Jornal Evangélico Luterano
| Ano 46 | Abril 2017
|
n o 804
Chamadas a ser sal da terra e luz do mundo! Este é o papel das Comunidades cristãs Testemunho público em forma de ações voltadas para a promoção da justiça e da paz
Trabalho Ministerial: um lugar para emoções e afetos
Juventudes & Reforma Qual é o papel da Juventude Evangélica
Planejamento Missionário Estatística a serviço da Missão
Gestão Ministerial
Diversidade
Missão
Jorev Luterano - Abril 2017
2
REDAÇÃO
Comunidades chamadas a ser sal da terra e luz do mundo A partir do Evangelho, as Comunidades cristãs são chamadas a ser sal da terra, luz do mundo e fermento na massa, destaca o Documento Estações do Jubileu - Estação de Abril/2017: Testemunho Público, emitido pela Presidência da IECLB. Em abril, Comunidades, Ministros, Ministras, lideranças e membros em geral são convidados e convidadas a relembrar o testemunho público dado pela Reforma e o testemunho público que nos cabe hoje, como pessoas e como instituição (Comunidade, Paróquia, IECLB como um todo, e Organizações Identificadas). O Documento cita a importância de refletirmos sobre o nosso papel nessa sociedade, em que o individualismo é crescente e tem na sua forma mais cruel a incapacidade de se colocar no lugar da outra pessoa, de se solidarizar com quem sofre. Como pessoas, somos desafiadas a fazer a diferença, reafirmando publicamente que há referenciais que defendem a dignidade humana e a Criação. A IECLB, pelo viés da sua confessionalidade, defende um Deus de misericórdia, um Deus que se solidariza com as pessoas fragilizadas. A transformação inicia em nosso meio, nas reuniões do Presbitério, de Diretorias e Conselhos, nos encontros de pessoas idosas, homens, mulheres, jovens e crianças, nos Cultos e nas celebrações, nas atividades missionárias. A transformação também requer de nós, como pessoas, uma postura diferenciada no cotidiano, desafiando, por exemplo, a ouvir mais que emitir opinião, a defender a igualdade e, com isso, testemunhar que novas posturas diante da vida são possíveis! O Movimento da Reforma teve como um dos seus pontos altos iniciais a fixação das 95 Teses, por Lutero, na Igreja do Castelo de Wittenberg, na Alemanha, desencadeando um debate público que apontava para os elementos centrais, que viriam a ser os pilares da Reforma. A redescoberta do Evangelho teve como desdobramento um chamado para uma nova forma de viver em Comunidade. É por isso que a Presidência da IECLB conclama Comunidades e organizações identificadas com a Igreja engajarem-se em ações voltadas para a promoção da justiça e da paz. O testemunho das Comunidades na esfera pública afirma os valores do Evangelho na sociedade e no mundo!
CAPA Na condição de pessoas, Comunidades e Igreja como um todo, somos desafiadas a fazer a diferença, reafirmando publicamente que neste mundo há referenciais que defendem a dignidade humana e a Criação.
Jornal Evangélico Luterano
| Ano 46 | Abril 2017
|
n o 804
Chamadas a ser sal da terra e luz do mundo! Este é o papel das Comunidades cristãs Testemunho público em forma de ações voltadas para a promoção da justiça e da paz
SUMÁRIO 2
REDAÇÃO
CARTA À COMUNIDADE EXPLICAÇÃO DA CAPA EXPEDIENTE
3
ENFOQUE
4
PALAVRA
5
PRESIDÊNCIA
6
FORMAÇÃO
7
DIVERSIDADE
Trabalho Ministerial: um lugar para emoções e afetos
Juventudes & Reforma Qual é o papel da Juventude Evangélica
Planejamento Missionário Estatística a serviço da Missão
Gestão Ministerial
Diversidade
Missão
JUBILEU DA REFORMA CHARGE OFERTAS NACIONAIS INDICADORES ECONÔMICOS GESTÃO MINISTERIAL COMPETÊNCIAS MINISTERIAIS TEMA DO ANO PALAVRA DA PRESIDÊNCIA RETROSPECTIVA AGENDA EDUCAÇÃO CRISTÃ CONTÍNUA PROPOSTA METODOLÓGICA FACULDADES EST JUVENTUDE PRONUNCIAMENTO
8-9 UNIDADE
LUTERO - REFORMA: 500 ANOS
10 11 12
13 14
15 16
FÉ LUTERANA
EXERCÍCIO DA CIDADANIA
PERSPECTIVA
LÍNGUA E IDENTIDADE A DESTRUIÇÃO DO TEMPLO
MISSÃO
PLANO DE AÇÃO MISSIONÁRIA DA IECLB PROJETOS MISSIONÁRIOS PLANEJAMENTO MISSIONÁRIO CAMPANHA DE MISSÃO VAI E VEM
GRATIDÃO
FÉ, GRATIDÃO E COMPROMISSO PUBLICAÇÕES
GESTÃO
GESTÃO ADMINISTRATIVA DOCUMENTOS NORMATIVOS GUIA PARA O PRESBITÉRIO
SÍNODOS
ALEGRES, JUBILAI!
BÍBLIA
HISTÓRIA, CULTURA E IDENTIDADE
A Palavra bem pode existir sem a Igreja, mas a Igreja não existe sem a Palavra. Martim Lutero EXPEDIENTE Pastor Presidente P. Dr. Nestor Friedrich Secretária Geral Diác. Ingrit Vogt Jornalista Letícia Montanet - Reg. Prof. 10925 Administrativo Elizangela Basile ISSN 2179-4898 Cartas - Sugestões de pauta - Artigos - Anúncios Rua Senhor dos Passos, 202/5º 90.020-180 - Porto Alegre/RS Fone (51) 3284.5400 E-mail jorev@ieclb.org.br Proibida a reprodução parcial ou integral do conteúdo desta edição sem a prévia e formal autorização da Redação do Jorev Luterano.
Assinatura anual - 11 edições - R$ 38,00 • Doc bancário • Cheque cruzado e nominal à IECLB - Jorev Luterano Enviar o cheque via carta registrada para o nosso endereço • Depósito Identificado em nome da IECLB - Jornal Evangélico
Banco Bradesco - Ag. 0491-0 C/C 576.176-0 Banco do Brasil - Ag. 010-8 C/C 153.000-3 Banco Sicredi - Ag. 0116 C/C 8376-3 Escolha o banco da sua preferência e, após efetuar o depósito, envie o comprovante via fax.
Solicite a sua assinatura via Portal Luteranos
www.luteranos.com.br
Jorev Luterano - Abril 2017
ENFOQUE
Jubileu da Reforma Dando seguimento ao projeto das Estações do Jubileu da Reforma, a Presidência da IECLB convida a, neste mês de abril, relembrar o Testemunho Público dado pela Reforma e o Testemunho Público que nos cabe hoje, como pessoas e como instituição (Comunidade, Paróquia, IECLB como um todo e Organizações Identificadas). “O ano do Jubileu abre várias possibilidades de reflexão sobre o nosso papel junto à sociedade. Somos parte de um mundo que reforça cada vez mais o individualismo em detrimento da comunhão, que tanto prezamos. A partir disso, aumenta o abismo das diferenças sociais, agrava-se o descuido com a Criação e, mesmo que o discurso seja diferente, subsiste a discriminação velada. Como instituição e como pessoas, somos desafiadas a nadar contra a correnteza, lutando contra a discriminação, seja ela de qual natureza for, em nossas relações, em nossa linguagem, em nossa ação missionária. A relativização dos valores nos desafia a reafirmar publicamente que há referenciais que defendem a dignidade humana e a Criação. Com o Movimento da Reforma, a redescoberta do Evangelho teve como desdobramento um chamado para uma nova forma de viver em Comunidade. As pessoas cristãs foram conclamadas a se envolver com as questões do cotidiano. Lutero deu mostras das implicações do
Reforma
Evangelho na esfera pública, ao se posicionar diante de diversos temas: educação, economia, política, guerra, etc. A segunda Estação do Jubileu traz eventos importantes na sua agenda, como o dia 13, quando inicia a circulação do Selo comemorativo do Jubileu dos 500 anos da Reforma, em iniciativa conjunta dos Correios do Brasil e da Alemanha, reconhecimento da importância da Reforma na sociedade ocidental. No calendário litúrgico, temos a Sexta-feira Santa (14) e a Páscoa (16). Entre 16 e 22, acontece a Semana dos Povos Indígenas. No dia 21, temos o Dia Nacional da Juventude Evangélica. No dia 30, celebramos o Dia Nacional da Diaconia. A partir do Evangelho, as Comunidades cristãs são conclamadas a ser luz do mundo, sal da terra e fermento na massa. Que o Espírito de Deus conceda às Comunidades determinação para fazer frente aos desafios do seu contexto!”. Trechos do documento emitido pela Presidência da IECLB
,
INDICADORES FINANCEIROS
UPM Março/2017
4,3072
Índice Fevereiro/2017
0,33 %
Acumulado 2017
0,71 %
A Bíblia é uma erva, quanto mais se manuseia, mais perfume ela exala. Martim Lutero
OFERTAS NACIONAIS 13 DE ABRIL Quinta-feira da Paixão Projeto de Missão no Sínodo da Amazônia Deus diz: Eu sempre os amei e continuo a mostrar que o meu amor por vocês é eterno (Jeremias 31.3). Como é bom saber do amor de Deus por nós. Porque Deus nos amou primeiro, nós podemos amar sem medo e cuidar uns dos outros, umas das outras. O Sínodo da Amazônia quer permanecer firme, perseverante e esperançoso, anunciando as coisas que Deus fez, faz e fará pelo seu povo e cantar o amor e a fidelidade de Deus nas terras do Norte do nosso imenso Brasil, que abrangem os Estados de Roraima, Rondônia, Acre, Amazonas e o extremo noroeste do Mato Grosso. 23 DE ABRIL 2º Domingo da Páscoa Missão entre os Povos Indígenas As Ofertas de Comunidades e Sínodos ao Conselho de Missão entre Povos Indígenas (COMIN), à missão e à diaconia da IECLB entre e com povos indígenas contribuem para que ações de direitos humanos, sustentabilidade socioambiental e diálogo intercultural e inter-religioso aconteçam e se fortaleçam nos Estados do Acre, do Amazonas, de Rondônia, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. A diversidade é uma característica do Brasil e nós precisamos nos dar conta dela, estar sensíveis a ela. Deus criou a diversidade e viu que era boa! Portanto, é necessário apoiar, também com orações e divulgação de informações, a busca por justiça e pelo reconhecimento de que vivemos em um país multiétnico e pluricultural.
Para mais informações, acesse o Portal Luteranos
3
Jorev Luterano - Abril 2017
4
PALAVRA GESTÃO MINISTERIAL
Trabalho Ministerial:
COMPETÊNCIAS MINISTERIAIS
Presente e futuro: Missão
lugar para transferências
Cat. Dra. Haidi Drebes | Secretária da Habilitação ao Ministério P. Dr. Pedro Puentes | Secretário de Missão
P. Dr. Victor Linn | Pastor, Psicanalista e Coach A profissão de Pastor, Pastora, assim como outras da área Médica, Jurídica e do Magistério implicam intenso contato com pessoas, também em momentos em que as emoções e os afetos se sobrepõem ao bom senso ou à racionalidade. Quando essas emoções se acentuam, desencadeiam comportamentos e atitudes em que se repete um padrão vivido em outras situações e que, geralmente, não está em proporção razoável com o que se passa no momento. Elas evocam uma predisposição favorável ou desfavorável, determinada por experiências anteriores associadas a algum aspecto aleatório da situação atual. Alguma característica da profissão ou do profissional desencadeia o comportamento, sem que este tenha um controle sobre isso – é o que a Psicologia chama de Transferência. Ela é inevitável e pode facilitar ou dificultar o trabalho e a relação com o profissional. Fato importante a considerar é que esse comportamento transferencial, quando não percebido e entendido como tal, faz com que a intensidade afetiva das relações profissionais seja personalizada, sobrecarregando a relação. Quando for positiva, pode envaidecer. Quando negativa, pode causar sofrimento. Para uma boa relação de trabalho e o bem-estar pessoal do profissional, é salutar não se deixar afetar excessivamente pela transferência. Refletir a respeito permite esboçar caminhos novos, não se deixando conduzir pelas emoções que o comportamento da pessoa suscita, ou seja, pela contratransferência, preservando-se, assim, o aspecto profissional da relação.
A competência Missão é definida como a capacidade para promover Missão e/ou despertar a consciência missionária e a responsabilidade pública da Comunidade no testemunho e no ensino do Evangelho na sociedade, em fidelidade às Sagradas Escrituras e em sintonia com os propósitos, os projetos e as decisões da Igreja, considerando contextos e diversidades. A Missão orienta e perpassa tudo quanto é feito na Comunidade, na Paróquia, no Sínodo e na Coordenação Nacional da IECLB. Entre os sinais de promoção da Missão, despertamento da consciência missionária e da responsabilidade pública na nossa Igreja, podemos mencionar a Campanha Nacional de Ofertas para a Missão Vai e Vem e os diferentes Projetos Missionários e Diaconais. Para todos estes sinais, se fazem necessárias disposições e atitudes, tais como: respeito à diversidade, abertura ao encontro e diálogo, promoção da inclusão, ousadia, paciência e perseverança missionária. Os diagnósticos apontam que há vazios de presença da IECLB no mapa brasileiro e que nós che-
gamos, geralmente, depois. Isto é um sinal de que precisamos ter atitude, adquirir conhecimentos e desenvolver habilidades que nos tornem competentes na Missão. Quando a Comunidade e a pessoa desenvolvem e fortalecem a competência missionária, deixam de viver centradas em si mesmas. Elas se abrem e saem ao encontro de outras pessoas com a Palavra do Evangelho, que reconcilia e restaura. Elas acolhem e saram pela diaconia transformadora. Elas incluem e carregam no amor da vida em comunhão. Elas geram uma dinâmica de sustentabilidade socioambiental da Comunidade e da sociedade na qual se encontram. O desenvolvimento da competência Missão por parte das pessoas que estão em preparação ou já no exercício do Ministério com Ordenação é essencial para o fortalecimento da ação missionária. Missão tem a ver com o presente e com o futuro. Ao desenvolver a competência Missão, estamos criando condições para a continuidade e a estabilidade da ação missionária confiada à Igreja.
TEMA DO ANO
Rosa de Lutero brasiliensis P. Valdemar Schultz | Pastor e Professor de Artes Visuais na Escola Pastor Dohms, em Porto Alegre/RS O Tema do Ano da IECLB para 2017 apresenta a Rosa de Lutero, o símbolo mais conhecido do luteranismo, com cores e motivos brasileiros. A arte proposta afirma o que pensa a fé luterana na sua atuação em território brasileiro. Esta arte não substitui a Rosa ‘original’. A Rosa de Lutero, com as cores escolhidas e explicadas pelo próprio Reformador, permanece como símbolo da Reforma. Como a arte nos ajuda a expressar e afirmar valores e, ao mesmo tempo, fazer releituras ou atualizações? A Igreja Luterana é uma Igreja sempre em Reforma e tem o compromisso de avaliar constantemente a sua caminhada no contexto onde atua. Nesse sentido, a Rosa de Lutero foi adaptada a partir das cores da bandeira do Brasil. Como modo de pensar, a arte busca criar variações. A releitura proposta está em consonância com a prática artística de releituras de obras de arte. A compreensão e a leitura de obras de arte estão relacionadas com o modo como a pessoa espectadora se relaciona com a obra de arte. No Período Modernista, a ênfase recaía sobre a percepção, a leitura formal das qualidades visuais da obra. Na atualidade, a leitura dos elementos formais deu lugar para a interpretação e a recriação de significado a partir da experiência da pessoa espectadora. Passamos da contemplação passiva, do simples olhar, para a interpretação interativa. Desse modo, a releitura implica não só em uma interpretação da obra, mas em uma reconstrução, na produção de um novo objeto em outro contexto e com novos sentidos. Ao comemorar os 500 anos da Reforma, as Comunidades Luteranas manifestam o seu compromisso com o Evangelho em meio às situações de júbilo e de falta de confiança, entre a ousadia e a tolerância, em meio a situações de injustiça e de esperança. Também por meio da sua releitura da Rosa de Lutero, as luteranas e os luteranos no Brasil afirmam que agora são outros 500! Para mais informações, acesse o Portal Luteranos
Jorev Luterano - Abril 2017
PRESIDÊNCIA
Quem ficará firme quando Ele aparecer? Quem tornou o amor objetivo central da sua vida! P. Inácio Lemke | Pastor 2o Vice-Presidente da IECLB
O Brasil enfrenta uma das maiores crises políticas desde a Ditadura. Sempre houve corrupção... Sempre houve violência... Então, qual é a novidade dessa crise? A diferença está na postura passiva da nossa população e no orgulho de Políticos corruptos por conta da impunidade! Nós, o povo, estamos em silêncio, vendo bandidos, corruptos liderarem o nosso Estado, assumindo Ministérios e até sendo conduzidos a Juízes do Supremo Tribunal Federal, justamente para cuidar de casos de corrupção daqueles que o indicaram! Estamos em um estado de letargia? Pa-
decemos de bom senso? Onde estão as pessoas que bradavam nas ruas contra a corrupção? Quero saber a razão do silêncio! A propaganda de uma crise nas instituições nos tira o foco, pois elas são permeadas por pessoas que escolhem o caminho do ‘jeitinho’, da corrupção ativa e passiva. Quando abrimos a Bíblia para entender a vontade de Deus, fica clara a sua posição: não há jeitinhos! Deus quer a vida e tudo o que a promove, ou seja, que se faça o bem! Os Dez Mandamentos servem como guia! Embora o Mandamento que encerra todos seja o do amor, não há receita pronta! Cada
Assim como o fogo sempre produz calor e fumaça, também a fé sempre vem acompanhada do amor. Martim Lutero
dia é um momento de exercitá-lo onde eu vivo, concretamente! O amor que Cristo mostrou e a vontade do Pai que Ele nos deu a conhecer exigem de nós, pessoas cristãs, um engajamento contra as falcatruas que estão arquitetando nesse nosso país, pois são contra a vida, contra a ética. Não é hora de passividade do povo luterano! Não é hora de silêncio diante de tantos escândalos! Precisamos nos unir em oração e ação, ancorados nos valores do Evangelho e nos colocar contra qualquer tipo de acordo que preserva o bem de alguns enquanto o mal alcança muitos! O Senhor da Criação e da vida nos criou para partilharmos dos recursos e agirmos como irmãs e irmãos. Qualquer ação que não passe por esse filtro, o filtro do amor, não é cristã! Responderemos a Ele pela resposta de fé e pelas ações que desta decorrem: Quem poderá aguentar o dia em que Ele vier? Quem ficará firme quando Ele aparecer?, pergunta o Salmista. Segundo Jesus Cristo, que conhece Deus, podemos responder: aqueles que fizeram a sua vontade e tornaram o amor objetivo central de suas vidas! Esperança e alegria, mesmo diante destas dificuldades, apenas podem brotar de um amor engajado, que não passa ao largo dos problemas e das aflições das outras pessoas! Oremos e atuemos pelo amor no nosso Brasil!
AGENDA | ABRIL 31/3-1/4
RETROSPECTIVA
4-5/4
Seminário de Planejamento Porto Alegre/RS P. Nestor Friedrich
19/4
Lançamento do Selo Comemorativo dos 500 anos da Reforma Porto Alegre/RS P. Nestor Friedrich
O exercício da fé cidadã A IECLB está envolvida com o processo político brasileiro. Com clareza, a Igreja evita separar a fé e a política, ainda que as distinga. Com muita convicção, ela afirma a dignidade da vocação política e a reconhece como um chamado a serviço do povo com vistas à promoção de justiça, paz e fraternidade. A partir da Teologia Luterana, entende-se que Deus tem o Estado como instrumento de ação no mundo. Mesmo que, ao longo do tempo, tenha havido uma mudança nas estruturas políticas e em sua representação, o Estado torna-se insubstituível.
A sua superação dar-se-á somente quando a lei estiver inscrita no coração das pessoas (Ezequiel 36.26s) e quando Deus habitar no meio do seu povo (Apocalipse 21.3s). Exercitemos a cidadania que brota da fé! Participemos da vida política como resposta à vocação de Deus! Oremos para que civilidade, paz, justiça, harmonia, liberdade e democracia se tornem realidade pelos vínculos baseados em respeito, diálogo, gratidão e diaconia!
Reunião do Conselho da Igreja São Leopoldo/RS Presidência
21-23/4
Assembleia do Sínodo da Amazônia Cacoal/RO P. Nestor Friedrich
Manifesto sobre Eleições: o exercício da fé cidadã (2014) Para mais informações, acesse o Portal Luteranos
5
Jorev Luterano - Abril 2017
6
FORMAÇÃO EDUCAÇÃO CRISTÃ CONTÍNUA
Educação Cristã e Diaconia: temas para a Missão Diac. Ma. Arleti Elvira Mattner | Assessora Pedagógica e Diaconal Que caminho leva ao desenvolvimento da fé cristã e à vivência de ações diaconais? Na Bíblia, há vários relatos com testemunhos acerca da importância da família e da Comunidade no ensinamento dos preceitos da fé cristã. Em João 14.26, lemos: o Espírito vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo que vos tenho dito. Com este texto, os discípulos de Jesus receberam a incumbência de aprender e de ensinar. No Batismo, pais, mães, Padrinhos, Madrinhas e a Comunidade se comprometem a educar na fé cristã. Ela se torna um desafio, pois necessita acontecer no espaço comunitário, mas também – e principalmente – no cotidiano das famílias, nos grupos de amizade, no testemunho cristão na sociedade. Como uma das manifestações da Missão de Deus confiada a quem o segue, a diaconia é uma resposta a situações concretas de sofrimento, necessidade e injustiça. É o
cumprimento do Mandamento do Amor e, em tudo isso, é uma expressão do que a Igreja crê e confessa: a graça de Deus para a cura do mundo (Documento Diaconia em Contexto, da Federação Luterana Mundial). As pessoas cristãs e, por conseguinte, a Igreja, não podem se omitir diante dos desafios contemporâneos de dor e sofrimento da humanidade e da Criação divina. As duas dimensões são fundamentais: a Educação Cristã e a Diaconia. Em muitos momentos, é difícil distingui-las, porque, enquanto praticamos diaconia, também ensinamos o Evangelho e o ensino deste Evangelho também acontece por meio da prática diaconal. Ao mesmo tempo, existem ênfases diferentes em nosso agir. O cumprimento do amor cristão é expresso nas ações diaconais. A educação cristã na Igreja é instituída para ser desenvolvida pela família, Padrinhos, Madri-
nhas e Comunidade. Sob a ótica do Ministério com Ordenação na IECLB, torna-se especialidade do Ministério Catequético. A diaconia é enfatizada pelo Ministério Diaconal, estendida para toda a Comunidade cristã, que tem a tarefa de expressar concretamente o amor de Deus no servir. Jesus foi o grande servo e ensinou como servir. Ao lavar os pés dos discípulos (Jo 13.13-16), ordenou: Vá e faça o mesmo! Portanto, diaconia não é apenas um chamado, mas uma ordem a toda a Comunidade. A fé que nos move é a mesma e tanto a ação diaconal quanto a catequética exigem adaptações conforme as transformações da realidade. Jesus é aquele que cura, ama pecadores e pecadoras, liberta da opressão e partilha a vida na comunhão de mesa e oração. Servir a Deus é viver da graça do Criador e engajar-se por justiça e paz, ensinando e praticando sinais do amor de Deus.
CRIANÇAS | PROPOSTA METODOLÓGICA
Jesus ressuscitou!
no seu grupo mulheres que eram suas seguidoras e relembre com as crianças o nome delas.
Materiais necessários Um exemplar da revista O Amigo das Crianças nº 68 para cada criança, tesoura, régua e pedaços de tecidos na cor marrom, preto, bege e coloridos.
Momento 3 Convide as crianças para, com os tecidos, fazer Maria Madalena, Joana e Susana, amigas de Jesus. Você encontra o passo-a-passo na Proposta Metodológica da edição nº 68, disponível no Portal Luteranos (espaço da ECC - Recursos com Crianças). As crianças vão adorar!
Momento 1 Pergunte para as crianças se elas sabem o nome de pessoas que eram amigas de Jesus. É bem provável que elas vão dizer o nome de alguns discípulos. Depois de ouvir as crianças, narre a história da página 3, No caminho com Jesus. Momento 2 Pergunte para as crianças o que mais chamou a atenção delas na história. Enfatize que Jesus também tinha
www.est.edu.br
Justiça de Gênero A cada ano, o Programa de Gênero e Religião da Faculdades EST é considerado um parceiro ainda mais estratégico para a efetivação de ações sobre a temática Gênero e Religião na América Latina e Central. Com isso, entre os dias 13 e 15 de março de 2017, o PGR da Faculdades EST, representado pelo Prof. Dr. André Musskopf, esteve presente na Reunião-Consulta a Parceiros e
Sugestão extraída da Proposta Metodológica para uso da Revista O Amigo das Crianças, nº 68. Leia a Proposta Metodológica completa e saiba como assinar a Revista O Amigo das Crianças no Portal Luteranos
Parceiras na América Latina e no Caribe, organizada pela Igreja da Suécia, na cidade de Antigua, na Guatemala. O encontro teve como objetivo coletar informações para elaboração de um plano estratégico para atuação na América Central, especialmente nos países da Guatemala e de Honduras, pela Igreja da Suécia. Os temas centrais foram Justiça de Gênero e Paz Justa, buscando responder ao contexto de graves conflitos políticos e sociais deflagrados atualmente na América Central. Cerca de 20 organizações participaram do evento, entre elas agências de cooperação internacional, representantes de Igrejas, grupos religiosos e da sociedade civil. O Centro de Estudos Bíblicos (CEBI), do Brasil, e o Programa CLAVES, do Uruguai, também participaram. As diferentes organizações apresentaram trabalhos e projetos
Para mais informações, acesse o Portal Luteranos
desenvolvidos. O planejamento das ações a serem executadas nos próximos cinco anos na região está em fase de construção pela Igreja da Suécia e os grupos das instituições convidadas, referidas como Instituições Recurso, são fundamentais para articular e pensar sobre o trabalho da Igreja da Suécia na América Central. Durante a atividade, foram divulgados resultados da pesquisa O papel de atores religiosos e de fé na América Central. “Para o Programa de Gênero e Religião da Faculdades EST, foi uma oportunidade importante para conhecer o trabalho desenvolvido pela Igreja da Suécia na América Central, fortalecendo, assim, relações de cooperação e futuras parcerias, especialmente na Guatemala e em Honduras”, ressaltou o Prof. Musskopf.
Jorev Luterano - Abril 2017
DIVERSIDADE
Que Reforma precisamos hoje e o que fazer para alcançar?
Juventudes e Reforma: qual é o papel da JE? Diác. Simone Engel Voigt | Coordenadora do Trabalho com Jovens e Programas de Intercâmbio
Nos eventos voltados para a celebração do Jubileu dos 500 anos da Reforma Luterana, jovens de diversos Sínodos estão refletindo sobre o que significa ser jovem luterano, o que significa ser jovem luterana. Como ser pessoa jovem luterana no mundo de hoje? Que Reforma precisamos nos dias atuais e como podemos alcançá-la? Qual seria o papel da Juventude Evangélica (JE) no contexto de uma sociedade marcada pela corrupção, pela discriminação, pela criminalidade, por genocídios, pelas drogas, pela injustiça, pela desigualdade de oportunidades e tantas outras coisas ruins que imperam em nosso país?
Lemos e ouvimos que a pessoa jovem possui valores, comportamentos, visões de mundo, interesses e necessidades singulares. Ser pessoa jovem é estar imersa em uma sociedade com processos transitórios e com nova conjuntura familiar, política e social. É estar em meio a conceitos e formas diversas de leitura de mundo. O mundo mudou! A sociedade está em constante transformação, com avanços e retrocessos. Os tempos são outros! As exigências da vida também. As gerações jovens estão sempre conectadas, procuram informação fácil e imediata, têm diariamente um grande fluxo de informações, são
demasiadas ansiosas, têm forte responsabilidade social, necessidade extrema de interação e exposição de opinião. É uma juventude que quer participar! A Reforma deve ser vivida e experimentada. Jovens participam, assumem tarefas e geram ações com entusiasmo. Baseadas na valorização da vida, as diferentes gerações são chamadas e desafiadas, por meio da sua fé e identidade luterana, a participar na Missão de Deus. Não só observar o que acontece ao seu redor, mas, de forma consciente, manifestar e interceder pela paz no mundo, pela igualdade na diversidade, pela convivência com a diferença, pelo cuidado com a Criação, pela unidade na Igreja e pela caminhada da Juventude Evangélica (JE). A Igreja cristã é o espaço coletivo de manifestação do amor de Deus, espaço que acolhe pessoas, que permite a comunhão. A Igreja é também espaço para fortalecer pessoas jovens, incentivando e ajudando-as a enfrentar desafios e agir a partir da fé enraizada na Bíblia. Juventudes engajadas na realidade humana tornam-se protagonistas em uma Igreja em movimento, uma Igreja que faz história. A Igreja está em constante Reforma e o trabalho da JE é uma parte visível desta força e movimento. Movimentar é gerar mudanças, transformar a realidade onde se vive, pois Nele vivemos, nos movemos e existimos (Atos 17.22a).
PRONUNCIAMENTO
Não sei por quais caminhos Deus me conduz, mas conheço bem o meu guia. Martim Lutero
Comunidade jovem - Igreja viva Queremos ressaltar que pessoas jovens são parte integrante da Comunidade Cristã e que a vida comunitária é espaço qualificado para ajudá-las na construção da sua identidade, a partir de valores, práticas e significados de vida, onde podem encontrar amparo em sua angústia, seus medos e suas dúvidas (1Co 12.26). Cremos que jovens tendem a renovar e enriquecer a vida comunitária com a sua capaci-
dade de oferecer novas formas de participação. Nesta perspectiva, Comunidade jovem é aquela que constrói e reconstrói espaços para a vivência da espiritualidade de todos os seus integrantes: crianças, adolescentes, jovens, pessoas adultas e idosas. Nessa Comunidade, jovens não precisam reivindicar espaço! Tema do Ano 2012 Comunidade jovem - Igreja viva
7
Jorev Luterano - Abril 2017
Jorev Luterano - Abril 2017
8
UNIDADE
UNIDADE
Série Especial
Lutero - Reforma: 500 anos
Para mais informações, acesse o Portal Luteranos
Desafios para a cidadania
A cidadania é a luta pela busca da liberdade no encontro com a outra pessoa, no embate pelos espaços que permitam a vivência plena da dignidade humana, garantida por direitos civis, sociais e políticos.
A cidadania é a luta pela busca da liberdade, da construção diária da liberdade no encontro com o outro, no embate pelos espaços que permitam a vivência plena da dignidade humana. Trata-se de um conjunto de direitos fundamentais para a existência plena da vida humana: (a) direitos civis que significam o domínio sobre o próprio corpo, a livre locomoção e a segurança, (b) direitos sociais que garantam atendimento às necessidades humanas básicas, como alimentação, habitação, saúde, educação, trabalho e salário dignos, (c) direitos políticos para que a pessoa possa deliberar sobre a sua própria vida, expressar-se com liberdade no campo da cultura, da religião, da política, da sexualidade e participar livremente de sindicatos, partidos, associações, movimentos sociais, conselhos populares, etc. (O que é cidadania, de Maria de Lourdes Manzini-Covre). Como o exercício da cidadania se rela-
Prof. P. Dr. Alvori Ahlert, Professor Associado da Universidade Estadual do Oeste do Paraná e Pastor Voluntário na Paróquia de Marechal Cândido Rondon/PR ciona com a nossa fé cristã de confissão luterana? A Reforma Luterana carrega uma profunda dimensão de cidadania. A sua perspectiva de cidadania é a de que pessoas cristãs e não-cristãs, Igreja, Estado e família são responsáveis pela educação, pela economia, pela saúde, pela administração justa da vida comunitária. Lutero teve grande preocupação com a vida das pessoas nos novos aglomerados urbanos que se constituíram ao redor do comércio, dos serviços e da produção que se ampliou na transição do feudalismo para o modo capitalista de produção. Em À Nobreza Cristã de Nação Alemã, acerca do Melhoramento do Estado Cristão, Lutero lançou um desafio para que as cidades assumissem o enfrentamento da pobreza e viessem a garantir bem-estar, trabalho e cidadania para todos os seus habitantes: ‘Uma das necessidades mais urgentes é acabar com toda a mendicância na cristandade inteira. Ninguém mais deveria mendigar entre cristãos. [...] Cada cidade deveria prover os seus pobres, não admitindo nenhum mendigo estranho, seja qual for a sua denominação, quer peregrinos, quer ordens mendicantes. Cada cidade poderia alimentar os seus’. Conforme Carter Lindberg, em Reformas na Europa, a Reforma, pois, não se resumiu às questões eclesiais. Demandou reformas simultâneas na sociedade e na política do seu tempo. Uma nova ética social, política e econômica foi sendo forjada: ‘Os reformadores de Wittenberg, com seu deslocamento do locus da relação com Deus da caridade para a fé, foram
capacitados a imaginar uma nova ética social com relação à pobreza. As reformas da sociedade fluíam da reforma da missa. É possível notar o impacto dessa vinculação quando se atenta para o background representado pelo sistema de assistência ou providência social da Idade Média tardia’. A organização cidadã da assistência social decorreu da reforma do Culto que Lutero promoveu. A sua Teologia reivindicou a superação do dualismo que permitia uma separação entre a vida espiritual e as ações concretas do cotidiano. A sua hermenêutica bíblica permitiu-lhe restaurar o sentido do Culto Cristão. Este devia traduzir-se para dentro da vida, do cotidiano das pessoas, por isso o Sacramento da Ceia do Senhor deveria provocar uma nova ética social. Como sinal de uma comunhão radical em Cristo, compromete-se o ser humano a viver ativa e concretamente esta comunhão com a Comunidade e com a cidade. A Comunidade e a cidade tornam-se um só corpo e os seus cidadãos pertencem uns aos outros. Para Lindberg, ‘A analogia feita por Lutero entre a relação mútua de Sacramento e ética social e os benefícios e responsabilidades da cidadania é notável no que diz respeito à relação entre a Reforma e as cidades. O uso correto do Sacramento edifica a Comunidade. Desta forma, a pessoa em necessidade recebe a recomendação de que dirija-se alegremente ao Sacramento do Altar e deponha seu pesar na Comunidade, busque ajuda junto a todo o corpo espiritual, assim como um cidadão pedi-
ria auxílio às autoridades e concidadãos”. A ética social de Lutero levou a uma experiência de cidadania política, econômica e democrática introduzida inicialmente em duas cidades. A primeira foi em Wittenberg, na Alemanha. Em janeiro de 1522, esta cidade aprovou a sua Constituição por meio de um Conselho da Cidade. Lutero e Karlstadt fizeram contribuições substanciais. Conforme Lindberg, dos 17 artigos, 14 legislavam em favor de auxiliar as pessoas pobres a enfrentar a pobreza. Foi instituída uma caixa comum para servir de custeio às pessoas necessitadas e possibilitar captação de recursos para emprestar a juros baixos para pessoas trabalhadoras e pequenas artesãs com o objetivo de melhorar a sua situação de vida e possibilitar melhorias no trabalho e na produção. A Constituição de Leisnig, na Alemanha, elaborada pelo Conselho da cidade, também recebeu importante contribuição de Martim Lutero. Nela foram definidos os estatutos para a administração da caixa comum, sobre as orientações de como lidar com as propriedades comuns da Igreja, a respeito do direito e da autoridade das Assembleias Comunitárias e da nova ordem do Culto nas Comunidades. Os objetivos da caixa comum não se restringiram a um assistencialismo para com a população pobre, segundo Lindberg: ‘Em termos de assistência direta aos pobres, a Constituição regulamentou desembolsos em empréstimos e doações para recém-chegados a fim de auxiliá-los a se estabelecer na cidade: para os pobres com casa que, depauperados por circunstâncias fora do seu controle, moravam em sua própria residência e não pediam esmolas em público, a fim de ajudá-los a se firmar em um negócio ou em uma ocupação, e para os órfãos, dependentes menores, inválidos e idosos, a fim de prover seu sustento diário’. Não há dúvida que, por trás dessa organização, estava uma dimensão política de cidadania democrática bem significativa, uma forma de democracia participativa adiantada em vários séculos. Em meio ao regime feudal, as cidades inspiradas nestes princípios buscavam, por meio da participação popular, a sua organização política, econômica e social. No acordo fraternal da caixa comunitária de toda a Comunidade de Leisnig (1523), o título que trata sobre bens, reservas e receitas da caixa comu-
nitária, evidencia que as decisões acerca do assunto foram construídas coletivamente em Assembleias Comunitárias. Em Lutero e a libertação, Walter Altmann destaca a passagem: ‘A fim de que nossa fé cristã, na qual todo temporal e eterno foi obtido e a nós comunicado por pura graça e misericórdia pelo Deus eterno por meio do nosso senhor e redentor
As Comunidades luteranas são, por excelência, o espaço de aprendizagem e do exercício da cidadania, por isso a sua tarefa permanente é a motivação e a qualificação de todos os seus membros para esse exercício.
Cristo, venha a produzir e seja levada a produzir o fruto verdadeiro do amor fraternal e este amor se concretize na verdade e nas obras de bondade e humildade, nós, a Assembleia Geral antes mencionada, ordenamos, instalamos e estabelecemos unanimemente para nós e nossos descendentes uma caixa comum. [...] Atribuições e recursos da caixa comum: portanto, nós, a Assembleia Paroquial e nossos descendentes, doravante queremos alimentar, prover e manter com recursos de nossa caixa comum e pelos nossos dez administradores eleitos, na medida de nossos bens e com a graça de Deus, os seguintes títulos de
despesas, conforme o respectivo caso, ou seja: despesas com o Ministério Pastoral; despesas com a sacristia; despesas com a escola; despesas com as pessoas inválidas e idosas pobres; despesas com o cuidado das crianças órfãs e pobres; despesas com o cuidado de pessoas sem casa; despesas com o cuidado de migrantes; despesas com manutenção e construção de prédios; despesas com a compra de cereais para estoque [regulador] comum; acrescentar à caixa comum qualquer receita [auferida]’. Carter Lindberg atesta a organização democrática e participativa da constituição da caixa comunitária. A administração se efetivava por meio de representantes eleitos pela Comunidade. Eram dez administradores: dois membros indicados pela nobreza, dois membros do Conselho da cidade, três cidadãos comuns da cidade e três representantes dos camponeses. Toda a movimentação financeira devia ser registrada em livros guardados em caixa-forte da Igreja, trancados com diferentes chaves segundo os grupos envolvidos no processo. Relatórios trienais deviam ser apresentados à Comunidade pelos seus Diretores. Entretanto, Lutero não enxergava uma perspectiva democrática na política. Em seu tempo, não se vislumbrava um poder nacional oriundo de uma vontade popular mediante um sufrágio universal, mas desafiou as Comunidades para assumirem a defesa e o cuidado das pessoas pobres e crianças por meio da participação das pessoas batizadas na gestão econômica e em políticas participativas a partir da vivência e dos compromissos comunitários. Hoje, a vivência da democracia exige uma crescente organização da sociedade civil e das Comunidades religiosas, para possibilitar e aprofundar a participação de todas as pessoas. O exercício mais efetivo do processo democrático deve ter nas Comunidades Luteranas um ensaio permanente. Fomentar o envolvimento cidadão de todas as pessoas batizadas encontra inspiração nos testemunhos da Reforma. As Comunidades luteranas são, por excelência, o espaço de aprendizagem e do exercício da cidadania, por isso a sua tarefa permanente é a motivação e a qualificação de todos os seus membros para esse exercício.
9
Jorev Luterano - Abril 2017
10
FÉ LUTERANA
A pessoa cristã e a política P. Me. Leonídio Gaede | Ministro na Paróquia no Vale do Três Forquilhas/RS Vamos partir de um pressuposto: a pessoa cristã segue Jesus Cristo na Igreja. Vivenciei no meu Ministério pessoas iniciarem a sua atuação pública como líderes na Igreja. Sem novidades! Igualmente, vivenciei que, uma vez politicamente engajadas, essas pessoas, se não abandonaram, pelo menos diminuíram a sua atuação na Igreja. Sem novidades também! O que me surpreendeu foi ouvir de não só uma dessas pessoas a argumentação que não congrega na Comunidade local porque esta é retrógrada em termos políticos. Então, vamos lá! Originalmente, a palavra Igreja indica uma assembleia de encontro com o Cristo, que, tendo sido Jesus de Nazaré, passou a ser, definitivamente, pela ressurreição, o Cristo que subiu ao céu e está sentado à direita de Deus Pai, todopoderoso, de onde virá para julgar os vivos e os mortos (Credo Apostólico). Política, por seu lado, é, originalmente, aquilo que se faz para viver na polis. Imaginemos um acampamento permanente, um povoado, cercado por um muro. Do lado de fora, acontecem as barbaridades do mundo dos bárbaros e, do lado de dentro, o jeito polis de viver, a política. Considerando que o Grego polis
quer dizer, em Latim, cidade, podemos afirmar que, do lado de dentro do muro, acontece a vida cidadã, a cidadania. Que relação existe entre a vida na assembleia de encontro com o Ressurreto e a vida na polis, a cidadania? Resposta: toda! Em outras palavras: a vida da pessoa cristã acontece na política. Fiquemos com a imagem da cidade
A missão é estabelecida pela dimensão da trajetória de Jesus: inclui o lado de fora do muro da cidade, abrange a distância entre descer ao inferno e subir ao céu. murada e com o seu lugar de julgamento na porta de entrada e saída (Rute 4.1ss). Um dos resultados desse julgamento pode ser a condenação de viver fora da cidade. A condenação de Jesus Cristo, a quem a pessoa cristã segue por meio da Igreja, não foi a vida fora dos muros da cidade, mas a morte. Após três dias, o crucificado deixou de ser
apenas Jesus de Nazaré. Ele desceu ao hades (hebreus), ao inferno (gregos) ou ao mundo dos mortos, segundo o nosso Credo, e é o Cristo que governa de eternidade a eternidade. Jesus atuou na cidade, foi um político. Nos moldes de hoje, os textos bíblicos não nos dão subsídios para dizer que ele atuou, por exemplo, como um Secretário de Obras, mas a sua atuação, segundo os Evangelhos, estaria perfeitamente adequada a Secretarias como de Educação, Saúde, Bem-Estar, Assistência Social, Inclusão Cidadã, mas... atenção! O Reino de Deus anunciado por Jesus Cristo não se confunde com o mundo da política. Ser uma pessoa cristã é imensuravelmente maior que atuar na política, pois a atuação de uma pessoa cristã não termina com a derrota de um partido, com um Golpe de Estado, com a transformação de um ídolo político em apenas mais um corrupto. A missão de uma pessoa cristã é estabelecida pela dimensão da trajetória de Jesus, isto é, inclui o lado de fora do muro da cidade, abrange a distância entre descer ao inferno e subir ao céu. Para refletir, leia Rute 4.1ss
Perseverando na cidadania profética P. Me. Jairo Menezes dos Santos | Ministro na Paróquia de Rio Negro/PR e Mafra/SC A pessoa cristã é vocacionada a exercer com responsabilidade a sua dupla cidadania: somos pessoas cidadãs da sociedade civil brasileira e, ao mesmo tempo, somos pessoas chamadas a viver e a testemunhar a nossa identidade de cidadania cristã a serviço do Reino de Deus e da sua justiça (Mateus 6.33). A nossa identidade e cidadania civil nos compromete com os direitos e os deveres, como qualquer pessoa cidadã brasileira, nos responsabilizando em relação às leis do país e ao tratamento digno com as nossas autoridades e com os nossos compatriotas, vivendo com integridade e tratando a todos e todas com amor, justiça e cooperando para uma sociedade mais justa e fraterna. Ser pessoa cidadã nos compromete com a ética da responsabilidade, conforme o Filósofo alemão Hans Jonas, e com o cuidado do planeta e da vida digna dos nossos irmãos e das nossas irmãs em humanidade, empenhando-nos por melhor qualidade de vida nas áreas da saúde, educação, segurança pública, emprego, salário e aposentadoria digna para as pessoas. A outra dimensão da nossa cidadania como pessoas cristãs nos compromete com a cidadania dos filhos e das filhas
de Deus, por intermédio da fé em Jesus Cristo como nosso Salvador e Senhor (João 1.12-13 e 1João 3.1). A nossa condição de pessoas cidadãs do Reino de Deus nos compromete com a cidadania profética (anúncio do Evangelho e denúncia do pecado, da idolatria e da injustiça). Ser profeta, profetisa é ser protestante no âmbito civil, ou seja, não
A nossa condição de pessoas cidadãs do Reino de Deus nos compromete com a cidadania profética (anúncio do Evangelho e denúncia do pecado). se deixar conformar ou domesticar pelas ideologias políticas. É também preservar uma visão crítica das ideologias religiosas e das suas práticas de mercantilização do sagrado! Ensina o apóstolo Paulo, em Romanos 12.1-2: não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação de vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável
Para mais informações, acesse o Portal Luteranos
e perfeita vontade de Deus. Ampliando o diagnóstico da crise de identidade, cidadania e valores, destaco a análise do Sociólogo italiano Domenico De Masi, no seu mais recente livro, Alfabeto da Sociedade Desorientada, ‘a sociedade atual tornou-se incapaz de distinguir entre o belo e o feio, a verdade e o falso, o bom e o ruim, o que é direita e esquerda. Resumindo: a desorientação seria o mal maior mal do nosso tempo e geração!’. O Reformador Martim Lutero enfatiza que a pessoa, em sua rebeldia contra Deus e fechada para a graça salvadora de Jesus Cristo, torna-se fechada (incurvada em si mesma) para contemplar com olhar de misericórdia as contradições e os pecados das outras pessoas. Em um contexto de corrupção quase generalizada nos Três Poderes da República Brasileira, a nossa condição de pessoas cidadãs do Reino de Deus nos liberta da tentação de nos deixarmos domesticar por pautas de poder de partidos políticos corrompidos e corruptores, que tornaram-se servos das grandes empreiteiras e de banqueiros, comparsas no assalto bilionário nas estatais do Brasil! Para refletir, leia Romanos 12.1-2
Jorev Luterano - Abril 2017
PERSPECTIVA
Língua e identidade - Sola Scriptura! A fé vem pelo ouvir e ouvir a Palavra de Deus Profa. Dra. Ema Marta Dunck Cintra | Docente no Instituto Federal de Mato Grosso e Presidente do Conselho da Igreja Em um ano no qual estamos comemorando a Reforma da Igreja, gostaria de refletir, como Linguista, sobre a importância que foi a tradução da Bíblia para a Língua Alemã, para a língua do povo, para a língua materna. Estudiosos apontam que a Língua é muito mais do que simplesmente ler textos, repetir palavras, frases e cantos sem entender o significado. Língua é identidade, é a morada do ser, é um comportamento social ligado à vida, à cultura e à história de um povo. A Língua não é algo que os seres humanos têm, mas algo que os seres humanos são. Na história do povo de Deus, a tradução da Bíblia era uma prática. Como exemplo, pode ser citada a tradução do Velho Testamento para o Grego. No entanto, no decorrer da história, a Igreja Católica usava quase exclusivamente o Latim. Daí decorre um expressivo problema, pois, como o povo não falava nem entendia Latim, a compreensão dependia da interpretação do Clero. Costumo pedir aos meus alunos e às minhas alunas que imaginem uma situação em que teriam que fazer uma oração em outra língua que não fosse a materna. O que você sentiria? Qual seria o seu envolvimento naquela situação? Ora, a Língua é um poderoso traço de identificação de um povo, mas, além disso, ela é sentimento, é identidade, é vida. Como as pessoas comuns poderiam se sentir pertencentes ao povo de Deus se aquela Língua
que elas rezavam era algo estranho à sua vida? Sabemos que Lutero defendia a Bíblia como única regra de fé para a vivência das pessoas cristãs, mas havia um problema, porque, se ela estava acessível quase que somente em Latim ou em suas línguas originais, como isso poderia ser resolvido? A solução foi traduzir a Bíblia para a Língua Alemã! O que Lutero fez não foi somente colocar a Bíblia ao alcance do povo. Ao traduzi-la para a Língua materna, ele transportou os ensinamentos sagrados para o ser das pessoas, para a vida dela. Ao fazer isso, o lugar de pertencimento àquilo que a língua traz, aflora. Com ela, vem a vitalização de saberes, de conhecimento do sagrado, de vida, de simbologia identitária e a espiritualidade encontra um espaço muito fértil para se potencializar. É por isso que podemos dizer que a Reforma, no século XVI, além de ser um movimento social e político, foi um movimento de fortalecimento espiritual dos princípios do Evangelho, pois o que ocorria naquela situação era uma apropriação da Bíblia à vida, ao ser das pessoas. A leitura da Bíblia na Língua Alemã começa a se tornar, assim, um símbolo importante de luta pela vida e por histórias compartilhadas de identidade e de pertencimento a um povo: o povo de Deus. A fé vem pelo ouvir e ouvir a Palavra de Deus (Rm 10.17).
Quisera não ter outro pensamento que este: a ressurreição aconteceu para mim! Martim Lutero
A falta de respeito pelo patrimônio comum A destruição do templo P. Dr. Oneide Bobsin | Docente na Faculdades EST, em São Leopoldo/RS Certamente não vou me referir à destruição do templo de Jerusalém, ocorrida na segunda metade do primeiro século. Muito menos vou falar sobre o que Jesus disse a respeito do templo que será destruído e, em três dias, reconstruído em seu corpo, referindo-se à sua morte e ressurreição. Também não vou falar sobre a destruição de templos umbandistas por parte de pessoas cristãs extremistas, o que é tão comum no Brasil. Então, a respeito do que falaremos? Vamos falar sobre a destruição de um templo evangélico em um bairro a dois quilômetros de casa, em São Leopoldo/RS. Um casal de ex-estudantes de Teologia mora em um bairro muito pobre, resultado da ocupação de um terreno cujos donos não se interessaram pela herança dos pais devido a brigas entre si. Naquele loteamento, ainda pode ser visto um espaço vazio de três terrenos, mas com restos de um piso. O relato do futuro Pastor capixaba: ‘Havia um galpão que servia de templo para uma Igreja Evangélica. O galpão foi construído com doações, especialmente de comerciantes e lojas de material de construção. Todos queriam doar material para o templo, como propaganda. Afinal, por que não tirar uma lasquinha da fé dos outros? As doações ao Pastor eram
generosas e o templo estava cheio. Em dois meses, o Pastor estava de carro novo. Por que o templo não existe mais? Bom, o filho do Pastor morava nos fundos e estava envolvido com drogas. Mais recentemente, soubemos que o filho do Pastor seduzia as ovelhas novinhas no espaço do templo. Estes fatos geraram revolta entres as pessoas que se reuniam naquele templo. A revolta foi tanta que correram com o Pastor e o seu filho. Depois, cada fiel foi levando partes da construção para casa. ‘Levo esta porta para compensar o dízimo’, disse um. ‘Levo aquela janela para recuperar as minhas doações’, disse outro. ‘Dei muita coleta, então levo os tijolos’, justificou um terceiro. Ainda outros levaram os bancos para reformarem os casebres. Cada (in)fiel levava um pedaço para casa. Em três dias, não ficou tijolo sobre tijolo’. Por fim, por mais que nos queixemos das nossas estruturas comunitárias, elas são a garantia de um respeito pelo patrimônio de todas as pessoas. Se ali a Comunidade religiosa tivesse um Presbitério, certamente o Pastor teria ido embora, mas não o templo. O nosso zelo pelos bens da Comunidade é um sinal de transparência. Oxalá, que possamos estendê-lo para o setor público. Para mais informações, acesse o Portal Luteranos
11
Jorev Luterano - Abril 2017
12
MISSÃO
Unidade na diversidade da Missão P. Dr. Pedro Puentes | Secretário de Missão O Plano de Ação Missionária escreve que, na IECLB, ‘há diferenças na compreensão teológica da missão e no entendimento sobre as práticas missionárias que essas Teologias sustentam’ (PAMI, p. 7) e continua ‘Essas diferenças podem ser assumidas como complementares umas em relação às outras’. Diferenças que se complementam é a chave que precisa ser constantemente lembrada nas nossas análises, discussões e propostas vinculadas à Missão e à Ação Missionária, porque sempre será necessário saber responder Qual a razão e a paixão que nos unem nesse corpo de Cristo? (PAMI, p. 7). Em outras palavras, sem a percepção e a aceitação de que a Missão de Deus é maior que as nossas construções teológicas e de que a pertença e a
Projetos & Reforma Secretaria de Missão Uma das frases da chamada do Tema do Ano da IECLB para 2017 diz: Igreja sempre em Reforma. Essas palavras querem expressar que a Comunidade de Jesus Cristo deve revisar constantemente as suas formas de entender e viver a mensagem do Evangelho. No fundo, essa frase é um lembrete que a saúde e a vitalidade da Igreja estão na sua fidelidade ao Evangelho. De que maneira acontece essa Reforma constante? Um modo de reformar a herança Evangélica de Confissão Luterana, recebida e vivenciada nas Comunidades, é pela resposta aos desafios vindos da Missão. O que isso significa? Significa que a nossa herança evangélica se recria pelas Ações Missionárias dos Projetos Missionários e das Comunidades. Assim sendo, toda vez que, como discípulos, discípulas e Igreja, nos abrimos à parceria na Missão de Deus, o Evangelho de Jesus Cristo exige uma mudança, primeiro de nós e, logo, das pessoas que serão objeto da Ação Missionária.
permanência no Corpo de Cristo são fruto da graça de Deus, corremos o risco de fracionar a unidade desse Corpo criado pelo Espírito de Deus. Então, o que nos une? Primeiro: a Missão é de Deus e não nossa. Segundo: essa Missão consiste em Deus ‘amar ao mundo de tal maneira que aquele que se encontra com o seu Filho, Jesus Cristo, e nele crê, é nova criatura, passou da morte para a vida e vive da esperança confiada de que o Reino de Deus já está aqui, em forma de sinais sensíveis e virá em plenitude no final dos tempos’ (PAMI, p. 5). Terceiro: a Missão que Deus realiza ‘por meio da sua obra criadora e mantedora, redentora e santificadora’, envolve e ‘inclui a Igreja – a comunhão das pessoas agraciadas por fé – neste movimento em
prol da cura e da salvação do mundo. A Missão da Igreja, pois, não é outra que inserir-se na Missão divina e dispor-se a ser instrumento do agir salvífico de Deus’ (PAMI, p. 35). Sob esta base comum, a Presidência da IECLB convoca para um Fórum Nacional de Missão, a ser realizado nos dias 1º a 4 de junho do presente ano, na Faculdade EST, em São Leopoldo/RS.
Planejamento Missionário P. Altemir Labes | Secretário Adjunto para Missão e Diaconia Estatística a serviço do Planejamento Missionário - Em geral, a palavra ‘estatística’ não desperta bons sentimentos. Há certa aversão em ‘fazer estatística’, mas a verdade é que, para planejar a nossa ação missionária, temos que nos conhecer, ou seja, saber quem, quantos somos e onde estamos. A Estatística é uma ciência que aprende a partir dos dados. Bastante do que se fala hoje envolve estatísticas. É por isso que muitas pessoas que estão em cargos de direção nas Comunidades da IECLB já tiveram contato com o ‘fazer estatística’. As estatísticas oferecem uma visão essencial para determinar quais dados são
necessários para estabelecer ações missionárias, podendo auxiliar a solucionar problemas por meio de técnicas e métodos de forma investigativa. As estatísticas da IECLB 2016, ano-base 2015, apontaram que somos uma Igreja de 666.309 membros, que, em sua grande maioria, residem em cidades de até 50 mil habitantes. Os dados estatísticos mostram que avançamos no crescimento do envolvimento das lideranças no acompanhamento aos processos de decisão, com maior participação das mulheres. As estatísticas mostraram, ainda, que temos uma grande riqueza teológica e um modelo eclesiológico participativo!
Jovens se preparam para a Vai e Vem Paula de Moura Kleinkauf | Coordenadora do Cosije no Sínodo Nordeste Gaúcho Ninguém é tão pobre que não possa ajudar, nem tão rico que não precise de ajuda. Essa frase tem motivado jovens de duas juventudes do Sínodo Nordeste Gaúcho a praticar a solidariedade e a convidar mais pessoas a fazer o mesmo, para que isso se torne um grande círculo do bem! Um dos projetos para o qual as juventudes de Taquara/RS e Igrejinha/RS estão se preparando para ajudar é a Campanha Nacional de Ofertas para a Missão Vai e Vem. As juventudes irão promover ‘brechós solidários’, que, além de ajudar as pessoas a adquirirem peças por um valor mais em conta, terão a sua renda integralmente doada para a Campanha Vai e Vem. O objetivo é arrecadar fundos e estimular à doação, pois fazer o bem sempre é muito bom! Com isso, as juventudes também querem desafiar todos os grupos de Juventude Evangélica a fazer o mesmo: ajudar! Esta é a Campanha de Missão da nossa Igreja! É a Campanha de todos e todas nós, jovens e demais membros da IECLB! Campanha Vai e Vem 2017: nós fazemos parte!
Para mais informações, acesse o Portal Luteranos
Jorev Luterano - Abril 2017
GRATIDÃO
Fé, Gratidão e Compromisso Jesus Cristo é a motivação e o exemplo a ser seguido P. Eloir Carlos Ponath | Ministro na Paróquia de Domingos Martins/ES
A Comunidade cristã existe, vive e se movimenta a partir da convicção de que Jesus Cristo é o seu Mestre, Guia, Intercessor, Senhor e Salvador, Caminho para a vida eterna e para o Reino de Deus. Nada tem sentido no cotidiano da Comunidade se Jesus Cristo não for o centro, a motivação e o exemplo a ser seguido. A esta convicção chamamos fé. Jesus Cristo é o Filho de Deus, enviado ao mundo para libertar, perdoar, ensinar e mostrar o seu amor. Essa é a fé que motivamos as pessoas a fortalecerem no seu coração: Creia sempre, sem cessar, siga em fé, sem vacilar; creia em Cristo até o fim; ele chama: Creia em mim! (HPD 1 - 159.1). Conforme Atos 2.41-47, as primeiras Comunidades cristãs viveram intensamente a partir da sua fé. Elas ouviram a pregação dos apóstolos e acreditaram na mensagem, sentiram-se cativadas pelo desejo de um mundo transformado, novo, renovado a partir do amor. Neste mundo, as pessoas são chamadas a viver em co-
munhão, em cuidado, em colaboração umas com as outras, pois Jesus ensinou o caminho que passa pelo cuidado com o próximo: Ame o Senhor, seu Deus, com todo o coração, com toda a alma e com toda a mente. [...] Ame os outros como você ama a você mesmo (Mt 22.37 e 39). Assim somos chamados a viver a fé também nos dias de hoje. Fé entre quatro paredes é uma fé morta. É comum encontrarmos pessoas que dizem: ‘Eu não preciso ir à Igreja. Eu tenho a minha fé em casa!’. Cresce o número de pessoas que trocam o convívio em Comunidade pelas Redes Sociais, pelos programas de televisão, por mensagens de Internet. Com isso, buscam apenas uma palavra que lhes interesse, que não lhes tire da acomodação, que não lhes dê compromisso com o próximo. A fé cristã é movimento, é encontro, é cuidado, é solidariedade, é vida em comunhão. Ela gera em nós o desejo de levar a mensagem de Cristo adiante. Para isso, é preciso colocar-se à disposição. É
preciso contribuir, fazer a sua parte! Como nos envolvemos, a partir da fé em Cristo, com a missão de levar a sua mensagem às pessoas? Qual é o compromisso que temos com a nossa fé? Todos os que criam estavam juntos e unidos e repartiam uns com os outros o que tinham (At 2.44) Assim viviam as primeiras Comunidades cristãs. Estar juntos, repartir, essas são atitudes difíceis de serem seguidas, mas o desafio da fé é avaliar: Como eu posso ajudar para que a mensagem de Cristo continue mudando o mundo? Como eu posso contribuir? Existem diversas formas! Uma delas e a mais comum é a contribuição financeira: ‘Eu contribuo para que a minha Comunidade possa existir, encontrar-se, celebrar, viver em comunhão, para que a Palavra de Deus continue sendo estudada, pregada e atualizada para a nossa vida de fé’. Com frequência, infelizmente, temos perdido o significado desta contribuição. Terminamos tratando esse assunto como ‘pagamento de uma taxa para ser membro’, para ter direito aos Ofícios, para ser sepultado! Essa contribuição não tem compromisso com a fé. Antes, ela é fruto do capitalismo moderno: pago, logo tenho direitos... Contribuir como gesto de fé, de compromisso, de gratidão a Deus pela vida e por tudo que temos e somos, essa é a forma de viver juntos e unidos e repartir, como faziam já as primeiras pessoas cristãs, oferecendo o seu tempo, os seus dons, a sua participação. Somos motivados e motivadas a colocar toda a nossa vida a serviço do Reino de Deus. Para isso, é preciso reconhecer o amor e a presença de Deus constantemente em nossa vida, porque creio, porque a fé move o meu coração.
Publicações | Batismo É por meio da fé que as pessoas batizadas percebem e recebem o que Deus lhes oferece em Cristo e no Batismo. A oferta de Deus vem por graça e a sua resposta é dada na fé. Graça de parte de Deus e fé da parte das pessoas batizadas expressam uma relação recíproca de entrega, dedicação e fidelidade. Falta de fé não invalida o Batismo. A oferta e a fidelidade de Deus permanecem, mesmo onde a resposta for inexistente ou inadequada. Nem mesmo a dúvida ou uma fé vacilante diminuem o fato de que, no nosso Batismo, Deus nos acolheu. Batismo é um ponto de partida, marcando o início de uma vivência cristã, de um diário e constante apropriar-se da sua promessa, até a morte. Trecho do Livro do Batismo
Da fé, fluem o amor e a alegria no Senhor e, do amor, um ânimo alegre, solícito, livre para servir espontaneamente ao próximo. Martim Lutero
Para mais informações, acesse o Portal Luteranos
13
14
Jorev Luterano - Abril 2017
GESTÃO
Corpo IECLB | Gestão Administrativa Secretaria Geral da IECLB A IECLB continua a sua caminhada para tornar-se uma Igreja cada vez mais comprometida, inclusiva, acolhedora – e missionária. Às vésperas dos 500 anos da Reforma, ela se entende como herdeira e portadora de tesouro teológico e eclesiológico riquíssimo: a Justificação pela graça de Deus e o Sacerdócio Geral de todas as pessoas que creem. Qualificar a sua ação missionária, portanto, é uma das suas prioridades mais urgentes. Nesta caminhada, são muito importantes as ações desenvolvidas pelas Comunidades – as ações comunitárias envolvem todas as dimensões do Plano de Ação Missionária da IECLB (PAMI): evangelização, comunhão, liturgia e diaconia, bem como os seus eixos transversais: sustentabilidade, comunicação e formação. Fortalecer estas ações, dando-lhes intencionalidade missionária, é uma constante. A partir dos encontros da equipe de gestão sobre planejamento, a Secretaria da Ação Comunitária (SAC) alinha as suas atividades aos crivos institucionais e aos parâmetros da gestão 2015-2018. Cada ação desenvolvida, seja ela de capacitação, de gestão, de produção ou de articulação, tem como referência a Missão e a Visão da IECLB, a sua base confessional e os seus valores institucionais, levando em conta o sistema normativo, o PAMI, as prioridades e os princípios de gestão. Compete à SAC acompanhar, fomentar, empoderar e amplificar os trabalhos comunitários na IECLB, especialmente aqueles que se referem às áreas da diaconia, inclusão, acessibilidade, juventude, intercâmbio, música, liturgia, gênero, gerações, etnias e justiça climática. Os Conselhos Nacionais são órgãos assessores da Direção da Igreja e, como tal, têm a atribuição de trazer as preocupações e as propostas das Comunidades, das Paróquias e dos Sínodos para a Igreja nacional – e, com a mesma intensidade, fazer o caminho inverso: levar questões nacionais para as realidades locais. Promover articulação junto a esses Conselhos e Comissões tem sido um importante meio de ouvir o que vai pelos Sínodos. Trecho do Relatório da Secretaria Geral ao XXX Concílio da Igreja/2016 Para mais informações, acesse o Portal Luteranos
Guia para o Presbitério Encontraremos pessoas dispostas e capazes? Essa é a pergunta que geralmente surge antes da troca de Presbitério ou diante da necessidade de delegar tarefas. É preciso procurar, olhar em volta! Esse foi o conselho de Jetro (Ex 18.19-23). Na maioria das vezes, não basta apenas olhar e procurar. Pessoas precisam ser incentivadas e motivadas. Também é necessário confiar na providência divina, no Espírito Santo, que toca e anima pessoas. Jetro propôs a Moisés que escolhesse pessoas para ajuda-lo e indicou as qualidades necessárias: Você deve escolher alguns homens capazes, [...] homens que temam a Deus, que mereçam confiança e que sejam honestos em tudo (v. 21). O que significam estas qualidades? (a) homens capazes: liderança requer capacidade. Apenas boa vontade não basta; (b) que temam a Deus: uma Comunidade cristã não é empresa. Não basta competência! É necessário o temor a Deus. Temer a Deus significa ter fé; (c) que mereçam confiança: confiança no trabalho do Presbitério é fundamental; (d) que sejam honestos em tudo: qualquer atividade precisa ser pautada pela honestidade.
Documentos Normativos Regulamentos são a expressão normativa dos compromissos firmados entre as representações nas diversas instâncias. A Constituição, o Regimento Interno, o documento Justiça e Ordem, o Estatuto do Ministério com Ordenação da IECLB e o Guia Nossa Fé-Nossa Vida são normas nacionais, eclesiasticamente válidas para todos. Acima desses documentos está o mandato de Deus, tendo como base a Bíblia e os Escritos Confessionais. Todos os demais documentos são elaborados a partir dos princípios constantes nesses documentos e a eles estão sujeitos eclesiasticamente. O Guia Nossa Fé- Nossa Vida estabelece, por exemplo, que Presbíteros e Presbíteras administram e dirigem a Comunidade, assegurando a continuidade do trabalho eclesiástico em todos os setores da Comunidade, segundo o Ministério compartilhado, em corresponsabilidade com Ministros e Ministras. Atuam em equipe! Assim como a Comunidade, também a Igreja chama dentre os seus membros aqueles que a dirigem, em nível paroquial, sinodal e nacional. A Comunidade participa da eleição dos mesmos, por meio dos seus Delegados e das suas Delegadas que a representam na reunião do Conselho Paroquial, na Assembleia Sinodal e no Concílio da Igreja. Todo o membro da Igreja que nela recebe uma tarefa específica, seja no Ministério Catequético, Diaconal, Missionário ou Pastoral ou no serviço de Presbítero e Presbítera, deve estar consciente da sua vocação, devidamente preparado para a sua função por meio de cursos, seminários e retiros, realizados pelos responsáveis nos respectivos setores de trabalho.
Jorev Luterano - Abril 2017
SÍNODOS
Ainda consigo perceber e falar sobre o amor de Deus? Pelo que bate o meu coração? P. Bruno Ari Bublitz | Pastor Sinodal do Sínodo Centro-Campanha-Sul
Somos Igreja, não igreja de massa, mas de muitos braços: o que em uma Comunidade é razão de júbilo, não necessariamente também o é em outra... Depende pelo que bate o coração dos Ministros, das Ministras e das lideranças das Comunidades. Em cada Campo de Atividade Ministerial, encontramos diferentes motivos para jubilar e também para lamentar. A partir disso, olhamos para o futuro, sonhando com o amanhã que virá: agora são outros 500. Entre os motivos a jubilar, destacamos: - vivemos em uma realidade na qual cada vez menos se procura por bênção matrimonial, mas, ao mesmo tempo, constatamos que há uma preocupação por parte de muitos casais de edificarem o seu relacionamento sobre uma base sólida e isso transparece na boa qualidade do trabalho que está acontecendo em nosso Sínodo com Casais Reencontristas; - o trabalho com mulheres é razão de grande júbilo, pois, em um tempo em que não se tem mais tempo, encontramos as
mulheres se colocando a caminho para participar dos diferentes encontros de formação e de comunhão, seja em nível de Comunidade, Sínodo ou até nacional; - em meio às inúmeras atividades que absorvem tempo e dons das lideranças das nossas Comunidades, motivamos as mesmas a buscarem informações e instrumentos que ajudem para uma melhor gestão da vida de Comunidade. Nesse sentido, a Diretoria Sinodal se colocou a caminho para, junto com as lideranças, em Encontros de Presbíteros e Presbíteras, procurar estabelecer um canal de comunicação entre as Comunidades e a estrutura sinodal; - vivemos em tempo de profundas mudanças e isso faz com que seja necessário buscar novas maneiras de semear e fazer chegar a Palavra de Deus aos diferentes braços e grupos em nossas Comunidades. Com alegria, constatamos que há muitas lideranças percebendo a necessidade de buscar novas ferramentas e maneiras de ser e viver Comunidade neste tempo de
Que Igreja queremos ser? Isso é fácil responder: queremos ser uma igreja inclusiva, acolhedora, na qual as pessoas tenham prazer em participar, com a presença de todas as gerações, em que muitas mãos se dispõem a ajudar e a galera jubila por ter reencontrado o verdadeiro sentido para a sua vida - um presente de Deus. Para que esta Igreja sonhada possa se tornar realidade, é necessário que nos coloquemos a caminho. É preciso trazer para a realidade a Palavra de Deus com o nosso jeito luterano de viver e testemunhar a nossa fé. O verdadeiro tesouro da nossa vida de fé e da nossa Comunidade está naquilo que faz pulsar o nosso coração! Pelo que bate o meu coração? Na vida da Comunidade não pode ser diferente: a minha fé em Deus! Saber de que foi Deus que me criou, me aceitou como seu filho, sua filha, no Batismo. Ainda consigo perceber e falar sobre esse amor de Deus aos que caminham ao meu lado? Vejo este como o nosso grande desafio ao nos colocarmos a caminho dos ‘outros 500’.
tantas transformações. Como exemplo, temos os Seminários de Capacitação, entre eles Comunidades Criativas, pois têm sido oportunidades para ajudar pessoas a se soltarem e a aprenderem novas maneiras de transmitir a Palavra de Deus às diferentes gerações. Quais são os nossos arrependimentos? Humildemente, confessamos que, no gerenciar o tempo e os dons com os quais Deus nos agracia a cada dia, esquecemos que Ele nos convida a sermos, como filhos e filhas, pessoas trabalhadoras na sua Seara. Neste tempo do ‘correria’, é cada vez mais difícil conseguir motivar pessoas para ajudar na vida da Comunidade. A prática tem mostrado que pessoas somente se engajam e trabalham naquilo pelo qual o seu coração bate. Nos últimos anos, foi produzida uma infinidade de material de ótima qualidade pela Igreja. Os materiais ajudam a instrumentalizar pessoas que trabalham em diferentes setores da vida da Comunidade. Houve preocupação e orientações práticas para ajudar a colocar em dia aspectos documentais e legais da vida da Comunidade, além de melhorar os seus espaços físicos, em busca de aconchego e conforto. No entanto, percebemos que, cada vez mais, falta paixão pela vida em Comunidade, paixão que brota como resposta à Palavra de Deus. Estamos engessados por nossas tradições e nossos costumes. Na prática do dia a dia, convivemos com uma relativa tranquilidade em relação às mudanças que vão acontecendo na nossa vida, no nosso trabalho, nas nossas relações, mas acreditamos que, na vida de Comunidade, não é necessário mudar, pois, afinal, ‘isto sempre foi assim’. Sofremos com a morosidade e a lerdeza com que mudanças são aceitas e introduzidas na vida da Comunidade, mudanças estas que devem contextualizar a Palavra de Deus e o nosso jeito luterano de compreender e testemunhar a Palavra de Deus em palavras e ações. Como pessoas que se sabem parte da grande família de Deus, que se alimenta da Palavra do Senhor e se deixa guiar e transformar pela mesma, para desta forma poder ser fermento que transforma a realidade que nos cerca, percebemos e confessamos que, lamentavelmente, inúmeras vezes acontece justamente o contrário: é o mundo, com o seu egoísmo e individualismo, que contagia a vida de Comunidade e a aprisiona, fazendo com que a vida abundante que Deus deseja para todas e todos nós esteja a perigo. Com isso, a prática do amor se torna algo exclusivo e não mais inclusivo.
Para mais informações, acesse o Portal Luteranos
15
Jorev Luterano - Abril 2017
16
BÍBLIA
História, cultura e identidade Bíblia, a Palavra de Deus P. em. Dr. Gottfried Brakemeier | Por que ser cristão? (Portal Luteranos) Apesar de ser sagrada, a Bíblia teve uma gênese muito humana. O cânon hebraico do Antigo Testamento (AT) reúne 39 livros, originais de diversas épocas. Muitos deles contêm tradição bem mais antiga que o próprio registro literário. Algo semelhante vale para os 27 livros do Novo Testamento (NT). Também ele se formou em longo processo, embora não tão demorado como o AT. Em ambos os casos, a Escritura é o resultado de uma coleção de escritos a que foi atribuída normatividade religiosa. Tal coleção se tornara uma necessidade. Por mais importante que fosse a tradição oral dos conteúdos da fé, estes corriam o risco de ser esquecidos ou então distorcidos. É claro que a prédica dos profetas foi oral. Somente em casos excepcionais redigiram cartas, como a que Jeremias escreveu aos exilados
dução latina, chamada Vulgata, incorporou mais sete livros, constantes na Septuaginta, no cânon do AT. Visto que o Concílio de Trento, realizado em 1545 a 1563, acolheu oficialmente essa versão, o AT ‘católico’ e o ‘protestante’ divergem em tamanho, aquele tem 46 e este, apenas 39 livros. Na canonização do NT, as principais partes, a exemplo dos Evangelhos e das cartas do apóstolo Paulo, estavam sendo reconhecidas como canônicas já no século II, mas o Apocalipse, a Segunda Carta de Pedro e outros escritos continuavam controvertidos. Em 367 d.C., o Bispo Atanásio da Alexandria listou pela primeira vez os atuais 27 livros componentes do NT, mas demorou até que essa lista recebesse o aval em toda a Igreja. O NT deveria compilar a tradição apostólica. De fato, o NT contém a tradição cristã mais antiga. Oferece o ‘discurso Para a Igreja Cristã, a Bíblia é mais que um fundante da fé livro de História. É uma Escritura a que se cristã’, a prédica original da Igreja. atribui qualidade sagrada. Por ela, Deus Não foi decidido mesmo fala. A Bíblia é Palavra de Deus e, em Concílio Gecomo tal, possui singular autoridade. ral. A Escritura se impôs na Igreja ou tiveram protocolados os seus pronunciapor força inerente, por ação do Espírito Sanmentos, mas a palavra oral necessitava de reto. Está aí a norma a que discurso e prática gistro para ser conservada às futuras gerada Igreja estão comprometidos a se sujeitar. ções. O mesmo valia para leis, credos, oraA Bíblia explica costumes ainda hoje em ções e, não por último, para a própria prédica vigor, mostra as raízes da nossa cultura e as de Jesus. Quanto mais o tempo avançava, bases da nossa identidade. Antes de tudo, a tanto mais se sentia a urgência de anotar a hisBíblia é um livro de História. Inicia com a criatória e transformar a tradição em literatura. ção do mundo, por Deus, concentrando, a Quais livros seriam incorporados ao câseguir, a atenção na vocação de Abraão e na non? No caso do AT, o assunto foi resolvido história de Israel. Fala sobre a escravidão dessomente depois da queda de Jerusalém, em te povo no Egito e a sua libertação, o êxodo, 70 d.C. Jesus e as primeiras Comunidades fala a respeito da aliança que Deus fez com cristãs tinham uma Escritura, mas ainda não ele por meio de Moisés, no Monte Sinai. um cânon. A tradução grega, chamada Conta a caminhada pelo deserto e a tomada Septuaginta, do século III a.C. e muito usada terra prometida, a terra de Canaã, situada pelas Comunidades cristãs helenísticas, da nas adjacências do Rio Jordão e do Mar conta com 53 livros ao todo, mas também Morto, território ocupado, hoje, pelos Estaa Escritura hebraica ainda não estava fechados de Israel e da Palestina. Temos a docuda. Somente por volta do ano 100 d.C., a Comentação da glória dos reinados de Davi e munidade judaica estabelece o cânon em Salomão, como também da trágica queda suas atuais proporções. Enquanto isso, a trade Jerusalém e do exílio na Babilônia.
Não há registro equivalente à primeira parte da Bíblia, que é o AT, quando se trata da história milenar do antigo Israel. Além de História, o AT contém orações, preces, salmos e, sobretudo, escritos proféticos. Costumamos subdividir os livros componentes do AT em históricos, didáticos e proféticos. O NT inicia com quatro Evangelhos, contendo a história de Jesus de Nazaré, da sua pregação e ação, da sua cruz e ressurreição. Segue no livro dos Atos dos Apóstolos a primeira história da Igreja. É uma história de intensa missão e expansão da fé cristã pelo Império Romano na orla do Mar Mediterrâneo. Segue um bloco de cartas, cuja maior parte é da autoria do apóstolo Paulo. Temos também cartas de Pedro, João, Tiago, Judas e uma carta anônima dirigia ‘aos hebreus’. Estas cartas dão viva impressão da vida das primeiras Comunidades. O NT encerra com o livro do Apocalipse, que se apresenta a si mesmo como profético. Ambos os Testamentos conservaram depoimentos muito antigos. Guardaram a ‘tradição’, originalmente passada adiante por via oral. Isto está em grande evidência no estilo e na redação. Credos e partes litúrgicas, cânticos e provérbios, mas também genealogias, parábolas e histórias perfazem o fascinante conteúdo da Bíblia. É comparável a um museu que guarda tesouros de épocas passadas. A Bíblia funciona como um arquivo que traz à luz sempre novas preciosidades. Juntamente com a cultura greco-romana, foi a Bíblia que impregnou o pensamento dito ‘ocidental’. Desmistificou a natureza, transformando-a, de divindade, em Criação. Possibilitou, assim, o surgimento da ciência moderna. Simultaneamente, acentuou a dignidade do ser humano, atribuindo-lhe o distintivo da imagem de Deus. Nasce o ‘humanismo cristão’. A Bíblia está na raiz não só de duas religiões, como também de uma tradição cultural.
Para mais informações, acesse o Portal Luteranos
A COMEMORAÇÃO DOS ��� ANOS DA REFORMA SERÁ INESQUECÍVEL
Aproveite esta oportunidade única e faça parte do �ubileu� Além de visitar todas as cidades alemãs que foram cenário da Reforma protagonizada por Lutero �Worms, Eisenach, Erfurt, Eisleben e Wittenberg�, você também vai passear pela República Tcheca, Áustria, Liechtenstein, Suíça, França, com destaque para regiões do sul da Alemanha: Baviera e Alpes Alemães, Floresta Negra e Vale do Rio Reno.
ESCOLHA UM DOS GRUPOS QUE AINDA TÊM VAGAS:
�RU�O �� � ����������� �RU�O �� � ����������� �RU�O �� � ����������� �RU�O �� � ����������� �RU�O �� � �����������
Embratur nº 23.028609.10.0001-5
Não faça desse passeio uma aventura de risco! Viaje com a PLAN e a sua equipe de prossionais com décadas de experiência nesse roteiro. A Plan oferece ônibus novos, hotéis de qualidade, boas refeições diariamente, além de passeios maravilhosos.
luizartur.rs@gmail.com
51 3762.2758 / 51 98515.6668
www.planviagens.com.br