À
boa escola cristã é continuadora do bom lar cristão. Pais e educadores exercem um apostolado, irmãos e alunos são membros ativos da obra sagrada.
O espírito que alenta o pai, a mãe, os irmãos no retiro do lar, é a fonte sã dos valo res morais de tôda sociedade humana. Emana e revigora suas forças da eternidade para projetar-se, visivelmente, no mundo.
Há um fator na educação da humani dade, mais poderoso que os bem estudados métodos da psicologia, mais nobre que o nobre idealismo: o exemplo diário, tácito e anônimo, do mestre humano, haurido da Palavfa do Divino Mestre.
Amar o Tu, sempre o Tu, simples mente porque Ele nos amou primeiro — nisso consiste a dignidade da comunhão escolar de alunos e professôres.
É a comunhão, inalterável em seu fundamento, a comunhão dos pecadores, dos pecadores agraciados.
Educação sem Deus leva para a divinização da matéria. Educação com Deus leva à liberdade do espírito, à vitória sôbre o pro fano.
nos, 22-23)
R. Saenger (em O ATENEU, Ano 111,Muitas gerações de alunos passaram pelo velho Portão ãa Timbaúva.
O SlNObO RIOGRANDENSE
Igreja Evangélica do Rio Grande do Sul.
A obra da igreja é o fruto da graça divina e da obediência humana. Não se pode planejar nem construir como no campo político ou comercial.
Dificílimo, pois, é cada esforço simplesmente idealista ou moralizador para vencer os obstáculos ao trabalho religioso. Mostra-se isto na história da Igreja Evangélica no Rio Grande do Sul.
44 anos passaram desde que chegaram os primeiros 43 colonos e quase nada tinha sido alcançado para formar uma igreja evan gélica neste país de religião oficial Católica Romana. Em fevereiro de 1868, entretanto, o então pastor de São Leopoldo, o Dr. Borchard, conseguiu fundar o primeiro Sínodo, pequena e esperançosa reunião de poucas comunidades da região colonial riograndense. Mas foi de curta duração êste jovem Sínodo. Já se fechou em 1870 por falta de compreensão entre pastores e leigos e, em primeiro lugar, por falta de um homem capaz de dirigir uma entidade tão nova e frágil. Na isolação da diáspora mais dura, sem o confôrto
e a ajuda da Igreja, unicamente confiantes na fé, uns 16 pastores sacrificaram-se para as comunidades vastamente espalhadas.
Passaram mais doze anos de trabalho até que, em Maio de 1886,0 Pastor Dr. Rotermund finalmente reuniu 7 dos 34 pastores evangélicos imigrados, para fundar o segundo Sínodo Riograndense. Já então se traçaram as linhas para o trabalho futuro, baseando-se a igreja nas palavras do evangelho e na confissão de fé da Reforma Luterana. Devia ser, também, uma igreja das comunidades.
Comunidades não podem existir sem tradições sadias. Essas se cultivam nas escolas administradas no sentido evangélico. Assim, desde os primeiros tempos da fundação, o Sínodo lutou pela manutenção de escolas em tôdas as comunidades. Foram inúmeras as tentativas, fatais algumas vêzes, mas coroadas de êxito, final mente, as obras educacionais do Sínodo. Com o aumento da popu lação radicada no país, com a vinda de novos imigrantes cresce ram as múltiplas tarefas; novas zonas de colonização foram abertas e, num zêlo imperturbável, embora muitas vêzes mal en tendido, o Sínodo acompanhava seus fiéis para lhes facilitar a vida nas regiões de mata-virgem, dando seu apôio moral e reli gioso ao colono. Tudo isto se fez com uma administração insigni ficante.
Hoje com mais de 250 000 almas, centenas de comunidades, igrejas e escolas, mais de 100 pastores, o Sínodo, desde 1935, tem seu centro administrativo e espiritual no Morro do Espêlho em São Leopoldo, na cidade da chegada dos primeiros imigrantes e a igreja evangélica se desenrolou lógica e històricamente como igreja dos imigrantes e seus descendentes — e na cidade da fun dação dos dois Sínodos evangélicos. A simples existência do Sí nodo explica e justifica tôdas as realizações diferentes no Morro do Espêlho: a construção do Instituto Preteológico, junto com a casa do seu fundador, diretor e atual presidente do Sínodo e da Fe deração Sinodal, Dr. H. Dohms, em 1931, a edificação da casa administrativa em 1935, do Ginásio, hoje Colégio Sinodal, desde 1937, dos diferentes internatos, da casa Matriz da Irmandade e das casas dos professores.
Mas a cidadezinha no morro, hoje, com suas instituições e seus 450 alunos uma fôrça irradiante, a sede sinodal, só cresceu por sacrifício e abnegação daqueles que tentaram fazer uma obra não para glorificar a si mesmos, mas sim IN MAIOREM DEI GLORIAM.
Fausel.
o COLÉGIO SINODAL
Em 1936 o Sínodo Riograndense comemorou o seu 50.° ani versário. Nesta data, uma grande realização deveria mostrar o desenvolvimento constante da Igreja Evangélica do Rio Grande do Sul — deveria ser construído um ginásio que fôsse capaz de continuar e amplificar a obra educacional das escolas primárias, distribuídas pelas comunidades. De fato, era premente a necessi dade dêsse ginásio. E já há muito fôra reconhecida. Agora surgiu a oportunidade de concretizar a antiga aspiração, embora ainda fossem grandes as dificuldades a vencer; e em todo Estado reper cutiu 0 apêlo da Diretoiáa. De tôdas as comunidades vinham con tribuições; mas não só do Rio Grande vinham, como de todo o Brasil, das outras nações americanas, da Europa, da Austrália.
A 19 de Maio de 1936 lançou-se a pedra fundamental do Gi násio Sinodal. A construção progredia ràpidamente, mas, quando em Março de 1937 se inaugurou o l.° ano letivo, o edifício ainda não estava pronto para receber os vinte e um alunos da primeira série. As aulas eram administradas numa sala da Casa Sinodal, e o Internato meios — era o do IPT. que não fôra possível erguer devido à falta de
Tal situação foi de emergência, que não deveria durar. Em 1939, como o número dos alunos internos aumentara para qua renta, tornou-se imprescindível a construção do Internato próprio. Puseram-se mãos à obra. Planejou-se muito — e de todos os planos foi adotado o mais reduzido, porque ainda uma vez faltavam meios. O Pequeno Internato construído apenas foi uma solução imediata, desde já insuficiente, mas solucionou as dificuldades mais angus tiantes. Com cozinha e refeitório próprios, e com mais amplos alojamentos, o Ginásio iniciava uma vida mais independente.
Encorajada pelo êxito desta iniciativa, a diretoria tentou es clarecer mais uma situação de emergência, pedindo, em 1940, a transformação da Inspeção Preliminar em regime de inspeção permanente. À apresentação do l.° relatório elaborado pela co missão de inspetores se seguiram delongas e mais delongas, sem que o Ministério tomasse qualquer medida. Chegaram e passaram os anos de 1941 e 1942. Iniciou-se o de 1943. E então, no segundo dia de aulas, chegou uma notícia surpreendente: fôra cassada tôda e qualquer inspeção ao Ginásio Sinodal. O Govêrno dera ou vidos a suspeitas e murmuraçÕes, preterindo a opinão dos inspe tores por êle designados.
A diretoria do Sinodal não cedeu. O Sinodal não podia ceder. Tendo conseguido o apôio dos pais de seus alunos, manteve as aulas ininterruptas, enquanto seus dirigentes se esforçavam em conse guir a anulação da cassação. Obstáculos e mais obstáculos se lhe opunham neste trabalho, mas, apoiados por um grupo de amigos que se puseram decididamente a seu lado, entre os quais cumpre citar 0 Dr. Oscar Machado, Reitor do IPA, Dr. Ajadil Ruiz de Lemos, mais tarde inspetor federal do ginásio, perseveraram até alcançar justiça. No fim do mesmo ano letivo, o Sinodal via sua situação legalizada.
Restabelecida a situação legal do educandário, continuou êle a sua marcha ascendente. Mais uma vez as acomodações eram insuficientes para conter a todos os alunos internos. Transformouse então em internato a casa de administração do Sínodo, que durante 3 anos ficou servindo a êste fim, só sendo desocupada em 1948, quando estava concluído o Novo Internato.
A pedra fundamental dêste, que finalmente veio terminar com 0 regime de improvizações, foi lançada a 24 de Novembro de 1946. Antes disso, porém, teve-se que conseguir a inspeção permanente, base indispensável para que tomasse corpo e se concretizasse a idéia do Colégio Sinodal. E a inspeção permanente, pela 1.^ vez requerida em 1940, veio enfim, após um intenso trabalho da ins-
Externato (Vista Leste)
petoria, por decreto do Presidente da República General En rico Gaspar Dutra, assinado a 6 de Setembro de 1946. Graças ao trabalho abnegado da Comissão de Construção e da Comissão Central, mais uma vez se conseguiu realizar o que era necessário: durante todo o ano seguinte iam-se alterando as construções do Internato e do Anexo ao Externato; e ao se iniciarem as aulas de 1948, ambos estavam prontos para receber a primeira série Cole gial do Sinodal.
Desde então, nada aconteceu na história do Sinodal que se pudesse comparar aos fatos aqui expostos. Terminara o período das dificuldades imediatas e do crescimento. O que se seguiria, é um período calmo, no qual se desenvolvem os frutos dos labores passados. O Colégio era uma realidade. Seguiu-se à 1.® série, a segunda, a terceira, e em Dezembro de 1950 se formou a 1.^ turma de colegiais do Sinodal.
Já se vê que o educandário seria diferente de muitos outros. Foi a necessidade que forçou àquêles delegados leigos do Concilio Geral da Igreja, realizado em 1935 em Cachoeira do Sul, a insis tirem na sua criação. Que necessidade? A que só aquêles podem sentir que estão batalhando, nas vilas, cidades e colônias, em nossas comunidades: a falta de médicos, dentistas, farmacêuticos.
engenheiros, advogados, agrônomos evangélicos para as comuni dades evangélicas.
Gerações passadas se ocupavam com a conservação do nível cultural do imigrante evangélico. Êxito houve, mas foi relativo. Líderes, surgidos do próprio meio, faltavam quasi que em absoluto. A própria necessidade, mãe de tantas grandes realizações, forçou a sua formação.
O Ginásio Sinodal é o pioneiro dos ginásios da Igreja Evan gélica no Brasil. O Colégio Sinodal é o pioneiro dos Colégios. (Hoje há 7 ginásios da Igreja no Rio Grande do Sul, em todo o Brasil 8, e 2 colégios, ambos no Rio Grande).
O trabalho de pioneiro não facilita objetivos. Na educação isso é um tanto mais verdade. Ela os teve que estabelecer e os estabe leceu, em bases do Evangelho de Christo. Fê-lo na liberdade do homem livre, de que fala o apóstolo Paulo, mas na autoridade única do único Senhor.
Deu-se o que sempre aconteceu: alguns o aceitaram e alguns „A todos, porém, que o receberam deu-lhes o poder de se nao. tornarem filhos de Deus“. (Evangelho de João 1,12).
* * *
Quem chega ao Sinodal, quem pela primeira vez se submete ao modo de viver do nosso Colégio, já encontra mais facilidade em
Frondoso cedro acolhe os alunos do Externato
Estudos e esportes
expressar o que significa para êle o novo ambiente. Reunindo as suas impressões sôbre os primeiros dias de aula, um aluno es creveu:
„Corpo e espírito cedo entram em convívio com as institui ções dêste internato; a calma reinante, a intimidade do ambiente familiar vão ao encontro do novo hóspede como a forma de vida sempre almejada.
A palavra de Deus nos orienta durante o dia; guia-nos no que devemos fazer, com uma simplicidade de admirar. Temos diariamente duas reuniões no auditório do Colégio: uma ao inicarmos os estudos do dia, outra ao findarmos. E nestas reuniões professôres e discípulos se igualam numa oração fervorosa.
A vida é sadia, livre de preconceitos; todos são independentes, mas sabem o seu dever.
A primeira cousa exigida do aluno, é a sinceridade; e dela derivam tôdas as outras. O homem sincero tem caráter, e o ho mem que tem caráter sabe o que deve fazer“. (Mensageiro Cristão, Ano V, n.° 54).
São as primeiras impressões de um estudante. Revelam com exatidão o que faz o Sinodal diferente de outras escolas. O am-
biente familiar. O reduzido número dos discentes torna possível um convívio intenso entre êles e seus professores; e se êste con vívio intenso não está livre de choques e atritos, é também uma fonte de satisfação para todos. O professor do Sinodal não é exclu sivamente lente de alguma ciência; é também e em primeiro lugar educador, o que vale dizer: companheiro. Pode ter havido, ainda na quarta ou quinta-feira, um conflito entre êle e a classe; quando no domingo, saem em excursão, tudo está esquecido, e o professor acompanha as iniciativas da turma, não desprezando sequer o abo minado futebol, varando cêrcas, cruzando banhados, saqueando uma laranjeira isolada ... Ou então numa tarde de quarta-feira o encarregado da saída cassada se aproxima do „piru“ que passou a tarde labutando num recanto da secretaria e, sorrindo e cofiando o bigode, lhe estende a cuia para reanimá-lo com um amargo ... Ao visitante que hoje sobe a lomba do Sinodal e lá permanece uma tarde de Domingo, por certo parecerá que o Colégio em nada difere dos outros. Provàvelmente encontrará alguns alunos que aproveitam a folga domingueira para pôr-se em dia com os de veres escolares, e a outros não os encontrará — os maiores têm dia de saída, e uma ou outra série estará excursionando. Mas, se
e debandam à aproas
fôr um dia bonito e ensolarado, é certo haver nas duas canchas de basquete dois quadros disputando uma „pelada“ amistosa, se bem que nem sempre calma. E não só as duas equipes, mas tam bém bom número de cestobolistas que aproveitam qualquer deslocação do jôgo para urn rápido „comebola ximação da tropelia... Do Auditório ouvirá pela décima vez melodias truncadas de um ensaio de pianista, e de qualquer outro lugar o roncar de uma gaita ou os gemidos de um violino arra nhado por principiante; harmonizam com os gritos e discussões dos jogadores. Aqui e ali alguém dormindo na grama. Dois que, passando, discutem o futebol do dia.
I
re-
Se, ao contrário, estiver chovendo, todos se concentram no interior do ginásio, à exceção de uns poucos que passam o dia à mesa do pingpong, sob o refeitório. A Sala de Leitura está pleta. Todos os volumes do „Tesouro da Juventude", tôdas as revistas de anos longínquos são folheadas. Um grupo se debruça sôbre o jornal. Outro cerca a mesa de xadrez, nem por um instante desocupada. E há naquela salinha uma tal aglomeração de gente, que 0 silêncio prescrito se torna um zumzum de deixar alguém com dores de cabeça. O mesmo nos corredores. O mesmo em algu mas salas de estudo.
Só às 3 horas se interrompem estas atividades. Tudo tende para o internato — é hora do café. Forma-se a bicha para receber a caneca de café às três horas; racionamento...
E depois: aos grupos, conversando, comendo... para logo correr de volta ao campo de basquete ou à mesa de xadrez.
Assim é a tarde de domingo, longa e desocupada. É diferente, muito diferente das tardes de semana. Durante a semana há algo que rege tôda a vida do Sinodal, rígido e insensível: o Sino. O som dêste sino dirige, orienta, domina a todos. Determina as horas de trabalho, interrompe as de folguedo; chama para cá; manda para lá; vela pelo cumprimento dos regulamentos, lembra a todos as suas obrigações. Um deles pergunta gravemente pela inscrição: „QUIS SEQUITUR?" e o outro a todos adverte na mesma seriedade: „AUDITE, ADSPICITE, TEMPUS IT!“. Aos domingos, porém, se interrompe o reinado do sino, e êle permanece silencioso e esque cido — o Sinodal vive outra vida.
A vida mais pregnante do Sinodal, como é natural para um colégio, é entretanto a da semana. Desde a hora de levantar
repertório de conferência e de poesias, versando sempre sôbre mesmos vultos e as mesmas datas de nossa história, acrescentou números musicais e peças teatrais. Apresentou-se em público e agradou. As suas sessões públicas logo estavam entre concorridas programações da Semana da Pátria. Encorajado por êstes sucessos, tentou alargar o campo de ação, realizando excursão pela zona serrana do Estado, na qual apresentou entre programações variadas a peça „Os Mártires da Guanabara", crita por professôres do Sinodal. Obteve tal êxito e tais encoraja mentos que resolveu continuar com empreendimentos semelhantes. No ano seguinte visitou as principais cidades de Santa Catarina renovando a série de sucessos da primeira tentativa.
os as mais uma esi
Note-se que, apesar da orientação e colaboração de professôres, 0 projeto e a execução destas excursões foram obra de alunos. Sempre, aliás, a direção do Grêmio esteve em mãos dos próprios alunos.
Pode-se talvez considerar como consequência do prestígio de tais'empreendimentos culturais, que a direção do Sinodal tomou a iniciativa de oferecer à cidade de São Leopoldo não menos que a seus alunos uma oportunidade rara de travar conhecimento com arte e artistas. Uma série de concertos trouxe ao palco do Sinodal artistas nacionais e estrangeiros de fama mundial, como o côro Trapp, a harpista Léa Bach, o violinista Oscar Borgerth, 0 quarteto húngaro Vegh e muitos outros.
E, em dois anos de praxe, como por condão mágico já se trans formaram em tradição para os alunos do Sinodal e para a cidade de São Leopoldo aquêles 6 (seis) concertos anuais de celebridades. *
coma os
o Lar dos Ex-Alunos Universitários em Pôrto Alegre
E esta casa, que abriga a muitos dos que procuram manter os laços que os ligam ao Sinodal, e querem a sua tradição de estabe lecimento evangélico, justifica a existência do têrmo que melhor expressa o ser do nosso Colégio: FAMÍLIA SINODAL.
V. V. Gans, Aluno da 3.® Série Colegial.
Ex-Alunos Universitários em seu Lar
INSTITUTO PRÈTEOLÔGICO E ESCOLA
DE TEOLOGIA
A vida e o futuro de cada coletividade dependem, em grande parte, do espírito e da formação intelectual e moral de sua juven tude. As igrejas de todos os tempos e de todos os países poderíam fornecer-nos centenas de exemplos desta verdade tão simples e irrefutável.
Apesar disso os imigrantes evangélicos no Brasil — que prova comovente da vida áspera e dura das primeiras gerações! levaram quase cem anos (98 exatamente), até que conseguissem, em formas modestíssimas, lançar a base da educação de seus futuros pastores.
Começou, em 1922, o então Proseminário, hoje Instituto Prèteológico, com três alunos, na casa paroquial de Cachoeira, donde quatro anos mais tarde, foi transferido para São Leopoldo. Mas foi apenas em 1931 que o I. P. T., a primeira construção sinodal, ocupou a colina denominada „Spiegelberg“, Morro do Espelho, velha pro priedade da família Rotermund. Lá. onde os leopoldenses de antanho faziam seus despretenciosos piqueniques à sombra da mata, com ampla vista sôbre o vale do Rio dos Sinos até os cumes e pín-
Residência do Diretor do I. P. T. e Presidente do Sinodo caros da Serra, ergue-se agora aquêle edifício de fachada carac terística, futuro lar e „alma mater“ de número sempre crescente de jovens, dispostos a se prepararem para o trabalho nas comu nidades evangélicas. Esta casa, inicialmente planejada para abri gar sessenta alunos, ampliada, hoje, para receber cem, além de trinta a quarenta alojados em residências de professores, já por sua construção sóbria demonstra certa união entre sabedoria e prática educacional: Sob o mesmo teto os alunos encontram suas salas de aula, os quartos de estudo (para cinco a dez alunos), os dormitórios, o refeitório, enfim, tudo de que se precisa na escola moderna, ainda que tôdas as instalações sejam simples, sem o mínimo luxo.
Os 24 hectares da propriedade sinodal, ajardinados ou cobertos por mato natural ou plantado, oferecem aos jovens um verdadeiro paraíso, seja no campo desportivo, seja nos esconderijos e aven turas que o mato oferece. Êles precisam disso, pois o trabalho é duro: Todos os dias, às 6,50 horas, os alunos se reunem para ini ciarem o dia com breve culto religioso. Logo depois começam as aulas que, de hora em hora, com dez minutos de intervalo, vão
até 0 meio dia. Parte da tarde está livre, para fins recreativos ou desportivos, o resto, geralmente, se destina ao estudo: aulas de canto, ginástica e outras matérias. Atribui-se grande importância ao conhecimento exato do latim e do grego, ambos necessários para o futuro estudante de teologia. Continua, assim, no I. P. T., a antiga tradição daquele humanismo cristão que formou as bases da sociedade moderna. Nem por isso se ignoram as exigências do mundo de hoje, pois o programa abrange intensa ocupação com línguas vivas, matemática e ciências naturais. Ninguém há de se admirar que em tal instituto as aulas de religião ocupem lugar de destaque. Transforma-se, desta maneira, o jovem colono, no decurso de cinco ou seis anos de trabalho rígido, em homem capaz de iniciar o estudo da teologia.
Como em todos os estabelecimentos semelhantes, ocorre, na turalmente, que após a conclusão do curso prèteológico nem todos queiram seguir a carreira teológica. Com os conhecimentos adqui ridos, entretanto, também êles conseguiram boa colocação nas profissões escolhidas: Sòmente nos diferentes institutos universi tários de Pôrto Alegre contamos agora com cinco professores, todos êles ex-alunos do I. P. T. — Quem conhece a vida de internato há de compreender que em 1947, ao ser comemorado o 25.° ani versário do I. P. T., os „velhos“ se reuniram para formarem uma associação dos ex-alunos, revivendo, assim, os tempos passados, e comprometendo-se continuarem no espírito humanista e cristão que moldou a sua juventude.
Foi nos anos da 2.® Guerra Mundial quando muitos pastores de nacionalidade estrangeira se viram forçados a abandonar, repentinamente, as suas comunidades na chamada „Faixa da Fron teira". Neste momento o I. P. T. se ofereceu pela primeira vez em grande escala ao serviço imediato da Igreja. Mais do que vinte quartanistas seguiram para as respectivas paróquias, substituindo os pastores e mantendo os serviços religiosos. Foram êstes „substitutos“ que se tornaram os primeiros estudantes da „Escola de Teolo gia", fundada em 31 de março de 1946. É verdadeira Faculdade de Teologia para a formação completa de pastores. Conta, atualmente, com 19 estudantes, alguns dos quais sempre estão passando um ano prático no interior, interrompendo os três anos de estudos científicos. Exige-se do futuro pastor não só estudo concentrado de filosofia e teologia, ética e pedagogia, — além dessa preparação intelectual, deve aprofundar, em primeiro lugar, suas concepções morais e religiosas para, depois, se tornar bom servidor e guia espiritual de sua comunidade.
Sentimos imensamente que, até hoje, a Escola de Teologia não disponha de edifício próprio, o que em muito facilitaria maior concentração e concretização do trabalho evangélico, bem como da vida social e da educação religiosa dos estudantes. Três turmas já deixaram a Escola, servindo, agora, em diferentes comunidades, desde a Capital Federal até o Rio Grande do Sul. Sem êles e sem seu trabalho não seria possível prosseguir o serviço regular em muitas comunidades.
A Federação Sinodal, fundada em 1950 e unindo os quatro Sínodos evangélicos, tem uma das tarefas mais importantes na evolução e no fortalecimento desta Escola de Teologia, objetivo maior e ponto culminante de tôda a sua educação escolar.
Pausei.
Do alto ão I. P. T. descortina-se através de matos e ajardinamentos o Colégio Sinodal e seu Novo Internato
Pelo mato de eucaliptus pode-se ir à Matriz
A MATRIZ DA IRMANDADE EVANGÉLICA
Quem em São Leopoldo segue a estrada para Lomba Grande, topa desde logo com a Hidráulica Municipal. Defronte à mesma encontrará um Portão Vermelho.
Vá, abra êste portão, e suba a Avenida do Bambu! Poucos momentos e diante de ti se ergue a antiga sede da Sociedade de Atiradores — desde o dia 17 de Maio de 1939 é a Casa Matriz de uma irmandade, A Matriz da Irmandade do Sínodo Riograndense. Podes muito bem alcançá-la por outro caminho do Morro do Espelho: pelo mato de eucaliptus e o pomar das irmãs. Aí está o estábulo à direita, e a casa do jai’dineiro à esquerda. Entras, então, pela varanda familiar da casa Matriz. É o lar das irmãs com o hábito azul e a touca branca.
Lá começa a formação, lá se prepara seu adestramento para o ofício da igreja e para a sagração da diaconia, estudam e recebem a missão de sua vida.
Anualmente voltam para aí as irmãs. E neste mesmo lugar já se lhes prepara o descanso para o crepúsculo de uma vida la boriosa.
A Casa Matriz é o lar destas irmãs. Não é escola nem internato. O nome indica o que é: mãe das irmãs. É instituição sinodal, pois está situada no Morro do Espelho, em terras do Sínodo e sente-se um dos tutelados do Sínodo e da Confederação dos Sínodos. Vive das Comunidades e das Ordens Auxiliadoras de Senhoras Evan gélicas das igrejas, de suas dádivas e coletas.
As melhores dádivas, porém, são as próprias jovens que vêm das famílias e comunidades. A Casa Matriz pode ser, talvez, com parada à Escola de Teologia e seus candidatos a pastores. Tem quase a mesma idade e a mesma extensão numérica. Ordenação dos teólogos e Sagração das irmãs são os mesmos ofícios da igreja e de preferência são comemorados simultaneamente na Igreja de Christo em São Leopoldo. Pastores e irmãs são servos e servas de Jesus em sua Igreja. Ambos pregam a palavra vivificadora do Senhor, que é para ambos o pão da vida.
As nossas irmãs trabalham servindo aos doentes, em especial, aos velhos, às mães e às crianças, mas também aos solitários, aos abandonados em nossas comunidades.
Êste servir, nem por último, terá importância para as nossas escolas tão logo estejam à disposição as irmãs devidamente pre paradas. O seu magistério começa no jardim da infância ou em internatos. Pode e deve, no entanto, ser exercido em escolas paro quiais, sim em estabelecimentos secundários.
Por tais motivos é de grande importância que a Casa Matriz esteja sempre à vista das alunas do Instituto Pré-Teológico e do Colégio Sinodal. Isso podia, quem sabe, ser estímulo de uma vo cação.
É evidente que a Casa Matriz, com 7 diaconisas e 21 irmãs de caridade, representa somente um comêço. Continua chamando, convidando as moças de nossa igreja, nas cidades e no interior, para o ingresso no trabalho da diaconia.
O encargo é belo e difícil ao mesmo tempo. Absorve a pessoa tôda. Não requer grande cultura nem meios. Proporciona, porém, satisfação e felicidade por ser a mais materna de tôdas as ocu pações femininas.
A nossa Igreja no Brasil precisa de centenas de irmãs para resolver a sua missão junto ao próximo que espera por nossa ajuda. A fé criou, há doze anos, o trabalho da diaconia feminina. Pela fé há de continuar a crescer e produzir bons frutos.
Raspe. h
o Colégio Sinodal e o seu Novo Internato Velhos sonhos que se transformaram em realidade. E assim se apresenta o novo panorama, descortina-se aos olhos exta siados de quem o sobrevoa. Nitidamente se desenham os belos contornos da mata virgem e as linhas regulares dos eucaliptus, em cujo seio se aninha o nosso Sinodal — ambiente dos mais propícios para quem estuda e se prepara para a vida.