Comunicação. Desafio e bênção - Revista Novolhar, Ano 13, Número 58, Abril a Junho, 2015

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CONTATO PARA RESERVA e-mail: larbelem@luteranos.com.br Site: www.luteranos.com.br/larbelem Campinas-SP Tel: (19) 3252 5458 Novolhar_58_AbrJun_2015.indd 2

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A r m 8

Comunicação: Desafio e Bênção

lutero mídias sociais culto gênero liberdadeS imagem

8 a 23 ÍNDICE

Ano 13 –> Número 58 –> ABRIL A JUNHO DE 2015

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O dia em que conversei comigo mesmo

Há lugar para todos

Sem chuva, torneira vazia!

crônica

religiões

crise hídrica

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assistência Por uma luz na Amazônia

SEÇÕES

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aprendizado Tomé, o santo dos incrédulos

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ALIMENTos Saúde no prato do estudante

palavras cruzadas > 6 MOSAICO BÍBLICO > 6 NOTAS ECUMÊNICAS > 7 consultório da fé > 35 O REFORMADOR > 36 de olho na educação > 37 REFLEXÃO > 38 ESPIRITUALIDADE > 40 PENÚLTIMA PALAVRA > 42 NOVOLHAR.COM.BR –> Abr/Jun 2015

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AO LEITOR Revista bimestral da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil-IECLB, editada e distribuída pela Editora Sinodal CNPJ 09278990/0002-80 ISSN 1679-9052

Diretor Nestor Paulo Friedrich Coordenador Eloy Teckemeier Redator João Artur Müller da Silva Editor Clovis Horst Lindner Jornalista responsável Eloy Teckemeier (Reg. Prof. 11.408) Conselho editorial Clovis Horst Lindner, Denise Pinto, Eloy Teckemeier, Jaime Jung, João Artur Müller da Silva, Marli Lutz, Robson Luis Neu e Werner Kiefer. Arte e diagramação Clovis Horst Lindner Criação e tratamento de imagens Mythos Comunicação - Blumenau/SC Capa Arte: Cristiano Zambiasi Jr. Impressão Gráfica e Editora Pallotti Colaboradores desta edição Adriana Strasburger Trierweiler, Carlos Mesters, Edoarda S. Scherer, Eli Elisia Deifeld, Elias Wojahn, Emilio Voigt, Frei Betto, Irineu Valmor Wolf , Júlio Cézar Adam, Leandro Hofstaetter, Luciana Garbelini, Marcela Gabioud, Márcia Bernardes, Osvino Toillier, Paula Oliveira, Paulo Eduardo Siebra Andrade, Ricardo Gondim e Sônia Gomes Mota.

Publicidade Editora Sinodal Fone/Fax: (51) 3037.2366 E-mail: editora@editorasinodal.com.br Assinaturas Editora Sinodal Fone/Fax: (51) 3037.2366 E-mail: novolhar@editorasinodal.com.br www.novolhar.com.br Assinatura anual: R$ 30,00 Correspondência E-mail: novolhar@editorasinodal.com.br Rua Amadeo Rossi, 467 93030-220 São Leopoldo/RS

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A igreja quer comunicar-se

A

comunicação é a própria essência da Igreja de Jesus Cristo. Na própria história do fundador e protagonista do cristianismo, a comunicação era parte do dia a dia. Sermões, parábolas, histórias, encontros com discípulos e adversários e diálogos com os mais inesperados interlocutores e interlocutoras não deixam dúvidas. A conversa de Jesus com a mulher junto ao poço, a troca surpreendente e o inesperado perdão a Zaqueu, o corrupto cobrador de impostos, e muitas outras situações transpiram sabedoria e presença de espírito dignas de um tipo de comunicação pouco praticada na época e ainda mais rara na atualidade. Desde a manhã da Páscoa, naquele encontro com o ressurreto que transformou um grupo de mulheres de luto nas primeiras testemunhas da ressurreição, passando pela ousadia empreendedora de Paulo, o apóstolo dos gentios, a comunicação ergueu o cristianismo e construiu a própria igreja. Anúncio e denúncia são o escopo do seu papel missionário. Sem comunicação, a igreja não seria. Lutero compreendeu isso com maestria ao espalhar a sua sanha reformadora pela Europa. Para tal, ele não titubeou em fazer uso dos mais modernos meios de comunicação à sua disposição na época, tornando-se referência não somente para o protestantismo, mas para todo um país e um continente. Com o tema do ano “Igreja da Palavra - Chamad@s para Comunicar”, a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil segue nessa trilha milenar da busca por boa comunicação. “O que vocês estão conversando pelo caminho?” é o lema que resume a busca e traça estratégias. Nesta edição, a revista Novolhar reúne especialistas e autores para contribuir com o debate. Novolhar constata que a busca de Lutero continua atual, no sentido de usar com sabedoria os modernos meios multimídia para anunciar a boa-nova. Evidentemente, sem perder ou desvalorizar a boa tradição da confessionalidade que nos caracteriza como Igreja da Reforma. Como sempre, a nossa revista aborda diversos outros temas, abrindo janelas para a realidade dentro e fora da igreja. Convidamos você a desfrutar dos textos a seguir, na certeza de que são linhas de boa leitura e de boa informação. Equipe da Novolhar

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NOTAS

Revista Novolhar Quero registrar minha grata satisfação com a leitura da revista Novolhar. Superou minhas expectativas, principalmente a edição que abordou o tema do consumismo (Novolhar No 56). A reflexão sobre a igreja do futuro, na última edição (Novolhar No 57), também é esclarecedora. Parabéns à equipe editorial e à Sinodal por persistir na publicação.

Leani Budde Florianópolis/SC

Igreja do Futuro Apresento abaixo as minhas considerações a respeito do artigo intitulado “Igreja do Futuro” (Novolhar No 57). Todos nós a partir do Batismo somos chamados a servir ao Senhor com os nossos dons, temos assim responsabilidade em dar continuidade dessa grande seara para as novas gerações, que são o futuro de nossa igreja, como também para a sociedade brasileira, fazendo a diferença onde quer que vivamos, como bons cidadãos. As comunidades do futuro devem ser acolhedoras, dando oportunidade às pessoas de todas as idades, de todas as classes sociais, nos grandes centros e nas zonas rurais. A IECLB está em um momento oportuno para valorizar a sua história e debater o seu futuro, tendo em vista a comemoração dos 500 anos da Reforma. Espero que o tema seja refletido por todos, tornando a IECLB a Igreja do Futuro em nosso imenso país. O futuro depende de todos nós membros, presbíteros, lideranças, ministros e ministras ordenados e ordenadas, sendo que todos temos responsabilidade, todos somos sacerdotes a partir do Batismo.

Wainer Quitzau Indaiatuba – SP

Visite nosso site Os conteúdos de todas as edições da NOVOLHAR estão à sua disposição no site. Visite, consulte, faça uso: www.novolhar. com.br

Tema da próxima edição A edição no 59, de julho a setembro de 2015, terá como tema de capa ANO INTERNACIONAL DA LUZ, sobre calor e energia, fontes de vida e de energia, energia solar.

O que vocês estão cantando pelo caminho? Proponho, como exercício de reflexão, parafrasear o tema do ano assim: O que vocês têm cantado pelo caminho? Isto, olhar para a nossa música como elemento de comunicação entre nós. A música tem a capacidade de expressar muito mais do que imaginamos. Não é só a letra que comunica. A música, o estilo musical, as referências que ela faz – tudo comunica. A música que nos agrada é aquela que associamos positivamente a convicções, sentimentos, códigos musicais e memórias. Há elementos bem conscientes e outros nem tanto. Há também elementos coletivos e individuais. A música na IECLB possui muitas referências. A nossa referência histórica é muito forte a Reforma tem na música uma de suas marcas. Há uma rica e contínua história de composições por parte de autores nossos. Há também uma referência forte no movimento ecumênico e movimentos internos da igreja. Exercitamos a unidade na diversidade, como dizia o Dr. Brakemeier. Agora estou envolvido com a comissão do hinário da IECLB, uma das experiências mais ricas da minha vida. Muita reflexão tem surgido nesse grupo. Oito pessoas com histórias e vivências musicais diferentes, colaborando para esse projeto histórico. Porém o nosso trabalho de seleção e edição do hinário não é um exercício voltado a preferências pessoais, mas voltado à IECLB como um todo, respeitando sua identidade teológica e diversidade de expressões musicais. Ao olhar para o hinário, cada um poderá ter uma ideia de como é a música que nos identifica como IECLB, olhando para frente e para trás. O novo hinário quer ser justamente uma resposta à pergunta: “O que vocês têm cantado pelo caminho?”. CLÁUDIO KUPKA é teólogo e ministro da IECLB em Porto Alegre (RS) NOVOLHAR.COM.BR –> Abr/Jun 2015

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PALAVRAS CRUZADAS

mosaico bíblico

Andanças e conversas Divulgação Novolhar

Igreja da Palavra

por Emílio Voigt

Resposta do Palavras Cruzadas da edição anterior. Elaborado pelo pastor Irineu Valmor Wolf, que reside em Indaial (SC).

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Sobre o que vocês estão conversando pelo caminho? (Lucas 24.17). A pergunta de Jesus foi dirigida a dois discípulos que caminhavam de Jerusalém para Emaús. Era uma distância de aproximadamente 11 quilômetros, e dava para conversar muita coisa. Quantas conversas Jesus teve com seu grupo no caminho? E quantos caminhos eles e elas percorreram? A terra de Israel tinha dimensões geográficas reduzidas. No tempo de Jesus, a área era semelhante ao tamanho do estado de Sergipe. No sentido norte-sul, a extensão era de mais ou menos 240 quilômetros e, no sentido leste-oeste, variava de 50 a 80 quilômetros. Essas distâncias não devem ser vistas sob a perspectiva do nosso contexto, com estradas asfaltadas e carros velozes. Na época, viajava-se quase que exclusivamente a pé. Em dias muito quentes, era possível caminhar apenas na primeira parte da manhã e à tardezinha, o que permitia um percurso de uns 15 quilômetros. Em dias com temperaturas mais amenas, caminhava-se em torno de 25 a 30 quilômetros. Em dias frescos, podia-se caminhar o dobro – dependendo do trajeto e do fôlego, é claro. Ao longo das principais estradas havia hospedarias e cisternas, mas as condições eram bastante precárias. Estradas ruins, animais selvagens, falta de alimentação e hospedagem, altas temperaturas eram problemas que os caminhantes enfrentavam. A ação de ladrões e bandidos tornava a viagem ainda mais perigosa. Os perigos no caminho são retratados na parábola do bom samaritano (Lucas 10.30-37): um homem que ia de Jerusalém a Jericó foi assaltado. Além de roubarem sua roupa, os ladrões bateram nele e deixaram-no quase morto. O apóstolo Paulo também se refere a dificuldades e perigos que enfrentou pelos caminhos por onde andou (2 Coríntios 11.25-27). Durante todo o seu ministério, Jesus e as pessoas que o seguiam caminharam muito. E conversaram bastante. Essas andanças e conversas foram fundamentais para levar adiante a Palavra do reino de Deus. Hoje podemos proclamar a Palavra sem precisar nos movimentar. Aliás, quantas horas por dia você costuma caminhar? N EMILIO VOIGT é teólogo e assessor de formação do Sínodo Vale do Itajaí da IECLB em Blumenau (SC)

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Notas ecumênicas

Bíblia A moderna gráfica da Bíblia em Barueri (SP), aliada a uma criativa série de apresentações do livro sagrado, contribuíram para o crescimento de 9,2% no volume de exemplares distribuídos em 2014

No esforço de tornar a palavra de Deus acessível a todas as pessoas, a Sociedade Bíblica do Brasil (SBB) alcançou em 2014 a marca de 289.605.467 Escrituras distribuídas. O aumento corresponde a mais de 9,2% em relação ao ano anterior. Nesse total se incluem Bíblias, Novos Testamentos, livretos e folhetos bíblicos, entre outras publicações. “A SBB tem se esforçado em desenvolver Escrituras para os diferentes segmentos da população, de forma a tornar a Bíblia relevante para a vida das pessoas”, destaca Rudi Zimmer, diretor executivo da SBB.

O diálogo interreligioso depende muito de nossa abertura para ouvir o diferente, valorizar a pluralidade e a diversidade que compõem nosso país. Pequenos grupos que se reúnem para refletir sobre religião e a relação entre igreja e sociedade são sempre sinais positivos de nosso testemunho. ROMI MÁRCIA BENCKE, pastora da IECLB e secre­tária-geral do Conselho Nacional de Igrejas Cristãss-CONIC

Gênero e religião

O IV Congresso Latino-Americano de Gênero e Religião da Faculdades EST ocorrerá de 05 a 08 de agosto de 2015 no campus da instituição em São Leopoldo (RS). O evento terá como eixos temáticos “História, Saúde e Direitos”, definidos a partir das pesquisas atualmente desenvolvidas na instituição e de questões emergentes no campo dos estudos feministas, de gênero e diversidade sexual. Maiores informações: www.est.edu.br

Luise Schottroff

Ambiente sustentável

Morreu aos 80 anos na Alemanha, no dia 8 de fevereiro, a respeitada exegeta e teóloga feminista Luise Schottroff. Sua extensa obra influenciou a teologia feminista na IECLB. Entre mais de 300 obras, Schottroff é coautora do dicionário de teologia feminista.

O Instituto de Ética da Faculdades EST é o primeiro local em São Leopoldo (RS) a gerar energia fotovoltaica, conforme enquadramento da resolução 482 da ANEEL. O prédio do Instituto de Ética foi pensado para o consumo ecológico, pois, além de ter aproveitamento da água da chuva, utiliza aparelhos de ar-condicionado inverter, iluminação LED e, agora, a geração de energia fotovoltaica. Para o presidente do Conselho de Administração da Faculdades EST, Hilmar Kannenberg, a necessidade de fazer uso dos recursos naturais é urgente. “A Faculdades EST deveria adotar e executar um projeto mais intenso e completo. Transformar o campus da EST em modelo para a cidade”, diz ele. NOVOLHAR.COM.BR –> Abr/Jun 2015

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CAPA

Comunicação: Desafi A IECLB SABE-SE VOCACIONADA COMO “IGREJA DA PALAVRA”. PARA DESEMPENHAR BEM SUA MISSÃO, ASSUME O DESAFIO DE TRANSFORMAR COMUNICAÇÃO EM BÊNÇÃO. NESTA EDIÇÃO, NOVOLHAR CONTRIBUI NA REFLEXÃO DO TEMA.

por Márcia Bernardes

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omunicação é uma palavra que deriva do latim communicare, que significa partilhar, participar algo, tornar comum. É por meio da comunicação que as informações, os sentimentos e as crenças são partilhados, o que torna o ato de comunicar uma atividade essencial para a vida em sociedade. Desde o princípio dos tempos, a comunicação é de importância vital, sendo uma ferramenta de integração, troca e desenvolvimento. Cada vez mais, a comunicação (e as informações geradas por ela) tem assumido um papel central nas relações. Alguns estudiosos denominam a configuração e o contexto da sociedade atual de “Sociedade em Rede”, “Era do Conhecimento” ou “Era da Informação”. Isso advém

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do entendimento de que o processo comunicativo não é um lugar onde os sujeitos apenas dizem, mas um espaço onde sentidos são instituídos, relações são criadas e fortalecidas. A comunicação faz parte da constituição dos sujeitos e é um espaço de renovação da cultura. Por isso os processos comunicacionais precisam ser pensados em sua relação com os contextos sociais e culturais. “Comunicação é uma vocação e tem que ser vivida na comunidade e no dia a dia”, afirma o bacharel em Teologia

e em Administração e Marketing, Paulo Eduardo Siebra Andrade, que integra o Conselho Assessor de Comunicação do Sínodo Rio dos Sinos, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil-IECLB. Para o profissional de relações públicas, instrutor e autor de livros na área da comunicação estratégica Christian Mendes, comunicar é existir na atualidade e, apesar de todas as ferramentas, “são as pessoas a maior e mais poderosa ferramenta de comunicação”.

Divulgação Novolhar

Divulgação Novolhar

afio e Bênção

Em 2015, a IECLB, entendendo a importância dessa interação entre as pessoas, dessa “instância” que entrelaça a comunidade e envolve todos, desse elo com a comunidade na promoção de um diálogo vivo, adotou a comunicação como tema do ano. O secretário de Ação Comunitária da igreja, pastor Dr. Mauro Batista de Souza, destaca que “comunicação sempre foi, é e sempre será um desafio para a igreja, ao mesmo tempo em que é uma bênção. É comunicando que a igreja marca sua presença no mundo. Em sua pregação, em suas manifestações, em seus posicionamentos e em sua ação diaconal e comunitária, a igreja revela a sua missão: ser instrumento do amor e da justiça de Deus no mundo”. Souza complementa dizendo que o tema da comunicação “é relevante por todas as dimensões que o envolvem”. Ele destaca ainda que, neste momento, o tema está posto para focar a dimensão presente no lema que o acompanha: “Comunicação enquanto diálogo entre pessoas, entre gente; diálogo acerca da vida, do cotidiano, sobre o que bate forte no coração da gente”. O tema do ano, uma campanha nacional da IECLB, reafirma em 2015 a IECLB como a “Igreja da Palavra, Chamad@s para Comunicar”. Apoiada pelo lema bíblico – “Então Jesus perguntou: sobre o que vocês estão conversando pelo caminho?” (Lucas 24.17) –, a campanha destaca o chamado da igreja para comunicar. “Temos uma palavra baseada no evangelho libertador de Jesus Cristo, que venceu a morte, a opressão e as injustiças. É a graça de Deus que nos salva, e não as negociações que são feitas em seu nome. A teologia que comunicamos é a teologia da graça e da cruz. Somos pessoas simultaneamente justificadas e pecadoras. Rejeitamos

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qualquer teologia da prosperidade ou reciprocidade. É isso que queremos comunicar para dentro do contexto brasileiro. E é bem aí que entra o aspecto específico do tema que queremos abordar ao longo deste ano: Sobre o que nossa gente está conversando? Quais são suas perguntas? Por sermos Igreja da Palavra é que queremos, antes, ouvir nossos membros, nossas instituições. Queremos que reflitam e respondam à pergunta de Jesus: Sobre o que vocês estão conversando pelo caminho?”, destaca Mauro Souza. Nesse sentido, Christian Mendes afirma que “ouvir” é parte fundamental do processo comunicativo. “Ouvir, ouvir, ouvir. A comunicação é uma via de mão dupla e que precisa de troca para existir. O que as pessoas querem é a chance de se expressar, ser ouvidas e receber atenção.” Mauro Souza corrobora essa afirmação ao destacar que considerar os contextos, as culturas e a sociabilida-

de das comunidades é um diferencial importante para que a igreja se comunique de forma mais ampla. “Boa comunicação começa com o ouvir. É necessário aproximar-se, caminhar junto, ouvir com atenção. Assim ‘desembarcamos’ um pouco da teologia abstrata e passamos a construir, em conjunto, respostas às perguntas existenciais das pessoas. Cada contexto, cada expressão cultural comunica-se de forma diferente, tem pressupostos diferentes. Levar isso em consideração é de extrema importância”, afirma. DESAFIOS – O mundo atual, com uma quase centralidade na comunicação, expõe desafios às organizações. Christian Mendes destaca que “as mídias e as ferramentas de comunicação existem para aumentar a velocidade e o alcance da mensagem a ser passada, mas ainda assim precisam estar alinhadas a um plano. O que queremos dizer? Quem precisa saber? O que esperamos que essas pessoas façam a partir disso?” Para ele, as pessoas equivocam-se ao achar que uma boa comunicação se mede apenas pelo volume de pessoas impactadas. “Quanto mais melhor? Não necessariamente. O impacto é muito mais transformador quando toca o coração das pessoas.” Nesse sentido, vale destacar que a evolução da tecnologia e todas as possibilidades apontadas por ela, como o intercâmbio de informações, a vivência do global e do

Boa comunicação começa com o ouvir. É necessário aproximar-se, caminhar junto, ouvir com atenção. 10

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DIACONIA: O terceiro aspecto da comunicação é a ação. O gesto

local, a rapidez na disseminação de informações, a ampliação de relacionamentos e as novas sociabilidades, contribuem para o desenvolvimento de uma comunicação eficiente e eficaz. A gestão dessa comunicação é um grande desafio, especialmente em organizações como a IECLB. Mas não é possível afastar o entendimento de que, apesar de importante, o papel das tecnologias de comunicação e o poder que seus dispositivos têm para interferir nos processos socioculturais são as práticas socioculturais que estão na raiz dos processos tecnológicos. O acesso à comunicação precisa, na atualidade, ser pensado a partir desse prisma, considerando a comunicação como um processo no qual existem deslocamentos e descentramentos,

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Fotos: Divulgação Novolhar

comunicação. Não apenas dispor de informação. “O conhecimento é a capacidade de transformar essa informação em algo útil, produtivo, relevante, de valor”, afirma Mendes. “Sem esse trabalho de construção, temos apenas muita informação sendo jogada de lá para cá, mas nenhum conhecimento. É por essa razão que muitas comunidades (redes, grupos, equipes) são bombardeadas, às vezes diariamente, com muita comunicação, mas nenhum resultado é produzido ou os objetivos da organização não são atingidos”, finaliza.

ção. O gesto concreto toca o coração das pessoas

agenciamentos variados, múltiplas possibilidades, mas no qual ainda há uma grande disparidade de forças. Conforme comenta Mauro Souza, “existem discursos que, aliados ao poder econômico, tornam-se muito mais poderosos. Muitos desses discursos são contrários àquilo que o evangelho diz, segundo a interpretação da teologia da Reforma, por exemplo. Há quem anuncie e defenda o sucesso e o bem-estar individuais a qualquer custo. Segundo a nossa interpretação do evangelho, porém, importa anunciar a Palavra que faz pensar e agir para o bem-estar coletivo, incluindo aqui a valorização equitativa entre homens e mulheres ao lado de tantas outras questões”. Talvez o grande desafio seja construir conhecimento por meio da

nicação perfeita em Jesus: palavra e imagem. Reforçar a prática desse exemplo no contexto da sociedade atual pode contribuir para que o papel de Igreja da Palavra se cumpra N com maestria.

IGREJA DA PALAVRA – “A Bíblia foi criada a partir de comunicação. Pregar para comunicar é incumbência dada à igreja no cumprimento de seu papel de Igreja da Palavra”, salienta Souza. “Sob o ponto de vista da teologia, comunicação é tornar a palavra de Deus conhecida por meio de falas, textos escritos, vídeos, mas principalmente através de gestos concretos, para o maior número possível de pessoas. Não comunicamos em nosso nome, mas em nome de Deus. Por isso seriedade, compromisso, intencionalidade, aliados à humildade e ao desejo de ouvir com atenção, são extremamente importantes”, finaliza. Esse compromisso e esse desejo reafirmam a IECLB como Igreja da Palavra e sustentam os desafios que a atualidade impõe com seus múltiplos caminhos. Como lembrou Paulo Siebra, temos o exemplo de comu-

MÁRCIA BERNARDES é assessora de comunicação do PROAME em São Leopoldo (RS)

TEMA DO ANO Segundo o Portal Luteranos (luteranos. com.br), o tema e o lema do ano são motivadores de reflexão por parte da igreja e de ação das comunidades e seus membros em um assunto relevante. Dessa forma, propõem-se estudos sobre esse tema e disponibilizam-se materiais gráficos para auxiliar nessa tarefa, almejando uma reflexão e uma ação transformadora. Os materiais da campanha estão disponíveis em http:// www.luteranos.com.br/tema-ano/2015/ tema-do-ano-material-da-campanha.

PREGAR PARA COMUNICAR É A INCUMBÊNCIA DADA À IGREJA PARA TORNAR A PALAVRA DE DEUS CONHECIDA AO MAIOR NÚMERO POSSÍVEL DE PESSOAS. NOVOLHAR.COM.BR –> Jan/Mar 2015

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Imagem: Evang. Presse-Dienst

CAPA

Lutero, um revolucionário da comunicação PARA QUE As pessoas PUDESSEM ter acesso à descoberta de MARTIM Lutero, O REFORMADOR ADOTOU formaS inovadoraS de se comunicar, USANDO LINGUAGEM SIMPLES E DIRETA. 12

por Leandro Hofstaetter

A

Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) escolheu para o ano de 2015 o tema da comunicação. Como Igreja da Palavra, que quer vivenciar o evangelho na terra brasilis, somos chamados a repensar os meandros dessa arte, que é inerente ao ser humano e suas relações tanto pessoais como sociais. Ora, nada mais propício para refletir, precisamente porque somos uma igreja cujas raízes remontam à Reforma do século XVI, que em 2017 completará 500 anos. Lutero inovou na comunicação de seu tempo. Será?

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No entanto, esse conteúdo necessitava ser veiculado de alguma maneira. As pessoas precisavam ter acesso à descoberta de Lutero. E é então que entra a forma inovadora de se comunicar. Primeiramente, se Deus desce, quer estar ao nosso lado, caminhar junto com os pecadores, obviamente necessitamos entender o que ele tem a nos dizer. Nisso Lutero usa o exemplo de Cristo: linguagem simples (isso não quer dizer sem conteúdo, segunda conclusão!) e direta através de signos, uma língua que as pessoas – os interlocutores – possam compreender. Lutero era um mestre nessa arte: se o interlocutor fosse alguém da igreja, do poder, sua linguagem poderia ser rebuscada, sem perder de vista o conteúdo evangélico a ser comunicado. Se o interlocutor fosse uma pessoa simples ou uma criança, a linguagem teria que se adequar à situação, pois o tesouro da igreja, que é o santo evangelho – a boa mensagem –, deve chegar às pessoas. Como alguém que sabe desse tesouro – a igreja, a comunhão dos santos – detém responsabilidade sobre essa comunicação: estudo, esmero, “transpiração” e o “ir e falar” são trabalho nosso, apesar de saber que é Deus quem rega e faz dar frutos. Aliás, “preguiça” não estava no vocabulário do reformador. Por isso a nossa inteligência, segundo Lutero,

Reprodução Novolhar

Vejamos em relação ao conteúdo: após o estudo incansável das Escrituras (primeira conclusão: comunicação tem a ver com muito estudo, sim!), Lutero descobriu que o Deus justo não o impede de ser amoroso. O problema não está em Deus, mas na forma como a Idade Média entendia e comunicava a presença de Deus neste mundo. Para olhar e ver Deus de forma correta, necessitamos da experiência de Cristo. E através de Cristo descobrimos que Deus não quer barganhas que atestem sua presença: ele já desceu no Natal justamente para estar ao nosso lado. As “escadas” para chegar a Deus não têm mais serventia, sejam elas o dinheiro, as leis, os egos ou a própria igreja. O conteúdo do evangelho é justamente a presença de Deus em Cristo, que nos livra de qualquer forma de servidão para amá-lo e servi-lo através do próximo, que ele coloca ao nosso lado. Fé em Deus significa acreditar que ele enviou Jesus Cristo, que nos perdoou e nos salvou do monstro da incerteza. Será que Deus nos ama? Sim, e não apenas isso. Ele está e quer ficar ao nosso lado em todos os momentos de nossa vida, sejam bons ou ruins. O conteúdo do evangelho, ou seja, Jesus Cristo, é graça e é de graça. Imaginem as pessoas do tempo de Lutero recebendo essa mensagem. Que libertação!

deve ser utilizada para que os meios de comunicar o evangelho sejam os melhores possíveis. Se há uma nova ferramenta à disposição para que tal conteúdo chegue mais rapidamente a seu destino, vamos utilizá-la: a descoberta de Gutenberg. Se a única forma para que a mensagem evangélica chegue é a escrita, escrevamos cartas como fez o apóstolo Paulo. Se as pessoas não sabem ler, que seja oral. Nesse caso, para que as pessoas possam ter liberdade de acesso ao evangelho, é necessário um meio de longo prazo: educação para todos. Tocamos aqui em uma referência da Reforma que influenciou e demarcou a geopolítica não apenas da Europa, mas do mapa-múndi. Temos que apenas perguntar quais os países que desde o século XVI, incentivados pela Reforma, pleitearão uma educação ampla e democrática como meio para uma vida mais digna: Alemanha, Holanda, Dinamarca, Suécia, Noruega, entre outros. Quais os países, por outro lado, que, a partir da Contrarreforma, pleitearam uma educação apenas para a nobreza: França, Itália, Portugal e Espanha. Ora, como ex-colônia de Portugal, hoje, o Brasil, com um lapso de quase 500 anos, está reivindicando a mesma educação para todos, sem atingir ainda a metade de sua população, coisa que a Reforma já vem pleiteando desde 1520. O evento LUTERO apenas foi possível por conta de uma inovação não apenas de CONTEÚDO, mas de FORMA de comunicar a mensagem evangélica. Nada mais justo, pois, senão retratar Lutero como um revolucionário da comunicação de seu tempo, que tem muito a nos ensinar. N LEANDRO HOFSTAETTER é teólogo, advogado e doutor em Filosofia em Joinville (SC) NOVOLHAR.COM.BR –> Abr/Jun 2015

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Igreja e mídias sociais Ele loga em sua conta do Facebook e vê em sua timeline um evento criado pela ministra de sua comunidade, que convida para um culto especial com Batismo e Santa Ceia. No mesmo instante, ele convida via WhatsApp os amigos para o culto e depois do evento todos irem a uma pizzaria. No dia do evento, antes de sair de casa, ele tira uma foto com a família e no caminho twitta no hashtag #partiuculto!. Chegando lá, assiste ao culto atentamente, acompanha as leituras bíblicas em um aplicativo em seu celular e, durante o batismo da irmã, ele filma partes da cerimônia para depois “upar” em sua conta do You Tube. Horas depois, na pizzaria, ele faz um check-in no Fourquare e tira algumas fotos com os amigos para colocar no Instagram. Quando chega em casa, lembra que tem que passar as suas fotos para o computador, “postar no Face” e marcar os amigos e a família enquanto aguarda que os outros que estiveram com ele façam o mesmo.

por Paulo Eduardo Siebra Andrade

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alvez para você seja estranho todo esse relato, mas ele conta algo corriqueiro na vida de um usuário das várias mídias sociais hoje disponíveis. Diferente das mídias eletrônicas, como o rádio e a TV, e da mídia impressa, as mídias sociais têm essa particularidade: são espaços, plataformas de comunicação que permitem a criação e o compartilhamento de informação em diversos formatos, proporcionando interatividade entre seus usuários. São exemplos de mídias sociais os blogs, microblogs, redes sociais pessoais e profissionais, e-groups, fóruns, messengers, wikis e sites de compartilhamento de multimídia (áudio e vídeo). A mídia social mais popular e consequentemente mais utilizada

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hoje em dia são as redes sociais; o Facebook é a maior, com mais de um bilhão de usuários ativos. É raro encontrar uma pessoa nos dias de hoje que não tem ou nunca teve Face. Ali é onde acontece diariamente uma extensão do mundo real de parte de nossa sociedade por meio da convivência virtual. O sucesso das redes sociais explica-se com fatos que vão mais além da necessidade humana de relacionamento, mas está na possibilidade de ver e ser visto, de falar o tanto quanto se ouve em uma cultura de compartilhar quase tudo o que se faz: o que está comendo, ouvindo, lendo, lugares que frequenta, viagens que faz e opiniões sobre os mais diversos temas. As mídias sociais modificaram os relacionamentos, e nessa explo-

são de postagens diárias podemos encontrar pessoas expondo suas fraquezas, problemas, aflições, crises de fé, desavenças, preconceitos, alienação e frustrações em busca de respostas, solidariedade e empatia. No ciberespaço da mídia social, sempre se espera uma resposta, uma reação; não há discurso único ou via única de informação ou conteúdo, seja positivo ou negativo; um retorno sempre vem, nem que seja em formato de curtida ou indiferença. Diante dessa demanda comunicativa, podemos dizer que sabemos ou buscamos aprender a comunicar para dentro do ciberespaço? Nossa prática como igreja chamad@ a comunicar pode nos revelar o quanto estamos prontos para atuar em diversos campos da comunicação? No livro “Linguagens Líquidas na Era da Mobilidade”, Lúcia Santaella apresenta cinco gerações comunicacionais, que, segundo ela, coexistem entrelaçadas na sociedade sem se anular, formando uma cultura comunicacional híbrida. Da primeira geração, composta pela mídia automatizada e eletromecânica como jornal, fotografia e cinema, à segunda geração dos eletroeletrônicos, composta por rádio e televisão, as denominações cristãs souberam explorar bem seu poder de alcance na sociedade. Da terceira geração em diante, que compete às tecnologias de mobilidade, que trabalham a ideia da vida no ciberespaço e da interatividade, as igrejas em geral ainda buscam encontrar uma forma efetiva de alcançar as pessoas inseridas nessa “cultura de mídias”. A falta de reconhecimento dessa coexistência entre as tecnologias comunicativas dificulta e atrapalha a atuação nas diferentes formas de comunicação. As mídias sociais não existem ou não foram criadas para

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substituir outras formas de comunicação, mas vieram somar, aprimorar e expandir a capacidade humana de se comunicar. Só precisamos reconhecer e querer alcançar seus usuários falando sua linguagem em seu espaço. Existem bons exemplos da participação da igreja nas mídias sociais, como grupos virtuais, fanpages que divulgam programações de paróquias, a história da igreja, senhas diá­ rias, fotos de eventos, notícias etc., muitas vezes feitas por gente que por experiência já frequenta e está acostumada com o ambiente e a linguagem virtual, mas desacostumada com crises e conflitos que possam surgir

no confronto de ideias. Recomendações, orientações e treinamento de gente para levar a cabo essa tarefa é um desafio para nós hoje. É necessário compreender que os meios de comunicação fazem parte do cotidiano e não podem ser ignorados. O uso adequado das mídias sociais potencializa a mensagem que levamos como Igreja da Palavra e evita ruídos que possam prejudicar nossa missão. O ciberespaço é uma grande parte da seara, e também lá faltam trabalhadoN res (Lucas 10.2).

As mídias sociais não foram criadas para substituir outras formas de comunicação, mas vieram somar, aprimorar e expandir a capacidade humana de se comunicar.

PAULO EDUARDO SIEBRA ANDRADE é mercadólogo, analista de redes sociais e bacharel em Teologia pela Faculdades EST em São Leopoldo (RS) NOVOLHAR.COM.BR –> Abr/Jun 2015

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CAPA

Culto: Comunicação viva por Júlio Cézar Adam

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omingo de manhã. Poucos carros circulam pela cidade. A maioria das casas está fechada. A cidade dorme. Sinos das igrejas badalam como que para despertar a cidade, para organizar o dia talvez. Próximo das 9h30, pessoas dirigem-se a um dos muitos templos. Chegam de carro. Outras chegam caminhando, apressadas, arrumadas... Os sinos tocam novamente. O culto inicia. Durante algum tempo, uma história será contada ali. Não é uma história relatada apenas em palavras. Trata-se de uma história comunicada

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por meio de ações das quais todas as pessoas participam. Participam não apenas ouvindo. Participam refazendo a própria história. Trata-se de uma história que remonta a episódios distantes no tempo e no espaço. Uma história transcendente e imanente. Uma história que remonta à criação do mundo, dilúvio, guerras, um povo a caminho pelo deserto em busca da liberdade e de terra... Remonta à constituição de um povo, lutas de profetas, exílios e promessas... Remonta ao nascimento de um menino, uma cruz e uma ressurreição, um povo e sua relação com seu Deus.

Não é uma história apenas contada em palavras. Mas é uma história que, quando contada, acontece de novo. É palavra de Deus... Os personagens do passado misturam-se à vida das pessoas de hoje. Deus se faz presente e encontra-se com as pessoas de novo, como se encontrara outrora: os mesmos conflitos, os mesmos medos, as mesmas lutas, as mesmas esperanças. Trata-se de uma história que não só acontece novamente a partir do passado, mas que acontece a partir do futuro. Memória viva no presente! O culto cristão é isto: é a recapitulação da história da salvação, a

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visivelmente tocou cada membro da comunidade no Batismo, perdoando e reunindo indivíduos em comunidade, ele envolve visivelmente a comunidade numa refeição. Deus à mesa com a comunidade, comunhão dos santos. Assim a Páscoa de Cristo – corpo partido, sangue derramado, pão e vinho – alimenta a comunidade, fortalece concretamente a comunhão. Em torno da mesa, a morte de Cristo é anunciada e sua ressurreição proclamada. A refeição santa envia a comunidade abençoada para o culto, que se estende durante todo e cada dia da semana por meio do ensino, da vivência comunitária, do serviço de amor, do ministério em meio à vida cotidiana. Assim é a comunicação que se dá no culto cristão. Ela é viva voz do evangelho. Essa forma de comunicação única e especial não surgiu ontem

nem do nada. Ela foi sendo moldada na caminhada de fé do povo. É tradição milenar, tecida por meio da ação do Espírito no meio da vida de sua igreja. Cada vez que a história é contada, a própria tradição é atualizada. Somente tradição sem atualização e somente inovação sem tradição colocam o próprio culto em risco. O risco de não mais comunicar. Os sinos tocam novamente, anunciando o fim do culto. As pessoas, algumas mais depressa do que outras, retornam a suas casas na cidade que dorme e que aos poucos desperta para mais uma semana. No caminho, elas conversam sobre o culto e sobre a vida, à espera do culto pleno na N grande ceia do Reino.

JÚLIO CÉZAR ADAM é teólogo e professor de Teologia na Faculdades EST em São Leopoldo (RS)

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epifania da igreja e o ensaio do reino de Deus. Durante o tempo que dura, ele reconta a história de Deus com seu povo. Culto é essa comunicação viva, Palavra atualizada na vida presente da comunidade. Como se o passado e o futuro de Deus acontecessem naquela manhã de domingo, naquela comunidade, em sua espera ansiosa pelo último culto, o grande banquete do Reino. O culto como ação representativa faz isso por intermédio de palavras, ritos, gestos, sons, cores, espaços, símbolos... Palavra de Deus reverberando por meio da tradição no aqui e no agora através da ação do Espírito. É Deus quem junta, reúne, congrega. Diante de Deus, a comunidade relembra ainda estar separada pelo pecado. A morte ainda é realidade presente no meio da vida. O pecado é, pois, confessado, e o perdão batismal é novamente confirmado. Mas não apenas a morte no meio da vida da comunidade faz parte da história. As dores do mundo, consequência do pecado, também são lembradas. E a história segue. A comunidade sabe que precisa da orientação para seguir em seu louvor. Por isso ela ora a Deus, agradecendo por estar reunida e pedindo por uma direção segura. É hora de ouvir a palavra de Deus, que vem por meio das Escrituras, pregação que desperta e alimenta a fé, ponto alto do culto. Agora reorientada, é hora de orar pela vida da igreja, pelo ministério e pela missão no mundo em meio às crises e esperanças da vida dada e sustentada por Deus. E mais... essa história de Deus com seu povo tem um ápice. A história teve uma virada decisiva: a Páscoa de Jesus Cristo. A partir desse evento tudo tem outro sentido. A comunidade já relembrou esse evento desde que o culto iniciou. Mas, como sempre, Deus permite mais. Assim como

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A discriminação que não se percebe Os meios de comunicação desempenham um importante papel na busca por igualdade de oportunidades para homens e mulheres na sociedade e na igreja. por Marcela Gabioud

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s mulheres representam 52% de toda a população mundial, segundo estatísticas de organismos internacionais. Não obstante, as desigualdades entre homens e mulheres não

refletem essa cifra. Nos últimos anos, claramente aconteceu uma evolução importante na inserção da mulher em diferentes âmbitos, fechados até o momento. A política é um desses âmbitos, considerando que há mu-

Fotos: Arquivo Pessoal

Mulheres da Equipe do Instituto de Mobilização de Fundos de Rosário na Argentina

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lheres em posições de decisão em políticas públicas e que governam vários países da América Latina. Mas isso não significa que a desigualdade desapareceu. Quando se fala de gênero, costuma-se tomar como referência a situação das mulheres em termos de desigualdade frente aos homens. A questão de gênero baseia-se na construção histórica e social que associa um conjunto de funções e valores a um e outro sexo, implicando certa hierarquia entre eles, determinando aquilo que a sociedade considera “feminino” e “masculino”. As relações de gênero podem definir-se, então, em termos do jogo entre práticas históricas que se distinguem de acordo com o feminino e o masculino (teorias e ideologias, incluindo crenças religiosas), práticas institucionais (como o Estado e o mercado) e condições materiais (a natureza e a distribuição de capacidades materiais ao longo de linhas de gênero). Nessa construção social, os meios de comunicação têm um papel importante, já que são eles que dão significado a certas práticas e as associam a tarefas estabelecidas e instituídas por eles. A Conferência Mundial de Mulheres em Beijing (1995) considerou os meios de comunicação uma das 12 áreas de especial interesse para conseguir alcançar igualdade de oportunidades para homens e mulheres. Em março de 2010, a Associação Mundial para a Comunicação Cristã (WACC – sigla em inglês) divulgou o Projeto de Acompanhamento Global dos Meios (maiores informações em www. whomakesthenews.org), que mede o impacto nas relações de gênero e a representação de mulheres e homens nos meios noticiosos do mundo. O mesmo projeto aconteceu em 2009 e é o único de abrangência mundial. Com a colaboração de milhares de

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Da esquerda para a direita: Marina Raffaelli, Néstor Manchini, Marcela Gabioud, Claudia Florentin

voluntários e voluntárias do mundo, esse projeto realiza-se a cada cinco anos. Participaram 130 países, que acompanhavam as notícias nos meios de comunicação. Em março deste ano, realizou-se uma nova medição, que envolveu os meios eletrônicos pela primeira vez em nível mundial. A seleção em cada país ocorreu com base em seu alcance, densidade e diversidade. No caso de jornais diários, os grupos podem chegar a codificar de 12 a 14 notícias publicadas nas páginas centrais, definidas como páginas dedicadas às notícias nacionais, internacionais e, em alguns casos, regionais. As três edições do Projeto de Acompanhamento Global dos Meios mostraram que as mulheres estão seriamente sub-representadas na cobertura de notícias em comparação com os homens. Isso significa que as notícias apresentam uma imagem

do mundo em que as mulheres estão expressivamente ausentes. Mesmo assim, as pesquisas manifestam uma escassez de perspectivas e opiniões de mulheres no conteúdo dos meios noticiosos em relação à perspectiva oferecida por homens, o que resulta em uma visão de mundo centrada na figura masculina. A quarta edição do Projeto de Acompanhamento Global dos Meios produziu uma mescla de resultados: 24% das pessoas entrevistadas sobre as quais se escuta, vê ou lê nas estações dominantes e nos jornais impressos são mulheres. Isso é uma mudança significativa sobre o que foi observado em 1995 quando somente 17% das pessoas nas notícias eram mulheres. Em 2005, a presença das mulheres subiu para 21%; um aumento de 3% em relação à pesquisa realizada em 2000. De 2005 a 2010, há uma segunda mudança de 3%, que

mostra um avanço no equilíbrio de gênero nas notícias, o que se manteve insistentemente lento nos últimos dez anos, embora com mais rapidez em comparação com a taxa registrada entre 1995 e 2000. Quase a metade (48%) de todas as notícias reforça os estereótipos de gênero, enquanto 8% delas questionam os estereótipos de gênero e apenas 12% das notícias destacaram temas de igualdade de gênero ou desigualdade de gênero. A importância de realizar esse tipo de estudos longitudinais permite entender as desigualdades de gênero e conhecer um panorama desanimador de não mudança: levará aproximadamente 40 anos para atingir a igualdade nos meios de N comunicação. MARCELA GABIOUD é vice-presidente de WACC/América Latina e coordenadora do Projeto de Acompanhamento Global dos Meios na Argentina NOVOLHAR.COM.BR –> Abr/Jun 2015

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por Edoarda S. Scherer

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s informações transmitidas pelas mídias virtuais, impressas e radiofônicas possibilitam construir o mundo, a identidade, perspectivas e críticas do contexto no qual são fortemente influenciadas nos limites diante do que se possui de acesso à informação. Não é novidade que as comunicações estão a serviço de propagar uma ideia específica e construir um senso comum desejável. As informações sempre foram critério de poder e estratégia de dominação por parte do Estado sobre outra nação ou sobre seu povo. Regis­ tram-se a campanha e a propaganda utilizada na Alemanha nazista e no Brasil durante o período ditatorial. A Constituição Federal de 1988, em seu art. 5º, incisos IV, IX e XIV, consagra a livre manifestação do pensamento, a livre expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença, e o acesso à informação. São direitos fundamentais, nobres. Como tornar prática a Carta Magna de nossa nação? No Brasil, ainda se presenciam contextos de monopólio da comunicação por elites do país e agentes

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políticos do Estado, que vendem e constroem uma história de um país branco, submisso aos ideais estrangeiros, neoliberais e conformado com as distinções de classes econômicas, sociais e papéis atribuídos ao gênero. Um país apolítico, sem lutas, ou que criminaliza a trajetória de seus mo-

Reprodução Novolhar

Os desafios da liberdade de expressão

vimentos sociais. Um Brasil que se movimenta para escândalos e casos específicos de críticas a governos e gestões específicas. Atualmente, menos de dez “famílias empresas” controlam 70% da mídia no Brasil. 9.477 veículos de comunicação são controlados por quatro grandes grupos nacionais, consolidando uma espécie de oligopólio no setor da comunicação. De um lado, um monopólio que domina a tecnologia; do outro lado, populações que ainda carecem de direitos básicos de acesso a educação, luz elétrica e condições mínimas para usufruir dos avanços dos meios de informação e do exercício de seus direitos. Entre o público e o privado, com o compartilhamento ilimitado de informações, transita a maior parcela de indivíduos, passando por uma guerra psicológica, em que o discurso e a “opinião” não passam de resultados da ação almejada, sem crítica, sem embate. De­tém-se o senso comum como voz legítima da maioria do povo. Informação e comunicação constituem moeda para fins econômicos e políticos. Nesse cenário, a quem convém um marco regulatório das comunicações? O marco prevê dar voz à pluralidade de indivíduos que não estão em situação de PÔSTER NAZISTA: As informações sempre foram critério de poder e estratégia de dominação por parte do Estado sobre outra nação ou sobre seu povo

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poder econômico. Muitas propostas estabelecidas na Constituição Federal de 1988 carecem de regulamentação específica à comunicação (arts. 220, 221 e 223). Aguarda-se uma nova atualização de marcos legais a leis já defasadas, como o Código Brasileiro de Telecomunicações de 1962, que não atende a conjuntura de novas tecnologias e convergência de mídias, que necessitam de fiscalização. A ausência de neutralidade das mídias que imperam no país e a falta de representatividade que compõe o povo brasileiro agravam problemáticas para a consolidação da democracia, pois uma lógica de submissão ainda impera, sendo reproduzida e transmitida.

Como eixo “Juventude e Democratização das Comunicações” na Rede Ecumênica da Juventude (REJU) se reconhece o potencial de mídias alternativas, comunitárias e as inúmeras iniciativas de empoderamento de agentes sociais no Brasil. Democratizar a comunicação ultrapassa a massa dos jornais impressos, rádio e televisão; também é pensar em formas de demonstrar a democracia nas comunicações do dia a dia, nas rodas de diálogo, nas discussões da família, da escola e da universidade, da comunidade. A sociedade necessita estar atenta. É através da liberdade de comunicação e seus limites que se forjam discursos de ódio, constrói-se e se

distorce a história, legitimam-se revoluções e ao mesmo tempo golpes de Estado. Cria-se o medo do outro(a), distinto de sua realidade, agrava-se o preconceito. Em nome do mercado e do desenvolvimento se banalizam os limites da ética. Onde está o limite da liberdade de expressão? A liberdade limita-se à medida que o direito do outro inicia e necessita ser contemplado, mesmo que isso implique que se tenha que ceder parte da própria liberdade. Isso é respeito, é tolerância, necessária para N a convivência democrática.

EDOARDA SCHERER é facilitadora nacional da Rede Ecumênica da Juventude-REJU

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Entrevista CAPA

O Photoshop e a percepção da realidade

filtradas e manipuladas, que fotografias não processadas até parecem estranhas. Fotos de personalidades em estado natural têm muitas vezes um efeito chocante e causam estranhamento. Mostrar as grandes estrelas do cinema assim como são, com sua celulite ou manchas na pele, não raro causa espanto e escândalo. A cultura da imagem trabalhada no Photoshop tem contribuído para que muitos artistas se isolem numa vida reclusa cerceante e depressiva. Mas também há quem transgrida essa cultura de propósito, provocando reações de aprovação e de recriminação. Entre as mais recentes “transgressoras” do senso estético comum estão a cantora Beyoncé e a modelo Cindy Crawford. Elas ousam divulgar sua imagem como é, indo na contramão da idealização das imagens na mídia, que hoje é mais regra do que exceção.

da Redação, com DW-World

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o ser criado, o Photoshop era um programa de computador muito simples, que somente exibia imagens reticuladas nas telas monocromáticas do começo da era dos computadores. Duas décadas e meia depois disso, uma poderosa versão do programa deu origem a um dos mais desenvolvidos aplicativos para processamento digital de imagens do mundo. Como era um programa caro e somente poucos tinham condições de adqui­ ri-lo, em pouco tempo surgiram boas alternativas a preços aceitáveis ou até mesmo de graça.

O resultado é que, junto com a facilidade de manipulação de imagens, que permitem recursos muito apropriados, como regular a intensidade de luz e sombra, de contraste e de brilho, surgiu toda uma indústria de manipulação de imagens que mudou a forma de ver e de perceber a realidade. Hoje, os programas de processamento de imagens são onipresentes: as fotos transformadas com sua ajuda estão nos computadores, smartphones, redes sociais, revistas de moda e também no subconsciente humano. As pessoas hoje estão tão acostumadas a imagens modificadas,

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Foto de Brittany Murphy sem manipulação digital e depois do uso dos recursos do Photoshop

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Distorção da realidade – Os atuais programs de computador têm possibilidades literalmente infinitas de modificar digitalmente a aparência de uma pessoa para aproximá-la de um certo ideal de beleza. Podem-se alongar pescoço e pernas, aumentar ou achatar bustos, acentuar as maçãs do rosto, tornar os cabelos mais densos, clarear ou bronzear a pele, remover marcas de nascença, dissolver verrugas ou apagar rugas. “A indústria da moda como um todo comporta-se de um jeito altamente questionável”, critica o especialista em mídia Thomas Knieper. “Quando se alongam as pernas das estrelas, se afina sua cintura e faz desaparecer as rugas e outros defeitos, as pessoas tendem a admirá-las incontrolavelmente e a imitá-las”, denuncia Knieper. Estudos demonstram que quem consome regularmente as fotografias

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IDeALIZAÇÃO DE RISCO – A canadense Erin Treloar vivenciou tais mecanismos no próprio corpo. Na adolescência, ela sofria de grave distúrbio alimentar. “Com 17 anos, eu media 1,80 metro e pesava 40 quilos. Meus órgãos foram pouco a pouco deixando de funcionar, perdi meu cabelo e tive que ser internada no hospital.” Ela tem certeza de que seus distúrbios foram desencadeados e mantidos pelos ideais de beleza difundidos através dos meios de comunicação. “Quando se tem uma tendência ao perfeccionismo e se vê o que a mídia declara como perfeito e maravilhoso, também se quer alcançar esse ideal.” Hoje com 30 anos, grávida e em perfeita saúde, Erin lançou na internet a petição #LessIsMore (#MenosÉMais). Sua meta é preservar outras jovens de experiências semelhantes à sua. Ela espera que as assinaturas coletadas levem revistas e outros veículos a apostar menos na “photoshopagem”. “Eu sei que a prática dos retoques não vai desaparecer de vez. E nem precisa”, observa. “Mas eu gostaria de conseguir que as revistas deixassem de retocar corpos e rostos. Quando se nota que há um cabelo no paletó da foto, é óbvio que se pode eliminá-lo

Reprodução Novolhar

processadas das revistas de moda em algum ponto passa a acreditar que aquelas imagens representam um padrão de beleza, abrindo amplo espaço para anomalias, como anorexia ou bulimia. “Fotos assim podem causar depressão em gente que não se sente capaz de alcançar os padrões de beleza impostos pela mídia. Elas percebem que não conseguem se aproximar de seu ideal nem com dietas e cirurgias estéticas. E é óbvio que será assim, pois as imagens que veem são anatomicamente impossíveis”, comenta Knieper.

Kate Moss, numa famosa capa criticada da revista “W” e uma foto dela sem manipulação digital

digitalmente. Da mesma forma não há problema em dar sumiço a uma espinha no meio da testa. Mas parem de fazer quadris parecerem mais estreitos.” REGRAS CLARAS – Entretanto, a indústria da moda não está sozinha em sua obsessão pela imagem ideal. Um quinto das fotos submetidas ao conceituado concurso World Press Photo foi rejeitada por causa de processamento digital intenso. Thomas Knieper afirma que está na hora de se estabelecerem diretrizes globais sobre a questão. As agências de notícias e empresas de comunicação de todo o mundo já têm suas próprias regras. De modo geral, aceita-se intensificar cores ou outras técnicas que realcem o motivo central da imagem, até mesmo a eliminação de pequenos defeitos, como fiapos ou poeira. Mas não se aceita a manipulação do conteúdo de uma foto, como por exemplo adicionar a

posteriori uma montanha ou apagar pessoas ou objetos. São numerosos os exemplos de mau uso da turma do Photoshop. Em 1994, o Time Magazine escureceu o rosto de O. J. Simpson nas fotos feitas pela polícia. Críticos detectaram na decisão uma forma sutil de racismo. Na época, o ex-jogador havia sido indiciado pelo assassinato da esposa, mas foi inocentado mais tarde. Knieper lembra que estudos científicos mostraram como os leitores só aceitam até certo ponto alterações posteriores em uma imagem, sobretudo se o valor documental delas está em primeiro plano. “Como todo instrumento, pode-se usar o Photoshop para o bem ou para o mal”, declarou certa vez Thomas Knoll, o criador do programa de processamento de imagens, numa entrevista à TV. A regra certamente continua valendo para qualquer pessoa ou entidade que quiser fazer comunicação confiável. N NOVOLHAR.COM.BR –> Abr/Jun 2015

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crônica

O dia em que conversei comigo mesmo por Ricardo Gondim

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m meio à névoa ruça do banheiro me deparei com um vulto. Ele apareceu refletido no espelho; parecia marcado por rugas prematuras. Fechei a torneira do chuveiro com pressa. Tomado por uma coragem súbita, questionei o homem: – Quem é você? O que faz aqui? – Eu sou você, respondeu com autonomia. – Preciso lhe falar. Perturbei-me com o seu aspecto. Ele se parecia com a imagem que guardei de meu pai. Como podia afirmar que era eu? Seus poucos cabelos pareciam mais gastos do que os meus. Tentei dissimular, mas o sujeito continuou a me espreitar de dentro do aquário – o espelho. Ele não parou de me encarar do seu mundo bidimensional. Sem medo, insisti: – O que deseja dizer? Por que me olha assim? – Estou inquieto com você, ele respondeu. – Não preciso de sua piedade, retruquei. Assustei-me. A pessoa me falava com contundência. Eu nunca era assim naquela hora da manhã. Protegido pela blindagem do vidro, eu me provocava a um monólogo. O outro me confrontava, sem medo:

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– Tanta beleza pode aflorar do seu coração. A vida é tão rara. Expulse os azedumes que têm força de afogá-lo. Se a vida é preciosa, cada dia merece ser vivido com simplicidade e ternura. Estranhei. A pessoa que me passava o sermão era tão igual a mim. Sua voz ressoava por todo o banheiro. Repliquei com sarcasmo – talvez indiferença: – Não consigo ter esperança em um mundo em que a diarreia ceifa milhões de crianças. A miséria africana me provoca indignação. Sou inconformado com a sorte dos palestinos. No meus país, tenho horror de dirigir à noite. Não me acostumo com roubalheira e desmandos públicos. Vejo o Brasil patinando na ignomínia. À medida que falava, fui me aborrecendo. Mirei o espelho ainda mais de perto. Eu precisava calar a boca – que era a minha – do homem que tentava me dar bronca. – Você se lembra de que estudou economia nos tempos da ditadura? Acrescentei mais argumentos: – Tolo, não percebeu o ranço fascista no modelo econômico estatizado e cheio de mega empreendimentos? Ingênuo, você aceitou o endividamento do país como necessário para que obras faraô­

Não despreze o fato de que em meio à decepção você aprendeu a amar, não parou de se arrepiar com o toque da mão amiga, despertou para o valor do silêncio e ainda nasceu para a poesia. Isso é viver. O horizonte utópico de nossos ideais estará sempre mais longe do que gostaríamos.

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nicas – estradas, estádios e edifícios das empresas estatais – mostrassem a suntuosidade de um regime truculento. Aquele eu, que aparecia dentro do espelho, continuou a me encarar. O vapor do chuveiro ainda deixava a imagem meio nebulosa. A reação do homem veio um pouco mais tranquila: – Lembre, Ricardo: só quem consegue se voltar para dentro de si encontra o seu inescrutável norte. As circunstâncias do país não foram suficientes para roubar o seu sentido

de vida. Não despreze o fato de que em meio à decepção você aprendeu a amar, não parou de se arrepiar com o toque da mão amiga, despertou para o valor do silêncio e ainda nasceu para a poesia. Isso é viver. O horizonte utópico de nossos ideais estará sempre mais longe do que gostaríamos. Não cedi. Embora interagisse apenas com um rosto que se parecia comigo, me mantive firme. – Acreditei e me dediquei a uma missão que me feriu muito. Abracei o que considerava essencial na mensagem do evangelho e fui magoado. Noto que, depois de muito suar, gastar os melhores anos de minha vida pregando, ensinando e incentivando, contemplo uma acelerada vulgarização do sagrado. Dói ver a comercialização cínica da fé. Parece que vale a pena ser superficial. A desilusão bateu na minha porta. Repito o Asafe bíblico: os espertos se multiplicam, e os puros jazem no ostracismo; os soberbos prosperam de mãos dadas com os ímpios, e os humildes continuam uma minoria impotente. A umidade do banheiro começou a se dissipar. Enxuguei o vidro. Com mais nitidez pude contemplar a pessoa que me inquiria. Não voltei atrás. Ele também não se intimidou. Com o olhar fixo em mim, voltou a se manifestar: – Esperança é uma força que nos move a lutar, não porque vai dar certo, mas porque vale a pena. Os medíocres buscam a gratificação imediata dos seus atos. Os nobres pelejam pelo mero privilégio de se achar dignos da causa a que foram convocados. Muitos já lutaram sem jamais alcançar promessa alguma. Lembre-se: mulheres receberam, pela ressurreição, os seus mortos. Alguns foram torturados, não aceitando o seu livramento; outros experimen-

taram escárnios e açoites, e até cadeias e prisões. Foram apedrejados, serrados, tentados, mortos ao fio de espada; andaram vestidos de peles de ovelhas e de cabras, desamparados, aflitos e maltratados, errantes pelos desertos e montes, pelas covas e cavernas da terra. Esses receberam o maior elogio da Bíblia: [Eles e elas foram] homens e mulheres dos quais o mundo não era digno (Hebreus 11.35-39). Enquanto monologuei, afloraram em mim sentimentos ambíguos. Por um lado, percebi meu rosto marcado pelo desgaste do tempo. Precisei admitir que o meu espírito andava fatigado. Vi que a minha resiliência interior precisava ser renovada. Meu solilóquio tinha que virar diálogo. Saí do banheiro. Apressei-me a recitar um salmo como prece: Por que você está assim tão triste, ó minha alma? Por que está assim tão perturbada dentro de mim? Ponha a sua esperança em Deus! Pois ainda o louvarei; ele é o meu Salvador (42.5). Intuí que Ele logo me respondeu com salmos: Os pobres nunca serão esquecidos, nem se frustrará a esperança dos necessitados (9.18); O cavalo é vã esperança de vitória; apesar da sua grande força, é incapaz de salvar. Mas o Senhor protege aqueles que o temem, aqueles que firmam a esperança no seu amor (33.17-18); Não confiem na extorsão, nem ponham a esperança em bens roubados; se as suas riquezas aumentam, não ponha nelas o coração (62.10); O Senhor se agrada dos que o temem, dos que colocam sua esperança no seu amor leal (147.11). Saí para trabalhar. Antes, repeti em voz alta: Hoje aprendi a crer apesar da N desesperança. Soli Deo Gloria. RICARDO GONDIM é teólogo e ministro da Assembleia de Deus Bethesda em São Paulo (SP)

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religiões

Há lugar para todos

por Sônia Gomes Mota

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Enquanto não entenderem que cada qual pode seguir sua religião, a intolerância só vai aumentar. Mãe Branca de Xangô, Terreiro Ilê Asé Obá Babá Séré em Cajazeiras XI, Salvador (BA)

Deus não é cristão. Negros, brancos, cristãos, ateus ou muçulmanos, todos estão dentro do abraço divino. Desmond Tutu, Bispo Anglicano da África do Sul

Fotos: Arquivo da CESE/Salvador

Reunião EM Terreiro em Cajazeiras XI: O encontro foi encerrado com uma reza iorubá e, em seguida, como prova do diálogo respeitoso que se estabeleceu entre os presentes, foi feita a oração do Pai-Nosso ecumênico

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mundo assiste estarrecido ao crescimento de atos de violência, agressão e assassinatos supostamente em nome da fé. Eventos na Europa, África e Ásia instalam o medo e causam indignação em todo o mundo. Recentemente, os noticiários mostraram membros do Estado Islâmico destruindo, com fúria, estátuas e imagens da antiga Assíria. Para eles, são “ídolos” que devem ser eliminados; para os historiadores, no entanto, um patrimônio cultural da humanidade. Aqui mesmo, no Brasil, já se ouviram notícias de terreiros de candomblé serem invadidos e destruídos. Ou de uma imagem católica ser chutada em pleno programa de TV. Diferente de outras realidades, o Brasil é um país de várias religiões. O censo de 2010 revela que, numa população de 190,7 milhões de pessoas, 64,6% são católicos romanos; 22,2%, evangélicos; 0,3%, representantes de matrizes religiosas afro-brasileiras. As demais religiões alcançam juntas em torno de 2,7% da população. A diversidade de expressões de fé e a liberdade religiosa garantida pela constituição (Art. 5º, Inciso VI) podem levar a crer que vivemos num país que respeita as diferenças religiosas. No entanto, o Mapa da Intolerância Religiosa de 2011 revela que atos de agressão – desde ataques verbais, pichações em muros e agressões físicas – são praticados contra diversos grupos religiosos. Verificamos a multiplicação de afirmações religiosas exclusivistas, que não só condenam e demonizam outras expressões de fé, mas também incitam a odiá-las. O Disque 100 da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República revelou que

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A CESE luta há 40 anos por direitos e o povo de santo tem o direito de liberdade de culto, de preservar seus locais sagrados

tem crescido o número de denúncias – a maioria de ataques a religiões de matriz africana. Isso demonstra que a intolerância religiosa guarda fortes marcas de racismo, que ainda predomina em nossa sociedade. Percebemos que a face da intolerância religiosa também se volta contra grupos vulneráveis, como mulheres e pessoas que assumem sua homoafetividade, travestis e transexuais. Temos assistido à instrumentalização da política por parte de grupos religiosos que defendem pautas políticas de caráter bastante conservador e colocam na religião o seu estandarte contra a preservação e a ampliação dos direitos humanos. Como muitos deles detêm meios de comunicação, conseguem manipular a opinião pública. Diante disso, a Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE), uma organização formada por igrejas cristãs (IECLB, IPU, IEAB, ICAR, IPI e Aliança de Batistas do Brasil), tem

buscado, juntamente com outros organismos ecumênicos, como o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), promover o diálogo e o respeito entre as religiões. Tentamos fazer isso apoiando as Semanas de Oração, documentos e declarações públicas conjuntas, seminários, participando de manifestações contra a intolerância religiosa e pela promoção e defesa dos direitos humanos. A CESE acredita que o diálogo inter-religioso, embora ainda seja um desafio, é fundamental para os tempos atuais. Como a intolerância contra religiões de matriz africana contém um ingrediente racista, torna-se urgente a implementação de políticas de valorização da identidade negra e promoção da igualdade racial. Além disso, é preciso reafirmar o Brasil como um Estado laico para fortalecer a nossa democracia e garantir a valorização e o respeito à diversidade religiosa. Promover o diálogo, apoiar projetos que promovam ações ecumênicas

e inter-religiosas, ouvir quem pensa diferente, valorizar a pluralidade e a diversidade que compõem nosso país são o nosso compromisso com um mundo de paz, onde há lugar para N todas as pessoas. SÔNIA GOMES MOTA é diretora executiva da CESE em Salvador (BA)

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CRISE HÍDRICA

Sem chuva, torneira vazia! São Paulo e várias cidades vizinhas que formam a maior região metropolitana do país entram na mais grave crise de falta de água da história. E agora... a culpa é da chuva? por Paula Oliveira

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s obras em andamento estão atrasadas, o desperdício continua alto e as chuvas abundantes de verão não vieram como previsto. Em alguns bairros de São Paulo, moradores fazem filas para pegar água, carregam baldes e aguardam

a chegada dos caminhões-pipa. Nos canos e nas torneiras, nem uma gota. O rodízio força lugares como shopping centers, restaurantes e faculdades a fechar; a crise hídrica é uma bola de neve e traz outro dilema: vai pesar no bolso do brasileiro.

Exemplo disso é o de dona Maria Ribeiro, 62 anos. Ela mora na zona sul da cidade de São Paulo, é comerciante e diz que já sente os impactos da falta de água na rotina das pessoas e da cidade. Segundo ela, a questão da crise atual é profunda e demanda mais consciência coletiva, ambiental e política também. “Quais são os motivos que fizeram chegar nesse ponto dramático? A relação egoísta do homem com o meio ambiente, o desmatamento, o descaso político”, reflete a moradora. Para o governador do estado de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), o problema da água parece mais simples. “É a chuva que não veio como previsto”, conforme ele disse em entrevistas coletivas na TV. Mas a população, assim como dona Maria, questiona e discorda dessa visão prática. “A escassez da água é um problema mundial, mas a crise hídrica é um problema governamental. Falta de planejamento e de comprometimento dos políticos”, diz a comerciante.

Divulgação Novolhar

CANTAREIRA: A dramática e inédita situação do sistema que abastece São Paulo não tem perspectiva de solução, nem com as chuvas que já caíram

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Paula Oliveira

CONSEQUÊNCIA: O ponto dramático foi atingido pela relação egoísta do homem com o meio ambiente, afirma a comerciante Maria Ribeiro

Contra fatos não há argumentos. Segundo estudos, a crise da água já estava prevista há anos, mas as medidas e obras necessárias para evitar a crise não foram realizadas. Uma reportagem de O Estado de S. Paulo mostra que, seis anos atrás, um estudo envolvendo 200 especialistas mostrou ao governo paulista uma projeção do que aconteceria se a crise não fosse enfrentada. O relatório chama-se “Cenários ambientais 2020”. Nele projetava-se o que aconteceria em 2015 caso medidas não fossem tomadas. O objetivo do estudo era estabelecer planos de ação para impedir que os cenários pessimistas se realizassem – ou seja, para evitar a realidade de hoje. Fato é que o consumidor já sente nas torneiras e no bolso o efeito da crise, e a regra geral é economizar água. Para garantir a redução no consumo, o governo de São Paulo desde janeiro aplica multa. Quem aumenta o consumo de água em até 20% paga 20% a mais; e quem gasta

mais do que 20% tem aumento de 50% na conta. Há quem receba a conta de água com valor triplicado e descobre que está pagando pelo ar que sai da torneira, enquanto a água não vem... E a crise hídrica trouxe outras crises, como a da energia. Até mesmo nas casas onde a crise não chegou diretamente com falta de água a conta de luz já subiu. “O governo coloca panos quentes, e quando a bomba explode, nós é que pagamos o pato. Minha conta de luz subiu de 100 para 200 reais”, desabafa dona Maria. Vivemos a realidade da inversão de valores num país que deixa vazar água limpa, tratada, onde os ambientalistas são vistos como chatos, e os executivos das grandes empreiteiras que constroem as hidrelétricas, que são financiadoras de campanhas políticas, vão para a cadeia por conta da operação Lava-Jato. A corrupção, a administração ruim, eventos climáticos extremos e o desperdício ameaçam o fornecimento de água no Brasil.

A crise hídrica exige respostas para perguntas que todo cidadão deve fazer a si mesmo e aos candidatos antes de votar nas próximas eleições. E ainda refletir sobre “nas mãos de quem está o futuro do nosso planeta”. N PAULA OLIVEIRA é jornalista em São Paulo (SP)

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assistência

Por uma luz na Amazônia Precursor e modelo para outros programas sociais da Sociedade Bíblica do Brasil (SBB), o Luz na Amazônia é mantido há mais de cinco décadas pela ENTIDADE. por Luciana Garbelini

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á horas na vida em que só Deus pode ajudar, e a leitura da Bíblia atua como um bálsamo que alivia a dor. O Luz na Amazônia é muito necessário. Nós, aqui, precisamos muito de ajuda. Mas sabemos que há gente nessa Amazônia precisando ainda mais do que nós.

Este é o depoimento de José do Carmo e Silva, morador da Ilha de Combu, que trabalha no extrativismo do açaí e na lavoura do cacau. Ele é um dos beneficiados pelo programa Luz na Amazônia, mantido pela Sociedade Bíblica do Brasil (SBB) há mais de 50 anos.

Importante iniciativa social, voltada a populações ribeirinhas da Amazônia, o programa destaca-se por levar assistência médica, social e espiritual a comunidades que vivem em situação de vulnerabilidade e risco social, contando, para isso, com o barco Luz na Amazônia III e o Barco da Bíblia Luz na Amazônia II, ambos especialmente projetados para navegar na Bacia Amazônica. Somente nos últimos 12 anos, as ações do Luz na Amazônia beneficiaram mais de 155 mil pessoas dessa região. A viagem inaugural do programa Luz na Amazônia foi realizada em 8 de dezembro de 1962. Desde então, a SBB promove viagens periódicas a roteiros predeterminados, alcançando preferencialmente comunidades mais isoladas, distantes dos centros urbanos. Entre os objetivos do programa estão: fortalecer a função protetora da família, contribuindo na melhoria de sua qualidade de vida, e promover sua transformação social, seu desenvolvimento espiritual e

Fotos: Sociedade Bíblica do Brasil / Divulgação

PROGRAMA: O Luz na Amazônia é mantido pela Sociedade Bíblica do Brasil há mais de meio século como importante iniciativa social

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Luz na Amazônia III: A embarcação conta com estrutura que possibilita realizar desde atendimentos de emergência a cirurgias de pequeno porte

cultural e o fortalecimento de vínculos familiares, além de proporcionar mais visibilidade à realidade social da região. As duas embarcações que atualmente integram o programa realizam trabalhos distintos, mas complementares, abrangendo os estados do Pará, Amazonas e Amapá. O barco Luz na Amazônia III, construído especialmente para viabilizar o atendimento nessa região, conta com enfermaria, consultórios médico e odontológico, farmácia e laboratório de análises clínicas, estrutura que possibilita realizar desde atendimentos de emergência até cirurgias de pequeno porte. As ações na área da saúde são realizadas por meio de parcerias privadas e de órgãos públicos. O Barco da Bíblia – Luz na Amazônia II, utilizado anteriormente nos atendimentos, abriga uma livraria e um espaço cultural, batizado de Museu da Bíblia, complementando as

ações sociais voltadas para a região. Considerado uma verdadeira livraria flutuante, tem como principal finalidade oferecer Escrituras a um valor acessível, facilitando sua aquisição por pessoas que, em geral, não têm acesso a outras livrarias. No mês de dezembro, considerado um período crítico – entressafra do açaí, escassez do pescado e baixa renda –, o Programa Luz na Amazônia promove a campanha “Natal dos Ribeirinhos”. A iniciativa da SBB conta com parceiros e voluntários para realizar uma programação especial que visa levar um pouco de conforto material e espiritual à população atendida pelo programa no estado do Pará. Em 2014, foram distribuídos 2,6 mil literaturas bíblicas, dois mil brinquedos, 15 mil peças de roupa, dois mil pares de calçados e mais de mil cestas básicas. Os impactos positivos alcançados com o programa Luz na Amazônia motivaram a SBB a ampliar sua

abrangência e a replicar em outras regiões a experiência bem-sucedida com a criação do Luz no Brasil em 2008. Atualmente, a iniciativa engloba três outros projetos igualmente importantes: o Luz no Sul e o Luz no Sudeste, que contam com ônibus adaptados para os atendimentos, e o Luz no Nordeste, que utiliza um caminhão igualmente adaptado para percorrer a região. “A experiência com o Luz na Amazônia dá-nos a dimensão do poder transformador da palavra de Deus. Além de proporcionar o atendimento médico e social, tão importantes para a região, a distribuição de Escrituras é recebida com muita alegria, porque traz, principalmente, esperança, um sentimento muito valioso para os moradores dessas comunidades”, avalia o secretário de Comunicação e Ação N Social da SBB, Erní Seibert. LUCIANA GARBELINI é assessora de comunicação da Sociedade Bíblica do Brasil/ SBB em São Paulo/SP NOVOLHAR.COM.BR –> Abr/Jun 2015

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aprendizado

O santo dos incrédulos Tomé está em voga. Queremos “tocar” para crer: presenciar um milagre, obter uma graça, sentir-nos abençoados por Deus. Na sociedade do hedonismo, perdemos a capacidade de acolher o mistério.

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omé é o santo dos incrédulos. Foi o apóstolo que esperou ver para crer. Antecipou-se à dúvida cartesiana. Não acreditava em palavras, e sim em comprovação empírica. Ao ouvir Jesus afirmar, na última ceia, “vós sabeis o caminho para onde eu vou”, Tomé objetou: “Senhor, não sabemos para onde vais. Como saber o caminho?”. Jesus respondeu: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida” (João 14.4-6). Séculos mais tarde, essa afirmação faria Dostoievski professar: “Ainda que me provassem que Jesus não estava com a verdade, eu ficaria com Jesus”. Após a ressurreição, Jesus apareceu aos discípulos. Tomé não estava entre eles. Duvidou quando lhe contaram: “Vimos o Senhor”. Só acreditaria se também visse e tocasse as marcas deixadas pela crucificação no corpo de Jesus. Oito dias depois, Jesus reapareceu e atendeu sua expectativa (João 20.19-28). É intrigante constatar que o Jesus ressuscitado tinha no corpo marcas dos suplícios que sofrera. Ao pretender enganar os incautos, os evangelistas teriam criado um ressuscitado

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“glorioso”, em corpo translúcido, sem a menor imperfeição. O que nos induz a crer que os relatos da ressurreição foram baseados em um fato objetivo. Os mais eminentes santos tiveram momentos de incredulidade. Até Jesus: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Marcos 15.34). Quem de nós nunca se sentiu abandonado por Deus? A fé é um dom a ser cultivado. Jesus teve uma crise de fé porque acreditava assim como nós cremos. É herética a ideia de que Jesus tinha uma fé inabalável. Em tudo era igual a nós – nas etapas de crescimento, na sexualidade, na capacidade cultural –, exceto no pecado, porque amava assim como só Deus ama. Na feliz expressão de Leonardo Boff: “Humano assim como ele foi, só podia ser Deus mesmo”. Jesus cultivava sua fé ao passar longas horas em oração, informa o Evangelho de Lucas. Quanto mais oramos, mais aprofundamos a fé. Ocorre que a oração é uma experiência relacional, amorosa. Exige gratuidade. Neste mundo atribulado do time is money, é difícil encontrar tempo para a oração.

Der Ungläubige Tomas, obra do pintor alemão Emil Nolde (1912)

por Frei Betto

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Falamos de Deus e com Deus; pouco deixamos Deus falar em nós. Temos fé em Jesus, não a fé de Jesus, centrada na utopia do reino de Deus aqui neste mundo, livre de injustiças, desigualdades e exclusões. Todos somos movidos por algum tipo de fé, acreditar no que não se vê. Seja na tecnologia do avião que nos conduz, na Bolsa de Valores, na pessoa que amamos e encontra-se distante. Daí os vocábulos confiança (com fé) e fidelidade (fiel à fé). São Tomé está em voga. Queremos “tocar” para crer: presenciar um milagre, obter uma graça, sentir-nos abençoados por Deus. Na sociedade do hedonismo, perdemos a capacidade de acolher o mistério. Difícil lidar com sofrimentos, fracassos e limitações. Para muitos, são a prova da inexistência de Deus. Não sabemos lidar também com o silêncio de Deus em nossas vidas. Estamos longe da experiência de Abraão, que, “esperando contra toda a esperança”, segundo Paulo (Romanos 4.18), e de Jó, que, apesar das adversidades, não perderam a confiança em Deus. Talvez o silêncio de Deus resulte de nosso equívoco em buscá-lo ali onde ele não se encontra. Como ocorreu ao profeta Elias, que esperava encontrá-lo no furacão, no terremoto ou no fogo. E Deus manifestou-se na brisa suave (1 Reis 19.9-12), no gesto de amor, na solidariedade, no mais profundo de si mesmo. Se queremos “tocar” Deus, eis os recursos: a oração, que nos conecta a ele; a meditação, pela qual sabemos onde ele habita: no mais íntimo de nós mesmos; e o amor, a experiência de vivenciá-lo no próximo, dando a vida “para que tenham vida” (João N 10.10). FREI BETTO é escritor e assessor de movimentos sociais. Texto extraído de www.adital.com.br NOVOLHAR.COM.BR –> –> Abr/Jun Jul/Ago 2015 2013 NOVOLHAR.COM.BR

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Cátia Dias / UFPEL

alimentos

PROCEDÊNCIA: Mais da metade da comida servida no restaurante da Universidade Federal de Pelotas vem da agricultura familiar e orgânica

Saúde no prato do estudante por Elias Wojahn

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e acordo com a Lei Federal nº 11.947, que regula o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), pelo menos 30% dos alimentos nas escolas e universidades do país devem ser provenientes da agricultura familiar. A região sul do Rio Grande do Sul é um grande polo de agricultura orgânica e familiar, onde cerca de

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200 famílias em Pelotas e região são responsáveis por abastecer a merenda ecológica nas escolas e nas universidades da cidade. Em Pelotas, a Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) foi além: mais de 50% da comida servida em seu restaurante universitário procede da agricultura familiar e orgânica. De acordo com o reitor Mauro Del Pino, a meta é chegar a 70% ainda em 2015.

“Nós temos interesse em servir saúde aos nossos estudantes. Foi uma compreensão tanto dos estudantes como nossa, pois, além de saudável, a comida orgânica da agricultura familiar gera sustentabilidade’’, afirma o reitor Del Pino. O Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor (CAPA) trabalha em parceria com cinco cooperativas para a aquisição do alimento orgânico para o restaurante universitário. A entrega começou em 2014 com produtos como feijão, batata, alface, beterraba, cenoura, couve, entre outros. Além de uma comida saudável para os alunos, a cultura de consumir produtos da agricultura familiar ajuda produtores que apostam nesse tipo de produção. Para os agricultores familiares, produzir ecologicamente também é saúde, pois é uma produção livre de agrotóxicos e pesticidas.

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consultório da fé

ELIAS WOJAHN é assessor de comunicação do CAPA em Pelotas (RS)

É pecado comer carne na Sexta-Feira da Paixão?

Divulgação Novolhar

Os alunos também comemoram a iniciativa. Mais de 4 mil refeições são servidas no restaurante universitário diariamente, em que o arroz e o feijão, por exemplo, são 100% orgânicos. Já em São Lourenço do Sul, cidade vizinha de Pelotas, o programa Merenda Ecológica comemora 12 anos de existência. Aproximadamente 20 escolas da cidade e região participam do programa criado em 2002. Estima-se que 5 mil alunos consomem comida orgânica diariamente nessas escolas. Um dos idealizadores do programa Merenda Ecológica, o CAPA, foi pioneiro no assunto de comida saudável no prato de alunos. Para a coordenadora da instituição, é uma via em que todos saem ganhando: “O projeto mostra que é possível fazer diferente, que existe um jeito de integrar a população rural ao mercado e ainda dar às crianças uma alimentação de qualidade”. Apesar de ser tachada como mais cara e de difícil cultivo, a produção de alimentos orgânicos cresce a cada dia, seja por necessidade dos produtores rurais, seja pela demanda crescente dos consumidores que cada vez mais se informam antes de saber o que vão ingerir. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o brasileiro é o campeão em consumo de agrotóxicos. O consumo é de cerca de 5 quilos em média por habitante, isso em decorrência do consumo de alimentos provenientes da produção convencional. Para mudar esse quadro, nada melhor do que alimentar bem nossos jovens estudantes. São esses jovens e crianças que levarão adiante a mensaN gem do orgânico e saudável.

Faz parte das tradições católico-romanas e católico-ortodoxas a prescrição do jejum a seus membros maiores de 14 anos e em perfeito estado de saúde. Os fiéis são orientados a abster-se do consumo de certos alimentos no período da Quaresma, em especial nas quartas e sextas-feiras. Essa tradição remonta ao século IV da era cristã. A Bíblia, no entanto, não faz referência específica ao jejum na época da Quaresma, tampouco se refere ao hábito de comer peixe na Sexta-Feira da Paixão. Jesus disse: “O que contamina o ser humano não é o que entra pela boca, mas sim o que dela sai”. Leia: Marcos 7.17-23 e Mateus 15.8-10. Aqui não está em discussão a questão das doenças físicas que a ingestão de determinados alimentos pode provocar, mas a preocupação com a interferência dos alimentos em nosso relacionamento com Deus. Nesse sentido, o Novo Testamento é claro e objetivo: o que comemos ou deixamos de comer não muda a nossa situação diante de Deus, nem para melhor tampouco para pior. Importa que o nosso coração esteja voltado para o amor a Deus e ao próximo. Leia: 1 Timóteo 4.4; Mateus 12.34 e Tiago 3.1-6. Na Sexta-Feira da Paixão, muitos cristãos seguem a prática do jejum. Não se trata de um jejum obrigatório, mas de um ato voluntário e espontâneo, que se pode transformar num ato de amor à medida que os alimentos não ingeridos sejam compartilhados com os necessitados. Leia: Isaías 58.5-7. Assim como Cristo se lembra de nós, dando-se por nós na cruz, o jejum nos faz lembrar N das necessidades dos outros. (Extraído do livro “Nossa Igreja – Nossa Identidade – Manual de Estudo” – Geraldo Graf e Leonardo Ramlow (Orgs.) – Editora Sinodal) NOVOLHAR.COM.BR –> Abr/Jun 2015

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o reformador

Lutero e a Vermessenheit Quem se sabe pecador não será arrogante. Quem julga volta a estar preso ao pecado do qual pensa ter se libertado: esqueceu que foi Cristo quem realizou essa obra. por Leandro Hofstaetter

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m uma carta de 8 de abril de 1516, Lutero escreve a um monge agostiniano que dava muito trabalho nas comunidades por onde passava. Conforme nosso reformador, esse monge sofria de um mal chamado Vermessenheit. Pela obra de Cristo, os cristãos – todas as pessoas que aceitam Jesus como Senhor e Salvador e seguem sua Palavra – estão livres do pecado e da culpa. No entanto, alguns cristãos, no fervor dessa salvação que não é sua, mas que vem de Deus gratuitamente, iniciam um processo de doença que faz reacender neles o próprio pecado do qual foram resgatados: sendo salvos, começam a julgar outros que, segundo o seu entendimento, são pecadores. Quem sabe, o motivo do julgamento seja porque os outros rezam de uma maneira diferente, quem sabe cantam de forma distinta, quem sabe adoram a Deus de um jeito que não é o costumeiro, quem sabe haja distinções na forma de entender o discipulado, quem sabe simplesmente digam: Não vou com a cara deles! Há sempre muitas justificativas para o ódio, mas para o amor e a verdade apenas uma. A arrogância,

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então, sufoca o amor de Deus nos corações desses cristãos, e eles passam a achar-se – somente eles – os corretos, os eleitos, os que são filhos de Deus. É claro, se eles são os que estão corretos, todo o “resto” não conta. O problema desse tipo de arrogância religiosa é que ela usa Deus para justificar os preconceitos, que são bem humanos. Ela é perigosa porque chega à violência: primeiro verbal, a qual não tarda muito a passar para a violência física. E Lutero pergunta ao nosso monge cheio de arrogância, que julgava as pessoas das comunidades por onde passava, se ele já havia abandonado a sua justiça e havia descansado na justiça de Deus, dada gratuitamente por meio de seu Filho Jesus Cristo. Pois o erro da arrogância apenas pode ser vencido quando se sabe que o estar livre dos pecados não significa não ser mais pecador. Significa apenas que, mesmo diante dos erros humanos que cometemos e que, aliás, cometeremos toda a nossa vida, através da ajuda de Deus não queremos mais cometê-los; queremos, portanto, melhorar todo o dia no auxílio do irmão, na partilha

dos dons, na vivência do evangelho, na solidariedade para com os doentes e na visita aos enfermos e no carinho aos enlutados. Mas essa graça recebida de forma gratuita, ou seja, ser perdoado e estar livre, não significa arrogância para julgar os outros. O que devemos fazer, isto sim, é tentar, com muita humildade, ajudar quem está em dificuldades, mas jamais julgar, afastar, ser violento, seja com palavras ou agressões. E Lutero lembra ao monge: quem não se sabe pecador pode perder Cristo, pois ele vive apenas entre os pecadores. Quem julga volta a estar preso ao pecado do qual pensa ter se libertado. Esqueceu que foi Cristo quem realizou essa obra. Com muita sensibilidade, Lutero chama a atenção de nosso monge in-

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DE OLHO NA EDUCAÇÃO

A renovação da utopia

Reprodução Novolhar

por Osvino Toillier

flado por seu ego e propõe uma oração simples e linda: “Tu, Senhor Jesus, és a minha justiça. Eu sou teu pecado. Tu tomaste para ti o que era meu e me deste de presente o que era teu. Tu tomaste para ti o que tu não eras e me presenteaste o que eu não era”. Quem se sabe pecador não será arrogante. Pelo contrário, saberá acolher os irmãos e as irmãs que estão em dificuldades, pois também foi acolhido por Jesus Cristo. A comunidade cristã é formada por muitos pecadores. Ser luterano é saber-se, pois, livre do pecado, mas mesmo assim ainda pecador. Humildade é terreno fértil onde a graça abunda e o amor cresce. N LEANDRO HOFSTAETTER é teólogo e doutor em Filosofia em Joinville (SC)

O ritual repete-se há séculos: o início das aulas tem poder e magia. Iniciaram as aulas, e a escola recuperou a plenitude de sua vida: crianças e jovens enchem de vida todos os ambientes, devolvendo-lhe sentido e significado. Durante as férias, o ambiente escolar é um território abandonado, sem a alegria dos habitantes faceiros, as crianças e os jovens, vivendo suas inocentes utopias, sem se preocupar com os desafios do futuro e compromissos da vida – tão a gosto dos adultos –, já que a alegria de viver é o que ocupa integralmente mentes e corações. Fico me perguntando se a leveza e a alegria de viver não acabam sufocadas pelas inquietações que se apossaram da instituição educacional por conta das cobranças que lhe são feitas e das cargas impostas por conta de resultados em avaliações externas e rankings educacionais. Não há a pretensão de querer afastar compromisso com saber nem com avaliação seja de que natureza for, mas me inquieta a neurose por conta de preparar alunos para o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), suprema avaliação que decide se a escola é boa ou não. Percebo professores aterrorizados por conta da publicação do resultado da avaliação, porque expõe a instituição à consagração ou à execração pública. Já não se vai com os pequenos para o pátio, para a atividade lúdica, porque é preciso passar conteúdo e ter matéria no caderno. É isso que os pais cobram. Será mesmo assim? Não estaremos condicionando todo o projeto pedagógico ao ENEM em vez de exercer a prerrogativa da Lei de Diretrizes e Bases, que dá ampla liberdade à escola para conceber o projeto pedagógico de acordo com sua cultura e as premissas construídas coletivamente, a fim de formar seres humanos livres para pensar, formular utopias, sem atrelamento ideológico e ser felizes? Se é verdade que, em vez de respostas certas, deveríamos preocupar-nos em preparar os alunos para formular perguntas inteligentes, então talvez fosse prudente ficarmos na frequência das interrogações. Assim sendo, não estaríamos empobrecendo a educação ao nos limitar a preparar os alunos apenas para determinado exame – a exemplo do antigo vestibular –, quando devería­ mos tentar ajudar a descobrir “a beleza adormecida em cada ser humano e abrir as humanidades fundamentais dos sonhos”, na insuperável formulação de Rubem Alves? Fica a reflexão para este N início de ano letivo. OSVINO TOILLIER é professor, escritor e mestrando em Educação em Porto Alegre (RS) NOVOLHAR.COM.BR –> Abr/Jun 2015

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REFLEXÃO

Encontrar forças nas dificuldades TUDO POSSO NAQUELE QUE ME FORTALECE. FILIPENSES 4.13 (Lema do mês de maio)

por Eli Elisia Deifeld

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que tira a tua alegria de viver? Teu sono? Deixa-te angustiado? Com certeza, as respostas são muitas. Mas provavelmente as dificuldades encontradas na vida estariam entre elas. Sim, como seres humanos, não estamos inumes às intempéries da vida. Onde encontrar forças quando há discórdia na família, familiares doentes, quando estamos doentes, quando perdemos entes queridos, quando nos encontramos em dificuldades financeiras? Onde encontrar forças para continuar lutando diante das injustiças, do preconceito, do egoísmo? O apóstolo Paulo dá-nos uma direção quando, em Filipenses 4.13, afirma: “Tudo posso naquele que me fortalece”. Paulo estava preso quando escreveu essas palavras. O apóstolo havia recebido notícias de que havia sérias dificuldades entre os cristãos de Filipos e estava muito preocupado com as falsas doutrinas que alguns estavam ensinando por lá. Ao mesmo tempo, ele havia recebido ajuda dos cristãos de Filipos e escreve a carta não somente para tratar dos sérios problemas da igreja como também

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para agradecer aos filipenses por tudo o que tinham feito em seu favor. A carta mostra o grande amor que Paulo tinha pelos filipenses e fala da confiança, alegria, união e firmeza que devem ser marcas dos seguidores de Jesus Cristo. Paulo passou por inúmeras dificuldades, mas, mesmo assim, encontrou forças para continuar lutando e testemunhando Jesus Cristo. Diante do testemunho do apóstolo, percebemos que ele encontrou forças para as dificuldades no apoio da comunidade e na força de vida que Deus nos dá. A comunidade de Filipos enviou auxílio ao apóstolo Paulo, e ele se sente profundamente grato por isso. Também nós podemos experimentar isso em nossas comunidades. A comunidade de fé é lugar de apoio, de partilha, de dividir as cargas; é lugar onde podemos ouvir a dor de outras pessoas, onde também ouvidos atentos nos escutam e nos animam, de oração. Onde encontramos pessoas que nos carregam em nossa fragilidade, onde podemos oferecer o nosso ombro para alguém que derrama suas lágrimas. Onde podemos dividir nossas alegrias e alegrar-nos com os

outros. A força que Cristo nos dá tem rosto, mãos, pernas e braços na comunidade de fé. Precisamos ser realistas. A exemplo da comunidade de Filipos, nossas comunidades também têm discórdias, desentendimentos, interesses pes­ soais, murmurações e dificuldades de cunhos diversos. No entanto, elas não podem abafar a voz da comunhão verdadeira, do amor, da alegria e do espírito de solidariedade que nelas existem. Elas não podem abafar a força que Cristo nos dá por meio da comunidade de fé. Isso em pequenas e grandes comunidades e, de maneira muito especial, nos pequenos grupos de comunhão nelas existentes. Assim como encontramos forças na vivência da comunidade, assim Deus também nos dá força interior, que nos faz reerguer e refazer nossas vidas. Deus é o criador e mantenedor de todas as coisas. Nele podemos nos abrigar, descansar e renovar as forças.

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Divulgação Novolhar

O apóstolo Paulo passou por inúmeras privações e dificuldades, mas elas não o derrubaram, pois ele se sabia amparado por Jesus Cristo. Temos um Deus que é bem maior do que as nossas dificuldades.

Na comunhão com Deus encontramos discernimento. Há situações na vida que não podemos mudar, é necessário então aceitar e encontrar outro sentido para elas. Há, no entanto, situações que necessitam de mudanças. Em Cristo encontramos força, discernimento e sabedoria para trabalhar para que elas aconteçam. O apóstolo Paulo passou por inúmeras privações e dificuldades, mas elas não o derrubaram, pois ele se sabia amparado por Jesus Cristo. Temos um Deus que é bem maior do que as nossas dificuldades. Ele está olhando por nós e nos dará forças, sustentará e reerguerá. Finalizo com esta bela oração de Marion Heide-Münnich: “Deus misericordioso, aos fracos concedes vigor e coragem. Consolas os enlutados. Ouves os pedidos de todos os que, pelos desafios diários, sentem-se abatidos, que perderam o rumo da própria vida e correm o risco de entrar em desespero. Pedimos-te por nós todos para que, em nossa fraqueza, tua presença e graça nos enlacem”. N ELI ELISIA DEIFELD é teóloga e ministra da IECLB na Paróquia da Paz em Joinville (SC)

As salas do Centro de Retiros, junto com a capela da Casa Matriz, oferecem um espaço ideal para retiros, encontros e eventos. As instalações da hospedagem contam com quartos com banheiro, refeitório e local para estacionamento. Em meio a abundante natureza, o ambiente tranquilo e acolhedor favorece a reflexão, a integração e o lazer. Dispomos de serviço de hospedagem, individual ou em grupos, ideal para realização de retiros, eventos ou para aqueles que desejam apenas hospedar-se aqui. Av. Wilhelm Rotermund, 395 - Morro do Espelho - São Leopoldo Fone: (51) 3037-0037 | retiros@diaconisas.com.br | www.diaconisas.com.br NOVOLHAR.COM.BR –> Out/Dez 2014

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ESPIRITUALIDADE

Ontem e hoje: juntos para Emaús Naquele mesmo dia, dois dos seguidores de Jesus estavam indo para um povoado chamado Emaús, que fica a mais ou menos dez quilômetros de Jerusalém... LUCAS 24.13-35

por Carlos Mesters

E

xiste uma certa semelhança entre a situação dos dois discípulos e a situação de muitos de nós hoje. Essa semelhança é o ponto de partida para a descoberta da luz para a nossa caminhada. Os dois discípulos estão desanimados e desmotivados. Eles se afastam da comunidade: “Nós esperávamos que ele fosse o libertador, mas...”. Tinham esperança, mas perderam. Perderam também a fé nas pessoas. Já não conseguem crer no testemunho das mulheres dizendo que Jesus está vivo. Dizem que são “tolices” (Lucas 24.11). Eles deixam Jerusalém para trás, abandonam a comunidade. A cruz matou neles a esperança. Já não conseguem crer nem viver em comunidade: “Nós esperávamos, mas...” O que Jesus faz é aproximar-se. Anda até mais rápido para poder alcançá-los e caminhar com eles na direção de Emaús. Uma coisa que quase não se nota, porque está subentendida, é que Jesus anda com eles na direção errada. Vai com eles até Emaús, que é o caminho da divisão, da descrença e

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da desintegração da comunidade e da falta de fé nas pessoas. Vai com eles, sem criticar o caminho. Enquanto vai caminhando, vai escutando. Depois começa a perguntar: “Sobre o que vocês estão conversando?” Ele insiste e pergunta de novo. Corre até o risco de ser tachado de estrangeiro, que está por fora do que acontece no mundo: “Então você é o único estrangeiro que não sabe o que se passou entre nós esses dias?” (Lucas 24.18). Mas é graças à insistência de Jesus que os dois começam a falar e a conversar. Depois de ter escutado, Jesus começa a conversar. Ele não conta coisas novas, mas desperta a memória: “Como vocês demoram em acreditar nas coisas que os profetas falaram!” (Lucas 24.25). Jesus não dá uma aula sobre a Bíblia, mas busca na Bíblia frases e palavras que possam iluminar os fatos dolorosos da cruz. Ele não se apresenta como quem já sabe tudo e agora vai dar uma lição nos ignorantes, mas como um irmão que tenta refrescar a memória dos dois. Percorrendo a Bíblia, Jesus

lembra-lhes frases da Lei e frases de Moisés e assim situa os fatos dentro do contexto mais amplo do plano de Deus. Os fatos iluminam-se, e os dois discípulos descobrem que a cruz fazia parte da missão do messias. Foi uma longa conversa (conversa grande é conversão). Uma verdadeira conversão, tanto para os dois como para o próprio Jesus. Jesus teve que aprender dos dois, ouvir deles o problema. E os dois foram lembrando as escrituras, aprendendo um novo jeito de ler as escrituras. O coração foi ardendo. Criou-se um ambiente de amizade ao longo do caminho. Jesus fez-se aluno ou aprendiz dos dois. O anúncio da boa-nova não depende só daquele ou daquela que leva aos outros a boa-nova. É muito importante notar que a Bíblia sozinha não abriu os olhos dos dois. A abertura dos olhos depende de uma ação comunitária. No momento em que eles chegam a Emaús, Jesus faz de conta que quer ir adiante. A longa caminhada e a

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Reprodução Novolhar

“FIQUE COM A GENTE”: No final do dia, sem saber quem era, os discípulos convidam Jesus para permanecer com eles. A pintura, representando a cena do convite, é do pintor italiano Duccio di Buoninsegna (1255-1319)

conversa amiga fizeram com que os dois tomassem a iniciativa e tivessem um gesto de hospitalidade: “Fique com a gente. Já é tarde. Amanhã você continua sua viagem”. Convidado pelos dois, Jesus entra com eles, senta com eles à mesa, reza com eles e partilha o pão com eles. São gestos comunitários. É somente nesse

momento que seus olhos se abrem e descobrem que Jesus está com eles. A ação conjunta e o gesto comunitário abriram os olhos, porque antes houve a caminhada em conjunto e a quentura do coração. Naquela hora, de repente tudo mudou! Eram tristes e ficaram alegres. Tinham perdido a esperança

e ficaram animados. Estavam com medo e ficaram cheios de coragem. Haviam se separado da comunidade e estavam unidos de novo. Tinham perdido a fé em Deus e no testemunho das mulheres, e renasceu neles a convicção de fé de que Deus estava com eles. Pareciam mortos, cadáveres ambulantes, e estão vivos mais do que nunca. Ressuscitaram! Imediatamente levantaram e voltaram a Jerusalém para contar aos outros o que acontecera no caminho. Nossa vida precisa ressuscitar em nós enquanto estamos com Jesus na estrada de Emaús. O coração precisa arder primeiro para que os olhos possam reconhecer Jesus presente na situação escura que nos envolve e faz desanimar. Se ele não ressuscitar em nós, continuaremos em Emaús, frustrados. Temos que voltar a Jerusalém com os novos olhos que nos foram devolvidos pela experiência da ressurreição. Se acontecer a ressurreição em nós, o motor pega de novo, e então a gente não precisa mais ficar virando a chave nem pedir aos outros que empurrem nosso carro. N CARLOS MESTERS é frei carmelita, escritor e reside em Unaí (MG).

Revista

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penúltima palavra

Desafios da família por Adriana Strasburger Trierweiler

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Foto: tOrange.biz

A

tualmente, encontramos múltiplas configurações familiares. Passamos a ter casas em que convivem pais e padrastos com filhos e irmãos vindos de outros casamentos, tios ou avós exercendo papéis de pais, e assim por diante. A forma de distribuição do poder tornou-se mais igualitária entre homem e mulher, como também entre pais e filhos. Isso significa que pode haver muitas famílias estruturadas de formas diferentes. Significa que uma estrutura familiar diferente pode ser funcional e saudável... ou não. Famílias funcionais promovem mútua assistência, harmonia e afinidade entre seus membros. Todas as famílias apresentam problemas, mas as que funcionam bem são aquelas capazes de utilizar adequadamente seus recursos de comunicação (verbal e não verbal) e estimular a expressão do afeto (tanto amoroso como crítico) de forma a identificar, elaborar e dar resolução aos problemas, contando com a participação de seus membros. O importante é que em cada família não haja inversão de papéis entre seus integrantes. Adultos devem exercer os papéis que se espera que eles desempenhem. Aqueles que ocupam as funções de pai e mãe, indiferentemente do grau de parentesco que mantenham com as crianças ou adolescentes que lhes cabe educar, estão socialmente autorizados a mandar neles. Essa colocação justifica-se na percepção de que a estrutura da

família está passando por alterações, e a imposição de limites tem sido um dos grandes problemas enfrentados na criação e educação dos filhos. Em qualquer idade, a liberdade de escolha é importante para a tomada de decisões e o amadurecimento. No entanto, até a fase adulta, a criança e o adolescente precisam de orientação, pois muitas vezes ainda não têm condições de avaliar sozinhos o que é melhor ou pior para eles próprios. Em cada nova etapa do desenvolvimento dos filhos, há um novo desafio para a flexibilidade dos pais, pois deles são exigidas mudanças de padrões de conduta e novos modos de atender os filhos em suas novas necessidades. É preciso aprender a adaptar-se a cada faixa etária pela qual eles transitam ao longo de seu crescimento. Quando pequenos, precisam do olhar e da presença física dos adultos muito próximos a eles; já na adolescência, precisam mais do olhar do que da presença física.

Os pais devem importar-se em saber com quem seus filhos se relacionam, como ocupam seu tempo, sobre seus desejos e suas dificuldades. Assumir a responsabilidade de cuidar e educar correndo riscos de errar, mas jamais abandonar o olhar sobre eles. Quando se assume o compromisso de educar, diz-se sim à paternidade e à maternidade, querendo assumir esse lugar com seu ônus e bônus. Não existem famílias perfeitas nem pais perfeitos, tampouco filhos perfeitos. Educando, convive-se com muitos erros e muitos acertos. O importante é dar exemplos certos, o que só se consegue educando com responsabilidade e amor. Eis o que é necessário para que a família contemporânea possa transmitir parâmetros N éticos às novas gerações. ADRIANA STRASBURGER TRIERWEILER é psicopedagoga clínica e institucional e secretária municipal de Educação, Cultura e Desporto em Dois Irmãos (RS)

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REVISTA

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