deus sustenta a Comunidade, também concluímos que Ele é o seu Criador. Lutero, em sua explicação do terceiro artigo do Credo Apóstolo, nós dá a sua compreensão do que é ser cristão e o que é a Comunidade (Igreja): ‘Creio que, por minha própria inteligência ou capacidade, não posso crer em Jesus Cristo, meu Senhor, nem chegar a ele, mas o Espírito Santo me chamou pelo Evangelho, ilumi-

nou com seus dons, santificou e conservou na verdadeira fé. Assim também chama, reúne, ilumina e santifica toda a Igreja...’. Cabe a todos os integrantes de uma Comunidade a responsabilidade de mantê-la em todas as suas atividades. Algumas ‘tarefas’ dos membros são absolutamente indispensáveis, pois é da natureza da fé cristã ser missionária/diacônica. Portanto,

Uma das dimensões fundamentais da existência cristã é viver em Comunidade, pois a fé cristã e o viver em Comunidade são inseparáveis! ajudar outras pessoas a terem um encontro significativo com Jesus faz parte da missão de cada cristão. Foi exatamente isto que aconteceu com André quando relata o Evangelho de João 1.40-42a: Era André, o irmão de Simão Pedro, um dos dois que tinham ouvido o testemunho de João [Batista] e seguido Jesus. Ele achou primeiro seu próprio irmão, Simão, a quem disse: Achamos o

Messias (que quer dizer Cristo), e o levou a Jesus... esta é a dinâmica da vida cristã, que Jesus seja conhecido e acolhido, pois ele nos acolhe primeiro. Ele sempre dá o passo primeiro, incondicionalmente. Ele declara a nossa pertença a ele no Batismo. Cabe uma ação incisiva das Comunidades para que as necessidades fundamentais das pessoas sejam supridas, de modo que a vida digna seja possível. Precisamos ser Comunidades solidárias. Para que tudo isto seja possível, necessitamos da colaboração e da contribuição de todos os membros e uma gestão eficaz dos Presbitérios e de todas as lideranças da Comunidade. Esta é a Comunidade que Deus espera que sejamos e é a Comunidade que Ele sustenta ao longo da história. Faço a oração do apóstolo Paulo dirigida à Comunidade de Filipos: Dou graças ao meu Deus por tudo que recordo de vós, fazendo sempre, com alegria, súplicas por todos vós, em todas as minhas orações, pela vossa cooperação no Evangelho, desde o primeiro dia até agora. Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completála até ao Dia de Cristo Jesus. Para refletir, leia João 1.35-42

Testemunho em um mundo que fragmenta P. Cristov Kayser | Ministro na Paróquia de Ibirama/SC Ao fixar o olhar na Rosa de Lutero estilizada que nos acompanha em 2017, no Tema do Ano da IECLB, recebemos de pronto uma ‘cutucada’: qual é o nosso testemunho enquanto Comunidade cristã em meio a um mundo que vende a salvação, a natureza e as pessoas? Comunidade cristã é aquela na qual você, eu, cada qual se insere a fim de expressar, em testemunho e ação, a essência do Evangelho de Jesus Cristo. Rememorando as primeiras Comunidades cristãs, trazemos para nós que elas entenderam profundamente o significado da proposta de Jesus a ponto de iniciar uma nova experiência de convivência baseada na misericórdia e na justiça. Comunidade cristã é um coletivo de pessoas em que a inclusão, a oração e a partilha são expressão concreta da proposta do Reino de Deus, inaugurado por Jesus em meio à realidade do mundo. Confrontar, portanto, a nossa forma de ser Comunidade com a proposta das Comunidades primitivas é importante, pois nos ajudará a sair de uma zona de conforto na qual caímos quando somos envolvidos (e cooptados) pelo mundo marcado pelo mercado que minimiza as pessoas, a natureza e, em consequência,

faz da fé uma ferramenta individualista, sem compromisso misericordioso com o outro, com a outra, especificamente com quem é diferente. Corremos o risco de sermos Comunidades de consumo, que meramente respondem às necessidades individuais e momentâneas das pessoas dentro de uma estrutura social que fragmenta e segre-

Comunidade cristã é um coletivo de pessoas em que a inclusão, a oração e a partilha são expressão concreta da proposta do Reino de Deus. ga, para que não haja vínculo, comunhão, inclusão, (com)paixão. Assim são encobertos os reais problemas e deixados de lado os devidos encaminhamentos para soluções verdadeiras. A Comunidade cristã é uma comunidade da vida e não do mercado. É esta a nossa herança a partir do Evangelho. Ao assumir essa herança, cria-se tensão

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com o espaço (mundo) no qual a Comunidade existe. A partir de Jesus, o Cristo Salvador, que denuncia a idolatria das formas socioculturais, religiosas e econômicas vigentes no seu tempo, nos é dada a chave para sermos, de fato, Comunidade que testemunha e age a partir do Evangelho, Comunidade que revela que a compreensão individualista da vida e da salvação, a aceitação passiva e acrítica da proposta do mercado, o culto à técnica, a banalização da violência, a mercantilização do sexo e dos sentimentos mais profundos, a agressão à natureza, o desprezo pela dignidade da vida humana e a discriminação de quem é diferente não podem, definitivamente, fazer parte de uma proposta comunitária que se diz cristã. Voltando à Rosa de Lutero que nos acompanha: ela mantém em destaque a centralidade da cruz, que nos liberta a fim de sermos Comunidade que repensa o seu testemunho e, também, a sua ação, para que não fiquemos na mesmice, mas nos reformemos constantemente a fim de (re)descobrir a nossa condição de Igreja de Jesus Cristo no espaço em que estamos. Para refletir, leia Mateus 25.36-41


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PERSPECTIVA

A crise sempre existiu no Brasil! Será que a gente não conseguia ou não queria ver? Profa. Dra. Ema Marta Dunck Cintra | Docente no Instituto Federal de Mato Grosso e Presidente do Conselho da Igreja O ano de 2016 foi considerado um período de muita crise. Na mídia, no comércio, em todos os espaços em que havia a interação de pessoas, em algum momento o diálogo se reportava à questão da crise econômica, do desemprego, dos problemas que o Brasil enfrentava. A mídia televisiva frequentemente mostrava reportagens em que pessoas falavam sobre o que deixaram de fazer porque a crise ‘chegou’ para elas. Em uma dessas reportagens, a resposta obtida pelo Repórter é que a pessoa havia cortado a ida a restaurantes e ao salão de beleza. Esse era um termômetro, portanto, para a que a crise fosse sentida. Isso me levou a pensar sobre as pessoas que nunca puderam ir a um restaurante ou nunca foram a um salão de beleza. Essas pessoas estariam fora da crise... ou elas sempre estiveram em crise? Confesso que, no momento, fiquei pensando sobre o conceito do que seria ‘crise’ para algumas e para outras pessoas. Aí me veio outra reflexão: Será que essas pessoas que ‘sentiram’ a crise chegar agora têm a dimensão que o nosso país sempre esteve em crise para determinadas pessoas, crise essa que não se conseguia (ou não se queria) perceber? Talvez os nossos olhos tenham sido educados para não ver essas pessoas, de modo que não nos sentíssemos culpados pelos historicamente ‘sempre-em-crise’.

A crise existe e não há como negá-la, mas essa crise que sentimos deveria, pelo menos, nos levar à percepção que muito daquilo que deixamos de fazer em virtude da crise sempre esteve aí para determinada classe social do país. Ela, a crise, deveria ser pedagógica, de maneira a nos impulsionar para viver conforme o Evangelho de Cristo, lutando para que todas as pessoas pudessem ter acesso às várias formas de vida que Cristo desejou, inclusive uma vida que lhes permitisse regozijar-se com bens econômicos e culturais. Deus considera que todas as pessoas são seus filhos amados, suas filhas amadas. Ele deseja o bem igualmente a todos e todas. Somos, portanto, uma grande família e, como uma irmandade que professa em seus mandamentos o amor ao próximo, não poderíamos permitir que um dos nossos irmãos ou uma das nossas irmãs ficasse fora dessa vida que nosso Pai deseja para cada um, cada uma. Afinal, se parte do corpo sofre, todo o corpo deveria sofrer junto. De maneira que, se um membro sofre, todos sofrem com ele; e, se um deles é honrado, com ele todos se regozijam (1Cor 12.26). Então, vamos nos mover pautados pelo Evangelho de Cristo e lutar para que todos os nossos irmãos e todas as nossas irmãs que sempre estiveram em crise possam se regozijar conosco, levando uma vida que humaniza e dignifica o ser humano.

Todas as nossas orações devem fundamentar-se e apoiar-se na obediência a Deus. Martim Lutero

Os ‘donos da verdade’ A demonização do diferente P. Dr. Oneide Bobsin | Docente na Faculdades EST, em São Leopoldo/RS Estamos vivendo tempos perigosos, marcados por ódios e acusações infundadas na politica e nas religiões. Uma pesquisa sobre violência religiosa e intolerância, realizada por órgãos de Direitos Humanos do Governo Federal e apoiada pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), traz dados alarmantes. Espaços de cultos das tradições de matriz africana são destruídos. Capelas e igrejas católicas são depredadas. Em revide, mas em menor escala, templos evangélicos sofrem agressões. Também há vandalismo em mesquitas. Recentemente, um colega compartilhou que, em determinado lugar, duas igrejas evangélicas, uma em frente a outra, medem a presença de Deus pelo volume do alto-falante. Em outro lugar, evangélicos jogam maldição sobre um templo espírita para dizer de que lado está a verdade. Mais preocupantes são as agressões físicas e verbais por parte de quem se sente ‘dono da verdade’. O diferente é demonizado, condição para justificar intolerância e violência religiosa. O nosso Professor e Pastor Dr. Gottfried Brakemeier acertou em cheio quando afirmou: ‘Aos adeptos, é prometido o céu, enquanto os dissidentes são remetidos ao inferno’. Isto está escrito em seu livro Sabedorias da fé - Num mundo confuso.

Precisamos de muita sabedoria, especialmente quando ouvimos de líderes religiosos com amplo sucesso na televisão palavras incitadoras ao ódio e à demonização. O referido evangelista, querido por alguns em nossa Igreja, afirma que quer um Estado laico que lhe defenda o direito de demonizar os outros. Talvez seja o único que tenha coragem de assumir tal incitamento ao ódio, mas não está sozinho e representa tantos outros. Não serve de consolo, mas Jesus também foi demonizado. Os seus opositores diziam que ele expulsava os demônios porque estava possuído pelo maioral dos demônios (Mc 3.22ss). Jesus diz aos adversários que uma casa dividida não subsiste. Ele expulsa o mal pelo poder de Deus, mostrando, assim, a proximidade do Reino. Além disso, acusa os seus adversários de se portarem como guias cegos, que coam mosquitos e engolem camelos (Mt 23.24). Assim podemos ver os nossos exorcistas na mídia. Ao expulsarem espetacularmente os demônios, estão coando mosquito e engolindo o camelo. Ficam ricos com a exploração da fé do povo, que é enganado e que se engana, ao acharem que camelo passa pelo fundo de uma agulha. Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus, disse Jesus no Sermão do Monte. Para maiores informações, acesse o Portal Luteranos

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MISSÃO

Um novo Fórum Nacional de Missão P. Dr. Pedro Puentes | Secretário de Missão O XXX Concílio da Igreja, realizado em Brusque/SC, em outubro do ano passado, solicitou que a Presidência convoque um Fórum de Missão em 2017. A rigor, já se passaram dez anos do primeiro Fórum Nacional de Missão, que aconteceu em Campeche, em Florianópolis/SC, em julho de 2006. Participaram em torno de 80 pessoas, representando os 18 Sínodos, Setores de trabalho, movimentos e lideranças. Junto com o olhar histórico, estiveram presentes as análises da pós-modernidade, da realidade urbana e da religiosidade, procurando pelos desafios para a missão. Entretanto, o olhar principal foi direcionado à própria Igreja. Para tanto, nove eixos impulsionaram a reflexão com vistas à prática missionária: Formação, Comunicação, Edificação de Comunidades, Diaco-

Os Projetos Missionários Secretaria de Missão Missão é o agir reconciliador e pacificador de Deus em beneficio de toda a Criação, o que inclui todas as pessoas. Testemunhamos esse agir de Deus pelas obras do amor, mediante os Projetos Diaconais, e pela ‘edificação’ de Comunidades para todas as pessoas, por meio de Projetos Missionários. Assim, busca-se concretizar o agir missionário de Deus, oportunizando espaços e interações onde (e desde onde) aconteçam: Evangelização, Comunhão, Culto e Diaconia. Em 2017, serão 22 os Projetos Missionários com apoio nacional e sob o acompanhamento do seu respectivo Sínodo. A estes Projetos apoiados em âmbito nacional, somam-se os Projetos desenvolvidos e sustentados pelos próprios Sínodos. Importante: o Fórum de Missão (Campeche/2006) assinalou que um Projeto Missionário tem mais chance de consolidação quando segue o processo de análise, planejamento adequado, monitoramento e avaliação. Então, que Deus abençoe os nossos esforços!

nia, Culturas, Sustentabilidade, Crianças e Jovens, Ecumenismo e Evangelismo. Entre as ações nacionais que resultaram deste Fórum podemos mencionar: A Campanha Nacional de Ofertas para Missão Vai e Vem, o Plano de Ação Missionária da IECLB (PAMI 2008-2012) Missão de Deus – Nossa Paixão, Diversos Seminários de Educação Cristã Contínua e de Ensino Confirmatório, O Plano de Educação Cristã Contínua da IECLB (PECC), as Linhas Mestras do Plano Operacional, o Roteiro para o Planejamento Comunitário do PAMI e a Série de Cursos de Educação Cristã (Presencial e EaD). Todos estes esforços, somados às iniciativas sinodais, têm buscado subsidiar as Comunidades na realização das ações missionárias. Em 2017, sob a inspiração dos 500 anos

do Jubileu da Reforma, perguntamos: Que Igreja queremos para os próximos anos? Se nos definimos como Igreja de Comunidades e sonhamos com Comunidades mais atrativas, inclusivas e missionárias, também perguntamos: O que precisamos fazer para nos aproximar desse sonho? É para responder essas e outras perguntas que será convocado um novo Fórum de Missão. Eis o nosso desafio e a nossa responsabilidade!

Planejamento Missionário P. Altemir Labes | Secretário Adjunto para Missão e Diaconia Planejamos para aprimorar a nossa ação missionária, para dinamizar e produzir mudanças na vida das pessoas e das Comunidades e nas formas de servir a Deus. O Planejamento Missionário é atividade de equipe, que envolve Presbitério, Ministros, Ministras e lideranças. Realizar o Planejamento é sinal de compromisso com a Missão de Deus. O Planejamento precisa de disposição para o diálogo, liberdade para avaliar os trabalhos e abertura para novas propostas. É uma oportunidade de comunhão, reflexão e vivência da fé. Na IECLB, o foco do Planejamento é

o Mandato de Deus, expresso na Missão da Igreja: propagar o Evangelho de Jesus Cristo, estimulando a sua vivência pessoal, na família e na Comunidade, promovendo a paz, a justiça e o amor na sociedade brasileira e no mundo. O desafio da Igreja é inserir-se na missão divina e dispor-se a ser instrumento do agir de Deus. A mudança que o Planejamento quer oportunizar é a transformação que vem do Espírito de Deus, quando sopra em sua Comunidade. Planejamento é o processo de estabelecer objetivos e indicar o que deve ser feito para alcançá-los!

Campanha de Ofertas Vai e Vem Secretaria de Missão Nos dias 18 e 19 de novembro de 2016, aconteceu o Encontro de Coordenadores e Coordenadoras Sinodais da Campanha Nacional de Ofertas para a Missão Vai e Vem, realizado na Sede Nacional da IECLB, em Porto Alegre/RS. A avaliação da Campanha 2016 mostrou que as Comunidades menores (que mais precisam) são as que mais contribuem. Já os relatos sobre o que é feito nos Sínodos com o dinheiro das ofertas da Vai e Vem que retorna a eles deu uma visão mais abrangente da Campanha. Nesse sentido, lembramos que, do valor arrecadado, 50% vão para apoio nacional a Projetos Missionários. Os outros 50%, descontados os investimentos na Campanha, retornam aos Sínodos para apoiar projetos e iniciativas missionárias sinodais. Entre os projetos apoiados nos Sínodos, foram mencionados: Projetos de Missão Criança, Programas de Rádio de Comunidades, Pastoral do Cuidado, Apoio à Comunidade, Coordenação de Crianças e Jovens, Capelania Hospitalar, Fundo de Solidariedade, Trabalhos dos Grupos do Sínodo, Apoio a Ancionato e Subsídios aos Pontos de Pregação distantes. A lista é longa e reflete o compromisso, a criatividade, a diversidade e a gratidão circulando entre nós. Queira Deus multiplicar estas ofertas e abençoar estes testemunhos.

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GRATIDÃO

Fé, Gratidão e Compromisso Deus ama a quem dá com alegria (2Cor 9.7) P. em. Meinrad Piske

Era costume dos Pastores motivar a coleta do Culto Dominical com a citação de uma passagem bíblica. Uma das passagens mais utilizadas era a recomendação da epístola aos Hebreus 13.16: Não negligencieis igualmente a prática do bem e a mútua cooperação, pois com tais sacrifícios Deus se compraz. Esta palavra, sempre de novo repetida, interpretou a contribuição e a coleta na Igreja. De um lado, a contribuição era vista como sendo o ‘fazer o bem e a mútua cooperação’ e, por outro, foi entendida como sacrifício. Na Língua Alemã, a coleta era denominada Opfer ou Opfergeld (sacrifício ou dinheiro de sacrifício). Já um antigo Regulamento Eclesiástico da época da Reforma, elaborado, em 1535, por Johannes Bugenhaben, amigo de Lutero, prescrevia que quatro vezes por ano devia ser recolhido o Opferpfennig (centavo de sacrifício). Assim como a expressão sacrifício foi assimilada e transmitida de geração em geração ao longo dos séculos, também outros aspectos, costumes

e formas de recolhimento da coleta e da contribuição chegaram até nós e nos influenciaram. O Novo Testamento tem muitas referências sobre a contribuição das primeiras Comunidades. Judas foi o Tesoureiro do grupo de discípulos de Jesus, pois dele fala o Evangelho de João (13.29), dizendo: Judas tinha a bolsa. Assim como os discípulos de Jesus, também a primeira Comunidade em Jerusalém tinha a sua organização administrativa e financeira, que foi implantada quando surgiram descontentamentos e problemas. Foi instituído o grupo dos sete Diáconos, que pode ser descrito como a primeira comissão de finanças da história da Igreja. A contribuição era voluntária, consequência da postura que os primeiros cristãos tinham: Ninguém considerava exclusivamente sua nenhuma das coisas que possuía; tudo, porém, lhes era comum (Atos 4.32). Quando aconteceu a crise na Comunidade de Jerusalém e ela empobreceu, foram realizadas coletas em muitas Comunidades.

Os capítulos 8 e 9 da segunda epístola aos Coríntios são um testemunho valioso sobre conceitos de contribuição, sendo que a motivação maior para a contribuição é a afirmação Deus ama a quem dá com alegria (2Cor 9.7). Nos primeiros séculos, na medida em que as Comunidades foram surgindo e crescendo, fez-se necessário o estabelecimento de regras mais claras para a administração das mesmas. Assim encontramos, além das ofertas voluntárias, os princípios vindos do Antigo Testamento: os primeiros frutos e o dízimo, além do costume de doar bens ou propriedades à Igreja. Parcialmente e por um período de tempo limitado, as receitas eram divididas em três partes iguais: 1/3 para os pobres, 1/3 para a missão e 1/3 para a administração da Comunidade. Mais tarde, esta divisão foi modificada, destinando-se 1/4 da receita para os pobres, para a missão, para a administração da Comunidade e para o Bispo, isto é, para a administração regional da igreja. Na Idade Média, grande variedade de métodos de arrecadação financeira foi introduzida. Na medida em que a Igreja crescia, cresciam também as suas necessidades financeiras. Assim surgiram, além dos métodos anteriores, os subsídios, os tributos eclesiásticos, os espólios de sacerdotes falecidos para a Igreja, os primeiros frutos da vacância, as receitas do primeiro ano de um novo Pároco destinadas ao Bispo, as taxas papais, o centavo de São Pedro, o dízimo do Clero, a taxa apostólica, a procuração e a taxa de visitação. Parte 1/2 da palestra proferida durante o Fórum Nacional Fé, Gratidão e Compromisso (junho/2005, em Rodeio12/SC)

Publicações | Roteiro A Comunidade é o lugar privilegiado para a realização da missão de Deus, porque a missão acontece efetivamente na Comunidade. O Planejamento Missionário é atividade de equipe, que envolve Presbitério, Ministros, Ministras e lideranças comunitárias. A sua realização é sinal de compromisso com a Missão de Deus. Ao planejar as ações missionárias da Comunidade, estamos colocando em prática o sacerdócio geral de todas as pessoas que creem. Que essa oportunidade de comunhão, reflexão e vivência da fé seja muito abençoada! Trecho do Roteiro para o Planejamento Missionário

O amor só é verdadeiro quando também a fé é verdadeira. É o amor que não busca o seu bem, mas o bem do próximo. Martim Lutero

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GESTÃO

Corpo IECLB | Gestão Administrativa Secretaria Geral da IECLB A Comunidade é a célula básica da IECLB. É lá que acontece o milagre da vida, a realidade da morte e a esperança da nova vida. É lá que as pessoas se encontram com Deus. É lá que são batizadas, confirmadas, participam dos cultos e dos grupos, edificam, celebram e contribuem, casam, envelhecem, se despedem umas das outras. As nossas ações, como instância nacional responsável por cuidar de um conjunto grande de processos, fazem sentido e se completam tendo como pano de fundo a Comunidade. A soma de todas as pessoas e de todas as instâncias forma o corpo IECLB, Igreja a caminho, que se coloca a serviço do mandato recebido de Jesus Cristo. O cumprimento deste mandato, de ser Igreja de Jesus Cristo no Brasil, necessita, além de pessoas qualificadas, de estruturas e de recursos que o possibilitem. A IECLB, como organização religiosa e pessoa jurídica de direito privado, organizada com a autonomia estabelecida na Constituição Federal e no Código Civil, obedece e observa a legislação em vigor no país e se rege por uma Constituição, desdobrada no Regimento Interno e nas normas complementares. Conforme o Regimento Interno, a Secretaria Geral é o órgão executivo da administração nacional da IECLB, cabendo-lhe resolver as questões administrativas e a execução do orçamento geral da Igreja, observando as decisões e diretrizes emanadas do Concílio da Igreja e do Conselho da Igreja, em conformidade ao disposto na Constituição, neste Regimento Interno e nas demais normas complementares da IECLB (Artigo 79). As atividades coordenadas e executadas pela Secretaria Geral decorrem dos planos e programas nacionais e estão alinhadas com os referenciais definidos pela Igreja. Cada ação desenvolvida, seja ela de capacitação, de gestão, de produção ou de articulação, tem como referência a Missão e a Visão da IECLB, a sua base confessional e os seus valores institucionais, levando em conta o sistema normativo, o Plano de Ação Missionária da IECLB (PAMI), as prioridades e os princípios de gestão. Trecho do Relatório da Secretaria Geral ao XXX Concílio da Igreja/2016 Para maiores informações, acesse o Portal Luteranos

Guia para o Presbitério Uma Comunidade cristã não se define como uma entidade prestadora de serviços para os seus sócios. Assim, não está correto dizer que somos ‘sócios’ e que pagamos a anuidade. Somos membros e contribuímos com dons e bens para essa Comunidade. Importa destacar que a Comunidade é a presença viva de Cristo na sociedade, chamada para o testemunho e o serviço. Cada pessoa tem um dom especial recebido de Deus, que lhe permite dar a sua contribuição específica para o bem da Comunidade e o seu testemunho no mundo. Todos recebem algo. Ninguém recebe tudo. Assim, todos têm algo a dar e a receber. Todos os dons são necessários. Se alguém não usa o seu dom, o Corpo de Cristo não se desenvolve como deveria. O dom não é dado para ser usado em benefício próprio, mas com o objetivo de servir ao próximo e ao crescimento da Comunidade (1Cor 12.7) Exercer um determinado dom não torna alguém mais importante do que outras pessoas. Ninguém, por mais que faça e apareça, pode desprezar a outra pessoa, por menor que seja a sua contribuição. Dom não é status, mas serviço.

Documentos Normativos Regulamentos são a expressão normativa dos compromissos firmados entre as representações nas diversas instâncias. A Constituição, o Regimento Interno, o documento Justiça e Ordem, o Estatuto do Ministério com Ordenação da IECLB e o Guia Nossa Fé-Nossa Vida são normas nacionais, eclesiasticamente válidas para todos. Acima desses documentos está o mandato de Deus, tendo como base a Bíblia e os Escritos Confessionais. Todos os demais documentos são elaborados a partir dos princípios constantes nesses documentos e a eles estão sujeitos eclesiasticamente. O Regulamento das Ofertas (Resolução 095), por exemplo, estabelece, entre outros, que a destinação da oferta observará, por questões de unidade eclesiástica, o Plano de Ofertas da IECLB, definido anualmente pelo Conselho da Igreja, ao qual são agregadas as destinações definidas pelo respectivo Sínodo e respectiva Paróquia. - Três níveis destinarão as ofertas: local (a Comunidade, a instituição, o setor de trabalho), sinodal e nacional. - O Conselho da Igreja definirá a destinação das ofertas nos Domingos em que a oferta é de âmbito nacional. - O Conselho Sinodal definirá a destinação das ofertas nos Domingos em que a oferta é de âmbito sinodal. - O Conselho Paroquial definirá a destinação das ofertas nos Domingos em que a oferta é de âmbito local. O Plano de Ofertas se aplica a todas Comunidades, Paróquias, Sínodos, instâncias centrais da IECLB e entidades que atuam no seu âmbito.


Jorev Luterano - Jan/Fev 2017

SÍNODOS

O que queremos como Igreja Luterana nestas terras? Que sonhos ainda temos? Pastora Sinodal Dimuht Marize Bauchspiess | Sínodo da Amazônia

Ao celebrarmos os 500 anos da Reforma Luterana, celebramos também os 20 anos da fundação do Sínodo da Amazônia. No entanto, a presença de pessoas luteranas nestas terras amazônicas remonta a 1967. Então, estamos celebrando 50 anos de presença da IECLB nestas terras mais ao norte deste nosso imenso Brasil. Esta, contudo, não foi apenas uma história de doutrinas e dogmas, mas uma história de gente que deixou as suas terras em busca de um pedaço de chão para dele tirar o sustento para a sua família. Entre as poucas coisas materiais que couberam na bagagem, estava a sua Bíblia. No coração, além das esperanças e dos sonhos de dias melhores, estavam a fé, as convicções da Reforma Luterana e o jeito de ser Igreja vivido nos Estados da Região Sul do Brasil e no Espírito Santo. Nas palavras do Presidente do Sínodo, Ademar Eggert, confirmamos esta história: Vim do norte capixaba, onde comecei o meu trabalho com 18 anos. Sempre estive-

mos envolvidos nos trabalhos da Comunidade e da Paróquia. Vim para Rondônia em 1990, quando, de imediato, ocupei-me com a Comunidade, a Paróquia e o Sínodo. Hoje, com 55 anos, estou no cargo de Presidente da Diretoria do Conselho Sinodal. É motivo de júbilo saber que essa Igreja, que veio no coração da sua gente migrante, soube ser voz profética, denunciou injustiças e anunciou o cuidado com a terra e com aqueles povos que já habitavam a Amazônia antes da sua chegada. Em 2017, serão 35 anos de trabalho e serviço amoroso em defesa de direitos e promoção de diálogos interculturais e inter-religiosos prestados pelo Conselho de Missão entre Povos Indígenas (Comin) nestas terras. Somos agradecidos pelas inúmeras iniciativas de cuidado do solo e de agricultura e pecuária sustentáveis. Muitos investimentos feitos com a ajuda de Igrejas irmãs na Alemanha visavam à conservação do solo e à proteção dos direitos de peque-

Um olhar para o futuro nos remete à pergunta pelas reformas que queremos na Igreja para os próximos tempos. Que sonhos ainda temos? O que queremos como Igreja Luterana nestas terras? A terra para a qual migramos ainda não está pronta! Muito do que fizemos contribuiu para o progresso e para a criação de uma sociedade de direitos. No entanto, muitas esperanças ainda precisam ser realizadas. Os sonhos de Roseli e Ademar nos remetem ao centro da nossa fé e da nossa razão de ser Igreja. A pregação da Palavra de Deus, o anúncio da salvação por graça e fé, uma Igreja contextualiza e unida, cuidadora da Boa Criação de Deus e dos nossos irmãos e das nossas irmãs mais vulneráveis. Queremos ser uma Igreja que reforme mentes e corações danificados pela falta de amor e perdão. Queremos ser uma Igreja que reforme o nosso jeito de lidar com a natureza e com os nossos semelhantes, abrindo espaços de solidariedade e justiça. Queremos ser Igreja de Jesus Cristo em solo amazônico!

nos Agricultores e suas famílias. Iniciativas de apoio à educação resultaram na construção de escolas. Somos gratos por nossas Igrejas e templos construídos por corações solidários que enviaram recursos para que pudéssemos congregar, orar e ouvir o Evangelho. Palavras de gratidão precisam ser ditas a Ministros, Ministras, leigos e leigas que, ao longo deste tempo, colocaram as suas vidas e os seus dons a serviço do Evangelho e das pessoas. Sobretudo, agradecemos às pessoas que passaram por aqui nos primeiros tempos, enfrentando as condições precárias das estradas, a falta de energia elétrica, as doenças, como febre amarela e malária, além de tantos outros perigos. Sem estes gestos de amor solidário, não seria possível construir esta parte da IECLB neste chão amazônico. Muito nos alegra saber que se trata de uma história de ousadia, fé, coragem, medo, alegrias e aflições, vitórias e derrotas. História verdadeira, com personagens reais. Homens, mulheres, jovens e crianças, enfim, gente que ousou acreditar na esperança e no trabalho. Gente que venceu as adversidades e deitou no solo desta floresta a semente de uma Igreja que cresceu e, hoje, abriga em seus galhos milhares de famílias espalhadas nestas enormes distâncias amazônicas. Uma Igreja que, hoje, abriga, à sua sombra, cidades e municípios que cresceram com as mesmas esperanças de dias melhores e fartura. Como toda a história, a nossa também teve as suas páginas que gostaríamos de poder reescrever. Nas palavras da Secretária do Sínodo da Amazônia, Roseli Vicente Amorim: Não temos a mesma coragem de Lutero em desafiar as imposições da sociedade e assumir verdadeiramente a nossa doutrina. O Presidente do Sínodo complementa: Falhamos por trazer conosco o egoísmo e a ganância e ao colaborar para a destruição daquilo que Deus criou. Precisamos de reformas mentais e observar que não é de expansão que precisamos, mas, sim, de amor, respeito pela Criação de Deus e todas as suas criaturas. Precisamos pedir perdão a este pedaço da Criação de Deus pela maneira pouco responsável como lidamos com os seus recursos naturais. Precisamos pedir perdão aos nossos irmãos e às nossas irmãs indígenas por esta entrada em suas terras e agradecer que eles e elas nos tenham deixado compartilhar dos dons desta floresta. Talvez pudéssemos ter reproduzido menos o modelo de Igreja trazido do sul e ter buscado uma presença culturalmente mais engajada e comprometida.

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MÚSICA

Alegres, jubilai! Uma canção para a Reforma

2. Fui prisioneiro de Satã, a noite me envolvia. A minha vida, triste e vã, nas trevas se esvaía. Abismo horrível me tragou, o mal de mim se apoderou; perdi-me no pecado.

Mus. Dra. Soraya Heinrich Eberle | Coordenadora de Música da IECLB Como encontrar o Deus da graça e misericórdia? Como pecadores e pecadoras podem viver pela graça? Essas perguntas são fundamentais na formulação da Teologia da Reforma, bem como na vida de Lutero. Pela vontade do próprio Reformador, as respostas deveriam ser apresentadas em forma de hino: Cristãos, alegres, jubilai! No hino, Lutero nos guia pelo caminho da justificação por graça e fé. Considerado em parte como uma biografia de Lutero, também representa o caminho de cada pessoa em relação à graça de Deus. Parece ser para isso que os estudos mais recentes do hino apontam, para um eu (primeira pessoa do singular) que todas as pessoas são chamadas a protagonizar. Soa, portanto, como

graça de Deus e o verdadeiro conceito da fé. A música procede de uma antiga melodia, já conhecida, de uma canção de amor ou uma balada romântica... Se, musicalmente, para nós, hoje, tal tipo de sonoridade não é tão familiar, não podemos dizer o mesmo da Idade Média. Não é somente um texto sobre uma melodia de amor, mas uma canção de amor: narra a ação amorosa de Deus para com cada um, cada uma de nós. Tal conceito era novo naquela época. Muitas pessoas realmente acreditavam ser necessário comprar o amor de Deus com doações, indulgências e sacrifícios. Em sua Balada da Reforma, Lutero rompe com tal conceito, ao afirmar: Deus nos ama e vem ao nosso encontro! No original Alemão(1523), 1. Cristãos, alegres, jubilai, felizes exultando; dois verbos com fé e com fervor cantai, a Deus glorificando. ganham destaque na primeiO que por nós fez o Senhor, ra estrofe. Em por seu divino excelso amor, Português,usacustou-lhe a própria vida. (HPD155) mos jubilar e exultar, praticauma confissão de fé. Aliás, a recomendação mente sinônimos. Em Alemão, apresenta-se de Lutero era que se cantasse o hino entre outra ação em lugar de exultar: saltar de a pregação e a confissão de fé, conforme alegria (fröhlich springen). Portanto, temos a instrução de um Hinário de Wittenberg, uma convocação à alegria: jubilar e saltar de Alemanha, pelo próprio Lutero. alegria, ou seja, todo o Corpo (Igreja) e todo Esse hino não é escrito estritamente para o corpo (pessoa) são chamados a agir, moo espaço da Igreja. O objetivo principal era ver-se, de forma integral, demonstrando que fosse cantado em cada casa, taverna, a gratidão pelos feitos de Deus. Como diz mercado, no campo, por comerciantes, peso Lema, que apoia o Tema da IECLB para soas artesãs e camponesas... e, com isso, fa2017, Alegres, jubilai! Igreja sempre em zer conhecidas as bases teológicas soReforma: agora são outros 500, viver, mobre as quais se apoiava a Reforma. Lutero ver-se e existir, a partir dele (At 17.28a). Agir bem sabia que, ao estar na memória e nos e movimentar-se a partir do Cristo. lábios, a Reforma também estaria no coraPara Lutero, a Música, graça e dom de ção. É por isso que se pode afirmar: muitas Deus, deveria glorificar a Deus e proclamar pessoas não fizeram uma adesão racional o Evangelho. Também o hino em questão tià Reforma, mas uma adesão cantada. nha esses objetivos. Saltar de alegria não é Esse é um dos quatro hinos de Lutero uma expressão comum em nosso meio, que aparece no primeiro hinário luterano, o principalmente no contexto do Culto, mas Achtliederbuch, impresso, em 1524, por essa é uma canção para canto e movimenJobst Gutknecht. Na publicação, acima da to. A Boa Notícia ali revelada é capaz de partitura, consta o seguinte texto: Uma canmover rostos rijos para um sorriso grato, ção cristã de Dr. Martin Luther / A inefável braços cansados em aplausos de alegria!

3. As obras nunca poderão livrar-me do pecado. O livre arbítrio tenta em vão guiar o condenado. Horrível medo me assaltou, ao desespero me levou, lançando-me ao inferno. 4. O eterno Deus se apiedou de mim, o infortunado. De sua graça se lembrou, voltou-se ao condenado. O seu paterno coração deu, para minha salvação, o que há de mais precioso. 5. Ao Filho disse o Pai no céu: O tempo está chegado; à terra desce, ó Filho meu, e salva o condenado! Liberta-o de pecado e dor, morrendo, sê-lhe o Redentor: Que tenha nova vida! 6. Obedeceu de coração o Filho ao Pai amado. Tornou-se em tudo meu irmão, e, pobre e desprezado, ele ocultou o seu poder e um simples homem veio a ser: Lutou por minha causa. 7. E disse em sua compaixão: A minha mão segura. Alcançarás a salvação, eu venço a luta dura. Pois eu sou teu e tu és meu; onde eu estou terás o céu. Nada há de separar-nos. 8. Derramarei o sangue meu, serei à cruz pregado, somente em benefício teu; aceita-o, confiado! Em inocência hei de sofrer, que possas vida eterna obter e bem-aventurança. 9. Ao Pai no céu eu voltarei, porém, não te abandono: O Espírito te enviarei do meu celeste trono. Em todo o sofrimento e dor ampara-te o Consolador, guiando-te à verdade. 10. Tudo o que fiz te ensinei também o faze e ensina! Farei crescer a minha grei por minha luz divina. A luz dos homens é falaz, enganadora é sua paz. Confia em mim somente! Melodia: Martin Luther Arranjo: Johann Sebastian Bach

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A COMEMORAÇÃO DOS ��� ANOS DA REFORMA SERÁ INESQUECÍVEL

Aproveite esta oportunidade única e faça parte do �ubileu� Além de visitar todas as cidades alemãs que foram cenário da Reforma protagonizada por Lutero �Worms, Eisenach, Erfurt, Eisleben e Wittenberg�, você também vai passear pela República Tcheca, Áustria, Liechtenstein, Suíça, França, com destaque para regiões do sul da Alemanha: Baviera e Alpes Alemães, Floresta Negra e Vale do Rio Reno.

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