2008
© Editora Sinodal, 2008 Caixa Postal 11 93001-970 São Leopoldo/RS Tel./fax: (51) 3037 2366 editora@editorasinodal.com.br www.editorasinodal.com.br Elaborado pela Ordem Auxiliadora de Senhoras Evangélicas da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil Conselho redatorial: Anna Lange, Alba O. Seewald, Olga Kappel Roque, Edeltraud Fleischmann Nering, Isabela Miriam Buboltz e Helena Beatriz C. Fey Diretoria Nacional: Ani Cheila Kummer (Presidente) Gudrun Braun (Secretária), Dirce Schitkoski (Tesoureira) Coordenação editorial: Helga Schünemann Produção editorial: Editora Sinodal Produção gráfica: Gráfica Sinodal ISBN 978-85-233-0910-7
ÍNDICE Apresentação ................................................................................................ 5 Pinceladas sobre o trabalho da OASE em 110 anos ................................. 7 JANEIRO Tudo está na mão de Deus (Salmo 16.8) .................................................. 12 É tempo de servir ....................................................................................... 14 Oração: Nas tuas mãos estão os meus dias (Salmo 31.5) ...................... 17 FEVEREIRO Tu és meu (Lucas 8.25) .............................................................................. 19 Tempo para mim ......................................................................................... 21 Beleza – estética ou escravidão ................................................................ 24 MARÇO Amor inclui atitude e ação (Levítico 19.l8) .............................................. 27 Diversos tempos da vida – As quatro estações ...................................... 30 Dia Internacional da Mulher: A exuberante diferença da mulher ........ 33 Lições do lápis ............................................................................................ 35 ABRIL Tempo e sabedoria (Colossenses 2.14) .................................................... 37 Ano Eclesiástico: o calendário que conta a história de Deus com a humanidade ............................................................................................. 39 Páscoa: Mensagem central de esperança! .............................................. 42 Receita: Bolo de maçã ................................................................................ 44 MAIO Não podemos calar (Atos 4.20) ................................................................. 46 Para todo propósito há tempo e modo ..................................................... 47 Jogral: Mãe para todos os tempos ........................................................... 51 JUNHO Acepção de pessoas (Atos 10.34-35) ........................................................ 54 Tempo para cultivar relacionamentos ...................................................... 57 Pomeranos no Espírito Santo (Primeira parte) ........................................ 61 Receita: Pastelão de palmito ..................................................................... 64
JULHO Alegria: o hormônio do bem-estar (Filipenses 3.1) ................................ 66 O mais belo virá .......................................................................................... 69 Dia da Amizade: Pedacinhos de tempo ................................................... 71 Pomeranos no Espírito Santo (Segunda parte) ....................................... 72 Receita: Musse gelada de negrinho com merengues ............................ 74 AGOSTO Que Deus nos abençoe! (Números 6.24-26) ............................................. 76 Deus tem tempo. E você? .......................................................................... 78 Elfriede Ziegler – Perfil de uma centenária ............................................. 80 Poesia: Na tela da vida vou deixando minhas marcas ........................... 82 SETEMBRO Onde está teu coração, ali está teu Deus (Lucas 12.34) ........................ 84 Tempo para Deus ........................................................................................ 86 Projeto missionário Sul do Pará ................................................................. 90 OUTUBRO Coração novo (Ezequiel 11.19) .................................................................. 95 Espaço para trabalhar, para descansar e festejar .................................. 98 O rio e o oceano ........................................................................................ 102 NOVEMBRO Acordar para a vida eterna (1 Tessalonicenses 4.14) ........................... 104 Não deixe para amanhã ........................................................................... 106 Testemunho: Minha sobrevida ................................................................ 109 DEZEMBRO Eu vos salvarei (Zacarias 8.13) ............................................................... 112 Tempo perdido não se recupera ............................................................. 114 Dinâmica das mãos .................................................................................. 117 Poesia/jogral: É Natal sempre! ................................................................ 118 Trabalho manual: Estrela de Natal ......................................................... 119 Receita de Ano Novo ................................................................................ 120
Apresentação
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tema para 2009 é bastante oportuno: “tempo”. O livro de Eclesiastes, no Antigo Testamento, recomenda: “Há tempo para todo propósito”. Neste ano, a OASE completa 110 anos de profícuo trabalho. Tempo é uma questão Arquivo de prioridades e opções. Se aquelas primeiras mulheres não tivessem eleito o amor ao próximo como o mais importante naquele tempo, hoje provavelmente não seríamos esta OASE. Muito temos a agradecer àquelas mulheres que, com muita dificuldade, mas, principalmente, com esforço, sabedoria e coragem, dediAni Cheila Fick Kummer caram seu tempo, dons e talentos ao trabalho de amor à outra pessoa. Por isso, homenageá-las hoje significa honrar e nos espelhar em seus exemplos, ainda mais com tantas facilidades que temos à nossa disposição. Esses 110 anos não são pouca coisa. Certamente a OASE já teria desaparecido se este não fosse um projeto de Deus. Tempo é dádiva, é graça. E a OASE foi construindo sua história ponto a ponto, tijolo a tijolo. Sem medo de errar, arrisco-me a dizer que a OASE é o maior agente missionário da IECLB. Há 110 anos vem erguendo tendas e construindo pontes em cada comunidade, preparando mulheres para sair de seus muros pessoais, ajudando mulheres a descobrir seus dons, seu valor, para que se sintam filhas amadas de Deus e conquistem dignidade, não só para elas, mas também para outras pessoas e outras gerações. Nosso tempo é de Deus! Um belo contraponto. Que possamos aproveitá-lo da melhor forma para, um dia, poder olhar para trás e dizer: “Bons tempos aqueles dedicados ao trabalho da OASE”. De minha parte são 40 anos de participação ativa na OASE. Já acompanhei várias
mudanças e evoluções, sempre para atualizar e melhorar a nossa formação: “Não podemos dirigir o vento, mas podemos ajustar as velas”. O Roteiro da OASE é mais um suporte para você dedicar seu tempo a Deus por meio da OASE. Boa leitura e bom trabalho trazem crescimento espiritual e pessoal. Ani Cheila Fick Kummer Dom Pedrito/RS Presidente da Associação Nacional da OASE
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Pinceladas sobre o trabalho da OASE em 110 anos
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oltando de uma viagem, a posição da minha escrivaninha estava mudada. Perguntei a meus filhos por que e eles me disseram: “Ah mãe, achamos que você se alegraria em ter a vista para o Cristo (Corcovado)”. Agora estou aqui, sentada, vendo o Cristo e refletindo sobre o que escrever acerca do tema solicitado para mim: “Pinceladas sobre o trabalho da OASE em 110 anos”. Olhando, pensando, vendo o céu azul sem nuvens, o Cristo com os braços abertos, e passando por ele, como uma flecha prateada, um avião, assim, num instante, passou na minha mente tudo que li, escrevi e organizei por ocasião da festa dos 100 anos da OASE! Que riqueza, Arquivo que profundidade, quanto suor, quanto amor, quanta oração construíram o trabalho da Ordem Auxiliadora de Senhoras Evangélicas, que existe até hoje da mesma forma que começou. Da mesma forma mesmo? Sim e não! Sim, porque o fundamento ainda existe, como há 110 anos: a palavra de Deus e os três pilares – Comunhão, Testemunho e Serviço. Da mesma forma? Sim e não, porque hoje a OASE, com 110 anos, ainda é tão jovem como há dez anos. Ela não sente nada de uma velhice. A OASE ainda tem o espírito jovem, renovador e essa agilidade enorme para se adaptar a novas situações. Adaptamo-nos a novas situações quando nossa igreja pediu para nos tornarmos pessoa jurídica. Por que isso? O novo Código Civil do Brasil obrigou a IECLB a desvincular todos os setores, departamentos e instituições que tinham cadastro bancário em nome da IECLB. Isso aconteceu em maio de 2005 e em 14 de setembro de 2005 fundamos a Associação Nacional dos Grupos da Ordem Auxiliadora de Senhoras Evangélicas – OASE. Também os sínodos seguiram essas instruções e, em 2006, a maioria fundou a Associação da OASE nos respectivos Sínodos. Foi
tudo pacífico? Não, nem sempre. Em alguns momentos houve muita discussão, mas depois veio o entendimento. Na verdade, eu não queria ter entrado nessa questão, mas achei importante esse esclarecimento para mostrar que, às vezes, as coisas acontecem “de cima para baixo”. Mas agora, como fica a OASE? Ela continuará a mesma que é hoje, andando dentro da lei, como um setor que respeita e é respeitado na nossa igreja. E no trabalho do dia-a-dia, nos grupos, sentimos alguma mudança? Não! Com a mesma alegria e disposição, nós nos dedicamos ao bem-estar do próximo, dentro das comunidades e fora dos muros da igreja, seja espiritual ou fisicamente. Olhando a diversidade do nosso trabalho, podemos dizer com o salmista: “Rendei graças ao Senhor, porque ele é bom, e sua misericórdia dura para sempre”. Vamos dar algumas pinceladas: • Em maio de 2008, foram comemorados os 20 anos de caminhada do programa radiofônico “Conversando com Você”. • Em agosto de 2007, o Sínodo Vale do Itajaí celebrou os 100 anos de OASE naquele Sínodo, dando destaque aos grupos de Blumenau e Brusque. Resgataram até a imperatriz Auguste Victoria, que, em 1888, fundou a “Sociedade Auxiliadora” na Alemanha com as palavras: “Quero gravar no meu coração e no meu pensamento que eu não estou na terra por mim, que eu dê amorosamente a outros o amor do qual eu vivo”, e as primeiras diaconisas de Wittenberg, que dirigiam a Maternidade Johannastift, em Blumenau/SC. • A partir do próximo ano, 2010, teremos um considerável número de grupos de OASE que festejarão 100 anos de existência. • Nunca faltaram comunicação e literatura espiritual. Em 1903, na Alemanha, circulou “O Mensageiro para a Mulher Evangélica”, o qual foi editado pela primeira vez no Brasil em 1930. • A primeira orientadora da OASE em tempo integral veio da Alemanha em 1954. Durante 15 anos de atuação no Brasil, seu trabalho envolveu principalmente os grupos de OASE no sul do país. Mas ela também manteve contatos com grupos de outros sínodos. Sua principal contribuição para o desenvolvimento do trabalho da OASE no Brasil foi o incentivo à prática do estudo bíblico nos grupos. • Foi essa orientadora que, em 1955, também deu início ao atual Roteiro da OASE. Ele surgiu como Roteiro de Trabalho, com tímidas 12 páginas, primeiramente em língua alemã, depois bilíngüe, seguindo em
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alemão e português, e desde 2002 somente no vernáculo, agora com 120 páginas. • Em 1985, foi lançado o livreto “OASE – Por quê? Como? Para quê?”, que teve sua segunda edição em 2004. • Em 1998, lançamos o jornal OASE em Foco com a proposta de melhorar a comunicação entre as mulheres além das fronteiras sinodais. • Em 1999, para o centenário da OASE, editamos o primeiro livro que conta a história da OASE, sob o título “Retalhos no tempo”. • Em 1972, as presidentes e orientadoras regionais começaram a se reunir anualmente para trocar experiências e, em 1978, formou-se o Conselho Nacional da OASE, composto por dois membros das então cinco Regiões Eclesiásticas da IECLB. • Nós nos identificamos por meio do distintivo. O primeiro foi lançado em 1930 e o segundo, e atual, nos acompanha há 60 anos. • Também há 60 anos cantamos o hino “Jesus Cristo é Rei e Senhor”, que foi aprovado e reconfirmado como o hino da OASE. • Por exatos dez anos o Salmo 100 nos acompanha como Salmo da OASE: “Servi ao Senhor com alegria”. • Por 25 anos, como OASE nacional, possuímos um Regimento Interno, que sempre foi adaptado conforme a estrutura da igreja e, recentemente, foi adaptado à nova situação, como Associação da OASE. • Em 1987, portanto há 22 anos, foi criado o logotipo da OASE. • Há 22 anos ininterruptos, celebramos, no mês de setembro (início da primavera), a Semana Nacional da OASE. • Há 54 anos, a OASE aderiu ao Dia Mundial de Oração, celebrado há 71 anos no Brasil. Por iniciativa da OASE, a ordem do culto está sendo impressa desde 1958. A OASE tem expressiva participação na diretoria do DMO. • Sempre no mês de março, num dos sínodos, a diretoria e as presidentes sinodais da OASE se reúnem para uma reunião de planejamento. Em setembro, acontece já há oito anos, o Seminário de Liderança para Presidentes, Secretárias e Tesoureiras das Diretorias Sinodais da OASE e, desde 2005, junto com o seminário, é realizada a Assembléia da Associação Nacional dos Grupos da OASE. • Temos intercâmbios com grupos do exterior e com o trabalho de Mulheres na Igreja e Sociedade da Federação Luterana Mundial (FLM). Como “Mulheres da OASE” somos bem conhecidas e respeitadas no exterior.
OASE – 110 ANOS *** 9
Poderia continuar e encher páginas e mais páginas, mas, como dito no início, são apenas “pinceladas” do nosso trabalho! No caderno “OASE – 100 Anos em 100 Estrofes”, lemos: “[...] de carroça, ônibus, maria-fumaça, a pé, de bicicleta ou trator, o meio não interessa se é para dividir amor”. Para dividir e viver o amor temos os dez objetivos para o nosso trabalho. Os três primeiros falam da comunhão com Deus e com o próximo; do quarto ao sétimo, do crescimento pessoal; e do oitavo ao décimo, do compromisso evangélico de testemunho e amor ao próximo. O que nos preocupa no momento é a segunda parte do nono objetivo: “[...] visando também às novas gerações”. Sabemos que muitas mulheres trabalham fora e estão impedidas de participar das reuniões à tarde. Devemos ser criativas, encontrar caminhos para envolver e tornar nosso trabalho acessível para todas as mulheres. Vimos que as estruturas mudam, mas as bases sólidas ficam. A OASE não é um grupo fechado. Estamos sempre de portas abertas. Venha! Aqui você tem lugar, seja você senhora, senhorita, jovem, viúva, separada... Juntas queremos trabalhar para a glória do nosso Senhor Jesus. Somos gratas a Deus por todas as colaboradoras. Queremos, também no futuro, ser fiéis no nosso trabalho e nos lembrar que o amor abençoa duas vezes: o que recebe e o que doa. 100 anos da OASE passaram. Foi uma festa inesquecível, lá em Rio Claro, no interior do Estado de São Paulo. Andamos mais 10 anos, segurando a mão de Deus. Terminando esta reflexão, lá fora tudo mudou. O céu está cinzento, o Cristo envolvido em nuvens. Mas isso também é simbólico para nós. Não cantamos num hino do nosso hinário: “Se bem que meu caminho eu ignorar, confio em ti. Porque teus planos vais concretizar, confio em ti. Por me guiares, não preciso ver, nem mesmo sempre tudo entender”? Não precisamos entender tudo, mas temos a certeza de que Jesus Cristo é Rei e Senhor, a ele servimos com alegria. E pedimos a Deus que ele nos dê o alento e a bênção para continuar o nosso trabalho da OASE de geração em geração. Gudrun Braun Rio de Janeiro/RJ
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Arquivo
Datas importantes 01 – Ano Novo 1899 – Aprovada a proposta da organização de mulheres "Frauenhilfe", em Berlim/Alemanha, sob a liderança da Imperatriz Auguste Vitória 03 – 1521 – Lutero é excomungado pelo papa 06 – Epifania 07 – 1890 – Decretada a liberdade religiosa no Brasil 13 – 1635 – *Philipp Jacob Spener, fundador do Pietismo (+5/2/1705) 14 – 1875 – *Albert Schweizer – teólogo, médico, filósofo, missionário, Prêmio Nobel da Paz (+4/9/1965) 28 – *Katharina von Bora, esposa de Lutero (+20/12/1552)
J A N E I R O
JANEIRO O Senhor, tenho-o sempre à minha presença; estando ele à minha direita, não serei abalado. Salmo 16.8
Meditação Tudo está na mão de Deus
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Salmo 16.8 clama-nos a crer em Deus e entregar nosso caminho em suas mãos: "Faze do Senhor tua companhia constante. Enquanto ele estiver do teu lado, não tropeçarás". Sim, podemos nos entregar tranqüilamente nas mãos daquele que sustenta o mundo. Saiba que Deus está conosco mesmo na noite mais escura. Contudo, nos dias atuais, imperam o caos e a calamidade; as mais diversas tempestades assolam a todos; terremotos se sucedem e milhares de pessoas sucumbem em questão de minutos. No Salmo 16 encontramos consolo, pois ele traduz as dificuldades e o sofrimento pelos quais o rei Davi também passou. Entretanto, ele conhecia uma segurança, um caminho. Sabia que Deus não iria abandonar os que nele esperam e confiam. Há uma esperança inabalável pela qual Davi descortina algo tão seguro que vence toda a escuridão. De onde vem essa confiança? Ela nasce do profundo amor que ele tem por Deus. E por causa desse amor que tudo supera, é capaz de se entregar sem vacilo a Deus. Tantas vezes questionamos como podemos simplesmente crer e entregar nossa vida, nossa dor nas mãos do Pai. Não acreditamos que isso possa ser uma solução plausível. Esquecemos que a maior prova de confiança nos foi dada por Deus, que nos entregou seu filho, Jesus, que veio para ser o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. E Jesus haveria de passar por todos os sofrimentos da carne, mas em nenhum momento haveria de ficar abandonado. Mas até ele teve medo. Diante da morte certa e anunciada, sucumbiu às tentações mundanas e questionou o amor do Pai. Deus confirmou a confiança outrora afirmada, e houve a ressurreição. Essa vitória há de ser de todo aquele que deposita a sua confiança em Jesus. Nele somos mais que vencedores.
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Quando as coisas mais importantes da vida acontecem, muitas vezes não sabemos, no momento, o que está ocorrendo. A pessoa não percebe a evolução de imediato, não diz a si mesma: "Veja só, estou crescendo!". A transformação talvez não ocorra com todos num súbito lampejo. O que importa é a natureza da transformação em si e não como nos sentimos enquanto ela está ocorrendo. A expressão "entregar nas mãos de Deus" pode ser mal interpretada. A interpretação cristã de entregar nas mãos de Deus é colocar toda a confiança em Cristo; crer que Cristo, de alguma forma, vai compartilhar conosco a perfeita obediência humana que carregou consigo do nascimento até a crucificação; que ele vai nos tornar à sua imagem e semelhança e, em certo sentido, transformar nossas falhas em bem. Numa linguagem cristã, ele vai compartilhar sua filiação conosco e nos tornará, como ele mesmo, filhos de Deus. Não faz sentido Arquivo afirmar que se confia em uma pessoa se não se aceita os conselhos dela. Portanto, se você se entregou realmente a Cristo, segue-se que você está procurando obedecer-lhe. Mas tentando de maneira diferente, com menos preocupação. Não fazendo coisas para ser salvo, mas porque ele já comeCarole König çou a salvá-lo. Não esperando alcançar o céu como uma recompensa por suas ações, mas desejando agir de determinada maneira porque um leve vislumbre do céu já é visível para você. Ter o Senhor diante de si é confiar incondicionalmente no seu amor e ter certeza no alcance da vitória. Carole König Presidente da OASE do Sínodo Rio dos Sinos Porto Alegre/RS
JANEIRO *** 13
Tudo tem seu tempo É tempo de servir! Sejam bons administradores dos diferentes dons que receberam de Deus. Que cada um use o seu próprio dom para o bem dos outros! 1 Pedro 4.10 Arquivo O que você está fazendo com os dons que Deus lhe presenteou? Você pode argumentar da mais variada forma. Cada um poderá ter argumentos e justificativas para o uso ou não. A resposta também é bem íntima e pessoal. E atrás dessa intimidade e pessoalidade você pode se esconder, ou pelo menos tentar. Algumas vezes, confundimos dons, sempre presente de Deus, com qualidades que nos dão destaque, projeção e fama. Confundimos dom com talento. Uma pessoa com grande habilidade motora, física ou mental não significa necessariamente que tenha o Deus capacita a pessoa que ele chadom do qual nosso texto fala. Um atle- ma para ser vir, afirma o P. Lauri ta de destaque tem habilidades que o Becker diferencia dos demais seres humanos. Essa habilidade inclusive pode ser um diferencial genético. Essa grande capacidade pode estar voltada exclusivamente para o sucesso, recorde e fortuna. Normalmente insufla o ego e a vaidade de quem é dela dotada. Alguns necessitam do aplauso das multidões para viver e para seu equilíbrio emocional. Quando a palavra de Deus fala de dom, ela se refere a uma grande diferença. Dom é a capacidade de dar de si em favor do outro. É não olhar para si mesmo, para seu próprio umbigo, mas para onde se fazem necessários a misericórdia, a diaconia, o anúncio, o acolhimento, o consolo e a restauração de corações magoados, sofridos e sem rumo. Dentro
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desse conceito, dom não depende de grandes capacidades ou habilidades, mas sim de entrega e doação. Alguém até poderá ter habilidades acentuadas, mas não é pré-requisito. Caso alguém tenha essas habilidades, elas devem estar voltadas ao servir do irmão e da irmã. Algumas vezes, argumentamos que, quando tivermos certos dons, iremos colaborar e servir na comunidade. Essa justificativa me faz olhar para os discípulos que Jesus chamou. Quem eram essas pessoas e o que elas tinham de especial para serem chamadas? Nada. Eram pessoas como você e eu. Lembro-me de Moisés, homem que gaguejava e não conseguia se expressar em público. Todas essas pessoas tiveram um diferencial: aceitaram o chamado e colocaram-se a caminho. Eram inseguras e sem grandes habilidades, mas Deus as chamou e as capacitou. O que você está fazendo com os dons que Deus lhe presenteou? Nenhum ser humano tem todos os dons. Que bom que é assim, pois evita que a soberba e a vanglória tomem conta de nós. Mas na comunidade cristã estão todos os dons. Cada homem e cada mulher são chamados a somar com o que possuem. O dom de Deus é a capacidade de doar e entregar a vida para o servir. Cada um é chamado a servir com os dons voltados ao próximo. Aos olhos de Deus, todos os dons são iguais, não havendo um mais e outro menos importante. Todos os dons cooperam para que vejamos e experimentemos a graça de Deus. Como está a disposição de servir na comunidade? Ao colocarmos os nossos dons a serviço, estamos evangelizando e anunciando que o Reino já chegou e que estamos aguardando Cristo voltar. Estamos sendo instrumentos para que as pessoas fiquem sabendo da boa notícia do evangelho. O apóstolo Paulo diz em Romanos 10.13-15: Todos os que pedirem a ajuda do Senhor serão salvos. Mas como é que as pessoas irão pedir, se não crerem nele? E como poderão crer, se não ouvirem a mensagem? E como poderão ouvir, se a mensagem não for anunciada?E como é que a mensagem será anunciada, se não forem enviados mensageiros? As Escrituras Sagradas dizem: Como é bonito ver os mensageiros trazendo boas notícias! Quando coloco os meus dons à disposição do próximo, sou mensageiro que leva e traz boas notícias. Lembrando da nossa própria vida e história, iremos lembrar de muitos mensageiros que fizeram a diferença em nossas vidas. Hoje, ao olharmos para eles, podemos ver que foram
JANEIRO *** 15
mensageiros de Deus que trouxeram na vida e na morte palavras, abraços, silêncio respeitoso, ombro amigo ou até colo, inclusive nos ofertando o pão. São mensageiros que fizeram a diferença e transformaram vidas. A essas pessoas podemos dizer: como você foi/é um bonito mensageiro. Como você é visto na comunidade em que participa? Numa pequena comunidade do Mato Grosso, vivia uma mulher sem grande talento, miúda, frágil e doente, chamada Dulce. Ela tinha dentro de si uma força que impressionava a todos. O seu desejo de servir e de trabalhar pela comunidade marcava a todos. Estava sempre disposta e animada. Apesar de doente, sua casa era o local aonde as pessoas iam levar suas angústias e buscar consolo. Com o agravamento do seu estado de saúde e a sua debilidade física, as pessoas começaram a fazer plantão para cuidar dela e não sobrecarregar a filha. Certa noite, três dias antes de falecer, ela começou a chorar. As pessoas, preocupadas, perguntaram se ela estava com dor. No entanto, ela respondeu: “Não estou com dor. Estou chorando de saudade, porque não vou ter mais a minha comunidade para conviver e servir”. Na véspera da sua morte, em um momento de lucidez em meio aos seus delírios, ela declarou: “Eu tenho que contar uma coisa para as pessoas: nada, nada, nada vale a pena. A única coisa que vale a pena é a fé”. Essa história é de alguém que conseguiu entender, através dos olhos da fé, o chamado de Deus e colocou seu coração e a sua vida a serviço da comunidade. Ela acabou tendo uma beleza ímpar para todos os que conviveram com ela e marcou profundamente essa comunidade. Mesmo muitos anos após a sua morte, ela continua sendo uma bonita lembrança para a comunidade e para as pessoas que a conheceram e conviveram com ela. Como estão os seus pés? A caminho? Ótimo! Deus vai cuidar deles e dará a força necessária. Se porventura ainda não estão a caminho para levar a boa notícia, lembre-se: o Senhor está chamando. Ele quer que você seja seu mensageiro para que mais pessoas creiam nele. Ele quer contar com você. Deus capacita a pessoa que ele chama. Vamos juntos nessa missão? P. Lauri Becker Cuiabá/MT
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Oração Nas tuas mãos estão os meus dias (Baseado em Salmo 31.5) Senhor dos meus dias e dos meus anos, deste-me muito tempo. Ele está atrás de mim e à minha frente, era meu e tornar-se-á teu. Agradeço-te por cada hora marcada pelo relógio, por cada manhã que me fazes ver. Não peço que me dês mais tempo. Peço, contudo, que me dês sabedoria para que saiba preencher cada hora. Peço que me tornes capaz de manter tempo livre de compromisso e dever, livre para o silêncio, livre para as pessoas com que me encontro e que necessitam de um consolador, de um irmão. Peço por sabedoria a fim de que não “mate” o tempo, nem o desperdice. Cada hora é como uma faixa de terra. Quero lavrá-la, semear nela amor, reflexões de diálogo, para que nasça fruto. Abençoa tu o meu dia. Amém. (Autoria desconhecida. Inscrição encontrada num relógio numa torre de igreja.)
JANEIRO *** 17
Arquivo
F E V E R E I R O
Datas importantes 04 – 1906 – *Dietrich Bonhoeffer, teólogo, mártir do nazismo (+9/4/ 1945) 11 – 1868 – Fundação do Sínodo Evangélico Alemão da Província do Rio Grande do Sul 14 – 1546 – Última pregação de Lutero, sobre Mateus 11.28 1487 – *Philipp Melanchthon, colaborador de Lutero (+19/4/1560) 22 – 1956 – Fundação da Associação Diacônica Luterana, Serra Pelada/ ES 25 – Quarta-feira de Cinzas 28 – 1997 – Reestruturação da IECLB, extinção dos Distritos e das Regiões, criação dos Sínodos
FEVEREIRO Onde está a vossa fé? Lucas 8.25
Meditação Tu és meu Arquivo
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ossos olhos, pensamentos e mentes estão sempre voltados para algumas coisas dependendo do momento em que estamos vivendo, seja de alegria, tristeza, ansiedade ou preocupação. A verdade é que necessitamos colocar nossos olhos, mentes e coração em alguma coisa, temos necessidade de sonhar, planejar ou idealizar algo. Por exemplo, se queremos comprar uma casa, nossos pensamentos e ideais estarão voltados para casas; se planejamos uma viagem, tudo nos conduz aos preparativos: local, hotéis, passeios, finanças, para que tenhamos uma boa e inesquecível viagem; quando esperamos o nascimento de um filho ou neto, pensamos em roupas, quarto, enfeites e no nome. Olga Kappel Roque Também quando estamos diante de uma enfermidade de alguém da família, não conseguimos pensar em outra coisa; tudo gira em torno da pessoa afetada fisicamente. Nossa ansiedade nos conduz a uma série de pensamentos: como vai ficar essa situação? Por quanto tempo vamos conviver com tudo isso? E muitas outras indefinições. Sofremos juntos, mas o tempo é de espera e de estar ao lado da pessoa e da família. Em Lucas 8.25, Jesus pergunta aos seus discípulos: Onde está a vossa fé? Ele é acordado pelos discípulos e acalma a tempestade. Com isso ele mostra seu poder sobre o mundo natural. Nos versículos 26 e 39,
FEVEREIRO *** 19
Jesus liberta o geraseno de um espírito imundo, que o atormentava; o homem não se vestia, não habitava em casa alguma, vivia nos sepulcros. Jesus, ao libertar aquele homem do espírito imundo que o dominava, mostra seu poder sobre o mundo dos espíritos. Adiante vemos o relato da mulher que sofria de hemorragia há doze anos; ela somente tocou na capa de Jesus e ficou curada. E Jesus mostra seu poder sobre a natureza física. Ainda no mesmo capítulo, Jesus ressuscita a filha de Jairo, manifestando seu poder sobre o domínio da morte. Que maravilha pensar que em Jesus está o poder sobre o mundo natural, o mundo dos espíritos, a natureza física e o domínio da morte. Jesus, o Filho de Deus, tem todo o poder nos céus e na terra. Ele usou e usa seu poder para abençoar os que nele colocam sua fé e esperança. Ele perguntou aos discípulos: Onde está a vossa fé? Ele pergunta ainda hoje para nós: Onde está a vossa fé? Se você está em lutas e dificuldades, para quem você está olhando? Para o tamanho do seu problema? Para os recursos humanos? Onde está a vossa fé? Busque caminhos necessários para superar as dificuldades, isso é importante. Pare, pense, ore e busque solução e ajuda, mas acima de tudo busque ajuda em quem pode te ajudar: Jesus é o mesmo ontem, hoje e o será para sempre (Hebreus 13.8). A melhor maneira de enfrentar e vencer uma crise é buscar o Senhor, derramar o coração e aguardar nele. Buscar sustento em sua palavra e deixar que ela fale ao coração. Jesus, com todo o seu poder, vê nossa necessidade, sabe do que necessitamos e supre nossas carências. Jesus veio para nos dar vida em abundância. Ele foi humano como nós e sentiu as mesmas necessidades, por isso está pronto para nos socorrer em toda e qualquer situação. Mas para isso precisamos recorrer a ele e somente nele buscar solução para nossa situação. É em Jesus que devemos colocar nossa fé. Posso compartilhar com vocês, queridas irmãs, que enquanto escrevo este artigo, minha mãe se encontra hospitalizada, se preparando para uma cirurgia no pulmão. São grandes a expectativa e a ansiedade e esta pergunta tem me desafiado a cada dia: Onde está a vossa fé? Cada dia, tenho buscado e encontrado a força e a esperança na palavra que Deus tem me falado: Tenha bom ânimo, eu estou convosco todos os dias. Eu e minha família estamos caminhando e sentindo a força que vem de Jesus, nosso Senhor. Jesus vem até nós não apenas com as mãos estendidas, mas também com braços abertos. Ele nos aceita e nos acolhe. Ele nos chama pelo nome e diz: “Tu és meu”. Compartilhe com o grupo a poesia a seguir e sua experiência de como é olhar para Jesus e depositar nele sua fé e como foi a experiência ao tirar os olhos de Jesus. 20 *** Roteiro da OASE 2009
Senhor, minha alma te deseja muito, numa terra sedenta onde faltam as águas. Eu não tenho recursos pra exigência da hora. Ó Senhor, minha fonte, satisfaz-me. És poderoso e todo suficiente, Ó Jeová, EL Shaddai, Deus que nutre e sustenta. Qual criança de colo, eu me deixo em teus braços. Ó Senhor, minha fonte, satisfaz-me. Tu prometeste carregar meu fardo; a teus pés o deponho. Olha o que me concerne. Quero agora, em silêncio, contemplar o Deus vivo. Ó Senhor, minha fonte, satisfaz-me. Olga Kappel Roque Juiz de Fora/MG
Tudo tem seu tempo Tempo para mim Ao longo das rodovias federais, encontramos muitas placas dando indicações especiais sobre o trânsito. As mais comuns são “mantenha a direita”, “na dúvida não ultrapasse”, “devagar”, e outras. Elas querem ajudar para que tenhamos uma viagem segura e sem contratempos. Ultimamente também foram colocados intensos apelos para se evitar o consumo de bebidas alcoólicas, em vista dos numerosos acidentes fatais que têm acontecido. Uma placa, contudo, chamou minha atenção de forma especial: “Tempo é dinheiro, mas a vida não tem preço”. Essa mensagem pode ser
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vista por quem viaja no sul do Estado de Santa Catarina. Fiquei meditando longamente sobre a mensagem que essa placa nos quer transmitir. Em primeiro lugar, acho que ela faz refletir sobre a importância e o valor do tempo que nos é concedido por Deus. Com toda a certeza, nosso tempo é muito valioso e temos pressa em chegar. Notamos que o tempo praticamente escorre pelos nossos dedos. Ele passa depressa. Ele até voa. E por isso temos pressa, acreditando que, assim, deixamos de perder tempo precioso. O que sempre me intriga, porém, é por que sempre andamos à procura de passatempos. De um lado, alegamos não ter tempo e temos a impressão de que estamos perdendo algo. E, por outro, procuramos preencher o máximo possível de tempo. Até parece que não queremos perder nada, e preenchemos cada minuto com alguma coisa. Às vezes, tenho a impressão de que as pessoas modernas se sentem como se estivessem dentro de um ônibus desgovernado, que desce, sem freio, uma ladeira íngreme. Sabemos que ele terá de parar a qualquer momento, mas não sabemos nem quando nem onde. E isso nos deixa apressados, apreensivos e inquietos. Jesus agia com tranqüilidade e calma. Como ele conseguia fazer isso? Havia tanto por fazer, em toda parte. Ele estava rodeado de sofrimento e miséria por onde quer que andasse. O clamor do povo sofrido e os gritos angustiantes de centenas de pessoas chegavam constantemente aos ouvidos dele. Lemos sobre sua maneira de lidar com o tempo: 1 – Nos momentos de maior assédio, Jesus se retirava. Procurava afastar-se do burburinho humano e procurava lugares ermos, afastados e silenciosos. Quando buscamos o silêncio, podemos contemplar as maravilhas da criação, considerar melhor o dom da vida, viver a comunhão com o próximo e nos encontrar conosco mesmos. Disse alguém que “o silêncio é uma questão de sobrevivência, fundamental para a bondade, a confiança e a fé”. Recolher-se em silêncio é mais significativo ainda quando se trata de refletir, decidir e agir. 2 – Jesus se retirava para orar, para encontrar-se com Deus. A prática da oração não surgiu por acaso. Foi o próprio Cristo, que orava com freqüência, quem nos ensinou a orar também. Orar é dialogar com Deus, é conversar com ele, trocar idéias com ele. Ele mesmo disse: “Não é pelo muito falar que serás ouvido”. A oração é o veículo através do qual fazemos chegar a Deus nossa confissão de fé, nossos pedidos, nossa gratidão, nossas dúvidas, nossos problemas. Lembramos de uma canção de
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Gilberto Gil: Se eu quiser falar com Deus, tenho que ficar a sós. Tenho que apagar a luz, tenho que calar a voz... Outro exemplo é Lutero: nos dias em que mais tinha por fazer, mais tempo buscava para a oração. 3 – Jesus se retirava para meditar, isto é, para encontrar-se consigo mesmo. O comandante de um navio, em alto-mar, acordou cedo naquele dia. Enquanto deixava seu olhar pairar sobre as ondas infindas do mar, fez um balanço da sua vida. Em silêncio, fez uma longa viagem ao passado. Lembrou-se dos companheiros de viagem. Lembrou-se da família e de tantas pessoas que haviam influenciado sua vida. Ciente da imensidão do mar, da fragilidade do navio e do caminho ainda a percorrer, sentiu invadir-lhe um profundo sentimento de amor, de humildade, de gratidão e de paz. E no silêncio de sua meditação, descobriu que, embora tivesse enfrentado tristeza, mágoa e sofrimentos no passado, se sentia em paz consigo mesmo. E, num gesto espontâneo, agradeceu a Deus por tudo que tinha recebido na vida. O tempo é infinito como a vastidão do mar. A vida é frágil como um barco, jogado de lá para cá pelas ondas do mar. E a distância a percorrer é o espaço até o destino que só Deus sabe medir. Ninguém precisa se sentir só enquanto se lembrar da promessa que o próprio Jesus fez: Lembrem disto: eu estou com vocês todos os dias, até o fim dos tempos (Mateus 28.20). Na viagem da vida – e a nossa vida é semelhante a uma viagem –, há quem se sinta só, mesmo tendo muita gente ao seu redor. Há os que dormem. Há os que deixam o barco correr. Há os que se matam trabalhando. Há os que pouco se importam. Há os que não valorizam a própria vida. Olhemos pela janela do barco das nossas vidas. Observemos o que está acontecendo com os que viajam conosco. Se tivermos a oportunidade, saiamos da nossa solidão para ir ao encontro de outros. Não podemos ser apenas turistas. Temos que fazer parte da tripulação, que segue as indicações do comandante, cada qual realizando sua função. Assim, nossa vida tomará novo rumo, novo sentido. Conscientes disso, mudarão até o estilo e o modo de viver. E concluiremos que o tempo não foge. Ele agora está preenchido com novo conteúdo. E, com toda a certeza, iremos aprender a fazer bom uso do nosso tempo. Colocaremos ordem no nosso tempo e daremos prioridade para os assuntos realmente importantes. Jesus resume os mandamentos em dois: Amarás a Deus sobre todas as coisas e ao teu próximo como a ti mesmo. Aqui estão colocadas prioridades muito claras: amar a Deus, amar ao próximo e amar a si mes-
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mo. E quem sabe amar a si mesmo de verdade, também saberá amar ao próximo e a Deus. Cuidar de si mesmo significa ter cuidado consigo mesmo, ter tempo para si. Isso inclui a alimentação (por que a obesidade está aumentando tanto?), o descanso (de onde surge o estresse?), a saúde (por que ficamos hipertensos e à beira de um colapso?), a maneira como me visto (vestir-se com bom gosto tem algo a ver com a nossa fé?), o meio ambiente (isso também tem a ver com a nossa fé?) etc. Para concluir, lembro-me o que aconteceu comigo: Todas as segundas de manhã bem cedo, eu levava roupa para uma senhora que a lavava para nós. Até virou rotina. Um dia, por volta das nove horas, já um tanto atrasado, cheguei à casa dela; lá estava ela, com as pernas levantadas e esticadas, tomando uma xícara de café tranqüilamente. Eu, um tanto surpreso, exclamei: Dessa maneira o Brasil não vai progredir! Ela respondeu: Não me julgue mal, pois levantei às cinco horas e veja a roupa que já está no arame, e ainda tenho que lavar a sua. Sabe por que estou sentada? Estou tirando uma pequena folga! Estou tirando tempo para mim! Só me restou engolir em seco, pois aprendi uma das maiores lições da minha vida. P. Armindo Müller Nova Friburgo/RJ
Pare e pense Beleza – estética ou escravidão Há dias em que o espelho não ajuda. Você veste sua melhor roupa, põe seu salto mais poderoso e mesmo assim... nada! Qual pessoa, em algum momento de sua vida, já não desejou retardar as marcas do tempo registradas em seu rosto e corpo? Vivemos cada momento de nossas vidas em busca de completar “o vazio de nossa existência”, acreditando poder satisfazer plenamente nossos desejos, que estão enfocados meramente em nossa aparência: somos aquilo que vemos. A idéia de que podemos realizar tudo nos é ditada da forma mais atraente e exaustiva pela mídia. Surgem as propostas mais diversas:
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dicas imbatíveis de beleza, nutrição, promoções de cremes infalíveis, debates sobre saúde em chats de Internet etc. Está montado o palco das ilusões! Confundimos estética e beleza. Desde a antigüidade clássica grega, a beleza associa-se à idéia de atributos como força e bondade, traços físicos. Já a palavra estética, que também vem do grego, significa perceber, sentir. Mas, afinal, saber disso muda nosso desejo estético de sermos “belos”? O mundo globalizado, com suas ofertas de consumo fácil, beleza como ideal de perfeição, sucesso e riquezas imediatas, provoca nas pessoas a crença de que podem tudo e o que importa é que elas se sintam bem consigo mesmas. Permanecendo nessas ilusões, resistimos à realidade e nos sentimos impotentes, em constante insegurança mediante a possibilidade de fracassarmos frente às exigências de nos manter ativos, fisicamente saudáveis, independentes e autônomos. Podemos, assim, vislumbrar pessoas cada vez mais distanciadas do encontro consigo mesmas, com sua história de vida, alienadas de seu presente, ansiosas com seu futuro, escravas de um ideal de perfeição. Nosso vazio existencial não será preenchido por questões externas de nosso ser. Sob o prisma do poder da fé, as transformações decorrem da confiança que depositamos em Deus, o Criador, que fez tudo muito bonito. Essa beleza tem como critério a boa convivência, perceber os espaços e limites em que cada ser, com sua singularidade, pode se desenvolver em harmonia com o todo da criação. A preocupação exagerada com a estética pode estar revelando um desequilíbrio na relação com o Criador. Amar a Deus é também amar a si próprio, ver-se como obra de Deus. Esse amor nos transforma e nos torna belos. É importante que estejamos atentos e respeitemos as diferenças e singularidades de cada pessoa. Cada um é o que é por seus valores, seus princípios, por seu agir consciente no mundo. Ser pessoa bela, atraente aos olhos de Deus é um convite para sermos portadores de boas sementes, como a graça divina. Isso implica nos olhar como pessoas inteiras, capazes de amar, sofrer, lutar pelo direito à nossa liberdade de poder escolher e aceitar quem somos, responsabilizando-nos por cada gesto, sabendo que somos filhos e filhas de Deus, feitos à sua imagem e semelhança. Sandra Kiefer Psicóloga Porto Alegre/RS
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M A R Ç O
Datas importantes 06 – Dia Mundial de Oração 08 – Dia Internacional da Mulher 09 – 1851 – Desembarque dos primeiros imigrantes evangélicos em São Francisco/SC 10 – 1557 – Primeiro culto evangélico no Brasil, Rio de Janeiro/RJ 12 – 1607 – *Paul Gerhardt, maior compositor sacro evangélico 17 – Dia da Pessoa Deficiente Visual 19 – Dia da Escola 26 – 1946 – Abertura da Faculdade de Teologia em São Leopoldo/RS
MARÇO Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor. Levítico 19.18
Meditação Amor inclui atitude e ação
O
povo de Israel experimentou a libertação e os cuidados de Deus na saída do Egito e na caminhada pelo deserto. Diante do monte Sinai, Deus fez uma aliança com os israelitas: ele é o seu Deus e eles são o seu povo. Os israelitas foram chamados para ser uma nação santa (Levítico 19.2), separada por Deus, que ama a Deus de todo o coração e vive conforme seus princípios em todas as esferas da vida, portanto diferente das demais nações. Um dos mandamentos básicos é o que consta em Levítico 19.18: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Conforme o Novo Testamento, Arquivo nós nos tornamos filhos de Deus mediante a fé em Jesus Cristo (Gálatas 3.26): pois todos vós sois filhos de Deus mediante a fé em Jesus Cristo; assim passamos a fazer parte do povo de Deus. Este povo recebe o mandamento de amar a Deus de todo o coração e ao próximo como a si mesmo (Mateus 22.37-39). Os frutos do Espírito Santo são: capacidade para amar, alegria, longanimidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio, pois tudo parte do fruto do espírito. Contra essas coisas não há lei (Gálatas 5.22-23). A ênfase de nossa meditação de Cecília Mathies março é o amor ao próximo. O que sig-
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nifica amar o próximo? Amar é mais que sentimento. Somos chamados a amar as pessoas mesmo que não tenhamos simpatia por elas. Jesus inclusive disse aos seus discípulos: Amai os vossos inimigos (Mateus 5.44). O amor expressa-se em palavras, mas é mais do que isso; o verdadeiro amor inclui atitude e ação. Significa fazer o que é para o bem das pessoas, para seu bem-estar físico, emocional, social e espiritual. Qual é o maior serviço que podemos fazer para alguém? William Temple, teólogo britânico, em seu comentário sobre o Evangelho de João, afirma: “Isso é o maior serviço que uma pessoa pode prestar a outra, levá-la a Jesus, assim como André fez com seu irmão Simão (João 1.40-42)”. Vejamos, a seguir, um exemplo de vivência do amor no casamento. Todas as manhãs, um Senhor idoso pegava um ônibus lotado e descia na frente de uma clínica. Certo dia, uma moça que sempre o observava, perguntou-lhe: – O senhor trabalha nessa clínica? – Não, respondeu ele, minha esposa está internada aí, ela tem o Mal de Alzheimer. – Puxa, lamento muito. E como ela está? – Não está muito bem. Ela está com a memória bastante prejudicada, já nem me reconhece mais. – Mesmo assim o senhor enfrenta esse ônibus lotado somente para vir visitá-la? – Sim! – Mas se ela já não o reconhece mais, nem se lembra das coisas, por que o senhor vem todo dia? – Ela já não sabe quem eu sou, mas eu sei quem ela é. Ela não se lembra mais das coisas, mas eu jamais me esquecerei dela. Assim é o verdadeiro amor que vem de Deus. Em 1 Coríntios 13.7 lemos: O amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. Quem ama nunca desiste, mas suporta tudo com fé, esperança e paciência. O amor, porém, não deve ser dirigido somente às pessoas de nossos relacionamentos mais íntimos, como, por exemplo, esposo, filhos, família, amigos, grupos de OASE. Vamos lembrar que Deus espera que amemos todas as pessoas sem distinção. Isso inclui não se vingar, não guardar ressentimentos e mágoas, mas estar pronto a perdoar, assim como Deus, em Cristo, nos perdoa. Somos chamados para servir ao próximo no ambiente da igreja e também fora dela, como, por exemplo, fazendo visitas em lares e hospitais, na distribuição de alimentos e roupas às pessoas carentes.
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Há diferentes oportunidades para demonstrar amor. Há pessoas que precisam de alguém para conversar. Existem pessoas tristes que precisam de conforto, também pessoas solitárias que precisam de alguém que lhes faça companhia. Pedimos que Deus nos ajude a praticar o que consta no seguinte hino: Amarás Amarás ao Senhor teu Deus /: de todo teu coração :/ alma e entendimento. Amarás, sim, amarás teu irmão também. Ama de coração como a ti mesmo. Esta é a lei do Santo Deus. Lei preciosa que nos deu. Lei que fala de amor. Amando a Deus de todo o coração poderemos, só então, amar, amar, amar, nosso irmão. Maria Cecília Mathies Pelotas/RS
Oração Senhor, dá-nos uma mente humilde, calma e tranqüila, paciente e bondosa. Que seu Espírito Santo se manifeste em todos os nossos pensamentos, palavras e atos. Senhor, dá-nos fé viva, esperança firme, bondade fervorosa e amor por ti. Tira de nós toda indiferença por meio da meditação e toda estagnação por meio da oração. Dá-nos fervor e prazer em pensar em ti, em tua graça e tua cuidadosa compaixão por nós. Dá-nos, Senhor, a graça de trabalhar por tudo isso que pedimos em oração. (Tomas Morus, 1478-1535)
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Tudo tem seu tempo Diversos tempos da vida – As quatro estações Dinâmica Colocar no centro do círculo diversas frases que falam sobre o tempo e, se possível, confeccionar um relógio gigante caracterizando as quatro estações do ano em cada quarto de hora.
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Sugestão de frases: Não tenho tempo. O tempo voa. O tempo se arrasta. O tempo cura todas as feridas. O tempo nos dirá o quer fazer. Tudo tem seu tempo determinado e há tempo para todo propósito debaixo do céu. Iniciar a reflexão conversando sobre essas e, possivelmente, outras frases. O tempo nos questiona. Coloca-nos perguntas que muitas vezes não conseguimos responder. O tempo desafia-nos a olhar nossa vida sob novas perspectivas. O tempo coloca-nos em movimento, é preciso caminhar, buscar, vivenciar “os tempos preciosos” que recebemos da mão de Deus. Deus, em sua infinita sabedoria, fez a vida um contínuo processo de vai-e-vem. De forma poética, isso nos é dito no capítulo 3 do livro de Eclesiastes: Tudo tem o seu tempo determinado, tempo de nascer e tempo de morrer, tempo de plantar e tempo de arrancar. Na milenar sabedoria bíblica vemos o reflexo do nosso próprio tempo, da nossa própria vida. Os “tempos” da vida vão se sucedendo numa seqüência natural. Não há mal sem fim, e não há alegria que não acabe. O limite dos tempos liga o fim de um ao início do outro. A vida faz-se nessa sucessão de tempos. Tempos determinados pelo nascer e o morrer.
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O tempo não pára. O relógio, o calendário, o sol, o ciclo da lua lembram-nos que a vida se faz e refaz trazendo novos desafios e novas possibilidades. Como eu vivo e reajo aos diversos tempos que me são presenteados por Deus? De que maneira eu experimento o tempo de plantar? Como vivencio o tempo de prantear? O tempo passa... Passa rapidamente na companhia de boas amigas ou na experiência de uma tarefa interessante. O tempo escapa... Quando crianças, temos a impressão que o tempo é infinito e que o temos infinitamente, mas logo percebemos que não conseguimos segurá-lo. É como areia em meio aos dedos. O tempo pára... Na experiência da paixão e da dor. O relógio mecânico e incansável mostra-nos que o tempo pode ser cruel e nos tornar escravas dos minutos. O tic-tac das horas engessanos de tal forma, que perdemos a oportunidade de experimentar o tempo da vida, que não é possível ser medido em milésimos de segundo. A criação maravilhosa de Deus mostra-nos que o tempo da vida se refaz a cada nova situação, a cada nova experiência com as pessoas ao nosso redor e com o próprio Deus. As quatro estações do ano: primavera, verão, outono e inverno, mostram-nos que Deus marcou o tempo certo para cada situação, para cada ocasião. Primavera é o tempo da explosão das cores, do verde, da vida. A natureza se renova, se regenera. É tempo de renascimento! É assim também em nossa vida: na primavera da vida experimentamos a alegria, damos lugar à transformação, nos abrimos a novos desafios, deixamos nossos dons florescerem e produzirem boas sementes, para posteriormente ser semeadas e germinar. Usando as palavras do sábio do livro de Eclesiastes, é o tempo de nascer, de curar, de saltar de alegria, de edificar. É viver intensamente os momentos de comunhão e de transformação. No hemisfério Norte, a primavera é o tempo da Páscoa, ou seja, tempo da vida nova que nos é dada por Deus através de Cristo. No verão não é muito diferente, a luz do sol brilha intensamente, o calor aquece os corações. É tempo de luz. O verão da vida é marcado pela caminhada da luz; as trevas são dissipadas e, com muita clareza, enxergamos o caminho a seguir. Tempo novo de nascimento. O verão é marcado pelo nascimento do Deus-Menino. É tempo de lançar as sementes no solo... Tempo de plantar – plantar sem se preocupar com a colheita. Tempo de buscar novas possibilidades. Tempo de anunciar a paz e a reconciliação. Tempo de tranqüilidade.
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“Os tempos”, contudo, não são só cores e flores. O outono anuncia a despedida do verão. É tempo de transição. E para que a transição aconteça é necessário haver entrega, é necessário haver doação. Observando as árvores, vemos as suas folhas caindo, se entregando ao chão, à podridão, para que assim novas possam nascer. Na vida é tempo de abrir mão de sonhos frustrados, de lutas perdidas e tempo de se engajar em novas frentes. Sonhar novos horizontes. Abrir novas janelas. É tempo de hibernação. Pois logo chega o inverno... Tempo de recolhimento. Inverno é tempo de frio. O cinza ocupa o lugar das cores e das flores. No tempo da vida, é tempo de morrer e perder. Tempo de prantear, sofrer... Tempo de rasgar e calar. Tempo de lágrimas. As estações do ano mostram-nos que dias de luz e de trevas estão presentes no tempo da vida. O tempo não é estanque. Nada dura para sempre. O tempo passa. O tempo pára. O tempo escapa. Mas, em cada uma dessas estações, há a certeza da presença constante de Deus. A certeza plena, que chega pela fé, de que, nas cores das flores, Deus planta, cultiva, edifica com seu Santo Espírito as sementes lançadas. A certeza plena de que no cinza do sofrimento e das trevas encontra-se o abraço misericordioso do Deus da vida. Em Eclesiastes, o que nos é dito de forma poética é que Deus é o Senhor do tempo. Nessa seqüência dos tempos da vida, as pessoas não podem interferir. Deus determina, decide e assim acontece. O que ele dá é a compreensão, a consciência do que está acontecendo. O Senhor dos tempos dá às pessoas a capacidade de decidir como vão viver os tempos que ele vai distribuindo e organizando para cada uma. Ele capacita as pessoas a compreender, aceitar e superar, se for necessário, que aquilo aconteceu pelo nascimento ou pela morte. Os tempos se renovam. A cada ano, tudo aquilo que parecia morte e sem vida volta a florir, brotar e brilhar. O sol passa a ter outro brilho; a noite traz uma brisa agradável. A vida é um processo contínuo. Assim não ficamos no inverno, não paralisamos no luto, não choramos eternamente pelo mesmo motivo. As quatro estações, dia e noite, chuva e sol ensinamnos o ritmo do tempo da vida. É preciso reaprender com a natureza que Deus criou a deixar o sol brilhar, o verde nascer. É necessário impedir que o inverno congele o renascimento do novo em nós. É preciso sempre nos reabastecer da esperança que renasce com a primavera, semear pequenas e grandes sementes de vida para nós e para toda a criação de Deus. É preciso cuidar do projeto que Deus entregou a nós. Cuidando, estaremos semeando coisas boas que sempre brotam na nossa vida e na vida das outras pessoas. É necessário permitir que Deus intervenha em todos os tempos da nossa vida, pois nas estações do ano, nas estações da vida,
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vivemos e renovamos a vida com suas marcas. Em cada tempo somos chamados a buscar a comunhão e a presença constante de Deus. Para refletir: 1. Como nós recebemos a afirmação de que tudo tem seu tempo determinado e que há tempo para todo propósito debaixo do céu? 2. Como mulheres da OASE, o que temos plantado e edificado na realidade na qual estamos inseridas? 3. Quais os desafios que o tempo atual nos tem colocado? Olhando para a vida da nossa comunidade e da nossa sociedade, em que tempo estamos vivendo? Sugestão de canto: N° 431 do HPD, 2: Sabor e brilho Bênção: Que a bênção de Deus te renove e regenere no tempo colorido e alegre da primavera. Que a bênção de Deus te alegre e te ilumine no tempo quente do verão. Que a bênção de Deus te transforme e te faça sonhar no tempo ameno do outono. Que a bênção de Deus te faça renascer no tempo frio do inverno. Que assim te abençoe o Deus da vida e do tempo. Amém. Pª Sandra Helena Fanzlau Cachoeira, Guarapuava/PR
8 de março – Dia Internacional da Mulher A exuberante diferença da mulher Tome a mesma mulher aos 20 e depois aos 50 anos. Num segundo momento ela será umas sete ou oito vezes mais interessante, sedutora e irresistível do que no primeiro. Ela perde o frescor juvenil, é verdade. Mas também o ar inseguro de quem ainda não sabe direito o que quer da vida, de si mesma, de um companheiro. Não sustenta mais aquele ar ingênuo, uma característica sexy da mulher de 20. Só que é compensado por outros atributos encantadores de que se reveste a mulher depois dos 50. Como se conhece melhor, ela é muito mais autêntica, centrada,
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certeira no trato consigo mesma e com seu esposo ou companheiro. Depois dos 50, a mulher tem um conhecimento maior do próprio corpo. Não briga mais por qualquer coisa. Na verdade, ela quer brigar o menos possível. Está interessada em absorver do mundo o que lhe parece justo e útil, ignorando o que for supérfluo e baixo astral. Quer ser feliz. Depois dos 50, a mulher sabe se vestir. Domina a arte de valorizar os pontos fortes e disfarçar o que não interessa mostrar. Sabe escolher sapatos, vestidos, maquiagem e corte de cabelo. Mas, sobretudo, gosta do melhor de si mesma. E tem gestos mais delicados e elegantes. Depois dos 50, ela carrega um olhar muito mais sedutor, quando interessa. E finge indiferença com mais competência quando interessa afastar pretendente indesejado. Ela não é mais bobinha. Aos 20, a mulher tem espinhas. Depois dos 50, tem pintas. Encantadoras pintas. Aos 20, a mulher é escolhida. Depois dos 50, é ela quem escolhe. A mulher depois dos 50, mais do que aos 20, cheira bem. Depois dos 50, ela é mais natural, sábia e serena. Menos ansiosa, menos estabanada. E o brilho da pele não é o da oleosidade dos 20 anos, mas pura luminosidade. Aos 20 anos, ela rói unhas. Depois dos 50, constrói para si mãos plásticas e perfeitas. Ainda desenvolve um toque ao mesmo tempo firme e suave. O jeito de olhar fica mais glamoroso, mais esperto. Depois dos 50, quando ousa o que quer que seja, a mulher costuma acertar em cheio. Consegue o que pretende, sem confrontos inúteis. Sabiamente se aproveita da condição feminina, sem engolir sapos supostamente decorrentes do fato de ser mulher. Se você, mulher, anda preocupada porque não tem mais 20 anos, ou porque ainda não tem, mas percebeu que eles não vão durar para sempre, fique tranqüila. É precisamente a partir dos 50 que o encanto pela vida começa a ficar bom! Enviado por Adélia Graf Colatina/ES
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Pare e pense Lições do lápis
Olhando para um lápis, podemos tirar algumas conclusões para nossa vida e sobretudo para nosso agir cristão. 1ª lição: Para escrever o lápis precisa de uma mão, alguém que o guie e oriente para que possa desempenhar sua função. Da mesma forma, Deus quer ser a mão para guiar e orientar nossa vida. Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam (Salmo 127.1). 2ª lição: O lápis precisa de um apontador. Na nossa vida também precisamos ouvir a palavra de Deus para fortalecer a fé. O apóstolo Paulo escreve: A fé vem pela pregação e a pregação pela palavra de Cristo (Romanos 10.17). 3ª lição: O lápis permite o uso da borracha. Na vida também erramos. Não somos perfeitos. Mas quando reconhecemos nosso erro, Deus nos perdoa, nos purifica. Se dissermos que não temos pecado, enganamos a nós mesmos, e não há verdade em nós. Mas se confessarmos os nossos pecados a Deus, ele cumprirá a sua promessa e fará o que é justo: perdoará os nossos pecados e nos limpará de toda maldade (1 João 1.8-9). 4ª lição: A parte mais importante num lápis não é a madeira, o lado exterior, mas sim o interior, isto é, para desempenhar bem sua tarefa, o lápis deve ter um bom grafite. Para Deus vale muito mais aquilo que nós temos dentro de nós, os sentimentos que orientam as atitudes, do que a aparência física. O ser humano vê o exterior, porém o Senhor, o coração (1 Samuel 16.7). 5ª lição: O lápis deixa marcas, deixa algo riscado. Em nossa vida, vamos deixando marcas em tudo que fazemos. E aí cabe a pergunta: Que marcas nós queremos deixar? O apóstolo Paulo ajuda-nos nesse sentido ao afirmar: Agora, pois permanecem a fé, a esperança e o amor. Porém o maior desses é o amor (1 Coríntios 13.13). Que tal deixarmos em nossas atitudes e ações a marca do amor? Concluindo, podemos dizer: Amem uns aos outros. Assim como eu os amei, amem também uns aos outros. Se tiverem amor uns pelos outros, todos saberão que vocês são meus seguidores (João 13.34-35). Enviado por Pª Roili Borchardt Pelotas/RS
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A B R I L
Datas importantes 05 – Domingo de Ramos 07 – Dia Mundial da Saúde 9-12 – 1996 – Último Congresso Geral da OASE, em Curitiba/PR 10 – Sexta-feira Santa 12 – Páscoa 17 – 1521 – Lutero em Worms 19 – Dia dos Povos Indígenas 21 – 1792 – Execução de Tiradentes Dia Nacional da Juventude Evangélica 23 – 1529 – Oficialização do Catecismo Maior de Lutero
ABRIL Ele perdoou todos os nossos pecados e cancelou a conta da dívida que havia contra nós e que pela Lei éramos obrigados a pagar. Ele acabou com essa conta, pregando-a na cruz. Colossenses 2.14
Meditação Tempo e sabedoria
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este período da Quaresma e Páscoa, em que recordamos o sofrimento de Cristo na cruz, lembrei-me de uma história que não consigo esquecer. Há alguns anos, fui apresentada à turma com a qual trabalharia naquele ano: trinta e duas crianças em fase de alfabetização. Logo, uma criança chama a atenção de todos. Inquieta e rebelde, causava um sentimento de intranqüilidade no grupo. Todos os dias ocorriam situações conflitantes que tinham que ser resolvidas. Como contornar as situações criadas na turma e, ao mesmo tempo, tornar aquele espaço propício para a aprendizagem era o desafio. Levado o problema à coordenação, a Arquivo surpresa. O garoto havia sido roubado de sua família aos cinco anos de idade e havia convivido por três anos com pessoas que praticavam pequenos delitos, num ambiente totalmente adverso ao qual fora criado, exposto a muitos tipos de violência. Agora muitas de suas atitudes e comportamentos eram compreensíveis. Era preciso tempo para a adaptação a novas regras de convivência. De minha parte era preciso mais dedicação, compreensão e principalmente amor. Agora éramos um grupo empenhado em devolver àquela criança um ambiente favorável para novas aprendizagens, auxíNoeli Maria Dunck Dalosto lio para minimizar as violências sofridas
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e a possibilidade de uma convivência sadia. Foram dias de muita paciência e perseverança, pois era preciso estar preparada para atitudes inesperadas. Enfim, o ano termina. Foram constatados avanços, ainda que não suficientes. Passados mais de vinte anos, fico a imaginar o rumo que sua vida tomou. Como gostaria que a escola e as demais pessoas responsáveis por sua educação tivessem sido importantes para devolver-lhe possibilidades de uma vida sadia, indicar-lhe outros caminhos. Hoje percebo que o aprendizado que posso tirar dessa experiência tão marcante é o quanto nossa vida é marcada pelos acontecimentos. As marcas que levamos ou deixamos nas pessoas são fruto de experiências. A intensidade das relações que estabelecemos com o outro imprime, além de experiências, marcas que nos acompanharão por toda a vida. Atualmente até já nos tornamos insensíveis à violência, pois ela está muito presente no nosso dia-a-dia, ainda mais ao ser espetacularizada pela mídia para atrair mais atenção. Quando somos chamadas a conviver com pessoas marcadas profundamente por violências, contudo, sempre temos o sentimento que poderíamos ter feito algo mais. Nossa impotência diante de tais situações coloca-nos diante da fragilidade do ser humano, da nossa incapacidade de solucionar as situações de dor, humilhação e tristeza criadas pelo próprio ser humano, por cidadãos que convivem em sociedades marcadas profundamente pelas desigualdades. Relendo o lema deste mês: Ele perdoou todos os nossos pecados e cancelou a conta da dívida que havia contra nós e que pela Lei éramos obrigados a pagar. Ele acabou com essa conta, pregando-a na cruz (Colossenses 2.14), é importante perceber que Deus, por meio de Cristo, em sacrifício realizado por nós, marcou-nos de modo permanente, porque ele nos perdoa de todas as transgressões. É-nos anunciado um novo tempo, em que Deus nos dá o presente maior: a salvação e a vida eterna – esperança de vida e garantia de perdão. Essa nova aliança estabelece conosco uma relação profunda, permanente, assim como o garoto da história que teve sua vida marcada profundamente por acontecimentos e vivências durante os anos em que conviveu com pessoas, ambientes e situações tão hostis. Como lidar com crianças que foram e permanecem expostas aos mais diversos tipos de violência tão cedo em suas vidas tem sido uma constante no trabalho diário das instituições escolares, e o nosso papel como comunidade missionária de Jesus Cristo é testemunhar com ações em favor dos que sofrem. É importante perceber que as transformações ocorridas nas atitudes e nos comportamentos daquela criança aconteceram porque muitas pessoas estavam engajadas em oportunizar-lhe novas aprendizagens, novas experiências. Nosso compromisso cristão, a partir do Batismo, é testemunhar e realizar ações concretas para a transforma-
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ção da vida plena em qualquer tempo, lugar ou hora. Deus, em sua infinita bondade, nos perdoa também por nossas tentativas de erros e acertos, bem como certamente perdoa a todos que, marcados pela violência, revelam comportamentos e atitudes inadequados, pessoas que buscam por Deus e se arrependem de suas atitudes, assim como o malfeitor que estava ao lado de Jesus pregado na cruz, que, ao reconhecer que Cristo é o Senhor, obteve a promessa de salvação quando Jesus disse a ele: Eu lhe afirmo que hoje você estará comigo no paraíso (Lucas 23.43). É preciso não desistir nunca, pois nossa tarefa missionária é estabelecer a reconciliação entre as pessoas, conosco mesmos e com a vida. Pois em Cristo Jesus, que nos perdoou de nossas falhas na cruz, recebemos a salvação. Assim como a comunidade de Colossos ouviu as palavras de Paulo, ouçamos nós também hoje, para que possamos pela fé transformar vidas. Noeli Maria Dunck Dalosto Canarana/MT
Tudo tem seu tempo Ano Eclesiástico: o calendário que conta a história de Deus com a humanidade A história da igreja teve início num dia de festa, para ser exato, no dia da festa da colheita, na cidade de Jerusalém. Era, para os judeus, uma festa de grande alegria. Vinha gente de toda parte: judeus saudosos que voltavam a Jerusalém, trazendo também pagãos amigos e prosélitos. Eram oferecidas as primícias das colheitas no templo. Era também chamada festa das sete semanas, por ser celebrada sete semanas depois da festa da páscoa judaica, no qüinquagésimo dia. Daí o nome Pentecostes, que significa “qüinquagésimo dia”. Pentecostes – data de nascimento da igreja No primeiro Pentecostes, depois da ressurreição de Jesus portanto, o Espírito Santo desceu sobre a comunidade cristã de Jerusalém na forma de línguas de fogo; todos ficaram cheios do Espírito Santo e come-
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çaram a falar em outras línguas (Atos 2). Nesse dia, houve um acréscimo de quase três mil pessoas à primeira comunidade cristã em formação, tornando-se assim o dia do nascimento da igreja de Jesus Cristo. Desde então, transferiu-se o dia do descanso (no judaísmo o sábado) do sétimo para o primeiro dia da semana, em comemoração à ressurreição de Jesus que ocorreu no primeiro dia da semana. Tempo de Paixão (Quaresma) e Páscoa Aos poucos, a igreja passou a celebrar a festa da Páscoa, de forma especial, uma vez por ano, dando conteúdo cristão à festa judaica Pessach = passagem, isto é, à libertação e fuga do povo de Israel escravizado no Egito. Os judeus comemoraram a libertação da escravatura como ato salvador mediante a intervenção direta de Deus. Os cristãos comemoram a Páscoa também como “passagem”, ou seja, a vitória de Cristo sobre a morte, passando da morte para a vida e oferecendo a libertação da morte eterna para todos os que crêem em Jesus Cristo e são batizados em nome do trino Deus. Com a instituição da celebração da Páscoa, os cristãos deram início à montagem do Ano Eclesiástico. A instituição oficial da Páscoa deu-se no concílio da igreja realizado no ano de 325, na cidade de Nicéia. Logo em seguida – ou paralelamente à oficialização da Páscoa –, surgiram costumes de observar dias e semanas de jejum (Quaresma ou Tempo da Paixão) em preparação à semana que antecede à Páscoa, como a Quarta-feira Cinza, Quinta-feira Santa (em memória à última ceia de Jesus com seus discípulos e a instituição da Santa Ceia) e Sexta-feira Santa (em memória à crucificação e morte de Jesus). Natal No mesmo século, tornou-se praxe a celebração do Natal em 25 de dezembro, data que antes tinha sido uma festa pagã no Império Romano, em honra ao deus Sol. A igreja oriental (ortodoxa) seguiu outra tradição, reservando para a festa de Natal o dia 6 de janeiro, no dia em que a igreja ocidental celebra Epifania (= aparição ou revelação da natureza divina ou transfiguração de Jesus – Mateus 17.1-8). Mais tarde ainda foram inseridos dias específicos, acrescentandose aos dias comemorativos relacionados à obra salvífica de Deus, através do seu Filho Jesus Cristo, muitos dias em memória de mártires e santos, ocorrendo uma verdadeira aglomeração, para não dizer poluição, de dias comemoráveis do Ano Eclesiástico. A Reforma de Lutero reduziu esses dias comemorativos ao essencial, ou seja, colocando a obra e a pessoa de Jesus Cristo de novo no centro das celebrações.
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O Ano Eclesiástico ensina e une o povo de Deus O Ano Eclesiástico tornou-se, para a igreja, um instrumento de ensino religioso, baseado no tripé Natal, Páscoa e Pentecostes. Para completar o “lecionário”, a igreja instituiu outros dias específicos, como Trindade, Epifania (transfiguração de Jesus), Ascensão (Jesus subiu aos céus), Dia dos Finados, Dia da Reforma, Dia da Penitência, Domingo da Eternidade e Advento. O Advento marca o início do Ano Eclesiástico com seus quatro domingos em preparação à celebração de Natal. (A coroa de Advento com suas quatro velas e a árvore de Natal surgiram bem mais tarde, no século 17 e 18.) Aos poucos, todos os anos, o povo de Deus, ao comemorar em celebração festiva os fatos e as ocorrências principais da caminhada de Deus com a humanidade, aprendeu e aprende a história salvífica e usufrui as bênçãos divinas transmitidas através do anúncio do evangelho, na seqüência dos dias festivos registrados no Ano Eclesiástico. Ao comemorarem o nascimento de Jesus, sua paixão, morte e ressureição, o Pentecostes e o domingo Trindade, os cristãos estão integrados ao povo de Deus do passado, do presente e do futuro e representam o corpo de Cristo presente em todos os continentes da nossa Terra. Sinais de solidariedade e interação, no âmbito internacional, são, p. ex., o Dia Mundial de Oração, a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos e as organizações internacionais, como o Conselho Mundial de Igrejas, a Federação Luterana Mundial e outras organizações internacionais, tanto confessionais quanto na dimensão da ecumene plena. P. Friedrich Gierus Blumenau/SC
Páscoa Mensagem central de esperança! Três mulheres foram até o cemitério, ao túmulo de Jesus, e o encontraram vazio. Um anjo lhes apareceu: Por que vocês procuram entre os mortos àquele que vive? Ele não está aqui! Ele ressuscitou! (Lucas 24.16). Quando elas resolveram contar sua experiência adiante, os discípulos não acreditaram em suas palavras. Tomé, um dos discípulos de Jesus, não conseguia entender que Jesus tivesse ressuscitado. Ele disse: Se eu
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não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, e ali não puser o meu dedo, e não puser a minha mão no seu lado, de modo algum acreditarei! (João 20.25). Vida sem futuro Muitas pessoas do nosso tempo não sabem o que fazer com a mensagem da Páscoa. Para elas, não há futuro depois da morte. Em sua opinião, a morte é como passar a régua e fechar a conta. Depois dela, não há mais nada. Argumentam de maneira semelhante ao salmista do Antigo Testamento, para o qual a mensagem da ressurreição ainda era desconhecida: Quanto ao homem, os seus dias são como a relva; como a flor do campo, assim ele floresce; pois, soprando nela o vento, desaparece; e não conhecerá, daí em diante, o seu lugar (Salmo 103.15). Isso é insuportável para muitas pessoas. Por isso há tanto medo, fazendo surgir diariamente a pergunta pelo sentido da vida. Deus vem ao nosso encontro Jesus não deixou seus discípulos angustiados, sem esperança e no cativeiro de sua falta de fé. Ele foi ao seu encontro como o Ressurreto, dizendo: Sou eu. Não temais! E afirma: Porque eu vivo, vós também vivereis (João 14.19). Com tais palavras ele promete algo grandioso. Não apenas é dito que Deus o ressuscitou, mas que todas as pessoas que crêem nele também terão participação na sua vitória sobre a morte, na eternidade. Nisso, a mensagem do Novo Testamento chega bem perto de nós, em nossa saudade de amor, de acolhimento, de esperança e de compreensão. Ela anuncia um novo céu e uma nova terra, consolando todos aqueles que são marcados pelo sofrimento: Deus mesmo estará com eles. E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram (Apocalipse 21.4). A esperança da ressurreição Quem consegue aceitar essa mensagem e viver a partir dela é motivado para uma vida cheia de esperança e confiança. Essa mensagem é como o sol que nasce diariamente. Ela dá alegria e ânimo. Em oposição a isso, uma vida sem a esperança da ressurreição é difícil de suportar. O sentimento é parecido com um dia chuvoso antecedido de muitos outros, no qual o céu está escuro e coberto de nuvens. Falta ânimo para tudo.
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Aceite a mensagem da Páscoa! Quando, como cristãos, celebramos anualmente a festa da Páscoa e nos certificamos acerca de sua mensagem consoladora, estamos dando testemunho daquele Deus que é Senhor sobre vida e morte. Com isso também queremos mostrar às pessoas o caminho para uma vida com Deus na comunhão da igreja. Ao mesmo tempo, queremos animá-los a aceitar a mensagem da Páscoa para que também participem da viva esperança que sustenta nossa vida e nos capacita para a ação responsável. (Também disponível como folheto no Centro de Literatura Evangelística – Blumenau/SC – Fone 47 / 3337 1110)
P. Friedrich Gierus Blumenau/SC
Receita Bolo de maçã Ingredientes: 20 colheres (de sopa) de farinha de trigo, 20 colheres (de sopa) de açúcar, 2 colheres (de sopa) de fermento biológico, 200 gramas de margarina, 1,5 a 2 kg de maçã, 5 ovos, açúcar e canela para polvilhar. Modo de fazer: Numa tigela, misture a farinha, o açúcar e o fermento e divida essa mistura seca em três partes iguais. Descasque e corte em fatias as maçãs e reserve. Unte uma forma retangular grande. Espalhe, na forma, a primeira parte da mistura seca. Após, coloque as fatias de maçã, uma ao lado da outra, e por cima delas pedacinhos de margarina. Coloque a segunda parte da mistura seca e outra camada de maçã e pedacinhos de margarina. Termine com a terceira parte da mistura seca por cima. Após, despeje por cima os ovos batidos, espalhando por todo bolo. Por último, espalhe açúcar e canela a gosto. Deixar no forno até a massa ficar seca, mais ou menos 40 minutos. Enviado por Maria Cecília Mathies Pelotas/RS
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Arquivo
Datas importantes 01 – Dia do Trabalho 03 – 1824 – Fundação da primeira comunidade da IECLB no Brasil, em Nova Friburgo/RJ 04 – 1899 – Início da Frauenhilfe na Alemanha 08 – Dia da Cruz Vermelha Internacional 1945 – Fim da Segunda Guerra Mundial 10 – Dia das Mães 17 – 1939 – Fundação da Casa Matriz de Diaconisas, São Leopoldo/RS 20 – 1886 – Fundação do Sínodo Riograndense, São Leopoldo/RS 21 – 1984 – 1º Congresso Geral Constituinte da OASE Ascensão de Nosso Senhor 31 – Domingo de Pentecostes
M A I O
MAIO Não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos. Atos 4.20
Meditação Não podemos calar
N
ão podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos... (Atos 4.20). Neste versículo, lema do mês de maio, vemos uma igreja sólida, envolvida na obra de pregar a salvação por meio de Jesus Cristo aos pecadores e, conseqüentemente, experimentando um crescimento admirável. Toda a Palestina e boa parte do mundo da época foram alcançadas pelo evangelho porque a igreja não se omitiu no cumprimento da tarefa maior: ir, pregar e testemunhar. Todas nós mulheres cristãs somos evangelizadoras. Temos o dever de repassar a Palavra adiante, ouvindo, vendo e, ouso dizer, sentindo o amor que Jesus Cristo tem por nós. Essa é uma boa meta a ser alcançada por nós hoje e sempre. O tripé da OASE é comunhão, tesArquivo temunho e serviço. A comunhão com Deus e com nossas irmãs na fé leva-nos a um fortalecimento de vida cristã. Devemos ser uma OASE que dá seu testemunho. Em Atos 1.8, Jesus nos diz que seremos suas testemunhas em qualquer lugar, até os confins da terra. As palavras de Atos 4.20 foram ditas pelos apóstolos Pedro e João, os quais não se calaram diante da manifestação de Deus que eles viram e ouviram. Essa também deve ser a nossa postura como OASE. Em encontros, também vimos, ouvimos e sentimos muitas coisas boas, úteis e saudáveis. Sendo assim, quando retornamos à nossa casa, para nossa família, para a sociedade, vamos permaneRejane B. J. Hagemann
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cer caladas? Saímos do encontro de OASE da mesma maneira que chegamos? Em todo encontro há o incentivo para o estudo da palavra de Deus e para anúncio da salvação que Cristo nos oferece. Não falar do que vimos, ouvimos, sentimos e aprendemos de Deus é um testemunho negativo, de omissão por parte da pessoa que se cala. De nada adianta guardar somente para si o que foi aprendido. Como devemos agir então? Devemos transmitir às outras pessoas, que por uma ou outra razão não puderam participar, o que vivemos e aprendemos de bom, pois pessoas consoladas levam consolo; motivadas por Cristo, devemos contar o que se passou para que outras mulheres se sintam motivadas a participar dos encontros de OASE; comentar como é bom ser parte de um grupo de OASE; orar ao Senhor pedindo para que sempre mais e mais mulheres possam participar e se envolver na OASE. De acordo com o profeta Isaías 55.11, a palavra de Deus é viva e eficaz. Uma vez anunciada, ela não volta vazia. Ela cria laços, renova corações, ela faz de uma OASE de fé uma OASE aberta e acolhedora. No poder do Espírito, nós mulheres da OASE somos capazes de assumir o compromisso de ver, ouvir, sentir e testemunhar o amor de Jesus Cristo. Que Deus nos abençoe e fortaleça para essa importante obra! Rejane B. J. Hagemann Pato Branco/PR
Tudo tem seu tempo Para todo propósito há tempo e modo O livro de Eclesiastes também é chamado de livro do Pregador, porque ele foi escrito por um pregador que viveu na época do rei Salomão. Assim, poderíamos dizer que esse livro é uma prédica que já foi feita para as pessoas, para o povo de Deus daquela época. Diz em Eclesiastes 8.5-6: Quem guarda o mandamento não experimenta nenhum mal; e o coração do sábio conhece o tempo e o modo. Porque para todo propósito há tempo e modo. O sábio pregador reflete sobre vida, morte, sabedoria, riqueza, pobreza, família, trabalho, injustiça e outros temas. Ao lermos o livro de Eclesiastes, num primeiro momento, temos a impressão de que o pregador nos transmite o viver de uma forma pessimista. Porém, e isto é importante, em nenhum momento ele nos diz que o viver não vale a pena. O que o pregador busca para si, e também quer que a pessoa que o está
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ouvindo faça, é refletir sobre o sentido da vida. Esta é a mensagem central de todo o livro de Eclesiastes: Qual é o sentido da vida? E a experiência que o pregador mesmo fez, que ele compartilha com as pessoas daquela época e também conosco neste ano, é que debaixo do céu, a vida somente tem sentido se a vivermos com Deus. No início de nossos dois versículos, quando lemos “quem guarda o mandamento”, também está presente esta mensagem central de vivermos juntos e sob a orientação de Deus. Se vivemos com sabedoria, então sabemos que diante de Deus, seguindo seus mandamentos, para todo propósito em nosso viver há tempo e modo. E para melhor entendermos o que o pregador nos quer dizer, faço uso de uma história: AFIANDO O MACHADO – Dois homens rachavam lenha o dia todo. Um trabalhava o tempo todo sem fazer pausas e tinha, no fim do dia, um monte bem grande de lenha cortada. O outro trabalhava 50 minutos e descansava 10, mas, por incrível que pareça, ele tinha mais lenha rachada no fim do dia. – Como você tem sempre bem mais lenha rachada do que eu? – perguntou o primeiro. – Porque durante os intervalos que eu fiz, eu não apenas descansava, mas afiava o meu machado – respondeu o segundo. Afiar o machado soa brusco. Você não usa um machado, mas usa outros instrumentos, e o principal é sua mente. Esta também precisa ser afiada, renovada, estimulada e motivada. Só assim ela será produtiva. O ex-presidente norte-americano Abraham Arquivo Lincoln já dizia: “Se eu tivesse nove horas para derrubar uma árvore, passaria seis horas afiando meu machado”. Sim! Minhas irmãs, o que o pregador com seu texto e o lenhador afiando seu machado nos dizem e querem ensinar é que precisamos achar “para todo propósito, o tempo e o modo”. Precisamos parar para que também afiemos nossa vida, isto é, precisamos tempo para alimentar nossa fé, nosso ânimo, nossa esperança. E como? De que modo? Procurando o convívio com Deus, pois a nossa vida só tem sentido se a vivermos junto a Deus. Assim, mais uma vez, somos lembradas de que precisamos de momentos Pª Márcia Helena Hülle 48 *** Roteiro da OASE 2009
de espiritualidade em nossa vida. É importante, é necessário que nos encontremos como comunidade em culto, para adorar, louvar e ouvir a palavra de Deus. Precisamos participar dos encontros da OASE. Mas também precisamos, diariamente, em meio à correria dos nossos afazeres, de nosso trabalho, para nos afiar: ler a Bíblia, um devocionário, o Roteiro da OASE; orar, compartilhando com Deus nossos pedidos e agradecimentos e também interceder por outras pessoas que vivem afundadas no corre-corre do dia, se estressam, sofrem do mal causado pela louca obsessão de que com o trabalho tudo o mais se realiza na vida. Aqui também vale lembrar que em igrejas onde há sinos, estes tocam pela manhã, ao meio-dia e à tarde, e por quê? Para nos lembrar que horas são? Não! Chamam para as três orações do dia. Precisamos ter tempo também para esses momentos de parada e orações. Enfim, em nosso dia-a-dia precisamos ter tempo e achar o modo para nos afiar, para nos alimentar espiritualmente e assim viver melhor, para que o mal que pesa sobre o ser humano nos dias atuais de pensar que tudo depende de si e de seu labor não faça mais estragos na qualidade de vida. Se refletimos que para todo propósito há tempo e modo, então temos que perceber que isso está ligado também com o ter prioridades em nossa vida, como bem pode nos mostrar o seguinte exemplo: PREENCHENDO A VIDA – Um professor de ciências queria demonstrar um conceito aos seus alunos. Para tanto, ele pegou um vaso de boca larga e colocou nele algumas pedras grandes até essas aparecerem para fora. Então perguntou aos alunos: – O vaso está cheio? Todos responderam: – Sim! Então o professor pegou um balde de pedregulhos e virou tudo dentro do vaso. Os pequenos pedregulhos se alojaram nos espaços entre as pedras grandes. Então o professor perguntou novamente aos alunos: – O vaso está cheio? Desta vez os alunos hesitaram um pouco, mas novamente responderam: – Sim! Daí o professor levantou uma lata de areia e começou a despejá-la também dentro do vaso. A areia fina foi escorregando e preencheu o espaço que ainda restava. E perguntou: – O vaso está cheio? Os alunos silenciaram. Depois de algum tempo, a maioria respondeu: – Sim! O professor, então, manda um aluno buscar uma jarra de água e a despeja dentro do vaso. A água saturou a areia e também coube dentro do vaso. Aí o professor perguntou aos alunos: – Qual é o objetivo desta demonstração? Um aluno, um dos mais inteligentes, se levantou e respondeu: – Não importa o quanto o vaso ou a agenda da vida de alguém esteja cheia, sempre podemos colocar ou espremer mais alguma coisa.
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– Não, disse o professor, a questão é a seguinte: se você não colocar por primeiro as pedras grandes dentro do vaso, depois não as conseguirá colocar mais. As pedras grandes são as coisas importantes da nossa vida: nosso relacionamento com Deus, nossa família, nossos amigos e nossa comunidade. Se preenchermos a nossa vida somente com coisas pequenas, as coisas realmente importantes serão prejudicadas, não tendo o devido lugar em nossa vida. Assim digo para vocês que nós constantemente precisamos avaliar nosso modo de viver, nossas tarefas e trabalho. Avaliar? Sim, avaliar, para saber o que é bom e útil e dispensar o que só nos ocupa o tempo e não nos traz qualidade de vida. Para que tudo tenha seu lugar, para que tudo tenha seu tempo, para que tenhamos tempo para nos afiar, nos alimentar espiritualmente, precisamos ter claros objetivos em nossa vida. Para isso, muitas vezes, precisamos fazer uma revolução em nossa vida, precisamos mudar radicalmente. É preciso que haja uma conversão. Precisamos deixar de lado muitos afazeres para dar valor ao que realmente é importante e certo para nossa vida. Atividade Proponho que cada uma faça a seguinte dinâmica: – Anote detalhadamente tudo o que faz num dia por semana; mas anote tudo mesmo. Cada atividade e o tempo que dedica a ela. Depois reflita individualmente ou com uma irmã num encontro, norteadas pelas seguintes perguntas: 1. Além do sono, a que atividade você dedica mais tempo? 2. Quanto tempo o trabalho ou atividades que têm a ver com ganho financeiro ocupam em sua vida? 3. Quais são as pedras grandes, ou seja, as prioridades em sua vida? 4. Qual o tempo dedicado à família? 5. Quais são os momentos de parada para afiar o machado, isto é, tempo dedicado a Deus? Queridas irmãs, ainda há tempo para a conversão, para mudar. Vivam na fé em nosso bom Deus, o qual, por meio de sua graça em Jesus Cristo, nos perdoou e reconciliou consigo mesmo, para que nós vivamos conforme sua vontade, buscando seu Reino, que está ligado com o viver o certo e bem. Tudo tem o seu tempo e o seu modo, mas o que é realmente importante precisa vir em primeiro lugar. A nossa vida só tem sentido profundo se é vivida junto a Deus e conforme a sua orientação. Amém. Pª Márcia Helena Hülle Schwandorf/Alemanha 50 *** Roteiro da OASE 2009
Jogral Mãe para todos os tempos Todos – Mãe. 1 – Pequeno nome. Significado grandioso. 2 – Está presente na história e existe no mundo todo. 3 – Mesmo não estando presente em vida, 4 – é inesquecível. Todos – É nossa querida!!! 5 – Na Bíblia, nós vemos e ouvimos de mães que, sob a direção de Deus, 6 – criaram seus filhos, construíram os lares seus. 7 – Levando seus filhos à presença do Senhor, 8 – entenderam que os filhos são herança do Senhor, 9 – conceberam os filhos como milagre do Senhor. 2 e 3 – Ana, Maria, Isabel. 10 e 11 – Sara, Joquebede e Raquel. 10 – Mãe que sofreu a dor de perdê-los. 12 e 13 – Noemi, 1 – que se tornou mãe da própria nora, 4 – pois mãe está sempre pronta a amar a toda a hora 13 – até os filhos que não são seus. 5 e 6 – E como Ana, disposta a entregá-los no altar. 14 – Ou fazem de tudo para salvá-los da morte, como fez Hagar. 7, 8 e 9 – A mãe verdadeira conhece o seu filho 3 e 4 – e luta por ele ainda que tenha que abrir mão, 2 – como a mãe que, chorando, suplicou 4 – que não matasse seu bebê ao rei Salomão. 5 – Mãe, tu choras e suplicas ao profeta que ressuscite o filho, como fez a sunamita. 2 e 4 – E, apresentando o azeite e a farinha, pede ao profeta Elias 7 – que não lhe falte o pão nosso de todos os dias. 11 – E Deus ouviu sua oração. Todos – Mãe, Deus ouve a tua oração. 12 – E mães que oram têm filhos restaurados. 13 – Mães que ensinam têm filhos educados. 14 – Mães que disciplinam têm filhos preparados. 1, 3 e 4 – Mães exemplos têm filhos agraciados. Todos – E sobre elas Salomão escreve: Meninos – Mulher virtuosa, quem a achará? Todos – Quem achará essa mulher virtuosa?
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1 – Seus filhos levantam e a chamam: ditosa. 2 – Cheia de graça e muito formosa. 3 – Mas de todas as virtudes, é por ser zelosa 11 e 12 – e por temer a Deus 13 e 14 – que és mais graciosa. 8 – Isabel, mãe com muita idade, 9 – reconhece em seus braços a felicidade, 10 – trazendo ao mundo o precursor: Todos – João Batista, que abriu o caminho ao Salvador. 4 – Uma mãe que entendeu sua missão 5 – e em seu ventre trouxe a nossa salvação 6 – foi Maria, mulher humilde e escolhida, 7 – dando à luz o autor da vida: Todos – Jesus Cristo, nossa Redenção. 11, 12, 13 e 14 – E assim pergunta a futura mãe: 1, 2, 3 e 4 – O que virá a ser este menino em meu ventre? 5, 6, 7 e 8 – Ensina o menino no caminho em que deve andar, 9 – como Lóide e Eunice, com todo o amor Meninas – tornaram Timóteo um amado pastor, Todos – um servo exemplar. 4 – Mãe que não gera... mas está sempre a cuidar. 6 – Zelosa, aquela que ora, 1 e 3 – educa, ensina e ajuda a criar, 5 e 8 – mãe do coração, mãe de oração, 2 – que Deus multiplique a sua alegria 11 – e muitos filhos conceda a cada dia. 6 e 7 – Mães do passado e do presente, 9 e 10 – que este fruto do coração ou do seu ventre 3 e 4 – seja motivo de gratidão e amor. 2 – Porque, neste dia, o que dizemos ao Senhor Todos – é: Muito obrigado por minha mãe!!! Extraído de Visão Missionária, n. 2, 2006 Enviado por Helga Schünemann
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Arquivo
Datas importantes 05 – Dia Mundial do Meio Ambiente 10 – Dia do Pastor e da Pastora 11 – 1948 – Fundação da Sociedade Bíblica do Brasil 12 – Dia dos Namorados 13 – 1525 – Casamento de Lutero com Katharina von Bora 24 – Dia de João Batista 25 – 1530 – Confissão de Augsburgo
J U N H O
JUNHO Pedro falou: Reconheço, por verdade, que Deus não faz acepção de pessoas; pelo contrário, em qualquer nação, aquele que o teme e faz o que é justo lhe é aceitável. Atos 10.34-35
Meditação Acepção de pessoas Arquivo
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urante sua vida, você já deve ter passado por alguma situação na qual se sentiu menosprezada, diminuída, humilhada ou ignorada por alguém ou por algum grupo: ao entrar numa loja mais chique, para ver algo ou perguntar o preço de algum objeto; ao falar com sotaque rural; ao solicitar informações em algum órgão público; ao ingressar num novo grupo ou comunidade. Também já deve ter presenciado alguém passar pela mesma experiência. Diria mais: se formos honestas, temos que confessar que muitas ve- Edy Pauvels zes já fizemos isso com outras pessoas. Pode ter sido por meio de um olhar rápido e atravessado, de um pequeno movimento do corpo, de uma sutil mudança de postura, de um comentário cínico ou de um comportamento dissimulado de indiferença e hostilidade. Não importa. Lá está materializada a prática social da acepção de pessoas. Acepção é o significado particular de uma palavra, segundo o contexto em que ela está empregada (Larousse). Ou seja, conforme o contexto em que é empregada, a palavra poderá ter outro sentido / valor. Exemplo: mula = animal de carga; mula = alguém idiota, ignorante, que só serve para serviço pesado. Assim, nas relações sociais, fazer acepção significa dar um valor diferente às pessoas e tratá-las de forma diferenciada, conforme o valor que damos a ela. Isto é, a pessoa (o
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Pedro, a Maria, a Isabel) não é valorizada por sua condição humana, mas por aquilo que ela aparenta ser ou pelo que possui: beleza, bens, conhecimento, relações etc. Diferenciar, classificar, ordenar e valorar os objetos, as plantas, os animais, os equipamentos e as pessoas foi um dos instrumentos criados e usados pelo ser humano para organizar e se apropriar da natureza, para dar sentido à vida e estruturar o mundo. Esse instrumento acabou tornando-se um dos pilares centrais da produção da cultura e da construção da história humana. Em todos os povos e suas respectivas culturas vamos encontrar relações sociais fundadas em classificações e divisões de raça, casta, classe, gênero, idade, conhecimento, força, destreza e beleza, entre outras. É dentro de cada uma dessas classificações e suas respectivas subdivisões que o indivíduo é valorado como pessoa e recebe seu papel / função social. Essa, portanto, é uma das premissas que fundamenta a estrutura piramidal e hierarquizada das sociedades e dos sistemas de subjugação e exploração. Essa visão de relação e de organização social é quebrada e uma nova premissa é estabelecida quando, no relato da criação, afirma-se que o ser humano foi criado à imagem e semelhança de Deus: Também disse Deus: façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; ...criou Deus, pois, o homem à sua imagem, a imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou (Gênesis 1.26-27). Segundo Gênesis, o valor e a dignidade do ser humano foram estabelecidos pelo próprio Criador quando fez daquele ser uma criatura ímpar, especial. Em outras palavras, todo ser humano, independente de sexo, idade, cor, raça, nacionalidade, situação social, tem um mesmo e único valor. Pois, indistintamente, todos foram criados à sua imagem e semelhança: são criaturas humanas. As circunstâncias e o contexto nas quais elas se encontram (cargo, titulação, conhecimento, posses, poder...) são transitórias e apenas colocam uma roupagem, dão um certo status social, mas não conferem valor ao ser, porque esse já foi estabelecido no ato de sua criação. A vontade de Deus para as relações e estruturas humanas é vivida e materializada por Jesus Cristo. Cristo acolhe, fala, ensina e cura mulheres de diferentes lugares e povos (Mateus 15.21-28, João 4.5ss e João 8.1-11); dá atenção às crianças (Mateus 19.13-15); recebe e atende os doentes e desencaminhados; come com pecadores (Mateus 9.10-13); escolhe como discípulos pessoas simples e excluídas (Lucas 15.1-2). Para Cristo, o outro é ser, uma expressão do amor de Deus e, como tal, merecedor de respeito e honra, de ser tratado com dignidade e humanidade. JUNHO *** 55
Durante sua vida e seu ministério, Jesus mostra que o temor e a obediência a Deus passam pela consciência do seu poder, dos seus atributos e da sua misericórdia e se materializa na nossa relação com o outro. Isto é, a fé e a obediência a Deus são materializadas na nossa postura diante do outro, na maneira como tratamos, nos relacionamos e caminhamos com o outro. Nessa relação não há espaço para acepção, discriminação ou exclusão do outro diferente: o estrangeiro, o órfão, a viúva, o enfermo, o portador de deficiência, entre outros (Deuteronômio 10.12-21). O contexto de Atos 10.34-35 (10.1-48) revela-nos que os apóstolos, apesar de terem vivido com Jesus, ainda não tinham compreendido o desejo de Deus. Segundo o livro de Atos, após o Pentecostes, o evangelho é pregado. Pessoas de diferentes contextos convertem-se e passam a compartilhar uma mesma fé e um mesmo projeto de vida. Um novo grupo social vai se formando na comunidade e por meio dela. Nessa comunidade, a predominância é de judeus e, conseqüentemente, dos valores e da cultura judaica. A cultura judaica é milenar; solidificada por intermédio das lutas e dos sofrimentos históricos do povo; profundamente marcada por leis e normas sócio-religiosas. Entre essas, a taxativa proibição de um judeu aproximar-se ou ajuntar-se a alguém de outra raça, quanto mais entrar em sua casa (comunhão íntima – v. 28). Assim, contrariando a práxis de Jesus, que não fazia acepção de pessoas, Pedro e os demais apóstolos, ao anunciar o evangelho atrelado à cultura judaica, acabavam promovendo a acepção e a exclusão do outro estranho e diferente. Então, mais uma vez, Deus interfere na história humana e transforma a vida de Pedro e, por ele, a vida da igreja: Então falou Pedro, dizendo: Reconheço por verdade que Deus não faz acepção de pessoas; pelo contrário, em qualquer nação, aquele que o teme e faz o que é justo lhe é aceitável. A conversão de Pedro inaugura um novo tempo na construção histórica da igreja: a saída do gueto judaico e abertura ao mundo. Não obstante, antes gera um profundo incômodo na direção da igreja da época, produz um acalorado debate teológico entre os apóstolos (Atos 11.1-18) e impõe novos paradigmas: todo gênero humano tem o mesmo valor, a mesma dignidade; a graça de Deus é para todos; o Espírito Santo é livre e soberano, não é monopólio de um grupo específico de pessoas; a fé não está atrelada à determinada cultura, pelo contrário, ela questiona e perpassa as culturas existentes e propõe novos modelos de relações e estruturas sociais.
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Enfim, na práxis da fé e da proclamação do evangelho não há espaço para a acepção de pessoas, pois a fidelidade e a obediência a Deus, a vivência diária da fé sempre acontecem no encontro, na relação com o outro estranho e diferente. Como são as relações e as estruturas sociais da sua família, do seu grupo de OASE, da sua comunidade? Elas respeitam, acolhem e incluem o outro diferente e estimulam uma caminhada fraterna e solidária com ele? Ou elas exercitam e legitimam a acepção e exclusão do outro estranho, diferente? Que cada um de nós e toda a nossa igreja possam se converter de seus caminhos e, assim como Pedro e a igreja primitiva, sair dos guetos sociais que nos separam do outro e libertar o evangelho das amarras culturais que o deturpam e limitam. Amém. Edy Pauvels Formosa/GO
Tudo tem seu tempo Tempo para cultivar relacionamentos I. Dinâmica de integração A) Preparar o ambiente: Colocar as cadeiras em forma de círculo. Confeccionar flores em E. V. A. ou cartolina para cada integrante do grupo, sendo que duas flores sempre devem ser iguais para formar dupla. Colocar essas flores num jardim improvisado no meio da sala. B) Dinâmica: Colocar uma música de fundo. Cada pessoa é convidada a pegar uma flor no jardim. Todas as pessoas devem andar pelo ambiente, trocando as flores ao som da música. Olhar umas para as outras. Quando a música parar, cada uma deve procurar seu par (a outra pessoa que tem a flor igual à sua) e dialogar sobre os seguintes itens: 1. Apresentar-se, ou seja, dizer seu nome. 2. Dialogar sobre uma amizade que marcou sua vida. O que é amizade para você? 3. Dar um abraço de despedida ao reiniciar a música. A dinâmica pode ser repetida várias vezes de acordo com o interesse de cada grupo. Na última rodada, a dupla senta junto na roda.
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Arquivo II. Tema A gente só conhece bem as coisas que cativou. Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-o! (Antoine de Saint-Exupéry, em “O Pequeno Príncipe”) Quando crianças, tínhamos um mundo inteiro para descobrir e explorar. Esse mundo parecia não ter fronteiras, tamanha sua vastidão. Quando olhávamos ao redor, tudo o que víamos era a linha do horizonte, longe, distante. Mas havia um aspecto muito bem delimitado: nossas amizades. Nossos amigos e amigas eram poucos e estavam sempre próximos. Eram aquelas que nos acompanhavam à escola, curtiam o recreio conosco, partilhavam a merenda, fazíamos as tarefas juntos, estudávamos para as provas, praticávamos esportes e brincávamos. Com o passar dos anos, a idade avança e somos contemplados com o rótulo de adultos. Mudam nossos propósitos, responsabilidades e prioridades. E, quase que invariavelmente, também mudamos de casa, de bairro, talvez de município, Estado ou mesmo país. Nosso mundo fica cada vez mais delineado. Passamos a tratar com mais e mais pessoas, porém cultivamos menos amizades, porque nossas relações são todas marcadas com o lacre da superficialidade. Pessoas entram e saem de nossas vidas. Muitas passam a ser nossas conhecidas, por exemplo: a vizinha que mora na casa ao lado ou no apartamento do andar de cima. Sobre ela pouco ou nada sabemos, nem mesmo o nome. Já algumas passam a ser nossas colegas. Essas dividem o tempo e o espaço conosco, sobretudo no ambiente de trabalho, na comunidade, no grupo. Por conta desse vínculo, temos objetivos comuns, metas a serem alcançadas. Sabemos seus nomes, seus cargos, suas atribuições, mas podemos conviver por anos sem conhecer suas preferências, sua família, sua história de vida.
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Afinal, quem são nossos amigos e amigas? Podemos afirmar que são aquelas pessoas que compartilham com alegria nossas alegrias e nos acolhem sem pretensões nos maus momentos. São boas ouvintes, concedemnos sua atenção e sabem que muitas vezes não queremos opiniões ou comentários, mas apenas ser ouvidos com paciência. Pouco lhes importam aspectos como raça, credo ou condição socioeconômica, pois respeitam nossas diferenças antes mesmo de desfrutar as semelhanças. São admiráveis confidentes, compartilhando seus segredos – e os nossos. Não existem boas ou más amizades, sinceras ou dissimuladas. Por definição, uma amizade é verdadeira, honesta, leal e digna de honra e admiração. Pois “a amizade que acaba nunca principiou, nunca começou”. Conserve suas amizades. Visite-as com freqüência. Dê tempo para elas. O mato cresce depressa nos caminhos que são pouco percorridos. Relacionamentos não se constroem por telefone ou e-mail. São bons expedientes para se manter uma amizade, mas precisamos mesmo é estar “cara a cara” com as pessoas que apreciamos. Os olhos precisam brilhar, os braços precisam envolver e as palavras precisam acalentar. Não seja você mais uma pessoa que diz esta velha frase tão triste: “Eu deveria ter visitado mais meus amigos e lhes contado como me sentia em vez de só encontrá-los em enterros”. A amizade torna as pessoas mais amenas, gentis, generosas e felizes. Mas, para se ter amigos, é preciso antes ser um. E isso envolve atitude... Não espere que os outros tomem a iniciativa, mas se mostre amigo das outras pessoas. Para experimentar uma boa amizade é necessário se arriscar oferecendo sua amizade a seu próximo. Amigos não nascem em árvores, nem aparecem num passe de mágica. Boas amizades crescem ao longo do tempo e são resultado do investimento que fazemos em nossos relacionamentos pessoais. A amizade é uma grandeza que nos é apresentada na Sagrada Escritura. Os exemplos que encontramos na Bíblia começam pela amizade com Deus. A primeira geração humana, representada por Adão e Eva, é mostrada como amiga de Deus: ele passeava com as pessoas ao sabor da brisa vespertina (Gênesis 3.8). Essa amizade se corrompeu pela falta de lealdade de nossos ancestrais. Depois temos o exemplo de Abraão. Apesar de passar por grandes provas, conservou sempre a mesma dignidade e a mesma lealdade a Deus. Muitos séculos depois, Moisés é apresentado como aquele que foi o mais íntimo de Deus, em âmbito de amizade e de apreço. Também foram alvos dessa amizade outros patriarcas, como Jacó e Isaque e, posteriormente, os profetas. Com esses Deus compartilhava seus “segredos” para serem transmitidos
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ao povo. Encontramos também provas de amizade nos amigos de Jó, que lhe foram fiéis até na desgraça, permanecendo firmes a seu lado. Nos longos diálogos que o texto nos apresenta, os amigos levam Jó a uma revisão de vida, através de colocações sublimes, valorizando tudo o que ele havia feito. Quando falamos em amizade, em cultivar relacionamentos, precisamos falar sobre o melhor e mais fiel de todos os amigos: Jesus Cristo. Jesus dava muito valor aos relacionamentos. Decidiu passar a maior parte de seu tempo com alguns de seus amigos – os discípulos. Jesus também era amigo de Lázaro e de suas irmãs Marta e Maria, como vimos em Lucas 10.38-42. Sua ligação com eles era tão grande, que aquela casa de Betânia tornou-se para ele praticamente um lar, juntamente com a casa de Pedro em Cafarnaum, pois Jesus não tinha onde reclinar a cabeça (Mateus 8.20). A casa de Betânia não ficava longe de Jerusalém, e Jesus deve tê-la visitado em uma de suas diversas viagens a essa cidade, pelo menos as que conhecemos, por ocasião da morte de Lázaro e na última semana de Jesus antes da Paixão. Jesus convoca Marta a mudar de vida e escolher a melhor parte. A forma de Jesus falar a Marta e a atitude de Maria de sentar a seus pés demonstram uma relação de amizade sincera e confiante. Jesus quer ser nosso amigo. Quer ser meu e seu amigo. Para isso é preciso abrir o coração para que Cristo tenha espaço. É preciso dar tempo, orar, ler a Sagrada Escritura, cantar e louvar a ele. Ele dará aos que crêem o Espírito Santo, que sempre os guiará, tanto nos momentos de alegria como de tristeza. E dará a seus mais fiéis amigos a vida eterna. Ser amigo e amiga de Deus significa ser amigo e amiga do próximo, pois Jesus diz em Mateus 25.35: Tudo o que fizeres a um desses mais pequeninos irmãos a mim o fizeste. III. Diálogo em duplas. Dialogar sobre: Como amiga... 1. Como eu sou? 2. Como eu queria ser? 3. Como os outros me vêem? 4. Como meus amigos/as são? 5. Como eu queria que eles/as fossem? No final, as duplas podem compartilhar no grupo sobre o que dialogaram. A pessoa que coordena o encontro poderá fazer algumas considerações. Encerrar com uma oração. Pª Louvani Kuhn Hirt Timbó/SC
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História e Identidade Pomeranos no Espírito Santo (Primeira parte) Os pomeranos formam uma etnia descendente de tribos eslavas e germânicas que vivem e viveram na região histórica da Pomerânia, ao longo da costa do mar Báltico, atualmente entre a Alemanha e a Polônia. Hoje a região é conhecida como Pomerânia Ocidental. Lendo a história dos primórdios da Pomerânia e acompanhando o contínuo desenrolar de invasões e saques que a região sofreu no decorrer dos séculos, pode parecer que a Mulheres pomeranas região era um manancial de exuberante produtividade. Ao contrário, apenas algumas partes, não muito extensas, eram férteis. As colheitas eram fruto da total ligação do ser humano com a terra, da dedicação da família toda, inclusive das crianças, da fé, da coragem, da inesgotável e sempre renovada esperança, da perseverança e do espírito de renúncia. Havia regiões em que os lavradores mal e mal conseguiam
sustentar suas famílias. Quando aconteciam uma seca ou uma geada tardia e as safras frustravam, a penúria estendia-se por toda a região atingida. No início do século XIX, a Alemanha, bem como a Pomerânia, passava por novos desenvolvimentos econômicos: a industrialização teve um grande impulso, necessitando de mãode-obra especializada, o que causou a ruína de muitos artesãos e trabalhadores da indústria indo para o trabalho doméstica. Sem poderem desenvolver suas atividades artesanais, esses trabalhadores livres começaram a formar um exército de mão-de-obra barata assalariada para a indústria que estava nascendo. Com os novos maquinários, também houve o aumento de produtividade no campo junto à diminuição de mão-de-obra, causando o desemprego de agricultores. Como a Alemanha passava por uma desintegração de sua es-
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trutura feudal, muitos agricultores que eram apenas empregados ficaram sem trabalho e sem o direito de morar nas terras, ao mesmo tempo em que a população aumentava. Sem a terra para viver, migraram para as cidades e para o exterior. Os alemães e os pomeranos que imigraram para o Brasil eram agricultores insatisfeitos com a perda de suas terras, ex-artesãos, trabalhadores livres e empreendedores desejando exercer livremente suas atividades, perseguidos políticos, pessoas que perderam tudo e estavam em dificuldades, pessoas que eram “contratadas” através de incentivos para administrar as colônias ou pessoas que eram contratadas pelo governo brasileiro para trabalhos intelectuais ou para participações em combates. Em 1859, chegaram ao Espírito Santo os primeiros imigrantes pomeranos. O maior fluxo de pomeranos no Estado se deu entre os anos de 1868 e 1874. Foram ao todo 2.223 colonos, procedentes da parte oriental da Pomerânia. Em Santa Leopoldina, receberam lotes em uma região montanhosa denominada Alta Pomerânia (São Sebastião de Belém), lugar que deu origem ao atual município de Santa Maria de Jetibá. Enquanto em outros Estados brasileiros os pomeranos eram minoria entre os colonos alemães, no Espírito Santo aconteceu o contrário. Em maior número, os pomeranos acabaram influenciando os outros grupos germânicos. O dialeto pomerano acabou prevalecendo sobre os demais dialetos e permanece vivo até hoje. Os colonos imigrantes instalaram-se numa região isolada por florestas. Esse isolamento criou enormes dificuldades. Os pomeranos vieram para o Brasil fugindo da miséria na Europa e acabaram encontrando pobreza semelhante no Brasil. Esse isolamento contribuiu para a cultura da região: mantendo pouco contato com o restante da população brasileira, os pomeranos conseguiram preservar sua cultura e seu idioma. Estima-se que hoje vivam no Espírito Santo aproximadamente 120 mil descendentes de imigrantes pomeranos. Ignorados pelo poder público, sem acesso ao ensino do português, comunicando-se raramente com pessoas de fora da colônia e dependendo quase que exclusivamente da iniciativa das igrejas para a educação de seus filhos, os colonos não tiveram outra possibilidade senão continuar a falar seus dialetos. Se a princípio os diversos grupos alemães falavam cada qual seu dialeto particular, com o passar do tempo acabou prevalecendo o dialeto pomerano. O trabalho na lavoura em áreas desmatadas com pouca sombra, o uso de agrotóxicos e a exposição diária ao sol intenso causaram entre os descendentes um câncer de pele, o “câncer ecológico”, que provocou
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mutilação e morte entre os pomeranos, fato que se tornou conhecido até internacionalmente. Uma iniciativa da IECLB e da Universidade Federal do Espírito Santo criou, há 20 anos, um programa de tratamento e prevenção que ajudou a resgatar a auto-estima local, abalada pela doença e sua repercussão na mídia. Hoje, os descendentes dos colonos pomeranos estão presentes em todas as esferas político-administrativas e intelectuais da região. A nova geração está cada vez mais consciente da necessidade de manutenção e valorização de uma identidade própria, viva e atual, portanto em transformação. O antropólogo e lingüista Ismael Tressmann lançou um dicionário com aproximadamente 15 mil palavras pomeranas e informações históricas, geográficas e etimológicas. Há também um projeto para ensinar o pomerano nas escolas locais. Algumas escolas já adotaram o projeto, como, por exemplo, o município de Pancas, onde o prefeito assinou uma lei introduzindo a disciplina de Língua Pomerana no currículo escolar da Rede Municipal de Ensino, nas escolas localizadas nas regiões do município em que predomina a população descendente de pomeranos. Vale lembrar também que o pomerano é falado apenas no Brasil, e a preocupação com a grafia oficial da língua é recente. Tradicionalmente, no seu cotidiano, os homens pomeranos estavam envolvidos com o mercado e as mulheres com os afazeres domésticos. Os homens estavam mais liberados para lidar com a sociedade nacional e as mulheres eram responsáveis pela manutenção da cultura. O elemento que permitiu a manutenção da cultura e também do modo de vida camponês é a mulher. Assim, o casamento de um homem pomerano com uma brasileira era mais tolerado, ao passo que o casamento de uma mulher pomerana com um brasileiro sofreu muitas críticas, pois ameaçava a reprodução da condição camponesa e étnica. A socialização das mulheres acontecia no âmbito da religião, das festas e da comercialização de produtos caseiros. Era nos cultos que ocorriam encontros com vizinhos e parentes. Tanto antes quanto depois dos cultos, homens e mulheres trocam conversas. Nas festas, as mulheres preparavam e ainda preparam as comidas. A produção caseira pertenceu à mulher e sempre coube a ela a sua administração. Alguns desses aspectos se mantêm até nos dias de hoje. Quanto à questão da herança, a distribuição obedecia a uma lógica própria do mundo camponês, entrando em conflito com o sistema jurídico brasileiro. Ela tinha como objetivo “evitar a excessiva fragmentação das pequenas propriedades”. Assim, uma mulher não recebia herança. Recebia um dote que lhe ajudava a iniciar a sua própria casa. Geralmente esse dote era composto por alguns animais e instrumentos domésticos. A alternativa pensada era que o esposo tivesse uma herança.
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Para tentar amenizar o conflito em torno da herança, existiam algumas estratégias, como, por exemplo, o estudo. Quando um filho optava por estudar, era entendido que esse desistiria de sua parte na herança. Hoje, esse conflito está superado: Filhos e filhas têm os mesmos direitos. (Você pode ler a segunda parte na página 72.) P. Geraldo Graf Adélia Lemke Graf Colatina/ES
Receita Pastelão de palmito Ingredientes: ½ kg de tomates, 2 cebolas grandes, 1 vidro de palmitos (em pedacinhos). Cortar os tomates e as cebolas em cubos, refogar e deixar esfriar. 4 ovos, 2 colheres (de sopa) de queijo ralado, 2 xícaras de leite ou uma de leite e uma de iogurte, 1 xícara de óleo, ½ colher (de sopa) de sal, 1 colher (de sopa) de fermento químico em pó, 12 colheres (de sopa) de farinha de trigo. Modo de fazer: Misturar bem todos os ingredientes. Juntar os tomates e as cebolas refogados e, por último, os palmitos. Despejar tudo numa travessa untada e assar em forno com temperatura média. Gudrun Braun Rio de Janeiro/RJ
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Arquivo
Datas importantes 01 – 1921 – Fundação do Instituto Pré-Teológico, Cachoeira do Sul/RS 15 – 1519 – Lutero excomungado pelo papa com a Bula 17 – 1505 – Lutero ingressa no Convento Santo Augustino, Erfurt/ Alemanha 20 – Dia da Amizade 25 – 1824 – Primeiros imigrantes alemães chegam a São Leopoldo/RS 26 – Dia dos Avós 27 – 1914 – Início da Primeira Guerra Mundial, na Europa
J U L H O
JULHO Alegrai-vos no Senhor. Filipenses 3.1
Meditação Alegria: o hormônio do bem-estar
F
ilipos é o nome do lugar para onde o apóstolo Paulo enviou a carta. Foi escrita, provavelmente, entre 54 e 60 d.C. E, segundo a tradição, a carta teria sido escrita numa prisão em Roma ou em Cesaréia. Filipos era uma colônia que se localizava na estrada Egnatan (Via Egnatia), que era a principal estrada que cruzava a Macedônia, ou seja, era a prinArquivo cipal estrada nacional que cortava o nordeste da Grécia. Filipos misturava tradições gregas e latinas. Era uma cidade cosmopolita. Diversas divindades eram ali cultuadas. A parte central da cidade era tomada por templos, prédios públicos e lojas. Perto do rio existia um lugar de oração que, segundo a tradição, era freqüentado principalmente por mulheres. O alvo da carta que Paulo escreveu era gente como a gente. Homens, mulheres, casados, solteiros. Talvez havia também viúvos e viúvas. As crianças e os jovens, embora não mencionados, certamente faziam parte das famílias daquele lugar. Como diz no início do capítulo 1 da Carta Elsa Janssen aos Filipenses, ela era dirigida a “todos os santos...”, ou seja, a todo o povo de Deus unido em Cristo Jesus. Além disso, alguns líderes da igreja de Filipos também são saudados de forma especial, os bispos e os diáconos.
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A carta, de apenas quatro capítulos, fala da alegria. O conteúdo é tão forte, tão enfático, que no capítulo 4, versículo 4, Paulo escreve na forma imperativa, como se fosse uma ordem: Alegrai-vos sempre no Senhor. Outra vez vos digo: Alegrai-vos! O apóstolo Paulo convida os de sua época, e também a nós hoje, a experimentar a duradoura alegria. O segredo está na fé, pura, simples, que os cristãos, os primeiros da Europa de então, vinham demonstrando em suas atitudes e ações. A igreja filipense era agradecida, bondosa e solidária. Não há prova de fé tão verdadeira como a graça da gratidão. É bom lembrar que ela iniciou com uma mulher (vendedora de púrpura) e sua casa e um carcereiro e sua casa (Atos 16.12-40). Para um megaprojeto humano, isso não representava um bom começo. Mas, a partir do Santo Espírito, que inspira e direciona, daquelas duas famílias se originou uma igreja que testemunharia a verdade e sustentaria a pregação do evangelho em todo o mundo romano. Henry Gwin-Jeffreys Moseley, físico inglês (1887-1915), certa vez foi perguntado: “O que você acha, será que Jesus alguma vez riu?”. Moseley respondeu que isso ele não sabia, mas podia afirmar que Jesus consertou sua vida de tal modo que ele mesmo passou a sorrir diante de qualquer situação. Cristo, o Senhor e Salvador, é quem faz seus seguidores viverem alegres, contentes, esperançosos em todas as circunstâncias. O filósofo Sócrates, em sua sabedoria reflexiva, afirmou “A alegria da alma constitui os belos dias da vida, seja qual for a época”. E Agostinho, Pai da Igreja, em profundo processo de conversão, afirmou: “A busca de Deus é a busca da alegria. O encontro com Deus é a própria alegria”. E você, como define a alegria em seu viver? (Compartilhar respostas no grande grupo.) O Salmo 100 é o salmo da alegria. (Sugestão: Cantar o hino do Salmo 100, “Celebrai com júbilo ao Senhor”.) “A alegria vem pela manhã”, mesmo que o choro possa ter acontecido ao anoitecer. É na luz que a alegria brota no coração (Salmo 30.5). Nada agrada tanto ao Senhor como o louvor. Lembro de uma situação de infância, na casa de meus pais. Certa noite, antes de dormir, meu irmão mais velho queria cantar o hino “Guianos, Jesus”. Meu segundo irmão pretendia, na mesma hora, cantar outra canção. O conflito estabeleceu-se e somente com a intervenção do pai a ordem e a paz voltaram. Finalmente, com lágrimas nos olhos e a voz embargada, meu irmãozinho conseguiu elevar seu santo louvor. Sabemos que “o coração alegre embeleza o rosto”. Nossa vida é feita de relacionamentos. A alegria libera o hormônio do bem-estar: a endorfina. Isso promove saúde física, mental e emocional. Paulo e Silas cantavam e
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louvavam ao Senhor na prisão. E na carta não transparece amargura, ressentimento, tristeza, desânimo, abandono da fé ou revolta com a vida. Ao contrário, de uma forma espontânea, informal e pessoal, com a inquestionável marca da alegria e regozijo, ele dá graças pela oportunidade da oração, da proclamação da Palavra, da comunhão entre irmãos, dos sacrifícios pela causa e pelos cuidados da igreja entre si e com os de fora. Concluindo: A cidade de Filipos, afastada da costa cerca de quinze quilômetros, não é mais do que ruínas. Seu antigo porto de Neápolis, hoje conhecido pelo nome de Kavalla, é apenas um ponto turístico. No entanto, a obra salvífica proclamada naqueles tempos chega até nós, no lugar onde vivemos, através da comunhão com o Cristo ressuscitado e glorificado. Juntemo-nos, pois, aos ecos do júbilo de Paulo, Silas, Lídia, Epafrodito e de todos os crentes pelos séculos dos séculos. Tarefa: Cada integrante do grupo poderia escrever uma carta endereçada a si mesma, cujo conteúdo é a ALEGRIA. A carta pode ser colocada no correio, alguns dias após ter sido escrita. Ao recebê-la, ler novamente, com muita atenção. Se o grupo concordar, retomar o assunto em um próximo encontro, compartilhando o que cada uma sentiu. Para refletir: Três coisas são essenciais para se carregar os pesos da vida: a ESPERANÇA, o SONO e o RISO (Immanuel Kant – filósofo). Elsa Janssen Florianópolis/SC
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Oração É maravilhoso, Senhor, meus braços perfeitos, quando há tantos mutilados; meus olhos perfeitos, quando tantos não têm luz; minha voz que canta, quando há tantas outras que emudecem; minhas mãos que trabalham, quando há tantas que mendigam. É maravilhoso, Senhor, voltar para casa, quando há tantos
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que não têm para onde voltar. É bom sorrir, amar, sonhar, viver, quando há tantos que choram, odeiam, revolvem pesadelos e morrem sem viver. É maravilhoso, Senhor, ter um Deus em que crer, quando há tantos que não possuem o lenitivo de uma crença. É maravilhoso, Senhor, ter tão pouco a pedir e tanto para agradecer. Amém.
Tudo tem seu tempo O mais belo virá A OASE, neste ano, convida-nos a refletir sobre o tempo, pois comemorar 110 anos de existência no Brasil é um bom tempo. Com certeza, ao olharmos para trás, lembramos de desafios e alegrias, temos lembranças e saudades. Porém, não é do passado que queremos viver, mas é em busca de direção e construção do futuro que queremos ter. Por isso o que nos move é a certeza de que algo belo nos aguarda, sejam quais forem os momentos que vivemos no presente. Leia o livro do Apocalipse (2.10-11), que nos fala, por meio de simbologia, da esperança e ação de um povo que não se acomodou diante das dificuldades. O texto que nos é indicado fala de enfrentar o sofrimento com a “cabeça erguida”. Percebo que vivemos numa época em que tentamos fazer o possível para evitar o sofrimento. Esforçamo-nos mais, trabalhamos mais e, às vezes, até sofremos mais na tentativa de não sofrer. Quantas vezes sofremos por “antecipação”, temendo sofrer mais adiante. Quantas coisas somos capazes de fazer para evitar o sofrimento das pessoas que amamos? O sofrimento nem sempre é de todo ruim. Ele pode trazer aprendizagem e crescimento. Porém é preciso atentar para dois pontos: 1) Não estamos sozinhos: Conta uma história muito conhecida que alguém, ao chegar ao final da sua vida, olhou para seus passos deixados na areia da vida e percebeu que, em muitos momentos, havia dois pares de pegadas. Uns pares eram seus próprios passos; os outros pares eram de Cristo caminhando a seu lado. Percebeu também que, justamente nos momentos de maior dificuldade e sofrimento, havia apenas um par de pegadas. Logo, acusou o Senhor de tê-lo abandonado naqueles momentos. A resposta, contudo, foi que, naqueles momentos, Jesus o carregara no colo. Não estamos sozinhos em nenhum momento de nossa vida, mesmo que possamos não identificar o Cristo que caminha conosco, como os discípulos de Emaús, mas ele está ao lado. 2) Os sofrimentos não são maiores do que podemos suportar: O apóstolo Paulo diz em 1 Coríntios 10.13: Não vos sobreveio tentação que não fosse humana; mas Deus é fiel, e não permitirá que sejais tentados além de vossas forças; pelo contrário, juntamente com a tentação, vos
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provará livramento, de sorte que a possas suportar. Deus cumpre sua promessa e não deixará que vocês sofram tentações que não têm forças para suportar. Quando uma tentação vier, Deus dará forças a vocês para suportá-la, e assim vocês poderão sair dela. O desafio é permanecer fiel mesmo diante das dificuldades. É não querer buscar alternativas “mais fáceis” do mundo, indo contra o caminho de Deus. Desta forma, sim, Satanás age, quando achamos que pelas nossas próprias forças podemos mudar o sofrimento ou evitá-lo. O convite é que possamos fortalecer nossa fé com companheirismo e ajuda mútua nos momentos de dificuldade. Que possamos orar e agir para melhorar o sofrimento, buscando na palavra e ação de Deus a força que precisamos. Acreditar que dias melhores virão não é cruzar os braços e esperar o tempo passar para que chegue logo esse tempo. Mas é agir em gratidão e novo ânimo nos nossos dias hoje. É com atitudes concretas que podemos dar sinais do reino de Deus já hoje. É perceber que através de pequenos gestos dentro de nosso grupo, da nossa família e comunidades, podemos testemunhar em palavras a presença de Deus em nossa vida. Precisamos atentar ao que o texto diz: Aqueles que conseguirem a vitória não sofrerão o castigo da segunda morte. Não podemos apenas deixar nossos dias passarem esperando que Cristo venha nos buscar para a vida eterna; por outro lado não podemos deixar de lado algo tão grandioso. Sabemos que temos o nome no Livro da Vida e que pertencemos a Cristo, e isso precisa ser motivo de agirmos em prol das pessoas que estão à nossa volta. Saber algo tão maravilhoso é motivação para levar o evangelho a outras pessoas e querer que elas também participem dessa boa-nova e que compartilhem dessa esperança. Pª Adriane Cassen Ijuí/RS
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20 de julho – Dia da Amizade Pedacinhos de tempo Arquivo Amizades são feitas de pedacinhos. Pedacinhos de tempo que vivemos com cada pessoa. Não importa a quantidade de tempo que passamos com o amigo, mas a qualidade do tempo que vivemos com cada um. Cinco minutos podem ter uma importância muito maior do que um dia inteiro. Assim, há amizades que são feitas de encontro de trabalho, reuniões, jantas e passeios. Há ainda aquelas que nascem e a gente nem sabe de quê, mas que estão presentes. Talvez essas sejam feitas de silêncios compreendidos, ou de simpatia mútua sem explicação. Aprendemos simplesmente a gostar das pessoas sem nos preocupar com o ser. Antoine Saint-Exupéry disse: “Foi o tempo que perdestes com tua rosa que fez tua rosa tão importante”. E nós dissemos que é o tempo que ganhamos com cada amigo que faz cada amigo tão importante. Tempo gasto com amigo é tempo ganho, aproveitado, vivido. São lembranças para horas ou anos até. Um amigo se torna importante para nós, e nós para ele, quando somos capazes, mesmo na sua ausência, de rir, sentir saudade e nesse instante trazer em pensamento o outro bem perto da gente. O importante é saber aproveitar cada minuto vivido e ter depois no baú das recordações horas para relembrar, recordar amigos, mesmo quando esses estiverem longe dos nossos olhos.
Enviado por Zilar Meinke Klarmann Três de Maio/RS
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História e Identidade Pomeranos no Espírito Santo (Segunda parte) O pomerano expressa-se, cotidianamente, em três línguas: português, alemão e pomerano, cada uma delas acionada em diferentes situações sociais. O português é mais usado no comércio e na escola. O pomerano é usado tanto na cidade quanto no campo, sendo mais usado na zona rural, ou seja, “na intimidade da família, dos amigos”. O alemão, por sua vez, é mais utilizado nos cultos. A língua pomerana é fundamental na transmissão da tradição oral e na elaboração da identidade étnica e social. Constata-se que em algumas regiões ainda existe diferença no uso das línguas entre os gêneros e as gerações: as mulheres falam o pomerano, língua que é manejada no seu cotidiano. Já os homens são bilíngües, pois falam também o português, língua necessária para o comércio. Outro elemento de destaque é a importância da igreja e da figura do pastor, especialmente na construção da identidade étnica. Ao migrarem em busca de terras e melhores oportunidades para a reprodução de sua condição, os pomeranos afirmam o seguinte: “Iremos para onde tiver a nossa igreja”. Através de sua pregação, da manutenção da língua, das festas nas comunidades, do Dia da Reforma, a igreja contribui para a manutenção da identidade desse povo. A igreja luterana constitui-se numa das maiores fontes identitárias dos pomeranos. Ela faz parte da identidade étnica e social deles. Sem ela, eles deixam de ser pomeranos. A migração, nesse sentido, é condicionada à existência das condições necessárias para a reprodução do modo de vida camponês pomerano, que envolve, entre outras coisas, a possibilidade de aquisição de terras e a existência de sua igreja. O nascimento é um momento muito especial para as pomeranas, pois significa para a mulher, mas também para o homem, a aquisição de um novo status diante da comunidade. É no casamento e principalmente no nascimento dos filhos que a mulher adquire seu lugar de adulta na sociedade, com direitos e responsabilidades que divide com o marido, e dá continuidade ao modo de vida camponês através da educação dos filhos. “Uma casa com filhos, e de preferência com muitos filhos, significa a valorização desses como mão-de-obra.” A fecundidade, portanto, é fator indispensável para a sustentabilidade do modo de vida camponês. A Confirmação é um momento muito importante na vida de um pomerano, pois marca a passagem para a vida adulta. Desde aquele momento, ele pode participar da Santa Ceia, juntamente com toda a comunidade. Com a Confirmação, o
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adolescente ganha algumas liberdades, como freqüentar bailes, e lhe é permitido namorar. Essa idéia persiste até os dias atuais e não apenas entre os pomeranos. O namoro é visto pela comunidade como uma forma de preparação para o casamento. Socialmente, há um controle na quantidade de namoros, quer dizer, não é permitido trocar muitas vezes de parceiro. “Namorar é para se casar.” A aprovação do namoro pelos pais é condicionada às habilidades técnicas para trabalhar com a terra e para a lida na casa, também se preferem parceiros que recebam herança. Quanto ao casamento, existe uma rede familiar e social que condiciona o futuro pretendente. O comportamento e as qualidades de rapazes e moças são alvo de comentários na comunidade. Quando uma moça se interessa por um determinado rapaz, a comunidade (pais, vizinhos, amigos) comenta sobre as qualidades dele e as possibilidades de esse ser ou não um tipo ideal com que ela possa se casar. A família quer saber se o rapaz é trabalhador, se tem herança, se é de boa família. O casamento ideal é com um igual. Casar para baixo ou para cima é prejudicial. Quem casa para baixo vai perder e quem casa para cima vai ficar sempre por baixo. Cerca de 90% das participantes dos grupos de OASE são agricultoras e descendentes de pomeranos. Assim como suas antepassadas, são batalhadoras, persistentes, cheias de fé e de esperança. A maioria, cumprindo duas jornadas de trabalho: uma em casa, cuidando dos serviços domésticos e dos filhos e outra jornada na lavoura, junto com o marido e os filhos adultos. Elas são assíduas fabricantes do “Milhabrot” (pão de milho), comum na alimentação de todos os dias, bem como nos encontros, festas das comunidades. O “Milhabrot” também é comercializado em feiras em alguns municípios. 0A migração é um elemento constante no meio pomerano. A reprodução do modo de vida camponês requer, fundamentalmente, terra. Como a quantidade de terra é insuficiente para ser dividida entre todos os filhos, geralmente os mais velhos saem para novas fronteiras. Assim, a partir da década de 1970, muitos migraram para outros Estados, tais como Rondônia, Mato Grosso, Pará, Goiás e Paraná. O imaginário pomerano, desde o início da imigração, forjou uma metáfora muito expressiva, qual seja, a idéia de que se está caminhando em direção JULHO *** 73
à terra prometida, a idéia da Canaã, da “terra que emana leite e mel”. Para chegar a essa terra, o caminho é muito difícil: pobreza e sofrimento o marcam. Esse imaginário ajuda nos momentos de maiores dificuldades, pois diz que, ao final, virá a salvação. Um outro fator de destaque é a reciprocidade entre os pomeranos. Nesse sentido, o mutirão entre os pomeranos do Espírito Santo é uma prática comum. Essa prática é relatada como parte constitutiva na esfera do trabalho pelos pomeranos nos primórdios da imigração. O trabalho do mutirão sempre foi empregado nos seguintes casos: limpar cafezais e colher café (homens e mulheres), abertura de estradas na base da enxada (homens) a fim de melhorar o escoamento da produção. Não foi em vão que o pomerano, no mundo todo, foi um imigrante bem visto: trabalhador, dedicado e leal, elemento ideal para alavancar a produtividade e o progresso, inclusive cultural, da região que o acolhia. P. Geraldo Graf Adélia Lemke Graf Colatina/ES
Receita Musse gelada de negrinho com merengues Preparo do negrinho: 2 latas de leite condensado, 6 colheres (de sopa) de chocolate em pó, 20g de manteiga (1 colher de sopa rasa). Colocar todos os ingredientes em uma panela, em fogo baixo, mexendo sempre por 10 minutos. Para esta sobremesa, o ponto do negrinho deve ficar bem mole. Preparo da musse: 2 latas de creme de leite, 3 claras, 5 colheres (de sopa) de açúcar, 2 ou 3 pacotes de merenguinhos prontos. Bater na batedeira as 3 claras em neve, misturando o açúcar para dar um merengue. Misturar o negrinho e o creme de leite com o merengue preparado. Depois da mistura pronta, acrescentar o pacote dos merenguinhos prontos (se quiser, pode quebrá-los um pouco e colocar alguns inteiros por cima da sobremesa, como enfeite). Deixar na geladeira por 6 horas. Pode ser servido em bolas como sorvete ou em um prato bonito transparente de vidro. Enviado por Carole König Porto Alegre/RS 74 *** Roteiro da OASE 2009
Arquivo
Datas importantes 05 – 1872 – * Osvaldo Cruz, cientista, médico-sanitarista (+11/2/1917) Dia Nacional da Saúde 06 – 1945 – 1ª bomba atômica sobre Hiroshima, no Japão 09 – Dia dos Pais 15 – 1899 – 1º grupo de OASE em Rio Claro/SP 21 a 28 – Semana Nacional das Pessoas Portadoras de Deficiência
A G O S T O
AGOSTO O Senhor te abençoe e te guarde; o Senhor faça resplandecer o rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti; o Senhor sobre ti levante o rosto e te dê a paz. Números 6.24-26
Meditação Que Deus nos abençoe!
D
Arquivo eus pediu que Moisés transmitisse estas palavras de bênção ao povo de Israel no deserto, no caminho para a terra prometida: O Senhor te abençoe e te guarde; o Senhor faça resplandecer o rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti; o Senhor sobre ti levante o rosto e te dê a paz (Números 6.2426). Essas palavras de bênção ajudaram o povo a sobreviver diante das muitas dificuldades que enfrentaram. Essas palavras de bênção do próprio Deus são também para nós hoje. Elas são pronunciadas no final de cada culto ou em momentos em que a palavra de Deus é anunciada. Talvez nem sempre damos a devida atenção ao Teresinha Metzker seu significado e ao seu conteúdo. Apropriemo-nos dessa bênção que o próprio Deus nos concede. O Senhor te abençoe: A bênção provém de Deus unicamente. Não é uma bênção que vem de um homem ou mulher. Com essa bênção, Deus nos concede tudo o que precisamos para viver: bens materiais (saúde, comida, bebida, vestes, lar) e bens espirituais (perdão, vida, fé, paz, salvação). E te guarde: Deus quer ser nosso protetor diante de tantas dificuldades, tentações e ameaças que nos cercam diariamente, como: inveja, calúnia, orgulho, auto-suficiência, ganância, superstições etc. O Salmo 121.5-8 leva-nos a aceitar este Deus como nosso único protetor: O Se-
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nhor guardará você; ele está sempre ao seu lado para protegê-lo. O sol não lhe fará mal de dia, nem a lua, de noite. O Senhor guardará você de todo perigo; ele protegerá a sua vida. Ele o guardará quando você for e quando voltar, agora e sempre. O Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti: Resplandecer significa brilhar, brilhar muito. O rosto de Deus quer ser um brilho na escuridão da nossa vida. O rosto de Deus brilhou quando fez uma aliança com Noé, quando a estrela anunciou o nascimento do menino Jesus em Belém, quando Jesus derramou seu sangue na cruz e ressuscitou no terceiro dia. Hoje o rosto do Senhor continua resplandecendo sobre nós em nossos lares, em nosso trabalho, em nosso servir. Pode ser que nem sempre damos atenção merecida ao rosto de Deus que resplandece sobre nós. Fazemos mau uso da sua bênção, prejudicamos nossa saúde com vícios, nem sempre estamos na casa do Senhor onde seu rosto brilha sobre nós de modo especial. E tenha misericórdia de ti: Misericórdia é amar sem merecimento. Deus nos ama sem merecermos por causa dos nossos pecados, mas ele nos ama mesmo assim. Ele tem compaixão de nós. Ele nos chama ao arrependimento. Ele nos chama para nos achegar mais perto dele. O Senhor sobre ti levante o seu rosto: Deus está continuamente olhando para nós, com seu rosto erguido. Deus levanta seu rosto sobre nós para nos olhar com carinho, atenção e amor; para tomar conhecimento das nossas ansiedades, aflições e angústias. E te dê a paz: Nosso mundo carece de paz. Apesar de se falar muito em paz, fala-se somente na paz que o mundo oferece: ter um emprego, ter dinheiro, ter saúde, ter bom relacionamento com as pessoas, ser um bom cidadão, não ter guerras entre as nações. É preciso falar da paz que leva à comunhão com Deus e paz de consciência. A paz que leva ao reconhecimento dos nossos erros e a colocá-los, em confiança, diante da cruz de Cristo. É preciso confiar na graça e no perdão que Cristo conquistou por nós na cruz. Todos os dias somos abençoados por Deus. Estar vivo é uma grande bênção. Vivemos uma vida tão agitada, que não nos damos conta disso. Não paramos e não nos damos tempo para avaliar o quão importante é este viver dia-a-dia abençoados por Deus. E essa bênção de Deus nos acompanha desde o dia do nosso Batismo. Lembro que, quando criança, eu e meus irmãos, éramos em seis, nunca íamos dormir ou saíamos de casa sem pedir a bênção. Ela fazia parte de nosso dia-a-dia. Quando saíamos sem pedir ou receber a bên-
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ção, parecia-nos que faltava algo. Ainda hoje, ao sair da casa da minha mãe, ela me abençoa e diz: “Vai com Deus”. Ao recebermos a bênção de Deus no final do culto ou em outros momentos e ocasiões, sejam de nossos pais, amigos, lembremos que Deus deseja andar ao nosso lado. Quando os momentos de fraqueza e desânimo vierem nos assolar, lembremos da força, da confiança que recebemos em Deus. Confiar e ter fé tornam-nos pessoas justas, fortes e vitoriosas. Busque a bênção de Deus para sua vida. Conceda a bênção de Deus para os seus. Oração: Senhor, tu nos abençoas a cada novo dia. Faze-nos sentir essa graça em nossa vida. Agradecemos por nossa família, nossa igreja, pelo lar, pelo alimento, agasalho e amparo, pela disposição de te servir com alegria, comunhão, testemunho, vivendo comunidade viva. Agradecemos pelo consolo nos momentos tristes da nossa vida, por sentirmos que temos alguém conosco todas as horas. Faze de nós uma bênção na vida de quem precisa. Amém. Texto de Jonas Roberto Flor adaptado por Teresinha Metzker Timbó/SC
Tudo tem seu tempo Deus tem tempo. E você? O texto de Lucas 1.39-45 relata a visita de Deus por meio de um anjo. Assim, na história da humanidade, podemos ver em vários momentos que Deus se aproxima e fala com seu povo. Em todas essas visitas, podemos ver a solidariedade e o carinho que Deus tem para com seu povo. Deus tem tempo. Seu tempo é de paciência e de infinita misericórdia. Deus visita estas duas mulheres, Maria e Isabel, trazendo-lhes descendência e esperança. Maria vai ao encontro de Isabel para compartilhar com ela a alegria da gravidez e auxiliá-la em suas tarefas. E essa alegria traz comunhão, solidariedade, vida e esperança para toda a família. Isabel, uma mulher velha, desprezada por não ter filhos, sem esperanças, tem novidades e algo bom a compartilhar com a jovem Maria. O velho e o novo se encontram e trazem em seu ventre a esperança
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da bênção de Deus. Maria precisa percorrer certa distância para se encontrar com Isabel. Qual é a distância que nós percorremos para visitar uma amiga e compartilhar nossas dificuldades e alegrias? No encontro, podemos sentir que “o tempo vai passando sutilmente” quando ouvimos e somos ouvidos. O diálogo nos tem dado prova de que encontramos clareza e soluções para as nossas dificuldades. Assim, o silêncio e o meditar de Zacarias também são salutares, porque ele nos mostra que, diante da alegria ou da tristeza, podemos também silenciar. O silêncio pode trazer muito mais significado do que palavras usadas indevidamente. O relacionamento com as pessoas necessita de dedicação e tempo. As pessoas com as quais nos relacionamos são diferentes em idade, grau intelectual, financeiro, gênero, raça e necessidades. Esse relacionamento deve ter sentimento de partilha e comunhão que traz conhecimento. E esse relacionamento leva as pessoas a exercerem de fato a prática da solidariedade cristã. Na OASE procuramos exercer essa prática através da comunhão, testemunho e serviço. A OASE é um lugar onde se busca força, ânimo e esperança na comunhão com Deus e as irmãs na fé. Lugar onde se compartilham novidades, se ouve e se é ouvida. Não é lugar onde só se toma um saboroso café. Este faz parte, mas é secundário. Nesse espaço precisa haver aceitação, arrependimento e o perdão, a gratidão, a esperança, o comprometimento e a justiça restauradora. E a velha Isabel e a jovem Maria participam da história da salvação, sendo o Espírito de Deus o agente motivador. A sabedoria de Deus aponta para uma comunidade solidária que muda estruturas e pessoas que antes eram excludentes, numa proposta inclusiva, apontando para a importância de cada pessoa, em que cada qual depende do outro e todos aprendem a viver solidariedade responsável. Isso acontece onde pessoas são única e exclusivamente motivadas pelo amor de Deus. E para que isso aconteça precisamos de tempo. E longe de nós deve estar a pergunta: O que eu ganho com isso? I. Dinâmica: 1. Pense em uma amiga que é muito especial para você e que está presente no grupo. 2. Fale positivamente sobre as características dessa amiga, sem mencionar seu nome. 3. Procure sentir se essa amiga está se identificando com sua descrição ou se, eventualmente, outras estão se identificando. 4. Compartilhar os sentimentos e a validade da amizade no grupo.
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II. Sugestão: Amiga solidária 1. Formar duplas. Estas têm a tarefa de se conhecer melhor através da visitação, telefone, e-mail, cartões e outras formas de comunhão. 2. Após esse primeiro contato, cada dupla é convidada a visitar uma pessoa da comunidade (enlutada, enferma, idosa, sozinha...). 3. A dupla visita uma mulher que ainda não participa da OASE e a convida para participar no próximo encontro. 4. Cada dupla é responsável para apresentar e inserir a nova participante no grupo, de forma que se sinta acolhida e parte dele. Pª Louvani Kuhn Hirt Timbó/SC
Biografia Elfriede Ziegler Perfil de uma centenária Arquivo
Quero contar um pouco da vida de Elfriede Ziegler, nascida Schatz. Schatz, em alemão, significa tesouro. Ela foi um tesouro para a família, a OASE e a comunidade. Temos muitas saudades dela, que foi um exemplo para nós. Elfriede nasceu na Alemanha. Com vinte e dois anos veio ao Brasil para visitar um irmão que trabalhava na Mineração Eschwede. Ele Elfriede Ziegler e a filha Úrsula Neumann nos trabalhava como engenheiro nessa mineradora e residia 100 anos da OASE num pequeno povoado perto da empresa. Havia uma pequena escola no povoado, onde lecionava um professor alemão, de sobrenome Ziegler. Os dois se conheceram, casaram, e Elfriede não voltou mais para a Alemanha. Apenas, às vezes,
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como visita. Mas sempre gostava de falar da casa dos pais e da época de sua infância. Teve duas filhas, Hannelore e Úrsula. Quando Úrsula completou dois anos, nasceu o filho Wolfgang. Quando esse menino tinha apenas dois anos, o pai faleceu, e Elfriede ficou viúva, tendo que lutar para sustentar a família. Ela ainda acolheu dois sobrinhos quando a cunhada faleceu no parto. Ficou com essas crianças até que o pai delas casou de novo e foi buscar os filhos. Elfriede trabalhou por muitos anos na Casa de Hóspedes da empresa Ferteco. Sempre participou da comunidade luterana. Quando se aposentou, veio morar em Belo Horizonte e entrou com toda a sua força, seu amor e sua dedicação na vida da comunidade, principalmente na OASE. Gostava de chegar com um bolo nas mãos para as reuniões de quartas-feiras. A filha Hannelore faleceu já há algum tempo e Úrsula, tendo ficado viúva, veio a residir com a mãe, junto com seus dois filhos. Os filhos de Úrsula cresceram e casaram, vivendo agora a sua vida. Então as duas, mãe e filha, ficaram sempre juntas, participando de tudo. Viajaram para os congressos da OASE, pois gostavam de viajar e procuravam a COMUNHÃO. Assim participaram da festa dos 100 anos da OASE, em Rio Claro/SP. Elfriede, com 95 anos, foi a participante mais idosa. Foi homenageada, recebeu um presente e curtiu tudo com bastante alegria. Elfriede foi um exemplo para todos nós. Com muita atenção, participava ativamente nas reuniões e nos encontros, sempre dando sua colaboração. Já tendo completado 100 anos de idade, ela queria participar no Encontro Anual em Araras/SP. As irmãs da OASE acharam arriscado demais ficar dois dias fora e programaram um evento para ela em Belo Horizonte. Cada ano ela festejava seu aniversário. As filhas, o filho ou um sobrinho, que reside numa fazenda, faziam as festas. Os seus 100 anos foram celebrados com uma grande festa, que reuniu amigos, membros da comunidade, da OASE, com a presença da presidente sinodal da OASE. Um verdadeiro dia de louvor e gratidão a Deus. Ela tinha uma fé clara e muitas vezes falava da glória de Deus em sua vida. Gostava de cantar os hinos da infância: “Sabes quantas estrelinhas lá no firmamento estão?”. Mas o hino que ela mais gostava de cantar era “Por tua mão me guia, meu Salvador!”. Era o hino dela. Assim terminou sua vida. Deus a chamou no dia 19 de outubro de 2006. Pouco antes, em 21 de setembro, ela festejara 102 anos no círculo de seus amigos. Foi uma longa vida de COMUNHÃO, TESTEMUNHO E
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SERVIÇO. Pouco depois da mãe, a filha Úrsula também veio a falecer. Na época, ela era vice-presidente do grupo de OASE de Belo Horizonte. Lídia Fuchs Belo Horizonte/MG
Poesia Na tela da vida vou deixando minhas marcas Marcas, marcas, muitas marcas... Marcas de carro, moto, computador Marcas de ferro a vapor, do liquidificador Marcas de confecção, marcas de batom Marcas profundas no coração. Marca da dor, do sofrimento Marca da cor preferida Marca da ferida, sem medida Marca do alento, do contento Marca da pele, da vida. Marcas, marcas, muitas marcas... Marcas do parto, do nascimento Marcas duras do falecimento Marcas do lamento... Marcas do tempo. Marcas das chagas de Cristo Marcas da compaixão Marcas da ressurreição Marcas da paz e do perdão Marcas da Consolação.
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Marcas que precisamos esquecer... Marcas que precisamos compreender... Marcas que precisamos transformar... Marcas que precisamos deixar... Marcas que precisamos aceitar. Marcas, marcas, muitas marcas... Marcas dos dons especiais Marcas da beleza da criação Marcas de uma bela canção Marcas da paz no coração... Que marcas quero deixar? Que marcas precisam ficar? Que marcas desejo alcançar? Que marcas não podem faltar? Na tela da vida, vou deixando minhas marcas... Edeltraud Fleischmann Nering Rio Negrinho/SC
Arquivo
Datas importantes 01 – 1939 – Início da Segunda Guerra Mundial, na Europa 1907 – Primeiro grupo de OASE do Sul do Brasil, em Blumenau/SC 07 – 1922 – Independência do Brasil 11 – 1990 – Fundação da Comunhão Martim Lutero no Brasil 14 – 2005 – Fundação da Associação Nacional dos Grupos da OASE 20 – Dia da Escola Dominical 21 – Dia da Árvore 20 a 27 – Semana Nacional da OASE 27 – Dia do Ancião 29 – Dia de São Miguel e Todos os Anjos
S E T E M B R O
SETEMBRO Onde está o vosso tesouro, aí estará o vosso coração. Lucas 12.34
Meditação Onde está teu coração, ali está teu Deus
A
s palavras proferidas por Jesus para consolar seus discípulos foram: Onde está o vosso tesouro, aí estará o vosso coração (Lucas 12.34). Jesus estava se referindo aos bens materiais. Ele não condena os bens materiais, mas eles não devem ocupar o lugar de Deus no coração. Deus nos presenteou com tudo Arquivo que possuímos para que tenhamos uma vida digna, não só para nós. Ele quer que compartilhemos com os menos favorecidos. Deus nos deu saúde, inteligência para servir ao nosso irmão necessitado. É verdade que nossa vida muitas vezes é atropelada pela falta de tempo. Quanto mais tecnologia, menos tempo temos para os pequenos gestos: visitar uma pessoa enferma, abraçar quem está triste, dar um sorriso e um aperto de mão. Não custam nada para quem dá, mas é um tesouro para quem recebe. Quem junta tesouros apenas para satisfação própria não é completamente feliz. Os Alcida Kehl bens materiais são uma bênção, mas não quando têm como único objetivo ser acumulados e ostentados. Os bens materiais são importantes e Deus os abençoa quando cumprem sua função social, ajudando a melhorar a vida das pessoas necessitadas. Mas quem prende seu coração nas coisas materiais faz delas o seu Deus. Como disse Lutero: “Onde está teu coração, ali está teu Deus”. Há 110 anos, as mulheres iniciaram um trabalho modesto, um trabalho diaconal que ia ao encontro das necessidades das pessoas. Eram
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tempos com poucos recursos, porém o trabalho foi assumido de coração, sem esperar recompensa ou reconhecimento. Às vezes tenho a impressão que o trabalho das pioneiras tem pouca semelhança com o de hoje. As coisas terrenas são mais importantes: ter um pavilhão bonito, um coral etc. Parece que não conseguimos ver além dos muros que nos cercam, ver as necessidades básicas das pessoas, que ainda são as mesmas. O nosso coração muitas vezes está tão cheio de preocupações com emprego e família e bens materiais, que não conseguimos ver as necessidades das pessoas que nos cercam. Aquelas mulheres que há 110 anos iniciaram a OASE sabiam onde estava o tesouro ao qual Jesus se referia. E nós? Sabemos por quem o nosso coração bate mais forte? É por nosso grupo de OASE? Por nossa linda casa? Pelo coral que a OASE patrocina? Esses valores não são permanentes, são deste mundo. Jesus não condenou os bens materiais, porém eles não devem ocupar o lugar que pertence a Deus. Há 110 anos fundaram a OASE no Brasil, lançaram a semente da diaconia, da ação e oração. Abrigadas na graça, na confiança do Senhor Jesus Cristo, seguiram o seu coração e assim as ações aconteceram. A cada passo da nossa vida e do nosso grupo queremos lembrar que estamos a caminho e aproveitar o tempo que recebemos de Deus para trabalhar na sua seara como bons despenseiros para a glória de nosso Senhor Jesus Cristo. Oração: Somos teus pés, teus braços, tuas mãos, teus olhos, teus ouvidos e tua boca, nosso Pai e Senhor. Somos teu evangelho, que também as pessoas analfabetas conseguem ler: quando nossos pés se põem a caminho para ajudar o mais fraco; quando nossos braços se abrem para acolher a pessoa excluída; quando nossas mãos acariciam o ferido; quando nossos pensamentos e nossas ações promovem a paz; quando nossos olhos não se afastam da pessoa rejeitada; quando emprestamos nossos ouvidos para o angustiado desabafar; quando nossa boca denuncia os falsos deuses, consola o doente e anuncia em palavras a mensagem do teu reino, em que justiça e paz se dão as mãos. Amém! Para refletir: 1. Pelo quê nosso coração bate mais forte? 2. Quais são nossas prioridades hoje na OASE? 3. Onde está nosso coração? Diaconisa Alcida Kehl Taquara/RS
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Tudo tem seu tempo Tempo para Deus Prepare o ambiente: a) Disponha as cadeiras em forma de círculo e, no centro, organize um pequeno altar. b) Distribua pelo chão alguns objetos ou figuras que retratem aspectos a serem destacados no texto. Por exemplo: Rede de descanso = descanso Relógio = tempo Cesto de roupas = trabalho Livro de meditações/Bíblia = espiritualidade Álbum de fotografias = memória/lembrança/história Balança = equilíbrio Igreja = encontro, comunhão Gaiola aberta = liberdade X prisão Meditação dirigida Canto de acolhida a) Forme um círculo de mãos dadas. Convide para que olhem umas para as outras. Observem quem está presente, quem está faltando, a expressão de cada rosto – alegria, cansaço, desânimo, preocupação, agitação, serenidade. b) Fechem os olhos, percebam os sons que há no ambiente. Sintam as mãos da pessoa que está a seu lado – estão frias, quentes, calmas, trêmulas? c) Inspirem profundamente, soltem o ar bem devagar. Sintam o ar entrando, passando por todo o seu corpo. Soltem o ar lentamente. Inspirem, respirem. Sintam esse processo do ar se renovando, revigorando cada célula, cada pedacinho de você. Percebam o sopro da vida, o sopro de Deus colocando seu corpo em movimento, sussurrando no ouvido o quanto a vida é muito mais bela, mais leve, mais fácil quando vivida em comunidade. c) É por isso que estamos aqui. É por isso que hoje podemos parar. Porque queremos ouvir o que pulsa dentro de nós, o que pulsa à nossa volta, sobretudo o que pulsa como desejo de Deus a nós.
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O salmista diz: Ele está perto dos que estão desanimados e salva os que perderam a esperança (Salmo 34.18). Eu sempre louvarei ao Deus Eterno, em todos os momentos o seu louvor estará nos meus lábios (Salmo 34.1). d) Assim Deus nos abençoe com sua presença entre nós. Vamos abrir os olhos, olhar para quem está ao nosso lado, dar um grande abraço e dizer: Que bom que você veio. É muito bom ter esse tempo com você. Canto: Amanhecer Aproximando-se do texto Caminhar pela sala e observar os objetos expostos. Aproximar-se de algum objeto e permanecer ao lado dele a fim de formar pequenos grupos. Caso o grupo seja pequeno, é possível agrupar objetos que expressem situações opostas, por exemplo: rede e cesto de roupas. Pequenos grupos Conversar sobre o objeto, compartilhando idéias. – Por que esse objeto chamou sua atenção? – Que sentimentos e lembranças ele evoca? – Qual o lugar que ele ocupa em sua vida? Momento de partilha Escolher uma pessoa de cada grupo para compartilhar com as demais a reflexão realizada. Leitura de Deuteronômio 5.12-15 a) Leia com o grupo duas ou três vezes o texto para o estudo. Depois, conversem sobre: – De que o texto está falando? – Que situação esse mandamento quer mudar? – Quem está sendo beneficiado com esse mandamento? – O que significa a palavra lembrar nesse contexto? O que deve ser lembrado neste dia e por quê? b) É possível fazer uma relação do que a pouco foi compartilhado com o texto lido? Aprofundamento do tema No livro de Deuteronômio encontramos os discursos de Moisés dirigidos ao povo de Israel quando esse estava prestes a entrar na terra
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que Deus lhe havia prometido. O capítulo 5.12-15 faz parte de seu segundo discurso, e o conteúdo é uma repetição dos Dez Mandamentos. Estamos falando especificamente do Terceiro Mandamento, de guardar o dia de descanso como um dia santo (v. 12). Diz a Bíblia que, durante muitos anos, os israelitas viveram como escravos no Egito. Lá sofreram sob um sistema de trabalho forçado imposto pelo faraó. Cansados e abatidos, no limite de suas forças, os israelitas invocaram o Senhor. Assim diz o livro do Êxodo: Decorridos muitos dias, morreu o rei do Egito; os filhos de Israel gemiam sob a servidão e por causa dela clamaram, e o seu clamor subiu a Deus. Ouvindo Deus o seu gemido, lembrou-se da sua aliança com Abraão, com Isaque e com Jacó. E viu Deus os filhos de Israel e atentou para a sua condição (Êxodo 2.2325). Moisés, então, foi escolhido por Deus para libertar o povo da casa da servidão. E assim ele o fez: tirou os israelitas da escravidão e os conduziu rumo à liberdade, rumo à terra que Deus lhe dera como propriedade. Temos aqui duas realidades opostas que fundamentam a relação que se estabelece entre os destinatários dos mandamentos e Deus: antes havia a escravidão, agora reina a liberdade. São duas vontades que se encontram: a do povo libertado e a do Deus libertador. Ambos desejam a liberdade. E é com esse propósito que Deus entrega os mandamentos. Não como leis que devem ser seguidas cegamente, mas como princípios que garantirão a vida em liberdade. Portanto a aliança que Deus propõe se destina à construção de uma nova sociedade, não mais fundamentada na submissão, mas na liberdade para o diálogo e a comunhão. Será uma relação de Pai e filhos que se amam, se conhecem e se querem bem. Na peregrinação pelo deserto o povo fará o ensaio dessa aliança. O deserto será o local onde o povo deverá aprender a se organizar e amadurecer a vida em liberdade. É o que qualquer situação de mudança exige: adaptação à nova realidade, em outras palavras poderíamos chamar de conversão. Uma realidade para a qual o povo é chamado a caminhar sob a luz da palavra de Deus. Dia e noite Deus vai orientando os passos de Israel a fim de ajudá-lo a vencer o cansaço, o desânimo e a vontade de querer voltar atrás. Na nova realidade, de peregrinação pelo deserto, o sábado, o dia de descanso, será a chave que dará sentido à vida do povo. Pois esse marcará a passagem de uma vida escrava para uma vida livre. Parar no meio do deserto para celebrar, para relembrar os grandes feitos de Deus e assim manter viva a fé do povo. Recordar continuamente a aliança ajudará o povo a manter-se comprometido com a liberdade concedida.
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Será um tempo de encontro com Deus e com os outros. Reservar um dia por semana ao Deus da aliança, ao Deus amoroso, será uma forma de refazer as forças para resistir às provações do deserto e não cair na tentação de novamente tomar o rumo para a escravidão. Além de ser um tempo para recuperar as forças físicas, o sábado era um tempo que pertencia a Deus. Assim, além de se ocupar consigo mesmas, com a família e o lazer, as pessoas eram convidadas a tornar presente essa liberdade que Deus lhes concedera ao tirá-las do Egito. Faziam isso refletindo sobre o agir de Deus na história de suas vidas. Através do culto de louvor, reconheciam seus erros, manifestavam arrependimento e davam sua resposta ao Senhor. Com a prática do Terceiro Mandamento o povo de Deus teve muitas experiências de liberdade. No entanto, com o passar dos anos, o que era uma simples oportunidade de repouso tornou-se uma grande preocupação: O que afinal é lícito fazer no dia do Senhor? Muitas leis foram sendo criadas para regulamentar as funções que poderiam ser realizadas nesse dia. O resultado foi desastroso. O mandamento deixou de ser um benefício para o povo e passou a ser uma obrigação religiosa. No cumprimento desse mandamento, que iniciava ao entardecer da sexta-feira e estendia-se até o anoitecer do sábado, todas as atividades que pressupunham trabalho humano e animal deveriam parar. Incluída nessas atividades estava a assistência às pessoas doentes e necessitadas de ajuda. Jesus denuncia o que os escribas e fariseus fizeram com a lei de Deus e, através do seu agir e dos seus ensinamentos, mostra que o mandamento deve estar a serviço da vida. Num sábado, ele permite que os discípulos colham espigas de milho para saciar a fome (cf. Mateus 12.1-8), cura enfermos (cf. João 5.8-18) e assim mostra que as necessidades das pessoas estão acima de qualquer lei. Resgatando a verdade do sábado, Jesus afirma: O sábado foi feito para servir as pessoas, e não as pessoas para servirem o sábado (cf. Marcos 2.23-28). Santificar o dia de descanso tem a ver com desprender-se de valores e leis que dificultam relacionamentos, impedem a comunhão, tolhem nossa liberdade de pensar, de amar, de compartilhar. Santificar o dia de descanso passa pela capacidade de parar para ouvir o que pulsa dentro de nós, o que pulsa à nossa volta, mas, sobretudo, para ouvir o que Deus tem a nos propor. A palavra de Deus é transformadora, é libertadora, é orientação para um caminhar seguro em direção à vida e à liberdade. Por isso colocar-se aos pés de Jesus para ouvir seus ensinamentos jamais será tempo perdido, antes uma parada obrigatória para quem quiser recarregar as energias e
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dar continuidade à vida, em meio a todos os percalços, na certeza de não se sentir sozinha. Pois assim somos chamadas e capacitadas a testemunhar um Deus libertador, por meio da comunhão que nos une, do evangelho que nos fortalece e do serviço que nos dignifica. Pª Carmen Michel Ziegler São Leopoldo/RS
Missão Projeto missionário Sul do Pará Com a agilidade em que a tecnologia hoje avança e a rapidez com que tudo está à nossa mão, basta apertar um botão, somos flagradas a pensar, que ultrapassa nossa limitada compreensão: não devemos esquecer que para o Senhor um dia é como mil anos, e mil anos como um dia (2 Pedro 3.8). Facilmente esquecemos que as medidas humanas do tempo e das coisas não são as mesmas de Deus. Ele tem o tempo certo para cada coisa. Hoje somos desafiados a seguir o chamado do Senhor no tempo presente, onde quer que estejamos. Certo dia, estávamos no distrito de Castelo de Sonhos (na noite anterior estivemos reunidos em culto), andando com nossas bicicletas missionárias, e fomos informados que o ônibus chegaria de Novo Progresso (a 160 km) às 17h aproximadamente, pois não tinha atoleiro naquele dia. Fomos até a rodoviária e, então, meu marido levou as bicicletas até a casa de uma família luterana a poucas quadras dali. Chegando lá, não havia ninguém em casa. Ele pensou: “Vou deixar essas bicicletas do lado de dentro da cerca de balaustre e lá da rodoviária, enquanto o ônibus não vem, eu ligo do orelhão avisando o casal, apesar de que eles já devem conhecer essas bicicletas, já nos viram andando com elas”. Quando ele chegou à rodoviária, me contou o fato. O ônibus, nessa altura, já estava atrasado em uma hora. Ele se dirigiu ao orelhão a fim de ligar para o casal. Surpresa: o telefone não estava funcionando. Ficamos sabendo que nenhum orelhão estava funcionando. Comentamos: logo vem o ônibus e não dá para voltar na casa do casal. Decidimos que, quando chegarmos a Cachoeira da Serra (01h10min de viagem, 40 km), ligaríamos para eles.
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Pois é, o ônibus não atolou, mas teve problemas mecânicos no caminho, no meio do mato, sem comunicação, e só conseguiu chegar às 20h30min; mais meia hora de janta e partimos. Quando chegamos a Cachoeira da Serra, em nossa casa, constatamos que nosso telefone estava com problema. No dia seguinte, ficamos sabendo que o problema se repetia em todo o distrito, e o restabelecimento do serviço se daria o mais rápido possível (levou 10 dias). Aqui em Cachoeira ficamos bastante ocupados com nossos afazeres e, na semana seguinte, fomos a Novo Progresso (200 km) e São José (270 km até assentamento). Enfim, as nossas andanças nos fizeram esquecer as “magrelas”. Duas semanas depois, um dia antes do culto em Castelo de Sonhos, lembramo-nos das “magrelas”. Então disse ao Cleomar: “Acho que eles jogaram nossas bicicletas no caminhão do lixo”. Ele ligou para o casal e ria muito, muito mesmo, enquanto falava. Eu estava muito curiosa. Quando ele desligou o telefone, disse: “As bicicletas estão na delegacia”. Rimos muito. O casal não reconheceu nossas bicicletas, e um vizinho tinha dito que um homem branco, alto, de óculos, havia deixado as bicicletas ali e fora embora. Com medo de que elas fossem frutos de roubo (o desemprego devido ao fechamento de madeireiras trouxe miséria para a população do distrito), no dia seguinte, resolveram se desfazer dos objetos da maneira mais cabível para a situação: ligar para a polícia. Os policiais vieram e recolheram as bicicletas. No dia seguinte, fomos para Castelo e meu marido se apresentou ao policial da portaria fazendo um breve relato do acontecido e provocando riso no policial. De volta, após calibrar os pneus, estamos prontos para pedalar novamente. Durante nossa vida, em nosso dia-a-dia, ficamos absortos pelos afazeres e, muitas vezes, nos atrapalhamos. O tempo passa, tornandonos distantes de Deus, que deveria estar no centro de nossas vidas e conduzindo-nos em harmonia em todas as coisas para a glória dele. Queremos também falar um pouco do Projeto Missionário Sul do Pará desde seu início. A Paróquia de Matupá desenvolve esse projeto devido às grandes distâncias entre uma extremidade e outra, totalizam 510 km, o que impedia que se fizesse um trabalho consistente. As cidades do Pará ficavam desfavorecidas, pois, além da distância, as estradas não são asfaltadas, dificultando ainda mais a locomoção, principalmente nas épocas das chuvas. Apenas um culto a cada três meses não supria a necessidade dos membros que residem nessa localidade. Então veio o diácono Geraldo Braun, enviado pela igreja para acompanhar mais de perto essas SETEMBRO *** 91
pessoas. Mas, após algum tempo, aproximadamente dois anos, ele ficou gravemente doente. Com a ajuda de membros locais, ele pôde iniciar um tratamento na cidade de Sinop (400 km daqui), onde passou a residir e a ser acompanhado mais de perto. Por aconselhamento médico, ele pediu licença do ministério e hoje está no Espírito Santo, se recuperando junto com seus familiares. O projeto, desde seu início, conta com a ajuda financeira vinda de parcerias OASE – OGA – Legião Evangélica. Essa parceria, iniciada em 2005, teve como objetivo auxiliar enquanto o projeto estava em fase inicial e se estenderia por um período de três anos, mas, devido à ausência do diácono, o projeto foi encerrado e reiniciado em agosto de 2007, sendo novamente estabelecido um período de três anos. Os trabalhos foram retomados em setembro de 2007, quando cheguei com meu marido. O distrito de Cachoeira da Serra está distante 1.100 km da sede de seu município, Altamira, o maior município do mundo (sua extensão dá quase duas vezes o Estado de Santa Catarina) e está cerca de 120 km de distância da divisa com o norte do Mato Grosso. É aqui que estamos, privilegiadamente a 1 km do rio Curuá, um rio com belas cachoeiras e grandes peixes. Atualmente o pacato distrito está com uma movimentação maior devido à construção de uma usina hidrelétrica na cachoeira do rio Curuá, dista 20 km. Pessoas vêm de longe para trabalhar nessa construção. Quem entra no Estado do Pará logo pode apreciar as altas árvores da Floresta Amazônica. Há poucas cidades e moradias ao longo da BR. As pessoas organizam-se nas cidades e nos distritos que foram surgindo ao longo dos anos com a chegada de pessoas vindas de várias regiões do Brasil, principalmente da região Sul e também do Paraguai. As pessoas aqui são simples e buscam viver conforme o que aprenderam e continuam a aprender. Há cerca de um ano, contam com a televisão para informação e entretenimento, pois a energia elétrica a motor já chegou. Aqui em Cachoeira da Serra estamos mais presentes na vida dos membros da comunidade, pois residimos numa casa cedida por um membro. Os cultos são realizados uma vez por semana, todos os domingos, geralmente de manhã, num horário em que o leite já foi ”tirado”. As pessoas, nesses momentos, aproveitam para conversar sobre assuntos da semana. A OASE, por ser um trabalho importante em toda a estrutura da igreja, tem sido uma de nossas preocupações aqui. Com algumas tentativas frustradas, foram iniciados encontros com as mulheres, mas alguns
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obstáculos têm se destacado, como o trabalho de cada uma e as grandes distâncias. Após um longo tempo sem reuniões do grupo, reiniciamos com vontade de continuar e dedicar os dons que Deus tem dado a esse grupo para edificar a igreja neste lugar. Mesmo assim, as mulheres sempre estiveram presentes em trabalhos no culto infantil e no ensino confirmatório. Ainda estamos conhecendo a região e a cultura das pessoas neste lugar, onde o planejamento e a pontualidade não são muito reais devido a fatores naturais, como chuva e distância. Esses fatores são as maiores dificuldades que enfrentamos, juntamente com a falta de um automóvel. A locomoção para Castelo de Sonhos, Novo Progresso e São José depende de quando o ônibus vem, quando não quebra ou fica preso em um atoleiro. Mas, mesmo em meio a esses obstáculos, não temos falhado nenhum dos compromissos assumidos com antecedência. Ficamos motivados quando vemos pessoas interessadas e crescendo na fé – o que nos impulsiona a ficar nesta região e levar o evangelho a pessoas que, sedentas, querem crescer na fé. Agradecemos a Deus pelas experiências que ele tem nos permitido viver neste lugar e ficamos felizes pelas transformações percebidas nesses meses. Somos imensamente gratos pelo apoio financeiro que o projeto tem recebido, agradecemos a cada pessoa engajada para que esse recurso não nos falte, pois tem sido fundamental para que pessoas aqui ouçam o evangelho. Miss. Rosimere Maria Ramlow Becker Cachoeira da Serra/PA
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Arquivo
O U T U B R O
Datas importantes 06 – 1930 – Fundação da OASE do Rio Grande do Sul 09 – 1905 – Fundação do Sínodo Ev. Luterano de SC, PR e outros Estados 12 – Dia da Criança 15 – Dia do Professor 25 – 1968 – Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil (fusão dos Sínodos) 1945 – Dia da ONU 26 – 1949 – Fundação da Federação Sinodal 31 – Dia da Reforma
OUTUBRO Deus diz: Dar-lhes-ei um só coração, espírito novo porei dentro deles; tirarei da sua carne o coração de pedra e lhes darei coração de carne. Ezequiel 11.19
Meditação Coração novo
F
azia parte do ministério do profeta Ezequiel consolar os arrependidos e formar entre eles um grupo que um dia voltaria a Jerusalém, destruída por causa da desobediência do povo, para reedificá-la, segundo a vontade divina, como sede política e religiosa de um verdadeiro povo de Deus. Mas como convencer um povo a se unir em torno de tal tarefa? Empenhar-se para construir algo novo? Como ser fiel às palavras de Deus? Talvez essas e outras questões passaram pela mente de Ezequiel. Deus tinha mensaArquivo gens para Ezequiel transmitir ao povo. Ele não o deixa só, assegura-lhe que estaria em sua companhia, pois estava interessado em que o povo aprendesse a lição e esperasse com alegria a futura restauração e reedificação de Jerusalém. E mais, ele diz: Eu lhes darei um coração novo e uma nova mente. Tirarei deles o coração de pedra, desobediente, e lhes darei um coração humano obediente. Deus prepara o caminho e acompanha Ezequiel.
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Coração: órgão muscular, agente principal da circulação do sangue. Fonte de todas as energias físicas, emocionais, intelectuais, volitivas e morais. No coração se originam impulsos impenetráveis, além de sentimentos, disposições e desejos conscientes. O coração é o centro da percepção e do entendimento. Diariamente ouvimos muitas frases a respeito do coração: “Vou fazer das tripas o coração” – presume-se que envolve um grande esforço; “você quase me mata do coração” – entende-se que houve um grande susto; “vou abrir meu coração” – compartilhar com alguém aquilo que lhe é importante; “você tem um coração de ouro” – é dito para pessoas bondosas, compreensíveis. E o que seria ter um coração de pedra, conforme cita o texto? E o que quer dizer: darei um coração de carne? Estaria Deus falando de algum tipo de transplante de coração? Ezequiel estava diante de um povo que idolatrava vários deuses. Estavam cegos e com a mente fechada para o que vinha de Deus. Triste era o estado desse povo, que deliberadamente se negava a aproveitar suas capacidades de enxergar e escutar e estava desligado de suas percepções espirituais. Nessa situação, era necessário romper com a teimosia, desvelar o que estava obstruindo a passagem da luz divina. Renovar a mente, ou seja, deixar novos pensamentos penetrarem para tornar consciente a vontade de Deus, alertar para a responsabilidade. Substituir o coração de pedra por um coração de carne significava devolver ao povo sua humanidade, ajudá-lo a recuperar o desejo de servir ao Deus Criador, de ficar em comunhão com ele. A promessa de Deus foi com certeza fonte de motivação para que Ezequiel tivesse em seu coração a confiança e a coragem para auxiliar o povo a resgatar a esperança, de saber-se acolhido graças à misericórdia e ao inesgotável amor de Deus pela humanidade. E na atualidade, como anda o coração humano frente a um mundo acelerado, individualista, consumista por excelência? Será esse coração também de pedra e carente de renovação? Aos cuidados de quem o ser humano está entregando seu coração e sua mente? São questões pertinentes nestes tempos de cultura materialista, onde o humano é por vezes robotizado, tornando-se frio, insensível, com o coração vazio. Pensar neste mundo caótico, de ritmo acelerado, é encontrar o ser humano destituído e desamparado, carente de orientação, em busca de sentido de vida. É encontrar um ser humano mergulhado na solidão, embora esteja muitas vezes cercado de uma multidão.
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A solidão é responsável pelo desespero e parece estar em toda parte. A solidão na multidão pode vir da indiferença, da falta de compreensão, da aceitação. Apesar da proximidade física, a distância emocional tem dificultado os relacionamentos, tornando o ser humano cada vez mais frio e superficial, racional por excelência, quase “sem coração”. É urgente ajudar o ser humano a conscientizar-se da sua essência. Ajudá-lo a resgatar o seu valor como pessoa única. Resgatar seu sentido de vida. Motivá-lo a aceitar-se como humano, cheio de acertos, erros, belezas, fraquezas. Cheio de possibilidades. Um ser em construção. É nesse humano que Deus continua interessado. É no coração de toda a humanidade que Deus quer habitar. É o coração humano que Deus deseja esculpir, redesenhar, quebrar e reconstituir. Como povo cristão, somos chamados e chamadas a ajudar quem nos cerca a quebrar o coração de pedra e torná-lo dócil, aquecido, profundamente humano. Todos têm necessidade de encontrar corações que sabem repartir a dor, partilhar prazeres e propagar louvor, para que o vazio que por vezes habita o coração seja preenchido com amor, solidariedade, compaixão. Para que se tenha um coração sadio é necessário não somente uma alimentação saudável, exercícios físicos, ter bom sono. É necessário abrirse para que Deus habite nesse coração, para que o oxigênio da fé perpasse todo o corpo, sare as feridas, desobstrua os canais da intolerância, do comodismo, da falta de sentido, revigorando e fortalecendo a vida. A começar em mim: quebra meu coração... A começar em mim: renova minha mente, para que, começando por mim, outros corações vibrem rendendo louvores a Deus que, em Cristo, nos dá a oportunidade de ter um coração renovado. Para reflexão: 1. Como está seu coração, física e emocionalmente? 2. Há algo que esteja impedindo você de ter um coração alegre? 3. O que deixa seu coração “pesado”? 4. O que tem feito para compartilhar suas dores e aflições? 5. Tem cuidado de sua saúde de maneira integral? Distribuir folhas e pedir que escrevam ou desenhem tudo o que lhes causou mágoas, sofrimento, dores durante a semana. No verso da folha, escrever sobre situações que causaram alegria, conforto, esperança. Enquanto escrevem, pode-se colocar uma música suave como acompanhamento.
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Colocar as folhas escritas diante de um pequeno altar, preparado anteriormente, entregando simbolicamente esses sentimentos nas mãos de Deus, e orar: Fiel Senhor, início, meio e fim. Dou-te graças porque me acompanhaste até aqui. Realizações obtidas foram presentes teus. Em dias escuros, tua luz me iluminou. Quando tive que carregar pesados fardos, tu me deste a força que me faltava. Diante da tua sabedoria e bondade, eu silencio. Quando meu coração fica inquieto, fixo meu olhar em tua graça e confio. (Oração extraída de: Parabéns a Você. São Leopoldo: Sinodal, 2003. p. 2.) Edeltraud Fleischmann Nering Rio Negrinho/SC
Tudo tem seu tempo Espaço para trabalhar, para descansar e festejar Não faz muito tempo que falei com o sr. Artur, um empresário aposentado. Perguntando como se sente, ele respondeu: – Estou bem. Durmo quando quero. Dou uma volta no parque quando tenho vontade. Falo com meus amigos sem marcar hora. Assisto TV. Ajudo na cozinha. Vou para a praia. Faço tudo que sonhava em termos de descansar. Mas, mesmo assim, não estou tão feliz quanto quando vivia no estresse dos compromissos na minha fábrica. – Quer dizer, então, que o Senhor não se sente realizado na condição de aposentado? – É. Faltam-me os desafios. Carrego comigo um sentimento de inutilidade. A minha vida se tornou monótona. Quando era jovem, sempre faltou tempo para tudo. Agora há tempo de sobra para tudo. A gente não tem mais meta. Acho que por isso me tornei um rabugento. Nunca briguei tanto com a minha mulher como agora. No início da minha aposentadoria foi uma maravilha: viver sem tempo. Sem compromisso. Sem
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correria. Mas isso cansou logo; agora é preciso achar um novo ritmo, fixar metas e – com toda essa folga – ter horários para tudo, senão a vida de aposentado não é nada agradável. Esse diálogo espelha a situação de muitos aposentados. E dessa experiência pode-se tirar muitas conclusões. Primeira: O tempo para todos é igual, tanto para jovens como para aposentados e idosos. Dependendo como se preenche esse tempo, somos frustrados ou nos sentimos realizados. Segunda: Uma vida sem meta se torna facilmente uma chatice e contribui para a acomodação. Terceira: O planejamento não é apenas uma questão administrativa e, sim, uma forma de organizar seu tempo. Quarta: Ninguém vive só de chocolate e sobremesas. Quinta: Para fugir da mesmice no decorrer do ano é preciso colocar acentos em forma de festas etc... 1. Não tenho tempo para nada. Volta e meia pode-se ouvir esta frase: Não tenho mais tempo para nada! Ela expressa frustração e resulta de uma vida atropelada. Todos nós temos 24 horas por dia à nossa disposição. O que fazemos durante esse espaço de tempo? Há um compromisso que não podemos ignorar: a necessidade de descansar e dormir. Há outro compromisso que devemos honrar: é o tempo que passamos trabalhando profissionalmente na fábrica, no campo, no escritório ou na sala de aula, na qualidade de aluno ou de professor. Um campo vasto para se gastar tempo é o convívio na família e na igreja. E, além disso, querendo cultivar amizades, passamos tempo em atividades esportivas, no clube, em cursos alternativos, cultivando passatempos. Aí vem os apelos para se engajar na política e os convites para participar de atividades voluntárias em associações filantrópicas. Quem quiser participar de tudo vai concluir: Não tenho tempo para nada. Aliás, você tem 24 horas por dia. Essa é a única riqueza que todos os seres humanos têm na mesma proporção, sem distinção de raça, cor, idade, sexo, formação, classe. A questão é o que fazer nesse espaço de tempo, como preenchê-lo para a gente viver uma vida feliz? 2. Uma vida sem meta é uma chatice e contribui para a acomodação. Quem se mete no deserto sem bússola corre o perigo de andar em círculos. Para chegar ao destino desejado, os navios antigamente se orientavam pelas estrelas. Qual será o norte da sua vida, qual a meta a ser alcançada? A tarefa dos pais é dar todo o possível para que os filhos
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recebam a formação escolar e a respectiva educação para serem capacitados a enfrentar a vida com todos os seus desafios. Vivendo com os colegas e amigos na escola, na atividade esportiva, no trabalho, na igreja, os jovens recebem estímulos e trocam idéias sobre suas aptidões e começam a sonhar com objetivos profissionais, namorar e ter uma família. No entanto, enquanto não conseguem se decidir e articular metas para sua caminhada, ficam boiando na incerteza e correm o perigo de andar em círculos e se perder. Nessa altura, facilmente aprontam, experimentam drogas e se perdem em ocupações que lhes prometem a ilusão de serem felizes. Mas essa felicidade tem vida curta porque é resultado de uma anestesia artificial. 3. Planejamento e avaliação. Projetar metas significa agendar tarefas, medir o tempo e avaliar, de vez em quando, a caminhada feita e os recursos aplicados. Quem tem metas e sabe o que quer fazer com sua vida, obrigatoriamente haverá de fazer um planejamento, isto é, terá que colocar prioridades e formular objetivos para alcançar as metas. Os nossos sonhos têm que ser vestidos de trabalho, senão ficamos nas nuvens. É valido o pensamento de Peter Bamm (escritor alemão): O que realmente importa na vida não são os objetivos a que nos propomos, mas os caminhos que seguimos para alcançá-los. 4. Há 43 anos, a minha esposa e eu chegamos ao Brasil para assumir um pastorado, no contexto de parceria entre a IECLB e a Igreja Evangélica da Alemanha. Naquela época, viajar de avião custava muito dinheiro. Por isso recebemos passagens para cruzar o oceano no navio. Levamos 14 dias para chegar ao Rio de Janeiro. Nunca vou esquecer essa viagem. A comida foi de primeira. A nossa cabine não deixou nada a desejar. Houve uma oferta rica de atividades para passar o tempo, jogos de mesa, piscina, tiro ao alvo e noite dançante. Mas não levou uma semana e a gente tinha vontade de comer comida caseira, de ter chão firme abaixo dos pés e de sair da monotonia da vastidão do mar. Vida é mais do que saborear, todos os dias, sobremesa e chocolate em substituição ao alimento diversificado. A busca por objetivos na vida inclui luta, sofrimento, alegria (por etapas vencidas), esforço, sacrifício e dedicação. Não adianta esperar até que a grande sorte da felicidade bata em nossa porta. Søren Kierkegaard (filósofo dinamarquês) disse uma vez: A vida só pode ser compreendida olhando-se para trás; mas só pode ser vivida olhando-se para frente.
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5. Colocar acentos em forma de comemorações e festas. O ser humano foi privilegiado com o dom da inteligência. Ele recebeu também a capacidade dos sentimentos e das emoções. Muitas coisas e acontecimentos em nossa vida são irreversivelmente registrados em nossa memória porque receberam um acento especial num contexto emocional que mexeu conosco, por exemplo o dia do aniversário. Pais fazem questão de festejar – às vezes até de forma exagerada – o primeiro aniversário de seus filhos. No segundo aniversário, a criança já sabe que está no centro das Arquivo atenções. E a canção “Parabéns pra você...” já está gravada na memória da criança. Pois toda a vez que alguém festeja aniversário, ela acompanha a festa como se fosse festa sua. E sempre que ela tem momentos alegres, canta: Parabéns pra você... Há comunidades que no contexto da Missão Criança oferecem cultos especiais para crianças, comemorando o dia do seu Batismo. Esses são momentos que contribuem positivamente para o desenvolvimento da criança em termos de fé e vida. O mesmo vale para o dia da confirmação, o casamento, as datas de jubileu, seja do enlace matrimonial seja do aniversário, a inauguração da própria casa, a formatura e assim por diante. Pobre a pessoa que não valoriza isso ou não aprendeu a festejar dignamente e a comemorar datas ou acontecimentos importantes na vida. Festas na vida são como oásis no deserto da mesmice do dia-a-dia. Por que será que os Dez Mandamentos proporcionam uma atenção especial ao descanso (Terceiro Mandamento)? É porque a nossa vida é cíclica. Somente conseguimos trabalhar para valer se proporcionarmos o tempo necessário ao descanso. A palavra de Deus insiste em termos um ritmo de seis dias de trabalho, sendo seguido por um dia para descanso. Para ter tempo para refletir, para nos divertir e fazer tudo que nos ajude para a nossa higiene mental, cultivar amizade e para nos lem-
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brar que a nossa vida é uma dádiva de Deus que devemos administrar com responsabilidade. Devemos levá-la como uma resposta ao amor de Deus, que nos criou à sua imagem. Para que esse relacionamento nunca seja esquecido, o povo de Deus reúne-se nos cultos, em reuniões de estudos bíblicos, em retiros, para se lembrar das obras de Deus. Para louválo, adorá-lo, para orar e interceder e, sobretudo, para ter comunhão e se fortificar mutuamente na caminhada da vida. P. Friedrich Gierus Blumenau/SC
Pare e pense O rio e o oceano Diz-se que, mesmo antes de um rio cair no oceano, ele treme de medo. Olha para trás, para toda a jornada, os cumes, as montanhas, o longo caminho sinuoso através das florestas, através dos povoados, e vê à sua frente um oceano tão vasto, que entrar nada mais é do que desaparecer para sempre. Mas... não há outra maneira. O rio não pode voltar. Ninguém pode voltar. Voltar é impossível na existência. Você pode apenas ir em frente. O rio precisa se arriscar e entrar no oceano. E somente quando ele entra no oceano é que o medo desaparece. Porque apenas então o rio saberá que não se trata de desaparecer no oceano, mas tornar-se oceano. Por um lado, é desaparecimento e, por outro lado, é renascimento. Assim somos nós, voltar é impossível na existência.Você pode ir em frente e se arriscar. Coragem, torne-se oceano. Autor desconhecido Enviado por Helga Schünemann Panambi/RS
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Arquivo
Datas importantes 01 – Dia de Todos os Santos 02 – Dia de Finados 10 – 1483 – *Martim Lutero, Reformador (+18/2/1546) 15 – 1889 – Proclamação da República 19 – Dia da Bandeira 20 – Dia da Proclamação dos Direitos da Criança (ONU) 25 – 1843 – *Dr. Wilhelm Rotermund, fundador do Sínodo Riograndense (+5/4/1925) 29 – 1° Domingo de Advento
N O V E M B R O
NOVEMBRO Se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também Deus, mediante Jesus, trará, em sua companhia, os homens que dormem. 1 Tessalonicenses 4.14
Meditação Acordar para a vida eterna
N
a Idade Média, era comum os reis empregarem em seus palácios um palhaço, chamado de “bobo da corte”, cuja função era distrair com pilherias e anedotas a casa real. Um certo “bobo da corte” contava suas histórias e fazia rir os membros da casa real de tal maneira que o rei o condecorou, entre estrondosas gargalhadas, com um boné feito de pano de diversas cores, enfeitado de guizos, com as seguintes palavras: “Se achar em meu país um homem mais bobo do que tu, entrega-lhe este boné”. Depois de muito tempo, chegou o dia em que o rei adoeceu gravemente, sem esperanças de cura. Todos se despediram dele. Por fim também veio o “bobo da corte”, com o boné debaixo do braço. – Majestade, disse ele, o senhor tem que fazer uma longa viagem, não é? – Eu sei, suspirou o rei, eu tenho que morrer. – Majestade, continuou o “bobo da corte”, o senhor já se preparou para a viagem que vai empreender? Dizem ser muito longa. – Para dizer a verdade, disse o rei, eu sempre tinha tanto que fazer, cuidar das jóias da coroa, as festas do reino, as conquistas etc., que nunca pensei na eternidade, por isso não me preparei. – Mas Vossa Majestade não sabia que teria de fazer essa viagem? Perguntou mais uma vez o “bobo da corte”. – Naturalmente, respondeu o rei, todos nós temos que fazê-la, mas nunca me preveni. Então o palhaço tomou seu boné e entregou ao rei dizendo: – Vossa Majestade é mais bobo do que eu. Um dia farei essa viagem. Já tomei todas as precauções para que nada falte. O senhor sabia que ia partir e não se preparou. É seu o boné. Disse e se retirou.
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O “bobo da corte” não tinha razão? Não é certo refletir sobre essa “longa viagem”? Onde estaremos daqui a 100 anos? Uma coisa é certa: não neste mundo. Mas onde então? Uns dizem que depois da morte termina tudo. Pensam que o ser humano deixa de existir. Porém a consciência se revolta contra essa opinião. Ela registrou durante toda a vida os débitos e créditos e por isso exige um balanço final na eternidade. Outros acreditam que todos se encontrarão novamente no além. Mas a palavra de Deus afirma que o “joio será separado do trigo”, ou seja, o injusto será apartado do justo, o ímpio do fiel. A Bíblia diz claramente que muitos estarão “fora”, nas trevas e na perdição, que a morte é eterna. “Morte” no sentido bíblico significa separação. A morte corporal separa a alma do corpo. A morte espiritual separa a alma de Deus. A Bíblia também diz: Se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também Deus, mediante Jesus, trará, em sua companhia, os que dormem (1 Tessalonicenses 4.14). Outra maravilhosa mensagem da Bíblia é que a morte foi vencida por Jesus! O Salvador afirma que todo aquele que nele crê tem a vida eterna. Os corpos ressuscitarão quando a voz de Deus os chamar. E aqueles que se entregaram a Jesus terão a eterna comunhão com Deus. Toda separação, todos os pecados foram eliminados por Cristo. “Vida” significa “união”. A vida eterna é a constante união com Deus. Quem escolheu Jesus como seu Senhor tem a vida eterna. Jesus disse: Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e todo o que vive e crê em mim, não morrerá eternamente (João 11. 25, 26). Então, queridas irmãs, vamos nós cada vez mais espalhar essa boa-nova da vida eterna e que cada vez mais dediquemos nosso tempo para louvar e engrandecer os feitos do nosso Senhor. Como nós OASE desempenhamos nosso papel de levar a mensagem do viver eternamente a nossas irmãs? Dedicamos suficientemente nosso tempo para divulgar a grandiosidade do viver com Deus? Estamos vigiando? No Salmo 90.4 diz: Pois mil anos, aos teus olhos, são como o dia de ontem que se foi e como a vigília da morte. E o evangelista Marcos (13.33) afirma: Olhai, vigiai e orai: porque não sabeis quando chegará o tempo. Isoldi Ires Striebel Erechim/RS
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Tudo tem seu tempo Não deixe para amanhã Em Eclesiastes 3.1 lemos que tudo tem o seu tempo, cada coisa tem a sua ocasião. E isso é uma grande e correta verdade! A vida, com seus altos e baixos, é uma maravilhosa graça de Deus, que é renovada a nós diariamente e marcada pela passagem do tempo. Todavia, nesta “passagem do tempo” sofremos grandes e difíceis conflitos. Por exemplo, você já deve ter se perguntado: “Como vou conseguir dar conta das minhas inúmeras tarefas com o pouco tempo que tenho disponível?” Como resposta talvez caberia a famosa frase do apresentador Faustão da Rede Globo: “Se vira nos trinta!” Ou seja, a partir disso poderíamos dizer que tempo não se tem, tempo se faz! A razão para toda essa dificuldade temporal é que todas nós estamos cada vez mais sendo engolidas pela correria diária, que é imposta por um sistema capitalista no qual estamos inseridas. E, no fundo, não há muitas opções a escolher. Mas entre as opções que ainda temos deve estar a constante preocupação de reorganizarmos nossa correria diária a fim de que o tempo suficiente criado por Deus seja o tempo suficiente também para nós. Para que isso seja possível, é imprescindível reorganizar nosso tempo, estabelecer prioridades e descartar o tempo gasto em coisas de pouco ou nenhum valor. Lembre-se: ninguém fará isso por você! É você que deve organizar seu tempo priorizando as coisas mais importantes! Seguidamente escutamos, nós mesmas também costumamos falar, que “o tempo está passando rápido demais!”, que “o tempo está voando!”, e afirmações neste sentido. Na realidade, o problema não é o tempo, este permanece sempre no mesmo ritmo; a questão é a nossa falta de tempo por assumirmos tarefas demais ou por desperdiçarmos nosso tempo. Organizar o tempo da vida é colocar objetivos claros na nossa frente, animar-se constantemente para alcançá-los, não importa o que aconteça, dividir nossa atenção também com as pessoas à nossa volta e, dessa forma, apoiar-se mutuamente. São gestos e encaminhamentos simples, que farão sempre uma grande diferença na qualidade do tempo de sua vida. Vou lembrar aqui uma história, talvez até já conhecida, mas nunca descartável, que nos ajuda a perceber isso a partir do exemplo de uma
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pessoa. A pergunta também é para você: Qual é o seu objetivo de vida? O título é: Objetivos do ser humano. “Conta-se que, em certa época, viveu um homem que tinha grandes objetivos na cabeça, mas que não via a oportunidade de colocá-los em ação. Quando era garoto, esse homem pensava: – Vou fazer uma grande obra, que deixará marcada minha passagem por este mundo, mas agora tenho que trabalhar para ajudar meus pais e não tenho tempo. Quando entrar no ginásio, eu o farei. Aí ele entrou no ginásio, mas os estudos se complicaram, e ele pensou: – Agora não tenho tempo, porque tenho muita matéria para estudar. Mas quando entrar na faculdade, o mundo verá do que sou capaz. Os anos se passaram, e ele entrou na faculdade, mas as atividades acadêmicas, as dependências em certas matérias e o convívio com os colegas fizeram-no pensar: – Bom, ainda não deu, mas assim que me formar, tomarei todas as providências necessárias para a realização de meus objetivos. Ele se formou, mas se viu envolvido no torvelinho da vida, casou-se com uma colega de faculdade e teve que arranjar um emprego. Pensou: – Logo que conseguir comprar minha casa, já terei tempo disponível para a grande tarefa a que me propus. Mas mal acabara de comprar sua casa, vieram os filhos e os problemas típicos da vida familiar, contas a pagar, aumento do custo de vida, salários que nunca sobem proporcionalmente, a inflação etc. E ele pensou: – Não tem jeito mesmo. Vou ter que pôr de lado meus objetivos até que as crianças tiverem crescido. Enquanto isso estarei adquirindo experiências e mais tarde poderei realizá-los plenamente. Contudo, depois que as crianças se tornaram adultas, vieram as noras e os genros, os netos e as netas, aumentaram as atividades em família e o tempo disponível se tornou ainda menor. E o homem mais uma vez pensou: – É, parece que ainda não é dessa vez, mas dentro de cinco anos me aposento e então terei todo o tempo do mundo para fazer tudo o que desejar. Logo depois de se aposentar, entretanto, o homem morreu.” Querida amiga! Creio que a grande lição dessa história é que não se pode deixar para amanhã aquilo que se pode e se deve fazer hoje.
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Lembre-se novamente: tempo você não tem, você o faz! Estabeleça sempre suas prioridades e busque o tempo para realizá-las. Tanto você quanto eu sabemos da falta de tempo no nosso mundo atual e sabemos também do nosso costume de adiar as coisas para depois. No fundo, sabemos também que temos muito a melhorar na organização do nosso tempo, da nossa família e dos nossos afazeres. A realidade é que a correria e os afazeres são cada vez maiores, e se não estabelecermos prioridades, se não tirarmos o devido tempo para as coisas realmente importantes para nós mesmas e nossa família, nunca teremos tempo para nada. Inclusive tempo para Deus e sua igreja! Seremos escravas de uma correria que nos levará para lugar nenhum, apenas nos trazendo doença, depressão, sentimento de impotência, desânimo, indiferença e coisas desse tipo. Você quer isso para você e sua família? Você já está se sentindo dessa forma? Observe o importantíssimo conselho de Jesus expresso em Mateus 6.33-34: Portanto, ponham em primeiro lugar nas suas vidas o reino de Deus e aquilo que Deus quer, e ele lhes dará todas as outras coisas. Por isso, não fiquem preocupados com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã trará as suas próprias preocupações. Para cada dia bastam as suas próprias dificuldades. Cada dia de nossa vida tem o seu tempo, e o tempo de cada dia de nossa vida escreve a história de nossa existência! Entre nossas prioridades como pessoas cristãs devemos incluir tempo para colocar nossos dons a serviço de Deus e de sua igreja. De forma nenhuma cruzar os braços e esperar unicamente de Deus a solução para os problemas. Organizar o tempo no ritmo de nossa vida é nossa tarefa. Dedicar diariamente tempo para Deus e para nosso agir cristão de forma concreta é vivenciar o nosso Batismo. Portanto não vamos ficar esperando e assistindo a vida passar, o tempo “voar”. A hora de agir é hoje! É agora! É durante este e todos os tempos de nossa vida! Enquanto Deus nos abençoar com o dom da vida, o dom do tempo, que ele nos ajude a dedicar tempo e dons colocando-os a seu serviço, a serviço de outras pessoas e a serviço do seu Reino, na localidade e comunidade da qual participamos. Agradeça sempre a Deus o que você tem e o que você é, o tempo da vida já recebido e o que ainda virá. Saiba aproveitar cada momento, cada tempo à sua disposição. E lembre-se sempre: o próximo minuto a Deus pertence. Cada minuto de tempo é uma graça de Deus! Saiba vivê-lo e valorizá-lo, ele é único. P. Marcos Cesar Vollbrecht Afonso Cláudio/ES 108 *** Roteiro da OASE 2009
Testemunho Minha sobrevida Ao nos conceder a vida, Deus manifestou seu grande amor para conosco. Além disso, deu-nos o “livre-arbítrio”, ou seja, vontade livre para dirigir nossa vida, nossa caminhada de fé, nossas lutas, crescimento, alegrias, tristezas, testemunho, bravura, dedicação etc... Isto é, somos donos absolutos de nossa vontade, podendo traçar deliberadamente o nosso destino, mas temos que arcar com suas conseqüências. Será que o ser humano estava preparado para receber esse presente e preservá-lo com a dignidade própria de filhos e filhas de Deus? Para nós, já fica claro que não no primeiro livro da Bíblia Sagrada, quando Eva desobedeceu ao Senhor comendo do fruto da árvore proibida, oferecendo a seu companheiro. Logo, seus olhos se abriram e viram que estavam nus. Sentiram vergonha e procuraram se ocultar daquele que os tinha criado. Com esse ato, o ser humano passou a ser fruto de seu próprio destino. Passou a conviver com o bem e o mal. Entre os males todos que afligem o universo, está a doença, que, segundo o dicionário, significa a falta da saúde, enfermidade. É com moléstia dita grave que convivo já há 13 anos. Exatamente a partir de maio de 1995, quando fui acometida de um câncer de mama, começou realmente minha sobrevida. Então, o que mudou a partir daí? Mudou tudo! Como ser humano, ao receber o diagnóstico médico, o chão se abriu, a terra tremeu, a luz apagou, a alegria desapareceu, e apenas poucos amigos ainda se aproximavam. A beleza do universo toda se tingiu de cinza; ventos fortes sopravam em todas as direções como para me arrastar, derrubar, desaparecer... Parece que tudo perdeu a poesia, o encanto e a alegria de viver. Nem a família era suficiente para ajudar a carregar o “fardo” que estava em mim, que eu precisava carregar. As interrogações vinham sem parar e sem respostas esclarecedoras. A cabeça era um redemoinho. As noites sem fim e a amargura de ter que enfrentar um novo dia sem esperança. Mas para Deus nenhum caso é perdido. Ele dá as provações e ao mesmo tempo os instrumentos para vencê-las. Um dia, no hospital, recebi a visita de duas amigas da diretoria da OASE da Região IV, hoje Sínodo Rio dos Sinos. Levaram-me uma mensagem de esperança através do livro: “Vinde, Amados Meus”, cuja autora não lembro. Essa visita e a mensagem me trouxeram a esperança, a expectativa de cura e me fizeram viver. Vejam a importância de uma
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visita. Travei muitos colóquios com Deus para tentar entender e descobrir quais eram os seus propósitos para comigo através desse sofrimento. Aos poucos, foi mudando o meu entendimento e, através da oração, que sempre foi a alavanca em minha vida, tudo foi clareando. Percebi como podia continuar feliz levando meu testemunho a todas as pessoas que também lutam com doenças, especialmente o câncer. Não podemos desistir. Nesses 13 anos, minha vida se tornou mais intensa, objetiva e sólida. Passei a valorizar tudo o que tenho e o que sou. Sei que meu Pai está no céu. O Senhor da vida e da morte tem os seus propósitos ao nos enviar o sofrimento. “O importante é não lastimar e procurá-lo sempre, pois é o nosso refúgio e a nossa fortaleza, nosso socorro bem presente na angústia” (Salmo 46.1-2). “Os olhos do Senhor estão sempre sobre os justos e os seus ouvidos atentos às suas orações” (1 Pedro 3.12). “Se Deus é por nós, quem será contra nós?” (Romanos 8.31). “Quem nos separará do amor de Cristo? Angústia ou tribulação, nudez, fome ou perseguição? Mas em todas essas coisas somos mais que vencedores por Aquele que nos amou” (Romanos 8.35-37). “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu Filho unigênito para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3.16). “Deus é a força do meu coração e minha herança para sempre” (Salmo 73.23-26). “No mundo terás aflições, mas tenha bom ânimo, pois eu venci o mundo. A minha paz eu te dou” (João 15.11). E hoje posso dizer feliz: “Se possível, Pai, não afaste de mim este cálice”. Alba Otília Smidt Seewald Secretária DMO Tramandaí/RS
Oração Senhor, nosso Deus, tu nos enviaste para a grande viagem, a viagem de nossa vida. Nós te pedimos: fique ao nosso lado durante o caminho, um caminho que passa por montes, mas também por vales escuros. Não permita que nos cansemos e que, apesar dos muitos atalhos, alcancemos o destino em direção ao qual caminhamos. (Alfred Schilling)
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Arquivo
Datas importantes 01 – Dia Internacional de combate à AIDS 03 – Dia Internacional das Pessoas Portadoras de Deficiência 06 – 2º Domingo de Advento 10 – Dia Internacional dos Direitos Humanos 13 – 3º Domingo de Advento 20 – 4º Domingo de Advento 24 – Noite de Natal 25 – Natal 31 – Véspera de Ano Novo
D E Z E M B R O
DEZEMBRO Deus diz: Eu vos salvarei, e sereis bênção; não temais, e sejam fortes as vossas mãos. Zacarias 8.13
Meditação Eu vos salvarei
O
tempo de Advento e Natal lembra-nos que Deus veio para manifestar seu amor por este mundo para nunca mais deixálo. O primeiro advento fez parte do tempo histórico passado. É o tempo antes do nascimento de Jesus, quando profetas anunciaArquivo vam o novo tempo. Hoje, o Advento é simbólico e nos motiva, nos lembra, nos prepara para a celebração cristã do Natal. O tempo passa, mas os textos bíblicos não envelhecem. Eles são sempre atuais. A Bíblia não tem problema com o tempo passado, presente e futuro. Sua mensagem vale em qualquer tempo. Isto porque a Bíblia relata fatos com o objetivo de oferecer anúncio e pregação, trabalhados e postos a serviço de uma verdade de fé que querem proclamar. Por isso as repetidas celebrações do tempo de Advento têm um conteúdo atual e significativo. Sua mensagem não se deixa corroer pela ação do temLourdi Bender po. Assim também é com a OASE, uma jovem com 110 anos. “Toda a noção de passado, presente e futuro, isto é, de tempo, entra em nossas vidas graças às experiências que passam pelo nosso corpo.”
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As palavras proféticas de Zacarias 8.13: Deus diz: Eu vos salvarei; e sereis bênção; não temais, e sejam fortes as vossas mãos, com visão de esperança e de sonho, nos convidam a refletir. Eu vos salvarei! A promessa não é impossível para Deus. É acreditar e agir. É nos dispor a ser instrumentos de Deus, porque Deus age na nossa vida como sinal de salvação. Para Jesus, a salvação é quando nós mudamos o sentido da vida, quando temos objetivos concretos, sempre em vista do outro. Lutero afirmava: “O bom cristão é aquele que faz as coisas pensando na vantagem do outro”. A salvação não é intervenção milagrosa. Em Cristo a salvação se mostra frágil e termina na cruz. Sereis bênção: Nós somos bênção nas mãos de Deus. O nascimento de Jesus é bênção. Ser bênção não é qualidade, nem iniciativa pessoal. Bênção é atitude, é serviço, é ação, é troca. Vai e volta. Isso anima o nosso viver. Em todo o capítulo 8, Zacarias relata a saída do exílio, o retorno à terra natal, com esperança de ser bênção. O profeta denuncia, anuncia e dá esperança que vai ter um novo tempo: Mais uma vez, os velhinhos e as velhinhas sentarão nas praças de Jerusalém e as praças ficarão cheias de meninos e meninas brincando. Não temais: Não ter medo de abrir mão da nossa privacidade, dos nossos interesses pessoais. Coragem de enfrentar nossos anseios e angústias. Isso mexe com valores que achamos que são imutáveis. Ter coragem de exercitar a sintonia entre o que falamos e agimos. Fazer escolhas acertadas sem se deixar manipular por forças externas. Sejam fortes as vossas mãos: O que são mãos fortes hoje? Firmeza nas decisões, disciplina, saber o que é correto. Reconhecer erros e voltar atrás. É serviço (diaconia), é ajudar pessoas. Vamos olhar para nossas mãos. O que elas contam nesta época de Advento? O que transmitem neste tempo de preparo para a chegada do menino que vai nascer? Mãos que contam histórias, calejadas com as marcas do tempo. Mãos fortes, com sinais constantes de vida, de ajuda e acolhimento. Deus, em sua infinita bondade, nos promete salvação, nos transformando em bênção. Dá-nos, então, Senhor, força, afasta nossa fraqueza e impulsiona nossas mãos para que se estendam fortes e seguras para ajudar e acolher o outro. Lourdi Bender Três de Maio/RS
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Tudo tem seu tempo Tempo perdido não se recupera O tempo foge, as horas vão e nada as detém; assim começa um hino. Uma das reclamações mais constantes das pessoas é que o tempo anda muito rápido. Algumas pessoas afirmam até que é cada vez mais rápido. Os muitos afazeres e atividades dão a impressão de que não temos tempo ou que o tempo corre em demasia. Por que será que cinco minutos esperando o ônibus demoram aparentemente mais do que ficar cinco minutos assistindo a um programa de TV? Estamos ocupados demais para reparar no tempo; quando reparamos, temos a impressão de que não o aproveitamos devidamente. Frustramo-nos achando que não fizemos nada. Faz-se necessário que nos perguntemos: O que eu faço com meu tempo? Para isso precisamos nos aquietar, caso contrário, o tempo nos atropela. Jesus sentiu a necessidade de ter um tempo para se aquietar. E ele lhes disse: Vinde repousar um pouco, à parte, num lugar deserto; porque eles não tinham tempo nem mesmo para comer, visto serem numerosos os que iam e vinham (Marcos 6.31). No texto do evangelho não temos a queixa de que o tempo anda depressa. O que Jesus está sentindo é que ele não está com tempo para se dedicar aos discípulos. As tarefas eram muitas, em especial atender àquelas pessoas que o procuravam, e não eram poucas. Olhando para Marcos 6.31, o texto não parece descrever a situação de Jesus com os discípulos, mas que o versículo está retratando o estresse moderno, no qual quase não há tempo para se alimentar e descansar com qualidade. Por isso se ouve de algumas pessoas a afirmação de que o dia deveria ter vinte e cinco horas. A solução não está em o dia ter vinte e cinco horas ou mais. Isso não resolverá a questão vital: como ocupo o meu tempo?! Se eu não ocupo o tempo devidamente, não me adiantará ter mais horas do que as normais vinte e quatro horas. Se o tempo anda curto, então está mais do que na hora de pararmos um momento para redefinir as prioridades da nossa vida. Faz-se necessário ocupar a nossa vida com as coisas essenciais e importantes e não deixar coisas menos importantes e banais roubarem quase todo o nosso tempo. Nos dias atuais, há muito mais coisas que requerem nossa atenção do que no passado. Quando estamos de uma ou de outra forma ocupados, nós não sentimos o tempo passar; ainda mais se nos ocupamos com o que gostamos. Estamos sempre fazendo alguma coisa; quando
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precisamos esperar, temos a impressão de que o relógio parou. Parar não está na nossa ordem do dia. Aqui se torna mais uma vez pertinente a pergunta: O que eu faço com o meu tempo? Quantas pessoas já lamentaram o tempo perdido. Quem sabe até você? Muitas vezes nós já tivemos a sensação de ter empregado mal o tempo. Pior de tudo é que o tempo perdido não se recupera. Para que o nosso tempo tenha qualidade, precisamos parar de lamentar o tempo perdido. O máximo que podemos nos permitir em relação com o tempo perdido ou mal-empregado é aprender a não repetir os erros. Tentar recuperar o tempo perdido é viver a possibilidade do estresse ou a dor do remorso. Nós sabemos que isso não é saudável nem é produtivo. O que eu faço com meu tempo? Há um adesivo, geralmente colado nos vidros dos carros, com o seguinte dizer: Não ter tempo para Deus é viver perdendo tempo. Jesus sentiu a necessidade de se aquietar um pouco. Esta mesma necessidade nós também temos: um pouco de quietude. Agora, o que fazer quando já estamos abarrotados de compromissos e atividades? Atualmente há profissionais para gerenciar o tempo. O que esses profissionais sugerem todos nós já sabemos. No fundo, trata-se de redefinir prioridades. Nosso problema é que misturamos o que é prioritário e essencial com o que é dispensável. Soma-se a isso nossa tendência a querer abraçar o mundo. Achamos que conseguimos dar conta do recado, por isso estamos cheios de afazeres e compromissos. Nesses momentos, soa estranho e até impróprio e inaceitável o convite de Jesus para parar um pouco e descansar. No entanto, ele está certo. Nós precisamos de momentos de quietude e de tranqüilidade. Esses momentos de quietude transformam-se em ótimas oportunidades para redefinirmos nossa agenda ou nosso tempo. Há coisas em nossa agenda que não podemos mexer. Considero esses compromissos prioritários. Quais são esses compromissos? O trabalho, a escola, a faculdade, se for o caso. Vejo aqui também como prioritário o tempo reservado para a família e para a devoção (leitura bíblica e oração). Faz-se necessário incluir um tempo para alguma atividade física e lazer. O que é dispensável? É aquilo que não me fará falta. Posso muito bem perder um capítulo da novela, um filme ou uma corrida de Fórmula Um. Há casos em que a novela se tornou essencial e prioritária. Para isso rigorosamente tiram tempo e ai daquele que falar naquele momento. E para outras coisas, como leitura bíblica ou oração, não são tão rigorosos. Se hoje não deu, deixa-se para o dia seguinte. Aqui aconteceu uma inversão de valores. Precisamos aprender a redefinir prioridades. Martim
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Lutero disse: Hoje tenho muito a fazer, portanto hoje vou precisar orar muito. Perdemos tempo com o que não é importante nem essencial e não tiramos tempo para comunhão com o Senhor. Soma-se a isso o fato de que não descansamos direito. Vamos dormir exaustos e acordamos cansados. Sacrificamos o sono para dar conta dos compromissos. Descansar não precisa ser só dormir, pode também ser uma parada momentânea durante o dia. A parada permite à mente se reorganizar. Esses poucos momentos se tornam importantes num mundo corrido, no qual não se descansa direito. Vamos aprender com Jesus. Ele tinha tempo para as pessoas. Hoje as pessoas não têm tempo para conversar. As famílias não se encontram mais. Os pais não tiram tempo para ouvir os filhos. Os compromissos vêm antes das pessoas. Isso, por sua vez, afeta a comunhão e a vida comunitária. Não há mais nem tempo para conversar antes ou depois do culto ou de outra atividade comunitária, prejudicando, assim, a comunhão e o convívio comunitário. Nós reclamamos que o tempo é pouco. Que tal seguir a sugestão de Jesus. Ele convida os discípulos para descansar. Jesus convida para que fujamos dos relacionamentos superficiais e que qualifiquemos os relacionamentos. Isso implica tirar tempo, priorizar pessoas. Significa olhar como ocupamos e administramos o tempo que o Senhor nos presenteia. Esse tempo não pode ser desperdiçado. Por isso a pergunta poderia ser modificada para: Como posso aproveitar dignamente o tempo que me é concedido? Aí precisamos fazer uma avaliação sincera de como ocupamos nosso tempo para valorizar o que de fato é importante. Experimente fazer isso e você verá que a sua vida e o tempo terão qualidade. Perguntas para reflexão: 1) O que mais rouba meu tempo? 2) Por que quero fazer mais do que consigo? 3) Você considera descansar um desperdício de tempo? 4) O tempo para oração e leitura bíblica é importante para você? De que maneira? P. Osnildo Friedemann Foz do Iguaçu/PR
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Dinâmica das mãos Objetivo: Refletir e avaliar os sentimentos em relação a si mesmo e ao grupo. 1. Grupo em círculo, de pé. 2. Estender o braço direito, à sua frente, com a palma da mão voltada para baixo. A seguir, levantar o braço esquerdo, à frente, com a palma da mão voltada para cima. 3. Lentamente abrir os braços, de modo a segurar as mãos dos companheiros da direita e da esquerda. 4. Relaxar os braços, mantendo as mãos dadas. Sentir as mãos dos companheiros. Tempo. Colocar música suave, solicitar que o grupo comece a balançar o corpo, procurando seguir o ritmo da música. Tempo. 5. Sem soltar as mãos, ir diminuindo o movimento até parar. Fechar os olhos e buscar dentro de si um sentimento que possa ser dedicado ao outro(a). Tempo. 6. Colocar este sentimento entre as mãos formando uma concha. Soprar para o outro seu sentimento. 7. Dar as mãos novamente, olhar as pessoas do círculo e lentamente ir fechando a roda até que todos os ombros se toquem. 8. Soltar as mãos e transformar o círculo num abraço, o abraço do grupo. 9. Lentamente ir se afastando, transformando o abraço num círculo, até que as mãos se soltem. Permanecer em pé. 10. Parar a música e sentar em silêncio. Distribuir uma folha de papel para cada participante, colocando o material de uso coletivo no meio da sala. 11. Pedir que cada participante faça o contorno de suas mãos no papel, escrevendo dentro dela uma característica sua (e outra do grupo se achar necessário) que deseja conservar e, fora dela, a que deseja eliminar. Tempo. 12. Apresentação dos trabalhos. Discutir com o grupo as características mais freqüentes, aprofundando seu significado. 13. Chamar a atenção para o papel de cada qual e de todos para o crescimento do grupo. 14. Lembrar das mãos como símbolo do ato de dar e receber, conservar e eliminar, aproximar e afastar – movimentos que permeiam os relacionamentos das pessoas. Material: Papel e canetas ou lápis de cor.
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Fonte: SERRÃO, MARGARIDA; BALEEIRO, M.C. Aprendendo a ser e conviver. 2. ed. São Paulo: FTD, 1999. Adaptado por Edeltraud Nering para o Seminário p/ Coordenadora Paroquial e Presidente de Grupo de OASE – Sínodo N. Catarinense – 2005.
Poesia/Jogral É Natal sempre! É NATAL... ...Sempre que, em alguma parte do mundo, nasce e renasce o amor. ...Sempre que nos colocamos a serviço da justiça e da paz. ...Sempre que abrimos as portas da nossa casa e do nosso coração aos que sofrem e suplicam conforto. ...Sempre que perdoamos a quem nos feriu, nos ofendeu e machucou. ...Sempre que a compreensão e a caridade nos tornam irmãs e irmãos. ...Sempre que acendemos uma luz em vez de maldizer a escuridão. ...Sempre que batalhamos pela verdade, sem negociar com a mentira. ...Sempre que renunciamos ao egoísmo, servindo o próximo com generosidade. ...Sempre que sorrimos para alguém, mesmo quando estamos cansados. ...Sempre que enxugamos uma lágrima nos rostos atribulados. ...Sempre que estendemos a mão a quem nos pede carinho. ...Sempre que levamos um pouco de fé ao mundo descrente de hoje. ...Sempre que agradecemos a Deus o dom da vida. ...Sempre que soubermos morrer humildemente como o grão de trigo, para depois frutificar em searas de luz e fraternidade. ...Sempre que vivermos as lições das bemaventuranças e, humildemente, aceitarmos encarar o exemplo do presépio. Extraído do Jornal “O Caminho”, 1998 Enviado por Lourdi Bender Três de Maio/RS
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Trabalho manual Estrela de Natal Material: Cartolina colorida (dupla face) ou colar papel colorido dos dois lados da estrela.
Observação: Estrela nº 1: Cortar até o centro como mostra o desenho. No lugar do ponto passar, com agulha e linha, o fio para prender. Estrela nº 2: Cortar como mostra a figura. Estrela nº 3: Cortar ao meio, ficando em duas partes, depois cortar um pedaço pequeno. Montagem: Juntar a estrela n° 1 com a n° 2. Os pedaços da n° 3 colocar nos cortes pequenos da estrela n° 2. Está pronta a estrela! * Se quiserem, podem colar um pouco para os pedaços não deslocarem.
Enviado por Lourdi Bender Três de Maio/RS
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Receita de Ano Novo Para você ganhar belíssimo Ano Novo cor de arco-íris, ou da cor da sua paz, Ano Novo sem comparação com todo tempo já vivido (mal vivido talvez ou sem sentido) para você ganhar um ano não apenas pintado de novo, remendado às carreiras, mas novo nas sementinhas do vir-a-ver, novo até no coração das coisas menos percebidas (a começar pelo seu interior) novo, espontâneo, que de tão perfeito se nota, mas com ele se come, se passeia, se ama, se compreende, se trabalha, você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita, não precisa expedir nem receber mensagens (planta recebe mensagens? passa telegramas?). Não precisa fazer lista de boas intenções para arquivá-las na gaveta. Não precisa chorar de arrependido pelas besteiras consumadas nem parvamente acreditar que por decreto da esperança a partir de janeiro as coisas mudem e seja tudo claridade, recompensa, justiça entre os homens e as nações, liberdade com cheiro e gosto de pão matinal, direitos respeitados, começando pelo direito augusto de viver. Para ganhar um Ano Novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente. É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre. Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)
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