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Venha passar dias agradáveis em nossas dependências num clima acolhedor e hospitaleiro
CONTATO PARA RESERVA e-mail: larbelem@luteranos.com.br Site: www.luteranos.com.br/larbelem Campinas-SP Tel: (19) 3252 5458 Novolhar_64_OutDez_2016.indd 2
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O REINO DE DEUS 8 a 23
FUTURO PRESENTE E PRESENTE FUTURO A VERDADE COMO ARMA MAIS PODEROSA ACOLHIMENTO REVELA O CORAÇÃO DE CRISTO DOIS REINOS? DOUTRINA? O FUTURO ILUMINA O PRESENTE PARÁBOLAS CONVIDAM PARA A AÇÃO
ÍNDICE
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TURISMO Estive no sal
Ano 14 –> Número 64 –> OUTUBRO A DEZEMBRO DE 2016
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JUVENTUDE EVANGÉLICA O grito dos jovens
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MÚSICA
O som dos metais da Obra Acordai
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EDUCAÇÃO Por mais justiça e ética
SEÇÕES PALAVRAS CRUZADAS > 6 MOSAICO BÍBLICO > 6 NOTAS ECUMÊNICAS > 7 CONSULTÓRIO DA FÉ > 35
34
36
REFORMA 500 ANOS > 36
A vida da comunidade na ponta dos dedos
Por novas formas de celebração
ESPIRITUALIDADE > 40
ERA DIGITAL
REFORMA 500
DE OLHO NA CIDADANIA > 37 PENÚLTIMA PALAVRA > 42 NOVOLHAR.COM.BR –> Out/Dez 2016
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AO LEITOR Revista trimestral da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil-IECLB, editada e distribuída pela Editora Sinodal CNPJ 09278990/0002-80 ISSN 1679-9052
Diretor Nestor Paulo Friedrich Coordenador Eloy Teckemeier Redator João Artur Müller da Silva Editor Clovis Horst Lindner Jornalista responsável Eloy Teckemeier (Reg. Prof. 11.408) Conselho editorial Clovis Horst Lindner, Denize Inez Volkart Pinto, Eloy Teckemeier, Jaime Jung, João Artur Müller da Silva, Marli Lutz, Robson Luis Neu e Werner Kiefer. Arte e diagramação Clovis Horst Lindner Criação e tratamento de imagens Mythos Comunicação - Blumenau/SC Capa Arte: Cristiano Zambiasi Jr. Impressão Gráfica e Editora Pallotti Colaboradores desta edição Ari Käfer, Carlos Romeu Dege, Cibele Kuss, Claudete Beise Ulrich, Elaine Beatriz Fuchs, Emilio Voigt, Erní Walter Seibert, Guilherme Lieven, Irineu Valmor Wolf, Leandro Hofstaetter, Lothar Carlos Hoch, Marina Wrasse Scherer, Ricardo Gondim, Roberto E. Zwetsch, Robson Luís Neu, Rosângela Markmann Messa, Rui Bender, Silvana Isabel Francisco, Simone Engel Voigt, Uwe Wegner, Valmi Ione Becker e Verner Hoefelmann.
Publicidade Editora Sinodal Fone/Fax: (51) 3037.2366 E-mail: editora@editorasinodal.com.br Assinaturas Editora Sinodal Fone/Fax: (51) 3037.2366 E-mail: novolhar@editorasinodal.com.br www.novolhar.com.br Assinatura anual: R$ 36,00 Correspondência E-mail: novolhar@editorasinodal.com.br Rua Amadeo Rossi, 467 93030-220 São Leopoldo/RS
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Despedida
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á exatamente 13 anos, surgi pela primeira vez para o público da IECLB. Passei por comunidades eclesiásticas, escolas, universidades, hospitais, consultórios e até bancas de revistas cheguei a frequentar. Inicialmente bastante tímida, mas, no decorrer de meu crescimento, as pessoas me alimentavam com palavras expressas nos artigos, entrevistas e reportagens. As pessoas foram aprendendo e crescendo junto comigo. Sei que fui gestada e cuidada desde meu nascimento por muitas pessoas. Por isso agradeço a elas que assessoraram meu Conselho Editorial e tornaram possível que eu tivesse sempre uma dieta de palavras muito bem balanceada. Agradeço às pessoas que, ao longo desses 13 anos, passaram pelo Conselho Editorial. Devo muito do meu desenvolvimento a jornalistas, pastores, pastoras e outros profissionais identificados comigo. A esses e essas também externo minha profunda gratidão. Não posso deixar de agradecer à equipe da Mythos Comunicação, que sempre me deixou muito elegante e bonita, sendo também muito elogiada por isso. Enfim, quero que todas as pessoas que estiveram comigo nesses 13 anos e nas 64 edições e me acompanharam tanto na minha produção bem como se alimentando de meu conteúdo, as palavras, se sintam agraciadas com meu agradecimento. Sempre tentei ser imparcial nos temas por mim abordados. Nunca quis ser pretensiosa e ter a última palavra, mas sim ser instigante, levar minhas palavras à reflexão para que cada um e cada uma pudesse formar sua opinião. Sempre me deixei inspirar pela canção em cujo estribilho cantamos “palavra não foi feita para dividir ninguém, palavra é uma ponte onde o amor vai e vem”. Continuando na inspiração da canção, nunca quis usar a palavra para dominar, mas para o diálogo e para a união. Saio de cena com novos temas, mas saio muito alegre, pois sei que serei lembrada ainda por muito tempo e que permaneço na minha adolescência na certeza do dever e objetivo cumpridos. Nesta última edição, na minha curta mas muito rica passagem, quero levar você à reflexão sobre um tema que é o cerne de nossa existência como igreja: o reino de Deus. Vamos refletir e pensar juntos o que é o reino de Deus. Qual o conceito do reino de Deus na Bíblia. O conceito de Lutero sobre os Dois Reinos. O meu Conselho Editorial não poderia propor um tema mais interessante do que esse para a minha última aparição. Por fim, desejo a vocês um abençoado Natal e um ano de 2017 com muita paz e esperança em Cristo Jesus. Revista Novolhar
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IN MEMORIAM
Igreja e Meio Ambiente
Divulgação
Jörg Zink morre aos 93 anos
Jörg Zink está entre os grandes escritores do século 20. Suas obras espalharam-se por todo o mundo em dezenas de traduções. Destaque foi a sua tradução particular do Novo Testamento e de seleções do Antigo Testamento, que levou o texto bíblico de forma nova e pessoal a milhões de pessoas. Sua extensa obra literária reúne mais de 200 livros, com uma tiragem total de 20 milhões de exemplares. Filósofo, teólogo, pastor e relações públicas, Zink foi jornalista, escritor, produtor e apresentador de TV e formador de opinião sobre temas atuais. Ele nasceu na Alemanha em 1922 e foi um dos principais articuladores da paz mundial e pioneiro do debate ecológico. Seu nome está inscrito entre os fundadores do Partido Verde da Alemanha (Die Grünen), ajudando a transformá-lo de um grupo de protestos em opção política de peso. Durante duas décadas, ele foi um apreciado apresentador de televisão, com programas como Wort zum Sonntag (Palavra para o Domingo), no canal ARD e outros. Também foi frequente palestrante nos Dias da Igreja na Alemanha. Sua última participação foi em 2011 numa tela gigante, pois estava impedido de comparecer pessoalmente por conta de uma cirurgia. Também foi produtor de 40 filmes sobre os países do Oriente Médio, falando de história da religião e de sua cultura. Além de autor de letras de muitos hinos, ele também era engajado socialmente em diversas frentes, entre outros pela inclusão. Recebeu o prêmio Protetor Nacional da Natureza, o prêmio de pregador pelo conjunto de sua obra e muitos outros. Para a Igreja Evangélica de Württemberg, onde ele atuou, Zink foi um dos grandes comunicadores do evangelho. Sua obra contribuiu decisivamente para o fim da era das grandes guerras, da injustiça social, da exploração da natureza e dos conflitos religiosos. Fez tudo isso com mensagens diretas, simples, compreensíveis e que também chegavam bem a pessoas sem formação teológica. De sua extensa biografia consta também a direção de um instituto de formação para jovens, cultura e serviço social na Casa Burg hardt em Gelnhausen (1957-1961), duas décadas como responsável pela comunicação e atividades televisivas de sua igreja territorial e, desde 1983, como relações públicas independente. Jörg Zink faleceu no dia 9 de setembro em sua casa em Stuttgart, aos 93 anos, deixando a esposa Heidi e quatro filhos com suas famílias.
O SÍNODO ESPÍRITO SANTO A BELÉM, com sede em Vitória/ES, decidiu combater a crise hídrica capixaba com ações concretas. Duas árvores plantadas por cada membro batizado, num total de 120 mil mudas, é uma dessas medidas. Além do plantio das árvores, o Sínodo planeja criar um comitê permanente de acompanhamento da crise hídrica capixaba, ampliar o movimento Casa Comum em suas comunidades e envolver a juventude do sínodo em estudos e práticas ambientais. A decisão foi tomada pelos delegados da X Assembleia Sinodal, realizada em 3 de setembro em Santa Teresa/ES, marcada pelo tema “Casa Comum: Nossa Responsabilidade”. Inspirados no tema da Campanha da Fraternidade 2016, os delegados decidiram agir. “A seca no Espírito Santo nunca foi tão intensa e tão longa antes. Diversas localidades estão em processo de desertificação”, assinala a mensagem da Assembleia. “É necessário mudar a forma com que lidamos com a natureza”, e “o papel das igrejas é fundamental nessa mudança”. A ambiciosa proposta sinodal prevê “reflorestar nascentes, recuperar áreas de recarga, reflorestar beiras de rios e córregos, retirar eucaliptos definitivamente das áreas que devem ser preservadas, desenvenenar as terras e as águas, recuperar autonomia das sementes da tradição, construir viveiros comunitários, fazer encontros de formação nas comunidades, usar racionalmente a água e utilizar estratégias de armazenamento de água”. A assembleia conclama as comunidades para juntos assumirmos esses compromissos como corresponsáveis pela criação de Deus, e tal atitude deve ser entendida como testemunho de fé. Nesse mesmo testemunho, mostrou-se sensibilidade com a realidade sobre a qual todo o estado do Espírito Santo enfrenta com relação à seca, em especial as regiões norte e noroeste, na qual se solicitam a devolução da contribuição sinodal e o dízimo sobre as contribuições regulares que retornam da IECLB para essas respectivas paróquias situadas nessas regiões críticas e que estes recursos sejam utilizados a partir do fundo de reserva sinodal. A assembleia agradece de forma especial ao pastor Lourival Ernesto Felhberg pela dedicação à Igreja e também pelo cargo de Vice-Sinodal, pois a partir de agora passa a ser emérito. Para assumir o cargo no mandato restante de vice Pastora Sinodal – até 2018 – foi eleita a pastora Rosane Pletsch, que foi instalada no culto de encerramento da assembleia pelo pastor 2º vice-presidente da IECLB, Inácio Lemke. Na caminhada dos 500 anos da Reforma Luterana, reafirmamos nosso compromisso de ser uma Igreja viva, protestante, atuante com envolvimento socioambiental, e que a salvação, as pessoas e a natureza não estão à venda. Santa Teresa, 03 de setembro de 2016 NOVOLHAR.COM.BR –> Out/Dez 2016
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PALAVRAS CRUZADAS
MOSAICO BÍBLICO
Frases de Lutero 2 FRASES DE MARTIM LUTERO 2 Ave de Epístola Rapina do Ap. Cidade Paulo Paulista
«A fé recebe, o amor dá de si; a fé leva as pessoas a Deus, o amor leva Deus às pessoas.» Abertura que dá acesso Morte
Metro (sigla)
Convicção Pronome Pessoal
Extrema afeição; Paixão
Dei risada
Símbolo da aliança sagrada Assoc. de Ser criado Mútuo Apoio Devassas Progenitoras
Dentro (inglês) Frutos da tamareira
Mister (abrev.)
Botar fé
Carrega; Conduz
Resfria
Reino de Deus por Emilio Voigt
Estudo do divino Tempo sem fim Ganha Mato Grosso (sigla)
Mar (Ing.) Chá (Ing.)
Depressões De + A
Colocar data 3ª e 5ª vogais
Súdito; tributário Pedido de silêncio
Baixa; deposita Grande barco
Aparelho Televisão para monitorar Atua no velocidade teatro
À beira-mar Designa a origem Cia. de análise de mercado
Sétima nota musical ... Gerhardt (compositor)
Artigo definido (masc. pl.)
Flecha
Indivíduos Pena Perito; exímio Ensino Aberto (sig.)
Filha de Salafaad (Nm 27.1) 7ª nota mus.
Todopoderoso O que se tornou real
Última letra do Alfabeto
Litro (sigla)
BANCO: 2. IN; 3. SEA, TEA, ITU, TNS; 4. PAUL; 5. TERSA.
Elaborado pelo pastor Irineu Valmor Wolf, que reside em Indaial (SC)
A EXPRESSÃO “REINO DE DEUS” aparece mais de cem vezes nos evangelhos. Ainda que muitas ocorrências sejam repetições de um mesmo dito (textos paralelos), o tema era recorrente e constituía elemento central na pregação de Jesus. Não é exagero dizer que tudo o que Jesus fez estava relacionado com o anúncio e a vivência do reino de Deus. Fora dos evangelhos sinóticos, o termo “reino de Deus” é menos utilizado e parece ter sido substituído pela expressão “vida eterna” (Jo 3.15; 4.14; 6.40; Rm 2.7; 5.21; Gl 6.8; 1Tm 1.16; Tt 1.2; 1Jo 2.25). Na Bíblia Hebraica, que chamamos de Antigo Testamento, a expressão “reino de Deus” não aparece. A temática, entretanto, já estava presente especialmente nas referências a Deus como “rei” (Sl 96.10; 99.4; Is 33.22). Reino de Deus é a tradução mais comum para o termo grego basileia to Theou, mas também se pode traduzir por “soberania de Deus” ou “domínio de Deus”. No Novo Testamento, a expectativa da concretização do reino de Deus é associada com a ação de um messias. Em hebraico, a palavra messias significa “ungido”. Na língua grega, o termo correspondente é “Cristo” (João 1.41). Inicialmente, a unção fazia parte do cerimonial de entronização de reis (1Sm 10.1; 2Sm 5.3). Mais tarde, o termo passou a ser vinculado a um personagem que tem a incumbência de instituir o tempo da salvação. Com a vinda do Messias (ungido), Deus estabelecerá seu reinado de paz e justiça sobre todos os povos e toda a criação. Quando Pedro declara que Jesus é o Cristo, está dizendo que Jesus é o Messias, ou seja, aquele que está iniciando o tempo da N salvação, o reino de Deus. EMILIO VOIGT é teólogo, doutor em Teologia e coordenador da elaboração de materiais da IECLB em Porto Alegre (RS)
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Notas ecumênicas
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Mulher na sociedade
ROMI MÁRCIA BENCKE é secretária-geral do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs-CONIC
Bíblia armênia A BÍBLIA SAGRADA ARMÊNIA agora tem uma edição em português. Editada pela Sociedade Bíblica do Brasil (SBB), dentro do projeto Bíblia de Afinidades, a publicação passou a ser utilizada oficialmente pela Diocese da Igreja Apostólica Armênia do Brasil em suas leituras diárias. A cerimônia de lançamento da Bíblia Sagrada Armênia aconteceu em agosto na Diocese da Igreja Apostólica Armênia do Brasil em São Paulo. O lançamento coincidiu com o 350º aniversário da primeira edição impressa da Bíblia Sagrada para o idioma armênio em 1666. A Bíblia Sagrada Armênia inclui os cinco Livros que a Igreja Armênia aceita como partes canônicas da Bíblia. Outro diferencial é a introdução de autoria do bispo Nareg Berberian, primaz da Diocese da Igreja Apostólica Armênia do Brasil, sobre a origem, história e uso da Bíblia Sagrada na Igreja Armênia.
PARA TRANSFORMAR A SITUAÇÃO EM QUE VIVEM AS MULHERES, EM ESPECIAL AS MULHERES POBRES, É NECESSÁRIO FALAR ABERTAMENTE SOBRE A PERGUNTA “ATÉ ONDE ESTAMOS DISPOSTOS E DISPOSTAS A IR” PARA QUE AS MULHERES SEJAM REALMENTE SUJEITAS DE SUA PRÓPRIA HISTÓRIA? TEMOS DISPOSIÇÃO PARA ABRIR MÃO DOS NOSSOS MICROPODERES? SEM A SUPERAÇÃO DOS TABUS CRIADOS EM TORNO DOS DIREITOS HUMANOS PARA MULHERES, O RECONHECIMENTO DE NOSSA PARTICIPAÇÃO NA SOCIEDADE E NA POLÍTICA SERÁ SEMPRE UM RECONHECIMENTO PARCIAL, NUNCA PLENO.
#ForaMudançasClimáticas mento. Sua proposta é reduzir as emissões de gases de efeito estufa, a fim de tornar-se uma Diocese de Baixo Carbono. Além da Diocese de Umuarama, as outras seis instituições que se comprometeram com o desinvestimento são: os Padres Jesuítas do Alto Canadá; a Federação das Organizações Cristãs para o Serviço Voluntário Internacional (FOCSIV), na Itália; a Congregação das Irmãs de Apresentação de Maria da Austrália e Papua Nova Guiné; SSM Saúde, nos Estados Unidos; a Sociedade Missionária de São Columbano, baseada em Hong Kong e com presença em 14 países; e o Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora, em Milão e Nápoles, na Itália. Em tempo: O BNDES decidiu que não haverá mais verba para usinas movidas a combustíveis fósseis.
Bíblia
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A Igreja Católica deu um grande passo na luta contra as mudanças climáticas. Nada menos do que sete instituições católicas de peso ao redor do mundo anunciaram globalmente sua adesão à campanha de desinvestimento no setor de combustíveis fósseis. Trata-se do maior anúncio conjunto feito pelo segmento religioso até o momento. Também a Igreja Evangélica Luterana da América (ELCA) decidiu em seu recente concílio não aplicar mais seus recursos em empresas que lidam com combustíveis fósseis. Seus recursos serão redirecionados para as energias renováveis. Com a decisão dos luteranos americanos, U$ 7,5 bilhões saem do petróleo para outras energias. A Diocese Divino Espírito Santo de Umuarama (PR) é a primeira instituição da América Latina a aderir ao desinvesti-
As Escrituras Sagradas estão disponíveis em 2.935 idiomas falados por mais de 6 bilhões de pessoas. Somente em 2015 foram feitas traduções para 50 idiomas, falados por quase 160 milhões de pessoas, com auxílio das Sociedades Bíblicas Unidas (SBU). Graças aos esforços dessa aliança global, presente em mais de 200 países e territórios, a Bíblia está disponível na íntegra em 563 idiomas, falados por cerca de 5,1 bilhões de pessoas, e o Novo Testamento em 1.334 idiomas. NOVOLHAR.COM.BR –> Out/Dez 2016
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“Parábola do Semeador”, Vincent van Gogh (1853-1890)
CAPA
Parábolas, como a do semeador, eram usadas por Jesus para tornar plástica a imagem do reino de Deus.
O REINO DE DEUS
Futuro presente e presente futuro
por Rui Bender colaboração Verner Hoefelmann
JESUS CRISTO É “O PROCLAMADOR DO REINO DE DEUS”. A EXPRESSÃO APARECE UMA CENTENA DE VEZES NO NOVO TESTAMENTO, E JESUS TRANSFORMA A TEMÁTICA NO CENTRO DE SUA PREGAÇÃO. QUAL O SIGNIFICADO DO REINO DE DEUS HOJE? QUE DESAFIOS RESULTAM DESSA PROCLAMAÇÃO? 8
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m números absolutos, o conceito reino de Deus aparece mais de cem vezes no Novo Testamento. Isso significa que ele está presente no judaísmo do tempo de Jesus. “Mas é Jesus, sem dúvida, que lhe dá posição de destaque e o transforma em centro de sua pregação e atividade”, acentua o teólogo Verner Hoefelmann, mestre na área de Novo Testamento na Faculdades EST em São Leopoldo/RS. “Tudo o que Jesus diz ou faz tem relação direta ou indireta com a temática do reino de Deus. É como um eixo em torno do qual tudo gravita”, descreve o professor. Ele lembra que as parábolas, por exemplo, são ensinamentos de Jesus sobre o reino de Deus.
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Também suas curas, seus milagres e exorcismos expressam concretamente “novas realidades que surgem quando Deus passa a exercer seu reinado sobre pessoas e estruturas desumanas”. Deus almeja a salvação de todos e não se conforma em perder alguém. “Conforme Jesus, todas as pessoas estão em dívida com Deus e necessitam seu perdão para recomeçar suas vidas a partir de uma nova base. Esse também é um aspecto essencial do reino de Deus”, acrescenta Hoefelmann. Por sua vez, no Antigo Testamento, a expressão reino de Deus não aparece assim como no Novo Testamento. “O que aparece muito cedo, antes mesmo do período da monarquia, é a utilização do título de ‘rei’ como metáfora para Deus”, comenta o professor da EST.
Portanto se usa uma imagem extraída do âmbito humano para falar de uma realidade divina. “Quando Israel aplica a figura do rei a Deus, ele quer dizer que Deus possui autoridade e poder, pode oferecer proteção e exigir submissão e obediência”, afirma Hoefelmann. MODELOS HISTÓRICOS – Quando a monarquia se impôs em Israel, a visão dominante sobre o reinado de Deus mudou: afirmava-se que Deus exercia seu governo através do rei, que era visto como seu filho adotivo (Salmo 2.7; 45; 72; 110). Hoefelmann observa que, no período babilônico, os sacerdotes ocuparam a vaga deixada pelos reis. Prevalecia então “a compreensão de que Deus exerce seu governo através dos
sacerdotes”. Israel passou a obedecer aos chefes religiosos como se esses fossem mediadores do próprio Deus. Ao lado desses modelos históricos, os profetas inauguraram um novo modelo, que pode ser chamado de escatológico: o reinado de Deus passou a ser objeto de esperança, seja de uma esperança aguardada ainda para este mundo (caso do profetismo) ou de uma esperança que pressupõe um colapso total deste mundo (caso do pensamento apocalíptico). “Aqui se insere a esperança por um messias, que é muito importante para compreender o Novo Testamento”, avalia o professor. Hoefelmann observa que “os três primeiros evangelhos (Mateus, Marcos e Lucas) mostram uma preocupação maior
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Em imagens, comparações e histórias pedagógicas à beira do Lago de Genesaré, Jesus centrou sua pregação no anúncio do reino de Deus.
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com a mensagem do Jesus histórico”. Por isso aproximadamente 80% das ocorrências do conceito reino de Deus ou similares são verificadas nos evangelhos sinóticos (os três primeiros evangelhos). Ali Jesus é apresentado como “o proclamador do reino de Deus”. A baixa ocorrência do tema fora dos sinóticos mostra – segundo o teólogo – que “a comunidade vinculou o reino de Deus cada vez mais com a própria pessoa de Jesus. O proclamador do reino tornou-se, ele mesmo, o proclamado”. REINO DOS CÉUS – O Evangelho de Mateus é o único evangelho que usa reino dos céus, evitando reino de Deus. Por quê? Hoefelmann explica que Mateus utiliza a forma reino de Deus apenas quatro vezes. Trinta e duas vezes ele utiliza
a expressão reino dos céus. Isso mostra o pano de fundo judaico-cristão desse evangelho. Para não correr o risco de usar o nome de Deus em vão, os judeus evitavam pronunciar o nome de Deus, usando novas expressões – aqui no caso “dos céus”. Mas o sentido permanece o mesmo, garante o teólogo. No Novo Testamento, também aparece o conceito reinado de Deus. Qual é a diferença entre os dois termos? Hoefelmann explica: “Jesus, que falava aramaico, deve ter utilizado a expressão malkuth Yahweh para proclamar sua mensagem. Mas ela foi preservada na tradição cristã através da tradução grega basileia tou Theou. Na palavra basileia (reino) predomina a ideia de um espaço onde a ação de Deus acontece. Já na palavra aramaica malkuth não predomina a noção
ONDE SE FALA DO TEMA NA BÍBLIA O conceito reino de Deus não aparece no Antigo Testamento. No Novo Testamento, por sua vez, aparece mais de cem vezes. Nos evangelhos, o tema aparece em 55 textos diferentes: Mateus 27 vezes Marcos: 14 vezes Lucas: 12 vezes João: 2 vezes. Em números absolutos, o termo aparece mais de cem vezes no Novo Testamento, porém em várias formas: Reino de Deus: 50 vezes Reino dos céus: 32 vezes Reino (de Deus): 7 vezes Reino do meu pai: 5 vezes Reino (de Jesus): 6 vezes Evangelho do reino: 4 vezes Palavra do reino: 1 vez. Mateus é o único evangelho que utiliza a forma reino dos céus (32 vezes), evitando a forma reino de Deus (apenas 4 vezes). O tema do reino de Deus é escasso fora dos evangelhos: Atos dos Apóstolos: 6 vezes Cartas de Paulo: 6 vezes Cartas deuteropaulinas: 3 vezes.
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de espaço, mas o próprio ato de Deus reinar. Por isso traduções e obras mais recentes do Novo Testamento preferem utilizar a expressão reinado de Deus para corresponder ao teor original da pregação de Jesus”. Enfim, havia um anseio do povo por um governo de Deus, um reinado de Deus. Seria uma crítica ao modelo de governo em Israel? “No judaísmo contemporâneo de Jesus, era muito forte a expectativa por uma instauração do reinado de Deus através de um messias”, lembra o teólogo. Quando então Jesus anunciou o surgimento de um novo tempo, certamente ele encontrou ouvidos atentos, que nutriam um grande anseio por um domínio de Deus que não fosse igual aos reis terrenos, que não se corrompesse política e culturalmente. “Embora a mensagem de Jesus não tivesse pretensões políticas de conquista de poder, ela não podia ficar sem consequências na esfera política”, avalia o professor. Prova disso são a crucificação de Jesus pelo poder romano com a colaboração de autoridades judaicas e sua crítica ao exercício do poder (Marcos 10.42). ACLAMAÇÃO MESSIÂNICA – Por sua vez, os discípulos tinham uma expectativa de que um descendente de Davi expulsaria os dominadores estrangeiros do país e reconduziria Israel aos tempos gloriosos de Davi. Eles projetaram essa expectativa sobre Jesus. Alguns textos dão a entender isso. Quando Jesus entrou na cidade de Jerusalém para participar da festa da Páscoa, eles prepararam uma aclamação messiânica e saudaram a chegada “do reino de nosso pai Davi” (Marcos 11.10). Isso talvez explique por que os discípulos o abandonaram quando ele foi preso e entregue aos representantes do poder dominante. A frustração está estampada nos discípulos de Emaús, que retornaram para casa depois da crucificação: “Nós esperávamos que ele haveria de redimir a Israel” (Lucas 24.21).
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“Parábola das Bodas”, Rembrandt Harmensz. van Rijn
O reino de Deus como tema central da pregação de Jesus e todos os ensinamentos em seu ministério estão contemplados em suas parábolas
Na oração do Pai-nosso, Jesus orou: “Venha o teu Reino”. Se ele ensinou a pedir no Pai-nosso pela vinda do reino, é porque esse ainda não chegara. Portanto era objeto de esperança. “Vemos esse aspecto também na última ceia de Jesus com os discípulos, quando ele lhes assegura que a comunhão de mesa tal como agora acontece será realizada outra vez apenas quando o reino de Deus vier (Marcos 14.25)”, lembra o teólogo. Mas, para Jesus, esse futuro é tão iminente, que já agora se manifesta: nas curas, nos exorcismos, na defesa da vida, na oferta do evangelho aos pobres, no perdão dos pecados. “Existe uma relação dialética entre futuridade e presença do reino: ele tem um já agora e um ainda não”, frisa Hoefelmann. O teólogo alemão Udo Schnelle diz que “o reino de Deus tem um
tempo verbal próprio: o futuro presente”. Isso porque “o futuro se projeta no presente, transformando-o e dando-lhe nova qualidade”. Mas também se poderia falar de um presente futuro: “porque os sinais presentes do reinado de Deus serão experimentados de forma plena apenas no futuro”, acrescenta Hoefelmann. GRAÇA LIBERTADORA – E como se concretiza o reino de Deus? Hoefelmann entende que “o reino de Deus se caracteriza, fundamentalmente, como graça libertadora”. Na sua opinião, Jesus sabe que há aqueles que mais necessitam dela. “Por isso ele se dedica em especial aos desprezados que vivem à margem”, emenda o teólogo. Enfim, tudo aquilo que Jesus exterioriza em seu ministério está
contemplado em suas parábolas. Essas contêm ensinamentos sobre o reino de Deus. “Nelas Jesus parte de algo conhecido para explicar o desconhecido”, defende o teólogo. Material das parábolas são as situações do cotidiano: a mulher que coloca fermento na massa, o agricultor que sai a semear, o pastor que perde uma ovelha, o pescador que separa peixes bons e ruins para consumo. Hoefelmann arremata: “Jesus utiliza essas situações conhecidas do cotidiano para desafiar seus ouvintes a refletir sobre o reino N de Deus”. RUI BENDER é jornalista em São Leopoldo (RS) VERNER HOEFELMANN é teólogo, mestre em Teologia e professor na Faculdades EST em São Leopoldo (RS) NOVOLHAR.COM.BR –> Out/Dez 2016
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CAPA
A verdade como arma mais poderosa ENQUANTO OS REINOS DESTE MUNDO GOVERNAM PELO PODER E PELA TIRANIA, EM JESUS SÃO DESTACADOS A HUMILDADE, O BEM COMUM, O BENEFÍCIO DE TODOS E A VERDADE. por Uwe Wegner
J
esus compara a forma de governo entre nós com o governo no reino de Deus. No mundo, os governos são assim: “Sabeis que os que são considerados governadores dos povos os oprimem e os seus maiorais os tiranizam” (Marcos 10.42). Opressão e tirania caracterizam os governos. Por quê? Porque os governantes não costumam governar para o bem do povo, mas para o seu próprio bem e privilégios. O povo, quando percebe, tende a protestar. Os governos então oprimem. Esses têm duas maneiras de fazer isso: através da força, pelo exército ou pela polícia, que procuram intimidar as manifestações pela repressão violenta e armada: bombas de efeito moral, balas de borracha, cassetetes. O outro meio usado para oprimir é o legal, por meio de leis. As leis podem beneficiar uma minoria, podem dar privilégios para determinados grupos de pessoas, podem beneficiar
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uns e prejudicar outros. Exemplo clássico entre nós: políticos depois de um, dois ou três mandatos já têm direito à aposentadoria. Nós temos que trabalhar 35 anos! O que aprendemos de Jesus? Quatro coisas podem ser destacadas: 1 – Quando Deus governa, “quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós, será escravo de todos” (Marcos 10.43-44). Jesus, nosso rei por excelência, deu o exemplo: “Eu não vim para ser servido, mas para servir...” (Marcos 10.45). O poder no governo de Deus é um poder-serviço, que serve aos outros, não um poder-dominação, que se serve dos outros. 2 – Quem quiser governar ou ser grande no reinado de Deus deve tornar-se escravo e servidor de TODOS. A política tem que visar o bem COMUM, e isso significa que a prioridade tem que ser os interesses e necessidades da
MAIORIA. Se a maioria de nossa população, por exemplo, for de classe média baixa e baixa, é nela que necessitam se concentrar os esforços dos governantes por melhoria social. Porque o governo de Deus quer ser para todos! Não é por menos que Jesus anuncia: “Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o reino de Deus”. Os pobres eram maioria
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Foto Diego Zanotti
GOVERNAR É TORNAR-SE O SERVIDOR DE TODOS E VISAR O BEM COMUM.
em Israel. Por isso eles recebem atenção especial: Deus quer ser o Pai de todas as suas criaturas; com ele não há exclusão ou acepção de pessoas (Deuteronômio 10.17; Atos 10.34; Tiago 2.8-9). 3 – Quando Deus governa, as leis precisam estar a serviço do povo, para benefício das maiorias. Jesus ensinou a examinar muito bem a natureza das leis
que regiam a sua sociedade. Também em seu tempo havia os que se aproveitavam das leis: “Amarram fardos pesados e insuportáveis e os põem nos ombros dos outros, mas eles mesmos não querem movê-los, nem sequer com um dedo” (Mateus 23.4). Onde Deus governa, as leis regem-se pelos critérios da misericórdia, da justiça, da vida para todos e do amor. Leis brasileiras que não se enquadram nesses critérios devem ser criticadas e abolidas. 4 – Alguém poderia perguntar: se os governos opressivos usam a força das armas e a violência física para reprimir protestos e reivindicações populares, que armas possuem os cristãos para defender governos justos e corretos? Jesus negou explicitamente, diante do governador Herodes Antipas na Galileia e perante Pilatos na Judeia, o uso de meios violentos (Lucas 13.31-33; João 18.36 – os apóstolos, mais tarde, fizeram exatamente o mesmo: Romanos 12.17-21). Ele não apelou para a força das armas para ser libertado dos que o governavam. Mas lhes disse com palavras muito simples onde residia a força de um governo que procura realizar a vontade de Deus: “Eu vim para dar testemunho da verdade” (João 18.37). O testemunho da verdade é a arma mais poderosa que cristãos têm para moralizar um país de políticos corruptos, que constroem seus privilégios com a ajuda da mentira e na calada da noite, em que ninguém pode enxergar. A verdade tem como irmã a transparência. Nós precisamos exigir o máximo de verdade/transparência na política, em todos os gastos, contas, aplicações, salários e diárias pagas – essa é nossa arma eficaz contra a corrupção, como diz em Efésios 5.8-9: “Andai como filhos da luz, porque o fruto da luz consiste em toda a bondaN de, e justiça, e verdade”. UWE WEGNER é teólogo, doutor em Teologia e professor emérito da Faculdades EST em São Leopoldo (RS) NOVOLHAR.COM.BR –> Out/Dez 2016
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CAPA
Acolhimento revela o coração de Cristo O QUE FAZER DIANTE DA DOR E DO ASSOMBRO QUE ELA CAUSA? DIACONAR! É NA DIACONIA QUE O REINO DE DEUS ACONTECE, ALI ONDE A DOR DA OUTRA PESSOA NOS DESESTABILIZA E FAZ AGIR.
por Valmi Ione Becker
“R
eino de Deus” – o que é isso? Penso que essa expressão tem a ver com o cerne da mensagem de Jesus Cristo. Ela fala do senhorio de Deus, que, em parte, “já se faz sentir entre nós, mas noutra parte ainda não”. Sim, o reino de Deus é algo maior do que aquilo que passa por nossa cabeça. No reino de Deus, as pessoas pobres, doentes, fracas e marginalizadas experimentam cura e são valorizadas. O reino de Deus tem a ver com mudança. É bom cantar louvores a Deus, fazer doações, discutir conteúdos e trabalhar intensivamente na comunidade cristã. No entanto, conforme meu ponto de vista, faltam-nos boas doses de preocupação e até assombro diante da dor. Fazer o quê? Diaconar! Como fazer diaconia? Acolhendo gente! Quem viaja sonha com um ho-
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tel cujos funcionários recebam bem. Não é diferente com quem vai ao culto dominical. Deus acolhe-nos quando estamos alegres ou tristes, fatigados ou fragilizados. Jesus é o “acolhimento” em pessoa. Assim, ouso sustentar que o ato de “acolher-se uns aos outros como Cristo nos acolheu” já é a vivência do “reino de Deus” entre nós. O “reino de Deus” acontece lá onde nos abrimos à outra pessoa, e isso não só ajudando, mas também servindo de todo o coração a partir da atenção, do diálogo, do respeito e da delicadeza. Ele se dá quando acolhemos as pessoas, motivadas e motivados pelo evangelho. Acolher é disponibilizar-se com o intuito de fazer com que a pessoa que dialoga conosco se sinta única, que ela tenha chance de exprimir-se, sentir-se à vontade, desafogar seus problemas e suas dores profundas e ocultas.
No reino de Deus, as pessoas pobres e marginalizadas são valorizad
Nos últimos anos de atuação no ministério diaconal, conheci muitas pessoas e muitas comunidades. Andando ao lado de pessoas com deficiência e suas famílias, simplesmente vivenciei a concretização do reino de Deus. Por que
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Foto Agência Brasil
adas são valorizadas
afirmo isso? Simples! Porque presenciei solidariedade, amor, respeito e partilha entre esse povo. Nem todas as pessoas se conheciam quando chegavam ao local de nossos encontros. No entanto, logo aquela estranheza era derrubada, e a
comunhão acontecia com naturalidade. O cuidado com as filhas e filhos não era tarefa apenas de mães e pais, mas de todas as pessoas participantes. Certa vez, uma mãe testemunhou, com a voz embargada, que se sentira aceita
no grupo, assim como seu filho. Ela compartilhou que seu menino, que tinha 18 anos, já nascera com deficiência. Que ele não parava quieto por muito tempo e que, por isso, ela deixara de participar de todas as atividades em sua igreja. Por quê? – perguntei. Sua resposta brotou espontaneamente dos lábios: “Porque não me sentia aceita, compreendida pelos demais que lá participavam. Aqui é diferente. Sinto-me acolhida do jeito que sou e do jeito que meu filho é. Este final de semana foi muito abençoado. Nele eu pude viver a comunidade de Jesus Cristo; pude viver um pedacinho do reino de Deus. Eu tenho certeza de que Deus ficou feliz com tudo de bom que aconteceu aqui nestes dois dias”. Esse é um dos muitos depoimentos que ouvi nos grupos e encontros que coordenei. A diaconia é um instrumento de concretização do reino de Deus. A diaconia do acolhimento é um elemento constitutivo e básico da igreja, que revela o coração de Cristo cheio de ternura, misericórdia e esperança. O acolhimento deve dar uma alma e um pouco de coração, de afeto e calor humano às relações, à vida e às estruturas de cada comunidade. Não abro mão disto: a comunidade é a presença visível da igreja de Jesus no mundo. Assim, ela não é uma estação de serviços religiosos. Ela é a casa das pessoas, onde se explicitam as experiências significativas do evangelho. Por isso é preciso incrementar e dar qualidade diaconal à dimensão do acolhimento como a expressão do amor que abraça todas e todos, pois acolher significa dar testemunho de uma igreja que se interessa mais pelas pessoas do que pelas estruturas. N
VALMI IONE BECKER é diácona emérita e presidenta da diretoria do Conselho da Fundação Luterana de Diaconia em Blumenau (SC) NOVOLHAR.COM.BR –> Out/Dez 2016
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CAPA
Dois reinos? Doutrina? por Leandro Hofstaetter
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m dos temas “capciosos” da teologia luterana, como diria um de meus professores, é a “tentativa” de sistematização e teologização do que foi chamado, posteriormente a Lutero, de doutrina dos dois reinos. Em primeiro lugar, porque Lutero não desenvolve o tema criando uma “doutrina” e, portanto, não sistematiza a problemática, de modo a oferecer uma conjetura lógico-racional. Até porque em Lutero há uma pujança vital que o impede de fazer elucubrações teológicas, já que “é através da vivência, mais precisamente do morrer e do ser condenado, que a gente se torna um teólogo, não pelo compreender, ler ou especular” (WA 5, 163, 28-29). E, em segundo lugar, porque, ao analisar seus textos, não temos mais a prerrogativa de seu contexto. Culpar Lutero pelo absolutismo e pelas guerras religiosas que ainda iriam acontecer, pela secularização ou até mesmo pelo “namoro” de muitos setores da igreja luterana com o nazismo é, sem dúvida, “fora da casinha”. Por isso o cuidado de não “o atropelar” com esses cinco séculos de história que seus textos ainda não têm. Lutero era um baita biblista e professor de Teologia. Por conta de ser intérprete das Escrituras, era pastor: foi chamado (“Be-rufen”) a pregar o amor de Deus a partir da descida dele em Jesus Cristo, o perdão dos pecados e a alegria de poder compartilhar a presença de Deus neste mundo difícil e incoerente por meio da Palavra e dos sacramentos. Era a partir da Bíblia que ele tentava resolver os problemas que a sua realidade impunha. Para ele, era natural o respeito às estruturas tanto eclesiásticas como seculares, o que, de modo algum, impediu-o de fazer duras críticas a ambas. Aliás, não saber distingui-las é o maior dos males que seu tempo enfrentava. Os governos seculares devem preocupar-se em manter a ordem político-social para que as pessoas vivam em paz e bem. Notem: para Lutero, as pessoas em suas funções, sejam nobres, professores, agricultores, artesãos, devem viver bem. A usurpação de direitos e bens, levada a cabo em sua época por um clero e uma nobreza que só estão interessados em oprimir os mais necessitados, não encontra guarida na palavra de Deus, que prega amor e vida digna para todos. A propósito, toda sorte de
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Lucas Cranach “O Jovem”: Martim Lutero e os Reformadores de Wittenberg
revoltas tem seu fundamento justamente na atitude não cristã de nobres e bispos que submetem os mais pobres a duros jugos de exploração. Por outro lado, justamente por conta da ordem, a revolta deve ser evitada: não há paz e bem através da violência. O fundamento dessa situação, para Lutero, onde nem uns nem outros têm razão, é a falta do evangelho. Se o amor e a solidariedade fossem regra, não se precisariam e não se teriam opressões nem revoltas (WA 18, 293, 10-25). No entanto, respostas seculares não podem responder às demandas da salvação: confundir a realidade político-social com a realidade espiritual é outro erro medieval que é corrigido por Lutero. De forma alguma, porém, isso significa que o evangelho não toque a realidade, pois foi justamente neste mundo que Deus se encarnou, mostrando seu rosto e sua vontade através da manjedoura. Transformar o evangelho em bandeira política é um erro, da mesma forma que fazer da política pressuposto para a salvação é um pecado. Na vida concreta, criamos estruturas que nos engrandecem e aprisionam conjuntamente. Tudo isso é bom e mau ao mesmo tempo, pois somos, no âmago de nosso ser, simultaneamente justos e pecadores. Por isso a relação dos estamentos, dos reinos de Cristo e do mundo não deve ser entendida como que em uma batalha dicotômica, como se fosse um maniqueísmo, onde de antemão se pudesse reconhecer os de Cristo e os de satanás, os bons e os maus. Gosto daquela metáfora de Lutero que diz que somos qual criança, salvos pela fé em Cristo e, assim, revestidos com a mais linda indumentária e no colo de Deus. Mas ainda com nossos pés sujos sendo mordidos por satanás para mostrar que, mesmo sendo já livres, santos e salvos, ainda permanecemos no mundo e com o mundo, com tudo o que há de bom e também o que há
de mau, principalmente em nossa falta de percepção dos sinais de Cristo nele. Portanto, ao ler Lutero, vemos que o mesmo aponta para Cristo. E Cristo não é o conselheiro-mor que nos dá receitas prontas de como viver nossa vida demasiadamente humana. Se bem que é exatamente isto que as pessoas também hoje procuram: respostas certas para as questões existenciais; parâmetros exatos que lhes tiram o compromisso de lidar com a situação, com os outros e também com os sinais da presença de Deus neste mundo, deslocando a responsabilidade de seu agir para Deus, para o diabo, para o pastor, para a igreja ou quem quer que seja. Praticar o AMOR na situação que me atinge no caminho exige muito mais do que ir a uma prateleira do supermercado religioso e tomar um ingrediente exato que “sirva” para a situação. Requer, ao contrário, educação na palavra de Deus. Assim, a pessoa cristã procura distinguir com humildade evangélica entre os sinais do Reino e as obras da glória, que são pecaminosas, mesmo que estejam revestidas de “religiosidade”. Será engajada na partilha da paz e do amor, colocando-se contra qualquer espécie de injustiça. Com Cristo aprendeu a amar mais e julgar menos. Sabe que a moralização e o julgamento dos outros sempre escondem uma pseudojustificação que, em seu fundamento, é idolatria, pois não deixa Deus ser Deus. A pessoa cristã, pois, tem liberdade para participar politicamente, sem tornar a política um ídolo, pois sabe que é a fé que salva. Por outro lado, sabe por conta da manjedoura que a fé conduz ao amor e, na escolha do amor, tomará decisões carregadas de atitudes políticas que desagradarão muitos, principalmente os poderosos. Por isso sua espera pelo Reino é em esperança ativa no amor solidário e compassivo. N LEANDRO HOFSTAETTER é teólogo, filósofo, advogado e professor universitário em Joinville (SC) NOVOLHAR.COM.BR –> Out/Dez 2016
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CAPA
O futuro ilumina o presente por Roberto E. Zwetsch
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á uma canção do pastor Silvio Meincke bastante conhecida em muitas comunidades cristãs do Brasil: “Jesus Cristo, esperança para o mundo” (cf. box). Nela, o autor faz uma “descrição” do que imagina ser o reino ou reinado de Deus nos dias atuais. Ele é o autor do poema, e os músicos Edmundo Reinhardt e João Carlos Gottinari foram muito felizes na composição da melodia e ritmo. O refrão dessa canção começa assim: “Venha teu reino, Senhor! A festa da vida recria. A nossa espera e ardor/ transforma em plena alegria”. Isso quer dizer que a primeira atitude cristã é orar insistentemente para que o reino ou reinado de Deus venha. Como assim? No hebraico, a expressão malkuth Jahwe não era comum até bem perto da época de Jesus. Nos salmos, encontramos seguidamente a concepção de que Deus é o verdadeiro rei de Israel e que nenhum dos reis humanos, mesmo Davi, pode servir de modelo para o reinado de Deus (Salmos 10, 24, 44, 95; mas o Salmo 82 se diferencia). Mas chama a atenção que os profetas quase não utilizam essa “figura” para falar de Deus. Eles se mostraram críticos do reinado e do poder opressor dos governantes, sobretudo sobre os mais pobres e fracos (o órfão, a viúva e o estrangeiro).
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Anunciar o reino de Deus hoje traz salvação, cura, reconciliação, dignidade humana, libertação. É assim que Jesus Cristo quer agir em nosso meio
No entanto, em Deuteronômio, de fato, Deus é o Senhor de Israel, o verdadeiro rei. E seus súditos são fiéis se observarem as prescrições da Torá, a Lei. Após o exílio babilônico, Deus é visto como o senhor celestial, o senhor do cosmo e do universo, criador do céu e da terra (Gênesis 1). E seu governo dá-se pela observância dos preceitos da Lei, na qual a prática da justiça e da misericórdia é o principal. Jesus vai enfatizar esse aspecto da lei em sua pregação e ação (Mateus 9.13). Foi na época imediatamente antes do início do ministério de Jesus que a expressão reino de Deus tornou-se mais conhecida. Numa situação em que Israel se tornou um país invadido e dominado por estrangeiros, gregos e depois romanos, firmou-se a convicção de que o reino de Deus seria um acontecimento futuro em que se daria uma inversão completa de posições: Israel ficaria por cima, e os opressores virariam oprimidos. Quando Jesus inicia seu ministério, ele retoma a expressão reino ou reinado de Deus e afirma: “O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no evangelho” (Marcos 1.15; cf. Mateus 4.17). O problema é que o sentido que ele deu ao reino de Deus era completamente novo. Na pregação e na prática de Jesus, o reino de Deus não era apenas uma mensagem futura. Jesus mostrou que o reinado de
Deus está vindo, está bem próximo, já começou a irromper no presente. A esperança de libertação não é algo remoto num futuro distante. O reinado de Deus invadiu o presente. Em segundo lugar, a proximidade do reinado de Deus significa que o mal em todas as suas manifestações começa a ser vencido. Jesus supera o poder do mal, e o mais surpreendente é que essa luta se faz a partir dos pequenos, dos empobrecidos, dos doentes, dos marginalizados, dos sofredores, como mulheres, crianças, pessoas doentes, gente perseguida e desprezada, como os cobradores de impostos ou as prostitutas: “Os sadios não precisam de médico” (Marcos 2.17). A surpresa desconcertante, que ainda hoje causa grande desconforto para comunidades cristãs piedosas e moralistas, é que – na proclamação de Jesus – Deus age neste mundo a partir de pessoas humildes e desprezadas (cf. o cântico de Maria, Lucas 1.46ss). Paulo compreendeu essa dimensão do ministério de Jesus a partir de sua prática como missionário (cf. 1 Coríntios 1.26), pois percebeu que
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JESUS CRISTO, ESPERANÇA PARA O MUNDO Melodia: Edmundo Reinhardt e João Gottinari Letra: Silvio Meincke
Foto Anistia Internacional
1. Um pouco além do presente, alegre o futuro anuncia a fuga das sombras da noite, a luz de um bem novo dia.
os primeiros a aceitar o evangelho de Cristo, o Messias, eram pessoas simples, sem fama ou poder. E isso é assim “para envergonhar os sábios e os fortes”. O reinado de Deus – assim o entendo hoje – é a mensagem principal de Jesus. E seu anúncio traz salvação, cura, reconciliação, dignidade humana, libertação. Uma leitura atenta das parábolas contadas por Jesus ajuda-nos a captar essa dimensão libertadora da ação de Deus. Por exemplo, uma mulher pode dar um sinal do reinado de Deus ao misturar fermento numa massa de pão. O reinado de Deus não se limita a uma mudança de poder político, como se um governante pudesse realizá-lo. Ainda assim, como reconheceu David Bosch, teólogo reformado sul-africano, o reinado de Deus tem uma evidente conotação política, no sentido de que questiona o poder estabelecido. Ele afirma que os filhos e filhas do reino de Deus não se conformam com o pecado que rege as relações humanas e instaura a violência na sociedade. Anunciar que o reinado de Deus já está agindo no meio de nós (Lucas
11.20), expulsando demônios que destroem as pessoas (doença, discriminação, injustiça, violência), subverte o sistema dominante, pois anuncia que um novo mundo é possível. Nele, as flores serão sinais de esperança, a paz e a justiça serão irmãs, o ódio e a morte serão vencidos, sem armas ou destruição dos outros, mas como preciosa semente que – mesmo pequena e sumida no meio de tantas contradições – já vai iluminando o presente e afirmando que o mundo não tem dono, pois ele é de Deus. E Deus em Jesus veio, vem e virá para salvar, libertar, a fim de reunir numa grande mesa os seus pobres de todos os lugares para um banquete em que ele será o anfitrião, o garçom e o celebrante principal (Lucas 14.15ss). Por isso o evangelho do reinado de Deus rima com nova vida, luta por justiça, paz, dignidade humana e defesa da integridade da criação. Podemos imaginar algo N mais extraordinário do que isso? ROBERTO E. ZWETSCH é teólogo, doutor em Teologia, escritor e professor da Faculdades EST em São Leopoldo (RS)
Estr.:
Venha teu Reino, Senhor! A festa da vida recria! A nossa espera e ardor transforma em plena alegria! Aiê – Eia, aiê, aiê, aiê.
2. Botão de esperança se abre, prenúncio da flor que se faz promessa da tua presença que vida abundante nos traz. Estr.: Venha teu Reino,... 3. Saudade da terra sem males, do Éden de plumas e flores, da paz e justiça irmanadas, num mundo sem ódio nem dores. Estr.: Venha teu Reino,... 4. Saudade de um mundo sem guerras, anelos de paz e inocência: de corpos e mãos que se encontram, sem armas, sem morte, violência. Estr.: Venha teu Reino,.. 5. Saudade de um mundo sem donos: ausência de fortes e fracos, derrota de todos os sistemas que criam palácios, barracos. Estr.: Venha teu Reino,... 6. Já temos preciosa semente, penhor do teu Reino, agora. Futuro ilumina o presente, tu vens e virás sem demora. Estr.: Venha teu Reino,...
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CAPA
Parábolas convidam para a ação por Emilio Voigt
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esus era mestre e foi também um bom contador de histórias. Em sua época, ensinar e contar histórias eram ações complementares. As histórias que Jesus contava são denominadas de parábolas. O Evangelho de Marcos relata que Jesus usava parábolas para ensinar muitas coisas (Marcos 4.2) e especialmente para falar sobre o reino de Deus: “Com o que podemos comparar o reino de Deus? Que parábola podemos usar para isso?” (Marcos 4.30). Uma parábola pode envolver várias categorias de ditos, tais como exemplos, comparações, provérbios. De forma geral, a parábola é caracterizada por um elemento de comparação. É justamente isso o que está expresso na pergunta de Jesus: com o que podemos comparar o reino de Deus? Em aramaico, a língua que Jesus falava, parábola era chamada de mathla e tinha o sentido de “palavra enigmática”. Parábola é uma comparação que contém um enigma. A pessoa que ouve precisa descobrir o sentido da comparação. Jesus não foi o primeiro nem o único a ensinar por meio de parábolas. Em seu tempo, os rabinos também utilizavam esse método. Já no Antigo Testamento podem ser encontradas algumas parábolas, como a do profeta Natã, que fez uma dura acusação ao rei Davi, utilizando uma história (2 Samuel 12.1-15). Também a fábula de
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Jotão pode ser considerada um exemplo de parábola (Juízes 9.7-14). A parábola narra um caso fictício. É uma história inventada, mas conectada com a vida real e diz algo sobre a experiência das pessoas. Essas histórias fictícias valem-se de ambientes e circunstâncias bem conhecidas. Podem ser casos comuns, como semeadura (Marcos 4.3), colheita (Mateus 13.30) e preparação do pão (Mateus 13.33), ou algo extraordinário, como um tesouro escondido no campo (Mateus 13.44). Pode ser uma referência a festas (Mateus 25.1-13) ou uma alusão à realidade da violência (Lucas 10.25-37). As parábolas ajudam-nos a conhecer diversas situações do dia a dia das pessoas na Palestina da época de Jesus. Se a pessoa precisa descobrir o sentido, então é possível que uma mesma parábola seja compreendida de maneira diferente. A diversidade de interpretações decorre do contexto, do conhecimento e das experiências. A parábola do grão de mostarda (Mateus 13.31-32) diz que o reino dos céus é como um grão de mostarda. Dessa, que era considerada a menor das sementes, nasce um grande arbusto, no qual as aves podem fazer ninhos. A mostarda era muito cultivada na época de Jesus. A semente mede aproximadamente 1 milímetro, e a planta pode chegar a 2 ou 3 metros. É
Parábolas são o meio pedagógico de Jesus, como a história do filho perd
um pouco exagerado chamá-la de árvore, principalmente se a compararmos com as árvores da floresta amazônica. Mas, na comparação com outras hortaliças, ela figura entre as maiores plantas do quintal. Em todo caso, quem já semeou um grão de mostarda rapidamente entenderá o contraste entre a pequenez da semente e o tamanho da planta. E provavelmente sentirá uma conexão mais intensa com a parábola do que a pessoa que não conhece essa planta. A imagem da árvore, sob a qual animais e aves podem abrigar-se, provém do Antigo Testamento e remete a uma expectativa de novos tempos (Ezequiel 17.23; Daniel 4.11-12). Também esse pano de fundo dos livros proféticos pode determinar um rumo para a interpretação. Além disso, há a possibilidade de ponderar sob diferentes enfoques. Considerando a pequenez da semente, alguém poderia interpretar que Deus e seu reino revelam-se nas coisas pequenas e simples. Olhando para o processo de crescimento, outra pessoa poderia dizer que o reino de Deus
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RESENHA
As Parábolas de Jesus: imagens no reino de Deus
Max Slevogt (1886-1932): A volta do filho pródigo (Recorte)
por Robson Luís Neu
história do filho perdido que volta à casa do pai
inicia pequeno e vai se desenvolvendo até se tornar grande. O objetivo da parábola não é somente que a pessoa desvende o enigma. A parábola convida para a ação. Tem, pois, uma aplicação. Quando Jesus compara alguma coisa com o reino de Deus, motiva a refletir sobre o agir de Deus. As parábolas da ovelha desgarrada (Lucas 15.3-7) e da dracma perdida (Lucas 15.8-10) questionam: “Qual de vocês é o homem que deixaria de ir atrás da ovelha?”; “Qual de vocês é a mulher que deixaria de procurar a moeda?”. Essas perguntas supõem uma resposta óbvia: ninguém deixaria de ir atrás da ovelha e ninguém deixaria de procurar a moeda. Mas a resposta apropriada somente será dada quando a pessoa compreender a ação de Deus e agir de acordo com a vontade de Deus. Por isso muitas parábolas possuem perguntas ou um final aberto. Qual será a minha ação? O que N farei após ouvir uma parábola? EMILIO VOIGT é teólogo e coordenador do Núcleo de Produção e Assessoria da SecretariaGeral da IECLB em Porto Alegre (RS)
No livro “As parábolas de Jesus: imagens no reino de Deus”, o autor Gottfried Brakemeier apresenta reflexões de Jesus sobre o reino de Deus. O uso de parábolas é fruto do discurso de Jesus de Nazaré com o objetivo de tornar a doutrina mais fácil e acessível ao povo. Para isso, Jesus utiliza episódios do dia a dia e faz comparações. Tais episódios eram conhecidos em sua época (semeadura, colheita, fazer pão, empregados etc.), mas nem todas as imagens possuem o mesmo sentido em contextos diferentes. Por isso as parábolas exigem cuidado em sua interpretação. Quando Jesus conta parábolas, Ele o faz como instrumento de anúncio do reino de Deus. Esse precisa ser acolhido, pois é dádiva divina e não esforço humano. Ao mesmo tempo, a sua proximidade não permite resignação, e sim aprendizagem de fé e amor. Fé é confiar em Deus, mesmo que em meio ao infortúnio. O amor apresenta-se em duas dimensões: a Deus, em forma de culto, e ao próximo por meio da diaconia. É dessa forma que Jesus desenvolve aspectos do reino de Deus a partir de imagens. Essas permitem imaginar, refletir, compreender o anunciado. As parábolas, com suas comparações e hipérboles, enquanto método pedagógico de Jesus, provocam questionamentos nos ouvintes e proporcionam a autonomia no raciocínio. Isso porque Jesus procura envolver os ouvintes num processo reflexivo, sem jamais forçar o convencimento. As parábolas apresentam argumentos e mostram por meio de imagens o funcionamento do reino de Deus, produzindo novidade de vida. Tal novidade rompe com a corrupção, a injustiça e outros males, dando uma nova ordem à vida social e pessoal. Nesse sentido, as parábolas questionam tradições humanas e religiosas que não estão a serviço da vida e do amor. O livro também apresenta reflexões sobre várias parábolas. Nelas, Jesus ressalta aspectos do reino de Deus, tais como: a comunhão entre diferentes; a alegria e a gratidão de quem encontra o reino como tesouro; o agir de Deus com misericórdia e compaixão, capaz de acolher pecadores e perceber a miséria humana; a relação entre o perdão recebido e o perdão devido; a bondade de Deus que anula a meritocracia; a humildade em contraposição à soberba religiosa; a necessidade de não abandonar a esperança, a fim de experimentar o reino também entre nós; a busca do equilíbrio N social como garantia de paz e prosperidade. ROBSON LUÍS NEU é teólogo, ministro da IECLB e vice-pastor sinodal do Sínodo Nordeste Gaúcho em Dois Irmãos (SC) NOVOLHAR.COM.BR –> Out/Dez 2016
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TURISMO
Salineras de Maras, a 3.200 metros de altitude, próximo a Cusco no Peru
Estive no sal por Silvana Isabel Francisco
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expressão “estou no sal”, usada no português para designar uma situação negativa ou complicada, pode ser facilmente reconstruída no contexto turístico. Justamente alguns dos lugares mais bonitos e interessantes da América do Sul têm em comum a extração do sal. Para nós brasileiros, a fonte de sal mais comum é o mar. Porém vários de nossos países vizinhos têm como alternativa o sal vindo da terra e de lugares bem altos, como montanhas e planícies andinas.
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Nesses locais, sal tem uma carga simbólica muito forte: é fruto de trabalho árduo, cansativo, mas que consiste na principal atividade econômica das famílias. Nessas regiões, geralmente a pobreza é grande, mas, em contraposição, há a riqueza cultural, a ancestralidade ainda presente dos povos e a beleza exuberante das paisagens. Esse é o caso do Salar de Uyuni (3.600m) nos departamentos de Oruro e Potosí no sul da Bolívia; do Salar de Atacama (2.300m) no deserto do mesmo nome no Chile; das Salinas Grandes (4.000m) na
província de Jujuy no noroeste argentino; da mina onde se localiza a Catedral de Sal (2.600m) em Zipaquirá na Colômbia e das Salineras de Maras (3.200m), próximo a Cusco no Peru. Nesses lugares, há uma diversidade de experiências pelas quais podemos passar, como dormir numa hospedaria construída com tijolos de sal próximo ao Salar de Uyuni e descobrir que ele é um ótimo isolamento térmico (à noite, as temperaturas caem vários graus abaixo de zero). Ou subir a belíssima Cuesta de Lipan para chegar às Salinas Grandes e deparar-se com uma cascatinha congelada no caminho. Ou mesmo entrar numa mina de sal e, dali a pouco, não se dar conta de que já se está a 180 metros terra adentro, apreciando a beleza de uma catedral escavada no sal e, depois, tomar algo na cafeteria subterrânea.
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Fotos do Arquivo Pessoal da Autora
Porém talvez uma das atrações “salgadas” da América do Sul mais desconhecidas sejam as Salineras de Maras no Vale Sagrado dos Incas. O local está apenas a 50 km de Cusco e a 30 km de Ollantaytambo, pontos de partida para tomar o trem para a vila de Águas Calientes (ou Machu Picchu Pueblo, como está sendo chamada atualmente), de onde se pode acessar o sítio arqueológico de Machu Picchu. As Salineras de Maras formam um mosaico gigante de aproximadamente 3 mil poças de sal na encosta de uma montanha com cerca de 5 metros quadrados cada uma. Elas são atravessadas por um rio que nutre de água salgada as poças. A água filtra-se nas poças e evapora pela ação do sol forte, fazendo com que desse processo surjam os cristais de sal grosso. Há três tipos básicos: a primeira camada, de melhor qualidade, que consiste na “flor de sal”; a segunda camada, formada pelo sal de uso normal, e a terceira camada, que serve para uso industrial. O sal de Maras é comercializado em muitas lojas e supermercados peruanos, além de ser exportado para
Salinas Grandes, a 4.000 metros, no noroeste argentino
alguns países, como Estados Unidos, Alemanha, Itália, França, Japão, entre outros, como sal gourmet. Esse é considerado o “Sal do Himalaia” latino-americano, possuindo muitos nutrientes como magnésio, ferro, cálcio, zinco, cobre, entre outros. Há quiosques ao lado das salinas que vendem o sal de Maras em suas mais
Cascatinha gelada no caminho para Salinas Grandes na Argentina
variadas formas e “sabores”: sal rosado, flor de sal, sal com ajíes (pimentas), sal com temperos variados, chocolates com sal, sabonetes e outros produtos. É o lugar onde se podem encontrar os melhores preços. É possível caminhar entre as poças de sal e experimentar o sabor de sua água. Caso o visitante chegue no horário de trabalho das famílias, é possível observá-las em seus afazeres e ouvir as pessoas conversando entre si em quéchua, língua ancestral ainda muito utilizada na região. A exploração dessas salinas é tão antiga quanto o império inca. O direito à extração do sal de Maras é herdado de cada família, mas o trabalho é realizado de maneira comunitária e segundo tecnologias tradicionalmente ancestrais, que, inclusive, preservam o meio ambiente. Atualmente, é acrescentado iodo ao sal extraído, seguindo as leis peruanas. Mais de 300 famílias da região subsistem dessa atividade econômica nos meses de seca (aproximadamente de junho a outubro). Nos meses de chuva, elas se dedicam N geralmente à agricultura. SILVANA ISABEL FRANCISCO é jornalista e terapeuta Reiki em Brasília (DF) NOVOLHAR.COM.BR –> Out/Dez 2016
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Foto: Fernanda Scherer
JUVENTUDE EVANGÉLICA
Timbó viu a alegria e o testemunho público de 1.500 jovens luteranos de todo o Brasil em passeata no “Grito da Juventude”
O grito dos jovens por Simone Engel Voigt
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o ano em que se comemoram os 120 anos da Juventude Evangélica (JE) da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), cerca de 1.500 pessoas, procedentes dos 18 sínodos da IECLB e de mais 21 países (Alemanha, Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, El Salvador, Etiópia, Guatemala, Guiana, Honduras, Indonésia, Letônia, Lituânia, Mianmar, Nicarágua, Peru, Suécia, Suíça, Suriname e Uruguai), reuniram-se em Timbó (SC) para, através da fé e da identidade luteranas, celebrar,
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cantar, refletir, integrar, intercambiar, festejar, compartilhar – enfim, viver Congrenaje. Pois este ano aconteceu o 23º Congresso Nacional da Juventude Evangélica (Congrenaje). O Grito da Juventude, que percorreu as ruas de Timbó (SC), foi um momento oportuno para o testemunho público da fé e das convicções da juventude luterana. Foi tempo para distribuir abraços, entoar canções e anunciar à população de Timbó que pela graça de Deus cada um e cada uma têm valor, mas não têm preço – as pessoas não estão à venda. O
grito culminou com os jovens e as jovens formando a rosa humana de Lutero, lembrando que a “Reforma é viva, feita de pessoas”. À luz do tema “Pela graça (não) temos valor” e do lema “Pela sua graça e sem exigir nada, Deus aceita todas as pessoas por meio de Cristo Jesus, que as salva” (Romanos 3.24), os painéis desafiaram para a reflexão sobre: Tráfico de pessoas – Justiça de gênero – Como comprar a salvação? – Deus nos fez lind@s – Ter para ser ou ser para ter direitos? – (Re)conhecendo o irmão, a
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SIMONE ENGEL VOIGT é diácona e coordenadora do trabalho com jovens e programas de intercâmbio na Secretaria de Ação Comunitária - Secretaria-Geral da IECLB em Porto Alegre (RS)
Foto: Fernanda Scherer
irmã: superando as diferenças – Quanto vale a criação de Deus? – Espiritualidade: qual o valor da sua? Baseada na valorização da vida, a juventude foi chamada e desafiada, através de sua fé e identidade luteranas, a participar da missão de Deus. Não só observar o que acontece ao seu redor, mas, de forma consciente, manifestar e interceder pela paz no mundo, pela igualdade na diversidade, pela convivência com a diferença, pelo cuidado com a criação, pela unidade na igreja e pela caminhada da juventude N evangélica.
DIVERSAS TEMÁTICAS DESFILARAM NAS RUAS CENTRAIS DE TIMBÓ DURANTE O GRITO DA JUVENTUDE. O TEMA AMBIENTAL NÃO PODIA FALTAR. NO MEIO DA PRAÇA CENTRAL 1.500 JOVENS FIZERAM A ROSA DE LUTERO.
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Foto: Fernanda Scherer
JUVENTUDE EVANGÉLICA
Os jovens entendem que têm a missão de promover a inclusão a partir de reformas diárias
Todas as pessoas têm valor por Marina Wrasse Scherer
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a contramão do que o mundo moderno prega, o Congresso Nacional da Juventude Evangélica (CONGRENAJE) foi um sinal visível da presença de Deus. Este Deus que nos presenteia com a sua graça e que diz: As pessoas não estão à venda. Nós, pessoas jovens presentes no CONGRENAJE, ouvimos e pudemos refletir que, através dessa graça e somente por meio dela, todas as pessoas são aceitas por Deus. E esse foi o maior aprendizado. Ficou claro, durante os dias de encontro, que, como
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juventude da IECLB, temos a missão de promover a inclusão a partir de pequenas ou grandes reformas diárias. Afinal, nenhuma pessoa tem valor econômico e pode ser comercializada perante Deus. Diante dele, todos e todas somos seus filhos e filhas querid@s. Assim como feito durante o Grito da JE, também temos o compromisso diário de dar testemunho público de nossa identidade luterana, de nossas convicções enquanto juventude e de nossa fé cristã. Saímos do 23º CONGRENAJE fortalecidos e fortalecidas na Palavra
– que não é opressora, mas promove inclusão. Saímos também motivados e motivadas para seguir anunciando e testemunhando o evangelho, o amor de Deus, através de palavras e ações, a todas as pessoas, sem distinção. N MARINA WRASSE SCHERER é coordenadora do Conselho Nacional da Juventude Evangélica (CONAJE) e representante do Sínodo Centro Campanha Sul
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Foto: Fernanda Scherer
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MEDITAÇÃO
Desiludido, nunca desencantado por Ricardo Gondim
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onfesso minha desilusão. Considero o ato de des-iludir-se um ganho. Significa substituir a ilusão pela realidade. Concordo que, em diversas vezes, a realidade se repete trágica. A vida é dura. Mas é a realidade. E não adianta tentar fugir com qualquer alucinação. Procuro, todavia, não me des-encantar. Já que, para mim, os processos de desencanto conspirariam contra a esperança. Acho todo desencanto mórbido, paralisante, triste. Caço meios de desalojar a desilusão de seu negativismo. Como faço? Acredito que alguns imperativos da vida não devem ser adiados. Ou, quem sabe, propositalmente esquecidos. Os angustiados criam, fantasiam, poetizam, oram, meditam (os doentes suicidam-se. Todo suicídio é patológico). Enfrento as minhas tristezas. Não as considero assim tão medonhas quanto os demônios querem pintar. Como tento desinflar os fantasmas do agastamento? Trato meus períodos magros, minhas estiagens e meus marasmos sem confundi-los com fracasso. Digo que, mesmo batendo no fundo do poço, minha história há de ressurgir. A vida não é paraíso nem inferno. Compete a mim, somente a mim, a dura tarefa de não me deixar esmagar pelo sofrimento. E sou responsável por nunca me inebriar com meus parcos triunfos. Diante da real possibilidade dos projetos fazerem água, não uso desculpas esfarrapadas para me autoenganar. Olho para eles de frente. Sei que mesmo os falidos, os insolventes, podem reinventar-se, desde que assumam. Ressurreição é um Out/Dez 2016 –> NOVOLHAR.COM.BR
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OLHAR COM POESIA termo que só se aplica a quem experimentou (ou admitiu) algum tipo de morte. Toda adversidade dá chance para pesar o excesso de bagagem. Nos infortúnios indago: “O que se tornou desgastante em minha vida?”; “que jugo carrego sem precisar?”. Diante da brevidade do tempo, confronto a mim mesmo: “O que procrastinei em nome de lealdades dispensáveis?”. Nas borrascas, posso jogar fora a carga supérflua. Com o passar da vida, vejo a importância de assumir a coragem de também dizer adeus. Nos des-enganos, encaro o pior sem covardia. (Perder os enganos não seria, igualmente, um ganho?) No cenário dantesco, qualquer melhora passa a ser um paraíso. Aprendo a sobreviver nas intolerâncias. Na disputa pela verdade, não quero ser campeão. Basta-me não fazer concessão para ganhar o aplauso de quem desprezo. Sem negociar valores, sem regatear a venda da minha alma, desejo ser mais verdadeiro para comigo mesmo. Isso me basta. Desiludido, nunca desencantado, estimulo-me a redesenhar a estrutura de minha existência. Creio, de verdade, que não adianta ganhar o mundo inteiro se eu perder a alma. N Soli Deo Gloria
O Amor por Lothar Carlos Hoch Que força mágica é esta Que faz a gente curtir o perfume das flores, Redescobrir a magia do luar? Que força é esta que nos enfeitiça, Nos torna mais bonitos, mais felizes E nos inspira a fazer planos? Que força é esta que nos faz sonhar? Essa força – todos sabemos – é o amor! O amor faz o coração De um homem e de uma mulher Bater num outro ritmo, A ponto de, às vezes, ficar sem fôlego. Tudo porque o amor é lindo! E por ser lindo, O amor não é possessivo, Pois sabe que a pessoa amada, Mesmo vivendo a seu lado, Não lhe pertence.
Antes, o amor faz a gente Se abrir à pessoa amada, Nela confiar, Construir um lar, Querer com ela toda a vida partilhar, Ter filhos e juntos os criar E, se necessário for, Na hora da dor, Noite e dia a seu lado perseverar. O amor é uma sinfonia Que brota do palpitar afinado De dois corações. O amor é tão sublime, A ponto do profeta crer Que a própria essência de Deus … é amor!
LOTHAR CARLOS HOCH é teólogo e professor aposentado da Faculdades EST em São Leopoldo (RS)
RICARDO GONDIM é teólogo, filósofo, escritor e presidente da Igreja Assembleia de Deus Betesda no Rio de Janeiro (RJ)
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REFORMA 500 ANOS
Uma mulher que rompeu fronteiras por Claudete Beise Ulrich
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atharina von Bora nasceu no dia 29 de janeiro de 1499 como filha de Hans von Bora e Katharina von Haubitz, um casal nobre empobrecido, na pequena aldeia de Lippendorf na região da Saxônia, Alemanha. Katharina perdeu sua mãe muito cedo. O pai casou novamente e encaminhou a filha, com apenas seis anos de idade, para o convento beneditino em Brehna. Quando Katharina completou 10 anos de idade em 1509, ele a transferiu para o convento da ordem Sistersinianas Trono de Maria em Nimbschen. Ela aprendeu a ler, a escrever, um pouco de latim (a língua acadêmica desse período histórico), a decorar salmos e a recitá-los, a fazer trabalhos manuais, adquiriu conhecimentos na área administrativa e no uso de ervas medicinais. Em 1515, Katharina fez os seus votos como freira, assumindo viver em castidade, pobreza e obediência. Um acontecimento que mudou a vida de Katharina e também de outras mulheres foi a leitura dos textos de Martim Lutero, afirmando que a justificação é por graça e fé, não mais sendo necessárias as obras e os sacrifícios para alcançar a salvação. Inspiradas pelas ideias reformatórias, doze freiras fugiram do convento de Nimbschen numa sexta-feira santa, dia 5 de abril de 1523. Um comerciante de Torgau, Leonard Koppe, escondeu as doze freiras entre barris de peixes e assim as tirou para fora do mosteiro. Das doze ex-freiras, três voltaram
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para suas casas e nove seguiram viagem para Wittenberg, sendo acolhidas pelos reformadores. Martim Lutero e Filipe Melanchthon procuraram famílias que pudessem acolher as moças fugitivas. Katharina von Bora foi encaminhada à casa do grande pintor e farmacêutico Lucas Cranach e sua esposa Barbara Cranach. Ela trabalhou e viveu com os Cranach durante dois anos, tornando-se uma grande amiga de Barbara Cranach. O primeiro amor de Katharina foi Hieronymus Baumgärtner, ex-estudante da Universidade de Wittenberg. Os pais de Hieronymus não consentiram que seu filho casasse com uma ex-freira foragida. Lutero procurou, então, um marido para Katharina: o pastor e professor Kaspar Glatz. Katharina respondeu categoricamente que não se casaria com o professor Kaspar, mas estava disposta a casar com o próprio Lutero. Esse não hesitou e aceitou o pedido de Katharina. No dia 13 de junho de 1525, Katharina e Lutero casaram-se. Após o casamento, o casal mudou-se para o antigo convento dos monges agostinianos, o Schwarzes Kloster (convento negro). Katharina von Bora deu à luz seis crianças: João (1526), Elizabeth (1527), Magdalena (1528), Martin (1531), Paul (1533) e Margarete (1534). Um grande sofrimento para o casal foi a morte prematura das filhas Elisabeth e Magdalena. O casal viveu no convento negro durante 20 anos com filhos/as, familiares, estudantes, convidados/as,
visitas, pessoas refugiadas e também pessoas que trabalhavam com a família. Em suas cartas, Lutero refere-se a Katharina como: minha querida Käthe, fazedora de cerveja, juíza no mercado de porcos, minha simpática querido senhor Katharina Luther (mesmo com uma linguagem que não seja inclusiva, Lutero coloca Katharina em igualdade com os homens), doutora, pregadora de Wittenberg, minha estrela da manhã
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Lucas Cranach O Velho - Katharina von Bora, futura esposa de Martim Lutero
de Wittenberg, minha graciosa, querida dona de casa, a Lutera. Lutero também assinava as cartas a Katharina de forma carinhosa: Teu amorzinho. Katharina foi uma mulher que rompeu com muitas fronteiras de seu tempo. 1) Um de seus primeiros atos foi um gesto de rebeldia. Ela fugiu do convento, enfrentou todos os perigos, inclusive perigo de morte. Com isso assumiu que a salvação pode ser vivida
fora dos muros do convento. A salvação é por graça e fé. Princípio fundamental da Reforma luterana. 2) Escolheu com quem queria casar e casou-se com o reformador Martim Lutero. 3) Participou das conversas à mesa e discussões teológicas com estudantes e reformadores. Lutero chamou-a de doutora. 4) Rompeu com o mundo privado. Ela foi chamada pelo marido de juíza, mercadora no mercado de porcos. Isso significa que ela negociava no mercado. O mercado era parte do mundo público, onde quem negociava eram os homens. 5) Além do mais, Katharina é considerada a primeira administradora, empreendedora rural, pois ser Hausfrau (dona de casa) tinha outro significado daquele que conhecemos hoje. Dona de casa significava ser administradora de todos os bens da família (casa, terras, animais). Katharina, inclusive, negociou com os editores dos escritos de Lutero. 6) Ela aumentou o patrimônio da família, comprou terras em Züllsdorf. Coordenava uma fábrica de cerveja, alugou um açude para criação de peixes, também tinha criação de abelhas. 7) Outro ponto importante a ser considerado na Idade Média são os conhecimentos de medicina. Provavelmente a farmácia doméstica de Katharina contava com uma rica variedade de espécies cultivadas em sua horta. Ela cuidou da saúde de Lutero, que sofria de dores renais. Além do mais, ela era amiga de Lucas Cranach, que foi, além de importante pintor, farmacêutico na cidade de Wittenberg. 8) Katharina abrigava em seu pensionato no Schwarzes Kloster estudantes e hóspedes de várias regiões da Europa, que vinham discutir questões relativas à teologia e ao movimento da Reforma que estava em curso. Portanto Katharina foi uma mulher que se relacionava com a intelectualidade do período da Reforma. Numa conversa à mesa, Lutero disse: “(...) Eu não trocaria minha Käthe nem pela França e nem
por Veneza. Ela me foi dada por Deus, assim como eu fui dado a ela”. Lutero faleceu no dia 18 de fevereiro de 1546, e ele a tinha colocado como sua única herdeira e responsável pelos filhos e filhas em seu testamento. No entanto, esse desejo de Lutero não condizia com as leis da época, pois uma viúva necessitava de um tutor. O testamento de Lutero foi contestado, e assim Katharina perdeu o direito sobre muitos bens da família. O tempo de viuvez de Katharina foi muito difícil. Uma grande peste abateu-se sobre a cidade de Wittenberg, e em 1552 Katharina von Bora retirou-se com sua filha Margarete para a cidade de Torgau. Em direção a Torgau, ela sofreu um acidente, em consequência do qual veio a falecer em 20 de dezembro de 1552, sendo enterrada na Igreja de Maria em Torgau. A história de vida de Katharina von Bora, uma mulher que rompeu muitas fronteiras, é uma narrativa importante para a luta das mulheres. Romper fronteiras, buscar a emancipação humana do ser e do fazer, presença pública, ser cidadã, dizer a sua palavra é um princípio fundaN mental da Reforma protestante. CLAUDETE BEISE ULRICH é teóloga, doutora em Teologia e professora na Faculdade Unida em Vitória (ES)
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Divulgação Novolhar
EDUCAÇÃO
Em torno de 750 professores e professoras da Rede Sinodal de Educação estiveram reunidos em Jaraguá do Sul (SC) para seu congresso.
Por mais justiça e ética por Rosângela Markmann Messa
“E
scola luterana: compromisso com a educação!” Esta foi a temática do 31º Congresso da Rede Sinodal de Educação nos dias 19, 20 e 21 de julho de 2016 no Colégio Evangélico Jaraguá na cidade de Jaraguá do Sul (SC). Mais de 750 professores e professoras de instituições da Rede Sinodal de Educação estiveram reunidos para refletir, quase 500 anos após a Reforma Luterana, sobre o papel que exercem e desem-
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penham nos dias de hoje em escolas evangélico-luteranas de nosso país. Como escolas que têm sua origem na Reforma e no processo imigratório ao sul do país, trazemos, por um lado, o legado de Martim Lutero, que em sua época redescobriu o evangelho e contribuiu significativamente para o avanço das artes, das ciências, do letramento, bem como para a liberdade de pensamento e expressão, para o desenvolvimento da autonomia e de uma postura crítica e ética. Ao olhar
para trás, alegramo-nos com os feitos herdados da Reforma. Por outro lado, ao olhar para frente, assumimos e reafirmamos o compromisso e a responsabilidade de contribuir, através da educação, para uma sociedade mais justa, ética e responsável. Esse 31º Congresso da Rede Sinodal de Educação pretendeu ativar o debate crítico que possibilitasse a visualização de consequências práticas para o trabalho pedagógico de qualidade, pelo qual primam as instituições da Rede. O pro-
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grama do evento foi elaborado a partir de uma palestra de abertura intitulada “Escola luterana: compromisso com a educação – Provocações Iniciais”, seguida de três blocos temáticos, a saber: a) “O Pensamento de Lutero”; b) “O Cenário Atual e o Luteranismo”; e c) “Escola Luterana e os desafios pedagógicos”. Em cada um dos blocos houve a contribuição de dois palestrantes convidados, que trouxeram diferentes perspectivas em relação ao tema do eixo. Ao término das duas exposições, um moderador convidado fez a sistematização das principais contribuições trazidas e procurou identificar desafios e questões considerando o cenário concreto das instituições da Rede Sinodal de Educação. Na última manhã, a pretexto de “Provocações Finais”, três pessoas convidadas que acompanharam todas as atividades foram desafiadas a trazer
COMO ESCOLAS QUE TÊM SUA ORIGEM NA REFORMA E NO PROCESSO IMIGRATÓRIO NO SUL DO PAÍS, AO OLHAR PARA TRÁS, ALEGRAMO-NOS COM OS FEITOS HERDADOS DA REFORMA. POR OUTRO LADO, AO OLHAR PARA FRENTE, ASSUMIMOS E REAFIRMAMOS O COMPROMISSO E A RESPONSABILIDADE DE CONTRIBUIR, ATRAVÉS DA EDUCAÇÃO, PARA UMA SOCIEDADE MAIS JUSTA, ÉTICA E RESPONSÁVEL.
questões que pudessem dar continuidade à reflexão e ao debate crítico acerca dos assuntos discutidos no congresso após o retorno dos participantes às suas escolas. No fechamento do evento, houve um culto com a presença do pastor-presidente da IECLB, P. Dr. Nestor Friedrich, em que foi enfatizada a importância das instituições da Rede Sinodal de Educação na educação de crianças e jovens, baseada nos ensinamentos cristãos. Após a realização do congresso e o retorno recebido por parte de alguns professores e professoras participantes, pode-se dizer que o evento contribuiu significativamente para (re)afirmar a identidade evangélico-luterana de nossas instituições e para mostrar o papel que temos na construção de um mundo mais N humano, mais ético e responsável. ROSÂNGELA MARKMANN MESSA, doutora em Educação, é coordenadora pedagógica da Rede Sinodal de Educação
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ERA DIGITAL
A vida da comunidade na ponta dos dedos por Elaine Beatriz Fuchs
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egundo o reformador Martim Lutero, a Igreja de Cristo precisa estar sempre em reforma – reformando sua forma de vivência em comunidade, de comunicação, testemunho e serviço. Com esse olhar e anseio, a Paróquia Martin Luther em Progresso/Blumenau (SC), querendo reformar sua forma de comunicar-se com seus membros, lançou-se em terras novas: em solo da comunicação virtual e digital. Na era digital em que vivemos, cada vez menos se alcançavam com eficácia
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os objetivos de informação rápida e abrangente em nossa paróquia. No ritmo frenético de hoje, as pessoas têm pouco tempo para informar-se sobre a programação de suas comunidades. Isso também em nossa pequena paróquia com pouco mais de mil membros. Quando elas querem saber de horários e encontros, preferem comunicar-se por via digital com alguém que possa responder. Com essas vivências diárias, inserida na vida da comunidade como pastora, mas também conectada aos anseios dos membros, ao lado de meu marido Sérgio Leite Fuchs, que é programador do aplicativo, surgiu então a ideia de de-
senvolver um aplicativo religioso, usando um mecanismo tecnológico já enraizado na vida diária de cada um de nós, que pudesse levar a informação e ser um meio de conexão mais direto e eficaz com os membros da igreja luterana. Desde a ideia inicial até o lançamento no dia 18 de junho, durante os festejos dos 500 dias para os 500 anos, foram muitas horas na criação e no desenvolvimento. O presbitério abraçou a ideia e ajudou na implantação em todo o âmbito paroquial. Os membros estão nos dando um retorno excelente sobre o aplicativo: cada vez mais pessoas instalam-no em seus celulares, também fora do âmbito luterano e em todas as gerações.
A PASTORA ELAINE E SEU MARIDO SÉRGIO CRIARAM UM APLICATIVO COMO MEIO DE CONEXÃO DIRETA COM OS MEMBROS DE SUA PARÓQUIA EM BLUMENAU, COM O ENVOLVIMENTO DO PRESBITÉRIO.
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CONSULTÓRIO DA FÉ O lançamento do aplicativo foi pensado para marcar uma nova era na vivência em comunidade, promovendo uma comunicação mais rápida e eficaz com os membros. O aplicativo M. L. Progresso, disponível no Play Store, possui um espaço histórico sobre a Reforma Luterana, a Paróquia Martin Luther e suas comunidades, com sua localização no Google Maps, a contagem regressiva para os 500 anos da Reforma Luterana, dicas de leitura de livros publicados pela Editora Sinodal, com um link direto para o site da editora. E as Senhas Diárias, cedidas gentilmente pela Editora Sinodal. Assim, os membros têm à disposição, em qualquer hora e lugar e na ponta do dedo, todas as informações necessárias para manter-se conectados à sua comunidade. Contam ainda com o recurso de um “sino virtual”, através do qual um lembrete para cada culto chega a cada membro virtualmente uma hora antes do início. Mas o sino virtual também toca comunicando algum festejo ou com pesar algum falecimento na paróquia. Aquilo que os sinos faziam no passado, e em algumas localidades ainda fazem, agora chega aos nossos ouvidos e olhos de forma virtual rapidamente. A ideia é incluir e disponibilizar ainda novos recursos em novas atualizações. Novos tempos para a igreja neste mundo. Afinal, a Reforma Protestante não foi um evento estático, definitivo. Devemos sempre achar mecanismos que possam de forma atualizada comunicar e divulgar a boa-nova do reino de Deus. A Igreja de Cristo Reformada precisa sempre estar se reformando, reformulando sua forma de comunicar e viver, sem se desviar das origens e antigas veredas do N reino de Deus.
ELAINE BEATRIZ FUCHS é teóloga e ministra da IECLB em Blumenau (SC)
Quem são “todos os santos”? por Carlos Romeu Dege Li certa vez uma frase: “Não sou dono do mundo, mas sou filho do dono”. Creio que essa frase nos ajuda a entender a compreensão bíblico-teológica sobre quem são “todos os santos”. A comemoração do “Dia de Todos os Santos” vem da prática de celebrar culto aos mártires. Eram considerados mártires aqueles batizados que foram presos, sofreram tormentos, derramaram seu sangue e morreram testemunhando o senhorio de Jesus Cristo. Celebrava-se o culto aos mártires na data da morte e próximo ao local de sua deposição, como descreve Cipriano. O culto tinha por objetivo lembrar os mártires (santos) como modelos a serem seguidos pela comunidade, mas logo surgem como poderosos intercessores junto a Deus, conforme registros de 260 d.C. Passada a era das perseguições, o título de santo mártir foi estendido a outros fiéis de Cristo, mesmo sem ter sofrido tormentos ou derramado seu sangue. Com o tempo, o culto irradiou-se para além do local da deposição dos santos mártires e passou às basílicas, que possuíam relíquias de um santo. Foi com o papa Gregório III (731-741) que surgiu uma data anual em que se celebrava a memória de todos os santos. Biblicamente, o conceito de santidade é visto como um dom de Deus a seu povo (Êxodo 19.56). Cristo concede essa santidade a cada membro de seu corpo (1 Pedro 2.9). Paulo chama todos os cristãos de santos, tanto os de Roma (Romanos 1.7) como os de Jerusalém (Romanos 15.25). Lutero defende a ideia bíblica de santos como dádiva de Deus a todos os batizados. Sustenta, também, que há batizados que são exemplos de fé e que nos fortalecem na missão. Lutero rejeita totalmente a ideia de santos como intermediários e tudo aquilo que leva à idolatria. A Confissão de Augsburgo esclarece, no artigo 21, a visão da Reforma: “A Escritura não ensina que invoquemos os santos ou peçamos auxílio deles, porque nos propõe um só, Cristo, como mediador, propiciador, sumo sacerdote e intercessor”. Lutero retira do calendário litúrgico o dia de todos os santos. Celebrar o dia de todos os santos, para a confessionalidade luterana, é lembrar que, como filhos e filhas de Deus, estamos na santidade de Deus e que com nossas ações podemos fortalecer pessoas a continuar no caminho da fé. Que santo N você tem sido? CARLOS ROMEU DEGE é teólogo e ministro da IECLB em Igrejinha (RS) NOVOLHAR.COM.BR –> Out/Dez 2016
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REFORMA 500 ANOS
Por novas formas de celebração por Clovis Horst Lindner e Guilherme Lieven
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s celebrações dos 500 anos da Reforma Luterana estão chegando. Nesse meio tempo, muitas coisas já aconteceram em comemoração à data de 31 de outubro de 2017. Jardins da Reforma, com árvores e praças no formato da Rosa de Lutero, noites de concertos musicais, dezenas de palestras sobre temas da Reforma e muitos atos públicos e comunitários já aconteceram. Nesta edição, A Novolhar expressa a preocupação de que algumas fórmulas, de tanto serem repetidas, já não atraem mais as pessoas nem fazem refletir sobre a real razão do movimento reformatório e das celebrações em torno dele. O objetivo deste artigo, escrito em mutirão, é compartilhar algumas ideias que ajudem as comunidades e lideranças a sair da mesmice, buscando caminhos criativos para essa importante celebração. EXPOSIÇÕES – Um espaço que oferece múltiplas possibilidades de trabalhar temas de forma diferenciada é uma exposição. Os temas são muitos, e os recursos na era digital são múltiplos. “Lutero e a Bíblia”, por exemplo, pode atrair muita gente para o salão comunitário ou a igreja. Um pequeno museu com bíblias da época dos imigrantes em sua região é um bom começo. A bíblia da “Oma” com dedicatória ou bíblias antigas do altar da igreja local, por exemplo, requerem um pouco de vontade de garimpar, mas os achados podem surpreender.
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Ao lado disso, convide pessoas ligadas às artes (designers, artistas plásticos e artesãos) para montar painéis temáticos: A importância da Bíblia na vida de Lutero, a descoberta de Romanos 1.17, biografias dos que ajudaram Lutero na tradução da Bíblia e outros. Poderia, ainda, ser criado um espaço interativo, com alguns fones de ouvido, em que se ouve a Bíblia Falada (Cid Moreira). Aproveitando o computador e o datashow, podia ser montado um espetáculo de imagens sobre o tema “Bíblia e Reforma”. Num outro canto, pode-se montar uma estrutura artística com os Pilares da Reforma (Sola Fide, Sola Gratia, Sola Scriptura, Solus Christus) com explicação do seu significado (designer ou publicitário na comunidade sempre tem!). A exposição poderia ter banners com reproduções de pinturas de Lucas Cranach, que podem ser baixadas da Wikimedia Commons em alta resolução e impressas em banners que custam menos de 150 reais cada um. Com um pouco mais de pesquisa sobre essas obras da época, é possível montar um espaço com obras retratando a vida de Lutero e Catarina, por exemplo. Pequenos textos podiam explicar de que trata cada reprodução. Na exposição, poderia ainda ter um espaço interativo para crianças, com material para desenhar ou colorir. Para adultos, o espaço interativo poderia oferecer o tema: “Ajude a escrever 95 teses de Lutero para os nossos dias”. Um concurso pode es-
colher as teses finalistas e oferecer algum brinde aos selecionados. AÇÕES – Diversas ações concretas podem marcar os 500 anos da Reforma. Uma, que já foi testada em Belo Horizonte, levou o devocionário Castelo Forte a lideranças religiosas e políticas da cidade. O Castelo Forte 2017 terá exclusivamente textos meditativos de Martim Lutero. Distribuir esse material a vereadores, pastores de outras confissões e padres seria uma ação muito significativa. Simbolicamente, a comunidade de Belo Horizonte distribuiu 95 exemplares. Lembra as 95 teses, não? O ato poderia ser feito em paralelo com um programa de rádio específico sobre o tema 500 anos da Reforma com uma entrevista com o/a ministro/a local. Uma audiência com o prefeito para o ato de entrega também seria marcante, bem como ocupar a tribuna da câmara local, com posterior distribuição do devocionário. Não? Outra dica, então? CELEBRAÇÕES – Que tal um culto campal para marcar o dia 31 de outubro de 2017? Um espaço bem decorado, com música da Reforma e o cheiro do frescor da manhã. Nada mais marcante, não? Já estou até imaginando isso num dos belos parques de Curitiba, no Ramiro Ruediger em Blumenau ou no Jardim Botânico em Timbó. Soltar a criatividade junto com um grupo de liturgia é o ideal para organizar um evento assim. No final dessa festa linda, o Gibi de Lutero montado pela Comunidade de Blumenau poderia ser adquirido e distribuído aos participantes do culto. Confeccionar cartões (semelhante aos cartões de visita) com as orações vespertina e matutina de Lutero, uma em cada lado, e distribuir nas celebrações da Reforma. Produzir uma flâmula com o símbolo dos 500 anos para distribuir a todos os membros, motivando-os a colocar em suas casas em local de destaque.
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DE OLHO NA CIDADANIA Para as celebrações é possível preparar um grande painel com palavras-chave da Reforma, colando o painel em várias caixas de papelão e recortando-o para separar as caixas umas das outras e, durante a celebração, montar o painel. Adolescentes e jovens podem conduzir as caixas e montar o painel em espaço próximo ao púlpito. A preparação do painel, com adolescentes e jovens, já atingirá a meta de aproximá-los dos grandes temas da Reforma e pode ser uma tarefa para os grupos do ensino confirmatório.
Cultura do estupro nos bancos de nossas comunidades por Cibele Kuss
VIAGENS – Tempo de jubileu pode ser também tempo de turismo. Nesse sentido, poderia ser interessante montar uma excursão. Um bom destino seria a região de São Leopoldo e Porto Alegre. Seria possível conhecer o museu da imigração e visitar o Morro do Espelho e suas instituições (Faculdades EST, Editora Sinodal, Colégio Sinodal e outros). Uma esticada a Porto Alegre para conhecer a sede da IECLB também seria recomendado. Com tempo, seria possível até agendar um encontro com o pastor presidente. Mas também seria imaginável realizar viagens de um dia, como por exemplo para as nossas sedes sinodais em Joinville, Blumenau ou Curitiba. Conhecer o Centro de Eventos Rodeio 12 ou os museus nas proximidades. A cidade de Pomerode vale uma viagem, até para conversar com o pastor local e saber que Martim Lutero tinha um amigo pomerano com o nome de Johannes Bugenhagen, que ele chamava de “Doctor Pomeranus”. Lá existe também um museu colonial da família Weege, muito interessante, sobre o passado da imigração. Agora, se você tiver feito economias, viaje à Alemanha e conheça os encantadores lugares da Reforma na Europa. Mas eu imagino que em 2017 muita gente vai ter essa mesmíssima ideia, e N você pode ter alguns percalços...
O Fórum Nacional de Segurança Pública produziu uma pesquisa de âmbito nacional, focada na percepção da população em relação às mulheres que são vítimas de violência sexual, também o recorte sobre o atendimento às vítimas na atuação das pessoas profissionais de segurança pública. A pesquisa foi publicada no dia 20 de setembro no contexto em que a Lei Maria da Penha completa dez anos. No Brasil, a cada 11 minutos uma mulher é estuprada; quase 50 mil estupros por ano. Mas dados indicam que apenas 10% dessas violências sexuais são registradas. Portanto, com certeza, podemos falar de, no mínimo, 500 mil estupros anuais. Para analisar a percepção nacional sobre o estupro, a pesquisa usou a frase “A mulher que usa roupas provocativas não pode reclamar se for estuprada”. Trinta por cento das pessoas entrevistadas concordam com essa afirmação, atribuindo o estupro à roupa usada e reforçando que a culpa é da vítima. Essa ideia de que as mulheres são as causadoras da violência que as destrói – sim, o estupro é destruidor de corpos e sonhos – é de uma desumanidade sem limites. A reflexão sobre a cultura do estupro não pode parar! Meninas, adolescentes e mulheres continuam revivendo a violência vivida pela mulher, que foi entregue pelo próprio pai a tantos homens em Juízes 19. 24-29 ou Bate-Seba, em 2 Samuel 11, violentada por Davi, ou Tamar, ou eu e você. Se em nossas comunidades e paróquias a violência contra a mulher não está sendo tematizada nas prédicas, nos estudos bíblicos e meditações nos grupos e também nos espaços ecumênicos, nós estamos ignorando essas violências vividas e também desprezando a prática de Jesus que, através do amor, da misericórdia e da justiça, sempre se envolveu e posicionou-se pelas pessoas em situação de violência. Também em nossas comunidades, os casos de estupro, assédio e agressão permanecem sem espaço seguro e organizado para encontrar o caminho evangélico da escuta e do encaminhamento jurídico da proteção e da responsabilização. A prédica precisa desacomodar nossos corpos e consciências ao sentarmos nos domingos de culto nos milhares de bancos nas paróquias da IECLB. Até quando vamos ouvir interpretações em que Hagar e Bate-Seba eram sedutoras, usavam roupas provocativas e eram as únicas culpadas pela violência que atacou seus corpos e seus sonhos? Dói. Precisamos de uma vida com justiça de gênero. Deus ajude-nos a romper esse silêncio e a acabar com essa leitura bíblica machista que N continuam nos ensinando.
CLOVIS HORST LINDNER e GUILHERME LIEVEN são ministros da IECLB no Sínodo Vale do Itajaí
CIBELE KUSS é teóloga e secretária executiva da Fundação Luterana de Diaconia em Porto Alegre (RS) NOVOLHAR.COM.BR –> Out/Dez 2016
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MÚSICA
O som dos metais da Obra Acordai por Ari Käfer
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udo começou com o pastor Johannes Kuhlo (1856 a 1941) no norte da Alemanha quando ele percebeu a evasão dos jovens das comunidades após o ensino confirmatório. Kuhlo empenhou-se para reunir os jovens na igreja e passou a ensinar confirmandos e jovens recém-confirmados a tocar instrumentos de sopro. Desde então, muitos coros de metais formaram-se e espalharam-se por toda a Igreja Evangélica de Confissão Luterana na Alemanha. Entre os imigrantes alemães no Brasil, muitos sabiam tocar um instrumento de sopro. Assim, aos poucos, formaram-se
coros de metais nas comunidades da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB). Durante a Segunda Guerra Mundial, esse trabalho sofreu um revés, porque muitos livros e também instrumentos foram destruídos. Mas, terminada a guerra, os coros de metais voltaram a ressoar nos cultos da IECLB. Atualmente, tocamos a quatro ou mais vozes. Novos músicos são ensinados, via de regra, pelos veteranos, continuando a proposta de Kuhlo, e assim esse trabalho se multiplica de maneira espontânea e com baixos custos. Esses coros de metais não tinham uma organização que os fortalecesse. Por isso, em 1989, foi fundada a Obra
O PASTOR JOHANNES KUHLO (1856-1946) INICIOU A CRIAÇÃO DE COROS DE METAIS NA IGREJA DA ALEMANHA PARA SEGURAR OS JOVENS NA IGREJA APÓS A CONFIRMAÇÃO.
Fotos do Arquivo da Obra Acordai
O encontro nacional em Santa Maria de Jetibá (ES) reuniu centenas de instrumentistas de todo o Brasil
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A PARTICIPAÇÃO DE MÚSICOS DE TODAS AS IDADES TORNA OS COROS DE METAIS NA IECLB MUITO ESPECIAIS. AO LADO DE PESSOAS DE IDADE, HÁ MUITOS JOVENS E CRIANÇAS.
Missionária de Metais ACORDAI, que congrega coros de metais de todo o Brasil. Seu primeiro presidente foi o pastor Johann Friedrich Genthner, que se dedicou intensivamente a esse trabalho. Desde a fundação estão sendo elaborados cadernos com arranjos de hinos, incluindo um livro de arranjos do hinário Hinos do Povo de Deus (HPD I) e outro com arranjos de hinos do HPD II. Contamos com uma comissão de assessoria musical que elabora arranjos, reúne arranjos, revisa e organiza todo o material antes de ser publicado. Atualmente, a Obra Missionária de Metais ACORDAI realiza todo ano encontros regionalizados e/ou sinodais e, de quatro em quatro anos, são realizados encontros nacionais. Em agosto de 2015, ocorreu o VII Encontro Nacional, em que se encontraram aproximada-
mente 500 músicos, que servem em suas comunidades. Na mesma ocasião, foi eleita a nova diretoria, tendo como novo presidente Marcos Petri, de XV de Novembro (RS). Esse encontro teve a assessoria de quatro maestros da Igreja da Baviera, Alemanha, através de nossos parceiros alemães. Em todos os encontros, contamos com a assessoria de maestros que aprimoram a qualidade musical dos participantes. Durante os encontros, também oferecemos oficinas para iniciantes como uma maneira de ampliar o número de músicos. Esses iniciantes já se integram com os demais e despertam o desejo de poder participar do grande grupo em encontros futuros. Os coros de metais no Brasil têm uma característica especial, pois integram pessoas das mais diversas profissões
e de idades bem distintas, pois tocam lado a lado crianças a idosos. Os grupos também se formam e reúnem com essa característica tanto nas áreas urbanas como rurais. Nos últimos anos, cresceu sensivelmente o número de participantes do sexo feminino, entre essas muitas crianças e jovens. Tudo isso torna os encontros ricos pela diversidade. Muitos integrantes dos coros de metais iniciaram sua aprendizagem na infância ou na juventude e servem a Deus e ao próximo com fidelidade e dedicação ao longo de suas vidas através da música. Obtenha mais informações acessando www.luteranos.com.br – no link N trombonistas.
ARI KÄFER é teólogo e vice-secretário da Obra Missionária de Metais “Acordai” em Guarapuava (PR) NOVOLHAR.COM.BR –> Out/Dez 2016
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ESPIRITUALIDADE
Consolo, orientação e sustento para a vida – tudo num livro
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o segundo domingo de dezembro, é comemorado o Dia da Bíblia no Brasil. Essa comemoração faz parte do calendário oficial do país desde 2001, quando foi assinada a Lei Federal 10.335, que instituiu essa celebração em todo o território nacional. Mas a história dessa data festiva é mais antiga. Em 1549, na Grã-Bretanha, o bispo Cranmer incluiu a data no Livro de Orações do rei Eduardo VI. A intenção era guardar um dia especial para lembrar o valor da Bíblia, orar agradecendo a Deus por esse livro especial e, ao mesmo tempo, pedir que ele fosse lido por todas as pessoas. Nas igrejas que guardam o ano eclesiástico, o segundo domingo de dezembro é, normalmente, o segundo domingo de Advento. A data que antecede o Natal lembra a vinda de Cristo ao mundo por meio da palavra de Deus. Jesus Cristo, o Verbo que se fez carne, vem a todos por meio da Palavra. Com a chegada dos primeiros missionários ao Brasil, vindos da Europa e dos Estados Unidos, especialmente
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a partir da metade do século XIX, a data começou a ser celebrada no Brasil. Mas a primeira manifestação pública aconteceu logo depois da fundação da Sociedade Bíblica do Brasil em 1948, em frente ao Museu do Ipiranga em São Paulo (SP). A partir de então, a Sociedade Bíblica do Brasil passou a estimular a celebração da data estimulando as igrejas a promover cultos especiais e manifestações públicas de apreço à Bíblia Sagrada. Ofertas especiais eram levantadas nas igrejas para o sustento da causa da Bíblia no Brasil. Além dos cultos, carreatas, shows, maratonas de leitura bíblica, exposições bíblicas, construção de monumentos à Bíblia e distribuição maciça de Escrituras são algumas das formas que os cristãos encontraram para agradecer a Deus por esse alimento para a vida. Mas por que guardar um dia para ser chamado de Dia da Bíblia? Não é a Bíblia o livro de todos os dias? A resposta a essas perguntas não é difícil de ser dada. Dias especiais querem chamar a atenção, de forma especial, para fatos importantes.
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por Erní Walter Seibert
A Bíblia é o livro mais traduzido, publicado e lido de toda a humanidade. Na última pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, publicada em março deste ano, a Bíblia aparece em primeiro lugar no item “Gêneros que costuma ler” entre estudantes e não estudantes em todas as faixas etárias e em todos os níveis de escolaridade. Apesar de toda essa popularidade, a Bíblia continua sendo alvo de críticas e resistência em muitos setores. No entanto, por outro lado, milhões de pessoas dizem que a leitura da Bíblia lhes
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traz consolo, orientação e sustento para a vida. Pessoas hospitalizadas encontram na Bíblia paz em meio a seu sofrimento. Pessoas encarceradas encontram direção para suas vidas com a Bíblia. Dependentes químicos testemunham que conseguiram libertar-se da prisão das drogas a partir da leitura da Bíblia. Famílias com problemas dizem que a Bíblia ajudou a superar os desentendimentos e a estruturar-se de uma maneira saudável. A fé cristã tem uma mensagem que é extraída das páginas da Bíblia Sagrada.
E, ao longo da história, a mensagem cristã tem ajudado milhões de pessoas a encontrar a boa notícia do amor de Deus em Jesus Cristo. Vale a pena guardar um dia para lembrar o valor e a importância da Bíblia Sagrada. É um dia para agradecer a Deus por esse livro tão precioso. É um dia para pedir a Deus que não nos deixe sem a sua Palavra. É um dia para dar testemunho do valor da Bíblia a todas as pessoas. É um dia para dar uma oferta para que essa boa palavra continue a se espalhar pelo mundo.
A Sociedade Bíblica do Brasil está propondo para este ano que, no Dia da Bíblia, todos invistam um pouco de tempo para pensar no seguinte tema: “Tradução da Bíblia – para que o povo entenda a Palavra de Deus”. O texto bíblico orientador desse tema é Neemias 8.8: Eles iam lendo o livro da lei e traduzindo e davam explicações para que o N povo entendesse o que era lido. ERNÍ WALTER SEIBERT é secretário de Comunicação, Ação Social e Arrecadação da Sociedade Bíblica do Brasil em Barueri (SP) NOVOLHAR.COM.BR –> Out/Dez 2016
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PENÚLTIMA PALAVRA
O pastor “Joca”, em seu ambiente de trabalho na Editora Sinodal, onde atuou ao longo de 24 anos
por João Artur Müller da Silva
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s pensamentos de uma pessoa que meditou profundamente sobre a vida, a espiritualidade e as vivências estão registrados no livro bíblico de Eclesiastes. E é nesse livro que busco a inspiração para redigir o meu depoimento de despedida como redator da revista e gerente editorial da Editora Sinodal. No começo do capítulo 3, ele declara: Tudo neste mundo tem o seu tempo; cada coisa tem a sua ocasião. Sábias palavras. Após 24 anos na coordenação da área editorial da Editora Sinodal, chegou o momento de despedir-me dos colegas, dos autores, das autoras, dos tradutores, enfim, das muitas pessoas com as quais me relacionei ao longo desses anos nos diferentes projetos de livros, nas diversas
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reuniões de comissões, conselhos, nos numerosos encontros com pastores, pastoras, mulheres da OASE, presbíteros... enfim, gente da nossa igreja e também gente do ambiente ecumênico com que tive algum encontro. Cada coisa tem sua ocasião – afirma o Sábio –, e a ocasião chegou para promover a renovação na liderança na área editorial da editora de nossa igreja. Foram anos muito intensos e de muito trabalho em parceria com minha equipe editorial. Não realizei nada sozinho. Não publiquei nada sozinho. Desde meu primeiro dia na Editora Sinodal em janeiro de 1992, trabalhei em parceria com meus colegas, com minhas colegas de trabalho. Ideias, projetos, alegrias, decepções sempre foram compartilhados com
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A ocasião é de renovação
quem estava ao meu redor. E talvez isso tenha sido a marca da minha maneira de gerenciar trabalho e pessoas na editora. E sou agradecido por todos os estímulos recebidos, por todas as críticas e por todas as propostas que chegaram até mim. Se alguém me perguntar se eu faria tudo de novo, eu respondo com sinceridade: Não! Quando olho para trás, vejo que alguns títulos publicados sob minha coordenação não tiveram um bom desempenho de vendas, não atraíram leitores e leitoras como era esperado. Eu tenho que confessar que não os publicaria se hoje fosse o tempo para tal. Essa sobriedade é preciso cultivar para não dar espaço à soberba, à vaidade. Quando olho no espelho retrovisor da minha atividade como redator da Novolhar e como gerente editorial de nossa editora, vejo também que magoei algumas pessoas e até devo ter sido grosseiro com outras. Por tais situações manifesto meu pedido de perdão. Foram 24 anos de intenso trabalho criativo e, confesso, amei em fazê-lo junto com as pessoas que estavam ao meu lado. Aliás, reconheço também algumas frustrações, como esta que estamos vivendo neste momento na área da comunicação da nossa igreja. Encerrar a publicação da revista Novolhar tem gosto de fracasso, de insucesso… Mas nós fizemos o possível, com dedicação e com competência, mas fomos vencidos, sabe-se lá por quais fatores... Por fim, recorro ao testemunho do Sábio na Bíblia para desejar o melhor a meu sucessor, Robson Luis Neu, pastor da IECLB, quando diz: Ele dá sabedoria, conhecimento e felicidade às pessoas de quem ele gosta (Eclesiastes 2.26). Obrigado, Editora Sinodal, pelas vivências desses anos! Bênçãos para o novo gerente editorial e equipe da N editora. JOÃO ARTUR MÜLLER DA SILVA é teólogo, redator da Novolhar e gerente editorial da Editora Sinodal em São Leopoldo (RS)
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A Bíblia de Estudo Cronológica Aplicação Pessoal o ajudará a compreender a palavra de Deus. Em vez da ordem canônica tradicional, o texto bíblico está na ordem dos fatos e nos ajuda a ver como a história realmente se desenrolou. Isto proporciona uma experiência única sobre a história, e fornecerá uma nova e empolgante compreensão dos livros da Bíblia que poderiam ter sido difíceis de entender caso não soubéssemos sua posição em ordem cronológica.
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