© Editora Sinodal Caixa Postal 11 93001-970 São Leopoldo/RS Tel.: (51) 3590 2366 www.editorasinodal.com.br editora@editorasinodal.com.br Elaborado pela Ordem Auxiliadora de Senhoras Evangélicas da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil Conselho redatorial: Anna Lange, Alba O. Seewald Diretoria Nacional (2004-2008): Ani Cheila Kummer (Presidente), Gudrun Braun (Secretária), Dirce Schitkoski (Tesoureira) Coordenação editorial: Helga Schünemann Produção editorial: Editora Sinodal Produção gráfica: Editora Sinodal
ÍNDICE Apresentação....................................................................................................... 5 JANEIRO.............................................................................................................. 6 O Deus que vê (Gênesis 16.13)........................................................................... 7 Nora e sogra: Um testemunho de superação de obstáculos.......................... 10 Jogral: Pai-Nosso............................................................................................... 14 FEVEREIRO....................................................................................................... 15 Fé e paz (Romanos 5.1)...................................................................................... 16 Dos problemas em família ao perdão tamanho família.................................. 17 9ª Assembléia do Conselho Mundial de Igrejas ............................................ 22 MARÇO.............................................................................................................. 25 No final, pedras maravilhosas! (Romanos 8.18).............................................. 26 Repartindo tarefas – Um estudo de Êxodo 18.13-27....................................... 28 Quaresma: Ser feliz a qualquer preço.............................................................. 32 ABRIL................................................................................................................. 33 Na vida e na morte (Romanos 14.8)................................................................. 34 Auto-estima e timidez – viver sem medo......................................................... 36 Surpresas da Páscoa.......................................................................................... 40 Saúde: Receitas para espantar insetos............................................................ 43 MAIO.................................................................................................................. 44 Quem é Jesus Cristo? (Filipenses 2.11)............................................................ 45 Educação – uma questão de família ............................................................... 46 Benção de Deus e a família............................................................................... 48 Dá vontade de ser mãe! . .................................................................................. 51 JUNHO............................................................................................................... 52 Família vale ouro (Salmo 111.2)........................................................................ 53 Relação de poder na família............................................................................. 55 Resgatando valores........................................................................................... 59 Unidos como um feixe de varas........................................................................ 61 Abraços............................................................................................................... 61
JULHO................................................................................................................ 62 Para brilhar precisa participar (Mateus 5.16).................................................. 63 Fazer o bem – Confirmandos aprendem a ser solidários................................ 65 Quem é feliz?...................................................................................................... 69 Receita: Bolo caipira.......................................................................................... 70 AGOSTO............................................................................................................. 71 Como você gasta seu tempo? (Salmo 113.3).................................................... 72 Relações de trabalho – servos e senhores....................................................... 74 OASE e vida pública.......................................................................................... 77 Receita: Café capuccino .................................................................................. 80 SETEMBRO........................................................................................................ 81 Por um punhadinho de moedas (Mateus 16.26).............................................. 82 Resposta ao amor de Deus................................................................................ 84 Inclusão é conseqüência da convivência........................................................ 86 OUTUBRO.......................................................................................................... 88 Faltas ocultas (Salmo 19.12)............................................................................. 89 A fé é o fundamento da vida cristã ................................................................. 90 Arte como expressão de fé................................................................................ 93 NOVEMBRO....................................................................................................... 95 Pecado da omissão (Tiago 4.17)........................................................................ 96 Mulheres atuantes............................................................................................. 97 Liberdade religiosa e compromisso................................................................ 101 DEZEMBRO..................................................................................................... 104 Pela saúde da família (Isaías 40.31)............................................................... 105 Nas palhas da manjedoura ............................................................................ 107 Jogral: Natal em família . ............................................................................... 109 Trabalho manual: Anjo mensageiro............................................................... 112
APRESENTAÇÃO Queridas leitoras, em suas mãos chega mais uma edição deste precioso livro de estudos bíblicos, meditações e artigos sobre temas diversos. O Roteiro da OASE quer ser seu companheiro, seu livro de cabeceira, que ajudará vocês a melhorar seus conhecimentos e a crescer na fé. “Construindo Relacionamentos” desafia-nos a repensar nossa relação com pessoas da família, colegas de trabalho e de escola, amigos... Na verdade, relacionamentos precisam ser reconstruídos constantemente. E é muito bom ter essa sensibilidade de não descansar sobre o conquistado, mas de investir em enriquecer e apostar na renovação dos relacionamentos. A experiência que fizemos no relacionamento com Deus prepara-nos para uma vida harmoniosa, permitindo suficiente autoconhecimento, que nos impele a não nos conformar com marasmos, mas a um constante construir de relacionamentos duradouros e consistentes. É como o Batismo, que precisa ser renovado diariamente. O Roteiro da OASE foi coordenado por catorze anos pela sra. Íris Butzke. A OASE do Brasil agradece pelo seu grandioso trabalho, de muitas horas, dias e anos de dedicação. Todos os textos trouxeram uma valiosa contribuição na vida de fé da mulher, no seu relacionamento consigo, com a família, com a igreja e o mundo que a cerca. A coordenação passou agora para a sra. Helga Schünemann, que se empenhará para que o Roteiro continue a ser um livro importante na vida da mulher da OASE, da IECLB, do Brasil. Com votos de boa leitura e bom trabalho abençoado por Deus, Ani Cheila Fick Kummer Presidente da Associação Nacional da OASE
Friedrich Gierus
J A N E I R O
Datas importantes
01 – Ano Novo 1899 – Aprovada a proposta da organização de mulheres “Frauenhilfe”, em Berlim/Alemanha, sob a liderança da Imperatriz Auguste Vitória 03 – 1521 – Lutero é excomungado pelo papa 06 – Epifania 07 – 1890 – Decretada a liberdade religiosa no Brasil 13 – 1635 – *Philipp Jacob Spener, fundador do Pietismo (+5/2/1705) 14 – 1875 – *Albert Schweitzer – teólogo, médico, filósofo, missionário, Prêmio Nobel da Paz (+4/9/1965) 20 – Dia do/a Farmacêutico/a 27 – Dia do/a Doente de Hanseníase (Lepra) 28 – *Katharina von Bora, esposa de Lutero (+20/12/1552) 29 – Dia do/a Jornalista
S T Q Q S S D S T Q Q S S D S 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 T Q Q S S D S T Q Q S S D S T Q 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31
JANEIRO Tu és Deus que vê. Gênesis 16.13
Meditação O Deus que vê Problemas de Sara, Hagar e Abraão A vida do casal Sara e Abraão não está fácil. Entre as várias dificuldades está o desejo ainda não realizado do casal de ter filhos. Na época, diferentemente do que hoje, não ter filhos significava ser amaldiçoado, não ter direito ao amparo na velhice; não deixar descendência era considerado uma desgraça. Sara e Abraão sonhavam muito com um filho. Deus havia lhes prometido descendência. Mas isso estava demorando muito. Achavam que estavam ficando velhos demais para ter filhos. Apesar da promessa de Deus, o casal vivia deprimido, angustiado. O casal achou um jeito de resolver esse problema à sua maneira. Então entra a serva Hagar na história. Por sugestão de Sara, Abraão engravida Hagar, tentando resolver o problema da descendência. Depois que Hagar engravidou, começa outro problema: as duas mulheres competem entre si, humilham-se mutuamente. Acaba sobrando para Hagar, a serva. Novamente, Abraão e Sara resolvem o problema à sua maneira: querem colocar a serva Hagar nos eixos, ou seja, no seu devido lugar de serva. Ela não aceita essa situação e foge de casa. No caminho, é encontrada por Deus quando está junto a uma fonte de água no deserto. Deus quer saber de onde Hagar vem e para onde quer ir. Hagar conta sua história. Deus a acode e envia de volta à casa de Sara e Abraão e promete descendência numerosa a Hagar. O seu filho deverá ter um nome que testemunha a ação de Deus: Ismael, pois Deus a acudiu no tempo da aflição. Diz o texto bíblico (Gênesis 16.13) que Hagar invocou Deus. Ela testemunha: “Tu és Deus que vê”. Para Hagar, o auxílio do Deus que vê significou abrigo, socorro, alimento, paz, vida, descendência. O apaixonado Deus que vê
JANEIRO *** 7
Nosso Deus é dinâmico. Ele ouve, vê, acode. Não é um Deus distante, calculista, frio, que apenas observa para ver como o povo se atrapalha e castiga se alguém faz alguma coisa errada. Deus está presente. Sua presença significa superação de dificuldades, que criamos quando queremos resolver nossas necessidades do nosso jeito. Mas sua presença também evita problemas, mortes, como foi o caso de Hagar. Sozinha, abandonada no deserto, ela não podia ter seu filho. Seguir aquele caminho do deserto certamente significaria morte para ela e seu filho. Deus a acolhe e encaminha de volta. Sua promessa refere-se à descendência numerosa. Hagar, a serva, vive da promessa de Deus. A promessa refere-se a ela, seu filho Ismael e toda a sua descendência. Ela é tratada com honra e dignidade pelo próprio Deus. Que coisa bonita! O próprio Deus promove a dignidade de Hagar, a serva, e de seu povo. Deus cria situações positivas de vida. Em relação aos problemas de relacionamento, Deus age à sua maneira. Soluciona conflitos (apaga o fogo), evita conflitos (evita o fogo) e cria situações de convivência positivas. Essa estratégia de Deus serve de exemplo para nossos relacionamentos hoje. É claro que Deus é muito mais do que um mero estrategista, pois ele é o salvador único e pleno. Deus é Deus que vê (Gênesis 16.13). O que significa isso? Há pessoas que acham que Deus está de olho em todos para ver se alguém se atrapalha. Quando alguém diz: “Eu estou de olho em você”, as pessoas já se assustam, pois o passo seguinte é “o olho da rua” ou “rua para você”. Quer dizer: “você está demitido”. É isso, geralmente, que as pessoas querem que Deus faça com os outros. Estão sempre prontas para acusar e romper os relacionamentos com Deus e outras pessoas. Por outro lado, quando alguém diz: “Estou de olho em você”, pode estar querendo dizer que não consegue tirar os olhos da pessoa, ou dito de forma mais clara e humana, “estou apaixonado por você”. Eu entendo que essa leitura faz mais jus ao interesse de Deus. De fato, Deus é apaixonado por suas criaturas. Ele é tão apaixonado pela humanidade, que enviou seu próprio Filho para que todas as pessoas que nele crêem tenham vida hoje e sempre (João 3.16). A serva Hagar, grávida e desprezada por todos, foi vista por Deus no caminho do deserto. O Deus que vê lhe dá vida e salvação. Deus vivo que luta para nos reconciliar É pouco provável que alguém tenha problemas semelhantes aos de Sara, Hagar e Abraão. Mas há outros igualmente desafiadores e que precisam ser tratados. Quais são as dificuldades que nós temos na família, comunidade, OASE, trabalho, escola? Como nós as tratamos? Nós nos preocupamos com elas? Nós nos ocupamos com elas?
8 *** Roteiro da OASE 2007
Deus vê, ouve, preocupa-se e ocupa-se com todas as questões relacionadas com nossa vida. Questões fundamentais são os conflitos, as tensões, os desentendimentos, a quebra da amizade e da comunhão. Desentender-se é fácil; reconstruir a amizade é difícil. Certamente você tem experiência e conhecimento de muitas dores de pessoas que se machucaram com palavras agressivas, falatório, atitudes corruptas e destruidoras de relacionamentos. Reconstruir a amizade, reconciliar-se, voltar à comunhão é difícil. Para Deus isso é tão difícil, que teve que enviar seu próprio Filho para ensinar e agir a fim de reconciliar as pessoas com Deus. Como escreve o apóstolo Paulo: “Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de Cristo ter morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” (Romanos 5.8). Ele deixou o testemunho vivo de sua palavra reconciliadora e de sua ação, pagando as nossas dívidas, pois, por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo, recebemos, agora, reconciliação (Romanos 5.11). Se não fosse assim, nossa amizade com Deus nem seria possível, porque a santidade e a glória de Deus são tão grandes e profundas, que nós seríamos consumidos na sua presença. Graças a Deus, que, através do sacrifício de Jesus em nosso benefício, restabeleceu a amizade conosco e organizou nosso relacionamento como uma família, derrubando a parede da separação que estava no meio (Efésios 2.14). Além de nossa própria família, a comunidade, a igreja são exemplos dessa família de Deus. Mas a pergunta é: nossa amizade humana vem de Deus e leva a Deus? Nossa família e nossa comunidade vivem e se comportam como famílias de Deus? Jesus diz que quem faz a vontade do Pai é parte de sua família. A base do relacionamento na família de Jesus é o perdão. Como anda o perdão na família, na comunidade, na OASE? Deus ensina a perdoar As pessoas com quem você convive podem ser muito boas. Você chega a pensar que elas são o máximo e lhe dão muita alegria. Sua amizade traz-lhe felicidade. Mas chega o dia em que elas fazem algo de que você não gosta, vão machucá-la, decepcioná-la. E você não vai encontrar outro jeito a não ser perdoá-las, pois você as ama e quer ou precisa se encontrar com elas e conviver num clima bom e agradável. O famoso escritor britânico William Shakespeare, certa vez, escreveu: “Não importa quão boa é uma pessoa, ela vai feri-lo de vez em quando e você precisa perdoá-la por isso”. Por outro lado, você também pode ser uma pessoa muito boa e achar que faz tudo certo. Mas as outras pessoas podem vê-la de forma diferente do que você se vê. Deus a vê diferente, pois “você pode pensar que tudo o que faz é certo, mas Deus julga as suas intenções” (Provérbios 16.1). Você também, de vez em quando, fere, machuca e decepciona as pessoas que lhe querem bem, que a amam. Você também estraga o clima de boa convivência. Às vezes, nem JANEIRO *** 9
pensa bem sobre seus atos e faz bobagens. Outras vezes, sua consciência a trai e você cai numa fria, ferindo e agredindo pessoas. Às vezes, a gente se dá conta de que errou; outras vezes, nem nota o quanto nossas atitudes agridem, ferem e machucam as pessoas que convivem conosco. O que fazer? Desistir de tudo? Não. Isso não dá para fazer, porque precisamos conviver, ter amigos, companheiros, viver em família, viver em comunhão, respeitar e honrar as pessoas, acreditar que elas querem conviver, contar conosco e nos acolher. Você também recebe perdão. E como faz bem receber perdão! Foi Deus quem nos ensinou o perdão. Ele ensina-nos como perdoar quando perdoa nossa maldade, nossa injustiça, nosso pecado. Com o perdão, Deus tira-nos da morte, do isolamento e da perdição e dá-nos comunhão, amizade, vida e salvação, porque onde tem perdão, ali tem vida e salvação, dizia Martim Lutero. Leda Müller Witter e P. Teobaldo Witter Cuiabá/MT
Construindo Relacionamentos Nora e sogra: Um testemunho de superação de obstáculos Providenciar com antecedência: 1. A leitura do livro de Rute. 2. Uma foto da sogra e/ou da nora. Introdução Quando o assunto é o relacionamento entre nora e sogra, por via de regra as opiniões se dividem. Para algumas pessoas, a convivência está num nível aceitável, respeitoso, de confiança e de amizade. Já para outras, essa 10 *** Roteiro da OASE 2007
relação apresenta conflitos constantes e a sensação de que quanto mais distantes uma da outra, tanto melhor. Em vista disso, a figura da pessoa da sogra tem se constituído numa personagem que, ao longo dos anos, tem sido objeto de constantes piadas e tem sido vista com certa desconfiança. Para ilustrar essa constatação, cito dois exemplos. Por volta de 1970, uma das canções interpretadas pelo conjunto musical “Os Incríveis” começava assim: Feliz foi Adão que não teve sogra. Mais recentemente, ouvi uma piada em que a sogra, mais uma vez, era a personagem central. Durante os atos de violência em São Paulo, que resultaram na morte de policiais e civis, em que várias delegacias foram metralhadas, um comentarista esportivo, durante um programa de rádio, saiu-se com a seguinte piada. Disse ele: Um amigo de Porto Alegre está pensando em comprar um imóvel bem ao lado de uma delegacia em São Paulo e enviar a sogra para morar lá. Tanto num exemplo como noutro, percebe-se a maneira como o preconceito se instala na sociedade e como ele ganha forma e jeito. Hoje queremos estudar com maior profundidade o livro de Rute. Nele encontramos uma história marcada por sofrimento, esperança, trabalho, luto, amizade, solidariedade e fé. Sobressairá, no entanto, o relato sobre duas personagens femininas, que ainda hoje constituem um belo exemplo de testemunho, amor, coragem, solidariedade e fé para todas as mulheres. Rute e Noemi são seus nomes. Uma, a nora. A outra, a sogra. O livro de Rute No início do livro de Rute, somos informados do período da história do povo de Deus a que remonta o relato. Trata-se de uma história circunscrita ao período dos Juízes. Por esse tempo, compreendido entre a morte de Josué e o início da monarquia, por volta de 1200 a 1050 antes de Cristo, o povo de Deus era dirigido por juízes, que eram pessoas que tinham a função de liderar, conduzir, guiar e governar as tribos de Israel na sua luta pela permanência nos territórios conquistados. Foi exatamente nesse período, marcado pela fome, que uma família decidiu migrar de Belém para a região de Moabe, distante cerca de 80 quilômetros, habitada por moabitas, inimigos antigos de Israel. A família de migrantes era constituída pelo pai, Elimeleque, pela mãe, Noemi, e por dois filhos, Malom e Quiliom. Segundo a tradição judaica, cada nome tem um significado. Elimeleque significa “meu Deus é rei”. Noemi quer dizer “graça” ou “graciosa”. Malom, o filho mais velho, sugere “estéril” ou “doente”, “fraco”, enquanto Quiliom significa “fraqueza”. Não sabemos ao certo há quanto tempo Elimeleque e a família habitavam em Moabe quando este morreu, restando apenas a viúva Noemi e JANEIRO *** 11
os filhos. Os filhos casaram-se com mulheres moabitas: Orfa, que significa “costas”, “aquela que dá as costas” ou “desiste”, e Rute, que significa “amiga”, ou ainda, “consolar” ou “refrescar”. Viveram os filhos na terra de Moabe cerca de dez anos. Malom e Quiliom faleceram, ficando a família reduzida a três mulheres viúvas, unidas na dor, no sofrimento e desamparadas. Foi nessa condição dolorosa que Noemi ouviu que Judá, terra da qual tinha saído com o marido e os filhos, fora abençoada por Deus com um novo tempo de abundância, e a fome não mais existia. Noemi resolveu, então, retornar a Judá com suas duas noras. Durante a viagem, ela insistiu para que Orfa e Rute voltassem para suas famílias, reconstruíssem suas vidas e fossem felizes com a bênção de Deus. Inicialmente, as noras rejeitaram a proposta da Noemi. Mas, depois, diante do argumento de Noemi de se encontrar em idade avançada e sem perspectivas de ter novos filhos, Orfa deixou-se convencer pelas palavras da sogra e retornou ao convívio de seu povo. Rute, ao contrário, resolveu acompanhar a sogra com as seguintes palavras: “Aonde quer que fores, irei eu e, onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus. Onde quer que morreres, morrerei eu e aí serei sepultada; faça-me o Senhor o que bem lhe aprouver, se outra coisa que não seja a morte me separar de ti” (Rute 1.16-17). A sogra que conquista a nora, que conquista a sogra Noemi e Rute tornaram-se amigas, companheiras e unidas na confissão de fé. Sogra e nora desenvolveram uma relação muito bonita, profunda e de solidariedade mútua. Impressionam na história a determinação e a clareza de propósitos de Rute. Ao afirmar que somente a morte seria capaz de separá-la de Noemi, ela firmou um compromisso solidário de acompanhar Noemi até o fim de seus dias. É uma decisão corajosa, que implicaria sacrifício e renúncia pessoais. Nesse sentido, cabe aqui uma pergunta: Que motivações conduziram Rute a essa tomada de decisão? Penso que a resposta a essa questão pode ser encontrada ao longo do livro de Rute. De lá surgem algumas pistas. Em primeiro lugar, o significado do nome já é uma pista. Noemi significa “graciosa”. Da história depreende-se que ela refletia em suas ações o significado do próprio nome: uma pessoa que encantava as outras pessoas, de fácil relacionamento, de trato amável, com jeito carinhoso e com uma postura de acolhimento. Uma mulher que vivia intensamente sua fé em Deus. Noemi conquista sua nora pelo seu jeito de ser. Em segundo lugar, o que chama atenção é a forma clara com que Noemi expressa seu pensamento acerca de seu futuro pessoal como mulher, assim como o das noras Orfa e Rute. Ela decide que voltaria para a terra da qual saíra. Em 12 *** Roteiro da OASE 2007
relação às noras, anima-as para que retornem ao seu povo e reconstruam suas vidas. Noemi não pensa somente em si. Ela também enxerga as noras como mulheres, como pessoas livres para, se assim desejassem, constituírem novos matrimônios. Noemi procura deixar as noras à vontade para que sigam o rumo de seus próprios corações. Em terceiro lugar, Noemi fala de sua fé em Deus. Rute é atingida pelo testemunho transmitido pela sogra, abandona os deuses aos quais servia e decide acompanhá-la de volta à sua terra. De igual modo, ela manifesta a intenção de professar a mesma fé de Noemi em Deus, aquele que criou os céus e a terra e efetivou a libertação do povo de Israel do cativeiro egípcio para a terra prometida. E, dessa forma, Rute acompanha solidariamente a sogra Noemi de volta à sua terra e ao povo do qual saíra em tempos difíceis. Rute casa-se com Boaz, dá à luz Obede, avô de Davi. E, assim, Deus se vale de uma estrangeira, Rute, para dar continuidade a seu plano de libertação e de salvação. Como mulheres cristãs luteranas e motivadas pelo evangelho de Jesus Cristo, somos chamadas a semear o amor, a paciência, o perdão e o entendimento. Nesse sentido, o livro de Rute pode nos ajudar muito na superação do preconceito e a melhorar significativamente o relacionamento na família. Para reflexão 1. Leitura do capítulo 1 2. Responder às seguintes questões: 2.1. Como agia Noemi com suas noras? 2.2. O que podemos destacar na relação entre Noemi e Rute? 2.3. Atualmente, que fatores contribuem para que o relacionamento entre nora e sogra seja difícil? 2.4. Qual a contribuição que nós, mulheres cristãs luteranas, podemos dar para que essa situação se modifique? 2.5. De posse da foto da sogra e/ou nora, apresente-a: nome, idade, onde mora e/ou trabalha e outros dados que julgar importantes, compartilhando algumas de suas qualidades. 2.6. O que posso fazer para tornar ainda melhor o relacionamento com minha nora e/ou sogra?
P. Homero Severo Pinto Pastor Sinodal do Sínodo Nordeste Gaúcho
JANEIRO *** 13
Jogral Oração do Pai-Nosso (Oração incompleta, que poderá ser transformada em jogral.) Se em minha vida não ajo como filho de Deus, fechando meu coração ao amor, será inútil dizer: PAI NOSSO. Se os meus valores são representados pelos bens da terra, será inútil dizer: QUE ESTÁS NO CÉU.
Se prefiro acumular riquezas, desprezando meus irmãos que passam fome, será inútil dizer: O PÃO NOSSO DE CADA DIA DÁNOS HOJE. Se não me importo em ferir, oprimir e magoar os que atravessam meu caminho, será inútil dizer: PERDOA AS NOSSAS DÍVIDAS, ASSIM COMO NÓS PERDOAMOS AOS NOSSOS DEVEDORES.
Se penso apenas em ser cristão por medo, superstição e comodismo, será inútil dizer: SANTIFICADO SEJA O TEU NOME.
Se escolho sempre o caminho mais fácil, que nem sempre é o caminho do Cristo, será inútil dizer: NÃO NOS DEIXES CAIR EM TENTAÇÃO.
Se acho tão sedutora a vida aqui, cheia de supérfluos e futilidades, será inútil dizer: VENHA A NÓS O TEU REINO.
Se por minha vontade procuro os prazeres materiais e tudo o que é proibido me seduz, será inútil dizer: MAS LIVRA-NOS DO MAL.
Se, no fundo, o que eu quero mesmo é que todos os meus desejos se realizem, será inútil dizer: SEJA FEITA A TUA VONTADE.
Se, sabendo que sou assim, continuo me omitindo e nada faço para me modificar, será inútil dizer: AMÉM.
14 *** Roteiro da OASE 2007
Friedrich Gierus
Datas importantes
04 – 1906 – *Dietrich Bonhoeffer, teólogo, mártir do nazismo (+9/4/1945) 11 – 1868 – Fundação do Sínodo Evangélico Alemão da Província do Rio Grande do Sul 14 – 1546 – Última pregação de Lutero, sobre Mateus 11.28 1487 – *Philipp Melanchthon, colaborador de Lutero (+19/4/1560) 21 – Quarta-feira de Cinzas 22 – 1956 – Fundação da Escola Bíblica de Lagoa Serra Pelada/ES 27 – 1854 – Fundação da Diaconia de Neuendettelsau/Alemanha 28 – 1997 – Reestruturação da IECLB, extinção dos Distritos e das Regiões, criação dos Sínodos
Q S S D S T Q Q S S D S T Q Q 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 S S D S T Q Q S S D S T Q 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28
F E V E R E I R O
FEVEREIRO Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo. Romanos 5.1
Meditação Fé e paz Muitas vezes, sentimo-nos injustiçados, acontecem desentendimentos ou conflitos. Mas somente Deus tem direito de julgar os seres humanos, pois somente a justiça divina une o pleno amor e a verdade. Devemos fixar o olhar da fé em nosso Deus justo. Como líderes em nossas comunidades, na OASE, temos nossos acertos e desacertos. Precisamos reconhecer nossos fracassos ou nossa incapacidade. À medida que reconhecermos isso e pedirmos humildemente a força de Deus, seremos vencedores em nossas atividades. Temos que considerar nossos dons e nossas limitações. Deus oferece-nos a graça e a força; se fizermos a sua vontade, seremos pessoas bem abrigadas e amparadas, livres e felizes, animadas e fortalecidas. Jesus quer ser sempre presente. Quer morar para sempre em nossos corações pela fé, que precisa ser fortalecida pelo estudo fiel da palavra e por uma vida de oração sincera. A fé está firmemente convicta de que nada é impossível para Deus. Deus ama-nos assim como somos e justifica-nos, isto é, declara-nos merecedores e justos por graça, pela nossa fé. Estamos dispostos a aceitar, pela fé, a reconciliação que Deus oferece para que tenhamos paz? Jesus disse a seus discípulos: “Quando entrarem numa casa, digam primeiro ‘Que a paz esteja nesta casa!’”. Em todos os nossos encontros e relacionamentos podemos levar esse presente de paz aos outros, à nossa família, ao nosso grupo de OASE e à nossa comunidade. Jesus quer fazer de todos nós mensageiros de paz, que levam a paz consigo e a transmitam por onde passam. Vamos exercitar isso em nossos encontros de OASE. A verdadeira paz é fruto do Espírito; e Deus nos quer concedê-la para que atuemos como cristãos! A beleza da paz é o testemunho que devemos ao mundo. Wilhelmina Kieckbusch Blumenau/SC
16 *** Roteiro da OASE 2007
Arquivo
Isto a fé é para mim O que o sol é para a terra, isto a fé é para mim, pois a fé me abastece de luz. O que as flores são para o pé de manga, isto a fé é para mim, pois a fé produz frutos do Espírito. O que a água é para o peixe, isto a fé é para mim, pois a fé é o elemento no qual eu me movo. O que o fundamento é para a casa, isto a fé é para mim, pois a fé é a base de minha vida. O que a mãe é para a criança, isto a fé é para mim, pois a fé me ajuda a confiar nas mãos de Deus. O que o alimento é para o faminto, isto a fé é para mim, pois a fé mata a fome da alma. O que as mãos são para o ser humano, isto a fé é para mim, pois a fé me ajuda a receber a graça. Meu Jesus, eu te agradeço por poder crer em ti. Tira de mim tudo o que me impede de crer em ti. Sou feliz, pois tu chamas os que em ti crêem para ser teus colaboradores. Johnson Gnanabaranam (Fonte: Senhor, renova-me, Editora Sinodal, 1993, p. 54.)
Construindo Relacionamentos Dos problemas em família ao perdão tamanho família Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, que eu lhe perdoe?, pergunta Pedro, discípulo de Jesus (Mateus 18.21).
FEVEREIRO *** 17
Imaginem que vocês estão condenados a cumprir pena perpétua em uma prisão. Mas, certo dia, recebem uma carta com instruções para revogar essa pena. O que fariam? Chamaríamos de tolas as pessoas que optassem por permanecer na cadeia. Mas o inacreditável é que, nas relações pessoais, muitas escolhem continuar aprisionadas ao invés de seguir as recomendações que as levariam à liberdade. Optam por permanecer presas a cordões de ressentimentos que se transformam em teias de amargura a sufocar os afetos… Ainda mais em se tratando do que acontece no seio da família – inúmeras prisões são erigidas, prisões de sentimentos que empedram a vida de todos. Qual a instrução para alcançar a liberdade? O ato de perdoar! Já se falou muito do perdão, mas pouco se o pratica no dia-a-dia. Até entre pessoas que cultivam uma vida espiritual encontramos homens e mulheres que não se beneficiam da liberdade que o perdão traz, principalmente na intimidade da família. Por que é tão difícil nos libertar das correntes da amargura, do ressentimento? Por que retemos o perdão? Jesus ilustrou essa dificuldade com a parábola do credor incompassivo (Mateus 18.15-35). Nessa, um homem que foi perdoado de uma grande dívida pelo rei não consegue perdoar a pequena dívida de um outro. Queremos ser perdoados, como na parábola. Mas, quando saímos da presença do Rei divino com o seu perdão, não estendemos o alcance disso para as relações cotidianas. Usufruímos a graça, mas no dia-a-dia permanecemos na posição de crianças mimadas que só querem receber dádivas – absolvição, comida, carinho. Saímos da presença do Pai sem nos revestir da identidade perdoadora do Pai. Essa característica é um “presente” que nos custa mudanças de rumo, de prioridades, de entrega de liberdades. Jesus olharia com tristeza para nós, do mesmo modo como olhou para o povo sedento do pão dos milagres, mas sem fome de trilhar seus passos. Quais são esses passos? Um passo é perceber que, uma vez perdoados por Deus em Jesus Cristo, ele quer recriar-nos à sua imagem e semelhança. A comunhão que Deus inaugurou por meio da encarnação do seu Filho é de tal alcance, que não se restringe a nos perdoar, mas quer impregnar nossa vida com seu modo amoroso de ser. Isso implica mudanças em todas as áreas: nossa identidade passa a ser a de filhos e filhas de Deus cuja característica principal é a misericórdia. A raiz dessa palavra no hebraico é “útero”, matriz. O que significa ser matriz para os outros? Segundo o tradutor André Chouraqui, significa tornar-se um daqueles
18 *** Roteiro da OASE 2007
que assumem entre seus irmãos a função principal de Deus, que é a de ser a matriz do universo. A matriz recebe, mantém e dá a vida, oferecendo ao feto, a cada segundo, tudo de que ele precisa para viver. Assim Deus, matricial, tem função de matriz para o universo e cada uma de suas criaturas. O mesmo acontece com o que ama a Deus, que só vive para matriciar o mundo. Em conseqüência, a misericórdia pode crescer em todas as direções, libertando-nos do antigo padrão humano de ação-reação, de ofensa-vingança. (...) Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros (…) não apenas os que nos amam e fazem o bem a nós, mas também aos inimigos (...) quanto mais, aos familiares, mesmo que estes não tenham nos feito o bem. Uma palavra de alerta: não quero simplificar as coisas, principalmente para os agressores familiares, que muitas vezes contam com esse mandamento do amor para não ser punidos – a violência física, sexual e verbal está aí para denunciar que não podemos imobilizar a vítima com palavras piedosas. Nesses casos, cabe uma combinação de ação afirmativa que impeça a continuidade do dano, desde estudos bíblicos que não cristalizam as injustiças até denúncias às autoridades competentes, principalmente em relação a mulheres e crianças. Depois de tomadas todas essas medidas para impedir a continuidade da agressão, contudo, é preciso aprender a perdoar. O ensino de Jesus, para a própria libertação da vítima, não tem exceção. Esse é o difícil caminho de seguimento à cruz, caminho aberto por Jesus Cristo, aquele que contou essa parábola. Outro passo é imitar Jesus em nossas relações. Tal como o devedor da parábola, gostamos de limitar o seguimento a Jesus ao ambiente da corte do rei. Saindo do palácio, queremos retomar nosso modo de levar a vida sem abrir mão do direito de cobrar dos outros o que nos devem. O que não percebemos é que isso não encerra apenas nossos devedores na prisão, mas também a nós. Geralmente não numa prisão concreta, como na parábola, mas dentro de nós as grades do ressentimento e do desejo de vingança começam a cercar o coração. Quando não perdoamos, não damos a chance daquela ofensa ter um destino libertador, diz o psiquiatra Carlos Hernández.
FEVEREIRO *** 19
E qual é o alcance prático disso nas relações familiares? Na família não há como usar máscaras. Lá somos nós mesmos, com amores e raivas, tempos bons e tempos maus. Justamente nessa intimidade surgirão os momentos de maior dor, pois lá nos apresentamos ao natural. Porque amamos, temos expectativas de ser amados e amadas, de receber tudo de que necessitamos. Por causa dessa grande expectativa vêm as decepções. Em maior ou menor grau, percebemos que o outro, por mais que nos ame, tem falhas e nos frustra. Por fazer ou deixar de fazer algo, o outro nos decepciona. Isso provoca raiva, desânimo, amargura. Aqui começa o caminho das grades. Ao não perdoarmos, amarramos as faltas do outro a nosso ser; e, pouco a pouco, essas dores vão se transformando em pedras que nos impedem o movimento, pedras que vão formando muralhas entre nós e os outros. Perdoar é consentir num mandato de Deus para assistir ao milagre da sua graça, escreve Hernández. E ele segue: Perdoar é poder escolher de novo, livrando-nos da repetição. É reconhecer que os outros não são responsáveis pela nossa infelicidade. Perdoar significa livrar a nós e ao outro da armadilha de culpar alguém. Por que armadilha? Se aparentemente o papel de vítima nos livra de responsabilidades, ele também nos imobiliza – somos pobres coitados, merecedores de pena, mas não capazes de ações criativas, tampouco de tomar o destino nas mãos ou de entregá-lo a Deus. Hernández segue: Perdoar significa voltar a experimentar a ferida causada pelo ofensor, mas desta vez em um diferente contexto (…) Desse modo o ofensor participa de um sentido que ele nunca imaginou (…), mas todas essas reflexões nos levam a um ponto central: PERDOAR É ACEITAR. Aceitar que vivemos debaixo da graça de Deus, aceitar-nos a nós mesmos como pessoas perdoadas (…). Perdoar é experimentar que podemos tornar a escolher, que o mundo está aberto a uma gama infinita de novos pontos de vista. Novas percepções da multiforme graça de Deus. Uma mulher não conseguia esquecer as ofensas que seu marido lhe infligira. Dia e noite vinham-lhe as lembranças das discussões, dos malentendidos, em repetições de câmara lenta povoando sua memória. Estava presa a seu passado, destinada a viver amargamente seus dias. Um dia, ao estudar a Bíblia e dar-se conta de que Deus requeria que perdoasse para que fosse perdoada, resolveu experimentar. Orou, entregando aquele sentimento 20 *** Roteiro da OASE 2007
negativo, pedindo que o Espírito Santo completasse sua fraca oração para que pudesse perdoar. Qual não foi seu espanto quando a mágoa que a aprisionava foi substituída pelo desejo de estar perto do marido. Depois de meses, era a primeira vez que queria estar perto dele! Escreve Hernández: O perdão desativa a reação defensiva da pessoa, dissolve a aparente justa vingança, livrando-a do ressentimento (...). É por isso que o perdão distende, relaxa, põe um bálsamo curativo na ferida e estimula a espontânea capacidade curativa. Ainda mais: o perdão é um milagre porque transforma algo que foi negativo em uma possibilidade de recriação. É o milagre de poder ouvir a PULSAÇÃO do Senhor Jesus. Essa pulsação de Jesus mostra-nos o ritmo divino de viver. Um andamento por vezes difícil de acompanhar e quase impossível de captar pela razão. O caminho de fé também passa pelo Gólgota e pela cruz; os apóstolos falam da glória paradoxal de participar dos sofrimentos de Cristo! Num mundo marcado pelo horror à dor, rejeitamos esse trecho da caminhada com Cristo. Tal qual os discípulos no Getsêmani, também nos escondemos quando os guardas vêm buscar Jesus e o negamos quando nos aquecemos na fogueira das vaidades humanas ou das vinganças humanas. Não perdoar equivale ao gesto de Pedro, é ocultar que pertencemos a Cristo. Será que permitimos que Jesus transforme nossa negação em devoção, tal como Pedro? Uma mulher que perdoa seu marido, um marido que perdoa sua esposa, pais que perdoam filhos, filhos que perdoam pais e irmãos – são afinações na vida do lar que levam a ouvir a música do amor de Deus. Mais do que palavras, Deus quer atitudes que mostrem que estamos no caminho de nos tornar como nosso irmão maior, Jesus Cristo. O poeta e pastor Wilson Tonioli expressa num poema as implicações do perdão: Perda grande Perdão é só uma perda grande. Se abres mão de tuas razões em favor do outro, grande perda terás: Perdão. Se esqueces teus direitos por querer o próximo, grande perda terás: Perdão. Se entregas algo sem um retorno mínimo, grande perda: Perdão. Se vês, ouves, sentes, mas não guardas no íntimo, FEVEREIRO *** 21
perda grande: Perdão. Se traído, negado, confrangido e ainda dás o máximo, ganharás nada, perderás grande: Perdão. Quando crucificado na cruz de outro recobras o ânimo... Perdão... que é só uma perda grande. Perda grande… da nossa prisão! Leveza conquistada junto à cruz de Jesus Cristo. Leveza que é fermento do reino, que faz nosso ambiente refletir que somos feitos à imagem de Deus. Que o Senhor tenha misericórdia de nós e nos ajude a transmitir graça em nossas ações e perdões! Karin Hellen Kepler Wondracek psicóloga, psicanalista Porto Alegre/RS
9ª Assembléia do Conselho Mundial de Igrejas Milhares de cristãos do mundo inteiro estiveram em Porto Alegre/RS para participar da 9ª Assembléia do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), entre os dias 14 e 23 de fevereiro de 2006, com a expectativa de que esse seria o maior evento ecumênico do início do século 21. O convite para a Assembléia partiu das igrejas do CMI e do CONIC (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs). No mesmo dia, teve início o Mutirão, programa paralelo que reuniu diversas oficinas, incluindo estudos bíblicos, eventos e apresentações culturais, que aconteciam a partir das 12h45min. A Pré-Assembléia fortalece a voz de cerca de 350 mulheres de todas as partes do mundo, reunidas no Salão de Atos da PUC/RS para preparar-se para a 9ª Assembléia do CMI. As experiências colhidas nos três dias de reunião foram levadas à Assembléia como contribuição para a discussão de políticas para o bem-estar das mulheres. A coordenadora do programa de mulheres e a coordenadora da equipe de Justiça e Paz e Integridade da Criação do CMI, Aruna Gnanadason, da Índia, organizou esse encontro para que as mulheres chegassem melhor preparadas para as reuniões oficiais.
22 *** Roteiro da OASE 2007
Na abertura do evento, o grupo COLMÉIA deu as boas-vindas a todas, oferecendo flores às mulheres para colocar em suas cabeças num gesto de acolhida da mulher gaúcha. As visitantes com seus belíssimos trajes típicos coloridos formavam um espetáculo à parte. As lideranças ressaltaram que a reunião dá às mulheres condições de criar vínculos entre si, ao partilhar seus problemas e suas esperanças, garantindo sua participação plena, refletindose também em suas chances de liderança. A cúpula do CMI iniciou a 9ª Assembléia fazendo uma súplica de paz entre cristãos e muçulmanos. A intolerância religiosa foi motivo de preocupação no primeiro dia do encontro. O secretário-geral do Conselho, o queniano Samuel Kobia, afirmou que cristãos e muçulmanos devem trabalhar juntos para promover diálogo, referindo-se aos ataques a representações ocidentais em países árabes. O moderador do CMI, o armeno Aram I, também lamentou o confronto de civilizações, dizendo: “Hoje não há mais barreiras no mundo, estamos todos em contato e devemos viver como uma comunidade, aceitando os outros como são”. Henri Sobel, representante do Congresso Mundial Judaico, afirmou: “Não pode haver paz entre as nações se não houver paz entre as religiões. Em nome da comunidade judaica internacional, digo que precisamos construir um mundo mais pacífico e compreender o ponto de vista do outro”. O espírito de unidade entre os cristãos marcou o primeiro dia de atividades da Assembléia. Esse clima de comunhão teve como símbolo a partilha de cachos de uvas, passados de mão em mão entre os representantes das mais variadas tradições cristãs. Sob a mesma tenda de celebrações, anglicanos, luteranos, metodistas, calvinistas e pentecostais de todos os continentes oraram e cantaram em conjunto em diferentes idiomas. Os cânticos foram comandados por um coral de duzentas vozes, formado por membros de diversas igrejas. O cardeal Walter Kasper, do Vaticano, afirmou: “Não importa se somos ortodoxos, católicos ou protestantes. Não podemos promover a justiça sozinhos”. Em mensagem enviada à Assembléia, o papa Bento XVI lembra que os seguidores das diferentes igrejas representadas em Porto Alegre têm a mesma fé batismal e mostra-se esperançoso de uma futura unidade entre todos os cristãos. No Mutirão, houve muitas apresentações culturais dos diversos países presentes, assim como muitas oficinas em que os mais variados temas foram abordados, como o Café Teológico, as oficinas promovidas pela Colméia, pelo Diálogo Inter-religioso, por grupos da juventude, infância, mulheres e crianças em situação de risco, povos indígenas, luta pela moradia e sobrevivência.
FEVEREIRO *** 23
Arquivo
Muitas decisões propostas serão levadas aos governos de todos os povos para que se consolide o que foi proposto como tema principal: “Deus, em tua graça, transforma o mundo”. No final da 9ª Assembléia, os participantes oraram da mesma forma como fizeram no início do evento, que durou dez dias: “Deus, em tua graça, transforma o mundo”, deixanGrupo Colméia na 9ª Assembléia do CMI com Aruna do a seguinte mensagem: Gnanadason (Índia), coordenadora do Programa de Mulheres do CMI Transforma-nos na oferta de
nós mesmos para que sejamos teus parceiros na transformação, lutando pela unidade plena e visível da igreja de Cristo, tornando-nos vizinhos para todos, enquanto aguardamos com ansiosa saudade a plena revelação do teu reino na vinda de um novo céu e uma nova terra. A maioria dos 691 delegados das 348 igrejas-membro do Conselho Mundial de Igrejas deixou Porto Alegre com muitos documentos em papel e arquivos eletrônicos, levando também lembranças de um intenso período de encontros, celebrações e oração, de noventa estudos bíblicos e duzentas oficinas e demais eventos que fizeram o Mutirão. Em outro nível, o trabalho profundo e cuidadoso sobre temas e questões, estruturas e relacionamentos, realizado pela Assembléia, vai muito provavelmente causar um grande impacto no movimento ecumênico nos tempos que virão. Os delegados da 9ª Assembléia do Conselho Mundial de Igrejas realizaram a eleição de seus novos dirigentes. Para nossa alegria, nos próximos sete anos, o pastor gaúcho Dr. Walter Altmann comandará esse órgão que representa mais de 550 milhões de cristãos. Presidente da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, pastor Altmann foi eleito moderador da entidade, que reúne 348 igrejas de 110 países, incluindo denominações ortodoxas, luteranas, metodistas e pentecostais. Alba Otília Seewald Grupo Colméia Tramandaí/RS 24 *** Roteiro da OASE 2007
Arquivo
Datas importantes
02 – Dia Mundial de Oração 05 – 1831 – *Friedrich von Bodelschwingh, fundador de Bethel/ Alemanha 08 – Dia Internacional da Mulher 09 – 1851 – Desembarque dos primeiros imigrantes evangélicos em São Francisco/SC 10 – 1557 – Primeiro culto evangélico no Brasil, Rio de Janeiro/RJ 12 – 1607 – *Paul Gerhardt, maior compositor sacro evangélico 17 – Dia das Pessoas com Deficiência Visual 19 – Dia da Escola 26 – 1946 – Abertura da Faculdade de Teologia em São Leopoldo/RS
Q S S D S T Q Q S S D S T Q Q 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 S S D S T Q Q S S D S T Q Q S S 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31
M A R Ç O
MARÇO
Eu tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós. Romanos 8.18
Meditação No final, pedras maravilhosas! Olhando para nossas famílias e amigas, podemos ver e sentir as mais variadas formas de sofrimento. É difícil definir qual a maior dor, o maior sofrimento que já suportamos. Também a maneira de encarar o sofrimento é diversa. Hoje, os meios de comunicação, a tecnologia e a diversidade de especialistas na área da saúde oferecem-nos muitos métodos para tratar e amenizar o sofrimento. Em alguns casos, o problema persiste. De forma que é desafiadora a convicção de que o que nos espera no tempo da revelação do Senhor é muitíssimo superior a qualquer sofrimento em nossa vida. Na minha vida tive de tomar decisões difíceis. Tive, por exemplo, que escolher entre a comodidade no meio familiar e a vida ativa na comunidade e OASE. A decisão de pertencer ativamente ao grupo na igreja trouxe sofrimentos e dificuldades. Minha vida precisava de mudanças. Alguns conceitos foram revistos e decisivamente mudados. A rotina familiar também mudou. Mas em pouco tempo colhi grandes alegrias; a principal alegria foi o envolvimento da família na vida cristã comunitária, o fortalecimento de nossa amizade e nosso companheirismo. Tenho certeza de que o que acontece aqui é tão pouco diante daquilo que Deus nos tem preparado para a eternidade. É necessário crer no Deus que nos amou antes de existirmos. A fé é essencial para compreendermos tamanha graça à nossa espera. Acredito que todos os que vivem para edificar o reino de Deus sabem que o sofrimento aqui é apenas limpeza das coisas desnecessárias que insistimos em carregar. Há alguns anos, nosso grupo de OASE fez uma visita a um centro artesanal de pedras semipreciosas. O que mais chamou a atenção foi a lapidação das pedras. As pedras brutas passavam por uma lavagem com água em peneiras fechadas, sendo revolvidas com intensidade para tirar a impureza externa. O barulho era intenso e constante por causa da fricção. Num outro local, as pedras eram passadas em uma espécie de torno com lixadeira, onde era definido seu formato, e, então, tiradas arestas indesejáveis. O interessan-
26 *** Roteiro da OASE 2007
te era o ranger produzido pelo atrito da pedra com a ferramenta, parecia um choro. No final, pedras maravilhosas! Creio que o sofrimento é como um lapidar de nossa vida. Aos olhos de Deus, no dia da sua revelação seremos como pedras prontas para o seu louvor, sua glória e honra. Quem conheceu o trabalho de lapidação de pedras ou depuração de metais sabe o que é sofrer para dar alegria, prazer e felicidade. Certamente, encarando dessa forma o sofrimento que passamos, em menor ou maior intensidade, em nossa família ou grupo, podemos recitar o verso: “Se bem que eu nada sinta do teu poder, que a luz da tua face não possa ver: Eu sei que tu me guias, meu Bom Pastor, ao teu eterno reino de graça e amor!” (HPD 1 – 174). Queridas amigas, nós queremos e podemos fazer parte, em família ou comunidade, desse grupo de pedrinhas que estão sendo trabalhadas. No grupo, nós podemos também nos refugiar quando a queda e a dor são inevitáveis; amparamo-nos quando cansamos de ser esfoladas. Ouvimos o choro umas das outras. Em grupo, enxergamos a dor das outras e nos consolamos. Podemos ter certeza de que há algo mais valioso e eterno nos aguardando. Queridas, tomem o propósito de animar cada membro de sua família, de seu círculo de amizades para vislumbrar o incomparável que nos aguarda. Tenham visão da eternidade! Lembrem-se daquele que um dia sofreu injustamente carregando em seu corpo, sobre a cruz, nossos pecados. Podemos, neste mundo, contar com novidades científicas e tecnológicas, mas tudo isso é passageiro. O que permanece é o amor vivido entre nós e com Cristo. Levem consigo a certeza de que temos um Deus que nos amou primeiro e que nos consola, nos fortalece e conosco deseja alegrar-se eternamente. Nós somos suas representantes aqui na terra! Que Deus nos ajude a permanecer fiéis à sua palavra! Claudete M. F. Lausmann Cristalina/GO
MARÇO *** 27
Construindo Relacionamentos Repartindo tarefas Um estudo de Êxodo 18.13-27 1. Uma boa administração delega O texto de Êxodo 18.13-27 relata que Moisés, aconselhado por seu sogro Jetro, toma a decisão de estabelecer uma nova estratégia de tratar dos assuntos que dizem respeito a julgar os casos que iam se apresentando na convivência do povo de Deus. Ele decide fazer exatamente isto: delegar, repartir responsabilidade, compartilhar sua tarefa com outras pessoas do povo de Israel – povo peregrino, que se aproxima do monte Sinai a caminho da terra prometida. O fato referido em Êxodo 18.13-27 revela-nos preciosas possibilidades dessa prática de compartilhar, repartir, delegar tarefas. 2. Aproximando conteúdo e significados ♦ Êxodo 18.13-16 Moisés estava assoberbado, sobrecarregado com a tarefa de orientar o povo em todas as questões de direito e justiça que apareciam entre o povo. Já na caminhada até a terra prometida, aqueles doze grupos de grandes famílias dos descendentes de Jacó iam se aproximando entre si e criando lentamente também uma consciência de povo. Essa aproximação das pessoas, certamente, começou a causar conflitos e muitas situações novas nas quais era necessária a orientação de alguém. Sobretudo necessitavam da orientação de alguém que, tendo a possibilidade e a vocação de consultar Deus e conhecendo a ele e seus preceitos e mandamentos, poderia orientar o povo de maneira certa e justa. Não havendo juízes que exerciam esta atividade de orientar o povo nas questões de justiça e direito, essa tarefa caberia a Moisés, por sua posição de líder, mas também por sua autoridade de escolhido de Deus. ♦ Êxodo 18.17-23 A proposta: Repartir tarefas Jetro relembra Moisés que o que estava fazendo era muito cansativo para ele e para o povo, que ficava esperando (18). Alerta Moisés de que era muito trabalho para que ele fizesse tudo sozinho (18). A partir disso, Jetro expõe-lhe uma idéia de repartir esta tarefa de orientar o povo naquelas questões de direito e justiça. Jetro expõe-lhe sua proposta:
28 *** Roteiro da OASE 2007
a) Moisés ficaria no exercício de sua atividade, representando o povo e levando a Deus os problemas das pessoas, para poder orientá-las posteriormente “no que devem fazer e como devem viver” (20). b) Moisés escolheria pessoas capazes, tementes a Deus, pessoas de confiança e honestas em tudo (21). c) Ele colocaria esses escolhidos como “chefes” (líderes, juízes) sobre grupos de mil, de cem, de cinqüenta e de dez (21). Esses líderes deveriam auxiliar nos casos mais fáceis de resolver, enquanto Moisés ficaria com os casos mais “pesados”, com os “casos mais difíceis” (22). Aqui, decerto, está uma questão de grande importância. A proposta institui uma nova organização e estruturação em sua caminhada. Moisés exerce sua autoridade e decide, julga as questões mais importantes e difíceis, sobretudo aquelas que necessitam de uma orientação especial de Deus. Enquanto isso, os líderes, juízes, responsáveis pelos diversos grupos orientam os casos mais correntes, mais simples, para os quais já existem casos precedentes e uma tradição de decidir e julgar firmada pela atuação anterior de Moisés. d) Para essa nova organização do povo, especialmente na tarefa de julgar sobre o que fazer e como viver diante de Deus, confia-se no apoio de Moisés e de Deus (23-24). ♦ Êxodo 18.24-27 E assim se fez. Moisés escolheu pessoas capazes e colocou-as como juízes nos diversos grupos (26). As questões mais difíceis eram trazidas a ele; os “chefes” julgavam as questões mais fáceis. A adoção dessa nova prática acontece na perspectiva de que assim as pessoas em suas relações e o povo todo obterão a “paz”. 3. Refletindo sobre a própria prática 3.1. Ao acompanhar com atenção o conteúdo e o significado do texto de Êxodo 18.13-27, de imediato, vamos estabelecendo relações com a realidade atual de nossas vidas, de nossas comunidades/paróquias e seus grupos, como também da OASE e da igreja. A idéia de compartilhar, repartir tarefas, dividir responsabilidades e delegar já encontra hoje muita aceitação. Na prática, porém, encontra muitas resistências. Surpreende um pouco esse fato, uma vez que, hoje, como comunidade cristã, não nos fundamentamos somente numa prática do povo de Israel de delegar e repartir as tarefas. Nós vivemos, como cristãos e comunidades cristãs, hoje, a partir do fundamento do evangelho, mensagem do Cristo Senhor. Essa presença graciosa de Deus junto ao seu povo incumbe a todos nós, a partir do nosso Batismo, o exercício do ministério de MARÇO *** 29
testemunho e serviço. O compartilhar, o repartir tarefas, o despertamento e a aplicação dos dons são marcas da verdadeira comunidade cristã. Ficaremos surpresos, talvez, ao saber, por exemplo, que o cristianismo se alastrou nos primeiros anos da igreja pela atuação dos apóstolos, mas igualmente pelo trabalho de muitas outras pessoas cristãs que, com eles, foram repartindo, dividindo tarefas, como: o ministério de governo das comunidades, das mulheres, dos responsáveis pelo culto, dos evangelistas e dos catequistas. A igreja precisa voltar à sua originalidade mais leiga – povo de Deus –, em que todas as pessoas agraciadas pelos dons do Espírito Santo são chamadas a se constituir em agentes da comunhão. E, para isso, o caminho é promover um verdadeiro protagonismo de todos os cristãos (Os Ministérios Leigos, p. 20). 3.2. Com certeza, a ocupação com o relato de Êxodo 18.13-27 traz-nos preciosas indicações no sentido de desenvolver, aperfeiçoar e, se necessário, iniciar essa caminhada que o tema deste estudo propõe: dividir, repartir tarefas. O que podemos aprender de Êxodo 18.13-27 para nossa prática, hoje, na OASE, nos grupos, nas comunidades/paróquias, na igreja? Vejamos algumas idéias orientadoras do relato sobre como “Moisés escolhe ajudantes”: a) Repartir tarefas, compartilhar, a participação e o envolvimento das pessoas nas atividades da comunidade são propósitos de Deus para com sua igreja. Assim foi entre o povo de Israel. Assim é também na comunidade cristã. Na comunidade compartilham-se tarefas. Deus mesmo dispôs muitos dons para sua comunidade para que isso acontecesse assim. b) Ao delegar tarefas a seus “ajudantes”, Moisés agilizou um processo de orientação para o povo. As ações tornaram-se mais rápidas. Sendo os “ajudantes” pessoas do povo, decerto suas decisões também poderiam ser tomadas de uma maneira mais próxima à realidade e à vida concreta das pessoas em seu dia-a-dia. As questões específicas das pessoas poderiam ser consideradas e atendidas. As lideranças eleitas para funções especiais podem assim ficar mais voltadas às decisões mais “difíceis” e à permanente busca em conhecer a vontade de Deus e acompanhar a caminhada do povo de Deus. c) Em cada comunidade temos pessoas capazes, tementes a Deus, honestas, de confiança. Em Israel foi assim. Também na igreja hoje é assim. Vivemos como pessoas e como comunidades da promessa de Deus de que ele concede, por sua graça, muitos e ricos dons à sua comunidade. Existem muitas e ricas possibilidades se atuarmos no sentido de delegar, buscar pessoas
30 *** Roteiro da OASE 2007
capazes, despertar dons e capacitar lideranças e membros de comunidades para seu ministério, do qual estão incumbidos a partir do Batismo. d) A tarefa dos “ajudantes” de Moisés referia-se à ajuda na administração dos assuntos que exigiam decisão justa e correta. Mais tarde, como vimos, Moisés delega também o ministério do ensino e da proclamação da vontade de Deus a outras pessoas capazes. Hoje sabemos que o envolvimento, a participação e a capacitação das pessoas na OASE e em outros grupos comunitários e comunidades visam, sobretudo, à missão, à espiritualidade, ao testemunho e ao serviço (diaconia), como também à administração comunitária. e) Moisés organizou uma estrutura de decisão e gerenciamento das coisas relativas à justiça e ao direito entre o povo. Essa decisão, à qual Moisés procura o apoio de Deus, supõe que pessoas orientadas por Deus e pelo bem da comunidade participem, cooperem com sua visão, sua sabedoria, seu conhecimento, seu amor e sua imaginação. Pastor Martim Reusch Santa Cruz do Sul/RS
As pessoas que buscam abrigo em ti, Senhor, ficarão contentes e sempre cantarão de alegria, porque tu as defendes. As pessoas que te amam encontram a felicidade em ti, pois tu, ó Senhor Deus, abençoas as que te obedecem; a tua bondade protege-as como um escudo. Salmo 5.11
MARÇO *** 31
Quaresma Ser feliz a qualquer preço Em cada pessoa existe o anseio essencial por felicidade, por uma vida bem-sucedida. Quanto ao caminho certo para alcançá-las, contudo, as pessoas divergem desde sempre. No tempo da construção da torre de Babel (Gênesis 11.1-9), a opinião predominante era: “somos os senhores do mundo”. Cada vez mais alta e mais poderosa a torre deveria ficar. Como sabemos, o projeto da construção da torre de Babel foi à bancarrota. “O Senhor dispersou-os dali pela superfície da terra; e cessaram de edificar a cidade. Chamou-se-lhe, por isso, o nome de Babel, porque ali confundiu o Senhor a linguagem de toda a terra e dali o Senhor os dispersou por toda a superfície dela” (Gênesis 11.8-9). Até hoje são construídas torres de Babel em alto estilo, também na vida de pessoas individuais. Mas também essas vão desmoronar. Cada pessoa busca por sua felicidade, mas, infelizmente, muitas vezes, fazem-no às custas de outras pessoas. Somos famintos por felicidade. O teólogo Karl Rahner descreveu acertadamente essa fome e suas possíveis conseqüências da seguinte forma: Hoje, pessoas tornam-se infelizes porque querem ser felizes a qualquer preço. Por isso pensam que o mais importante é não perder nada. Com medo de não experimentar tudo o que é oferecido na mesa, não conseguem degustar nada, entopem-se e estragam o estômago. No final, não aproveitam nada, não se deliciam com nada, porque quiseram experimentar tudo. A Quaresma cristã é um convite para fazer uma parada na caminhada em direção a uma vida bem-sucedida e refletir: O que é importante para minha vida? O que é essencial? Do que posso abrir mão sem que a minha vida perca em qualidade?
“ Ser feliz não depende de receber o que não temos, mas de aproveitar o que temos.” Thomas Hardy Brunilde Arendt Tornquist São Leopoldo/RS
32 *** Roteiro da OASE 2007
Friedrich Gierus
Datas importantes
01 – Domingo de Ramos 06 – Sexta-feira Santa 07 – Dia Mundial da Saúde 08 – Páscoa 9-12 – 1996 – 3º Congresso Geral da OASE, em Curitiba/PR 1922 – Oficialização do Hino Nacional Brasileiro 17 – 1521 – Lutero em Worms 19 – Dia dos Povos Indígenas 21 – 1792 – Execução de Tiradentes Dia Nacional da Juventude Evangélica 23 – 1529 – Oficialização do Catecismo Maior de Lutero 27 – Dia da Empregada Doméstica 29 – Dia da Sogra 30 – Dia Nacional da Mulher
D S T Q Q S S D S T Q Q S S D 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 S T Q Q S S D S T Q Q S S D S 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
A B R I L
ABRIL
Quer vivamos ou morramos, somos do Senhor. Romanos 14.8
Meditação Na vida e na morte Somos do Senhor! Com que convicção o apóstolo Paulo diz isso! Ele tem certeza de que é assim. Adquiriu essa certeza quando estava justamente perseguindo o Senhor e seus seguidores. Seu encontro com Jesus foi decisivo. Paulo aceitou o senhorio de Jesus sobre sua vida e também sobre sua morte. A partir daí, seguiu, munido do Espírito Santo, a pregar o evangelho de Jesus Cristo, seu Senhor e Salvador. Esse encontro foi tão decisivo, que transformou um Saulo perseguidor num Paulo pregador! Talvez você se pergunte: “Quem está incluído nessa afirmação do apóstolo?”. Ele usa o plural: “Vivamos ou morramos, somos do Senhor?”. A resposta sempre será: todos, sem exceção, podemos e devemos ter esse encontro com o Senhor e aceitar seu senhorio sobre nossas vidas. Isso poderá ocorrer no culto, na Santa Ceia, em orações, em casa, no quarto lendo ou orando, em comunhão com irmãos e irmãs. O essencial é saber que pertencemos a Jesus e que ele é nosso Senhor e Salvador. O evangelista João diz: “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. E, no final do capítulo, ele diz: “Por isso, quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus” (João 3.16 e 36). Se cremos no Senhor e aceitamos seu senhorio sobre nossa vida, somos sua propriedade. Esse encontro com Jesus pode aniquilar todo o nosso modo de pensar ou viver, como foi com Saulo, mas também reergue e nos transforma. Isso nos dá segurança e paz, mesmo em momentos difíceis. Paulo escreve aos romanos: “Porque estou bem certo de que nada poderá nos separar do amor de Deus” (ler Romanos 8.34-39). Por isso o apóstolo podia dizer com tanta convicção: “Vivamos ou morramos, somos do Senhor!”. Conforme Filipenses 1, seu desejo, às vezes, era partir (morrer) e estar com Cristo, o que lhe parecia bem melhor.
34 *** Roteiro da OASE 2007
Essa afirmação do apóstolo Paulo é gratificante! É como se o Senhor nos envolvesse em seus braços e dissesse: “Não tenham medo, eu estou aqui, eu estou sempre com vocês, mesmo nas maiores tristezas”. Ou como Davi escreveu no Salmo 23: “Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo, tua vara e teu cajado me consolam”. Quantas vezes nos defrontamos com momentos de perigo, de tristezas, de saudades, como se estivéssemos num “beco sem saída”; tudo parece escuro e atemorizador, sentimo-nos sozinhos e sem ninguém?! Isso é humano. Jesus previu situações assim quando disse: “No mundo passais por aflições; mas tende bom ânimo, eu venci o mundo” (João 16.33b). Ser propriedade de Jesus leva-nos à ação, assim como aconteceu com Paulo. Devemos levar a mensagem do amor de Deus adiante, mesmo que, às vezes, provoque uma pequena revolução. O apóstolo Paulo seguiu seu caminho destemido, ávido por pregar o evangelho a todos, principalmente aos gentios, àqueles que não conheciam Jesus nem o Deus Eterno. Muito serviço esperanos, portanto vamos pôr mãos à obra do Senhor, que ele irá à nossa frente. A certeza de que “somos do Senhor” tira também toda preocupação desnecessária em relação à morte, porque também ali ele estará conosco, não por acharmos que somos “mais do que os outros” ou porque “trabalhamos para ele”, mas, como diz o verso seguinte: “Foi precisamente para esse fim que Cristo morreu e ressurgiu: para ser Senhor tanto de mortos como de vivos” (verso 9). Martim Lutero, no Catecismo Menor, em sua explicação do segundo artigo, diz: Eu creio que Jesus Cristo (...) é meu Senhor. Pois me remiu a mim, homem perdido e condenado, me resgatou e salvou de todos os pecados, da morte e do poder do diabo; não com ouro e prata, mas com seu santo e precioso sangue e sua inocente paixão e morte, para que eu lhe pertença e viva submissa a ele, em seu reino, e o sirva em eterna justiça, inocência e bem-aventurança, assim como ele ressuscitou dos mortos, vive e reina eternamente. Isto é certamente verdade. Íris Butzke Blumenau/SC
ABRIL *** 35
Construindo Relacionamentos Auto-estima e timidez – viver sem medo Na época em que freqüentei o ensino confirmatório, eu já participava das atividades da juventude evangélica. Além dos encontros sábados à tarde, a gente também se envolvia nos programas da comunidade. Certa vez, a nossa liderança resolveu organizar uma noite teatral. Eu recebi a tarefa de apresentar um monólogo humorístico. Gostei dessa tarefa, porque sempre estava disposto para brincadeiras. Chegou o dia do evento. É óbvio que decorei meu texto muito bem e sabia recitá-lo de frente para trás e de trás para frente. Só que, na hora da apresentação, diante de tanta gente... fiquei inseguro... e deu no que deu: não consegui terminar minha apresentação. O pior foi que todos pensaram que tudo era planejado assim. A gargalhada foi geral. Sob aplausos, retirei-me, assustado com minha incapacidade de terminar a tarefa. Aliás, essa experiência derrubou minha auto-estima por muito tempo. Como filho de refugiados do exército russo e dos aliados, no fim da Segunda Guerra Mundial, na Alemanha, já sofri bastante com discriminação. Os refugiados foram tratados como intrusos indesejados. Viviam sempre de sobreaviso: “Não façam nada que incomode os outros; comportem-se de acordo com as regras: Vocês são os intrusos – eles são os donos do pedaço; não provoquem ninguém”. Por estar sempre em desvantagem, eu sempre procurei a paz. Dessa forma, a auto-estima foi mantida num nível bastante baixo e, conseqüentemente, a timidez tomou conta da gente. Causas da timidez e comportamento da pessoa tímida Todo ser humano passa por situações semelhantes. É claro que não se necessita do cenário de uma guerra e do destino de refugiados para exemplificar situações em que a auto-estima é derrubada e a timidez se torna ordem do dia. A auto-estima sempre é desmoronada quando uma pessoa sofre discriminação, por exemplo, em uma família em que meninas são discriminadas em comparação aos irmãos. Toda forma de discriminação a partir do sexo, da raça, da religião, da posição social ou de uma doença induz à timidez e alimenta a falta de auto-estima. Pessoas com timidez acentuada têm dificuldades enormes na vida social. Não têm coragem de colocar suas necessidades, por exemplo, na busca de um novo emprego, quando têm que pedir uma informação a estranhos, quando precisam reclamar seus direitos ou falar com autoridades. De iniciar novas amizades e/ou namoros nem se fala.
36 *** Roteiro da OASE 2007
Há muitos casos em que a timidez se torna crônica, com tendência a se tornar uma fobia. Aí, sim, o comportamento expressa insegurança. A pessoa sempre está prestando atenção ao que os outros dizem sobre ela. Em vez de envolver-se na conversa, prefere observar o que os outros fazem e dizem para só depois colocar sua posição e/ou não dizer nada. O tímido crônico tem dificuldade de encarar as pessoas nos olhos, prefere ficar com os olhos voltados para o chão. Não sabe o que fazer com suas mãos. Numa festa, prefere ficar no cantinho. Quando alguém se aproxima para conversar, fica vermelho e prefere se retirar, alegando qualquer desculpa. O tímido nunca fala nada sem pensar e repensar o que, de que forma e para que fim vai falar. Costuma ensaiar suas falas quando está sozinho, pois detesta passar por tolo. Por isso também não ousa. Tem medo de gente, de não ser aceito, de ser desvalorizado. Por isso, às vezes, passa a imagem de ser uma pessoa de difícil acesso e assume um ar de arrogante para impressionar. Importa saber que timidez não é sempre um estado contínuo. O indivíduo tímido comporta-se, às vezes, como um vulcão. Durante um bom tempo parece tudo normal. De repente, uma explosão e, conseqüentemente, uma onda de insegurança e fobias toma conta do indivíduo. Todo o equilíbrio conquistado pode desmoronar. Negativismo e depressão se instalam. Timidez – escudo ou muralha? Todo ser humano é condicionado a ser tímido. Ao nascermos, somos empurrados para dentro de um mundo hostil. Tudo ao nosso redor é ameaçador. Somos expostos a todo tipo de perigo que ameaça nossa vida. Necessitamos muito do amor da mãe e do carinho do pai. Aos poucos, aprendemos a diferenciar entre gestos de amor e de carinho e gestos que ameaçam nosso bemestar ou prejudicam nossa vida. Estranhamos tudo o que não nos é “familiar”. Ninguém precisa nos ensinar a ser cautelosos. A timidez é uma forma de escudo, um filtro que nos manda enfrentar tudo com cautela. Pois o que não se conhece pode esconder uma ameaça. Dessa forma, a timidez é normal e sadia. Dependendo do convívio familiar e da educação que uma criança recebe, esse escudo ou filtro pode tornar-se uma muralha que, por um lado, garante “proteção”, mas, por outro lado, não permite excursões para conquistar espaços e abrir horizontes em termos de contato com outras pessoas, para conhecer o mundo “lá fora”. Assim a timidez sadia transforma-se em medo doentio, que enfraquece a auto-estima. Simultaneamente, o indivíduo desenvolve um sentimento de desvalorização, que se expressa num complexo de inferioridade. E este, por sua vez, produz um comportamento que quer im-
ABRIL *** 37
pressionar. Complexo de inferioridade é compensado por um comportamento autoritário. Complexo de inferioridade e comportamento autoritário são gêmeos. Seus pais chamam-se egocentrismo e inveja. Para que os filhos não tomem esse rumo em suas vidas, os pais têm que cuidar para que suas crianças aprendam, o quanto antes possível, a usar a timidez como filtro para discernir entre o que prejudica e o que constrói. Criança que cresce como filho único sempre terá mais dificuldade de trabalhar sua timidez para alcançar uma auto-estima sadia. Não é ruim, não, colocar a criança numa creche ou jardim de infância o quanto antes possível. Ao mesmo tempo, naturalmente, deve ser garantido acompanhamento à criança, dando-lhe carinho, amor e aconchego para equilibrar as experiências entre as crianças da mesma idade e no seio da família ou junto aos pais. Aí, sim, timidez e auto-estima são duas grandezas que se complementam e conduzem a um equilíbrio emocional, que é a base da felicidade. Infelizmente estamos muito longe de uma sociedade em que reinam somente paz e felicidade, e a maioria das famílias tem dificuldades enormes na educação de seus filhos. Há muitas pessoas cheias de complexos. Medos, fobias e desequilíbrio emocional invadem a vida de praticamente todas as pessoas. Como fortalecer a auto-estima? Falei da minha experiência no início deste artigo. O que pessoalmente me ajudou eu aprendi no culto infantil. Lá foram transmitidas duas mensagens que se resumem em duas passagens bíblicas: Primeiro: “Não temas, porque eu te remi; chamei-te pelo teu nome, tu és meu” (Isaías 43.2). Segundo: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mateus 22.37-39). A nossa vida começa no paraíso. Somos protegidos, amados e bem cuidados no ventre de nossa mãe. Ao nascermos, somos empurrados para fora desse paraíso. Enfrentamos um mundo de perigo, de ameaça, de doença e de morte. Somos muito limitados e incapazes de cuidar de nós mesmos. Somos dependentes dos cuidados de nossos pais. À medida que crescemos, enfrentamos muitos perigos, dificuldades, limitações, mas também desfrutamos amor, compreensão, alimentação e proteção. Dependendo do contexto social em que vivemos, somos preparados, bem ou mal, para assumir nossa própria vida. Para encaminhá-la e vivê-la necessitamos de uma base operacional. Você precisa de um chão firme para poder mover qualquer coisa ao seu redor. Esse chão firme, para mim, foi e é a certeza da primeira mensagem acima
38 *** Roteiro da OASE 2007
mencionada, ou seja, a fé em Deus, que estende sua mão dizendo: Não temas! Isto quer dizer: Não sou qualquer um. Sou filho de Deus. Pois ele afirmou no meu Batismo: Tu és meu. A palavra de Deus me dignifica. Sou alguém. Sou único. Isso dispensa qualquer necessidade de me produzir ou projetar. A partir daí surgem autoconfiança e auto-estima. A partir daí não é importante ser vitorioso. O que importa é saber-se carregado na vida e na morte. A partir dessa convicção de fé é alimentada outra convicção básica: sendo filho de Deus, propriedade dele, respondo com amor à sua inclinação por mim. Com essa afirmação entramos na segunda mensagem acima mencionada. O meu amor a esse Deus, que se revelou em Jesus Cristo, coloca-me no triângulo do amor: não vivo em função de Deus abstraído do contexto social onde procuro me realizar. O amor de Deus somente pode ser correspondido mediante o amor ao próximo. E este, por sua vez, tem seu reflexo no amor a mim mesmo. Sim, Deus vê com bons olhos quando valorizamos nossos dons, nossa capacidade e atendemos às nossas necessidades para ser felizes. Mas essa felicidade somente é completa à medida que inclui o próximo. O amor a Deus e ao próximo não exclui a auto-estima! Ao contrário, a auto-estima é condicionada pelo amor a Deus mediante o amor ao próximo. Tudo isso parece muito complicado, mas não é. Vá, pratique o amor que procura o bem-estar de sua família, seu vizinho, seu colega no serviço e onde sempre você pensa haver necessidade. E não se preocupe com a recompensa. O que importa é que você se sinta amado, valorizado e único. Você vai experimentar o que o apóstolo João 4.18 diz: “No amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo”. Viver sem medo não é uma boa base para a felicidade? Pastor Friedrich Gierus Blumenau/SC
ABRIL *** 39
Páscoa
Surpresas da Páscoa
Quando éramos crianças, pulávamos felizes da cama no domingo da Páscoa, ansiosos em achar nossos ninhos, preparados e escondidos pela mãe. Eram doces simples, geralmente preparados em casa: ovos cozidos coloridos, cascas de ovos recheados com amendoim açucarado e biscoitos. Mais tarde, surgiram os ovinhos e os coelhinhos de chocolate. Cada achado era uma nova surpresa, festejada com muita alegria. Depois, ouvíamos a história da ressurreição do Senhor Jesus. Meu pai, pastor luterano, anunciava com sua voz penetrante: “Ele não está entre os mortos; ressuscitou. Aleluia!”. Essa, então, era a alegria maior, a grande surpresa da boanova do domingo da Páscoa. Muitos voltam-se ao túmuPáscoa: Cristo vive lo do fundador da doutrina que professam, lembram e divulgam as palavras de um líder morto. Os cristãos são um povo feliz, um povo que confessa Jesus Cristo – Filho de Deus e Salvador único –, ressurreto dentre os mortos. O lugar onde jazia seu corpo está vazio. Venceu o poder da morte. Ressuscitou ao terceiro dia. Ele está com os seus “até a consumação do século”. A Bíblia relata-nos a grande surpresa da Páscoa por meio de fatos concretos, que surpreenderam muitos seguidores. A ressurreição de Cristo é um fato comprovado historicamente. Após sua ressurreição, Cristo permaneceu na terra por quarenta dias, durante os quais apareceu e falou com seguidores, discípulos e apóstolos. Essas pessoas dão testemunho daquilo que viram e ouviram. Huberto Kirchheim
40 *** Roteiro da OASE 2007
As surpresas da Páscoa nos primeiros quarenta dias 1 – Em João 20.11-18, Cristo surpreende Maria Madalena junto à sepultura e se dá a conhecer. Maria corre para anunciar aos discípulos que vira o Senhor e que ele falara com ela. 2 – Mateus (28.9-10) relata que Jesus surpreende as mulheres que voltavam do sepulcro na manhã da Páscoa e as saúda. Elas abraçam seus pés, o adoram e recebem a incumbência de dizer aos seus irmãos que o ressurreto irá encontrá-los na Galiléia. 3 – A terceira surpresa da Páscoa aconteceu a Pedro (Lucas 24.34). Onze discípulos, reunidos em Jerusalém, comentam: “O Senhor ressuscitou e já apareceu a Simão Pedro!”. 4 – Ao entardecer do domingo da Páscoa, Jesus surpreende “dois seguidores que caminhavam para Emaús” (Lucas 24.13-32). Os dois confessam: “Nosso coração ardia quando nos expunha as Escrituras”. 5 – Em Lucas 24.36-43 é relatada a visita que o Ressurreto fez aos discípulos reunidos na tarde do domingo da Páscoa. “Paz seja convosco”, foi sua saudação. 6 – Uma semana mais tarde (João 20.26-31), Jesus vem de novo; desta vez Tomé estava presente. Após a saudação, adverte: “Tomé, não sejas incrédulo, mas crente”. E Tomé consagra-se novamente a seu Senhor: “Senhor meu e Deus meu!”. 7 – A sétima surpresa da Páscoa é a visita que Jesus faz a sete discípulos junto ao mar da Galiléia (João 21.1-25), quando inclusive come com eles peixe assado e pão. Nessa oportunidade, Pedro confessa seu amor a Jesus e sua fé e é perdoado oficialmente por tê-lo negado três vezes. 8 – Na Galiléia, o Ressurreto surpreende quinhentos irmãos de uma só vez (1 Coríntios 15.6) e fortalece-os na fé. 9 – Também Tiago tem sua surpresa da Páscoa, quando Jesus aparece a eles (1 Coríntios 15.7). 10 – Os discípulos, em especial, recebem do Mestre amigo a grande missão: “Ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do trino Deus: do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Depois, ensinai-os as coisas que vos ordenei. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século” (Mateus 28.16-20).
ABRIL *** 41
11 – No momento da Ascensão, Cristo aparece a seus apóstolos como o Ressurreto, dando-lhes a certeza de que receberiam o poder do Espírito Santo para poder ser seus mensageiros. Somente após essa grande promessa surpreendente, retorna ao céu (Atos 1.3-11). 12 – Finalmente, Cristo ainda surpreende Saulo, quando era ainda seu perseguidor (Atos 9 e 1 Coríntios 15.8), fazendo dele o apóstolo Paulo, o grande evangelizador e missionário do primeiro século da era cristã. A surpresa da Páscoa hoje Mais uma vez festejamos a Páscoa. A mensagem que dela recebemos, e que nos é anunciada na Escritura Sagrada, aponta tão-somente ao Cristo Vivo Ressurreto: “Jesus Cristo, ontem e hoje, é o mesmo e o será para sempre” (Hebreus 13.8); “[...] eu sou o primeiro e o último e aquele que vive; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos” (Apocalipse 1.17-18). Como cristãos, adoramos Jesus Cristo, cremos nele e tributamos a ele nosso louvor, nossa adoração, nosso amor. Ele vem a nós como o Todo-Poderoso e Ressurreto para nos fortalecer na fé e nos capacitar para ser pessoas que o servem e levam sua mensagem ao mundo carente. Precisamos ouvir sua palavra e abrir-nos com sinceridade e humildade para que a bênção de nosso Batismo se renove diariamente em nós, para afogar em nós a velha pessoa, permitindo que ressurja a nova pessoa que vive em justiça e pureza diante de Deus para sempre. Como surpresa da Páscoa, o próprio Cristo aceita-nos assim como somos, transforma-nos pelo seu poder, para enviar-nos ao mundo que precisa ser transformado. Quando nosso coração arde por ele, somos capacitados testemunhar a outros o que ele tem feito em nossa vida. Cristo está conosco como o Ressurreto e presenteia-nos com a saudação: “Paz seja convosco”. Em vez de olharmos para nossas diferenças, tratemos de viver nessa sua paz como irmãs e irmãos em Cristo. Assim o mundo poderá ser influenciado pela boa-nova da grande mensagem que não só surpreendeu o mundo há dois mil anos, mas que também hoje é a maravilhosa surpresa de cada Páscoa: “Ele não está no sepulcro, mas ressuscitou. Ele vive, quer vida para todos e está com os seus em cada momento e em todas as situações”.
42 *** Roteiro da OASE 2007
Sugestão para trabalho em grupo 1. Conversar sobre a simbologia da Páscoa e redescobrir o real significado da Páscoa para a vida pessoal de cada participante. 2. Detectar falhas em nosso compromisso de atender à grande comissão de Cristo de “ir e fazer discípulos” e descobrir estratégias mais bíblicas e eficazes. 3. Decidir, como grupo de OASE, fazer uma surpresa de Páscoa a alguém. Pastor Hans Hartmut Wilhelm Hachtmann Indaiatuba/SP
Saúde Receitas caseiras para espantar insetos Os insetos daninhos são sempre um incômodo (até um perigo), especialmente nos meses mais quentes do ano. Contudo, não há necessidade de se recorrer a agentes químicos para combater insetos. Conforme o agente sanitário Ademar Linn, de Panambi/RS, para manter baratas afastadas dos aposentos da casa, a receita é colocar folhas de louro nas gavetas, nos armários e nos lugares onde elas costumam aparecer. Existe também a receita da vela contra mosquitos. Junte as seguintes ervas: camomila, alecrim, eucalipto cheiroso (citridora), cipreste e grama seca. Triture tudo no liquidificador, sem água. Depois, coloque cera e faça a vela. Acenda a vela meia hora antes de ir dormir e apague depois. Cenoura e alho podem ser úteis para evitar ataques de insetos a hortas e roseiras. Pode-se plantar uma fileira de cenoura ou alho ao redor da horta e, ao redor das roseiras, plante alguns pés de alho.
ABRIL *** 43
Friedrich Gierus
M A I O
Datas importantes
01 – Dia do Trabalho 03 – 1824 – Fundação da primeira comunidade da IECLB no Brasil, em Nova Friburgo/RJ 1782 – Senhas Diárias 04 – 1899 – Início da Frauenhilfe na Alemanha 05 – Dia Nacional da Comunicação 08 – Dia da Cruz Vermelha Internacional 1945 – Fim da Segunda Guerra Mundial 12 – Dia da Enfermagem 14 – Dia das Mães 15 – Dia do/a Assistente Social 17 – Ascensão de Nosso Senhor 1939 – Fundação da Casa Matriz de Diaconisas, São Leopoldo/RS 20 – 1886 – Fundação do Sínodo Riograndense, São Leopoldo/RS 21 – 1984 – 1º Congresso Geral Constituinte da OASE 25 – Dia do/a Trabalhador/a Rural 27 – Domingo de Pentecostes
T Q Q S S D S T Q Q S S D S T 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 Q Q S S D S T Q Q S S D S T Q Q 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31
MAIO
Toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai. Filipenses 2.11
Meditação Quem é Jesus Cristo? Quem é Jesus Cristo? É um questionamento que acompanha o ser humano em qualquer época. O mistério está sempre presente. Jesus Cristo é homem no sentido mais absoluto e perfeito. Não é nenhuma imagem de homem, nem de arcanjo ou semideus representando no palco deste mundo o papel de homem. “Não se fez anjo, mas homem, um autêntico descendente de Abraão” (Hebreus 2.16). Como homem, passou por toda espécie de provações, constrangimentos, tristezas e alegrias, solidão, experimentando todo tipo de sentimento. Aproveitava seu tempo de maneira íntegra. Tratava cada pessoa segundo sua individualidade, sem exclusões. Do mesmo modo como nos declara a humanidade de Cristo, a Bíblia afirma-nos que em Cristo estão a essência e a presença de Deus, o que nos é perceptível em suas palavras e atitudes. E mesmo sendo Jesus o Deus encarnado, ele não se vangloria da condição divina, antes com humildade continua exercendo sua humanidade, permanecendo obediente e conectado ao Pai. O apóstolo Paulo, preocupado com as dificuldades e com os caminhos que alguns cristãos de Filipos (cidade que ficava na província romana da Macedônia, atualmente parte da Grécia) estavam seguindo, em especial alguns líderes da igreja, alerta os filipenses para que não sejam egoístas, que pensem no próximo e em suas necessidades e não se vangloriem de seus próprios feitos. Paulo alerta para que o nome de Jesus esteja e permaneça sobre todo e qualquer outro nome, que todos confessem o senhorio de Jesus, para que Deus seja glorificado. Pede que imitem o exemplo de Cristo, que seguiu o caminho da humildade e obediência a Deus. Também nós, em meio ao mundo extremamente egoísta e materialista, precisamos diariamente ser exortados a confessar que Jesus Cristo é o Senhor.
MAIO *** 45
Ressurreto dentro dos mortos, ele é o Senhor! Por isso devemos dar glória para sempre ao cordeiro de Deus. Confessar que Jesus Cristo é Senhor remete-nos a uma ação muito mais concreta, que vai além de meras palavras. Confessar significa declarar, revelar, reconhecer, prestar uma homenagem àquele que é o mestre dos mestres. Confessar que Jesus Cristo é Senhor convida-nos a um estilo de vida no qual o Cristo é exposto e revelado através de nossas atitudes diárias, que envolvem todo o cuidado não somente conosco mesmos, mas também com o próximo e com toda a criação divina. Essas atitudes vão desde nossa convivência familiar até nossos relacionamentos profissionais, sociais e na própria vida comunitária. Por fim, confessar Jesus como Senhor é tê-lo como referência de vida e de sentido, capaz de perceber o outro como irmão e irmã. Que Deus, em Jesus Cristo, nos dê humildade e sabedoria para reconhecer no Cristo ressurreto o caminho, a verdade e a vida! Para reflexão 1. Em que medida confessamos Jesus como Senhor? 2. Diante do grande vazio existencial, doença comum nos tempos atuais, como podemos atrair a atenção do ser humano para que perceba o senhorio de Cristo? 3. E dentro de nossos grupos, estamos reverenciando Jesus ou apenas banalizando-o como se fosse uma moeda circulante para todas as finalidades?
Edeltraud Fleischmann Nering Rio Negrinho/SC
Construindo Relacionamentos Educação – uma questão de família Fui convidada a refletir sobre o texto de Romanos 16.17-20 na perspectiva do tema “relacionamento em família”. O apóstolo Paulo escreve a uma comunidade como um todo, oferecendo palavras de orientação, alento e encorajamento para a vivência da fé cristã no mundo de então.
46 *** Roteiro da OASE 2007
O que esse texto tem a ver com o tema família? (Sugiro ler o texto.) Perguntei-me isso várias vezes. Lembrei-me, então, da vida familiar de um jovem confirmando. Menino inquieto e difícil. Tento entender a vida familiar. Os pais são separados. Marcelo mora com a avó, a mãe e um irmão. São membros da nossa comunidade, mas também freqüentam o centro espírita. Conflitos familiares e de fé fazem parte do dia-a-dia desse jovem. Ser família hoje não é uma experiência muito fácil. Uma das minhas grandes preocupações sempre foi a questão da educação. Educação cristã, formal – de quem é a tarefa, quem a faz, como é feita, de quem afinal é a responsabilidade? Existe entre nós a mentalidade de que educação não é conosco. A igreja, o governo, a escola devem assumir essa tarefa! Pagamos para isso. Hoje, quando escrevo esta reflexão, estamos convivendo com mais uma greve do magistério público gaúcho. As mães reclamam e exigem o retorno das aulas. Elas têm toda a razão. As escolas estão aí para acolher as crianças e os jovens. É espaço de trabalho, de estudo, de formação. Crianças e jovens fora da escola geram muitos problemas e preocupações. O grande problema da escola é que ela não funciona por si só, automaticamente, bastando acionar uma tecla (hoje não é mais botão). A escola é movida por professores e professoras – gente assim como você e eu. Gente que tem família, que precisa morar, que come, fica doente, se cansa, sonha, se frustra, que precisa estudar para se atualizar, gente que precisa receber de forma digna pelo que faz para fazê-lo com alegria e segurança. Ouvi muitas reclamações nesses últimos dias de mães preocupadas em saber com quem deixar as crianças ou o que fazer com elas. E é justo. Mas com a educação em si, às vezes, tenho a impressão de que há pouca preocupação. Há uma tendência dos pais a suprir as necessidades materiais – que são muito importantes –, mas se esquecem da formação, do emocional, do crescimento espiritual. Se nós, mães e pais, cidadãs e cidadãos, valorizamos a educação, então também precisamos estar atentos às necessidades de quem dedica sua vida a cuidar e instruir nossos amados e amadas. A igreja também precisa oferecer espaços de crescimento espiritual para crianças e jovens no sentido de auxiliar a família, madrinhas e padrinhos a desincumbir-se com alegria da tarefa assumida no altar. Uma pergunta angustiante: Onde os jovens podem, ainda, se espelhar, buscar exemplo de vida? Um provérbio africano afirma: É necessária uma vila inteira para educar uma criança. Oxalá tivéssemos uma família inteira unida no propósito de promover educação, fomentar bons relacionamentos, valores, atitudes sadias e construtivas.
MAIO *** 47
Família não se constrói de qualquer jeito, nem educação. É empreendimento que exige, sim, muito trabalho e dedicação. Com certeza, vale a pena todos nós, família, OASE, comunidade, governo, investirmos nessa missão; com certeza, haverá menos confusão. Oração: Deus de toda graça e paz, teu Santo Espírito soprou nova vida em nós. Dá que sejamos, de fato, sinais dessa nova vida no nosso relacionamento familiar e comunitário. Dá-nos a sabedoria necessária para educar nossas crianças na alegre esperança do teu reino. Abençoa as famílias que se unem e vencem suas dificuldades. Abençoa todo o nosso empenho pela vida boa que Jesus veio pregar e pela qual deu sua própria vida. Amém. Pastora Dulce Engster Panambi/RS
Reflexão Bênção de Deus e a família O Senhor te abençoe e te guarde. O Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti. O Senhor sobre ti levante o rosto e te dê a paz. Números 6.24-26 A bênção é uma relíquia antiga, no entanto atualíssima. Nós a usamos a toda hora: “Parabéns e muitas bênçãos pelo novo ano de vida”; “Muitas bênçãos no teu novo emprego”; “Muitas bênçãos no casamento”... 1. Bênção: Palavra religiosa antiga, mas atual. Votos de bênção frutificam em toda a história humana, como, por exemplo, esta bênção do século 4: O Senhor esteja à tua frente para mostrar-te o caminho certo. O Senhor esteja ao teu lado para te abraçar e proteger.
48 *** Roteiro da OASE 2007
O Senhor esteja atrás de ti para te salvar de pessoas falsas. O Senhor esteja debaixo de ti para te amparar quando caíres e te tirar das armadilhas. O Senhor esteja dentro de ti para te consolar quando estiveres triste. O Senhor esteja ao redor de ti para te defender quando outros te atacarem. O Senhor esteja sobre ti para te abençoar. Assim te abençoe o bondoso Pai. Amém. 2. Reflexões 2.1 Toda bênção vem do Trino Deus. Ele é a fonte e o doador. Nós sempre somos receptores. Bênção sempre é doação gratuita de Deus. 2.2 Na Bíblia, bênção é expressão da bondade de Deus. 2.3 A bênção de Deus não é para os que a merecem (dignos), mas para aqueles que dela necessitam. 2.4 Abençoados são presenteados pelo Trino Deus. A vida é uma bênção. Estar aí é uma bênção. Bênção não é só algo espiritual. Para Abraão (Gênesis 12.1-3) foi espaço de vida (terra), comunhão (povo) e reconhecimento (nome). 2.5 Na bênção, Deus põe sua mão sobre nós e nos deixa saber que lhe pertencemos agora e na eternidade. Abençoados estão sob o sinal do crucificado (Batismo). 2.6 Na bênção age o poder curador e salvador do Espírito Santo, que nos liberta de cargas, mágoas, amarras, doença. A bênção põe-nos sob a influência das ilimitadas possibilidades curadoras e salvadoras de Deus. 2.7 Bênção e felicidade não se excluem, também não são idênticas. Somos felizes quando nossos desejos se realizam. Na bênção realizam-se as promessas de Deus em nossa vida. “Deus não atende todos os nossos pedidos, mas cumpre todas as suas promessas” (Bonhoeffer). Uma vida ricamente abençoada pode experimentar muitos sofrimentos e pesadas cruzes. Em Romanos 8.28, o apóstolo Paulo escreve: “Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus”. 2.8 Abençoar é desejar o bem a alguém, também aos inimigos. Em Lucas 6.28, Jesus diz: “Abençoai os que vos amaldiçoam”. Quando colocamos inimigos sob a bênção de Deus, sob o sinal da cruz, desenvolvem-se na vida forças mútuas de reconciliação. 2.9 A bênção de Deus não pode ser bloqueada, economizada e não está presa à maturidade espiritual. A bênção de Deus não pode ser negada.
MAIO *** 49
Ela precisa ser compartilhada; neste caso, ela frutifica. Esta é a tarefa da comunidade: abençoar em nome de Deus os que necessitam de sua bênção. Assim confiamos a pessoa a Deus e a seu livre agir. Deus é livre e soberano para dar e recolher. Compartilhando a bênção de Deus estamos concretizando o sacerdócio geral de todos os crentes. 3. Bênção de Deus e a família Todas as colocações acima valem para a vida familiar. Então, o que falta à família? O que falta à família cristã? Às vezes, temos a impressão de que a bênção de Deus não frutifica entre nós. Será que Deus se recolheu? Sempre mais famílias cristãs experimentam a desgraça, estão fragmentadas e destruídas. O que precisa acontecer? Nós cristãos precisamos ser mais bênção de Deus. Em Jesus Cristo, isso é possível e viável. Ele é a grande bênção de Deus para o mundo; bênção que promove cura e salvação. Pastor Valmor Weingärtner Blumenau/SC
Não sei... Se a vida é curta ou longa demais para nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido se não tocamos o coração das pessoas. Muitas vezes, basta ser: colo que acolhe, braço que envolve, palavra que conforta, silêncio que respeita, alegria que contagia, lágrima que corre, olhar que acaricia, desejo que sacia, amor que promove. E isso não é coisa de outro mundo, é o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela não seja nem curta nem longa demais, mas que seja intensa, verdadeira, pura... enquanto durar? Autor desconhecido
50 *** Roteiro da OASE 2007
Dia das Mães
Marlene Dahlke
Dá vontade de ser mãe! Quando vejo uma criança, saída do ventre materno, cercada de tanta esperança, divisando o mundo externo com o dom da VISÃO, então penso com emoção: dá vontade de ser mãe! Quando vejo uma criança com o dom do OLFATO, inalando odor, fragrância, compondo eterna aliança com o que existe de fato, então logo sobrevém a ânsia: dá vontade de ser mãe! Quando vejo uma criança captando vozes e sons com o dom da AUDIÇÃO, que a guiam em segurança, com orientação e conselhos bons, então me diz meu coração: dá vontade de ser mãe!
Quando vejo uma criança com o dom do PALADAR da natureza os sabores registrando em sua lembrança, dia a dia, sem parar. Então, apesar dos dissabores, dá vontade de ser mãe!
Quando vejo uma criança em normal, constante mudança, com o dom do TATO, com tudo em contato, que saiu do ventre materno, então meu sentido externo: dá vontade de ser mãe!
Quando vejo uma criança com seus sentidos – ó, perfeição! Somados ao incrível dom da RAZÃO, formada na mulher, em confiança, arrisco ouvir, com tremor e temor, da boca do Pai, o Criador: dá vontade de ser mãe! Pastor Hugo S. Westphal (Fonte: Agenda OASE 2006, Sínodo Vale do Itajaí) MAIO *** 51
Friedrich Gierus
J U N H O
Datas importantes
04 – 1743 – Primeira Bíblia impressa na América 05 – Dia Mundial do Meio Ambiente 10 – Dia do Pastor e da Pastora 11 – 1948 – Fundação da Sociedade Bíblica do Brasil 12 – Dia dos Namorados 13 – 1525 – Casamento de Lutero com Katharina von Bora 24 – Dia de João Batista Ação de Graças pela Colheita 25 – 1530 – Confissão de Augsburgo 29 – Dia da/o Telefonista
S S D S T Q Q S S D S T Q Q S 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 S D S T Q Q S S D S T Q Q S S 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
JUNHO
Grandes são as obras do Senhor, consideradas por todos os que nelas se comprazem. Salmo 111.2
Meditação Família vale ouro! O Roteiro tem sido uma ajuda em nossas vidas e tem fortalecido nosso relacionamento com Deus, que nos traz inúmeras possibilidades de realizar grandes coisas em nossa vida. Porém, sem uma base sólida, nós não somos nada. Na construção dessa base sólida, novamente, temos o agir de Deus. Ele coloca-nos no seio de uma família – que é em nossa vida como o colo de Deus –, que nos sustenta e apóia. Mas, ao nos presentear com essas incontáveis maravilhas, Deus espera algo de nós. Ele não coloca o ouro em nossas mãos a fim de que o deixemos perecer nas mãos de ladrões, mas, sim, para que cuidemos dele. A família é esse ouro que Deus nos deu. É como parte de uma família que ele nos desafia a cada dia, a cada problema, em cada alegria a nos deleitar com sua lei, ou seja, com aquilo que ele espera de nós. Vamos, então, aproximar o salmo do tema deste Roteiro “Construindo Relacionamentos”: 1) FAMÍLIA, lugar de descobrir as maravilhas de Deus. O salmista, por exemplo, descobriu essas maravilhas de Deus em sua vida e reconhece que as obras de Deus são magníficas. Você pode descobrir isso também hoje? 2) FAMÍLIA, lugar de viver a partir dos desígnios de Deus. Por que a natureza humana, tão rica de possibilidades em tantas situações, revela-se tantas vezes incompetente na vivência daquilo que Deus quer, principalmente no que diz respeito à família? A partir de nossas reflexões, queremos, agora, olhar para o todo do Salmo 111. Vamos ler suas palavras em conjunto. Quem sabe de forma responsiva. (Leitura do Salmo 111.1-10) Trata-se de um salmo didático. O alfabeto hebraico está presente em suas frases. Provavelmente esse salmo tenha sido usado na alfabetização
JUNHO *** 53
de crianças. Aprendendo o salmo de memória e o colocando no coração, as crianças, ao mesmo tempo, aprendiam o alfabeto e tomavam conhecimento da presença maravilhosa de Deus na história de seu povo. Esse salmo é de ação de graças. O versículo 1 diz: “Aleluia! De todo o coração renderei graças ao Senhor, na companhia dos justos e na assembléia”. Essa atitude de gratidão acontece no meio da comunidade reunida e quer motivar para uma nova maneira de agradecer a Deus. Para o salmista, Deus age na história e é sujeito dos acontecimentos. Dessa forma, a comunidade pode enxergar as maravilhas de Deus e nelas sentir prazer e alegria. Para o salmista, é no agir de Deus que podemos reconhecer sua presença e fidelidade, e isso é motivo de alegria e gratidão. Assim é muito importante falar e relembrar sempre a presença maravilhosa de Deus na história de seu povo. Isso é vital para a fé. Cada geração precisa ouvir o que Deus fez no passado para saber quem é Deus no presente. Os conteúdos da fé precisam ser transmitidos de geração em geração. É necessário saber que o Deus misericordioso está presente na história, pois sua presença é força, é graça, é sustento. A sua presença também lança fora o medo, possibilitando recordar sua aliança e assim desfrutar suas dádivas. Para o salmista, os mandamentos de Deus devem ser seguidos com retidão e fidelidade. Eles são o alicerce para uma vida abençoada. Deus caminha com seu povo, faz parte de sua vida e de sua história. Em meio ao mundo que traz medo e insegurança, Deus se faz presente e é maravilhoso, bom e verdadeiro. Quem teme a Deus abandona tudo aquilo que destrói e machuca e aprende a verdadeira sabedoria na vida (vale a pena ler a parábola de Jesus em Mateus 7.24-27). O salmista exalta de todo o coração esse Deus próximo e fiel, a ele proclama seu louvor. Queridas irmãs da OASE, o Salmo 111 convida-nos a agradecer a Deus por sua presença em nossa vida, em nossa história, em nossa família. Somos desafiadas a reconhecer na nossa história pessoal e familiar o agir poderoso e misericordioso de Deus. Cabe a nós agora pensar e perceber onde vivemos e experimentamos a presença maravilhosa de Deus. Esse salmo ajuda-nos a refletir e a nos dar conta da presença de Deus em momentos complicados e difíceis de nossa vida. Mas também nos ajuda a perceber as vezes em que não conseguimos sentir a mão bondosa de Deus em nossa vida e na vida de nossa família. Somos desafiadas a abrir nossos olhos para as grandes obras de Deus em nossa história. Somos desafiadas a perceber que Deus é o sujeito da história; é nessa confissão que está a força de nossa fé. É também dessa força que nasce o compromisso de testemunhar a cada geração a presença de Deus e suas maravilhas.
54 *** Roteiro da OASE 2007
O povo de Deus no Antigo Testamento usava as palavras do Salmo 111 para expressar sua gratidão a Deus e ensiná-la a seus filhos e suas filhas (vale a pena dar uma olhada no texto de Deuteronômio 6.4-9). Nós hoje também somos interpeladas a expressar nossa gratidão a Deus por sua presença em nossa vida. Gostaríamos, então, de desafiar o grupo a descobrir a presença de Deus na história do grupo, na história pessoal e na história familiar. Também reconhecer a culpa e pedir perdão pelos momentos em que isso não aconteceu. E ainda lembrar as vezes em que passamos por momentos muito difíceis e sentimos a mão protetora de Deus. Depois de compartilhar, colocar tudo isso em oração numa atitude de louvor e gratidão. A partir dos relatos, poder-se-ia também tentar escrever um salmo de louvor e gratidão pela família. Um bom e abençoado tempo de reflexão! Pastora Sonja Hendrich Jauregui Pastora Mirian Diefenthaeler Sapiranga/RS
Construindo Relacionamentos Relação de poder na família Sempre me perturbaram as conhecidas palavras de Gibran Khalil Gibran, em seu livro “O Profeta”: Vossos filhos não são vossos filhos. Eles vêm através de vós, mas não são de vós e, apesar de estarem convosco, não vos pertencem. Sois arcos dos quais seus filhos, como flechas vivas, são arremessados na direção do alvo que o arqueiro vê no infinito.
JUNHO *** 55
Rubem Alves, teólogo, poeta, psiquiatra, escritor e renomado conferencista, reescreveu essa passagem: Vossos filhos são flechas que, uma vez disparadas, se transformam em pássaros que voam para onde querem e não na direção do alvo que o arqueiro viu. Recobrei a paz com essa nova visão, pois preserva a concepção de que filhos o são para toda a vida e, magistralmente, substitui flecha (objeto) por pássaro (sujeito), criando a bela visão poética de “seres alados”. Filhos precisam desenvolver asas e realizar seu próprio vôo. Aí se completa a expressão de que “educação lida com raízes e asas”. Mas você indagará o que essa introdução tem a ver com “relações de poder na família”. Pois eu respondo: tudo. Tudo, porque a visão de poder decorre da percepção que eu tenho de mim mesmo e do outro. Para compreender melhor a percepção de si mesmo, convido você a ler as palavras de Don Castañeda: Sábios dizem que estamos dentro de uma bolha. É uma bolha na qual fomos colocados no momento de nosso nascimento. No início, a bolha estava aberta, porém, a seguir, começou a fechar até celar-nos dentro. Tal bolha é a nossa percepção. Vivemos dentro dela toda a nossa vida. O que testemunhamos nas suas paredes arredondadas é o nosso próprio reflexo. O exercício do poder, o jeito como cada um o faz, está ligado profundamente à percepção que temos de nós mesmos. Alguém disse um dia: “Se queres conhecer uma pessoa, dá-lhe uma escrivaninha e poder para decidir”. A história da humanidade está repleta, desde tempos bíblicos, de pessoas que se apossaram do poder e se transformaram em cruéis tiranos. Ora, então é preciso trabalhar, desde a mais tenra idade, a percepção de si mesmo, fazer a pessoa se olhar no espelho, refletir sobre seus atos, sobre o sofrimento das demais pessoas com as atitudes tomadas para, num plano mais elevado, a consciência não deixar em paz quando se houver atitude de uso injusto ou perverso do poder. Aprendi que o mínimo que a humanidade espera da gente é capacidade de indignação. Portanto não podemos nos dobrar quando se faz uso indevido do poder e se ferem os princípios elementares das relações humanas. A pessoa que tiver elaborado, com serenidade e naturalidade, a questão da relação de poder vai exercê-lo com equilíbrio e sadiamente. Agora, se for-
56 *** Roteiro da OASE 2007
mos partidários do “manda quem pode, obedece quem precisa”, aí estaremos na freqüência do autoritarismo e não do respeito, que naturalmente precisa ser vivenciado para compreender que os pais precisam tomar decisões pelos filhos quando estes não têm condições de fazê-lo ou quando se coloca em risco a integridade deles. Você talvez esteja se questionando de como se fará isso na educação dos filhos. Talvez as palavras da poetisa Maria Lucía Tarayre possam nos iluminar: Não educas quando impões condutas, senão quando propões valores que motivam. Não educas quando impões caminhos, senão quando ensinas a caminhar. Não educas quando impões a submissão, senão quando despertas a coragem de ser livre. Não educas quando impões tuas idéias, senão quando fomentas a capacidade de pensar por conta própria. Não educas quando impões tua autoridade, senão quando cultivas a autonomia do outro. Não educas quando impões a verdade, senão quando ensinas a buscá-la honestamente. Não educas quando impões disciplina, senão quando formas pessoas responsáveis. Não educas quando impões o respeito, senão quando o ganhas com tua autoridade de pessoa respeitável. Podemos colocar outra pergunta em nossa reflexão: “De que família estamos falando?”. Pois eu desejaria falar da família – não importam adjetivos – em que há respeito a cada pessoa, do jeito como ela é, mas também a consciência de que a relação grupal exige entendimentos e concessões para que se possa construir um universo de afeto, onde o bem-querer e o amor possam lubrificar as delicadas engrenagens das relações humanas. À medida que o tempo passa, a gente aprende que já não é mais tão importante que nosso pensamento predomine; aprendemos a conviver com a diferença e tornamo-nos aprendizes da tolerância, que é própria dos sábios. Aprendemos a ouvir melhor o outro, porque já não nos perturbam inquietações interiores de que não esteja havendo o necessário reconhecimento às nossas idéias. Convencemo-nos de que, para arrumar o mundo, é preciso, em primeiro lugar, arrumar o ser humano. Já não entramos mais em disputa de poder, embora não sejamos ingênuos a ponto de acreditar que exista um mundo sem conflitos. A grande questão é o que contrapomos a essa realidade: desejo de derrotar o adversário ou diálogo para superar as diferenças? Cercas que nos separam para evitar confronto ou pontes que nos levem ao encontro de nós mesmos?
JUNHO *** 57
Se formos para a Bíblia, encontraremos muitas passagens que tratam da educação de filhos e, subliminarmente, das relações de poder. Eis algumas: “Eduque a criança no caminho em que deve andar, e até o fim da vida não se desviará dele” (Provérbios 20.27); “É bom corrigir e disciplinar a criança. Quando todas as suas vontades sãs feitas, ela acaba fazendo a sua mãe passar vergonha” (Provérbios 29.15); “Corrija seus filhos, e eles serão para você motivo de orgulho e não de vergonha” (Provérbios 29.17). A grande lição de vida que se deve aprender na família é o respeito. É o ponto de partida para assimilar saudavelmente as relações de poder que, queiramos ou não, farão parte de nós para o resto de nossas vidas. Preparar o ser humano para exercitar o poder de forma respeitosa há de contribuir para relações interpessoais em que não se sobreponham interesses pessoais aos coletivos e em que o diálogo seja a ponte que une territórios adversários. É difícil? Sem dúvida, é exercício diário cuja aprendizagem não termina nunca. Nessa área, a cada dia, há sempre lições novas. Independente da idade, nos defrontamos com situações em que nos surpreendemos com atitudes pessoais que nem sempre nos satisfazem. Essa consciência é a certeza de que já não há mais espaço para a tirania e a prepotência, mas para o respeito e a humildade, a mais bela moldura da competência. Por isso, no dizer do saudoso P. José Rude Walzburger: “Família é crescimento diário, criança, adolescência, discussão, carícia, conflito, permissão, castigo e reconciliação”. É pedir perdão muitas vezes. É invocar o amor muitas vezes. É cair muitas vezes. Mas é também se levantar de novo. É necessitar uns dos outros muitas vezes. Família é um selo de fogo gravado no mais profundo canto da alma. É o amor que se aprecia e se valoriza só quando se perde ou quando se está distante. Família é uma “marca registrada” nos costumes, no vocabulário, nos olhos e na personalidade... Família é contemplar-se, é alegrar-se mutuamente. Professor Osvino Toillier Porto Alegre/RS
58 *** Roteiro da OASE 2007
Pare e pense Resgatando valores O ser humano, desde os primeiros dias de vida, é confrontado com a realidade. A cada momento, exigem-se dele uma tomada de decisão e uma reação às situações e aos acontecimentos que o meio ao seu redor produz. Inicialmente, essa reação dá-se por instinto, mas, com o passar do tempo, a criança vai permitindo que “valores de vida” trazidos pelo meio ocupem espaços em sua formação. Assim ela vai assimilando conteúdos e acumulando valores, os quais vão formando sua personalidade, seu jeito de ser, de gostar e de viver. Ela guarda no coração o que gosta e o que lhe traz satisfação. O nosso viver no dia-a-dia é reflexo do que guardamos no coração. Neste sentido, os valores de vida que guardamos vão determinar como agimos e reagimos diante daquilo que o meio nos apresenta. Nossa ação terá um peso positivo ou negativo em nossa relação com o meio. Se vivermos baseados nos valores do bem, como a humildade, o respeito, a igualdade, o diálogo, a partilha e o amor, isto refletirá positivamente sobre nosso viver e nossa relação com o mundo. Se basearmos nossa ação em valores do mal, como arrogância, mentira e violência, o resultado será negativo. Pode acontecer que temos ciência da importância de determinados valores, como perdão, partilha, amizade, carinho, mas somos impulsionados por outros interesses e por outras pessoas a ter atitudes de vida contrárias ao que é o correto. Isso demonstra que nem sempre sabemos o que queremos e quais atitudes contribuirão para a valorização da vida. Por isso é fundamental que os valores que trazemos no coração sejam de amor e estejam comprometidos com a vida. Por exemplo: Como um pai quer exigir dos filhos que eles não fumem se ele é fumante? Como uma mãe quer exigir dos filhos que não falem palavrões se ela, a cada instante, os pronuncia? Jesus sempre reagiu de forma positiva na vida. Baseou suas atitudes no grande “valor do amor”. Mesmo que, muitas vezes, o meio motivava-o a agir diferente. Ele pautou suas atitudes na valorização da pessoa e da vida e jamais permitiu que interesses econômicos, políticos e de poder interferissem em suas atitudes perante o próximo. De sua boca saíram palavras de aceitação, partilha, ajuda, fé e amor. Das suas mãos saíram abraços, acolhimento e ajuda. Ele demonstrou no seu viver os valores que trazia no coração. Veja Lucas 18.15-17 e 35-43. JUNHO *** 59
Uma história para ajudar na reflexão Todas as manhãs, a caminho do trabalho, João passava pela banca e comprava o jornal. Um dia, chega à banca, pede o jornal, abre sua carteira para pagar e, ao fazê-lo, cai da carteira uma moeda. Olha para a moeda e, conhecendo seu tamanho e seu valor, acaba por relegá-la. Apanha seu jornal e sai. Um menino, desses que estão pela rua, estava sentado na calçada e percebe a moeda cair. Quando João sai, corre e pega a moeda. Com alegria, junta-a às demais que possuía e sai para comprar o refrigerante e o sanduíche que queria. Na moeda estava impresso um determinado valor. Este valor era o mesmo para João e para o menino? Por que reagiram de modo diferente? Os valores que damos às coisas e às pessoas, na maioria das vezes, são diferentes, pois são motivados pela necessidade e pelos objetivos que queremos alcançar. Nem sempre as necessidades das pessoas são as mesmas e os objetivos convergem para uma mesma direção. Por isso é fundamental que os “valores de vida” que determinam nosso viver e nossas ações e reações perante as pessoas e o meio sejam aqueles que dignificam e valorizam a vida. Sejam complementos do grande valor de vida que Jesus redescobriu: o “amor”. Para reflexão 1. Quais os valores de vida que eu guardei no coração e que determinam minha ação e minha reação perante minha família, o trabalho, a OASE, a comunidade? Eles estão comprometidos com a vontade de Deus? 2. Quais os valores de vida que Jesus permitiu que o mundo e as pessoas que com ele tiveram relação experimentassem? 3. Aquilo que transmito aos meus filhos, às crianças, são valores positivos, valores do bem? 4. Por que a reação de João e do menino foram diferentes? 5. Quais os valores que necessito resgatar e redescobrir e que em mim estão sufocados ou ausentes? Pastor Varno Valter Senger Dom Pedrito/RS
60 *** Roteiro da OASE 2007
Pare e pense Unidos como um feixe de varas Estando às portas da morte, um ancião chamou seus dez filhos e lhes disse: – Traga-me cada um de vocês uma vara. Eles fizeram como o pai havia ordenado. O pai então lhes disse: – Ajuntem agora as varas e amarrem num feixe. Eles fizeram um feixe. E o pai lhes falou: – Agora, um de cada vez tente quebrar esse feixe de varas. Eles tentaram, mas não conseguiram. O pai, reunindo suas últimas forças, desamarrou o feixe e, pegando uma por uma, quebrou todas as varas. Em seguida, com os olhos úmidos e cheios de luz, o pai voltou-se para eles e lhes disse: – Filhos, se vocês permanecerem unidos como o feixe de varas, ninguém conseguirá destruílos. Mas se vocês se dividirem e ficarem separados uns dos outros, facilmente serão vencidos diante das dificuldades que irão aparecer no decorrer da vida.
Abraços Abraços são ótimos para pais, mães e amigos. São um ato de amor entre irmãos e irmãs. É bem capaz de que certas tias favoritas os considerem uma das coisas mais bonitas. Gatinhos os imploram, cachorrinhos os adoram, e nem os chefes de Estados os ignoram. Um abraço quebra a bar reira da linguagem e compensa qualquer outra desvantagem. Não se preocupe em poupar; quanto mais der, mais vai ganhar. Então, olhe para alguém a seu lado e lhe dê um abraço bem apertado. (Fonte: Agenda da OASE 2006 do Sínodo Norte-Catarinense)
É impressionante o que um abraço pode fazer. Um abraço nos anima a continuar a viver; um abraço pode nos transmitir um amor de amigo ou dizer: “Ainda que vá, estarei com você”. Um abraço diz: “Que bom, você voltou”; “que bom vê-lo, por onde você andou?”; “que saudades sinto de você”; “pode contar comigo”; “eu o amo”. Um abraço consola uma criança que chora, é o arco-íris depois da chuva. Um abraço, meu amigo, podes crer que sem ele ninguém poderia viver. Como são animadores os abraços! Foi por isso que Deus nos deu os abraços!
JUNHO *** 61
Arquivo
J U L H O
Datas importantes
01 – 1921 – Fundação do Instituto Pré-Teológico, Cachoeira do Sul/RS Dia dos Hospitais 02 – Dia dos Bombeiros 15 – 1519 – Lutero excomungado pelo papa com a Bula 16 – Dia do/a Comerciante 17 – 1505 – Lutero ingressa no Convento Santo Augustino, Erfurt/ Alemanha 20 – Dia da Amizade 25 – 1824 – Primeiros imigrantes alemães chegam a São Leopoldo/RS Dia do/a Motorista Dia do/a Escritor/a 26 – Dia dos Avós 27 – 1914 – Início da Primeira Guerra Mundial, na Europa
D S T Q Q S S D S T Q Q S S D 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 S T Q Q S S D S T Q Q S S D S T 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31
JULHO
Jesus Cristo diz: Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus. Mateus 5.16
Meditação Para brilhar precisa participar Preciso ser um pinheirinho enfeitado com mil lâmpadas para brilhar diante das pessoas? Devo ser sempre nota dez, o campeão, o que mais fala, o que mais sorri, o que chega primeiro, o que sabe tudo para ser glorioso diante do Pai? Não, absolutamente não. O apóstolo Paulo diz em Gálatas 5.22-23: “O fruto do espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade (paciência), benignidade (ternura), bondade, fidelidade, mansidão (humildade) e domínio próprio”. Bem, agora poderíamos até encerrar o assunto, pois está dito tudo, mas vamos ver na nossa vida prática como isso acontece. Como mães, quantas vezes nos faltam paciência, humildade, domínio próprio!? Muitas vezes, penso que Deus coloca filhos mais difíceis, mais rebeldes em nossa vida para justamente provar nosso amor de pais. Pois amar um filho “bonzinho”, sempre certinho e obediente é muito fácil. Agora, o contrário exige tudo aquilo que é citado em Gálatas. Tantos filhos perdidos pelo mundo, tanta criança abandonada, todos são frutos de sexo carnal sem amor, e sabemos que onde há falta de amor acontecem tragédias, lares desfeitos, vidas destruídas, total falta de luz. Existe também o contrário: quando filhos são exemplos para pais. Imaginemos, pois, as famílias vivendo todas essas qualidades citadas em Gálatas 5.22-23! Sim, mas a perfeição não existe. Contudo existe perdão, salvação, recomeço: tudo posso naquele que me ama! A família é o primeiro núcleo em que somos inseridos; depois vem a escola, a vizinhança, nossa comunidade de fé. Em Atos dos Apóstolos 2.42, podemos ler como deveria ser a comunidade de fé: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações”. Parece que nos falta um pouco daquilo que nos é solicitado. Nossas Bíblias permanecem muito guardadas; o servir e o amor ao próximo deixam a desejar no partir do pão; nossas ofertas não são muito generosas. JULHO *** 63
Friedrich Gierus
É possível que eu esteja “alimentando a pobreza”, mas acho que devemos dar a quem nos pede ajuda. Além disso, não devemos jamais enganar alguém nos negócios, tirando proveito próprio. E, por fim, repensemos nossas orações, pois, muitas vezes, vemos Deus como um salva-vidas ou um pronto-socorro. Agradeçamos a Deus, peçamos a Deus, e ele nos concederá no momento propício e se for para nosso bem. Deus também quer que compartilhemos nossos momentos de alegria. Louvemos a Deus. Nosso envolvimento com a igreja não termina na comunidade; precisamos ser luz também para nossas paróquias, para o sínodo, No Batismo somos integrados à comunidade para a IECLB (Igreja Evangélica cristã de Confissão Luterana no Brasil). A igreja faz parte da nossa vida. Fomos inseridos nela pelo Batismo, e isso implica participar na igreja para conhecê-la e edificá-la. O evangelista Mateus deseja que “brilhe também a vossa luz diante dos homens”. Um pouco antes, ele havia afirmado: “vós sois a luz do mundo”. Quem tiver a oportunidade de conhecer outros países poderá experimentar a grande emoção de assistir um culto em outro país, orar o mesmo Pai-Nosso, cantar hinos que aqui cantamos, só em outra língua. Neste mundo grandioso de Deus, estamos de mãos dadas com cristãos tão distantes e, ao mesmo tempo, tão próximos, unidos pela mesma fé. É um aprendizado que só pode acontecer se participarmos, se marcarmos presença. Seremos assim uma luz muito forte para iluminar o caminho de muitas outras pessoas. Marlene Leci Tadler Dahlke Arroio do Tigre/RS
64 *** Roteiro da OASE 2007
Construindo Relacionamentos Fazer o bem Confirmandos aprendem a ser solidários Sempre que pudermos, devemos fazer o bem a todas as pessoas, a começar por aquelas que pertencem à nossa família na fé. Gálatas 6.10 Quando ouvimos a palavra “comunidade” ou “igreja”, em que pensamos? Pode ser que algumas pessoas pensem em templo ou centro comunitário. Outras talvez pensem em reuniões e encontros, em pessoas reunidas, no presbitério ou nos obreiros, ou até mesmo em alguma atividade bem concreta. Pode ser que outras mais pensem em Deus, em Jesus Cristo, no Espírito Santo. Ou pensem em acolhimento e amparo, em comunhão e amor. Tudo isso e muito mais é “comunidade”, é “igreja”. Perguntem às pessoas, tanto às que participam na igreja como às que vivem distantes da igreja. Marcas de qualidade O que sempre tem marcado a igreja, nas mais diferentes épocas de sua história, são termos como “comunhão” e “amor”. São palavras fortes, que muito contêm e expressam sobre o caráter e a alma da comunidade e da igreja. O termo amor, por exemplo, pode ser entendido como um simples abraço carinhoso, como também pode compreender a situação extrema do martírio. O amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta (1 Coríntios 13.70). Esse “tudo” pode nos assustar quando olhamos para o nosso dia-a-dia cristão. De repente, constatamos nossa insuficiência em termos de fé, testemunho e ação. Essa inquietação é salutar. Às vezes, um “terremoto espiritual” é necessário. A partir dele, podemos jogar fora o entulho e reconstruir nossa vida sobre fundamentos evangélicos mais genuínos e permanentes. Plantar e cultivar o amor A cultura do altruísmo, de pensar nos outros, está ganhando maior evidência entre pessoas e até empresas. Por um lado, porque existem incentivos fiscais para empresas que separam recursos financeiros para projetos sociais. Mas, por outro lado, muitas pessoas estão entendendo que ajudar faz bem aos outros e à pessoa que faz o bem. Até mesmo pode ser uma espécie de realização pessoal. A gente pode aprender a fazer o bem assim como se
JULHO *** 65
aprende muitas coisas na vida. E quanto mais cedo melhor. Nós que somos da igreja, que na verdade somos igreja, temos nesse particular uma enorme vantagem. Podemos beber de uma fonte puríssima e abundante que é o amor de Deus revelado em Jesus Cristo. Quem ler a explicação que Martim Lutero deu ao 2º Artigo do Credo Apostólico verá que a ação sacrifical de Deus em Jesus Cristo se deu para que nós pertencêssemos novamente (de forma nova) a ele e o servíssemos livres, dispostos e alegres. Em outras palavras, somos imbuídos de espírito e forças capazes de fazer a transposição do amor de Deus para dentro dos diferentes níveis da comunidade e sociedade. Assim como o apóstolo Paulo disse: Fazendo o bem a todas as pessoas, e começando em casa, isto é, no meio das pessoas que são da família na fé (Gálatas 6.10). O exemplo da Ação Confirmandos A Ação Confirmandos, uma promoção da Obra Gustavo Adolfo na IECLB (OGA), é um bom exemplo de como se pode unir o aprendizado da fé com o aprendizado do amor. Na OGA, sempre se ouvia de pessoas com mais idade que na sua infância e adolescência vendiam cartões para arrecadar fundos para essa obra de apoio às comunidades. Diziam isso, inclusive, com certa satisfação. Concluiu-se, então, que também hoje se deveria oferecer essa oportunidade às pessoas já na sua adolescência e juventude. Em 2007 já está sendo realizada a 3ª Ação. Anualmente, confirmandas e confirmandos são confrontados com três projetos em três sínodos diferentes, para os quais é destinado o resultado financeiro da campanha. Confirmou-se a expectativa de que as pessoas jovens gostam de se envolver em favor de boas causas e fazer o bem a outras pessoas. Existe um enorme potencial de energia e bondade nos jovens. Contudo, o foco da Ação não está na arrecadação de dinheiro. Ela Rolf Droste
Ação Confirmandos 2005 – Paróquia Bom Pastor, Brusque/SC
66 *** Roteiro da OASE 2007
é apenas uma espécie de subproduto. O foco está no seguinte: Oferecer a confirmandas e confirmandos uma oportunidade concreta de praticar sua fé, despertar e fomentar o sentimento de pertença, solidariedade e unidade entre as pessoas jovens da nossa igreja; ajudar que nossos jovens saibam mais dos jovens de outras paróquias e sínodos; colocar, já cedo, os membros jovens da igreja em contato com a Obra Ação Confirmandos 2006 – Creche em Cuiabá/MT Gustavo Adolfo e sua ação de apoio a comunidades; e, enfim, apoiar financeiramente trabalhos com crianças e jovens para uma vida com oportunidades de crescimento sadio e dignidade. Para que a fé cresça e o amor floresça Os propósitos com confirmandas e confirmandos são muito bonitos. Mas isso não é suficiente. Precisamos de exemplos de outras pessoas que refletem o amor de Deus, que são luzes que indicam caminhos em direção ao próximo, que animam para ações concretas. Disso a OASE, por exemplo, entende muito. Muito mesmo! Mas devemos pensar também nas famílias, no lar. Todos sabemos o quanto a casa paterna/materna marca e molda filhas e filhos. Para o bem e para o mal. Então, é muito importante que lá se criem ambientes sadios, para que a fé cresça e o amor floresça. Porém, ainda há outras pessoas muito importantes na comunidade e que podem ajudar no plantio da fé e no cultivo do amor. Pensemos nas boas lideranças de mulheres e homens, colaboradoras voluntárias, educadoras, diáconas, diáconos, pastoras e pastores. Percebe-se renovadamente a grande importância de obreiras e obreiros na animação dos membros. A eles Deus confiou um ministério muito especial. O compromisso da comunhão dos santos Em nossos cultos, confessamos nossa fé com as palavras do Credo Apostólico. No 3º Artigo, dizemos que cremos na “comunhão dos santos”. Isso não diz apenas que somos membros de um mesmo corpo, mas que cooperamos uns com os outros e que somos solidários. Na igreja, somos como uma família unida pela fé e comprometida com o amor. Alegramo-nos com os que se alegram e choramos com os que choram (Romanos 12.15). É verdade, Rolf Droste
JULHO *** 67
nem sempre é assim. Muitas vezes, na igreja, uns levam as cargas dos outros (Gálatas 6.2) e dão visibilidade à “comunhão dos santos”. Graças a Deus. Quando a Obra Gustavo Adolfo auxilia comunidades em situações de carência e geograficamente distantes, ela quer fortalecer as comunidades em seu testemunho de fé. Quando confirmandas e confirmandos participam de uma grande ação, eles estão dando um testemunho de solidariedade e unidade na IECLB e Brasil afora. E vão aprendendo que ajudar faz bem. Faz muito bem. Pastor Rolf Droste Secretário Executivo da OGA São Leopoldo/RS Eu creio que os santos se encontram em comunhão de espírito, pois vivem de uma só graça e das mesmas dádivas espirituais. A todos que Cristo chama de seus, estes têm tudo em comum. E a eles pertencem todos os tesouros celestiais. Assim cada membro carrega as cargas do outro em obediência ao seu cabeça. Pois quem assume a carga dos outros aprende a cumprir a lei, seguindo o exemplo de Cristo. E este mandamento real se resume em uma única palavra: AMOR. Philipp Friedrich Hiller (Em: Senhas Diárias 2006, dia 19.04.2006)
68 *** Roteiro da OASE 2007
Pare e pense
Quem é feliz?
Os pesquisadores Andrew Oswald, da Universidade de Warwick, e David Blanchflower, do Dartmouth College, realizaram uma pesquisa para medir a satisfação e felicidade das pessoas na Europa e nos Estados Unidos. O estudo foi realizado com cem mil pessoas, que deveriam avaliar sua felicidade. O estudo constatou que as pessoas solitárias são mais infelizes. Enquanto as pessoas casadas são mais felizes. É isto: o casamento é um investimento para a construção da felicidade, deve ser bem conduzido. Também são mais felizes as pessoas que têm os pais casados do que aquelas cujos pais estão divorciados. O divórcio gera infelicidade para os rebentos. Os pesquisadores descobriram que divorciar, separar e ficar viúvo tornam a pessoa mais infeliz do que perder o emprego. Perder emprego é ruim; perder o amor é péssimo. As pessoas que têm maior escolaridade são mais felizes do que aquelas que estudaram menos. Viu como estudar é importante? As mulheres casadas são mais felizes do que aquelas que vivem ajuntadas, que, por sua vez, são mais felizes do que as solitárias. É isto aí, mocinha: querer casar é o caminho da felicidade, e de véu e grinalda. Os jovens e os velhos são mais felizes do que os adultos. Será que o peso da responsabilidade torna as pessoas infelizes? Já os estudos do cientista Michael Argyle, da Universidade de Oxford, mostraram que as pessoas da classe média são mais felizes do que as milionárias. O cientista observou que o lazer desempenha um papel fundamental na felicidade das pessoas. Assim, deve-se dar a devida atenção a essas atividades. Também gera muita felicidade ir à igreja; as pessoas não-religiosas são mais infelizes. Um estudo de Argyle mostrou que gera grande infelicidade ter um caso extraconjugal, assistir muita televisão e ser muito pobre. Martin Seligman, da Universidade da Pennsylvania, desenvolveu a psicologia positiva. Seligman observou que, enquanto a psicologia ignorava a virtude, os filósofos e as religiões não. Embora variem nos detalhes, todos concordam com seis virtudes: sabedoria e conhecimento, coragem ou fortaleza, temperança, justiça, amor, espiritualidade.
JULHO *** 69
E cada uma dessas virtudes pode ser dividida em forças de caráter que nos conduzem à felicidade. Por exemplo, a sabedoria pode ser decomposta em curiosidade, vontade de aprender, perspectiva. O amor é composto da bondade, generosidade, polidez e capacidade de amar e ser amado. Outras forças incluem o pensamento crítico, a perseverança, o autocontrole, a prudência, a gratidão. Para completar, a pesquisa da cientista Sandra Murray, da Universidade Estadual de Nova Iorque, observou que os casais mais felizes não são aqueles que têm uma visão realista dos seus cônjuges, mas aqueles que mantêm o encantamento. Mário Eugênio Saturno Tecnologista do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), professor e congregado mariano
Receita Bolo caipira Ingredientes: 2 xícaras (de chá) de farinha de trigo; 2 colheres (de sopa) de fermento em pó; 100 gramas de queijo parmesão ralado; 100 gramas de coco ralado; 1 vidro de leite de coco (200 ml); 1 xícara (de chá) de açúcar; 4 ovos; ½ xícara (de chá) de leite; margarina e farinha para untar. Modo de fazer: Em uma tigela, misture a farinha, o fermento, o queijo parmesão e o coco ralado e reserve. No liquidificador, bata os demais ingredientes até ficar homogêneo e adicione à mistura reservada. Coloque em uma forma redonda untada e enfarinhada e leve ao forno médio, preaquecido, por 30 minutos (faça o teste do palito). Enviado por Alba Otília Seewald Tramandaí/RS
70 *** Roteiro da OASE 2007
Friedrich Gierus
Datas importantes
01 – Dia do Selo 1843 – Primeiro Selo Brasileiro 04 – 64 – Martírio de cristãos por Nero, em Roma 05 – 1872 – *Osvaldo Cruz, cientista, médico-sanitarista (+11/2/1917) Dia Nacional da Saúde 06 – 1945 – 1ª bomba atômica sobre Hiroshima, no Japão 10 – 70 – Destruição de Jerusalém pelo Imperador Tito 11 – Dia do/a Estudante 12 – Dia dos Pais 13 – Dia do/a Encarcerado/a 15 – 1899 – 1º grupo de OASE em Rio Claro/SP 21 a 28 – Semana Nacional das Pessoas Portadoras de Deficiência
Q Q S S D S T Q Q S S D S T Q 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 Q S S D S T Q Q S S D S T Q Q S 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31
A G O S T O
AGOSTO
Do nascimento do sol até ao ocaso, louvado seja o nome do Senhor. Salmo 113.3
Meditação Como você gasta seu tempo? O Salmo 113 é um hino de louvor à glória e à bondade do Senhor, que deve acontecer durante o dia todo. Desde a primeira leitura do texto, uma idéia, mais precisamente um objetivo, “grudou” no meu pensamento: o relógio e, conseqüentemente, o que se liga a ele: o tempo. Agosto é o mês dedicado aos pais, e muitos relógios são presenteados a eles por esposas e filhos. O relógio é um objeto de adorno, mas sua função original é indicar as horas, marcar o tempo, marcar os dias. Tempo que, na verdade, cabe-nos administrar. A propósito, como você gasta seu tempo? Dinâmica: a) Dependendo da realidade do seu grupo (número de integrantes, idade etc.), confeccione em papel pardo ou outro material um relógio bem grande, de forma que dê para escrever dentro dele: 1) as principais atividades de um dia normal (use uma cor de caneta para isso); 2) o tempo dedicado a Deus (use uma cor diferente de caneta). – Como uso meu tempo? – É bem aproveitado? – Tem desperdício? – Em que devo mudar? Por quê? – Existem benefícios? Quais? b) Também é possível desenhar um relógio no chão e proceder da mesma forma. c) Igualmente é possível, com antecedência, confeccionar um relógio para cada integrante do grupo, individualizando a tarefa.
72 *** Roteiro da OASE 2007
Reflexão O livro dos Salmos é composto por orações e cânticos. Nos Salmos estão expressas as experiências religiosas de uma comunidade que adora e louva a Deus. Nesse ato de louvor e adoração a Deus também estão expressos os mais profundos anseios e desejos da alma. Os Salmos estão recheados com os mais diversos sentimentos que o ser humano é capaz de sentir e manifestar. Os sentimentos vão do gozo, do êxtase até os mais frustrantes sentimentos de revolta, de clamor por justiça, vingança e paz. Essas orações e esses cânticos eram geralmente acompanhados por um instrumento musical de corda. O livro dos Salmos é oração, é canto, é poesia. Se olharmos com atenção, continuamos, hoje, movidos pelos mesmos sentimentos citados nos Salmos. No Salmo 113.3 diz: Do nascimento do sol até ao ocaso, louvado seja o nome do Senhor. Isso quer dizer que, em todos os tempos, Deus quer ser louvado e adorado. Mas como isso é possível neste mundo tão conturbado? Se temos que acumular mais tarefas em menos tempo? Não é tão complicado assim. Vejamos: – através do viver diário, – através das atividades mais simples que uma casa exige, – através das mais variadas profissões, – através do servir na OASE, comunidade, sociedade, – através do lazer, – através do descanso. Ou seja, em todo o nosso tempo de vida, que Deus nos dá bondosamente. Já sabemos quais são os meios, agora falta só dizer que devemos fazer isso com sentimento de gratidão pela oportunidade que nos é dada. Que sejamos agentes de transformação que expressam de corpo e alma o ato de louvar e adorar o único Deus que tudo pode. Que sejamos, como OASE, a música que anima a vida em comunidade e a poesia que une os apaixonados. Desafio: Encontrar um tempo para uma nova tarefa no grupo: confeccionar mais um relógio, escrever nele a atividade proposta e sua execução e expô-lo a toda a comunidade. Obreira catequista Nilva Strohschön Fleck Marechal Cândido Rondon/PR
AGOSTO *** 73
Construindo Relacionamentos Relações de trabalho – servos e senhores Quem quiser ser o primeiro entre vós será vosso servo. Mateus 20.27 As relações de trabalho no mundo contemporâneo de Jesus revelam o pensamento social da época. A influência da cultura grega na vida da comunidade dos seguidores de Jesus traz a referência de que o trabalho realizado para atender às necessidades da vida é uma maldição. Os trabalhos e as ocupações exercidos para atender às necessidades da vida eram vistos como punição. Essa mesma visão aparece no testemunho de Gênesis 3.17b, onde a terra é amaldiçoada e o trabalho que gera sustento é fadiga. Assim sendo, o desprezo pelo trabalho é uma realidade presente no pensamento e nas relações humanas da sociedade da época de Jesus. Nesses modelos de entendimento da vida humana, trabalhar significava ser escravizado pela necessidade. O serviço necessário à obtenção do sustento, que é inerente às condições da vida humana, é trabalho não-reconhecido. Pelo fato dos seres humanos serem sujeitos às necessidades da vida, eles só podiam conquistar a liberdade subjugando outros, que eles, à força, submetiam à necessidade. Assim, para que alguns tivessem a dignidade da vida garantida era necessário ter outros que os servissem. A escravidão na antiguidade não foi, portanto, uma forma de obter mão-de-obra barata, nem instrumento de exploração para fins de obtenção de lucro, mas, sim, a tentativa de excluir o trabalho das condições da vida humana. Ela visava obter uma forma de excluir o trabalho, o serviço da esfera das pessoas dignas, pois tudo o que a pessoa tinha em comum com as outras formas de animais era considerado inumano e, portanto, indigno. A dignidade do ser humano residia no fato de que não precisava fazer uso de suas mãos, de seu corpo, para a obtenção do seu sustento. As relações de trabalho, portanto, são caracterizadas pelas relações servos e senhores. Senhores são atendidos em suas demandas primárias de vida; servos, por realizarem as tarefas básicas, são desprezados pela sua condição de trabalhadores. É possível perceber que essa visão de sociedade está presente entre os seguidores de Jesus. Também entre os discípulos mais próximos de Jesus reinava essa mentalidade de que ser servido era ocupar posição de privilégio. 74 *** Roteiro da OASE 2007
O testemunho trazido pelo evangelista Mateus (20.27) caracteriza o pensamento de Jesus em oposição à prática e organização social da época. Para Jesus, a pessoa que serve é a maior, a mais importante entre todas. Essa revelação, certamente, causou um abalo no pensamento social da época, no contexto de uma sociedade que não considerava nem como humana a pessoa que exercia tarefas que atendiam às necessidades básicas da vida. Servir como critério para ser mais importante coloca um novo parâmetro de análise e estrutura para a construção de relações humanas. Jesus traz à tona um novo entendimento de relações humanas e de humanidade. Estar a serviço significa, no entendimento de Jesus, a realização plena da construção da dignidade humana. É o serviço que abre a possibilidade para o reconhecimento da pessoa como ser humano de valor na esfera social. Diante de uma sociedade que menospreza quem serve, Jesus propõe uma inversão de valores. Esse fato fez com que o servir se tornasse fator de reconhecimento do discípulo e da discípula de Jesus. Esse é o princípio fundamental da construção de uma nova ordem social e comunitária. De acordo com essa proposta de Jesus, somos desafiadas a olhar para as relações de trabalho presentes em nossa comunidade e nossa sociedade, analisando quais são os valores que se fazem presentes em nossa caminhada humana: Quais são as concepções sobre as relações de trabalho que prevalecem entre os servos e senhores em nossa época? Quem são os servos e quem são os senhores? Certamente ainda percebemos resquícios do pensamento grego em nossas relações familiares e comunitárias. Ainda hoje o serviço doméstico é considerado inferior em relação a outras atividades. O trabalho doméstico está relacionado diretamente ao atendimento das necessidades básicas da vida. Essas tarefas, com raras exceções, estão sob a responsabilidade das mulheres. Ainda que seja um trabalho que tem sob sua responsabilidade bens materiais e pessoas de valor incalculável, o reconhecimento desse trabalho assim como uma remuneração digna ainda estão longe de ser alcançados. Cuidar de crianças é uma responsabilidade enorme. Cuidar de uma pessoa idosa ou doente também é responsabilidade que não tem preço. Lidar com alimentação, limpeza, lavar e passar roupa é cuidar da saúde das pessoas. No entanto, esse trabalho da esfera doméstica, do cuidado, não é reconhecido nem remunerado dignamente. As relações de trabalho na esfera doméstica ainda pertencem a uma cultura discriminatória e preconceituosa. Apesar do trabalho doméstico ser uma das profissões mais antigas e no Brasil empregar mais do que a construção civil, os direitos trabalhistas dessa categoria ainda não são respeitados. A divisão de tarefas sob critérios hierárquico-sexuais e racistas, que atribuíram às mulheres e a escravos e esAGOSTO *** 75
cravas o trabalho doméstico, foi e é vista como natural na formação cultural do cristianismo. Embora a prática de Jesus se contraponha a esse pensamento, a ação do cotidiano comunitário ainda mantém a cultura discriminatória. O serviço na igreja, historicamente, foi vinculado às mulheres. Trabalho que esse grupo tem realizado de forma exemplar e extremamente dedicada. Contudo, a exigência de Jesus coloca o serviço como critério para o seguimento e exige dos seus discípulos e suas discípulas (homens e mulheres) a humildade de colocar-se a serviço. Se nessa relação o serviço não está sendo realizado de forma igualitária, devemos denunciar o equívoco que se estabeleceu. Pois a relação trabalhista proposta por Jesus inclui todas as pessoas de forma equilibrada. Mais ainda, Jesus inverte a posição dos senhores e convoca-os a ser servos. Ele mesmo se faz servo para que todas as pessoas alcancem a dignidade de vida. Cabe-nos, portanto, como mulheres cristãs, o questionamento: Será que ainda predomina, em nossas comunidades cristãs, o pensamento grego de que trabalho que atende às demandas das necessidades humanas é serviço que deve ser delegado a quem é menos importante? Será que as relações de servo(a) e senhor(a) no âmbito doméstico não carecem ser analisadas a partir das palavras de Jesus: “Quem quiser ser o primeiro entre vós será vosso servo”? É na ação do cotidiano que revelamos o conteúdo da fé que carregamos em nosso interior. É na forma como percebemos e tratamos as pessoas que cuidam para que as necessidades básicas da vida sejam atendidas que revelamos nosso discipulado. Assim que poderemos estar revelando um discipulado muito mais coerente com a mentalidade e a cultura grega do que com o testemunhado e vivenciado pelo Cristo ressurreto. Pastora Sisi Blind Curitibanos/SC
76 *** Roteiro da OASE 2007
Pare e pense CIDADANIA Até pouco tempo atrás, a cidadania ainda era definida, basicamente, pelo exercício de direitos políticos e civis. A crescente conscientização e demanda por mais educação, trabalho, saúde, habitação, transporte e lazer, entendidos agora como direitos da comunidade, terminaram por estender os princípios da cidadania a praticamente todas as atividades fundamentais do ser humano. “Cidadania é direito, não é privilégio.” Essa concepção manifesta-se com clareza na Constituição em vigor, que tem por fim construir um a sociedade livre, justa e solidária. A palavra de Deus diz que toda pessoa foi feita à imagem e à semelhança de Deus, portanto Deus não faz distinções; a Constituição diz o mesmo. Ela diz que todos somos iguais no que se refere às leis da terra. Será que isso de fato está sendo levado a sério nos dias de hoje? E nós cristãos estamos fazendo algo para garantir que todos tenham seus direitos fundamentais firmemente assegurados? No início do Artigo V da Constituição está escrito: “Todos são iguais perante a lei sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à segurança e à propriedade”. A expressão conquistada pela cidadania exige, atualmente, empenho redobrado de toda a sociedade na formação dos cidadãos, daí ser muito bem-vinda a contribuição das igrejas. Não resta dúvida de que a sociedade civil organizada tem sido a força propulsora das mudanças sociais, mas a luta para vencer a distância que, neste país, separa a vergonha da esperança no que diz respeito aos direitos fundamentais do ser humano precisa continuar.
OASE e vida pública O Brasil não é um país pobre, mas um país com muitos pobres; não é um país miserável, mas é um país injusto. Assim se explica a presença de tantos Lázaros diante de nossas portas. São milhares de pessoas que vivem nos porões da humanidade sem esperança nem dignidade. Essas pessoas estão disputando o alimento diário com cães, ratos e urubus nos latões de lixo. E mesmo assim, lamentavelmente, ainda ouvimos pessoas dizerem: “Cada um por si e Deus por todos”. Por essas e outras razões, cabe-nos, como pessoas cristãs, participar da construção de um Brasil melhor. É preciso tornar a nossa pátria uma “mãe gentil”
AGOSTO *** 77
para todos, porém só podemos mudar as coisas que nos desagradam quando o desejo de mudar faz com que passemos da preocupação à ação. Esperar não muda a realidade, por a mão na massa, sim. Respeitar o cidadão é dar a ele o direito de reverter o quadro de miséria, injustiça e desigualdade sem que dependa de ações isoladas de caridade e compaixão. Respeitar o cidadão é promovê-lo e respeitá-lo como feito à imagem e à semelhança de Deus. Portanto cabe a todos nós construir um processo contínuo de diminuição da desigualdade social. Diariamente os cristãos são chamados a se inserir na sociedade. Por isso, queridas irmãs, não digam: “Não tenho jeito para isso”, “não sei fazer aquilo”, “Deus não me deu esse dom”. Afinal de contas, Deus não nos quer perfeitas, ele nos quer dispostas. E quando Deus nos chama para fazer algo, ele prepara o caminho e nos dá as ferramentas. As pessoas marcam assim suas vidas pelo cultivo do amor, porque só ele dá ritmo à vida e só nele há salvação. Precisamos nos perguntar a cada dia o que estamos registrando no nosso livro da vida: estamos registrando falências pessoais ou uma história bonita? Devemos lembrar sempre que morremos um pouco a cada dia quando enxergamos a violência e a miséria e nada fazemos, quando calamos diante das injustiças ou deixamos de sonhar com um mundo melhor para nós e para os outros. Muitas vezes, somos convidadas a ser voluntárias em algum segmento da sociedade como, por exemplo, os conselhos municipais de direitos. Geralmente achamos razões para não aceitar o convite, achando que lugar da mulher cristã é apenas na igreja, nas ações diaconais da comunidade. Não acho que devemos agir dessa forma, pois devemos participar da vida pública, não por simpatia ou adesão ao governo, mas, sim, porque se trata de uma necessidade ética e de um compromisso com a dignidade de todas as pessoas. Vejo com alegria que nós mulheres da OASE estamos prontas para esses desafios dos dias atuais, por isso convido todas a contribuir para a construção de um mundo melhor. Você é escolhida por Deus para fazer diferença na vida de alguém. Algumas vezes, você encontrará portas fechadas; abra-as, faça força, não desista. As outras portas se abrirão à medida que os outros verem o quão importante você é para Deus e para a sociedade. Lembre-se: é inútil choramingar sobre um mundo que não anda direito, sobre a humanidade que promove guerras e injustiças, sobre a sociedade que não aceita o amor e não reconhece Cristo. Precisamos libertar-nos da preguiça, do egoísmo e das desculpas. Deus é o dono do nosso tempo, nós somos os administradores, e Cristo não quer discípulos que vivem escondidos, pois o
78 *** Roteiro da OASE 2007
verdadeiro espírito evangélico manda que cada um ocupe na vida o lugar que lhe cabe segundo suas capacidades. Subtrair-se é covardia, portanto está na hora de cada um assumir sua parte de responsabilidade na construção do mundo. Os tempos e as situações de hoje clamam para que os cristãos externem a força do amor de Cristo, por isso precisamos nos integrar na luta comunitária para o bem de todos, pois só assim os princípios éticos da fé cristã poderão ocupar lugar neste mundo. Seu investimento na vida de outras pessoas é um tesouro depositado no céu. Não importa onde nós mulheres vivemos, somos todas irmãs em Cristo e temos muito a oferecer: tempo, talentos e recursos. Por isso, se Deus colocou diante de você a oportunidade de servir, responda “eis-me aqui”, pois Deus quer e pode fazer muito com o potencial de nós mulheres da OASE. Aos pés da cruz, estamos todas no mesmo nível e somos equipadas por Deus para servi-lo. Lembremos a cada dia que entre o berço e o túmulo existe a “caminhada”, e Deus espera que demos a ela um sentido digno, fazendo tudo para Deus e com Deus, pois só ele transforma pessoas indiferentes em cristãos comprometidos. Quando deixamos Jesus nos guiar, ele nos guiará para a boa obra. Que Deus abra nossos olhos para ver todos aqueles que precisam de nós, lembrando-nos que compromisso assumido com Deus e com o outro é para ser cumprido. Que o espírito do amor cristão seja o que torna dignas todas as pessoas e que a consciência cidadã e o amor ao próximo sejam nossas principais ferramentas para fazer diferença neste mundo, que ainda é de Deus. Quero motivar a servir além dos muros da igreja, a envolver-se, por exemplo, nos diversos conselhos municipais de sua cidade: * Conselho Municipal do Idoso * Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente * Conselho Municipal dos Direitos da Mulher * Conselho Municipal da Saúde * Conselho Municipal Antidrogas * Conselho Municipal de Assistência Social, Habitação e Geração de Renda. E por que não na política? Afinal, você é capaz. Nos espaços públicos, temos muitas oportunidades de entender os problemas da sociedade e de buscar alternativas de ações através de um caminho que vai do VER, AVALIAR, AGIR até o CELEBRAR. Não podemos fazer tudo, mas façamos a nossa parte.
AGOSTO *** 79
Para reflexão 1. Onde estou investindo os dons que Deus me deu? 2. Que lugar o servir ocupa em meu grupo? 3. Que ações concretas, a partir do evangelho, posso praticar? 4. Como me posiciono frente às oportunidades de servir que são colocadas sob minha responsabilidade? 5. Como posso colocar os meus dons a serviço, ajudando a implantar mais justiça? Chirlei Weber Conselheira Tutelar Sinop/MT
Receita Café capuccino Ingredientes: 100 g de café solúvel, ¼ de xícara de chocolate em pó, 1 colher (de sopa) de achocolatado, 1 colher (de chá) de canela em pó, 1 colher (de chá) de bicarbonato de sódio, 200 g de açúcar, 200 g de leite em pó. Modo de fazer: Bata no liquidificador o açúcar e o café até ficar bem fino. Acrescente os demais ingredientes. Guarde em vidros bem fechados. Sirva com leite ou água quente. Enviado por Helga Schünemann Panambi/RS
80 *** Roteiro da OASE 2007
Arquivo
Datas importantes
01 – 1939 – Início da Segunda Guerra Mundial, na Europa 1907 – Primeiro grupo de OASE do Sul do Brasil, em Blumenau/ SC 07 – 1922 – Independência do Brasil 11 – 1990 – Fundação da Comunhão Martim Lutero no Brasil 13 – Dia do/a Agrônomo/a 20 – Dia da Escola Dominical 21 – Dia da Árvore 21 a 28 – Semana Nacional da OASE 25 – Dia do Trânsito 27 – Dia do/a Ancião/ã 29 – Dia de São Miguel e Todos os Anjos 30 – Dia da/o Secretária/o
S D S T Q Q S S D S T Q Q S S 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 D S T Q Q S S D S T Q Q S S D 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
S E T E M B R O
SETEMBRO Jesus Cristo diz: Que aproveitará o homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Mateus 16.26
Meditação Por um punhadinho de moedas Conta-se que um garoto ganhou um lindo presente, comprado com enorme sacrifício pelos pais. Depois de ter saciado seu prazer de brincar com o presente novo, viu o brinquedo do vizinho e desejou ter novas e diferentes sensações. Estava disposto a trocar seu lindo e valioso presente por um outro bem inferior. E fez a troca, da qual logo depois se arrependeu amargamente. Outro menino brincava com um vaso caríssimo dado de presente à sua mãe. Enfiou a mão no vaso e não conseguiu mais tirá-la. Com muito medo, chamou seu pai. Por mais que ele puxasse e virasse sua mãozinha, ela não saía. Toda a família já estava envolvida no acontecimento. O irmão sugeriu quebrar o vaso, e a mãe quase teve um infarto. O pai, por sua vez, mostrou ao menino como ele deveria alongar os dedinhos e aproximá-los ao máximo para então puxá-los. “Isso eu não posso”, disse o menino chorando, “pois terei que soltar minhas moedinhas”. O menino estava tentando pegar as moedinhas no vaso e ficou preso. Ele não conseguia tirar a mão do vaso porque não queria abrir a mão e assim perder as moedas. Em nossa vida, estamos constantemente tomando decisões e fazendo escolhas e trocas. Às vezes, fazemos as erradas. Jesus conhece bem a alma humana e por isso nos aconselha e admoesta a não trocar a vida eterna por coisas e prazeres deste mundo, porque são transitórios. Jesus chama à reflexão quando pergunta: “Pois que aproveitará o homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Ou que dará em troca da sua alma?”. Há muitas coisas boas que Deus não proíbe, mas que são usadas pelo pai da mentira para nos comprar. E ele não necessita do mundo inteiro para isso. Ele sabe comprar barato. É só oferecer um pouco de dinheiro, de poder, de fama e de outros prazeres, que já estamos sujeitos e inclinados a fazer trocas erradas e desastrosas. Por momentos de divertimento, de novas sensações de
82 *** Roteiro da OASE 2007
prazer e satisfação da carne trocamos e perdemos a vida eterna. Por vezes, nós também, assim como aquele menino, trocamos nossa vida, liberdade e paz por um “punhadinho de moedas”. Quem se agarra aos prazeres do mundo não pode ser liberto da escravidão do pecado. Muitas vezes é assim: as coisas terrenas, de valor efêmero, parecem possuir uma propriedade especial de cativar e não se medem mais sacrifícios para alcançá-las. Somente quando a vida vai chegando ao fim é que a pessoa, antes iludida, constata seu imenso engano. Não sente segurança alguma e é tomada pelo desespero. As riquezas terrenas são de pouca duração. A riqueza que Cristo coloca à nossa disposição, pela fé nele e em seu sacrifício, é eterna e perfeita. Aceite aquilo que Cristo oferece no evangelho. É o que há de mais valioso, tanto aqui no mundo como na eternidade. Para reflexão 1. O que eu não faço para conseguir sucesso, prestígio, fama? 2. Será que eu consigo soltar minhas moedinhas? 3. O que eu tenho trocado e segurado em lugar da vida eterna? 4. Qual é a parte da minha vida que não consigo consagrar a Deus? 5. Quanto vale a minha alma e a dos que estão ao meu lado? Dirce Schitkoski Tesoureira do Conselho Nacional da OASE Castro/PR
Sem Deus sou um peixe na praia; Sem Deus sou uma gota de água sobre brasas; Sem Deus sou grama na areia; Sem Deus sou um pássaro com asas quebradas. Quando Deus me chama pelo meu nome, Torno-me água, fogo, terra e ar. Jochen Klepper
SETEMBRO *** 83
Construindo Relacionamentos
Resposta ao amor de Deus Servi uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus. 1 Pedro 4.10
Preparo do ambiente: Arrumar um altar com toalha, flores, vela, Bíblia, cruz e caixa de presente em lugar bem visível para todas as participantes. Material: Uma caixa contendo um bilhete (NÓS SOMOS O TESOURO DA OASE) e um pacote de doces embrulhado para presente. Além disso, folhas de papel em branco e canetas. 1 – Deixar a caixa de presente no altar, em local bem visível para que as participantes logo a vejam ao chegar. 2 – Distribuir papéis e canetas. As participantes responderão à pergunta: Qual é o tesouro da OASE? (Dizer que dentro da caixa há a resposta e um presente para quem acertar.) 3 – Depois de algum tempo, animar para que compartilhem as respostas escritas. 4 – Quando todas tiverem compartilhado, pedir a uma das participantes para abrir a caixa, mostrar a resposta e procurar o prêmio (os doces), que é distribuído entre todas. Após se deliciarem com os doces, compartilhar o texto que segue: Prezadas irmãs, vocês são o tesouro da OASE. Um grande tesouro. Vocês se sentem um tesouro da OASE? Já pensaram nisso? Existe OASE porque há mulheres que participam testemunhando sua fé em Deus, vivendo comunhão e servindo. Como membros da família de Deus, nós mulheres, a OASE, nos orientamos pela palavra de Deus. Nesse permanecer junto da videira, que é Cristo Jesus, produzimos frutos que transformam realidades e vidas. E assim, conforme nossos dons e nossas capacidades, servimos a Deus. Na OASE somos chamadas, capacitadas, motivadas a servir a Deus auxiliando com amor incondicional o nosso próximo. É nesse servir a Deus que nos tornamos tesouros, que nos tornamos diferentes e que fazemos a diferença neste mundo (Malaquias 3.16-18). Servir a Deus na família, no grupo da OASE, na comunidade e na sociedade torna-nos tesouros para outras pessoas e também para nós mesmas.
84 *** Roteiro da OASE 2007
É importante perceber que a riqueza desse ser tesouro está no compartilhar o amor recebido de Deus. Se não agirmos assim, se não servirmos, o valor desse tesouro se perde, torna-se um tesouro falso (2 João 4-9). A vida é um dom. Vivemos bem quando nos doamos aos outros. Viver não é apenas cuidar da saúde. Dar sentido à vida não é apenas comer, dormir e vestir-se bem. Viver é dar a vida, doar-se em favor de nossas irmãs e nossos irmãos, em favor do próximo. Aprendemos com testemunhos e exemplos de como ser uma pessoa cristã e fortalecemos nossa fé. E assim devemos levar outras pessoas ao caminho da verdade, que é Deus. Fazemos isso com palavras e ações. Sabemos que Cristo veio a nós, portanto devemos levar muitos a Cristo. E a participação na OASE nos capacita e anima para isso. Andemos na verdade que recebemos de Deus em Jesus Cristo, que nos leva a agir e viver conforme o amor. Quando nos sentirmos fracas e desanimadas, lembremos a força, a confiança que recebemos de Deus. Confiar e ter fé tornam-nos pessoas vitoriosas e fortes. Minhas irmãs, para sermos verdadeiros tesouros necessitamos da presença e força de Deus em nossas vidas e no servir a ele. Lembremos sempre que Deus está ao nosso lado quando chega o amanhecer, quando vem o cansaço, o trabalho, o desânimo e as preocupações, assim como em nossas alegrias e vitórias. Deus é o Deus da vida e espera que cada uma de nós aceite construir com suas mãos, com seu trabalho e com amor um novo mundo, onde sinais do seu reino já estejam presentes. Somos pessoas eleitas, escolhidas de Deus (1 Pedro 2.9). Temos a missão, como tesouros, como instrumentos de Deus, de desempenhar, mostrar com responsabilidade a boa e santa vontade de Deus. E tudo deve estar revestido de humildade, serviço e desinteresse, pois o que fazemos é resposta em gratidão ao amor e à graça de Deus. Pastora Márcia Helena Hülle Guarapuava/PR
Q
“ uando nos sentirmos fracas e desanimadas, lembremos a força, a confiança que recebemos de Deus. Confiar e ter fé tornam-nos pessoas vitoriosas e fortes.”
SETEMBRO *** 85
Pare e pense Inclusão é conseqüência da convivência Arquivo Prezadas mulheres da OASE! Sinto-me honrada em poder escrever para vocês neste Roteiro 2007. Sou pastora na Escola Superior de Teologia, responsável pelo Serviço de Pastoral. Já trabalhei em muitos momentos com vocês, em diferentes lugares, e por isso sei que de vocês vêm uma força incrível para a caminhada das pessoas com deficiência na nossa igreja. Sou casada e tenho uma filha de 14 anos. Aos seis meses de vida, contraí paralisia infantil. Minha vida, Pª Ms. Iára Müller: Limites não separam, mas desde o começo, foi determinada por aproximam isso. Mais determinantes, porém, foram o amor e o acolhimento de minha família, pai, mãe, avós, irmã e amigos, que não me deixaram desistir da vida. Ao ingressar na escola, primeira série, tive minhas primeiras experiências de exclusão. Até ali vivia no meio da família e de amigos que sabiam lidar com os limites que a deficiência me impunha, conviviam comigo e percebiam minhas capacidades. Na escola, porém, começaram as experiências dolorosas de ser deixada para trás pelos colegas que podiam correr e de receber apelidos dolorosos ligados à deficiência. Por outro lado, também na escola começou a minha maior experiência de inclusão. Talvez por ter sido no interior, cidadezinha pequena, e por ser de família conhecida, as professoras da escola tinham um profundo respeito por mim e tentavam me incluir em tudo. No momento da educação física, lembro que, se alguma atividade fosse incompatível para mim, outra atividade me era proposta: ser juíza, observar o jogo para dar dicas de melhora, ser torcida organizada ou até mesmo fazer algo para a professora durante aquele tempo. Não me sentia excluída. Posso ver hoje que, se minhas possibilidades de correr, pular e jogar estavam limitadas, outros desafios me eram propostos: ler muito, liderar cantos, explicar algo para alguém que não tinha entendido alguma matéria, até cuidar da turma quando a professora saía. Assim fui crescendo acolhida e desafiada a ver o que posso e
86 *** Roteiro da OASE 2007
o que não posso. E foi sempre assim: no culto infantil, no ensino confirmatório e no grupo da juventude, sofrendo preconceito e exclusão da parte de quem não me conhecia e transformando essa atitude em aceitação ao conviver. Com isso quero mostrar que é na convivência no dia-a-dia que a inclusão acontece. Para isso é necessária a presença das pessoas com deficiência em todos os setores, lugares e ocupando cargos. Sem convivência direta há preconceito. Com a convivência, o preconceito se dissipa. Posso afirmar que o preconceito e a exclusão vêm na mala de quem nunca conviveu ou experimentou proximidade com alguém que tem uma deficiência, seja física, mental ou sensorial. Sem convivência, criam-se medos, inseguranças e preconceito. Convivendo, os fantasmas da exclusão desaparecem. As leis de inclusão social estão aí para garantir a convivência, a participação de quem tem limites maiores do que os outros. No meu tempo de escola fundamental, não precisavam da lei da inclusão, nem existia isso. As professoras me conheciam, conviviam e viam as minhas possibilidades antes de ver meus limites. Infelizmente, hoje, precisamos dessa lei para fazer as pessoas perceberem o que minha família e minhas professoras já sabiam do fundo do coração: que olhando de perto, convivendo, os limites não nos separam, mas aproximam. Que o limite de alguém não precisa ser sua limitação. Meu convite então é este: conheça melhor e conviva com uma família que tem alguém com deficiência. Aproxime-se daquele cadeirante. Busque para a comunidade aquelas pessoas que não vêm por medo do preconceito, das barreiras arquitetônicas e de atitude, que fazem com que alguém não consiga conviver com o diferente. Inclusão não é novidade, é mera conseqüência de conviver. Inclusão é pensar junto com a pessoa que tem a deficiência e ir descobrindo maneiras de poder participar. Quero terminar este texto dizendo OBRIGADA para minhas primeiras professoras: Dona Floirice (primeira série), Dona Marlene (segunda e terceira série), Dona Magali (quarta série), Dona Arlete (quinta série), Dona Cléris (diretora). Muitas delas continuam líderes e, com certeza, lerão o Roteiro da OASE. Pastora Ms. Iára Müller Escola Superior de Teologia São Leopoldo/RS
SETEMBRO *** 87
Arquivo
O U T U B R O
Datas importantes
03 – Dia do/a Dentista 04 – Dia dos Animais 06 – 1930 – Fundação da OASE do Rio Grande do Sul 07 – Dia do/a Compositor/a 09 – 1905 – Fundação do Sínodo Ev. Luterano de SC, PR e outros Estados 12 – Dia da Criança 15 – Dia do/a Professor/a 18 – Dia do/a Médico/a 25 – 1968 – Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil (fusão dos Sínodos) 1945 – Dia da ONU 26 – 1949 – Fundação da Federação Sinodal 31 – Dia da Reforma
S T Q Q S S D S T Q Q S S D S 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 T Q Q S S D S T Q Q S S D S T Q 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31
OUTUBRO Quem há que possa discernir as próprias faltas? Absolve-me das que me são ocultas. Salmo 19.12
Meditação Faltas ocultas O versículo do Salmo 19 previsto como lema do mês faz-nos refletir e fazer uma auto-avaliação sobre nossa maneira de ser e de agir, quer seja em família, na comunidade a que pertencemos ou na sociedade em que vivemos. Nem sempre somos sinceras nessa avaliação, procurando sempre uma desculpa para justificar as faltas que cometemos. Muitas vezes, sabendo que estamos agindo de maneira errada em certas circunstâncias ou em relação a outras pessoas, continuamos incorrendo nos mesmos erros, talvez por não ter a coragem de admiti-los por vergonha, por medo, por orgulho ou até mesmo por ignorância. Outras vezes, as faltas que apontamos nos outros é a maneira que encontramos de justificar e encobrir as nossas próprias. É mais cômodo criticar as faltas alheias do que discernir as próprias faltas. O rigor com que julgamos nosso próximo mostra que desconhecemos nossa própria fragilidade e nossa condição de pecadores diante de Deus (Mateus 7). Em João 8.1-11 (a história da mulher adúltera), Jesus deixa bem claro que a pessoa está acima de qualquer lei, que ninguém está isento de pecado e que, como pecador, não tem direito de julgar e condenar quem quer que seja. Nesse texto de João, o alvo das acusações é uma mulher exposta a todos os tipos de críticas pelo pecado por ela cometido, sujeitada a uma situação humilhante e constrangedora sob a vista de todos os seus algozes. Será que a sentença imposta a ela seria a mesma se o mesmo pecado tivesse sido praticado por um homem? Certamente não. Hoje, a mulher ainda sofre muitos preconceitos e muitas cobranças relativas ao seu papel de esposa, mãe, educadora e trabalhadora. Quando surge algum tipo de desentendimento em uma família, entre pai e mãe ou entre pais e filhos, levanta-se a pergunta: De quem é a culpa? Será que, por ser muitas vezes rotulada como “esteio da família” ou como “rainha do lar”, cabe à mulher carregar em seus ombros o peso de todas as faltas e todos os erros que ocorrem no seio da família? E nós mulheres do grupo de
NOVEMBRO *** 89
OASE somos sempre solidárias umas com as outras, principalmente quando uma de nós sofre algum tipo de crítica em relação a seu trabalho no grupo ou em sua vida pessoal? Absolve-me das faltas que me são ocultas, diz no Salmo 19.12. Muitas vezes, cometemos erros sem percebê-los, sem intenção de prejudicar alguém, quando proferimos palavras impensadas. Às vezes, palavras machucam, ferem mais do que uma agressão física. Será que procuramos controlar nossas palavras, refletir antes de pronunciá-las, para que não se tornem motivo de mágoa, desunião e arrependimento? Vamos dar às nossas palavras a leveza de uma brisa, que soa suave, e não o peso de uma pedra, que fere, causando dor e sofrimento. Vamos recolher as pedras que atiramos e as que nos são atiradas e colocar ao pé da cruz de Cristo como sinal de arrependimento. E peçamos humildemente a Deus que perdoe nossas faltas e todos os pecados que cometemos contra ele e contra nossos semelhantes. Que ele nos dê a sabedoria de viver em harmonia com Deus e com nosso próximo. Irany Koehler Behning Domingos Martins/ES
Construindo Relacionamentos A fé é o fundamento da vida cristã O justo viverá pela fé. Romanos 1.17 Do nada fez Deus o mundo, Os céus e o globo terrestre, Sendo Rei e sendo Mestre, É primeiro sem segundo, E a luz que nos alumia... Com a sua sabedoria,
90 *** Roteiro da OASE 2007
Esquadriou o firmamento. Diz o velho testamento Deus é o Pai que nos cria! Antônio da Luz
O popular poeta faz uma declaração de fé. Uma afirmação simples, mas não simplista. Em poucos versos, diz o que significa a fé em Deus segundo sua compreensão. O apóstolo Paulo, o maior teólogo de todos os tempos, inspirado pelo Espírito divino, retorna ao Antigo Testamento e cita o profeta Habacuque (2.4) para firmar e afirmar esta máxima teológica incontestável: o justo viverá pela fé. Para nós luteranos, filhos e filhas de Deus, para nós particularmente herdeiros da Reforma do século XVI, fundamentados nos escritos confessionais de Lutero, a fé é a alavanca de toda a nossa prática pessoal, familiar e comunitária, dentro e fora da igreja, no mundo eclesiástico celebrativo e sacramental ou no mundo secular, onde Deus também estende o seu domínio e coloca “sinais de paz e de graça”. A seguir, compartilho alguns aspectos sobre esse texto que julgo importantes a partir da ótica da família: 1. A fé é fruto da presença de Deus em nós Segundo a Sagrada Escritura, não somos justos em nós mesmos. Por mais que nossa luz possa brilhar, jamais devemos esquecer que somos apenas pequeninos e insignificantes astros iluminados que apenas refletem a luz divinal. Somente quando, como lavoura do Altíssimo, recebemos o orvalho e o oxigênio da fé em nossas escuras noites é que, pela manhã, aspergiremos o sol da justiça por todos os lugares. O ser humano torna-se justo porque Deus o justifica. Na história da salvação aprendemos que todos os atos de Deus em favor do povo foram atos de justiça (Miquéias 6.5). Paulo, o apóstolo das gentes, afirma que a justiça de Deus revela-se no evangelho (Romanos 1.17). Fica claro, conforme o testemunho das Sagradas Letras, que a justiça humana é fruto do Espírito Santo e tem como infra-estrutura a fé. Esta, segundo Paulo, é fruto da manifestação de Deus em nós (Romanos 5.5). Conseqüentemente, a verdadeira justiça, que emana da fé, é aquela que redime, salva e socorre. O Espírito de Deus, que coloca o amor no coração humano, é o mesmo Espírito que gera a fé e tem o poder de remover as montanhas aparentemente estáticas e intransponíveis. Essas montanhas, muitas vezes, são invisíveis e estão incrustadas no indivíduo, na família, na comunidade, na paróquia, na igreja, na sociedade e no mundo. 2. A fé vem pelo ouvir a palavra de Deus (Romanos 10.17) O Deus de Abraão, Sara, Agar, Isaque, Rebeca, Jacó, Lia, Raquel; dos profetas; dos apóstolos; dos Pais da Igreja; de Santo Agostinho e de São Lutero. Estranho alguém falar em São Lutero, não é? É. Entretanto, Lutero, como todo o povo de Deus, faz parte da família dos santos – pessoas que foram
NOVEMBRO *** 91
escolhidas por Deus, ordenadas no Batismo e enviadas como testemunhas de Deus ao mundo. A igreja, justa e pecadora, é composta de seres humanos que são chamados para ser santos em comunidades de santos; servos em comunidades de servos; justos em comunidades de justos; pecadores em comunidades de pecadores. Todos, entretanto, são salvos e purificados pela preciosa graça de Deus. Em cultos domésticos ou familiares, ouvimos a palavra de Deus nas leituras regulares dos textos sagrados conforme orienta a igreja, por exemplo, nas Senhas Diárias e no Castelo Forte. Sugiro que esses textos sejam lidos em voz alta para que todos possam ouvir. É importante, igualmente, que não se perca o hábito de participação no culto comunitário. No templo, podemos encontrar outras pessoas que professam nossa fé. Todos podem confessar suas falhas, ouvir a mesma palavra, receber o perdão divino e participar do sacramento da Ceia do Senhor. Na celebração comunitária, a palavra de Deus envolve-nos, comove-nos e move-nos em direção ao nosso próximo. No culto, olhamos o altar onde estão, iluminados pela luz divina, simbolizados pelas velas acesas, a Bíblia, o pão e o vinho, que, ao serem consagrados, tornam-se a presença real do infinito numa realidade finita. O Deus das alturas é o Deus das profundezas. 3. A fé tem implicações éticas O apóstolo Tiago afirma que a fé sem obras é morta. Lutero também, com veemência igual, disse que é impossível alguém ter fé sem que esta fé seja demonstrada em atos concretos de amor e de justiça para com o próximo. Concluímos, então, que a verdadeira fé, que vem de Deus, torna-se realidade por meio do amor e do serviço ao próximo. Isso implica um compromisso permanente com Deus e com toda a criação. A fé é pessoal, mas ninguém se salva sozinho. A fé verdadeira, como já foi dito, tem implicações na vida comunitária, na família e em relação a todos os seres vivos. Deus chamou Abraão individualmente, mas lhe ordenou imediatamente que fosse uma bênção para todas as famílias da terra. A fé vem de Deus, mas nunca está desvinculada deste mundo. P. Mozart João de Noronha Melo Rio de Janeiro/RJ
92 *** Roteiro da OASE 2007
Pare e pense
Arte como expressão de fé Não é de hoje que as pessoas têm o anseio de expressar seus desejos terrenos e também suas preocupações com o além por meio da arte. Já os habitantes das cavernas riscavam nas paredes figuras de animais, supondo que assim teriam uma caça garantida: fé em objetos. Líderes do povo e reis contratavam artesãos para representá-los em esculturas, que eram colocadas no templo, com olhos bem abertos, feitos de pedras preciosas, para garantir a proteção dos deuses dia e noite, como para dizer: estou aqui, deus, não esqueça de mim. Na era cristã, surgem incontáveis testemunhos de fé expressos por meio da arte e arquitetura, por exemplo, igrejas e catedrais góticas com suas formas, especialmente da torre, mostrando para o alto. Um símbolo da fé que deseja alcançar a graça divina (séculos 10 a 12). Até figuras de santos obedecem a esse intento e estilo, pois, além de serem esbeltas, eram afinadas para cima. E nós hoje? Para mim pessoalmente é muito gratificante criar murais artísticos em igrejas ou obras em nosso meio, modelando, por exemplo, figuras em cerâmica, contando uma parábola bíblica. Demoro em conceber um projeto. Medito longamente sobre uma determinada história. Só então faço o esboço. A imagem ou figura criada será algo visível e até palpável. Espero, então, que assim como me levou a meditar ao realizar a obra, faça também meditar as pessoas que depois a contemplarão. Além de modelar painéis em cerâmica, também pinto e faço esculturas. Sempre me esforço para colocar minhas convicções e, por que não dizer, minha fé nas obras. Até quando pinto flores não posso deixar de me lembrar do criador de tanta beleza. Quando parto para o abstrato, quero mostrar o emaranhado no qual a pessoa constantemente se perde. Acredito que cada pessoa que se manifesta artisticamente, seja por meio da música, do teatro ou das artes plásticas, coloca uma parte de sua alma na obra. E se a alma está cheia de fé, ela há de transparecer e atingirá as pessoas que são sensíveis o suficiente para perceber e sentir com o/a artista. Quem não é atingido talvez precise de uma outra “antena” ou um outro “clima” para ficar em sintonia. Tenho a plena convicção de que a arte é capaz de mexer conosco, para que sejamos mais observadores, perseverantes e insistentes. Acontece sempre comigo. Às vezes, tenho a idéia de uma obra, mas ao tentar colocá-la em prática – nada! Então só com muita paciência e insistência sai – talvez não
NOVEMBRO *** 93
exatamente como a imaginei. É que o material usado também tem propriedades que o artista precisa respeitar. Expressar a fé por meio da arte não é nada fácil, talvez até mais difícil do que pelo dom da palavra. Mas eu acho que sempre se precisa de paciência e perseverança. E quanto mais você mesma estiver atingida e envolvida, tanto mais poderá alcançar as pessoas lá onde elas se encontram e convidá-las a sentir o que você sentiu: o mundo nas mãos de Deus – apesar de todas as turbulências. Heinz Ehlert Elfriede Rakko Ehlert Curitiba/PR
Painel em cerâmica de Elfriede Rakko Ehlert, na Capela do Lar Rodeio 12/SC
94 *** Roteiro da OASE 2007
Arquivo
Datas importantes
01 – Dia de Todos os Santos 02 – Dia de Finados 05 – Dia da Cultura 10 – 1483 – *Martim Lutero, Reformador (+18/2/1546) 13 – Dia do/a Pastor/a Aposentado/a 14 – Dia Nacional da Alfabetização 15 – 1889 – Proclamação da República 19 – Dia da Bandeira 20 – Dia da Proclamação dos Direitos da Criança (ONU) 25 – 1843 – *Dr. Wilhelm Rotermund, fundador do Sínodo Riograndense (+5/4/1925) 28 – Dia Nacional de Ação de Graças
Q S S D S T Q Q S S D S T Q Q 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 S S D S T Q Q S S D S T Q Q S 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
N O V E M B R O
NOVEMBRO
Aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz nisso está pecando. Tiago 4.17
Meditação Pecado da omissão Fazer ou não fazer o bem? Sim! Mas como? Muitas vezes, não depende só de nossa vontade. Nosso plano é fazer o bem, mas nem sempre é possível. Com poucas palavras, sem querer, ferimos e ofendemos esposo(a), filhos, familiares, enfim, pessoas que estão mais perto de nós, descarregando nelas nossos aborrecimentos. Vivemos numa época em que os valores de vida e os comportamentos mudam muito. O que era normal, como o respeito e o tratamento adequado a idosos, professores, parentes, está sendo esquecido. Um simples “bom dia”, “obrigado” ou “por favor” torna-se cada vez mais raro. Vivemos numa época em que já não é possível aplaudir o correto e bom comportamento humano. Vemos leviandades, corrupções, traições e mentiras por todos os lados. A modernidade e a tecnologia isolam e destroem relações, fazendo com que cada um vá para seu lado e fique em seu canto. Com a falta de diálogo e o não-comprometimento, são perdidas chances de viver bem. E o nosso relacionamento familiar como está? Muitos pais enganam-se ao pensar que, proporcionando aos filhos uma boa escola, esta sozinha os tornará cidadãos bons, íntegros e respeitados. Isso não se aprende na rua, muito menos se espera que o Conselho Tutelar da Criança e do Adolescente resolva os problemas que surgem nas altas horas da madrugada, quando, na verdade, os filhos deveriam estar em casa, com seus responsáveis. Estes, por sua vez, gostam de “lavar as mãos”, jogam a “bola para frente”, fugindo da responsabilidade. Com essa atitude cometem o pecado da omissão. É importante perceber que não se prejudica a vida de outros apenas pelo que se faz, mas também pelo que se deixa de fazer. Sabemos que o respeito, a educação, a humildade vêm de berço. Será que pais sabem que estão pecando em não ensinar o bem, o correto? Ou será falta de esclarecimento? Na parábola do bom samaritano, Jesus ensina que deixar de ajudar quem precisa é uma forma de pecar. É cometer pecado por omissão e negligência. Várias vezes, fechamos nossos olhos para o que acontece ao nosso redor e, como álibi, pensamos: Isso não tem nada a ver comigo! 96 *** Roteiro da OASE 2007
Temos como mudar isso? Sim, é possível! Conscientizando-nos de que devemos ter fé num Deus bondoso, que nos ama e perdoa, que nos ajuda a transformar as pessoas e o mundo. Contudo, o ensino vai mais longe. A prática de fazer o bem não se limita aos momentos de necessidade. A vida está em primeiro lugar. Quando ela está em jogo, as outras coisas podem esperar. Fazer o bem na vida e entender o sofrimento do nosso próximo é celebrar o dom da vida. O que é nossa vida? É um espelho em que outras pessoas podem se enxergar e espelhar. “Irmãs, jamais se cansem de fazer o bem!” (2 Tessalonicenses 3.13). Fazer o bem é traduzir o amor em ação. Devemos lembrar sempre: Ame seu próximo como a si mesmo. Somente dessa forma poderemos conseguir mudanças e alcançar uma vida digna e cheia de amor. Irmgard Lautert Condor/RS
Construindo Relacionamentos Mulheres atuantes Abençoadas sejam as mulheres que partejam uma vida justa e íntegra! O que significa ser uma mulher atuante? O Novo Dicionário Aurélio assim conceitua a palavra atuante: “que está em ato ou em exercício da sua atividade; diz-se de quem atua, de quem age”. Ser uma mulher atuante é ser uma mulher ativa, que se coloca em ação, que está em movimento. Ser uma mulher atuante é não estar e ser uma pessoa isolada, sozinha... Ser uma mulher atuante é vencer o individualismo e o egoísmo reinantes em nosso mundo, interligando-se com outras pessoas, com mulheres, com grupos, com a comunidade, vivenciando a solidariedade, o serviço amoroso, ético e democrático. Estar em ação é estar em relação com outras pessoas, com o mundo, com Deus. É no cotidiano de nossa existência que as relações humanas são construídas,
NOVEMBRO *** 97
descontruídas e reconstruídas. Mulheres atuantes não se conformam com a realidade consumista, competitiva e violenta que as cerca; engajam-se na superação da sociedade capitalista e imperialista. O texto de Romanos 12.2 serve de inspiração para a atuação de mulheres e homens cristãos e para a busca de transformação da realidade: “Não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”. A boa, agradável e perfeita vontade de Deus aponta para a dignidade de toda a criação. Tudo aquilo que foi criado por Deus é bonito e bom. O mundo foi criado como um belo jardim planetário. O ser humano, homem e mulher criados à imagem e semelhança, foi designado pelo próprio Deus como administrador e cuidador desse belo jardim. No decorrer da história, no entanto, as relações de cuidado, de cooperação e de solidariedade foram rompidas. Povos subjugaram outros povos. O livro do Êxodo inicia contando sobre a dura servidão a qual o povo de Israel estava submetido no Egito, que era um grande império (Êxodo 1.1-14). A sociedade estava assim organizada: no topo estava o faraó e a sua corte, os oprimidos eram os “filhos de Israel”, que haviam se tornado um povo muito numeroso. Existe a prática do trabalho forçado para construir as cidades-armazém de abastecimento militar como Pitom (caminho do deserto) e Ramessés (caminho dos filisteus), segundo Êxodo 1.11. As cidades cresciam e fortaleciam-se às custas do trabalho forçado. O faraó amargou a vida do povo, impondo dura escravidão, com serviços forçados. O povo, contudo, continuava a aumentar (Êxodo 1.9-12). O medo começa a tomar conta do palácio. O povo de Israel trabalha como escravo, mas continua a aumentar, a crescer, a se multiplicar... O rei do Egito fica com medo da explosão demográfica e de uma possível rebelião do povo. Além de explorar o povo em sua força física, é urgente controlar sua reprodução. O faraó impõe um controle de natalidade. (Leitura meditativa e pausada do texto de Êxodo 1.15-22.) O rei do Egito chama as duas parteiras Sifrá e Puá e dá-lhes uma ordem: “Quando servirdes de parteira às hebréias, examinai: se for filho, matai-o; mas se for filha, que viva” (Êxodo 1.15-16). O faraó quer controlar a intimidade das mulheres (parto) através das parteiras. A palavra parteira em hebreu significa “aquela que ajuda a dar à luz”. A parteira ajudava a dar à luz, orientando a parturiente e recebendo a criança recém-nascida, cortando o cordão umbilical, lavando o nenê com água, enfaixando e anunciando o nascimento ao pai e familiares. A voz de comando da parteira é decisiva para a mulher gestante na hora de dar à luz. Ela é uma pes-
98 *** Roteiro da OASE 2007
soa de extrema confiança. Da parteira depende a vida da criança e da própria mãe. A parteira tem em suas mãos um grande poder: deixar viver ou matar. O rei do Egito quer usar essa confiança que as mulheres depositavam na parteira para seu projeto imperialista. Ele pensa na expansão de seu próprio poder e na expansão de seu império. O povo de Israel estava aumentando; os meninos surgem como uma ameaça. Os escravos poderiam formar um exército para lutar por sua libertação. É necessário cortar o mal pela raiz. Nada pode ameaçar a grande potência do Egito. É necessário eliminar as crianças, isto é, os meninos; as meninas não oferecem perigo. Elas poderão ser úteis no palácio, trabalhando como padeiras, perfumistas etc. Quem sabe servir ao próprio rei em seu harém. As parteiras recebem a ordem de matar os meninos. Elas resistem e não aceitam fazer acordo com o rei. A ação das parteiras é uma atitude profética. Elas mostram toda a sua coragem e esperteza usando o argumento: “É que as mulheres hebréias não são como as egípcias; são vigorosas e, antes que lhes chegue a parteira, já deram à luz os seus filhos” (Êxodo 1.19). Elas não se deixam comprar. Sua profissão é ser parteira – dar à luz –, trazer a vida e não matar. Elas ficam fiéis a seus princípios éticos. Demonstram que não são destituídas nem de poder tampouco de vontade própria. Elas têm autonomia. Mostram-se como pessoas livres, que agem com responsabilidade. Temem a Deus – o Deus da vida! As parteiras temeram a Deus (Êxodo 1.17). Elas não se atemorizaram diante do poder autoritário do faraó, pois quem fica paralisado diante do poder da ameaça, da morte, não teme a Deus. O temor a Deus (Salmo 112) gera confiança, tece a opção pela vida. As parteiras arriscaram a própria vida para salvar a vida indefesa dos meninos. E Deus as abençoou. É devido à ação das parteiras que o menino Moisés é salvo e se torna um grande líder do povo de Israel. A atuação de resistência das parteiras prepara o sucesso da libertação do povo de Israel do Egito. É por isso que Miriã canta e dança a vitória do seu povo (Êxodo 15). Pela atuação das parteiras, a vida vence a morte. Atuar em favor da vida significou desobedecer ao poder instituído, que nem sempre se coloca ao lado da vida das crianças, das mulheres, dos injustiçados, dos pobres. Mulheres atuantes agem em favor da vida! A atuação das parteiras foi fundamental para o processo de libertação do povo de Israel da escravidão do Egito. O instrumental (conhecimento das parteiras) colocado a serviço e socializado permitiu a vida aos meninos. O saber socializado, a cumplicidade entre parteira e parturiente permitiram que a vida vencesse o poder da morte. O processo de libertação do povo de Israel inicia a partir das parteiras que
NOVEMBRO *** 99
arriscaram suas próprias vidas. O povo de Israel faz memória histórica dessas mulheres parteiras, recordando os próprios nomes Sifrá e Puá, que significam “beleza” e “esplendor”. O nome do autor do projeto de morte não era digno de ser recordado, por isso aparece no texto bíblico apenas como um dos faraós/ dos reis do Egito. A história do povo de Deus inicia com a história de duas parteiras. Duas mulheres que foram fiéis ao Deus da vida e não ao faraó. Da mesma forma, na manhã da Páscoa, mulheres são as primeiras testemunhas da ressurreição de Jesus Cristo. Mulheres arriscam-se, anunciando o triunfo do Deus da vida sobre o projeto de morte do imperialismo. Somos nós parteiras da vida em nosso cotidiano? Colocamo-nos ao lado do projeto de vida? Questionamos os poderes de violência e morte que cercam a vida das crianças, dos pobres, dos trabalhadores, das pessoas que lutam por paz e justiça? As parteiras convidam-nos a usar de forma ética nossos conhecimentos e nossa sabedoria, para que a vida vença a morte. O que temos feito em nossos grupos de OASE como serviço solidário em favor da vida? Vou contar uma breve história: Numa reunião da OASE, sentiu-se a falta de uma companheira do grupo, que não apareceu ao encontro. Onde estava Maria? No final da reunião, a presidente do grupo e a pastora foram até a casa de Maria e encontraram-na num momento muito difícil. Maria sofria da doença do alcoolismo. Ela não tinha conseguido resistir à tentação do álcool. Estava se sentindo muito mal. Havia ingerido álcool gel (serve para fazer limpeza) com suco. O que fazer? Maria foi levada urgentemente para o hospital. Mais tarde, o marido foi informado do acontecido. A partir desse acontecimento, Maria começou a participar do grupo dos Alcoólicos Anônimos (AA). Mais tarde, Maria colaborou na criação do grupo AA em sua própria comunidade. Hoje, Maria recuperou sua auto-estima e é uma grande líder no grupo de AA, na comunidade e na OASE. Faz oito anos que Maria vive na sobriedade. Há três anos, foi abençoada com uma gravidez, que ela considera uma vitória em sua vida. Vinicius participa ativamente com sua mãe nas atividades da igreja. A vida venceu a morte! É necessário servir de forma solidária para que a vida possa florescer em toda a sua plenitude. Oração: Bondoso Deus da vida e da história, obrigada pela atuação corajosa e profética das mulheres parteiras. Elas não se curvaram diante do poder do faraó. Ajuda-nos a ser parteiras, mulheres que no dia-a-dia ajudam a trazer à luz a vida em toda a sua plenitude. Tira-nos de nosso comodismo e egoísmo e envia-nos ao encontro de quem necessita de nós. Há muitas Marias clamando
100 *** Roteiro da OASE 2007
por ajuda... Faze da OASE um grupo de mulheres atuantes em seu contexto. Afasta de nós o preconceito. Dá-nos do teu amor carinhoso e solidário. Oramos em nome de Jesus Cristo, que nos ensinou a amar sem medida. Amém. Para continuar a reflexão 1. O que significa para você ser uma mulher atuante? 2. Você conhece exemplos de mulheres atuantes em sua comunidade? 3. Você lembra da atuação de outras mulheres em histórias bíblicas? O que chama sua atenção na ação dessas personagens? 4. Quais são as marcas que você, como mulher, gostaria de deixar para as futuras gerações? 5. Como o seu grupo de OASE poderia se tornar mais atuante? Pastora Claudete Beise Ulrich Jaraguá do Sul/SC
15 de novembro – Proclamação da República Liberdade religiosa e compromisso Então, convocando a multidão e juntamente os seus discípulos, disse-lhes: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me. Quem quiser, pois salvar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida por causa de mim e do evangelho salvá-la-á. Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Que daria um homem em troca de sua alma? Porque qualquer que, nesta geração adúltera e pecadora, se envergonhar de mim e das minhas palavras, também o Filho do homem se envergonhará dele, quando vier na glória de seu Pai com os santos anjos. Marcos 8.34-38
NOVEMBRO *** 101
Essas palavras de Jesus são claras. Não podemos ter vergonha de testemunhá-lo, de falar sobre seus ensinamentos e sua salvação. Na vida cristã luterana, contudo, nem sempre o testemunhar ou não testemunhar estiveram ligados somente à nossa, digamos, vergonha de fazê-lo ou não. Na história de nossa igreja, testemunhar Cristo de maneira luterana já sofreu proibição. Desde o meu tempo de estudos no primeiro grau, hoje chamado ensino fundamental, a data de 15 de novembro sempre mereceu uma atenção especial da minha parte. E para nós, evangélicos luteranos, o dia 15 de novembro é uma data especial, pois foi nesse dia, em 1889, que foi proclamada a República no Brasil e com isso deu-se plena liberdade religiosa aos cristãos não-católicos. A partir daí, as pessoas de todas as denominações religiosas tinham direitos civis e jurídicos iguais aos cidadãos católicos. Antes desse importante dia, não-católicos tinham apenas a “liberdade” de realizar cultos em casas particulares ou em construções que exteriormente não tivessem a aparência de templos religiosos (torre, sino e cruz). Aos primeiros imigrantes evangélicos luteranos restava contentar-se em poder, ao menos, manifestar entre quatro paredes sua fé no Deus que nos aceita unicamente por graça, mediante a fé em Jesus Cristo. A esses imigrantes estava negado o direito de missionar, isto é, de ser testemunhas de Jesus Cristo, compartilhando a boa-nova da graça e misericórdia de Deus em terra brasileira. Passando por grandes dificuldades estruturais, os imigrantes tiveram que se empenhar por condições dignas de moradia, educação, religião, lazer e outras. Formam-se comunidades e guetos germânicos em que as pessoas vivem sua cultura, sua língua, sua religiosidade, seu jeito de entender e construir sociedade. A discriminação religiosa e, por conseqüência, também civil (Igreja e Estado estavam ligados e este assegurava a presença da outra na sociedade) os acompanhava. Casamentos que não eram realizados por sacerdotes católicos não eram aceitos juridicamente até o ano de 1863. Isto é, todos os casamentos de evangélicos luteranos realizados por seus pastores eram vistos perante a lei como concubinatos. Porém, persistia que, mesmo com o reconhecimento dos casamentos de evangélicos luteranos, em casos de matrimônios mistos, estes só podiam ser celebrados por sacerdotes católicos. Os filhos desses matrimônios deviam ser educados na fé católica romana. Com a Proclamação da República, com a separação entre Estado e Igreja, concretizase a liberdade religiosa. Finalmente os estatutos das comunidades podiam ser juridicamente reconhecidos, templos podiam ser construídos, cultos podiam ser publicamente celebrados e a fé, testemunhada. As diversas comunidades espalhadas pelo Brasil – entre as quais havia algumas que compreendiam erroneamente que a igreja terminava nas fron-
102 *** Roteiro da OASE 2007
teiras da comunidade ou, no máximo, nas fronteiras da paróquia – buscavam encontrar uma maneira uniforme de ser igreja evangélica luterana em solo brasileiro. Assim, em 1949, cria-se a Federação Sinodal, composta pelos diferentes sínodos, da qual, em 1968, surge a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil. Desde a chegada dos imigrantes evangélicos ao Brasil, houve entraves estruturais, históricos, étnicos e culturais, que fizeram com que, principalmente no passado, a missão da igreja estivesse voltada para si mesma, não conseguindo acompanhar a explosão demográfica ocorrida no país. Foi um período de estabelecimento e fortalecimento de comunidades com estruturas adequadas. Embora esse não seja o aspecto principal do ser igreja, foi um período importante para poder cumprir sua verdadeira tarefa, a saber, de ser testemunha de Jesus Cristo até os confins da terra (Atos 1.8). Como bem vemos, houve momentos em que, sob a lei, não podíamos testemunhar livremente. Agora devemos nos fazer a pergunta: E hoje? O que nos impede de ser testemunhas? Será que é vergonha? Ou será que pensamos que não temos com o que contribuir para a realidade brasileira? Não, isso não. Com certeza temos o que testemunhar nesta terra, em nossa cidade, em nosso bairro, em nossa rua, pois sabemos que em Cristo Jesus encontramos o tesouro (2 Coríntios 4.5-7) que nos dá a salvação por graça, sendo fruto de nosso Deus de amor, a quem devemos, em gratidão, servir. OASE é comunhão, TESTEMUNHO e serviço. Que o dia 15 de novembro continue sendo uma data histórica para todas as pessoas brasileiras. E para nós, que somos evangélicos luteranos, seja também um dia no qual desabrochamos para o testemunho. Com certeza, se Deus quis que aqui surgisse a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, então é porque ele lhe reservou uma tarefa a cumprir em terra brasileira, em meio ao povo que aqui vive. Obedecendo à ordem de Deus, coloquemos alguns desafios para nós: maior abertura ao mundo no qual vivemos, maior engajamento no sacerdócio geral ao qual fomos integrados pelo Batismo e maior compromisso com nossa confessionalidade luterana como testemunhas de Jesus Cristo. Pastora Márcia Helena Hülle Guarapuava/PR
NOVEMBRO *** 103
Arquivo
D E Z E M B R O
Datas importantes
01 – Dia Internacional de combate à AIDS 02 – 1º Domingo de Advento 03 – Dia Internacional das Pessoas Portadoras de Deficiência 09 – 2º Domingo de Advento Dia da Bíblia 10 – Dia Internacional dos Direitos Humanos 16 – 3º Domingo de Advento 23 – Dia do/a Vizinho/a 23 – 4º Domingo de Advento 24 – Véspera de Natal 25 – Natal 31 – Silvestre
S D S T Q Q S S D S T Q Q S S 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 D S T Q Q S S D S T Q Q S S D S 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31
DEZEMBRO
Os que esperam no Senhor renovam as suas forças, sobem com asas como águias, correm e não se cansam, caminham e não se fatigam. Isaías 40.31
Meditação Pela saúde da família Dinâmica Material: Balões, palitos. Procedimento: Dividir o grupo em equipes e distribuir palitos para furar os balões. Uma pessoa fica no centro da roda e segura um balão, outra, fora da roda, faz as perguntas. A pessoa que souber a resposta à pergunta corre até o centro, fura o balão e diz a resposta. Ela só pode correr quando é dito “já”. Vence a equipe que responder ao maior número de perguntas. Sugestões de perguntas: Qual é o nome do primeiro casal citado na Bíblia? (Adão e Eva) Como se chamava a esposa de Moisés? (Zípora) Como se chamava a irmã de Moisés? (Miriam) Que família é denominada “sagrada”? (José, Maria e Jesus) Como se chamavam os pais de João Batista? (Zacarias e Isabel) Como se chamavam as irmãs de Lázaro? (Marta e Maria) Podem-se criar mais perguntas. O importante é que as perguntas sejam ligadas ao assunto família. Muitas instituições estabelecidas têm sofrido fortes ataques, entre elas a família. Na Europa já se tem anunciado o fim da família como instituição. Atualmente, pouco se ouve falar sobre a família; a moda agora são produções independentes. Assusto-me com as estatísticas sobre a desintegração da família no Brasil e no mundo todo. Deus é pai e líder dos seus filhos. Ele nos ama com amor paterno. Enviou Jesus, seu Filho amado, e nos adota como filhos amados quando o recebemos em nossos corações. Contudo, quanto mais as famílias se desintegram, mais difícil fica utilizarmos a figura da família para ilustrar o amor de Deus. Mas os que esperam no Senhor renovam suas forças. Quantas famílias cristãs necessitam esperar no Senhor para que suas forças sejam renovadas! O amor e o encantamento, muitas vezes, deixam de existir e os conflitos pessoDEZEMBRO *** 105
ais tornam-se quase intransponíveis – uma palavra áspera aqui, uma atitude rude lá, o perdão não existe, cresce o ressentimento e, conseqüentemente, o distanciamento. Os pais são os principais educadores na vida de seus filhos. São as matrizes que imprimirão na mente e no coração dos filhos para que cresçam e se desenvolvam saudáveis. Não é virtude, é obrigação de quem se uniu para conceber um novo ser humano. O princípio maior da educação é o amor, isso também vale para o casamento. Para transmitir isso aos filhos não é preciso cursar uma universidade. Há pais com pouca formação que são mestres na arte de amar e orientar seus filhos. Como grupo de OASE devemos sempre auxiliar, orar e aconselhar mulheres para que possam fazer de suas famílias um “lar doce lar”. Mulheres que sobem com asas como águias vão muito acima dos seus problemas, pois seu auxílio vem do alto através da oração; não se furtam de fazer o melhor pelo seu casamento, buscando em Deus a orientação; entregam-se ao estudo da palavra de Deus e suas promessas. Sabemos que nós mulheres muito podemos fazer pela saúde de nossa família. a) Cuidamos de nós mesmas? Nosso vestir, agir e falar causam constrangimento ao nosso marido, filhos e amigos? Somos companhias agradáveis ou chatas, que vivem a resmungar? b) Cuidamos dos nossos filhos? Quanto e que tipo de atenção damos a eles? Nós os tratamos com paciência e amor ou com gritos e xingações? c) Temos cuidado no relacionamento com o marido? Fazemos bem ou mal a ele? Somos uma boa companhia? Agradamos nosso cônjuge? Há amizade? Oração: Querido Pai celeste, obrigada por minha família. Tu nos concedes tudo o que necessitamos: uma casa para nos abrigar, alimentos para nos tornar saudáveis, roupas para nos agasalhar, amigos para ter comunhão, igreja para viver em comunidade e um ao outro para viver o teu amor. Auxilia-nos a esperar em ti, Jesus, e ser renovados. Que tu, Senhor, nos abençoes; que Jesus nos ensine seu amor e perdão e que o Espírito Santo nos console e dê grande alegria para amar toda a nossa família. Amém. Maria Luiza Tessmann Mülling Pelotas/RS
106 *** Roteiro da OASE 2007
Natal Nas palhas da manjedoura Refletindo sobre as palavras palha e manjedoura, lembrei-me da minha infância e juventude, quando, com a comunidade, íamos a encontros e retiros espirituais. Era época do pós-guerra, quando ainda não, ou não mais, existiam casas de retiros. Usávamos salas de aulas. Nessas salas, à direita e à esquerda, era espalhada a palha sobre a qual colocávamos os lençóis. Ah, como se dormia bem! Na época do grupo da juventude, alguns tinham barracas, outros recebiam permissão dos agricultores para dormir no estábulo, na palha, junto com os animais domésticos. Nada nos incomodava, tudo era novo e bom, e o mais importante era a amizade e a comunhão! E lembrei-me também de um texto no qual um pastor conta como ele, recém-formado, foi enviado, justamente nos dias de Natal, para uma comunidade bem distante e foi morar com uma família de agricultores muito simples. No Natal, apesar da vergonha, com muita humildade, convidaram o pastor para celebrar a ceia com a família, e ele aceitou o convite de bom grado. Afinal, quem quer estar sozinho na noite de Natal?! Colocaram mais uma cadeira à mesa. O agricultor, em voz alta, rezou o Pai-Nosso. Houve um silêncio total e foi apagada a lâmpada. Trouxeram para a cozinha a árvore de Natal, ainda com as velas apagadas. Foi acesa uma vela que estava na mesa e o pai começou a ler: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus...” (João 1). Quando ele chegou nas palavras: “A verdadeira luz que, vinda ao mundo, ilumina a todos”, ele parou e deu a vela à mãe, para ela acender a vela que estava na ponta do pinheirinho. O pai continuou lendo até o versículo 13 do primeiro capítulo de João. E a mãe acendia todas as velas no pinheirinho. Todos se ajoelharam e o pai seguiu com a leitura: “E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai”. Todos se abraçaram e continuaram com bolo e chá. Mas o mais comovente nessa celebração, o pastor ficou sabendo na manhã seguinte! Depois da ceia, o pai buscou feixes de palha e colocou-os em círculo no chão da sala. Naquela noite e nas noites seguintes, ninguém dormiu na cama. Dormiram como o Menino Jesus: em cima da palha. No meio do círculo foi posta uma manjedoura, também cheia de palha. Com esse gesto, queriam convidar Jesus para que ele, na pobreza, se fizesse presente no meio deles. Também não esqueceram dos animais no estábulo. Eles receberam pão em sinal de agradecimento por ter esquentado com sua respiração o Menino Jesus no estábulo em Belém.
DEZEMBRO *** 107
O hino de Martim Lutero “Eu venho a vós dos altos céus” contém uma estrofe que não foi traduzida para o português: “Ó Criador de todo o mundo, como ficaste tão desprezado que deitas na palha, da qual comeram os animais”. A grandeza de Deus e a insignificância humana encontram-se na estrebaria de Belém, nos mais profundos contrastes. Deus, a humanidade e a criatura unem-se nesse grande amor do Natal, que vem tão visível para nós. Visível na palha e na manjedoura, numa estrebaria! Se observarmos um punhado de palha – que valor tem? Nenhum! Mas é um bom símbolo para o Natal. Uma simples palha é a base para o milagre de Natal: “Encontrareis uma criança envolta em faixas e deitada numa manjedoura, na palha”. O que se deixa associar melhor com a pobreza do Salvador do que a palha? Hoje, temos muito mais recursos que simbolizam o Natal: presentes, boa comida, enfeites etc. Perguntamos: eles nos trazem o verdadeiro Natal? Um punhado de palha é o sinal de que Deus, através da criança na manjedoura, se une a nós como irmão, como cantamos no hino: “Cantai, cristãos, a Deus louvai, pois hoje abriu o céu; do trono excelso enviou o Pai o eterno Filho seu. O Cristo oculta o seu poder, submisso aceita a dor, humilde servo vem a ser do mundo o Criador”. O que nos resta dizer? No início, ouvimos a palavra: “E o Verbo se fez carne...”. Para nós é difícil explicar esse texto. Quando não conseguimos, devemos seguir o exemplo dos anjos: cantar, louvar a Deus, jubilar com alegria – ou silenciar! Ficar maravilhado ou tartamudear envergonhado. Deus falou primeiro. Depois nós falaremos. Mas cada um que fala de Deus sabe que as nossas palavras dificilmente conseguem desvendar seu mistério. Por isso dirigimo-nos a ele através da criança que nasceu em humildade. O que nós ainda queremos saber? Como seres humanos queremos saber sempre mais e mais. Nossos conhecimentos dão-nos certo status na vida. Mas devemos reconhecer que não podemos saber tudo. Ficamos maravilhados quando falamos dos grandes feitos de Deus. Mas difícil é examinar bem a fundo o grande mistério de Deus que festejamos no Natal, o qual mesmo os anjos não descobriram e simplesmente ficaram maravilhados e cantaram: “Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre as pessoas, a quem ele quer bem”. Logo floresce a palha seca! Esta é a promessa de Natal e ela vale também quando muitas perguntas ficam sem resposta. É possível que uma palha debulhada comece a dar flores? Que palavras secas dêem alento para uma fé nova? Não é uma contradição em
108 *** Roteiro da OASE 2007
si – a palha seca começa a dar flores e frutos e palavras debulhadas tocam os corações? Somente Deus tem o poder para isso! Onde? Em todos os lugares! Quando? Em breve! Descobrimos agora a mensagem da palha da manjedoura? Devemos sempre recorrer à mensagem central do Natal: “Eis aqui vos trago Boa Nova de grande alegria, que o será para todo o povo: é que hoje vos nasceu na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo o Senhor”. As boas-novas da fé cristã estão envolvidas no Natal. E o centro de toda a história e tradição do Natal está ligado ao fato de que Deus, por amor, enviou a este nosso mundo de trevas o seu Filho como a luz do mundo, como o Salvador. Essa foi a mensagem do anjo naquela noite misteriosa aos pastores de Belém. E esta vem sendo a mensagem central em todos os tempos: “Hoje vos nasceu Cristo, o Salvador”. Louvado seja Deus pelo seu presente de Natal – nas palhas da manjedoura: Cristo, nosso Salvador! Gudrun Braun Rio de Janeiro/RJ
Jogral Natal em família Leitor 1: Aqui estamos para celebrar Natal. Para dar graças a Deus e celebrar a vida que nos é presenteada por ele. Que o amor de Deus, o Pai, que a graça de Jesus Cristo, o Filho, e a comunhão do Espírito Santo estejam conosco. Todos: Amém. Bendito seja Deus, que nos une no amor de Cristo. Leitor 2: Como família de Deus, queremos renovar entre nós os laços de amor e compreensão. Queremos ouvir a palavra de esperança neste tempo de Natal e de preparação para o novo ano. Canto: Jubiloso, venturoso (HPD 1 – 29). Leitor 3: Convido para lermos, em dois grupos, uma paráfrase natalina do texto de 1 Coríntios 13.
DEZEMBRO *** 109
Grupo 1: Ainda que eu repita a história de Natal e cante seus belos hinos, se eu não tiver amor, serei como um sino que só faz “badalação”. Grupo 2: Ainda que eu receba muitos presentes e aprecie seu valor, se eu não tiver amor, isso de nada servirá. Grupo 1: Ainda que eu distribua presentes aos pobres neste Natal, se eu não tiver amor, isso de nada adiantará. Grupo 2: O amor, que veio ao mundo no Natal de Jesus, é paciente e bondoso. É justo e promove a paz. Grupo 1: Esse amor maravilhoso, derramado sobre nós no Natal, capacita-nos a tudo crer, tudo esperar e tudo suportar. Grupo 2: Ainda que haja pinheiros de Natal, eles murcharão. Grupo 1: Ainda que haja enfeites multicoloridos, eles quebrarão. Grupo 2: Ainda que haja a alegre algazarra das crianças, ela passará. Grupo 1: Essas coisas são apenas a manifestação terrena da alegria do Natal. Grupo 2: Mas, quando o verdadeiro Natal chegar, tudo o que é imperfeito cessará. Todos: E em todos os corações haverá fé, esperança e amor! Leitor 4: Muitas vezes, nós vacilamos, fraquejamos, apesar de nossas boas intenções. Falhamos no convívio entre nós e nos tornamos insensíveis aos problemas uns dos outros. Isso pode desfazer a união e complicar nossa comunhão Leitor 1: Mas, apesar de tudo, a palavra de Deus pode nos reanimar e fazer com que voltemos a encontrar a paz e a renovar os laços que nos unem. (Leitura de Isaías 11.1-9) Leitor 2: A mensagem do Natal diz-nos que Deus vem ao nosso encontro. Que Deus entende nossas dificuldades e nos vem socorrer. Leitor 3: Também para nós hoje é feito o anúncio do nascimento de Jesus, como foi feito para os pastores nos campos de Belém. Leitor 4: Também para nós hoje é dito: “Não tenham medo! Estou aqui para trazer uma boa notícia a vocês, e ela será motivo de grande alegria para todo o povo. Hoje, na cidade de Davi, nasceu o Salvador de vocês – o Messias, o Senhor!”. Leitor 1: Os pastores alegraram-se muito com essa boa notícia. Foram saudar o Deus-Menino com cantos de louvor. Que a mesma alegria tome conta de nossos corações e nos faça cantar: Quero ir com os pastores (HPD 1 – 31). Leitor 2: Este é o único e verdadeiro Deus, doador da vida. A ele queremos nos dirigir em oração, assumindo o compromisso com a vida, o amor e a comunhão: Senhor, para viver com alegria este tempo de Natal. Todos: Prepara-nos, Senhor, Leitor 3: para viver em fraternidade e amor. Todos: Prepara-nos, Senhor, Leitor 4: para aprender a repartir o que nos é dado por ti. Todos: Prepara-nos, Senhor, Leitor 1: para anunciar e lutar somente por verdade e direito.
110 *** Roteiro da OASE 2007
Todos: Prepara-nos, Senhor, Leitor 2: para que haja em nossas famílias amizade, confiança, amor e companheirismo. Todos: Prepara-nos, Senhor, Leitor 3: para que, como famílias unidas pelo amor e pela fé, possamos superar dificuldades e desarmonias. Todos: Prepara-nos, Senhor, Leitor 4: para abrir nossos corações para tua palavra e nos tornar ativos em nossa comunidade. Todos: Prepara-nos, Senhor, Leitor 1: para que façamos desta época um tempo de entendimento e compreensão. Todos: Prepara-nos, Senhor. Todos: (De mãos dadas, alguém faz uma oração e termina com o Pai-Nosso e, depois, todos cantam Noite Feliz do HPD 1 –13). Bênção final Homens: Deus colocou no nosso coração uma grande esperança. Mulheres: Esperança de que tudo aquilo que está ruim em nossa vida pode e deve ser mudado. Todos: Agora Deus nos despede e nos envia cheios dessa esperança. Esperança que nos leva adiante. Esperança que nos leva ao amor, à solidariedade, à comunhão. Podemos fazer alguma coisa porque ele caminha conosco. Homens: Sim, o Senhor nos abençoe e nos proteja. Mulheres: Se alguém de nós tropeçar e cair, ele ajudará a levantar. Todos: Por meio de nós, o Senhor plantará a fé, a esperança e o amor. Vamos, pois, na paz do Senhor! Amém. Leitor 1: Que este tempo de Natal seja realmente uma festa de amor, de paz e de alegria. Vamos nos abraçar para mostrar a alegria e a paz que Deus nos concede. Pastor Guilherme Fredrich Blumenau/SC (Fonte: Jornal O Caminho, dezembro de 2005, reduzido com permissão.)
DEZEMBRO *** 111
112 *** Roteiro da OASE 2007