O Abraço de Deus - Meditações

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O ABRAÇO DE DEUS Meditações

Publicação da Comissão Interluterana de Literatura

2001


Concórdia Editora Ltda Av. São Pedro, 633 90.020-120 Porto Alegre-RS Tel.:(0xx51)3342-2699 Fax: (0xx51)3343-5254 e-mail: ediluter@terra.com.br Home-page: www.editoraconcordia.com.br

Editora Sinodal Rua Amadeo Rossi, 467 93.030-220 São Leopoldo-RS Tel.: (0xx51)590-2366 Fax: (0xx51)590-2664 e-mail: editora@editorasinodal.com.br Home-page: www.editorasinodal.com.br

CIP-BRASIL CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO Bibliotecária responsável: Rosemarie B. dos Santos CRB10/797 A258 O abraço de Deus / Coordenação de Darci Drehmer. -- São Leopoldo: Sinodal : Porto Alegre : Concórdia : Comissão Interluterana de Literatura, 2001. 302 p. ISBN 85-233-0663-3 1.Religião.2.Devocionário-Meditações.I.Drehmer,Darci

CDU 242

© Comissão Interluterana de Literatura, 2001 Caixa Postal 14 93001-970 São Leopoldo/RS Fone: (51)590-1455 E-mail: cil@est.com.br Home-page: www.lutero.com.br Editor: Darci Drehmer Integrantes da CIL: Arnildo A. Figur, Dieter J. Jagnow, Gerhard Grasel, Harald Malschitzky, João A. Müller da Silva e Wilhelm Wachholz Produção Editorial: CIL Produção Gráfica: Gráfica Sinodal Foto capa: Stock Photos


Apresentação Um colo, um abraço, muitos abraços... isto dá segurança e proporciona vida. Em Jesus Cristo, céu e terra se abraçam e se beijam. Nele, o Pai estende os seus braços compridos para abraçar, abrigar e proteger os seus filhos e suas filhas e toda a natureza. Deste sentimento e desta certeza nasceu o título do livro que você tem em suas mãos: O Abraço de Deus – Meditações Este livro contempla temas essenciais da fé cristã, que orientam a nossa conduta, através dos mandamentos; mostra como Deus, Pai, Filho e Espírito Santo, revela o seu grande amor; ensina a falar com o querido Pai, através da oração; comunica a graça do perdão dos pecados; anuncia nova vida em Jesus Cristo; proclama a esperança para o mundo no Natal de Jesus Cristo, o Príncipe da Paz. A Comissão Interluterana de Literatura (CIL), em parceria com a Editora Sinodal e a Concórdia Editora, sente-se grata a Deus por poder oferecer este livro de meditações. Ao mesmo tempo, agradece aos autores que colaboraram com esta edição. É nosso desejo que os leitores e leitoras possam sentir o abraço de Deus no decorrer da leitura e sentir-se acolhidos como o salmista: Busquei o Senhor e ele me acolheu; livrou-me de todos os meus temores. (Salmo 34.4) Abençoada leitura. Os editores



Da opressão para a liberdade Deuteronômio 4.13

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palavra “mandamento” possui nuanças que lembram a autoridade e, pior, o autoritarismo: “eu ‘mando’ e você obedece” – “eu não ‘mandei’ você escovar os dentes!” Os Dez Mandamentos de Deus não são imunes a esta desconfiança. Normalmente são vistos como fonte de autoritarismo e opressão. É a “lei” de Deus! Tanto é “lei” que dos dez, oito começam com um categórico “não”. Não tomarás, não furtarás, não matarás... Os Dez Mandamentos são normas, sim, mas não no sentido legalista. Em Deuteronômio 4.13 fica claro que o decálogo foi dado por Deus ao povo de Israel dentro de um contexto de relacionamento, de comunhão – entre o próprio Deus e o povo. Neste sentido, foram designados como postes com lâmpadas a iluminar a caminhada do povo como povo de Deus. Assim, os preceitos de Deus “instruem o coração” e “ensinam a fé”. Eles acautelam, equipam e protegem como “boa armadura” dos “assaltos e ataques dos demônios” (Lutero). Nesta perspectiva, os mandamentos não querem oprimir, mas dar liberdade à pessoa que está unida com Deus pela fé em Jesus. Ela entende que estas lâmpadas de Deus ajudam na caminhada de fé. Entende que “a lei do Senhor é perfeita e nos dá novas forças” (Salmo 19.7). Ela ama a lei de Deus porque reconhece nela uma bênção para a sua vida religiosa, profissional e social. Ela sabe que a sua caminhada sempre é imperfeita, que não consegue obedecer aos mandamentos, mas não se desespera. Ela se volta para o amor de Deus e recebe dele o perdão e a força para continuar.

Oração Senhor Deus, obrigado pelos teus mandamentos. Eles me libertam dos meus caminhos de pecado e sinalizam os caminhos contigo e com o próximo. Por amor de Jesus, dá-me sempre prazer em teus mandamentos. Amém. Mandamentos

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Como você se relaciona com Deus? Deuteronômio 6.5

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omo é que você se relaciona com Deus? Eu não sei qual é a sua resposta, mas sei que ela depende de como você encara Deus, o que ele é para você. O relacionamento com o Senhor é o tema dos primeiros três mandamentos. O fato de existirem tantas religiões e seitas por aí, tem muito a ver com a forma como Deus é visto. O próprio cristianismo é marcado por um certo modo de relacionar-se com o Eterno, baseado na compreensão da Palavra de Deus, a Bíblia. Na referência bíblica acima existe uma orientação clara sobre como Deus espera que as pessoas se relacionem com ele. A palavra chave é amor. Um amor comprometido de todo o coração, com todas as forças. Essa forma de relacionamento é básica para a fé cristã. Um amor a Deus comprometido é uma afirmação clara de como ele é o único Deus verdadeiro, pois se “é verdadeira a fé e a confiança, verdadeiro também é o teu Deus” (Lutero). A natureza amorosa do relacionamento do cristão é um dos aspectos distintivos e mais bonitos do cristianismo. Deus é, em essência, amor. Ele vem ao encontro da humanidade com uma proposta de amor, materializada com o nascimento do Salvador Jesus Cristo. Tocada pelo Espírito Santo, a pessoa passa a crer em Jesus como seu Salvador e passa a responder ativamente ao amor de Deus – ela passa a amar a Deus e as outras pessoas. É por isso que o apóstolo João diz: “Nós amamos porque Deus nos amou primeiro” (1 João 4.19). A base da fé cristã é amar a Deus de todo o coração, de todo o entendimento, de toda a alma, com todas as forças. Esse é o caminho para um relacionamento abençoado com Deus. Experimente! Oração Amado Deus, obrigado por me amares em Jesus Cristo. Dá-me sempre o teu Espírito Santo, para que, com fé, eu ame a ti e a todas as pessoas. Em nome de Jesus. Amém. Mandamentos


Temer a Deus Apocalipse 19.5

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gente já teme tanta coisa e agora deve temer ainda a Deus! Deus não é amor? No Novo Testamento lemos: “No amor não há medo; o perfeito amor afasta o medo. Portanto, o amor não é perfeito em quem tem medo, porque o medo traz em si o castigo” (1 João 4.18). Ah, sim, os nossos temores e a nossa visão do amor de Deus! Tememos tudo, menos Deus. Consideramos o seu amor igual ao nosso, encobridor e frouxo, que passa a mão por cima de tudo e faz mil e uma concessões. Por isso, muitas pessoas ficam contrariadas ao ouvirem falar que devemos temer a Deus. Fica contrariado quem não faz idéia nenhuma da Bíblia. Lutero, referindo-se à mensagem primária da Bíblia, observa que Deus nos criou como seus interlocutores, seus representantes no mundo. Somos, portanto, embaixadores e parceiros de diálogo de Deus. Por isso, ele espera que o temamos, prestemos conta e lhe respondamos. Deus nunca dispensa isso. Ele demora até agir quando não o tememos nem lhe respondemos, por isso pensamos que ele deixa por menos. Pura ilusão. Pois Deus ameaça as “pessoas seguras e orgulhosas de si”, interpreta Lutero. Quando nada mais resolve, ele lança mão de “pestes, carestia e guerra” para que aquelas pessoas pereçam. É “doido e fora de si quem confia poder suportar a cólera dele”. Mas, a mensagem do “temer a Deus” não se resume nisso. Há, ainda, um outro aspecto que não podemos esquecer: Deus consola as pessoas “tementes a ele”. Ele as “protegerá em todo aperto”. Lançará mão de “sinais e milagres” para as livrar dos males e dos malvados. Podemos aguardar a Deus e confiar nele! Eis a abordagem inicial de Lutero ao Primeiro Mandamento.

Oração Deus, arranca de nós a idéia maluca de que tu és maleável e omisso. Nada te passa desapercebido, muito menos o povo que te teme e está em conflitos e aflições. Dá-nos força para te aguardar. Amém. Mandamentos

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Cumprir o Primeiro Mandamento Lucas 12.16-21

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emer e amar a Deus e confiar nele acima de tudo” é a compreensão derradeira do Primeiro Mandamento. Para Lutero, não é problema temer e amar, ao mesmo tempo, ou confiar em quem se teme. O reformador considera isso preocupação de pessoas que não estão na fé em Jesus Cristo. Jesus Cristo teme e ama a Deus e confia nele acima de tudo. Teme-o e, por isso, não treme perante Herodes, nem Caifás, nem Pilatos. Ama a Deus e, por isso, não cede às tentações do Diabo, mesmo depois de ter jejuado quarenta dias e quarenta noites; não cede à tentação de Pedro, quando este começou a repreendê-lo porque ele falava abertamente da sua paixão. Jesus confia em Deus e, por isso, não repara em si e sua vida. Conforme Lutero, Jesus Cristo explica este mandamento, vivendo-o de forma muito concreta em todos os momentos de sua vida. Jesus Cristo puxa as pessoas que nele crêem para dentro da sua vida sob o Primeiro Mandamento. Ele vai na Frente delas para que consigam viver com este preceito de Deus. Levanta-as quando fracassam perante ele. Os que crêem em Jesus Cristo não gemem debaixo deste mandamento, como servos e servas que pretendem e estão sempre à cata de recompensas temporárias e eternas. Ao contrário, vivem nele como filhos e filhas que querem alegrar ao Pai, que já lhes antecipou vida e salvação. Quem crê é rico diante de Deus. Por isso, pratica o Primeiro Mandamento assim como o homem que deu comida e pouso, numa noite de tempestade, ao assassino da sua mulher. Temeu a Deus, não se vingando. Amou a Deus, apesar de revoltado com o assassinato da mulher. Confiou em Deus, entregando o seu destino e o do matador na mão dele. Oração Deus, agradecemos por Jesus Cristo, que viveu o Primeiro Mandamento. Faze que Jesus nos puxe para dentro da sua vida. Permite que sejamos transformados, de servos e servas egoístas, em teus filhos e filhas agradecidos. Amém. Mandamentos


Quem é nosso Deus Mateus 6.24

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eus, naturalmente! Excepcionalmente encontramos alguém que não admita Deus. É preciso acreditar em alguma coisa! Com tal afirmação nos referimos a Deus. Lutero pergunta: “Que é Deus?” E responde: Deus é “aquilo de que a gente espera todo o bem e em que a gente se refugia em todo aperto”. Mais direto: “Aquilo a que prendes o coração e te confias, isso é o teu Deus”. Pois é, o nosso coração está preso a que ou a quem? Tal pergunta corta fundo. Nem sempre estamos dispostos a respondê-la. Por isso, a gente a evita ou desconversa. Exige coragem expor-se a ela. As respostas são diferentes, conforme cada pessoa. Lutero menciona: dinheiro, poder, relações, descendência, formação, honra, sexo. Há muitas outras respostas possíveis. Agora, nenhuma pessoa nega Deus de todo. Apenas o cerca de outros deuses. Para nós, Deus é o superior na corte dos deuses. Afora ele, mantemos compromissos com diversos outros. Em caso de conflito, fica claro quem nos possui de fato. Por exemplo, participamos em qualquer tipo de ato religioso, afirmando que Deus é um só? Subimos na vida em detrimento dos mandamentos de Deus? Contraímos matrimônio com “bom partido” em detrimento da família da fé? Buscamos recuperar a saúde em detrimento da confiança em Deus? Lutero insiste, para o nosso bem, em que não conheçamos “outro consolo e confiança senão Deus”. Pois os nossos deuses “enganam logo” – o que é desastroso. Mas, terrível é que Deus nos ama demais para agüentar ser relegado a segundo plano. Rejeitar o seu amor e os seus bens, envolve muito mais do que perda de dinheiro ou de saúde. É cair no abismo sem fundo e sem perspectiva. Oração Deus, indica-nos o lugar que te reservamos na nossa vida. Somos ingênuos a este respeito. Às vezes, achamos que tu não te importas com isso. Ocorre também que não gostamos que te importes. Deus, conquista-nos de vez. Amém. Mandamentos

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O santo nome de Deus Isaías 6.3

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ão podemos fazer uma dissertação acadêmica referente ao santo nome de Deus. Por isso, queremos apenas dar atenção à Bíblia, ao hinário e ao catecismo. Em Êxodo 3.14,15, Moisés perguntou a Deus: “Qual é o seu nome?” E Deus respondeu: “‘EU SOU QUEM SOU’... você dirá aos israelitas ‘EU SOU’ me enviou a vocês”. Um outro livro, muito querido e acessível a muitos leitores, é o “Hinos do Povo de Deus” (HPD). Os hinos 125 e 255 falam expressamente do santo nome de Deus. Começam pelo três vezes santo de Isaías 6.3 e, depois, explicam a santidade de Deus, dizendo que ele é onipotente, onipresente, verdadeiro, eterno, isto é, sem início e sem fim, soberano, amoroso, justo, compassivo, pai. Em Isaías 6, o Deus santo e justo, inicialmente, assusta o ser humano. O profeta, sentindo o abismo entre ele e Deus, clama: “Ai de mim! Estou perdido! Pois os meus lábios são impuros...”. Contudo, o santo Deus não aniquila a quem se sente assim, mas o ergue e salva, porque quer a humanidade santa, semelhante a ele. E Deus ergue o profeta do fundo do poço. Envia um anjo para purificar os seus lábios e, assim, o torna santo, isto é, digno e apto para ser seu mensageiro. Onde o santo nome de Deus toca as pessoas ele as santifica, tornaas justas, capazes, compassivas e cheias de amor. Não nós mesmos nos santificamos, mas Deus o faz, tirando os nossos pecados, através de Jesus Cristo. Sua santidade é concedida a nós e, junto com ela, nos é dada a força para vivê-la. Na explicação do Segundo Mandamento, Lutero lembra que uma grande ajuda no caminho da santificação é invocar o nome de Deus em todas as necessidades, louvá-lo e exaltá-lo. Oração Pai benigno e santo, possa eu exaltar-te e em Espírito adorar-te!... Que eu, Senhor, com amor e com humildade faça o que te agrade! Amém. (HPD 124,3) Mandamentos


Não amaldiçoar Levítico 24.15

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s palavras amaldiçoar e maldizer significam falar mal de alguém. Maldiz e amaldiçoa-se com a boca e com palavras. Ora, a palavra é um poder, e quem o exerce, deve fazê-lo com muita responsabilidade. A palavra é um instrumento que Deus deu somente ao ser humano. E isso o coloca muito acima dos outros seres vivos, em todos os sentidos, também no sentido de poder. Palavras brotam do coração, “a boca fala do que o coração está cheio” (Mateus 12.34). Se você quiser saber o que se passa no seu coração, examine as suas palavras, aquilo que você fala. Com palavras pode-se fazer coisas boas: ensinar, educar, governar, bendizer... Mas, com ela também se pode fazer o contrário. “Da mesma boca saem palavras tanto de agradecimento como de maldição” (Tiago 3.10). Portanto, pode-se usar também a palavra irresponsavelmente, mentir, enganar, distorcer, instigar para o mal e, muitas vezes, tudo isso ainda é feito em nome de Deus. Isso é uma ofensa grave contra Deus. Para ensinar o ser humano a falar o que é bom para si próprio e para os outros, Deus deixou o Segundo Mandamento, que propõe que se peça ajuda ao próprio Deus para que o seu nome e a sua Palavra sejam usados corretamente, não para amaldiçoar, mas para bendizer. Usem, pois, a palavra, este dom do Senhor, para bendizer a Deus e ao próximo. Isso traz muitas bênçãos para quem fala e para quem ouve. É isso que o Pai espera dos seus filhos, que guardam os seus mandamentos. “Bendito é quem sabe ser simples, ama a vida, parte o seu pão com o irmão, vive a sua fé em palavras e ações, evita a injustiça e ergue, neste mundo, sinais de um reino bom, de um reino de justiça e de paz”. Oração Senhor, dá que nossas palavras não sejam contrárias à tua vontade, mas que sejam boas e construtivas e unidas à ação do amor, da esperança, da fé e da paz para todos nós. Amém. Mandamentos

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Jurar, praticar a feitiçaria... Deuteronômio 6.13

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esus desrecomenda o juramento: “Não jurem... Digam apenas ‘sim’ ou ‘não’ (Mateus 5.36,37). Como seria bonito, se cada “sim” e cada “não” fossem de absoluta credibilidade. Nesse caso, o juramento seria perfeitamente dispensável. Mas, não vivemos em situação ideal. Por isso, admite-se o juramento em declarações bem importantes e decisivas. Nesse caso, ele deve ser verdadeiro e não falso, ainda mais quando ele acontece em nome de Deus. A feitiçaria era praticada principalmente na Idade Média, quando muitos fenômenos eram a ela atribuídos. Muitas pessoas foram condenadas à fogueira porque ousaram afirmar verdades científicas, porém, não admitidas oficialmente pelas autoridades da época. Nesse contexto, milhões de mulheres, consideradas feiticeiras, foram torturadas e queimadas vivas. Estima-se que mais de seis milhões de “bruxas” tenham sido queimadas no decorrer da Idade Média. O regime nazista não teve o privilégio de ter sido o primeiro a queimar seis milhões de seres humanos nos campos de concentração! E não perguntem quem autorizava e legitimava tais atrocidades! Feitiçaria, se existe, é na cabeça das pessoas e se instala ali onde a ausência da fé verdadeira deixou um espaço vazio. O mesmo acontece com juramento falso. Ambos são falsos deuses que “não valem nada” (Jeremias 10.3). E cultuar o nada traz conseqüências desastrosas. Provas disso nós temos de sobra no passado e no presente. O culto ao nada pode, hoje como antigamente, transformar em monstros e fanáticos as pessoas mais civilizadas, santinhas e religiosas desse mundo. Que Deus nos guarde!

Oração Pedimos, ó Deus, que nos protejas e guardes, para que não sejamos enganados pelo Diabo, pelo mundo e por nós mesmos, nem sejamos levados a crenças falsas, desespero e outra grande vergonha ou vício. Que vençamos, afinal, e mantenhamos a vitória. Amém. (Lutero) Mandamentos


Exclusividade para Deus Deuteronômio 18.10-12

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unca antes na história houve tantas possibilidades de escolha. Lojas e mercados, por exemplo, oferecem produtos de vários modelos, tamanhos, cores, preços e marcas. Podemos escolher o que agrada aos olhos e mais nos convém. Poucas coisas são exclusivas em nossa época. E Deus, tem que ser exclusivo? Não dá para confiar em Deus Pai, Filho e Espírito Santo e, ao mesmo tempo, botar fé em outras energias? Para muita gente parece que não é suficiente adorar somente a Deus. Por isso, fabricam outros deuses como se Deus precisasse de uma mãozinha de terceiros. Pessoas penduram o seu coração em deuses a quem chamam de horóscopo, médiuns, pais de santo, milagreiros, energias positivas, nossas senhoras e santos. Pessoas adoram a si próprias, o seu corpo e a beleza física. Acredita-se na natureza como se ela fosse Deus. Outros têm medo do deus azar e adoram o deus sorte. De fato, em muitas coisas na vida temos boas e várias opções. Mas quando se trata da fé e da adoração, Deus exige exclusividade total para si. Jesus diz: “Adore o Senhor, o seu Deus, e sirva somente a ele” (Mateus 4.10). Lemos ainda na Bíblia: “Há somente um Deus e Pai de todos, que é o Senhor de todos” (Efésios 4.6). Deus é único e ele quer exclusividade total para si na adoração. Por quê? Porque somente ele pode nos livrar do mal. Somente ele pode nos ajudar nas enrascadas da vida. Somente ele tem amor bastante para nos perdoar e salvar. Somente ele deu seu Filho Jesus por nós. Somente ele reparte de bom coração todas as coisas boas que precisamos. Demos exclusividade a Deus e esperemos somente dele todo o bem! Oração Pai, Filho e Espírito Santo, obrigado porque tu és o único Deus verdadeiro. Ajuda-nos a excluir de nossa vida todos os deuses falsos. Fortalece a nossa confiança em ti e recebe a nossa adoração. Esperamos de ti as coisas boas que nos prometes. Por amor de Jesus. Amém. Mandamentos

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O nome de Deus é usado para mentir e enganar! Jeremias 23.31

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á mentiras que são ditas com tanta convicção que acabam assumindo cara de verdade. Ora, a mentira leva ao engano, e o engano traz prejuízos. Você já deve ter caído nessa! A mentira e o engano são piores quando o nome de Deus entra em jogo porque colocam em risco a salvação eterna de pessoas. Está se multiplicando o número de pessoas que fazem propaganda religiosa em nome de Deus. Elas apresentam discursos humanos e afirmam que eles são palavra do Senhor. Fazem promessas de cura e prosperidade, distorcendo a verdade divina. Há mensageiros que exibem caras sagradas, mas, em verdade, são trapaceiros e exploradores. Mentem e enganam pelo nome de Deus. Muitas pessoas em necessidade de saúde, emprego ou que enfrentam problemas na família e estão desesperadas, acabam acreditando em mentiras como se fossem a palavra verdadeira de Deus. Alimentam uma fé e esperança falsas. São vítimas da mentira e do engano. Infelizmente levarão prejuízo. Através do profeta Jeremias, Deus reprova os mensageiros que mentem e enganam pelo nome de Deus. Ele diz: “Sou contra esses profetas que falam as suas próprias palavras e afirmam que elas vieram de mim”. Deus não quer que você seja vítima da mentira e do engano. Ele quer que você conheça a verdade e seja salvo. Portanto, quando você recebe um discurso religioso, verifique se Jesus Cristo é anunciado como o único Salvador que livra do pecado, do Diabo e da morte. Observe se a salvação preparada por Jesus é anunciada como um presente de Deus, recebido por meio da fé. Se tiver dúvidas, busque ajuda de pessoas confiáveis e preparadas para distinguir entre a mentira e a verdade. Oração Deus, tu és santo e assim é teu nome. Impede que o teu nome seja usado para mentir e enganar. Liberta os que são vítimas da mentira e do engano. Ajuda-nos sempre a distinguir entre a verdade e o erro. Que o teu Evangelho seja anunciado para a salvação de muitos. Amém. Mandamentos


Deus me livre! Graças a Deus! Salmo 103.1

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eus me livre!” e “Graças a Deus!” São duas expressões muito pronunciadas, e muitas vezes por mero costume. O seu uso indiscriminado e irrefletido pode significar mau uso do nome de Deus. Por outro lado, porém, deveríamos usá-las muitas vezes, porém, de forma consciente. Deus deseja que o seu nome seja muito usado para invocar a sua ajuda e para louvar e agradecer pelo amor que ele nos dedica todos os dias. Invoquemos o Senhor, pedindo a sua ajuda. Digamos “Deus me livre!” ou palavras semelhantes. Necessidades não nos faltam. Necessitamos proteção para a vida, a alma, a família e os bens, pois perigos nos cercam cada instante. Necessitamos de libertação de culpa e pecados, libertação que somente Deus pode nos dar por amor de Jesus. Necessitamos de forças físicas para o trabalho e forças na fé para resistir às tentações e mentiras, ao pecado e ao Diabo. Necessitamos de bênção de Deus sobre os nossos afazeres e projetos. Invoquemos a Deus. Usemos o seu nome. O Senhor mesmo nos convida e encoraja a fazê-lo. Ele também promete nos atender. “Graças a Deus!” Quem recebe agradece. Recebemos muito de Deus e por isso usamos o seu nome para louvar e agradecer: “Ó minha alma, louve ao Deus Eterno! Que todo o meu ser louve o seu santo nome!” Vida, saúde, família, trabalho, bens, amigos, lazer, dons e habilidades que possuímos são motivos para louvar a Deus. Perdão dos pecados, paz com Deus, certeza da ressurreição e da vida eterna, fé, consolo, conforto, esperança e tantos outros benefícios recebidos da bondosa mão de Deus são motivos para agradecer. “Deus me livre! Graças a Deus!” Usemos o nome de Deus para invocá-lo. Oração Bondoso Deus, muito obrigado por todas as coisas boas que nos dás cada dia. Perdoa a ingratidão e fortalece a nossa fé no teu amor. Ensina-nos a usar o teu santo nome para te invocar com fé, para te louvar e agradecer de coração. Por amor de Jesus, nosso querido Salvador. Amém. Mandamentos

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Tempo com Deus Eclesiastes 3.11a

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antificarás o dia do descanso”. Assim reza o Terceiro Mandamento. Nele, Deus nos mostra como devemos administrar o tempo. Sim, a sua boa administração é uma das coisas mais importantes na vida de uma pessoa. Muitas pessoas têm uma noção errônea sobre esta questão. É comum ouvirmos dizer: “eu não me preocupo com o tempo, simplesmente deixo as coisas correr”; “faço com o meu tempo o que bem entendo...”. É verdade que não é tão simples ter uma compreensão clara e correta do que vem a ser o tempo. Dia e noite, verão e inverno, meses, anos, séculos são, na realidade, sinais, medidas, mas não o tempo em si. Tempo é muito mais do que um conjunto de minutos, horas, dias ou anos. Trata-se, em verdade, do período de oportunidade que recebemos por parte do Senhor. Assim, somos responsáveis perante Deus pelo bom gerenciamento do tempo de vida que ele nos concedeu. “Matar o tempo” é pecado. Gastar o tempo em coisas que prejudicam a saúde do corpo e da alma é perigoso e, certamente, trará conseqüências fatais para a vida. O Terceiro Mandamento não propõe que nós devemos dar tempo para Deus, como muitas vezes se insinua, pois, em verdade, todo o nosso tempo já é dele, de quem o recebemos como dádiva. Conscientes disso, queremos dedicá-lo a seu serviço e ao do próximo. Podemos fazê-lo porque na “plenitude do tempo” Deus enviou o seu Filho. Sua morte e ressurreição significam tempo da graça de Deus em nossa vida. É tempo, pois, de buscar e viver a comunhão com Cristo, presente na Palavra e nos sacramentos.

Oração Senhor, como administradores privilegiados, oramos com o salmista: “Ensina-nos a usar bem os dias da nossa vida para que nos tornemos sábios”. Amém. (Salmo 90.12) Mandamentos


Descanso é uma dádiva de Deus

Gênesis 2.2

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rabalho e descanso fazem parte da vida humana. Em nenhuma época, estes dois aspectos despertaram tanta atenção como hoje. Organizações internacionais e constituições atestam e garantem às pessoas o direito ao trabalho e ao descanso. Sabemos, no entanto, que a realidade nem sempre está de acordo com o que está escrito nos regulamentos. O desemprego, a falta de oportunidades para trabalhar, cresce no mundo todo. Quanta tristeza e infelicidade enfrentam as pessoas e suas famílias quando não podem ganhar o pão de cada dia, como fruto do seu trabalho! O tempo de descanso nem sempre traz benefícios para as pessoas. Quantos administram mal o tempo de descanso! Ao invés de usá-lo para recompor as energias gastas com o trabalho, transformam-no em um tempo de cansaço. É comum ouvir-se: “para mim o pior dia da semana é a segunda-feira... acordo cansado!” Usando mal o descanso, colhem fadiga, insatisfação e dor na consciência. O Criador quer que o nosso tempo de trabalho e de descanso seja uma bênção. Ele mesmo deu o exemplo: “No sétimo dia Deus acabou de fazer todas as coisas e descansou de todo o trabalho que havia feito” (Gênesis 2.2). Jesus, o Filho de Deus, realizou o trabalho mais importante: salvar a humanidade de seus pecados. Também ele descansava periodicamente. Aproveitemos as oportunidades que o trabalho nos dá para servirmos ao nosso próximo com dedicação e amor. Aproveitemos o descanso para recompor nossas energias para o futuro e para meditar na obra salvadora de Cristo em nosso favor. Assim, trabalho e descanso nos são uma bênção.

Oração Senhor, abençoa o trabalho de minhas mãos. Abençoa o tempo do meu descanso. Amém.

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Santificação do tempo Isaías 58.13-14

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á convivi com duas situações, em localidades diferentes, nas quais a postura da maioria das pessoas também era diferente com relação ao domingo. “Domingo é dia de feira”, num local. “Domingo é dia de culto”, no outro. Estas duas atitudes revelam a compreensão ou não do que significa “santifiquem o dia do descanso”. Para muitos, o domingo é apenas dia de não fazer nada daquilo que se faz nos demais dias da semana. É dia de folga, de lazer. Para estes, o domingo e os outros dias da semana não têm nada a ver com Deus. Por não o santificarem, acabam ignorando Deus e sua Palavra. Quem santifica o domingo – dia do descanso? “O dia em si não precisa de santificação, pois que já foi criado santo. Porém, Deus quer que ele seja santo para a tua pessoa. De sorte que se torna santo ou profano por causa de ti, dependendo das atividades a que nele te entregares; se santas ou se profanas... Santificar é tratar a Palavra de Deus e nela exercitar-se. O domingo é, pois, santificado, quando se toma lugar e tempo a fim de participar do culto divino, com o objetivo de ouvir e tratar a Palavra de Deus, e, depois, louvar a Deus, cantar e rezar” (Lutero). Pecam contra o Terceiro Mandamento e, por isso, chamam sobre si o juízo de Deus, todas aquelas pessoas que desprezam a sua Palavra e não a querem ouvir e aprender. “O Evangelho é o poder de Deus para salvar todos os que crêem” (Romanos 1.16). No Evangelho, Deus nos dá o perdão que Cristo nos assegurou com sua morte e ressurreição. O Evangelho nos dá prazer em ouvir e meditar a Palavra de Deus. O Evangelho nos capacita a viver segundo a sua vontade.

Oração Senhor, perdoa o pouco caso que fazemos e o pouco tempo que temos dedicado a ouvir e mediar sobre a tua Palavra. Fortalece a fé no teu Evangelho para uma nova vida contigo. Por amor de Jesus. Amém.

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Dia do Senhor João 8.47

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uem é de Deus, escuta a sua Palavra. Quem não escuta a Palavra, não é de Deus. Assim dá para entender João 8.47. A Palavra de Deus faz a diferença entre ser e não ser de Deus. A Palavra do Senhor é poderosa. Através dela, ele cria o mundo: “Então disse Deus: – Que haja luz! E a luz passou a existir” (Gênesis 1.3). “Então Deus disse: – Que a terra produza todo tipo de animais... e assim aconteceu” (Gênesis 1.24). Jesus Cristo é a Palavra de Deus transformada em carne, em ser humano. Ele disse: “Menina, levante-se! Ela tornou a viver e logo se levantou” (Lucas 8.54). Jesus diz a um homem: “Estenda a mão. O homem estendeu a mão, e ela sarou” (Lucas 6.10). A Palavra de Deus é instrumento de criação e de transformação. Do nada, ela faz tudo e transforma a morte em vida. Pode também ser instrumento de juízo. Por isso, é vital ouvir a Palavra. Dependemos dela. Nossa vida depende dela. Se queremos que em nossa vida aconteçam coisas importantes, precisamos ouvir a Palavra de Deus, precisamos nos colocar na frente do Senhor para que ele nos fale, nos transforme e nos dê vida. Por isso, a Igreja cristã adotou o dia que Deus instituiu como dia de descanso, depois da criação do mundo, como dia de pregar e ouvir a Palavra de Deus. Todos os dias são dias de ouvir a sua Palavra. Mas, ter um dia especial reforça a importância. Lutero diz que no dia de descanso “devemos temer e amar a Deus, de maneira que não desprezemos a pregação e a sua Palavra, porém a consideremos santa, gostemos de a ouvir e estudar”. Onde ouvimos a Palavra de Deus, acontecem sinais do Reino de Deus em nossa vida e no mundo. Oração

Obrigado, Senhor, por nos dirigires a palavra! Ela fortalece, questiona, corrige nossa vida. Dá o teu Espírito Santo para que possamos entendê-la e praticá-la. Amém. Mandamentos

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Comunidade Salmo 133

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Palavra de Deus precisa ser ouvida, lida e praticada por cada pessoa individualmente e em particular. Mas, ao mesmo tempo, a Palavra precisa ser ouvida e praticada pela comunidade toda, reunida. É bom o que o salmista expressa, quando diz: “Como é bom e agradável que o povo de Deus viva unido como se eles fossem irmãos... Pois é em Sião que o Deus Eterno dá a sua bênção, a vida para sempre” (Salmo 133.1,3b). Às vezes, pessoas dizem que não precisam ir à igreja, que fazem sua oração em casa, sozinhas, e que isso é suficiente. Será verdade? Será que elas não viciam no seu jeito de fazer oração e ler a Bíblia? Será que não correm o risco de se tornarem cristãos egoístas, sacrificando, dessa forma, uma das características da fé cristã, a comunhão? Isso é um lado. Mas há ainda outros questionamentos que podem ser feitos: Será que a nossa fé resiste à solidão? Por quanto tempo conseguimos manter esta chama acesa, sozinhos? Uma brasa isolada do braseiro apaga. Assim, ela não transmite calor, mas também não recebe calor de outras brasas. Torna-se um carvão apagado e frio. Isso é mais um aspecto: se alguém não se reúne com a comunidade, outras pessoas ficam privadas de seu testemunho de fé e de seu exemplo. No culto, eu busco a comunhão de minha comunidade, mas eu também ofereço a comunhão à minha comunidade. Busco comunhão, mas também ofereço comunhão. As duas coisas acontecem. Uma é tão importante como a outra. Dia do Senhor é oportunidade de reunir a comunidade sob a Palavra de Deus e ao redor da mesa da Santa Ceia. Não é possível ser cristão sozinho. Vamos experimentar comunidade no culto!

Oração Obrigado, Senhor, que tu nos dás uma Igreja, uma comunhão dos santos, para que ela nos acompanhe, carregue, anime e que, através dela, nós podemos acompanhar e carregar outras pessoas. Amém. Mandamentos


Domingo – ressurreição Lucas 24.1-4

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omingo lembra ressurreição. Quando a comunidade de Jerusalém assimilou e entendeu a ressurreição, ela acordou. A vitória de Jesus sobre a morte era a coisa mais sensacional que estava ocorrendo. Por isso, o dia da ressurreição ganhou atenção especial. O sábado, o último dia da semana, foi perdendo importância e o primeiro dia da semana, o dia da ressurreição, ganhou importância. Foi por isso que a comunidade cristã trocou o sábado pelo domingo. A ressurreição era coisa tão nova, tão importante que isso precisava ser celebrado de maneira especial, num dia especial. Cada domingo é dia de ressurreição. É uma pequena Páscoa, que tem, embutido dentro dele, a mensagem da vitória sobre a morte. Em Jesus Cristo, a vida venceu a morte. A Bíblia conta isso de forma tão simples: “Elas viram que a pedra tinha sido tirada da entrada do túmulo” (Lucas 24.2). Palavras simples, mas com um conteúdo tão rico! Assim, cada domingo tem, para nós, este recado, às vezes de forma explícita, às vezes de forma implícita: a vida venceu a morte! Cada pessoa escuta esta mensagem individualmente. Ouve-a para si mesma e medita sobre o que isso significa para sua vida. Mas também a comunidade a escuta em conjunto, em comunhão. É uma mensagem a ser compartilhada em fé e amor. Isso dá um ânimo enorme para viver. E com isso dá até para olhar a morte de frente. Domingo é dia de lembrar que Jesus Cristo morreu e ressuscitou para que nós pudéssemos ter vida. Não perca a oportunidade de participar dos cultos de sua comunidade nesse dia. Você sairá de lá fortalecido e, com certeza, a sua presença fará muito bem para outros irmãos e irmãs! Oração Obrigado, Deus, pela vitória da vida sobre a morte. Obrigado por nos dizeres esta mensagem a cada novo domingo. Dá que ela nos fortaleça. Que possamos ser instrumentos dela em nossa comunidade! Amém. Mandamentos

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Nós e o próximo Levítico 19.18

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o libertar o povo do Egito, Deus mostrou que é capaz de oferecer vida nova e digna para quem já não tinha mais esperança. Na aliança que Deus fez, ele deixou claro que nos quer ver livres, para vivermos, amarmos e sermos felizes. Nestor tinha acabado de brigar com seu primo por causa de uma bola. Sua mãe o repreendeu, dizendo: - Nestor, você não é uma ilha! É verdade, Deus nos criou. Deu-nos as condições para vivermos e sermos felizes. Em Jesus, ele nos mostrou do que seu amor é capaz. Compartilhou-o e, com isso, nos fez capazes de amar. Esta liberdade de amar que Deus nos dá, não permite que vivamos como se fôssemos pequenas ilhas. Foi por essa razão que o Senhor nos deu seis mandamentos – do quarto ao décimo – que falam da convivência sadia entre as pessoas. Em Levítico 19.18, encontramos um grande conselho: “Não se vingue nem guarde ódio..., mas ame os outros como você ama a você mesmo”. Quem ama a Deus e sabe-se amado por ele, tem suas mãos livres de todas as seguranças que nada seguram e não se prende no que corrói a destrói a vida, mas tem suas mãos livres para servir, fazer carinho, buscar o perdão, abraçar e erguer quem necessita ser erguido. Nestor precisou de mãos que o ajudassem a compreender que o jogo de bola só tem sentido se jogado em equipe. Nós todos e todas precisamos do amor que nos impulsiona a usar nossas mãos em favor de uma sociedade mais justa e fraterna. Se você olhar bem, há alguém ao seu lado precisando de você. O amor e o temor a Deus se expressam através daquilo que você fizer... Oração Ó Deus, amo-te de todo o meu coração. Porém, ainda insisto em ser uma ilha. Que eu compreenda o teu amor, na medida em que servir, acolher, amar e perdoar a meu próximo. Amém.

Mandamentos


Pai, mãe e mestres: servos de Deus Hebreus 13.17

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todas as pessoas Deus deu um pai e uma mãe. A eles deu um destaque muito especial, quando disse no Quarto Mandamento: “Honrarás teu pai e tua mãe”. Honrar é mais do que amar. Honrar inclui também tê-los em alta consideração e os colocar no lugar mais alto, um lugar de destaque, logo depois de Deus. Lutero afirmou que pai e mãe são representantes de Deus. Nenhuma outra coisa deve valer mais do que a palavra do pai e da mãe. Porém, é imprescindível lembrar que há um critério que deve ser respeitado: a obediência, a honra e o amor aos pais ficam subordinados à obediência a Deus e aos seus mandamentos. É essa também a idéia manifestada no texto de referência: “Obedeçam aos seus líderes e sigam as suas ordens, pois eles cuidam sempre das necessidades espirituais de vocês, sabendo que vão prestar contas disso a Deus”. Tarefa de pai, mãe e mestres é dedicar-se ao bem de todos os seus filhos e filhas, alunos e alunas. Pais, mães e mestres são, pois, em última instância, servos de Deus. Estão a seu serviço. Desta tarefa eles terão que prestar contas a Deus. Quem é capaz de agradecer e recompensar de modo suficiente a seu pai, sua mãe, ao mestre que cumpre com toda a fidelidade a sua tarefa? Não há como pagar e retribuir, senão com honra, respeito e amor. Não é à toa que o Quarto Mandamento é o único que contém promessa: “... para que vás bem e vivas muito tempo sobre a terra”. Onde há compreensão, respeito e carinho no relacionamento com pai, mãe e mestres, há dias que se parecem anos; há lembranças que não morrem; há tesouros de vida que nenhuma tempestade é capaz de enterrar! Oração Ó Deus, tu nos deste pessoas especiais para amar e honrar. Nem sempre a tua vontade se cumpre. Faze de nós bons pais, boas mães e bons mestres; filhos e filhas capazes de colaborar com a tarefa de teus servos e servas. Amém. Mandamentos

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Alguém não se esqueceu... 2 Timóteo 3.14-15

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ndré ia todos os domingos ao culto infantil e sempre passava na frente da casa do juiz de direito. Certo dia, o juiz lhe perguntou: - Menino, você acredita em Deus? - Claro que sim! Ele é meu Pai do céu!, respondeu André. - Mas então, este Pai o esqueceu. Olhe bem para suas roupas e seu sapato furado... ironizou o juiz. O menino respondeu: - Deus não me esqueceu. Mas ele deu esta tarefa para alguém na terra cumprir. E este alguém esqueceu de cumpri-la! O pai de André, as autoridades, a sociedade... esqueceram-se do menino e de tantos que por aí estão em situações semelhantes. Mas alguém – certamente no culto infantil ou em outras circunstâncias – tomou o tempo para falar ao menino de um Deus amoroso, que não poupou a vida do seu próprio Filho para que nós tivéssemos uma chance de viver uma vida cheia de sentido. Alguém, em algum lugar, falou ao menino as palavras que têm poder e mostrou-lhe o caminho, a verdade e a vida (João 14.6). Que bom que em todos os tempos, Deus despertou e continua despertando pessoas, mestres da fé, que mesmo em meio a dificuldades, adversidades, perseguições e injustiças, nunca se calaram e continuaram firmes na tarefa de testemunhar o Evangelho, como lemos em 2 Timóteo 3.14: “Quanto a você, continue firme nas verdades que aprendeu e em que creu com todo o coração. Você sabe quem foram os seus mestres na fé cristã”. Só assim o pequeno André pôde experimentar a fé que nos alimenta, que nos dá a força necessária para resistir e lutar adiante. Com a sua resposta, André também foi o mestre que o juiz precisava... Oração Ó Deus, graças te damos pelo exemplo e coragem de pessoas que fazem com que a tua Palavra chegue a todos os corações. Não permitas que nos acomodemos aos ventos modernos, passando a nossa tarefa para outras mãos. Compromete-nos, Senhor! Amém. Mandamentos


Não há senhor nem escravo! 1 Coríntios 4.15

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odos temos pai e mãe. Pela nossa vida afora, também encontramos amigos queridos que nos adotam como filhos. Assim, somos amados, respeitados, lembrados, presenteados. Para nós, cristãos, o amor entre pais e filhos é, acima de tudo, uma conseqüência do amor de Deus por nós. Se amamos a Deus, também devemos amar aos nossos pais, honrá-los, servi-los, obedecerlhes e dar-lhes todo o nosso amor. Nesta relação entre pais e filhos, todos estão colocados diante do mesmo Senhor Jesus Cristo, fonte de todo o amor. O Evangelho de Cristo nos ensina o verdadeiro amor e o perdão vividos dia a dia com os nossos familiares. Neste sentido, Lutero lembra na explicação do Quarto Mandamento: “Não devemos desprezar nem irritar nossos pais e superiores”. Os meios de comunicação nos informam com freqüência de filhos que assassinam seus pais ou de pais que maltratam seus filhos. Ficamos chocados com tanta maldade e falta de respeito pelos seres que Deus criou e colocou tão próximos uns dos outros. Mas algumas vezes “matamos” nossos pais quando lhes tiramos a esperança de dias melhores, quando os desrespeitamos ou os entristecemos com nossas atitudes inconvenientes na convivência diária. A falta de gratidão aos pais, a falta de amor, a indiferença com que pais muitas vezes tratam seus filhos, são “armas brancas” que matam aos poucos e, muitas vezes, não percebemos o que estamos fazendo, pela distância que procuramos manter uns dos outros. Em uma das composições de Lutero, encontramos o seguinte verso: “Além de mim aos pais serás / submisso e sempre honrarás. / Não vás matar nem ofender / e vida casta deves ter”. Oração Senhor, meu Deus, ajuda-me a respeitar, obedecer e amar aos meus pais em todos os momentos de alegria e tristeza. Ajuda-me a ser-lhes um amigo fiel. Permite que sejamos bons pais para os nossos filhos e nossas filhas. Amém. Mandamentos

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A Palavra de Deus edifica a família Mateus 7.24-27

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obre a rocha o sábio edifica a família. E a chuva caiu. E a casa na rocha ficou”. Esse é um corinho ensinado na Escola Dominical às crianças quando contamos a história dos dois fundamentos, registrada em Mateus 7.24-27. Aprendemos que, ao estudar a Palavra de Deus, escutar mensagens cristãs, louvar ao Senhor e cumprir os mandamentos, estamos nos estruturando para uma vida cristã sólida e autêntica. A família é a célula que prepara as pessoas para viver na sociedade com cidadania. Quando os pais são cristãos, conhecedores da Palavra de Deus, eles sabem da sua responsabilidade em preparar os seus membros com estudo e prática dos ensinamentos de Cristo, para viverem em uma sociedade difícil e desestruturada e com muitas ofertas tentadoras e enganadoras. A família, como grupo estruturado, é alicerce da sociedade e deve estar atenta aos ensinamentos de Cristo, quando ele diz: “Quem ouve esses meus ensinamentos e lhes obedece é como um homem sábio que construiu a sua casa sobre a rocha” (v. 24). De que maneira uma família se alicerça na Palavra de Deus? É responsabilidade dos pais guiar os filhos por caminhos retos e agradáveis a Deus. Ensinar às crianças o caminho que devem andar, é ensinar a cada uma o Caminho, que é Cristo, e amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. A Palavra de Deus é alicerce e deve ser usada na construção da nossa casa espiritual e certamente ela nunca ruirá. O preguiçoso construiu sua casa sobre a areia e ela ruiu porque não havia uma estrutura confiável... Oração Senhor Jesus, ajuda-me a construir a minha casa espiritual com alicerce sólido que é a tua Palavra. Eu quero viver em segurança e ajudar outras pessoas a te conhecerem. Amém. Mandamentos


O bom perfume perdura 2 Coríntios 2.15

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comum entre as mulheres alguém perguntar: “Que perfume você está usando? Como é bom esse aroma!” O poder do bom perfume pode chamar a atenção das pessoas, pelo seu bom aroma. Para se produzir um produto de boa qualidade, o fabricante investe muito dinheiro para adquirir boas essências. Do contrário, o aroma duraria muito pouco. O cristão verdadeiro recebe de Cristo o bom perfume. São os seus ensinamentos através da Palavra de Deus, do santo Evangelho. Ao testemunhar Cristo, estamos exalando o bom perfume, cuja essência foi adquirida por um preço muito elevado. Custou a morte de Jesus na cruz por nós. Esse é o bom perfume que distingue o cristão do não-cristão. Alguém já lhe perguntou porque você é diferente no seu modo de agir? Pois se isto já lhe aconteceu, é porque o seu interlocutor está querendo saber que perfume é esse que você está usando... Cristo é a nossa essência, comprada com o preço da cruz! Cristo passa para nós, cristãos, aromas que podem chamar a atenção das pessoas que nos rodeiam, em casa, no trabalho, no lazer, no estudo, no hospital, no ônibus, em qualquer lugar. Somos o bom perfume de Cristo! Para exalarmos bons aromas, devemos estar cheios dos ensinamentos de Jesus. Esse perfume vai enfraquecendo à medida que nos distanciamos do seu recipiente – Cristo. Após o levantar, ao orar a Deus para que nos livre de todos os males e nos limpe de todas as impurezas, devemos também pedir que ele nos dê o seu perfume para enfrentarmos a lida. E nessa lida, queremos que outras pessoas vejam em nós o Cristo que salva, que ama, que perdoa, que protege, que nos ouve e que também sabe dizer “não” aos nossos pedidos. Oração Meu bom Jesus, eu quero estar cheio do teu perfume para que outras pessoas saibam que eu te amo e vou te seguir em todos os momentos da minha vida. Amém. Mandamentos

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Família – santuário de Deus 1 Coríntios 3.16-17

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ual é o fundamento da família cristã? A ordem de Deus no Quarto Mandamento assinala que você honre seu pai e sua mãe. Os pais são importantes na família não porque a sociedade assim o quisesse ou porque você o desejasse, mas porque são os representantes de Deus para que você seja abençoado com toda sorte de benefícios. Portanto, devemos considerar nossos pais na mais alta posição, porque só Deus está acima deles. A família não é um grupo de pessoas que decidiu viver sob o mesmo teto. Ela é uma construção de Deus. Todos que pertencem a ela são pedras vivas que servem ao propósito de Deus: de santificar a convivência no lar. Por isso, a família é e sempre será o santuário de Deus. E nela não há lugar para a profanação e a destruição. O que o apóstolo Paulo diz em relação às pessoas – que elas são o templo de Deus – aplica-se da mesma forma à família. Também ela é constituída por Deus e lhe pertence. E tudo o que pertence a Deus é “santo”. Ora, sendo a família em princípio santa, ela deve ser conservada santa. A família é santificada e edificada quando os filhos honram seus pais. Quando reconhecem que a autoridade dos pais vem de Deus; quando se busca respeitá-los com atitudes e palavras; quando se ajuda a protegê-los na doença, na pobreza e na velhice. E isso não só porque o merecem, mas porque Deus exige que sejam reverenciados e obedecidos. Neste mandamento, Deus promete vida longa aos filhos obedientes. Isto não só significa ter muitos anos de vida, mas saúde, sustento, abrigo, paz, bom governo, enfim, um mundo santo. E Deus quer usar também a família como instrumento, para que o mundo seja santo, justo e livre! Oração Senhor, santifica nossa família para que possamos viver bem. Dá que nosso convívio testemunhe o teu amor ao mundo. Amém.

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Governo – pai da pátria, servo de Deus Romanos 13.1,4

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aulo diz que todos devem obedecer às autoridades, porque elas foram instituídas por Deus para que o servissem, buscando o nosso bem. Lutero chama o governo secular de pai da Pátria e explica no Quarto Mandamento que não devemos desprezar nem irritar nossos pais e “superiores” – entenda-se aqui governo. Isso significa que se espera que o cristão dedique ao seu governo a mesma honra e o mesmo respeito que ele tem pelo pai e pela mãe. Ora, pai e mãe estão na mais alta posição, acima deles só Deus. Pais são aqueles que estão permanentemente voltados para o bem-estar dos seus filhos. Assim, propõe Lutero, como pais cuidam dos filhos, o governo deve cuidar dos seus cidadãos. Deve-se honrar pai e mãe porque eles estão a serviço de Deus. Assim também em relação ao governo: deve-se honrar e respeitar as autoridades porque estão a serviço de Deus! Mas, que fazer quando um governo é injusto e não está mais a serviço de Deus que o instituiu? Como cristãos, é conveniente que exerçamos nossa cidadania com a consciência que toda a autoridade é colocada por Deus. No entanto, quando outro poder vem ferir a vontade de Deus, a autoridade é subversiva. Neste caso, ela deve ser denunciada e repudiada. Nossa obediência não deve ser cega. Somos convocados pelo Pai para exercer a nossa cidadania. Isso não pode acontecer sem ouvir e ver o clamor dos nossos irmãos, nossos concidadãos. Por amor a Deus e ao próximo, não podemos deixar de reivindicar o serviço do “pai de nossa Pátria” na busca de justiça e paz para todos. O perfil do “pai de nossa Pátria” passa pelo Evangelho de Jesus Cristo, e Deus usa seus filhos para constituí-lo. Oração Senhor, permite que tenhamos governo digno e justo. Dá que nossa obediência a ele não seja passiva. Mas que possamos honrá-lo com nosso trabalho e nosso convívio social. Amém. Mandamentos

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Muitos membros, mas um só corpo 1 Coríntios 12.12

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o Quarto Mandamento, Deus convida a considerar todas as autoridades como seus representantes entre nós. E a autoridade de Deus não só se revela por meio de nossos pais. Ela também se manifesta em nossos professores, pastores, juízes, patrões, prefeitos, governadores... Em qualquer circunstância que nos encontramos, em qualquer ambiente que convivemos, no casamento, na família, na escola, na Igreja, no governo, no nosso trabalho, nós nos relacionamos. Em muitas dessas situações, existe uma relação de autoridade de uns sobre os outros. É da relação sadia com autoridades que fala o Quarto Mandamento. Ele desafia a honrar as autoridades. Honrar significa, aqui, buscar um relacionamento de respeito e amor. Por parte do subordinado, o respeito nasce quando este percebe que a autoridade imediatamente superior busca a sua dignidade de vida. Por parte de quem ocupa autoridade, o respeito nasce quando este percebe que o seu subordinado é uma dádiva do amor de Deus que se revela e se manifesta na honestidade e lealdade, na dedicação ao serviço e na alegria de servir. Pessoas com atributos diferentes, que trabalham juntas podem construir uma vida fraterna e solidária quando encontram em Cristo o fundamento da autoridade que têm e a ela se submetem. Isto vale no relacionamento entre pais e filhos, patrões e empregados, governos e cidadãos. Como cristãos no mundo, não podemos agir diferente do que deixar Cristo ser Cristo; permitir que ele, onde quer que estejamos e o que quer que façamos, seja o elo que nos une uns aos outros, fazendo de nós um só corpo, cujos membros cooperam uns com os outros. Oração Senhor, dá com que não abusemos de autoridade para com aqueles que estão sob a nossa proteção e orientação. Abençoa-nos com autoridades revestidas pelo teu amor para que opressão e miséria não se abatam sobre nós. Amém. Mandamentos


Patrões e empregados servem ao Senhor Efésios 6.5,9

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entro da mentalidade de globalização que impera no início do milênio, parece que perdemos o sentido do real valor do trabalho e do trabalhador. Tanto patrões quanto empregados mais parecem autômatos, cuja atividade não tem nada a ver com Deus. Mas Deus continua transmitindo sua vontade para patrões e empregados ainda hoje. O primeiro aspecto que queremos destacar é que ambos servem ao Senhor Jesus Cristo. A Bíblia diz que os empregados, na época dos escravos, deveriam servir “com sinceridade, como se estivessem servindo a Cristo” (Efésios 6.5). Diz mais: devem fazer tudo de boa vontade, como ao Senhor, e não só quando os patrões vêem. Disse alguém que honestidade de propósito e esforço caracterizam o serviço cristão. Os patrões também devem lembrar que têm um Senhor nos céus e que a ele prestarão contas. Por isso deverão ser justos, deixando as ameaças de lado. Pois diante de Deus não há diferença entre as pessoas. O Catecismo Maior lembra que os empregados devem trabalhar com alegria porque “é mandamento de Deus e lhe agrada acima de todas as outras obras” (Lutero). Isto porque, no seu tempo, o trabalho simples era desprezado. Valorizavam-se a vida em mosteiros, as peregrinações e as indulgências. Diante de Deus não se brinca. Quem é obediente, é filho querido e abençoado por Deus. E os desobedientes são castigados. Resumindo, podemos dizer que só o cristão pode entender que está servindo a Jesus Cristo, seu Senhor, independente se é patrão ou empregado. Não é o bom serviço que nos dá perdão dos pecados e vida eterna. Mas aqueles que sabem que pela fé em Jesus Cristo são salvos, prestam bom serviço. Oração Ó Senhor Jesus Cristo, Salvador e Senhor de todos, perdoa-nos por trabalharmos muitas vezes por motivos egoístas. Lembra-nos que vamos prestar contas como patrões ou empregados. Que façamos tudo para ti. Em teu nome. Amém. Mandamentos

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A promessa de qualidade de vida Efésios 6.2-3

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oje em dia fala-se muito em qualidade de vida. Basicamente, entende-se que é preciso cuidar bem da saúde física e mental. Para tanto, investe-se muito no cuidado de si mesmo e do meio ambiente onde se vive. A Bíblia nos promete verdadeira qualidade de vida ao declarar: “Respeite a seu pai e mãe (...) a fim de que tudo corra bem para você, e você viva muito tempo na terra” (Efésios 6.2,3). Isto é prometido a quem demonstra seu amor, estima, valoriza, respeita e reverencia a seus pais. Importa lembrar isto hoje, não? Ter vida longa não é só chegar a ser macróbio, mas ter tudo que pertence a uma vida longa: saúde, mulher e filhos, alimento, paz, bom governo... para que a vida seja alegre e longa. “Mas quem não quiser obedecer aos pais, que obedeça ao carrasco” (Lutero). Na verdade, quem opera a verdadeira obediência em nós, é Deus. Antes de mais nada, reconheçamos que não valorizamos nossos pais como deveríamos. Não custa nada pedir perdão a eles e a Deus. E pedir a Deus que nos ajude a mudarmos. Pois Deus diz que castigará os que não lhe obedecem, mas abençoará com vida longa os obedientes. “Deus quer recompensar-te se o amares e servires; ou, então, se provocares a sua ira, enviará sobre ti tanto a morte quanto o verdugo” (Lutero). Realmente, qualidade de vida é muito importante. Que a qualidade de nossa vida seja de cunho físico e mental, mas que não nos esqueçamos da qualidade espiritual: crer em Jesus Cristo como Salvador e tê-lo como Senhor. E, em gratidão a ele, amar, respeitar e servir aos representantes de Deus aqui na terra, aos nossos pais e a todos aqueles que são investidos de autoridade.

Oração Senhor Jesus Cristo, tu vieste nos dar vida verdadeira, não só longa, mas redimida e feliz. Muito obrigado por tudo. Concede-nos a graça de vivermos cheios de fé e amor. Por amor de ti mesmo. Amém. Mandamentos


O profundo amor que une os filhos de Deus Gênesis 49.33-50.1

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á uma união muito profunda entre os filhos de Deus. Ela transcende a própria morte e continua nos céus. Gênesis 49.33-50.1 é um daqueles textos bíblicos que, à primeira vista, não nos diz muita coisa. Em verdade, porém, ele nos diz muito sobre nossos relacionamentos interpessoais. Não que ele esteja falando de comunicação entre vivos e mortos. Ele fala da comunhão mais íntima que pode haver entre as pessoas: o laço do amor cristão que durará para sempre (1 Coríntios 13). O texto propõe: “Jacó deitou-se de novo na cama e morreu, indo reunir-se assim com o seu povo no mundo dos mortos” (v. 33). O grande destaque é que Jacó “reuniu-se ao seu povo”. Outro aspecto importante é que o grande José, governador do esplendoroso Egito, chorou abertamente a morte de seu pai, demonstrando publicamente o profundo amor e respeito que tinha por ele (v. 1). Nós, cristãos, temos Cristo como elo de união em todos os nossos relacionamentos. Seu profundo amor, demonstrado até à morte, é que nos dá vida e nos torna irmãos uns dos outros. E irmãos, por sua vez, também demonstram seu amor entre si. Quanto aos pais, “que os veneremos e tenhamos em apreço acima de todas as coisas, como o maior tesouro na terra... que sejamos respeitosos para com eles em nossas palavras, não os acometamos grosseiramente, não levantemos a grimpa nem ralhemos” (Lutero). Que o amor de Jesus Cristo seja o elo de ligação entre pais e filhos. Que ele nos motive a amar pais e mães, irmãos e irmãs também da grande família, isto é, todas aquelas pessoas que convivem conosco na sociedade, independente de raça, cultura, religião ou condição social. Oração Senhor Jesus, que o verdadeiro amor nos una. Que todos te tenhamos como Salvador, amemos uns aos outros e nos encontremos nos céus. Em teu nome. Amém.

Mandamentos

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Vida – um dom de Deus Gênesis 1.27-28a

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o Quinto Mandamento, Deus nos faz entender que a vida, sobretudo a vida humana, está, de forma especial, sob a sua proteção. Pois ele mesmo é o autor da vida. Ele criou o universo e o planeta Terra. E a criação do homem e da mulher foi feita com carinho especial: Deus os criou à sua imagem. Quer dizer, quem agride, violenta, ameaça ou elimina esta vida, ofende o Criador e desonra o Senhor do universo. A referência bíblica acima fala do ser humano, na qualidade de homem e mulher. Ambos foram criados à imagem de Deus. Isto significa que, de certa forma, espelham Deus na sua qualidade de pessoas que falam, decidem, criam, enfim, vivem como seres pensantes. A diferença é que homem e mulher recebem a vida como dom a ser desenvolvido (“tenham muitos filhos”) e administrado com responsabilidade. Para garantir o sustento desta vida, Deus criou a Terra, o ambiente, a natureza e todas as riquezas neles existentes. Portanto, também eles são dons de Deus. Como tais devem ser descobertos, conquistados (“dominem”) e administrados com responsabilidade perante o verdadeiro dono de tudo. A proteção da vida humana, proposta pelo Quinto Mandamento, não se restringe apenas aos seres humanos e tudo que eles representam, mas sim, ao mesmo tempo, à natureza, ao ambiente onde as pessoas vivem e que lhes garante a vida. Desta forma, Deus protege também sua criação que inclui a Terra e todo o universo. Diante dessa visão do mundo, não podemos ficar omissos nem em relação à violência reinante em nossa sociedade nem à agressão da natureza e do meio-ambiente. Que Deus nos dê a coragem para sermos bons administradores de toda a sua obra. Oração Senhor, nosso Deus, criador do universo e Senhor do mundo, agradecemos-te pelo dom da vida. Nem sempre nos damos conta desta dádiva. Perdoa-nos. Ajuda-nos para que possamos defender a vida e a tua criação. Amém. Mandamentos


Não causar dano

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Mateus 5.21-22

rovavelmente todos os que lêem este texto, podem afirmar: eu nunca matei ninguém. Em conseqüência, o Quinto Manda mento não tem nada a ver comigo. Estou de consciência tran-

qüila! Assim pensa a maioria das pessoas. Na época de Jesus ocorreu o mesmo. Até os escribas e fariseus, os teólogos daquele tempo, interpretaram o Quinto Mandamento assim. Jesus, no entanto, vê as coisas de forma bem diferente. Aos seus olhos, toda e qualquer intenção de prejudicar ou causar mal a alguém, seja em palavras ou ações, direta ou indiretamente, é uma forma de desrespeitar o Quinto Mandamento e, simultaneamente, desonrar a Deus, o Senhor do universo, o criador e protetor da vida. Quem vê a vida sob este ângulo, não fala qualquer besteira em relação a outras pessoas, nem mesmo brincando. Todos nós sabemos como pode doer quando alguém nos difama, fala mal de nós ou desrespeita a nossa honra e dignidade. Há casos em que ofensas levam pessoas a cometer suicídio. Não é só isso. Desrespeitar o Quinto Mandamento também acontece quando não se faz nada!!! Quer dizer, quando nos omitimos de fazer ou dizer algo em favor das pessoas que compartilham a vida conosco, na casa, no lugar do trabalho, no lazer, na sociedade. Podese transgredir o mandamento também por omissão! Enfim, objetivo do Quinto Mandamento é motivar as pessoas para que se ajudem mutuamente. Jesus Cristo diz: “Eu lhes dou este novo mandamento: ‘Amem uns aos outros. Assim como eu os amei, amem também uns aos outros’” (João 13.34). Na medida em que estamos fazendo isso, também haverá retorno para a nossa vida. Desfrutaremos da bênção que reside na comunhão da família ou da comunidade. Oração Senhor, perante ti não têm valor / virtudes e cuidados; / somente tua graça e amor absolvem dos pecados. / Ninguém se pode enaltecer; / a ti devemos só temer, vivendo em tua graça. Amém. (HPD 147,2) Mandamentos

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Favorecer nas necessidades Mateus 25.42-43

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ois eu estava com fome e vocês não me deram comida; estava com sede, e não me deram água. Era estrangeiro, e não me receberam em suas casas. Estava doente e na prisão, e vocês não cuidaram de mim”. ... com fome... com sede... estrangeiro... e não... Palavras duras essas de Jesus! Elas são pronunciadas no Dia do Juízo, quando a sorte já está determinada: ou à direita ou à esquerda do grande pastor; ou no lado das ovelhas ou no lado dos cabritos. Jesus se identifica com o faminto, o sedento, o forasteiro, o nu, o enfermo, o preso. Não são pessoas estranhas, desconhecidas, mas é ele próprio, mascarado nas pessoas que diante de nós batem, buscam, pedem, imploram. Com respeito a estas palavras, Lutero diz na explicação do Quinto Mandamento: “É com justiça que Deus chama de assassinos a todos os que em apertura e perigo de corpo e vida não aconselham nem auxiliam”. Estas palavras foram ditas aos que estão do outro lado, do lado dos cabritos. Nós, entretanto, estamos deste lado, com as ovelhas, do lado direito do pastor. Fomos batizados em seu nome para fazer parte do seu rebanho. Então, você pergunta: como essas palavras se aplicam a mim? Jesus nos quer estimular a exercitarmos concretamente a nossa fé neste mundo, muitas vezes indiferente e injusto com aqueles que sofrem. As boas ações que faremos, favorecendo o nosso semelhante em suas necessidades, não nos qualificam para estar do lado direito do Pastor (observe que a seleção foi feita antes que qualquer obra tenha sido mencionada!). Mas elas serão sempre frutos espontâneos da fé em Cristo que nos identifica como benditos do nosso Pai.

Oração Senhor, abre os olhos da minha fé para que eu possa te ver nas pessoas que buscam o meu auxílio. Em nome de Jesus. Amém.

Mandamentos


Direito de punir Romanos 13.4

O

cristão deve obedecer à autoridade constituída sempre? Ele deve obedecer mesmo quando a autoridade é injusta ou governa de acordo com regras de uma ideologia anticristã, ou pode haver exceções? Estas perguntas também podem ser feitas em relação a qualquer autoridade instituída: governo de Estado em todos os níveis, patrão, professor, pai/mãe. Gostaríamos que todos que exercem autoridade o fizessem com competência, sabedoria, imparcialidade, firmeza e amor, sempre buscando a vontade de Deus em todas as suas decisões. Esperamos isto, sobretudo do poder jurídico. Conhecemos o símbolo da justiça: uma mulher, com olhos vendados (sinal da imparcialidade), numa mão a espada, representando o poder e o direito de punir, e na outra, uma balança, símbolo do julgamento entre o bem e o mal. O ideal está ai, mas sabemos que todas as autoridades são limitadas, podem errar e nem sempre conseguem decidir imparcialmente. Sem dúvida, as autoridades instituídas merecem o nosso respeito, honra e obediência e têm o direito de punir quando necessário. No entanto, todos os atos, os nossos próprios, como também os das autoridades, devem ser avaliados criticamente. Para isso, há instrumentos legais que permitem a nossa manifestação e, portanto, nos tornam co-responsáveis com os órgãos incumbidos da fiscalização. Como cristãos, devemos, sobretudo, analisar todas as coisas à luz do Evangelho, que sempre é a favor da vida e do bem de todas as pessoas. No entanto, isto não elimina a lei nem a punição, que fazem parte de um processo de aprendizagem e que objetivam uma vida em dignidade, assim como Deus a quer.

Oração Nosso Deus, pedimos que orientes todas as autoridades que tu instituíste. Afasta de nós o comodismo e o desinteresse, para que cada um contribua com a sua capacidade em favor da sociedade em que vivemos. Amém. Mandamentos

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Direito de matar Gênesis 4.15-16

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aim e Abel eram irmãos. Caim mata Abel por inveja. Chama do a prestar contas, o fratricida é confrontado com Deus. Caim ainda tenta se justificar, dizendo que não é responsável pela vida do seu irmão. A desculpa não cola. Mesmo assim, a ninguém é permitido vingar-se de Caim. Este é o primeiro assassinato registrado na Bíblia. Depois deste, muitos irmãos são mortos: irmãos no sangue, irmãos na fé, irmãos na raça, irmãos na criação de Deus. A primeira reação a um ato hediondo dessa natureza é a vingança, vingança materializada pelas próprias mãos. Tanto o assassinato quanto a vingança são procedimentos resultantes da vida do ser humano fora do jardim do Éden, longe de Deus. Deus coloca um sinal em Caim. Não é um estigma, um castigo, mas um salvo-conduto. De um lado, é uma aliança que Deus faz com Caim para protegê-lo. De outro, é uma forma de evitar que aqueles que encontrassem Caim, por vingança, o matassem. A vingança outra coisa não é do que o enquadramento na mesma situação do assassino. Vingar-se é colocar-se no mesmo nível daquele que matou. O objetivo de Deus é preservar a vida em todos os níveis. Mas a preservação da vida pode também requerer, por vezes, a retirada de uma vida, ou seja, a pena de morte. A pena de morte, entretanto, não é sinônimo de um ato individual ou um mandado. Não deve ser confundida com prática exercida pelas próprias mãos. Lutero, na explicação do Quinto Mandamento, no Catecismo Maior, enfatiza esse aspecto ao afirmar que “o direito de castigar os malfeitores, Deus o delegou aos magistrados”, ou seja, aos governantes. E sobre eles também recai a responsabilidade diante de Deus.

Oração Senhor, faze com que a ordem e a justiça sejam preservadas no mundo, para que não haja necessidade de se pagar vida com vida. E lembra-nos que a vida do teu Filho Jesus garante a nossa para a vida eterna. Amém. Mandamentos


Quem odeia é assassino 1 João 3.15-16

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ódio é muito mais que ódio. Na perspectiva bíblica, ódio é equivalente a assassinato. Ódio é o desejo que a outra pessoa não esteja presente; é a recusa em reconhecer os direitos da outra pessoa; é o desejo de que ela esteja morta. Eu sei, são afirmações drásticas, mas aqui não podemos fazer rodeios. Aliás, o próprio Jesus também trata este assunto sem rodeios, quando diz: “... eu lhes digo que qualquer um que ficar com raiva de seu irmão será julgado pelo tribunal. E quem chamar seu irmão de idiota estará em perigo de ir para o fogo do inferno” (Mateus 5.22). Portanto, se odeio alguém, não sou diferente de um assassino. A partir do prisma de Jesus, portanto, quem odeia, mata e transgride o Quinto Mandamento. E isso é incompatível com a vida espiritual. Desta grotesca descrição do ódio, o apóstolo João dá uma guinada para falar sobre a natureza do amor. Muitas pessoas associam o cristianismo com a lei do amor e, então, imaginam que sabem tudo sobre sua doutrina, quando procuram entendê-lo em termos da sua própria concepção de amor. João define o amor, associando-o com a morte. A linguagem está conectada com a imagem do bom pastor que, diferente do mercenário, está disposto a dar a vida pelas ovelhas. Isto significa que quem ama está disposto e preparado para dar a própria vida para que alguém possa viver. Amar significa dizer “não” à minha própria vida para que alguém tenha condições de dizer “sim” à sua. Amor, portanto, não é apenas demonstração, mas é um ato concreto, um ato que efetivamente beneficia o outro. Se o ódio espelha a morte e a aniquilação, o amor espelha a vida e a salvação. Oração Senhor, perdoa-me as tantas vezes que matei com o meu ódio. Que o teu amor, que habita em mim, se caracterize em vida para aqueles que me cercam. Em nome de Jesus. Amém.

Mandamentos

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União e complementação Gênesis 2.18

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Eterno disse: ‘Não é bom que o homem viva sozinho”. Por que não é bom viver sozinho? O sentimento de solidão e de não ser importante para alguém pode ser corrosivo. Viver sozinho dificulta o crescimento geral. Viver sozinho diminui os motivos para sentir-se útil e ver sentido na vida. É claro que a companhia não precisa ser necessariamente de um cônjuge. Bons amigos podem ser excelente companhia. No entanto, de acordo com o texto acima, o propósito de Deus é que a mulher seja para o homem e o homem para a mulher como se fosse a sua outra metade ou o seu complemento. Então, considerando-se que as metades geralmente são opostas entre si, homem e mulher também só poderiam ser diferentes – quase opostos! Por outro lado, as metades também são sempre a parte que mais combina com seu par, formando um todo. O casamento, então, até que poderia ser comparado com as peças de um quebra-cabeças: são peças diferentes, mas uma encaixa com a outra e pode formar um todo muito belo. Dito dessa forma, pode parecer óbvio. Porém, muitos casais não se dão conta que Deus intencionou que um fosse unido ao outro e o complementasse. E, para haver união e complementação é necessário haver diferenças! Sem tal consciência, muitos deixam que suas diferenças trabalhem mais para prejudicá-los do que para complementá-los. Então, o cônjuge criado à imagem e semelhança de Deus, para ser o “bem” mais precioso e próximo, será objeto de competição em vez de ser sua complementação. Se o matrimônio for guiado por Deus, pode ser uma oportunidade para um processo crescente de união e complementação.

Oração Agradeço-te, Senhor, porque te importas com o meu bem-estar e o dos outros. Tu queres que eu encontre a melhor forma de viver – solteiro ou casado. Ajuda-me a perceber melhor o teu plano para mim e a aceitá-lo e realizá-lo. Amém. Mandamentos


Meu filho – minha vida Marcos 10.9

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i esta frase num pára-choque de caminhão. Ela mostra quão importante o filho é para aquele pai. Se os pais fossem todos assim, seguramente viveríamos num mundo com bem menos violência e injustiça. Filhos amados e valorizados tendem a ser melhores para si mesmos e melhores cidadãos. Entretanto, conforme o plano de Deus, os laços entre os cônjuges ainda são mais importantes do que a relação pais/filhos. Aliás, o livro “Questões sobre o Casamento” dá um destaque a isso, pois lá se lê: “uma placa no escritório de um amigo meu (...) diz o seguinte: ‘A melhor maneira de um pai ajudar seus filhos é amando sua mãe’. O relacionamento marido-esposa precede ao relacionamento pai-filho no plano da criação de Deus. O amor do marido pela sua esposa é o fundamento para a família cristã. Quantas vezes as responsabilidades da paternidade/maternidade atrofiam o relacionamento matrimonial. Um casal cristão precisa reservar tempo a fim de, em conjunto, nutrir seu relacionamento com a finalidade de obter força espiritual e amor para serem pais efetivos. Isto, igualmente, trará um fundamento sólido para um crescente relacionamento matrimonial quando os filhos deixarem o lar”. A amizade, o companheirismo, a delicadeza, a dedicação, o carinho... precisam encontrar o seu lugar permanente no casamento, assim como acontecia no tempo de namoro e noivado – mesmo que sejam de outra forma. Afinal, o seguinte mandamento de Jesus também vale para a vida do casal: “O meu mandamento é este: amem uns aos outros, como eu amo vocês” (João 15.12). Neste caso, os dois não estarão tão sujeitos a ver a separação de quem Deus uniu.

Oração Entrego aos teus cuidados / os bem-amados meus: que sigam confiados, / o seu caminho, ó Deus! Que venhas a guiar, / por tuas mãos clementes, / amigos e parentes – que guardes nosso lar! Amém. Mandamentos

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Cavalo amarrado também pasta! Mateus 5. 27-28

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ste ditado é usado para justificar pessoas casadas que decidem “dar uns pulinhos” fora do casamento. A idéia é: casado está amarrado, mas tem liberdade para gozar a vida. Liberdade é isso? Gozar a vida é isso? A verdade é que adultério, ocasional ou permanente, costuma causar muito mais dissabores e sofrimentos (amarras) do que satisfações (vida bem gozada). Eis alguns exemplos: perda da liberdade de olhar nos olhos do cônjuge; dificuldades no relacionamento sexual do casal; risco de contrair doenças venéreas, de gravidez indesejada, de ser vítima de chantagens, de ser vítima de vingança; risco maior de também ser traído ou traída; perturbações no relacionamento com toda a família... Além disso, não deixa de ser uma traição consigo próprio, pois os cônjuges, ao casarem, tornam-se “uma só pessoa” (Gênesis 2.24). Procedimentos dessa natureza não têm nada de liberdade, muito pelo contrário, só trazem malefícios! Então, porque acontece o adultério, se tem tantos riscos e problemas? Entre outras, há duas causas importantes: a busca por aventuras e novidades e casamentos problemáticos. Deus, no entanto, para proteger as pessoas, o casamento e a família de sofrimentos como os relacionados acima, ordenou o Sexto Mandamento: “Não cometerás adultério”. Com isso, casais que estejam enfrentando dificuldades sérias devem, antes, procurar ajuda (que tal, com quem celebrou a bênção matrimonial?), pois há remédios eficientes para a maioria das doenças do casamento. Sim, há remédios para ajudar também o casal a amar um ao outro assim como Cristo nos amou e assim como um amava ao outro quando decidiram casar.

Oração Senhor e Pai: ajuda-me a cumprir meus deveres e a perdoar a quem não agiu bem comigo. Perdoa também e ajuda-me a mudar no que for necessário e a refazer laços que foram prejudicados pelo erro de cada um. Amém. Mandamentos


Vidas divididas Marcos 10.6-9

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á muito tempo, alguém escrevia sobre alguns casais: “Três semanas para se estudarem, três meses para se amarem, três anos para brigarem, trinta anos para se tolerarem”. Depois, criou-se o divórcio. Há, inclusive, igrejas “avançadas” onde já se viu o pastor, com todas as bênçãos, unindo pares “enquanto durar o amor”. Assim, quando a paixão ceder, quando se enfastiarem, correrão para um advogado, assinarão uma procuração e um requerimento, e o juiz decretará a falência dessa sociedade. No Brasil, hoje, um em cada quatro casamentos acaba em separação. Estão aí projetos de vida interrompidos – projetos nos quais se investiram emoções, afeto, recursos materiais. Para os filhos, isso representa lidar com emoções desconhecidas, como a insegurança e, certamente, a dor. “Portanto, que ninguém separe o que Deus uniu”. Esse é o projeto desafiador de Deus ao homem e à mulher: que se unam e se tornem uma só pessoa. A separação e o divórcio não estão nos planos de Deus; nem o divórcio oficial do meritíssimo que leva as pessoas a mudar de casa, nem a separação que já mudou a alma de casa, de casais separados debaixo do mesmo teto, estranhos que continuam vivendo juntos – e infelizes – em nome da família, da aparência e de uma suposta felicidade dos filhos. O casamento se sustenta do amor, e este do compromisso, da reconciliação, do afeto, do interesse, do diálogo, da compreensão. Estes são dons de Deus e nele devem ser buscados diariamente. É nele que se reconstroem as relações e somente através dele que se pode transformar a família, no dizer de São João Crisóstomo, em “uma miniatura da Igreja”. Oração Pai, instituíste a família como um espaço para a nossa felicidade. Ajuda-nos a cultivar essa união no exercício diário do perdão e da reconciliação. Amém. Mandamentos

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A base sólida 1 Coríntios 13.13

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ergunte a noivos, na véspera do casamento, por que eles querem casar. Certamente responderão que querem casar porque se amam. Se você é casado, com certeza, também pensou assim, no dia do seu casamento. Noivos sempre apostam no amor maior que o infinito (Roberto Carlos) ou no “pluriamor” (Drumond de Andrade). Você já reparou quantos casais, que apostaram no amor eterno, se separaram? Dizem que não sentem mais nada um pelo outro e que o amor terminou. E como está o amor na relação com o seu marido ou a sua esposa? Ele continua o mesmo ou diminuiu? Por que ele diminui ou termina? Ele não é eterno? Parece que entre nós vigora um conceito diferente de amor. Confundimos amor com sentimentos esporádicos, com gestos de caridade, com sensualidade. Entendemos, a exemplo dos poetas, que ele é uma virtude inata, que o trouxemos de berço. Para dar certo, basta desenvolver aquilo que já existe. Com isso, no entanto, o nosso “amor” é frágil e tão limitado como nós mesmos e toda a nossa estrutura. O apóstolo Paulo tem outra concepção. Para ele, amor não tem origem no mundo, mas em Deus, que o manifestou de forma concreta na morte e na ressurreição do seu Filho. “Quem quer falar de amor não pode esquecer de Jesus”. Este é o amor que jamais acaba porque vem de Deus. Com ele dá para viver. Por isso, se você quer construir o seu casamento sobre uma base sólida, não procure outro alicerce, não se deixe levar pelo poder da sua mente. Aposte exclusivamente no amor de Deus que deu prova incontestável de sua consistência através da morte e ressurreição de Jesus Cristo. Busque-o através da Palavra de Deus, dos sacramentos e da oração. Oração Querido Deus, obrigado pelo teu amor eterno. Permite que ele se torne cada vez mais sólido e mais real no nosso meio. Regula, através dele, as nossas relações, em especial, no nosso casamento. Por Jesus Cristo. Amém. Mandamentos


Bênção matrimonial Provérbios 18.22

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asamento civil” e “Casamento religioso” – qual é a diferença? Em verdade, na Igreja não se casa, mas abençoa-se o casamento, já confirmado pela lei civil. Por isso, preferimos falar em culto de bênção matrimonial, para o qual se convida toda a comunidade. Esta é a razão dos proclamas, onde se anuncia, diante da comunidade reunida em culto, a intenção dos noivos. Quando noivos pedem a bênção matrimonial na Igreja, eles estão dando um testemunho de sua fé. Querem dizer publicamente quem é o Senhor da sua vida e da sua relação matrimonial. Buscam, através da bênção, a proteção e a força de Deus para a sua relação. “Aqueles que instituíram a praxe de se conduzir noivo ou noiva para a igreja, na verdade, não consideraram isso uma brincadeira, mas algo muito sério; pois, não há dúvida que, com isso, queriam buscar a bênção de Deus e a intercessão da comunidade, e não fazer comédia ou farsa pagã... quem procura oração e bênção junto ao pastor, está indicando (ainda que não o expresse oralmente) os riscos e as dificuldades que o esperam, e de quão elevada bênção divina e intercessão da comunidade precisa para o estado que agora se inicia; pois diariamente se percebe que desgraça o diabo provoca no estado matrimonial, infidelidade, discórdia e toda sorte de miséria” (Lutero). Se o seu casamento foi abençoado por Deus, na Igreja, tenha certeza de que Deus o está acompanhando, mesmo que você nem sempre esteja consciente disso. Apesar das dificuldades que você sente no seu relacionamento, não tenha dúvida de que a sua união matrimonial tem o aval de Deus. Repita e renove esse testemunho todos os dias!

Oração Senhor, obrigado por permitires que busquemos a tua bênção para o nosso matrimônio. Conscientiza-nos, principalmente nos momentos mais difíceis da nossa caminhada a dois, de que podemos contar com a tua cumplicidade. Amém. Mandamentos

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Liberdade para ser honesto Levítico 25.23-24

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stou feliz com a minha liberdade. Sinto-me exposto à tentação da desonestidade. Isso não é mérito meu. Meus pais, meus professores, meus pastores construíram essa liberdade em mim. Também não é mérito deles, mas do Evangelho. Antes de me apontarem a liberdade, eles mesmos foram libertados. Deles aprendi que o rosto amoroso de Deus está voltado para mim. Não quero manchar essa boa relação com atos de desonestidade. Pelo contrário, cresce em mim uma natural disposição de amar a Deus e temê-lo acima de todas as coisas. “Devemos temer e amar a Deus e, portanto, não tirar do nosso próximo os seus bens e o seu meio de vida” (Lutero). Sei que toda riqueza tem uma função social. Deve estar a serviço do próximo. A terra que alguém comprou ou herdou. A empresa que alguém construiu. Em última análise não somos nós os donos, mas Deus. Por outro lado, cada um precisa do seu espaço, do seu abrigo, da sua segurança, onde está em casa. É o seu refúgio. Só dele. Aquele grupo de jovens que invadiu o meu pomar e pisou a minha horta que comeu todas as amoras e os melhores cachos de uvas, depois brincou de guerra com os meus tomates e as minhas pêras, eles não sabiam que Deus estava olhando-os com amor. Não tiveram quem apontasse Deus para eles. Ninguém os ajudou a experimentar o amor de Deus. Então, outros deuses invadiram e dominaram suas vidas. Assim, não conheceram a liberdade de ser honesto. Eu, de minha parte, senti-me desprezado no respeito que mereço. Senti-me roubado. Ah, também sei que as condições em que eu fui criado foram muito melhores do que daquele bando de jovens, que vagava pelas cidades, sem eira e sem beira. Oração Senhor, Deus da vida, que te mostras em Jesus Cristo como nosso Salvador e amigo amoroso, preserva a minha liberdade e desperta quem aponte o teu amor aos jovens que vagam pelas cidades sem amparo e sem perspectivas. Amém. Mandamentos


Muitas maneiras de roubar 1 Timóteo 6.9-10

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epois do Ensino Confirmatório, eu entrei na lancheria da nossa Cooperativa. Havia um grupo de pessoas numa das mesas. Dois homens ali sentados, eu conhecia bem. Eles me convidaram. Sentei-me com eles, e eles continuaram a conversa iniciada antes da minha chegada. - Vou comprar as vacas – disse um deles – mas não tenho pressa. O homem está apertado, por causa da doença do filho dele. Ele não tem saída. Vai se ver obrigado a baixar o preço. No Ensino Confirmatório, eu havia comentado com os alunos sobre o Sétimo Mandamento: “Não furtarás”. Pensei comigo: há muitas maneiras de roubar! Na explicação desse mandamento, Martim Lutero ensina: “... mas devemos ajudar o nosso próximo a melhorar e conservar os seus bens e o seu meio de vida”. Lembrei-me também de 1 Timóteo 6.9: “Porque os que querem ficar ricos caem em tentação e na armadilha de muitos desejos tolos e maus, que levam as pessoas para a desgraça e a destruição”. Concluí que roubar não significa apenas arrancar a carteira das mãos de alguém ou levar os seus pertences, furtivamente. Aquele grupo de homens da lancheria parecia aceitar, sem problema, a idéia de aproveitar a dificuldade financeira do próximo para tirar vantagem. - E se fizéssemos, todos juntos, uma visita ao pai do menino doente – sugeri – quem sabe, poderíamos ajudá-lo? É agora que ele precisa, mais do que nunca, das suas vacas para enfrentar as despesas médicas. Um por um, todos acharam uma razão para ir embora. Fiquei sozinho. Aparentemente, a minha sugestão foi tão estranha para eles, que não souberam o que fazer com ela. Oração Senhor, ajuda-me a divulgar o Evangelho do teu amor, com palavras e atitudes adequadas, para que perpasse as nossas decisões concretas e tome forma nas atitudes do nosso dia-a-dia. Amém.

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Roubo institucionalizado Êxodo 23.1-2

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cidade onde moro tem as suas raízes na pequena propriedade rural. No passado, havia um bom equilíbrio social entre as famílias. Havia pequenas diferenças, sim, entre as que conseguiam produzir mais e as que produziam menos. Todas, no entanto, tinham o suficiente para uma vida digna e eram bem-vindas em todos os recintos. A cidade cresceu. Alguns enriqueceram muito. Outros empobreceram. Hoje, a minha cidade, cada vez mais, está adotando a cara da sociedade brasileira, dividida em palácios e barracos, centro e periferia, condomínios fechados e favelas, desperdício e fome, alta moda e trapos, clubes finos e exclusão, luxo e lixo. Percebo uma mão invisível, poderosa, gigantesca, que drena as riquezas da mão da maioria para as mãos de uma minoria privilegiada. Conheço várias pessoas em minha cidade que ganham em um só mês o que o trabalhador mais simples leva 25 anos para ganhar. Antigamente, o povo de Deus viveu escravizado no Egito. Quando Deus o libertou, sob a liderança de Moisés, logo lhe deu os Dez Mandamentos, para que pudesse viver em liberdade. Ninguém seria oprimido. Em nome do amor a Deus, ninguém tiraria do outro o direito de ter o necessário para viver com dignidade. Êxodo 23.2 recomenda: Não ajude a “torcer a justiça”. A comunidade cristã não conseguiu resistir a um modelo políticoeconômico que institucionalizou a drenagem de baixo para cima e concentra capital, prestígio e poder de decisão. É a transgressão do Sétimo Mandamento, institucionalizada, legitimada, bem estruturada. Como cristão, não quero conformar-me jamais com essa realidade. Que Deus me ajude! Oração Senhor Deus de Moisés e Arão, justo e libertador, mantém acesa em mim a chama da revolta contra o roubo institucionalizado que transgride o teu Sétimo Mandamento. Amém. Mandamentos


A verdadeira ajuda Gênesis 13.5-13

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io, me dá um troco?” – “Tem pão velho, dona?” – “Que Deus lhe pague!” É gente pedindo pelos mais diversos motivos. É gente pedindo por pedir, é gente pedindo porque está faminta, é gente pedindo para comprar remédio porque está doente, é gente pedindo para viajar. E o pior: pais que mandam seus filhos pedir, pois sabem que crianças sensibilizam mais. A toda hora, somos abordados e obrigados a ouvir frases de pedintes. Gostemos ou não, são pessoas que passam necessidade. E isto é indigno, desumano, injusto. Quem não se conforma com a injustiça – e esse também é o caso das pessoas cristãs – sente uma inquietação quando ouve frases assim. Como agir? Que fazer? Se dermos dinheiro, estaremos realmente auxiliando? Se dermos algo, poderemos ficar de consciência tranqüila? Dada a esmola, encerra-se nosso compromisso com a pessoa carente? Abraão correspondeu plenamente ao proposto pelo Sétimo Mandamento, quando agiu em relação a Ló. Na base deste agir, estava a plena confiança no Deus que é a fonte de toda vida. O Sétimo Mandamento não quer somente que se deixe de fazer o mal à pessoa próxima, no âmbito de sua propriedade. Mais que isso, manda que a ajudemos a melhorar de vida, a progredir, a ter uma vida plena e digna. Se damos algo a um pedinte a fim de acalmar a nossa consciência, então damos algo a nós mesmos. Acabamos fazendo o contrário do que transparece em nossa atitude. Nossa dádiva à pessoa necessitada deve ser feita para que seja superada a situação injusta e indigna em que ela se encontra. Desse modo, quem vive a partir da cruz e sob a cruz de Jesus Cristo, pratica verdadeiramente o Sétimo Mandamento.

Oração Bondoso Deus, sensibiliza-nos em relação às pessoas necessitadas e coloca-nos a seu lado em sua busca por vida plena. Em nome de Jesus Cristo. Amém.

Mandamentos

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O amor de Deus ou o ídolo mercado? Levítico 25.35-38

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ara muita gente, a fé cristã diz respeito exclusivamente à esfera individual, privada, íntima das pessoas. Também os mandamentos, que orientam as pessoas cristãs em seu comportamento ético, estariam limitados ao âmbito individual. Trata-se de um lamentável engano. Nos dias em que escrevo essas linhas, o Brasil atravessa séria crise financeira. A moeda nacional perdeu quase a metade de seu valor em poucas semanas, pela ação de especuladores na banca internacional e pela má política financeira. Em um mês, o sistema bancário privado lucrou mais do que lucrara em todo ano anterior. Os meios de comunicação citam freneticamente cifras, valores, taxas, números. Por enquanto, só há uma certeza: os ricos ficaram mais ricos e os pobres ainda mais pobres. Quem fica rico às custas dos outros e contribui para que a maioria fique cada vez mais pobre, enquanto ele próprio recheia seus bolsos, está praticando o furto, mesmo que esteja amparado pela lei. Neste caso, trata-se de roubo institucionalizado. Quem leva a sério a vontade de Deus, sabe que por trás daqueles números e taxas há pessoas. Há crianças, mulheres e homens que morrem por falta de comida, casa, saúde, escola e segurança. Morrem porque o roubo é legalmente possível, a irresponsabilidade de quem governa permanece impune e os caprichos do “ídolo mercado” são mais respeitados do que a vontade do Deus da vida. O Sétimo Mandamento nos faz ver as coisas a partir do amor de Deus e das pessoas que sofrem necessidade e injustiça, auxiliando-as materialmente e denunciando os mecanismos idolátricos e diabólicos que ameaçam suas vidas.

Oração Amado Deus, abre nossos olhos e move-nos ao compromisso com o nosso próximo ameaçado pelo roubo e injustiça institucionalizados. Em nome de Jesus. Amém.

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Administrar com responsabilidade Mateus 25.14-30

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erta vez presenciei uma discussão muito interessante entre duas pessoas de uma mesma Igreja. Uma delas defendia o ponto de vista de que possuir propriedade é conflitante com a fé cristã. A outra argumentava, garantindo não haver incompatibilidade nisso. No auge do debate, quem era favorável à posse de propriedade por cristãos evocou a figura do líder por excelência da Igreja de ambos: “Há quinhentos anos, ele já dizia que podemos e devemos ter propriedade!”. Foram rapidamente conferir no livro em que aquele eminente líder eclesiástico teria feito essa afirmação e leram mais ou menos o seguinte: “É claro que uma pessoa cristã pode ter propriedade. Não só pode como deve. Do contrário, como irá colocar o que tem a serviço de quem não tem e necessita?” A discussão cessou por aí, pois agora, aquelas pessoas tinham muito em que pensar. O líder daquela Igreja havia captado o sentido profundo do Sétimo Mandamento, que se refere ao modo como usamos os bens e o dinheiro que temos. Entendeu que todos os bens, sejam eles de ordem material ou espiritual, enfim, tudo o que temos, é dado por Deus. Quando Deus nos deu tudo, de graça, ele também lançou o desafio para que o administremos com responsabilidade, em favor de nossa subsistência, de nossos familiares e das pessoas que nos rodeiam, especialmente daquelas que passam privação e necessidade. Temos o compromisso de usar bem os recursos recebidos, pois são necessários para manter tudo o que Deus criou e continua criando. Ele considera nossa colaboração tão necessária e tão importante que cedo ou tarde pedirá uma prestação de contas.

Oração Bondoso Deus, ajuda-nos a administrar o que possuímos na perspectiva da fé em Jesus Cristo e orientados por tua Palavra. Em nome de Jesus. Amém.

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Também os cristãos são fofoqueiros. Cuidado! Tiago 4.11

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m psicólogo inglês, em recente estudo, afirma que o mexerico e aquilo que se pode chamar de tagarelice social tem algo de muito positivo. A história teria mostrado que o mexerico instigou o desenvolvimento humano. Se os nossos antepassados, diz o autor, não tivessem gasto tanto tempo falando mal uns dos outros, a humanidade não teria desenvolvido toda esta capacidade mental de desbravar os mistérios das galáxias e inventar a Internet (que globalizou as fofocas). Homens e mulheres, conclui o autor, gastam cada vez mais tempo mexericando sobre a vida alheia, principalmente dos concorrentes e oponentes. “Meus irmãos, não falem mal uns dos outros”, escreve Tiago 4.11. Pelo visto, também os cristãos são fofoqueiros. O hábito de falar mal dos outros veio embutido no pecado humano e sobrevive tanto na sociedade como na comunidade cristã. Não raro, a fofoca e a crítica atropelam o bom senso e acabam em julgamento. “Quem fala mal do seu irmão ou o julga está falando mal da Lei. Deus é o único juiz. Só ele pode salvar ou destruir. Quem você pensa que é...?” (Tiago 4.11,12). O julgamento está reservado a autoridades constituídas para esse fim. Julgar o outro tem dimensões graves. Pode comprometer a sua reputação. A situação fica terrível, quando uma pessoa se deixa levar, quem sabe até por suborno, a mentir perante a justiça. Cuidado! “Não dirás falso testemunho contra o teu próximo”, ensina o Oitavo Mandamento. Ou será que nós gostaríamos que os outros nos caluniassem e desonrassem? Por isso, a regra áurea continua de pé: “Façam aos outros o que querem que eles façam a vocês” (Mateus 7.12).

Oração Senhor, tu, que és a verdade, sabes o quanto somos tentados diariamente a falar mal dos outros. Tu também sabes quantas vezes não resistimos e falamos manchando o nome do nosso próximo. Ajudanos, para que somente falemos o que é decente e conveniente. Amém. Mandamentos


Vocês são diferentes Mateus 18.15

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ma amiga me contou que uma pessoa, evangélica como ela, a difamara. Procurou-a, depois, em particular. Mas a pessoa não queria nem conversa. Por isso, disse-me a amiga: “não acredito no êxito do conselho de Jesus, de procurar a outra pessoa e mostrar-lhe o erro. Não vejo as mínimas chances de se falar com o outro, na comunidade cristã, sobre o seu erro e pecado”. Penso que minha amiga tem razão. Começa com o fato de, na Comunidade, estarmos pouco preocupados com o comportamento do outro. No fundo, ele pouco nos interessa. Mais, se ele nos caluniar ou “pecar contra nós”, como disse Jesus, nós vamos tirar satisfações dele ou até mesmo buscar os nossos direitos na justiça ou nos recolhemos simplesmente ao silêncio amargo da resignação. Perdemos a maturidade, se é que já a tivemos uma vez, de colocar as coisas em ordem entre nós, irmãos e irmãs. Fingimos que tudo está bem, mesmo quando tudo está errado. Não é isso que está acontecendo em quase todas as latitudes e longitudes da vida cristã? Jesus contesta e lembra: “Mas entre vocês não será assim” (Marcos 10. 43). Também o Oitavo Mandamento insiste no uso da linha direta entre irmãos e irmãs da fé. Vale a pena investir no outro, indiferente se o pecado dele foi contra nós ou não (textos originais mais antigos e fidedignos não contêm as palavras “contra você”). Só assim poderemos ser uma comunidade mais cristã, isto é, mais autêntica, humana e divina. As perspectivas de êxito são limitadas, é bem verdade. Mas toda vez que conseguimos superar o fosso do pecado, que separa o que deveria estar junto, haverá mais paz na terra e maior alegria no céu (Lucas 15.3-7). Oração Olha, Senhor, como as coisas andam entre nós. Há muita rejeição e pouca aproximação. Reveste-nos da tua Palavra e do teu Santo Espírito, para que a verdade se sobreponha à difamação e o perdão restabeleça a comunhão. Amém. Mandamentos

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Falar a verdade, naturalmente Mateus 5.37

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Sermão do Monte (Mateus 5-7) já foi chamado de Magna Carta dos cristãos porque contém a Palavra de Jesus sobre o novo ser e viver dos filhos de Deus. Sob este prisma deve ser entendida a palavra: “digam apenas ‘sim’ ou ‘não’, pois qualquer coisa mais que disserem vem do Diabo”. O cristão foi libertado de uma vida falsa, cheia de mentiras, para uma vida de verdade, onde jurar pelo nome de Deus não tem mais cabimento. O discípulo não precisa recorrer ao nome de Deus para dar crédito às suas palavras. Ele fala a verdade, naturalmente. Em Tiago 5.12 lemos: “Quando prometerem alguma coisa, não jurem pelo céu, nem pela terra, nem por nada. Digam somente sim, quando for sim, e não, quando for não, para que Deus não os condene”. O mesmo vale em relação ao Oitavo Mandamento: “Não dirás falso testemunho contra o teu próximo”. Na sua interpretação, Lutero criticou severamente as autoridades e testemunhas que entortavam a verdade nos depoimentos e julgamentos, “enquanto o pobre, oprimido em sua causa, tem de perder a questão e sofrer o castigo”. Nós temos que ter mais presente que somos pessoas renascidas, pessoas de um novo tempo e testamento. Um escritor dos nossos dias disse: “Nós precisamos de uma linguagem simples e clara, que diz água para água e chama a sujeira de sujeira, que denomina a cadeira, a cama, a flor e a morte, e não chama o homicídio de ato heróico, nem a verdade de blasfêmia...”. Pensando bem, nós já temos esta nova linguagem, fruto do novo ser em Cristo. Imaginem se as pessoas pudessem acreditar que é isso mesmo que lhes desejamos, quando dizemos: Vou pensar em você. Pode contar comigo. Deus o guarde! Oração Senhor, ainda há pessoas que acreditam nas nossas palavras. Ajudanos a permanecer na tua Palavra, para que permaneçamos na tua verdade e não prejudiquemos ninguém com o nosso falar. Amém. Mandamentos


A favor do injustiçado Provérbios 31.8-9

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ossa Constituição garante igualdade de direitos para todos. Ninguém deverá ser prejudicado devido à sua posição social, raça, cor ou religião. Sabemos, no entanto, que a realidade nem sempre é essa. Facilmente, quem tem uma boa posição social, dinheiro e poder, também vence as causas na justiça. No nosso texto, a mãe do rei Lemuel lhe aconselha: “Fale a favor daqueles que estão na miséria. Fale por eles e seja um juiz justo. Proteja os direitos dos pobres e dos necessitados”. O problema da justiça é antigo. Os Dez Mandamentos lhe dedicam um espaço especial. Lemos no Oitavo Mandamento: “Não dirás falso testemunho contra o teu próximo”. Quanto a isso, Lutero escreve: “o sentido mais imediato deste mandamento... refere-se ao foro público, onde um pobre inocente é acusado e oprimido por falsas testemunhas, para ser castigado no corpo, nos bens ou honra”. Pessoas que seguem a Cristo não podem se conformar enquanto outros são injustiçados por falso testemunho. Por isso, estejamos sempre prontos a defender o próximo quando ele está sendo acusado injustamente. Saibamos apoiá-lo nos momentos de dificuldade. O nosso exemplo e motivação estão em Cristo. Ele nos defendeu de nossos pecados e continua nos defendendo diante de Deus. Jesus, sendo justo, não tendo pecado, assumiu nossos pecados e ainda mais: ele é nosso próprio advogado diante de Deus. Esta é a justiça de Deus: providenciar a libertação de nossos pecados, sendo que nós somos culpados. Que este seja o nosso motivo para favorecermos os desamparados falando a favor deles.

Oração Senhor Deus, que fizeste justiça conosco através de Cristo, perdoando todos os nossos pecados, pedimos-te que saibamos praticar a justiça com o nosso próximo a fim de favorecer aqueles que são injustiçados, mediante Jesus Cristo que se tornou a nossa justiça. Amém. Mandamentos

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Traição Mateus 26.14-16

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udas traiu Jesus em troca de trinta moedas de prata. Há pessoas que traem seus amigos revelando a outros segredos que lhes foram confiados. Outros traem a confiança de seus amigos quando espalham fraquezas e até mentiras a seu respeito. O que Judas fez com Jesus foi dar falso testemunho a seu respeito. Ele sabia que Jesus era inocente, que não havia feito nada de errado e que era Filho de Deus. Mas, a ganância pelo dinheiro fez com que judas procurasse uma oportunidade para entregar seu Mestre como um malfeitor, um marginal. O resultado deste gesto foi que o traidor acabou se enforcando após ter reconhecido o seu erro: “Pequei, entregando à morte um homem inocente” (Mateus 27.4). O pecado da traição é inerente em nós. Sempre que revelamos os segredos de alguém e contamos aos outros as fraquezas de nosso próximo, o estamos traindo. Falar bem e “interpretar tudo da melhor maneira” (Lutero) é o caminho certo e justo. “Se o seu irmão pecar, vá e mostre o erro dele. Mas faça isso em particular, só entre vocês dois” (Mateus 18.15). Esta é a forma de lidar com as fraquezas de nosso próximo. Falar diretamente com ele, mostrando-lhe o erro, é o melhor que podemos fazer para o bem de nosso irmão. Precisamos nos arrepender dos pecados de traição que cometemos. No entanto, não da forma como Judas fez. Arrepender-se significa mudar de atitude e, acima de tudo, confiar no sangue inocente que Jesus derramou na cruz pelos nossos pecados. A fé em Jesus também cria em nós um novo ser, uma nova atitude, para que não traiamos o nosso próximo, mas falemos bem dele e falemos com ele sobre seus problemas. Que Deus nos ajude!

Oração Senhor Jesus, derramaste teu sangue inocente pelos nossos pecados. Ajuda-nos a não trairmos o nosso próximo, mas sim que possamos falar bem dele e ajudá-lo, em particular, a corrigir os seus problemas. Amém. Mandamentos


Coerência entre palavra e ação Mateus 7.21-23

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texto acima mostra que precisa haver coerência entre palavra e ação. Pode-se falar piedosamente, pregar a Palavra de Deus e até expelir demônios e fazer milagres em nome de Deus. Tudo isto de nada adianta se não fizermos a vontade do Pai que está nos céus. Esta realidade está acontecendo em nossos dias. Parece que nunca se pregou tanto pelos meios de comunicação e nunca se viram tantos milagres, expulsão de demônios e espetáculos públicos em nome do Senhor. Muitos estão dizendo “Senhor, Senhor!”, mas estão ensinando doutrina falsa. Colocam tudo na força da pessoa e fazem crer que, se a pessoa não se libertar dos seus males e não progredir materialmente, ela está com falta de fé. Deus é transformado num provedor de libertações físicas e de progresso material e a igreja, mediante o pagamento de ofertas generosas, passa a ser o lugar onde se encontrará Deus mediante orações poderosas de pastores que gritam “Senhor, Senhor!” Pouco se fala de Jesus como o libertador dos pecados e da fé como meio de receber o perdão. Coerência entre palavra e ação! Isto vale para a nossa relação com Deus e vale também para a relação com o nosso próximo. Assim como é hipocrisia falar “Senhor, Senhor”, mas ensinar doutrina falsa, também é hipocrisia fazer-se amigo de alguém, mas, traiçoeiramente, não lhe dar apoio quando ele mais necessita. Filhos de Deus, cidadãos do seu Reino, também cultivam uma verdadeira amizade, autêntica e sem hipocrisia, são coerentes entre palavra e ação. Foi para isso que Jesus realizou a obra da salvação, libertando-nos do pecado do falso testemunho contra o nosso próximo.

Oração Senhor Deus, que enviaste Jesus para nos capacitar a realizar a tua vontade, concede-nos que sempre realizemos a tua vontade, firmados na fé em Jesus, a fim de sermos recebidos por ti no Reino dos céus. Em nome de Jesus. Amém. Mandamentos

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Puxaram o tapete de Esaú? Gênesis 25.27-34

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saque e Rebeca tiveram dois filhos: Esaú e Jacó. Esaú era o primogênito. Isto significava que ele seria o futuro chefe da família e receberia porção dobrada da herança. Jacó, porém por determinação de Deus, deveria dominar sobre seu irmão. Quando cresceram, o caçador Esaú trocou levianamente o seu direito de primogenitura por um prato de lentilhas, preparado pelo irmão. Astuciosamente, a mãe prepara uma cilada para enganar o velho pai que, enganado pela esposa, transmite a sua bênção ao filho mais novo. Puxaram o tapete de Esaú? Não. Cumpriu-se a Palavra de Deus dita a Rebeca quando ela estava grávida: “No seu ventre há duas nações; você dará à luz dois povos inimigos. Um será mais forte do que o outro, e o mais velho será dominado pelo mais moço” (Gênesis 25.23). Isaque tentou contrariar a vontade de Deus por causa da sua simpatia pelo filho mais velho. A intenção astuciosa de Rebeca está cheia de boas intenções. No entanto, a Bíblia não nos encoraja a imitar os meios que ela empregou. Como conseqüência, ela nunca mais veria o seu filho. O Nono Mandamento ensina que não devemos cobiçar o que é do próximo. Devemos, porém, respeitar seus bens e seus direitos. Neste caso, o direito pertencia a Jacó. Por isso, mesmo por linhas tortas, foi feito justiça. Deus sabe o que se passa no íntimo de cada um. Adquirir bens ou ferir o direito das pessoas com astúcias, ganância ou de outra forma desonesta, ofende a Deus e prejudica o ser humano, mesmo que aos olhos do mundo se possa fazê-lo honrosamente sem que ninguém o perceba. Também dos pecados da cobiça, o sangue de Jesus Cristo, o Filho de Deus, nos purifica. Oração Senhor Deus, diante de quem todos os corações estão abertos, permite que o teu Espírito Santo purifique os mais secretos lugares do meu coração. Livra-me da cobiça e ajuda-me a respeitar o direito do meu semelhante. Por Jesus Cristo, meu Salvador. Amém. Mandamentos


Crime de apropriação indébita Josué 7.1

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srael havia vencido o poderoso exército de Jericó. Pouco depois, perdeu vergonhosamente uma batalha para o frágil exército de Ai. Qual foi o motivo da derrota? Deus havia ordenado que, ao vencer Jericó, ninguém guardasse nada dos despojos. Porém, um homem chamado Acã, tentado pela cobiça, apropriou-se de algumas coisas. Por isso, foi castigado com a morte e destruição de todos os seus pertences. Acã cometeu o crime de apropriação indébita. O mesmo delito é praticado em larga escala ainda hoje. Há os ladrões de galinha e de laranjas, os sonegadores de impostos, os trombadinhas, os assaltantes a mão armada, e há os ladrões de colarinho branco que assaltam o patrimônio público. Como o nosso Brasil querido seria melhor, econômica e socialmente, se houvesse mais trabalho, menos roubo e espoliação desde o seu descobrimento até agora! Todos os que roubaram nosso ouro e riquezas no passado e procedem de maneira fraudulenta hoje, são tentados pela cobiça de Acã. A cobiça gera o pecado e o pecado gera a miséria, a fome e a morte. O pai da cobiça é o Diabo. Ele nos seduz a roubar, matar e destruir. Cristo, porém, venceu o Diabo e conquistou, dessa forma, vida completa aqui e na eternidade. Por isso, a partir da vida que vem de Jesus, podemos atuar para construir uma nação mais justa e mais fraterna. É o que a maioria do povo brasileiro deseja e espera ansiosamente. Esta esperança poderá tornar-se realidade, se cada cidadão, salvo por Cristo, conscientizar-se de que esta mudança de mentalidade começa consigo mesmo e andar, de fato, em novidade de vida.

Oração Senhor Deus, que conheces os mais secretos desejos do meu coração, ajuda-me a evitar todos os maus pensamentos, desejos e ações que procedem da inveja e da cobiça. Por Jesus Cristo, meu Salvador. Amém. Mandamentos

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Cobiça, adultério e morte 2 Samuel 11

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avi estava vivendo um dia ocioso. Após o sono da tarde avistou, do seu terraço, uma mulher muito bonita no prédio vizinho, tomando banho. Pediu que a trouxessem ao palácio e teve relações com ela. Era Bate-Seba, mulher de Urias, oficial do exército. Ela ficou grávida. Davi viu sua situação complicar-se e prosseguiu no pecado. Chamou Urias de volta para casa, numa tentativa de emendar a situação. Tentou fazer que o marido legítimo assumisse a paternidade, bajulou-o, dando-lhe um presente. Nada disso, porém, conseguiu corrigir o mal cometido. Finalmente, Davi mandou Urias de volta ao campo de batalha e, num gesto de crueldade brutal, enviou uma mensagem ao comandante militar para que este colocasse o oficial traído no pelotão de frente, expondo-o, assim, à morte. Urias morreu na batalha. Davi pouco se importou com a sua morte. Após o período de luto, trouxe Bate-Seba ao palácio e ela tornou-se sua esposa. O texto bíblico conclui dizendo que o Deus Eterno não gostou do que Davi tinha feito. Embora Davi, mais tarde, tenha se arrependido do seu pecado e recebido o perdão de Deus, ele sofreu as conseqüências das suas más ações. A cobiça, assunto do Nono Mandamento, pode ter conseqüências desastrosas, levar ao adultério, à imoralidade e à morte. Todos nós, à semelhança de Davi, a todo o momento, estamos expostos ao pecado da cobiça e sujeitos aos mesmos fracassos. O estudo da Palavra de Deus, a oração, o trabalho, a prática sadia de esportes, o evitar más companhias e lugares onde o Diabo domina, são armas que podem nos prevenir na luta contra a cobiça e suas conseqüências. Oração Senhor, ajuda-me a orar todos os dias, assim como o rei Davi, contrito e arrependido, orou no Salmo 51: “Ó Deus, cria em mim um coração puro e dá-me um espírito novo e firme”. Amém. Mandamentos


Os maus desejos Tiago 1.14-15

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pecado não vem do nada. Ele nasce no íntimo, cresce, envolve o pensamento e a vontade, amadurece até tornar-se fato consumado. “Então esses desejos fazem nascer o pecado, e o pecado, quando já está maduro, produz a morte” (v. 15). Os maus desejos são a cobiça, a vontade desmedida de ter qualquer coisa a qualquer preço e de qualquer jeito. O resultado desse processo não é a felicidade nem uma vida mais realizada. Muitas vezes, isto até destrói a vida própria e prejudica a convivência com outras pessoas. Sobre a vontade de ganhar sempre e a qualquer preço não se pode construir o futuro de um povo. Todos nós estamos envolvidos neste processo. Ninguém está imune. Também nós somos culpados do seu resultado destruidor. Cada vez que acusamos o mundo de hoje por causa dos seus maus procedimentos, estamos acusando a nós mesmos. Para reverter essa situação, não basta combater os sintomas, como se combate uma febre. É preciso ir à origem. A situação só é revertida quando Deus renova o nosso coração e o nosso espírito e quando, então, eles se submetem à sua vontade. Isto acontece quando Cristo habita em nós. “Jesus pode ajudar os que são tentados, pois ele mesmo foi tentado e sofreu” (Hebreus 2.18). A partir dali, o cristão também resiste à tentação de divulgar a filosofia de que o conteúdo da vida e da sociedade é possuir sempre mais, aproveitar a vida de qualquer jeito e a qualquer custo. É a partir de Cristo que começa uma nova sociedade. A nossa convivência social, na família, na comunidade e na vida pública, só tem futuro se existem pessoas íntegras, que submetem seus próprios desejos à vontade de Deus. Oração Senhor Jesus, ajuda-me a vencer a tentação de querer o que não é bom e contra a tua vontade. Faze-me promover o bem-estar do meu semelhante. Concede-me força para poder submeter-me à tua vontade. Amém. Mandamentos

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Negócio fraudulento 1 Reis 21.1-16

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rei Acabe, da Samaria, apodera-se da plantação de uvas do seu vizinho, Nabote. O negócio começa normalmente, com uma proposta de compra ou troca. Nabote, porém, de maneia nenhuma quer vender sua terra, pois trata-se de uma propriedade sagrada, dada a seu clã por Deus, que deve ser passada de uma geração à outra. Acabe sabia disso, mas não quis aceitá-lo. Aqui, a rainha Jezabel, que era estrangeira e como tal não seguia os preceitos da religião e das leis de Israel, entra no jogo: “Deixa comigo. Tu não és rei e não tens poder? Vamos dar um jeito nisso!” Assim, ela armou uma trama contra Nabote, com falsas acusações e difamações e, finalmente, conseguiu sua condenação à morte. O caminho estava livre para que o rei se apoderasse da propriedade cobiçada. O próprio rei e os líderes do povo entraram neste jogo sujo. Tudo parecia legal. A aquisição estava se processando “sob aparência de direito” (Lutero), uma afronta ao Nono Mandamento. Deus, no entanto, que ama a justiça e é o defensor do pequeno e do violentado, não concorda com este tipo de negócio. Por isso, chama o profeta Elias e o envia ao palácio para desvendar a falcatrua e denunciar o crime. O profeta, sem rodeios e sem medo, desmascara toda a maldade. Negócios fraudulentos, conluios vergonhosos, quebra da justiça, espoliação dos mais fracos, acontecem também entre nós. Também hoje se infringe o Nono Mandamento. Quem não se lembra da história de Chico Mendes! Mas, também hoje, Deus chama profetas que não calam nem se conformam. A própria Igreja e a comunidade cristã têm a missão de denunciar, em nome de Deus, quando a sua vontade é desrespeitada. Oração Senhor, desperta, também em nosso tempo, profetas e profetisas que denunciam injustiças. Ajuda-nos a ouvirmos tais denúncias e a nos arrependermos quando compactuamos com o mal. Dá-nos coragem para levantarmos a nossa voz contra a injustiça. Amém. Mandamentos


Confiar e fazer Salmo 37.3-4

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salmista recomenda as duas coisas: “Confie no Deus Eterno e faça o bem” (v. 3). A primeira parte, confiar e entregar tudo nas mãos de Deus, poderia sugerir que eu não preciso tomar atitudes, que devo deixar as coisas acontecerem. Mas, a segunda parte lembra que a confiança deve vir acompanhada da ação adequada. O salmista está preocupado com a vantagem que os maus levam sobre os bons e honestos, e quer fortalecer os que estão em desvantagem. Poderíamos acrescentar, por nossa conta, a recomendação: “Não se irrite por causa dos que vencem na vida, com seus planos de maldade, suas tramóias, seus negócios fraudulentos”. Poderíamos lembrar o jogo político, que não dá vez ao pequeno e mais fraco, a corrupção que desvia os recursos destinados a obras de melhoria, o desenvolvimento que concentra mais a riqueza nas mãos de poucos e mantém a maioria na condição de subdesenvolvimento. Que um simples cristão e uma pequena comunidade cristã podem fazer nestas situações? Irritar-se, resignar-se, entrar no jogo do mundo? É nesta situação que o salmista nos chama a confiar em Deus, eterno, todo-poderoso. Ele é o Deus que ama a justiça. Ele é o Pai bondoso que não abandonará os que nele confiam que, no caminho da cruz e na ressurreição do seu Filho Jesus Cristo, na Páscoa, venceu todo o mal. Cristãos, que crêem no Cristo que ressuscitou, são especialmente co-responsáveis pelo caminho da sociedade. A confiança em Jesus Cristo nos quer estimular de modo muito especial a contribuir para que a Lei de Deus seja observada. Nisto consistem a verdadeira felicidade e satisfação, tanto na abundância, como na privação. Oração Bondoso Deus e Pai, agradeço-te por toda a tua bondade e pela palavra da vida. Ajuda-me a confiar em ti em qualquer situação e a não duvidar de que me darás tudo o que preciso para viver e fazer o bem. Amém. Mandamentos

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Querido irmão Filemom

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mão-de-obra escrava era a base da economia romana. Os escravos constituíam uma mercadoria como qualquer outra. Segundo o Direito Romano, “o equipamento da fazenda é..., escavo, gado e arados. O escravo pode ser comprado, vendido ou alugado... alimentado, vestido e punido, ao gosto do seu dono. Tudo o que ganha pertence legalmente ao dono” (História das Sociedades, p. 238). Filemom era proprietário, Onésimo, seu escravo, que fugira para Roma. Ali, entrou em contato com o apóstolo Paulo, que honrava todos os laços humanos, inclusive os de escravo e seu dono (1 Timóteo 6.1). Paulo, por isso, aconselha Onésimo a voltar ao seu antigo dono e a continuar cumprindo com o seu dever de escravo. Ao dono, mandou uma carta de recomendação para que recebesse Onésimo “não mais como escravo, porém, como um querido irmão em Cristo” (v. 16). Desta carta de Paulo a Filemom, destacamos uma lição fundamental para a atualidade, quando as relações entre as pessoas são tensas e estressantes: o que faz a diferença é o lugar que Jesus Cristo ocupa em minha vida. Quando Jesus reside em meu coração, isto transparece em minhas relações e atitudes. Paulo não encabeça nenhum movimento de revolta e libertação dos subordinados. Defende, porém, a ordem. Onésimo e Filemom, ambos com Cristo no coração, transformam suas relações. Diante da lei romana, a situação “profissional” não mudou. Porém, o amor divino afetou completamente suas relações, considerando-se, a partir de agora, como irmãos. Onde o amor divino constrói pontes, ali as relações passam a ser como de queridos irmãos e durarão para sempre. Oração Querido Pai, obrigado por me receberes como filho, pela fé em Cristo, apesar de ter sido um escravo fugitivo. Peço que minha união com Cristo possa ser testemunha na relação com os meus semelhantes. Amém. Mandamentos


Santidade acima da lei! 1 Pedro 1.13-17

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bter alguma cousa de graça é quase impossível. Artigos de valor, geralmente têm um preço afixado neles, e o preço reflete o valor do artigo. O que dizer sobre a salvação que Deus oferece no Evangelho? Ela não tem preço, pois é de graça. O apóstolo Paulo propõe: Deus nos declara “sem culpa” das ofensas que lhe causamos, se confiarmos em Jesus Cristo, aquele que em sua bondade tira os nossos pecados gratuitamente (cf. Romanos 3.21-26). A salvação é, portanto, um presente de Deus para nós pecadores. Salvação de graça significa salvação barata? De jeito nenhum! Pois, embora a tenhamos recebido de graça, Deus pagou um preço muito alto por ela. O resgate que ele pagou não foi simplesmente ouro ou prata, mas o precioso sangue de Cristo, o Cordeiro de Deus “sem defeito e sem mancha” (cf. 1 Pedro 1.18 e 19). Em verdade, nossa salvação custou um preço incomparável: a vida do Filho de Deus! Nada menos do que ela poderia salvar-nos do pecado e da condenação eterna ao inferno. Foi somente o amor que moveu Deus a dar o seu Filho, e foi somente o amor que moveu Jesus a dar a sua vida por nós. Como pode alguém considerar a salvação produto de pechincha, quando ela custou tanto para Deus? Em conseqüência da salvação eterna que Deus nos deu de graça, por causa do seu grande amor, a nossa conduta diária não pode se restringir a cumprir leis que são impostas pela sociedade ou pelos códigos de leis. O desafio é muito maior: que sejamos santos, acima de tudo, porque Deus, que nos declarou inocentes gratuitamente, também é santo. Por isso, nossa resposta deveria ser uma vida dedicada ao serviço de Deus que nos ama e doa-se a nós. Oração Querido Pai, obrigado porque tu me amas. Peço perdão porque faço pouco caso do teu infinito amor e sacrifício por mim. E, humildemente, suplico-te: aumenta a minha fé e o meu amor para contigo e para com o meu semelhante. Em nome de Jesus. Amém. Mandamentos

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Os mandamentos abrem os olhos para o pecado Romanos 7.7

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eus quer que sejamos santos. Mas todos invejamos quem tem mais do que nós. Empregamos todos os artifícios para dizer que o nosso semelhante obteve os seus bens com astúcia e esperteza. Esta conduta é inerente ao ser humano. “Não cobiçarás” não se dirige apenas a pessoas declaradamente corruptas, mas também àquelas que desejam ser elogiadas como honestas porque supostamente cumpriram o Sétimo Mandamento. É dirigido principalmente contra a inveja e a miserável cobiça. No entanto, o Nono e o Décimo Mandamentos vão mais longe: derrubam a idéia de que Deus ajuda apenas aqueles que são bons. As mais nobres regras de conduta estão contidas nos mandamentos. Além deles, nenhuma obra pode ser boa ou agradável a Deus. Neles, Deus estabelece os deveres para com ele próprio e de uma pessoa para com a outra. Quando olhamos para os mandamentos e comparamos com eles a nossa conduta, é que nos damos conta de quanto estamos longe de cumprir a vontade de Deus. Assim, os mandamentos servem para abrir os olhos para a nossa verdadeira situação. Eles revelam a nossa condição de pecadores. Não há, além dos mandamentos, código de conduta e leis de ordem social, elaborados por homens, que possam ser comparadas ou que venham a superar a eficiência dos Dez Mandamentos. A felicidade da vida em sociedade, começando pelo indivíduo, depende da prática dos mandamentos. Deus exige que todas as ações dos seus filhos procedam de um coração que teme e ama a Deus. Por isso é importante que tenhamos sempre diante de nós os mandamentos de Deus, para que a nossa vida sempre de novo possa ser comparada e confrontada com a sua vontade. Oração Querido Pai, ajuda-me para que os teus mandamentos tornem-se um hábito diário em todas as circunstâncias. Que eu os estime e valorize acima de todos os demais ensinamentos, como o maior tesouro que tu nos tens concedido. Em nome de Jesus. Amém. Mandamentos


Os Dez Mandamentos, para quê? Tiago 4.12

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alvez seja mais fácil dizer para que os mandamentos não ser vem. Certamente, eles não estão aí para que, cumprindo-os alcancemos a salvação eterna. Pois é nossa convicção de que somos salvos exclusivamente pela graça de Deus, mediante a nossa fé. Para que servem então? Eles servem, antes de tudo, para nos mostrar que pecamos e erramos. São o espelho que revela a nossa verdadeira cara: a cara de uma pessoa fraca, pecadora, incapaz de viver de acordo com a vontade de Deus. A Lei nos mostra, em outras palavras, que por nossa própria vontade e força não temos condições de atingir a salvação e que necessitamos da misericórdia de Deus. Nada mais errado, portanto, do que julgar-se superior e “santo” por pensar ter cumprido os mandamentos, e usar os mesmos para julgar e depreciar outras pessoas. Esta postura farisaica é condenada por Jesus. Quem leva a sério os mandamentos de Deus, sabe que, diante dele, somos todos igualmente pecadores e carecemos da sua graça. Além disso, os mandamentos devem ser um “modelo para o que devemos fazer” ou um “canal” por onde flui “tudo quanto quer ser obra boa” (Lutero). Eles exemplificam quando e como podemos amar e servir a Deus e ao próximo. Nos ensinam que o amor cristão se concretiza na preservação da vida, integridade, liberdade e dignidade das pessoas. Sem os mandamentos, corremos o risco de pensar que o amor é apenas um belo sentimento e de interpretar a “salvação por graça e fé” como desculpa para nossa falta de comprometimento com o bem-estar de nosso próximo. Assim, os mandamentos nos mostram quem realmente somos e abrem os nossos olhos para o próximo.

Oração Pedimos-te, Senhor da vida, que nos livres da tentação da arrogância e da presunção de pensarmos que as outras pessoas são menos cumpridoras da tua vontade do que nós. Ilumina mentes e corações para que vejamos como podemos servir ao próximo. Amém. Mandamentos

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Quem consegue cumprir os mandamentos? Deuteronômio 6.8-9

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ão vê essa gente infeliz e obcecada que homem nenhum pode chegar a cumprir, de maneira devida, um só que seja dos Dez Mandamentos?” (Lutero). Esta convicção do reformador de que ninguém é capaz de cumprir os mandamentos talvez se torne mais clara se considerarmos a radicalidade com que Jesus interpretou os preceitos de Deus. Para Jesus, quem chama o irmão de idiota, já comete assassinato e quem olha uma mulher com desejo de possuí-la, já comete adultério (Mateus 5). Dessa forma, de fato, ninguém é capaz de cumprir plenamente as ordens e as proibições dos Dez Mandamentos. Jesus e Lutero pressupõem que o crime ou o erro nascem de uma semente que está no coração das pessoas. O palavrão, o tapa na cara, a facada, o tiro fatal nascem do mesmo embrião: o ódio e a raiva. Talvez possamos, como humanos, evitar o extremo de tirar a vida de alguém, mas é praticamente impossível evitar, por nossos próprios meios, o ódio ou a raiva. Por outro lado, um coração em paz e reconciliado com Deus e que se deixa “dominar” pelo amor de Deus, buscará, em todas as ocasiões, traduzir este amor em obras agradáveis a Deus e ao próximo. A pessoa é, portanto, como uma árvore boa que produz, ao natural, bons frutos. Estes frutos não são criação sua, mas é Deus que os possibilita. Mesmo sabendo que, no fundo, é Deus que possibilita cumprir os mandamentos e viver de acordo com o espírito da Lei, o texto de Deuteronômio nos desafia a vermos, em todas as partes, oportunidades de concretizarmos o amor e de nos colocarmos a serviço do próximo. Exclusivamente o coração reconciliado com Deus é capaz de produzir obras cristãs neste mundo! Oração Faze, Senhor, com que não nos resignemos diante de uma sociedade repleta de injustiças, desamor e pecado. Anima-nos a ver, em cada lugar e momento, uma oportunidade de expressar o amor. Para a tua glória. Amém. Mandamentos


Vale a pena observar os mandamentos? Gênesis 3.23-24

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stamos vivendo uma época em que a vida de grande parte das pessoas é pautada por valores como riqueza, poder, prazer e sucesso pessoal. De fato, pessoas que têm sucesso na vida, geralmente são bem aceitas e até admiradas. No entanto, a maioria das pessoas não alcança fama, riqueza e influência por cumprir os mandamentos de Deus. Muito pelo contrário! Subiu na vida por ter sabido tirar vantagens pessoais às custas de outros, portanto, flagrantemente desobedecendo às normas divinas. A experiência de que os inescrupulosos geralmente saem vencedores leva muitas pessoas a afirmarem que não vale a pena observar os mandamentos de Deus, pois não trazem benefício para aqueles que os cumprem. Pelo contrário, os mandamentos podem até trazer prejuízo aos que os observam. A ética que se orienta na máxima da vantagem pessoal e do proveito próprio faz com que muita gente até despreze os preceitos de Deus, a ponto de considerá-los regras para ingênuos e perdedores. De fato, os mandamentos não são meios para obter vantagens próprias. Eles são exemplos de como podemos amar e servir a Deus e ao nosso próximo. Exigem, portanto, que tenhamos uma mentalidade diferente em nossa vida: que eu não mais coloque a mim mesmo no centro do meu viver, mas o irmão e a irmã necessitados. Esta nova mentalidade busca o bem-estar das outras pessoas e da coletividade. E o bem-estar coletivo significará realização, bem-estar e felicidade também para mim. Por outro lado, quem, por interesse pessoal, atentar contra a vida da coletividade, fatalmente também prejudicará a si mesmo. Por tudo isso, vale a pena observar os mandamentos!

Oração Dá-nos sabedoria, Senhor, para que não caiamos na tentação de pensar que todos os que têm sucesso são abençoados por ti. Dá-nos coragem e força para que possamos nadar contra a correnteza e permanecer fiéis à tua aliança. Amém. Mandamentos

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Conseqüências espirituais na família Êxodo 20.5-6

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urante um encontro, muitos reclamavam que tinham nascido em berço luterano, que por isso tinham pouco entusiasmo e muitas tradições, que não tinham uma data nem um horário de conversão a partir do qual se sentiram filhos de Deus. Imediatamente, um jovem protestou em alta voz que isso não era defeito, mas um grande privilégio. Este jovem aproveitou o momento para agradecer a Deus por ter nascido numa família cristã, ter sido ensinado no caminho da salvação, que agora era de grande valor. Seus pais se tornaram, assim, num porto seguro para os momentos difíceis. Amar e obedecer aos preceitos de Deus tem conseqüências, não só para a pessoa que faz isso. Seus filhos, netos, até os tataranetos, sofrerão a influência da postura espiritual dos pais. Onde não se obedecem aos mandamentos, o lar fica cada vez mais afastado do amor de Deus e deixa de ser a primeira escola onde se aprende a respeito da salvação em Jesus Cristo. Os pais se preocupam com o que é importante para os seus filhos e não deixam faltar comida, remédio, lazer e tantas outras coisas. A relação que os pais tem com Deus também é importante e não deve ser esquecida, pois trará ou prejuízos espirituais ou inumeráveis bênçãos para a família. Deus, porém, não consegue esconder seu amor. Até mesmo quando fica irado com a infidelidade humana, Deus é bondoso. Os números não mentem. Há influência negativa até a quarta geração para os que odeiam a Deus, mas bênção por milhares de gerações para aqueles que amam e obedecem aos mandamentos. “Se te omites aqui (no cumprir os mandamentos), tens um juiz irado, e, em caso contrário, um pai gracioso” (Lutero). Oração Pai celestial, graças te dou porque me fizeste nascer numa família cristã, onde me contaram sobre o teu amor e a salvação em Jesus. Ajuda para que mais famílias tenham tua bênção e possam conduzir seus filhos ao céu. Amém. Mandamentos


A Lei e os rebocadores Gálatas 3.23-25

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oro perto de um porto muito movimentado. Vejo os navios terem dificuldades para manobrar dentro do espaço limitado do porto. Necessitam dos pequenos rebocadores que os auxiliam, puxam e empurram até o lugar destinado para atracar. Quando estão com a carga completa, mais uma vez os rebocadores entram em ação, levando os navios ao alto mar para que sigam sua viagem. Depois de soltar as amarras, os navios saem livres para seu destino. O tempo do Antigo Testamento, onde se esperava a vinda do Messias, era como o navio. Necessitava-se do auxílio da Lei que funcionava como os rebocadores: “orientava, puxava e empurrava” as pessoas em direção a Deus. A esperança nas promessas de Deus estimulava a obedecer os Dez Mandamentos. Esse era o tempo da Lei, onde os mandamentos levavam a Deus como os aios em um casamento vão à frente dos noivos. Jesus inaugurou o tempo da fé. Agora vivemos uma nova dimensão de vida e não somos mais prisioneiros da Lei. Somos como os navios em alto mar, sem restrições para manobrar e atracar, mas “com os olhos fixos em Jesus, pois é dele que depende nossa fé” (Hebreus 12.2). Isso significa que agora os mandamentos devem ser aposentados? Eles não têm mais serventia? A Lei, na perspectiva da Boa Notícia que Jesus se sacrificou em nosso lugar, passa a ter a função de freio (segurando nossos instintos agressivos), de espelho (mostrando quem realmente somos) e de norma (sinalizando como devemos viver eticamente). “Razão por que, sem dúvida, devemos ter os mandamentos por preciosos e valorizá-los acima das demais doutrinas, como o maior dos tesouros que Deus nos deu” (Lutero). Oração Querido Jesus, trouxeste perdão, vida, paz e salvação. Ajuda-me a encarar a vida na perspectiva de filho de Deus e, assim, viver com esperança, liberdade e amor. Que o teu perdão me motive a cumprir os mandamentos. Amém. Mandamentos

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Mandamentos não salvam Romanos 3.22-26

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ouve uma época em que os Dez Mandamentos foram deixados de lado. Suas exigências eram consideradas muito simples e fáceis de cumprir. As pessoas que entendiam ser necessário fazer obras para conquistar acesso ao céu, não se contentavam em apenas não mentir, não cobiçar, honrar pai e mãe e santificar o dia do descanso. Achavam que era necessário muito mais e assim inventavam grandes e pesadas obras: longas peregrinações, ficar ajoelhado todo o dia na igreja e muitas outras coisas “através de grande pompa, aparato e magnificentes edificações” (Lutero). Felizmente, a Bíblia foi aberta e a Palavra de Deus mostrou como alguém entra nos céus. “Deus, pela sua graça e sem exigir nada, os aceita por meio de Cristo Jesus, que os salva” (v. 24). O ser humano tem realizado grandes conquistas: descobriu o mundo e está buscando o infinito; altas tecnologias têm facilitado a vida, a comunicação, o conforto, a saúde, o transporte, a segurança. Um desafio, porém, continua aberto por mais que se insista no contrário: “Pois todos pecaram e estão afastados da presença gloriosa de Deus” (v. 23). Isto significa que não conseguimos cumprir 100% os mandamentos de Deus. Afirmava Lutero: “Não vê essa gente infeliz e obcecada, que homem nenhum pode chegar a cumprir, da maneira devida, um só que seja dos Dez Mandamentos”. Necessitamos, pois, de socorro e auxílio porque não há meios humanos que nos possibilitem criar uma boa relação com Deus. Por seu amor, “Deus ofereceu Cristo como sacrifício para que, pela sua morte na cruz, Cristo se tornasse o meio de as pessoas receberem o perdão dos pecados, pela fé nele” (v. 25).

Oração Ao Pai o Filho obedeceu, no mundo aqui nascendo; / ao diabo, em luta atroz, venceu, perdão e paz trazendo. / Ao Santo Espírito enviou, que em mim, por graça, despertou a fé que estou vivendo. Amém. (HL 376,6) Mandamentos


Credo, o que é isso? Deuteronômio 26.5-10

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e alguém lhe perguntar qual é o seu time de futebol, você dirá que torce por este ou aquele time. Quando você diz claramen te o que você crê, você está dando um testemunho da sua fé. O Credo Apostólico é uma síntese da nossa fé cristã. Cremos em Deus, em Jesus Cristo e no Espírito Santo. São três formas diferentes do mesmo Deus se manifestar. Em cada criança e cada ser vivo que nasce, em cada nova obra que surge, em cada transformação que acontece, vemos o poder e o amor de Deus Pai, Criador; quando tomamos conhecimento que Deus enviou seu Filho Jesus Cristo para resgatar a humanidade, trazendo-a de volta para o Pai, vemos o poder e o amor de Deus pela sua criação; quando sentimos que Deus está agindo na nossa vida e na vida da Igreja, quando, apesar da nossa rebeldia, começamos a entender que somos salvos, é o mesmo Deus que age, nos transforma e nos santifica, através do seu Santo Espírito. “Aqui tens toda a essência, a vontade e a obra de Deus expostas da maneira mais fina, em palavras bem breves e, contudo, ricas. (...) em todos os três artigos, ele mesmo revelou e patenteou o mais profundo abismo de seu coração paterno e de seu amor totalmente inexprimível... jamais poderíamos chegar a conhecer o favor e a graça do Pai a não ser por intermédio de Cristo SENHOR, que é o espelho do coração paterno... Mas também de Cristo nada poderíamos saber, se não tivesse sido revelado pelo Espírito Santo” (Lutero). Cada vez que você confessa o Credo Apostólico, a sua fé se renova e se atualiza e você está dando ao mundo um testemunho da presença de Deus, Pai, Filho e Espírito Santo.

Oração Senhor Deus, Pai, Filho e Espírito Santo, obrigado por te manifestares a nós de forma tão diversa. Dá-nos em especial o teu Espírito Santo para que tenhamos coragem para testemunhar, de modo claro e inconfundível, a nossa fé em ti. Amém. Credo Apostólico

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Eu creio. Você crê? Hebreus 11.1

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verbo crer pode ter diversos significados. Posso dizer, por exemplo: eu creio que meu time vai ganhar, que vou arranjar emprego, que vou passar de ano. Neste caso, estou manifestando um desejo que pode se realizar ou não. Estou, em última análise, manifestando uma dúvida. Eu e você cremos em muitas coisas. Um segundo uso de crer é o sentido bíblico. Neste caso, “crer” é confiar, acreditar. Para usar uma expressão que você também conhece e que está no texto bíblico de hoje, é ter fé. Hebreus 11.1 explica: “A fé é a certeza de que vamos receber as coisas que esperamos e a prova de que existem coisas que não vemos”. Parte de nossa vida é vivida nessa certeza e convicção. Se a fé é a certeza de coisas que não vemos, então ela é uma forma de conhecimento. Por isso, você sabe certas coisas sem tê-las visto acontecerem. É por causa da fé, por exemplo, que uma pessoa entende que o universo foi formado por Deus. Ela não viu Deus criando, mas está convicta de que ele criou. Neste sentido, “eu creio” não contém mais sombra de dúvida. O creio é, também, uma confissão de alguma coisa. Se você diz “creio em Deus Pai, Todo-poderoso”, você está fazendo uma confissão de fé, para você mesmo e para outras pessoas. Você fala do que sente no coração. Neste caso, o objetivo da sua fé é a base sólida sobre a qual você vai edificar a sua vida. Quem não crê, é uma pessoa desanimada, sem rumo e sem base. É ruim viver assim. Quem não crê em Jesus como seu Salvador, é uma pessoa sem salvação. É mortal viver assim. Você crê. Você crê? Que você sempre possa abrir o seu coração para a fé em Jesus Cristo e confessar a sua confiança, dizendo: eu creio! Oração Amado Deus, eu quero e preciso crer. Ajuda-me em minha falta de fé. Por teu Filho, Jesus Cristo. Amém.

Credo Apostólico


Deus disse... Gênesis 1.1

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mundo não é produto do acaso, sem origem e sem destino. Ele foi criado por Deus e nós somos suas criaturas. Isto dá sentido ao mundo e à nossa vida, o que nos ilumina e enche de alegria. Mas como poderíamos saber disso, consolar-nos com isso, agradecer por isso, se não tivéssemos conhecimento desse fato? Graças à Palavra de Deus, sabemos que somos suas criaturas e vivemos num mundo criado por ele. A palavra também foi o meio que Deus utilizou na sua obra criadora. Nela, o Criador revela o seu poder de criar. “Deus disse”... e o universo se formou. A Palavra pronunciada por Deus tem poder criador, ela é criadora. Nela, já estão contidos as intenções e os objetivos de Deus. Por ela, Deus está ligado à sua obra. Que importância tem isso? Esta mesma palavra, agora, é nossa força quando confiamos nela. Sim, porque o ato criador de Deus prossegue nas transformações do universo e na sua conservação. E, no que toca à nossa vida, estamos com Deus, numa dimensão muito profunda. Pela palavra, Deus nos torna participantes da sua obra, convida-nos a dar prosseguimento ao seu projeto e nos confere o privilégio de imitá-lo. Não podemos imaginar a nossa existência sem a palavra. Bem ou mal, através dela, estabelecemos contatos, revelamos sentimentos, criamos e cultivamos os relacionamentos em nossa vida. Dependemos dela. “Destino da palavra é a construção de um mundo mais feliz e mais irmão”. Ler e conhecer a Palavra de Deus, por isso, é mais do que um ato de respeito ou um exercício de piedade. Ler e conhecer a Palavra de Deus faz a diferença entre uma vida vivida ao acaso e outra, com rumo definido. Oração Senhor Deus, Criador do céu e da terra, não merecemos estar ao teu lado. Mas, pelo teu Filho Jesus, tua Palavra viva, revelaste o amor e, nele, a nossa origem e destino. Conserva-nos fiéis à tua Palavra. Amém. Credo Apostólico

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O que você tem que não recebeu de Deus? Colossenses 1.16

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eus criou tudo, no céu e na terra, o que se vê e o que não se vê, inclusive todos os poderes espirituais, as forças, os governos e as autoridades”. Esta é a confissão de fé da referência bíblica acima. O que significa confessar que Deus criou tudo o que existe no céu e na terra? Significa, em primeiro lugar, reconhecer que a Deus “pertence o mundo e tudo o que nele existe, a terra e todos os que nela vivem” (Salmo 24.1). Significa saber que nada do que eu tenho é propriamente meu. Reconheço que eu mesmo fui criado por Deus e pertenço a ele. Reconheço que eu não crio a mim mesmo nem sou fruto de algum acaso. Confessar que Deus é o Criador de tudo, é reconhecer que devo a ele tudo o que tenho e tudo o que sou. Se tenho condições de trabalhar, se tenho o que comer, se tenho o que vestir, devo isso a ELE. Ao criar tudo o que existe, Deus quis compartilhar a sua vida. Ele não foi ávido nem ganancioso, mas generoso e mão aberta. Distribuiu fartamente o seu dom de vida e criou toda essa riqueza para vivermos bem. Por isso, confessar que Deus criou tudo o que existe, inclusive a nós mesmos, significa condenar a avidez e a ganância. Diante da generosidade de Deus, como poderíamos justificar nossa avareza, nossa avidez e nossa ganância? Se tudo é de Deus, como podemos achar que somos donos do mundo e fazer de conta que não recebemos nada dele? (1 Coríntios 4.7) A questão chave é o que faço com o que tenho e sou: fico com tudo para mim ou compartilho a minha vida com outros? Sou generoso ou mão fechada? “Tenham o mesmo modo de agir que Cristo Jesus tinha” (Filipenses 2.5). Oração Senhor, ficamos satisfeitos com a comida que nos dás com fartura; tu nos deixas beber do rio da tua bondade. Tu és a fonte da vida e, na tua luz, temos a luz da vida. Amém. (Salmo 36.8-9) Credo Apostólico


Cada novo ser é criação única de Deus Gênesis 2.7

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criação vem da generosidade de Deus. Ele compartilha a sua vida através do sopro do seu Espírito. Do caos inicial ele faz brotar a vida como um todo. Da mesma maneira, ele transforma um monte de barro (ou pó) num ser vivo. “Então, do pó da terra, o Deus Eterno formou o ser humano. Ele soprou no seu nariz uma respiração de vida, e assim esse ser se tornou um ser vivo” (Gênesis 2.7). Note bem: ele se tornou um “ser vivo”, não uma “alma vivente”. O ser humano tornou-se um ser concreto, de carne e osso, único e insubstituível. Seres humanos não são produção em série. Cada ser humano recebe de Deus o sopro da vida e torna-se um ser vivo completo e único. “Tu criaste cada parte do meu corpo; tu me formaste na barriga da minha mãe” (Salmo 139.13). Deus é o único capaz de proporcionar esse sopro de vida. Quando dizemos para uma pessoa: “Você é única!”, afirmamos uma verdade profunda. Cada pessoa é uma novidade de Deus, resultado de sua tremenda criatividade. Criticamos, com isso, a idéia da reencarnação. Ela é inconciliável com o conceito bíblico de Deus criador de tudo e desmerece o potencial criativo de Deus, pois parece que as pessoas seriam as mesmas que já foram um dia, em gerações anteriores. Ela questiona a minha própria identidade, pois eu não seria mais uma pessoa única, insubstituível. Fiquemos com a afirmação bíblica da criação do ser humano como um ser completo e único. Se isso vale para o passado, vale também para o futuro com a ressurreição, conforme propõe o apóstolo Paulo em 2 Coríntios 5.17: “Quando alguém está unido com Cristo, é uma nova pessoa; acabou-se o que é velho, e o que é novo já veio”. Oração Senhor, tudo o que fazes é maravilhoso e eu estou convicto disso. Tu viste quando os meus ossos estavam sendo feitos, quando eu estava sendo formado na barriga da minha mãe. Muito obrigado pela minha vida e a de todas as outras pessoas. Amém. Credo Apostólico

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Somos todos irmãos! Malaquias 2.10

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ecentemente publicou-se a prova científica que tira a base de qualquer discriminação entre seres humanos: “Pesquisa genética internacional mostra que não existem raças na espécie humana, derrubando qualquer base científica para a discriminação” (Isto é 1520, 18/11/98, p. 129). As diferenças entre os seres humanos seriam tão pequenas que não justificam a classificação em raças. Conclusão: temos todos uma origem comum. Não há, pois, a partir da ciência, base para qualquer discriminação baseada em diferenças biológicas. Essa conclusão vem ao encontro da verdade bíblica que aqui queremos abordar: se a partir da ciência não há razão para a discriminação baseada na biologia, a partir da Bíblia não há base para discriminação de qualquer tipo. O texto de Malaquias referido acima enfatiza: “não é verdade que todos temos o mesmo Pai? Não fomos todos criados pelo mesmo Deus?” (Malaquias 2.10). Se, em última análise, devemos nossa origem a Deus, Criador nosso e de tudo o que existe, estamos numa igualdade radical. Discriminar o pobre, o índio, o negro, a mulher, a criança, é discriminar o próprio Deus que os criou! Quem crê em Deus Pai, Criador de tudo e de todos, não tem nenhuma razão para considerar alguém mais ou menos do que outras pessoas. Também não há mais qualquer razão para considerar alguém mais ou menos do que nós somos. Portanto, abaixo a discriminação de qualquer tipo: racial, social, sexual, de idade! Valorizemos a criatividade de Deus como sendo uma rica bênção. Afinal, se temos todos o mesmo Pai e fomos criados pelo mesmo Deus, somos todos irmãos! Oração Senhor, tu criaste todas as pessoas à tua imagem e semelhança, com a mesma parcela de dignidade, em igualdade de condições. Ensinanos a respeitar essa condição nas outras pessoas, assim como nós queremos que ela seja respeitada em nós. Amém. Credo Apostólico


Deus criador e conservador João 5.17

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meu Pai trabalha até agora, e eu também trabalho – disse Jesus”. Com essas palavras, Jesus defende suas obras de misericórdia realizadas num sábado. Sua prática parecia chocar-se com o Terceiro Mandamento, que ordenava o descanso no sétimo dia, à semelhança do que fizera o próprio Deus, após seis dias de atividade criadora. Jesus, porém, salienta que Deus está continuamente ativo, inclusive no sábado. Deus não cruzou os braços, após ter realizado sua obra, deixando a criação à própria mercê. Ele não é um mero espectador, como alguém que deu corda no relógio que, depois, funciona por si. Não, Deus continua ativo, conservando e mantendo a sua criação. O testemunho bíblico revela um Deus Criador, que intervém na história. Ele conduz a história mundial e dirige a história pessoal de cada ser humano. Neste sentido, ele trava uma luta constante contra os poderes que promovem a destruição e a morte de sua boa criação. Enfrenta os que poluem e devastam a natureza, os que obrigam outros seres a uma vida miserável e indigna, os que discriminam outros seres humanos por causa da sua etnia ou religião, os que promovem a guerra e a morte. Como cristãos, sabemos “que Deus Pai não nos deu apenas tudo o que possuímos e temos diante dos olhos, mas ainda nos preserva e defende, diariamente, de todo o mal e infortúnio, e desvia toda sorte de perigos e desastres”. Nada nos resta, senão “amá-lo, louválo e agradecer-lhe sem cessar” (Lutero), dispondo-nos a servi-lo com todas as dádivas que ele nos emprestou. O Deus Pai Criador necessita de colaboradores que lutem ao seu lado pela conservação de sua boa criação! Oração Querido Deus e Pai, louvamos-te pelo dom da vida e pela tua boa criação. Auxilia-nos a vivermos do poder da gratidão por tudo que temos e somos. Liberta-nos para uma vida a teu serviço, para o bem de toda a tua criação. Amém. Credo Apostólico

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Meu Deus, meu protetor! Neemias 9.19-20

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eemias recebeu a incumbência de reedificar Jerusalém e reerguer o povo de Deus como nação, depois de ter sido destruído e derrotado. Como motivar um povo que bem sabia que sua derrota era resultado de sua desobediência? Para isso, o profeta lembra a criação e, em especial, a história do êxodo que certifica a proteção divina, apesar da constante infidelidade do povo. Israel sabe que deve sua libertação e sua sobrevivência no deserto à bondade e à misericórdia de Deus. Assim como Israel, também nós precisamos ser lembrados sempre de novo de que Deus é fiel. Ele tem comprovado isso ao longo de nossas vidas, protegendo e orientando-nos continuamente. O Espírito de Deus, que guiou o povo no deserto, também deseja orientar a nossa vida. Desta orientação, depende o nosso desenvolvimento pessoal e familiar e o nosso crescimento na fé. O que nos guia é a Palavra de Deus, iluminada pelo Espírito Santo. Uma análise de nossa história pessoal e familiar revelará, no entanto, que Deus, além de se preocupar com nosso desenvolvimento espiritual, preocupa-se também com a nossa sobrevivência física e nosso bem-estar material. O maná que, na peregrinação do deserto, era colhido diariamente, sem possibilidades de estocá-lo, nos lembra que é a fidelidade de Deus que nos tem concedido e continua concedendo o “pão nosso de cada dia”. Reconhecer a fidelidade de Deus nos transforma em pessoas positivas que sabem que vivem diariamente da sua graça e da sua misericórdia. Por isso, a gratidão ao Senhor e o despojamento em favor dos menos favorecidos deveriam ser as marcas inconfundíveis de nosso estilo de vida.

Oração Querido Deus, permite que possamos reconhecer a tua fidelidade em nossas vidas. Perdoa-nos que temos encarado nosso bem-estar como resultado natural de nossas decisões e esforços. Transforma-nos em pessoas gratas e alegres. Amém. Credo Apostólico


Deus, o Pai misericordioso Mateus 6.25-27

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preocupação e a ansiedade tornaram-se características da nossa época. A instabilidade econômica e a concorrência no mercado de trabalho criam insegurança e tensão constantes. Não raro, a manutenção do emprego, a educação dos filhos, a garantia de uma aposentadoria digna, entre outras preocupações, provocam insônia e roubam a alegria de viver. Depressão, frieza e desesperança espalham-se à nossa volta. Em nosso texto, Cristo desafia seus contemporâneos a uma visão mais profunda da realidade, a olhar a vida com os olhos da fé. Quem se dispõe a isso, passa a ver e a sentir Deus participando ativamente da sua vida. Quando Cristo diz “não se preocupem com a comida e com a bebida que precisam para viver nem com a roupa que precisam para vestir”, ele não está incentivando a preguiça, a inércia ou a irresponsabilidade. Na verdade, ele propõe que a preocupação e o medo sejam substituídos pela fé e pela confiança. O motivo é claro: Deus é um Pai misericordioso que cuida com carinho de suas criaturas e, por isso, elas não têm o que temer. O desafio lançado por Cristo vale também para nós. Tanto na vida pessoal e familiar quanto na vida comunitária e social, o clima negativo causado pelo medo pode ser transformado. Precisamos, no entanto, nos despojar da ilusão de pensarmos que ativismo e preocupação têm poder de transformar. Somente a certeza de que Deus está ao nosso lado em todos os momentos e situações pode nos proporcionar a confiança necessária para uma vida feliz e despreocupada. Deixemos, pois, que Deus se preocupe com a nossa vida. Que a nossa única preocupação seja servi-lo e louvá-lo!

Oração Pai misericordioso, liberta-nos da ilusão de querermos assegurar nossa sobrevivência através do esforço próprio. Ajuda-nos a lançarmos fora a preocupação e o medo e a nos entregarmos completamente à confiança que provém da certeza de que tu cuidas de nós. Amém. Credo Apostólico

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Deus dá os dons e os conserva Lucas 19.12-13

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m “homem de uma família importante” se ausenta do seu país. Antes de viajar, porém, chama seus dez empregados e entrega uma moeda de ouro para cada um deles. Esta é a proposta do texto acima. Assim é Deus, o Criador: confia preciosos dons aos seus filhos. Além de dar dons, “corpo e alma, olhos, ouvidos e todos os membros, razão e todos os sentidos, ele ainda os conserva” (Lutero). Deus nos entregou, em confiança, os seus tesouros. É consolador sabermos que nós somos pessoas da confiança de Deus. Não somos, como alguns querem nos fazer crer, seres sem destino definido e sem objetivo válido de existência. Ao contrário, podemos dizer com muito orgulho, como diz uma frase de pára-choque: “Não sou dono do mundo, mas sou filho dele”. É encorajador saber que ele não nos entregou sucatas, nem restos, mas “moedas de ouro” – o que tem de mais precioso. Se pensarmos na nossa vida, na nossa força criativa ou nos recursos materiais na natureza, já temos muito para nos orgulharmos. Mas temos ainda riquezas maiores: as riquezas do espírito, como o amor, a compaixão, a compreensão, a reconciliação. Estes dons são riquezas que, quando nos atingem plenamente, em situações concretas da vida, ficamos como o apóstolo Paulo, sem palavras: “Como são grandes as riquezas de Deus! Como são profundos o seu conhecimento e a sua sabedoria!” (Romanos 11.33). Desta maneira Deus se comprometeu conosco. Se nos sentimos comprometidos com ele, é por causa da maneira como ele nos trata. Ele teve a iniciativa de nos instalar na sua propriedade e nos confiar a sua riqueza. Por isso lhe damos graça e louvor eterno. Oração Senhor Deus, Criador e Pai amoroso, obrigado pelos dons que me concedes e pela minha vida que conservas e renovas a cada dia. Não permitas que eu me esqueça de ti. Por Jesus Cristo. Amém. Credo Apostólico


Deus criador? Gênesis 1.1,5c,7c,13c,19b,23b

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ão é novidade encontrar pessoas que não aceitam um Criador do céu e da terra, que governa tudo, que intervém e interage com as criaturas. Moderadamente, tenta-se negar a existência de Deus, dizendo que Deus não pode ser visto, sentido, tocado, medido e, por isso, sua existência seria cientificamente questionável. Para esses, a alternativa é partir do princípio de que a vida é uma lei da natureza que ela própria gerencia e propaga. Este cientificismo, entretanto, tão pronto a ignorar o Criador, já esbarra numa simples pergunta: conhecemos, ao menos, o ser humano? Este mesmo ser que pode ser medido, examinado, analisado? Conhecemos os seus limites, seu poder, sua força, suas capacidades? Sabemos como funciona, de onde lhe vem os anseios, os sonhos, os ideais, sua poesia? Conhecemos e sabemos prever a intensidade de seus ódios, amores, angústias e temores? Podemos demonstrar sua origem e seu destino? A verdade é que o ser humano, tão pesquisado e examinado, é descrito tão contraditoriamente, que a gente se pergunta: o que podemos provar cientificamente sobre ele? Ele parece estar acima e além das explicações científicas que ele próprio tenta produzir a respeito de si mesmo, assim como Deus, que, estando acima e além da nossa ciência, nem por isso deixa de ser o nosso Criador. Independente do que pensam e ensinam os outros, vale para nós, e isto nos basta, o que nos propõem as Sagradas Escrituras: “No começo Deus criou...” (Gênesis 1.1) e depois continuou e continua criando até hoje. Eu, em todo caso, vou continuar confessando: “Creio em Deus Pai, Todo-poderoso, Criador do céu e da terra”.

Oração Senhor Deus, Criador do céu e da terra. Eu te agradeço porque te revelaste a mim em Jesus como meu Criador, Salvador e Santificador. Nisso também me revelaste plenamente quem eu sou, donde venho e para onde vou. Abba, querido Pai. Amém. Credo Apostólico

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Graças a Deus Salmo 103

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eus não precisa da nossa gratidão. Em verdade, o assunto mais diz respeito a nós do que a Deus. Dar graças a Deus pode até ser uma expressão dita ao acaso, sem pensar. Mesmo assim, dita de maneira menos comprometida, Deus aceita esta expressão, pois a sua vontade é servir, ajudar, salvar. Sua bondade não depende do nosso reconhecimento e da nossa gratidão e mesmo assim ela dura para sempre. Mas, e quanto a nós? Imagine a atitude de alguém que é socorrido em um incêndio ou em um afogamento ou quando médicos intervêm em situações críticas na vida de alguém. Nestes casos, surge um sentimento muito forte, intenso, ligando o socorrido a quem o socorreu. Quando perguntamos de onde vem a nossa vida, os nossos bens, os recursos naturais que utilizamos, gastamos e reutilizamos, o que significa viver em perdão, sem culpa... que resposta temos para dar? Que sentimento estas perguntas e suas respectivas respostas despertam em nós? Deve ser monótono viver pensando na natureza como algo sem origem e propósito definidos, como se tudo somente fosse “natural”, automático, reciclável. Ainda bem que, nesse assunto, os cristãos têm uma vantagem: sabem que nada é fruto do acaso, mas que tudo vem de Deus e tem um propósito. Por isso, tratam a natureza como um presente do Criador e sentem-se impelidos a dar graças a Deus por tudo. Tal gratidão não é inoperante, nem indecisa, mas ela transborda em ações que buscam alegrar a Deus. Por isso, quando afirmamos que Deus não precisa da nossa gratidão, ao mesmo tempo sabemos que Deus não deve ficar sem ela, por toda a sua bondade, misericórdia, compaixão e amor. Oração Onipotente Deus, bondoso Pai, a ingratidão machuca. É maravilhoso saber que a tua bondade é maior que a minha ingratidão e que jamais desistes de mim, mesmo quando eu te esqueço. Fica comigo, por amor de Jesus. Amém. Credo Apostólico


O Mandado Mateus 1.21/Atos 10.38

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stávamos na casa do presidente de uma comunidade rural, onde fomos surpreendidos por um forte temporal. Muitos raios, trovões e, depois, uma chuva torrencial. Passados alguns minutos de chuva intensa, um vizinho bateu à porta, pedindo ajuda: “um ‘mandado’ atingiu meu filho”. Imediatamente dirigimo-nos à casa. Lá encontramos uma família estarrecida. Um raio deixara estirado no chão, sem vida, o jovem esposo, pai e filho daquela casa. Como eu não conhecia a expressão, causou-me estranheza o nome dado ao raio. Embora o raio, na verdade, não venha do céu, ele é visto como tendo sido enviado do alto. E para fazer o quê? Matar pessoas, animais, causar danos materiais e danos à natureza. Deus estaria atrás deste “mandado”? As Sagradas Escrituras também conhecem um “mandado”. Seu nome é Jesus Cristo. Jesus, este é o nome que o pai José deu ao menino nascido em Belém. Cristo é o nome que o próprio Pai, Deus, deu ao seu único Filho. Cristo significa, o ungido, o escolhido. Este Jesus, o ungido, o Cristo, de fato foi “mandado” por Deus, porém não veio com poder de fogo e de destruição. Também não veio com o objetivo de causar terror. Ao contrário, sua missão foi salvar o seu povo dos seus pecados (cf. Mateus 1.21). Para tanto, recebeu poder do Espírito Santo que Deus derramou sobre ele (Atos 10.38). Quem crê neste “mandado”, não precisa ficar estarrecido, mas pode sentir-se livre do terror da destruição e da morte. É só experimentar Jesus Cristo, o ungido, o “mandado de Deus”. Por causa dessa certeza, nós confessamos particularmente e em comunidade, nos cultos, o Credo Apostólico: “Creio em Jesus Cristo”.

Oração Ó Senhor, Deus Eterno, ajuda-nos a experimentar o teu Filho Jesus como o ungido, o Cristo, o mandado do alto para nos libertar de poderes que estarrecem, paralisam e nos deixam sem ação. Amém. Credo Apostólico

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Nasceu do Espírito Santo x DNA Lucas 1.35

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om sempre maior freqüência, pais se submetem ao teste do DNA para que, com posse das informações genéticas obtidas, seja comprovada ou não a paternidade. Este procedimento, fruto de avanços científicos, mesmo que tivesse existido no tempo de Jesus, seria insuficiente para provar algo quanto às palavras “foi concebido pelo Espírito Santo”, conforme confessamos no Segundo Artigo do Credo Apostólico. DNA, neste caso, poderia ser lido como: De Nada Adiantaria. Sim, de nada adiantaria averiguar com possibilidades humanas a manifestação de Deus. Neste caso, os conceitos científicos não nos ajudam em nada. “Creio em Jesus Cristo... concebido pelo Espírito Santo”, isto significa que “Jesus Cristo é verdadeiro Deus, nascido do Pai desde a eternidade...” (Lutero). Jesus é de origem divina. Isto não é racional, mas um mistério da fé. Em Lucas 1.35 lemos: “O Espírito Santo virá sobre você e o poder de Deus estará com você. Por isso o menino será chamado Santo e Filho de Deus”. Esta palavra que o anjo disse à Maria, quando anunciou que ela seria a mãe de Jesus, vai além das possibilidades humanas. Trata-se de um chamado à confiança. Vai além da nossa razão e do que nós, seres humanos, somos e podemos. Nossas provas, fundadas em fatores humanos, de nada adiantam. Sucumbem. A disposição de Maria, ao se colocar a serviço de Deus, permite que Deus encarne, que ele se torne gente, que ele se manifeste. Um “menino chamado Santo e Filho de Deus” vem ao mundo. Feliz foi Jesus ao ter, em Maria e em José, pais que o assumiram. Encorajados pelo Espírito Santo, levaram Deus a sério e fizeram a sua vontade.

Oração Ó Deus Eterno, permite que, em nossas vidas, também se manifeste a tua vontade. Que nossas palavras e ações sejam prova de que agimos movidos pelo teu Santo Espírito. Amém. Credo Apostólico


Verdadeiro Deus 1 João 5.20

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mundo se caracteriza pelo descartável. No desejo de ter acesso aos bens de consumo mais comuns, o ser humano não pergunta se um determinado produto é durável ou confiável. Importa que ele satisfaça os desejos mais imediatos. Algo semelhante acontece em relação à fé e a Deus. Observamos multidões correndo atrás de ofertas religiosas que prometem resultados imediatos. Diante disso, perguntamos: qual é a verdadeira fé e o verdadeiro Deus? Lutero responde: “Creio que Jesus Cristo, verdadeiro Deus, nascido do Pai desde a eternidade, é meu SENHOR”. Verdadeiro Deus, portanto, segundo as palavras do Credo Apostólico, não é qualquer entidade que satisfaz os meus sonhos e desejos do momento, mas é o Deus que nasceu “da virgem Maria e foi concebido pelo Espírito Santo”. Também não é qualquer mito ou fantasma. Ele tem nome, chama-se Jesus Cristo, que se manifesta a nós na Palavra de Deus e nos sacramentos. É exatamente este o caminho para o qual aponta o texto bíblico acima: “Sabemos que o Filho de Deus já veio e nos tem dado entendimento para conhecermos o Deus verdadeiro...” (1 João 5.20). O verdadeiro Deus não está no excepcional e no imediato, mas em Jesus Cristo, que é “Deus de Deus, Luz de Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro...” (Credo Niceno). Nossa fé não tem por base um Deus do sucesso ou do momento. Ela se baseia em Jesus, que passou pela cruz, morreu e ressuscitou. Quando tudo o que neste mundo brilha e enche os olhos cai por terra porque é falso, Jesus Cristo, “concebido pelo Espírito Santo”, o verdadeiro Deus, permanece. Ele não é descartável. Ele é sólido porque é eterno. Oração Ó Deus, liberta-nos da tentação de transformar a nossa fé em um bem de consumo ou em produto descartável. Dá-nos o teu Espírito Santo para podermos reconhecer em Jesus Cristo o nosso verdadeiro Deus. Amém. Credo Apostólico

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Um Deus concreto João 1.14

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uando você ouve ou lê o nome Deus, talvez a primeira imagem que lhe ocorre seja a de um velhinho de barbas brancas, sentado em um trono majestoso. Ou, um ser indefinido, sem “cara” e sem forma. Algo etéreo. É difícil pensar, falar ou descrever Deus. Botamos e imaginamos mil coisas em nossa cabeça. Porém, lá no fundo, sempre fica aquele sentimento de frustração e incapacidade, pois parece que ele está lá em cima, e nós aqui, bem longe dele. Mas será que é assim mesmo? Vejamos. Deus, em sua misericórdia, sempre quis ter comunhão plena conosco, falar a nossa linguagem. Assim foi desde a criação. Lá no Éden, Deus e os seres humanos estavam em plena harmonia e havia uma comunicação franca e aberta entre Criador e criatura. Ali, Deus estava muito próximo da vida das pessoas. Todavia, a queda em pecado nos distanciou dele. Eis porque, hoje, temos essa idéia de um Deus tão distante. Deus, por sua vez, não se agradou dessa situação e providenciou uma forma de poder falar abertamente conosco. Então, ele se tornou gente em Jesus Cristo. Em Jesus, temos novamente um Deus que fala a nossa língua. Um Deus que nos compreende como somos. Nele, temos um Deus bem “pé no chão” – concreto e humano. Um Deus que conhece todas as nossas “manhas” e sabe quem de fato somos. Jesus é como um de nós, porém, com a diferença de que ele é sem pecado (Hebreus 4.15). Mas ele morreu pelos nossos pecados. E tudo isso com o único objetivo de nos salvar e nos reaproximar de Deus Pai. Um Deus que age assim, não pode ser um Deus distante, mas sim, um Deus concreto, um Deus conosco (Mateus 1.23). Esse é Jesus, o meu e o seu Deus! O nosso Deus conosco. Oração Senhor, obrigado pela tua misericórdia e compaixão. Apesar da nossa teimosia e indiferença, tu vieste ao nosso encontro e te revelaste em Jesus. Agora conhecemos novamente como tu realmente és: presente no nosso chão, amoroso, concreto. Amém. Credo Apostólico


Jesus, Deus eterno João 1.1-3

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esus, quem é ele? Para essa pergunta pode haver uma variedade de respostas. Um grande líder, um mestre, alguém compassivo e amoroso, o Salvador,... Bem, nada de errado com essas respostas. Elas estão corretas, mas o que dizer desta: Jesus é Deus eterno. Certamente, esta resposta poucos de nós dariam. Todavia, ela também está correta. Quando falamos de Jesus e de sua vida e obra, sempre pensamos num Jesus humano, terreno. Logo nos vem à mente o sermão do monte, a multiplicação dos pães, a pesca maravilhosa, a cura do cego, a entrada triunfal em Jerusalém, sua morte e ressurreição. Nada de errado com isso. Aliás, foi dessa forma que aprendemos a conhecer e a amar Jesus. Mas Jesus é muito mais. Ele não foi somente um Deus que se tornou um ser humano e morou entre nós (João 1.14). Ele também é Deus eterno. Mas você agora deve estar se perguntando: “O que isso tem a ver com a minha vida aqui nesse mundo?” Tem tudo a ver. O evangelista João afirma que antes do mundo ser criado, Jesus já existia. Ele estava com Deus e era Deus. João diz mais. Todas as coisas foram feitas por meio dele e nada do que existe foi feito sem ele (João 1.1-3). Isso quer dizer que Jesus, unido com o Pai e o Espírito Santo, não só fez o mundo, mas, especialmente, esteve envolvido no plano de sua redenção! Esse é o Jesus eterno, que não somente planejou a nossa salvação, mas também veio ao mundo executá-la. Dessa forma, todos os que o receberam e nele creram, receberam de Jesus o direito de se tornarem filhos e filhas de Deus (João 1.12). E se Jesus nos deu esse direito, certamente ele é nosso Deus, e ponto final (cf. João 10.28). Oração Jesus, Deus eterno, louvamos-te não somente porque criaste este mundo, mas, especialmente, porque deste a tua vida por ele. Obrigado, Senhor, por nos teres dado o direito de sermos filhos e filhas de Deus. Preserva-nos nessa verdade, hoje e sempre. Amém. Credo Apostólico

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Jesus é nosso Senhor João 20.28

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enhor”. “Pois não, senhor”. – “Sim, senhor”. A palavra “senhor” certamente evoca muitos pensamentos na cabeça das pessoas. Algumas vão se lembrar da época do serviço militar, outras da época dos escravos, algumas outras, de seu chefe ou patrão. A palavra “senhor”, sem dúvida, dá a idéia de mando, poder soberano absoluto. Pois no texto bíblico sugerido acima, Tomé, dirigindo-se a Jesus, chama-o de Senhor. Que tipo de Senhor é Jesus? Um déspota que governa sua Igreja, seu povo, de forma arbitrária, com status de imperador? Certamente que não! Jesus é um Senhor diferente. Ele não governa seu povo como se fosse um tirano, mas por meio de sua graça, ou seja, por meio do Evangelho. Chamar Jesus de Senhor, significa aceitar, pela fé, a salvação que ele mesmo nos preparou. Quando temos Jesus como Senhor, estabelece-se um novo relacionamento entre nós e ele. E nesse relacionamento, já não impera o medo ou a apreensão, mas sim, a confiança e alegria no perdão. Ter Jesus como Senhor, “significa que ele nos redimiu do pecado, do diabo, da morte e de toda desgraça. Significa que Jesus, em sua insondável bondade, se compadeceu de nossa calamidade e miséria, e veio do céu a fim de socorrer-nos” (Lutero). Eis aí um Senhor diferente, que nos convida a pertencer a um Reino onde se vive em alegria e bem-aventurança. Um Reino onde não há surpresas, não há receios, mas sim, que nos proporciona uma comunhão maravilhosa com Jesus. Nesse Reino, movidos por seu amor, servimos voluntariamente, não somente ao nosso Senhor e Salvador, mas também ao nosso próximo. Com um Senhor assim, só resta orar diariamente: “Venha o teu Reino”. Oração Senhor Jesus, como é bom podermos te chamar de Senhor! Tu nos compraste com teu precioso sangue e agora te pertencemos. Supre as nossas fraquezas com tua graça, a fim de sermos melhores instrumentos no serviço do teu Reino. Amém. Credo Apostólico


Ele é preso Mateus 26.47-56

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o receber voz de prisão, Jesus não fez uso da violência para se defender. Violência cria violência. Esse não é o caminho para a solução de problemas. A honra, a doutrina, a vida de Jesus não precisam ser defendidas através da força. Jesus optou pelo caminho da não-violência e deixou-se prender sem opor resistência. Ser preso pelas autoridades é algo constrangedor. É a evidência da culpa por algum delito. É ser rotulado como criminoso, como bandido. A prisão de Jesus nos confronta com uma realidade que procuramos esquecer em nosso dia-a-dia: a superlotação das prisões em nosso país, os motins de presidiários, a crise do sistema carcerário e, especialmente, a organização social injusta que exclui milhares de brasileiros de uma vida com dignidade, criando meninos e meninas de rua que, muitas vezes, vão parar nos presídios ou são assassinados. Se Jesus foi preso pelo poder constituído na época e destituído de sua dignidade como pessoa, então isso chama a nossa atenção para aquelas pessoas que hoje enfrentam os dissabores de uma prisão. Quais são os nossos pensamentos e sentimentos em relação às pessoas que se encontram em presídios de nosso país? De que forma abordamos a questão da violência em nossas conversas? “Cristo morreu para nos salvar” – este é um chavão que a toda hora usamos. Depois da sua morte e ressurreição, nós podemos viver porque ele derrotou de vez a morte. Será que nós nos damos conta de que, depois da sua prisão injusta e de violência que sofreu, ninguém mais deveria ser violentado e sofrer injustiça? Por causa de Cristo, somos a favor da justiça e da não-violência. Oração Bondoso Deus, na prisão de Jesus percebemos como poderes constituídos podem ser injustos. Ajuda-nos para que não respondamos ao mal com a violência e para que nos empenhemos por uma organização social mais justa em nosso país. Amém. Credo Apostólico

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Ele é acusado Lucas 23.1-5

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esus é levado a Pôncio Pilatos e acusado duplamente pela liderança religiosa dos judeus: a) de subversão, por induzir o povo a não pagar impostos ao Imperador; b) de afirmar que é o Messias, o salvador esperado pelo povo judeu. O processo que culminou na condenação, no sofrimento e na morte de Jesus, nos mostra que os poderes constituídos procuram encontrar um meio de se livrar da pessoa que representa uma ameaça para o sistema político e religioso vigente. No processo contra Jesus, acusações são forjadas para incriminá-lo. O testemunho falso e pena de morte aplicada pelos poderes legalmente constituídos na época, levam-no à cruz. “Assim, pois, nosso querido Senhor Jesus Cristo sofreu, não às custas, tampouco nas mãos daqueles que não tinham autoridade nenhuma. Sofreu publicamente e nas mãos daqueles que detinham cargos públicos, para que não nos escandalizemos ao vermos que tanto a autoridade espiritual quanto a secular são contra Deus” (Lutero). Hoje, nós ficamos escandalizados com a maldade humana que culminou na morte de Jesus. Jesus foi levado a Pôncio Pilatos e acusado de forma injusta, se isto para nós é verdade, então a Semana Santa passa a ter um sabor de derrota das autoridades que usam o poder para defender seus próprios interesses. Pois, se olharmos um pouco para frente, para o desfecho do processo de Jesus que, em verdade, culminou com a Páscoa, então nós podemos nos encher de alegria e esperança, porque a última palavra não ficou com a atitude dos injustos, “dos que são contra Deus”, mas com a vida, no Domingo de Páscoa, onde venceu a justiça. Esta é a nossa fé e esperança. Oração Deus da justiça, com vergonha reconhecemos a nossa omissão em tantos casos de acusação falsa. Perdoa-nos! Dá-nos coragem para nos colocarmos ao lado das pessoas que sofrem injustiças. Amém. Credo Apostólico


Com seu precioso sangue 1 Pedro 1.18

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ela nossa natureza humana, somos escravos do nosso próprio “eu”. Essa escravidão se revela no anseio de querer ter mais para ser mais, na vontade de querer levar vantagem sobre os demais e na nossa indiferença para com o sofrimento de pessoas e da natureza. A partir de Cristo, somos confrontados com uma nova realidade: ele doou-se a si mesmo, ao morrer na cruz pelo nosso pecado. A obra de Cristo pode ser comparada ao preço pago pelo resgate de um escravo, em tempos passados. O preço que Cristo pagou para nos oferecer uma nova realidade foi a própria vida. “Creio que Jesus Cristo (...) me remiu a mim, homem perdido e condenado (...) com seu santo e precioso sangue e sua inocente e amarga paixão e morte, para que eu lhe pertença” (Lutero). Aqui são mencionados o alto valor do resgate e o alto valor que a vida tem para Deus. Agora, a necessidade de colocar em primeiro lugar o nosso próprio “eu”, a procura por poder, por posse, por riqueza, tão presente entre nós, é substituída por aquilo que é insubstituível: a própria vida. A vida tem perdido muito em valor. Esta é uma realidade em todo o mundo. De modo especial, podemos constatar isto em nosso país. A morte, em suas muitas caras, como pobreza, doença, violência, está presente em nosso dia-a-dia, nas cidades e no campo. Naquela Sexta-feira Santa, Jesus derramou o “seu santo e precioso sangue” e sofreu a “inocente e amarga paixão e morte”. Isto não é mera teoria. A partir daí nós fomos resgatados da nossa natureza escrava. Somos livres e, por isso, podemos valorizar a vida. Em nome de Jesus, somos chamados a resgatar o valor da vida tão maltratada no Brasil e no mundo. Oração Deus misericordioso, obrigado por nos colocares dentro de uma nova realidade, a partir do precioso sangue de Cristo. Ajuda-nos para que deixemos de lado o nosso “eu” e resgatemos a importância e o valor da vida. Amém. Credo Apostólico

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Foi morto Lucas 23.44-49

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morte de Jesus, sendo Deus encarnado, é um dos aspectos mais impressionantes e inconcebíveis da história bíblica e da fé cristã. Porém, para nossa salvação e consolo, é importante essa notícia: Jesus foi morto. O ser humano, com a queda em pecado, tornou-se merecedor da condenação eterna. Humanamente não havia esperança. É aí que entra a ação de Jesus Cristo. Ele vem do céu, enfrenta a morte e vence. Morreu em nosso lugar, pagou a nossa sentença de morte, para que nós pudéssemos viver. Só entendemos a morte de Jesus, quando compreendemos nossa real condição diante de Deus: nós deveríamos morrer, mas Jesus morreu em nosso lugar. Ele passou pela morte, para nossa salvação. A morte de Cristo sempre foi um ponto de discórdia na história do cristianismo. Para os que confiam em Cristo, saber da morte do Salvador implica reconhecer seu próprio pecado e o grande amor de Deus. Para os que não confiam, a sua morte significa motivo de menosprezo e zombaria. Os soldados romanos que vigiavam a cruz de Cristo, quando o viram render o espírito, reconheceram que ele realmente “era justo”, e as multidões que ali estavam, retiraram-se, lamentando e batendo no peito. Os discípulos de Jesus, a princípio, também tiveram dificuldades para compreenderem a sua morte. Como você, cara leitora e caro leitor, se posiciona diante da notícia de que Jesus foi morto? Sua morte não foi uma tragédia ou derrota. Foi o pagamento pelo pecado de toda a humanidade. Ela faz parte da história da sua e da minha salvação. Diante dessa notícia, só nos resta, humildemente, lamentar o nosso pecado e agradecer pelo grande amor de Deus.

Oração Amado Deus e Pai celestial! Sentimo-nos tão pequenos diante de ti, do teu amor, da tua sabedoria. Teu Filho Jesus Cristo precisou morrer por nós. Dá-nos sempre humildade para reconhecermos a gravidade de nosso pecado e a grandiosidade de teu amor. Amém. Credo Apostólico


Foi sepultado Lucas 23.50-56

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idar com a realidade da morte sempre foi difícil para o ser humano. A primeira reação quando se perde um ente querido é a negação. Muitas vezes, só caímos na real quando a pessoa está sendo ou já foi sepultada. Esta reação se explica, pois o ser humano foi criado para a vida e não para a morte. Também com a morte de Jesus foi assim. Os discípulos não estavam entendendo o que estava acontecendo. Quando Jesus morreu, a perplexidade tomou conta da maioria. Ela foi tamanha que, anos mais tarde, houve quem quisesse negá-la. Houve quem afirmasse que a morte de Jesus foi apenas aparente, que, de fato, ele nunca havia morrido. A narrativa bíblica, no entanto, não deixa dúvidas. Jesus realmente morreu! Os soldados se certificaram da sua morte, cravando uma lança no seu ventre de onde saiu água e sangue, mostrando que ele já estava sem vida. Além disso, o testemunho bíblico o confirma, quando narra que José de Arimatéia, um rico membro do Sinédrio, que não havia concordado com a sentença imposta a Jesus, vendo que ele estava morto, colocou-o “num túmulo cavado na rocha” (v. 53). Jesus estava realmente morto! A mesma verdade incontestável foi fixada séculos mais tarde no Segundo Artigo do Credo Apostólico, quando se diz que Jesus foi “morto e sepultado”. Quando confessamos no Credo Apostólico que Jesus foi sepultado, isto nos dá a certeza de que ele venceu a morte por nós, através da sua morte real. Por isso, quando estamos diante de uma sepultura, enfrentando a realidade da morte, não precisamos temer. Pois quem crê em Jesus não morre eternamente, mas tem a promessa da vida eterna. Pode haver algo mais consolador? Oração Senhor Deus! Quando tivermos que enfrentar a realidade da morte, consola-nos na certeza de que Jesus enfrentou a morte e a venceu. Firma-nos nesta fé e concede-nos a vida eterna. Por amor de Jesus. Amém. Credo Apostólico

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Desceu ao inferno Colossenses 1.13

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o Credo Apostólico há uma expressão que fala de um momento que ocorreu entre a morte e a ressurreição de Jesus Cristo. Trata-se da expressão que Jesus “desceu ao inferno”. Na Bíblia existem poucas passagens que tratam deste assunto, e as explicações que foram dadas a este episódio nem sempre são concordantes. A esse respeito, Lutero disse que não devemos ocupar-nos “com altos e argutos pensamentos” sobre “como isso aconteceu”. Devemos, antes, ficar com o mais importante, que é o conforto de saber que “nem o inferno nem o diabo podem aprisionar ou causar dano a nós e a nenhum dos que crêem em Cristo”. Na mudança do milênio, muitas pessoas ficaram com medo de que fatos extraordinários pudessem pôr em risco suas vidas. Há muitos anos se proclamava que, com a chegada de uma “nova era”, a fé cristã entraria num período muito difícil em que ela poderia ser totalmente destruída. Quando profecias desse tipo forem proferidas e quiserem nos assustar, devemos nos lembrar que Jesus desceu ao inferno e ressuscitou. Ele foi vencedor. Nem o Diabo, nem a morte, nem nada poderá tirar esta vitória daqueles que confiam em Jesus Cristo. Como é bom que, em expressões bem pequenas e até de difícil compreensão, podemos encontrar tanto consolo. Nas horas de dificuldade, de dúvida, de tentação, podemos ter a impressão que seremos derrotados. Podemos, até mesmo, nos esquecer de Deus ou achar que Deus nos abandona nas horas difíceis. Porém, nestas horas, lembrar que Jesus Cristo desceu ao inferno e submeteu até o Diabo, nos enche de um consolo salutar. Nada poderá nos separar de nosso Salvador Jesus Cristo. Oração Amado pai celestial! Quanto consolo encontramos em tua Palavra, a qual nos fala de Jesus Cristo. Nossa salvação é tão perfeita e completa que só poderemos te agradecer e louvar. Mantém-nos sempre firmes na fé. Amém. Credo Apostólico


Ressuscitou dos mortos Lucas 24.1-12

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ue coisa maravilhosa, a persistência de Deus! Ele não se intimida por pouco. Não entrega os pontos tão rapidamente; aliás, ele nunca os entrega. Ele concretiza seus planos e os leva a cabo, a despeito dos reveses que o mundo lhes impõe. Isto ele mostrou mais uma vez de forma bem clara, na ressurreição de Jesus. Quando, no domingo de manhã, as mulheres foram ao túmulo para levar o perfume que haviam preparado, elas o encontraram vazio. “Por que é que vocês estão procurando entre os mortos quem está vivo” (v. 5). Jesus está vivo! O mundo quis calar Jesus. O seu projeto de vida abundante para todos, não servia. Por isso era preciso acabar com ele. Deus, no entanto, quis diferente: o ressuscitou. Ele vive. A notícia é desconcertante e, num primeiro momento, inacreditável para todos. Ele não está entre os mortos, onde os homens o colocaram. Quem o procura ali, não o encontrará! Ele vive e está ali onde Deus o colocou. E é entre os vivos que ele deve ser procurado. Ali está ele, no meio deles, promovendo vida, valorizando vida, dando vida, chamando para a vida. Ele vive. Esta notícia é desconcertante, ainda mais quando fico sabendo que eu e você, que todos somos beneficiados diretamente com a sua ressurreição. A nossa trajetória não está determinada pela morte, mas pela nova vida que vem da ressurreição do nosso Senhor. Lutero o resumiu assim: “Creio que ele ressuscitou dos mortos no terceiro dia para dar a mim e a todos os seus crentes uma vida nova, fazendo-me, assim, ressurgir com ele em graça e espírito, para não mais pecar daqui por diante, mas servir tão-somente a ele com toda a sorte de graças e virtudes”.

Oração Bondoso Deus, o teu Reino é um reino de vida e esperança. Ali onde tu reinas e determinas a vida, a morte é vencida. Ajuda-nos a vivermos os novos valores deste teu Reino, movidos pela esperança que se fortalece na notícia de que teu Filho, nosso Senhor, vive. Amém. Credo Apostólico

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Subiu ao céu Lucas 24.50-53

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ão foram poucas as vezes que os discípulos se sentiram angustiados e aflitos porque estavam se sentindo sozinhos. Eles tinham se acostumado tanto à presença forte e animadora do seu Senhor que não podiam imaginar viver, mesmo que por alguns momentos, longe dele ou sem ele. Isto eles experimentaram por diversas vezes. Aquela vez, por exemplo, em que estavam com ele no barco atravessando o lago de Genezaré (Mateus 8.23-27) e sobreveio um temporal: ele, ali, dormindo tranqüilamente, e eles indefesos e apavorados porque Jesus não estava agindo ou tomando alguma iniciativa de fazer algo em sua defesa. Ou em outra ocasião, a pior situação de todas, quando ele foi crucificado. Tudo parecia acabado. Nenhuma esperança, nenhuma perspectiva de vida, nenhum futuro! Como viver sem ele? Como viver sem sua palavra, sem sua orientação, seu apoio? Estas e tantas outras preocupações receberam resposta. Como? “Enquanto os abençoava, Jesus se afastou deles e foi levado para o céu” (v. 51). Com a sua ascensão, ele assumiu definitivamente o poder ao lado do Pai para nunca mais se afastar! Os discípulos, todos eles, testemunharam, que nem sepultura, nem morte conseguiram reter Jesus ou afastá-lo deles definitivamente. Ali estava ele com eles, em todos os momentos e em todas as situações. Ali estava ele, dando força e coragem para que eles pudessem enfrentar as dificuldades diariamente. Estava com eles, animando-os para que pudessem dar testemunho claro e forte sobre o seu senhorio, governando suas vidas. Ele é o Senhor, o Rei absoluto. A autoridade máxima nos céus e na terra é dele, tão somente dele!

Oração Obrigado, Senhor, que tu não nos deixaste sozinhos e de mãos vazias. Tu estás conosco e nos deixaste a tua bênção. Nós precisamos que tu a renoves diariamente. Dá-nos a tua bênção. Amém. Credo Apostólico


Ele governa com o Pai Hebreus 1.3

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s adversários gozavam dele: “ele é o rei dos judeus e, por isso precisa de uma coroa”. E recebeu uma coroa de espinhos! Pouco antes, também por ironia, Jesus recebera uma “capa de luxo” (Lucas 23.11), pois queriam identificá-lo com o reconhecimento que vinha tendo junto ao povo: todos o aclamavam como Rei, como Senhor, como Mestre, como Messias, como... E novos títulos foram surgindo a cada momento. À medida que ele pregava, ensinava e curava (Mateus 4.23), ele foi sendo reconhecido por todos como Senhor e Salvador. Em conseqüência da sua pregação e dos encontros que as pessoas tinham com Jesus, os testemunhos se multiplicavam. Este senhorio de Jesus não iniciou em Belém por ocasião do seu nascimento, embora ali já tenha sido reconhecido e recebido como tal. Os presentes que os magos do oriente levaram ao menino recém-nascido (ouro, incenso e mirra) eram presentes ao meninorei (cf. Mateus 2.1-11). O seu senhorio tampouco terminou na cruz com a sua morte, embora também ali tenha sido reconhecido ou identificado como rei. O seu senhorio permanece, pois ele, Jesus, é a própria revelação de Deus. O encontro com ele, na sua Palavra e nos sacramentos, continua provocando o testemunho de outrora: ele é Senhor. Todo o poder, toda a honra, toda a glória pertencem a ele, estão em suas mãos! “Creio que ele subiu ao céu e recebeu do Pai poder e glória sobre todos os anjos e criaturas, estando sentado à mão de Deus, isto é, ele é um rei e senhor sobre todos os bens de Deus... Por isso é capaz de ajudar a mim e a todos os crentes em todas as nossas aflições contra todos os nossos adversários e inimigos” (Lutero).

Oração Jesus Cristo, tu és nosso Rei, nosso Senhor. Teu é o Reino e a ti pertence o louvor. Tu és Senhor, somente tu, hoje e eternamente. Amém.

Credo Apostólico

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Encontro marcado 1 Tessalonicenses 4.13-18

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ocê já esteve na situação de querer evitar um encontro incômodo? Por exemplo, com um credor? Ou com alguém a quem você magoou? Pois bem. Entre os encontros que você gostaria de evitar, nunca, mas nunca mesmo, inclua o encontro com Jesus. Se muitos outros encontros podem ser incômodos, com Jesus é totalmente diferente. O encontro com ele não deve assustar, pois foi marcado por Deus, quando Jesus virá para julgar os vivos e os mortos. Se bem que a idéia do julgamento é perturbadora. O assunto se reveste de seriedade. Tanto assim que o sofrimento de Jesus está intimamente ligado a esse julgamento. A mensagem central do cristianismo diz que ele sofreu em lugar de, e, morrendo em lugar dos que estavam condenados, livrou as pessoas dessa condenação. Deus quer que olhemos a nossa vida nesse mundo a partir desta perspectiva, aliás, a única perspectiva realmente válida. Ela direciona o nosso olhar, já sem medo, para além do julgamento. O próprio julgamento passa a ser um ato declaratório: Deus vai declarar eternamente santos e felizes aqueles que confiarem em Jesus como seu substituto diante do julgamento final. Os cristãos de todos os tempos têm, em função disso, a alegria de declarar: “Creio em Jesus Cristo... que virá para julgar os vivos e os mortos”. Desta declaração brota também o impulso de perdoar mais, amar mais, ser mais solidário com as pessoas, promover a paz e a compreensão. Vivemos, desde já, em uma outra dimensão como cidadãos da eternidade. Descobrimos em Jesus que fazer o bem não desgasta. Pelo contrário, evidencia nossa identidade com aquele que se doou primeiro a nós: Jesus. Oração Senhor Jesus, que sofreste em meu lugar o julgamento de Deus, renova em mim a alegria dessa fé e concede que eu seja instrumento desse teu amor pela humanidade. Amém. Credo Apostólico


Tempo de oportunidade Mateus 24.36-39

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a passagem do milênio aguçou-se uma velha ansiedade do ser humano: o que há de importante no futuro da humanidade? Logo que Jesus comunicou aos seus discípulos que o fim das coisas estava determinado, eles insistiram em saber: quando será esse dia? Ao que Jesus respondeu: “Quanto ao dia e hora ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, mas somente o Pai” (Mateus 24.36). É, portanto, um conhecimento que Deus guardou para seu uso exclusivo. Aí Jesus não deu margem a dúvidas: o fim é certo. Quanto ao dia e hora, somente o Pai conhece. Diante disso, as reações são as mais diversas. O apóstolo Paulo insistia em dizer que esta data lhe era bem-vinda e que, quanto a ele, já estava até atrasada: “Quero muito deixar esta vida e estar com Cristo, o que é bem melhor” (Filipenses 1.23). Ao longo dos séculos, os cristãos deixaram este testemunho na história. Sempre de novo, ansiavam pela volta do Senhor, alguns assustados, outros esperançosos e alegres. Lutero via aquele dia como o momento em que Jesus nos aparta e separa completamente do mundo malvado, do Diabo, da morte, do pecado, etc. Já houve quem quisesse “descobrir” o dia e a hora e já anunciasse até uma data. Por que a ansiedade? Pois, sendo certo que a vinda de Jesus reserva libertação, felicidade e alegria, o cristão espera em paz e tranqüilidade. A passagem do tempo deixa de ser uma angústia, para se transformar em oportunidade. Oportunidade de participar como agentes da nova cidadania que aprendemos com Jesus: a cidadania do amor, do envolvimento com a dignidade de cada ser humano, agora, no nosso tempo e no nosso espaço de vida. Oração Senhor Jesus, às vezes penso que já deverias ter vindo para livrar tanta gente do sofrimento. Mas também quero pedir que, enquanto isso, me dês forças para aprender a confiar em ti e a agir em teu nome, em favor das pessoas que sofrem. E que isso me baste por agora. Amém. Credo Apostólico

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Vocês foram me visitar Mateus 25.31-46

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ivemos num tempo vertiginoso na história. Tudo passa muito rapidamente. Uma das conseqüências disso é a perda das referências de vida, dos valores e, até mesmo, da fé! Alguns nem perguntam pelas perdas. Outras pessoas apenas lamentam: “o mundo não tem jeito mesmo”. Posso entender estas reações. As mudanças no começo do milênio mexem com nossas idéias e reações, nosso corpo e coração. Também a fé é atingida e treme. Como julgar as coisas num tempo como o nosso? Como ser fiel ao Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, nesse tempo vertiginoso em que vivemos? É novamente a Palavra de Deus que nos aponta um caminho seguro. Não que ele seja fácil. É exigente e comprometedor. Mas é luz e força, em meio à dúvida e ao desespero. Em Mateus 25.31-46, Jesus narra uma parábola que nos ensina como encontrá-lo, servi-lo, adorá-lo e segui-lo neste mundo de alegrias e tristezas. A parábola surpreende porque coloca, como critério de julgamento, não a retidão da pessoa ou coisa parecida. Jesus apresenta como critério de julgamento o outro. Abram os olhos, pois a bênção pertence a quem me viu no outro, na pessoa ou nos grupos humanos que sofrem fome, sede, exílio, desterro, nudez, abandono, prisão. Aquelas pessoas que se encontram prejudicadas, condenadas, excluídas, em aflição são, para Jesus, sinais da sua presença hoje. Jesus se identifica com pessoas e situações muito concretas. Sua mensagem é salvadora, em primeiro lugar para estas pessoas que sofrem. E quem descobrir Jesus desta forma e for visitá-lo – sem perceber – terá surpresas que darão um novo sentido a sua vida. Tente. Você verá que vale a pena. Oração Senhor Jesus, é tão difícil acolher-te na vida dessa pobre gente. Preferimos uma palavra espiritualizada. Ajuda-nos a acolher a tua Palavra e a te buscar onde tu nos disseste que te farias presente. Que assim te amemos de fato e de verdade. Vem, Senhor Jesus! Amém. Credo Apostólico


De inimigos a amigos de Deus 2 Coríntios 5.15

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oi uma briga feia. Durou anos. Mas acabou mal. Separaram-se. Cada qual foi para o seu lado. Ela ficou com os filhos e a filha. Batalhou para sobreviver decentemente. Ele ajudou um pouco, é verdade, mas não o suficiente. Enveredou por outros caminhos. Conheceu outras pessoas. Ela buscou novas amizades. Foi tudo muito difícil. Para os dois. Um dia se reencontraram, meio no susto. Encontro imprevisto, não foi sem razão! Olhares, dúvidas, um cumprimento, o início de uma conversa superficial. Maduros, resolveram encarar a situação. Encarar um ao outro. Constrangidos no início, mais soltos depois, foram conversando. No fim, pareciam menos tensos. Conseguiram não se ofender. Não sei se voltaram a viver juntos, mas chegaram a um acordo razoável: escutar um as razões do outro, olhar-se fundo nos olhos, sem pré-julgamento. Começaram, sem saber, o que na linguagem da fé chamamos de perdão, o início de uma reconciliação. Em nosso relacionamento com Deus, acontece algo parecido com a separação de um casal. Há casos de rompimento sem volta. Outros ensejam uma reaproximação. Outros, ainda, acabam numa reconciliação para valer. Então o amor não só volta, mas cresce, se aperfeiçoa, porque extravasa e se espalha pela casa toda, alcançando amigos, amigas, vizinhança, e até gente distante de casa. O amor se torna algo público, visível e transformador. É isto que Cristo realizou com sua obra. Ao morrer por nós, ele nos abriu uma nova chance de amar a Deus, reconhecendo o nosso erro, para iniciar uma nova vida. Com Cristo e em Cristo, de inimigos nos tornamos amigos e amigas de Deus (2 Coríntios 5.15). Oração Senhor Jesus, graças te damos por tua obra de reconciliação que nos torna novamente amigos e amigas de Deus. Ajuda-nos a vivenciar esta nova relação. Que participemos com alegria na missão de reconciliar o mundo de hoje com seu Criador. Amém. Credo Apostólico

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A ajuda de Jesus João 14.15-16

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iver custa caro! Os gastos com alimentação, vestuário, educação, transporte, remédio, moradia e lazer fazem parte do preço que pagamos para viver. Por experiência, sabemos que os produtos de melhor qualidade, normalmente, custam mais caro. Isso também é verdade com relação aos bens espirituais. O amor que Jesus nos dedicou custou muito caro para ele – custoulhe a própria vida. Jesus pagou um preço alto para nos dar o perdão dos pecado e a salvação eterna. Em contrapartida, o amor que ele espera encontrar em nossos corações também não é nada barato. Ele disse: “Se vocês me amam, obedeçam aos meus mandamentos” (v. 15). Obedecer aos mandamentos significa colocar Deus como a grande prioridade da vida e seguir sempre a sua vontade, servindo-o de todo o coração. Pelo fato de sermos pecadores, não conseguimos viver assim! Mas Jesus vem ao nosso encontro. Para nos ajudar, ele prometeu: “Eu pedirei ao Pai, e ele lhes dará outro Auxiliador, o Espírito da verdade” (v. 16). Com essas palavras, Jesus assegurou que nos mandará o Espírito Santo, a terceira pessoa da Santíssima Trindade. O Espírito Santo e a sua obra – este é o tema do Terceiro Artigo do Credo Apostólico. Em relação a ele, Jesus afirmou que o Espírito foi mandado para nos ajudar na fé e na vida cristã. O custo dessa vida é alto, mas o Auxiliador estará sempre do nosso lado. Através do Evangelho e dos sacramentos, ele fortalecerá o nosso amor a Jesus e nos equipará para pagarmos o preço do amor cristão, ou seja, para vivermos segundo os mandamentos de Deus. Em seu amor, Jesus nos deu a ajuda necessária para viver a fé.

Oração Amado Salvador Jesus, obrigado pela tua ajuda. Custa caro ser cristão! Mas confiamos na promessa do Auxiliador para que possamos fazer sempre a tua vontade. Enche-nos com o Espírito Santo para que tenhamos condições de te amar como convém. Amém. Credo Apostólico


Não é difícil acreditar! Mateus 16.16-17

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á muitos produtos que não funcionam e estamos acostumados a ouvir milhares de promessas que não se cumprem. Por isso, temos a tendência de só aceitar aquilo que pode ser comprovado pela prática. Com essa mentalidade, as pessoas do tempo de Jesus acabaram não aceitando a mensagem do Salvador. Viram nele um simples carpinteiro, um líder, um mestre. Alguns até pensaram que Jesus fosse João Batista, Jeremias ou algum profeta. Outros o consideraram um herege e, por isso, conspiraram contra ele para matá-lo. Nesse contexto, o discípulo Pedro fez uma confissão de fé surpreendente. Ele disse a Jesus: “O Senhor é o Messias, o Filho do Deus vivo” (v. 16). Quem deu a Pedro essa convicção? Jesus mesmo indicou a resposta, ao dizer: “Esta verdade não foi dada a você por nenhum ser humano, mas veio diretamente do meu Pai que está no céu” (v. 17). Deus agiu para que Pedro tivesse fé. Deus lhe mandou o Espírito Santo que fez com que o discípulo confiasse em Jesus. 1 Coríntios 12.3 ensina: “Ninguém pode dizer ‘Jesus é Senhor’, a não ser que seja guiado pelo Espírito Santo”. As pessoas dos nossos dias, normalmente, consideram as coisas de Deus uma grande loucura. A maneira como Deus agiu em Cristo para nos salvar não faz sentido para a lógica humana. Mas, se você tem dúvidas sobre Jesus, saiba que o Espírito Santo também foi dado a você e quer transformar a sua dúvida em fé. Ouça o que ele tem a lhe dizer nas Escrituras. Com a sua ajuda, não é difícil acreditar. Assim, quando lhe perguntarem o que você pensa sobre Jesus, você poderá responder com alegria e convicção: “Jesus é o Messias, o Filho do Deus vivo, o meu Salvador”. Oração Amado Pai celestial, obrigado por nos teres dado o Espírito Santo. Ajuda-nos para que todas as nossas dúvidas sejam transformadas por ele em fé e, assim, possamos dar um claro testemunho sobre o Salvador Jesus para o mundo em que vivemos. Amém. Credo Apostólico

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O Espírito Santo chama pelo Evangelho Romanos 10.16-17

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e as pessoas pudessem vir a Cristo “por sua própria razão ou força”, teríamos, no fundo, uma injustiça. Por natureza, somos diferentes uns dos outros, umas das outras. Alguns são mais inteligentes do que outros, algumas são mais fortes do que outras. Neste caso, a natureza determinaria quem poderia estar com Cristo e quem não. Mas não é assim que diz a Bíblia. O texto de referência bíblica acima, Romanos 10.16-17, fala de “aceitar” a Boa Notícia do Evangelho, de “acreditar” na mensagem e, finalmente, de “ouvir” a mensagem que vem por meio da pregação de Cristo. Precisamos ter cuidado, no entanto, para não cairmos no erro de entender estes verbos no sentido de qualidades pessoais, virtudes ou força que nos são dadas por natureza, a uns mais, a outros menos. Pois assim, “aceitar” ainda poderia ser uma virtude ou qualidade pessoal de alguém. “Acreditar” seria aquela força interior da qual tanto ouvimos falar em nossos dias, “você precisa acreditar, vá em frente” ou o poder do pensamento positivo, tão badalado e exaltado pelos cursos de auto-ajuda. E até mesmo “ouvir” poderia se referir a uma certa docilidade que certas pessoas possuem por natureza, e outras não. Não é o simples ouvir ou pregar do Evangelho que desperta a nossa fé. Quem efetua fé é o Espírito Santo, que nos chama pelo Evangelho. É ele que move as nossas forças interiores, supera as nossas fraquezas, nos dá o que não temos, para fazer com que os nossos ouvidos estejam atentos, nossas mentes abertas e nossos corações receptivos para o Evangelho. Esta fé que aceita a salvação de Deus não é força humana, é presente do próprio Deus.

Oração Deus e Pai, quando pensamos em nossa salvação, direciona os nossos olhos para o lugar certo. Nada temos a te oferecer, na verdade, só resistimos a ti. Damos-te graças pela fé que colocaste em nossos corações, pela qual recebemos teu Evangelho. Amém. Credo Apostólico


O Espírito Santo aperfeiçoa! Filipenses 1.6

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eus há muito começou a trabalhar em nós. Deus está trabalhando em nós! Talvez não o percebemos, porque perdemos a capacidade de nos encantarmos com as coisas simples ou com aquelas que já conhecemos há tanto tempo que não mais nos surpreendem. Talvez, Deus começou a trabalhar em nós tão cedo que nem nos lembramos de quando isto começou. Por isso, não o entendemos. Certamente, o Batismo representou este ponto inicial. Mas, na Bíblia, há gente que pode dizer que Deus já havia começado a trabalhar em sua vida bem antes! O Salmo 139.16 diz: “me viste antes de eu ter nascido”. E o apóstolo Paulo pode dizer: “Deus, na sua graça, me escolheu antes mesmo de eu nascer” (Gálatas 1.15). Quem diz isso, o diz por fé. Por isso, não se pode vê-lo. Por que, então, insistimos em querer ver o momento inicial do trabalho de Deus em nós? Por que insistimos em achar que ele só trabalha em nós quando o podemos ver ou perceber? Também a continuação deste “bom trabalho” de Deus em nós é uma questão de fé. De nossa parte, estejamos certos de que “Deus, que começou esse bom trabalho... vai continuá-lo... até no Dia de Cristo Jesus”. E quando os infortúnios atingirem também a nós, continuemos a apegar-nos a ele, mesmo que nossos sentimentos nos levem a ver as coisas de um jeito diferente. Não vejo Deus trabalhando em mim... Pode ser que amanhã o verei e que, olhando para trás, dê para perceber que ele estava aí. E, assim, confiemos que o Espírito Santo que, em determinado momento da nossa vida, começou a sua obra em nós, continuará este trabalho até o fim, aperfeiçoando-nos, para nossa felicidade eterna e para a glória do nome de Deus. Oração Deus e Pai, tu nos chamaste pelo Espírito Santo antes de nascermos, no teu Filho morreste por nós e no Batismo nos recebeste como cidadãos do teu Reino. Pedimos-te: dá-nos a confiança de que aperfeiçoas em nós a tua salvação. Amém. Credo Apostólico

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Creio na santa Igreja Lucas 17.20-21

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vinda do Reino de Deus não é uma coisa que se possa ver”, diz o nosso texto. Assim, também a verdadeira Igreja não é uma coisa que se possa ver. Quando confessamos no Terceiro Artigo do Credo Apostólico: “creio na santa Igreja cristã” queremos dizer que não podemos ver a Igreja; que ela é uma questão de fé. No entanto, embora a verdadeira Igreja seja invisível, há também uma Igreja que se pode ver. Graças a Deus por ela! Quando participamos dos cultos, da pregação, das celebrações, enfim, das atividades da nossa comunidade, nós estamos vendo sinais visíveis desta Igreja invisível, objeto da nossa fé. É através desta instituição visível que Deus favorece a pregação do Evangelho e o conhecimento de Cristo entre nós, promovendo, assim, o surgimento e o crescimento do verdadeiro povo de Deus, ainda não visível aos nossos olhos. Não é automático que todos os que fazem parte de uma igrejainstituição participem também do verdadeiro povo de Deus, embora tenham o privilégio de ouvir e de pregar o Evangelho. Pode acontecer, também, que muitos dos que fazem parte do verdadeiro povo de Deus, por alguma razão, nem participem de alguma comunidade. Uma coisa é certa: só Deus vê a verdadeira Igreja. Para nós, ela é “invisível”, é questão de fé. Igreja não é coisa nossa. É coisa de Deus. Por isso, quem se arroga o direito de dizer que é o único certo, que pertence à única Igreja verdadeira, está querendo trocar de lugar com Deus. Nenhum grupo humano tem o poder e o direito de considerar-se “verdadeira igreja” ou “verdadeiros crentes”. Isto, quem julga é Deus. Quanto a nós, importa continuar dizendo: “creio na santa Igreja cristã”. Oração Deus e Pai, te damos graças pelo teu amor pela humanidade, e que nela escolhes um povo para ti. Agradecemos-te por nossas igrejas e comunidades, onde nos chamas pela Palavra da tua promessa. Livranos de julgar as pessoas em nossa comunidade e fora dela. Amém. Credo Apostólico


A verdadeira Igreja João 8.31-32

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religiosidade, a espiritualidade, o misticismo, o esoterismo e movimentos afins, têm crescido de forma surpreendente nas últimas décadas. Informatizados, codificados, globalizados, materializados e sugestionados pela mídia, somos quase reduzidos a meros números, numa sociedade de altíssimo índice de exclusão e desumanização. As pessoas têm necessidades na dimensão do ser e do ter. Não basta ter tudo e não ter as necessidades básicas do ser atendidas ou satisfeitas. Neste contexto, o texto bíblico acima propõe: há e haverá sempre fome e sede pelo verdadeiro sentido da vida e da história humana. Necessitamos de referenciais sólidos e verdadeiros para o nosso estar no mundo. Precisamos de certezas para viver. Precisamos da verdade. É neste sentido a oferta de Jesus: “Se vocês obedecerem às minhas palavras, serão de fato meus seguidores e conhecerão a verdade, e a verdade os libertará” (João 8.31-32). A Palavra de Jesus oferece segurança e certeza. Conhecer e viver a promessa do amor divino nos faz verdadeiros discípulos. A Igreja proclama e vive da verdade que liberta da culpa e do terror da morte. Essa verdade é o sinal visível da verdadeira Igreja. Quem conhece e vive a verdade do amor de Deus, revelado em Jesus Cristo, é filho e, como tal, é participante da verdadeira Igreja cristã, a comunhão dos santificados por Deus Espírito Santo. Portanto, mais importante do que estar na Igreja é ser Igreja. E ser Igreja é uma disposição pessoal que se pretende seja permanente, não um modismo de fim ou início de século e milênio. A Palavra de Deus permanece e vale para sempre. Oração Meu Deus e Pai, ensina-me a viver a tua verdade libertadora para que eu possa ser um representante da verdadeira Igreja neste mundo tão carente de ver e ouvir o teu Evangelho. Amém. Credo Apostólico

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Comunhão dos santos Atos 2.46-47

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união faz a força”, diz o ditado popular. Sozinhos, somos fracos e vulneráveis. Isolados, corremos grande riscos. Necessitamos de pessoas para nossa harmonia mental e espiritual. Fomos feitos para conviver, para o “estar junto de”, para dar e receber carinho, amizade, amor, trocar experiências de vida e de fé. Os primeiros cristãos, pessoas tocadas pelo Evangelho e transformadas pelo Espírito Santo, viviam intensamente sua comunhão cristã. Ao estarem juntos, como grupo de fé e amor, constituíam, de fato, a santa Igreja cristã, a comunhão dos santificados pelo Espírito Santo. O grupo servia de apoio e encorajamento diante dos perigos da época. A comunhão das pessoas que crêem tem um propósito claro: alimentar-se e repartir o Evangelho e usar os sacramentos de acordo com a Palavra. Edificar-se e testemunhar é a missão dessa “turma” formada por pessoas que são, simultaneamente, santas e pecadoras. A comunhão cristã não é um convívio de “santinhos” que não erram, mas de pessoas que reconhecem sua “doença” do pecado e confessam sua necessidade de tratamento. Apesar de ainda imperfeitos, os santos filhos do Pai buscam, sem cansar, viver uma vida de coerência, de integridade, de santidade, sempre inspirada e movida por Deus. Querem, através de seu exemplo, sua reputação e credibilidade, ser reconhecidos pelos outros como testemunhas vivas do amor transformador do Deus Eterno e, assim, santificar o seu nome. A “turma” da fé e do amor verdadeiro quer ser sal, luz e fermento nesse mundo criado e amado por Deus. Essa é a missão de Deus e de seu povo. Você pode fazer parte desse projeto de vida! Oração Senhor, ajuda-me a testemunhar minha fé com palavras e atos. Quero santificar teu nome através de minha vida, em confiança em ti e do amor para com o meu próximo. Amém. Credo Apostólico


Perdão Efésios 4.32

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erdoar eu perdôo, mas esquecer nunca”. Você já ouviu essa frase? Você já pensou assim? Há milênios, o sábio rei Salomão disse: “Quem perdoa uma ofensa mostra que tem amor, mas quem fica lembrando o assunto estraga a amizade” (Provérbios 17.9). De fato, não é fácil perdoar. O ódio, a inveja, o ciúme, o orgulho ferido, a vingança, o “dar o troco” fazem parte do cotidiano de nossas vidas. Somos mais mesquinhos e miseráveis do que pensamos, não é verdade? Assim são os seres humanos. Ninguém é diferente. Basta olhar para nosso mundo violento, que parece um barril de pólvora pronto a explodir. Freqüentemente, nós “reaquecemos” o ácido do ódio que corrói e destrói nossas vidas. No entanto, a boa notícia é que Deus é diferente. Ele é justo, mas não vingativo. Por amar-nos de modo incondicional, seu perdão para conosco vai além dos nossos limites. Podemos, honesta e abertamente, reconhecer, confessar nossos erros, nossos pecados. O amor de Deus é maior do que a nossa dívida, nossa culpa. Que consolo! Que alívio! Não preciso pagar a minha conta impagável. Cristo a pagou por mim. É essa verdade divina, revelada em Cristo, que nos liberta do peso da culpa, da angústia, do desespero, para uma nova vida que não precisa de máscaras ou desculpas esfarrapadas. Podemos assumir e admitir nossa situação e continuar com esperança, alegria e paz, porque nos sabemos aceitos e amados pelo Deus gracioso. No entanto, o amor recebido precisa ser repassado para o nosso próximo. O perdão de Deus capacita para perdoarmos o irmão faltoso. Nossa benignidade inspira-se na misericórdia do Pai. A verdadeira fé é ativa no amor. Oração Senhor, diariamente me perdoas as faltas que cometi contra ti em pensamentos, palavras e atos. Capacita-me a perdoar os que me machucam e ferem com seus erros, suas indelicadezas, sua estupidez e seu egoísmo. Liberta-me para a prática do amor. Amém. Credo Apostólico

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Lutar e ressuscitar Romanos 6.5-11

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az parte da vida cristã separar-se do mal. Talvez seja esta uma das tarefas mais difíceis para cristãos e cristãs. Como viver sem cair na rotina de qualquer outra pessoa que é dada a todos os vícios que o mundo oferece? No ato do Batismo, segundo o apóstolo Paulo, a pessoa morre para o pecado. A sua velha natureza é sepultada, começando, a partir daí, um viver alternativo, diferente. Mas, no mesmo capítulo em que o apóstolo fala sobre o morrer para o pecado, ele mostra também qual é a perspectiva do cristão, qual é seu horizonte, para onde ele dirige o seu olhar e qual é a sua verdadeira alegria e felicidade. Quem foi batizado em Jesus Cristo, alegra-se com a esperança da ressurreição – e esta é a sua verdadeira alegria. O apóstolo escreve: “Se já morremos com Cristo, cremos que também viveremos com ele” (Romanos 6.8). Se na vida cotidiana o cristão e a cristã promovem o duro exercício de refletir sobre o pecado, de identificá-lo, para, em conseqüência, afastar-se dele (o que não é fácil no mundo emaranhado em que vivemos!), eles, ao mesmo tempo, podem olhar confiantes para o alvo da sua vida, que é sua verdadeira alegria. Assim, cristãos que resistem ao pecado e se afastam dele, são também pessoas que aguardam, com alegria e esperança, a ressurreição e confessam: Creio que o Espírito Santo “me ressuscitará a mim e a todos os mortos, e me dará a mim e a todos os crentes em Cristo a vida eterna” (Lutero). Lutar e, um dia, ser ressuscitado para estar com Cristo – pode haver algo que torne a nossa vida mais honesta, mais digna e lhe dê mais sentido?

Oração Amado Deus e Pai, dá que assumamos a dura tarefa de descobrir aquilo que é pecado, para chamá-lo de pecado e afastar-nos dele. Concede a nós, que no Batismo morremos com Cristo, que também ressuscitemos com ele. Amém. Credo Apostólico


O milagre de uma vida completa João 10.10

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té hoje representa um escândalo para muitas pessoas que Jesus, que viveu num recanto tão afastado e pobre como a Galiléia, tenha dito: “Eu vim para que tenham vida e vida completa”. Contudo, foi na presença de Jesus que pessoas experimentaram o começo de uma vida mais completa. Não só como esperança para o futuro, mas já no presente. Analisando a nossa vida, percebemos que em nosso viver há muito desamor. Uma pessoa pisa a outra. Prevalece o princípio do olho por olho e dente por dente, o princípio do amor aos irmãos, mas ódio aos inimigos. Existem, em nossa vida, ilhas de verdade, mas, muitas vezes, um oceano de mentiras. E, dessa forma, a gente vai sendo deformada desde a infância. Na presença de Jesus, contudo, cada pessoa vai sendo levada para dentro de uma vida mais completa e verdadeira. Assim, pessoas, que durante anos viveram umas com as outras como cães e gatos, descobrem que o princípio do olho por olho e do dente por dente é uma bobagem e que todos, em verdade, somos irmãos e como tais devemos viver. Na presença de Jesus, o mundo de desamor começa a desmoronar e cresce um mundo diferente. Quando essa mudança começa a acontecer na vida de uma pessoa, está acontecendo o milagre do irrompimento da vida eterna na vida presente. A vida eterna, a vida mais completa, que é a alegria do cristão e que ele espera para depois da morte, tem uma característica: ela começa já aqui, na presença de Jesus. É verdade o que Jesus disse e continua a dizer: “Eu vim para que tenham vida e vida completa”. Sob a Palavra de Jesus, a vida eterna vai brotando na vida presente e transformando a vida pessoal, comunitária e social. Oração Pai celestial, dá que, na presença de Jesus, o mundo do desamor vá desmoronando e surgindo um mundo diferente. Concede que também em nossa vida, aconteça o milagre da partilha, do amor, que é a vida eterna, já no presente. Amém. Credo Apostólico

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Confiar João 3.16

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o evangelho de João, Jesus faz um longo discurso, que está registrado no capítulo três. Nele, ele expõe a Nicodemos o objetivo de sua missão na terra, quando diz, em resumo: “Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu único Filho, para que todo aquele que nele crer não morra, mas tenha a vida eterna”. Através da sua explicação, Jesus faz um convite: o de confiar que ele, Jesus, poderá levá-lo à vida eterna. Foi com essa finalidade que Deus enviou o seu Filho ao mundo. Nicodemos entendeu a mensagem. Mesmo assim, vacila em aceitar o convite. Por vezes, a vida do ser humano é como a de Nicodemos, que foi falar com Jesus, de noite. Ele tem perguntas e muitas dúvidas. Não está satisfeito com sua vida. Sente que precisa mudar. Por outro lado, ele já está tão acostumado com sua maneira de viver, que se torna difícil mudar alguma coisa. Ele é como uma pomba que está presa numa gaiola. Tenta voar, mas, dentro da gaiola, ela só se machuca. Contudo, quando alguém abre a portinhola para que possa sair e voar livremente, ela vacila, não acredita na liberdade. Jesus quis dar uma vida mais completa para Nicodemos. Da mesma maneira, ele quer trazer a nós a vida que vem de Deus. Sim, ele deseja que deixemos para trás tudo o que, constantemente, nos machuca, e que aprendamos a viver de uma maneira bem mais simples, porém completa. Mas, ao mesmo tempo, ele nos convida a confiar nele, pois só ele é capaz de guiar-nos para uma vida mais autêntica, feliz e verdadeira. Quem permite isso, pode fazer, já agora, em sua vida, a experiência da vida eterna. Não vale a pena aceitar o convite de Jesus?

Oração Amado Deus, tu enviaste o teu Filho para nos guiar da morte para uma vida em comunhão contigo e com os irmãos. Ensina-nos a confiar nele e a nos deixar guiar para que não rejeitemos a vida que tu nos ofereces. Amém. Credo Apostólico


A ordem é orar 1 Tessalonicenses 5.17

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rar não é uma obra opcional para o cristão. “Aquele que não faz isso [não ora], deveria saber que ele não é cristão e não pertence ao Reino de Deus” (Lutero). A recomendação do apóstolo Paulo aos cristãos tessalonicenses vem acompanhada de outras recomendações adequadas. Entre elas: “orem sempre” (1 Tessalonicenses 5.17). Isso pode parecer exagerado. Porém, quando começamos a falar com Deus sobre nossas necessidades e bênçãos que recebemos e ainda louvamos e agradecemos de modo especial por tudo que temos, então percebemos que não há nenhum exagero nessa recomendação apostólica. “Orem sempre” é a mesma coisa que dizer: “Mantenham o diálogo com Deus”. Através dele, pode-se avaliar o relacionamento que existe entre as pessoas. Quando se diz que filhos e filhas não falam mais com seus pais, alguma coisa está errada. Onde não existe mais diálogo, também não há mais relação. Assim acontece com a oração: ela é diálogo entre Pai e filho. Por isso, “orem sempre” significa: não se afastem do Pai, mantenham-se ligados a ele! O reformador Martinho Lutero orou muito e ensinou a orar. Segundo ele, a oração tem quatro aspectos importantes: 1) ela é uma ordem de Deus; 2) ela tem a promessa de que Deus a ouve; 3) através dela podemos fazer um exame das nossas necessidades e da nossa miséria; 4) ela é expressão da verdadeira fé, da certeza e confiança, baseada nesta palavra e promessa de Deus – e tudo isso em nome de Cristo, através do qual nossa oração é aceitável ao Pai e por causa de quem Deus nos dá toda graça e todo bem. Então, ponhamos em prática a recomendação “orem sempre” agora mesmo e oremos:

Oração Ó Deus, nosso Pai celeste, ajuda-nos a orar, a falar contigo com confiança, amor, humildade e alegria. Que saibamos sempre pedir, confiar, esperar, louvar e agradecer em nome de Jesus. Amém.

Pai Nosso

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Senhor, ensine-nos a orar! Lucas 11.1b

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esus estava orando...”. Vendo-o, um dos discípulos pede: “Senhor, ensine-nos a orar”. Este discípulo sabia de uma coisa muito importante: orar a Deus Pai não é inato nas pessoas, mas é um ato de aprendizagem. É, pois, preciso aprender a quem orar, onde orar, por quem orar, em nome de quem orar. Quem ensina a orar? Muitas vezes ouvimos pessoas dizerem: “Nos momentos de aperto a gente aprende a orar”. Quem aprende a orar a partir dos momentos de aperto, corre o risco de orar a uma “entidade” qualquer. A oração, neste caso, pode ser palavras ditas a esmo, sem um objetivo claro. Pois oração que parte do aperto tem a sua raiz em nós mesmos, nas nossas dificuldades. A verdadeira oração parte de Jesus Cristo e se dirige ao Pai. Foi o próprio Filho que estabeleceu, ou melhor, que abriu novamente o caminho a Deus, que estava obstruído. Foi Jesus quem ensinou a dizer: “Pai nosso”. A partir dele, nós não somos mais órfãos. Conhecemos o Pai que permite que falemos com ele. Olhando e ouvindo Jesus, também temos certeza de que Deus ouve e atende as orações daqueles que nele crêem. Quando os discípulos viram Jesus orando, eles formularam o pedido: “Senhor, ensine-nos a orar!” Se alguém quer realmente aprender a orar, olhe para o Filho de Deus e para o Evangelho. Assim, pais, mães, pastores, cristãos, se vocês quiserem ensinar a orar, façam como Jesus, simplesmente orem! Ensinem o Evangelho. É olhando para Jesus que se aprende a orar. “Isto não é uma obra opcional para o cristão” (Lutero), mas é vital. O verdadeiro cristão, o discípulo de Cristo, o filho de Deus, aquele que olha para Jesus, quer aprender a orar e ora. Oração Senhor, ensina e ajuda-nos a orar de verdade e sempre. Fala-nos pela tua Palavra e ouve as nossas orações, em nome de Jesus. Amém.

Pai Nosso


Quem pede, recebe! Mateus 7.7-8

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ão conhecidos a recomendação bíblica: “orem sempre” e o pedido dos discípulos: “Senhor, ensine-nos a orar”. A respeito da oração, Lutero se manifestou nos seguintes termos: “Orar não é uma obra opcional para o cristão”. Em nosso texto, é o próprio Jesus quem nos garante que as nossas orações sempre são atendidas. Esta promessa é feita em dose tripla: quem pede, recebe; quem busca, encontra; e quem bate à porta do Pai nosso que está nos céus, verá a porta celeste abrir-se! Que coisa maravilhosa! De três formas diferentes nos é assegurado que as nossas orações não caem no vazio. Três vezes é dito a mesma coisa. Isto significa um reforço. Onde neste mundo, você vai encontrar essa certeza de atendimento? Eu posso imaginar que você, caro leitor e leitora, já tenha passado por alguma decepção porque teve a sensação de que alguma oração sua não foi atendida. Em verdade, todas as suas orações foram atendidas, sim. Talvez você não tenha obtido exatamente aquele resultado desejado e no momento que você queria. No entanto, Deus lhe deu uma resposta. Ele ouviu a sua oração, analisou-a e a enquadrou num plano e projeto para a sua vida. Deus, o “querido Pai” – assim Lutero fala de Deus – sabe muito bem, melhor do que nós mesmos, o que é bom e importante para nós. Deus enxerga mais longe! Ele entende as nossas orações melhor do que nós mesmos as entendemos. Por isso, avalie, se Deus não lhe deu algo melhor, talvez num outro momento, do que aquilo você havia pedido! Todo o que pede, recebe. Também você pode e deve pedir sempre e receberá. Quem garante é Jesus. Por isso ore sempre! Ore por você e pelos outros. Ore ao Pai em nome de Jesus! Oração Pai celeste, peço-te que abençoes a mim e a todos os leitores desta mensagem. Fortalece a nossa fé e ajuda-nos a fazer a tua vontade. Que também nós saibamos ensinar a orar e compreendamos a tua resposta à nossa oração. Amém. Pai Nosso

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Orar com o coração Mateus 6.7

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rar com a boca e com o coração. Esta me parece ser a melhor maneira de entender o que Jesus quis dizer no texto bíblico acima referido. Por um lado, não é a quantidade de palavras que proferimos que fará com que Deus ouça nossa oração, mas a intenção e a fé que acompanham nossas palavras. Por outro lado, não é a forma que usamos que determina o efeito de uma oração. Podemos usar palavras livres, podemos usar versículos da Bíblia que são orações, podemos nos valer de orações que outros deixaram registrados em livros e devocionários. Devemos, sim, orar com o coração. Jesus mesmo ilustra como ele entendia a oração que vinha apenas da boca e não do coração: “não fiquem repetindo o que já disseram”. Será que podemos concluir dessas palavras de Jesus que nunca devemos usar orações que se repitam, quer dizer, se oram mais vezes? Com certeza, não foi esta a intenção de Jesus e também não foi a interpretação que Lutero trouxe sobre a oração. Quando os discípulos de Jesus lhe pediram “ensine-nos a orar” (Lucas 11.1), ele respondeu com a oração do Pai nosso, dizendo: “orem assim”. Lutero disse: “De manhã, quando te levantas... dize o Credo e o Pai nosso. Se quiseres, podes dizer mais esta pequena oração...” (esta oração pode ser encontrada na parte final do Hinário da IECLB – Hinos do Povo de Deus). Tanto o Pai nosso de Jesus, quanto a “oração da manhã” de Lutero, fazem parte da tradição, e nos pedem que oremos com a boca e com o coração. O mais importante não parece ser se a oração é livre ou repetida, proferida no silêncio do quarto ou em grupo, no altar ou nos bancos da igreja. Importa, acima de tudo, que ela seja feita de coração. Este é o ensino. Oração Senhor! Mesmo que já tenhamos orado muito em nossa vida, sempre precisamos pedir de novo que nos ajudes a te procurar de coração e não apenas com nossos lábios. Ouve nossa oração. Amém. Pai Nosso


Oração e ação Isaías 38.1-9

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Rei Ezequias está muito doente e às portas da morte. O profeta Isaías vai visitá-lo, mas não tem palavras de conforto e de esperança. Pelo contrário, a palavra do profeta é dura: “Ponha suas coisas em ordem porque você não vai sarar. Apronte-se para morrer” (v. 1). Mesmo não sendo uma boa notícia, pelo menos, foi uma maneira diferente de encarar a morte. Alguns até diriam: que bom se pudéssemos ter um aviso desses, dando-nos tempo para “pôr nossas coisas em ordem, antes de morrer”. Este fato nos poderia fazer pensar em acomodamento, aceitação e resignação passiva. Não foi, porém, o que aconteceu. O rei reage. Ele ora, chora e confia (vv. 2 e 3). Já conhecia a máxima da fé: “oração e ação”. Ele pensa no chamado de Deus. Pensa no que ainda poderia e deveria fazer. E ouve a resposta: “Vou deixar que você viva mais quinze anos. Livrarei você... e defenderei esta cidade” (v. 20). Lutero, na explicação do Pai nosso no Catecismo Menor, inclui “superiores piedosos e fiéis, bom governo... paz, saúde, disciplina, honra, leais amigos, vizinhos fiéis e coisas semelhantes” como parte do “que significa o pão nosso de cada dia”. Que povo não gostaria de ter um governante como Ezequias, com uma visão clara de sua função e dependente de Deus em suas decisões? Temos, portanto, em dois momentos muito diferentes da história humana, exemplos de que a oração nos torna parceiros de Deus, quer seja nas questões simples do dia-a-dia, quer nas de maior relevância. Os parceiros de Deus não têm o poder de fazer o que compete a Deus. Eles, porém, sabem em quem confiam e, ao fazê-lo, descobrem que orar é colaborar com o governo de Deus. Oração Senhor! Agradecemos que tu, que poderias fazer tudo sozinho, preferes contar conosco. Queres que lutemos pela vida, confiando na tua ação, através de nossa oração. Lembra-nos sempre disso. Amém. Pai Nosso

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Mantendo o equilíbrio 2 Tessalonicenses 3.10

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rar e agir – este é o tema do texto bíblico sugerido acima. Em continuidade, o apóstolo Paulo exorta alguns cristãos “preguiçosos, que não fazem nada e se metem na vida dos outros” (2 Tessalonicenses 3.11). Parece que a falta de equilíbrio na maneira como vivemos é um velho problema, porém cria sempre novas formas e características de se manifestar em diferentes épocas. No tempo do apóstolo Paulo, cristãos se escondiam atrás da esperança da volta de Cristo, para não trabalharem e criarem confusão na vida alheia. Paulo lhes recomenda “equilíbrio”. Martim Lutero exorta o povo de sua época, dizendo: “ore como se você não soubesse trabalhar e trabalhe como se não soubesse orar!” Lutero recomenda, pois, “equilíbrio”. E em nossos dias? Não vivemos, também nós, o perigo dos extremos? Nossa história mais recente nos tem mostrado os estragos que este extremismo pode fazer. Os inúmeros atentados provocados por religiosos fanáticos e os suicídios coletivos são apenas alguns exemplos. Nos casos mais próximos de nossa realidade, alguns insistem em viver uma piedade individualizada, como se tudo pudesse ficar ao “Deus dará”. Dizem que o que interessa é estar “de bem com Deus”. Outros insistem em mostrar a força e a capacidade do ser humano, num ativismo desenfreado e sem rumo, na base do “cada um por si e Deus por todos!”. Todo o extremo é perigoso. Não me parece ser esta a intenção de Lutero quando propõe: Ora e trabalha. Sua recomendação vai num outro sentido: “mantenham sempre o equilíbrio”, o que, aliás, é a única maneira de alguém continuar de pé. Oração Senhor! Como gostamos de mostrar nossa espiritualidade, às vezes até, para fugir da ação. Outras vezes, Senhor, nos mostramos tão ocupados e fugimos da oração. Ajuda-nos a achar o equilíbrio. Amém. Pai Nosso


Pai! Romanos 8.15

V

ocê já pensou sobre aqueles que têm um deus que não fala nem ouve? Os fiéis podem cantar e gritar a exemplo dos adoradores de Baal (1 Reis 18.26), e nada de resposta. Com o nosso Deus é diferente, ele fala e ouve. Ele entrou no tempo, se fez História, e falou. E quando ele fala, está agindo. Foi assim que as coisas começaram: “Então Deus disse: Que haja luz! E a luz começou a existir” (Gênesis 1.3). Deus falou e as coisas aconteceram. O Criador se revelou como o Deus da vida que, num ato de amor, criou a mim e a todas as criaturas. Mas, o pecado nos distanciou do Criador e interrompeu o nosso diálogo com ele. O medo, a desconfiança e o orgulho tomaram conta dos nossos corações e perdemos a coragem de falar com Deus e, muito menos, nos atrevemos de chamá-lo de “Pai”. Aí Deus retomou o diálogo. De maneira clara e indispensável, ele falou e revelou sua vontade salvadora para conosco em seu Filho Jesus, que nos ensinou a chamá-lo de Pai. Em Cristo, fomos adotados como filhos queridos. O apóstolo Paulo, por isso, afirma: “Porque não recebestes o espírito de escravidão, para viverdes, outra vez, atemorizados, mas recebestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai”. “Aba” é uma palavrinha aramaica que significa “papai querido”, assim como “Ima” significa “mamãe querida”. “Aba” era uma das primeiras palavras que a criancinha aprendia a dizer quando se referia ao seu pai. Por isso mesmo, é uma palavra de intimidade, de confiança e amor. Ao permitir chamá-lo de “Pai querido”, o Senhor do universo nos incentiva a conversar com ele e a colocar diante dele todas as nossas ansiedades, porque ele tem cuidado de nós. Oração Querido Pai, ensina-me a falar contigo com toda a confiança como um filho amado fala com o seu querido pai. Por Jesus. Amém.

Pai Nosso

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Querido Pai Isaías 66.13

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ma pesquisa revela que “Na virada do século, quase 50% das crianças poderão estar indo para a cama sem ganhar um beijo de boa-noite do papai” (Seleções Reader’s Digest, maio/1997). O artigo também estabelece uma hipótese assustadora sobre os efeitos dessa ausência na educação dos filhos: “Para uma criança, a ausência moderna e voluntária (do pai) é, sem dúvida, pior do que a própria morte”. Se a ausência de um pai provoca tamanho estrago na vida de uma pessoa, parece ser arriscado aplicar a figura de um pai biológico ao Eterno Deus para retratar o seu amor por nós pecadores. Para muitos, a figura do pai pode evocar experiências amargas e, então, a mensagem do amor paterno de Deus fica totalmente distorcida. Quem sabe, é devido a essa dificuldade moderna que Deus, em Isaías 66.13, retrata seu amor paterno comparando-o ao amor de mãe: “Como a mãe consola o filho, eu também consolarei vocês”. Em todo caso, a figura do pai, aplicada a Deus, não é a do pai nem a da mãe que abandona seu filho. A figura usada é a do pai que ama e se sacrifica pelo filho. Este foi um dos aspectos importantes da redescoberta do Evangelho, feita por Lutero. Baseado na redescoberta de um Pai que ama, Lutero ensina na explicação da introdução à oração do Pai nosso: “Deus quer atrair-nos carinhosamente com essas palavras... a fim de que lhe roguemos sem temor, com toda a confiança, como filhos amados ao querido pai”. Deus não é rancoroso, mas querido, amoroso, – uma muralha contra o mal, que nos salva e protege. Dele podemos esperar todo o bem. Afinal, quem nos amou de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, não nos protegerá de todo mal? Oração Querido Pai, prometeste consolar-me como uma mãe consola seu filho. Peço-te que o meditar em tua Palavra me dê a certeza de que me seguras no teu colo e me aqueces com o teu amor. Por teu Filho Jesus. Amém. Pai Nosso


Pai nosso que estás nos céus Efésios 3.20

N

ossas orações geralmente lidam com nossos sonhos de cura, de emprego, de realizações, de felicidade. Nossos sonhos apresentam, pelo menos, três possibilidades: as prováveis, as preferíveis e as possíveis. Se continuarmos vivendo do mesmo jeito de agora, teremos um futuro provavelmente igual ao presente. Portanto, devem nos interessar as outras possibilidades de futuro: as coisas possíveis e preferíveis. O futuro das coisas preferíveis é de menos riscos. Podemos, sem dúvida, optar por ele. E o futuro das coisas possíveis o que é? Esta pergunta implica descobrirmos nossos limites, possibilidades e grau de persistência. Precisamos arriscar mais. Aí pode acontecer conosco o que falaram de alguém: “Ele não sabia que era impossível, por isso foi e fez”. O texto de referência bíblica acima parte de um contexto em que o apóstolo Paulo estimula à oração. Podemos nos dirigir ao nosso Pai que está nos céus. Não está na terra, não é limitado como nós, mas está no céu. Sabe muito melhor do que nós o que nos convém, antes mesmo de lhe pedirmos. Para termos um futuro provável, é só continuarmos vivendo do mesmo jeito que estamos vivendo. Se, no entanto, nos arriscamos por um futuro possível ou preferível, nossos sonhos deverão ter a perspectiva de uma vida mais útil, de um mundo menos injusto, de uma Igreja mais solidária. Afinal, esta é a marca do Senhor Jesus, que fez o impossível para que nosso futuro fosse possível; ele trouxe o céu para a terra. Por isso, podemos orar ao poderoso e eterno Deus, o Pai nosso que está nos céus. Com a sua ajuda podemos fazer muito mais do que pedimos ou sonhamos! Oração Pai nosso que estás nos céus, és poderoso para fazer muito mais do que tudo quanto peço ou penso. Fortalece-me com o teu Espírito para que meus sonhos projetem uma vida mais útil, de louvor a ti e serviço ao próximo. Por Jesus Cristo. Amém. Pai Nosso

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Falar com Deus Mateus 6.9-13

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om carinho, lembro-me do meu tempo de seminário e das aulas de geografia. O professor nos levava, de noite, para o pomar onde estava bem escuro. Ainda o vejo, com o dedo apontando para o alto, mostrando-nos a localização das diferentes estrelas, de constelações e de outros astros. E, sempre que isso acontecia, eu ficava maravilhado com a grandeza do universo e com quão pouco nós somos diante desta grandiosa obra de Deus. E, com lágrimas de alegria no rosto, eu exclamava, em silêncio: se o universo é tão vasto, como Deus deve ser grande! O mais grandioso, porém, é que este Deus se preocupa conosco e nos ama de verdade. Cada um de nós ocupa um lugar muito especial no seu coração. Isto nos deveria levar sempre à oração. Orar, nada mais é do que uma troca de amor, é ter contato, diálogo com Deus, conversar com ele, assim como um filho fala com o seu pai. E quem chama Deus de Pai, identifica-se com ele não só em pensamentos e palavras, mas também no amor que procura todas as pessoas. Jesus, ao ver a miséria humana, orava. Passava horas a fio, noites inteiras em oração. Muito mais motivos nós temos para procurar Deus em oração, pois assim, “Deus quer atrair-nos, carinhosamente, para crermos nele e lhe roguemos sem temor e com toda a confiança” (Lutero). Orar é colocar a vida diante de Deus: apresentar-lhe as alegrias e tristezas, o sucesso e a frustração. Pois a verdadeira oração fala tanto das coisas espirituais como das materiais. Por isso, a oração sempre tem a ver com a nossa vida. Quem estende a sua mão em oração não pode ficar de braços cruzados. Toda a nossa vida quer ser uma resposta ao amado Pai! Oração Nosso Pai, obrigado que podemos falar contigo. Dá com que possamos ser uma pequenina luz que reflete um pouco da tua luz para dentro deste mundo escuro. Amém. Pai Nosso


Os braços compridos de Deus 1 João 3.1

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adiante de alegria, a menina correu para o pai, com um papel na mão: - Papai, olha só o que eu desenhei! O pai olha a “obra de arte” da filha, mas não entende bem o significado do desenho: ao pé da folha ela desenhara uma porção de rabiscos, um perto do outro; e, mais acima, estava um vulto bem grande, com braços enormes, estendidos para baixo. - O que é para significar isto, perguntou o pai. A menina procurou explicar o desenho: - Aqui, em baixo, estas pequenas linhas são as pessoas, somos nós. E este grande, ali em cima, é Deus. - Mas este teu Deus parece meio desengonçado e desproporcional. Eu nem acho ele muito bonito. Seus braços são compridos demais, retrucou o pai. - Mas papai, disse a filha um pouco chateada, exatamente aí está a beleza de Deus. Porque, para alcançar e abraçar todas as pessoas, ele precisa ter braços muito, muito compridos! O pai deu um beijo na filha e afastou-se um pouco envergonhado, pois tinha recebido um sermão muito profundo através de um simples desenho de criança: como poderíamos chamar o poderoso e eterno Deus de pai, se ele não tivesse braços compridos, com os quais ele quer abraçar a cada pessoa, seja ela rica ou pobre, idosa ou jovem, e lhe demonstrar o seu imenso amor! Quando Jesus ensina o Pai nosso, ele quer mostrar que Deus é muito maior do que nós podemos imaginar. Mas que ele, mesmo assim, “é o nosso verdadeiro Pai”, no qual podemos confiar sempre, e “que quer atrair-nos carinhosamente” e que somos “os seus verdadeiros filhos, para que lhe roguemos sem temor” (Lutero). Oração Senhor, faze-me confiar em ti, assim como um filho confia no pai que ama. Amém.

Pai Nosso

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Olhar no coração do Pai Efésios 3.14-15

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uando rezamos o Pai nosso, podemos olhar no coração de Deus. E encontramos aí o calor da proteção que tanto procuramos neste mundo e em nossa vida. Deus é o nosso Pai e não um dominador poderoso ou um juiz implacável. Assim como um pai ou uma mãe tem amor por seus filhos, assim também Deus nos ama (Salmo 103.13). Ele também não é um Deus distante, misterioso e mal-humorado. Ele não só nos deu a vida, mas também cuida de nós com amor e carinho. E quando nos desviamos e entramos em dificuldades, ele nos segue com amor, para chamar-nos de volta. Ele sempre nos convida para voltar para ele e viver na sua presença. Deus é o nosso Pai e não apenas o meu Pai. Observem que oramos no plural e não no singular. Com isso estamos dizendo que somos irmãos. E entre irmãos vive-se em união, uns ajudando os outros. Quando dizemos “Pai nosso”, incluímos todas as pessoas, e esta é a vontade de Deus, pois ele deseja que todos sejam felizes e estejam com ele (1 Timóteo 2.4), os grandes e os pequenos, os fortes e os fracos, os jovens e os velhos. O Pai nosso é a oração universal e ecumênica por excelência. Em toda a parte, nos mais diferentes povos e nas mais diversas igrejas cristãs – mesmo que nem sempre exista a mesma opinião em assuntos controvertidos – reza-se esta oração. Quem sabe, quando rezarmos de novo o Pai nosso, daremos uma olhadinha para ver quem está sentado ao nosso lado. Eles são nossos irmãos. Que tal repartir com eles a alegria, a fé, o amor, a esperança e o pão. Isto é coisa de cristão. Isto é coisa de quem reza o Pai nosso, pois rezá-lo significa dizer às pessoas que estão ao nosso lado: “Deus é o nosso Pai e vocês são os nossos irmãos!” Oração Senhor Deus, obrigado por seres o nosso Pai. Faze-nos sermos irmãos de verdade. Amém.

Pai Nosso


Deus e o nome de Deus 2 Samuel 7.13

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urante o êxodo, ou seja, a viagem do povo de Israel pelo deserto, em direção à terra prometida, Deus comunicou a sua vontade, no monte Sinai, dando-lhe os Dez Mandamentos. Entre eles, o Segundo Mandamento se refere ao nome de Deus e estabelece: “Não tomarás em vão o nome do Senhor”. O primeiro pedido da oração que Jesus ensinou, o Pai nosso, suplica: “Santificado seja o teu nome”. A referência bíblica acima propõe: “Este edificará uma casa ao meu nome...”, referindo-se à construção do Templo de Jerusalém. Em diversas passagens bíblicas usa-se a expressão “nome de Deus”. Em verdade, nome de Deus e Deus são a mesma coisa. Temos dificuldade para dizer quem e o que é Deus. Estamos diante de um ser, de um nome absolutamente supremo. Deus é. “Eu sou o que sou” (Êxodo 3.14). É assim que Deus se apresenta a Moisés. “Deus é Espírito” (João 4.24). Deus é e existe de si e por si. Todos os demais seres têm sua existência de Deus e em Deus. Por sermos criaturas limitadas, não podemos entender esse mistério de um Deus infinito. Por isso, a Bíblia, muitas vezes, fala de Deus, citando braços, mãos, face, nome... São jeitos de falar de Deus, adaptados à nossa mentalidade finita. Assim, quando falamos: “Santificado seja o teu nome”, em verdade, estamos querendo dizer: “que tu, Senhor, sejas santificado”. Somente na consumação deste mundo, poderemos ver Deus como ele realmente é e não precisaremos mais recorrer a símbolos. Por isso, tenhamos sempre no coração o que registra o apóstolo João, no penúltimo versículo da Bíblia: “Certamente venho sem demora. Amém. Vem, Senhor Jesus” (Apocalipse 22.20).

Oração Ó minha alma, louve ao Deus Eterno! Que todo o meu ser louve o seu santo nome! Ó minha alma, louve ao Deus Eterno e não se esqueça de quanto ele é bom. O Eterno perdoa todos os meus pecados... e me abençoa com amor e bondade. Amém. (Salmo 103.1-4) Pai Nosso

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Mistério maravilhoso: Deus é santo! Isaías 6.3

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eus é santo em si mesmo. Ser santo é um tributo essencial de Deus. Faz parte da sua natureza, assim como ser eterno, onipotente, onipresente, todo-poderoso, onisciente, justo, verdadeiro, bondoso, misericordioso, gracioso. Deus é santo, ou seja, absolutamente puro, sem pecado, absolutamente diferente de tudo o que temos e somos. Nada que é mau, fingido, imperfeito, pode chegar perto dele: “Sejam santos, pois eu, o Eterno, o Deus de vocês, sou santo” (Levítico 19.2). A santidade de Deus só quer o que é justo e bom. Ela se caracteriza por sua majestade e glória, exaltadas acima de todas as coisas criadas. A referência bíblica acima enfatiza a santidade de Deus, repetindo três vezes: “Santo, santo, santo é o Eterno, o Todo-poderoso; a sua presença gloriosa enche o mundo inteiro!” Isto, por um lado, nos leva a nos prostrarmos perante sua face, em humildade e reverência. Diante da santidade, Moisés foi solicitado a tirar as sandálias: “... tira as sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é terra santa” (Êxodo 3.5). Deus é santo, infinitamente acima de tudo que somos como pessoas. No entanto, mesmo assim, a partir de Jesus, somos convidados a nos aproximarmos de Deus. O Cordeiro de Deus estabeleceu a paz entre o santo Deus e o ser humano limitado e pecador. O apóstolo Paulo confortava a si e aos seus amados de Éfeso, assim como conforta a nós, com a certeza: “Deus fez isso de acordo com o seu eterno propósito, que ele completou por meio de Cristo Jesus, o nosso Senhor. E assim... nós temos a liberdade de entrar com toda a confiança na presença de Deus” (Efésios 3.11-12).

Oração Santo, santo, santo, santo és tu, Senhor! Santo, santo, santo, santo é teu amor. Glória e majestade enchem terra e céu. Ricas bênçãos manaram do bondoso Deus. Perdoa-nos, guia-nos, salva-nos. Amém. Pai Nosso


Tornar santo o nome de Deus – como? 1 Timóteo 4.6-10

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nome de Deus, na verdade, é santo por si mesmo. Mas suplicamos nesta petição que também se torne santo entre nós” (Lutero). É tão importante, na caminhada da vida, que a teoria seja acompanhada da prática, que o falar seja acompanhado do agir, que a linguagem não-verbal seja coerente com a linguagem verbal. A incoerência põe em dúvida toda a seriedade de uma pessoa e causa mal-estar. A coerência, porém, cria um ambiente agradável e favorece a vida. Que o digam as crianças que se sentem bem e seguras, ao perceberem que, na prática, acontece aquilo que os pais falam. Que o digam os namorados e casais, ao sentirem, na convivência diária, o amor confessado em palavras nos momentos especiais. Que o digam os governados ao viverem tranqüilos, liderados por governantes coerentes com seus discursos pré-eleitorais. “... que o nome de Deus se torne santo entre nós” – como? Uma das formas de isso se tornar realidade é a coerência entre aquilo que dizemos e fazemos. Segundo Lutero, santifica-se o nome de Deus entre nós “quando a Palavra de Deus é ensinada de forma genuína e pura, e nós, como filhos de Deus, também vivemos uma vida santa, em conformidade com ela. Para isso nos ajuda, querido Pai do céu! Aquele, porém, que ensina e vive de modo diverso do que ensina a Palavra de Deus, profana o nome de Deus entre nós; guarda-nos disso, ó Pai celeste” (Lutero). A fonte da nossa coerência está no santo Deus. Buscando na sua Palavra a força para a nossa vida, ele próprio é santificado e o mundo em nossa volta é beneficiado. Ganha Deus, ganhamos nós e ganha o nosso próximo. Por isso: “santificado seja o teu nome, Senhor!” Oração Amado Pai celestial, obrigado por nos levares a sério. Ajuda-nos a termos uma vida santa, coerente no pensar e no agir, para sempre só falamos e fazemos tudo em função daquilo que o coração está cheio. Por Jesus. Amém. Pai Nosso

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Pregação pura da Palavra João 17.17

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a explicação da primeira prece do Pai nosso, Lutero propõe que uma das formas de santificar o nome de Deus é “quando a Palavra de Deus é ensinada genuína e puramente”. Quando e em que circunstâncias acontece a pregação genuína e pura da Palavra de Deus? Cada pessoa que anuncia a Palavra, acredita que o está fazendo da forma mais correta e verdadeira possível. Não existe apenas um único método de explicar a Bíblia. Ela pode ser interpretada e lida de diferentes jeitos. Um pai estava muito triste porque descobrira uma seringa no armário do seu filho, com a qual, possivelmente, injetava drogas em suas veias. Desesperado, procurou ajuda na Bíblia. Abriu-a a esmo e deparou-se com a seguinte orientação: “Tudo o que vem de fora e entra em alguém não o faz ficar impuro, mas o que sai dele é que pode fazê-lo ficar impuro” (Marcos 7.15). Mas, como entender essa orientação de Jesus? Será que, de fato, a droga que entra no corpo do filho não lhe faz mal? Jesus é favorável às drogas? Vejam, assim não dá. Pinçar um versículo do meio da Bíblia e interpretá-lo como solução para os nossos problemas não é uma interpretação pura da Palavra. Essa foi uma forma subjetiva, adaptada à situação pessoal daquele pai que ouviu o que queria ouvir e não o que a Palavra de Deus realmente queria lhe dizer. Lutero propõe que a forma correta de interpretar a Palavra é a “que promove a Cristo”. E o que promove a Cristo? É tudo aquilo que promove vida, verdade, paz, amor, solidariedade. E este é o critério mais importante: se Cristo é promovido e é o centro da nossa interpretação, a Palavra de Deus está sendo pregada genuína e puramente. Oração Querido Deus, desde crianças procuramos conhecer a tua Palavra. Sabemos que somente ela nos mantém no caminho da santificação. Ajuda-nos para que permaneçamos firmes na fé naquele que é o caminho, a verdade e a vida. Amém. Pai Nosso


Santificar através de palavras e ações Lucas 6.46

U

ma das coisas que me alegra é ver crianças pequenas orando o Pai nosso. Junto com a aprendizagem das palavras, elas aprendem a amar a Deus e a santificar o seu nome. Feliz é quem ajuda uma criança a louvar a Deus através de cânticos e orações. A criança tem uma sensibilidade muito grande para perceber se as palavras do pai, da mãe, do padrinho, da madrinha, do avô ou da avó são coerentes; se, de fato, acreditam e vivem aquilo que estão ensinando. Se as palavras que saem dos lábios não estão de acordo com aquilo que é praticado, a criança rejeita o que não for verdadeiro. E com isso, ela está cumprindo, mesmo de forma inconsciente, aquilo que Jesus disse ao povo: “Por que vocês me chamam de ‘Senhor’, ‘Senhor’ e não fazem o que eu digo?”. Viver uma vida coerente entre palavra e ação, esta é uma forma de santificar o nome de Deus, segundo propõe a primeira prece do Pai nosso. Neste sentido, explica Lutero: santificamos o nome de Deus, quando “também vivemos uma vida santa, em conformidade com ela (a Palavra de Deus)”. A comunidade cristã aprendeu com Jesus, através da oração do Pai nosso, que o nome de Deus deve ser santificado, apesar dele, por si só, já ser santo. Por isso, desde pequenas, as crianças são educadas no sentido de amar a Deus e ao próximo. Falta de amor, mentiras, injustiças, falsidade, desigualdade social, afastam o ser humano do caminho da santificação do nome de Deus, pois são palavras e ações que não correspondem à sua vontade. Que todos nós possamos confessar de boca cheia que “O seu nome é santo” (Lucas 1.49b), como fez Maria, após receber com humildade a graça de ser mãe do Salvador Jesus. Oração Querido Deus, permite-nos que teu nome seja santificado a cada dia. Somente assim, conheceremos o caminho da vida, do amor, da solidariedade, da justiça social e da esperança. Fortalece-nos com a força do teu Espírito. Amém. Pai Nosso

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Profanação do nome de Deus Ezequiel 22.16

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uem não conhece pais que se envergonham do comportamento de seus filhos? É especialmente desagradável quando é repetitivo. Deus também se envergonhou dos seus filhos na época do profeta Ezequiel. Havia uma profunda crise moral. Em vez de santificar o nome de Deus, profanaram-no entre as nações. Como faziam isso? No capítulo referido acima, há uma lista de, pelo menos, seis pecados denunciados. Entre eles estão prostituição, idolatria, exploração generalizada, desrespeito aos pais e desamor. Em Êxodo 19.6, alguns séculos antes, Deus falara aos seus filhos, mostrando-lhes o grande objetivo de sua eleição: “... me sereis reino de sacerdotes e nação santa”. Falar das grandes obras de libertação no passado e, principalmente, da promessa do Salvador, nisso consistia o seu compromisso. Israel, no entanto, se desviara dele, profanando, assim, o nome do Senhor. E hoje, estes pecados não continuam a corromper as famílias, a Igreja, o povo e o governo? Por acaso, pecados semelhantes fazem parte da sua vida? Você tem pecados prediletos com os quais convive? Se assim for, você está profanando o nome de Deus. Sem arrependimento não há perdão. Faz-se necessária uma contínua luta contra o pecado da profanação do nome de Deus. Nesta luta, você não está sozinho, mas pode contar com a ajuda do Espírito Santo. Lembre-se do propósito de sua eleição: “... vocês serão minhas testemunhas” (Atos 1.8). “O sangue de Jesus, seu Filho [de Deus], nos limpa de todo o pecado”. Nestas palavras de 1 João 1.7 você encontra o perdão, o consolo, as forças para crescer no caminho da santificação do nome de Deus.

Oração Querido Pai dos céus, agradeço-te pelo grande amor que no dia-a-dia me dispensas. Perdoa-me por ter profanado tantas vezes o teu nome, ajuda-me a santificá-lo! Em nome de Jesus. Amém. Pai Nosso


Santificado seja o teu nome entre nós! Marcos 9.24

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ma coisa que preocupa quando se ora o Pai nosso é a falta de concentração em relação ao sentido das petições. É importante que se saiba o que realmente se está pedindo. Caso contrário, a oração pode tornar-se uma mera recitação. Em duas coisas devemos nos concentrar quando dizemos: “santificado seja o teu nome”. Primeiro, em como o santo nome de Deus está sendo santificado entre nós, em nossas vidas, através da nossa conduta e do uso correto da Palavra de Deus. Importa confiar que, através dela, Jesus se comunica conosco, ajudando-nos, consolando, assim como aconteceu com o pai do menino que possuía um espírito mudo. Este pai, desesperado, certamente havia consultado os sacerdotes, os feiticeiros, procurando ajuda. Finalmente, com a sua fraca fé, dirigiu-se a Jesus: “Eu tenho fé! Ajuda-me a ter mais (fé)!” e logo foi ajudado. Segundo, devemos viver conforme a orientação dessa palavra, vivenciando-a e testemunhando que só Jesus pode ajudar e salvar. Todos sabemos que isto não é tarefa fácil. Ao nosso lado pululam os falsos profetas, os falsos cristos. Estima-se que existam no mundo 1400 pessoas que se dizem Cristo. Só nos Estados Unidos há 800. Depois, todos os dias, na “telinha”, um montão de mestres espirituais se coloca à nossa disposição para ajudar. Basta uma “ligadinha” telefônica! O nome de Deus é santificado entre nós quando em tudo que dizemos e fazemos damos glória unicamente a Deus em Jesus Cristo! Você acha que está santificando o nome de Deus? Você confia em Jesus em todas as circunstâncias? Tenha certeza de que ele está junto de você para ajudá-lo, assim como esteve com aquele pai. Oração Querido Pai dos céus, agradeço-te pelo canal da oração, através do qual posso te agradecer e pedir socorro. Ajuda-me para que o teu nome possa ser santificado em toda a minha vida. Amém. Pai Nosso

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Em tuas mãos me entrego confiante Salmo 9.10

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ntigamente, quando um homem empenhava sua palavra, isso valia. Um fio de bigode servia como uma garantia. Hoje em dia, porém, nada mais é absolutamente garantido. Não se pode confiar cegamente em ninguém. Confiança é artigo escasso entre nós. O motivo é simples: as pessoas não cumprem o que prometem. Marcam um compromisso para determinada hora, mas não estão lá no horário combinado. Dizem que nunca mais irão fazer determinada coisa, e quebram sua promessa. No mundo dos negócios, é pior ainda. Pagamento em cheque requer uma série de garantias, número da identidade, do telefone, nome e endereço completo, que, ainda assim, não são confiáveis em muitos casos. Conseguir um empréstimo no banco é um verdadeiro sacrifício: cadastro de bens, avalista. Compra em crediário nas lojas não é menos complicado. O vendedor se cerca de todas as garantias: além dos dados já mencionados, ainda consulta o Serviço de Proteção ao Crédito para se certificar que o comprador ou a compradora não tem débitos pendentes na praça. Uma lista interminável de exigências mostra o quanto a nossa palavra vale pouco. O único porto seguro para a confiança está junto a Deus. Suas promessas valem. Ele nos ajuda sempre. Seu projeto de salvação para conosco continua em plena vigência. Quando lhe dirigimos a nossa súplica, não precisamos pedir o número de sua identidade, o CPF ou o endereço completo. A santidade do nome de Deus é a garantia que precisamos. Podemos confiar nele, porque ele cumpre o que promete. O testemunho bíblico desperta nossa confiança em Deus, porque ele jamais deixou suas promessas sem cumprimento.

Oração Tu és meu porto seguro, Senhor! Em meus descaminhos, tu me conduzes pela mão. Em minhas angústias, tu me amparas. Em minha falta de confiança, tu és praia de areias firmes. Em tuas mãos deposito a minha vida, porque santo é o teu nome e digno de confiança. Amém. Pai Nosso


Tu me proteges, Senhor Provérbios 18.10

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mundo que nos cerca, não oferece segurança. Há muito terreno escorregadio, lugares pantanosos, buracos traiçoeiros e abismos insondáveis ao nosso redor. É uma característica inata de todo ser vivo procurar um lugar que lhe dê segurança. Parece uma questão de sobrevivência. Também o ser humano precisa de um lugar assim. Por isso, um sentimento de pátria, lar, espaço só nosso, nos invade quando encontramos este lugar seguro. É bem verdade que há muitos lugares nesse mundo que nos dão uma falsa sensação de segurança. Isso é assim, quando depositamos nossa confiança sobre coisas que, na realidade, não nos oferecem segurança alguma. Poderíamos aqui iniciar uma lista bastante longa de coisas dessa natureza. Por exemplo, muitos sentem-se seguros somente quando têm uma conta bancária confiável, que lhes permita um sono sem sobressaltos (Provérbios 18.11). Sentem-se guardados quando vivem numa casa bem murada e cercada por todos os modernos equipamentos de segurança. Para prevenir contra arrombamentos, que aumentam a cada dia que passa, o alarme instalado nas casas dá uma sensação muito forte de segurança e proteção. Outros, por serem famosos, andam sempre cercados por uma legião de guarda-costas. A verdadeira segurança, porém, não está em nenhum destes artifícios criados por pessoas. Ela é experimentada por quem deposita sua confiança em Deus. É para esta “torre forte” que vão os que querem sentir segurança de fato. A proteção de Deus nos livra de todas as angústias. Ela nos dá a sensação de “pátria encontrada” que somente um lugar absolutamente seguro pode nos fazer sentir.

Oração Pai! Tu és pátria para os despatriados, abrigo para os desabrigados, amparo para os desamparados. Em teus braços sinto-me em casa. Carrega-me! Que eu possa sentir a segurança verdadeira que está ligada ao teu santo nome. Amém. Pai Nosso

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O poder que liberta Jeremias 10.6

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palavra “poder” não desperta bons sentimentos em nós. Ela lembra desmandos, falcatruas, abusos e injustiça. Na história da humanidade, a relação do ser humano com o poder, quase sempre, foi problemática. Assim foi no passado e assim continua sendo. Quanto mais alguém mandava, tanto mais pessoas sofriam. A maioria sempre sofreu e continua sofrendo debaixo do poder de poucos poderosos. A minoria, que detém o poder, abusa dele para alcançar seus objetivos escusos e vantagens próprias. Via de regra, ele nunca foi usado para libertar ou para servir a maioria. Em suma, poder lembra autoridade e uso da força, coisas sob as quais sofremos e contra as quais nada podemos. Quando falamos do poder que há no santo nome de Deus, precisamos olhar esta palavra de um ângulo completamente diferente. O poder de Deus não tem nenhuma relação com este tipo de abuso. Enquanto o poder humano beneficia somente alguns, o poder de Deus traz salvação para toda a humanidade. Enquanto o poder humano destrói, o poder de Deus é criador, moldando do nada tudo o que existe. Enquanto o poder dos homens subjuga e oprime, o poder de Deus liberta. Enquanto o poder dos homens se evidencia nas armas e na força, o poder de Deus se revela na fraqueza e na aparente derrota da cruz de Gólgota que, no entanto, venceu o poder maior da morte, no Domingo de Páscoa. O poder de Deus não é um poder distante e alheio a nós. Ele nos alcança em meio ao nosso dia-a-dia e o transforma. Afasta o sofrimento, devolvendo a serenidade e o sorriso ao nosso rosto. O poder de Deus é amoroso, cheio de paz e de justiça. Cada um de nós pode senti-lo pessoalmente em sua vida. Oração Todo poderoso Deus! O teu poder me dá uma incrível sensação de serenidade, porque sei que nenhum poder terreno é eterno. Tu és o Senhor da História, e tens tudo nas tuas mãos. Obrigado, Pai, porque sei que em ti está a salvação. Amém. Pai Nosso


O Reino de Deus é muito bom Gênesis 1.32

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qualidade daquilo que vem de Deus é sempre a melhor possível. O mundo, obra de suas mãos, era muito bom, conforme o testemunho bíblico. Pois de Deus vêm também outras coisas, sendo o seu Reino uma delas. Pela vinda deste Reino nós oramos na segunda prece do Pai nosso, dizendo: “Venha o teu Reino”. Suplicamos, portanto, por algo de qualidade insuspeita, pelo Reino de Deus, que vem dele, traz consigo a garantia de ser muito bom. Além dessa garantia, lembremos ainda de perguntar se: - Haverá algo melhor do que estar libertado do poder do Diabo, do pecado, da má consciência e da condenação eterna? - Poderá existir situação melhor do que estar debaixo do governo do Deus todo-poderoso, santo e amoroso? - Será possível achar maior consolo e esperança do que os que brotam da certeza de ser herdeiro daquilo que é de Deus, mas foi colocado à nossa disposição? Nossa prece, portanto, não é “uma esmola ou algum bem temporal passageiro, mas um tesouro eterno, excelso, e tudo aquilo de que o próprio Deus dispõe” (Lutero). Deus coloca o seu Reino à nossa disposição na pessoa do seu Filho Jesus Cristo. Dessa maneira, ele atende à nossa prece. Aceitando a presença de Jesus na Palavra de Deus unida à água batismal, na Palavra acompanhando o pão e o vinho na Santa Ceia e na Palavra anunciada conforme ele a deixou para nós, somos presenteados com o direito de pertencer ao seu Reino, onde tudo é muito bom, porque está livre da contaminação do pecado. Que extraordinário presente, não é verdade?

Oração Suplicamos, ó Senhor, que o teu Reino continue vindo a nós e que o teu Santo Espírito nos fortaleça na certeza de que o teu Reino vem somente com o teu Filho e nosso Salvador Jesus Cristo. Em nome de Jesus. Amém. Pai Nosso

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João Batista anunciava o Reino de Deus Marcos 1.15

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hegou a hora, e o Reino de Deus está perto”, dizia Jesus aos moradores da Galiléia. Primeiramente, João Batista havia anunciado que o Reino de Deus viria. Após a prisão do Batista, o povo ouviu de Jesus uma palavra um pouco diferente, porém melhor ainda que o anúncio de João: “Chegou a hora, e o Reino de Deus está perto”. Não havia mais o que esperar, porque lá estava Jesus e, com ele, ou então, nele, todos encontrariam o Reino de Deus. Trazendo o seu Reino para perto dos homens, Deus revelou seu amor imenso pela humanidade. Não é pela ação do homem que o Reino de Deus é encontrado, mas ele vem por obra divina. Foi trazido pelo próprio Deus na pessoa do seu Filho Jesus Cristo. O que espera Deus de quem recebe a graça de pertencer ao seu Reino? “Arrependam-se dos seus pecados e creiam na salvação” é o que aguarda dos homens o Deus que lhes oferece o seu Reino. João Batista foi um anunciador do Reino de Deus. O Espírito Santo revelou-nos que o Reino veio com Jesus e nos convenceu desta verdade. Temos, agora, o privilégio de reparti-la com o nosso semelhante. Não é tarefa complexa. Pelo contrário, é simples o suficiente para ser executada por qualquer cidadão do Reino. Basta dizer que Deus coloca o seu Reino muito próximo de qualquer pessoa, ao oferecê-lo em Jesus Cristo. Anunciar o Reino de Deus é tarefa que ninguém mais além do cristão pode fazer. O resultado dessa ação é glorioso. Façamo-la “a fim de muitos deles, trazidos pelo Espírito Santo, virem ao Reino da graça e se tornarem participantes da redenção, para que desta maneira todos juntos fiquemos eternamente em um só Reino, agora principiado” (Lutero). Oração Senhor, faze de nós anunciadores do teu Reino, pois esta é uma das respostas de gratidão que desejamos levar a ti diante da graça que nos concedeste de herdar o Reino de Deus. Em nome de Jesus. Amém. Pai Nosso


Sinais do Reino de Deus Mateus 11.1-6

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s sinais do Reino de Deus estão presentes na resposta de Jesus. Apontando para eles, Jesus garante a João Batista que o Messias havia chegado. Todos os sinais revelam uma característica muito especial do Reino de Deus. Através deles, descobrimos que ele existe para oferecer misericórdia e socorro a todos que deles necessitam. O Reino de Deus se aproximou dos homens em Jesus Cristo. Por onde ele andava, o Reino estava perto das pessoas. No Reino, ou em Jesus, os cegos passavam a ver; os paralíticos saíam andando; os leprosos voltavam curados; os surdos adquiriam a capacidade de ouvir; os mortos eram ressuscitados e a Boa Notícia do Evangelho era anunciada. A misericórdia divina, portanto, transparecia através de todos os sinais. O Reino de Deus é um reino de misericórdia e socorro! Que maravilhosa notícia! Deus traz o seu Reino para bem perto de nós, a fim de nos alcançar o que mais necessitamos: sua misericórdia e seu socorro. Lá encontramos o sossego para nossa consciência pesada com imensos pecados a acusá-la; lá achamos a esperança da vida diante da assustadora certeza da morte, humanamente sem solução. O Reino de Deus é um reino de misericórdia e socorro! Sendo herdeiros deste Reino e beneficiados por tudo aquilo que nele existe, cabe-nos tornar conhecidos os seus sinais. Isto acontece quando nossos gestos para com o próximo são coerentes com tudo aquilo que recebemos no Reino. Assim, a misericórdia e o socorro alcançarão a outros, pois esta é a vontade do Senhor do Reino.

Oração Senhor Deus gracioso, no teu Reino encontramos o que mais necessitamos. Agradecemos-te muito por tua misericórdia. Faze de nós divulgadores dos sinais do Reino. Assim, a tua misericórdia e socorro chegarão também a outros. Em nome de Jesus. Amém. Pai Nosso

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O Reino cresce por si Marcos 4.26-29

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a vida existem coisas difíceis de explicar, as quais a razão tem dificuldade de entender. Isso acontece também quando falamos sobre Deus e sua presença no mundo, usando conceitos que não fazem parte do nosso dia-a-dia. Jesus fala do Reino de Deus a partir da realidade das pessoas, contando parábolas: “O Reino de Deus é como... ”. E a figura mais usada por ele é a semente! Quem semeia com métodos naturais sabe que, além de preparar a terra, cuidar dela e lançar a semente, nada se pode fazer. A semente tem vida própria. Ela germina, cresce, dá flor e fruto. A ação do homem mencionado na parábola é lançar a semente e colher os frutos. O resto é ação da semente e da terra. Enquanto a terra e a semente trabalham, o homem descansa e dorme. Ele observa a ação da semente, mas não interfere no processo da germinação e do crescimento. Essa é uma linda e profunda parábola. Ela nos ensina que o Reino de Deus vem por si mesmo, sem que possamos interferir na sua dinâmica própria. O que podemos e devemos fazer é pedir a Deus que nos permita participar desse Reino, que ele venha também a nós, que “atue entre nós e junto de nós, de sorte que também sejamos parte daqueles entre os quais o nome de Deus é santificado e seu Reino está em vigor” (Lutero). Participar do Reino de Deus é deixar que a sua justiça nos governe. Nós podemos lançar sementes e cuidar da terra. Mas não depende de nós definir os frutos e a colheita. Jesus nos liberta de nosso stress e da prepotência de pensarmos que a construção do Reino de Deus depende principalmente de nós, e ele nos ensina a termos, após a semeadura, tranqüilidade para descansar e confiança para esperar o dia da colheita. Oração Venha a nós o teu Reino, querido Deus! Permite que te sirvamos na construção do teu Reino de paz e de justiça. Impede todos que querem perturbar esse processo através do mau uso e abuso de poder. Abençoa-nos e guarda-nos do mal. Amém. Pai Nosso


Deus semeia muito! Mateus 13.1-23

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m nossas vidas e comunidades percebemos que, às vezes, não compreendemos a Palavra de Deus, e ela não frutifica em nós e em nosso meio. Jesus nos convida a ver o que se passa conosco. A parábola do semeador e a explicação que Jesus dá para seus discípulos nos ajudam. Afinal, Jesus quer que conheçamos os mistérios do Reino de Deus. A parábola mostra que Deus não economiza semente. Ele semeia muito em muitos lugares. A semente é boa; a terra, nem sempre. Existe a beira do caminho, o solo rochoso, os espinhos e a terra boa. Existem agentes ou fatores que prejudicam e impedem o processo de desenvolvimento da semente: as aves que comem o que cai na beira do caminho, o sol que queima o que fica na superfície da terra, os espinheiros que são mais fortes e sufocam a frágil plantinha. Explicando a parábola, Jesus mostra que, às vezes, o poder do mal arranca e aniquila a boa semente da nossa vida; outras vezes, angústias e dificuldades tornam-se mais fortes que a boa semente recebida com alegria e entusiasmo; outras vezes, as preocupações e o fascínio pela riqueza sufocam a boa semente e, por isso, ela não frutifica. A semente frutifica na terra boa, mas a colheita não é a mesma para cada semente: há sementes que dão mais, outras que dão menos. O importante, porém, é que elas dêem frutos. Assim é com o Reino de Deus. Por isso pedimos a Deus que seu Reino venha para quem ainda não está nele e para nós, que já o recebemos, e que esse Reino nos seja dado também na eternidade (Lutero). A parábola ensina que é necessário resistir ao mal, persistir na Palavra, em meio às dificuldades, e confiar apenas na graça e na misericórdia de Deus. Isso são características para a terra boa, na qual a Palavra de Deus é ouvida, entendida e vivida. Oração Deus, tu que lanças boas sementes em nossa vida e no mundo, obrigado por podermos participar do teu Reino. Faze com que ele cresça e que seus frutos se façam sentir em nossa vida. Remove todos os agentes que buscam impedir a realização do teu Reino. Venha o teu Reino! Amém. Pai Nosso

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Reino de Deus e reino do mundo estão misturados Mateus 13.24-30(36-43)

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omo podem o bem e o mal existir e subsistir lado a lado? Essa é uma pergunta que faz parte da história da humanidade. Jesus tem um jeito especial de abordar a questão, refletindo sobre o Reino de Deus e sobre o Reino do “inimigo”. Os dois reinos coexistem no mundo, mas não foram semeados pelo mesmo semeador. Jesus semeou a boa semente; o Diabo semeou o joio no meio do cereal, enquanto os “filhos do Reino” dormiam. O “inimigo” faz o estrago e se afasta; ele sabe que também a semente ruim tem sua própria dinâmica. Os servos do dono da boa semente querem resolver a questão, arrancando o joio. Com isso, podem até acabar com o mal, mas correm o risco de arrancar também o cereal. Essa é a advertência do dono do campo. Sua proposta é não interferir durante o processo de crescimento produtivo, mas só na hora da colheita. Ajuntar e separar são imagens para o juízo de Deus; fogo e celeiro correspondem a inferno e céu. Lutero sabia da coexistência desses dois reinos. Seus representantes são dois grupos: os “poderosos, gordos e fartos que impedem o pequeno rebanho do teu Reino, (que é) gente fraca, desprezada e insignificante”. Nós sabemos que esses dois reinos coexistem no mundo e na Igreja, pois somos simultaneamente pessoas justas e pecadoras. Jesus ensina que cabe somente a Deus realizar o juízo. Lutero ensina que a nós cabe a tarefa de orar a Deus, pedindo que ele converta “aqueles que ainda precisam tornar-se filhos e membros do teu Reino” e que ele impeça aqueles que usam “seu poder e capacidade para perturbar teu Reino, de sorte que, derrubados de seu trono e humilhados, tenham que parar com isso, amém”. Oração Querido Deus, necessitamos do teu Reino para vivermos de forma digna e feliz. Dá-nos sabedoria e paciência para reconhecermos e cumprirmos a tua vontade nesse mundo. Deixa-nos viver em tua bondade, julga-nos em tua justiça e livra-nos do mal! Amém. Pai Nosso


A seleção compete a Deus Mateus 13.47-50

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uem é pescador sabe que uma rede estendida prende todos os peixes que por ela tentam passar, de acordo com o tamanho permitido pela malha. Quanto à qualidade e tipo de peixe, a rede não tem nenhuma ingerência. Peixes bons e peixes ruins estão misturados. Quem vai selecioná-los é o pescador, depois de levantar a rede. Assim é o Reino de Deus. Por ora, todo mundo pode ser capturado pela rede. No entanto, no final, haverá uma seleção de quem realmente participa e quem não participa do Reino de Deus. E esta seleção quem faz é Deus. Aí não vai depender das aparências, mas da graça de quem seleciona. Isto nos incomoda. Pois, como seres humanos, nós gostamos de ter o poder de decisão. Nós queremos decidir quem pode e quem não pode participar; nós mesmos queremos escalar o time. No entanto, segundo a parábola da rede, este poder nos é tirado das mãos. Que bom! Nós não precisamos escolher e pronunciar a última palavra. Não corremos o risco de cometer injustiças, tão próprias dos seres humanos. A escolha e a decisão cabem a Deus, o Todopoderoso, que conhece os seus “peixes” nos mínimos detalhes. Para nós, basta saber que caímos na malha. Isto nos dá uma esperança muito grande. Desde agora, podemos viver como se pertencêssemos aos escolhidos. Estamos entre aqueles que já podem viver, na fé, a realidade do Reino de Deus. Na segunda prece do Pai nosso, oramos para que muitos peixes caiam na rede “... a fim de muitos deles, trazidos pelo Espírito Santo, virem ao reino da graça e se tornarem partícipes, para que, dessa maneira, todos juntos fiquemos eternamente em um só reino, agora principiado” (Lutero). Oração Querido Deus, através do Batismo tu me capturaste na tua rede. Agora eu te pertenço. Muito obrigado! Fortalece a minha fé na certeza de que eu sou participante do teu Reino eterno, para que eu possa dar testemunho desta verdade. Amém. Pai Nosso

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A potencialidade do Reino de Deus no mundo Mateus 13.31-32

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pequeno grão de mostarda contém, no seu interior, enormes potencialidades. Pela aparência, não se pode avaliar o seu verdadeiro conteúdo. Assim, propõe Jesus, é o nosso mundo em relação ao Reino de Deus. Também aqui, as aparências enganam. Olhando para o mundo, temos a impressão que tudo está irremediavelmente perdido. Os noticiários informam sobre mortes, assaltos, assassinatos, injustiça, guerras e corrupção. Será que, de fato, é só isso que acontece? Não existe nenhum sinal de esperança? Existem sinais de esperança, sim! A imprensa sensacionalista nos viciou a vermos apenas as coisas ruins e negativas. Em verdade, porém, existem muitas coisas boas que merecem ser destacadas. Abra os olhos e veja o que acontece na sua comunidade mais próxima. Quantos gestos de amor acontecem em sua volta?! Os cultos de todos os domingos, o trabalho com crianças, o culto infantil ou a escola dominical, o trabalho social, a creche da sua comunidade religiosa ou política, aquele político sério e honesto que se destaca entre tantos desonestos... O que é tudo isso? Não são, porventura, pequenos sinais do Reino de Deus, sementinhas de mostarda semeadas por Deus para que se desenvolvam e se transformem em enormes árvores? A nossa razão nos diz que tudo está perdido. A fé, porém, propõe que aquilo que o mundo despreza e joga fora, a começar por Jesus Cristo, rejeitado e morto, Deus usa como matéria-prima para a edificação do seu Reino. A fé nos faz voltar a atenção para Deus, que constrói o seu Reino a partir das coisas diferentes, como Jesus Cristo, e quase invisíveis, como o grãozinho de mostarda.

Oração Estou cego, Senhor, para os sinais que tu colocas para mostrar a tua presença entre nós. Perdoa-me por isso! Abre os meus olhos para que eu possa perceber os teus gestos, modestos aos nossos olhos, porém com enormes potencialidades. Amém. Pai Nosso


Participamos na construção do Reino! Mateus 5.13-16

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eus mesmo constrói o seu Reino. É ele que nos faz ver os pequenos sinais do seu Reino no meio dos grandes sinais do nosso mundo conturbado. Qual é a nossa participação na construção do Reino de Deus? “Vocês são o sal para a humanidade (v. 13a). É com essas palavras que Jesus se dirige aos seus discípulos. O sal dá sabor aos alimentos e os preserva de deterioração. Assim, propõe Jesus, são pessoas que têm consciência da sua salvação em Jesus Cristo. A elas é dada a missão de dar sabor a este mundo. Sem o testemunho vivo e concreto dos cristãos, o mundo se torna mais insípido do que já é; ele apodrece, assim como alimentos sem sal. Jesus completa a definição da missão dos discípulos: “Vocês são a luz para o mundo todo” (v. 14a). Se você já tentou caminhar em total escuridão, então você sabe muito bem o que significa andar no escuro. É isso: sem o testemunho dos cristãos, o mundo tropeça no escuro. Por essa razão, o nosso testemunho, por pequeno que seja, é indispensável, pois ele afugenta as trevas e o mundo se torna melhor. Essa é a participação na construção do Reino de Deus daqueles que seguem a Luz do mundo, Jesus Cristo: simplesmente dar testemunho concreto, em palavras e ações. Se não somos como o Sol que ilumina todo o mundo, podemos ser, ao menos, como uma vela que ilumina apenas uma pequena sala. Em tudo isso, porém, importa que seja feito de modo discreto, não para exaltação própria, mas para exaltação e louvor de Deus; que em tudo seja louvado o “Pai que está no céu” (v. 16). Que em cada testemunho nosso, seja ele grande ou pequeno, prevaleça apenas a intenção da segunda prece do Pai nosso: “venha o teu Reino!” Oração Venha o teu Reino, Senhor! Dá-nos o teu Espírito Santo para que as nossas obras sejam coerentes com a tua vontade e sejam um testemunho vivo do teu Reino entre nós. Amém. Pai Nosso

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Aqui e na eternidade João 3.5

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m seu ministério, Jesus mostra a seus discípulos que o Reino de Deus já começou, embora ainda não o tenhamos em sua totalidade. Por isso, importa orar pela sua vinda definitiva. Isto, segundo Lutero, ocorre de duas maneiras: “primeiro, aqui, no tempo, mediante a Palavra e a fé, em seguida, na eternidade, pela revelação (por ocasião da volta de Cristo). Agora, pedimos ambas as coisas: que venha para aqueles que ainda não estão nele, bem como a nós – que já o recebemos – por diário incremento e, futuramente, a vida eterna”. Deus, através de Jesus, veio resgatar não só a você e a mim, mas também toda a criação, integrando a todos e a tudo no seu Reino. Porém, só se participa do Reino através de um novo nascimento: “ninguém pode entrar no Reino de Deus se não nascer da água e do Espírito” (João 3.5). Através do seu Espírito Santo, Deus quer agir em nós, fazer de nós novas pessoas para que possamos estar abertos para o Reino, nas suas diversas manifestações. Quer envolver-nos para que possamos colocar sinais deste Reino no nosso dia-a-dia. Jesus nos ensina a orar e a pedir pela vinda plena do Reino de Deus. Com isso, nós mesmos testemunhamos a esperança por um outro mundo, diferente do nosso, no qual o mal, as injustiças, o sofrimento e a morte estarão definitivamente vencidos. Esta é a esperança que podemos ter. E isto nos impulsiona a não nos conformarmos com o mundo que temos. A partir de Jesus, podemos antecipar sinais deste Reino eterno. Agora é hora de semear fé, esperança e amor no convívio entre as pessoas ao nosso redor. Sem dúvida, Deus quer fazer muito por você e também através de você. Pense sobre isso...

Oração Deus amado: tu nos queres bem. Enviaste-nos Jesus. Ele proclamou o teu Reino. Ajuda-nos a clamar por ele e a envolver-nos mais em sua proclamação, colocando sinais de justiça, paz e amor ao nosso redor. Usa-nos como teus instrumentos. Amém. Pai Nosso


Que venha a nós o Reino de Deus Mateus 6.33

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a oração do Pai nosso pedimos pela vinda do Reino de Deus. “Na verdade, o Reino de Deus vem por si mesmo, sem a nossa prece; mas suplicamos nesta petição que venha também a nós” (Lutero). Ao pedirmos pela vinda do Reino de Deus, estamos nos colocando pessoalmente como dependentes da misericórdia e do amor de Deus, que quer o bem, a vida e a salvação de todos. Que venha a nós o Reino de Deus! – esta é uma súplica ensinada por Jesus. Que venha o Reino de Deus para dentro de um mundo que rejeita a Deus e o semelhante. Em relação a este mundo, Jesus tem algo a propor e a ensinar: no lugar da rivalidade, ele propõe justiça e paz; no lugar da violência, ele propõe amor e perdão; no lugar da mentira, ele propõe verdade; no lugar da arbitrariedade, do domínio e da opressão, ele propõe humildade e serviço. No Reino de Deus há lugar para todos. Quem participa dele, aceita Deus como seu Senhor e, em conseqüência, coloca-se ao lado do semelhante a serviço do bem, da verdade, da justiça, da vida. Dessa forma, as promessas de participação no Reino já começam a ser vividas agora. Olhe para suas mãos, seus pés, seus dons. São dádivas de Deus. Mas será que você não usou tempo demais para envolver-se consigo mesmo? Deus tem poder para implantar o seu Reino sozinho. Porém, ele quer que você participe dele e sinta o seu amor e a sua graça. De que forma Deus quer que você, pessoalmente, sinta a presença do seu Reino? Que sinais ele quer colocar através de você para que outros possam sentir a sua presença? Ponha o Reino de Deus em primeiro lugar em sua vida! Ore o Pai nosso e enfatize: “que venha a nós o teu Reino”. Oração Querido Deus, tu convidas a confiarmos mais em ti e a nos dispormos a buscar a ti e aquilo que é do teu querer, pois é assim que tu queres dar vida plena a todos. Ajuda-nos a valorizarmos este convite e a nos colocarmos a serviço do teu Reino. Amém. Pai Nosso

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Vontade de Deus Lucas 10.27

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oi a vontade de Deus!” Quantas vezes ouvimos essa exclamação! Muitas vezes é a expressão resignada de alguém que está sofrendo, por exemplo, por ocasião da morte inesperada e trágica de uma pessoa querida, seja por uma doença incurável ou por um acidente de trânsito. É verdade que, em última análise, nada acontece sem que Deus o permita. Também é verdade que, em definitivo, a vontade de Deus se cumpre. Isso nos serve de consolo em meio às dificuldades que, às vezes, parecem sem fim. Com freqüência, porém, não conseguimos enxergar as razões para o sofrimento. Ainda assim, podemos afirmar confiadamente: a boa vontade de Deus se cumprirá. As dificuldades e o sofrimento, mesmo intensos, passarão. Mas não devemos entender isso no sentido de que tudo que acontece corresponda à vontade de Deus. Ao contrário, muito do que acontece é fruto do pecado humano que se rebela contra a vontade de Deus. Uma guerra, por exemplo, pode ser resultado da ganância humana ou da vontade de uma nação dominar sobre a outra. Portanto, isso não corresponde à vontade de Deus, ainda que Deus o tenha tolerado. O que Deus quer é que nos amemos uns aos outros. Por que Deus tolera o mal? Porque ele quer lidar conosco como pessoas a quem ele chama para a liberdade e a responsabilidade. Não somos pedras ou vegetais sem ação, mas sentimos, pensamos, falamos e agimos conforme o desígnio de nosso coração. Com quem está o nosso coração? Se ele não estiver com Deus, haverá de agir contra a vontade de Deus; se estiver com Deus, desejará louvá-lo e servir ao próximo. Por isso o apóstolo Paulo admoesta: “Vençam o mal com o bem” (Romanos 12.21). Oração Deus, quando passamos por sofrimento e dor, temos dificuldade para entender a tua vontade. Outras vezes, reconhecemos que o pecado humano causa a dor e o mal. Por isso, conforta nosso coração, perdoa nossos pecados e ajuda-nos a cumprir tua santa vontade. Amém. Pai Nosso


A vontade de Deus se cumprirá Mateus 3.9

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povo de Deus vive desta confiança: Deus prevalecerá! “O céu e a terra vão desaparecer, mas as minhas palavras ficarão para sempre”, afirma Jesus (Mateus 24.35). O povo de Deus está sempre tentado a esquecer as promessas de Deus. Assim aconteceu, por exemplo, com o povo de Israel no deserto. Cada vez que a água e a comida começavam a rarear e os inimigos os ameaçavam, os israelitas sentiam-se tentados a desesperar diante das dificuldades que estavam pela frente. Com a demora de chegar à terra prometida, pensaram, inclusive, que melhor teria sido permanecer no Egito, na casa de sua servidão, e não ter saído de lá. Apesar das murmurações e do desânimo do povo, o que, finalmente, venceu, foram a vontade e a promessa de Deus. Nossa experiência diária é que o mal neste mundo resiste à vontade de Deus. O mal, aparentemente, não se cansa. Ou melhor: ele, de fato, não se cansa. Sempre de novo, em toda parte, ele aparece, ataca e se difunde. O mal deve ser vencido, mas ele não é vencido pelo cansaço, e sim por uma arma mais poderosa: a Palavra de Deus e o bem que ela produz. A Bíblia nos recorda que vencer o mal custou a Deus a vida de seu próprio Filho, Jesus, morto na cruz. Mas, a Bíblia não nos fala apenas da morte de Jesus. Fala também de sua ressurreição que é a vitória sobre a morte. Por isso, também nós podemos viver na expectativa da ressurreição, ainda quando estamos rodeados por sofrimento e dor, morte e inferno. Aguardamos “um novo céu e uma nova terra, onde mora a justiça” (2 Pedro 3.13). Essa vontade de Deus se cumprirá, independente da vontade humana, mas oramos para que ela se cumpra já em nossos corações e vidas.

Oração Deus, ouvimos tuas promessas e nelas queremos confiar. Auxilia-nos e fortalece esta nossa fé, ainda quando a dúvida quer nos assaltar. Dá que a tua vontade se cumpra também em nossa vida, para que sejamos instrumentos do teu amor. Amém. Pai Nosso

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Nossa situação Romanos 7.14-25

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odemos observar, ao nosso redor, que há muita injustiça, corrupção e violência, enfim, uma forte presença do mal. A nossa tendência é sempre culpar os outros pelos males que assolam o mundo. Porém, se somos sinceros, vamos enxergar também a presença do mal em nós mesmos. Também nós cometemos injustiças e podemos ser agressivos; em todo caso, não fazemos o bem ao nosso próximo como deveríamos e, mesmo, como desejaríamos. Ainda quando cremos no Evangelho, na salvação em Jesus Cristo, verificamos que o pecado continua assaltando os nossos corações. No texto bíblico de referência, o apóstolo Paulo descreveu com clareza esse mistério. Quando cremos em Jesus Cristo, somos justificados por Deus e sua graça, tornamo-nos novas criaturas. Mas, ainda assim, percebemos que, muitas vezes, não fazemos o bem que queremos, mas sim, o mal que queremos evitar. Somos, ao mesmo tempo, justos e pecadores (Lutero). Isto significa: quando olhamos para Deus e seu Filho Jesus Cristo, vemos seu grande amor para conosco e reconhecemos que somos justos, pela fé que temos. Mas quando olhamos para nós mesmos, vemos que ainda somos muito limitados e que o mal ainda nos assalta, de modo que cometemos pecados. Nessa situação, felizmente, sempre podemos recorrer ao próprio Deus e seu amor. Nele, também podemos crescer na prática do bem, como fruto da fé. O pecado humano vai sendo vencido pela justiça de Deus. É como a madrugada: ainda está escuro, mas já está ficando claro. E a luz do dia virá com força. Assim, o Espírito divino vai derrotando o pecado humano. E nós podemos, com gratidão, atender as necessidades de nosso próximo. Oração Deus amoroso, agradecemos-te pelo presente da fé e da nova vida, que concedes a cada dia. Fica a nosso lado quando fraquejamos, para que sirvamos aos necessitados. Dá, assim, que também nosso mundo seja mais justo, conforme a tua vontade. Amém. Pai Nosso


A boa vontade de Deus prevalece Gênesis 50.15-21

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occaccio, escritor do século XII, escreveu uma novela envolvendo dois amigos. Um deles era cristão e o outro, judeu. O cristão lamentava a situação do amigo que, apesar de tão virtuoso, perderia eternamente a sua alma por rejeitar Jesus Cristo. O judeu, em dado momento, revelou sua decisão pelo Batismo cristão. Primeiro, porém, pretendia visitar Roma. O amigo cristão, em vão, tentou demovê-lo dessa decisão, temendo a influência negativa do mau exemplo da cúpula da Igreja. Ao regressar, ao contrário do que imaginava o amigo, o judeu exigiu que fosse imediatamente batizado. Reafirmou sua convicção de que Jesus, de fato, era o Cristo. Agora tinha certeza que a Igreja era obra divina, porque caso fosse invenção humana, com tais dirigentes corruptos, jamais poderia subsistir, crescer e ser amada pelo mundo todo. Com Deus é assim: nenhuma má vontade humana pode impedir que ele realize sua boa vontade. Assim aconteceu com José: os seus irmãos queriam se ver livres dele e, por isso, o venderam como escravo para mercadores egípcios. Deus, porém, em sua infinita graça, reciclou toda essa desgraça que culminou nos elevados propósitos por ele determinados: José foi feito governador pelo faraó e pôde garantir pão para multidões, evitando a fome e a morte de muitos. Através de Jesus Cristo, apesar da má vontade dos homens, querendo varrê-lo do mapa, pregando-o na cruz, Deus realizou o seu propósito de perdão, vida e salvação para todos. Ninguém pode interferir negativamente nos planos de Deus, porque “sabemos que em todas as coisas Deus trabalha para o bem daqueles que o amam” (Romanos 8.28). Oração Senhor, eu não quero viver a lamentar e a reclamar de tudo. Fazeme ver que, mesmo em meio às dificuldades, violências e pecados, o teu amor e salvação também podem se manifestar poderosamente. Amém. Pai Nosso

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Deus limita a vontade de Satanás Jó 1

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ó perdera tudo que possuía: seus bens materiais e sua família. Além disso, ficou doente e foi duramente criticado pelos amigos. Mesmo não compreendendo a razão de tamanha dor, foi pela fé que Jó enfrentou essa sua grande crise. Assim, ele superou a tragédia, recuperando em dobro tudo o que havia perdido. Esta é uma característica da fé: jamais entregar os pontos, jamais sucumbir. A verdadeira fé não confia simplesmente no potencial interior, conforme insistem certas filosofias de auto-ajuda, mas ela busca em Deus a força da superação, pois somente dele é que procede o poder que excede o limite da capacidade humana. Ninguém está livre do mal, das tentações, de tragédias e perdas dolorosas. Muitas vítimas de dores inesperadas desesperam-se de tal forma que jamais conseguem reconquistar uma vida normal e emocionalmente saudável. Jó jamais esqueceu a família que perdera. Mas aprendeu a conviver com essa dor, encontrando em Deus a força necessária para reconstruir uma vida plena de significado. Jó, pela fé, sabia que o poder do mal é limitado pelo poder de Deus. A vontade de Satanás só vai até onde Deus permite. A fé não ilude nem embota sentidos, fazendo esquecer dores e perdas passadas. Pela fé, Deus inunda o coração sofredor com tal força que nada será terrível demais para ser superado ou impedirá a realização dos grandes propósitos de Deus na vida dos seus eleitos. Aqueles que vivem sob a graça de Deus em Cristo estão bem protegidos e fortalecidos. Quando o Diabo pensa ter causado algum dano, Deus, no seu tempo, interfere, trazendo o dobro em benefícios, ganho e bênção para quem permanece fiel.

Oração Querido Deus, fortalece a minha fé para que eu busque sempre em ti a força para superar qualquer perda e dano. Faze-me compreender que o teu poder é infinitamente superior ao poder do mal. Amém. Pai Nosso


A luta feroz 1 Pedro 5.8

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o Pai nosso, Jesus ensina a orar: “Seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu”. Em outras palavras: “Que a tua vontade seja feita aqui na terra como é feita no céu”. O que diz essa prece? Notemos que ela supõe uma convicção: no céu, a vontade de Deus já é pura realidade. Há, ali, perfeita sintonia entre o que Deus e suas criaturas querem. Ali, o Reino de Deus já é realidade, está consumado e existe em sua plenitude. Por isso, quando pedimos que a vontade de Deus se realize entre nós, expressamos um desejo que tem promessa de vitória, já prefigurada no céu. Por enquanto, porém, a vontade de Deus sofre resistência em nosso mundo. Os direitos divinos são pisoteados. Sua imagem, que quer refletirse no rosto de cada ser humano, é desfigurada a toda hora. Falta de fé, solidão, desemprego, fome, violência, crianças abandonadas, agressão ao meio-ambiente... nada disso corresponde ao que Deus quer. Tais coisas acontecem porque, em nosso mundo, ainda se trava uma luta feroz entre a vontade de Deus e a de seu maior adversário, que a Bíblia chama de Diabo. 1 Pedro 5.8 compara-o a um leão que ruge, à procura de alguém para devorar: “Estejam alertas e fiquem vigiando porque o inimigo, o Diabo, anda em volta de vocês como um leão que ruge, procurando alguém para devorar”. Em meio a essa luta, e animados pela vitória que já se celebra no céu, nós suplicamos nessa prece do Pai nosso que a vontade de Deus, que já é feita no céu, se realize também na terra. Quem assim ora, alegremente cederá espaço para que Deus se torne Senhor em sua vida e em nosso mundo. Até que céu e terra cheguem à plena reconciliação e Deus seja tudo em todos. Oração Senhor, há muito sofrimento em nosso mundo porque tua vontade não é feita e tu não és reconhecido como Senhor. Restabelece, em nosso meio, a fé e a esperança, para que confiemos em ti e façamos a tua vontade. Amém. Pai Nosso

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O propósito de Deus 1 Timóteo 2.4

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sentimento de superioridade, muito comum entre nós, manifesta-se de muitas maneiras. Mas, na sua origem, está sempre a convicção de que nós somos melhores do que os outros. Achamos, por isso, que temos direitos especiais. Merecemos um tratamento diferenciado: vida boa, segurança, reconhecimento, dignidade. Tudo, sempre melhor do que os outros. Os outros? Bem... Com um certo ar de indiferença, desprezo ou até hostilidade, nós os tratamos como gente de segunda categoria. Assim, vamos erguendo barreiras entre pessoas e grupos sociais. Nos tempos bíblicos, dividia-se o mundo entre judeus e pagãos, entre gregos e bárbaros, entre escravos e livres. Em nossos tempos, nós o dividimos entre brancos e pretos, sulistas e nordestinos, homens e mulheres, patrões e empregados, salvos e perdidos, nós e os outros... Cada um de nós poderia acrescentar muitos pares a essa lista. E todos sabemos quantos sofrimentos e quanta desgraça tal atitude provoca. Quando, no Pai nosso, Jesus nos ensinou a pedir que a vontade de Deus se faça, ele estava pensando em outra coisa. Pois, qual é a vontade de Deus? “Ele quer que todos sejam salvos e venham a conhecer a verdade” (1 Timóteo 2.4). Deus não tem protegidos e apadrinhados. A ninguém ele discrimina. Todos lhe são igualmente caros. A todos ele ama. A todos Cristo foi enviado. Todos são convidados a participar do seu Reino. Por todos ele viveu, morreu e ressuscitou. Sobre todos Deus derrama os benefícios do sol e da chuva, na esperança de que venham a reconhecer sua bondade graciosa e aprendam a viver a partir dela. Por que haveríamos nós de agir de modo diferente?

Oração Pai amado, tu nos tratas segundo a bondade de teu coração e não segundo o nosso merecimento. Apaga o nosso orgulho próprio, para que aprendamos a refletir em nossa vida a tua bondade. Amém. Pai Nosso


Que a vontade de Deus aconteça entre nós! 1 João 4.7-21

A

vontade de Deus, pela qual pedimos no Pai nosso, consiste na prática de seus mandamentos. O que significa isso nas circunstâncias da vida? Sabemos, por exemplo, que o roubo é uma transgressão do Quinto Mandamento. Mas o que fazer se um dia tivermos diante de nós uma pessoa desempregada, que, num momento de desespero, roubou para saciar a fome de seus filhos ou para dar-lhes assistência médica? Alguém poderia dizer: a pessoa deve ser punida, pois o Quinto Mandamento deve vigorar em qualquer situação. Outro poderia responder: a coisa não é tão simples, pois preservar a vida é mais importante do que qualquer lei. Outro ainda poderia ponderar: o que está havendo com a nossa sociedade para que uma pessoa tenha que transgredir um mandamento, a fim de assegurar a seus filhos o direito à vida? Para a fé cristã, vale que a vontade de Deus não pode ser totalmente definida por regras e leis minuciosas. Em lugar disso, Jesus nos deu um critério para orientar nossas decisões e práticas. Em qualquer situação, deveríamos nos perguntar se nossa decisão ou conduta corresponde ao supremo mandamento do amor: amar a Deus de todo o coração e ao próximo como a si mesmo. A referência bíblica acima diz que aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor. É através do amor, recebido ou dado, que Deus se torna palpável para nós e para os outros. Lutero formulou isso de maneira admirável: “Em fé e amor consiste toda a essência de uma vida cristã. A fé recebe, o amor dá de si; a fé leva a pessoa para Deus, o amor leva Deus para as pessoas; pela fé, a pessoa recebe benefícios de Deus, pelo amor, ele presta benefícios às pessoas”. Oração Nosso Deus e Pai, agradecemos pelo teu amor que nos revelaste em teu Filho Jesus Cristo. Ajuda-nos a compreendermos a profundidade desse amor e transforma-nos em seus instrumentos, para que, através dele, outras pessoas possam sentir a tua presença. Amém. Pai Nosso

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É preciso combater o mal Efésios 6.10-13

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esus ensinou a orar: “Livra-nos do mal”. Nessa oração, pedimos “que o Pai celeste nos livre de todos os males que afetam o corpo e a alma, os bens e a honra e, finalmente, quando vier a nossa hora derradeira, nos conceda um fim bem-aventurado e nos leve, por graça, deste vale de lágrimas para junto de si, no céu” (Lutero). Jesus disse: livra-nos do mal! Este grande inimigo de Deus e dos homens tem nome, chama-se Satanás. Dele se originou todo o mal que há no mundo. O apóstolo Paulo diz que nossa luta contra o mal é uma luta contra poderes muito ameaçadores. Com ele não se brinca, pois é extremamente perigoso. Não apenas ameaça nossa existência neste mundo, mas quer tirar de nós também a vida plena, preparada e doada por Deus, em Cristo. Mas Deus não nos abandona. Pelo Batismo somos dele. Por isso, o próprio Deus se coloca ao nosso lado. Cristo venceu o mal, ao sofrer, na cruz, o castigo que nós deveríamos sofrer, tirando de Satanás, o maior e mais ameaçador poder, o de nos acusar perante Deus. Todo o que crê em Cristo, sabe que, em Deus, está plenamente protegido. O texto bíblico acima nos mostra que Deus nos proporciona uma armadura na luta diária contra o mal. É a armadura “de Deus”. Ele batalha por nós, pela sua Palavra. A mensagem da salvação é mais poderosa do que qualquer arma nuclear, pois ao nos firmar na fé em Cristo, Deus também se coloca ao nosso lado e edifica muralhas ao nosso redor. Se, por um lado, a luta contra o mal é diária e dela não podemos descuidar, por outro, é consolador saber que não estamos sozinhos nesta batalha. Estamos com Cristo e, o melhor de tudo, ele já é, antecipadamente, o vencedor. Oração Querido Pai dos céus, agradeço-te pelo canal da oração, através do qual posso te agradecer e pedir socorro. Ajuda-me para que o teu nome possa ser santificado em toda a minha vida. Amém. Pai Nosso


Deus quer que sejamos santos! 1 Tessalonicenses 4.3

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sta é a vontade de Deus, a vossa santificação” (1 Tessalonicenses 4.3). A vontade de Deus é séria. Não se brinca com um desejo expresso por ele! O que podemos fazer para andar em santificação? Que tipo de atitude em nossa vida deixaria claro que estamos em santificação? Perguntando dessa forma, a resposta sempre fica por nossa conta. Espera-se que algo aconteça em nós. No entanto, precisamos perguntar a Deus como poderemos chegar à santificação. Deus nos diz na sua Palavra: “Sede santos, porque eu sou santo” (1 Pedro 1.16). O padrão é o próprio Deus, não alguma pessoa exemplar. Santificação é questão de cem por cento! Boas intenções não fazem uma vida santificada. Aí se frustram todas as tentativas humanas. Ficam sem esperança os que querem alcançar santificação por seus esforços, pois isto é impossível a qualquer pessoa. Em 1 Tessalonicenses 5.23, o apóstolo Paulo diz: “O Deus da paz vos santifique em tudo”. É Deus que santifica o pecador. Como? Hebreus 10.10 responde: “Porque Jesus Cristo fez o que Deus quis, nós somos purificados [santificados] do pecado pela oferta que ele fez, uma vez por todas, do seu próprio corpo”. Santificação só é possível porque Cristo, o Santo, tomou nosso lugar no castigo pelo pecado. Quem nele crê, é santo aos olhos de Deus. Neste perdão em Cristo consiste a vida santificada. Com o auxílio de Deus Espírito Santo, podemos lutar contra o pecado. Por isso mesmo, é preciso sempre buscar nele as forças, em sua Palavra, no Batismo e na Santa Ceia. Ele nos conduz, para que, santificados por Cristo, pela fé, cresçamos diariamente no amor, no serviço e na fidelidade a ele.

Oração Senhor Jesus, tu és santo e santificas o pecador pelo teu sacrifício na cruz. Concede que possamos, com a obra do Espírito Santo, viver diariamente esta santificação, em pureza, amor e serviço. Amém. Pai Nosso

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O que Deus quer? 2 Coríntios 12.9

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e Deus quiser” é uma frase que ouvimos muitas vezes. “Se Deus quiser” pode ser uma manifestação de profunda humildade de quem sabe que não pode manipular a Deus, mas unicamente rogar a ele. “Se Deus quiser” pode, também, ser simplesmente uma maneira de falar, um costume, onde o nome de Deus acaba sendo empregado de maneira vã. No entanto, não será esta uma forma adequada de falar dos acontecimentos de nossa vida? Afinal, quem de nós pode saber o que Deus quer? Sim, não podemos manipular a Deus ou exigir dele que faça o que nós queremos. Não sabemos qual é a vontade específica de Deus para cada situação de nossa vida. O apóstolo Paulo fala de um “espinho na carne”, possivelmente uma doença que o perturbava muito. Por causa disso, orou muito a Deus para ser libertado deste mal. No entanto, não era esta a vontade de Deus. O “espinho na carne” tinha sua função: alertar a Paulo para que não ficasse orgulhoso diante das maravilhas que experimentava, como apóstolo do Senhor. Porém, Deus foi além. Ele não exigiu de Paulo que se resignasse. Também não lhe disse simplesmente: é assim que eu quero e basta! Deus disse algo mais: “A minha graça é suficiente para você, pois o meu poder é mais forte quando você é fraco”. Em outras palavras, Deus deixou claro que sua vontade incondicional e firme é ser gracioso com os seus. Conhecer sua graça, seu perdão e a salvação em Cristo basta para nós. Quando oramos no Pai nosso “seja feita a tua vontade”, manifestamos nossa confiança de que nosso Pai celestial “nos fortalece e preserva firmes na sua palavra e na fé, até o nosso fim. Esta é sua graciosa e boa vontade” (Lutero).

Oração Bondoso Deus, como é bom saber que tua vontade é graciosa para conosco. Tu queres nos ter junto contigo, onde há felicidade completa. Dá-nos isso, ó Deus, e tudo o mais que, em tua vontade, sabes ser bom para nós. Por Jesus. Amém. Pai Nosso


Deus e as necessidades físicas João 6.5

E

ntre os cristãos acontece muitas vezes que se faz uma distinção entre o pão espiritual e o pão material. Como se um fosse mais importante do que o outro. Cita-se a passagem bíblica que diz: “Nem só de pão viverá o ser humano...” (Deuteronômio 8.3). Se observarmos atentamente, veremos que, nesse versículo, o pão é considerado essencial e básico. Pode-se dizer que ele não é tudo de que o ser humano precisa, somente quando ele já estiver assegurado. Sem ele, a vida é impossível. O relato da multiplicação dos pães (João 6) mostra que Jesus não ficou indiferente à presença da multidão faminta à sua volta. A pergunta com a qual confronta seu discípulo Filipe é esta: “Onde conseguiremos comida para tanta gente?” Estudos recentes sobre a realidade da fome em nosso país, têm mostrado que a pergunta continua atual: onde conseguiremos pão? A busca pelo alimento capaz de saciar a fome é a preocupação diária de uma grande parcela da população. Jesus não se mantém indiferente a essa situação. No Pai nosso, ele ensinou seus discípulos a orarem pelo pão, sem o qual a vida não se mantém. O pão nosso de cada dia é primeiramente comida e bebida, mas não só! Quando você ora pelo pão, peça também “tudo que se refere às relações domésticas e vizinhais, ou civis e políticas” (Lutero). Ou seja, ore para que Deus dê as condições necessárias para que o pão possa chegar à sua mesa e à mesa dos seus semelhantes. De fato, Deus garante o pão a bons e maus, também sem a nossa prece, mas pedimos que ele nos faça reconhecê-lo, para recebermos o pão com gratidão e nos sabermos comprometidos com sua partilha.

Oração Querido Deus, nós convivemos com a realidade da fome. Sabemos que isso não te deixa indiferente. Dá que possamos receber com gratidão o alimento necessário e que aprendamos a partilhá-lo como teu Filho, nosso Senhor, nos ensinou. Amém. Pai Nosso

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Comida e bebida Números 11.31-32

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á pessoas que sempre estão insatisfeitas com a situação em que se encontram. Reclamam de quase tudo e são incapazes de olhar a sua volta e ver o sofrimento alheio. Como o caso daquela pessoa que vivia reclamando da sorte, pois tinha somente bananas para comer. Quando decidiu erguer a cabeça e olhar para trás de si, viu uma grande fila de gente alimentando-se das cascas. O povo de Israel quando fugiu da escravidão no Egito, passou por situações difíceis. A comida ficou escassa. E, principalmente, não havia mais carne para comer. Então começaram a resmungar contra Deus e a reclamar de seu líder Moisés, dizendo que no Egito a comida era mais farta. A ingratidão os fez esquecer o maná que Deus já providenciara para preservar a vida. Quando aprendermos a analisar a situação de nossa vida, levantando a cabeça e vendo as necessidades das pessoas que nos cercam, veremos que temos muitos motivos para sermos gratos a Deus. A ingratidão somente produz amargura e infelicidade. Um coração agradecido é capaz de olhar a sua volta e ver que há muita gente precisando de sua ajuda. Não é consolo barato! Não é conformar-se, porque afinal, o outro está pior do que eu. Trata-se de exercitar gratidão. Trata-se de uma nova postura diante da vida! De ser capaz de satisfazer-se com as coisas simples, num mundo que exige sempre mais sofisticação. De abrir mão de acumular só para si, num mundo que privilegia somente aqueles que têm. Pois, não é mais feliz quem mais tem. Antes, é mais feliz quem sabe ser grato pelas suas conquistas, e quem recebe comida e bebida em abundância como dádivas para serem partilhadas.

Oração Senhor! Nós somos gratos pela comida e a bebida que nos dás. Nunca nos deixes esquecer de agradecer-te pelo que somos e pelo que temos. Neste mundo de competição e concorrência, ajuda-nos a orientarmos nossa vida pelo teu Evangelho. Amém. Pai Nosso


Casa e lar Salmo 136.1a,25

A

prece “o pão nosso de cada dia nos dá hoje”, inclui a casa e o lar. A casa, na qual nos acolhemos mutuamente é parte do pão de cada dia. Sem o lar e a nossa família, não seríamos quem somos e nossa vida não seria a mesma. Pois, neste caso, a família ficaria ao relento e não teríamos onde nos abrigar. Outro dia, perguntaram para uma criança onde estavam seus pais e ela respondeu que não tinha pais. Perguntaram onde ficava sua casa e a resposta veio pronta: eu não tenho casa! Morava na rua, cobria-se com jornal e deitava em cima de papelão. A vida das famílias anda cada vez mais complicada. Os momentos de comunhão são sempre mais escassos. Claro, há muitas razões para isso. Entre os elementos desagregadores da família, está a falta de um ambiente próprio para se abrigar e viver. Não devemos esquecer-nos que a nossa saúde mental depende desse espaço de acolhimento que é a nossa família. É nela que podemos refugiar-nos quando as tempestades da vida se abatem sobre nós. Entre as necessidades da vida, Lutero cita “casa e lar”. Estas coisas não são secundárias para Deus. Elas são essenciais; são tão importantes como comer e beber. Mas, qual é a solução para casos como o do menino que não tem casa nem lar? E não são poucos os meninos e as meninas que vivem nesta situação! Será que a única solução é conformar-se? Quando oramos “o pão nosso de cada dia nos dá hoje”, estamos fazendo duas coisas: agradecemos pela casa e o lar que Deus nos dá e, ao mesmo tempo, intercedemos para que cada vez menos meninos e meninas tenham que dormir ao relento e proteger-se com papel e papelão porque não tem casa nem lar, nem pai, nem mãe, nem família! Oração Querido Pai! Obrigado pela nossa casa e nosso lar. Reconhecemos que sem isso não podemos viver. Sensibiliza muitas pessoas, inclusive a nós, para podermos contribuir para que mais pessoas, pais, mães, crianças, possam ter casa e lar. Amém. Pai Nosso

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Deus supre meios de sobrevivência Atos 18.3

O

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apóstolo Paulo chega na cidade de Corinto, e lá se hospeda na casa de um casal de judeus que, juntamente com muitos outros, fora expulso de Roma. Hospedou-se em sua casa porque tinham a mesma profissão: faziam barracas. O trabalho faz parte da vida do ser humano. Antes mesmo de o homem ter cometido o primeiro pecado, Deus lhe dera um trabalho: cultivar o jardim do Éden. E para auxiliá-lo nesta tarefa, criou uma companheira (cf. Gênesis 2.15-18). Infelizmente, o trabalho, criado para alegria e prazer, com a queda em pecado, trouxe uma série de dificuldades para o próprio ser humano (cf. Gênesis 3.17-19). Mesmo assim, Deus continuou a considerá-lo como um bem, tanto que sua Palavra sempre incentivou os que nele confiam para que sejam pessoas trabalhadoras, que tenham sempre o necessário para a sua própria sobrevivência e com que acudir o necessitado (Efésios 4.28). Apesar de Deus, em momentos especiais, permitir que sobrevenham dificuldades aos seus seguidores a fim de que, por meio delas, sejam aprovados (Romanos 5.3-5), ele também sempre os tem incentivado a continuar confiando nele, oferecendo-lhes promessas maravilhosas como a de Mateus 6.31-33: “... não fiquem preocupados, dizendo: Onde é que vou arranjar comida, bebida e roupas? Os pagãos estão sempre preocupados com estas coisas. O Pai de vocês, que está no céu, sabe que vocês precisam de tudo isso. Portanto, ponham em primeiro lugar nas suas vidas, o Reino de Deus e aquilo que Deus quer, e ele lhes dará todas as outras coisas”. Deus, através do nosso trabalho honesto, nos quer dar aquilo que necessitamos. Por isso, confiemos nele! Oração Senhor Deus, abençoa todos os que buscam, através do trabalho honesto, o seu sustento. Permite que diminua o número de desempregados. Concede-nos o pão de cada dia. Em nome de Jesus, nosso Salvador. Amém. Pai Nosso


Família piedosa Colossenses 3.18-20

C

omo há maridos que querem mandar em suas esposas, desprezando e oprimindo-as, não é mesmo? Ao invés de amá-las de coração, fazendo tudo o que estiver ao seu alcance para que se sintam felizes, com palavras e atitudes, as machucam e fazem com que elas se perguntem: por que casei com ele? Por outro lado, há esposas que, não compreendendo a vontade de Deus, não aceitam o fato de que a submissão a seus maridos não as desmerece e nem as humilha. Ser submissa no Senhor significa confiar no marido cristão, que com ela dialoga e a ama ao ponto de estar pronto a dar por ela sua vida e nunca querer humilhá-la. Além disso, submissa no Senhor também significa aceitar, no caso de terem pontos de vista diferentes sobre um mesmo assunto, a sua decisão, caso esta tenha como modelo o amor do próprio Salvador Jesus pela sua Igreja. Como existem pais que facilmente levam seus filhos à ira com brincadeiras sem graça, por causa de cobranças exageradas ou de comparações sem sentido. Por outro lado, como há filhos que desrespeitam a autoridade dada por Deus aos seus pais, zombando deles e menosprezando suas palavras e atitudes. A grande solução para todos estes conflitos o apóstolo Paulo nos apresenta na sua carta aos Colossenses 3.23, quando diz: “O que vocês fizeram façam de todo o coração, como se estivessem fazendo para o Senhor e não para as pessoas”. Como seria diferente o lar de muita gente se, de fato, fizessem tudo o que fazem para seus familiares como se o fizessem para o próprio Deus que os amou e que em Cristo os salvou. Uma família piedosa é tão importante como o “pão nosso de cada dia”. Que cada um de nós possa dizer: Oração Pai celeste, perdoa os pecados que cometemos em nosso lar, no relacionamento entre esposos ou entre pais e filhos. Ajuda-nos, fortalecendo nossa fé em Jesus e anima-nos a fazer a tua vontade. Que o teu amor nos incentive a viver em amor. Amém. Pai Nosso

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Bom governo é essencial para a vida! 1 Timóteo 2.2

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om governo”, segundo a explicação de Lutero, faz parte do “pão nosso de cada dia”. Nesse sentido, a referência bíblica acima nos admoesta que é dever de todo o cristão orar em favor das autoridades constituídas, a fim de que estas possam exercer sua missão com responsabilidade e com todo o respeito a Deus e agindo corretamente. Um bom número de pessoas, mesmo cristãs, se nega a fazê-lo, especialmente quando a autoridade constituída não for do partido político com o qual simpatizam. No entanto, não é esta a recomendação da Palavra de Deus. No tempo de Jesus, quando a autoridade que se encontrava em Israel era opressora, pois estava submissa aos romanos invasores, Jesus deixou bem claro que devia dar-se a César o que era de César e a Deus o que era de Deus. Paulo, o apóstolo, ao escrever a sua primeira carta a Timóteo, não exclui de sua lista de oração nenhuma autoridade, nem mesmo a corrupta. Pelo contrário, ele estimula o jovem pastor Timóteo para que ele e sua congregação orem em favor de todos os que têm autoridade, sem exceção. Provavelmente, a maioria das queixas que sempre de novo se ouvem a respeito dos políticos, deixariam de existir se os cristãos de fato orassem muito mais a Deus em favor daqueles que foram investidos de autoridade. Talvez você, que está lendo esta mensagem, pouco ou nunca tenha orado em favor de todos os governantes. Se você sempre o tem feito, que bom. Continue a fazê-lo. Mas se a sua resposta foi negativa, então tome agora a decisão de fazer o que a Palavra de Deus lhe recomenda. Sim, que de hoje em diante, você, movido pelo amor de Cristo que o salvou, também tenha tempo para dizer: Oração Pai nosso, abençoa todas as autoridades de nossa Pátria. Derrama tuas bênçãos sobre todas elas para que tenhamos uma vida calma e pacífica em nossa Cidade, Estado, País. Por amor de Jesus, ouve a nossa prece. Amém. Pai Nosso


Deus dá e preserva a vida 1 Timóteo 6.8

T

empos atrás li a seguinte história: Depois da colheita, um grupo de indígenas da Amazônia brasileira costuma convidar tribos vizinhas para fazer uma grande festa. O objetivo dessa festa é consumir comunitariamente as sobras da colheita, a parte excedente ao mínimo necessário para viver ao longo do ano. Para quem costuma ouvir que “precisamos nos prevenir”; que “é necessário ter reservas”; que “as sobras devem ser vendidas”, esse costume indígena pode parecer absurdo. E se no ano vindouro der uma seca? E se uma tempestade destruir a plantação? E se...? Será mesmo um absurdo? Na oração do Pai nosso, Jesus ensinou a pedir assim: “O pão nosso de cada dia nos dá hoje”. Fixemos nossa atenção na expressão “cada dia”. É admissível supor que Jesus não criticaria nosso costume de ter uma reserva na despensa para o dia de amanhã. No entanto, com “cada dia”, Jesus destaca duas coisas básicas. Primeiro, ele nos convida a orar pelo pão (tudo que o ser humano precisa para viver) e a crer na providência divina. Deus, o provedor do pão, garante que todos e todas terão esse pão. “Deus quer indicar-nos como cuida de todas as nossas necessidades e também zela, tão fielmente, pelo nosso sustento temporal” (Lutero). Orar por esse pão é, sobretudo, reconhecer que ele nos é dado por Deus. Segundo, essa confiança nos liberta da ânsia de querer acumular e ter sempre mais e mais, ilimitadamente. E, não havendo acúmulo, haverá maior possibilidade de todas as pessoas receberem de Deus o pão diário. “Se temos comida e roupa, fiquemos contentes com isso” e agradecidos a Deus!

Oração Deus Criador, obrigado pelo pão diário. Liberta-nos da busca do acúmulo. Ensina-nos a confiar na tua providência. Dá que as comunidades cristãs se engajem naquelas iniciativas que visam proporcionar a todos o acesso ao pão diário. Amém. Pai Nosso

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Juntos para o que der e vier João 11.35-36

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ormalmente, a amizade e a vizinhança são frutos de um certo tempo de proximidade e convivência. A amizade pode surgir entre estudantes da mesma turma; entre colegas de trabalho. A boa vizinhança pode nascer a partir do relacionamento entre filhos de famílias que moram próximas. A quarta petição do Pai nosso diz: “O pão nosso de cada dia nos dá hoje”. Segundo a compreensão cristã, “pão” é mais do que o resultado da mistura de farinha com água e fermento. Pão é “tudo que se refere ao sustento e às necessidades da vida”. Por isso, ter o pão diário também é estar na companhia de “leais amigos” e “bons vizinhos” (Lutero). Então, de acordo com a explicação do Pai nosso, amizade e boa vizinhança são parte do pão que Deus dá. Antes de ser fruto do nosso esforço, amizade e boa vizinhança são dádivas de Deus. Ou seja, pessoas que reconhecem Deus como provedor do pão diário, também deixam espaço para que entre eles brote e floresça a amizade e a boa vizinhança que Deus já colocou ali, entre elas. Só tem um detalhe. Como as plantas necessitam da água para brotar e dar seu fruto, relações de amizade e boa vizinhança precisam ser nutridas. E há duas fontes para tal nutrição. Primeiro, a oração. Quem ora o Pai nosso, entre outras coisas, pede para Deus fortalecer a amizade e a boa vizinhança. Segundo, a Ceia do Senhor. Se cremos que, na Ceia, Deus vem a nós, nos ampara, perdoa e fortalece, nós que comungamos, nos voltamos uns aos outros. “Vê, assim tu carregas a todos, e assim todos, por sua vez, te carregam, e todas as coisas são em comum, tanto as boas quanto as más” (Lutero). Que amizade e que boa vizinhança, hein? Oração Deus, doador do pão, obrigado pelas relações de amizade e boa vizinhança que já temos. Ajuda para que cresça ainda mais nosso círculo de amigos e bons vizinhos. Que o pão da Ceia nos transforme numa só massa de solidariedade, para rirmos e chorarmos juntos. Amém. Pai Nosso


Merecedores ou não, Deus dá Mateus 5.45b

E

le merece!”. Esta é uma expressão conhecida. No fundo, é uma palavra de juízo. Se “ele ou ela merece”, é porque outras pessoas não merecem. Como fica isso em relação ao “pão”, tudo que Deus deu para o sustento de seus filhos e filhas? Também é assim que uns merecem, outros não? Pelas regras de hoje em dia, quem não trabalha “não merece” o pão (teto, saúde, alimentação, vestes, amizade, boa vizinhança). Há dois mil anos atrás, o setor “improdutivo”, “não merecedor” estava representado por órfãos e viúvas. Porém, de acordo com a Bíblia, “a religião pura e sem mácula” consiste em apoiar e estar próximo dos órfãos e das viúvas (Tiago 1.27). Jesus foi mais explícito. Para ele, Deus “faz o sol brilhar sobre os bons e os maus e dá chuva tanto aos que fazem o bem como aos que fazem o mal”. Não entendo esta afirmação como apoio de Deus (e de Jesus) aos praticantes do mal. Não! Antes, ela revela a compaixão infinita do Criador. Deus não se cansa de dar novas oportunidades para que pessoas se arrependam, mesmo as mais depravadas. Que paciência! Cada raio de sol e cada pingo de chuva sobre os maus são um convite divino para o arrependimento e a mudança de vida. É por isso que Deus dá o pão “a todas as pessoas, inclusive às pessoas más” (Lutero). Disso pode-se tirar uma lição desafiadora. Se Deus deixa o raio de sol alcançar os maus e dá o pão a eles, muito mais as comunidades cristãs têm um compromisso com quem carece do pão. Se Deus disse que “não haja entre vós pobre e carente” (Deuteronômio 15.4), então, “que o benefício feito aos pobres brilhe mais entre os cristãos do que todas as igrejas de alvenaria ou madeira” (Lutero). Oração Deus bondoso, louvado sejas porque não nos tratas a partir do que merecemos, e nos encaras com olhar compassivo. Motivados pela compaixão, tenhamos mãos que amparam, apóiam e carregam solidariedade aos que carecem do pão diário. Amém. Pai Nosso

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Obrigado pelo pão de cada dia! João 6.11

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gradecer! Eis uma virtude que muitos esquecem de exercitar. Agradecer, um gesto de reconhecimento, uma atitude de humildade, um ato de grandeza. Você já agradeceu a Deus pelo seu sustento? Jesus, o nosso Salvador, nos ensinou e deixou grandes exemplos. No texto proposto acima, ele tomou os pães e os peixes, agradeceu a Deus por eles e, num gesto de profundo amor, os distribuiu para alimentar a multidão. Muitos, em nossos dias, se esquecem de reconhecer e agradecer a Deus por tudo que recebem. Muitos se vangloriam, como se eles mesmos tivessem conquistado e, com seu esforço e luta, conseguido as coisas. Esquecem que se Deus não os tivesse abençoado e capacitado, nada seriam e nada teriam. O apóstolo Paulo, em 1 Coríntios 4.7, lamenta, dizendo: “Quem é que fez você superior aos outros? Não foi Deus quem lhe deu tudo o que você tem? Então por que é que você fica orgulhoso como se o que tem não fosse dado por Deus?” O salmista incentiva: “Agradeçam ao Deus Eterno porque ele é bom, e porque o seu amor dura para sempre” (Salmo 118.1). Isso faz a diferença: todos recebem o pão de cada dia. No entanto, alguns o recebem naturalmente, como se fosse fruto exclusivo do seu esforço. Outros, no entanto, sabem que o recebem pela graça de Deus e por isso agradecem! Amigos leitores! Sejamos agradecidos ao nosso Deus. Tudo que temos e somos é presente, é bênção que ele nos concede: nossa vida, nosso lar, nosso trabalho, o sustento diário, o ar, o sol, o dia e a noite, tudo é dádiva do nosso Deus e Pai. Testemunhemos essa nossa gratidão a Deus diante do mundo, fazendo da nossa vida uma linda canção de amor e agradecimento. Oração Senhor! Diariamente me presenteias com todo o necessário para o corpo e a vida. Não quero ser ingrato para contigo. De coração, ó querido Pai, obrigado, muito obrigado por tudo. Amém. Pai Nosso


Onde Jesus é Senhor, não falta pão João 6.1-14

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uando olhamos ao nosso redor e vemos tantas pessoas passando fome, não tendo o que comer, perguntamos: “Por quê?” Por que será que alguns têm tão pouco e passam fome e outros têm de sobra e nada fazem pelo semelhante necessitado? Será que Deus foi injusto na distribuição dos bens disponíveis? A resposta é uma só. A falta de alimento, a falta de amor e gratidão, deve-se unicamente ao fato de as pessoas não reconhecerem que tudo vem do amor de Deus. Quando alguém não reconhece que é Deus quem dá o pão de cada dia, e o dá a todos, começa a reinar o egoísmo, a ingratidão, o orgulho, a inveja e a falta de amor para com o próximo. Nessa situação, muitos que têm posses, não se importam com os que nada ou pouco têm e, por outro lado, muitos que nada têm, também se esquecem de Deus e de pedir com fé e humildade ao Pai celeste que ele lhes conceda o pão de cada. No texto bíblico de referência acima, Jesus teve piedade do povo faminto e, agradecendo a Deus, distribuiu o pão a todos e, quando fartos, mandou recolher as sobras – doze cestos de pão! – para que nada se perdesse. Assim, a fome no mundo é muito mais uma questão de falta de amor e não de mais ou menos produção de alimentos! No mundo onde Jesus é Senhor, há pão para todos e ainda sobra! Quantos no mundo passam fome, enquanto latas de lixo recebem sobras enormes de outros que esbanjam? Recebamos sempre com gratidão o pão de cada dia. Não desperdicemos o precioso alimento que Deus, por sua graça, nos dá. E olhando para o lado, envolvidos pelo grande amor de Deus por nós, tenhamos mais amor com aqueles que necessitam do nosso auxílio. Oração Senhor Jesus! Tu nos ensinaste a pedir o “pão nosso de cada dia”. Ajuda-nos a não nos apegarmos às coisas materiais, mas sim, a confiarmos sempre na tua bondosa providência e, nessa fé, estarmos também prontos a repartir com o próximo. Amém. Pai Nosso

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Não só de pão vive o ser humano Mateus 4.1-4

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Diabo tentou Jesus, usando para isso a fome. O tentador sabe que o ser humano fica frágil, debilitado diante da falta de alimentação e, por isso, ataca: “Se você é Filho de Deus, mande que estas pedras se transformem em pães” (v. 3). Jesus contraargumenta como legítimo Filho de Deus, recorrendo a palavras das Sagradas Escrituras: “... o ser humano não vive só de pão...” e complementa: “... mas vive de tudo o que Deus diz” (v. 4). A palavrinha “só” faz a diferença. Jesus deixa claro que as pessoas têm necessidades materiais e físicas, sim, mas não só! O lado espiritual, sob hipótese nenhuma, pode ser negligenciado. Deus, que se fez gente em Jesus Cristo, não é só um Deus da alma, mas também do corpo! Assim, o Deus que alimenta a alma e opera a multiplicação dos pães, alimentando uma multidão faminta, é o mesmo. E não há nenhuma incoerência entre uma atitude e outra. Muitas são as pessoas no mundo que querem unicamente as coisas materiais e, em sua ganância, se esquecem de buscar a riqueza maior e mais importante: o alimento espiritual. A nossa vida neste mundo é como se passássemos por sobre uma ponte. O cristão passa sobre ela, mas não vai construir sua casa sobre a ponte. Ele olha e caminha firme e decidido para o outro lado, em direção à cidade eterna e permanente, com Jesus. “As Escrituras Sagradas afirmam que o ser humano não vive só de pão, mas vive de tudo o que Deus diz” (v. 4). Peçamos sempre que Deus nos dê o necessário para a nossa vida aqui neste mundo. No entanto, não esqueçamos de buscar em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, a riqueza que nos leva e garantirá a felicidade eterna no céu. Oração Senhor Jesus! Tu nos ensinaste com a tua vida, teu exemplo e tuas palavras. Ajuda-nos em nossas necessidades materiais, mas que jamais nos falte o alimento espiritual, que nos anima e fortalece na caminhada para o céu. Amém. Pai Nosso


Pecado é desobediência a Deus Gênesis 3.1-13

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quinta prece do Pai nosso reza: “E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós também perdoamos aos nossos devedores”. Jesus falava “aramaico”. E, ao ensinar esta prece, ele usou um termo de sentido amplo que, em português, pode significar “débitos, dívidas, pecados” e, em conseqüência, também “ofensas”, como o traduz a Bíblia na Linguagem de Hoje. Mas, quais são os nossos débitos, dívidas e pecados com os quais ofendemos a Deus? Conforme a Bíblia, existe, basicamente, apenas um pecado, a desobediência a Deus! Todas as demais transgressões praticadas por pensamentos, palavras, ações e omissões que ofendem a Deus e a nossos semelhantes são conseqüência ou concretização deste pecado fundamental da desobediência a Deus! Vemos isto na história da “queda do ser humano”, em Gênesis 3.1-13: no coração humano brota a desconfiança contra o seu Criador. O ser humano desconfia do bom mandamento de Deus e, por isso, desobedece! Adão e Eva desconfiam, você e eu desconfiamos e desobedecemos ao nosso Deus. E, em conseqüência, ficamos e ficaremos sempre em débito com o Criador; pecamos contra ele; ofendemos a ele e sua salvífica e boa vontade! Reconhecer isso e confessá-lo é fundamental. É o primeiro passo para a reconciliação e o perdão. Que bom que o próprio Senhor Jesus anima a você e a mim, por esta prece do Pai nosso, a nos dirigirmos em humildade ao nosso Pai, a lhe pedirmos perdão pelos nossos pecados, por graça – sem que o mereçamos! – e a nos comprometermos com o perdão, a boa ação para com as pessoas que nos ofenderam! Vamos fazê-lo, com fé e confiança! Oração Senhor! Sempre de novo desconfio da bondade e do amor contidos em teus mandamentos. Tenho dificuldade em reconhecer os meus pecados contra ti e meus semelhantes. Ensina-me a reconhecer e confessar a minha culpa. Perdoa-me por tua graça. Amém. Pai Nosso

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Pecado original João 3.6

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uitas vezes ouço pessoas se referirem a crianças recém-nascidas como “inocentes” ou “anjinhos”. Pretende-se dizer com isso que elas não têm pecado, não têm culpa. Mas, na explicação que Lutero dá à segunda parte do Batismo, no Catecismo Menor, em resposta à pergunta: “Que dá ou para que serve o Batismo?”, diz: “Realiza o perdão dos pecados...”. Ora, nas igrejas históricas, em regra, batizam-se as crianças. Também eu fui batizado como infante e você, provavelmente, também. Lutero propõe que neste Batismo aconteceu o perdão dos pecados. Que pecados? Não éramos “anjinhos” inocentes? O reformador refere-se ao “pecado original”. Mas o que é isso? A doutrina do “pecado original” ensina que pecado não é só uma realidade individual, mas é, também, uma realidade humana, coletiva. Quer dizer, eu não me torno pecador apenas pelos meus atos ou omissões individuais. Não, na qualidade de ser humano, eu sou pecador! É isso que está dito em passagens como o Salmo 51.5: “Eu nasci na iniqüidade, e em pecado me concebeu minha mãe”. Neste sentido, ninguém é inocente; ninguém está livre do pecado, nem mesmo a criança. Todos, também você e eu, necessitamos do perdão e da graça de Deus, em Jesus Cristo, para a salvação. A Confissão de Augsburgo o expressa assim: “Após a queda de Adão, todos os seres humanos, procriados segundo a natureza, nascem com pecado”. E o apóstolo Paulo propõe em Romanos 3.23: “... pois todos pecaram e carecem da graça de Deus”. E esta graça nos é outorgada por Deus mesmo, em Cristo, pelo nosso Batismo. Você e eu somos pecadores agraciados por Deus; agarre-se a esta certeza e viva dela! Oração Amado Deus! Eu te louvo, porque me agraciaste em meu Batismo. Tu me tomaste pela mão, chamaste-me pelo nome e me convidaste a, em confiança, seguir o bom caminho. Dá-me fé e alegria para seguir, com confiança, este teu caminho por toda a vida. Amém. Pai Nosso


Pecado atual Tiago 4.17

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ortanto, quem sabe fazer o bem e não faz comete pecado” (Tiago 4.17). É interessante e surpreendente esta definição de pecado da carta de Tiago: deixar de fazer o bem, isto é pecado! Em geral, pensamos que pecar é transgredir algum mandamento; é fazer, dizer ou pensar (cf., por exemplo, Mateus 5.21-32!) algo que a lei de Deus proíbe. E é este conceito restrito de pecado que também transparece na oração de confissão de pecados que Lutero colocou no Catecismo Menor, no fim da quinta parte, que trata do ministério da absolvição e da confissão. Ali diz: “... Eu, pessoa pobre, miserável e pecadora, confesso-te todos os meus pecados e injustiças que cometi em pensamentos, palavras e ações...”. No entanto, o pecar não se restringe ao que eu faço, digo ou penso, à medida em que, com isso, transgrido algum mandamento. Os mandamentos de Deus não só me dizem o que não devo fazer (não ter outros deuses, não matar, não roubar...), mas me dizem concreta e positivamente o que devo fazer: “Ame o Senhor seu Deus com todo o coração, com toda a alma, com todas as forças e com toda a inteligência. E ame o seu próximo como você ama a você mesmo” (Lucas 10.27). E aí sim, fica claro: deixar de amar a Deus, ou deixar de praticar um ato de amor ao próximo é pecado. Trata-se do pecado da omissão! E, pensando bem, quantas e quantas vezes caio no pecado da omissão?! Quantas vezes eu digo: “Isto não é comigo, não vou me meter, não tenho nada a ver com isso, não tenho tempo para tanto...”. Por isso, devo pedir perdão a Deus não só pelos meus pecados de ação, mas também pelos de minha omissão. Que Deus me abra os olhos, a mente e o coração para fazer o bem! Oração Senhor, amado Pai! Perdoa-me por não reconhecer as minhas omissões, especialmente aquelas referentes aos meus semelhantes e à sociedade em geral. Abre-me os olhos, a mente e o coração para reconhecer onde tu queres que eu pratique o bem. Dá-me forças para fazê-lo. Amém. Pai Nosso

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As conseqüências evitáveis Gênesis 11.1-9

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titudes provocam efeitos, palavras, reações. Pecados causam conseqüências. Toda a falta cometida contra Deus ocasiona algo de ruim para a pessoa ou para a humanidade. Isto é assim desde Eva e Adão. E quando o arrependimento não acontece, o poder regenerador do perdão não pode atuar. Daí as conseqüências vão aumentando e afastando cada vez mais o ser humano de seu Criador. O episódio da Torre de Babel, narrado em Gênesis 11, causou enormes estragos. Não pela idéia nem pela altura da construção. Se fosse por isso, o que diríamos dos modernos arranha-céus que nos sombreiam? A questão era mais embaixo, ou melhor, no fundo do coração. O problema da corajosa empreitada era a intenção dos idealizadores que só queriam aparecer, tornar-se famosos. É o que relata o versículo quatro: “... vamos construir uma cidade que tenha uma torre que chegue até o céu. Assim ficaremos famosos...”. Realmente ficaram famosos, só que pelo lado negativo, pelo castigo que receberam. Para evitarmos conseqüências desastrosas, precisamos investigar nossas intenções. Em nossos projetos de vida, o que buscamos realmente? Deus está de acordo com o que pretendemos? Seu nome é honrado? Palavras e atitudes provocam efeitos. Isso vale também para as palavras do Pai nosso “perdoa-nos as nossas dívidas” quando pronunciadas em humildade e fé. O perdão do nosso Pai alivia, milagrosamente, as conseqüências de todas as nossas falhas, pois seu amor é imensamente maior do que imaginamos. Só ele pode contornar tudo que é causado pelas más intenções. Agindo nesta certeza, cada vez mais nos aproximamos de Deus. E esse resultado é o que mais desejamos. Oração Senhor, sabemos que o pecado sempre está a nossa frente. Mas o teu perdão é regenerador. Socorre-nos ao sofrermos as conseqüências do pecado próprio e da humanidade. Por Jesus. Amém. Pai Nosso


O perdão de Deus Romanos 3.21-26

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os tempos da Universidade, certa vez esqueci de devolver um livro à Biblioteca. O atraso acarretava multa diária. Ao entregá-lo, vinte dias depois, ainda estava tentando encontrar uma boa desculpa capaz de evitar o prejuízo. Não tinha jeito. Calado, entreguei o livro para a bibliotecária. Ela olhou, percebeu o prazo vencido, arrumou os dados na minha ficha e disse: “Tudo certo. Só cuida para não atrasar de novo, tá moço?!”. Que alívio! A dívida havia sido deixada de lado. Havia recebido ajuda sem merecer. O apóstolo Paulo lembra: “Deus aceita as pessoas por meio da fé que elas têm em Jesus Cristo... pela sua graça, e sem exigir nada. Deus ofereceu Cristo como sacrifício para que, pela sua morte na cruz, Cristo se tornasse o meio de as pessoas receberem o perdão dos pecados” (Romanos 3.22-25). É esta atitude de Deus pela qual suplicamos ao orarmos “perdoa-nos as nossas dívidas”. Agarramo-nos na promessa de que Deus é misericordioso e, em sua graça, perdoa, sem merecermos e sem exigir nada em troca, as nossas transgressões. Diante da nossa dívida para com Deus, cujo pagamento deveria ser feito com a nossa vida, não adiantam desculpas. A solução é, calados, em humildade, crer no que Cristo fez por nós. Através dele, o Pai nos diz: “Está tudo certo!” Aquela dívida do livro, da qual me livrei, não custou nada a ninguém. A bibliotecária não a quitou por mim. Simplesmente a ignorou e a deixou de lado. A culpa dos nossos pecados não foi simplesmente esquecida. Ela foi paga! O perdão gracioso de Deus custou a vida de seu Filho único. Tudo ele fez unicamente por amor para que tenhamos a vida eterna. Esse é o perdão divino.

Oração Pai, teu perdão é renovador. Obrigado por este conhecimento de salvação. Ajuda-nos a deixarmos de lado desculpas e tentativas de justificar nossos erros. Fortalece a fé na tua graça que dá vida sem exigir nada em troca. Amém. Pai Nosso

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Pedindo perdão ao inimigo Lucas 23.34a

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esus surpreende. Do alto da cruz, quando os guardas tinham acabado de cumprir sua missão com todo rigor característico de quem tem o monopólio da força, exclamou: “Pai, perdoa essa gente. Eles não sabem o que estão fazendo” (Lucas 23.34). Por que Jesus agiu assim? Parece que diminuiu o pecado dos agentes do Estado que, na verdade, não o fizeram “sem querer”. Aquilo foi um exemplo prático de amor estendido aos outros. Jamais o perdão e o desejo de salvação dos outros devem ser esquecidos. O que Jesus fez nos desarma; esfria os ânimos; afrouxa os músculos enrijecidos de raiva, prontos à vingança. É possível agir como Cristo? Imagino gente cochichando “só santo, mesmo!” Pode ser duro, mas é verdade: Deus espera que você peça perdão pelos pecados dos que o chateiam, traem, machucam e entristecem. Assim como Jesus suplicou “Pai, perdoa-lhes”, cabe a você pronunciar estas palavras de bênção sobre seus devedores. Aí vão duas dicas para que isso se concretize: encare o pecado de uma forma diferente. O “não sabem o que fazem” dito por Jesus é norteador. Muitos pecam por ignorância. Outros, por estarem cegados pelo mal. Ainda não foram libertados pelo Espírito Santo. Depois, lembre que não cabe a você punir pecadores, mas perdoar. Agindo assim, você vai estender sobre os outros o amor divino. O amor de Jesus surpreende inimigos. Mas, em primeiro lugar, surpreende a nós mesmos quando nos vemos livres da culpa dos pecados. Seu amor nos move a orar para que o Pai perdoe os que pecam contra nós, demonstrando, assim, nossa disposição em vê-los juntos conosco no céu. Tal atitude vai surpreender! Oração Pai, “perdoa também a todos os nossos inimigos, a todos que nos fazem sofrer ou nos injustiçam, assim como também nós lhes perdoamos de coração”. Amém. (Lutero) Pai Nosso


Ninguém está livre do pecado João 8.7b

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partir do Batismo, cremos que estamos revestidos de Cristo. Pela fé, professamos que estamos lavados e regenerados no sangue do Cordeiro de Deus. E dizemos, ainda, que todo o dia na vida de uma pessoa cristã é um constante morrer com Jesus para o pecado e um renascer pela ressurreição do Cristo. A pessoa cristã é, na sua essência, portanto, justa e pecadora. Em João 8.1-11, algumas pessoas, com pedras nas mãos, cercaram uma mulher adúltera para condená-la por causa dos seus pecados. Jesus as desafia para que atirasse a primeira pedra, quem estivesse sem pecado. E ninguém atirou, pois todos são pecadores, também a pessoa cristã. Também ela é pecadora, por causa da fraqueza da carne. Mas, ao mesmo tempo, é justa por causa da misericórdia e do poder de Deus. Por isso, no nosso viver na fé, não deve haver espaço e lugar para vanglória e sentimentos de superioridade. O poder do pecado nos nivela com os outros pecadores. Embora revestidos de Cristo, o pecado continua a nos rondar, de dia e de noite, para nos sujeitar. Mesmo firmados sobre o fundamento de Cristo, continuamente somos assediados pelo mundo e pelo Diabo. Essa luta se trava em nós, diariamente. Isso faz parte de nossa constituição. É a marca registrada da nossa existência como pessoas cristãs. Desse modo, devemos sempre, diariamente, nos lembrar que dependemos da graça e do poder de Deus, que opera em nós pelo Santo Espírito. Sabemos, pela fé e pelos testemunhos, que ele é um Deus rico em perdoar. E mais ainda: é um Deus longânimo. Como o Cristo que escreve com o dedo na terra, ele demora a proferir a sentença. Mas o faz com justiça e misericórdia. Oração Querido Deus, nós te pedimos: concede-nos sempre a humildade de sabermos que dependemos da tua graça. Dá-nos um coração bondoso na relação com as outras pessoas. Fortalece-nos na vida e na fé. Amém. Pai Nosso

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Perdoar sempre Mateus 18.21-22

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vida da pessoa cristã está fundamentada sobre o amor e a misericórdia de Deus. É pela graça de Deus que nós podemos sempre de novo e concretamente ter um novo começo na vida. Deus está disposto a receber de volta a pessoa que errou, pecou ou deu mancada na vida. Isso é a expressão mais profunda da gratuidade do amor de Deus por nós. Ele é um Pai rico em perdoar. “Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós também perdoamos aos nossos devedores”. Assim reza a quinta prece do Pai nosso. Quando a oramos, pedimos que Deus perdoe os nossos pecados. Mesmo sem merecer, rogamos que nos conceda de graça o perdão de nossas dívidas para com ele, diariamente. De nossa parte, na mesma prece, dispomo-nos a agir da mesma forma em relação às outras pessoas que pecam contra nós. Nós nos dispomos a perdoar as dívidas que os outros têm para conosco. Orando esta prece, entramos em um compromisso de reciprocidade. “Se não perdoas, estás diante de uma sentença terrível: teus pecados também não serão perdoados” (Lutero). Nós pedimos a Deus pelo perdão. Simultaneamente nos comprometemos a perdoar. Isso é um compromisso diário que não se esgota em um determinado número de vezes. Pedro tentou quantificar o número de vezes que se deve perdoar: “Quantas vezes devo perdoar ...? Sete vezes?” Jesus faz um outro cálculo: “Não. Você não deve perdoar sete vezes – respondeu Jesus – mas setenta vezes sete” (Mateus 18.22). Ensinou que devemos perdoar até perder a conta. Fazendo isso, o próprio Cristo bebe da fonte da espiritualidade de Israel: “Pois o Eterno é bom; o seu amor dura para sempre, e a sua fidelidade não tem fim” (Salmo 100.5). Oração Querido Deus, renova a cada dia a tua graça sobre nós. Perdoa as nossas dívidas para contigo. Dá-nos um coração bondoso, disposto a perdoar e a sempre fazer o bem. Amém. Pai Nosso


Perdoar sim, esquecer nunca! Gênesis 50.15-21

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perdão brota da graça. É gratuidade. Sempre que oramos o Pai nosso, pedimos a Deus que ele perdoe as nossas dívidas para com ele. Igualmente, nos comprometemos a perdoar aquelas pessoas que nos devem. Perdoar deve ser um ato que se renova a cada dia. O perdão não se esgota em um determinado número de vezes. Perdão é sem-número! Assim como a graça de Deus, deve ser renovado sempre de novo, em gratuidade. Perdoar, porém, não é um ato cego ou superficial. O perdão estabelece a base para um novo começo. E o novo início não deve ser a repetição do que passou. Deve haver novidade de vida, nova qualidade na relação. No Memorial do Holocausto, em Jerusalém, há uma frase escrita no portal de entrada: “Esquecer leva ao banimento, relembrar acelera a redenção”. O esquecimento leva à repetição do pecado. Faz repetir os mesmos erros. A culpa precisa ser trabalhada. A situação de pecado deve levar à conversão, à mudança de vida, a criar um coração novo. Só assim pode surgir uma nova qualidade na relação. Gênesis 50.15-21 relata a reconciliação definitiva de José com seus irmãos. Passados muitos anos de ressentimentos e sentimentos de culpa, os irmãos, temendo vingança, pedem perdão pelos atos cometidos contra José. Este, ao contrário do temor dos irmãos, lhes diz: “Não tenham medo. Eu cuidarei de vocês” (v. 21). houve perdão, não esquecimento. Perdoar alguém implica rearranjar todo o interior da pessoa. Significa, também, reorganizar a sua relação para fora, com outras pessoas. Perdão implica renegociar um novo início. É, ao mesmo tempo, um ato interno e externo. O perdão abre as portas para uma vida nova. Oração Querido Deus! Renova em nós a tua graça. Dá-nos a capacidade para reconhecermos nossos erros e para perdoarmos. Ampara-nos com teu Santo Espírito para uma nova relação contigo e com nosso próximo. Amém. Pai Nosso

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É perdoando que se é perdoado Mateus 6.14-15

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omo é consolador para um coração aflito ou uma consciência atribulada receber a doce notícia do Evangelho: “Coragem, meu filho, os seus pecados estão perdoados” (Mateus 9.2). É pelo ensino bíblico que sabemos da nossa situação pecadora e de como Deus vem ao nosso encontro para dar-nos o perdão. O Pai celeste faz isso por amor a nós. E como é bom receber esse consolo. Mas tão importante como o perdão que necessitamos e recebemos, é saber perdoar alguém que porventura tenha agido conosco de forma incorreta. Na quinta petição do Pai nosso e na parábola do credor incompassivo (Mateus 18.23-35), Jesus ensina que, se nós almejamos o perdão, também devemos saber perdoar. Isso faz parte da vida cristã. O verdadeiro perdão vem do coração que foi regenerado, pois o perdão é um dos sinais da verdadeira fé. Por outro lado, jamais devemos pensar que, com o nosso perdoar, somos atraídos pelo favor de Deus e assim recebemos o perdão. Não. Deus nos concede o perdão inteiramente de graça, conforme ensina o Evangelho. O nosso perdoar é fruto do amor que Deus tem por nós. “Se, porém, perdoas, então tens o consolo e a certeza de que se te perdoa a ti... Ele (Deus) nos põe isso para fortalecimento e segurança, como sinal, a par da promessa que concorda com esta oração em Lucas 6: ‘Perdoai, e sereis perdoados’” (Lutero). Peçamos sempre perdão a Deus. Perdoemos sempre o nosso próximo. Que se cumpra em nós aquilo que o apóstolo Paulo escreve em Efésios 4. 32: “... sejam bons e delicados uns com os outros. E perdoem uns aos outros, como Deus, por meio de Cristo, perdoou a vocês”. Perdão é sinal do Reino de Deus e faz bem para todos! Oração Gracioso Pai celestial, tu és rico em bondade e misericórdia. Perdoa os nossos pecados. Dá-nos um coração complacente para que também saibamos perdoar o nosso próximo. Em nome de Jesus. Amém. Pai Nosso


Perdão e nova vida Lucas 23.42-43

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á momentos na vida em que parece que tudo está perdido, que não há mais solução. De fato, podem haver situações que não permitem uma meia-volta, um voltar atrás. Quem sabe, não era esse o pensamento daquele malfeitor que dialogou com Jesus no momento da crucificação! Que perspectiva tinha aquele homem naquela situação de condenado? Humanamente falando, sua única perspectiva era morrer, porque já estava sofrendo a execução. Após pedir que Jesus se lembrasse dele ao estabelecer seu Reino, o Salvador lança ao coração daquele homem o bálsamo que, seguramente, trouxe paz e refrigério naquele momento final de vida: “Eu lhe afirmo que hoje você estará comigo no paraíso” (v. 43). O diálogo entre Jesus e o malfeitor ilustra muito bem o fato de que a salvação dirige-se a todas as pessoas, sem distinção. E é pela graça de Deus que isso se torna real em nossa vida, pois através de Cristo temos perdão real de todos os nossos pecados e a certeza de uma nova vida. É um presente imerecido que recebemos de Deus. Em Jesus temos a perspectiva de recomeço, de uma nova vida. Nele, podemos, pois, confiar e depositar nossa esperança. “Tal confiança e coração alegre, entretanto, de nenhuma outra coisa pode vir senão disso, de saber que os pecados lhe estão perdoados” (Lutero). Movidos pelo amor que Deus tem por nós e pelo consolo do perdão de nossos pecados, também iremos servir com mais alegria e testemunhar perante o nosso próximo acerca de tudo aquilo que o Senhor tem feito em nosso favor. Testemunhemos com toda a alegria e liberdade a nova vida que recebemos de Deus através do perdão dos nossos pecados. Oração Como é bom saber, querido Pai do céu, que diariamente perdoas os nossos pecados e que em ti a nossa perspectiva é de vida e salvação. Alegra sempre o nosso coração, na certeza de que em ti renascemos todos os dias para uma nova vida. Em nome de Jesus. Amém. Pai Nosso

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Pedir perdão, um gesto de humildade 1 Samuel 15.24-25

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mbora sejamos cristãos e pessoas tementes a Deus, ainda estamos sujeitos ao erro, à queda e ao fracasso. “Diariamente ainda tropeçamos e nos excedemos, porque vivemos no mundo entre homens que nos infligem muitos sofrimentos e dão motivo para impaciência, ira, vingança, etc.” (Lutero). Em conseqüência, por mais que cuidemos, ainda desobedecemos a Deus, falhamos em relação ao nosso próximo, nossa família e mesmo em relação à congregação. Isso faz parte do nosso ser natural. Por isso, Jesus também nos ensinou a pedir perdão e a perdoar. E todos nós precisamos fazê-lo. Ninguém está livre disso. Na realidade, pedir perdão é um gesto de humildade revestido de grandeza. Renova diariamente nossa vida cristã perante Deus e nosso próximo, une pessoas, ajuda a reatar relações interrompidas entre irmãos, esposa e marido, pais e filhos, entre membros da congregação e também na vida política. E Deus espera que cada um de seus filhos possa fazê-lo diariamente. No texto bíblico de referência, Saul reconheceu o seu erro e pediu perdão a Deus, depois de ouvir a advertência de Samuel, mas mesmo assim teve que responder pelos seus atos, porque desobedecera às ordens do Senhor. Jamais devemos esquecer o fato de que se nós podemos pedir perdão e perdoar é porque Deus nos amou em Cristo e através dele nos tornou seus filhos, dando-nos a conhecer sua vontade. E a vontade do Senhor é que vivamos uma vida justa e correta perante ele. Que Deus mantenha em nós um coração humilde, para nunca esquecermos de pedir perdão e de perdoar, de buscar diariamente ao Senhor. Fazendo isso, estaremos cumprindo a boa vontade de Deus em nossa vida. Oração Querido Pai do céu, a minha alegria se renova cada vez que recebo o teu perdão. Ajuda-me também a pedir perdão ao meu próximo e a perdoar sempre. Em nome de Jesus. Amém. Pai Nosso


Tentação ou prova? Gênesis 22.1-19

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erá que Deus tem prazer no sofrimento de Abraão, a quem prometera uma descendência numerosa? Ou Deus está brin cando com os seus sentimentos? Ou faz tudo isso para tentálo? Não é por aqui o caminho de interpretação do texto. “Deus, em verdade, não tenta ninguém” (Lutero), apenas põe a fé das pessoas à prova. Por isso quero destacar um outro eixo desta história. A Boa Notícia do texto é que Isaque, a criança tão desejada, não é sacrificada! A prática do sacrifício de crianças pelo Estado era algo conhecido na época. Servia para aplacar a ira dos deuses cananeus. Na luta pela preservação do poder sempre sobra para as pessoas mais fracas. Em nosso país não é diferente. O Estado daquele tempo necessitava do sacrifício de crianças para se fortalecer. Neste contexto, Abraão tem sua fé posta à prova. E ele mostra-se servo obediente, veste a camisa da obediência, quebra a lei religiosa, que previa sacrifícios, também de crianças. Aliás, obediência da fé cristã não carece de leis e regulamentos. A obediência dos filhos de Deus é resposta livre ao amor de Deus. O Deus da Bíblia é contrário ao sacrifício de pessoas. A narrativa da prova de Abraão mostra, na realidade, um Deus que preserva a vida de Isaque e de todas as pessoas indefesas. Nosso Deus não deseja sacrifícios e nem a morte. Ele não exige sacrifícios. Na pessoa de Jesus Cristo, Deus mesmo foi sacrificado, para que não houvesse mais sacrifícios humanos. Cremos em Deus que protege a vida para ampará-la e salvá-la. Na Páscoa, Deus revelou o quanto cuidou da vida do seu único Filho, esperança nossa, na tentação, e quando o egoísmo humano nos prova.

Oração Senhor Deus, quando fardos pesados machucam a nossa caminhada, ajuda-nos! Dá-nos olhos claros que descobrem a tua proximidade. Prometeste que jamais nos abandonarias. Esta é a nossa esperança, motivo de paz e gratidão. Amém. Pai Nosso

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Tentação Gênesis 3.1-13

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ocês conhecem um caleidoscópio? As faces de tiras de espelho, quando giradas, produzem uma combinação de imagens coloridas, bonitas e interessantes. A vida humana é assim: um conjunto de aspectos bons e positivos que se mesclam com lados negativos e destruidores. “Não nos deixes cair em tentação”, é o pedido da oração do Pai nosso. A vida é um vaivem de vontades próprias e do projeto de Deus. Vida e morte são grandezas inseparáveis desde o início da criação (gênesis 2 e 3). Formam um conjunto como as partículas do caleidoscópio. A Bíblia, bússola da fé, revela que a experiência negativa da tentação tem a sua fonte no desejo de autonomia do ser humano em relação ao seu Criador. Homem e mulher querem ser mais do que humanos. Sua vontade é serem também divinos. Querem “conhecer o bem e o mal” (v. 5), querem ser oniscientes, conhecer tudo! E isto é atributo exclusivo de Deus. O anseio por liberdade total promove distância de Deus. Quem se deixa convencer pela serpente e ingressa no seu mundo, quem adere à idolatria, destrói o relacionamento com Deus e deixa de conviver responsavelmente com as outras pessoas. Por fim, faz da própria vida uma ruína. Graças a Deus não estamos sozinhos neste conflito entre o projeto de vida e de morte. Jesus nos fortalece, nos apóia e mostra o caminho da liberdade. A cruz salvadora de Cristo nos marca desde o Batismo. Ela, porém, não isenta das maldições. A proximidade de Cristo capacita à resistência a todo tipo de idolatria e tentações. A esperança acompanha as pessoas desde o princípio. Por essa razão, somos filhos e filhas de Deus muito privilegiados e privilegiadas.

Oração Senhor, tu nos conheces e sabes o quanto perdemos na vida. Confessamos que perdemos a ti e a própria vida. Mas tu és maior do que a nossa culpa. Isto nos anima e fortalece para uma vida cheia de sentido, vida que tem graça. Por Jesus Cristo. Amém. Pai Nosso


Deus não tenta ninguém! Lucas 22.40

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uero convidar os leitores e as leitoras para um passeio. Vamos a um lugar público, um jardim, perto de Jerusalém. A Bíblia conhece vários jardins: o Jardim do Éden, por exemplo (Gênesis 2). Após a Páscoa, num Jardim, Jesus, o ressurreto, é confundido com o jardineiro (João 20.15). E antes da crucificação, Jesus recolhe-se ao silêncio da oração no Jardim do Getsêmani, no monte das Oliveiras (Lucas 22.39). É neste Jardim que o Mestre dirige-se a seus discípulos e lhes diz: “Orem para que não caiam em tentação”. Ali, Jesus vive toda a sua humanidade de forma muito intensa. Ele anseia por ajuda para superar a própria tentação de ser infiel à missão de Deus. Para o cumprimento da missão, é preciso o apoio do Pai. Por isso, “Orem...”. As tentações geradas pelo egoísmo humano nos acompanham. Elas geram medo e mexem com o corpo e a mente. Sentimento de culpa, de vergonha, desestruturam a vida e dificultam o convívio humano. Quem já não fez essa experiência? Jesus conhece a vida humana. Ele também conhecia a vida dos seus discípulos. Sabia que o ser humano vive mais sob o signo do medo do que da liberdade de confiar. Por isso, anima à oração. Nosso Deus é mais forte do que as tentações; ele é mais forte do que o egoísmo humano. Jesus Cristo nos acompanha no caminho da culpa, da mentira, da vergonha, para nos amparar e libertar do medo das tentações. Jesus venceu as tentações, no deserto, sendo obediente ao Pai. Ele tinha certeza de que, apesar das tentações que lhe foram infligidas por Satanás, Deus o carregava em seus braços. Sabia que “Deus, em verdade, não tenta ninguém” (Lutero). Esta também é nossa certeza. Oração Obrigado, Senhor Deus, porque tu és amigo da vida e nos fortaleces, em especial, nas dificuldades e tentações. Colocamos diante de ti as próprias tentações e maus pensamentos. Lembramos também as tentações que pesam na vida de muitas outras pessoas. Amém. Pai Nosso

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A luta contra a carne Colossenses 3.5-7

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er cristão é viver em luta constante, especialmente contra a “carne”, que nos tenta com desejos pecaminosos. “Carne”, aqui, é a porção terrena do homem, com seus desejos, tendências e inclinações. Denota personalidade inteira da pessoa, organizada na direção errada, pois está dirigida para propósitos terrenos, e não para servir a Deus. Segundo a Bíblia, essa tendência é “inimizade contra Deus”. A pessoa limitada pela carne, naturalmente estará em oposição a Deus, pois “a carne luta contra o Espírito” (Gálatas 5.17). São as “obras da carne” que escravizam o homem de todos os tempos, e que o cristão precisa fazer morrer diariamente pela confissão, arrependimento e perdão: imoralidade, indecência, paixões baixas, maus desejos e cobiças. São práticas de vida já ultrapassadas, nem sempre percebidas porque não combinam com aquele que está em Cristo, pois “quando alguém está em Cristo, é uma nova pessoa; acabou-se o que é velho, e o novo já veio” (2 Coríntios 5.17), alerta o apóstolo Paulo. Ainda hoje, os cristãos, também você, são tentados pelas manifestações da carne. E saiba que Deus não tolera esse tipo de comportamento, pois é desobediência à sua vontade. Ele promete castigar aqueles que insistem em viver dessa forma. Ele recomenda: “... façam morrer os desejos deste mundo...” (v. 5). Faça morrer os maus desejos, lute contra a carne, apegando-se fielmente às promessas e palavras de Deus. Jesus garante: “Se vocês obedecerem às minhas palavras, serão de fato meus seguidores” (João 8.31). E como seguidor, você pode contar com a ajuda do Pai na luta contra a carne. Oração Querido Deus, ajuda-nos a vencer a carne que nos tenta diariamente. Concede-nos o discernimento necessário para perceber a sua atuação em nossa vida e força suficiente para vencer a sua influência. Amém. Pai Nosso


Lutando contra a tentação 1 Coríntios 10.13

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ocê já foi tentado? Você soube lutar contra a tentação? Quando Cristo ordenou aos seus seguidores: “Vigiem e orem para que não sejam tentados” (Marcos 14.38) e ensinou no Pai nosso: “E não nos deixes cair em tentação”, demonstrou sua preocupação em preparar os seus seguidores para a luta contra a tentação, que ocorre por pensamentos, palavras e ações. Ela é diária e constante. Ela nos põe à prova, coloca-nos numa decisão a favor ou contra. Apresenta-se entre Deus e nós, criando situações de oposição à vontade de Deus e rompendo nosso relacionamento harmonioso de fé com o Pai. São testes onde os seguidores de Jesus se vêem frente a frente com novas possibilidades e opções de bem ou mal, infelizmente mais voltados para o mal e muito menos para o bem. O povo de Israel no Antigo Testamento tentou a Deus rebelandose contra a sua vontade. No Novo Testamento, os inimigos tentam Jesus, medindo sua capacidade e explorando o seu poder divino, procurando encontrar nele algo que pudessem usar contra ele. Com a gente acontece o mesmo. Não somos diferentes. Nos deixamos levar pelas tentações, tomamos atitudes de rebeldia, de dúvida, egoísmo, vaidade, tentamos a Deus e a sua vontade. Paulo lembra, porém, que há uma garantia para os seguidores de Jesus: Deus está do nosso lado, oferecendo a sua força para que possamos vencer as tentações. Embora sejamos tentados continuamente, Deus dará forças para suportarmos e sairmos dela vencedores. Juntamente com a tentação, Deus provê o livramento (1 Coríntios 10.13). Afirmação de Paulo, garantia de Deus! Apegue-se a ele e, sem dúvida, você poderá vencer essa luta. Oração Querido Pai, permanece ao nosso lado, oferecendo força para vencer tentações, não permitindo que cheguemos a cair, mas nos amparando se fraquejarmos diante delas. Amém. Pai Nosso

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Vencendo o poder do mundo Mateus 4.8-9

O

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s filhos de Deus têm três grandes inimigos: o Diabo, o mundo e a própria carne (a velha natureza). O mundo sabe como oferecer, de forma convincente, exatamente aquilo que a velha natureza gosta: fama, dinheiro fácil, mocidade, beleza física, más companhias, falsas promessas, ameaças... É o poder do mundo alterando os nossos costumes, modificando nossa maneira de viver, semeando conflitos espirituais, levando à rebeldia contra Deus. Foi o que o Diabo tentou, propondo que Jesus se ajoelhasse e o adorasse. Uma ação rápida, aparentemente mera formalidade, e tudo seria mais fácil para Jesus. Em troca, ele teria riquezas, poder e a glória deste mundo. Jesus, porém, resistiu. Você também pode lutar e vencer o poder que escraviza. Confie e creia em Jesus, porque ele é mais forte e mais poderoso do que seus inimigos e o próprio Diabo. Ele ensinou como sair vencedor. É a firmeza e o apego à Palavra de Deus que fazem a diferença no momento que o mundo quer nos influenciar com o seu poder. Jesus não permitiu que as coisas do mundo “virassem a sua cabeça” porque ele tinha consciência do alto preço a ser pago para ganhá-las. Ele sabia que a cobiça e o apego a elas estragam o bom relacionamento com Deus, modificam a nossa maneira de ver a Deus e as coisas que ele criou. Podemos nos tornar escravos das coisas, e o que é pior, escravos do pecado e rebeldes contra Deus. É um preço muito alto: investir nas coisas do mundo em nome de uma satisfação passageira para, no final, perder o lugar no céu. Fique firme e apegado à Palavra de Deus. Faça como Jesus: não troque sua condição de filho de Deus pela riqueza, poder e glória do mundo! Oração Senhor Jesus, protege-nos contra a influência do mundo e dá-nos forças para superá-la quando nossa fé estiver em perigo. Amém.

Pai Nosso


O poder do Diabo Efésios 6.11

N

a explicação da sexta prece do Pai nosso, Lutero propõe que a “tentação é de três espécies: da carne, do mundo e do Diabo”. Quando se fala em Diabo, as pessoas normalmente dão um sorriso de desprezo. Imaginam uma figura dotada de dois chifres, patas de cavalo, carregando um tridente na mão para espetar e castigar os infelizes que padecem no inferno, fervendo num panelão. A conseqüência desta imagem é que ninguém leva a sério o poder do Diabo, ninguém o teme e ninguém treme diante dele. De fato, esta figura triste e ridícula não assusta ninguém. Ela é uma criação da Idade Média, quando se via o Diabo como uma pessoa. Conta-se que o próprio Lutero jogava o tinteiro contra o Diabo quando se sentia atormentado. Mas, será que o apóstolo Paulo também pensa nesta triste figura quando fala nas “armadilhas do Diabo”? Diabo vem do grego “diábolos” e significa perturbador, caluniador. Podemos defini-lo, pois, como sendo o poder e a força que perturba e calunia a boa ordem criada e estabelecida por Deus. Neste sentido, o Diabo, de fato, existe. Não conseguimos vê-lo, pois ele não existe como um ser descrito acima. Porém, vemos os estragos que ele faz: destrói pessoas, casamentos, famílias; na vida social, gera miséria, criminalidade; na política, gera corrupção. O poder do Diabo é muito forte. Ele vem de fora, mas também está e age em cada pessoa, também na cristã. Para combatê-lo, o apóstolo Paulo propõe a arma por excelência, a única eficaz e plenamente confiável: “Levem sempre a fé como escudo... e a palavra de Deus como a espada que o Espírito Santo dá a vocês... Orem sempre, guiados pelo Espírito de Deus” (Efésios 6.17,18). Oração Obrigado, Senhor, por abrires os nossos olhos para a realidade do mal neste mundo. Dá-nos espírito claro para que possamos reconhecer as suas ciladas. Veste-nos com a tua verdade e com o teu Espírito Santo para que não nos deixemos seduzir por ele. Amém. Pai Nosso

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Prêmio pela vitória: a coroa da vida Apocalipse 3.10

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eus é fiel. Fiel a você. Fiel a mim. Fiel, especialmente à sua Palavra que permanece para sempre. Ele fez uma aliança: quis ser o nosso Deus e convidou-nos para sermos o seu povo. Pela ação do seu Espírito, ele cuida de nós. Ora por nós, especialmente quando estamos fragilizados e não sabemos orar. Fez-nos conforme a sua imagem e semelhança e espera também a nossa fidelidade. Com Jesus Cristo, armou definitivamente a sua tenda entre nós. Entretanto, podemos fracassar e vacilar. Não é verdade que o cristão está vacinado contra as tentações. O Batismo e a confirmação não são fórmulas mágicas de garantia de saúde, paz e felicidade nesta terra. Ser cristão significa seguir os passos de Jesus. O cristão, individualmente, e o povo de Deus, coletivamente, não estão livres das tentações, que podem, em qualquer momento, bater à porta. Isso o próprio Cristo afirmou, quando disse: “No mundo vocês vão sofrer” (João 16.33). Entretanto, Deus impõe limites à tentação. Quando você se sentir tentado ou provado, lembre-se que Deus está do seu lado. Pertinho de você. A provação não dura o tempo todo. Deus não tem interesse que você sucumba diante da tentação e do sofrimento. Ele quer que você consiga resistir e alcance a vitória final e seja contemplado com a coroa da vida. Quando oramos na sexta prece do Pai nosso “e não nos deixes cair em tentação”, estamos, além de suplicar para que não sejamos tentados, manifestando também a certeza e a convicção de que o querido Pai, nos quer conduzir à vitória para que “ainda que tentados, vençamos, afinal, e retenhamos a vitória” (Lutero). Que o querido Pai nos conduza à vitória!

Oração Senhor Deus, que o teu sim anule o nosso não e que o teu Santo Espírito nos faça perseverantes na fé, para que possamos vencer toda a provação e alcançar, com a tua graça, a coroa da vida. Por Jesus Cristo, teu Filho. Amém. Pai Nosso


Ai dos que provocam escândalo! Mateus 18.6-7

O

texto de referência bíblica é severo. Jesus condena o pecado do escândalo. Reconhece, dada à realidade humana, a sua inevitabilidade. Mas, ai do mundo, ai do culpado, ai daquele pelo qual vem o escândalo. Jesus continua: é melhor perder a mão, o pé, o olho, do que dele afastar os que crêem. Olho, pé, mão. Podemos pensar literalmente no significado dessa condenação radical. Os olhos – contemplação das seduções do mundo e sua elaboração mental; os pés – caminho para alcançar, talvez até mesmo o que condenamos; as mãos – ação que concretiza o que ainda poderia ser evitado. Olho, pé, mão – esta trilogia do pecado do escândalo é simbólica, resume as muitas tentações que recaem sobre nós e nos submetem ao poder do mal, às várias faces do adversário. Como as experiências de Cristo no deserto, lembrando o teólogo Dietrich Bonhoeffer, estamos sujeitos à tentação da carne, do espírito e à “tentação total”. A primeira inclui riquezas ilícitas à custa dos pobres, exploração do outro e outros abusos; a tentação do espírito pode manifestar-se na sedução das ideologias, no autoritarismo; a tentação total é a negação ou rebelião contra o próprio Deus. Tudo isso, e muito mais, passa pelos olhos, pelos pés, pelas mãos. Faz parte da nossa natureza finita, assim como se multiplica em escândalos nas próprias estruturas de poder do nosso país. Nosso sim ao privilegio da vida cristã, inclui um não aos escândalos. Na sexta prece do Pai nosso, rogamos a Deus que nós mesmos não sejamos tentados, mas que também outras pessoas não sejam tentadas e escandalizadas por nosso intermédio. Disso nos preserve o querido Pai! Oração Débeis e enfermos andamos, ó Pai, e a tentação é grande e diversa na carne e no mundo. Pai amado, sustenta-nos e não nos deixes cair em tentação, e pecar novamente. Amém. (Lutero) Pai Nosso

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Resista à tentação! Provérbios 1.10

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migos leitores! De que maneira podemos dizer “não” às tentações que nos sobrevêm? Como resistir a elas? Deus, na verdade, a ninguém tenta para o mal. Mas é o Diabo, o mundo e a nossa própria carne que sempre novamente o fazem. Os jovens são tentados, principalmente no que diz respeito às paixões. Os adultos, de modo geral, são tentados pelas coisas do mundo, e os cristãos fortes na fé, pelo Diabo. Por isso, sabendo de onde vêm as tentações, importa resistir quando alguém nos quer induzir ou levar para o mal. E para isso o próprio Deus nos dá força. É ele que não permite que caiamos nas armadilhas e arapucas que são colocadas diante de nós com o fim de pecarmos muito e diariamente. Ele deu seu próprio Filho Jesus Cristo, o qual morreu na cruz por nós e resistiu vitoriosamente a todas as tentações, usando poderosamente a Palavra de Deus. “Está escrito” – com este argumento Jesus resistiu às diversas investidas de Satanás (cf. Mateus 4.1-11). E diante disso, “o Diabo o deixou!” (Mateus 4.11). “Está escrito” – esta é a arma que Deus deu nas nossas mãos para resistirmos às tentações! Conta-se a história de um jovem recém-convertido a Cristo. Perguntado se estava seguro de que não cairia mais em tentação, respondeu: “Antes da conversão, quando a tentação batia às portas de meu coração, eu abria e procurava ver quem era. E neste momento, a tentação aproveitava e entrava. Agora, depois da minha conversão, quando a tentação bate à porta do meu coração, quem vai atender em meu lugar é Jesus. E quando a tentação vê quem atende a porta, ela foge apavorada. Desde que Cristo habita em mim, tenho podido resistir”.

Oração Pai nosso que estás nos céus, sabemos o quanto somos tentados para cairmos em pecado e toda sorte de males. Dá-nos o teu Espírito Santo para que possamos resistir firmemente quando as tentações sobrevêm. Perdoa-nos quando caímos em pecado. Amém. Pai Nosso


Prevenção contra a tentação Efésios 6.13

É

melhor prevenir do que remediar”. Essa máxima é usada principalmente em relação à saúde física, mas se aplica muito bem também à saúde espiritual, no que diz respeito à tentação. Por isso queremos abordar como podemos nos prevenir contra as armadilhas que são postas em nossos caminhos pelo Diabo, pelo mundo e pela nossa própria carne. O apóstolo Paulo recomenda: “... peguem a armadura de Deus” (Efésios 6.13). Todos os demônios e espíritos malignos estão empenhados e em pé de guerra contra os cristãos para puxá-los para dentro do inferno. Por isso faz-se necessária a armadura de Deus. E o que é esta armadura de Deus? Ela nada mais é do que a própria Palavra de Deus. É ela que nos dá condições para nos prevenirmos contra os ataques do inimigo maligno. Conhecer bem a verdade e viver nela, já é meio caminho andado em direção à prevenção contra as tentações. Agora, quem não conhece a verdade, certamente, torna-se muito vulnerável e tem muito mais propensão à tentação e ao pecado. Usar, pois a armadura de Deus, é viver o Evangelho salvador de Jesus Cristo; é viver a fé no Salvador de forma intensa e atuante; é viver a fé ativa no amor e é viver o perdão, conquistado por Jesus na cruz para toda a humanidade, de forma tal que este perdão possa servir de escudo para prevenir contra futuros ataques. Usar a armadura de Deus, enfim, é fazer valer o que Paulo diz aos colossenses, no capítulo 3.16: “Que a mensagem de Cristo, com toda a sua riqueza, viva no coração de vocês”. A Palavra de Deus, a oração e o trabalho em geral, mas principalmente o trabalho no Reino de Deus, são as melhores prevenções contra a tentação. Oração Pai nosso, dá-nos o teu Santo Espírito em rica medida, para que possamos pegar toda a armadura de Deus e, dessa forma, nos prevenir contra as tentações. Que a tua Palavra, lida e estudada com dedicação e regularidade nos fortaleça! Amém. Pai Nosso

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Todos somos tentados sempre Gênesis 4.6-7

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m dos capítulos mais tristes da história da humanidade é o que diz respeito à tentação. Caim foi um exemplo neste sentido. Aliás, todas as pessoas são tentadas, e sempre de novo caem em contínua e obstinada tentação. Lutero disse: “Embora tenhamos recebido o perdão e uma boa consciência, e estejamos inteiramente absolvidos, a vida, contudo, é tal, que hoje alguém está de pé e amanhã cai”. A nossa carne nos incita à preguiça, vida suja, comilanças exageradas, avareza e enganos que lesam o próximo. O mundo também se associa na luta para que, com palavras e obras, por raiva e impaciência, sejamos invejosos, provoquemos inimizades, vivamos em violência no lar e fora dele, sejamos infiéis para com o cônjuge, os filhos, os pais e, acima de tudo, para com Deus. Somos tentados a nos vingar, falar mal dos outros, viver em orgulho, honra, fama e poder. Ninguém quer ser o menor, o que serve, mas cada qual quer ser superior ao outro. Tudo isso é instigado pelo Diabo, que, de forma especial, induz a que desprezemos a Deus e sua Palavra. Seu objetivo maior é nos tirar a fé em Jesus Cristo, o amor e a esperança da vida eterna. Por isso, quer que sejamos supersticiosos, que tenhamos fé e esperanças falsas, e que caiamos no desespero de qualquer sofrimento ou vícios. “Estes são os laços ou redes, os verdadeiros ‘dados inflamados’ que o diabo atira ao coração da maneira mais venenosa” (Lutero). Por estarmos sujeitos às mais diversas tentações, faz-se urgente que evitemos lugares e companhias que nos querem arrastar para o pecado. A recomendação do Senhor Jesus é: “Vigiem e orem para que não sejam tentados” (Marcos 14.38). Oração Pai nosso, não nos deixes cair em tentação. Enche nossos corações de santos desejos, ensina-nos a fugir de tudo quanto é pecaminoso e de todas as ciladas do Diabo, do mundo e da nossa carne. Concede-nos a graça de buscarmos sempre o perdão que só Jesus pode oferecer. Amém. Pai Nosso


De onde veio o joio? Mateus 13.25-28a

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ara chegar à igrejinha do outro lado do vale, precisei atravessar as águas represadas do Itajaí do Sul, numa canoa. Já de longe, percebi algo diferente. Em grupinhos, à volta do templo, aquela comunidade de agricultores conversava agitada. Ao chegar, ouvi a história que alvoroçava a todos: um crime bárbaro, acontecido tempos atrás, havia sido desvendado pela polícia. Um parente da cidade trazia, agora, a notícia de que uma pessoa criada na vizinhança cometera a atrocidade. Por isso, todos estavam a debater agitados: “Como pode alguém com quem haviam convivido por anos e em quem confiavam, chegar a fazer isso?...”. Todos o conheciam, conheciam sua família! Como pode suceder uma coisa dessas? É disso que nosso Senhor Jesus trata na parábola do joio. Um agricultor havia semeado semente boa. Mas, misturado ao trigo, nasce erva daninha. Por isso, seus servos perguntam-lhe: “O senhor não semeou boa semente em seu campo? Então, de onde veio o joio?” (v. 27). Deus não criou um mundo bom e perfeito? De onde, pois, vem a maldade que o atormenta? A agitação da comunidade e dos servos tem, ainda, uma dimensão mais profunda que precisamos perceber: todos ficaram tão afetados, porque sentiram que este abismo do mal, esta semeadura do inimigo, perpassa a sua própria existência! Nossa pergunta mais angustiante é: “Senhor, de onde vem a malignidade que está em mim?” – “Por que faço o mal que eu não quero?” (Romanos 7.19). Que o Espírito Santo o ajude a compreender de onde vem o joio que a toda hora está sendo semeado em sua vida, para poder orar com as palavras da sétima prece do Pai nosso: “Mas livra-nos do mal”.

Oração Oh, Papai amado! Tua palavra quer levar-me ao reconhecimento da semeadura do maligno em minha própria vida. Obrigado que tu tocas nesta ferida como médico que quer tratá-la. Sara-nos, Senhor, pelo sangue de Jesus! Amém. Pai Nosso

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Somos maus? Mateus 9.1-2

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novo código de trânsito renovou a nossa consciência de culpa. Ao menos, quando outros infringem a lei, nós não hesitamos em apontar o seu pecado. Quando nós mesmos o fazemos, a história é outra. No caso do nosso próprio envolvimento e comprometimento, não somos tão categóricos! Ainda assim, tememos todos os tais pontos que são registrados na polícia e descontados na nossa carteira de habilitação. Mas, os atos pecaminosos são apenas a ponta do iceberg. Apenas 1/7 dessas imensas montanhas de gelo são visíveis; 6/7 ficam sob a superfície. Lembremos a figura do joio, escondido na terra, que cresce sorrateiramente junto com o trigo na lavoura de Deus (cf. Mateus 13.24-28a). No nosso jardim há uma erva daninha conhecida por “cebolinha” ou “tiririca”. Você a conhece? De nada adianta cortá-la com a enxada, rente ao chão. Dum fiapo de sua raiz, ela é capaz de reproduzir-se, espalhar-se e contaminar um jardim inteiro. Um metro de aterro não acaba com ela. Assim, de nada vale tratar do mal que é visível, é preciso chegar à raiz. Por isso, Jesus disse ao paralítico: “Coragem, meu filho, os seus pecados estão perdoados” (v. 2), tratando, dessa forma, esta raiz do pecado, a semeadura do inimigo e nossas vidas. Só Jesus quer e pode vencer os abismos que nos separam de Deus e sarar a nossa rebelião contra ele, que insiste em fazer o mal. Por meio dele, Deus livra-nos do Diabo, este “nosso inimigo principal”. O Filho de Deus veio ao mundo com este propósito. Por causa dele, nós podemos ter certeza de que Deus quer ajudar-nos de modo que podemos clamar “mas livra-nos do mal” na certeza de sermos ouvidos.

Oração Senhor, os abismos do mal em meu próprio coração me atormentam e atemorizam terrivelmente. Obrigado que tu me animas a aceitar a tua ajuda e o teu socorro! Quero confiar na tua mão estendida, crer na tua Palavra. Amém. Pai Nosso


A libertação é palpável Mateus 9.3-7

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abemos o quanto a semeadura do inimigo de Deus nos atemoriza. Este profundo temor resulta numa paralisia da vida e é progressiva. Havíamos amarrado o nosso cachorro numa corrente comprida. Mas a cada volta que ele dava na árvore que prendia a corrente, seu raio de ação diminuía. Por fim, acabou totalmente imobilizado. Quando clamamos a Deus para livrar-nos do mal, ele, realmente, intervém, e sua libertação é palpável e concreta. Na sua cura, o paralítico teve esta experiência maravilhosa. Jesus perdoa os seus pecados, colocando-o novamente de pé diante de Deus. E, depois, recupera também suas funções físicas. No encontro de Jesus conosco é restabelecida a nossa comunhão com Deus que “nos libertou do poder da escuridão e nos trouxe em segurança para o Reino do seu Filho amado. É ele quem nos liberta, e é por meio dele que os nossos pecados são perdoados” (Colossenses 1.13s.). Assim, a prece por libertação do mal inclui todas as manifestações concretas do mal “que afetam o corpo e a alma, os bens e a honra” (Lutero). Inclui a injustiça que sofremos, a crise conjugal que nos atormenta; o vício da bebida, a dependência de drogas. Podemos confiar que Deus quer reverter todas as conseqüências da semeadura do inimigo, sejam elas quais forem. Por isso, Jesus nos ensina a invocálo e a depositar nele toda a nossa esperança! A libertação plena e derradeira apenas se dará quando a plenitude do seu Reino se manifestar definitivamente. Mas os sinais desta vida nova já se manifestam aqui e agora. À nossa volta não faltam pessoas que podem testemunhar que experimentaram libertação concreta do mal. Oração Meu Senhor amado! Quero declarar a minha confiança no teu poder sobre o Diabo e toda obra maligna! Ensina-me a invocar o teu socorro e ajuda contra todos os males, hoje e sempre. Amém. Pai Nosso

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Cristão também sofre Atos 14.22

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uando Paulo está deitado no pó da estrada de Damasco, a voz de Cristo faz o seguinte comentário a seu respeito: “Eu escolhi esse homem para... anunciar o meu nome aos nãojudeus, aos reis e ao povo de Israel” (Atos 9.15). E Cristo não fez promessas especiais para defendê-lo e libertá-lo dos males e sofrimentos no cumprimento deste desafio. Mas diz o contrário: “Eu vou mostrar tudo o que ele deve sofrer por minha causa” (Atos 9.16). E os sofrimentos foram muitos. Já no início de sua atividade, Paulo é apedrejado e jogado desacordado num monte de lixo. Logo, porém, ele recobra os sentidos e continua pregando o Evangelho. E, numa outra linguagem, repassa o mesmo recado aos cristãos: sejam fortes, permaneçam firmes na fé porque os muitos sofrimentos nos forjam para o Reino de Deus! Apesar de salvo e estar a caminho da vida eterna, o cristão sofre enquanto vive neste mundo. A perfeição só vem depois. O termo traduzido por sofrimentos e tribulações engloba todos os males materiais, espirituais e morais que podem atingir o cristão. No Novo Testamento, a palavra significa “estar espremido, estar esmagado, estar sob pressão”. E o cristão é pressionado por frustrações, calúnias, invejas, amarguras, angústias, prejuízos e dores no corpo e na alma. Nestes males, Lutero inclui “as tentações do diabo, que é o próprio mal, o maligno, a desgraça, os acidentes, a pobreza, a loucura e a morte”. No meio dos sofrimentos, porém, Deus não se esquece nem abandona seus filhos, mas os ampara, consola e conserva na fé verdadeira até o momento de ouvir o convite: “Você que foi fiel, venha e entre no Reino de seu Senhor!”

Oração Senhor, meu Deus e Salvador, livra-me do mal, dos sofrimentos, das tribulações, das dúvidas e da falta de fé. Conserva-me fiel até o fim de minha vida. Amém. Pai Nosso


A cobiça desvia da fé 1 Timóteo 6.10

E

goísmo, ciúme, inveja e cobiça são parentes muito próximos. Em conjunto, procuram enganar e arruinar a vida dos filhos de Deus. Embora tenham características próprias e diferenciadas, os quatro inimigos dos seguidores de Cristo são males que têm a mesma origem, como diz Paulo: “Porque o amor ao dinheiro é fonte de todos os tipos de males” (1 Timóteo 6.10). O apóstolo lembra especialmente as traições de um destes quatro males, a cobiça, a qual pode levar os filhos de Deus ao desvio na fé e trazer como conseqüência, dores, tormentos e sofrimentos. A sétima petição do Pai nosso diz que devemos orar assim: “Pai, livra-nos do mal”. Ao falar deste mal, o Redentor está pensando no Diabo, que introduziu no mundo o primeiro e o maior mal – o pecado! E o pecado é o mal – no singular – que produz muitos males – no plural – os quais, por sua vez, multiplicam milhares de outros males. O amor ao dinheiro é um dos muitos males gerado pelo mal do pecado. E este amor hipócrita, invertido e falso do dinheiro, fabrica muitos outros males, entre os quais se destaca a cobiça. Deus condena a cobiça. Ela é pecado. Lutero lembra que “a cobiça é a malfadada ganância, o insaciável desejo de querer apropriar-se ou adonar-se daquilo que é do outro: a mulher, a casa, os campos, os bens do próximo” e isto com aparência de direito, sempre visando “o prejuízo do próximo”. A cobiça de qualquer espécie, no fundo, é o amor pelo dinheiro. O amor que deveria ser dado a Deus é consagrado aos bens materiais. Esta ganância desvia a fé do Salvador e causa dores, tribulações e sofrimentos. Por isso, a petição: “Pai, não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal!”

Oração Senhor, meu Deus e Salvador, eu quero te amar de todo coração, de toda alma e de todo entendimento. Não quero desviar-me da fé. Conserva-me fiel até o fim. Amém. Pai Nosso

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Para junto de Deus, no céu Apocalipse 21.1-5

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universo vai acabar. Mas não vai permanecer em caos, ruínas e escombros. O pecado envenenou e causará a morte de todas as coisas criadas. Com a entrada do pecado, o mundo começa a definhar e morrer. Isto é juízo de Deus. Mas também há uma promessa: das cinzas e ruínas, Deus criará um novo céu e uma nova terra – habitação para os que foram salvos pela fé no Salvador Jesus. João, numa visão especial, viu e descreveu esta futura realidade. Pedro lembra que o fim do mundo – “o dia do Senhor” – virá repentinamente, quando muitos não o estiverem esperando. Diz que os céus vão desaparecer. Neste dia, também haverá a ressurreição dos mortos e o juízo final e os vivos e os mortos estarão na presença do juiz Jesus para ouvir uma das sentenças: “Afastem-se de mim, vocês que estão debaixo da maldição de Deus!” (Mateus 25.41). Ou: “Venham,... abençoados pelo meu Pai e recebam o Reino” (Mateus 25.34). O próprio Deus criará novo céu e nova terra. A nova criação será tão bela e gloriosa que faltam palavras para João descrevê-la: Deus vai enxugar as lágrimas; não haverá mais tentações, dores, sofrimentos, choro, luto ou morte; viveremos na presença de Deus, e Deus estará sempre conosco; felizes e bem-aventurados, estaremos louvando e glorificando ao nosso Deus e Salvador, dizendo: a ti seja o louvor, o poder, a honra e a glória para sempre! Não, o necrotério e o cemitério não são o fim de nossa vida. Nós temos um futuro, um futuro feliz, preparado por nosso Senhor e Salvador. E isso dá sabor à vida. Por isso podemos ter certeza: Deus, um dia, nos levará para junto de si, no céu – no novo céu e na nova terra. Que promessa fantástica!

Oração Senhor, meu Deus e Salvador, livra-me do mal, guarda-me na fé, leva-me para junto de ti para que, um dia, eu também possa viver no novo céu e na nova terra. Amém. Pai Nosso


Oração ou negociata? João 15.16

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uem quer carro novo? Quem quer uma casa na praia? E não peçam qualquer coisa. Com Deus é tudo ou nada. Peçam logo um carro importado. Carro velho até mendigo já tem. Coloquem Deus contra a parede, pois foi ele que prometeu bênçãos a seus filhos. Ele quer que seus filhos sejam ricos”. São frases de um pastor de uma das igrejas da prosperidade, que promete bênção aos que dão grandes ofertas. Todas as pessoas levantaram a mão, reafirmando o sonho de um carro. “Peçam tudo a Deus” pode ser interpretado no sentido de uma negociata com Deus. As frases acima são um exemplo de troca entre Deus e o pedinte. É negociata e não oração. Dou dinheiro, oro três horas ou ofereço 100 sacos de cimento para a obra da igreja. Em troca, Deus me concede tudo o que peço, inclusive o supérfluo para viver. Ao ensinar os seus discípulos a orar, Jesus pede que não sejam como os hipócritas que fazem longas orações em praça pública, com muitas repetições, como se Deus não soubesse de nossas necessidades materiais e espirituais. Nosso querido Deus sabe o que precisamos, mesmo antes de pedirmos (Mateus 6.5-15). Sendo assim, por que orar? Orar é um sinal de reconhecimento de que todas as dádivas vêm de Deus, gratuitamente. Somente ele sabe de tudo o que precisamos para viver vida justa. “Aquelas pessoas que não reconhecem a Deus como fonte de toda boa dádiva, arrebatam e devoram todos os bens de Deus, feito porcos. Tomam terras, cidades e casas, sem considerarem Deus e as pessoas. Ao contrário, o coração das pessoas que ouvem da Palavra que temos tudo em Deus, saberão lidar com todas as situações e enfrentá-las corretamente” (Lutero). Oração Querido Deus, de mãos vazias, como mendigos, chegamos a ti para pedir o necessário a uma vida justa. Por conheceres nossas necessidades, nos fiamos em tua graciosa promessa de orar em teu nome e pedir por todos que carecem de pão e Palavra. Amém. Pai Nosso

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O mal nem sempre é castigo João 9.2-3

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ma senhora que recém voltara de um retiro espiritual – fora se orientar com seu guru, na Índia –, explicava-me as razões do sofrimento: “Os que sofrem estão pagando por erros praticados em vidas passadas”. Conhecendo tal argumento do espiritismo, eu perguntei: “Mas, por que há povos desenvolvidos e outros que vivem na pobreza?” E a resposta: “Os países com pobreza também estão pagando por erros das gerações anteriores. Por essa razão, nada se pode fazer pelos que sofrem todos os tipos de privações. Pregar a justiça social é impedir a evolução para milhões de pessoas em outras reencarnações. Precisam expiar seus pecados pelo sofrimento para voltarem numa melhor condição social nas reencarnações coletivas”. Os discípulos de Jesus também perguntaram pela origem do mal quando viram um cego de nascença: “Quem pecou? Ele ou seus pais?” – “Nem ele, nem os seus pais”, diz Jesus. “Nasceu cego para manifestar o poder de Deus”. Depois, Jesus o curou, mudando a situação. Os espíritas e outros espiritualistas aceitam resignada e comodamente o sofrimento, e os discípulos de Jesus, refletindo o pensamento do povo, excluíam os que sofriam de qualquer mal. Além de ser excluído pela cegueira, o cego sofria pela culpa jogada por outros. Era um duplo sofrimento. A resposta de jesus e a cura modificaram a pergunta dos discípulos. O “por quê” perdeu o lugar para o “para quê”. Jesus sabia que nem todo mal é castigo. Há situações que podem ser mudadas pela fé e ação, pessoal e coletivamente. A fé em Cristo nos leva à prática do amor e da justiça e a graça de Deus nos perdoa, descartando de vez a fantasia humana de reencarnação. Oração Querido Deus, perdoa-nos quando não nos envolvemos com os que sofrem porque achamos que eles estão pagando por seus erros. Liberta-nos, pelo teu amor, da indiferença frente ao sofrimento. Obrigado por nos livrar do mal e de nós mesmos. Amém. Pai Nosso


O mal nos rodeia sempre Salmo 40.12-13

Ó

Deus, salva-me! Ajuda-me agora! Este grito pelo socorro de Deus mostra a situação desesperadora do salmista que se vê rodeado de dificuldades; dificuldades que são atribuídas aos próprios pecados e à situação adversa provocada por outras pessoas, mostrando-nos, dessa forma, os dois lados da situação difícil: pessoal e social. Mas o grito do salmista ainda pode ser ouvido nos desesperados de hoje. Lembro daquele pai desempregado, que sente a dor pelos seus filhos que clamam por pão, e da mãe, cujo filho foi morto por engano nas mãos de policiais corruptos. Vejo o desespero da família, cuja criança não foi atendida no hospital por falta de dinheiro; daquela mulher que deu à luz em frente de um hospital público. Também lembramos dos gemidos dos doentes incuráveis. Seus gritos de socorro mostram que o mal não tem a última palavra, mas Deus. Portanto, pedir por socorro é clamar pelo Deus que nos livra dos males que afetam o corpo e a alma, os bens e a honra. Assim Lutero explica a sétima petição do Pai nosso, livrando-nos de olharmos para o mal como se ele só agisse no mundo pessoal e religioso. O poder do mal atinge todas as dimensões da vida pessoal e social. Por ter esta visão do mal e de suas ciladas, em seu esconderijo, Lutero compôs um hino, Castelo Forte, do qual destacamos a estrofe 4, que mostra as armas de luta contra todos os males: Espírito, verdade. “O verbo eterno vencerá as hostes da maldade. As armas, o Senhor nos dá: Espírito, Verdade. Se a morte eu sofrer, se os bens eu perder: que tudo se vá! Jesus conosco está. Seu Reino é nossa herança!” Oração Querido Deus, livra-nos de todos os males que afetam as nossas vidas e as instituições de nossa sociedade e quando chegar a nossa hora derradeira, concede-nos um fim bem-aventurado. Amém. Pai Nosso

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Mas livra-nos do mal Gênesis 50.20

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e Deus retirasse a sua atenção por um ínfimo milésimo de segundo, não poderíamos sobreviver. Essa é uma afirmação de fé de quem sabe que tudo depende do cuidado e da providência divina. Mas também o incrédulo, ou o ateu prático, aquele que vive como se Deus não existisse, pensa assim. Quando tudo vai bem, Deus é excluído da ação de graças como o causador de bênçãos financeiras, sucesso profissional, saúde e assim por diante. Nesses momentos, incrédulos fazem aquela oração da mesa do Simpson, na historinha em quadrinhos: “Deus, obrigado por nada dessa mesa, pois tudo que está aqui comprei com meu dinheiro que ganhei com o meu esforço”. Entretanto, quando tais pessoas são confrontadas com dificuldades, seja a falta de dinheiro, doenças..., começam a acusar a Deus por essa situação: “Se Deus é tão bom, porque ele permite que eu sofra tanto?!” O ser humano sabe, lá no fundo de sua alma, que tudo vem de Deus, mas muitas vezes é necessário passar por todo tipo de males para reconhecer, mesmo com resignação, essa verdade. Mas a oração do Pai nosso é feita por cristãos que vivem na dependência de Deus, e reconhecem o Deus-salvador que não perdeu o controle sobre as coisas. Esses cristãos que oram o Pai nosso, galgaram passos de pedidos que expressam confiança: “pois, se é para sermos protegidos contra todo o mal e libertados dele, se faz necessário que primeiro seja em nós santificado o seu nome, esteja entre nós o seu reino e se faça a sua vontade. Depois, enfim, nos preservará ele de pecado e vergonha, e ademais, de quanto nos doa e seja danoso” (Lutero). A confiança está em Deus que em tudo nos sustenta e protege.

Oração Amado Deus, ajuda-me a reconhecer que és tu a fonte de todo o bem e livramento de todo mal. Ajuda-me a reconhecer que sem ti, não poderei dar nem sequer um único passo a frente. Amém. Pai Nosso


Pois teu é o Reino, o poder e glória para sempre Romanos 11.36

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ois tudo o que atualmente existe e persiste, tanto na esfera espiritual quanto na civil, naturalmente é preservado pela oração” (Lutero). Precisamos aprender que a vitória não vem como resultado de nossos planos magníficos, de um bom marketing feito ou qualquer outra atividade humana. A vitória autêntica, porém, vem como resultado de joelhos dobrados. Ela vem do Senhor! Ao afirmar isso, não se diz que a vitória vem de nosso esforço, pois, em última análise, oração é a obra de Deus na vida do cristão, embora seja um ato praticado pelo cristão. Em verdade, só ora quem é atingido pela graça de Deus. E quem é atingido pela graça de Deus, também perdoa, ama, oferta, enfim, responde às bênçãos de Deus. Pois oração não é apenas balbuciar palavras em direção a Deus, mas é, também, achegar-se ao trono do Altíssimo (Hebreus 4.16). Trata-se, pois, de um ato de fé. Oração é fé em ação, é comunhão com Deus, é relacionamento íntimo, é reconhecimento de que no Reino de Deus, a glória e o poder são dele e não de nossos “magníficos” planos. Portanto, o causador das vitórias é o próprio Deus. Aquele que chega a essa compreensão, passou primeiramente pelo entendimento de todos os sete pedidos do Pai nosso. E quem chega a essa compreensão, só pode perceber que oração sempre é resultado da intervenção de Deus na sua vida. Portanto, a oração nunca é mérito do homem. Quem ora verdadeiramente, reconhece que tudo pertence e é sustentado pelo Rei do Reino, que detém a glória e o poder. De fato, a vitória vem como resultado de joelhos dobrados!

Oração Senhor, muitas vezes vivo a minha vida sem considerar o teu Reino. Ajuda-me a reconhecer que teus são o Reino, a glória e o poder de realizar as mudanças que precisam ocorrer na minha vida e que não sou eu o causador da vitória, mas que ela vem de ti. Amém. Pai Nosso

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Amém Tiago 1.6-7

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melhor sinal de fé é uma vida de oração. Sem fé não existe oração, pois orar é, em primeiro lugar, reconhecer que dependemos de alguém que encaminhe a solução de nossos problemas e perplexidades e que é indispensável que os entreguemos nas suas mãos. Quando baixamos nossa cabeça e dobramos nossos joelhos, estamos reconhecendo que não somos auto-suficientes, mas que precisamos de alguém com quem compartilhar coisas boas e más e que também nos ajude em situações que fogem completamente do nosso controle. Oração é o reconhecimento de que somos seres limitados e precisamos ir em busca daquele de quem vem todo o sustento e a vida. Nada expressa isso melhor, ao final da maravilhosa oração que Jesus ensinou, o Pai nosso, do que a palavrinha “Amém”. Quem a pronuncia está dando um passo de fé, e admite, sem duvidar, que Deus “está ouvindo com certeza, com toda a graça e diz sim a tua oração. E não largues da oração antes de teres dito ou pensado: bem, esta oração foi ouvida por Deus, disso tenho certeza e o sei de verdade. Isso é o que significa ‘Amém’” (Lutero). Por isso, o cristão não perde tempo em discussões intermináveis para saber se é bom que a Igreja dobre seus joelhos e ore mais; se é bom a Igreja criar comissões de oração, promover encontros de oração e assim por diante. O cristão, atingido pela graça de Deus, sabe que oração é amizade com Deus; que orar é tempo bem gasto com seu melhor amigo; é o âmago de sua fé, pois não pode orar em dúvida, mas somente em passos de fé, que se expressam num “Amém” de mente, alma e coração! É por isso que se afirma que oração é o maior culto e a maior obra que um cristão pode prestar a Deus. Oração Amado Pai, como é maravilhoso estar na tua presença e contemplar a tua beleza. Ajuda-me sempre a confiar na promessa de que tu estás me escutando, de que tu me buscaste antes mesmo de eu me achegar a ti. Amém. Pai Nosso


Que é um sacramento? 1 Coríntios 11.24

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acramentos são atos sagrados e misteriosos que existem em todas as religiões. Eles desafiam a nossa curiosidade e provocam o nosso assanhamento de manipulá-los. Lutero, na sua época, investiu muito para recuperar e interpretar os sacramentos a partir de Jesus Cristo. Dizia: “Encontramos o Evangelho, o Batismo, a Ceia do Senhor e o ofício das chaves pisados na lama. Aí os trouxemos novamente à luz, limpando-os da imundície. Agora, cada qual pode enxergar o que é o Evangelho, o Batismo, a Ceia do Senhor e o ofício das chaves”. Cristãos têm os sacramentos em alta conta. Como Lutero, não vêem neles um ato mágico, cuja simples aplicação baste para que se salvem; tampouco, a mera participação garante a salvação. Como ele, despem os sacramentos de todos os penduricalhos. Inclusive, rejeitam as decorações litúrgicas, tão em voga em nossos dias. Sacramentos são meios pelos quais Deus se comunica conosco, apontam para a intenção de Deus, elucidam-na e a desdobram. Eles são de Deus, não nossos. São instrumentos seus, não encenações nossas. São dádivas suas, não conquistas nossas ou prêmios para nós. Os sacramentos de Deus não se celebram, nem nós os merecemos. Recebemo-los gratuitamente. Através deles, o próprio Deus nos alcança, envolve e transforma, não apenas no coração ou no espírito. Ele toma posse de nós por inteiro, do nosso corpo, dos nossos órgãos, de tudo. Ele nos mantém junto de si para o que der e vier, para a vida ou para a morte. Ele nos oferece os sacramentos para levantar e fortalecer a fé em Cristo. Assim, Deus mesmo torna os sacramentos imprescindíveis para os cristãos e as cristãs.

Oração Deus, graças a ti pelos teus sacramentos! Livra-nos e guarda-nos de nossa piedade, que os embeleza e manipula. Pedimos de coração que os teus sacramentos nos animem na fé em Jesus Cristo e no discipulado. Amém. Sacramentos

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O amor de Deus “assa” 2 Coríntios 5.18a

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uem ama, quer comunicar-se com a pessoa amada. Investe tudo para que a pessoa amada não apenas saiba do amor, mas também o perceba com os cinco sentidos. Evoco esta ilustração para tomarmos consciência de quanto Deus realiza para nos persuadir do seu amor, que é surpreendente e inimaginável. Somos incapazes de assimilá-lo. Ninguém percebe isso melhor do que Deus. Para podermos perceber o seu amor, Deus se comunica conosco não apenas através da sua Palavra, mas chega a nós também de forma visível com os sacramentos. Lutero define assim o sacramento do Batismo: “O Batismo não é apenas água simples, mas é a água compreendida no mandamento divino e ligado à Palavra de Deus”. Deus nos declara o seu amor com todas as letras e o reforça com a água, no ato batismal, e o pão e o vinho, na Santa Ceia. Assim, o amor de Deus nos alcança através do gosto, do tato, do olfato, da visão e da audição. Ele é envolvente no sentido pleno da palavra; atinge a pessoa inteira. Nada fica de fora. É radicalmente diferente do nosso amor. “o amor de Deus não acha, mas cria aquilo que lhe agrada; o amor do ser humano surge a partir do objeto que lhe agrada” (Lutero). Deus “ama pecadores, maus, tolos, fracos, para torná-los justos, bons, sábios e fortes”. O amor de Deus cria, não conserta; constrói, não reforma. Mediante o Batismo, ele nos coloca para dentro do seu amor; na Santa Ceia, ele nos alimenta com o seu amor. No Batismo, Deus começa a sua história conosco e com a Santa Ceia, ele nos conserva nela. O seu amor “é um forno que vai da terra até o céu” (Lutero). Aí ele nos “assa”, para sermos agradáveis a ele e úteis aos nossos semelhantes. Oração Deus, tu nos batizaste e, agora, nos alimentas na tua mesa: graças a ti por isso. Queremos viver como pessoas batizadas e alimentadas. Livra-nos e guarda-nos da revolta contra o teu amor que nos “assa”. Ajuda que amemos este teu jeito. Amém. Sacramentos


Deus acende luzeiros na sua luz João 8.12

F

elizes são as pessoas que conseguem refletir sobre suas experiências boas e ruins e tirar proveito delas para a sua vida. Talvez seja este o ponto principal que diferencia cristãos e cristãs de outras pessoas. A fé em Jesus Cristo torna as pessoas conscientes das suas próprias contradições e tentações. Como poucos, Lutero fez tal experiência. Segundo ele mesmo afirmou, essa experiência nunca termina enquanto se vive como cristão e cristã neste mundo. Apesar das constantes lutas exteriores e interiores, Lutero sempre se manteve confiante e alegre. As forças para tanto, ele buscava nos sacramentos. Ele mesmo confessa que estes o fizeram alegre e confiante. Pois neles, o compromisso que Jesus Cristo assumiu torna-se concreto, palpável e degustável. Quando mergulhava em desespero perante os seus pecados, os ataques dos seus inimigos e a ameaça da morte, escrevia na sua mesa: “eu fui batizado”. Quando a sua vida ficava triste e vã, esvaía-se em trevas e o mal se apoderava dele, a ponto de que nada mais lhe apetecia, ia comer na mesa do Senhor. Bem, aí não somente ouvia a promessa da presença de Jesus Cristo, mas a sentia e a degustava. Já que na sua Ceia, ele mesmo, Jesus Cristo, é “a comida e a bebida, o cozinheiro e o garção”. De forma que se consumava a promessa de Jesus: “Eu sou teu e tu és meu; / onde eu estou, terás o céu. / Nada há de separar-nos”. Temos dúvidas, fraquejamos na fé? Eis o consolo, o desafio e o convite para caminharmos pelo Batismo e nos abastecermos na Mesa do Senhor e, assim, resplandecermos como luzeiros no mundo, acesos e alimentados pela luz do mundo, Jesus Cristo. Oração Deus da vida, graças a ti somos de Jesus Cristo e ele é nosso. Por favor, não te canses de gravar este fato em nossas mentes e corpos. Guarda e preserva-nos no teu Batismo e junto à tua Mesa. Recria e alimentanos para sermos luzeiros da tua luz. Amém. Sacramentos/Batismo

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Palavra e água Mateus 3.16-17

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or que batizar? E mais: por que batizar Jesus? “Eu é que preciso ser batizado por você, e você está querendo que eu o batize?”, indaga João. A esta pergunta o próprio Jesus responde: “Por enquanto deixe que seja assim, pois assim faremos tudo o que Deus quer” (Mateus 3.15). Que batismo era esse? As pessoas que vinham a João confessavam os seus pecados porque João batizava o batismo da purificação, do perdão, da reconciliação com Deus. Sendo assim, resta a pergunta: precisava ele receber tal batismo da purificação? Não, mas, também, sim. Jesus não tinha, como Filho de Deus, do que ser purificado. Pelo contrário, ele tinha condições de purificar a outros. Era a isso que João se referia: na presença de Jesus, nós somos impuros e precisamos que ele faça algo para que nós sejamos purificados. Mas, tanto João domo nós precisamos aceitar que Jesus tenha vindo para nos purificar ao modo de Deus, completamente. Isso implicava tornar-se como um de nós e estar no lugar de cada um diante de Deus, carregando a nossa culpa. E, pensando assim, não houve pessoa no mundo mais impura e cheia de pecados do que Jesus. Ele assumiu e carregou os pecados de todos nós para cumprir toda a justiça de Deus. Desse modo, Jesus se coloca na fila dos pecadores que vão até João para serem batizados. Ele não sai da fila. Pelo contrário, ele é o primeiro e o último dela. É isso que torna tão poderosa a água e a palavra do Batismo, a ponto de lavar e purificar de pecado e de culpa: agora deixaram de ser palavra e água de João e passaram a ser a água e a palavra de Jesus que transfere, dessa maneira singela e maravilhosa, os nossos pecados para os seus ombros e toda a justiça de Deus para nós. Oração Senhor Deus, ajuda-me, a exemplo de João, a confiar em ti. Não existe consolo maior do que esse: saber que tu me purificas pelo poder da tua Palavra e do Batismo, por causa de Jesus. Amém. Sacramentos/Batismo


Batismo e fé Atos 8.37-38

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uem pode evitar que no seu íntimo circulem sentimentos de ódio ou de raiva quando se sente injustiçado? Que sentimentos são esses? São manifestações do pecado e fruto da pecaminosidade natural em todas as pessoas, crentes ou não. Sobre os maus sentimentos Jesus disse: do coração procedem os maus desígnios. E o apóstolo Paulo completa, dizendo que todas as pessoas estão encerradas na desobediência. Mas, consola o apóstolo, Deus estende a sua misericórdia sobre todos. E como sabemos disso? Jesus responde: pelo Batismo. Na referência bíblica acima, Filipe queria convencer o etíope, que casualmente encontrara pelo caminho, do enorme amor de Deus. Depois de uma breve exposição da Palavra de Deus, eles chegaram a um lugar onde havia água. E ali mesmo, ao lado da estrada, sem rodeios, sem maiores exigências, sem uma profissão de fé, o etíope é batizado. O Batismo é o sinal incondicional do amor de Deus. Ele não depende de pré-requisitos para ser eficaz. Nele, conforme o apóstolo Paulo, Deus estende a sua misericórdia sobre nós! De nossa parte, nada temos a oferecer a Deus. Não somos diferentes de outras pessoas, cujos pecados são mais evidentes do que os nossos. Pelo Batismo, Deus manifesta a sua misericórdia e perdoa a todos, por amor de Jesus. Um resultado tão grandioso, num gesto tão simples que pode ser consumado em qualquer beira de estrada, sem requisitos, como oferta de Deus, ilimitada e imerecida! Diante disso, só nos resta crer na afirmação de Deus para sermos filhos de Deus. E, se Deus nos quer tanto, apesar das nossas limitações, a quem ainda fecharíamos esta porta da graça de Deus? Oração Onipotente Deus, tu esperas de nós que tenhamos fé na tua Palavra. Ajuda-nos a crer que, pelo Batismo, tua Palavra se aplica a pecadores e os transforma pelo poder do teu Espírito Santo. Ajuda-nos a levarmos esta oferta a cada pessoa. Amém. Sacramentos/Batismo

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O que salva Tito 3.5

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ma das grandes perguntas da história do cristianismo tem sido esta: o que é que salva, ou melhor ainda, quem é que salva? É Deus, claro, você pode responder. Esta resposta está certa. Mas, diferentes correntes religiosas, até hoje, não se entendem sobre a forma como Deus faz isso e qual é a participação do ser humano neste processo. No texto bíblico acima, o autor propõe que Deus enviou Jesus para ser o Salvador. Paulo é enfático: a salvação é resultado da ação misericordiosa de Deus. Da mesma forma, ele é enfático ao dizer que a salvação não acontece “por obras de justiça praticadas por nós”, isto é, ele exclui qualquer participação humana. O que intriga em Tito 3.5 é a relação que se faz entre Batismo e salvação. Diz o apóstolo que a salvação vem através “do lavar regenerador e renovador do Espírito Santo”, ou seja, o Batismo. Então, o que salva é o Batismo ou a misericórdia de Deus? Quem salva é, de fato, Deus, por meio da ressurreição de Jesus Cristo (1 Pedro 3.21); é a fé no Salvador Jesus. O Batismo é o “lavar regenerador” que Deus usa como meio para produzir a fé no coração das pessoas. Neste sentido, o Batismo salva. O reformador Martinho Lutero viu e sentiu que nunca se pode ter certeza se já fez coisas suficientes para a salvação, se já está salvo. Por isso, é consolador saber que a salvação não depende daquilo que nós fazemos, nem mesmo de um gesto meramente ritualístico ou mecânico, como o Batismo. Em última instância, a nossa salvação depende do amor e da ação de Deus. A fé pode ter nascido em você através do Batismo. Se nasceu, celebre diariamente esta bênção de Deus em sua vida! Oração Amado Pai, agradeço-te pela tua misericórdia em Jesus Cristo e pelo teu lavar regenerador. Sou teu filho porque me salvaste! Mantém em mim a salvação. Por Jesus, amém. Sacramentos/Batismo


Batismo e salvação Marcos 16.16

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o Novo Testamento, fé e Batismo estão inseparavelmente ligados. Um ato meramente ritualístico é totalmente estranho à Bíblia. Batismo não é um rito mágico que, por si só, garante a salvação. O Batismo está ligado à fé e, a partir da Reforma, à constante educação da nossa fé no seio da família, a menor célula da Igreja. A preocupação fundamental do Novo Testamento é que a morte e a ressurreição de Cristo não sejam apenas uma doutrina bonita e emotiva, mas que tenham conseqüências concretas e sejam um poder atuante na vida dos cristãos e das cristãs. O Batismo é vivencial. Importa que cada dia redescubramos de novo o sentido de morrer e ressuscitar junto com Cristo, vivendo, assim, diariamente o nosso Batismo. O Batismo é Evangelho, isto é, é a vivência do Evangelho como forma de vida. Justificados pela graça de Deus, comprometemo-nos em fé e amor. Somos batizados para dentro do corpo de Cristo, para dentro da Comunidade de todos os batizados, tornando-nos tão ligados que somos membros uns dos outros, em Cristo. Desta forma, fazemos parte do plano de Deus que quer trazer a salvação para toda a humanidade, para sermos uma grande família, vivendo fé, justiça e solidariedade. Não é possível crer e ser batizado de forma privada, desligado da Comunidade. Também a salvação não é restrita ao indivíduo, uma espécie de passagem privada e autobeneficente. Deus veio para salvar a humanidade, por amor a todas as pessoas. A ação de Deus consiste em incluir a todos no seu corpo. Assim, também nós participamos da ação de Deus, vivendo o nosso Batismo e a nossa salvação neste mundo, para a maior glória de Deus.

Oração Deus, nós comemoramos o aniversário de nascimento, mas esquecemos a data do nosso Batismo. Queremos viver o Batismo diariamente. Somos teus filhos e filhas. Perdão, se tantas vezes não correspondemos a esta condição. Amém. Sacramentos/Batismo

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Batismo e remissão dos pecados Mateus 3.13-17

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Batismo é a graça de Deus atuante. Nele, recebemos de Deus a remissão dos pecados. Batismo é graça, é remissão dos pecados. A Palavra de Deus se une à água. A água é como a Palavra: limpa, perdoa os pecados e faz florescer uma nova vida, a vida para Deus. A remissão dos pecados não é somente “desculpar” os nossos erros. Ela é, segundo Lutero, tudo o que Deus nos pode oferecer e dar! Torna-nos novamente amigos de Deus, une-nos a ele. Batismo, arrependimento e perdão estão ligados. Este foi o batismo pregado e praticado por João Batista, ao qual também Jesus se submeteu. Não foi diferente na pregação dos apóstolos (cf. Atos 2.38). A purificação batismal é o começo de uma nova forma de vida. O pecado e a culpa tornam a nossa vida infeliz. “Encurralado em si mesmo” (Lutero), o ser humano é o agressor. Nesta forma de vida, o próximo é nossa vítima. Por mais incrível que pareça, agredindo com pensamentos, com palavras, com ações e com omissão, tornamo-nos vítimas de nosso próprio pecado. O Evangelho, o Batismo, a Santa Ceia e a remissão dos pecados são uma unidade. É o fim de um caminho e o começo de outro. Imaginem se não houvesse perdão! Nunca teríamos a chance de um novo começo. A vida cristã em comunidade é uma vida liberta. A remissão dos pecados liberta do “estar encurralado em si mesmo”, do egoísmo do qual a sociedade é vítima, inclusive nós mesmos. É uma experiência nova de vida com Deus, com felicidade e desejo de relacionamento autêntico com outras pessoas. O batizado procura e vive a comunidade de Cristo. É uma forma de viver intensa, compartilhando a alegria da graça justificadora de Deus em Cristo. Oração Ó Deus, obrigado porque não nos condenaste, mas nos ofereceste o perdão e nos declaraste justos.Tal misericórdia é tão grande que não a podemos compreender. Ajuda-nos a vivermos diariamente o nosso Batismo. Amém. Sacramentos/Batismo


Batismo liberta da morte Romanos 6.4-11

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or que não queremos morrer? Há pelo menos duas razões: não queremos morrer porque temos medo da morte e porque estamos excessivamente apegados a nós mesmos e às nossas coisas. Queremos que tudo gire ao nosso redor e ao redor de tudo aquilo que nós conquistamos. Temos ânsia por vida. Não queremos abrir mão de nada. Com a morte, somos obrigados a desistir de tudo. Ela nos separa de tudo que temos e, neste sentido, ela é o nosso pior inimigo e o maior sofrimento. Queremos nos atrelar a tantas coisas, mas sempre caímos no vazio. Desde o nascimento, somos confrontados com a realidade do fim e da perda total. Toda a vida é marcada pela finitude. Cristo transforma a nossa vida. Ele nos liberta da vida marcada pela morte e nos dá, gratuitamente, uma nova vida, voltada para Deus. Somente assim, quem morre para o mundo e para o pecado e passa a viver para Deus, vive feliz, abnegadamente feliz. Tal morrer para o mundo e o pecado acontece através do Batismo. Através dele, passa-se a viver a nova vida, a vida de fé. Assim, todas as pessoas, uma vez batizadas, entram num processo no qual o velho homem pode ser afogado e ressurgir, cada dia, o novo homem, uma nova vida desprendida do egoísmo. Quem é batizado, vive para o Reino de Deus, comprometido com a justiça para todas as pessoas. Não vive mais o sofrimento causado pela morte do mundo e seus aguilhões, que escravizam as pessoas nos seus bens e na sua honra. Tal modo de ser não é mérito próprio, mas uma conquista de Cristo com a sua morte. A nós compete apenas exercitar diariamente a nova vida, conquistada por Cristo, que recebemos de graça, através do nosso Batismo. Oração Deus, não permitas que desesperemos quando nos apegamos a coisas passageiras, como se fossem perenes. Temos fé, ajuda-nos em nossa incredulidade. Somos batizados, ajuda-nos a morrer e ressurgir diariamente. Amém. Sacramentos/Batismo

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O Batismo dá salvação eterna Romanos 6.20-23

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a cabine de comando de um navio transatlântico, chama a atenção o cuidado que se tem com a boa continuidade da viagem. O oficial encarregado da bússola eletrônica constantemente volta os seus olhos para aquele instrumento tão vital para a navegação. A bússola indica a direção na qual o navio deve navegar para chegar ao alvo final: o porto. No texto bíblico de referência, o apóstolo Paulo aponta para o grande objetivo dos filhos de Deus: receber a vida eterna. Semelhante ao grande navio, os cristãos também “navegam” por esta vida em busca do seu objetivo. Como o navio, que segue em direção ao porto, tem a bússola, assim o filho de Deus tem no Batismo seu instrumento de orientação, que sempre de novo corrige a sua rota em direção à vida eterna. O Batismo nos coloca na direção certa. Jesus expressou esta verdade com as palavras: “Quem crer e for batizado será salvo!” (Marcos 16.16). Esta é uma promessa de Jesus. E se ele assim o prometeu, não falhará em cumprir sua palavra. Suas promessas não são vazias. O Catecismo Maior explica esta promessa: “... a força, a obra, o proveito, o fruto e o fim do batismo é salvar. Pois a ninguém se batiza para que se torne príncipe, mas, conforme rezam as palavras, para que ‘seja salvo’. É bem sabido, entretanto, que ser salvo não significa outra coisa que, liberto do pecado, da morte, do diabo, chegar ao reino de Cristo e com ele viver eternamente” (Lutero). Que grande bênção é o Batismo! Através dele, Jesus nos dá a salvação eterna. Importa, pois, que nos agarremos a este grande benefício e continuemos firmes na rota para o céu, até chegarmos ao objetivo final: a vida eterna com Jesus. Oração Senhor Deus, obrigado por providenciar o Batismo que nos dá salvação eterna. Ajuda-nos a viver como verdadeiros cristãos batizados, caminhando, desta forma, em direção à vida eterna. Em nome de Jesus. Amém. Sacramentos/Batismo


O Batismo introduz na família cristã Atos 16.32-33

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presença da família é importante para o bom desenvolvimento da criança. Estar com pai e mãe é garantia de satisfação de suas necessidades básicas. A família, solidamente estruturada, providencia o ambiente no qual a criança desenvolverá sua personalidade e potencialidades. Atos 16.32-33 nos leva a uma prisão romana. Paulo e Silas apanharam e foram presos injustamente, tendo os seus pés amarrados a um tronco. Deus, porém, interveio, abrindo milagrosamente as portas do cárcere e soltando as correntes que amarravam os prisioneiros. Ao ver o que acontecera, o carcereiro está pronto para cometer suicídio, já que a possível fuga dos prisioneiros seria cobrada dele e poderia lhe custar a própria vida. Mas, ninguém fugira, lá estavam todos. Logo a seguir, Paulo pregou a Palavra de Deus ao carcereiro. Em conseqüência, o carcereiro e toda sua família passaram a crer e todos foram batizados. Com isso, além de receberem a fé salvadora, eles passaram a fazer parte de uma outra família: a família de Deus, composta daqueles que crêem em Jesus. O Batismo introduziu esta família na família cristã. Lutero expressa essa verdade, como segue: “Por último, cumpre se saiba o que significa o Batismo e por que Deus ordena precisamente tais signos e cerimônias externos para este sacramento, pelo qual primeiro somos recebidos na cristandade”. Que grande privilégio Deus dá, através do Batismo, aos que crêem em Jesus! Os cristãos não vivem como filhos abandonados. Pelo contrário, vivem em comunhão na família de Deus. Aí estão para ajudarem-se mutuamente, enquanto caminham em direção à vida eterna com Jesus, no céu. Oração Senhor Deus, obrigado por receber-me, através do Batismo, como membro da tua família. Ensina-me a ser um membro que se preocupa e trabalha a favor do próximo, da sociedade e da tua Igreja. Em nome de Jesus. Amém. Sacramentos/Batismo

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Vida cristã é o Batismo continuado Atos 2.38

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ra dia de pentecostes. Depois de ter sido derramado o Espírito Santo, Pedro proferiu um discurso cheio de autoridade. A pregação convenceu os ouvintes de que, se Jesus fora crucificado, isto se devia aos pecados do povo. Em conseqüência, os ouvintes também se sentiram culpados da morte de Jesus. Assim, com sentimento de culpa e conscientes do seu pecado, eles buscaram os apóstolos e lhes perguntaram sobre o que fazer. A resposta veio de Pedro: “Arrependam-se, e cada um de vocês seja batizado em nome de Jesus Cristo!” (Atos 2.38). Arrepender-se é reconhecer, confessar a Deus e abandonar os pecados cometidos. É também agarrar-se com fé em Jesus para viver uma vida agradável a Deus. Isto não acontece apenas uma vez, quando alguém é batizado. Pelo contrário, arrependimento é um processo diário e contínuo na vida do cristão. Lutero o explica assim: “Essas duas partes, submergir na água e voltar a emergir, indicam o poder e o efeito do batismo, os quais outra coisa não são que a mortificação do velho homem, e, depois, a ressurreição do novo homem. Ambas devem continuar a suceder em nós ao longo de toda a nossa vida, por forma que a vida cristã outra coisa não é que diário batismo, começado uma vez e sempre continuado. Porque é preciso que o pratiquemos sem cessar, a fim de varrer constantemente o que é do velho homem e surgir o que pertence ao novo”. Portanto, o Batismo nos leva ao arrependimento diário e nos estimula a lutar contra os pecados. Também nos aproxima de Jesus, que perdoa nossas falhas e nos fortalece para praticarmos as coisas que agradam a Deus e são boas para a família, a Igreja e a sociedade.

Oração Senhor Deus, reconheço e me arrependo dos meus erros. Peço-te que me perdoes com o perdão de Jesus. Ajuda-me a evitar as falhas. Dá-me forças para que a minha vida seja um Batismo continuado. Em nome de Jesus. Amém. Sacramentos/Batismo


Imersão na água: morrer e ressuscitar Romanos 6.4

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gua que nasce da fonte serena do mundo e que abre um profundo grotão. Água que faz inocente riacho e deságua na corrente do ribeirão. (...) Águas escuras dos rios que levam a fertilidade ao sertão... (...) E depois voltam tranqüilas pro fundo da terra” (Guilherme Arantes – Planeta Água). Usamos água para muitas coisas: para nos alimentarmos, como base de remédios, para nos limparmos. Transformamos a força da água em energia. Metaforicamente, comparamos o ser humano com águas caudalosas ou águas calmas e profundas. É, certamente, por sua ação fundamental nos processos essenciais da manutenção da vida que a água é a inspiradora de poesia e tecnologia. O mistério da vida encontra-se associado à água. Não sabemos exatamente quando a água tornou-se um símbolo imprescindível do Batismo cristão. A memória das primeiras comunidades já relata que no Batismo de Jesus, a água era utilizada com esse efeito regenerador e restaurador da vida. A água do Batismo, enquanto elemento (H2O), é igual à água de nossos rios e torneiras. Mas, então, o que ela tem de especial? A água da pia batismal é associada à Palavra de Deus, tornando-se sinal manifesto do poder de Deus: “Pois o próprio Deus aqui empenha a sua honra e nela põe sua força e poder” (Lutero). Com esse sinal, Deus afirma que o pecado não tem mais poder sobre nós. Somos afogados, mortos para o pecado e ressuscitados para a vida oferecida por Jesus Cristo. A água do Batismo é elemento vital para a fé cristã. É marca do amor de Deus que atrai para si as pessoas, oferecendo vida nova. Oração Senhor, eu te agradeço, pois mesmo antes de eu aprender a caminhar, no Batismo, tu me recebeste, me lavaste e me colocaste junto a ti e a meus irmãos e irmãs na fé a caminho da vida eterna. Amém. Sacramentos/Batismo

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Qual barco singra pelo mar, a Igreja do Senhor... Mateus 7.6

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barco é um símbolo muito antigo para a Igreja. Quando Deus nos retira das águas do Batismo, somos aceitos como parte da tripulação desse barco comandado por Jesus. O Batismo é um presente “... um tesouro que Deus dá e do qual se apossa a nossa fé...” (Lutero). Com o passar dos tempos, a jornada de fé pode se desequilibrar. Os sacramentos são esquecidos e menosprezados. Não raro, pais e mães levam seus filhos e filhas para o Batismo por mera tradição ou até mesmo superstição (assim a criança dorme melhor...). Aparecem na Igreja somente para marcar o Batismo e com um certo desdém perguntam: “Quanto devo?” – será que isso acontece em sua comunidade? - O poder e o efeito do Batismo, a saber, a morte da “velha pessoa” e a ressurreição da “nova pessoa”, vão sendo esquecidos. O que muita gente não sabe, e pastores e presbíteros têm medo de assumir com muito receio de “afastar os membros”, é que o Batismo pode e deve ser negado em casos de ignorância, tradicionalismo, incredulidade e falta de participação na vida e na missão da comunidade. Mas, por que negar o Batismo se ele não é ação humana? Como Comunidade de Jesus Cristo temos a responsabilidade de evitar que seja menosprezado esse dom de Deus. E com Deus não se brinca! Esse negar não é uma punição, mas uma ação pedagógica: deve ajudar as pessoas na fé, a compreenderem o significado do dom de Deus e a não usá-lo de forma indevida. Ajuda-nos a esclarecer nossas intenções quando levamos nossas crianças a receberem este Sacramento. “Porque é preciso que o pratiquemos sem cessar, a fim de varrer constantemente o que é do velho homem e surgir o que pertence ao novo” (Lutero). Oração Senhor, entregamo-nos a ti para que tu operes em nós através de nosso Batismo. Com o passar do tempo, queremos nos tornar pessoas brandas e pacientes. Afasta de nós o ódio, a avareza, a cobiça e tudo que nos separa de ti e das outras pessoas. Amém. Sacramentos/Batismo


Padrinhos e madrinhas Mateus 18.16

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ara muitos momentos em nossas vidas, bons ou ruins, chamamos pessoas para serem testemunhas dos fatos que nos envolvem. Essas pessoas podem, no presente e no futuro, confirmar o que viram e ouviram. Para tal, acreditamos que sejam íntegras, fiéis, capazes. Nelas depositamos nossa confiança. Padrinhos e madrinhas de Batismo são, pois, testemunhas de que Deus se ofereceu gratuitamente num determinado momento na vida de pessoas cristãs, num ato autêntico e único. São, pois, de suma importância para a vida de fé da criança batizada. Através de seu testemunho, ajudam a afilhada e o afilhado a compreenderem que esse gesto de Deus em seu favor não deve e nem precisa ser refeito e repetido quando atingirem a fase adulta. Acreditamos que o poder e a vontade de Deus em nos salvar é muito maior do que a nossa própria compreensão ou vontade de confirmar esse ato. O Batismo é realizado somente uma vez em nossas vidas, caso contrário, colocamos em dúvida o poder de Deus “pois a minha fé não faz o Batismo, porém recebe o Batismo” (Lutero). Quando escolhemos padrinhos e madrinhas de Batismo, devemos ter o cuidado de observar se essas pessoas são capazes de confessar sua fé num único Senhor e Salvador, se são exemplos de testemunho cristão e se estão engajadas na missão de sua comunidade. Pois eles e elas serão co-responsáveis em auxiliar o afilhado a assumir os dons que lhe são colocados através da fé. Assumem também o dever de orar, orientar e introduzir a criança na vida cristã. Testemunhar um ato de Deus em nosso favor é privilégio de pessoas batizadas e engajadas na promoção do Reino de Deus em nosso meio!

Oração Deus amado, agradecemos-te pelo nosso Batismo e por pertencermos à tua família. Agradecemos pelos padrinhos e madrinhas que colocaste em nossa vida para que nos auxiliem na nossa caminhada de fé. Permite que, através do seu testemunho, possamos assumir nossos próprios dons na tua comunidade. Amém. Sacramentos/Batismo

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Travessia em barco seguro Mateus 28.16-19

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utero conta o episódio de uma jovem consagrada que, toda vez quando tentada, defendia-se com seu Batismo, dizendo: “Sou uma cristã”. O próprio Lutero, quando se sentia tentado, escrevia em sua escrivaninha: “Sou batizado”. O Batismo é aplicado só uma vez na vida. Seus efeitos, porém, são permanentes. Ele é como um barco que nos abriga na travessia do mar agitado deste mundo. Lutero compara o Batismo com um barco que não se rompe, mas nós muitas vezes escorregamos e caímos para fora dele. Mas, continua Lutero, se alguém cai para fora, trate de nadar até o barco, agarre-se a ele até que consiga voltar a bordo e prosseguir sua viagem. O comando e a administração deste barco seguro foram, inicialmente, confiados aos discípulos de Jesus. Foram eles que ouviram pela primeira vez a ordem: “Vão a todos os povos... batizando...” (v. 19). Ora, os discípulos são representativos para a Igreja de Jesus Cristo. Assim, quem tem a missão de batizar é a Igreja. Via de regra, ela exerce esta missão através dos seus ministros, especialmente chamados e instituídos. Em casos excepcionais, porém, qualquer cristão pode realizar o Batismo. No entanto, é sumamente importante tomar todo cuidado para que tudo aconteça dentro da ordem, para que este precioso tesouro não seja bagatelizado. Assim, se você por alguma razão se sentir angustiado e desanimado, lembre-se que você foi batizado porque a Igreja recebeu esta incumbência do próprio Cristo. Agora você é filho de Deus e pertence à Igreja de Jesus Cristo. O Pai quer protegê-lo, oferecendo-lhe uma travessia em barco seguro pelas águas agitadas do mar da vida.

Oração Senhor Jesus, eu te agradeço que também a mim recebeste no Batismo como teu filho querido. Eu te peço que abençoes a tua Igreja para que ela administre com muita responsabilidade este grande tesouro. Amém. Sacramentos/Batismo


O poder da união com Cristo Gálatas 3.27

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a Inglaterra encontra-se uma pedra com uma rachadura onde se refugiou uma vítima das perseguições religiosas no século XVIII. Naquele esconderijo seguro foi concebido o maravilhoso hino que expressa o grito de socorro: “Rocha eterna, rachada para mim, deixa esconder-me a mim em ti”. O autor comparou Cristo com aquela rocha que o abrigara e protegera contra seus inimigos. Assim é o Batismo. Ele nos une com Cristo, nos protege, envolvendo-nos como uma capa. E nesta proteção, que é o próprio Cristo, eu posso refugiar-me sempre de novo. Segundo Lutero, “com Cristo me visto de sua inocência, justiça, sabedoria, poder, salvação, vida e espírito” e diariamente preciso “rastejar para dentro do Batismo”. Corrie ten Boom fora levada para um campo de concentração por haver escondido judeus em sua casa. Alguns anos após sua libertação, encontrou-se com um de seus ex-carrascos, agora convertido, que lhe disse: “Naquele tempo eu era mau, mas agora estou certo de que Jesus me perdoou e de que todos os meus pecados foram lançados no fundo do mar”. No primeiro momento, Corrie ficou indignada. Depois de ter recobrado o equilíbrio, com o auxílio divino, disse tranqüilamente: “Graças a Jesus, meus e seus pecados foram lançados no fundo do mar”. Quando perguntada como perdoar a tamanho inimigo, ela tirou do bolso um estojo com uma jóia, dizendo: “Se eu jogar essa jóia na água, ela afundará, mas se a jogar dentro do estojo, ela flutuará. Assim também acontece conosco. Sozinhos, afundamos no mar do ódio, mas em Cristo o sobrenadamos”. No Batismo, Deus nos colocou dentro de um estojo protetor, Jesus Cristo, unindo-nos a ele. Em união com ele, nós não afundaremos. Oração Querido Salvador Jesus, faze-me lembrar diariamente de meu Batismo a fim de que possa sempre de novo unir-me a ti e vestir-me com a tua pessoa. Faze de mim um galho robusto de tua videira que produza muito fruto. Sem ti, nada posso fazer. Amém. Sacramentos/Batismo

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Parecer ou ser uma nova pessoa? 2 Coríntios 5.17

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ivia no Oeste americano um homem terrível, assassino, seqüestrador e assaltante. Quando morreu, seu irmão chamado Ned, companheiro nos crimes, ofereceu dez mil dólares a qualquer ministro religioso que o sepultasse e o proclamasse publicamente um santo. Finalmente, achou um pregador que acedeu ao pedido e o proclamou santo, porém, nestes termos: “Comparado a você, Ned, seu irmão era um santo”. Não é esse o procedimento de muita gente? Disse um dos nossos poetas que a única ventura de muitas pessoas é parecerem a outras venturosas. Preocupam-se com as aparências, comparam-se com pessoas piores do que elas e querem ser consideradas boas quando na realidade não o são. É uma realidade contrária ao nosso texto. Ele fala de pessoas que realmente são boas, que se tornam boas, quando se unem a Cristo. E isso é um resultado do Batismo. Disse Lutero que a nova pessoa é a renovação da mente pelo Espírito Santo. Isso também se reflete no seu exterior, em seus olhos, ouvidos, boca, língua, usados, agora, melhor do que antes. Há inúmeras pessoas que, pelo Batismo e pela fé em Cristo, sofreram uma radical transformação do antigo para o novo. Um exemplo é John Newton, cuja mente de mercador de escravos foi transformada completamente e que produziu o hino “Amazing Grace”, tão precioso aos cristãos de fala inglesa, em que nos conta que havia passado por muitos perigos, labutas e armadilhas. Mas, agora, a graça de seu Salvador o colocara em lugar seguro e queria vê-lo em casa. Queira o Senhor Jesus acabar também em nós com tudo o que é velho e nos conceder o que é novo para podermos viver em justiça e pureza! Oração Amado Pai, faze de mim uma nova pessoa que confia no teu perdão e na promessa de que jamais te queres lembrar de meus pecados. Faze-me esquecer as coisas que ficaram para trás e avançar para as que estão a minha frente. Em nome de Jesus. Amém. Sacramentos/Batismo


O Batismo do Espírito Santo Atos 1.5

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texto bíblico de referência fala que, depois de João, quem batizará será o Espírito Santo. O que significa isso? Lutero explica: “Batismo não é apenas água simples, mas é água compreendida no mandamento divino e ligada à Palavra de Deus”. A “Palavra” está escrita em Mateus 28.19: “... vão a todos os povos do mundo e façam que sejam meus seguidores, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. O Batismo é, portanto, realizado em nome do único Deus que se revelou a nós de três maneiras. Este sacramento nos dá, pois, consciência da obra criadora de Deus Pai, da obra redentora através de Jesus Cristo (Filho) e da obra santificadora (Espírito Santo). E é na forma de Espírito Santo que Deus está presente entre nós hoje. É por seu intermédio que cria comunidade. Foi a ação do Espírito Santo que fez os apóstolos compreenderem sua missão de tal forma que iniciassem a proclamação do Evangelho de Cristo; foi e é o próprio Espírito Santo que chamou e chama as pessoas à fé, as faz entenderem o Evangelho. Assim, a partir do Batismo pelo Espírito Santo, é formada a comunidade, que tem a tarefa de viver, a partir da fé, em novidade de vida. O Batismo é obra de Deus em nós. Quem o ministra, a comunidade reunida, através do seu representante, é apenas instrumento de Deus; quem, porém, opera o Batismo é o próprio Deus, pelo Espírito Santo. Neste sentido, diz Lutero: “ser batizado em nome de Deus é ser batizado pelo próprio Deus”. Deus utiliza-se destes instrumentos e também da água como elementos externos visíveis para nos presentear o que é eterno, a salvação. Oração Senhor, ajuda-nos a colocar em prática o nosso Batismo. Dá-nos renovadamente o Espírito Santo para andarmos em novidade de vida. Por nossa razão ou força não podemos fazê-lo, por isso capacita-nos com a tua graça. Em nome de Jesus Cristo. Amém. Sacramentos/Batismo

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O Batismo e o Espírito Santo Atos 10.44-48

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Batismo... promete e traz: vitória sobre o diabo e a morte, remissão dos pecados, a graça de Deus, Cristo... e o Espírito Santo com os seus dons”. O Batismo promete e traz, entre outros, conforme Lutero, o Espírito Santo e seus dons. O Espírito Santo não é exclusividade de ninguém. Em Cesaréia, alguns não-judeus receberam o Espírito Santo e alguns dons, e depois foram batizados e creram em Jesus. Fé, Espírito Santo e Batismo estão intimamente relacionados. O que não significa necessariamente que haja coincidência entre a transmissão do Espírito e o ato do Batismo; eles agem juntos. No entanto, o que vem antes, a fé, o Batismo ou o Espírito Santo e seus dons, isto não compete a nós definir. O Espírito age onde, como e quando quer! Ele é totalmente livre em sua ação. Toda a vida da pessoa batizada é um constante abrigar-se debaixo do Batismo, ou como propõe Lutero, “rastejar para dentro do Batismo”, afogar o “velho homem em nós para que possa sair e ressurgir diariamente novo homem”. E esta capacidade de nos conscientizar sempre de novo de que somos batizados e pertencemos a Deus e que podemos, pois, andar em novidade de vida, não está em nós mesmos, mas é ação do Espírito Santo. É também ele que nos motiva a exercitar os dons espirituais que dele recebemos. O Batismo é um dom de Deus que nos coloca no caminho da fé, dá-nos o instrumento por excelência para andarmos em novidade de vida, o Espírito Santo, que nos proporciona os dons que nos comprometem diante de Deus e do mundo. Importa que o vivamos, praticando os nossos dons espirituais para que o mundo se torne melhor. Para isso nos ajude o Espírito Santo!

Oração Senhor nosso Deus, que livremente atuas. Permite que o Espírito Santo nos chame e congregue para vivermos o nosso Batismo no dia-a-dia da nossa vida. Ajuda para que coloquemos em prática os dons que nos concedes. Por Jesus Cristo. Amém. Sacramentos/Batismo


Um só Batismo! Efésios 4.5

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astor, eu quero voltar para a minha Igreja. Passei a freqüentar uma outra Igreja e lá me falaram que eu devia ser batizado outra vez, pois o meu primeiro Batismo não valeu porque eu ainda era criança”. Argumentos como esses não são raros. Efésios 4.5 é claro: Batismo acontece uma só vez. E é através dele que passamos a fazer parte do povo de Cristo; e existe somente um povo de Cristo no mundo. Evidentemente, há critérios a serem observados por ocasião da realização deste sacramento tão importante. Em primeiro lugar, ele deve ser realizado com água – por imersão, aspersão ou infusão, não importa! A água deve estar ligada à Palavra de Deus. E o ato deve ser realizado por ordem e em nome do trino Deus, tendo como intermediária a Comunidade de Jesus Cristo, constituída através do Espírito Santo. Estes são os elementos constitutivos de um Batismo válido e eterno que não pode ser anulado. Conta-se que Lutero, quando se sentia atormentado, repetia com muita ênfase: “Sou batizado”. O reformador não se deixou rebatizar, mas refugiava-se sempre de novo no seu único Batismo, acontecido quando tinha poucos dias de vida. Segundo suas próprias palavras: “... o Batismo sempre permanece, e posto que alguém dele caia e peque, todavia sempre temos acesso a ele, para de novo submeter o velho homem. Mas não é preciso que se torne a derramar água em nós”. Qualquer tentativa de batizar de novo alguém que já foi batizado, é negar o poder e a graça de Deus que agiram no primeiro e único Batismo. Há um só povo de Deus e é só uma vez que ele nos concede a cidadania do seu Reino, através do Batismo. Por isso há um só Batismo.

Oração Senhor, ajuda-nos a vivermos a unidade da fé e a desenvolvermos o Batismo. Não permitas que sejamos tentados, por interesses próprios, egoístas e de exaltação própria, a querermos repetir o nosso único Batismo. Ajuda-nos com o teu Santo Espírito. Por Jesus Cristo. Amém. Sacramentos/Batismo

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As crianças e o Batismo Marcos 10.13-16

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arecia um verdadeiro Dia da Criança. O grupo de crianças que se acotovelava ao redor de Jesus era cada vez maior. Os discípulos, preocupados com que o Mestre não deixasse de lado as tarefas agendadas, tentaram estragar a festa, impedindo que elas chegassem mais perto. Jesus, no entanto, repreendeu os discípulos, dizendo: “Deixem que as crianças venham a mim e não as proíbam, porque o Reino de Deus é dos que são como estas crianças. Lembremse disso: Quem não receber o Reino de Deus como uma criança nunca entrará nele” (Marcos 10.14,15). Jesus sempre foi um grande amigo das crianças. Ele sabe, porém, que, como todas as pessoas, elas, apesar de parecerem inocentes, na verdade são pecadoras por natureza e estariam perdidas para sempre. Por isso, também por amor a elas, instituiu o Batismo. Portanto, ele não deve ser considerado uma mera tradição. Pelo contrário, “a ninguém se batiza para que se torne príncipe, mas para que seja salvo” (Lutero). No texto bíblico de referência, Jesus dirige-se aos que ali estavam para dizer que o Batismo torna os pequeninos membros do Reino de Deus, perdoa todos os seus pecados e os declara filhos de Deus e herdeiros da vida eterna. Em resumo, os salva. Quando Jesus diz: “como uma criança”, ele está dizendo que o Espírito Santo, através do Batismo, cria nas crianças uma fé genuína que se coloca em total dependência do Pai celestial, em espírito de humildade, receptividade e confiança inabalável. Uma fé a ser imitada pelos adultos! Vemos, ao final, que a festa das crianças terminou sendo completa: “Jesus abraçou as crianças e as abençoou, pondo as mãos sobre elas” (v. 16). Oração Amigo dos meninos, / benigno Salvador, / recebe os pequeninos, / sê nosso bom Pastor. / Teus cordeirinhos guia / com meiga compaixão; / e em tua companhia / jamais se perderão. Amém. Sacramentos/Batismo


Batismo e ensino Mateus 28.20

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uando as crianças nascem, devem ser nutridas com leite e outros alimentos para não morrerem. E quando as crianças se tornam filhos de Deus, devem ser nutridas com o alimento da Palavra de Deus para não morrerem espiritualmente”. Estas palavras, retiradas de um pequeno livro que recebi do meu pastor, no dia da confirmação, retratam o que Jesus quer dizer ao ordenar: “... façam com que sejam meus seguidores... batizando... e ensinando-os a obedecer a tudo o que tenho mandado” (Mateus 28.1920). O Batismo requer um processo contínuo de aprendizado na vida cristã, um aprendizado fundamentado no estudo da Palavra de Deus. O ensino cristão não tem como simples alvo transmitir conhecimentos. Primeiramente, ele visa à preservação da fé. Através do ouvir e estudar da Palavra de Deus regularmente, o Espírito Santo nos fortalece para a luta que travamos contra os inimigos da fé: o Diabo, o mundo e a nossa própria carne. É dessa forma que podemos viver o nosso Batismo, que não é um simples acontecimento do passado, mas um afogar do velho homem em nós, por contrição e arrependimento diários, e um ressurgir do novo homem, que deseja fazer a vontade de Deus. Somos, assim, preservados na fé e capacitados para sermos cada vez mais brandos, pacientes e mansos. O ensino cristão visa também treinar os filhos de Deus para exercerem suas funções no lar, na Igreja e no país. É no exercício de nossa vocação, sendo um cônjuge fiel, um filho que honra seus pais, um bom patrão ou empregado, um governante justo ou um cidadão zeloso, um servo no trabalho do Reino de Deus, que melhor podemos cumprir a missão de Deus no mundo.

Oração Bondoso Deus, “a tua palavra é uma lâmpada para o meu caminho e luz para me guiar. Os teus ensinamentos são a minha herança para sempre; eles alegram o meu coração. Guardo a tua palavra no coração para não pecar contra ti”. Amém. (Salmo 119.105,111,11) Sacramentos/Batismo

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Confirmar e ser confirmado Efésios 4.11-16

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uando fui batizado, Jesus veio a mim e deu-me aquilo que ele conquistou na cruz do calvário: perdão dos pecados, vida e eterna salvação. O Espírito Santo foi derramado sobre mim, entrou no meu coração e operou em mim a fé verdadeira. Assim me tornei verdadeiro filho amado de Deus. Meus pais educaram-me na fé cristã. Conheci e apreendi os ensinamentos principais das Sagradas Escrituras. Até que um dia aconteceu o que chamam, em minha Igreja, de “confirmação”. Este dia foi importante para mim, em primeiro lugar, porque fui lembrado de como Deus tem sido fiel à aliança para comigo e tem me confirmado, fortalecido na fé verdadeira. Em segundo lugar, movido por esta fidelidade de Deus, tive o privilégio de, com a minha própria boca, confessar publicamente perante o santo altar de Deus a fé na qual fui batizado e instruído e renovar meu voto de querer viver a minha vida com a ajuda do Espírito Santo, de acordo com a orientação da Palavra de Deus, e alcançar “a altura espiritual de Cristo, que é a cabeça” (v. 15). Você, que foi chamado por Deus à fé pelo Batismo, também tem sido confirmado e guardado na fé pelo Espírito Santo. E você também tem o privilégio de, no dia da sua confirmação e diariamente, confirmar e renovar o voto batismal. Deus se importa muito com você. Ele quer ajudá-lo todos os dias a cumprir a sua promessa com o poder da Palavra. Viver a promessa batismal significa, em primeiro lugar, arrepender-se diariamente dos erros cometidos e confiar no perdão que Jesus lhe dá. Significa, em segundo lugar, pertencer a ele e servi-lo com o seu tempo, seu corpo, sua mente, seus dons e tudo o que você tem. Oração Obrigado, Senhor Deus, por seres fiel para comigo. Capacita-me a viver a promessa batismal diariamente e a crescer na fé, no amor e no serviço, por meio de Cristo. Amém. Sacramentos/Batismo


A ceia da libertação Êxodo 12.1-14

... e me libertou de todos os pecados, da morte e do poder do diabo” (Lutero). Há mais ou menos três mil anos, sempre, em novas situações, o povo de Deus experimenta o Deus libertador. O mais antigo testemunho dessa ação libertadora temos na história da saída de Israel do Egito. Deus ouviu o clamor de seu povo, escravizado pelos egípcios. Nove pragas que ele fez cair sobre o Faraó não o moveram a permitir a saída dos escravos. Mas, finalmente, mandou o povo preparar, às pressas, um jantar: pães sem fermento (pães asmos), ervas amargas e um carneiro assado para cada casa. Com o sangue do animal deviam pintar o marco da porta da casa, no lado de fora. Este seria o sinal para que o anjo da matança poupasse os hebreus, enquanto mataria todos os primogênitos egípcios. Assim aconteceu. Pelo sangue do cordeiro, Deus poupou o seu povo em meio ao juízo. Por meio de carne, pães asmos e erva amarga, Deus o fortaleceu para a caminhada em direção à liberdade e à terra prometida. O jantar tornou-se o signo de libertação do povo de Deus da escravidão. Em vista da morte de todos os primogênitos egípcios, Faraó deixa os hebreus sair. Assim inicia a passagem da escravidão para a liberdade, do estado de sem-terra para o prazer de ter a sua terra para poder morar, plantar e colher. Essa passagem da não-vida para a vida é chamada em hebraico de pasah = Páscoa. O povo judeu a celebra ainda hoje, a cada ano, com alegria e seriedade, no dia 14 de abril e acrescenta mais seis dias de pães asmos. Será que dá para perceber como aí está prefigurada aquela última libertação de que fala Apocalipse 21.1: “Então vi um novo céu e uma nova terra”? Oração Obrigado, misericordioso Deus, porque tu ouves o clamor do teu povo. Em Jesus Cristo libertas da não-vida para a vida. Nele, nos colocas a caminho. “Eu também sou teu povo, Senhor, e estou nesta estrada, cada dia mais perto terra esperada”. Amém. Sacramentos/Santa Ceia

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Páscoa – a vida tem a última palavra Marcos 14.12-16

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segredo para revigorar a esperança em situação de crise é relembrar os grandes feitos de Deus. Por isso, Israel relembrava por meio das festas, da Páscoa e dos Pães Asmos, a saída do Egito. Segundo a tradição, Jesus e seus discípulos também celebrariam, naquela quinta-feira, pela última vez, a ceia pascal. A ela antecedem dois episódios: Jesus defende a mulher que derramara precioso perfume sobre a sua cabeça, ungindo-o antecipadamente para a sepultura; e a Judas, o traidor, é permitido participar da última ceia memorial da libertação. Realmente, a última ceia de Jesus é cercada de mistério e de perguntas não pronunciadas. A Páscoa de Israel não quer ser confundida com a Páscoa cristã. Nesta, celebramos a ressurreição de Jesus dentre os mortos, com novo corpo que não morre mais. Ela é, portanto, a passagem da morte para a vida que não tem fim. Esse fato nos dá esperança de que todos aqueles que crêem em Cristo também serão ressuscitados com novo corpo que não mais morre. Assim, a Páscoa de Jesus aponta também para a nossa Páscoa que Jesus realizará no final dos tempos, quando voltar em majestade e glória para julgar os vivos e os mortos. Por conseguinte, a nossa Páscoa também é a passagem da morte para a vida eterna. De fato, estamos diante de um grande mistério: os olhos da fé vislumbram naquela ceia dos hebreus no Egito uma prefiguração da libertação da não-vida para a vida. Na festa pascal dos israelitas, torna-se presente o Deus Libertador, o mesmo Deus que fez Jesus crucificado ressuscitar dentre os mortos. Na Páscoa de Jesus é antecipada e prefigurada a nossa ressurreição dentre os mortos.

Oração Silenciamos diante desse mistério, bondoso Deus. Tu libertas, salvas, socorres e fazes viver. Glorificado seja teu nome, Senhor Jesus! Amém.

Sacramentos/SantaCeia


O mistério de Deus presente na Santa Ceia Marcos 14.22-26

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esus celebra pela última vez a ceia pascal. As palavras que ele profere destacam esta ceia como única e inaugural. Nunca antes ele dissera sobre o pão: “Isto é o meu corpo”. Assim como o pão é quebrado e repartido, assim o corpo de Jesus é quebrado e repartido em nosso favor. Jesus é o “pão da vida”. Sem Jesus morremos de fome! Nunca antes Jesus dissera sobre o fruto da videira: “Isto é o meu sangue, que é derramado em favor de muitos”. Sem sangue não dá para viver. Jesus dá a sua própria vida para que nós possamos viver, ser perdoados e perdoar uns aos outros. Eis “o sangue que sela o acordo feito por Deus com o seu povo”. Jesus inaugura o povo universal de Deus, cuja origem e alvo é o próprio Cristo. No final dos tempos, ele voltará para ressuscitar todos aqueles que nele crêem. Então, ele celebrará a grande e eterna ceia com os seus: “... em que beberei com vocês um vinho novo no Reino de Deus”. Os primeiros cristãos perceberam nesta última ceia de Jesus também o seu caráter inaugural. Dali em diante, cada vez que se reuniam sob a Palavra e em oração, também “partiam o pão” (assim chamavam a Santa Ceia). Nessa santa comunhão, encontravam força e motivação para a missão e para resistir às tentações e perseguições. Eis o mistério: na Santa Ceia está realmente presente aquele Deus que libertou o seu povo da escravidão egípcia. É também o mesmo Deus que, em Jesus, libertou e vai nos libertar em definitivo dos poderes da morte. E, livres, podemos, já hoje, viver uma nova vida em partilha. Passado e futuro se condensam em cada Santa Ceia que celebramos. Não dá para explicar esse mistério adequadamente! Importa ir e experimentar!

Oração Louvado sejas, Senhor, que o nosso tempo está nas mãos de Jesus Cristo. Obrigado que nele a nossa caminhada tem origem, alvo e razão de ser. Permite-nos experimentar na Santa Ceia o antegozo da alegria eterna. Amém. Sacramentos/Santa Ceia

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Santa Ceia na Igreja cristã primitiva Atos 2.42

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s primeiros cristãos reuniam-se diariamente para a “doutrina dos apóstolos”, isto é, para ouvirem a pregação, para a “comunhão”. Estes encontros não eram apenas o encontro de pessoas, mas incluíam também o auxílio às necessidades uns dos outros. Neles, “partiam o pão”, isto é, celebravam a Santa Ceia, tomavam refeições em conjunto e oravam. Este exemplo pode levantar a pergunta: “Quantas vezes devo participar da Santa Ceia?” A experiência dos primeiros cristãos foi boa, mas não deve ser transformada em lei. Sobre a celebração da Santa Ceia, há apenas um mandamento deixado por Jesus: “Façam isto em memória de mim” (Lucas 22.19). Jesus substituiu a escravidão à Lei pela liberdade evangélica: “Mas virá o tempo, e de fato já chegou, em que os verdadeiros adoradores vão adorar o Pai em espírito e em verdade” (João 4.22). Esse mesmo princípio foi defendido por Paulo, em Gálatas 5.1: “Cristo nos libertou para que sejamos de fato livres”. Não se deve mudar a liberdade que temos em Cristo em nova forma de escravidão. Deve-se participar da Santa Ceia com muita freqüência. Isto, no entanto, não deve acontecer por coação ou imposição, mas unicamente pelo ensino da doutrina e dos benefícios que ela traz. Aos cristãos, cabe se perguntarem quanto à necessidade de perdão e de fortalecimento de sua fé, pois são os pecadores e fracos que Cristo chama para si: “Os que têm saúde não precisam de médico, mas sim os doentes” (Mateus 9.12) e “Venham a mim todos vocês que estão cansados de carregar as suas pesadas cargas, e eu lhes darei descanso” (Mateus 11.28). Esse também é o convite de Cristo para a Ceia! Oração Senhor Jesus, quero atender o teu convite e buscar sempre a tua presença, como fizeram os primeiros cristãos. Que, assim como eles, eu possa participar dos cultos e da Santa Ceia sempre que minha Igreja estiver reunida para esse fim. Amém. Sacramentos/Santa Ceia


Pão e vinho – corpo e sangue Mateus 26.26

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s primeiros cristãos não duvidavam, que no pão e no vinho da Santa Ceia, recebiam o corpo e o sangue de Cristo para perdão de seus pecados. Bastavam-lhes as palavras de Jesus: “... isto é o meu corpo... isto é o meu sangue”. Mais tarde, os teólogos recorreram à filosofia para explicar o mistério da Santa Ceia. Para alguns, pão e vinho eram símbolos visíveis da realidade invisível do corpo e sangue de Cristo – essa linguagem é influência da filosofia de Platão. Outros confessaram a presença real do corpo e do sangue de Cristo, segundo a linguagem da filosofia de Aristóteles, distinguindo entre substância (o que é essencial) e acidentes (o que não é essencial). Havia, aqui, um debate entre os que ensinavam a transformação das substâncias do pão e do vinho nas substâncias do corpo e do sangue de Cristo (daí o nome “transubstanciação”) e os que ensinavam a justaposição das substâncias, pela adição das substâncias do corpo e do sangue às do pão e do vinho (daí o nome “consubstanciação”). Na época da Reforma, muitos negaram completamente a presença do corpo e do sangue de Cristo na Santa Ceia. Para eles, pão e vinho apenas representavam figuradamente o corpo e o sangue de Cristo, sendo meros símbolos. Outros reformadores, porém, confessaram a presença real como verdade bíblica. Ensinaram que a fé não deve se apoiar em conceitos filosóficos, mas nas palavras de Cristo. Nelas se fundamenta a Santa Ceia: “É a palavra... que faz e distingue este sacramento, de sorte que não é nem se chama apenas pão e vinho, senão corpo e sangue de Cristo” (Lutero). Que para nós também bastem as palavras de Cristo! Oração Senhor, concede-me essa fé simples, que confia e se fundamenta somente em tua Palavra, para que eu possa encontrar conforto em tua promessa e também na Santa Ceia. Amém. Sacramentos/Santa Ceia

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Isto é o meu corpo Lucas 22.19

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omo é bom, nas horas de angústia e aflição, poder contar com um familiar ou amigo, que esteja conosco e nos dê apoio. Com certeza, a sua presença é de grande conforto. Conforto que a mera lembrança de tais pessoas não pode nos trazer. Com esse exemplo, perguntamos: Que é a Santa Ceia? A presença de Cristo é apenas em memória, em pensamento? Ela é apenas uma lembrança que nós temos de Cristo? Uma presença virtual, simbólica? Jesus disse: “Façam isto em memória de mim”. Portanto, a Santa Ceia é um memorial, uma lembrança solene da pessoa e da obra do Salvador Jesus Cristo. O apóstolo Paulo disse sobre nossa participação na Santa Ceia: “Porque cada vez que vocês comem deste pão e bebem deste cálice, anunciam a morte do Senhor, até que ele venha” (1 Coríntios 11.26). Por outro lado, as palavras “isto é o meu corpo” e “isto é o meu sangue” não deixam dúvidas de que a Ceia é mais do que nossa lembrança de Cristo, sendo dádiva de Cristo a nós, em que ele nos dá seu corpo e sangue para perdão de nossos pecados. Cristo não é um amigo virtual, que está apenas na nossa memória. Para marcar sua presença real, concreta e, acima de tudo, confortadora, ele instituiu a Santa Ceia. Quando participamos dela, Jesus está realmente presente, assim como um familiar ou amigo; tornamo-nos participantes em seu corpo e sangue, remédio da salvação eterna e de todos os bens espirituais. Recebemos o perdão, a vida e a salvação eterna que ele conquistou para nós, mediante o sacrifício na cruz. A Santa Ceia é um meio a mais, além da palavra externa e do Batismo, pelo qual Deus derrama em nós e a nosso favor, o seu amor e o Espírito Santo. Oração Senhor Jesus, tua presença me conforta. Vem habitar em mim, Senhor, e me alimentar a fé com teu corpo e sangue redentor, purificador e santificador. Amém. Sacramentos/Santa Ceia


Comunhão com Cristo 1 Coríntios 10.16

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cálice e o pão da Santa Ceia são o “cálice de bênção que abençoamos” e o “pão que partimos e comemos” (1 Coríntios 10.16). A Santa Ceia não é algum gesto ou ato mágico. Ela também não é uma meditação bem treinada que nos aproxima de forma milagrosa de Deus. Muito mais do que uma aproximação, ela nos faz participar de Deus por meio de Jesus Cristo: “Estamos tomando parte no sangue de Cristo” e “estamos tomando parte no corpo de Cristo” (1 Coríntios 10.16). Mais, infinitamente mais do que a presença simbólica de Cristo, a celebração da Santa Ceia nos concede a participação no corpo de Cristo. Esta participação é tão concreta e tão palpável, tão individual e pessoal que, para expressá-la, usam-se as palavras “comer” e “beber”, comportamentos essenciais para a nossa sobrevivência física. Isto vai muito além da nossa compreensão. Por este motivo, fala-se de mistério, porque não conseguimos desvendar toda a essência da Santa Ceia com a nossa compreensão e inteligência. O mistério da Santa Ceia consiste essencialmente nesta participação, neste gesto de doação de Cristo. Não perguntamos o que recebemos e o que Jesus nos dá, pois ele se dá a si mesmo. Isto é mais do que tudo que podemos enumerar em nossos pedidos e em nossas preces. Santa Ceia ou, como algumas igrejas dizem, Santa Comunhão, expressa este mistério de nossa fé: a santidade consiste no ato de nós sermos incorporados na santidade de Deus. Dessa forma, a santidade não é a inalcançável distância que nos separa de Deus, mas a graciosa e amorosa proximidade que nos acolhe. Celebrando a Santa Ceia, participamos de Jesus Cristo, nosso Senhor. Oração Eterno Deus e Pai celestial, agradeço pela tua misericórdia que me permite estar em íntima comunhão contigo, na vida e na morte. Por Jesus Cristo, eu peço: permanece comigo, conduze e guarda-me. Amém. Sacramentos/Santa Ceia

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Comunhão entre irmãos 1 Coríntios 10.17

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Igreja de Cristo se constitui de muitos membros. Também a comunidade local é formada por muitas pessoas diferentes umas das outras. Suas tradições, seus costumes, suas convicções, sua cultura as diferenciam umas das outras. No entanto, a proposta do Evangelho é que a multiplicidade e as diferenças entre as pessoas não contam na Igreja. Ali, as diferenças não devem dificultar o convívio fraterno. Quanto a isso, o próprio Jesus intercede junto ao Pai na sua oração sacerdotal, em João 17.21: “Peço que todos eles sejam completamente unidos”. Além de se basear no ensinamento da Bíblia e na oração de Jesus, a unidade se fundamenta, especialmente e de forma concreta na celebração da Santa Ceia. O apóstolo Paulo confirma que, entre os cristãos de Corinto, havia muitas diferenças, quando escreve na sua carta: “Mesmo sendo muitos...”. O extraordinário é que, mesmo sendo muitos, Deus consegue congregar a todos, apesar de tantas diferenças, em torno do mesmo corpo de Cristo: “todos comemos do mesmo pão, que é um só”. Portanto, além de proporcionar a participação de todos no corpo de Cristo, de sermos incorporados em Cristo, a Santa Ceia proporciona comunhão entre irmãos e irmãs: em Cristo “somos um só corpo”. Assim, a unidade da Igreja como um todo e a unidade de cada uma de suas comunidades e congregações, é muito mais do que um dever e uma tarefa a ser cumprida; ela é um presente e uma dádiva. É a conseqüência natural, pois quem participa do corpo de Cristo na celebração da Santa Ceia, faz parte do corpo de Cristo aqui na terra, representado pela sua Igreja.

Oração Senhor, muitos são os motivos de nossa desunião, mas sabemos que a tua vontade é que sejamos unidos como tu e o Pai o são. Afasta de nós o que nos separa e fortifica a nossa disposição para vivermos unidos por tua graça. Amém. Sacramentos/Santa Ceia


Em memória de mim 1 Coríntios 11.24

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Igreja vive da memória, isto é, ela repete de geração em geração as histórias bíblicas e proclama, assim, os grandes feitos de Deus. Não se podem, pois, esperar novidades, no sentido de coisas novas, da pregação da Igreja. A única novidade que acontece na sua proclamação é a atualização de antigas verdades. Quando a Igreja prega a velha verdade, ela rememora, atualiza e reinterpreta para a nossa situação aquilo que patriarcas e profetas anunciaram em tempos remotos e o que os evangelistas e apóstolos proclamaram sobre a vida, paixão, morte, ressurreição e ascensão de Jesus Cristo. Através da repetição das palavras e histórias bíblicas, Deus se torna presente de forma renovada. Quando Jesus instituiu a Santa Ceia, ele disse aos seus discípulos: “Façam isto em memória de mim”. Assim, cada vez que celebramos a memória de Cristo na Santa Ceia, ele está presente de forma renovada, concreta e real. Com a sua presença, aqueles que participam da Ceia e ouvem a oferta de Jesus: “Isto é o meu corpo, que é entregue em favor de vocês” recebem, igualmente de forma concreta e real, os seus benefícios: perdão dos pecados, nova vida e salvação. Os cristãos da Igreja primitiva davam muito valor para esta celebração da memória de Cristo na Santa Ceia. Por isso, a celebravam todos os dias, com toda a comunidade reunida e com muita alegria. Cada vez que você ouve as palavras: “entregue em favor de vocês. Façam isto em memória de mim”, tenha certeza de que Jesus Cristo está cumprindo a sua promessa de estar com você em todas as circunstâncias da sua vida. Participe da Santa Ceia com muita alegria e renove a sua fé em Jesus Cristo.

Oração Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, nosso Salvador, obrigado pelo sofrimento, morte e ressurreição. Faze com que a memória da tua caminhada em direção à cruz nos fortaleça na fé. Amém. Sacramentos/Santa Ceia

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Santa Ceia e remissão dos pecados Mateus 26.28

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ossa vida se compõe de rituais. Há rituais no dia-a-dia com a nossa família, com a nossa comunidade de trabalho, com a nossa comunidade religiosa. Sem rituais, nossa vida perde o contato com a realidade concreta em que vivemos. Através deles, nós nos relacionamos com outras pessoas. Assim, Deus também fez uma aliança conosco para não perdermos nossa identidade com ele na realidade da vida. Ele nos deu todo um Livro da Aliança (Êxodo 24.7) que relata os rituais da intimidade com Deus. A Bíblia, a Escritura Sagrada, descreve os rituais para a liturgia, tanto para nossa vida em família, como para nossa vida no culto da Igreja. Todos os cultos são introduzidos com as palavras “em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”. Em nome desse Deus nós recebemos a palavra do perdão dos pecados e ouvimos o Evangelho da sua paz. Mas Deus não nos deixa apenas com os rituais da Palavra. Ele une esta Palavra com realidades concretas: no Batismo, a Palavra está ligada à água, na Santa Ceia, a Palavra está ligada ao pão e vinho. A aliança eterna de Deus (Isaías 61.8), expressa na palavra do Evangelho, inclui um preço material: o corpo e o sangue de Jesus Cristo, o Filho de Deus, que morreu e ressuscitou para o perdão dos pecados dos muitos que são salvos. Estes, corpo e sangue da aliança, Deus oferece “em, com e sob” o pão e vinho na Santa Ceia. Desta forma, o cristão participa não somente do ritual da promessa do perdão, mas efetivamente participa do corpo e do sangue do Salvador que estabeleceu a aliança “para remissão de pecados”. Não existe ritual de maior intimidade com o nosso Deus. É um ritual de perdão, alegria e adoração. Vamos usá-lo muito e sempre! Oração Amado Pai celestial, nós queremos agradecer pelo ritual da intimidade que estabeleceste pela aliança na Santa Ceia. Dá-nos alegria para procurarmos muito este ritual do teu amor e do teu perdão. Amém. Sacramentos/Santa Ceia


Santa Ceia e fé Lucas 22.16

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Santa Ceia foi instituída por ocasião da última Páscoa que Jesus celebrou com os seus discípulos. Há uma relação íntima entre a Santa Ceia e a Páscoa “no Reino de Deus”. A Páscoa israelita chegou ao fim de sua “vigência literal”, mas permanece a sua “vigência cumprida” no Reino de Deus. Moisés celebrou a primeira Páscoa nesta fé (Hebreus 11.28). Confiou na promessa de Deus ao seu povo no Egito. O “exterminador” não tocaria nos primogênitos de Israel se houvesse o sinal do sangue nas portas das suas casas (Êxodo 12.7). O ritual da Páscoa israelita deveria transmitir esta fé no perdão de Deus a todas as gerações futuras. O sangue do cordeiro da Páscoa era figura do sangue da aliança do Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (João 1.29). Esta era a visão da fé desde o início, como Isaías lembra ao povo de Deus quando fala na tarefa do Servo Sofredor como “cordeiro” sacrificado (Isaías 53.7). Jesus encerra o ciclo da Páscoa israelita com o estabelecimento do “Reino de Deus”. O reinar de Deus se tornou história com a morte e ressurreição de Jesus Cristo, como celebramos na Páscoa cristã. Jesus venceu o inimigo e demonstrou o “Reino de Deus”. Esta vitória estabelece e confirma a fé. A fidelidade de Cristo se torna nossa na fé. Jesus avisa os seus discípulos na última Páscoa que a nova forma de celebrar a Páscoa no “Reino de Deus” é a Santa Ceia. Ali está a aliança eterna selada com o corpo e o sangue do Cordeiro de Deus. A promessa do perdão é recebida na fé, como aconteceu na Páscoa de Moisés e como acontece conosco na Santa Ceia. Vamos participar da Santa Ceia nesta fé!

Oração Amado Pai celestial, que enviaste o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo e entregas o seu corpo e sangue na Santa Ceia para o perdão dos pecados, dá-nos sempre esta fé que participa da fidelidade do Senhor Jesus Cristo, teu Filho. Amém. Sacramentos/Santa Ceia

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É digno quem se considera indigno! Lucas 18.9-14

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uem é digno de participar da Santa Ceia? A história do fariseu e do publicano não fala da Santa Ceia. Mas há nela um elemento importante que se aplica universalmente, também na Santa Ceia. A pergunta é a respeito do acesso ao amor de Deus e a respeito dos empecilhos que nos afastam de Deus. O fariseu tropeçou sobre si mesmo. Não viu que sua presumida justiça era apenas orgulho, cobiça e oposição a Deus. Era orgulho, porque se julgava melhor que os outros. Era cobiça, porque se julgava com autoridade quase divina para resolver o seu relacionamento com Deus; e oposição, porque desprezava a proposta divina de salvação e perdão. O publicano aceitou a crítica e a solução do amor de Deus. Entendeu que a mensagem: “arrependam-se” (Mateus 3.2) era universal e tocava a ele próprio também. Precisava humilhar-se, reconhecer sua indignidade e dependência absoluta de Deus. Este “arrependimento” é causado pelo Espírito Santo, quando, pelo rigor da lei, nos acusa e, depois, oferece a solução do Evangelho que nos dá o perdão na fé. O publicano “desceu justificado para sua casa”, apesar dos seus erros, porque, em arrependimento e fé, se “humilhou” diante de Deus para buscar o perdão. Ele foi “exaltado” como filho de Deus. Esta é a “dignidade” com que participamos da Santa Ceia a convite do Deus de amor que perdoa. Mesmo “carregados” de pecado e “indignos”, buscamos o perdão em arrependimento e fé. Na Santa Ceia, Deus oferece e dá o perdão, a fé, e a vida eterna que já agora nos renova no serviço ao nosso próximo. Assim, vamos “descer justificados para nossa casa” após cada Santa Ceia. Participe deste privilégio! Oração Amado Pai celestial, que aceitaste a humildade do publicano, aceita também a nós. Faze com que a Santa Ceia nos fortaleça a fé e a coragem de sermos diferentes neste mundo, por amor de Jesus Cristo, teu Filho. Amém. Sacramentos/Santa Ceia


Santa Ceia – comunhão com todos! 1 Coríntios 12.12

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uando perdemos uma pessoa, o luto toma conta de nós, a saudade aumenta, sentimos ausência. Teríamos tanto o que dizer e falar; gostaríamos tanto de acariciar. Sentimos ausência de corpo. Nessas situações, surgem conselhos, são-nos oferecidas pessoas com dons mediúnicos que nos poderiam colocar em contato com nossos falecidos. O remédio para trabalhar o luto, a saudade e a ausência é esquecido: a Santa Ceia. Você deve estar espantado! Mas não se espante. Você foi batizado em Cristo, faz parte de seu corpo. Se a pessoa falecida foi batizada e faleceu em Cristo, continua a fazer parte dele. A morte não nos arranca de Cristo. Agora, se você e a pessoa falecida fazem parte de Cristo, o que as separa? Há, antes, algo fundamental que as une: Jesus Cristo. Cada vez que participamos de seu corpo e de seu sangue, temos comunhão com ele e uns com os outros, também com aqueles que ele já chamou para si! “O que este sacramento opera é comunhão de todos os santos” (Lutero). Ninguém participa sozinho da Ceia. Jesus está conosco; conosco estão os irmãos e as irmãs ao nosso lado; conosco estão irmãs e irmãos de outros continentes; conosco estão todos os que estão em Cristo, também os que já dormem. Isso conforta, isso cobre luto, isso alegra, isso é Boa Nova. Está com saudade, luto, sente ausência de corpo, busque comunhão no corpo e sangue de Jesus, a Santa Ceia; busque a comunhão dos santos. Na Santa Ceia você também tem comunhão com todos, também com aqueles que você não pode mais ver ou sentir. “Porque Cristo é como um corpo que tem muitas partes. E essas partes, ainda que sejam muitas, formam um só corpo” (1 Coríntios 12.12).

Oração Quando eu estiver só, não me deixes só! Dá-me comunhão! Na saudade, dá-me a certeza de teu amor! No luto, deixa-me estar em ti! Tu és meu; eu sou teu, Senhor Jesus. Amém. Sacramentos/Santa Ceia

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Que venham todos! Mateus 11.28

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or vezes, tenho a impressão que a Santa Ceia é o sacramento das consciências pesadas. Muita preparação para a Santa Ceia, primeiro coloca pesos enormes sobre os ombros das pessoas, para, depois, mostrar-lhes como Jesus é bondoso e como é grande o seu amor. Nem sempre é apenas o pregador que assim procede; conheço muitas pessoas cristãs que também agem assim. Já pensaram, se cada mãe precisasse, primeiro, surrar os filhos para, depois, mostrar-lhes como ela é bondosa? Jesus não é carrasco: ele acolhe as vítimas e condena, isso sim, os seus carrascos. O reformador Martim Lutero foi uma pessoa de mente sobrecarregada por causa de uma imagem de Jesus que lhe mostravam constantemente: um Cristo sentado sobre o arco-íris, com espada afiada na boca e nos olhos, dos quais saem raios fulminantes. Confesso que também tenho medo desse Jesus e não conseguiria aceitar o convite para participar de sua Ceia. É verdade, o Jesus que convida para a Santa Ceia chama quem tem pecado, quem está tentado, quem está cansado e quem teve a consciência sobrecarregada. Quem esperar para participar da Ceia somente quando estiver livre de tudo isso, vai ter que esperar por toda a eternidade. A ele Jesus vai dizer, na formulação de Lutero: “Se és puro e probo, então não necessitas de mim, e eu, por outro lado, não preciso de ti”. Quem não se agüenta mais, quem vive no mundo, precisa de Jesus. Ele nos acolhe assim como somos, para que possamos ser como ele é. Na Ceia acontece troca maravilhosa! Que venham todos, os que “estão cansados de carregar as suas pesadas cargas” e aqueles que querem compartilhar alegria e felicidade! Oração Que bom que me aceitas, assim como sou. Quem bom que sou teu. Isso é milagre. Preciso de ti, precisas de mim. Troca maravilhosa. Só posso te louvar. Amém. Sacramentos/Santa Ceia


Prepare-se para participar da Santa Ceia! 1 Coríntios 11.17-22

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nquanto uns ficam com fome, outros chegam até a ficar bêbados” (vv. 21s.). Essa era a situação em Corinto. Corinto é dessas comunidades que assustam e escandalizam quem idealiza comunidade cristã. Ali aconteceu de tudo, e Paulo chegou a chorar por causa dela. Sou grato por ela, pois com ela aprendo a não idealizar o cristão. Aliás, aprendo que a coisa mais importante, a partir de Jesus, é o amor. Em Corinto, a falta de amor bagunçou a Santa Ceia. Uma vez por semana, a comunidade se reunia. Cada um trazia o que tinha para oferecer; colocavam-se as dádivas sobre uma mesa e, depois, celebrava-se ceia comunitária, precedida pelo pão abençoado e concluída pelo cálice abençoado. Uma vez por semana, os pobres da comunidade podiam realmente saciar sua fome. Do que sobrava, certamente, ainda se distribuía a necessitados. Com o tempo, também esta ceia esfriou. Houve pessoas que não conseguiram mais esperar pelos que tinham que trabalhar até tarde, antecipavam-se na refeição. Os últimos a chegar eram os trabalhadores do porto. Quando os pobres chegavam, os melhores bocados já tinham sido comidos e havia gente que se embebedara. O vinho da Ceia transformara a celebração fraterna em bacanal. E aí ficou a pergunta: como é que a gente se prepara para a Ceia? Perguntando: por que vim a esta Ceia? Por causa do “dado e derramado em favor de vocês”. Quando Jesus se dá por nós – em, com e sob o pão e o vinho – a gente se prepara a partir de seu amor por nós. Este amor põe fim a brigas, espera, partilha, é grato, sabe que a partir dele tudo se faz novo e que a partir dele podemos recomeçar, despreocupadamente. Oração Deixa que eu creia em tua promessa: “Dado e derramado em favor de vocês”. Renova-me. Dá-me teu amor. Assim participarei, dignamente, de tua Ceia. Amém. Sacramentos/Santa Ceia

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Quantas vezes devo participar da Santa Ceia? 1 Coríntios 11.26

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odos os domingos! É uma resposta direta. Porém, ela induz ao legalismo, o que ofende o Evangelho que não se rege por leis categóricas. Sempre que possível! Esta reposta é evasiva e desvia da tratativa pastoral. Quando sentir desejo e vontade! A resposta considera o sentimento, mas esquece que nossa natureza e nossos desejos são corrompidos. Em 1 Coríntios 11.17-22, texto que antecede ao da instituição da Santa Ceia, o apóstolo Paulo alerta para que se celebre a Ceia com dignidade. Depreende-se que a pergunta pela freqüência da participação na Santa Ceia não é só uma questão de quantidade, mas de dignidade, de fé, de arrependimento e de desejo. Ao explicar a Santa Ceia, Lutero exorta “que não se deixe passar em vão esse grande tesouro, que entre os cristãos diariamente se administra” e que “deveriam preparar-se para receber freqüentes vezes o mui venerável Sacramento”. Cristo diz: “Façam isto em memória de mim” (1 Coríntios 11.24,25). Essa é a primeira razão para participar da Santa Ceia: a ordem de Cristo. Logo, não participamos por coação, mas para agradar a Cristo. Ele próprio nos atrai e anima a participar. Quem não faz caso e se priva do Sacramento por longo tempo, acaba ficando insensível e o despreza por completo. Quem, porém, deseja receber graça e consolo, “impele-se a si mesmo e a ninguém permite que o intimide” de participar (Lutero). Jesus diz “cada vez que vocês comem... e bebem...”. Isto é um convite para que o façamos muitas vezes. Assim ele quer “o Sacramento livre... uma Ceia da qual fruireis... quando e onde quiserdes, de acordo com a... precisão de cada um” (Lutero). Oração Senhor Jesus, faze-me lembrar a tua vontade, o teu convite gracioso e a minha necessidade como pecador, vivendo no mundo corrompido e sendo tentado pelo Diabo, para que eu deseje encontrar graça, perdão e libertação na Santa Ceia. Amém. Sacramentos/Santa Ceia


As crianças e a Santa Ceia Mateus 26.27b

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palavra de Cristo proposta acima: “Bebam todos vocês...” levanta a pergunta: Quem deve receber o Sacramento? O contexto da sua instituição deixa clara a resposta: todos os discí-

pulos! Há uma correlação dos meios da graça: Palavra de Deus, Batismo e Santa Ceia. Quem foi batizado e ensinado na Palavra, pode participar da Ceia; participar dela confirma a fé de quem foi batizado e instruído. O entendimento evangélico da Santa Ceia enfatiza a busca da mais ampla e freqüente celebração e participação. Diz o Catecismo Maior de Lutero que só não a administramos “àqueles que não sabem o que procuram no Sacramento ou por que vêm a ele”. E as crianças, devem e quando podem participar? Esta foi a preocupação final de Lutero. Ele diz: “Saiba todo pai de família ser seu dever, por ordem e mandamento de Deus, ensinar a seus filhos... Pois, já que foram batizados e recebidos na cristandade, também devem fruir desta comunhão do Sacramento”. Podem e devem participar quando reconhecidamente são capazes de distinguir que no Sacramento, diversamente do alimento comum, recebem o corpo e o sangue de Cristo; reconhecem sua pecaminosidade e estão arrependidas; apegam-se somente às promessas e aos méritos de Cristo, para receber o perdão. Em tal fé, terão sincero desejo de corrigir sua vida e amor fervoroso uns com os outros. Enfatizamos o Batismo infantil por demonstrar que os sacramentos são obra de Deus por nós e em nós. Em relação à Santa Ceia, poderíamos reconsiderar o costume de ligar a primeira participação da Santa Ceia à Confirmação. Assim, a participação andaria lado a lado com boa parte do processo de instrução. Oração Senhor Jesus, participar da Santa Ceia fortalece a nossa fé e estreita a nossa comunhão contigo e com os irmãos. Concede que sempre participemos em sincera fé e arrependimento, no desejo de corrigir nossas vidas e de nos amarmos como teus discípulos. Amém. Sacramentos/Santa Ceia

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A Ceia do Senhor e a ceia celeste 1 Coríntios 11.26

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ocês... anunciam a morte do Senhor até que ele venha”. Este responso da congregação, junto com o “Senhor, agora despedes” (nunc dimitis) marca o final da celebração da Santa Ceia. Apontam para o fim da vida e o fim dos tempos. Sua tônica é de festiva alegria. A mesma que encontramos no vibrante hino litúrgico da Igreja luterana dos Estados Unidos: “Esta é a festa da vitória de nosso Deus”. É importante ressaltar a dimensão festiva e tipológica da Ceia do Senhor. Essa festiva alegria flui do dia para o qual a Ceia aponta e que é, para nós, sinal e garantia daquilo que virá depois; o dia em que “ele vem”. Não foi por acaso que a Santa Ceia foi instituída por Cristo no contexto do banquete em comemoração à maior das festas do povo de Deus, a Páscoa. Aquela celebração relembrava e “atualizava” a libertação da escravidão do Egito, concedida por Deus. A Santa Ceia do Senhor passou a ser sinal e garantia da salvação em Cristo, pois para ela aponta tipologicamente. Ela “atualiza” a salvação em Cristo e aponta para o tempo de sua plena manifestação. Tempo no qual Jesus diz que comerá conosco o verdadeiro jantar que haverá no Reino de Deus (cf. Lucas 22.18). A figura (parábola) do banquete foi usada por Jesus para relacionar a alegria festiva com o dia da sua vinda (retorno) para o juízo. Nesta mesma figura, a salvação em Cristo, tão plenamente sintetizada na Santa Ceia, foi comparada a uma festa (Mateus 22.1-14; 25.1-13). Quando estamos concluindo nossa celebração da Ceia do Senhor, somos animados pelos cânticos litúrgicos a olhar com feliz expectativa para o dia da vinda do Senhor e para a festa que então nos espera. Oração Senhor Jesus, na Santa Ceia nos preparaste “o banquete da salvação”. Enche o nosso coração de alegria sempre que dele participamos. Firma também a nossa fé e nos dá a feliz expectativa de estar contigo eternamente. Amém. Sacramentos/Santa Ceia


Pecado e pecados Hebreus 3.12-14

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ser humano foi expulso do paraíso por um único motivo: pecou! Pecar significa apenas isso: agir contra a vontade de Deus. E a vontade de Deus é essa: “Eu sou o Senhor seu Deus. Você não deve ter outros deuses além de mim”. – “Você não deve, nunca e de jeito nenhum, deixar-se guiar por qualquer vontade diferente da minha. Até se a sua própria vontade for diferente da minha vontade, você estará pecando. Pois você irá fazer o que eu não quero que você faça, e isso será totalmente prejudicial para você”. Por isso, ao concluir a explicação do Primeiro Mandamento, em seu Catecismo Maior, Lutero diz ser este o mandamento mais importante. Quando o Primeiro Mandamento é cumprido, o cumprimento dos demais virá por si só. Por outra, a transgressão deste mandamento, o pecado por excelência, acarreta consigo todos os demais pecados. Portanto, há um só pecado, o afastamento de Deus. E quem se afasta dele, fatalmente apega-se a outros deuses e faz a sua vontade. O que vai contra a vontade de Deus, leva à separação de Deus, à perda de tudo que ele insiste em dar de bom e de melhor ao ser humano. Leva, pois, à morte! Por isso, Hebreus 3.12-14 alerta para que não nos desviemos do Deus vivo, do Deus que julga e condena os infratores da sua vontade. E convida a nos apegarmos hoje, diariamente, à orientação de sua Palavra, que anuncia: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu único Filho, para que todo aquele que nele crer não morra, mas tenha a vida eterna” (João 3.16). Concordar com esta vontade amorosa de Deus é reingressar no paraíso, pois é vivenciar a plenitude da vida sonhada pelo Deus Criador para a sua criatura.

Oração Tua vontade paternal / no céu, na terra, por igual, / se faça em alegria ou dor, / que obedeçamos em amor. / Senhor, tu queiras impedir / os que procuram transgredir. Amém. (HPD 185,5)

Confissão dos pecados

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Confissão dos pecados Esdras 10.1-19

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m aluno danificara seriamente parte do patrimônio da escola. Por três dias, negou o fato. Confrontado, porém, com testemunhas, confessou. Recebeu um dia de suspensão. Ao retornar, encontrei-o no pátio da escola, só e cabisbaixo. Disse-lhe: “Parabéns pela coragem de assumir o erro. Sinto orgulho de você”. Nunca, antes, eu vira no seu rosto um olhar tão limpo, um sorriso tão solto. Sei que, naquele momento, sentia-se livre do passado e com plenos direitos para o futuro. Parte do povo de Israel estava livre do seu passado de prisioneiro da Babilônia. De volta em Jerusalém, tinha plenos direitos de vivenciar a felicidade de viver como povo de Deus. Vive, porém, contra a vontade de Deus. Vive, sim, a tristeza de ser prisioneiro do pecado! O sacerdote Esdras reconhece esta situação. E, por isso, induz o povo a confessar o seu pecado e, naturalmente, a fazer o que Deus quer. Leva o povo a entender que só existe liberdade no fazer a vontade de Deus. E este é o caminho da felicidade, de um olhar limpo, de um sorriso solto. Lutero trata da importância da confissão dos pecados. Ele diz que devemos confessar os nossos pecados, e então aceitar a absolvição que a pessoa que ouve a nossa confissão nos anuncia. Lutero continua dizendo que podemos aceitar a absolvição como vinda do próprio Deus, não duvidando dela de modo algum, mas crendo firmemente que por ela os pecados estão perdoados perante Deus no céu. Poder confessar os pecados é uma graça de Deus que nos é concedida por causa do seu imenso amor. A certeza da absolvição nos proporciona um olhar limpo e um sorriso solto. Aí começa vida nova, já aqui e agora. Oração Senhor, como o malfeitor junto a tua cruz, eu peço: “Jesus, lembrese de mim quando o Senhor vier como Rei”. Que tua resposta para mim também seja: “Eu lhe afirmo que hoje você estará comigo no paraíso”. Amém. Confissão dos pecados


Eu, pecador? 1 João 1.8

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ona Joana tinha câncer. Quando a conheci, ela era uma pessoa amargurada e triste. Culpava o ex-marido que a abandonara há 25 anos. Falava dos seus sofrimentos nestes anos. Fazia questão de dizer que vivera corretamente, que não fizera mal nenhum e, portanto, não merecia estar sofrendo desta forma. Em minhas visitas, líamos a Bíblia e conversávamos muito sobre o amor de Deus. Falei-lhe do perdão que Deus nos oferece através do seu Filho, morto na cruz por nós. Tentei fazê-la entender que este perdão só tem algum sentido em nosso íntimo e no nosso viver, caso estivermos convencidos de que precisamos dele. O tempo passou, e eu não sabia avaliar o quanto as nossas conversas haviam sido úteis. Um dia, porém, dona Joana estava bem diferente. Seu rosto estava sorridente e leve. Imediatamente ela passou a contar o motivo desta sua transformação: no dia anterior, o seu ex-marido a tinha visitado. Pedira-lhe perdão por todo mal que lhe havia feito. O surpreendente foi o que ela disse em seguida: “Mas isso nem foi o mais importante. O que me deixa realmente feliz, é que eu me livrei de um peso muito grande. Eu também pedi perdão a ele. Hoje reconheço que eu também fiz muita coisa errada. Se eu tivesse agido diferente com ele, se tivesse mostrado verdadeiro amor, provavelmente nunca nos teríamos separado”. E ela terminou: “Pastor, hoje eu sei que sou uma pecadora, mas também sei que Deus me perdoa, e isso me faz sentir muito bem”. O ex-marido passou a visitar dona Joana com freqüência. Sua segunda esposa havia falecido já há alguns anos. Ele, agora, se dispôs a cuidar de dona Joana e não mais abandoná-la.

Oração Senhor Deus e Pai, tu sabes que muitas vezes fazemos de conta como se não fôssemos tão pecadores. Ajuda-nos a enxergarmos o nosso pecado e, então, entregá-lo a ti, confiando no teu perdão. Amém. Confissão dos pecados

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Pecados particulares e coletivos Lucas 15.18-19

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atitude do filho pródigo é um exemplo de verdadeiro arrependimento. O filho, que ofendera o pai, caiu em si, reconheceu o seu pecado, tornando-se inteiramente dependente da misericórdia e do amor de seu pai. Este é um exemplo de pecado individual, ou particular. Este filho errou, e ele, somente ele, era o culpado. No entanto, além de nossos pecados particulares, somos igualmente culpados de pecados coletivos. Pecamos como grupo, sociedade, Igreja, nação... É muito fácil fugirmos da responsabilidade que cada um de nós tem nestes pecados. Por exemplo: concordamos que a distribuição de renda em nosso país é totalmente injusta. E que, por isso, existem tantas pessoas vivendo em situações precárias e desumanas. Quem é responsável por isso? De quem é o pecado? Dos governantes, economistas ou empresários? É claro, que pessoas que têm o poder de decisão, também têm maior responsabilidade, mas nós também somos responsáveis. O que temos feito para que a vida seja mais justa em nossa Igreja, na cidade e no país? Com certeza, Deus nos chama a assumir a responsabilidade, junto com outros, nestas coisas em que dificilmente encontramos apenas um culpado. Seria o começo da mudança se falássemos com o Pai: “Pai, pecamos conta ti e diante dos nossos semelhantes, e não merecemos mais ser chamados teus filhos!” O Pai está aí, de braços abertos para nos receber, também como grupo, congregação ou Igreja, e nos perdoar. E, neste amor que perdoa, encontramos forças para nos auxiliarmos mutuamente e, juntos, agirmos para que os princípios do Reino de Deus sejam mais ouvidos e praticados em nosso mundo. Oração Pai, ajuda-nos a vermos nossa responsabilidade nas injustiças e nos pecados sociais e estruturais deste nosso mundo. Ajuda-nos com o teu poder para que, juntos, como teus filhos, possamos lutar contra estes pecados. Amém. Confissão dos pecados


Livres para confessar pecados Lucas 15.21

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ual é o maior problema da humanidade? Certamente você responde que é o afastamento de Deus, o pecado, com todas as suas conseqüências. Mas, você já se deu conta de que o maior problema do ser humano, na verdade, não é o pecado em si, mas sim o fato de não se reconhecer pecador?! A Palavra do Senhor não deixa dúvidas quanto a isso. Ela enfatiza sempre de novo que todas as pessoas são pecadoras. Querer ignorar esta realidade, é tolice. Não reconhecer a situação de perdido pecador, deixa a pessoa humana como escrava do pecado. O pecador não assumido é semelhante a alguém que convive com seu inimigo como se este fosse um grande amigo. Bem diferente é a situação de quem se reconhece pecador. Este olha para seus atos e sua vida e vê erros, falhas e imperfeições. Mas não precisa esconder-se atrás de uma máscara de santidade e bondade. Não precisa falar aos outros quão bom ele é, mas pode confessar seus erros. Pode pedir perdão. Pedir perdão é uma grande força restauradora. Posso pedir perdão a Deus diariamente e saber que, por causa de Cristo, ele me perdoa e me abraça sempre de novo como seu filho querido. Posso pedir perdão ao meu semelhante quando peco contra ele, como também perdoá-lo quando ele peca contra mim. Assim, podemos seguir na vida, auxiliando-nos uns aos outros em nossas falhas e limitações. Como é bom não precisarmos fazer de conta como se fôssemos o que, de fato, não somos! Vivamos esta liberdade de podermos confessar nossos pecados, pois eles já foram perdoados por Cristo Jesus. E que esta mesma liberdade nos dê poder para lutarmos contra o pecado, pois sabemos que dele não mais somos escravos. Oração Senhor, nosso Deus e Pai, obrigado pelo perdão, por causa do teu Filho e que podemos confessar livremente os nossos pecados a ti e ao nosso semelhante. Ajuda-nos a vivermos a alegria de sermos perdoados e podermos perdoar. Amém. Confissão dos pecados

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Confissão pública e particular Tiago 5.16

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onfessar um erro sem arrependimento não é apenas fácil: é motivo de glória. Assim o fazem malfeitores assumidos, psicopatas e criminosos em série. Na verdade, o erro que eles confessam, só o é para nós e a sociedade em geral, mas não para eles, visto que têm outra forma de pensar e agir. Confessar as faltas com humildade e arrependimento, porém, não é nada fácil. É admitir uma falha. É lamentá-la. É querer, do fundo do coração, que o acontecido jamais se tivesse dado; e também querer arcar com todas as conseqüências que o ato cometido acarreta, que, por vezes, podem ser, em extremo, dolorosas. Tiago nos diz que devemos confessar nossos pecados uns aos outros. Será que isso não aumenta o sofrimento causado pela confissão, pela razão de acrescentar a ele a vergonha de ver o pecado exposto? Por isso, talvez, queiramos confessar algumas faltas apenas a Deus. No entanto, é bom lembrarmos que Deus se faz presente em cada um de nossos irmãos na fé com sua graça, amor e disposição para perdoar. Quando, pois, Tiago dá o conselho de nos confessarmos uns aos outros – “confessem os pecados uns aos outros e façam oração uns pelos outros” (Tiago 5.16) –, ele não pretende, em hipótese alguma, fazer disso uma espécie de penitência. O que ele pretende é abrir-nos a oportunidade de compartilhar um peso e, assim, recebermos uma palavra de consolo e perdão proferida por alguém tão pecador quanto nós. Será possível restabelecermos tal prática na Igreja de hoje? Sem dúvida! Basta que, de fato, nos arrependamos sinceramente e não queiramos passar para os outros uma perfeição que não temos nem jamais tivemos. Oração Senhor, tenho dificuldades de confessar meus pecados ao meu próximo; não quero dar a ele a impressão de ser tão ou mais pecador do que ele. Ajuda-me a arrepender-me e a buscar no meu irmão a solidariedade perdoadora que nele derramaste. Amém. Confissão dos pecados


Confessar pecados conscientes e inconscientes 1 João 1.9-10

M

achado de Assis afirmou algo mais ou menos assim: “Pior que o pecado, é a publicação do pecado”. Num contexto cheio de cinismo e falsidade, que era o caso duma de suas irônicas histórias, nada mais justo. No contexto, porém, do relacionamento do crente com Deus e a Igreja, concordaríamos com Machado? Certamente que não. Pois o que João, discípulo de Jesus, nos diz é o exato contrário. Ele nos admoesta a confessar todos os pecados, tanto aqueles dos quais estamos conscientes como também aqueles dos quais não temos consciência, mas sabemos que os cometemos. Por quê? Por duas razões fundamentais. Uma delas é que Deus, havendo prometido a nós o perdão mediante o sacrifício de seu Filho Jesus, jamais negará a nós aquilo que prometeu, visto ser ele fiel e justo. Deus não mente. Da mesma forma, não faz aquilo que muitas crianças e adultos costumam fazer: criar o desejo nos outros por alguma coisa apenas para ter o prazer de a negar. Deus promete e cumpre. Por isso, não tenhamos receio de confessar tudo a nosso querido Pai. A segunda razão é a ofensa contra o próprio Deus. Ofendemolo sob dois ângulos: 1) não aceitamos seu veredito com relação ao pecado que realmente cometemos nem em relação ao pecado que vem a ser a nossa própria natureza; 2) recusamos o perdão oferecido por ele tão graciosamente, achando que essa promessa, talvez, não tem como ser cumprida. Em ambos os casos, o que é que se dá? Dáse que dizemos a Deus: és mentiroso. Ora, se chegamos a tal ponto, o que existirá entre ele e nós? Nada. Por tudo isso, façamos um sério exame de nós mesmos e confessemos ao Deus que nos perdoa, todos os nossos pecados, os conscientes e os inconscientes. Oração Pai amado, és tão grande para nós que chegamos a temer o confronto contigo. Por isso, muitas vezes, nos recusamos a confessar-te nossa culpa. Isso, porém, só te ofende mais ainda. Dá-nos, pois, o espírito do arrependimento e da fé. Amém. Confissão dos pecados

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Direito de perdoar pecados João 20.22-23

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u tenho o direito de perdoar pecados? Sim, desde que os pecados tenham sido cometidos contra mim, e que a pessoa que os cometeu busque o perdão. A Bíblia não deixa dúvidas em relação a isso: “Se o seu irmão pecar, repreenda-o; se ele se arrepender, perdoe” (Lucas 17.3). Eu também tenho o direito de perdoar o pecado cometido contra uma terceira pessoa? Aí a situação é mais complicada. Pois, como poderia eu me colocar em lugar da pessoa ofendida e perdoar em seu nome? Isso só é possível mediante uma autorização da pessoa ofendida. Em circunstâncias normais, quem deseja ser perdoado deve dirigir-se pessoalmente a quem ela ofendeu. Também nesse caso, a Escritura dá orientação segura: “Portanto, se você for ao altar para dar a sua oferta a Deus e se lembrar ali de que o seu irmão tem alguma queixa contra você, deixe a oferta diante do altar e vá logo fazer as pazes com seu irmão. Depois volte e dê a sua oferta a Deus” (Mateus 5.23-24). No entanto, há casos em que uma pessoa deseja ardentemente o perdão por uma falta cometida contra alguém que ela não encontra ou já não vive mais. Nessa situação, a Bíblia recomenda que a pessoa, que busca sinceramente o perdão, dirija-se à comunidade cristã, ao pastor, à pastora ou a alguém do presbitério. Jesus concedeu à Igreja, respectivamente, às pessoas investidas de autoridade, o poder de perdoar pecados em seu nome. E, surpreendentemente, deu à Igreja também o poder de reter pecados. Disse Jesus aos discípulos: “Recebam o Espírito Santo. Se vocês perdoarem os pecados de alguém, esses pecados são perdoados; mas, se não perdoarem, eles não são perdoados” (v. 22). Oração Senhor Jesus, é grande a autoridade que deste aos teus discípulos e, através deles, à tua Igreja. Concede a graça e o auxílio do Espírito Santo para que a tua comunidade use esse dom com sabedoria e responsabilidade. Amém. Confissão dos pecados


Ser perdoado é bom, aceitar o perdão é melhor! Provérbios 16.6

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a nossa convivência, constantemente causamos tristeza e sofrimento aos nossos semelhantes. Muitas vezes, são coisas pequenas. Às vezes, porém, cometemos um ato que gera decepção e profundo sofrimento em alguém. Quando nos damos conta disso, buscamos o perdão dessa pessoa. Ela, talvez, com algum esforço, nos perdoa. Porém, o erro cometido continua martelando a nossa consciência. Em outras palavras: eu sou perdoado, mas eu mesmo não consigo me perdoar. Algo dentro de mim me diz que não mereço ser perdoado. É como se eu precisasse continuar carregando a minha culpa, sofrendo pelo erro cometido. Muitos de nós temos dificuldades para aceitar o perdão, tanto o de outras pessoas quanto o de Deus. Geralmente, nós desconhecemos os motivos dessa incapacidade de aceitar o perdão. Pode-se tratar de dificuldades que têm origem na infância e das quais não nos lembramos mais. Dentro de nós existem camadas profundas que dificilmente chegaremos a entender inteiramente. Porém, isso não precisa ser motivo para resignação. Nada impede que nós busquemos conhecer melhor a nossa vida interior e as razões ocultas que nos levam a agir de uma determinada maneira. Nós temos o direito e o dever de crescer no conhecimento de nós mesmos. Evidentemente, nem todos temos condições de recorrer a um psicólogo. Mas podemos buscar a ajuda de Deus em oração. Além disso, podemos recorrer ao auxílio de pessoas de confiança no círculo de amigos, na comunidade, na pessoa do pastor ou da pastora. “Pela misericórdia e pela verdade se expia a culpa, e pelo temor do Senhor os homens evitam o mal” (Provérbios 16.6).

Oração Duas coisas, Deus, eu te peço: que as pessoas com quem convivo perdoem minhas falhas e fraquezas e que eu consiga aceitar o perdão oferecido. Concede-me também a coragem para conhecer a verdade sobre mim mesmo. Amém. Confissão dos pecados

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Excluir ou incluir? Hebreus 4.2

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reformador Martim Lutero foi excomungado da Igreja Católica Romana, em 1520, por questionar a sua doutrina a partir da venda de indulgências. Com o objetivo de “privar pecadores manifestos e obstinados do sacramento ou outra comunicação da igreja, até que se emendem ou evitem o pecado”, os Artigos de Esmalcalde, um dos documentos da Reforma, escrito por Lutero, também prevêem a excomunhão da Igreja. Isto ainda é válido? Temos nós o direito de excluir alguém da comunhão? Hoje vivemos num tempo em que “vale tudo”, “o que não mata engorda”. As pessoas colhem um pouco em cada lugar e acham que tudo vem para o bem. É como servir no bufê a quilo: servimos tudo o que faz bem aos olhos. Nem percebemos que, nesta mistura, algumas vitaminas anulam as outras e de nada adiantam, servem apenas para estufar e encher o estômago. Precisamos identificar o que ajuda a construir uma vida melhor, por um lado, e o que serve apenas para fazer “volume”, por outro. Volto a perguntar: será que temos o direito de excluir alguém que não sabe distinguir entre “volume” e verdadeiro conteúdo? Acredito que não precisamos isolar as pessoas que agem e pensam diferentes de nós. Antes de mais nada, é nosso dever como pessoas amadas e aceitas por Cristo, convidá-las a participar conosco na vida da comunidade, isto é, a comungar conosco. Em nome de Cristo, somos chamados ao diálogo neste mundo moderno. Não precisamos excluir quando dá para incluir as pessoas em nossa vivência de fé, que nos faz viver, já aqui, os sinais do novo mundo que Deus nos preparou em Jesus Cristo. Já temos excluídos demais. É hora de vivermos um tempo novo! Oração Ó Senhor, diante da enorme quantidade de ofertas, nós muitas vezes sucumbimos. Também fracassamos em nossa tentativa de dialogar e incluir os afastados na nossa vivência comunitária. Precisamos que tu nos perdoes e nos ajudes a vivermos este novo tempo. Amém. Confissão dos pecados


A alegria do liberto do pecado Salmo 51.10-13

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movimento da Reforma foi desencadeado quando Martim Lutero redescobriu que as pessoas são justificadas por graça e fé. Isto transformou sua vida. A partir daí, o reformador passou a viver a alegria que consiste em ser liberto do pecado, sem a necessidade de conquistar o perdão por meios próprios. Hoje, vivemos um movimento inverso. O conceito de pecado foi eliminado da nossa vida. Tudo é permitido e possível. Para achar a alegria da liberdade do perdão, é preciso, antes, descobrir o próprio pecado. Recebemos tudo como se fosse da luz. E isto chega a nos cegar. Já não reconhecemos o mal e o bem. A perfeição está na harmonização, onde a verdade está na mentira e a mentira está na verdade. O ideal está num ser como Michael Jackson: não se reconhece mais quem ele é, masculino ou feminino, branco ou preto, velho ou novo, adulto ou criança. Como posso, então, viver a alegria como alguém que foi liberto do pecado? O primeiro passo é permitir que a Palavra de Deus me ajude a distinguir o que é a verdadeira luz, que não cega, mas que me faz reconhecer o mal e o bem, o certo e o errado. É a Palavra que abre os meus olhos para descobrir que a mentira continua sendo mentira pura e está em oposição clara à verdade. Em conseqüência dessa descoberta, a fé me faz perceber o perdão de Deus, conquistado por Jesus Cristo. E assim, perdoado e liberto do pecado, posso viver em comunhão com outras pessoas, inserido numa comunidade, onde vou compartilhar os meus sentimentos, as minhas alegrias e tristezas. É na comunidade, na comunhão dos santos, que posso viver, de fato, a alegria de ser filho amado de Deus, livre dos pecados. Oração Ó Deus, cria em mim um coração puro e dá-me um espírito novo e firme para que eu possa experimentar a alegria da vida nova que só tu podes me dar. Auxilia-me a transformar esta alegria em sinais de vida nova também para os que vivem ao meu lado. Amém. Confissão dos pecados

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Frutos do arrependimento Gálatas 5.22

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ma das principais descobertas de Lutero foi que a justiça vem pela fé (cf. Romanos 1.17). Esta descoberta mudou a sua vida para melhor. A partir daí, o reformador sentiu-se livre do pecado, e a sua vida passou a ser marcada pelas conseqüências do perdão e pelos frutos do arrependimento. Arrependimento e perdão dizem respeito a uma mudança de atitude. Enquanto você não sentiu o perdão de Deus, não adianta fazer o que, recentemente, um conhecido meu fez: mudou-se da cidade para começar uma vida nova. Não tardou em descobrir que a mudança de cidade nada mudou em sua vida, pois ele continuava o mesmo. Para começar uma nova vida, só há um caminho: sentir-se perdoado, livre do pecado. Uma nova vida e atitudes diferentes são frutos do perdão e do arrependimento. Conforme propõe Filipe Melanchthon na apologia da Confissão de Augsburgo, os bons frutos do arrependimento nos são ensinados pelos mandamentos: “invocação, ação de graça, confessar o evangelho, obediência, servir à vocação, não maltratar, não guardar ódio, mas ser reconciliável, dar aos necessitados, não cometer prostituição, não adulterar, mas domar, refrear e castigar a carne, falar a verdade”. Ou como nos ensina Gálatas 5.22: “O Espírito produz amor, alegria, paz, paciência, delicadeza, bondade, fidelidade, humildade e domínio próprio”. Assim, quem sente sua vida transformada pelo perdão, assemelha-se ao botão de uma flor que se abre, não para sua própria alegria, mas para uma alegria compartilhada que beneficia os outros. Nisto está o seu valor. São os frutos do arrependimento que tornam o mundo melhor! Graças a Deus! Oração Senhor, quero também fazer esta descoberta. Quero dar uma resposta ao teu amor. Sei que devo fazê-lo em minha comunidade, no meu trabalho, na minha família, no meu bairro, na minha vila. Orienta e ensina-me a viver o perdão e a vida nova que me dás. Amém. Confissão dos pecados


Fiquem vigiando! Lucas 21.25-36

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crescente perigo de roubos e assaltos faz crescer o número de empresas de vigilância. Elas instruem e equipam vigias que possam dar segurança. A preparação e os equipamentos não serão suficientes, se o vigia em serviço não estiver atento. A situação de perigo é sempre inesperada. A surpresa acontece exatamente quando tudo indica tranqüilidade e segurança. Jesus conclama os seus seguidores para que vigiem. O seu retorno também se dará inesperadamente. Seu desejo é encontrar a todos atentos, vigilantes. Por isso, ele deixou todos os equipamentos necessários à disposição. Ele nos deu o seu Espírito Santo que “nos chamou pelo Evangelho, iluminou com seus dons, santificou e conservou na verdadeira fé” (Lutero). Tudo isso, para que possamos ser encontrados firmes, de pé em sua presença, no dia do seu retorno. Nenhum esforço sobre-humano é exigido. Apenas um coração e uma mente receptivos àquilo que Cristo tem a oferecer; uma disposição de lutar contra os instrumentos usados por Satanás para fazer o pecador se afastar de Cristo, tais como as festanças, a embriaguez, o excesso de preocupações, que geram o afastamento de Cristo, da sua Palavra e da fé. Estar em vigilância é ter parte na verdadeira Igreja de Cristo, pela fé; é apropriar-se daquilo que Cristo conquistou para todos os pecadores com sua morte na cruz. O reconhecimento de tudo que Deus fez e ainda faz por ele, leva o cristão a buscar um contato diário com seu Deus, pela oração, pelo estudo de sua Palavra, no uso dos seus sacramentos, no convívio com os irmãos na fé. Somente assim torna-se viável a vigilância recomendada pelo Salvador.

Oração Senhor Deus, concede-me o teu Espírito Santo para que ele opere em mim uma fé firme, confiante, capaz de resistir a todos os ataques de Satanás e permitir que eu esteja, a salvo, diante de Cristo. Amém.

Advento

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Encontro com o Salvador Habacuque 2.1-4

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o tempo de Advento, falamos na vinda do Senhor e na devida vigilância e preparo para o encontro com Cristo. Muitos se apavoram com este assunto. Não querem nem falar neste encontro, muito menos imaginar que ele poderá acontecer dentro de instantes, quando menos esperam. Por que o cristão haveria de temer o encontro com o Salvador? Satanás, espertamente, luta por todos os meios para convencer o cristão de que ele terá que pagar pelos seus pecados. O preço é altíssimo, nada menos que a condenação eterna no inferno. Aqui reside a causa do temor. O encontro final com o Senhor é associado com a condenação eterna. Mas por que não dar ouvidos à voz de Deus, que oferece gratuitamente o perdão para todos os erros do pecador? Aquele que virá para julgar o mundo com justiça, é o mesmo que veio para dar a sua vida como pagamento pelos pecados de todos. O preço foi pago por ele. “Agora já não há nenhuma condenação para os que estão unidos com Cristo Jesus” (Romanos 8.1). A fé que fora proclamada pelo profeta Habacuque é o que dá a verdadeira vida ao cristão neste mundo e o faz ingressar na bem-aventurada vida eterna. Esta fé não se conquista com méritos próprios. É a fé que o Espírito Santo implantou no cristão, por ocasião do seu Batismo, e, depois, foi cultivada em seu coração pela Palavra de Deus e pelos sacramentos. Através desta fé, o cristão se apropria dos méritos de Cristo. Aquilo que ele comprou com o seu sacrifício na cruz, passa a ser nosso. Por isso, vivemos nesta nova vida aqui, e, depois, viveremos com ele no paraíso. Aquele que está em Cristo, pela fé, não tem razão para temer. A vinda do Senhor será uma grande celebração. O juiz será nosso amigo Jesus. Oração Senhor Deus, fortalece-nos a fé para que possamos crer com toda a convicção que o preço já foi pago por Cristo, que nada mais nos pode separar do teu grande amor, e teremos vida eterna contigo. Amém. Advento


Avalie sua vida! Miquéias 2.1-5,12-13

O

profeta Miquéias lança seu olhar sobre a realidade. E o que vê é trágico. Enxerga os meios usados pelas pessoas na reprodução do mal. Percebe que a sua gestação dá-se a partir da cama. É ali, no silêncio da privacidade, que ele é concebido e planejado. Miquéias narra, brilhantemente, a que ponto chega uma pessoa dominada pela cobiça, fazendo uso do poder. É capaz de tomar casas e campos. E o mais terrível é que isto se dá à “luz da alva”, ou seja, à luz do dia. Inúmeros casos como os descritos pelo profeta são levados, pela imprensa ao conhecimento da opinião pública brasileira. Os meios de comunicação informam que, em nosso país, casos de violência contra pessoas estão se multiplicando assustadoramente. Em nome da ambição, manda-se seqüestrar e matar. Pessoas são coagidas por chantagens. Pistoleiros de aluguel, por menos de mil reais, estão disponíveis para praticarem crimes por encomenda. É muito triste quando se chega a este patamar de violência. Frente a este quadro assustador, Deus, por sua Palavra, tem um recado muito claro: ai daqueles que fazem isto contra o seu próximo! Ai dos que usam o poder dos cargos que ocupam para disseminar a violência contra o próximo! Ai dos que arruínam a vida de seus semelhantes! O Deus da vida não tolera a injustiça. Antes, sua vontade é a de que amemos o nosso próximo e não lhe façamos mal nenhum. O texto de Miquéias, indicado acima, convida você para uma avaliação de sua vida. Convida para rever pensamentos, palavras e gestos concretos. Convida, também, para ser profeta e anunciar a vontade de Deus em seu meio. Oração Senhor, trago à tua presença as injustiças praticadas contra o meu próximo. São incontáveis. Perdoa e ajuda-me. Liberta-me para reconhecer os caminhos do mal e a lutar contra suas manifestações em nossa sociedade. Em nome de Jesus. Amém. Advento

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Na angústia, o Princípio e o Fim! Apocalipse 22.12-13,17,20-21

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stamos ensaiando os primeiros passos de um novo milênio. Tudo que é novo gera expectativa. Angústia, alegria, esperança, medo e indiferença brotam do íntimo das pessoas. É comum que, diante de um quadro nebuloso e tenso, apareçam as mais diferentes propostas de solução. São tentativas de resposta a uma humanidade cheia de necessidades, carente de sentido de vida. Na época em que foi escrito o Livro do Apocalipse, por volta do ano 100 depois de Cristo, a cristandade amargava um período em que a crueldade do Imperador romano dirigia-se contra aqueles que professavam a fé cristã. Ser cristão significava assumir riscos de perseguição e morte. Neste contexto, João exorta os cristãos para que não se deixem seduzir por qualquer proposta tentadora e convida-os para que não percam de vista a pessoa de Jesus Cristo e a mensagem do Evangelho, anunciada pela Igreja. Ao mesmo tempo, pede para que as pessoas que ouviram o chamado do Evangelho, procurem levar esta mensagem a outros. Não devem ter medo de fazê-lo, pois é ela que faz a diferença em suas vidas e na vida de todas aquelas pessoas que recebem a mensagem da salvação de coração aberto. Ela tem a propriedade de matar a sede que brota do íntimo de cada pessoa e de conceder a paz de Deus. Paz que não se conquista, mas que se recebe gratuitamente das mãos do Senhor, daquele que é o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim. João convida para a missão. Quem foi tocado pela mensagem do Evangelho e teve sua sede saciada pelo poder de Deus, não pode ficar indiferente frente à multidão de sedentos que se encontram desde os grandes centros urbanos até o último recanto da colônia.

Oração Querido Deus! Somos-te gratos pelas palavras de João. Obrigado pela lembrança de que devemos levar adiante a mensagem de Jesus. Liberta-nos de acomodamento cristão e conduze-nos para tua missão no mundo. Amém. Advento


É tempo de festa Hebreus 10.19-23

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ue convite maravilhoso! Não se trata de um convite para uma festa, mas aceitá-lo significa que o nosso coração estará sempre em festa. Antes, estávamos separados de Deus pelo pecado. Agora, depois do primeiro Natal, não precisamos mais ter medo. “Não tenham medo!” (Lucas 2.10), disse o anjo ao anunciar o nascimento de Jesus. Podemos chegar com coragem e sem medo junto a este Deus que nos criou, amou tanto que providenciou uma salvação para toda a humanidade. Jesus é o caminho que nos leva a Deus; é o grande sacerdote que consumou, com seu sacrifício na cruz, o que a justiça divina exigia. E o melhor de tudo é que este privilégio do livre acesso a Deus nos é dado de graça: nada precisamos fazer, nada precisamos pagar por isso. Para sentirmos a alegria que o anjo anunciou naquele Natal, basta aceitarmos o convite e nos aproximarmos de Deus com um coração sincero e uma fé muito firme, estando purificados pelo Batismo que colocou em nós o Espírito Santo. É o Espírito Santo que vai nos consolar e iluminar pelo Evangelho para podermos seguir a vontade de Deus, expressa na Bíblia. É Advento. Aproxima-se o Natal. É, pois, tempo de festa! Especialmente nestes dias, somos convidados a guardar “firmemente a esperança da fé que professamos, pois podemos estar certos de que Deus cumprirá as suas promessas” (v. 23). Nós, cristãos, sabemos que Deus não falha, por isso falamos e testemunhamos com nossas ações a maravilhosa esperança que temos: a vida eterna junto ao Deus trino. Cantemos, portanto, “glória a Deus nas alturas”, pois nosso coração estará sempre em festa!

Oração Senhor, meu Deus, dá-me o teu Espírito Santo para que eu me aproxime de ti com um coração sincero e uma fé inabalável em Jesus Cristo. Faze-me sentir alegria pela salvação e amor pelo meu próximo. Em nome do Salvador. Amém. Advento

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Sim à verdade João 18.33-38

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m diálogo entre Pilatos, o governador da Judéia, e Jesus Cristo, o Filho de Deus. É a oposição entre as trevas e a luz, entre o reino deste mundo, passageiro, imperfeito e injusto e o Reino de Deus, eterno, perfeito, justo e verdadeiro. Pilatos ocupa um alto cargo, mas não tem autoridade, pois não assume responsabilidade pelos seus atos. Durante o julgamento de Jesus, ele vacila, fraqueja, submete-se, sempre medroso, procurando agradar a Roma e não desagradar aos judeus. Não concebe um reino que não seja deste mundo. Não consegue aceitar um rei que nasceu na humildade de um estábulo, viveu entre os pobres, preocupou-se com os doentes, os fracos e pecadores; um rei que entrou em Jerusalém pobremente vestido, montado num burrinho; que contestou as autoridades civis e religiosas, clamando contra a dureza de seus corações. Jesus revela a Pilatos a verdade, mas ele é incapaz de compreendê-la. Por isso, sua pergunta “o que é a verdade?” (v. 38) fica no ar. Ela já havia sido respondida por Jesus, quando disse: “Foi para falar da verdade que eu nasci e vim para o mundo”. Pilatos não aceitou esta resposta. Ele não queria saber da verdade, queria apenas livrar-se de uma situação difícil. Por isso não ouviu a voz do Salvador. E nós, estamos dispostos a aceitar a verdade e a seguir o caminho que leva à salvação e à vida eterna? Que nossa resposta seja um sonoro SIM à verdade; que estejamos sempre prontos a ouvir a voz do Rei dos reis. “Quem crê na verdade ouve a minha voz” (v. 37).

Oração Querido Salvador: ajuda-me com teu Espírito Santo a ouvir sempre a tua voz, pois tu és o caminho, a verdade e a vida. Ajuda-me a permanecer fiel a ti, a deixar o reino das trevas e a viver no reino da luz, do amor e da verdade, no teu Reino. Amém. Advento


Não chore. Olhe! Apocalipse 5.1-14

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pocalipse 5.1-14 é uma palavra de esperança para toda a pessoa que se encontra em crise e ameaçada em sua fé. Ela, como todo o livro do Apocalipse, quer ajudá-la a se encontrar novamente com Deus, consigo mesma e com sua missão neste mundo. Deus quer animá-la a não desistir da luta da vida. Quer armá-la para enfrentar as dificuldades, por isso recomenda “não chore. Olhe!” (v. 5). Na Igreja cristã comemora-se o Advento. Isto significa que um novo ano eclesiástico está começando. Renova-se por estes dias a velha e absoluta verdade de que Cristo, que conseguiu a vitória, está e continua no meio de nós. A mensagem é, portanto, de esperança. O Livro do Apocalipse, escrito num período muito difícil para os cristãos, por causa das perseguições, testemunha que os acontecimentos não estão escapando da mão de Deus. Ele tem o controle da situação em suas mãos. Os poderosos que parecem os donos do mundo, em verdade, estão destinados ao fracasso. A Boa Nova é esta: Deus é o Senhor da história. Ele passou todo o seu poder para Jesus Cristo que conduz o seu povo para a vitória final! Importa crer nele. Se você estiver passando por momentos difíceis, medo, angústia, não desanime. Não chore, olhe para Cristo, o vitorioso. Se isto o consola, compartilhe-o com outras pessoas. Acenda também a sua vela nesta época de Advento e junte-se ao povo de Deus que coloca sinais de luz neste mundo. Deixe contagiar-se pelas luzes de Advento e Natal e cante o canto de vitória e de alegria. Deixe a luz de Cristo brilhar em sua vida!

Oração Ó Deus da consolação e do amor. Renova em mim a confiança em ti. Ajuda-me a colocar os meus dons a teu serviço e a serviço da vida. Dá que possamos todos viver em amor e solidariedade e, assim, caminhar em tua direção. Amém. Advento

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Morrer por amor Hebreus 6.9-12

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prendemos da Palavra de Deus que fomos salvos porque Deus, em seu grande amor, enviou Jesus Cristo para morrer em nosso lugar. Morrer por amor! Isto não é coisa de seres humanos, embora pessoas apaixonadas costumem dizer que estão dispostas a morrer por amor ao outro. Morrer por amor é coisa de Deus. Em verdade, conhecemos pessoas na história que se dispuseram e, de fato, morreram pelo outro. E se isso aconteceu foi porque deixaram as necessidades do próximo falar mais alto e colocaram todos os seus interesses próprios num segundo plano. Filhos de Deus, seguidores de Jesus Cristo, têm uma motivação muito especial para colocar os seus interesses próprios em segundo plano. Pois, pela fé, sabem que têm “as melhores bênçãos que vêm da salvação”; que foram salvos pelo amor de Deus em Jesus Cristo. Assim, a partir da fé em Deus que nos amou, por gratidão e amor ao seu nome, podemos servir ao nosso próximo de forma irrestrita e ilimitada. Jesus deu-nos o grande exemplo de amor, humildade e serviço, vivendo, morrendo e ressuscitando por nós. E a recompensa? Esta não pode ser uma reivindicação nossa! Quem a estabelece é Deus. Ele conhece o trabalho dos que o servem por amor do seu nome e também os recompensa. O cristão demonstra seu amor a Deus servindo aos santos, isto é, aos irmãos crentes e também aos não-crentes. Fazendo o bem ao próximo, estamos dando testemunho concreto de que sabemos que “as melhores bênçãos vêm da salvação”. E isto não nos deixa ficar preguiçosos, mas faz de nós imitadores de Cristo que herdam a vida eterna. É através das nossas obras que demonstramos nossa fé e nosso amor a Jesus. Oração Ó Deus, querido Pai! Teu amor por nós excede a nossa compreensão! Como pudeste amar tanto a nós, pecadores, ingratos e maus? Agradecemos-te, por isso! Pedimos que nos capacites a amar o nosso próximo e servi-lo com verdadeiro amor e humildade. Amém. Advento


Quem tem ouvidos... Apocalipse 2.1-7

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m meio à correria de fim de ano, muitas pessoas entram em depressão. Assim acontecia com Jorge. Aos cultos, ia muito pouco. Dizia que eles o deixavam triste, pois lá só se falava de morte. A última vez em que participara, fora por ocasião do falecimento do seu pai, há muitos anos. No terceiro Domingo de Advento, Jorge, que de qualquer maneira já estava triste, convencido pela sua esposa Marta, resolveu acompanhá-la ao culto. O tema abordado na pregação foi: “Tempo de Advento e Natal, o que é?” Jorge estava atento. No final do culto, permaneceu sentado, pensativo... Quando todos já haviam saído, levantou-se e, ao despedir-se, falou: “Eu volto no domingo que vem”. Quarto Domingo de Advento: lá estava ele novamente, conforme havia prometido no domingo anterior. Terminado o culto, promessa renovada: “Voltarei no Natal”. Jorge estava radiante. No culto de Natal, promessa cumprida! Lá estava Jorge. Contou: “Agora entendi um pouco sobre o que é Advento e Natal. Natal é o nascimento de Jesus Cristo, o nosso Salvador. Advento é tempo de preparo, de espera da vinda do Senhor. Foi isso que eu entendi. Coisa muito diferente do que tudo o que eu aprendera antes. As festas de Natal, regadas a bebida e comida farta, os presentes, nunca me alegravam. Nunca antes, eu tivera ouvidos para a mensagem do Evangelho. Dessa vez, de fato, eu abri os meus ouvidos para ouvir o que o Espírito de Deus diz e quero viver cada dia da minha vida iluminado pela sua presença. Isso é muito bom para mim e quero ajudar para que seja bom também para os meus amigos, para que também a sua vida possa melhorar, assim como melhorou a minha”.

Oração Obrigado, Deus, porque nos falas através do teu Santo Espírito. Ajudanos a te ouvirmos. Anima-nos a vivermos verdadeiramente Advento e Natal. Firma nossa fé. Orienta-nos para que possamos ajudar outras pessoas a ouvirem o teu Evangelho. Amém. Advento

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Deus não tem hora Apocalipse 3.7-13

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uma manhã de muita chuva, parecia noite, toca a campainha. Abro a porta e ali está Elma, rosto sofrido, corpo cansado, roupa simples e molhada. Começou a falar em português, mas logo pediu para contar o seu sofrimento em alemão. Contou: “Já fui cinco vezes lá. E quando chego na vez, fecham a porta e dizem: ‘volte amanhã’. Eu não posso ir mais cedo, porque o ônibus só chega naquele horário. Mesmo assim, eu já saio às quatro da manhã de casa. Não tenho condições de chegar no dia anterior, pois meu marido está de cama e eu não tenho filhos. Eu preciso desta aposentadoria. Acho que tenho direito, pois trabalhei desde criança na roça. Só que agora, eu sempre ouço a mesma coisa: ‘expediente encerrado por hoje!’, volte amanhã. Será que devo voltar? Acho que não volto mais. Perdi as esperanças”. Advento é época de renovar as esperanças. Como cristãos e cristãs, esperamos. Como Elma, também sofremos provações. E, como ela, também estamos à espera. Mas não é só esperar, é também ir, procurar e enfrentar as frustrações. De fato, às vezes dá vontade de desanimar, de entregar os pontos. No entanto, a certeza de que aquele que criou em nós a esperança e prometeu que estaria conosco, nos sustenta. Ele nos conhece, sabe das nossas fraquezas, da nossa fidelidade e infidelidade. Mas ele tem uma porta aberta para cada um de nós, que ninguém pode fechar. Não há horário, não há ordem, não há a frustração do “volte amanhã, hoje não dá mais”. Esta porta está aberta. Deus garante participação no seu Reino e mais, nos fortalece a buscar, mesmo na fraqueza, com a cabeça erguida, perseverantes, o direito e a justiça já neste mundo.

Oração Querido Deus, obrigado por nos fortaleceres e animares a viver na fé e na esperança do teu Reino. Pedimos, cantando: “Abertas, meu Jesus, estão / as portas do meu coração. / Ó entra em mim, vem me salvar, / e paz divina derramar”. Amém. (HPD 5,5) Advento


O jardim de Deus Apocalipse 2.1,3-7

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risto, crucificado por nosso pecado, é a árvore da vida. Ele está lá, no jardim de Deus, onde nos aguarda para vivermos juntos a vida eterna. A história da humanidade começa no jardim de Deus. E era projeto divino que, pela eternidade afora, a humanidade continuasse vivendo neste jardim. Mas este projeto divino foi temporariamente interrompido pelo pecado. Para resgatar a humanidade decaída, Deus enviou ao mundo seu Filho, que, pela sua morte na cruz e ressurreição, estabeleceu a ponte entre o paraíso perdido e o novo paraíso. Por sua vez, o Espírito Santo alcança nossos corações com a mensagem do amor que Deus revelou em Jesus, nos converte e nos congrega como povo de Deus – a Igreja cristã. A Igreja, por sua vez, ama a seu Senhor, proclamando a alegria e a esperança provenientes da fé. A Igreja cristã é o esboço do paraíso, onde a comunhão no amor será perfeita, completa e eterna. No entanto, à semelhança de Adão e Eva, ela também sofre o ataque de Satanás. Ele sempre de novo a tenta, procurando esfriar o amor e desviar da verdadeira fé e adoração a Deus. É preciso manter-se fiel! Para isso importa “ouvir o que Espírito de Deus diz à Igreja” por meio da Palavra de Deus. Pela Palavra, o Espírito nos dá firmeza na fé e nos conduz à vitória da fé!! E quem se mantiver firme, confiante, fiel a Cristo, viverá eternamente no jardim de Deus, o novo céu e a nova terra, no qual Jesus foi preparar lugar para os seus. Onde reina a justiça de Deus. Onde o amor será perfeito e completo em todos. Onde a vida é eterna. Onde não haverá mais choro, nem dor, nem sofrimento, nem separação, nem tristeza, nem morte. Oração Ó vem, Senhor Jesus! Vem reinar em tua Igreja! Vem dirigi-la para que permaneça fiel em seu amor, testemunho e serviço ao mundo. Vem guardá-la para o dia do encontro contigo. Tu és nossa esperança e alegria enquanto aguardamos tua vinda. Ó vem Senhor Jesus! Amém. Advento

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Porta aberta Apocalipse 3.14-22

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porta em que Jesus está batendo é o coração humano. O Diabo, porém, colocou um ferrolho, o pecado, nesta porta, para impedir que o pecador a abra para Deus. No entanto, a misericórdia de Deus é superior e age acima e além da barreira do pecado. Desde o nosso nascimento, Jesus, a Verdade e a Vida, coloca-se diante da porta do coração pecador. Ele quer entrar e, com seu amor e perdão, ali habitar. Jesus bate através da pregação da sua Palavra e dos sacramentos. Com eles, gentilmente, ele nos convida a abrirmos a porta. Ele não bate apenas uma ou duas vezes e depois desiste. Ele bate continuamente, na esperança de que a porta se abra. Se, porém, o coração endurece e os ouvidos se fecham, Jesus se retira. E isso é uma tragédia! Pois quando Jesus pára de bater, o tempo da oportunidade do pecador passou. Mas que hora abençoada aquela em que a porta se abre! O Senhor dos senhores entra no coração do pecador e serve sua graça. Essa comunhão íntima do cristão com seu Senhor aqui na terra, ilustrada com o morar e o cear na companhia de Jesus, continua na eterna comunhão triunfal no céu. “Aos que conseguirem a vitória eu darei o direito de se sentarem comigo no meu trono...” (v. 21). A vitória sobre o Diabo, conseguida por Jesus, quebrou o ferrolho do pecado no coração do homem. Aquele que ouvir a voz de Jesus e nele crer, receberá dele a vitória e sentará com ele no seu trono celestial. Grande é nossa esperança e grande será nossa alegria em Cristo!

Oração Vem, Senhor Jesus! Bate sempre à porta do meu coração. Faze ali morada, com teu amor, paz e alegria. Vem, Senhor Jesus, entra no coração de todos que ouvem tua Palavra. Para que, finalmente, possamos entrar juntos na tua morada celestial. Amém. Advento


O sinal que esperamos Mateus 24.1-14

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stamos num novo milênio. Falsos profetas aproveitam o momento para anunciar o fim do mundo. São os messias modernos que se espalham por toda parte: religiosos, psicólogos, comunicadores, economistas, políticos... cada qual defendendo a sua verdade como única e absoluta. Ora, cada um defendendo a “sua” verdade como única e absoluta, não permite qualquer diálogo. Entusiastas, esses profetas modernos defendem que eles e seus seguidores são os “preferidos” de Deus. Usam as suas “verdades” para justificar interesses próprios, religiosidades e ideologias. O mal é justificado como se fosse um bem. As conseqüências dessa polarização de posições e da falta de diálogo são violência, egoísmo, enganos. Pois, onde não há diálogo e as pessoas não têm mais ouvidos abertos para ouvir os outros, a maldade se espalha e o amor se esfria. A maldade se espalhando e o amor se esfriando, é isso que estamos vivendo. Parece o fim. Em verdade, propõe Jesus, isso não é o fim! Tudo o que vemos acontecer e com o que sofremos, são apenas as dores do parto de um novo mundo e de uma nova realidade, o Reino de Deus. É Advento, tempo de sentir as dores do parto do Reino de Deus. Preparemo-nos para os novos tempos que Deus nos preparou com o nascimento de Jesus Cristo que, contra toda a desgraça e todo o sofrimento pregados pelos messias modernos, nos promete um novo céu e uma nova terra. Este sim é o fim. Mas um fim cheio de fé e esperança. Com Cristo venceremos a intransigência em favor do diálogo. Com ele, implantamos a humanidade, cujos sinais já são visíveis entre nós agora. Este é o sinal que esperamos: a vinda de Cristo que não assusta, mas anima e alegra. Oração Querido Senhor Jesus Cristo, ajuda-nos por meio do teu Espírito Santo para que confessemos a ti e tua Palavra com fé perante este mundo cego e mau. Ilumina com a luz da tua graça todos os que estão desorientados e desviados. Amém. (Lutero) Advento

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Pecadores aceitos por Cristo Isaías 40.1-8(9-11)

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ada ano, cristãos e cristãs se preparam para o Advento de Cristo, a criança frágil e pobre, que nasceu na manjedoura de Belém. É o próprio Deus que se fez pessoa. Dessa forma, Deus aproximou-se de nós, cujo tempo é limitado: crescemos, florescemos e secamos. Porém, iludimo-nos, pensando que somos árvores fortes, eternas e que não precisamos de Deus. Esquecemos que somos justos, sim, mas, ao mesmo tempo, continuamos sendo pecadores, que carecem sempre do perdão e da graça de Deus. Sem isso, somos como a árvore frondosa que é derrubada pelo vento. E quanto maior a nossa arrogância, tanto maior a queda. Presunçosos, buscamos ajudar a nós mesmos, através das nossas realizações e das leis que nós mesmos criamos. No entanto, à medida que procuramos a nossa auto-salvação, o conflito aumenta e o que resta é o desespero. E assim, adorando as nossas realizações e as nossas leis, tornamo-nos idólatras, adoradores de nós mesmos. Queremos ser os nossos próprios senhores. Neste sentido, o Advento quer ser época de arrependimento e de reconhecimento, em que voltamos a ser o que somos: pessoas batizadas, pertencentes a Cristo, erva que seca, flor que cai; pecadores, sim, mas também pessoas valorizadas e aceitas por Cristo. Advento é época de reaprender que Cristo é o único Senhor, “que remiu a mim, ser humano perdido e condenado, me resgatou e salvou de todos os pecados...” (Lutero). Foi justamente para isso que, no Natal, Deus se fez pessoa, tornou-se fraco e frágil, nascendo humildemente numa manjedoura, para nos aceitar assim como somos: ervas fracas e frágeis. Assim podemos vir a ele também hoje.

Oração Senhor, sou um pecador. Por minha própria força não posso me ajudar. Por isso, eu venho a ti. Ajuda-me! Amém. (Lutero)

Advento


A nossa missão Mateus 11.11-15

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esus elogia João Batista. Chama-o de “maior de todos os homens do passado”. João, que na ocasião já se encontrava preso, certamente alegrou-se com isso. Aliás, todo o elogio sincero é um ato de amor, pois é uma forma de valorizar os dons do outro e aumentarlhe a autoconfiança. João Batista foi um profeta ousado. Atraía multidões por causa da sua autenticidade e vigor de sua pregação. A respeito de Jesus, dizia claramente: “Aqui está ele, o Messias prometido, o Cordeiro de Deus. Com ele, o Reino de Deus começa a acontecer entre nós”. Realmente, essa pregação prenuncia uma nova concepção de vida, sob o signo do arrependimento, da fé e do amor. Além de fazer o marketing de Jesus e do Reino de Deus, João batizou o Filho de Deus e deu muitos exemplos de humildade e de coragem: não se intimidava de chamar os maus chefes religiosos e políticos da época de hipócritas e pecadores. Claro que isso tinha o seu preço: João foi preso e, finalmente, morto. Tudo o que disse e fez tinha apenas um objetivo: apontar e anunciar aquele que vinha depois, Jesus. Também a nossa missão não pode ser outra: apontar para Jesus e anunciar a sua vinda, colocar sinais do Reino de Deus no nosso mundo, no meio de pessoas indiferentes, incrédulas ou interiormente vazias. Ainda valem as metas propostas por Jesus: “Vão pelo mundo inteiro e anunciem a Boa-Notícia do Evangelho a todas as pessoas” (Marcos 16.15), “amem... uns aos outros...” (João 13.34) e tantas outras mais. Durante os últimos dois mil anos sempre houve cristãos engajados que cumpriram essa missão. É hora de analisar o nosso desempenho. E nós, merecemos um elogio de Jesus? Oração Senhor Deus, obrigado pela chance de também podermos ajudar na construção do teu Reino. Abençoa o nosso empenho e todo o nosso agir. Em nome de Jesus. Amém. Advento

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Arrependimento Mateus 3.1-12

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onfissão de pecados e arrependimento sempre foram essenciais para a vida espiritual do cristão. Para isso, o ser humano é dotado do maravilhoso dom da introspecção. Podemos olhar para dentro de nós. Nossa infância e toda nossa vida podem passar como um filme diante de nossos olhos. Até podemos usar um “controle remoto” para parar o filme, rever, analisar, tirar conclusões. Pena que poucos façam uso deste privilégio, que somente os seres humanos têm, de um profundo autoconhecimento. Prefere-se a superficialidade. Durante a introspecção, também podemos comparar nossas ações e atitudes com os padrões de comportamento estabelecidos por Deus. Ao fazê-lo, identificamos desvios e omissões, o que certamente muito nos aflige. Mas não se deve parar por aí, permanecer nesta autocontemplação. É preciso ir alguns passos adiante: encarar os erros e confessá-los, colocá-los diante de Deus, dizendo algo como: “Senhor Deus, errei. Fiz o que não devia, ou não fiz o que devia. Perdoa-me!” E, neste momento, é preciso acreditar no quase inacreditável: o perdão de Deus. Perdão incondicional, sem cobranças, sem “carma”! Realmente, um novo começo, de graça, com ficha limpa! E a maravilhosa terapia de Deus para todos os angustiados, deprimidos e todos nós pecadores. Quantas vezes o povo judeu, na sua conturbada história, foi chamado ao arrependimento! João Batista também o prega com insistência, mostrando que ele é necessário, que ele precisa acontecer sem hipocrisia e que precisa trazer frutos. Isto continua valendo hoje. Arrependimento, junto com fé e amor, é um dos valores máximos do cristianismo. Oração Senhor Deus, nós te louvamos pelo perdão que temos em Jesus Cristo. Faze com que o busquemos sempre com pureza de alma e, como perdoado, produzamos copiosos frutos. Amém. Advento


O que devemos fazer? Lucas 3.1-14

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oão, batista e profeta. João profeta é mais radical que João batista. O profeta proclama o pensamento de Deus, denuncia injustiças, prega o juízo. O batista anuncia “a salvação que Deus dá” (v. 6) e batiza. Assim foi João: profeta e batista. Num momento concreto da história universal, “quando fazia quinze anos que Tibério era imperador romano, Pôncio Pilatos era governador da Judéia, Herodes governava a Galiléia...”, João, batista e profeta, atuava na região do rio Jordão. Pregava salvação e juízo. No cerne da sua profecia, no entanto, estava a mudança de mente. Diante da pregação contundente, o povo perguntava: “O que devemos fazer?” e João, o profeta e batista, respondia: “Arrependam-se e sejam batizados”. Assim é Deus: desperta profetas, envia-os para pregar juízo e salvação. E tudo isso não acontece fora do espaço e do tempo, mas dentro deste mundo, onde governam presidentes, governadores e prefeitos, onde há corrupção, abuso de autoridade, toda espécie de violência e injustiças. Na época de Advento, espera-se o Messias. Ele vem também nas mudanças da nossa mente. João assim ensinou. Estava preparando o caminho. A mudança de mente tem como conseqüência perguntas e dúvidas. Essa é a lógica da profecia. A mudança de mente pergunta pelo que fazer. Foi assim também em Atos 2.37: “Irmãos, o que devemos fazer?”, lembram? João responde: repartir, solidariedade, amor, justiça, integridade. Será que nós possuímos essas características? Por natureza, certamente não as temos. Para que a tenhamos, Jesus vem. Sempre. A cada Natal. Na verdade, o ano todo. E espera pela nossa pergunta: Senhor, o que devemos fazer? Oração Jesus, te esperamos. Do teu jeito. Nas tuas condições. Ajuda-nos para que possamos resistir. Da boca faze brotar em nossos corações o desejo de mudança. Faze brotar nas nossas ações a presença do teu Espírito. Amém. Advento

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Vem, Jesus! Atos 13.15-25

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aulo abre sua boca e seu coração num discurso inflamado. Ele, junto com seu companheiro Barnabé, tinha a difícil tarefa de anunciar um desconhecido Messias: Jesus, crucificado e ressuscitado. Sim, a tarefa era difícil porque ninguém podia imaginar um messias crucificado. Ressurreição também não era racional. Por isso, a tarefa de anunciar um messias desconhecido não era nada fácil. Interessante. A mensagem de um Messias começa na libertação do seu povo. O êxodo, libertação do povo de Deus da escravidão no Egito, é o marco que os leva a uma nova libertação: Jesus Cristo, Ressuscitado. Perto estamos do Natal, que começou numa humilde estrebaria de Belém, porque não havia outro lugar para o Messias. Nesta época, lembramos mais de Deus. Contudo, durante cada dia do ano, ele zela por nós e procura intensamente pessoas dispostas a abrir-lhe seu coração. Dessa maneira, Paulo descreveu Davi: “Encontrei um Davi, filho de Jessé, o tipo de pessoa que eu quero e que vai fazer tudo o que eu desejo” (Atos 13.22). Em Davi, Deus encontrou um mensageiro para divulgar a sua vontade. Em Jesus, o próprio Deus se fez presente neste mundo para que a sua vontade prevalecesse. A vontade de Deus deve imperar no mundo. Como trazê-la a este contexto de violência, opressão e injustiça? Lembramos do início. Foi assim que surgiu um povo, o povo de Deus. Do meio da opressão, Deus libertou seu povo das mãos do faraó. Jesus vem trazer, no Natal, a mensagem da esperança. Quando o nosso coração se afina com o coração de Deus, a melodia soa por todos os cantos do mundo. Assim, chega a paz, a solidariedade e a justiça. Vem, Jesus!

Oração Jesus, te esperamos. No Natal, tu dizes o que é bom para nós. Tua voz é mais importante que todos os anúncios que temos que ouvir nesta época. Tua voz nos dirige. Prepara o nosso coração para que ele se afine com o coração do nosso Pai. Amém. Advento


Infidelidade e perdão Oséias 14.6-10

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profeta Oséias fala ao povo de Deus que vivia ansioso por maiores glórias, mas estava contaminado pelo materialismo e pela idolatria. Ele chama o pecado da idolatria de adultério espiritual contra Deus. A infidelidade pode, no início, ter um sabor de liberdade, mas, depois, deixa o coração vazio e a consciência com grande peso de culpa. O coração deve renunciar à idolatria que é o objeto do adultério e voltar-se para o Senhor. Pois “a sua própria maldade o castigará, e você será condenado porque me abandonou. Você vai aprender de uma vez como é ruim e amargo abandonar a mim, o Eterno, o seu Deus, e deixar de me temer” (Jeremias 2.19). Ao final de sua mensagem, o profeta conclama Israel ao arrependimento de seus pecados e a retornar a Deus. E isso exige completa conversão e o coração e a mente dirigidos ao Senhor. Para retomar o compromisso de fidelidade a Deus, é preciso afastar o obstáculo que impede o retorno, o pecado. Deve-se buscar o perdão do noivo traído e ofendido e renovar o compromisso de fidelidade a ele. A busca do perdão passa por uma oração de confissão de pecado, arrependimento e mudança de coração. Por outro lado, é preciso confiar no noivo fiel que conduz por caminhos de vida, como informa o profeta: “Os caminhos do Deus Eterno são certos; os bons andarão neles, mas os pecadores tropeçarão e cairão” (V. 9). Todas as glórias do Natal de Cristo nos convidam a renovarmos com ele o voto de fidelidade cristã. Com certeza, existe em sua vida algum pecado, ofensa e erro atrapalhando a sua fidelidade a Cristo. Busque o perdão, purifique o seu coração em Cristo e você terá um feliz Natal. Oração Senhor, retira do meu coração os empecilhos e as amarguras que me fazem desviar de ti. Naquilo em que ofendi a ti e ao meu semelhante, perdoa. Naquilo em que fui ofendido, quero perdoar, seja qual for a gravidade da ofensa. Renova o teu Espírito em mim. Amém. Advento

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Terrível contradição Lucas 7.29-35

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s fariseus e intérpretes da Lei conheceram João Batista e Jesus. Que posição tomar: aceitá-los ou rejeitá-los como enviados de Deus? Reagiram com um julgamento de rejeição a ambos. Jesus analisa os argumentos deles e mostra as contradições de suas afirmações. Quanto a João Batista, condenaram sua forma de vida no deserto, sua alimentação e vestimentas diferentes; ele devia ter a mente tomada por um demônio, concluíram. Quanto a Jesus, julgaram e condenaram-no porque comia e bebia com todos os tipos de pessoas. O que cobravam no profeta João, condenaram em Jesus. Enfim, procuravam, por todos os meios, argumentos para rejeitá-los. Na verdade, suas consciências religiosas estavam incomodadas. O povo reconheceu o profeta de Deus e foi batizado por João Batista. Agora, precisam reconhecer o Filho do Homem que fora anunciado por João. Contradição. Esta é a armadilha que aprisiona os que julgam e condenam a Deus e sua Palavra. Quem procede assim, não pode enxergar as maravilhas que Deus revelou através de seu Filho. Maravilhas que estão registradas na história do nascimento, vida, morte e ressurreição do Santo de Deus. As pessoas que rejeitam a Palavra e condenam Deus e sua justiça, fazem-no com o intuito de se inocentarem aos seus próprios olhos. Terrível contradição! Deus se revelou através de seus profetas e de seu Filho Jesus para reconhecermos a verdade eterna e nunca cairmos na armadilha das contradições de nossa presunçosa sabedoria. Aquele que crê, julga todas as coisas com o fim não de rejeitar, mas de defender e fortalecer a sua fé no Senhor Jesus. Natal é fé no Filho de Deus. Oração Meu Deus e Senhor, dá-me espírito de discernimento para julgar todas as coisas e reter a tua verdade que me fortalece para a vida eterna, em Cristo Jesus. Amém. Advento


Celebrando o Natal João 3.31-36

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s séculos e os milênios passam, porém, a mensagem do Natal continua a mesma: Jesus veio para salvar e trazer vida eterna. A Palavra de Deus não usa meios termos. Assim, quem crê em Jesus já está vivendo esta vida nova, embora ainda não de forma plena. Enquanto vivemos neste mundo ainda somos atormentados por agruras e por dificuldades. No entanto, o consolo é que no meio das dificuldades de hoje já podemos viver a vida eterna. Como? A nova vida ou vida eterna não começa apenas após a morte. As Sagradas Escrituras deixam isto bem claro: em toda a sua pregação e atuação, Jesus deixa antever sinais de vida eterna no nosso mundo. Isto acontece cada vez que ele fala do Reino de Deus, quando cura doentes, faz paralíticos caminhar, cegos enxergar, surdos ouvir, coxos andar; quando sacia a fome de uma multidão faminta, quando perdoa pecados e devolve às pessoas sua verdadeira dignidade diante de Deus. Todos esses e muito mais sinais claros de vida eterna foram deixados por Jesus. Natal lembra que o próprio Deus se fez gente em Jesus Cristo, que veio para mostrar os sinais de sua presença entre nós. Natal não é somente a lembrança de um fato ocorrido há dois mil anos, mas traz Cristo, o Emanuel – Deus conosco – bem próximo de nós mesmos e do nosso mundo. Assim, cada vez que produzimos um sinal do Reino de Deus – perdoamos alguém, vivemos o amor em todas as dimensões possíveis, conquistamos pessoas para a comunidade dos remidos do Senhor, damos atenção a quem está desanimado... – estamos vivendo valores do Reino de Deus e parte da vida eterna e, portanto, celebrando o Natal. Oração Pai celestial! Mais um Natal em nossa vida podemos celebrar. Pedimos que nos impulsiones e motives para continuarmos no caminho da vida eterna. Abençoa-nos para podermos perceber o verdadeiro sentido da vida, que vem de ti. Amém. Natal

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Rebento de Jessé Isaías 11.1-9

U

282

m hino de Natal intitula-se “Brotou-nos um renovo”. Ele é baseado na profecia que o nosso texto bíblico registra sobre a humanidade de Jesus. Referindo-se a Jessé, fala-se da linhagem de Davi, pois Jessé é o pai de Davi. Rebento e renovo apontam para o nascimento. A genealogia constante do primeiro capítulo do evangelho de Mateus indica como esta linhagem se cumpriu em Jesus. Além disso, a expressão “Filho de Davi”, referente ao Messias, aparece muitas vezes nas páginas do Novo Testamento (Cf. Mateus 21.9,15). A importância desse fato é que ele aponta para Jesus como o Messias prometido. Como um rebento ou renovo da linhagem de Davi, Jesus se tornou um personagem da nossa história. Ele não é um ser fictício, ou um produto da imaginação humana. Ele é real. Ele é verdadeiro homem. Nasceu de uma mulher, Maria, num ponto geográfico bem definido do nosso planeta, em Belém, e num determinado momento da história universal, no tempo do imperador Augusto, quando Cirêneo era governador da Síria (Cf. Lucas 2.1,2). Mas, este “rebento de Jessé” também é verdadeiro Deus, pois nele repousa o Espírito do Senhor, o Espírito de sabedoria, de entendimento, de conselho, de fortaleza, do conhecimento e de temor do Senhor (cf. v. 2). Assim, o Natal deve continuar sendo festejado em nossos corações, na certeza de que “em Cristo existem a natureza divina e a humana, e essas duas em uma pessoa, tão unidas como nenhuma outra coisa” (Lutero). É consolador e seguro festejar um Salvador com estes atributos que ninguém mais tem!

Oração Senhor Deus, Pai celestial, aumenta a minha fé em Jesus como verdadeiro Homem e verdadeiro Deus, o “filho de Davi” em quem está o Espírito divino. Por amor de ti mesmo. Amém. Natal


A credencial de Cristo João 5.31-40

S

er reconhecido como enviado de alguém, requer apresentação de credenciais escritas ou de testemunhos verbais. Quando a identidade de Jesus estava sendo questionada, ele foi além da apresentação do seu próprio testemunho e do de seu antecessor, João Batista. Ele apresentou como credencial de sua divina procedência e do fato de ser enviado do Pai celestial, as suas obras de que fora incumbido e que realizou quando aqui esteve. Isso vemos na celebração das bodas de Caná, ocasião em que ele realizou a sua primeira obra de manifestação de sua origem: “... deu Jesus princípio a seus sinais, manifestou a sua glória e os seus discípulos creram nele” (João 2.11). O evangelista João afirma que Jesus fez muitos milagres e sinais e acrescenta que os mesmos foram registrados “para que vocês creiam que Jesus é o Messias, o Filho de Deus. E para que, crendo, tenham vida por meio dele” (João 20.31). As obras de Cristo não devem, pois, ser vistas apenas como manifestação do seu amor pelos desfavorecidos, mas, também, e, especialmente, como credencial da sua origem divina. Que o Natal continue fortalecendo em nós a certeza de que o menino nascido em Belém é o enviado do Pai celestial que nos ama e, em seu Filho, quer nos salvar. Que isso tenha conseqüências em toda a nossa vida. Que nenhuma manifestação nossa em favor dos desfavorecidos tenha outro ponto de partida ou outro ponto de chegada do que a salvação em Jesus Cristo. Com esta fé no coração, o Natal não acaba, nem para nós nem para aqueles que convivem conosco.

Oração Senhor Jesus, tu que vieste do Pai para revelar-nos todo o seu amor, fortalece-nos nesta fé, a fim de que, nela, a celebração do Natal continue durante todo o ano. Por amor de ti mesmo. Amém.

Natal

283


O jeito de Deus 1 Crônicas 17.15-20,23-27

D

284

avi agradece pela revelação que Deus lhe fizera através do profeta Natã, que a sua descendência reinaria eternamente em Israel. As palavras usadas pelo profeta, que fala em nome de Deus, mostram uma das características exclusivas de Deus: o seu jeito simples, querido e amistoso de se revelar. A revelação feita dessa forma motiva a oração de agradecimento de Davi, na qual agradece por toda a confiança que Deus nele depositara. Mas também não esquece de lembrar que não merece tudo o que recebeu e está recebendo. Assim, o Deus que se revela a Davi é o Deus da graça, que dá de graça, também, e especialmente, para aqueles que não merecem. É o mesmo Deus que se tornou gente em Jesus Cristo, o Rei eterno, descendente de Davi; Deus é fiel e cumpre todas as suas promessas. Deus conhecia Davi, com todos os seus pecados e limitações e mesmo assim não o rejeitou. Muito pelo contrário, confiou-lhe o Reino eterno, através do seu descendente Jesus. Assim é o nosso Deus: amistoso e querido; o Deus da graça, que nos conhece com profundidade e muita transparência e mesmo assim não nos rejeita, mas nos aceita como seus filhos, faz-nos herdeiros do seu Reino eterno. Que a fé no Deus da graça, que dá de graça em Jesus Cristo, mesmo para aqueles que não merecem, nos motive a agradecer e louvar. E que nosso agradecimento e louvor se manifestem em ação concreta, através do nosso engajamento e da nossa bondade em relação às pessoas. Esta é uma mensagem própria, principalmente para o Terceiro Mundo e o contexto latino-americano, onde as pessoas vivem angustiadas e sem esperança. Oração Deus, em tua simplicidade e ternura te revelas numa simples criança. Falaste ao rei Davi. Continua falando a nós. Anima-nos a estudar e ouvir a tua santa Palavra. Dá que em fé e esperança sejamos tuas servas e teus servos. Amém. Natal


Deus amou ao mundo e a mim João 3.16-21

O

uvir da parte de Deus uma proposta carinhosa como esta é uma grande oportunidade. Quem a ouve e a assimila através da fé, pode ter certeza de que é amado e aceito. Não precisa mais andar errante, à procura de aceitação e autoconfirmação. Deus ama o mundo e a mim! Ouvir esta promessa é motivo de louvor e gratidão. Deus amou o mundo e a mim... Esta certeza tem alguma conseqüência na nossa vida? Ouvimos bem estas palavras? Entendemos que elas também contêm um desafio? Paulo Freire, educador brasileiro, internacionalmente conhecido, chegou a criar o binômio “palavra-ação”. Isto significa, palavra transformada em ação! Esta é a conseqüência para alguém que assimilou a certeza que vem da palavra de que Deus amou o mundo e a mim. Pessoas libertadas pelo amor de Deus estão livres da busca de libertação, da constante procura por autoconfirmação e não precisam mais se envolver tão intensamente consigo mesmas. Por isso, para pessoas libertas pelo amor de Deus em Jesus Cristo, o caminho está aberto para os outros, para transformar a palavra da libertação em ação. Nesta caminhada, a Igreja de Jesus Cristo, presente nas mais diversas denominações, não cessou de investir. Catecismos e outros textos, editados no decorrer da história, serviram a este propósito: ensinar e aprender a Palavra de Deus, interpretá-la criativamente, transformá-la em ação concreta. E isso precisa continuar acontecendo. O jeito de Deus falar conosco, de dizer que ele nos ama, precisa ser levado adiante nesta era da informática e da Internet. Isso liberta e dá sentido à vida!

Oração Deus bondoso e amável, somos agradecidos porque vens a nós e nos amas tanto. Teu Filho amado quer se tornar uma Palavra-ação neste mundo complicado. Abençoa-nos e permite que possamos dizer a todos que tu os amas em Jesus Cristo. Amém. Natal

285


Como é grande o amor do Pai! 1 João 3.1-6

V

286

ivemos numa época de expectativa e muitas dúvidas. A única certeza que o mundo nos oferece é que o tempo passa e nós passamos com ele. Mas é só isso que temos? É só isso que somos? O apóstolo João, na referência bíblica acima, ensina a viver com alegria, segurança e esperança. Ele aponta para a grande certeza, que alegra e dá segurança ao nosso viver aqui no mundo: somos filhos de Deus! Esta condição não é uma conquista nossa. Somos seus filhos porque o Pai nos escolheu e nos adotou, através de Jesus Cristo, como sinal do seu grande amor. Este amor ultrapassa os limites dos nossos dias aqui na terra. Na presente vida ou na eternidade, somos protegidos pelo Pai que nos abraça e nos protege. Sabendo disso, venha o que vier, seja como for, podemos olhar para o futuro com esperança. O nosso modelo é o Filho de Deus, Jesus Cristo. Nele, seremos aperfeiçoados. E é em direção à perfeição que caminhamos. Não estamos, portanto, caminhando para um futuro incerto, mas temos um alvo. Por isso, mesmo vivendo num mundo onde os dias, os anos, os séculos e os milênios se somam, onde tudo passa e a nossa morte é certa, resta-nos o grande consolo do apóstolo João: “Porém sabemos isto: quando Cristo aparecer, ficaremos parecidos com ele, pois o veremos como ele realmente é” (v. 2b). Unidos com Jesus, e na certeza de que somos filhos amados de Deus, não nos assustemos com as incertezas dos novos tempos. Diante da transitoriedade do tempo e da curta duração da nossa vida, restanos o grande consolo de que em quaisquer circunstâncias, estamos nas mãos do Senhor e ele não nos deixa cair! “Vejam como é grande o amor do Pai por nós!” (v. 1). Oração Senhor Deus, observamos o passar dos anos e cremos que tu és Deus Eterno. Aqui vivemos na certeza de que somos teus filhos amados, aguardando o maravilhoso dia em que seremos semelhantes a Jesus na glória celestial. Alegra o nosso viver. Amém. Natal


Colaboraram nesta edição Acir Raymann Albérico Baeske Aldemis R. Cunha Alex L. Baumbach Anelise L. Abentroth Ari Gueths Ari Lange Armindo L. Müller Arnildo Schneider Arno Bessel Astomiro Romais Augusto Kirchhein Baldur v. Kaick Breno C. Tomé Breno I. O. Faber Carlito Gerber Carmen C. O. Gonçalves Christian Hoffmann Clovis H. Lindner Curt Albrecht Darci Drehmer Deomar Roos Dieter J. Jagnow Dietmar Teske Edgar Lemke Edgar Züge Egídio Grün Egon Kopereck Egon M. Seibert Elpídio C. Hellwig Ely Prieto Enio Mueller Erni W. Seibert Eugênio Wentzel Friedrich Gierus Gerhard Grasel Gerson L. Linden Godofredo G. Boll

Günter K. F. Wehrmann Haroldo Reimer Heitor J. Meurer Hermann L. Mühlhäuser Homero S. Pinto Hugo S. Westphal Ilse E. Gans Iracy D. Hoffmann Irmo Wagner Ivoni R. Reimer Jaime Kuck Jairo G. F. Cruz João C. Tomm Jonas R. Flor Leopoldo Heimann Lígia M. Albrecht Lothar C. Hoch Luisivan V. Strelow Manfred W. Hasenack Manfredo Sielge Marcos Bechert Mário Sonntag Marli Brun Martim C. Warth Martin N. Dreher Martin Weingaertner Martinho L. Hoffmann Meinrad Piske Mozart J. de N. Melo Neida I. A. Sander Nélio Schneider Nelson Kilpp Nilo B. Kolling Norberto E. Heine Oneide Bobsin Oscar M. Lehmann Oscar M. Zimmermann Osmar L. Witt


Osmar Zizemer Paulo A. Butzke Paulo E. Jung Paulo F. Flor Paulo K. Jung Paulo M. Nerbas Paulo P. Weirich Raul Blum Reinaldo M. Ludke Renato Hoerlle Ricardo W. Rieth Robert E. Zwetsch Roberto N. Baptista Rolf Droste

Romeu R. Martini Silfredo B. Dalferth Sílvia B. Genz Sílvio Meincke Valdemar Lückemeier Vânia M. Klen Verner Hoefelmann Vilmar Abentroth Waldo L. César Walter Altmann Walter J. Mormello Wilfrid Buchweitz Yedo Brandenburg


Índice de referências bíblicas Gênesis 1.1 75 1.1,5c,7c,13c,19b, 23b... 83 1.27-28a 34 1.32 137 2.2 17 2.7 77 2.18 40 3.1-13 171;184 3.23-24 69 4.6-7 194 4.15-16 38 11.1-9 174 13.5-13 49 22.1-19 183 25.27-34 58 49.33-50.1 33 50.15-21 151;179 50.20 204 Êxodo 12.1-14 231 20.5-6 23.1-2 Levítico 19.18 24.15 25.23-24 25.35-38 Números 11.31-32

70 48 22 11 46 50 160

Deuteronômio 4.13 5 6.5 6 6.8-9 68 6.13 12 18.10-12 13 26.5-10 73 Josué 7.1 1 Samuel 15.24-25

59 182

2 Samuel.................. 7.13 127 11 60 1 Reis......................... 21.1-16 62 1 Crônicas ............... 17.15-20,23-27 284 Esdras........................ 10.1-19 250 Neemias ................... 9.19-20 80 Jó................................ 1 152 Salmos 9.10

134

37.3-4 40.12-13 51.10-13 103 103.1 133 136.1a,25

63 203 259 84 15 20 161

Provérbios 1.10 16.6 18.10 18.22 31.8-9

192 257 135 45 55

Eclesiastes 3.11a

16

Isaías 6.3 10;128 11.1-9 282 38.1-9 119 40.1-8(9-11) 274 58.13-14 18 66.13 122 Jeremias 10.6 23.31

136 14

Ezequiel 22.16

132

Oséias 14.6-10

279


Miquéias 2.1-5,12-13

263

Habacuque 2.1-4

262

Malaquias 2.10

78

Mateus 1.21 3.9 3.1-12 3.13-17 3.16-17 4.1-4 4.8-9 5.13-16 5.21-22 5.27-28 5.37 5.45b 6.7 6.9-13 6.14-15 6.24 6.25-27 6.33 7.6 7.7-8 7.21-23 7.24-27 9.1-2 9.3-7 11.1-6 11.11-15 11.28 13.1-9(10-23) 13.24-28a

85 149 276 214 210 170 188 145 35 42 54 167 118 124 180 9 81 147 220 117 57 26 196 197 139 275 244 141 195

13.24-30(36-43) 13.31-32 13.47-50 16.16-17 18.6-7 18.15 18.16 18.21-22 24.1-14 24.36-39 25.14-30 25.31-46 25.42-43 26.14-16 26.26 26.27b 26.28 26.47-56 28.16-19 28.20

142 144 143 105 191 53 221 178 273 101 51 102 36 56 235 247 240 91 222 229

Marcos 1.15 4.26-29 9.24 10.6-9 10.9 10.13-16 14.12-16 14.22-26 16.16

138 140 133 43 41 228 232 233 213

Lucas 1.35 3.1-14 6.46 7.29-35 10.27 11.1b

86 277 131 280 148 116

12.16-21 15.18-19 15.21 17.20-21 18.9-14 19.12-13 21.25-36 22.16 22.19 22.40 23.1-5 23.34a 23.42-43 23.44-49 23.50-56 24.1-4 24.1-12 24.50-53

8 252 253 108 242 82 261 241 236 185 92 176 181 94 95 21 97 98

João 1.1-3 1.14 3.5 3.6 3.16 3.16-21 3.31-36 5.17 5.31-40 6.1-14 6.5 6.11 8.7b 8.12 8.31-32 8.47 9.2-3 10.10 11.35-36

89 88 146 172 114 285 281 79 283 169 159 168 177 209 109 19 202 113 166


14.15-16 15.16 17.17 18.33-38 20.22-23 20.28 Atos 1.5 2.38 2.42 2.46-47 8.37-38 10.44-48 13.15-25 14.22 16.32-33 18.3 Romanos 3.21-26 3.22-26 6.4 6.4-11 6.5-11 6.20-23 7.7 7.14-25 8.15 10.16-17 11.36 13.1,4 13.4 1 Coríntios 3.16-17 4.15 10.13 10.16

104 201 130 266 256 90

10.17 11.17-22 11.24 11.26 12.12 13.13

225 218 234 110 211 226 278 198 217 162

2 Coríntios 2.15 5.15 5.17 5.18a 12.9 Gálatas 3.23-25 3.27 5.22

175 72 219 215 112 216 66 150 121 106 205 29 37 28 25 187 237

238 245 207;239 246;248 30;243 44 27 103 224 208 158 71 223 260

Efésios 3.14-15 3.20 4.5 4.11-16 4.32 6.2-3 6.5,9 6.10-13 6.11 6.13

126 123 227 230 111 32 31 156 189 193

Filipenses 1.6 Colossenses 1.13 1.16 3.5-7 3.18-20

1 Tessalonicenses 4.3 157 4.13-18 100 5.17 115 2 Tessalonicenses 3.10 120 1 Timóteo 2.2 2.4 4.6-10 6.8 6.9-10 6.10

164 154 129 165 47 199

2 Timóteo 3.14-15

24

Tito 3.5

212

Filemom 1-25

64

107

Hebreus 1.3 3.12-14 4.2 6.9-12 10.19-23 11.1 13.17

99 249 258 268 265 74 23

96 76 186 163

Tiago 1.6-7 1.14-15 4.11 4.12

206 61 52 67


4.17 5.16

173 254

1 Pedro 1.13-17 1.18 5.8

65 93 153

1 Jo達o 1.8 1.9-10 3.1 3.1-6 3.15-16 4.7-21 5.20

251 255 125 286 39 155 87

Apocalipse 2.1,3-7 2.1-7 3.7-13 3.10 3.14-22 5.1-14 19.5 21.1-5 22.12-13,17, 20-21

271 269 270 190 272 267 7 200 264


Sumário Apresentação

Mandamentos

3 5-72

Da opressão para a liberdade Deuteronômio 4.13 5 Como você se relaciona com Deus? Deuteronômio 6.5 6 Temer a Deus Apocalipse 19.5 7 Cumprir o Primeiro Mandamento Lucas 12.16-21 8 Quem é nosso Deus? Mateus 6.24 9 O santo nome de Deus Isaías 6.3 10 Não amaldiçoar Levítico 24.15 11 Jurar, praticar a feitiçaria... Deuteronômio 6.13 12 Exclusividade para Deus Deuteronômio 18.10-12 13 O nome de Deus é usado para mentir e enganar Jeremias 23.31 14 Deus me livre! Graças a Deus! Salmo 103.1 15 Tempo com Deus Eclesiastes 3.11a 16 Descanso é uma dádiva de Deus Gênesis 2.2 17 Santificação do tempo Isaías 58.13-14 18 Dia do Senhor João 8.47 19 Comunidade Salmo 133 20 Domingo – Ressurreição Lucas 24.1-14 21 Nós e o próximo Levítico 19.18 22 Pai, mãe, mestres: servos de Deus Hebreus 13.17 23 Alguém não se esqueceu... 2 Timóteo 3.14-15 24 Não há senhor nem escravo! 1 Coríntios 4.15 25 A Palavra de Deus edifica a família Mateus 7.24-27 26 O bom perfume perdura 2 Coríntios 2.15 27 Família – santuário de Deus 1 Coríntios 3.16-17 28 Governo – Pai da Pátria, servo de Deus Romanos 13.1,4 29 Muitos membros, mas um só corpo 1 Coríntios 12.12 30 Patrões e empregados servem ao Senhor Efésios 6.5,9 31 A promessa de qualidade de vida Efésios 6.2-3 32 O profundo amor que une os filhos de Deus Gênesis 49.33-50.1 33 Vida – um dom de Deus Gênesis 1.27-28a 34 Não causar dano Mateus 5.21-22 35 Favorecer nas necessidades Mateus 25.42-43 36


Direito de punir Romanos 13.4 Direito de matar Gênesis 4.15-16 Quem odeia é assassino 1 João 3.15-16 União e complementação Gênesis 2.18 Meu filho – minha vida Marcos 10.9 Cavalo amarrado também pasta! Mateus 5.27-28 Vidas divididas Marcos 10.6-9 A base sólida 1 Coríntios 13.13 Bênção matrimonial Provérbios 18.22 Liberdade para ser honesto Levítico 25.23-24 Muitas maneiras de roubar 1 Timóteo 6.9-10 Roubo institucionalizado Êxodo 23.1-2 A verdadeira ajuda Gênesis 13.5-13 O amor de Deus ou o ídolo mercado? Levítico 25.35-38 Administrar com responsabilidade Mateus 25.14-30 Também os cristãos são fofoqueiros – cuidado! Tiago 4.11 Vocês são diferentes Mateus 18.15 Falar a verdade, naturalmente Mateus 5.37 A favor do injustiçado Provérbios 31.8-9 Traição Mateus 26.14-16 Coerência entre palavra e ação Mateus 7.21-23 Puxaram o tapete de Esaú? Gênesis 25.27-34 Crime de apropriação indébita Josué 7.1 Cobiça, adultério e morte 2 Samuel 11 Os maus desejos Tiago 1.14-15 Negócio fraudulento 1 Reis 21.1-16 Confiar e fazer Salmo 37.3-4 Querido irmão Filemom Santidade acima da Lei! 1 Pedro 1.13-17 Os mandamentos abrem os olhos para o pecado Romanos 7.7 Os Dez Mandamentos, para quê? Tiago 4.12 Quem consegue cumprir os mandamentos? Deuteronômio 6.8-9 Vale a pena observar os mandamentos? Gênesis 3.23-24 Conseqüências espirituais na família 20.5-6 70 A Lei e os rebocadores Gálatas 3.23-25 Mandamentos não salvam Romanos 3.22-26

37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 Êxodo 71 72


Credo Apostólico Credo, o que é isso? Eu creio. Você crê? Deus disse... O que você tem que não recebeu de Deus? Cada novo ser é criação única de Deus Somos todos irmãos! Deus criador e conservador Meu Deus, meu protetor! Deus, o Pai misericordioso Deus dá os dons e os conserva Deus criador? Graças a Deus O Mandado Nasceu do Espírito Santo X DNA Verdadeiro Deus Um Deus concreto Jesus, Deus eterno Jesus é nosso Senhor Ele é preso Ele é acusado Com seu precioso sangue Foi morto Foi sepultado Desceu ao inferno Ressuscitou dos mortos Subiu ao céu Ele governa com o Pai Encontro marcado Tempo de oportunidade Vocês foram me visitar De inimigos a amigos de Deus A ajuda de Deus Não é difícil acreditar! O Espírito Santo chama pelo Evangelho O Espírito Santo aperfeiçoa! Creio na santa Igreja cristã

73-114 Deuteronômio 26.5-10 Hebreus 11.1 Gênesis 1.1

73 74 75

Colossenses 1.16

76

Gênesis 2.7 77 Malaquias 2.10 78 João 5.17 79 Neemias 9.19-20 80 Mateus 6.25-27 81 Lucas 19.12-13 82 Gênesis 1.1c,5c,7c, 13c,19b,23b 83 Salmo 103 84 Mateus 1.21/Atos 10.38 85 Lucas 1.35 86 1 João 5.20 87 João 1.14 88 João 1.1-3 89 João 20.28 90 Mateus 26.47-56 91 Lucas 23.1-5 92 1 Pedro 1.18 93 Lucas 23.44-49 94 Lucas 23.50-56 95 Colossenses 1.13 96 Lucas 24.1-12 97 Lucas 24.50-53 98 Hebreus 1.3 99 1 Tessalonicenses 4.13-18 100 Mateus 24.36-39 101 Mateus 25.31-46 102 2 Coríntios 5.15 103 João 14.15-16 104 Mateus 16.16-17 105 Romanos 10.16-17 Filipenses 1.6 Lucas 17.20-21

106 107 108


A verdadeira Igreja Comunhão dos santos Perdão Lutar e ressuscitar O milagre de uma vida completa Confiar

Pai Nosso

João 8.31-32 Atos 2.46-47 Efésios 4.32 Romanos 6.5-11 João 10.10 João 3.16

109 110 111 112 113 114

115-206

A ordem é orar 1 Tessalonicenses 5.17 Senhor, ensine-nos a orar! Lucas 11.1b Quem pede, recebe! Mateus 7.7-8 Orar com o coração Mateus 6.7 Oração e ação Isaías 38.1-9 Mantendo o equilíbrio 2 Tessalonicenses 3.10 Pai! Romanos 8.15 Querido Pai Isaías 66.13 Pai nosso que estás nos céus Efésios 3.20 Falar com Deus Mateus 6.9-13 Os braços compridos de Deus 1 João 3.1 Olhar no coração do Pai Efésios 3.14-15 Deus e o nome de Deus 2 Samuel 7.13 Mistério maravilhoso: Deus é santo! Isaías 6.3 Tornar santo o nome de Deus – como? 1 Timóteo 4.6-10 Pregação pura da Palavra João 17.17 Santificar através de palavras e ações Lucas 6.46 Profanação do nome de Deus Ezequiel 22.16 Santificado seja o teu nome entre nós! Marcos 9.24 Em tuas mãos me entrego confiante Salmo 9.10 Tu me proteges, Senhor Provérbios 18.10 O poder que liberta Jeremias 10.6 O Reino de Deus é muito bom Gênesis 1.32 João Batista anuncia o Reino de Deus Marcos 1.15 Sinais do Reino de Deus Mateus 11.1-6 O Reino cresce por si Marcos 4.26-29 Deus semeia muito! Mateus 13.1-9(10-23) Reino de Deus e reino do mundo estão misturados Mateus 13.24-30(36-43) A seleção compete a Deus Mateus 13.47-50 A potencialidade do Reino de Deus no mundo Mateus 13.31-32

115 116 117 118 119 120 121 122 123 124 125 126 127 128 129 130 131 132 133 134 135 136 137 138 139 140 141 142 143 144


Participamos na construção do Reino! Mateus 5.13-16 Aqui e na eternidade João 3.5 Que venha a nós o Reino de Deus Mateus 6.33 Vontade de Deus Lucas 10.27 A vontade de Deus se cumprirá Mateus 3.9 Nossa situação Romanos 7.14-25 A boa vontade de Deus prevalece Gênesis 50.15-21 Deus limita a vontade de Satanás Jó 1 A luta feroz 1 Pedro 5.8 O propósito de Deus 1 Timóteo 2.4 Que a vontade de Deus aconteça entre nós! 1 João 4.7-21 É preciso combater o mal Efésios 6.10-13 Deus quer que sejamos santos! 1 Tessalonicenses 4.3 O que Deus quer? 2 Coríntios 12.9 Deus e as necessidades físicas João 6.5 Comida e bebida Números 11.31-32 Casa e lar Salmo 136.1a,25 Deus supre meios de sobrevivência Atos 18.3 Família piedosa Colossenses 3.18-20 Bom governo é essencial para a vida! 1 Timóteo 2.2 Deus dá e preserva a vida 1 Timóteo 6.8 Juntos para o que der e vier João 11.35-36 Merecedores ou não, Deus dá Mateus 5.45b Obrigado pelo pão de cada dia! João 6.11 Onde Jesus é Senhor, não falta pão João 6.1-14 Não só de pão vive o ser humano Mateus 4.1-4 Pecado é desobediência a Deus Gênesis 3.1-13 Pecado original João 3.6 Pecado atual Tiago 4.17 As conseqüências evitáveis Gênesis 11.1-9 O perdão de Deus Romanos 3.21-26 Pedindo perdão ao inimigo Lucas 23.34a Ninguém está livre do pecado João 8.7b Perdoar sempre Mateus 18.21-22 Perdoar sim, esquecer nunca! Gênesis 50.15-21 É perdoando que se é perdoado Mateus 6.14-15 Perdão e nova vida Lucas 23.42-43 Pedir perdão, um gesto de humildade 1 Samuel 15,24-25

145 146 147 148 149 150 151 152 153 154 155 156 157 158 159 160 161 162 163 164 165 166 167 168 169 170 171 172 173 174 175 176 177 178 179 180 181 182


Tentação ou prova? Tentação Deus não tenta ninguém! A luta contra a carne Lutando contra a tentação Vencendo o poder do mundo O poder do Diabo Prêmio pela vitória: a coroa da vida Ai dos que provocam escândalo! Resista à tentação! Prevenção contra a tentação Todos somos tentados sempre De onde veio o joio? Somos maus? A libertação é palpável Cristão também sofre A cobiça desvia da fé Para junto de Deus, no céu Oração ou negociata? O mal nem sempre é castigo O mal nos rodeia sempre Mas livra-nos do mal Pois teu é o Reino, o poder e a glória para sempre Amém

Sacramentos Que é um sacramento? Amor de Deus “assa” Deus acende luzeiros na sua luz

Batismo

Palavra e água Batismo e fé O que salva Batismo e salvação Batismo e remissão dos pecados Batismo liberta da morte O Batismo dá salvação eterna O Batismo introduz na família cristã

Gênesis 22.1-19 Gênesis 3.1-13 Lucas 22.40 Colossenses 3.5-7 1 Coríntios 10.13 Mateus 4.8-9 Efésios 6.11 Apocalipse 3.10 Mateus 18.6-7 Provérbios 1.10 Efésios 6.13 Gênesis 4.6-7 Mateus 13.24-28a Mateus 9.1-2 Mateus 9.3-7 Atos 14.22 1 Timóteo 6.10 Apocalipse 21.1-5 João 15.16 João 9.2-3 Salmo 40.12-13 Gênesis 50.20

183 184 185 186 187 188 189 190 191 192 193 194 195 196 197 198 199 200 201 202 203 204

Romanos 11.36 Tiago 1.6-7

205 206

207-248 1 Coríntios 11.24 2 Coríntios 5.18a João 8.12

207 208 209

210-230 Mateus 3.16-17 Atos 8.37-38 Tito 3.5 Marcos 16.16 Mateus 3.13-17 Romanos 6.4-11 Romanos 6.20-23 Atos 16.32-33

210 211 212 213 214 215 216 217


Vida cristã é o Batismo continuado Atos 2.38 Imersão na água: morrer e ressuscitar Romanos 6.4 Qual barco singra pelo mar, a Igreja do Senhor... Mateus 7.6 Padrinhos e madrinhas Mateus 18.16 Travessia em barco seguro Mateus 28.16-19 O poder da união com Cristo Gálatas 3.27 Parecer ou ser uma nova pessoa? 2 Coríntios 5.17 O Batismo do Espírito Santo Atos 1.5 O Batismo e o Espírito Santo Atos 10.44-48 Um só Batismo! Efésios 4.5 As crianças e o Batismo Marcos 10.13-16 Batismo e ensino Mateus 28.20 Confirmar e ser confirmado Efésios 4.11-16

Santa Ceia

218 219 220 221 222 223 224 225 226 227 228 229 230

231-248

A ceia da libertação Êxodo 12.1-14 Páscoa – a vida tem a última palavra Marcos 14.12-16 O mistério de Deus presente na Santa Ceia Marcos 14.22-26 Santa Ceia na Igreja cristã primitiva Atos 2.42 Pão e vinho – corpo e sangue Mateus 26.26 Isto é o meu corpo Lucas 22.19 Comunhão com Cristo 1 Coríntios 10.16 Comunhão entre irmãos 1 Coríntios 10.17 Em memória de mim 1 Coríntios 11.24 Santa Ceia e remissão dos pecados Mateus 26.28 Santa Ceia e fé Lucas 22.16 É digno quem se considera indigno! Lucas 18.9-14 Santa Ceia – comunhão com todos! 1 Coríntios 12.12 Que venham todos! Mateus 11.28 Prepare-se para participar da Santa Ceia! 1 Coríntios 11.17-22 Quantas vezes devo participar da Santa Ceia? 1 Coríntios 11.26 As crianças e a Santa Ceia Mateus 26.27b A Ceia do Senhor e a ceia celeste 1 Coríntios 11.26

231 232 233 234 235 236 237 238 239 240 241 242 243 244 245 246 247 248


Confissão dos pecados

Pecado e pecados Confissão dos pecados Eu, pecador? Pecados particulares e coletivos Livres para confessar pecados Confissão pública e particular Confessar pecados conscientes e inconscientes Direito de perdoar pecados Ser perdoado é bom, aceitar o perdão é melhor! Excluir ou incluir? A alegria do liberto do pecado Frutos do arrependimento

Advento Fiquem vigiando! Encontro com o Salvador Avalie sua vida! Na angústia, o Princípio e o Fim! É tempo de festa Sim à verdade Não chore. Olhe! Morrer por amor Quem tem ouvidos... Deus não tem hora O jardim de Deus Porta aberta O sinal que esperamos Pecadores aceitos por Cristo A nossa missão Arrependimento O que devemos fazer? Vem, Jesus! Infidelidade e perdão Terrível contradição

249-260 Hebreus 3.12-14 Esdras 10.1-19 1 João 1.8 Lucas 15.18-19 Lucas 15.21 Tiago 5.16

249 250 251 252 253 254

1 João 1.9-10 João 20.22-23

255 256

Provérbios 16.6 Hebreus 4.2 Salmo 51.10-13 Gálatas 5.22

257 258 259 260

261-280 Lucas 21.25-36 Habacuque 2.1-4 Miquéias 2.1-5,12-13 Apocalipse 22.12-13, 17,20-21 Hebreus 10.19-23 João 18.33-38 Apocalipse 5.1-14 Hebreus 6.9-12 Apocalipse 2.1-7 Apocalipse 3.7-13 Apocalipse 2.1,3-7 Apocalipse 3.14-22 Mateus 24.1-14 Isaías 40.1-8(9-11) Mateus 11.11-15 Mateus 3.1-12 Lucas 3.1-14 Atos 13.15-25 Oséias 14.6-10 Lucas 7.29-35

261 262 263 264 265 266 267 268 269 270 271 272 273 274 275 276 277 278 279 280


Natal

Celebrando o Natal Rebento de Jessé A credencial de Cristo O jeito de Deus Deus amou ao mundo e a mim Como é grande o amor do Pai!

281-286 João 3.31-36 281 Isaías 11.1-9 282 João 5.31-40 283 1 Crônicas 17.15-20,23-27 284 João 3.16-21 285 1 João 3.1-6 286



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